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SUMÁRIO

6 EDITORIAL
OPINIÃO
10 Sarah Ahmed
14 Jamie Goode
18 Debra Meiburg
22 José João Santos
26 PROFILE
Aníbal Coutinho, astronauta do vinho.

ESCOLHAS DO MÊS
30 Para a Mesa
32 Para a Cave
34 Altamente Recomendados
36 Boas Compras
38 CASTA
Touriga Nacional.

40 DICAS
Tanino, o que é?

42 VINHOS & NÚMEROS


Direitos de plantação de vinha e a lei do mercado.

44 VINHOS & TURISMO


Tejo, região a descobrir.

46 AVALIAÇÃO SERVIÇO DE VINHOS NOS RESTAURANTES


Restaurante Bovino, Quinta do Lago.

58 48

NOTÍCIAS
Vindima 2020, Port Wine Day e Douro Wine & Music Valley.

56 CERVEJAS
Nortada, a Invicta.

58 BARCA-VELHA 2011
O leão regressa.

68 TEJO
Fernão Pires na Quinta da Lapa.

76 CAVES S. JOÃO
100 anos em vinhos.

82 FILIPA PATO
4 “B’s”: Baga, biodinâmica, Bairrada e Bélgica.

88 DIOGO LOPES

76
Os 10 mais do enólogo

94 TOURIGA NACIONAL
Prova temática que antecipa novos caminhos da casta.

100 MORÁVIA DO SUL


Vinhos e imperadores.

106 MANTEIGA DAS MARINHAS


110
O veludo de leite.

MANTEIGA E VINHO
110
Casamento improvável? Guilherme Corrêa mostra que não...

114 CRÍTICA GASTRONÓMICA


Zunzum by Marlene Vieira.

118 NOVIDADES
141 GUIA REVISTA DE VINHOS
154 LEGENDARY CHEFS
Vítor Sobral.

@revistadevinhos
98
ESPECIAL, VERSÁTIL E INTEMPORAL
A nova linha “Shade of Grey” da Küppersbusch alia elegância e modernidade dando a
possibilidade de dar um toque pessoal a sua cozinha. A cor cinza torna-se uma
combinação perfeita com superfícies naturais feitas em madeira, pedra ou betão e até
mesmo em bancadas brancas.
O cinza é a cor do momento e dá-nos possibilidades infinitas.

www.kuppersbusch.com.pt
EDITORIAL

Momentos, decisões
e vinhos de exceção
A Revista de Vinhos decidiu realizar online a 21ª edição
do Encontro com Vinhos, em Lisboa. Na expetativa
do não surgimento de uma segunda vaga da Covid-19
e da não implementação de medidas de exceção que
restrinjam a circulação de pessoas, nos últimos meses
trabalhou-se afincadamente para que o evento fosse
concretizado presencialmente nas datas previstas, de
acordo com as medidas de higiene e de prevenção que os
atuais tempos exigem. Todavia, e infelizmente, não foram
obtidas as garantias de saúde pública e de circulação de
visitantes que permitissem a concretização do evento, a
que acresce o impacto estimado de uma segunda vaga no
nosso país neste outono.

Após ponderação profunda, a Revista de Vinhos


optou por concretizar a 21ª edição do Encontro com
Vinhos através de uma programação online, com provas
comentadas pelos nossos especialistas, debates, duelos
de vinhos, harmonizações enogastronómicas e dicas de
seleção de vinhos (fique atento às nossas redes sociais).

A 22ª edição do Encontro está entretanto marcada


para os dias 6, 7 e 8 de novembro de 2021. A data já
está reservada no Centro de Congressos de Lisboa, na
Junqueira, e a Revista de Vinhos está confiante que a irá concretizar no local de sempre, na data de sempre, com os DESCUBRA
parceiros e o público de sempre mas também atraindo novos públicos.
MELGAÇO
Quando o mundo e o nosso país pararam, em março, muitas questões automaticamente foram levantadas acerca
da viabilidade futura de projetos e empresas. Cientes do impacto sem precedentes da pandemia, o grupo Essência do A Revista de Vinhos
Vinho e a Revista de Vinhos não baixaram os braços. Pelo contrário, mantiveram todos os compromissos assumidos produziu a série documental
e, apesar de uma diversidade de constrangimentos, decidiram reforçar a produção de conteúdos editoriais em todos “Descubra Melgaço”. Em
os canais onde atualmente estão presentes: na imprensa escrita e no online, na rádio e na televisão. 10 episódios, que têm sido
emitidos no nosso canal You
A Revista de Vinhos esteve sempre em banca com edições nunca inferiores a 132 pags. e diariamente no digital, Tube e nas redes sociais,
mantendo ininterruptamente o ofício mais nobre do jornalismo – a reportagem. Os programas semanais “A Essência” realçamos o Alvarinho e
(emitidos na RR e RTP) foram dos poucos a não conhecer qualquer pausa ou repetições de episódios nas grelhas o fumeiro, a diversidade
das estações. Nas redes sociais reforçamos a interação com os nossos seguidores, nunca os privando de aceder às de paisagens e desportos
novidades do setor. radicais, património e cul-
tura. A pandemia levou-nos
Acresce a isto o anúncio de novos projetos no âmbito do grupo Essência do Vinho: o compromisso de relançar a redescobrir o interior do
a revista brasileira Gula no próximo mês de novembro, o ultimar da plataforma a bordo e do novo website TAP país e Melgaço, norte mais
Wine Experience, o acordo de uma sociedade para a gestão da OnWine, plataforma de venda de vinhos online, o a norte de Portugal, é dos
lançamento internacional da série televisiva “The Wine Show”, dedicada a Portugal, que dá a conhecer ao mundo os mais fervilhantes lugares
nossos vinhos, gastronomia, enoturismo, património e cultura. desse interior. Do que está
à espera para agendar uma
Momentos, decisões e vinhos de exceção. visita?
A capa e a reportagem principal deste número da Revista de Vinhos destaca o historial, as curiosidades e a nova
edição do Barca Velha. O mais icónico vinho DOC português é um hino à enologia e deve, acima de tudo, ser aplau-
dido pelas portas que, desde 1952, tem aberto aos vinhos portugueses pelo mundo. É um vinho excecional, que mostra
todo o potencial de evolução dos grandes vinhos, que pode ombrear com os mais venerados rótulos internacionais. 

O Blandy’s Bual 1920, do qual foram engarrafados 1.199 exemplares, é outro vinho estrondoso. Um Frasqueira
monumental, agora engarrafado um século volvido, que nos relembra aquilo que nunca devemos esquecer: o Vinho
Madeira é dos grandes fortificados do mundo. 

Dois vinhos nota 20, dois vinhos de exceção. Felizes os países que têm vinhos assim.

Nuno Guedes Vaz Pires, diretor


nunopires@essenciadovinho.com
EDIÇÃO Nº 371 / OUTUBRO 2020
@nunogvpires

6 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


VINHO DE CAPA

Nesta edição com a


REVISTA DE VINHOS!

Produtor de altos pergaminhos em Santo


Isidro de Pegões, na Herdade de
Pegos Claros faz-se vinho de qualidade desde
há um século. A propriedade, com mais de 500
hectares, inclui 40 hectares de vinha instalada
em solos arenosos, dos quais cerca de 20 com
70 anos e mais. A variedade Castelão éa
estrela da herdade, sabiamente manejada pelo
enólogo Bernardo Cabral, que preserva um
estilo clássico, com pisa a pé e fermentação com

algum engaço. Longevidade, distinção e


elegância são marcas destes vinhos.

seu por
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LINHA DE APOIO: (+351) 215 918 088
Dias úteis, 9h30-13h e 14h30-18h

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Pegos Claros
Vinha 70 Anos
Reserva 2015
Palmela / Tinto / Herdade
de Pegos Claros

As uvas de Castelão
provêm de uma vinha
com 70 anos, vindimadas
manualmente. Vinho de
cor rubi, apresenta notas
de amoras pretas, groselha
vermelha e algum mentol,
ligeiro abaunilhado,
tostados e tabaco. Na
boca apresenta taninos
macios e equilibrados,
com uma acidez
agradável. Acompanha
carnes grelhadas e assados
de peixe e carne.
OPINIÃO

Sarah Ahmed, jornalista e crítica de vinhos

Sarah Ahmed é uma reputada jornalista e crítica de vinhos britânica, especializada


em vinhos portugueses e australianos, no blogue "The Wine Detective".

Troca de papéis entre


críticos e consumidores
A pandemia trouxe um elemento de “troca de papéis” que tem benefícios potenciais
a longo prazo para produtores e retalhistas.

D
urante a crise da Covid, abundaram a revista Monocle tenha legendado um artigo sobre
os títulos dos jornais sobre a alteração o estimado diretor da Revista de Vinhos desta forma:
dos padrões de consumo de vinho. No “Este jornalista passa os dias a avaliar vinhos; receber
que se refere à prova, a forma como me pessoas é uma forma de apreciá-los”.
relaciono com o vinho também mudou. Não estou a pedir que o caro leitor tenha pena
Há um elemento de “troca de papéis” entre consumi- dos escritores de vinho. Acredite, sabemos o quanto
dores e críticos que, suspeito, tem benefícios poten- somos privilegiados, com oportunidades de prova de
ciais a longo prazo para produtores e retalhistas. grande amplitude e profundidade. Visitar ou provar
Obviamente que os escritores de vinhos também com produtores fornece-nos tanto o contexto como
são consumidores, mas a nossa profissão está um perceções inestimáveis. Creio que é a forma mais
mundo à parte do crítico de restaurantes, cuja expe- atraente para alguém se envolver com o vinho e, lide-
riência tem muito mais elementos em comum com os rando tours na Austrália e em Portugal, conheço o
consumidores regulares. Aqueles não apenas provam seu impacto nos consumidores. Além das experiên-
os pratos mas consomem as refeições. Cuspir seria cias ‘normais’ de adega, os meus sempre interessantes
inconcebível! Além disso, jantam no contexto preciso 'groupies' valorizam o acesso aos ‘bastidores’ das
que o restaurador pretende (ou seja, num ambiente adegas e vinhas, às experiências exclusivas de prova
específico, com as perceções sobre o menu, os ingre- e, o mais importante, às pessoas – ‘as estrelas do rock’
dientes, estilo de cozinha e técnicas). Malditos sejam, por trás dos rótulos. Vejamos os irmãos António
os críticos de restaurantes chegam até a empurrar o Luís Cerdeira e Maria João Cerdeira, da Quinta
jantar com vinho… de Soalheiro que, na sequência de uma prova ‘por
Por isso, tendo em vista mentes desanuviadas e medida’, ofereceram um longo almoço com os seus
fígados saudáveis, cuspir é obrigatório quando se trata próprios produtos e vinhos. Tal como adolescentes,
de interação profissional com o vinho. De que outra o meu grupo (em grande parte reformados) vaiava
forma poderia alguém navegar por entre provas, pro- quando regressávamos do Soalheiro à Galiza para
gramas intensivos de visitas a produtores ou painéis continuar a provar Albarinos. Aplaudindo ruidadosa-
em concursos, quando facilmente se podem provar mente aquando do nosso retorno a Portugal, o mar-
até 100 vinhos por dia? Isso explica a razão por que cador assinalou Portugal um, Espanha zero.

10 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


OPINIÃO

Sarah Ahmed, jornalista e crítica de vinhos

O valor das provas online Provar em casa o alcance do fenómeno na China


vai além daqueles já interes-
aumentou as
Durante o confinamento, as sados ​​em vinhos, uma vez que
provas online permitiram aos oportunidades de este grupo incentiva colegas
produtores atingir um público experimentar vinhos menos envolvidos a conecta-
de consumidores muito mais rem-se para beberem vinho
vasto (incluindo aqueles sem como o seu criador durante conversas online.
tempo ou orçamento para pretende - com comida e, Como os restaurantes e for-
visitar regiões vitivinícolas). necedores passaram a vender
Quando me juntei à primeira ouso dizer, por vezes até vinho online, tem sido divertido
degustação via Zoom da Cullen bebendo-os. Aproximar- partilhar sugestões variadas (e
Wines, os consumidores ficaram dicas de harmonização) com os
entusiasmados em conversar se de uma experiência amigos, que se tornaram mais
sobre vinhos com produtores de consumidor só pode aventureiros nos seus hábitos
de Margaret River, Austrália. de compra (e de cozinha) de
Pioneira da biodinâmica e da beneficiar o meu público- vinhos, à medida que pro-
produção sustentável de vinhos, alvo. curam recriar essas experiências
Vanya Cullen pode ser uma gourmet em casa. Alguns fazem
das principais produtoras da até anotações detalhadas e pon-
Austrália mas, ao responder às perguntas, foi calo- tuam vinhos.
rosa, aberta e generosa com o seu conhecimento e Por outro lado, com o panorama londrino confi-
tempo. Com as vendas online a subir, planeia conti- nado, tenho recebido amostras em casa, o que signi-
nuar as provas por Zoom quando a oportunidade o fica provar de forma mais seletiva, mas mais intensiva
justificar - por exemplo, novos lançamentos. – ou seja, mais elaborada e menos instantânea. Os crí-
O produtor de Vinho do Porto Óscar Quevedo, pio- ticos estão habituados a provar amostras de casco e
neiro dos media sociais, disse-me que a Covid “inten- vinhos jovens em pouco tempo (agitar, cheirar, cuspir,
sificou essa necessidade de se ligar ao consumidor” não engolir), mas ajuda podermos demorar mais
por parte dos pequenos produtores independentes tempo com vinhos complexos - especialmente novos
como ele, que se recusam a reduzir preços (ou qua- lançamentos icónicos, como o australiano Henschke
lidade) para entrar nas listas dos supermercados. Em Hill of Grace 2015, que me levou horas, dias até, para
parceria com Tony Carter, retalhista do Reino Unido desvendar. Embora a maior parte do conteúdo de
na Vintage Wine & Port, organizou um evento online uma garrafa seja invariavelmente descartada, provar
para 170 clientes, que compraram meia garrafa dos em casa aumentou as oportunidades de experimentar
seis Vinhos do Porto em prova. Desde então, relata os vinhos como o seu criador pretende - com comida
Carter, “o Óscar conquistou muitos seguidores”; e, ouso dizer, por vezes até bebendo-os. Aproximar-se
alcançando um público mais jovem, diferente, “as de uma experiência de consumidor só pode beneficiar
vendas de Porto Quevedo aumentaram 600%... O o meu público-alvo.
número de clientes que repetem a compra é incrível”. Tendo em mente os clientes de restaurantes, Jancis
Para Carter, as provas online são “um grande passo Robinson MW previu “um aumento dramático da
em frente” porque os vídeos podem ser vistos repe- procura por garrafas de menor capacidade” após o
tidamente, ajudando a vender mais e, uma vez que confinamento. Espero que essa procura seja impul-
“a Google gosta de conteúdos de vídeo, também nós sionada também por novos hábitos domésticos de
recebemos um impulso”. Carter vislumbra um futuro consumo e prova. Com preços inferiores, as garrafas
em que “os enólogos sentam-se junto às vinhas, trans- mais pequenas podem aumentar o acesso dos consu-
mitindo diretamente para o consumidor final, que midores a provas online e vinhos mais diversificados
pagará para provar os vinhos e ligar-se ao produto, e de maior qualidade, bem como estimular o serviço
ao produtor e à sua filosofia de produção”. de vinho a copo nos restaurantes. Para os críticos, as
Outra dinâmica a tomar forma decorre do fecho provas ditas comerciais têm o seu espaço mas, eco-
de restaurantes, que contribuiu para aumentar o nomicamente falando, há mais espaço para prova em
gasto por garrafa nas compras domésticas, colocando casa com garrafas mais pequenas. E mais espaço, lite-
o vinho na frente e no centro da socialização e das ralmente falando, se as amostras puderem ser engar-
refeições em casa. De acordo com a Wine Intelligence, rafadas em tamanhos reduzidos!

12 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


OPINIÃO

Debra Meiburg MW

Debra Meiburg é uma californiana radicada há mais de 25 anos em Hong Kong. “Master of Wine”, autora de vários livros, é considerada a mais
influente líder de opinião sobre vinhos na China. Tornou-se presidente do Comité de Educação do Instituto de Masters of Wine em 2017.

Moldar o mercado
Nenhuma marca de vinho pode ser tudo para todas as pessoas, especialmente
quando se trata de mercados internacionais. A chave para personalizar a mensagem é
conhecer o mercado-alvo.

A
s crianças são ensinadas a não avaliar Jovens e divertidos
um livro pela capa. Por outras pala-
vras, uma história - ou pessoa, cidade O segmento de entrada em Hong Kong é formado
ou mercado de vinhos - é mais do que principalmente pela geração millennial. Os millen-
se lê na primeira página. Vamos um nials de Hong Kong, tal como as suas contrapartes
pouco mais a fundo e as personagens revelam-se, o geracionais em outros países, estão interessados em
​​
guião dá voltas e reviravoltas. todas as coisas novas e da moda – nem sequer ava-
O mesmo pode ser dito sobre escrever um best- liam, a menos que seja ‘Insta-digno’. Este grupo tem
-seller – é preciso compreender o público, para que uma exposição considerável aos vinhos australianos
se possam atrair leitores com uma história que ressoe e franceses, mas quase nenhuma iniciação aos vinhos
junto deles. O CEO e enólogo da DFJ Vinhos, José portugueses. O diretor comercial da DFJ Vinhos,
Neiva Correia, afirmou: “Vender vinho é como vender Luís Gouveia, acredita que Portugal carece de uma
sonhos; temos que contar a história certa ao cliente imagem de marca na área da Grande China.
certo”. Em 2013, a sua empresa preparava-se para se As viagens e o turismo são os iscos que irão
reposicionar no mercado de vinhos chinês. Aquele engodar este segmento. Os residentes de Hong Kong
comentário reconhece que nenhuma marca de vinho são viajantes ávidos e Portugal, sendo relativamente
pode ser tudo para todas as pessoas, especialmente desconhecido pelos habitantes de Hong Kong, pode
quando se trata de mercados internacionais. A chave oferecer uma experiência de destino emocionante
para personalizar a mensagem é conhecer o merca- através dos seus vinhos de férias frescos e vibrantes.
do-alvo. Portugal ainda não emergiu como destino de férias de
Fatores demográficos, como a idade e o género, são luxo em Hong Kong. A maioria dos seus habitantes
ferramentas de segmentação úteis, mas indicadores ficaria surpreendida ao constatar que Portugal está
como rendimento, profissão e comportamento do consistentemente classificado entre os 15 principais
comprador são indiscutivelmente mais importantes. destinos turísticos mundiais, conforme o Fórum
Em Hong Kong, o mercado de vinhos tem quatro Económico Mundial. O ângulo do estilo de vida, a afi-
segmentos principais e não há remédios milagrosos nidade com os produtos do mar e a longa presença
quanto ao planeamento da abordagem e posiciona- de Portugal em Macau oferecem excelentes oportu-
mento a seguir. nidades a explorar.

14 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


OPINIÃO

Debra Meiburg MW

Áustria. Um programa educa-


Vinhos fáceis, preços mode- cional de nível mundial sobre
rados e rótulos elegantes terão
Os prémios que conferem a beleza, a história e os sabores
um bom desempenho neste credibilidade ao vinho luxuriantes de Portugal é apenas
setor, especialmente se puderem o bilhete para apelar a este
ser encontrados em restaurantes
são um elemento grupo. Vinhos portugueses inte-
e bares de Hong Kong vocacio- adicional de vantagem ressantes, como os Maritávora e
nados para o Instagram. Não é Howard’s Folly, são valorizados
segredo que os millennials são
competitiva para o por este segmento de consumi-
mais influenciados pela garrafa produtor, pois aumentam dores.
e design do rótulo do que outras
gerações, de acordo com pes-
a qualidade do vinho aos Colecionadores
quisas recentes de Silva e Santos. olhos do consumidor.
O Douro tem um lugar espe-
A elevação do segmento médio cial entre os colecionadores de Hong Kong, conhe-
cedores de vinhos que admiram a elevada estrutura
Este cluster inclui profissionais e expatriados à e longevidade dos vinhos tintos. A região do Douro
procura de vinhos acessíveis para o quotidiano, que é reconhecida neste segmento e é, na maioria das
possam consumir em casa ou pedi-los em cartas de vezes, citada como berço dos melhores vinhos não
vinhos à hora de almoço. Este grupo de consumidores, fortificados de Portugal, sendo que a sua reputação é
viajado e educado, conhece Portugal e os seus vinhos reforçada pelo vasto conhecimento deste grupo sobre
através do trabalho e de períodos de estudo na Europa. Vinho do Porto.
A chave para alcançar este segmento é tornar os Os colecionadores de Hong Kong gastam e parti-
vinhos acessíveis e pronunciáveis, com pistas reconhe- lham generosamente, mas esperam construir amizades
cíveis ou recomendações de fornecedores de vinho. diretamente com os produtores e proprietários das
Procuram vinhos premium de grande valor - e uma melhores quintas e querem divertir-se ao fazê-lo. Os
forma de comunicar valor e premiumização é através Douro Boys têm tido o sucesso mais evidente em Hong
dos prémios. “Relacionado com o preço, descobrimos Kong junto dos colecionadores de vinho, em parte
que os prémios que conferem credibilidade ao vinho devido a uma engenhosa campanha promocional, mas
são um elemento adicional de vantagem competi- também à camaradagem e entusiasmo propalados por
tiva para o produtor, pois aumentam a qualidade estes cinco produtores durante as suas visitas regu-
do vinho aos olhos do consumidor”, notam Silva e lares a Hong Kong.
Santos. Concursos regionais, como o Cathay Pacific
Hong Kong International Wine & Spirit Competition, Histórias de origem
são particularmente úteis na consideração dos pala-
dares locais. Em 2019, o Alfaiate Branco de José Mota Acima de tudo, a chave para o sucesso de Portugal
Capitão conquistou o troféu de prata na sua categoria, em Hong Kong passa por melhorar a perceção geral
além de dois bronzes na categoria gastronomia e do país e a sua imagem de marca. O país de origem
vinhos pelos seus acompanhamentos com sashimi de é, segundo Silva e Santos, muito valorizado pelos
atum chutoro e tempura de camarão. clientes, informados e exigentes na tomada de decisões
de compra, mas tem também potencial para valorizar a
O poder do estudo imagem de Portugal em todos os segmentos. O marke-
ting genérico por institutos de vinhos tem o poder de
Os residentes de Hong Kong valorizam muito a ajudar os países a expandir e fazer crescer no exterior
educação e os cursos sobre vinho são altamente pro- as marcas de vinho.
curados. A cidade alberga um dos maiores grupos Embora os mercados internacionais pareçam dis-
mundiais de detentores de certificados e diplomas tantes neste momento, o mundo acabará por reini-
WSET. Não é suficiente para esses consumidores sim- ciar e, quando isso acontecer, será um lugar diferente.
plesmente beber os vinhos, pois procuram uma com- Recomeçar num mercado de vinhos maduro como é
preensão mais ampla, para que possam fazer as suas o de Hong Kong cria oportunidades; a paisagem será
escolhas de compra com confiança e discutir o vinho remodelada. Os protestos e a pandemia podem ter
em jantares. rebentando por agora a ‘bolha’ social, mas Hong Kong
Alguns dos cursos mais populares da MWM sabe como recuperar e teremos muitas garrafas para
Wine School destacam países com terroirs altamente abrir quando sairmos do nosso casulo corona. Agora
diversos, castas históricas e ampla variedade de estilos. é a hora de antecipar qual o caminho a seguir e com
Os alunos pedem vagas em programas com tutoriais quem se deseja conectar quando as fronteiras rea-
aprofundados sobre vinhos italianos regionais, bem brirem. Embora os mercados e os clientes variem, o
como de países menos conhecidos, como Geórgia e nosso amor pela cultura do vinho é universal.

16 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


OPINIÃO

Jamie Goode

‘Wine writer’, cronista do The Sunday Express, autor do blogue wineanorak.com, é doutorado em Biologia de Plantas e co-chair do International
Wine Challenge. Assina esta colaboração regular na Revista de Vinhos e, muito em breve, também na brasileira Gula.

Provas de vinho
em tempos de corona
As provas de vinhos físicas foram retomadas. Tem sido interessante ver como os
organizadores responderam aos desafios de tornar esses eventos seguros.

C
omo aconteceu a tantas outras pessoas, Retoma lenta
a minha vida profissional mudou drama-
ticamente nos últimos seis meses. Antes, O primeiro evento de vinhos em que participei após
envolvia viagens frequentes e, depois, o confinamento foi, na verdade, um festival interna-
de regresso a Londres, uma agenda cional. Foi a décima sétima edição do Gerard Bertrand
preenchida de provas. Era também incrivelmente Jazz Festival, realizado no Château L'Hospitalet em
social. Isso, é claro, mudou: agora as viagens estão La Clape, Languedoc. Pude provar alguns vinhos,
preenchidas com restrições de quarentena e já não mas cara a cara com os produtores. O resto do fim de
há muitos quem organize eventos, substituídos que semana envolveu jantares e espetáculos. Em resposta
foram por provas via Zoom, Teams e Instagram Live. à Covid, os jantares não foram em regime de bufete,
O negócio do vinho depende das provas. Os produ- como nos anos anteriores, mas com serviço à mesa.
tores e agentes querem que os vinhos que produzem E nos concertos estávamos todos de máscara. Foi
ou representam sejam avaliados por jornalistas e muito estranho entrar novamente num avião, mesmo
adquiridos por retalhistas e restaurantes. A maneira que para um pequeno salto ao sul da França. Mas foi
mais simples de fazê-lo é promover grandes provas muito importante ver as vinhas e provar os vinhos no
nas principais cidades. Por exemplo, um importador local.
pode fazer uma prova de todos os vinhos do seu catá- No Reino Unido, a primeira prova de vinhos da
logo. Ou uma entidade genérica como a ViniPortugal qual participei foi realizada pela Majestic Wine,
pode realizar uma prova anual de vinhos portugueses um retalhista nacional que vende vinhos de preços
em Londres. Até à Covid-19, o calendário de provas médios a altos em diversos armazéns e lojas. Isso foi
de Londres era movimentado e em qualquer lado de em julho e os promotores foram devidamente caute-
Londres haveria uma prova na maioria dos dias da losos, tendo apenas dois provadores na sala em simul-
semana. Tudo isso parou repentinamente em março. tâneo, na sua sede, onde poderiam controlar o acesso
Recentemente, porém, as provas físicas foram e instituir um sistema unilateral. Na verdade, é muito
retomadas. Tem sido interessante ver como os orga- bom provar num ambiente assim porque é silencioso
nizadores responderam aos desafios de tornar esses e o nível de concentração é maior. Disponibilizaram
eventos seguros para todos e, portanto, viáveis. meios de transporte de e para o local do evento, já

18 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


OPINIÃO

Jamie Goode

Na verdade, é muito
bom provar num
ambiente com apenas
que os transportes públicos dois provadores na sala ligeiramente diferentes. O Tesco
eram desencorajados para é a maior rede de supermer-
todos, exceto os trabalhadores
em simultâneo, porque cados do Reino Unido e realizou
essenciais. é silencioso e o nível de a sua prova para a imprensa
Em agosto, fiz uma segunda com aquela que terá sido talvez
concentração é maior.
viagem, desta feita para a a abordagem mais impressio-
Alemanha. Foi a prova VDP nante para a segurança Covid
Grosses Gewächs em Wiesbaden. O VDP é uma orga- que já vi. Eram mais de 100 vinhos, mas como pro-
nização privada que reúne muitos dos principais pro- vadores não precisávamos de nos mover ou tocar nas
dutores germânicos e a sua prova anual é um ponto garrafas. Em vez disso, tínhamos um porta-copos que
alto do calendário. Realizada durante três dias em ocupava seis copos em posições numeradas e indi-
agosto, foi brilhantemente organizada e foram postas cava quais os vinhos do ‘line-up’ que queríamos em
em prática várias medidas especiais para torná-lo cada um, através de um post-it numerado de 1 a 6.
seguro. Cada provador sentou-se na sua mesa, distan- Estes eram servidos pela equipa e todos provaram
ciado de todos os outros. Os vinhos foram servidos na nossa própria ‘estação’, distanciada de todas as
à mesa por funcionários de luvas e máscara. Havia outras. Se alguém se movimentasse, havia setas no
um sistema unilateral em operação para que nin- chão indicando a direção a seguir. Também nesse dia,
guém ultrapassasse ninguém caso tivesse que entrar a The Wine Society realizou a sua prova anual, com
ou sair. Nos momentos em que nós, provadores, não 80 vinhos, que teve lugar numa sala razoavelmente
estávamos nas nossas ‘estações’ de prova, tínhamos grande em Pall Mall 67 e os provadores tiveram inter-
também que usar máscara. Houve alguns eventos valos de duas horas, com quatro provadores de cada
noturnos, mas foram realizados ao ar livre e o distan- vez.
ciamento social foi incentivado. As provas internacionais foram quase todas cance-
E agora, em setembro, a temporada de provas em ladas: a última vítima foi o Douro Primeira Prova, que
Londres começou de novo, embora provisoriamente. estava prevista para outubro. Em vez disso, os jorna-
Todos os organizadores têm feito um grande esforço listas de vinho fazem muitas provas via Zoom, junta-
para tornar as coisas seguras, principalmente res- mente com produtores de outros países. Funcionam
tringindo o número e estimulando o distanciamento muito bem quando a tecnologia é boa. A maioria
social. Há duas semanas, participei em Londres na está em casa e recebemos as garrafas ou as amostras
organização de uma masterclass para vinhos da cuidadosamente preparadas em garrafas pequenas:
Borgonha, que envolveu três provas comentadas inovou-se bastante na preparação de amostras de
sobre diferentes temas, para um grupo de 30 som- menores quantidades, mas mantendo os vinhos
meliers e comerciantes de vinhos. Todos estavam em boas condições. Mas, recentemente, a Penfolds
sentados à mesa, distantes dos outros provadores, e realizou uma prova dos seus melhores vinhos com
tinham que usar máscaras quando não estavam nas pequenos grupos de provadores no Pall Mall 67, com
suas mesas. Estávamos todos um pouco nervosos o enólogo-chefe Peter Gago, vindo da Austrália para
por nos aproximarmos demais e, no almoço, foram falar sobre os vinhos.
entregues refeições individuais que os participantes É um novo normal, mas o mundo do vinho está a
comeram nas suas mesas. Funcionou bem e todos se adaptar-se. Pessoalmente, mal posso esperar que as
sentiram confortáveis e seguros. viagens internacionais retomem e possa visitar as
Mais recentemente fiz duas provas num único vinhas. Portugal está no topo da minha lista.
dia, nas quais os organizadores tomaram direções

20 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


OPINIÃO

José João Santos, jornalista e crítico de vinhos

José João Santos, diretor de conteúdos da EV-Essência do Vinho, tem a paixão da escrita,
da reportagem, da formação e da prova. É ainda autor do podcast "Vinho, Palavra a Palavra".

Os grandes brancos
de 2019
Pela geografia, variações climáticas de terroirs e potencial genético de castas
autóctones, Portugal reúne um assinalável conjunto de variáveis que lhe permitirá
afirmar-se igualmente enquanto produtor de vinhos brancos de grande qualidade,
podendo os 2019 demonstrá-lo inequivocamente.

O
ano de 2019 foi particularmente bon- discurso titubeante no momento da apresentação de
doso para os vinhos brancos portu- um vinho branco português perante uma audiência
gueses. À medida que os provo é difícil internacional. Muitos obrigam a uma explicação
não lhes enaltecer a frescura, o equi- acrescida, na medida em que é ilusório pensarmos
líbrio e a profundidade generalizada que seremos reconhecidos pelos Chardonnay ou
que apresentam, sem diferenças abissais por entre Sauvignon que elaborarmos. Precisamos trazer essas
as regiões. Nos próximos meses haverá certamente audiências à geografia portuguesa, presencial ou
oportunidade de conhecer muitos mais vinhos dessa mentalmente, explicar-lhes a linha atlântica de fazer
vindima, provavelmente com graus superiores de inveja que possuímos, as vinhas plantadas em locais
complexidade, o que me leva a arriscar um vaticínio – demenciais em ilhas que estão no meio do oceano,
2019 poderá afirmar-se como o grande ano de vinhos as vinhas de montanha do interior, sem esquecer as
brancos portugueses da última década. cepas velhas e os vinhos de colheitas antigas que resis-
Os vinhos nacionais têm evoluído bastante, ainda tiram a tudo e que hoje glorificamos. Esqueçamos as
que nem sempre à velocidade que desejaríamos castas que o mundo sabe de cor e centremo-nos nessa
porque, na loucura da voracidade do nosso tempo, geografia e no exotismo de nomes quase impronun-
queremos que tudo aconteça depressa, bem depressa ciáveis – algum americano pronuncia com rigor o
e bem. Se há muito Portugal é reconhecido por ela- nome das castas gregas, cujos vinhos brancos tanto
borar dos melhores fortificados do mundo, desde têm dado que falar?
meados de 90 tem convencido crítica e consumidores Pela geografia, pelas variações climáticas de ter-
internacionais sobre a qualidade dos tintos, capazes roirs e pelo potencial genético de castas autóctones,
de ombrear com qualquer outro exemplar dessa tipo- Portugal reúne um assinalável conjunto de variáveis
logia, de qualquer outro lugar. Mas, a grande (r)evo- que lhe permitirá afirmar-se igualmente enquanto
lução a que assistimos nos últimos anos é no elevar produtor de vinhos brancos de grande qualidade,
dos vinhos brancos. podendo os 2019 ser um relevante cartão de visita
Deixou de fazer sentido ir de cabeça baixa ou que o demonstra inequivocamente.

22 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


OPINIÃO

José João Santos, jornalista e crítico de vinhos

Os vinhos brancos
não podem perder o
ADN simplesmente em
nome de uma tendência
mundial de consumo,
muito menos pela busca
de conceitos tantas vezes
Acidez, sal e pimenta apurada nos brancos – na adega.
baralhados como acidez,
Que um vinho tranquilo aço-
Por estes tempos, quando mineralidade, salinidade. riano, madeirense, de Lisboa, da
falamos de um vinho branco, Bairrada, de Setúbal, da Costa
um descritor salta para a dianteira – acidez. Se um Vicentina ou do Algarve possua notas salinas evi-
produtor da Borgonha a tenta controlar e até baixar dentes de maresia, nada contra; que um vinho do
ao mínimo indispensável, dado que os solos e o clima Douro, de Trás-os-Montes, da Beira, do Tejo ou do
aportam uma acidez natural elevada, regiões bem interior alentejano também, sim, posso ter os meus
mais quentes procuram-na como alguém sedento no fundamentos para o estranhar. Que um vinho de
deserto. uma casta profundamente aromática passe a uma
Cada casta produz naturalmente vários ácidos, matriz de absoluta neutralidade, sim, pode levar-me
sendo o ácido tartárico e o ácido málico os principais. a duvidar, mesmo que o argumento seja o da apanha
Os vinhos (brancos e tintos) de climas mais frios e de mais precoce da uva para evitar aromas mais expres-
solos de matriz calcária ou granítica têm tendência sivos que surgem com a maturação.
para serem mais acídulos. A acidez poder ser medida Os vinhos brancos não podem perder o ADN
em pH e, no caso do vinho, habitualmente esse pH simplesmente em nome de uma tendência mundial
varia entre 3 e 4. Regra geral, quanto mais baixo for o de consumo, muito menos pela busca de conceitos
pH maior será a acidez; no oposto, quanto mais alto tantas vezes baralhados como acidez, mineralidade,
for o pH mais rápida será a evolução oxidativa de um salinidade. Nada contra a vinificação em cubas ovais
vinho. de cimento, de argila ou outro material, aplaudo o uso
Ao provarmos um vinho, se ficarmos a salivar bas- ponderado de madeira, o resgate de barricas usadas
tante é sinal que a acidez será elevada. Se verificarmos e a aposta em barricas de maior dimensão, que mar-
que existem pequenas partículas que se assemelham quem menos o vinho. Elogio a aposta em tonéis e em
a cristais na base da garrafa ou na parte de baixo da foudres para vinificar brancos, mas parece-me que
rolha de cortiça de um vinho que esteve no frigorí- merece ser questionada a neutralidade, por vezes até a
fico durante várias horas ou mesmo dias, sim, é muito aniquilação do perfil natural de castas. Um Alvarinho
provável que a acidez desse vinho seja alta. Pelo con- de Monção e Melgaço terá necessariamente de ser
trário, um vinho com uma acidez menos pronunciada diferente de um Alvarinho do Alentejo, um Arinto de
será mais redondo e mais sedoso. Bucelas terá que ser obrigatoriamente diferente de
Dependendo do vinho que é pretendido elabo- um Arinto dos Açores, o Maria Gomes da Bairrada
rar-se, na adega há alguns pozinhos e técnicas que terá um perfil distinto do Fernão Pires do Tejo.
permitem suavizar ou incrementar a acidez. A fer- Na perceção dessas diferenças estará a mais-valia
mentação malotática, por exemplo, consiste em trans- dos vinhos brancos portugueses no mundo e até
formar os ácidos málicos (mais ácidos e severos) em mesmo inter-regiões. O sentido de lugar, a geografia,
láticos (mais suaves), fazendo com que o vinho fique o microclima, o solo e o subsolo estão em cada pé de
menos agressivo, por ação do dióxido de carbono. Já o vinha, não devem ser definidos pelo departamento
acrescento de ácido tartárico irá aumentar artificial- comercial ou pelo enólogo. Os grandes vinhos brancos
mente o perfil de acidez natural de um vinho. do mundo são os que reconhecidamente mostram
A acidez é das peças fundamentais que permite a origem, os que não a mascaram. No momento em
aos vinhos evoluírem bem, mas não deve ser nem que se procura a expressão absoluta de um terroir, a
endeusada nem destratada. Não queremos que um expressão de uma casta numa micro-parcela de vinha,
vinho seja monótono ou monocórdico, tal como não não faz lá muito sentido artificializar vinhos, trans-
nos motivará um vinho apenas ácido e fresco, inócuo formando-os naquilo que não o são. Se quiser ter
em aromas e sabores. Equilíbrio é sempre a palavra- num copo um líquido incolor, praticamente inodoro,
-chave de um vinho. estupidamente salgado e de final apimentado não
É esse o alerta que me parece prioritário nesta fase, peço um vinho (encho um copo com água, junto-lhe
em que os conhecimentos e técnicas de viticultura umas pedras de sal e uns pós de pimenta, “et voilà!”).
são incomparavelmente mais sólidos e em que a eno- E, pessoalmente, sou dos que gostam de muita acidez
logia finalmente domina a vinificação – sempre mais e picante, imaginem se não o fosse…

24 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


VINHO FORA DA CAPA

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HERDADE DO ROCIM
INDÍGENA 2018
Alentejo / Tinto / Herdade do
Rocim

Mais que um projeto vínico,


a Herdade do Rocim foi 11,75€
o primeiro passo de um
sonho que arrancou, na
seu por *
viragem do milénio, no 8,75 €
Alentejo. A propriedade,
sita na Vidigueira, reúne
cerca de 120 hectares, dos
quais 70 são de vinha. A
visão e experimentalismo
de Catarina Vieira e Pedro
Ribeiro cedo os impeliu para
vinhos verdadeiramente sui
generis, ao dinamizarem o
ressurgimento dos vinhos de
talha e ânfora, passando pelos
exemplares que nascem de
vinhas em modo biológico,
como é o caso deste Indígena,
o primeiro de todos. Conta
ainda a particularidade de ser CONDIÇÕES PARA
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e acidez, num conjunto fresco e
energético que lhe permitirão uma boa
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evolução em garrafa. PROMOCIONAL:
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PROFILE

texto Nuno Guedes Vaz Pires · foto Fabrice Demoulin

Aníbal
Coutinho Acabado de chegar aos escaparates, o Guia Popular de Vinhos 2021 de Aníbal Coutinho (com Neil
Pendock) assenta novo tijolo numa das mais profícuas carreiras no mundo nacional do vinho. Este
engenheiro civil, formado pelo Instituto Superior Técnico, rumou ao Instituto Superior de Agronomia,
onde se especializou em Viticultura e Enologia, dado o gosto pelo vinho.

Jornalista, crítico, formador, blogger, produtor de vinhos, júri de concursos nacionais e internacionais,
membro do Coro Gulbenkian, em Aníbal Coutinho cabem várias dimensões, um verdadeiro ‘one man
show’ que procura sempre mais, e melhor, para o universo do vinho português.

Algarvio de gema, foi dos primeiros especialistas a segmentar os vinhos nacionais, não por divisões
administrativas, mas por terroirs. E, com os vinhos Escondido e Astronauta vai, lentamente, de forma
discreta, construindo um sólido portefólio.

26 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


ESCOLHAS DO MÊS

Para a Mesa

As suaves colinas de S. Lourenço


Foi a primeira peça a corporizar o portefólio da Ideal Drinks, em 2009. A quinta das Colinas de S. Lourenço,
em S. Lourenço do Bairro, Bairrada, reúne 80 ha. de vinha em solos argilo-calcários das suaves colinas
típicas da região, que deram origem ao seu nome.

Carlos Dias tem uma história de vida que


mais parece uma epopeia. Nascido e com
juventude passada em Portugal, há 46 anos
17
vive fora. Em 1995 funda a Manufacture Roger
Dubuis. Um investimento de 600 mil euros,
num projeto pensado para entrar no exclusivo Colinas Reserva 2012
segmento de luxo e que se iniciou com dois Bairrada / Tinto / Colinas de
colaboradores. O sócio e amigo Roger Dubuis São Lourenço
era o mestre relojoeiro. Anos mais tarde, em —
2008, Carlos Dias vende a empresa ao grupo Rubi, de rebordo atijolado.
de luxo Richemont, um negócio estimado em… Nariz de caruma e de resina de
850 milhões de euros. pinheiro, caril, cereja madura,
A paixão pelos vinhos ganha corpo na tinta da china e balsâmicos.
primavera de 2009, quando concretiza a Tanino firme e de ADN vegetal,
aquisição das Colinas de S. Lourenço e, estrutura ampla, extensão
acompanhado pelo enólogo consultor Pascal final bem conseguida, com
Chatonnet, acrescenta ao portefólio o Paço
mentolados e toque de tabaco.
Denota boa evolução e está
da Palmeira, em Braga, a Quinta da Pedra e a
no momento acertado para
Quinta dos Milagres (2010), em Monção, e a
consumo. JJS
Quinta de Bella, no Dão. Pelo meio reforçou
14,50€ / 16ºC
a presença na Bairrada, ao comprar a Quinta
da Malandrona e a Quinta da Curia. O seu
pendor detalhista reflete-se nos vinhos que
faz, como este Reserva de 2012, no ponto para
consumo e grande companheiro de viagens
gastronómicas.

Para a
30 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020
Mesa @revistadevinhos
DOURO &+ PORTO
Memória Futuro
ESCOLHAS DO MÊS

Para a Cave

Pellada de nervo e tensão


Desde que assumiu os destinos da Quinta da Pellada, em 1980, Álvaro de Castro marcou o
percurso dos vinhos do Dão. Eis mais um exemplo de nervo e tensão, notável ainda mais se
pensarmos que 2017 foi um ano extremamente quente.

O Dão de Álvaro de Castro tem uma


expressão própria, uma identidade e um
carácter que vêm da vinha e deve ser preser-
18,5
vado. Com o tempo de observação e trabalho
nas vinhas, dividiu os 26 hectares da pro-
priedade de acordo com as características de
Quinta da Pellada
cada parcela. No que o produtor julga ser o
2017
bloco principal, em vinhas contíguas a norte, Dão / Tinto / Quinta da
estão parcelas como Primus, Casa e Alto, Pellada
de onde saem algumas das maiores joias da —
Pellada, entre as quais o vinho que aqui tra- Rubi. Aromas ainda jovens de
zemos, oriundo sobretudo da vinha velha da fruto vermelho, cereja, amora,
propriedade. bagas pretas de bosque, toque
As primeiras referências históricas da vegetal e resinoso, conjunto
Quinta da Pellada datam de 1570. Muita delicado mas vibrante. Na
história, portanto. E após tantas vindimas boca é seco, texturado, taninos
(Álvaro começou a produção própria de firmes de boa qualidade, acidez
viva, frutados frescos. Um tinto
vinhos em 1989), o produtor continua a des-
de grande qualidade, final
cobri-la. Entender os vinhos de Álvaro de
duradouro e persistente. MB
Castro é fácil. Vibrantes, tensos, cheios, múl-
45,90€ / 16ºC
tiplos e ao mesmo tempo leves e frescos. São
grandes vinhos de uma grande região.

Para a
32 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020
Cave @revistadevinhos
ESCOLHAS DO MÊS

18 18 18 18 17,5

Herdade dos Grous Passadouro Reserva Passadouro Touriga Quinta de Saes Colecção Privada
Moon Harvested 2017 Franca 2017 Estágio Prolongado Domingos Soares
2018 Douro / Tinto / Quinta Douro / Tinto / Quinta Reserva 2015 Franco Riesling

Regional Alentejano /
do Passadouro do Passadouro Dão / Tinto / Quinta da 2019
Tinto / Monte do Trevo 40,70€ / 16ºC 21,80€ / 16ºC Pellada IVV / Branco / José
— — 20,90€ / 16ºC Maria da Fonseca
24,90€ / 16ºC
— Granada. Nariz rico e Violáceo. O nariz é rico — 9,90€ / 11ºC
atrativo, fruto vermelho e profundo, com fruto Rubi. Nariz delicado e —
Concentrado. O aroma é
muito fresco, bergamota vermelho fresco, de grande elegante, notas de frutos
profundo e intenso, em que Amarelo. Nariz bonito
cítrica, balsâmicos qualidade, toque floral, silvestres a surgirem a par
as notas de fruta preta e e perfumado, citrinos,
mentolados e tostados chocolate. Na prova de das notas de sub-coberto,
bagas azuis casam com a pêssego, maçã verde,
de qualidade. Na boca é boca é sumptuoso, bom pinheiro, algum musgo e
especiaria e a componente nuance floral. Seco, bom
amplo, comprido, mostra volume, tanino macio mas cogumelo seco. Na boca, a
mentolada, tudo muito volume de boca, notas
bom volume e acidez duradouro, sabor dominado mesma linha de delicadeza
fresco, a que se junta de maçã, boa acidez e
equilibrada, taninos finos e pelo perfil silvestre, apesar dos taninos vivos,
a perceção da madeira mineralidade salivante, final
aveludados, bebe-se já com persistente e sedutor. MB boa acidez. equilibrado e
criteriosa, e chocolate. Seco glicerinado, fresco e longo.
muito agrado. comprido. Termina com
e ainda austero na boca, MB
equilibrado pela boa acidez frescura.
e textura. Termina longo, b b
frutado e com especiaria A escolha de res A escolha de
Nuno Guedes Vaz Pi Marc Barros
final. Belo vinho! MB

34 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


ESCOLHAS DO MÊS

Altamente Recomendados

Vinhos de patamar de qualidade muito boa e excelente, com plena garantia de deixar
de sorriso rasgado qualquer felizardo que tenha oportunidade de os degustar.

17,5 17,5 17,5 17,5 17,5

Explicit 2018 La Rosa Reserva Quinta do Cume Terra a Terra Veuve Clicquot
Regional Alentejano 2019 Vinhas Velhas 2016 Reserva 2016 Carte Jaune Yellow
/ Branco / Sociedade Douro / Branco / Quinta Douro / Tinto / Quinta Douro / Tinto / Quanta Label Brut
Agrícola Jorge Rosa da Rosa Vinhos do Cume Terra Champagne / Champagne
Santos e Filhos
12,50€ / 11ºC 32,00€ / 16ºC 11,29€ / 16ºC / Veuve Clicquot
15,00€ / 11ºC — — — 49,90€ / 8ºC
— Amarelo. Nariz muito Rubi vivo. Aroma Rubi violáceo. Sugestões —
Amarelo limão. Nariz fino delicado e complexo, concentrado mas fresco, aromáticas a fruta Dourado, bolha fina,
de flor de árvore, raspa aromas florais e fruta fruto vermelho maduro, preta, cacau, esteva, elegante e regular. Notas
de lima, maçã, fermento elegante, apontamento bagas pretas, notas flores violáceas e leve evidentes de pastelaria,
de pão, algum fumado. A tostado e toque mineral. balsâmicas, baunilha e apimentado. No ataque de fruto de caroço, pêra, floral.
nota de barrica surge mais Seco, excelente volume especiarias. Na boca é boca é suave e elegante, Na boca mostra-se seco,
evidente na boca, tem e acidez, um branco de seco, reforça a componente mostra equilíbrio, médio mousse delicada, texturada,
muito boa untuosidade, grande categoria, que especiada, boa estrutura, corpo, boa acidez, taninos boa efervescência, mineral.
volume preciso, acidez bem poderá dar gratas surpresas tanino em integração, maduros, integrados e Termina longo e sedutor.
conseguida, ligeiro salino. O dentro de uns anos e acidez alta e competente pujantes. Final persistente. MB
final é amplo, persistente e seguramente grande prazer no equilíbrio de um
bastante gastronómico. desde já. conjunto muito apelativo
b b e gastronómico, que irá b
A escolha de A escolha de A escolha de
evoluir por uns bons anos
em garrafa. MB
José João Santos Manuel Morei ra Luís Costa

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 35


ESCOLHAS DO MÊS

17 17 17 17 16,5

João Portugal Pequenos Rebentos Porta dos Quinta de Santa Encostas de


Ramos Alvarinho Tinto Atlântico Cavaleiros Reserva Teresa Avesso Melgaço Único
2019 2019 2015 Unfiltered 2019 Alvarinho 2018
Vinho Verde / Branco / Vinho Verde / Tinto / Dão / Tinto / Caves São Vinho Verde / Branco / Vinho Verde / Branco /
João Portugal Ramos Márcio Lopes João A&D Wines Quinta da Pigarra
9,99€ / 11ºC 15,00€ / 14ºC 9,00€ / 16ºC 10,00€ / 11ºC 12,00€ / 11ºC
— — — — —
Amarelo limão. Boa Rubi translúcido. Notas Rubi escuro. Floral elegante Amarelo claro. Boa Cor citrina. Nariz elegante e
intensidade aromática, sinceras de morango e de violeta e pétala de rosa, intensidade aromática, contido, com a delicadeza
citrinos, floral, notas de cereja fresca, romã e folha cereja madura, mirtilo e frutado calibrado, elegante das notas de limão a definir
mel, conjunto elegante e de tomate. Tanino muito balsâmicos de pinheiro. e de boa compleição. Notas o carácter. Boca cremosa,
sóbrio. Na boca é sedutor, suave, estrutura bastante Tanino de porte elegante, citrinas, tropicais e de ervas citrina e longa, com acidez
frutado e fresco, termina fresca e muito leve, final volume amparado por frescas. Corpo moderado desenhada a traço seguro.
com nota especiada e subtil mas absolutamente uma acidez que lhe aporta e estrutura de qualidade, É um vinho de estrutura
bom comprimento. Pode delicioso. É daqueles frescura. De final fino, formada pela fruta, alta firme, com várias camadas.
surpreender dentro de vinhos que rapidamente estendido e persistente. e boa acidez e volume. CL
alguns anos. NGVP desaparece no copo… Está a crescer com o tempo. Persistência e elegância
e precisamos de mais JJS final. MM
vinhos destes. Refresque-o
ligeiramente. JJS

36 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


ESCOLHAS DO MÊS

Boas Compras

Prazer garantido a bom preço, já que um bom vinho também pode ser amigo da carteira.
A facilidade de resgate em prateleira também é uma chave desta seleção.

16,5 16,5 16,5 16,5 16

Fresh From La Rosa 2019 Quinta do Espírito Terras de Santo Perspectiva 2017
Amphora 2019 Douro / Branco / Quinta Santo Reserva 2016 António Encruzado Douro / Tinto / Santos
Regional Alentejano / da Rosa Vinhos Regional Lisboa / Tinto / 2019 & Seixo
Branco / Rocim 8,50€ / 11ºC Casa Santos Lima Dão / Branco / Sociedade 3,95€ / 16ºC
8,50€ / 11ºC — 7,99€ / 16ºC Agrícola da Quinta de —
— Amarelo. Boa fruta no nariz, — Santo António Rubi de bom porte. Aroma
Amarelo esverdeado. Nariz delicada e fresca, sem Rubi médio. Aroma cheio, 8,50€ / 11ºC sugestivo pela elegância da
algo austero, fresco, notas excessos, apontamento fruta madura, notas a fruta, mentolado e algum

de pêssego, maçã, fruto floral, ligeira nota tostada. chocolate e torrefação vegetal seco. Especiaria
Bom volume de boca, Amarelo palha. Flor subtil. Na boca mostra-se
cristalizado, especiaria. Na de barrica. Algo de herbal delicada, limão, raspa
boca é seco, acidez mineral untuoso e frutado, final a envolver a boa fruta. fresco, afinado, taninos
bem prolongado, fresco e de lima, toranja, pedra polidos, acomodados no
e sápida, bom volume e Bom porte na boca, corpo molhada, ligeiro
estrutura. Conjunto limpo saboroso. NGVP médio/alto, taninos largos corpo médio, estrutura
apimentado. Acidez mais fundida, pronto dar
e fresco, final médio, e suculentos. Final fresco, vincada, frescura geral,
gastronómico. MB persistência com agradável prazer. Muito bem feito e
volume preciso. O final é claramente gastronómico.
complexidade. Um pouco estendido e persistente,
consensual mas muito bem MM
acentuando o perfil
feito. MM granítico que demonstra
durante toda a prova. Para
levar à mesa ou guardar um
par de anos. JJS

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 37


CASTA

texto Marc Barros / foto arquivo

Dicas
Não sendo uma casta que transmita potência,
a Touriga Nacional ‘deixa-se’ ser trabalhada
de diversas formas: por um lado, mantendo
o perfil aromático típico, delicado e floral,

1.
que pode ir além da violeta. Quem pretenda
acrescentar tanino e dimensão à casta,
encontra na utilização da madeira, com
diferentes anos e níveis de porosidade e de
tosta, parceiro dócil e competente.

É, por isso, possível descortinar uma imensa


variabilidade regional no tratamento da

Touriga,
casta. Apesar da sua ampla adaptabilidade,
as Tourigas não são todas iguais. No Douro,
mais tanino, concentração e fruta; no Dão,

a portuguesa
2.
elegância, finura e aromas do bosque; no
Alentejo, maciez no corpo e bom volume de
boca; em Setúbal, frutos vermelhos e pretos,
compota, tanino macio. E já a vemos plantada
por esse mundo fora.
A mais representativa das castas portuguesas, que hasteia bem alto a valia das castas do
país nos mercados internacionais, diz-se oriunda do norte de Portugal, nomeadamente do
Dão, onde teria a designação Preto Mortágua ou Tourigo. Do Dão, onde é responsável pela Em Bordéus, é casta autorizada, sendo que o
produção de vinhos de imensa finura e elegância, e do Douro, que se encarrega de fazer
ciclo de maturação tardia da Touriga Nacional
indica uma exposição reduzida às geadas da
valer os seus taninos delicados, a casta passou rapidamente a ter representatividade nacional,
primavera e às maturações do verão, quando as
fazendo jus ao seu nome.
temperaturas mais altas podem afetar o sabor

3.
Conta hoje com 13.000 hectares, ou seja, 7% do encepamento total, sendo a terceira casta
e a qualidade do tanino e elevar os níveis de
mais plantada do país, ombro a ombro com a Touriga Franca. Mas já é possível encontrá-la
álcool. Na África do Sul, integra os lotes de Port
dispersa pelo (velho e novo) mundo vitícola.
Wine Style; na Austrália, dá origem a vários
Sendo uma casta de maturação tardia, é das últimas a ser vindimada. Com boa produtivi- monovarietais. Espanha, Califórnia e Brasil
dade na vinha e regular de ano para ano, adapta-se a todos os tipos de solo, pedindo apenas são outros locais onde pode ser encontrada.
muitas horas de sol e disponibilidade hídrica. Mesmo assim, garante bons níveis de acidez e
frescura, percetível aromaticamente pelos seus tons florais característicos, mas também pelas
notas de frutos silvestres e até herbáceas, de cor e complexidade inusitadas. As possíveis sugestões de prova da casta em

4.
Como casta rainha, origina vinhos de enorme qualidade, a solo ou em lote, oferece exce- diversas modalidades (tintos, espumantes,
lente potencial de envelhecimento, em madeira (onde mostra a sua personalidade forte e rosés) são infindas. Um bom exemplo são os
acrescenta tanino) e na garrafa. É, naturalmente, uma variedade que transporta os vinhos vinhos constantes na prova temática que pode
portugueses pelo mundo fora, confere notoriedade e qualidade garantida. Mereceria ser consultar mais à frente nesta edição. Boas
“portuguesa” na designação? provas!

38 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


DICAS

texto Manuel Moreira / fotos Arquivo

Taninos e adstringência
Os taninos permitem que os bons vinhos envelheçam, por vezes, ao longo de décadas.

O tanino manifesta-se através


de uma sensação tátil, a
adstringência. Ao combinar e
ao coagular com as proteínas
da saliva, perde as suas
propriedades lubrificantes.
Surge aquela impressão de
secura e rugosidade.

O copo na medida certa aproxima-se da boca. Já antes lhe apre- devido ao menor contacto com as películas. Contudo, o surgimento dos
ciámos a generosidade rubi e o nariz fez-nos sorrir ao identificar aqueles vinhos brancos submetidos a maceração pelicular irá provocar a mesma
frutos de cores vermelhas, pretas e azuis. Ao prová-lo, a boca e a gar- sensação de adstringência.
ganta ficam secas de repente, as gengivas e a língua contraem-se, o Haverá mais taninos nos vinhos concebidos para durarem mais tempo
instinto faz-nos de imediato rodar a língua pelas laterais da boca, em do que nos vinhos pensados para o consumo imediato. Como conser-
reação aos taninos do vinho. Sim, é a adstringência a manifestar-se. Mas vantes, os taninos permitem que os bons vinhos envelheçam, por vezes,
o que é a adstringência? E os taninos? Qual a origem? Servem para quê? ao longo de décadas. Com o passar do tempo, os taninos amaciam e a
Qual a razão desta sensação acontecer só quando se bebe vinho tinto textura do vinho também. Os taninos são relevantes na constituição do
e não com brancos? vinho, importantes na estrutura, a quantidade e a forma influenciam a
Os taninos são parte de um conjunto de compostos chamados fenó- textura e o modo como os sentimos na boca.
licos. A película do bago é muito rica nesses compostos. Os taninos O tanino manifesta-se através de uma sensação tátil, a adstringência.
existem, também, no engaço e numa fina película que reveste as gra- Ao combinar e ao coagular com as proteínas da saliva, perde as suas
inhas. A quantidade em taninos difere de casta para casta. Umas têm propriedades lubrificantes. Surge aquela impressão de secura e rugosi-
mais que outras. Difere também se a uva estiver mais ou menos madura. dade, em vez da humidade natural quando passamos a língua no palato,
Ao beber um vinho tinto sentimos os taninos, por ser vinificado com nas gengivas, nos dentes e nos lábios. Dá lugar a algo como uma resis-
as películas das uvas, das quais se extraem, então, estes compostos tência, um atrito, como se a língua se tivesse tornado encortiçada, como
durante a fermentação e através das operações de maceração. Da se a boca estivesse ressequida e contraída, a língua e as gengivas já não
madeira também se extraem taninos, ao longo do estágio, nas barricas se tocam suavemente. É isto a adstringência.
novas de carvalho. Os vinhos brancos são mais pobres em taninos Resumindo, os taninos são o ingrediente e a adstringência a sensação.

40 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


Preservamos o nosso património.
VINHOS & NÚMEROS

Os números também contam histórias sobre o mundo do vinho.

texto Marc Barros · infografia Angela Reis

Direitos de plantação de vinha e a lei do mercado


O IVV concedeu 1.927 hectares de novas autorizações de plantação de vinha em 2020. As candidaturas
submetidas correspondiam a uma área de 2.949 ha. O total de área de vinha em Portugal Continental era, há
cerca de um ano, de 189.988 ha., ligeira retoma face ao ano anterior, mas incapaz de inverter a tendência de
diminuição continuada que se verifica desde há três décadas a esta parte. Segundo diretrizes comunitárias, a área
a distribuir anualmente corresponde a 1% da superfície total de vinha plantada em 31 de julho do ano anterior.

ALENTEJO E LISBOA OUTRAS REGIÕES

Ambas com pedidos superiores a

700 ha. 400 ha. 340 ha.


Vinho Verde, atribuídos 296 ha. Tejo, atribuídos 262 ha.

65 ha. 107,58 ha.


Atribuídos

250 ha.
(restrição previamente estabelecida)
Douro, acima dos 4,3 ha. concedidos Beira Interior com 100% aprovados

e 552 ha. Em sentido inverso


Algarve com maior percentual em área (∆1% crescimento regional)

60 ha. 54 ha.
(Lisboa teve o maior número de
candidaturas aprovadas).
Candidatou e recebeu

Nesta ronda, foi pela primeira vez


atribuída a qualidade de
46 %
candidaturas aprovadas
36 %
a Novos Entrantes do total atribuído
“Novo Entrante”, que permite a um
operador iniciar a atividade
de viticultor.
dos quais 34 % "Jovem" e 66 % "Outros"

Partindo do princípio que os operadores são agentes económicos racionais e a área a


concurso supera largamente a atribuída, que papel para a regulação? Esta tem em conta as
especificidades regionais? No Douro, onde certos operadores estimam que a área de vinha está
sobredimensionada e fragmentada, levando a que o preço de uva atinja, na melhor das hipóteses,
1,15 euros/kg., (mas a média cifra-se nos 0,5 euros), será que a reposição do stock de vinha é
pertinente? Em que medida este regime contribui para a perda de património genético, uma vez
que é concedido ao viticultor o poder de repor o stock de vinha arrancada?

Fonte: IVV, IVDP.

42 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


VINHOS & TURISMO

Entre a Lezíria, Campo e Bairro, há um mundo de diversidade para conhecer.

texto Marc Barros / fotos D.R.

Tejo para descobrir


No Tejo encontramos diferentes terroirs em cenários deslumbrantes, bem como
produtores e quintas ligados à própria história de Portugal.

Companhia das
Lezírias
Fundada em 1836, no reinado
de D. Maria II, é uma das
maiores manchas agrícolas
nacionais. Conta hoje com
um moderno espaço dedicado
ao enoturismo, onde é pos-
sível realizar provas de vinhos
comentadas pelos enólogos,
vindimas e pisa a pé dos vinhos.
Estão também disponíveis
bungalows em madeira (com
piscina exterior) em plena
Zona de Proteção Especial do
Quinta do Casal Branco Estuário do Tejo.

Na posse da família Lobo de Vasconcellos desde 1775, Companhia das Lezírias


esta belíssima propriedade tem cerca de 1100 hectares, Largo 25 de Abril, nº 17 / 2135-318 Samora
dos quais 120 de vinha na margem esquerda do rio Tejo, Correia / T. 212 349 016 / 263 650 600
contemplando a vasta imensidão da planície do vale. E. loja.vinhos@cl.pt / S. www.cl.pt
Entre as atividades de enoturismo disponíveis contam-se
visitas guiadas à adega e à vinha, provas de vinhos comen-
tadas, almoços e jantares vínicos, visitas à Coudelaria de Quinta da Lagoalva
Cavalos Puro Sangue Lusitano e aos jardins da Casa Lobo
de Vasconcellos. de Cima
Quinta do Casal Branco Localizada na margem sul do Tejo,
Estrada Nacional 118 Km 69 / 2080-187 Almeirim, Portugal conta longa tradição agrícola e
M. 917 656 683 / S. www.casalbranco.com vitivinícola, quando D. Maria de
Noronha de Sampaio casa, em
1846, com D. Domingos António
Maria Pedro de Souza e Holstein,
Falua 2.º Duque de Palmela. Além da
Produtor da nova geração do Tejo, fundada, em 1994, por produção de azeite, cortiça, da
João Portugal Ramos, a Falua passou a ter a sua adega criação de gado e de cavalos puro-
em 2004, em Almeirim e recentemente adquirida pelo -sangue lusitano, a Quinta da
grupo francês Roullier. Entre as suas marcas icónicas Lagoalva possui 45 hectares de
estão o Conde Vimioso. Na Vinha do Convento da Serra, vinha no conjunto de 600 hec-
plantada em 1996, desenvolvem-se videiras entre calhau tares agrícolas. Passeios de char-
rolado, num terroir emblemático que conta uma história rete, visita à adega e coudelaria,
com mais de 400 mil anos. O moderno centro de vini- prova dos produtos da quinta,
ficação e a sala de barricas dão o entorno para visitas e entre outros, fazem parte do pro-
provas de vinhos. grama de enoturismo.

Falua Quinta da Lagoalva de Cima


Zona Industrial Lote 56 / 2080-221 Almeirim 2090-222 Alpiarça / M. 912 252 748
T. 243 594 280 / E. falua@falua.pt W. www.lagoalva.pt

44 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


WWW.FALUA.NET
VINHOS & RESTAURANTES

Avaliação do serviço de vinhos

texto Nuno Guedes vaz Pires / fotos D.R.

Bovino
Steakhouse
Tal como o nome sugere, aqui podemos encontrar pratos de
carnes maturadas com diferentes cortes e pesos, como é o caso
dos bifes do lombo, de alcatra e ribeye. A decoração é cuidada
e o ambiente fantástico. Antes de chegarmos à sala de jantar
ou ao terraço, uma paragem no bar é obrigatória, recebeu o
prémio em 2018, do melhor bar de restaurante no Drinks Diary
Bar Awards, aqui podemos experimentar uma série de cock-
tails clássicos e originais, e ver e ouvir o mixologista de ser-
viço. Nos vinhos o serviço é exemplar, a cargo do Sommelier
Miguel Martins, com a atenção e dedicação do gerente do
Bovino, Pasquale Manganiello. Grande seleção de vinhos dispo-
nibilizados a copo, 61, entre espumantes, champanhes, brancos,
tintos, generosos e doces, onde podemos provar, por exemplo,
um Principal Grande Reserva 2011 ou um Château Lynch Bages
2011 (Coravin 125 ml). A carta de vinhos, bem estruturada e
criteriosa, apresenta cerca de 300 referências listadas, divididas
por país, regiões e tipos. Podemos encontrar uma seleção muito
interessante de champanhes e generosos, os tintos e brancos são
maioritariamente portugueses, mas marcam presença vinhos de
cozinha
França, Itália, Espanha, Alemanha, Austrália, Nova Zelândia,
Lagosta ao vapor ou grelhada, bife tártaro de lombo Angus, hambúrguer de bovino
EUA, Chile, Argentina e África do Sul. Grandes nomes do vinho
com queijo, costela de vitela da Argentina, ribeye, alcatra, New York strip, prime ribe.
estão presentes, desde Niepoort, Mouchão, Ferreirinha, José
Maria da Fonseca, até aos não menos famosos Concha y Toro,
Fritz Haag, Villa Maria, Château d’Yquem, Latour, Mouton e
Petrus. Um restaurante reavaliado pela Revista de Vinhos, que
obteve uma excelente classificação. Parabéns!
classificação 19,8
19 20 20
carta de vinhos copos temperatura
de serviço
20 20 20
qualidade aconselhamento vinho a copo
do serviço de vinhos
A classificação obedece a uma escala de 0 a 20, em que cada item tem um peso específico na média final.
Não incide na componente gastronómica, pretendendo afirmar-se como crítica construtiva, estimulando um cada
vez melhor serviço de vinhos nos restaurantes.

BOVINO STEAKHOUSE
Quinta do Lago, Almancil (virar à direita na rotunda 6), Algarve
T. +351 289 007 863

Preço médio/pessoa: 100,00€ (vinho incluído)
Horário: diariamente, das 18h30 às 24h (a cozinha fecha às 22h e o bar às 24h).
Não encerra.

@revistadevinhos
VINDIMA 2020

texto Marc Barros / fotos Arquivo

Singularidade e qualidade
na vindima de 2020
Este ano ficará para sempre marcado
pela pandemia, que colocou dificuldades
inauditas ao setor, extensível aos
trabalhos na vinha e, por maioria de
razão, na vindima. Junte-se um ano difícil
do ponto de vista climático. Porém, os
dados recolhidos pela Revista de Vinhos
apontam para um ano de excelente
qualidade em várias regiões nacionais,
apesar da quebra de produção.

Os dados avançados pelo Instituto do Vinho e da Vinha (IVV), no setembro até agora mostra-se muito equilibrada”. Na sub-região de
início de agosto, apontavam para uma ligeira redução da campanha Monção e Melgaço, o crescimento será ainda superior, com as uvas
em relação a 2019/2020, em torno dos 3%, ou seja, um volume total da casta Alvarinho a apresentarem excelente qualidade fitossanitária.
de 6,3 milhões de hectolitros. Afirmava tratar-se de um ano marcado
pela “instabilidade meteorológica observada ao longo do ciclo vegeta- Douro e Porto
tivo”, com o registo de “focos de míldio” que obrigaram a tratamentos
intensivos e cuidados redobrados. No Douro a quebra da produção de vinho cifrava-se nos 20%, cor-
A Revista de Vinhos procurou tomar o pulso à campanha e, sobre- respondendo a uma diminuição de 8% face à média do período
tudo, à qualidade dos vinhos e mostos, num ano marcado por con- 2015/2020, superando o volume de 1,35 milhões de hectolitros.
dições ainda mais difíceis que o habitual, dado o cenário pandémico Recorde-se ainda que o Conselho Interprofissional (CI) do Instituto
provocado pela Covid-19. O citado documento do IVV reportava que dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) estabeleceu o benefício de
as regiões vitivinícolas de Terras de Cister (-35%), Trás-os-Montes 102.000 pipas, de 550 litros cada, (92.000, mais 10.000 de reserva
(-20%), Douro e Porto (-20%), Dão (-20%) e Açores (-15%) seriam qualitativa) de mosto para produção de Vinho do Porto, numa
as principais responsáveis por esta ligeira quebra. Na região da Beira redução de 6.000 pipas face a 2019.
Interior não se antecipavam variações. Nas restantes regiões pre- Segundo Carlos Alves, enólogo de generosos da Sogevinus, o ano foi
viam-se aumentos de produção, destacando-se a região do Minho, “chuvoso até maio, o que possibilitou a reposição natural da água no
com o maior acréscimo em volume (+73 mil hectolitros) e a região do solo para o bom desenvolvimento da videira”. No entanto, “de maio
Algarve, com o maior crescimento percentual (+15%). a setembro, o tempo foi seco e muito quente, o que provocou algum
escaldão nas vinhas e, como consequência, uma quebra de produção”.
Vinhos Verdes Em finais de agosto “tivemos alguma chuva, o que veio acelerar as
maturações e a vindima”. Por isso, “2020 é uma vindima de menor
Na região dos Vinhos Verdes a expetativa era para um aumento na produção quando comparada com 2019”. Ainda a meio da vindima,
produção de 9% relativamente ao ano anterior, mesmo tendo em arriscou-se a dizer que “temos na adega grandes Vinhos do Porto,
conta a forte incidência de focos de míldio, com a produção total a com enorme potencial de envelhecimento”.
ascender a 890 mil hectolitros, 7% acima da média dos últimos cinco Relativamente à performance das castas, a Touriga Franca foi aquela
anos. que registou maior quebra de produção, a rondar os 40%. O enólogo
A uma semana do término da vindima, António Sousa refere que mostra-se “satisfeito com os mostos, pois temos teores de açúcares
a vindima trará “boas produções” e, no que concerne à quantidade na uva elevados, que permitem fermentações mais longas. Por con-
obtida, estará em linha com o ano anterior. Algumas castas, como a seguinte, conseguimos uma maior extração de cor e taninos. Os pri-
Loureiro, assumem um desempenho surpreendente, apresentando meiros mostos e alguns Vinhos do Porto tintos já elaborados apresen-
“níveis de acidez de 6,5 a 7 gr. de acidez e 12% de álcool provável à tam-se opacos na cor e com aromas a fruta bastante madura. Em boca
entrada da adega”. Também as uvas das castas Avesso e Arinto reve- são cheios, com um tanino bem presente e uma acidez alta para anos
lam-se satisfatórias. quentes como este. Os Portos Brancos apresentam aromas muito
O enólogo regista apenas algum “défice de acidez nas uvas mais pre- limpos e frescos”. Até ao momento, as castas que têm evidenciado um
coces, colhidas em agosto e início de setembro”, apresentando-se “um melhor desempenho são a Touriga Nacional, o Tinto Cão e o Sousão,
pouco sobrematuradas”. Já a uva “colhida no período de meados de nas tintas, e Viosinho, Arinto e Malvasia Fina, nas brancas.

48 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


Por sua vez, Tiago Alves de Sousa, da Quinta da Gaivosa, sublinha que
“2020 será porventura o ano mais desafiante que a nossa geração já
viveu”. E não apenas pela pandemia: o ano “foi sucessivamente lan-
çando uma série de desafios que culminaram com uma vindima abso-
lutamente fora do normal, com tanto de adversidade como de quali-
dade e, sobretudo, singularidade”, afirma. “O ano foi em geral quente
desde o seu início, levando a um avanço significativo das várias fases
fenológicas logo desde o abrolhamento”. Na primavera registou-se
“precipitação acima da média [que] levou a uma grande pressão de
míldio, prejudicando também em parte a floração, com consequentes
quebras numa produção que já à nascença não era demasiado gene-
rosa”. As previsões quantitativas do ano foram desde cedo “modestas
e agravadas com o escaldão ocorrido de 22 a 24 de junho. Ainda
assim, os 20-25% de quebra prevista inicialmente viriam mais tarde a
revelar-se pecar por defeito”, assume.
O ciclo prosseguia com avanço de cerca de 10 dias em julho mas
“com uma progressão da maturação ainda assim aparentemente
normal, inclusive com a maturação fenólica a evoluir muito favora-
velmente face aos açúcares”. Porém, “a entrada no último terço de
agosto marcou um ponto de viragem brusco - após uma chuva a 20
de agosto, aparentemente bem-vinda para ajudar a fazer face ao calor
estival e que numa primeira instância parece ter trazido algum ree-
quilíbrio das reservas hídricas para ajudar a terminar a maturação...
rapidamente o processo inverteu-se e começa a verificar-se uma desi-
dratação galopante nos bagos em diversas vinhas, com particular inci-
dência na Touriga Franca nas cotas mais baixas da região”.
Tiago afirma não conseguir, em mais de 20 vindimas no Douro,
A variedade Loureiro mostra
encontrar paralelo para tal fenómeno, “e mesmo colegas com 50 anos
desempenhos surpreendentes, na região tampouco”. Até porque “calor no Douro não é propriamente
novidade” e “primaveras chuvosas” tinham-no sido mais “em 2016 e
com níveis de acidez de
2018”. E questiona-se se “a chuva de 20 de Agosto, face às condições
6,5 a 7 gr. de acidez e de calor e escaldão anteriores, terá provocado uma reação inesperada
e, em vez de refrescar e apaziguar, ter criado algum tipo de gradiente
12% à entrada da adega.
de potenciais hídricos entre solo / videira / atmosfera motivando a
Também as castas Avesso saída anormalmente acelerada de água dos bagos? É uma entre várias
e Arinto apresentam bons explicações possíveis... mas ainda sem certezas e será sem dúvida
fundamental debruçarmo-nos sobre o sucedido, estudarmos e apren-
desempenhos. dermos, sobretudo num contexto de fenómenos climáticos cada vez
mais extremos e aleatórios”.
Quanto ao resultado da vindima, o enólogo da Quinta da Gaivosa
estima que “a quantidade sofreu uma quebra dramática, ultrapassando
em diversas vinhas os 50%, penalizando severamente os viticultores”.
No conjunto das vinhas das seis quintas da família Alves de Sousa a
quebra média foi de 35%, mas “com diversas vinhas a apresentarem
quebras efetivamente superiores a 50% e com o ligeiro equilibrar da

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 49


VINDIMA 2020

Após uma chuva a 20 de agosto,


aparentemente bem-vinda para ajudar a
fazer face ao calor estival... rapidamente
o processo inverteu-se e começa a
verificar-se uma desidratação galopante
nos bagos em diversas vinhas, com
balança a vir sobretudo das cotas mais particular incidência na Touriga Franca “distinta maturação e excelente equi-
altas em que a quebra foi de ‘apenas’ líbrio”.
20%”. Porém, se a natureza retirou nas cotas mais baixas do Douro. Por sua vez, no Dão era antecipada
por um lado, deu por outro - a quali- uma descida na produção de 20%
dade é verdadeiramente excepcional, exclama Tiago. (206 mil hectolitros) resultante de geadas tardias e de ataques de
A concentração e a intensidade são tais que, numa primeira análise míldio que ocorreram em algumas zonas da região. Segundo Beatriz
levantou algumas questões, sobretudo pelo desafio de conseguir efe- Cabral de Almeida, enóloga da Quinta de Carvalhais, “o ano climático
tivamente levar a bom porto as fermentações. Nos vinhos do Douro que passou registou características típicas do Dão, com chuva e frio no
“será naturalmente necessário trabalho na adega para lidar com tal inverno e calor no verão”. De realçar, contudo, “as geadas em alguns
intensidade mas a qualidade média é altíssima, assim como os muitos dias de inverno que fizeram com que algumas plantas vissem a sua
picos de qualidade em diversas vinhas e castas”. Nos Vinhos do Porto produção ameaçada. O verão foi quente e seco, com uma boa chuvada
é um ano que apresenta “concentração imensa mas proporcional a cair em meados de agosto, permitindo às videiras, com sede, adiantar
em todas as componentes dos bagos - açúcares, aromas, compostos a maturação das suas uvas”.
fenólicos, acidez, garantindo intensidade mas também um equilíbrio Com a vindima a decorrer e início de três dias de chuvas a 18 de
notável”. A Touriga Franca “é uma das castas que marcam o ano, quer setembro, “a quantidade de uva que foi vindimada tanto na Quinta dos
pela quebra e por ter sido a maior vitima do fenómeno de desidratação Carvalhais como a que foi entregue pelos viticultores com quem traba-
brusca... quer pela intensidade e qualidade absolutamente magnífica lhamos, foi menor do que estávamos à espera”. Contudo, “a qualidade
dos seus vinhos”, resume. nunca esteve em causa! As uvas chegaram à adega com um aspeto
Na região de Trás-os-Montes, a previsão apontava para um decrés- muito são, com boa fruta e frescura. A colheita de uva na Quinta dos
cimo na produção de 20% (118 mil hectolitros, mesmo assim 7% acima Carvalhais está já a terminar, sendo que estamos a vindimar apenas
da média das cinco últimas campanhas), que resulta do facto da pro- 25ha dos 50ha de área total de vinha da propriedade – metade da
dução do ano anterior ter sido acima da média e também devido ao vinha foi replantada depois dos incêndios de 2017. Neste contexto, e
míldio, ao oídio e, neste último período, ao escaldão. apesar de ser menor do que o que esperávamos, a quantidade está ali-
nhada com as necessidades identificadas”.
Bairrada, Dão e Beira Interior A vindima em Carvalhais começou a 26 de agosto com a casta Gouveio,
seguindo-se Encruzado. “Tanto as castas tintas como as brancas che-
A Bairrada apontava para um aumento de produção de 10% (175 mil garam à adega muito sãs e deram origem a mostos muito frescos e
hectolitros), mesmo que as “condições climatéricas com temperaturas equilibrados: brancos muito suaves, frescos e com textura, e tintos
elevadas, precipitação durante vários dias e as recentes humidades com fruta preta e vermelha fresca, boas notas vegetais e estrutura ele-
matinais” tenham sido favoráveis ao desenvolvimento de pontuais gante”, concluiu Beatriz.
focos de míldio. A vindima para base espumante decorreu, na generali- Já na Beira Interior, a previsão apontava para uma produção seme-
dade das casas, na primeira semana de agosto, o que corresponde a uma lhante à campanha passada (256 mil hl.), sendo que alguma quebra de
antecipação de 10 dias face a 2019. Foi o caso de Carlos Campolargo, produção devida à geada, neve e granizo, foi compensada pelo aumento
que iniciou a vindima a 6 de agosto, mostrando-se “satisfeito” com a de produção nas vinhas jovens. Porém, Rodolfo Queirós, o presidente
qualidade e a acidez das uvas para vinho base. No cômputo geral, com da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior (CVRBI), atualizou
a vindima concluída na penúltima semana de setembro, verificou-se estes dados, referindo uma quebra de 10 a 15% relativamente a 2019,
uma forte quebra quantitativa, em que “as maturações foram afetadas para um volume entre 22 milhões e 22,5 milhões de litros.
pelas condições atmosféricas”, pelo que “a expetativa não é grande, Segundo o responsável, a quebra prevista na produção de vinho deve-se
mas em todos os anos, mesmo os mais difíceis, há bons vinhos”, asse- ao facto de “em finais de março e início do mês de abril ter ocorrido
gura. geada generalizada na região” e a “um episódio de granizo e de ventos
Osvaldo Amado regista na Bairrada uma quebra na ordem dos 15 a fortes, registado no último fim de semana de maio, que causou grave
20%. O inverno foi “tido como normal, com boa reposição dos níveis prejuízo em vinhas das zonas do Fundão, Covilhã e Belmonte”. Por seu
hídricos. Seguiu-se uma primavera chuvosa, o que requereu atenção turno, as uvas apresentam-se “em bom estado sanitário”.
redobrada em termos fitossanitários. O verão foi quente e seco, o que Na região Terras de Cister esperava-se uma redução de 35% na pro-
veio a determinar uma antecipação da época de vindima”, concluiu dução, para 39 mil hl.. As fortes geadas no início do ciclo vegetativo,
Osvaldo. Resumindo, e numa primeira análise, “tudo leva a crer que aliadas a uma queda de granizo numa fase posterior, contribuíram para
o ano de 2020 será de boa memória”, antecipa. “Os brancos e tintos a acentuada quebra na produção.
mostram maturação fenólica e alcoólica de qualidade, o que nos leva a
pensar que este será um ano de excelência”. Quanto às castas Arinto, Tejo, Lisboa e Setúbal
Bical e Maria Gomes “regista-se um equilíbrio quase perfeito”, com
teores alcoólicos na ordem dos 12 a 13% de volume, com uma acidez No Tejo as primeiras estimativas davam conta de um aumento da
total e pH bem equilibrados. Quanto à casta Baga, “tirando algumas produção (+5%), ou seja, cerca de 61,6 milhões de litros, pelo que a
zonas da Bairrada onde foi notória a desidratação, tudo o resto aponta campanha deverá resultar na produção de 647 mil hl.. Segundo a CVR
para ser um excelente ano” desta “casta identitária desta região”, com Tejo, “a ocorrência de precipitação na altura da floração, temperaturas

50 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020


elevadas durante longos períodos nos meses de junho, julho e agosto”
e de alguma chuva em setembro, durante a vindima, “em pouco afetou
o desenvolvimento das uvas”.
As vinhas mostravam-se “saudáveis no início da vindima”, no final
de julho, e o verão “teve muitos dias consecutivos de calor acima
do normal, mas sem chegar aos valores de 2018, quando houve
escaldão”. A casta Fernão Pires foi a primeira a ser vindimada e as
castas brancas estavam vindimadas em meados de setembro. Também
por esta altura, 80% das variedades tintas foram colhidas, pelo que o
período de chuvas de setembro não influenciou a vindima.
Por sua vez, em Lisboa as perspectivas eram para um acréscimo de
5% na produção, superando um milhão de hl.. Os focos localizados
de míldio e oídio não perturbaram a qualidade sanitária das uvas. O
enólogo Jaime Quendera, mais conhecido pelo trabalho desenvol-
vido na Península de Setúbal, é também responsável pelos vinhos da
Fundação Stanley Ho, em Colares, referindo que a sua especificidade,
com “o clima frio e a regularidade térmica dada a proximidade do mar,
permitiu obter boas maturações”.
Na Península de Setúbal os números do IVV davam conta de um
aumento de produção de 5%, ou seja, 529 mil hl. De acordo com
Jaime Quendera, “com 70% da vindima efetuada, incluindo a totali-
dade dos brancos”, verificou-se um pequeno decréscimo de produção,
“numa colheita que classifica normal, com boa qualidade, frescura e
equilíbrio”. Uma vez que “o verão foi mais fresco, não houve risco
de paragem de maturações, que foram por isso mais homogéneas e
os mostos mostram-se equilibrados, com boa acidez”. Também nos
tintos, “com grande parte das castas vindimadas, como Aragonez,
Touriga Nacional, Trincadeira, Pinot Noir, Merlot, as maturações
foram homogéneas e as uvas de qualidade”.

Alentejo, Algarve e ilhas

A produção no Alentejo foi também ela idêntica, em termos de volume,


ao ano anterior, assegura Jaime Quendera, ou seja, quedando-se em
torno do milhão de hl. produzidos. As vinhas, de uma maneira geral,
apresentam bom desenvolvimento vegetativo e estado sanitário. Já no
Algarve, a previsão de produção aponta para um aumento de 15%, ou
seja, 16 mil hl., sendo que alguns focos de oídio não comprometeram
o aumento da produção esperado devido ao bom desenvolvimento
vegetativo das vinhas, que antecipa uma colheita de boa qualidade.
Na região da Madeira estimava-se um aumento de produção de 5%,
para cerca de 4.200 toneladas de uva. Na generalidade, as vinhas
apresentaram-se em bom estado fitossanitário; contudo, na costa
norte foram detetados focos pouco expressivos de míldio, de oídio e
de podridão negra (black rot).
Nos Açores a previsão global é de uma diminuição de produção de
15%, para 11 mil hl. Ao nível do desenvolvimento vegetativo das vinhas,
a floração foi severamente afetada, implicando desde o início perdas
na produção agravadas pelo vingamento irregular. Nos meses de maio
e junho verificaram-se ataques moderados de míldio e de oídio e as
chuvas de agosto prejudicaram o balanço final. Porém, a qualidade
esperada é tida como elevada. Em resumo, um ano difícil, que ficará
marcado pelos obstáculos impostos pela pandemia mas, ao que tudo
indica, reconhecido pela qualidade dos vinhos.

outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 51


NOTÍCIAS

texto José João Santos / fotos Ricardo Garrido

Gilberto Igrejas Rita Marques

Nuno Russo

IVDP distingue protagonistas


no “Port Wine Day”
O evento assinalou o mérito de projetos no âmbito da iniciativa
"Douro + Sustentável".

O Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) celebrou a 10 de setembro os 264


anos da Região Demarcada do Douro, a mais antiga área demarcada e regulamen-
tada para produção de vinho no mundo. Pelo segundo ano consecutivo, o assinalar
do “Port Wine Day” incluiu a distinção de projetos no âmbito da iniciativa “Douro +
Sustentável”, nas presenças da secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, e do
secretário de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Nuno Russo, entre
outras personalidades.
Na categoria “Enologia”, Tiago Alves de Sousa foi o distinguido. Quinta geração
da família Alves de Sousa, com ele a viticultura tem sido encarada sob um prisma
mais detalhista. O trabalho nas vinhas do Abandonado e de Lordelo é notável, moti-
vando a preservação das características das vinhas velhas. As novas plantações ins-
piram-se no passado e Tiago acredita que é na vinha que o vinho é feito.
O prémio “Viticultura” foi atribuído à Quinta do Crasto na sequência do projeto
de identificação e rastreabilidade genética da Vinha Maria Teresa. Por entre mais
de 29.000 pés de videira já foram identificadas 53 castas, num trabalho de inves-
tigação que está a ser elaborado em parceria com a UTAD – Universidade de Trás-
os-Montes e Alto Douro. Tendo 4,7ha, a Vinha Maria Teresa é um dos emblemas da Tiago Alves de Sousa,
propriedade, estando na origem de um dos mais notáveis vinhos do Crasto.
O World of Wine (WoW), proposta do grupo The Fladgate Partnership recente- Quinta do Crasto, Bulas
mente inaugurada em Vila Nova de Gaia, obteve o prémio “Enoturismo” e a Bulas Cruz e World of Wine
Cruz, no mercado com marca própria desde 2011, elaborando 19 referências, entre
Portos e DOC Douro a partir de uvas de duas quintas durienses, venceu na cate- foram os distinguidos.
goria “Revelação”.
A celebração do “Port Wine Day” aconteceu no restaurante Antiqvvm, no Porto,
estrela Michelin onde pontifica o chefe Vítor Matos.

52 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


VallegrePortoDouroWines
NOTÍCIAS

texto Luís Costa / fotos Daniel Luciano

Wine and Music Valley


com datas para 2021

A segunda edição do Wine and Music Valley, evento que no ano Turismo do Porto e Norte, cujo máximo responsável, Luís Pedro
passado juntou nas margens do Douro mais de 17 mil pessoas, já tem Martins, acredita que poderá ser ainda mais impactante do que já
datas e alguns nomes de cartaz. O evento vai decorrer nos dias 10 e conseguiu ser na sua primeira edição: “Estivemos com este evento
11 de setembro de 2021 e contará com a atuação, já confirmada, de desde a primeira hora e quisemos que fosse algo diferenciador em
Ana Moura, Expensive Soul, João Pedro Pais e Pedro Abrunhosa, relação ao que acontecia em termos de festivais de música. Por
entre outros nomes a anunciar brevemente. estarmos no Douro – no território dos vinhos por excelência –
“Estou imensamente honrado por ter sido convidado para cantar achamos interessante juntar música e vinho. Queríamos que este
neste festival associado ao vinho. E é um prazer fazer parte deste evento ajudasse o território em termos de produção, e a verdade é
evento”, confessou-nos João Pedro Pais logo após o “show case” que a primeira edição superou as nossas melhores expetativas. Mas
que protagonizou na sessão de lançamento da próxima edição do queríamos também que o evento ajudasse, como ajudou, o produto
Wine and Music Valley que juntou imprensa e convidados na Quinta de excelência do território – e todos aqueles que vivem da vinha, do
da Pacheca, defronte da Régua, em terras do concelho de Lamego. vinho e do enoturismo. No ano passado tivemos um evento muito
Aliás, o recinto do festival (que junta num só evento música, vinhos e bem conseguido, mas, infelizmente, a pandemia do novo coronavírus
gastronomia) é contíguo à Quinta da Pacheca, em terrenos da APDL não permitiu que o Wine and Music Valley se realizasse em 2020.
localizados na margem esquerda do Douro – o Porto Comercial de Mas estamos todos juntos para que o festival regresse em 2021 – e
Cambres. seja, uma vez mais, uma das ações mais importantes de promoção
Na sequência do enorme sucesso da anterior edição, em que parti- do sub-destino Douro dentro desta marca que é o destino Porto e
ciparam mais de 80 produtores do Douro e atuaram nomes como Norte”.
Bryan Ferry, Mariza, Carolina Deslandes, Salvador Sobral, Xutos & Em 2021, o festival voltará a ocupar uma área de seis hectares, apre-
Pontapés ou Seu Jorge, o evento de 2021 promete muitas novidades, sentando uma reforçada componente de vinhos e gastronomia.
como nos confidenciou Edgar Gouveia, um dos mentores e organi- Na zona “Chef’s Stage” estarão em ação cozinheiros nacionais,
zadores do evento: “No próximo ano queremos ter muitos mais pro- muitos deles com estrelas Michelin. O público poderá assistir a
dutores de vinho, alargar o Wine and Music Valley a outras regiões momentos gastronómicos ao vivo com “live show-cookings” e
de Portugal e, inclusive, internacionalizar o evento. Para a segunda degustações num palco totalmente dedicado à gastronomia.
edição vamos convidar uma região a estar representada aqui no Quanto ao importante espaço “Wine Village”, promete acolher mais
Douro, mas neste momento ainda não posso revelar qual será. E de uma centena de produtores de vinho do Douro – e também pro-
também estamos a trabalhar para levar o Wine and Music Valley dutores da região convidada, a divulgar oportunamente. Haverá
para fora de Portugal, para regiões vitivinícolas de outros países, ainda uma área de “hospitality” com camarotes para grupos e
designadamente Espanha. Já temos alguns contactos estabelecidos, empresas, com serviço exclusivo e personalizado, e um espaço dedi-
e há mesmo regiões de Espanha, França e Itália que vieram ter con- cado a experiências vínicas e sensoriais, desde provas de vinhos a
nosco depois do sucesso do ano passado”. tratamentos de vinoterapia, ou à possibilidade de experimentar a
O certame vai continuar a ter o apoio determinante e decisivo do pisa de uvas, recriando assim momentos da vindima.

54 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


Para ver e ouvir
CERVEJAS

texto Luís Alves / notas de prova Luís Alves e Marc Barros / fotos Ricardo Garrido

Uma Nortada
de ar fresco

Toda a gente lhe conhece o nome. Chegou ao mercado com força: na


comunicação, na marca, no volume e até na fábrica, bem no centro do Porto,
para que toda a gente a visse. Apesar do ano difícil, em 2020 está a lançar 12
cervejas, uma por cada mês. E tem planos para os próximos anos.

“Foi um projeto sacado a ferros”, começa por dizer Pedro Mota, um projeto desta dimensão, temos obrigatoriamente de ter volume.
CEO da Nortada. Não é para menos, sobretudo quando se olha à São três milhões de euros investidos inicialmente, a que se juntaram já
dimensão da cervejeira, do projeto e do investimento ali concretizado, seguramente mais dois milhões de euros em melhorias. Não podemos
no centro do Porto, na Rua de Sá da Bandeira. “A ideia surgiu em 2013, fazer cervejas de nicho”, remata. Com o portefólio base bem assente,
minha e de um sócio que agora já não está connosco. Trabalhávamos em velocidade cruzeiro, as cervejas para públicos restritos podem até
em empresas não ligadas ao setor mas que tinham negócios com cer- surgir e isso já vem acontecendo. “Este ano, por exemplo, estamos a
vejeiras. E vimos ali uma oportunidade”, recorda o empresário que lançar uma cerveja em cada mês. Pequenos lotes experimentais. Se
imaginou uma cervejeira artesanal profissionalizada e com uma visão forem bem recebidas, avançamos para produções maiores”, conta o
de mercado bem definida. O próximo passo foi o desenho do plano cervejeiro que tem como exemplo mais bem-sucedido a “Obrigado”.
de negócio e um posterior “roadshow” para angariar capital. “Foi um Uma cerveja feita em parceria com a Dott, de agradecimento aos pro-
processo que demorou quase dois anos. Fizemos dezenas e dezenas fissionais de saúde que estiveram na linha da frente da pandemia e
de apresentações do projeto a pessoas muito diferentes. Da indústria cujos lucros revertem totalmente para a Cruz Vermelha Portuguesa.
à restauração, passando por áreas totalmente alheias. Portugueses e
estrangeiros. E no final do verão de 2015 tínhamos já 75% do capital A cerveja como o vinho
desejado – cerca de três milhões de euros – que ficaram totalizados
no final desse ano. Depois foi tempo de finalizar o plano de negócios, Pedro Mota vê muitas semelhanças no caminho da cerveja artesanal
levantar o capital, criar uma sociedade anónima com a entrada dos dos últimos anos e o do vinho nos anos 90 e início dos anos 2000.
sócios e arrancar finalmente com o projeto, passando do papel para “Em Portugal, um país de vinho, tínhamos algumas marcas de topo.
um prédio inteiro no Porto”. Com a evolução tecnológica e de conhecimento, passamos a ter cen-
tenas de marcas de topo, com vinhos extraordinários. A cerveja está a
Bairrista mas não tanto fazer esse caminho. A concorrência aumentou, o número de marcas
também, com mais técnica e conquista de mercados”, refere.
A regionalidade da Nortada termina quando o objetivo de ter uma No próximo ano, espera-se da Nortada um caminho um tanto dife-
boa base local está cumprido. “Sabemos que muitas marcas de cerveja rente dos últimos anos. O portefólio fixo e de massas mantêm-se mas a
artesanal, para se estabelecerem, têm uma base sólida associada a uma experimentação vai ter um lugar mais visível. “Queremos fazer crescer
cidade ou a um local. A Nortada é do Porto e é identificada como tal alguns projetos considerados hoje de nicho. Se funcionarem bem,
mas somos também do resto do país”, explica Pedro Mota. “O Porto passam para a nossa linha ‘mainstream’, explica Pedro Mota que vê
tem um bairrismo reconhecido e isso ajuda-nos a criar a marca. Mas a necessidade de formar públicos. A pensar também nisso, e a vários
repare: somos Nortada. E nortada temos de Valença até Sagres, o tão níveis de educação, a Nortada estabeleceu uma parceria com a Escola
tradicional vento fresco que se faz sentir na praia”, sublinha. Superior de Cerveja e Malte, de Santa Catarina, no Brasil. “Temos
A Nortada veio então agitar águas com cinco cervejas iniciais, espe- um colaborador nosso que foi professor lá e percebemos que havia o
cialmente feitas para serem “entradas de estilo”, isto é, são cervejas desejo desta reconhecida escola entrar na Europa. Viram em nós, pela
artesanais, sim, mas acessíveis. Pedro Mota dá o exemplo da IPA da dimensão, um bom parceiro e vamos ter cursos de vários tipos e para
marca, feita para principiantes. “É a nossa segunda cerveja mais ven- públicos diversos, dos mais amadores até aos mestres cervejeiros, com
dida, depois da Lager, e trata-se de uma IPA bebível. Ou seja, uma cer- aulas práticas na fábrica da Nortada”, anuncia Pedro Mota.
veja para quem vem das industriais não sentir um choque brutal. Com

56 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


CERVEJAS

NOTAS DE PROVA CERVEJAS

16,5 16,5 16,5 16 16 15,5 15


Brown Porter Imperial Indian Pale Dark Lager Vienna Lager Lager Weiss Bier
Castanho marron. Stout Ale Cor quase opaca, Cor acobreada, Cor acobreada. Cor âmbar, com
Espuma bege, Espuma densa, Espuma persistente, negra. Espuma âmbar. Aroma muito Espuma média, pouca espuma.
pouco persistente. textura persistente. cor dourada. pouco persistente característico com notas claras Notas vegetais e de
Notas de grão Notas de café Fresca no nariz e castanha. de cevada, do cereal. Corpo lúpulo. Fresca na
de café e lúpulo. e chocolate. e na boca. Bom Notas clássicas acompanhado de médio, refrescante boca, corpo leve e
Conjunto fresco Aroma intenso volume de boca e maltadas de café notas florais. Na mas final algo curto. final muito suave e
e equilibrado, que preenche cremosidade. Final e torrefação. boca, notas do 5% álcool curto.
com textura a boca. Malte amargo e intenso, Corpo médio, cereal. Cerveja 18 IBU 5,3% álcool
cremosa e final torrado. Também a notarem-se os 80 amargor fresco. consensual. 8 IBU

1 2 3 4 5 6 7
salivante. Muito com aptidão de IBU. Final marcado Acompanha bem à
gastronómica. gastronómica. uma vez mais mesa.
6,0% álcool
4,8% álcool pelo café. Pendor 5,2% álcool
8,5% álcool 50 IBU
30 IBU gastronómico. 22 IBU
30 IBU
5,0% álcool
20 IBU

Um restaurante, um bar e uma fábrica


visível a todos. Tudo num edifício da
Rua de Sá da Bandeira, no centro do
Porto. Um projeto diferente, arrojado,
com um plano de negócios e de
crescimento ambiciosos.

SOBRE A COMUNICAÇÃO DA MARCA

A comunicação descontraída e leve da marca é um


dos traços distintos da Nortada. Pedro Mota explica
que “ligeireza” tem de ser a palavra de ordem pelo
percurso que tiveram. “Foi um projeto difícil, pensado em
2013, com uma angariação longa de capital, com uma
fábrica no centro da cidade, com todas as dificuldades
atreladas, com muitas licenças necessárias e muitos
obstáculos. Se não temos uma comunicação interna e
externa ligeira e divertida, então seria muito pior”, afirma
o empresário que recorda o assalto à Fábrica que gerou
um post nas redes sociais que ficou na memória de
muitas pela singularidade. Transcrevemos abaixo:

“E não é que fomos assaltados outra vez?! Tal como


é habitual, queremos deixar esta mensagem ao Sr.
Assaltante: Já avisamos da última vez mas não deves ter
visto. Da próxima vez que quiseres uma Nortada, basta
enviares um email para vendas@fcportuense.pt ou ir a
dott.pt para comprar a nossa cerveja. Não precisas de
partir nada e até entregamos em tua casa. Obrigado
NORTADA por não teres levado as galochas da malta, mas o Bitó
R. de Sá da Bandeira, 210 ficou triste de lhe teres levado o computador. Ele diz que
4000-427 Porto podes ficar com ele, apenas pede encarecidamente que
T. 22 018 1000 não sejam divulgadas as fotos da pasta “Verão 2016”.
S. www.cervejanortada.pt Obrigado!”
Pedro Mota, CEO da Nortada

outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 57


Para ver e ouvir
REPORTAGEM

texto José João Santos, Marc Barros / nota de prova Nuno Guedes Vaz Pires / fotos Ricardo Garrido e Arquivo histórico Sogrape
BARCA-VELHA O zénite da enologia portuguesa

Será o Barca-Velha o sonho que qualquer enólogo gostaria de viver?


Se o tivéssemos provado em 2013, o 2011 já seria um vinho com a monumentalidade de hoje?
O novo leão, como o autor o define, é a 20ª edição do mais icónico rótulo português, para muitos a
aspiração maior de prova numa vida. Recuperamos a história e outras estórias, detalhamos castas
e vinificação, parcelas de vinhas e curiosidades que tais. E concluímos – a par da natureza é a
confiança e a cumplicidade entre pessoas que ajuda a tornar sonhos promissores em obras maiores…

Os irmãos Fernando e Manuel Guedes com o enólogo Luís Sottomayor


BARCA-VELHA

Há quem diga que o Barca-Velha é um vinho caro. Quanto custa um Apesar da importância muito significativa que o lançamento do
Rolls-Royce ou um Aston Martin? Quanto pagamos, afinal, por um Barca-Velha assume na Sogrape, a decisão final cabe sempre aos enó-
grande ícone mundial de Bordéus, da Borgonha ou de Champagne? logos. “Nunca o Luís está pressionado, não é isso que nos move”, diz-
O mercado, sempre o mercado, tratará de estabelecer o preço final -nos Fernando da Cunha Guedes, o presidente da Sogrape. “O que nos
do mais icónico vinho tranquilo português, que representa a con- move e preside e a excelência do vinho”, complementa.
cretização do sonho de uma mente tão inquieta quanto genial – a de O Barca-Velha é uma espécie de cereja no topo do bolo, mas não é
Fernando Nicolau de Almeida. mais importante que outros. O líder da Sogrape lembra tratar-se de
O enólogo criador do Barca-Velha começou a imaginá-lo ainda um vinho nascido a partir da paixão de um enólogo e recorda outro
nos anos 40 do século XX. Há livros que aprofundam o tema, mas o caso de sucesso, nascido de outra paixão. O Mateus, o mais popular
maior segredo enológico, numa altura em que o Douro não só parecia vinho português à escala global, foi curiosamente também pensado
como verdadeiramente estava mais longe e quase inacessível do Porto, nos anos 40 do séc. XX, tal como o Barca-Velha, na altura pelo avô,
esteve na refrigeração. Os blocos de gelo transportados em camiões a Fernando van Zeller Guedes.
partir da Lota de Matosinhos foram a chave que descodificou muitos
dos processos de controlo de fermentação e temperatura das uvas O ritual e a eterna questão
que, naquele tempo, estavam sobretudo pensadas para o Vinho do
Porto. Saber esperar pode ser desesperante, mas no caso do vinho é quase
Há a história e as estórias que se contam a pretexto de um vinho sempre virtuoso. E os grandes vinhos precisam de tempo, mere-
que se afirmou para lá disso, elevando-se ao patamar de mito. Luis cem-no.
Sottomayor, o atual enólogo, relembra a de um fantasma, um padre Estará aí uma das razões pelas quais o Barca-Velha também é espe-
sem cabeça, que um dia terá tentado estrangular o então encarre- cial, na medida em que são cada vez mais raros os vinhos lançados
gado dos armazéns de Vila Nova de Gaia, numa noite de vindimas no após sete, oito ou nove anos sobre a colheita. As 33.766 garrafas da
Douro, na Quinta do Vale Meão, então pertença da Casa Ferreirinha. edição 2011 (um número bastante apreciável para a realidade portu-
Terão sido os vapores do Barca-Velha a criar o dito padre? guesa dos vinhos de qualidade excecional) foram engarrafadas no dia
Três, somente três enólogos são até hoje os criadores do Barca- 6 de maio de 2013, após cerca de 18 meses de estágio em barricas de
Velha: Fernando Nicolau de Almeida, o mentor de um vinho cuja carvalho francês. Ora, se à partida já estaríamos perante um grande
primeira colheita é de 1952 (os livros de registos apontam 17 meias vinho, imagine-se a dimensão alcançada com este tempo de espera. Se
pipas de 225 lts.); José Maria Soares Franco, o continuador do sonho o tivéssemos provado em 2013, o Barca-Velha 2011 já seria um vinho
e que decisivamente o ajudou a afirmar por diferentes edições; e Luis com a monumentalidade de hoje?
Sottomayor, que ainda conheceu o mestre ao entrar na empresa, em O que impressiona igualmente nesta 20ª edição é perceber o
1989, que durante anos trabalhou ao lado de “Zé Maria” e que agora, notável caminho que ainda tem a percorrer. Sim, haverá certamente
aos 57 anos, assina o segundo Barca-Velha de plena responsabilidade mais uma década e meia de evolução tranquila e sem sinais de can-
(depois de participar na elaboração do 2000 e de ter elaborado o saço, o que será dos melhores elogios que um vinho já com nove anos
2008). pode merecer.
O ritual da declaração, garantem-nos, mantém-se. Quando entende
O leão que é a estrela ter chegado o momento, o enólogo do Barca-Velha reúne a adminis-
tração da Sogrape num almoço para anunciar en primeur a existência
Desafiado a explicar o novo Barca-Velha 2011, Luis Sottomayor de uma nova raridade.
estabelece uma curiosa analogia com o rei da selva. “Equiparo o 2011 Um elogio ao Douro, um embaixador do que de melhor os vinhos
a um leão porque é um animal com carácter, personalidade, que sabe portugueses podem demonstrar. Os portugueses, aliás, são dos pri-
o que vale. Respira confiança, personalidade, carácter, é um vinho que meiros a percebê-lo e constituem o principal mercado. Seguem-se os
impõe respeito”, observa. Estados Unidos, o Reino Unido e o Brasil, este último também com
É um ano de exceção, onde tudo pareceu perfeito no Douro. Não só carinho histórico pela marca.
os DOC são memoráveis como também os Porto Vintage 2011 foram Será o Barca-Velha o zénite ou o apogeu da enologia, o sonho vivo
aclamados de pé pela crítica internacional. O inverno mostrou-se que qualquer enólogo gostaria de vivenciar? Quando a Revista de
frio e chuvoso, mas pouco choveu desde o final da primavera até ao Vinhos desafiou os irmãos Fernando Cunha e Manuel Guedes a jun-
início do outono (sendo que nos dias 21 de agosto e 1 de setembro tarem-se a Luis Sottomayor numa barca velha, saindo da Ribeira de
foram contabilizados 35 e 40 mm de pluviosidade, respetivamente). Aguiar para o rio Douro com a Quinta da Leda em fundo, percebemos
O lote do vinho aliou Touriga Franca (45%), Touriga Nacional (35%), que a par da natureza é a confiança e a cumplicidade entre pessoas
Tinto Cão (10%) e Tinta Roriz (10%), uvas da Quinta da Leda, em que ajuda a tornar sonhos promissores em obras maiores.
Almendra, Douro Superior, que desde meados dos anos 80 garantem
a matéria-prima essencial para o vinho.
A parcela de vinha Apeadeiro, debruçada sobre o rio, contribuiu
decisivamente para fazer do 2011 uma edição de colecionador. São CASA FERREIRINHA
5,6 hectares de Touriga Franca, que ali se expressa de forma exemplar, R. Carvalhosa 19 / 4400-032 Vila Nova de Gaia
conjugando notas florais elegantes a uma estrutura à prova de bala. T. 223 746 106 / 07/ 08
“Nunca tive dúvidas sobre a qualidade, a evolução em barrica e o M. 937 850 335 / E. ferreira.visitors@aaferreira.pt
lote final”, garante Luis Sottomayor.

60 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


O enólogo criador do Barca-Velha
começou a imaginá-lo ainda nos
anos 40 do século XX. O maior
segredo enológico, numa altura em
que o Douro não só parecia como
verdadeiramente estava mais longe e
quase inacessível do Porto, esteve na
refrigeração.

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 61


BARCA-VELHA

Fernando Nicolau de Almeida ladeado pelos seus colaboradores, no início da década de 90:
Adelino Carvalho, José Maria Soares Franco, Carlos Machado, Manuel Vieira, Luís Sottomayor e António Graça.
BARCA-VELHA

Somente três enólogos


são até hoje os criadores
do Barca-Velha: Fernando
Nicolau de Almeida, José
Maria Soares Franco e
Luis Sottomayor, que ainda
conheceu o mestre ao entrar
na empresa, em 1989.
DAS UVAS SE FAZ O VINHO
O Barca-Velha nasce das castas recomendadas
da Região Demarcada do Douro, como Touriga
Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinto Cão.
Originalmente, as uvas para este vinho tão especial
provinham da Quinta do Vale Meão, bem como de
outras vinhas de diferentes altitudes, tendo sempre em
consideração o perfil e a qualidade de cada vindima.
Porém, e no sentido de assegurar a quantidade e
qualidade de matéria-prima tida como necessária, a
A.A. Ferreira decide erguer de raiz a Quinta da Leda,
em Almendra, que oferece diferentes exposições e
altitudes. Hoje, são as uvas provenientes desta quinta
que asseguram o carácter, perfil e qualidade de cada
Barca-Velha. A natureza, já se sabe, faz o resto.

O ALQUIMISTA
A grande inovação que surgiu com o primeiro Barca-Velha –
e todos quantos se seguiram – foi o controlo da fermentação
das uvas, sobretudo no que respeita à temperatura.
Sublinhe-se que, à data, não existiam mecanismos para
controlo de temperatura na fermentação ou estágio, sendo
que, na adega do Vale Meão, foi implementada tecnologia
originária de França, que permitia a remontagem por bomba
em cubas, então em madeira. Quanto à temperatura… Bem, o
transporte de gelo de Matosinhos para o Pocinho assegurava
a fermentação alcoólica nos níveis desejados. Deve ter sido
monumental vislumbrar a edificação dessa ‘geringonça’…
João Nicolau de Almeida recorda os tempos em que o pai,
qual alquimista, trazia para a mesa duas garrafas do mesmo
vinho, a temperaturas diferentes, para obter aquela que
considerava ideal: “Até fazia fumo!”, lembra.
foto Sérgio Ferreira
BARCA-VELHA

EDIÇÃO CONTRA FALSIFICAÇÕES


Apesar da importância muito
Já se sabe que a reverência em torno
da marca Barca-Velha torna-a uma das significativa que o lançamento
mais apetecíveis para falsários e burlões. do Barca-Velha assume na
Não é demais recordar quando a ASAE
Sogrape, a decisão final cabe
levou a cabo as chamadas ‘Operações
Premium’, através das quais apreendeu sempre aos enólogos. “Nunca
vários exemplares falsificados, embora o Luís está pressionado, não
em quantidades limitadas, no ‘freeshop’ é isso que nos move”, diz-nos
do aeroporto de Lisboa e em várias
garrafeiras do país. Mais recentemente,
Fernando da Cunha Guedes.
nova apreensão, de 16 garrafas de Barca-
-Velha dos anos 1981, 1985, 2000 e 2004.
No sentido de assegurar a autenticidade de
cada garrafa, o Barca-Velha 2011 inclui um
selo desenvolvido pela Imprensa Nacional
Casa da Moeda, colado sobre a cápsula e o
vidro, no gargalo da garrafa, que combina
um conjunto de tecnologias que podem
facilmente atestar a sua autenticidade com
um leitor de QR Code ou código de barras.
Noblesse oblige…

VERDE TINTO OU BARCA-VELHA?


Os mitos em torno de um vinho tão icónico
são, por vezes, difíceis de desfazer. É sabido
que o enólogo chefe da A.A. Ferreira,
Fernando Nicolau de Almeida, acalentava o
sonho de elaborar um tinto de classe mundial.
E chamou Émile Peynaud, renomado
professor da Universidade de Enologia de
Bordéus, para provar os seus… verdes tintos.
Segundo conta João Nicolau de Almeida, o pai
aproveitou para mostrar ao enólogo francês
os vinhos tintos experimentais do Douro.
Hoje não é difícil adivinhar em quais Peynaud
terá aconselhado o amigo a concentrar-se...
BARCA-VELHA

20
Barca-Velha 2011
Douro / Tinto / Sogrape Vinhos
O retrato de um grande ano.
Impressiona pela juventude de
aromas, pela frescura aromática,
pela alegria da fruta. Cereja, ameixa,
groselha preta, mina de lápis e cedro.
Tremendo equilíbrio entre taninos e
acidez, estrutura imensa, elegância
absoluta, impressionante capacidade
de guarda que promete. Um vinho
excepcional. O prazer do detalhe,
a sofisticação da alta costura. A
delicadeza e harmonia assentes
num corpo musculado. A frescura
nascida em terra quente. A busca da
excelência. A expressão intensa de
um terroir, de um pedaço de terra, do
trabalho do homem. Eventualmente, a
melhor edição do Barca Velha.
Consumo: 2020-2035 / 250,00 € *
/ 16ºC
*preço de lançamento no Sogrape
Clube Reserva 1500

RÓTULO DE TAPEÇARIA
A intervenção do criador do
Barca-Velha não se ficou
pelo vinho em si. Todos os
pormenores, incluindo o desenho
do rótulo, foram de sua iniciativa.
Inspirado numa tapeçaria de
Cluny ainda hoje patente nas
paredes da Ferreira e cujos
motivos estão relacionados com
a vivência do vinho, Fernando
Nicolau de Almeida pediu ao
amigo, o artista José Menezes de
Almeida, o desenho do rótulo que
o próprio Nicolau de Almeida
viria a colorir. Já o nome atribuído
ao vinho surgiu de uma velha
barca na qual se atravessava o rio.

AS 20 EDIÇÕES BARCA-VELHA:
1952, 1953, 1954, 1955, 1957, 1964,
1965, 1966, 1978, 1981, 1982,
1983, 1985, 1991, 1995, 1999,
2000, 2004, 2008… 2011.

66 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


DAS MELHORES UVAS NASCEM OS MELHORES VINHOS.
FROM THE FINEST GRAPES COMES THE FINEST WINES.
Para ver e ouvir
REPORTAGEM

texto e notas de prova Guilherme Corrêa / fotos Fabrice Demoulin

A Quinta da Lapa abriu as suas portas para a CVR Tejo mostrar


a um grupo de profissionais, através de diversas experiências
com a casta, por que razão apostar no Fernão Pires como o
elemento diferenciador da região.
Expressões da casta
Fernão Pires
no Tejo
FERNÃO PIRES

Neste cenário extremamente competitivo e recessivo imposto em à falta de água e o stress excessivo pode levar à queda de folhas e
2020, com o canal Horeca em baixa como nunca antes se viu, com passificação dos bagos. Curiosamente, ao comer a uva, não se sente a
novas formas de consumir e comprar vinhos a consolidarem-se com mesma intensa carga aromática dos vinhos. Sente-se, de facto, que a
imensa intensidade e velocidade, torna-se muito importante reagir acidez não é uma marca registada da casta. É, no máximo, equilibrada,
rapidamente e mostrar a diferença. A CVR Tejo mostrou que está pre- e deve-se ter muita atenção para o “timing” da vindima, de acordo com
parada para os novos desafios, já que tem crescido vertiginosamente a tipologia de vinho pretendida.
na certificação de vinhos, nas vendas na grande distribuição, onde O Tejo não é uma região só, são no mínimo três. A região pode sur-
aliás sempre esteve bem representada, e também no mercado externo, preender quem a explora com três terroirs absolutamente distintos,
com um crescimento de mais de 30% neste ano em face ao anterior, que originam vinhos com perfis muito diferentes, inclusivamente de
sobretudo nos mercados do Brasil, Suécia (90% de vinhos brancos), Fernão Pires: o Bairro, o Campo e a Charneca. Em resumo, o Bairro
França, Polónia e China. está a este e norte do rio, na margem direita, com solos argilo-calcá-
Este trabalho desenvolvido conjuntamente com os produtores e rios, e protegido pela Serra de Montejunto a este, e pelas serras de
bem sustentado em números fornecidos pela Wine Intelligence, surte Aires e Candeeiros a norte. Há uma mancha de xisto perto de Tomar,
efeito e coloca a região, por vezes ainda estigmatizada no mercado muito particular. Aqui predominam os tintos, os rendimentos são
interno como “condenada a elaborar bons vinhos de combate”, num médios, mas há um bom potencial para obter Fernão Pires com ele-
outro patamar de credibilidade, diferenciação e, consequentemente, gância e potência, sapidez mineral e acidez muito equilibrada.
de vendas. No Campo estão as terras mais férteis em torno do leito do rio Tejo.
Dentro deste espírito de fazer o Tejo acontecer com base nas mais- Como a região foi afetada por inundações periódicas, além dos solos
-valias que tornam a região única, vários profissionais do vinho de aluviais, a fertilidade é maior, a disponibilidade de água idem e, con-
diversos segmentos estiveram numa antiga - mas plenamente reestru- sequentemente, a produtividade atinge níveis muito altos. Nessa zona
turada e dinâmica - Quinta da Lapa, para uma imersão ao mundo da as manhãs são húmidas, com nevoeiro junto ao rio, as tardes muito
casta Fernão Pires. Além de um enquadramento sobre a região viti- quentes e as noites frescas. Com estas características, predominam
vinícola do Tejo e sobre a Quinta da Lapa, o dia foi enriquecido com os brancos no Campo, principalmente a Fernão Pires, com 60% da
uma experiência de campo de forma a percebermos a casta de perto, produção. O estilo é de carácter menos tropical, mais citrino e algo
vindimar e provar as uvas, antes de passarmos à prova de 13 vinhos de herbal, com a boca mais esguia e maior frescura, menos estrutura e
tipologias, estilos e ‘targets’ diferentes. Finalizamos com um almoço persistência.
harmonizado que incluía o vinho e as próprias uvas Fernão Pires em A Charneca está ao sul e sudeste do rio, na sua margem esquerda,
alguns dos pratos assinados pelo talentoso chefe André Magalhães e possui solos arenosos, menos férteis, com maior drenagem e uma
(Taberna da Rua das Flores) e pelos queijos incontornáveis de Adolfo situação climática mais árida, quente. Tudo a concorrer para um maior
Henriques (Granja dos Moinhos). stress das plantas, menores rendimentos e maior concentração nas
uvas e vinhos. Brancos e tintos nascem na Charneca e, possivelmente,
Fernão Pires, uma aposta certeira os Fernão Pires mais exuberantes, tropicais, carregados de extrato,
com acidez moderada, aquilo que se espera desta casta opulenta.
Não se sabe bem qual Fernão Pires foi homenageado com essa Nas adegas discute-se muito sobre a plasticidade da Fernão Pires.
casta, mas o certo é que é bastante antiga e foi provavelmente levada Apesar de ter alguma propensão à oxidação, de certa forma é uma
da Bairrada - onde há maior diversidade morfológica - para o Tejo casta moldável e gera uma panóplia de expressões de vinho na região:
no séc. XVIII, onde desenvolveu um carácter sem igual. Não que o frisante, espumante, branco ligeiro, branco estruturado, branco barri-
seu “alter ego” Maria Gomes não proporcione vinhos vincados mais a cado, “laranja”, colheita tardia e abafado, sem falar nos vinhos de lote.
norte, mas a Fernão Pires do Tejo é bem mais exuberante, aromático e Essa versatilidade é ovacionada por muitos produtores como o grande
gordo quando se quer, mais fidedigna àquela imagem que construímos trunfo da Fernão Pires. Mas será que todas as tipologias que gera
ao ler um manual de castas portuguesas. fazem sentido, sendo uma casta tão aromática e de acidez moderada?
Os números da Fernão Pires são também generosos: é a quarta As características organoléticas da Fernão Pires permitem clas-
variedade mais plantada do país, após a Aragonez, a Touriga Franca e sificá-la como uma casta aromática. A exuberância olfativa revela
a Touriga Nacional, e a campeã das castas brancas. Cobre 7% da nossa citrinos, da lima verde à laranja muito madura, frutas tropicais como
área plantada, cerca de 13.700 hectares. No seu adorado Tejo, repre- a manga, o maracujá, a goiaba e o ananás, exóticas como a líchia, flores
senta 30% do encepamento total e 80% das castas brancas, o que de citrinos, madressilva, tília e mimosa, especiarias como o louro,
corresponde a 3.750 hectares. Na reestruturação das vinhas do Tejo toques almiscarados e, finalmente, as notas mais verdes de ervas aro-
foi a uva mais plantada: 350 num total de 1.500 hectares. máticas. De modo geral a boca é rica, untuosa, com o lado da maciez a
Na vinha pudemos constatar que a precoce Fernão Pires, uma ser equilibrado no limite pela acidez moderada e uma sapidez mineral
das primeiras castas a brotar e amadurecer em Portugal, é bastante muito bem-vinda em algumas zonas específicas.
produtiva, e a poda mais curta pode compensar o facto dos brotos Entre milhares de castas espalhadas pelo mundo, não são muitas
basais serem muito férteis. Os cachos são cónicos e alados, médios a concorrer com a Fernão Pires neste perfil. Podemos elencar
em tamanho, e os bagos são pequenos, verde-amarelados, a película algumas delas: a família mais ampla da Muscat Blanc à Petit Grains
de espessura média e a polpa mole. A planta é extremamente sensível (Moscatel Galego) e Moscatel de Alexandria (Moscatel de Setúbal),

70 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


Sílvia Canas da Costa e José Guilherme da Costa

O Tejo não é uma região só,


são no mínimo três. A região
pode surpreender quem a
explora com três terroirs
absolutamente distintos, que
originam vinhos com perfis
muito diferentes, inclusivamente
de Fernão Pires: o Bairro, o
Campo e a Charneca.

Jaime Quendera
André Magalhães Igor Beron

Luís de Castro

Rodolfo Tristão Guilherme Corrêa


FERNÃO PIRES

A aromaticidade da cozinha
indiana, chutneys, ou um belo
caril de gambas goês, pedem
Fernão Pires! Queijos muito
perfumados e amanteigados
casam maravilhosamente
Gewürztraminer, Torrontés da Argentina bem com um Gewüztraminer, séc. XII. É ali que a Quinta da Lapa escreve
(nas suas três versões), Müller-Thurgau e a sua própria história secular, adquirida pelo
outras curiosidades como a Moschofilero como é o caso do Munster influente D. Lourenço de Almeida em 1706,
grega e Cserszegi Fűszeres húngara. Durante ou Reblochon, e não deverá futuro governador de Pernambuco e Minas
as últimas décadas o Tejo obteve êxito com Gerais no Brasil e um apaixonado pela pro-
vinhos de estilo e castas internacionais,
ser menos bem sucedida a priedade, dando-lhe em 1733 uma nova adega
de excelente relação qualidade/preço - e o harmonia nas alturas de um e vinhas plantadas com castas autóctones,
mundo pedia exatamente isso. Nos últimos para suprir o mercado de Lisboa e não só.
anos, com o recrudescimento da competição
Serra da Estrela ou de um Com quase 300 anos de vitivinicultura, inter-
neste cenário de pandemia, os consumidores Azeitão com belos exemplares rompida por um momento pela determinação
do mundo inteiro e uma nova geração de do Marquês de Pombal em arrancar as vinhas
milennials pedem vinhos únicos no caráter,
da casta branca estrela do Tejo. do Tejo em 1756, como forma de proteger a
de uvas autóctones, irreplicáveis. A observar autenticidade do Vinho do Porto, mereceu
como os outros países trabalham as suas castas aromáticas, não é um novo capítulo em 1989.
difícil constatar que buscam a pureza máxima da sua expressão: sem Ao ser comprada por José Guilherme da Costa sofreu a sua segunda
uso de madeira como tempero, sem malolática, sem autólise prolon- grande reforma, com replantio das vinhas e construção de uma adega
gada nos espumantes, ou seja, sem deixarem os processos oblite- moderna, dotada das melhores tecnologias de vinificação da altura.
rarem a singularidade destas castas aromáticas, seja num inebriante Em 2011, foi inaugurada uma vertente importante de enoturismo,
Gewürztraminer dos solos mais argilosos do Haut-Rhin em Alsácia, o Quinta da Lapa Wine Hotel, maravilhoso trabalho de restauro e
num delicado espumante à base de Moscato Bianco do Piemonte valorização de um conjunto arquitetónico único, a promover expe-
em Itália, ou um sedutor Moschofilero de Mantíneia no Peloponeso. riências vínicas e rurais diversas.
Nesta ótica, será que todos os estilos gabados à Fernão Pires são Visitamos o hotel ao lado da filha do proprietário José Guilherme da
necessários e diferenciadores? Ou é melhor fazer uma aposta cer- Costa, a arquiteta Sílvia Canas da Costa, que esteve à frente de toda a
teira e deixar a sua natureza aromática expressar-se sem maquilha- reforma da quinta, que nos e apresentou a impressionante estrutura
gens, revelar a sua beleza exótica e tão particular, justamente o que da nova adega, pronta em 2019 para melhorar ainda mais as condi-
o mundo quer? ções de trabalho e promover um aumento de produção da empresa.
Por fim, cabe ressaltar a grande destreza da Fernão Pires à mesa. O experiente enólogo consultor Jaime Quendera, no comando desde
Os sommeliers de todo o mundo adoram e necessitam de vinhos 2007, resumiu-nos o que a Quinta da Lapa tem de único em termos
aromáticos, nos seus diversos níveis de elegância e potência - mas de terroir, para além da sua rica história tricentenária.
não a tentar ser o que não são na sua essência -, para pairings com A cota de 100 metros de altitude não impressiona, mas as vinhas
pratos perfumados. As cozinhas baianas ou capixabas do Brasil, com da quinta são das mais altas do Tejo. Com a Serra de Montejunto à
suas moquecas e bobós, por exemplo, maridam divinalmente com vista, e o mar a 30 kms. das videiras, ancoradas em solos argilo-calcá-
Torrontés da Argentina ou Fernão Pires. Pratos tailandeses, viet- rios típicos do Bairro, os seus vinhos são marcados inexoravelmente
namitas e chineses então, nem se fala. A aromaticidade da cozinha por uma acidez mais viva e um grande potencial de envelhecimento.
indiana, chutneys, ou um belo caril de gambas goês, pedem Fernão Jaime e o enólogo residente Jorge Ventura querem justamente poten-
Pires! Queijos muito perfumados e amanteigados casam maravilho- ciar este carácter particular de frescura dos vinhos da Quinta da Lapa
samente bem com um Gewüztraminer, como é o caso do Munster e apostar nas castas e tradições antigas do Tejo, com a melhor tecno-
ou Reblochon, e não deverá ser menos bem sucedida a harmonia nas logia a ajudá-los.
alturas de um Serra da Estrela ou de um Azeitão com belos exem- Recentemente lançaram inclusive um Fernão Pirão, a versão de
plares da casta branca estrela do Tejo. “orange wine” outrora famosa na Charneca, a partir de uvas muito
maduras, de altíssimo álcool potencial, trabalhadas com curtimenta
Quinta da Lapa, um Tejo de frescura para obter “um branco com alma de tinto”. A versão actual é muito
mais elegante, a começar pelo rótulo, mas é um caminho interessante,
O Cartaxo, no terroir do Bairro, insere-se na história do vinho por- ligado à tradição, de revelar o lado aromático único e inebriante da
tuguês com provas documentais de produção e exportação desde o casta, à máxima potência.

@revistadevinhos setembro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 73


FERNÃO PIRES

Prova abrangente é absolutamente deliciosa, rica sem


enjoar, extremamente equilibrada
16 herbais. Bom volume e precisão. A
boca é de média estrutura, muito
de Fernão Pires entre fruta madura, doçura e Escaravelho Castas FP equilibrada entre untuosidade e
Provaram-se uma série de
frescura. Uma versão de Fernão 2019 frescura, agradável e perfumada
Pires de êxito e que faz total sentido. persistência.
tipologias, preços e estilos de Tejo / Branco / Escaravelho
Consumo: 2020-2025 / 12,99€ / 11ºC Consumo: 2020-2024 / 3,39€ / 11ºC
Fernão Pires, alguns mais bem Wines
conseguidos que outros, com
— —
Zona Bairro (Cartaxo). Limão médio
uma excelente coordenação e na cor. Expressão tropical mais
muitas informações relevantes
16,5 contida, aqui os citrinos falam 15,5
fornecidas pelo escanção e Encosta do Sobral Vinhas mais alto, vinho que convida a Quinta do Casal
consultor Rodolfo Tristão e pelo Velhas Fernão Pires 2019 percebê-lo, ao invés de entregar Monteiro Grande
tudo de imediato. Grande corpo,
diretor-geral da CVR Tejo, João Tejo / Branco / Santos e Seixo Reserva 2018
sente-se o calor alcoólico, mas a
Silvestre. Zona Bairro (xistos de Tomar). Limão acidez é impressionante, aliada a Tejo / Branco / Quinta do Casal
brilhante. Expressão muito bem um componente fenólico que traz Monteiro
conseguida de Fernão Pires pura textura e equilíbrio.
17,5 e elegante, com laranja, limão e Consumo: 2020-2024 / 12,90€ / 11ºC
Zona Campo (entre Santarém e
Almeirim). Limão intenso. Que pena
1836 Grande Reserva toranja, e sedutoras impressões
— o excesso de madeira a encobrir
florais já nas notas de saída. Enche
2017 todo o carácter da Fernão Pires! O
Tejo / Branco / Companhia das
a boca com a riqueza de textura
e perfume, sem enjoar. Final de
16 nariz traz coco, eucalipto e madeira
de sauna. Sente-se que há textura e
Lezírias boa qualidade e persistência. Um Quinta da Lapa Fernão
qualidade na matéria-prima, mas o
Zona Charneca. Limão intenso. clássico exemplar da casta. Pirão 2019 carvalho precisa ser digerido com o
Expressão de fruta de muita Consumo: 2020-2023 / 13,99€ / 11ºC tempo, se é que será. A pontuação
Tejo / Branco / Quinta da Lapa
qualidade, com notas tropicais, de — é técnica, mas o caminho de exaltar
goiaba verde e citrinos maduros. A Zona Bairro (Cartaxo). Dourado
brilhante, matizes laranja. Explosão a singularidade da Fernão Pires não
madeira está lá e precisa integrar-se,
mas não choca demais com a
16 de frutas tropicais como o maracujá, parece ser esse.
A.C.A. 2018 e também contornos mais exóticos Consumo: 2020-2025 / 15,00€ / 11ºC
casta. No palato ostenta um bom
de pitanga e líchia. A leve veia —
corpo, frescura, sapidez, num Tejo / Branco / Adega
perfil mais sério. Um vinho bem oxidativa não compromete a fruta e
trabalhado, sofisticado, ainda que
Cooperativa de Almeirim
Zona Charneca (Almeirim). Limão
traz alguma complexidade. Potente 15
e exuberante na boca, a sapidez
a aromaticidade da Fernão Pires intenso. Monumental expressão da Vale de Lobos Espumante
esteja amainada pela madeira. e o lado fenólico compensam a
casta e da zona, sem interferência acidez moderada. Muitos empregos Bruto 2014
Consumo: 2020-2024 / 25,00€ / 11ºC de processos. Um cesto de frutas na gastronomia. Um Fernão Pirão Tejo / Branco / Sociedade
— tropicais, com predomínio da manga, moderno, que abre as portas para a Agrícola da Quinta da Ribeirinha
flores amarelas, citrinos maduros, chegada de outros.
17,5 notas cerosas e herbais. Algo de
Consumo: 2020-2024 / 8,60€ / 11ºC
Zona Bairro (Santarém). Dourado
intenso na cor, bolhas médias. O
alsaciano neste vinho também no
Falcoaria Vinhas Velhas — nariz é bastante maduro, carácter
palato, untuoso, fluido e muito bem
Fernão Pires 2018 balanceado pela sapidez e acidez. tropical, com mel, manteiga e algo
Tejo / Branco / Quinta do Casal Um modelo do que deve ser um 15,5 de caramelo, por isso um pouco
Fernão Pires no seu privilegiado Abaladiço Reserva 2018 cansativo. Na boca mostra certa
Branco
terroir da Charneca de Almeirim. rusticidade, pode funcionar melhor
Zona Charneca (Almeirim). Limão Tejo / Branco / Casal da Fonte à mesa, talvez. Autólise de 34 meses,
verdeal. Nariz preciso, com Consumo: 2020-2023 / 12,00€ / 11ºC
Vinhos talvez um pouco demais para uma
impressões herbais, de chá, frutas —
Zona entre o Campo e o Bairro. casta aromática?
citrinas e notas especiadas de Limão muito claro. O perfil é muito
madeira. Ótima presença de boca, 16 mais herbal que os outros pares,
Consumo: 2020-2022 / 7,20€ / 11ºC

com a untuosidade típica da casta e CTX Licoroso Abafado com citrinos e maçã verde, reflexo
da Charneca muito bem equilibrada
por elementos de frescura. Vinho de 2011 da zona e de uma vindima mais
precoce? A acidez estaladiça
14,5
classe, ainda que não o mais típico Tejo / Branco / Adega carrega o conjunto, menos Adega Grande Reserva
da casta. Consumo: 2020-2024 Cooperativa do Cartaxo texturizado, mas agradável para branco 2019
15,00€ / 11ºC Zona Bairro (Cartaxo). Âmbar na beber sem compromisso. Final
Tejo / Branco / Adega
— cor, alguma turbidez. Aromas muito fugidio. Outra faceta da Fernão
Cooperativa Benfica do Ribatejo
complexos de castanhas e praliné de Pires, mais verde e vibrante.
17 amêndoa, caramelo salgado, ervas Consumo: 2020-2023 / 6,00€ / 11ºC
Zona Charneca (Almeirim). Limão
brilhante. Revela a capacidade
de vermute e mel de urze. Vinho —
Quinta da Alorna do Tejo em proporcionar carácter
muito desafiador na boca, figo, licor
Colheita Tardia 2015 no nível mais elementar de preço.
Tejo / Branco / Sociedade
e notas de destilado envelhecido,
muito doce e sápido. Não vemos
15,5 Simples e expressivo na fruta
muito o Fernão Pires nesta proposta, Casal da Coelheira tropical, nas notas florais e herbais.
Agrícola da Alorna
mas é um abafado interessante para Terraços do Tejo 2019 Boa untuosidade e equilibrada
Zona Charneca. Limão brilhante de frescura, final curto e limpo. Vinho
a mesa, com queijos duros, mel de
média intensidade. Conquista desde Tejo / Branco / Casal da fácil e consensual.
urze e castanhas assadas.
já no olfato, com manga e compota Coelheira
Consumo: 2020-2025 / 5,60€ / 11ºC Consumo: 2020-2024 / 1,99€ / 11ºC
de laranja, notas herbais, de mel e Zona Charneca. Limão de média
uma moldura de cera e petróleo que —
intensidade. Expressa bem a casta,
traz complexidade e o carácter de com goiaba, flor de laranjeira e notas
ótimos vinhos da categoria. A boca
74 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos
Para ver e ouvir
REPORTAGEM

texto José João Santos / fotos Ricardo Garrido

É provável que a notável capacidade de evolução que possuem seja a maior beleza dos
vinhos portugueses. Por isso, ficamos embevecidos quando percorremos corredores
e corredores de vinhos antigos, quando comprovamos que estão respeitosamente
acondicionados e incrivelmente vivos.
As agora centenárias Caves São João são um amor de perdição para os amantes de vinho
e não há romance nem novela de Camilo que possa traduzir o que sentimos quando um
branco de 1966 nos eleva a alma para uma espécie de éden dos vinhos velhos…
Caves
São João
Um amor de perdição que celebra 100 anos
CAVES SÃO JOÃO

As Caves São João estarão para os devotos do vinho um pouco O coração e a razão
como a Académica ou o Belenenses para os loucos por futebol – sem
conseguirmos muito bem explicar nem como nem porquê, há respeito Neste regresso marcamos encontro precisamente na Quinta do
pelo passado, carinho pelo património e um fervilhar de sugestões e Poço do Lobo. Era dia de vindima, os cachos de Merlot apresenta-
de ideias quanto aos caminhos a seguir. Tal como no futebol, as caves vam-se viçosos, prontos a integrar o Lote do São João espumante rosé.
suscitam debates apaixonados, que se intensificam episodicamente ao Célia Alves acompanha-nos. Natural de Arouca, formada em
ritmo de um boato ou mesmo de uma notícia que parecia pronta a sair Engenharia Alimentar, está nas Caves São João desde 2004, sendo a
sobre uma possível aquisição ou transferência, tal e qual um defeso atual gerente. O trabalho que tem desenvolvido ao longo destes anos
futebolístico. afirmou-a como dos rostos da região, a ponto de presidir à Confraria
Fundadas em 1920 por três irmãos – José, Manuel e Albano Costa dos Enófilos da Bairrada. De sorriso tímido mas sincero, sempre dis-
–, as caves começaram por se dedicar ao comércio de vinhos finos do ponível a esclarecer um detalhe que nos possa escapar, é de alguma
Douro e licores. Chegados aos anos 30, a filosofia teve que se alterar, forma a razão das caves.
uma vez que deixou de ser possível a elaboração de Vinhos do Porto Manuel José Costa, o sócio-gerente de uma empresa com 16 sócios,
fora dos armazéns de Vila Nova de Gaia. É aí que a empresa decide todos familiares, será o coração das caves. Também na Quinta do Poço
voltar-se para os vinhos da Bairrada, iniciando igualmente a produção do Lobo surpreende-nos num clássico Citroën 2 Cavalos, de 1990,
de espumantes pelo método champanhês (segunda fermentação em imaculado. Foi o primeiro carro que adquiriu, nele deslocou-se até
garrafa), metodologia para a qual muito contribuiu o enólogo francês ao Entroncamento para casar. Vive com intensidade o dia a dia da
Gaston Mennesson. empresa familiar, acompanha de perto a vindima, conhece os talhões
A Bairrada dessa época era igualmente fervilhante. As termas da da quinta como as palmas das mãos.
Curia, o Luso e o Bussaco (sim, à época com dois “s”) figuravam por Por vezes desconcertante, Manel Zé é um bairradino apaixonado
entre os locais de eleição do país, convencendo muito em particular as mas também crítico (não são todos?). Acredita que a região reúne as
elites políticas, sociais e culturais. condições para ir mais além e observa que na década de surgimento
A partir de São João da Azenha, aquela que é a empresa familiar das caves a Bairrada “era mais cosmopolita e muito avançada” .
mais antiga ainda em atividade do concelho da Anadia iniciava a
exportação para as colónias portuguesas em África e para o Brasil. No Uma biblioteca de sonho
pós II Guerra Mundial, nos anos 50, surgiu o emblemático Frei João e
no vizinho Dão, anos volvidos, o incontornável Porta dos Cavaleiros. Enchemos a alma em São João da Azenha. Entrar nas caves é como
Os Reserva aportaram uma inovação, o uso de rótulos de papel reves- colocar um devorador de livros numa biblioteca de sonho. São cor-
tidos a cortiça natural. redores repletos de garrafas em sono profundo, que vão sendo rotu-
Na linha temporal seguiu-se a aquisição da Quinta do Poço do ladas ao ritmo dos pedidos, apenas com indicação do ano de colheita
Lobo, na freguesia da Pocariça, Cantanhede, onde pela primeira vez escrita a giz, em singelas ardósias. O património de vinhos antigos,
na região foi experimentada a calda bordalesa (preparado para com- preservados em condições de exceção, será porventura a mais óbvia
bater os fungos na vinha). A propriedade, que entretanto se afirmou das razões pelas quais as Caves São João são a nossa Académica ou o
como um dos esteios da Bairrada, espraia-se por 37 hectares, 29 dos nosso Belenenses. Aguardentes, espumantes, vinhos brancos e tintos,
quais são vinhas. É o brinco da viticultura das caves, que ali deci- o mais antigo em comercialização data de 1959.
diram plantar, segmentadas em parcelas, castas brancas como Arinto, “As colheitas antigas estão a cumprir o seu papel, a dar credibilidade
Cerceal, Chardonnay ou Sémmilon e tintas como a Baga, Alicante ao que fizemos e ao que fazemos. Hoje, neste mundo moderno, as
Bouschet, Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Pinot Noir, colheitas antigas fazem toda a diferença”, enfatiza Manuel José Costa,
Sousão, Syrah ou Touriga Nacional. como num reencontro do coração com a razão.
Hoje, as agora centenárias Caves São João estão a produzir uma “Não há baliza racional para as belas, nem para as horrorosas ilusões,
média de 400.000 garrafas anuais, 40% espumantes. Além da Quinta quando o amor as inventa”, in “Amor de Perdição”, de Camilo Castelo
do Poço do Lobo operam com uma dúzia de viticultores e exportam Branco.
30% da produção para mercados como os EUA, Brasil, Macau,
Alemanha, Reino Unido, Canadá, Bélgica, entre outros. CAVES S. JOÃO
Estrada Real, 3780-140 Sangalhos / T. 234 743 118 / E. geral@cavessaojoao.com

Fundadas em 1920 por três irmãos – José, Manuel e Albano Costa –, as caves
começaram por se dedicar ao comércio de vinhos finos do Douro e licores.

78 · Revista de Vinhos ⁄ 370 · setembro 2020 @revistadevinhos


As Caves São João estarão para
os devotos do vinho um pouco
como a Académica ou o Belenenses
para os loucos por futebol –
sem conseguirmos muito bem
explicar nem como nem porquê,
há respeito pelo passado, carinho
pelo património e um fervilhar de
sugestões e de ideias quanto aos
caminhos a seguir.
Entrar nas caves é como
colocar um devorador de livros
numa biblioteca de sonho. São
Célia Alves e Manuel José Costa
corredores repletos de garrafas
em sono profundo, que vão
sendo rotuladas ao ritmo dos
pedidos, apenas com indicação
do ano de colheita escrita a giz,
em singelas ardósias.
CAVES SÃO JOÃO

100 anos, 10 vinhos


A seguir, uma dezena de vinhos que ajuda a ilustrar uma pequena parte do largo historial das Caves São João, desde
meados da década de 60 do século XX aos nossos dias. Todos os vinhos provados, incluindo os mais velhos e raros, estão
ainda disponíveis para venda em garrafas de 0,75cl., alguns também engarrafados em formato magnum.

19 18 17,5 17 16,5
Frei João 1966 Quinta do Poço do Caves São João Luiz Costa Martins da Costa
Bairrada / Branco / Lobo Cabernet Reserva Particular Espumante 5ª Abafado 1960
Caves S. João Sauvignon 1996 1980 Edição Bairrada / Licoroso /
Dourado brilhante. Sedutor Caves São João
Bairrada / Tinto / Caves Regional Beiras / Tinto / Bairrada / Espumante /
nas notas de folhagem seca, Âmbar. Nariz de casca de
São João Caves São João Caves S. João
melaço, alperce, querosene laranja, leite creme e fruto
e amêndoa. A acidez Granada. Muito bem Granada. Notas elegantes Um Bruto Natural de 2016,
evoluído: caça, couro, iodo, de pinheiro, farmácia, Chardonnay (50%) e Pinot seco. Sedoso, fresco e com
mantém-se incrivelmente sensação aparente de
firme, a estrutura é austera, nota de farmácia, tinta da mentolados e fruto Noir (50%). Amarelo. Bolha
china. O tanino está vivo, desidratado. Tanino fino, fina e enérgica, mousse leveza, apresenta doçura
o final está salino, é q.b. e finaliza bem. Estagiou
profundo e ainda vibrante. a acidez é gigante, o final esculpido pelo tempo, elegante. Notas de maçã,
é muito profundo. Está mas ainda afirmativo, bom lima, toranja e um toque 10 anos em barrica e 37
Vinificado em cubas de em cuba de cimento. Foi
cimento e sempre estagiado num grande momento. Um volume, final elegante e de fumo. Afirmativo, fresco,
Cabernet envelhecido do profundo, a confidenciar de boa acidez, final longo e engarrafado em finais de
em garrafa pode, 54 anos 2015.
depois, ombrear com melhor que poderíamos que continuará a evoluir. persistente. Está a ser agora
esperar! Elaborado com os melhores lançado mas continuará a Consumo: 2020-2030
qualquer grande branco do
Consumo: 2020-2022 lotes de uvas da Bairrada evoluir em garrafa. 65,00 € / 14ºC
mundo.
15,70 € / 16ºC e do Dão, os Reserva Consumo: 2020-2025 —
Consumo: 2020-2024
Particular foram o topo de 18,50 € / 8ºC

300,00 € / 11ºC

gama das caves antes de
— 15,5
17,5 existir a Quinta do Poço do
Caves São João
18 Caves São João
Lobo.
Consumo: 2020-2025
17 Aguardente Vínica
Porta dos Espumante 100 40,00 € / 16ºC Porta dos Velha
Cavaleiros 1984 Anos de História — Cavaleiros 1975 Bairrada / Aguardente /
Bairrada / Espumante / Dão / Tinto / Caves S. Caves São João
Bairrada / Branco /
Caves S. João Caves S. João
17,5 João Aloirada. Nariz de figo,
Âmbar. Notas de folha de O espumante do Frei João Reserva Granada. Alguma folha tâmara, mel, aniz e amêndoa
chá e de tília, tâmara e centenário, pensado 2007 de tabaco, balsâmicos de torrada. Austera e generosa
fruto de caroço confitado, na vindima de 2015 e eucalipto e pinho, azeitona no volume, embora o
Bairrada / Tinto / Caves preta, ginja. O tempo domou final seja mais aveludado.
cera de abelha e algum estagiado 47 meses em
São João o tanino, que agora surge Termina quente e cheia de
apetrolado. Untuoso e cheio garrafa. Um 100% Pinot Noir.
de personalidade, mantém Dourado, laivos rosados. Rubi escuro. Notas de dócil, o volume é médio, persistência.
firmeza geral, como que Cordão fino e persistente, cereja escura, mato e resina a estrutura está elegante Consumo: 2020-2030
a perspetivar mais anos mousse elegante. Notas de pinheiro, algum vegetal, e a frescura remete-nos 30,00 € / 14ºC
de vida. Finaliza de forma suaves de cereja vermelha, balsâmicos e especiaria. mentalmente para uma
deliciosa, afirmativo e a romã e pétala de flor. Mostra tanino guloso e caminhada pelo interior
lembrar alguns colheita Firme, fresco, salino, firme, muito boa acidez, de uma mata. Termina com
tardia. À medida que vamos finaliza em profundidade final demorado. Edição apontamento de charuto,
agitando o copo revela e ligeiramente especiado. comemorativa, lançada como que um convite a uma
sempre algo mais. Para esta e tantas outras em 2009, para celebrar os boa cigarrada. Não parece
celebrações. 30 anos da denominação mas está com 45 anos!
Consumo: 2020-2024
Bairrada. Lote de Baga, Consumo: 2020-2023
25,00 € / 11ºC Consumo: 2020-2025
Cabernet Sauvignon e 50,00 € / 16ºC
40,00 € / 8ºC
Touriga Nacional, que está
para perdurar.
Consumo: 2020-2027
30,00 € / 16ºC

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 81


Para ver e ouvir
REPORTAGEM

texto e notas de prova José João Santos, Nuno Guedes Vaz Pires / fotos Ricardo Garrido

Casta de amores e desamores, a Baga é um desígnio de vida para


Filipa Pato e William Wouters. Tratam-na com o mesmo carinho
de pais para filhos, enquadrando-a num ecossistema que vai beber
ensinamentos ao passado. Filipa, a criativa, William, o agregador,
tornaram-se numa dupla de sucesso que muito tem contribuído
para a perceção de uma Bairrada distinta – a que sabe preservar
a tradição mas enquadrá-la na contemporaneidade das cartas de
alguns dos mais conceituados restaurantes internacionais de ‘fine
dining’, onde há mão de sommelier.
FILIPA PATO
& WILLIAM
WOUTERS
(ou os 4 “B”: Baga, biodinâmica,
Bairrada e Bélgica)
FILIPA PATO

Há vinhas na Bairrada que Filipa Pato considera “um museu vivo”. de entendimento da vinha, sobretudo para quem, como Filipa, opta
Começamos numa delas, centenária e ainda em baldio, sem uma orien- pela viticultura biodinâmica (desde 2014). Os verões cada vez mais
tação de plantas que permita ousar a mecanização. Os pés de videira secos são suportados pelas vinhas que bebem as reservas de água no
assemelham-se a pequenos troncos de árvores, alguns são bastante subsolo, dado que a irrigação não entra nesta equação. Faz compos-
rasteiros e espraiam-se por várias ramificações. Tal como em todas as tagem, assente no estrume de vaca, recorre aos preparados 500 e 501,
vinhas de Filipa, o solo é argilo-calcário, do Jurássico Inferior, sendo o coberto vegetal do solo e abundante – espargos, funcho, menta, oré-
frequente encontrarem-se fósseis marinhos. gãos ou alhos selvagens partilham o mesmíssimo habitat da videira, no
Se a família e a própria Filipa centraram-se em Óis do Bairro, quando caso de Filipa e de William com a vantagem extra de serem aprovei-
o projeto pessoal (entretanto partilhado com William Wouters) tados para a cozinha.
começou a ficar cada vez mais sério decidiu palmilhar outros pedaços
da Bairrada em busca de vinhas velhas, algumas em sério risco de A Baga… como o bife
abandono, mas também de locais onde pudesse fazer novos plantios.
Hoje, segmentados por pequenas aldeias da região, explora um total É já na cozinha, enquanto William confeciona o almoço, que Filipa
de 17 hectares. faz o curioso paralelismo entre a Baga e um bife: “Comparo o tra-
“A Baga é uma uva de terroir. Cada terroir tem um estilo diferente”. balho que tenho com a Baga com o trabalho do William na cozinha.
Filipa veste, literalmente, a defesa da Baga. Na t-shirt assume-se “Baga Vindimar a Baga no ponto de suculência é super importante, não pode
Terroirista”, esteve na génese do agrupamento Baga Friends (com estar nem verde nem sobremadura. Muitos acham que o ponto ideal
Mário Sérgio, na Quinta das Bágeiras), não se cansa de elogiar as para a Baga são os 14 graus (de álcool provável), mas o ponto de sucu-
características da casta. Salienta o historial de adaptação às vicissi- lência é, tal como na carne, muito mais importante”, advoga. Dito por
tudes climáticas da região, traça uma curiosa analogia com o compor- quem tem pais e teve avós ligados ao vinho é digno de reflexão.
tamento e adoção do Ramisco, em Colares, defendendo que ambas Filipa licenciou-se em Engenharia Química na Universidade de
são singulares e muito bem adaptadas às regiões de perfil atlântico Coimbra e aprendeu com o pai, Luis Pato, muito do que hoje sabe
em que são reconhecidas. A proximidade ao mar, os invernos e as sobre a Bairrada. Fez entretanto vindimas em Bordéus (França),
primaveras sempre húmidas e chuvosas obrigam a um esforço diário Mendoza (Argentina) e Margaret River (Austrália) até que decidiu
Filipa reconhece ter sido através
abrir asas e voar sozinha. Em 2001 de William que verdadeiramente de receber e preparar ao detalhe cada
começou a materializar a elaboração refeição, combinando-a com vinhos.
de vinhos próprios e quem os provava, despertou para a mundividência Filipa reconhece ter sido através de
colheita após colheita, apercebia-se de de abordagens aos vinhos, notando William que verdadeiramente despertou
um caso sério. para a mundividência de abordagens aos
À medida que as viagens para fora do que os biodinâmicos internacionais vinhos, notando que os biodinâmicos
país se sucediam, na fervilhante cena que ia provando lhe pareciam ter internacionais que ia provando lhe pare-
gastronómica da Bélgica (dos princi- ciam ter “uma alma diferente”.
pais destinos internacionais de gastro- “uma alma diferente”. Hoje, Filipa e William afirmam um
nomia de autor e Michelin) cruzou-se projeto muito sério, a partir do qual
com William Wouters. Descendente estão a ser elaborados dos melhores
de uma família de restaurateurs, William é também sommelier con- vinhos da Bairrada, apenas com recurso a castas nativas – Baga,
sagrado, já considerado o melhor daquele país, mantém quota no Bical, Arinto, Cercial e Maria Gomes. Curiosamente, a notoriedade
restaurante Pazzo, em Antuérpia, e no currículo soma outras curio- tem sido sobretudo alcançada em mercados internacionais, como os
sidades, como ter sido o chefe das seleções belgas de futebol que dis- EUA. Portugal representa somente 15% do negócio, que ainda pode
putaram o Mundial do Brasil (2014) e o Europeu de França (2016). ser traduzido para números como 90.000 garrafas de produção
William começou por conhecer os vinhos de Filipa. Seguiu-se o média anual (50.000 de espumante). O Filipa Pato 3B é dos mais
enamoramento. Casaram-se em 2008, até 2014 dividiram-se entre divulgados, mas esta reportagem e prova versa mais sobre outros
Portugal e a Bélgica antes de optarem por se fixar em definitivo na “4B”: Baga, biodinâmica, Bairrada e Bélgica.
Bairrada onde o sonho, que passou a ser de ambos, tem crescido de
forma sustentável.
A adega nasceu e tem crescido num espaço que a avô de Filipa
usava para fazer stocks. Nada de barricas, antes pipas, balseiros e FILIPA PATO & WILLIAM WOUTERS
ânforas de barro. A cozinha da casa está transformada num aco- Rua de Sto. André, 41
lhedor espaço de visitas, com indisfarçáveis semelhanças à cozinha 3780-502 Óis do Bairro - Anadia
e sala de um restaurante de autor. É a “praia” de William, que gosta T. 231 516 041 / E. info@patowouters.com

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 85


FILIPA PATO

19 18 17
Missão Baga Pré-Philloxera 2016 Nossa Calcário Bical 2013 Post Quer…s Bical 2015
Bairrada / Tinto / Filipa Pato (garrafa magnum) IVV / Branco / Filipa Pato
Rubi. Nariz de algum vegetal e fruto silvestre, Bairrada / Branco / Filipa Pato Dourado, laivos âmbar. Lembra-nos alperce,
resina de pinheiro, mato e tinta da china. Tanino Dourado. Flor delicada, marmelo, laranja lima, raspas de laranja, pêra e pêssego. Há um
muito firme, estrutura imperial e elegante. confitada, querosene. A untuosidade conhece tanino ligeiro, boa amplitude, acidez firme e um
Termina com frescura e de forma… interminável! contraponto na acidez assertiva, o volume é final estendido, que combina folha de chá e uma
Vai cavalgar o tempo por largos anos, é dos grande, o final é teimoso e ilustra bem o solo que perceção mineral. Um vinho “laranja” de gabarito.
melhores Baga da atualidade. lhe dá origem. Um fidalgo entre pares, regista Consumo: 2020-2025 / 15,00 € / 11ºC
Consumo: 2020-2035 / 150,00 € / 16ºC uma evolução notável. —
— Consumo: 2020-2023 / *€ / 11ºC
— 17
18,5 Dinâmica Arinto & Bical 2019
Missão Baga Pré-Philloxera 2015 17,5 Bairrada / Branco / Filipa Pato
Bairrada / Tinto / Filipa Pato Nossa Calcário Baga 2010 Amarelo, laivos limão. Levíssima flor branca,
Rubi, laivos granada. Notas de folha seca, cereja Bairrada / Tinto / Filipa Pato complementos de limão, raspa de lima, relva
escura, mirtilo e mato. Tanino esculpido, finura Ainda rubi, nuances granada. Notas de folha cortada, nuance salina. Nervoso, acentua essa
estrutural, dimensão que se vai desdobrando por de tabaco, pinhal, tinta da china e balsâmicos. maresia na boca e revela uma acidez acutilante.
camadas. Final demorado e com uma finesse rara Seguro, permanece fresco, revela boa dimensão O final é amplo e persistente.
de encontrar. Um grande Baga! e termina cheio de finura e elegância. Quem Consumo: 2020-2024 / 12,00 € / 11ºC
Consumo: 2020-2030 / 150,00 € / 16ºC diria que tem 10 anos quando ainda parece tão —
— jovem… Consumo: 2020-2024 / *€ / 16ºC
— 16,5
18 Espírito de Baga 2015
Nossa Calcário Baga 2017 17,5 Bairrada / Licoroso / Filipa Pato
Bairrada / Tinto / Filipa Pato Post Quer…s Baga 2018
Rubi, laivos granada. Notas de menta, ginja e
Rubi. Nariz de cereja escura, amora, mirtilo e piso IVV / Tinto / Filipa Pato balsâmicos. Tanino sumarento, boa dimensão e
florestal. Revela grande amplitude, tanino seco e Rubi. Notas suaves de cereja escura, framboesa, frescura geral, com a aguardente bem integrada.
austero, estrutura generosa, final mais quente e mirtilo e pinheiro. Tanino firme e suculento, Termina a reforçar a combinação de mentolados
levemente especiado. Enorme, para guardar na estrutura elegante, muito boa dimensão e e balsâmicos.
garrafeira por bons anos. final bastante longo. É um Baga que reúne os Consumo: 2020-2024 / 30,00 € / 14ºC
Consumo: 2020-2027 / 27,00 € / 16ºC melhores predicados de contemporaneidade e
tradição. Consumo: 2020-2028 / 22,00 € / 16ºC *Não disponível no mercado.

86 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


1000
REPORTAGEM

texto e notas de prova Guilherme Corrêa / fotos Fabrice Demoulin


Viajamos por cinco regiões vinícolas com um dos mais talentosos enólogos da nova
geração de Portugal, através de dez vinhos que marcaram a sua trajetória de sucesso, e
que refletem centenas e centenas de quilómetros percorridos todos os anos à procura de
autenticidade e precisão.

Na estrada do vinho com

DIOGO LOPES
Diogo Lopes personifica essa nova geração de enólogos de Portugal Pequeno grande país
que viajou pelo mundo, prova vinhos de todos os continentes, é extre-
mamente curioso, alia a técnica à emoção para revelar o que o país tem A segunda fase da carreira de Diogo Lopes veio em 2010 com a
de melhor, e lança-se à descoberta das suas novas fronteiras vínicas. criação da AdegaMãe pelo forte grupo Riberalves, participando com
É um prazer dividir a mesa com este enólogo, seja em provas téc- Anselmo Mendes na concepção do projeto, da construção da adega, no
nicas ou informais, pois também é um excelente garfo, para além do plantio das vinhas e definição da linha de vinhos a elaborar, de modo
virtuosismo com os copos. Talvez porque goste tanto de praticar a a trazer uma nova dinâmica à região de Lisboa. “A experiência que
harmonização vinho-alimento, a sua predileção pelos vinhos brancos mudou a minha vida”, segundo um mais viajado e experiente Diogo.
foi-se tornando indissimulável ao longo dos seus 15 anos de carreira. Uma visita à adega é obrigatória a qualquer enófilo, não somente pelo
Sem esquecer que Diogo foi o braço direito de Anselmo Mendes em impecável enoturismo que oferece, e talvez o melhor bacalhau que irá
vários projetos, o “mestre Jedi”, como se lhe refere com humor e defe- comer dessa família de especialistas, mas pelos vinhos em si, cada vez
rência, um herói pioneiro dos grandes brancos de Portugal, de quem melhores e mais autênticos no seu terroir atlântico. Na Adega Mãe,
recebeu o treino para procurar a “força” do terroir com a precisão e Diogo teve todo o apoio e recursos para desenvolver ao máximo a sua
pureza de um sabre de luz. técnica e talento. Percebeu ao longo destes anos que o terroir vem
Nascido em Lisboa em 1978, ganhou gosto pelo campo nas visitas à antes das castas e métodos.
terra do avô entre a Beira Alta e a Beira Baixa. A opção pela Agronomia No uso de madeiras diferentes, por exemplo, levou os testes até à
foi tão natural como a sua posterior formação em enologia, não sem exaustão, paralelamente com o trabalho do mestre na sua adega de
antes passar por um teste de resiliência com o seu mestre e futuro Monção. Pude com o Diogo visitar florestas de carvalho e tanoarias
grande amigo. Conheceu Anselmo Mendes numa feira de vinhos em em França, em 2018, e foi uma experiência fascinante aprender com
2001. Na altura, foi aconselhado, para ter certeza do caminho a tri- ele que, quanto mais conhecemos profundamente todas as variáveis
lhar, a submeter-se a uma vindima completa ao seu lado. Fê-la nos envolvidas e os pormenores do seu uso, mais transparente é o efeito
Vinhos Verdes, uma epifania que selou o seu destino. final no vinho.
Em 2003, Diogo partiu para Napa Valley, meses intensos de
aprendizagem e novos paradigmas sobre como empregar a enologia
e encarar o vinho. No regresso assume um novo desafio do mestre
Nascido em Lisboa em 1978, ganhou gosto
Anselmo em Cabeção no Alentejo, o Grou da Sociedade Agrícola do
Vale de Joana, adega de vinhos muito promissores, mas cujo projeto pelo campo nas visitas à terra do avô entre
infelizmente não vingou. Esses primeiros cinco anos da sua carreira de
a Beira Alta e a Beira Baixa. A opção pela
enólogo foram marcados pelo experimentalismo, pela volta a Portugal
“com aquela vontade de mudar o mundo”, de “aprender o que não Agronomia foi tão natural como a sua
sabemos”, de balancear as estruturas. Permaneceu como enólogo
posterior formação em enologia.
residente até 2010 no Grou e, ao conhecer cada vez mais o Alentejo,
passou a colaborar com o produtor Herdade do Menir e assinar um
“ícone tímido” da região, o Vale de Ancho.

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 89


DIOGO LOPES

Ainda nesta fase intermediária da carreira, debutou em 2010 um


projeto enológico “solo”, ao lado dos amigos Vasco Magalhães e
Carlos Coutinho, este a sétima geração da família proprietária da bela
Quinta de Guimarães na sub-região de Baião do Vinho Verde e que
detém a maior mancha contínua plantada de casta Avesso. Os vinhos
Diogo foi o braço direito de
Cazas Novas ambicionam serem embaixadores desta casta peculiar na
sua expressão herbácea e mineral. Anselmo Mendes em vários
Do granito de Baião para o magma de Biscoitos em 2011, a verve de
projetos, o “mestre Jedi”, como
Diogo foi fundamental para levar o mestre Anselmo Mendes a investir
com ele na recuperação da adega cooperativa local. Estivera lá em se lhe refere com humor e
2009 a visitar um amigo na Terceira, e ficou completamente estupe- deferência, um herói pioneiro
fato ao sentir o potencial da casta Verdelho naquelas vinhas dramá-
ticas, encurraladas por muros de pedra vulcânica negra e açoitadas dos grandes brancos de
pelo aerossol de maresia do Atlântico. Após resolverem as questões Portugal, de quem recebeu o
económicas que inviabilizavam a produção, entre elas o baixíssimo
valor pago aos produtores de uva que desestimulava o seu cultivo treino para procurar a “força”
naquelas condições de trabalho hercúleo (o preço saltou de 0,60€ do terroir com a precisão e
o quilo para 3,50€ na parceria atual), em 2015 surgem os primeiros
vinhos Magma, reveladores ao mundo do carácter explosivo singular pureza de um sabre de luz.
daquele terroir de exceção.

Fase três, e a seguir?

Agora o ainda muito jovem Diogo Lopes está cada vez mais pronto
e forte para viver a terceira fase da sua tão promissora carreira eno-
lógica, a encarar projetos totalmente pessoais, ainda que a imagem
do mestre sempre esteja a iluminá-lo para trilhar os melhores cami-
nhos. Nos últimos dois anos assumiu um desafio grandioso no
Douro, na Kranemann Wine Estates, onde poderá realizar um
dos seus sonhos de fazer Vinho do Porto, e também dois
outros no Alentejo: na Vidigueira, a Herdade Grande do
seu amigo e respeitado agrónomo António Lança e, no
Redondo, a promissora Herdade do Freixo.
Não lançado ainda para o mercado é o resultado
de um projeto minúsculo e de excecional qualidade
de “vinho de terroir Atlântico” em Melides; e é
difícil de imaginar que ele pare por aí. O vibrante
enólogo relatou no seu imperdível blogue que
percorreu mais de 2.000 quilómetros na última
vindima para coordenar os seus sete projetos em
operação, em cinco regiões diferentes. Como um
apaixonado por vinhos brancos, diz-se encantado
pelas castas Arinto e Viosinho. Das regiões que
ainda não trabalha em Portugal, confessou que
sonhava com um retorno vínico às origens fami-
liares, na Beira Interior. E se pudesse fazer vinhos
fora do nosso país, Diogo elegeria hoje as encostas
íngremes de granito ou xisto da Ribeira Sacra em
Espanha ou os solos vulcânicos, dos quais tanto gosta,
da ilha de Santorini na Grécia. Espero que poder lá estar e
dividir com ele uma mesa com vinhos de terroir, boa comida,
conhecimento e alegria.

90 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


DIOGO LOPES

18,5 18 18 18 18
Herdade Grande 2 2 1 Adega Mãe Adega Mãe Terroir Adega Mãe Terroir Herdade Grande
Souzão 2017 2015 2015 2014 Amphora 2018
Alentejo / Tinto / IVV / Branco / Lisboa / Tinto / Adega Lisboa / Branco / Alentejo / Branco /
António Manuel Baião AdegaMãe Mãe AdegaMãe António Manuel Baião
Lança Duas regiões, Torres Vedras Em 15 anos de enologia, Um dos vinhos mais Lança
O agrónomo António e Monção, dois enólogos, Diogo Lopes aprendeu importantes na carreira de A centenária Herdade
Lança gosta tanto de Diogo Lopes e Anselmo que Lisboa é uma região Diogo, o qual revela a sua Grande, como reza a
experimentações e da Mendes, e uma casta, extraordinária para elaborar paixão pela tipologia dos tradição da Vidigueira,
irreverência como o Alvarinho, explicam o nome. brancos e tintos. O Terroir brancos, anos de testes com fez vinhos de talha no
enólogo Diogo Lopes, e Uma experiência audaciosa Tinto 2015, o segundo o mestre Anselmo Mendes, passado. Esta é a primeira
assim a Souzão foi para apadrinhada pela Adega lançado pela adega na uso imaculado da madeira experiência de Diogo
o Alentejo. Talvez não Mãe, que uniu duas barricas busca da essência da e busca pela máxima e também dos novos
esperassem um resultado que normalmente entrariam região, é a prova cabal expressão do potencial da tempos do produtor.
tão sublime, todavia. Facto é nos vinhos da sua linha deste tremendo potencial. região de Lisboa. A colheita Talha tradicional pesgada,
que, se a uva que dá vinhos Reserva ou Terroir, e outras Um tinto deslumbrante da de 2014 foi a segunda deste vinhas velhas com Antão
poderosos na cor, na acidez duas que possivelmente cor ao seu final de boca que já é uma estrela da Vaz, Roupeiro, Perrum e
e nos taninos lá no norte, comporiam o Curtimenta sinfónico. É tão profundo denominação, e no atual também algo de Alvarinho
mas carece de elegância e o Muros de Melgaço nos aromas, tão jovem e momento da evolução de uma vinha de 20 anos
e recheio para contrapor de Anselmo Mendes. Um promissor. Difícil é afastar o demonstra extraordinário de idade. 15% do engaço
a tantos elementos de mix de ambientes, mas copo do nariz, tão sedutora carácter marítimo, além foi usado para ajudar na
dureza, na Herdade Grande sempre um vinho Atlântico. é a fruta negra doce e de muita complexidade filtragem natural do vinho.
conseguiu um imenso estilo. Notável refinamento no crocante, as especiarias olfativa com tostados, É muito típico do método,
Amoras negras, impressões nariz, conhece uma fase finas, a terrosidade e frutas tropicais, amêndoas mas evidencia também
de tinta, sangue e zestes de exuberante fase do seu carácter. A boca é outra salgadas e tons herbáceos a elegância almejada
laranja no olfato preenchem desenvolvimento, com lição de equilíbrio, frescura, maduros. A madeira pelo enólogo nos seus
também a boca com mel e notas apetroladas. taninos finíssimos e integrou-se, a boca ainda é vinhos. Exótico na fruta,
tamanha frescura e energia, Untuoso, muito harmonioso envolventes. A afinação em firme, estruturada e longa. floral citrino, mel e cera,
impecável no polimento e na compensação da relação ao Terroir 2012 é Consumo: 2020-2023 com camadas. Um toque
equilíbrio. A madeira é mais frescura e sapidez, grande louvável. Grande vida pela 40,00€ / 11ºC fenólico compensa a acidez
uma vez impressionante persistência. frente. mediana, e garante mais
na sua elegância e Consumo: 2020-2024 Consumo: 2020-2026 uns anos de guarda a este
transparência face à casta e 25,00€ / 11ºC 40,00€ / 16ºC bonito vinho de talha.
ao terroir. Apenas 1.640 unidades
Consumo: 2020-2026 produzidas.
20,00€ / 16ºC Consumo: 2020-2026
25,00€ / 11ºC

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 91


DIOGO LOPES

17,5 17,5 17,5 17 17


Cazas Novas Avesso Kranemann Porto Vale de Ancho Magma Verdelho Quinta do Convento
Pure 2019 Vintage 2018 Reserva 2011 2015 Reserva 2018
Vinho Verde / Branco Vinho do Porto / Alentejo / Tinto / Açores / Branco / Adega Douro / Branco /
/ Soc. Agr. Casal da Fortificado / Kranemann Herdade do Menir Coop. Biscoitos Kranemann Estates
Ventozela Estates O Vale de Ancho “grita a A colheita inaugural e ainda Fiel à origem e uma bela
Exemplar de manual da O primeiro Vintage do sua vinha”, numa encosta uma das mais fascinantes lição de como usar a
casta Avesso, brilhante enólogo e da casa, muito de xisto não regada, em deste projeto singular madeira judiciosamente.
na cor limão pálida, com bem conseguido e com Montemor-o-Novo, que da denominação de Reflete as vinhas em
aromas contidos de frutas um estilo que o diferencia propicia uma gigantesca Biscoitos. Indubitavelmente altitudes de até 450
citrinas verdes, notas da imensa maioria. Aqui a concentração nas uvas. extremado no estilo, metros, parte de vinhas
herbáceas, minerais e tónica não é a potência ou Elaborado apenas nos irrefutavelmente velhas em granito e das
contornos subtis de flores a generosidade, o vinho é melhores anos, conta representativo das castas Rabigato e Viosinho
brancas. Oferece tensão extremamente refinado, apenas seis edições na condições épicas daquele plantadas em solos xistosos.
e frescura na boca, o bem mais seco que a história. Este 2011 está ambiente de mar e vulcão. O nariz é muito fino nas
corpo é mediano, e o final média e com a aguardente impenetrável na cor Dourado, brilhante, notas de limão, resina,
é preciso e persiste nas muito escondida por trás e o nariz ainda está a dramático nas notas pimenta branca e leve
notas de ervas, lima e da sua estrutura fluida. desenvolver, com muita fumadas de lava e nos fumado mineral. A boca é
limão. A vindima é efetuada Os aromas já mostram fruta negra madura, acenos botânicos da casta austera, precisa e muito
em etapas diferentes de alguma complexidade, mas nada sobremadura, Verdelho. Salgado na boca, longa. Convida a uns anos
madureza das uvas e o com groselha negra, entremeada com desperta uma sensação de de envelhecimento.
vinho é trabalhado com as amora, flores vermelhas apontamentos terciários de umami na prova e a ilusão Consumo: 2020-2024
lias em tanques de inox. e especiarias picantes. A café, pimenta negra, couro, de estarmos a beber a ilha. 18,00€ / 11ºC
Consumo 2020-2023 boca quase remete para terra, xisto fraturado e Consumo: 2020-2025
9,00€ / 11ºC um vinho de mesa, muito notas químicas da Alicante 18,00€ / 11ºC
fina e equilibrada. Um belo Bouschet. Avassaladora
e diferenciado começo no estrutura, mas sempre
mundo dos Vintages para fresco e harmonioso. Mais
a casa e o enólogo e um cinco anos para chegar
retrato fiel das condições ao seu ápice e ali ficar por
particulares do Vale do muitos anos. Um colosso
Távora. domado pela boa enologia.
Consumo: 2021-2050 Consumo: 2020-2026
65,00€ / 16ºC 40,00€ / 16ºC

92 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


R E S E R VA 2 0 1 7 - T i n t o

Célia
Contabilidade

Joana
Marketing Rodrigo
Adega
António
Logistica

Rita
Cidália Lagar
Exportação

Rui
Enologia
Tiago
Enologia


Não perseguimos medalhas ou prémios. Motiva-nos dar vida ao fruto do
trabalho dos nossos associados e fazer felizes os consumidores das nossas
marcas, mas quando o reconhecimento chega, gostamos de celebrar o
/carmimreguengos

sucesso em todo o alto.


Para ver e ouvir

Touriga
Nacional
Primus inter pares
TOURIGA NACIONAL

textos Marc Barros / notas de prova Célia Lourenço, Guilherme Corrêa,


José João Santos e Marc Barros / fotos D.R.

Uma das mais nobres castas tintas, à Touriga Nacional parece estar reservado o papel
protagonista no vasto leque de variedades autóctones portuguesas. Do afunilamento
causado pela ‘Touriga Nacionalização’ à redescoberta de um certo perfil clássico, a prova
temática dedicada a esta casta entrevê novos caminhos...

A Touriga Nacional é tida como o porta-estandarte dos vinhos por- tendo no uso de madeira, sobretudo nova, a ferramenta de eleição.
tugueses, a casta nacional mais reconhecida mundialmente e uma das A variedade reconhece-se facilmente pela folhagem de tom verde
mais versáteis e bem adaptadas às diversas regiões e terroirs nacionais médio, enrugamento pronunciado e elevado polimorfismo. Dá origem
(e não só…). A sua dimensão global deve-se, em grande parte, à própria a cachos de pequenas dimensões, com peso entre 100 e 150 gr., assu-
designação – com efeito, é fácil a qualquer estrangeiro pronunciar - e mindo forma cónica, de aspeto compactado. Apresenta pedúnculos de
fixar - o nome da casta, mesmo que com ligeiro sotaque, transforman- comprimento médio e bagos pequenos e arredondados, de polpa não
do-a numa dissonante ‘Tôriga National’. Mas a presença da casta em corada. A película tem coloração negro-azulada. Os valores de álcool
vários países do Novo e do Velho Mundo constitui o melhor reconhe- provável são médios e acidez total altos, sendo que o álcool provável
cimento da sua valia vitícola e enológica. pode rondar os 12 a 13 % e a acidez total situar-se entre 6,5 a 8 gr./lt..
A esse propósito, a seleção da Touriga Nacional como casta auto- Todas estas características – adaptabilidade na vinha, bom trato
rizada em Bordéus é suficiente atestado: uma das regiões mais valo- enológico e, mais recentemente, valorização comercial – levaram à
rizadas mundialmente, num país tradicionalmente “exportador” disseminação da casta, num fenómeno de “Touriga Nacionalização”
de castas e reconhecidamente chauvinista quanto à valia dos seus das vinhas e dos vinhos do país. Expressão que se prende não apenas
vinhos, acolheu a Touriga Nacional na Parcelle 52, onde o Conseil com a expansão territorial, mas também pelo facto de ter assumido,
Interprofissional de Vin de Bordeaux (CIVB) desenvolve pesquisa em nas últimas décadas, um perfil de vinhos muito semelhante, quase que
climatologia. Esta parcela experimental em Pessac-Léognan pretende homogeneizado, levando a uma certa descaracterização de vinhos pro-
monitorizar a forma como 52 castas enfrentam as alterações climá- duzidos em regiões ditas “clássicas”. O seu marcado aroma floral e as
ticas em Bordéus. Em 28 de junho de 2019, foram aprovadas sete notas de bergamota, por um lado, e a secundarização de outras castas,
variedades na Parcelle 52, consideradas “de interesse pela adaptação quer no Douro e no Dão, mas também em regiões como Alentejo ou
às mudanças climáticas” para os vinhos AOC Bordeaux/Bordeaux Setúbal, ditaram essa descaracterização. Porém, como pudemos com-
Supérieur – as tintas Arinarnoa, Castets, Marselan e Touriga Nacional provar, tal fenómeno parece estar a ser ultrapassado, privilegiando-se
e as brancas Alvarinho, Liliorila e Petit Manseng. Com decisão sujeita antes o terroir e as diferentes facetas que a casta consegue exibir.
a validação final pelo Institut National de l'Origine et de la Qualité após
um período experimental de 10 anos, estas variedades podem ocupar O perfil surpreendente das Tourigas
até 5% das vinhas das mencionadas AOC, com não mais do que 10%
incluídos nos lotes finais dos vinhos – regras que visam proteger a Foram submetidos a esta prova temática mais de cinco dezenas de
tipicidade de Bordéus. As primeiras plantações destas castas recém- monovarietais da casta Touriga Nacional oriundos dos quatro cantos
-aprovadas devem ocorrer ainda este ano ou no próximo. Motivo de do país – incluindo Vinhos Verdes! -, sendo que cada produtor poderia
orgulho para Portugal, até porque, segundo especialistas como Bruno enviar uma amostra de um vinho, a lançar no mercado.
Prats, a casta está “obviamente adaptada a condições quentes e secas Os resultados, apesar de não serem surpreendentes, causaram ainda
e de alta qualidade, com concentração, subtileza e grande potencial de assim algum assombro pela qualidade geral dos vinhos provados nas
envelhecimento”. diferentes categorias de preços mas, sobretudo, e ao contrário da
Mas a rainha das castas tintas nacionais esteve à beira da extinção expetativa inicial, na assunção generalizada de um perfil de vinhos que
devido à baixa qualidade da uva e aos escassos rendimentos, agravados pende para o lado do equilíbrio, da frescura e da elegância e menos
pela introdução de porta-enxertos americanos no combate à filoxera, para a concentração e potência – isto, inclusivamente, em regiões mais
com os quais a casta não se terá dado bem. A investigação e seleção quentes e até em anos, como o de 2017, também ele extraordinaria-
clonal, sobretudo no Douro e no Dão, bem como a introdução de mente quente, o que atesta, por seu lado, a enorme evolução que a
porta-enxertos adequados, melhoraram a produtividade, por ser uma viticultura portuguesa regista.
casta vigorosa e de porte semi-ereto, reconduzindo-a à condição de Da análise dos resultados, ressalta desde logo que, entre os mais
nobreza de que é meritória. bem pontuados, estão vinhos das regiões que podemos designar como
“clássicas” ou berço da Touriga Nacional – Dão e, igualmente, Douro
Touriga Nacionalização? -, mas também vários exemplares do Alentejo, demonstrando a real
aptidão da casta a tipos de clima e solos bem diferenciados. Por outro
A Touriga Nacional tem como carta de apresentação o facto de lado, é de destacar que, nos vinhos pontuados entre 16,5 e 16 valores,
dar-se bem em todos os tipos de solos, pedindo apenas disponibilidade não só se confirma a variabilidade de regiões de onde estes vinhos são
hídrica e um número adequado de horas de sol. Não é tida como aneira oriundos, mas a dispersão de preços é também significativa, ficando
e pode ser trabalhada de acordo com diferentes perfis, um mais clás- patente que o rigor enológico pode andar de mãos dadas com custos
sico, assumindo a elegância, a frescura, o equilíbrio e a complexidade controlados na produção e, também, mais-valias comerciais. E grandes
como matriz, e um segundo mais vigoroso, concentrado e estruturado, vinhos, feitos para durar, mas também para encantar desde já…

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 95


TOURIGA NACIONAL

OS MAIS BEM CLASSIFICADOS

17,5 17 17 17
Pellada Cabriolet 2018 Esporão Vinha Monsaraz
Carrocel 2015 Alentejo / Tinto / do Badeco Touriga
Dão / Tinto / Susana Esteban Touriga Nacional 2018
Quinta da Pellada Rubi intenso. Nacional 2014 Alentejo/ Tinto /
Rubi de média Grande nariz de
Alentejo / Tinto / CARMIM
intensidade. Uma frutas negras,
grafite, especiarias Esporão Vermelho. Fruto
expressão de Touriga vermelho fresco no
muito elegante no pungentes, Rubi intenso. Belo
madeira judiciosa, perfil de frutas nariz, balsâmico,
nariz, com frutas notas florais,
silvestres negras e flores vermelhas. vermelhas, notas
Potente sem ser florais de gerânio conjunto apelativo.
vermelhas, notas Na boca é fresco e
florestais e florais. pesado, aveludado, entrelaçadas com
excelente frescura especiarias, louro, frutado, tanino algo
A boca é vibrante, secante mas bem
fresca, tensa e e persistência couro e terra húmida.
aromática. GC Excelente frescura, equilibrado na acidez
picante e pede boa vibrante. MB
cozinha de território. Consumo: 2020- taninos de altíssima
2028 / 25,00€ / 16ºC qualidade a dar Consumo: 2020-
GC
firmeza à estrutura, 2025 / 6,99€ / 16ºC
Consumo: 2020-
longuíssimo e
2025 / 61,50€ / 16ºC
complexo final. GC
Consumo: 2020-
2030 / 28,00€ / 16ºC

17 17 17 17
Quinta do Quinta dos Ramos Pinto Vallegre
Pessegueiro Roques Xisto Cota Touriga
Touriga Touriga Duzentos Nacional 2016
Nacional 2018 Nacional 2017 Touriga Douro / Tinto/
Douro / Tinto Dão / Tinto / Nacional 2017 Vallegre
/ Quinta do Quinta dos Roques Rubi. Notas de
Douro/ Tinto/
Pessegueiro Rubi intenso. bergamota, cereja
Adriano Ramos
Sofisticado nas vermelha, verniz
Púrpura intenso. Pinto
impressões de frutas e balsâmicos.
Nariz exuberante, Rubi escuro.
negras maduras, Toque floral de
com frutas vermelhas Notas de esteva,
rosas, notas de esteva. O tanino
em compota, notas cereja vermelha
especiarias picantes está suculento, a
florais encantadoras madura, cedro,
e alcaçuz. Boca rica, estrutura é firme
e pano de fundo ligeiro balsâmico e
carnuda, marcada e muito fresca, o
mineral. No palato especiaria. Tanino
pela frescura da final mostra-se
ostenta excelente firme, estrutura
acidez e pela firmeza prolongado e
frescura, taninos muito competente,
dos bons taninos. saboroso. De perfil
firmes, grande bom volume, final
Final persistente e contemporâneo,
dinâmica e final que revela um breve
especiado. GC mostra ainda
longo e perfumado. vegetal e grão de pergaminhos de
GC Consumo: 2020- café. Precisa evoluir evolução. JJS
Consumo: 2020- 2030 / 30,00€ / 16ºC em garrafa para Consumo: 2020-
2030 / 28,00€ / 16ºC mostrar tudo o que 2026 / 16,90€ / 16ºC
tem. JJS
Consumo: 2020-
2027 / 60,00 € / 16ºC

96 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


TOURIGA NACIONAL

N OTA P RE ÇO NOME DO V INHO / REGIÃO / PRODUTO R N OTA P RE Ç O N O M E D O VI N H O / RE G I ÃO / P R O D U TO R

16,5 Adega de Redondo Touriga Nacional 2017 / Alentejo / Quinta de Ventozelo Touriga Nacional 2017 / Douro /
Adega Cooperativa de Redondo Quinta de Ventozelo
8,99 € Notas quentes mas frescas de fruto passificado, balsâmico, chocolate. Rubi. Perfume de violeta, cereja vermelha, amora, nuance mais fresca de
Seco, cheio, bom volume e fruta, tanino vivo mas nada agreste, uma Touriga 16,5 14,00 €
bergamota. Tanino muito elegante e suculento, estrutura fluida, volume
desenhada para a mesa. 2020-2025 MB interessante e final que lembra bombom de ginja. Será difícil resistir-lhe.
2020-2025 JJS
Adega Mayor Touriga Nacional 2018 / Alentejo /
Adega Mayor Quinta do Ataíde Vinha do Arco 2016 / Douro /
16,5 15,79 € Rubi. Aromas de violeta, cereja vermelha, bergamota e ligeiro fumo. Tanino Symington Family Estates
fresco, acidez que faz salivar, estrutura afirmativa e final muito elegante. Rubi intenso. Frutas negras no olfato, contidas, além de notas balsâmicas
Uma visão contemporânea da casta. 2020-2025 JJS 16,5 24,00 €
e minerais. Na boca também está jovem e sóbrio, precisa claramente
de garrafa para revelar-se. Taninos firmes, acidez equilibrada, bom final.
16,5 Astronauta Touriga Nacional 2017 / Lisboa / Quinta 2020-2030 GC
do Gradil
6,90 € Rubi intenso. Frutas negras e vermelhas maduras, notas vegetais de Quinta do Crasto Touriga Nacional 2017 / Douro /
ruibarbo, impressões minerais. Média estrutura, taninos dominantes e Quinta do Crasto
adstringentes, final médio. 2020-2025 GC Rubi escuro. Algum floral, ameixa e cereja escuras, baunilha e especiaria
16,5 50,30 €
de barrica. Encorpado, revela tanino agudo e final persistente. Muito
Carvalhas Touriga Nacional 2016 / Douro / Real gastronómico, para maridar com gastronomia condimentada. 2020-2024
Companhia Velha JJS
Rubi intenso. Extremamente perfumado, mas sem ser cansativo, revela esse
16,5 50,00 €
carácter da Touriga Nacional com qualidade. Notas de especiarias picantes Quinta do Cume Touriga Nacional 2017 / Douro /
também. O corpo é médio e pende para a austeridade dos taninos e acidez, Quinta do Cume
por isso excelente para a mesa. 2020-2030 GC Rubi escuro. Floral de violeta, notas de torrefação, mirtilo, amora e cereja
16,5 30,00 €
escura. Madeira bem integrada e especiaria. De tanino portentoso e
Casa Santos Lima Touriga Nacional 2017 / Lisboa / estrutura austera, é encorpado e finaliza longo, quente e especiado.
16,5 Casa Santos Lima Acompanha pratos carnudos e apimentados. 2020-2025 JJS
Rubi. Aromas de frutos vermelhos e negros maduros mas frescos, a
6,49 € componente floral da casta não é tão evidente, notas mentoladas e citrinas a Touriga Nacional da Peceguina 2018 / Alentejo /
conferir vivacidade ao conjunto, cabeça de fósforo. Seco, fresco, equilibrado, Herdade da Malhadinha Nova
tanino de qualidade, sabores frutados a estenderem-se pelo final. 2020- 16,5 27,00 € Rubi intenso. Perfil muito elegante, de boa complexidade, sem perder a veia
2024 MB floral da casta. Firme na estrutura, excelente acidez, final balsâmico, merece
guarda. 2020-2030 GC
CH By Chocapalha Touriga Nacional 2018 / Lisboa /
Casa Agrícola das Mimosas Vale da Raposa Touriga Nacional 2017 / Douro /
16,5 31,00 € Rubi. Notas de violeta, cereja escura, mirtilo, azeitona preta e tinta da china. Domingos Alves de Sousa
Musculado, tem tanino portentoso, acidez em fundo, final teimoso. Muito Rubi. Alguma violeta, cereja escura, fumo e complementos balsâmicos.
prometedor, vai melhorar bastante em garrafa. 2020-2026 JJS 16,5 27,00 €
O tanino vai seguro, a estrutura combina potência com fluidez, o final é
prolongado, mostra acidez e um apontamento de tabaco. Vai bem com
Coragem Touriga Nacional 2018 / Lisboa / Vidigal pratos de caça. 2020-2025 JJS
16,5 Wines
Rubi. Tem nariz de violeta, amora, cereja vermelha, alguma romã e leve Vicentino Reserva 2015 / Alentejo / Frupor
11,90 €
especiaria. Tanino fresco, boa acidez, estrutura geral firme. Termina com Rubi. Aromas de violeta e de rosa, cereja escura, amora, algum fumo de
apontamento vegetal e um curioso salino. Um Touriga de perfil marítimo. 16,5 17,45 € barrica e especiaria fina. Tanino portentoso, estrutura firme, bom volume,
2020-2025 JJS final especiado, texturado e quente. Um raçudo que saberá comportar-se à
mesa. 2020-2024 JJS
Fiuza Ikon Touriga Nacional 2017 / Tejo / Fiuza &
Bright Villa Oliveira Touriga Nacional 2016 / Dão / O Abrigo
16,5 25,00 € Granada. Fruto vermelho, com a madeira ainda em integração, cacau, forte da Passarella
caráter cítrico, algo extraído. Na boca mostra a estrutura da madeira, bom 16,5 42,00 € Púrpura. Nariz de bergamota, toranja, cereja vermelha, cera e apontamentos
volume, cremoso e sedutor. 2020-2026 MB de barrica. Muito firme na estrutura, bom volume, final alongado, fresco e
levemente vegetal. Uma interpretação original da casta. 2020-2026 JJS
Herdade das Servas Touriga Nacional 2016 / Alentejo
/ Serrano Mira A Serenada Touriga Nacional 2016 / Península de
16,5 17,00 € Nariz francamente vivo e sedutor, fruto do bosque, alguma compota, fruto Setúbal / Maria Jacinta Nunes da Costa Gomes Sobral
em passa. Na boca é seco, fresco, corpo leve mas amplo, final prolongado, a Rubi. Concentrado, fruto vermelho evidente, porém fresco, nada de
dar prazer desde já à mesa. 2020-2024 MB 16 12,00 €
sobrematurações. Balsâmico fresco, algum cacau. Na boca é seco, alguma
adstringência, boa estrutura e volume, uma Touriga de perfil consensual.
Monte Meão Vinha dos Novos Touriga Nacional 2017 2020-2025 MB
/ Douro / F. Olazabal & Filhos
Rubi intenso. Expansivo nos aromas florais, de compota de frutas vermelhas, Aldeias de Juromenha Touriga Nacional 2017 /
16,5 30,00 €
madeira muito subtil. Especiado e sápido na boca, a sua estrutura é Alentejo / Herdade Aldeias de Juromenha
equilibrada entre fruta madura e taninos firmes. Final perfumado. 2020-2025 Rubi vivo. A madeira surge em primeiro plano, bem integrada nas notas de
GC 16 14,90 €
cereja, amora e groselha. Conjunto fresco e apelativo. Na boca mostra bom
volume, frescura impressionante, tanino vigoroso, final longo, especiado e
Quinta das Lamelas Touriga Nacional Grande vivo. 2020-2025 MB
Reserva 2017 / Douro / José António da Fonseca
Augusto Guedes Coteis Touriga Nacional 2018 / Alentejo / Herdade dos
16,5 33,00 € Rubi vermelho. Nariz ainda marcado pela juventude, muita fruta fresca, Coteis
madeira ainda vincada, torrefação, sensação floral e cítrica. Na boca, a Rubi. Notas de violeta, cereja escura, ginja, algum caramelo, cedro
frescura impressiona dado o ano climático quente. Bom volume e amplitude 16 10,20 €
e especiaria. Tanino rugoso, firmeza geral, encorpado, de final muito
de boca. Está para durar. 2020-2028 MB persistente e levemente vegetal. Um Touriga musculado, pronto para todo-o-
terreno. 2020-2025 JJS
Quinta de Lemos Touriga do Bosque Touriga
Nacional 2015 / Dão / Quinta de Lemos Cottas Touriga Nacional Unoaked 2017 / Douro /
Rubi escuro. Muito balsâmico, convida-nos a entrar na floresta: mirtilo, Quinta de Cottas
16,5 35,80 €
resina de pinheiro, caruma, flor silvestre. Tanino esculpido, porte elevado 16 17,50 € Rubi. Esteva, ameixa e cereja escuras, impressões de baunilha e especiaria.
mas elegante, sedoso e de final interminável, com apontamento de charuto. Largo na dimensão, mostra apontamento vegetal no meio palato, finaliza
Está a evoluir. 2020-2025 JJS mais fresco e balsâmico. Está a iniciar o caminho. 2020-2025 JJS

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 97


TOURIGA NACIONAL

N OTA P RE ÇO NOME DO V INHO / REGIÃO / PRODUTOR N OTA P RE Ç O N O M E D O VI N H O / RE G I ÃO / P R O D U TO R

Herdade do Rocim Touriga Nacional 2018 / Alentejo Vale de Lobos Touriga Nacional Reserva 2017 / Tejo /
/ Rocim 16 Sociedade Agricola da Quinta da Ribeirinha
Vermelho. Primeira impressão de fruta em passa, notas cítricas a conferir Rubi escuro. Nariz de fruta madura, ameixa, com notas mentoladas mais
16 11,75 €
frescura, toque balsâmico, apontamento de cedro. Na boca é vivo, fresco,
7,50 €
frescas e alguma baunilha. Bom volume, taninos polidos e um certo carácter
tanino de qualidade a fazer-se notar. Final longo, salivante e gastronómico. vegetal. Acidez viva e bem enquadrada, algum fumo e feno, num conjunto
2020-2025 MB consensual. 2020-2024 CL
João Pato Touriga Nacional 2017 / Beira Atlântico / Adega de Pegões Touriga Nacional 2017 / Península de
16 Luís Pato Setúbal / Cooperativa Agrícola de Stº Isidro de Pegões
8,00 €
Rubi. Expressão floral e de piso florestal, mirtilo, cereja escura, algum 15,5 5,60 € Rubi. O nariz transporta notas de clima quente, fruta em passa, apontamento
vegetal seco, verniz e balsâmicos. Tanino fino, acidez sempre em fundo, balsâmico. A boca é cheia, compotada, a madeira confere estrutura, pede
estrutura solta e final saboroso. Não gerará consensos mas tem uma assados de carne. 2020-2025 MB
personalidade curiosa. 2020-2024 JJS
Cepa Pura Touriga Nacional 2019 / Lisboa / Quinta do
Marquês dos Vales Touriga Nacional 2019 / Algarve / Montalto
Quinta dos Vales 15,5 9,25 € Rubi. Algum floral, cereja vermelha fresca, morango e uma nuance vegetal.
16 17,90 € Rubi. Bagas vermelhas e negras frescas, notas cítricas, flor de laranjeira, Muito fresco, leve e fluido, termina suculento. Para mesas descontraídas.
ligeiro fumo. Na boca mostra vivacidade, tanino especiado, estruturado e 2020-2022 JJS
fresco. Final levemente picante e gastronómico. 2020-2024 MB
Ermelinda Freitas Touriga Nacional 2017 / Península
Piloto Collection Touriga Nacional 2018 / Península de Setúbal / Casa Ermelinda Freitas
de Setúbal / Quinta do Piloto Rubi vermelho. Fruta e madeira em abundância, notas de baunilha e café.
16 8,99 € Rubi. Fruto passificado, bagas vermelhas e negras, balsâmico, conjunto 15,5 9,99 €
Sabor doce, algo adstringente, bom corpo, acidez a conferir equilíbrio.
sedutor. Na boca mostra-se seco, frutado e fresco, nota especiada que Claramente uma Touriga de clima e ano quentes, a pedir mesa. 2020-2024
confere vivacidade, boa acidez no final fresco e longo. 2020-2024 MB MB
Plansel Touriga Nacional 2018 / Alentejo / Quinta da Evidência Touriga Nacional Reserva 2018 / Dão /
Plansel Parras Wines
16 12,54 € Rubi muito intenso. Frutas negras maduras, café, mais sério no perfil.
15,5 6,22 €
Rubi. Aromas evidentes da casta, com fruto vermelho e notas florais em
Poderoso, textura cremosa, taninos vigorosos, acidez equilibrada, final evidência, alguma compota, bergamota e folha de chá, conjunto fresco e
persistente e alcoólico. Uma Touriga de impacto. 2020-2025 GC elegante. Na boca é seco, algo adstringente e vegetal, mas não em demasia.
Fresco e prolongado, uma Touriga de perfil clássico. 2020-2026 MB
Pôpa Touriga Nacional 2017 / Douro / Quinta do Pôpa
Rubi de média intensidade. Um jardim de flores vermelhas, além de ervas, Quinta dos Capinhas Touriga Nacional Reserva 2018
16 18,00 € especiarias picantes e morangos silvestres. Médio corpo, bons taninos, / Algarve / Lieberwirth Sociedade Agrícola e Turismo
excelente frescura e energia. Boa persistência, final perfumado. 2020-2025 15,5 12,30 € Rubi. Alguma violeta, ameixa e cereja maduras, fumo e complementos de
GC pimenta preta. Estruturado, com volume presente, perfil sempre quente e
final de matriz especiada. Para mesas fartas. 2020-2023 JJS
Quinta da Vassala Touriga Nacional 2015 / Lisboa /
16 Sartal - Sociedade Agrícola de Repovoamento Florestal
Quinta da Rabiana Private Collection 2019 / Vinho
Rubi de média intensidade. Frutas vermelhas maduras, flores vermelhas
7,50 € Verde / Quinta da Rabiana
maceradas, madeira exótica presente e notas típicas de cascas de citrinos. 15 14,00 €
Rubi. Muito vegetal, alguma cereja e ameixa vermelhas. Tanino fresco,
Média estrutura, leve adstringência, acidez equilibrada, bom para um cabrito
acidez vincada, final leve e convidativo. Para o dia a dia. 2020-2021 JJS
assado. 2020-2025 GC
Quinta do Pinto Touriga Nacional Reserva 2015 / Vidigueira Touriga Nacional 2019 / Alentejo / Adega
Lisboa / Quinta do Pinto Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito

16 13,99 €
Nariz inicialmente contido, exibe notas de algum fruto silvestre, floral 15 7,29 € Rubi intenso. Nariz herbáceo, tons florais, frutas vermelhas. A boca é
discreto, ligeiro balsâmico, perfil mais elegante e menos concentrado. marcada pela acidez estridente, taninos algo verdes, e, ao mesmo tempo,
Seco no palato, cheio, com bom volume, tanino suave e macio, levemente uma doçura da fruta. Para enchidos de porco. 2020-2023 GC
especiado no final prolongado, a pedir pratos de tacho. 2020-2025 MB
O Mordomo Reserva Touriga Nacional 2019 / Tejo /
Quinta dos Corvos Reserva Touriga Nacional 2017 / Casa Agrícola Solar dos Loendros
Douro / Quinta do Estanho 14,5 6,90 € Púrpura intenso. Uma explosão de frutas negras maduras, rosas, citrinos.
16 20,00 € Rubi de média intensidade. Totalmente voltado para as frutas vermelhas A boca é tânica, de acidez equilibrada e algo de gás carbónico pela tenra
vibrantes, notas de citrinos e flores vermelhas. Corpo médio, taninos finos e idade. Final médio. Um tinto rústico para pratos gordurosos. 2020-2024 GC
maduros, equilíbrado, agradável toque de amargor no final. 2020-2024 GC
Sanguinhal Touriga Nacional 2017 / Lisboa /
Companhia Agrícola do Sanguinhal
16 11,00 € Rubi intenso. Groselhas vermelhas em compota, floral, algo de citrinos,
notas de baunilha. Encorpado, com boa densidade de fruta e equilíbrio. Final
médio e levemente alcoólico. 2020-2025 GC
* PVP ainda não divulgado.

Os resultados causaram algum assombro pela qualidade geral dos vinhos provados nas diferentes
categorias de preços mas, sobretudo, e ao contrário da expetativa inicial, na assunção generalizada
de um perfil de vinhos que pende para o lado do equilíbrio, da frescura e da elegância.

98 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


MORÁVIA
DO SUL
Mikulov, vinhos e imperadores

É uma das regiões em ascensão na Europa Central. A redescoberta do terroir


e das castas autóctones, após longo período de uniformização imposto pelo
comunismo, e os apoios financeiros que surgiram com a adesão da República
Checa à UE, deram um forte contributo para que os vinhos da Morávia do
Sul ganhem novo interesse. Há um aliciante extra – para que estes ilustres
desconhecidos deixem de o ser, obrigam a uma visita à região.

100 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


REPORTAGEM

texto Marc Barros / fotos D.R.

Com um passado
que remonta à ocupação
romana, a viticultura
é hoje uma atividade
No início de dezembro de 1815, na sequência dinâmica, estimulada em a sul, encostada à Áustria, a Morávia do Sul.
da Batalha dos Três Imperadores, Napoleão Esta última divide-se em quatro sub-regiões:
Bonaparte foi confirmado como um grande
grande parte pelo (devido) Slovácko, Velké Pavlovice, Mikulov e Znojmo.
estratega militar e soberano quase absoluto aproveitamento dos A recente reclassificação deu-se após a entrada
da Europa, fundador do I Império francês. do país na UE, simplificando e reduzindo o
Em Austerlitz, na Morávia do Sul (Slavkov
fundos comunitários que número de 10 sub-regiões que compunham
u Brna), a cerca de 10 km a sudeste de Brno, se seguiram à adesão da a Morávia. Inclui 17.421 hectares de vinhas, o
na altura região que integrava o Império
Austríaco, a chamada Terceira Coligação, for-
República Checa à União que representa 96% da área de vinha do país,
grande parte junto à fronteira com a Áustria
mada por Inglaterra, Áustria e Rússia, com a Europeia, em 2004. e o seu Weinviertel, onde predomina a varie-
neutralidade da Prússia, enfrenta as forças dade Gruner Veltliner.
francesas (que curiosamente haviam sido der-
rotadas cerca de dois meses antes por Nelson na batalha marítima de Um toque de Botrytis
Trafalgar).
A intenção inglesa era impedir por todos os meios a invasão da ilha O nevoeiro que ganhou a batalha a Napoleão diz-nos algo sobre
britânica, receio reforçado depois de Napoleão coroar-se rei de Itália. A as características da região. Localizada em torno do paralelo 49 N e
20 de novembro de 1805, Bonaparte derrota os austríacos na Baviera contígua às zonas vitivinícolas a sul da Alemanha e norte da Áustria,
e marcha sobre Viena, que viria a ocupar a 13 de novembro. E segue mas de influência continental, a Morávia conta com uma tempera-
ao encontro do exército austro-russo em Austerlitz. Aqui, Napoleão tura média anual de 9,42°C, precipitação média de 510 mm e 2.244
enfrentaria o czar Alexandre I da Rússia e o imperador Francisco II da horas de sol. O ciclo vegetativo é mais curto que na Europa Ocidental
Áustria (que na realidade não marcou presença, mas contribuiu para mas, na maioria dos anos, destaca-se a maior intensidade térmica dos
que a batalha assim ficasse conhecida). A 2 de dezembro, o exército meses de verão, o que permite o cultivo de castas de maturação tardia.
às suas ordens simulou uma tática de retirada e ocupou o estraté- É, aliás, comum, encontrar nos vinhos aromas terrosos e de mofo,
gico planalto de Pratzen, movimentações ocultadas por um espesso mais associados à Botrytis Cinerea.
nevoeiro que se fazia sentir, seguindo-se um ataque massivo francês No que diz respeito à classificação dos vinhos, os checos adotaram
que, em última instância, resultou numa vitória retumbante. um sistema decalcado do alemão, que avalia a maturação da uva
Como consequência, a batalha custou a perda da coroa do Sacro durante a vindima e, consequentemente, o teor de açúcar no mosto,
Império Romano-Germânico a Francisco I já que, pela paz de cujas denominações são atribuídas segundo o teor de açúcar residual.
Bratislava, a Áustria viu-lhe retirados os territórios do Tirol, Voralberg, Podem ir desde o suché (seco, até 9 gr./lt!); polosuché (meio-seco);
Veneza, Ístria e Dalmácia e Napoleão formou a Confederação de polosladké (meio-doce); ao sladké (doce).
Estados Alemães do Reno, sob o seu protetorado, destinada a fazer Em geral, trata-se de vinhos bastante leves, com alguma austeri-
tampão face à Prússia. dade, boa acidez (nem sempre capaz de equilibrar o teor de açúcar)
No período em que permaneceu na Morávia, Napoleão insta- e relativamente baixo teor alcoólico. Os vinhos brancos são protago-
lou-se no Castelo de Mikulov, hoje uma atração turística da região, nistas, mas alguns tintos podem ter boa fruta e equilíbrio. Os vinhos
e podemos certamente especular que tenha provado os vinhos pro- pozdní sběr (colheita tardia) são recomendáveis, bem como alguns
duzidos localmente. Isto porque a Morávia do Sul é o maior e mais sekt (espumantes).
antigo centro produtor de vinhos do país. E, como em quase tudo o que se refira ao país, a nomenclatura das
Com um passado que remonta à ocupação romana, quando as castas pode ser um problema. Não só pela dificuldade em apreender
legiões ocuparam as encostas de Pálava e plantaram as primeiras as designações, mas também pela diversidade de castas, algumas das
vinhas, a viticultura é hoje uma atividade dinâmica na região, esti- quais resultam de cruzamentos realizados durante a época comunista.
mulada em grande parte pelo (devido) aproveitamento dos fundos Desde logo a variedade Pálava, cruzamento de Muller-Thurgau com
comunitários que se seguiram à adesão da República Checa à União Traminer e muito utilizada em Mikulov, a sub-região que visitámos.
Europeia, em 2004. Isso é visível na paisagem vitícola, com a dissemi-
nação de grandes áreas de vinhas novas, e na construção de adegas A ronda de Mikulov
contemporâneas, de traço moderno. Funcionais, sóbrias e direcio-
nadas para a melhoria contínua dos vinhos. Por ocasião da última edição do Concurso Mundial de Bruxelas,
Grosso modo, a República Checa possui duas grandes regiões pro- que decorreu em Brno, foi possível visitar diversos produtores na
dutoras: a norte, junto à fronteira com a Alemanha, surge a Boémia; sub-região de Mikulov, que operam em diversas dimensões, mas têm

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 101


MORÁVIA DO SUL

Mikulov conta com cerca


de 4500 hectares de
vinhas, instaladas em solos
maioritariamente calcários
como foco o mercado interno, consumidor da Também foi em 2003 que a vizinha (lite-
totalidade dos vinhos aí elaborados. - o último afloramento ralmente contígua) Gotberg, próxima de
Mikulov conta com cerca de 4500 hec- calcário dos Cárpatos Hustopeč, arrancou o seu projeto vínico,
tares de vinhas, instaladas em solos maiori- tendo lançado o primeiro vinho em 2010. Este
tariamente calcários - o último afloramento Brancos -, nas montanhas produtor granjeia 56 ha de vinhedos, em cinco
calcário dos Cárpatos Brancos -, nas mon- de Pálava, que também vinhas: Panenský kopec, Svidrunk, Sonberk,
tanhas de Pálava, que também empresta o Stará hora e Unédy. Também aqui nota-se o
nome à casta branca autóctone mais tradi- empresta o nome à casta aproveitamento dos fundos comunitários que
cional da sub-região. As vinhas, que, na sua branca autóctone mais o país recebeu, com a sua moderna adega,
maioria, são conduzidas em cordão bilateral, discreta mas funcional, a apostar claramente
propícias a sistemas de pequena expansão
tradicional da sub-região. no aproveitamento do enoturismo. Entre
vegetativa que permitem altas densidades de os vinhos que merecem destaque, surgem
plantação, gozam, portanto, de altitudes assinaláveis e solos frescos, os monocasta Pálava, Tramín červený, Sylvánské zelené, Muškát
dando origem a vinhos predominantemente brancos, com aromas moravský, para além de um francamente bom Merlot.
frutados bem vincados, bastante especiados, picantes até, com boa Foi à chegada à aldeia vitícola de Dolní Dunajovice que fomos final-
mineralidade e acidez. Os principais centros vitícolas localizam-se em mente brindados com a prova de um sekt, do produtor Mikrosvín,
Mikulov, Valtice, Perna, Pavlov e Dolni Dunajovice. elaborado com base nas castas Ryzlink rýnský, Ryzlink vlašský e
Pavlov, região onde se produz vinho desde o séc. XVI, tem na Chardonnay, ao qual é adicionado Riesling da vinha Železná, tida
Vinarstvi Pavlov o produtor mais emblemático, que reúne diversos como uma das mais nobres do produtor, como licor de expedição. Este
pequenos viticultores locais e 20 ha de vinhas, processando um estagia nas borras durante pelo menos 36 meses e é produzido apenas
milhão de quilos de uva anualmente. O primeiro vinho foi produzido em anos adequados. A Mikrosvín Mikulov opera uma área de 520
em 2002 mas elabora vinhos desde os anos 70. O Bohemia Sekt é ha de vinhas próprias, nos municípios de Mikulov, Dolní Dunajovice,
especialidade da casa e, por isso, não são de estranhar as caves da Perná, Březí e Dobré Pole.
adega, construídas em 1698. O Château Valtice, criado pelos Liechtenstein no século XV,
Por seu turno, a família Volařík cultiva uvas nas colinas Pálava, conta com duas adegas exclusivas. A primeira a ser construída foi a
desde o período da Segunda Guerra Mundial. A adega foi estabelecida Zámecký sklep, existente a partir de 1430 na ala esquerda do castelo,
em 2007 e, desde então, acumularam sucessivos prémios. A sua pro- com capacidade para vinificar 500.000 litros. Mais tarde, a Křížový
dução centra-se quase exclusivamente em vinhos brancos. “Os vinhos sklep (1640), considerada hoje o centro deste produtor. Assumem a
brancos são uma prioridade para nós. A maioria dos vinhedos está forma de cruz e ostenta um corredor monumental com 136 metros
localizada nas encostas das colinas Pálava e a sua base de calcário cria de comprimento, atravessado por um braço com 90 metros. Possui
as condições ideais para vinhos como Welschriesling (Ryzlink vlašský) capacidade para um milhão de litros de vinhos. Verdadeiramente
ou Veltliner”, afirmou o produtor Jaroslav Volařík. A empresa elabora impressionante é também a “biblioteca”, com 50 mil vinhos do Wine
cerca de 300.000 garrafas anuais. Começaram com mais de 20 castas Salon da República Checa. O Château Valtice possui cerca de 6% de
plantadas mas estão a reduzir número de variedades na vinha, sendo toda a área de vinha do país, ou seja, cerca de 1000 ha. A presença
que a produção média ronda 6000 kg./ha. Para além da Pálava, foram dos Liechtenstein em Valtice terminou após a II GM, quando foram
provados vinhos de variedades tão singulares como Johanitter, que forçados a abandonar a então Checoslováquia e todas as suas proprie-
expressa aromas vegetais e melosos e consegue a proeza de oferecer dades passaram para o Estado.
sabores simultaneamente doces e picantes. Este período de nacionalização das vinhas e adegas foi responsável,
Defronte do rio Thaya, próximo da fronteira com a Áustria, dois ao longo dos anos, por um sistema que privilegiou o volume em detri-
produtores destacam-se: Sonberk e Gotberg. No primeiro caso, tra- mento da qualidade, negando o próprio conceito de terroir e, como
ta-se de um projeto recente, cujo nome surge do original alemão já referimos, propiciando a hibridização de castas, visando torná-las
Sonnberg, ou colina soalheira, que retomou em 2003 o passado mais produtivas. A reprivatização das vinhas e dos operadores, o des-
ancestral de produção de vinhos. Em cerca de 40 ha, cultiva as castas mantelamento das cooperativas e a entrada de fundos comunitários
Rhine Riesling, Pálava, Traminer e Muškát moravský (Muscat da em abundância estão a dar uma nova vida aos vinhos daquele país.
Morávia), para além de Pinot Gris (Rulandske Sedé), Chardonnay e Talvez, nos tempos mais próximos, não nos apercebamos disso. Afinal,
Merlot, produzindo cerca de 150.000 garrafas anuais. A moderna como o próprio Château Valtice faz questão em afirmar, “não ope-
adega, inaugurada em 2008, está instalada a 236 metros no topo da ramos nos mercados externos nem exportamos vinhos. Os clientes
coluna Slunečná. Com desenho do arquiteto checo Josef Pleskot, ofe- estrangeiros interessados nos vinhos terão que comprá-los direta-
rece vistas panorâmicas deslumbrante sobre as vinhas e a linha de mente na nossa adega em Valtice”. Mas, e isso podemos assegurar,
água formada pelos lagos de Nové Mlýny e Pálava, encimadas pelas vale bem a pena a visita.
ruínas de vários castelos medievais.

102 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


MORÁVIA DO SUL

EM BUSCA DA MODRÝ PORTUGAL

Responsável por pouco mais de 3% do


encepamento do país (566 ha.), a casta
tinta Modrý Portugal, bastante disseminada
pela Europa Central, sugere longínquas
origens lusas. Dependendo do país, a casta é
conhecida como Blauer Portugieser (Áustria),
Portugieser/Kékoportó (Hungria), Portugizac
Plavi (Croácia), Modra Portugalka (Eslovénia)
ou Portugizer (Sérvia). Porém, como em tantas
histórias no mundo do vinho, a lenda é bem
mais interessante que a realidade.
Rezam as crónicas que a casta terá sido
levada do Douro pelo botânico austríaco
Johann von Friest, no século XVIII, tendo-a
plantado posteriormente na sua propriedade
de Vöslau, em Baden, Áustria. Disseminada
pelo país no século XIX, chegou mais tarde
à Alemanha e, daí, espalhou-se pela Europa
Central. Diz-se até que chegou a ser a
casta tinta mais plantada da Alemanha na
década de 70. Sabe-se hoje que a origem
da casta é eslovena e surge do cruzamento
das variedades Blaue Zimmttraube e Gruner
Sylvaner. Dá origem a vinhos de cor pálida,
delicados, com aromas florais, frutos azuis e
vermelhos, taninos suaves e acidez reduzida.
Mas o nome, esse, mantém-se perene – afinal,
nem todos os países se podem gabar de ter o
nome numa casta. Nem sequer uma Touriga…

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 103


MORÁVIA DO SUL

OS PREMIADOS

Como habitual, pese embora tratar-


se de uma edição incomum, os
vinhos portugueses estiveram bem
representados na última edição do
Concurso Mundial de Bruxelas, que
reuniu pouco menos de 9000 amostras
de vinhos de todo o mundo em Brno.
Portugueses foram quase 1000. E,
também como habitual, os vinhos lusos
mostraram todos os seus pergaminhos,
arrecadando 306 medalhas. Pelo seu
reconhecimento internacional com o
selo Grande Ouro, é justo destacar os
vinhos Foral de Cantanhede Grande
Reserva 2011 e Marquês de Marialva
Grande Reserva 2013, ambos da Adega
Cooperativa de Cantanhede, Picos
do Couto Reserva 2016 e Quinta de
Lemos Touriga Nacional 2010, estes
dois do Dão, Rabo de Gala 2018, da
Casa Santos Lima e, da Casa Ermelinda
Freitas, Rocksand Shiraz 2018.
Seja responsável, beba com moderação.

Har monioso, frutado e com taninos delicados.

www.adegamor.pt
Para ver e ouvir

Manteiga
O veludo de leite
PRODUTO

texto Fátima Iken / fotos Ricardo Garrido

Manteiga. Só a palavra já nos põe a derreter por dentro. Aquela suavidade cremosa e
dourada a deslizar sobre uma fatia de pão, a sapidez salgada de uma onda láctea onde nos
espraiamos como quem mergulha num simples prazer. A manteiga das Marinhas é especial,
porque 100% artesanal. Há décadas que nos doa a natureza pura por mãos de mestre.
E, segundo a Wallpaper, é uma das 13 melhores manteigas do mundo.

A
bre-se o papel vegetal decorado em nata. Primeiro, durante 20 minutos, para alimentar. Apenas com o tempo muda de cor,
com vaquinhas azuis a pastar em obter consistência. Depois, num segundo se fora do frigorífico, mas as matizes são sempre
prados verdejantes, ao lado da momento, é batida mais uma hora, sendo o pálidas e esbranquiçadas, pois é nata pura. A
emblemática hélice de moinho líquido remanescente o chamado leitelho ou fábrica nasceu em 1954 na sequência da aqui-
azul e, lentamente, passa-se a soro de manteiga. A manteiga é ainda lavada e sição da Lacticínios de Esposende, Lda. e no
faca pela superfície untuosa. Uma onda de homogeneizada, verificando-se a percentagem início estava apenas certificada para a pro-
manteiga desenha-se sob o nosso olhar con- de humidade “que não pode ser mais de 16%”. dução de manteiga, numa altura em que os lati-
cupiscente. Onde está a fatia de pão fofo e Umas pedrinhas de sal (cerca de 1% do volume cínios davam os primeiros passos em Portugal.
acabado de fazer para barrar com manteiga, a total) completam a magia.
desfazer-se na boca, salina e cremosa? Pronto, Esta manteiga das Marinhas normalmente O primeiro queijo magro português
estamos felizes. esgota. Está-se mesmo a ver porquê. Era o caso
Não há pequeno-almoço digno de registo sem de hoje, pois quem quiser também pode com- Mas esta manteiga de luxo, nomeada em 2006
manteiga, portanto. Por que deixamos de a prar diretamente na loja da fábrica. Não admira como uma das melhores do mundo, só existe
usar? Para não engordar? Porque as tendên- que a Wallpaper a tenha eleito como uma das por causa do motor inicial da empresa, criado
cias nos bombardeiam com horrores de coles- 13 melhores do mundo. “Depois do artigo da por Reinaldo Castilho: um queijo magro que
terol e dietas da moda? Acabamos por recorrer Wallpaper foi o ‘boom’. Esgota quase sempre”, acabou por ser o primeiro em Portugal. No prin-
a produtos “light” pejados de bugigangas muito afirma Bárbara Castilho, hoje um elemento cípio, a manteiga acabava por representar um
piores, mas enfim... Quando a manteiga é pura da terceira geração deste projeto artesanal subproduto. Hoje, com a fama alcançada, tem
nata de leite batido em cadência, sem conser- e também responsável pela área de comuni- já, igualmente, posição de estrela, tal como o
vantes ou corantes, de vacas que vivem perto cação. queijo.
do mar, só pode haver promessas de saúde e Apesar da dinâmica e algumas inovações na “Na altura, o queijo mais comum era o flamengo,
sabor. criação de produtos, o respeito pela memória de bola vermelha, mas o meu avô teve a ideia
E é assim mesmo na Fábrica de Laticínios das e pelos procedimentos artesanais continua a de criar um queijo completamente diferente
Marinhas, em Esposende, com o Atlântico fazer parte da filosofia da casa, que resiste a
aqui tão perto. A paisagem de prados verdes modas e mudanças.
debruados pelo Cávado, a beleza natural de As vacas são oriundas da zona, entre Laúndos, Há várias gerações que a
Fão, Esposende ou Ofir acrescem de tipicidade Vila do Conde e Póvoa de Varzim e o leite é a tradição se cumpre num
a estes produtos lácteos, apesar de ser cada principal matéria-prima. Diariamente, entram
vez mais raro ver vacas a pastar no continente, aqui cerca de 6.000 a 8.000 litros de leite de mesmo ritual: bater a
infelizmente. Tudo é feito à mão aqui – naquela vaca, o que se traduz em cerca de 600 litros uma temperatura certa
que foi a primeira fábrica de laticínios certifi- de natas, como é o caso de hoje, por exemplo.
cada em Portugal, situada mesmo junto à EN Após análise, a nata retirada é colocada em e a um ritmo a compasso
13, que liga Porto e Valença. bilhas de metal de 50 litros e arrefecida numa das batidas do coração,
Mal entramos, um aroma acolhedor a leite e câmara frigorífica durante várias horas, de
nata envolve-nos. Pudera. Há bilhas com flocos modo a acidificar.  de forma a transformar-
de natas que parecem neve e tanques onde Depois de batida durante duas horas, pode ser se em nata. Primeiro,
repousam nuvens lácteas, numa espécie de adicionado sal ou não e a manteiga é manual-
espelho branco cremoso. mente embalada em papel vegetal, com vários durante 20 minutos, para
Aqui faz-se a nata, não se compra. A manteiga tamanhos. Se a manteiga com sal deve ser con- obter consistência. Depois,
nasce a partir da nata que se retira do leite sumida em dois meses, a sem sal tem apenas
para o queijo magro, outra das estrelas das um mês de validade. Estamos agora na sala
num segundo momento,
Marinhas. Há várias gerações que a tradição onde a manteiga é embalada à mão por várias é batida mais uma hora.
se cumpre num mesmo ritual: bater a uma tem- mulheres e estranhamos a cor branca. “Esta
peratura certa e a um ritmo a compasso das manteiga não tem corantes, por isso estranha
Umas pedrinhas de sal
batidas do coração, de forma a transformar-se não ser amarela”, alerta Sílvia, engenheira completam a magia.

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 107


PRODUTO

Manteiga

no formato, e também magro, depois de viajar dias ou até um mês, consoante o gosto, e cada A par da manteiga,
por toda a Europa a visitar fábricas. Era um lote tem escrito, manualmente, a data e o tempo
visionário e um homem muito fora da caixa. de cura. “Nós temos vários tipos de queijo e o o consumidor pode
Foi também ele, aliás, que lançou o cinema em consumidor pode escolher o que preferir, como degustar outros
Esposende”, conta-nos Bárbara. Não seria fácil um menu ‘à la carte’. Há clientes que querem
a introdução no mercado de um queijo branco, um queijo magro quase fresco a sair da cuba e produtos que a fábrica
magro, sem corantes e sem conservantes, num outros que gostam dele bem curado. Podemos, produz também de forma
formato atípico. Contudo, se primeiro se estra- assim, fazer queijo à medida porque esta é uma
nhou, depois entranhou-se. E, atualmente, empresa familiar”, enfaliza Bárbara. artesanal, para além do
a procura é tanta que esgota facilmente. Tal Mas, apesar de se respeitarem os procedi- queijo Marinhas magro, o
como a manteiga, o queijo é totalmente natural. mentos há quase 50 anos, também há lugar
É feito tal e qual como em 1954 ou seja, com- para a inovação. O queijo de cabra e a bisnaga queijo Cávado (flamengo),
pletamente artesanal, e essas são razões para de queijo cremoso fundido com menos 10% de o queijo amanteigado e o
prazos de validade muito curtos. gordura são algumas das novidades. Assim, a
De facto, há quem trabalhe aqui há 46 anos, par da manteiga, o consumidor pode degustar queijo fundido.
como é caso de Fernanda, uma das operárias outros produtos que a fábrica produz também
que confirma que a batedora ainda é a mesma de forma artesanal, para além do queijo
e todo o ritual de preparação completamente Marinhas magro, o queijo Cávado (flamengo),
artesanal. Os métodos de fabrico são, assim, os o queijo amanteigado e o queijo fundido. LACTÍCINIOS DAS MARINHAS
mesmos há 65 anos, mas a obrigatoridade de Esta gama de artigos completa a oferta desta Av. 19 de Agosto, 4399 / 4740-575 Esposende
usar máscara veio densificar os ritmos de tra- empresa que aposta na história para marcar a T. 253 961 176 / M. 966745627 / E. geral@lmarinhas.pt
balho destas verdadeiras heroínas que chegam diferença no mercado. Horário: segunda a sexta-feira, das 9h00 às 12h30 e
mesmo a embalar também à mão os produtos. O queijo Marinhas Mini é um produto natural, das 14h00 às 18h00
“Aqui é tudo 100% natural, até a fermentação, com adição de fermentos lácteos, cloreto de
feita através do frio, sem qualquer tipo de cul- cálcio e coalho. É fabricado com leite de vaca
tura láctea adicionada”, alerta ainda Sílvia. pasteurizado português, de origem regional,
Na sala ao lado, uma bela tina oval acolhe um parcialmente desnatado. Quanto ao queijo cre-
banho de leite em repouso, processando-se a moso é fundido, embalado em bisnaga de alu-
coagulação. Só para um quilo de queijo magro mínio, e fabricado a partir do queijo Marinhas,
são usados 13 litros de leite e o prazo de vali- com adição de sais de fusão. No portefólio da
dade pode ir até aos três meses casa existe ainda o chamado “Queijo Cávado”
O leite é pasteurizado, arrefece e depois é cen- e o “Queijo Ofir”, bem como o Queijo Marinhas
trifugado e homogeneizado, sendo seguida- Amanteigado, de textura característica
mente coagulado. untuosa, o que lhe acentua a sapidez e paladar.
De seguida, as liras de corte separam o soro da Quanto ao queijo de cabra Marinhas é também
massa, que é posteriormente lavada e prensada de fabrico artesanal, mas mais raro, dada a
para se enformarem os queijos, quando é atin- maior dificuldade em arranjar leite de cabra de
gida uma textura mais consistente. São cerca origem regional.
de 400 queijos enformados diariamente, à mão, Diabolizada pelo seu teor calórico em época
como tudo o resto, e com vários tamanhos. de barrigas lisas e abdominais desenhados, a
Os laticínios da Marinhas vendem-se pratica- manteiga é, sobretudo, fonte de vitaminas A
mente dentro de portas, no mercado nacional, e D essenciais à absorção do cálcio e possui
já que o seu curto prazo de validade não torna poder antioxidante (Vitamina E e Selénio) que
viável a exportação. O queijo é ainda posterior- protege as artérias. Apesar de dever ser utili-
mente salgado, com procedimentos diferentes zada com moderação, é um alimento funda-
caso seja magro, de bola, em barra, gordo ou mental tanto pela presença de ácidos gordos
amanteigado, colocando-se numa câmara de de cadeia curta como pelo reforço do sistema
cura a 10 graus. imunológico. De facto, o ácido butírico, pre-
sente na manteiga favorece a implementação
Uma escolha “à la carte” da bioflora, bífida e acidófila, reduzindo as con-
dições inflamatórias. Tudo razões acrescidas
Se o queijo magro apenas permanece uma para a consumirmos, moderadamente, mas
semana na câmara de cura, o gordo obriga a 15 sempre com muito prazer.

108 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


Bárbara Castilho
MANTEIGA
E VINHO
Uma manteiga verdadeira é muito mais do que uma emulsão de água em gordura. Conta a
história de um meio-ambiente que alimenta as vacas e está estampado no leite. Depois, temos
o papel determinante do homem na sua feitura, quão habilidoso e sensível é, e em que nível
irá recorrer às novas tecnologias. Lembra com o vinho? E, tal como o vinho, faz uma bela
ligação à mesa, como gordura sólida ou líquida.
HARMONIZAÇÕES

texto Guilherme Corrêa Dip WSET / foto Ricardo Garrido

Por algum trauma alimentar, passei uma boa parte da minha vida florais e de nozes e avelãs. Curiosamente, a manteiga preferida dos
sem gostar de manteiga. Lá pelos meus 20 anos aprendi a aceitá-la, grandes chefes e profissionais pelo mundo fora, do “artisan beurrier”
após ler um livro de um ‘foodie’ e crítico norte-americano que ensi- Jean-Yves Bordier, provém da Bretanha e não goza de nenhuma destas
nava a técnica do “masoquismo benigno”, isto é, expor várias vezes aos denominações.
sentidos um alimento que não se tolera e assim convencer o cérebro e Assim como a uva transporta o meio ambiente ao vinho, o leite cru
os orgãos sensoriais que aquilo sabe bem. E, às vezes, o resultado deste das vacas reflete as condições naturais onde pastou a relva e as ervas
exercício é transformar a resistência inicial num dos ingredientes ou autóctones, com o sabor singular da região. E também as culturas de
pratos preferidos. Atualmente sou apaixonado por manteigas, artesa- micro-organismos que se desenvolvem no leite e no seu creme. Bordier
nais ou industriais, desde que de grande qualidade e que exprimam de celebrizou a frase “a manteiga é um mata-borrão da natureza”. De
preferência o seu terroir, estilo e elaboração, tal como no vinho. Nada facto, mesmo que o creme seja pasteurizado na esmagadora maioria
de barras amarelas sem “somewhereness” que apenas aportam uma das manteigas comercializadas do mundo, o perfil da estação do ano
gordura qualquer à nossa vida. e da cultura lática que atuarão sobre o creme depois da pasteurização
Tal como o vinho é apenas o mosto da uva fermentado, e dessa - esta última espontânea nas manteigas mais artesanais -, far-se-ão
descomplicada origem nasce uma miríade de cores, aromas, texturas sentir na cor, perfil aromático e sabor. Aromas mais herbais e florais
e estilos, dos mais simples “funcionais” de supermercados aos néc- na primavera; cor mais amarela devido aos carotenóides no pasto e
tares mais sublimes e raros, a manteiga é um laticínio com matizes. aromas mais ricos, caramelados e confitados no verão; mais tostados
Acompanha o homem desde que este começou a domesticar os pri- e de castanhas no outono; e uma cor clara e sabores mais doces no
meiros rebanhos de cabra e ovelha, milénios antes de Cristo, na inverno, quando a alimentação é feita, sobretudo, de feno seco.
Mesopotâmia. Como a bacia do Mediterrâneo era relativamente Microrganismos indígenas, tal como no vinho, são menos controláveis,
quente para mantê-la no seu estado sólido e evitar a rancificação, mas podem gerar sabores mais complexos, picantes e típicos da região.
prejudicial ao sabor e à manutenção dos nutrientes do leite - ao con-
trário dos queijos -, ligou-se aos países nórdicos europeus. Os gregos Em Portugal
e romanos, por exemplo, referiam-se à manteiga como um dos poucos
alimentos finos dos “bárbaros do norte”. No nosso pequeno país abençoado gastronomicamente, ainda tão
Embora haja diversas técnicas, mais tradicionais ou modernas, para modesto em vangloriar os produtos ímpares que tem nos seus campos,
inverter a emulsão de glóbulos de gordura na água do creme de leite rios e oceano, e talvez por isso ainda não reconhecidos mundialmente
em emulsão de água em gordura da manteiga, basicamente o que deve como deveriam, dispomos de algumas das melhores barrinhas cre-
acontecer é uma batedura do creme. Assim rompe-se a membrana que mosas do mundo.
envolve os glóbulos de gordura, possibilitando a sua aglomeração e Quando cheguei a Portugal e fui apresentado aos queijos e man-
consequente formação da manteiga, com eliminação de grande parte teigas dos Açores, rendi-me absolutamente ao seu caráter e qualidade.
dos componentes não gordurosos através do leitelho. Em França, onde Para um profissional do vinho, e mesmo sem ter ainda visitado esse
a manteiga é um dos principais esteios da sua prestigiada gastronomia fabuloso arquipélago, ficou claríssimo que ali imperavam condições
pelo menos desde o séc. XVII, faz-se uma grande distinção neste ponto de clima, de solo, ventos e outros fatores naturais muito particulares,
da batedura: nas manteigas mais artesanais, denominadas “beurre determinantes para a diversidade e sabor das suas pastagens, prados e
de baratte”, o processo é realizado em cilin- forragens. Já apresentei a alguns amigos profis-
dros giratórios tradicionais, alguns ainda de sionais estrangeiros um queijo da Ilha de São
madeira, que separam a massa sólida da líquida. Há três denominações Jorge bem curado, e todos se admiraram de
Após a separação do leitelho, adiciona-se água não figurar no rol dos melhores e mais pecu-
gelada para uma segunda “barattage” dos grãos
controladas em França: liares do mundo, com a sua riqueza de sabor
de manteiga. As manteigas mais industriais são “beurre d'Isigny” da e textura, a “tanginess” herbácea e sápida que
elaboradas em máquinas agitadoras contínuas fala de pasto, mar e vulcão. Da mesma forma,
Normandia, aveludada e
de inox, ou “butyrateurs”, os quais não pre- podemos lambuzar-nos com manteigas fabu-
servam tanto os glóbulos de gordura, compro- com notas de avelã, “beurre losas que sabem ao clima subtropical húmido
mentendo assim a textura ultra cremosa que e oceânico e aos solos vulcânicos açorianos,
Charentes-Poitou” - a
encontramos com maior frequência nas man- e aqui cito as minhas preferidas: a potente e
teigas “de baratte”. famosa manteiga Échiré do complexa Uniflores da Ilha das Flores, a mais
Mais ainda, no paraíso das manteigas -
homónimo laticínio provém elegante e texturizada Rainha do Pico e a não
embora existam excelentes exemplares em menos rica e deliciosa Ilha Azul do Faial.
Inglaterra, Irlanda, Dinamarca, Espanha e dessa região - da Aquitânia, No wine-bar em Lisboa de fui o diretor
Itália -, a origem é levada muito a sério. Há três de características mais de vinhos, trabalhávamos com uma man-
denominações controladas em França: “beurre teiga do norte de Portugal continental, para
d'Isigny” da Normandia, aveludada e com frutadas e, finalmente, a sermos diferentes daqueles poucos que ainda
notas de avelã, “beurre Charentes-Poitou” - a “beurre de Bresse”, entre investem em excelência em todos os ingre-
famosa manteiga Échiré do homónimo laticínio dientes e acabam por optar pelas amarelinhas
provém dessa região - da Aquitânia, de carac- a Borgonha, a Sabóia e o dos Açores. Procurávamos semanalmente na
terísticas mais frutadas e, finalmente, a “beurre Jura,com notas herbáceas, fábrica de lacticínios situada na freguesia das
de Bresse”, entre a Borgonha, a Sabóia e o Jura, Marinhas, concelho de Esposende, distrito
fundante na textura, com notas herbáceas, florais e de nozes e avelãs. de Braga, a incrível manteiga das Marinhas.

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 111


HARMONIZAÇÕES

Elaborada desde 1954 por métodos artesanais, reflete um outro ter- uma textura rica e untuosa pedirão outro perfil de vinho. Devemos
roir e maneiras diferentes das gerações de trabalho, resultando numa contudo sempre evitar as frituras por imersão a temperaturas muito
coloração palha, textura fundente de grande qualidade e um sabor altas, pois o “ponto de fumo” da manteiga é baixo: por volta dos 150ºC
extrememante requintado, adocicado e persistente. Entre Açores e já começa a degradar a sua estrutura de ácidos gordos livres, contra os
Marinhas? É como se comparássemos a explosão salgada e fumada de 200ºC aproximadamente do azeite extra-virgem. No caso da manteiga
um Verdelho dos Açores com a elegância e persistência da fruta de um derretida, por exemplo em vieiras ao forno na concha, ou em molhos
Alvarinho de Melgaço - não há melhores, apenas expressões emocio- de emulsão como no clássico francês para peixes à base de chalotas e
nantes de terroirs distintos. vinho branco, o chamado “beurre blanc”, não falamos já em gordura
sólida, mas em untuosidade. Nesta situação, o melhor é partirmos para
Para harmonização, há gorduras e gorduras… um rico Borgonha branco na faixa dos 13,5º de álcool, ou um belo
Encruzado do Dão já com 14º gr./lt., trabalhado judiciosamente em
A manteiga é um produto perfeito para percebermos bem um dos barricas “à la bourguignonne”.
maiores equívocos em que muitos amadores e até alguns profissionais
da enogastronomia incorrem ao propor um casamento vinho-alimento. “Manteiga no vinho”
Asserções generalistas do tipo “acidez corta gordura” são omnipre-
sentes e assaz perigosas. Como discutimos por vezes neste espaço da Para além dos mais de 80% de gordura e 15% de água e aproximada-
revista, a acidez dos vinhos, ao lado da sapidez (e do gás carbónico dos mente 3% de sal - quando é o caso -, a manteiga é ainda composta por
espumantes), são armas poderosas para, através de um forte estímulo vitaminas liposolúveis A e D e uma centena de compostos diferentes
à salivação, ajudar à dispersão e diluição e consequente emulsionar das que contribuem para o sabor único, como lactonas, ácidos gordos,
gorduras sólidas. O efeito destas gorduras, como é o caso da manteiga diacetil, metil cetonas e dimetilsulfureto. Estes compostos ligam-se
na temperatura de frigorífico, ou de um sashimi de atum toro ou ainda molecularmente muito bem com vinhos de caráter amanteigado, prin-
um enchido de porco, é uma sensação tátil de emplastramento ou pas- cipalmente aqueles que sofreram fermentação malolática. Um dos
tosidade. Vinhos vibrantes e com muita frescura cortam essa sensação corolários desta conversão, pelas bactérias láticas, do ácido mais forte
de riqueza quase enjoativa, trazem vida ao casamento o qual, por sua e duro – málico -, num ácido mais redondo e dócil – lático -, é a for-
vez acalma o ímpeto demasiado festeiro. mação do componente diacetil, cujo aroma é aquele que mais asso-
Se a gordura é líquida, conforme discutido no nosso artigo sobre ciamos à manteiga fresca (ou às pipocas de micro-ondas). O mesmo
o azeite, temos que procurar no vinho elementos que enxuguem ou diacetil é gerado no creme de leite através da ação da cultura lática,
minimizem os efeitos dessa untuosidade na boca - no caso, taninos ou, sobretudo pelos Streptococcus cremoris, Leuconostoc citrovorum,
nos vinhos brancos, o álcool - e não um elemento como a acidez, que Leuconostoc dextranicum e Streptococcus diacetylactis a partir do
induz a uma salivação intensa, ou seja, estaríamos a aumentar a quan- ácido cítrico e dos citratos.
tidade de líquidos na cavidade bucal, em vez de diminuí-la. Nos vinhos, a concentração do dimetil determina a sua intensidade.
Como o ponto de fusão ou derretimento da manteiga é relativamente O limiar de perceção num Chardonnay, por exemplo, é de apenas 0,2
baixo e adquire uma consistência “espalhável” mg./lt. e num Cabernet Sauvignon ou outros
por volta dos 15ºC, torna-se uma gordura tintos estruturados é de 2,8 mg./lt.. A con-
líquida, dependendo da quantidade de sólidos No caso da manteiga centração de dimetil depende por sua vez das
do leite e da composição de centenas de tipos derretida, por exemplo em estirpes das bactérias envolvidas na malolática,
de ácidos gordos, ao redor dos 35ºC, ou seja, da velocidade e disponibilidade de oxigénio na
próxima da temperatura interna da cavidade vieiras ao forno na concha, conversão, do pH do vinho, da sulfitagem e da
bucal. Essa fração de mais de 80% de gordura ou em molhos de emulsão concentração de ácido cítrico.
pura, composta principalmente de triglicerí- De mãos dadas com a química podemos
deos, quando servida próxima da temperatura como no clássico francês para tomar decisões mais informadas e promover
do frigorífico, pedirá um perfil de vinho dotado peixes à base de chalotas e maridagens mais harmoniosas e duradouras.
de acidez cortante, coadjuvada por outros ele- Da próxima vez que sentir as típicas “buttery
mentos de dureza, como a sapidez mineral e vinho branco, o chamado notes” ou notas amanteigadas nos brancos que
a espuma carbónica. Há harmonização mais “beurre blanc”, falamos em passam por estágio em barricas de carvalho e
sedutora para um grande champagne rosé ou que normalmente realizam a conversão malo-
espumante rosado da Bairrada de Baga, do que untuosidade. Nesta situação, lática, traga o diacetil da manteiga para animar
uns canapés cobertos com discos de manteiga o melhor é partirmos para a festa de casamento. E não se esqueça do por-
fria e uma generosa colher de ovas de salmão? menor que faz toda a diferença: se o equilíbrio
O impacto ácido, de frescura e mineralidade
um rico Borgonha branco na do vinho pender para a acidez e baixo álcool,
destes vinhos, reforçados pelo gás carbónico faixa dos 13,5º de álcool, ou normalmente resultante de climas mais frescos,
natural, ajuda a emulsionar a gordura e tem a manteiga também deve ser gelada e sólida; se
o seu ataque de dureza amortecido pela man-
um belo Encruzado do Dão o equilíbrio pender para uma acidez menos
teiga, ou seja, uma perfeita situação de “win- já com 14º gr./lt., trabalhado cortante e maior riqueza alcoólica, registo de
-win”. climas mais quentes, o melhor mesmo é que a
Quando aquecemos a manteiga para diversas
judiciosamente em barricas “à manteiga esteja derretida pelo vinho.
preparações culinárias, sabores maravilhosos e la bourguignonne”.

112 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


CRÍTICA GASTRONÓMICA

texto Miguel Pires / fotos Fabrice Demoulin

Zunzum
Gastrobar
O lado B de Marlene

Ainda não há Marlene - assim se vai chamar o lugar de


fine dining da chefe nortenha radicada em Lisboa -, mas
já há o mais descontraído e acessível Zunzum.
Marlene Vieira dispensa grandes apresentações. É provavelmente a cozinha, em geral, também (com uma outra exceção), mesclando tra-
chefe de cozinha com formação específica mais conhecida do país. Por dição e contemporaneidade de uma forma descontraída. Há pratos
um lado, e em boa parte, essa notoriedade deve-se ao reconhecimento mais óbvios, como o arroz de bivalves, o arroz de pato ou o polvo à laga-
do seu trabalho e percurso nas cozinhas, bem como rosto dos seus pró- reiro; outros mais criativos, como a filhós de Bulhão Pato, ou incomuns,
prios projetos: restaurantes, presenças televisivas, livros. Por outro lado, como o corndog.
a fama vem também da sua personalidade, da garra, da ambição e do
facto de dizer o que pensa sem pruridos - nomeadamente na sua con- Cozinha generosa e clara
dição de mulher numa área ainda de excessivo domínio masculino -, o
que faz com que seja uma presença regular nos media. A nossa visita aconteceu num sábado ao almoço de setembro.
Porém, por diversas razões, desde que saiu do Avenue, em 2012, Chegámos cedo, pelas 12h30, e embora o espaço da esplanada se mos-
Marlene Vieira ainda não conseguiu regressar a um dos seus grandes trasse bastante agradável, o calor levou-nos a optar por uma mesa no
desejos, o de ter um restaurante gastronómico de cozinha de autor com interior, com as mesas dispostas de forma a cumprir as normas da DGS.
ambições a voos altos (leia-se: estrela Michelin). Esse desejo esteve O restaurante acabou por chegar à lotação permitida, o que não deixa
para acontecer em Março, tal como o espaço de que falo hoje. Porém, a de ser agradável, e viu-se perfeitamente que tal é possível, em segu-
pandemia da Covid-19 adiou essa intenção para este mês de outubro, rança.
ainda sem dia confirmado. Começámos com uma salada do dia, fresca e com um agradável twist,
Portanto, à data em que escrevo este texto, ainda não há Marlene, composta por folhas de alface e rúcula, figos frescos, fatias de espa-
assim se vai chamar o lugar de fine dining da chefe nortenha radicada darte curado, cebola frita, e aquilo me que pareceu ser um chutney
em Lisboa, mas já há o mais descontraído e acessível Zunzum. Um e ligeiro de ananás, no fundo. Depois, veio a sapateira com abacate e ovas
outro, bem como uma extensa cozinha e espaço de produção parti- de truta sobre uma telha crocante de pão. A ligação entre o crustáceo
lham uma generosa nave de um dos novos edifícios do novo Terminal e aquele fruto é muito usual em ementas de verão de lugares com um
de Cruzeiros de Lisboa, junto a Santa Apolónia. toque autoral por esse mundo fora e Marlene interpreta-a bem, sendo
Num espaço moderno e amplo, de linhas retas e vidros em todos os generosa na porção (de carne das pinças do bicho) e clara, com um
lados, os responsáveis pelo Zunzum assumiram a sobriedade e o mini- toque picante, no tempero. Muito bom!
malismo do lugar – que inclui ainda um bar, esplanada, e uma parte com Ideia maravilhosa e concretização feliz é a das filhós à Bulhão Pato.
exposição e venda de produtos - mas intervieram o suficiente, na cor Trata-se das filhós de forma, aquelas do Natal em que se banha a base
vermelha, no mobiliário e no desenho gráfico, conseguindo assim trans- de um ferro em forma de flor (ou outra) e se leva a fritar resultando num
mitir um ambiente mais caloroso e uma certa sensação de aconchego. rendilhado crocante delicioso. Na sua versão salgada, Marlene Vieira
Na verdade, não deixa de parecer um pouco uma agradável cafetaria preenche os canais deixados pela forma com um creme que leva os
de um museu, mas com personalidade. ingredientes do Bulhão Pato (azeite, alho, coentros), acrescentando
O Zunzum apresenta-se como “gastrobar” e por isso a carta impressa pontos de gel de limão, um pouco de pó algas e berbigões. Come-se em
(num material rígido plastificado e higienizada discretamente a cada uma ou duas bocadas e se cair na mão à primeira, lambe-se os dedos
utilização - como pude verificar) é composta por pequenos snacks, que com prazer. Portugal com um belo twist na palma da mão.
vêm normalmente aos pares, bem como pratos em doses comedidas O “Corn dog”, uma invenção “pop” americana, é uma salsicha num
e preços em conformidade. Os produtos são portugueses e estilo de espeto que é frita depois de passada por um polme de farinha de milho.

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 115


CRÍTICA GASTRONÓMICA

Não resisti ao enrolado


dos Açores nem às três
texturas de chocolate.
Ambas eram muito
boas, interessantes e
primorosas, quer na
execução, quer na
apresentação.

No Zunzum ele é feito com choco e camarão (e sabe e pouco doce -, com compota de ananás no interior e
a tal) e transforma-se num agradável e guloso petisco creme de chantilly de limão galego no topo, uma conju-
depois de mergulhado no ketchup de pimento. gação doce-ácida muito bem conseguida.
Espetada de porco preto frito, milhos fritos, lembra- A segunda é um hino, um verdadeiro orgasmo tân-
-nos a receita típica madeirense, não fosse a carne trico para chocólatras: mousse de chocolate negro do
de porco alentejano ter substituído a de vaca da ilha. Brasil, cremoso de chocolate negro de São Tomé, bolo
Excelente, diga-se: carne tenra, suculenta, com pro- de chocolate (chiffon), e crumble de amêndoa e cacau.
porção certa de gordura e um fumado da passagem Tudo aquilo é finesse e prazer prolongado. A envol-
grelha a dar-lhe um irresistível toque final. vência na boca, o contraste das texturas, a qualidade
Em termos de salgados, o almoço poderia ter termi- e as nuances dos diversos chocolates... Santa Mãe de
classificação nado por ali, mas a gula (e o ofício, vá) levou-me ainda
ao arroz de bivalves. E foi a única semidesilusão. Não
Cristo!
No capítulo dos vinhos, a aposta é comedida, ao
que estivesse mau. Não estava: o arroz vinha no ponto, contrário dos cocktails, por exemplo. Pode ser momen-
cremoso e rico de sabor. Porém, por cá, quando penso tâneo, por causa da pandemia, mas tendo um horário
em bivalves, imagino ameijoa, berbigão, conquilha ou alargado e um escanção como João Pichetti (que
17 lingueirão e não tanto mexilhão, que era o molusco em conheci em São Paulo, quando era sommelier do D.O.M.,
larga maioria no prato, junto com alguns berbigões. de Alex Atala) é uma pena se não aproveitarem essas
Cozinha Acho que seria preferível cobrar mais uns euros e apre- valências. Ainda assim, Pichetti construiu uma carta
sentar um prato mais rico, inclusive na apresentação. de vinhos curta, com pouco mais de 30 referências (3
espumantes, 10 brancos, 10 tintos, 2 rosés, 6 generosos),
Doces tentações mas com critério e opções interessantes e menos evi-
16,5 dentes. Acompanhámos a refeição com um branco de
A doçaria é um tema querido para Marlene Vieira que, talha alentejano, da Amareleja, o Talha Pezgada, um
Sala ao contrário de outros chefes de cozinha, tem um gosto vinho agradável, suave, com alguma complexidade,
especial pela atividade (sendo autora, inclusive, de dois feito com uvas das castas Diagalves, Roupeiro e Antão
livros sobre o tema) e para este projeto foi buscar, como Vaz fermentadas em talhas revestidas com pez.
consultor, Luca Arguelles, um dos melhores pasteleiros Uma última palavra para o serviço que foi prestado
16 do país. Aliás, estava previsto haver um menu de degus- de forma descontraída, afável, com correção e conheci-
tação de sobremesas no bar de entrada, mas a ideia foi mento. Ou seja, com o profissionalismo e simpatia ade-
Vinhos deixada para mais tarde. Enquanto não vem, pode-se quada ao espaço e ao conceito. Enquanto esperamos
ficar com uma ideia provando as propostas do atual pelo Marlene, fica um bom exemplo da cozinha mais
menu. informal com um bom twist de Marlene Vieira.
Preço médio, por pessoa, Como tinha terminado com arroz, não fui na versão
com bebidas: 40,00€. doce, de que já muito se fala. Porém, não resisti ao enro- ZUNZUM GASTROBAR
Pagou-se por esta refeição lado dos Açores, nem às três texturas de chocolate. Edifício Norte, Doca do Jardim do Tabaco, Lisboa | T. 21 050 0347
111,00€ (duas pessoas). Ambas eram muito boas, interessantes e primorosas, Horário: segunda a sexta-feira, das 17h00 às 23h00; sábados e
quer na execução, quer na apresentação. A primeira é domingos, das 12h00 às 23h00
um biscuit choux de chá verde - um enrolado, leve, fofo

116 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


NOVIDADES

texto e notas de prova Célia Lourenço / fotos Arquivo

Murganheira

A sedução do
espumante
A Murganheira é uma marca portuguesa de
excelência e quando se fala de espumantes de
qualidade, é absolutamente incontornável.
Criada em 1946, no vale do rio Varosa, O rigor do tempo
viria a mudar de mãos em 1986. Orlando
Lourenço tem, desde então, honrado o rigor Da penumbra das famosas caves de gra-
e dedicação que o fundador, Acácio Laranjo, nito azul, conhecem agora a luz várias das
imprimiu àquele que viria a ser um dos mais de 20 referências que a Murganheira
grandes nomes de espumantes em Portugal. produz. Este conjunto de vinhos com-
E na enologia, Marta Lourenço tem sabido prova a diversidade a que o produtor nos
imprimir a continuidade necessária, numa tem habituado, com a sua escolha eclética
produção anual de cerca de 1,5 milhões de de castas, portuguesas e internacionais, a
litros. denunciar um sentido apurado de inves-
Números dignos do historial da empresa tigação e experimentação, procurando a
e da região. A história do vinho em Portugal melhor matéria para os vários estilos.
tem inúmeras referências a Cister e, aqui, Estes espumantes sublinham o rigor com
estamos onde tudo começou. Foi a partir que o tempo é tratado. Os mais recentes,
Estes espumantes sublinham também os mais simples, são de 2017. Depois,
de Tarouca, um dos oito concelhos da
o rigor com que o tempo é região vitivinícola de Távora-Varosa, que os caminhamos na complexidade e delicadeza,
monges brancos espalharam conhecimento. e recuamos para vinhos com estágios mais
tratado. Não é por acaso que
Entre as culturas agrícolas, a vinha era uma longos, até ao extraordinário Murganheira
falamos de cremosidade, de prioridade (no início, para a produção de Grande Reserva Bruto Assemblage 2005.
vinho para a missa, depois para autocon- Não é por acaso que falamos de cremo-
bolhas finas e de texturas
sumo das populações e comércio). sidade, de bolhas finas e de texturas que
que exaltam uma mousse Enquanto a consciência de que a região exaltam uma mousse rendilhada. Toda esta
delicadeza, quase filigrana, apenas se con-
rendilhada. Toda esta tinha características naturais ótimas para
a produção de vinho foi rapidamente segue com o contacto prolongado com a
delicadeza, quase filigrana, adquirida, a história e a experiência foram matéria orgânica da segunda fermentação
apenas se consegue com o demonstrando que a produção de espu- em garrafa (e com uma grande qualidade
mantes era um atributo especial que merecia desses vinhos base). Quando caminhamos
contacto prolongado com a ser explorado, havendo registos de terem para os dez anos sur lies, ou ultrapassamos
matéria orgânica da segunda sido os monges de Cister a iniciar a pro- como em alguns destes exemplos, ser petil-
dução de espumante no século XVII (inte- lant significa muito. Finesse, frescura, pro-
fermentação em garrafa (e ressa referir que esta ordem religiosa estava fundidade. Tudo num outro patamar que
com uma grande qualidade fortemente enraizada em Champagne). nos envolve e nos faz reflectir sobre o que
Távora-Varosa é uma região com uma temos no copo.
desses vinhos base). altitude média de 550 metros. Os solos são A consistência de qualidade destes vinhos
essencialmente graníticos areno-argilosos é por nós reconhecida em cada lançamento.
e o clima é fortemente continental, com O que continua a demonstrar a enorme
verões quentes e invernos rigorosos. Com vocação da região Távora-Varosa para
este cenário, enriquecido por uma escolha a produção de espumantes e o saber da
cuidada das castas, vamos ter bastante fres- Murganheira.
cura e teores de acidez que conduzem a
excelentes vinhos base para a produção de
espumante.

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 119


MURGANHEIRA

Orlando Lourenço Marta Lourenço Herlander Lourenço

17,5 17,5 17 17
Murganheira Murganheira Grande Murganheira Extrême de Murganheira Velha
Chardonnay Bruto 2013 Reserva Bruto Pinot Blanc Bruto 2015 Reserva Bruto 2014
Távora-Varosa / Espumante / "Assemblage" 2005 Távora-Varosa / Espumante / Távora-Varosa / Espumante /
Sociedade Agrícola e Comercial Távora-Varosa / Espumante / Sociedade Agrícola e Comercial Sociedade Agrícola e Comercial
do Varosa Sociedade Agrícola e Comercial do Varosa do Varosa
Cor palha, com bolha delicada. do Varosa Cor citrina, com bolha intensa. O Dourado claro e luminoso,
Nariz elegante, com maresia, geleia Amarelo limão carregado, com nariz é curioso e sedutor, lembrando apresenta um cordão de bolhas
de marmelo, notas de padaria, bolha fugaz. Vinho adulto e sério, o perfil de alguns champanhes. delicadas. O nariz é elegante, com
num conjunto de grande subtileza. com aromas de evolução e notória Notas de pedra molhada, geleia notas de pão torrado, brioche e
Cremoso e longo, apresenta o matriz portuguesa de vinho branco de fruta, avelã, pão torrado e a alguns aromas mais doces que
mesmo tom de fruta em geleia, com idade. Fruta madura, um elegância das flores brancas. lembram pêssego. Boca complexa,
maçã, limão e uma nota metálica toque de mel e espuma do mar. A Na boca, é cremoso, com notas mousse envolvente e cremosa,
rigorosa. Muito charmoso, límpido, boca segue o perfil dos aromas, de padaria e maçã verde. É um com notas de fruta desidratada,
com acidez vibrante e final de bem desenhada, viva, com mousse espumante estruturado apesar da acidez evidente e mineralidade no
“água das pedras”, é um grande rendilhada. É mineral e profundo, delicadeza, com personalidade e mesmo tom. Termina longo e bonito.
exemplo do clássico “blanc des com final longo e emocionante. classe. Consumo: 2020-2024 Consumo: 2020-2023
blancs”. Consumo: 2020-2024 Consumo: 2020-2023 19,00€ / 8ºC 12,90€ / 8ºC
19,00€ / 8ºC 19,00€ / 8ºC — —
— —
17 16,5
17,5 17 Murganheira Touriga Murganheira Super
Murganheira Cuvée Murganheira Czar Nacional Bruto 2011 Reserva Bruto 2015
Reserva Especial 2007 Grande Cuvée Rosé Távora-Varosa / Espumante / Távora-Varosa / Espumante /
Távora-Varosa / Espumante / Bruto 2015 Sociedade Agrícola e Comercial Sociedade Agrícola e Comercial
Sociedade Agrícola e Comercial do Varosa do Varosa
Távora-Varosa / Espumante /
do Varosa Cor levemente acobreada, com Cor palha claro e bolha média. Nariz
Sociedade Agrícola e Comercial
Amarelo limão, com bolha fina. bolha delicada e persistente. envolvente, com zestes de limão
do Varosa
Nariz discreto, com flores brancas Aromas de flores secas, maçã e limão confit, a par de notas de
delicadas, notas de brioche e Cor salmão, com bolha fina. Nariz madura e alguma tosta são maresia. Mousse intensa, boca séria,
espuma do mar. Mousse etérea, bonito, com pot pourri, notas de os primeiros traços de uma com um lado mineral evidente. É
ligeira manteiga e frescura incisiva, fermento e morango silvestre personalidade vincada. Na boca, um vinho de fácil empatia, bem
pedra molhada, limão e notas mais maduro. A boca é muito equilibrada, sente-se um ligeiro amargor, proporcionado, com amplitude e
evoluídas. É um vinho enigmático, com mousse cremosa e sedutora. mousse fina, notas de geleia, acidez viva. Consumo: 2020-2024
que se exprime com finesse e Final de “água das pedras” que lhe fruta madura e noz, com uma 10,80€ / 8ºC
subtileza, com clara vocação para a dá um tom mais austero, desafiador nota metálica no final. Espumante
refeição. Consumo: 2020-2024 perante o romantismo dos aromas. elegante e diferente, intenso,
Consumo: 2020-2024 envolvido numa acidez bem viva e
19,00€ / 8ºC
24,60€ / 8ºC distinta. Consumo: 2020-2023
15,40€ / 8ºC

120 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


Para ver e ouvir
NOVIDADES

texto e notas de prova José João Santos, Luis Costa, Manuel Moreira, Nuno Guedes Vaz Pires / fotos Ricardo Garrido

Chryseia

A elegância tem
nervo em 2018
A 17ª edição do Chryseia será porventura a mais austera
do passado recente. Todavia, os descritores de elegância e
finesse que desde sempre lhe estiveram associados man-
têm-se. A diferença surge na evidência da barrica e na
eterna questão da juventude aquando do lançamento de
um vinho que possui muita margem de evolução.
Fruto de um ano marcado por um agosto muito quente
e seco, que acelerou as maturações, este Chryseia combina
Touriga Franca (55%) e Touriga Nacional (45%) e esta-
giou 15 meses em barricas de carvalho francês de 400
litros. Com enologia de Bruno Prats, Charles Symington,
Pedro Correia e Miguel Bessa, mostra bastante precisão e
apuro de trabalho com as barricas.
Na apresentação, realizada na Casa dos Ecos, o res-
taurante pop-up da Quinta do Bomfim com autoria de
Pedro Lemos, foram também desvendados os novos Post
Scriptum e Prazo de Roriz, igualmente de 2018. O Post
Scriptum revela-se das mais entusiasmantes edições até
hoje alcançadas, conjugando elegância, frescura e profun-
didade de uma forma copiosamente harmoniosa.
A Prats & Symington é uma parceria entre o enólogo
e produtor bordalês Bruno Prats e a família Symington,
Rupert Symington
iniciada em 1999. A Quinta de Roriz e a Quinta da Perdiz,
ambas no Cima Corgo, são o coração dos vinhos.

18,5 17,5 16,5


Chryseia 2018 Post Scriptum Prazo de Roriz
Douro / Tinto / Prats & 2018 2018
Symington Douro / Tinto / Prats & Douro / Tinto / Prats &
Rubi. Notas de esteva, Symington Symington
cereja vermelha madura, Rubi. Floral silvestre, Rubi. Floral elegante de
bergamota, folha seca, cereja, bergamota, mirtilo esteva, cereja vermelha
caruma e balsâmicos de e balsâmicos elegantes. madura, algum mentolado.
barrica. Tanino preciso e Apresenta-se muito fresco Guloso, consegue
muito firme, estrutura geral e de tanino suculento, combinar a presença
fresca, final prolongado de final bastante longo, constante da fruta ao
e trabalhado em finura. profundo, mineral e longo de toda a prova,
Ainda com larga margem elegante. Dá muito prazer finalizando com curiosos
de progressão, mantém desde já mas também apontamentos de figo e de
o ADN que lhe está saberá evoluir. Das mato. Um Douro fácil de
reconhecido e é das melhores edições até entender e difícil de se lhe
edições mais austeras do agora alcançadas. resistir.
passado recente.
Consumo: 2020-2026 Consumo: 2020-2024
Consumo: 2020-2030
15,00 € / 16ºC 9,50 € / 16ºC
60,00 € / 16ºC

@revistadevinhos
Para ver e ouvir
NOVIDADES

texto e notas de prova José João Santos / fotos Ricardo Garrido

Ideal Drinks

Do Loureiro
à Touriga

José Dias, CEO da Ideal Drinks, e o enólogo


Pascal Chatonnet apresentaram à Revista de Vinhos
um trio de novas edições das regiões onde operam –
Vinho Verde, Bairrada e Dão.
Tendo contribuído para uma alteração no modo
de encarar o Loureiro, o Royal Palmeira 2017 rea- Pascal Chatonnet, José Dias e José João Santos
firma uma interpretação mais austera e séria da
casta. Procurando um equilíbrio entre acidez e
volume, o vinho confirma as credenciais de dupla 17,5 17,5 17
aptidão – gastronómica e de evolução em garrafa.
Dom Bella 2016 Colinas Blanc de Royal Palmeira
Dom Bella 2016 é um Touriga Nacional do Dão.
Dão / Tinto / Ideal Blancs Cuvée Brut 2017
Obedece aos cânones com que a casta habitual-
Drinks Reserve 2015 IVV / Branco / Ideal
mente se expressa na região e tem potencial de
guarda. No Dão, a Ideal Drinks está também a tra- Rubi. Aroma delicado de Drinks
Bairrada / Espumante /
violeta, traço evidente de Amarelo dourado.
balhar variedades como o Sauvignon Blanc e o Pinot Ideal Drinks
bergamota, complementos Elegante na nuance de
Noir, que engarrafa como monovarietais, equacio- Amarelo dourado. Cordão
de cereja madura, flor branca, notas de
nando a curto prazo o lançamento de um Cabernet pinheiro e especiaria. O fino e persistente. Notas
elegantes de panificação, maçã, limão, raspa de lima
Franc. tanino é bastante fino, a
lima e toranja. A acidez é e líchia. Profundamente
Da Bairrada, um espumante Chardonnay muito estrutura surge elegante
eletrizante, surge muito fresco, revela um grande
elegante e com acidez bem presente, que facilmente e envolvente, o final
fresco e crocante, o final trabalho com as borras
se contextualiza em diferentes momentos gastronó- tem alongamento e é ao mostrar amplitude
sedoso, com um toque tem finura. Um espumante
micos e que irá crescer com mais algum tempo de generosa. O final é austero
ligeiramente vegetal que de patamar superior, que
garrafa. e persistente. Interpreta
aporta frescura. Pode continuará a evoluir.
Criado em 2010 pelo investidor Carlos Dias, a o Loureiro de forma bem
guardar na garrafeira. Consumo: 2020-2024
Ideal Drinks detém um total de oito propriedades séria.
Consumo: 2020-2028 26,95 € / 8ºC
e, a par do vinho, tem projetado a médio prazo o Consumo: 2020-2026
lançamento de destilados. 16,90 € / 16ºC 13,00 € / 11ºC

124 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


Para ver e ouvir
NOVIDADES

texto e nota de prova José João Santos, Nuno Guedes Vaz Pires / fotos Ricardo Garrido

Aveleda

Um vinho de
celebração e
homenagem
A celebrar 150 anos, a Aveleda decidiu homena-
gear o fundador Manoel Pedro Guedes com o lan-
çamento de um vinho homónimo, um Reserva 2018
de Alvarinho (90%) com um perfume de Loureiro
(10%). Fermentou em barricas de carvalho francês
(50%), novas e usadas, e cubas de inox (50%),
durante oito meses, seguindo-se o estágio de um
ano em garrafa. Untuoso e detalhista, é um branco
com pergaminhos de evolução em garrafa para os
próximos anos.
A Aveleda é das principais empresas portuguesas
de vinho, ao faturar 39 milhões de euros anuais em
resultado da produção de 19 milhões de garrafas. A
exportação abrange um total de 75 países.

18
Manoel Pedro
Guedes Reserva 2018
Vinho Verde / Branco /
Aveleda
Dourado. Notas de folha
seca e jasmim, raspa de
lima, pedra molhada e
ligeiro fumo. Generoso
na untuosidade, mostra
estrutura firme, boa acidez,
final elegante e profundo
com um apontamento muito
delicado de querosene e um
ligeiro salino. É um vinho de
detalhes, para evoluir.
Consumo: 2020-2026
60,00 € / 11ºC

126 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


NOVIDADES

texto e notas de prova Luís Costa / fotos Arquivo

Vale D. Maria

Novas referências
no Douro Superior
São os primeiros vinhos da gama Douro Superior
da emblemática Quinta do Vale D. Maria, cuja apre-
sentação à imprensa especializada decorreu no “ter-
roir” que os viu nascer: a Quinta do Vale Sabor, em
Torre de Moncorvo, que a Aveleda resgatou (e reba-
tizou) em boa hora, há sensivelmente quatro anos,
depois do colapso do projeto vitivinícola da então
designada Seis Quintas.
Nestes 45 hectares de vinha no vale do rio Sabor,
quase defronte da Quinta do Vale Meão, a Aveleda
espreitou a oportunidade de criar uma gama de
vinhos “premium” que vem agora juntar-se aos
“super-premium” do Vale D. Maria, no vale do Rio
Torto – uma quinta com vinhas centenárias que está
no universo da empresa desde 2017, tendo Cristiano
van Zeller passado então a integrar a estrutura acio-
nista da Aveleda, onde pontificam António Azevedo
Guedes e Martim Guedes.

Francisca e Cristiano van Zeller

17 17 16,5 16 16 16
Vale D. Maria Vale D. Maria Vale D. Maria Vale D. Maria Vale D. Maria Vale D. Maria
Vinhas do Vinhas do Vinhas do Douro Superior Douro Superior Vinhas do
Sabor 2018 Sabor 2017 Sabor 2018 2018 2017 Sabor 2019
Douro / Tinto / Douro / Tinto / Douro / Branco Douro / Tinto / Douro / Tinto / Douro / Branco
Quinta Vale D. Quinta Vale D. / Quinta Vale D. Quinta Vale D. Quinta Vale D. / Quinta Vale D.
Maria Maria Maria Maria Maria Maria
Rubi intenso, muito Rubi opaco. Aromas Amarelo limão. Rubi com rebordo Rubi. Nariz marcado Amarelo esverdeado,
bonito. Aromas com alguma Aromas a fruta violeta. Aromas a fruta pelas notas de fruta mostra referências
expressivos a fruta complexidade a de árvore, melão, silvestre muito fresca, preta, chocolate e aromáticas a fruta de
pura e fresca, amoras pretas, ligeiro floral, nota de vermelha e azulada, ligeiro rebuçado. polpa branca (ameixa
sobretudo mirtilos, chocolate negro, mineralidade (pedra também bergamota Um vinho denso e madura e maçã
com notas de mato rasteiro, húmus molhada). Na boca e arbustivo ligeiro. robusto, com uma Golden), cítrico doce
especiaria branca e e cogumelos. Um evidencia estrutura, Ataque de boca curiosa nota cítrica a e ligeira baunilha. Tem
cítrico de bergamota. vinho envolvente, volume, amplitude, fresco, bela acidez, dar alguma frescura uma boca envolvente
Na boca sobressai a concentrado, com acidez média e elegância, muito e a atenuar sensação com alguma
frescura, graças a uma um final de boca cremosidade. Final equilíbrio. Taninos do álcool. Médio untuosidade e boa
acidez que oculta o persistente, taninos persistente com presentes, mas em corpo, acidez correta, acidez. Vai ganhar
álcool e dá grande notórios mas toque de frescura claro processo de taninos maduros e com mais tempo em
equilíbrio sensorial. maduros. Agradável herbácea. integração. integrados. garrafa, pois precisa
Vai crescer na garrafa, nota balsâmica no Consumo: 2020-2024 Consumo: 2020-2025 Consumo: 2020-2024 de domar a sua
tem alguns anos pela final a deixar rasto de 18,00€ / 11ºC 10,00€ / 16ºC 10,00€ / 16ºC juventude e ganhar
frente. frescura. integração.
Consumo: 2020-2028 Consumo: 2020-2027 Consumo: 2020-2023
18,00€ / 16ºC 18,00€ / 16ºC 18,00€ / 11ºC

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 127


NOVIDADES

texto e notas de prova Nuno Guedes Vaz Pires / foto Ricardo Garrido

Madeira Wine Company

A Blandy’s 20
Blandy´s Bual 1920

eleva-nos ao céu
Madeira / Fortificado / Madeira Wine
Company
Tonalidade cobre rodeada por um menisco
esverdeado. Perturbante na intensidade
aromática, ligeiro vinagrinho, iodo, canela,
A Blandy´s, bastião histórico do Vinho Madeira que integra tabaco, café e muitos tostados.
a Madeira Wine Company, é guardiã de muitos milhões de Impressionante pela dimensão, interminável
litros de vinhos velhos e velhíssimos. O Blandy´s Bual 1920, é um vinho capaz de durar para a vida.
Frasqueira que acaba de ser relançado no mercado, aproxi- Charmoso e envolvente, fresco e viçoso,
ma-se do céu, elevando o espírito para um estado de medi-
recusa-se simplesmente a sair da boca,
inesgotável! Monstruoso!
tação. É o poder de um vinho excecional, que nos confunde
Consumo: 2020-2050
os sentidos num misto de admiração e pureza, que alia con-
2.100,00 € / 14ºC
centração, frescura nervo. A par do 1920, outros quatro
vinhos que ajudam a perceber diferentes dimensões do Vinho
Madeira, um dos mais notáveis fortificados do mundo.

18 18 17 17
Cossart Gordon Blandy´s Verdelho Miles Tinta Negra Cossart Gordon
Terrantez 1975 1976 1998 Verdelho Colheita
Madeira / Fortificado / Madeira Madeira / Fortificado / Madeira Madeira / Fortificado / Madeira 2008
Wine Company Wine Company Wine Company Madeira / Fortificado / Madeira
Jovial, nariz elegante mas fechado, O nariz desvenda aromas de iodo Fruto confitado, frutos secos e Wine Company
denunciador de uma enorme e muitos tostados, acompanhado caramelizados, café e charuto. Bom No nariz mel e perfil citrino, notas
frescura que se manifesta de forma por gengibre, marmelada e leves equilíbrio entre o doce e a acidez. de compota de laranja. Elegante na
igualmente eloquente no nariz e insinuações citrinas que refrescam Final complexo. boca e muito equilibrado. Termina
boca. Final poderoso e desmedido. o conjunto. Firme e intenso, jovem Consumo: 2020-2025 com uma secura muito desafiante.
Consumo: 2020-2030 e irreverente, fresquíssimo e 120,00 € / 14ºC Consumo: 2020-2027
346,00 € /14ºC espirituoso.
64,00 € / 14ºC
Consumo: 2020-2030
330,00 € / 14ºC

128 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


NOVIDADES

texto e notas de prova José João Santos / fotos Arquivo

Cooperativa da Ilha do Pico

Novos brancos e um
surpreendente tinto
Quais as probabilidades de num jantar de apresentação de
novidades de vinhos do Pico ser um tinto a grande surpresa da
noite? Aconteceu no jantar vínico da Cooperativa Vitivinícola
da Ilha do Pico recentemente realizado no The Yeatman, em
Vila Nova de Gaia.
O Terras de Lava Reserva 2017, do qual resultaram 1.200
garrafas, é um vinho irresistível, Cabernet Sauvignon (80%)
e Cabernet Franc (20%), obtido a partir de uma vinha da
Candelária (Madalena do Pico) cuidadosamente cuidada por
um casal francês que entretanto se apaixonou pela ilha e por
lá passou a viver.
Do lado dos monovarietais brancos, 2019 foi uma vin-
dima difícil e que se iniciou bem cedo, em 11 de agosto, para
evitar problemas maiores trazidos pela chuva. O Terrantez e
o Arinto alcançaram, porém, um patamar superior. Se o pri-
meiro confirma os créditos que a raridade e as qualidades
intrínsecas merecidamente lhe aportam, o segundo concretiza
um aumento de qualidade face às edições anteriores.
A Cooperativa do Pico, a celebrar 70 anos, trabalha com
270 associados e desde 2017 conta a consultoria enológica
de Bernardo Cabral. O jantar no The Yeatman, duas estrelas
Michelin de Ricardo Costa, saldou-se num elogio aos Açores,
pelas criações do chefe e pelo cartão de visita singular que os
vinhos do Pico atualmente representam. Daniel Rosa

18,5 18 17 17 16
Ilha do Pico Terroir Ilha do Pico Terroir Ilha do Pico Vinho Terras de Lava Terras de Lava
Vulcânico Vulcânico Arinto Licoroso 10 Anos Reserva 2017 2019
Terrantez do Pico dos Açores 2019 Pico / Fortificado / Coop. Açores / Tinto / Coop. Açores / Rosé / Coop.
2019 Pico / Branco / Coop. Vitivinícola da Ilha do Vitivinícola da Ilha do Vitivinícola da Ilha do
Vitivinícola da Ilha do Pico Pico Pico
Pico / Branco / Coop.
Vitivinícola da Ilha do Pico Âmbar. Nariz de folha Rubi claro. Cereja vermelha, Cor salmão. Notas delicadas
Amarelo, laivos dourados. seca, amêndoa, casca de folha de tomate, fumo, de pétala de flor, cereja
Pico
Flor delicada, muita maresia laranja, figo. O manto é ligeiro pimento. O registo vermelha e morango.
Amarelo, rebordo ouro. salino. As notas de maresia é sempre suave. Tanino Fresco, mostra salinidade
Nariz de nectarina, líchia, e fumo. O trabalho com
borras está impoluto, é e alga seca mantêm-se fresco e delicioso, silhueta evidente, tem uma acidez
algum melaço, pimenta na prova, tem dimensão elegante, estrutura que se saúda, termina com
branca e fumo. Poderoso na untuoso e glicerino, sempre
firme e austero. Finaliza em generosa mas afinada, vivaça, final ligeiramente nervo. Contemporâneo e
dimensão, apresenta acidez prolongamento teimoso e especiado, com breve bem elaborado, pode levar
firme mas domada, finaliza profundidade, com nota
de fruto desidratado e sal. interessante. Um meio doce salino. Resumindo, uma à mesa.
com nota de querosene e com semelhanças a alguns tentação!
Antevê larga capacidade Consumo: 2020-2022
fruta desidratada. Mostra vinhos de Jerez.
de evolução e parece, Consumo: 2020-2024 12,50 € / 11ºC
as subtilezas à medida
de longe, a mais bem Consumo: 2020-2030 15,50 € / 16ºC
que vai permanecendo no
copo, tem finura e traços conseguida edição até ao 45,00 € / 14ºC
que lembram Riesling. É um momento.
grande vinho branco! Consumo: 2020-2027
Consumo: 2020-2028 20,00 € / 11ºC
30,00 € / 11ºC

130 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


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Para ver e ouvir
NOVIDADES

texto e notas de prova José João Santos / fotos Ricardo Garrido

Pedra Cancela celebra 20 anos

Ensaiar o passado
para projetar o futuro
Parece ter sido ontem mas foi já em 2000. João Paulo Gouveia, uma
das mais brilhantes mentes da viticultura em Portugal que não tem resis-
tido ao bichinho da política, engarrafava com o pai o primeiro Pedra
Cancela tinto, um Touriga Nacional que rapidamente ganhou adeptos.
Seguiu-se um branco, Malvasia Fina e Encruzado, dois anos volvidos, até
que em 2009 a marca passa a integrar o portefólio Lusovini.
Assumindo-se como das principais âncoras da Lusovini, Pedra
Cancela deixou de ser uma espécie de vinho de boutique para assumir
maior dimensão. Até que chegamos à Vinha da Fidalga, propriedade em
Carregal do Sal, adquirida em 2015 e onde foram plantados 15 hectares
de vinhas de raíz. Uma das principais apostas, conta-nos Sónia Martins,
a atual responsável pela Lusovini, é resgatar variedades tradicionais do
passado para ver de que forma poderá ser projetado o futuro, fugindo ao
certo afunilamento Touriga/Encruzado.
Por entre as castas brancas ensaiadas há nomes como Cerceal Branco,
Terrantez, Douradinha ou Uva Cão; nas tintas, Monvedro ou Cidreiro.
Há Cerceal Branco engarrafado há um ano e com provável lançamento
no horizonte, a que se juntam outros ensaios que haverão de resultar em
monovarietais raros ou integrar lotes de outros vinhos. Inspiração no que
se fazia pelo Dão nos anos 60 para projetar as próximas décadas.
Para celebrar a primeira vintena Pedra Cancela, a imprensa especiali-
zada foi convidada a uma breve vertical do Reserva branco, que culminou
com o lançamento do novo Reserva 2018 e a primeira edição do Pedra
Cancela Intemporal, de 2012, obtido a partir de Encruzado, Malvasia
Fina e Cerceal Branco, 20% do lote esteve em barrica usada, após engar-
rafado seguiram-se 7 anos em cave. Um vinho com pergaminhos à altura
da celebração.
João Paulo Gouveia, o criador do Pedra Cancela, garante que todas as
manhãs, bem cedo, faz questão de visitar as vinhas para respirar a pureza
da terra, perceber a evolução das plantas e revigorar corpo e alma para o
resto do dia. E daqui por mais 20 anos, João Paulo, como será?

18 17
Pedra Cancela Intemporal Pedra Cancela Reserva
2012 2018
Dão / Branco / Pedra Cancela Dão / Branco / Pedra Cancela
Vinhos Vinhos
Dourado. Notas encantadoras de Amarelo limão. Nariz de flor do
querosene, flor branca, algum feno, campo, limão, espargos, restolho
ligeiro apimentado de barrica. e pimenta branca. A sensação é
Untuoso mas muito elegante, mostra granítica. Apresenta elegância
dimensão generosa e finura geral. estrutural, tem amplitude mas
Termina em profundidade, com silhueta definida e bastante firmeza.
nervo e persistência. Nobre, expõe Nota de barrica no final, que é seco
os benefícios que só o tempo aporta e de apontamento salino. Saberá
aos grandes vinhos. evoluir.
Consumo: 2020-2025 Consumo: 2020-2026
Sónia Martins e João Paulo Gouveia
25,00 € / 11ºC 12,00 € / 11ºC

132 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


NOVIDADES

texto e notas de prova José João Santos / fotos Ricardo Garrido

Arribas Wine Company

Loucuras saudáveis

Em Bemposta, interior transmontano fronteiriço


com Espanha, Frederico Machado e Ricardo Alves
surpreendem com vinhos de intervenção mínima
obtidos, esmagadoramente, a partir de parcelas
de vinhas velhas, parte das quais sob ameaça de
extinção.
No total têm cinco vinhos no mercado (consultar 17,5 17,5 16,5
edição nr. 365 da nossa publicação) e agora apre- Saroto 2019 Manicómio 2019 Saroto Nat´Cool
sentam a nova edição do Saroto branco e as ver-
IVV / Branco / Arribas IVV / Tinto / Arribas 2019
sões engarrafadas do Manicómio 2019 e do Saroto
Wine Company Wine Comoany IVV / Tinto / Arribas
Nat´Cool 2019, parcerias com Dirk Niepoort.
Âmbar. Tentadoras notas Rubi aberto. Nariz de Wine Company
O branco, também de 2019, confirma as cre-
de tangerina, pêssego, esteva, cereja madura, Rubi claro. Aromas de
denciais do anterior, acentuando o perfil “orange alperce, melaço, amêndoa romã, esteva e framboesa. pétala de rosa, geleia,
wine”. Combina o lado mais oxidativo com a fruta torrada e fumo. Tenso, Seco e de tanino firme, boa morango, framboesa e
de caroço e a acidez, mostrando-se como dos mais mineral, apresenta uma acidez, final mais vegetal e alguma redução. Tanino
entusiasmantes exemplares do género no nosso país. acidez entusiasmante, levemente mentolado. Uma leve e fresco, bom
A colheita de 2019 resultou em cerca de 15.000 esculpida em detalhe. abordagem de vinificação equilíbrio, final mais vegetal
garrafas que, tal como em anos anteriores, terão A elegância com que bem conseguida, que e mais seco, resultado do
como principal destino nichos de mercado de países se projeta no final é resulta num vinho engaço. É bem curioso.
como Espanha, França, Alemanha e Bélgica. Em simplesmente deliciosa, irresistível.
Consumo: 2020-2024
com um derradeiro toque Consumo: 2020-2025
Portugal, a Arribas Wine Company está presente 12,50 € / 11º
especiado. Dos melhores 30,00 € / 16ºC
nas cartas de alguns restaurantes e garrafeiras de
“orange wine” que Portugal
Lisboa e Porto. Na vindima de 2020 já usufruíram conhece.
de uma segunda garagem para vinificar vinhos e
Consumo: 2020-2025
estão satisfeitos com a qualidade da uva obtida.
9,90 € / 11ºC

134 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


NOVIDADES

texto e notas de prova José João Santos / fotos D.R.

Lés a Lés

As viagens de
Jorge Rosa Santos
e Rui Lopes
A dupla Jorge Rosa Santos e Rui Lopes continua a percorrer
Portugal, de lés a lés. Foram precisamente os milhares de quilóme-
tros partilhados a principal inspiração para o projeto itinerante de
vinhos, que este ano conta uma novidade, a inclusão de um branco
de Távora-Varosa.
Lés a Lés Apeadeiro 2019 combina as castas Cerceal e Malvasia
Fina, em igual percentagem de 50%, apenas foi vinificado em inox
e parece um bom ponto de partida para explorar ainda mais uma
região que embora continue conhecida pelos espumantes possui
igualmente um potencial assinalável para a elaboração de vinhos
tranquilos.
Enquanto a nova edição do Arinto de Pedra e Cal, um entusias-
mante branco de Bucelas, não sai (está por dias), provamos a con-
sistência da restante gama. O Sério de Síria 2017, de uma vinha
velha da Vermiosa (Figueira de Castelo Rodrigo, Beira Interior), o
L’Immigrant Sauvignon Blanc 2018, de cepas da aldeia de Gavinha
(Alenquer), fermentado em cascos usados de 750 litros durante 7
meses e que resulta numa interpretação pouco usual no nosso país
mas muito bem conseguida da casta, e o Medieval de Ourém 2019,
que resgata a tradição dos vinhos palhete daquela denominação –
80% Fernão Pires, 20% Trincadeira.
Para 2021, Jorge e Rui prometem estender o portefólio com
outras duas novidades: um branco da região de Lisboa, das castas
Jampal (50%) e Vital (50%), e um tinto transmontano de vinhas
velhas de Vidago, sub-região de Chaves.

17 17 17 16,5
Sério de Síria 2017 L’Immigrant Sauvignon Lés a Lés Medieval de Lés a Lés Apeadeiro
Beira Interior / Branco / Wine Blanc 2018 Ourém 2019 2019
Attitude Regional Lisboa / Branco / DOC Encostas d´Aires / Tinto / Távora- Varosa / Branco / Wine
Amarelo, laivos dourados. Nariz de Wine Attitude Wine Attitude Attitude
flor branca, palha seca, nectarina, Dourado. Nariz suave de Rubi aberto. Ligeiro floral, notas Amarelo palha. Ligeiro floral, maçã
pêssego, ligeiro fumo. Untuoso mas gramíneas, raspa de lima, pêssego, sinceras de folha de morango, verde, palha seca, limão e raspa
sempre muito fresco, de acidez algum fumo. Bom volume, mostra romã, cereja vermelha, lima, de lima. Revela acidez tremenda,
bem firme, termina persistente e uma dimensão que não estamos groselha, leve vegetal. Tanino o meio palato é vigoroso e cheio
com alongamento, mostra bom habituados a percecionar nos fresco e dócil, estrutura muito de nervo, tem final profundo e
trabalho com as borras, é bastante Sauvignon portugueses. Tem gulosa, boa acidez, final leve e nervoso. Não deixará ninguém
salino e crocante. Muito bem cremosidade, termina com frescura simplesmente irresistível. A terceira apeado e mostra existir potencial
elaborado. e profundidade. Um exótico que edição de um tributo à tradição. para mais.
Consumo: 2020-2024 manifestamente convence. Consumo: 2020-2025 Consumo: 2020-2024
14,90 € / 11ºC Consumo: 2020-2025 21,50 € / 11ºC 14,90 € / 11ºC
14,90 € / 11ºC

136 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


É preciso ter lata
para ser o primeiro!
O consumo de vinho em lata está a crescer 70% ao ano*.
Fonte: Nielsen

Com as nossas soluções móveis pode produzir e encher vinhos


em lata, sem necessitar de investir em equipamentos.
Não perca esta oportunidade!

Empresas parceiras no fornecimento de produtos e serviços à sua Adega.


NOVIDADES

texto e nota de prova José João Santos / fotos D.R. texto e notas de prova José João Santos, Nuno Guedes Vaz Pires / fotos Fabrice Demoulin

Aníbal Coutinho Barbeito

O novo Três novas


Escondido provocações
revela-se Ricardo Diogo Freitas está a lançar no mercado mais um surpreen-
dente trio de vinhos. O Malvasia Cândida Frasqueira 1993 é uma
Aníbal Coutinho dispensa apresentações. Enólogo de formação, raridade de 426 garrafas, engarrafado há cerca de um ano, daqueles
crítico e escritor de vinhos por paixão, consultor em diferentes exemplares que ajuda a glorificar o Vinho Madeira como um dos
projetos, tenor no Coro Gulbenkian, é igualmente o autor dos mais excecionais fortificados do mundo. O Verdelho Casco Único
vinhos pessoais Escondido e Astronauta. 2006 é o terceiro single cask que Ricardo
A Revista de Vinhos provou o novo Escondido 2015, que con- engarrafa nos últimos 20 anos e cor-
firma o perfil bordalês das edições prévias. Maioritariamente responde à matriz eletrizante que
obtido a partir das castas Cabernet Sauvignon, Merlot e Touriga nos tem habituado, tendo resul-
Nacional, resulta de uma vinha plantada há 22 anos em Negrais, tado em escassas 761 garrafas.
freguesia de Almargem do Bispo, Sintra. Solo argilo-calcário, O Três Pipas Bastardo Reserva
vinhedo de encosta plantado em alta densidade, vindima manual. Velha surge na sequência do
Duas singelas barricas a partir das quais resultam 500 garrafas. Duas Pipas e expressa-se em
Um vinho de guarda que materializa bem a expressão “finesse”. 2.139 exemplares, todos sob um
manto salino.

19
Barbeito Fajã dos Padres
Malvasia Cândida Frasqueira 1993
18,5 Vinho Madeira / Fortificado / Vinhos Barbeito
Aloirado, reflexos acastanhados. Notas de fruto seco e pastelaria fina,
Escondido 2015
melaço, mel, iodo. Equilibra de forma imaculada doçura e acidez, é muito
Regional Lisboa / Tinto / Quinta concentrado e denso mas simultaneamente elegante, tem um final
do Gradil especiado e de folha de tabaco, interminável. Um grande Madeira!
Púrpura. Notas elegantes florais e Consumo: 2020-2045
de folha de tabaco, pimento, cereja 450,00 € / 14ºC
escura, bergamota, folhagem, —
cedro e caruma. Tanino
esculpido em elegância,
muito boa acidez de fundo,
18
final longo, profundo, com Barbeito Verdelho Casco Único 2006
toque de maresia. Tem um Vinho Madeira / Fortificado / Vinhos Barbeito
perfil bastante bordalês e Cobre, reflexos alaranjados. Nariz de tâmaras, líchia, geleia de fruta branca,
esta quinta edição confirma massapão, aniz, iodo. Na boca parece ligado à corrente, de tão elétrico que
todas as credenciais. é. Volumoso, tenso, releva de início a fim uma persistência incrível. Não é
Consumo: 2020-2028 um Madeira de consensos, é um vinho que permanentemente nos desafia.
130,00 € / 16ºC Consumo: 2020-2035
42,00 € / 14ºC

17,5
Barbeito Três Pipas Bastardo Reserva Velha
Vinho Madeira / Fortificado / Vinhos Barbeito
Âmbar. Nariz de fermento e bolo inglês, fruto seco, amêndoa e noz. Muito
boa amplitude, acidez crocante, untuoso e elegante. O final é vibrante,
tenso, com notas de algas secas. Prolongadíssimo.
Consumo: 2020-2035
45,00 € / 14ºC

138 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


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Pela primeira vez, são possíveis combinações de
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Diretor Revista de Vinhos Crítico de vinhos e Sommelier Crítica de vinhos e Sommelier
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José João Santos Luís Costa Manuel Moreira Marc Barros Rodolfo Tristão
Crítico de vinhos Redator Revista de Vinhos Sommelier e wine Editor Revista de Vinhos Sommelier
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índice dos vinhos provados por regiões

pág. 142 Alentejo · 20 vinhos pág. 146 IVV · 3 vinhos pág. 150 Tejo · 11 vinhos
pág. 144 Bairrada · 3 vinhos pág. 148 Lisboa · 6 vinhos pág. 151 Trás-os-Montes · 1 vinho
pág. 146 Dão · 3 vinhos pág. 148 Península de Setúbal · 5 vinhos pág. 151 Vinho Verde · 4 vinhos
pág. 146 Douro · 6 vinhos pág. 150 Távora-Varosa · 4 vinhos

classificação

A Revista de Vinhos utiliza a ficha de prova e parâmetros são os vinhos mais surpreendentes; “Boas Compras”, os Consulte os vinhos provados pelo nosso
de avaliação da “Wine & Spirits Education Trust”. Em prova vinhos de melhor relação qualidade/preço. Cada nota de painel no portal www.revistadevinhos.pt
cega, classifica os vinhos de zero a 20 valores, sendo que prova reflete a opinião da revista, estando identificada pelas e na aplicação para tablets e smartphones
apenas publica avaliações de vinhos que atinjam mínimos iniciais do respetivo provador. Nuno Guedes Vaz Pires, diretor da nossa publicação.
de 13 pontos. Usa copos Riedel e os preços indicados são os da Revista de Vinhos, exerce o voto de qualidade na tomada
recomendados pelo produtor. “Altamente Recomendados” de decisões.

0 - 12,5 13 - 14,5 15 - 16,5 17 - 18,5 19 - 20


não classificado médio bom superior excelente

@revistadevinhos outubro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 141


GUIA REVISTA DE VINHOS

ALENTEJO
16,5 16
17 Pato Frio Rosé Cashmere
2019
Gáudio Verdelho 2019
Regional Alentejano / Branco /
Explicit 2017
Regional Alentejano / Rosé / Ribafreixo Wines
Regional Alentejano / Tinto / Ribafreixo Wines Amarelo esverdeado. Nariz
Sociedade Agrícola Jorge Rosa
Santos e Filhos Suave tonalidade casca de com notas amanteigadas e
cebola, a lembrar os rosés da raspa de limão a envolver
Rubi escuro. Nariz de algum
Provence. Aromas expressivos fruta de polpa branca. Na
floral, framboesa, cereja
a romã, groselha, framboesa, boca é intensamente cítrico e
vermelha madura, ginja,
ervas frescas e alfazema. herbáceo, muito fresco, intenso,
especiaria e balsâmicos de
Na boca é seco, com acidez com bela acidez. LC
barrica. Tanino musculado,
vincada, alguma untuosidade, 6,99€ / 11ºC
estrutura sedosa, mostra
singular travo vegetal e final
boa dimensão e é teimoso
de boca persistente. Um rosé
no prolongamento final. De
matriz alentejana, quente e
peculiar e versátil, com grande
potencial gastronómico. LC
16
gastronómico. JJS Implicit 2019
7,99€ / 11ºC
18,00€ / 16ºC Regional Alentejano / Rosé /
Sociedade Agrícola Jorge Rosa

17 16 Santos e Filhos
Cor alaranjada, laivos
Connections Chenin acobreados. Nariz de floral
Portalegre 2018
Blanc 2019 suave, cereja, rosa, ligeiro
Alentejo / Branco / Adega
Regional Alentejano / Branco / vegetal. Fresco, revela boa
Portalegre Winery APW
Ribafreixo Wines acidez, elegância e finura geral.
Amarelo definido. Nariz fino e Finaliza bem e de modo muito
Amarelo suave em tom
rico de notória complexidade, convidativo, a desafiar a um
esverdeado. Nariz com
notas de figo, pêra, mel copo mais. JJS
sugestões de mineralidade,
de flores, alperce, cera de
notas cítricas, maçã verde 7,00€ / 11ºC
abelha, com sofisticação e
e avelã. A boca é cítrica e
qualidade. Estruturado, corpo
herbácea, intensa e granítica,
médio, tem na elegância o
seu fator distintivo. Frescura
com acidez incisiva e final
persistente. LC
16
natural, personalidade altiva, Marel 2019
persistente ainda que pouco 9,75€ / 11ºC
Regional Alentejano / Branco /
eloquente. Muito bem! MM Sociedade Vitivinícola Courela dos

16
18,00€ / 11ºC Aleixos
Dourado, reflexos esverdeados.
Esporão Colheita 2019 Notas de restolho, alperce e
17 Regional Alentejano / Branco /
Esporão
amêndoa torrada. Untuoso e
muito largo no volume, tem
Portalegre 2017
Amarelo, laivos dourados. Nariz uma estrutura mais firme que
Alentejo / Tinto / Adega Portalegre lhe é conferida pela boa acidez.
Winery APW sincero de jasmim, lima, toranja,
ameixa e palha seca. Untuoso, O final é seco e exótico. De
Granada intenso. Nariz que perfil oxidativo, obriga-nos a
mostra boa amplitude, volume
denota já alguma riqueza sair da zona de conforto... e
generoso, final seco, salgado
e complexidade. Fruta é essa a grande virtude que
e apimentado. Mostra um
madura, polida, belo trabalho possui. MB
carácter muito próprio. MM/JJS
com barrica de qualidade. 7,50€ / 11ºC
Estruturado, corpo médio, 9,99€ / 11ºC
taninos envolventes, uma
leveza de perfil de certa forma
contrastante com aroma. Final 16 16
requintado, de média extensão, Gáudio Alvarinho 2019 Pato Frio Antão Vaz
a dar mostras de ainda estar na 2019
Regional Alentejano / Branco /
juventude. Prometedor. MM Ribafreixo Wines Regional Alentejano / Branco /
18,00€ / 16ºC Ribafreixo Wines
Amarelo esverdeado. Aromas
a maçã Golden, cítrico doce, Amarelo limão. Aromas
ameixa branca, flores e abacaxi. lácteos, flores brancas, ameixa,
Tem um ataque de boca fresco damasco e cítrico maduro.
e herbáceo, boa textura, acidez Na boca é muito equilibrado,
muito viva, final persistente. LC com alguma untuosidade,
acidez perfeita, travo herbáceo
6,99€ / 11ºC
a dar frescura, potencial
gastronómico. LC
6,99€ / 11ºC

142 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


GUIA REVISTA DE VINHOS

16 15,5 15,5
Planura 2019 Pato Frio Selecção 2019 Rebelde 2019
Regional Alentejano / Rosé / Super Alentejo / Branco / Ribafreixo Regional Alentejano / Tinto / Casa
Bock Bebidas Wines Santos Lima
Tonalidade casca de cebola. Amarelo cor de feno. Aromas Concentrado, fruto vermelho
Aromas de groselha, framboesa a ervas frescas, fruta de polpa compotado, algo maduro mas
e ervas frescas. Na boca é branca e jasmim. Boca com fresco, notas de chocolate,
frutado, tem um ataque seco, interessante travo vegetal, boa toque floral e tostados leves.
mostra bela acidez e equilíbrio. acidez e persistência, sensação Na boca é suave, leve perceção
Final com rasto de ligeira de algum volume. LC de doçura amparada na acidez
untuosidade. LC 6,99€ / 11ºC e nos sabores frutados frescos,
5,29€ / 11ºC que se estendem ao final. MB
3,79€ / 16ºC
15,5
16 Planura 2020 BAIRRADA
Quinta do Paral 2019
Regional Alentejano / Rosé /
Regional Alentejano / Branco /
Super Bock Bebidas 17
Herdade Tinto e Branco Amarelo palha. Sugestões Quinta do Poço do Lobo
Rosa. Notas florais e de aromáticas a fruta de polpa Rosé Reserva 2019
groselha, algum morango e branca, nectarina, amêndoa Bairrada / Rosé / Caves São João
cereja. Breve perceção de crua e flor de laranjeira. Na Baga (50%) e Pinot Noir
tanino, apresenta densidade boca é fresco e singelo, com (50%). Cor provençal. Aromas
e frescura gerais, sensação média acidez e ligeiro travo delicados de cereja vermelha,
agradável de geleia de fruto vegetal. LC morango e um toque vegetal.
vermelho. Finaliza amplo e 4,99€ / 11ºC Muito salino e fresco, apresenta
com nota de secura. Pode uma acidez quase cortante.
acompanhar snacks salgados, Termina austero e persistente.
pastas e risotos. JJS
8,80€ / 11ºC
15,5 De perfil atlântico, é um rosé
moderno e todo o terreno. JJS
Quintas de Borba 2017
13,50€ / 11ºC
Alentejo / Tinto / Adega

16 Cooperativa de Borba

Senses Alicante
Rubi intenso. Belo nariz.
Mostra elegância e alguma 16,5
Bouschet 2017 complexidade. Definido Colinas Chardonnay 2018
Regional Alentejano / Tinto / de fruta, floral e delicada Bairrada / Branco / Colinas de São
Adega Cooperativa de Borba especiaria de barrica. Na boca Lourenço
Granada cheio. Aroma intenso, tem bom porte, afinação, Dourado. Nariz de flor branca,
contudo afinado, sobressai a suporte de fruta dar agradável ameixa verde, líchia, pêssego e
fruta madura, cassis e ameixa volume, taninos sedosos um toque de amêndoa torrada.
preta, envolto em balsâmicos, e muito polidos. Muito Mostra nervo, boa acidez,
especiaria e tostados finos. competente e especialmente combina cremosidade com
Encorpado, estrutura de gastronómico. MM frescura. O final é persistente,
relevo, taninos de certo 3,60€ / 16ºC seco e salino. Acompanha
músculo mas integrados, fruta gastronomia de mar apurada.
madura e alguma secura. Final JJS
persistente. MM
6,86€ / 16ºC
15,5 12,90€ / 11ºC
Quintas de Borba 2019

16
Alentejo / Branco / Adega
Cooperativa de Borba 16
Amarelo claro. No aroma Colinas 2019
Torre de Palma 2019 cativa pelo perfil de finura Bairrada / Rosé / Colinas de São
Regional Alentejano / Rosé / Torre e elegância geral. Fruta de Lourenço
de Palma caroço (alperce e ameixa), Cor salmão, reflexos
Rosa acobreado. Fruto citrinos, sugestão tropical. acobreados. Notas delicadas
vermelho em abundância, Boa estrutura na boca, corpo de folha de morango, cereja
groselha, amora, toque de médio, acidez fina, sugestão vermelha e uma nuance
ginja, ligeiros tostados. Boca mineral subtil, harmonioso e vegetal que agrada. Seco,
ampla e untuosa, boa acidez saboroso. Acertado na prova e suave, cheio de frescura, acidez
e vivacidade, final frutado, a seguramente à mesa. MM bem conseguida e final bom,
sugerir companhia agradável 3,60€ / 11ºC salino. Combina com sushi e
em mesa leve. MB aperitivos de perfil salgado. JJS
15,9 0€/ 11ºC 12,50€ / 11ºC

144 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


HOJE MAIS
QUE NUNCA.
A NOSSA
PREOCUPAÇÃO
É A QUALIDADE
E SEGURANÇA.

SOLUÇÕES PROFISSIONAIS
DE HIGIENIZAÇÃO
GUIA REVISTA DE VINHOS

DÃO DOURO
16
17,5 17 Portal Colheita 2019
Douro / Branco / Quinta do Portal
Quinta de Saes Estágio Permitido Rabigato 2019
Prolongado Encruzado Amarelo pálido. Nariz de média
Douro / Branco / Márcio Lopes
2017 intensidade, com aromas de
Amarelo, laivos esverdeados.
fruta de polpa branca, algum
Dão / Branco / Quinta da Pellada Nariz sério, a mostrar flor de
pêssego e ligeiro floral. Na
Dourado. Aroma muito discreto, mato, toranja e lima. Seco e
boca, o lado vegetal surge a par
ainda austero, com notas austero, onde a tensão da
da fruta, num vinho equilibrado,
citrinas, algum fruto de polpa acidez refresca o volume
de relativa estrutura, final
branca, mineral, conjunto geral que possui. O final está
fresco, frutado e floral, tudo a
fino e elegante. Na prova de bem projetado, com nuances
evidenciar a sua juventude. CL
boca mostra-se bem amplo e minerais. Mostra garra e haverá
8,00€ / 11ºC
estruturado, acidez equilibrada, de evoluir em garrafa. JJS
cremoso e frutado, com final 15,00€ / 11ºC
sedutor, a dar mostras do
potencial de envelhecimento. 16
MB
20,90€ / 11ºC
16,5 Pouca Terra 2019
Douro / Branco / Quanta Terra
Proibido Clarete 2019
2019 Amarelo esverdeado. Nariz
marcado pelos aromas
16,5 Douro / Tinto / Márcio Lopes
Rosa escuro. Cheira a uva
florais, laranja, maçã Pink
Quinta de Lemos Touriga Lady, notas de alperce. Na
acabada de vindimar. Notas
Nacional 2015 boca é fresco, equilibrado e
complementares de rosa,
descomprometido, capaz de
Dão / Tinto / Quinta de Lemos morango e framboesa.
gerar consensos nas refeições
Rubi vivo. Alguma Afirmativo na boca, com acidez
do dia a dia. LC
concentração, fruto vermelho, que faz salivar, de final teimoso
7,49€ / 11ºC
componente terrosa, floral, e cheio de sabor. Um clarete
conjunto fresco e apelativo. com alma. JJS
Na boca mostra-se seco, 12,50€ / 14ºC
tanino ainda vincado mas IVV
de qualidade, estruturado e
fresco, que se estende no final
16 16,5
gastronómico. MB Voyeur 2018
Grandes Quintas
25,20€ / 16ºC IVV / Tinto / Niepoort Vinhos
Colheita 2018
Douro / Tinto / Sociedade Agrícola Rubi aberto. Nariz sincero de

15 Casa d'Arrochella
Rubi escuro e violáceo.
flor silvestre, cereja vermelha,
amora e ginja. Complemento
Terras de Santo António Nariz intenso, com esteva, vegetal. A franqueza
2019 fruta vermelha, ginja. Boca comprova-se a seguir, pelo
Dão / Branco / Sociedade Agrícola harmoniosa de taninos polidos, tanino fresco, a estrutura
da Quinta de Santo António notas de mato verde e fruta fluida e o final que apresenta
Amarelo palha. Notas de folha de qualidade. É um vinho uma acidez muito assertiva.
seca, lima, maçã e raspa de sério, com alguma densidade Um vinho “fora da caixa” de
lima. Estrutura suave, acidez e volume, fácil de gostar e que carácter bem interessante. JJS
refrescante e bem integrada pode ascender a um quotidiano 17,30€ / 16ºC
na dimensão geral. Termina mais exigente. CL
com apontamento salgado. 6,90€ / 16ºC
Combine-o com pastas ou
saladas com frutos secos. JJS
16
16
Ânfora de Baco 2019
3,99€ / 11ºC
IVV / Branco / Quinta do
Mazouco 2019 Montalto

Douro / Branco / Super Bock Amarelo pronunciado. Aroma


Bebidas sui generis, distinto, de
Amarelo suave. Nariz fresco estilo fresco, notas a frutos
e herbáceo com notas de secos, feno, resinas, tostados
maçã verde, ameixa branca, e sugestões a torrados do
limão e raspa de lima. A boca Champagne. Corpo moderado,
acompanha o perfil aromático, saboroso, frescura ácida
com boa acidez, equilíbrio, e amargos, decerto não
médio corpo e persistência. LC consensual. Cera de abelha e
5,99€ / 11ºC resinas. Talhado para petiscos.
MM
10,15€ / 11ºC

146 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


GUIA REVISTA DE VINHOS

16 15 16
Ânfora de Baco 2019 Vinhas do Carneiro 2019 Quinta de Camarate
IVV / Tinto / Quinta do Montalto Regional Lisboa / Branco / Branco Seco 2019
Rubi vivo e intenso. No Sociedade Agrícola do Carneiro Península de Setúbal / Branco /
aroma predomina a frescura. Amarelo vivo. Aroma elegante José Maria da Fonseca
Vivacidade na fruta, a lembrar e fresco, sobressai pelo Dourado. Notas francas de
ameixa preta vermelha, a par de polimento da boa fruta citrina, ervas, lima, maracujá, pera
floral (violeta). Um certo vegetal dos tons a pêssego e ervas e líchia. Espevitado e muito
seco e terroso. A boca replica aromáticas. Apesar da leveza, fresco, sublinha a sinceridade
perfeitamente o nariz, muito tem estrutura de boca, bem da fruta na boca. A acidez é
solto, vibrante, saboroso e de recheado de fruta e acidez prazenteira e o final é leve.
frescura instantânea. Muito cítrica deliciosa. MM Preparado para momentos
feito para brilhar à mesa. MM 4,00€ / 11ºC descontraídos e para levar à
10,15€ / 16ºC mesa com saladas e snacks. JJS
7,99€ / 11ºC
15
LISBOA Vinhas do Carneiro 2017
15,5
16
Regional Lisboa / Tinto /
Sociedade Agrícola do Carneiro Quinta de Camarate
Boa Noite Lisboa! Granada médio. Fruta vermelha, Branco Doce 2019
Castelão Syrah 2019 madura, calibrada, algum Península de Setúbal / Branco /
herbáceo a dar frescura ao José Maria da Fonseca
Regional Lisboa / Rosé / Vidigal
Wines conjunto. Na boca está muito Dourado. Aromas de alperce,
Rosado salmão, bonito. Aroma afinado, equilibrado, sobressai líchia, banana, manga e
muito polido, fragrante, fruta a frescura do conjunto. maracujá. Muito apelativo,
bem desenhada, sobressai a Taninos polidos, ainda assim apresenta leveza estrutural e
groselha, o morango fresco e a levemente secantes. Perfeito doçura a preceito. Finaliza bem.
melancia. Equilibrado e fino na complemento de refeição. MM Para consumir à entrada da
boca, redondo, com atratente 4,00€ / 16ºC refeição, com umas amêndoas
frescura e sabor. Para agradar à torradas. JJS
mesa ou a só! NGVP 7,99€ / 11ºC
6,90€ / 11ºC 14
Amoras Leve 2019
15
16
Regional Lisboa / Branco / Casa
Santos Lima BSE Branco Seco
Quinta da Romeira Prova Amarelo esverdeado. Aroma Especial 2019
Régia Arinto 2019 fragrante e instantâneo, Regional Península de Setúbal /
tons florais e tropicais, muito Branco / José Maria da Fonseca
Bucelas / Branco / Sogrape Vinhos
apelativo e viçoso. Ligeiro e Amarelo brilhante. Nariz
Amarelo palha. O nariz é bem
refrescante na boca, frutado marcado pelos tons citrinos
fresco, com notas de lima,
simples e agradável, acidez e florais, com elegância e
tangerina, apontamento floral
e ligeira doçura a funcionar frescura. Seco, mostra bom
e sugestão salina. Na boca
bem. Descontraído, para tarde volume de boca, frutado e
mostra-se bem fresco, sabores
ensolaradas. NGVP fresco, final cremoso e amplo.
frutados, boa acidez e volume
2,29€ / 11ºC Consensual e bem conseguido.
de boca, final salivante e toque
MB
especiado. MB
3,99€ / 11ºC
4,99€ / 11ºC
PENÍNSULA DE
SETÚBAL
15 15
Sem Reservas 2018
16,5 Periquita Castelão
Colecção Privada Aragonez Touriga
Regional Lisboa / Tinto / Casa
Domingos Soares Franco Nacional 2019
Santos Lima
Verdelho 2019 Regional Península de Setúbal /
Granada médio. Fruta suave Rosé / José Maria da Fonseca
e madura no aroma, groselha Regional Península de Setúbal /
Branco / José Maria da Fonseca Salmão pálido. Nariz dominado
e ameixa, alguma especiaria.
Cor amarela apelativa, pelo fruto vermelho limpo
Corpo médio/ligeiro na boca,
ligeiro CO2, nariz frutado, e fresco, fruto tropical, que
aveludado e envolvente, fruta
algo exuberante mas fresco se estende à prova de boca,
prazenteira, taninos delicados
e atraente, notas tropicais conjunto bem amparado na
e polidos. Especiaria subtil
e citrinos. Na boca mostra acidez e na fruta final, um rosé
no final de boca. Um vinho de
volume e acidez a equilibrar que dará alegrias com entradas
apelo imediato. NGVP
o conjunto, final saboroso, de ou à borda de água. MB
2,69€ / 16ºC
bom comprimento. MB 4,99€ / 11ºC
9,90€ / 11ºC

148 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


GUIA REVISTA DE VINHOS

TÁVORA-VAROSA
15,5 16
16 Murganheira Tinto Bruto
2017
Escaravelho Ineditus
Unoaked 2019
Murganheira Malvasia
Távora-Varosa / Espumante / Regional Tejo / Tinto / Escaravelho
Fina Bruto 2017
Sociedade Agrícola e Comercial Wines
Távora-Varosa / Espumante / do Varosa Rubi médio. Nariz fresco,
Sociedade Agrícola e Comercial
Bolha média sobre cor de marcadamente frutado, bagas
do Varosa
cereja. Nariz simples, frutado e vermelhas, herbal e torrado
Suave na cor, com bolha média.
vigoroso. Boca jovem, atrevida, ligeiro. Na boca é leve, seco,
Aromas de fruta fresca, com
com marcado carácter vegetal taninos vivos, ligeiro herbal/
notas de pêssego e pêra, a
e fruta vermelha bem madura. vegetal, a contribuir para o
par de um lado mais floral e
Final seco, ácido e petillant, perfil jovial. Algo curto, mas
delicado. A boca é também
com taninos e notas de acertado, a mostrar-se opção
frutada, com mousse generosa,
seiva. Há sempre uma certa em mesa petisqueira. MM
algumas notas que lembram
rusticidade nos espumantes 17,90€ / 16ºC
padaria, acidez evidente,
tintos que este Murganheira
registo mineral, final longo e
sublinha com nervo e
alegre. CL
10,80€ / 8ºC
intencionalidade. CL
9,80€ / 8ºC
16 FALUA DUAS CASTAS TINTO
Falua Duas Castas CLASSIFICAÇÃO Vinho Regional Tej

Cabernet Sauvignon &


16
TIPO Tinto

CASTAS Cabernet Sauvigno


Aragonez 2018
TEJO Regional Tejo / Tinto / Falua
REGIÃO Tejo

TIPO DE SOLO Arenosos

Murganheira Rosé Bruto VINDIMA Manual em caixas

2014
Távora-Varosa / Espumante /
16 Rubi. No nariz apresenta fruto
vermelho limpo, delicado,
VINIFICAÇÃO Após uma mac
fermentação deco
controle de tempe

ÁLCOOL 13.5% vol.

Sociedade Agrícola e Comercial


Chapim 2017 balsâmicos e especiaria. ACIDEZ TOTAL 5,5 g/l

AÇÚCARES <4 g/l

do Varosa Tejo / Tinto / João dos Anjos Dias Na boca mostra-se suave, REDUTORES

NOTAS DE PROVA Vinho de cor rubi

Cor salmão acobreado, com Rubi intenso. Aroma muito centrado na fruta, bom groselha, pimento
cedro e especia
maduro é seguido

bolha fina. Tosta e aromas fino e bem desenhado. Bagas volume e acidez, final fresco e abundância de
equilibrado com u
vermelhos.

mais evoluídos, a par de vermelhas e azuis, algum floral saboroso. NGVP ACOMPANHAMENTO Acompanha bem
caça, enchidos e q

vegetal seco e notas de e herbal, com apontamentos 5,99€ / 16ºC


açúcar queimado. A boca é a sugerir presença de
seca, com uma mousse fina e madeira. Bem proporcionado
15,5
Falua — Sociedade de Vinhos, S.A.
Zona Industrial, Lote 56 · 2080-221 Almeirim, Portugal · T +351 243 594 280 · F +351 243 594 289

rendilhada, notas minerais e na boca, agradável volume


www.falua.net

final agradavelmente frutado. a dar compleição ao corpo


moderado. Alinhado e Casal das Freiras
Um espumante rosé versátil,
harmonioso, num estilo muito Colheita 2019
que dá prazer. CL
próprio para a refeição. MM Regional Tejo / Branco / Quinta
10,80€ / 8ºC
Casal das Freiras
5 / 16ºC
Amarelo citrino. Muito

15,5 sugestivo no aroma,

Murganheira Reserva 16 intensidade média, frutado bem


delineado a lembrar ameixa
Bruto 2017 Escaravelho Castas FP e cítricos vários. Frescura
Távora-Varosa / Espumante / Unoaked 2019 e untuosidade no corpo
Sociedade Agrícola e Comercial Regional Tejo / Branco / moderado, acidez viçosa e boa,
do Varosa Escaravelho Wines o pendor cítrico sobressai no
Cor pálida, bolha média. Nariz Amarelo. Aroma com fim de boca. Bem feito, nada
discreto, com flores brancas intensidade muito agradável. trivial e muito funcional à mesa.
e limão, tudo suave e fresco. Fruta de qualidade, subtil MM
Na boca, a mousse é bem tropical, sedutor na perceção 5,40€ / 11ºC
formada e agradável, em fundo mineral, arrumado e de
citrino. Final seco e ácido, amplitude apelativa. Corpo
num conjunto versátil, limpo e médio e aveludado, fruta
simples. CL equilibrada, acidez viva a elevar
9,80€ / 8ºC o prazer da prova. Persistência
agradável e elegante. MM
12,90€ / 11ºC

150 · Revista de Vinhos ⁄ 371 · outubro 2020 @revistadevinhos


GUIA REVISTA DE VINHOS

15,5 15 T RÁS - O S -
M ON T E S
Escaravelho Castas AR Tinto de Azinho 2015
Unoaked 2019
Regional Tejo / Branco /
Tejo / Tinto / João dos Anjos Dias
Granada médio. Aroma a
16
Quinta de Arcossó 2015
Escaravelho Wines revelar evolução, combina
Trás-os-Montes / Tinto / Quinta
Amarelo. Aroma curioso, bagas silvestres pretas e
de Arcossó
um pouco divergente, pois vermelhas com notas e caruma
Rubi. Algum floral, ameixa e
tem perfil de frescura mas de pinheiro, algum feno e
cereja escuras, fumo e notas de
o conjunto pende um tanto eucalipto seco. Perfil fresco.
baunilha do estágio em barrica.
sobre o maduro. Feno e chá, Corpo moderado, estrutura
Tanino firme, corpo médio/alto,
amêndoa e cítricos. Estruturado ainda jovem, um pouco magro,
acidez pungente, estrutura
na boca, acidez elevada, sem prejuízo do prazer. Bebe-se
assertiva. O final é caloroso,
salivante e laivos salinos. Final com muito agrado. MM
especiado e prolongado. De
relativamente curto, mas o todo 4,50€ / 16ºC
perfil clássico, está preparado
é competente. MM
para acolher gastronomia de
12,90€ / 11ºC
15
outono. JJS
7,50€ / 16ºC

15 Vale de Lobos 2019


Regional Tejo / Rosé / Sociedade
Chapim 2019 Agrícola da Quinta da Ribeirinha
V INHO V ERDE
Tejo / Rosé / João dos Anjos Dias Cor salmão e tons casca de
Tom cereja. Nariz simples,
prazenteiro, imediato, com
cebola. Nariz agradável, com
notas adocicadas de fruta
16
madura, calda de fruta e laranja. Aveleda Alvarinho
a cereja vermelha madura
Na boca, o mesmo registo, com Colheita Selecionada
e melancia em destaque.
notas de toranja, alguma tosta 2018
Fruta generosa na boca,
suave e adocicada e acidez Regional Minho / Branco / Aveleda
confere volume e redondez,
tem frescura, afinado, mostra viva. É um rosé envolvente e Amarelo. Nariz bem fresco,
mesmo alguma extensão. diferente. CL maçã verde, frutos de polpa
Apetência para mesa 4,00€ / 11ºC branca, algo exótico, toque
descontraída. MM de mel, num conjunto muito
4,50€ / 11ºC apelativo e vivo. Na boca
14 apresenta-se seco, untuoso
e com acidez bem viva e

15 Curriola 2019
Regional Tejo / Tinto / Sociedade
crocante. Termina seco e
mineral, para acompanhar
Oculto 2019 Ideal de Vinhos de Aveiras de Cima pratos de carnes brancas,
Regional Tejo / Rosé / Quinta do Cor granada, aroma simples, peixes magros ou saladas.
Arrobe agradável, limpo, com fruta NGVP
Cor rosada casca de cebola. vermelha, morango maduro e 5,49€ / 11ºC
Aromas a fruta vermelha com alguma geleia. Redondo, macio
notas herbáceas. Na boca é e fresco na boca, taninos super
fresco, cítrico e frutado. Tem macios, curto e simples. Para
acidez correta e final de boca beber de forma descontraída.
com rasto de doçura. LC MM
6,00€ / 11ºC 2,48€ / 16ºC
GUIA REVISTA DE VINHOS

16 16 15,5
Cardido Grande Encostas de Quinta da Lixa
Escolha Loureiro Melgaço Alvarinho 2018 Touriga Nacional 2019
Alvarinho 2019 Vinho Verde / Branco / Quinta da Vinho Verde / Rosé / Quinta da
Vinho Verde / Branco / Casa Pigarra Lixa
Santos Lima Cor amarelo limão. Muito limpo Cor salmão. Floral delicado,
Amarelo pálido. Nariz e aromático, com citrinos cereja vermelha e folha de
apelativo, fino e fresco, frescos, casca de laranja e morango. Ligeiro carbónico.
tons tropicais e citrinos. ramagem de limoeiro. A boca Leve, fresco, suave. Preparado
Sem exuberância, antes segue o mesmo perfil, com para os derradeiros raios de sol
com balanço e ponderação. algumas notas tropicais, tudo ao entardecer. JJS
Corpo médio, acidez de bem enquadrado em acidez 3,19€ / 11ºC
qualidade, refrescante e incisiva. Final fresco, seco e
salivante, apelativo e com final frutado, para um Alvarinho
requintado. MM alegre e despretensioso. CL
4,74€ / 11ºC 6,00€ / 11ºC

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Angela Reis
HOJE PROMESSAS, AMANHÃ LENDAS

A DE VIN texto Nuno Guedes Vaz Pires / foto Ricardo Garrido


ST
VI H
O
E S
R

1. 6.
·

·
Nasce em casa, em 1967, Seguiu-se o Alcântara
numa aldeia chamada Cavadas, Café, onde ganha o primeiro con-
perto do Seixal. tato com a cozinha internacional.

2. Possui origens alente-


janas, que remontam a Melides,
7. Depois de várias
experiências em Portugal e
·V ·
ÍT L raízes que seguiram a sua no estrangeiro, quer como
OR SOBRA
família e marcaram o percurso cozinheiro, quer já com os seus
do chefe. primeiros projetos como empre-

3. Desde cedo que a


ligação à gastronomia e à
sário, abre, em 2009, a Tasca da
Esquina, que junta ainda Hugo
Nascimento e Luís Espadana.
cozinha ficou vincada: aos três
anos já batia bolos e untava
formas. Aos sete já cozinhava
8. A Tasca da Esquina
é o conceito que define o
“a solo”. testemunho de Vítor Sobral:

4. Estimulado pelos pais


a frequentar a universidade
multidisciplinar, adaptativo,
nunca alheio a novas técnicas
e inovações mas preservando a
e cursar Direito, entrou na matriz dos sabores e da história
Escola de Hotelaria do Estoril e gastronómica portuguesa.
classificou-se o melhor aluno
da sua classe. Mais tarde, fez
especializações na escola de
9. Vítor Sobral não se
cansa de afirmar que a sua base
pastelaria de Lyon, Lenôtre e de trabalho é a cozinha regional
Alain Ducasse Formation. portuguesa e lusófona.

5. Começou o seu percurso


profissional no restaurante
10. Porém, para si o mais
importante é… proporcionar as
Iate Ben, em Carcavelos, como melhores refeições e nunca
segundo cozinheiro. perder o prazer da profissão.

Luzes, câmara, ação...


Continuamos com Vítor Sobral.
É um dos nomes maiores da gastronomia portuguesa e, por- A veia de empresário manifestou-se desde muito cedo e, ainda
que não dizê-lo, lusófona. Vítor Sobral, chefe de cozinha, em- hoje, conjuga essa dinâmica e determinação com a sua voca-
presário, professor e consultor, tem um percurso que fala por ção de restaurador. Veja-se como, em plena pandemia, rapida-
si e granjeou-lhe já inúmeras distinções, num vasto currículo mente adaptou os seus vários espaços e mantém projetos de
com mais de três décadas e 30 livros publicados. abertura – desde logo, um espaço de grande dimensão na lota
Entre os galardões contam-se o grau de Comendador da Or- de Cascais, a inaugurar em 2021 e sobre o qual não avança
dem do Infante D. Henrique, em 2006, pelo seu desempenho grandes detalhes, a não ser, tratar-se de um conceito terá ao
na defesa dos sabores nacionais, atribuído pelo então presi- leme o seu braço direito Luís Espadana.
dente da República, Jorge Sampaio; a escolha, em 1999, como Mantém a Tasca da Esquina e a Peixaria da Esquina, bem
Chefe do Ano pela Academia Portuguesa de Gastronomia; o como as Padarias da Esquina.
Gourmand International Cookbooks Award 2013, pela obra Porém, entre restaurantes, livros, consultorias e três filhos,
As Minhas Receitas de Bacalhau; ou o prémio Mais Alentejo, Vítor Sobral norteia a sua atividade num único sentido: a sus-
pela Excelência Gastronómica. A lusotropicalidade de Vítor tentabilidade, a defesa do património gastronómico lusófono e
Sobral foi igualmente reconhecida no Diploma de Gratidão a recuperação de produtos tidos como menos nobres e de fácil
pela Câmara Municipal de São Paulo, pelos serviços prestados acesso. Destacamos 10 coisas que deve saber sobre Vítor
à comunidade. Sobral.
SEJA RESPONSÁVEL. BEBA COM MODERAÇÃO.

APRESENTÁMOS:

TECEDEIRAS LILÁS
Um novo vinho do Douro para o seu dia-a-dia. É um lote das mais tradicionais castas desta nossa região: Touriga Nacional,
Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca. Um vinho fresco mas sedoso que nos encanta com as suas notas de frutos
silvestres e um toque de especiarias. Aprecie e descontraia-se!

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