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À descoberta de uma casta única

Fiel ao seu espírito experimentalista, São Luiz Winemaker´s Collection decidiu ir mais longe.
Como tal, criou três vinhos totalmente distintos, mas com a particularidade de serem provenientes
de uma mesma casta minoritária no Douro, que se destaca pela sua raridade
e que fazemos questão de preservar.

Da casta Rufete, surge um Trio nunca antes visto, que o irá surpreender
numa edição limitada de apenas 1.100 caixas com os três vinhos.
Um Tinto leve e fresco de cor granada, com aroma a frutos do bosque e com especiarias finas
enaltecidas pelo estágio em cascos de castanheiro. Um Branco com aroma complexo, fresco e floral,
elegante e cremoso, com um toque de líchias e acidez viva no final. Um Rosé de cor salmão pálido,
fresco, longo e complexo, com aromas florais doces, que nos lembram pétalas de rosas e cerejas.

Deixe-se envolver por uma trilogia inédita, marcante e rara.

sãoluiz.pt SEJA RESPONSÁVEL. BEBA COM MODERAÇÃO.


SUMÁRIO

6 EDITORIAL

OPINIÃO
10 Sarah Ahmed
14 Jamie Goode
18 Bento Amaral
22 José João Santos

ESCOLHAS DO MÊS
26 Para a Mesa
28 Para a Cave
30 Altamente Recomendados
32 Boas Compras

34 PROFILE
Luís Araújo.

36 CASTA
Moscatel Roxo.

38 NOTÍCIAS

40 VINHOS E NÚMEROS
Rosé

42 VITICULTURA
Granizo, um mal com fim?

46 CERVEJAS
Tropical, hemp seed lager.

102 48 ESPIRITUOSOS
Fluère, espirituosos sem álcool.

52 ENOTURISMO

52
A Serenada.

58 ELES, OS QUE INVESTEM POR CÁ


Domínio do Açor e Quinta da Pedra Alta.

74 TEJO
Hugo Mendes e Quinta da Atela.

84 ROSÉ COM ESTÁGIO


A nobreza também em rosa.

90 UM PASSEIO PELA GUARDA


Roteiro que atravessa o que de melhor se pode ver, comer e beber.

102 TIROL DO SUL


Segredo gourmet italiano.

112 COZINHAR EM POTES DE FERRO


Experiência ímpar no Ferrugem de Renato Cunha.

118 CRÍTICA GASTRONÓMICA


Kaigi, Porto.

122 PROVA VERTICAL


Os Porto Vintage da Croft e Quinta da Roêda. 84 118
128 NOVIDADES
As novas entradas do mercado.

144 GUIA REVISTA DE VINHOS

158 EVENTOS
Douro Wine City.
UVVA, Amarante.

162 NEW AGE WINE PRODUCER


João Oliveira.

@revistadevinhos
EDITORIAL

O exemplo
do Peru
Curadores e produtores do Peixe em Lisboa por mais de uma
década, trouxemos a Portugal alguns dos melhores cozinheiros do
mundo, que enalteciam as suas origens e espelhavam as apostas
dos respetivos países. Virgílio Martinez foi um desses chefes. Não
veio sozinho, trouxe com ele uma série de produtos que represen-
tavam a biodiversidade peruana para mostrar como dialogavam
com o famoso peixe de Portugal. Esta era a essência do evento:
conhecimento e partilha. Martinez conquistou quem teve a opor-
tunidade de o ver, ouvir e provar. Fui uma dessas pessoas e passei
a acompanhar ainda mais o seu percurso e o contexto em que
ele se fazia. Em 2015, tive a oportunidade de visitar o já famoso
restaurante Central, em Lima. Aí percebi que essa experiência
gastronómica se haveria de tornar ainda mais significativa e lata,
pois vivia num contexto global e numa estratégia nacional que
via a gastronomia, os produtos locais e a identidade da cozinha
peruana como um instrumento para trabalhar a autenticidade e a
Guarda
notoriedade do destino.
Wine Fest
Há umas semanas, o Central foi eleito melhor do mundo por uma das mais cobiçadas e emblemáticas listas, A segunda edição realiza-se
a “The World's 50 Best Restaurants”, aquela que se está a tornar numa referência e numa espécie de guia de 14 a 16 de julho, na
emblemática Alameda de
espiritual para quem vive, trabalha e viaja por amor à gastronomia – e são cada vez mais esses viajantes. Esta
Santo André, na Guarda,
consagração reconhece o mérito e a visão de Virgílio Martinez e com ele, bem como com os demais que aí
com muita música,
estão – só no TOP 50 há outros três – consolida-se a posição do Peru enquanto dos destinos gastronómicos
gastronomia e novidades
mais extraordinários do planeta. dos produtores de vinho
Nesta consolidação, de um lado está a visão extraordinária de Martinez, que aqui personifica todos os chefes da Beira Interior, do Douro
que vão além de si e são capazes de criar uma filosofia inspiradora e sustentável, partilhada; do outro, uma
e do Dão. Uma organização
do Município da Guarda e
estratégia que vai muito além das portas e das mesas de um restaurante, que trabalha de forma integrada de fio
da Comissão Vitivinícola
a pavio, que vai da origem – neste caso o produto – passa pela valorização e interligação de setores – agricul-
Regional da Beira Interior,
tura, economia, educação e turismo – e termina com a projeção e promoção, consubstanciando uma estratégia com produção Essência
governamental. Company e o apoio à
Se olharmos para este TOP 50, percebemos que há nova geografia gastronómica no ar, com uma força cada
divulgação da Revista de
Vinhos.
vez maior da América Latina. Acredito que muita desta força e deste modus operandi se inspire no modelo
espanhol. Aposta na educação, e conhecimento e investigação, fortes campanhas de promoção da sua diversi-
dade de produtos e gastronomia, chefes incontornáveis, sendo o país visto como território de excelência para
quem quer fazer da gastronomia a sua vida, para quem tem na gastronomia a sua vocação. Muitos destes
chefes também vieram ao Peixe em Lisboa e ajudaram a tornar este evento uma marca, sendo aguardado por
profissionais e consumidores, ano após ano, para conhecer o que se andava a fazer por Portugal e pelo mundo.
Sabendo que tudo tem início e fim, o Peixe em Lisboa poderia ter evoluído e, se vontade houvesse, integrado
uma estratégia mais ampla, ser uma etapa na promoção de Portugal, que tem no peixe e no marisco um dos
seus mais preciosos ativos… e tantos outros tem.

Para vencer não há segredos, apenas protagonistas, visão, estratégia e vontade. E, acima de tudo, trabalho,
rigor e paixão pelo país e pelo que se faz. Portugal tem tudo – potencial, talento, protagonistas, produtos,
diversidade, produtores, chefes e cozinheiros de mão cheia… Mas união e vontade são praticamente nulas, con-
certação entre setores não existe, aposta numa educação de excelência não se vê, ao que acresce falta de visão
e incapacidade para desenhar uma estratégia sustentável, que resista à força do faz-se porque se acha que…

Nuno Guedes Vaz Pires, diretor


NUNOPIRES@ESSENCIADOVINHO.COM
EDIÇÃO Nº 404 / JULHO 2023
@NUNOGVPIRES

6 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


V I N H O D E CA PA

NESTA EDIÇÃO COM A


REVISTA DE VINHOS!
À beira de celebrar 25 anos de enologia, Rui Madeira volta a
surpreender com um vinho rosé que reflete o terroir da Beira
Interior, com vinhas instaladas a 750 metros de altitude na
Vermiosa, Figueira de Castelo Rodrigo, onde os solos graníticos
confundem-se com filões de quartzo.

VALE DE LINHA DE APOIO: (+351) 214 337 000

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JULHO

VINHO
Beyra Quartz
2022
DE CAPA
7,00 €
Beira Interior / Rosé /
Rui Roboredo Madeira
Vinhos

Elaborado com base


nas castas autóctones
Mourisco, Tinta Roriz,
Touriga Nacional e
Rufete, nasce um vinho
rosé sedutor e original,
de aroma marcadamente
mineral, frutos vermelhos,
groselhas e romãs. Na
boca apresenta uma acidez
surpreendente, com grande
volume, a denotar a origem
em altitude das uvas.
Fará as delícias das mesas
estivais.
OPINIÃO

Sarah Ahmed, jornalista e crítica de vinhos

Sarah Ahmed é uma reputada jornalista e crítica de vinhos britânica, especializada


em vinhos portugueses e australianos, no blogue "The Wine Detective".

Segredos da talha
A Wine Detective investiga a obra ‘Talha Tales,’
bem como outras revelações e exortações.

E
xiste alguma região em Portugal que Atualização do ‘Amphora Triptych’ de White,
ainda não tenha produzido vinho em ter- a obra ‘Talha Tales’ relata descobertas e teorias
racota? Provei recentemente o meu pri- recentes, incluindo algumas revelações inovadoras
meiro exemplar do Tejo, Séries Singulares que, diz White, surgiram “poucas horas antes de
Castelão 2021, da Companhia das o livro ir para a prensa”. Como se diz, compre o
Lezírias, cujos vinhos de topo impressionam. O renas- livro! Sem ‘spoilers’, podemos revelar que, em geral,
cimento desta antiga tradição parece imparável, pelo White afirma que a história da vinificação em barro
que o novo livro de Paul White é mais que oportuno. em Portugal é significativa porque “os únicos locais
“Talha Tales, Portugal’s Ancient Answer To onde as antigas técnicas de vinificação em potes de
Amphora Wines” (Amazon), explora as origens e barro sobreviveram continuamente até os tempos
a evolução da vinificação em barro no Alentejo – a modernos são a Geórgia e o Alentejo. A tradição da
sede da categoria em Portugal – colocando-a num Geórgia é mais antiga, datando de 8.000 a 10.000
contexto global e histórico. Dezassete perfis deta- anos e a do Alentejo é de cerca de 3.000 a 4.000
lhados de produtores forneceram informações sobre anos, via Roma, Fenícia e provavelmente os próprios
o terroir, castas e filosofia individual de vinificação. tartessos de Portugal antes deles”. Afinal, nem todos
As sugestivas notas de prova de Paul White incluem os caminhos levam a Roma…
resenhas do raro acervo museológico da Adega José O capítulo intitulado ‘As Castas Tradicionais da
de Sousa, que remonta a 1940. Talha’ contém mais revelações (pelo menos para
Apesar do título do livro, o autor destaca a diferença mim). White relata descobertas recentes de que
entre talhas e ânforas. Os romanos usavam potes algumas castas usualmente vinificadas em talha
maiores e redondos chamados dolium para fazer apresentam um DNA altamente distinto, porque as
vinho; as ânforas serviam apenas para o transporte de castas silvestres europeias originais que antecederam
vinho, diz White. Os artigos 'Amphora Triptych', de a última era glacial sobreviveram, de facto, durante
leitura desenvolta mas aprofundados, que constam do os verões quentes de partes do sul da Europa, espe-
seu portal, WineDisclosures.com, lançam luz sobre os cialmente no interior e litoral da Península Ibérica, e,
primeiros exemplos conhecidos da cultura e prática “principalmente, no Alentejo”. Acrescenta um frisson
de vinificação em barro. Cobrem os vinhos ‘qvevri’ da extra à história varietal única que torna Portugal
Geórgia, os potes ‘karas’ da Arménia – os mais antigos muito particular no que toca aos vinhos de talha.
(da Caverna de Areni) datados de 6.200 a.C. –, bem
como os vinhos ‘talha’ do Alentejo.

10 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


De um Peso
mais criterioso.
Combinando tradição e inovação, escolhemos parte do
fruto das melhores parcelas. Para o Herdade do Peso Reserva,
criamos com materiais nobres e deixamos o tempo atuar,
fazer a sua magia. A magia de criadores, verdadeiros artistas
no uso dos condimentos que a natureza nos dá e que com
eles criamos um mistério e complexidade únicos. Uma
descoberta do melhor de diversas castas, onde desvendamos
a Alicante Bouschet e Touriga Nacional além-fronteiras. ,)6(%()(34)73'31
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OPINIÃO

Sarah Ahmed, jornalista e crítica de vinhos

Segundo Paul White, “os


únicos locais onde as antigas
técnicas de vinificação em
potes de barro sobreviveram
Uma questão de estilo continuamente até os tempos torna consideravelmente
mais tânico…”. Esse período
modernos são a Geórgia
Observando a “longa, mais longo de contacto
longa relação evolutiva e o Alentejo. A tradição com as películas explica
entre si” das castas e das da Geórgia é mais antiga, por que White considera o
talhas, White especula: “As estilo ‘qvevri’ como “a base
castas atraíram a talha ou o datando de 8.000 a 10.000 do movimento do vinho
contrário?” A questão não anos e a do Alentejo é de 'laranja'”.
parece tão fantasiosa ao E acrescenta que “outros
lermos a secção intitulada cerca de 3.000 a 4.000 produtores de vinho ita-
‘Terra-cotta's New World anos, via Roma, Fenícia e lianos, ao notar em museus
beachhead’ no texto do do país a existência de potes
'Amphora Triptych' sobre provavelmente os próprios romanos ‘acima do solo’,
‘karas’ arménios. White tartessos de Portugal antes copiaram-nos, pelo que
relata as experiências de esta tornou-se a tecnologia
um produtor baseado em
deles”. Afinal, nem todos os favorecida globalmente pelo
Oregon, que fermentou caminhos levam a Roma… movimento contínuo do
várias castas diferentes em ‘vinho de terracota’”. Sem
recipientes diversos (inox, dúvida, ajuda o facto de, em
vários tamanhos de carvalho, ovos de cimento e 2008, a Artenova da Toscana ter revivido (e ino-
talhas feitas localmente). O impacto no tanino, acidez, vado) na arte de produzir potes de dolium. Sediada
sensação na boca, aroma, sabor e álcool - ou seja, em Impruneta (cujos fornos, observou White,
em tudo - variou significativamente, dependendo da produziram as telhas que “ainda hoje protegem o
casta e, além disso, do formato do recipiente. Duomo de Brunelleschi após 700 anos de desgaste”),
Ainda há muito a descobrir sobre a vinificação em esta pequena empresa familiar comercializa potes
talha. Como White bem observa, o moderno movi- Artenova em 25 países e conta nada menos que 68
mento do vinho ‘ânfora’ remonta as suas origens até produtores de vinho franceses nos seus registos.
cerca de 20 anos, com os vinhos brancos de Joško No capítulo 'Talha: A Perfect Winemaking
Gravner da região italiana de Friuli-Venezia Giulia. Machine', White exalta as virtudes do design portu-
Não me tinha apercebido isso, porque “as tradições guês simples “tipo funil, no topo de um globo, colocado
romanas não sobreviveram em Itália” e, segundo sobre um cone”, especialmente quanto ao processo
White, “Gravner não tinha ideia de que as tradi- exclusivo efetuado pela gravidade. Mais tarde, ao
ções romanas dos potes de barro sobreviveram no refletir sobre o futuro da produção de talha, lamenta
Alentejo”, pelo que ‘importou’ técnicas da Geórgia. O o facto de o Alentejo ainda não ter um produtor de
livro ‘Talha Tales’ explica a importantíssima distinção talha em grande escala quando, exorta, “há clara-
entre talhas pousadas no pavimento das adegas, com mente um mercado pronto para ela”. O autor oriundo
escorrimento por gravidade e filtragem natural, e de Oregon deve saber. A razão pela qual chama ao seu
as ‘qvevri’ que, sendo enterradas no subsolo (quase Estado natal a 'testa de ponte do Novo Mundo da ter-
até ao topo), exigem uma drenagem mais trabalhosa, racota' deve-se em grande parte a Andrew Beckham,
pela superfície, com baldes. O autor destaca igual- que descreve espirituosamente como “o mais pró-
mente a grande diferença na abordagem de vinifi- ximo de Walter White da série ‘Breaking Bad’ a que o
cação, que impacta fortemente o estilo. Enquanto movimento da terracota chega”. A onda de interesse
os vinhos tradicionais de talha passam dois a três pelos vinhos de talha portugueses prova que este “é
meses em contacto com as películas, “o vinho qvevri um excelente exemplo de algo verdadeiro, simples e
é mantido com as películas por seis meses, o que o puro, que vence no final”.

12 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


OPINIÃO

Jamie Goode, 'wine writer'

‘Wine writer’, cronista do The Sunday Express, autor do blogue wineanorak.com, é doutorado em Biologia de Plantas e co-chair do International
Wine Challenge. Assina esta colaboração regular na Revista de Vinhos e também na brasileira Gula.

Castas e regiões
A maioria das regiões enfrentará não apenas um futuro mais quente,
mas também um futuro mais variável e climas mais extremos.

N
uma conferência recente que teve lugar abandonadas podem ser ótimas para os vinhos de hoje.
na região de Finger Lakes, no estado de A escolha da casta é importante, porque as vinhas
Nova York, moderei uma sessão em que demoram três anos a começar a produzir uvas e per-
o tópico em discussão eram as castas, manecem por, pelo menos, 20 anos, pelo que a expe-
ditas novas e antigas. Num mundo de rimentação não é fácil, sendo necessário partir de pal-
milhares de castas, onde apenas uma dúzia é ampla- pites bem fundamentados.
mente plantada, há uma certa crise de diversidade. Como obtivemos as variedades que temos atual-
Quando os vinhos começaram a ser comercializados mente? Originalmente existiram dois centros de
por casta, o fenómeno começou a encorajar todos os domesticação de vinhas silvestres, um no Cáucaso
operadores a concentrarem-se no mesmo conjunto (atual Geórgia, Arménia e Azerbaijão) e outro no
das mais célebres variedades francesas. É compreen- Levante (Israel, Jordânia e Líbano). Isso ocorreu há
sível: a casta dá uma boa pista sobre o sabor do vinho, 11.000 anos, logo no nascimento da agricultura. As
pelo que o consumidor só precisa de saber o nome das vinhas domesticadas, selecionadas por serem her-
famosas, em vez de uma miríade de topónimos, para mafroditas, para cachos e uvas de maior dimensão,
escolher um vinho de que goste. espalharam-se a partir deste último centro de domes-
Mas esta restrição da diversidade de castas leva- ticação pelo mundo antigo. Encontraram o caminho
-nos a uma situação em que se perdem efetivamente para a Europa e, uma vez lá, ocorreram novos cru-
muitas castas excelentes. Há muitos constrangimentos zamentos com vinhas selvagens. Eventualmente,
por onde a diversidade varietal sofreu. A mais signi- surgiu a diversidade de variedades que temos hoje.
ficativa foi a crise da filoxera, quando muitas vinhas Curiosamente, há muito mais diversidade nessas
do mundo foram replantadas em porta-enxertos ame- videiras domesticadas do que nas populações selva-
ricanos e, com isso, não só se perderam muitas vinhas gens, incluindo variedades brancas (na natureza, as
(houve uma redução generalizada da área de vinha) uvas seriam de cor vermelha/preta).
como também muitas variedades antigas foram esque- Cada região, por sua vez, desenvolveu o seu próprio
cidas. Algumas foram abandonadas por boas razões conjunto de castas. Nas regiões clássicas do Velho
ou, pelo menos, boas razões à época. Mas se a ênfase Mundo, assumimos que aquelas que uma região
está na qualidade e não na quantidade, e há necessi- escolheu são as que apresentam melhor desempenho
dade de variedades de ciclo mais longo que produzem num ano médio, após muitas gerações de experiência.
menos álcool potencial, algumas dessas variedades Mas isso pode não ser sempre o caso. Sancerre já foi

14 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


OPINIÃO

Jamie Goode, 'wine writer'

dominada por Pinot Noir, por exemplo, mas agora é variável e com climas mais extremos. Essa perspetiva
principalmente Sauvignon Blanc. No Douro, a Touriga tem feito muitos viticultores pensarem no que estão a
Nacional era uma variedade menor, raramente culti- plantar. Tem havido um interesse crescente em varie-
vada, mas nas plantações desenvolvidas desde os anos dades que se dão bem em climas quentes e que podem
80 assumiu uma posição privilegiada. Bordéus costu- enfrentar melhor os períodos de seca. A variedade
mava ter muito Malbec, mas agora tem muito pouco. grega Assyrtiko tem origem em Santorini, mas agora é
No chamado Novo Mundo do vinho, muitas regiões encontrada por toda a Grécia, e o produtor australiano
começaram com bastantes variedades para conve- Jim Barry importou-a e plantou-a em Clare Valley, com
niência comercial, tanto quanto para experimentação. bons resultados.
Se a maioria dos seus clientes for local, estes vão Está também em andamento um trabalho de criação
querer Chardonnay, vão querer Cabernet Sauvignon, para produzir novas variedades resistentes a doenças.
vão querer Shiraz, vão querer Pinot Noir e assim por Muitas destas novas castas estão a ser plantadas, mas
diante, mesmo que não seja possível fazer ótimas ver- como as videiras geneticamente modificadas não são
sões dessas variedades no mesmo local. E há também aceites, esse trabalho de melhoramento cria novas
o fenómeno pelo qual uma região torna-se famosa por variedades, o que pode gerar dificuldades. O mercado
uma casta, de modo que, embora outras variedades pode lidar com novas variedades ou estamos presos às
também possam dar-se bem, todos procuram apenas que temos? Nesse sentido, as regiões onde o lote é a
aquela única variedade que desenvolveu algum esta- norma estão em melhor situação, pois as castas podem
tuto de celebridade. Marlborough na Nova Zelândia ser substituídas. O ‘field blend’ é uma aposta clássica
seria um bom exemplo: até 1990, a casta Müller que está a regressar em força em algumas regiões.
Thurgau estava mais disseminada na região do que Muitas castas cultivadas em conjunto geram um grau
Sauvignon Blanc, mas agora é esta última que domina superior de resiliência nas vinhas, essencial diante de
o encepamento, e há menos interesse comercial em um clima mais variável.
Chardonnay ou Pinot Noir de Marlborough, embora Mas, em vez de criar novas variedades, podemos
possam seja excelentes. E, em Napa Valley, existia explorar as velhas variedades esquecidas. No
outrora um conjunto diversificado de variedades inte- sudoeste de França, a união de cooperativas Plaimont
ressantes, bem adaptadas ao clima e aos solos, mas tal demonstrou interesse na herança genética das castas
é a importância comercial da Cabernet Sauvignon, raras nativas que costumavam ser cultivadas mais
alcançando um preço médio de 8.000 US$ a tone- amplamente na região antes da chegada da filo-
lada, que está a ganhar terreno à custas de outras xera. Examinaram variedades locais antigas no seu
variedades. Conservatoire Ampélograhique, que plantaram em
Algo que tem acontecido em regiões antigas estabe- 2002 em Pouydraquin. Esta coleção tem cerca de
lecidas fora dos clássicos dos vinhos de topo é o aban- 20 vinhas, cada uma destas com 37 variedades viní-
dono das suas próprias castas autóctones em favor das fera diferentes, uma vinífera selvagem (V. sylvestris)
celebradas variedades francesas: se for possível pro- e uma versão tetraplóide da casta Pinenc. As micro-
duzir um grande Chardonnay, ou Cabernet Sauvignon, vinificações resultantes mostram que algumas castas
ou Pinot Noir, por exemplo, as pessoas tomam nota. foram justamente esquecidas: dão baixos rendimentos
Isso aconteceu na década de 1990 na Grécia, e também e vinhos muito vulgares. Mas outras mostram-se pro-
ocorreu em algumas regiões portuguesas e espanholas. missoras e, não menos importante, tardias.
É compreensível, porque até recentemente o mundo Esta é uma casta que vai marcar presença nas vinhas,
do vinho ignorava variedades de sonoridade incomum porque dá vinhos encantadores, com álcool moderado
e algumas dessas interpretações dos clássicos fran- e um sabor apimentado distinto. A empresa espanhola
ceses criaram fama para os seus produtores. Pense Torres lançou a sua própria pesquisa de castas antigas
em Mas de Daumas Gassac depois de mudar das locais que, no seu caso, são catalãs. Muitas destas
variedades do Languedoc para Cabernet Sauvignon foram “perdidas” aquando da filoxera de finais do
e a aclamação que este vinho alcançou. Ou a Bodega século XIX, o que provou ser um constrangimento que
Torres, com o Black Label Cabernet Sauvignon e o levou ao abandono de variedades consideradas muito
Milmanda Chardonnay. Mas as coisas mudaram e a difíceis de cultivar ou de menor rendimento. A Torres
próxima geração está a regressar às variedades locais. colocou anúncios nos jornais direcionados a agricul-
tores que tivessem exemplares desconhecidos nas suas
Regresso ao futuro vinhas. Muitos responderam e, do vasto conjunto de
vinhas examinadas, cerca de 50 não correspondiam
O caos climático realmente lançou luz sobre as a nenhuma das catalogadas, estando potencialmente
castas e, em particular, na necessidade de desenvolver ameaçadas de extinção. Assim, Torres cultivou-as e,
novas ou trazer de volta as esquecidas castas velhas. por um longo período, identificou cinco das mais pro-
As vinhas do futuro precisarão de ser mais resilientes, missoras: Forcada (única variedade branca), Pirene,
porque a maioria das regiões enfrentará não apenas Gonfaus, Moneu e Querol. Estão atualmente a gran-
um futuro mais quente, mas também um futuro mais jeá-las comercialmente e libertaram-nas para outros.

16 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


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1890

QUINTA DO
ORTIGÃO

A Bairrada no seu copo


Ortigão Baga Bruto
OPINIÃO

Bento Amaral, enólogo

Apaixonado pela temática das harmonizações, Bento Amaral foi diretor dos serviços técnicos e de certificação e responsável
da câmara de provadores do IVDP. Atualmente impulsiona o projeto inclusivo “Humanwinety” e é docente universitário.

A inclusão social
no mundo do vinho
Sustentabilidade social. Cada um de nós, querendo-o, tem a oportunidade de criar
condições para a inclusão. É tempo de parar e perguntar-se:
qual é a minha formade colaborar?

C
omo uma parte dos leitores saberá, sou sustentabilidade tem sido a sustentabilidade social,
tetraplégico e tenho a felicidade de ser eventualmente pela complexidade da sua implemen-
um (raro) caso de sucesso de inclusão de tação. Porém, não significa que não existam belíssimos
uma pessoa de um grupo minoritário no casos nesta área.
mundo do vinho em Portugal. É natural Numa visita a um amigo residente em Kolkata, na
que seja esse o motivo para este assunto me ser muito Índia, os neozelandeses Alanna e Pete resolveram
querido. tomar um atalho por uma ruela onde se encontravam
Exatamente por causa disso, e por ter uma empresa várias adolescentes a prostituírem-se. Repararam que
nessa área, estava a adiar a redação de um artigo sobre algumas eram de etnia diferente, tendo ficado a saber
o tema, para ganhar algum distanciamento emocional. que tinham sido raptadas antes de ali estarem a ofe-
Contudo, na preparação de uma conferência sobre recer o corpo a troco de dinheiro.
esta matéria, deparei-me com dois casos de inclusão O acontecimento mudou a vida de Alanna e Pete.
social, um na Argentina e outro na Nova Zelândia, que Pesquisaram e descobriram que, atualmente, existe
me impressionaram e fizeram debruçar-me sobre este mais gente escrava do que em qualquer outra época.
assunto. De regresso ao seu país, criaram uma série de vinhos
Como é sabido, a sustentabilidade social é um dos intitulada “27 seconds” para lembrar que a cada 27
pilares da sustentabilidade como um todo, sendo segundos uma pessoa no mundo é feita escrava. O
os outros vetores a sustentabilidade económica e a lucro da venda desses vinhos reverte para organi-
ambiental. O primeiro vetor é, obviamente, assegurado zações que trabalham no combate ao esclavagismo,
por qualquer empresa para evitar a falência e garantir nomeadamente a Associação Hagar.
a sua sobrevivência. A sustentabilidade ambiental Donald Hess pertenceu à quarta geração da Hess
tem sido ultimamente uma preocupação latente. O Family States, fundada em Berna e com tradição na
principal suspeito para tal facto são, evidente e mere- indústria cervejeira. Expandiu os negócios com-
cidamente, as alterações climáticas que nos levaram prando, em 1978, a famosa adega Mount Veeder, em
a pensar e a agir de um modo mais amigo do nosso Napa Valley. Após outras aquisições chegou a vez da
planeta. Este movimento transversal também ocorre Argentina, adquirindo a empresa mais antiga do país,
naturalmente o mundo do vinho. O parente pobre da Colomé.

18 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


OPINIÃO

Bento Amaral, enólogo

A Humanwinety, empresa de que sou


sócio (declaração de interesse), está a ser
implementada de modo a poder formar e
capacitar pessoas pertencentes a grupos
minoritários e incluí-los no mundo do
vinho e da hotelaria.

Adepto das práticas biodinâmicas, implemen- ostentar o título de melhor “Sommelier do Mundo”.
tou-as naquela propriedade. Todavia, entendia que Infelizmente, um cancro levou-o cedo demais. Em
a sustentabilidade deveria estender-se às pessoas da honra do seu legado e da sua memória, a mulher
localidade mais próxima, Molinos. Empregou pelo Nina, o filho Romané e o seu amigo Lewis Chester
menos uma pessoa de cada agregado familiar. Esta criaram a Fundação Gérard Basset, que apoia enti-
política fez com que várias famílias regressassem dades e indivíduos através do financiamento de edu-
aos seus lares originais, tendo aumentado a popu- cação, treino e mentorado para a inclusão de pessoas
lação do pueblo de 180 para 450 pessoas. Donald pertencentes a grupos minoritários no mundo do
garantiu que qualquer pessoa que voltasse à terra vinho e da hotelaria. Através do apoio proporcio-
de origem teria um emprego na sua propriedade ou nado pela Fundação, várias centenas de pessoas têm
era qualificada para uma profissão necessária nas a oportunidade de estudar ou requalificar-se para
redondezas. A transformação social não ficou por encontrar um trabalho nos setores acima referidos.
aqui: contratou uma enfermeira para o centro local Existem também bons casos de inclusão em
de saúde; reconstruiu a igreja do século XIX para que Portugal, muitos deles preferindo fazê-lo de um
as pessoas pudessem assistir à missa debaixo de um modo sóbrio e anónimo. Outros são bem conhecidos,
teto; o tamanho da escola foi duplicado; construiu como a Associação Bagos d'Ouro, que é apoiada por
um campo de futebol; reconstruiu as casas locais produtores da região do Douro e por doadores indivi-
mantendo a traça, equipando-as com eletricidade e duais, para possibilitar os estudos de crianças e ado-
água corrente. lescentes desfavorecidos; o Plano de Sustentabilidade
Após sobreviver a diversas crises económicas dos Vinhos do Alentejo, cujo referencial inclui indi-
argentinas, é desfeiteado por persistentes infestações cadores associados aos recursos humanos e apoio à
de formigas, que se iniciaram em 2012, reduzindo em sociedade local; ou ainda o apoio à população local
18% a sua produção biodinâmica. Perante tão grande da Symington Family Estates, através da doação de
devastação, e verificando que não poderia continuar ambulâncias.
com as práticas vitícolas em que acreditava, vendeu A Humanwinety, empresa de que sou sócio (decla-
a Colomé em 2018 a Jorge Horácio de Brito que era ração de interesse), está a ser implementada de modo
o administrador do maior banco argentino, Banco a poder formar e capacitar pessoas pertencentes a
Macro. grupos minoritários e incluí-los no mundo do vinho
e da hotelaria.
A Fundação Basset Estas são algumas formas criativas que foram
e a Humanwinety encontradas para trabalhar verdadeiramente na sus-
tentabilidade social. Mostram que cada um de nós,
Gérard Basset é uma inspiração no mundo dos querendo-o, tem a oportunidade de criar condições
vinhos. O único a conseguir passar os exigentes para a inclusão social. É tempo de parar e pergun-
exames Master of Wine e Master Sommelier e tar-se: qual é a minha forma de colaborar?

20 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


OPINIÃO

José João Santos, jornalista e crítico de vinhos

José João Santos, diretor de conteúdos da EV-Essência do Vinho, tem a paixão da escrita,
da reportagem, da formação e da prova. É ainda autor do podcast "Vinho, Palavra a Palavra".

A credibilidade
dos concursos
Nem todos os concursos são iguais e até os mais rigorosos frequentemente mostram
resultados suscetíveis de debate. Importa, por isso, explicar importantes detalhes,
porque ninguém deve comer gelados com a testa a ponto de acreditar que um vinho
banhado a ouro num concurso seja o pináculo dos vinhos mundiais.

A
primavera e o início do verão são a quotidiano quis, simultaneamente, testar a fiabilidade
época alta dos concursos internacionais dos concursos. E é neste particular que a coisa ficou
de vinho. No Hemisfério Norte é a altura séria…
em que vinha e adega estão relativa- Num primeiro momento solicitou ajuda ao som-
mente tranquilos e, sob o ponto de vista melier Eric Boschman, eleito “Melhor Sommelier da
comercial e de marketing, é também um momento Bélgica” em 1988, para preparar uma degustação de
mais calmo. Por entre competições que são referência vinhos de supermercado abaixo dos 3,00€. O eleito
ou avaliações muito centradas em regiões, estilos ou foi um tinto, o Delhaize Bonnes Vignes Rouge, um
castas, a diversidade é atualmente assinalável. Vin de France genérico, elaborado a partir das castas
Foi também recentemente que os concursos de Grenache, Carignan e Cinsault.
vinho estiveram na corda bamba pela opinião pública. Há um requinte de deliciosa malvadez neste pro-
Compreensivelmente, admita-se, face à repercussão cesso. Os jornalistas alteraram o rótulo do vinho a
mundial de uma reportagem trabalhada pelos jor- levar ao concurso para um mais pomposo Le Château
nalistas do programa televisivo belga “On n´est pas Colombier, a que acrescentaram a imagem de uma
des pigeons” – numa tradução grosseira, “não somos pomba em alusão aos “pigeons”.
pombos”. Pagaram a taxa de inscrição no concurso (54,00€)
A peça tem como pressuposto a importância que acompanhada da respetiva análise laboratorial
a generalidade dos consumidores atribui ao facto de (20,00€) e alcançaram uma surpreendente medalha
ver o selo de uma medalha – ou distinção equivalente de ouro no concurso Gilbert & Gaillard International
– acompanhar o rótulo de um vinho. Perante consu- Challenge, promovido pelo grupo editorial multimédia
midores menos conhecedores e em contexto de super- detido por Philippe Gaillard e François Gilbert, de
mercado, sim, a medalha funciona muitas vezes como origem francesa, e que hoje atua em 22 mercados.
elemento persuasor e de confiança extra de compra. Para lá do diploma a comprovar a medalha, o des-
Aliás, a reportagem estima que uma medalha possa critivo sobre o vinho foi elogioso: “Cor vermelha gra-
aumentar até 15% as vendas de um vinho. Mas, o nada brilhante. Nariz tímido combinando frutas de
programa televisivo dedicado a questões de consumo caroço, groselha, carvalho discreto.

22 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


OPINIÃO

José João Santos, jornalista e crítico de vinhos

A credibilidade de uma
competição é a maior das
mais-valias, deverá ser
sempre a grande preocupação
Paladar suave, nervoso e de quem organiza. Tratando-se
rico com aromas jovens e de quem organiza. A malha igualmente de uma máquina
limpos que prometem uma deve ser apertada para que tem que pagar contas
agradável complexidade. e gerar proveitos, um con-
Evolução em especiarias finas salvaguardar o rigor. curso que estipula preços de
e um toque de fuligem. Muito inscrição de vinhos para ava-
interessante”. liação tem que garantir jurados competentes e consis-
O jornalista Samy Hosni candidatou-se entretanto a tência geral de prova para retribuir o esforço financeiro
provador. Online, conseguiu essa possibilidade e, sem dos produtores e das empresas que enviam os vinhos.
experiência, foi um dos 1.600 jurados de um concurso A malha deve ser apertada para salvaguardar o rigor.
internacional de vinhos que decorreu em Mâcon e Quem são os jurados dos concursos?
cujo painel de provadores era constituído, em 45%, Maioritariamente jornalistas e críticos de vinhos,
por amadores. Experiência prévia do jornalista como enólogos, sommeliers, importadores e distribuidores.
provador? Nenhuma. Agrupam-se em mesa de prova, regularmente entre
quatro a oito elementos, avaliam individualmente cada
Apertar a malha, apelar ao rigor vinho, sendo a nota final atribuída a que resulta da
média desse conjunto de provadores.
Felizmente, nem todos os concursos são iguais e Competições prestigiadas, como o Concurso
até os mais rigorosos frequentemente mostram resul- Mundial de Bruxelas ou o International Wine
tados suscetíveis de debate. Importa, por isso, explicar Challenge, trabalham de diferentes formas critérios e
importantes detalhes, porque ninguém deve comer logística de provas. Ao ter participado em diferentes
gelados com a testa a ponto de acreditar que um vinho sessões de ambos, reconheço-lhes credibilidade, pro-
banhado a ouro num concurso seja o pináculo dos fissionalismo e esforço contínuo para salvaguardar o
vinhos mundiais. rigor. Não são casos únicos.
Os mais conceituados vinhos do mundo não se Nas últimas semanas, quis o calendário e a agenda
sujeitam ao crivo dos concursos por duas razões que participasse em diferentes concursos num curtís-
principais: já possuem a notoriedade e o prestígio que simo espaço de tempo. Nos arredores de Nápoles, no
permite vender a muito bom/excelente preço; em con- Concours Mondial de Bruxelles – Sparkling Selection
texto de concurso, uma possível ausência de distinção 2023, atribuí boas pontuações a um conjunto muito
relevante poderia colocar em causa o prestígio e a con- homogéneo de espumantes da Moldávia, substancial-
sagração da marca. mente mais interessantes que os champanhes medianos
No polo oposto estão os vinhos que lutam pelo que calharam em sorte na mesa de provas que integrei.
reconhecimento e, muita vezes, por presenças mais Fiquei ainda feliz ao ter percebido a coragem de alguns
fortes nas prateleiras dos supermercados de diferentes produtores portugueses que sujeitaram a avaliação
países. São esses a esmagadora maioria dos vinhos ava- espumantes datados com alguns anos de garrafa, uma
liados nas competições internacionais. demonstração de confiança no trabalho realizado.
Para reduzir riscos de subjetividade, sempre inerente Na Guarda, em Valpaços e em Viseu, com organi-
ao juízo de uma avaliação, ou falta de rigor, vários con- zação das comissões vitivinícolas regionais da Beira
cursos seguem estratégias como fazer com que todos Interior, Trás-os-Montes e Dão, respetivamente,
os vinhos sejam provados mais do que uma vez por provei diferentes dezenas de amostras que ajudam a
jurados diferentes ou repetir a prova dos vinhos mais perceber a realidade destas denominações, ora com-
bem pontuados na fase final de atribuição de meda- provando o potencial ora exemplificando o trajeto que
lhas. A performance dos provadores é também ava- falta ainda cumprir. É um exercício importante e que
liada, com o mesmo vinho a ser provado pelo mesmo valorizo, precisamente porque permite provar vinhos
provador durante a mesma sessão, sem aviso prévio, que nem sempre são partilhados para avaliação da
claro, tentando assim perceber se há consistência ou Revista de Vinhos.
desvio na avaliação. Por falar em revista, a eleger a competição anual
Os vinhos são habitualmente provados apenas de maior entusiasmo seria o “TOP 10 Vinhos
havendo conhecimento do provador acerca da tipo- Portugueses”, que integra a programação do evento
logia e do ano de colheita. Outros concursos há, sobre- Essência do Vinho – Porto, onde provamos uma
tudo os de matriz mais temática, em que por vezes é pré-seleção na ordem de 60 vinhos, de diferentes
partilhada informação sobre a casta ou a origem. tipologias, que ao longo do ano anterior mais se evi-
A credibilidade de uma competição é a maior das denciaram na nossa publicação. Ali está “crème de la
mais-valias, deverá ser sempre a grande preocupação crème”, uma raridade nas competições de vinho.

24 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


JULHO

VINHO
COMPRA EXCLUSIVA ONLINE EM
adegamae.pt
FORA
DA CAPA

AdegaMãe Vinhas

23,00 €
Velhas Vital 2019
Lisboa / Branco /
AdegaMãe

Vinho de cor limão palha, atrativa.


Boa concentração aromática, só
conseguida pela idade das vinhas
que lhe deram origem. Nariz com
aromas florais, fruta branca e uma
nota de pólvora que contribui
para a sua riqueza aromática.
Seco, com uma acidez fresca, boa
textura no paladar com diversas
camadas de complexidade,
resultando num final rico,
volumoso e equilibrado.

A AdegaMãe tem vindo a reforçar a


sua linha de vinhos monovarietais
e de parcela, demonstrando o
potencial dos vinhos atlânticos
de Lisboa. O terroir da Serra
de Montejunto, marcadamente
atlântico, é sabiamente explorado
pela dupla de enólogos Anselmo
Mendes e Diogo Lopes. Tal é
particularmente percetível nesta
segunda edição do AdegaMãe
Vinhas Velhas Vital, inserido na
categoria de vinhos de parcela CONDIÇÕES PARA
da casa. Feito a partir de vinhas COMPRA ONLINE EM:
com mais de 70 anos da Serra de adegamae.pt/vinho/vinhas-
Montejunto viradas a sul, esta velhas/
edição, tal como a anterior, de 2018, ADEGAMÃE VINHAS VELHAS
mantém a fermentação parcial em VITAL 2019
barrica e ovo de cimento. PVP recomendado de 23,00€
ESCOLHAS DO MÊS

Para a Mesa

Desenhos a Kompassus
Há algo de muito particular na Bairrada, quando o assunto é a produção
de espumantes de elevada categoria. E, entre os seus melhores intérpretes,
a Kompassus tem olho especial.

PA R A A
E S
Não é para menos, quando sabemos que o seu

A M mentor, João Póvoas, é desde há muito um dos


médicos oftalmologistas mais referenciados em
Coimbra. Desde criança ligado à vitivinicultura
na sua terra natal da Cordinhã, decidiu aportar
a sua vivência de menino à produção de vinhos
característicos, verdadeiros vinhos de ‘vigneron’.
À marca chamou Kompassus, como que
definindo a precisão que lhes pretendeu desde
sempre incutir, e que se revelou ainda mais cer-
teira quando juntou ao projeto o “olho clínico”
do enólogo-amigo Anselmo Mendes e, mais
tarde, com o apoio da sua ‘discípula’, Patrícia
Santos.
Como homem da vinha e do vinho, João Póvoa
construiu uma marca que é hoje uma referência
bairradina, celebrando já 25 anos. Quanto ao
vinho, esse, é a interpretação de uma casta
típica de Champagne em solos bairradinos, um
exemplo do poder da evolução em espumantes.

93
Kompassus Grande Reserva
Pinot Noir 2013
Bairrada / Espumante / Kompassus Vinhos

Cor salmão, laivos alaranjados. Notas de salicórnia,
cereja e panificação. De acidez crocante e leve
especiaria, tem mousse generosa, precisão de volume
e um final de excelente textura. JJS
Consumo: 2023-2028
45,00€ / 8ºC

26 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


ESCOLHAS DO MÊS

Para a Cave

Monte Xisto, a magia


do Douro Superior
Lentamente, como o fluir do rio que passa junto à Quinta do Monte Xisto,
vão-se escrevendo as próximas linhas de um novo clássico do Douro.

PA R AE João Nicolau de Almeida, filho do criador

A C AV do Barca Velha, Fernando Nicolau de Almeida,


sobrinho de José Ramos Pinto Rosa, decidiu
certo dia começar a juntar terras no Douro
Superior que tão bem conhece, ou não fosse
um dos mentores e criadores da Quinta da
Ervadoira, propriedade-modelo de delineou
enquanto trabalhou na Ramos Pinto.
Mas só doze anos depois conseguiu com-
prar os 40 hectares de terra que queria. Estava
fundada a Quinta do Monte Xisto, projeto a
que juntou os seus três filhos, Mateus, João e
Mafalda. Ali, o formato do rio, que faz 90 graus
e fica de sul para norte, em vez de este para
oeste, junta exposições norte e sul, em dife-
rentes altitudes, na mesma propriedade.
Os filhos adotaram filosofias de viticultura
e vinificação muito próprias, aproximando-se
progressivamente de práticas bio e biodinâ-
micas. O resultado pode medir-se em vinhos
como este Quinta do Monte Xisto, que se acerca
da décima colheita no mercado, referência à
qual já se juntaram outras. E assim se escreve
um novo clássico do Douro.

94
Quinta do Monte Xisto 2020
Douro / Tinto / João Nicolau de Almeida
& Filhos

Rubi escuro. Florais silvestres seguidos de cereja
vermelha, bergamota, chão e cedro. Tanino firme
mas equilibrado, estrutura elegante, de final
notavelmente profundo e sedoso, com nuances de
floresta. Um grande vinho, que irá perdurar. JJS
Consumo: 2023-2040
70,00€ / 16ºC

28 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


94 92 92 91 91
Kompassus Private Kompassus Baga Malvasia Fina Belfo 2021 Parapente Vinhas
Colection 2019 Coleção Privada By António 2021 IVV / Branco / Arribas Velhas 2021
Bairrada / Branco / 2022 Douro / Branco / Wine Company Trás-os-Montes / Branco
Kompassus Vinhos Bairrada / Rosé / Maçanita Vinhos 22,00€ / 11ºC / Pine Nuts Vines &
30,00€ / 11ºC Kompassus Vinhos 21,95€ / 11ºC - Wines
- 42,00€ / 11ºC - Dourado, matizes alaran- 29,99€ / 11ºC
Amarelo limão. Perfume - Dourado, reflexos jadas. De perfil oxidativo, -
floral inicial, seguindo-se Cor salmão aberta. Floral esverdeados. Notas de revela noz, pimenta branca Limão brilhante. Belíssimo
folhagem seca, casca de elegante, apontamentos melaço de fruto de caroço, e pêssego. Tenso e de nariz de lima e limão, ervas
laranja e fósforo. Tenso e de romã e cereja delicada. algum petróleo e fósforo. acidez que faz salivar, tem aromáticas como a sálvia,
vibrante, detentor de uma Bondoso e bem definido, Glicerino e texturado, alia ligeiro tanino e está repleto notas de baunilha da
acidez que o espevita ao de acidez sólida, notável volume e acidez, tensão de sabor até final. Termina madeira, tudo num perfil de
longo de toda a prova, tem amplitude e uma elegância e até algum salino. O final profundo e salgado. Um frescura, mais contido que
um classicismo final que inesperada. Termina projeta-se muito bem, vinho de camadas, que eloquente. A boca também
é cada vez mais raro. Vai assertivo e untuoso, perdura longos minutos e o quase se mastiga. JJS é condizente, conjuga
crescer com o tempo. profundo e senhorial. Um ADN oxidativo é garantia de austeridade, frescura e boa
rosé de primeira linha! JJS boa guarda. JJS tensão, com um final sápido
e citrino.

b b
A escolha de s A escolha de a
José João Santo Guilherme Corrê

30 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


ESCOLHAS DO MÊS

Vinhos de patamar superior e excelente, que revelam


terroir e têm aptidão de garrafeira.
Pode também encontrá-los online em vinha.pt

90 90 90 90 90
Carpe Vitae 2019 Dona Maria 2022 Mingorra Reserva Quinta do Gradil Zafirah 2022
Regional Tejo / Tinto / Alentejo / Rosé / Júlio 2019 Reserva 2019 Vinho Verde (Monção
Casal da Coelheira Bastos Regional Alentejano / Regional Lisboa / Tinto / e Melgaço) / Tinto /
60,00€ / 16ºC 9,95€ / 11ºC Tinto / H. UVA Quinta do Gradil Constantino Casimiro
Barbosa Ramos
- - 14,49€ / 16ºC 19,94€ / 16ºC
Rubi. Florais silvestres, Cor salmão. Elegante - - 13,00€ / 14ºC
cereja escura, algum expressão floral, Cor vermelha, notas Rubi denso, nariz -
citrino, folha de tomate complementos de romã e frutadas, fruta vermelha sofisticado, complexidade Rubi. Lembra a franqueza
e grão de café. Tanino cereja vermelha. Untuoso presente, ligeiro especiado e amplitude. Floral e fruta de adega em vindima.
firme, muito boa acidez, e tenso, senhor de boa onde a madeira está a de grande qualidade. Notas de morango, cereja
volume altivo e final bem acidez que lhe ampara toda envolver. Sabor seco, Especiarias. Boca e florais de rosa. Acidez
proporcionado - em sabor, a estrutura, termina muito taninos presentes, imponente de estrutura, vincada, tanino fino,
textura e persistência. Pelo sério. Aposta segura para alguma secura, madeira mas acessível nos taninos, ligeiro "pico", frescura e
perfil, um todo o terreno gastronomia. mais evidente, frutado tem frescura, é sumarento sensação minerais. De final
gastronómico. JJS e especiado. Bom e um belo acabamento leve e viciante, tem uma
corpo e final agradável de balsâmicos muito identidade que remete a
e equilibrada. Escolha sugestivos. Muito bem! outros tempos. Refresque-o
acertada para pratos de ligeiramente. JJS
tacho.
b b b
A escolha de ires A escolha de A escolha de
Nuno Guedes Vaz P Rodolfo Tristão Manuel Moreira

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 31


89 89 88 88 88
Dona Maria Viognier Esporão Colheita Encosta do Sobral Glória Reserva 2020 Ravasqueira Reserva
2022 2022 Vinhas Velhas 2020 Douro / Tinto / Vicente da Família 2022
Regional Alentejano / Regional Alentejano / Regional Tejo / Tinto Faria Vinhos Regional Alentejano
Branco / Júlio Bastos Branco / Esporão / Encosta do Sobral 9,99€ / 16ºC / Branco / Sociedade
11,00€ / 11ºC 10,00€ / 11ºC (Santos & Seixo) - Agrícola D. Diniz
- - 12,99€ / 16ºC Rubi intenso. O vinho abre 15,00€ / 11ºC
Dourado. Notas de restolho Dourado vivo, reflexos - aos poucos, e revela um -
e raspas de lima, nectarina alaranjados. Notas de Granada médio, intensidade charme telúrico, de frutas Amarelo palha. Leve floral,
e leve fumo. A acidez restolho, raspas de lima, da fruta entrosada com a vermelhas empoeiradas, nuances de fumo, toque
ampara-lhe o volume, há pêssego e fumo. Amplo e madeira. Mostra uma bela cogumelos e musgo. A abaunilhado e de algum
cremosidade a meio palato, elegante, tem boa textura, estrutura de boca, largo, sua estrutura é média, e pêssego. Untuoso e firme,
mostra garra e persistência acidez de perfil mineral, um acetinado, mas de tanino o equilíbrio balanceado tem muito boa acidez e uma
final. Focado na mesa. final teimoso e profundo. firme, fruta sumarenta bem para o lado da acidez e precisão final que o valoriza.
NGVP De ADN muto próprio, é um instalada, equilibrado e a dos taninos adstringentes Conseguirá evoluir. JJS
vinho de prazer desde o terminar longo, persistente, nas gengivas. O final é
primeiro instante. JJS com alguma mineralidade médio e sério. Um vinho
fumada. Bebe-se já. MM introspectivo, mas que
conversará bem com a
cozinha de tacho. GC

32 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


ESCOLHAS DO MÊS

Prazer garantido a bom preço. Respeitam orçamentos,


mostram boa qualidade e são de fácil acesso.
Pode também encontrá-los online em vinha.pt

87 87 86 85 85
Herdade Paço do Quinta do Valdoeiro Pasmados 2017 Altitude by Duorum Coelheiros 2022
Conde Touriga Chardonnay 2022 Regional Península de 2022 Alentejo / Rosé / Tapada
Nacional & Syrah Bairrada / Branco / Setúbal / Tinto / José Douro / Branco / Duorum dos Coelheiros
2020 Sociedade Agrícola e Maria da Fonseca Vinhos 11,00€ / 11ºC
Regional Alentejano Comercial dos Vinhos 9,99€ / 16ºC 7,50€ / 11ºC -
/ Tinto / Sociedade Messias - - Cor salmão de intensidade
Agrícola Encosta do 8,15€ / 11ºC Rubi de média intensidade. Amarelo palha. Nariz de média, muito em voga.
Guadiana - O aroma privilegia as frutas restolho, lima, alperce e noz. Aroma elegante e etéreo.
vermelhas maduras, ainda Amplo, desperto pela acidez Cereja, rosa seca. Na boca
7,49€ / 16ºC Amarelo verdeal. Aromas
que um toque de couro que lhe suporta o volume, mantém-se esse perfil de
- de fruta madura, elegante
e pimento tragam algum termina afirmativo e com elegância de um clima
e precisa, como pêssego,
Rubi de média intensidade. contraste. Médio corpo, nitidez gastronómica. JJS quente com fruta maturada
banana, ameixa branca. A
Elegante expressão de taninos rugosos, acidez envolvida por um corpo
madeira a fazer-se sentir
frutas vermelhas maduras, picante e final levemente de volume médio como é
em tons lácteos. Na boca é
coadjuvada por um secante. GC pretendido. BA
gordo, saboroso, a acidez
subtil perfume de flores
limonada é primorosa, em
vermelha e notas de canela.
crescendo de intensidade,
Apresenta taninos sedosos,
com equilíbrio bem
no ponto de firmeza certo.
conseguido. MB
Fresco, suculento, de boa
permanência. GC

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 33


PROFILE

texto Marc Barros / foto Arquivo

De saída do Turismo de Portugal depois de sete anos na liderança do instituto, Luís Araújo
deixa um legado de vulto na estratégia nacional do setor, que conheceu um período dramático
na fase pandémica que o mundo viveu.
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, com diversas
especializações em hotelaria pela Universidade de Cornell, possui um vasto currículo, que inclui
vários anos no grupo Pestana, com uma passagem no Governo como chefe do Gabinete do
Secretário de Estado do Turismo no XVII Governo Constitucional.
A Estratégia Turismo 2027 definou, entre os dez ativos estratégicos para diversificar a oferta e
captar novos mercados, a gastronomia e o enoturismo como eixo fundamental e distintivo.
A Wine & Travel Week, recém-premiada internacionalmente, é um desses exemplos.

34 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


CA STA

texto Marc Barros / foto Arquivo

dicas
Foi uma das castas que mais sofreu
com a filoxera, nos finais do século
XIX. Talvez por estar localizada

1.
sobretudo em zona de encosta, na
Serra da Arrábida, as plantações
subsequentes “desceram” de cota,
para zonas arenosas.

A mutação que sofreu conferiu o


tom arroxeado da película, tornando
a variedade muito apelativa para a

2.
elaboração de vinhos tipo rosé, com
aromas primários característicos,
desde logo florais, que se
preservam na fermentação.

Tal como as suas “irmãs”, todas


elas castas ditas primárias, a
Moscatel Roxo apresenta elevadas
concentrações de compostos
terpénicos. Porém, diverge da
Moscatel Galego do Douro, da
qual terá sofrido a mutação, por
apresentar níveis elevados de

3.
óxido de rosa e nerol. Porém,
estas diferenças mostram-se

Moscatel
significativas apenas nos vinhos
mais jovens.

Os vinhos licorosos produzidos

Galego com base na Moscatel Roxo


resultam mais secos e elegantes,
de aroma mais complexo, que os
congéneres elaborados com a

Roxo Moscatel de Setúbal. Em ambos,


como constatamos recentemente
com alguns exemplares provados,

4.
poderão verificar-se problemas
de turbidez, o que obriga a
Casta rara, a variedade Moscatel Galego Roxo escapou à extinção mas, na rea- preocupações extra na hora da
lidade, não consta sequer das castas mais plantadas na Península de Setúbal, onde colagem.
terá ocorrido a mutação da variedade Moscatel de Bago Miúdo, ou Moscatel Galego
Branco, de que demos conta na última edição. Destino quase idêntico ao sofrido pela E, como habitual, algumas
variedade Bastardo, ou Trousseau, com que se produzia o célebre Bastardinho de sugestões para prova: entre os
Azeitão. rosés, Bacalhôa Moscatel Roxo
Com efeito, nos 8.027 ha. recenseados da região, a mais popular variedade Vinha dos Frades, Colecção Privada
Moscatel Graúdo responde por cerca de 700. Já da Moscatel Roxo – designação Domingos Soares Franco Roxo
autorizada apenas na rotulagem do vinho licoroso produzido em Setúbal – restam Rosé ou, do Algarve, o rosé Villa
pouco mais de 50 ha. A boa notícia, contudo, é que a tendência para o crescimento Alvor Moscatel Galego Roxo. Numa
da procura de vinhos desta casta que não apenas licorosos, deverá conduzir ao versão em branco, Quinta do Piloto
aumento do encepamento – e não apenas na região; veja-se o exemplo da Aveleda, Moscatel Roxo. Nos licorosos,
no Algarve, com o projeto Villa Alvor.
Bacalhôa Moscatel Roxo Superior 10
Anos 2005; SIVIPA Moscatel Roxo
Morfologicamente, a apresentação da variedade roxa é bastante diferente da
10 Anos Superior ou; Família Horácio
Moscatel branca. Desde logo, cachos e bagos são de dimensão mais reduzida, distin-
Simões Costa a Costa Moscatel
guindo-se pelos tons rosa. Talvez por esta razão, as vinhas com esta casta estavam
Roxo. Para o éden, caso consiga
plantadas por entre as vinhas de Moscatel Graúdo. Outra razão para tal poderá
deitar-lhes as mãos, José Maria da
residir no facto de, ao apresentar um bago mais doce, ser especialmente apetecível

5.
Fonseca Moscatel Roxo de Setúbal
para a passarada, que assim “poupava” os cachos de Moscatel Graúdo. Superior 1918, ou o centenário
Quinta do Piloto Moscatel Roxo
Coleção de Família.

36 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


NOTÍCIAS

Lagosta, uma histÓria


que se confunde
com a regiÃo dos
Vinhos Verdes
É obra para uma marca de vinho atingir 120 anos de idade, che- A marca Lagosta responde por 1,25 milhões de garrafas, das quais
gando a confundir-se com a própria demarcação da região dos 300.000 referentes ao Lagosta Ice, referência mais recente, para
Vinhos Verdes, em 1908. Trata-se, aliás, da mais antiga marca de ser bebida fresca ou com gelo e que, graças aos seus 50 gramas de
Vinho Verde com registo ativo. Criada pela sociedade Menéres & açúcar, presta-se, por exemplo, à mixologia, ou a acompanhar sobre-
Cia. em 1902, a evolução da marca e a sua titularidade davam um mesas doces.
livro por si só. A referida sociedade, criada pelo empresário Clemente Para celebrar a data, foi feito um lançamento especial de 120.000
Joaquim da Fonseca Guimarães Menéres (1843−1916), é extinta em garrafas de Lagosta, as quais fazem a ligação às regiões norte, centro,
1905, dando lugar à Companhia Vinícola do Porto. Três anos mais sul e ilhas, através de rótulos específicos mas disseminados de igual
tarde, devido a um litígio com a Companhia Vinícola do Norte de forma pelo mercado nacional, representando 40.000 garrafas cada.
Portugal - Porto (antecessora da Real Companhia dos Vinhos do O futuro a médio e longo prazo trará novidades para a marca
Porto, a ex-majestática Companhia Geral da Agricultura das Vinhas Lagosta. Até 2025, pretende duplicar vendas e chegar ao top 10
do Alto Douro, mais tarde Real Companhia Velha), a firma passou dos Vinhos Verdes mais vendidos e, em 2030, ao top 5, com quatro
a designar-se Companhia Vinícola Portuguesa (também conhecida milhões de garrafas vendidas.
como “Real Companhia Vinícola Portuguesa”). Esta Companhia Tratando-se de uma marca de volume, com um preço de referência
Vinícola faliu em 1930, já depois da morte dos filhos de Clemente de venda ao público de 3,99€ (e preço médio para o produtor de
Menéres, Alfredo da Fonseca Menéres, em 1917, e do irmão Agostinho 2,03€), haverá espaço para a oferta de monovarietais das castas que
da Fonseca Menéres em 1926. compõem os lotes Lagosta, a saber: Loureiro, Avesso e Azal, mas
Foi um pouco sobre esta história, as dúvidas existentes mas também Alvarinho, Espadeiro, Padeiro e Vinhão, bem como dois
também as certezas, que Nuno Santos, CEO da Enoport Wines, dis- espumantes Lagosta, com diferentes teores de açúcar mas ambos
correu durante um almoço comemorativo da efeméride, que teve da categoria bruto. Para finalizar, um Lagosta Low Cal, com 7,5%
lugar, precisamente, na Casa do Vinho Verde, no Porto. de álcool. Nesse sentido, Nuno Santos pretende desafiar a CVRVV
A marca Lagosta passou a integrar o portefólio da Real Companhia a reduzir o TAV (título alcoométrico volúmico) de 8,5% para 7,5%
Velha, depois de esta ser adquirida, em 1960, por Manuel Silva Reis para que um vinho possa ser considerado Vinho Verde, no sentido de
e de este ter comprado, em 1963, o que restou da sociedade fundada acompanhar as tendências de mercado. E quer “transformar a marca
por Clemente Menéres (que contava a marca Lagosta no seu porte- Lagosta num desafio para o consumidor”. De desafio em desafio, con-
fólio). As duas continuaram a funcionar em paralelo, integradas num quistam-se mais 120 anos…
ACE (Agrupamento Complementar de Empresas). Mais tarde, já em
2000, a marca foi vendida às Caves D. Teodósio, que estiveram na
origem da Enoport Wines em 2005, que absorveu ainda o portefólio
das Caves Velhas, comprada à Central de Cervejas, incluindo a Adega
Camillo Alves e a aguardente Fim de Século.
Segundo Nuno Santos, “foi graças ao Lagosta e a algumas das
marcas mais antigas que se criou a pressão administrativa para se
fazer a denominação de origem” da região dos Vinhos Verdes.

O futuro a médio e longo


prazo trará novidades
para a marca Lagosta.
Até 2025, pretende
duplicar vendas e chegar
ao top 10 dos Vinhos
Verdes mais vendidos e,
em 2030, ao top 5, com
quatro milhões de garrafas
vendidas.

38 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


VINHOS & NÚMEROS

Os números também contam histórias sobre o mundo do vinho.

texto Marc Barros · infografia Ângela Reis

Um mundo
em tons rosa
O vinho rosé ganha espaço próprio nas prateleiras, e mesas, dos consumidores. Todos os
indicadores atestam a emancipação da categoria, vista cada vez menos com o preconceito
a que era votada há até bem poucos anos. França, como seria de esperar, lidera. Portugal
está também em trajetória positiva. Bons sinais para os vinhos em tons rosa.

34 %
70 % França é líder

10 ML.
no consumo de rosé.
Crescimento esperado das

9%
vendas globais da categoria
entre 2020 e 2024. Vendas de rosé em
Portugal em 2022.
Crescimento em 2018
(antes da pandemia)

40 % 118 % 6,4 ML.


Aumento do consumo global Crescimento das vendas nos
entre 2002 e 2018. EUA entre 2015 e 2020. Comercialização de Vinho
Verde rosado em 2022.
25,6 MhL., 11.2% do consumo Trata-se, porém, de um mercado sazonal:
total de vinhos. entre o primeiro e segundo trimestre de
2021, as vendas nos EUA passaram de
144 para 216 milhões de dólares.

O crescimento da categoria rosé não mostra sinais de desacelerar, mesmo após a


pandemia. Por um lado, assiste-se à progressiva oferta de novos, e mais cuidados, vinhos
desta cor, tendendo para a sua valorização. A contínua inovação de produtos significa
que os consumidores provavelmente pedirão novos estilos - e formatos.

Fontes : CVRVV, IWSR Drinks Market Analysis, IVV, NielsenIQ.

40 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


PELO CAMPO

Antes do copo, antes da garrafa e da adega: a vinha. Onde tudo começa e decorre um trabalho nobre de uma indústria sem telhado.

texto Luís Alves / fotos Associação Prodouro

Granizo: jÁ nem
sÓ de oraÇÕes
vivem os
… e que o diga o Douro
cÉus
O ano de 2024 pode muito bem ficar marcado por uma revolução nos céus
do Douro. A próxima primavera vai trazer os primeiros testes “in loco” das
estações anti-granizo que a Associação ProDouro tem vindo a dinamizar
com grande empenho. Na prática, poderemos assistir à mitigação dos
efeitos muitas vezes brutais que a queda de granizo tem sobre as vinhas.
O ano de 2023 está, infelizmente, a provar mais uma vez a importância
destes sistemas. A Revista de Vinhos entrevistou Rui Soares, presidente da
Prodouro, e também alguns produtores da região que viram as suas vinhas
afetadas nas últimas semanas.

Localizada em Castelo Melhor, no concelho de Vila Airbus e Hyundai interessadas num sistema anti
Nova de Foz Côa, a Quinta da Cabreira, propriedade granizo?
da Quinta do Crasto, tem cerca de 140 hectares, 114
dos quais plantados com vinha. Foram um dos vários Num trabalho da ProDouro que já tem alguns anos
produtores afetados pela queda forte de granizo e que envolveu muito estudo, contactos e visitas, foi
que se fez sentir na região. “Temos uma perda sig- fundamental a ida até França, sobretudo a duas regiões
nificativa”, começa por lamentar Manuel Lobo, enó- particularmente conhecidas pela produção vitícola:
logo responsável. “Não só a parte da produção mas Bordéus e Borgonha. E também o contacto próximo
também afetados, naturalmente, na área foliar que com a ANELFA (Association Nationale d’Etude et
ficou reduzida. Mas aquela que restou julgamos ser de Lutte contre les Fléaux Atmosphériques), asso-
suficiente para podermos ter uma maturação fenólica ciação de meteorologistas criada nos anos 50, com
completa”, refere o enólogo que diz “estar já habi- larga experiência. Ainda em França, a ProDouro pôde
tuado” a estes fenómenos. “Com uma área total de contactar com produtores e clientes finais da solução
250 ha de vinhas, a probabilidade de sermos afetados que tem permitido evitar danos causados pelo gra-
é infelizmente grande”, refere. Também a Conceito nizo, num esforço global que envolve não apenas
Vinhos foi afetada nos seus 90 ha de vinhas, ainda que produtores vitícolas mas também empresas tão
com menos impacto. “Tivemos granizo em cerca de diversas como a Airbus ou a Hyundai, financiadoras
10 ha, com perdas que deverão rondar os 20 a 30%”, da solução. E porquê estas duas conhecidas marcas?
adianta Rita Marques, administradora e enóloga. Porque ambas têm interesse que os seus produtos –
“São fenómenos cada vez mais frequentes. Também aviões e carros, respetivamente, uma vez construídos
por isso optamos por fazer seguro de colheita que e estacionados nos respetivos parques, ao ar livre
cobre toda a nossa área plantada”, refere. Numa área e enquanto aguardam novo destino, possam estar
relativamente semelhante, o Palato do Côa também seguros de danos causados pelo granizo.
sofreu perdas. “Temos vinhas em vários locais mas O sistema, em termos técnicos, tem um funcio-
foi em Muxagata, concelho de Vila Nova de Foz Côa, namento relativamente simples. Definida uma zona
que sofremos com o granizo. Cerca de 10 a 11 ha de geográfica, escolhe-se um local onde o radar meteo-
área afetada”, refere o enólogo Carloto Magalhães. rológico ficará instalado. Será o responsável pela
Percorrendo a região, são muitos os produtores afe- monitorização das nuvens de granizo e estará absolu-
tados e não se circunscrevem à viticultura. Outras tamente concentrado nessa tarefa única. Opera num
culturas foram igualmente prejudicadas. A pensar raio de 30 km e no caso concreto do Douro ficará em
nisso e no aumento da frequência destes fenómenos Alijó, já a partir da próxima primavera, altura em que
extremos, a ProDouro (Associação de Viticultores o projeto-piloto vai ser instalado. Qualquer nuvem de
Profissionais do Douro) está a dinamizar um projeto granizo que entre nessa área controlada será seguida
de grande abrangência que promete ter um impacto atentamente por esse radar. Caso existe um risco de
positivo na agricultura duriense já no próximo ano. granizo, entram em ação as estações fixas. Serão no
“A nossa associação foi à procura de soluções anti- total 19 e têm balões meteorológicos, semelhantes aos
-granizo e encontrou em França um sistema, já tes- balões de S. João. Esses balões, em caso de ameaça,
tado e com grande eficácia, que permite mitigar os são largados e detonados a cerca de 600 metros de
efeitos devastadores deste fenómeno”, assegura Rui altitude, lançando para as nuvens sais higroscópicos
Soares, presidente da ProDouro. que vão “dissolver” as pedras de granizo já formadas,
facto que permitirá a queda de chuva ou, no limite,

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 43


PELO CAMPO

a queda de granizo de muito pequena dimensão,


incapaz de causar danos. No fundo, trata-se da
passagem da água do estado sólido para o estado
líquido.
O investimento inicial deste projeto cifra-se nos
1,2 milhões de euros e tem o apoio, desde a primeira
hora, de dois municípios: Alijó e Sabrosa. Mas são
várias as entidades já envolvidas: a Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), num apoio
científico, a ADVID, as Cooperativas de Favaios e
Sabrosa, entre outras. O projeto-piloto terá, então,
um radar e 19 postos de lançamento que vão cobrir
uma área de 15.000 hectares. Dessa área total,
6.000 estão plantados com vinha.
O projeto foi lançado publicamente no dia 16
de junho, com a presença da ministra da Coesão
Territorial, Ana Abrunhosa. “Tem todas as condi-
ções para funcionar. Se resulta em Saint-Émilion
porque não resultaria no Douro? E quando isso
acontecer acredito que os municípios vizinhos,
como Murça, Carrazeda de Ansiães, São João da
Pesqueira, Tabuaço e outros terão também inte-
resse em participar”, refere Rui Soares, que não
imagina uma solução individual para este pro-
blema. “A luta anti-granizo é uma luta coletiva que
tem de envolver uma estratégia de grupo”, sublinha
e apela, aos microfones da Revista de Vinhos, para
que outros atores possam juntar-se a este projeto.
“Quantos mais formos, melhor”, remata.

POR ESTES DIAS,


NA VINHA
Por estes dias, regra geral, as vinhas estão entre
o início do fecho do cacho e o cacho fechado.
A próxima primavera terá já
Em algumas regiões, poderá iniciar-se o
pintor em castas mais temporãs, sobretudo um Douro protegido do granizo
também pelo aumento generalizado das numa área de 15.000 hectares, seis
temperaturas. Os tratamentos anti míldio/
mil plantados com vinhas. Um
oídio, assim como para a podridão, traça,
cigarrinha verde, flavescência dourada, etc., “triângulo” geográfico que abrange
continuam. As despontas e desfolhas devem Alijó, Sabrosa e Pinhão.
ser feitas com peso e medida.
Do terroir Norte Alentejano…
quente, mas já de caraterísticas beirãs, nascem
os vinhos Herdade do Gamito.
Altamente comprometidos com a expressão
do granito e das encostas onde nasceram.
O criador de vinhos, protetor e pouco interferente,
tem o papel de revelar a pura assinatura
da origem.

www.herdadedogamito.pt
CERVEJA

texto e notas de prova Luís Alves / foto D.R.

Vai uma Sem mitos nem preconceitos e sobretudo


com base em informação fidedigna e
conhecimento. Os produtos que usam

cerveja substâncias não tóxicas da planta canábis


estão aí e as cervejas artesanais são um dos
exemplos. A Tropical Hemp Seed Lager é uma
de canÁbis? cerveja artesanal, produzida em território
português, e um dos vários produtos da
Tropical Bud, empresa criada por quatro
jovens que está a mexer com o mercado. A
Revista de Vinhos provou-a e assegura a
inexistência de efeitos colaterais…

Produzida a partir do Porto,


na Fábrica de Cervejas
Portuense, a cerveja Tropical
tem um ingrediente extra:
sementes de cânhamo
alimentar certificadas que
conferem “uma força extra à
Tropical Craft Beer”.

46 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


É um mercado em franca expansão desde há A cerveja sem efeitos indesejados
vários anos. No entanto, tem sido esta última
década que tem mostrado uma enorme diver- A Tropical é uma cerveja do tipo Lager, com os
sidade e criatividade à volta da planta canábis. ingredientes habituais: malte de cevada, lúpulo e
As vias medicinal e farmacêutica há muito que levedura (ver nota de prova). Produzida a partir
fazem uso da canábis, sobretudo para alívio da do Porto, na Fábrica de Cervejas Portuense, tem
dor. A esclerose múltipla, por exemplo, é uma um ingrediente extra: sementes de cânhamo ali-
doença que já é tratada em Portugal com base mentar certificadas que conferem “uma força
em fármacos produzidos a partir desta planta, extra à Tropical Craft Beer”. A apresentação
cultivada quase desde o início da agricultura, desta nova cerveja decorreu este ano, durante
como a conhecemos. Mas também outras a Canna Portugal – Expo Internacional de
doenças, normalmente do tipo crónico, podem Cânhamo e Canábis, um evento que teve como
e já beneficiam de fármacos que têm canábis na objetivo desmistificar preconceitos e tabus.
sua composição. A cerveja está disponível, naturalmente, nas
A via recreativa é outra das possibilidades, cinco lojas da Tropical Bud e também online
também muito conhecida e eventualmente até para todo o país, através do site da empresa,
mais associada à planta quando nela se pensa. com portes grátis para compras acima de
Mas é na via alimentar que tem havido um cres- 35,00€ e ainda com um desconto de 15% na
cimento significativo, dir-se-ia à medida que o primeira compra.
conhecimento dos públicos vai também cres- O projeto nasceu em 2020 pela mão dos
cendo e os mitos e tabus são desfeitos. Infusões, quatro sócios referidos e no final de janeiro
chocolates, óleos e vários outros produtos estão chegou também a loja online que não é apenas
progressivamente a serem incluídos na alimen- um local de transação. “O site não está focado
tação. E isso é feito de forma segura, sem efeitos a 100% nas vendas. Queremos também educar
e/ou intoxicações associados ao consumo desta o consumidor. O futuro do cânhamo depende
planta. Através da extração da substância CBD muito da informação das pessoas que possam
(Canabidiol), uma das 100 presentes na canábis, usar a planta e os seus derivados em segurança
é possível usufruir dos bons efeitos gerados, por e de forma eficaz, beneficiando das suas van-
exemplo, em casos de ansiedade, problemas do tagens”, refere João Borges, um dos sócios da
sono, dores crónicas, inflamações, acne e vários Tropical Bud.
outros. E aí entra a Tropical Hemp Seed Lager,
cerveja lançada pela Tropical Bud, empresa TROPICAL BUD
portuguesa que atua precisamente neste novo WWW.TROPICALBUD.SHOP/
domínio de produtos alimentares com base na @TROPICAL.BUD
substância CBD. João Borges, Vasco Vitorino, RUA CÂNDIDO DOS REIS, 18
Tomás Marques e Pedro Marques são os quatro 2800-269 CACILHAS, ALMADA
jovens que lançaram a empresa que conta não PRODUZIDA POR FÁBRICA DE CERVEJAS PORTUENSE
apenas com uma loja online mas também com
cinco espaços físicos (Almada, Amadora, Seixal,
Costa da Caparica e Ericeira).

90
Tropical Hemp Seed Lager
Espuma branca, com persistência
média. Acobreada, alguma turbidez.
Fruta madura, tropical. Na boca,
um corpo ligeiro e agradável, com
um final de boca muito (e bem)
marcado pelo cereal, com um
pico que lhe confere uma graça
particular e especial.
5,0 % de álcool
18 IBU
3,00€ (33 cl), 2,00€ (à pressão)

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 47


SPIRITS & MIXOLOGY

Porque para lá do vinho há muitos outros blends que merecem a nossa atenção.

texto Marc Barros / fotos D.R.

FluÈre
Go with the flow!

Apesar de ainda sem grande


expressão entre nós, os indicadores
positivos mostram que os
consumidores pretendem opções
de bebidas sem ou com baixo teor
de álcool, abrindo-as ao mundo da
coquetelaria. A Fluère veio preencher
o seu espaço neste segmento.

THE CUBAN
. 45 ml. Fluère
Spiced Cane
. 120 ml. Cola
. 1 rodela de lima
O que distingue as várias referências do portefólio
Fluère é a matéria-prima base, a mesma usada em
destilados alcoólicos. Obtêm-se destilados com
perfis semelhantes a destilados já existentes (Rum,
Tequila, Gin, Bitter…), o que permite aos bares
adaptar receitas de cocktails já conhecidas para
versão sem álcool e/ou com pouco álcool.

9,2 mil milhões de euros. Este é o valor que desempenhará um papel importante na participar em qualquer ocasião, mas que lhe
estimado de resultados na venda de bebidas cobertura do espaço não alcoólico e de baixo permitisse escolher se o álcool estava ou não
do segmento No & Low (bebidas sem ou com teor alcoólico”. envolvido”.
baixo teor alcoólico, que incluem a cerveja/ De acordo com Alexandre Leitão, Léon inspirou-se em textos romanos
cidra sem e com baixo teor de álcool, o vinho, Category Manager de Spirits na distribui- antigos para saber que plantas utilizar nas
os destilados e os produtos prontos para dora, “a Vinalda decidiu incorporar esta cate- primeiras expressões de Fluère e, ao fazê-lo,
beber), superando o das bebidas com álcool. goria seguindo o nosso objetivo de empresa derivou o nome Fluère do latim para fluir.
Segundo dados do IWSR Drinks Market diferenciadora e inovadora. Ou seja, incor- A marca utiliza apenas os melhores ingre-
Analysis, citados pela distribuidora Vinalda, poramos uma marca que nos permite ter dientes e os melhores botânicos. Fluère é
esta categoria tem aumentado a sua quota no um portefólio muito variado e diferenciador uma bebida espirituosa destilada, tal como o
mercado total de espirituosos. Inicialmente de uma categoria ainda praticamente inexis- gin, o rum ou o mezcal. “Apenas destilamos
constituía-se apenas como “apenas uma tente. Queremos dar opções às pessoas que a nossa bebida espirituosa não alcoólica de
pequena fatia do mercado global de bebidas procuram estas bebidas e tornar o mundo da forma um pouco mais suave”, segundo Léon
alcoólicas, mas cresceu mais de 6% em coquetelaria aberto a quem procura bebidas Meijers.
volume em dez mercados-chave globais em sem ou com baixo teor de álcool. É um seg- O portefólio Fluère inclui as referências
2021, representando uma quota de mercado mento ainda sem grande expressão no nosso Original, Fluère Raspberry Blend, Fluère
de 3,5%, em volume”. O IWSR prevê que esta país, embora os indicadores sejam muito Spiced Cane, Fluère Smoked Agave e Fluère
categoria tenha uma taxa de crescimento positivos”. Bitter. Para obter o melhor destes botânicos,
anual composta (CAGR) de 8% entre 2021 Este operador considera que as medidas cada baga, flor, especiaria e fruta é destilada
e 2025, face a um crescimento esperado das adotadas na Irlanda e outros países têm individualmente através da ‘destilação a
bebidas alcoólicas de 0,7% CAGR durante o impacto relevante no mercado e na tendência vapor’. Cada botânico é destilado separada-
mesmo período. No & Low. “Os mercados externos servem mente e depois misturado por mestres ‘blen-
A mais recente achega a esta conjuntura de benchmark para o nosso e claro que o ders’ na Holanda. “Esta não é a forma mais
foi dada pela Irlanda, que promulgou uma lei turismo tem um grande peso. Acreditamos fácil ou mais barata de fazer Fluère, mas é a
que obriga os rótulos das bebidas alcoólicas a que o que se torna regra no país de origem, melhor”, resume Léon Meijers.
apresentar os gramas de álcool e o teor caló- terá impacto no nosso. De qualquer maneira Alexandre Leitão aprofunda: “O que dis-
rico de cada produto, juntamente com indi- com o consumo responsável que se tenta tingue as várias referências do portefólio
cação dos riscos para a saúde associados ao incutir em Portugal, e neste caso, podermos Fluère “é a matéria-prima base”, a mesma
seu consumo, como doenças hepáticas ou de servir uma bebida de qualidade e com o “usada em destilados alcoólicos”. Com isto,
cancro, encaminhando os consumidores para mesmo grau de ciência de um cocktail prossegue, “conseguimos ter destilados com
o portal “Ask About Alcohol” do Executivo normal, pode e deve vir a ser uma aposta do perfis semelhantes a destilados já existentes
em matéria de Saúde e Segurança da Irlanda mercado. Diria que o segmento é o mesmo, (Rum, Tequila, Gin, Bitter…), o que permite
(HSE). A medida só entrará em vigor em mas uma categoria diferente e com um pro- aos bares adaptar receitas de cocktails já
2026, mas a polémica entre os Estados- pósito de inclusão”. conhecidas para versão sem álcool e/ou com
membro já estalou. Afinal, não é de agora que pouco álcool, por troca de um dos ingre-
os membros do Reino Unido e outros países Fluir no momento dientes alcoólicos”.
nórdicos levantam esta bandeira. A própria A Fluère usa “um processo de hidrodesti-
União Europeia tem lançado legislação sobre Nesse sentido, a marca Fluère apresen- lação, semelhante ao processo do gin, mas na
a matéria desde o início do milénio. ta-se com uma mensagem que incide sobre base nunca chega a existir álcool. Ou seja, a
Vai daí, a Vinalda, sempre atenta às ten- “fluir no momento, sentir-se confortável na destilação é feita por vaporização dos botâ-
dências de mercado, passou a representar sua própria pele e querer apenas o melhor”. nicos, todos de forma individual. No fim é
no nosso país a Fluère, marca de destilados Quando Léon Meijers, cofundador da marca, feita a receita para se obter o produto final”.
sem álcool da The Lucas Bols Company. “se apercebeu que não queria ter sempre a Como nada bate a experiências, deixamos
Esta “está em linha com a tendência cres- sua mente perturbada em situações sociais, aqui várias receitas de cocktails com Fluère.
cente de cocktails premium e acreditamos decidiu criar um líquido que pudesse beber e Go with the flow!

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 49


SPIRITS & MIXOLOGY

NOCHES MEXICANAS GIMLET OLD FASHIONED


. 45 ml. Fluère Smoked Agave . 60 ml. Fluère Original . 60 ml. Fluère Spiced Cane
. 50 ml. Sumo fresco de toranja . 20 ml. Cordial de lima . 10 ml. Xarope de laranja
. 15 ml. Sumo fresco de lima (Lime Cordial) . 4 gotas de bitter de cho-
. 50 ml. Água com gás colate
. 15 ml. Xarope de Agave
. 1 Pitada de sal

COCKTAILS FLUÉRE

FLUÈRE COLLINS FLUÈRE SOUR LEON’S MARGARITA


. 60 ml. FLUÈRE Original . 50 ml. FLUÈRE Raspberry . 60 ml. Fluère Smoked
. 30 ml. Sumo de limão . 50 ml. Sumo fresco de toranja Agave
. 20 ml. Xarope de açúcar . 25 ml. Sumo fresco de limão . 25 ml. Sumo de lima
. Água com gás . 20 ml. Xarope de açúcar . 20 ml. Xarope de
. 1 Clara de ovo Agave

50 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


Para ver e ouvir ENOTURISMO

Porque todos merecemos momentos de ócio e de pura preguiça.

texto Madalena Vidigal / fotos Fabrice Demoulin

Serenada significa ‘lugar sereno’. E realmente

SERENADA
Um Alentejo diferente...
essa é a melhor forma de descrever este monte
alentejano virado para a Serra da Arrábida.
ENOTURISMO

Já em 1646 se sentiu neste recanto de Grândola uma paz originalmente – criou um vinho que considera ser a ‘coluna
e tranquilidade que convidava ao sossego e, por isso, lhe foi vertebral’ do projecto: o Cepas Cinquentenárias, branco e
dado o nome de Serenada. Passando de geração em geração tinto.
na mesma família, a quinta de 23 hectares chegou às mãos de Também o trio de branco, rosé e tinto Grauvaque Y14 tem
Jacinta Sobral, a atual proprietária. um lugar especial nesta adega.
Nem sempre a vinha foi a protagonista nestas terras. A região de Grândola beneficia de uma fascinante variedade
Durante mais de 300 anos, os terrenos foram preenchidos geológica, sendo grauvaque um tipo de pedra predominante
essencialmente por oliveiras e pinheiros, nada de vinha. Até na herdade, atribuindo ao vinho uma salinidade inesperada.
que em 1961, ano de nascimento de Jacinta, o seu pai plantou a A composição dos solos é de tal maneira determinante para
primeira parcela com uma mistura de castas brancas e tintas. o terroir da Serenada que fez Jacinta estudá-los com algum
Quando herdou a Serenada, Jacinta estava longe das detalhe e que tem gosto em explicar a quem prova aquele
andanças do vinho, mas a formação em farmácia levou-a a néctar.
aplicar sua experiência de ciência e laboratório à enologia. Mas tanto o lugar como os vinhos da Serenada tinham que
Decisão que tem provado ter sido a correcta! ser partilhados com mais gente; por isso Jacinta, em conjunto
Este é um Alentejo diferente. Fica situado a 150 metros de com o seu marido Manuel, começou a desenhar um projeto
altitude, em plena Serra de Grândola e a 12 quilómetros do de enoturismo, a partir de umas antigas ruínas. Daí nasceu um
oceano, com solos compostos de ferro, xisto alentejano e grau- alojamento com oito quartos e suites – cada um com o nome
vaque, fortemente influenciado pelos ventos, tanto da serra de uma das castas da propriedade – piscina infinita e restau-
como do mar: sim, é um Alentejo mesmo muito diferente. De rante de comida caseira, bem no meio da vegetação. O enotu-
tal forma que se insere na região vitivinícola da Península de rismo da Serenada abriu portas em 2013, celebrando agora
Setúbal. uma década.
As características especiais e únicas deste lugar fizeram Além de visitas à adega e provas de vinho, acessíveis a todos
Jacinta perceber que a Serenada tinha as condições ideais os visitantes, também aqui se organizam outras actividades
para albergar diferentes castas de todo o país, e também exclusivas aos hóspedes do hotel. Os jantares vínicos, har-
algumas internacionais. À vinha plantada pelo pai, adicionou monizando os diferentes vinhos com especialidades da casa
uma parcela nova e ficou com um total de 7 hectares onde se – bacalhau assado, bochechas de porco, mousse de chocolate
encontram mais de 20 castas: Jaen, Baga, Castelão, Bastardo, ou pera bêbeda – são sempre os mais requisitados.
Ramisco, Fernão Pires, Trincadeira das Pratas, Moscatel e Aproveitando toda a envolvência deste lugar, preparam-se
Rabo de Ovelha, apenas para nomear algumas. mochilas de piquenique para serem disfrutadas em pontos-
Esta diversidade permite à enóloga divertir-se muito na -chave espalhados pela propriedade ou mesmo na praia ali tão
adega, que é como quem diz, fazer ensaios com diferentes perto. Também existe sinalética no exterior a indicar percursos
processos de vinificação, sempre em pequenas quantidades, entre vinhas para os fãs de trekking. Os menos aventureiros,
usando inox, barrica de carvalho e talha. Desta forma conse- que procuram somente a serenidade deste enoturismo, podem
guiu reunir um portefólio de 14 referências, preservando ao optar por um mergulho na piscina frente à vinha ou, nos dias
máximo a riqueza do ecossistema Serenada. de inverno, uma sesta na biblioteca junto à lareira. Vida difícil
Da tal vinha primogénita – que mantém em sequeiro como esta da Serenada, não é?

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 53


ENOTURISMO

CONTACTOS
Jacinta Sobral e Manuel Silva

A SERENADA
A SERENADA ENOTURISMO -
RIC 1265 - OUTEIRO ANDRÉ
7570-345 SOBREIRAS ALTAS
GRÂNDOLA, PORTUGAL
E-MAIL: RESERVAS@SERENADA.PT
TELEFONE: +351 269 498 014

PREÇOS
. VISITA E PROVA A PARTIR DE 15,00€
. JANTARES VÍNICOS
(EXCLUSIVO HÓSPEDES) A 45,00€
. SUITES A PARTIR DE 180,00€

EXPERIÊNCIAS
. Visita à vinha e adega com
prova de vinhos
. mochila de piquenique
. percursos de trekking
. jantares vínicos
. piscina
. oito suites
A Serenada é um Alentejo diferente. Situada em plena
Serra de Grândola e a 12 quilómetros do oceano, com
solos de xisto alentejano e grauvaque, fortemente
influenciada pelos ventos da serra e do mar: é um
Alentejo mesmo muito diferente. De tal forma que se
insere na região vitivinícola da Península de Setúbal.

COMO CHEGAR
Se partir de Lisboa, a viagem dura
menos de 1h30
Î atravessando a Ponte 25 de Abril
Î seguindo pela A2 até à saída
Sines/Grândola
Î Mais 15 minutos pelo IP8 e sai em
direção à Comporta
Î A N261 e a M1076 levam-no
até Sobreiras Altas/Fontainhas
onde encontrará sinalética para a
Serenada

Desde o Porto, conte com um


percurso de 3h30, maioritariamente
pela A1
Î Ao fim de cerca de 250km
encontra a saída para Benavente
onde segue pela A10
Î Entre depois na A13 pela saída
para Benavente até convergir com a
A2/Algarve
Î Daqui, basta seguir as indicações
descritas acima

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 55


ENOTURISMO

SUGESTÕES EXTRA
Centro Ciência Viva do Lousal

A mina do Lousal, ativa até aos anos 80, alberga actualmente um núcleo
museológico do qual o Centro Ciência Viva do Lousal faz parte. Além
de atividades interativas para quem adora ciência, este museu tem uma
particularidade interessante para os amantes do vinho: em parceria com a
Associação de Produtores de Vinhos da Costa Alentejana, acolheu na mais
antiga galeria mineira do Lousal alguns dos vinhos produzidos neste território,
incluído os da Serenada. Estas garrafas ficam guardadas em ambiente de
ausência de luz, humidade e temperatura estáveis todo o ano, ideal para o seu
envelhecimento.

Praia da Costa Alentejana

Parece cliché sugerir ir até à praia quando se visita a Serenada, mas em que
outra parte de Portugal o mar e o vinho estão tão perto um do outro? Ainda
para mais quando se trata da maior extensão contínua de praia de areia da
Europa, que vai de Tróia a Sines, ao longo de cerca de 80 km. As praias da
Aberta Nova e Melides são algumas onde vale a pena estender a toalha.
Exemplo incomparável da arquitetura militar do séc. XVIII e considerada por
muitos historiadores como uma das mais poderosas fortalezas abaluartadas do
mundo, o forte está aberto ao público todo o ano com visitas guiadas.

ERRATA
Por lapso, na última edição da nossa revista, a referência
à descida do rio Zêzere na reportagem dedicada à
Quinta do Côro saiu truncada. Publicamos agora a
versão correta, com o nosso pedido de desculpas aos
leitores e aos visados.

DESCIDA DO RIO ZÊZERE


Nos dias de mais calor, ou apenas para quem gosta de
alguma aventura, o rio Zêzere tem muitas atividades
para oferecer. Uma das maiores atrações é a descida
do rio em canoa. A viagem começa na Barragem de
Castelo de Bode e termina em Constância onde o Zêzere
se encontra com o Tejo. Pelo caminho pode-se ver o
Castelo de Almourol, desfrutar da paisagem ou dar
mergulhos na água (bem fria!) do rio.
DESCOBRIR x VISITAR x PROVAR

14 - 17 SETEMBRO ‘23
O MAIOR FESTIVAL DE VINHOS
DA REGIÃO DE LISBOA
GASTRONOMIA – VINHO – MÚSICA – CONVERSAS – PROVAS
EXPERIÊNCIAS SENSORIAIS – CHEFS – EXPOSIÇÕES

14.SET. 15.SET. 16.SET. 17.SET.


5.ªF 6.ªF SÁBADO DOMINGO

ANA BACALHAU CALEMA RUI VELOSO CAROLINA DESLANDES

almadovinho.pt
Para ver e ouvir R E P O RTAG E M

texto José João Santos / notas de prova José João Santos, Nuno Guedes Vaz Pires / fotos André Macedo, Ricardo Garrido

58 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


E L ES,
OS Q U E
I NVESTEM
P OR CÁ
DOMÍNIO DO AÇOR E QUINTA DA PEDRA ALTA

Todos dizem que Portugal está na moda. Bastar circular pelas grandes cidades para nos aperce-
bermos do “boom”, embora hoje seja também possível cruzarmo-nos com americanos, nórdicos,
brasileiros ou asiáticos no mais recôndito dos lugares.
No vinho, há muito nos habituamos a conviver com outras línguas. O que seria do Vinho do Porto
ou do Vinho Madeira sem a participação britânica? Mas, desde meados dos anos 90 do século
passado que um outro fenómeno tem sido vivido – o de estrangeiros que acabam por radicar-se em
Portugal, muitos abandonando as carreiras de sempre para abraçarem a aventurança.
Nos anos mais recentes o interesse tem aumentado, aí sim, talvez refletindo um pouco o tal
Portugal que está nas bocas do mundo. Porém, os casos que agora partilhamos são bem sérios.
Uma dezena de investidores brasileiros adquiriu a antiga Quinta Mendes Pereira, no Dão, e está a
lançar vinhos absolutamente surpreendentes, obtidos a partir do estudo exaustivo de solos, de castas
com enorme potencial, de vinificações separadas e redutoras. Domínio do Açor assume a inspiração
borgonhesa e os primeiros lançamentos são absolutamente desarmantes.
No Douro, a Quinta da Pedra Alta renasceu pelas mãos do antigo vice-presidente do Manchester
United. Ed Woodward e a mulher Isabelle são devotos do vinho, já conheceram os grandes terroirs
do mundo mas o clique apenas aconteceu perante a imensidão duriense, que um amigo lhes trans-
mitiu como sendo o Grand Canyon do vinho.
DOMÍNIO DO AÇOR

DO MÍ NIO
DO AÇ O R
O DÃO QUE REENCONTRA A BORGONHA

Os investidores e a equipa do Domínio do Açor


O grupo é heterógeno – investidores, empresários, médicos,
advogados, engenheiros (…) – mas unido pela paixão
comum do vinho. O pivot é Guilherme Corrêa, economista
de formação, sommelier profissional desde 1997, detentor
do DipWSet, já por duas vezes considerado melhor
sommelier do Brasil (2006 e 2009), finalista do “Best
Sommelier of the Americas” (2009), radicado em Portugal
desde 2017, ano em que começou a colaborar com a Revista
de Vinhos e, a partir de 2020, também com a Gula.

Uma dezena de brasileiros, a maioria de Belo Horizonte, juntou-se com o empirismo”, diz-nos o enólogo Luis Lopes.
para concretizar o desafio de devolver a Borgonha ao Dão. O grupo Guilherme Corrêa usou o Linkedin para o convidar para um
é heterógeno – investidores, empresários, médicos, advogados, almoço e conversar acerca dos planos que tinha para o Domínio do
engenheiros (…) – mas unido pela paixão comum do vinho. O pivot Açor. Luis trabalha desde 2018 na vizinha Quinta das Marias, em
é Guilherme Corrêa, economista de formação, sommelier profis- Carregal do Sal, soma experiências anteriores com Álvaro de Castro
sional desde 1997, detentor do DipWSet, já por duas vezes conside- e António Madeira, colabora com alguns produtores espanhóis, já
rado melhor sommelier do Brasil (2006 e 2009), finalista do “Best cumpriu estágios na Borgonha e na Nova Zelândia. De algum modo,
Sommelier of the Americas” (2009), radicado em Portugal desde a fome juntou-se à vontade de comer.
2017, ano em que começou a colaborar com a Revista de Vinhos e, a “O granito, ao decompor-se, gera sobretudo limo ou areia, ele-
partir de 2020, também com a Gula. mentos que transmitem frescura aos vinhos”, enfatiza Guilherme
Sincero apaixonado pela Borgonha, reconhece ter sido de lá a inspi- Corrêa. “Queremos trabalhar o Dão dos anos 50, 60 e 80 do século
ração para o nome Domínio do Açor, assim rebatizada a propriedade passado, um Dão de frescura, mineralidade e salinidade”, acrescenta
de Oliveira do Conde, em Carregal do Sal, outrora conhecida por Luis Lopes.
Quinta Mendes Pereira, curiosamente com os antigos proprietários
a terem também o Brasil na árvore genealógica. Ao todo, 23 hectares O primado da elegância
de terra numa quinta totalmente murada, a lembrar um domaine,
tendo vista próxima para a Serra do Açor, seguimento da Serra da O Domínio do Açor integra a subregião de Terras de Senhorim, das
Estrela, a mais significativa elevação de Portugal Continental. zonas que apresenta um perfil mais mediterrânico no Dão. Beneficia
Guilherme partilhou a oportunidade e lançou o repto. Amigo dos dias quentes de verão, que ajudam à plena maturação das uvas, e
puxou amigo, o argumentário foi bem colhido, em maio de 2021 das noites sempre frescas, ou melhor, sempre frias. E é sabido que a
fez-se o negócio e, já nesse ano, vindimaram-se os primeiros resul- vinha é uma planta que gosta de amplitudes térmicas.
tados, que agora chegam ao mercado. “As variedades do Dão deixaram de ser usadas por causa dos ciclos
São 11ha de vinhas, segmentados por 13 parcelas, que incluem um longos, dos anos chuvosos tardios. Temos que voltar a essas varie-
total de 3ha de vinhas velhas, com origem na década de 60 do século dades. Por ser uma zona mais quente, o ciclo será mais curto, o clima
anterior. As falhas dessas videiras mais antigas estão a ser colma- está mais quente mas o solo continua a ser o mesmo, de granito.
tadas através do recurso à seleção massal, que procura perpetuar o Um Dão mais mediterrânico é hoje uma vantagem: é fresco e tem
blend natural e, sobretudo, castas do encepamento mais tradicional verões secos, bom para trabalhar as castas antigas do Dão”, insiste
menos óbvio, como Arinto Gordo ou Alvarelhão. Luis Lopes.
O solo é de matriz granítica, nalgumas parcelas com aponta- Uva Cão, Barcelo, Trincadeira, Baga ou Tinta Pinheira são varie-
mentos de argila. O mapeamento do solo e do subsolo está a ser rea- dades que querem preservar e aportar sempre que possível aos lotes,
lizado com a ajuda de Pedro Parra, chileno obcecado pelo conceito evitando o recurso excessivo à Touriga Nacional. O trabalho, parcela
de terroir, referência mundial no estudo de chãos para vinhas, com a parcela, será mais extenuante mas certamente mais entusiasmante.
conhecimento científico apurado e experiência pelos quatro cantos Os primeiros vinhos foram já vinificados por talhões, o que só assim
do mundo, incluindo a sempre exigente França. permitiu boas surpresas, como o Bical. Fermentações espontâneas,
“Estamos a mapear o solo, a perceber onde poderá haver mais uso criterioso de madeiras, recurso a lagares, cubas de cimento e
minerais, solos de texturas mais grossas ou mais finas. Trata-se de barricas de maior dimensão.
um levantamento não apenas topográfico mas em profundidade, que “Vinhos com DNA do Dão. Um Jaen a lembrar um Beaujolais,
permita avaliar onde poderão ser implementados determinados por- um Tinta Pinheira a lembrar um Pinot Noir borgonhês”, explica
ta-enxertos e castas, onde há mais água e onde o solo é mais seco. Guilherme. “Uma enologia que respeite a fruta, a simplicidade e a
Pretendemos uma catalogação semelhante à usada na França – o intensidade, sem excessos de concentração”, complementa Luis.
que é um solo Village, um solo Premier Cru ou um solo Grand Cru, A confiança no trabalho desenvolvido pela dupla Guilherme/Luis
adaptando a nossa forma de trabalhar, cruzando o conhecimento é total do lado dos investidores.

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 61


DOMÍNIO DO AÇOR

Luís Lopes

O trabalho, parcela a parcela,


será mais extenuante mas
certamente mais entusiasmante.
Os primeiros vinhos foram já
vinificados por talhões, o que só
assim permitiu boas surpresas,
como o Bical. Fermentações
espontâneas, uso criterioso de
madeiras, recurso a lagares,
cubas de cimento e barricas de
maior dimensão.

André Salazar foi o primeiro a aceitar o desafio e uma peça-chave


a convidar mais amigos a juntarem-se ao projeto. “Queremos,
humildemente, fazer história, respeitar a tradição e fazer grandes
vinhos. Nada de volume nem pensar em retorno imediato”, garante.
Bruno Sena, outro investidor, também partilha ideias bem claras
sobre o que é pretendido: “O Dão reúne elegância, leveza, delica-
deza, é um lugar privilegiado. Nos tintos oscila entre o Rhône e a
Borgonha. Mas, o Dão está ainda subavaliado no mundo do vinho,
há muito a conquistar. Agora temos anos de trabalho conjunto,
juntar as experiências diversas e encantar o mundo”, assegura.
Os primeiros lançamentos do Domínio do Açor, todos de 2021,
não deixam ninguém indiferente. Desde logo o Bical, 677 garrafas
de um vinho branco avassalador, de desdobramentos interminá-
veis, que nos coloca perante a difícil decisão de abrir já a garrafa ou
deixá-la a repousar mais um tempo. A matéria que apresenta é, a
todos os níveis, surpreendente, deixando-nos boquiabertos perante
uma casta que não imaginaríamos poder atingir tamanha dimensão.
O Encruzado merece tempo, como é apanágio da casta, e o Cerceal
Branco, apenas disponível em formato magnum (230 exemplares),
tem nervo à flor da pele.
Nos tintos, o Tinta Pinheira é um hino à elegância, 645 garrafas
que ilustram bem as subtilezas de uma casta com pergaminhos na
região, e o Jaen (511 garrafas) é delicioso. Ambos colocam as expe-
tativas bem elevadas quanto aos próximos três tintos, lançamentos
esperados para os primeiros meses de 2024, incluindo um vinhas
velhas.
O Domínio do Açor entra em grande no clube mais exclusivo de
produtores do Dão.

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 63


DOMÍNIO DO AÇOR

64 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


Os primeiros lançamentos do
Domínio do Açor, todos de
2021, não deixam ninguém
indiferente. Desde logo o Bical,
677 garrafas de um vinho branco
avassalador, de desdobramentos
intermináveis, que nos coloca
perante a difícil decisão de
abrir já a garrafa ou deixá-la a
repousar mais um tempo.

97 94 92
Domínio do Açor Bical Domínio do Açor Encruzado 2021 Domínio do Açor Jaen
Vinha Celta 2021 Dão / Branco / Horizonte Ilimitado
Vinha Celta 2021
Dão / Branco / Horizonte Ilimitado Dourado. Notas de pólvora, flor branca, Dão / Tinto / Horizonte Ilimitado
Amarelo limão. A primeira expressão é alperce e ligeiros fumados. Tenso, de muito Rubi, rebordo azulado. Cheira a lagar, tais são
amanteigada, seguem-se nuances de lima, boa acidez e precisão estrutural, revela os primários de cereja vermelha, groselha,
maracujá e especiaria, tudo muito sóbrio excelente volume e um final muito sedoso. amora, leve vegetal e resina de pinheiro.
e elegante. A matriz é fina e salgada, a Como grande Encruzado que é, vai continuar O tanino é suave, a estrutura desenvolta,
untuosidade no meio palato é impoluta, o a crescer na garrafeira. mostra leveza e pureza finais que o tornam
desdobramento de texturas alimenta com Consumo: 2023-2040 original e delicioso.
muita matéria um final profundo e saboroso. 55,50 € / 11ºC Consumo: 2023-2033
Um vinho notável, que deveria guardar-se 38,50 € / 16ºC

religiosamente… embora seja pecaminoso

não o conhecer já.
93
Consumo: 2023-2040 / 38,50 €
— Domínio do Açor Cerceal Branco
90
Vinha Ruína 2021 (magnum) Domínio do Açor 2021
95 Dão / Branco / Horizonte Ilimitado Dão / Branco / Horizonte Ilimitado
Domínio do Açor Tinta Pinheira Dourado. Notas de casca de laranja, lima, Dourado, ligeiros reflexos âmbar. Notas de
pêssego e um toque de fumo. A acidez feno, maçã, amêndoa e delicada especiaria.
2021 A untuosidade agarra-se ao copo, tem muita
apresenta-se em estado bruto, a estrutura
Dão / Tinto / Horizonte Ilimitado combina firmeza e elegância, o final é amplitude, algum fumo e um final profundo,
Rubi. Nariz de cereja vermelha, morango salgado e eletrizante. Uma abordagem muito bem conseguido. Será parceiro certo à mesa.
e pinhal. Tanino sólido e muito elegante, interessante ao que também pode ser o Dão. Consumo: 2023-2030
acidez que lhe corre bem em fundo, sempre Consumo: 2023-2035 14,90 € / 11ºC
equilibrado e de projeção final que merece
45,50 € / 11ºC
apenas um descritor – finura. Tentador e
distinto, é um novo cartão de visita do muito
bom que o Dão tem para mostrar.
Consumo: 2023-2035
55,50 € / 16ºC
Q U I N TA DA P E D R A A LTA

Ed Woodward

Q UIN TA DA
PEDRA ALTA
… OU UMA HISTÓRIA DE MUNDOS CRUZADOS

66 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


A Quinta da Pedra Alta foi adquirida em 2018 por
Ed Woodward, um banqueiro e investidor britânico
que durante 16 anos foi também vice-presidente do
Manchester United.

Cima Corgo, Alijó, Favaios, Soutelinho. Tudo O Grand Canyon do vinho


depende do zoom que façamos ao mapa, mas a
Quinta da Pedra Alta reivindica ser a única no Douro Ed e Matt são amigos desde os tempos da escola
a possuir três marcos pombalinos, datados de 1761. A primária. Seguiram diferentes trajetos profissionais,
propriedade espraia-se por 45 hectares, 35 dos quais mas a paixão comum pelo vinho sempre os man-
são vinha. O detalhe desta geografia chega daqui a teve próximos. Ed manifestara em tempos a von-
nada, porque agora importa encontrar o fio de uma tade de um dia adquirir uma propriedade e fazer
meada que envolve diferentes enólogos. vinho, mas o clique ainda não acontecera. “Liguei ao
João Pires é um nativo duriense. Dava os primeiros Ed, a dizer-lhe que esta poderia ser a tal”, recorda
passos na Enologia, tinha 22 anos, quando conheceu Matt. “Disse-me que o Douro era o Grand Canyon
Matt Gant. Partilharam o quotidiano dos vinhos do vinho”, recupera Ed. As expetativas eram alta, o
Azamor, em Vila Viçosa, onde um outro enólogo contacto com a realidade convenceu.
com historial na Austrália e no Alentejo, e que todos “Quando cá vim pela primeira vez com o Matt
os portugueses bem conhecem, David Baverstock, conheci também o João. Ainda hoje recordo esses
era consultor (não menos curioso, Matt chegou dois ou três dias, foi extraordinário. A escala, a ele-
a trabalhar numa adega australiana onde David vação, o fato de o Douro ter 65% das vinhas em
também colaborou, embora sem na altura se terem patamar de todo o mundo, as pessoas (extrema-
cruzado). Matt e João ficaram amigos. No final da mente colaborativas desde o primeiro momento), a
vindima de 2007, João desafia-o a conhecer o Douro oportunidade de fazer vinhos com castas autóctones
e o impacto é imediato. Em 2009, quando João deixa – se todos plantarem Chardonnay ou Pinot isso tor-
o Alentejo e regressa ao Douro natal, Matt visita-o na-se aborrecido para mim. ”, sublinha Ed.
com mais regularidade e cresce o desejo de um dia Com a mulher, Isabelle, tem tido oportunidade de
fazerem algo em conjunto na região. viajar pelo mundo do vinho, pelo que o impacto cau-
“É um lugar especial, é como levar um miúdo a sado pelo Douro torna-se por isso ainda mais assi-
uma loja de guloseimas. Ainda hoje entusiasmo-me nalável. Conversou com outros britânicos ligados à
sempre que falo do Douro, esteja na Austrália ou região, percebeu que seria o passo certo.
noutro qualquer lugar”, confidencia Matt. O enó- O gosto deste homem de negócios pelo vinho
logo esteve durante anos na First Drop Wines, em começou nos tempos da universidade. Parte do
Barossa Valley, estando hoje a acompanhar a mulher, dinheiro que recebia do pai era gasto a comprar
Claudia, na Gant & Co., em Karridale, no sul mais exemplares, sobretudo dos mais simples e baratos,
fresco de Margaret River. num processo iniciático de descoberta, com todos
A Quinta da Pedra Alta, datada do séc. XVIII, os receios associados. O pai deu-lhe 100 libras para
esteve na mesma família por cinco gerações e entre- comprar mais vinhos e desafiou-o a esconder os
gava uvas para as grandes casas de Vinho do Porto rótulos, escrever notas de prova e enviar-lhe essas
até que, a partir de 2003, decidiu engarrafar a maté- apreciações. Já nos anos 90, quando Ed conheceu
ria-prima. Outros enólogos da nossa praça, como Isabelle, ambos frequentaram os cursos da Wine &
Jorge Alves, Celso Pereira ou Tiago Sampaio, esti- Spirits Education Trust (WSET), o bichinho ficou e
veram por lá, tendo João Pires sido a chave da tran- têm calcorreado as diferentes denominações inter-
sição operada nos tempos recentes. nacionais.
Em 2016, a propriedade é colocada no mercado “A razão da compra da Pedra Alta nunca foi o
e, volvidos dois anos de negociação, é adquirida por dinheiro, foi perceber a propriedade, o staff incrível
Ed Woodward, um banqueiro e investidor britânico que aqui estava. Temos agora que viajar pelo mundo
que durante 16 anos foi também vice-presidente do e falar do Douro”. O desígnio de Ed e Isabelle.
Manchester United. O que está preconizado é respeitar o lugar e

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 67


O que está preconizado é respeitar
o lugar e extrair-lhe a frescura,
alcançar a primazia da elegância
em detrimento da potência. A
diversidade de exposições e o
xadrez que a altitude permite são as
premissas.

extrair-lhe a frescura, alcançar a primazia da ele-


gância em detrimento da potência. A diversidade de
exposições e o xadrez que a altitude permite são as
premissas.
O encepamento branco anda pelos 20%: Rabigato,
Gouveio, Donzelinho Branco, Malvasia Fina e Fernão
Pires; nas castas tintas, Touriga Nacional, Touriga
Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Tinto Cão e
Sousão. Estão a fazer-se enxertias para castas menos
óbvias, como a Tinta da Barca, Donzelinho Tinto e
Alicante Bouschet, que permitam reforçar a diversi-
dade. Junto ao rio, as uvas dali aportam concentração
e perfil mais quente; nas zonas altas, mais frescas e
viradas a Norte, explora-se a finura.
“Na Austrália não temos o xisto nem estas elevações
de centenas de metros. Com esta altitude é possível
fazer uma diversidade de estilos. De vinhos brancos
aromáticos aos mais texturados, de tintos leves aos
mais encorpados, toda a gama de vinhos do Porto…
E isto a partir de uma só quinta”, observa Matt Gant.
Os vinhos Quinta da Pedra Alta estão a ser sobre-
tudo comercializados em Portugal, seguindo-se o
Reino Unido. O objetivo de curto prazo é crescer nas
exportações para o Brasil e os EUA. Na propriedade
está a ser requalificada a adega, que passará a permitir
uma zona para provas e acolhimento de visitas. Os
restantes investimentos estão centrados na vinha e o
futuro de médio prazo é possível que traga outra pers-
petiva de enoturismo.
“Muitas das provas cegas que fazemos no mundo
colocam os nossos vinhos entre os melhores. Temos
autenticidade, elaboramos vinhos portugueses, vinhos
do Douro. Queremos mostrar vinhos portentosos
mas também outros, que nos aproximem das novas
gerações, que sejam mais fáceis de beber”, estipula Ed
Woodward.
A crer no que provamos, a Quinta da Pedra Alta
está a jogar no campo todo e parece ter fôlego para
aguentar bem qualquer desafio.

68 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


Q U I N TA DA P E D R A A LTA

A equipa da Quinta da Pedra Alta

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 69


Q U I N TA DA P E D R A A LTA
“Liguei ao Ed, a dizer-lhe que esta poderia ser a tal”,
recorda Matt Gant. “Disse-me que o Douro era o Grand
Canyon do vinho”, recupera Ed Woodward. As expetativas
eram altas e o contacto com a realidade convenceu.

Matt Gant e João Pires

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 71


Q U I N TA DA P E D R A A LTA

93 91 87
Quinta da Pedra Alta Reserva Quinta da Pedra Alta Reserva 2021 Pedra N. 03 Porto Branco
2020 Douro / Branco / Vinhos Quinta da Pedra Vinho do Porto / Fortificado / Vinhos
Douro / Tinto / Vinhos Quinta da Pedra Alta Quinta da Pedra Alta
Alta Amarelo limão. Notas de restolho, limão, Dourado, reflexos limão. Muito aromático,
Rubi escuro. Florais elegantes seguidos de toranja e um toque de especiaria fina. revela florais, lima e algum tropical.
bergamota, notas de grão de café, groselha Simultaneamente tenso e largo, untuoso, Aguardente a preceito, equilíbrio entre
escura e folha de tomate. Tanino portentoso, de acidez bem presente e um volume fruto, açúcares e acidez, de final exato e
texturas sempre aveludadas, definição convincente. Termina salgado e com boa apelativo. Uma abordagem modernaça e bem
no volume. Termina elegante e teimoso, a profundidade. conseguida do que pode ser um Porto para
denunciar que o melhor momento está ainda Consumo: 2023-2030 aperitivos ou mesmo para mixologia.
para chegar. 22,00 € / 11ºC Consumo: 2023-2030
Consumo: 2023-2035 / 22,00 € / 16ºC — 14,25 € / 14ºC
(chegará ao mercado no último trimestre do —
ano)

90 86
Pedra N. 10 Porto Tawny 10 Anos
Prova N. 6 2022
92 Vinho do Porto / Fortificado / Vinhos
Douro / Rosé / Vinhos Quinta da Pedra
Quinta da Pedra Alta
Quinta da Pedra Alta Porto Alta
Aloirado, reflexos ainda rubi. Muito exótico
Vintage 2018 mostra cravinho, caril, cereja desidratada e Salmão muito aberto, quase incolor. Ligeiros
Vinho do Porto / Fortificado / Vinhos amêndoa torrada. Sente-se a doçura mas florais seguidos de cereja vermelha e
Quinta da Pedra Alta há equilíbrio entre fruto, acidez e açúcares. romã. A mais-valia está na prova, graças à
O final é longo e bem saboroso. Para cremosidade que apresenta, à elegância
Púrpura. Florais ao primeiro contacto,
sobremesas à base de frutos secos. generalizada e ao final fácil e gastronómico
seguidos de groselha escura, bombom
de chocolate e fumo. Tanino sedoso e Consumo: 2023-2040 Consumo: 2023-2025
desenvolto, aguardente contextualizada, bom 21,60 € / 14ºC 9,35 € / 11ºC
volume e finura na despedida. Um Vintage de
perfil contemporâneo, que dá desde já muito
prazer.
Consumo: 2023-2053 / 37, 55 € / 16ºC

72 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


Para ver e ouvir R E P O RTAG E M
texto e notas de prova Célia Lourenço / fotos Rita Chantre

Dois nomes da enologia do


Tejo, Hugo Mendes e António Ventura. O
primeiro intitula-se ‘The Wizard Apprentice’; o segundo
é um dos grandes mestres da enologia portuguesa. Ambos
desenham vinhos que mostram do que a região é capaz.

O APRENDIZ E O MESTRE
HUGO
MENDES
UM ESPÍRITO LIVRE

Hugo Mendes gosta de livros e de pala- trabalho duro, sobretudo na vindima, que o
vras. Diz-nos mesmo que é um “escritor fascinou e que o levou a apaixonar-se pela
frustrado”. Também gosta de vinho e, neste ideia de superação física, pelo ultrapassar de
capítulo, não parece haver frustração que limites que achava definitivos. Orgulha-se
lhe toque. Mas todas as histórias têm um ao conseguir ultrapassar essas barreiras do
início e só assim percebemos como é que esforço físico.
um investigador na área da biomedicina Uma conversa com Hugo Mendes vai-se
se torna enólogo. Estudou biotecnologia e desmultiplicando em assuntos vários,
queria descobrir a cura para o cancro. Há rumando neste sentido ou naquele, há
um misto de ambição e sonho neste desejo, medida dos seus gostos e vários interesses.
faceta que de certo modo encontramos É um pensador, também. Um criativo,
também nos seus vinhos. seguramente. E ao entrarmos no universo
Quando tomou consciência que para dos seus vinhos, diz-nos que inicialmente
praticar investigação teria que sair do país, o objetivo não era ter um projeto próprio,
preferiu não o fazer. E uma primeira expe- mas a decisão de o concretizar teve obvia-
riência de vindima aliciou-o para continuar. mente a ver com essa sua natural necessi-
Para experimentar e estudar, como gosta. dade de criar. Até porque os produtores
Foi adegueiro, fez estágios e começou a tra- com quem trabalhava tinham estilos bem
balhar como enólogo na região de Lisboa, definidos, com pouca margem para as suas
com incidência em Bucelas (na Quinta da experiências. É assim que pensa em algo
Murta, por exemplo). Diz-nos que “está na seu, mais como um laboratório, com liber-
moda desvalorizar o trabalho de adega”, dade para encontrar o seu caminho, olhar e
mas essa é também uma forte inspiração estudar as castas portuguesas.
para a sua vontade de fazer vinho. É um

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 75


TEJO

A semente do ‘crowdfunding’ Aliás, “imagem” é um assunto caro para


A necessidade aguça o Hugo Mendes e basta olhar para os rótulos
Em 2016, Hugo Mendes decide fazer o pri- engenho e Hugo Mendes para perceber isso. Diz-nos que gosta muito
meiro vinho em nome próprio, mais de uma de estética e que não tem qualquer vergonha
década depois de se estrear na enologia. E
recorreu a uma vasta em admitir que passados 20 anos neste nosso
esse passo é dado de uma forma inédita em “nuvem” de seguidores do meio do vinho, ainda é atraído pela beleza de
Portugal, procurando os meios necessários um rótulo (…e porque haveria de sentir ver-
a partir do investimento dos consumidores,
seu blogue “The Wizard gonha da sua atração pelo belo, perguntamos
já que não o conseguiria fazer com os seus Apprentice”, pessoas que nós…). Acha que mentalmente temos sempre
próprios recursos. A necessidade aguça o a ideia que se uma pessoa se preocupa com
engenho e Hugo Mendes recorreu a uma
gostavam do que escrevia a “roupa”, também se preocupa com o que
vasta “nuvem” de seguidores do seu blogue e dos vinhos que fazia. E o está dentro da garrafa. E não vê problema em
“The Wizard Apprentice”, pessoas que gos- comprar pelo rótulo, pela sedução da imagem
tavam do que escrevia e dos vinhos que fazia.
que propôs foi uma venda e como ela comunica com o espectador. Por
E o que propôs foi uma venda en primeur que en primeur que seria o seu isso, trabalha com dois designers na imagem
seria o seu financiamento. As pessoas teriam dos seus vinhos, ao mesmo tempo que desafia
financiamento.
que confiar num vinho que não conheciam - artistas a criar obras para figurarem nos seus
e nem sequer existia, e pré-comprá-lo com rótulos. Rótulos que quer que provoquem
um desconto interessante. E o objetivo era seu trabalho em Bucelas e do contacto com determinados sentimentos e que expressem o
a venda de 800 garrafas, mínimo suficiente alguns produtores de Lisboa. Começou a ter carácter do vinho que “vestem”.
para pagar a produção do vinho. No início, consciência do enorme potencial da região Acha, entretanto, que se desvaloriza a
com a participação natural dos amigos, as e a ver caminhos que podia explorar. Sentiu importância da envolvente. E se o vinho
vendas chegaram às 200 garrafas. Mas era que o seu papel seria estudar as castas por- é toda a emoção que consegue provocar,
preciso muito mais. E, a partir daí, o enólogo tuguesas e mostrar o potencial das castas então a relação com o consumidor começa
diz-nos que o assunto saiu das suas mãos. de Lisboa em Lisboa, a partir de uma inter- quando olhamos para a garrafa. A emoção
Deixou de conseguir controlar o empenho pretação pessoal. Aberta a abordagens dife- deve começar nesse momento e o vinho será
e participação das pessoas que se mobili- rentes, que permitem a tentativa e o erro (o tão mais barato quanto mais prazer der. A
zaram e envolveram de tal forma que fazer tal laboratório que sonhou) e que defendem imagem ajuda, assim, a preparar o consu-
vingar o projeto era já um objetivo comum uma enologia interpretativa. midor para o que vai encontrar. E no caso dos
(e não apenas dele). Por isso lhes continua a O seu primeiro vinho foi um lote de Fernão seus vinhos, ainda antes de os levar à boca,
chamar “patronos”, sempre com uma ponta Pires e Arinto e, para espanto de muitos, cha- temos o grato prazer de encontrar literatura
de emoção. Essas pessoas estão na origem do mou-se “Lisboa” (na nossa visita provámos o nas rolhas. A cada ano, Hugo Mendes escolhe
que os Vinhos Hugo Mendes se tornaram. Lisboa Colheita 2021, no qual as duas castas uma frase ou um pensamento. Oscar Wilde,
Conta-nos que lhe apareciam “amigos dos têm 30% de co-fermentação). E a justifi- Brillat-Savarin ou Tennessee Williams. Nas
amigos dos amigos” para comprar uma caixa cação para o nome tem a ver com o grau de rolhas da colheita de 2021, encontramos
de vinho e, na fase final, quando faltava muito importância que quis dar à região na leitura George Orwell com a sua Quinta dos Animais,
pouco, os primeiros compradores voltavam do rótulo. Como na Borgonha, por exemplo. “All animals are equal, but some animals are
para garantir que acontecia mesmo. Confessa De Lisboa, estendeu a produção ao Tejo, more equal than others.”
que nunca planeou que as pessoas se envol- muito por insistência do seu amigo Pedro Os vinhos de Hugo Mendes, já o dissémos,
vessem tão intensamente… “o tal fator Seixo (Encosta do Sobral). O que, mais cedo gravitam à volta das castas de cada uma das
humano que não controlamos e precisamos ou mais tarde, iria sempre acontecer, já que regiões. Ao mesmo tempo que são fruto da
ir a jogo para o sentirmos” (palavras suas). é onde tem raízes familiares e onde se apai- sua experiência anterior. Por exemplo, o
xonou pelo vinho e pelos seus bastidores. Fernão Pires é colhido muito cedo, com base
Lisboa e Tejo O Tejo é fundamental na sua vida e, como no grau de acidez, precisamente como fazia
nunca tinha feito vinho nessa região apesar em Bucelas para as bases de espumante.
Toda a sua vida profissional enquanto de a conhecer tão bem, sente que tem a visão Desde 2005, tem vindo a reduzir o uso do
enólogo foi passada em Lisboa, por isso foi de quem vem de fora. E vê que há muito por sulfuroso, bem como da generalidade dos
natural que o projeto Hugo Mendes come- onde evoluir, muito potencial a explorar. produtos enológicos, e com sucessivas expe-
çasse nessa região. Como foi natural esten- riências tem vindo a aperfeiçoar determi-
der-se ao Tejo, já que nasceu em Santarém. Os vinhos do aprendiz de feiticeiro nadas práticas. Por exemplo, no sentido de
Para todos os seus vinhos, até agora, compra uma melhor evolução, oxida os mostos (e
uva e aluga os serviços de uma adega. Em O nome do seu blogue, que entretanto é já depois clarifica). Não faz batônnage porque
Lisboa, na Quinta do Carneiro, em Alenquer. também o nome de um vinho, é irresistível. considera que acelera o processo, preferindo
Na região do Tejo, na Encosta do Sobral, em “The Wizard Apprentice” transporta-nos sim estágios mais longos. É rigoroso com as
Tomar. para imaginários da literatura, também para palavras e não chama “curtimenta” ou “talha”
O conceito que está subjacente aos vinhos universos povoados de imagens fantásticas a vinhos que não cumprem integralmente os
com o seu nome surgiu na sequência do que temos guardadas nas nossas memórias. processos. Antes “skin fermented” e “ânfora”

76 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


em cada um desses casos. E qualquer rótulo Os vinhos de Hugo Mendes tecnológicas, se quisermos. É um vinho sur-
Hugo Mendes, tem sempre indicação da data preendente também por isso, para além de
de engarrafamento.
gravitam à volta das castas um natural e invejável charme.
No Tejo, Fernão Pires era uma casta que de cada uma das Quanto ao futuro, tem muitos caminhos
odiava e com a qual estava cético. Cresceu pensados. Ajudar outros “Hugos” a criar o
na Ribeira de Santarém e a memória que tem
regiões. Ao mesmo tempo seu negócio é um desses caminhos. E ampliar
desses vinhos era as ruas “tresandarem” a que são fruto da o seu Santarém Wine Hub, onde tem o escri-
mosto seco da uva muito madura na época tório, armazém e espaço para formações,
da vindima. Diz que gosta de se sentir ins-
sua experiência anterior. para um projeto alargado à produção. Um
pirado pelo trabalho dos colegas e foi pre- espaço em coworking onde se divida adega
cisamente com a prova de alguns vinhos, Trincadeira da Casa Cadaval. Por isso, era e vinha, que seja um centro nevrálgico de
trabalhados de formas que não conhecia, inevitável procurar trabalhar essa casta. temas relacionados com vinho. Ao mesmo
que se sentiu finalmente convertido ao O aprendiz de feiticeiro diz-se muito feliz tempo não quer abrir mão da independência
Fernão Pires do Tejo, procurando agora tra- com todos os seus vinhos, com a sorte de só que conquistou. Gosta do conceito “inde-
balhar a casta com abordagens diferentes. engarrafar os que gosta. Das suas 12 referên- pendente”, que pode continuar a dar muitos
Quanto à Trincadeira, o processo foi inverso. cias, não esconde que o Trincadeira (Hugo frutos, até pela liberdade criativa que acar-
Apaixonou-se pela sua elegância no primeiro Mendes Tejo tinto) é um dos que lhe dá reta. Diz que vai vendo até onde pode ir esta
vinho que provou, que terá sido o Quinta da mais gozo e mais prazer. E é confirmatório independência, numa espécie de evolução
Alorna 2001 ou 2002, quando lá estagiou. do potencial que acredita que o Tejo tem interpretativa. Para aprendiz de feiticeiro,
Depois, com a prova do mosto ficou com- de fazer vinhos diferenciados, também com não está mal.
pletamente rendido e é fã de longa data do abordagens menos convencionais ou menos

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 77


TEJO
Santarém Wine Hub
Um “hub” significa um lugar agregador.
Agregador de produtos, de serviços, de
valências.
O Santarém Wine Hub é um lugar de coworking,
partilhado pelos Vinhos Hugo Mendes e pelo
distribuidor Vino Sofia. E é muito mais que
um escritório e um armazém, que era a ideia
inicial. Tem também um espaço para formações
e provas, polivalente para várias actividades
relacionadas com vinho.
O Santarém Wine Hub quer realmente ser
um ponto agregador. Um espaço por onde
circulem pessoas que gostam de vinho, a
fazer todo o tipo de coisas. Fica em Santarém
porque as duas empresas acreditam que faz
todo o sentido puxar o vinho para a capital
do gótico que pode ser também um ponto de
convergência de toda a região do Tejo.
HUGO MENDES WINES
RUA DO BAIRRO NOVO, 22
2090-217 FRADE DE CIMA
M. +351 919 093 071

92 90 90 90 86
The Wizard Hugo Mendes The Wizard Hugo Mendes Lisboa Hugo Mendes
Apprentice Hugo Lisboa 2021 Apprentice Hugo Castelão 2022 Lisboa 2021
Mendes 2020 Lisboa / Branco / Volátil Mendes 2021 Lisboa / Tinto / Volátil e Lisboa / Tinto / Volátil e
Tejo / Tinto / Volátil e e Exótico Tejo / Branco / Volátil e Exótico Exótico
Exótico Cor palha. Aroma a pender Exótico Cor aberta. O vinho grita Cor rubi, sem grande
Cor rubi pouco mais para o lado mineral, Cor palha alaranjada. Nariz fruta vermelha, muita fruta concentração. Nota
concentrada, com brilho com notas de jasmim e muito floral, que se vai vermelha e silvestre. Boca mentolada, no aroma, com
granada. É um vinho muito flor de laranjeira muito desdobrando em muitas areada e vegetal, e a mesma madeira e fumo, para depois
perfumado, sempre em apelativas. É intenso, sem camadas, com notas de fruta fresca e silvestre num deixar aparecer a fruta.
modo delicado, com aromas ser exuberante. Na boca, é líchias, de curtimenta e corpo de sedutora leveza. Sente-se adstringência
limpos e fruta definida, com seco e delicioso, com acidez de especiarias exóticas Tem uma nota herbácea inicial, com nota de tosta
nota de cereja. Boca muito em primeiro plano e fruta e doces. É um vinho com incontornável, que pontua o e pimenta. É um tinto
bonita, aberta, com traço citrina bem desenhada, a muita personalidade, com seu final marcado também estruturado, que se sente
vegetal fresco e sempre par de ligeira tosta. Final uma boca muito expressiva, pela adstringência fina. Uma ainda a integrar cada uma
presente. Final longo e floral bonito, elegante e que não esconde a casta. boa expressão da casta, das partes e que precisa de
incrivelmente sedutor. Um adulto. Frescura, profundidade e de grande vocação para a mais tempo.
vinho que distribui charme Consumo: 2023-2027 secura final apetecível. Um mesa, que evoluirá muito Consumo: 2023-2030
à passagem. 15,00 € / 11ºC branco de elegância sóbria. bem. 13,00 € / 16ºC
Consumo: 2023-2032 Consumo: 2023-2027 Consumo: 2023-2032
22,00€ / 16ºC 15,00 € / 11ºC 15,00 € / 16ºC

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 79


TEJO

Anabela Tereso

QUINTA
DA ATELA
UMA FÉNIX NO TEJO

A Quinta da Atela é uma pro- vinha. Da área total da propriedade expetativas eram altas quando o
priedade em Alpiarça, na margem de cerca de 2.000 ha, mais de 10% marido lhe disse que tinha comprado
sul do rio que dá nome à região, era vinha. uma quinta, em Alpiarça. O que ela
Tejo. A sua história é antiga, remon- Com o 25 de Abril de 1974, a quinta não sabia era o estado dos edifícios,
tando ao séc. XIV quando o seu foi ocupada durante uma década. tanto da casa, como das adegas e
nome era Quinta da Goucha e tinha Quando foi restituída aos donos armazéns. Entre o “descuidado” e a
como proprietário D. Afonso Telo tinha cerca de 630 ha (área que pré-ruína, nalguns casos. Em estado
de Menezes, Conde de Ourém e de mantém até hoje), já que uma parte idêntico estavam os mais de 100 ha
Barcelos. Mais tarde, é doada a uma significativa ficou na posse da coope- de vinha.
ordem religiosa de grande peso na rativa agrícola. Nessa altura, a família Anabela pensou, primeiro, que não
região, Eremitas Calçados de Santo Oliveira recuperou a propriedade e é conseguia. Mas arregaçou as mangas
Agostinho (o Convento da Graça já em 2017 que o herdeiro vende aos e hoje tem, na região, o reconheci-
de Santarém é um importante tes- atuais proprietários, Anabela Tereso mento da sua Quinta da Atela como
temunho do seu património) e, já no e Fernando Vicente, nomes ligados à o Melhor Espaço de Enoturismo de
séc. XIX, com a extinção das ordens agropecuária com a Valgrupo. Tejo (Gala Vinhos do Tejo 2022, pro-
religiosas, terá certamente passado A Quinta da Atela é gerida por movida pela Comissão Vitivinícola
por alguns tumultos. No final desse Anabela Tereso que nos conta o Regional do Tejo e pela Confraria
século XIX, a quinta é comprada por choque que teve ao entrar pela Enófila de Nossa Senhora do Tejo),
Isidoro Maria de Oliveira, fundador primeira vez na propriedade. ao mesmo tempo que os vinhos se
das Salsichas Izidoro, um homem de “Associamos o termo “quinta” a reinventaram, com nova imagem,
visão que investe em largas áreas de algo bonito”, diz-nos, por isso as novas referências e nova energia.

80 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


Atualmente, são 150
O toque de Midas
A metamorfose da Quinta da Atela ha de vinha, dos quais
Como já dissemos, a grande responsável
130 estão em produção,
António Ventura, com mais de 40 anos de pela recuperação e pelas mudanças da Quinta
enologia e Personalidade do Ano no Vinho esperando-se que em da Atela nos últimos anos é Anabela Tereso.
2021 para a Revista de Vinhos, é o enólogo Ela que nos diz não perceber nada de vinhos
dois ou três anos se possa
da Quinta da Atela e nele está muito da his- quando aqui chegou, o que aliado ao estado
tória destes vinhos. Começou em 1998 com ultrapassar largamente degradado da propriedade, a desmotivou
o então proprietário Joaquim Oliveira e ficou o milhão de garrafas imediatamente. Mas não o suficiente para
até 2015. Precisamente quando a decadência não reagir. Começou logo a olhar para os
se havia instalado, sentindo que não podia anuais. Estas vinhas estão rótulos e a imaginar como seria uma nova
fazer mais. Em 2017, com a nova adminis- maioritariamente em imagem, ao mesmo tempo que tinha uma vin-
tração, recebe o convite para voltar ao local dima à porta. Nesse primeiro ano ainda vin-
“onde fora muito feliz” e voltou. Voltou para charneca, significando isto dimaram com o enólogo que estava na Atela
participar num novo projeto que ambicio- que são solos mais pobres, e os primeiros engarrafamentos foram um
nava pegar no melhor da Quinta da Atela e colheita entrada de gama e, mais tarde, um
acrescentar-lhe valor. Como nos diz António essencialmente arenosos, reserva. Esses dois vinhos foram o início da
Ventura, “voltei para um projeto de quali- por oposição à lezíria, nova Atela.
dade”. Depois, já com António Ventura, começou
Para esta nova fase, a adega, de 2002, muito mais produtiva, com a desenhar verdadeiramente o portefólio
sofreu apenas algumas alterações de layout. solos de barros e argilas. e em 2021 lança a aguardente. Foi por sua
Atualmente, são 150 ha de vinha, dos quais vontade que se estudou e criou uma imagem
130 estão em produção, esperando-se que muito relacionada com as grandes aguar-
em dois ou três anos se possa ultrapassar lar- isolar estas uvas que, para já, são a base do dentes mundiais, como foi por sua vontade
gamente o milhão de garrafas anuais. Estas rosé que provámos e de um tinto ainda em que no ano seguinte, em 2022, se lançam os
vinhas estão maioritariamente em charneca, barrica. Para o Casa da Atela Castelão Rosé primeiros espumantes (da colheita de 2019).
significando isto que são solos mais pobres, 2021, fez-se uma vindima precoce como se Mostra-se muito orgulhosa por ter conse-
essencialmente arenosos, por oposição à se tratasse de uma ba-se de espumante, pro- guido lançar um espumante com 18 meses
lezíria, muito mais produtiva, com solos curando-se a melhor parcela. Fermentação a de estágio, trabalho que reconhece muito
de barros e argilas. O enólogo diz-nos que baixa temperatura, borras finas, bâtonnage exigente, diferente de um vinho tranquilo.
apesar dos rendimentos muito mais baixos durante 90 dias, com 1/3 do vinho em barrica Mas todos estes produtos diferenciados con-
em charneca, a qualidade é maior. A areia nova e de 3º ano. Ao final dos 90 dias, pro- tribuem para o reconhecimento da marca.
permite uma drenagem perfeita, o que para a cedeu-se ao lote do vinho em madeira com o Marca que, no início, enfatiza como o maior
orografia da região - a Quinta da Atela é prati- vinho em inox. O resultado é um rosé muito desafio. Foi muito difícil entrar no mercado e
camente plana, é uma enorme vantagem para fresco, como se espera, sobretudo com bons ter o reconhecimento dos clientes.
conseguir bons vinhos. Em termos climáticos, contrastes entre a fruta vermelha e um certo Quanto à recuperação do edificado, diz-nos
o Tejo é uma região moderada mas pode ter lado mais fumado, sério e seco. que foi um processo muito duro, mas gratifi-
picos quer de calor, no Verão, quer de frio, no António Ventura está entusiasmado com cante. E resultou num conjunto de valências
Inverno, que levam António Ventura a dizer esta nova vida da Quinta da Atela. Várias com alojamento (4 suites) e vários espaços
que é uma região de extremos. são as referências entretanto criadas, como o para eventos com áreas muito generosas. No
Na Quinta da Atela, o encepamento é vasto rosé de Castelão que acabámos de referir ou âmbito do enoturismo, há várias atividades
e eclético, dividindo-se entre variedades os espumantes, num caminho que vai paula- que se aliam às provas de vinhos e visita à
portuguesas e internacionais. Nos brancos, tinamente mostrando o carácter da casa, com adega e às vinhas, já que a propriedade tem
Fernão Pires, Arinto, Chardonnay, Sauvignon vinhos seguros e limpos que se distinguem uma parte de montado, um lago com mais de
Blanc e Gewurztraminer, enquanto para pela sua personalidade. Também a Capela um hectare, animais em pastagem e o maior
os tintos conta com Pinot Noir, Caladoc, da Atela Aguardente Vínica Velhíssima XO salgueiro negral da Península Ibérica.
Syrah, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, 20 Anos foi uma enorme surpresa, já que é a Também a Anabela Tereso perguntámos
Trincadeira Preta, Alicante Bouschet, primeira aguardente vínica com certificação como será o futuro próximo da Quinta da
Aragonez, Touriga Nacional e Castelão. DOC do Tejo. Trata-se de uma aguardente Atela. A resposta é rápida e não exige muita
Castelão que é uma casta com a qual António que estava a envelhecer em cascos quando reflexão. Vinho e turismo, já que não vê um
Ventura muito tem trabalhado, pela qual tem a quinta foi adquirida pelos atuais proprietá- sem o outro.
um carinho especial e que aqui, na Atela, se rios e o projeto de a comercializar foi final-
exprime particularmente bem na Vinha da mente concretizado. QUINTA DA ATELA
Carvalhita, a vinha mais velha da proprie- Projetos para o futuro próximo? Sobretudo ESTRADA NACIONAL 118, KM 78
dade, com cerca de 75 anos. Uma área de 20 conseguir novos mercados de exportação, 2090-219 ALPIARÇA
ha, com Castelão policlonal, que é referida diz-nos o enólogo. Esse é o desafio para o T. 243 247 648
como a “joia da coroa”. A estratégia passa por grande aumento de produção que se avizinha. E. GERAL@QUINTADAATELA.PT

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 81


António Ventura
TEJO

89 88 88 86
Casa da Atela Casa da Atela Casa da Atela Casa da Atela Castelão
Arinto 2021 Chardonnay 2021 Gewurztraminer 2021 Rosado 2021
Tejo / Branco / Quinta da Tejo / Branco / Quinta da Tejo / Branco / Quinta da Tejo / Rosé / Quinta da
Atela Atela Atela Atela
Cor citrina. Aroma que junta Cor citrina. Nariz sedutor, Cor amarelo limão com reflexos Cor salmão suave. Vinho
limão verde e alguma ameixa com muito limão confit e nota palha. Aroma muito fiel à casta, frutado, fresco e sério, com
branca mais discreta, envolvido tostada. Boca cremosa e ampla, com líchias e água de rosas, a nota de morango maduro no
numa nota de fumo muito com as mesmas notas frutadas par de cidreira e ligeiro rastilho. nariz. A boca alia os morangos
interessante. A boca é vigorosa gulosas, frescura insinuante É um vinho muito aromático e framboesas a um lado mais
e ligeiramente vegetal. Um e final longo. Um branco também na boca, com frescura balsâmico e fumado. Um rosé
vinho muito elegante, ao harmonioso, que mostra a em fundo e ligeira nota verde muito bem desenhado, seco,
mesmo tempo versátil, fácil de plasticidade da casta na região no final. Muito prazenteiro. equilibrado e bonito.
beber e de gostar. e mesmo algum classicismo. Consumo: 2023-2026 Consumo: 2023-2025
Consumo: 2023-2026 Consumo: 2023-2026 10,50€ / 11ºC 10,50€ / 11ºC
10,50€ / 11ºC 10,50€ / 11ºC

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 83


COM ESTÁGIO
No bom caminho
R O S É C O M E STÁG I O

texto Marc Barros / notas de prova António Lopes, Bento Amaral, José João Santos e Marc Barros / fotos Ricardo Garrido

Portugal começa (finalmente) a libertar-se dos dogmas a que os vinhos rosé têm
estado atidos. Do vinho com açúcar residual, algum gás carbónico, simples e frutado,
chegam-nos agora exemplares com estágio, vinificações mais complexas, de perfil
gastronómico e evolutivo. Venha connosco conhecer o novo mundo rosa de Portugal!

Portugal e o vinho rosé alimentam uma relação intensa desde há tristeza por as ilhas não estarem representadas” o que, conclui, “traria
várias décadas. É já sobejamente conhecida a história de marcas um elemento diferenciador à prova”.
como Mateus ou Lancers, aprofundada em provas anteriores sobre As informações enviadas pelos produtores dão conta de estilos de
esta mesma temática. Também já analisamos a ‘escola’ enológica vinificação e estágio bastante diferenciados - desde logo no estágio,
subjacente a um determinado perfil de vinhos rosé, responsável pelo com tempos mais ou menos prolongados, sobre borras finas. Este pro-
impulso tecnológico e de saber-fazer, extremamente importante mas cura, por um lado, oferecer maior volume de boca e sabor, ao mesmo
que, por outro lado, cristalizou uma determinada imagem do rosé de tempo que introduz um elemento redutivo aos vinhos, o qual per-
volume made in Portugal, que tanto sucesso, procura e fiéis continua mite oferecer maior sensação de frescura e, em simultâneo, reduzir a
a manter. adição de SO2.
Não obstante, os últimos anos trouxeram novidades refrescantes A seleção dos recipientes de fermentação e estágio é também
ao segmento do rosé. O mais famoso do mundo é o provençal. Nas diversa, oscilando entre o inox, as barricas, normalmente usadas, de
suas “appelations” Côtes de Provence, Coteaux d´Aix-en-Provence e madeiras de diversa proveniência e anos de uso, bem como de capa-
Coteaux Varois, a produção de rosé ronda os 90% do total regional. cidades variáveis, e outros, como o cimento, cujo uso foi mais recen-
Em certa medida, a ‘explosão’ do rosé tipo Provence, em que os tons temente recuperado como material de vinificação, em diferentes for-
cromáticos esbatidos fazem as delícias dos novos consumidores, matos. A battônage e, como referido, o tempo de estágio, são outros
atraiu um vasto número de produtores para um perfil mais sério, elementos introduzidos neste perfil de vinhos, variando entre três
seco e gastronómico para este tipo de vinhos. Tanto até que a moda meses e um ano ou mais.
conduz a exageros, apresentando-se hoje vinhos de cores desmaiadas Na seleção das castas, é notória, desde logo, a maior “liberdade”
e esbatidas em demasia! Em simultâneo, novas formas de vinificação, na opção de variedades estrangeiras, por um lado, mas, sobretudo, o
enologia mais experimental, variações cromáticas e tipicidade regional cuidado na viticultura, fazendo denotar que, em certos casos, trata-se
ganham terreno nas prateleiras e nas mesas dos consumidores portu- de parcelas ou vinhas deliberadamente escolhidas e trabalhadas, com
gueses. especial cuidado no acompanhamento do ciclo, das maturações e da
Foi este modelo, ou estilo, de vinho rosé estagiado, que nos pro- data de vindima.
pusemos avaliar na prova temática da Revista de Vinhos. Trata-se, Os rosé desta prova apresentaram-se assim em estilos bastante
segundo José João Santos, de uma prova que seria “impossível levar a diversificados consoante o seu posicionamento de mercado, mas são
cabo há meia dúzia de anos”, mas “mostra que, finalmente, os produ- também o reflexo da diversidade acima referida, mostrando que neste,
tores portugueses elaboram rosés com alguma seriedade”. O revés da como em outros tipos de vinhos, não restam, felizmente, dogmas nem
medalha: “Falta alguma afinação, pois a diversidade dos vinhos pro- receitas pré-definidas, o que confirma a mudança de paradigma.
vados foi tal que ficamos na dúvida se foi essa a intenção ou se foi E se, praticamente todas as regiões de país disseram presente, é inte-
um acaso”. Ou seja, conclui, “falta alguma definição de estilo, mas o ressante constatar também que, dada a diversidade da amostragem,
caminho está a ser feito”. existem nesta categoria vinhos amigos do consumidor, com oferta de
António Lopes dá conta de um perfil “de valor acrescentado que qualidade para todas as bolsas e momentos de consumo.
os produtores começam a atribuir ao rosé”. Desde logo, no “uso de Os vinhos provados ostentam preços que vão dos 2,26€ aos
vasilhames que não só o inox”. De igual modo, Bento Amaral des- 56,00€, sendo que, entre os mais bem pontuados (89 e 91 pontos),
taca “a diversidade de cor dos vinhos” em prova, que refletem “perfis pontificam exemplares entre 15,00€ e 30,00€ - o que exemplifica o
mais frutados, de cor mais intensa e outros de perfil mais provençal, arrojo dos produtores em colocar no mercado vinhos que, à partida,
com pouca cor”. E enaltece o facto de vários produtores terem-se serão procurados por consumidores mais esclarecidos e conhecedores
“atrevido” a enviar vinhos de colheitas mais antigas, o que demostra e prenunciam uma nova forma de encarar o vinho rosé.
o potencial de envelhecimento destes vinhos. Ou seja, resume, a prova Frescos, delicados, com estruturas e perfis sensoriais ricos e diver-
incluiu vinhos “de consumo mais imediato e outros de estágio prolon- sificados, que conseguem aliar a riqueza aromática dos brancos às
gado”, mostrando que Portugal é capaz de fazer vinhos com capaci- características de tintos, os rosé conseguem ainda deixar-nos espan-
dade de envelhecimento. tados com a beleza das suas cores. Sedutores, alegres, sérios, gastro-
A prova reuniu mais de 40 exemplares de praticamente todo o país. nómicos, muito mais do que vinhos de verão, esplanada ou piscina, o
António Lopes destaca como muito positivo o facto de “as amostras rosé português está, acreditamos, no bom caminho!
do Alentejo terem sobressaído”, ao mesmo tempo que mostra “alguma

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R O S É C O M E STÁG I O

OS MAIS BEM PONTUADOS

91 91 89

Entre II Santos Pinot Noir Paulo Coutinho Fusion Herdade de Ceuta Touriga
(Magnum) 2015 2021 Nacional Reserva 2021
Bairrada / Rosé / Manuel dos Douro / Palhete / Paulo Alentejo / Rosé / Elite Vinhos
Santos Campolargo Herdeiros Alexandre Teixeira Coutinho Cor salmão dourada. No nariz
Cor olho de perdiz. Olfativamente Cor salmão pálida, brilhante. Fruta surge uma grande diversidade de
surgem aromas de estágio em intensa, nada artificial, da toranja aromas como resina, cereja. Na
garrafa, fruta vermelha delicada, às pequenas bagas silvestres boca mostra-se gordo, volumoso
cera musgo e especiado. Ataque vermelhas. O olfato antecipa boca e persistente. Acompanha carne e
fresco e vibrante, equilibrado e de imensa frescura e precisão, peixe gordo. BA Consumo: 2023-
prolongado. BA Consumo: 2023- moldada em torno desta tensão 2027
2027 ácido-sápida. A longa persistência 15,10€ / 11ºC
30,00€ / 11ºC confirma que trata-se de um
dos melhores rosés do país. GC
Consumo: 2023-2029
36,00€ / 11ºC

ROSÉ
N OTA PREÇO NO ME DO VIN HO / REGI ÃO / PRO DUTO R OBS ERVAÇÕES

Entre II Santos Pinot Noir (Magnum) 2015 / Bairrada / Manuel dos Santos
91 30,00 € Campolargo Herdeiros Estágio em inox sobre borras finas.
Cor olho de perdiz. Olfativamente surgem aromas de estágio em garrafa, fruta vermelha delicada, cera musgo e especiado.
Ataque fresco e vibrante, equilibrado e prolongado. Consumo: 2023-2027 BA
Paulo Coutinho Fusion 2021 / Douro / Paulo Alexandre Teixeira Coutinho
91 36,00 € Cor salmão pálida, brilhante. Fruta intensa, nada artificial, da toranja às pequenas bagas silvestres vermelhas. O olfacto antecipa Fermentação e estágio (seis meses) em
boca de imensa frescura e precisão, moldada em torno desta tensão ácido-sápida. A longa persistência confirma que trata-se madeira muito usada.
de um dos melhores rosés do país. Consumo: 2023-2029 GC

Herdade de Ceuta Touriga Nacional Reserva 2021 / Alentejo / Elite Vinhos Estágio de seis meses em madeira de
89 15,10 € Cor salmão dourada. No nariz surge uma grande diversidade de aromas como resina, cereja. Na boca mostra-se gordo, carvalho francês. Após o engarrafamento
volumoso e persistente. Acompanha carne e peixe gordo. Consumo: 2023-2027 BA quatro meses em estágio de garrafa.

Camolas Grande Escolha Castelão & Touriga Nacional 2018 / Península de


Estagiou durante 12 meses em carvalho
88 29,50 € Setúbal / Adega Camolas húngaro, um ano em depósito e 24 meses
A madeira aporta uma nota de canfora e mel, notas de cacau e pimenta branca, na boca algo salino, com notas de citrinos
em garrafa.
maduros e funcho, chá de camomila no retronasal, final longo e denso. Consumo: 2023-2025 AJL

Casa da Passarella O Fugitivo Rosado 2022 / Dão / O Abrigo da Passarella


88 31,80 € Nota de rosa seca, goji seco, pêssego amarelo, aromas de especiaria, baunilha. Na boca uma textura de imenso prazer, acidez Estágio de seis meses em barrica 500 L.
plena e crocante, com retronasal a fazer lembrar flores de espinhos. Consumo: 2023-2032 AJL

Quinta da Cuca Touriga Nacional 2020 / Douro / Quinta da Cuca Fermentação e estágio (12 meses) em
88 20,90 € Aroma de xisto partido, fumo, notas de borracha, petróleo, e término floral do bosque. Na boca igualmente complexo, com barricas de carvalho francês com batonnage.
imensa frescura, de intensidade e carácter, vinho de companhia para a mesa. Consumo: 2023-2027 AJL Estágio de dois meses em garrafa.

Quinta do Monte d´Oiro Reserva 2021 / Regional Lisboa / José Bento dos
Santos - Quinta do Monte d'Oiro
25,00 € Salmão, reflexos rosados. Notas de barrica, algum floral e cereja. Untuoso, levemente especiado e salino, tem leve sensação Estágio de seis meses em barricas usadas
88 de 500l de carvalho francês.
de tanino, bastante amplitude e uma acidez que lhe ampara tudo. Finaliza com muito boa projeção, a mostrar-se apto para
esperarmos até um pouco mais. Consumo: 2023-2026 JJS/NGVP

Quinta da Vegia 2021 / Dão / Casa de Cello


12,00 € Cor rosada intensa com orla salmão. Aroma de mel, geleia de morango, brioche, barro, integrando ainda suaves notas Estágio em inox com batonnage borras finas.
87 Um ano de estágio em garrafa.
especiarias e bom vegetal. Na boca mostra-se um vinho gordo e sério. Consumo: 2023-2025 BA

86 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


R O S É C O M E STÁG I O

N OTA PREÇO NO ME DO VI NH O / REG IÃO / PRO DUTO R OBS ERVAÇÕES

Casa de Santar 2021 / Dão / Sociedade Agrícola de Santar - GlobalWines 100% do vinho fermentou e estagiou três
86 15,74 € Tom acobreado aberto. Fruta fresca e elegante, algo doce, romã, entorno amadeirado. Óleo de citrino, flores brancas. Seco, bom meses em barrica de carvalho francês de
volume, a acidez é competente e o aroma de boca é fresco, a prolongar a prova de boca. Consumo: 2023-2025 MB segundo uso.

Casa Ferreirinha Vinha Grande 2022 / Douro / Sogrape Vinhos


10,99 € Cor provençal. No nariz aroma de romã, ligeiro terroso, em contra análise a fruta vermelha eleva-se. Na boca é generoso na fruta Estágio de cinco meses em inox e em
86 barricas de carvalho francês usado.
e na sua entrega, com texturas variadas e acidez condizente ao seu final que é longo e duradouro. Consumo: 2023-2029 AJL

Vinificado em barricas de Chardonnay de


Ermo Alfrocheiro 2021 / Regional Alentejano / Ermo
25,00 € Salmão suave. Aroma elegante de groselhas, framboesa, morango e flores azuladas. Intenso travo vegetal na boca a dar nervo e 225L de carvalho francês de quarto ano.
86 Estágio final sobre borras finas durante 10
estrutura, acidez marcante e taninos expressivos, muita vivacidade, apelo gastronómico. Consumo: 2023-2026 LC
meses.
Monte das Bagas de Ouro Sangiovese 2022 / Regional Alentejano / Adega
do Montado Fermentação parcial em barricas de
86 12,50 € Cor de salmão de pouco. Aroma de fumo, compota de morango e cereja, estragão, carpintaria. Na boca é muito equilibrado, com carvalho. Estágio de três meses em barricas
a acidez e o corpo a acompanharem-se até ao final, deixando no final o suporte do estágio em madeira. Consumo: 2023-2026 de carvalho.
AJL

QM Alvarinho & Sousão 2022 / Regional Minho / Quinta de Melgaço


11,99 € Estágio três meses em inox com agitação
86 Tom pálido, cobre. Ligeiro desprendimento gasoso. Aromas ricos de fruta madura, ligeiro tropical, cereja branca. Notas de
das borras finas.
padaria. Seco, herbáceo, acidez alta, bom volume. Amargor final a elevar a frescura do conjunto. Consumo: 2023-2025 MB

Ravasqueira Heritage 2022 / Regional Alentejano / Sociedade Agrícola D.


Fermentação em barrica com batônnage.
86 26,50 € Diniz - Monte da Ravasqueira Estágio de seis meses sobre borras em
Cor salmão muito aberta. Notas florais elegantes, alguma romã e perceção de barrica. Untuoso, tem boa acidez a amparar o
barrica.
volume e sabe projetar-se num final que alia dimensão e frescura. Leve-o com segurança à mesa. Consumo: 2023-2024 JJS
Fermentação 50% inox, 50% carvalho francês
Rosé da Gaivosa 2022 / Douro / Domingos Alves de Sousa
86 13,00 € Rosa pálido. Nariz de cereja vermelha e folha de morango, perceção notória de fumo. Acidez bem vincada, tanino percetível, final de segundo ano. Estágio de seis meses sobre
borras finas com batonnage, 50% em inox e
com amargor e tensão de matriz mais vegetal. Para a mesa. Consumo: 2023-2024 JJS
50% em carvalho francês de segundo ano.

Beetria Reserva 2021 / Douro / Adega Cooperativa de Mesão Frio


6,20 € Estágio de quatro meses barricas usadas de
85 Rosa pálido. Notas de folha de chá, groselha e barrica. Amplo, com toque de tanino, bom volume e final untuoso. Terá na mesa o
carvalho com batônnage.
contexto que o integrará. Consumo: 2023-2024 JJS

Beyra Cuvée Especial 2022 / Beira Interior / Rui Roboredo Madeira Vinhos Fermentação e estágio "perles" (barricas
85 17,90 € Cor acobreada. Aroma de padaria, laranja amarga e especiado. Boca fresca, vibrante com um tanino que agarra sem incomodar. usadas de carvalho francês de 390 litros),
Vinho com personalidade que foge do perfil dos rosés comerciais. Consumo: 2023-2025 BA agitação das borras finas.

Casal Sta Maria 3000 Rosas 2021 / Regional Lisboa / Adraga, Explorações
Fermentação: 50% barricas novas e usadas
85 15,00 € Vitivinícolas de carvalho Francês e 50% inox. Estágio seis
Cor salmão aberta. Notas suaves de cereja, algum vegetal e especiaria. A acidez é destacada, o perfil lembra calcário, tem
meses com batônnage em borras finas.
ligeiro fumo, maresia e fruto desidratado a fechar. Exótico e nervoso. Consumo: 2023-2025 JJS

Quinta do Piloto Reserva 2021 / Palmela / Quinta do Piloto Fermentação em barricas de carvalho
85 15,95 € Cor acobreada. No nariz deteta-se aromas de compota de cereja, pinho, resina. Boca fresca e prolongada. Experimentar com um francês. Estágio de oito meses em barricas
robalo ou salmonete grelhados entre outras companhias à mesa. Consumo: 2023-2025 BA com batônnage.

Quinta do Poço do Lobo Reserva Baga & Pinot Noir 2022 / Bairrada /
Fermentação em pipas de carvalho e em
85 16,50 € Caves São João inox; cinco meses com batônnage em borras
Cor salmão. Impressões suaves florais, complementos de cereja vermelha e folha de morango. Levíssimo tanino, muita frescura
finas.
geral, de final mais tenso e ligeiramente salgado. Dará certamente prazer. Consumo: 2023-2024 JJS
Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo 2022 / Douro / Quinta Nova de
85 15,50 € Nossa Senhora do Carmo Fermentação 50% inox e 50% barricas
Tom aberto, quase incolor. Aroma delicado, de expressão floral, flores frescas; fruta silvestre madura. Bom volume, acidez alta, usadas de carvalho francês.
herbáceo, algo sucroso. Amargor final a equlibrar a prova de boca. Consumo: 2023-2025 MB

Ribeiro Santo Pé Franco 2022 / Dão / Magnum - Carlos Lucas Vinhos


20,00 € Cor acobreada pálida. Aromas de cereja, gelatina conjugado com flores brancas. Acidez metálica envolvida numa textura Estágio seis meses em inox com agitação
85 das borras finas.
untuosa. Consumo: 2023-2024 BA

Vallado V (Magnum) 2021 / Douro / Quinta do Vallado Fermentação em barricas de 500 L. de


85 56,00 € Tom cobre dourado. Fruta cristalizada, nota direta de resina, flores secas. Acidez alta, mineral, que preenche o palato e domina a carvalho Francês de segundo ano. Estágio de
prova de boca. Consumo: 2023-2028 MB sete meses em barricas com batônnage.

Cabo da Roca Reserva Syrah 2018 / Regional Lisboa / Casca Wines Fermentação malolática em barricas usadas
84 9,98 € Tom acobreado brilhante. Notas de fruto seco, noz, figo, flores secas, resina. Bom volume, rebuçado de mel no aroma de boca, de carvalho francês. Estágio de seis meses
acidez alta, direta. Final seco e fresco, perfil sério. Consumo: 2023-2026 MB em barricas usadas de carvalho francês.

Casal Sta Maria Mar de Rosas 2021 / Regional Lisboa / Adraga, Explorações
Fermentação barricas novas e usadas de
84 24,50 € Vitivinícolas carvalho francês. Estágio de 10 meses com
Cor salmão. Notas florais finas, cereja delicada e fumo de barrica. Simultaneamente untuoso e nervoso, tem firmeza estrutural,
batônnage das borras finas.
volume no ponto certo e final projetado em teimosia. Elegante e versátil. Consumo: 2023-2025 JJS

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 87


R O S É C O M E STÁG I O

NOTA PREÇO NO ME DO V IN HO / REGI ÃO / PRO DUTO R OBS ERVAÇ ÕES

Dona Maria Amantis Reserva Touriga Nacional 2021 / Regional Alentejano


Fermentação parcial em barrica de carvalho
84 15,95 € / Júlio Bastos francês de terceiro ano. Estágio de seis
Cor de casca de laranja. Aromaticamente é sério e bem maduro, suportado pelos aromas de casca de pinheiro. O paladar é
meses em barrica com batônnage.
equilibrado de suculência extrema e boa densidade de fruta. Consumo: 2023-2028 AJL

Malhadinha 2021 / Regional Alentejano / Herdade da Malhadinha Nova Fermentação e posterior estágio de sete
84 30,00 € Rosé exibindo imensa complexidade, com aromas, de especiarias quentes e compota de frutos vermelho. A boca é densa, com meses em barricas de carvalho francês
uma imensa complexidade que se autentica pelo final longo Consumo: 2023-2025 AJL usadas na presença das borras finas.

Quinta da Rede Reserva 2022 / Douro / Quinta da Rede Fermentação 50% inox e 50% barricas novas
84 17,90 € Tom pálido, terracotta. Leve perceção tostada e baunilha. Flores brancas, damasco. Seco, corpo leve, acidez bem equilibrada, de carvalho francês. Estágio de 50% por seis
um vinho sério, de perfil gastronómico. Consumo: 2023-2025 MB meses em barricas de carvalho francês.

Quinta do Mondego 2022 / Dão / Fontes da Cunha A meio da fermentação trasfega para
84 11,50 € Cor pálida com laivos rosa. Aromas apelativos de cereja, morango, floral com notas vegetais. Ataque vivo mostrando-se barricas usadas de carvalho francês, onde
equilibrado ao longo da prova. Consumo: 2023-2025 BA faz o estágio de seis meses, com batônnage.

Quinta dos Carvalhais 2022 / Dão / Sogrape Vinhos Estágio quatro meses de 65% em inox e 35%
84 9,99 € Cor rosa pálido aberto. Aroma de rebuçado de morango, cereja, alguma pimenta. Entra fresco, sem complicações. O que se em barricas usadas de carvalho francês
espera de um rosé de verão. Consumo: 2023-2023 BA de 225 L.

Camolas Selection Premium 2020 / Regional Península de Setúbal / Adega


6,67 € Estágio de três meses em barrica de carvalho
83 Camolas
francês.
Cor salmão. Aromas de crustáceos, brioche, tostado. Boca redonda sobressaindo as notas marítimas. Consumo: 2023-2024 BA

Cinética Touriga Franca 2021 / Douro / M. Henrique O. G. Cizeron Fermentação em barricas de carvalho
83 12,00 € Tom rosa brilhante de boa intensidade. Fruta vermelha madura, cereja, pétala de rosa, leve citrino. Seco, corpo leve, acidez bem francês. Estágio de 10 meses sobre borras
equilibrada e viva. Consumo: 2023-2025 MB com batônnage.

Quinta da Pedra Escrita 2022 / Douro / Rui Roboredo Madeira Fermentação em barricas francesas de
83 18,50 € A madeira surge discreta e elegante, perfil levemente redutivo, a aportar sensação mineral. Seco, corpo leve, fruta silvestre no 300 L. seguida de estágio com agitação das
aroma de boca. Final salivante, a deixar rasto de frescura. Consumo: 2023-2025 MB borras finas até ao engarrafamento.

Beira Serra 2021 / Regional Terras da Beira / Cooperativa Agrícola Beira


2,26 € Serra Breve passagem pela madeira. Estágio de
82 Cor salmão, reflexos alaranjados. Nariz de apontamentos vegetais e frutados, a cereja em destaque. Perceção de tanino, acidez três meses sobre borras finas.
a prevalecer sobre a estrutura, de final algo desgarrado. Precisa de gastronomia. Consumo: 2023-2023 JJS
Casa Santa Eulália Touriga Nacional Terroir Velho Mundo 2021 / Vinho
82 12,00 € Verde / CSE - Sociedade Agrícola Estágio de cinco meses em barricas usadas
Tom rosa profundo. Bom conjunto aromático, entre as notas de fruta madura e o perfil vegetal. A madeira é elegante e discreta. de carvalho francês.
Seco, bom volume, acidez média, herbáceo e fresco. Consumo: 2023-2024 MB

Quinta do Poeta 2021 / Douro / Freitas Branco 25% fermentado em barricas usadas de
82 10,50 € Bela cor de salmão brilhante. Aromas de fruta vermelha muito madura, com ascendente principal, no morango e groselha. Na carvalho francês de 228 L, 75% em inox.
boca alguma falta de equilíbrio, o final é curto. Consumo: 2023-2025 AJL Estágio em inox até ao engarrafamento.

Vale do Tábua 2019 / Douro / António Joaquim Nascimento Pereira


82 18,10 € Cor salmão. Notas florais elegantes, romã e cereja vermelha. A franqueza é o denominador comum da prova, tem frescura a Estágio de seis meses em inox.
suportar a doçura da fruta, bom balanço até final. Será versátil na mesa. Consumo: 2023-2023 JJS

Adega Cooperativa de Ponte da Barca Naperão Reserva 2022 / Vinho


6,30 € Verde / Adega Coop. Ponte da Barca e Arcos de Valdevez Estágio nove meses em inox com
81 Cor salmão. Notas de ervas secas e romã. Fresco, leve, sem grandes enredos, tem no final untuoso o principal argumento. movimentação de borras finas.
Consumo: 2023-2023 JJS
Quinta do Sobreiró de Cima Vergueiro Tinta Roriz 2021 / Regional Trás-
9,49 € os-Montes / Quinta do Sobreiró de Cima Estágio de três meses em barricas usadas
81 Cor salmão aberta. Notas tostadas de barrica que integram bem com a fruta vermelha, aumentando a complexidade do com borras finas.
conjunto. Ataque fresco secundado por um corpo untuoso. Consumo: 2023-2023 BA
Rosé da FitaPreta Non Millésimmé Cuvée nº6 / Regional Alentejano /
13,95 € Fitapreta Vinhos
80 Nariz de volátil, aromas minerais e de madeira usada, notas complexas de cera de abelha, alguma fruta de caroço mas em
Fermentação em inox e/ou em barrica.
segundo plano. Na boca é equilibrado mas curto. Consumo: 2023-2025 AJL

Quinta das Fontainhas 2022 / Vinho Verde / Pecasoc


3,70 € Estágio quatro a seis meses em inox com
79 Vinho de cor cereja brilhante, notas de compota de morangos e óleos essências de flores, ligeiro químico ao aroma. Na boca o
agitação das borras finas.
açúcar sobrepõe-se a acidez, final curto e com uma agulha que marca desde o início ao retronasal. Consumo: 2023-2023 AJL

88 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


ESSÊNCIA
FESTIVAL
ArT WiNe FoOd MuSiC

789
SETEMBRO

Museu Nacional SOARES DOS REIS - PORTO


WWW.ESSENCIAFESTIVAL.COM

/ PRODUÇÃO / MEDIA PARTNERS / VIATURA OFICIAL APOIO INTITUCIONAL:


R E P O RTAG E M
texto Fátima Iken e Marc Barros / fotos Arquivo, Ricardo Garrido e D.R.
Granítica e histórica

Granítica e histórica, a Guarda é um lugar icónico das Beiras. A mais alta cidade
portuguesa ganha ainda pelo seu verdadeiro tesouro de manufatura de fumeiro, queijos
e vinhos e pelo ar puro da montanha. Delimitada por sítios singulares como Pinhel,
Almeida, Sabugal, Belmonte, Covilhã, Manteigas e Gouveia, a Guarda tem ainda a Serra
da Estrela como emblema. Das ruelas medievais às janelas góticas, palácios e solares,
vale a pena descobrir, passo a passo, esta cidade.
GUARDA

5/ Vallécula
Chamam-lhe a cidade dos cinco
F’s (Forte, Farta, Fria, Fiel e

2/ Colmeia
Formosa). Farta, porque a sua
gastronomia e os produtos
autóctones são uma referência.
Outro clássico egitanense, a E, mal nos aproximamos, antes
poucos quilómetros do centro mesmo de descortinarmos a
da cidade, no Colmeia o cabrito cidade e beleza da Sé Cate-
e borrego ou a posta mirandesa dral, vamos diretos a um dos

1/ Aquariu´s fazem as delícias dos comen- templos gastronómicos, situado


sais. A decoração, simples e na aldeia de Valhelhas. Falamos
do restaurante Vallécula onde

4/ Nobre
contemporânea, é acolhedora,
Um clássico da gastronomia da destacando-se ainda a vasta e a cozinha tradicional impe-
Guarda, há mais de três décadas ra, numa casa de xisto muito

Vinhos e Tal
competente seleção de vinhos.
que este espaço de restauração acolhedora. Aqui sabem o que
dá cartas, com destaque para COLMEIA fazem e conhece-se a fundo
os pratos à base de Jarmelis- ESTR. DOS GALEGOS a gastronomia da região. Da
ta, raça autóctone em vias de 6300-653 GUARDA Tal como o nome indica, os carne de vaca grelhada à sopa
extinção. Na época, os pratos T. 271 213 389 vinhos constituem um dos de legumes com feijão, à truta
de raiz micológica mostram-se chamarizes deste restaurante e ou às feijocas estufadas, do ba-
em evidência. Porém, o nome, wine bar, com 350 referências, calhau ao borrego na carqueja
que provém dos aquários que entre os melhores vinhos da re- ou galo estufado à moda antiga,
decoram a casa, não deixa de gião, de forma a ter uma paleta sentir-se-á saciado e pronto
fora os mariscos e os pratos de eclética para harmonizar com a descobrir a cidade. Remate
bacalhau.
3/ D’sigual as iguarias gastronómicas.
Mesmo ao lado da catedral, o
com o arroz doce, imperdível,
o farnel do pastor ou as papas

Wine House
AQUARIU’S “Nobre Vinhos e Tal” parte dos de carolo.
AVENIDA CIDADE DE SALAMANCA, 3 produtos artesanais locais, en-
GUARDA tre os quais os famosos queijos PRAÇA DR. JOSÉ DE CASTRO, 1
T. 271230157 Situado no centro histórico, o e enchidos, para os potenciar 6300-235 VALHELHAS
D’sigual Wine House pode ser tanto em petiscos como pratos T. 275 487 123
o local ideal para partilhar um principais. Sempre baseada
copo e degustar algumas das nas matérias-primas frescas

6/ Enchidos
iguarias dentro das tradições da região, a cozinha elege a
beirãs, bem como propostas tradição mas interpretada de
com maior contemporaneidade, forma irreverente. O borrego
conjugando regionalismo e cria- estufado em cama de batata e o
A farinheira de pão é dos
tividade O objetivo é sempre costeletão estão ainda entre as
enchidos mais célebres dentro
conseguir harmonizações que especialidades.
O receituário local é surpreendam. Do lombinho
do receituário serrano. Entre os
enchidos tradicionais, para além
tipicamente serrano, braseado à posta de novilho, NOBRE VINHOS E TAL
da morcela, chouriça bocheira,
do costeletão com queijo da LARGO DR. AMÂNDIO PAÚL, 5
com destaque para serra ao Bife Wellington tudo é 6300-664 GUARDA chouriço de alho e de cebola,
é imprescindível comprar a
as carnes, entre as motivo de gula. Se optar apenas M. 96 1765480
iguaria no mercado local. O pão
por petiscar, o chèvre com mel
quais o porco, o e nozes, os ovos rotos, a fari-
é migado e na água de cozer
ossos de porco é amolecido, a
borrego, o cabrito, nheira da guarda corada com
que se junta gordura derretida,
cogumelos e gratinada com ovo
a carne que se retira dos ossos,
a vaca e as carnes de codorniz são outras das op-
vinho, azeite, sal e piri-piri.
ções, a casar com os melhores
brancas, os peixes Enche-se a tripa e leva-se ao
vinhos da região.
fumeiro em lenha de azinho.
de rio, a doçaria Uma delícia local, a que se junta
D’SIGUAL WINE HOUSE
gulosa e, como não RUA CAMILO CASTELO BRANCO, 19
ainda a carne jarmelista, o bor-
rego, a sopa de vagens secas, ou
poderia deixar de ser, 6300-671 GUARDA
o bacalhau à conde da Guarda.
T .271 238 046
o famosíssimo queijo
MERCADO MUNICIPAL DA GUARDA
Serra da Estrela. RUA DUQUE DE BRAGANÇA
6300-703 GUARDA

92 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


1
5
5

Onde comer
Onde dormir

10 10
10 7

Paulo Romão
8/ Casa de S.
Lourenço
A Casa de São Lourenço é o 10/ Casas
do Côro
único hotel de montanha de 5
estrelas em Portugal. Conforto
e materiais naturais combinam
com simplicidade e bem-estar
Quando hoje se fala nos novos
numa unidade onde pontua o

9/ Solar de
povoadores do interior, Paulo e
bom gosto que se estende aos
Carmen Romão davam o exem-

7/ Hotel
quartos e suites, bem como
plo, há mais de duas décadas,

Alarcão
piscina interior que se abre ao
com o nascimento do projeto

Lusitânia
exterior, lounge e terraço.
das Casas do Côro. Localizado
Uma janela aberta à Natureza,
na Aldeia Histórica de Marial-

Congress & Spa


entre fragas e serranias, que Edificado em 1686, esta casa va, que marca a fronteira da
se entrelaça na arquitetura do nobre localiza-se em pleno cen- demonização Beira Interior
edifício, pousado sobre a paisa- tro histórico da Guarda, bem com o Douro Superior, esta
gem de forma impoluta, muito junto à Sé Catedral. Dispondo
Integrante do grupo IMB unidade resulta da reconversão
perto perto dos Passadiços do de apenas três quartos, aqui é
Hotéis, o Lusitânia Congress e reabilitação de casas da aldeia,
Mondego. Relaxe entre burel, possível gozar de todo o silên-
& Spa, classificado como o abraçado uma filosofia de novo
lã e madeiras com o verde e cio, tranquilidade e amenidades
primeiro hotel biológico de luxo.
as montanhas a debruar uma de uma casa senhorial, próxima
Portugal, localiza-se a cerca
estadia inesquecível, ideal para de vários motivos de visita na
de seis km. do centro histórico CASAS DO CÔRO
descansar. cidade. Na casa, destacam-se a
da Guarda.na sua origem, para LARGO DO CORO, 6430-081
além da componente ambiental, galeria coberta e a escadaria de MARIALVA
CASA DE SÃO LOURENÇO volutas no corrimão de pedra, M.917 552 020
estão os segmentos do wellness
EN 232 KM 49.3 bem como a capela da casa. No E.INFO@CASASDOCORO.PT
e bem-estar. É por isso que, MANTEIGAS
entre as comodidades, estão o jardim das traseiras, com espla-
T:275 249 730 nada, pontificam duas magnó-
spa, massagens e aromaterapia,
piscina exterior e interior, entre lias, algumas árvores de fruto
outras amenidades. E tem, nada e uma vista magnífica sobre a
menos, que uma Horta Lusita- cidade. O pequeno-almoço é
na, com 2500 m2, integrada na servido no salão de chá anexo
envolvente da unidade hotelei- à casa, ou a pedido, numa das Guarda é turismo de
salas, no jardim ou na privaci-
ra, cujos produtos são usados
dade do quarto.
natureza, de neve, de
no restaurante do hotel.
património, cultura
HOTEL LUSITANA – CONGRESS & SPA SOLAR DE ALARCÃO
URBANIZAÇÃO QUINTA DAS COVAS, LOTE 34 RUA D. MIGUEL DE ALARCÃO, 25 e história. Não por
6300–684 GUARDA
6300-389 GUARDA
T. 271214392
acaso, recebeu o
T.707 919 533
E.GERAL@NATURAIMBHOTELS.COM prémio “Destino
Gastronómico do
Ano” da Revista de
Vinhos.

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 95


GUARDA

13/ Natureza
A pureza do ar da Guarda foi
distinguido pela Federação 15/ Quinta dos
Europeia de Bioclimatismo em
Termos
12/ Rota de
2002, que atribuiu à cidade
o título de primeira “Cidade
Bioclimática Ibérica”. Por isso, Tempo para uma escapada no

Vinhos da deambular pela Natureza é


imperdível. Detentora da maior
âmbito do enoturismo nesta
quinta familiar, onde se podem

Beira Interior percentagem do Parque Natural descobrir os processos de


Serra da Estrela, o seu patri- vinificação, as vinhas e provar
mónio natural é único e o seu os vinhos. Artesanal, produ-
Para fazer uma pausa, des- Geopark é também uma das tora de vinhos D.O.C. Beira
cortine a Rota de Vinhos da atrações, com diversos progra- Interior, situada no sopé da
Serra da Estrela, as suas vinhas

11/ Sé Catedral
Beira Interior, porque é uma mas e percursos interpretativos.
experiência que vale a pena. A O fértil Vale do Mondego com encontram-se plantadas a uma
altitude marca o caráter destes os recentes Passadiços do Mon- altitude de 500 metros, com
vinhos, com grande frescura e dego é outra das experiências exposição sul, em solos graníti-
Agora que estamos plenamente
excelente acidez, a par dos solos que aconselhamos. cos pobres que favorecem uma
satisfeitos e bem dormidos,
xistosos e do clima, com picos maturação de uva premium. O
tempo para uma caminhada
de oscilações de frio e calor. PASSADIÇOS DO MONDEGO foco nas castas tradicionais da
pelas ruelas medievais da Guar-
São cerca de 16 mil hectares BARRAGEM DO CALDEIRÃO região, tais como Trincadeira,
da, observando com tempo a PARQUE NATURAL DA SERRA DA ESTRELA
de vinha onde pontuam castas Jaen, Rufete, Tinta Roriz, Tinto
beleza das casas e do patrimó-
como a Síria ou Fonte da Cal, Cão, Afrocheiro Preto, Touriga
nio cultural único da cidade,
entre as brancas, e Rufete, Nacional, Baga, Síria e Fonte
bem como a antiga judiaria. A
Trincadeira, Jaen e Touriga Na- Cal, num “terroir” que define o
catedral, imensa, impõe-se pela
cional, entre as tintas. Situado caráter dos vinhos da quinta. A
força das suas torres e pelo

14/ Museu da
na Guarda, o Solar do Vinho da adega está dotada de tecnologia
gótico tardio. Começou a ser
Beira Interior é a sede da rota e sofisticada e é certificada em
construída no século XIV e a
produção integrada, seguindo

Guarda
permite conhecer de perto mais
sua conclusão ocorreu apenas
de 140 vinhos desta prestigiada os métodos tradicionais.
um século depois, em 1517. A
região vitivinícola. A loja do So-
sobriedade e imponência afir- QUINTA DOS TERMOS
lar do Vinho da Beira Interior
mam uma época e, sobretudo, Imperdível conhecer de perto 6250-161 CARVALHAL FORMOSO
está aberta de segunda a sexta,
pretende ser a marca de uma a vasta coleção de arqueologia, T. 275 471 070
das 9h às 12h30 e das 14h às
nação. Alguns apontamentos escultura sacra (dos séculos
17h30 e ao fim-de-semana, das
de manuelino equilibram o XIII a XVIII) e pintura, bem
15h às 18h.
conjunto. Dê ainda uma saltada como etnografia regional deste
à Igreja da Misericórdia, de
ROTA DE VINHOS DA BEIRA INTERIOR museu. Recentemente refor- No centro da cidade,
interior barroco, ou aprecie os mulado, o discurso expositivo
painéis de azulejo da Igreja de
LARGO DAS FREIRAS
assenta em critérios sequen- onde predomina
6300-614 GUARDA
S. Vicente. T. 271224129 ciais e cronológicos da pré e o granito, a Sé
proto-história, passando pela
SÉ CATEDRAL Idade Média, um riquíssimo Catedral destaca-se
PRAÇA LUÍS DE CAMÕES espólio que deve mesmo visitar.
6300-614 GUARDA
pela imponência,
Aproveite ainda para conhecer
a pintura dos primórdios do sé- a Judiaria marca a
culo XIX e XX que inclui nomes
como Eduarda Lapa, Eduar-
presença histórica
do Malta, António Carneiro, deste povo nas
Carlos Reis, Falcão Trigoso,
Columbano, Veloso Salgado ou
beiras, as arcadas
João Vaz., bem como a coleção quinhentistas são
de arte contemporânea.
testemunho vivo do
MUSEU DA GUARDA passado.
RUA ALVES ROÇADAS, 30
6300-633 GUARDA

96 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


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13

15

A conhecer
15

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15
GUARDA

98 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


COMO IR?
Capital de distrito, a Guarda possui excelentes ligações
rodoviárias
Î desde logo a A25, Autoestrada das Beiras Litoral e Alta,
ligando a cidade a Aveiro (155 km) e ao Porto (200 km), bem
como à fronteira com Espanha e, daí, com ligação direta a
Madrid.
Î Por sua vez, a A23, Autoestrada da Beira Interior, liga a
Guarda a Lisboa (310 km) e ao sul de Portugal. Î O IP2 liga
a Guarda a Trás-os-Montes, com Bragança a 180 km. Já o
Terminal Rodoviário da Guarda dista 700 metros do centro
histórico.

A Guarda é igualmente servida de comboios, pela Linha da


Beira Alta e Linha da Beira Baixa.
Î A estação de comboios fica a 3 km. do centro da cidade.

17/ Guarda Wine Fest


O evento de promoção de vinhos e do território, de entrada livre, é
organizado pelo Município da Guarda e pela Comissão Vitivinícola
Regional da Beira Interior (CVRBI) e vai reunir dezenas de produ-

16/ Aldeias
tores da Beira Interior, do Douro e do Dão. As três Denominações
de Origem - DO - convivem no distrito da Guarda e encontram-se

Históricas de
na base de muitos dos mais entusiasmantes vinhos portugueses,
que vão estar à prova no certame.

Portugal
O público é convidado a aprofundar o conhecimento sobre o
A segunda edição mundo vinícola através das “Conversas sobre Vinho” guiadas por
três especialistas: Rodolfo Tristão, Tiago Macena e Tiago Marques.
do Guarda Wine Será ainda desafiado a refletir sobre a sustentabilidade na sessão
Almeida, Castelo Mendo, Cas-
Fest realiza-se de telo Rodrigo, Linhares da Beira,
«Wine Lees - a economia circular no setor vitivinícola - reutilização
dos subprodutos as “borras”», guiada por Mariana Saavedra Silva,
Marialva, Sortelha e Tran-
14 a 16 de julho, Carlos Pinto, Marcelo Sequeira, José Lemos e Estevan Carballo.
coso são sete das 12 Aldeias
A gastronomia também será cabeça de cartaz ao longo de três dias.
na emblemática Históricas de Portugal que se
Além de contar com três espaços de restauração em funcionamen-
localizam no distrito da Guarda
Alameda de Santo (já agora, as restantes são Bel-
to durante o evento, com propostas desenvolvidas para apresentar
a harmonização da gastronomia com o vinho, o Guarda Wine Fest
André, na Guarda, monte, Castelo Novo, Idanha-
terá a participação de dois conceituados chefes de cozinha Hernâni
-a-Velha, Monsanto e Piódão).
com muita música, Com origens que remontam aos
Ermida e Paulo Cardoso.
Animação e jazz não vão faltar. O primeiro concerto será com Jés-
gastronomia e tempos anteriores à funda-
sica Pina, Luís Serra - Musical Sensations, Moustache Brass Band,
ção da nacionalidade, nestas
novidades dos podemos encontrar muito do
The Lucky Duckies e DJ Pedro Simões, da RFM, estão garantidos.
anima o evento com a Wine Party. No dia 15 de julho a atua às
que foi a criação de Portugal,
produtores de vinho 15h30 e, às 16h30, terá lugar a receção às Confrarias Báquicas,
a raça e bravura destas gentes,
Gastronómicas e Enogastronómicas pelo presidente da Câmara nos
da Beira Interior, do de tempos em que o interior
Paços do Concelho, com posterior desfile até à Praça Luís de Ca-
representava independência. O
Douro e do Dão. programa Aldeias Históricas de
mões e passagem pelo Guarda Wine Fest. O programa integra ainda
a visita de 12 Sommeliers nacionais ao evento e um tour pela região
Portugal remonta a 1991, tendo
da Beira Interior, com objetivo de proporcionar negócios e promo-
evoluído na oferta turística –
ver os vinhos regionais juntos a este grupo de influenciadores.
com muito para mostrar.

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 99


MEDALHA DE MELHOR ARINTO 2023 MEDALHA DE GRANDE OURO MEDALHA DE OURO

Rubigo • Branco • 2019 • Arinto • DOP Bucelas • Rubigo Azulejo • Branco • 2022 • IGP • Casa Santos Lima Alma Vitis • Tinto • 2020 • DOP Torres Vedras • Adega
Wines Caves Velhas - Romeira • Branco • 2022 • IGP • de S. Mamede
Enoport Wines
Cachené • Tinto • 2019 • IGP • Adega Moor
Villa Oeiras • Branco Generoso • Superior • DOP
Carcavelos • Município de Oeiras Caves Dois Portos • Tinto • 2020 • Grande Reserva •
TOP IGP • Adega de Dois Portos
5 ARINTOS DE LISBOA
Encostas de Xira • Tinto • Syrah • 2021 • IGP •
Município de Vila Franca de Xira
Confraria • Branco • Reserva • 2020 • Arinto • DOP
Opaco CSL • Tinto • 2020 • IGP • Casa Santos Lima
Óbidos • Adega Cooperativa do Cadaval
Encostas de Xira • Branco • 2021 • Arinto • IGP • Palha Canas • Tinto • 2020 • Reserva • IGP • Casa
Município de Vila Franca de Xira Santos Lima

Pancas • Branco • 2022 • Arinto • IGP • Quinta de Pancas Pena Ruiva • Tinto • 2020 • IGP • Adega da S. Mamede
QSB • Branco • Reserva • 2020 • Arinto • IGP • Cunha & Puro • Tinto • 2019 • Escolha • Cabernet Sauvignon •
Folque IGP • Caves Rendeiro
Rubigo • Branco • 2019 • Arinto • DOP Bucelas • Rubigo Quinta do Gradil • Tinto • Tannat • 2021 • IGP • Quinta
Wines do Gradil
Quinta do Gradil • Tinto • 2019 • Reserva • IGP • Quinta
do Gradil
MEDALHA DE OURO Quinta do Pinto • Tinto • 2019 • Grande Escolha • IGP •
Quinta do Pinto
Adega Mãe - Vinhas Velhas • Branco • 2019 • Vital •
IGP • Adega Mãe Reserva da Família • Tinto • 2021 • Reserva • IGP •
Paço das Côrtes
Cachené • Branco • 2020 • Viognier • IGP • Adega Moor
Sanguinhal • Tinto • 2019 • Petit Verdot, Touriga
Casal da Manteiga • Branco • 2021 • IGP • Município Nacional • IGP • Quinta do Sanguinhalde
MEDALHA DE MELHOR VITAL 2023 de Oeiras
Aguardente Vínica (31ª Série) • XO • DOP Lourinhã •
Castelo do Sulco • Branco • 2022 • IGP • Quinta do Adega Cooperativa da Lourinhã
Adega Mãe - Vinhas Velhas • Branco • 2019 • Vital • IGP • Gradil
Adega Mãe Quinta do Rol • VSOP • DOP Lourinhã • Quinta do Rol
Confraria • Branco • 2020 • Reserva • DOP Óbidos •
Adega Cooperativa do Cadaval Quinta do Rol • XO • DOP Lourinhã • Quinta do Rol
Empatia • Branco • 2022 • Vital • DOP Alenquer •
Adega da Labrugeira
Encostas de Xira • Branco • 2021 • Arinto • IGP •
Município de Vila Franca de Xira
Memória • Branco • Verdelho • 2018 • IGP • Quinta dos
Capuchos
Pancas • Branco • 2022 • Arinto • IGP • Quinta de
Pancas
O MELHOR BRANCO DE LISBOA
Peripécia • Branco • 2020 • Grande Reserva •
Azulejo • Branco • 2022 • IGP • Casa Santos Lima
Chardonnay • IGP • Quinta do Cerrado da Porta
QSB • Branco • 2020 • Arinto • Reserva • Cunha e Folque
O MELHOR “LEVE LISBOA”
Quinta de S. Francisco • Branco • 2022 • DOP Óbidos
Nevão • Rosado Leve • 2021 • IGP • Adega Cooperativa • Quinta do Sanguinhal
da Labrujeira MEDALHA DE PRATA
Quinta do Gradil • Branco • 2022 • Chardonnay • IGP •
Quinta do Gradil Félix Rocha • Branco Leve • 2021 • Moscatel-graúdo •
O MELHOR TINTO DE LISBOA Rubigo • Branco • 2019 • Arinto • DOP Bucelas • IGP • Félix Rocha
Quinta do Gradil • Tinto • Tannat • 2021 • IGP • Quinta Rubigo Wines Morgado de Sta. Catherina • Branco • 2021 •
do Gradil Reserva • Arinto • DOP Bucelas • Sogrape
S. Sebastião • Branco • 2022 • Chardonnay • IGP •
Quinta de S. Sebastião Passadiço • Branco • 2020 • IGP • Adega Moor
A MELHOR AGUARDENTE VÍNICA DOP LOURINHÃ Villa Oeiras • Branco Generoso • 2012 • DOP Puro • Branco • Viogner • 2021 • Escolha • IGP • Caves
Carcavelos • Município de Oeiras Rendeiro
Quinta do Rol • VSOP • DOP Lourinhã • Quinta do Rol
Quinta da Almiara • Tinto • 2021 • Touriga Nacional •
Villa Oeiras • Branco Generoso • 2015 • DOP IGP • Quinta da Almiara
Carcavelos • Município de Oeiras
O MELHOR DOP DE LISBOA Quinta do Gradil 1492 • Tinto • 2021 • Tannat, Touriga
Nevão • Rosado Leve • 2021 • IGP • Adega da Nacional • IGP • Quinta do Gradil
Empatia • Branco • 2022 • Vital • DOP Alenquer • Adega Labrugeira
da Labrugeira Touriz • Tinto • 2020 • IGP • Casa Santos Lima

DOP: Denominação de Origem Protegida IGP: Indicação Geográfica Protegida


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rio Lis
N242

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rio Alcoa

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t u ga l

rio Sizandro

DO Carcavelos
DO Colares
Po r

DO Bucelas
N8
DO Arruda
N247 rio Lizandro
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DO Alenquer
Seja Responsável. Beba com Moderação

A8
DO Lourinhã
DO Óbidos
DO Encostas D’Aire
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N6
LISBOA
R E P O RTAG E M

texto Ivan Carvalho / fotos Luigi Fiano

Situada como uma coroa no


topo do Bel Paese, a região do
sul do Tirol está posicionada
no lado ensolarado dos Alpes
e abriga uma rica coleção
de tesouros gastronómicos
e vinícolas que vale a pena
explorar.
O SEGREDO GOURMET MAIS BEM GUARDADO DE ITÁLIA
TIROL DO SUL

Em 2008, o chefe italiano Norbert Niederkofler teve o de ervas azedas e água da fermentação das pinhas, uma
que descreve como um despertar. Já um talento respeitado bruschetta de pão de centeio com um molho de "tomate
na cozinha do seu restaurante St. Hubertus, com estrela da montanha" (ou seja, uma redução de ameixas fermen-
Michelin, situado na pitoresca vila de San Cassiano, no tadas) ou uma torta de trigo sarraceno com creme de
coração das montanhas Dolomitas da Itália, Niederkofler sangue de porco, cebola queimada em pó e BergGenuss,
não sentia a mesma alegria. “Éramos famosos por foie um queijo de vaca envelhecido por um ano num bunker
gras, peixes de água salgada trazidos de todo o mundo e usado uma vez durante a Primeira Guerra Mundial.
outras ofertas gourmet que se espera ver, digamos, em Los Enquanto Niederkofler continua a ser o embaixador
Angeles ou Londres. Mas, ao conversar com os hóspedes mais famoso da região nos círculos gourmet, tem um
sobre por que vieram para as Dolomitas nas férias, conti- elenco de apoio impressionante na província monta-
nuaram a falar sobre a natureza, o ar fresco e os sabores nhosa de meio milhão de habitantes, que inclui vinte res-
locais. Senti que tudo o que estava a fazer era errado”, taurantes com estrelas Michelin, uma seleção de bistrôs
explica enquanto se senta numa mesa perto da janela do rústicos e uma excelente coleção de adegas e produtores,
AlpiNN, o seu bistrô mais recente e menos formal que fica muitas localizadas em antigos solares de aldeias idílicas
dentro de uma estrutura de vidro situada no topo da mon- com vinhas que se dispersam por terrenos arborizados
tanha Kronplatz a 2.200 metros acima do nível do mar. que variam entre os 200 e os 1.000 metros acima do nível
Após esta epifania culinária, Niederkofler apresentou do mar.
um novo manifesto, “Cook the Mountain”, um projeto
que liderou e que visa preservar as tradições da culinária No Tirol, seja ladino
da montanha e o património local. No St. Hubertus que
hoje detém três estrelas Michelin, bem como uma estrela Liderando os esforços para criar um centro de hospi-
Michelin Verde pelo foco na sustentabilidade, o menu é talidade para viajantes ansiosos por desfrutar das delícias
uma celebração da generosidade da sua região nativa do culinárias e vitivinícolas do Tirol do Sul está a família
sul do Tirol, uma área ainda habitada por uma maioria Pizzinini, que supervisiona o hotel Rosa Alpina, no qual
de falantes nativos de alemão, uma vez que foi entregue Niederkofler opera durante o verão e o inverno, enquanto
à Itália pela Áustria após a Primeira Guerra Mundial. cuida da cozinha em St. Hubertus à noite - é provável
No lugar do pregado, agora encontramos variedades de que o encontremos à hora do almoço no seu restaurante
água doce preparadas de forma criativa no prato, como mais novo, AlpiNN, no alto da montanha. Hugo Pizzinini,
a receita “Era uma vez uma truta” que utiliza o peixe proprietário de terceira geração da Rosa Alpina, um hote-
inteiro, incluindo um caldo feito de ossos e cabeça que é leiro local com vasta experiência no ramo, que oficiou
adicionado a um molho beurre blanc, e que é temperado no exterior em cidades de Munique a Londres, dirige um
com ervas como endro local e é preparado com óleo de navio apertado com uma equipa de 80 pessoas. Inclundo
semente de uva, já que as azeitonas não são cultivadas em a esposa, Ursula, que gosta que seja um falante orgulhoso
altitudes mais altas onde o chef está baseado. de ladino, uma língua românica com uma cultura distinta
“Tivemos que repensar todo o sistema”, diz Niederkofler, que tem cerca de 30.000 falantes em torno da área de
de 61 anos, enquanto esfrega suavemente o queixo de Alta Badia no sul do Tirol, uma região que hoje é conside-
barba branca como um professor de filosofia. “Percebemos rada um reduto para gourmets.
que a natureza deve estar primeiro, depois os agricultores Enquanto as áreas montanhosas são normalmente
e depois nós. Não trabalhamos com estufas, dependemos vistas como fechadas para estrangeiros, Ursula recebe
das estações. Trabalhamos com essa biodiversidade que viajantes em inglês, alemão, italiano e francês e é ver-
nos dá centenas de tipos de ervas, vegetais, cogumelos. sada em lidar com clientes de todas as esferas da vida,
Aqui em cima não trabalhamos com cítricos. Em vez incluindo embaixadores e magnatas dos mídia, como a
disso, temos bagas da montanha. Por exemplo, fazemos família Murdoch. “A hospitalidade está no nosso sangue.
um molho de soja usando lentilhas da montanha. A pro- As famílias aqui recebem os hóspedes há gerações e traba-
dução tem uma vida útil curta nessas altitudes, pelo que lhamos muito para garantir que o serviço seja de primeira
começamos a conservar vegetais. Trabalhamos 360 graus qualidade. As pessoas saem relaxadas e recarregadas
em torno do que a natureza nos dá.” depois de uma estadia connosco”, diz Ursula com um sor-
Em St. Hubertus, com o lindo interior rústico de painéis riso radiante enquanto faz um tour pela propriedade da
de madeira que fica dentro do hotel de luxo Rosa Alpina, família, repleta de detalhes em madeira na decoração de
os comensais podem desfrutar de um prato de pão doce interiores, incluindo esculturas lindamente trabalhadas
de vitela e pinhas de lariço que apresenta uma emulsão que representam a cultura da montanha.

104 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


Clemens e Helena Lageder

Quando se trata de deixar os


vinhos brancos envelhecerem
graciosamente na adega, o primeiro
nome que surge nas conversas no
sul do Tirol é Kellerei Terlan – ou
como é conhecido em italiano,
Cantina Terlano.
TIROL DO SUL

Os hóspedes têm acesso a guias de montanha no verão. Claro, quando se trata de deixar os vinhos brancos
Quando a neve cai, podem contar com um grupo de esquia- envelhecerem graciosamente na adega, o primeiro nome
dores experientes para navegar em desafiadoras rotas fora que surge nas conversas no sul do Tirol é Kellerei Terlan
de pista. No bar, a equipa prepara cocktails exclusivos como – ou como é conhecido em italiano, Cantina Terlano. Com
o Hugo, uma bebida local feita com uma mistura de licor sede na vila de Terlano, esta adega cooperativa destaca-se
de flor de sabugueiro, Prosecco, menta fresca e limão. E se há décadas pelo seu principal vinho Vorberg, feito de
os viajantes desejarem escapar dos confins do hotel para Pinot Bianco. Vorberg é o nome histórico da encosta sul
explorar as delícias epicuristas, a poucos minutos nos arre- do Tschöggelberg e os seus terraços íngremes marcados
dores de San Cassiano, podem encontrá-las no restaurante por solos de quartzo e pórfiro. Em terrenos especiais
da adega Cocun, situado no porão do Hotel Ciasa Salares. entre 450 e 650 metros, vinhas com 50 anos de idade
Aqui, Jan Clemens Wieser é responsável por uma cultivam as uvas para o amado vinho branco grand cru da
extensa coleção de 24.000 garrafas de quase 2.000 pro- adega numa pérgula feita de madeira de lariço.
dutores diferentes em toda a Europa, que combina com um “A chave da qualidade, especialmente com
menu criativo que prepara à noite, enquanto os clientes Weissburgunder, está no trabalho no vinhedo”, explica
se reúnem em torno de mesas num dos aconchegantes Klaus Gasser, diretor de marketing da Cantina Terlano.
espaços da adega cercados por uma parede com rótulos Concentramos-nos em fazer o que for necessário para
de safras de tinto, branco e espumante. “Como estamos no manter as bagas pequenas e os cachos soltos. O resultado
alto da serra, onde a gastronomia pode muitas vezes ser é uma fruta boa e concentrada.” Na adega, ocorre a fer-
bastante pesada, quis criar uma experiência gastronómica mentação malolática e estágio sobre as borras em barricas
divertida, onde as pessoas também pudessem explorar o tradicionais de madeira durante 12 meses. O Pinot Bianco
mundo do vinho, em particular vinhos naturais e castas é guardado por vários anos antes de ser libertado para
que talvez não encontrem nos restaurantes mais tradicio- chegar aos restaurantes Michelin de Taipei a Paris. “São
nais da zona, que costumam servir as clássicas castas tintas vinhos de grande harmonia, com uma longevidade sem
locais como Lagrein e Schiava.” igual”, acrescenta Gasser, enquanto percorre a parte mais
Depois de vários anos de operação em que Wieser antiga da adega da cooperativa, onde garrafas empoei-
ajustou o menu de degustação e harmonizações de vinhos, radas dos anos 1990 e início dos anos 2000 aguardam
hoje os hóspedes encontrarão pratos como Pike Fish pacientemente a sua vez nas mãos de um sommelier – a
com molho cremoso de alcachofra e cenoura e azeitonas adega conserva cerca de 120.000 garrafas de safras mais
Taggiasca crocantes harmonizadas com um tinto orgânico, antigas que costumam ser usadas em eventos especiais de
blend de Mourvedre e Muscat d 'Alexandrie do produtor degustação para mostrar o incrível poder de envelheci-
francês Jean-Louis Pinto. Para os vegetarianos, há um mento dos vinhos brancos.
repolho feito em espuma cremosa de polenta e molho satay
que é acompanhado por um blend branco de Chardonnay, Microcosmos e PIWI
Malvasia e Friulano de Damijan Podversic, um enólogo da
região do Friuli, na Itália. Quem não precisa ser informado sobre o incrível poten-
No entanto, talvez os achados mais intrigantes na vasta cial dos vinhos da região é o sommelier Günther Hölzl,
variedade de garrafas sejam os vinhos locais do sul do dono de uma enoteca na cidade termal local de Merano e
Tirol, que provavelmente não são encontrados em lojas co-fundador da Pur Südtirol, uma rede de lojas regionais
de vinhos e bares regionais. Antes do jantar, Clemens de comida gourmet, que armazenam apenas alimentos
ofereceu à Revista de Vinhos uma prova improvisada de locais de qualidade, como o sumo de maçã monovarietal
produtores de nicho do Tirol do Sul, incluindo um tinto do produtor Kohl, feito a partir de variedades menos
Malvasia difícil de encontrar, da propriedade In der Eben, conhecidas, como Pinova e Jonagold, e elegantemente
uma adega que faz cultivo biodinâmico situada na planície apresentado em garrafas de vidro transparente. Hölzl
de Cardano, perto de Bolzano, capital do Tirol do Sul. procura produtores locais de massas premium e speck,
Outros destaques incluem um Gewurztraminer do pro- um presunto curado localmente e levemente defumado,
dutor boutique Pranzegg feito com fermentação espon- juntamente com produtores de queijo e agricultores
tânea em tonneau aberto e maceração nas cascas por 12 que fazem de tudo, desde mel e destilados de frutas até
dias, bem como um Pinot Bianco da Tenuta Dornach, que geleias orgânicas feitas de mirtilos silvestres, damascos e
passa um ano em grandes barris de carvalho esloveno e morangos da montanha.
um ano em cimento antes do engarrafamento. Situado em “No sul do Tirol, a agricultura moldou e continua
vinhedos na cidade mais ao sul do Tirol do Sul, este Pinot a moldar a paisagem, a vida cotidiana e a cultura dia
Bianco do proprietário Patrick Uccelli, que é descrito por após dia. Nesse sentido, podemos falar de 'agricultura'.
Clemens como um “filósofo do vinho”, é uma criação Apoiamos pequenas empresas do sul do Tirol, muitas das
salgada e saborosa com notas de ervas e frutas amarelas quais são familiares há gerações. O nosso objetivo é salva-
frescas capaz de envelhecer magnificamente. guardar nossa história e tradições”, explica Hölzl.

106 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


Günther Hölzl

Matteo Taccini
TIROL DO SUL

Staff do St. Hubertus

Hölzl também promove produtores


menores como Thomas Niedermayr,
que trabalha numa propriedade
biodinâmica com variedades PIWI
(uvas cultivadas para serem 100%
resistentes a fungos).

Ursula Pizzinini
Nas prateleiras destas lojas, Hölzl mostra os principais prensada imediatamente após a colheita para manter
produtores de várias centenas de adegas que operam os sabores e aromas frescos, outra parte é mantida nas
na província hoje. Onde há meio século a produção películas por 15 horas e uma terceira parte é vinificada
de vinho tinto reinava – castas tintas indígenas como em cachos inteiros. “Tentamos combinar os diferentes
Schiava e Lagrein ainda são populares – hoje em dia as componentes para criar um Pinot Grigio fresco, vivo e
vinhas brancas representam 64% da superfície dedicada preciso, bem posicionado para o futuro”, acrescenta
à viticultura, com Pinot Grigio e Gewurztraminer na lide- Clemens.
rança e depois seguido por Chardonnay, Pinot Bianco e
Sauvignon Blanc. A joia da coroa
Embora a área tenha uma dúzia de cooperativas histó-
ricas como Terlano e Cantina Tramin, Hölzl também pro- Novas abordagens são sempre bem-vindas no sul do
move produtores menores como Thomas Niedermayr, Tirol e os produtores de vinho não são os únicos prontos
que trabalha numa propriedade biodinâmica com varie- para mudar de direção. Alguns dos hotéis estabelecidos da
dades PIWI (uvas cultivadas para serem 100% resis- área aumentaram a oferta gourmet para atrair viajantes.
tentes a fungos). Para as noites de verão, tem o efer- Na capital regional Bolzano, o célebre Hotel Laurin, que
vescente Summ, elaborado a partir de um mix de uvas já hospedou Angela Merkel no passado, apresentou um
Solaris, Bronner e Souvignier Gris que deixa no paladar novo conceito de restaurante, o ConTanima, que fica no
notas de maçã dourada, abacaxi e nectarina madura. jardim do hotel dentro de uma estufa coberta com piso
No entanto, para compreender verdadeiramente o de seixos brancos. No prato, o chef executivo Matteo
funcionamento da agricultura biodinâmica, é preciso Taccini, nascido em Roma e que passou pela cozinha do
aventurar-se ao sul da propriedade de Niedermayr ao Noma em Copenhaga, mistura ingredientes do Tirol do
longo da pitoresca rota do vinho da região até a cidade de Sul, Toscana, Veneto e Áustria. A apresentação simples,
Magré, lar da família de produtores de vinho Lageder que mas impressionante, inclui pratos como lula e chicória,
está no comércio desde 1823. Núcleo principal da região, juntamente com massa tagliolini em forma de fita, ser-
a propriedade é um conjunto de casas senhoriais antigas, vida com cogumelos e queijo stracchino envelhecido.
algumas adornadas com afrescos, no coração da aldeia, Para não ficar atrás, o promissor empresário hoteleiro
com a estrutura mais antiga em tijolo datada do século Klaus Dissertori inaugurou um par de propriedades bou-
XIII. Desde 2004, o proprietário Alois Lageder se com- tique para viajantes exigentes, onde a oferta de comida
prometeu com uma abordagem holística da agricultura é realista, mas visualmente atraente. Ambos localizados
e hoje seus filhos Clemens e Helena assumiram o bastão na cidade de Lana, perto de encostas acidentadas ponti-
para aderir aos princípios biodinâmicos estabelecidos lhadas de pomares de macieiras e vinhedos, seu primeiro
pelo austríaco Rudolf Steiner. hotel, o Reichhalter de oito quartos, remonta a 1477. A
“A nossa é uma evolução, mais do que uma revolução”, antiga taberna agora possui um bistrô descontraído de
explica Clemens Lageder enquanto ele e a irmã Helena Martina e Andreas Heinisch que faz pratos caseiros de
aquecem-se ao sol do final da manhã no pátio do restau- inspiração italiana e inclui um delicioso vitello tonnato.
rante da adega, apropriadamente intitulado Paradeis, que O segundo local de Dissertori, Villa Arnica, foi inau-
é pontilhado de limoeiros e romãzeiras e recebe os seus gurado no verão de 2019. Situado numa mansão parti-
produtos da extensa horta localizada na propriedade. A cular centenária de três andares, os dez quartos não têm
família vê o lugar como um microcosmo fechado de vida TVs nem frigobar - os hóspedes têm acesso 24 horas por
vegetal e animal, onde raças nativas de bois pastam livre- dia a um bar self-service abastecido que fornece provi-
mente nos vinhedos. sões para fazer cocktails, bem como garrafas de cerveja
Diversidade, não monocultura, é a chave para o produzida localmente. Um chef está à disposição para
sucesso da família. Na adega, a família antecipou em preparar ovos mexidos ou um prato de macarrão com
décadas as tendências do aquecimento global plantando tomates frescos da horta do hotel, que cultiva 10 varie-
variedades incomuns para o sul do Tirol, como Tannat e dades diferentes junto com morangos e framboesas que
Viognier. “Com o nosso Pinot Grigio e Gewurztraminer vão para as saborosas tortas de frutas servidas à tarde à
estamos a ter mais problemas agora com acidez, algo beira da piscina. “O hóspede deve sair com uma sensação
que não podemos adicionar na adega. Há cem anos atrás familiar, como se tivesse passado um tempo na casa de
tínhamos Riesling aqui a 250 metros, mas agora encon- um amigo”, explica Dissertori. E quando as pessoas se
tramos essa casta plantada a 600 metros”. cansam da vila, à sua porta está a incrível variedade de
Uma maneira de combater a mudança de tempera- vinícolas e ofertas gastronómicas sofisticadas do Tirol do
tura é fazer experiências. Para o Poder, vinho branco Sul, tornando esta pequena província no topo da Itália
de Lageder feito de Pinot Grigio, uma parte das uvas é verdadeiramente a joia da coroa.

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 109


TIROL DO SUL

Na capital regional Bolzano, o célebre


Hotel Laurin, que já hospedou Angela
Merkel no passado, apresentou um novo
conceito de restaurante, o ConTanima,
que fica no jardim do hotel dentro de uma
estufa coberta com piso de seixos brancos.

Norbert Niederkofler

DORMIR
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texto Fátima Iken / fotos Fabrice Demoulin

IR COM
SEDE E FOME
AO POTE
Quem não tem na memória esse gosto ancestral do fumo e o aroma de um caldo
feito à lareira no pote de ferro? Evoca emoções e essências rurais, aquilo de que
andamos todos com sede. O pote de ferro é um ícone e depois de nostalgicamente
arrumado a um canto de jardim, a servir de vaso ou a ganhar ferrugem, voltou e
está na moda. Quem diria? A comprová-lo, a beleza minhota foi o cenário de uma
experiência memorável em Famalicão, a provar que o pote intensifica sapidez.

O dia estava de boa têmpera e apenas aquela alquimia de que todos andamos à pro- que se prolongou noite dentro. Das feijocas de
uma brisa nos refrescou quando chegámos a cura quando comemos com gosto. Contraria a produção local com cogumelos Boletus Edulis
Famalicão, mais propriamente a Portela. Ali, a cozinha feita às pressas. Aqui é a extração lenta aos rojões caramelizados e cozinhados em fogo
escassos metros do restaurante Ferrugem, um que comanda. lento, da açorda de marisco à cabeça de vaca,
lugar acolhedor que já faz parte dos destinos O aroma do fumo que se evola da lenha a cre- da canja com galinha preta lusitânica velha ao
gastronómicos do país há uns anos, Renato pitar, conjugado com o das ervas aromáticas e carapau de escabeche ou “peixe-galo de cabi-
Cunha recebe-nos já em ambiente de festa. a horta local, de onde vêm alguns produtos que dela” (assim chamado apesar de feito com tinta
O esteio da ruralidade está bem presente no vamos provar, prepara logo o ambiente, verde e de choco) com ovas e vinagre Moura Alves,
enquadramento de uma casa simples, debruada alinhado em patamares, com o rio Pelhe ali ao rematando com um leite creme de leite cru, de
a azul anil turquesa, que convida a ficar. Uma lado. uma vaca das imediações mungida de manhã,
figueira vetusta faz a sombra enquanto, num “A ideia de organizar este evento em torno do tudo estava divinal.
cantinho, sete potes de ferro contornam já uma pote de ferro surgiu logo a após a pandemia. As “´Pretendemos uma experiência imersiva na
fogueira acesa. pessoas estavam sedentas de sociabilização, de ruralidade, com propostas diferenciadoras e
O cenário é o ideal para a verdadeira festa ar livre, de uma linguagem simples e natural e grandes vinhos”, diz.
dos sentidos que configura a iniciativa “ircomse- aqui congrega-se tudo isso”, conta Renato. Diferente do caldo de unto ancestral, com
deaopote”, (em formato hashtag), que se realiza De facto, assim é. Aproveitando o espaço de couves, batatas, fumeiro e cenouras, mas cujo
desde 2020 e é um verdadeiro sucesso. Para alojamento local da mulher Anabela, a Casa Ana sabor nos transporta, ainda hoje, para outras
este ano estão já previstas dez sessões do “fogo Monteiro, situada num cenário que traduz no paragens, a iniciativa dá o salto para uma aven-
de chão e potes no quintal” que, normalmente, seu melhor a alma minhota, selecionou-se um tura ousada. Mas a técnica, no fundo, é a mesma
esgotam em pouco tempo. rol de propostas gastronómicas de cair para o para atingir sapidez: tempo, tempo e mais tempo.
A ideia é cozinhar diversas iguarias no pote, lado, dentro do mesmo target e produtos que O prolongamento da cocção, o chamado fogo
promovendo o convívio no meio da Natureza. delineiam a filosofia do restaurante Ferrugem e, lento, é o grande segredo.
Uma espécie de regresso às origens e pura de forma mais descontraída, deu-se corpo a uma
sociabilização, onde tanto a gastronomia como experiência autêntica. Vinhos Soalheiro, um parceiro à altura
os vinhos, sempre de um produtor de alta qua- Os pratos são de base popular e tradicional,
lidade, se unem num casamento conseguido. mas depois Renato Cunha garante “uma sofisti- Enfatizar os produtos locais - das primícias
Neste caso, na primeira edição de 2023, o pro- cação, criatividade”, numa espécie de up grade do tomate coração de boi ao queijo untuoso
dutor promete um dia bem passado: Soalheiro, do receituário nacional. “No fundo, a base é rural de Senras, de S. Jorge ou Idanha-a-Nova, aos
sublinhado com a presença de Luís Cerdeira. mas tem ousadia, como o peixe-galo de cabi- morangos macerados em vinagre, do fumeiro
“A cozinha no pote é a melhor cozinha que há”, dela que chamamos assim apesar de ser feito ao pão de fermentação natural, das galinhas
declara o chefe Renato, enquanto, de chapéu de com tinta de choco”, a evocar a tonalidade do autóctones ao peixe do Atlântico - é outra das
palha, vai controlando já as brasas. Normalmente sangue. Ou então da versão surf and turf dos premissas. “Queremos privilegiar os produtos à
aos comando do restaurante Ferrugem, aventu- rojões da barriga de de porco bísaro com açorda nossa volta”, realça Renato.
ra-se agora no exterior para tirar ... ferrugem aos de marisco. Um casamento improvável mas que Sim, porque o Minho é também Atlântico, como
potes. reúne aficionados. bem sublinha Luís Cerdeira, produtor convidado
Em tempo de Precision Oven e Roners, o pote O facto é que cozinhar ao ar livre, rodeado com a sua marca Soalheiro. “Normalmente asso-
está de volta. Tem tudo aquilo de que gostamos de árvores centenárias e com colheres de pau ciamos o Minho sempre à vertente rural, mas o
e mexe nas nossas mais recônditas memórias. gigantes, é bem mais aprazível do que cozinhar Minho tem essa faceta do mar Atlântico muito
Aquele pote de três pés tem, de facto, qualquer com pinças em ambiente fechado. No entanto, presente”, conta-nos.
coisa que nos atrai. o calor intenso que a fogueira do lume de chão O salto sonoro de uma rolha da garrafa de
Renato Cunha cedo intuiu que era aí que provoca, não é pêra doce. Espumante Bruto Barrica 2017 magnum, de
estava um filão incontornável. Esse artefacto Isso mesmo comprovamos já porque o sol bolha fina e persistente, a mostrar a raça do
que estava para aí esquecido, abandonado à ainda nem vai a pique e Renato já sua as estopi- Alvarinho num sparkling, com 12 meses em bar-
sua sorte, é atualmente coqueluche das almoça- nhas, entre os sete potes que fazem um círculo. rica, abria as hostilidades e o ambiente festivo
radas e jantaradas.E vai colecionando dezenas. A técnica passa por “dominar sempre o fogo, borbulhava já nos copos para preparar as almas
Versátil, com um natural antiaderente, tem o aproximando ou afastando da brasa, colocando para o banquete. Ainda bem porque já está-
dom de proporcionar mais sabor e a mais-valia sempre lenha. É complicado, mas cozinhar assim vamos com sede e não era só do pote.
de ser usado com altas temperaturas, onde produz uma intensificação de sabor”. Luís Cerdeira decidiu trazer vinhos com mais
se abebera o caldo durante horas para obter Isso mesmo se comprovou ao longo do dia idade, de forma a combinar com as propostas

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 113


PRODUTO

Versátil, com um natural antiaderente, tem o dom


de proporcionar mais sabor e a mais-valia de ser
usado com altas temperaturas, onde se abebera
o caldo durante horas para obter aquela
alquimia de que todos andamos à procura quando
comemos com gosto. Contraria a cozinha feita às
pressas. Aqui é a extração lenta que comanda.

gastronómicas de peso. “Era necessário apostar junto dos potes era avassaladora. Não parece esférica e a forma como os ingredientes cir-
em vinhos mais velhos para o embate com este ser propriamente fácil gerir este banquete para culam e a distribuição de calor a partir do fogo
tipo de cozinha mais robusta. Optámos, assim, 40 pessoas, mas o chefe parece feliz. contribuem para um resultado final diferen-
por vinhos com um bocadinho mais de idade De repente, montavam-se as mesas, ciador.
em formato magnum para combinar com uma povoadas agora de petiscos, alinhavam-se os Saudável, dura uma vida e garante uma
culinária de sabores fortes”, afirma. copos e abriam-se as garrafas, ia-se buscar o sapidez única. De facto, o pote de ferro que
As regras de jogo convidavam a beber gelo e as taças. Uma festa. nos habituamos a reter nostalgicamente como
cada vinho ao gosto de cada um, numa paleta Ao mesmo tempo, cozinhava-se a base do recordação das cozinhas rurais está de volta.
que passou pela frescura do espumante de caldo do peixe, feito com as espinhas e cabeças Agora que tinhas altas tecnologias e smart
Alvarinho e ainda a mineralidade do Soalheiro do peixe-galo e fanecas, enfiava-se ainda no houses, fogões ultra sofisticados, eis que não
Granit 2019, o complexo Reserva 2017 (vinho pote uma santola e navalheiras, ervas e infu- nos damos por satisfeitos. É assim, em todos os
que casa a madeira do carvalho francês com sões de ervas aromáticas da “Infusões com tempos.
o Alvarinho) e o Oppaco 2016, um blend de história”, outro parceiro, criando complexidade Para além do mais, proporciona o aumento de
Vinhão, Pinot Noir e Alvarinho que igualmente acrescida de sabor. teor de ferro e manganês nos alimentos, com a
exibe o potencial criativo da marca. Ao ser O rugir dos rojões acrescentavam um odor respetiva concentração na hemoglobina, sendo
loteado com as outras castas, o Vinhão ganha e estalidos que faziam crescer água na boca, mais salutar e sem toxicidade, durando toda
em delicadeza e suavidade. mas desta vez não era água mas sim o mag- uma vida. É, assim, ideal para os que seguem
“Temos sempre um produtor de vinho asso- nífico Oppaco, sem maceração pelicular, que uma dieta vegetariana, pois permite absorver
ciado e a ideia é trazer vinhos de colheitas degustávamos enquanto observávamos a fri- mais ferro pelo organismo. O manganês é um
antigas, sempre coisas muito especiais”, con- tura do carapau. nutriente que ajuda na formação dos ossos e é
fessa Renato Cunha. “O pote é a melhor panela do mundo”, elo- um antioxidante, fundamental ainda no controlo
De facto, desta vez, os vinhos Soalheiro per- giava Renato. Os rojões iam caramelizando e do metabolismo.
mitiram harmonizações surpreendentes, mas depois maceravam quase quatro horas para Os que têm estado arrumados a um canto,
bebidos sozinhos no intervalo, entre o saborear destilar a gordura da barriga e intensificar com ferrugem, só têm que ser bem limpos. Os
de uma nova iguaria no pote e dois dedos de sabor. “A gordura vai subindo e os rojões vão novos precisam primeiro de ser “temperados”
conversa a apreciar a verde natureza minhota, descendo”. Hora de colocar mais lenha para a (seasoning) e o seu uso continuado vai melho-
abriam janelas de apetite e boa disposição. fogueira. rando o ferro fundido com o uso e tempo, garan-
Ainda a tarde começava e a imagem aluci- Já o grupo estava formado e a conversa tindo a sua durabilidade. O seu peso também
nante de uma cabeça de vaca a cair num dos rolava entre a prova de vinhos ou a degustação permite reter o calor por mais tempo, ao con-
grandes potes, para escaldar, a exigir depois das várias iguarias. Havia mesmo sede de ir ao trário das panelas comuns de alumínio ou teflon.
longas horas de cocção depois de mudada pote. Depois de uma canja, das feijocas macias Isto porque de cada vez que se usa, ao
a água, iniciava um alinhamento de corte de e sápidas, hora da cabidela de peixe-galo, um contrário de outros materiais, vai ganhando
meia centena de cebolas, alho, alho francês, complexo sabor que se degustava de olhos endurance e cada utilização contribui para
cenouras, pencas, pimentos e ervas aromáticas. fechados. No final, um leite-creme feito no pote uma melhor performance, já que a superfície
Na cozinha, desossava-se a carne para os com leite cru local concluía em beleza o repasto vai ficando mais lisa e homogénea, adquirindo
rojões, verta-se e repunha-se água nos potes, que, mais tarde, ao final da noite, ainda contaria uma patine. Torna-se, deste modo, numa panela
adicionava-se lenha e fazia-se já a base dos com os múltiplos pedacinhos de músculo da ecológica, deguro, tem alta durabilidade – dura
cozinhados. cabeça de vaca em bolos lêvedos açorianos. gerações - e excelente custo-benefício.
Um cheirinho apetitoso evolava-se já ao des- Uma festa de Babette à moda do Minho, “Primeiro tem de se escaldar o pote, porque
tapar das tampas que convidava a beber mais memorável, que se repetia sem sombra de se não são usados todos os dias ficam com
um copo. Hora de tratar do carapau, cortar e dúvida. alguma gordura que pode rancificar. Tiram-se
passar por milho, refrescar com vinho um refo- todas as partículas soltas e um primeiro poli-
gado começar por caramelizar os rojões numa É saudável e dura uma vida mento é necessário, decapando com jato de
roda viva que mais parecia uma coreografia. areia. Depois, pincela-se com gordura, banha
Renato suava em bica e tirava ciscos dos olhos “Quanto mais se usa o pote, melhor ele fica”, de porco que será absorvida pelo ferro e depois
produzidos pelas faúlhas, porque a temperatura explica o chefe do Ferrugem. A configuração água e unto”.

114 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


Renato Cunha

Outra das qualidades do pote é a homoge- (e acumulação de PFC nos antiaderentes) que
neidade térmica, retendo calor e prolongan- entram nos alimentos e levam anos a biode-
do-o no tempo. A consequência é uma maior gradarem-se, o ferro fundido não tem esse
sapidez dos alimentos que, pela boa conduti- ónus e impede queimar garantindo a tempe-
vidade do ferro, conseguem usufruir de uma ratura ideal em todo o processo e tornam-se
cozedura uniforme durante todo o processo antiaderentes de forma natural, sem adição
de cocção. de produtos químicos, pois desenvolvem uma
Depois, os aromas libertados confluem camada protetora e com durabilidade. O alu-
com o fumo e a boa condutividade garante a mínio foi dos nossos materiais preferidos no Um cheirinho apetitoso
retenção de calor e altas temperaturas sem século XX e como era barato e leve, acessível, evolava-se já ao
condicionar o resultado final. É, assim, o mate- acabou por entrar nas rotinas. O mesmo se
rial ideal para altas temperaturas. passou com o teflon. destapar das tampas que
Se por acaso se quer aventurar na compra Mas se por acaso tem lá em casa este convidava a beber mais
de um novo, só tem de o polimerizar primeiro, “monumento” (chamado “portuguese pot”, o
ou seja, passar um pano com óleo na super- que comprova a marca nacional desta panela um copo. Hora de tratar
fície para criar uma camada que se vai ligar ao de tripé) vá temperá-lo e comece a cozinhar do carapau, cortar
metal e assim garantir resistência e antiade- depois de seguir os passos necessários. Vai ver
rência. Uma panela bem temperada torna-se que não vai querer outra coisa. Ou então, apro-
e passar por milho,
tão antiaderente como uma panela de alu- veite uma das próximas dez sessões do “ir com refrescar com vinho um
mínio ou aço inoxidável. sede ao pote”. Vai ver que não se arrepende.
Para além disso, é dos utensílios mais Nós já estamos com sede dele outra vez.
refogado começar por
baratos e dura para sempre, ou seja, ao adquirir caramelizar os rojões
um pote de ferro sabe que é para a vida, outra RESTAURANTE FERRUGEM
vantagem. Outra mais-valia é poupar energia. RUA DAS PEDRINHAS, 32
numa roda viva que mais
Não gasta gaz nem eletricidade porque só pre- 4770-379 PORTELA, V. N. FAMALICÃO parecia uma coreografia.
cisa de usar lenha. Mais natural não há. T. 252 911 700
Enquanto que o teflon, se acidentalmente E. RESTAURANTE@FERRUGEM.PT
arranhado, liberta toxinas nocivas para a saúde

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 115


PRODUTO

Uma panela bem temperada


torna-se tão antiaderente
como uma panela de alumínio
ou aço inoxidável. Para
além disso, é dos utensílios
mais baratos e dura para
sempre, ou seja, ao adquirir
um pote de ferro sabe que é
para a vida, outra vantagem.

@revistadevinhos
CRÍTICA GASTRONÓMICA

texto Miguel Pires / fotos Daniel Luciano


Nuno Brás

Uma taberna japonesa que funciona como


um espaço de encontro entre as cozinhas
nipónica e portuguesa, localizada no Foco,
no chamado Central Business District e
zona residencial do Porto.

Uma conexão Japão-Portugal


No Japão podemos estar num bairro com vários restaurantes e não Bem aviado e pronto para a sobremesa
termos a mínima ideia se o que está à nossa frente é o melhor da cidade
ou apenas mais um que serve comida. A verdade é que, mesmo com a Começámos com um sunomono de mexilhão e pepino. Aquilo que é
direção na mão, podemos estar diante do lugar que queremos e não normalmente uma salada de pepino avinagrado servido como entrada
termos a certeza se é o correto, uma vez que raramente há indícios, ou acompanhamento, ganhou um carácter mais rico e petisqueiro, com
como placas de prémios ou de guias tipo Michelin, e quando existe a junção do bivalve e de uma cebola nova ligeiramente escabechada.
nome, ele é impercetível para um ocidental. Isto tudo sem perder a frescura.
Não sei se Vasco Coelho Santos se deparou com esta situação A proposta seguinte foi um gunkan de ostra e ouriço do mar, numa
quando visitou o país em busca de inspiração, mas faz-me pensar que subida de nível e intensidade, mas sem aquela sensação de mergulho
é bem capaz de ter trazido de lá a ideia de ter um restaurante meio de costas no mar. A ostra ao passar ligeiramente pela grelha (robata)
escondido num lugar menos provável. Ao contrário dos seus outros ganha nuances diferentes de sabor, sobretudo, quando se mistura no
projetos, localizados no centro do Porto, o Kaigi fica no Foco, um bairro palato com o ouriço, a alga nori e um condimento cítrico picante cha-
residencial, pacato, na zona da Boavista. Não tem nome, nem placa na mado kosho, que deu um bom twist ao conjunto.
porta e só quando nos aproximamos e vemos as cortinas típicas dos Prosseguimos, com a fasquia lá no alto e um fator surpresa a cada
restaurantes japoneses é que nos apercebemos da existência do lugar. esquina, com outros petiscos de comer à mão, em duas três bocadas.
O espaço, de linhas sóbrias e minimalistas, destaca-se pelo seu Numa viagem por três continentes, umas tiras de carapau cru com um
balcão em U, o que juntamente com uma micro-sala adjacente, permite chimchurri cítrico (com raspas de kumquat e limão mão de buda) em
sentar até 16 pessoas. Quanto ao modelo, a ideia de Coelho Santos - cima de uma tempura de alga nori, deixou-nos a salivar e a implorar por
que conta com o seu braço direito Nuno Brás, como chef executivo - mais; enquanto a primeira dentada na espetadinha de salmão grelhado
foi criar um izakaya, uma taberna japonesa que funcionasse como um glaceado com miso branco e as suas ovas no topo foi de acesso directo
espaço de encontro (é esse o significado da palavra kaigi) entre as cozi- aos perceptores de prazer no cérebro, numa daquelas gulosas misturas
nhas nipónica e portuguesa, um pouco como acontece com a cozinha unto-doce-salgado-ácido-umami que faz sempre sucesso.
nikkei, no Peru. Aliás, nesse sentido, o conceito nem é propriamente Estávamos ainda em época de espargos e seguindo o espírito da
novo em terras lusas, uma vez que ele existe, por exemplo, no Midori conexão Japão-Portugal, porque não uns ovos com os ditos, numa
Penha Longa, em Sintra. Porém, aqui, ele é aplicado de uma forma versão omelete japonesa (tamago)? Muito bem, até pela ideia de acres-
menos conceptual, igualmente num ambiente cuidado, mas informal. centar valor ao incluir um creme de barrar à base de azeite, anchova,
No menu cabem propostas que vão dos petiscos japoneses, incluindo alho, malagueta e zest de limão.
grelhados (com mais ou menos influencias lusas), assim como nigiris e Continuámos, desta vez com dois nigiris, um de lírio (com dez dias
temakis servidos um a um, na mão. Existe a possibilidade de pedir à de maturação) e outro de robalo, a revelaram qualidade do peixe e
carta - sugerem 6 a 8 pratos para partilhar por duas pessoas - ou de as boas técnicas aplicadas, quer ao arroz, quer ao tratamento e corte
entrar no espírito e ficar nas mãos do chef, como fiz, com o menu “oma- do pescado. Ambos foram servidos com um pickle de gengibre adoci-
kase”, que custa 65€. cado (tipo goma) e enquanto o primeiro levou um pouco de umeboshi
no topo (conserva de “ume”, um fruto que lembra a ameixa), que lhe

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 119


CRÍTICA GASTRONÓMICA

acrescentou valor, a adição de miso caramelizado e de se comer, não é bonita e agarra-se aos dentes e às
togarashi no robalo, foi menos feliz, ao levar o peixe para gengivas, mas... é do caraças: doçura no ponto, jogo de
um campo mais adocicado sem que tivesse notado um temperaturas, diferentes texturas. À patrão! Não sei se
elemento ácido a contrastar. há uma forma mais delicada para fazer e comer isto, mas
De seguida, tivemos um prato mais substancial, uma se calhar não. Afinal, japonesa ou não, estamos numa
interpretação (muito livre) do pica pau, neste caso “taberna”.

classificação
de otoro - a parte do atum com gordura intermédia. Em termos de bebidas, a carta de vinhos do Kaigi
Nitidamente, este era um prato “tasqueiro” de chef, com pareceu-me correta ainda que pudesse ter mais refe-
sabor intenso marcado por um molho reduzido, denso rências fora da caixa. Porém, é equilibrada e serve a
(feito com as espinhas e outras partes do peixe). Vinha generalidade dos clientes. Eu gostei de ter feito a har-

17,5
com um pão tipo brioche, com abóbora hokaido. A ideia monização com 4 sakes (+45€), de qualidade e estilos
era fazer uma sanduiche, ou, como preferi, ir molhan- diferentes, a que ajudou ter tido uma boa explicação e
do-o no molho. Tal como em outros momentos foi impor- uma cábula para me orientar.
Cozinha tante ter um elemento vegetal, no caso ceboleto, para Em relação ao serviço, cultiva-se por aqui um sentido
quebrar um pouco a intensidade. de hospitalidade, mas sem salamaleques, como aprecio
Já estava bem aviado e pronto para a sobremesa, - quer por parte de quem nos atende, quer por parte

17
mas Nuno Brás mandou ainda um sumptuoso tártaro de dos cozinheiros que estão por detrás do balcão, à nossa
atum com caviar no topo servido num “chip” de flor de frente, e acabam por ter um papel muito importante
lótus e um óptimo temaki de enguia, com aquele molho nesse campo.
Sala decadente, feito à base de sake, mirin, açúcar e molho Em resumo, Vasco Coelho Santos e a sua equipa
de soja. estão de parabéns. Depois da uma lufada de ar fresco
“A sobremesa vai ser um moshi especial”, disse-me a que foi (é) o Euskalduna (1 estrela Michelin), do mais

16,5 empregada de mesa, com um sorriso. Fiquei na expec-


tativa, porque embora goste muito destes “bolinhos”
informal Semea, e de outros negócios (uma peixaria e
uma padaria), que dentro do seu nicho têm feito a dife-
de massa de arroz recheados, moles e glutinosos, acho rença, o Kaigi traz, também, algo de novo e de valor
Vinhos sempre um bocadinho básicos para serem servidos num acrescentado. Ide, ide lá!
restaurante com uma cozinha mais elaborada. Porém,
Preço médio com vinho/ quando Nuno Brás começou a explicar a versão do res- KAIGI
sake, à carta (1 pessoa): taurante, percebi que a preguiça e o conformismo não R. DE EUGÉNIO DE CASTRO 226, PORTO
60/70,00€. Pagou-se por eram para ali chamados, tal foi o twist que lhe deram. A TELEFONE: 938 410 124
base parecia de pizza, mas era espécie de panqueca de HORÁRIO: ABERTO APENAS AO JANTAR
esta refeição, 119,00€
arroz glutinoso com um topping de creme de queijo da DE TERÇA A SÁBADO DAS 19H00 – 00H00
(com gratificação).
ilha, pera bêbeda e raspas do mesmo queijo. É caótica

120 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


Para ver e ouvir P R O VA S V E R T I C A I S V I N H O S D O P O R T O , D E 1 9 6 0 A 2 0 1 9

texto e notas de prova José João Santos, Luis Costa / fotos Ricardo Garrido

David Guimaraens

croft
Grandes Vintage sem preconceito

Para muitos, os Vintage são


o pináculo da criação do
Vinho do Porto, simbiose da
natureza e do enólogo. Vinhos
pensados para evoluir por
décadas, que frequentemente
cruzam séculos com a
vivacidade que só os grandes
do mundo conseguem ter.
Cruzamos duas verticais, o
clássico da Croft e o single
quinta da Roêda. Viagens
memoráveis, onde há um
antes e um depois de 2003…

122 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


O ano de 2003 marca um antes e um depois nos
Porto Vintage da Croft. Foi o ano em que David
Guimaraens recuperou a filosofia de trabalhar os
Vintage nos lagares de granito da Roêda.

Em 10 de setembro de 2001, véspera do rio Douro, a Roêda soma hoje 73 hec- na Roêda e no percurso pessoal, David con-
do ataque terrorista às Torres Gémeas de tares de vinhas, tendo as cepas mais antigas sidera-o mesmo “um dos Vintage da minha
Nova Iorque, que haveria de alterar o senti- predominância das castas Tinta Francisca e vida”.
mento de (in)segurança no mundo, a Taylor Alicante Bouschet, por entre 15 variedades Desde 2000 que o enólogo vinifica os
Fonseca adquiriu a histórica Croft à gigante diferentes. Espantosos são ainda os 11,7ha de Vintage em co-fermentação. Nos lagares,
Diageo, tendo desde aí assumido a desig- socalcos pós-filoxera, que dão guarida a duas pisa a pé à noite e pistões mecânicos durante
nação The Fladgate Partnership. vinhas emblemáticas: a Vinha da Ferradura, o dia. Tudo o resto é respeito pelo lugar –
“Na década de 90, com Taylors e Fonseca, plantada na última década do séc. XIX, e a o que não é pouco, diga-se – “O meu papel
não éramos grandes nem pequenos”, observa Vinha da Benedita, de 1916. como enólogo é respeitar o carácter das uvas
David Guimaraens, o diretor de Enologia do Durante a primeira metade do séc. XX, com que trabalho, não impor o meu estilo”.
grupo desde 1992. Equacionou-se comprar a Croft conheceu um trajeto de ascensão Cruzamos duas provas verticais de Porto
a Croft ou a Sandeman, mas a primeira per- e afirmação (à época já na esfera Gilbey’s), Vintage intimamente ligadas à Croft, reali-
mitia “duplicar em dimensão e em volume tendo alguns Porto Vintage, como o 1945, zadas muito recentemente e num curtíssimo
de negócios” e “encaixava na filosofia”. entre a elite. A estratégia alterou-se sobre- intervalo temporal. Em Vila Nova de Gaia,
A insígnia é das mais antigas do Vinho do tudo a partir dos anos 70, optando-se por num exclusivo da Revista de Vinhos, pro-
Porto. Tem York por geografia de origem, abordagens de maior volume. Pelo caminho, vamos o Vintage clássico da casa, de 1960 a
uma importante cidade da Inglaterra do a bandeira do famoso Brandy Croft, criado 2017. Dias depois, na Quinta da Roêda, inte-
séc. XVI. A Merchants Company of York, por Robin Reid, diretor da empresa de 1962 gramos uma comitiva alargada de jornalistas
que detinha o monopólio do comércio a 1990. que provou os Single Quinta da Roêda, de
local, recebeu Henry Thompson em 1588, 2002 a 2019.
que desenvolveu o negócio de vinhos que 2003, o ano-chave “O perfil da Croft voltou a ter estes
haveria de resultar na Croft. As famílias aromas muito exóticos, por vezes tropicais.
Thompson e Croft ligaram-se, em 1681, O ano de 2003 marca um antes e um Na prova são Vintage aveludados, sedosos,
através do casamento de Frances Thompson depois nos Porto Vintage da Croft. Foi o ano de taninos muito finos. Desde 2003 temos
e Thomas Croft. Anos mais tarde, John Croft em que David Guimaraens recuperou a filo- esse fio condutor em todos os Vintage da
haveria de lançar o famoso Croft 1781, tendo sofia de trabalhar os Vintage nos lagares de Croft”, comenta o autor.
ainda escrito a obra “Um Tratado sobre os granito da Roêda, entretanto recuperados Pelo que a seguir comprovamos, importa
Vinhos de Portugal”, publicada em 1788. após anos de esquecimento. voltar-se a olhar a Croft sem precon-
Em 1889, a Croft adquire a Quinta da “Dos meus maiores orgulho é ter reaberto ceito. Afinal, a insígnia possui um terroir
Roêda, outro “tratado de viticultura”, como esses lagares, juntamente com o meu pai de exceção que também origina notáveis
David Guimaraens gosta de sublinhar. (Bruce Guimaraens)”, confessa David com Vintage.
No Pinhão, Baixo Corgo, margem direita um brilho no olhar. Pelo que 2003 significa

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 123


P R O VA S V E R T I C A I S V I N H O S D O P O R T O , D E 1 9 6 0 A 2 0 1 9

VERTICAL CROFT,
1960−2017

97 93 92 95
Croft Porto Vintage Croft Porto Vintage Croft Porto Vintage Croft Porto Vintage
1960 1991 2007 2017
Vinho do Porto / Vinho do Porto / Vinho do Porto / Vinho do Porto /
Fortificado / Quinta and Fortificado / Quinta and Fortificado / Quinta and Fortificado / Quinta and
Vineyard Bottlers Vineyard Bottlers Vineyard Bottlers Vineyard Bottlers
Mogno, reflexos rubi. Granada, vários Púrpura. Notas florais Púrpura. O perfume floral
Nariz de apontamentos apontamentos rubi. Notas de violeta e de zimbro, é subtil, há complementos
salinos, folha de tabaco e de floresta e tinta da china, groselha e cereja de amora e cereja negra,
caixa de charuto. O lado exotismo generalizado vermelhas, algum café. algum cacau a completar.
especiado sente-se na nos aromas, algum Tanino muito elegante, A firmeza da expressão
boca. O tanino permanece salino a complementar. aguardente quase invisível, do tanino não belisca a
bem presente, a acidez Sabor de cacau e cereja, volume no ponto e final elegância generalizada, a
que possui dá-lhe músculo geleia e algum marmelo. tentador, de perfil licoroso, aguardente quase não se
adicional, a elegância com Aguardente em contexto, que combina a dimensão revela, o volume é maior
que termina faz facilmente volume bem desenhado, do fruto vermelho e do que aparenta, o final
esquecer a idade. O perfil de final prolongado e cheio do chocolate negro. é bastante profundo e
é delicado e deixa lastro, o de licor. Muito atraente. Equilibrado e convidativo. tem um toque mentolado.
constante arejamento no JJS JJS Um grande Vintage, para
copo revela sempre algo Consumo: 2023-2040 Consumo: 2023-2043 evoluir sem pressas na
mais. Projetá-lo durante — 75,00 € / 16ºC garrafeira. JJS
pelo menos outros 20 anos Consumo: 2023-2063

é seguro. JJS
98 109,00 € / 16ºC
Consumo: 2023-2043
— Croft Porto Vintage 94 —

2003 Croft Porto Vintage 100


88 Vinho do Porto / 2011
Croft Quinta da
Croft Porto Vintage Fortificado / Quinta and Vinho do Porto /
Vineyard Bottlers Fortificado / Quinta and
Roêda Sérikos
1977 Porto Vintage 2017
Rubi, primeiros laivos Vineyard Bottlers
Vinho do Porto / granada no rebordo do Vinho do Porto /
Púrpura. Menos
Fortificado / Quinta and copo. A flor e o fruto estão exuberante nos aromas, Fortificado / Quinta and
Vineyard Bottlers bem presentes. Amora, mostra algum chão, Vineyard Bottlers
Acastanhado, apesar dos ginja, cereja vermelha e floresta, cereja negra Púrpura. Aromas exóticos
ainda vários reflexos rubi. alguma violeta. Tanino e tabaco. De tanino que aliam flores silvestres e
O perfil é distinto. Mostra magistral, aguardente impoluto e bom contexto citrinos. Notas de floresta,
chocolate e bombom de bem integrada, volume de aguardente, tem o cereja escura, bergamota,
frutos vermelhos. Sedoso, presente e uma sensação volume definido. O final mirtilo, tinta da china
com bom volume, de de acidez que o consegue apresenta-se notável e grão de café. Tanino
fácil compreensão e final projetar para um final… pela teimosia, poder e imperial, aguardente
saboroso, a lembrar um interminável! Tem texturas profundidade. Vive a contextualizada, estrutura
LBV. Começa a viver a sem fim, imensa elegância primeira infância. Nativo imponente sem ser
curva descendente de e uma estimativa de vida de um ano clássico, não massacrante, de final
vivacidade. JJS ainda bem longa. JJS deixa os créditos por mãos prolongadíssimo, que
Consumo: 2023-2027 Consumo: 2023-2053 alheias. JJS perdura ao longo de vários
80,00 € / 16ºC Consumo: 2023-2053 minutos. Um Vintage de
90,00 € / 16ºC reflexão. JJS
Consumo: 2023-2073
290,00 € / 16ºC

124 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


“O perfil da Croft voltou
a ter estes aromas muito
exóticos, por vezes tropicais.
Na prova são Vintage
aveludados, sedosos,
de taninos muito finos.
Desde 2003 temos esse
fio condutor em todos os
Vintage da Croft”, comenta
David Guimaraens.
P R O VA S V E R T I C A I S V I N H O S D O P O R T O , D E 1 9 6 0 A 2 0 1 9

VERTICAL
QUINTA DA ROÊDA,
2002−2019

88 89 90 93
Quinta da Roêda Quinta da Roêda Quinta da Roêda Quinta da Roêda
Porto Vintage 2002 Porto Vintage 2005 Porto Vintage 2012 Porto Vintage 2018
Vinho do Porto / Vinho do Porto / Vinho do Porto / Vinho do Porto /
Fortificado / Quinta and Fortificado / Quinta and Fortificado / Quinta and Fortificado / Quinta and
Vineyard Bottlers Vineyard Bottlers Vineyard Bottlers Vineyard Bottlers
Rubi acastanhado. Rubi profundo. As notas Rubi denso. Aromas de Rubi violáceo. Nariz fresco
Aromas arbustivos, com aromáticas de fruta preta, fruta silvestre, ameixa e apimentado, com fruta
predomínio da esteva, a ameixa madura e alcaçuz madura, notas mentoladas, muito fresca (bagos de
envolver fruta azulada. surgem mescladas com especiaria branca. Na groselha preta, mirtilos,
Apontamento de grãos de apontamento curioso de boca exprime toda a sua amoras, ameixa madura) e
pimenta e cacau. Na boca caramelo salgado. Na juventude, com tanino apontamentos de alcaçuz,
é sedoso e envolvente, boca é redondo, cheio e firme e musculado, boa cravinho, pimenta preta.
com tanino muito fino e poderoso, com a doçura a acidez, final persistente. LC Boca no mesmo perfil – um
bom balanço entre doçura sobrepor-se ligeiramente à Consumo: 2023-2050 Vintage elegante, sedoso,
e acidez. LC acidez. LC 41,00 € / 16ºC fresco, envolvente, com um
Consumo: 2023-2040 Consumo: 2023-2045 singular toque salgado. LC

50,00 € / 16ºC 45,00 € / 16ºC Consumo: 2023-2055
— — 93 40,00 € / 16ºC

90 91 Quinta da Roêda
Quinta da Roêda Quinta da Roêda
Porto Vintage 2015 91
Vinho do Porto /
Porto Vintage 2004 Porto Vintage 2008 Quinta da Roêda
Fortificado / Quinta and
Vinho do Porto / Vinho do Porto / Porto Vintage 2019
Vineyard Bottlers
Fortificado / Quinta and Fortificado / Quinta and Rubi profundo. Notas Vinho do Porto /
Vineyard Bottlers Vineyard Bottlers aromáticas de groselha Fortificado / Quinta and
Rubi. Imensa fruta no Rubi brilhante. preta, amoras, ameixa Vineyard Bottlers
nariz, especiaria vermelha Complexidade aromática madura, madeira exótica, Rubi denso, profundo. Perfil
e cravinho, apontamento com panóplia de folhas de eucalipto, aromático com predomínio
de folha de louro. Grande especiarias, imensa esteva, especiaria branca. Na de ameixa e cereja madura,
equilíbrio na boca, com fruta preta e azulada, boca evidencia belíssima cacau, pimenta preta,
aguardente bem integrada. apontamento mentolado acidez, textura glicerinada, cravinho, apontamento de
Mostra doçura (muito) bem e de eucalipto. Na boca untuosidade de grande cedro e ligeiro mentolado.
calibrada com a acidez e é sedoso, elegante, nível, tanino monumental. Na boca é equilibrado,
saborosa cereja madura. persistente e saboroso, Um Vintage a caminho da doçura e acidez em “pas
Textura sedosa, tanino de com imensa vivacidade e plena sofisticação. LC de deux”, textura fresca e
bom porte. LC frescura. LC Consumo: 2023-2060 envolvente. LC
Consumo: 2023-2045 Consumo: 2023-2050 40,00 € / 16ºC Consumo: 2023-2050
47,00 € / 16ºC 42,00 € / 16ºC (ainda aguarda lançamento
no mercado)

126 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


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NOVIDADES
texto e notas de prova Luís Costa e Nuno Guedes Vaz Pires / fotos Ricardo Garrido

Sogrape apresenta o “irmão gémeo” do Barca Velha

Reserva Especial 2014…


é mesmo especial

128 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


NOVIDADES

Fernando da Cunha Guedes

A Sogrape acaba de apresentar o Casa Ferreirinha Reserva 1977, 1980, 1984, 1986, 1989, 1990, 1992, 1994, 1996, 1997 2001,
Especial 2014, o “irmão gémeo” do Barca Velha, certamente as duas 2003, 2007 e 2009.
principais referências no universo DOC Douro da multinacional Criado por Fernando Nicolau de Almeida no primeiro ano da pro-
sediada em Avintes. Ambos vinhos icónicos, mas ambos vinhos digiosa década de 60, no lote deste Reserva Especial predominam
diferentes, “muitas vezes é mais uma intuição do que uma certeza” hoje uvas selecionadas da Quinta da Leda, no Douro Superior, tal
aquilo que os distingue, como admite o enólogo Luís Sottomayor. E como sucede com o seu “irmão gémeo” Barca Velha. E é assim desde
este Reserva Especial 2014… é mesmo especial. os anos 80, quando a Casa Ferreirinha foi adquirida pela Sogrape.
Quase pode dizer-se que o Casa Ferreirinha Reserva Especial é o Até então, os “irmãos gémeos” nasciam (e cresciam) na Quinta do
irmão gémeo do Barca Velha, o mais icónico e afamado vinho DOC Vale Meão.
português. Efetivamente, os dois mais reconhecidos DOC Douro da Mas se estes vinhos icónicos são tão parecidos, afinal o que é
Sogrape são parecidos em quase tudo desde que começam a ver a que os diferencia? Onde está a linha ténue que os separa? “Muitas
luz do dia: na escolha das uvas, na definição do lote, no método de vezes é mais uma intuição do que uma certeza”, confessa-nos Luís
vinificação, na forma especialmente cuidada como são estagiados, Sottomayor, o máximo responsável pela decisão final que deter-
inclusive no tempo de gestação – os célebres oito anos que é preciso mina estarmos perante um Reserva Especial ou um Barca Velha.
aguardar para ficarmos a saber, finalmente, se é ano de Barca Velha, O responsável de enologia da Sogrape no Douro diz mesmo que
de Reserva Especial ou… de nenhum dos dois. “não é uma decisão difícil”, porque “não é uma decisão tomada no
Com uma produção de 16.415 garrafas, a Sogrape acaba de revelar momento. É uma decisão que vamos tomando ao longo da vida do
à imprensa especializada a mais recente edição do Casa Ferreirinha vinho. Sabemos como é que o vinho nasceu. Sabemos quais foram
Reserva Especial, que reporta à colheita 2014, disponível no mer- as características do ano. Sabemos como é que o vinho vai evo-
cado em final de junho com um PVP recomendado (indicativo e luindo. Quando decidimos se é Reserva Especial ou Barca Velha, já
não vinculativo) de 280 euros. Ou seja, torna-se público que em sabemos bem quais são as expetativas em relação ao vinho. Por isso,
2014 houve Reserva Especial. Talvez 2015 fique reservado para o a parte final da nossa decisão é quase só um pró-forma.”
segundo Barca Velha da década depois do BV 2011… A ver vamos, Mas quais são, afinal, os critérios essenciais para determinar se
mas a probabilidade é elevada face à excelência vitivinícola do ano o vinho deve ser Reserva Especial ou Barca Velha, cujo preço de
em causa. mercado quase sempre triplica o custo por garrafa do seu “irmão
Voltando ao Reserva Especial 2014, a “estrela da companhia” por gémeo”? Segundo Luís Sottomayor, “este é um vinho particular,
estes dias, estamos perante a 18ª colheita deste vinho tão relevante tanto o Reserva Especial como o seu irmão Barca Velha, e todos
da grande multinacional portuguesa do vinho depois das colheitas os anos tentamos fazer um dos dois, o que nem sempre acontece.
antecedentes que começaram em 1960, seguindo-se 1962, 1974, A primeira decisão que temos de tomar é se engarrafamos ou não

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 129


NOVIDADES

Luís Sottomayor

o vinho. Se engarrafamos, então depois a um lado é uma má notícia, mas também exce-
decisão vai sendo tomada. Temos tempo, lente, uma vez que os vinhos têm o mesmo 97
porque o estágio em garrafa é muito longo. ADN, são irmãos, são ambos absolutamente Casa Ferreirinha Reserva
Por isso, eu diria que a decisão mais difícil é extraordinários, e o consumidor tem assim Especial 2014
a primeira de todas, a decisão de engarrafar oportunidade de beber um grande vinho a um
Douro / Tinto / Sogrape Vinhos
ou não.” E ao contrário do que poderia pen- preço bem mais em conta”.
Rubi vivo e intenso, a antecipar muitos
sar-se, Luís Sottomayor diz que a decisão Voltamos à conversa com Luís Sottomayor
anos pela frente. Complexidade
final não lhe tira o sono: “Vamos aprendendo para falar do lote deste Reserva Especial
aromática com notas de fruta preta e
com a experiência. Muitas vezes [a decisão] é 2014: “É o lote tradicional em que a Touriga vermelha macerada, alcaçuz, pimenta
mais uma intuição do que uma certeza.” Francesa e a Touriga Nacional representam preta, cedro, cacau e grãos de café.
Para Fernando da Cunha Guedes, presi- mais de 80 por cento do “blend”. Depois Na boca é sofisticado, acetinado, com
dente da Sogrape, “é sempre um momento temos a Tinta Roriz e o Tinto Cão, que são tanino monumental – mas perfeitamente
especial” o lançamento destes vinhos. um pouco como o sal e a pimenta do vinho, modelado – e frescura amparada por
“Dentro da Casa Ferreirinha, nós chamamos enquanto as outras castas são a sua espinha belíssima acidez que se prolonga pelo
a estes vinhos “Douro Especial” – vinhos que dorsal.” fim de boca. Simultaneamente robusto
depois poderão ser Barca Velha ou Reserva E temos aqui um vinho para durar quantos e elegante, como são todos os grandes
tintos.
Especial. São ambos vinhos realmente únicos, anos? “É muito difícil dizer isso. Já provei
icónicos, que estão oito anos à nossa espera todos os Reserva Especial e já provei todos Consumo: 2023-2050
para se darem a conhecer. Por isso, é sempre os Barca Velha. Inclusive provei o primeiro 280,00€ / 16ºC
com muita emoção e enorme expetativa Reserva Especial, de 1960, há quatro anos, no —
que nos sentamos à volta de uma mesa para Rio de Janeiro, e o vinho ainda estava cheio
poder, finalmente, provar um destes grandes de saúde. Por isso acredito que este Reserva 92
vinhos.” Especial 2014 irá ter uma longevidade no Casa Ferreirinha Reserva
Também Fernando da Cunha Guedes sub- mínimo idêntica.” Especial 1989
linha que “há uma estrutura genética igual” Se o vaticínio de Luís Sottomayor estiver
Douro / Tinto / A. A. Ferreira
no Reserva Especial e no Barca Velha: “Os correto, é só fazer as contas – e temos vinho
Vermelho com ligeiro acastanhado,
vinhos nascem exatamente da mesma forma, para durar mais de 60 anos, provavelmente
ainda muito vivo e denso. Aromas
nascem exatamente da mesma propriedade e até 2090, já no limiar do séc. XXII. O lança- típicos de evolução em garrafa, com
têm exatamente o mesmo processo de vini- mento do Casa Ferreirinha Reserva Especial apontamentos de folha de tabaco,
ficação. Depois os vinhos vão fazendo a sua teve lugar na Quinta do Seixo durante um couro e fruta ténue, mas também
evolução, vão crescendo ao longo dos anos, jantar a “quatro mãos” concebido pelos chefes frescura cítrica de bergamota e algum
até chegarmos ao momento de os revelar. Essa “Michelin” Vasco Coelho Santos e Ignacio mentolado. Na boca surpreende pela
escolha é unicamente da responsabilidade do Echapresto. Na ocasião deu-se a provar o frescura, elegância e complexidade,
enólogo, neste caso do Luís Sottomayor.” E Reserva Especial 1989, que 34 anos após a com acidez de bom nível. Ainda está em
isso é sempre assim, mesmo quando o enó- colheita mantém uma forma assinalável, com grande forma.
logo “não tem exatamente a certeza do que imensa frescura e muita elegância. Troca de Consumo: 2023-2030
decidir e comete o “erro” de lançar Reserva irmãos à nascença – provavelmente, devia ter N/D / 16ºC
Especial – e não Barca Velha”, diz o presidente sido batizado como Barca Velha. Os prognós-
da Sogrape com evidente ironia e boa dispo- ticos são tão fáceis de fazer no fim do jogo,
sição, para depois acrescentar: “O que por não é verdade?

130 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


NOVIDADES
texto e notas de prova Marc Barros / fotos Arquivo
Rubens Menin

brancas. Nota de resina,


92 ligeiro verniz. Seco, corpo
Menin Tinta Roriz médio, tanino já muito
polido, de qualidade.
2020 Acidez alta. A fruta
Douro / Tinto / Menin regressa ao aroma de boca
Wine Company e prolonga a prova. Final
Um portento em tons longo, elegante e fino, com
florais, alfazema e violeta, nota de chocolate.
flores brancas. Mostra Consumo: 2023-2030
muita complexidade 35,00€ / 16ºC
aromática, notas terrosas, —
um toque de verniz muito
controlado a emprestar
elegância, distinção
88
e frescura. Seco, bom Menin Late Bottled
volume, tanino muito Vintage 2019
polido e fino. Acidez bem
Menin Wine Company conseguida, equilibrada.
Vinho do Porto /
Final longo, saboroso, com Fortificado / Menin
toque de chocolate. Quem Wine Company

Cinco anos, disse que não se fazem Denso, retinto. Aromas


belos vinhos desta casta no frescos de menta, hortelã,
Douro? ‘After Eight’. Emergem
notas de fruto vermelho,

cinco vinhos
Consumo: 2023-2033
35,00€ / 16ºC cereja, bagas pretas.
Nuance de cacau e

alcaçuz. Especiado no
ataque de boca, a acidez
90 é primorosa, a aguardente
Os primeiros cinco anos do projeto que o empresário brasileiro Rubens Menin, já bem integrada. Bom
Menin Touriga
juntamente com o amigo e também gestor Cristiano Gomes, estão a desenvolver volume, tanino suave,
Franca 2020
no Douro, conhece nova etapa com o lançamento de cinco vinhos (na realidade, longo e saboroso, pronto a
seis), que foram apresentados no The Yeatman, contando com a presença da Douro / Tinto / Menin dar prazer desde já. 3.200
tripla de enólogos Tiago Alves de Sousa (consultor), João Rosa Alves e Manuel Wine Company garrafas.
Saldanha. Para além dos primeiros Vinhos do Porto das categorias Vintage 2020 Aromas balsâmicos do Consumo: 2023-2028
(já provado e avaliado pela Revista de Vinhos na edição 399) e Late Bottled estágio em madeira, a par 25,00€ / 16ºC
de notas diretas de verniz
Vintage 2019, saíram os primeiros tintos monocasta e um branco Reserva. —
e resina. Lado floral fresco,
No Douro, o empresário já investiu cerca de 35 milhões de euros, valor esse que
deverá montar ao dobro com o avanço de novos projetos e aquisições. De acordo
herbáceo seco, citrinos.
Nuance de chocolate.
86
com Cristiano Gomes, os vinhos apresentados visam “completar a gama de vinhos Seco, tanino um pouco Menin Reserva 2021
da empresa”, sendo que, até final do ano, será ainda lançada o que apelidou de adstringente, granuloso.
Douro / Branco / Menin
a joia da coroa, um ‘field blend’ de 54 castas de uma vinha com 11 hectares em Acidez em equilíbrio, viva.
Wine Company
Gouvinhas. Dividida em 142 talhões, “a primeira vindima rendeu 150 kgs./ha.”, Especiaria no fim de prova.
acrescentou João Rosa Alves.
Arinto, Rabigato, Viosinho
Consumo: 2023-2030
e Gouveio, estagiado em
As três propriedades do grupo são a Quinta da Costa de Cima, Quinta do Sol 35,00€ / 16ºC
madeira nova. Aromas de
e Quinta do Caleiro. É desta primeira, Quinta da Costa de Cima, que saem as — baunilha, floral, citrinos
uvas dos três monovarietais, Tinta Roriz, Touriga Nacional e Touriga Franca. A gordos, pimenta branca.
propriedade, localizada no limite entre o Cima e Baixo Corgo, tem parte da vinha 90 Na boca apresenta
com exposição sul, oeste e norte. Agrega 28 ha. de vinhas e 10 de olival e floresta, bom volume, acidez em
Menin Touriga
entre 80 e 260 metros de altitude. Aqui residem os 11 ha. de vinhas velhas, com crescendo, salivante.
uma idade média de 130 anos. Destaque ainda para a parcela de Tinta Roriz, com
Nacional 2020 Belíssima estrutura.
40 anos, que mostra, como bem referiu Tiago Alves de Sousa, o enorme potencial Douro / Tinto / Menin Um vinho que mostra a
da casta na região, muitas vezes ao contrário do que se afirma. Wine Company concentração típica da
E, tal como a congénere Franca, também o Touriga Nacional nasce de uma Rubi, rebordo vermelho. região, mas com elegância.
Belíssima dimensão Pede tempo em garrafa.
parcela de um hectare de vinha, “de onde se esperaria mais concentração”, sub-
linha João Rosa Alves, da Quinta da Costa de Cima. Com uma produção atual de aromática, muita Consumo: 2023-2030
fruta vermelha fresca 20,00€ / 11ºC
170.000 garrafas, João Rosa Alves assume “a capacidade para atingir 400.000
compotada, gulosa. Flores
unidades em velocidade cruzeiro”.

132 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


NOVIDADES
texto e notas de prova Célia Lourenço / fotos D.R.

95
Mirabilis 2021
Douro / Tinto / Quinta Nova de Nossa
Senhora do Carmo
Cor rubi. Nariz de grande finesse, fruta muito
expressiva e nota de seiva bem presente,
que lhe dá um carácter quase mentolado. Na
boca, é um vinho harmonioso e muito elevado,
com tanino que alia delicadeza a uma certa
robustez, fruta de qualidade e madeira fina.
Um vinho limpo e cheio de carácter, que exala
Douro como se usasse um perfume discreto.
Muito bonito.
150,00 € / 16ºC / Consumo: 2023-2038

93
Mirabilis 2021
Douro / Branco / Quinta Nova de Nossa
Senhora do Carmo
Cor ténue. Fruta madura e muito elegante,
Quinta Nova no nariz, com alguma especiaria e nota de
manteiga. É um vinho profundo, com boca
estruturada e cremosa, nota mineral fresca,

Mirabilis,
elegância poderosa e grande presença, ainda
muito marcado pela sua juventude. Vai valer a
pena esperar pela idade adulta.

a maturidade
55,00 € / 11ºC / Consumo: 2023-2033

“É um trabalho com muita maturidade”, vem substituir a cave de barricas, e inves- conseguidas junto de parceiros de longa data
começou por dizer Luísa Amorim. Prossegue tiu-se em cubas de cimento. Também foram e são provenientes de vinhas velhas em alti-
com uma reflexão, como se estivesse a pensar repensados os percursos, para não haver tude (acima dos 500 metros), muito ricas em
alto, que talvez tenha andado depressa cruzamentos entre os trabalhos da adega e Gouveio, em solos de transição xisto-granito.
demais. Pela sofreguidão do início dos pro- quem visita. E por falar em visitantes, o eno- Após a prensagem da uva inteira, o final da
jectos quando somos muito novos. Hoje diz turismo sempre foi uma área muito forte da fermentação deu-se em barricas de carvalho
que sabe muito mais o que quer, tem mais Quinta Nova e nesse mesmo dia, 16 de Maio, francês e húngaro de 300 litros, seguido de
consciência. E por isso, a Quinta Nova entra estava a ser inaugurada a loja de enoturismo. 9 meses de estágio. Estas barricas dividem-se
na maturidade que fala. Mirabilis é um cacto do deserto do Namibe entre madeira nova e com uso de 2º e 3º ano.
A apresentação à imprensa dos novos e Luísa Amorim escolheu esse nome para o Quanto ao Mirabilis tinto, é proveniente
Mirabilis aconteceu em Lisboa, no Depózito seu sonho de criar um “branco fora de série” de uma vinha centenária da Quinta Nova
de Catarina Portas, um espaço incrível que e um “tinto disruptivo”, com as primeiras num lote com Tinta Amarela de uma vinha
já foi a garagem do Ramiro e que desde edições na vindima de 2011. de 7ha, grande responsável pelo estilo do
há uns anos faz parte do universo da Vida Num almoço assinado por Hugo vinho desde a primeira edição. A selecção das
Portuguesa. Candeias, chef executivo do Ofício, em uvas é rigorosíssima, faz-se desengace total e
Luísa Amorim aproveitou para revelar um Lisboa, foram agora apresentados os mais após a fermentação, o vinho fica 12 meses em
pouco da renovação da adega, uma obra que recentes Mirabilis, da colheita de 2021. 2021 estágio de barrica nova de carvalho francês.
brevemente poderemos conhecer. A neces- que foi um ano difícil para a viticultura, mas Para o lote final, procede-se ainda a uma dura
sidade de alteração teve a ver com a filo- encarado como uma dádiva para vinhos escolha entre as melhores barricas.
sofia de produção que hoje a Quinta Nova harmoniosos, com as suas temperaturas “Não há um Mirabilis igual ao outro”,
de Nossa Senhora do Carmo tem. Há 20 amenas e chuva. Um ano fresco, com vinhos diz-nos Luisa Amorim, “há um estilo”. E
anos, quando foi criada, a adega estava numa mais minerais, por um lado, e mais intensos, esse estilo, em 2021, revelou-se de forma
região de importância relativa para Doc, era fruto de uma vindima mais tardia, por superior. Muito bem resumido no “mote”
sobretudo Vinho do Porto. E os Doc eram outro. Assim foi apresentado pelo enólogo para cada momento da refeição em que cada
na sua maioria, tintos. Hoje é tudo diferente. Jorge Alves que assina os Mirabilis e todo o vinho foi servido. “As Flores, a Frescura e
Brancos e rosés assumem grande preponde- projeto Quinta Nova de Nossa Senhora do a Luz”, para o Mirabilis branco (com lava-
rância. Desta forma, o projecto teve que res- Carmo desde o seu início, sendo Ana Mota a gante e caldeirada) e “As Raízes, a Matéria
ponder a um programa exigente do qual faz responsável pela viticultura. e o Fruto”, para o Mirabilis tinto (com presa
parte, por exemplo, uma cave de foudres que Para o Mirabilis branco, as uvas são ibérica e aipo).

134 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


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NOVIDADES
texto e notas de prova Luís Costa / fotos Arquivo
Christian Seely

94 90
Quinta da Romaneira Quinta da Romaneira
Vintage 2021 Gouveio 2022
Vinho do Porto / Fortificado / Douro / Branco / Quinta da
Quinta da Romaneira Romaneira
Rubi profundo e brilhante, Amarelo suave, ligeiro
rebordo púrpura. Fruta preta esverdeado. Nariz de perfil
madura no nariz, alcaçuz, mineral, contido nos aromas, com
compota de frutos vermelhos, notas de maçã verde, raspa de
apontamento resinoso, bagos limão e ervas frescas. Entrada
de pimenta preta e flores azuis. de boca fresca e singela. Mas
Na boca é sedoso, com acidez a termina em grande plano, graças
dar grande equilíbrio à doçura, a excelente acidez e agradável
tem muita elegância, tanino travo salgado. Belo Gouveio.
de fino recorte e final amplo e Consumo: 2023-2028
persistente. Consumo: 2023- 18,90€ / 12ºC
2060 / 60,00€ / 16ºC —
Quinta da Romaneira —
90
92 Quinta da Romaneira

… aposta nos Quinta da Romaneira


Pulga 2022
Douro / Branco / Quinta da
Reserva 2022
Douro / Branco / Quinta da
Romaneira

vinhos brancos… Romaneira


Amarelo, laivos esverdeados. Um
vinho de parcela que assenta
Amarelo esverdeado. Notas
discretas e elegantes de barrica
a envolver aromas de fruta

e faz bem! na casta Boal (80 por cento do


lote, a que se juntam Rabigato
e Viosinho). Aromas de ervas
de polpa branca e amarela,
num registo sofisticado. Na
boca mostra complexidade,
frescas a envolver fruta de amplitude, profundidade e acidez
caroço (nêspera, pêssego de refrescante a equilibrar (muito
A Quinta da Romaneira acaba de lançar seis novas referências, três roer) e maçã verde. Bela acidez bem) o lado mais untuoso e
brancos, um rosé, um tinto e um Porto Vintage. O facto de metade na boca, enorme persistência, texturado. Consumo: 2023-2030
destes vinhos serem brancos não é um mero acaso: a monumental textura untuosa, final com 21,90€ / 12ºC
quinta duriense de André Esteves e Christian Selly (também diretor profundidade. Consumo: 2022- —
geral da Quinta do Noval), que tem direção técnica de Carlos Agrellos 2035 / 36,90€ / 11ºC
(também enólogo do Noval) quer apostar seriamente na produção de — 86
vinhos brancos, como foi revelado pelo próprio Christian Selly no lan- Quinta da Romaneira
çamento das novas referências. 91 2022
Nesse sentido, a enorme Quinta da Romaneira (uma das maiores Quinta da Romaneira Douro / Rosé / Quinta da
da região demarcada do Douro, localizada junto à margem direita do
Apontador Syrah 2019 Romaneira
Douro) prepara-se para abdicar de sete hectares de vinhedos letra A
Regional Duriense / Tinto / Cor aberta, tonalidade casca de
da zona mais baixa da quinta, aptos à produção de Vinho do Porto ou
Quinta da Romaneira cebola. Nariz com notas frescas
DOC Douro tintos, para plantar mais sete hectares de castas brancas
Rubi, rebordo violáceo. Nariz com de morango, cereja, bagos de
na parte superior da propriedade, nomeadamente Boal (sinonímia de
fruta preta e azulada, bergamota, groselha e romã. Na boca é seco
Sémillon), Viosinho, Gouveio e Rabigato. e elegante, com textura suave,
grãos de pimenta e apontamento
Christian Selly, que é também o máximo responsável da Axa acidez média e delicada frescura
arbustivo. Na boca é fresco e
Millesimes a nível mundial, com presença forte em Bordéus, Califórnia saboroso, nada compotado, com herbácea. Consumo: 2023-2025
e Tokaj, mostrou-se seguro desta nova aposta, revelando enorme con- tanino muito elegante e acidez 16,90€ / 12ºC
fiança no potencial dos vinhos brancos produzidos na Romaneira e brilhante. Um Syrah de parcela
acreditando mesmo que o Douro – e o “terroir” desta quinta em par- com espírito do Douro, mas
ticular – pode produzir brancos de grande nível, “capazes de competir finesse do norte do Ródano.
com os melhores brancos do mundo”. Consumo: 2023-2040
A avaliar por esta prova, os vinhos dão-lhe razão. 52,90€ / 16ºC

136 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


NOVIDADES
texto e notas de prova Rodolfo Tristão / fotos D.R.

Piper Heidsieck
Uma das mais notórias marcas de Champanhe, a Piper-Heidsieck esteve entre

De Maria nós para uma apresentação de alguns dos seus vinhos espumantes mais célebres,
fazendo-se representar pelo jovem ‘chef de cave’ Émilien Botillat. Sucedeu a Régis
Camus, tendo oficiado anteriormente na casa Champagne Cattier, onde teve opor-

Antonieta à tunidade de apoiar na elaboração do Armand de Brignac.


Este jovem enólogo trouxe com ele uma nova forma de pensar a viticultura,
introduzindo a inteligência artificial, com os chamados “vitibots”, ou seja, tecno-

Inteligência logia especificamente desenvolvida através de IA para a gestão da vinha. E investiu


na criação de uma ‘start up’ para este efeito. Trata-se, em suma, de um trator autó-
nomo de alta precisão para os trabalhos necessários.

Artifical Mas existem curiosidades em torno desta marca de Champagne, desde a intro-
dução, por Florens-Louis Heidsieck, na corte francesa através de Maria Antonieta,
ou o consumo desmesurado da bebida por parte de Marilyn Monroe. A marca sub-
linha a preocupação com o ambiente, escolhendo a garrafa mais leve de espumante
no mercado, que pesa 835 gr., bem como a certificação B CORP, que engloba todos
os departamentos da empresa.

93 92 91 89 88
Piper Heidsieck Piper Heidsieck Piper Heidsieck Piper Heidsieck Piper Heidsieck Brut
Vintage 2014 Essenciel Blanc Essenciel Extra Brut Rosé Sauvage Champagne / Espumante
Champagne / Espumante de Blancs Champagne / Espumante Champagne / Espumante / Piper Heidsieck
/ Piper Heidsieck Champagne / Espumante / Piper Heidsieck / Piper Heidsieck Cuvee Brut engarrafado
Límpido, cor amarelo / Piper Heidsieck Aromas frescos, fruta de Cor vermelha suave. em 2020
palha. Aromas suaves, fruta Aroma frutado, fruta arvore, peras madura e Aromas frutados, frutos Cor perola, bolha fina e
madura, notas de evolução madura, toque tropical maças, aliando as notas vermelhos, morango, rápida. Aromas frutados,
onde o brioche se eleva. evidente. Floral presente de brioche fruto de framboesa, toque de romã. fruta citrina, suave nota de
Especiado ligeiro. Sabor dando uma sensação dégorgement tardio. Toque Cativante! Sabor seco, pêssego e damasco. Sabor
seco, acidez presente, doce ao aroma. Nota especiado a enriquecer. acidez presente, mousse seco, acidez bem presente,
mousse bem integrada, suave a lembrar brioche. Sabor seco, boa acidez, suave e elegante, frutado mousse média, intenso,
frutado, notas frescas Envolvente. Sabor seco, mousse suave, bolha presente. Bom corpo, citrino, prevalecendo
com final persistente acidez presente, bolha fina, sedoso e volumoso. com final persistente um toque herbal. Final
e volumoso. Escolha fina, mousse elegante. Encorpado, com final longo e envolvente. Escolha refrescante e vivo. Ideal
acertada para queijos Frutado, floral a notar-se, e estruturado. Ideal para acertada para finais de para aperitivo. Funciona
fortes, maturados. transmitindo uma sensação acompanhar pratos de tarde com os amigos; ótima bem com petiscos do mar.
Consumo: 2023-2033 vibrante. Bom corpo e final peixe no forno. Consumo: opção para petiscos de Consumo: 2023-2029
84,90€ / 8ºC longo e apetecível. 2023-2030 verão. 44,99€ / 8ºC
Consumo: 2023-2033 N.D. / 8ºC Consumo: 2023-2033
N.D. / 8ºC 54,95€ / 8ºC

138 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


NOVIDADES
texto e notas de prova José João Santos / fotos Arquivo

Por ano, João Pedro Araújo


alcança produções médias
próximas das 100.000
garrafas, percentagens
idênticas por regixão.

Casa de Cello
95 94
A certeza Quinta de San Joanne
Herança 2019
Vinho Verde / Branco / Casa de
Quinta da Vegia
Reserva 2019
Dão / Tinto / Casa de Cello

do rumo Cello
Dourado, reflexos alaranjados. Notas
ligeiramente oxidativas, complementos
Rubi. Nariz muito bonito, que nos
remete para um certo classicismo.
Aos apontamentos mentolados de
de nêspera e lima. Direto e muito barrica juntam-se muito citrino e bagas
João Pedro Araújo é um protagonista do vinho com quem mineral, simultaneamente tenso e silvestres. Tanino aveludado, frescura
untuoso, de volume bem esculpido e que nos remete para componentes
dá sempre gozo conversar. Tem ideias muito próprias, algumas
final gorduroso. Facilmente projetamos mais vegetais, de final elegante e
que nos obrigam a refletir mesmo quando discordamos. Nos
nuances de mel. Sim, tornar-se-á ainda sóbrio. Um vinho de “connaiseur”.
Vinhos Verdes, em particular, é uma voz que nos habituou
maior. Consumo: 2023-2035
a ser por vezes dissonante, insistindo num caminho próprio
Consumo: 2023-2035 30,00 € / 16ºC
de afirmação e de diferenciação. Pedro Araújo já não está no
35,00€ / 11ºC —
Ameal, Nuno Araújo já partiu para a eternidade, mas isso não

o demove de continuar o caminho que decidiu para si.
Com apoio técnico do enólogo Paulo Ruão, João Pedro
93
há muito definiu a seriedade como matriz dos vinhos São
95 Quinta de San Joanne
Joanne. Herança, a nova designação do Superior, é um lote de Quinta da Vegia Escolha 2020
Avesso e Malvasia Fina que promete envelhecer com garbo. O Património 2019 Vinho Verde / Branco / Casa de
Escolha mantém os pergaminhos a que nos habitou. Dão / Tinto / Casa de Cello Cello
No Dão, Património é a nova designação do Superior, lote Rubi. Notas finas de ervas secas, algum Dourado. Nariz de restolho, maçã,
de Touriga Nacional e Tinta Roriz, que merece garrafeira. O vegetal, tabaco e cereja negra. Tanino nectarina e um ligeiro especiado.
Reserva tem um perfil muito sóbrio, é vinho de “connaisseur”. fresco e sólido, excelente acidez geral, O trabalho de borras está bem
Por ano, João Pedro Araújo alcança produções médias de estrutura competente e um final conseguido, a conferir amplitude
próximas das 100.000 garrafas, percentagens idênticas por bem profundo, que alia texturas a boa e texturas extra. De final untuoso e
região. Brasil, Canadá, Reino Unido, Suíça, EUA e Venezuela barrica e a bosque. Merece garrafeira. aguerrido, reúne todos os pergaminhos
são os principais mercados de exportação, em que a restau- Consumo: 2023-2040 para evoluir bem.
ração é o foco. 55,00 € / 16ºC Consumo: 2023-2033
15,00 € / 11ºC

140 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


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NOVIDADES
texto e notas de prova Luís Costa e Marc Barros / fotos D.R. texto e notas de prova Rodolfo Tristão / fotos D.R.

Dandy de Cidrô

A outra Caminhos Cruzados

face da Real Clandestino


Companhia com arrojo
Velha
Os enólogos da Caminhos Cruzados Manuel
A nova geração da Real Companhia Velha, com os irmãos Pedro Vieira, Carloto Magalhães e Carla Rodrigues, com-
e Tiago Silva Reis à cabeça, apresentou a novel marca de vinhos binaram esforços para lançar um novo ‘atrevimento’
da casa, designada Dandy de Cidrô, em versão branco e tinto. Esta da casa: o Clandestino Cuvée EC + TN. Este nasce
corresponde a uma diferente visão sobre o mundo do vinho e as do contacto “clandestino” entre as películas de um
atuais tendências de consumo, que pedem vinhos frescos, leves e dos mostos de Touriga Nacional sobre o mosto de
de baixo teor alcoólico. Encruzado, dando uma cor suave ao vinho, tipo
E foi sob o olhar e supervisão deste experiente enólogo que os palhete. Estas fermentaram em conjunto e, de
dois irmãos iniciaram esta aventura, que tem por base um con- acordo com a ficha técnica do vinho, “a fermentação
ceito simples, como explicou Pedro (filho): “Os nossos vinhos, no decorreu a temperatura controlada com remon-
geral, possuem bastante estrutura e tanino marcante, ideais para a tagens periódicas de maneira a integrar da melhor
mesa – mas via-me, muitas vezes, a beber vinhos mais leves, menos maneira possível o mosto branco com os taninos
concentrados e com menos álcool”. Esta marca pretende oferecer e antocianas presentes nas peliculas da Touriga
“elegância e frescura”, mas num “perfil de consumo diário, que não Nacional”.
deixam de refletir a expressão do Douro”. E utilizou a expressão As uvas que dão origem a este vinho provêm de
“grip”, ou garra, para categorizá-la. duas parcelas da Quinta da Teixuga plantadas em
O Dandy de Cidrô branco 2022 é produzido com base na casta solos graníticos entre os 400 e os 500 metros de
Samarrinho (80%) da Quinta da Granja e Cerceal (20%) de Cidrô, altitude. Este “namoro proibido” resultou num
num perfil “mineral”, “leve na extração e no teor alcoólico”, afirma vinho original, mais um que a empresa, que
Pedro. Já o Dandy de Cidrô tinto 2021 é elaborado com três castas integra o grupo Terras & Terroir, tem sabido
autóctones: Tinta Roriz (80%) de “baixa altitude e vindima tem- gerar, fruto do profundo conhecimento da
porã”, Tinta Francisca (12%) de “perfil elegante e fresco e tanino região e das castas dos enólogos, com Manuel
delicado”, mas “a que mostra o carácter mais duriense”, bem como Vieira à cabeça.
a branca Viosinho (8%). Aqui, nota-se o dedo de Pedro Silva Reis
ao introduzir o elemento palhete, que aporta “carácter aromático,
volume e amplitude de boca”. Uma boa estreia.
90
88 83 Clandestino Cuvée EC + TN 2022
IVV / Palhete / Caminhos Cruzados
Dandy de Cidrô 2021 Dandy de Cidrô 2022
Aspeto límpido, cor palhete, suave. Aromas
Douro / Tinto / Real Douro / Branco / Real frutados, frescos, frutos vermelhos,
Companhia Velha Companhia Velha suave floral a enriquecer. Sabor seco,
Cor aberta. Aromas delicados de Palha. Aroma contido, elegante, boa acidez, taninos presentes, suaves
cereja, groselha, algum herbáceo/ com aromas de flores frescas, e elegantes, elevando as notas de fruta
vegetal. Texturado, acidez média, fruta de caroço madura. Cereja vermelha. Bom corpo, estruturado, com
tanino suave, mas granuloso, verde e sílex. Algo metálico na final fresco e persistente. Um vinho com
a estruturar a prova de boca. boca, acidez alta, o corpo médio elegância, fresco e muito agradável para
Terroso, seco, final levemente exprime um lado fenólico, com se degustar. Sirva mais fresco!
especiado. Muito gastronómico. algum amargor e salino no fim de Consumo: 2023-2026
Consumo: 2023-2028 prova. 12,50€ / 11ºC
8,00€ / 16ºC Consumo: 2023-2028
8,00€ / 11ºC

142 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


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O ACESSO AOS DADOS ESTÁ GARANTIDO ASSIM COMO A RESPETIVA OPOSIÇÃO E LIMITAÇÃO DE TRATAMENTO, PORTABILIDADE, RETIFICAÇÃO E ELIMINAÇÃO. O DIREITO DE APRESENTAR RECLAMAÇÕES TAMBÉM SE ENCONTRA CONSAGRADO.
AUTORIZO RECEBER RESPOSTAS COMERCIAIS DE OUTRAS ENTIDADES: SIM NÃO * PREÇO PARA PORTUGAL CONTINENTAL.
PONTUAÇÕES
Regras de avaliação Todos os vinhos que obtiverem uma pontuação igual ou

e classificação inferior a 74 valores serão submetidos a nova prova (de pelo


menos um membro do painel). Caso a pontuação resultante
desta segunda prova seja inferior a 74 valores, tal facto é
da Revista de Vinhos comunicado ao produtor e a nota respetiva não é publicada
na revista.

As notas e pontuações atribuídas são registadas imediata-


A Revista de Vinhos segue, desde a edição 400, o modelo de prova e clas- mente na base de dados da Revista de Vinhos, antes de serem
sificação de vinhos da chamada escala OIV - Organização Internacional da reveladas aos membros do painel. Após a identificação dos
Vinha e do Vinho -, ou seja, de 0 a 100 pontos. vinhos são permitidos comentários adicionais a uma nota
de prova, por exemplo sobre a relação qualidade/preço, mas
Sabemos que o mundo do vinho está em constante evolução. É, por isso, nunca alterando a pontuação previamente atribuída.
tendo em mente a necessidade de acompanhar as grandes tendências
internacionais e até as necessidades dos produtores, que a Revista de
Vinhos adota esta escala, ao mesmo tempo que uniformiza o modelo de PROVA DE VINHOS
avaliação com a revista brasileira Gula que, desde a inclusão na esfera
do grupo Essência, utiliza esta escala. Também a parceria ibérica com o As provas são efetuadas no respeito pelas condições necessá-
grupo Peñin, responsável pela edição do celebérrimo guia com o mesmo rias para o efeito, nomeadamente no que se refere à tempe-
nome, impõe a colaboração em provas e eventos no mundo ibero-ameri- ratura da sala, humidade, iluminação e ausência de cheiros.
cano num modelo semelhante. Em todas as provas, as garrafas são cobertas e a cada vinho
é atribuída uma referência, que constará da base de dados
da Revista de Vinhos. O painel da Revista de Vinhos - A
Essência do Vinho adota a ficha de provas e respetivos parâ-
metros de avaliação OIV - Organização Internacional da
Vinha e do Vinho.

PROVAS REGULARES

O painel prova todos os meses dezenas de amostras de


vinhos, com incidência nas novidades lançadas no mercado,
procedendo individualmente à respetiva avaliação. A nota de
95-100 90-94 85-89 prova correspondente a cada vinho, embora reflita a opinião
da revista, é identificada através das iniciais do respetivo pro-
vador.

EXCELENTE SUPERIOR MUITO BOM


vinho monumental, vinho de caráter e vinho acima PROVAS TEMÁTICAS
de características estilo superiores da média, com
singulares complexidade Nestas provas, todos os membros do painel provam os
mesmos vinhos de acordo com um tema pré-definido. A nota
de prova de cada vinho resulta de uma média aritmética das
classificações atribuídas.

COPOS

Nas provas da Revista de Vinhos, são utilizados os copos


80-84 75-79 50-74 Riedel Wine Cabernet / Merlot.

De todos os vinhos provados e selecionados para publicação,


o coordenador do painel escolhe mensalmente um conjunto
BOM MEDIANO NÃO de vinhos de acordo com os seguintes parâmetros:
vinho bem vinho correto, sem RECOMENDADO
Altamente Recomendados
elaborado pretensões
Vinhos mais surpreendentes, classificados com mais de 90
pontos.

Boas Compras
Vinhos de melhor relação qualidade/preço, vinhos classifi-
cados a partir de 80 pontos.

Os preços indicados nas notas de prova (PVP) são os preços


de venda recomendados pelo produtor em Portugal.
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painel de provadores
da revista de vinhos

Nuno Guedes Vaz Pires Alexandre Lalas António Lopes Bento Amaral
DIRETOR REVISTA DE VINHOS JORNALISTA E CRÍTICO SOMMELIER ENÓLOGO
DE VINHOS E WINE EDUCATOR E WINE EDUCATOR

Célia Lourenço Guilherme Corrêa Igor Beron José João Santos


REDATORA E CRÍTICA SOMMELIER DIP.WSET SOMMELIER DIP.WSET JORNALISTA E CRÍTICO
DE VINHOS DE VINHOS

Luís Costa Manuel Moreira Marc Barros


CRÍTICO DE VINHOS SOMMELIER EDITOR REVISTA DE VINHOS
E WINE EDUCATOR

Nuno Bico Rodolfo Tristão Sara Matos


PROVADOR SOMMELIER WINE EDUCATOR
E WINE EDUCATOR

@revistadevinhos julho 2023 · 404 / Revista de Vinhos · 145


G U I A R E V I STA D E V I N H O S

ALENTEJO
86 85
90 Pouca Roupa Sauvignon Mingorra Henrique Uva
Blanc 2022 Colheita 2021
Herdade dos Grous Moon
Regional Alentejano / Branco / J. Regional Alentejano / Tinto / H.
Harvested 2021
Portugal Ramos Vinhos UVA
Regional Alentejano / Tinto /
Os aromas da casta estão bem Rubi escuro. Aromas de folha
Monte do Trevo
presentes, com a dimensão de morango, romã, cereja
Rubi, rebordo vermelho. Boa
vegetal bem contida em vermelha e toque de café.
dimensão e frescura aromática
roupagem de fruta fresca. Tanino esculpido, boa fluidez
nas notas de fruto vermelho,
Na boca é elegante, fresco estrutural, volume no ponto,
cereja e groselha. Madeira e
e delicado, com acidez alta, final certeiro. As maiores
couro. Nota de resina. Corpo
que preenche o palato. MB virtudes são a versatilidade
médio, tanino robusto, ainda
Consumo: 2023-2028 e o equilíbrio. JJS Consumo:
um pouco jovem e seco. Fruta
5,49€ / 11ºC 2023-2030
madura no aroma de boca. Final
6,50€ / 16ºC
médio, com leve especiaria. MB
Consumo: 2023-2033
24,99€ / 16ºC 85
B Talhas de Borba Vinho
85
de Talha 2022 Senses Petit Verdot 2021
88 Alentejo / Branco / Adega de Regional Alentejano / Tinto /
Borba Adega de Borba
Dona Maria 2022
Dourado, reflexos alaranjados. Rubi. Notas de cereja vermelha,
Regional Alentejano / Branco /
Aromas de nêspera, abacaxi e tomate, pimento, grão de café e
Júlio Bastos
melaço. Boa untuosidade, de balsâmicos. Tanino portentoso,
Amarelo limão. Notas de
corpo médio e acidez que o faz acidez bem presente, de
restolho seguidas de casca
vibrar, com final democrático e corpo médio-alto e final muito
de laranja, líchia e pêssego. A
perceção mineral. Um vinho de teimoso, com toque de tabaco.
polpa de fruta domina o sabor,
talha que respeita a tradição. Precisa ser domesticado. JJS
tem camadas de texturas,
JJS Consumo: 2023-2028 Consumo: 2023-2030
um toque especiado e final
6,49€ / 11ºC 5,99€ / 16ºC
persistente, tudo amparado por
boa acidez. Clama por mesa.
NGVP Consumo: 2023-2028
9,95€ / 11ºC 85 84
Coelheiros 2022 Pouca Roupa 2022
Alentejo / Branco / Tapada dos Regional Alentejano / Rosé / J.
87 Coelheiros Portugal Ramos Vinhos
Cor citrina. Aroma cítrico Tom salmão pálido. Aromas
Esporão Colheita 2022
maduro, maçã também madura florais a abrir, flores frescas.
Regional Alentejano / Tinto /
surgindo como nota Secundária Fruto de polpa branca, romã,
Esporão
palha seca. Na boca mostra-se fruto de água. Seco, corpo leve,
Rubi. Algum floral e muita
um vinho de elegância e com acidez equilibrada, frutado no
cereja vermelha, complementos
suavidade. BA Consumo: 2023- palato, ligeiro amargor final. Um
de amora e um ligeiro vegetal.
2026 rosé sério, para levar à mesa.
Tanino firme, acidez vincada,
11,00€ / 11ºC MB Consumo: 2023-2025
contexto que harmoniza
5,49€ / 11ºC
volume e fruto. O final é seco e
mais tenso. Está a aprumar-se.
JJS Consumo: 2023-2028 85
10,00€ / 16ºC HFP Reserva 2020 82
Regional Alentejano / Tinto / Castelo de Borba Antão
Herdade Fonte Paredes Vaz 2022
86 Rubi. Apontamentos de cereja Alentejo / Branco / Adega de
vermelha, pimento, grão de Borba
B Talhas de Borba Vinho
café e especiarias. Tanino Dourado. Notas de restolho,
de Talha 2022
maduro, estrutura apimentada, pera e abacaxi. Acidez bem
Alentejo / Tinto / Adega de Borba
acidez que lhe confere garra conseguida, que espevita o
Rubi. Notas de cereja vermelha e volume de matriz quente. conjunto e permite equilíbrio
e romã, algum pimento, Termina persistente e severo. entre estrutura e volume. O
tomate e azeitona. Tanino Para mesas a preceito. JJS final mostra versatilidade. JJS
fresco e assertivo, acidez Consumo: 2023-2030 Consumo: 2023-2025
vincada, volume em esquadria 13,00€ / 16ºC 4,90€ / 11ºC
e projeção final teimosa.
Revela sangue na guelra. JJS
Consumo: 2023-2028
6,49€ / 16ºC

146 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


Estrelas de uma
noite de verão!

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Coelheiros 2021 90 Herdade Barranco
Alentejo / Tinto / Tapada dos do Vale Chardonnay
Tesouro Bastardo 2020
Coelheiros Reserva 2020
Regional Algarve / Tinto / Quinta
Cor rubi de média intensidade. Regional Algarve / Branco /
dos Santos
Aroma a amora, licor de cassis, Herdade Barranco do Vale
Granada bem aberto, já o nariz
couro, baunilha. Notas tostadas Aroma de hortelã da ribeira,
é um sedutor na fruta vermelha
na boca que dão doçura que de folhas muito verdes
suave e goiabada a combinar
se contrapõe a carga tânica e estimulantes. Na boca
com especiaria. Boca ligeira,
de média intensidade. BA representa de certa forma o
redonda, mas estruturada à
Consumo: 2023-2026 que tinha demonstrado no
sua maneira. Fruta suculenta,
11,00€ / 16ºC nariz com as notas vegetais
taninos macios e frescura
a levarem a dianteira sobre
delicada. Proporção e balanço.
um ligeiro laivo de pomar. AJL
Delicioso! Viciante. MM
82 Consumo: 2023-2028
Consumo: 2023-2025
13,95€ / 11ºC
Gladius Premium 2020 27,00€ / 16ºC
Regional Alentejano / Tinto / BAIRR ADA
Herdade Fonte Paredes
Rubi. Notas de chocolate, 90 91
ameixa negra e um
Tesouro Sousão 2020
toque vegetal. Sedoso na Kompassus Baga Private
Regional Algarve / Tinto / Quinta
demonstração do tanino, fluido Colection 2017
dos Santos
ao longo da prova apesar Bairrada / Tinto / Kompassus
do volume e do contexto Rubi profundo. Nariz amplo, Vinhos
acalorado. Finaliza sem fruta madura em diálogo com
Rubi. Notas de pinhal e de
segredos, pronto a acompanhar coco, noz-moscada, tostados,
caruma, folha de morango
pratos condimentados. JJS sem nunca entrar no peso ou
e cereja, especiaria e café.
Consumo: 2023-2025 cansaço. A madeira inicial,
Tanino esculpido, volume
dissipa-se ao longo da prova.
7,95€ / 16ºC sedoso, final persistente mas
Boca de belo porte, pensado,
com bons modos. Sedutor, está
taninos super finos, balanço e
apto ao desafio do tempo. JJS
persistência. Muito bem! MM
82 Consumo: 2023-2030
Consumo: 2023-2040
40,00€ / 16ºC
Mingorra Henrique 36,00€ / 16ºC
Uva Touriga Nacional
Colheita 2022
Regional Alentejano / Rosé / H. 83 90
UVA Kompassus Bical 2020
Herdade Barranco
Cor salmão. Ligeiro floral, folha Bairrada / Branco / Kompassus
do Vale Castelão &
de morango e cereja vermelha. Vinhos
Aragonez Reserva 2021
A doçura da fruta mantém-se Amarelo limão. Notas de iodo
Regional Algarve / Tinto / Herdade
ao longo da prova, tem volume e fumo, nectarina e algum
Barranco do Vale
definido e final sem segredos. melaço. Simultaneamente
Combine-o com pastas. JJS Aroma balsâmico, com notas de
amplo e fino, tem ADN Bairrada,
Consumo: 2023-2023 estragão e legumes, sentem-se
amplitude e tensão finais, com
ainda delicados aromas de
6,50€ / 11ºC acréscimo de texturas. Está a
maçã verde. No palato é
revelar-se. JJS Consumo: 2023-
equilibrado, de estrutura média
2030 / 20,00€ / 11ºC
e com boa intensidade no final
81 de boca. AJL Consumo: 2023-
2026
Herdade Santa Ana
Verdelho Reserva 2022 10,95€ / 16ºC 90
Regional Alentejano / Branco / Kompassus Rosé Brut
Herdade Fonte Paredes Nature 2018
Amarelo limão. Muito floral ao Bairrada / Espumante /
primeiro impacto, seguindo-se Kompassus Vinhos
notas de maçã, pêra e Cor salmão, apontamentos
nectarina. Amplo e generoso, alaranjados. Cordão muito fino.
levemente especiado, tem Notas de citrinos e massapão,
na boa acidez o ingrediente cereja delicada e romã. Fino
da compostura. Termina sem e elegante, de acidez bem
segredos, apto a mesas fartas. presente, finaliza com um toque
JJS Consumo: 2023-2024 de fumo e termina tostado.
6,95€ / 11ºC Muito bem elaborado será
garantia com gastronomias
diversificadas. JJS Consumo:
2023-2026 / 16,00€ / 8ºC

148 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


G U I A R E V I STA D E V I N H O S

90 80 91
Quinta do Valdoeiro Valdoeiro 2021 Monte Xisto Órbita 2020
Reserva 2020 Bairrada / Tinto / Sociedade Douro / Tinto / João Nicolau de
Bairrada / Branco / Sociedade Agrícola e Comercial dos Vinhos Almeida & Filhos
Agrícola e Comercial dos Vinhos Messias Rubi. Floral elegante,
Messias Rubi. Boa dimensão aromática, complementos de mato, cereja
Aromas ricos e profundos, de com a fruta silvestre a surgir em e romã. Tanino fresco, estrutura
boa complexidade. A fruta é tons frescos, algo de especiaria, muito delicada e harmoniosa,
elegante e fresca, envolta em aroma herbáceo verde. Seco, a acidez a controlar o pulso do
tons tostados, que sugerem corpo médio, taninos firmes, de volume, de final equilibrado.
volume de boca, apoiada boa estrutura, a preencher o Vive de subtilezas. JJS
numa frescura mineral viva. centro da boca. Final saboroso, Consumo: 2023-2033
Final em tons citrinos. Poderá de boa lembrança. MB 28,00€ / 16ºC
surpreender dentro de alguns Consumo: 2023-2027
anos. MB Consumo: 2023-2033 3,90€ / 16ºC
11,50 / 11ºC
DÃO
91
Os Canivéis 2021
88 87 Douro / Branco / Maçanita Vinhos
Dourado, reflexos limão. Notas
Messias Baga Bairrada Quinta do Penedo de fumo, ervas secas, espargos
Grande Reserva Blanc de Encruzado 2021 e alguma pimenta. Untuoso,
Noirs 2017 Dão / Branco / Sociedade Agrícola quase glicerino, de bom
Bairrada / Espumante / Sociedade e Comercial dos Vinhos Messias volume, acidez a preceito, final
Agrícola e Comercial dos Vinhos Dourado, laivos esverdeados. profundo e bem esculpido. É
Messias
Nuances florais elegantes, tímido no nariz e bom de boca.
Tom salmonado. Bolha raspas de lima e fumo. JJS Consumo: 2023-2033
média, persistente. Belíssima Delicado também a seguir, 22,90€ / 11ºC
expressão aromática, citrinos de silhueta fina, boa acidez e
maduros, flores secas, fruto sensação granítica a fechar.
silvestre. Conjunto de grande Bem elaborado. JJS Consumo:
frescura, mas com a nobreza 2023-2030 91
dos aromas de estágio. Seco, 8,15€ / 11ºC Os Canivéis 2020
mousse cremosa e texturada,
Douro / Tinto / Maçanita Vinhos
acidez límpida. Um belo
exemplo da categoria. MB Rubi. O vegetal é evidente no
Consumo: 2023-2025 85 nariz, tem algum exotismo e
apimentados, cereja, romã e
19,80€ / 8ºC Quinta do Penedo 2018
mina de lápis. Tanino firme e
Dão / Tinto / Sociedade Agrícola e fresco, muita mineralidade, de
Comercial dos Vinhos Messias
porte altivo e final bastante
86 Rubi. Nariz floral e a lembrar
floresta, complementos
fino. Continuará a evoluir. JJS
Kompassus Blanc Consumo: 2023-2033
de cereja escura e amora.
de Noirs 2017 24,95€ / 16ºC
Mentolado, tem tanino suave,
Bairrada / Espumante / fluidez geral, volume esculpido
Kompassus Vinhos
e final dócil. De perfil versátil.
Dourado, reflexos alaranjados. JJS Consumo: 2023-2028 90
De folha fina e enérgica. 6,80€ / 16ºC Maçanita é Sousão ou
Notas de cereja e massapão,
Será Vinhão? 2021
perceção salina que logo é
confirmada. Acidez firme em DOURO Douro / Tinto / Maçanita Vinhos
contexto estrutural fino, de Rubi escuro. Exotismo de
final aprumado e sedutor. 92 especiaria, nuances de pimento
Muito versátil. JJS Consumo: e de tomate, especiaria bem
As Olgas 2021
2023-2025 integrada. Tenso e sagaz, de
Douro / Branco / Maçanita Vinhos
16,00€ / 8ºC muito boa acidez sem nunca
Dourado, reflexos esverdeados. perder a compostura. Termina
Notas de espargos, relva e fresco e profundo, espevitado
algum fumo. Fino e elegante, de sem nunca ser selvagem,
acidez presente, bom volume, a confirmar potencial de
elegância geral. De final exato evolução. JJS Consumo: 2023-
mas também firme e salgado. 2035
A matriz vegetal está sempre 24,95€ / 16ºC
bem acentuada. JJS Consumo:
2023-2033
39,95€ / 11ºC

150 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


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Maçanita Rabigato 2022 Grafite 2022 Lacrau 2022
Douro / Branco / Maçanita Vinhos Douro / Branco / Churchill's Douro / Branco / Secret Spot
Amarelo limão. É sisudo no Estates Wines
primeiro contacto com o nariz, Brilhante, a denotar juventude. Amarelo limão. Nariz de flor
mostrando muito mais solo Aromas frescos de fruta de laranjeira, lima e maçã.
do que fruta. As camadas que amarela, sílex, pão torrado. Na Fresco e aparentemente leve,
revela a seguir valorizam-no de boca mostra acidez crocante, está afinado e mostra volume
imediato, combinando textura e bom volume, seco e saboroso. elegante. Termina ligeiramente
acidez, fruto e tensão. O final é MB Consumo: 2023-2028 especiado, pronto a ir à mesa.
persistente e elegante, cremoso 13,50 / 11ºC JJS Consumo: 2023-2028
e com matéria. Saberá evoluir. 2022
8,50€ / 11ºC
JJS Consumo: 2023-2033
21,95€ / 11ºC 86
Raio de Luz 2022
83
Maçanita 2022
88 Douro / Branco / Rocim
Tom pálido. Aromas de fruta Douro / Branco / Maçanita Vinhos
Folgasão dos Dois! by madura, pêssego, nota tropical. Amarelo limão. Aromático,
Joana e António 2022 Flores secas. Pão torrado. Seco, exibe maçã, raspas de lima
Douro / Branco / Maçanita Vinhos corpo leve, acidez média. Fruta e toranja. Mais texturado
Amarelo palha. Reservado no fresca, citrina, quase verde, no a seguir, tem bom volume,
nariz, mostra limão, ligeiras aroma de boca. Ligeira nota precisão, acidez que o segura
notas de maçã, algum vegetal salina a prolongar o final. MB e final convincente. A aptidão
e um curioso apontamento de Consumo: 2023-2028 a diferentes momentos é o
fumo. Tenso, direto, de muito 10,49€ / 11ºC melhor atributo. JJS Consumo:
Folgasao
boa acidez, estruturalmente da Joana
do Antonio dos dois !
by Joana e Antonio
2023-2028
vertical até ao fecho. Expõe 2022
12,65€ / 11ºC 2022

bem um Douro de altitude. JJS


Consumo: 2023-2033
85
20,70€ / 11ºC Casa Amarela 2022
Douro / Rosé / Laura Valente
82
Regueiro Portal Colheita 2022

87 Salmão, brilhante. Aromas


secundários de fruta madura,
Douro / Branco / Quinta do Portal
Pálido. Aromas secundários,
animus 2021 morango, banana, flores fruta de polpa amarela,
Douro / Tinto / Vicente Faria brancas. Impressão de sílex, pêssego, flores brancas, nuance
Vinhos a enformar a frescura do torrada. Seco, bom volume,
Rubi médio e brilhante. O nariz conjunto. Seco, acidez média, fruta madura no aroma de boca,
é intrigante, com um lado saboroso no aroma de boca, amparada na acidez viva. Final
terroso e especiado de madeira pronto a dar prazer à mesa. MB médio, com ligeiro amargor. MB
a enevoar a bonita fruta Consumo: 2023-2025 Consumo: 2023-2027
vermelha madura. Os taninos 11,00€ / 11ºC 10,00€ / 11ºC
são percebidos em toda a boca,
a acidez é vibrante e o final trás
novamente as especiarias. GC
Consumo: 2023-2028
85 78
6,99€ / 16ºC Gouveio By Joaninha Cachão 2019
Tank Fermented 2022 Douro / Tinto / Sociedade Agrícola
Douro / Branco / Maçanita Vinhos e Comercial dos Vinhos Messias

87 Amarelo limão. Mostra restolho,


toranja e um toque levemente
Franco e limpo nos aromas de
fruta madura, algo de herbáceo
Viosinho By Joaninha tropical. Texturado e bondoso seco. Corpo médio, seco,
700m Altitude 2022 na boca, afinado e preciso na taninos bem polidos, acidez
Douro / Branco / Maçanita Vinhos estrutura, finaliza levemente média. Saboroso e agradável,
Verde limão. Direto à expressão especiado e apto a brilhar em com potencial gastronómico.
de limão e toranja. Exibe boa diferentes momentos à mesa. MB Consumo: 2023-2027
acidez, finura e elegância, JJS Consumo: 2023-2030 2022
3,90€ / 16ºC
tem final direto e sobretudo 20,45€ / 11ºC
fresco, com uma tensão que o
valoriza. Bem interessante. JJS
Consumo: 2023-2030
19,40€ / 11ºC 2022

152 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


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LISBOA PENÍNSUL A
86 DE SE TÚB AL
90 Quinta do Gradil

Fizei Arinto Curtimenta


Viosinho 2021
Regional Lisboa / Branco / Quinta
89
2022 Bacalhôa Sauvignon
do Gradil
IG Lisboa / Branco / Miguel Dias Blanc 2022
Cor citrina esverdeada. Aroma
Aleixo Nunes
de maçã e de ananás muito Regional Península de Setúbal /
Tom palha/laranja dourado. Branco / Bacalhôa - Vinhos de
maduro, sendo ainda detetáveis
Boa intensidade aromática, Portugal
notas químicas, caramelo e
alguma oxidação positiva Dourado. Elegante na
de lã. Boca gorda e untuosa
nos aromas de maçã. Ameixa expressão de lima, maracujá
com leve prolongamento. BA
madura e flores secas. Mel. e um vegetal que lembra
Consumo: 2023-2028
Nuance de argila. A acidez é espargos. Fino mas texturado,
12,37€ / 11ºC
vibrante na entrada de boca. amplo mas de acidez
Logo dá lugar à estrutura e ao firme, possui interessante
volume. Fruto amarelo e maçã desdobramento de texturas até
maduros no aroma de boca. 85 ao final. Muito bem conseguido.
Seco, final salino e salivante. Casa Santos Lima JJS Consumo: 2023-2030
MB Consumo: 2023-2026 Cabernet Sauvignon 12,99€ / 11ºC
15,00€ / 11ºC 2020
Regional Lisboa / Tinto / Casa T E JO
Santos Lima
86 Rubi médio. A fruta é madura e 83
muito intensa, mais no espectro
Confidencial Reserva Quinta da Tradição
vermelho. Não prima pela
2019 Escolha 2020
complexidade, mas a sedução
Regional Lisboa / Tinto / Casa Regional Tejo / Tinto / Nova
da fruta compensa. Aveludado,
Santos Lima Sociedade Agrícola - Mouchão do
bom corpo, acidez bem
Granada vivo, nariz bem Inglês II
vibrante, final muito frutado,
apelativo na frutado de de média persistência. GC Cor tinta com orla granada.
groselha, algum floral, sensação Consumo: 2023-2027 Olfativamente detetam-se
de barrica bem encaixada. aromas de compota de amora,
7,99€ / 16ºC
Suave na boca, harmonioso, caramelo e violeta. O ataque
perceção de leveza, fresco, na boca é gordo, seguido de
fluido, sumarento e apelativo. corpo volumoso sustentado no
Muito acertado. Confiável 85 álcool. Final com ligeiro tanino
na versatilidade à mesa. MM Quinta do Gradil granular que faz vibrar o vinho
Consumo: 2023-2026 Alvarinho 2020 gustativamente. BA Consumo:
4,29€ / 16ºC 2023-2027
Regional Lisboa / Branco / Quinta
do Gradil 7,00€ / 16ºC
Cor amarelo canário. Compota
de maçã, notas de pedra ao
sol e de leguminosas. Boca
volumosa que é associada a
um ligeiro amargor que lhe
traz carácter. BA Consumo:
2023-2028
12,37€ / 11ºC
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DO PORTO 88
92 Valados de Melgaço
90 Valados de Melgaço
Alvarinho Colheita 2022
Vinho Verde (Monção e Melgaço)
Messias LBV 2017 Alvarinho Reserva 2021
/ Branco / Valados de Melgaço
Vinho do Porto / Fortificado / Vinho Verde (Monção e Melgaço)
Palha, laivo dourado. Flores
Sociedade Agrícola e Comercial / Branco / Valados de Melgaço
brancas, pêssego, pão torrado.
dos Vinhos Messias Amarelo palha. Aromas
Bom volume e intensidade de
Rubi concentrado, laivo secundários de fruta tropical,
aroma no meio de boca, acidez
avermelhado. Aroma rico e notas de cera de abelha,
ampla, equilibrada. Final médio,
profundo, complexo. Fruto panificação. Dimensão mineral
vivo e saboroso. MB Consumo:
vermelho, amora, groselha, (granito) a emprestar frescura.
2023-2029
algum damasco. Floral seco. Acidez alta no ataque, seco,
9,00€ / 11ºC
Chocolate, bombom de cereja. fruta amarela no aroma de
Nuance de menta. Na boca é boca, a conferir volume. Final
cheio, volumoso, mas fresco, com leve amargor, longo
com o toque mentolado e e saboroso. Irá evoluir. MB
especiado a acompanharem a Consumo: 2023-2033
prova. Final longo, saboroso e 12,00€ / 11ºC
frutado. MB Consumo: 2023-
2029
12,90€ / 16ºC

DIREÇÃO EDITORIAL COLABORADORES PERMANENTES AGENDA PROPRIEDADE


diretor Nuno Guedes Vaz Pires Carla Fonseca agenda@essenciadovinho.com Essência Eventos e Comunicação, Lda
nunopires@essenciadovinho.com Pedro Lima
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Agualva Cacém / www.vasp.pt / email: geral@vasp.pt
Para ver e ouvir EVENTO

fotos Jorge Matos

Douro
Wine City
Um ano mais, o Peso da Régua celebrou o vinho com o Douro
Wine City. O Auditório Municipal (AUDIR) foi o palco da terceira
edição desta festa do Douro, Património da Humanidade desde
2001 e distinguido como Cidade Europeia do Vinho 2023.
Além das habituais provas de vinho e Conversas sobre o Vinho
com Manuel Moreira (Sommelier e crítico de vinhos da Revista
de Vinhos), a programação contou com showcookings pelas mãos
de prestigiados chefes de cozinha como Hernâni Ermida e Luís
Américo, degustações e atuações musicais.
O Peso da Régua foi também o destino escolhido pela Presidência
da República para as comemorações do Dia de Portugal, de Camões
e das Comunidades Portuguesas.
O Douro Wine City é Organizado pelo Município do Peso da
Régua, com produção da Essência do Vinho.

158 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


António Costa

Luis Américo

Marcelo Rebelo de Sousa, Gilberto


Igrejas e José Manuel Gonçalves
Para ver e ouvir EVENTO

fotos Jorge Matos

UVVA - Universo
do Vinho Verde
Amarante

Agustina Bessa-Luís foi a personalidade amarantina homenageada na sexta edição do UVVA – Universo do Vinho
Verde Amarante, que teve lugar nos claustros do Convento de São Gonçalo. Na obra da escritora são várias as referên-
cias a Amarante e ao Vinho Verde como, por exemplo, n’”O livro de Agustina” (2002): “Sou um produto da região, como
o vinho verde, que não embriaga, mas alegra”.
O UVVA contou, ao longo de três dias, com provas de vinho, conversas, showcookings com chefs reconhecidos, gas-
tronomia regional e atuações musicais. Realizado pela primeira vez em 2016, o UVVA consolidou-se como um evento
vínico de referência em toda a região, reforçando a aposta no vinho verde enquanto produto estratégico de desenvolvi-
mento local e de promoção turística.
Pelo segundo ano consecutivo, o concurso de vinhos atribuiu prémios nas seguintes categorias: Prémio Excelência
UVVA, Prémio Mérito UVVA, Melhor Vinho UVVA, Melhor vinho espumante, Melhor vinho branco, Melhor vinho
rosé, Melhor vinho tinto e Melhor Amarante – Prémio António Lago Cerqueira.
Das cerca de 70 amostras provadas, o vinho AJTS Gentilis Grande Reserva 2021, obtido em Gatão, Amarante,
junto ao rio Tâmega, foi o grande vencedor. Eleito “Melhor Vinho UVVA”, ganhou ainda nas categorias “Melhor Vinho
Branco” e “Melhor Amarante”. Trata-se de um lote de várias castas brancas, que inclui Azal e Arinto, estagiado 12 meses
em barricas de carvalho francês.
Ex aequo em pontuação, os vinhos Portal da Calçada Cuvée Prestige Bruto (espumante não datado elaborado em
Amarante pela Calçada Wines) e Sem Igual Bruto Natural 2017 (Lousada, projeto 100 Igual) conquistaram a distinção
“Melhor Vinho Espumante”. O prémio “Melhor Vinho Rosé” foi atribuído ao Sem Igual Oaked 2021 (Lousada, 100
Igual) e o Quinta da Lixa Reserva 2016 (Lixa, Felgueiras, Quinta da Lixa) venceu no segmento “Melhor Vinho Tinto”.
O júri foi constituído por Bernardo Pinho (sommelier Hotel Octant, Douro), Celeste Pereira (representante da Câmara
de Provadores da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes), Gabriel Monteiro (sommelier The Largo Hotel,
Porto), Ivo Granja (sommelier The Largo Hotel, Porto), José João Santos (Revista de Vinhos), Luis Costa (Revista de
Vinhos) e Marc Barros (Revista de Vinhos).

160 · Revista de Vinhos ⁄ 404 · julho 2023 @revistadevinhos


Dora Simões e José Luis Gaspar no brinde inaugural do UVVA

Vitor Matos

Os vencedores dos Prémios UVVA com o Pr. da CM Amarante, José Luis Gaspar
N E WA G E W I N E P R O D U C E R

texto Marc Barros / foto Arquivo

S TA D E V I N
VI H
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· J ·
O ÃO A
R
OLIVEI

LUZES, CÂMARA, AÇÃO...


CONTINUAMOS COM

JOÃO
OLIVEIRA
João Miguel Oliveira é um dos rostos da nova vaga de
enólogos do Dão e em quem todos nós, amantes de vinhos
e da região, depositamos largas esperanças para completar
o ressurgimento do nível qualitativo e, sobretudo, da
1. João é enólogo há mais de 10 anos 6.À sua experiência no Dão, somou
e conta com um currículo já invejável ainda um estágio na Deep Woods
identidade dos vinhos que por lá se fazem. para a idade. Estate, em Margaret River, Austrália
Em recente reportagem para a Revista de Vinhos, João 2. Concluiu em 2012 a licenciatura Ocidental.
mostrou conhecer bem o perfil desses vinhos de outrora, em Viticultura e Enologia pela 7. Juntou ainda uma pós-gra-
em que “o propósito não era obter extração mas sim Universidade de Trás-os-Montes e duação em Viticultura e Enologia
vinhos abertos, claretes, mais leves e bebíveis, até num Alto Douro. pela Faculdade de Ciências da
certo perfil do Dão Novo”. As uvas “eram prensadas em 3.Logo no mesmo ano começou Universidade do Porto.
bica aberta” e passavam-se as operações “para as cubas de a sua relação profissionais com 8.E concluiu o nível 3 do Wine &
cimento, instaladas no piso inferior, onde permaneciam até a Vines & Wines - Consultores de Spirit Education Trust.
à primavera”. Enologia.
9.Porém, antes de tudo isto, João
Da sua já larga experiência em enologia como consultor 4. Entre outros, é responsável pela desenvolveu a sua ligação ao mundo
na Vines & Wines de João Paulo Gouveia e Carlos Silva consultoria no projeto Allgo, da CM dos vinhos desde criança, no Dão.
(que se estende para além do Dão), João Oliveira retirou as Wines.
10.Oriundo de uma família com
bases para lançar a sua própria marca de vinhos, designada 5.Em simultâneo, fundou a fortes ligações à agricultura, foram
Lusus, na versão 100% Encruzado e um tinto com base nas empresa que estaria na origem do a viticultura e produção de vinhos as
projeto pessoal e familiar de vinhos atividades que mais o seduziram.
castas Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz, a partir
de topo do Dão com a marca Luzus.
de vinhas da família por onde cresceu e se fez apaixonado
pelo vinho (e cujas avaliações publicaremos brevemente).
Destacamos 10 coisas que deve saber sobre ele…

162 · Revista de Vinhos ⁄ 403 · junho 2023 @revistadevinhos

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