Você está na página 1de 54

2 O Escanção, n°190 - 2023

NotíciasFlix

Editorial

PARABÉNS
ESCANÇÕES DE
PORTUGAL!

Isabel Esteves Para os Escanções de Portugal, o mês Mantêm-se os artigos técnicos e infor-
Directora de de Março é sempre momento de cele- mativos, assinados pelos especialistas
Comunicação da
revista
bração. Foi a 24 de Março de 1972 que que colaboram com a revista, assim
a fundação da Associação dos Escanções como as rubricas habituais e a divulgação
de Portugal foi reconhecida em Diário de notícias e acções relacionadas com o
da República e contam hoje 51 anos mundo do vinho. No âmbito do programa
desde este marco. O dia de reunião, educativo da Associação, a abertura da
e que aqui partilhamos nesta edição, primeira edição do Nível III do Curso
foi celebrado num registo informal de Profissional AEP, numa altura em que
confraternização com convite aberto também edições dos outros níveis deste
a associados, colegas e amigos para curso estão a decorrer.
participar numa Prova Vertical da
Casta Viosinho orientada pela empresa Por fim, aproveitamos a mensagem
produtora ViniLourenço, uma prova para partilhar a 4ª edição do Concurso
guiada por Jorge Lourenço e comentada de Vinhos Escanções de Portugal, a
por Virgílio Loureiro, à qual se seguiu realizar no próximo mês de Julho e
da parte da tarde um lanche convívio, cujo período de inscrições, para vinhos
ambos os momentos na sede da Associação. portugueses – biológicos, brancos,
tinhos, rosé, espumantes, aguardentes,
Neste número, convidámos a escanção generosos e licorosos - está aberto até
Cláudia Abrantes a partilhar um pouco ao dia 28 de Junho de 2023.
mais sobre o seu percurso, na rubrica
Segredos do Escanção, e para Gente Apelamos, uma vez mais, à vossa
Que Sabe de Vinho, em tom diferente e participação e adesão.
excepcional, lembramos e homenageamos
a grande personalidade que foi Rui Boas leituras na nossa companhia.
Nabeiro e cujo legado será eterno. E obrigada por estarem connosco!

Nas provas, para além dos Lançamen- Isabel Esteves


tos/Novidades, e da responsabilidade Directora de Comunicação da revista
do escanção Manuel Moreira, destacamos
uma selecção de cervejas artesanais
portuguesas que fazem parte deste
fascinante mundo cada vez com maior
expressão e adesão.

O Escanção, n°190 - 2023 1


Ficha Técnica Sumário

Director
Tiago Paula
(tiagopaula@escancoes.pt)

Director Adjunto
Fábio Nico
(geral@escancoes.pt)
CLÁUDIA
Sub-Directores
ABRANTES
Nelson Guerreiro e Carlos Lopes Segredos do escanção
(geral@escancoes.pt)
pg.4
Editor
Ana Isabel Fojo Franco Ramos Branco 1 Editorial
(escancao@sapo.pt) 2 Sumário
Directora de Comunicação 4 Segredos do Escanção
Isabel Teresa Vale Lobo Esteves Cláudia Abrantes
(revista.oescancao@gmail.com) 6 Dia do Escanção 2023
Painel de Provadores 8 Gente Que Sabe de Vinho
Artur Caldas, Joaquim Santos, Manuel Miranda, Manuel Moreira e Rui Nabeiro, em homenagem
Tiago Paula 12 Regiões do Mundo
Colaboradores
Por Sara Peñas Lledó
Agostinho Peixoto, António Ventura, Carlos Azevedo, Ceferino Carrera, 14 Vinhos à Prova - Lançamentos / Novidades
Diego Arrebola, Rui Caroço dos Santos, Sara Peñas Lledó e Tiago Paula 18 Apresentação do Painel de Provadores
19 Cervejas à Prova
Fotografia
Bruno Conceição, Janice Prado e Sérgio Simões, Casa do Azeite 22 Entre Quintas
Lobo de Vasconcellos Wines
Projecto Gráfico e Pré-Impressão 26 Onde O Vinho É Rei
Vinícius Palhares
30 O Maestro do Vinho
Director Financeiro/Comercial Os Pacientes Trabalhos Medievais da
Sérgio Mata (geral@escancoes.pt) Vinha, por Ceferino Mariño Carrera
Assinaturas e Publicidade
32 Crónica – Associação de Enologia
Ana Branco (geral@escancoes.pt) Castas, por Engº António Ventura
34 Arte à Mesa – Gastronomia e Vinhos
Propriedade, Administração, Edição e Redacção
Por Agostinho Peixoto
Associação dos Escanções de Portugal
Av. Almirante Reis, nº 58 - r/c Dtº, 1150-019 Lisboa 35 Joie de Vivre
NIF 501269215 Tel: 0351 21 8132542 Por Rui Caroço dos Santos
www.escancao.com (geral@escancoes.pt)) 36 Mundo Caricato
www.facebook.com/escancoesdeportugal
Por Padre Carlos Azevedo
Ficha técnica da publicação encontra-se disponível assim como o estat- 38 Enoturismo em Portugal
uto editorial 42 Acontece – Divulgação de Iniciativas e
https://www.escancao.com/revista
Novos Projectos
Número de Registo: 111639 / Depósito Legal: 139009/99 Sabores e Paladares Ibéricos 2023
Assembleia Geral AEP
Estatuto Editorial
Curso Profissional AEP – Nível III
Objectivos: 45 Wine News
Compromisso em assegurar os princípios deontológicos e ética profission- 50 Wine News – Ficha de Assinatura
al dos jornalistas, assim como pela boa fé dos leitores.

A Revista O Escanção destina-se a dar conhecimento


actualizado das actividades da Associação dos
Escanções de Portugal (A.E.P.), na divulgação da vinha, do vinho, e
na exposição, manutenção e respeito da deontologia profissional entre
todos os que a essa actividade estão ligados.

A revista ‘O Escanção’ continua a reger-se pelo anterior acordo ortográfico

2 O Escanção, n°189 - 2023


O Escanção, n°190 - 2023 3
Segredos do Escanção

CLÁUDIA
ABRANTES

Natural de Manteigas, vila no


distrito de Guarda, no coração da
Serra da Estrela, Cláudia Abrantes
rumou para sul, para terras
algarvias, em 2015, e é aqui que,
actualmente, desempenha o
cargo de Maitre e Sommelier no
restaurante A Ver Tavira. Para
quem o vinho veio quase sem
querer mas hoje não se vê a viver
sem ele, a viagem neste mun-
do começou nas Pousadas de
Portugal e passou pela empresa
de cruzeiros Princess Cruises,
seguindo-se depois a formação
em escanção e a colaboração
com vários restaurantes de
renome em Portugal, tais como
o Pedro Lemos, no Porto, a Casa
de Chá do Boa Nova, em Leça
da Palmeira, o DOP, no Porto, o
Bela Vista no Hotel Bela Vista -
Relais Châteaux, em Portimão, ou
o São Gabriel na Quinta do Lago, Hoje a viver e a trabalhar a sul, no Algarve, Cláudia é natural de Manteigas,
em Almancil. no distrito de Guarda, na Beira Alta. Como escanção e conhecedora
das grandes regiões produtoras de vinho no país, em qual identifica-se
de forma mais notória, nalguma destas duas que pode chamar de casa?
Para mim, a título de gosto pessoal, e profissional sempre, os vinhos do Dão.

Depois de passar pelas Pousadas de Portugal, grupo no qual iniciou o


seu percurso profissional como empregada de sala, em 1990, Cláudia
Texto Isabel Esteves ingressou na aventura de trabalhar para a empresa de navios Princess
Fotos Cláudia Abrantes Cruises, onde se tornou subchefe de sala bar, em 2004. O que lhe
trouxe este desafio?
Aprendi a trabalhar em grande volume, num sector de luxo e tive
oportunidade de conhecer vários países do mundo o que, em termos de
cultura, se tornou uma experiência também bastante enriquecedora.

Qual foi o passo seguinte? E o que a levou a seguir, a determinado


momento, pela profissão de escanção?
O luxo da hotelaria despertou-me para o conceito de fine dining, logo,
o vinho veio quase sem querer, mas hoje não me vejo a viver sem “ele”.
É, de facto, uma área apaixonante, o descrever ao cliente, cada detalhe,
desde a produção ao produto final.

4 O Escanção, n°190 - 2023


No que respeita à sua formação académica, que passos decidiu dar Como escanção em Portugal, e penso nas
para se tornar escanção? vantagens de desempenhar aqui esta profissão,
Foi fundamental ter formação nesta área, comecei por tirar um curso de o que acha que é aqui único?
base de vinhos na Escola de Hotelaria de Faro, onde ganhei aprendizagens O produto que temos. O mundo do vinho português
essenciais, desde a plantação da vinha ao serviço de vinho, seguindo-se cresceu muito e é ele que me fascina, o nosso vinho.
o WSET 2 - este trouxe-me o conhecimento de vinhos do novo mundo.
Apesar de quase só trabalhar com vinhos portugueses, abriu-me a porta E o que falta para que a profissão se desenvolva
para outros horizontes. mais, ganhe mais visibilidade e um papel
ainda mais activo, no nosso país?
De todos os restaurantes por onde passou, e equipas com as quais Os escanções já estão a ganhar um grande
trabalhou, qual o período que mais a marcou e influenciou? destaque ao nível mundial, precisamos de
O A Ver Tavira, sem dúvida, tive a oportunidade de criar o meu bebé empresários que realmente apostem nesta área.
desde o seu nascimento e fi-lo crescer, crescendo com ele também.
Qual o vinho que sempre lhe vem à cabeça
Ser escanção, o que é para si fazer parte deste mundo? para uma sugestão, o que irá sempre sugerir,
É ter a oportunidade em primeira mão de aprender e desenvolver muitos sem hesitação?
conhecimentos, tanto no mundo vínico como no gastronómico. Sempre, Casa da Passarella - o Fugitivo Vinhas
Centenárias.
Hoje, no restaurante A Ver Tavira, que em 2022 conquistou a primeira
estrela Michelin, Cláudia gere uma garrafeira com mais 400 referências O que acha que não pode faltar na garrafeira
de vinho. Quais as prioridades nesta gestão? de um apaixonado por vinhos?
A minha prioridade é sempre a satisfação do cliente, dando-lhe o que real- Equilíbrio, frescura e elegância!
mente ele gosta, e aqui existem várias nuances a ter em conta, entre elas, o
gosto pessoal de cada cliente, a temperatura adequada ao vinho em questão.

Nas tarefas inerentes às suas funções, e no âmbito do seu trabalho, qual a


parte do dia que mais a fascina ou que continua a fasciná-la diariamente?
É quando sirvo o cliente e ele fica satisfeito com o trabalho prestado.

O Escanção, n°190 - 2023 5


Dia do Escanção 2023

Texto Isabel Esteves |


ViniLourenço
DIA DO Fotos AEP

ESCANÇÃO 2023

A Associação dos Escanções de


Portugal assinalou mais um Dia
do Escanção em Portugal, a 24 de
Março de 2023, comemorando
os seus 51 anos de história num
registo informal de reunião e con-
fraternização, aproveitando esta
data de celebração para convidar
os associados, colegas e amigos
a participar numa Prova Vertical
da Casta Viosinho orientada pela
empresa produtora ViniLourenço.

6 O Escanção, n°190 - 2023


A cada dia 24 de Março de cada ano, os Escanções Da parte da tarde, a Associação continuou de portas abertas para um
de Portugal reúnem-se para celebrar a sua causa convívio, acompanhado de um lanche com o apoio da Queijaria Zé do
maior, o seu associativismo, a sua união, e todo Chefe, produtora de Borba que fabrica, de forma tradicional, queijo alentejano.
o trabalho e paixão pela profissão que os move,
homenageando-a num brinde conjunto. Assim SOBRE A VINILOURENÇO
aconteceu neste último dia 24 de Março de
2023, ano em que a reunião se fez na sede da Situada na pequena povoação do Poço do Canto, concelho da Meda, no
Associação. coração do Douro Superior, a ViniLourenço é uma produtora que, desde a
década de 80, tem vindo a adquirir diversas propriedades no Douro Superior.
A Associação comemorou a data deixando o Nesta altura, Horácio Lourenço, após regresso de Angola, plantou as
convite para uma prova vertical muito especial, primeiras vinhas impulsionando as bases deste seu sonho a quem se juntou o
da casta Viosinho e organizada pela ViniLourenço, seu filho, Jorge Miguel Graça Lourenço, no início da década de 2000, assumindo a
orientada pelo próprio Jorge Lourenço e comentada responsabilidade de modernizar os 25 hectares de vinha já plantados,
pelo grande senhor do vinho Virgílio Loureiro, seleccionar novas castas para ampliar a área de vinha e recuperar castas
pela presença e contributo de ambos a Associação antigas do Douro, desenvolvendo a viticultura, e estruturar a empresa para
volta a deixar o seu agradecimento. Em prova vinificar as uvas e comercializar os vinhos produzidos. Actualmente a empresa
estiveram as colheitas do vinho D. Graça de 2005 dispõe de 45 hectares de vinha, repartidos pelos concelhos da Meda e Vila
a 2021. Foram duas horas a degustar as espe- Nova de Foz Côa - a dispersão das várias parcelas de vinha pelo Poço do
cificidades, os contrastes e as singularidades Canto, Vale da Teja e Pocinho, com uma grande diversidade de clima, solos e
destas colheitas e de uma casta única cultivada altitude entre os 160 e 700 m, de xisto nas zonas baixas e de xisto/granito nas
nas regiões do Douro e de Trás-os-Montes e zonas mais altas, permitem a criação de vinhos muito diferenciados com uma
que produz vinhos bem estruturados, frescos e enorme versatilidade de estilos.
de aromas florais complexos.
www.vinilourenco.com/

O Escanção, n°190 - 2023 7


Gente Que Sabe de Vinho

RUI NABEIRO,
EM HOMENAGEM

8 O Escanção, n°190 - 2023


Texto Isabel Esteves Nesta edição do Gente Que Sabe de desenvolvendo novos produtos e serviços, mas
Fotos Nabeiro – Delta Vinho cabe-nos relembrar e homenagear sempre numa vertente de sustentabilidade e
Cafés nunca baixando os braços, criando postos de
Rui Nabeiro, pessoa ímpar no panorama trabalho e proporcionando condições para um
social e empresarial português que ao futuro melhor.
país e aos portugueses deixa um legado
de dimensão imensurável e uma lição Entre diversas distinções, reconhecimentos e
de vida, sobre a arte de bem viver. títulos, pelo seu valor e por todo o seu mérito
e trabalho, foi presidente da Câmara Municipal
Sempre de sorriso nos lábios, tranquilo de Campo Maior, a vila onde nasceu e que
e seguro, Rui Nabeiro deixou-nos no ajudou a se desenvolver, em 1962, 1972 e
passado dia 19 de Março de 2023, aos depois de 1977 a 1986; foi-lhe atribuído o grau
seus 91 anos, mas a sua obra e mensagem de Comendador da Ordem Civil do Mérito
permanecerão sempre vivas. Agrícola, Industrial e Comercial – Classe
Industrial, em 1995, reconhecimento entregue
por Mário Soares, Presidente da República à
Cedo soube traçar o seu percurso tendo data,; e novamente, em 2006, distinguido como
começado a trabalhar aos 12 anos e assumido a Comendador da Ordem do Infante D. Henrique;
direcção da torrefacção de café da sua família, a e foi honrado com a notável insígnia –
Torrefacção Camelo Lda., aos seus jovens 19 anos. A Comenda da Ordem de Isabel a Católica em
2009, por indicação do Rei de Espanha.
E, apenas cerca de uma década depois, em
1961, fundou a Delta Cafés, empresa líder Também para a Associação dos Escanções de
do mercado dos cafés em Portugal e que deu Portugal sempre prestou apoio e disponibilidade,
origem ao grupo empresarial - Nabeiro – Delta com oferta de equipamentos, com estabelecimento
Cafés - que conta, actualmente, com mais de de parcerias, com palavras de incentivo e colaboração,
duas dezenas de empresas com intervenção em sendo a Nabeiro – Delta Cafés membro sócio
diversas áreas, do café aos vinhos, ao imobiliário, à protector da Associação desde 1994. Muito
hotelaria, à inovação e à ciência e que emprega há a contar e a relembrar sobre o percurso e a
cerca de 3.800 colaboradores estando presente personalidade deste Senhor restando-nos, neste
em 40 países nos vários cantos do mundo. momento de reflexão e consideração, agradecer-lhe
por tudo o que nos deixou e pelo fruto da sua vida.
A aposta de Rui Nabeiro foi sempre para a inovação
e para a qualidade e foi perante as exigências
do mercado que foi expandindo o seu negócio

O Escanção, n°190 - 2023 9


10 O Escanção, n°190 - 2023
O Escanção, n°190 - 2023 11
Regiões do Mundo

VINHOS DAS ILHAS


CANÁRIAS

PERSONALIDADE
VULCÂNICA
E VARIEDADES
ÚNICAS

Texto Sara Peñas Lledó,


Fotos

As Ilhas Canárias destacam-se


como um dos territórios mais
singulares do mundo no que diz
respeito à viticultura e à enologia.
A sua história vitivinícola remonta
ao século XV quando os con-
quistadores introduziram as
primeiras variedades de videiras
no arquipélago. Desde então, os
vinhos canários deixaram uma
marca significativa sendo reconhecidos
internacionalmente no século
XVI, como aconteceu com o
prestigiado vinho Malvasia,
elogiado até pelo célebre escritor
William Shakespeare e apreciado
nas cortes europeias.

12 O Escanção, n°190 - 2023


Um marco importante na história vitivinícola As restantes ilhas das Canárias possuem uma
das Ilhas Canárias é que este território foi um Denominação de Origem, com excepção de
dos poucos em Espanha e no mundo que se Fuerteventura onde a presença de cultivos de
manteve livre da devastadora praga da filoxera, videira ainda é escassa. Vale a pena mencionar as
um insecto que afectou as culturas de videira ao produções de Malvasia vulcânica em Lanzarote
nível global. Uma circunstância que permitiu que as e Malvasia aromática em La Palma. Também
videiras crescessem sem enxertos, aproveitando são dignos de nota os vinhos de La Gomera,
ao máximo os minerais do solo e conferindo elaborados com a variedade Forastera, bem
aos vinhos características únicas. como os tintos singulares de El Hierro, feitos
com a variedade Baboso, que foi recuperada
Nas Ilhas Canárias existe uma grande diversidade quase à beira da extinção, e os brancos de
de variedades de uva tendo sido identificados Diego ou Verijadiego.
geneticamente aproximadamente 135 tipos Sara Peñas Lledó,
diferentes. Entre estes, destaca-se a Malvasia Desde 2006, Gran Canaria tem-se destacado gerente da empresa
vulcânica como uma verdadeira jóia enológica pela criação do seu Conselho Regulador e de de consultoria
embora também existam outras variedades produções distintas a partir das variedades especializada La Vida
autóctones como a Baboso, a Listán e a Vijariego. Listán Negro, Gual e Negramoll, entre outras. Ibérica Lisboa;
Embaixadora de
Os vinhos canários reflectem a diversidade Além das denominações de origem insulares, Sherry em Portugal;
de cada uma das ilhas do arquipélago, sendo recentemente foi criada uma marca única com Wine Educator da
o resultado de um património varietal único, carácter regional, a Denominação de Origem ViniPortugal em
do solo vulcânico e de uma viticultura que en- Protegida Islas Canarias (Canary Wine). Esta Espanha e Jornalista
frenta os desafios da complicada orografia das marca visa melhorar a comercialização externa de Vinhos.
ilhas. O cultivo da videira requer um trabalho num mundo cada vez mais globalizado e está
manual quase artesanal, sem mecanização. associada à consolidação das Ilhas Canárias
como um destino turístico reconhecido.
Esta viticultura "heróica" tem contribuído para
criar paisagens peculiares, desde as vinhas O prestígio internacional dos vinhos das Ilhas
entrelaçadas em forma de cordão, em Tenerife, Canárias é evidenciado pelos prémios obtidos
até à paisagem quase lunar de Lanzarote, onde em concursos nacionais e internacionais, como
as videiras são plantadas em crateras escavadas os Bacchus da Unión Española de Catadores,
nas cinzas vulcânicas. os Vinalies de Paris e o Concurso Mundial de
Bruxelas. Prestigiados especialistas em enologia
Graças ao conhecimento e à especialização dos como Robert Parker, Jancis Robinson, Ferrán
enólogos, os vinhos das Ilhas Canárias possuem Centelles e Josep Roca não pouparam elogios
uma personalidade marcante, influenciados pela às elaborações singulares das ilhas, valorizando-as
salinidade do mar, pelos minerais vulcânicos especialmente pela sua qualidade rara e
e tão diversos como a própria paisagem do originalidade extrema.
arquipélago. Além disso, nos últimos anos, tem
sido realizado um trabalho importante de recu-
peração de variedades autóctones em desuso,
que têm ganho maior notoriedade graças à sua
revalorização.

ONZE SELOS DE QUALIDADE DISTINCTOS

Actualmente, as Ilhas Canárias contam com


onze Denominações de Origem. Em Tenerife,
encontram-se cinco desses selos: Ycoden Daute
Isora, Abona, Valle de Güímar, Tacoronte
Acentejo e Valle de La Orotava. Histórica-
mente, o norte da ilha foi conhecido pelos
seus vinhos tintos, enquanto os brancos mais
comuns estão nas regiões do sul. A evolução
técnica e a maior preparação dos viticultores e
enólogos permitiram que toda a ilha se orgulhasse
de produções que têm obtido reconhecimento
a nível internacional.

O Escanção, n°190 - 2023 13


JOSÉ MARIA DA FONSECA
Periquita Superyor 2017:
Novas colheitas do Pasmados Tinto e Branco: O encontro feliz entre a
casta Castelão e a Península
de Setúbal

Revela uma cor rubi e caracteriza-se


pelo aroma elegante com uma
interação muito interessante
Pasmados Tinto 2017 entre as notas de madeira e o
aroma doce do alcaçuz. Com um
Originalmente conhecido por Tinto envelhecimento de 10 meses em
Velho J.M. da Fonseca e prove- cascos novos de carvalho francês,
niente da Quinta dos Pasmados, este vinho apresenta notas de
localizada no sopé da Serra da fruta preta, bosque e alcaçuz com
Arrábida, tem na sua composição taninos muito elegantes. É ideal
as castas Touriga Nacional, Syrah e para acompanhar pratos de carne e
Malbec. Com um aroma a violeta, queijo e o seu final de boca é longo
madeira e pimenta preta, este vinho e distinto.
possui um paladar marcado de aromas
a violetas encontrados ao nível do P.V.P.R.: € 39,99
nariz e com taninos macios. Este www.jmf.pt/
tinto é ideal para acompanhar pratos
de carnes vermelhas.

P.V.P.R.: € 9,99 TAPADA DE COELHEIROS


As duas novas colheitas de Coelheiros chegaram ao
mercado. São de 2022 e têm certificação biológica.
Rosés com uma boa definição aromática, frescos e
equilibrados, e brancos com uma exuberância aromáti-
ca e de paladar.

Pasmados Branco 2020

Produzido com as castas Viognier,


Viosinho e Arinto, apresenta uma
cor amarela palha com reflexos
esverdeados. Assumindo-se como
um dos topos de gama dos vinhos
brancos da José Maria da Fonseca,
este vinho só é lançado no mercado
depois de repousar durante dois
Coelheiros Branco 2022
anos nas caves da José Maria da
Produzido a partir das castas Arinto
Fonseca. Envelhecido em barri-
e Antão Vaz, passou por um estágio
cas de carvalho francês de 2º ano
de 4 meses em depósitos de inox
com bâtonnage, este branco tem
e foudres, mantendo contato com
um aroma muito marcado pela
borras finas, resultando em com-
casta Viognier, que revela notas de
plexidade e elegância únicas.
pêssego branco, alperce, alguma
especiaria e madeira com um toque
subtil de baunilha. Equilibrado e P.V.P.R.: € 11
com notas elegantes, este vinho é
ideal para acompanhar pratos de
peixes ou mariscos.

P.V.P.R.: € 9,99

O Escanção, n°190 - 2023 15


Entre Quintas Texto Isabel Esteves
Fotos Lobo de
Vasconcellos Wines

LOBO DE
VASCONCELLOS
WINES

Juntando o legado de uma


tradição secular de família a
um percurso tão experiente e
rico como o do enólogo Man-
uel Lobo, à sua forte visão
empreendedora e à missão e
aos valores que partilha com
o sócio Francisco Bessa na
fundação e consolidação da
Lobo Vasconcellos Wines, a
marca recentemente criada
tem conquistado um lugar de
referência no mercado nacio-
nal e internacional. Pelos seus
vinhos, de grande identidade e
equilíbrio, e pelo trabalho ded-
icado de valorização e inves-
timento nos grandes recursos
naturais e nas características
próprias do terroir que as suas
propriedades apresentam.

22 O Escanção, n°190 - 2023


Para a família Lobo de Vasconcellos o contacto
com o mundo da vinha e do vinho é antigo,
tendo a sua primeira adega sido construída em
1817 no Ribatejo, na Quinta do Casal Branco,
em Almeirim, casa ainda hoje na família, sob
a alçada de José Lobo de Vasconcellos, tio de
Manuel Lobo de Vasconcellos, o enólogo e
sócio gestor da Lobo de Vasconcellos Wines.
Foi este o primeiro passo, com uma distân-
cia de dois séculos, a determinar um futuro
de forte empreendedorismo e tradição desta
família no sector agrícola e que passa pela viti-
vinicultura mas também, e desde sempre, pela
pecuária, pelos olivais e florestas, pela cinegética
e pela criação de cavalos Lusitanos.

O rumo ao Alentejo aconteceu bem mais tarde,


em 1968. Nesta data com a aquisição da Herdade
da Perescuma, na Vendinha, pelo avô de Manuel
Lobo, e depois, nos inícios dos anos 80, da
Herdade do Zambujal do Conde, pelo seu pai,
Francisco Lobo de Vasconcellos.

Duas herdades na região de Évora e que ficaram


a cargo deste último mas que, recentemente, se
apresentam sob a assinatura da empresa Lobo
de Vasconcellos Wines, a marca produtora
de vinhos criada em 2020 com as iniciais que
representam o nome da família. Marca gerida
já pela nova geração, com Manuel Lobo de
Vasconcellos na liderança, num projecto partilhado
com a mulher, Teresa, e os seus filhos.

Manuel Lobo conta com uma grande experiência


na vinha e na adega e um conhecimento vasto
na produção de vinhos, sendo enólogo na
Quinta do Casal Branco e na Quinta do Crasto,
e assumiu este desafio como o seu projecto
pessoal, acompanhado pelo também sócio ger-
ente Francisco Bessa, gestão que, por sua vez, é
apoiada por uma equipa dedicada, profissional
e integrada no espírito e nos valores da em-
presa cuja principal finalidade é a de produzir
vinhos de vinhas próprias e que reflictam a
autencidade dos seus terroirs, potenciando,
desta forma também, as características dos seus
vinhos, únicos, elegantes, frescos e equilibrados.

Para esta singularidade, há que ter em conta


que tanto na Herdade da Perescuma, com 543
hectares dos quais 39ha são de vinha, como
na Herdade do Zambujal do Conde, com 512
hectares dos quais cerca de 8ha são de vinha,
os solos são muito heterogéneos, com diversos
perfis de argilas, areias e calcários, habituados
a um clima profundamente continental, com
Invernos muito frios e Verões extremamente
quentes.

O Escanção, n°190 - 2023 23


Na Herdade da Perescuma, as primeiras vinhas
foram plantadas em 1996 e caracterizam-se
por serem de boa fertilidade e com excelente
capacidade de retenção de água. Na Herdade do
Zambujal do Conde, a vinha foi plantada em
2006, com uma altitude de 237m e solos fran-
co–arenosos com elevada influência granítica.
Todas as vinhas são tratadas recorrendo à produção
integrada, com o mínimo de recurso a herbicidas
e respeitando a biodiversidade, com incremento
da flora natural e disponibilidade de abrigos e
alimento à fauna local. Também na enologia
a intervenção é mínima e a vinificação é feita
com elevado know-how e rigor técnico, com
uso de barricas de elevada qualidade, numa
adega moderna e funcional com capacidade
máxima para 1,2 milhões de litros.

Foi em 2021 que foram para o mercado as


primeiras referências LV - dois brancos e dois
tintos, Colheita e Reserva, num total de cerca
de 40 mil garrafas – às quais se seguiu o LV
Licoroso 2020 feito com a melhor selecção de
uvas, vinificado em lagar com a tradicional pisa
a pé e envelhecido em meias pipas de carvalho
durante 24 meses.

Referências dadas a provar à imprensa e a um


grupo de convidados do sector, entre os quais
esteve presente Tiago Paula, presidente da
Associação dos Escanções de Portugal, muito
recentemente, no passado mês de Janeiro,
aproveitando a ocasião da apresentação e
lançamento no mercado de uma novidade da
marca e resultado de um novo investimento
com origem mais a Norte, no Douro, na
localidade de Nagoselo do Douro, junto a São
João da Pesqueira - o Vinha do Norte Tinto
2019, vinho deste produtor e enólogo e elaborado
em equipa com a sua enóloga assistente, Joana
Silva Lopes.

Também no enoturismo, a empresa tem vindo


a desenvolver o seu projecto que passa neste
momento por visitas à adega e vinhas e por
provas e almoços ou jantares harmonizados,
por marcação, nos seus espaços. Nestes programas,
o visitante poderá conhecer mais sobre todo o
projecto, o terroir, os diferentes tipos de solo,
as vinhas, todo o processo de vinificação
implícito, desde as variedades das castas
existentes à produção do lote final.

www.lobovwines.com

24 O Escanção, n°190 - 2023


O Escanção, n°190 - 2023 25
Onde o Vinho é Rei

STRAMUNTANA
SOTO ANTIGO

Texto Isabel Esteves


Fotos Stramuntana
Soto Antigo

26 O Escanção, n°190 - 2023


Se traduzido do mirandês seria Trans-
montana o nome do restaurante e
mercearia que Lídia Brás e Fernando
Araújo fundaram em 2019, espaço que
hoje é lugar de referência em Vila Nova
de Gaia. Mas mirandesa é a sua essência
e daí o nome escolhido, Stramuntana.
É o amor dos proprietários pela região
de Trás-os-Montes, de onde é natural
Lídia, junto a algumas influências
do Minho pela origem bracarense de
Fernando, que dão a identidade tão
própria e a singularidade a este espaço,
a conhecer, perpetuando memórias e
preservando um património.

O Escanção, n°190 - 2023 27


Inaugurarado há 4 anos atrás, em 2019, em Vila
Nova de Gaia, o Stramuntana Soto Antigo abriu
inicialmente as portas como mercearia, e de
nome transmontano, a Soto Antigo. A ideia era
servir no espaço petiscos vários como a Alheira
Grelhada, o Chouriço de Javali na Brasa, a Linguiça
de Porco Bísaro, os Cogumelos Salteados com
Ervas ou a Farinheira Frita com Grelos, a ser
acompanhados pela Bola Sovada, mas também
por um dos vinhos disponíveis da diversificada e
imponente garrafeira, num conjunto de produtos
tradicionais da região de Trás-os-Montes possíveis
de adquirir no local.

Mas, com a afluência de clientes e a vontade


dos proprietários de expandir e trabalhar a sua
paixão, o espaço foi alargado ao piso superior,
com esplanada incluída, para servir aqui pratos
diários e apresentar uma carta fixa composta
por outras sugestões do receituário culinário
transmontano e respeitando os sabores e os
tempos das estações, mantendo a mercearia no
piso inferior com o mesmo conceito inicial.

E aqui, na cozinha, a responsável é a própria Lídia confeccionando grande


parte dos pratos na lareira da sala principal, em potes de bairro negro e
panelas de ferro. Entre as suas especialidades destacam-se as Papas de
Sarrabulho, o Caldo de Casúlas, o Arroz de Forno, o Bacalhau com Broa, o
Bacalhau em Crosta de Allheira, a Posta à Stramuntana, a Vitelinha Assada
no Forno, o Folhado de Vitela com Cogumelos, as Plumas de Porco Ibérico
na Brasa ou os Lombinhos de Boi na Brasa. Nos doces, as Rabanadas, o
Pudim de Grelos e Pêra Bêbeda, os Cuscos Doces ou os Milhos Doces, a
acompanhar o café de cafeteira feito ao lume, à antiga.

Já nos vinhos é Fernando que faz a gestão, sendo o responsável pela


organização e selecção da garrafeira e da carta. Nacionais e internacionais,
as referências estão expostas por anos, regiões e com os valores à vista e
podem ser escolhidas pela carta ou directamente da garrafeira, espreitando
a vasta selecção de opções que se apresentam nas prateleiras, entre as quais
1.100 referências de vinho tranquilo, 30 de vinho do Porto, 220 de champanhe
e espumantes e alguns licorosos.

É com uma decoração rústica e evocativa de outros tempos que todos os


elementos do espaço se conjugam e fluem criando um ambiente acolhedor
e descontraído, a que se alia a disponibilidade da equipa e a simpatia no
serviço, orientado por Carlos Cardinal.

Stramuntana Soto Antigo


Rua de Soares dos Reis, 903
Vila Nova de Gaia (Santo Ovídio)
www.facebook.com/stramuntana

28 O Escanção, n°190 - 2023


2023

ALENTEJO
EM LISBOA
CENTRO CULTURAL DE BELÉM

2 · 3 JUNHO

Seja responsável. Beba com moderação.


450 VINHOS

+ 60 PRODUTORES E ENÓLOGOS
COMPRE AQUI
PROVAS TEMÁTICAS E DEBATES O SEU BILHETE

O Escanção, n°190 - 2023 29


Maestro do Vinho A Idade Média deixa a sua marca nos trabalhos mais artesanais e pacien-
tes da Vinha e da Adega. Algumas destas Práticas e Arte mantiveram-se,
quase sem variação, até à segunda metade do século XX. Na vinha
medieval realizavam-se várias podas ao ano, principalmente no Outono,
após a vindima. No entanto, a poda de finais de Inverno ou inicio da
Primavera - a chamada poda seca - era a mais importante e a que mais
foi representada pelos artistas da época. Esta poda servia para eliminar
os sarmentos inúteis, encurtar os ramos com fruto, a fim de assegurar
OS PACIENTES aos cachos o máximo de seiva, e cortar as partes mortas para favorecer
os sarmentos produtivos. Exigia uma grade destreza, pois tinha de se
TRABALHOS saber o que a cepa podia suportar em rebentos, não sobrecarregar as
MEDIEVAIS DA cepas débeis e favorecer as que mostravam mais vigor: condicionava-se
assim não só a futura colheita mas também o desenvolvimento posterior
VINHA do vinhedo. Utilizava-se uma espécie de pequena foice de lâmina larga,
afiada unicamente na parte interna. Depois da poda, os sarmentos eram
agrupados em feixes que as mulheres transportavam aos ombros. Tal
como as podas, a imagem das melhores transportando grandes feixes
de sarmentos repetia-se várias vezes ao ano e foi uma das preferidas dos
Em colaboração com o grande pintores e miniaturistas da época.
Maestro do Vinho Ceferino
Mariño Carrera, nesta rubrica O trabalho da terra e seu arroteamento realizava-se também várias vezes.
partilhamos alguns dos pensamentos As tarefas de Março eram as mais duras, pois tornava-se necessário o
solo endurecido pelo frio, as chuvas da invernia e o espezinhar provocado
e conhecimentos deste grande
pela poda. O viticultor punha assim a descoberto as cepas que quase
mestre e as descobertas que este havia enterrado no Outono para protegê-las do frio. A segunda tarefa,
tem feito na sua viagem pelo uma cava menos profunda para não ferir os caules mais tenros, fazia-se
mundo do vinho. Nesta edição, em Maio. Em Julho e Agosto ocorriam outros trabalhos de maturação do
um texto de sua autoria sobre os solo, eliminavam-se as ervas daninhas e prevenia-se o efeito da seca. Em
determinadas regiões, outras tarefas consistiam em enterrar os tutores
trabalhos medievais da Vinha.
para amparar os sarmentos e permitir a sua melhor exposição solar. Estes
tutores eram removidos em Novembro para que não apodrecessem no
solo e pudessem ser recuperados no ano seguinte.

O TRABALHO NA ADEGA

Em Junho, antes da colheita, retirava-se o depósito de engaços


do ano anterior que ficara nas cubas e era aplicado na vinha
como adubo. As cubas limpavam-se a fundo com o objectivo
de eliminar os bolores que podiam deitar a perder o vinho
novo. Um dos métodos consistia em esfregar o interior das
cubas com água salgada, enxaguá-las e, depois de secas,
afumá-las com incenso. Destas tarefas chegaram até nós
poucas imagens, assim como da arte da tanoaria, trabalho
que todos os anos, em Julho, pouco antes da vindima,
preocupava muito os viticultores: todos os recipientes deveriam
Texto Ceferino estar prontos para receber o vinho novo. A cena mais clássica
Mariño Carrera, em e abundantemente representada pelos artistas da época foi a
A Fonte do Escanção vindima. Embora inicialmente nela somente participassem
os homens, esse trabalho foi-se estendendo a toda a família
e, com o passar do tempo, acabou por ser uma tarefa praticamente
das mulheres, enquanto os homens somente se ocupavam do
transporte dos cestos das uvas cheios pelas mulheres, até às
cubas ou dornas colocadas sobre carros.

Para colher as uvas, a partir do século XII passou a usar-se


uma faca que, com o tempo, evoluiu até tomar de uma

30 O Escanção, n°190 - 2023


pequena tesoura de podar. O esmagamento das uvas desenvolvi-se muito triste por ter ficado sem vinho,
em duas partes. Metidos os cachos nas cubas, os bagos, sob a mas São Francisco aconselhou-o colher
pressão simples do deu próprio peso, soltavam um primeiro pelo menos os poucos cachos restantes
mosto de onde resultava o vinho mais apreciado. O pisar das e somente com estes conseguiu mais
uvas propriamente dito vinha depois, para pôr em contacto vinho do que aquele que o vinhedo
o mosto com os fermentos que continham as películas, era podia proporcionar: tal como os mais
um trabalho essencialmente masculino , pois exigia bastante sóbrios dos poetas latinos, Petrarca
força. Após o esmagamento, o vinho tinto passava às cubas pensava que nunca se devia ir além
de fermentação, onde permanecia de quatro a quinze dias, de um terceiro copo; enquanto Dante,
e de imediato se inclinam barricas e tonéis. O depósito que na sua viagem além da morte, recorda
ficava nas cubas era submetido a prensagem, cor, o objectivo com frequência a obra do viticultor -
de conseguir um terceiro mosto, embora de menor qualidade. No no Inferno, ao ver as chamas em que se
caso dos vinhos brancos, pisava-se levemente a uva e submetiase a encontra Ulisses, a sua recordação vai
uma prensagem, após o que se retiravam películas e engaços para a Toscana, onde nas noites quentes
para fermentar um vinho já limpo. Quando o vinho estava já de Verão o camponês vê os pirilampos
nas barricas, era preciso encher periodicamente o espaço que no vale onde cultiva o solo ou vindima;
em cada barrica deixava livre a evaporação, com a intenção no Purgatório tem uma bela imagem.
de evitar que o ar o oxidasse. Quando o vinho estivesse O calor do Sol unido à seiva da videira
pronto, trasfegava-se para eliminar borras e impurezas. transforma-se em vinho (il colore del
Finalmente, procedia-se à prova, que costumava realizar o sol che si vino giunto all’umor che dalla
senhor, proprietário da vinha e da adega, que decidia a qualidade vite cola). Não faltam também citações
do vinho e o seu destino comercial. referentes ao consumo do vinho, como
as do Decameron, que data de 1352.
O VINHO NOS HORIZONTES DO RENASCIMENTO: Apresentando os contadores de cem
histórias, Bocácio precisa que, enquan-
Na literatura que se escreveu em finais da época medieval, to outras pessoas procuravam lutar
quando se vislumbravam, já com os alvores do humanismo, contra a peste de 1348 passando de
os poemas tornaram-se mais alegres e despreocupados e as uma taberna a outra e bebendo sem
citações do vinho foram portanto, mais divertidas e fre- medida, alguns cidadãos reuniam-se
quentes. Assim, Folgore da San Gimignano canta os prazeres em pequenos grupos e continuavam
de uma caçada em Fevereiro, com o motivo optimista de comendo manjares deliciosos e be-
uma refeição alegrada pelo vinho. No século seguinte, este bendo os melhores vinhos com muita
motivo será retomado por Lourenço de Médicis de forma moderação. A preferência do poeta
ainda mais leve e irónico (L’Uccellogione); observa como pela qualidade é evidente na segunda
nestas ocasiões inclusivamente o vinho menos bom parece narração do sexto dia, em que conta
“Trebbiano” e os que tiveram menos êxito na caçada tentam que um padeiro que tinha em sua casa
redimir-se com as histórias que contam e vão bebendo: “Pare os melhores brancos e tintos que se
Trebbiano il vin, sendo cercone...e chi moito non fé com lo- podiam encontrar não era avaro deles, mas
sparviere, si forze qui col rogionare e bere” (Parece Trebbiano só os oferecia a quem sabia apreciá-los
o vinho, sendo vinho ácido...e quem não conseguiu muito na e recusava dá-los àqueles que haviam
caçada, tira agora desforço com palavras e bebida). O consumo do considerado o seu melhor vinho,
vinho também é evocado nas crónicas medievais. Assim, por conservado em pequenas barricas e
exemplo, o autor desconhecido da narrativa da batalha de jarras, com um vinho de consumo corrente.
Monteaperto, do século XIII, pinta o sucesso de uma forma
muito realista, incluindo abundância de alimentos e bons
vinhos consumidos pelos habitantes de Siena antes de baixar
ao campo de batalha. Inclusivamente nas Florecillas conta-se
que por causa da presença de São Francisco em casa de um
sacerdote, toda a vinha deste foi vindimado antes do tempo
pelas pessoas que iam consultar o santo. O sacerdote estava

O Escanção, n°190 - 2023 31


Castas - Associação De Enologia

Texto António Ventura


Fotos Associação de
Enologia

RAMISCO

No âmbito da colaboração com a


revista O Escanção temos partilhado
a descrição das características
técnicas de algumas castas portuguesas,
e em alguns casos de castas ibéricas.
Nesta edição, continuamos o
artigo com mais uma casta, com
a sua maior expressão ligada inti-
mamente a Colares – a Ramisco.

32 O Escanção, n°190 - 2023


ORIGEM Folha adulta
Tamanho médio, pentagonal, com cinco lóbulos,
Foi a casta mencionada por Vila Maior (1875) limbo verde, medianamente irregular, medi-
como casta limitada à região de Colares. Há anamente bolhoso, página inferior com média
referências anteriores ao Ramisco na literatura in- densidade de pêlos prostrados e de pêlos erectos,
glesa. Devido à sua técnica de cultivo, tem sobre- dentes médios e convexos, seio pelicular com
vivido até hoje à filoxera. Tem a sua expressão lóbulos muito sobrepostos em V e seios laterais
maior ligada intimamente a Colares. Historica- fechados com base em U.
mente, a casta foi ligada à denominação da região Cacho
que possui, actualmente, a área de 25ha. O Médio, cilíndrico cónico, medianamente com-
vinho Ramisco, limitado à zona de areia de Colares, pacto, pedúnculo de comprimento médio.
perdeu a sua existência basicamente pela Bago António Ventura,
concorrência da construção civil. A casta, de Arredondado, pequeno e negro-azul, película de enólogo consultor e
grande interesse enológico devido à sua elevada espessura média, polpa de consistência média. membro da Associação
acidez natural, tem o seu desenvolvimento e a Sarmento Portuguesa de Enologia
sobrevivência, do ponto de vista económico na Castanho escuro (Fonte: Vine to Wine
sua região de origem, muito complicado, tendo Circle)
em conta a enorme pressão urbanística. A sua
migração dependerá dos resultados de estudos POTENCIAL
de adaptação com alguns porta-enxertos.
Gosta de solos férteis, profundos, debaixo
Da nossa experiência pessoal podemos adiantar que de uma cobertura de areia, quando
a sua adaptação em “territórios” bem distantes plantado a pé franco. No caso de enxertia,
de Colares é excelente proporcionando vinhos
adapta-se a todos os tipos de solo. Aprecia o
muito equilibrados com taninos intensos com
clima marítimo, resiste muito bem ao
aptidão para estágio e sempre com enorme
frescura. desavinho e o cacho apresenta boas
condições de resistência após maturação.
COMPORTAMENTO No caso de condução em cordão revela boa
apetência para vindima mecânica. O sistema
Abrolhamento de condução tradicional para esta casta é
Possui abrolhamento tardio, 12 dias após a deitada no chão de areia. Bem adaptado ao
Castelão. cordão bilateral, com intervalo na entrelinha
Floração mais elevado.
Tem floração tardia, 8 dias após a Castelão.
Pintor Os vinhos que produz, entre os 11% e 12%
O pintor é muito tardio, 17 dias após a Cas- de álcool, apresentam uma acidez elevada,
telão. sempre superior a 6g/l e um potencial
Maturação enorme de evolução ao longo dos anos.
A maturação é tardia, duas semanas após a É por natureza uma casta para produção de
Castelão.Castelão.
vinhos nobres e para estágios prolongados
visto que resiste muito bem à oxidação.

MORFOLOGIA Enquanto jovens os vinhos apresentam


uma enorme agressividade na boca devido
Extremidade do ramo jovem ao elevado índice de taninos mas com
Aberta, com carmim generalizado de intensidade a idade e o estágio transformam-se em
média e baixa densidade de pêlos prostrados. vinhos elegantíssimos, de cor rubi com
Folha jovem reflexos acastanhados, aromáticos, de onde
Verde com tons bronzeados, folha inferior com sobressaem notas de carne fresca, cogumelos,
forte densidade de pêlos prostrados.
por vezes terra molhada, resina e madeira
Flor de cedro. Por trás da sua aparente fragil-
Hermafrodita.
idade e da sua baixa graduação alcoólica
Pâmpano revela-se de uma personalidade ímpar, que
Estriado e vermelho, mais intenso nos nós, com
o tornou um dos mais originais e carismáticos
gomos ligeiramente vermelhos.
vinhos portugueses (Loureiro, 2002).

O Escanção, n°190 - 2023 33


Mundo Caricato

36 O Escanção, n°190 - 2023


O Escanção, n°190 - 2023 37
Enoturismo em Portugal

LAVRADORES DE
FEITORIA

Nesta rubrica dedicada ao Enoturis-


mo, segmento do turismo associado
ao mundo do vinho, divulgamos
iniciativas e projectos nacionais que
se dediquem a esta vertente e que
potenciem a manutenção, a valo-
rização e a promoção dos recursos
e mais-valias deste património
de inegável singularidade e valor.
Nesta edição, divulgamos o projecto
de enoturismo desenvolvido pela
Lavradores de Feitoria, empresa de
vinhos do Douro com um modelo
de negócio inovador.

Texto e Fotos
Lavradores de Feitoria

38 O Escanção, n°190 - 2023


O projecto Lavradores de Feitoria, fundado em
2000, é liderado e gerido por vários produtores
e viticultores, proprietários de quintas das três
sub-regiões do Douro – Baixo Corgo, Cima
Corgo e Douro Superior – que num esforço em
equipa, para se fortalecer e ganhar estabilidade
financeira, se associaram partilhando sinergias e
definindo objectivos em comum.

O seu portefólio de vinhos é composto por marcas


como a Lavradores de Feitoria Branco, Rosé e
Tinto; a Três Bagos Sauvignon Blanc Branco,
Reserva Branco, Reserva Tinto, Grande Escolha
Tinto e Grande Escolha Estágio Prolongado Tinto,
a Meruge Branco e Tinto, a Quinta da Costa
das Aguaneiras Tinto, a mais recente Vinha do
Sobreiro Tinto, assim como alguns vinhos de
celebração como o Lavradores de Feitoria 18.

Depois de mais de duas décadas de experiência


e consolidação, são hoje 53 os accionistas que
fazem parte do grupo, sendo 16 proprietários
de 19 quintas, às quais se soma a Quinta do
Medronheiro que foi comprada com o capital
da empresa e onde, desde 2021, está localizada
a sede e adega da Lavradores de Feitoria. É
nesta também que começou a ser desenvolvido
o seu projecto de enoturismo, que contempla
um centro de visitas e uma loja de vinhos, e
que foi já consagrado, em Novembro de 2022,
vencedor em Portugal na categoria Serviços de
Enoturismo pelo Best Of Wine Tourism 2023,
um concurso promovido pela plataforma Great
Wine Capitals.

O Escanção, n°190 - 2023 39


Acontece - Espaço de divulgação de iniciativas e novos projectos

SABORES E
PALADARES
IBÉRICOS 2023 -
Especial Pessoa com
capitais do Vinho e
da Gastronomia
A terceira sessão de 2023 deste ciclo de palestras aconteceu no dia 18 de
Abril e foi dedicada a Fernando Pessoa numa ocasião em que se harmonizou
poesia, literatura, vinhos de Lisboa e pratos preparados de Cuenca, por
motivo desta ser, este ano, a capital gastronómica de Espanha.
Com início em 2022 e continuidade
neste ano, o Ciclo de Palestras Fernando Pessoa, além de poeta internacional oriundo de Portugal e
Sabores e Paladares Ibéricos mais concretamente da cidade de Lisboa, era um grande apreciador (e
decorre no âmbito da Agenda até mais, como sabemos) dos vinhos e da gastronomia desta cidade que
Cultural do El Corte Inglès de o viu nascer.
Portugal e é organizado pela empresa Nesta sessão, os Sabores e Paladares Ibéricos, com o protagonismo dos
La Vida Ibérica, em parceria vinhos de Lisboa, e através do seu conselho regulador, a CVR Vinhos de
com instituições portuguesas Lisboa, prestaram homenagem a esta figura inigualável, dando-se início
e espanholas que promovem ao evento com o discurso da premiada Maria João Cantinho, poetisa,
as suas ligações fronteiriças ensaísta, crítica literária, professora e colaboradora de várias revistas
literárias em Portugal, seguindo-se o vice-presidente da CVR Lisboa,
assim como os seus produtos Carlos João Pereira da Fonseca, numa interessante apresentação, que se
gastronómicos. A iniciativa visa debruçou sobre a relação de Pessoa com o seu avô, Abel Pereira da Fonseca.
promover a multiculturalidade
entre Espanha e Portugal, relembrar Este último foi um famoso produtor e distribuidor de vinhos em Portugal
acontecimentos históricos e no início do século XX. No seu tempo possuía mais de 100 bares em
Lisboa e, ainda hoje, os seus descendentes produzem vinhos em pro-
dar a conhecer alguns dos seus priedades como a Quinta das Cerejeiras, a Quinta do Sanguinhal ou a
costumes gastronómicos, numa Casabel. Carlos João mostrou-nos correspondência variada, incluindo
viagem de conhecimento através fotos e bilhetes do espólio da sua família, entre Fernando Pessoa e a sua
dos nossos sentidos e valorizando eternamente adiada noiva Ofélia, nos quais esta se lamentava por Fer-
a importância dos momentos nando passar mais tempo com Abel, ou seja, nos seus bares, e recordemos
que Pessoa morreu bastante jovem de problemas hepáticos, do que com ela.
que nos unem.
Seguimos o encontro com a honrada presença da embaixadora de
Espanha em Portugal, Marta Betanzos, harmonizando vinhos com
comida de ambos os lados da fronteira. Do lado de Espanha, e seguindo
o exemplo de Pessoa perdendo-se em Desassossego, impregnando-nos
da sua cultura gastronómica, fomos ao encontro da cidade espanhola de
Cuenca, Capital Espanhola da Gastronomia 2023. Durante o cocktail, os
Texto Sara Peñas Lledó vinhos de Lisboa acompanharam os morteruelos, as gachas, o ajo arriero,
Fotos La Vida Ibérica o gazpacho pastor e outros pratos caseiros típicos da Casa Eladio, assim
como os queijos premiados Villarejo, desta cidade castelhana e manchega.

Foi uma belíssima sessão de partilha que nos recordou que a cultura não
tem de ser aborrecida, mesmo que tantas vezes o seja. A cultura como
traço de união de gente cultivada, desde o cultivo da vinha até ao des-
frute da cultura sublimada pelo álcool, ou como escreveu Pessoa: “Boa é
a vida, mas melhor é o vinho."

42 O Escanção, n°190 - 2023


Acontece - Espaço de divulgação de iniciativas e novos projectos

ASSEMBLEIA
GERAL DA
ASSOCIAÇÃO DOS
ESCANÇÕES DE
PORTUGAL
ABRIL 2023
Reuniu a 21 de Abril, do corrente ano, na
sua sede, a Assembleia Geral da Asso-
ciação dos Escanções de Portugal, com a
direcção dos trabalhos a cargo, este ano, De forma estruturada e objectiva, Tiago Paula fez assim o resumo das actividades e colo-
do novo presidente da Assembleia Geral, cou a discussão e a aprovação vários temas, nomeadamente no que respeita a este mesmo
Nuno Miranda Ferreira, que começou programa de formação da Associação e ao seu alargamento a novos cursos e à partic-
por agradecer a presença de todos os ipação em novos concursos. Também em discussão esteve a alteração do logótipo da
associados e em breves minutos resumir Associação dos Escanções; a realização, pela primeira vez, do Master of Port e a proposta
as actividades, o plano de trabalhos real- formal de novos delegados regionais, em acrescento ao elementos já activos. O debate e
izados, o resumo das contas e o balanço discussão foram abertos aos associados presentes.
final de 2022. De seguida, lançou os novos
No que ao logótipo da Associação diz respeito, e sob proposta do Presidente, em man-
desafios para 2023, focados na melhoria ter-se o logo central na matriz histórica da Associação, alterando a estrutura superior para
e qualidade da formação, na organização Associação de Escanções de Portugal, complementada na parte inferior com a palavra
de mais concursos e na preparação e Sommeliers, sugestão que permite manter a identidade e as palavras em Português mas
organização do Concurso Mundial de Es- ser também reconhecida em eventos e representação no estrangeiro, a votação foi a favor
canções a realizar em Portugal em 2026. pela maioria dos presentes, com apenas um voto contra.

No que concerne à realização do Master of Port, Tiago Paula determinou vontade


concreta neste projecto, que tem já acordo fechado com o IVDP e que será apresentado
Texto e fotos AEP oficialmente no ultimo trimestre deste ano, para ser realizado ao longo do ano de 2024.

Em cima da mesa, a ser descrito e discutido, esteve também a melhor forma orgânica de
dinamizar a Associação em todo o território nacional, reconhecendo-se a importância
dos delegados regionais como representantes da Associação e como dinamizadores das
No que respeita ao Relatório da Direcção e às Contas, tal actividades da Associação nas suas regiões. Dessa forma, e tendo em conta a importância
foi apresentado por Anca Poiana, presidente do Conselho destes, ficou o compromisso de se estudar a melhor forma de fortalecer a presença da
Fiscal, resumindo o balanço de contas referentes ao ex- Associação em todas as regiões, nomeadamente no norte do país, soluções a ser apresen-
ercício do ano de 2022, sendo as mesmas aprovadas, por tadas em futura assembleia geral.
maioria dos presentes, e com um voto contra no Relatório
da Direcção e nas Contas finais, sendo as mesmas aprova- Para além de tudo isto, o momento foi também de alguns anúncios importantes como a
das por unanimidade. decisão, em parceria com a Associação Nacional Espanhola, de organizar um Campeonato Ibérico.

De seguida discursou o Presidente da Direcção, Tiago O trabalho tem sido intenso e com os objectivos bem marcados, como continuou Tiago
Paula, começando por agradecer a presença de todos Paula, num ano em que se continuam as remodelações à sede e sua biblioteca, sala que
nesta reunião e congratulando a situação financeira em está a ser preparada com livros físicos e digitais que estarão disponíveis a sócios e alunos, e
que a Associação se encontra de momento estando, de ano em que a revista O Escanção alterou a sua imagem, agora mais moderna e alargando
forma estratégica, a cumprir os seus objectivos. Tiago os seus conteúdos, tal como o website da Associação.
Paula abordou também a importância que o programa de
educação vínica tem desempenhado, com uma procura Todo este conjunto de acções tem acrescentado muito valor à credibilidade e visibilidade
elevada superando as expectativas e as previsões, com o da nossa instituição perante outras mas também perante universidades e escolas profis-
Curso Profissional de Escanção a iniciar já as suas 7º e 8º sionais tal como Juntas de turismo, levando a mais solicitações de cursos e colaborações.
turmas de Nível I e a terminar a primeira edição de Nível
III. Para além das outras formações que se têm manti- Após duas horas de trabalho produtivo, com discussão dos assuntos, com a exposição
do como os cursos de Iniciação à Prova - nível I e II, as dos pontos de vista de todos e com a melhor comunicação, consideração e colaboração
masterclasses e o Curso Nacional Fernando Ferramentas, de acordo com o melhor interesse da Associação de Escanções de Portugal, a reunião da
neste momento na sua 5ª edição e com cerca de 500 Assembleia Geral deu-se por encerrada
empregados de mesa formados.

O Escanção, n°190 - 2023 43


Acontece - Espaço de divulgação de iniciativas e novos projectos

CURSO
PROFISSIONAL AEP
NÍVEL III

Foi nos primeiros dias de


Março que se deu início à 1ª
edição do Nível III do Curso
Profissional AEP, mais um
momento importante no programa
de educação vínica na AEP e
para o grupo de alunos que está Com uma carga horária de 54 horas realizadas duas vezes por semana e
agora na meta final para obter a com um limite de 18 vagas por edição, este nível aborda todas as técnicas
Certificação AEP. da cozinha clássica e contemporânea, de forma actual, unindo-as à prática
de harmonização com vinho e é o terceiro passo para se tornar um profisisonal
certificado pela Associação dos Escanções de Portugal.

DOS CONTEÚDOS E APRENDIZAGENS QUE SÃO ESTUDADOS


NO CURSO, DESTACAM-SE:

· os fundamentos da gastronomia portuguesa e regional;


· as principais tipologias de cozinha mundiais;
· a história do Restaurante e da utilização do vinho com a gastronomia;
· os mecanismos fisiológicos do Sabor e Gosto;
· compreender o Gosto e Sabor;
· o sabor na cozinha;
· o sabor das bebidas;
· a relação das técnicas de confecção e os vinhos;
· constituintes do vinho fundamentais na relação com a gastronomia;
· constituintes químicos e estruturais dos ingredientes;
· técnicas de harmonização: os fundamentos;
· escolas e teorias de harmonização;
Texto e fotos AEP · harmonias clássicas e internacionais;
· novos produtos / novas possibilidades de harmonias;
· momentos de consumo;
· estruturar harmonias vinho & gastronomia (Menus de Degustação,
Jantares Vínicos, Menus Temáticos, etc.).

Nas práticas, as provas de vinho e queijos; vinhos espumantes e comida;


vinho e comida vegetariana (Chef); vinhos e charcutaria; vinho e
cozinha portuguesa (Chef); vinho e cozinha contemporânea (Chef); e
outras bebidas e comida.

Tal como nos outros níveis deste Curso Profissional, a equipa de


formadores é composta por membros da Associação dos Escanções de
Portugal e de alguns convidados especializados nas matérias abordadas.
No final do curso, é realizada uma avaliação prática de harmonização,
vinho e alimentos.

www.escancao.com/cursoprofissional

44 O Escanção, n°190 - 2023


Wine News

WINES OF PORTUGAL
PELO MUNDO
A marca Wines of Portugal, gerida pela ViniPortugal, corre mundo com o objectivo de promover os vinhos portugueses
e ver reconhecidos internacionalmente o seu nome e qualidade. Está presente de forma consistente em 4 continentes e 21
mercados estratégicos, realizando anualmente diversas acções de promoção dos vinhos portugueses. No últimos dois meses,
entre outras viagens e acções, marcou presença na 4ª edição da FINE #Wine Tourism Expo com um stand dos Vinhos de
Portugal destinado a 30 agentes económicos com oferta de serviços de Enoturismo, evento que decorreu nos dias 1 e 2 de
Março, na Feira de Valladolid em Espanha, e que é um espaço de negócios para as regiões vitivinícolas da Europa, dedicado
às relações comerciais entre os agentes que actuam no sector do Enoturismo dos mercados internacionais. Rumaram depois
à Alemanha para marcar presença na 27ª edição da ProWein que decorreu de 19 a 21 de Março, em Messe Dusseldorf, na
Alemanha, evento, que é considerado o mais importante do sector vitivinícola ao nível mundial, onde se reúnem os maiores
importadores e distribuidores internacionais do sector do vinho e bebidas destiladas, e onde estiveram presentes cerca de
6.000 expositores de mais de 60 países diferentes, entre eles Portugal que se apresentou com um total de 350 produtores.
Seguidamente, entre os dias 12 e 14 de Abril, a Wine of Portugal contou com um pavilhão dedicado a Portugal na China
Food and Drinks Fair 2023, em Chengdu, feira de referência no sector dos vinhos e bebidas na China. No mês de Maio,
alguns dos próximos destinos serão China, novamente, para participar na Wine to Asia - Shenzhen International Wine &
Spirit Fair 2023, no Brasil, com presença na APAS - Feira da Associação Paulista de Supermercados, e em Londres,
na London Wine Fair 2023.

www.viniportugal.pt
www.winesofportugal.com/pt

WineofPortugal - Alemanha WineofPortugal - Alemanha

WineofPortugal - China WineofPortugal - China

O Escanção, n°190 - 2023 45


Wine News

VINIPORTUGAL REELEGE
FREDERICO FALCÃO
Frederico Falcão, Presidente da Direcção da ViniPortugal desde 2020,
foi reeleito para o triénio 2023/2025, na Assembleia Geral que teve
lugar no dia 17 de Março nas instalações do CNEMA, em Santarém.
Para este novo mandato, Frederico Falcão propõe-se a cumprir vários
objectivos, dos quais se destaca o reforço na aposta da formação dos
agentes económicos, a promoção de mais acções para valorizar os Vinhos
Portugueses no mercado internacional, a implementação e divulgação do
novo Referencial de sustentabilidade do sector vitivinícola português e o
desenvolvimento de um novo Plano estratégico a 5 anos, pós 2023. Sobre
a sua reeleição, declarou que É um grande privilégio ser reeleito enquanto
Presidente desta Instituição que admiro e é também um voto de confiança
e de reconhecimento por todo o trabalho que a anterior direcção e a
equipa da ViniPortugal tem desenvolvido em prol da internacionalização
e da distinção dos vinhos portugueses além-fronteiras. Não posso, no
entanto, deixar de agradecer, também, a todos aqueles que trabalham
diariamente e têm um contributo fundamental naquela que é a nossa
missão de enaltecer o valor dos vinhos portugueses internacionalmente.
A todos os nossos associados, CVRs e restantes entidades ligadas ao sector vitivinícola deixo o meu profundo agradecimento
por tornarem isto possível. O sector vitivinícola português pode continuar a contar com a minha total dedicação para elevar
o valor dos vinhos portugueses e a acelerar o seu crescimento.

www.viniportugal.pt

V TEJO A COPO 2023


Mais uma edição do Tejo a Copo aconteceu, este ano a 11 de Março, no
Covento de São Francisco, em Santarém. Este é um evento organizado pela
Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVR Tejo) e vai na sua 5.ª
edição estando inserido no plano de promoção dos Vinhos do Tejo e de
atracção enogastronómica e cultural da capital do distrito de Santarém.
Foram 26 os produtores a marcar presença, destacando-se a estreia
de quatro agentes económicos: a ODE Winery, novo projecto de um
investidor estrangeiro; o enólogo e produtor Hugo Mendes, cada vez
mais empenhado em desenvolver o seu portefólio de Vinhos do Tejo; e
as empresas Casal da Fonte e SIVAC. Este é um evento de acesso livre e
gratuito embora as provas possam ser feitas mediante a compra do copo
oficial do evento. Nesta edição, duas novidades - a possibilidade de prova
de vinhos mais exclusivos e, por conseguinte, de um patamar de preço
mais elevando, uma possibilidade de escolha livre de cada produtor, e
mediante a compra de senhas para o efeito; e a possibilidade de compra
de uma selecção de vinhos presentes no evento, com um preço especial
e oferta de portes de envio para Portugal Continental, com a encomenda
e o pagamento a ser feitos, obrigatoriamente, no decorrer do evento. No programa, mantêm-se as Conversas sobre o Vinho,
conduzidas pelo escanção e embaixador dos Vinhos do Tejo Rodolfo Tristão; a vertente gastronómica; e a animação musical.

www.rotadosvinhosdotejo.pt

46 O Escanção, n°190 - 2023


Wine News

2ª EDIÇÃO CURSO W.I.N.E. NOVA ROTA DOS VINHOS


SOGRAPE E NOVA SB DO ALGARVE
Após o sucesso da 1ª edição, chega a 2ª edição
do curso W.I.N.E. - Wine is a Networking Enabler
a decorrer entre os meses de Abril e Junho de
2023, em formato presencial de 8 sessões na
Nova School of Business and Economics em
Carcavelos, Lisboa. Este curso foi criado pela
Sogrape, e no âmbito da Sogrape Wine Acade-
my, projecto que nasceu em 2022 com o objec-
tivo de desenvolver e expandir a cultura vínica
junto dos principais stakeholders e parceiros
da empresa através de uma oferta formativa de
excelência, em conjunto com a Nova School
of Business and Economics, sendo o primeiro
programa para executivos que procura reforçar
competências de networking através do conhe-
cimento e da experiência do mundo do vinho.
Desenvolvido para quem procura melhorar as
suas social, management e networking skills,
o curso reforça competências práticas – sa-
ber como provar, escolher, manusear e (bem)
harmonizar vinho e comida – promove interações
pessoais e profissionais, e fomenta novas
oportunidades através do conhecimento de
um dos mais atractivos e abrangentes sectores No passado dia 23 de Março, a Comissão Vitivinícola do Algarve apresentou
de actividade mundial. Para além de aumentar a nova Rota dos Vinhos do Algarve, implementada pela Comissão e
confiança para actuar em sociedade, lançada em Fevereiro de 2022, com o nome Algarve Wine Tourism,
projecto que integra um verdadeiro roteiro de enoturismo, pretendendo
as estórias do vinho que o curso traz serão guiar o visitante pelo território algarvio, promovendo a descoberta do
facilitadores naturais de conversas futuras. Para vinho da região, dos seus produtores e da riqueza e diversidade do ter-
além do blending e técnicas de networking, a ritório, e com o objectivo de afirmar o Algarve no panorama das regiões
narrativa e marca pessoal, a diversidade da rede vitivinícolas nacionais. Rota que combina vinhos e experiências, da
de stakeholders, entre outras soft skills abordadas região do Algarve, e integra mais de duas dezenas produtores de vinho
pelo corpo docente da Nova SBE, o curso tem com actividades propostas, divididas em três categorias, com ligação ao
uma componente prática importante, incluindo vinho: Gastronomia, Lazer e Património. A apresentação teve lugar no
provas de vinhos em todas as sessões, de mais Hotel PortoBay Falésia, em Albufeira, parceiro dos Vinhos do Algarve
de 35 das principais denominações de origem mundiais. e da nova Rota dos Vinhos do Algarve, e contou com a presença das
entidades oficiais, a CCDR Algarve, a Direcção Regional de Agricultu-
https://executiveducation.novasbe.pt/pro- ra e Pescas, a Região de Turismo do Algarve e vários representantes de
grams/wine-is-a-networking-enabler Municípios e Associações regionais e nacionais, para além da imprensa
www.sogrape.com e vários produtores da região. A apresentação contou com uma visita e
www.novasbe.unl.pt almoço na Quinta da Tôr, em Loulé; uma visita à Quinta do Canhoto, em
Albufeira, tendo sido atribuído a ambas as quintas a placa de aderente da
Algarve Wine Tourism, tal como ao Hotel Porto Bay Falésia; seguindo-se uma
prova especial sob o tema “Negra Mole – A expressão de um terroir”,
conduzida pelo escanção Miguel Martins.

www.vinhosdoalgarve.pt/

48 O Escanção, n°190 - 2023


Wine News

VII FESTIVAL DO VINHO


NAVE DO BARÃO
Foi no dia 18 de Março que se realizou a 7ª
edição deste festival que pretende promover
os bons vinhos do Algarve e onde participam
algumas conceituadas adegas como a Adega da
Tôr, a Adega do Cantor, a Quinta do Canhoto, a
Quinta Rosa – JAAP, a Sul Composto, a Monte
da Casteleja, tal como vários viticultores de
vinho artesanal da região, realizando-se na
ocasião o Concurso de Vinhos Artesanais, que
tem como objectivo contribuir para melhorar
a qualidade dos vinhos artesanais produzidos
na região. Em paralelo, aconteceu uma Feira de
Artesanato Regional. O evento é organizado pela
Associação "Os Barões", sita na Nave do Barão,
localidade pertencente à Freguesia de Salir, no
concelho de Loulé, e tem o apoio da Junta de
Freguesia de Salir. Para finalizar o momento, os
presentes puderam assistir a uma noite de fado,
com a actuação da fadista

Filipa Nobre, depois da animação da Tuna


Académica do saber e da Tualle - Tuna Universitária
Afonsina de Loulé, e dos momentos musicais
Rodrigo Veloso.

www.facebook.com/salir.pt

O Escanção, n°190 - 2023 49


Wine News

29ª EDIÇÃO FESTA DO ALVARINHO


E DO FUMEIRO DE MELGAÇO
Aconteceu mais uma edição da Festa do Alvarinho e do Fumeiro de Melgaço, a sua 29ª edição, inaugurada pela Secretária de
Estado do Desenvolvimento Regional, Isabel Ferreira, no dia 28 de Abril, no largo do Mercado Municipal de Melgaço onde
o evento, organizado pela Câmara de Melgaço e co-produzido pela Essência, Co, decorreu durante três dias reunindo os
produtores de Alvarinho da sub-região de Monção e Melgaço. Dos vinhos Alvarinho, ao fumeiro e ao artesanato, passando
pelo turismo e pela gastronomia, esta edição conta com a presença de 27 produtores de Alvarinho, três produtores de produ-
tos tradicionais, quatro produtores de fumeiro e queijos, quatro de doces e quatro restaurantes, e ainda de sete entidades de
animação turística/artesanato. Durante os três dias do evento, a qual acederam mais de 60 mil visitantes, foi possível assistir
a showcookings protagonizados pelo chef estrela Michelin Vitor Matos e pelos chefs Hernâni Ermida e Hélio Loureiro que
apresentaram propostas gastronómicas com produtos autóctones melgacenses e harmonizados com alvarinho da sub-região
de Monção e Melgaço. Nas provas comentadas de vinhos, soubeao escanção Manuel Moreira debruçar-se sobre as temáticas
“A criatividade e inovação no Alvarinho”, “Alvarinhos com idade, um prazer sublime” e “Alvarinho, o cheiro e sabor da originalidade”.
Para além da exposição, prova e venda de produtos, o programa do evento proporcionou também o Concurso do Mel,
Salpicão, Presunto e Broa de Melgaço, produtos com Indicação Geográfica Protegida (IGP) tal como vários momentos de
animação musical e diversas actividades paralelas, de animação turística e desportiva e ainda de enoturismo, que deram a
conhecer um pouco mais de Melgaço. No espaço, foram criadas também zonas para provas personalizadas e para reuniões
e encontros profissionais onde os produtores tiveram oportunidade de apresentar, num conceito mais intimista e próximo,
os seus produtos. Pretendeu-se incrementar a vertente comercial e as vendas, proporcionando aos produtores presentes no
evento outras condições para a concretização de novos negócios e parcerias, como explicou Manoel Batista, presidente da
Câmara de Melgaço.

www.facebook.com/FestadoAlvarinhoedoFumeiro/


ACTUALIZE SEUS CONHECIMENTOS, ASSINE A REVISTA
Nome:
Morada:
Código Postal: Localidade:
Telefone: Telemóvel: Fax:
Email: N°Contribuinte:

Modo de pagamento: Cheque / Vale Postal


Ou para o NIB: 001800005021919400146 | IBAN: PT50 001800005021919400146
Associação dos Escanções de Portugal | Tel/Fax: 218132542 1 ANO 14€ - 6 NÚMEROS
Av. Almirante Reis, n°58 - R/C DT⁰ 1150-019 - Lisboa 2 ANOS 27€ - 12 NÚMEROS
50 O Escanção, n°190 - 2023
O Escanção, n°190 - 2023 51

Você também pode gostar