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Jacob

Copyright © 2011 Flávia Cunha Santos.

Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão total ou


parcial, sob qualquer forma. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança
com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência.
Capa: Dreanstime

Contato:
http://ladygraciosa.com/

Trilogia Irmãos Bennett


Livro 1

Jacob
Flávia Cunha
Índice

Índice
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Epílogo
Títulos da Autora
Capítulo I

– Preciso de uma ginecologista!


A voz grave e profunda continha tamanha urgência que fez a doutora Lacey parar de anotar o nome da
paciente que estivera atendendo na papelada do plano de saúde e encará-lo.
Alto. Provavelmente mais de um metro e oitenta a julgar pela forma que ele preenchia o espaço da
recepção de seu consultório. Ele aprumou o corpo ao perceber os olhares curiosos e algumas
risadinhas por parte das mulheres que aguardavam atendimento. Definitivamente mais de um metro e
oitenta, Lacey corrigiu-se.
Inspecionou-o mais detalhadamente, das botas pretas e gastas, passando pelos jeans desbotados que
cobriam as longas pernas e a camisa verde, um pouco suada, que ele usava. Um rancheiro, Lacey
concluiu. Um rancheiro que havia parado o serviço no meio da manhã para ir até a clínica.
Ergueu a vista e deparou-se com os olhos mais verdes que já vira em sua vida, encarando-a de
maneira incisiva. Um arrepio de antecipação percorreu o seu corpo enquanto se encaravam. Ele não
se moveu apenas, observou-a e Lacey forçou-se a perguntar.
– O senhor tem hora marcada?
A pergunta suscitou mais alguns risinhos disfarçados e o homem franziu o cenho. Aproximou-se com
passos decididos até o balcão da recepção onde Lacey se encontrava e espalmou uma das mãos
contra a bancada, seu braço flexionado promovendo um espetáculo à parte e com a outra mão tocou
seu braço. Antes que ela pudesse protestar, Jacob já havia afastado a mão como se tivesse tocado em
algo perigoso.
– Moça, eu não tenho hora marcada, mas trata-se de uma emergência. – disse num tom firme. – Então,
por favor, peça à doutora que me atenda.
Lacey sentiu o corpo arrepiar com a proximidade do rancheiro, a voz do sujeito repercutindo em seu
peito era tão estimulante quanto o mais poderoso afrodisíaco. Sentiu o coração disparar e
recriminou-se por ser tão suscetível aquele sujeito. Respirou fundo na tentativa de manter a
compostura, antes de estender a mão para cumprimentá-lo.
– Sou a Doutora Lacey Michels. – hesitou um segundo antes de aceitar a mão estendida, não muito
confiante.
– Bennett. – Ele informou um pouco taciturno. – Jacob Bennett.
– O senhor chegou em um dia complicado, Sr. Bennett. – explicou ao mesmo tempo em que soltavam
as mãos, ignorando a corrente elétrica que havia atingido seu corpo ao tocá-lo. – Minha assistente
está doente e não veio trabalhar hoje, então as coisas estão um pouco difíceis por aqui.
– Não me fale em dia difícil! – Ele tirou o chapéu e passou a mão pelos cabelos castanhos
ondulados. – Meu irmão Lucas se preparou para esse dia, mas eu estou totalmente perdido. – Jacob
confessou. – Por favor, pode me conceder alguns minutos?
“Toda a minha vida” o pensamento traiçoeiro surgiu na mente de Lacey deixando-a sem ação.
Percebendo que Jacob esperava uma resposta forçou-se a desviar os olhos, antes de responder.
– Sr. Bennett eu posso atendê-lo. – Lacey disse. – Mas o senhor terá que aguardar que eu atenda as
outras pacientes.
Jacob olhou as mulheres ali sentadas tranquilamente. Uma delas tinha o ventre volumoso devido a
uma gravidez, uma senhora estava fazendo tricô e duas jovens, as responsáveis pelos risinhos,
estavam cochichando.
Jacob observou as mulheres e calculou mentalmente o tempo que passaria no consultório. Não podia
passar tanto tempo ali sentado esperando. Pensou em todas as coisas que ainda teria que fazer no
rancho antes do meio-dia e suspirou resignado.
– Atenda-o, querida. – a senhora Rodriguez disse sem desviar os olhos de seu tricô. – Nós
aguardamos.
Lacey olhou para Hannah, filha da Maria Rodriguez, que viera fazer o pré-natal e esta assentiu. Susan
e Justine também acenaram positivamente, o que a fez concordar.
Jacob agradeceu, encarou-a e saiu da sala. Lacey, que se preparava para entrar no consultório, parou
confusa antes de segui-lo para além da recepção. Parou surpresa ao vê-lo falar carinhosamente com
uma garotinha de calça jeans, camiseta verde limão e botas. O boné enfiado na cabeça escondia os
cabelos e o rosto.
– Vamos Kate, a doutora vai atendê-la. – Jacob disse num tom de voz gentil.
– Jake! – a menina protestou. – Eu não preciso de um médico!
– Eu sei querida. – Jacob concordou e abaixou-se para ficar na altura de Kate. – Mas eu ficarei muito
mais tranqüilo depois que você conversar com a Doutora Lacey. – segurou as mãos da garota antes
de pedir. – Fará isso por mim?
Lacey acompanhava o diálogo. Estava impressionada. Aquele gigante sexy falava com Kate num tom
absolutamente doce e com uma submissão planejada. A garota levantou o rosto deixando-a ver lindos
olhos cor de âmbar que lhe pareceram familiar.
– Tudo bem, Jake. – Katherine Alexandra Bennett respondeu como fosse uma rainha concedendo um
pedido a um súdito. – Mas você não vai entrar.
– Kate...
Percebendo que aquela batalha entre os dois poderia durar horas, Lacey resolveu agir.
– Pode deixar Sr. Bennet. – tranqüilizou-o. – Kate estará em boas mãos.
Sentindo-se impotente diante das duas mulheres, Jacob assentiu e viu a doutora acompanhar sua
garotinha até o consultório. Respirou bastante aliviado. Quando seus pais morreram em um acidente
de carro e apenas Kate sobreviveu, e ele e seus irmãos se desdobraram para dar conta da fazenda e
da irmãzinha que era apenas um bebê. Fora pura força de vontade que os fez prosseguir e transformar
o antigo Rancho Bennett em uma das maiores fazendas de gado de corte do país.
Kate não fora negligenciada. Ele e os irmãos cuidavam dela com todo amor e carinho que receberam
dos pais, mesmo que nem sempre soubessem o que fazer com uma garotinha, havia conseguido dar
conta... Até agora. O fato é que aos doze anos sua irmã já não era mais criança. E embora Jacob
soubesse que este dia chegaria, esperava que ao menos um de seus irmãos estivesse casado, para que
ela pudesse contar com uma presença feminina. Infelizmente isso não havia acontecido antes que ele
se visse de cara com a primeira situação constrangedora. Sentou-se no estofado da recepção ao lado
das duas garotas e aguardou.
– E então... Kate? – Lacey perguntou e a menina assentiu positivamente. – o que deixou seu...
– Irmão.
– Seu irmão... tão nervoso?
A garota levantou a cabeça e retirou o boné deixando que abundantes cabelos negros caíssem por
suas costas e emoldurassem seu rosto, antes de suspirar e confessar de maneira um tanto
envergonhada.
– Eu comecei a sangrar hoje. – Ela disse e rapidamente completou. – Eu sei o que significa porque a
Srtª Jane explicou na aula de biologia. Mas Jake entrou em pânico. Seria diferente se Lucas estivesse
na fazenda, ele é veterinário, sabe? Até mesmo David não teria me arrastado correndo para um
consultório, mas Jake é o mais velho... ele se preocupa demais.
Lacey ponderou por alguns instantes as informações que Kate lhe deu, percebendo que a garota
parecia ter tudo sobre controle, inclusive seus três irmãos. Pensou no homem que aguardava na
recepção e sorriu, enternecida com os cuidados que ele dispensava a irmã. Kate lhe disse que seus
outros irmãos – David e Lucas – haviam viajado a negócios, por isso ela estava ali.
– Jake não acreditou em mim quando eu disse que estava bem e me trouxe aqui para uma conversa de
mulheres. – deu de ombros, como que acostumada ao jeito dos irmãos.
– Sua mãe...
– Meus pais morreram num acidente de carro, há muito tempo. – disse e desviou os olhos, antes de
encará-la novamente. – Meus irmãos cuidam de mim.
– Tenho certeza que sim. – sorriu, na tentativa de desanuviar o ambiente. – E aposto que você os tem
na palma da mão!
Ela sorriu encabulada, mas não a desmentiu. Ficou imaginando uma garotinha sendo criada por Jacob
e mais dois sujeitos parecidos com ele. Apesar do jeito arrogante e autoritário daquele homem, não
havia dúvidas quanto ao amor que dispensava lhe dispensava e acreditava que os outros rapazes
Bennett deveriam agir do mesmo jeito.
Lacey conversou com Kate, informando-se sobre o que a garota sabia e explicando-lhe algumas
coisas mais. Receitou um remédio adequado a sua idade para o caso de ela sentir cólicas e alertou-a
para as alterações de humor que poderiam ocorrer. Quando ambas saíram do consultório, Jacob
imediatamente aproximou-se.
– Tudo bem?
– Tudo ótimo, Sr. Bennett. – falou enquanto lhe passava numa ficha para que ele preenchesse os
dados que Kate não soubera informar, enquanto preenchia a papelada do plano de saúde da garota.
Entregou a Jacob a receita, antes de dizer. – Traga-a até o consultório semana que vem.
– Por quê? – Jacob perguntou desconfiado. – Não está tudo bem?
– Apenas alguns exames que Kate deverá fazer de tempos em tempos a partir de agora. – garantiu,
tranqüilizando-o. – Não há motivos para se preocupar.
– Obrigado. – Jacob disse formalmente, quando terminou de preencher os papéis.
Encarou-a durante mais alguns segundos, como se pretendesse dizer algo mais, porém um som de
tosse acabou por afastá-los. Antes de sair, Jacob dirigiu um enorme sorriso a senhora Rodriguez e
agradeceu-a. Kate acenou-lhe um tanto tímida e se foram.
Enquanto os dois atravessavam as portas da recepção e iam embora, Lacey se perguntou por que ele
não lhe sorrira daquele jeito. Contendo um suspiro, chamou Hannah para a consulta e deu seguimento
ao seu trabalho. E durante o restante da manhã pegou-se pensando várias vezes em certo Bennett.
Jacob aproveitou que estava na cidade e parou na farmácia para comprar o remédio que a doutora
Michels havia receitado e para que Kate pudesse comprar absorventes. Deus, como gostaria que
Lucas estivesse em casa. Amava sua irmã, mas era muito mais fácil – e menos constrangedor – cuidar
dela enquanto era apenas uma menininha.
Enquanto o dono do estabelecimento, Zachary Harris separava o remédio e Kate passeava entre as
gôndolas da pequena farmácia, Jacob pegou-se pensando na doutora Lacey. Tinha que admitir que
fora um tanto preconceituoso ao acreditar que ela fosse a recepcionista. E também não fora muito
efusivo em seu agradecimento. Provavelmente a médica ficou com a impressão de que ele era um
rancheiro rude.
Sem dúvida seus irmãos iriam se divertir muito quando chegassem a cidade e soubessem que havia
praticamente berrado que precisava de uma ginecologista. Diante de uma das mais respeitáveis
damas da pequena cidade de Springville no Texas. Já sua mãe, se estivesse viva, recriminaria seus
modos e o faria retratar-se.
Pensando nisso, deixou Kate na farmácia e dirigiu-se para a única floricultura da cidade, inaugurada
recentemente por uma ex-modelo, que havia abandonado a carreira de sucesso por um motivo
misterioso. Lucas parecia conhecer a moça e ao que parecia tinham algum tipo de amizade. Não
sabia por que, aquela era uma das poucas mulheres na cidade que não se jogou aos seus pés.
– Bom dia!
– Bom dia! – a moça respondeu e sorriu-lhe. – Você é Jacob, certo?
– Isso mesmo.
– Muito prazer, Sabrina Jackson. – cumprimentou-o. – Lucas fala muito em de você.
– Coisas boas, eu espero. – Jacob disse franzindo o cenho.
– Oh, claro que sim! – Sabrina apressou-se em confirmar. – Em que posso ajudá-lo?
Com a ajuda de Sabrina, escolheu um buquê de flores e mandou entregar na clínica. Depois de se
despedir, saiu da floricultura e percebeu várias pessoas observando-o. Pronto! Era só o que lhe
faltava. Provavelmente a notícia de que visitara o estabelecimento se alastraria feito fogo em pólvora
seca e ao cair da noite todos estariam comentando sua entrada totalmente sem tato na clínica e o fato
que encomendara flores. Seus próprios irmãos quando soubessem da história não o deixariam em
paz!
Pagou as compras e com Kate ao seu lado dirigiu sua caminhonete para casa. Quando finalmente
chegou ao rancho, a manhã estava no fim. Repassando mentalmente todas as atividades que ainda
teria que fazer - e quais delas poderiam deixar para o dia seguinte - Jacob deixou Kate em frente à
casa de dois andares que pertencia à família há várias gerações. Situada em um terreno com uma
espécie de declive, fora reformada recentemente e exibia agora toda a sua beleza. Encaminhou-se
para os estábulos, dando deu início as suas obrigações.
Capítulo II

Lacey terminou a consulta de Hannah e a gestante estava preenchendo a papelada com seus dados
quando um rapazinho lhe entregou um enorme buquê de flores do campo. Enquanto assinava o recibo
pode perceber o olhar curioso de Maria Rodriguez e o sorrisinho das jovens que aguardavam
atendimento. Abriu o envelope e leu o cartão simples e direto.
“Peço desculpas por meu comportamento. Jacob Bennett”. Resistiu à louca vontade de apertar o
cartão junto ao rosto e apressou-se em guardar o cartão no bolso do jaleco e repousar o buquê na
mesa de recepção.
Antes de ir embora, a senhora Rodriguez fez questão de cochichar o seu conselho.
– Jogue o laço nesse cowboy!
Quando Lacey deu o expediente por encerrado à manhã já estava no fim. Depois de organizar tudo no
consultório, pegou novamente o cartão e ficou observando por um longo tempo a letra tão firme e
forte quanto o homem que invadira seu consultório em busca de uma ginecologista. Pegou o buquê e
rodopiou com ele pela recepção, ignorando o fato de que era no mínimo - ridículo - uma mulher de
vinte e cinco anos agindo feito uma adolescente.
Mas não podia negar que havia ficado impressionada com a poderosa atração que sentiu entre eles.
Enfiou o rosto no buquê e aspirou o perfume das flores. Precisava colocá-las em um vaso, faria isso
em sua casa e... Droga! Havia esquecido o almoço com sua tia Zelda. Sem desgrudar do buquê,
pegou sua bolsa, trancou o consultório e caminhou apressada até a o restaurante onde haviam
marcado.
Como morava próximo ao consultório, numa das casas de um condomínio recém inaugurado, pouco
utilizava seu velho carro. Preferia caminhar pelas ruas de Springville, tentando recordar o período
que havia vivido ali. Tinha treze anos na época em que seu pai cometeu suicídio, quando foi enviada
para um colégio interno em Houston. Desde aquela época vivera afastada, mas no final do ano
anterior sentiu que era hora de retornar. Então juntou todas as suas economias e com a ajuda do
banco, montou a clinica e comprou sua casa. Também trabalhava no Hospital Geral de Springville
dois dias na semana. Era uma rotina tranqüila, se comparado ao exaustivo trabalho que exercia no
University General Hospital em Houston.
Enquanto caminhava, várias pessoas pararam para cumprimentá-la. Poucas a associavam a tímida
Lacey Colbert Michels. Algumas ainda lembravam a morte trágica de seu pai, mas evitavam tocar no
assunto. Já haviam se passado mais de doze anos. Somente sua tia insistia em lembrá-la do quão
covarde seu pai fora, em deixar sua única filha sozinha no mundo. Zelda nunca quis ser responsável
pela sobrinha, e mesmo agora, quando já era adulta e independente, maldizia a hora em que sua seus
pais haviam se conhecido.
Lacey tentava ignorar a dor que as palavras lhe causavam. Apesar de tudo, era a única família que
lhe restava. A criatura amarga que lhe matriculara em um colégio interno tão longe de casa era a
mesma doce senhora que fora lhe visitar diversas vezes em Houston. Ela estava ficando velha e o
fato de não aprovar sua vinda para a Springville a fazia agir com mais dureza que o necessário.
Juntando a isso o fato de Lacey recusar-se a morar com ela vinha promovendo vários e árduos
embates entre as duas.
Antes de entrar no restaurante, respirou fundo e estampou seu melhor sorriso no rosto.
– Oi, tia Zelda! – puxou uma cadeira para sentar e repousou o buquê sobre a outra. – Quais são as
novidades?
– Você está atrasada. – respondeu sem desviar os olhos do cardápio.
– Desculpe-me, tia Zelda. – Lacey tentou se explicar. – Megan não foi trabalhar hoje e... o
consultório estava cheio e eu...
– Lacey. – a voz firme interrompeu a avalanche de informações. – Pare de gaguejar e pegue o
cardápio.
– Sim, tia Zelda.
– Vamos almoçar em paz e depois conversamos. – fez um sinal para o garçom que rapidamente veio
anotar o pedido.
Lacey pediu apenas uma salada. Seu apetite havia sumido, assim como a sua recente euforia. Não
entendia o motivo de sua tia fazer questão desse encontro semanal, se mal se olhavam! Na verdade
quase não conversavam também. Afora as críticas que sua tia fazia questão de fazer, sobravam as
perguntas sobre sua vida pessoal. Inexistente, óbvio. Respirou fundo e segurou a inesperada vontade
de chorar. Começou a bater o pé no chão devagarzinho. Esse era um velho tique nervoso, que
adquirira quando criança e não conseguia se livrar. Esperou que o garçom não demorasse com a
comida para que pudesse ir logo para casa.
Sabia que sua submissão aos caprichos de sua tia não contribuíam em nada para que ela mudasse de
atitude. Infelizmente não tinha força de vontade o suficiente para se impor ou mesmo fugir dos
encontros. E assim, a cada semana ela sentava-se diante da tia e agia como uma garotinha. Lembrou-
se de Kate e a forma como Jacob entrou em seu consultório. Duvidava que ela fosse para um colégio
interno, que os irmãos a afastassem de tudo que conhecia e amava. Lembrou-se das palavras da
garota e como falara com orgulho e confiança: “Meus irmãos cuidam de mim”.
Nunca ninguém havia cuidado dela. Seu pai foi obrigado a casar com sua mãe porque ela estava
grávida. Sua mãe havia morrido ao dar a luz e seu pai, sem saber o que fazer com um bebê, recrutara
a irmã Zelda Michels para ajudá-lo a criá-la. Então os dois passaram a vesti-la e educá-la... E no
restante do tempo ignorá-la. Uma vez, escutara tia Zelda conversando com Abigail Thomas sobre
como seu pai dera azar ao engravidar uma moça no período em que ele e a namorada se
desentenderam. Tentara ouvir mais da conversa, mas tia Zelda percebeu sua presença e a mandou de
castigo para o quarto.
Talvez seu pai a culpasse por seu relacionamento com a tal moça ter terminado. Talvez ele não
acreditasse que era filha dele ou pior... talvez não fosse mesmo sua filha. A verdade é que Lacey
cresceu sentindo-se rejeitada por todos. Isso a tornou uma menina tímida, sempre com a cara enfiada
nos livros e que passava a maior parte do tempo na biblioteca da escola. Em contra partida,
descobriu ter um Q.I. (Quociente Intelectual) avançado que lhe possibilitou ser uma das mais jovens
alunas formadas em medicina do estado.
Quando a refeição chegou, fez um esforço para engolir sua salada, no que foi auxiliada pelo
excelente vinho servido. Sabia que não adiantava comer de forma apressada, pois isso apenas faria
sua tia demorar-se mais com sua própria refeição. Conseguiria suportar àquelas horas de refeição e a
sua frieza. Havia aprendido a ignorar o mundo a sua volta no tempo que passou no internato. A fingir
que as zombarias e gozações, as brincadeiras de gosto duvidoso não a magoavam. Anos depois, a
medicina tornou-se sua válvula de escape. Não conseguia descrever a sensação de trazer uma criança
ao mundo. Era simplesmente... mágico.
– Soube que suas prestações no banco ficaram pesadas.
A voz de sua tia trouxe-a do passado para o presente de forma abrupta. Como ela havia conseguido
aquela informação? As prestações do banco ficaram realmente mais altas do que planejara, mas com
o emprego do Hospital, conseguiria equilibrar as contas.
– Está tudo bem. – desconversou e tentou mudar de assunto. – A senhora Rodriguez mandou
lembranças.
– Você deveria voltar para Houston. – continuou, desprezando sua tentativa de mudar de assunto. –
Ainda está em tempo de desfazer o negócio.
– Tia Zelda...
– Eu falei com o dono do banco. – continuou, ignorando-a. – Edgar é um velho conhecido e ficaria
feliz em ajudá-la.
– Tia Zelda...
– Seu chefe em Houston ficou surpreso quando eu falei que você pretendia voltar, mas garantiu que
adoraria tê-la de volta.
O choque deixou-a muda por alguns instantes. Como ela pôde? Sentiu o rosto esquentar e sabia que o
rubor tomaria conta de seu rosto e pescoço. Como poderia um dia encarar seu antigo chefe? Tomou
um gole do vinho em sua taça que milagrosamente estava cheia novamente. Reuniu toda a sua
indignação e disse pausadamente.
– Eu não vou voltar para Houston. – sua voz tremia. – Vou morar aqui mesmo em Springville.
– Esse lugar não é pra você! – Ela exaltou-se chamando a atenção das poucas pessoas que ainda
almoçavam. – E você vai voltar pra Houston por bem ou por mal!
Lacey observou a tia ir embora, em uma saída triunfal, deixando-a a mercê de olhares curiosos.
Sentia vontade de sumir, de tanta vergonha. Bebeu todo o conteúdo de sua taça de vinho ignorando o
olhar espantado do garçom. Bebeu mais umas duas taças de vinho antes de ter condições de encarar
as pessoas e ir pra casa.
Pagou a conta e abraçada ao buquê caminhou cambaleante para casa. Gostaria de saber o motivo de
sua tia a querer longe de Springville. Gostaria de saber o que havia feito de errado para que ninguém
gostasse dela.
Opa! Ninguém não. Havia os colegas do hospital. E havia suas pacientes, não podia esquecer-se
delas. E havia... Não havia mais ninguém. Mas ainda tinha as flores que aquele homem lindo havia
lhe dado... Jacob. Jacob Bennett havia lhe dado flores... talvez, apenas talvez ele gostasse um
pouquinho dela, pensou enquanto atravessava a rua.
A freada brusca a assustou, deixando-a um pouco mais desnorteada. Viu um homem alto e forte
descer da caminhonete e suspirou. Jacob! Havia pensado nele e ele apareceu na sua frente. Que
estranho! Parecia até magia. Riu com a idéia e tentou focar o olhar no homem a sua frente. Estava um
pouco zonza... Poderia ser o calor ou a taça de vinho que havia tomado... Quantas haviam sido
mesmo? Estava tentando recordar quando ele se aproximou e perguntou preocupado.
– Você está bem?
– Eu... Ic! – um soluço a interrompeu. – Eu estou bem, não estou?
– Moça você bebeu?
– Só um... Ic! ... pouquinho. – Quando ela tombou para frente braços fortes a ampararam. – Opa...
– Venha. – tentou fazê-la se mover. – Vou levá-la até sua casa.
Ouviu o sujeito sorrir e ampará-la até a calçada, próximo de onde estacionara a caminhonete. Sentia
o chão afundar sob os seus pés como se estivesse caminhando sobre a água... Parou para observar o
chão para ter certeza de que não estava “mesmo” caminhando sobre a água e deparou com o buquê de
flores que trazia nos braços.
– Oh! Eu esqueci de lhe agradecer!
Moveu-se entre os braços que a seguravam e mirou o rosto forte a fim de lhe dar um inocente beijo
no rosto, mas mirou errado e acertou nos lábios masculinos.
– Obrigada. – disse e tentou encará-lo, o que a fez desequilibrar-se e ser novamente amparada. – Eu
nunca... Ic! ... recebi flores de um homem antes.
– Isso não pode ser verdade. – Ele disse gentil, tentando fazer com que ela sentasse no banco do
carona da caminhonete.
– E também nunca beijei um homem antes... Jacob. – ela disse antes de literalmente desmaiar em
seus braços.
– Jacob? – disse espantado.
Aquela mulher o havia confundido com seu irmão! Então havia sido ele que enviara as flores? Ela
estava bêbada. E havia lhe agradecido. E lhe beijado diante de boa parte da população de
Springville.
– Oh, Droga! – Lucas pensou enquanto a acomodava no estofado gasto de couro. – Jacob vai me
matar!
Deu a volta na caminhonete parando no lado do motorista ignorando as pessoas aglomeradas a sua
volta. Provavelmente a essas alturas a cidade inteira sabia que uma jovem havia beijado-o e caído
aos seus pés! Ah, as dores e as delícias de se viver em uma pequena comunidade. Teria sorte se não
tivessem contando os futuros filhos do inexistente casal antes de amanhecer.
– Oh, Merda!
Teria que levá-la para o rancho. Não sabia onde a moça morava e bem... ela conhecia Jacob, certo?
Não tinha idéia de onde eles se conheciam ou se seu irmão iria gostar que a levasse para a
propriedade dos Bennett, mas não tinha alternativa.
– Merda. – praguejou outra vez enquanto dirigia para a fazenda. – Sinto que estou me metendo em
encrenca...
Capítulo III

Jacob terminou as tarefas do dia e entrou em casa, louco por um banho. Kate havia lhe pedido mais
cedo para passar a noite na casa das McNeill e Faith - uma das primas de sua mãe que moravam no
bosque que limitava a propriedade - havia passado para buscá-la. Apesar de um pouco “incomuns”
eram ótimas pessoas e adoravam as visitas de Kate.
Assim que os irmãos chegassem conversaria sobre contratar alguns empregados novos. Além do
trabalho do rancho ainda precisavam de uma pessoa que cuidasse da casa e de Kate. Não podiam
continuar se alimentando de comida congelada e já não tinham tempo nem mesmo de dar um jeito na
casa quando ela estava bagunçada. O tempo das vacas magras definitivamente fora superado e agora
tinham um patrimônio bastante consistente, então, contratar uma governanta e mais alguns peões para
o trabalho braçal não abalaria as finanças.
Estava descendo as escadas quando ouviu o barulho da caminhonete do irmão. Sabia que era Lucas,
já que David dirigia uma moto Harley Davidson. Saiu de casa para receber o irmão e parou
estarrecido perto do carro ao vê-lo retirar uma mulher adormecida do banco do passageiro.
– Você bem que podia ajudar. – Lucas disse sem se virar. – Afinal, é sua garota.
– Minha... o quê? Do que você está falando? – Jacob se aproximou e não disfarçou a surpresa ao ver
de quem se tratava. – É a doutora Lacey!
– Lacey. Então é esse o nome dela? – Lucas riu e depositou-a nos braços do irmão. – Ela me
confundiu com você.
– Isso não é possível. – Jacob franziu o cenho antes de perguntar. – Ela está dormindo?
– Ela desmaiou em meus braços. – Lucas disse antes de pegar o buquê de flores e sua maleta que
estava no banco de trás e caminhar para casa.
– Quer falar sério, por favor?
Um tanto irritado, Jacob depositou Lacey no sofá e delicadamente apoiou sua cabeça em uma
almofada macia. Voltou a encarar o irmão.
– Então vamos falar sério. – Lucas começou a procurar algo em sua maleta. – Essa moça quase foi
atropelada, me pareceu um pouco desnorteada e me disse que havia bebido um pouquinho.
Confundiu-me com você, agradeceu o buquê de flores, me beijou e depois desmaiou.
Começou a examinar Lacey, verificando primeiramente os batimentos cardíacos.
– Você beijou Lacey? – Jacob perguntou avançando até ficar em frente ao irmão e segurá-lo pela
camisa.
– Hey, homem das cavernas! – exclamou desvencilhando-se. – Não ouviu o que eu disse? – perguntou
enquanto verificava a pressão arterial e a dilatação das pupilas. – Ela me beijou.
– Por que ela faria isso? – disse, ainda pronto para brigar.
– Já disse, ela me confundiu com você. – explicou e começou a guardar seu equipamento. – Você
deve tê-la impressionado. Ela me disse que foi a primeira vez que recebeu flores.
– Isso não pode ser verdade. – murmurou pensativo.
– Foi exatamente o que eu disse. – Lucas respondeu. – E então ela disse que...
– Lucas, por que a trouxe pra cá? – Jacob interrompeu-o e o encarou. – E quero uma resposta séria,
nada de brincadeiras.
– A moça me pareceu desnorteada e não falo só pela bebida. – Lucas disse e hesitou antes de
continuar. – Ela me pareceu tão frágil que ajudá-la foi algo instintivo. – encarou o irmão. – Achei
melhor levá-la para um lugar tranqüilo. Não podia deixá-la exposta aos curiosos da cidade. –
prosseguiu. – Inicialmente pensei em levá-la até a casa de Summer, mas então ela me confundiu com
você e aqui estamos.
– E agora?
– Agora sugiro que você a deixe descansar. – Lucas disse e levantou espreguiçando-se. – Eu vou
tomar um banho e comer alguma coisa.
– Ela vai ficar bem?
– Provavelmente vai ter uma baita dor de cabeça quando acordar, mas de resto está tudo bem.
Jacob observou o irmão subir as escadas e depois ficou algum tempo olhando para Lacey. Ah,
gostaria de entender de onde surgira esse sentimento estranho, essa atração que se apoderara dele no
momento em que a vira e que sentira no momento em que a cumprimentara. Ela não tinha uma beleza
de parar o trânsito como Sabrina, mas, havia algo que encantava. O rosto redondo, a boca pequena
com o lábio inferior mais fino, mas a principal atração do rosto não estava visível neste momento: os
grandes olhos cor de âmbar que além de bonitos transmitiam confiança.
Observou a tempestade se formando e então foi até o quarto e pegou uma coberta macia, com a qual
cobriu seu corpo. Lucas havia dito que ela lhe confundira com ele. E caiu em seus braços. Estaria
procurando-o? Foram as flores que a levaram a ele... a Lucas? E por que em nome de Deus ela havia
bebido? Tentaria descobrir isso no momento em que ela acordasse. Até lá, o melhor seria aguardar.
Deixou a sala na penumbra e se encaminhou para a cozinha onde se pôs a preparar o jantar.
O barulho de vozes despertou Lacey de um sono profundo. Imaginou se teria deixado a televisão
ligada outra vez. Estava prestes a se levantar, quando abriu os olhos e percebeu que não estava em
sua casa. Sentou-se de maneira abrupta e sua cabeça doeu de uma forma que parecia a ponto de
explodir! E foi então que ela se lembrou. Da conversa com a tia, das taças de vinho e... Não! Gemeu
escondendo o rosto com as mãos. Não podia ter feito aquilo...
O barulho de vozes de repente cessou e Lacey baixou as mãos e observou Jacob se aproximar.
– Por favor. – pediu suas bochechas vermelhas. – Me diz que eu não me joguei em seus braços e o
beijei diante de metade da população de Springville.
Jacob a observou, os grandes olhos a encará-lo. Parecia tão frágil ali em seu sofá e ao mesmo tempo
tão linda...
– Você não se jogou em meus braços e me beijou diante da metade da população de Springville. –
Jacob disse, tentando conter o riso.
– Graças a Deus! – Lacey suspirou e levantou prestes a agradecer a hospitalidade e ir embora quando
outro homem entrou na sala.
Lacey o observou. Ele era tão alto quanto Jacob e tinha o mesmo porte físico. A diferença estava no
rosto. Apesar de os dois terem traços fortes, o outro homem tinha covinhas quando sorria.
– Na verdade... – Lucas disse e seu sorriso era amplo. – Você se jogou em meus braços e me beijou
diante de “mais” da metade da população de Springville.
– Ele não esta falando sério... está? – perguntou encarando Jacob.
–Ah, eu estou sim. – Lucas disse com um sorriso.
Lacey gemeu e inclinou o corpo, olhando fixamente para o chão.
– Está se sentindo mal? – Jacob perguntou solícito e a viu negar com a cabeça.
– O que está fazendo? – Lucas perguntou intrigado.
– Estou tão envergonhada que tenho vontade de cavar um buraco no chão para me esconder. – disse
sem encará-los. – Talvez se eu olhar fixamente para o chão ele se abra.
– Eu não contaria com isso. – Lucas riu e se jogou no sofá em frente ao que ela dormira. – Esse piso
é original e tem mais de duzentos anos! – piscou pra ela. – E não precisa se envergonhar... você não
foi a primeira mulher a cair aos meus pés. – disse sorrindo e estendendo a mão. – Lucas Bennett,
muito prazer.
– Lacey Michels. – disse ainda encabulada.
Lacey o encarou entre constrangida e divertida. Provavelmente era verdade. Ele era bonito e
divertido, uma combinação excitante para a maioria das mulheres.
– Na verdade... pode me beijar quando quiser! – Lucas continuou, divertindo-se. – E eu posso...
– Já chega Lucas. – a voz de Jacob soou autoritária ao interromper o irmão.
– Tudo bem, já entendi... – disse com as palmas viradas pra cima. – Estou indo para o meu quarto,
descansar um pouco. – encaminhou-se para escada, mas parou um minuto e dirigiu-se a Lacey. – Se
precisar de qualquer coisa, chá, remédio pra dor de cabeça, beijos... – riu quando ela tornou a ficar
vermelha. – ... é só me chamar!
Ele subiu as escadas ainda rindo e Lacey o seguiu com os olhos até perdê-lo de vista. No momento
seguinte, só se ouvia o silêncio. Moveu-se pela sala até ficar frente a frente com Jacob.
Ao encará-lo, sentiu as pernas enfraquecerem com o calor que havia em seus olhos. Certo, isso não
estava nada bem. Conhecia o homem a menos de vinte e quatro horas e já estava toda derretida por
ele? Lacey foi a primeira a quebrar o silêncio.
– Gostaria de me desculpar por... – disse mordendo os lábios. – ... toda essa confusão.
– Não precisa se desculpar. – mudou de assunto. – Quer comer alguma coisa?
– Não obrigada. – o simples fato de pensar em comida fez seu estômago contrair-se revoltado e
Lacey sentiu-se nauseada. – Deixe que eu mantenha o mínimo de dignidade.
Jacob arqueou a sobrancelha e encarou-a confuso. E Lacey começou a falar enumerando os fatos com
os dedos.
– Um, eu bebi demais pela primeira vez na minha vida. Dois, eu beijei o seu irmão... – balançou a
cabeça e gemeu quando sentiu o mundo rodar. – Ainda não consigo acreditar nisso... tem certeza de
que ele não estava mentindo? – ao que Jacob confirmou, ela deu um suspiro conformado. – E três,
acordei numa casa estranha morta de vergonha... Posso ao menos poupar a todos nós de passar mal e
sujar o seu piso de mais de duzentos anos.
– Entendi. Nada de comida. – encarou-a e sorriu. – Mas, eu tenho chá na cozinha e acho que umas
aspirinas não vão lhe fazer mal.
Lacey o seguiu e sentou na enorme mesa de madeira que provavelmente era tão antiga quanto o piso
da sala e o observou enquanto preparava o chá. A tempestade havia passado e a chuva lá fora emitia
um barulho tranqüilizador. Sentada ali, observando aquele homem enorme mover-se de maneira
competente pela cozinha, sentia-se serena Poderia ficar horas ali, apenas olhando pra ele. Foi tomada
por uma súbita vontade de se explicar.
– Eu não bebo. – disse no momento em que ele servia duas xícaras de chá quente. – Eu realmente não
bebo e nunca antes fiquei como hoje.
– Eu acredito em você. – tranqüilizou-a. – Ás vezes as pessoas tem um dia ruim.
Lacey assentiu de modo lento, enquanto a conversa com sua tia lhe voltava à mente, lembrando-a do
motivo de ter exagerado na bebida. “Esse lugar não é pra você!” “Você vai voltar pra Houston por
bem ou por mal!” Que motivos sua tia teria para querer mandá-la embora? Doze anos longe daquela
cidade não haviam sido o bastante?
– Lacey?
– Oh, desculpe! – exclamou ao perceber que Jacob a encarava expectante. – O que disse?
– Perguntei se você está com algum problema... – Ele parecia realmente preocupado. – Está metida
em alguma encrenca?
– Nenhuma encrenca.
Lacey riu. O encarou tentando entender em que tipo de encrenca Jacob acreditava que ela estava
envolvida. Percebendo que ele esperava uma resposta, ela tentou se controlar.
– Não mesmo. – riu novamente. – Eu não sou esse tipo de garota.
– Certo. – não parecia muito convencido. – Nenhuma encrenca...
– Juro. – Lacey juntou os dedos.
Conversaram amenidades e terminaram o chá. Lacey dispensou a aspirina. O enjôo havia diminuído e
até mesmo a dor de cabeça estava passando. Sem mais motivos para continuar ali, pediu um tanto
sem jeito.
– Você pode me levar pra casa?
Eles fizeram o caminho em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Quando enfim
chegaram à cidade, deu as indicações para chegar ao condomínio onde morava e em poucos minutos
estava em casa. Jacob estacionou e deu a volta na caminhonete para abrir-lhe a porta.
– Bem... Obrigada mais uma vez.
– Sempre a disposição. – disse e tocou o Stetson em sua cabeça em um cumprimento.
Ela o encarou por alguns segundo mais, antes de girar em direção a entrada de sua casa e abrir a
porta.
– Lacey. – O chamado a fez parar e voltar-se para Jacob que estava incrivelmente perto. – Esqueci
uma coisa.
Segurando seu rosto ele a beijou de forma profunda e intensa, deixando suas pernas sem sustentação.
Lacey enlaçou um dos braços em seu pescoço enquanto o outro segurava fortemente o buquê de
flores. Milhares de borboletas pareciam voar em seu estomago e o sangue em suas veias parecia um
fogo líquido a se espalhar por seu corpo. Sua cabeça girou e as batidas de seu coração seguiam em
ritmo descontrolado. Quando seus lábios se separaram ela o olhou sem ação.
– Agora você sabe que beijou o homem certo.
Observou-o ir embora, todo o seu corpo ainda em ebulição. Percebeu que ele aguardava que entrasse
para dar partida no carro, então se precipitou para dentro de casa e trancou a porta. Deixou o buquê
de flores em cima do aparador e correu para a janela. Quando afastou a cortina e olhou para fora,
Jacob finalmente ligou o carro e partiu.
Ainda continuou ali por um longo tempo, a mão pousada sobre os lábios como que tentando reter o
sabor do beijo. E que beijo! Ah, que filho da mãe! Agora, não só saberia que beijou o homem certo,
como tinha a leve suspeita de que nunca mais nenhum outro homem a beijaria desse jeito.
Capítulo IV

Lacey acordou e desligou o despertador que ainda não tocara. Desde que se entendia por gente
acordava sempre alguns minutos antes de ouvir o alarme. Espreguiçou-se antes de dar início a sua
rotina matinal. Arrumou a cama antes de se encaminhar para o banheiro. Quando já se sentia
suficientemente limpa, vestiu uma calça de tecido escuro e uma bata branca. Sua roupa era simples e
prática, perfeita para mais um dia de plantão no hospital.
Enquanto fazia o café, observou a chuva que caía de forma intermitente, deixando tudo com o aspecto
cinza. Teria que usar o carro pensou enquanto comia algumas torradas e uma grossa fatia de queijo.
Arrumou a cozinha de forma automática, antes de colocar numa sacola uma maçã, uma garrafa de
suco e uma barra de chocolate, um lanche que provavelmente viraria seu almoço. Quando já estava
pronta para sair, parou por um momento para observar as flores, que na noite anterior havia
distribuído em três grandes vasos de vidro e que agora enfeitavam sua sala. Seus pensamentos
imediatamente se voltaram para Jacob e o beijo que ele havia lhe dado, aquecendo-lhe o corpo, o
que fez com que se apressasse em sair de casa.
A tranqüilidade aparente no Hospital Geral de Springville não a enganou. Havia uma cesariana
marcada para aquela manhã e provavelmente a cota de consultas para a tarde estaria preenchida.
Preparava-se para ir ao quarto da Sra. Jordan, quando ouviu o seu nome ser chamado. Surpresa por
ter sido chamada a sala do diretor, Lacey apressou-se em atendê-lo.
Bateu na porta e aguardou a permissão antes de entrar. Estivera naquela sala apenas duas vezes desde
que começara a trabalhar no hospital. A primeira quando fora contratada e a segunda, quando
conseguira salvar uma paciente e um bebê em um parto complicado. Ryan Baker, o diretor do
hospital, fizera questão de cumprimentá-la.
O Dr. Baker era um jovem médico cirurgião que se tornara diretor do hospital no ano anterior. Pelo
que ouvira dos colegas de trabalho, Ryan havia feito maravilhas desde que assumira. Alto e dono de
impressionantes olhos verdes, fazia com que as funcionárias suspirassem a sua volta, indiferentes ao
fato de que ele parecia não perceber. Esses mesmos olhos verdes a encararam preocupados.
– Sente-se, Lacey.
Sentou-se e aguardou a má notícia. Sim, se a maneira furtiva com que o diretor a olhava era um
indicativo apostaria que seriam péssimas notícias. Imediatamente começou a listar em sua mente
todas as pacientes que atendera recentemente, tentando lembrar se cometera alguma falha, mas nada
veio a sua mente. Quando Ryan pigarreou, aguardou em expectativa.
– Lacey a sua tia esteve aqui ontem à tarde. – disse de supetão.
– Tia Zelda? – não conseguiu esconder sua surpresa. – O que ela veio fazer aqui... no hospital?
– É exatamente sobre isso que quero conversar com você. – bateu a caneta no tampo da mesa. – A
Srtª Michels sugeriu que eu deveria demiti-la.
– Oh, não!
– Ela não ficou nada feliz quando eu não aceitei a sugestão. – encarou-a fixamente antes de perguntar.
– Você tem idéia do que a levou a isso?
Lacey negou com a cabeça, ainda aturdida com o comportamento de sua tia. Céus! A mulher não
parava de surpreender!
– Bem, teremos que descobrir o problema nos próximos dias. – fez um esgar. - Quando me recusei a
demiti-la, sua tia me disse que falaria com cada membro do Conselho Diretor e que então nós dois
seríamos demitidos.
– Oh, meu Deus! – exclamou.
– Relaxe, isso não vai acontecer.
– Claro que não. – disse depois de respirar fundo. – Não vou deixar você ser demitido por minha
causa... Eu peço demissão.
– Me recuso a aceitar sua demissão.
– Mas Ryan...
– O conselho não vai me destituir do meu cargo por conta de um pedido da sua tia. – Ele explicou. –
Por mais que a Srtª Michels seja influente em Springville, tenho um contrato bastante sólido. – A
olhou preocupado, antes de concluir. – O problema é que o seu...
– É um contrato de experiência. – completou a frase por ele e sentiu as lágrimas avolumarem-se em
seus olhos.
– Sinto muito. – Ryan estendeu-lhe um lenço. – Tem idéia do que levou sua tia a isso?
– Ela não me quer em Springville. – disse depois de enxugar as lágrimas. –– Nunca quis. Eu fiquei
longe por doze anos! – fechou os olhos. – Dessa vez não escutei suas ordens. Ela está furiosa porque
saí de Houston sem consultá-la.
– Porque ela não quer você em Springville? – estava curioso.
– Não sei. – enxugou as novas lágrimas. – Não existem motivos pra isso.
– Lacey, se há uma coisa que a vida, e o fato de ser irmão de um advogado, me ensinaram foi que
sempre há um motivo. – Ryan disse. – Só temos que descobri-lo.
– Mas... como?
– Vou ligar para o meu irmão para que ele a receba hoje à tarde, está bem?
– Não sei se posso arcar com os custos de um advogado. – confessou constrangida.
– Não se preocupe com isso. – sorriu-lhe. – Alex me deve um favor.
– Oh, não sei... – mordeu os lábios, indecisa.
– Vamos Lacey! – tentou persuadi-la. – Não quero perder a melhor obstetra do Texas!
– Tudo bem. – corou com o elogio, ainda que se sentisse arrasada com mais uma atitude de sua tia
para expulsá-la da cidade. – Eu vou.
– Acho que você não deve ir sozinha. – Ryan disse e disfarçou um sorrisinho com uma tosse. –
Talvez deva ligar para Bennett e pedir que ele a acompanhe.
– Não posso pedir isso a Jacob.
– Jacob? – Ryan pareceu surpreso. – Pensei que estivesse envolvida com Lucas.
Lacey sentiu o rosto esquentar e levantou incomodada. Não andou mais que uns poucos passos, antes
de parar e sentar-se outra vez.
– Todos estão achando que... ? – indagou, preocupada.
– Sim. – confirmou, tentando parecer pesaroso. – Cidade pequena, você sabe...
– O beijo em Lucas... – tentou parecer um pouco menos constrangida. – ... foi um engano.
– Ah! – exclamou, divertido. – Mas, ainda acho que deveria ter alguém ao seu lado. – disse
encarando-a. – Se eu pudesse...
– Oh, obrigada Ryan, você já fez muito. – suspirou. – Talvez eu acabe ligando pra ele.
– Para Lucas? – perguntou, não mais escondendo sua diversão. – Ou para Jacob?
– Ryan! – fechou os olhos e suspirou. Sua vida tão correta havia virado de pernas pro ar.
– Ligue pra ele. – disse num tom mais sério. – Ele vai saber o que fazer.
Quando Lacey deixou o escritório ainda estava abalada, porém o fato de que faria algo para
descobrir qual o motivo de sua tia querer mantê-la afastada de Springville já lhe dava algum alento.
Óbvio que se não descobrisse nada e acabasse perdendo o emprego teria de voltar pra Houston.
Deu início ao seu trabalho, visitando a Srª Jordan e depois de assinar sua alta, passou pelo berçário.
O bebê que trouxera ao mundo estava ali, dormindo tranquilamente. Ficar ali o observando acalmava
seu coração. Era uma ótima médica, fazia um trabalho gratificante... Por Deus, trazia novas vidas ao
mundo! Não deixaria que sua tia destruísse a vida que havia sonhado desde que era uma menina,
inconformada por saber que sua mãe havia morrido ao dar a luz.
Quando finalmente foi fazer a cesariana que estava marcada, estava tão calma e tranqüila como
somente uma pessoa consciente de suas habilidades poderia estar. O parto ocorreu perfeitamente e
dentro do tempo previsto. Depois de verificar mais uma vez que mãe e filho passavam bem,
preparou-se para almoçar. Estava prestes a pegar o pequeno lanche que trouxera, quando lhe
informaram que havia uma ligação.
– Drª. Michels falando.
– Bom dia. – A voz rouca soou como uma carícia.
– Jacob! – ela ofegou.
– Esta livre para almoçar comigo?
– Sim. – não precisou pensar muito para responder.
– Estou aguardando.
– Agora? – perguntou. – Você está aqui?
– Hum, hum. – disse divertido.
– Eu estarei aí em cinco minutos.
Correu até o seu armário, despiu o jaleco e penteou os cabelos tentando parecer um pouco mais
apresentável, ignorando a voz em sua mente lhe dizia “ele viu você bêbada, idiota”. Se Jacob a
procurara e queria almoçar com ela, queria estar o melhor possível. Talvez ele a beijasse outra vez...
Oh, Deus! Só a expectativa de um novo beijo deixava suas pernas bambas! Não sabia que um homem
podia beijar daquele jeito. Tão firme, tão possessivo, tão... saboroso.
Avistou-o recostado a caminhonete de forma indolente, os braços cruzados de encontro ao peito, o
chapéu sombreando-lhe os olhos que observaram sua aproximação enquanto um pequeno sorriso
curvava-lhe os lábios. A sua vontade era correr e se atirar em seus braços, mas conteve-se.
Principalmente ao perceber que várias pessoas – incluindo funcionários do hospital – aguardavam
expectantes.
– Oi. – disse sem jeito ao parar em frente a ele.
Jacob aprumou o corpo e deu um passo em sua direção. Lacey torceu as mãos num gesto nervoso.
– Estão todos olhando. – disse e mordeu os lábios. – Acham que estou tendo um caso com seu irmão.
– O que... ? – franziu o cenho e olhou para as pessoas ameaçadoramente
– O beijo de ontem. – repetiu constrangida. – Estão todos pensando...
– Entendo. – disse se aproximando e enlaçando-lhe a cintura.
– Jacob! – ofegou e encarou os olhos verdes. – O que esta fazendo?
– Dando a eles algo mais em que pensar. – disse antes de tomar seus lábios em um beijo.
Não pode fazer mais que se entregar ao beijo, apoiando-se no peito forte para manter o equilíbrio.
Ele a deixava desnorteada, fazia seu corpo amolecer, o chão fugir aos seus pés e a inundava com um
calor até então desconhecido. Um desejo de estar tão colada a ele quanto fosse possível. Era insano,
era tempestuoso, era... mágico.
Deixou os lábios explorarem os seus, tomando, exigindo uma resposta que foi incapaz de negar. As
mãos de Jacob permaneciam firmes em sua cintura, como se temesse não conseguir contê-las se as
retirasse dali. Quando as bocas se afastaram, ofegou em busca de ar enquanto o encarava rendida.
– Acredito que agora ninguém terá dúvidas sobre a quem você pertence. – a confiança em suas
palavras transpassou a névoa de desejo que encobria a mente de Lacey.
– Como?
– Ninguém mais vai especular sobre você e meu irmão. – disse. – Todos saberão que “eu” estou
envolvido com você.
– E você está? – perguntou num sussurro. – Envolvido comigo?
– Se você precisa perguntar isso... – um sorriso indolente e provocante surgiu nos lábios de Jacob –
Talvez eu tenha que beijá-la outra vez?
– Oh! – Exclamou antes de entregar-se a um novo beijo. Talvez realmente precisasse ser convencida.
Afinal, Jacob era como as pessoas costumavam dizer, muita areia para o seu caminhãozinho. O que
um homem lindo de morrer como aquele havia visto nela? Entregou-se ao beijo de corpo e alma.
Enquanto fosse verdade, pelo tempo que fosse, iria aproveitar!
Capítulo V

Estavam sentados em restaurante simples, localizado próximo ao hospital. O cardápio de Nannete, a


dona do estabelecimento, só contava com duas opções: “O prato do dia” ou “Caia fora” mas era o
primeiro lugar no qual Jacob pensava em comer a cada vez que vinha a cidade. Observando Lacey
estudar o ambiente, imaginou se não teria sido melhor levá-la a outro local. Antes que pudesse
sugerir isso, Nannete aproximou-se e lhe deu um abraço apertando-o de encontro aos seios enormes.
– Jake seu ingrato! – ela disse após soltá-lo. – Como pode ficar tanto tempo longe de sua velha babá?
Nannete era uma mulher alta e robusta de seios tão enormes quanto seu coração. Fora a babá de
Jacob e de seus irmãos, antes de casar e montar um restaurante com o marido. O marido já falecera,
mas ela continuava firme e forte conduzindo a cozinha do estabelecimento.
– Muito trabalho. – Jacob disse um tanto constrangido. – Nannete, essa é Lacey Michels. –
apresentou-as. – Lacey essa é Nannete.
– Olá! – Lacey a cumprimentou sorrindo e a velha senhora lhe deu um abraço tão caloroso quanto o
que havia dado em Jacob.
– Hum, veja só o que temos aqui. – analisou-a da cabeça aos pés e piscou pra ele. – Escolheu bem
bonitão. Ela não é como essas mulheres magrelas que andam por aí...
– Oh, obrigada.
Jacob riu do tom indignado de Lacey. Ela realmente não tinha um corpo de modelo ou naturalmente
esguio, mas isso não a tornava menos atraente. O corpo dela poderia não ser perfeito para estampar
capas de revistas, mas era perfeito para ele.
– Pode perdoar meu sumiço e servir sua comida pra gente?
– Tudo bem, bonitão. – Nannete sorriu. – Vou ver o que acho na cozinha.
Observou a mulher se retirar e novamente sentiu-se insegura. Então não era o tipo de mulher que
Jacob costuma sair. O que ela já imaginava, mas, ouvir de Nannete parecia tornar tudo ainda pior.
Ele saia com mulheres lindas e magras. O que estava fazendo ali com ela?
Jacob, voltando seu olhar para Lacey, percebeu que ela olhava para baixo, a testa franzida,
provavelmente remoendo o que Nannete havia dito. Puxou sua cadeira e encostou-a a dela,
circundando o encosto com o braço e trazendo-a para junto de seu corpo e ela o encarou expectante,
seus olhos expressando todas as suas dúvidas.
Aproximou os lábios de sua orelha e depositou ali um beijo suave. Sentiu-a relaxar um pouco, mas
sob o exterior tranqüilo ainda estava tensa. Percebeu que apesar da excelente qualidade do peixe que
fora servido, comeu pouco. Apesar de amar Nannete sentiu vontade de matá-la por suas palavras
impensadas. Percebendo que o clima já estava perdido, resolveu ir direto ao assunto que trouxera-o a
cidade.
– Que horas é o encontro com o advogado?
Parou de remexer a comida e o encarou surpresa.
– Como você...? – balançou a cabeça compreensiva. – Ryan.
– Exato. – assentiu confortavelmente. – Não quer me contar o que esta acontecendo?
Não, não quero! Ela pensou. Seria esse o motivo que o fez procurá-la? Oh, droga! Ryan não deveria
ter interferido, intimando-o a acompanhá-la. Toda a felicidade que havia sentido ao ouvir sua voz ao
telefone, ao receber o convite para almoçar e os beijos na porta do hospital, evaporou-se. Tentando
organizar os pensamentos, pensou em uma resposta adequada.
– Vou encontrar com o advogado hoje à tarde. – disse. – Mas não é nada com o que você precise se
preocupar.
– Eu vou com você. - disse resoluto. – Não seria melhor me contar agora o que está acontecendo?
Encarando-o só viu bondade e uma implacável determinação em seu olhar. Jacob não tinha culpa
sobre a maneira como ela se sentia. Só estava querendo ajudar. Com um suspiro contou-lhe sobre sua
vinda para Springville, à conversa com sua tia no dia anterior e o que Ryan lhe contara essa manhã.
– Compreendo. – disse pensativo – Por isso bebeu ontem. – observou-a assentir. – Vou resolver
alguns assuntos e pego você mais tarde para irmos ao advogado.
Respirou fundo e segurou as lágrimas. Não queria que ele pensasse nela como uma criatura patética.
Ou que percebesse o que sentia e tentasse... Por Deus, não queria sua piedade. Ainda lhe restava
algum orgulho.
– Posso ir sozinha. – disse de maneira um tanto petulante.
Tola. Como pode por um minuto sequer acreditar que um homem lindo e sexy como aquele iria lhe
dirigir um segundo olhar? Não estava ali por ela. Viera por que Ryan pedira e por algum senso de
caridade que o impulsionava a ajudar a médica gorda e desesperada.
– Pode, mas não vai. – Ele foi firme e seu olhar continha determinação.
– Olha, eu não sei o que Ryan disse a você, e realmente agradeço por você ter vindo mas... eu sei
cuidar de mim mesma.
– Não duvido disso. – disse com voz macia. – Ainda assim quero acompanhá-la.
Encarou-o durante alguns minutos, tentando decidir se havia alguma chance de vencer aquela
discussão. Não havia.
– Tudo bem. – suspirou conformada. – Preciso voltar ao hospital agora.
– Eu a levo. – antes que ela pudesse protestar, levantou-se e ordenou. – Me aguarde aqui.
Depois da ordem imperiosa, não se atreveu a mexer-se na cadeira, muito menos sair do restaurante.
Ele parecia furioso e ela não conseguia entender o motivo de tanta irritação. Já não havia dito a ele
que não precisava de ajuda para encontrar o advogado? Muito menos para chegar ao hospital que
ficava a duas quadras de distância. Encolheu-se na cadeira, enquanto o aguardava.
Jacob pagou a conta, certificando-se de deixar uma boa gorjeta antes de entrar na cozinha despedir-
se de Nannete. A boa senhora o abraçou com carinho antes de dizer.
– Gostei dela.
– Eu também gosto.
– Vê se amarra essa moça. – sorriu de orelha a orelha. – Antes que algum cowboy mais esperto faça
isso.
– Isso não vai acontecer, Nannete. – disse e piscou malicioso. – Eu cuido do que é meu!
Quando saiu da cozinha ainda pode ouvir a gargalhada de sua velha babá. O que havia dito a Nannete
era a mais pura verdade. Toda a sua vida cuidou muito bem de tudo que era dele. E Lacey podia
ainda não saber ou não estar convencida, mas aos pouquinhos iria fazê-la perceber a quem pertencia.
Lacey se lançou ao trabalho no momento em que Jacob a deixou no hospital. Bem, não exatamente no
momento, pois teve que se demorar um momento em sua sala, para conseguir normalizar sua
respiração depois de mais um beijo arrasador. O homem realmente sabia beijar. Senhor! Se ele
engarrafasse o poder daquele beijo ficaria milionário.
Estava confusa. Ah, realmente tinha ficado impressionada com o homem no momento que ele entrou
em seu consultório exigindo uma ginecologista. E sim, havia se jogado nos braços de Lucas,
acreditando que era ele... mas, estava bêbada e isso não contava. Jamais teria a coragem, ou a
ousadia de fazer algo assim estando sóbria. Por Deus! O homem parecia um desses cowboys saídos
das páginas de uma revista, tão másculo que seria impossível qualquer mulher passar por ele e não
dar uma boa olhada enquanto ela... Melhor não começar a enumerar os seus defeitos.
Trabalhou com toda dedicação com que sempre executava seu trabalho e logo estava tão envolvida
que nem mesmo Jacob penetrou em seus pensamentos. Somente no fim da tarde, quando não havia
mais pacientes e o horário com o advogado se aproximava, começou a preocupar-se.
Tentar descobrir se havia algum motivo para sua tia querer vê-la pelas costas lhe causava um peso no
estômago. Se houvesse mesmo um motivo forte, iria magoá-la. Saber que somente sua tia não gostava
dela, também a magoaria. Sairia perdendo em ambos os casos.
Quando saiu do hospital Jacob já a aguardava. Percebendo sua tensão ele a abraçou e a beijou
levemente nos lábios antes de abrir a porta da caminhonete e ajudá-la com o cinto. Fizeram a
pequena viagem, somente uns poucos quarteirões, em silêncio.
Alexander Baker tinha uma beleza mais impactante do que o irmão. Alto, olhos verdes e cabelos
cortados ao estilo militar, tinha um desvio no nariz resultado de uma briga com o irmão quando eram
jovens e uma pequena cicatriz no queixo, deixada ali por um cliente insatisfeito. Usava um terno
escuro que o deixava com a aparência de alguém saído de uma capa da Forbes Magazine para vida
real. Não pode continuar admirando sua beleza por muito tempo, já que Jacob passou a sua frente,
obstruindo sua visão, para cumprimentar o advogado.
– Hey, Alex! – disse dando um tapa amigável nas costas do amigo. – Como vai à vida de
almofadinha?
– Garanto que melhor que a sua vida, rancheiro! – respondeu divertido. – Não devia estar correndo
atrás de algumas vacas?
Sorriram cúmplices, como somente amigos de longa data podiam fazer. Haviam estudado juntos até
que o primeiro foi para a faculdade e o segundo passou a cuidar do rancho. Confiava nele e sabia que
ele faria o possível para ajudar Lacey, mas, ainda assim fizera questão de acompanhá-la.
– Olá Lacey. – Alex disse com voz gentil, trazendo-a para conversa e ao mesmo tempo forçando-o a
sair de sua frente. – É um prazer conhecê-la.
– Obrigada por me receber. – agradeceu.
– Sempre tenho tempo disponível para atender uma moça bonita. – piscou e pode perceber Jacob se
acercar dela, de maneira possessiva. – Agora vamos nos sentar e conversar.
Depois de acomodados nas confortáveis poltronas individuais espalhadas em volta de uma mesa
baixa, Alex resolveu alfinetar o amigo mais um pouquinho.
– Não prefere dar uma volta enquanto eu converso com a Srtª Michels?
Jacob ignorou o tom desinteressado e encarou o amigo de cenho fechado. De jeito nenhum deixaria
Lacey a mercê do grande conquistador a sua frente.
– Eu estou bem aqui, obrigado.
– Não prefere que ele saia? – perguntou a ela.
– Não eu... - encarou o homem ao seu lado e deu um sorriso tímido. – Quero que ele fique.
Disfarçando o seu divertimento, Alex começou o seu trabalho conversando com Lacey sobre sua tia,
questionando em alguns momentos e anotando dados em uma agenda. Algumas perguntas ela não tinha
a mínima idéia de como responder. Seu pai deixara algum seguro de vida? Em nome de quem estava
a residência da família? Seu pai realmente havia cometido suicídio?
Depois de quase duas horas de conversa estava exausta física e emocionalmente, com uma terrível
dor de cabeça e com a sensação de que não devia ter começado com aquilo. O passado de sua
família seria revirado e sua tia provavelmente iria odiá-la por estar investigando-a. Deus, tudo que
ela queria era voltar a viver em Springville... Por que tudo em sua vida tinha que ser tão difícil?
Jacob permaneceu o tempo todo ao seu lado, segurando sua mão, dando-lhe força enquanto expunha
sua vida. Foi ele que interrompeu Alex quando percebeu o quanto estava exausta.
– Alex, acho que você já tem dados o bastante para começar. – disse e encarou o amigo. – Lacey está
cansada.
– Provavelmente. – concordou antes de alfinetar. – Se precisar de mais informações, onde posso
encontrá-la no fim de semana Lacey?
-– Ela vai estar comigo. – Jacob respondeu enquanto ajudava-a a levantar e envolvia os braços em
sua cintura sem sequer dar-lhe à chance de abrir a boca. – No meu rancho.
Puxou-a mais para perto de seu corpo enquanto falava. A atitude territorial não passou despercebida
por Alex, que tossiu para disfarçar a gargalhada que estava para brotar de seu peito. Ainda assim, fez
questão de se despedir de Lacey com um beijinho e pode ver o quanto aquilo incomodava Jacob.
Quando os dois já saíam de seu escritório, Alex soltou uma última provocação.
– Lacey? Mande lembranças minhas ao Lucas.
A forma como Jacob bateu a porta do carro e saiu catando pneus fez explodir a gargalhada que
segurara por tanto tempo. Jacob Bennett havia sido fisgado! Riu mais uma vez enquanto telefonava
para o seu irmão. Aquela era definitivamente uma ótima notícia!
Capítulo VI

Enquanto Jacob dirigia como se estivesse testando os limites de velocidade do carro, Lacey remoia
suas palavras. “Ela vai estar comigo. No meu rancho”. O que dera nele pra dizer algo assim? Não
que a idéia de ir para o rancho com ele fosse ruim, mas não tinha certeza se era uma decisão sensata.
O homem ao seu lado estava se tornando importante demais em tão curto espaço de tempo.
– Jacob eu não sei se devo ir para o rancho.
Haviam chegado, em tempo recorde, a sua casa. Ficou surpresa de não terem sido parados por algum
agente da lei ou até mesmo o próprio Noah Carter, o intimidante xerife de Springville.
– Você precisa se distrair. – disse controlado. – Se ficar aqui sozinha, vai enlouquecer pensando
nisso.
– Como sabe disso? – perguntou curiosa.
– Acho que estou começando a conhecer você. – sorriu. – Além disso, quero você perto de mim.
Seu sorriso ampliou-se quando ela enrubesceu. Tomou sua mão nas dele, a palma macia contra a sua,
áspera. Destravou o cinto de segurança antes de trazê-la mais perto e beijá-la apaixonadamente.
– Agora pegue o que vai precisar e venha comigo. – piscou matreiro, antes de acrescentar. – Sim?
– Sim.
Deu a volta na caminhonete e abriu a porta para ela que desceu ainda sentindo o calor do beijo, suas
pernas não muito firmes. Não sabia se estava enlouquecendo ou somente sendo imprudente, mas de
uma coisa tinha certeza: iria com ele. E esperava... Oh, sim! Esperava que ele a beijasse de novo e
de novo, pensou enquanto se forçava a se mexer.
– Ah, Lacey! – Ela se virou ao chamado. – Leve um vestido. Nós vamos a uma festa amanhã.
Lacey juntou a nécessaire, sandálias e algumas poucas peças de roupa, incluindo um vestido preto
para usar na tal festa. Não que fosse adepta da teoria do tal “pretinho básico”, mas, porque
acreditava na lenda de que “Preto emagrece”. Sim, seu lado lógico e racional sabia que o que de fato
tornava uma pessoa mais magra eram exercícios físicos regulares e uma dieta a base de alface. Como
dieta e academia não eram coisas que gostava de fazer, não custava nada apelar para a fé.
Depois de preparar suas coisas abriu a porta e no mesmo instante Jacob veio pegar a sua mochila.
Estava leve, mas apreciou o gesto de cortesia com a qual não estava acostumada. Sempre fora
sozinha, então, carregar coisas não lhe era estranho. Jacob deu a volta no caminhonete e somente
depois que ela estava sentada e com o cinto de segurança tomou sua posição atrás do volante e
começou a dirigir.
O trajeto até o rancho foi mais tranqüilo, principalmente porque as provocações de Alex haviam
perdido o efeito. Não importava o quanto ele tentasse usar sua lábia de conquistador, era com ele que
Lacey estava e era assim que iria permanecer. Notando que ela parecia nervosa, puxou sua mão e
segurou-a de encontro a sua perna, mantendo-a ali enquanto dirigia com uma das mãos.
Ela o encarou, os olhos cor de âmbar brilhando de expectativa e receio. Observou-o puxar sua mão
até os lábios e dar um beijo suave na sua palma, enviando uma corrente elétrica que lhe percorreu o
corpo, antes de novamente repousar sua mão em sua perna. Não sabia se tinha sido essa sua intenção,
mas de um momento para o outro parou de pensar sobre sua ida ao rancho. Seus pensamentos agora
estavam nos beijos de Jacob, no lugar onde sua mão repousava e nos desejos que ele havia feito
surgir em seu corpo.
Quando finalmente chegaram ao rancho, foram recebidos por Kate que pareceu um pouco surpresa
por vê-la ali.
– Olá, Kate. – falou, gentil. – Tudo bem com você?
– Sim. – respondeu, enquanto o irmão se aproximava, trazendo uma mochila em uma das mãos. – Esta
aqui por minha causa?
– Ah, não! – Lacey ficou vermelha.
– Ela esta aqui por minha causa. – Jacob disse e sorriu. – Resolvi seqüestrá-la.
– Jake! – Kate riu quando o irmão bagunçou-lhe o cabelo.
– Mas ela aceitou ser seqüestrada.
– É verdade, doutora?
– Oh, é verdade! – sorriu – E você pode me chamar de Lacey.
– Ah, certo. – a menina disse um tanto tímida.
Jacob deu a mão a Lacey e entraram em casa, com Kate logo atrás. Ao entrar na sala, foi impossível
não lembrar o dia anterior.
– Hey, não precisa ficar lembrando.
– Como você sabe...?
– Suas bochechas estão vermelhas. – riu quando ela levou as mãos ao rosto e aproximando-se
sussurrou. – Você fica linda corada.
Olhou-o incrédula e ficou espantada em como aquele homem estava conseguindo rapidamente ocupar
um espaço em seu coração. Deu-se conta de que se conheciam há apenas dois dias. Dois dias! Podia
algo dessa natureza acontecer assim tão rápido, tão forte? Seguiu-o escada acima, deixando-se levar
até um quarto que parecia um sonho.
Diferente dos móveis práticos e modernos que tinha em seu quarto, a cama de madeira parecia ter
sido feita a mão e tinha dossel! Outros móveis, cômoda, guarda-roupa e escrivaninha, também eram
de madeira. Uma única poltrona de tecido estampado fora colocada ao lado da janela. Uma colcha
patchwork cobria a cama onde travesseiros em fronhas de estampa floral repousavam. Uma porta
semi-escondida pelo guarda-roupa dava para o pequeno banheiro.
– Vou deixá-la na companhia de Kate enquanto verifico algumas coisas, tudo bem?
– Claro. – sabia que ele se afastara do rancho durante todo o dia por sua causa e não seria egoísta ao
ponto de segurá-lo ao seu lado.
Resistiu ao impulso de se jogar na cama e testar se era tão macia quanto parecia. Ao invés disso,
retirou suas roupas e objetos da mochila e organizou dentro do guarda roupa. Não era muita coisa e
com a ajuda de Kate, rapidamente estava tudo organizado.
– Como se sente? – Perguntou a Kate, numa tentativa de quebrar o silêncio.
– Estou bem. – a menina respondeu um tanto encabulada. – É um pouco incômodo, mas estou bem.
– Que bom.
Depois do curto diálogo, ficaram novamente em silêncio por um longo tempo.
– Você sabe sobre...
– Você gosta...
Falaram ao mesmo tempo e sorriram.
– Você primeiro. – Lacey pediu.
– Você gosta do Jake? – a menina perguntou de supetão. – Estão namorando?
– Não sei dizer se estamos namorando... – disse tentando ser o mais sincera possível. – Mas,
definitivamente gosto muito do seu irmão.
– Se você gosta do Jake. – estreitou os olhos cor de âmbar. – Então porque você beijou o Lucas?
– Ah... – engasgou com a pergunta e gaguejou. – Isso foi... um engano.
– Um engano. – a menina riu. – Você confundiu os dois, como se fossem gêmeos?
– Algo assim. – também sorriu.
Essa primeira conversa serviu para quebrar o gelo e Kate então, sentindo-se confortável em sua
companhia, passou a tagarelar sobre algumas aventuras dos irmãos. Havia tanto amor quando ela se
referia a eles que chegava a iluminar seus olhos. Lacey gostava da companhia da garota e lamentava
não ter tido irmãos. Sua mãe havia morrido no parto e seu pai aparentemente não quis nenhuma outra
mulher. Kate também havia perdido a mãe ainda bebê, algo que tinham em comum.
– Hey, gatinhas! – Lucas apareceu na porta do quarto. – Já descongelei a gororoba e a comida esta na
mesa!
Nem Lacey, nem Kate conseguiram segurar o riso. Lucas ficou um momento olhando as duas,
parecendo intrigado.
– Gororoba? – Kate fez uma careta. – Eca!
– Eu disse gororoba? Opa! – sorriu. – Na verdade quis dizer que o delicioso jantar está pronto.
– Ah, bom! – a garota suspirou. – Então vamos comer!
Kate começou a descer a escada e Lacey a seguiu.
– Olá, Lacey! – Lucas disse piscando para ela. – Sabia que você não ia conseguir ficar longe de mim!
– Oh! – Lacey exclamou encabulada e apressou-se em chegar a cozinha.
Balançando a cabeça, desceu as escadas, seguindo de perto as duas. No momento em que chegaram à
cozinha seu irmão estava entrando pela porta dos fundos. Ele e Lacey trocaram um longo olhar.
Depois de pendurar o chapéu em um suporte atrás da porta, ele sentou a mesa ao seu lado.
– Tudo bem? – perguntou baixinho, próximo ao seu ouvido.
– Sim. – Lacey respondeu com um sorriso. – Está tudo ótimo.
Realmente estava. Pela primeira vez tinha a noção de como seria se tivesse uma família. Sentada ali,
naquela cozinha ao lado de Jacob, observando como ele e seus irmãos conversavam sobre como
passaram o dia e brincavam um com outro, sentia-se feliz. Aquilo era tão diferente das silenciosas
refeições com sua tia que estava maravilhada.
Após o jantar Kate subiu para o quarto para ver uma série na televisão e Lucas avisou que os pratos
eram por conta de Jacob, já que ele havia descongelado a comida. Despediu-se dizendo que iria até a
igreja.
– Deixe Summer em paz, Lucas. – Jacob pediu.
– Hey! Só vou até a igreja. – defendeu-se. – Isaiah disse que precisa conversar comigo.
– O que o pastor quer conversar com você?
– Isso eu só vou saber, irmãozinho... Depois que conversar com ele! – piscou para Lacey. – Seja bem
vinda, docinho!
– Obrigada! – sorriu e observou-o sair e fechar a porta. – Acho que me lembro de Summer.
– É uma boa garota. – disse, o cenho franzido.
– O que foi?
– Nada não. – desconversou e retirou os pratos das suas mãos. – Pode deixar a louça comigo.
Depois, com um pequeno sorriso mostrou a ela a moderna máquina de lavar louças instalada embaixo
da pia.
– Oh! – sorriu.
– Casa de homens solteiros. – disse com um dar de ombros.
Em poucos minutos a cozinha estava organizada, segurou sua mão e a levou para a varanda. Sentaram
no balanço de madeira que há muitos anos fora feito para agradar sua mãe e ficaram observando a
noite.
– Gosto de ter você aqui comigo. – disse baixinho.
– E eu gosto de estar aqui com você.
Jacob a trouxe para os seus braços e lhe deu um beijo. E apesar de aquele beijo também estar repleto
de paixão... era muito mais. Os lábios dele eram fortes e firmes, mas ao mesmo tempo tão doce! Se
aconchegou mais em seus braços, suspirando enquanto deixava sua língua enredar-se a dele. Sentiu
quando as mãos grandes enredaram-se em seus cabelos e a boca tornou-se mais ávida intensificando
o beijo já tão explosivo.
Afastaram-se arfantes, para logo em seguida se entregarem a um novo beijo. Não se cansava de
beijá-la, de tê-la em seus braços. Quando ela gemeu e tenteou se aproximar ainda mais, fez o
possível para afastar-se e controlar a excitação. Não que não estivesse louco para tê-la em sua cama,
mas não fora para isso que a trouxera para sua casa... Não agora. Não ainda.
– Eu... – Lacey foi a primeira a falar. –... Acho melhor ir deitar.
Jacob assentiu e observou enquanto ela corria para a segurança da casa, para segurança de seu quarto
e suspirou sua frustração. Era isso o que ganhava por ser cavaleiro. Sabendo que não conseguiria
dormir tão cedo, contornou casa e seguiu para o rio que corria na propriedade. Necessitava de um
banho frio. Um longo banho frio.
Capítulo VII

Lacey acordou sentindo-se surpreendentemente bem. Apesar de ter rolado por horas na cama, ainda
quente e desejosa das carícias de Jacob, quando finalmente pegou no sono havia dormido feito uma
pedra. Olhou o antigo relógio na mesinha de cabeceira e percebeu que acordara muito cedo como de
hábito. A casa estava silenciosa, mas provavelmente em poucos minutos tudo estaria em movimento.
Separando uma calça jeans e uma camiseta, apressou-se para o banheiro a fim de tomar um banho.
Não queria perder um único minuto do dia no rancho dos Bennett. Vestiu-se apressadamente e calçou
sapatilhas confortáveis. Prendeu os cabelos em um rabo de cavalo e abriu a porta do quarto,
totalmente decidida em aproveitar o dia.
Deu de encontro a uma sólida parede de músculos, úmida, apenas uma toalha envolvendo-lhe os
quadris. Assustou-se e gritou tentando se afastar e tropeçando em suas próprias pernas. Mas fortes a
seguraram e conseqüentemente largaram a toalha, enquanto praguejava alto. Lacey tentou não olhar,
mas, seus olhos passaram rapidamente pelo corpo despido daquele estranho a sua frente. Ele tinha
uma tatuagem próxima ao...
– Que droga mulher, de onde você surgiu? – a voz grave e rouca soou alto o bastante para tirá-la do
transe em que se encontrava e a fez encará-lo.
– Que diabos esta acontecendo aqui? – Jacob perguntou saindo do quarto, sem camisa, a calça jeans
vestida as pressas sem abotoar.
– Acho que David está agarrando sua mulher Jacob. – Lucas falou. – E ele está nu!
O caçula dos Bennett estava visivelmente divertindo-se com a cena. Ao contrário dos irmãos já
estava completamente vestido para mais um dia de trabalho e recostado no umbral da porta, como um
interessado espectador da cena que se desenrolava a sua frente.
– David se cubra. – Jacob ordenou entre dentes.
David pareceu ter dúvidas sobre o fato de Lacey conseguir manter-se de pé, então Jacob adiantou-se
e a amparou em seus braços. O irmão então se abaixou e voltou a envolver os quadris na toalha. Ela
enterrou o rosto no peito de Jacob, totalmente envergonhada, desejando ter o poder de sumir daquele
corredor.
– Que diabos esta fazendo passeando nu pelo corredor? – Jacob perguntou e Lacey gemeu de
vergonha, escondendo ainda mais o rosto em seu peito.
– Eu não estou nu. – David disse tranquilamente, ignorando o tom furioso do irmão. – Se a moça não
tivesse se assustado, eu não precisaria soltar a toalha para ampará-la.
Lucas soltou a gargalhada que estava segurando e ignorando o olhar de desagrado de ambos os
irmãos, passou por eles em direção a escada, avisando que ia começar a preparar o café da manhã,
enquanto eles conversavam.
– Quer ir comigo Lacey? – ainda perguntou, numa tentativa de desanuviar o ambiente.
Negou, ainda com o rosto enterrado no peito de Jacob, ainda morta de vergonha e desejando sumir.
Oh, Deus! Não se lembrava de ter vivido tantas situações constrangedoras desde a adolescência
quando ainda acreditava que conseguiria ser uma menina normal. O que havia com esses irmãos
Bennett que a faziam agir como uma tola? Sem olhar para o homem de toalha as suas costas e ou para
o homem a sua frente, balbuciou um pedido de desculpas e retornou para o seu quarto, fechando a
porta e se recostando nela, numa tentativa desesperada de esquecer o vexame pelo qual passara.
Fora mais fácil lidar com a situação constrangedora com Lucas porque ele era divertido e havia
levado tudo na brincadeira, mas esse Bennett, David... Ele parecia tão... tão frio. Aqueceu os braços
instintivamente. Não podia negar o fato de ele ser tão bonito quanto os irmãos, mas seu rosto parecia
ser mais duro, talvez mais sofrido. Correu para o banheiro e lavou o rosto ainda aquecido pela
vergonha e respirou fundo quando após a batida na porta, Jacob entrou no quarto.
– Desculpe o meu irmão. – falou com cenho franzido. – Ele estava vindo do rio e não sabia que
tínhamos... uma hóspede.
– Tudo bem eu... – disse tentando parecer menos tola. – Eu me assustei e exagerei.
Evitando seus olhos, fincou a vista a sua frente e deparou-se com aquele maravilhoso peito desnudo
no qual se refugiara. Deus, como ele forte! O abdômen reto e rijo com certeza não fora obtido em
alguma academia. A calça jeans estava desabotoada, como se ele tivesse se vestido as pressas ao
ouvir seu grito e isso despertou a sua curiosidade... será que ele dormia sem roupas?
– Lacey está me ouvindo?
– Hã? – desviou-se dos seus pensamentos e seu rosto novamente se tingiu de vermelho.
– Eu vou me vestir e desço para tomarmos café. – repetiu encarando-a. – Quer que acorde Kate para
lhe faça companhia?
– Não precisa. – respondeu rapidamente.
Era sábado e Kate não tinha que ir para a escola, não seria ela que mudaria a rotina da garota. Era
uma mulher adulta, capaz de superar a situação constrangedora. Afinal, aquela não era a primeira e
provavelmente não seria a última.
– Eu vou descer e ajudar Lucas com o café. – afirmou decidida.
– Tem certeza?
– Sim.
Beijou-a suavemente nos lábios, antes de voltar para o seu quarto. Lacey desceu as escadas em
direção a cozinha. Lucas a recebeu com um sorriso e um beijo suave em sua bochecha.
– Bom dia! – ele disse ainda sorrindo. – Manhã agitada, hein?
– Nem me fale! – Lacey suspirou.
– Mas Lacey... – começou como quem não quer nada. – Se você queria ver um homem pelado era só
falar comigo.
– Lucas!
– Ora, pelo menos somos mais íntimos... – Lucas piscou. – Você já me beijou.
– Você sabia que eu havia bebido. – disse apontando para ele. – E que pensei que fosse Jacob.
– Desculpas, desculpas... – ele riu. – Você sabe que me ama!
Quando Jacob chegou à cozinha, Lacey estava rindo de alguma bobagem que seu irmão dissera,
enquanto terminavam de por a mesa. Ficou feliz por Lucas ter feito com que ela voltasse a se sentir
confortável ali, mas, um instinto possessivo o fez se aproximar de Lacey, abraçando-a e beijando seu
pescoço. Encarou o irmão e recebeu de volta um olhar zombeteiro. Estavam tomando o café da
manhã e conversando sobre as atividades rotineiras da fazenda quando David chegou à cozinha.
– Bom dia! – disse e encarou o irmão, como que dizendo “vou fazer minha parte e contente-se com
isso”, antes de encará-la. – Gostaria de me desculpar por tê-la assustado.
– Tudo bem, eu exagerei. – respondeu e sorriu. – Melhor esquecermos o assunto.
David assentiu com o semblante sério antes de começar a comer. Enquanto Lucas e David discutiam
os assuntos do rancho, Jacob se aproximou e cochichou em seu ouvido.
– Que tal um passeio no rancho?
– Adoraria!
– Sabe cavalgar?
– Não. – Lacey respondeu desanimada.
– Posso levá-la comigo hoje. – Jacob, animou-a. – E depois você pode aprender se quiser.
– Eu quero.
– Se os pombinhos terminaram de arrulhar... – Lucas interrompeu.
Afastou-se um pouco de Lacey e prestou atenção o irmão.
– Vou até a cidade depois que cuidar dos animais.
– A Igreja novamente? – Jacob perguntou preocupado.
– Deixe Summer em paz, Lucas. – David disse em tom de comando.
– Vocês dois querem parar? – levantou, irritado. – Falam como se eu fosse algum tipo de monstro. –
pegou o chapéu e rumou para a porta. – Eu sei, o que faço, está bem?
– Não gosto disso. – David disse indicando Lucas com a cabeça.
– Também não. – Jacob respondeu e franziu o cenho. – Me preocupo que acabe fazendo alguma
bobagem.
– Eu me preocupo com Summer. – olhou para a porta por onde o irmão havia saído de forma
intempestiva. – Ela não é como as outras garotas.
– Melhor eu conversar com Isaiah. – disse. – Farei isso assim que for a cidade. – levantou-se. – Vou
sair com Lacey, cuide de Kate enquanto estou fora.
– Ok. – David assentiu.
Jacob deu-lhe dez minutos para se aprontar, tempo que ela aproveitou para escovar os dentes e
passar um brilho labial. Quando desceu, encontrou-o a sua espera segurando um chapéu de abas
largas.
– Coloque isto. – estendeu-o em sua direção.
Lacey arrumou o chapéu na cabeça e o acompanhou até o estábulo. O enorme garanhão fez seu
coração acelerar de ansiedade.
– Se chama Diablo. – incentivou-a para que se aproximasse.
– Um nome espanhol.
– Sim, ele é descendente de campeões argentinos. – pegou sua mão e estendeu-a para que Diablo
cheirasse.
– Oh! – pulou para trás quando o cavalo fungou e esfregou o focinho em sua mão.
– Ele gosta de você. – riu e a aproximou novamente, acariciando o cavalo, mostrando como deveria
fazer. – Viu? É um bom menino!
– É enorme! – falou, já acariciando Diablo. – E um pouco assustador também.
– Não se preocupe. – disse. – Vai estar segura em meus braços.
– Sei disso. – o olhou de lado, com um meio sorriso.
– Porém, de maneira alguma quero que se aproxime de Diablo sozinha. –alertou-a.
– Nem sonharia com isso! – afirmou. – Pensando bem, nem sei se quero aprender a cavalgar...
– Claro que quer! – não conseguiu esconder o divertimento. – Vou encontrar uma égua velha e mansa
para você começar.
Montou em Diablo e estendeu a mão para ela. Num momento estava com os dois pés no chão e no
instante seguinte encontrava-se sentada no garanhão negro, os braços fortes segurando-a firmemente.
Quando o cavalo começou a se movimentar e Lacey agitou-se nervosa, sussurrou palavras de carinho
em seu ouvido, baixinho, acalmando-a.
Tomaram o caminho que se iniciava em uma das laterais da casa e ia até as terras mais altas da
propriedade. Acostumando-se ao balançar ritmado do cavalo, relaxou e recostou-se mais ao peito de
Jacob. Passaram por pastagens verdejantes, imensas árvores quebrando aqui e ali a imensidão verde.
No topo da colina, desmontaram e Jacob amparou-a.
– Sinto-me mareada. – murmurou.
– É assim mesmo no começo. – Ele riu e beijou-a levemente nos lábios. – Você vai se acostumar.
Dali de cima praticamente podia-se ver toda a propriedade dos Bennett e mais além. Jacob apontou a
casa, o rio que cortava a propriedade, o rancho dos MacNeil e mais além a cidade. Para o outro
lado, na direção de LoneWolf, alguns poços de petróleo. Lacey observava tudo encantada, fazendo
perguntas e absorvendo tudo que Jacob lhe contava.
– E lá? – Lacey apontou uma área de mata mais fechada.
– É um pequeno bosque pertencente a propriedade, onde moram as Campbell. – Ele direcionou-lhe
para que avistasse a residência entre as árvores. – São filhas de uma irmã de meu pai que casou com
um irlandês.
Tomou sua mão e apontou em outra direção, onde se escondia uma pequena cachoeira.
– Oh! É linda!
– Sim. – disse baixinho. – Linda.
Virou-se para trás para observá-lo e percebeu que ele não olhava para a cachoeira ou a paisagem.
Seus olhos estavam fixos nela, em seus lábios. Sem hesitar Lacey deu um passo a frente
aproximando-se e foi envolvido em um abraço quente, antes que os lábios de Jacob tomassem os seus
de assalto.
Capítulo VIII

Quando retornaram para a casa, David e Kate estavam se preparando para almoçar. Lacey espantou-
se ao perceber quanto tempo haviam passado visitando a propriedade que, como Jacob lhe
informara, precisaria de outros dias mais para conhecer a extensão.
Lacey fez questão de contar a Kate sobre tudo que havia visto o que levou um sorriso aos lábios de
Jacob que se divertia com seu entusiasmo. Até mesmo David, que não falou muito, sorriu meio de
lado quando Lacey contou que se sentiu mareada ao descer do cavalo.
Quando David levantou, avisando que precisava dar uma olhada em seu cavalo, Kate e Lacey
olharam ao mesmo tempo em sua direção. Olhando-as de forma estranha, mal percebeu o copo que se
espatifou ao cair no chão. Praguejando, ele pegou a vassoura e começou a juntar os cacos de vidro.
– Você está bem? – Jacob perguntou, trazendo a pá e encarando o irmão.
– Sim. – David foi sucinto.
– Tem certeza.
– Um pensamento louco que passou por minha mente. – balançou a cabeça, como que tentando clarear
as idéias. – Só um pensamento louco.
Pegou a pá com os cacos de vidro e deixou a cozinha como se mil demônios o perseguissem. No
silêncio que se instalou no ambiente, Jacob alcançou Lacey com o olhar, notando sua incerteza e
preocupação.
– Não ligue para o meu irmão. – Jacob desculpou-se. – Ele não está nos seus melhores dias.
- Eu entendo.
- Vai ficar bem, aqui com Kate?
Jacob havia lhe dito que teria que auxiliar alguns peões com o trabalho no pasto norte – ou algo
assim – enquanto voltavam para casa.
– Não se preocupe comigo. – encarou-o com os olhos luminosos. – Ficaremos bem.
Beijou-a levemente antes de sair, um simples roçar de lábios que a deixou vermelha e fez Kate sorrir.
Depois que ele saiu, Lacey começou a dar um jeito na cozinha, ignorando o aviso de Jacob para que
deixasse tudo onde estava e que ele ou os irmãos dariam um jeito quando chegassem.
– Davie foi vice-campeão do Rodeo Professional Bull Riders em Las Vegas. – Kate disse, talvez
sentindo necessidade de exaltar as qualidades do irmão. – E ganhou duas vezes o Star of Texas.
– Uau! – disse realmente impressionada.
– Ele é o melhor com cavalos.
– Tenho certeza que sim. – sorriu e acariciou os cabelos de Kate. – E você? Sabe montar?
– Está brincando? – perguntou rindo. – Jacob diz que eu nasci sobre um cavalo!
– Oh! – exclamou surpresa. – Então “com certeza” você sabe montar.
– E muito bem. – disse secando os pratos. – Eu até participei de uma prova dos três tambores.
– Numa competição? – perguntou interessada.
– Uhum. – disse. – Na prova temos que contornar três tambores, que formam um tipo de triangulo na
arena, no menor tempo possível. – deu de ombros. – Fiquei em terceiro lugar.
– Puxa Kate, que legal! – abraçou a garota, parabenizando-a. – Pretende participar de rodeios, como
David?
– Ah, não. – Kate disse encabulada. – Na verdade ainda não decidi o quero.
Não acreditou muito em suas palavras, provavelmente ela já tivesse decidido sua profissão, mas se
não estava confortável para falar do assunto, não iria insistir.
Passaram a tarde assistindo as séries de televisão favoritas de Kate e conversando bobagens. A certa
altura, Lacey foi convencida a fazer pipoca e ambas voltaram à cozinha. Dessa vez, deixaram-se ficar
ali pela sala e ela aproveitou para lhe mostrar algumas fotos antigas. Uma foto em particular onde os
Bennett, ainda muito jovens, apareciam em frente um carro antigo, lhe chamou a atenção.
Jacob parecia seguro, olhando firmemente para a câmera, enquanto David a olhava com desdém. Já
Lucas estava meio inclinado, com um lindo sorriso no rosto como se estivesse rindo de alguma piada
particular.
– Jacob disse que minha mãe tirou esta foto. – disse. – E que eu também estava aí, já que ela estava
grávida de mim.
– Não tem fotos com ela?
– Eu era um bebê quando ela morreu. – A menina disse com os olhos cheios de lágrimas.
– Ah, Kate! Eu sinto muito. – disse abraçando-a. – Minha mãe morreu no parto... Eu nem mesmo a
conheci.
Estavam assim abraçadas quando David entrou na casa. Novamente ele as olhou de forma esquisita
quando as duas o encararam ao mesmo tempo, mas, a sombra em seu olhar foi substituída por
preocupação quando percebeu que sua irmãzinha havia chorado.
– O que houve querida? – puxou a caçula para os seus braços e olhou Lacey com acusação.
– Ela estava me mostrando umas fotos antigas e se emocionou. – defendeu-se.
– Eu estou bem, Davie. – Kate disse sua voz soando abafada de encontro ao peito do irmão.
– Certo. – respondeu não muito convencido e ainda encarando Lacey. – Talvez seja melhor você ir se
arrumar para a festa.
– Oh! – exclamou surpresa. – havia esquecido da festa.
– Jacob ligou avisando que já está voltando pra casa. – David disse, sem desviar os olhos ou soltar a
irmã. – Pediu que lhe avisasse para começar a se arrumar.
– Ok. – disse levantando do sofá. – Eu vou subir. – olhou para Kate e novamente para David antes de
repetir. – Eu vou subir.
Depois que ela desapareceu do seu campo de visão, David afastou Kate o suficiente para perguntar.
– Está tudo bem mesmo? – Um pouco mais suave.
– Sim, Davie. – fungou. – Sabia que Lacey também perdeu a mãe?
– Mesmo?
– É, mas a mãe dela morreu no parto. – logo depois mudou de assunto. – Posso ir pra festa?
– É claro... – David disse com um meio sorriso. - ...que não!
– Davie!
– Se você for... quem vai me fazer companhia? – bagunçou-lhe o cabelo. – Ora, não vai ser tão ruim.
– brincou a vê-la resmungar. – Que tal pedirmos pizza para o jantar?
– Feito!
Lacey chegou ao quarto e retirou sua roupa de dentro da mochila. Usou o ferro de passar para deixá-
lo apresentável, antes de tomar banho. Não havia muito que pudesse fazer quanto ao cabelo, então o
escovou diversas vezes até conseguir com que ficasse razoável. O vestido preto com alças finas e
um detalhe drapeado na parte frontal que descia até a altura da cintura e era arrematado por um
broche na lateral esquerda. O fechamento lateral com zíper facilitava a vida de quem morava
sozinha. A sandália preta de tiras finas tinha salto, mas, não tão alto que não pudesse caminhar
confortavelmente.
No braço, colocou uma pulseira de pérolas de duas voltas que pertencera a sua mãe e que seu pai
havia lhe dado no seu aniversário de doze anos, o último que passaram juntos antes que ele se
matasse. Antes que sua vida mudasse para sempre. A maquiagem se constituiu de rímel, uma sombra
dourada e brilho labial. Um pouco de perfume e estava pronta.
Quando desceu a escada ouviu o assovio de Lucas e sorriu. Ao que parecia ele havia acabado de
chegar em casa, já que ainda estava vestido com as roupas que havia saído de manhã. Quando se
aproximou, ele deu um passo para trás.
– Eu sei que você não resiste a mim. – disse comum sorrisinho. – Mas, estou sujo demais para
alguém tão bonita e cheirosa como você.
– Está mesmo linda Lacey. – Kate disse.
– Obrigada!
– Agora, se você insistir acho que posso te dar um beijinho! – Lucas disse e ameaçou aproximar-se.
– Afaste-se dela. – A voz de Jacob se fez ouvir.
Lacey olhou para escada e prendeu a respiração. Ele estava lindo! Não, ele “era” lindo. Parado ali
na escada, vestindo um smoking feito sob medida estava simplesmente espetacular. Deus, o homem
passara de um cowboy sexy para um playboy sexy em um piscar de olhos.
– Possessivo, hein? – Lucas brincou.
– Não vai à festa? – Jacob perguntou enquanto se aproximava de Lacey e a abraçava por trás.
- Vou chegar mais tarde. – disse e piscou para ela. – Gosto de fazer uma entrada triunfal.
– Eu queria ir. – Kate disse num muxoxo.
– Ah, não faça essa carinha. – Lucas disse e bagunçou-lhe o cabelo. – Ouvi dizer que vai ter uma
noite de pizza.
– É. – Ela sorriu de lado. – Adoro noites de pizza!
– Nós já vamos. – Jacob disse conduzindo-a até a porta e murmurando em seu ouvido. – Você está
linda.
Lacey surpreendeu-se ao ver o Bentley continental preto estacionado em frente a casa. Jacob
adiantou-se e abriu a porta pra ela.
– Sua carruagem, princesa!
– É lindo Jacob!
Observou-o sorrir satisfeito com sua aprovação, antes de dar a volta e se sentar ao volante. O motor
ronronou suavemente quando ele começou a dirigir.
– Não posso levá-la ao Country Club na caminhonete. – era notável seu bom humor. – Tenho uma
reputação a zelar.
– Eu não me importo com o carro... – parou abruptamente quando as palavras penetraram em sua
mente. – Não posso ir ao Country Club!
– Porque não?
– Olhe pra mim!
– Já olhei. – olhou-a rapidamente antes de completar. – Você está linda!
Lacey gemeu e se afundou no estofado macio. Não podia acreditar que entraria no reduto dos ricos e
muito ricos de Springville.
– Não estou vestida a altura daquele lugar! – suspirou. – E tenho certeza que minha tia tem uma regra
sobre eu me aproximar do Country Club.
Jacob dirigiu para o acostamento e desatou o cinto de segurança, aproximando-a o máximo que o
carro permitia antes de dizer.
– Quero ter você em meus braços. – Aquele argumento serviu para silenciá-la. – Quero dançar com
você.
– Mas Jacob... tia Zelda vai ficar sabendo e... – observou o sorriso que ele ostentava. – Isso é
premeditado?
– Claro. – ele piscou malicioso. – Que graça teria se ela não ficar sabendo?
Beijou-a suavemente, antes de ligar o carro e retornar a estrada. Lacey percebeu que Lucas não era o
único Bennett com um senso de humor distorcido. Suspirou profundamente e tentou relaxar, afinal,
estava indo ao Country Club ao lado do homem mais bonito e sexy da cidade! Não tinha como isso
ser ruim, certo?
Capítulo IX

A sede do Country Club Springville transpirava luxo. Manobristas recebiam os carros e funcionários
uniformizados recepcionavam os convidados. O hall de entrada estava enfeitado com rosas amarelas
estrategicamente dispostas e iluminação indireta. O salão de festas parecia um sonho. As mesas
redondas estavam dispostas em três lados, formando um “U”, de forma que todos pudessem observar
o pequeno palco onde uma banda se apresentaria mais tarde. Neste momento, uma jovem interpretava
ao piano peças de Chopin, Beethoven e Bach.
– É minha prima. – Jacob disse em seu ouvido. – Serena Campbell
Uma jovem uniformizada levou-os até a mesa que ocupariam. Cada mesa comportava
confortavelmente dez pessoas e a maioria delas estava ocupada. Foram levados a uma das mesas em
frente ao palco onde seis pessoas, que já estavam acomodadas, levantaram-se para cumprimentá-los.
Jacob apresentou-a como sua namorada, um gesto simples que aqueceu seu coração.
Na mesa estavam o banqueiro Edgar Wilson III, que parecia ser tão pomposo quanto seu nome e sua
esposa Lenora. A mulher efusiva estava usando uma fortuna em jóias, o que a fez gemer em
pensamento e abaixar o braço que ostentava a pulseira de pérolas. Além deles estavam o casal Emma
e Mathew Collins, rancheiros extremamente agradáveis; Erick Chandler um arquiteto bastante
simpático e sua irmã Donna Chandler, não tão simpática assim. Depois de descobrir que a moça era
proprietária de uma boutique, pensou que provavelmente o problema estava na sua roupa.
– É uma surpresa ver você aqui. – Erick disse a Jacob. – O que fez você sair da toca?
– O desejo de dançar com Lacey.
– Isso não me surpreende. – ele sorriu.
Lenora estava falando sobre a filha, que estudava fora, quando Destiny e Serena Campbell se
aproximaram. Jacob apresentou-as a Lacey e em seguida todos que estavam à mesa cumprimentaram-
nas.
– Sua namorada é linda, Jake. – Serena disse com um sorriso.
– Como pode dizer isso? – Donna replicou. – Você não é cega?
– Não para as coisas que realmente importam. – falou olhando para Donna como se conseguisse
enxergar sua alma. – Bem, estamos de saída.
– Cuidado com essa cobra. – Serena sussurrou ao ouvido de Jacob e antes de ir embora fez questão
de dizer. – Foi um prazer “ver” vocês.
Lacey ficou horrorizada com a falta de tato – ou educação – de Donna. Porque ofender uma pessoa
gratuitamente? Percebendo o seu desconforto, Jacob pediu licença e a levou para dançar. Uma banda
substituiu Serena no palco e tocava baladas country. Deixou-se envolver no abraço firme daquele
homem.
– Serena é realmente cega?
– Sim. – confirmou com um sorriso. – Mas não se engane ela consegue enxergar coisas que os olhos
não vêem.
– Você me apresentou como sua namorada.
– Bem, eu ia somente declarar que você é minha. – ele disse e beijou-a levemente. – Achei que
namorada seria mais civilizado.
– Sabe que toda a cidade vai falar sobre isso amanhã...
– Hum... hum...
– Não se importa?
– Porque me importaria? – disse baixinho. – Você é minha.
Mordiscou sua orelha numa carícia quente, estimulando-a a esquecer o assunto que conversavam.
Deixou-se levar. Aquela era uma noite de sonhos. Aconchegada contra o peito forte, ouvindo as
batidas fortes de seu coração, sentia-se feliz. A banda fez uma pausa e Lacey, adiando a volta a mesa
e aos comentários ferinos de Donna, decidiu ir ao banheiro.
Jacob voltou à mesa e ignorou a tentativa de Donna de puxar assunto. Suspirou aliviado quando ela
saiu pisando duro. Não estava com paciência para aturar os chiliques daquela mulher. Não quando as
coisas estavam indo tão bem entre Lacey e ele.
– Desculpe. – A voz de Erick soou tensa. – Minha irmã tem passado dos limites.
– Não se desculpe. – respondeu convicto. – Donna é adulta e responsável por suas ações.
Agradecido, Erick mudou de assunto, iniciando uma conversa sobre gado e a associação de
criadores. De vez em quando, Jacob olhava na direção em que Lacey havia se dirigido, ansioso por
sua volta.
Envolvida no carinho de Jacob, Lacey esqueceu que sua roupa e suas jóias não eram adequadas para
aquele local, esqueceu de tudo que não fosse a voz dele dizendo “Você é minha”. O banheiro enorme
tinha uma pequena saleta de espera e cinco reservados. Lacey já estava saindo, quando ouviu o nome
de Jacob. Era Donna. Sua mão parou no trinco e as pernas recusaram a mover-se quando
compreendeu sobre o que falavam.
– Acho que dessa vez você dançou, querida.
– Não seja estúpida. – disse. – Acha mesmo que Jake me trocaria por aquela coisinha
insignificante? Ela mal sabe se vestir! Além disso, deveria fazer um regime.
– Ele a apresentou como namorada.
– Oh, é claro! – debochou. – Não podia apresentá-la como um brinquedinho, não é?
– Tem certeza que ela é só isso? – a outra mulher perguntou cética. – A mim, pareceram
apaixonados.
– Ainda tenho o cheiro dele em meus lençóis, queridinha. – disse e sorriu. – Ele vai estar de volta
antes que o cheiro desapareça.
Lacey sentiu como se uma faca tivesse sido cravada em seu coração. As emoções ricocheteando em
seu peito. Por algum tempo sonhou que Jacob lhe queria. Havia inclusive esquecido que era uma
mulher tímida, esquisita e com algumas gordurinhas indesejáveis. Sentira-se tão feliz por alguém
querê-la que se esqueceu da dura lição que aprendera durante toda a sua vida. Ninguém a queria. Não
era desejada. Nunca fora amada e provavelmente nunca seria.
Donna com certeza era o tipo de mulher com quem Jacob deveria sair. O protótipo da Barbie -
magra, loira e linda. Não podia dizer que não sabia, certo? Nannete havia se surpreendido ao vê-lo
com ela. Seus olhos encheram de lágrimas ao pensar que nem ao menos tivera uma chance. Enxugou
as lágrimas que haviam escorrido por seu rosto e fugiu do banheiro, em direção a saída. Não queria
ficar ali nem mais um minuto. Já estava quase do lado de fora do clube quando viu Jacob caminhando
em sua direção. Apertou o passo, numa tentativa inútil de fugir.
– Lacey, o que aconteceu? – Jacob segurou-a.
– Tenho que ir embora. – interrompeu-o e desvencilhou sua mão.
– Você está bem? - perguntou preocupado. – Está chorando?
Ficou tão surpreso com o rosto banhado de lágrimas que deu tempo para que ela saísse do clube,
antes de correr atrás dela.
– Lacey! – alcançou-a e segurou seu braço. – Que diabos está acontecendo?
– Deixe-me ir. – suplicou.
– Não enquanto não me disser o que houve. – segurou-a pela cintura e a trouxe para junto de seu
corpo. – Pensei que estávamos nos entendendo.
Lacey bufou e tentou escapar de seus braços. Com medo de machucá-la ele a soltou. Ela ficou
parada, ali na sua frente, como se estivesse profundamente ferida. O primeiro pensamento de Jacob
foi confortá-la, mas quando avançou novamente em sua direção, ela recuou.
– Não faça isso. – ela disse a voz embargada. – Não precisa fingir que me quer.
– O que disse? – estava confuso.
– Não quero sua piedade. – disse num soluço. – Eu não posso suportar isso.
– Fingimento? Piedade? – perguntou exaltado. – De onde você tirou isso?
– Donna disse... – encarou-o com os olhos marejados e acusou. – Vocês são amantes.
– Não! – negou com veemência e lembrou-se das palavras da prima “Cuidado com essa cobra”. -
Deu ouvidos aquela cobra venenosa?
– Vai negar que dormiu com ela? - por favor, pediu em pensamento.
– Lacey me escute...
– Não! – negou angustiada. – Eu quero ir pra casa.
Jacob cerrou os punhos frustrado. Respirou fundo e tentou falar com tranqüilidade.
– Eu vou pegar o carro e nós vamos para o rancho.
– Não quero ir para o rancho. – começou a se afastar. – Quero ir pra minha casa!
Precisava ir pra casa. Precisava se afastar dele antes que se jogasse em seus braços e lhe implorasse
por carinho. Sua vontade era se estapear por ser tão burra. Avistou Lucas que estava chegando e
correu ao seu encontro.
– Lucas, você pode me levar pra casa? – pediu com um soluço. – Por favor.
– Claro. – abriu a porta da caminhonete para que ela entrasse e se dirigiu a Jacob que se aproximou.
– O que aconteceu?
– Fique fora disso, Lucas.
– Não posso. – disse ao irmão. – Vou levá-la até sua casa.
– Ela vai comigo.
– Ah, não vai! – ele foi firme. – Você pode ir até a casa dela depois.
– Lucas...
– Ela está chorando, Jake. – acusou. – Dê um jeito de consertar isso.
Dizendo isso deixou o irmão para trás e dirigiu a caminhonete em direção a cidade, depois das
indicações de Lacey sobre seu endereço. O pranto silencioso era de cortar o coração e sua vontade
era de matar o irmão por tê-la magoado. Droga! Acaso ele não sabia que aquela mulher era a melhor
coisa que aparecera em sua vida?
– Quer que eu dê uma surra nele?
– Não! – disse horrorizada, para só depois perceber o sorriso malicioso que ele exibia e murmurar. –
Não.
– Ele vem atrás de você. – disse olhando a estrada. – Se não quer que eu bata nele... é melhor se
preparar.
Assim que chegaram, Lucas abriu a porta ajudando-a a descer do carro. Jacob não demoraria a
aparecer, seria apenas o tempo de o manobrista do clube lhe entregar o carro.
– Vai ficar bem? – ele enxugou uma lágrima que caía furtiva.
– Sim. – ela agradeceu e abriu a porta. – Obrigada.
– Não há de quê.
O barulho do carro de Jacob estacionando acionou o lado perverso de Lucas e com um sorriso
esperou pacientemente até que o irmão pudesse vê-los para beijá-la nos lábios. Piscou e foi embora.
Jacob - mesmo furioso - ignorou a vontade de bater no irmão e correu até Lacey. Vê-la ali, o rosto
banhado de lágrimas, fez seu coração doer.
– Lacey...
– Vá embora Jacob. – pediu.
– Não posso. – ele disse se aproximando. – Quero ficar com você.
– Não, você não quer. - disse um tanto amarga. – Olhe pra mim!
– Estou olhando. – seus olhos diziam muitas coisas.
– Eu não sou como ela! – disse e fechou os olhos. – Como pode me querer?
– Como posso não querer você?
– Você dormiu com a Barbie! – fungou magoada e tentou se soltar.
– Isso é passado. – defendeu-se e deu um passo a frente.
– Não se aproxime. – pediu dando um passo pra trás. – Porque quando você se aproxima eu esqueço
que sou...
– Você é linda. – disse. – Eu gosto de você assim... do jeito que você é.
– Não fale isso. – as lágrimas tornaram a cair. – Não minta pra mim.
– Sua tola! – exclamou zangado e a segurou com força junto a seu corpo. – Acha que não a quero?
Crê que isso é mentira? – beijou-a de forma punitiva. – Acha que posso fingir uma coisa dessas?
Então me dá mais crédito do que eu mereço. – sacudiu-a lentamente antes de dizer. – Me vi arrastado
pra você no momento em que entrei naquele consultório!
Beijou-a novamente e de forma decidida levou-a para dentro de casa e fechou a porta. Se palavras
não eram suficientes para convencê-la de seu desejo, então já era hora de agir.
Capítulo X

Lacey mal percebeu a porta sendo fechada. A maneira como estava sendo pressionada a parede e
ataque furioso dos lábios de Jacob de encontro aos seus a atordoava. Como sabia que aconteceria no
momento em que ele a tocasse, derreteu-se em seus braços desejosa. Correspondeu ao beijo de forma
ávida, compensando a falta de experiência com empolgação. Tudo o que importava naquele momento
era saciar sua sede de carinho... de paixão.
Percebendo-lhe a inexperiência Jacob lutou para recuperar o controle e administrar a violência
contida em seu desejo. Respirou em seus cabelos e moveu suas mãos ao longo de sua coluna num
ritmo constante. Seus lábios procuraram o espaço macio entre o ombro e o pescoço e depositou ali
beijos quentes e molhados. Sentiu o corpo feminino amolecer de encontro ao seu e sustentou-a em
seus braços.
Seus lábios se encontraram novamente com avidez e Lacey sentiu as mãos de Jacob no zíper de seu
vestido. Deixou-o cair aos seus pés. Nem ao menos percebeu que se moviam. Sentia-se como se
estivesse flutuando e quando abriu os olhos descobriu que estavam no quarto. O paletó e a gravata de
Jacob haviam se perdido em algum lugar do caminho e a camisa entreaberta deixava-a perceber a
nuvem de pelos que lhe cobria o peito. Havia tanto desejo refletido em seus olhos que quase
esqueceu que se encontrava praticamente nua a sua frente. Quase.
Fechou os olhos ao lembrar o tipo de mulher com quem Jacob estava acostumado e seu rosto tingiu-
se de vermelho. Queria ter tido a consciência de que estavam no quarto a tempo de impedi-lo de
acender a luminária. Bem, devia agradecer por ele não ter encontrado o interruptor que acendia as
luzes, já que assim seu corpo não...
– Oh!
A língua masculina tocou o lóbulo macio de sua orelha antes de viajar até seus lábios e beijá-los
uma, duas, três vezes antes de mordiscá-los suavemente. Sentiu seu corpo retesar e ser dominado por
uma incrível tensão que parecia viajar diretamente para o meio de suas pernas. Suas mãos apertavam
os ombros largos em busca de apoio, seu corpo inclinando-se em direção a ele, seus mamilos
enrijecidos ressentiam-se do tecido que os cobriam.
As mãos de Jacob pareceram adivinhar onde eram necessárias e invadindo o sutiã rendado,
abarcaram os volumosos seios. Os polegares roçaram os mamilos intumescidos e ela gemeu
inclinando o corpo em sua direção necessitando de mais. Seu corpo arqueou-se de encontro ao dele,
necessitando de seu calor. Jacob segurou-a pelos quadris posicionando-o de encontro a sua ereção e
esfregando-se nela de forma a acalmar o seu desejo.
Retirou a camisa, a calça e os sapatos, mas manteve a cueca como uma forma de conter seu desejo e
não apressá-la. Roçando seu corpo de encontro ao dela, sentiu as mãos pequenas se espalmarem em
seu peito suavemente, como que testando sua reação ao seu toque. Jacob estremeceu quando a unha
esbarrou no mamilo plano, numa carícia involuntária. Sentiu-a retrair-se e tentar se afastar.
Rapidamente segurou sua mão e a manteve em seu peito, sobre o seu coração.
– Sinta como ele bate descontrolado. – sussurrou em seu ouvido. – É por você... só por você.
Lacey inclinou o rosto em sua direção, em seus olhos havia uma sombra de dúvida. Jacob a segurou
em seus braços, suspendendo-a até que seus olhos estivessem na mesma direção, antes de afirmar de
encontro aos seus lábios.
– Só por você.
Seus lábios voltaram a se unir, num beijo repleto de paixão e algo mais. As pernas de Lacey,
distantes do chão, rodearam seus quadris em busca de apoio. Voltou a pressioná-la de encontro à
parede, a boca movendo-se de encontro a sua, as mãos livrando-a do sutiã. Quando os lábios de
Jacob encontraram o mamilo sensível, ela gemeu o seu nome.
- Jacob!
Ele lambeu e sugou-o com vontade, alimentando sua fome, incitando seu desejo e quando pensou que
não suportaria tanto prazer, ele voltou à atenção para o outro seio, repetindo o processo com igual
fervor. Lacey movia-se de encontro a ele, seu quadril roçando a grande e dura protuberância
encoberta pelo tecido esticado da cueca boxer. Sentia a necessidade crescer dentro dela, a umidade
brotar entre suas pernas e a ânsia de se fundir a Jacob atravessando-a como um raio.
Caminhando pelo quarto, ele a deitou na cama e tirou seus... sapatos? Céus! Nem ao menos percebera
que ainda os usava. Em pé ao lado da cama vestindo somente uma cueca ele estava poderoso. Deixou
seus olhos passearem pelo peito forte, a barriga plana, um estreito caminho de pelos levando até...
arregalou os olhos quando ele retirou a cueca e ofegou. Nunca havia visto um homem completamente
despido, a não ser nos livros de anatomia, e com certeza nenhum deles se parecia com Jacob. O
membro grosso surgia de um ninho de pelos. Grande, ereto... Arquejou preocupada.
Percebendo-lhe a ansiedade, Jacob deitou ao seu lado e voltou a beijar-lhe os seios. Imediatamente
Lacey esqueceu suas preocupações, mergulhada novamente em um mundo de sensações. Sentiu as
mãos de Jacob avançarem por suas coxas, até encontrar o centro quente, úmido, ainda coberto pela
renda preta. Instintivamente abriu as pernas, dando-lhe amplo acesso. Os dedos grandes afastaram a
calcinha, deslizando até a parte úmida e demorando-se ali, massageando, antes de deslizar um dedo
dentro do seu corpo.
– Não. – Lacey fechou as pernas ante a invasão.
Ele segurou seus cabelos e aproximou-a até que seus lábios se tocassem e beijou-a com fervor,
inflamando seu desejo até senti-la aceitar o seu toque. Continuou a acariciar a carne úmida,
provocando o botão rígido e intumescido enquanto os lábios deslizaram até os seios, para se
deliciarem mais uma vez nos seios fartos. Quando novamente a penetrou com o dedo Lacey gemia de
forma descontrolada, impulsionando o corpo de encontro a suas mãos.
– Jacob eu... eu...
Desesperou-se com a sensação que tomava conta de seu corpo, a tensão esticando-a como as cordas
de um violino, seu corpo implorando por satisfação.
– Por favor... – choramingou.
Com a outra mão ele beliscou seu clitóris e foi como se fogos explodissem em seu corpo. Era uma
sensação incrível que a envolvia. Mal percebeu Jacob acomodar-se gentilmente entre suas pernas e
penetrá-la num único movimento. Lacey gritou e tentou se afastar, as convulsões de prazer do seu
orgasmo sendo substituída pela dor abrasiva entre as pernas. Jacob espalhou milhares de beijos em
seu rosto, queixo, pescoço enquanto murmurava palavras tranqüilizadoras e segurava seus quadris
mantendo no lugar. Beijou as lágrimas que surgiram nos cantos dos olhos cor de âmbar, que o
encaravam em expectativa. Beijou-a devagar, movendo-se um pouco, testando-lhe a reação. Lacey
ofegou e contraiu os músculos, apertando-o em seu centro.
Jacob tornou a beijar-lhe os seios e acariciá-la por entre os pelos macios que cobriam sua
feminilidade em busca do pequeno botão que acionava o seu prazer, construindo novamente a
necessidade, deixando-a novamente tensa em busca de liberação e quando Lacey finalmente se
moveu de encontro a ele, moveu-se de encontro a ela. Dentro e fora, dentro e fora em movimentos
fortes e ritmados, que elevaram o desejo. Ela o agarrou e o beijou nos lábios, seu corpo
acompanhando as investidas, cada vez mais rápidas e então, Jacob se retirou quase que
completamente, para investir fundo dentro dela, mergulhando-a num êxtase sem fim. E enquanto seu
corpo estremecia e convulsionava-se de prazer, sentiu-o rugir e derramar-se dentro dela.
Ainda sentindo o corpo estremecer, deixou-se envolver nos braços de Jacob. Uma enorme languidez
a envolveu e ela deixou-se levar. Em poucos minutos estava adormecida. Não percebeu Jacob
desligar o despertador que estava programado para tocar ao amanhecer que não tardaria a chegar, ou
puxar o lençol e cobrir os dois, nem mesmo a forma com que ele lhe acariciou a face e depositou um
suave beijo em sua testa antes de também se entregar ao sono.
Lacey acordou ao sentir algo quente e úmido deslizar por sua barriga. Abriu os olhos e viu Jacob
movimentar uma toalha molhada em direção a sua feminilidade, limpando os resquícios da relação
sexual. Quando ele percebeu a marca de seus dedos na pele branca e macia dos quadris femininos,
praguejou baixinho. Acariciou a marca numa carícia, desejando que ela desaparecesse.
Lacey sentia-se exposta, envergonhada do seu corpo e da posição em que se encontrava. Sentiu o
corpo enrubescer quando Jacob percebeu que ela estava acordada. Ele aproximou-se e tocou seu
rosto rubro encarando-a.
– Eu não fui gentil com você. – disse num sussurro. – Me perdoe.
Lacey tocou o rosto dele, retribuindo o carinho antes de dizer.
– Estou bem. – disse baixinho. – Não estou machucada, apenas morta de vergonha por estar nua
diante de você.
Jacob riu quando tentou desviar o olhar para o seu corpo e ela segurou-lhe o rosto.
– Lacey! – ele disse e beijou-a suavemente. – Você é linda!
– Não minta. – fechou os olhos e respirou fundo. – Sei muito bem o que sou.
– Linda. – repetiu enfático. – Se você pudesse vê-la com os meus olhos, saberia que não estou
mentindo. – beijou-a novamente. – Você é preciosa.
– Sei. – bufou e abriu os olhos. – Comparada a Donna eu...
– Não faça isso. – interrompeu-a. – Não posso mudar meu passado.
– Eu sei. – murmurou.
– Eu mudaria se pudesse. – disse. – Por você.
– Verdade? – soluçou.
– Verdade. Ah, Lacey jamais senti por alguém algo assim. – continuou. – Desde o momento em que te
vi – que invadi seu consultório – senti que encontrei uma parte de mim que eu nem mesmo sabia que
estava faltando.
– Oh, Jacob. – havia lágrimas em seus olhos. – Eu me apaixonei por você.
Beijaram-se com volúpia, lábios e línguas se encontrando. Perderam-se um no outro, deliciados com
a descoberta dos sentimentos que os movia. Jacob a apertou em seus braços trazendo-a pra junto de
seu corpo e Lacey gemeu... de dor.
– Tem certeza de que não está machucada? – perguntou de encontro aos seus lábios.
– Sim. – Lacey afundou o rosto na curva de seu corpo, envergonhada. – Só um pouco sensível.
– Aqui? – deslizou a mão para o triângulo entre suas pernas.
– Sim.
– Vou cuidar de você.
Segurou-a no colo e levou-a até o banheiro, que já havia visitado mais cedo. Ligou o chuveiro e
deixou a água morna cair antes de pousá-la no chão. Ensaboou cada pedacinho de seu corpo com
cuidado, com carinho, rindo do rubor envergonhado que lhe cobria a face diante da experiência de
um banho a dois.
Provocante, entregou-lhe o sabonete e desafiou-a a fazer o mesmo por ele. Um tanto hesitante, ela lhe
ensaboou os ombros, o peito, o abdômen e rodeou-lhe, passando a ensaboar suas costas. Jacob riu
divertido enquanto sentia as mãos pequenas deslizarem por suas costas largas, suas nádegas e pernas,
para voltar as suas nádegas e estender suas mãos ensaboando rapidamente seu membro que se
encontrava evidentemente ereto. Jacob segurou suas mãos ali um momento, antes de enfiar-se no
chuveiro e enxaguar-se.
Enrolou uma toalha no quadril e deixou-a no banheiro, garantindo.
– Já volto.
Retirou os lençóis usados da cama e forrou um limpo. Mais cedo, havia aberto o baú aos pés da
cama na expectativa de encontrá-los e tivera sorte. Trouxe-a para o quarto e a depositou na cama. Ela
estava linda, o rosto corado e os cabelos úmidos do banho. Sentiu vontade de possuí-la naquele
momento. O que não fez, pois ela precisava comer alguma coisa. A geladeira estava praticamente
vazia. Além de água encontrou alguns temperos, um pedaço de queijo branco e ovos. Fez uma
omelete e café. Pegou as duas canecas com café com uma mãe e o prato com a omelete com a outra e
levou para o quarto. Lacey estava parada, em frente ao guarda roupa, indecisa sobre o que vestir.
– Não vista nada. – depositou tudo na mesinha de cabeceira.
– Não posso ficar nua.
– Você não está nua. – disse e apontou o roupão rosa antes de puxá-la pra cama. – Venha, você
precisa comer para recuperar suas forças.
– Jacob! – exclamou.
– Não vamos sair dessa cama tão cedo. – disse colocando um pedaço de omelete em sua boca. –
Melhor se preparar, não acha?
– Oh, Deus! – disse depois de um gole de café. – Pensei que só o Lucas tinha essa veia cômica!
Jacob se fez de ofendido e serviu-lhe mais um pedaço de omelete. Depois que terminaram de comer
– em meio a muitos beijos – colocaram o prato e canecas de volta a mesinha. Jacob deitou e retirou a
toalha, antes de ordenar.
– Tire o roupão.
Lacey assustou-se com a forma como acatou a ordem. Sentiu a pele comichar e virou de costas para
ele. Tirou o roupão, antes de deitar-se ainda de costas. Seu corpo estava em chamas, aceso.... por
ele. Jacob a puxou para junto de seu corpo, acomodou-a de modo que seus corpos se encaixassem de
conchinha, antes de sussurrar em seu ouvido.
– Descanse.
Descansar? Seu corpo estava aceso, em expectativa desde que ele dissera que passariam o dia na
cama. Desde que ordenara que tirasse a roupa! Seus seios estavam pesados, os mamilos intumescidos
e parecia haver um lago no meio de suas pernas. Sentia a amplitude de sua ereção pressionar suas
nádegas e ele a mandava descansar? Oh, droga! Como gostaria de ser moderna a ponto de dizer-lhe
exatamente o que queria.
Virou-se de frente pra ele e sentiu o membro pulsar e se alojar entre suas pernas. O contato com sua
vagina ultra-sensível a fez ofegar, ainda assim moveu-se de encontro a ele. Jacob gemeu e tentou se
afastar, o movimento causando uma deliciosa fricção que a fez gemer de prazer.
– Estava tentando ser um cavalheiro. – disse antes colar seu corpo ao dela.
– Eu sei. – Lacey gemeu de encontro aos seus lábios.
Explorou-lhe o corpo com os lábios e com as mãos até fazê-la suplicar. Lacey se aventurou pelo
corpo másculo, deixando que suas mãos se aventurassem pelo peito largo e deixou que ele as guiasse
até a rija masculinidade que pareceu saltar em sua mão. Sentia seu corpo chamar por Jacob e quando
ele finalmente a penetrou suspirou de prazer. Ele moveu-se devagar, tão devagar que Lacey passou a
se mover de encontro a ele, necessitando do alívio que só ele poderia lhe dar.
Afundou-se em seu corpo e foi como se chegasse ao céu. Gritou quando seu corpo estremeceu e
explodiu em êxtase, convulsionou-se com o clímax, contraindo-se em torno de Jacob, apertando-o e
extraindo dele sua liberação, num rugido rouco.
– Descanse agora.
Ele murmurou algum tempo depois de rolar na cama deitando-se de costas e trazendo-a consigo.
Puxou o lençol sobre os seus corpos e apertou-a em seus braços. Exausta, dessa vez, não se opôs a
descansar. Amparada no peito forte, adormeceu com um sorriso nos lábios.
Capítulo XI

Jacob acordou e observou o relógio. Havia passado muito da hora do almoço e eles ainda estavam na
cama. Observou a mulher adormecida ao seu lado e um sorriso iluminou o seu rosto. Oh, Deus ela
era linda e tão inocente! E não estava falando do fato de ela ser virgem. Lacey carregava com ela
uma áurea de candura que o encantava.
Obviamente que ela era uma pessoa inteligente, havia se formado com louvor e era uma ótima
médica, mas, havia essa insegurança com o corpo que a deixava vulnerável... seus olhos passearam
novamente pelo corpo parcialmente coberto pelo lençol. Os seios fartos, a barriga um pouco saliente
e as coxas grossas poderiam não se encaixar no padrão de beleza dos dias atuais (e das mulheres
com quem se relacionara nos últimos tempos), contudo não eram desagradáveis aos seus olhos.
Desejava-a com loucura e havia aquele sentimento que transbordava em seu coração, que o incitava a
protegê-la.
Levantou-se e recolheu suas roupas espalhadas pelo chão. O roupão cor-de-rosa colocou aos pés da
cama. Percebeu que não havia como sair da casa de Lacey vestindo suas roupas sem que provocasse
boatos na cidade. Tomou um banho rápido e vestiu sua cueca antes de pegar seu telefone celular e ir
até a sala, fechando a porta atrás de si para não acordá-la. Discou o número de Lucas.
– Onde você está?
– Boa tarde pra você também! – Lucas disse debochado. – Estou saindo da igreja.
– Droga, Lucas! – Jacob praguejou. – Já lhe disse para se afastar...
– Da Summer, eu sei. – disse ignorando o tom do irmão. – Mas, acredito que não ligou para falar
sobre isso.
– Não. – respondeu. – Preciso de roupas. Não posso sair da casa de Lacey no meio da tarde vestindo
smoking...
– Vai ficar me devendo uma! – riu.
– Duas. – ele corrigiu. – Traga o almoço!
Desligou o telefone e voltou ao quarto onde Lacey continuava dormindo. Ela havia mudado de
posição na cama e agora dormia de bruços. Espalhou beijinhos em seu ombro e pescoço até acordá-
la.
– Bom dia! – sua voz saiu abafada pelo travesseiro.
– Na verdade boa tarde.
Lacey demorou a assimilar o que ele havia dito, ainda envolvida pelo sono e pelos beijinhos que ele
continuava espalhando por suas costas.
– O quê? – sentou de um salto.
Jacob deitou-se de costas e sufocou o riso. Ela parecia surpresa, até mesmo um pouco assustada ao
perceber quanto tempo haviam passado na cama. Observou sua tentativa desajeitada de arrumar os
cabelos e manter o lençol em volta do corpo ao mesmo tempo. Segurou a ponta do lençol e puxou-a
para junto do seu corpo.
– Já disse que você está linda essa manhã? – perguntou.
– Não.
– Você está linda! – beijou-a no pescoço.
– Você é um ótimo mentiroso. – Lacey bufou.
Saiu da cama e pegou o roupão antes de correr para o banheiro. Escovou os dentes e tentou dar um
jeito nos cabelos. Jacob recostou no umbral da porta.
– Eu não minto. – sorriu. – Não fosse o fato de meu irmão estar batendo na porta eu mostraria a
você...
– Seu irmão está aqui?
– hum hum... – confirmou.
– Oh, meu Deus! – ficou vermelha. – Ele vai pensar... ele vai saber...
– Hum, hum... – beijou-a de leve. – Venha, vamos antes que ele derrube a porta.
Lacey o acompanhou e amarrou firmemente o roupão antes de abrir a porta.
– Bom dia pra vocês que acabaram de acordar. – jogou um pacote para Jacob, antes de segurar o
rosto de Lacey e inspecioná-lo. – Nada de lágrimas e rubor intenso. – piscou para o irmão. – Bom
trabalho!
– Lucas!
– Não brigue comigo. – levantou o outro pacote que trazia. – Trouxe o almoço.
– Isso é ótimo. – Jacob disse e arrastou Lacey para o quarto. – Aproveita e põe a mesa.
Não queria Lacey de roupão na frente do irmão. Enquanto ela tomava um banho rápido e vestia-se,
ele colocou o jeans, a camisa e a bota que seu irmão trouxera. Foi para a cozinha ao encontro de
Lucas. Seu irmão estava lhe contando sobre os acontecimentos da festa após sua saída quando Lacey
apareceu, usando um vestido azul claro de alcinhas. Jacob pegou sua mão e a sentou em seu colo. Ela
escondeu o rosto em seu pescoço, envergonhada.
– Não vai poder ter vergonha dos meus irmãos quando estivermos morando juntos.
– Morando juntos?
– É o que as pessoas casadas costumam fazer, certo?
– Está me pedindo em casamento?
– Desculpe meu irmão, Lacey. – Lucas disse e fez uma careta. – Ele não está acostumado com essa
coisa de romance.
– Cai fora, Lucas! – disse carrancudo. – Obrigado pela roupa e pela comida. Já pode ir embora.
– E perder essa cena romântica? – piscou pra Lacey. – De jeito nenhum.
– Lucas...
– Tudo bem, tudo bem... – suspirou inconformado. – Já estou indo.
Depois que seu irmão já havia ido embora, Jacob tomou a mão de Lacey e pousou em seu peito.
Olhando em seus olhos, perguntou dessa vez do jeito certo.
– Quer casar comigo?
– Sim. – abraçou-o pelo pescoço. – Tem certeza?
– Tenho certeza! – beijou-a. – Eu te amo!
– Como pode me amar? – sussurrou incrédula.
– Como posso não amar você? – respondeu sério.
– Faz tão pouco tempo...
– Temos todo tempo do mundo a nossa frente.
– Sim.
Depois de almoçarem, passaram um longo tempo – apenas abraçadinhos – no sofá. Jacob convidou-a
para dormir no rancho, mas ela recusou. Teria plantão logo cedo e com sua situação instável no
hospital não queria arriscar.
– Entendo. – disse antes de ir embora. – Vou sentir sua falta.
– Eu também.
Beijaram-se apaixonadamente, relutantes em se afastar. Envolveu-lhe o corpo e suspendeu-a
ajustando-a ao seu. Lacey adorava quando ele fazia isso... mostrava o quanto era forte. Envolveu seus
braços em seu pescoço e entregou-se ao beijo, desejando que seus corpos se fundissem.
– Fique. – ela pediu.
E ele ficou.
Os dias passaram rapidamente e Lacey tentava se acostumar às mudanças que estavam acontecendo
tão rapidamente em sua vida. Ainda era difícil acreditar que estava envolvida com um homem como
Jacob e que ele a amava. Ou que tinha a intenção de se casar com ela! Eram coisas demais para se
adaptar... e acreditar.
Não que tivesse dúvidas de que ele estava sendo sincero no que dizia. O que não conseguia acreditar
era que aquele sentimento fosse duradouro, afinal, o que em sua vida o havia sido? Aceitou o pedido
de casamento, mas não tinha pressa em dar esse passo. Não queria que ele se visse preso a ela por
algo além de um censo de dever por ter sido o primeiro. Tudo havia acontecido rápido demais e com
uma intensidade que a deixava desnorteada. Poderia algo assim durar?
Ele vinha dormido em sua casa desde o domingo. Haviam sido dias repletos de expectativa e noites
repletas de paixão. A cada noite ela a amava como se fosse à única mulher no mundo, a mais bonita,
a mais preciosa. Lacey sabia que não era verdade, mas, naqueles instantes desejava com todas as
forças acreditar nele.
Terminou de atender a última paciente e preparou-se para ajudar Megan a fechar a clínica. Dispensou
à ajudante e sentou-se para se controlar um pouco antes do encontro semanal com sua tia. Jacob havia
se mostrado surpreso e contrariado ao saber que iria ao encontro da velha senhora. Não tinha certeza
de que poderia chamar a conversa que tiveram de discussão, mas, com certeza ele não havia ficado
nem um pouco contente com sua decisão.
– Encontrar essa mulher faz mal a você. – disse encarando-a. – Por que insiste nisso?
– Ela é minha tia. – respondeu tentando fazê-lo entender. – É a única pessoa que me resta. A pessoa
que esteve ao meu lado desde que nasci...
– Ela quer você longe da cidade.
– Eu sei. – havia dor em seus olhos.
– Então, não vá. - Tinha um pressentimento ruim a respeito desse encontro.
– Preciso ir. – fez um gesto com as mãos. – Ela precisa saber que vou ficar em Springville, com
você.
– Lacey...
– Reuniu sua família ontem para contar a eles. – observou. – Preciso contar a ela sobre nós.
Realmente haviam jantado no rancho na noite anterior onde anunciaram que estavam noivos. Lucas
havia brincado que haviam pulado a etapa do namoro antes de abraçá-la apertado e garantir que era
bem vinda à família. Kate havia dado um gritinho de alegria e pulado nos braços do irmão
parabenizando-o. Até mesmo David havia deixado de lado por alguns instantes sua atitude
carrancuda e desejado felicidade a eles. Por um instante Lacey acreditou ter visto um brilho de dor
em seus olhos, mas foi algo tão fugaz que creditou a sua imaginação fértil. Havia sido uma noite feliz.
– Apesar de tudo, ela é minha família.
– Está bem. – concordou a contragosto. – Apenas me deixe ir com você.
Havia recusado e lhe dito que iria sozinha. Como o fazia desde que chegara a cidade. Sentia-se feliz
com a preocupação de Jacob, assim quando ele perguntou se poderia ao menos ir buscá-la ao fim do
encontro, ela aceitou. Porque na verdade não era tão forte assim e sempre saía arrasada desses
encontros... Acaso não havia ficado bêbada da última vez?
Chegou ao restaurante no horário e a tia mal se dignou a olhá-la antes de indicar-lhe o cardápio.
Nunca mudava a rotina. Primeiro comeriam, como se nada estivesse acontecendo, para depois
conversarem. Há doze anos era assim, quer em suas visitas em Houston ou nos encontros semanais
em Springville. Imediatamente os pés de Lacey começaram a bater no chão num movimento
constante. Ignorou a carta de vinhos e pediu água. Não iria beber. Quando o garçom serviu os pratos,
resolveu quebrar a rotina pré-estabelecida e disse de supetão.
– Eu vou me casar.
Tia Zelda pousou os talheres no prato suavemente, a única demonstração de que não estava tão calma
como aparentava foi o leve tremor em suas mãos.
– Não vai. – disse convicta. – Vai se afastar desse homem, dessa família antes que seja tarde demais.
Lacey gesticulou com a cabeça negando, enquanto procurava palavras para tentar explicar que ela
não aceitaria suas ordens, mas a tia continuou.
– Tem que se afastar dessa família... – disse nervosa. – Tem que ir embora dessa cidade.
– Tia Zelda...
- Não pode casar com ele... – disse ignorando-a. – Não pode ter qualquer relação com ele, entendeu?
Tem que ir embora dessa cidade está me ouvindo?
Estava ouvindo e ao que parecia todo o restaurante também. Sua tia estava colérica, o rosto
vermelho. Estava descontrolada e parecia querer avançar para ela. Começou a se desesperar
enquanto ela repetia cada vez mais alto que a sobrinha precisava se afastar dos Bennett e que uma
tragédia estava para acontecer enquanto Lacey cada vez mais nervosa e preocupada pedia à tia que
se acalmasse.
– Vamos pra casa Lacey. – a voz de Jacob soou tensa em algum lugar atrás dela.
Graças a Deus! Nunca havia visto a tia agir daquela maneira. Precisava da força e do apoio dele.
Levantou-se disposta a se jogar em seus braços. Precisava dele!
– Não! – Zelda segurou firmemente o braço da sobrinha. – Ela não vai a lugar nenhum com você!
– Não estou pedindo sua permissão senhora. – disse friamente. – Estou avisando que ela vem
comigo.
– Que audácia! – gritou, sem soltá-la.
– Audácia é a senhora usar os sentimentos dela... – sua voz era baixa, porém firme. – Audácia é
tentar manipulá-la! – disse e repetiu. –Vamos pra casa Lacey.
– Ela é minha sobrinha. – a velha senhora gritou.
– Ela é minha mulher.
– Não! – sacudiu o braço de Lacey e encarou-a. – Você não dormiu com ele. Diga-me que não dormiu
com ele...
– Tia Zelda...
Seu rosto estava rubro. Estava envergonhada até o mais profundo de seu ser, as pessoas no
restaurante observavam toda a cena como ávidos espectadores da sua vida íntima.
– Cristo! – levou a mão ao peito ofegante. – Dormiu com ele... Isso não pode ter acontecido... Isso é
tão errado...
– Por favor, alguém chame uma ambulância! – Lacey pediu desesperada.
– Vocês não podiam... Vamos todos para o inferno! – disse ofegante, segurando o braço. – Você devia
ter ido embora...
De repente a velha senhora tombou na cadeira. Jacob correu para acudir e deitá-la no chão. Pediu às
pessoas que se afastassem enquanto Lacey observava os sinais vitais da tia, as lágrimas escorrendo
por seu rosto. Observou os paramédicos adentrarem o restaurante uma eternidade depois e levarem-
na para o hospital. Deixou-se conduzir por ele até o hospital em que trabalhava e viu toda aquela
corria sobre o prisma dos parentes.
Ryan Baker veio pessoalmente relatar o estado de saúde de sua tia. A situação de Zelda Michels não
era nada boa devido a sua idade. Ela seria submetida a uma angioplastia para desobstruir uma
artéria. Ouviu tudo atentamente, uma onda de culpa assolando-a. Perdida em pensamentos quase não
ouviu a pergunta dirigida a ela.
– Falou com sua tia sobre o que Alex descobriu?
– O que Alex descobriu?
– É melhor vocês conversarem depois... – Ryan disse ao perceber que seu irmão ainda não havia
conversado com eles. – Gostaria de dar algo a você para que descansasse.
– Não.
– Lacey você está em choque.
Ela não tinha idéia de como parecia diante dos homens. Com certeza não se reconheceria diante do
espelho, mas não estava disposta a sucumbir. Estava prestes a negar outra vez, quando Jacob,
apertou-a em seus braços e lhe confessou que ficaria mais seguro se ela se deixasse cuidar por Ryan.
O pressentimento de que a perderia voltou a atormentá-lo, enchendo seus olhos de medo. Vendo o
medo nos olhos dele, ela aceitou. Deixou-se levar até um quarto e ser medicada, os sedativos a
embalando nos braços suaves da inconsciência.
Capítulo XII

Jacob deixou-a adormecida em sua cama e foi até o escritório de Alex. Detestava deixá-la naquele
momento, mas, precisava saber o que seu amigo havia descoberto para desfazer aquele nó que lhe
oprimia o peito e afastar a sensação ruim que o acompanhava desde que acordara. Zelda Michels
havia passado bem pela cirurgia de emergência e estava em observação sem direito a visitas. Ryan
não liberou nem mesmo a presença de Lacey, que já estava bastante fragilizada e sentindo-se culpada
por toda a situação. O médico a liberara no fim da tarde e ele a levara pra casa. Partiu seu coração
vê-la chorar em seus braços antes de adormecer.
Assim que Lucas havia chegado, deixara-a aos cuidados do irmão e correra até o escritório do
amigo. Precisava saber o que estava acontecendo. Provavelmente o motivo de Zelda Michels querer
afastar a sobrinha se devia a dinheiro. Sim, provavelmente. Não era sempre por dinheiro? Sem
avisar as palavras da velha senhoras lhe invadiram a mente “Tem que se afastar dessa família...”.
Aquilo lhe parecera tão pessoal. O que ela tinha contra os Bennett?
Ao chegar ao escritório de advocacia teve uma desagradável surpresa, quando Donna correu
saltitante em sua direção.
– Jake! – pendurou-se em seu pescoço a expectativa de um beijo. – Sinto sua falta, meu amor.
– Donna. – desvencilhando-se. – Não sou seu amor. Não temos esse tipo de relacionamento.
– E que tipo de relacionamento temos, hein Jake? – ela perguntou fazendo beicinho. – Minha cama
está vazia sem você.
– Não que eu acredite nisso, mas, não espere que eu volte a preenchê-la. – ele disse firme. – Eu vou
me casar.
Para sua surpresa ela começou a rir como se houvesse escutado uma piada. Aproximou-se novamente
até estar a quase colada a ele, antes de dizer baixinho.
– Ah, não vai não. – deu um sorrisinho debochado. – Não com a médica gordinha, isso eu posso
garantir! – Deu-lhe um beijo rápido antes que ele pudesse escapar e saiu, dizendo em um sussurro. –
Vou te esperar...
O nó em seu estômago pareceu aumentar com as palavras de Donna. O que ela podia saber sobre o
assunto? Alex era um profissional de respeito, com certeza não havia dito nada aquela víbora. Como
pode um dia se relacionar com aquela mulher? Deus! Se arrependimento matasse estaria abaixo de
sete palmos. O amigo o recebeu prontamente, mas não lhe passou despercebido seu aparente
desconforto. Seja lá o que fosse que ele havia descoberto, tinha certeza que não ia gostar. O nó em
seu estômago pareceu dobrar de tamanho e apertar. Dispensando o cafezinho e cortesias foi direto ao
ponto.
– O que você descobriu?
– Ao menos se sente Jake. – pediu e passou a mão pelos cabelos num gesto nervoso. – As coisas
estão complicadas.
– Me conte. - disse após sentar-se. – Quão complicadas?
– Descobri que sua mãe e o pai de Lacey foram namorados na adolescência. – Alex disse com um
suspiro exausto. – Depois foram amantes.
– Não é possível. – estava chocado – Você tem certeza? Quer dizer... como descobriu isso?
– Através de alguns documentos escolares. – disse tenso. – Simon Michels foi para a guerra e eles se
separaram. Dois meses depois ele foi dado como morto e Lily Nowels, sua mãe, e Jackson Bennett
casaram-se.
– Santo Deus!
– Ainda estou investigando, mas acredito que esse pode ser o motivo para a Srª Michels querer a
sobrinha longe.
– Mas isso foi há tanto tempo. – disse pensativo. – Porque isso seria um motivo?
– Ela pode temer um escândalo, ou então... – deu-lhe as costas e evitou seu olhar.
– Alex, fale. – pediu, apesar de ter certeza que não gostaria de ouvir.
– Um de vocês pode ser filho de Simon Michels.
Um silêncio sepulcral instalou-se na sala e a tensão poderia ser cortada com uma faca. Jacob sentiu o
nó em seu estômago transformar-se em uma dor sem tamanho, que parecia sufocá-lo.
– Quem?
– O caso deles durou mais de vinte anos... – respondeu constrangido. – Pode ser qualquer um de
vocês...
– A possibilidade maior é que seja eu.
Havia tanto desespero na afirmação que até mesmo um homem feito e com a experiência de Alex
sentiu vontade de chorar feito um menino. O desespero de Jacob era tão grande que quase não ouviu
as palavras sinceras do amigo.
– Eu sinto muito.
Jacob não respondeu. A dor era grande demais. Dirigiu-se a cidade, disposto a esquecer...
Os irmãos Anderson eram donos do Drinks, Women and Sounds ou DWS, como era conhecido o
melhor bar de Springville. Também eram amigos de Jacob e não estavam gostando nem um pouco de
ver o amigo naquela situação. Segundo seus funcionários, ele havia chegado há pelo menos duas
horas atrás e não havia parado de beber. Pior do que isso era o olhar atormentado que ele ostentava
independente da quantidade de bebida que havia ingerido.
– O que vamos fazer? – Ben perguntou ao irmão, indicando Jacob com um gesto de cabeça.
– Vou ligar para o rancho. – Justin disse. – Vou tentar falar com David ou Lucas... Tente conversar
com ele.
Benjamin assentiu, mas, antes de ir até a mesa do amigo serviu-se de uma bebida. Ante o olhar
questionador do irmão, deu de ombros e explicou.
– Sejam quais forem os demônios que o atormentam... acredito que vou precisar disso.
Foi até a mesa do amigo e ficou lá, de frente pra ele em silêncio. Demorou muito tempo até que
Jacob percebesse sua presença, seus sentidos já bastante embotados pelo álcool, e demorou a
identificá-lo. Sendo ele e seu irmão, gêmeos idênticos, isso não era estranho.
– Está ajudando? – Ben perguntou apontando sua bebida.
– Nada pode ajudar... Nada.
– Tão mal assim? – ele continuou. – Vamos, Jake nada pode ser tão ruim assim...
– Nem o fato de ter dormido com sua irmã? – ele perguntou num tom derrotado.
– Por Deus Jake! – Bem ficou estarrecido. – Kate?
Aquilo pareceu tirá-lo do seu entorpecimento e no minuto seguinte segurava Benjamim pela gola da
camisa, vociferando entre dentes.
– Está louco? – perguntou. – Por quem me toma?
– Você disse sua irmã...
– Lacey. – Jacob o soltou e deixou-se cair de volta à cadeira, esvaziando o copo a sua frente e
balançando a cabeça em negativa. – Eu não sabia... eu não sabia...
– Sua Lacey? – Ben perguntou surpreso. – Lacey Michels é sua irmã?
– Eu a amo. – seus olhos estavam atormentados. – Eu não consigo deixar de amá-la.
– Oh, merda! – Ben praguejou e serviu ele mesmo uma nova rodada de bebidas, enquanto repetia. –
Merda! Merda!
Quando David chegou para resgatar seu irmão, que estava acompanhado por um Benjamin levemente
embriagado, encontrou-o praticamente inconsciente em cima da mesa. Deu graças a Deus por isso.
Alex Baker lhe telefonou e repetiu todas as informações que dera a Jacob mais cedo. Ficou como um
louco. Seu irmão não merecia isso. Ligou pra Lucas e depois de contar a ele em que pé as coisas
estavam pediu que ele continuasse com Lacey enquanto ele procurava por Jake. Havia acabado de
deixar Kate na casa de Summer quando Justin o contatou. Agradeceu a aos céus por seu irmão tão
responsável ter procurado o DWS.
Com a ajuda dos amigos, carregou-o até o carro. Para sorte de Jacob ele havia apagado, mas, quando
acordasse pela manhã além de encontrar os problemas no mesmo lugar teria uma tremenda ressaca.
Ele mesmo não havia digerido a notícia de que Lacey poderia ser irmã deles. De qualquer um deles.
Sim, ele havia percebido a semelhança dela com Kate e por um momento louco aquilo havia passado
por sua cabeça, mas... jamais desconfiara de sua mãe. Um caso de mais de vinte anos! Por Deus,
como ela pode? Temia que seu irmão não se recuperasse.
Lacey acordou com o cheiro de café fresco e espreguiçou-se. Estava vestida com a roupa do dia
anterior e por um momento sentiu-se desnorteada, até que os eventos vieram com a força de uma
avalanche e um pensamento suplantou todos os demais. Sua tia estava no hospital. Olhou o relógio e
percebeu que ainda contava com tempo para se aprontar para o plantão. Caminhou para a cozinha em
busca de Jacob e não escondeu a surpresa ao encontrar Lucas.
– Bom dia! – disse com um sorriso.
– Bom dia. – ele sorriu meio de lado e deu-lhe as costas. – Jacob precisou resolver uns problemas e
por isso estou aqui.
– Algo sério?
– Não. – ele respondeu rápido. Rápido demais, o que a fez questionar desconfiada.
– Esta acontecendo alguma coisa?
– Não, não. – apressou-se a dizer.
– Lucas... olhe pra mim. – pediu desconfiada.
– Vai para o hospital? – desconversou. – Ryan ligou e disse que sua tia está bem melhor.
– Eu vou trabalhar no hospital hoje, então vou vê-la e... – franziu o cenho irritada. – Você está
mudando de assunto.
– Lacey... foi uma longa noite. – disse e tentou um sorriso que não a convenceu. – E nem foi tão
animada como as pessoas vão comentar.
– Tudo bem. – concordou em não fazer perguntas, porém alertou-o. – Por enquanto.
Saiu em direção ao quarto, decidida a tomar banho e se arrumar para o plantão, tentando ignorar a
sensação de que algo estava errado. Não conhecia Lucas há muito tempo, mas, não era tola. Ele
estava lhe escondendo algo. E estava triste. Uma necessidade de ver Jacob e conversar com ele
pareciam crescer dentro dela, suplantando a lógica que lhe dizia que deveria ir trabalhar e ver como
estava sua tia.
Lucas observou-a engolir rapidamente uma xícara de café e duas torradas antes de levá-la até o
hospital. Queria estar em casa quando o irmão acordasse, mas, precisava antes deixar Lacey no
trabalho onde estaria um tanto quanto protegida das notícias. Olhou para a mulher que poderia ser sua
irmã e uma onda de ternura o envolveu. Daria tudo para que fosse ele o irmão dela e não Jacob. Por
Deus! Que não fosse Jacob.
Capítulo XIII

Lacey chegou à clínica e foi direto ao quarto da tia. Zelda estava dormindo e seu estado era estável
de acordo com a ficha médica. Passou a atender suas pacientes, focando em seu trabalho e tentando
ignorar o pressentimento de que algo havia acontecido. Jacob não havia dado notícias e Lucas estava
muito esquisito pela manhã. Decidiu que faria uma visita ao rancho dos Bennett na hora do almoço.
Com a decisão tomada, conseguiu trabalhar com mais tranqüilidade.
Amanhã pareceu durar uma eternidade e quando finalmente terminou todas as consultas agendadas e
estava se preparando para sair, deu de cara com Donna que a aguardava na recepção do Hospital.
Tentou disfarçar seu desagrado e forçou um sorriso.
– Olá, em que posso ajudá-la?
– Na verdade, sou eu que posso ajudar você. – Donna respondeu com um sorriso venenoso. – Existe
algum lugar em que possamos conversar em particular?
– Vamos até minha sala. – Lacey disse a contragosto, olhando o relógio. – Tenho poucos minutos.
– Será suficiente.
Seguiram até a sala e depois de acomodadas, encarou-a aguardando que ela começasse a falar. E ela
o fez.
– Sabia que Jacob ontem esteve conversando com Alex Baker no escritório dele?
– Sim. – respondeu alerta diante do tom da conversa.
– Sabe também sobre o que eles conversaram?
– Não. – Lacey disse de forma fria. – Mas acredito que você veio me contar.
– Muito perspicaz. – Donna riu e fez um gesto teatral. – Sabe, cheguei a sentir pena de você...
– Porque você não despeja seu veneno de uma vez?
– Se é assim que prefere. – Deu de ombros e ficou de pé, antes de dizer. – Sabe essa história de
casamento entre você e Jacob? Não vai acontecer! – riu. – Vocês não podem casar... porque são
irmãos!
– Do que você está falando?
– Alex descobriu que o seu pai e a mãe de Jake eram amantes... Vocês são irmãos.
– Isso não é verdade.
– Oh, é sim! – encarou-a com um sorriso convencido, antes de deixar a sala. – Agora Jacob está livre
para mim outra vez!
– Não... – Lacey disse baixinho, enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto. – Não... Não!
Saiu correndo pela cidade até chegar a sua casa e pegou seu carro, dirigindo quase sem ver até o
rancho. Aquilo não podia ser verdade. Não! Era só maldade de uma mulher desprezada, querendo
fazer com ela e Jacob... que eles terminassem. Não... repetia como um mantra enquanto se
aproximava cada vez mais do rancho.
Estacionou seu carro de qualquer jeito, a pressa em vê-lo, a necessidade de estar junto a Jacob
suplantando todas as outras. E lá estava ele. A sua espera. Lacey correu ao seu encontro e se jogou
em seus braços, as lágrimas que banhavam seu rosto não a impediam der ver-lhe os olhos marejados.
– Não pode ser verdade. – suplicou agarrando-se a ele. – Por favor, diga que não é verdade.
– Lacey... – a voz estava embargada.
– Donna... ela disse que nossos pais foram amantes. – murmurou em meio às lágrimas. – Que nós
somos irmãos.
– Pode ser verdade. – desviou o rosto sem suportar ver-lhe o sofrimento. – Pode ser qualquer um de
nós.
– Não. – Lacey estava descontrolada. – Não. Não. Não. – continuou a negar. – Não pode ser você...
Seus olhos se encontraram e o que Lacey viu refletido ali foi uma dor tão absurdamente grande
quanto a sua.
– Não. Não. Não. – bateu em seu peito esperando que ele negasse. – antes de deixar-se cair nos
degraus e gritar de dor e desespero.
Jacob socou a parede, impotente diante da dor que ela estava sentindo, impotente diante de sua
própria dor. Lacey batia suas mãos nos degraus de madeira, machucando-se, ferindo-se. Ele abaixou-
se e a segurou pelas mãos machucadas, seus olhos se encontrando.
– Oh, Jacob! – murmurou desesperada. – O que vamos fazer.
– Eu não sei. – ele disse abraçando-a apertado. – Eu não sei.
Ficaram ali abraçados, mergulhados em angústia e quase não perceberam David, completamente
arrumado, sair da casa, fechando a porta atrás de si até que ele parou em frente a eles.
– Vamos. – A voz era firme e poderosa.
Jacob foi o primeiro a perceber que o irmão falava com eles. Desvencilhando-se de Lacey encarou o
irmão, um tanto confuso.
– Vamos onde?
– Ao hospital. – David disse sucinto.
– Ao hospital? – Lacey questionou.
– Vamos fazer um exame de DNA e acabar com as dúvidas. – explicou impaciente. – Lucas e Kate já
estão lá.
Encaminhou-se para a sua moto e encarou os dois que ainda estavam parados nos degraus encarando-
o.
– Apressem-se!
Lacey apressou-se a entrar no carro, pelo lado do carona, deixando para Jacob a missão de dirigir.
Ainda não sabia como havia conseguido chegar ao rancho, no estado em que se encontrava.
Observando a forma como havia parado o carro, deu graças a Deus por não ter se envolvido em um
acidente. Dirigiram em direção ao hospital, com David acompanhando-os bem de perto em sua
Harley.
Não demoraram muito para chegar. Mesmo alguns minutos após desligar o carro as mãos de Jacob
seguravam o volante com força. Estendeu a mão e pousou-a sobre a dele, que a segurou por alguns
instantes num carinho, antes de soltá-la. Como poderia aceitar aquele homem como seu irmão? Agora
mesmo morria de vontade de se jogar em seus braços e nunca mais sair... Deus! Por favor...
Ryan veio recebê-los e os levou até a sala de coleta, onde Lucas aguardava ao lado de Kate, depois
de haver lhe explicado sobre a possibilidade de que Lacey fosse irmã deles. Com os olhos repletos
de lágrimas ela correu para os braços de Jacob e o abraçou, numa tentativa de consolá-lo.
A coleta de sangue foi rápida e Ryan prometeu que entregaria os resultados o mais rápido possível.
Depois de se despedir dos demais, Lacey se aproximou de Jacob antes que ele se afastasse.
– Jacob? – encarou-o. – E agora?
– Agora... – fechou os olhos para fugir do que via refletido nos olhos cor de mel. – Acho melhor nos
afastarmos até o resultado do DNA. – Eu não sei como lidar com isso. – ele continuou. – Melhor
ficar sozinho.
Lacey recuou como se houvesse levado um tapa. Ela fechou os olhos numa tentativa de conter a dor
que tomava conta de seu coração e ao abri-los viu os irmãos cercando-o. Secou uma lágrima
traiçoeira que escorreu por seu rosto, antes de dizer com a voz embargada.
– Mas você não está realmente sozinho. – tentou sorrir, mas foi uma tentativa inútil. – Eu tenho que ir.
Deu as costas para eles e se encaminhou apressada pelo corredor só parando ao encontrar a
segurança e a privacidade de sua sala. Trancando a porta, se apoiou nela, dando vazão a toda a sua
dor. Estava sozinha. Enquanto os soluços sacudiam seu corpo e as lágrimas banhavam seu rosto teve
a exata noção do quanto estava só. Como fora em toda a sua maldita vida.
– O que disse a ela?
Lucas esperou David afastar-se com Kate antes de perguntar, pronto para segui-la. Independente do
resultado dos exames gostava de Lacey como de uma irmã. Cortava-lhe o coração vê-la chorando.
– Vamos embora. – Jacob balançou a cabeça, lutando contra seu próprio desejo de correr atrás de
Lacey. – Vai ser melhor assim.
– Jacob...
– Por Deus, vamos embora! – suplicou encarando o irmão. – Não vê que deixá-la sozinha está me
matando?
Com um suspiro frustrado Lucas assentiu, acompanhando-o até a saída, alguns passos atrás. No
caminho, pegou o celular e discou o número de Summer.
– Olá, Raio de Sol!
– Lucas, que bom que ligou. – sua voz soava preocupada. – Como estão as coisas.
– Complicadas, Pequena. – tentou encontrar uma palavra melhor, e na falta de uma repetiu. –
Complicadas.
– E você?
- Estou bem. – disse rapidamente. – Prometi ligar quando acabasse aqui... Bem, estamos indo pra
casa.
– Eu estou aqui.
– Eu sei. – sorriu com o pensamento. – Eu sei.
Desligou o celular e entrou na caminhonete, onde Kate e Jacob aguardavam. David em sua Harley já
sumia de vista quando ligou o veículo e seguiu-o. Haviam feito boa parte do caminho, quando Kate
se manifestou.
– Lacey vai ficar bem?
Lucas olhou para o irmão que parecia derrotado ao seu lado, e arqueou a sobrancelha, aguardando.
Jacob suspirou antes de responder a irmã.
– Ela vai ficar bem. – garantiu sem nenhuma certeza. – Vamos todos ficar bem.
Fechou os olhos e pediu aos Céus fervorosamente que ficassem bem. Não conseguia pensar em Lacey
como sua irmã e que Deus o ajudasse se aquele exame desse positivo. Cortara seu coração deixá-la
sozinha, mas, não tinha controle sobre os seus sentimentos. Tinha medo de acabar fazendo alguma
besteira se ficasse ao lado dela. Mas, deixá-la sozinha foi errado de sua parte... Pegou o celular e
ligou para o hospital, esperando pacientemente enquanto tentavam localizá-la.
– Drª Lacey Michels falando.
A voz soava rouca, fazendo-o perceber o quanto ela havia chorado. Sentia-se um canalha.
– Eu amo você.
– Jacob! – ouvi-lo era como um bálsamo para o seu coração ferido.
– Eu precisava dizer isso.
– Eu também amo você. – disse num sussurro.
Ficaram em silêncio alguns instantes. Havia tanto a dizer, porém o mais importante já fora dito.
– Você deveria ter um aparelho celular. – Jacob disse por fim. – Foi difícil encontrá-la no hospital.
– Vou pensar nisso. – Lacey riu do assunto tão trivial em meio ao caos que estavam vivendo. –
Prometo que vou pensar nisso.
Ficaram em silêncio mais alguns instantes, antes que ela dissesse a contragosto.
– Tenho que ir...
Despediram-se relutantes. Depois de desligar o telefone, Jacob recebeu o olhar de aprovação do
irmão, que lhe sorria. Kate, bem mais efusiva, levantou-se no banco de trás e agarrou-o pelo pescoço
num abraço apertado.
– Vai ficar tudo bem.
Capítulo XIV

Os dias pareciam se arrastar enquanto esperavam o resultado dos exames. Lacey ocupava todos os
seus dias com trabalho, aceitando plantões extras e atendendo no pronto socorro. Tudo o que podia
fazer para não pensar em Jacob e no fato de que eles poderiam ser irmãos.
Comprou um celular. Agora Jacob podia encontrá-la a qualquer momento e o fazia. Quando o
desespero tomava conta do seu coração e achava que não ia agüentar ouvia sua voz garantindo que a
amava e que tudo ficaria bem. E as noites... era sua vez de ligar. Falam sobre os acontecimentos do
dia ou sobre qualquer outra coisa que colocasse distante o assunto que realmente os preocupava. E se
depois dos telefonemas, quando ela se via sozinha, desabava e se entregava ás lágrimas... era só o
medo por tudo que poderia perder.
A sexta-feira amanheceu chuvosa, mas não quis pensar nisso como um mau sinal. Ryan havia ligado
para dizer que o resultado do DNA estava pronto e que os levaria para o escritório de Alex, já que o
irmão avisara que descobriu novas informações. Os Bennett também foram informados e estariam lá
no horário marcado.
Sentia-se inquieta, aquela sensação de quem desejou tanto uma coisa e quando ela está para
acontecer... um medo paralisante faz você desejar adiar o momento, simplesmente porque não sabe o
que fazer caso as coisas dêem errado. Com o espírito combalido, arrumou-se para encontrar seu
destino.
– Vocês podem se apressar? – Jacob gritou da sala, impaciente.
Estava aguardando os irmãos para que fossem juntos ao escritório de Alex receber o resultado do
DNA e as informações novas sobre o caso entre sua mãe e o pai de Lacey. Céus! Se não estivesse
realmente vivendo essa situação, acreditaria se tratar de um roteiro de algum drama hollywoodiano.
Quando os irmãos desceram as escadas respirou aliviado. Tinha a necessidade de saber. Caminhou
em direção a porta, mas, a voz do irmão o deteve.
– Preciso conversar com você. – David anunciou e esperou que Lucas e Kate saíssem antes de falar,
demonstrando que sabiam previamente dessa conversa.
– O que houve?
– Quero que prometa não fazer nenhuma besteira.
– David...
– Eu desejo do fundo do coração que a resposta do exame seja que você e Lacey possam ficar juntos,
mas se não for... – balançou a cabeça enfatizando. – Prometa que não vai pirar.
– Não posso prometer isso. – Jacob disse.
David passou a mão nos cabelos e afastou-se nervoso, antes de novamente parar a sua frente e dizer
num tom que não parecia ser o dele.
– Há mais ou menos um ano eu conheci uma mulher e soube que seria pra sempre. – a dor
transformava sua face. – Eu ia trazê-la para o rancho, casar com ela e... – sua voz ficou embargada. –
Bem... ela morreu.
Jacob praguejou, percebendo que as mudanças no comportamento de David tinham raízes numa dor
profunda e recriminou-se por não ter percebido. Seu irmão suportara tudo sozinho e só estava
contando agora por um bom motivo.
– Eu achei que não conseguiria. – disse, sua voz novamente firme. – Mas estou aqui. Então prometa
que independente do que aconteça vai estar aqui também.
– Eu prometo.
Sua voz estava segura quando fitou o irmão. Se David conseguira suportar a dor e continuar vivendo,
ele também conseguiria. Afinal, mesmo que Lacey não pudesse ser sua mulher, ainda estaria viva. A
viagem do rancho até o escritório de Alex foi feita num silêncio tenso, cada um deles mergulhado em
seus próprios pensamentos até que Kate disse.
– Eu gostaria de ter uma irmã. – sorriu de lado. – Seria diferente... para variar.
– Diferente como, hein bruxinha? – Lucas perguntou fingindo-se ameaçador.
– Mais divertido? – ela se esquivou do irmão que tentava bagunçar seu cabelo.
– Estou magoado. – Lucas espalmou a mão no coração. – Pensei que garantisse a diversão de toda a
família!
Kate gargalhou. Até mesmo Jacob e David sorriram. Lucas e Kate piscaram cúmplices, antes dela
jogar-se nos braços do irmão e receber um carinho. Quando chegaram ao escritório, apesar da tensão
visível, pareciam um pouco mais leves.
A primeira coisa que Jacob viu foi Lacey, sentada em uma poltrona, as mãos entrelaçadas no colo e
os pés batendo ritmicamente no chão. Ela estava nervosa... e estava linda. Ela se levantou ao vê-lo e
após um momento de indecisão se jogou em seus braços. Abraçaram-se por alguns segundos antes
que Lacey fosse falar com seus irmãos.
– Vamos acabar logo com isso. – David disse olhando Ryan nos olhos.
O médico e amigo assentiu e pegou o envelope, retirando as quatro folhas ali impressas e lendo-as
antes de dizer.
– Negativo para Jacob.
David deu um soco no ar, e Lucas rodopiou com Kate pela sala. Lacey murmurou um agradecimento
antes de jogar-se mais uma vez nos braços de Jacob, que parecia em estado de choque. Não sabia se
ria ou se chorava, ou que palavras usar para demonstrar o tamanho da sua felicidade. Jacob a olhou
nos olhos e tomou seus lábios num beijo que traduzia todos os seus sentimentos, enquanto Kate batia
palmas e Lucas assobiava.
– Bem querem saber os outros resultados? – Ryan perguntou sem esconder a felicidade pelos amigos.
– Sim, por favor. – Jacob disse, sem soltar Lacey.
– Deu negativo para David, negativo para Lucas e... positivo para Kate.
– Bem, bruxinha. – Lucas bagunçou-lhe o cabelo. – Parece que você ganhou uma irmã!
Lacey puxou Kate para um abraço e Jacob abraçou as duas mulheres da sua vida. Tornaram a sentar
ainda eufóricos com as notícias, para que Alex contasse o que havia descoberto.
– Bem, o que eu descobri casa perfeitamente com o resultado do DNA. – sorriu. – Como eu já havia
dito, Lily Nowels e Simon Michels foram namorados na adolescência. Ela era uma moça de uma
família tradicional que aproveitou o fato de Simon estar longe para arranjar o casamento dela com
Jackson Bennett. Quando Simon voltou, Lily e Jackson Bennett tinham dois filhos.
– Jacob e eu. – David disse.
- Sim. – Alex confirmou, antes de continuar. – Ao que parece Simon tentou convencer Lily a separar-
se de Jackson e fugir com ele, mas, além do medo de perder os filhos e da reação dos pais, ela
descobriu que estava grávida novamente.
Todos olharam para Lucas e Alex assentiu.
– Dizem que a bebedeira de Simon aquele dia entrou pra história, principalmente porque foi então
que ele conheceu a garçonete, Eliza Colbert, mãe de Lacey. Nannete me contou que sua mãe ficou
furiosa e que sua briga com Simon por conta da traição foi algo digno de nota.
– Ela era casada! – Jacob disse incrédulo. – Como meu pai reagiu a isso?
– Ainda, segundo Nannete... – Alex fez um esgar. – Jackson não sabia de nada. Era apaixonado pela
esposa... e afinal, ela ficou com ele.
– Não realmente. – Lucas disse, bagunçando o cabelo da irmã.
Alex encarou Kate, como se só naquele momento percebesse presença da menina. Sentiu-se um tanto
constrangido em expor o relacionamento dos pais a adolescente.
– Kate é uma menina inteligente e eu já expliquei, mais ou menos, a história. – Lucas disse,
liberando-o. – Pode continuar.
– A mãe de Lacey morreu ao dar a luz e Simon viajou em busca da irmã para que ajudasse a criá-lo.
Não se tem conhecimento de quando, exatamente, ele e Lily reataram, mas, sabe-se que a última
gravidez pegou a todos de surpresa. Jacob estava próximo de completar dezoito anos quando Kate
nasceu... Talvez isso tenha feito com que sua mãe tenha decidido se divorciar e ir morar com Simon.
– Mas... meus pais não se divorciaram. – David disse confuso.
– Não houve tempo. – Ryan intrometeu-se.
– Jackson e Lily estavam indo para Tyler dar entrada nos papéis quando aconteceu o acidente. – Alex
fez uma pausa. – Dizem que Simon ficou meio louco com a notícia, que até achou que não foi
acidente... e então, suicidou-se. Jacob ficou com a guarda dos irmãos e Zelda com a de Lacey.
– Que história triste. – Kate murmurou.
– Não era pra ser. – David disse pensando em sua própria história.
– Bem... ainda tem mais. – Alex disse e encarou Lacey.
– Tia Zelda. – disse com um suspiro.
– Sim. – confirmou. – Antes de... bem, antes do seu pai morrer ele fez um documento deixando seus
bens para as duas filhas. Zelda seria a responsável por administrar o dinheiro até que você atingisse
a maioridade. – Alex passou-lhe um documento. – Você passaria a ser a responsável por sua herança
e a de Kate... Provavelmente seu pai supôs que seriam próximas. – deu de ombros. – Acredito que
não imaginou que a irmã esconderia o assunto.
– Mas por quê? – Lacey questionou. – Por dinheiro?
– Por muito dinheiro – Alex corrigiu. – Simon deixou uma verdadeira fortuna para as duas filhas.
Enquanto vocês não reivindicassem a herança, sua tia continuaria recebendo os rendimentos mensais,
algo em torno de dez mil dólares.
– Uau! – Lucas exclamou, traduzindo a surpresa de todos.
– Mas... Como...?
– Petróleo. – explicou. - Quando voltou da guerra, seu pai comprou terras próximas a Springville...
alguns anos depois descobriram petróleo.
– Puxa vida! E minha tia sabia disso?
– Velha bruxa!
– Jacob!
– Aquela mulher sabia sobre Kate. – disse. – Podia não saber sobre nós, mas sabia sobre Kate e
escondeu todos esses anos!
– A cidade inteira sabia, pelo jeito. – David disse carrancudo.
– Não realmente. – Alex interveio. – Eles eram discretos e poucas pessoas sabiam. A maioria
inclusive já faleceu. Nem mesmo Nannete tinha certeza sobre a maior parte das coisas.
– E agora? – A pergunta foi de Lucas, mas poderia ser de qualquer um deles.
– Se Lacey concordar, darei andamento ao processo da herança. – Alex disse e em seguida
completou. – Você pode processar sua tia...
– Não. – disse apertando as mãos. – Apesar de tudo, ela é a única família que eu tenho.
– Não mais. – Jacob disse apertando-a em seus braços. – Agora você tem a mim.
– E a mim! – Kate disse abraçando-a apertado. – E Lucas... e David...
– Ainda assim, não quero processar tia Zelda. – disse e encarou Alex.
– Tudo bem. – ele piscou. – Você que manda.
A poucos metros dali, depois de ouvir atrás da porta, Donna Chandler arremessava algumas peças de
porcelana na parede. Descobrir que Lacey e Jacob não eram irmãos acabara de vez com seus planos
de reatar com o cowboy, mas, o pior fora descobrir que aquela coisinha insignificante acima do peso
era milionária. Outro vaso se espatifou na parede e gritos furiosos puderam ser ouvidos a distância.
Capítulo XV

Jacob empurrou Lacey para dentro do quarto e fechou a porta pressionado-a contra a madeira antiga
e distribuindo milhões de beijos em seu rosto e pescoço, suas mãos se aventurando por baixo de sua
blusa.
– Jacob! – Lacey exclamou ofegante. – Seus irmãos...
– Kate está dormindo. – finalmente encontrou o fecho do sutiã. – E meus irmãos são bem grandinhos.
– Mas... – gemeu quando os dedos buscaram seus mamilos. – Eles podem ouvir...
Jacob removeu sua blusa e encheu suas mãos com seus seios, acariciando-os suavemente antes de os
dedos atritarem os botões túrgidos, enviando descargas elétricas por todo o seu corpo antes de
sussurrar de encontro ao seu ouvido.
– É só você não gritar.
Os lábios deslizaram de sua orelha, passeando por seu pescoço antes de chegarem aos seios, onde os
dedos continuavam fazendo sua mágica. Quando a boca morna lambeu-lhe o mamilo arqueou-se em
sua direção, ansiosa e quando ele passou a sugar com vontade ela pressionou a mão na boca para
segurar o grito de prazer que quase escapou de seus lábios.
– Tem idéia de como senti sua falta? – as mãos trabalhavam para retirar o restante de suas roupas. –
Preciso sentir você.
– Sim...
Suspirou suas mãos avançando por seu peito e acariciando-o, enquanto dava um passo para o lado
saindo da poça formada por suas roupas. Sua mão esbarrou na cintura da calça jeans de Jacob.
– Você ainda está vestido.
Desabotoou a calça e puxou-a para baixo, junto com a cueca, apenas o suficiente para liberar a
ereção imponente erguida imponente de encontro as suas mãos. Acariciou o membro quente e
latejante, encontrando a umidade da ponta e espalhando-a.
Jacob estremeceu e praguejou. Correu os dedos entre suas pernas, verificando se estava pronta, antes
de suspendê-la pelas nádegas, imprensá-la novamente de encontro à parede e penetrá-la com um
único movimento.
Lacey apoiou-se em seus ombros e pressionou as pernas de encontro aos seus quadris facilitando os
movimentos de vai e vem que pareciam cada vez mais rápidos. Mais fortes. Mais intensos. Ele
grunhiu de encontro ao seu pescoço. Ela gritou e o apertou dentro de si quando seu corpo enrijeceu
num orgasmo violento.
Quando o prazer era apenas um eco, deu-se conta dos corpos embaralhados de encontro à porta,
ainda meio vestido, segurando uma Lacey nua em seus braços. Deus! Não havia nem mesmo tirado a
roupa! Carregou-a até o banheiro, disposto a cuidá-la. Depois de um banho demorado e enxugar seu
corpo com cuidado, deitou-a nua em sua cama, ignorando os pedidos de Lacey por algo para vestir.
Abraçando-a apertado, apoiou o queixo em sua cabeça e aspirou o perfume de seus cabelos antes de
confessar.
– Gosto de olhar pra você. – ele disse. – E depois... a noite apenas começou.
Lacey bufou de encontro ao seu peito e apesar de acreditar verdadeiramente em suas palavras não
conseguia entendê-lo. Seu corpo não era nenhuma obra de arte e Jacob já tivera mulheres lindas, com
corpos esculturais em sua vida...
– Gosto de olhar pra você, de sentir você... – ele continuou, erguendo seu corpo para apoiá-la em seu
peito e olhando em seus olhos confessou. – Você não tem idéia do poder que possui sobre mim...
Espalmou as mãos no rosto másculo em uma carícia e beijou-o de forma apaixonada, agarrando-se a
ele como se nada mais no mundo existisse e então deixou escapar.
– Tive tanto medo de te perder. – escondeu o rosto em seu pescoço. – Ainda tenho...
– Lacey! – tentou encará-la, porém ela recusou-se a deixar o esconderijo. – Não existe a
possibilidade de sermos irmãos. Do que tem medo?
– Tenho medo que apareça alguém... – respirou fundo e aspirou o perfume dele. – Que você se
apaixone por alguma mulher mais bonita e magra que eu... Alguém como Donna.
– O quê? – bufou frustrado e segurou-a de forma a olhá-la. – Aquela mulher foi um erro, eu já disse
isso, vai me condenar por esse erro pra sempre?
– Não, não é isso...
– E desejar que eu me apaixone por alguém como ela? – fez um careta. – Acaso você me odeia pra
me desejar tanto mal?
– Não eu só... – fechou os olhos, desesperada.
– Sério eu pensei que você gostasse de mim!
– Eu gosto... – sentiu-o tremer embaixo de suas mãos. – Eu amo você... eu...
Jacob não conseguiu conter o riso divertido, que escapou de seus lábios até transformar-se em uma
gostosa gargalhada. Lacey abriu os olhos e encarou-o, entre surpresa e indignada.
– Isso não foi engraçado.
– Claro que foi. – ele disse e encarou-a sério. – O que você diria se eu confessasse que tenho medo
que você encontre um médico bonitão, tão inteligente quanto você e me deixe?
– Não esta falando sério... – Quando ele nada disse, exclamou. – Oh, isso é ridículo! – Ele continuou
encarando-a, até que ela bufou impaciente. – Nunca vou deixar você... nunca vou deixar de amar
você.
Jacob segurou seus cabelos e aproximou seu rosto para tomar sua boca num beijo lento, doce, repleto
de amor e carinho.
– Você ainda não entendeu que eu amo você? – beijou-a novamente. – Só você.
Beijaram-se outra vez, antes de Lacey voltar a deitar a cabeça em seu peito, ouvindo o bater
compassado de seu coração e suspirar feliz. Apesar do dia – e da noite – terem sido agitados, não
estava com sono e ao que parecia ele também não.
– Tem certeza que não vai denunciar sua tia?
– Sim. – Levantou a cabeça para ver sua reação e voltou a repousá-la em seu peito. – Ela está velha e
doente... Eu preferia esquecer tudo isso.
– Tem certeza? – Jacob ainda preferia ver aquela bruxa velha na cadeia.
– Não vai me fazer recuperar o tempo que perdi com Kate. – murmurou, mergulhando os dedos nos
pelos de seu peito. – Além disso, ela vai ficar sem o dinheiro... Isso já vai ser um castigo.
– Verdade. – suas mãos deslizaram pelas costas nuas. – E se você prefere assim, também não vou
denunciá-la.
– Mesmo? – encarou-o com os olhos brilhando.
– Mesmo. – exalou o ar pesadamente. – Deixando claro que faço isso apenas por você.
Beijou-o apaixonadamente, e por que não, com um pouco de gratidão. Apesar de todo o mal que sua
tia havia feito não conseguiria viver em paz se a denunciasse. Ela abdicara de sua vida para ajudar a
criá-la quando seu pai se viu sozinho. E se não foi como uma mãe, ao menos esteve presente quando
ela precisou.
– Obrigada.
– Vamos deixar sua tia de lado e falar de coisa boa. – puxou seu corpo pra que se encaixassem
melhor. – Nosso casamento.
– Nosso casamento! – suspirou feliz.
– O que você acha de sábado?
– Quer casar em um sábado?
– Não em um sábado qualquer. – sorriu. – Este sábado.
– Amanhã? – perguntou assustada. – Não pode estar falando sério.
– Por que não?
– Não temos como organizar um casamento em um dia! – respirou fundo. – Os documentos...
– Tudo bem. – Jacob concordou. – Sábado que vem.
– Uma semana!
– Uma semana e nem um dia a mais. – respondeu. – Não quero ficar longe de você.
– Jacob...
– Nossos pais perderam tempo e se perderam. – disse interrompendo-a. – David não teve tempo... –
respirou fundo. – Não quero perder um minuto da minha vida sem você.
Lacey o encarou e o que viu em seus olhos foi o suficiente para que não restassem dúvidas de que
casaria com aquele homem onde, quando e como ele quisesse. Por que ele tinha razão em não querer
perder tempo. E ela o queria pra sempre. Simples assim.
– Sim. – suspirou.
– Sim?
– Sim. – disse e passou a distribuir beijos em seu rosto pontuando-o com a palavra mágica. – Sim!
Eles riram felizes em meio aos beijos. Em minutos os beijos se tornaram mais lentos e demorados e o
riso foi substituído por gemidos. Tornaram a se amar, dessa vez lentamente. Cada carícia era uma
declaração de amor, uma promessa de um futuro feliz. Lacey nem se deu conta que estava chorando
até Jacob secar suas lágrimas e enchê-la de beijos. Não queria vê-la chorando, não queria que nada a
assustasse ou fizesse sofrer. Queria protegê-la e cuidar dela, fazer com que todos os seus dias fossem
felizes.
Quando os corpos suados estavam no limite penetrou lentamente no corpo receptivo, que o envolveu,
pulsando ao seu redor elevando seu prazer as alturas. As unhas de Lacey fincaram-se em suas costas
marcando-o enquanto a preenchia uma e outra vez. Sugou-lhe os seios e sorriu ao ouvi-la gritar
deliciada. O clímax veio coroar o momento de intimidade, arrastando-os no turbilhão de prazer. No
fim, com os corpos suados e cansados depois do ato de amor, abraçaram-se entregues. O sono se
aproximou, mas, antes de deixar-se levar por ele, Lacey usou o restante de suas forças para levantar
a cabeça e encará-lo emocionada.
– Eu te amo.
– Amo você.
Trouxe-a de volta para os seus braços e entrelaçaram as mãos.
– Pra sempre.
– Pra sempre.

FIM
Epílogo

O Rancho dos Bennett estava em clima de festa. Mesas espalhadas pelo terreno, forradas com toalhas
brancas e com belíssimos arranjos de flores do campo. Um pequeno altar foi montado para a
cerimônia religiosa ministrada pelo pastor Isaiah. Jacob estava todo garboso em seu fraque
aguardando Lacey que surgiu num vestido branco tomara-que-caia, os cabelos presos em um coque
repleto de flores. Antes dela, Kate percorreu o altar em um lindo vestido azul, tão bonita quanto uma
princesa de contos de fadas. A cerimônia foi linda, ainda que no momento do “sim” os convidados
tenham caído na risada quando Lucas em alto e bom tom avisou que se o irmão não dissesse “aceito”,
ele aceitaria.
David observou os convidados espalhados pelas mesas dispostas no gramado dos fundos da grande
casa do rancho, comemorando o casamento de Lacey e seu irmão. Ela estava uma coisinha linda, mas
ainda mais bonito era o sorriso estampado em seu rosto. Seu irmão também parecia estar explodindo
de felicidade.
Não acreditara realmente que conseguiriam organizar um casamento em uma semana, porém, ali
estavam eles depois de trocarem os votos tão cheios de amor que acabaram emocionando a todos os
convidados. Deu a volta na casa, afastando-se de toda aquela alegria. Não que não estivesse feliz
com o casamento e a felicidade que seu irmão conquistara, simplesmente doía demais saber... que
perdera a chance ter algo assim.
Passou pela cozinha e pegou uma cerveja, antes de sentar-se na varanda da frente. Estava perdido em
lembranças e pensamentos quando observou um pequeno carro vermelho aproximar-se. Algum
convidado chegando atrasado pensou tomando mais um gole de cerveja. Observou o carro se
aproximar e parar quase em frente à porta e aquilo chamou sua atenção, porém não mais que
reconhecer a mulher que saiu do carro. A garrafa caiu de sua mão e espatifou-se no chão com um
barulho que encobriu suas palavras.
– Mary?
Títulos da Autora

Série Amor Eterno


Elisabeth
Corações em Jogo
Sempre te Amei
Diamante Negro
Apostando no Amor

Trilogia Irmãos Angelis


Anjo da Sorte
Anjo da Esperança
Anjo da Tentação

Clube do Buquê
Pedido de Casamento
Núpcias dos Sonhos
Bodas por Interesse
Não Quero Casar!

Trilogia Irmãos Bennett


Jacob
David
Lucas

Trilogia A Espera de um Anjo


Um Anjo ao Amanhecer
Um Anjo ao Entardecer
Um Anjo ao Anoitecer

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