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Elizabeth Petty
PROJETO REVISORAS
Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
CAPÍTULO I
Era uma linda manhã de maio, daquelas que dá vontade de cantar e de sair
para um passeio. Anna Forster sentia-se cheia de vida e resolveu não dar atenção a
algumas nuvens escuras que surgiam ao longe, concentrando-se em guiar seu
pequenino carro, a caminho do hospital.
Sentiu o perfume das macieiras, que vinha de ambos os lados da estrada. As
árvores estavam cobertas de botões, e o azul do céu salientava ainda mais o rosado
das flores.
Pena que na primeira chuva a maioria dos botões iriam se espalhar pelo chão.
Adorava aquela parte de Kent, pois parecia calma e saudável, em contraste com o
movimentado hospital-escola, em Londres, onde trabalhava nos últimos anos.
No começo, sentiu falta de tudo. Das amigas, dos médicos, da equipe toda. Mas
ela mesma tinha pedido transferência para o Hospital Calderbury, no interior, e agora
não se arrependia mais da escolha.
Morava na casa dos pais. Era uma casa redonda, um antigo moinho que seu
pai transformara em residência. Ele havia construído também um pequeno
apartamento nos fundos, para a avó. Quando o convidaram para trabalhar num projeto
especial na Islândia, durante dois anos. quis levar a esposa. Mas havia um problema:
quem tomaria conta da mãe dele? Vovó não podia ficar sozinha, embora insistisse que
era capaz de cuidar de si mesma.
Então, Anna tomou a decisão. Apesar de saber que o Hospital Calderbury era
pequeno e antiquado, dentro de pouco tempo se sentiria adaptada e gostando do
serviço.
Olhando o relógio, viu que ia chegar em tempo. Estava a poucos quilômetros do
centro da cidade e não queria se atrasar porque o assistente do dr. Lonsdale, o
cirurgião-chefe, estaria examinando seus pacientes pela primeira vez.
Anna ainda não o conhecia, mas já o tinha visto na sexta-feira, quando descia a
escada, saindo do hospital, para gozar seu fim de semana. Reparou que ele
caminhava com passos firmes e decididos e, ao sair da sala de operações, tinha
entrado na enfermaria.
Era mais alto do que o clínico-geral, com a cabeça um pouco inclinada para a
frente, como se estivesse sempre atento. Tinha cabelos lisos e curtos, que apareciam
por baixo do gorro da cirurgia.
Sem saber por quê, Anna o achou desprotegido. Estava ansiosa para trabalhar
com ele como enfermeira-auxiliar.
De repente, teve de frear com toda força porque um jipe saiu derrapando de
uma curva. Reconheceu os cabelos loiros de Mervyn Abbot. Ele, os irmãos e o pai
eram donos de muitas fazendas e viviam perto da casa dela.
Aiina tinha sido convidada para um churrasco típico no rancho dos Abbot, no
próximo fim de semana, e esperava, ansiosa, a ocasião. O último churrasco a que
tinha comparecido foi muito divertido, pois eles eram pessoas bem agradáveis.
Entrou na estrada principal e deparou com um engarrafamento. Por que tinham
que consertar a entrada numa manhã de segunda-feira? Pareceu demorar séculos,
até que conseguiu passar.
Agora, estava nervosa e sua alegria de viver havia desaparecido. Ainda bem
que Jill Slade, a outra enfermeira, já devia ter preparado tudo. A enfermeira Grant era
de confiança, apesar de ser apenas uma estagiária do segundo ano. E a enfermeira
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queno veículo sumir de vista é que se voltou para os leitos dos doentes.
Anna, mais tranquila agora, estava alegre. Depois de deixar Jill no ponto de
ônibus, seu cansaço começou a desaparecer, e foi com prazer que dirigiu até Oast
House, onde morava com a avó.
Ali, as árvores cheias de flores amarelas tinham os ramos curvos quase até o
chão. De repente, Anna se sentia esperançosa, como se o futuro estivesse cheio de
promessas. Como se a fase mais feliz de sua vida estivesse começando. Sorrindo,
lembrou do momento em que a manga do dr. Keslar tinha tocado em seu braço.
Abriu o portão e viu que a avó a esperava.
Aos setenta anos, Jane Forster ainda era uma mulher bonita e saudável. Seus
cabelos brancos brilhavam ao sol da tarde e o conjunto azul parecia muito elegante.
Veio ao encontro da neta.
— Olá, vovó. Teve um bom dia?
— Ótimo,. querida. E o seu?
— Duro.
Caminhavam juntas para casa e Anna sentiu que não ia conseguir guardar as
novidades.
—- Já falei tjue temos um novo assistente?
A sra, Jane fez que sim e percebeu o tom de entusiasmo na voz da neta.
— Sim, você falou. Que tal é ele? Estão se dando bem?
— Oh, naturalmente. Ele é. . . um pouco fechado. Isto é, vai ser difícil conhecê-
lo bem, como pessoa. A não ser que se revele.
— É bonito? Alto e magro ou baixo e gordo?
— Ora, vovó! Não é bonito, mas tem olhos simpáticos e um rosto forte. É meio
imprevisível. Fala o que pensa, mas entende os pacientes com tanto carinho. E fez um
bom trabalho, hoje.
— Um bom resumo. É casado?
— Não sei. Vou trocar de roupa e levar Shane para passear. O jantar está com
um cheiro delicioso. O que preparou, vovó?
— Só uma carne assada, querida. Com um vinho tinto do seu pai...
— Ele vai matar você, vovó. — Anna sorriu. — Só mais duas semanas, e eles
estarão aqui, para os feriados. Será tão bom vê-los de novo!
— Sim. Foi no Natal passado que vieram pela última vez. Nem imagino como
seja o Natal na Islândia. Talvez, mais gelado do que o nosso. Mas as pessoas devem
se divertir como nós. Gostaria tanto de ir lá!
— Talvez você vá. O clima é bom durante o verão. Li que lá o índice de
mortalidade é muito baixo. Eles podem nos ensinar muitas coisas sobre a vida simples
e uma boa dieta alimentar.
-Fazem o que podem. Por falar nisso, nosso jantar estará pronto dentro de meia
hora. — Certo. Vou trocar de roupa.
Minutos depois, de saltos baixos e calça comprida, Anna enveredou pelo
bosque. Tudo ali parecia muito calmo e colorido. Ainda havia flores azuis e rosas, e
botões púrpuras que em breve iriam se abrir. Respirou fundo, encantada com tanta
beleza. Queria desesperadamente dividir aquilo com alguém. Mas o silêncio era total
Por outro lado, o silêncio a fez pensar na parte mais movimentada de sua vida:
o hospital, a dor, o drama nas enfermarias e salas de operações, as decisões rápidas
dos médicos, que muitas vezes salvavam vidas.
Tinha resolvido ser enfermeira quando ainda estava no curso primário, depois
de ver o cuidado que dispensaram a seu avô, num leito de hospital, durante muito
tempo.
Percebeu a dependência dos doentes e a falta de enfermeiras no país. Mais de
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CAPITULO II
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Caía uma chuva fininha no dia seguinte, quando Anna levantou. Sentia-se
impaciente, sem motivo algum. Hoje, não ia enfrentar nem metade das dificuldades da
véspera pois chegaria muito mais cedo. Trocou de roupa e arrumou a touca, depois se
preparou para o plantão, garantindo a si mesma que tudo daria certo.
O dr. Keslar também chegou cedo e vinha pelo corredor, apressado, depois de
examinar um paciente na Enfermaria Rowan. Ao ver Anna, apertou o passo. Sempre
tinha feito questão absoluta de não atravessar a linha que separava os médicos das
enfermeiras, mas aquela garota era diferente.
— Bom dia — murmurou, e passou por ela, entrando na sala.
Anna deu início às atividades do dia, indo pegar os raios-X e mal teve tempo de
cumprimentar Jill, ocupada com dois pacientes e uma pilha de relatórios.
Quando se aproximou do dr. Keslar, ele estava de frente para a janela,
observando a chuva caindo sobre os carros, no estacionamento. Preparou-se para
encará-la.
— Ê tudo que temos? — ele perguntou, pegando as radiografias e tocando a
mão dela por um segundo.
— Não; deixei os do dr. Lonsdale sobre a mesa dele.
— Sabia que ele vai chegar atrasado?
— Ele geralmente gosta de ir para as enfermarias, nas terças-feiras, e só
desce às dez horas.
— Entendo. — Olhou o relógio. — Ê melhor começarmos, então. Primeiro, o sr.
Handly.
Ela mandou a enfermeira Willis trazer o paciente e ficou esperando, até o dr.
Keslar levantar os olhos.
_ Vou examinar o sr. Handly, enfermeira. Por favor, vá prepará-lo.
Alguma coisa o estava perturbando naquela manhã, Anna percebeu. No
entanto, tudo parecia sob controle. Havia um tom ligeiramente frio na voz dele. O que
ela teria feito de errado? Sentiu que sua resistência diminuía diante da forte
personalidade dele. Se a enfermeira Slade não o achava dinâmico, ia ter uma
verdadeira surpresa quando trabalhassem juntos.
Cada instante parecia planejado e calculado cuidadosamente e ele tinha um
nível profissional dificilmente demonstrado por assistentes.
Durante as primeiras horas, dois pacientes foram atendidos em situação de
emergência. Uma senhora, cliente do dr. Lonsdale, que sentia dores no abdome por
causa de uma hérnia estrangulada — o dr. Keslar descobriu logo que ela precisava de
uma operação urgente e encaminhou a mulher e o marido para a Enfermaria Rowan
— e um rapaz que desmaiou no consultório, quando o médico começou a lhe fazer
perguntas. Era novo e sua ficha tinha de ser preenchida com vários detalhes. Idade:
22 anos. Solteiro. Forçado a ir ao hospital por causa de uma dor intermitente. O seu
avô é quem recomendara.
— Por que aguentou essa dor por tanto tempo? — o dr. Keslar perguntou,
observando a ficha.
— Não posso nem pensar em operação — ele estremeceu ao falar. — A dor às
vezes desaparece, mas...
—-Agora está pior?
—- Sim, Eu... ai! — ele se inclinou para o lado e apertou o abdome. Suava
muito, e Anna, naquele momento, pensou a mesma coisa que o médico. Seus olhos se
encontraram, sabendo que o caso era de emergência.
— É aqui que dói, sr. Young? Sabe que precisamos tirar seu apêndice agora
mesmo?
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chão. Seus dedos não estavam conseguindo se fechar. Sentiu-se enjoada e curvou-se
para pegá-las, fechando os olhos para não ver a expressão de raiva do dr. Keslar.
— Vou pegar outras, no esterilizador,
.— Claro. Tem de; pegar. Deve haver outras por aqui... -— Não. Desculpe.
— Devia haver. Da próxima vez, cuide para que haja.
Ele também estava suado. Se estivessem numa cirurgia, ela limparia o suor de
sua testa, mas, ali, ele parecia muito distante. Entretanto, quando se virou para falar
com o paciente, sua voz era muito gentil.
Anna começou a pegar as ataduras sobre a mesa. Pelo menos, aquelas já
estavam prontas.
Que havia de errado com ela? Verdade que os trovões a perturbavam
fisicamente,mas devia haver algo mais. O dia tinha sido muito corrido e agitado,
Precisava esfriar a cabeça, mas não estava conseguindo. Apressão era cada vez
maior.
Não devia estar me sentindo tão cansada, pensou. Mas estava completamente
exauta; principalmente porque só tinha uma estagiária puni ajudá-la. Provavelmente, a
enfermeira Slade passava pela mesmo situação. Tinham se visto apenas algumas
vezes, quando uma ou outra abria a porta.
Vamos fazer um curativo também — ele disse.
Anna pegou a gaze do tamanho certo. Sentiu-se tonta e procurou se apoiar
numa cadeira. A gaze caiu de sua mão e desenrolou pelo chão, indo parar num canto
da sala. Ela olhou, sem acreditar.
— Oh, não!
Depois ficou pensando se teria gemido em voz alta, antes de pegar o rolo e
jogá-lo fora. Foi buscar outro e, então, percebeu que Paul Keslar estava a seu lado,
segurando gentilmente seu pulso.
Logo que o paciente saiu, ele a chamou. Estava zangada e inquieta, não queria
enfrentá-lo. Ao tocá-la no pulso, ele havia criado outro impacto. O coração de Anna
reagiu de modo estranho, e ela não podia ignorar isso.
— Sente-se, enfermeira.
— Temos ainda três pacientes. . .
— Sente, Está trabalhando como um autômato, desde as oito e meia da
manhã. Está passando bem?
— Nunca fiz tantas bobagens. Nem no meu primeiro ano de trabalho.
Desculpe...
— Esqueça. Eu que lhe devo desculpas. Provavelmente, está esgotada. O dr.
Lonsdale já pediu outra enfermeira para amanhã. O atual esquema de trabalho é
absurdo.
— Trabalhamos assim há muito tempo, dr. Keslar.
—- Parece que há outras coisas erradas por aqui, além da falta de enfermeiras.
Mas, não importa a minha opinião sobre isso, eu não devia ter descarregado minha
frustração em você. Desculpe. Agora, pode sair para o chá. Dentro de poucos minutos,
vamos ter estudantes aqui. Vão passar o resto da tarde, e preciso que me acompanhe.
Mande a enfermeira Willis para cá. E não demore muito: preciso de você.
Ela não queria nem admitir a remota possibilidade de estar se apaixonando pelo
novo assistente. Era só imaginação. Os romances entre médicos e enfermeiras só
aconteciam na imaginação de autores românticos e nunca na realidade da difícil rotina
de um hospital,
Anna jamais se sentiu atraída por nenhum dos homens com quem trabalhara.
Ela os admirava e gostava do trabalho excitante e cheio de responsabilidade. Mas era
só; Nunca tinha se apaixonado. No futuro, teria de ficar atenta, controlando seus
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pensamentos e suas reações em relação a Paul Keslar. Afinal, só porque tinha pergun-
tado se estava passando bem num tom gentil, não era motivo para ela cair
imediatamente aos pés dele.
Foi com alívio que saiu do hospital, no fim da tarde. Ainda estava perturbada»
mesmo depois de ter resolvido que no dia seguinte seria tudo diferente, que
conseguiria ver as coisas dentro de uma perspectiva mais correta.
Quando entrou no portão de casa e guardou o carro, ficou alguns momentos
observando a paisagem. Como tinha sido bom voltar para casa! Quatro anos morando
no alojamento das enfermeiras foram suficientes. Os apartamentos eram pequenos e
abafados, e nunca poderia olhar para uma paisagem como aquela.
Ali, sentia-se no paraíso, mesmo que no céu brilhassem alguns relâmpagos e
os trovões ecoassem ao longe.
Algumas nuvens brancas surgiam no horizonte e ela ficou mais otimista. Logo o
sol apareceria.
A avó tinha saído e havia sobre a mesa uma carta com o selo da Islândia.
Sentou para ler.
"Não podem imaginar como estamos ansiosos para passar o Natal em casa",
sua mãe tinha escrito. "Principalmente agora. As campânulas azuis já abriram no
bosque? Ou será que vão esperar por nós? Nosso vôo já está marcado e esperamos
vê-las logo. .."
— Eu também... — Anna murmurou, guardando a carta. Depois calçou as
galochas, pegou a coleira de Shane e saiu.
No bosque, sentiu que já não precisava controlar tanto seus pensamentos.
Corou, só de lembrar ás bobagens que tinha feito. Por quê? Será que ia acontecer
novamente? Talvez fosse por causa da tempestade, do excesso de trabalho, mas...
Parou, de repente, sentindo o coração bater mais depressa. A imagem de Paul
Keslar, com seu uniforme branco, surgiu diante de seus olhos. Ele parecia
preocupado... Anna não sabia o motivo,
Haveria um feriado local, portanto tinham que ir logo ao super mercado,
— O que acha de irmos amanhã à noite, vovó? — perguntou, depois do juntar
Nao devo chegar tarde, porque o dr. Lonsdale sai depois .do almoço e vou substituir a
enfermeira-chefe, na Enfermaria Rowam. Depois, fico livre. Vamos fazer uma lista de
compras? A avó concordou e comentou, sorrindo:
Vi um dos rapazes Abbot conversando com você no portão. Vai com ele ao
churrasco, no sábado?
Nâo. Tenho plantão. Só saio às sete da noite. - Que pena! Anna não respondeu;
estava pensativa.
Na sexta-feira, o. dr., Lonsdale atendeu um número pequeno de pacientes e ela
ficou subordinada a ele, junto com a enfermeira Willis. O dr. Keslar estava de folga
naquela manhã. Só o viu à tarde, quando substituiu a enfermeira-chefe da Enfermaria
Rowan. Ele entrou junto com a dra. Lancing. Foi um momento estranho, quando Anna
levantou os olhos e deu com ele, ali, naquele lugar onde ela se sentia tão à vontade.
O dr. Keslar e a médica discutiam sobre um paciente e ele não viu Anna, até
parar ao lado da mesa dela.
— Ora, está aqui, enfermeira Forster?
Teve vontade de perguntar: onde queria que eu estivesse? Mas, tinha sido bem
treinada e levantou, quieta, esperando. Viu que a dra. Lancing a olhava rapidamente,
antes de verificar as anotações que trazia.
— Gostaríamos de ver o sr. Leslie, enfermeira. Ele está aqui, não? Como tem
passado?
— Está melhor agora, doutora.
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— Volto num instante com sua sopa, sr. Grange. Fique quietinho...
A enfermeira-chefe ajudou o dr. Keslar a entrar com o carrinho de oxigênio e a
dra. Lancing ficou ao lado dele, enquanto o médico fazia anotações.
Anna esqueceu de olhar o relógio. Eram quase sete horas quando recolheu os
pratos e os levou à copa. O dr. Keslar, a dra. Lancing e a enfermeira-chefe ficaram
para fazer a ronda e verificar os relatórios sobre os últimos pacientes admitidos.
O tráfego não estava tão pesado quando ela saiu. Sabia que teria uma noite
tranquila. Só precisava fazer as compras, com a avó. Mas, o dia seguinte seria
divertido.
Uma garota precisa ter atividade social, disse a si mesma,
A avó, vestida com um tailleur de tricô azul e os cabelos grisalhos
cuidadosamente penteados, já a esperava na porta.
— Olá, vovó. Você me faz sentir mais animada, —- Olhou para seu vestido
amassado. — Posso tomar um banho e trocar de roupa ou quer ir já?
— Quer comer também? Pensei que poderíamos jantar na volta, sem pressa, A
não ser que esteja com fome.
— Claro que não. Vamos demorar só uma hora. Me dê apenas uns minutos.
Sentiu as pernas doloridas, ao subir a escada, mais dez minutos e depois sairia,
de calça comprida bege e uma blusa de seda creme.
— Estou ansiosa para ver Ralph e Eve — a avó falou, enquanto pegavam a
estrada.
— Eu também. Agora falta pouco pára eles chegarem,
— Você está pálida, Anna.
— Foi uma semana difícil para todos, lá no hospital
— Não falou mais sobre o novo médico.
— É simpático. Gosto dele
— O rapaz já se adaptou?
Anna sorriu e entrou com o carro no estacionamento,
— Sim. Sabe? ele está trabalhando diretamente com o dr. Lonsdale. É muito
competente e responsável.
— Ambicioso?
— Eu não diria. Ê um ótimo assistente. Acho que não tem mais pressa em ser
promovido. Ê preciso ter muita prática em operações para ser um cirurgião do nível do
dr. Lonsdale.
— Eu sei, querida. E você, está feliz com seus pacientes?
— Sim. Gosto de trabalhar nas enfermarias, porque lá há um envolvimento
maior, na rotina diária e na cura dos pacientes.
Jane Forster se deu por satisfeita e começou a conversar sobre os próximos
feriados de Natal.
Já estavam no supermercado há algum tempo, quando um vendedor avisou:
— O salmão defumado está no fim do corredor.
Foi então que Anna o viu. Ele parecia mais desprotegido e jovem do que nunca.
Vestia jeans e um suéter azul-marinho.
Havia algo muito especial no sorriso que ele lhe deu. Talvez fosse o cabelo
caindo sobre a testa, ou as roupas informais. . , Não sabia. Em três passos largos,
Paul se aproximou.
— Olá! Que bom encontrá-la, Não consigo me orientar direito em
supermercados.
— É mau.Acho que é uma coisa necessária, quando se quer comer.
Felizmente! não precisamos vir aqui muitas vezes.
— lenho de planejar melhor as coisas no futuro. Mas acabei de me mudar para
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CAPITULO III
Tinham deixado acesa a luz da cozinha, que iluminava uma roseira cheia de botões
amarelos.
Paul fechou o carro e se aproximou do dela, pronto para ajudar a levar as
compras para dentro, A sra. Jane e ele começaram a conversar animadamente e Anna
foi fechar a porteira. Ao ver o dr. Keslar carregando dois sacos marrons, ela
simplesmente sorriu. Era demais. Os últimos acontecimentos daquele dia superavam
qualquer exagero de sua imaginação,
Mervyn Abbot vinha descendo a estrada num trator. Ele parou, mas ao ver o dr.
Keslar, hesitou.
— Desculpe, não sabia que tinham companhia. Não é o seu irmão, é?
— Não. Não é Tim. Desculpe, Mervyn, mas preciso entrar. Ainda nem jantei.
Você está trabalhando muito, não?
Ele deu de ombros e sorriu.
— Estou sempre tentando adiantar o dia de amanhã. Não tive muito trabalho
ontem à tarde. Amanhã você vai, não é, Anna? — ele parecia estar quase implorando.
— Claro, eu prometi. Mas não sei se vou chegar cedo. Vejo você amanhã. Boa
noite, preciso entrar.
Ela correu e Shane latiu. Lá dentro, Paul Keslar servia o sherry em três cálices.
Parecia muito à vontade.
— A sra. Forster sabe como cativar um homem. Tive muita sorte esta noite! —
Aproximou-se e entregou-lhe o cálice.
—É... . foi muito inesperado. Mas, se você está feliz por ter vindo... nós estamos
contentes em tê-lo aqui.
— Obrigado. — Tomou o aperitivo e observou a sala. — Esta casa é deliciosa. .
. um lugar realmente agradável.
— Sente. O jantar será servido dentro de alguns minutos. Vou colocar outro
prato e talheres.
Ele a observou, enquanto pegava os talheres, e Anna sentiu que corava. O que
estaria pensando? Gostaria de saber, antes de ir ajudar a avó na cozinha.
— Sabe... — ele começou, quando a viu voltando com o carrinho cheio de
travessas cheirosas -— nunca estive num moinho. — Anna e avó se sentaram e Paul
continuou conversando. — Quem teve a idéia de transformá-lo em residência?
— Meu pai. Mas mamãe também colaborou bastante. Paul observou a escada
de ferro fundido.
— Não podia imaginar que ficasse tão bonito. Seus pais estão viajando?
— Sim. Estão morando na Islândia. Quer se servir?
Ele sorriu quando ela estendeu-lhe a colher para servir os cogumelos.
Então, Jane, sempre muito curiosa, perguntou;
— De que parte de Gales o senhor veio, dr. Keslar?
— Pode me chamar de Paul, sra. Forster. Como podemos ser formais, depois
de um jantar como este? Vim de um povoado ao pé das montanhas Cambrian. Meu
pai tinha uma clínica no interior, mas infelizmente ficou doente e teve que se aposentar
muito cedo.
Terminei a faculdade de medicina e ele agora fica em casa, aos cuidados de
uma enfermeira que me mantém informado sobre as condições dele. Vou lá sempre
que posso. — Virou-se para Anna. — Agora fale-me sobre a Islândia. Já esteve lá?
Posso chamá-la de Anna, quando estiver longe do hospital?
— Não, claro que não. — Sorriu, e a avó percebeu a mudança da neta na
presença de Paul. E ele não desviava o olhar do rosto de Anna, como se não quisesse
esquecer mais sua fisionomia.
Ficaram em silêncio durante algum tempo, até que Jane disse:
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— Concordo —- Anna disse, num tom gelado. — Enquanto isso, lave estas
jarras de água. Vou falar com a enfermeira-chefe para dispensar você o mais rápido
possível.
Um fracasso como aquele atingia a enfermaria toda. Ao se dirigir à mesa da
chefe, Anna viu a sra. Lawson passando na maca e mandou uma assistente arrumar a
cama. Agora, esperava que nada mais saísse errado. Quando se aproximou, a
enfermeira-chefe estava no telefone e um paciente pediu:
— Por favor, pode abrir a janela? Vamos deixar entrar um pouco de ar. Depois,
pode me dar um pouco de suco de laranja?
Anna não reclamou, pois queria aquele paciente sob controle. Depois, foi para o
leito do sr. Coles e se entregou às tarefas de rotina, Mais tarde, ouviu a maca
chegando e ficou contente de a enfermeira Míller estar de volta.
— E agora?
— Hora de almoço — Anna informou. — Lave as mãos e venha me ajudar a
distribuir a sopa. Acho que podemos nos arranjar sozinhas. A auxiliar vai se demitir.
— Ufa! Ela era tão descuidada.. . Era capaz de derrubar sopa quente nos
pacientes. Humm. . . parece que temos galinha, hoje.
Isso mesmo. — Anna destampou as travessas e observou as listas de dietas
especiais. Servir refeições não era uma de suas tarefas favoritas. Precisava tratar os
doentes com muita diplomacia, atendendo suas reclamações.
Parecia que tinha tomado o café da manhã há muito tempo e talvez não tivesse
tempo de comer mais nada. Estava com fome. Tinha usado todas as energias de
manhã. Se ao menos pudesse dizer ! Paul Keslar que aceitava seu convite... Seria
delicioso jantar com ele naquela noite. Um verdadeiro estímulo para chegar até o fim
do dia. .
Serviu as sobremesas e contou à enfermeira Miller que ia ao churrasco à noite,
- Que sorte! — a outra comentou. — Eu vou ficar em casa e lavar os cabelos.
Meu namorado está viajando. Geralmente, chego em casa muito cansada e muito
tarde.
No meio da tarde, enquanto a enfermeira-chefe estava de folgai, Anna pegou o
telefone e começou a discar um número. Viu Paul se aproximando, Ele esperou perto
da janela, enquanto ela conversava com o sr, Lawson e dava notícias da esposa dele.
— Está na sala de recuperação. A operação já terminou. Não, esta tarde, não.
Talvez só a noite, Oh, sim... ela está bem. Até logo, sr. Lawson.
Paul parecia tão desprotegido, ali na janela, distraído, com a cabeça inclinada...
Quando desligou, ele entregou-lhe os relatórios, Anna sabia que tinha ido só para
vê4a, pois podia ter mandado qualquer pessoa entregar os papéis.
— Nenhum problema?
— Acho que não — ela respondeu, sorridente, enquanto o coração desmentia,
batendo desconsoladamente. — Parece que o sr. Coles melhorou.
— Ê. Eu vi que ele ainda está dormindo. Como está tudo bem, acho que vou
sair agora. Acabei de ver a dra. Lancing e vou falar com ela antes que saia também.
Espero que se divirta no churrasco,
Anna foi até a janela e ficou vendo Paul se afastar. Minutos depois, ele saía no
corredor que separava o hospital do alojamento das enfermeiras. No último andar
ficava o apartamento da dra. Lancing.
De terno escuro, ele parecia ainda mais distinto. E também muito distante, Anna
concluiu. A linha que separava médicos de enfermeiras era cada vez mais aparente.
Ele caminhou entre os canteiros, observando as tulipas, e curvou-se para
passar por baixo de uma árvore cheia de flores amarelas Depois entrou no alojamento
e Anna o imaginou subindo a es, cada até o terceiro andar.
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CAPITULO IV
Passava das sete da noite, quando Anna entrou em casa pela porta da cozinha
e acariciou Shane, distraída.
A última coisa que queria, naquela noite, era ir ao churrasco. Mas tinha
prometido a Mervyn. Não podia fazer nada» Quem sabe, depois de um banho, se
sentisse mais reanimada?
Ah, como seria diferente, se fosse jantar com Paul. Sabia exatamente que
roupa usaria e qual o restaurante que escolheria. O Pollards, que não era muito caro e
servia uma ótima comida. . . Poderiam ficar a noite toda conversando, à luz dos
abajures cor-de-rosa.
Quando soubesse mais sobre a vida dele, talvez esquecesse que era o
assistente do dr. Lonsdale e ela, uma simples enfermeira. Seriam apenas um homem
e uma mulher, e ia descobrir se ele estava sentindo o mesmo que ela,
— Oh, Paul, tem ideia do que está fazendo comigo? — falou alto, girando pelo
quarto com os braços abertos.
Talvez ele não tivesse a menor ideia. Mas devia pelo menos apreciar sua
companhia; senão, não a teria convidado. Não. Talvez fosse só em retribuição ao
jantar na casa dela. Mas. . . se fosse isso, convidaria sua avó também.
Agora, Anna teria que se contentar com as carnes do churrasco e muita cidra.
Bem, era melhor se aprontar logo. Depois do banho, escolheu um vestido de algodão
de florzinhas verdes, sapatos creme, um casaco de lã e pegou o carro novamente.
O sol tinha acabado de se pôr e ela ouviu a música vindo de longe. O churrasco
já tinha começado e havia muita gente espalhada ao redor do braseiro. Os músicos
afinavam os instrumentos para uma quadrilha que seria dançada dentro de um velho
celeiro.
Mervyn se aproximou, quando ela estacionou. Estava mais bonito do que
nunca, de camiseta azul, no mesmo tom dos olhos e calça cinza, que acentuavam seu
corpo musculoso.
Ela fechou o carro e ele não escondeu a satisfação ao vê-la.
— Pensei que não conseguisse vir — disse, segurando a mão dela com um ar
possessivo enquanto caminhavam para o celeiro.
— Eu disse que viria. . .
— Eu.sei, mas. . .
—- Bem, agora estou aqui. — Riu para ele, lisonjeada com as atenções do
rapaz. — Não vamos nos preocupar mais. Quero me divertir.
— Vi que soltou os cabelos. Gostei muito. Está cansada?
— Ainda não. Além disso, não se deve fazer essa pergunta a uma senhorita.
Não é nenhum elogio.
— Você sabe o que eu quis dizer. Trabalhou o dia inteiro. . .
— Você também. Quem arrumou o celeiro? Está tão lindo com todas essas
luzes.
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Lancing. Bem, talvez ela estivesse apenas sendo usada. Não, Paul não era esse tipo
de homem. Ele a tinha convidado para jantar, naquele mesmo dia. Por que então, se
sentia em posição tão desvantajosa, competindo com a outra, que era elegante e
sofisticada? Não sabia. Mas a verdade é que se sentia assim.
Muito perturbada com o olhar dele, procurou se distrair, observando Mervyn
conversar com a médica. Paul ficou sentado muito perto, e, antes de ele falar, ela teve
a mesma sensação que já havia experimentado no hospital: que conhecia seus
pensamentos. Não foi nenhuma surpresa, quando disse:
— Não sabíamos que ia estar tão cheio, Anna, Na hora, me pareceu uma boa
ideia. Mas agora não estou tão certo. Espero não termos estragado sua noite. Está
aborrecida?
— Por que estaria? Oh, espero não estar dando essa impressão. . .
— Não, aos outros. Mas agora sei por que recusou meu convite. Ele é
simpático. Gostei do rapaz. Vocês parecem se dar muito bem. — Estendeu a mão
para ela. — Isso não significa que pretende parar de trabalhar no hospital...
Ela procurou descobrir um jeito de dizer a ele que Mervyn era apenas um
amigo, mas a dra. Lancing o chamou.
— Paul, seja gentil e vá pegar meu casaco no carro. Está frio... Ele pegou as
chaves e saiu.
Anna se sentiu arrasada. Queria ter ido com ele... ficar a sós com ele
conversar... só os dois! Ficar bem perto dele. Queria, oh... o que queria? Ele estava
com a dra. Lancing e os dois, na certa, iam se divertir naquela noite. Tudo poderia ser
tão diferente.
Imediatamente, arrependeu-se de seus pensamentos. Mervyn tentava fazer
com que todos se divertissem, e não era por estar apaixonada por outro homem que
Anna tinha o direito de desapontar o amigo e aborrecê-lo.
Paul se aproximou com o casaco e o estendeu para a dra. Lancing, que sorriu
para ele.
Então Mervyn virou-se para Anna,
— O que está fazendo aí, tão quietinha? Venha para perto do fogo. Estou
contente que seus amigos tenham vindo. É bom se divertir depois de um dia difícil no
hospital O que está achando do. churrasco? Acho que vamos conseguir bastante
dinheiro esta noite.
Os quatro ficaram perto do fogo, conversando animadamente, até que muita
gente começou a ir embora. As luzes dos carros iluminavam o gramado, à medida que
se afastavam.
Mervyn perguntou se ela queria dançar mais uma vez mas Anna recusou.
— Não. Acho melhor ficarmos aqui, sob as estreias.
Do celeiro, ouviam as músicas típicas do interior da Inglaterra, criando um
ambiente muito agradável.
— Está uma festa deliciosa — a dra. Lancing disse. — Eu não sabia que as
pessoas ainda faziam esse tipo de coisa, com tanto entusiasmo. Vocês têm uma turma
maravilhosa, neste vilarejo.
— Nunca nos aborrecemos. Há sempre algo para comemorar — Mervyn
respondeu, sorrindo. — É trabalho e diversão. Sempre sabemos quando passar de um
para o outro.
— Foi o que notei — Paul comentou. — Por falar nisso, acho que agora temos
que ir embora. Se quiser, Erika. . . Amanhã você tem plantão?
Então, aquele era o nome dela? Na voz dele, parecia bonito. Erika. . .
Completamente diferente de um simples Anna. Será que ele tinha pronunciado o nome
da doutora com uma doçura especial? Ou seria apenas imaginação dela? Era isso o
Projeto Revisoras 24
Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
CAPITULO V
trabalhamos juntos.
— Ué, eu só perguntei! Ele é inteligente, não?
— Sim, maravilhoso. Sabe?, dizem que na operação ele dá os pontos com
todo o cuidado, pequeninos, para que não apareçam. Ainda não o vi operando. Talvez
o ajude qualquer dia. Gostaria muito.
Os Forster chegaram da Islândia no dia seguinte c, ao desembarcarem
pareciam encantados de estar em casa novamente.
Eve Forster era uma mulher linda e elegante, de cabelos grisalhos, e durante a
primeira hora mal parou de falar. Ralph Forster, já de cabelos inteiramente brancos,
parecia mais pensativo. Logo desapareceu com Shane no bosque, para matar as
saudades da paisagem inglesa.
Os dias passaram depressa demais. Tim já tinha partido para a escola e Anna,
ao chegar em casa após o dia de trabalho no hospital, sentou no jardim, ainda de
uniforme, e tomou um drinque com o pai.
— O jantar está quase pronto — a mãe disse. — Vamos ter salmão fresco.
Gosta, Anna?
— Quem não gosta? Não comemos peixe muitas vezes, mamãe.
— Nós sempre comemos peixe fresco, na Islândia. E isso me lembrou que
quero conversar com você.
— Preciso trocar de roupa.
— Mais tarde — o pai falou baixinho. — Não vai ter férias, Anna? Deve estar
precisando...
— É, acho que está na hora, papai. Talvez eu tire férias no mês quê vem. Creio
que vou ficar por aqui, descansando, lendo e me divertindo.
— Oh.. . Bem, eu e sua mãe temos uma proposta. Eve entrou na conversa.
— Querida, queremos que venha passar algumas semanas na Islândia. Não se
preocupe com dinheiro. Nós pagamos a sua passagem de ida e volta, assim que você
marcar o dia. Precisa de um descanso, e temos tanto para lhe mostrar...
—E não faremos viagens corridas — seu pai interrompeu, antes que ela
pudesse falar. — Poderá ver o interior, a capital Reikjavik é uma linda cidade. Há
muitas coisas a fazer e lugares a visitar. O clima é bom e temos um lindo jardim. Não
tão lindo como este mas...
— Islândia... Nem posso imaginar. Mas não precisam pagar minhas férias,
papai. Sabe que tenho economia
— Mas não deve usá-las.A passagem é barata. Queremos que vá. Vamos nos
divertir juntos. Você aceita?
— Vou adorar, papai. Obrigada! — Beijou-o impulsivamente. Agora, tinha
algo animador à sua espera. — Mas... e vovó? Ela não pode ficar sozinha...
— Vou ficar em Maude — Jane disse tranquilamente. — Só estou esperando
você marcar a viagem. Ela e Laurence virão me buscar, passarão a noite aqui e irei
para Cotswolds no dia seguinte.
— Então, já combinaram tudo!
— Isso mesmo — a avó concordou, rindo. — Você perdeu peso e tem
trabalhado muito, levantando cedo e se cansando demais. Só teve uma folga este
mês.
— Oh, céus! Ela não parece um comandante? — Anna comentou, sorrindo. —
Mas acho que vai ser ótimo tirar férias de verdade. Vou fazer os meus planos. Que tipo
de roupas vou precisar?
Depois que os pais voltaram à Islândia, Anna ficou ansiosa para viajar também.
Já estava designada para a Enfermaria Rowan em base permanente e adorava suas
tarefas. A enfermeira-chefe tinha tirado férias e Anna era, agora, encarregada da
Projeto Revisoras 30
Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
enfermaria. Tinha que trabalhar com a dra. Lancing e mais dois médicos.
Naquela manhã, o dr. Lonsdale estava fazendo sua ronda, junto com o dr.
Keslar, o dr. Grant e a dra. Lancing. Como substituta da enfermeira-chefe, Anna era
sempre incluída nas discussões e nos comentários sobre os doentes. Quando
chegaram ao leito de Robert, ela observou o rosto ansioso do doente.
Tinha todos os motivos para se sentir angustiado, pois sofrera uma segunda
operação. O dr. Lonsdale leu as anotações e sorriu.
— Acho que vencemos dessa vez, Robert. Temos boas notícias. Pode ir para
casa amanhã. Dentro de duas semanas, venha fazer uma consulta. Anote isso,
enfermeira. Acho que nau terá mais problemas, mas precisamos nos garantir durante
um ou dois meses. Seja corajoso e não esqueça as consultas. — Colocou a
mão no ombro do paciente e se despediu.
— Obrigado, senhor. Obrigado por tudo que fez por mim.
O sr. Lonsdale sorriu. Estava acostumado a ouvir aquelas palavras.
Quando Robert olhou para Anna, estava aliviado, ele ergueu o polegar. Ela
sorriu e virou-se para o dr. Keslar.
Paul segurou-a pelo braço, como se estivesse lhe dando forças para ultrapassar
aquele momento emocional. O dr. Lonsdale não parecia ter percebido nada, mas Anna
corou violentamente. Terminaram a ronda, e ela se preparou para as demais rotinas do
dia.
O tempo na Enfermaria Rowan voava. Certa tarde, Anna saiu cedo do trabaiho.
A enfermeira-chefe tinha lhe dado licença para que pudesse pegar o ônibus, pois seu
carro estava no conserto.
Fazia uma tarde agradável, e Anna estava satisfeita, ao sair pelo portão
principal.
— O que aconteceu com seu carro, enfermeira? — Paul perguntou,
aproximando-se dela em seu Citroen verde.
— Está no conserto. Vou pegar o ônibus. Acho que passa um daqui a pouco.
Ele piscou e abriu a porta para ela.
— Vou levá-la para casa, Anna.
— Não precisava se incomodar... — ela disse, entrando e travando a porta.
— Por que não me avisou? Eu teria esperado. Quase saí antes de você.
— Pensei que já tivesse ido embora. Vi o dr. Lonsdale saindo às cinco
—- Ele, teve poucos pacientes. A dra. Lancing vai ficar de folga no fim de
semana e precisei terminar umas coisas. Quando pretende tirar férias?
Contou a ele sobre a proposta de seus pais e disse que viajaria no fim de
agosto.
— Eles estão certos: você precisa descansar longe de casa.
Olhou-a.de relance e tomou o caminho da casa dela, freando atrás de um trator
cheio de alfafa.
— Não sei quem está dirigindo. Talvez seja o seu fazendeiro— Acho que não.
Pode ser um dos irmãos dele. Vi Mervyn no campo por onde acabamos de passar. E. .
. ele não é o "meu" fazendeiro. Você sabe disso. Algo no tom de voz dela fez com que
Paul dissesse, sério:
— Isso não era definitivo, Anna? Eu tinha a impressão de que você e ele
estavam namorando.
— Está errado. Ele é uma pessoa simpática. Toda a família é simpática. Mas
são apenas vizinhos. Só isso.
— Então, Erika estava certa. . .
— Em quê? Espero que não tenham conversado a meu respeito. — Baixou a
voz, e ele sentiu seu tom gelado e aborrecido. Depressa, segurou a mão dela.
Projeto Revisoras 31
Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
— Não precisa ficar zangada. Eu disse algo a ela quando voltamos para casa.
— Estou surpresa pelo interesse...— começou, sabendo que estava sendo
infantil.
— Não está surpresa coisa nenhuma, Anna. Mas sinto que estou pisando em
terreno perigoso. Portanto vamos conversar sobre algo menos pessoal. Estamos
chegando em sua casa. Viro aqui?
— Pode parar no portão branco, à direita.
Anna estava ao mesmo tempo aliviada e triste por ter terminado a intimidade
que havia partilhado no carro.
A sra. Jane ficou encantada em ver Paul e cumprimentou-o afetuosamente, mas
foi Anna quem o convidou para jantar.
— Adoraria. Mas. . . tem certeza? Será que não estou tirando vantagem da
gentileza de vocês? É a segunda vez. . . mas, não posso recusar, Anna.
— Então, não recuse. Está um pouco frio aqui, mas seja bem-vindo. Afinal,
você saiu de seu caminho para me trazer até em casa
— Eu sei. Mas não podia ter arranjado uma desculpa melhor.
— Tome alguma coisa, enquanto vovó termina o jantar. Vou trocar de roupa.
Estou com cheiro de hospital. Nem Shane chegou perto de mim.
Quando desceu, usava uma blusa de seda verde e calça comprida, parecendo
à vontade. Paul tinha sentado numa poltrona confortável e tomava cerveja.
Depois do jantar, conversaram sobre a Islândia e as impressões que seu pai lhe
dera, depois de morar lá há quase um ano.
— Já esteve na Islândia, Paul? — Jane perguntou.
— Ainda não, sra. Forster. — Anna viu que ele sorria, divertido e tolerante.
Agora, achava natural estar com ele ali, à mesa. Talvez fosse do tipo pensativo
e reservado. Havia uma parte dele que ninguém conseguia atingir. Tinha muita
vontade de saber, em determinados momentos, no que ele estava pensando ou
por que parecia tão preocupado.
Durante as duas horas seguintes, descobriu mais sobre Paul. Nem uma vez ele
mencionou o hospital. Nem ela. Trocaram opiniões e comentários, principalmente
sobre férias.
As próximas, ele ia passar em Gales, com o pai.
— Eu gostava de acampar. Fui para o sul da França e estive duas vezes na
Sicília. Também fui à Creta. Agora, estou feliz em poder ficar perto de casa. Você,
naturalmente irá de avião para a Islândia, Anna.
— Sim. É uma viagem curta. Acho que de duas horas.
— E ficará em Reikjavik, na capital?
— Talvez vá conhecer os arredores. Meu pai está fazendo uma pesquisa muito
importante em partes ainda desconhecidas das ilhas Westman.
— Onde houve erupções vulcânicas, há seis ou sete anos?
— Sim. Do ponto de vista geológico, a Islândia é um lugar muito interessante.
Papai é geólogo e está analisando as erupções. Eu gosto de montanhas e geleiras,
mas que estejam calmas. Gosto daqui também.
— Ia gostar de Gales.. .
— Já estive lá. Mas só na parte sul. Está planejando passar lá as férias de
verão?
— Como eu disse, vou para Gales. Mas não tenho planos.
Agora ele olhava pela janela, para os campos e montanhas, segurando firme a
xícara de café. Ela tentou imaginar o que o deixava tão preocupado. Jane acabou de
tirar a mesa e ligou o aparelho de som. Anna ficou surpresa quando Paul entrou na
cozinha e se ofereceu para enxugar a louça.
Projeto Revisoras 32
Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
Ele seria um amante maravilhoso, quando chegasse a hora. E chegaria logo, desejou,
sentindo o coração bater com mais força.
Abraçados, observaram o pôr-do-sol e a escuridão descendo sobre o bosque.
Ela o abraçou, cada vez mais atraída por aquele corpo musculoso. Agora eram parte
um do outro.
— Quero você, Anna — ele disse, baixinho, e naquele momento ela perdeu o
controle por alguns instantes.
— Eu também o quero Paul. Eu o amo. . . muito.
— Minha querida, Anna, Sou dez anos mais velho do que você.
— Não faz a menor diferença. Só sei que é o único homem com quem já
desejei passar o resto da vida. Só estou feliz quando fico perto de você. Nós sabemos
como nos sentimos. Nada mais importa, não é mesmo?
— Nada. Só este momento... — Ele beijou-a profundamente mais uma vez.
A sra. Jane viu o casal enamorado se aproximando do portão, ao luar, e com
toda diplomacia retirou-se para o quarto, sem acender a luz do lado de fora.
Sabia que mais tarde, depois que Paul fosse embora, a neta iria à procura dela.
Mas, pelo menos naquela noite, Anna desejou manter secreta sua alegria, e
realmente era tarde demais para perturbar a avó.
Queria reviver todos os momentos que teve com Paul, todas as palavras que
ele tinha dito. Quando finalmente adormeceu, estava com um sorriso nos lábios.
Acordou com os pássaros cantando do lado de fora da janela e o coração muito feliz.
CAPITULO VI
— Oh...
—- Assim, tem tempo para o café. Já comecei a fazer.
— Obrigada, vovó. Quase esqueci que ainda estou sem carro. Já fiquei tão
acostumada com ele.
— Bem, nem sempre são só os velhos que esquecem as coisas. Mas acho que
você está preocupada com assuntos mais interessantes.
— Está bancando a curiosa? — Anna brincou, servindo-se de café.
— É verdade. Que desgraça, não? Mas vejo que não vai me contar. Portanto
terei que ser paciente. Seus olhos não me enganam: estão brilhando mais do que
nunca. E brilharam ainda mais quando eu disse o nome dele. Sabe que não nasci
ontem? Já estive apaixonada também e lembro muito bem o que sentia.
Principalmente, no começo.
— Tenho até medo de acreditar que seja verdade, vovó. Estou tão feliz,
sabendo que Paul sente o mesmo por mim!
— Sim, é maravilhoso. Estou feliz por vocês dois. Paul é o homem certo para
você. Seus pais vão ficar encantados. Más, agora, preciso me vestir. Logo ele estará
chegando. Ponha mais pão na torradeira. Será que ele já tomou café?
-— Tenho certeza que sim. E começo a suspeitar de que você está querendo
competir comigo.
— Se eu fosse quarenta anos mais moça, certamente você teria problemas.
Ele é um homem adorável.
-— Também acho — Anna murmurou, e correu para o quarto, arrumando a
cama depressa, antes de voltar e ir para o portão esperar por Paul
Quando o. carro dele parou, ela entrou depressa, pois não podiam perder mais
tempo, Estava ansiosa por um beijo. Mas Paul disse simplesmente:
— Você parece engomada e calma esta manhã,
— Você me faz sentir como se fosse uma de suas pacientes. Viu que ele sorria,
mas não falou mais, enquanto dirigia com toda a atenção. Agora, Paul parecia
novamente o cirurgião concentrado e irrepreensível de sempre. Usava um terno cinza,
camisa branca e uma gravata vermelho-escura. Na noite passada, ele parecia um
garoto animado depois de um jogo. Hoje, estava completamente fora do alcance dela
e, muito desapontada, Anna imaginou o que teria acontecido.
Será que tinha esquecido tudo que havia acontecido entre eles? Será que se
desligava de todos os sentimentos com essa facilidade? Ou será que a noite anterior,
para ele, não tinha passado de. uma brincadeira?
O orgulho a impediu de perguntar. Provavelmente ele tinha coisas mais sérias
em que pensar. Além do mais, ela já estava acostumada com os silêncios dele. Eram
parte de sua rotina de trabalho.
Já que Paul não queria conversar, se contentou em observar as mãos dele na
direção. Tinha vontade de tocá-las, sentir os dedos dele apertando os seus,
convulsivamente, como na noite anterior. Olhou para as próprias mãos, cruzadas no
colo.
— Céus.. . esta estrada não acaba mais! Paul reclamou. — Para que tantas
curvas. . . será que não podiam ter feito uma linha reta? Você deve achá-la muito
perigosa. Não dá para ver o que vem depois de cada curva.
— Sei por que ela é assim cheia de curvas. Há uma explicação que li numa das
revistas daqui. É porque a estrada foi feita através da floresta e tem todas estas curvas
para evitar a derrubada de arvores mais velhas. Dizem que os monges usavam este
caminho, para o mosteiro.
— Ah. . . — ele se virou e riu — que explicação simples! Eu já devia ter
imaginado que uma garota prática como você saberia a resposta para a minha dúvida.
Projeto Revisoras 35
Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
para a neta, mas sem dizer nada. Mas, momentos depois, enquanto preparava o
jantar, perguntou:
— O que foi querida? Não teve um bom dia?
— Nem sei... — Depois, olhou consternada para a avó e ten tou remediar: —
Desculpe, vovó. — Levantou para ajudá-la a cor tar os cogumelos para a omelete. —
Na verdade, não tenho nenhum motivo para afirmar que o dia não foi bom. O problema
é comigo. Sinto-me esquisita.
— Não é de seu feitio...
— Eu sei. Sabe?, eu devia estar feliz da vida. E estava. Mas algo mudou.
Oh. . . é a vida. Um minuto de sol e outro de nuvens escuras.
— Não quer me dizer qual é o problema? Alguma coisa com Paul?
— Como sabe?
— Minha querida, não sou cega. Pensei que fosse me dizer que estão
apaixonados. Mas parece que não é bem isso. . .
— Eu estou... — Anna disse, sem pensar. Seus olhos ficaram pensativos e
sonhadores por um momento, enquanto recordava no vamente a noite anterior. —É
tão incrível, vovó.
— Não há nada de incrível nisso. Vocês parecem feitos um para o outro e acho
que ele também está apaixonado. Pelo que pude ver, Paul se sentiu atraído por você
desde o início. Por que essa desanimação agora? Há algum problema?
__ Não, claro que não. Só que não conseguimos conversar mui to hoje. E tudo
aconteceu tão depressa, ontem.
— Seus pais vão ficar encantados.
— Não diga nada a eles por enquanto.
— Vão ficar noivos ou não?
— Não sei.
— Bem, Paul deve ter um sentimento muito sério e profundo por você, pois,
quando conversou comigo sobre o pai que mora em Gales, disse que não pretendia
casar nem se estabelecer definitiva mente por uma série de razões.
— Ele falou quais, vovó?
— Principalmente por causa do pai, acho. Ele sustenta a casa, em Gales. É a
casa da família, onde o pai mora com uma enfermei ra, uma empregada e um
jardineiro. Paul tem que manter também o próprio apartamento, o que não é fácil. Ele
é um jovem muito dedicado, Anna, e planeja se tornar um médico conhecido antes de
pensar em constituir uma família. Obviamente você deve ter feito com que mudasse
de ideia.
__ Não, acho que não. — Anna se levantou e foi para o -quarto, pensando no
que a avó tinha dito. Ela o apreciava também e, com a sra. Jane, Paul tinha se aberto
com mais facilidade, talvez por causa da idade dela. -
Agora, sentia-se nervosa. Paul não tinha dito uma palavra que lhe desse o
direito de fazer planos para os dois. Dissera simplesmen te que a amava. Sabia que a
desejava também. Sentia a saudade dele. Queria estar naqueles braços.
Bem, se Paul preferia as coisas assim, o que ela poderia dizer? Sabia que nada
podia se interpor entre eles. O que sentiam era profundo demais. Perturbada com
suas novas emoções, Anna estava se sentindo um pouco esquisita. Era a primeira vez
que aquilo ihe acontecia, e não sabia ainda como manter a calma e aguardar a ini
ciativa dele.
Trocou de roupa e foi passear, com Shane. O bosque era o único lugar onde
sua calma voltava e ela parecia a mesma Anna de sempre.
Mais tarde, depois de cuidar do jardim, entrou em casa e tomou um banho.
Estava procurando um livro, quando o telefone tocou.
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Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
CAPITULO VII
Foi até bom Paul não ter tido oportunidade de visitar a Enfer maria Rowan, no
dia seguinte, porque Anna viu que a enfermeira-chefe, de vez em quando, olhava para
ela intrigada. Será que os olhares eram um aviso para ser mais discreta? Talvez o
brilho de seus olhos tivesse deixado a outra desconfiada. Anna sabia que, em todos os
hospitais, a regra para as enfermeiras era evitar envolvimen tos com os médicos.
Só viu Paul por um momento, quando voltou do dispensário, de pois do almoço.
Ele e a dra. Lancing saíam da sala de refeições, juntos, conversando. Paul a ouvia,
com a testa ligeiramente franzida.
Anna ia entrar em outro corredor, para ver um dos doentes, quando uma
paciente que voltava de um exame de rotina chamou
sua atenção.
— Sou eu, enfermeira Forster! Nunca vou esquecer de você.
Mas. . . acho que esqueceu de mim.
— Oh, Lucy! Claro que não esqueci.
— Eu sei. Estava cobiçando aquele médico atraente? Mas ele já tem
companhia.. .
— Como vai, Lucy?
— Estou bem, querida. Na verdade, pensei que ia morrer dessa vez. Mas acho
que ainda não chegou a hora. Ah, você foi tão boa para mim!
— Estou contente em ver que já sarou. Venha nos ver sempre, e cuide-se.
Tenho que correr agora: a enfermeira-chefe está espe rando por mim. Até logo, Lucy!
Paul e Erika tinham desaparecido. Anna subiu, pensando nas compensações da
profissão. Agora, por exemplo, vendo Lucy, que tinha perdido a perna esquerda e
andava calmamente com sua mu leta, se sentia recompensada. Havia se envolvido
bastante com ela, tentando reanimá-la e devolver sua vontade de viver.
Tinha sido gostoso ver Paul outra vez. Na noite anterior, ao tele fone, a voz dele
estava cheia de emoção. O modo como tinha pro nunciado seu nome... E nessa
noite... só os dois, no apartamen to dele, sem ninguém por perto para observá-los nem
interromper. . . Parecia que tinha passado tanto tempo, desde aquela noite no bosque..
.
Já não se ressentia mais com a presença constante de Erika, sa bendo que o
Projeto Revisoras 41
Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
relacionamento dos dois era puramente profissional. Entretanto, a níédica não sabia
que ela e Paul estavam apaixonados, e era preciso agir com cuidado, quando
estivesse por perto.
Mas Erika já devia ter desconfiado. Qualquer um que prestasse atenção poderia
ver nos olhos de Anna quanto ela o adorava.
A enfermeira-chefe estava esperando e pediu alguns remédios. Anna afastou
Paul da mente.
— O dr. Lonsdale pediu exames do sr. Randal, enfermeira. Por favor,
providencie os de rotina. A dra. Lancing vai voltar daqui a pouco para ver o resultado
de alguns exames de sangue.
— Está bem. Talvez eu peça à enfermeira Osman para me aju dar. Ela ainda
não tem muita prática, mas acho que é bastante res ponsável.
— Também acho. Mas, pelo amor de Deus, fique perto dela. Não quero
problemas...
Anna voltou à enfermaria, momentos mais tarde, e viu que alguns pacientes
dormiam. Outros observavam o relógio, esperando o horá rio de visitas. Aproximou-se
de um dos leitos.
— Vamos precisar fazer uns exames de rotina. A dra. Lancing quer analisar o
nível de colesterol de seu sangue. Oh. .. vou deixar as visitas entrarem.
Ouviu as vozes na sala de espera e foi abrir a porta. Ao voltar, encontrou a
enfermeira-estagiária, trocando alguns curativos. Esta, pelo menos, tinha jeito com os
pacientes e era muito gentil.
— Certo, enfermeira. Enquanto eu termino aqui, por favor, faça um chá para
nós, Oh, céus! Ajude o sr. Lane a se vestir. O que ele pensa que está fazendo com a
calça do pijama?
Esse paciente dormia diante da televisão, esquecido da perna que tinha
perdido. As amputações eram casos de rotina na Enfermaria Rowan, e as únicas
palavras que Anna conseguia dizer aos pacientes para ajudá-los a sair da frustração
eram:
— Viva um dia de cada vez. Amanhã será sempre melhor. Você vai conseguir.
Todos conseguem. Seja corajoso.
E todos melhoravam, porque dividiam com ela suas dores.
Demorou muito para que Anna pudesse sair da depressão, diante desses
casos. Tinha que esquecer tudo aquilo, quando saía do hospital.
Lembrou o encontro que teria à noite, com Paul, e ficou ansio sa para ir embora,
principalmente depois de ver que o carro dele já não estava mais no estacionamento.
Ia voar para casa o mais de pressa possível.
Depois do banho suspirou, aliviada. Vestiu-se e ficou imaginando como seria
delicioso conhecer o apartamento dele. Estava também um pouco apreensiva. Mas
por quê? Não sabia. Não sabia se iam jantar antes ou depois de irem ao apartamento.
Por isso, resolveu comer um sanduíche. A avó tinha saído para visitar uns amigos na
cidade e só voltaria bem tarde.
Havia outra carta de sua mãe, com o selo da Islândia, e Anna leu enquanto
esperava por Paul. Faltavam só cinco semanas para suas férias. Os pais já tinham
comprado a passagem. Ia precisar de roupas novas e, apesar de não gostar de
liquidações, nesse ano teria que economizar. De repente, sentiu que não queria mais
ir. Não queria se afastar de Paul, quando tudo parecia tão promissor e tão
maravilhoso.
Ele entrou na alameda pouco antes das oito horas e ela viu as rosas brilhando
sob os faróis do carro. Shane foi pulando ao encon tro do médico e ela estendeu as
duas mãos para ele.
Projeto Revisoras 42
Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
Paul abraçou-a e caminhavam juntos até a casa. Só então, ele a apertou contra
o corpo num intenso abraço, e seus lábios se encon traram num beijo desesperado,
longo, profundo. Parecia que os dois corações iam parar, de tanta emoção. Finalmente
se separaram e ele murmurou, perto do rosto dela:
— Esperei tanto por isso, minha querida. É tão bom estar com você.
Agora, era ela quem procurava os lábios dele. E os encontrou, prontos, à
espera. Momentos depois, sentiram que a paixão crescia assustadoramente e ela se
afastou, sacudindo a cabeça.
— Paul. . . o que você vai pensar de mim? É que senti saudade o dia inteiro.
Fiquei com medo de que você não viesse. Agora que está aqui, não quero soltá-lo.
— Temos muitas horas para nós dois. E mais tarde vou lhe dizer o que penso
de você. Está pronta?
— Sim. Vou levar Shane para dentro. Minha avó saiu, mas ela Tem a chave.
— Ótimo! Espero no carro.
Saíram pelas estradas do povoado. Anna se virou e viu só a luz da cozinha
iluminada. Havia muitas flores silvestres por ali e as macieiras também começavam a
florir.
— Adoro morar aqui.
— É, seu pai fez uma ótima escolha. Este estilo de vida campes tre é muito
agradável.
— Você também acha?
— Eu cresci no interior. Portanto gosto muito.
— Provavelmente terá que escolher, um dia, um lugar para se acomodar. Se
quiser.
Ele riu e olhou para ela de lado.
— Ainda não cheguei a esse ponto, Anna. Não tenho condições de comprar
uma casa. Entretanto, as circunstâncias mudam muito. Vamos ver o que o futuro trará.
Acabei de chegar ao Hospital Cal derbury, e acho que ainda vou ficar algum tempo por
aqui. Mas nunca se sabe .
Os dois ficaram em silêncio. Ela pensou no que ele tinha dito. Será que estava
dando a entender que o relacionamento deles não era permanente? Se fosse isso,
como devia reagir? Por que se sentia tão insegura? Resolveu mudar de assunto e
disse:
— Recebi notícias da Islândia, hoje. Já compraram minha pas sagem para o
dia treze de julho. Não falta muito tempo.
— Vai na época certa. Está ansiosa pela viagem, não?
— Estou. Meus pais estão pagando tudo e estou muito grata, mas...
— Mas o quê, querida?
— Acho que não queria ir embora.
— Por quê?
— Não quero ficar longe de você.
— Ora... — Segurou a mão dela. — Você é a garota mais sur preendente que
conheço, e diz as coisas mais inesperadas. É tão sincera! Amo você. Mas também
terei que ir para Gales, logo, haverá uma separação de qualquer jeito.
— Eu sei. Não devia me preocupar. Você pode me achar uma adolescente
apaixonada pela primeira vez. É tudo tão sofrido...
Mas é como me sinto.
— Eu também — ele disse, baixinho. — Nunca me envolvi de mais. Quando a
coisa parecia estar saindo do meu controle, eu es capava. Portanto, esta experiência é
completamente nova para mim. O que deve surpreender você.
— Surpreende mesmo, Paul.
Projeto Revisoras 43
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— Às vezes, não. A princípio, pensei que fosse inatingível, até ouvir você
conversar com um dos pacientes. Então, percebi que era uma pessoa muito gentil. Oh,
Paul, fiquei tão complexada naquele dia em que derrubei tudo!
— Eu ainda não sei o que aconteceu de errado. Será que a tem pestade
perturbou você? Acho que foi isso. E cansaço também. Você estava fazendo o
trabalho de duas enfermeiras. Sabe? desde aquele dia, conseguiu provocar uma
reação em mim. Era a última coisa que eu queria que acontecesse. : . E como foi com
você?
— Foi mais do que efeito da tempestade. Foi você. Fiquei apa vorada, com
medo de que percebesse o que provocava em mim.
— Por quê?
— Você sabe. Eu nem sonhava que iria me amar um dia.
— Foi a última coisa que passou pela minha cabeça, Anna. Mas, depois de três
dias, mal podia esperar para entrar no hospital, sa bendo que você estaria lá.
— Oh, Paul, eu não sabia. Não podia adivinhar o que você es tava pensando!
Ele se aproximou para tirar o prato de sopa, que ela já tinha
terminado.
— Logo começará a adivinhar, prometo.
Depois do jantar, quando a louça já estava guardada, Paul fez café e resolveu
servi-lo em outra sala. Colocou a bandeja sobre a mesinha baixa, diante do sofá, e
estendeu a mão para ela.
— Venha sentar aqui, Anna. Vamos ter uma conversa séria.
— Sobre nós?
Ele fez que sim com a cabeça.
— Quero lhe falar sobre meu pai e sobre o meu passado, porque só me
conhece no trabalho.
Instintivamente ela percebeu que havia algum problema. Era al guma
complicação. Tinha que ser, senão, ele não evitaria o amor por tanto tempo.
— Não é justo você não saber, meu bem. Mas não tive oportu nidade de
discutir esse assunto antes. Agora, quero lhe contar tudo porque se tornou uma
pessoa muito especial. Antes tudo era vazio. Eu só tinha o meu trabalho, Aprovoituvn
Iodos os minutos de folga para ler, estudar e assistir conferencias. Fiquei envolvido
demais com o trabalho. Adoro o que faço e costumava passar as noites com meus
livros de medicina. Agora, tenho que refazer meus planos. E você é parte deles.
— O que está tentando me dizer, Paul?
— Primeiro, quero lhe falar sobre meu pai e a doença dele. Papai depende de
mim. . . de certo modo. . .
— Financeiramente?
— Sim. Temos a casa em Gales, que ainda não está paga. . . mas quase.
Agora, sou responsável por ele e preciso manter também outra casa aqui. Meu pai era
médico. Tinha um consultório no in terior, bem popular. Morava fora da cidade, mas
todo mundo ia ao consultório dele, que ficava atrás do correio. Antes de se aposentar,
papai teve esclerose múltipla. Naturalmente, ficou sabendo da doen ça antes de todos.
— Oh, não, Paul! Que tristeza!
Ele continuou falando sobre o pai como se estivesse com um cole ga, usando
termos técnicos, e ela percebeu que o homem devia estar num processo de
degeneração acelerado. Devia ter pouco tempo de vida.
— Às vezes ele melhora, como no último outono. Mas levou um tombo e
fraturou o fémur. Está completamente imobilizado: parali sado das duas pernas.
Precisa de uma enfermeira em casa o tempo todo. Ela trabalhava com ele e há anos
cuida de papai com dedi cação. Sempre me dá notícias; agora, por exemplo, ele não
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Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
está nada bem. A única coisa que o ajuda é seu amor pela casa e pelas mon tanhas
ao redor. Não posso tirar nada disso dele.
— E por que deveria tirar? A não ser que. . .
— Bem, com uma pequena renda e a minha contribuição, con seguimos nos
arranjar.Ele tem uma empregada, que foi uma de suas pacientes, e um jardineiro.Mas
Bronwen ligou para mim ontem à noite. . .
— Ela é a enfermeira?'
— Ê. Ela me disse que talvez eu devesse ir para casa neste fim de semana ou
no outro.
— Deve ser muito pior para ele porque, sendo médico, conhece todas as fases
da doença. Seu pai ainda consegue ler?
— Agora, não muito. Ele adorava ler. Era uma das recompen sas por ter tanto
tempo disponível, depois da doença. Tinha trans formado o quarto numa biblioteca.
Agora, é uma espécie de estúdio. Isso simplifica as coisas para as duas mulheres. E,
do quarto, ele tem uma linda vista do vale.
Por um momento, ela sentiu que Paul tinha saudade daquele lugar.
— Você também gosta dessa casa, não?
— Sim. Foi lá que nasci. Foi onde vivi com minha mãe, com meus amigos. Ê o
meu lar. Sempre vou gostar de lá. Quando é que quer conhecer meu pai, Anría? Quero
que vá, pois já falei a ele sobre você, pelo telefone. Ele não tem mais muito tempo.
Quer vir comigo? — Parecia estar implorando.
— Oh, eu adoraria, Paul! Você deve saber disso. Mas não sei. . . Quando será
sua folga? Neste fim de semana?
— Devo sair na tarde de sexta-feira e voltar no domingo. A via gem é de
poucas horas. As novas estradas são muito boas.
— Vou perguntar à enfermeira-chefe se pode me dispensar.
— Mas. . . precisa explicar por que quer dois dias de folga?
— Não sei. O que você acha que devo dizer?
— Minha querida, você é honesta demais. Sei que a verdade é sagrada, no seu
modo de entender.
— Bem, sempre podemos dar um jeitinho. Muitas vezes temos que dizer
meias-verdades aos pacientes, você sabe.
— É... eu sei.
Alguma coisa fez com que se aproximassem um do outro e, com um gemido,
Anna se atirou nos braços de Paul. A paixão dele revela va sua masculinidade
dominadora. Cada um procurava se controlar mais do que o outro. Anna nem sabia
que era capaz de sentimentos tão profundos; de desejar e sentir a falta física dele.
Foi Paul quem a soltou, ajudando-a a se levantar. Anna respirou fundo e sorriu.
— Querida, acho que é melhor ir buscar mais café para nós dois — disse,
curvando-se para beijar suavemente os lábios dela. — Depois vou levá-la depressa
para casa.
Anna se espreguiçou.
— Está bem, dr. Keslar. Como foi acontecer tudo isto com duas
l
pessoas que há pouco tempo nem se conheciam? Tenho medo de que seja um
sonho. Oh, Paul, é tão maravilhoso.. Não vamos deixar que acabe, sim? Eu não
aguentaria perder você.
— Não há nenhuma mulher tão maravilhosa como a minha querida Annabel.
Vamos ficar atentos para que nada estrague o que existe entre nós. Amo você...
nunca disse isso com tanta sinceridade. E vou continuar a amá-la por toda minha vida
Cada vez mais, à medida que o tempo passar. Teremos altos e baixos, mas, minha
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Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
está apaixonada. Já percebi. Há boatos no hospital. Muito bem, pode ficar de folga no
fim de semana. Será que devo lhe dar os parabéns, ou ainda é cedo?
— Oh, por favor, será que pode manter tudo em segredo?
— Claro. Agora, vamos cuidar .do sr. Piper, que não está se sentindo bem.
Depois, dê uma olhada no sr. Jones. Precisamos de um relatório sobre ele, pois o dr.
Lonsdale virá logo, paia i segunda ronda.
— Sim, enfermeira.
Momentos depois, Anna voltava para perguntar:
— Pode me dar um minuto de atenção? Há sinais de inflamação no sr. Piper e
a temperatura dele está altíssima.
— Vamos até lá. — A enfermeira-chefe correu para o leito do paciente.
Fora do hospital, as duas tinham vidas particulares completamente diferentes. A
enfermeira-chefe cuidava da mãe, idosa e doente, e, no fundo, Anna achava que a
vida não tinha sido muito justa com ela, frustrando suas emoções e obrigando-a a
suportar pressões terríveis.
Para Anna, o fim de semana significava estar em companhia do amado. Ele era
exatamente o que toda mulher imaginava como homem perfeito. Já podia visualizar a
viagem pelo país de Gales a paisagem. Hum. . . como devia estar sendo invejada!
Ouviu vozes no corredor e percebeu que o dr. Lonsdale se aproximava. Ainda
bem que estava tudo pronto. Com os relatórios na mão, foi ao encontro dele.
CAPÍTULO VIII
A semana passou tão depressa que Anna mal percebeu o que acontecia no
hospital. A sra. Jane estava muito animada com os planos e tinha ficado contente ao
ver Paul com a neta duas vezes, à tarde, no jardim.
Anna pediu a Tim, seu irmão, que viesse fazer companhia à avó.
— Por quê?
— Fui convidada para ir até Gales e não quero deixá-la sozinha. Só Deus sabe
o que pode acontecer. Diga que sim, Tim. É muito importante para mim.
—-Está bem. Diga a ela para me esperar na sexta-feira.
— Obrigada. Vamos partir por volta das três horas. O dr. Keslar vai me levar
para conhecer o pai dele, que está doente...
— Vai mesmo? Lembra quando eu perguntei se ele ia ser meu cunhado?
— Tim, nós ainda não estamos nesse ponto. É segredo. Por favor, não conte a
ninguém.
— Mas, se a vovó já sabe...
— Ela não sabe muita coisa. E não falei nada para os nossos pais.
— Então vai ter que falar. Vou levar a moça mais atraente que já conheci. Acha
que posso?
— Claro — ela disse, curiosa. O irmão riu.
— Estou brincando, siia boba! Pode viajar, e divirta-se. Espero ser o primeiro a
saber da data do casamento.— Claro... ..— Até sexta.
A manha de sexta-feira estava linda e o dr. Lonsdale apareceu com Paul, para a
ronda. Anna teve que executar uma porção de tarefas fora da rotina e discutir
relatórios de pacientes com a enfer-meira-chefe. Mas à uma e meia, com a
colaboração da chefe e de toda a equipe, saiu e voltou para casa, sentindo-se
imensamente feliz.
Paul viria diretamente do hospital, pois já tinha deixado a mala no carro. Anna
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Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
pegou a jaqueta e desceu com sua mala, que tinha deixado pronta em cima da cama.
Escolheu para a viagem um vestido de algodão estampado de amarelo. Seu
rosto, ligeiramente bronzeado, não precisava de maquilagem. Só usou um pouquinho
de sombra nos olhos e um batom levemente rosado. Estava com os cabelos soltos e
muito brilhantes.. Nunca tinha se preocupado muito com a aparência, mas agora que-
ria ficar o mais bonita possível
— Espero que não esteja levando coisas demais — a avó aconselhou.Foi bom
terem escolhido este dia. Está lindo! Tim já chegou.
— Oh, vovó, estou tão feliz! -Mas, por favor, não diga nada a ninguém sobre
Paul e eu.
— Claro que não, querida. Mas me avise, quando chegar a hora de planejar o
casamento. Adoro ver pessoas apaixonadas; principalmente, quando uma delas é a
minha neta. Esperamos vocês de volta no domingo.
Anna abraçou a avó e se despediu do irmão. O carro de Paul se aproximou do
portão, e ela sentiu o coração acelerado.
— Como vai, sra. Forster?
— Muito bem, Paul. Tenham um bom fim de semana.
— Obrigado. Vai ser ótimo.
— Vamos, Anna?
— A viagem é longa? Você guia com cuidado?
Ele olhou para Anna, com ar divertido e paciente.
- Sim, guio com cuidado.
Os dois acenaram e Anna ficou comovida ao ver a avó com lágrimas nos olhos.
— Você vai ficar parecida com ela, quando envelhecer.
Anna sorriu, contente de estar ao lado dele e de sentir a brisa cariciando seu
rosto e seus cabelos.
Naquela noite, estariam na mesma casa. Teriam tanto sobre o que conversar.
Suspirou.
— Parece feliz — Paul comentou. — Nenhum problema, hoje?
— Nunca tive problemas — disse, indignada — Desculpe. Eu só estava
brincando.
— Eu sei. Estou muito feliz. Na verdade, tentando me recuperar de uma manhã
muito difícil. Você não acreditaria. Conseguiu almoçar
— Só um pouquinho. Vamos parar para um lanche daqui a pouco. A sra.
Hughes está nos esperando para o jantar; portanto, é melhor legarmos lá com fome.
Papai está ansioso também. Talvez eu não tívesse ter aceito um emprego tão longe de
Gales, mas agora já , tomei a decisão...
— Estou ansiosa para conhecer seu pai e ver sua casa.
— Será maravilhoso ter você lá, só para mim. — Segurou a mão dela com
força, e Anna fechou os olhos. Amar alguém daquele
jeíto era o paraíso. Mas não teve tempo de dizer nada, porque logo de soltou
sua mão para mudar a marcha. O tráfego não estava parado e dava para manter urna
velocidade média.
— Normalmente, evito as estradas principais. Gosto das secundarias, mas
hoje não podemos perder tempo. Vamos passar por Loss-on-Wye. Uma vez, passei
férias lá com meus avós. Vovô também era médico.
— Então, é uma vocação de família? Seguiu a carreira por vontade de seu pai,
ou você mesmo a escolheu?
— Acho que ninguém entra na medicina contra a vontade. Ê um curso longo e
cheio de frustrações, antes de se chegar aos exames finais. É preciso estudar durante
todos os minutos, sem perder nada. tive a sorte de não ser reprovado nem uma vez.
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Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
Até os piores professores gostaram das minhas provas. Sei que também tive sorte de
chegar onde cheguei. — Sorriu e olhou para ela rapidamente. — E você é urna ouvinte
maravilhosa, querida.
— Obrigada, Mas acho que não foi só sorte, Paul. No hospital, todas as
enfermeiras e médicos elogiam o seu trabalho. Dizem que é um cirurgião magnífico.
Acredito que seja. Gostaria de estar na sala de operações num dia em que você
operasse, mas parece que não vou sair mais da Enfermaria Rowan, Talvez um dia
consiga assistir a uma das suas operações, lá de longe, no anfiteatro.
— Gostaria que estivesse perto de mim, quando eu operasse,
— E se eu fosse assistir, sem lhe dizer nada?
— Eu saberia. Na verdade, a enfermeira da sala de operações é uma das
pessoas mais eficientes que já conheci. Um cirurgião tem que confiar muito na equipe.
Felizmente, no hospital, todos gostam muito do trabalho que fazem.
— Eu sei. Ê estranho, não? O trabalho é rotineiro, mas sempre há urria certa
dose de suspense. É preciso saber antecipadamente qual o instrumento que o
cirurgião vai precisar e. . . — sorriu —- não se pode derrubar nada. Sabe que durante
os seis meses em que trabalhei numa sala de operações, nunca derrubei nada?
Ele lembrou o primeiro encontro dos dois e riu.
— Por que veio para o Calderbury, Paul? Preferiu sair de um hospital grande
para trabalhar num menor e menos equipado. . . — Interrompeu-se. — Eu não devia
ter perguntado, desculpe. Deve haver razões de ética profissional envolvidas nisso.
— Sim. Não posso lhe contar tudo, Anna. A não ser que, como assistente do
círurgião-chefe, estou ganhando mais experiência. Logo poderei fazer as cirurgias
mais difíceis. Estou gostando muito do hospital.
— Acho que logo poderá assumir um cargo mais alto. É só aparecer uma
chance.
— Sim. Mas estamos falando demais em trabalho.
— Desculpe. Oh, não podemos parar para tomar um chá?
— Chá para você e café para mim. E uns doces deliciosos. Está bem?
— Está ótimo. Vamos escolher uma das mesinhas do jardim da casa de chá?
Depois da parada, logo estavam na estrada outra vez passando por Ross-on-
Wye. Paul apontou os lugares mais importantes e mostrou a casa onde seus avós
tinham morado. Apontou a montanha que ele costumava escalar e o rio onde pescava.
Agora, não parecia mais preocupado e seu sorriso lembrava o de um garoto. — Vamos
direto para casa — disse, logo ao saírem da cidadezinha.
— Não quer que eu dirija um pouco para você poder descansar?
— Estou acostumado com essa estrada e gosto de dirigir. Talvez, na volta. —
Olhou o relógio. — Vamos chegar antes das oito.
Ela se recostou e ficou apreciando a paisagem. Nenhum dos dois falou mais
nada, mas não tinha importância. Havia uma sensação de intimidade entre eles que
tornava aquele silêncio adorável
Eram quase oito horas e ele falou, animado:
— Depois daquelas montanhas você já pode ver a casa.
Havia um caminho subindo até o meio da montanha e, mais adiante, um vale
cheio de plantações de milho.
— É mesmo uma montanha! Pensei que fosse só um morrinho. Está coberta
de grama. Como fazem para podá-la?
-— São os carneiros que comem a grama. — Riu do olhar de admiração dela.
— E é muito mais alto do que imagina, querida. Espere até chegarmos mais perto.
Outro atalho saía da estrada e ia em direção ao vale. Ela viu uma ponte de
pedras e o rio brilhando sob os últimos raios do sol. Agora já conseguia avistar os
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amaram muito. Nas paredes e sobre os móveis havia porta-retratos com velhas
fotografias. Paul sentou a seu lado, suspirando.
— Eu tinha esquecido como era a casa.
Anna pegou um dos retratos, no qual ele aparecia em uniforme de escola.
Virou-se, segurando a foto com as duas mãos, e beijou Paul no rosto. Ele se curvou, e
o beijo se tornou íntimo e profundo. Paul colocou o porta-retrato sobre a mesa e a
abraçou com força.
— Oh? minha Anna.., você é tão linda! O que vai acontecer conosco?
— O que você acha, dr. Keslar?
Ele se curvou e a beijou tanto, que o coração dela disparou violentamente.
Nunca tinha sentido nada assim, e se apoiou nele, tremula.
Paul pareceu surpreso, mas o beijo ficou ainda mais profundo e exigente. Só se
separaram quando ouviram os passos da sra. Hughes, no corredor.
Ela não pensou em bater antes de entrar e ficou embaraçada ao ver os dois se
separando, trêmulos.
—- O que foi, sra. Hughes?
Anna se afastou, envergonhada.
— Só queria saber se vão precisar de alguma coisa antes que eu vá para a
cama.
— Não, obrigado — ele disse, recuperando-se rapidamente.
— Sirvo o café da manhã às oito, como sempre?
— Sim, está bem.
— Vão querer café na cama?
— Não, para mim. Se Atina quiser..,
— Não obrigada, sra. Hughes. -— Ela agora estava sorrindo, mais controlada.
— Então, boa noite. Não esqueçam de apagar as luzes.
— Claro. Boa noite.
Ela saiu discretamente e Paul riu.
— Oh, céus, é como se alguém tivesse me visto beijando você às escondidas,
depois de cabular a aula na escola.
— Tive a mesma impressão. Ela ficou muito chocada. — Acho que gostou de
ver aquele beijo.
Anna foi até a janela e ele se aproximou.
— Está fascinada com a paisagem, não?
— Sim. Sinto que aquelas montanhas sabem muitas coisas... elas têm um ar
de sabedoria...
— Sabem mesmo. — Abraçou-a, sorrindo. —- Sabem tudo sobre a minha
infância. Cresci subindo nelas. Quer ir dormir, agora?
— Que sugestão, dr. Keslar!
— Todos já foram para a cama.
.— Sim, você deve estar cansado. Foi uma longa viagem, não?
— Foi. Então... - vamos?
Ela concordou e observou-o apagar as luzes da casa e o fogo da lareira.
Subiram juntos. Diante da porta do quarto dela, ele a beijou com força e
murmurou:
— Boa noite. Estarei dormindo no quarto ao lado.
—- Oh, Paul.. . — Ambos estavam perturbados pela atração que sentiam um
pelo outro e pelo silêncio da velha casa. Ela o abraçou e procurou seus lábios.
— Ah, eu quero você tanto, Anna...
— Também quero você. Mas, não desse jeito. — Entrou no quarto, jogou um
beijo para ele e fechou a porta.
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Era estranho dormirem em camas diferentes, sob o mesmo teto e sentindo tanto
amor. A proximidade de Paul a perturbava cada vez mais. Mas, além do amor, sentiam
respeito um pelo outro e, como aquela era a casa do pai dele, ficariam separados
naquela noite. Se estivessem em outro lugar, num hotel, talvez, sabia que ele a teria
procurado e que o receberia apaixonadamente.
Procurou controlar a imaginação. Não queria lembrar as carícias de Paul Mas,
sem ele, sabia que estava incompleta.
Na manhã seguinte, saiu da cama e viu um lindo céu azul e a grama brilhando
de orvalho nas encostas das montanhas.
Vestiu o robe e desceu, imaginando que era a primeira pessoa a acordar, na
casa. Mas, a sra. Hughes já estava em pé servindo a primeira refeição.
— Paul já levantou — a mulher anunciou. — Mas foi até a montanha. Ele já
vem. Dormiu bem?
— Maravilhosamente. Que biscoitos deliciosos! Acho que depois do café vou
me vestir e encontrar com ele. Qual o caminho da montanha?
— Oh, não há como se perder. Siga o atalho da ponte e comece a subir.
Mudou de roupa rapidamente e correu pela ponte, parando um pouco para
observar o rio iluminado pelo soL Ainda não estava vendo Paul e começou a subir;
Depois de algum tempo, sentiu as pernas doendo e olhou para: trás para apreciar a
paisagem. Tudo ali era lindo. Ás casinhas dos pastores com as chaminés, os
pequenos bosques das encostas e os carneirinhos brancos pastando.
Mas, onde estava Paul? A não ser os carneiros, nada se mexia, por ali. Tudo
era quieto e solitário. Entretanto, por que se importar? Ali era a terra natal de Paul. O
local onde o homem que adorava tinha passado a infância. Ele devia conhecer todos
os atalhos e grutas, devia estar matando as saudades daquela paisagem que não via
desde que tinha ido para o Hospital Calderbury.
— Bom dia!
A voz dele interrompeu seus pensamentos e ecoou pela montanha. Anna olhou
para cima, protegendo os olhos com as mãos, e viu que ele parecia divertido no alto
da montanha. Como um garoto. . . muito diferente daquele médico preocupado e
responsável, que ela via nos corredores do hospital. Paul desceu correndo c apertou-a
com força entre os braços, procurando os lábios de Anna com ansiedade.
— Veio ver a paisagem? Aposto que se divertiu muito no passeio.
— Foi ótimo. O que achou da minha montanha, querida, E você, dormiu bem?
— Muito bem,
— Õtimo. Encontrei Lewellen. Ela foi minha babá e estava por aqui, passeando
com um cãozinho novo. Um collie. São os cães que ajudam a pastorear as ovelhas,
nesta região. Venha, vamos para casa.
— Vamos apostar uma corrida até lá embaixo?
Os dois chegaram para o café da manhã parecendo um casal perfeitamente
feliz. As duas mulheres trocaram olhares e sorriram. Em seguida, Paul foi conversar
com o pai e Anna subiu para o quarto.
—- Gostaria que eles casassem enquanto o velho ainda está vivo — Bronwen
disse, esperançosa. — Mas acho que não estão nem noivos.
— Dessa vez, ele está mesmo apaixonado, não acha? Talvez rios dêem
alguma notícia sobre o casamento, antes de irem embora.
Durante a tarde, quando Bronwen foi até o vilarejo, Anna e Paul ficaram com o
velho dr. Keslar.
Talvez, por ela ser enfermeira, ele aceitou os remédios que Anna lhe deu, sem
protestar. Estava muito doente e não tinha ilusões sobre o próprio estado. Sabia que a
doença ia deixá-lo completamente imobilizado, com o passar do tempo, e não havia
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CAPITULO IX
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Tim já tinha partido, quando Paul parou o carro diante da casa de Anna.
Passava das nove da noite, e os dois estavam exaustos. Mas nada mais importava,
apenas o fato de estarem juntos. Ele a abraçou e pegou a maleta dela com a outra
mão.
— Estava preocupada? — Anna perguntou, beijando a avó. — Chegamos um
pouco atrasados por causa do tráfego.
-— Não, talvez um pouco ansiosa. Entre, Paul. Como estão se sentindo?
Vamos jantar?
— A senhora é maravilhosa — Paul disse, e Anna viu que um delicioso jantar
estava na mesa.
— Vovó, vamos tomar um aperitivo antes, porque tenho uma coisa a lhe dizer.
— Tem?
— Vamos casar. Ainda não marcamos a data, não temos pressa. Está feliz, não
é? Sei que é muito romântica.
— Oh, sim, querida! — Beijou os dois, os olhos muito brilhantes. Eles a
abraçaram e depois se acomodaram na mesa, para o jantar,
enquanto contavam a ela os motivos para não marcarem ainda a data.
— Lamento pela doença de seu pai, Paul. Sei que isso lhe traz mais
preocupações. Anna, vai contar a Eve e Ralph? Eles precisam saber.
— Vou ligar para eles esta noite. — Virou para Paul: — Gostaria que meus pais
o conhecessem. Acho que não poderá vir comigo nas férias. Mas vai vê-los em breve.
— Ir para a Islândia com você é uma idéia muito tentadora, querida. Vai partir
no fim do mês? Acho que talvez o dr. Lonsdale vá para o exterior no fim de setembro.
Peter, que também trabalha com ele, terá folga na próxima semana. Deixe comigo,
vou ver se consigo alguns dias...
— Mas. , . – seu pai, Paul. . .- A Islândia é longe daqui. . .
— Acho que ele ficará no mesmo estágio da doença durante os próximos
meses. Tive uma conversa com o dr. Willian, pelo telefone, enquanto estive em casa, e
ele acha que não podemos esperar mais nada.- Eu concordo.
— Oh, Paul, não há mais esperanças?
— Ele ia querer que eu tosse com você mas isso não é importante agora. Por
que não espera até amanhã para telefonar a seus pais? Talvez eu já tenha uma
resposta.
— Boa idéia! Sei que eles vão ficar satisfeitíssimos.
— Certo! — Ele pegou a agenda. —-Diga o número do seu vôo e a data.
Vamos ver se encontro lugar no mesmo avião.
Inclinou a cabeça, observando os números que Anna tinha escrito para ele.
Estou curioso para conhecer Reikjavik. É onde seus pais moram, não?
-É
— Precisamos de algum visto especial no passaporte?
— Não.
Ele a abraçou, dizendo que precisava ir embora.
— Até logo para as duas. Ainda tenho que verificar algumas coisas para o
trabalho de amanhã.
Anna o acompanhou até o carro e voltou para comentar sobre o fim de semana
que a avó linha passado com Tim. Jane, ao que tudo indicava não estava nem um
pouco surpresa com a notícia do casamento. Era de opinião que Anna c Paul tinham
sido feitos um para o outro.
Depois de terminarem de arrumar a cozinha, Anna subiu para o quarto, estava
exausta. O dia seguinte era segunda-feira, um dia sempre movimentado na
Enfermaria Rowan.
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Além disso, queria ficar sozinha para pensar era tudo que havia acontecido.
— Quero casar com você — Paul tinha dito. E Anna lembrou os beijos dele, as
carícias, e a paixão violenta que demonstrava quando estavam sozinhos.
— Oh, Paul, eu te amo tanto. . . — murmurou, enquanto escovava os cabelos.
Estava diferente, reparou. Seu rosto já era outro. O de esposa de Paul. Nunca o
desapontaria. Ele se orgulharia sempre de tê-la escolhido. Ia ajudá-lo de todos os
jeitos e amá-lo sempre. Como conseguiria esperar o tempo que faltava para o
casamento?
Anna logo percebeu que a semana seria duríssima na enfermaria. A enfermeira-
chefe não fez nenhuma pergunta sobre o fim de semana de Anna e até os pacientes
pareciam mais tristonhos do que geralmente. Além de cuidar deles, Anna teria agora
de ficar de olho na nova estagiária, e a dra, Lancing tinha uma porção de novos casos
graves que requeriam máxima atenção.
Logo na segunda-feira, pouco antes das cinco, Paul tinha entrado na enfermaria
com a médica.
.— Olá! Eu gostaria de dar uma olhada no sr. Stephens. Já chegaram os
resultados dos exames dele? .• —. Sim, dr. Keslar.
— Então, coloque junto estas anotações. — Erika Lancing pegou os papéis e
se encaminhou para o leito, deixando Paul e Anna sozinhos perto da mesa.
Ele disse, depressa:
— Gostaria de ver você esta noite. Acho que tenho boas notícias.
— Quer ir jantar?
— Não. Tenho uma reunião às sete. Vou mais tarde, quando voltar para casa.
— Está bem.
— Até logo.
Como ele ficava diferente, ali no hospital.
— Que recepção! — ele disse, depois de se beijarem diante da porta da
cozinha, com Shane pulando em volta dos dois.
— Você parece cansado.
— Nossa! Estou mesmo! Mas tenho boas notícias. A agência de viagens me
arranjou um lugar no seu vôo. Portanto, poderemos ir juntos na manhã de sábado. O
que acha?
— É maravilhoso, Paul! Preciso telefonar para a Islândia agora mesmo. Vamos,
venha conversar com meus pais.
A voz de Anna tremia, quando contou que Paul ia visitá-los junto com ela. Eve e
Ralph ficaram encantados. Paul falou com eles e pediu que lhe reservassem um hotel
perto da casa.
— Mas pode ficar conosco — Eve disse, animada.
— Claro! — Ralph falava da extensão. — Queremos hospedar vocês. Vamos
esperá-los no aeroporto.
Anna deu o braço a Paul, quando desligaram o telefone, satisfeita em estar
perto dele, mas sabendo que seus pensamentos iam em direções diferentes. Resolveu
fazer um café, pois estava emocionada demais e precisava fazer algo que a distraísse.
— Paul... — ela começou, segurando o bule. — Não precisamos ficar
noivos, não é? Podemos guardar tudo em segredo. Só para nós
— Acho que já podemos nos considerar noivos. Vou comprar um anel...
— Não, ainda não. Sei que está gastando muito dinheiro nessa passagem de
avião.
— Oh, Anna! Vou arranjar um anel na hora certa. Já lhe disse que tenho que ir
a Cardiff para um seminário, no próximo fim de semana? Provavelmente, depois, terei
tempo de passar algumas horas com meu pai. Como tenho que preparar a palestra, só
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Todos os outros dias iam ser cheios de passeios com novas paisagens. Iam ver
a lama subindo à superfície das fontes de água quente e as montanhas cobertas de
neve. Ao voltarem a Reikjavik, estariam sempre cansados, mas mais satisfeitos do que
nunca.
Na quarta-feira, Ralph resolveu levá-los até as margens do rio Hvalfjõrdur, um
dos mais famosos, e depois até Akranes.
— Ê uma das regiões mais escarpadas. Aqui há tantos contrastes! Não se
pode deixar de ver os campos de gelo perto de Eriksjókuli, onde há crateras de
vulcões muito interessantes.
— Ralph, talvez eles prefiram fazer compras,
- Não — Anna e Paul disseram ao mesmo tempo. — Gostaríamos de ver o
máximo possível, enquanto estamos juntos. Podemos fazer compras juntas na
semana que vem, mamãe, depois que Paul for embora.
— Então, sugiro que levemos barracas, para passarmos a noite lá. Acho que
Paul vai gostar muito da paisagem.
— Sim, vamos fazer esse passeio. Ê muita gentileza sua, sr. Ralph, querer
dirigir até lá. Parece longe.
A manhã estava linda, quando partiram, parando rapidamente para um café e
em Bórganes para o almoço.
A estrada margeava o rio de águas muito azuis e geladas e eles tomaram o
caminho do interior, em direção às montanhas cobertas de neve. Ralph estacionou
quando chegou perto de uma delas.
— Aqui está um campo coberto de lava. Vamos contorná-lo. Depois, levarei
vocês até uma das crateras.
Começaram a caminhar, satisfeitos por terem levado sapatos fortes e
confortáveis. Os dois homens foram na frente.
— Lamento, mas não gosto muito desse tipo de paisagem. — Eve confessou.
— É um terreno nu demais para o meu gosto. Ao contrário de mim, seu pai adora isto.
Será que Paul está gostando?
— Acho que sim. Mas sei o que quer dizer. Parece um cenário trágico, não?
Continuaram subindo pelo lado da cratera. Anna sentiu que preferia a
grandiosidade e o perigo de Gullfoss, mas depois de algum tempo, ao ver a
profundidade das rochas e dos abismos, percebeu que a natureza ali também se
mostrava com toda sua força.
Os homens chegaram à beira da cratera e suas vozes ecoavam ao longe. De
repente, Anna recuou.
— Acho que não quero subir até lá. Estou com arrepios. É tudo cinzento e
duro.
— Eu sei. Contrasta muito com o colorido de todo o resto da paisagem-. Vamos
esperar aqui?
Eve procurou avisar Ralph e Paul que iam ficar paradas ali. De repente,
percebeu que Anna perdia o equilíbrio, escorregava e caía de encontro as rochas.
Para seu horror, viu a filha rolando, sem conseguir se segurar.
Seu grito ecoou pelas montanhas e foi levado pelo vento.
— Meu Deus! Anna! — Paul gritou.
— Segure-se, minha filha! — Ralph estava desesperado.
Anna sentiu as mãos sangrando e as unhas quebrando. Tentou agarrar
qualquer coisa desespcradamente. Mas continuava a escorregar. Bateu a cabeça
numa rocha pontiaguda e mergulhou ;na escuridão.
Projeto Revisoras 61
Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
CAPITULO X
Anna nunca soube o que tinha acontecido em seguida, nem que Paul chegara
primeiro perto dela. Ele se esticou no chão, na entrada da gruta, gritando o nome de
Anna. Ralph iluminou com a lanterna o interior da gruta, sem saber de que altura ela
havia caído. Ali tudo parecia gigantesco, com aqueles penhascos sem fim.
Ninguém sabia se Anna estava viva, nem o que fazer naquele primeiro
momento.
— Ela está na beirada. Não pode escorregar mais, graças a Deus — Ralph
disse. — Mas vai ser difícil tirá-la daí, sem machucá-la ainda mais. Está desmaiada.
Por favor, fique aqui com minha esposa, Paul, enquanto vou pedir ajuda. A equipe de
resgate deve chegar dentro de meia hora. Rezem para que não seja nada grave. Pelo
amor de Deus, segurem-se, para não caírem também.
Saiu, apressado, e logo o carro amarelo desaparecia na estrada, lá embaixo.
Eve sentou no chão, muito quieta e trêmula. Paul segurou a mão dela e continuou
iluminando com a lanterna o corpo inerte de Anna .
— Não podemos fazer nada até a equipe de resgate chegar. Por favor, fique
calma.
— Mas. . .
— Anna não está sentindo nenhuma dor.
Parecia que havia passado anos, mas foi só meia hora, até um jipe chegar.
Alguns homens saltaram e começaram a subir, levando cordas e uma maca.
— Fiquem onde estão! — um deles gritou.
—- Quero ajudar — Paul protestou. — Preciso fazer alguma coisa.
— Oh.. . Deus queira que ela esteja viva — Eve soluçou, desesperada.
Paul a abraçou, e Ralph se aproximou, muito pálido e nervoso. Tinha trazido
uma garrafa de brandy do carro e todos tomaram um gole enquanto a equipe de
salvamento atirava as cordas para dentro da caverna. Pareceu demorar uma
eternidade, até Anna ser trazida para fora. Paul se ajoelhou ao lado dela* levantando
suas pálpebras e sentindo o pulso.
— Está viva. — Apalpou seu corpo procurando alguma fratura. Um dos homens
limpou o sangue do rosto dela. Paul viu que tinha
um grande corte no joelho e aplicou um torniquete, auxiliado pela equipe
médica.
—- Aqui no braço também. Vou enfaixar a cabeça, O hospital é longe?
— Em Akranes.
— Não podemos esperar uma ambulância.
— Podemos levar a maca no jipe. Já estamos acostumados a fazer isso,
doutor.
— Ôtimo. Vou com vocês.
— Nós os seguiremos —- Ralph avisou e, segurando com força o braço da
esposa, começaram a descer. Ele queria perguntar a opinião de Paul, mas não havia
tempo.
Paul suspeitava de uma fratura no crânio, apesar de não ter certeza. Só podia
rezar para que não houvesse lesões internas. Ela devia ter caído de lado e seu corpo
dilacerado o deixava em pânico. Mesmo sendo treinado para esse tipo de emergência,
não podia esquecer que se tratava da sua amada Anna. E, durante todo o caminho
para o hospital, não tirou os olhos dela.
Como aquilo po$ia ter acontecido com Anna? A sua Anna? Por quê? Não
aguentava ver seu rosto manchado de sangue, cheio de arranhões e cortes.
Projeto Revisoras 62
Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
Enquanto esperavam, ele rezou. O último médico chegou para falar sobre os
ferimentos.
Vinte e quatro horas mais tarde, Anna abria os olhos, tentando reconhecer a
enfermeira que estava a seu lado e aquele estranho quarto de hospital. Não conseguia
conversar. Sua voz parecia estranha.
— Onde... estou?
— Num hospital.
— Eu sei...
— Sofreu um acidente, srta. Forster. Por favor, fique quieta. Sua perna e o
braço estão engessados.
— Paul... — Fechou os olhos de novo.
A enfermeira foi até a porta e, depois de conversar algum tempo em voz baixa,
deixou que alguém entrasse.
— Anna, estamos aqui,
Doeu, quando ela abriu os olhos. Ele sabia disso e pediu:
— Fique com os olhos fechados, meu bem. Eu converso com você. Está tudo
bem, querida. É que você levou uma porção de pontos e vai sentir dores por todo o
corpo.
— Não, . . não posso mexer a cabeça.
— Foi uma pancada séria. Podia ter sido mortal. Ela tentou levantar a mão,
mas não conseguiu.
-— Anna, estou aqui! Fique calma. Você precisa descansar. Vão lhe dar outra
injeção e poderá dormir. Tudo está bem, querida. Tente ficar tranquila. Seus pais
querem vê-la só por um minuto.
— Oh, Paul. .. nossas férias. . . — Não sabia que estava chorando, até sentir
as lágrimas salgadas chegando aos lábios.
— Não pense nisso. Agora, você precisa ficar boa. Talvez demore um
pouquinho, mas vai sarar.
Beijou a mão dela, mas Anna nem percebeu. Só acordou na manhã seguinte.
Ralph e Eve tinham ido para Reikjavik e já haviam se passado quarenta e oito horas
após o acidente. Paul e o outro médico concordaram que ela devia ser levada para a
capital, para ficar perto dos pais.
— Eu vou acompanhá-la — ele disse, depois de lhe dar a notícia. — Vou cuidar
de tudo. Mas não pense que será mais fácil, só porque está perto deles.
Ela reconheceu a mesma voz que ele usava com os pacientes no
hospital, quando queria explicar algo difícil Mas logo em seguida perdeu os
sentidos, era muita dor por todo o corpo. Lembrou vagamente de ouvi-lo dizendo à
enfermeira:
— Ela vai precisar de mais sedativos.
Na ambulância, tentou abrir os olhos e observar o teto branco, mas não
conseguiu.
Observando seus esforços, uma enfermeira pegou rapidamente uma vasilha.
Mas foi Paul quem a segurou, quando sentiu náusea.
— Estamos quase chegando. Tente dormir — disse, num tom que parecia
muito distante. Ela ouviu o próprio gemido, e nada mais.
Então, acordou. Via corredores brancos e paredes muito limpas. Ainda sentia
dor nos olhos e sabia que estava amarrada na maca. A enfermeira segurava o tubo da
transfusão.
— Ela desmaiou de novo — alguém disse, muito distante. Agora, havia vozes
no quarto. Uma voz de homem. Um médico.
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Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
Sabia que era um médico. A voz era familiar. Já tinha ouvido aquela voz antes.
Onde? Os dedos frios dele estavam em seu pulso.
— Parece que o coração está batendo com mais calma, agora. Que apuro!
Sem dúvida, ela teve muita sorte.
Onde tinha ouvido aquela voz, antes? Em vão, Anna tentou abrir os olhos.
— Quanto tempo ela terá de ficar com os pontos no rosto, Jon? — Paul
perguntou,
— Uns cinco dias. Talvez fiquem algumas cicatrizes. Os cortes mais profundos
foram nas pernas.
Paul se aproximou da cama.
— Está acordada, Anna? Abra os olhos.
Ela obedeceu apesar de sentir as pálpebras pesadas.
— Como se sente, meu bem?
— Horrível.
— Querida, Jon vai cuidar de você. Lembra dele? Esteve na casa de seus pais.
— Sim... — Não se atreveu a mexer a cabeça.
Depois daquilo, muitas pessoas entraram e.saíram. Ralph, Eve, as enfermeiras,
os médicos. Ela dormiu, acordou, dormiu de novo. Cada movimento causava dor. Uma
dor aguda, que parecia queimar. Não
lembrou o que Paul havia dito sobre os ferimentos. Mas agora queria saber de
tudo. O dr. Jon Erikson parecia relutante em responder ao que ela perguntava. Por
exemplo: Por que sua cabeça estava enfaixada?
— São fraturas leves? — Havia uma enfermeira por perto, pegando alguns
instrumentos e Anna levantou o braço engessado, pedindo informações: — Posso ver
minha ficha?
— Não, srta. Forster — Jõn Erikson disse. — Estou aliviado de vê-la tão bem.
— Por que estou com a perna engessada?
— Sofreu uma fratura e tem cortes muito profundos,
— Sou enfermeira na Inglaterra, dr. Erikson. Quantos pontos levei na perna?
— Dezoito.
— Oh. . . E no rosto?
— Logo estará curada. Vamos tirar os pontos dentro de alguns dias.
— Eu sei. E as cicatrizes... — Contra a vontade, sentiu as lágrimas descerem
pelas faces. — Vou ficar muito marcada?
— Ainda é cedo para saber. Deixe esse problema conosco.
Quando seus pais chegaram, à tarde, Anna estava tão deprimida, que os dois
ficaram ansiosos. Foram chamar Paul, que procurou consolá-los do melhor jeito que
pôde.
— Ela tem um corte na linha do cabelo, que vai sarar logo, junto com o resto.
Levou também alguns pontos atrás da orelha e esses serão removidos numa semana.
Anna precisa descansar e vai levar um bom tempo antes que supere tudo isso.
Devemos ter muita paciência com ela.
Aliviados, os pais começaram a ter novas esperanças.
— E o seu trabalho, Paul? Precisa mesmo ir embora no sábado?
— Sim. Vou esperar até amanhã. Há tempo de cancelar a reserva, se for
preciso. Mas Anna está em boas mãos. E não posso fazer nada por ela, a não ser vê-
la sofrendo todos os dias.
— Tem seu compromisso no Calderbury, não é? — Ralph perguntou.
— Sim. E uma reunião muito importante na quarta-feira.
— Ela não vai querer que você parta.
— Eu sei. — Paul se virou lentamente para Eve. -— Mas ela precisa entender.
Projeto Revisoras 64
Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
Odeio deixá-la assim, pois terá que aceitar muitas coisas. Gostaria de ajudá-là mais.
Mas não posso. Lamento. Naturalmente vocês estarão com ela.
Eve sentiu que ele estava preocupado e foi até a cozinha buscar um café, e
desabafar, chorando livremente. Quando voltou, Ralph estava dizendo:
— Vamos trazê-la para casa, Paul, assim que puder ser transportada.
— Poderá vir logo, espero. Agora, preciso resolver sobre meu vôo de volta.
O telefone tocou e Ralph foi atender. Depois, estendeu-o para Paul
— É para você. Uma mulher chamada Bronwen.
Viram que ele segurava o aparelho e fechava os olhos por alguns momentos,
antes de atender.
— Aqui é Paul Keslar. — Fez uma pausa. — Quando foi Bronwen? -— Depois,
ouviu por mais alguns momentos: — Sim, sim, naturalmente. Voltarei amanhã e vou
direto do aeroporto até aí. — Desligou e sentou-se pesadamente numa poltrona. —
Meu pai teve um colapso. Tenho que voltar imediatamente.
Ele estava triste e com ar de quem não tinha dormido bem nos últimos dias.
Primeiro, Anna.. e. agora, o pai... tentava se controlar, mas Eve percebeu que Paul
tinha os olhos úmidos.
Depois de algum tempo, disse que ia ver Anna na manhã seguinte, antes de
partir, e explicar por que não havia outra escolha,
— Tenho certeza de que ela compreenderá. Mas vai se sentir sozinha. Poderá
pensar...
-— Que você devia ficar? — Eve interrompeu.
— Sim. — Não se atreveu a comentar o que estava pensando. Anna poderia
pensar que agora ele estava fugindo. Agora que ela ia ficar com cicatrizes e que podia
perder o lindo rosto de antes. Talvez Anna achasse que ele não conseguiria conviver
com as cicatrizes dela e ainda mancando de uma perna ou até coisas piores.
— Vocês foram maravilhosos, obrigado — ele se despediu dos pais dela. -—
Vamos nos encontrar no futuro. As vezes, nossos planos não dão certo, como
esperamos.
— Diz isso por causa de seu pai?
— Sim. Bronwen não ia me chamar aqui, se não fosse algo muito grave e
absolutamente necessário. Ela é a enfermeira dele.
Na manhã seguinte, Anna estava se sentindo um pouco melhor e até sorriu,
quando viu Paul entrar no quarto e sentar rui cama a seu lado.
— Assim tão cedo?
Ele explicou que precisava voltar antes do planejado. Ela ouviu tudo, sem
comentários, mas Paul percebeu que ficou com ar triste.
— Odeio deixar você, mas seus pais vão levá-la para casa logo. Fique boa
depressa. Eu estarei esperando.
— Estranho, não? —- ela arrastava um pouco as palavras. —- Ê estranho estar
do outro lado da moeda. . . recebendo os cuidados, como paciente. Eu não sabia
como é preciso ter confiança nas enfermeiras e médicos...
Ele levantou.
— Precisa ir já?
— Sim. — Curvou-se e beijou-a nos lábios, segurando as mãos dela. — Eu
amo você, lembre-se. Até logo, querida. Fique boa depressa.
— Até logo — Anna murmurou corajosamente e não derramou nem uma
lágrima, até ele fechar a porta.
A enfermeira chegou com os sedativos e Anna não chorou, até que retirassem
as ataduras de sua cabeça, Então, sentiu os cabelos espetados e ficou desesperada.
Nem tinha pensado na hipótese de sua cabeça ter sido raspada. Não sabia também
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Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
dos pontos e dos problemas acusados pelas radiografias tiradas horas depois do
acidente.
— Quero um espelho, por favor -— pediu à enfermeira.
O dr. Jon disse que lhe mandaria um, mas foi Eve que, percebendo o desespero
da filha, tirou um espelhinho da bolsa e entregou à filha.
— Seu cabelo teve que ser raspado, mas logo vai crescer. Está parecendo uma
atriz, agora., . uma francesa que seu pai gostava muito.
— Estou horrível! — disse, num tom gelado. — Não é de admirar que Paul
estivesse ansioso para partir.
— Ele não tinha escolha, Anna. Soube o que aconteceu ao pai dele?
— Não aguentava olhar para niim. Vi isso nos olhos dele!
— Não chore querida! Paul ama você. Continue a mesma moça de antes.
Quando o encontrar novamente, verá que nada mudou. O dr. Jon disse que vai tirar os
pontos logo e que não ficarão cicatrizes profundas.
— É isso que eles fazem sempre. Por que tinha que acontecer quando estava
tâo feliz? Sou uma enfermeira, ajudo as pessoas. Olhe! Agora estou um lixo. Um lixo. .
. e não posso nem me mexer!
— Calma, Anna. — O médico interrompeu. — Fique calma. A não ser que
queira de volta suas dores de cabeça.. Agora, quanto aos pontos...
A voz dele era autoritária e ela entendeu. Estava evitando que tivesse um
ataque histérico.
Anna sentia uma terrível falta de Paul Sentia, também, falta da rotina do hospital
e imaginava por que ninguém lhe escrevia. Na certa, não se importavam. Mas
ninguém escrevia porque ninguém sabia de nada. Paul ainda não saíra de Gales.
Chegou uma carta dele e outra da avó. Foi a enfermeira quem as abriu e Anna
não viu o carimbo do correio de Gales. Ficou imaginando que ele já estivesse no
Hospital Calderbury.
Paul dizia que sentia saudade e esperava que ela estivesse melhor.
Conhecendo-a, sabia que ia ter firmeza suficiente para superar os problemas. Estava
muito ocupado. Tinha que fazer muitas coisas, mas sua querida Anna nunca saía de
seus pensamentos. Que ela voltasse logo para casa. Precisava dela.
Nenhuma palavra sobre o pessoal do hospital. Ele tinha mudado muito. Não a
chamava mais de garota adorada e só se preocupava com o fato de ela superar os
problemas com coragem.
Oh, ele sabe quanto estou marcada!, pensou. Vou ficar horrível, locou os
cabelos. Oh, Deus, ele nunca mais vai querer olhar para mim!
Sua amargura aumentou ainda mais, pois agora tinha tempo de sobra para
sentir pena de si mesma. Quem iria se importar com ela? A segunda carta de Paul não
a ajudou em nada. Ele não queria aborrecê-la com a notícia da morte do pai e, por
isso, a carta era curta, falando apenas sobre Gales. Ela o sentiu distante e interpretou
de modo errado quase todas as frases.
Ele esfriou definitivamente, disse a si mesma. Talvez na próxima carta, já
escreva terminando tudo. Claro, Paul tinha que pensar no futuro. Ela não poderia se
tornar a esposa de um médico famoso, com aquele rosto. Não poderia receber os
amigos dele, nem dividir mais nada com Paul. O sonho tinha terminado.
Decidiu que era melhor que o rompimento partisse dela. Sabia que ele não ia
querer uma esposa cheia de cicatrizes e manca, E era assim que ia ficar.
Positivamente não havia nenhum futuro para os dois.
Naquela noite, pediu que sua mãe colocasse no correio, no dia seguinte, uma
carta. Eve não tinha a menor idéia do que Anna tinha escrito. Mas foi a primeira a
saber, por causa de um telefonema de Paul
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Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
— Ela escreveu que não me ama mais, que não está mais pensando em casar
— ele disse, desesperado. — Espero ter forças para aceitar a decisão dela. Bem,
enquanto estiver nesse estado, nada vai fazê-la mudar de idéia. Portanto, vou esperar.
Ela está sofrendo, A maioria das pessoas tem isso, quando o corpo sofre algum golpe
sério. Precisamos ter muita paciência. Cuidem dela por mim.
— Tenho certeza de que Anna não mudou em nada, Paul
— Ela me pediu que respeitasse os sentimentos dela e que não escrevesse,
nem tentasse vê-la.
— Acho que isso é temporário. Lamento tanto, Paul. . . — Eve consolou.
— Escreva, contando como ela está, sim?
— Claro.
No começo de setembro, Anna voltou para a Inglaterra. Ainda usava muletas,
mas seu rosto havia cicatrizado depressa, e o dr. Jon acreditava que as marcas não
seriam visíveis. Na perna havia uma cicatriz que ia do joelho até o alto da coxa. Os
cabelos já tinham crescido, com a mesma aparência sedosa.
Agora, nada mais importava a Anna, estava em estado de completa apatia. O
brilho de seus olhos, há muito, havia desaparecido.
Seu olhar agora era triste e pensativo. Seu modo de pensar havia mudado e
não sentia mais prazer, nem nas coisas simples. Não pensava nem mesmo em
trabalhar, pois, se voltasse ao Calderbury, encontraria Paul lá.
Talvez, um hospital perto da praia. Em Margate, quando estivesse melhor...sava
nem mesmo em trabalhar, pois, se voltasse ao Calderbury, encontraria Paul lá.
Talvez, um hospital perto da praia.Em Margate, quando estivesse melhor...
CAPITULO XI
Como Anna não teve mais notícias de Paul desde que voltara da Islândia,
achava que ele havia concordado com tudo o que lhe dissera naquela última carta. O
que mais a assustava agora era a possibilidade de se encontrar com ele. Já não era a
garota que ele amava: estava com o rosto e o corpo marcados.
Todos os colegas tinham ido visitá-la levando presentinhos. Jill Slade trouxe
notícias do hospital, que só serviram para piorar as coisas. A enfermeira-chefe da
Enfermaria Rowan tinha escrito um bilhetinho e o dr. Lonsdale mandou um cartão e
flores. Como Jill não sabia nada sobre Paul, não tocou no nome dele, até que Anna
perguntasse.
— Oh, sim, ele esteve ausente algumas semanas. Não sei onde foi. Mas já
voltou. Ouvi um boato... não sei se é verdade. Dizem que pediu transferência para um
hospital em Gales.
— Oh. ... —Anna respirou fundo.
— Está com dores?
Ela sacudiu a cabeça e não quis dizer à outra que era uma dor no coração.
Quando Mervyn chegou para visitá-la, naquele fim de semana, Anna estava
sentada no jardim. Era o mesmo de sempre, alegre, bem dis posto, as mangas da
camisa enroladas. Mervyn sentou a seu lado, na grama. Estava muito grata a ele por
nunca comentar sobre suas cicatrizes, Mervyn só havia perguntado:
— Quando vai tirar essas coisas? O almoço da colheita vai ser logo, você sabe.
Tente andar um pouco. — E empurrou as muletas para longe dela.
—- Daqui a pouco vou começar a fazer fisioterapia. Depois...
— Pensei que fosse ficar diferente. Disseram coisas horríveis. Mas parece que
eram só boatos. Quando vi você no jardim, quis logo entrar. Não vim antes porque
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estava cuidando das macieiras. Este ano teremos a melhor colheita dos últimos
tempos.
-— Ouvi os tratores subindo e descendo os morros. Estou contente que este
tenha sido um bom ano, Mervyn. Você disse que não estou diferente. Mas, e meu
rosto, meus cabelos?
— Está o mesmo e os cabelos estão só mais curtos. Vão crescer logo e poderá
cortá-los como quiser. Além disso, você costumava usá-los presos, de vez em quando.
Vai ao nosso almoço, não? Eu venho buscá-la. .
— Não. Este ano, não vou. Obrigada por me convidar.
— Está bem. — Ele levantou. — Mas vou insistir outra vez. Ale gre-se, garota!
Ê tempo de castanhas e logo vamos colhê-las para o Natal
Tocou seu ombro, num gesto de simpatia, e Anna sentiu um nó na garganta.
Mas agora quase não chorava.
Por que tinha que se apaixonar por alguém como Paul? Mervyn teria sido tão
melhor. . . Era simples e ia aceitá-la como estava. Não sentia mudanças no amigo
quando estava ao lado dele. As pessoas do campo são muito menos complicadas.
Estão sempre pensando na próxima colheita e planejando as plantações. No domingo
seguinte, a igreja estaria transbordando de frutas e flores. Era a bênção da colheita.
Setembro, nesse ano, estava muito agradável. Eve e Jane tinham vol tado do
supermercado, e Anna viu quando tornaram a sair de carro. Sentia falta do movimento,
mas não tinha ânimo para nada.
Talvez, algumas semanas de fisioterapia, e pudesse pensar nova mente em
trabalho.
— Só depois do Natal — a enfenneira-chefe a tinha avisado em sua última
visita.
— Daqui a três meses? Vou ficar louca — Anna protestou. Bem, finalmente,
teria algo em que pensar. Jill estava certa: Paul já não estaria mais no Calderbury e
não haveria perigo de encontrar com ele. Bastariam as recordações.
Oh, Paul, você nunca vai saber o que sofri por rejeitá-lo! Preciso tanto de você!
Mas, Jill tinha dito que ele ficara afastado por duas semanas/Então, tinha ido para
Gales! Teria conseguido lá uma pro posta para um novo emprego? Esperava que o pai
dele não sofresse em saber que já não estavam juntos. Bem, não tinha importância. O
único desejo do velho era que os netos crescessem amando aquela -casa. Paul
poderia casar com alguma moça de Gales.
Sua mãe e sua avó estavam de volta com as compras.
Foi Jane quem contou que unnam encontrado Paul na cidade.
— Ele nos convidou para um chá num lugar muito caro, perto do
estacionamento. Onde têm aqueles doces deliciosos, sabe onde é?
Quando terminaram de contar o encontro, Anna estava recuperada o suficiente
para dizer:
— Então, ele não estava no hospital! Mas quarta-feira é dia de examinar os
pacientes!
— Ele ia para o banco, querida — Eve disse, com cuidado.
— Como ele estava?
— Como sempre. Parecia um pouco cansado. Talvez tenha traba lhado
demais. Sabe que o pai dele morreu? — A avó perguntou
— Não. Quando?
— Quando vocês estavam na Islândia. Ele precisou voltar. .. você não lembra?
— Eu pensei... — Interrompeu-se.
— Ele disse que arranjou um novo emprego num hospital em Ga les, perto da
velha casa. Parece que vai ser diretor. — A avó estava calma. — Eu sabia que ele ia
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Bianca 124 - Só em teus braços - Elizabeth Petty
perfeita!
— Eu não disse que quero uma esposa perfeita, Anna. Só quero a minha garota
adorada. — Depois, murmurou no ouvido dela Sua avó está olhando para nós, lá da
janela. Vamos contar a ela. ou acha que já desconfiou?
— Vovó! — Anna pegou a bengala e, ajudada por Paul, cami nhou em direção à
casa. — No começo ela desconfiava — comentou, baixinho, com ele.
— Ê, ela me disse.
— Vai ficar feliz, porque meus pais vão voltar definitivamente para casa. Papai
decidiu que, depois do Natal, não volta mais para a Islândia. Eu vou sentir falta daqui.
— Poderá voltar sempre. Quantas vezes quiser. Imagino que nos sos filhos vão
gostar deste bosque. Precisamos resolver logo quais as mudanças que quer fazer lá
em casa. Novas cortinas, novos móveis. Quero que fique tudo a seu gosto. Vai ser a
sua casa agora. Deve amá-la também...
-— Eu já a amo — ela disse, jogando as muletas de lado e apoiando-se no
braço dele. E assim entraram em casa.
Fim
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