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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2024.0000231218

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1000981-24.2022.8.26.0266, da Comarca de Itanhaém, em que é apelante
COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SAO PAULO
SABESP, é apelado MUNICÍPIO DE ITANHAÉM.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 14ª Câmara de Direito


Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores OCTAVIO


MACHADO DE BARROS (Presidente) E JOÃO ALBERTO PEZARINI.

São Paulo, 21 de março de 2024.

GERALDO XAVIER
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação 1000981-24.2022.8.26.0266
Apelante: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - Sabesp
Apelada: Município de Itanhaém
Comarca: Itanhaém
Voto 55.330

Apelação. Embargos a execução fiscal. Imposto predial e


territorial urbano. Taxa de coleta de lixo. Exercício de 2020.
Sociedade de economia mista prestadora de serviço público
com participação acionária dispersa e ações negociadas em
bolsas de valores. Serviço público prestado por particular
visando à obtenção de lucro distribuído a seus acionistas.
Imunidade não configurada. Precedente do Supremo
Tribunal Federal em recurso com repercussão geral (tema
508).

Alegação de isenção. Improcedência. Inexistência de lei


municipal a conceder a benesse fiscal. Benefício que, a
partir da Constituição Federal de 1988, é sempre decorrente
de lei. Inteligência dos artigos 150, § 6º, da Magna Carta e
176 do Código Tributário Nacional. Lei Municipal
3.971/2014 a prever o benefício no que toca a áreas e
instalações relacionadas à prestação de serviço público.
Inexistência de prova de que o imóvel preencha esse
requisito. Recurso denegado.

Cuida-se de embargos a execução fiscal, esta


promovida pelo município de Itanhaém contra Companhia de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo - Sabesp para cobrança de imposto predial e territorial
urbano (IPTU) e de taxa de coleta de lixo do exercício de 2020, bem como de
imposto sobre serviços de qualquer natureza do exercício do 20181.
A embargante alega descabida a cobrança do
imposto porque, na qualidade de sociedade de economia mista delegatária de
serviços públicos, faz jus à imunidade prevista no artigo 150, VI, “a”, da
Constituição Federal; argui prevista isenção na Lei Complementar Municipal
1
Valor da causa em fevereiro de 2022: R$ 5.863,26.
Apelação Cível nº 1000981-24.2022.8.26.0266 -Voto nº 55330 2
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197/2018; pondera violação dos princípios do contraditório e da ampla defesa


dada a ausência de notificação de lançamento do ISS; pleiteia extinção do feito.
Acolhidos parcialmente os embargos, afastou-
se a cobrança do ISS do exercício de 2018 e condenou-se à embargante a pagar
ao município honorários advocatícios de R$ 550,00 (seiscentos e cinquenta
reais). Daí por que esta apela tempestivamente: insiste nos argumentos antes
expostos e quer acolhimento integral do quanto deduzido na petição inicial.
Recebido e processado, o recurso não foi
contrariado.
Eis, sucinto, o relatório.
O apelo não merece abrigo.
Com efeito.
Embora a embargante seja sociedade de
economia mista prestadora de serviço público, possui participação societária
pulverizada e negociada em Bolsas de Valores, de forma que visa à obtenção de
lucro como forma de remunerar o capital investido pelos acionistas. Diante dessas
peculiaridades o Supremo Tribunal Federal, em julgamento definitivo do recurso
extraordinário 600.867/SP (tema 508 da lista das questões constitucionais com
repercussão geral), entendeu que a embargante não está abrangida pela regra de
imunidade tributária prevista no artigo 150, VI, “a”, da Constituição, in verbis:
“TRIBUTÁRIO. IPTU. IMUNIDADE
RECÍPROCA. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. NATUREZA
JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO. PARTICIPAÇÃO ACIONÁRIA
DISPERSA E NEGOCIADA EM BOLSA DE VALORES. EXAME DA
RELAÇÃO ENTRE OS SERVIÇOS PÚBLICOS PRESTADOS E O OBJETIVO
DE DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS A INVESTIDORES PÚBLICOS E
PRIVADOS COMO ELEMENTO DETERMINANTE PARA APLICAÇÃO DA
SALVAGUARDA CONSTITUCIONAL. SERVIÇO PÚBLICO DE
SANEAMENTO BÁSICO SEM FINS LUCRATIVOS. CF/88, ARTS. 5º, II,
XXXV, LIV E LV; 37, INCISOS XIX E XXI E § 6º; 93, IX; 150, VI; E 175,
PARÁGRAFO ÚNICO. PRECEDENTES QUE NÃO SE ADEQUAM
Apelação Cível nº 1000981-24.2022.8.26.0266 -Voto nº 55330 3
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PERFEITAMENTE AO CASO CONCRETO. IMUNIDADE QUE NÃO DEVE


SER RECONHECIDA. REDATOR PARA ACÓRDÃO (ART. 38, IV, B, DO
RISTF). FIXAÇÃO DA TESE DE REPERCUSSÃO GERAL. 1. A matéria foi
decidida por maioria pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, que
acompanhou o voto do I. Relator, Min. Joaquim Barbosa. Redação da proposta de
tese de repercussão geral (art. 38, IV, b, do RISTF) 2. A imunidade tributária
recíproca (art. 150, IV, “a”, da Constituição) não é aplicável às sociedades de
economia mista cuja participação acionária é negociada em Bolsas de Valores, e
que, inequivocamente, estão voltadas à remuneração do capital de seus
controladores ou acionistas, unicamente em razão das atividades desempenhadas.
3. O Supremo Tribunal Federal nos autos do RE 253.472, Redator para o acórdão
Min. Joaquim Barbosa, DJe 1º/2/2011, já decidiu, verbis: atividades de
exploração econômica, destinadas primordialmente a aumentar o patrimônio do
Estado ou de particulares, devem ser submetidas à tributação, por apresentarem-se
como manifestações de riqueza e deixarem a salvo a autonomia política. 4. In
casu, trata-se de sociedade de economia mista de capital aberto, autêntica S/A,
cuja participação acionária é negociada em Bolsas de Valores (Bovespa e New
York Stock Exchange, e.g.) e que, em agosto de 2011, estava dispersa entre o
Estado de São Paulo (50,3%), investidores privados em mercado nacional (22,6%
- Bovespa) e investidores privados em mercado internacional (27,1% - NYSE), ou
seja, quase a metade do capital social pertence a investidores. A finalidade de
abrir o capital da empresa foi justamente conseguir fontes sólidas de
financiamento, advindas do mercado, o qual espera receber lucros como retorno
deste investimento. 5. A peculiaridade afasta o caso concreto da jurisprudência da
Suprema Corte que legitima o gozo da imunidade tributária. 6. Recurso
Extraordinário improvido pela maioria do Supremo Tribunal Federal. 7. Proposta
de tese de repercussão geral: Sociedade de economia mista, cuja participação
acionária é negociada em Bolsas de Valores, e que, inequivocamente, está voltada
à remuneração do capital de seus controladores ou acionistas, não está abrangida
pela regra de imunidade tributária prevista no art. 150, VI, 'a', da Constituição,
unicamente em razão das atividades desempenhadas” (recurso extraordinário
Apelação Cível nº 1000981-24.2022.8.26.0266 -Voto nº 55330 4
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600.867, Tribunal Pleno, relator Ministro Joaquim Barbosa, relator para acórdão
Ministro Luiz Fux, julgado em 29/06/2020).
Por essas razões não se aplica a regra de
imunidade fiscal à embargante.
No que toca à alegação de isenção, rezam os
artigos 150, § 6º, da Constituição Federal, e 176, “caput”, do Código Tributário
Nacional, “in verbis”:
“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias
asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e
aos Municípios:
.........................................
“§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de
base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a
impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica,
federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima
enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do
disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.”
“Art. 176. A isenção, ainda quando prevista em
contrato, é sempre decorrente de lei que especifique as condições e requisitos
exigidos para a sua concessão, os tributos a que se aplica e, sendo caso, o prazo de
sua duração.”
Da análise dos dispositivos legais mencionados
nos antecedentes parágrafos extrai-se que a isenção está a depender de lei
específica que regule as condições e requisitos para sua concessão, a despeito de
prevista em contrato.
Na hipótese dos autos, como bem asseverado
pelo município inexiste diploma legal a conceder o benefício à recorrente. A Lei
Complementar 197/2018 limita-se a autorizar a sua concessão mediante edição de
lei específica para tanto. Assim, ainda que haja previsão contratual de concessão
da benesse fiscal à embargante, está-se que não era mesmo caso de reconhecer
que esta faz jus à isenção, pois inexiste lei a regular a matéria.
Apelação Cível nº 1000981-24.2022.8.26.0266 -Voto nº 55330 5
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Ademais, dispõe a Lei Municipal 3.971/2014:


“Art. 4º. O Município deverá isentar a SABESP
de todos os tributos incidentes nas áreas e instalações operacionais existentes na
data da celebração do contrato, que será extensível àquelas criadas durante a sua
vigência e também dos preços públicos relacionados ao uso de vias públicas, do
espaço aéreo e do subsolo, e ao uso de quaisquer outros bens necessários à
execução dos serviços.”
No caso em apreço, não se demonstrou que o
imóvel tributado se encaixa no conceito previsto no dispositivo legal
supratranscrito. Assim, não é possível o reconhecimento de isenção do IPTU.
Em suma: a cobrança do imposto não pode ser
afastada ao argumento de imunidade, tampouco de isenção. Inexorável, pois,
rejeitar a pretensão recursal.
Posto isso, nega-se provimento ao apelo e
majora-se a verba honorária a R$ 700,00 (setecentos reais), nos termos do artigo
85, § 11, do Código de Processo Civil.

Geraldo Xavier
Relator

Apelação Cível nº 1000981-24.2022.8.26.0266 -Voto nº 55330 6

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