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Tribunal Regional Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

28/12/2023

Número: 1002340-38.2019.4.01.3307
Classe: APELAÇÃO CÍVEL
Órgão julgador colegiado: 7ª Turma
Órgão julgador: Gab. 21 - DESEMBARGADORA FEDERAL GILDA SIGMARINGA SEIXAS
Última distribuição : 13/12/2019
Valor da causa: R$ 1.000,00
Processo referência: 1002340-38.2019.4.01.3307
Assuntos: Super SIMPLES
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
VITORIA COMERCIO ATACADISTA DE MOVEIS E JORGE MAIA (ADVOGADO)
TRANSPORTES LTDA (APELANTE)
UNIÃO FEDERAL (FAZENDA NACIONAL) (APELADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
82838 08/12/2020 18:04 Acórdão Acórdão
547
JUSTIÇA FEDERAL
Tribunal Regional Federal da 1ª Região

PROCESSO Nº 1002340-38.2019.4.01.3307
APELAÇÃO CÍVEL (198)
APELANTE: VITORIA COMERCIO ATACADISTA DE MOVEIS E TRANSPORTES LTDA
APELADO: FAZENDA NACIONAL
RELATOR(A):KASSIO NUNES MARQUES

PODER JUDICIÁRIO

Tribunal Regional Federal da 1ª Região


Gab. 21 - DESEMBARGADOR FEDERAL KASSIO MARQUES
Processo Judicial Eletrônico

APELAÇÃO CÍVEL (198) n. 1002340-38.2019.4.01.3307

RELATÓRIO
Cuida-se de apelação interposta por Vitória Comércio Atacadista de Móveis e Transportes Ltda.,
nova razão social de Prates e Nascimento Comércio Atacadista de Móveis e Transportes Ltda., em face de
sentença que, em sede de cão mandamental, denegou a segurança, cujo pedido foi formulado no sentido de
obter declaração do seu direito à reinclusão no Simples Nacional, retroativo a 01/01/2018.

Alega a empresa que a sentença indeferiu o seu pedido de reinclusão no Simples Nacional
retroativo ao ano de 2018, ainda que tenha confessado que sua inadimplência resulta do fato de estar
passando por dificuldades financeiras, bem como que não fez qualquer referência a qualquer ato ou omissão
da Receita Federal. Acrescenta não ser razoável a sanção de exclusão que lhe foi aplicada.

Foram apresentadas contrarrazões.

É o relatório.

KLAUS KUSCHEL

Juiz Federal Convocado

Assinado eletronicamente por: KLAUS KUSCHEL - 08/12/2020 18:04:51 Num. 82838547 - Pág. 1
https://pje2g.trf1.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20120818045041100000081509969
Número do documento: 20120818045041100000081509969
VOTO - VENCEDOR

PODER JUDICIÁRIO
Processo Judicial Eletrônico
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 21 - DESEMBARGADOR FEDERAL KASSIO MARQUES

APELAÇÃO CÍVEL (198) n. 1002340-38.2019.4.01.3307

VOTO
Conheço do recurso de apelação, por entender preenchidos os pressupostos de sua admissibilidade.

Buscou a impetrante, por meio do presente mandado de segurança, a declaração do seu direito à reinclusão no
Simples Nacional em relação ao ano calendário 2018, tendo alegado para tanto tão somente o fato de ter passado por
dificuldades financeiras, o que impediu o cumprimento de suas obrigações.

A sentença denegou a segurança, motivo pelo qual foi interposto o presente recurso.

A CF/88 prevê que será dispensado às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei,
tratamento jurídico diferenciado (art. 179 da CF/88), tendo sido editada, assim, a LC n 123/2006, cuja inscrição é uma faculdade
da empresa, que deve atender a determinadas condições/restrições.

Esta norma dispõe em seu art. 17, V:

Art. 17. Não poderão recolher os impostos e contribuições na forma do Simples Nacional a microempresa ou
empresa de pequeno porte: (Redação dada pela Lei Complementar nº 167, de 2019)

(...)

V - que possua débito com o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, ou com as Fazendas Públicas Federal,
Estadual ou Municipal, cuja exigibilidade não esteja suspensa;

(...)

Assim, é perfeitamente possível a exclusão do simples nacional de empresa em débito para com o Fisco ou com
sua exigibilidade não suspensa, conforme se vê dos seguintes julgados:

TRIBUTÁRIO. INDEFERIMENTO DA OPÇÃO AO SIMPLES NACIONAL. DÉBITOS COM A FAZENDA


PÚBLICA. CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 17, V, DA LEI COMPLEMENTAR Nº 123/2006.

1. A Constituição Federal prescreve em seu art. 179: "A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico
diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias,
previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei".

2. O art. 17, V, da Lei Complementar nº 123/2006, cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo egrégio
Supremo Tribunal Federal (RE 627543), dispõe: "Não poderão recolher os impostos e contribuições na

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forma do Simples Nacional a microempresa ou empresa de pequeno porte: [...] V - que possua débito
com o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, ou com as Fazendas Públicas Federal, Estadual ou
Municipal, cuja exigibilidade não esteja suspensa".

3. Prevê o art. 6º, §§ 1º e 2º, da Resolução CGSN nº 94/2011: "A opção pelo Simples Nacional dar-se-á por
meio do Portal do Simples Nacional na internet, sendo irretratável para todo o ano-calendário. § 1º A opção de
que trata o caput deverá ser realizada no mês de janeiro, até seu último dia útil, produzindo efeitos a partir do
primeiro dia do ano-calendário da opção, ressalvado o disposto no § 5º. § 2º Enquanto não vencido o prazo para
solicitação da opção o contribuinte poderá: I - regularizar eventuais pendências impeditivas ao ingresso no
Simples Nacional, sujeitando-se ao indeferimento da opção caso não as regularize até o término desse prazo; II -
efetuar o cancelamento da solicitação de opção, salvo se o pedido já houver sido deferido".

4. A adesão ao Simples Nacional é faculdade do contribuinte. A apelada não demonstrou que seus débitos
estivessem com a exigibilidade suspensa.

5. Aplicável à hipótese o seguinte julgado da colenda Oitava Turma desta egrégia Corte: "O art. 17, V, da LC
123/2006 estabelece a vedação de inscrição no SIMPLES NACIONAL das empresas que possuam débitos para
com o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, ou para com as Fazendas Públicas Federal, Estadual ou
Municipal, cuja exigibilidade não esteja suspensa. Não há nos autos comprovação de que os débitos que
ocasionaram a exclusão do apelante do programa estavam com a exigibilidade suspensa" (AC 0019520-
62.2006.4.01.3300/BA, Rel. Desembargadora Federal Maria do Carmo Cardoso, e-DJF1 de 03/07/2015).

6. Afigura-se legítimo o indeferimento da adesão ao Simples Nacional, em virtude da existência de débitos ficais
com exigibilidade não suspensa na data limite da opção.

7. Apelação provida.

(AC 0022071-68.2013.4.01.3300, DESEMBARGADOR FEDERAL HERCULES FAJOSES, TRF1 - SÉTIMA


TURMA, e-DJF1 20/03/2020 PAG.) (Negrito ausente do original)

E M E N T A PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXCLUSÃO SIMPLES


NACIONAL. EXISTÊNCIA DE DÉBITOS. ART. 17, INC. V, LC 123/2006. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO
IMPROVIDO.

-A Constituição Federal dispõe, em seu art. 179, que as microempresas e empresas de pequeno porte, assim
definidas em lei, devem ter um tratamento jurídico diferenciado pela simplificação de seus encargos tributários
ou eliminação dos mesmos através da Lei.

-Visando dar eficácia ao direito das pequenas empresas de obter um tratamento diferenciado, foi promulgada a
Lei 9.317/96, que instituiu o Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e
das Empresas de Pequeno Porte (Simples). Posteriormente, foi promulgada a Lei Complementar 123/2006,
instituindo o novo Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, revogando a lei anterior.

-Nos termos do art. 17, inciso V, da Lei Complementar nº 123/2006, é vedada a inclusão no simples de
empresas que possuam débitos, cuja exigibilidade não esteja suspensa. - A mencionada legislação
também estipulou, em seu art. 31, que, para permanecer no regime, impõe-se a regularidade fiscal da
optante.

- Quanto à permanência ou possibilidade do ingresso no Simples Nacional, quando as empresas possuam


débito fiscal com o INSS ou com as Fazendas Públicas Federal, Estadual ou Municipal, o Supremo Tribunal
Federal, em sessão plenária, pela sistemática da repercussão geral, em 30/10/2013, no RE nº 627.543/RS,
assentou de forma definitiva, a necessidade de cumprimento do requisito do art. 17, V, da LC nº 123/2006.

- No presente caso, a agravante instruiu a inicial com cópia do Ato Declaratório Executivo nº 3709264/2018,
comunicando a existência de débitos bem como assinalando prazo para regularização, sob pena de exclusão da
pessoa jurídica do Simples Nacional (ID nº 17885016 dos autos principais).

- É certo que a agravante não trouxe aos autos, além dos argumentos, qualquer outro suporte hábil à
demonstração de eventual ilegitimidade do ato administrativo ou de que nele houvesse algum equívoco ou
excesso.

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- Agravo de instrumento improvido.

(AGRAVO DE INSTRUMENTO ..SIGLA_CLASSE: AI 5028683-73.2019.4.03.0000 ..PROCESSO_ANTIGO:


..PROCESSO_ANTIGO_FORMATADO:, ..RELATORC:, TRF3 - 4ª Turma, e - DJF3 Judicial 1 DATA: 18/03/2020
..FONTE_PUBLICACAO1: ..FONTE_PUBLICACAO2: ..FONTE_PUBLICACAO3:.) (Negrito ausente do original)

Inexiste, assim, desproporcionalidade entre a sanção administrativa de exclusão do Simples Nacional e a


conduta da impetrante de inadimplência de tributos.

No caso dos autos, a impetrante foi excluída do Simples Nacional, com efeitos a partir de 01/01/2018, em razão
do não pagamento de 48 (quarenta e oito) multas por atraso na entrega de PGDAS-D de períodos entre 2012 a 2016 e uma multa
por atraso na entrega de DASN/2012.

A impetrante não nega a existência dos fatos ensejadores de sua exclusão, apenas informa que eles ocorreram
em razão das dificuldades financeiras pelas quais passou, sendo desproporcional a sanção de exclusão do aludido regime
jurídico.

Ocorre que a legislação e a jurisprudência apontadas permitem concluir não haver desproporionaidade entre a
sanção administrativa de exclusão do Simples Nacional e a conduta da impetrante de não pagamento de multas, mormente se o
único argumento para tanto é o fato de que passava por dificuldades financeiras.

Nesse contexto, i) havendo documento do Fisco a afirmar que a impetrante tinha débitos para com a Receita
Federal, o que impede sua reinclusão no regime no Simples Nacional, ii) se o único fundamento apontado como justificador de
sua inadimplência foi o fato de ter passado por dificuldades financeiras; deve ser mantida a sentença que denegou a segurança.

Ante o exposto, nego provimento à apelação.

Honorários recursais indevidos (art. 25 da Lei n. 12.016/2009).

Custas ex lege.

É como voto.

KLAUS KUSCHEL

Juiz Federal Convocado

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DEMAIS VOTOS

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APELAÇÃO CÍVEL (198) n.1002340-38.2019.4.01.3307


APELANTE: VITORIA COMERCIO ATACADISTA DE MOVEIS E TRANSPORTES LTDA
Advogado do(a) APELANTE: JORGE MAIA - BA4752-A
APELADO: FAZENDA NACIONAL

E M E N T A
TRIBUTÁRIO. SIMPLES NACIONAL. EXISTÊNCIA DE DÉBITOS. EXCLUSÃO. ART. 17, V, DA LEI
COMPLEMENTAR N. 123/2006. CONSTITUCIONALIDADE. RE 627543. (TEMA 363). AUSÊNCIA DE
REGULARIZAÇÃO DA SITUAÇÃO DO CONTRIBUINTE. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE REINCLUSÃO.

1. No caso dos autos, a impetrante foi excluída do Simples Nacional, com efeitos a partir de 01/01/2018, em
razão do não pagamento de 48 (quarenta e oito) multas por atraso na entrega de PGDAS-D do períodos entre
2012 a 2016 e uma multa por atraso na entrega de DASN/2012. O único argumento apontado pela recorrente
para o não pagamento foi o fato de estar passando por dificuldades financeiras.

2. A CF/88 prevê que será dispensado às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em
lei, tratamento jurídico diferenciado (art. 179 da CF/88), tendo sido editada, assim, a LC n 123/2006, que prevê
que o ingresso no Simples Nacional é uma faculdade da empresa, que deve atender a determinadas
condições/restrições, sob pena de indeferimento da inclusão ou de exclusão, caso a empresa esteja no aludido
regime jurídico tributário.

3. Segundo orientação firmada pelo STF em sede de repercussão geral (Tema 363), o art. 17, V, da Lei
Complementar n. 123/2006, ao impedir que a empresa que tenha débitos sem exigibilidade suspensa junto à
Fazenda Pública, goze dos benefícios do Simples Nacional, (i) não viola o princípio da isonomia, pois
estabelece regra aplicável a todas as microempresas e microempreendedores individuais e que afasta
justamente a possibilidade de que contribuintes devedores tenham vantagem econômica sobre aqueles que
estejam em dia com suas obrigações; (ii) não cria meio coercitivo para a cobrança indireta de tributo, visto que
o ingresso no Simples é uma faculdade conferida ao contribuinte e não uma obrigação (RE 627543, Relator(a):
DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 30/10/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO
GERAL - MÉRITO DJe-212 DIVULG 28-10-2014 PUBLIC 29-10-2014). Ausência de configuração de
desproporcionalidade entre a sanção administrativa de exclusão do Simples Nacional e a conduta da impetrante
de inadimplência de tributos e não pagamento de multas, se o único argumento para tanto é o de que passava

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por dificuldades financeiras.

4. Apelação da impetrante não provida.

A C Ó R D Ã O

Decide a Sétima Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por


unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos do voto do relator.

Brasília-DF, 27 de outubro de 2020.

KLAUS KUSCHEL
Juiz Federal Convocado

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