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A MAIS ANTIGA REVISTA PORTUGUESA DE VINHOS

PUBLICAÇÃO BIMESTRAL - NOVEMBRO/DEZEMBRO | 2022 - Nº 188 - €2,50 (Port.Cont.)

O Escanção, n°188 - 2022 1


EDITORIAL

Em tempo de agradecer
Chegando à última edição de 2022, e ao fim de um ano de celebração, com grande emoção e orgulho,
a muito podemos brindar. Este foi um ano especial, intenso e preenchido, com várias ocasiões de convívio e,
sobretudo, com momentos em que pudemos crescer, de forma produtiva, inspiradora, como um todo,
um colectivo – e neste crescimento valeram todas as palavras, todas as acções e os objectivos delineados
e em comum.

Não podemos deixar de realçar a troca constante de conhecimentos, o contacto e a oportunidade


de vivência e de aprendizagem com grandes profissionais e mestres do mundo do vinho que temos
conseguido proporcionar no contexto das várias acções da Associação, tal como a forte consciência
do papel do seu trabalho para o desenvolvimento da profissão e do próprio país, para o presente e o
futuro dos escanções. Sempre acreditámos que das mudanças há que se apostar no seu lado positivo,
construtivo, e é com este mote que temos caminhado.

Foi também neste espírito que vivemos a Grande Gala 50 Anos Escanções de Portugal, a 28 e 29 de
Novembro, no Redondo, Alentejo, numa ocasião onde se fez acontecer, em paralelo, o Campeonato
Nacional de Escanções 2022 e o Concurso Nacional Fernando Ferramentas. Pela mão de uma equipa
dedicada, e com muita paixão pelo que faz, com o apoio fulcral de várias entidades e personalidades
do sector, e com a energia incrível do grande grupo de concorrentes de ambas estas competições, um
grupo que deu vida aos dois dias do evento e sentido ao trabalho que tem sido desenvolvido na Associação.

Em destaque nesta edição da revista, o artigo com detalhes deste encontro ao qual se segue a entrevista,
na rubrica Segredos do Escanção, ao grande vencedor do Campeonato Nacional de Escanções 2022,
Marc Pinto.

Na rubrica Gente Que Sabe de Vinho, tivemos a oportunidade de falar com José Luís Araújo que nos
conta melhor o seu trajecto pelo mundo do jornalismo especializado e um pouco mais sobre a sua
pessoa e a sua experiência.

Nas provas, para além dos Lançamentos/Novidades,


uma selecção de Licorosos e Moscatéis, com texto e
notas de prova de Manuel Moreira.

A todos que nos acompanham e que connosco


crescem, um festivo e sincero Obrigado!

Boas leituras na nossa companhia.


E obrigada por estarem connosco!

Isabel Esteves
Directora de Comunicação da revista

O Escanção, n°188 - 2022 1

NotíciasFlix
FICHA TÉCNICA
SUMÁRIO
Director
Tiago Paula
(tiagopaula@escancoes.pt)

Director Adjunto
Fábio Nico
(geral@escancoes.pt)

Sub-Directores
Nelson Guerreiro e Carlos Lopes
(geral@escancoes.pt)

Editor
Ana Isabel Fojo Franco Ramos Branco
(escancao@sapo.pt) Marc Pinto
Directora de Comunicação 1 Editorial
Isabel Teresa Vale Lobo Esteves
(revista.oescancao@gmail.com) 2 Sumário
Painel de Provadores
4 Segredos do Escanção
Artur Caldas, Joaquim Santos, Manuel Miranda, Marc Pinto, vencedor do Campeonato
Manuel Moreira e Tiago Paula
Nacional de Escanções 2022
Colaboradores
António Ventura, Ceferino Carrera,
8 50º Aniversário AEP
Sara Peñas Lledó e Tiago Paula Grande Gala 50 Anos
Fotografia Campeonato Nacional de Escanções
Bruno Conceição, Janice Prado e Rui Viegas
Concurso Nacional Fernando Ferramentas
Projecto Gráfico e Pré-Impressão 16 Gente Que sabe de Vinho
Vinícius Palhares
José Lúís Araújo
Director Financeiro/Comercial
Sérgio Mata (geral@escancoes.pt)
20 Vinhos à Prova - Lançamentos / Novidades
22 Apresentação do Painel de Provadores
Assinaturas e Publicidade
Ana Branco (geral@escancoes.pt) 23 Vinhos à Prova – Licorosos e Moscatéis
Propriedade, Administração, Edição e Redacção
26 Entre Quintas
Associação dos Escanções de Portugal Casa Ermelinda Freitas
Av. Almirante Reis, nº 58 - r/c Dtº, 1150-019 Lisboa
NIF 501269215 Tel: 0351 21 8132542 30 Onde o Vinho é Rei
www.escancao.com (geral@escancoes.pt))
www.facebook.com/escancoesdeportugal
34 O Maestro do Vinho
A Domesticação da Videira,
Ficha técnica da publicação encontra-se disponível por Ceferino Mariño Carrera
assim como o estatuto editorial
https://www.escancao.com/revista
36 Crónica – Associação de Enologia
Castas, por Engº António Ventura
Número de Registo: 111639 / Depósito Legal:
139009/99 38 Enoturismo em Portugal
Estatuto Editorial
41 Acontece –
Divulgação de Iniciativas e Novos Projectos
Objectivos:
Compromisso em assegurar os princípios deontológicos Festas de Torres Vedras 2022
e ética profissional dos jornalistas, assim como pela boa
fé dos leitores.
Concurso de Vinhos e Espumantes
Bairrada 2022
A Revista O Escanção destina-se a dar conhecimento
actualizado das actividades da Associação dos Masterclasses AEP
Escanções de Portugal (A.E.P.), na divulgação da vinha,
do vinho, e na exposição, manutenção e respeito da
Sabores e Paladares Ibéricos
deontologia profissional entre todos os que a essa AEP no Mercado de Vinhos Campo Pequeno
actividade estão ligados.
Cursos AEP
A revista ‘O Escanção’ continua a reger-se pelo anterior
50 Wine News
54 Wine News – Ficha de Assinatura

2 O Escanção, n°188 - 2022


O Escanção, n°188 - 2022 3
SEGREDOS DO ESCANÇÃO

Texto Isabel Esteves


Fotos Rui Viegas

MARC PINTO

É o vencedor do Campeonato Nacional de Escanções 2022, e, depois de ter passado vários anos em
Barcelona por locais de referência com várias estrelas Michelin, é, actualmente o escanção do também
estrelado restaurante FiftySeconds by Martin Berasategui mas em Lisboa. Neste pequeno testemunho,
conta-nos como começou o seu grande, sorridente e promissor caminho por esta profissão, as etapas
mais importantes do seu percurso e a viagem que, recentemente, percorreu ao participar no Campeonato
onde se sagrou vencedor. O foco e a determinação, mais que a ambição, que não lhe têm falhado em
cada passo da sua carreira, têm-lhe garantido alcançar metas que de sonhos se têm tornado realizações.
Mas a trabalhar cada dia para ser melhor que no dia anterior.

Marc nasceu em França, na região de Champagne, mas Actualmente, Marc é escanção no restaurante Fifty Seconds
muito novo veio para Portugal, para Santa Maria da Feira by Martín Berasategui, em Lisboa. Como foi o seu percurso
onde começou a sua formação. Qual foi o ponto de partida até aqui?
para seguir pelo mundo dos escanções? Após concluir os estudos nas escolas do Turismo de Portugal,
Nasci, de facto, em França em 1990, excelente ano de vinho primeiro em Santa Maria da Feira e mais tarde no Porto,
em Bordéus e Champagne. Nenhum destes dados daria embarquei numa aventura internacional. No ano de 2013,
pistas concretas para antecipar que, em 2008, na escola de e já com 2 anos de experiência como empregado de mesa,
Hotelaria e Turismo de Santa Maria da Feira, iria conhecer o rumei a Barcelona para trabalhar no Hotel Arts, um dos mais
Mestre Vítor Pinho que foi um dos bons ‘’culpados’’ pelo meu reputados da cidade e gerido pela Ritz Carlton. Ingressei na
início nesta profissão. Houve outras pessoas que tiveram um equipa da Enoteca by Paco Perez, que detinha 2 estrelas Michelin
papel fundamental na minha carreira, mas o Vitor Pinho e uma adega com 600 referências, e por aí mesmo dei os
representou para mim o mesmo que o senhor Miyagi signifi- meus primeiros passos como assistente de Escanção. Em
cou na vida de Daniel San. 2015, mudei-me para o Lasarte Martin Berasategui que também era
um restaurante com 2 estrelas Michelin e possuía uma garrafeira
com 850 referências, onde fui assistente de Escanção e mais
tarde Escanção principal. Pelo ano de 2017 ganhamos a

4 O Escanção, n°188 - 2022


3ª estrela Michelin, um sonho tornado realidade. Entre 2014 melhor sommelier de Portugal, eventualmente à época sem
e 2017 foram os meus anos de maior estudo dedicado ao mundo saber exactamente o que significavam as palavras que ali
do vinho, muitos livros comprados, muita ajuda de vários foram escritas. A partir daí percorri toda a minha memória
mentores e horas sem fim de estudo. Valeu tudo a pena, cada e estabeleci um plano com objectivos mais tangíveis, porque,
lágrima e cada gota de suor. Em 2018 fui convidado para regressar na realidade, ser o melhor escanção de Portugal, dito tal e
a Portugal e desenhar de raíz a adega do novo restaurante qual, é um sonho e não um objectivo que podemos alcançar.
do grupo Sana, o FiftySeconds Martin Berasategui. Era a Trabalhei cada dia para ser melhor que o dia anterior e procurei
hora da verdade, tinha uma tela em branco e liberdade para desafiar-me e estar sempre rodeado por pessoas que já tivessem
desenhar todos os meus sonhos. E aqui estou eu, em 2022, cumprido objetivos semelhantes. Em 2020 e 2021 recebi os
com uma garrafeira que conta com 850 referências em vinhos primeiros reconhecimentos que ambicionava, mas estes só
tranquilos e espumantes a que se soma mais umas 300 entre me fizeram perceber que tinha que trabalhar ainda mais para
fortificados e destilados. É um resumo muito condensado ser todos os dias futuros, após essa conquista, merecedor da
mas com os pontos chave da minha carreira, pelo meio honra de ter sido premiado. Portanto se me permitem deixo
existiram algumas distinções, importantes, e, para mim, uma reflexão, receber prémios dá-nos ainda mais trabalho
um combustível para querer fazer mais e melhor cada dia. do que aquele que tivemos até a sua conquista. Ser campeão
nacional de Escanções significou para mim que estou no
Fora de Portugal, no período em que esteve em Barcelona, caminho certo e sigo os valores corretos, nomeadamente a
entre 2014 e 2018, especializou-se em vinhos espanhóis, humildade, respeito e empatia. Como é óbvio, foi um sentimento
trabalhando já aqui com a equipa de Martín Berasategui. de orgulho enorme, mas o espírito de compatriotismo que
Como foi esta experiência? criamos naquele dia foi para mim a melhor conquista. Temos
Em 2013 cheguei a Barcelona para estagiar num hotel de talento em Portugal e com trabalho podemos ser um dia
referência na cidade, o Hotel Arts da Ritz Carlton, onde campeões mundiais.
passei 2 anos da minha carreira profissional que me fizeram
racionalizar e criar métodos tangíveis para todas as com- O que passa pela sua preparação para uma competição
ponentes intangíveis da nossa profissão. Um método de deste nível?
trabalho mecânico, mas muito efectivo na sua aplicação. Existem, sem dúvida, várias camadas que devemos analisar
Após esta aprendizagem mudei-me para o Lasarte do Chef naquilo que é a preparação necessária. Considero-me ainda
Martin Berasategui para voltar a uma cultura de serviço mais um novato nesta matéria uma vez que foi o meu primeiro
clássica, mas sobretudo mais familiar também. Quando digo campeonato, mas mesmo assim vou arriscar e partilhar a
familiar é mesmo esse o mote do universo Berasategui, minha experiência esperando pelo menos motivar alguém
os colaboradores, os fornecedores e os clientes são todos a participar no próximo campeonato. Uma das coisas
parte de uma grande família, todos importantes e com o mais importantes é a inscrição, deves inscrever-te o mais
seu lugar bem presente. Ingresso num restaurante de elite, cedo possível, passo a explicar, o ser humano é receptivo a
onde os melhores profissionais se formaram e o restaurante estímulos e o maior estímulo para mim foi inscrever-me.
tornou-se um referente no serviço de Sala a nível mundial. Não há volta atrás, a partir daí assumes um compromisso
Joan Carles Ibáñez é o director e maestro da sala, sempre contigo e com as entidades organizadoras. O cérebro começa
o tratei por capitão pois ele era a ‘’cabeça’’ da equipa de a aumentar a frequência de pensamentos relacionados com
sala. Muito importante na minha trajectória profissional, o campeonato e tudo o que estudaste até aquela data parece
ensinou-me tudo o que o Rocky ensinou ao Adonis Creed que é pouco, e é mesmo acredita. Antes desta inscrição
Jr. O meu primeiro grande ‘’combate’’ foi com ele no meu deves preparar a tua teoria, organizá-la e planificar o teu
canto e sempre explicando a melhor táctica para derrubar estudo. Para um campeonato nacional deves preparar-te
as defesas dos clientes mais difíceis fazendo com que estes com muita antecedência, principalmente se não estás no
últimos saíssem com um sorriso de orelha a orelha. Nunca activo ou se tens dificuldade em aceder a vinhos de todo o
procuramos o knock out, existia sempre muito trabalho mundo, assim como bebidas espirituosas, cervejas, chás e etc.
psicológico para levar os clientes a tocarem com a ponta dos Após a inscrição, normalmente devemos estar a 45 dias do
dedos das mãos nas nuvens do céu, espero que entendam concurso, portanto já não vamos a tempo de adquirir novos
e já tenham experimentado essa sensação. Aprendi aqui de conhecimentos profundos, o ideal é focar-nos naquilo que já
vinhos espanhóis desde a Cataluña até à Galiza e de Rioja até sabemos, usar e abusar dos ‘’flashcards’’ e começar a praticar
Jerez não esquecendo as ilhas. Espanha é um país rico em a componente prática. O campeonato tem uma componente
vinhos, muitos de enorme qualidade, requer alguma perícia prática forte e precisamos de estar preparados, outra vez
para separar o trigo do joio, mas cada vez mais o mercado repito, principalmente se não estamos no activo ou temos
se está a especializar para entregar produtos diferenciados um dia a dia com um estilo de serviço mais simples. Lembrar
e numa escala mais pequena porque, como devem saber, o protocolo de serviço pois este aplica-se no campeonato.
Espanha é também um país de grandes volumes no que toca Lembrar de como se decanta um vinho com todos os passos,
a uva produzida. pois aplica-se no campeonato.

Marc foi o vencedor do recente Campeonato Nacional de No que respeita a esta competição em si, e aos exames a ela
Escanções 2022 da Associação dos Escanções de Portugal. inerentes, quais as provas que, pessoalmente, sentiu serem
Já com alguns títulos e prémios reunidos no seu percurso, um maior desafio? Houve alguma prova que o tivesse
nestes últimos dois anos, qual é o significado desta conquista surpreendido de forma particular?
em particular? No campeonato deste ano existiram provas de um nível
Em 2018, aquando do meu regresso a Portugal, fiz uma lista internacional, repito que nunca tinha estado antes em um
com os meus objectivos de carreira para essa nova fase da campeonato, pelo menos muitas foram parecidas com o
minha vida. Um deles, sem dúvida, foi trabalhar para ser que se vê no Europeu ou Mundial. Sem dúvida alguma que
um dos melhores escanções do país. E, sem vergonha de o a pressão no componente tempo foi menor, mas mesmo
dizer, escrevi no dia 13 de Janeiro de 2018 que queria ser o assim as provas tinham uma dificuldade elevada. Para mim o

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grande desafio foi a prova teórica, mas hoje em dia após esta seguirmos fazer outro meio século tão bonito como este que
participação aprendi que temos que relativizar e concentrar-nos celebramos no dia 29 de Novembro de 2022.
naquilo que sabemos. Saber ‘’tudo’’ é impossível, portanto a
ideia é absorver o máximo possível e focar-nos naquilo que Na sua opinião, e pela sua experiência, o que ainda não se
dominamos. A prova que mais me surpreendeu foi a descrição realiza no país e que poderia contribuir para o desenvolvimento
organoléptica completa de 5 vinhos, a surpresa foi o facto de da profissão de escanção?
exigir uma concentração e um rigor muito alto. Para estar É sempre difícil opinar em algo tão sensível, mas diria
a um nível internacional, uma prova como esta exige um que algo importante a ser feito seria organizar um evento
treino diário da mesma. Quem ficou com a sensação que é internacional de Escanções no nosso país. Esquecendo a
fácil aconselho a experimentarem um dia… parte de competições e focar mais na relação interpessoal,
troca de ideias e sobretudo valorização interna e externa de
O que o fascina mais nesta profissão? E o que o faz sentir-se tudo o que fazemos dentro das nossas fronteiras, e por vezes
realizado como escanção? tão pouco divulgado. Por outra parte, todos os inputs que
A profissão de Escanção é nobre e de uma sensibilidade es- poderíamos receber por parte de Escanções de todo o mundo
pecial, sem dúvida que pode ser trabalhada, mas acredito que que já viajaram pelo globo fora e que têm olhares menos viciados
existe uma componente de carácter que é necessária para ser que os nossos exactamente por essa heterogeneidade antes
um verdadeiro Escanção. Um Escanção não pode exercer experienciada.
medicina, mas um Médico tampouco pode ser Escanção.
Longe de mim comparar ambas as profissões, mas ambas se Junto com o escanção Gabriel Duarte, Marc fundou a
exercem em prol do próximo e isto é o que mais me fascina. empresa de formação e consultoria Wine Me Up. Em que
A realização é construída no dia a dia com o sorriso das pes- consiste este projecto?
soas que fazemos felizes e de todo aquele que começa a olhar Este projecto nasceu de um sonho antigo que, em plena
para o vinho de forma apaixonada após se cruzarem con- pandemia, ganhou forma. Ainda está a tentar ganhar o seu
nosco. Existe muita filantropia nesta profissão. O vinho une espaço no mercado assim como nas nossas vidas profissionais.
a mesa, reúne pessoas nas vindimas e faz revelar emoções e A ideia base é democratizar o vinho no mundo e isso implica
sentimentos que muitas vezes tememos em partilhar. um trabalho em várias áreas. Numa primeira fase focou-se
apenas no consumidor final, mais tarde percebemos que as
Que conselhos daria a quem pretende iniciar a carreira consultorias também nos permitiam ajudar pessoas e a próxima
nesta área? fase passa pela formação de profissionais que pretendem
Hoje em dia é mais difícil dar conselhos certeiros, pois não actuar melhor em prol do serviço de vinho em Portugal.
existem algumas possibilidades, mas sim, imensos caminhos
que o Escanção pode seguir. Vou então tentar ser abrangente Para quem quer saber mais sobre vinhos, e em particular,
e pensar mais como actuar e menos como ser Escanção. sobre como fazer uma selecção na hora de escolher um
O Escanção deve estar presente, mas sem tornar-se cansativo, vinho, que conselho acha importante?
por vezes sabemos muito, mas podemos estar a debitar informação Escolher um vinho devia ser fácil e para que isso aconteça
a mais para alguém que não pediu, portanto devemos devemos sempre recorrer à ajuda do Escanção do restaurante
lembrar-nos que menos é mais. Outro conselho que posso ou à pessoa responsável pelo serviço de vinhos. No caso de
dar é que o estudo tem que ser constante, tudo aquilo que não existir, não joguem totalmente pelo seguro, arrisquem
aprendeste até agora tem que ser revisto com regularidade, a provar algo novo, uma uva que ainda não conheçam ou
as leis mudam, os produtores das adegas mudam e o que até mesmo uma região que, em outra ocasião, nos deixou
hoje parece certo amanhã pode ser apenas um lindo quadro desapontados. As regiões menos conhecidas têm feito um
do passado. O estudo deve ser uma tarefa diária. Por último, papel fantástico na procura de fazer vinhos de melhor qualidade,
mas não menos importante, tem sempre presente qual o portanto arrisquem.
propósito pelo qual estás rodeado de vinho, quero com
isto dizer, não confundir o profissional com o pessoal. Esta Depois de tantas conquistas e, no momento em que
profissão é muito difícil porque uma prova de vinho pode actualmente se encontra na carreira, qual é o seu maior
terminar num jantar com o produtor e mais tarde a beber objectivo como escanção a curto prazo?
umas garrafas com amigos. Quando estás a provar vinhos Acima de tudo espero que as conquistas não fiquem por
devemos respeitar esse momento e não o confundir com um aqui, principalmente as colectivas e todas aquelas em que eu
jantar de amigos. Se o objectivo é aprender e melhorar devemos possa estar envolvido, mesmo que indirectamente. Individuais,
estar focados e ser muito disciplinados, de outra forma espero ainda conquistar mais alguns reconhecimentos, mas
rapidamente passaremos para o espectro negativo de alguém sei o quão difíceis são e, portanto, acho que não serão no
que apenas bebe uns vinhos nos jantares vínicos. Este tema é curto prazo. Um dos objectivos é continuar a desempenhar
sensível, mas deve ser entendido com a seriedade que tem. um bom serviço de vinhos nos locais onde trabalho em prol
do vinho. No entretanto, tenho como objectivo começar
Quando falamos de associativismo e espírito de equipa, a dar formação em alguma entidade de ensino pois estou
nomeadamente sendo escanção associado da Associação certo que me ajudaria a crescer como profissional e levaria a
dos Escanções de Portugal, considera que esta é uma minha carreira para outro nível.
realidade em Portugal neste momento?
No último campeonato senti um espírito incrível à volta do www.instagram.com/marcpintosomm/
grupo que participou. Sou também consciente que a nova
presidência tem fomentado esse espírito e que este se tornará
cada vez maior com o passar do tempo. Devemos cada vez
mais ajudar-nos entre Escanções uma vez que esse espírito
só levará mais alto e mais longe a nossa profissão. Devemos
aproveitar o conhecimento dos sócios fundadores para con-

6 O Escanção, n°188 - 2022


O Escanção, n°188 - 2022 7
50º ANIVERSÁRIO ASSOCIAÇÃO DOS ESCANÇÕES DE PORTUGAL

Texto Isabel Esteves


Fotos Rui Viegas e AEP

Grande Gala 50 Anos AEP


Em ano de celebração para a Associação dos Escanções de Portugal, o mês de Novembro foi marcado
pela realização da Grande Gala dos 50 anos da Associação e para esta ocasião especial justificou-se
um evento de dois dias, a 28 e 29 de Novembro, no Hotel Convento de São Paulo, no Redondo,
Alentejo, com motivo da concretização, paralela, do Campeonato Nacional de Escanções 2022 e do
Concurso Nacional Fernando Ferramentas.

8 O Escanção, n°188 - 2022


A Associação dos Escanções de Portugal fecha o ano de
2022, de celebração, e esta rubrica que tem sido partilhada
nas últimas edições, com um destaque à Grande Gala
dos 50 Anos AEP. Um evento que foi realizado
no Alentejo, nos dias 28 e 29 de Novembro e, sem
dúvida, uma ocasião especial para a história desta Casa,
e que ficará também registada como mais um marco
importante no seu percurso, pela data simbólica que foi
comemorada e pelo programa realizado. Sobretudo, pela
vivência que foi proporcionada a todos os convidados
e participantes, dois dias marcados pela reunião de
excelentes profissionais, companheiros de vida e de trabalho, e
dedicados ao reconhecimento do seu trabalho e à sua progressão.

O encontro contou com a presença de um grande


grupo de escanções portugueses, profissionais do sector,
colegas, colaboradores e amigos e foi a materialização
de mais um passo importante para a Associação, no
cumprimento dos seus objectivos, no reforço da sua
identidade e para o desenvolvimento da profissão dos
Escanções de Portugal.

Preenchido com muitos momentos de provas teóricas


e práticas mas também com apeentações, degustações
e provas especiais, em que se incluíram uma pequena
apresentação da XVIII Talhas e da Tiago Cabaço Winery
nos almoços no restaurante O Ermita em ambos os
dias, a visita e jantar à Adega do Monte Branco com o
escanção convidado internacional Raimonds Tomsons,
e a visita à Casa Relvas & Friends e posterior jantar na
Enoteca de Redondo.

A Final do Campeonato Nacional de Escanções foi o


culminar do evento, momento que foi transmitido em
live stream para todo o mundo com o patrocínio da
Vinalda, ao qual se seguiu o jantar da Gala dos 50 anos
AEP. Neste momento foram então entregues os Prémios
Associação dos Escanções de Portugal, os quais reconhecem e
homenageiam personalidades e entidades que contribuem
de forma positiva, dinâmica e vital para a evolução do sector.

Nesta noite de Gala os premiados homenageados foram:


José Luis Araújo, com o Prémio Santos Mota | Impren-
sa; José Bernardino Carrilho da Costa com o Prémio
Carrera | Serviço de Vinhos; a Sociedade Agrícola Boas
Quintas, Lda. com o o Prémio Melhor Produtor do Ano
para Vinhos Tranquilos, a Quinta do Estanho Vinhos
do Porto e Douro, Lda. para Vinhos Fortificados e a
Adega Cooperativa de Cantanhede, CRL. para Vinhos
Espumantes; António Ventura com o prémio Melhor
Enólogo do Ano; e Victor Pinho com o Prémio Académico.

Também no jantar de Gala foram anunciadas as


distinções do Concurso Nacional Fernando Ferramentas
e foi entronizado mais um colega para a Confraria dos
Escanções de Portugal, o também na ocasião premiado
José Costa. Seguindo-se um brinde final em conjunto e
os vários discursos, entre eles, de Tiago Paula, presidente
da Associação dos Escanções de Portugal, de Bernardo
Gouvêa, presidente do IVV – Instituto da Vinha e do
Vinho, e de Lígia Marques, wine educator da Sogrape.

www.escancao,com

O Escanção, n°188 - 2022 9


50º ANIVERSÁRIO ASSOCIAÇÃO DOS ESCANÇÕES DE PORTUGAL

Texto Isabel Esteves


Fotos Rui Viegas e AEP

Campeonato Nacional de
Escanções 2022

Esta edição do Campeonato Nacional de Escanções contou com 18 concorrentes, vindos de vários
pontos do país, um grupo de escanções com percursos e experiências diversificados e que, nestes dois
dias de competição e reunião, unidos pela profissão e por um objectivo em comum, se focaram em
demonstrar os seus conhecimentos e práticas. O compromisso que se estabelece ao participar num
campeonato como este implica muito trabalho e concentração, havendo, no entanto, por fim, sempre
uma mais-valia – a experiência que se ganha. Para além do espírito de competição, a troca e a partilha
de saberes, de opiniões e de contactos. O grande vencedor foi o escanção Marc Pinto, que demonstrou
de forma exemplar o seu trabalho, mas todos os participantes estão de parabéns pela sua coragem
e determinação

O Campeonato Nacional de Escanções 2022 decor-


reu nos dias 28 e 29 de Novembro no Hotel Convento
de São Paulo, no Redondo, Alentejo, e 18 escanções
estiveram em competição. Foram eles: Carlos Marques,
escanção no restaurante O Rei dos Leitões; David Rosa,
escanção no Bairro Alto Hotel; Fábio Nico, chefe de
sala e escanção no Hotel Convento de São Paulo; Diogo
António Sanches Pereira; escanção/ head sommelier
no Le Monumental Palace; Diogo Frade, escanção e
F&B Consultor; Filipe Wang, escanção/ head sommelier
no Kabuki Lisboa; Gabriel Duarte, escanção/ head som-
melier no Nunes Real Marisqueira; Gonçalo Desidério,
empregado de mesa 1º, no Kabuki Lisboa;

10 O Escanção, n°188 - 2022


Luis Feiteirinha, subchefe de sala no Kabuki Lisboa;
Marc Pinto, escanção/ head sommelier no Fifty Sec- O concurso contou com a condução da escanção e
onds by Martín Berasategui; Mickael Vieira, escanção directora comercial da João M. Barbosa Vinhos, Teresa
e gestor Comercial no Wines By Heart, Lisboa; João Barbosa, e, como júri presente contou-se com o seguinte
Marques, escanção no restaurante Belcanto; João Lou- grupo de profissionais:
renço, escanção no Mind the Glass Bistrot and Wine
Bar; Pedro Escoto, escanção no Kabuki Lisboa; Pedro Anca Poiana, André Figuinha, Fernando Melo, João
Ramos, escanção/ head sommelier no restaurante Feito- Marques, José Costa, Manuel Moreira, Modesto Junque-
ria – Hotel Altis Belém; Ricardo Ferreira, escanção no ira, Nelson Joaquim, Nuno Ferreira, Raimonds Tomsons
Equally Delicious Catering; Vasilii Grebencea, escanção como júri convidado internacional, Victor Pinho e
no Bairro Alto Hotel; e Victor Jardim, director de William Wouters, presidente da ASI – Association de la
restaurante no Kabuki Lisboa. Sommellerie Internationale.

Numa primeira fase, a 28 de Novembro, realizou-se o A final da competição foi transmitida em livestream pela
exame teórico, a partir do qual foi seleccionado um grupo Vinalda Portugal e pôde ser assistida em directo através
de 6 semifinalistas, composto por Carlos Marques, da página de Facebook da Associação dos Escanções de
Diogo Sanches Pereira, Filipe Wang, Marc Pinto, Portugal.
Pedro Ramos e Ricardo Ferreira, e que avançou para a
fase das provas práticas, a acontecer no dia seguinte, Para ver a Grande Final:
a 29 de Novembro.
www.facebook.com/escancoesdeportugal/videos/1175570313042896
Destes foram apurados 3 escanções para a Grande Final:
Diogo Sanches Pereira, Marc Pinto e Ricardo Ferreira.
Por fim, o grande vencedor foi o escanção Marc Pinto,
actual escanção e head sommelier no Fifty Seconds by
Martín Berasategui, em Lisboa, seguindo-se Ricardo
Ferreira e Diogo Sanches Pereira, nos segundo e
terceiro lugares, respectivamente.

Marc Pinto à direita

O Escanção, n°188 - 2022 11


50º ANIVERSÁRIO ASSOCIAÇÃO DOS ESCANÇÕES DE PORTUGAL

Texto Isabel Esteves


Fotos Rui Viegas e AEP

Concurso Nacional
Fernando Ferramentas
Também nos dois dias dedicados à Grande Gala dos 50 Anos AEP, no Redondo, Alentejo, a 28 e 29
de Novembro, concretizou-se mais uma edição do Concurso Nacional Fernando Ferramentas, com
provas práticas e teóricas a acontecer em ambos os dias. Dos 15 concorrentes presentes, 9 foram
distinguidos e chamados ao palco na Grande Gala para receber os seus diplomas.

Este foi o II Concurso Nacional Fernando Ferramentas


a acontecer desde o lançamento do curso que o origi-
nou em 2018, o Curso Nacional Fernando Ferramentas.
Direccionado aos profissionais do sector em Portugal,
esta formação foi inspirada no grande Escanção portu-
guês Fernando Ferramentas – fundador da Associação
dos Escanções de Portugal e é feito através de um road
show, de norte a sul do país, passando por várias cidades
portuguesas. Focado no serviço, em temas como a tem-
peratura, os tipos de copos, a venda e a harmonização, o
curso inclui também degustações e explicações sobre as
diferenças das regiões vitícolas de Portugal, e pretende
apoiar a restauração, a hotelaria e o turismo em Portugal
melhorando o serviço de vinho no nosso país.

12 O Escanção, n°188 - 2022


Nesta edição e com o objectivo de conquistar o título
de Melhor Empregado de Mesa/Escanção ao serviço
do Vinho em Portugal com Vinhos Portugueses, foram
15 os finalistas a participar, um grupo composto por
profissionais que foram seleccionados dos anos de 2019,
2020 e 2021 e após a conclusão do Curso nas cidades
onde se inscreveram, do norte a sul do país, entre Braga,
Bragança, Covilhã, Elvas, Guarda, Óbidos, Portimão,
Redondo, Vale de Lobo e Vidigueira.

No dia 28 foi realizada a primeira fase do Concurso,


composta por um exame prático, e no dia 29, a prova
teórica, sendo que daqui foram seleccionados 9 concorrentes,
a receber Medalhas de Ouro, Prata e Bronze.

As Medalhas de Ouro foram entregues a Artur Simões,


escanção no Alentejo Marmòris Hotel&Spa em Vila
Viçosa; Pedro Bonito, chefe de sala e escanção na Quinta
do Quetzal, em Vila de Frades; e Miguel Mourão. Prata
a Pedro Nobre, proprietário da Nobre Vinhos e Tal
na Guarda; Hugo Oliveira, chefe de bar e vinhos n'O
Gato do Rio em Braga; e Susana Inácio, empregada de
mesa no Naco na Pedra, em Salir do Porto. E Bronze a
Ricardo Ramos, proprietário, chefe de sala e escanção
da Taberna A Laranjinha e do restaurante Açafrão na
Covilhã; Nuno Rovisco, operador especializado no
departamento de vinhos no Apolónia Supermercados;
e Rúben Salgado, chefe de sala do restaurante Versatile,
em Olhos de Água.

Para os medalhados com Ouro, a Associação dos Escanções


de Portugal oferece o Curso Profissional AEP na sua
totalidade, e, da parte da Sogrape, para além de um
prémio monetário, está garantida uma semana de
estágio numa adega da empresa.

www.escancao.com/curso-portugal-fernando-ferramentas

O Escanção, n°188 - 2022 13


Para a realização deste evento de dois dias, a Associação pode contar com vários apoios, fun-
damentais para a concretização do programa pretendido e das várias acções inerentes,
tanto das duas competições como do Jantar da Grande Gala e das provas e degustações
especiais que foram decorrendo ao longo do evento. Foram eles, o IVV - Instituto da
Vinha e do Vinho, a Sogrape, a Riedel, o Hotel Convento São Paulo, a Fundação Hen-
rique Leote, o restaurante O Ermita, a San Pellegrino e a Acqua Panna, a Vinalda, a
Garrafeira Nacional, a Adega do Monte Branco, a XVIII Talhas, a Tiago Cabaço Win-
ery, a Casa Relvas & Friends, e, por fim mas não menos importante, a Câmara Munici-
pal de Redondo.

Tal como todos os produtores do país que enviaram o seu vinho para o Jantar da
Grande Gala e que contribuíram para proporcionar aos convidados um excelente mo-
mento final de convívio e confraternização:

14 O Escanção, n°188 - 2022


GENTE QUE SABE DE VINHO

Texto Isabel Esteves


Fotos José Luís Araújo

JOSÉ LUÍS ARAÚJO

16 O Escanção, n°188 - 2022


Com um extenso e produtivo percurso pelo mundo do jornalismo, José Luís Araújo já
enveredou por várias aventuras, entre jornais, revistas e rádio, a sua grande paixão, meios
nos quais ainda hoje se mantém activo. E aos quais se junta o seu trabalho diário para a
revista Gazeta Rural, o seu próprio projecto fundado há quase 19 anos, em 2004, e que
vai já na sua 421ª edição. Aos acasos da vida atribui as oportunidades de ter conhecido já
várias e diferentes realidades e ter ganho novas perspectivas do mundo, à sua curiosidade
e vontade de descobrir a origem das coisas, o conhecimento e o saber.
José Luís Araújo é o fundador e diretor da Gazeta Rural, era correspondente do Diário de Notícias, e me “ordenou”,
uma revista quinzenal fundada em 2004 e que se foca em 1971, a substituí-lo nessa função. Com o aparecimento
em notícias do mundo rural e agrícola. Como foi o das rádios locais fui na “enxurrada”. É, confesso, a minha
arranque deste projecto e quais os maiores desafios grande paixão. Comecei como animador, nos finais de
que sentiu na sua implementação e evolução, nestes 1986, na Rádio Viriato (Viseu), passando pouco tempo
quase 19 anos? depois para a área do desporto e dos relatos de futebol,
Foi o arranque normal de um projecto que nasceu que fiz durante mais de 30 anos, até 2018, em várias
no interior. A dificuldade, em 2004, foi fazer ver a estações de rádio, como a Viriato FM, Rádio Nova, Rádio
importância da agricultura e do sector primário da Renascença, Vouzela FM, Rádio Lafões, Emissora das
região, num contexto mais geral. Tive amigos que lhe Beiras e RCI, entre outras. Em 1991, substituí o saudoso
chamaram uma “maluquice”, quando toda a gente me Agostinho Torres como correspondente do Record; fui
conhecia como jornalista desportivo, nomeadamente editor de Desporto na Rádio Nova - Viseu (1992-1994);
no relato radiofónico. A dificuldade era, segundo eles, director executivo da Rádio Viriato, entre 1994 e 1997;
“arranjar” notícias, ainda para mais sendo uma publicação fundador da (extinta) revista BI - Banca de Ideias; animador
quinzenal. Depois do lançamento do número 0, a 1 e jornalista da Rádio Renascença – Viseu (2001 e 2002),
de Agosto de 2004, o projecto começou a ser visto de até fundar a Gazeta Rural em 2004. Fui ainda animador
maneira diferente e, algum tempo depois, passou a ser radiofónico, entre outras, na RCI (Viseu), e Antena Livre.
“uma grande ideia”. Este não era um campo desconhecido Actualmente sou, também, jornalista da Rádio Escuro,
para mim. Nasci numa quinta à beira-rio, na Silvã, no de Vila Nova de Paiva, e colaboro com vários jornais
concelho de Sátão, junto da famosa Taboadella, conheço e revistas. As pessoas que mais me marcaram foram o
todos os trabalhos do campo e tenho muito orgulho nas meu avô Francisco e o meu amigo José Calema. O meu
minhas raízes. Depois, como diz o ditado, “o caminho ídolo da rádio e da televisão é Carlos Cruz. No sector,
faz-se caminhando”. Aos longo dos anos o projecto foi o inconfundível Eng. Sousa Veloso, que entrevistei em
fazendo o seu percurso, com as dificuldades naturais de 2007, uma figura de uma grande humanidade e de
uma publicação temática de âmbito nacional sedeada uma enorme simplicidade. Poderia citar muitas outras
em Viseu. personalidades que me marcaram ao longo do tempo
mas não me posso esquecer dos meus saudosos amigos,
É, desde 2007, membro da AG Press - Organismo da ambos escanções, José Mário Peixoto, que foi dirigente
União Europeia para jornalistas do sector agrícola. da AEP, e o meu querido amigo Ademir Siqueira, de
O que de melhor lhe tem trazido este percurso e Curitiba - Brasil, com quem aprendi muito sobre vinhos
conhecimento pelo mundo rural e agrícola? e comida. Infelizmente ambos já não estão entre nós.
Como disse, este não é um mundo desconhecido. Como
em tudo na vida, aprendemos todos os dias, conhecemos Qual a parte do seu trabalho que mais o fascina?
melhor o sector, as suas dificuldades, mas também as O conhecimento. Não podemos falar de algo que não
suas potencialidades. Quando iniciei este projecto, falar conhecemos. As viagens pelo país (ilhas incluídas) foram
de produtos endógenos, de gastronomia ou de vinho era fundamentais para conhecer o nosso mundo rural, os
“coisa para gente fina” e encontrei algumas dificuldades. nossos produtos locais e, fundamental, a nossa gastronomia
Com o tempo isso tornou-se normal, no sentido em e os nossos vinhos. A participação em diversos eventos
que o consumidor está cada vez mais bem informado e internacionais, as viagens pela Europa e pelo Brasil
sabe o que quer. O facto de ter sido um dos primeiros permitiram-se conhecer outras realidades. Foram os
jornalistas portugueses a aderir à AG Press permitiu-me acasos da vida.
também conhecer outras realidades, o que me deu uma
perspectiva diferente daquilo que por cá se faz em comparação E se não fosse jornalista, a que outra área gostaria de
com o que vi noutros países europeus. se dedicar?
A minha área de formação é Gestão e Contabilidade.
Para além deste projecto editorial, em particular, José O jornalismo é uma paixão. Contudo, nesta fase da vida,
já exerceu funções em várias publicações regionais e gostaria de me dedicar mais à escrita. O poeta José Marti
nacionais, mas também em rádio. No seu percurso disse que “toda a pessoa deve plantar uma árvore, ter um
pelo jornalismo, quais foram as experiências e filho e escrever um livro”. Seguindo esta linha, depois de
personalidades que mais o marcaram? plantar umas quantas árvores e ser pai de três filhos, falta-me
Sim. Nesta área já fiz muitas coisas. O gosto pelo o livro. Comecei a escrevê-lo há cerca de 10 anos mas
jornalismo foi-me incutido pelo meu avô paterno, que vou apenas na sétima página.

O Escanção, n°188 - 2022 17


Nos últimos anos tem participado em vários concursos fiz à Alemanha, a sul de Frankfurt, a comparar uma
nacionais de vinhos, como membro de júri. Como visita a uma aldeia, rodeada de vinha, e a um produ-
descreve o momento de uma prova cega de um vinho? tor local, com o que passava numa das nossas aldeias
É isso mesmo: “o momento”. Provar um vinho é descobrir vinhateiras. Lembro-me do que vi na região de Curitiba,
um mundo num instante, perceber o que está dentro do no Brasil, em 2014 e 2016, no que a esta área diz respeito.
copo e de onde vem, procurar os odores e sabores, mas, e Felizmente o panorama por cá mudou e na minha região
especialmente, perceber que para chegar ali houve muito há vários e bons exemplos. Destaco apenas a Quinta da
trabalho. Temos de valorizar o esforço e resiliência, ao Taboadella, a Casa da Ínsua, em Penalva do Castelo, ou a
sol ou à chuva, de quem fez a poda, cavou a vinha, fez Quinta de Lemos, em Silgueiros, Viseu, hoje referências
a redra, “curou” a vinha, cortou as uvas, pisou-as e fez a internacionais no enoturismo. Somos um país riquíssimo
trasfega do lagar para a cuba. No final “aquele” é o vinho. em saberes e sabores, a começar pelas pessoas. Temos
Cabe-nos provar e dar um veredito, nem sempre justo, a melhor gastronomia do mundo, onde se incluem os
mas é “o momento”. nossos vinhos, enchidos, queijos, mel, fruta e outros
Tem vindo a acompanhar a Associação dos Escanções produtos da terra. Temos de os saber valorizar, para que
ao longo dos anos, entidade que recentemente o as pessoas que trabalham a terra sintam que vale a pena
homenageou com um prémio – o Prémio Santos Mota continuarem a produzi-los. Há dias ouvi um reconhecido
| Imprensa - pelo seu percurso profissional e dedicação chef de cozinha dizer que ao fazer um workshop percebeu
ao mundo do jornalismo na área dos vinhos e da que as couves, os alhos, as cebolas e os temperos que
gastronomia, tal como pelo constante contributo na tinha na banca de cozinha vinham todos de fora do país.
divulgação de ações, projetos e eventos do sector. Um outro chef de cozinha dizia que tinha dificuldade
Que significado tem para si este reconhecimento? em receber diariamente produtos frescos da região,
É muito especial. Santos Mota é uma referência e uma oriundos de cadeias curtas. Isto deve fazer-nos reflectir,
pessoa por quem tenho uma enorme estima e consideração. em especial quem nos governa, sobre o que queremos
Receber esse galardão, atribuído pela AEP e com o seu para o futuro para o mundo rural e para o interior em
nome, é uma honra. Confesso que foi uma surpresa, mas particular. Felizmente começa a verificar-se uma mu-
agradeço a quem se lembrou de um jornalista de Sátão, dança, ainda que ligeira. Nalgumas cantinas escolares, da
que mora e trabalha em Viseu, sinal de que fiz algo para responsabilidade de autarquias, é obrigatório o uso de
o merecer. Os prémios e os elogios responsabilizam-me produtos locais. É pouco, mas é um começo.
pois não posso defraudar aqueles que me leem e ouvem.
Quais são as suas estratégias para estar diariamente
Portugal tem sido palco de uma evolução grande actualizado?
no que respeita à sua oferta turística, onde se inclui O meu dia de trabalho começa com a leitura dos jornais
em grande parte as experiências de enoturismo e dos muitos emails que recebo. Depois, percorrer
disponíveis de norte a sul do país. Como jornalista, muitos quilómetros e conhecer a origem das coisas. Não
mas também como amante de vinho e gastronomia, podes falar de, e sobre, algo que não conheces, que não
como acha que está a ser divulgada a riqueza de viste.
Portugal, os seus recursos, regiões e produtos? O que
sente que poderia valorizar, de forma mais notória, as E na seleção do que partilha através dos seus meios de
potencialidades do nosso país? Por parte do Governo, comunicação, como faz a gestão?
municípios, associações… Há uma linha editorial bem definida e ao fim de 421
Como disse, os acasos da vida permitiram-me conhecer edições da Gazeta Rural (Dezembro de 2022) já temos
outras realidades. Há pouco tempo estive em França, um conhecimento grande do meio. Além disso, recebemos
perto dos Alpes, e o que mais me saltou à vista foi a muita informação, a começar por algumas centenas de
paisagem rural ordenada e as pessoas que gostam de emails que diariamente chegam à nossa caixa de correio
morar na encosta de uma montanha e de procurar ali, electrónico.
no campo e na floresta, o seu sustento. Fiquei muito
triste quando, antes do Natal de 2022, atravessei a minha Para o futuro tem em mente novos projetos, ligados à
aldeia num domingo à tarde, ali ao lado da Quinta da Gazeta Rural ou não, e que nos possa contar?
Taboadella (na Silvã – Sátão), e não vi ninguém. Urge Há vários projectos que estão na minha cabeça. Difícil é
inverter a tendência das pessoas continuarem a fazer o fazer mais coisas. Há um projecto que está mais adiantado
mesmo percurso das águas dos rios. É preciso “andar” e que deve arrancar neste ano de 2023, que é a “Nacional16”, uma
contra a corrente. Os sucessivos governos, há quase 50 revista mensal virada para a divulgação das gentes e dos
anos, têm descurado e abandonado o interior. Louve-se territórios atravessados por esta via, que vai de Aveiro a
o grande trabalho dos autarcas que definem as políticas Vilar Formoso. A grande dificuldade é encontrar pessoas
em tamanho micro, mas pouco podem fazer em formato que me acompanhem e acreditem nas minhas ideias.
macro. Estas são da responsabilidade do Governo. No Ressalvo o excelente trabalho da Ana Cristina Pinto,
sector do enoturismo, salvo algumas excepções, demorámos responsável pela área comercial da empresa, que é o
muito tempo a perceber a sua importância e as suas “motor” que me permite ir “sonhando” novas ideias. Se
enormes potencialidades na atracção de pessoas aos as concretizamos? Vamos ver.
territórios do interior. Lembro-me, em 2012, das
reacções a um texto que escrevi sobre uma viagem que

18 O Escanção, n°188 - 2022


VINHOS À PROVA: LANÇAMENTOS/NOVIDADES

Mantemos o formato diferente da nossa rubrica original Vinhos À Prova continuando a


divulgar vinhos dos nossos associados que estejam a ser lançados, no momento, ou que sejam
novidade. De várias regiões vitivinícolas do país, numa nova selecção a conhecer.

JOSÉ MARIA DA FONSECA


Colecção Privada DSF
Grand Noir 2020
Cor vermelha profunda com alguns
laivos acastanhados. No nariz,
Colecção Privada DSF destacam-se os aromas a chocolate
Riesling 2021 negro, goiaba e cedro. Na boca, revela
Proveniente de uma vinha plantada notas a chocolate negro, goiaba e
em 2008 na região de Trás-os-Montes, ameixa preta, mostrando-se muito
com uma altitude de 630 metros e equilibrado. Com um final de prova
solo granítico. O proprietário, Paulo muito longo, este vinho tinto tem
Hortas, director de enologia da José um poder de evolução em garrafa
Maria da Fonseca desafiou Domingos de cerca de 15 anos. No processo de
Soares Franco para ficar com as vinificação, as uvas foram fermentadas
famosas uvas Riesling, resultando em lagar de inox a uma temperatura
num vinho que apresenta uma com- de 28° C durante 10 dias, sendo
binação de aromas de flor de lima, engarrafado ao fim de 8 meses sem
citrino e maçã verde. De cor amare- filtragem ou estabilização pelo frio.
lo esverdeado, este branco evidencia Ideal para acompanhar pratos de
uma acidez viva e persistente, revelando caça ou queijos de pasta mole, este
uma boa textura. Com um final de vinho tinto revela todo o seu potencial
boca elegante e distinto, tem um quando é servido a uma temperatura
poder de evolução em garrafa de de 16° C.
cerca de 15 anos. P.V.P.R. : € 14,90
P.V.P.: € 9,90 www.global-press.com
www.global-press.com

Colecção Privada Domingos


Soares Franco Moscatel Roxo
Superior 2007
Este moscatel não evolui em garrafa
após o seu engarrafamento. Para a
sua conservação, deverá ser guardado
numa temperatura ambiente de 12°
C e com uma humidade de 60%.
O seu poder de envelhecimento é
prolongado e poderá ser apreciado
como aperitivo a uma tempera-
tura de 10°C ou como vinho de
sobremesa, a 16°C. De cor âmbar
brilhante, revela aromas a frutos secos,
avelã, amêndoa torrada e algum
floral muito subtil de rosas brancas.
Com um paladar muito elegante,
onde o equilíbrio entre a doçura e a
acidez é notório, este Moscatel Roxo
termina com uma agradável sensação
de volume e longevidade.
P.V.P.R. : € 28
www.global-press.com

20 O Escanção, n°188 - 2022


ENTRE QUINTAS

Texto Isabel Esteves


Fotos Casa Ermelinda Freitas

CASA ERMELINDA FREITAS

Não é de surpreender que este tenha sido mais um ano de novidades e realizações para
a Casa Ermelinda Freitas, tal é o seu dinamismo e vontade de inovar, dando continuidade
a uma história que conta com mais de um século de vida. Numa retrospectiva de final
do ano, vimos destacar o lançamento, que aconteceu em Maio passado, desta edição
limitada que surge agora como sugestão única para a época festiva de fim de ano, o
Vinho das Grutas. Um vinho que estagiou numa das 7 Maravilhas da Natureza em
Portugal, as Grutas de Mira de Aire, no concelho de Porto de Mós, onde, por coincidência,
nasceu Rosa do Rosário, a bisavó materna de Leonor Freitas, actual gestora da Casa
Ermelinda freitas, e sua grande impulsionadora.

26 O Escanção, n°188 - 2022


Lançado em Maio deste ano e numa edição limitada de
6.000 garrafas, o Vinho das Grutas partiu de uma ideia
inicial e conjunta de Carlos Alberto Jorge, administrador
das grutas de Mira de Aire e Amílcar Milhó, jornalista
especializado em vinhos, depois de um almoço em que
o primeiro apresentou a degustar uma garrafa de um
vinho tinto reserva de 2004 Casa Ermelinda Freitas que
tinha estado guardada há alguns anos numa das galeria
das grutas.

Depois deste episódio e curiosos com a experiência,


Leonor Freitas e Jaime Quendera, enólogo da Casa,
entretanto o responsável pelo singular projecto, quiseram
provar tal vinho constatando que, mantido jovem, este
adquiriu aqui uma maior elegância durante o período de
estágio. A ideia ganhou então vida verificando-se existir
condições excelentes para a evolução do vinho que Jaime
Quendera criou especificamente para este objectivo,
estabelecendo-se uma parceria especial entre as Grutas
de Mira de Aire e a Casa Ermelinda Freitas.

O Escanção, n°188 - 2022 27


Para Jaime Quendera, este vinho, que esteve em estágio
12 meses em barricas de carvalho para afinar os taninos
seguindo-se 5 anos nas grutas de Mira de Aire, onde
evoluiu, aprimorando e refinando as suas qualidades, é
um vinho robusto, intenso e cheio. De cor granada, com
aromas a lembrar frutos pretos, especiarias e fumo, com
alguma compota devido à grande maturação atingida,
apresenta grande estrutura na boca, com taninos pre-
sentes mas integrados e macios.

Das 12.000 garrafas em estágio, metade foram para o


mercado pela ocasião do seu lançamento e a restan-
te metade vai sendo colocada no mercado de forma
Um projecto inovador que vai de encontro aos valores gradual e em diversos tipos de estágio. Sendo que novos
da empresa em relação ao futuro, como explica Leonor estágios vão-se iniciando nos lugares que vão ficando
Freitas ao afirmar que o futuro da empresa tem de assen- disponíveis pois o objectivo é dar-se continuidade a esta
tar no respeito pelo passado centenário, pelos valores da parceria, tal como afirmou na cerimónia, Joana Freitas,
tradição e da ruralidade, sem esquecer a importância da filha de Leonor Freitas, garantindo que este projecto não
inovação. tem um fim próximo.

Foi então a 80 metros de profundidade e a uma tempera- www.ermelindafreitas.pt/


tura constante de 17o e uma humidade de 90%, e desde
Março de 2017, que estiveram então a estagiar doze mil
garrafas do Vinho das Grutas, uma edição especial de
vinho tinto de uma colheita de 2015 e que integra as cas-
tas portuguesas Castelão, Touriga Nacional, Aragonês, e
as castas francesas Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot e
Petit Verdot.

28 O Escanção, n°188 - 2022


O Escanção, n°188 - 2022 29
ONDE O VINHO É REI

Texto Isabel Esteves


Fotos Oh!Vargas

30 O Escanção, n°188 - 2022


OH!Vargas
Entre a rica e diversificada oferta na área da restauração da cidade de Santarém, no Ribatejo, uma
região com grande património histórico-cultural mas também gastronómico, encontramos
o espaço de três gerações Oh!Vargas onde gastronomia e vinho se encontram à mesa e
elevam a fasquia. O cuidado e a atenção colocados na escolha de menus e nas harmonizações
tal como na confecção dos pratos e o profissionalismo no serviço são qualidades irrefutáveis
e características que marcam a diferença na hora de escolher um ponto de encontro.
O Oh!Vargas já chegou a este reconhecimento devido e é um dos restaurantes de
eleição na cidade escalabitana.

Manuel Vargas e Teresa Esteves são o casal proprietário O espaço, na família há já três gerações, abriu portas
do Oh!Vargas, restaurante de Santarém que há 3 anos como taberna, nas décadas de 50 e 60, na altura com
reabriu renovado e ampliado e hoje conta com duas salas o avô do actual proprietário, o avô Manuel, que entre
modernas e com nova decoração, e uma esplanada protegida por petiscos, leitões assados e vinho recebia os seus amigos,
uma glicínia com cerca de 150 anos, passando por uma e passou para restaurante cerca de uma década depois,
nova e auspiciosa carta de autor, com novos sabores, em 1973, já na gerência dos seus pais.
criações do chef Rui Lima Santos, na equipa desde 2021,
e num trabalho conjunto com o escanção Ivan Duarte,
sendo o menu idealizado com atenção às harmonizações,
à boa gastronomia aliada a uma oferta diversificada e
seleccionada de vinhos.

O Escanção, n°188 - 2022 31


Hoje, com um ambiente tranquilo e acolhedor, com estabeleceram uma parceria com a icónica Casa Havaneza,
a cozinha à vista dos clientes e uma garrafeira que se uma das mais antigas lojas de charutos, e criaram também
avista da entrada e que ocupa uma das paredes da sala no Oh!Vargas uma vitrina com charutos e cigarrilhas
principal, o Oh!Vargas tem recebido o reconhecimento disponíveis para venda no local.
do trabalho de equipa destes últimos três anos e acaba
de ganhar duas distinções importantes do concurso Tejo Oh! Vargas
Gourmet 2022, promovido pela Confraria Enófila Nossa Estrada Nacional 3, nº28,
Senhora do Tejo em parceria com Comissão Vitivinícola 2005-357 Santarém
Regional do Tejo - o galardão de Melhor Carta de Vinhos
e o Diploma de Grande Ouro no menu Enogastronómico. Oh!Rio
Parque Aventura Só Rio, R. Primeiro de Maio,
No que respeita à carta de comidas, um conceito tradicional 2070-516 Valada do Ribatejo
com toque contemporâneo e influências bascas, pelo
percurso do chef que já esteve no restaurante Wasabi,
em Lisboa, mas também em casas bascas, algumas com
estrela Michelin como o Azurmendi. Privilegiando-se
os sabores do mar e da serra, são apresentados pratos
como o gaspacho de melancia com queijo de cabra; as
ostras no carvão com coentros e malagueta; o cachorrinho
de linguiça basca em pão brioche caseiro; o carolino
de azeitona com queijo São Jorge, o carolino de línguas
de bacalhau ou o presunto Maldonado com crackers
de massa mãe, juntando-se ainda as tábuas de carnes,
algumas maturadas e as sobremesas como o arroz doce e
o pudim Abade de Priscos, com aparas de presunto Maldonado
ou as farófias com toque de flor de laranjeira.

Quanto à garrafeira, sendo que o vinho assume um


lugar de relevo neste espaço, são cerca de 500 referências,
nacionais e internacionais, de várias regiões vínicas
portuguesas e do mundo, expostas na grande montra da
sala principal do espaço.

No Verão passado, o espaço chegou também a Valadas, à


beira do Tejo, com o novo restaurante Oh!Rio, inserido
no projecto parque aventura SóRio que veio dinamizar a
zona junto à praia fluvial de Valada, no Cartaxo.
E falando de novidades, recentemente os proprietários

32 O Escanção, n°188 - 2022


Data - 18 de Fevereiro

O Escanção, n°188 - 2022 33


O MAESTRO DO VINHO

Texto Ceferino Mariño Carrera, em A Fonte do Escanção

A Domesticação da Videira
Em colaboração com o grande Maestro do Vinho Ceferino Mariño Carrera, nesta rubrica
partilhamos alguns dos pensamentos e conhecimentos deste grande mestre e as descobertas
que este tem feito na sua viagem pelo mundo do vinho. Nesta edição, a primeira parte de
um texto de sua autoria sobre a origem da domesticação da videira.

34 O Escanção, n°188 - 2022


Até ao momento, uma vasta região entre o Cáucaso e a maiores, com milhares de plantas, havendo, só na bacia
Mesopotâmia tem sido apontada como o local em que do Sado, uma mancha quase contínua de aproximadamente
o homem aprendeu a cultivar a videira. No entanto, mil quilómetros quadrados.
reflexões e resultados experimentais de professores do
Instituto Superior de Agronomia, de Lisboa, estão a Antes de avançar para o terreno, a actividade de detective
contribuir para outra maneira de ver acerca do vinho e tem trabalho de secretária: análise, inventariação de
da domesticação desta planta. conhecimentos empíricos de probabilidade, nomeadamente de
locais com humidade permanente, e ainda pesquisa de
Antero Martins, docente de genética quantitativa e de topónimos. Um dos casos é o do Barranco das Vinhas,
melhoramento das plantas, concorda que terá sido, de uma pequena localidade algarvia.
facto, entre os confins da Europa e o Médio Oriente
onde primeiro se domesticou a Vitis Vinifera Sylvestris. Em 2000, foram encontradas as primeiras Vitis sylvestris,
Porém, os povos da Península Ibérica terão também mas as prospecções não tiveram a amplitude e a continuidade
descoberto o modo de o fazer, embora muito mais desejáveis. O trabalho recebeu novo impulso a partir de
tardiamente, mas não necessariamente em resultado da 2009, no quadro de uma estratégia de reconhecimento
influência de outros povos. Ao certo ninguém sabe a da diversidade de todas as videiras autóctones, incluindo
data em que se iniciou o cultivo da vinha na Hispânia. a das próprias castas cultivadas (Vitis vinifera sativa).
Calcula-se que, por cá, a agricultura tenha começado por
volta de quatro mil anos antes de Cristo, enquanto na A construção de estradas, barragens, regularização e
Mesopotâmia terá acontecido nos oito mil anos antes da limpeza de rios, além da agricultura, tem afectado muito
nossa era. Quanto à vinha, para lá longe aposta-se para os povoamentos da videira silvestre. Antes que seja tarde,
seis mil anos antes de Cristo, e para aqui apenas dois mil anos. Antero Martins lança-se na investigação de locais. Tanto
mais que as cepas não são só importantes para vinho,
O conhecimento actual atribui o papel pioneiro, na mas também por razões paisagísticas e históricas, como
Ibéria, aos Tartéssios, povo do Sul peninsular. Mas estas factores de identidade do territórios; são os casos do
são as visões académicas actuais. Os trabalhos científicos Douro e do Pico.
em curso poderão levar à revisão das datas das diversas
domesticações da vitis-vinifera Sylvestris e das áreas em E por que não também para o turismo de natureza?
que ocorreram. Conforme muita gente vai à Amazónia por causa da
riqueza biológica, pode também vir cá. Pode-se explorar
Esta possibilidade fundamenta-se em observações essa vertente. Quanto mais linces ibéricos, aves raras e
empíricos e em conhecimentos científicos. Explica videiras silvestres tivermos, melhor.
o docente: - Se as castas autóctones portuguesas são
numerosas e exclusivas, não se encontrando no Oriente, Se um dia se produzirá vinho de videira silvestre? Antero
é porque foram domesticadas no Ocidente. A ampla Martins admite essa hipótese, mas não vê grande interesse,
diversidade genética das castas, avaliadas por métodos pois conhece-se já o resultado. Um vinho muito ácido.
matemáticos, comprova a antiguidade do seu estabelecimento Não é uma prioridade, até porque do ponto de vista técnico
e a provável domesticação por estas bandas. não levanta qualquer dificuldade. Sobra trabalho
e escasseia tempo. Há coisas mais importantes para
Este tipo de conhecimento continua a ser alargado, investigar. Relacionar uma casta com a silvestre é
incluindo a ser alargado, incluindo também análise procurar uma agulha num palheiro. O modo de reprodução
molecular do ADN, por parte de diversos grupos, o que é diferente e, assim, as variações genéticas não são
virá possibilitar visões cada vez mais afinadas sobre o comparáveis. As silvestres têm mais diferenças entre si,
passado das castas. porque a reprodução é sexual.

Os trabalhos de campo de Antero Martins têm posto a -Tal como somos todos filhos de um pai e de uma mãe,
descoberto diversos núcleos de Vitis sylvestris em Portugal temos coisas de ambos, mas somos uma pessoa diferente.
e em diferentes localizações. Quando o tempo permite e a A vitis vinifera sativa, no contexto da viticultura, não se
meteorologia deixa, este professor de agronomia percorre reproduz por via sexual, mas por propagação vegetativa.
a pé, ou de barco, troços ribeirinhos, onde é possível É como se fossem genótipos de um passado distante,
encontrar a mãe das videiras. Até nas férias e nos tempos evolutivamente parados no tempo. Haverá relações entre
livres. Quase todas identidades a Sul, sobretudo no Sado, as silvestres e as cultivadas, mas muitos dos elos dessas
na ribeira de Odelouca entre o Alentejo e o Algarve, relações terão sido de plantas já desaparecidas, pelo que
Norte de Lisboa e um pouco no Douro. Ao todo há mais as pontes não se vêem facilmente.
de oitenta locais identificados. Portugal não é o país com
localizações conhecidas, mas o número já conseguido,
em apenas dois anos, leva a crer que haverá muitíssimos
mais. França e Espanha são países onde também estão
reconhecidos vários sítios de videiras silvestres, da ordem
de algumas centenas, mas muitos deles só com um
reduzido número de plantas. Por cá, os núcleos são bem

O Escanção, n°188 - 2022 35


CRÓNICA ASSOCIAÇÃO DE ENOLOGIA - CASTAS

Texto António Ventura, enólogo consultor e membro da Associação Portuguesa de Enologia


(Fonte: Vine to Wine Circle)
Fotos Associação de Enologia

Rufete
No âmbito da colaboração com a revista O Escanção temos partilhado a descrição das
características técnicas de algumas castas portuguesas, e em alguns casos de castas ibéricas.
Nesta edição, continuamos o artigo com mais uma casta, com origem no norte e interior
de Portugal, presente nas regiões do Douro, Dão e na Cova da Beira e maior expansão na
região da Beira interior – a Rufete.

ORIGEM amadurecer plenamente, antes das chuvas do equinócio,


no entanto, quando amadurece bem, produz vinhos
A casta Rufete está muito bem bem adaptada à Beira aromáticos, elegantes, frutados e delicados, com algum
Interior, estando, no entanto, também presente nas potencial de evolução em garrafa. Só ocasionalmente
regiões do Douro, Dão e na Cova da Beira. Tem a sua é engarrafada em monovarietal. Na África do Sul é
origem no norte e interior de Portugal, Lobo (1790), e erradamente denominada Tinta Barroca. Existe em
tem na região da Beira interior a sua maior expansão. Espanha na zona da Mancha uma casta com a mesma
É uma casta caprichosa e muito exigente, necessitando denominação, não oficialmente reconhecida como
de condições muito particulares para poder produzir sinónimo. A sua superfície actual em Portugal é superior
os melhores vinhos. Sensível a doenças como o míldio a 5.500ha mas a sua tendência é para regressão da área
e o oídio, é uma casta produtiva, com cachos e bagos de existente. A intravariabilidade varietal da produção é
tamanho médio. Por ser uma variedade de maturação intermédia, existe material vegetativo policlonal com
algo tardia, em muitas ocasiões tem dificuldade em clones em processo de admissão à certificação JBP.

36 O Escanção, n°188 - 2022


MORFOLOGIA Pode produzir vinhos de mesa bem como vinhos de elevado
potencial, vinhos rosés ou até bases de espumante.
Extremidade do ramo jovem: Aberta, achatada com O principal obstáculo à obtenção de vinhos de topo são
média pigmentação antociânica na orla, e elevada as chuvas precoces do inicio de Setembro que afectam
densidade de pêlos aplicados. a integridade do bago. Apresenta uma acidez total
interessante permitindo a elaboração de vinhos frescos e
Folha jovem: com zonas acobreadas, média pigmentação equilibrados, e vinhos bastante resistentes à oxidação.
antociânica. com forte densidade de pêlos aplicados. O seu grau alcoólico médio ronda os 12º não apresentando
grande capacidade para estágios prolongados, evolui,
Flor: Hermafrodita. no entanto, muito bem na garrafa originando vinhos de
enorme elegância.
Pâmpano: Com nós e entre-nós estriados de vermelho,
gomos verdes, gavinhas médias(longas). Na prova os vinhos apresentam cor rubi aberta, aromas
intensos florais com algum encanto e muita elegância,
Folha adulta: Média, pentagonal, heptabolada; verde estrutura ligeira mas fresca, encaixando muito bem em
escuro, perfil irregular de empolamento médio e lote com outras castas mais estruturadas no Dão ou das
ondulação generalizada, dentes médios e convexos, Beiras, conferindo aos lotes finura, elegância e perfume.
pág. inferior com forte densidade de pêlos prostrados e
pecíolo curto.

Cacho: Médio e medianamente compacto, pedúnculo de


comprimento médio (190-275g).

Bago: Médio arredondado, negro-azul, pedicelo médio


(1,40—2,7g).

Grainha: Castanho-escuro (1,5-1,8 por bago).

COMPORTAMENTO

Abrolhamento: Época média, 6 dias após a Castelão.

Floração: Precoce, 1 dia após a Castelão.

Pintor: Muito precoce, 9 dias antes da Castelão.

Maturação: Época média em simultâneo com a Castelão.

POTENCIAL

Casta de médio vigor e porte erecto com entre-nós


médios e regulares com alguma irregularidade na
variabilidade da produção, no entanto, com boa
homogeneidade de produção entre plantas. Apresenta
alguma sensibilidade à carência de magnésio e de potássio
e não suporta muito bem as temperaturas extremas e as António Ventura, enólogo consultor e membro da
carências hídricas, tem média sensibilidade ao míldio Associação Portuguesa de Enologia
mas apresenta sensibilidade elevada para o oídio e a botritis,
tem também alguns problemas com sensibilidade à
cigarrinha verde e à traça da uva.

Para a obtenção de vinhos com potencial, a produção


recomendada é de 6.000litros/ha, tendo apresentado aptidão
para quase todos os tipos de poda e sendo de fácil condução.
Gosta de solos profundos e medianamente férteis de
humidade média, tem boa ligação com porta-enxertos
de baixo vigor sendo pouco sensível ao desavinho e
apresentando excelente aptidão para a vindima mecânica.

O Escanção, n°188 - 2022 37


ENOTURISMO EM PORTUGAL

Texto e Fotos Tiago Cabaço Winery

TIAGO CABAÇO WINERY


Nesta rubrica dedicada ao Enoturismo, segmento do turismo associado ao mundo do
vinho, divulgamos iniciativas e projectos nacionais que se dediquem a esta vertente e
que potenciem a manutenção, a valorização e a promoção dos recursos e mais-valias
deste património de inegável singularidade e valor. Nesta edição, divulgamos o projecto
de enoturismo desenvolvido pela Tiago Cabaço Winery que passa por visitas ao seu
espaço, em plena região vinhateira alentejana, e pela prova do seu portefólio de vinhos.

38 O Escanção, n°188 - 2022


Marca criada em 2024, a Tiago Cabaço Winery tem
somado muitos prémios e distinções, nacionais e
internacionais, pela sua família de vinhos, modernos
no estilo e na forma mas profundamente alentejanos
no carácter, alguns (.com) de perfil enérgico e jovial,
outros sérios e poderosos (os monovarietais), os “Vinhas
Velhas” que conjugam a excelência do terroir e as vinhas
com mais de 30 anos, o espumante, para momentos
especiais, e os “blog” simultaneamente vigorosos, subtis
e frescos que se reclamam como os topos de gama Tiago
Cabaço. Produções que têm o cunho da enóloga
Susana Esteban.

Uma viagem que pode ser degustada e comprovada através


das várias experiências de enoturismo criadas pela equipa,
um programa que se foca nas visitas às vinhas
e adega seguidas de várias opções de prova.

Tiago Cabaço, o produtor e fundador desta marca de


nome próprio, nasceu em Estremoz, distrito de Évora,
tendo-se estabelecido aqui para a produção dos seus
vinhos, com recurso às melhores e mais velhas vinhas do
Alentejo, todas nas proximidades desta cidade, afirmando
em casa e para o mundo a sua própria identidade e visão.

O Escanção, n°188 - 2022 39


Visitas e Provas

· PREMIUM: Tour pela adega com a degustação de 2


vinhos, dos seguintes vinhos, à escolha: .Com Premium
tinto, branco ou rosé;

· SELECÇÃO: Tour pela adega e prova de 4 dos seguintes


vinhos, à escolha: .Com Premium tinto, branco e/ou
rosé, Tiago Cabaço Verdelho branco, Tiago Cabaço
Encruzado branco, Tiago Cabaço Syrah tinto, Tiago
Cabaço Alicante Bouschet tinto, Tiago Cabaço Vinhas
Velhas tinto, e/ou branco;

· EXCELÊNCIA; Tour pela adega e prova de 4 dos


seguintes vinhos, à escolha: .Com Premium tinto, branco
e/ou rosé, Tiago Cabaço Verdelho branco, Tiago Cabaço
Encruzado branco, Tiago Cabaço Syrah tinto, Tiago
Cabaço Alicante Bouschet tinto, Tiago Cabaço Vinhas
Velhas tinto e/ou branco, Blog tinto;

· MASTER: Tour pela adega e prova de 5 dos seguintes


vinhos, à escolha: .Com Premium tinto, branco e/ou
rosé, Tiago Cabaço Verdelho branco, Tiago Cabaço
Encruzado branco, Tiago Cabaço Syrah tinto, Tiago
Cabaço Alicante Bouschet tinto, Tiago Cabaço Vinhas
Velhas tinto e/ou branco, Blog tinto, Blog Bivarietal tinto;

· MASTER VINTAGE: Tour pela adega e prova de 5 dos


seguintes vinhos, à escolha: .Com Premium tinto, branco
e/ou rosé, Tiago Cabaço Verdelho branco, Tiago Cabaço
Encruzado branco, Tiago Cabaço Syrah tinto, Tiago Tiago Cabaço Winery Quinta da Berlica - Mártires,
Cabaço Alicante Bouschet tinto, Tiago Cabaço Vinhas Apartado 123,
Velhas tinto e/ou branco, Blog tinto, Blog Bivarietal tinto, 7100-148 Estremoz
Tiago Cabaço Licoroso. www.tiagocabacowinery.com/

40 O Escanção, n°188 - 2022


Acontece - Divulgação de Iniciativas e Novos Projectos

Texto Isabel Esteves

Festas de Torres Vedras 2022


As Festas de Torres Vedras, anté aquí chamadas Festas da Cidade, voltaram a acontecer,
este ano entre os dias 27 de Outubro e 12 de Novembro, celebrando, uma vez mais, o
Outono, o São Martinho, a Vinha e o Vinho.

Entre as várias acções em paralelo que decorreram ao longo de Sousa, acompanhado pela presidente da Câmara Municipal
destes dias tais como conferências, festivais, actividades de Torres Vedras, Laura Rodrigues, e pelo presidente da
lúdicas e educativas e espectáculos, esteve o já conhecido direcção da AMETUR, José Arruda. Esta é uma associação
“Concurso Vinho Tinto e Vinho Branco de Torres Vedras”, mundial, formada por municípios e entidades gestoras na
organizado pela Câmara Municipal de Torres Vedras em área do turismo vinculado à cultura do vinho, que pretende criar
colaboração com o Instituto Nacional de Investigação uma rede de trabalho alargada aos diferentes continentes, reunindo
Agrária e Veterinária (INIAV) – Dois Portos, e que pretende especialistas de enoturismo e entidades que trabalhem esta
enaltecer a qualidade dos vinhos produzidos em Torres área. A Câmara Municipal de Torres Vedras é sócia fundadora
Vedras, valorizando e promovendo o trabalho desenvolvido da AMETUR, tendo esta sido aquí criada já em 2020.
pelos seus produtores; tal como o concurso “Pastel de Feijão
de Torres Vedras, numa parceria entre a Câmara Municipal e No que respeita aos prémios dos concursos acima referidos,
os produtores locais e que promove o doce que faz parte do a cerimónia de entrega decorreu no dia 6 de Novembro, no
legado dos Torrienses. Auditório do Edificio dos Paços do Concelho, ficando-se
então a saber quais os vinhos e a marca de pastel de feijão
O programa contempla ainda, anualmente, o Festival vencedores do ano de 2022 e que serão, assim, utilizados nas
Acordeões do Mundo, na sua 19ª edição e que contou com ofertas institucionais da Câmara Municipal de Torres Vedras
cinco concertos no Teatro-Cine para além das Merendes de durante o ano de 2023. A ocasião contou com a presença da
Acordeão com 25 actuações por todas as freguesias do concelho, assim ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do
como o 42º Festival das Vindimas, organizado pela Câmara
Municipal de Torres Vedras, com produção da empresa Céu Antunes, que aquí sublinhou que a vinha, o vinho e os
municipal Promotorres e o apoio das 13 juntas de freguesia pastéis de feijão fazem parte das tradições deste Concelho,
do Concelho. desta região, do nosso País. Também presentes estiveram o
deputado à Assembleia da República, João Nicolau, o director
Nesta edição, voltaram as Tasquinhas, reunidas no Pavilhão regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo,
Multiusos, no Parque Regional de Exposições de Torres José Lacerda Fonseca, o presidente da Assembleia Municipal,
Vedras, onde a gastronomia dos restaurantes locais e os vinhos José Correia, e diversos produtores do concelho e elementos
do concelho puderam ser degustados e na programação dos júris dos concursos.
musical estiveram incluídos os concertos de Nenny e
António Azambujo. Este ano os grandes vencedores foram os vinhos Fonte das
Moças Tinto Grande Escolha 2017 e o Almiara Branco 2021,
No dia 11 de Novembro, dia de São Martinho, foi inaugurada e nos pastéis de feijão, a marca Carmitas.
a sede da AMETUR – Associação Mundial de Enoturismo
no Mercado Municipal de Torres Vedras, momento onde www.cm-tvedras.pt/
esteve presente o Presidente da República, Marcelo Rebelo

O Escanção, n°188 - 2022 41


Acontece - Divulgação de Iniciativas e Novos Projectos

Texto Isabel Esteves

Concurso de Vinhos e Espumantes


Bairrada 2022
A edição de 2022 do Concurso de Vinhos e Espumantes Bairrada, iniciativa da
Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB), realizou-se no dia 5 de Dezembro, com a
revelação e entrega de prémios a acontecer dois dias depois, no Aliança Underground
Museum, em Anadia.

O grande vencedor do concurso foi o Cá da Bairrada No concurso que foi conduzido por Luís Ramos Lopes,
Espumante Bruto branco 2010, o mais bem pontuado crítico de vinhos e jornalista, habitante na região e
entre as 90 amostras postas à prova de uma dúzia de grande conhecedor dos seus vinhos e espumantes, a
jurados, sendo que 46 foram respeitantes a vinhos tranquilos CVB distinguiu assim os Melhores Vinhos em cinco
e as restantes 44 a espumantes. categorias: Melhor Espumante, onde se classificou o
grande vencedor; Melhor Espumante Baga Bairrada,
Como membros do júri e para avaliar os vinhos com Melhor Vinho Branco, Melhor Vinho Tinto e Melhor
o selo de garantia e qualidade DO Bairrada e IG Beira Vinho da sub-região Terras de Sicó.
Atlântico, estiveram presentes nove escanções, numa
parceria com a Associação Escanções de Portugal,
e três enólogos da região.

42 O Escanção, n°188 - 2022


Nos Brancos, a Messias ganhou com o Bairrada Clássico Quinta do Poço do Lobo Espumante | Baga Pinot Noir
de 2017 e, nos Tintos, o melhor classificado foi o São Bruto Natural rosé 2017
Domingos Grande Reserva 2017, das Caves São Domingos. Borga Espumante | Bruto branco 2007
Nos Espumantes, como melhor espumante Baga Bairrada Monte Formigão Espumante Reserva | Bruto branco 2019
esteve o Primavera Baga Bairrada Grande Reserva Extra Quinta da Lagoa Velha Espumante Touriga Nacional |
Bruto branco 2017, das Caves Primavera. E o prémio de Bruto rosé 2019
Melhor Vinho da sub-região Terras de Sicó foi entregue ao Quinta dos Abibes Espumante Arinto & Baga Reserva
Baforeira Reserva tinto 2020, de Maria Teresa Proença Extra | Bruto branco 2020
Simões da Silva Resende.
Vinhos Brancos
Para além dos vencedores nestas últimas categorias,
foram 27 as Medalhas de Ouro distinguidas, 15 das quais António Marinha Legado Grande Reserva | branco 2021
atribuídas a espumantes, na sua maioria brancos e dois Encosta da Criveira Reserva Especial | branco 2021
rosés; quatro a vinhos brancos e oito a vinhos tintos: Prior Lucas Habemus.W | branco 2020
Messias Bairrada Clássico | branco 2017
MEDALHAS DE OURO
Vinhos Tintos
Espumantes
António Marinha Grande Reserva | tinto 2015
Marquês de Marialva Espumante Cuvée Primitivo Quinta D´Aguieira | tinto 2017
Bruto Natural branco 2014 Casa de Sarmento Baga | tinto 2018
Quinta da Laboeira Espumante Reserva | Bruto Natural São Domingos Grande Reserva | tinto 2017
branco 2019 (Baga) Rabarrabos | tinto 2020
Aliança Espumante Grande Reserva | Bruto branco 2017 Diga? | tinto 2008
Grande Aplauso Espumante | Bruto Natural branco 2015 Baforeira Reserva | tinto 2020
Casa do Canto Espumante Grande Reserva | Bruto Trabuca Bairrada Clássico Baga | tinto 2017
branco 2016
Casa de Sarmento Espumante | Bruto branco 2020 www.bairrada.pt/
Montanha Real Espumante Grande Reserva | Bruto
branco 2015
Cá da Bairrada Espumante | Bruto branco 2010
UNUM Espumante Super Reserva | Bruto Natural
branco 2011
Luiz Costa Espumante Pinot Noir Chardonnay | Bruto
Natural branco 2016

O Escanção, n°188 - 2022 43


Acontece - Divulgação de Iniciativas e Novos Projectos

Texto Isabel Esteves


Fotos AEP

Masterclass Vinhos da Hungria

Mais uma masterclass de Vinhos do Mundo a acontecer na Associação e, desta vez, sobre os Vinhos da Hungria, numa
acção que contou com a colaboração da produtora e empreendedora Bernadett Dunai e que se realizou no dia 8 de Novembro.
Bernadett é proprietária, desde 2003 e junto com a sua família, da vitivinícola Dubicz Winery&Vineyard, empresa instalada
numa adega com mais de um século de vida e 100 hectares de vinha, sobretudo de castas brancas. Situada na região de
Matra, a segunda maior região vinícola na Hungria, onde a viticultura e a produção de vinho contam com mais de 900
anos de tradição.

www.dubicz.hu/en/

Masterclass de Vinhos da Geórgia

44 O Escanção, n°188 - 2022


Também no dia 6 de Dezembro, a Associação teve a oportunidade de receber
o jovem enólogo e produtor Gio Chezhia para uma nova masterclass, agora
sobre Vinhos da Geórgia. Gio começou a fazer vinhos em Portugal depois de
fazer várias vindimas com Luís Seabra, António Maçanita e Pedro Frey. Com
ele, para a Geórgia, foram também vários vinicultores portugueses e espanhóis.
Até que Luís Cerdeira, proprietário da Soalheiro, propôs-lhe fazer um vinho
juntos, de estilo georgiano, na região dos Vinhos Verdes de Monção e Melgaço
nascendo assim, com a colheita de 2019, o seu primeiro vinho, Ag.hora. Para
aumentar a produção e diversidade dos seus vinhos, juntou-se a Juan Padilla,
icónico produtor de ânforas de Espanha, e encontrou a melhor ânfora possível
para concretizar este objectivo. A partir daí, fez vinhos com Filipa Pato &
William Wouters, na Bairrada, e António Maçanita, no Alentejo, para além
de se dedicar ao seu projecto pessoal na adega Luís Seabra, no Douro.
É com uma filosofia de vinificação própria com um toque georgiano nos
seus vinhos que pretende trazer outra expressão às uvas.
www.instagram.com/gio_chezhia/?hl=pt

Ambas estas sessões decorreram em formato exclusivo para os seus membros


associados e alunos.

Academia de Vinhos de Espanha

No âmbito do projecto da Academia de Vinhos de Espanha, também Sara Peñas Lledó esteve na Associação no dia 13 de
Dezembro, e pela segunda vez, para uma aula exclusiva sobre Vinhos deste nosso país vizinho. A aula teve a duração de três
horas e consistiu em três partes diferentes: numa primeira, debruçou-se sobre teoria dos Vinhos de Espanha, num percurso pelo
mapa vinícola espanhol; de seguida estiveram em prova diferentes vinhos de diferentes castas e regiões espanholas – Rioja,
Ribera del Duero, Cava, Jerez, e os vinhos brancos das castas Verdejo (Rueda) e Albariño (Rias Baixas-Galiza); e na terceira parte,
os participantes realizaram um teste para consolidar o que foi apreendido e para entrega de um diploma-certificado
de participação.

Esta é uma iniciativa da gerente da empresa de consultoria especializada La Vida Ibérica, perita em Consultoria Estratégica,
Formação e Comunicação Vitivinícola, em Espanha e Portugal; Embaixadora de Sherry em Portugal; Wine Educator da
ViniPortugal em Espanha e Jornalista de Vinhos, e com parceria da Associação. Sara integra também o grupo de formadores
do Curso Profissional da Associação, orientando o módulo, do Nível II do curso, sobre vinhos de Espanha.

www.lavidaiberica.com/

Agradecemos aos formadores e participantes que estiveram connosco nestas várias ocasiões, pelo dinamismo, interesse,
proactividade e curiosidade, contributos essenciais para a interacção educativa.

O Escanção, n°188 - 2022 45


Acontece - Divulgação de Iniciativas e Novos Projectos

Texto Sara Peñas Lledó


Fotos La Vida Ibérica

Sabores e Paladares Ibéricos


Tierra de Sabor conquista os
paladares portugueses
O Ciclo de Palestras Sabores e Paladares Ibéricos tem acontecido no âmbito da Agenda
Cultural 2022 do El Corte Inglès de Portugal por iniciativa da empresa La Vida Ibérica e
em parceria com instituições portuguesas e espanholas que promovem as suas ligações
fronteiriças assim como os seus produtos gastronómicos. A iniciativa visa promover
a multiculturalidade entre Espanha e Portugal, relembrar acontecimentos históricos e
dar a conhecer alguns dos seus costumes gastronómicos, numa viagem de conhecimento
através dos nossos sentidos e valorizando a importância dos momentos que nos unem.

Este ciclo de palestras, que teve várias sessões vinhas de França e que fez com que os seus vignerons se
durante o ano, terminou com chave de ouro, a 15 dirigissem para Espanha para dela fugir.
de Dezembro, com a região de Castela e Leão em
destaque e pelas mãos da marca Tierra de Sabor A história vitivinícola em Castela e Leão é antiga e acon-
que apresentou aqui os seus produtos alimentares e tece que algumas castas estiveram mesmo em ponto
vinhos. de extinção, tendo sido salvas, literalmente, por
viticultores receosos aos quais se juntaram investi-
No centro desta reunião que juntou quase uma cente- gadores corajosos e ambiciosos, que apostaram em
na de participantes da comunidade luso-espanhola dezenas de castas (cerca de 130) e com foco nalgu-
estiveram as castas minoritárias que existem e são mas em particular (perto de 30) de forma a redesco-
trabalhadas em torno do Duero-Douro, este nosso brir o seu valor enológico. Alberto Martín foi um
rio em comum. Como neste não só existe a casta Tem- destes lutadores e veio contar-nos a sua história de
pranillo, em Portugal conhecida como Tinta Roriz ou coragem e determinação.
Aragonez, Alberto Martín, enólogo investigador do
ITACyL - Instituto Tecnológico Agroalimentario de Do lado português, Luís Antunes, encarregou-se das
Castilla y León, veio apresentar um projecto de estu- “castas” portuguesas, na sua variedade e especifici-
do e de recuperação das Castas Minoritárias do Douro. dade, e também se focou nas minorias e em como
elas vão revolucionando, pouco a pouco, a prerrogativa
Em Portugal, esta região é famosa pelas suas várias das “big-five” - Touriga Nacional, Touriga Franca,
parcelas de vinhos, tal como acontece em muitas Tinta Roriz, Tinta Barroca e Tinto Cão – para uma
outras do país, mas em Espanha, em muitas das abordagem mais moderna ao futuro do vinho das De-
suas regiões de grande prestigio e de história como nominações de Origem Douro e Porto.
acontece com Ribera del Duero, ao longo das décadas o
foco tem recaído sob poucas castas. Aqui, como noutras O selo de qualidade Tierra de Sabor foi apresentado
regiões espanholas, a Tempranillo parece fazer parte pela actual Subdirectora de Qualidade e Promoção
de grande parte dos vinhos, por vezes em conjunto do ITACyL, Matilde Díaz, que teve o prazer de par-
com outras castas internacionais como a Caber- tilhar as maravilhas da sua gastronomia no cocktail
net Sauvignon, a Merlot e a Syrah. As razões são final que contou com vários exemplares de vinhos
históricas e remontam ao século XIX, tendo que genéricos tais como um Blanco Verdejo de Rueda,
ver sobretudo com a filoxera, praga que devastou as Valladolid, ou um Rosado de Cigales e um Tinto de

46 O Escanção, n°188 - 2022


El Bierzo, harmonizados con os melhores produtos Depois da palestra, num registo informal, houve
gourmet de Castela e Leão como os queijos curados ainda tempo para um jantar entre amigos portugueses e
e semicurados zamoranos, ou os enchidos salmanti- espanhóis com prova especial de vinhos raros destas
nos como o Lomo Ibérico e o Chorizo Segoviano de castas minoritárias de ambos os lados da fronteira.
Cantimpalo. Cornifesto, Rufete, Tinta da Barca, Tinta Francisca,
Merenzao, e muitas outras brilharam à mesa e fizer-
A ocasião contou com a presença de vários mestres am brilhar os olhos de quem teve a oportunidade de
cortadores que ofereceram a melhor Cecina de Leão estar presente neste encontro que se deu no antigo
e um Jamón Ibérico de Guijuelo. Entre os convida- bairro lisboeta de Marvila.
dos, estiveram representantes de várias entidades
espanholas e instituições oficiais espanholas em
Portugal como a Embaixada de Espanha, a Casa de
Espanha, a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Es-
panhola, o CRE-Conselho de Residentes Espanholes,
o Instituto Cervantes, o Colégio Espanhol, assim
como escanções portugueses e imprensa gastronómica.

O Escanção, n°188 - 2022 47


Acontece - Divulgação de Iniciativas e Novos Projectos

Texto Isabel Esteves


Fotos AEP

AEP no Mercado de Vinhos do


Campo Pequeno
Pela primeira vez, a Associação dos Escanções de Portugal esteve presente no Mercado
de Vinhos do Campo Pequeno, que este ano foi realizado nos dias 11 e 12 de Novembro,
celebrando aquí e de forma diferente o dia de São Martinho.

Entre alguns workshops e conferências, realizou, na Arrojado


ocasião, o Concurso Escolha do Mercado, uma iniciativa
em parceria com a organização do evento, a House of Porta Celeirós D'Oiro Grande Reserva DOC Douro
Wines, e que desafiou produtores presentes a pôr à prova Branco 2019 -
cega, para um grupo pequeno de jurados seleccionados, os Quinta do Beijo;
seus vinhos, como mais uma forma de os promover
e divulgar. Joana da Cana Alicante Bouschet VRTejo Tinto 2019 -
Rui Manuel da Silva Franco;
Em três categorias, os vencedores, dos vinhos inscritos, foram:
M IG Algarve Rosé 2021 - Adega do Cantor.
Melhor Compra
Escolha do Mercado
Sirlyn Reserva DOC Dão Branco 2017 -
Quintas de Sirlyn; Pala da Lebre Reserva DOC Douro Branco 2017 -
Patamar Ancestral;
Fraga do Corvo Reserva DOC Douro Tinto 2020 –
SA'Vinum; Soulmate Grande Reserva DOC Douro Tinto 2019 -
Cortes do Tua Wines;
Quinta dos Monteirinhos Touriga Nacional Manel
Chaves DOC Dão Tinto 2020 - 1000 Curvas Único VRMinho Rosé 2021 -
Quinta dos Monteirinhos; Castanheira de Santa Leocádia.

Consensual Superior DOC Douro Branco 2021 - www.houseofwines.pt


Casa das Torres. www.facebook.com/MercadodeVinhos/

48 O Escanção, n°188 - 2022


Acontece - Divulgação de Iniciativas e Novos Projectos

Texto Isabel Esteves


Fotos AEP

Cursos AEP

Curso Profissional AEP

A última edição do Nível I do Curso Profissional AEP,


que teve início a 7 de Setembro deste ano, deu-se por
finalizada a 28 de Dezembro, terminando-se assim mais
uma etapa de formação do programa educativo da
Associação para este ano de 2022.
Iniciação à Prova de Vinhos – I e II O Nível I do Curso Profissional é a base ideal para quem
deseja seguir caminho pelo mundo do vinho. Composto
Nos meses de Novembro e Dezembro o Curso de Iniciação por 90 horas, é ministrado duas vezes por semana e
à Prova de Vinho, uma das formações mais recorrentes e aborda os seguintes temas: História do Vinho e da Vinha
mais solicitadas do programa formativo AEP, aconteceu | Introdução ao mundo do vinho | Vitivinicultura – Uvas
para ambos os níveis, I e II, a 19 de Novembro e 10 de viníferas | Enologia e outras bebidas | Normas básicas
Dezembro, respectivamente, na Garrafeira de Lisboa da degustação de vinhos | Técnica de Prova | Serviço do
sob orientação de Tiago Paula, escanção e presidente da Sommelier | O mundo do Sommelier além do vinho |
Associação dos Escanções de Portugal. Algumas das degustações mais importantes.
Teve, no entanto, uma novidade, uma sessão fora da O Curso Profissional AEP foi criado em 2019, num
capital e antecedendo a Grande Gala dos 50 Anos AEP incentivo à educação e à profissionalização dos amantes
– um Curso de Inicação à Prova de Vinhos Nível I no do Vinho, com o objectivo de proporcionar aos futuros
Redondo, formação que decorreu na Enoteca de Redondo escanções um aliado formativo completo e minucioso
e foi orientada por Fábio Nico. Fábio é chefe de sala e nos seus percursos académicos e profissionais. Composto
escanção no restaurante O Ermita, do Hotel Convento por 3 níveis, a frequência na sua totalidade garante o
de São Paulo, e é, actualmente, Vice-Presidente da Asso- diploma de Profissional do Vinho certificado pela
ciação dos Escanções de Portugal. Associação dos Escanções de Portugal.
Quanto aos conteúdos deste curso, o seu Nível I é uma Em cada nível é realizada uma avaliação, escrita e
introdução ao mundo do vinho que aborda os seus principais prática e todas as aulas são orientadas e ministradas por
e mais relevantes temas e conteúdos - da definição de escanções, enólogos e formadores que fazem parte da
vinho a noções de Enologia, à degustação de vinhos e à equipa da AEP. Desde o início do curso até agora, nomes
técnica de prova. Analisar as virtudes e os defeitos dos como Vasco d’Avillez, José Gaspar, Anca Poiana Martins,
vinhos, introduzir variedades e características das diferentes Sara Peñas Lledó, Eduardo Cardeal ou Manuel Moreira
castas, consolidar noções de enologia e as normas básicas já se juntaram à equipa de professores, transmitindo em
da degustação de vinhos são os principais objectivos da cada edição os seus conhecimentos e experiências, de
formção em que a maior lição que se destaca é a de que forma única e enriquecendo ainda mais os conteúdos do
tudo é uma questão de treino, de afinação e de cultura da programa de estudo. Nesta edição que teve agora o seu
sensibilidade momentânea individual. término, pudemos contar também com a colaboração
Já o Nível II é composto por uma prova alargada de do Eng.º Frederico Rosa, no módulo sobre Enologia e
vinhos portugueses - 3 vinhos tintos, 3 vinhos brancos, outros Vinhos.
2 rosés, 1 espumante e 1 Licoroso/Generoso, de categoria O curso é certificado em conjunto com a Universidade
premium, e é mais um recurso de aprendizagem para Portucalense (UPT) e tem a chancela do Turismo de
quem quiser consolidar e aprofundar conhecimentos. Portugal.

www.escancao.com

O Escanção, n°188 - 2022 49


WINE NEWS

ADEGA DE CANTANHEDE INVESTE NA MODERNIZAÇÃO DA SUA ÁREA PRODUTIVA

Num investimento no valor de 2,5 milhões de euros a Adega de Cantanhede, localizada no distrito de Coimbra, fundada
em 1954 e com uma produção anual de 6 a 7 milhões de quilos de uva, deu um passo na modernização de toda a sua área
produtiva, uma intervenção que surge da necessidade de substituir os equipamentos antigos e de garantir a capacidade de
resposta ao aumento de vendas de vinhos engarrafados. Intervenção que se segue às melhorias feitas, há cerca de 5 anos
atrás e num investimento de 1,5 milhão de euros, nas suas condições de vinificação. Carlos Reis, director financeiro da
Adega de Cantanhede, revelou à Agência Lusa que este investimento visa essencialmente a melhoria das linhas de engarrafamento.
É uma reformulação a todo o nível daquilo que é o circuito produtivo das linhas de engarrafamento e todo o processo ligado à
produção. É um investimento relevante e necessário. Tinha de ser feito, para dar resposta a todas estas necessidades de mercado,
satisfação de encomendas e volume de negócios, que, de alguma forma, vem crescendo. Também Maria Miguel Manão,
responsável pela exportação e pelo marketing na empresa, explicou que toda a área de chão de fábrica foi restruturada para
receber estes novos equipamentos. A Adega conta com cerca de 500 associados activos e mais de 1.200 inscritos, é o principal
produtor da Região Demarcada da Bairrada, representando cerca de 40% da produção global da região e está presente em
mais de 20 mercados, nomeadamente Brasil, E.U.A., Inglaterra, França, Canadá e Japão.

www.cantanhede.com/

QUINTA DO ESTANHO – PORTO 50 ANOS

Foi este ano que a Quinta do Estanho, com a colaboração do


enólogo Luís Leocádio, lançou o Porto 50 Anos, um blend de
vários vinhos raros estagiados num período mínimo de 50 anos
em cascos de carvalho francês e produzidos de castas tradicionais
do Douro, castas plantadas nas melhores parcelas de vinhas velhas

situadas nas íngremes encostas do Rio Pinhão, a uma altitude


entre 150m a 400 m, com um solo de origem xistosa, pobre e
acidentado, de pouca produção, de alta concentração e qualidade
de uvas. A sua fermentação ocorreu em lagares de granito, com
pisa a pé. De tonalidade acastanhada com reflexos esverdead-
os, um aroma com notas de frutos secos, resina, tabaco e fruta
cristalizada; na boca, sabores de alta concentração e intensidade
a especiarias, mel, notas de madeira; muito fresco, com final de
boca infindável e harmonioso. E junta-se ao portefólio da Quinta
que está no mercado sobretudo através de três marcas - a Quinta
do Estanho; a Quinta dos Corvos e a Porto Augusto's, esta última
não sendo propriedade da empresa, é por si comercializada – e
que exporta para mais de 20 países dos 5 continentes do mundo.

www.quintadoestanho.com

50 O Escanção, n°188 - 2022


WINE NEWS

FÓRUM ANUAL VINHOS DE PORTUGAL 2022 - VINIPORTUGAL

Realizado no dia 23 de Novembro, em Fátima, o Fórum Anual Vinhos de Portugal 2022, evento organizado pela ViniPortugal —
entidade responsável pelo desenvolvimento e execução de estratégias e planos de promoção dos Vinhos de Portugal em
mercados internacionais, voltou a acontecer e reuniu várias entidades e personalidades do sector. Durante a ocasião, e tal
como é o propósito deste evento, foi aqui apresentado o balanço de performance do vinho português no mercado nacional
e internacional, tendo sido registado um crescimento de 12% em volume (204 milhões de litros) e um crescimento de 41,5%
em valor (817 milhões de euros) de vinhos tranquilos no mercado português, de Janeiro a Setembro deste ano. No que
toca a exportações, Portugal bateu o recorde de 677 milhões de euros em Valor das Exportações Mundiais e encontra-se
entre os 10 principais exportadores de vinho a nível mundial. De Janeiro a Setembro de 2022, comparando com o mesmo
período de 2021, Portugal caiu 0,6% em volume de exportações (242 milhões de litros), mas cresceu 0,97% em valor, tendo
o preço médio igualmente aumentado 1,57%, atingindo os 2,80€/l. Na edição deste ano do Fórum foram também atribuídos,
e pela primeira vez, os prémios “Distinção CNOIV”, nas áreas de Enologia, Nutrição e Saúde e Viticultura e “Inovação
CNOIV” de 2022. Foram divulgados os Planos de Marketing e Promoção para 2023, e como novidade, foi apresentado o
Referencial Nacional de Sustentabilidade. Este último como resposta às crescentes exigências dos mercados internacionais,
com metas abrangentes ao nível nacional, credíveis, simples, mas simultaneamente acessíveis a todas as organizações do
sector vitivinícola nacional responsáveis e orientadas para a sustentabilidade, ou seja, aquelas que estão focadas na criação
de valor económico, cultural, social e ambiental. Segundo Frederico Falcão, Presidente da ViniPortugal, este Referencial
é extremamente importante para o sector, pois a certificação em sustentabilidade está a deixar de ser uma questão de
posicionamento distintivo, passando a ser uma questão de acesso aos mercados. Acredito que muito em breve alguns mercados,
principalmente os nórdicos, mas não só, passarão a exigir Certificação em Sustentabilidade. É por isso essencial que Portugal
tenha um Referencial único, nacional, promovido pela ViniPortugal pelos vários mercados mundiais, de forma a permitir que
os nossos vinhos não fiquem de fora dos vários mercados onde querem competir. O Referencial está assente nos três pilares
da sustentabilidade — social, ambiental e económico — e acrescenta ainda um quarto, a “Gestão e Melhoria Contínua”. O
Fórum foi transmitido em canal aberto na página de Facebook da ViniPortugal e no seu canal de YouTube, Wines of Portugal.

www.viniportugal.pt/

O Escanção, n°188 - 2022 51


WINE NEWS

CROFT LANÇA NOVA AGUARDENTE, EXPOSIÇÃO DA VINHA AO VINHO,


A VELHÍSSIMA EM TORRES VEDRAS
A Croft, uma das mais antigas empresas de vinho, fundada
há mais de quatro séculos, em 1588 e conhecida pelos
seus vinhos do Porto mas com tradição longa também
na elaboração de aguardentes e brandies, acaba de lançar
a Croft Velhíssima que, elaborada a partir de uma se-
lecção de aguardentes vínicas de grande qualidade, está
disponível em 150 unidades de elegante apresentação
e só em lojas especializadas. O seu envelhecimento foi
feito nos velhos tonéis e cascos de carvalho dos vinhos
do Porto Croft, nas caves da casa em Vila Nova de Gaia
onde a temperatura amena ao longo do ano e a elevada
higrometria proporcionam as condições perfeitas para
a afinação de destilados de qualidade. Um longo
envelhecimento nos cascos do vinho do Porto Croft
que conferiu as características distintivas de grande
suavidade e complexidade que esta aguardente apre-
senta. De cor mogno, paladar aveludado e envolvente e
aromas muito finos e complexos onde sobressaem as notas
de carvalho, noz e especiarias, deve ser servida como O fotógrafo, músico profissional e produtor discográfico
digestivo, num copo balão e com uma temperatura entre Nanã Sousa Dias expôs, durante a primeira quinzena
os 16ºC e os 18ºC. do mês de Novembro, no Mercado Municipal de Torres
Vedras, a colecção de fotografias de sua autoria intitulada
www.croftport.com/pt Da Vinha ao Vinho e que ilustra a realidade da vitivinicultura
deste concelho emblemático na produção de vinho que é
o concelho de Torres Vedras. O trabalho que deu origem
a esta exposição foi desenvolvido em 2008, tendo também
se materializado num livro de fotografia editado pela
Câmara Municipal de Torres Vedras, obra considerada
uma referência do reportório fotográfico nacional dedicado
ao tema do vinho.

www.facebook.com/nanasousadias.fotografia/

ENOTURISMO NA SOCIEDADE AGRÍCOLA BOAS QUINTAS

Passando sobretudo pelas visitas enoturísticas, onde se explica e fica


a conhecer melhor o projecto e seus processos de vinificação, e pelas
provas de vinhos, o enoturismo na Sociedade Agrícola Boas Quin-
tas tem sabido aproveitar os seus 12 hectares de vinha da região do
Dão e a sua moderna adega implantada na Quinta da Giesta, em
Mortágua. Dentro do programa destacamos a experiência O Meu
Vinho, uma actividade criativa e divertida, com a duração de cerca
de 2h-2h30m, e onde o visitante poderá fazer o seu próprio blend
de 3 vinhos monovarietais, engarrafar o vinho e desenhar o seu
rótulo.

Para mais informações: www.boasquintas.com/

52 O Escanção, n°188 - 2022

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