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Escolha entre
Cor
ou para melhorar a cor
Fotografia de
casamento:
cor ou P&B?
Os critérios para definir a Natureza em
opção em ensaios autorais monocromia
e projetos documentais
As cenas de rua
de Carlos Moreira
A versatilidade
de Sérgio Jorge
GALERIA FOT
OGRAFE
Duas fotos de
ORLANDO
AZEVEDO
em papel 250
formato 20 x g em
26 cm
COLECIONE!
Grandes fotógrafos da edição: Anderson Marques André Monteiro Brasilio Wille Carlos Moreira
Ettore Chiereguini Isis Lacombe Márcio Vasconcelos Orlando Azevedo Sérgio Jorge Tadeu Vilani
carta ao leitor
Fundador
Aydano Roriz
Diretores
Luiz Siqueira
Tânia Roriz
E
ntramos em 2021 com a pandemia do novo coronavírus ainda nos
assombrando. Mas as vacinas estão aí, prontas em tempo recorde,
Diretor Executivo: Luiz Siqueira
Diretor Editorial e Jornalista Responsável:
Roberto Araújo – MTb.10.766 – araujo@europanet.com.br em uma mobilização científica mundial jamais vista na história.
Apesar da ignorância, do atraso e do negacionismo, a ciência mais
uma vez vai fazer sua parte e livrar o mundo de uma catástrofe sanitária. Não
Redação
Diretor de Redação: Sérgio Branco (branco@europanet.com.br)
Editora de arte e capa: Izabel Donaire consigo entender como pode existir gente que não quer ser vacinado e ainda
Editor convidado: Érico Elias espalha fake news contra a vacina, com teorias da conspiração delirantes e
irresponsáveis. O pior de tudo é que também existe gente que acredita nessas
Colaboradora especial: Livia Capeli
Colaborou nesta edição: Shel Almeida
asneiras e compartilha pelo “zap”... Enfim, chegamos ao século 21 com o ser
Revisão de texto: Denise Camargo
humano usando a tecnologia para acessar a Idade Média...
Publicidade O certo é que a covid-19 ainda está longe de ser debelada e nos últimos
publicidade@europanet.com.br
meses de 2020 continuou causando milhares de mortes. Entre elas a do grande
São Paulo
Equipe de Publicidade: Angela Taddeo, Elisangela Xavier, fotógrafo Sérgio Jorge, notícia triste que tive que dar aqui neste espaço na
Ligia Caetano, Renato Perón e Roberta Barricelli edição passada. Nesta edição, conto um pouco da trajetória desse mestre da
Outras Regiões fotografia profissional brasileira e publico um texto, escrito em 2018, sobre a
Head de Publicidade Regional: Mauricio Dias (11) 98536-1555
foto que marcou a carreira do meu amigo Serjão: a saga do menino que luta
Brasília: New Business – (61) 3326-0205
Santa Catarina: MC Representações – (48) 9983-2515 pela liberdade do seu cachorro contra o homem da carrocinha na Freguesia do
Publicidade – EUA e Canadá: Global Media, +1 (650) 306-0880 Ó, periferia de São Paulo (SP), em novembro de 1960 – imagem que valeu o
assinaturas e Atendimento ao leitor primeiro Prêmio Esso de Fotografia para Sérgio Jorge em 1961, quando ele tinha
Gerente: Fabiana Lopes (fabiana@europanet.com.br)
Coordenadora: Tamar Biffi (tamar@europanet.com.br) apenas 24 anos e já era um dos melhores fotógrafos da extinta revista Manchete.
Equipe: Josi Montanari, Camila Brogio e Bia Moreira Sérgio Jorge, que nasceu em 1937, é um tipo de fotógrafo que jamais
atendimento a Livrarias e bancas – (11) 3038-5100 existirá nos tempos atuais por uma série de circunstâncias – e nesse time
Equipe: Paula Hanne (paula@europanet.com.br)
entram Evandro Teixeira, Walter Firmo, Maureen Bisiliat e Claudia Andujar, que
Europa Digital (www.europanet.com.br)
Gerente: Marco Clivati (marco.clivati@europanet.com.br) são mais ou menos da mesma geração, um pouco mais velhos ou um pouco
Equipe: Anderson Ribeiro, Anderson Cleiton e Adriano Severo mais novos. Gente forjada no auge das revistas e dos jornais, que aprendeu a
Produção, eventos e marketing fotografar com câmeras analógicas mecânicas, longe de qualquer sofisticação
Gerente: Aida Lima (aida@europanet.com.br)
Arte: Jeff Silva eletrônica, que usava filme P&B ou colorido, em uma época em que as chances
Equipe: Beth Macedo (produção) e Laura Araújo (arte) de acertar a exposição eram equivalentes ao número de fotogramas do rolo da
DISTRIBUIÇÃO E Logística película, sem possibilidades infinitas de refazer, e refazer, e refazer que o mundo
Coordenação: Henrique Guerche digital oferece a todos hoje.
(henrique.moreira@europanet.com.br)
Equipe: Gabriel Silva e Henrique Kenji É tanta tecnologia à disposição que o fotógrafo atual quase nem precisa
Administração mais se preocupar com ajustes na câmera na maioria dos casos. Tem apenas
Gerente: Renata Kurosaki o trabalho de enquadrar e idealizar uma boa composição. Depois, ainda pode
Equipe: Paula Orlandini
escolher como editará a imagem: em cor ou em P&B? Como decidir entre as
Desenvolvimento de pessoal
Tânia Roriz e Elisangela Harumi duas opções é, aliás, o tema de capa desta edição. Não é sempre uma escolha
Rua Alvarenga, 1.416 – São Paulo/SP, CEP: 05509-003 óbvia nem fácil, como você poderá conferir. Mas,
Telefone: 0800-8888-508 (ligação gratuita) e pelo que observei nos últimos anos, o P&B manteve
(11) 3038-5050 (cidade de São Paulo)
Pela Internet: www.europanet.com.br seu espaço mais nobre, ligado a imagens de arte, e
E-mail: atendimento@europanet.com.br
cresceu em um setor importante: o de fotografia de
A Revista Fotografe Melhor é uma publicação da Editora Europa Ltda.
(ISSN 1413-7232). A Editora Europa não se responsabiliza pelo
casamento, onde ainda há o domínio da cor.
conteúdo dos anúncios de terceiros. Boa leitura e um excelente 2021, com vacina
Distribuidor exclusivo para o Brasil e muita saúde!
Total Publicações
Juan Esteves
Sérgio Jorge
2021
Foto de capa:
Brasilio Wille
6 Grande Angular
Notícias e novidades
26
Tadeu Vilani
18 Portfólio Fotografe
O talento do mestre Orlando Azevedo
46
Brasilio Wille
26 Cor ou P&B?
Critérios para escolher o caminho
52
52 Natureza em P&B
Conheça o trabalho de André Monteiro
58 Cenas de rua
O legado do mestre Carlos Moreira
André Monteiro
Roberto Marchegiani
Uma girafa, da qual
se vê só o pescoço,
que parece perdida na Italiano ganha concurso
de fotografia de natureza
floresta, deu o principal
prêmio a Marchegiani
Foto de canguru e
filhote deu prêmio à
canadense Jo-Anne
McArthur na categoria
Homem e Natureza
Jo-Anne McArthur
Henley Spiers
Acima, a incrível
tonalidade do céu
em uma noite na
Show de auroras no
Antártica, próximo a um
observatório científico ano da pandemia
O blog de viagens e fotografia Capture de imagens recolhidas ao longo de todo o
the Atlas divulgou as imagens do concurso ano e selecionou 25 premiadas.
Abaixo, luzes bailarinas
em Jökulsárlón, Islândia Fotógrafo do Ano Luzes do Norte 2020, Dentre os autores estão fotógrafos
(à esq.), e um horizonte voltado apenas para paisagens que famosos e desconhecidos, de 18
fantástico na Tasmânia, destacam a Aurora Boreal ou Austral. Dan nacionalidades diferentes. As fotografias
Austrália (à dir.) Zafra, editor do blog, fez uma curadoria mostram o show de luzes no céu de países
Agnieszka Mrowka
Ben Maze
Acima, a Aurora
Boreal registrada
na região da
Lapônia finlandesa
(acima) e na
Península de Kola,
na Rússia (ao lado)
Sergey Korolev
Roksolyana Hilevych
John Weatherby
Cássio Vasconcellos
Cristiano Mascaro
Ao lado, obra de Cássio Vasconcellos e,
acima, de Cristiano Mascaro, que fazem
parte do projeto de Roberto Linsker
10
grande angular
Foto do Mês/Arfoc-SP
Indignação e revolta
no foco do incêndio
Na cobertura diária do fotojornalismo, a
conjunção inesperada de alguns fatores pode
rapidamente elevar a tensão, o que exige
Ettore Chiereguini
respostas rápidas para conseguir a imagem
que melhor traduz o acontecimento. Foi assim
no dia 20 de novembro de 2020 em São
Paulo (SP), durante a cobertura que Ettore
Chiereguini fazia da Marcha da Consciência
Negra para a agência Agif. que havia um corredor vazio, por onde poderia Desespero da
Os manifestantes caminharam pela acessar o foco da ação por outro ângulo. Ao funcionária do
Avenida Paulista e depois desceram a Rua chegar no setor de perfumaria, onde ocorria o Carrefour em
incêndio, ele se deparou com uma funcionária São Paulo (SP)
Pamplona em direção ao bairro Jardim
com o ataque à
Paulista. Invadiram uma unidade do do Carrefour que pegou o extintor de incêndio loja que gerou
supermercado Carrefour dentro de um e gritava desesperada com aquela situação: um pequeno
shopping e atearam fogo em produtos e “Não é assim que se faz!”. incêndio
prateleiras. A indignação popular em relação “Arrisquei um ângulo mais perto para fazer
ao supermercado foi causada pelo homicídio uma foto mais próxima da ação, foi bem forte
de João Alberto Freitas, homem negro a cena e o ato também. Acho que isso deixa
espancado e morto por dois seguranças em bem óbvio o que está acontecendo aqui no
uma unidade do Carrefour em Porto Alegre Brasil em relação à violência contra os negros.
(RS) na noite do dia anterior. A galera vem mostrando indignação e quer
Ao entrar no supermercado invadido e uma mudança mesmo. Não dá para ficar
observar as chamas, Chiereguini percebeu assim”, resume Chiereguini.
12
concurso
João Coutinho
No alto, uma
das imagens
pré-selecionadas
do fotógrafo
português João
Coutinho; ao
lado, imagem de
João Lebrão para
a subcategoria
Cena de Rua
André Zumak
Parque Nacional da Chapada dos
Veadeiros, que mostra um campo de
chuveirinhos banhado pelo Sol que
se esconde ao fundo.
Também chamaram muito
Joana Verdial
a atenção nessa fase inicial do
concurso as imagens Pescador chinês,
de Joana Verdial, na subcategoria
Documental; Barra Funda, feita em
uma rua do bairro homônimo em
São Paulo (SP) por João Lebrão
na subcategoria Cena de Rua; e
o registro de um par de tuiuiús
levantando voo na Baía do Taquaral,
no Pantanal, feito por André Zumak,
na subcategoria Natureza.
Na categoria Ensaio, na
subcategoria Retrato, Ale Ruaro
Miriam Ramalho
Ale Ruaro
Acima, imagem de Miriam Ramalho para a subcategoria Retrato;
ao lado, uma das fotos do ensaio Trabalhadores, de Ale Ruaro
Daniel Machado
Alexandre Martins
Acima, duas imagens de se destacou ao abordar os reflexos da O Grande Prêmio Fotografe 2021
ensaios em P&B pré- pandemia com a produção Trabalhadores tem inscrições abertas até o dia 31
-selecionados: Vestígios Essenciais, que foca nas atividades de maio de 2021 e publica os pré-
(à esq.), de Alexandre fundamentais para o combate à covid-19 e -selecionados em fluxo contínuo no site
Martins, e AgroCultura,
de Daniel Machado para garantir que medidas de distanciamento e nas redes sociais de Fotografe. Após
social pudessem ser adotadas. essa fase, serão apontados 60 trabalhos
Alexandre Martins teve dois ensaios finalistas, que serão avaliados por uma
pré-selecionados na subcategoria Cena Comissão Julgadora composta de sete
de Rua, com imagens captadas em Ouro membros. Desse julgamento, sairão
As inscrições para Preto (MG) em filme P&B: Vestígios, que 30 vencedores, sendo que dois deles,
o Grande Prêmio explora as sombras, e Eu em Minas de um Ensaio e uma Imagem Destacada,
Fotografe estarão mim, que busca exprimir a sensação receberão o troféu Grande Prêmio
de ser ouro-pretano. Na subcategoria Fotografe 2021. Os demais vencedores
abertas até 31 de Documental, Daniel Machado também serão premiados com medalhas de ouro,
maio de 2021 e teve dois ensaios pré-selecionados: prata e bronze. Todos os vencedores
todas as imagens AgroCultura, registro da vida rural e da farão parte de uma exposição a ser
agricultura familiar na região de Joinville realizada em São Paulo (SP), prevista para
pré-selecionadas (SC); e De à Cavalo – 400 km pela Coxilha agosto de 2021. Confira os detalhes do
serão divulgadas Rica, que resgata tradições dos tempos regulamento na página fotografemelhor.
no site da revista dos tropeiros na região de Lages (SC). com.br/premio/regulamento.
18
O bookzine com portfólio
de Orlando Azevedo é o
terceiro volume da série
19
Fotojornalismo
O boxeador brasileiro
Eder Jofre vence por
nocaute o irlandês
Johnny Caldwell no
Ginásio do Ibirapuera,
em São Paulo (SP)...
Fotos: Sérgio Jorge
Sérgio Jorge
Mestre de olhar versátil
Vítima da covid-19, o fotógrafo ainda estava na ativa aos 83 anos em
Amparo (SP), sua cidade natal, onde era presidente do fotoclube local
Por Sérgio Branco
20
F oi no acanhado Foto Cine Clube
de Amparo (SP), em 1952,
que Sérgio Jorge, aos 15 anos,
descobriu o que desejava ser no futuro.
A atração pela fotografia começou pelos
olhos e depois atiçou outros sentidos: o
olfato, graças ao cheiro dos químicos do
laboratório, e o tato, devido ao trabalho
manual de revelação e ampliação. A
mágica da fotografia na penumbra do
laboratório penetrou como um vírus
na corrente sanguínea do adolescente.
Naquele momento, a família perdia
um futuro advogado, profissão do pai
que parecia ser o destino do menino,
e ganhava meio a contragosto um
fotógrafo. Não apena mais um. Um
profissional que entraria para a galeria dos
grandes nomes da fotografia brasileira.
Apesar de a trajetória de Sérgio Jorge
ter sido marcada pelo fato de ser o primeiro
fotógrafo a conquistar o Prêmio Esso de
Jornalismo, em 1961, aos 24 anos, ele fez
muito mais do que isso durante a longeva
carreira. Não havia assunto que seu olhar
versátil não fotografasse, da moda de
Denner e Clodovil ao milésimo gol do Pelé;
da inauguração de Brasília (DF) às primeiras
corridas no Autódromo de Interlagos; da
inauguração da estação de pesquisas do
Brasil no Polo Sul à construção da rodovia
Belém-Brasília; da morte do guerrilheiro
Carlos Marighella às vitórias de Eder Jofre
no boxe. Foi o expoente de uma geração de
ouro nas extintas revistas Manchete e Fatos
& Fotos, da Editora Bloch, e depois passou a
mestre, adestrando dezenas de aprendizes,
como um dos criadores e primeiro diretor
do famoso Estúdio Abril – muitos deles são
hoje nomes consagrados da fotografia.
Elisário de Castro Negrão, fotógrafo dono
da Casa Fotográfica em Amparo, foi quem
lhe deu o primeiro emprego. Dele se tornou
aprendiz para forjar conhecimento técnico
e desenvolvimento do olhar. Uniu essas
virtudes a um talento natural para captar
imagens do cotidiano. Quando sentiu que
era o momento, deixou a pequena cidade
natal para se aventurar em São Paulo. Com
uma recomendação de Negrão, foi bater na
porta da redação do jornal O Dia. Saiu de lá
com o primeiro emprego.
Esperto, criativo, eficiente e despachado,
como deve ser um bom repórter fotográfico, uma espécie de cronista visual, produzindo No alto e acima,
logo foi notado pela concorrência. Recebeu imagens marcantes em enquadramentos ensaio de moda com o
costureiro Clodovil, em
um convite para integrar a equipe dos jornais arrojados. Essas características de seu trabalho começo de carreira, para
A Gazeta e A Gazeta Esportiva. Aceitou e deu não passavam despercebidas e logo o jovem a Manchete: não havia
o primeiro passo importante na carreira. Sérgio Jorge ganhou o respeito e a admiração assunto que Sérgio
Havia nele um dom para se colocar como de fotojornalistas paulistanos da velha guarda. Jorge não fotografasse
Ricardo Beccari
Acima, Sérgio Jorge em 2019; ao lado,
registro de uma expedição brasileira
ao Polo Sul, hoje mais conhecido com
Antártica, nos anos 1980
O laçador, um anônimo jornalismo brasileiro, existia desde Ele examina a foto pela enésima
funcionário da Prefeitura de São 1955, mas só para textos. Sérgio vez e conclui que o laçador já deve
Paulo, olha para a câmera com Jorge inaugurou a era das imagens ter morrido e que o menino – ele
certo ar sádico. A falta dos dentes premiadas com um comovente e se esforça, mas não se lembra do
da frente na parte superior da boca clássico flagrante de rua. nome nem da idade – talvez esteja
e as sobrancelhas que se juntam,
parecendo uma só, ajudam a
reforçar uma imagem diabólica. O
vira-lata por ele laçado se contorce
em uma tentativa vã de fuga. O
menino, dono do cachorro, atraca-
-se a um pedaço da corda, finca
os pés descalços no chão e grita,
desesperado, para que o homem da
carrocinha não leve o amigo, a quem
deu o nome de Piloto.
Do outro lado do visor da câmera,
Sérgio Jorge registra a cena, a mais
comovente da reportagem que vinha
fazendo há três dias sobre a caça
de cachorros pelas ruas paulistanas
para a revista Manchete, que logo
iria às bancas, naquele novembro
de 1960. Como o fotógrafo estava
familiarizado com os funcionários
do setor de Limpeza Pública (hoje
Centro de Controle de Zoonoses),
o laçador não mostra qualquer
constrangimento ao ser flagrado.
Assim, Sérgio Jorge faria toda
a sequência da pequena batalha
travada em uma rua da Freguesia
do Ó, bairro da zona norte de São
Paulo. E isso inclui o choro do menino
implorando ao algoz de Piloto que
não o transformasse em sabão – algo
que se acreditava, naquela época, que
ocorria com os animais capturados
pela temida carrocinha.
Hoje, tanto tempo depois,
converso com Sérgio Jorge sobre o
episódio. Ele olha para a foto, sorri,
nostálgico, pontuando que aquele
foi o primeiro trabalho a receber o
Prêmio Esso de Fotografia, em 1961.
A premiação, a mais importante do
Tadeu Vilani
pandemia, em foto colorida de
Tadeu Vilani para Fotografe
escolha
A opção entre
cor e P&B ficou
mais fácil na era
Márcio Vasconcelos
Apesar da sua forte ligação com estou mais a fim de fazer em P&B, então, Márcio Vasconcelos em
a cor, Vasconcelos sente-se à vontade busco um assunto no qual esse formato se imagens P&B: ciclista
fotografando em P&B. Para ele, o que encaixa melhor", explica. mascarado em São Luís
(no alto) e imagem
define a escolha é o tema. "Sinto facilidade Ainda que todos os trabalhos que ele do ensaio Espíritos de
e o mesmo prazer em fotografar nas duas publicou em livros tenham sido coloridos, Senzalas (acima)
linguagens, mas é sempre a temática que seu primeiro projeto, que resultou em uma
se sobrepõe à decisão. Tem época que exposição, Filhos da Lua, foi feito em P&B.
Vasconcelos
argumenta que
a escolha pela
cor ou pelo Nesse ensaio documental, ele passou no monitor da câmera. Ele mesmo faz o
P&B nos seus vários dias entre os albinos da Ilha dos tratamento das imagens e não usa nenhum
trabalhos está Lençóis, no litoral do Maranhão, para recurso muito sofisticado, apenas ajustes
desenvolver o ensaio. básicos que se adéquam ao estilo de cada
ligada ao tema e trabalho. Prefere imagens saturadas e
que isso definiu Formas de ver a cena contrastadas na maioria das vezes.
Após decidir que um trabalho será O ensaio Espíritos das Senzalas nasceu
seus projetos em P&B, Vasconcelos fotografa com do envolvimento de Vasconcelos com a
mais elogiados, outros olhos e passa a “ver tudo em tons cultura herdada da África com a vinda
todos coloridos de cinza”, tendo especial atenção para a de escravos e que se faz muito presente
incidência de luzes e sombras. A captura é no Maranhão. Nas fazendas e minas,
feita em cor e a conversão é realizada na eles trabalhavam de sol a sol e dormiam
pós-produção, pois sempre haverá fotos acorrentados em senzalas, barracões
que rendem melhor em cor e são guardadas escuros, úmidos e com higiene precária.
em seus arquivos para outras utilizações “O ensaio pretende produzir imagens que
– as imagens são sempre vistas coloridas mostrem o silêncio, o vazio, o invisível, o
Divulgação
esquecimento. Desde a criação da estudo Les Couleurs en Photographie.
fotografia, já se perseguia o objetivo Já as experiências da inglesa Sarah
de mostrar as cores do mundo. Angelina Acland (1849-1930) com
Nessa busca se destacaram nomes fotografia colorida foram iniciadas em em 1935 pela Kodak em diversos
como James Clerk Maxwell, Thomas 1899. O trabalho inicial foi realizado formatos para fotografia e cinema
Sutton, Louis Ducos du Hauron, usando o processo de Maxwell, porém (8 mm, 16 mm e 35 mm). Contudo,
Sarah Angelina Acland e Sergey mais evoluído, em que três imagens esse diapositivo usava o processo de
Prokudin-Gorsky. são captadas em separado com revelação K-14, tão complexo que
Desses pioneiros da fotografia filtros vermelho, verde e azul e depois apenas 25 laboratórios no mundo
colorida, o escocês James Clerk transformadas em uma só, colorida. eram capazes de fazer a revelação –
Maxwell foi o mais genial. Cientista O russo Sergey Prokudin- o último foi o laboratório Dwayne's
do século 19 com mais influência -Gorsky (1863-1944) fez estudos Phot, no Kansas, EUA, que ofereceu
sobre a física do século 20, Maxwell com cientistas de renome em São o serviço até o final de 2010.
direcionou suas pesquisas na Petersburgo, Berlim e Paris para O passo fundamental para o
percepção de cores pelo olho desenvolver técnicas para a fotografia início da popularização do filme
humano e inventou um filtro colorida. Como resultado, conseguiu colorido foi o lançamento do
de cores triplo (que mais tarde as primeiras patentes de filmes Kodacolor, em 1941, que, ao contrário
resultaria no sistema RGB). Com diapositivos coloridos. Essas pesquisas do Kodachrome, era um negativo
base em estudos da visão humana e incentivaram os famosos irmãos colorido de fácil processamento.
da óptica, concluiu que era possível Lumière, Auguste Marie (1862-1954) O novo produto simplificou as
produzir fotografia em cores e Louis Jean (1864-1948), conhecidos ampliações em papel e reduziu
sobrepondo três imagens obtidas como “os pais do cinema”, a lançar o o custo para o consumidor –
com filtros vermelho, verde e azul. primeiro filme colorido, o Autochrome, mas ainda era bem mais caro se
Para comprovar essa tese, exibiu que chegou ao mercado em 1907. comparado com o P&B. Por isso,
em 1861, durante uma palestra, a O Autochrome se destacou como somente com a queda de preços
primeira imagem colorida que se o principal processo de fotografia do produto e dos serviços de
tem notícia, feita pelo fotógrafo colorida no início do século 20 por laboratório nos anos 1970, aliada a
inglês Thomas Sutton conforme ser o primeiro comercialmente uma melhoria na sensibilidade do
suas orientações. viável. Mas o negócio dos irmãos negativo colorido, é que a cor foi
O francês Louis Ducos du Lumière começou a dar errado com o ganhando cada vez mais espaço no
Hauron (1837-1920) se dedicou lançamento do primeiro filme colorido mercado entre milhões de fotógrafos
à criação de formas práticas de moderno, o Kodachrome, introduzido entusiastas mundo afora.
Carga poética
Orlando Azevedo, que é próximo
personagem na série Portfólio Fotografe
(veja mais na pág. 18), concorda com
Márcio Vasconcelos quanto à definição
da linguagem: o tema é fundamental para
Irmãs vestidas com apresentou os livros do fotógrafo indiano decidir se um trabalho será realizado em
as cores da bandeira Raghu Hai, outra influência definitiva nesse cor ou em P&B.
brasileira: Orlando projeto", informa o fotógrafo gaúcho. Autor de um projeto grandioso,
Azevedo prefere retratos
em P&B, mas nesse caso intitulado Coração do Brasil, que gerou
é importante preservar a ética e compromisso uma trilogia de livros de fotografia tanto
informação das cores Vilani atuou como fotojornalista em cor como em P&B, Azevedo acredita
do jornal gaúcho Zero Hora de 1996 que é até possível mesclar os dois em um
até o início de 2020. Agora, passou a ensaio ou documentário, algo que deve
se dedicar exclusivamente ao trabalho ser feito com muito cuidado, se possível
M uitas vezes, um
mero ajuste técnico
pode aprimorar
a maneira como você produz
uma imagem. Ao sugerir um
na fotografia as cores seduzem
o olhar instantaneamente a
ponto de ocultar o modo de
enxergar texturas, profundidades
e sombras. Com isso, elas podem
P&B pode aproveitar essa destreza
de converter o olhar para o modo
monocromático, entretanto, defende
Wille, esse privilégio também pode
se estender aos que nunca tocaram
modo diferente de visualização até camuflar uma composição em uma câmera analógica.
na câmera, com uma estratégia desfavorável. Já a imagem em Graças à tecnologia, atualmente,
muito simples, o fotógrafo Brasilio P&B necessita integralmente do grande parte das câmeras digitais
Wille propõe mudar o modo de trabalho de organização do olhar DSLRs conta com dois tipos
enxergar o mundo por meio da para ver a composição de maneira de arquivo: JPEG e RAW, além
câmera usando a visualização eficiente. Um fotógrafo que estava da função de modo de disparo
monocromática. Segundo ele, acostumado a trabalhar com filme monocromático e configurações
de visualização “ao vivo” e no “Claro que fazer a conversão de olhar, distinguindo melhor brilhos
display de LCD. Com esses cor para o preto e branco na pós- e sombras, tons de peles reais, sem
ajustes, segundo Brasilio Wille, a -produção proporciona uma o compromisso de precisar passar
visualização no monitor aparecerá gama enorme de ajustes. No horas à frente do computador
em preto e branco, enquanto o entanto, se você aprende a ver buscando maneiras sofisticadas
arquivo em RAW manterá todas as o mundo de outra maneira, em e complicadas de converter a
informações da imagem colorida. tons de cinza, vivencia um novo imagem”, explica o especialista.
Brasilio Wille defende que fotografar visualizando a imagem em P&B organiza O ajuste
o olhar e permite enxergar melhor texturas, profundidades e sombras
na câmera
Começar a fotografar colorido
visualizando em preto e branco é
muito simples. O primeiro passo
sugerido por Wille é ajustar o
arquivo para captura em RAW.
Em seguida, para uma melhor
qualidade, é importante definir
o equilíbrio de branco (White
Balance). Depois, basta ajustar o
controle de imagem na câmera
para visualização monocromática
– na Nikon esse ajuste no menu
é conhecido como Controle de
Imagem (Picture Control); já na
Canon é apresentado como Estilo
de Imagem (Picture Style).
Outra dica do expert é trabalhar
com a visualização Live View
(Imagem ao Vivo), pois dessa
maneira você poderá observar
como reagem as linhas, os tons e
as texturas na hora de enquadrar e
compor a cena. Se quiser, poderá
ainda ativar as linhas de grade da
Regra dos Terços e isso ajudará a
equilibrar ainda mais a composição.
O efeito do
filtro verde
Para obter cores mais vívidas e
um tom de pele atraente, Brasilio
Wille ensina um segredo que deve
ser ajustado diretamente no perfil
da câmera: o uso de um filtro
verde digital, que equivaleria a
um filtro físico, como os utilizados
antigamente acoplados à lente para
fotografar com filme P&B.
Acesse o menu da câmera,
vá até Estilo de Imagem (Picture
Style, na Canon, ou Picture
Control, na Nikon) e coloque em
monocromático (Monochrome). Em
seguida, acesse Detail set e depois
Menu de
em Filter effect, selecionando a
Filter effect
opção Green (verde). “Esse filtro da Canon:
ajuda a melhorar a textura e os as opções
brilhos da pele, proporcionando são os filtros
acabamento mais perfeito, tradicionais
principalmente nos tons de pele. usados na
Além disso, em fotos de natureza fotografia
analógica:
ele colabora para que cenas que vermelho,
contenham folhas e vegetação em laranja,
geral fiquem com o tom de verde amarelo,
muito mais vivo”, explica. verde e azul
Converter
cor para P&B
Na pós-produção, existem
muitas maneiras de converter uma
imagem colorida para preto e
branco (veja mais sobre esse tema
na edição 287 de Fotografe). O
especialista Brasilio Wille ensina
algumas técnicas usadas por ele em
passos muito simples tendo como
base o Photoshop. Acompanhe.
A imagem original
com a pós-produção
trabalhada na cor
Depois
Fotos: Brasilio Wille
A mesma imagem
convertida para P&B
pelo método usado
por Brasilio Wille
42
Antes
Imagem original
capturada em
formato RAW
P&B por camada de ajuste para os ajustes
de cor
Depois
Imagem
convertida
para P&B pelo
processo de
camadas
O tom do
casamento
Cor ou P&B nos registros matrimoniais? Dois especialistas comentam os critérios
levados em conta na hora de decidir qual é o ideal para cada situação
Por Livia Capeli
Não há uma
Ao lado, fotografia de
Anderson Marques e, regra para
acima, de Isis Lacombe: adotar cor
as imagens coloridas
ainda são dominantes nos ou P&B em
álbuns de casamento fotografia de
casamento,
profissionais fazem diversos tipos de fotos: segundo os
retratos posados, flagrantes ao modo de especialistas,
fotojornalismo, imagens criativas, still da
decoração e das alianças, entre outros mas é preciso
temas. Para imagens com uma "pegada ter bom senso
mais romântica", o P&B pode ser perfeito; quando os dois
Anderson Marques
S
escolhe um conceito – logicamente a
orrisos espontâneos, lágrimas de decisão, além de considerar o estilo,
emoção, sentimentos aflorados, depende de outros motivos, como
sem contar a nuance das flores, momento em que a foto foi feita,
a matiz dos vestidos das madrinhas e pesquisas realizadas, estação do ano, tipo
a paleta tons da decoração. Fotografia de tendência e até para atender a um
de casamento é repleta de detalhes pedido especial do cliente. Para fotógrafos
e um desafio para o fotógrafo, que que ainda hesitam na escolha e não
precisa decidir entre duas opções para conseguem se decidir sobre se entrega
contar a história de um casal por meio um trabalho em P&B ou colorido para o
de imagens: cor ou P&B? Em tudo que cliente, Fotografe, com a ajuda de dois
envolve o registro dos noivos, desde os profissionais renomados, a catarinense
ensaios prévios de casais e o trash the Isis Lacombe e o brasiliense Anderson
dress posterior, passando pela celebração Marques, listou algumas premissas que
do matrimônio e pela festa, todos os podem ajudar na decisão. Veja a seguir.
Isis Lacombe
Eu tenho
meus próprios
presets para o P&B
e acho importante
que todo fotógrafo
Fotos: Anderson Marques
defina um estilo de
trabalho nessa
linguagem
Anderson Marques
dos sorrisos às lágrimas, entre as em cor capturando em RAW, e na fotógrafo se preocupar com essa
tantas emoções de um cassamento. pós-produção realiza a conversão identidade no trabalho em P&B para
A troca de alianças, a hora do sim, conforme cada imagem. Talvez o definir um estilo”, comenta.
a entrega da noiva no altar pelo pai daltonismo tenha contribuído para Além de ser uma decisão que
merecem destaque em P&B. Se a a linguagem que ele usa no Adobe leva em conta registros de emoção,
ideia é apostar no peso da emoção, Lightroom, onde ele criou os próprios a fotografia P&B em casamento
vale a pena deixar esses momentos presets para ter um P&B mais refinado. geralmenre oferece uma perspectiva
convertidos aos tons de cinza. "Uso uma configuração para mais artística e tem o poder de
Anderson Marques procura a imagem colorida e outra para valorizar uma imagem que, se
sempre valorizar essa carga emotiva. P&B, com padrões de sombras e colorida, não teria tanta graça, diz
Detalhe: daltônico, ele confunde tons contrastes. Existem imagens P&B Marques. Outra vantagem é que uma
de azul, roxo e magenta, trocando mais acinzentadas e outras mais imagem em P&B pode ser vista como
pelo cinza-claro. Costuma fotografar contrastadas. Acho importante o atemporal e mais elegante.
estudo de cor para seus uma foto de tom frio com outra de
ensaios com noivos tom quente. É preciso haver unidade.
51
Fotografia de natureza
paisagem
Para Monteiro,
registrar cenários
naturais é mais
difícil do que
clicar bichos
Família de veados-campeiros no Cerrado goiano: trabalhar o contraste é um desafio em fotos de natureza em P&B
A natureza em P&B
de André Monteiro
O fotógrafo carioca, fã declarado de Ansel Adams, estabeleceu-se em Goiás para
trabalhar como cartógrafo e acabou se apaixonando pela beleza natural do Cerrado
Por Shel Almeida
pouco, a ave decola e começa a voar. Esse adequado, facilita mesmo com todos os A vastidão dos cenários no
é o momento ideal, pois consigo, com a inconvenientes, pois você tem recursos Cerrado (acima) aumenta
maior abertura que a lente permitir, manter para se aproximar a uma distância que o grau de dificuldade em
apenas a ave em foco”, explica. não assuste o animal”, pondera. Já na imagens de paisagem,
alega o fotógrafo; abaixo,
Muitas das dificuldades técnicas fotografia de paisagem Monteiro afirma emas, que dão nome ao
Monteiro aprendeu a resolver com a que é muito difícil conseguir transmitir a Parque Nacional em Goiás
prática. Para ele, a fotografia de paisagem beleza do que você está vendo. “É preciso
é mais difícil do que a de vida selvagem, mais reflexão, muito mais cuidado e
pois imagens de bichos têm uma tempo para analisar a cena. Exige ainda
dependência maior do equipamento. visitas ao local, já que, se você descobre
“Se você não tem uma tele longa, vai um cenário maravilhoso, precisa voltar lá
dificultar muito. Mas, com o equipamento em diferentes horas do dia”, comenta.
53
Fotografia de natureza
As imensas
áreas planas
do Cerrado são
mais valorizadas
nas imagens
De olho no
em P&B com tempo nublado
um céu mais
dramático, com Para Monteiro, um fotógrafo para ter Algo que ele aprendeu ao fotografar
êxito em imagens de paisagem precisa paisagens no Cerrado foi desprezar um
nuvens escuras de conhecimento técnico, equipamento atraente dia de Sol com céu azul. “Uma
de qualidade (sendo crucial um tripé de das maiores dificuldades para conseguir
alto nível) e olhar bem desenvolvido – fotos de paisagem em P&B que tenham
que para alguns, segundo ele, é inato, dramaticidade, profundidade e perspectiva
enquanto para outros é necessário é o céu”, diz. Explica que, como o Cerrado é
treinamento. “Se você tiver dois dos três caracterizado por grandes espaços físicos,
requisitos, raramente vai fazer um trabalho quanto mais nublado estiver o dia, melhor.
de excelência”, opina. “Às vezes, você sai a campo esperando
fotos fantásticas e elas saem com -Oeste, que vai de outubro a maio. a natureza em P&B é a falta de
aquele céu cinza, sem graça. Aprendi Já o período de seca, de junho a contraste. “Nas fotos de animais,
que as fotos de natureza e paisagem setembro, é a época das grandes por exemplo, se o fundo é de mata
em P&B que mais se destacam floradas de ipês-amarelos e roxos, fechada, complica, porque para
são as feitas no período de chuvas, com céu muito azul. “Aí é mais dar destaque ao animal preciso de
com nuvens muito carregadas, apropriado para se trabalhar o uso pouca profundidade de campo. Aí,
tempestades”, ensina. da cor, mas, mesmo assim, ainda é necessário separar muito bem o
Por isso, ele sempre procura faço alguma coisa em P&B nesse assunto principal no enquadramento,
fotografar paisagens durante o período”, conta. Ele lembra que e isso se torna mais difícil com o P&B
período de chuva no Centro- um fator que dificulta registrar por causa do contraste”, comenta.
Imagens atemporais
Foi por influência de Ansel exploradas. O fotógrafo conta que, Monteiro tem em Luiz Claudio
Adams (1902-1984) que ele na abertura de uma das exposições Marigo e Araquém Alcântara as
começou a fazer experimentações que fez em Goiânia (GO), um principais inspirações, além de
em P&B – ele fotografa em arquivo senhor que observava as obras veio Sebastião Salgado, cujo trabalho
RAW e depois converte na pós- até ele para dizer que via as cores ele estudou bastante para tentar
-produção. “O meu material é feito, nas fotos, o que foi uma surpresa entender como ele atingiu
em sua grande maioria, dentro para o autor. “A leitura visual tecnicamente a perfeição para
dos limites do Parque Nacional do P&B traz uma percepção tão reprodução de imagens em P&B.
das Emas, a maior unidade de profunda que as pessoas conseguem Cita ainda o carioca Ary Bassous,
conservação do bioma Cerrado enxergar cor, ainda que de maneira premiado no maior concurso de
no mundo, declarado Patrimônio subjetiva. As imagens em tons de fotografia de natureza do mundo,
Natural da Humanidade pela cinza carregam uma emotividade o Wildlife Photographer of the Year,
Unesco”, informa. singular, que faz relação com organizado pelo Museu de História
Para o público em geral, não o passado, o saudosismo e, Natural de Londres. Outros dos
habituado com a técnica fotográfica, principalmente, a perenidade. quais ele admira as obras a distância,
o tipo de trabalho que André Parecem atemporais”, analisa. embora não sejam focadas em P&B,
Monteiro realiza pode ser uma Adams é a maior referência, são João Marcos Rosa, André Dib e
descoberta de sensibilidades pouco mas não é a única. No Brasil, André Luciano Candisani.
Carlos Moreira passou a fotografar com negativo colorido nos anos 1980, nova fase em que fez estudos de linguagem
Um mestre
solto nas ruas Por Érico Elias
Conheça a
trajetória de
Carlos Moreira,
A ndar pelas ruas à caça de
imagens, primeiro inspirado no
francês Henri Cartier-Bresson e
depois confiante no próprio olhar, foi o
que fez Carlos Moreira ao longo de seis
Porto Seguro, na região central da
capital paulista. Foi seu último grande
momento: no dia 11 de junho de 2020,
ele encerrou a luta pela vida aos 84 anos.
Deixou um grande acervo, que está
que produziu décadas. Paulistano, explorou o centro sendo organizado por Regina Martins,
uma extensa obra da cidade de São Paulo como poucos. ex-aluna que virou sócia em um estúdio
em P&B e cor, Mas também buscou seus flagrantes de funcionava como escola de fotografia.
rua em cidades próximas, como Santos Trata-se de um conjunto de cerca de
aliando domínio e Guarujá, no litoral paulista, e em várias 80 mil negativos P&B e 150 mil negativos
da composição outras por onde viajou. em cor, além de arquivos em CDs,
Já convalescendo de uma doença, o DVDs e HDs externos com pelo menos
à captura de fotógrafo ganhou uma grande exposição o dobro de imagens – a maior parte,
instantes decisivos retrospectiva em 2019, no Centro Cultural inédita. Regina espera confiar a guarda,
novo ângulo
Nascido em 1936, Moreira
formou-se em Economia em 1964,
mas não seguiu carreira na área –
59
Cultura
suavidade
As imagens em
cor de Moreira têm
tons suaves típicos
de negativo
colorido
a guinada
para a cor
A mudança se consolidou a partir de
1989: por causa de uma alergia desenvolvida
aos químicos de laboratório P&B, Carlos
Moreira passou a fotografar usando
negativos coloridos, que mandava revelar
em minilabs. “Ele tinha um olhar precioso
para cor. Algumas vezes, em um estudo de
linguagem, imprimia em P&B as imagens
feitas em cor; a beleza e a força da imagem
permaneciam”, comenta Regina Martins.
Com a chegada da era digital a partir dos
anos 2000, Moreira passou a usar o novo
suporte, mas as mudanças de abordagem
na fotografia de cenas de rua que ocorreram
foram por razões internas dele, e não
condicionadas à novidade do equipamento
– Regina informa que grande parte dessa
produção mais recente permanece inédita e
inexplorada; apenas uma fração do material
veio a público com a exposição de 2019.
62
Fotos: Carlos Moreira
63
Galeria Fotografe
O olhar versátil de um
português-paranaense
A
lém de fotógrafo, Orlando Azevedo Brasil ainda foram editadas para o mais recente
também teve atuação significativa livro, Mestiço-Retrato do Brasil (2019).
como produtor cultural, tendo sido Orlando Azevedo tem obras em grandes
diretor de Artes Visuais da Fundação Cultural de centros de fotografia e museus, nacionais e
Curitiba de 1992 a 1996. Nesse período, criou a internacionais, como International Center of
Bienal de Fotografia Cidade de Curitiba, com três Photography (Nova York, EUA), Centre Georges
edições, tida como o embrião dos festivais de Pompidou (Paris, França), Museu Francês de
fotografia que se consolidaram nos anos 2000. Fotografia (Paris, França), Fototeca de Cuba (Havana,
Foram quatro anos envolvidos com exposições Cuba), Centro Cultural da Empresa Portuguesa de
e eventos culturais, o que levou também à Águas Livres (Lisboa, Portugal), Museu de Arte de
inauguração do Museu de Fotografia Cidade de São Paulo (MASP), Museu de Arte Moderna de
Curitiba, o primeiro da América do Sul. São Paulo (MAM), Instituto Cultural Itaú, Biblioteca
Como fotógrafo, lançou o primeiro livro em Nacional do Rio de Janeiro, Museu de Fotografia
1987: Fitas e Bandeiras Venske. Depois vieram Cidade de Curitiba, Museu Afro Brasileiro de São
Foz do Iguaçu, Nossa Terra (1988), Jardim de Paulo, Museu Oscar Niemeyer de Curitiba, além de
Anões (1994), Iguaçu (2002), Sudarium (2004) fazer parte de várias coleções locais e estrangeiras.
e Brennand (2004). Mas o grande projeto é Em 1998, foi o artista português de
a Expedição Coração do Brasil (2002), que destaque nas artes visuais residente no Brasil
deu origem à trilogia Terra, Homem e Mito, e, em 2007, um dos três finalistas mundiais no
resultado de uma viagem de 70 mil km por campo das artes de portugueses radicados no
todas as regiões do Brasil em 14 meses. exterior. Desde 1985 faz parte da Enciclopédia
Na tuba, reflexos
O projeto Coração do Brasil ainda deu Internacional de Fotógrafos, edição suíça em de uma Festa
origem aos livros Paraná (2008) e Paranaguá- parceria com a Casa Europeia de Fotografia, do Divino no
-Lagamar (2012). Imagens dessa jornada pelo com sede em Paris, França. interior de Goiás
Galeria Fotografe
O olhar versátil de um
português-paranaense
A
lém de fotógrafo, Orlando Azevedo Brasil ainda foram editadas para o mais recente
também teve atuação significativa livro, Mestiço-Retrato do Brasil (2019).
como produtor cultural, tendo sido Orlando Azevedo tem obras em grandes
diretor de Artes Visuais da Fundação Cultural de centros de fotografia e museus, nacionais e
Curitiba de 1992 a 1996. Nesse período, criou a internacionais, como International Center of
Bienal de Fotografia Cidade de Curitiba, com três Photography (Nova York, EUA), Centre Georges
edições, tida como o embrião dos festivais de Pompidou (Paris, França), Museu Francês de
fotografia que se consolidaram nos anos 2000. Fotografia (Paris, França), Fototeca de Cuba (Havana,
Foram quatro anos envolvidos com exposições Cuba), Centro Cultural da Empresa Portuguesa de
e eventos culturais, o que levou também à Águas Livres (Lisboa, Portugal), Museu de Arte de
inauguração do Museu de Fotografia Cidade de São Paulo (MASP), Museu de Arte Moderna de
Curitiba, o primeiro da América do Sul. São Paulo (MAM), Instituto Cultural Itaú, Biblioteca
Como fotógrafo, lançou o primeiro livro em Nacional do Rio de Janeiro, Museu de Fotografia
1987: Fitas e Bandeiras Venske. Depois vieram Cidade de Curitiba, Museu Afro Brasileiro de São
Foz do Iguaçu, Nossa Terra (1988), Jardim de Paulo, Museu Oscar Niemeyer de Curitiba, além de
Anões (1994), Iguaçu (2002), Sudarium (2004) fazer parte de várias coleções locais e estrangeiras.
e Brennand (2004). Mas o grande projeto é Em 1998, foi o artista português de
a Expedição Coração do Brasil (2002), que destaque nas artes visuais residente no Brasil
deu origem à trilogia Terra, Homem e Mito, e, em 2007, um dos três finalistas mundiais no
resultado de uma viagem de 70 mil km por campo das artes de portugueses radicados no
todas as regiões do Brasil em 14 meses. exterior. Desde 1985 faz parte da Enciclopédia
O projeto Coração do Brasil ainda deu Internacional de Fotógrafos, edição suíça em
origem aos livros Paraná (2008) e Paranaguá- parceria com a Casa Europeia de Fotografia,
-Lagamar (2012). Imagens dessa jornada pelo com sede em Paris, França.
Avô e neto no
litoral do Paraná:
imagem faz
parte do projeto
Coração do Brasil