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A revista que valoriza o fotógrafo e a fotografia

www.fotografemelhor.com.br | n0 292 | Ano 25

Escolha entre

P&B Brasilio Wille


ensina a ver em P&B

Cor
ou para melhorar a cor
Fotografia de
casamento:
cor ou P&B?
Os critérios para definir a Natureza em
opção em ensaios autorais monocromia
e projetos documentais
As cenas de rua
de Carlos Moreira
A versatilidade
de Sérgio Jorge

GALERIA FOT
OGRAFE
Duas fotos de
ORLANDO
AZEVEDO
em papel 250
formato 20 x g em
26 cm
COLECIONE!

Grandes fotógrafos da edição: Anderson Marques André Monteiro Brasilio Wille Carlos Moreira
Ettore Chiereguini Isis Lacombe Márcio Vasconcelos Orlando Azevedo Sérgio Jorge Tadeu Vilani
carta ao leitor
Fundador
Aydano Roriz
Diretores
Luiz Siqueira
Tânia Roriz

E
ntramos em 2021 com a pandemia do novo coronavírus ainda nos
assombrando. Mas as vacinas estão aí, prontas em tempo recorde,
Diretor Executivo: Luiz Siqueira
Diretor Editorial e Jornalista Responsável:
Roberto Araújo – MTb.10.766 – araujo@europanet.com.br em uma mobilização científica mundial jamais vista na história.
Apesar da ignorância, do atraso e do negacionismo, a ciência mais
uma vez vai fazer sua parte e livrar o mundo de uma catástrofe sanitária. Não
Redação
Diretor de Redação: Sérgio Branco (branco@europanet.com.br)
Editora de arte e capa: Izabel Donaire consigo entender como pode existir gente que não quer ser vacinado e ainda
Editor convidado: Érico Elias espalha fake news contra a vacina, com teorias da conspiração delirantes e
irresponsáveis. O pior de tudo é que também existe gente que acredita nessas
Colaboradora especial: Livia Capeli
Colaborou nesta edição: Shel Almeida
asneiras e compartilha pelo “zap”... Enfim, chegamos ao século 21 com o ser
Revisão de texto: Denise Camargo
humano usando a tecnologia para acessar a Idade Média...
Publicidade O certo é que a covid-19 ainda está longe de ser debelada e nos últimos
publicidade@europanet.com.br
meses de 2020 continuou causando milhares de mortes. Entre elas a do grande
São Paulo
Equipe de Publicidade: Angela Taddeo, Elisangela Xavier, fotógrafo Sérgio Jorge, notícia triste que tive que dar aqui neste espaço na
Ligia Caetano, Renato Perón e Roberta Barricelli edição passada. Nesta edição, conto um pouco da trajetória desse mestre da
Outras Regiões fotografia profissional brasileira e publico um texto, escrito em 2018, sobre a
Head de Publicidade Regional: Mauricio Dias (11) 98536-1555
foto que marcou a carreira do meu amigo Serjão: a saga do menino que luta
Brasília: New Business – (61) 3326-0205
Santa Catarina: MC Representações – (48) 9983-2515 pela liberdade do seu cachorro contra o homem da carrocinha na Freguesia do
Publicidade – EUA e Canadá: Global Media, +1 (650) 306-0880 Ó, periferia de São Paulo (SP), em novembro de 1960 – imagem que valeu o
assinaturas e Atendimento ao leitor primeiro Prêmio Esso de Fotografia para Sérgio Jorge em 1961, quando ele tinha
Gerente: Fabiana Lopes (fabiana@europanet.com.br)
Coordenadora: Tamar Biffi (tamar@europanet.com.br) apenas 24 anos e já era um dos melhores fotógrafos da extinta revista Manchete.
Equipe: Josi Montanari, Camila Brogio e Bia Moreira Sérgio Jorge, que nasceu em 1937, é um tipo de fotógrafo que jamais
atendimento a Livrarias e bancas – (11) 3038-5100 existirá nos tempos atuais por uma série de circunstâncias – e nesse time
Equipe: Paula Hanne (paula@europanet.com.br)
entram Evandro Teixeira, Walter Firmo, Maureen Bisiliat e Claudia Andujar, que
Europa Digital (www.europanet.com.br)
Gerente: Marco Clivati (marco.clivati@europanet.com.br) são mais ou menos da mesma geração, um pouco mais velhos ou um pouco
Equipe: Anderson Ribeiro, Anderson Cleiton e Adriano Severo mais novos. Gente forjada no auge das revistas e dos jornais, que aprendeu a
Produção, eventos e marketing fotografar com câmeras analógicas mecânicas, longe de qualquer sofisticação
Gerente: Aida Lima (aida@europanet.com.br)
Arte: Jeff Silva eletrônica, que usava filme P&B ou colorido, em uma época em que as chances
Equipe: Beth Macedo (produção) e Laura Araújo (arte) de acertar a exposição eram equivalentes ao número de fotogramas do rolo da
DISTRIBUIÇÃO E Logística película, sem possibilidades infinitas de refazer, e refazer, e refazer que o mundo
Coordenação: Henrique Guerche digital oferece a todos hoje.
(henrique.moreira@europanet.com.br)
Equipe: Gabriel Silva e Henrique Kenji É tanta tecnologia à disposição que o fotógrafo atual quase nem precisa
Administração mais se preocupar com ajustes na câmera na maioria dos casos. Tem apenas
Gerente: Renata Kurosaki o trabalho de enquadrar e idealizar uma boa composição. Depois, ainda pode
Equipe: Paula Orlandini
escolher como editará a imagem: em cor ou em P&B? Como decidir entre as
Desenvolvimento de pessoal
Tânia Roriz e Elisangela Harumi duas opções é, aliás, o tema de capa desta edição. Não é sempre uma escolha
Rua Alvarenga, 1.416 – São Paulo/SP, CEP: 05509-003 óbvia nem fácil, como você poderá conferir. Mas,
Telefone: 0800-8888-508 (ligação gratuita) e pelo que observei nos últimos anos, o P&B manteve
(11) 3038-5050 (cidade de São Paulo)
Pela Internet: www.europanet.com.br seu espaço mais nobre, ligado a imagens de arte, e
E-mail: atendimento@europanet.com.br
cresceu em um setor importante: o de fotografia de
A Revista Fotografe Melhor é uma publicação da Editora Europa Ltda.
(ISSN 1413-7232). A Editora Europa não se responsabiliza pelo
casamento, onde ainda há o domínio da cor.
conteúdo dos anúncios de terceiros. Boa leitura e um excelente 2021, com vacina
Distribuidor exclusivo para o Brasil e muita saúde!
Total Publicações
Juan Esteves

Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1.678, Osasco (SP), CEP 06045-390.


Sérgio Branco
Impressão: AR Fernandez
Diretor de Redação
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20
Ano 25
Edição 292
Janeiro/Fevereiro

Sérgio Jorge
2021

Foto de capa:
Brasilio Wille

6 Grande Angular
Notícias e novidades

14 Grande Prêmio Fotografe


Veja algumas imagens pré-selecionadas

26
Tadeu Vilani

18 Portfólio Fotografe
O talento do mestre Orlando Azevedo

46
Brasilio Wille

20 Adeus a Sérgio Jorge


A versatilidade de um grande fotógrafo

26 Cor ou P&B?
Critérios para escolher o caminho

38 P&B que ajuda na cor


Aprenda com dicas de Brasilio Wille
38
Isis Lacombe

46 Casamento em cor e P&B


Especialistas falam sobre o tema

52
52 Natureza em P&B
Conheça o trabalho de André Monteiro

58 Cenas de rua
O legado do mestre Carlos Moreira
André Monteiro

4 Fotografe Melhor no 292


grande angular

Adriana Claudia Sanz


A argentina Ana Claudia
Sanz venceu a categoria
Retrato de Animais com
a foto de uma rã (acima)

Roberto Marchegiani
Uma girafa, da qual
se vê só o pescoço,
que parece perdida na Italiano ganha concurso
de fotografia de natureza
floresta, deu o principal
prêmio a Marchegiani

Abaixo, fotos premiadas


do mexicano Alejandro
O italiano Roberto Marchegiani
venceu o concurso Fotógrafo
de Natureza do Ano 2020 com
a imagem intitulada Jurassic Park, captada
no Parque Nacional de Nakuru, no Quênia,
também foi ganhadora na categoria
Mamíferos. Organizado na Holanda, o
concurso recebeu um total de 19.547
inscrições provenientes de 95 países.
Os ganhadores nas demais categorias
Prieto em Portfólio (à
esq.) e do inglês Henley que mostra uma girafa perdida em meio foram o alemão Andreas Geh, em
Spiers em P&B (à dir.) à vegetação. A imagem de Marchegiani Pássaros; a canadense Samantha
Alejandro Prieto

6 Fotografe Melhor no 292


Andrea Pozzi
Acima, foto de
peixe no gelo que
deu prêmio ao
italiano Andrea
Pozzi em Arte;
ao lado, imagem
ganhadora
da canadense
Samantha
Stephens em
Outros Animais
Samantha Stephens

Stephens, em Outros Animais; o Claudia Sanz, em Retratos de


dinamarquês Radomir Jakubowski, Animais; o holandês Bart Siebelink,
em Plantas e Fungos; o italiano em Paisagens Holandesas; a
Basileo Stanislao, em Paisagem; o húngara Lili Sztrehárszki, em Jovem
sérvio Milos Prelevic, em Subaquática; Fotógrafo; e o mexicano Alejandro
o italiano Andrea Pozzi, em Arte; a Prieto, em Portfólio.
canadense Jo-Anne McArthur, em As inscrições já estão abertas para
Homem e Natureza; o inglês Henley a edição 2021. Confira os detalhes no
Spiers, em P&B; a argentina Adriana link tinyurl.com/yb5w3o67.

Foto de canguru e
filhote deu prêmio à
canadense Jo-Anne
McArthur na categoria
Homem e Natureza
Jo-Anne McArthur
Henley Spiers

Fotografe Melhor no 292 7


grande angular

Acima, a incrível
tonalidade do céu
em uma noite na
Show de auroras no
Antártica, próximo a um
observatório científico ano da pandemia
O blog de viagens e fotografia Capture de imagens recolhidas ao longo de todo o
the Atlas divulgou as imagens do concurso ano e selecionou 25 premiadas.
Abaixo, luzes bailarinas
em Jökulsárlón, Islândia Fotógrafo do Ano Luzes do Norte 2020, Dentre os autores estão fotógrafos
(à esq.), e um horizonte voltado apenas para paisagens que famosos e desconhecidos, de 18
fantástico na Tasmânia, destacam a Aurora Boreal ou Austral. Dan nacionalidades diferentes. As fotografias
Austrália (à dir.) Zafra, editor do blog, fez uma curadoria mostram o show de luzes no céu de países
Agnieszka Mrowka

Ben Maze

8 Fotografe Melhor no 292


como Estados Unidos, Rússia,
Finlândia, Noruega, Islândia,
Austrália e Canadá, além da
região da Antártica.
A temporada da Aurora
Boreal varia de setembro a
abril no Hemisfério Norte
e de março a setembro no
Hemisfério Sul. A melhor
época para ver e fotografar
as luzes boreais ou austrais
é durante os equinócios de
outono e primavera por conta
da orientação do eixo da
Terra. Fotografe selecionou
algumas das imagens mais
Risto Leskinen

impressionantes. Confira todas


as 25 fotos selecionadas no link
tinyurl.com/y2ggwxxm.

Acima, a Aurora
Boreal registrada
na região da
Lapônia finlandesa
(acima) e na
Península de Kola,
na Rússia (ao lado)
Sergey Korolev
Roksolyana Hilevych

John Weatherby

O fenômeno nas Ilhas Lofoten, Noruega (à esq.), e na Islândia (à dir.)

Fotografe Melhor no 292 9


grande angular

Cássio Vasconcellos

Cristiano Mascaro
Ao lado, obra de Cássio Vasconcellos e,
acima, de Cristiano Mascaro, que fazem
parte do projeto de Roberto Linsker

Roberto Linsker lança caixa com


obras de 20 artistas brasileiros
O editor Roberto Linsker, da Terra uma caixa, permitindo que as obras cada um tornou-se um ilha. Todas
Virgem, desenvolveu um projeto ao possam ser vistas de forma aleatória, essas ilhas unidas formam um
longo da pandemia, que agora ganha isoladamente. Os convidados tiveram conjunto de ideais comuns, mas de
seu formato final em Archipelago, liberdade de criar suas próprias maneiras diferentes de interpretar o
uma caixa com obras de 20 fotógrafos intepretações dentro do formato pré- mundo sob a pandemia. A caixa tem
e artistas. Cada um deles contribuiu determinado e o resultado é uma tiragem de 550 exemplares, dos quais
com uma imagem, impressa em uma caixa que surpreende pela variedade, 525 serão comercializados.
folha no formato 66 x 96 cm. com livretos, grandes folhas de papel O projeto foi desenvolvido a
Linsker convidou os participantes de diferentes gramaturas dobradas distância e contou com a coordenação
propondo que criassem seus ou refiladas em formatos variados, e produção de Jô Bertolli e design
trabalhos refletindo sobre como a fotografias, contos, registros e gráfico de Ciro Girard. Os artistas
pandemia afetou sua forma de ver abstrações. “Da distância em que convidados são Alex Flemming, Ana
e criar. O formato foi definido de estávamos, e ainda estamos, ao Augusta Rocha, Bernardo Ceccantini,
antemão e corresponde ao tamanho material físico, palpável, é como se Bob Wolfenson, Cássio Vasconcellos,
do papel que entra na bitola da ao abrir a caixa as sensações todas se Cris Bierrenbach, Cristiano Mascaro,
gráfica durante a impressão. concretizassem”, reflete Linsker. Edu Simões, Fausto Chermont, Gal
No lugar de um livro comum, O título Archipelago remete à Oppido, Guto Lacaz, João Castilho,
Linsker idealizou o projeto como condição de isolamento, em que Julio Bittencourt, Luiz Baltar, Marcelo
Macca, Maureen Bisilliat, Rochelle
Costi, Stephan Doitschinoff, Valdir
Edu Simões

Cruz, além do próprio Roberto Linsker.


Archipelago está à venda na loja
online da Terra Virgem, com preço
de R$ 250. Também está disponível a
versão com caixa-portfólio, que
sai por R$ 330. Acesse o link
tinyurl.com/ycxh8foc para saber mais.

Ao lado, foto de Edu


Simões para a caixa de
imagens Archipelago,
da Editora Terra Virgem

10
grande angular

Foto do Mês/Arfoc-SP

Indignação e revolta
no foco do incêndio
Na cobertura diária do fotojornalismo, a
conjunção inesperada de alguns fatores pode
rapidamente elevar a tensão, o que exige

Ettore Chiereguini
respostas rápidas para conseguir a imagem
que melhor traduz o acontecimento. Foi assim
no dia 20 de novembro de 2020 em São
Paulo (SP), durante a cobertura que Ettore
Chiereguini fazia da Marcha da Consciência
Negra para a agência Agif. que havia um corredor vazio, por onde poderia Desespero da
Os manifestantes caminharam pela acessar o foco da ação por outro ângulo. Ao funcionária do
Avenida Paulista e depois desceram a Rua chegar no setor de perfumaria, onde ocorria o Carrefour em
incêndio, ele se deparou com uma funcionária São Paulo (SP)
Pamplona em direção ao bairro Jardim
com o ataque à
Paulista. Invadiram uma unidade do do Carrefour que pegou o extintor de incêndio loja que gerou
supermercado Carrefour dentro de um e gritava desesperada com aquela situação: um pequeno
shopping e atearam fogo em produtos e “Não é assim que se faz!”. incêndio
prateleiras. A indignação popular em relação “Arrisquei um ângulo mais perto para fazer
ao supermercado foi causada pelo homicídio uma foto mais próxima da ação, foi bem forte
de João Alberto Freitas, homem negro a cena e o ato também. Acho que isso deixa
espancado e morto por dois seguranças em bem óbvio o que está acontecendo aqui no
uma unidade do Carrefour em Porto Alegre Brasil em relação à violência contra os negros.
(RS) na noite do dia anterior. A galera vem mostrando indignação e quer
Ao entrar no supermercado invadido e uma mudança mesmo. Não dá para ficar
observar as chamas, Chiereguini percebeu assim”, resume Chiereguini.

Araquém lança livro sobre o Pantanal


Enquanto a pandemia assolava vezes. Passou 24 dias por lá entre
o Brasil, os incêndios assolavam o incêndios e bichos mortos, mas
Pantanal. Esse triste retrato de 2020 buscou registrar a vida. “É um
pode ser compensado em parte pelo holocausto contra os bichos, eles
novo livro de Araquém Alcântara, não têm voz. Tentei buscar os
Pantanal – Serra do Amolar, publicado animais vivos, depois de ver tanta
pela editora Terra Brasil. Nele o coisa morrendo ao meu redor. Eu
Pantanal aparece em seu esplendor, digo que vejo Deus nos olhos dos
com imagens da região da Serra do animais, sempre foi assim”, conta.
Amolar, um dos locais mais remotos, O texto de abertura é assinado
intocados e belos do bioma. por Antonio Lino, que contextualiza
Araquém esteve pela primeira vez a amplitude da destruição, com Acima, onça na água em foto de
na região em 2002 e voltou diversas 28% do Pantanal consumido pelas Araquém e, abaixo, a capa do livro
chamas entre janeiro e outubro de
2020 – os incêndios avançaram sobre
Fotos: Araquém Alcântara

a Serra do Amolar, que concentra a


maior parte de áreas protegidas do
Pantanal. Feito durante a pandemia,
o livro representa um respiro em
tempos difíceis. Tem
Araquém 178 páginas, foi
Alcântara no
Pantanal impresso na gráfica
durante os Ipsis e o preço de
incêndios capa é de R$ 250.

12
concurso
João Coutinho

Grande Prêmio Você pode acompanhar


os pré-selecionados,

Fotografe 2021 que são divulgados no


site da revista

D ada a largada do Grande


Prêmio Fotografe 2021,
desafio internacional
anual de fotografia, você pode
conferir as primeiras imagens
redes sociais da revista. Dentre os
trabalhos enviados nas categorias
Ensaio e Imagem Destacada, alguns
chamaram especialmente a atenção
da comissão julgadora responsável
A categoria Imagem Destacada
recebeu um número bem maior
de inscrições até o momento.
O português João Coutinho se
destacou por ter conseguido ser
pré-selecionadas no site e nas pela pré-seleção e do público. pré-selecionado com diversas
João Lebrão

No alto, uma
das imagens
pré-selecionadas
do fotógrafo
português João
Coutinho; ao
lado, imagem de
João Lebrão para
a subcategoria
Cena de Rua

14 Fotografe Melhor no 292


Marcelo Portella
Ao lado, foto de
Marcelo Portella, da
subcategoria Paisagem;
abaixo, flagrante de
André Zumak para a
subcategoria Natureza

imagens em diferentes subcategorias


– não há limite para inscrições, que
são pagas, e cada inscrição dá direito
ao envio de até três fotos.
Na subcategoria Retrato, Miriam
Ramalho apresenta o olhar direto
para a câmera de um menino
fotografado quando brincava em
uma praia em Lomé, no Togo. A
imagem foi intitulada Fim de tarefa.
E Marcelo Portella se destacou
na subcategoria Paisagem com
a foto Luz do Cerrado, feita no

André Zumak
Parque Nacional da Chapada dos
Veadeiros, que mostra um campo de
chuveirinhos banhado pelo Sol que
se esconde ao fundo.
Também chamaram muito
Joana Verdial
a atenção nessa fase inicial do
concurso as imagens Pescador chinês,
de Joana Verdial, na subcategoria
Documental; Barra Funda, feita em
uma rua do bairro homônimo em
São Paulo (SP) por João Lebrão
na subcategoria Cena de Rua; e
o registro de um par de tuiuiús
levantando voo na Baía do Taquaral,
no Pantanal, feito por André Zumak,
na subcategoria Natureza.
Na categoria Ensaio, na
subcategoria Retrato, Ale Ruaro

Ao lado, imagem de Joana


Verdial pré-selecionada na
subcategoria Documental

Fotografe Melhor no 292 15


concurso

Miriam Ramalho
Ale Ruaro
Acima, imagem de Miriam Ramalho para a subcategoria Retrato;
ao lado, uma das fotos do ensaio Trabalhadores, de Ale Ruaro

Daniel Machado
Alexandre Martins

Acima, duas imagens de se destacou ao abordar os reflexos da O Grande Prêmio Fotografe 2021
ensaios em P&B pré- pandemia com a produção Trabalhadores tem inscrições abertas até o dia 31
-selecionados: Vestígios Essenciais, que foca nas atividades de maio de 2021 e publica os pré-
(à esq.), de Alexandre fundamentais para o combate à covid-19 e -selecionados em fluxo contínuo no site
Martins, e AgroCultura,
de Daniel Machado para garantir que medidas de distanciamento e nas redes sociais de Fotografe. Após
social pudessem ser adotadas. essa fase, serão apontados 60 trabalhos
Alexandre Martins teve dois ensaios finalistas, que serão avaliados por uma
pré-selecionados na subcategoria Cena Comissão Julgadora composta de sete
de Rua, com imagens captadas em Ouro membros. Desse julgamento, sairão
As inscrições para Preto (MG) em filme P&B: Vestígios, que 30 vencedores, sendo que dois deles,
o Grande Prêmio explora as sombras, e Eu em Minas de um Ensaio e uma Imagem Destacada,
Fotografe estarão mim, que busca exprimir a sensação receberão o troféu Grande Prêmio
de ser ouro-pretano. Na subcategoria Fotografe 2021. Os demais vencedores
abertas até 31 de Documental, Daniel Machado também serão premiados com medalhas de ouro,
maio de 2021 e teve dois ensaios pré-selecionados: prata e bronze. Todos os vencedores
todas as imagens AgroCultura, registro da vida rural e da farão parte de uma exposição a ser
agricultura familiar na região de Joinville realizada em São Paulo (SP), prevista para
pré-selecionadas (SC); e De à Cavalo – 400 km pela Coxilha agosto de 2021. Confira os detalhes do
serão divulgadas Rica, que resgata tradições dos tempos regulamento na página fotografemelhor.
no site da revista dos tropeiros na região de Lages (SC). com.br/premio/regulamento.

16 Fotografe Melhor no 292


Portfólio Fotografe

Fotos: Orlando Azevedo


Olhar açoriano para
interpretar o Brasil
N ascido na Ilha Terceira, nos
Açores, Portugal, em 1949,
Orlando Azevedo vive em Curitiba
(PR). Formado em Direito, nunca exerceu a
profissão. Consolidou-se como fotógrafo
profissional de intensa atividade na capital
paranaense, com passagens pela produção
publicitária, mas também dedicando--se a
ensaios pessoais e documentários de longo
prazo. O irriquieto e talentoso português-
paranaense é o personagem do volume
3 da série Portfólio Fotografe, que reúne
grandes nomes da fotografia brasileira em um
bookzine de 50 páginas – Tadeu Vilani e Márcio
Vasconcelos foram os primeiros nomes.
Azevedo veio para o Brasil em 1963, aos
13 anos, com o pai, funcionário das Nações
Unidas. Para conhecer mais e desvendar a
Acima e ao fotografia, fez cursos por correspondência,
lado, formas de
explorar a cor workshops e participou de fotoclubes. Em
com grafismo, 1968, retornou a Portugal, onde trabalhou
textura e como repórter-fotográfico.
movimento De volta ao Brasil, um ano depois, entrou

18
O bookzine com portfólio
de Orlando Azevedo é o
terceiro volume da série

Ao olhar atento de Orlando


Azevedo não escapam cenas
do cotidiano que merecem ser
registradas, como o flagrante
acima e o retrato ao lado

para a faculdade de Direito. Formado,


logo mudou de planos: resolveu ser
baterista e por dez anos tocou em
uma banda de rock pesado.
Retomou a fotografia em 1980.
Fez trabalhos como freelancer para
revistas Veja, IstoÉ e diversos jornais
brasileiros. Anos mais tarde, voltou-
-se para a fotografia publicitária e
montou um estúdio em Curitiba.
Desde 1981 tem-se dedicado
a projetos pessoais, sendo o maior
deles Coração do Brasil, uma jornada
de 70 mil km por todas as regiões
do País e que deu origem à elogiada
trilogia Homem, Terra, Mito. Ao todo,
ele já lançou 11 livros de fotografia.
Orlando Azevedo é reconhecido
como um fotógrafo que transita
muito bem entre cor e P&B, o que
poderá ser conferido no bookzine
com seu portfólio amplo e variado.
Para saber como se tornar um
assinante da série Portfólio Fotografe,
acesse www.europanet.com.br ou
ligue para 0800-8888-508 (ligação
gratuita) ou (11) 3038-5050 (Grande
São Paulo). É possível conseguir
informações também pelo e-mail
atendimento@europanet.com.br ou
pelo WhatsApp (11) 95186-4134.

19
Fotojornalismo
O boxeador brasileiro
Eder Jofre vence por
nocaute o irlandês
Johnny Caldwell no
Ginásio do Ibirapuera,
em São Paulo (SP)...
Fotos: Sérgio Jorge

Sérgio Jorge
Mestre de olhar versátil
Vítima da covid-19, o fotógrafo ainda estava na ativa aos 83 anos em
Amparo (SP), sua cidade natal, onde era presidente do fotoclube local
Por Sérgio Branco

... e unifica título mundial


dos pesos-galos em
1962: Sérgio Jorge estava
lá fotografando para a
revista Fatos&Fotos

20
F oi no acanhado Foto Cine Clube
de Amparo (SP), em 1952,
que Sérgio Jorge, aos 15 anos,
descobriu o que desejava ser no futuro.
A atração pela fotografia começou pelos
olhos e depois atiçou outros sentidos: o
olfato, graças ao cheiro dos químicos do
laboratório, e o tato, devido ao trabalho
manual de revelação e ampliação. A
mágica da fotografia na penumbra do
laboratório penetrou como um vírus
na corrente sanguínea do adolescente.
Naquele momento, a família perdia
um futuro advogado, profissão do pai
que parecia ser o destino do menino,
e ganhava meio a contragosto um
fotógrafo. Não apena mais um. Um
profissional que entraria para a galeria dos
grandes nomes da fotografia brasileira.
Apesar de a trajetória de Sérgio Jorge
ter sido marcada pelo fato de ser o primeiro
fotógrafo a conquistar o Prêmio Esso de
Jornalismo, em 1961, aos 24 anos, ele fez
muito mais do que isso durante a longeva
carreira. Não havia assunto que seu olhar
versátil não fotografasse, da moda de
Denner e Clodovil ao milésimo gol do Pelé;
da inauguração de Brasília (DF) às primeiras
corridas no Autódromo de Interlagos; da
inauguração da estação de pesquisas do
Brasil no Polo Sul à construção da rodovia
Belém-Brasília; da morte do guerrilheiro
Carlos Marighella às vitórias de Eder Jofre
no boxe. Foi o expoente de uma geração de
ouro nas extintas revistas Manchete e Fatos
& Fotos, da Editora Bloch, e depois passou a
mestre, adestrando dezenas de aprendizes,
como um dos criadores e primeiro diretor
do famoso Estúdio Abril – muitos deles são
hoje nomes consagrados da fotografia.
Elisário de Castro Negrão, fotógrafo dono
da Casa Fotográfica em Amparo, foi quem
lhe deu o primeiro emprego. Dele se tornou
aprendiz para forjar conhecimento técnico
e desenvolvimento do olhar. Uniu essas
virtudes a um talento natural para captar
imagens do cotidiano. Quando sentiu que
era o momento, deixou a pequena cidade
natal para se aventurar em São Paulo. Com
uma recomendação de Negrão, foi bater na
porta da redação do jornal O Dia. Saiu de lá
com o primeiro emprego.
Esperto, criativo, eficiente e despachado,
como deve ser um bom repórter fotográfico, uma espécie de cronista visual, produzindo No alto e acima,
logo foi notado pela concorrência. Recebeu imagens marcantes em enquadramentos ensaio de moda com o
costureiro Clodovil, em
um convite para integrar a equipe dos jornais arrojados. Essas características de seu trabalho começo de carreira, para
A Gazeta e A Gazeta Esportiva. Aceitou e deu não passavam despercebidas e logo o jovem a Manchete: não havia
o primeiro passo importante na carreira. Sérgio Jorge ganhou o respeito e a admiração assunto que Sérgio
Havia nele um dom para se colocar como de fotojornalistas paulistanos da velha guarda. Jorge não fotografasse

Fotografe Melhor no 292 21


Fotojornalismo

Ricardo Beccari
Acima, Sérgio Jorge em 2019; ao lado,
registro de uma expedição brasileira
ao Polo Sul, hoje mais conhecido com
Antártica, nos anos 1980

contratou. Nesse período, surgiu a história


do menino que lutava contra o homem
Fotos: Sérgio Jorge

da carrocinha. O sucesso da reportagem


fotográfica na Manchete (veja nas páginas
seguintes) e o Prêmio Esso de Fotojornalismo
o catapultaram para o estrelato. As fotos de
Sérgio Jorge foram publicadas em 36 revistas
e jornais de várias partes do mundo.
Das luzes inesperadas do fotojornalismo,
Sérgio Jorge migrou para as luzes
controladas do estúdio e se consagrou
também como fotógrafo publicitário,
atendendo a grandes agências e empresas
nacionais e multinacionais. Mantém
um acervo de cerca de 60 mil fotos que
documentam um período de quase seis
décadas de transformações sociais,
políticas e culturais do Brasil.
E, mesmo com uma história tão rica,
somente depois de 64 anos de profissão
é que Sérgio Jorge conseguiu lançar, em
2018, o primeiro livro de fotografia, com
150 imagens em P&B. Ele fez campanha na
plataforma de financiamento coletivo Catarse
e arrecadou bem mais do que a meta.
Quem conhece seu trabalho não deixou de
colaborar. E foram milhares de fãs.
De volta à cidade natal, continuou na
ativa e se reconectou com o Foto Clube de
Amparo, onde tudo começou, tornando-se
o presidente. Em novembro de 2020, Sérgio
Jorge estava às voltas com a organização
Sérgio Jorge teve o Naquele momento, ele era representante de de mais uma edição da Bienal de Arte
privilégio de acompanhar uma nova geração de talentosos fotógrafos Fotográfica P&B, da Confederação Brasileira
quase toda a carreira de que florescia no final dos anos 1950. de Fotografia (Confoto), este ano sediada
Pelé: aqui, uma produção
especial para a Manchete Elétrico e com muita energia para gastar em Amparo, quando foi acometido pela
logo depois que o rei graças à juventude, Sérgio Jorge ocupava o covid-19. Depois de duas semanas internado,
do futebol marcou o tempo livre sugerindo pautas criativas para na madrugada do dia 30 veio a triste notícia:
milésimo gol, em 1969 a famosa revista Manchete, que, primeiro, o grande mestre havia perdido a luta pela
o requisitou como freelancer e, depois, o vida aos 83 anos de idade.

22 Fotografe Melhor no 292


Imagem premiada

O menino e Texto escrito em 2018 como parte de


um livro ainda não finalizado sobre
seu cachorro histórias por trás de grandes fotos
Por Sérgio Branco

O laçador, um anônimo jornalismo brasileiro, existia desde Ele examina a foto pela enésima
funcionário da Prefeitura de São 1955, mas só para textos. Sérgio vez e conclui que o laçador já deve
Paulo, olha para a câmera com Jorge inaugurou a era das imagens ter morrido e que o menino – ele
certo ar sádico. A falta dos dentes premiadas com um comovente e se esforça, mas não se lembra do
da frente na parte superior da boca clássico flagrante de rua. nome nem da idade – talvez esteja
e as sobrancelhas que se juntam,
parecendo uma só, ajudam a
reforçar uma imagem diabólica. O
vira-lata por ele laçado se contorce
em uma tentativa vã de fuga. O
menino, dono do cachorro, atraca-
-se a um pedaço da corda, finca
os pés descalços no chão e grita,
desesperado, para que o homem da
carrocinha não leve o amigo, a quem
deu o nome de Piloto.
Do outro lado do visor da câmera,
Sérgio Jorge registra a cena, a mais
comovente da reportagem que vinha
fazendo há três dias sobre a caça
de cachorros pelas ruas paulistanas
para a revista Manchete, que logo
iria às bancas, naquele novembro
de 1960. Como o fotógrafo estava
familiarizado com os funcionários
do setor de Limpeza Pública (hoje
Centro de Controle de Zoonoses),
o laçador não mostra qualquer
constrangimento ao ser flagrado.
Assim, Sérgio Jorge faria toda
a sequência da pequena batalha
travada em uma rua da Freguesia
do Ó, bairro da zona norte de São
Paulo. E isso inclui o choro do menino
implorando ao algoz de Piloto que
não o transformasse em sabão – algo
que se acreditava, naquela época, que
ocorria com os animais capturados
pela temida carrocinha.
Hoje, tanto tempo depois,
converso com Sérgio Jorge sobre o
episódio. Ele olha para a foto, sorri,
nostálgico, pontuando que aquele
foi o primeiro trabalho a receber o
Prêmio Esso de Fotografia, em 1961.
A premiação, a mais importante do

O flagrante que recebeu o


Prêmio Esso de Jornalismo na
categoria Fotografia em 1961

Fotografe Melhor no 292 23


Fotojornalismo

O fotógrafo fez toda a


sequência da luta do menino
com o homem da carrocinha,
uma reportagem da revista
Manchete que comoveu o
Brasil e repercutiu no exterior
Fotos: Sérgio Jorge

Carolina, cujo letreiro aparece no


plano de fundo da fotografia, ao
lado da Quitanda Tamoio. Procurou
o dono da farmácia, o homem de
bigode que está ao lado da mulher
vivo e ainda morando em São Como o assunto fez vender de braços cruzados observando a
Paulo. Então, revela que a melhor muita revista, o próprio Adolfo cena por ele registrada. Mais fácil do
parte da história veio depois que a Bloch, dono da editora, ordenou que ele imaginava.
reportagem foi publicada. que o fotógrafo e o repórter – A casa do menino é ali, ó –
Houve uma grande repercussão Heitor Kowyama, autor do texto, apontou o farmacêutico.
no Brasil e no exterior, lembra, pois a localizassem o menino e fizessem Feito o contato com a mãe do
matéria da Manchete também saiu em uma suíte, ou seja, a continuação da garoto, foi explicado a ela o motivo
revistas de outros 32 países graças aos reportagem, para saber o destino do da reportagem. Autorização dada, o
acordos que o Grupo Bloch mantinha cachorro. No dia da foto premiada, menino entrou no carro do Grupo
com editoras estrangeiras. Muita apenas o fotógrafo estava presente, Bloch e foi até o que na época se
gente enviou doação de roupas para pois o repórter ficara na redação, chamava de Depósito de Animais
o menino, que, por estar sem sapatos, adiantando o texto da matéria. de Rua, no bairro da Ponte Nova,
foi visto como um maltrapilho. – Na correria, nem lembrei de também zona norte. Muito ansioso,
– Até a Rainha Elizabeth II escreveu pegar o nome do menino – recorda o menino temia que o cachorro já
para que a Manchete intercedesse e Sérgio Jorge. tivesse se transformado em sabão.
não deixasse que o cachorro fosse Quando voltou à Freguesia do Para acalmá-lo, Sérgio Jorge
sacrificado – assegura. Ó, foi direto para a farmácia Vila explicou que aquilo era uma lenda.

24 Fotografe Melhor no 292


Não se fazia sabão de cachorros e gatos – É o tipo de história que marca uma Acima, dias depois
por lá. O sacrifício dos animais era em uma época. Hoje, o homem da carrocinha do flagrante, com o
câmera de gás, mas demorava de uma a não existe mais. Na maioria das cidades cachorro recuperado
e o menino vestindo
duas semanas, tempo para que o dono há ONGs de proteção aos animais e que roupa de domingo para
pudesse tentar reaver o bicho. adotam os bichos quando eles são levados novas fotos em pauta da
Uma vez dentro do depósito, o barulho para o abrigo da prefeitura. Alguns são Manchete – com direito
de latidos era muito grande, rememora resgatados pelos donos, mas ainda há os a making of de Sérgio
Sérgio Jorge. Atendidos pelo gerente, que ficam e acabam sacrificados, o que é Jorge fotografando o
argumentaram que o menino poderia uma pena – comenta Sérgio Jorge. garoto e seu fiel amigo
identificar o cachorro. Surpreendentemente, ele me pede
– Pera lá! – disse o homem – Aqui é a foto de volta. Acerta os óculos, olha e
o contrário. O cachorro é que tem que aponta o dedo para o menino.
identificar o dono. – Ele deve ter virado um grande
Abaixo, Sérgio Jorge,
E pediu para que o menino ficasse homem. Olha que determinação, que
em foto de 2012,
perto da grade de um cercado onde firmeza, que coragem... mostra a reportagem
estavam cerca de 60 cães e chamasse o E os olhos de veterano fotógrafo da Manchete publicada
cachorro dele pelo nome. ficam cheios d'água. em novembro de 1960
– Piloto! Vem, Piloto! Piloto! Aqui, Piloto!
Do meio da matilha, abanando o rabo,
surgiu um pequeno cão preto, de patas
dianteiras brancas, assim como a faixa na
parte de baixo do corpo. Correu para lamber
a mão direita do menino, enfiada no vão
da grade. Momento que o fotógrafo não
conseguiu registrar por causa da escuridão
do ambiente (e ele estava sem flash).
– Foi lindo ver o reencontro. O menino
saiu agarrado no cachorrinho, que lambia a
cara dele sem parar – conta Sérgio Jorge.
De volta à Freguesia do Ó, o fotógrafo
fez uma série de fotos com o menino, agora
mais arrumadinho, de sapatos e roupa de
domingo. E, como se esperava, o desfecho
da história com final feliz quase dobrou as
vendas da revista Manchete.

Fotografe Melhor no 292 25


Matéria de capa

Pescador na Praia do Campeche,


em Florianópolis (SC), durante a

Tadeu Vilani
pandemia, em foto colorida de
Tadeu Vilani para Fotografe

Como escolher entre


Cor e P&B
Em ensaios ou projetos documentais, a decisão por imagens coloridas ou em P&B
é sempre difícil de ser tomada. Veja o que dizem especialistas sobre o assunto
Por José de Almeida e Érico Elias

S e nos tempos da fotografia analógica escolher entre


fotografar um ensaio ou um projeto documental em
P&B ou em cor era focado na seleção do filme e,
por isso, uma decisão sem retorno, na era digital essa eleição
é mais maleável, já que a captura é quase sempre colorida e
cor se firmou como dominante, enquanto o P&B passou
a ter um espaço mais sofisticado, geralmente ligado a
produções de fine art, a documentários com forte viés de
fotojornalismo ou a uma pegada mais artística.
A fotografia colorida atrai a atenção para as cores
a opção pela monocromia pode ser feita na pós-produção – dos elementos e da própria fonte de luz, que pode
salvo algumas exceções, como câmeras que só arquivam em causar sensações “frias” ou “quentes”. Já as imagens
P&B, caso da Leica Monochrom. No entanto, mesmo assim, em tons de cinza são baseadas no equilíbrio entre
há muito o que pensar sobre o caminho a ser tomado em luz e sombra. O maranhense Márcio Vasconcelos
relação ao trabalho, como atestam fotógrafos renomados tem sua produção identificada com a cor, apesar de
como o gaúcho Tadeu Vilani, o maranhense Márcio também fazer ensaios em P&B. Tadeu Vilani é radical:
Vasconcelos e o português-paranaense Orlando Azevedo. seus documentários são sempre em P&B – embora,
É fato que as imagens em P&B reinaram quase quando atuava como fotojornalista do jornal Zero Hora,
absolutas na maior parte da quase bicentenária história de Porto Alegre (SP), a grande parte do seu trabalho
da fotografia, já que o negativo colorido só se tornou era em cor. Orlando Azevedo, por sua vez, transita
popular a partir da década de 1970 (veja box na pág. 35). muito bem entre os dois lados, realizando ensaios e
Com a chegada da era digital, a partir dos anos 2000, a documentários coloridos ou monocromáticos.

26 Fotografe Melhor no 292


Senhora que participa de
um grupo religioso posa
no centro histórico de
São Luís (MA) durante a
pandemia, em foto P&B
de Márcio Vasconcelos
para Fotografe

escolha
A opção entre
cor e P&B ficou
mais fácil na era
Márcio Vasconcelos

digital: pode ser


feita depois

Fotografe Melhor no 292 27


Matéria de capa
Fotos: Tadeu Vilani

Fora da zona de conforto


Tadeu Vilani em imagens A pedido de Fotografe, Vilani e catarinenes com máscaras em tempos
coloridas: retrato de Vasconcelos toparam fotografar fora de pandemia e o maranhense produziu
pescador (acima) e
cena do Holi, na Índia, o da sua zona de conforto. O gaúcho algo parecido com personagens do
festival das cores (abaixo) fez retratos coloridos de pescadores centro histórico de São Luís (MA).
Foram além: cada um
apresentou um trabalho
fora do conceito que
geralmente usam.
Márcio Vasconcelos
editou o ensaio Espíritos
das Senzalas, que
aborda as memórias do
tempo colonial por meio
de registros realizados
em antigas fazendas,
minas e cidades onde
foi empregada mão
de obra escravizada.
Já Tadeu Vilani
preparou uma série de
imagens realizadas no
coloridíssimo festival Holi,
na Índia – que no projeto
original havia sido
convertido para P&B.

28 Fotografe Melhor no 292


Fotos: Márcio Vasconcelos

Apesar da sua forte ligação com estou mais a fim de fazer em P&B, então, Márcio Vasconcelos em
a cor, Vasconcelos sente-se à vontade busco um assunto no qual esse formato se imagens P&B: ciclista
fotografando em P&B. Para ele, o que encaixa melhor", explica. mascarado em São Luís
(no alto) e imagem
define a escolha é o tema. "Sinto facilidade Ainda que todos os trabalhos que ele do ensaio Espíritos de
e o mesmo prazer em fotografar nas duas publicou em livros tenham sido coloridos, Senzalas (acima)
linguagens, mas é sempre a temática que seu primeiro projeto, que resultou em uma
se sobrepõe à decisão. Tem época que exposição, Filhos da Lua, foi feito em P&B.

Fotografe Melhor no 292 29


Matéria de capa

Vasconcelos
argumenta que
a escolha pela
cor ou pelo Nesse ensaio documental, ele passou no monitor da câmera. Ele mesmo faz o
P&B nos seus vários dias entre os albinos da Ilha dos tratamento das imagens e não usa nenhum
trabalhos está Lençóis, no litoral do Maranhão, para recurso muito sofisticado, apenas ajustes
desenvolver o ensaio. básicos que se adéquam ao estilo de cada
ligada ao tema e trabalho. Prefere imagens saturadas e
que isso definiu Formas de ver a cena contrastadas na maioria das vezes.
Após decidir que um trabalho será O ensaio Espíritos das Senzalas nasceu
seus projetos em P&B, Vasconcelos fotografa com do envolvimento de Vasconcelos com a
mais elogiados, outros olhos e passa a “ver tudo em tons cultura herdada da África com a vinda
todos coloridos de cinza”, tendo especial atenção para a de escravos e que se faz muito presente
incidência de luzes e sombras. A captura é no Maranhão. Nas fazendas e minas,
feita em cor e a conversão é realizada na eles trabalhavam de sol a sol e dormiam
pós-produção, pois sempre haverá fotos acorrentados em senzalas, barracões
que rendem melhor em cor e são guardadas escuros, úmidos e com higiene precária.
em seus arquivos para outras utilizações “O ensaio pretende produzir imagens que
– as imagens são sempre vistas coloridas mostrem o silêncio, o vazio, o invisível, o

30 Fotografe Melhor no 292


Fotos: Márcio Vasconcelos

Espíritos das Senzalas: vultos


foram criados na imagem
graças ao uso de baixa
velocidade de obturação
Nas imagens do ensaio que trata da escravidão no Brasil, o P&B foi
escolhido para representar um passado cruel, enigmático e misterioso

encantado, provocando discussões


sobre o carnal e o espiritual,
questionando se os espíritos
desses escravos ainda podem estar
acorrentados nas antigas senzalas,
casas-grandes, fazendas coloniais,
minas de ouro, e de que forma
manifestam sofrimentos e súplicas
pela libertação”, esclarece.
Ele acredita que os espíritos dos
escravos ainda estejam presentes
e tenta representar isso por meio
das fotografias da série. Para esse
objetivo, ele escolheu o P&B e
optou por um tratamento que
realça os grãos e por capturas em

Fotografe Melhor no 292 31


Matéria de capa
Fotos: Márcio Vasconcelos

Acima e ao lado, baixa velocidade para registrar borrões.


imagens do “A escolha do P&B e do tratamento
documentário granulado visa remeter a um tempo
Zeladores de passado, enigmático, misterioso.
Voduns do Benin
ao Maranhão, A baixa velocidade foi usada pela
que Márcio pouca incidência de luz na maioria
Vasconcelos das tomadas e também pela busca da
decidiu fazer captura de vultos, sombras, movimentos
colorido depois de objetos, seres ocultos, que a olho nu
de fotografar não podemos perceber”, explica.
um sacerdote no
país africano Vasconcelos já fotografou em São
Luís e Alcântara, no Maranhão, e em
Ouro Preto e Tiradentes, em Minas Gerais.
Pretende ainda viajar por outras cidades
coloniais onde a mão de obra escrava foi
explorada intensamente nas lavouras, e,
principalmente, na escavação de minas.
Ele conta que, às vezes, ao iniciar
um projeto, não tem certeza se ele será
em cor ou em P&B, como aconteceu
com Zeladores de Voduns do Benin ao
Maranhão. "Quando fiz a primeira foto
da série de um sacerdote lá no Benin,
na África, e vi o resultado no monitor, a
decisão foi imediata: o trabalho seria em
cores saturadas e manteria a mesma luz, o
mesmo enquadramento e o mesmo estilo

32 Fotografe Melhor no 292


Acima e ao lado, fotos do documentário
sobre camponeses do Pampa Gaúcho,
mais um trabalho de Vilani em P&B

em todos os retratos seguintes. Percebi


ainda que a luz de lá era muita parecida
com a do Maranhão”, lembra.
Gaúcho de Santo Ângelo vivendo
na capital gaúcha, Tadeu Vilani diz que
a fotografia colorida e o P&B sempre
caminharam de mãos dadas, sem conflitos,
em seu trabalho. Logo que começou ele
escolheu o P&B como forma de expressão
pessoal, deixando a cor para a atuação
como fotojornalista. “A opção pelo preto e
branco está ligada às memórias das imagens
da infância, às poucas fotos guardadas em
uma caixa. Cada vez que abria a caixa, havia
o fascínio pelas fotos, pela textura do papel.
Isso somado à televisão em preto e branco,
os grandes filmes do neorrealismo italiano...
Meus primeiros trabalhos foram com filmes
Kodak Tri-x ISO 400 e, quando percebi, já
fazia parte da forma de me expressar de
maneira natural”, comenta.
Ele começou como laboratorista,
revelando negativos e ampliando fotos.
Fotos: Tadeu Vilani

Considera essa sua grande escola, que


o ensinou a enxergar a cena em P&B no
momento que está fotografando e até qual
será o resultado final.

Fotografe Melhor no 292 33


Matéria de capa

Fotos: Tadeu Vilani


Acima e abaixo, As fortes cores do Holi edição em P&B do mesmo material e seu
retratos coloridos O ensaio colorido sobre o Holi, festival desafio de traduzir um tema tão colorido
originais feitos por das cores realizado anualmente na Índia para os tons de cinza foi resolvido
Tadeu Vilani durante dando destaque ao retrato. "Acredito
o Holi, na Índia, o no dia do equinócio de primavera, foi
festival das cores: editado especialmente por Tadeu Vilani ter facilidade para o retrato. Não estou
ele converteu o para Fotografe a partir de fotos feitas dizendo que sou um bom retratista,
trabalho em P&B em 2019. Vilani já havia realizado uma apenas gosto de fazê-lo, olhar nos olhos
do fotografado através da lente e imaginar
quem é essa pessoa, pois dizem que os
olhos são o espelho da alma. As fotos do
Holi de que mais gosto são os retratos",
comenta Tadeu Vilani.
Quando editados em cor, os retratos
ganham uma interpretação mais bem
humorada e menos dramática, pois
acrescentam a informação cromática à
textura dos pós que cobrem os rostos,
avalia Vilani. Essas imagens fazem parte
de um projeto mais amplo de fotografar
a Índia, iniciado em março de 2019, em
viagem realizada em parceria com o amigo
e fotógrafo André Ávila.
Os dois planejaram juntos a jornada
visando cobrir dois eventos de grande

34 Fotografe Melhor no 292


A cor demorou a se tornar popular
O filme colorido se tornou produção de imagens coloridas com o
popular apenas a partir dos anos uso de cores aditivas (vermelho, verde
1970 e teve reinado curto, pois a e azul) e subtrativas (ciano, magenta
partir de 2005, com a consolidação e amarelo). Patenteou os processos
da era digital, foi legado ao em 1868 e no ano seguinte publicou o

Divulgação
esquecimento. Desde a criação da estudo Les Couleurs en Photographie.
fotografia, já se perseguia o objetivo Já as experiências da inglesa Sarah
de mostrar as cores do mundo. Angelina Acland (1849-1930) com
Nessa busca se destacaram nomes fotografia colorida foram iniciadas em em 1935 pela Kodak em diversos
como James Clerk Maxwell, Thomas 1899. O trabalho inicial foi realizado formatos para fotografia e cinema
Sutton, Louis Ducos du Hauron, usando o processo de Maxwell, porém (8 mm, 16 mm e 35 mm). Contudo,
Sarah Angelina Acland e Sergey mais evoluído, em que três imagens esse diapositivo usava o processo de
Prokudin-Gorsky. são captadas em separado com revelação K-14, tão complexo que
Desses pioneiros da fotografia filtros vermelho, verde e azul e depois apenas 25 laboratórios no mundo
colorida, o escocês James Clerk transformadas em uma só, colorida. eram capazes de fazer a revelação –
Maxwell foi o mais genial. Cientista O russo Sergey Prokudin- o último foi o laboratório Dwayne's
do século 19 com mais influência -Gorsky (1863-1944) fez estudos Phot, no Kansas, EUA, que ofereceu
sobre a física do século 20, Maxwell com cientistas de renome em São o serviço até o final de 2010.
direcionou suas pesquisas na Petersburgo, Berlim e Paris para O passo fundamental para o
percepção de cores pelo olho desenvolver técnicas para a fotografia início da popularização do filme
humano e inventou um filtro colorida. Como resultado, conseguiu colorido foi o lançamento do
de cores triplo (que mais tarde as primeiras patentes de filmes Kodacolor, em 1941, que, ao contrário
resultaria no sistema RGB). Com diapositivos coloridos. Essas pesquisas do Kodachrome, era um negativo
base em estudos da visão humana e incentivaram os famosos irmãos colorido de fácil processamento.
da óptica, concluiu que era possível Lumière, Auguste Marie (1862-1954) O novo produto simplificou as
produzir fotografia em cores e Louis Jean (1864-1948), conhecidos ampliações em papel e reduziu
sobrepondo três imagens obtidas como “os pais do cinema”, a lançar o o custo para o consumidor –
com filtros vermelho, verde e azul. primeiro filme colorido, o Autochrome, mas ainda era bem mais caro se
Para comprovar essa tese, exibiu que chegou ao mercado em 1907. comparado com o P&B. Por isso,
em 1861, durante uma palestra, a O Autochrome se destacou como somente com a queda de preços
primeira imagem colorida que se o principal processo de fotografia do produto e dos serviços de
tem notícia, feita pelo fotógrafo colorida no início do século 20 por laboratório nos anos 1970, aliada a
inglês Thomas Sutton conforme ser o primeiro comercialmente uma melhoria na sensibilidade do
suas orientações. viável. Mas o negócio dos irmãos negativo colorido, é que a cor foi
O francês Louis Ducos du Lumière começou a dar errado com o ganhando cada vez mais espaço no
Hauron (1837-1920) se dedicou lançamento do primeiro filme colorido mercado entre milhões de fotógrafos
à criação de formas práticas de moderno, o Kodachrome, introduzido entusiastas mundo afora.

relevância no estado de Uttar Pradesh, o


Kumbh Mela, na cidade de Allahabad, e o
Holi, em Vrindavan e arredores. Após 30
dias fotografando na Índia, Vilani voltou
seduzido e convencido de que o trabalho
terá novos desdobramentos.
"Logicamente, o que me influenciou
a ir à Índia, além de seu misticismo, foi
o trabalho de outros fotógrafos que, de
alguma forma, capturaram a alma, a magia
do povo”, diz Vilani, citando o francês
Henri Cartier-Bresson e, principalmente,
o brasileiro Marcelo Buainain, que ele
conheceu em um evento em Porto Alegre
e com quem depois esteve por alguns dias
na casa dele em Natal (RN). "Lá ele me

Vilani quer continuar o


projeto de fotografar a Índia,
um país muito colorido que
ele registrará em P&B

Fotografe Melhor no 292 35


Matéria de capa

pessoal, ajustou a câmera para visualizar


as imagens no monitor em P&B, embora
a captura seja feita em cor. Faz questão
de ressaltar que não é a opção pela cor
ou pelo P&B que faz a produção de um
fotógrafo documental melhor ou pior,
mas sim seu compromisso de vida e sua
ética perante as pessoas e situações que
fotografa. "Isso é o mais importante", diz.
Ele ainda usa esporadicamente sua
Nikon FM-2 com filme Kodak Tri-x, mas
a câmera do dia a dia é uma DSLR Nikon
D800 munida de uma lente 24-70 mm
f/2.8, que destaca pela qualidade óptica, e
uma 20-30 mm f/2.8. Geralmente, faz suas
capturas em RAW e JPEG. Nas conversões
para o P&B, usa o plug-in Silver Effex para
dar um primeiro tratamento sutil e rápido,
depois faz o acabamento no Photoshop.
Já Márcio Vasconcelos usa atualmente
DSLRs Canon EOS Mark II e IV com as
lentes 35 mm, 50 mm e 70-200 mm.
Leva sempre consigo uma mirrorless Fuji
X100s. Sua lente predileta é a 35 mm, que,
segundo ele, já faz parte de seu corpo e
de seu olhar. Ele gosta de se sentir dentro
da cena, de se aproximar do assunto e das
pessoas. Faz as capturas em RAW quando
entende que será necessário ter um ajuste
mais preciso na pós-produção.
Foi com a chegada do digital que
passou a usar mais a cor. "Na época do
analógico, fotografava muito em negativo
P&B e em cromo. Tinha laboratório e eu
mesmo revelava e fazia as ampliações. Com
a chegada do digital, as cores ganharam
mais espaço nos meus trabalhos, mas
foi de uma forma natural e espontânea,
nada programado, apenas decidia se
determinado trabalho ficaria melhor em cor
ou em P&B conforme o conceito e o estilo.
Gosto muito dos dois formatos", afirma.
Fotos: Orlando Azevedo

Carga poética
Orlando Azevedo, que é próximo
personagem na série Portfólio Fotografe
(veja mais na pág. 18), concorda com
Márcio Vasconcelos quanto à definição
da linguagem: o tema é fundamental para
Irmãs vestidas com apresentou os livros do fotógrafo indiano decidir se um trabalho será realizado em
as cores da bandeira Raghu Hai, outra influência definitiva nesse cor ou em P&B.
brasileira: Orlando projeto", informa o fotógrafo gaúcho. Autor de um projeto grandioso,
Azevedo prefere retratos
em P&B, mas nesse caso intitulado Coração do Brasil, que gerou
é importante preservar a ética e compromisso uma trilogia de livros de fotografia tanto
informação das cores Vilani atuou como fotojornalista em cor como em P&B, Azevedo acredita
do jornal gaúcho Zero Hora de 1996 que é até possível mesclar os dois em um
até o início de 2020. Agora, passou a ensaio ou documentário, algo que deve
se dedicar exclusivamente ao trabalho ser feito com muito cuidado, se possível

36 Fotografe Melhor no 292


Culto a Iemanjá: Azevedo Portfólios de Vilani
concorda que o tema e Vasconcelos
é fundamental para a
escolha entre cor e P&B O gaúcho Tadeu Vilani e o
maranhense Márcio Vasconcelos
são os dois primeiros fotógrafos
de renome a ter suas obras
publicadas na série Portfólio
Fotografe, que pode ser
adquirida via assinatura. Assim, é
possível se inspirar em trabalhos
em P&B de Vilani, como a saga
dos imigrantes europeus que
foram para o Rio Grande do Sul
e se fixaram no campo (italianos,
alemães, poloneses e russos),
a influência dos imigrantes
açorianos nos costumes dos
habitantes do litoral sul do Brasil,
a importância dos africanos
escravizados na formação do
caldeirão cultural gaúcho e a vida
camponesa no Pampa. O livro
traz também fotos do ensaio
na Vila Dique, periferia de Porto
Alegre (RS), ganhador do Prêmio
Conrado Wessel de 2011.
Vasconcelos, por sua vez,
mostra sua produção colorida
autoral focada em religiões afro-
-brasileiras com os documentários
Nagon Abioton (mostra rituais da
Casa de Nagô, centro histórico do
Tambor de Mina no Maranhão),
Zeladores de Voduns do Benin
ao Maranhão (a busca das
origens do Tambor de Mina
na África Ocidental) e Bruxos e
Curandeiros (sobre o Palo Monte
e congêneres, religião originária
de uma região onde hoje é o
Congo). O livro também mostra
imagens de dois trabalhos
ganhadores do Prêmio Marc
Ferrez: Na Trilha do Cangaço
(trata da saga de Virgulino
Ferreira da Silva, o cangaceiro
Lampião) e Visões de um Poema
Sujo (imagens que dialogam
com versos de Poema Sujo, de
Ferreira Gullar).

com a ajuda de um curador, para o em geral chamam a atenção. Para


conjunto não ficar desequilibrado ou mim, há uma carga poética maior
parecendo um erro de edição. no preto e branco. Por isso, prefiro
“É preciso levar em conta que o registrar a saga do ser humano, os
preto e branco não tem pontos de retratos, o trabalho, as cena de rua,
fuga, que são evidentes na cor. Um em preto e branco. A cor exige mais
ponto vermelho numa imagem pode trabalho na composição, na busca de
ser muito chamativo. Aliás, as cores um ponto de interesse e no equilíbrio
primárias (azul, vermelho e amarelo) entre os tons quentes e frios”, ensina.

Fotografe Melhor no 292 37


Dicas profissionais

Fotos: Brasilio Wille


Retrato capturado com a câmera em visualização monocromática e em formato RAW para posterior versões em cor e P&B

Como o P&B pode


ajudar a cor
Você já pensou em remover as cores da visualização na hora da captura? O mestre
Brasilio Wille propõe um truque simples para melhorar a composição de uma imagem
Por Livia Capeli

M uitas vezes, um
mero ajuste técnico
pode aprimorar
a maneira como você produz
uma imagem. Ao sugerir um
na fotografia as cores seduzem
o olhar instantaneamente a
ponto de ocultar o modo de
enxergar texturas, profundidades
e sombras. Com isso, elas podem
P&B pode aproveitar essa destreza
de converter o olhar para o modo
monocromático, entretanto, defende
Wille, esse privilégio também pode
se estender aos que nunca tocaram
modo diferente de visualização até camuflar uma composição em uma câmera analógica.
na câmera, com uma estratégia desfavorável. Já a imagem em Graças à tecnologia, atualmente,
muito simples, o fotógrafo Brasilio P&B necessita integralmente do grande parte das câmeras digitais
Wille propõe mudar o modo de trabalho de organização do olhar DSLRs conta com dois tipos
enxergar o mundo por meio da para ver a composição de maneira de arquivo: JPEG e RAW, além
câmera usando a visualização eficiente. Um fotógrafo que estava da função de modo de disparo
monocromática. Segundo ele, acostumado a trabalhar com filme monocromático e configurações

38 Fotografe Melhor no 292


Retrato da modelo
Clarissa, dividido entre
P&B e cor, especialmente
produzido por Brasilio
Wille para Fotografe

de visualização “ao vivo” e no “Claro que fazer a conversão de olhar, distinguindo melhor brilhos
display de LCD. Com esses cor para o preto e branco na pós- e sombras, tons de peles reais, sem
ajustes, segundo Brasilio Wille, a -produção proporciona uma o compromisso de precisar passar
visualização no monitor aparecerá gama enorme de ajustes. No horas à frente do computador
em preto e branco, enquanto o entanto, se você aprende a ver buscando maneiras sofisticadas
arquivo em RAW manterá todas as o mundo de outra maneira, em e complicadas de converter a
informações da imagem colorida. tons de cinza, vivencia um novo imagem”, explica o especialista.

Fotografe Melhor no 292 39


Dicas profissionais
profissionais

Brasilio Wille defende que fotografar visualizando a imagem em P&B organiza O ajuste
o olhar e permite enxergar melhor texturas, profundidades e sombras
na câmera
Começar a fotografar colorido
visualizando em preto e branco é
muito simples. O primeiro passo
sugerido por Wille é ajustar o
arquivo para captura em RAW.
Em seguida, para uma melhor
qualidade, é importante definir
o equilíbrio de branco (White
Balance). Depois, basta ajustar o
controle de imagem na câmera
para visualização monocromática
– na Nikon esse ajuste no menu
é conhecido como Controle de
Imagem (Picture Control); já na
Canon é apresentado como Estilo
de Imagem (Picture Style).
Outra dica do expert é trabalhar
com a visualização Live View
(Imagem ao Vivo), pois dessa
maneira você poderá observar
como reagem as linhas, os tons e
as texturas na hora de enquadrar e
compor a cena. Se quiser, poderá
ainda ativar as linhas de grade da
Regra dos Terços e isso ajudará a
equilibrar ainda mais a composição.

40 Fotografe Melhor no 292


O ajuste na câmera do
Fotos: Brasilio Wille

modo Filter effect em


Green (verde) pode
melhorar a textura e o Acima, DSLR Nikon ajustada para o modo Monochrome
tom de pele, diz Wille (P&B); abaixo, tela do menu da Canon para o mesmo ajuste

O efeito do
filtro verde
Para obter cores mais vívidas e
um tom de pele atraente, Brasilio
Wille ensina um segredo que deve
ser ajustado diretamente no perfil
da câmera: o uso de um filtro
verde digital, que equivaleria a
um filtro físico, como os utilizados
antigamente acoplados à lente para
fotografar com filme P&B.
Acesse o menu da câmera,
vá até Estilo de Imagem (Picture
Style, na Canon, ou Picture
Control, na Nikon) e coloque em
monocromático (Monochrome). Em
seguida, acesse Detail set e depois
Menu de
em Filter effect, selecionando a
Filter effect
opção Green (verde). “Esse filtro da Canon:
ajuda a melhorar a textura e os as opções
brilhos da pele, proporcionando são os filtros
acabamento mais perfeito, tradicionais
principalmente nos tons de pele. usados na
Além disso, em fotos de natureza fotografia
analógica:
ele colabora para que cenas que vermelho,
contenham folhas e vegetação em laranja,
geral fiquem com o tom de verde amarelo,
muito mais vivo”, explica. verde e azul

Fotografe Melhor no 292 41


Dicas profissionais
Antes

Converter
cor para P&B
Na pós-produção, existem
muitas maneiras de converter uma
imagem colorida para preto e
branco (veja mais sobre esse tema
na edição 287 de Fotografe). O
especialista Brasilio Wille ensina
algumas técnicas usadas por ele em
passos muito simples tendo como
base o Photoshop. Acompanhe.

A imagem original
com a pós-produção
trabalhada na cor

Técnica de mapa de gradientes

1 Abra a imagem no Photoshop e vá na caixa de


ferramentas, deixando o set foreground color
selecionado em preto; depois acesse no menu imagem >
2 Para fazer um ajuste mais fino, a dica é clicar
duas vezes sob a escala de degradê do mapa de
gradiente. Uma janela se abrirá e dentro dessa caixa
ajustes > mapa de gradiente. você poderá editar os tons disponíveis no Photoshop,
usando cores gradientes para criar uma imagem artística
ou somente ajustar novas tonalidades de preto e branco.

Depois
Fotos: Brasilio Wille

A mesma imagem
convertida para P&B
pelo método usado
por Brasilio Wille

42
Antes

Imagem original
capturada em
formato RAW
P&B por camada de ajuste para os ajustes
de cor

1 Abra a imagem e clique em layer (camada); vá


em camadas de ajustes e escolha a opção preto e
branco. Na caixa propriedades de ajuste, corrija alterando
2 Usando o control+shift+alt+E (PC) ou comando+
shit+alt+E (Mac) para juntar as camadas anteriores
e criar uma nova camada, mude o modo de camada
(aumentando ou diminuindo) o canal de vermelho e para multiply e ajuste a opacidade da layer em 50%
amarelo, ou seja, tons que são predominantes na pele. para controlar o contraste de claro e escuro da camada.

Depois

Imagem
convertida
para P&B pelo
processo de
camadas

Fotografe Melhor no 292 43


Fotografia social

O tom do
casamento
Cor ou P&B nos registros matrimoniais? Dois especialistas comentam os critérios
levados em conta na hora de decidir qual é o ideal para cada situação
Por Livia Capeli

46 Fotografe Melhor no 292


Isis Lacombe

Não há uma
Ao lado, fotografia de
Anderson Marques e, regra para
acima, de Isis Lacombe: adotar cor
as imagens coloridas
ainda são dominantes nos ou P&B em
álbuns de casamento fotografia de
casamento,
profissionais fazem diversos tipos de fotos: segundo os
retratos posados, flagrantes ao modo de especialistas,
fotojornalismo, imagens criativas, still da
decoração e das alianças, entre outros mas é preciso
temas. Para imagens com uma "pegada ter bom senso
mais romântica", o P&B pode ser perfeito; quando os dois
Anderson Marques

quando o foco é em momentos de alegria,


a cor é a alternativa mais adequada. estilos forem
O fato é que não existe um padrão ou mesclados
uma regra para se adotar, cada fotógrafo
conforme a experiência e preferência

S
escolhe um conceito – logicamente a
orrisos espontâneos, lágrimas de decisão, além de considerar o estilo,
emoção, sentimentos aflorados, depende de outros motivos, como
sem contar a nuance das flores, momento em que a foto foi feita,
a matiz dos vestidos das madrinhas e pesquisas realizadas, estação do ano, tipo
a paleta tons da decoração. Fotografia de tendência e até para atender a um
de casamento é repleta de detalhes pedido especial do cliente. Para fotógrafos
e um desafio para o fotógrafo, que que ainda hesitam na escolha e não
precisa decidir entre duas opções para conseguem se decidir sobre se entrega
contar a história de um casal por meio um trabalho em P&B ou colorido para o
de imagens: cor ou P&B? Em tudo que cliente, Fotografe, com a ajuda de dois
envolve o registro dos noivos, desde os profissionais renomados, a catarinense
ensaios prévios de casais e o trash the Isis Lacombe e o brasiliense Anderson
dress posterior, passando pela celebração Marques, listou algumas premissas que
do matrimônio e pela festa, todos os podem ajudar na decisão. Veja a seguir.

Fotografe Melhor no 292 47


Fotografia social

Isis Lacombe

Isis Lacombe quase não


trabalha com P&B, mas
produz fotos com tons
O poder da imagem p&b
monocromáticos, como Como o contraste da mistura de fazendo com que os olhos foquem no
a imagem acima, de um preto, branco e cinza marca as sombras assunto principal, sem criar distrações:
ensaio pré-casamento
de maneira diferente, a fotografia P&B é quem vê uma imagem em P&B não
classicamente conhecida por transmitir irá reparar na cor da decoração ou
um peso maior de sentimentos. É um nos vestidos das madrinhas, e sim no
tom que pode favorecer a dramaticidade. semblante do casal, pontua Marques.
Além disso, a ausência de cores costuma Por isso é tido como tom perfeito para
centralizar a atenção do observador, imagens que buscam transmitir emoção:

48 Fotografe Melhor no 292


Acima, ensaio com a
noiva antes do casamento
e, ao lado, momento de
emoção entre pai e filha
antes da entrada na igreja

Eu tenho
meus próprios
presets para o P&B
e acho importante
que todo fotógrafo
Fotos: Anderson Marques

defina um estilo de
trabalho nessa
linguagem
Anderson Marques

dos sorrisos às lágrimas, entre as em cor capturando em RAW, e na fotógrafo se preocupar com essa
tantas emoções de um cassamento. pós-produção realiza a conversão identidade no trabalho em P&B para
A troca de alianças, a hora do sim, conforme cada imagem. Talvez o definir um estilo”, comenta.
a entrega da noiva no altar pelo pai daltonismo tenha contribuído para Além de ser uma decisão que
merecem destaque em P&B. Se a a linguagem que ele usa no Adobe leva em conta registros de emoção,
ideia é apostar no peso da emoção, Lightroom, onde ele criou os próprios a fotografia P&B em casamento
vale a pena deixar esses momentos presets para ter um P&B mais refinado. geralmenre oferece uma perspectiva
convertidos aos tons de cinza. "Uso uma configuração para mais artística e tem o poder de
Anderson Marques procura a imagem colorida e outra para valorizar uma imagem que, se
sempre valorizar essa carga emotiva. P&B, com padrões de sombras e colorida, não teria tanta graça, diz
Detalhe: daltônico, ele confunde tons contrastes. Existem imagens P&B Marques. Outra vantagem é que uma
de azul, roxo e magenta, trocando mais acinzentadas e outras mais imagem em P&B pode ser vista como
pelo cinza-claro. Costuma fotografar contrastadas. Acho importante o atemporal e mais elegante.

Fotografe Melhor no 292 49


Anderson Marques
A força da cor
Referência na fotografia colorida coloco tudo isso em P&B tenho uma situação em que haja bastante
para registros de casais, a fotógrafa a impressão que a alegria do luz em cima do casal, na pista de
Isis Lacombe é muito procurada momento é perdida", explica Isis. dança ou em um ambiente mais
pelos clientes principalmente por Ela costuma estudar com os escuro para criar contraste.
trabalhar com essa espécie de clientes as cores que serão usadas “Somente quem fotografa
marca registrada. Ela não nega que nos ensaios de casais e no própiro casamento sabe como é sofrido estar
também fotografa em P&B, mas cerimonial. Cita como exemplo na pista de dança e entrar aquela luz
seu forte é a cor. "Casamento é um looks harmonizando com o tom do DJ. Tudo fica superexposto... Se a
momento alegre e repleto de tons. de pele dos noivos e o ambiente imagem colorida não dá margem para
A noiva escolhe a paleta de cores da cena. A ideia é ter um resultado uma correção na pele dos noivos, aí
na decoração, na flor do buquê... final das imagens equilibrado. converto para P&B e fica tudo certo.
Por isso, acho muito importante Para Isis Lacombe, a imagem em Não tenho preconceito com isso.
valorizar cada um desses aspectos P&B é idealizada quando existe muita Mas essa história polêmica de salvar
com a fotografia colorida. Quando luz e muito contraste na cena, em uma foto passando para P&B é muito
relativa. Não existe certo ou errado.
Se os tons não estão tão legais para
Isis Lacombe

cor, recorre-se ao P&B. A missão é


registrar o momento e, claro, sempre
prezando a técnica. Mas, se não tem
jeito, o fotógrafo não pode perder o
registro”, acredita ela.
Anderson Marques argumenta
que um fator decisório para a
fotografia colorida ter mais impacto
está justamente no contraste e
nas tonalidades das cores da cena.

No alto, um ensaio de noivos


feito por Anderson Marques
em Brasília (DF); ao lado,
noiva com madrinhas em
imagem de Isis Lacombe

50 Fotografe Melhor no 292


No álbum, mescla
dos dois tons
Quem diagrama o álbum de
casamento para o cliente sabe como
é importante ter um pouco de cada
tom no trabalho. Mesclar fotos
coloridas e P&B ajuda a criar uma
folga para o olhar do observador,
que vê o álbum em uma sequência.
Esse "respiro", como é chamado
tecnicamente o termo para esse
descanso do olhar, pode ser feito
principalmente quando existem
imagens semelhantes.
Entretanto, vale lembrar que
colocar imagens coloridas e P&B em
uma mesma página pode prejudicar
a harmonia do trabalho. O ideal é
pensar a edição desses "respiros"
mesclando os tons em lâminas
diferentes – cada lâmina é composta
de duas páginas. Fotógrafos que
diagramam os próprios álbuns
ressaltam que é muito importante
não criar distorção de tons em uma
mesma lâmina, até mesmo entre
Isis Lacombe faz um imagens coloridas – como colocar
Isis Lacombe

estudo de cor para seus uma foto de tom frio com outra de
ensaios com noivos tom quente. É preciso haver unidade.

Para ele, avaliar se as nuances são mais do enquadramento. Se em uma cena os


frias ou mais quentes ajuda a decidir noivos estão em primeiro plano e algo Abaixo, ensaio com
qual caminho a ser seguido. "É sempre atrás tem uma cor que chama muito mais noiva em que Anderson
importante que a imagem leve o a atenção, isso é um fator decisivo na Marques optou por
observador para um ponto importante conversão ao P&B", ensina ele. trabalhar com P&B
Anderson Marques

51
Fotografia de natureza

paisagem
Para Monteiro,
registrar cenários
naturais é mais
difícil do que
clicar bichos

Família de veados-campeiros no Cerrado goiano: trabalhar o contraste é um desafio em fotos de natureza em P&B

A natureza em P&B
de André Monteiro
O fotógrafo carioca, fã declarado de Ansel Adams, estabeleceu-se em Goiás para
trabalhar como cartógrafo e acabou se apaixonando pela beleza natural do Cerrado
Por Shel Almeida

O mestre americano Ansel


Adams é a grande
referência do fotógrafo
André Monteiro, 69 anos, que
se especializou em fotografia de
com o Cerrado começou quando
ele mudou do Rio de Janeiro para
Goiás em 1978 para trabalhar como
cartógrafo, sua formação inicial. Já
a guinada para a fotografia ocorreu
o Cerrado há bastante tempo, a
experiência fez com que Monteiro
desenvolvesse alguns artifícios para
conseguir os resultados que procura.
Ele menciona que registrar aves é
natureza de uma forma pouco usual: em 2006, ao decidir investir em complicado porque o céu ao fundo
ele decidiu mostrar paisagens, flora conhecimento e equipamento “engana” o fotômetro e é fácil o
e fauna em P&B. Outra característica para registrar a riqueza natural dos fotógrafo perder a referência no
marcante do trabalho de Monteiro é chapadões goianos e do Parque enquadramento. “Em casos assim,
sua dedicação ao Cerrado, o segundo Nacional das Emas. tento sempre fazer as fotos sem céu,
maior bioma do Brasil. O contato Como se dedica a fotografar no nível do meu olhar. Espero um

52 Fotografe Melhor no 292


Fotos: André Monteiro

pouco, a ave decola e começa a voar. Esse adequado, facilita mesmo com todos os A vastidão dos cenários no
é o momento ideal, pois consigo, com a inconvenientes, pois você tem recursos Cerrado (acima) aumenta
maior abertura que a lente permitir, manter para se aproximar a uma distância que o grau de dificuldade em
apenas a ave em foco”, explica. não assuste o animal”, pondera. Já na imagens de paisagem,
alega o fotógrafo; abaixo,
Muitas das dificuldades técnicas fotografia de paisagem Monteiro afirma emas, que dão nome ao
Monteiro aprendeu a resolver com a que é muito difícil conseguir transmitir a Parque Nacional em Goiás
prática. Para ele, a fotografia de paisagem beleza do que você está vendo. “É preciso
é mais difícil do que a de vida selvagem, mais reflexão, muito mais cuidado e
pois imagens de bichos têm uma tempo para analisar a cena. Exige ainda
dependência maior do equipamento. visitas ao local, já que, se você descobre
“Se você não tem uma tele longa, vai um cenário maravilhoso, precisa voltar lá
dificultar muito. Mas, com o equipamento em diferentes horas do dia”, comenta.

53
Fotografia de natureza

As imensas
áreas planas
do Cerrado são
mais valorizadas
nas imagens
De olho no
em P&B com tempo nublado
um céu mais
dramático, com Para Monteiro, um fotógrafo para ter Algo que ele aprendeu ao fotografar
êxito em imagens de paisagem precisa paisagens no Cerrado foi desprezar um
nuvens escuras de conhecimento técnico, equipamento atraente dia de Sol com céu azul. “Uma
de qualidade (sendo crucial um tripé de das maiores dificuldades para conseguir
alto nível) e olhar bem desenvolvido – fotos de paisagem em P&B que tenham
que para alguns, segundo ele, é inato, dramaticidade, profundidade e perspectiva
enquanto para outros é necessário é o céu”, diz. Explica que, como o Cerrado é
treinamento. “Se você tiver dois dos três caracterizado por grandes espaços físicos,
requisitos, raramente vai fazer um trabalho quanto mais nublado estiver o dia, melhor.
de excelência”, opina. “Às vezes, você sai a campo esperando

54 Fotografe Melhor no 292


O tamanduá-bandeira é uma das espécies emblemáticas do Cerrado brasileiro,
que tem uma diversificada fauna, com mamíferos, répteis e aves (abaixo)
Fotos: André Monteiro

Céu com nuvens


escuras salpicadas
ajuda a valorizar
vastas paisagens
como as do Cerrado

fotos fantásticas e elas saem com -Oeste, que vai de outubro a maio. a natureza em P&B é a falta de
aquele céu cinza, sem graça. Aprendi Já o período de seca, de junho a contraste. “Nas fotos de animais,
que as fotos de natureza e paisagem setembro, é a época das grandes por exemplo, se o fundo é de mata
em P&B que mais se destacam floradas de ipês-amarelos e roxos, fechada, complica, porque para
são as feitas no período de chuvas, com céu muito azul. “Aí é mais dar destaque ao animal preciso de
com nuvens muito carregadas, apropriado para se trabalhar o uso pouca profundidade de campo. Aí,
tempestades”, ensina. da cor, mas, mesmo assim, ainda é necessário separar muito bem o
Por isso, ele sempre procura faço alguma coisa em P&B nesse assunto principal no enquadramento,
fotografar paisagens durante o período”, conta. Ele lembra que e isso se torna mais difícil com o P&B
período de chuva no Centro- um fator que dificulta registrar por causa do contraste”, comenta.

Fotografe Melhor no 292 55


Acima, um céu dramático
em meio à paisagem
Fotos: André Monteiro

pontuada por cupinzeiros;


à esq. e à dir., detalhes da
flora, com um trabalho
na pós-produção para
escurecer o céu ao fundo

Imagens atemporais
Foi por influência de Ansel exploradas. O fotógrafo conta que, Monteiro tem em Luiz Claudio
Adams (1902-1984) que ele na abertura de uma das exposições Marigo e Araquém Alcântara as
começou a fazer experimentações que fez em Goiânia (GO), um principais inspirações, além de
em P&B – ele fotografa em arquivo senhor que observava as obras veio Sebastião Salgado, cujo trabalho
RAW e depois converte na pós- até ele para dizer que via as cores ele estudou bastante para tentar
-produção. “O meu material é feito, nas fotos, o que foi uma surpresa entender como ele atingiu
em sua grande maioria, dentro para o autor. “A leitura visual tecnicamente a perfeição para
dos limites do Parque Nacional do P&B traz uma percepção tão reprodução de imagens em P&B.
das Emas, a maior unidade de profunda que as pessoas conseguem Cita ainda o carioca Ary Bassous,
conservação do bioma Cerrado enxergar cor, ainda que de maneira premiado no maior concurso de
no mundo, declarado Patrimônio subjetiva. As imagens em tons de fotografia de natureza do mundo,
Natural da Humanidade pela cinza carregam uma emotividade o Wildlife Photographer of the Year,
Unesco”, informa. singular, que faz relação com organizado pelo Museu de História
Para o público em geral, não o passado, o saudosismo e, Natural de Londres. Outros dos
habituado com a técnica fotográfica, principalmente, a perenidade. quais ele admira as obras a distância,
o tipo de trabalho que André Parecem atemporais”, analisa. embora não sejam focadas em P&B,
Monteiro realiza pode ser uma Adams é a maior referência, são João Marcos Rosa, André Dib e
descoberta de sensibilidades pouco mas não é a única. No Brasil, André Luciano Candisani.

56 Fotografe Melhor no 292


Da cartografia
à fotografia
O caminho que o fotógrafo
André Monteiro percorreu até a
fotografia de natureza em P&B
começou pela cartografia. Hoje,
ele consegue unir a graduação
em Engenharia Cartográfica pela
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ) com uma pós-
-graduação em Geoprocessamento
por Imagens pela Universidade
Federal de Goiás (UFG) mais a
formação de fotógrafo profissional
pelo New York Institute of
Photography (curso feito nos EUA
entre 2010 e 2012). A primeira
parada em Goiás foi na cidade de
Mineiros, em 1978, onde Monteiro
trabalhou como cartógrafo. Voltou
para o Rio em 1979 e depois
retornou, fixando-se em Goiânia
a partir de 1989.
Desde que começou a se dedicar
à documentação do Cerrado, em
2006, publicou dois livros: Memórias:
Boiadeiros do Cerrado (editora do
Instituto Casa Brasil de Cultura,
Goiânia, em 2010); e Parque das
Emas, no Coração do Cerrado (LL
Editora, Goiânia, 2018). Um terceiro
está pronto, previsto para ser
lançado no primeiro semestre de
2021: Águas do Cerrado.
Acostumado às câmeras
DSLR, Monteiro adquiriu meses
atrás a médio formato Fuji GFX
50R. Diz que os resultados são
incomparáveis ao que havia visto
até hoje. “Sou usuário antigo
da Nikon, tenho uma D850. Já
tinha algumas lentes, anteriores
às câmeras digitais, e permaneci
trabalhando com elas. Porém,
ultimamente, tenho usado muito
mais a Fuji para fotos de paisagem.
Fotos de vida silvestre, de animais
a longa distância, de pássaros, aí
é com a Nikon porque tenho mais
longas e mais leves”, comenta.
Na bolsa, ele leva lentes
Nikkor fixas de 20 mm e 35 mm
e uma zoom tele 200-400 mm
f/4, que usa às vezes com um
teleconversor de 1.4x – comprou
recentemente uma mirrorless Z50
para usar as mesmas lentes. Da
Fuji, tem uma lente normal e a
grande angular fixa de 23 mm e
uma zoom 32-64 mm f/4. O kit se
completa com um tripé Benro e
um monopé Manfrotto.

Fotografe Melhor no 292 57


Cultura

Carlos Moreira passou a fotografar com negativo colorido nos anos 1980, nova fase em que fez estudos de linguagem

Um mestre
solto nas ruas Por Érico Elias

Conheça a
trajetória de
Carlos Moreira,
A ndar pelas ruas à caça de
imagens, primeiro inspirado no
francês Henri Cartier-Bresson e
depois confiante no próprio olhar, foi o
que fez Carlos Moreira ao longo de seis
Porto Seguro, na região central da
capital paulista. Foi seu último grande
momento: no dia 11 de junho de 2020,
ele encerrou a luta pela vida aos 84 anos.
Deixou um grande acervo, que está
que produziu décadas. Paulistano, explorou o centro sendo organizado por Regina Martins,
uma extensa obra da cidade de São Paulo como poucos. ex-aluna que virou sócia em um estúdio
em P&B e cor, Mas também buscou seus flagrantes de funcionava como escola de fotografia.
rua em cidades próximas, como Santos Trata-se de um conjunto de cerca de
aliando domínio e Guarujá, no litoral paulista, e em várias 80 mil negativos P&B e 150 mil negativos
da composição outras por onde viajou. em cor, além de arquivos em CDs,
Já convalescendo de uma doença, o DVDs e HDs externos com pelo menos
à captura de fotógrafo ganhou uma grande exposição o dobro de imagens – a maior parte,
instantes decisivos retrospectiva em 2019, no Centro Cultural inédita. Regina espera confiar a guarda,

58 Fotografe Melhor no 292


Fotos: Carlos Moreira

Cenas captadas em P&B do


cotidiano no centro de São Paulo,
nos anos 1960/70 (acima e ao
lado), marcam a obra de Moreira

preservação, reprodução e difusão


desse material a alguma instituição
– já recebeu algumas propostas, que
estão em fase de estudos.
Além da obra extensa e variada,
balanceada entre o P&B e a cor,
Moreira teve destaque também
por sua atividade como professor,
colaborando de maneira decisiva para
a formação de muitos fotógrafos,
entre eles a celebrada Ella Dürst.
Por dois períodos, de 1971 a 1974
e de 1979 a 1990, ele ministrou na
Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA-
-USP) o curso Básico de Fotografia,
frequentado por alunos das
graduações em Artes Plásticas,
Biblioteconomia, Cinema, Jornalismo,
Música, Publicidade e Propaganda,
Rádio e Televisão e Teatro.

novo ângulo
Nascido em 1936, Moreira
formou-se em Economia em 1964,
mas não seguiu carreira na área –

59
Cultura

Fotos: Carlos Moreira

Acima, flagrantes no a fotografia, praticada desde os 13 anos o Largo do Paissandu e o Viaduto do


bairro Liberdade de idade, acabou prevalecendo. Como Chá. Ao longo desse período, usou
(à esq.) e no Viaduto membro do Foto Cine Clube Bandeirante exclusivamente películas P&B, reveladas e
do Chá (à dir.), ambos ampliadas por ele mesmo.
no centro da capital a partir de 1966, formou ali com outros
paulista – a foto do jovens fotógrafos o grupo Novo Ângulo: Regina Martins conta que nessa fase
homem lendo o jornal a inspiração vinha da obra do mestre ele teve como forte referência a obra
marcaria uma virada Cartier-Bresson, e seus integrantes bressoniana, em que a figura humana é
de fase na carreira defendiam um estreito contato com vista com ternura e como elemento da
a vida das ruas. O grupo não assinava imagem. O estilo de Cartier-Bresson ainda
individualmente as imagens, uma ação influenciou na escolha do equipamento e
ousada para a época e embrião do que na eleição da rua como local de trabalho,
seriam os coletivos dos anos 2000. além da busca pelo rigor da composição,
De meados da década de 1960 até pelo equilíbrio das formas e pelo momento
1977, quando lançou seu primeiro livro, decisivo. "A mesma referência ele tinha
Carlos Moreira fotografou de maneira no laboratório: a escolha dos reveladores
quase obsessiva o centro de São Paulo, e a qualidade das ampliações, obtendo
retornando diversas vezes aos mesmos ao mesmo tempo nitidez e suavidade no
lugares, como a Praça Ramos de Azevedo, resultado final das cópias, um equilíbrio

60 Fotografe Melhor no 292


Regina Martins
Acima, Carlos Moreira
retratado por Regina
Martins, ex-aluna que
virou sócia em um estúdio;
ao lado, cena na Galeria
Nova Barão, centro de São
Paulo, nos anos 1970

O fotógrafo iniciou a mudança


para a cor no fim dos anos
1970 e a consolidou em 1989
depois de adquirir alergia a
produtos químicos usados em
laboratório de revelação P&B

de 1977, publicação emblemática pela


qualidade de impressão.
Contudo, a foto de um homem
lendo um jornal no Viaduto do Chá,
capturada em 1976, acabou marcando
perfeito entre preto, branco e toda paulista na mesma época, sobretudo uma mudança na abordagem
a gama de tons de cinza”, analisa Santos e Guarujá. Nelas, os espaços do fotógrafo. Na abertura de sua
Regina Martins, que teve aulas com são mais amplos graças à presença exposição retrospectiva de 2019, ele
ele na ECA-USP e depois se tornou constante da praia e da natureza. Se o afirmou: “Quando olhei para a foto,
parceira no estúdio M2 Compound. cenário muda, o olhar, a sensibilidade, naquele momento entendi que o
a sensualidade e a delicadeza na mundo que fotografava até então
Hora de mudar forma de inserir a figura humana em estava em decadência, que algo havia
Contraponto e ao mesmo tempo sua interação com a paisagem urbana se quebrado. A pureza da abordagem
complemento às imagens de São permanecem como uma marca – a de Cartier-Bresson, que tinha me
Paulo podem ser vistos nas fotos produção desse período deu origem inspirado até então, precisava de
que ele captou em cidades do litoral ao livro Carlos A. Moreira – Fotografias, novos elementos. Era preciso mudar”.

Fotografe Melhor no 292 61


Cultura

suavidade
As imagens em
cor de Moreira têm
tons suaves típicos
de negativo
colorido

a guinada
para a cor
A mudança se consolidou a partir de
1989: por causa de uma alergia desenvolvida
aos químicos de laboratório P&B, Carlos
Moreira passou a fotografar usando
negativos coloridos, que mandava revelar
em minilabs. “Ele tinha um olhar precioso
para cor. Algumas vezes, em um estudo de
linguagem, imprimia em P&B as imagens
feitas em cor; a beleza e a força da imagem
permaneciam”, comenta Regina Martins.
Com a chegada da era digital a partir dos
anos 2000, Moreira passou a usar o novo
suporte, mas as mudanças de abordagem
na fotografia de cenas de rua que ocorreram
foram por razões internas dele, e não
condicionadas à novidade do equipamento
– Regina informa que grande parte dessa
produção mais recente permanece inédita e
inexplorada; apenas uma fração do material
veio a público com a exposição de 2019.

Nesta página e na página ao lado,


imagens com filme negativo colorido
feitas no litoral paulista: crianças
também são uma constante na fase
em cor do trabalho de Carlos Moreira

62
Fotos: Carlos Moreira

Foi no laboratório fotográfico


da ECA, centro de encontros e
conversas sobre fotografia, que
Regina conheceu Carlos Moreira em
em 1981, quando ela cursava Cinema.
Depois de formada, ela atuou como
monitora e como técnica de fotografia
no laboratório até o início dos anos
1990, quando ambos saíram da USP
para criar o estúdio M2 Compound,
parceria que se estendeu por 30 anos.
“Começamos a dar aulas em casa,
para grupos de quatro alunos. O
laboratório era no quarto dos fundos,
com aulas práticas de revelação e
ampliação e uma parte teórica. Além
da técnica, ensinávamos também
linguagem fotográfica”, lembra
Essa fase de aulas em casa
durou dez anos e foi interrompida
temporariamente em 1994, quando
Moreira ganhou uma bolsa da
Fundação Vitae de Artes para
fotografar na rua todos os dias durante
um ano. A partir de 1995, ele também
deu aulas na Universidade Mackenzie
e no Senac-SP. Em 2000, a dupla criou
um espaço próprio e passou a oferecer
dois cursos separados, formato que
perdurou até 2019, quando Moreira
ficou doente e teve que parar de dar
aulas para cuidar da saúde.

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Galeria Fotografe
O olhar versátil de um
português-paranaense
A
lém de fotógrafo, Orlando Azevedo Brasil ainda foram editadas para o mais recente
também teve atuação significativa livro, Mestiço-Retrato do Brasil (2019).
como produtor cultural, tendo sido Orlando Azevedo tem obras em grandes
diretor de Artes Visuais da Fundação Cultural de centros de fotografia e museus, nacionais e
Curitiba de 1992 a 1996. Nesse período, criou a internacionais, como International Center of
Bienal de Fotografia Cidade de Curitiba, com três Photography (Nova York, EUA), Centre Georges
edições, tida como o embrião dos festivais de Pompidou (Paris, França), Museu Francês de
fotografia que se consolidaram nos anos 2000. Fotografia (Paris, França), Fototeca de Cuba (Havana,
Foram quatro anos envolvidos com exposições Cuba), Centro Cultural da Empresa Portuguesa de
e eventos culturais, o que levou também à Águas Livres (Lisboa, Portugal), Museu de Arte de
inauguração do Museu de Fotografia Cidade de São Paulo (MASP), Museu de Arte Moderna de
Curitiba, o primeiro da América do Sul. São Paulo (MAM), Instituto Cultural Itaú, Biblioteca
Como fotógrafo, lançou o primeiro livro em Nacional do Rio de Janeiro, Museu de Fotografia
1987: Fitas e Bandeiras Venske. Depois vieram Cidade de Curitiba, Museu Afro Brasileiro de São
Foz do Iguaçu, Nossa Terra (1988), Jardim de Paulo, Museu Oscar Niemeyer de Curitiba, além de
Anões (1994), Iguaçu (2002), Sudarium (2004) fazer parte de várias coleções locais e estrangeiras.
e Brennand (2004). Mas o grande projeto é Em 1998, foi o artista português de
a Expedição Coração do Brasil (2002), que destaque nas artes visuais residente no Brasil
deu origem à trilogia Terra, Homem e Mito, e, em 2007, um dos três finalistas mundiais no
resultado de uma viagem de 70 mil km por campo das artes de portugueses radicados no
todas as regiões do Brasil em 14 meses. exterior. Desde 1985 faz parte da Enciclopédia
Na tuba, reflexos
O projeto Coração do Brasil ainda deu Internacional de Fotógrafos, edição suíça em de uma Festa
origem aos livros Paraná (2008) e Paranaguá- parceria com a Casa Europeia de Fotografia, do Divino no
-Lagamar (2012). Imagens dessa jornada pelo com sede em Paris, França. interior de Goiás
Galeria Fotografe

O olhar versátil de um
português-paranaense

A
lém de fotógrafo, Orlando Azevedo Brasil ainda foram editadas para o mais recente
também teve atuação significativa livro, Mestiço-Retrato do Brasil (2019).
como produtor cultural, tendo sido Orlando Azevedo tem obras em grandes
diretor de Artes Visuais da Fundação Cultural de centros de fotografia e museus, nacionais e
Curitiba de 1992 a 1996. Nesse período, criou a internacionais, como International Center of
Bienal de Fotografia Cidade de Curitiba, com três Photography (Nova York, EUA), Centre Georges
edições, tida como o embrião dos festivais de Pompidou (Paris, França), Museu Francês de
fotografia que se consolidaram nos anos 2000. Fotografia (Paris, França), Fototeca de Cuba (Havana,
Foram quatro anos envolvidos com exposições Cuba), Centro Cultural da Empresa Portuguesa de
e eventos culturais, o que levou também à Águas Livres (Lisboa, Portugal), Museu de Arte de
inauguração do Museu de Fotografia Cidade de São Paulo (MASP), Museu de Arte Moderna de
Curitiba, o primeiro da América do Sul. São Paulo (MAM), Instituto Cultural Itaú, Biblioteca
Como fotógrafo, lançou o primeiro livro em Nacional do Rio de Janeiro, Museu de Fotografia
1987: Fitas e Bandeiras Venske. Depois vieram Cidade de Curitiba, Museu Afro Brasileiro de São
Foz do Iguaçu, Nossa Terra (1988), Jardim de Paulo, Museu Oscar Niemeyer de Curitiba, além de
Anões (1994), Iguaçu (2002), Sudarium (2004) fazer parte de várias coleções locais e estrangeiras.
e Brennand (2004). Mas o grande projeto é Em 1998, foi o artista português de
a Expedição Coração do Brasil (2002), que destaque nas artes visuais residente no Brasil
deu origem à trilogia Terra, Homem e Mito, e, em 2007, um dos três finalistas mundiais no
resultado de uma viagem de 70 mil km por campo das artes de portugueses radicados no
todas as regiões do Brasil em 14 meses. exterior. Desde 1985 faz parte da Enciclopédia
O projeto Coração do Brasil ainda deu Internacional de Fotógrafos, edição suíça em
origem aos livros Paraná (2008) e Paranaguá- parceria com a Casa Europeia de Fotografia,
-Lagamar (2012). Imagens dessa jornada pelo com sede em Paris, França.

Avô e neto no
litoral do Paraná:
imagem faz
parte do projeto
Coração do Brasil

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