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Sinopse

A pergunta que Levi e Aiden têm se feito ao longo dos meses é: o


que fazer quando seu melhor amigo e irmão gêmeo está apaixonado pela
mesma mulher que você? Ambos estão em conflito com seus sentimentos
por Jules Petrov, mesmo ela sendo membro de uma das famílias mais
poderosas da máfia. Eles não acreditam que Jules seja capaz de enfrentar os
desafios impostos pela vida deles, que incluem inimigos em potencial que
desejam vê-los mortos.
Infelizmente, Jules também não está disposta a esperar que os dois
homens tomem uma decisão, mesmo que isso signifique ignorá-los e fingir
que seu corpo, coração e mente não anseiam por eles a cada momento em
que estão na mesma sala. Ao contrário da prima de Jules, que sempre
sonhou em encontrar um amor duradouro, Jules deseja aproveitar o
momento, vivendo um dia após o outro e desfrutando de cada segundo.
No entanto, a situação torna-se cada vez mais delicada, uma vez
que Jules desperta sentimentos conflitantes em ambos os irmãos. Agora, a
questão que fica é: como essa história vai terminar?
Sumário
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Epílogo 1
Epilogo 2
Epílogo 3
Jogando com o amor
Mia
Mia
Mia
Carter
Ebooks disponíveis
Playlist
Redes sociais
Prólogo
Jules
Não consigo dormir bem quando estou em um plantão. Você
pensaria ser o barulho constante, médicos sendo chamados no alto-falante
do hospital, mas a verdade é que não consigo desligar meu cérebro quando
sei que a vida de outras pessoas depende de mim.
Foi a minha perda de audição somado com a forma que os meus
pais lidaram com tudo, que me fizeram desejar ser médica. Eu era uma
criança quando descobrimos, e ver o desespero dos meus pais na busca por
um profissional adequado me instigou a ser uma boa médica. Saber que
milhares de pessoas não tinham a mesma condição de vida, e que não
conseguiriam as mesmas oportunidades, mexeu comigo.
— Essa noite vai ser longa. — Lua, minha enfermeira favorita no
plantão, comenta.
— Bom, assim o tempo passa mais rápido. — Termino de
preencher o prontuário e entrego a ela.
— Vou cuidar disso. — Promete. — Aproveitando que já fez sua
ronda, vá descansar um pouco.
— Eu…
— Doutora Jules Petrov, por favor compareça à sala de
emergência imediatamente.
Solto um suspiro, deve parecer triste quando Lua me lança um olhar
de pena antes de se afastar. A verdade é que estou animada por não ter que
arrumar uma desculpa para não deitar, ao menos não precisarei ficar
encarando o teto ao longo da próxima hora fingindo que não estou
preocupada com os pacientes.
Corro para a sala de emergência e chegando lá me deparo com o
caos, um jovem de quatorze anos com um ferimento de bala no peito,
acompanhado de outros dois homens. Vejo ser muito grave e as chances de
sobrevivência são baixas, e não dependem de mim.
— Chame a cardiologia. — Mando, sem saber quem vai cumprir a
ordem.
Tudo se torna um borrão nas próximas horas, faço o que posso para
salvar a vida do garoto, acompanho o especialista durante a cirurgia,
quando terminamos, o garoto sofreu três paradas cardíacas durante o
procedimento, seu estado é delicado e as próximas horas vão dizer se ele
consegue ou não.
Os dois homens que estavam como garoto, estão sentados na sala de
espera, quando passo por lá eles se levantam e vem na minha direção.
— Aonde pensa que está indo? — O mais alto praticamente grita
comigo.
Sou pega de surpresa com o tratamento brusco.
— Senhor, o médico responsável pela cirurgia não deu notícias do
paciente? — Pergunto.
— Sim, e ele nos disse que vocês são os responsáveis pelo meu
filho.
— Exatamente, seu filho está em uma ala especial de cuidados
intensivos. — Ainda não entendi o que ele quer dizer com toda essa
conversa.
— E você deveria estar lá com ele! Volte a fazer o seu trabalho.
Não me leve a mal, eu amo ser médica e salvar vidas, mas algumas
pessoas tornam o meu trabalho difícil. Pacientes que mentem a respeito de
como seu quadro de saúde se tornou tão crítico, com desculpas idiotas sobre
o porquê não procuraram um médico antes, e o pior, os familiares que
acham que apenas os seus parentes merecem tratamento médico.
Preciso dizer qual tipo esse idiota se encaixa?
Estar preocupado com um ente não dá a ninguém o direito de tratar
as pessoas como se fossem seus empregados.
— Estou fazendo o meu trabalho, e ele inclui atender não apenas o
seu filho, como os outros pacientes da emergência, e os que ainda irão
chegar. — Respondo. — Peço que se acalme, seu filho está recebendo o
melhor tratamento, fizemos o que devia ser feito, agora é esperar e ver
como o corpo dele responde.
Não fico para ouvir sua resposta, mas posso jurar que ele disse:
“Se algo acontecer com ele, você está morta”
Certa de que ouvi errado, faço outra ronda e vou para o refeitório,
pegar um café e comer algo. Enquanto estou sentada, mando mensagem
para Anuvia, agradecendo pelas lingeries que ela me enviou, e não ficando
surpresa quando o telefone toca e o nome da minha mãe aparece na tela.
— Oi, mãe.
— Oi, bebê, seu pai e eu decidimos que você deveria morar mais
perto de nós.
Reviro os olhos.
Meu pai concordaria com qualquer coisa que ela dissesse, é assim
que eles trabalham, brigando, discutindo, e depois concordando. Não tem
um momento onde ele não dá a ela o que quer, mesmo que isso signifique
uma viagem romântica no meio da noite, sem contar a ninguém.
— Mãe, eu vivo a vinte minutos de distância da casa de vocês, se eu
morar mais perto que isso, vou acabar na casa de vocês.
— De onde não deveria ter saído. — É o meu pai que diz isso.
— Concordamos que ela deveria viver. — Minha mãe responde.
Dou risada dos dois e continuo tomando meu café, ouvindo sua
discussão.
— E agora você quer a menina de volta em casa? Se decida
mulher!
— Nathan Petrov, não me irrite!
— Ela puxou o seu “espirito” livre. — Imagino meu pai fazendo
aspas com a mão.
Termino meu café quando eles chegam à conclusão de que ambos
querem que eu volte a morar com eles. E que a probabilidade de eu me
casar e ter filhos é tão baixa, que meu pai pode dormir tranquilo todas as
noites, sem se preocupar em afiar suas facas favoritas e limpar sua sala de
tortura.
— Não estou ansiosa para me tornar uma avó, mas em algum
momento terá que se casar, você ainda é virgem?
— Abby!
Não respondo essa pergunta, eles nem mesmo me dão tempo para
isso.
— O que foi? Ela é uma mulher adulta e saudável, nada a impede
de fazer sexo, desde que use camisinha.
— Mãe, não preocupe com minha vida sexual.
— Você tem uma? — O choque na voz do meu pai me faz rir.
— Deixe a menina!
— Amo vocês, tenho que voltar ao trabalho.
— Te amamos, se cuide, vou mandar um motorista te buscar. Sabe
que nos preocupamos com você dirigindo após horas acordada.
Eles simplesmente se preocupam com a minha direção, é um
mistério para todos como consegui minha carteira de motorista.
— Tudo bem. — Desligo e guardo o telefone no bolso do meu
jaleco.
Jogo o copo de café vazio no lixo e volto, quando estou chegando
perto da ala de emergência meu nome anunciado com um código vermelho,
corro imediatamente para lá. A equipe de enfermagem já está reunida com
outro médico plantonista realizando a reanimação.
— Quanto tempo ele está assim? — Pergunto.
Estou acostumada a essa parte do trabalho, é nesse momento que
meu foco é no paciente e tudo o que aprendi é executado automaticamente.
Meu cérebro já está preparado para esses momentos, a adrenalina toma
conta permitindo que a mágica aconteça.
Depois de mais de quarenta minutos, estamos exaustos, e perdemos
o paciente. Anunciamos a hora do óbito, e o médico que fez a cirurgia sai
para dar a notícia ao pai do garoto. É sempre triste quando perdemos
alguém tão jovem.
— Odeio quando isso acontece. — Lua murmura enquanto
verificamos outros prontuários.
— Jules, eu posso pedir sua ajuda um momento? — A chefe da
enfermaria me chama.
— Algum problema?
— Sim, temos uma vítima de violência sexual esperando
atendimento na sua sala.
— Vamos logo. — Entrego para Lua a pasta nas minhas mãos e me
afasto.
— Jules, antes de ir lá, precisa saber de mais uma coisa.
Paro no meu caminho.
— A vítima tem sete anos.
Essa revelação por si só não deveria me surpreender, a bolha
colorida que muitas pessoas criam, fingindo que esse tipo de situação não
existe fora dos jornais, é facilmente rompida quando se entra em hospitais,
delegacias e fóruns. O que me surpreende é quando uma hora depois um
dos homens que acompanhava o garoto está parado do lado de fora do
quarto e a mãe da garotinha o encara com um olhar de medo.
Fecho a porta e tranco.
— Quem é aquele homem?
— Ele é o irmão mais velho do monstro que fez isso com a minha
filha.
Não discuto a parte do monstro, é mais fácil para algumas pessoas
acreditarem que atos de crueldade são coisa de monstros e não de pessoas
com um desvio de caráter. Humanos são ruins, e quanto mais cedo
aprendemos isso, mais difícil é associar tais atos a um monstro.
— Irmão mais velho?
— Sim, o estuprador tem 14 anos.
É incrível como um simples pedaço de informação pode mudar toda
como trabalho.
— Lua? — Ela saiu da sala para pegar alguns medicamentos, por
isso ligo para ela.
— Estou voltando para o quarto.
— Chame a segurança para remover o homem que está na porta do
quarto.
— Aconteceu alguma coisa?
— Apenas faça o que pedi.
Desligo o telefone e encaro a garotinha dormindo na cama, seu
rosto ainda está vermelho de tanto chorar.
— Não pode contar para a polícia, ele vai nos matar!
Quando penso na quantidade de problemas que não denunciar esse
caso pode me trazer.
— O garoto que fez isso com ela? Ele está morto. — Digo. — Foi
você que atirou nele, não é? — Acena. — A polícia não foi chamada, tenho
a sensação que ele quer manter isso em segredo. — Concorda. — Não pode
ficar por aqui.
— Não tenho para onde ir.
Preciso de uma solução para isso, uma que não me ligue ao
desaparecimento da mulher e da criança.
Não sou boa com esse tipo de situações, e não confio em ninguém
fora da minha família para me ajudar nisso. É quando lembro que o meu pai
enviaria um motorista para me buscar no fim do meu plantão, olho para o
relógio na parede, falta vinte minutos para isso acontecer, o carro já deve
estar me esperando no estacionamento privado.
— Tem um carro me esperando no primeiro piso, é um carro preto
com um motorista, vou enviar uma mensagem e ele irá te levar para uma
cabana que pertence a minha família, está bem abastecida. — Explico. —
Vão ficar lá até eu pensar em um plano.
— Muito obrigado. — Chora e se aproxima para me abraçar.
— Não me agradeça, deixe o seu telefone no lixo, não entre em
contato com ninguém.
Confiro se o homem do lado de fora já foi removido, e saio, longe
do alcance das câmeras, espero até ver ambas saindo do quarto e seguindo
as instruções que dei para chegarem no estacionamento.
Quando me viro, tomo um susto me deparando com o pai do garoto.
— Meu filho está morto!
— Fizemos tudo que estava ao nosso alcance para salvar a vida
dele. — Garanto.
Quando me formei, fiz um juramento de sempre preservar a vida,
sem julgar a pessoa que estou tratando. E pretendo me manter nesse
caminho, fazendo o oposto do que minha família costuma fazer.
— Não tenho tanta certeza. — Seu riso me causa uma onda de frio.
— Deveria ter ficado na sua.
Sigo sua linha de visão por cima do meu ombro, não vendo nada.
— Isso foi uma ameaça?
— Uma promessa.
Ele se distância, dá dois passos antes de me atingir com um soco no
rosto.
Caio no chão, zonza com o impacto, alguns enfermeiros correm
para me ajudar, mas o homem já se afastou.
— Vou chamar a segurança.
— Ele acabou de perder o garoto. — Dou uma desculpa.
De qualquer forma, o homem já havia se afastado, não adiantaria de
nada dar um show e chamar mais atenção para esse momento.
Um dos meus colegas, que avistou a cena de longe, insiste que devo
fazer alguns exames, apenas para “registro”, um procedimento do hospital
quando algo assim acontece. Olho para o relógio e suspiro, sabendo que
ficarei aqui por mais um tempo, antes de ir para casa.
Estou esperando o resultado dos meus exames quando meus pais
entram na sala, meu tio Dimitri e Ally logo atrás, todos parecem
preocupados comigo.
— Jules! — Minha mãe se joga na minha direção.
— Mãe? O que vocês todos estão fazendo aqui? Foi só um soco no
rosto.
— Soco no rosto? — Meu pai rosna. — Quem bateu em você?
Enxoto sua mão de perto do meu rosto, está dolorido, eles não estão
sendo muito delicados comigo.
— O parente de um paciente. — Estou confusa. — Por que estão
aqui se não sabiam sobre o soco?
Vendo que meus pais não vão responder, olho para o meu tio, que
balança a cabeça.
— O carro que seus pais enviaram para te buscar foi atacado, todos
os passageiros morreram na explosão.
— Explosão?
— Sim, pensamos que você estava lá, estávamos desesperados até
ligar para sua amiga e descobrir que ainda estava aqui. — Ally responde. —
Quem estava no carro?
Se todos os passageiros que estavam lá morreram, isso significa…
Meu Deus!
— Uma garotinha de sete anos e sua mãe, eu estava ajudando-as e
isso aconteceu…
Choro nos braços dos meus pais.
— Querida, não é culpa sua.
Quero acreditar que não, mas fui eu quem as colocou naquele carro,
eu prometi que estariam seguras. E ironicamente, quem as mandou para a
morte.
Lembro do sorriso daquele homem quando olhou por cima do meu
ombro, ele sabia que eu as ajudaria, ficou atento esperando pela
oportunidade certa, e agiu. O soco foi uma distração, uma que ele usou para
sair bem e matar aquela criança.
***
Meus pais me levam para a casa deles, onde me mentem por alguns
dias, se recusando a me deixar sair. Tive que adiar por mais um tempo a
viagem, o soco que levei danificou um dos meus aparelhos auditivos.
Além disso, minha mãe estava maluca, pronta para ir atrás do
homem que deu um soco no meu rosto, e caçar quem explodiu o carro. O
que ela não sabia é que ambas as pessoas são a mesma, ela também não faz
ideia do quanto estou assustada sabendo que esse homem está solto por aí.
— Não acho que deva viajar. — Meu pai diz.
— Vou estar segura com Anuvia, duvido que Lior vá permitir
alguém machucar sua esposa e bebês. — Pego minha bolsa e começo a
caminhar fora da casa.
— Vou te levar até o seu apartamento.
— Raphael está me esperando no carro, ele me ofereceu uma
carona, já que meu apartamento fica na direção de sua casa.
Eles querem discutir, mas não vão.
Se tem alguém nessa família que todos confiam na direção é
Raphael, e não ter passado por todo o drama que os outros passaram, tornou
meu primo uma lenda. No carro, coloco o cinto de segurança, e ele dirige,
quando estamos em uma distância segura de casa, respiro aliviada.
— Eles estão te sufocando? — Ri.
— Sim, já não bastar eu ser aquela que está sempre com um
motorista, agora tenho ambos no meu pé o dia todo.
— A primeira parte é devido ao quão ruim você dirige, sua direção
me dá medo. — Comenta. — Mas concordo com a última, embora sei que
está escondendo algo deles.
— Tentei ajudar uma pessoa e deu tudo errado, não tenho mais nada
a dizer.
Ficamos em silêncio até chegar no meu apartamento, Raphael sobe
comigo para pegar um presente que tenho guardado para Lavínia. Na frente
da minha porta, tem três caixas de entrega com um laço preto em cima, e
nenhuma informação de quem as enviou.
Raphael se aproxima delas, e pega todas, reclamando do peso.
Ele as coloca em cima do balcão, e quando abre, tenho vontade de
correr vomitar no banheiro. Estou acostumada a ver pessoas mortas, e
pedaços de corpo, mas isso acontece no trabalho, não na porra da minha
casa!
— Nada mais a dizer? — Raphael zomba. — O que aconteceu?
Sabe que posso te ajudar.
— Não quero falar sobre isso.
— Sua escolha, Jules, ou me conta e permite que te ajude, ou irei
contar para os tios.
— Eu te odeio!
— Lide com isso.
Contra minha vontade, conto a ele tudo o que aconteceu na noite do
acidente. Raphael não expressa nenhuma emoção e nem faz perguntas,
quando termino, estou lutando contra as lágrimas ao imaginar a garotinha
morta.
— O legista confirmou que o corpo é de uma mulher e de uma
criança de sete anos do sexo feminino, então sabemos que ele as matou. —
Diz. — E a ameaça dele foi clara, agora que ele sabe que mora aqui está
correndo perigo.
— Não vou ficar na cidade por muito tempo, estou indo para a casa
da Anuvia. — Lembro. — Ou acha que isso é uma má ideia?
— É a melhor coisa que pode fazer, fique longe e vou resolver essa
situação.
— Ele não sabe que sou uma Petrov, pelo menos não acho que
tenha feito essa ligação.
— Isso é bom, eu nunca ouvi falar desse homem na cidade, pode
ser alguém querendo problemas.
— Obrigado pela ajuda.
— Não me agradeça, temos que manter essa situação longe do
sobrenome Petrov, e controlar os danos antes que eles aconteçam.
Capítulo 1
Jules
Permaneci em Moscou por mais duas semanas antes de viajar, com
o tempo, as entregas com partes de corpo ficaram mais frequentes, e
impossibilitou continuar enrolando os meus pais sobre a razão de eu ter
ficado na casa deles.
Felizmente, consegui distrair sua mente dos meus problemas,
jogando o foco em uma viagem de natal para ajudar Anuvia a decorar sua
nova casa.
Quando pousamos na pista privada, fiquei maravilhada com a
cidade cheia de neve. Parece um daqueles cenários de filmes de romance
natalinos, que passam todo fim do ano. O tipo de lugar que te garante um
final feliz e uma atmosfera de felicidade.
Pena que não se encaixa na personalidade de alguém sendo
perseguida por um maníaco.
— Já estou vendo seus olhos brilhando. — Charlie me provoca,
empurrando meu ombro.
O bebê em seus braços é a única coisa que me impede de empurrá-
la da mesma forma.
— Não use Rocco como escudo. — Digo. — Vou arrancá-lo dos
seus braços e te empurrar de um penhasco.
— E deixar esse lindo anjinho sem a fonte de comida dele? —
Charlie aperta seus peitos que estão maiores.
— Podemos sempre substituir seus peitos por uma mamadeira. —
Olho Augusto conversando com Zack. — Seu marido adoraria isso, assim
ele não ia precisar dividir suas tetas.
— Ele ama seu filho demais para sentir ciúmes dos meus peitos.
Charlie tem razão, Augusto é um homem maravilhoso, muito
apaixonado por sua esposa e filho.
— O carro está pronto! — Ana grita.
Caminho devagar ao lado da minha prima, Augusto vem do outro
lado e passa o braço em torno de Charlie, para garantir que ela não
escorregue com o bebê. Chegando no primeiro carro, a ajudo a entrar e
fecho a porta, caminhando para o próximo, onde estão Lavínia e Raphael.
Meu primo tem se esforçado para descobrir quem era o homem,
mas tudo o que conseguimos foi um nome falso, e descobrir que as câmeras
de segurança do hospital foram apagadas naquela noite. Quando
questionamos o hospital, o diretor foi vago, dava para perceber estar com
medo de uma represália, razão pela qual não tenho certeza se quero
continuar trabalhando lá quando as minhas férias chegarem ao fim.
Um ponto positivo em ir com Raphael e Lavínia é que ambos são
tão apaixonados que tudo o que fazem é prestar atenção um no outro. Dessa
forma, enquanto o casal de pombinhos sorri um para o outro, passo o
caminho admirando a paisagem e planejando os dias que ficarei na cidade.
A mansão de Lior se parece muito com a nossa casa, só que aqui,
tem vários trabalhadores fazendo as reformas no jardim, e uma das alas da
casa está com a frente sendo pintada.
Desço do carro primeiro, e corro para a porta da frente, aperto a
campainha enquanto os outros ficam para trás.
Espero que um dos empregados abra a porta, mas sou pega de
surpresa quando Anuvia se joga em mim, me abraçando como uma maluca.
Não reclamo disso, eu estava morrendo de saudade dela. Atrás de nós
escuto um dos caras sussurrando para o outro.
— Meninos, essa é minha prima, Jules Petrov. — Nos apresenta,
parecendo muito feliz.
Aceno, um pouco desconfortável com todos me encarando, em
especial duas pessoas, que parecem um pouco familiares para mim. Mas
deixo esse desconforto de lado, é a primeira vez que estou conhecendo essa
parte da vida de Anuvia, e quero causar uma boa impressão, já que
estaremos nos vendo com muita frequência.
— É um prazer finalmente conhecê-los. — Digo, antes que Anuvia
me abrace outra vez.
— O que você está fazendo aqui?
Reviro os olhos, ela deveria saber que arrumaria tempo para vê-la.
— Você fez toda uma propaganda de como essa cidade é uma vila
de natal, por isso decidi visitar perto dessa época, assim posso te ajudar com
a decoração, e também estou perto caso esses bebês decidam vir ao mundo.
— Dou um passo para mostrar os outros se aproximando. — Nós todos
queríamos passar o natal juntos, e como você está gravida, que queria
checá-la pessoalmente.
Conversamos mais um pouco, até que escuto os homens
cochichando atrás dela, um deles bate na cabeça do outro, enquanto sua
versão de cabelos escuros rosna irritado.
Lembro dos comentários entre o meu tio Dimitri e meu pai, de que
Lior e seus homens não gostavam muito da nossa família. Mas pensei que
tinham superado essa inimizade boba, acho que estava enganada, e eles só
aceitaram minha prima.
Anuvia nos leva para dentro da casa, na sala de jantar onde a mesa
está posta.
— Chegaram na hora certa. — Diz.
— E me livraram de uma briga com pãozinho doce. — O homem
bonito com os olhos verdes pisca, puxando uma cadeira para eu me sentar,
em seguida se senta ao meu lado. — Então pãozinho de mel, soube que é
uma médica.
— Pãozinho de mel? — Pergunto.
— Ignore Asher, seus apelidos envolvem comida. — Anuvia
explica. — Parece que você é pãozinho de mel a partir de agora.
Dou de ombros.
— Sorte sua que amo pão de mel.
O homem pisca e sorri de canto.
Me permito olhar em torno da mesa para os amigos de Lior, todos
são muito bonitos, mas os gêmeos tem o seu charme redobrado. Nunca vi
dois homens tão bonitos em toda minha vida, e olha que os da minha
família estão em capas de revistas como os mais belos do mundo.
— Então? — Me questiona novamente.
Balanço a cabeça lembrando que os dois não gostam de mim, e
presto atenção em Asher.
— Trabalho na emergência do hospital e na UTI.
— Isso quando ela está na cidade, Jules sempre viaja em missões e
dá várias palestras em sua área. — Anuvia explica.
— Parece um trabalho interessante.
Faço uma careta.
— Algumas coisas ficam chatas com o decorrer do tempo.
— Nem todos os dias são iguais na medicina.
— Sim, mas grande parte deles está cheio de morte e tristeza.
Ou de psicopatas que decidiram que vão se vingar de mim, pela
morte de um garoto a qual não tive culpa, e a qual era um bastardo que
mereceu tudo o que aconteceu. Mas não digo a última parte, eles não
precisam saber a extensão dos meus novos problemas.
— Vai ficar quanto tempo aqui? — O cara com o cabelo platinado
pergunta.
— Jules, este é Aiden. — Anuvia apresenta, com um sorriso que
não sei o que significa.
— Não sei.
Os outros vão passar uma semana na cidade, já que não podem se
ausentar do trabalho, mas estou de “férias”, as quais se tornarão definitivas
quando enviar um e-mail de demissão em alguns dias.
— Quanto tempo ainda está de férias?
Dou de ombros.
— Estou considerando tornar minhas férias definitivas, não gosto
do diretor do hospital em que trabalho.
Minha revelação atrai os olhares dos outros membros da minha
família, assim como dos amigos de Lior.
— Precisa de ajuda para resolver algum problema, pãozinho de
mel?
Nego com a cabeça.
— Nada com o que se preocupar.
Raphael bufa e encobre seu descontentamento tomando um pouco
de café.
Os dois homens estreitam o olhar na minha direção, como se
suspeitassem de alguma coisa. Infelizmente para eles, suas suspeitas não
vão lavá-los a lugar algum, me recuso a compartilhar qualquer informação
com Lior e seus amigos.
— Mentirosa! — O homem de cabelo escuro murmura, ganhando
um aceno de cabeça de seu gêmeo.
— De qualquer forma, isso não é da conta de vocês. — Respondo,
olhando diretamente a eles.
— Você está em nosso território, doutora, tudo aqui diz respeito a
nós.
— Aiden! — Lior o repreende.
Minha prima tem um olhar feliz no rosto enquanto assiste à
interação dos dois.
— Você não deve se lembrar deles, mas já atendeu Levi uma vez.
— Diz.
Me viro para estudar melhor o homem, mas não me lembro dele.
— Desculpe, os plantões na emergência são sempre uma loucura.
— Respondo.
Procuro em minha mente um paciente tão bonito quanto ele, eu
certamente teria me lembrado, ainda mais se estivessem juntos.
— Percebi isso quando mal respondeu quando falei com você.
Coro, me sentindo envergonhada.
— Uso aparelho auditivo, talvez tenha sido no dia que tive um
problema com ele. — Explico. — Quando isso acontece presto muita
atenção ao prontuário do paciente, assim não deixo passar nada.
— Se tivesse olhado na minha cara, eu teria dito o que estava
sentindo, ou veria que era um buraco de bala.
O tom de voz que está usando deixa muito óbvio seu
descontentamento com a minha presença. Isso muda um pouco os meus
planos de estadia, me levando a procurar um hotel ou um lugar mais
oportuno para ficar, mas não me levará embora desta cidade, estou aqui por
Anuvia e não por eles.
— Na medicina nem sempre escutamos o que o paciente diz.
— Por quê?
— As pessoas costumam mentir, exames não.
Lior concorda com a cabeça.
Vendo a expressão de Raphael, decido mudar de assunto e focar em
Anuvia, não preciso que meu primo chute a bunda de dois idiotas por serem
maldosos comigo.
— Se vai pedir demissão, poderia morar aqui conosco, posso falar
com o médico e ver se eles precisam de mais ajuda.
— Vou ver se encontro um lugar na cidade, se eu gostar, existe a
possibilidade.
— Ótimo, é tudo o que precisamos! — Os gêmeos murmuram entre
si.
É claro que de um monte de homens bonitos, que estão sentados
conosco, simpáticos e gentis, mesmo estando desconfortáveis, me sinto
atraída pelos únicos que não se esforçam para esconder seu
descontentamento.
Em outra situação eu iria embora, e não me preocuparia em olhar
para trás. Mas a realidade é que prefiro os dois agindo como idiotas comigo,
do que o perseguidor que continua enviando pedaços humanos para minha
casa, com bilhetes ameaçadores.
Capítulo 2
Aiden
Jules Petrov é um problema!
A atração que sentimos pela megera é intensa, e o fato de Levi e eu
estarmos atraídos na mesma intensidade, dificulta tudo. Nunca estivemos
em uma situação onde ambos desejássemos mais do que apenas sexo com a
mesma mulher. Já compartilhamos algumas vezes, mas não tinha
sentimentos.
Viver longe dela tornou tudo mais fácil, e com o passar do tempo e
sua ausência em comemorações, nos deu uma falsa sensação de
tranquilidade. Conseguimos ignorar o problema por muito tempo, até ela
aparecer dizendo que ficaria na cidade.
Não preciso dizer que sua presença nos deixou em alerta com a
possibilidade de reacender as brigas, que passamos a ter com mais
frequência desde sua entrada em nossa vida. Ter um irmão gêmeo é como
ter um melhor amigo, uma outra parte da sua alma a qual você conhece tão
bem quanto a si mesmo.
Nunca brigamos até Jules Petrov aparecer.
— Podemos sair para dançar. — A oferta animada de Asher chama
minha atenção, me fazendo olhar diretamente para ele.
Jules olha em volta, parecendo animada com a possibilidade, mas
quando vê meu olhar muda sua postura.
— Anuvia está grávida, não pode ir a um lugar lotado. — Lior
interrompe.
— Podemos sair e aproveitar a cidade, o que acham?
Jules acena, mais animada do que a possibilidade de ir à casa
noturna.
— Acho uma ótima ideia, assim pode nos levar naquela loja de
lingerie, estou apaixonada por elas.
Seu comentário consegue toda a minha atenção e de Levi, e ao
perceber, Jules se remexe desconfortável na cadeira.
— Temos um plano.
— Sim, isso e depois quero ver um apartamento para alugar.
Se Jules tinha essa intenção ou não, não sei, mas ela conseguiu a
atenção de todos os outros Petrov na mesa, com exceção de Raphael, que
não parece surpreso, os outros estreitam seus olhos nela, mas não dizem
nada.
— Podemos ver uma casa, acho que a tia Abby e o tio Nathan, vão
gostar da ideia de ter outra propriedade por aqui. — Zack diz.
O herdeiro do trono Petrov é calmo quando fala com as mulheres de
sua família. Observo como se inclina para escutar o que sua esposa fala, e
está sempre sendo prestativo com sua família, no entanto, isso não me
engana, conheço sua fama e a dos outros.
Não sei se acredito nessa conversa mansa deles, no entanto, ao
contrário dos outros, não sou tão vocal a respeito dos meus sentimentos,
muito menos me sinto confortável tratando Anuvia mal.
— Ainda precisa pedir permissão ao papai e a mamãe? — O
comentário ácido vem de Levi, e eu dou um riso baixo.
Típico dele agir como um babaca.
— Não, embora se eu pedir sua cabeça a um deles, eles não vão se
importar em me dar. — Jules responde com um sorriso maníaco no rosto,
ela é fofa! — E não acredito que Lior vá brigar por você.
— Não, ele prefere deixar a put…
— Levi! — Lior bate na mesa, interrompendo o que meu irmão está
prestes a falar.
Se Lior não tivesse o calado, eu teria feito.
Meu irmão foi longe demais com suas palavras.
— Vamos, quero pegar algo na cozinha. — Anuvia segura a mão de
Jules e ambas se levantam.
— Sabe, normalmente não dou um aviso. Mas desde que Lior faz
parte da nossa família, e vocês por consequência, também, me sinto no
dever de dizer que caso seja desrespeitoso com minha prima, ou qualquer
mulher da família, não vou me importar em arrancar sua língua na frente de
todos. — Zack diz.
— Peço desculpas em nome do meu irmão, ele não está em um bom
momento. — Me levanto, agarro Levi pela parte de trás da camisa e o
arrasto para longe.
O idiota vem em silêncio, sem lutar contra o meu aperto.
— Não acredito que ela está aqui. — Diz, assim que o solto no
corredor.
— E por isso precisa agir como um babaca completo? Ela é prima
da Anuvia, devemos respeito a eles!
— De todos os momentos para aparecerem por aqui, e ela aparece
hoje? Tudo estava melhor.
Levi se refere a nossa relação, levamos um tempo para digerir a
ideia que Anuvia nos deu de dividir Jules, e o quão ridículo é tudo isso. Que
mulher aceitaria foder dois homens pelo resto de sua vida? Em algum
momento ela escolheria apenas um, e o que fosse rejeitado estaria fodido,
vendo de longe o relacionamento do outro, e se perguntando o que fez de
errado.
— Jules vai embora em algum momento, duvido que vão permitir
que fique longe de casa. — Comento.
— E você acredita que essa é a solução para o nosso problema?
Dou de ombros.
É a melhor solução? Não!
Mas é a única coisa que não nos destruirá.
— Sabe que é a única coisa que podemos fazer no momento.
— Preciso de uma bebida.
Nos afastamos em direção a cozinha, na porta ouvimos Anuvia e
Jules conversando.
— Vai me dizer qual é o problema? — Anuvia está com a mão no
quadril.
Nenhuma delas percebe a nossa presença.
— Não tem problema, se não quer que eu fique na cidade é só dizer
e vou embora, estou ponderando passar um tempo na Síria, eles precisam de
médicos.
Meu estômago fica em nós com a possibilidade de ela estando em
um dos lugares mais perigos do mundo.
— Sabe que eu te conheço.
Jules ri sem humor.
— Podemos deixar isso de lado? Prometo que estou bem e tenho
tudo sob controle.
— Prefiro saber o que está incomodando e ajudar.
— Raphael está me ajudando.
— Engraçado, você diz que está tudo bem e correu pedir ajuda
diretamente para a única pessoa que não pede permissão para os mais
velhos e que mantém tudo para si. — Anuvia está acenando com a mão para
todos os lados. — Por que não me contou e a ele sim?
— Primeiro, você está grávida e precisa focar nos seus bebês, e
segundo, Raphael descobriu por acidente, e como você mesma disse, ele
não conta as coisas aos mais velhos. Não quero os meus pais surtando, eles
já fazem muito isso.
— De qualquer forma, sabe que pode contar comigo.
Levi e eu nos entre olhamos, e fazemos barulho para entrar na
cozinha, avisando da nossa presença, as duas mudam de assunto. Anuvia
estreita seus olhos em nós dois, e depois se desculpa e sai, nos deixando a
sós com Jules.
— Não sabia que era do costume de vocês ouvir atrás da porta. —
Jules cruza os braços e nos encara.
— Está na nossa casa, não deve existir segredos dentro dessas
paredes. — Respondo. — Além disso, Lior não vai ficar feliz vendo sua
mulher estressada.
— Não se preocupem, minha prima está segura.
Se Jules for como Anuvia, tenho certeza que ela vai garantir que
nada aconteça com aqueles que ama, mesmo que isso signifique dar a
própria vida para mantê-los seguros e longe de problemas.
Jules passa por Levi, quando ele nos surpreende ao estender a mão
e a impede de sair.
— Estamos de olho em você.
Revirando os olhos, ela se afasta, saindo da cozinha e nos deixando
sozinhos.
— Acha que alguém está tentando feri-la? — Pergunto.
— Não, os Petrov não permitiriam. — Responde. — Talvez esteja
triste após levar um fora.
Algo em mim diz que é grave, mas decido ignorar essa sensação, a
vontade que tenho é de correr para ela e mantê-la a salvo, junto de nós. Mas
a necessidade de nos proteger fala mais alto.
Ficarei longe de Jules Petrov pelo bem do meu relacionamento com
meu irmão.
Capítulo 3
Levi
Evito Jules o máximo possível, ou melhor, tento fazer isso.
Sua presença está em praticamente todos os lugares da casa. Como
um bom idiota que gosta de sofrer, não vou embora, ao menos posso vê-la
por um momento, mesmo quando todas nossas interações se resumam em
grosserias da minha parte.
— Estou contando os dias para que eles vão embora. — Comento,
olhando pela janela da cozinha, os Petrov reunidos em volta da fogueira no
jardim, tomando vinho e comendo.
— Vamos amanhã.
Me viro para encontrar Raphael Petrov encostado na ilha, sem
parecer abalado com o meu comentário.
— Isso…
Me cala com um gesto.
De todos os Petrov Raphael é o que menos fala de sua vida
reservada, a maioria das notícias é como era um bom piloto, ou como
conseguiu construir seu próprio império sem a ajuda dos outros. E o
principal, que está em todos os jornais, o quanto é apaixonado por sua
esposa e filho.
O respeito por conquistar tudo com esforço.
Mas existe um abismo enorme entre confiança e respeito, e nunca
confiaria no homem parado na minha frente. Ainda mais, sabendo que ele
não é um seguidor de regras, não se importa com aqueles de fora, e queria
matar Lior.
— Não se preocupe em disfarçar seu desgosto, também não gosto
de estar aqui. — Seus olhos param em mim, me avaliando e então
decidindo que não sou uma ameaça. — Embora, alguns sacrifícios são
necessários quando se faz parte de uma família.
— Entendo o que quer dizer.
Ao contrário do que ele pensa, não me refiro a Lior e aos nossos
negócios, e sim ao meu interesse por Jules, e o fato de tanto Aiden quanto
eu estarmos dispostos a deixar de lado nosso interesse, em nome do nosso
relacionamento de irmãos.
— No entanto, deve entender que mesmo que estejamos
tecnicamente ligados pelo relacionamento de Anuvia e Lior, não significa
que vou deixar de lado como estão tratando Jules.
Isso é um aviso.
— Está me ameaçando?
Ele ri.
— Pensei que fossem mais inteligentes para entender o que querem
e lutar por isso, mas não são. — Seu comentário me deixa confuso. — O
problema de homens como vocês, é não correr atrás do que querem,
enquanto se escondem atrás de justificativas ridículas, alguém vai estar
determinado a pegar aquilo que vocês desejam. — Ele se afasta, indo em
direção a porta, mas parando entes de sair. — E quer saber o melhor?
Enquanto esse alguém vive a vida que desejam, vocês estarão chorando e
vendo de longe essa pessoa ter tudo o que queriam, mas que foram covardes
para conquistar.
— O que isso significa?
— Se precisa que diga com todas as letras, é mais burro do que
pensei. — Ri.
Quando ele sai, jogo meu copo contra a parede do outro lado da
sala, respirando com dificuldade, tentando controlar minha raiva. Raphael
Petrov é um homem observador, mas ele não faz ideia do que estamos
sentindo por sua prima, e o que um relacionamento com ela faria comigo e
Aiden.
Precisando sair e pegar um ar, pego as chaves do carro, e estou a
caminho da porta quando Aiden aparece, com a mesma expressão
perturbada e irritada. Penso por um segundo que encontrou Raphael
também, até ele acenar e eu ver Jules atrás dele.
— O que está acontecendo? — Pergunto.
— Quero sair um pouco, e Lior pediu que me levasse. — Jules
explica, depois de um minuto de silêncio, onde Aiden apenas me encara
desesperado. Ela mexe no telefone, sem olhar para nossa cara. — Mas não
se preocupem, pedi um táxi.
Passando por nós ela sai da casa.
Tanto Aiden quanto eu, sabemos que estamos prestes a fazer merda,
isso, no entanto, não nos impede de sair atrás dela.
— Se Lior deu a ordem, é o que vamos fazer. — Digo, segurando
seu braço e levando para o meu carro estacionado. — Não crie problemas.
Ela não diz nada, entra no banco de trás e continua mexendo no
celular.
Durante o caminho, Aiden e eu trocamos olhares, ambos estamos
incomodados com o silêncio, mas nenhum de nós dirá algo que vá mudar
sua opinião a nosso respeito. Jules pensa que não gostamos dela, e embora
seja exatamente o oposto, não faz sentido alimentar algo que está fadado ao
fracasso.
Mesmo que nosso relacionamento dê certo, mesmo que ela decida
que quer a nós dois com a mesma intensidade, chegará um momento onde
as coisas ficarão complicadas. Ela não apresentará dois homens para sua
família, amigos e muito menos nos assumir para a sociedade.
Chegamos a um ponto da cidade onde as luzes de Natal estão
enfeitando tudo, é mais um ano onde as pessoas vão dar o seu melhor e
competir em quem tem a melhor decoração.
Uma das pistas está fechada, um policial acena para ir mais
devagar. Jules aproveita esse momento para descer do carro, ainda em
movimento. Aiden fica puto, sua raiva espelhando a minha, ele sai do carro
e segura seu braço.
— Qual é a porra do seu problema? Você não pode fazer isso!
Jules pisca, sem entender.
— Não posso fazer o quê?
— Descer do maldito carro com ele em movimento, e sair sem
segurança.
Ela ri.
— Sabe, se eu não soubesse que realmente me odeiam, diria que
estão preocupados comigo. — A forma dita, soa como se fosse absurdo
para ela estarmos preocupados com sua segurança. — Lior disse que
deviam me trazer, não que precisariam ficar. — Acena em volta. — Podem
ir embora.
— Ele me pediu para mantê-la segura.
— As pessoas estão olhando, apenas aceite nossa presença.
— Fodam-se elas! — Jules diz em voz alta.
Saio do carro, sorrindo e me desculpando com as pessoas a nossa
volta.
— Fale baixo, estamos encarregados da sua segurança.
— Se importam de mais com o que as pessoas pensam. — Constata.
— Deve ser uma merda viver assim.
— Jules…
— Podem ir embora, não quero vocês aqui, muito menos fingindo
que não me odeiam. — Responde. — Além disso, tenho a sensação de que
se encontrarmos algum problema, vocês podem até se oferecer para
esconder meu corpo.
— Não seja ridícula. — Rosno.
A ideia de alguém fazendo mal a ela, me irrita.
Sei que não demos muitos motivos para confiar em nós, mas dizer
que ajudaríamos a esconder seu corpo? Eu mataria quem ousasse olhar em
sua direção da forma errada!
— Foi ordem do Lior. — Aiden lembra.
Ela revira os olhos.
Tenho vontade de colocá-la sob meu joelho e dar umas palmadas
em sua bunda, é claro que a passaram muito a mão na cabeça dela, a
mimaram a ponto de não saber reconhecer uma ordem. É uma questão de
tempo até que…
Até que o quê?
Meu cérebro grita comigo.
Não posso cruzar a linha que Aiden e eu estabelecemos, isso seria
quebrar nosso acordo, e por consequência, a confiança que temos um no
outro.
— Deixe-a. — Digo, já me afastando em direção ao carro. —
Vamos logo, Aiden.
— Levi…
— Ela quer ficar sozinha, não somos seus guardas para ficar atrás
dela. — Interrompo antes que se prolongue.
— Tchau! — Jules diz, e se afasta, se misturando com a multidão.
— Serviço de merda, irmão. — Aiden nem mesmo olha na minha
direção quando entra no carro.
— Não me trate como o vilão aqui, nós temos um acordo e ficar
perto dela vai foder com isso.
Aiden é centrado a maioria do tempo, ele é o único que nos fez
sentar e conversar sobre a possibilidade de um futuro com Jules. Nós dois
chegamos a um entendimento, e odeio o fato de eu ser o único que tem que
ficar lembrando isso em momentos como esse.
— Nosso acordo diz para ficar longe dela, não a colocar em risco.
Tomo uma respiração profunda, dirijo o carro para uma vaga mais
distante, e bato no volante com força.
— Tudo bem, quer correr atrás dela como uma maldita babá?
Faremos isso. — Sem esperar por uma resposta, desço do carro e começo a
caminhar, me afastando.
— Levi. — Escuto ele caminhando logo atrás de mim. — Está
sendo difícil para mim também.
— Não parece.
Para uma pessoa desconhecida, Jules conseguiu se enturmar muito
bem com os moradores, levamos um tempo para encontrá-la conversando
com um vendedor de gemadas sobre as melhores especiarias para adicionar
na bebida. Eles estão tendo uma conversa animada quando chegamos, e ela
faz uma careta quando nos vê.
— Pensei que tivessem ido.
— Não preciso de Izack Petrov me enchendo o saco por uma de
suas mulheres estar machucada. — Digo.
Jules revira os olhos, parecendo não se importar com o meu
comentário.
— Fiquem tranquilos, não vou nem tocar em seus nomes. — O
sarcasmo dirigido a nós é deixado de lado quando ela volta a conversar com
o vendedor, que indica outro lugar onde ela pode provar um pouco da
comida local. — Obrigado pela dica.
Jules entra em um pequeno estabelecimento que vende bolos, ela
vai direto para o balcão e olha como se fosse uma criança vendo o papai
Noel pela primeira vez. É fofo ver como não se importa com o que está
acontecendo a sua volta, totalmente focada nos bolos e tortas.
— Já decidiu qual vai pedir? — A jovem atrás do balcão pergunta.
— Não, pode me recomendar algum?
— Nova na cidade?
— Algo assim.
A vendedora dá algumas dicas de quais são os melhores sabores, e
Jules escolhe dois deles, o favorito da vendedora. Enquanto as duas
conversam, Aiden paga, deixando uma generosa gorjeta para a vendedora.
Pego os dois pratos e levo para uma mesa no canto, mais reservada, e deixo
o único lugar fora de vista para ela.
— Querem um pedaço? — Oferece, acenando com o garfo entre
mim e Aiden.
— Não. — Dizemos em uníssono.
Ela ri.
— O que foi? — Pergunta Aiden.
— Minha mãe é gêmea, ela e meu tio tem algumas manias
parecidas. — Responde.
— Não somos parecidos.
Jules bufa, e eu tenho que me controlar para não fazer o mesmo.
Aiden e eu somos muito parecidos, fisicamente, e no que tange nossa
alimentação.
— Eu disse manias. — Lembra. — E com a quantia que o seu
cabelo está ressecado, é bem fácil diferenciar vocês.
Dou risada, e Aiden me bate no braço.
— É verdade! — Concordo com ela.
— Gosto do meu cabelo assim.
— Já ouviu falar de corte químico? Uma espiga de milho é mais
hidratada que seu cabelo. — Diz.
— Será que podemos não falar sobre o meu cabelo?
Me surpreendo com quão fácil é estar perto dela, e como podemos
conversar sobre várias coisas, sem nunca ficar sem assunto. Jules é
divertida, e percebo seu esforço para não nos deixar desconfortáveis,
mesmo tendo a impressão que não gostamos dela. Na última garfada do seu
bolo, me pego desejando que ela demorasse mais para comer, quero mais
tempo ao seu lado, mesmo que seja errado.
— Quer mais? — Aponto para o prato.
Alisando a barriga plana, ela nega com a cabeça, já se levantando.
— Não, vou encerrar por hoje, vou ter tempo para conhecer a
cidade caso decida morar aqui. — Sua resposta me dá mais esperança do
que deveria. Reprimo minha animação, isso nunca vai acontecer. — E
também não quero obrigá-los a estar comigo por mais tempo, sei que não
gostam de mim.
— Jules...
Aiden começa a falar, mas sou rápido chutando sua canela e
impedindo.
Ele me encara, e quando voltamos nossa atenção, ela já está do lado
de fora da loja, acenando para nós.
— Não comece. — Digo.
— Babaca!
Assisto meu irmão saindo da loja, jogo mais algumas notas na
mesa, e aceno para a atendente, avisando que tem mais gorjeta para ela. Só
então saio, encontrando Jules e Aiden parados perto do carro em um
silêncio desconfortável.
Capítulo 4
Jules
Consegui esconder o quanto estava chateada com Levi e Aiden, os
dois agem como idiotas sempre que estão comigo, o lado negativo, é ter me
divertido tanto com duas pessoas que me odeiam e abertamente deixam isso
claro. Para piorar a situação, me sinto atraída por ambos.
Quando percebi que meu coração praticamente pulava uma batida
quando os via sorrir, e as borboletas no meu estômago, tive que correr. Sai
do restaurante fingindo que não me importava com o seu ódio, e que não
desejei que me vissem de outra forma.
Mais tarde, no quarto, deitei olhando para o teto, e chorei até pegar
no sono.
A tela do meu celular acende na mesa ao lado da cabeceira, suspiro
antes de estender o braço e pegar o maldito aparelho. A razão para eu ainda
ter essa porcaria, são os meus pais e o trabalho no hospital.
“Não pense que pode se esconder”
A mensagem faz meu estômago se revirar.
Meu perseguidor descobriu meu número de telefone. Depois de as
primeiras caixas serem entregues na minha casa, os telefonemas
ameaçadores começaram, nem mesmo mudar de número adiantou, e depois
da terceira vez, minha família começou a fazer perguntas. Eu não queria
responder, então decidi que o melhor seria ignorar.
Largo o telefone e levanto, com preguiça, faço minha higiene
matinal, troco de roupas e saio do quarto. Pensei que minha família ficaria
mais tempo, mas eles têm alguns compromissos na cidade que os obriga a
voltar hoje.
— Bom dia, pãozinho de mel. — Asher, a pessoa mais divertida da
casa, me cumprimenta, ele passa os braços em volta de mim e me leva em
direção a sala de jantar, onde todos estão reunidos. — Como foi o passeio
ontem?
Dou de ombros.
— Foi divertido.
Ele bufa, sem acreditar.
— Preciso lembrar que você saiu com Levi e Aiden, as duas
pessoas que parecem estar com um pau no rabo a maioria do tempo?
A cara descrente e o comentário de Asher, me faz cair na
gargalhada, a ponto de ele estar me apoiando quando entramos na sala de
jantar, e todos se viram para nos encarar. Meu sorriso morre enquanto
percebo que terei que me sentar entre Levi e Aiden, uma vez que Asher se
senta ao lado de Lior, para receber ordens.
— Bom dia. — Digo a todos de forma geral.
— Se divertiu na cidade ontem? — Anuvia pergunta.
— Sim, as pessoas são legais e me senti em um daqueles filmes de
romance natalinos.
— Quem sabe você não encontra o amor?
Tenho que me lembrar que Anuvia não faz ideia do que está
acontecendo na minha vida, e o fato que a pessoa me perseguindo, pode
estar um passo à frente de Raphael. Talvez eu não esteja viva para ver o
próximo dia, mas, ao menos, tenho a certeza que não arrastarei ninguém
comigo.
— Não estou procurando por amor.
O bufo irritado vem de Aiden, seguido de um som de zombaria de
Levi.
— Toda mulher procura por amor, docinho. — A última parte é dita
como um insulto.
— Docinho? Mexe tanto com o ego masculino quando uma mulher
diz que não quer amor? Vocês precisam dessa sensação de que são tudo o
que desejamos, que esquecem que alivio sexual pode ser encontrado de
diferentes formas.
A dupla de idiotas está prestes a rebater com algum comentário
machista, quando Lior pigarreia, chamando a atenção de todos. Ele
descansa a mão em cima da de Anuvia, estreito meus olhos no casal feliz,
sinto que não gostarei muito da notícia.
— Vou aproveitar o momento, e dizer a todos que Anuvia e eu
iremos para Moscou. — Diz.
Estreito meus olhos na minha prima, que cora um pouco.
— Como estamos nos aproximando do final da gravidez, decidi que
queria pegar algumas coisas na cidade antes que se torne impossível. — Ela
diz.
Isso cria um problema para mim, ao menos quanto onde ficar.
Com Anuvia fora da cidade, e por consequência longe de mim, me
sinto mais tranquila caso meu perseguidor apareça por aqui. No entanto,
fico sozinha em um lugar que mal conheço, cercada por pessoas que não me
suportam.
— Enquanto estivermos longe, vou deixar Cash cuidando de tudo
por aqui. — Responde.
Anuvia deve perceber o meu desconforto, assim como Raphael.
— Não estava preparada para esse anúncio. — Admito para Anuvia
em voz baixa. — Preciso arrumar as minhas coisas.
— Por que faria isso? Você prometeu que decoraria a casa para
mim.
— Isso foi antes de você dizer a todos que está viajando com a
nossa família. — Respondo.
— O que isso tem a ver?
— Não vou ficar aqui nessa casa sozinha.
— Não estará sozinha, os meninos estão sempre por aqui.
— Devo lembrá-la que eles me odeiam?
— Não odeio você, pãozinho de mel. — Asher pisca. — E se o
problema for ficar aqui sozinha, pode ficar comigo.
— Nem pensar! — Tanto Aiden quanto Levi dizem
simultaneamente.
Caramba, será que eles não conseguem disfarçar o quanto me
querem fora de suas vidas?
— Ou poderia simplesmente ficar aqui. — Lior oferece.
— Não me leve a mal, mas prefiro ficar no meu próprio espaço e
não me sentir como se estivesse invadindo. — Explico. — Já tinha planos
de procurar um apartamento para alugar por um tempo, então não vai mudar
os meus planos.
— Fique com Asher, então, ele pode te ajudar enquanto estivermos
fora. — Anuvia oferece.
— Posso te ajudar a encontrar um apartamento nesse tempo. —
Asher continua.
— Enquanto isso, você decora a casa para a gente.
Anuvia, Asher e Lior estão sendo tão gentis, que fico
desconfortável em negar a oferta.
— É uma boa ideia, ter um colega de quarto não vai ser de todo
ruim. — Raphael interfere, seu tom de voz carregando um aviso. — Se vai
ficar na cidade e não quer permanecer na casa do Lior, é bom viver com
alguém que conhece o local.
— Tudo bem!
— Vou te ajudar com as malas, pãozinho de mel é minha nova
colega de quarto. — Asher anuncia, dando um sorriso malicioso para os
gêmeos. — Quem sabe você não muda de ideia sobre o amor? Nossos
filhos seriam lindos!
Atiro um pedaço de pão no idiota enquanto dou risada.
Viver com alguém que não faz parte da minha família é uma
novidade para mim, mas tenho a sensação de que Asher tornará tudo mais
divertido. Existe uma razão para Anuvia gostar dele.
— Quem sabe? — Dou de ombros. — Como os gêmeos mesmo
disseram, toda mulher está em busca de amor, não seria difícil me apaixonar
por você. — Pisco sedutoramente.
O barulho de duas cadeiras arrastando no chão irrompem a
atmosfera divertida entre mim e Asher, tão rápido quanto o barulho aparece,
os gêmeos se levantam e saem da sala de jantar.
— Aconteceu alguma coisa? — Lavínia pergunta, sua voz baixa.
— Não, eles apenas estão hormonais, sabe como são os meninos,
sempre dominados pela testosterona. — Lior diz.
— Talvez eles encontrem um poste para mijar e marcar o território.
O meu comentário faz as pessoas na mesa darem mais risada.
— Deve cuidar com o que deseja, tenho a sensação de que eles não
querem mijar num poste, o território que eles querem marcar é outro. —
Cash diz.
Sem soar uma idiota, mas não entendo seu comentário.
Do jeito que eles odeiam minha família, e principalmente eu, não
seria uma surpresa se isso fosse uma indireta, para nos avisar que eles
querem proteger seu território da minha presença. Os dois devem ter
pensado que com a ida dos outros, todos iriam juntos, eles não esperavam
que eu ficaria, e muito menos que fosse morar com o seu melhor amigo.
— Vou pegar as suas malas do quarto e colocar no carro. — Asher
se levanta. — Tem alguma coisa que não devo tocar? Ou que deva fingir
que não toquei? — Balança as sobrancelhas.
— Não. — Dou risada. — Deixo tudo organizado.
— Sorte a minha.
Quando Asher sai a conversa muda de rumo, todos falam sobre
coisas aleatórias do dia a dia e Anuvia e eu discutimos sobre a decoração
que ela quer. Seus pedidos são muito simples, muita luz, e que eu meça
adequadamente a quantidade de enfeites para não parecer que uma rena
cuspiu na casa.
Como se eu fosse deixar sua casa parecendo o caos natalino!
— Tem certeza que está bem com os planos que traçamos? — Me
pergunta.
— Asher é divertido, o meu tipo de pessoa.
Anuvia parece nervosa, isso me deixa com a estranha sensação de
que estou por fora de alguma coisa.
— Bom, onde está Asher? — Olha em volta.
— Vou procurá-lo, ele deve estar bisbilhotando.
Levo um tempo para encontrar Asher, e quando o faço, ele está
preso contra a parede com Aiden e Levi em volta dele, todos estão muito
próximos.
A visão dos três me faz chegar a uma conclusão, os três estão em
uma espécie de relacionamento amoroso confuso, e Aiden e Levi não me
querem perto do seu “namorado”. Corando, me afasto de onde os três estão
e caminho de volta para juntos dos outros.
Parte meu coração pensar que Aiden e Levi tem alguém em suas
vidas, mas Asher é lindo e os três conduzem um trio e tanto. Talvez não
assumam por medo do preconceito. De qualquer forma, fazer essa
descoberta em um momento como esse é bom, consigo controlar meu
coração e me impedir de me apaixonar pelos idiotas que não me suportam.
A vida é injusta! Mesmo, quando, não se está procurando pelo
amor.
Capítulo 5
Aiden
— Não posso acreditar que ela está indo morar na mesma casa que
aquele idiota! — Levi ruge, pronto para socar a parede.
Sou rápido em segurar sua mão e impedir que danifique mais um
lugar da casa, Lior o mataria se descobrisse que arruinou a parede recém
pintada de sua mulher. Ainda mais com o quão estressada Anuvia fica com
a reforma, e a chegada dos bebês.
— Podemos dar um jeito nisso.
— Como? Pensei que ela iria embora.
— Vamos dar um jeito de ela não ficar com Asher, podemos pedir
que fique na mansão e...
— Mesmo? Essa é sua ideia? — Ri sem humor. — Independente de
onde ela esteja na cidade, não vai ser longe o suficiente, ainda mais com
Cash por aqui.
— Precisamos descobrir o que fazer, não podemos continuar nesse
impasse.
O assovio descontraído anuncia a chegada de Asher, o idiota é
burro o suficiente para passar por nos enquanto carrega as malas de Jules. O
bastardo sabe muito bem o que sentimos por ela, e ainda assim está
convidando-a para morar com ele? Estar em sua casa, qual é o próximo
passo? Dividir a cama?
Esse pensamento é o suficiente para me fazer agarrá-lo pela camisa
e o empurrar contra a parede, Levi vem para o outro lado, garantindo que o
idiota não escape do nosso aperto, conhecendo o bastardo silencioso que é.
— O que foi? Não vão dizer que sentiram minha falta?
— Não comece com os seus comentários engraçadinhos, não estou
com humor. — Levi avisa.
— E posso saber o que deixou sua calcinha em nós?
Típico do idiota tentar mudar o enredo do assunto, transformando
algo sério em piadas de mau gosto. Pena para ele, que mexeu com um tema
muito delicado para Levi e eu, e independente de quanta piada fizer, ainda
quebro sua cara.
— Sabe muito bem o que fez!
— Sou uma pessoa muito ocupada, preciso de uma resposta…
Dou um soco na sua barriga, o idiota não esboça nenhuma reação.
— Fique longe de Jules.
— Meio impossível, considerando que iremos morar juntos. —
Revira os olhos sem se importar com o soco. — Não entendo porque estão
fazendo isso.
Bufo irritado.
Todos estavam sentados na mesa no dia que eu e Levi discutimos a
respeito de Jules, foi a própria Anuvia que nos disse para tentar a coisa de
ficar com ela ao mesmo tempo. Isso, é claro, foi o que abriu a discussão e
nos fez decidir por ficar longe de Jules.
— Não toque na Jules, não preciso dizer o que vai acontecer se o
fizer.
Ele ri.
— Vocês são patéticos, acham que todo mundo vai ficar longe dela
só por que vocês não lutam pelo que querem? — Revira os olhos, como se
fosse uma coisa óbvia que não percebemos. — Se não for eu, será outro, e
vocês só vão perceber isso quando a virem caminhar pelo altar e um
estranho estiver esperando por ela no fim.
— Como pode…
— Enquanto forem dois covardes, fiquem fora do meu caminho. —
Ele me empurra e passa por nós, carregando uma mala.
Asher soltou uma bomba que acredito que Levi e eu não pensamos,
e não sei se nesse momento, com a raiva que estamos sentindo do idiota,
seja algo que colocaremos na balança. Sempre foi uma possibilidade ela
estar com outra pessoa, mas naquela altura, nós só tínhamos a visto uma
vez, não passamos a noite conversando e assistindo à mulher da nossa vida
comer.
— Odeio esse filho da puta. — Digo.
— Em algum momento teríamos de lidar com essas possibilidades.
— Responde.
Permanecemos em silêncio por um longo momento, até que mais
malas começam a passar por nós, um sinal de que os Petrov estão se
despedindo. Essa mudança de planos me irrita um pouco, em um momento
todos estão chegando para passar o natal, e no próximo, mudam de ideia e
vão embora com Anuvia e Lior, e deixam o pesadelo de saias que é Jules?
Isso não é justo conosco.
Chegamos na entrada da mansão a tempo de ver Jules se
despedindo dos primos, e não deixo de perceber que ela leva mais tempo
conversando com Raphael do que com os outros. Tenho a sensação de que
ambos estão escondendo algo, olho para Anuvia, e percebo que também
está os observando com a mesma desconfiança.
Interessante!
Depois que todos vão embora, Asher leva Jules para o carro dele.
Fecho o punho, me controlando para não socar a cara do idiota por
estar tão perto dela, e por deixar clado que não se importa com o que
sentimos. No fundo, sei que o babaca está certo. Vai ser um inferno tê-la
morando no mesmo prédio que nós, vê-la todos os dias, e saber que está
dormindo sob o mesmo teto que Asher. Tão perto e, ao mesmo tempo, tão
longe.
— Pensei que Lior fosse o único perdendo o juízo por aqui, mas
vejo ser um mal comum. — Cash comenta, ao passar por nós e entrar a
caminho da casa.
— Estou indo embora. — Levi fala, indo para o seu carro.
A impressão que tenho é que estou lutando sozinho em alguns
momentos, Levi age como se ficar com ela fosse a pior ideia em um
momento, e no próximo, acabo me tornando o vilão da história e aquele que
está nos impedindo de ter o que queremos. Como isso pode acontecer?
Assisto o carro se afastar, deixando uma nuvem de poeira em seu
rastro.
Se eu for embora agora, corro o risco de me meter em uma briga
com Asher, e sabe-se lá Deus onde, Levi está indo para esfriar a cabeça.
Volto para dentro da mansão e me sento na sala, envio algumas mensagens
para verificar como estão os nossos negócios, depois começo a checar os e-
mails.
— Ainda está aqui? — Cash parece surpreso em me ver.
— Precisava resolver algumas coisas do trabalho, e com Asher por
perto, não conseguiria fazer isso no apartamento.
— E Levi?
— Saiu para esfriar a cabeça.
Balançando a cabeça em desaprovação. Cash se senta do outro lado,
cruzando as pernas e olhando pela janela por um longo momento.
— Preciso falar com vocês, sobre algo que Lior pediu.
— Se tem algo para falar, diga de uma vez, direi a Levi mais tarde.
— Lior nos pediu para ficar de olho em Jules, ele acredita que ela
está escondendo algo pela forma como tem agido.
Isso atrai minha atenção.
— Pensei que só eu tinha percebido isso. — Não sei se a mulher é
corajosa ou estúpida por se esconder de todos. — Jules deve estar fugindo
de alguém.
— Todos estão preocupados e acreditam que a deixar, por aqui é
uma boa saída, até que descubram o que está escondendo. Per essa razão,
Lior pediu para que ela ficasse com um de nós, é mais seguro ficar nos
apartamentos do que aqui, com os trabalhadores entrando e saindo toda
hora.
Ele dá de ombros, como se não fosse uma novidade.
— Raphael sabe.
— Ele não contou a ninguém, e suspeito que não vá.
— Ao menos ela estando aqui podemos ficar de olho, e com Anuvia
perto de ganhar bebê, é melhor que esteja em Moscou.
As coisas começam a se encaixar melhor agora.
— Isso foi um plano?
— Sim, Anuvia fica segura na mansão Petrov, e nós esperamos até
que a pessoa ataque, e lidamos com o assunto.
Escuto todas as razões lógicas pelas quais é mais seguro que ela
esteja longe do fluxo constante de pessoas entrando e saindo, mas meu
cérebro é teimoso em aceitar que a mulher que desejo, está vivendo sob o
teto de outro homem.
— Não seria melhor se a deixássemos aqui na mansão?
— Quer apenas afastá-la de Asher. — Ri sem humor. — Eu já disse,
com a entrada de trabalhadores e decoradores na casa, não podemos
garantir que ninguém tente se infiltrar para chegar nela.
— Ela pode ficar comigo e com Levi.
— Jules não vai se abrir e confiar em vocês, deixaram claro que não
gostam dela.
— E Asher gosta? — Rio sem humor.
— Apenas faça o seu trabalho.
Para variar, eu sou aquele que fica preso com o rabo mal-humorado
de Levi, enquanto Asher está com a nossa garota.
É bom que o filho da puta se controle e não toque nela!
Capítulo 6
Jules
O “prédio” onde Asher vive é, na verdade, um armazém enorme,
com diversos andares, que foi todo reprojetado. Após estacionar o carro, ele
pega minha mala, se recusando a me entregar, no elevador, ele digita a
senha que nos leva para o seu andar.
— A ideia era que cada um tivesse seu próprio espaço, mas Aiden e
Levi vivem no mesmo andar que eu. — Explica.
— Posso imaginar o motivo. — Murmuro.
Pelo amor de Deus, Jules!
Preciso me controlar e parar de sentir ciúmes do relacionamento dos
três, não é culpa do Asher que os dois homens mais gostosos que já vi, e
que me odeiam, são seus namorados. Ele nada fez além de ser gentil
comigo, enquanto isso eu imaginava seus homens me fodendo de todas as
maneiras possíveis.
— Disse alguma coisa? — Pergunta, confuso.
— Deve ser divertido!
Asher sorri, e acena.
— Sim, às vezes ter amigos para ajudar a se distrair é útil, ainda
mais quando tudo está tenso.
Tenho certeza que meu queixo está no chão, só de imaginar o quão
“útil” é toda essa situação. Preciso me controlar, não quero dar a impressão
errada e fazê-lo pensar que sou preconceituosa, acredito em todas as formas
de amor. A única questão é, estou com inveja dele.
As portas do elevador se abrem, dando para um corredor longo,
com duas portas, uma de cada lado, posicionadas de frente para a outra.
Asher vai até a que tem um tapete do Star Wars, e digita uma senha, um
“pingue” é emitido, e a porta destrava.
— Pensei que tivessem revisto a segurança desse lugar depois do
que aconteceu com minha prima. — Digo, quando passo por ele.
— E fizemos, ninguém conseguirá passar pela entrada do prédio. —
Explica. — Como sabe do que aconteceu com Anuvia?
Dou uma risada baixa.
— Minha família é muito fofoqueira.
— Faz sentido.
Sigo Asher, pelo apartamento, ficando impressionada com a
organização e beleza do lugar.
— Uau, isso poderia fazer parte de uma capa de revista de
decoração.
— Eu não tive nada a ver com isso, Levi contratou uma equipe para
organizar tudo.
— Conduziram um ótimo trabalho. — Elogio. — Alguma regra que
eu deva saber?
Essa é a casa dele, se fosse o meu lugar eu teria alguma, como não
deixar louça na máquina de lavar, sem pratos sujos na pia, ou roupas
espalhadas pelo chão. Na verdade, meu toque estaria no limite se eu tivesse
que dividir meu espaço com um estranho que não consegue manter suas
coisas no lugar.
— Temos uma equipe de limpeza que vem sempre, então não se
preocupe com essas coisas. — Responde. — Ah! Na verdade, tem uma
única regra que deve ser seguida.
— Qual?
Como ele disse, parece de fato ser algo realmente importante.
— Sem andar nua ou de calcinha e sutiã por aqui.
Decido ser melhor provocá-lo a respeito disso.
— Achei que sua regra seria o oposto. — Dou risada.
— Gosto de estar vivo.
É melhor eu ficar quieta e não o provocar a esse respeito, Asher
obviamente não expôs seu relacionamento com Levi e Aiden para ninguém,
eles vivem em um mundo cheio de preconceito. Se ele quiser confiar em
mim com sua história e relacionamento, tenho certeza que o fará no tempo
certo.
Até lá, espero ter superado minha paixão e atração por seus
homens.
Asher me leva até o quarto de hóspedes, onde as paredes são no
estilo industrial, tem uma janela enorme que garante a iluminação do
ambiente. Tudo aqui tem um estilo masculino e elegante.
Após me acomodar e arrumar minhas roupas no closet, percebo que
já é tarde e ainda não comemos nada. Saio do quarto e vou atrás de Asher,
que está assistindo a um jogo de futebol na TV, ele tem uma lata de cerveja
nas mãos e um pacote de salgadinho no colo.
— Que tal eu fazer alguma coisa para a gente comer? — Ofereço.
— Você sabe cozinhar?
— Todos na minha família sabem cozinhar.
Embora eu frequentemente finja que não sei, desta forma não
preciso me preocupar com as pessoas esperando que eu o faça. Além disso,
minha rotina é sempre muito ocupada, o quando não é o hospital, minha
família ocupa o resto do meu tempo.
Abro a geladeira e me surpreendo com quão bem abastecida, o
completo oposto do que imagino normalmente vindo de um homem solteiro
que mora sozinho. Nem mesmo minha geladeira é tão bem abastecida.
— Por favor me diga que não tem uma cabeça na minha geladeira.
— Asher tira minha atenção, é quando percebo que estou encarando o
conteúdo de sua geladeira por um longo tempo.
— Não, estou surpresa de que você tenha coisas saudáveis aqui e
não um monte de embalagens de fast food.
Ele ri, descontraído.
— Aí está uma coisa que precisa saber, se posso preparar, não há
motivo para comprar.
— Isso explica porque come muitos doces. — Aponto para a caixa,
vazia, de bolinhos em cima do balcão.
Decido fazer brócolis assado no molho branco, com bife e alguns
acompanhamentos que ainda não decidi. Asher me ajuda, preparando a
carne, enquanto coloco os brócolis no forno, ele me serve uma taça de
vinho, enquanto toma sua cerveja.
Asher é divertido!
É fácil entender a razão de Anuvia gostar tanto dele, e tê-lo o
tratado como um irmão em um espaço tão pequeno de tempo. Ele
normalmente fala o que pensa, sempre está rindo e constantemente fazendo
perguntas aleatórias, como uma criança que não consegue conter sua
curiosidade.
— Por que será que as pessoas não pensam muito no umbigo?
Quero dizer, é um buraco na sua barriga, considerando que ele seja aberto,
ou uma saliência, isso não faz sentido.
— Faz, se você pensa no umbigo antes do seu nascimento, ele é a
cicatriz do cordão umbilical por onde o feto se alimenta, respira, e algumas
outras coisas. — Respondo.
— Mas ele perde a utilidade.
— Sim, por isso quando nasce você corta, e o umbigo é uma
cicatriz.
— Então pessoas que fazem cirurgias no abdômen refazem o
umbigo à toa?
Dou de ombros.
— Por estética, todo mundo tem.
— Então posso fazer uma cirurgia para tirar o meu?
— Por que fazer uma cirurgia para tirar o umbigo sendo que você
mesmo disse que as pessoas não pensam nele? Além disso, o nosso umbigo
tem cerca de 67 espécies diferentes de bactérias, legal né?
— Não!
Dou risada, é divertido o olhar em seu rosto, como ele realmente
estivesse tentando dar sentido ao que eu disse e não tendo sucesso.
Volto a me concentrar no preparo da nossa refeição, quando escuto
o barulho de um carro parando em frente ao prédio, e alguns minutos depois
o som da porta da frente batendo, como se a pessoa estivesse com raiva.
— Sabia que respiramos por uma narina de cada vez? — Pergunto a
Asher, querendo distrair minha atenção do que está acontecendo no
apartamento da frente.
— Como?
— Respiramos por uma narina de cada vez.
Olho na direção de Asher para encontrá-lo trancando um dos lados
do nariz para verificar se o que eu disse era realmente verdade. A expressão
em seu rosto me faz cair na gargalhada, eu me encosto no balcão lutando
para respirar, e o fato de ele continuar tampando um dos lados, não ajuda na
minha crise de riso e eu caio sentada no chão rindo.
— Isso nem faz sentido.
Nem mesmo o som de alguém entrando no apartamento me tira da
minha crise de riso, Levi aparece do lado do balcão, uma expressão
preocupada, quando me vê rindo, seu rosto de transforma em pura
curiosidade.
— Algum problema aqui? — Olha na minha direção.
— Sabia que a gente só respira por um lado do nariz de cada vez?
— Asher pergunta.
— Nós não fazemos isso. — Ele diz.
— Na verdade, fazemos. — Digo, me abanando.
Eu devia ter sido esperta e deixado o assunto morrer.
Mal tinha me recuperado de uma crise de riso quando Levi tem a
mesma reação que Asher, em um minuto estou me levantando e no
próximo, estou rolando no chão rindo como uma louca enquanto os dois
homens tampam suas narinas na tentativa de confirmar o que estou dizendo.
Quando Aiden entra no apartamento, ele constata a cena, pergunta o
que está acontecendo e ao perceber o que ambos estão fazendo, balança a
cabeça rindo. Me surpreendo quando ele estende a mão para me ajudar a
levantar, entendendo isso como uma oferta de amizade, eu aceito.
— Vejo que estão se dando bem. — Levi acena entre mim e Asher.
— Sim, Asher é divertido.
Aiden e Levi trocam olhares, decido ser melhor ficar quieta e não
me intrometer. Agora que estamos nos tratando com respeito, a última coisa
que quero é deixá-los desconfortáveis perto de seu namorado secreto.
— Espero que não muito divertido. — Aiden murmura.
Com o jantar pronto, nós nos servimos e sentamos a mesa para
comer.
Os caras conversam sobre o jogo que estava passando, eles avaliam
o desempenho dos jogadores, árbitros e dizem algumas palavras acaloradas
a respeito do técnico, que segundo eles, é horrível e uma questão de tempo
antes de ser substituído.
— Agora que não tem ninguém por perto, talvez queira nos dizer o
real motivo que a fez deixar seu serviço no hospital. — Aiden me encara.
Sua pergunta atinge um nervo, não gosto da forma como estão me
questionando, mas sei avaliar suas expressões e percebo que minha resposta
aqui está sendo analisada por eles, eles esperam que eu minta.
Dou de ombros, como se não fosse grande coisa, quando, na
verdade, é! Odeio ser uma mentirosa.
— Trabalho no mesmo hospital desde que me formei, estou
precisando de uma mudança. — Isso não é uma mentira.
— Anuvia comentou que você está sempre viajando para lugares
perigosos. — Asher comenta.
— Gosto de ajudar as pessoas, e em alguns lugares desses, até o
mínimo é de grande ajuda.
— Posso imaginar. — Levi tem ficado quieto a maioria do tempo,
finalmente diz alguma coisa.
No pouco tempo que estou em torno deles, percebi que Levi sempre
diz o mínimo possível em situações sociais, enquanto Aiden é mais falante,
o que apenas revela sua forma de extrair informações. Enquanto Levi
observa atentamente a cada reação que tenho, Aiden faz perguntas, tentando
me fazer deslizar nas minhas informações.
Começo a me sentir desconfortável.
Asher é o primeiro a terminar de comer, ele se levanta até a
cozinha, Levi e Aiden ficam atentos na direção que ele foi, dando a
sensação de que querem conversar sem a minha presença interferindo. Por
isso, me levanto e vou até a cozinha, onde limpo o meu prato e guardo.
— Se vocês me dão licença, vou para o quarto. — Aceno para
todos, e sem esperar por uma resposta saio. Tomando cuidado para não
parecer desesperada.
Estou fechando a porta atrás de mim quando escuto Asher
comentar:
— Vocês são idiotas!
Capítulo 7
Levi
Concordar com Asher é algo que jamais pensei que faria, ainda
mais concordar duas vezes no mesmo dia. Tenho certeza que estamos em
uma realidade paralela onde nada faz sentido.
Ele está certo ao dizer que Aiden e eu somos uma dupla de idiotas.
Não gosto de pensar na quantidade de problemas que teremos, mas fingir
que não sentimos nada por Jules, e que essa atração está nos deixando cegos
é patético.
Depois que sai da mansão, dirigi por aí por tempo suficiente para
chegar à conclusão que Asher estava certo, se não tivermos atitude,
perderemos Jules para algum idiota solto por aí, e isso se tornará um
problema.
— Agora que assustaram minha colega de quarto, falem de uma
vez! — O babaca passa por nós em direção a sala, colocando os pés em
cima da mesa de centro e pega o controle da TV, passando pelos canais sem
parar em um específico.
— Jules está fugindo de alguém. — Aiden disse.
Asher revira os olhos.
— Claro que está! É por isso que Lior levou pãozinho doce para
longe da cidade, enquanto cuidamos do pãozinho de mel.
Sempre achei engraçado como Lior ficava irritado com o apelido
que Asher deu para sua mulher, que mal tinha em um apelido como
“pãozinho doce”? Hoje em dia posso entender a conotação que um apelido
como “pãozinho de mel” pode ter, e não gosto disso nenhum pouco.
O problema em tudo isso, é que no momento meu direito se resume
a nada! Não posso reclamar, da mesma forma com Aiden, e posso perceber
na expressão do meu irmão que ele também não gosta disso.
— Lior te disse isso? — Pergunto a Asher.
— Não precisa sem um gênio, ainda mais com Raphael e ela tendo
segredos.
— Claro, me esqueci que você era um fã dele. — Zombo.
— Ao menos ele confiou em mim para cuidar de sua prima, ao
contrário de vocês, que estão prestes a entrar em uma lista de merda, e a
melhor parte? Vocês são aqueles que querem foder pãozinho de mel. — O
filho da puta tem a audácia de rir da nossa cara.
— Vou ampliar a nossa segurança, enquanto descobrimos o que a
tem fugindo. — Aiden diz, ignorando a presença de Asher.
— Ampliar? — O encaro. — Podemos ficar com ela todos os dias,
não há muito o que se fazer por aqui.
O som de “task” que Asher faz com os lábios nos tem o encarando.
— O que foi? — Perguntamos simultaneamente.
— Querem ficar perto de Jules? Vocês praticamente deixaram claro
que a odeiam, ou ao menos é isso que seu comportamento babaca a fez
pensar. — Responde. — Se querem estar em torno dela, primeiro precisam
ter uma boa conversa. E não querendo ser um idiota, mas vocês foram
grosseiros esta manhã, não é um jantar que os torna amigos.
Não faço ideia de que bicho mordeu Asher nas últimas horas e o
tornou uma pessoa sensata. A última pessoa no mundo que eu esperaria que
fizesse algum sentido é esse idiota, e desde sua lição de moral no café da
manhã, ele nos deu bastante coisa para pensar.
Asher encontra um canal para assistir e passa a nos ignorar.
Tomo uma respiração profunda, e luto para não matar o filho da
puta, ando até a TV, desligo o aparelho, me virando, vejo que Aiden
percebeu minha intenção, ele chuta as pernas do Asher de cima da mesa de
centro e o agarra pela camisa.
— Às vezes me pergunto o que seus pais pensariam se você
desaparecesse? — Aiden murmura, enquanto o arrastamos para fora do
apartamento.
— Não acredito que querem me obrigar a treinar uma hora dessa, se
pãozinho de mel procurar por mim, vai ficar decepcionado ao não me
encontrar.
No elevador, dou uma cotovelada em seu estômago, o bastardo
solta um gemido baixo de dor.
No subterrâneo temos uma academia, com ringue de luta e tudo que
conseguimos pensar na hora de montá-la. Somos homens, e gostamos de
extravasar nossa raiva e energia acumulada, violentamente, por esse motivo,
investir em um lugar como esse era essencial.
— Então, acho que vou ser o juiz dessa merda. — Asher diz, se
recostando no ringue.
— Não!
Nossa intenção trazendo Asher aqui é justamente usá-lo como
nosso saco de pancadas, uma vingança direta por suas provocações
constantes a respeito de Jules e do nosso não relacionamento.
— Pensem bem, qual é a melhor forma de resolverem suas
desavenças sobre pãozinho de mel do que essa?
— Não me leve a mal Asher, mas não quero sua presença quando
estivermos discutindo isso.
Ele ri.
— Mesmo? Acho que precisam de alguém que tenha um ponto de
vista diferente.
— E essa pessoa seria você? — Dou risada.
— Se resolvam primeiro e depois vejam como pãozinho de mel se
sente sobre estar com ambos, talvez estejam problematizando algo sem
motivo.
Devo estar em uma realidade paralela para dar ouvidos a Asher, e
encontrar sentido nas coisas que está dizendo. Olho para Aiden e percebo a
mesma expressão confusa e descrente em seu rosto.
É disso que estou falando, Asher está escondendo algo de nós.
— Sabe, Asher? Estou tentando entender de onde vem essa
sabedoria sobre relacionamentos. — Aiden comenta.
Substituímos nossas roupas de dia a dia, por shorts de treino, e
começamos a enrolar a faixa em nossos punhos, Asher está pensando em
uma resposta coerente, ou melhor, em uma mentira convincente.
— Então? — Pressiono.
— Não tem uma resposta, sou uma pessoa muito inteligente, razão
pela qual deveriam aceitar meus conselhos e não buscar uma razão.
Ele é o primeiro a subir no ringue, e começar a se aquecer.
— O filho da puta está escondendo alguma coisa de nós. — Aiden
murmura.
Asher é um homem adulto, que sabe o que faz da vida. Da mesma
forma, ele sabe melhor do que ninguém que pode recorrer a nós em casos
de emergência, por esse motivo, decido que no momento, é melhor ficar na
minha, e por consequência, aceitar seus conselhos.
— Enquanto ele estiver usando seus conselhos para nos aproximar
de Jules e não para entrar em suas calças, por mim tudo bem.
Subo no ringue, e me aqueço, quando Aiden e eu terminamos nosso
aquecimento, a diversão realmente começa. Golpe após golpe, sinto que
meus pensamentos estão se colocando em ordem. Esse é o charme da luta,
com o corpo cansado e a mente focada no seu adversário, se torna mais
difícil de criar obstáculos e desculpas pelas quais Aiden e eu deveríamos
permanecer longe de Jules.
Asher, se aproveita de um momento de distração meu, e certa um
soco na minha mandíbula, quando dou dois passos atrás, meio atordoado, o
filho da puta ri, sem parar de se movimentar.
— Filho da puta! — Aliso meu queixo.
— Estou apenas vendo se coloco um pouco de juízo na sua cabeça
oca. — Me provoca. — Fiquem tranquilos, vou tomar cuidado para não
machucar muito, vão precisar de ao menos um rostinho bonito para
conquistar pãozinho de mel.
Aiden ri da provocação.
— Você tá rindo de que, seu idiota? — Pergunto a Aiden quando
me lanço em sua direção. — Se esqueceu que somos gêmeos?
— Meu cabelo me diferencia. — Responde, desviando do meu
golpe.
— Com toda certeza, esse cabelo ressecado te deixa ainda mais
feio. — Zombo, e Asher concorda.
— Talvez a gente devesse raspar o cabelo do perdedor. — Asher
propõe.
Trocamos um olhar.
Mesmo sendo fiel ao meu irmão, não posso perder a chance de me
unir com Asher e fazer que ele fique careca. Percebendo o que estamos
prestes a fazer, Aiden começa a se afastar, com cautela, mas não funciona,
Asher e eu o imobilizamos.
— Odeio vocês! — Reclama.
— Vai chorar por muito tempo, bebê? — Faço voz de bebê para
Aiden.
Se dando por vencido, terminamos a luta e vamos para o vestiário,
onde encontramos a máquina de raspar cabelo e entregamos a Aiden, que
por mais irritado que esteja, raspa a cabeça. Ao final, o idiota concorda que
sua cabeça raspada é muito melhor do que aquela bagunça seca que estava.
— Deveria nos agradecer pelo upgrade na sua imagem.
— Não exagere, Asher!
— Lamento informá-lo, irmão, mas ele está certo.
— Está dizendo que estou bonito? — O idiota pisca os olhos para
mim.
— Estou dizendo que gosto dessa versão minha.
Entramos no elevador e digitamos o código para nosso andar.
— O que você diz, Asher?
— Ah, sim, mais um pouco e eu não saberia o que fazer perto de
vocês. — Revira os olhos.
Suas palavras são proferidas no mesmo instante que as portas do
elevador abrem, e para nossa surpresa, há duas pessoas paradas em frente a
elas. Ambas escutam o que Asher disse, mas não esboçam reação, apenas
nos encaram como se estivessem nos vendo pela primeira vez.
— Cash? O que você está fazendo aqui e com Jules? — Não
controlo minha irritação e vejo meu amigo se encolher diante do meu tom.
Cash, acostumado com como agimos normalmente, não parece
afetado.
— Procurando por vocês, ao que parece vim ao lugar errado.
Jules acompanha o olhar de Cash, reparando em nossos cabelos
molhados e roupas diferentes das que estávamos há pouco. Algo passa por
sua cabeça, a fazendo corar como uma adolescente, e desviar o olhar
envergonhada.
— Gostaram do novo visual do Aiden? — Asher muda de assunto.
— Ficou ótimo, combinou com você.
— Eu disse isso, ao menos tirou aquele cabelo horrível! —
Continua Asher.
— Bom, agora que Cash já sabe onde vocês estão, vou voltar para o
quarto.
Esperamos Jules entrar no apartamento e encostar a porta atrás de
si, para ir para o nosso lugar, nos servirmos de um copo de uísque, e me
sento de frente para Cash, que remove uma penugem inexistente de sua
calça.
— O que você está fazendo aqui com Jules? — Aiden vai direto ao
ponto que está me incomodando.
— Tenho trabalho para vocês, por isso vim aqui. — Explica. —
Pensei que os encontraria lá.
Não sei se acredito completamente no que ele diz.
Confio nesses homens com minha vida, afinal, somos amigos desde
que éramos crianças. Passamos anos cuidando dos negócios enquanto Lior
estava preso, no entanto, tenho a sensação que Cash está escondendo algo
de nós.
— O que você precisa? — Peço.
— Temos uma movimentação estranha no armazém perto do lago.
— Mande um dos homens lá, isso não é trabalho nosso.
Me levanto, dando por finalizado o assunto, ao menos é isso o que
pensei.
— Eu vou.
É claro que de todas as pessoas que poderiam abrir a boca, a única
pessoa que me obrigaria a agir e ir até o lago, é aquela que abre a boca e se
oferece para ir. O idiota sabe o que acabou de fazer, razão pela qual evita
me olhar, enquanto disfarça um sorriso.
— A próxima vez que tiver um serviço de merda, não nos procure.
— Aviso.
— Sem problemas, não acredito que vão encontrar muitos
problemas por lá.
Sábias últimas palavras.
Capítulo 8
Aiden
Eu deveria ter sido esperto e confiado na negativa do Levi ao
pedido do Cash, desde que nascemos, meu irmão tem um certo “dom” para
evitar problemas, em compensação, acredito que vim com o me meter em
problemas. É isso ou ele pegou toda a boa sorte para si e me deixou com
esse azar do caralho!
Conheço o lago, e também conheço Cash o suficiente para saber
que ele estava sendo um idiota, era sua vingança besta da forma como
falamos com ele, ao encontrá-lo perto de Jules.
Acredito que nem ele esperava que ao nos aproximarmos do lago
encontraríamos alguns barcos parados de forma suspeita, ou que de dentro
desses barcos, dois homens arrastassem três mulheres e as executassem com
tiros na cabeça.
— Eu disse que a gente devia ter ficado em casa, agora temos que
lidar com esse tipo de problema. — Levi reclama. — Enquanto isso…
É a parte do “enquanto isso” que me irrita ainda mais, pensei que
conseguiria arrastar Asher conosco, mas o idiota foi rápido em lembrar a
todos que “pãozinho de mel” precisava de segurança, e se todos saíssemos,
a colocaríamos em risco.
— Vamos deixar isso para resolver depois, querendo ou não temos
trabalho a fazer. — Digo, enquanto observo os homens.
— Não acha que devíamos impedido?
— Não! Elas não eram nosso problema, não sou um maldito herói
que corre e troca tiros para salvar pessoas que nem conheço.
Levi ri, satisfeito com minha resposta.
Normalmente somos a voz da consciência um do outro, e em casos
excepcionais como esse, precisamos que o outro valide nossa forma de
pensar, assim não nos sentimos como monstros por simplesmente deixar de
lado a moral social. Não minto para mim mesmo, fingindo que me importo
com essas pessoas, se elas levaram um tiro foi porque deram motivos, e não
me interessa se foram nobres.
Assisto arrastarem os corpos até uma pequena caminhonete e jogá-
los na traseira, eles levam ao menos uns vinte minutos fazendo isso, em
seguida limpando a sujeira de sangue no chão.
— São amadores. — Levi comenta, divertido.
— Sorte a nossa que o serviço vai ser rápido.
Seguimos a caminhonete até o galpão das docas, e estacionamos do
lado de fora, aguardando que até que carreguem os corpos para dentro do
galpão. O sangue pingando da cabeça dos cadáveres deixa uma trilha, o
cheiro metálico do sangue, incomodando meu nariz.
A sucessão de atos amadores é gritante, esses caras não são
profissionais e provavelmente estão aprendendo a fazer esse serviço.
A primeira vez que matei uma pessoa cometi o erro de deixar uma
trilha de sangue. Meu tio, o pai do Lior, era o nosso professor, naquele dia.
Lembro como se fosse hoje quando ele me atingiu no rosto, rindo da minha
cara e me chamando de “garoto estúpido”. Ele me deu uma surra, e a cada
golpe listava razões pelas quais eu era um incompetente, que era uma
questão de tempo antes que me pegassem.
Depois da surra, ele me deixou caído ao lado do cadáver, meu rosto
sujo com o sangue do homem que havia matado. Foi uma lição e tanto,
ainda mais quando tive que esquartejar o corpo, ainda todo sujo de sangue,
a sensação do sangue colado na minha pele…
— Vamos entrar. — Levi me empurra, chamando minha atenção.
Saímos do nosso esconderijo e entramos pela lateral do armazém,
mal passamos pela porta e o cheiro de mofo atinge meu nariz, com um
cheiro forte de alho. Cubro meu nariz e boca, conforme andamos, não tenho
um bom pressentimento a respeito dessa situação.
— Tem alguma coisa errada aqui. — Digo, apontando para diversos
recipientes de armazenamento.
Alguns barris estão fechados, e na medida que nos aproximamos,
posso sentir o cheiro de podre que emana deles. Os idiotas estão matando
pessoas e as guardando aqui, em barris, e não se dando ao trabalho de cobrir
com um produto mais forte. Empurro a tampa e imediatamente me
arrependo da ação, o cheiro da decomposição do cadáver se mistura com o
cheiro de alho, quase me fazendo vomitar.
Humanos são nojentos!
Animais não fedem quando mortos e armazenados para estudo em
faculdade, ao menos, não como um ser humano faz. O que é um ponto
divertido, se for pensar o quanto as pessoas sentem nojo dos animais, e no
fim da vida, fedem e apodrecem pior que eles.
— Olhe. — Levi aponta para um amontoado de equipamentos.
— Não estou gostando disso.
— Tem algo grande acontecendo bem de baixo do nosso nariz.
Devo concordar, a questão nesse momento é descobrir quem são
esses homens, porque estão matando essas pessoas e as colocando aqui, e o
principal, o que tem nesses frascos, que fede desse jeito.
— Precisamos descobrir quem são essas pessoas. — Fala, olhando
em volta a procura de algo que nos ajude a identificar.
Damos sorte de encontrar uma carteira caída no chão com
identidade e passaporte, coloco no bolso da minha jaqueta, procuramos por
mais alguns minutos, aproveitando para fotografar tudo, antes que o cheiro
comece a fazer sentir mal.
— Tenho que sair. — Aviso.
— Eu também.
Estamos nos fundos do armazém, podemos ouvir vozes na parte da
frente, uma delas se aproxima de onde estamos. Levi e eu temos pouco
tempo para descobrir o que faremos com essas pessoas, se as deixaremos
vivas, ou se as mataremos e encerramos essa merda.
Qualquer decisão que tomarmos afetará o rumo dos
acontecimentos.
Sabemos onde esses caras estão se escondendo e o que estão
fazendo, ao menos parte do que estão fazendo. O mais importante é
descobrir o que estão tramando com tudo o que encontramos, e quem
estaria desesperado o suficiente para contratar pessoas inexperientes para
executar o serviço.
Se matarmos esses caras agora, seu chefe descobre e muda a
operação, não nos dando a chance de descobrir seus planos. Mas, se
esperarmos, essa sujeira continuará crescendo no nosso quintal.
Com um aceno de cabeça, Levi e eu saímos de lá pelo mesmo lugar
pelo qual entramos, e voltamos para a cidade.
— Vou mandar alguém se livrar deles, vamos segui-los e arrumar
uma desculpa plausível que não revele que sabemos o que está
acontecendo. — Levi diz, no momento em que entramos no nosso
apartamento.
Me deito no sofá, lutando para me livrar do cheiro que tenho
certeza está impregnado em minhas roupas.
— Vamos conversar com Asher e Cash assim que amanhecer. —
Concordo. — Precisamos traçar um plano para que Jules fique segura.
— E ainda tem isso.
Garantir a segurança de Jules é nossa principal prioridade!
Fecho os olhos por um momento, não sei que horas são, mas me
sinto cansado, como se tivesse malhado por horas e horas, a ponto dos meus
músculos não conseguirem funcionar. Meus braços e pernas estão pesados,
minha cabeça está a ponto de explodir, e a sensação é de me mover em
câmera lenta.
— Aiden? — A voz abafada do meu irmão aparece ao longe.
Nem mesmo me dou ao trabalho de respondê-lo, abro os olhos
para vê-lo se sentando ao meu lado, sua postura imitando a minha. Tenho
certeza que há algo errado conosco, mas não me sinto bem para questionar
isso, e nem tenho energia.
Capítulo 9
Jules
Escutei o barulho da porta do apartamento se abrindo e o som de
paços andando pelo lugar, me encolho um pouco, assustada que meu
perseguidor tenha descoberto onde estou me escondendo, mas determinada
a pôr um ponto final nessa história, me levanto, e caminho calmamente.
A sombra escura anda pela casa, e no momento em que a acerto, o
som de um copo sendo quebrado, em seguida uma voz conhecida
reclamando, me faz relaxar minha postura tensa. Superando o medo, forço
um sorriso e vou para perto de Cash.
— O que está fazendo aqui? — Pergunto, acendendo a luz da
cozinha e pegando um pano para ajudá-lo.
— Precisava falar com os caras, pensei que encontraria todos aqui.
— Eu os ouvi saindo há pouco, embora não faço ideia de onde
possam estar.
— Tenho uma ideia. — Murmura, pegando o pano da minha mão e
terminando de limpar. — Está estranhando a mudança de casa?
Dou de ombros, faz apenas algumas horas.
— Foi hoje. — Sorrio. — Mas Asher é divertido, é fácil estar perto
dele.
— Está atraída por ele? — A forma como Cash me olha, diz que
posso estar em problemas se estiver.
— Não, acho que Asher está “indisponível” no momento.
— O que?
Cash não parece surpreso com minha afirmativa, então tem todos os
sinais de que ele sabe sobre o relacionamento de seus amigos.
— O relacionamento dele com Aiden e Levi. — Murmuro.
— Rela...? — Ele não termina de falar.
— Percebi isso hoje mais cedo, por isso não precisa fingir. — Digo.
— Mas não quero ser invasiva.
Cash parece a ponto de rir, mas controla sua expressão.
É difícil ler suas emoções com toda certeza, principalmente por ele
ser bom em escondê-las, além disso, não nos conhecemos ou interagimos
por tempo suficiente.
— Claro! E o que você acha de serem três pessoas?
Dou de ombros.
— Eles são todos muito sexys, acho que é interessante em mais de
um sentido.
— Você está interessada no Aiden e Levi! — É uma afirmação.
Pensei que tivesse sido boa em disfarçar como me sentia em relação
aos dois homens.
— Por favor, não conte a eles. — Peço.
Cash ri e acena.
— Fique tranquila. — Garante, em seguida se vira. — Vai ser
divertido ver essa merda acontecer.
— O que?
Acho que não ouvi direito o que ele estava dizendo.
— Nada, estou indo ver se encontro o trio apaixonado.
Caminho com Cash até o elevador, e no momento que as portas se
abrem, os três homens aparecem, eles estão com o cabelo molhado, e Aiden
parece mais sexy do que nunca com a cabeça raspada. Ele e Levi fazem
uma bela imagem a se admirar.
Depois que deixá-los conversando, volto para o apartamento e
deito. Não vou negar que senti um pouco de ciúmes, imaginando o tipo de
diversão que os três tiveram quando estavam lá em baixo.
***
Sem ter ideia de que horas são, acordo com Asher pairando em
cima de mim. Obviamente algo deve ter acontecido para ele me acordar,
olho no relógio e vejo que é de madrugada.
— Jules? — Asher me sacode.
Resmungo, esfrego os olhos e me sento, isso faz com que ele tenha
que se afastar de mim.
— O que foi? — Pergunto.
— Levi e Aiden, eles precisam de ajuda.
Saio da cama, sem me importar por estar vestindo apenas uma
camisa branca e calcinha, corro para fora do apartamento, em direção a casa
de Aiden e Levi. Entrando vejo os dois deitados no sofá, parecendo pálidos
e doentes.
— O que aconteceu com eles? — Pergunto, medindo o pulso, e
vendo que seus batimentos estão fracos.
Eles estão gelados, seus lábios estão pálidos.
Isso não é um bom sinal!
— Não faço ideia, vi eles chegando há pouco tempo e vim ver
como estavam, os encontrei assim. — Explica.
No meio da minha verificação sinto um cheiro muito característico
de um produto usado em pesticidas, na verdade, é considerado um veneno,
no campo muitos trabalhadores que lidam com agrotóxicos se contaminam
pela exposição constante a ele.
— Vocês têm sauna aqui? — Pergunto.
— Sim, por que? — Asher parece confuso.
— Esse cheiro é característico de arsênico, que é tóxico. —
Explico. — Precisamos leva-los para a sauna, o suor vai ajudá-los a
eliminar os vestígios do veneno.
— Como você sabe disso? — Asher pergunta.
Não tenho tempo para me sentir ofendida com sua pergunta, meu
foco está em ajudá-los, é uma questão de tempo até que seu organismo sofra
as consequências da exposição ao arsênio.
— Sou médica, estudamos alguns casos. — Explico.
O cheiro está muito forte em suas roupas, o que pode ser a fonte
maior de contaminação no momento. Ao entrar em contato com o produto e
permanecer com as roupas, pode ter desencadeado essa situação.
— Vou levar primeiro Aiden, ele parece mais pálido. — Asher diz.
— Precisamos tirar suas roupas primeiro, elas estão contaminadas.
Sem esperar, começo a tirar as roupas de um deles, Asher imita
minha ação.
É mais difícil do que pensei remover as roupas de um homem do
tamanho deles, ainda mais estando desacordado. Não que eu tenha passado
muito tempo me imaginando tirando a roupa de ambos. Suas pernas são
pesadas, ainda mais quando tenho que deslizar pelo seu quadril, em seguida
tirar a camisa, erguendo primeiro um braço e depois o outro. Vai ser uma
tarefa difícil lavá-los desacordados, mesmo com a ajuda do Asher.
— Aiden? Levi? — Dou um tapa em seus rostos, em uma tentativa
de acordá-los.
Aiden nem mesmo se mexe, mas Levi abre os olhos, zonzo.
— O que... Jules? — Levi murmura, em seguida segura minha mão
contra seu rosto.
— Você precisa acordar, vamos... — Afasto minha mão do seu
rosto.
Asher se aproxima dele.
— Vamos mano. — Ele continua tentando fazer Levi se espertar um
pouco.
— Asher, leve Aiden, vou ajudar Levi. — Digo. — Não quero
deixar nenhum deles sozinho aqui.
Aiden é carregado por Asher, enquanto eu ajudo Levi a se arrastar
até o elevador, lá vamos para a academia que fica no subsolo, no canto,
perto do vestiário tem uma sauna grande, colocamos os dois sentados lá, e
esperamos. Na medida que a temperatura vai subindo, os dois começam a
suar, e sua aparência começa a melhorar.
Me sento do lado de fora, contando os minutos antes de entrar
novamente para conferir seu estado. Asher se senta ao meu lado, com uma
expressão preocupada ele passa as mãos pelos cabelos.
— Graças a Deus você estava aqui, não posso imaginar o que teria
acontecido. — Murmura.
Agir despreocupada em momentos como esse é um dom que levei
muito tempo para aperfeiçoar, e necessitei de muita ajuda do meu avô para
isso. Quando disse que eu queria ser médica, meu avô disse que precisava
me dar algumas aulas extras, que a faculdade não me prepararia para ter.
Quando estamos na faculdade aprendemos que a emoção sempre
assume quando o assunto é quem nos importamos, por esse motivo não
devemos nos envolver. Mas meu avô, ele me ensinou que quando o assunto
é pessoas que amamos, devemos nos manter focados em dobro, não
podemos confiar em ninguém além de nós. Se eu como médica não me
dedicar o suficiente para salvar um membro da minha família, quem o fará?
Perceber que agi exatamente da forma que meu avô me ensinou,
colocou as coisas em uma nova perspectiva para mim.
A realidade é que, mesmo sabendo do ódio que Levi e Aiden
sentem por mim, e de seu relacionamento com Asher, de alguma forma
desenvolvi sentimentos por ambos. Preciso me manter afastada deles,
depois de hoje, ou me forçar a vê-los como amigos.
— Tudo vai ficar bem, mas temos que subir e nos livrar daquelas
roupas. — Seguro sua mão.
Dar uma tarefa a Asher, vai ajudar com que se distraia.
— Farei isso daqui a pouco.
— Cuide para não tocar em nada. — Acena com a cabeça. — Onde
eles foram que acabaram nessa situação?
— Cash pediu para verificarem o lago, lá tem alguns galpões de
armazenamento.
— Eu gostaria de dar uma olhada nesse lugar, isso pode ser fatal.
Asher tira do bolso do short um telefone, depois de desbloquear,
abre a galeria de fotos, me inclino mais perto quando percebo que é o
telefone de Aiden, e as fotos que estamos vendo são as do armazém.
Foto após foto vejo alguns barris com pessoas em um avançado
estado de decomposição, assim como muitos recipientes de armazenamento
de arsênio, uma quantidade preocupante. O diluidor que aparece no canto
da imagem, deve ter passado despercebido pelos meninos, ou eles não
faziam ideia do que estavam fotografando.
— Por que sua expressão parece assustada? — Asher me encara.
— Eles entraram em contato com arsênio.
— E?
Vejo que vou ser a pessoa que terá de explicar tudo.
— Arsênio é um veneno, era muito utilizado antigamente por não
ser detectado no corpo humano, se queria matar alguém bastava ir
adicionando aos poucos na água ou comida, que ele ia atingindo os órgãos.
— Explico. — Outra utilidade atual é em produtos para plantação como
pesticidas.
— Vivemos em um país que exporta muito disso.
— Mas não temos em nenhum lugar próximo uma plantação ou
uma fábrica. — Não quero soar tão sem paciência como estou me sentindo.
— E com o acumulo de corpos nesse lugar e o diluidor, tenho a sensação de
que alguém está tentando envenenar os moradores da cidade.
— Porra, não faz nenhum sentido!
Tenho que concordar com ele, o que alguém ganharia envenenando
pessoas inocentes?
— Nós apenas não estamos vendo, mas posso garantir que tem.
— Até lá o que faremos?
Tenho experiência em lidar com situações difíceis, e a primeira
lição, nunca conte imediatamente as autoridades, eles farão perguntas
estúpidas e não vão acabar imediatamente com a origem do problema.
— Existe um kit para testes de reagentes na água, preciso que
arrume um. — É uma coisa complicada de se conseguir, ainda mais em um
espaço pequeno de tempo. — Preciso que consiga rápido.
— Considere feito.
— Quanto antes essa hipótese for confirmada, mais rápido podemos
interromper o abastecimento da cidade.
Asher me dá um olhar descrente quando digo isso.
— Como?
Dou meu sorriso considerado assustador por muitos, e respondo:
— Vamos explodir essa merda!
Capítulo 10
Levi
Eu devia saber que algo estava errado no momento que senti o
cheiro forte naquele armazém, mas o cheiro dos cadáveres impregnou no
meu nariz, não me deixando pensar em nada além de todas aquelas pessoas
mortas. Pensei que o tempo que estivemos lá não seria suficiente para nos
intoxicar, só percebi estarmos em uma encrenca, quando não conseguia me
manter em pé ao chegar em casa.
Sinto meu corpo doendo, assim como minha cabeça, tenho certeza
que no momento que abrir os olhos a luz tornará tudo pior, mas preciso
conferir se Aiden está bem. Gemendo, abro os olhos, e estranho o lugar,
leva um segundo para eu me orientar e perceber que estou na sauna, nu.
Olho em volta e percebo que Aiden está na mesma situação.
A porta da sauna se abre, Jules e Asher entram.
Mesmo na situação que me encontro, não deixo de perceber que o
bastardo está sem camisa, enquanto Jules usa uma camisa larga, não tenho
como saber se ela está usando um short por baixo ou apenas calcinha.
— Olha só, a margarina acordou! — Asher se abaixa na minha
frente, segurando meu rosto.
Afasto sua mão.
— Você não é médico.
É difícil controlar meu temperamento quando vejo minha mulher
vestida dessa forma, ao lado de outro homem.
— Ele pode até não ser, mas foi ele quem os encontrou e salvou
suas vidas. — Jules interfere.
— Como está Aiden? — Pergunto.
— No mesmo estado que você, embora ainda não tenha acordado.
— Devo me preocupar?
— Cada organismo reage de um jeito diferente. — Explica. — Tem
sorte que nos livramos daquelas roupas a tempo.
Isso explica a parte de estarmos pelados e na sauna.
Não demoro muito a perceber que Jules está no modo profissional,
a maioria das mulheres estaria caindo em cima de Aiden e eu, admirando
nossos corpos, toda a porcaria, mas não a encrenqueira.
Admiro Jules enquanto ela cuida de Aiden, e percebo que não
respondeu minha pergunta diretamente.
— Cadê meu celular? — Pergunto a Asher.
— Está comigo, pãozinho de mel e eu decidimos dar uma olhada no
que vocês encontraram. — Explica.
— E?
As peças do que encontramos naquele lugar ainda não fazem
sentido, cadáveres e veneno?
— Pãozinho de mel foi de grande ajuda. — Diz. — Enquanto vocês
se recuperam, nós vamos cuidar dos negócios.
— Nem pensar!
A simples possibilidade de Jules estando naquele lugar e ficando
doente já é o suficiente para me deixar louco. Como estou me sentindo
nesse momento, me deixa ainda mais determinado a mantê-la longe.
Jules bufa, como se estivesse ouvindo algo ridículo.
Não é uma surpresa que Aiden e eu agimos como idiotas com ela, e
depois de ontem, me recuso a perder mais tempo com medo. Nada nessa
vida é garantido, e nós devemos fazer nosso melhor para mantê-la conosco,
se Aiden não estiver disposto a isso, serei o único a levá-la para o altar,
enquanto ele observa arrependido.
— Não estou pedindo sua permissão. — Responde com calma, sua
voz neutra. — Sou uma mulher adulta e depois disso? — Acena entre mim
e Aiden. — Acredito que sou a única capacitada para fazer o serviço.
— Cash não vai permitir.
Ela ri.
— Cash não tem muito o que dizer sobre o que faço ou não, e ele
parecia bem interessado na minha ajuda, tendo em conta que vocês quase
morreram indo até lá.
— Vou conversar com ele. — Digo determinado.
— Você não tem esse direito.
Sua resposta petulante me irrita, não por ser um desafio, e sim por
ser verdade.
— Isso é o que vamos ver. — Digo.
O som zombeteiro que ela faz só serve para me irritar ainda mais.
Estou prestes a listar todos os motivos do porquê terei direito a impedi-la de
fazer algo assim, quando Aiden se mexe, chamando nossa atenção.
Assim como eu, meu irmão tem uma certa dificuldade em abrir os
olhos, a dor de cabeça, dificultando a situação deplorável que nos
encontramos. Jules o ajuda a se sentar, conferindo seu estado de saúde.
— Vocês se saíram bem dessa, espero não ter que encontra-los
nessa situação novamente. — Diz, recolhendo algumas coisas. — Colhi
algumas amostras de sangue, Asher disse que vai encaminhá-las para o
médico local.
— Estamos bem. — Aiden murmura, parecendo o oposto.
— Que bom que sou a médica aqui e não vocês, se depender do seu
senso de bem-estar, estariam mortos.
— Isso não foi gentil. — Comento.
— Não era minha intenção ser gentil. — Nos ignorando, caminha
até a porta, mas antes de sair, ela se vira para falar com Asher. — Quando
terminar de ajudá-los podemos sair.
— Ir aonde? — Aiden pergunta.
Jules o ignora, saindo sem nos dar um segundo olhar.
— Sabe, nunca pensei que conheceria pessoas tão burras. — Asher
ri.
Levanto e vou para o chuveiro, detestando a sensação pegajosa da
minha pele. No momento que a água bate no meu corpo, começo a relaxar,
inclino a cabeça para trás, com os olhos fechados, aproveito a sensação.
Aiden entra pouco tempo depois, me fazendo rir quando tem a mesma
reação que eu a água.
— Onde está Asher?
Sem abrir os olhos, ele responde.
— Saiu com Jules, ele disse terem algo a resolver.
Não gosto de quão próximos essa situação com Aiden e eu os
deixou.
Encontro as roupas que Asher nos trouxe em cima do balcão, sem
me importar com a minha aparência e o quão mal pareço, me visto e após
garantir que Aiden está bem, subo para o apartamento.
Bato algumas vezes, mas ninguém responde, estou considerando
desistir quando escuto um gemido vindo do outro lado da porta.
— Ah… isso! — É a voz do Asher.
Que diabos está acontecendo lá dentro?
Na esperança de que seja uma amiga do Asher e não Jules, que
devo lembrar entrou na vida dele recentemente, e se tornou sua colega de
apartamento há um dia, ela não cairia no papo furado do idiota.
— Está gostoso? Eu sempre quis tentar desse jeito.
Conheço essa voz!
O comentário malicioso é seguido por um risinho, e mais um
gemido do Asher.
Sem conseguir controlar minha raiva, não percebo que Aiden saiu
do elevador e parece tão irritado quanto eu, abro a porta com força. Pronto
para matar Asher, e garantir que Jules saiba exatamente a quem ela
pertence. Leva um segundo para eu digerir a cena diante de mim, e mais um
segundo para recuperar o folego e ficar feliz por não ter que matar meu
melhor amigo.
— O que diabos está acontecendo aqui? — Aiden verbaliza o meu
pensamento.
Asher está deitado no chão da sala, sem camisa, enquanto Jules está
em pé em suas costas, os pés cheios de óleo. Os dois param quando nos
veem, ela em cima dele, com uma expressão assuntada, e ele, apenas
levanta a cabeça e nos encara, um sorriso malicioso aparecendo no canto de
sua boca.
O filho da puta fez isso de propósito!
— Qual é o problema de vocês? — Ela cruza os braços, e nos
encara.
— Pode sair das minhas costas enquanto conversamos com eles? —
Asher pergunta.
Ela cora.
— Desculpe.
— Nada com o que se preocupar, pãozinho de mel.
— Estamos esperando por uma resposta. — Aiden cruza os braços.
— Passamos a noite sentados no chão da academia esperando que
acordassem, ficamos com dor nas costas. — Jules explica. — Não tem nada
para se preocuparem!
— Nada para nos preocupar? Não parece isso.
Jules levanta as mãos, como se estivesse se rendendo.
— Asher é um cara legal, e vocês são bonitos e tudo, mas não vou
me colocar no relacionamento de vocês!
— Nosso relacionamento?
Asher cai na gargalhada.
— O que…
— Qual de nós? — Pergunto.
Não sei o que devo fazer, se dou risada ou se fico puto com o
comentário.
— Ambos? — Sua resposta soa como uma pergunta.
— Acha que somos um trisal? — Aiden questiona.
— Sim.
— E não tem nenhum problema com três pessoas estando juntas?
— Pareço ter?
Sua postura está relaxada, tranquila, ouso dizer.
— E quanto ao amor? E a família?
— Amamos as pessoas por coisas diferentes, suas peculiaridades,
jeitos e tudo mais. Não faz sentido esse negócio de medir o amor. — Me
encara, parecendo um pouco chocada com minha pergunta.
Sem saber, Jules está sanando todas as nossas inseguranças e
medos, e tornando muito mais fácil decidirmos.
— E a família? Sua família, falaria alguma coisa?
— Minha mãe me daria os parabéns em uma situação como essa. —
Ri. — E meu pai, ficaria chocado, mas ele normalmente faz isso com
qualquer relacionamento meu. — Depois de um segundo, ela para de rir. —
Por que estão perguntando todas essas coisas?
— Você vai ver. — Sorrio conforme Aiden se aproxima dela, se
abaixa na sua frente e a joga por cima do ombro.
— O que está fazendo? Me solte!
Depois que eles saem, dou um último olhar na direção de Asher e
fecho a porta atrás de mim. Ansioso pelo que me espera no apartamento, e
para finalmente por minhas mãos na minha mulher.
— Pare de me bater! — Aiden manda.
— Qual é o problema com vocês?
— Você vai descobrir em um minuto!
Não consigo controlar o sorriso feliz que se espalha pelo meu rosto,
mesmo sem me sentir muito bem, no momento que aquelas palavras saíram
da sua boca, Jules selou seu destino conosco.
— Isso é porque eu disse que vocês eram gays?
— Vou te mostrar o quanto gosto de buceta.
Capítulo 11
Jules
É uma questão de tempo antes que eu mate esses dois idiotas e
esconda seus corpos, tenho certeza que Asher vai me ajudar!
Como pude ser idiota e pensar que esses homens eram gay?
Mesmo estando pronta para brigar com Levi e Aiden, não posso
evitar me sentir excitada com a forma que ambos estão agindo, seus peitos
musculosos arfando como se estivessem excitados e isso os deixasse
ofegantes. Não posso controlar a imagem de estar cercada por ambos, sua
respiração ofegante no meu ouvido enquanto me fodem.
Ok, Jules!
Está na hora de focar no assunto em questão, não estamos aqui para
nos divertir com a dupla de idiotas e sim os colocar em seu devido lugar, o
que não deve ser muito difícil.
— Me deixem em paz! — Cruzo os braços, indo para o outro lado
do quarto e garantindo que a cama esteja entre nós. — Cometi um erro em
pensar estarem envolvidos com Aiden? Sim, mas isso não muda o fato de
pensar que são idiotas! Dito isso, me deem licença, tenho mais o que fazer.
Usando minha confiança disfarçada, caminho em direção a porta,
escuto ambos bufando atrás de mim, mas não me viro para verificar. Isso se
mostra um erro momentos depois, quando Levi me segura e me joga na
cama.
Caio de barriga para cima, e quando tento me levantar, tenho dois
pares de mão me mantendo no lugar.
— Não tão rápido, gatinha, ou devo dizer mel? — Aiden pergunta,
mordendo a ponta de minha orelha.
Sinto a mão de Levi subindo pela minha coxa, e parando perto da
minha buceta.
— Acho que devemos prová-la para descobrir.
— Fique longe de mim! — Me debato.
Os dois dão risada.
— Grite o quanto quiser, posso perceber pela umidade na sua
calcinha que está doida por nós.
Dou risada.
— O fato de eu estar ou não excitada, não significa que estou
sentindo algo por vocês, poderia ser qualquer um.
É claro que estou mentindo, mas eles não precisam saber os efeitos
que sua possessividade tem sobre mim.
Levi me deixa com a bunda exposta.
O primeiro tapa me pega de surpresa, o estalo de sua mão contra
minha bunda ecoa no quarto, a ardência na minha pele me fazendo gemer e
lutar para voltar a posição anterior, mas sou novamente impedida. Não faço
ideia de qual deles está fazendo isso, até que uma mão começa correr por
dentro da minha coxa, e alisar minha buceta por cima da calcinha.
Pega de surpresa, solto um gemido alto, sem conseguir controlar.
— Isso mesmo, gatinha, geme gostoso para mim. — Aiden diz,
enquanto seu dedo volta a brincar com minha buceta.
Ele puxa a calcinha para o lado, e eu afasto mais as pernas para dar
acesso a ele.
— Se eu te virar vai parar de lutar? — Levi pergunta.
— Sim!
Não consigo pensar nesse momento.
Tenho certeza que nenhuma das minhas primas teve uma
experiência como essa, se eu for sincera, nunca cogitei uma ménage. Pensei
que eles tivessem problemas quando o assunto é dividir sua mulher, mas
com ambos sendo irmãos, Aiden e Levi tem essa magnitude, ambos se
completam, enquanto Levi me entrega dor e prazer, Aiden amplia ainda
mais as sensações com o seu toque.
Levi me rola na cama, é quando percebo que ambos estão sem
roupa, seus pênis eretos.
Aiden sorri quando vê onde os meus olhos estão.
— Calma gatinha, você vai prová-los no momento certo. — Pisca.
— Por enquanto, quero provar sua buceta.
Levi afasta minhas pernas, dando espaço para Aiden rasgar minha
calcinha e jogá-la no chão do quarto, com um sorriso safado ele mantém
seu olhar fixo no meu, enquanto desliza a língua lentamente pela minha
buceta, fazendo movimentos circulares no meu clitóris.
Gemo alto, sem conseguir controlar a sensação de formigamento
que percorre meu corpo quando ele faz isso. Levi não fica de fora, enquanto
seu irmão chupa minha buceta, ele começa a beijar meu pescoço, me
causando calafrios.
Levi e Aiden são generosos ao dar prazer a uma mulher, e jamais
conseguirei descrever a sensação de ter ambos contra mim.
— Ela não tem gosto de mel, é muito melhor. — Aiden diz, mas
não me sinto coerente o suficiente para dar sentido ao que ele está dizendo.
— Pêssegos.
— Humm, eu amo pêssego. — Levi diz, soltando meu mamilo com
um som de “pop”, em seguida sorri. — Deixe-me prová-la.
Aiden me chupando era lento, ele me levou ao limite diversas
vezes, mas sempre parando quando eu estava prestes a gozar, se divertindo
e tomando seu tempo, com delicadeza. Levi, por outro lado, parecia
faminto, como se minha buceta fosse o último copo de água no deserto, e
ele estivesse morrendo de sede.
Minhas costas se arquearam na cama, quando senti uma onda de
orgasmo vindo, agarrei o lençol e permiti meu corpo viajar nessa sensação
maravilhosa de ter esses dois homens provando minha buceta.
Meu corpo começa a relaxar, e eu estou ofegante respirando,
amando a sensação de suas mãos percorrendo minha barriga, indo até o
topo da minha buceta e voltando até o meu seio. Eu nunca soube que
poderia ser assim!
— Tem razão, mano, ela tem gosto de pêssego.
Aiden ri, e começa a acariciar minha bunda, erguendo meu quadril
para ter acesso mais fácil, mordo os lábios, em expectativa ao que fará a
seguir, ele me dá um aperto, meus olhos caem para sua boca.
— Ela ainda está muito molhada, posso sentir seus sulcos
escorrendo para sua bunda. — Aiden diz.
Os dois parecem estar se divertindo com o meu corpo.
Levi, por outro lado, continua brincando com meu clitóris.
— Meus dedos descem por essa buceta com tanta facilidade. —
Levi diz, seus dedos vão do meu clitóris até a entrada da minha buceta,
antes de me penetrar, ele recua. — Você a mantém sempre depilada?
Aceno com a cabeça.
— Sim. — Digo, depois de um momento.
Com minha resposta, ele xinga baixinho e me penetra com o dedo,
me fazendo gemer, percebo que eles gostam quando gemo.
— Me fodam. — Peço. — Por favor, não parem.
Eles continuam me masturbando, mesmo com os meus pedidos
desesperados.
— Temos que fazer isso com calma. — Levi murmura no meu
ouvido. — Vai levar um tempo até que um de nós foda o seu cu, enquanto o
outro fode sua buceta.
Levi segura meu cabelo com força, me forçando a beijá-lo, seus
lábios são duros quando ele me beija, como se estivesse me punindo por ter
que esperar para me foder como realmente deseja. Sinto Aiden entre as
minhas pernas, seu pênis pressionando a entrada da minha buceta, quando
me penetra, solto um gemido surpreso.
— Porra de buceta apertada! — Rosna, aumentando o ritmo.
Levi sorri contra os meus lábios.
— Já que não posso foder sua bunda, e terei de esperar que Aiden
termine, vamos ver o que pode fazer com essa boca.
Sei que para muitas mulheres isso pode ser sujo, e nojento, mas ter
esses dois homens me dando prazer e me permitindo fazer o mesmo por
eles, é extremamente excitante. Quando Levi aproxima seu pênis grosso e
longo da minha boca, lambo os lábios em antecipação para prová-lo.
— Essa boca é perfeita em volta do meu pau. — Levi elogia,
gemendo e segurando meu cabelo, ditando o ritmo.
Nunca estive tão excitada, é como se todos os meus sentidos
estivessem sobrecarregados com a sensação de ambos me tocando. São
diferentes tipos de prazer, com as quais eu nunca ousei imaginar.
Tenho certeza que quando terminar com eles, ninguém nunca mais
será capaz de me fazer sentir assim novamente.
Sinto Aiden gozar dentro de mim, sua mão agarra meu seio com
firmeza, minha buceta se contrai em torno do seu eixo e eu gozo com ele.
Levi não leva muito tempo, ele tenta se afastar para gozar, mas seguro sua
perna, o mantendo no lugar e silenciosamente dizendo que pode gozar na
minha boca.
Ele ri.
— Ainda não gatinha, também quero gozar dentro dessa buceta.
Caio deitada de costas na cama, Aiden vem para o meu lado e
coloca minha mão no seu pau, segurando-a para ditar o ritmo que quer que
o masturbe, enquanto Levi entra em mim. Assim como no sexo oral, Levi
tem uma pegada mais bruta, forte, e rápida, que nos leva a gozar mais
rápido.
Só depois que nós três gozamos mais duas vezes e estamos deitados
ofegantes na cama, eu estando entre eles, que percebo que não usamos
preservativo.
Capítulo 12
Jules
Devo ter pego no sono depois da seção de sexo com os gêmeos.
Acordo deitada entre eles, com uma das pernas de Aiden jogada
sobre as minhas, enquanto a mão de Levi segura meu seio. É uma posição
intima, e confortável, o que torna tudo ainda mais estranho.
A realidade é que mesmo tendo sido arrastada para o apartamento
deles, amei cada segundo disso, e não sei como conseguirei seguir em
frente depois do que me deram esta noite. Sexo para mim sempre foi algo
carnal, que eu fazia quando estava com muito tesão, mas nunca me importei
com quem era o parceiro, desde que conseguisse o que queria.
Aiden e Levi me mostraram que quando se deseja realmente seus
parceiros, o prazer pode ser indescritível.
Devagar me desvencilho de ambos, e rastejo para fora da cama, em
seguida pego minha camisa, não conseguindo encontrar minha calcinha
destruída por eles ontem, e saio do quarto.
Não sei como eles conseguiram me deixar nua e eu nem percebi,
exceto pela calcinha, a sensação do tecido contra minha buceta, enquanto
Aiden me provocava com seus dedos, foi incrível.
— Bem-vinda ao lar.
Me assusto com a presença de Asher, que ri da minha reação.
— Seu idiota, devia ter ido me ajudar.
Asher engasga com o café.
— Nem fodendo, acho que um trio é perfeito para vocês. — Ele diz,
soando ofendido. — Se eu estivesse lá, teria briga por esse corpo. — Acena
para o próprio corpo.
Reviro os olhos.
— Ainda assim, espero lealdade da sua parte.
— Pãozinho de mel, pelos gritos que ouvi, você estava gostando
muito.
— Não posso acreditar que você ouviu! — Me sinto envergonhada.
— E eu não acredito que você é uma berradora, preciso ter meus
tímpanos revistos por um médico.
Ao passar pelo sofá, atiro uma almofada em sua direção, felizmente
o pego de surpresa e o acerto, fazendo ele derrubar café.
Vou direto para o banheiro, me lavo, coloco uma roupa decente, e
prendo o cabelo, mais tarde me arrependerei desta decisão, mas precisamos
trabalhar. Quero ir até esse galpão com Asher, e verificar o que está
acontecendo por lá, só então saberemos se estamos certos ou não.
Enquanto me vestia, fiz o meu melhor para ignorar as marcas que
os gêmeos deixaram pelo meu corpo, como se minha buceta dolorida não
fosse lembrança o suficiente de tudo que fizemos.
Sorrio ao lembrar, e logo balanço a cabeça.
Gosto dos dois demais a ponto de desejar que a nossa experiência
de ontem se torne algo sério, e me sinto uma idiota por desejar isso, uma
vida nós três? Eles provavelmente vão querer uma mulher que não tenha
ido para cama com ambos para construir uma família, e eu serei uma mera
lembrança.
Voltando a realidade, saio do quarto e encontro Asher já vestido, ele
está com uma pequena maleta que contém o kit de teste que precisaremos.
— Conseguiu tudo? — Pergunto.
— Sim, já coloquei no carro.
Caminho até a porta e abro com cuidado, não querendo alertar
nossos vizinhos que estamos saindo. Asher percebe minha intenção e ri,
mas se mantém em silêncio até entrarmos no carro.
— O que é esse sorriso? — Viro para encará-lo.
— Acho divertido você pensar que somos um trio gay, o que te deu
essa ideia?
Coro, ainda me sentindo envergonhada por ser tão estupida.
— Talvez eu tenha me enganado tão fácil para não desenvolver
sentimentos por eles. — Não acrescento que falhei miseravelmente.
— Faz sentido, ainda mais com os dois sendo idiotas.
Aceno com a cabeça e seguimos em silêncio até o lago.
O caminho é tranquilo e bonito, viro para a janela admirando a
vista. Vejo que Asher quer fazer mais perguntas, a principal sendo como
lidarei com os gêmeos a partir de agora? Ou se vamos ter um
relacionamento?
Ainda não tenho uma resposta para a primeira.
Quanto a segunda, a resposta é não!
Desde o dia que coloquei os pés nessa cidade, ambos me trataram
como merda. Não sou ingênua em acreditar que só porque transamos, nosso
passado foi apagado e viveremos felizes para sempre. Por mais divertido
que tenha sido, foi apenas sexo, ninguém que deseja algo de verdade
trataria o outro da forma que tenho sido tratada.
Asher estaciona o carro perto do lago, pego a mala no banco de trás
e desço, com ele vindo logo atrás de mim. Se o que penso for verdade, é
uma pena que alguém esteja destruindo um lugar tão bonito devido a algum
plano idiota.
Após terminar, seguimos para a próxima parada, o armazém.
Já estava preparada para o que encontraríamos, as fotos que Aiden e
Levi tiraram foram bem explicativas. Mas Asher não parece ter tido o
mesmo aviso, luto para não rir de sua cara quando ele quase vomita
diversas vezes, sua reação aos cadáveres não o impede de continuar
levantando as tampas dos barris com pessoas mortas.
— Ajuda se parar de abrir as tampas. — Digo, ganhando um olhar
irritado. — Nunca pensei que você teria estômago frágil.
— Parece que esse cheiro está impregnado no meu nariz. — Segura
seu estômago. — E outra, a grande questão aqui é como você consegue
aguentar isso?
Dou de ombros.
— Sou médica, estou acostumada a ver partes de corpo e a cheiros
suspeitos.
— Isso é nojento!
No meio de toda a sujeira e produtos químicos, vejo algumas peças
de roupas descartadas, reviro os bolsos e encontro um cartão de visitas,
guardo no bolso da roupa especial, e aceno para Asher.
— Vamos embora.
— Não precisa pedir duas vezes.
Nos livramos das roupas antes de entrar no carro, e vamos em
direção a cidade.
Pego o celular do Asher e envio uma mensagem a Cash, ele disse
que nos encontraria quando tivéssemos mais informações, ele também me
prometeu que eu poderia usar seu apartamento como escritório,
compreendendo que trabalho melhor em silêncio.
Tudo está calmo quando chegamos no prédio, noto que não tem
nenhum carro conhecido no estacionamento, e respiro aliviada.
— Vamos direto para o apartamento do Cash. — Aviso.
— Preciso passar em casa antes.
— Se cruzar com alguém, não diga onde estou.
Ele entende a quem me refiro.
— Fugir deles não vai durar para sempre.
— Não estou fugindo, quando me conhecer melhor, vai perceber
que eu dificilmente fujo dos meus problemas.
Ele bufa, me fazendo estreitar os olhos.
— Não foi isso que Raphael me falou.
Congelo com sua revelação.
— Ele te contou?
— Sim, quem cuidaria de você?
— Resumindo, todos aqui sabem.
Não é uma pergunta.
— Você é uma das garotas Petrov, é claro que todos saberiam o que
está acontecendo.
Entendo que meu primo tenha dito a eles para me manter segura
aqui, e a ida de Anuvia para Moscou não é só pelo bebê, mas para mantê-la
segura, longe de mim. Lior pediu para seus amigos ficarem de olho e
garantir que ninguém fira a prima de sua mulher, no fundo, a felicidade de
Anuvia é o que ele deseja.
É fofo, e me sinto emocionada por minha prima ter alguém do seu
lado que se importe com tudo referente a ela. E não vejo a atitude do
Raphael, em contar a eles, como uma traição. Se confio no julgamento de
alguém é no dele.
A grande questão é, mesmo Lior sendo parte de família, Raphael
não contaria a ele sem um bom motivo para isso. Não que me manter segura
não seja um bom motivo, mas tem que ter algo mais!
— Obrigado por me contar, por favor, reúna todos que estão
envolvidos, é injusto da minha parte manter essa situação em segredo. —
Peço. — Não fui justa com minha família, muito menos com vocês.
— Fique tranquila.
— Não, é o certo a se fazer, quero que todos saibam pela minha
boca o que tenho enfrentado.
Infelizmente, isso inclui o celular guardado no meu quarto.
— Devo fazer isso hoje?
— Vou terminar esses testes, esta tarde, podemos fazer isso a noite.
— Concordo.
Estou nervosa, nunca estive em uma situação onde precisasse da
ajuda da minha família, e agora estou contando com a ajuda de estranhos.
Bom trabalho, Jules!
Sua idiota!
Capítulo 13
Jules
Me sinto uma idiota!
Não consigo acreditar que fui burra a ponto de pensar que Raphael
manteria segredo, e acima de tudo, por colocar a vida de Anuvia em risco.
Conhecendo minha família, eles planejaram tudo antes mesmo de eu
chegar, do contrário, não teriam insistido tanto para que eu viajasse.
Olho as amostras mais uma vez, fazendo algumas anotações, antes
de largar a caneta e me encostar na cadeira, passando a mão no rosto. Fecho
os olhos por um momento, pensando que ao menos eles têm sorte que estou
aqui, do contrário, teriam toda a população da cidade doente.
Devo ter pego no sono, pois acordo sentindo uma mão tocar meu
rosto, assustada dou um tapa, e me sento, encontrando Cash, em pé perto de
mim, com um olhar divertido.
— Asher disse querer uma reunião, se está cansada podemos adiar.
— Oferece.
Nego com a cabeça.
— Os resultados do teste são assustadores.
Preciso alinhar minha mente e descobrir o que está acontecendo
aqui, e preciso da ajuda deles para que isso aconteça. Não faço ideia do tipo
de pessoa as quais eles lidam em seu dia a dia, muito menos quem ganharia
algo contaminando a água e intoxicando os moradores da cidade.
Percebo que estou batendo a caneta contra a mesa, Cash se inclina e
arranca o objeto da minha mão e a coloca em seu bolso.
— Perdida em pensamentos? — Pergunta, franzindo a testa.
— De certa forma, o que motiva a pessoa que está fazendo isso?
— É uma boa pergunta, tenho certeza que os outros podem nos
ajudar a chegar a solução.
Bufo, sem humor.
— Mesmo? Devo te lembrar que Aiden e Levi quase morreram
intoxicados, por não perceber o que está acontecendo?
— É um bom ponto.
Dou risada da sua expressão.
Não tenho certeza se é senso comum o odor característico do
arsênio, e tenho certeza que nenhum deles lidou com tentativas de
envenenamento com o mesmo.
— Nenhum de vocês lidou com isso, então é uma desculpa.
— Não exatamente, nosso primo é um policial nos EUA.
— Mesmo? — Isso é uma surpresa.
— Sim, em uma pequena cidade, dominada por um grupo de
motociclistas chamado Realeza MC.
— Mentira! — Me levanto animada. — A esposa do Zack é filha do
presidente do clube.
— Tayler?
Concordo.
— Mundo pequeno.
Cash acena com a cabeça, nesse momento seu telefone apita, depois
de uma breve olhada, faz uma careta.
— Temos que ir.
— Ir?
— Asher me deixou por dentro de tudo o que aconteceu entre você
e os gêmeos, tendo em vista como eles estão desesperados tentando te
encontrar, creio que meu apartamento é o seu “lugar” seguro deles.
Tenho a sensação de que tanto Cash, quanto Asher estão se
divertindo com a reação dos gêmeos, e minha fuga. Olho em volta, não
quero perder esse lugar, é tranquilo e me traz paz, longe de Levi e Aiden,
que me causam dor de cabeça.
— Tem razão. — Me levanto.
Parece que cronometramos o tempo com precisão, mal temos tempo
de entrar no apartamento e nos sentarmos no sofá, quando os gêmeos e
Asher entram. Asher, se recostando no batente da porta, com o tipo de
sorriso que costumo ter quando faço algo com meu irmão.
Aiden e Levi parecem irritados, e eles começam a caminhar na
minha direção quando levanto a mão, sinalizando para me deixarem em
paz.
— Onde diabos você esteve? — Asher, se senta ao meu lado,
ignorando minha cara feia.
Ignoro sua pergunta, e isso faz Levi estreitar os olhos para mim.
— Se divertiu fugindo de nós? — Sua voz carrega um tom de falsa
calma.
Levi é bom em fingir que está calmo, agindo todo frio e controlado,
mas isso é apenas uma fachada, por dentro ele é como um vulcão, lava
quente correndo por suas veias, sempre que alguém testa sua paciência. Mas
ao contrário de Asher, sendo mais impulsivo, Levi sabe que no momento
que se soltar, ele não conseguirá retomar o controle tão cedo.
Dou de ombros, gostando de testar até onde sua calma fingida vai.
— Fugindo de vocês? — Dou risada. — Não preciso fugir de
ninguém, muito menos de sua “permissão”.
— Jules! — Aiden, tem o descaramento de tentar me repreender? É
isso mesmo?
— Vamos esclarecer uma coisa aqui, o fato de termos transado, não
muda nada! Principalmente como tem me tratado desde que cheguei aqui.
— Digo com firmeza. — Portanto, parem de me encher.
Cash pigarreia.
— Podem deixar essa conversa para mais tarde, Jules fez uma
descoberta importante.
— As amostras? — Asher pergunta.
Aceno.
Conto tudo o que descobrimos, cinco cabeças pensando funcionam
melhor do que uma, e o fato das outras quatro terem conhecimento de quem
poderia fazer isso, é mais reconfortante. Se for um inimigo de Lior, quero
saber quem é e destruí-lo antes que isso atinja Anuvia.
— Cortar o abastecimento de água é nossa prioridade. — Asher
murmura.
— Essa é a parte fácil, a difícil é descobrir quem teria interesse
nisso, e o que ganhariam ao fazê-lo?
Eu queria poder ajudar mais nessa parte, mas é algo que eles têm
que fazer, não conheço seus inimigos.
— Vocês fazem negócios com muitas pessoas? — Pergunto, e eles
acenam. — E algum desse já causou problemas? — Mais uma vez todos
confirmam. — Quem? Devo esperar uma lista?
— A maioria dos nossos velhos contatos sabe que se nos
desrespeitar teria consequências.
Asher se senta mais ereto na cadeira, como se estivesse
considerando minha linha de pensamentos, mas quem explica são os
gêmeos.
— Gagneux foi o único com quem tivemos problemas de território
nos últimos tempos, mas ele recuou depois que Mallet sequestrou Anuvia.
— Levi diz.
— Até mesmo contribuiu no fim. — Aiden continua.
— Dizer que Mallet comprou uma cabana não foi uma “ajuda”
direta. — Asher murmura.
— Mas o que ele ganharia com isso? — Cash me encara, como se
eu tivesse a resposta.
O celular de Asher apita, em seguida começa a tocar
insistentemente.
— Atenda essa merda antes que eu o quebre. — Aviso.
— Calma, pãozinho de mel. — Atendendo o telefone, se afasta para
conversar.
— Enquanto Asher fala ao telefone, pode nos contar do que está
fugindo.
Tinha me esquecido dessa parte, ou talvez esteja tentando evitar
relembrar tudo o que aconteceu. Vendo os três me encarando, Aiden e Levi
com uma expressão engraçada no rosto, como se lutassem para se controlar.
Começo do início, falo sobre o plantão, o menino e depois a
garotinha, os acontecimentos que se desdobraram a partir da minha decisão
de ajudá-las, e as consequências da minha tentativa inútil. Conto sobre a
explosão, o soco, as caixas com corpos, e as ligações e mensagens que
venho recebendo.
Ao final, tenho a sensação de que fui mais honesta com esses
homens, do que com Raphael e minha família.
— Vou matar esse filho da puta! — Levi ruge, sua calma
evaporando.
— Raphael está atrás dele, não temos porque agir precipitadamente,
temos um problema mais sério em nossas mãos.
Asher volta para a sala.
— A rede de água foi cortada, receberam uma ligação dizendo que
alguém foi visto jogando um conteúdo suspeito na água. — Asher diz, nos
surpreendendo. — A pessoa disse que viu o “assassino” lá.
— Assassino?
— É assim que as pessoas dessa maldita cidade têm chamado Lior.
— Cash diz.
E lá se vai todo o plano de explosão que eu criei na minha mente, se
seguirmos essa linha, Lior vai ter muito mais do que uma tentativa falha de
acusá-lo de envenenar a cidade, ele terá um possível atentado terrorista.
— Disse a eles que Lior está fora da cidade há alguns dias? —
Peço, e ele acena. — Isso vai calá-los por enquanto.
— Temos uma acusação direta contra Lior, quem tentaria jogar isso
nas nossas costas?
— Alguém que deseja tirar Lior do comando, o que nos deixa com
outra pergunta, quem estava confortável enquanto ele estava na cadeia, que
agora, perdeu todas as suas regalias? — Evito olhar para os gêmeos,
enquanto espero por uma resposta.
— Gagneux! — Dizem em uníssono.
— Já tem um nome, sabem onde devem começar a investigar. —
Me levanto.
— Onde você pensa que vai? — Aiden segura minha mão.
Com seu tom, Asher e Cash saem rapidamente da sala, felizmente
permanecendo no apartamento, me deixando em uma espécie de “zona
segura”.
Me livro de seu aperto.
— Para o meu quarto.
— Seu quarto fica no nosso apartamento.
Dou risada.
— Já disse, fazer sexo com vocês não muda nada, principalmente
seu comportamento idiota.
— Nós nos importamos com você! — Levi rosna.
— Mesmo? Até ontem queriam que eu fosse embora, depois que
transamos estão todos emotivos, devo me preocupar com seu
comportamento? Estão agindo como garotinhas apaixonadas.
Uso as mesmas palavras que eles se referiram a mim na casa de
Lior, durante o café da manhã.
Aiden ri, enquanto Levi me dá um sorriso assustador.
— Pode lutar o quanto quiser, no fim das contas, vai perceber que
agimos como idiotas por medo, mas não vamos mais cometer esse erro. —
Levi se senta no sofá, ao lado de seu irmão.
— Lute o quanto quiser, pêssego, é um direito seu nos tratar dessa
forma, assim como é nosso dever te provar que somos os homens certos
para você.
— No fim do dia, Jules, você é nossa!
Capítulo 14
Levi
Asher nos convenceu a deixar Jules ficar no seu apartamento
durante a noite, ele nos lembrou que temos um trabalho importante a fazer.
Manter Jules segura é uma prioridade, e alguém disposto a contaminar a
água, prejudicando uma cidade inteira, apenas para culpar Lior, é um
enorme sinal de perigo.
Aproveitamos que Jules estava em segurança e fomos até uma das
casas noturnas de Gagneux, tentando encontrá-lo, mas fomos informados
que o “Cuco”, como seus empregados costumam chamá-lo, estava fora da
cidade.
Não querendo levantar suspeitas, Aiden e eu tomamos uma cerveja,
e observamos tudo. Temos olhares atentos em nós, meu irmão ri, e se vira
de frente para o bar onde estamos sentados, continuo a observar o salão
cheio de pessoas.
— Eles estão de olho em nós. — Diz, encobrindo a boca com a
cerveja.
— Eu sei, estou louco para sair dessa merda de lugar. — Respondo.
— As coisas mudam. — Ri.
Aiden sempre foi o mais festeiro de nós dois, seu espirito
“aventureiro”, ou melhor, encrenqueiro, sempre gostou de frequentar
lugares lotados, embora sempre se sentando nas sombras e esperando o
momento certo de se divertir. Sua aura de “garoto mau”, atraindo muitas
mulheres que pensam poder consertá-lo, o problema em tudo isso, é que
meu irmão não tem nada quebrado, ou que precise ser reparado.
Não estamos de fato bebendo, muito menos gostando de estar por
aqui.
Depois de mais alguns minutos, nós pagamos a conta, dando uma
generosa gorjeta ao bar tender, e saímos, em direção ao complexo de
apartamento. O caminho todo vou pensando no que faremos com Jules, ela
não está convencida dos nossos sentimentos, e em sua defesa, não posso
ficar bravo com ela.
Aiden parece ter o mesmo problema que eu, quando paramos em
frente a porta do nosso apartamento, odiando a ideia de ficar ali sem Jules.
Nós nos entre olhamos, e decidimos arriscar, por mais irritada que esteja, é
importante que ela se acostume a nossa presença, e perceba que estamos
falando sério.
Não é uma ação impensada quando tanto eu quanto Aiden, viramos
e vamos para o apartamento de Asher, digitamos o código e vamos direto
para o quarto de Jules, onde ela está dormindo pacificamente no meio da
cama.
Tiramos nossas roupas e cada um sobe na cama de um lado, ela que
joga suas pernas em cima do meu quadril, enquanto deita de conchinha
contra Aiden. Uma de suas mãos segura a de Aiden, enquanto a outra
descansa no meu peito.
Meu irmão e eu trocamos olhares, sem precisar verbalizar a
intensidade do que estamos sentindo.
Fomos idiotas em pensar que as coisas seriam arruinadas se
ficássemos com ela, Jules se encaixa perfeitamente entre nós, e mesmo que
esteja interessada em lutar contra isso, no fim das contas nós três sabemos
que é impossível.
***
Jules
Acordo sentindo dois corpos quentes colados ao meu.
Não preciso ser uma gênia para saber que Levi e Aiden
encontraram seu caminho para minha cama, os idiotas são os únicos com
coragem para ignorar meu pedido para ficar longe e enfrentar minha ira.
Com cuidado para não os acordar, me desvencilho de seu aperto e
vou em direção ao banheiro. Enquanto faço minha higiene matinal, não me
dou tempo para pensar neles ou no quão bom e certo parecia estar em seus
braços. Saindo do quarto, encontro Asher sentado na ilha da cozinha
tomando café da manhã, passo direto em direção a cafeteira e me sirvo de
uma xícara de café, só então me sento ao seu lado.
— Bom dia. — Murmuro.
— Dormiu bem acompanhada. — Responde, me fazendo dar de
ombros.
— Temos que mudar o código da porta.
— Isso não vai acontecer! — Aiden diz, vindo pelo corredor apenas
de cueca.
Leva muito esforço da minha parte, para me impedir de deixar meus
olhos percorrerem seu abdômen, e ficar babando em cima dele. Nenhuma
mulher teria sangue-frio tendo a vista que estou tendo, e por mais irritada
que eu esteja, não vou mentir e dizer que ele não é delicioso. A cabeça
raspada dando um charme a mais em seu estilo de garoto mau.
— Como foi o clube? — Asher pergunta a ele.
Decido ficar em silêncio e apenas ouvir a conversa.
Admitir que odeio a ideia dos dois estando em um clube cheio de
mulheres bonitas e dispostas a fazer de tudo com homens como ele, me
irrita.
— Eles disseram que o Cuco está fora da cidade. — Aiden para ao
meu lado, puxa uma mecha do meu cabelo, e beija minha bochecha. —
Bom dia, pêssego.
Me afasto dele, ignorando seu apelido idiota e as lembranças que
me traz.
— Cuco? — Questiono confusa.
— É assim que os empregados de Gagneux o chamam.
— Engraçado que eu nunca vi um relógio como aquele em sua
propriedade, em compensação sua paixão por abelhas me assusta. — Asher
se encolhe com a lembrança.
Uma sensação estranha se aloja no meu estômago.
— Cuco é uma espécie de abelha. — Explico. — Elas têm um
método desprezível de reprodução, mais conhecidas como parasitas de
ninho. — Percebo que os dois não estão entendendo. — A fêmea Cuco
encontra uma colmeia de abelhas, então ela espera um tempo para ficar com
o cheiro dessas abelhas, ou em algumas ocasiões ela simplesmente ataca a
rainha e a mata.
— Isso não a mataria? As outras abelhas…
Ergo a mão o interrompendo.
— As cuco são resistentes, elas sobrevivem a ataques de outras
abelhas, e elas são fortes para sobreviver e triunfar em confronto com as
operárias, mais cedo ou mais tarde a colmeia é dominada por ela.
Tenho certeza que deixei de lado um monte de outras informações,
mas quando termino, tanto Asher quando Aiden estão me encarando em
silêncio.
— Isso faz sentido se ele for a pessoa por trás do arsênio. — Levi
quebra o silêncio, caminhando pelo corredor.
Ele faz o mesmo que seu irmão, caminha direto na minha direção,
me beija no rosto, me chama de pêssego, então se afasta e serve uma xícara
de café.
Os três homens passam a discutir tudo o que sabem sobre Gagneux,
chegando à conclusão óbvia de que precisam ir mais a fundo em seus
negócios e a origem deles. Permaneço em silêncio, apenas ouvindo sua
conversa.
Minha família nunca esteve longe do poder da Máfia Vermelha,
mas muitos tentaram tomá-lo a força, e falharam. Eventualmente acontecerá
de novo e de novo, o que importa no fim das contas é como lidamos com
isso. Não imagino Lior e seus homens sendo descuidados, eles são
inteligentes e sabem que precisam tomar cuidado.
Pensar na minha família me deixa um pouco desanimada.
Me levanto e coloco minha xícara na pia, sem me importar com os
olhares que estou recebendo caminho até o quarto, me troco rapidamente
antes que um dos gêmeos apareça, e saio, carregando minha bolsa e celular.
— Onde pensa que vai? — Asher, me puxa pela blusa.
— Até a cidade, estou cansada de ficar presa em casa.
— Tudo bem. — Me solta e acena em direção a porta.
Sem desconfiar de nada, caminho para fora do apartamento, apenas
para me deparar com Aiden e Levi, totalmente vestidos, encostados contra a
parede oposta, eles estão de braços cruzados e ostentam um sorriso
convencido no rosto.
— O que vocês estão fazendo? — Cruzo os braços aguardando
resposta.
— Te esperando, vamos te acompanhar até a cidade. — Aiden
passa por mim e aperta o botão do elevador.
Permaneço no mesmo lugar.
— Se eu quisesse cães de guarda me seguindo, ligaria para os meus
pais.
Levi me surpreende, pega minha mão e me arrasta em direção ao
elevador.
— Não estamos te seguindo como seus seguranças, e sim como
seus homens.
Não consigo controlar meu riso sem humor.
— Meus homens? Isso é algum tipo de piada, por acaso? — Entro
no elevador, mas puxo minha mão para longe de seu aperto. — Não vou ter
essa discussão com vocês.
— Ótimo! Assim nos poupa tempo e evita briga. — Aiden diz.
Sinto sua mão na minha cintura, e então ele me puxa contra seu
corpo.
Ao perceber que não estou chegando a lugar algum com essa
discussão ridícula, e que não importa o quanto seus comentários me irritem,
eles não vão parar de agir dessa forma, permaneço em silêncio. Não emito
nem mesmo um som, quando os dois idiotas me colocam no carro, ou
quando perguntam aonde quero que estacionem.
— Ficar em silêncio não vai te ajudar, pêssego. — Levi estende a
mão, e eu ignoro.
— Esse jogo de silêncio vai ficar velho rápido, estou começando a
perder a paciência.
Sorrio internamente, normalmente os homens apreciam quando uma
mulher está em silêncio, isso é claro se eles não estiverem dispostos a
rastejar e implorar.
O que não entendo é, o que despertou essa necessidade de estar
comigo, neles?
Esse pensamento me persegue, até eu entrar na padaria local e pedir
uma fatia de bolo de nozes, mesmo sendo muito cedo, preciso de um
pedaço generoso de doce, isso vai me manter lúcida e longe do pescoço dos
dois idiotas.
Levi corre para o caixa pagar, enquanto Aiden pega o meu pedido e
leva até uma mesa no canto, é um lugar reservado, ele se senta de frente
para a porta, e deixa seus olhos percorrerem o local, antes que Levi se sente
ao meu lado.
Essa posição dificulta ignorar ambos, por isso me concentro em
comer o bolo.
— Algumas pessoas estão reclamando da falta de água. — Levi
comenta. — Todos estão curiosos para saber o que está acontecendo por lá.
— Cash trouxe alguns especialistas assim que soube da suspeita, e
estão trabalhando nisso. — Aiden responde. — Felizmente, Lior está longe
e conseguimos controlar a situação, o prefeito está nos tratando como
heróis.
— Isso me parece suspeito.
Mentalmente concordo com Levi, o prefeito me soa como alguém
disposto a puxar o saco da pessoa que tem mais poder, e deve ter percebido
que Lior é a pessoa realmente no controle por aqui.
— Gostaria de dizer alguma coisa, pêssego? — Aiden me encara
com um sorriso estúpido.
Viro o rosto e dou mais uma garfada no meu bolo, em seguida tomo
um longo gole do meu chocolate quente, e me mantenho nesse processo até
que termino. Me viro para sair, mas Levi está bloqueando o caminho, o
idiota ri quando percebe que estou presa.
— Como se diz? — Ambos me provocam.
Usando toda minha maturidade recém-adquirida, eu subo na
cadeira, ignorando olhares curiosos dos clientes, e pulo para a mesa de trás,
em seguida pulo no chão e começo a caminhar em direção a porta, satisfeita
quando a fila de pessoas bloqueia o caminho dos gêmeos.
Estou me divertindo da situação deles, quando bato em alguém.
— Desculpe. — Peço, olhando para cima e vendo um homem muito
bonito.
— Não foi nenhum problema. — Dá um passo para o lado. — Me
chamo Nicolau, sou médico no hospital da cidade.
Estendo a mão.
— Prazer, me chamo Jules, também sou médica.
— Planeja morar na cidade? Se for, por favor me mande uma
mensagem, estamos precisando de bons médicos. — Ele me entrega o
cartão.
— Fique longe dela! — Aiden rosna, fazendo com que o médico de
um passo atrás, mas ele não parece com medo.
— Peço desculpas pelo comportamento do idiota, e entrarei em
contato em breve. — Guardo o cartão na bolsa e me despeço.
— Você não vai entrar em contato com ninguém! — Levi me
arrasta em direção ao carro.
Meu sangue ferve!
Quem esses dois pensam ser para me dar ordens? Ou para se
atreverem a me proibir de alguma coisa? Tudo o que fizeram desde que me
viram foi me irritar, mandar em mim, e agir como se eu fosse um incômodo.
— Nenhum de vocês manda em mim! — Bato em seu peito,
caminhando na direção oposta.
É quando penso que consegui me livrar deles, que sou pega
desprevenida, Aiden me joga por cima do seu ombro, atraindo a atenção das
pessoas a nossa volta. Bato em suas costas tentado me libertar, mas é inútil,
uma vez que Levi nos espera com a porta do carro aberta.
— Desde que você tem sido uma garota desobediente, está na hora
de receber algumas palmadas. — Levi ameaça.
— Não se atreva a me tocar!
— Pêssego, te garanto que depois de uma boa conversa, e algumas
palmadas, estará de bom humor e mais disposta a nos aceitar.
Rio por dentro.
— Isso nunca vai acontecer.
Capítulo 15
Aiden
Não me irrito com o comportamento petulante de Jules. É claro que
está magoada conosco pela forma como a tratamos, e eu e Levi temos um
longo caminho pela frente até convencê-la de que a amamos.
No momento que vi aquele médico estúpido tocando na minha
mulher, tive vontade de fazê-lo engolir aquela merda de cartão. Jules não
precisa de um emprego nesse momento, não com um filho da puta disposto
a matá-la.
Ela está sentada no banco de trás do carro com os braços cruzados
na melhor pose garota mimada. Eu devia saber que teríamos um problema,
depois que a fodemos, ela escapou de manhã e passou o dia nos evitando.
Tanto quanto Levi achou fofo o seu jeito de nos evitar, nós dois ficamos
irritados.
— Fazer beicinho não vai te ajudar. — Digo através do espelho
retrovisor.
— Aiden! — Levi me repreende.
É nítido pela sua expressão que ele está se controlando, mantendo a
máscara de bom moço firme em seu rosto, enquanto seu sangue está
fervendo, irritado com o que vem acontecendo.
Pena para Jules, não sou como Levi, não vou me controlar perto
dela.
— O quê? Estou cansado de ela correndo de nós e agindo como
uma pirralha mimada.
Jules não se intimida com as minhas palavras.
— Garota mimada? Quem disse que quero que vocês corram atrás
de mim? Não sou as putas que estão acostumados, que fazem o que querem
a hora que querem. — Responde. — Minha memória não é curta como a de
vocês.
— Estávamos com medo. — Levi diz em voz baixa, atraindo sua
atenção.
— Medo?
Leva um tempo antes que meu irmão responda sua pergunta, como
eu disse, é complicado admitir que estávamos com medo de perdê-la, e
naquela época, Jules era apenas uma ideia, agora se tornou uma realidade.
Não importa o quanto ela tente, não vamos permitir que se afaste, mesmo
que eu tenha que amarrá-la em nossa cama, ou arrastá-la de volta sempre
que for preciso. Abdicar dela depois de prová-la e saber como se sente estar
dentro dela, isso nunca vai acontecer.
— De que escolhesse um de nós enquanto o outro, ficária de fora.
Ela ri sem humor.
— E decidiram que me tratariam mal, em vez de se aproximar de
mim e me falar seus medos? Foram covardes.
— Tem razão, fomos covardes em assumir as coisas, em vez de ir
em frente e te dizer o que sentíamos. — Admito, isso a silencia. — E agora
que estamos te dizendo exatamente como nos sentimos, pedimos que nos dê
uma chance.
— Não é tão simples assim. — Cruza os braços, meus olhos vão
para os seus seios.
— É se você nos perdoar, sentimos muito pelo que fizemos e como
te tratamos, por favor nos dê uma chance de te mostrar que não somos
completos idiotas. — Levi pede.
Jules olha entre nós, tentando ler se estamos sendo honestos com
ela.
— Sentimos muito, por favor nos de essa oportunidade. — Peço,
percebendo que ela está esperando que eu diga algo também.
Tenho a sensação de que estamos lutando uma guerra que nós
começamos sabendo que perderíamos no final. Foi ridículo pensar que
conseguiríamos nos manter longe dela, ou que aceitaríamos a ideia de ser
apenas “conhecidos”. Quando Asher nos disse sobre ela estando com outra
pessoa, eu tive certeza que não conseguiria seguir com o acordo que fiz
com Levi.
Jules permanece em silêncio durante boa parte do caminho, e a
tensão no carro começa a me deixar inquieto. Olho de canto para Levi, e
percebo que ele está da mesma forma, mexendo a perna sem conseguir
controlar sua ansiedade.
— Pare o carro. — Levi, manda.
Seu comportamento estranho é o suficiente para fazer Jules falar.
— O que você está fazendo? — Pergunta.
Sem responder, ele abre a porta e sai do carro, indo para o banco de
trás junto com ela, e batendo a porta.
— Dando a você uma razão para dizer sim.
Assisto pelo espelho retrovisor a interação entre Jules e Levi, sem
dar a ela tempo para reagir, ele a beija. Sorrio quando tenta lutar contra ele,
mas acaba cedendo e soltando um gemido de apreciação quando Levi
começa a beijar seu pescoço.
A mão dele desce pela coxa dela, o movimento provocativo de vai e
vem, ela suspira, antecipando sua ação, mas meu irmão não dá a ela tão
facilmente.
— Nossa garota está ansiosa para que você toque na buceta dela. —
Digo a ele.
Ligo o carro e começo a dirigir, tenho certeza que a emoção e o
risco de ser pega funciona como um combustível, alimentando o tesão de
Jules. Não vou jogar limpo, não quando Levi está dando a ela motivos para
ficar conosco.
— É isso o que você quer, pêssego? — Sua mão está parada, seu
dedo pressionando a buceta dela por cima do tecido.
Jules está usando uma calça fina, e através do espelho posso ver a
umidade se formando no tecido.
— Responda, pêssego! — Mando.
— Sim. — Sua voz soa abafada.
— Você precisa parar o carro e vir aqui, mano, ela está sem
calcinha. — Levi me avisa. — Como uma verdadeira putinha, você estava
ansiosa pelos nossos paus, não é? Tudo o que tinha que fazer era nos pedir,
pêssego.
— Estamos quase chegando. — Aviso a Levi.
Me distraio com a estrada, estamos quase chagando em casa quando
escuto Jules dar um gritinho abafado.
— Por favor, me foda.
Eu daria risada se não estivesse tão excitado.
Ela acha que se livrou de ganhar algumas palmadas, quando, na
verdade, está prestes a ter seu rabo vermelho por toda a merda que tem
jogado em nós dois nos últimos tempos.
Levi pega Jules, e a coloca em seu colo, com agilidade, ele a roda e
a coloca deitada de barriga para baixo em suas pernas. Um puxão e sua
bunda está exposta. O som da sua bunda sendo batida é música para os
meus ouvidos, e quanto mais ela grita e esperneia tentando se livrar do seu
castigo, mais forte Levi bate, em seguida alisa.
— Seu filho da puta! — Ela grita.
— Continue gritando se quiser aumentar seu castigo, estou
adorando espancar esse rabo. — Levi diz. — Tenho certeza que Aiden quer
brincar com ele também.
— Fique tranquila, pêssego, vou foder sua bunda bem devagarinho,
então não vai doer tanto.
Minha promessa a faz ficar em silêncio, observo que meu irmão
mergulhou seu dedo na buceta dela.
— Deveria ver como isso a deixou mais molhada, mano. — Ele tira
o dedo de sua buceta e leva a boca. — Ela está toda molhadinha ansiosa
para ser fodida.
Finalmente chegamos no nosso prédio, estaciono o carro e saio,
dando a volta e abro a outra porta.
— Coloque ela de quatro, vou fodê-la por trás. — Aviso. — É isso
o que você quer Jules? Quer meu pau na sua buceta?
— Sim, por favor. — Pede.
Mergulho meus dedos em sua buceta, Levi faz o mesmo, em
seguida leva sua umidade até sua bunda, com cuidado, mergulha um dedo
em seu cu, preparando aos poucos para receber meu pau lá.
Ainda vai levar tempo para que esteja pronta para ter nós dois
dentro dela, por isso é importante começar a prepará-la desde já.
Sua buceta está molhadinha, ela gostou da surra que levou!
— Me pede minha putinha, pede para eu te foder.
Quando penso que ela vai tentar lutar, Jules me surpreende e faz
exatamente o que pedi.
— Me fode.
Meu pau está prestes a explodir de tão duro que estou, só de pensar
em sua bucetinha apertada em volta do meu pau. A última vez não foi o
suficiente para aplacar meu desejo por ela, e duvido que algum dia essa
necessidade tenha fim.
— Fique de quatro. — Mando.
Jules, que ainda estava deitada de barriga para baixo, obedece, com
a ajuda de Levi, ela faz o que mandei. A vista dela de quatro, pronta para
ser fodida é algo que quero eternizar na minha memória.
Sua buceta molhadinha, suculenta como se fosse a fruta mais
gostosa do mundo, exposta esperando para ser fodida por mim. Mas eu não
sou tão bondoso como meu irmão, ansioso para ter um pouco do seu sabor,
me inclino e traço a língua ao longo de sua buceta.
Jules solta um gemido, sua pele se arrepia com o toque mais suave
da minha língua contra ela. Satisfeito com sua reação ao meu toque, chupo
sua buceta, dando um beijo de língua bem molhado nela, tentando devorá-la
o máximo que consigo.
Ela geme, alto.
— Porra, eu preciso fodê-la. — Levi rosna, tirando se pau e se
masturbando.
— Chupe ele. — Comando a ela, que obedece.
Jules geme mais e mais alto, enquanto devoro sua buceta, nunca me
dando por satisfeito, seus gemidos de apreciação tornam as coisas mais
interessantes para Levi.
Seguro seu quadril, enquanto lambo e chupo seu clitóris, Jules
empinando o quadril mais e mais, gemendo como uma puta, eu a penetro
com a língua, e volto até o clitóris, onde chupo e coloco mais pressão com a
língua. Sempre que chupo seu clitóris, ela empina a bunda para trás,
tentando pressionar sua buceta no meu rosto.
Não sei por quanto tempo ficamos nesse jogo, até seu corpo
começar a tremer.
— Goza para mim, pêssego. — Mando.
Me afasto dela, a tempo de admirar quando cai contra o colo do
Levi, respirando ofegante, enquanto é atingida por uma onda de orgasmo.
Ainda excitado e com meu pau dolorido, a puxo para trás, suas pernas
pendendo fora do carro, enquanto abro o zíper da calça e mergulho meu pau
em sua buceta.
Ela recebe meu pau com facilidade de tão molhada que está, olho
entre nós, admirando meu pau sumindo dentro dela, meu pau apertado
dentro de sua buceta. Com a respiração pesada, seguro sua cinturando,
metendo com força, a cada estocada o som dos nossos corpos ecoando pelo
estacionamento.
Gozo dentro, a segurando firme contra mim até que meu pau pare
de jorrar.
— Eu amo essa buceta. — Falo ofegante.
Levi ri do outro lado.
Jules está respirando ofegante, mas nós ainda não terminamos com
a nossa diversão.
Quando olho para o meu irmão, vejo que seu pau ainda está duro, e
por mais cansada que Jules esteja do seu orgasmo, sua mão ainda está
percorrendo o cumprimento de Levi, ansiosa para ser fodida por seu outro
homem.
— Ela está doida para ser fodida por mim também, não é pêssego?
Sua buceta ama a atenção de ter dois paus prontos para fodê-la, não é?
Ainda dentro dela, sinto sua buceta se apertar em torno do meu pau
com as palavras de Levi, com um aceno de cabeça, volto a me movimentar,
até que Levi chega ao meu lado, e eu saio para dar espaço a ele.
— Gosta de ser fodida por dois homens? — Acaricio o rosto dela,
passando meu pau perto de sua boca. — Chupe! — Mando, e ela abre a
boca. — Prova como é gostoso o sabor da sua buceta misturado com a
minha porra.
Perco a noção do tempo enquanto continuamos com esse jogo, não
é até que Jules goza mais duas vezes, que Levi e eu nos damos por
satisfeitos, que nós a vestimos e a levamos para o nosso apartamento.
— Duvido que ela tenha energia para fugir de nós depois de tudo
isso. — Levi ri, quando fechamos a porta do quarto atrás de nós.
— Não duvide, Jules sempre consegue arrumar um jeito de nos
causar problemas.
Capítulo 16
Jules
Acordo com uma sensação familiar, meu corpo está dolorido pela
forma como os gêmeos me foderam no carro. As memórias me fazem sorrir,
e tentar entender como fui de planejar suas mortes para desejar mais e mais
deles?
Penso em como falaram comigo, sabendo exatamente do que eu
precisava naquele momento, sem palavras bonitas, apenas a atração carnal
crua a qual eu tanto necessitava. Talvez se eles tivessem feito a coisa
“doce”, eu não tivesse cedido tão facilmente.
Foi a fome explicita em seus olhos que me fez ceder aos seus
comandos, e ao toque determinado de Levi. Gosto de como me foderam,
como se não tivessem controle sobre seus desejos, e depois cuidaram de
mim, me tratando como a coisa mais preciosa do mundo. Levi e Aiden
fizeram com que me sentisse amada, e isso é algo que nunca aconteceu
antes. Pela primeira vez, estive com alguém, que me fez entender o tipo de
amor, respeito e devoção que envolve os relacionamentos da minha família.
Eu estava acordada quando me colocaram deitada no centro da
cama, senti quando cada um deles me deu um beijo na testa, me
aconchegaram entre os cobertores, e se encarregaram de que o quarto
estivesse escuro para eu dormir. No momento em que a porta se fechou
atrás deles, peguei no sono, pela primeira vez nos últimos tempos me senti
segura.
Me sento na cama e esfrego os olhos, dando uma boa olhada em
volta, tentando identificar que horas são, vejo o relógio ao lado da cama,
são cinco da tarde, dormi por muito tempo e estou morrendo de fome.
Para fazer um ponto, minha barriga ronca.
Afasto as cobertas e me levanto da cama, vou para o banheiro,
preciso me lavar e tirar esse cheiro de sexo de cima de mim, enquanto me
lavo, mais uma vez percebo que eles não usaram preservativo. Isso é algo
que teremos que conversar, por mais que não me importe com uma
gravidez, essa é uma escolha que deveria ser tomada em conjunto, e nós
acabamos de ficar juntos, então é muito recente.
Caminho até o closet e visto uma camiseta que vai até meu joelho,
sem saber a quem pertence, e saio do quarto. Noto a comida no balcão, me
sirvo e sento em frente a TV com uma lata de refrigerante. Não levo muito
tempo encontrando o que assistir, estou viciada em um programa de
competição de bolos, amos as esculturas de chocolate que um dos chefes
faz.
Termino de comer, quando a porta do apartamento se abre e os dois
encrenqueiros entram carregando as minhas coisas.
— Por que estão carregando as minhas coisas para cá? — Encaro os
dois, sem me incomodar em levantar.
Aiden sorri, o tipo de sorriso que derrete calcinhas.
— Pensei que dormiria mais um pouco, pêssego. — Diz, largando
minhas coisas em um canto e vindo se sentar ao meu lado, se acomodando,
me puxa para seus braços.
— Isso não responde minha pergunta. — Ignoro como meu corpo
responde a seu toque.
— Você é nossa, não faz sentido suas coisas estarem lá, se a sua
casa é aqui.
— E se eu quiser ficar lá? Asher não é um colega de quarto ruim.
— Provoco.
Aiden bufa, e Levi, volta do quarto, me encarando como se não
pudesse acreditar no que está ouvindo.
— Pêssego, se está fazendo isso para nos provocar… — Levi se
senta do meu outro lado, e coloca a mão na minha coxa.
— Tudo bem, não me importo em ficar aqui. — Interrompo antes
que isso acabe se tornando outra briga.
Percebi que, independentemente do que acontece entre nós, Aiden e
Levi estão sempre em consenso com o que farão em relação a mim. Por
mais estranho que pareça, gosto disso, não quero ficar entre eles.
— Se fosse algo que você realmente quisesse, nós iriamos ficar com
você lá. — Aiden murmura perto do meu ouvido, me causando uma onda
de arrepios.
Esses dois parecem estar sempre com tesão, e como resultado,
acredito estar me tornando uma ninfomaníaca.
Isso me lembra.
— Precisamos falar sobre preservativos, não usamos nenhum até
agora, e com a quantidade de vocês…
— Gozamos na sua buceta? — Levi completa a frase por mim.
— Sim, é uma questão de tempo até que essas ações tenham
consequências, e nós estamos começando isso…
Aiden me interrompe.
— Pêssego, nós estamos aqui para ficar, isso é para sempre! Por
isso, não comesse com essa conversa, quando você engravidar do nosso
bebê, será maravilhoso.
Noto que ele usou quando e não se.
Devo ter entrado em uma realidade paralela, ou estar em um
episódio maluco de The Office, isso não pode ser real. Homens
normalmente não pulam animados com a possibilidade de serem pais, eles
fogem dela!
— É fácil falar, se as coisas não derem certo, não vão ter uma
criança dependendo de vocês, muito menos a cobrança da sociedade em
cima dos seus ombros, apenas pelo fato de serem “mãe”.
— Seremos uma família! Não existe a possibilidade disso entre nós
dar errado, se brigarmos, vamos resolver. — Levi me tranquiliza.
— E nossos filhos vão ser responsabilidade de todos nós. — Aiden
garante.
Não tem como duvidar de suas palavras, não quando a sinceridade
está estampada em seus olhos.
— Vocês me convenceram. — Admito. — Agora, só falta uma
coisa.
— O quê? — Perguntam em uníssono.
— Contar aos meus pais.
Caio na risada quando vejo suas expressões surpresas, embora me
sinta um pouco mal, ou eles estão desesperados com a possibilidade de
contar a minha família, ou pensam que eu nunca iria assumi-los.
Se for o primeiro, é divertido, já o segundo, é trágico e faz meu
estômago se revirar.
— Não pensei que fosse nos apresentar. — Levi responde minha
pergunta não formulada.
— Exceto caso vocês não queiram, é claro que vou apresentá-los.
— Nós queremos. — Aiden é rápido em concordar.
Dou um tapinha na perna de ambos e volto minha atenção para a
TV, quando percebem o que estou assistindo, eles protestam, mas acabo
vencendo e assisto mais dois episódios, com ambos ao meu lado, até
alguém bater na porta. Como Aiden é o que está mais próximo, é ele quem
se levanta para atender.
Cash e Asher entram, sem esboçar nenhuma reação ao me ver no
sofá abraçada com Levi.
— Devo dar os parabéns a vocês? — Cash aqueia uma sobrancelha
esperando por uma resposta.
— Não seja um idiota. — Aiden repreende.
— Considerando que ela estava se escondendo de vocês,
recentemente, e até alguns dias pensava que vocês faziam um trio gay com
Asher, é uma pergunta justa.
É minha vez de rir divertida.
Também sou grata por ele não expor meu “lugar de paz” em seu
apartamento, tenho certeza que ainda usarei muito o escritório quando os
gêmeos me irritarem.
— Vou aceitar os parabéns. — Levi diz com um sorriso feliz.
— Ótimo! Agora, devo lembrá-los que o estacionamento tem
câmeras e alguns de nós, tem olhos virgens e não estão interessados em
assistir pornografia amadora. — Asher comenta.
Inconscientemente, cravo minhas unhas na perna de Levi.
Como esses dois idiotas puderam me foder no estacionamento
sabendo que lá tem câmeras?
— É bom que resolvam isso. — Digo, tomando uma respiração
profunda para aplacar meu humor irritadiço. — Se eu acabar em algum site
pornô, vou garantir que meu pai mate vocês dois.
Eles não são estúpidos, todo mundo no círculo de onde viemos
conhece a fama que meu pai tem. O homem que ganhou muito dinheiro
torturando e matando pessoas por diversão, não gostará de ver o vídeo sua
garotinha exposta na internet.
— Não se preocupe com isso, já me livrei das filmagens. — Asher
ri. — Apenas fiquei me perguntando se gostariam de uma cópia.
— Asher! — Grito indignada.
— Calma, pãozinho de mel, eu jamais permitiria que o mundo visse
a bunda de Aiden.
Aiden rosna, mal-humorado, e eu dou risada.
— Fico feliz que todos tenham se resolvido, mas temos assunto de
trabalho a tratar. — Cash se senta na poltrona.
— Descobriu mais alguma coisa? — Levi questiona, parecendo
entediado.
— O cartão que você encontrou, é de um traficante poderoso que se
mudou para a cidade recentemente. — Cash responde.
Entreguei o cartão para ele no dia que fiquei em sua casa
trabalhando, tinha a sensação de que nos ajudaria a chegar em algum lugar,
e pelo visto, realmente foi de alguma ajuda.
— Ele era uma das vítimas? — Aiden encara o cartão, sem revelar
o que está pensando.
— Não, ele é o fornecedor de arsênio.
— Se ele é um traficante grande no país, minha família deve saber
alguma coisa.
— E sabe, estive no telefone com Raphael mais cedo.
— E? — Odeio esse suspense que ele está fazendo em torno de algo
simples. — Se eles conhecem podem acabar com isso, falar com ele e
descobrir se é Gagneux ou não.
— Não é tão simples assim.
Levi perde a paciência no meu lugar.
— Pelo amor de Deus, fale de uma vez o que está acontecendo.
— Sua família não consegue localizar esse homem, ele é bom em se
esconder e tenho a sensação de que faz isso por um motivo.
— E qual seria? — Pergunto.
Com o poder que o sobrenome Petrov tem, é difícil acreditar que
eles não conseguiriam encontrar alguém, ainda mais um traficante de
drogas.
— Ele é a mesma pessoa que envia as partes de corpo para você e te
ameaça.
Capítulo 17
Levi
O silêncio de Jules depois das descobertas conduzidas por Cash, me
incomoda. Saber que a pessoa com a perseguido esse tempo todo, está perto
de nós, e conectada com Gagneux, me deixa cheio de desconfiança. Temo
que ele ter ido ao hospital em que ela trabalha não tenha sido uma
coincidência, e que os acontecimentos que se desenrolaram depois foram
exatamente o que ele queria.
A oportunidade de colocar as mãos em uma Petrov.
Observo Jules dormindo, estamos apenas nós dois, uma vez que
Aiden teve que sair para verificar algumas coisas com Asher. Observei o
medo em seus olhos quando ela soube com quem estávamos lidando. Ela se
mexe para o outro lado da cama, pondero puxá-la para mim, mas vendo a
hora do relógio ao lado da cama, sei que é uma questão de tempo até que se
acorde.
Levanto, faço minha higiene e saio do quarto, grato que a cafeteira
foi programada na noite anterior e o café já está pronto. Estou na minha
segunda xícara quando Aiden entra, carregando seu laptop aberto.
— Bom dia. — Cumprimento.
Acenando com a cabeça, ele larga o laptop em cima do balcão, se
serve café, aguardo até que ele dê um segundo gole generoso da bebida.
Aiden não é bom em manter as coisas de mim.
— Não me olhe assim, estou exausto. — Diz.
— Vi a hora que Asher te chamou, não era muito cedo.
— Não me refiro a exausto por acordar cedo e sim da quantidade de
informações que conseguimos desse cara. — Responde. — E também de
brigar com Cash.
— Cash?
— Ele pensa que não devemos nos intrometer com esse cara, já que
ele está em Moscou, devemos deixar Lior cuidar disso com os Petrov.
Vejo porque ele não gostou disso.
Assim como ele, estou ansioso para que esse babaca apareça por
aqui e eu possa colocar minhas mãos nele. Garantirei que sinta muita dor
antes de finalmente meter uma bala em sua cabeça. Mas isso só acontecerá
se ele pisar na nossa cidade, do contrário, isso nos colocaria em uma
posição complicada de poder com os Petrov, e isso traria problemas para
todos nós.
— Sabe que existem questões de território e poder. — Lembro, ele
bufa irritado. — Aiden, estou tão ansioso quanto você para pôr minhas
mãos nesse idiota, não me olhe assim. Mas eles também são a família dela,
e vão fazer o que for preciso.
Relaxo quando o vejo deixar sua postura de luta e acena com a
cabeça.
A última coisa que precisamos nesse momento é brigar. Estamos
apenas começando um relacionamento com Jules, e não quero que ela sinta
que estamos brigando por sua causa, se isso acontecer, ela pode querer
correr.
Aiden me mostra as descobertas feita por ele e Asher, os dois tem
muita informação dos negócios dele, onde ele é mais comumente visto e
quem são os seus “aliados”, Gagneux é um velho conhecido, seus negócios
em conjunto envolvem muita buceta. No fim das contas, a saída de Lior da
prisão fodeu com ambos, e essa é a origem do problema que estamos
lidando.
— Me incomoda que não percebemos isso antes. — Admito. —
Lior passou anos na cadeia, e nossa única obrigação era manter os negócios
nos trilhos, e olha só o que estava bem em baixo do nosso nariz.
— Não tivemos que olhar de perto, porque eles esconderam bem,
Gagneux nunca nos deu motivos para desconfiar.
— Nem mesmo quando seu filho foi morto.
Esse detalhe nunca me desceu.
Pensar que Gagneux não se importava com o filho devido suas
escolhas de vida, estava tudo ok, mas de onde viemos, descobrir quem
matou seu filho e o matar, era mais uma questão de honra do que vingança.
— Deixamos algumas coisas escapar, mas não vou cometer o
mesmo erro duas vezes. — Aiden murmura, frustrado.
Eu também estou frustrado com essa situação, mas não podemos ser
impulsivos nesse momento, e é claro que impulsividade é o sobrenome de
Aiden. Se perdemos o controle, Gagneux pode usar isso contra nós, assim
como fez durante os anos que Lior esteve preso, se escondendo e tentando
foder conosco nas sombras.
O som de paços vindo pelo corredor faz Aiden fechar o laptop, e se
virar para receber Jules em seus braços. Ela vai de bom grado, e após o
abraçar e beijar, ela caminha até mim, fazendo o mesmo, enquanto isso,
Aiden a serve com uma xícara de café.
— Qual é o assunto? — Pergunta.
— Nada. — Digo, enquanto Aiden dá de ombros.
— Tudo bem, se é assim que querem fazer. — Murmura, se
afastando de mim, ela carrega sua xícara em direção ao quarto.
— O que vai fazer? — Aiden a encara.
— Me trocar, quero ir para a cidade.
— Pêssego, não é uma boa ideia. — Aconselho.
Jules para e se vira na nossa direção.
— Não vou ficar presa aqui devido a um velho que nunca vi na
vida. — Diz. — E se pensam que vão me convencer do oposto, terei que
desapontá-los.
Aiden considera protestar, uma característica do meu irmão que irá
nos colocar em problemas com Jules é ele agir como um idiota mandão.
— Tudo bem, eu vou com você. — Respondo, antes que meu irmão
abra sua boca estúpida.
— Vamos com você. — Aiden complementa.
Jules sorri, parecendo animada e não uma fera pronta para estripar
alguém, como há alguns segundos. Espero ela se afastar antes de olhar para
Aiden e arquear a sobrancelha, ele sabe muito bem que acabei de nos livrar
de uma briga desnecessária.
— Não comece. — Aviso já me levantando.
Entro no quarto e encontro Jules vestida, pegando seu telefone e
carteira. Me surpreendo com o quão rápido ela pode se vestir, ao contrário
da maioria das mulheres, que leva uma eternidade.
— O quê? — Me encara.
— Você se veste rápido.
Ela ri.
— Sou médica, estou sempre correndo de um lado para o outro,
então economizo tempo no que consigo.
Consigo imaginar Jules como médica, ela é atenciosa e presta
atenção aos detalhes, mesmo os que ninguém parecem perceber. Sorrio
lembrando de quando fui um de seus pacientes, e ela estava totalmente
focada em me tratar, em vez de dar em cima de mim como as enfermeiras a
nossa volta.
Tiro o moletom e coloco uma roupa para ir à cidade com ela,
quando volto para a cozinha encontro Aiden prendendo Jules contra a
parede, mesmo parecendo excitada, ela o empurra para longe quando me
vê.
— Algum problema? — Encaro os dois.
Ela vem na minha direção e segura minha mão.
— Seu irmão está sendo irracional e tentando usar sexo para me
fazer mudar de ideia a respeito de ir à cidade.
— Aiden!
O babaca sorri, e pega sua carteira da mesa de centro, caminhando
para a porta e abrindo.
— Por favor, pêssego. — Acena para ela passar na frente, quando o
faz, ele dá um tapa em sua bunda.
— Ei! — Jules grita.
— Isso foi por ser uma fofoqueira. — Diz.
Tenho a sensação de que terei que lidar com o humor volúvel e as
brincadeiras de ambos, e ao contrário de me irritar, sorrio com o
pensamento.
A vida será divertida ao lado desses dois!
Ao contrário das outras vezes que viemos para a cidade, dessa vez
não há tensão no carro, e não preciso me preparar para mais uma briga, ou
ter que ficar atento caso Jules tente fugir de nós. Quando estaciono o carro
perto da rua principal, Jules espera até que Aiden desça e abra a porta de
trás, sorrindo ela pega sua mão e ambos aguardam eu dar a volta.
Por um momento as velhas dúvidas que tínhamos no passado a
respeito do nosso relacionamento ressurgem, mas quando Jules estende a
mão para mim e caminha entre nós, parecendo a pessoa mais feliz do
mundo, não posso evitar me sentir da mesma forma.
— Aonde vamos? — Pergunto, já sabendo sua resposta.
— Cafeteria, preciso de um pedaço de bolo. — Ela responde,
parecendo ofendida com minha pergunta.
Passar na cafeteria da cidade se tornou uma tradição em todas as
nossas viagens até aqui, esse se tornou o nosso lugar.
Jules faz o pedido dela, enquanto Aiden pega nosso pedido e a guia
até a mesa onde sentamos, vou até o caixa e pago, dando novamente uma
gorjeta generosa para a atendente sempre solicita.
— Parece que as coisas mudaram entre vocês. — A jovem comenta.
Olho para os dois e sorrio ao ver minha mulher fazendo um
aviãozinho de bolo para Aiden, que ostenta a maior cara de idiota de todos
os tempos.
— Conseguimos convencê-la a ficar.
— Não a machuquem, ela parece ser divertida. — Olhando em
volta, ela acena para algumas pessoas que estão encarando. — E por favor,
não deixem que essas pessoas fodam com o seu relacionamento devido ao
preconceito.
— Não vou!
Agradeço mais uma vez e volto para a mesa, onde noto que outros
frequentadores do café continuam a nos encarar. É quando começo a ficar
preocupado com Jules, por mais que não me importe com o que eles
pensam a nosso respeito, ela pode ficar chateada com essa situação.
— Qual é o problema? — Jules me pergunta.
— Nada.
Tanto ela quanto Aiden bufam em descrença.
— Querido, não seja um mentiroso. — Ri. — Aiden e eu
percebemos os olhares.
— E isso não te afeta?
Dá de ombros.
— Por que faria? Eu não os conheço.
Aiden ri.

— Pergunte a ela os parâmetros para se importar ou não com a


opinião dos outros.
Olho para nossa garota esperando que me diga;
— Eu sempre me imagino em uma situação de perigo, se decido
usar a pessoa como um escudo humano, então foda-se, não me importo com
a opinião delas. — Explica. — Já se eu me colocaria entre o perigo e a
pessoa, então me importo o suficiente para ouvir seu ponto de vista e
considerar sua opinião.
— Considerar? — A encaro.
— Só porque amamos uma pessoa não significa que devemos
confiar cegamente em tudo o que diz ou faz, às vezes tentamos protegê-los
de um perigo que está apenas em nossa cabeça.
— Isso significa?
— Fodam-se essas pessoas, e se os meus não aprovarem, não vou
mudar de opinião sobre nós, eles podem querer o que é melhor para mim,
mas só eu sei o que é de fato o melhor.
De alguma forma, sua explicação estranha envolvendo morte de
pessoas que não conhecemos e situações de perigo que não quero imaginar,
faz sentido.
Depois que terminamos nosso café, saímos em busca de decoração
de Natal, o foco principal dela deixou de ser a mansão, já que Lior e Anuvia
não estarão na cidade, e passou a ser nosso apartamento e de Asher, ela até
mesmo escolhe uma árvore para Cash. Vendo a quantidade de itens que
compramos, mando uma mensagem para um dos empregados virem até
aqui buscar tudo. Não confio em ninguém dessa cidade para ir até o
apartamento.
Quando estamos entrando no carro, tenho a sensação de que
estamos sendo observados, olho em volta e vejo Gagneux parado na porta
do restaurante do outro lado da rua, infelizmente, o babaca se aproxima de
nós, antes que Jules esteja no carro.
— Aiden, Levi, bom vê-los. — Estende a mão para mim.
Me esforço para sorrir e devolver o aperto de mão, em vez de socar
sua cara idiota.
— Digo o mesmo, estivemos em uma de suas casas noturnas. —
Me antecipo.
— Algum problema?
O bastardo tem o descaramento de se fazer de confuso.
— Nenhum, apenas queríamos saber se estava tudo bem por lá. —
Aiden se antecipa e responde.
— Está, os meus negócios estão indo muito bem. — Ri, seus olhos
pousam em Jules. — E quem é esta beleza.
Minha primeira reação é afastar Jules do homem, mas ela me dá
uma cotovelada, me dizendo silenciosamente que devo me manter firme.
— Sou Jules Petrov, minha prima é a esposa de Lior. — Se
apresenta, estendendo a mão para Gagneux, que a segura e beija.
Quero socar a cara do velho filho da puta por tocar na minha
mulher, mas me contenho, precisamos manter o foco aqui, e não deixar
transparecer o nojo que sinto por esse homem e o quão perto estou de meter
uma bala em sua cabeça.
— Pensei que Lior estivesse fora da cidade. — Gagneux parece
com medo.
Isso é interessante!
— Eles estão apenas vendo algumas coisas do enxoval do bebê,
estarão de volta em alguns dias. — Jules responde, percebendo o mesmo
que eu. — Minha prima está ansiosa para voltar e arrumar tudo.
— Filhos são sempre uma benção.
É preciso um esforço colossal da minha parte para não bufar e rir da
sua cara. Quero dizer, o homem perdeu um filho e nem mesmo se importou
em tentar pegar quem o matou, e agora vem jogar?
— Com toda certeza. — Ela sorri.
— Foi bom conhecê-la Jules, vocês estão convidados para um dos
meus clubes, tudo por minha conta.
— É muito gentil da sua parte, eu adoraria.
Gagneux se afasta rapidamente, entramos no carro em silêncio, só
quando estamos longe do centro da cidade, que abro a boca para falar.
— Ele está com medo do retorno de Lior. — Digo.
— Percebi isso, talvez esse medo o faça agir precipitadamente. —
Aiden concorda.
Jules acena, concordando, e vejo que está planejando algo.
— Para isso acontecer, aceitaremos o convite para o clube.
Capítulo 18
Jules
Eu não gosto de ambientes onde muitas pessoas se reúnem, eles
normalmente são barulhentos. Um bar, com música alta, cheio de pessoas
coladas umas às outras, rindo e conversando acima da música, facilmente se
classificaria como meu inferno pessoal.
Odeio estar aqui, tem pessoas chegando muito perto a todo
momento, elas estão em busca de um espaço, e para isso necessitam tocar
em nós, algumas delas eu suspeito que estejam fazendo isso de propósito,
mas quem sou eu para julgar?
Deixo meus olhos percorrer o salão lotado, parando em Gagneux,
que está conversando com alguém no telefone, embora seus olhos nunca
deixem os gêmeos e eu, ele está irritado com a pessoa do outro lado da
linha.
Para esconder meu sorriso satisfeito com sua raiva, tomo um pouco
da minha bebida frutada.
— O que é esse sorriso? — Aiden pergunta.
Me viro para encará-lo, não me surpreende que ele esteja tão à
vontade nesse lugar, de alguma forma isso se encaixa perfeitamente em sua
personalidade.
— Seu amigo parece estar irritado com alguém. — Digo, sem me
virar e dar qualquer pista de que estamos falando de Gagneux.
— Tenho a sensação de que isso se deve a nossa presença, alguma
coisa está acontecendo hoje. — Levi concorda comigo.
— Também sinto isso. — Falo, voltando a olhar para a multidão.
Logo que chegamos me surpreendi com quão movimentado esse
lugar estava para um dia de semana, mas os gêmeos me explicaram que as
pessoas vêm para essa cidade justamente para aproveitar, a maioria delas
vive nas cidades próximas.
É muita vontade de festar, ou algo mais as motiva a vir aqui.
Com a quantidade de garotas andando com menos da metade das
roupas, é um chamativo fácil para os homens, que desde que cheguei, agem
como se elas estivessem aqui para servi-los. Em outro lugar, tenho certeza
que isso se encaixaria mais facilmente em algum negócio sexual, e como
todos aqui são clientes, não imagino a fama sendo boa.
Existe algo acontecendo por baixo dos panos, Gagneux se tornou
bom em camuflar.
Sou arrancada dos meus pensamentos por Gagneux, que para muito
perto de nós, segurando uma taça de champanhe.
— Não esperava sua presença aqui. — Admite.
Tenho certeza que não, o homem deve estar surtando com medo de
ser pego. Ele está analisando minha reação a ele, tentando descobrir o que
nos trouxe aqui. É ridículo que não saiba que sou boa em situações como
essa, ele não descobrirá nada, exceto caso eu queira que o faça.
— Você nos convidou, existe algum motivo que me impediria de
comparecer? — Franzo a testa, disfarçando e olhando para Levi e Aiden. —
Me disseram ser um grande amigo do Lior e dos meninos, e um grande
companheiro de negócios.
Como o idiota que é, Gagneux cai no meu teatro, tendo a decência
de parecer envergonhado. Sorrio com esse pensamento, é mais fácil
manipular pessoas e construir uma falsa sensação de importância quando as
elogia indiretamente. Devo esse ensinamento ao meu avô.
— Fico feliz em saber que me veem como um amigo. — Gagneux
diz. — Não sabia como estava nossa situação com o que aconteceu com
Lior e sua prima.
Aceno com a mão.
— Foi de grande ajuda sua informação, minha família é grata a
você por isso.
O homem estufa o peito, a honra de ser elogiado por um Petrov
significa que existe a possibilidade de se sentar na mesa dos adultos, onde
apenas os grandes fazem negócios importantes. Quero rir, ele não tem
capacidade nem para brincar na mesa infantil, que dirá negociar com
tubarões.
— Sempre que sua família precisar de algo, estou aqui. — Oferece.
— Obrigado. — Tomo outro gole da bebida e aceno com o copo em
direção à multidão. — Acho que existe uma diferença entre as mulheres e
homens daqui. — Comento.
Gagneux olha na mesma direção que eu.
— Precisamos sempre atrair mais clientes; por isso, é importante
fazer os movimentos certos.
— E que movimentos são esses?
O babaca sorri.
— Deixe as mulheres felizes e então os homens estarão.
Um dos empregados se aproxima dele, murmurando algo, Gagneux
se desculpa e se afasta.
Tanto os gêmeos quanto eu olhamos para as bebidas nas mãos das
garotas, um sentimento estranho se apoderando de mim. Isso não pode ser o
que estou pensando, ele não faria isso.
Vendo o lugar onde estamos, e a diferença de comportamento entre
os homens e as mulheres, é claro que um verme como Gagneux faria, e
faria algo muito pior do que dopar essas garotas. Começo a ficar agitada,
desconfortável com a enxurrada de pensamentos que estou tendo a respeito
dessas mulheres, ainda mais quando penso na forma como estão sendo
usadas.
— O que está acontecendo, pêssego? — Aiden me encara
preocupado.
— Não gosto de estar rodeada de pessoas. — Minto, torcendo para
que eles entendam que estou, na verdade, desesperada para ir embora e por
meus pensamentos em ordem.
— Não se preocupe, estamos aqui com você. — Aiden continua.
Me surpreende com o quão doce os dois podem ser, mas às vezes,
eles conseguem se superar em ser lerdos. Qual a dificuldade de entender
que posso ter feito uma descoberta sobre os negócios de Gagneux?
— Sei que sim, mas me sinto cansada e pronta para encerrar a noite.
— Falo, e finalmente Levi me ajuda.
Após estudar meu rosto por um momento, ele joga algumas notas
de dinheiro para o bar tender.
— O que está fazendo? — Aiden pergunta.
— Acho que está na hora de irmos embora. — Levi segura minha
mão com força e me leva em direção e saída, Aiden vem do meu outro lado.
Estamos perto da saída dos fundos quando uma mulher se aproxima
de nós, noto que seu sorriso é forçado, e que, na verdade, seu olhar aparenta
preocupação. De canto de olho, percebo que dois seguranças estão vindo
atrás dela. Faço sinal para Levi, que segura seu braço e a puxa em direção à
saída conosco.
— O que estão fazendo? Não vão me levar e não permitirei que a
levem como fizeram com a minha irmã!
Percebo que ela está tentando me defender, e seguro sua mão na
minha.
— Calma, eu estou bem! — Afirmo.
Ela não parece acreditar em mim, mas não dou tempo para discutir,
quando a porta dos fundos se abre e escuto a voz dos seguranças, a empurro
para dentro do carro, feliz com as trancas infantis que os gêmeos ativaram
por minha causa.
— Não vou…
— Chega! — Levi diz, e percebo que sua voz está enganosamente
calma. — Jules já disse que não vamos te machucar, se puder nos explicar
por que está agindo dessa forma?
Vendo que ela está assustada, seguro sua mão na minha.
— Sou Jules, e esses são meus namorados, Levi, e o que está em
silêncio é Aiden. — Apresento.
— Você namora ambos? — Não vejo nenhum olhar de julgamento,
apenas de surpresa.
— Sim, não me pergunte como esses dois conseguiram um partido
como eu. — Brinco.
— Nem me fale, pêssego, vou agradecer até meu último dia nessa
terra por esse presente. — Aiden responde, me fazendo corar.
— Viu só, eles são inofensivos. — Isso é uma mentira total, mas ela
não precisa saber. — Pode confiar.
— Minha irmã está desaparecida, e a última vez que tive notícias
dela, ela estava nessa casa noturna. — Diz.
Tenho a sensação de que ela está escondendo alguma coisa.
— O que você não está nos contando? — Levi pergunta.
Depois de um momento de silêncio, a mulher toma uma longa
respiração.
— Minha irmã é viciada.
Aí está! Existe um padrão, tenho certeza que o vício dessas
mulheres começa na casa noturna de Gagneux. Se o que estou pensando for
verdade, faz sentido que ela tenha desaparecido.
— Um dos negócios que Lior proibiu Gagneux de continuar era
com o de mulheres? — Pergunto aos gêmeos.
— Sim. — Concordam.
Mais uma vez, o padrão realmente existe.
Acredito que seja fácil para alguém de fora perceber o que está
acontecendo bem em baixo dos narizes deles, porque de fato existem alguns
sinais, mas para percebê-los é necessário saber o que estamos procurando.
Pena para Gagneux, eu conheço os sinais.
São as palavras da mulher que me tiram dos meus pensamentos.
— Espera, vocês conhecem o assassino?
Fecho meus olhos para controlar o meu temperamento, odeio como
as pessoas dessa cidade tem se referido a Lior. A única pessoa que fez algo
para impedir que seu pai e os homens que estavam do lado dele,
destruíssem esse lugar.
— O nome dele é Lior, sugiro que o use, porque ele é a única
pessoa que pode te ajudar nesse momento. — Levi diz.
— Desculpe, eu não quis dizer dessa forma.
Continuar nesse assunto só vai deixá-la mais constrangida, e a nós
com mais raiva. Mesmo que ela não seja uma boa pessoa, o que ela sabe
aliado ao desaparecimento de sua irmã pode ser exatamente do que
precisamos.
— Sua irmã é uma viciada, poucas pessoas procuram por viciados,
e a maioria deles tem problemas com a família. — Explico. — A família
fica de saco cheio e lava as mãos, por isso seria fácil para Gagneux traficar
a sua irmã.
— Faz sentido. — Aiden concorda comigo.
— Há quanto tempo sua irmã é uma viciada? — Pergunto apenas
para confirmar.
— Minha irmã sempre gostou de festas, mas nunca usou nada, ao
menos eu não percebi até que ela começou a frequentar aquele lugar. —
Explica. — É por isso que eu sempre volto ali, mas o dono não me diz nada.
É claro que o imbecil não diria nada, como ele produziria provas
contra si?
— Você foi o cálculo errado dele. — Digo, olhando para a mulher.
Gagneux achou que se daria bem, ninguém se importa com
viciados, exceto se seja uma pessoa boa e realmente persistente.
— E agora? Vão me ajudar a encontrar minha irmã?
O silêncio no carro é ensurdecedor, me incomoda a ideia de não
encontrar a irmã dessa mulher, mas se ela for mesmo vítima de tráfico de
humanos, cada segundo é mais difícil de encontrá-la, ao menos com vida.
Outro pensamento me ocorre, poderia a irmã dela estar em um
daqueles barris?
— Vamos tentar. — Digo. — Até lá, é bom você ficar conosco.
— Asher precisa de uma nova companheira de casa. — Levi
murmura, com um sorriso.
Reviro os olhos.
— Asher é um ótimo companheiro de apartamento, ao contrário de
vocês.
Sorte a nossa que Levi dirige como um louco, e antes que o silêncio
se torne ainda mais constrangedor, estamos estacionando na garagem do
apartamento, e indo para o nosso andar. Onde Asher, que foi avisado que
teria uma nova companheira de casa, está nos esperando. Cash perto dele,
com Calum que aparentemente voltou para a cidade.
— Temos muito o que colocar em dia.
Capítulo 19
Jules
Ao contrário dos outros que passam a sensação de perigo, mas que,
na verdade, se importam, Calum não parece se importar com nada e nem
ninguém. Somos pedras no seu sapato e ele está ansioso para lidar com essa
situação e seguir com sua vida, sem os nossos problemas.
Nos reunimos no apartamento de Asher, me sento na poltrona
confortável no canto, com Aiden e Levi ao meu lado, a mulher está sentada
do outro lado, Asher próximo dela, enquanto Cash se senta no sofá, sem se
importar com o mau-humor de seu amigo.
— Pensei que sua viagem em família duraria mais tempo. — Cash
comenta.
— O que posso fazer se vocês têm essa terrível mania de me trazer
problemas?
— Ou talvez você esteja suspeitando de algo e não nos disse? —
Levi pergunta.
— Mesmo? Desde quando eu não compartilho minhas suspeitas
com os meus irmãos?
— Não sei, depois do casamento do seu pai, as coisas parecem ter
mudado.
Calum estreita seus olhos em Cash.
— Minha família não tem nada a ver com isso.
— Talvez seja Alina o problema?
Não me interesso com o que está acontecendo na cabeça dele, seus
problemas pessoais não são do meu interesse. Tudo o que quero fazer é
acabar com Gagneux, me livrar do meu perseguidor e ter o meu “felizes
para sempre”. E isso não acontecerá se Calum ficar agindo como um
babaca.
— Se vocês querem agir como idiotas, por mim tudo bem, eu quero
que todos se fodam! Mas estou cansada e acredito que fiz algumas
descobertas interessantes essa noite, então a não ser que queriam que eu
ligue para a minha família e peça para eles resolverem um problema de
vocês, sugiro que calem a boca e me deixem falar. — Minha voz sai muito
parecida com a da minha mãe, e me dou um cumprimento mental por soar
tão foda.
— Tudo bem, pode falar. — Calum diz em um tom que me faz
bufar divertida.
— Vou falar de qualquer jeito, não estou esperando sua permissão.
— Respondo.
— Pãozinho de mel…
Calo Asher com um aceno de mão.
— Vocês frequentam os bares do Gagneux e nunca perceberam
nada? — Os encaro, e eles negam com a cabeça. — Os homens pagam
taxas na entrada, muitos deles deixa um masso generoso de dinheiro,
enquanto as mulheres pagam apenas pelas “bebidas”, por mais interessante
que seja, perceberam que as bebidas delas vem de um bar diferente da dos
homens?
— Acha que eles estão fazendo algo com as bebidas? — Cash me
encara.
— Tenho certeza que sim, o comportamento das mulheres muda
totalmente após uma única dose, elas ficam mais soltas e felizes, ansiosas
por mais doses, por que isso acontece? Drogas, ele está viciando essas
mulheres, e os homens pagam a mais para conseguir foder com elas.
— E sobre as que desapareceram? — Aiden parece estar pensando
em voz alta.
— Provavelmente chegaram no ponto onde as famílias já lavaram
as mãos e Gagneux conseguiu vendê-las sem levantar suspeita.
— Isso não faz sentido, elas poderiam conseguir drogas em outro
lugar. — A mulher diz.
— Não se apenas Gagneux tem o produto que elas querem, e assim
ele pode manipular o preço e o que ele pode ganhar com isso. — Respondo.
— Você disse que sua irmã se viciou depois que começou a frequentar
aquele lugar. — Acena, confirmando. — E com isso, ele tem três negócios
em um só, prostituição, venda de drogas e por fim, tráfico de mulheres.
— Como nunca percebemos isso? — Levi olha para seus amigos.
— Pensaram que Gagneux obedeceria, mas ele conseguiu desviar
sua atenção.
— Frequentamos aquele clube e nunca percebemos. — Cash diz.
— Precisamos descobrir que droga é aquela que ele está oferecendo
a elas, e o que a torna tão viciante. — Me levanto. — Agora que já
entenderam a dinâmica do que vem acontecendo, vou dormir, enquanto isso
vocês podem fofocar.
— Obrigado, Jules. — Calum me agradece.
— Não esqueçam de mostrar o quarto para ela, ela também está
cansada.
Enquanto caminho para casa, torço para que eles tenham entendido
com todas as letras o que eu disse, e que isso facilite a nossa vida.
Precisamos matar Gagneux, essa é a única forma de pôr um fim a tudo isso.
***
Levi
Gagneux sempre foi uma cobra sorrateira, e agora entendo porque o
chamam de Cuco, com a ajuda da história que Jules nos contou sobre essa
espécie de abelha em específico. O bastardo tem nos enganado durante todo
esse tempo, bem em baixo do nosso nariz, e isso explica a raiva que ele tem
de Lior e sua proibição.
Como ele não conseguia mais traficar mulheres e drogas, ou lidar
com prostituição de forma tão aberta, conseguiu camuflar tudo para que
Lior nãos suspeitasse, enquanto isso tramava pelas nossas costas. Jules está
certa, ninguém fica de olho em drogados, exceto caso eles estejam criando
problemas e esses problemas atraem atenção indesejada.
Gagneux passou a perder dinheiro, e podemos listar seus negócios
afetados, começando com prostituição, drogas e tráfico de mulheres. Ele
decidiu aliar todos os seus prejuízos, viciando suas clientes do bar sem que
elas saibam. Como único fornecedor da droga, elas sempre voltam, fazendo
de tudo por uma dose, incluindo foder com os clientes.
Quando elas começam a criar muitos problemas, ele as vende e
passa a “mercadoria” adiante.
— Sabe, eu nunca mais vou desconfiar do motivo das mulheres
Petrov serem tão respeitadas quanto seus maridos. — Cash murmura, se
sentando do outro lado do sofá com sua cerveja na mão.
Sorrio, satisfeito em saber que Jules é nossa mulher.
— Felizmente ela percebeu, infelizmente teremos que lidar com
essa situação. — Calum responde. — E parece que temos muitos
problemas. — Acena em direção à porta do quarto onde a mulher está
dormindo. — Pelo jeito estamos abrindo um hotel.
Esse é um dos aspectos da personalidade do meu amigo que eu mais
detesto, Calum é uma pessoa muito desconfiada, infelizmente ele sempre
desconfia das pessoas erradas sendo cego a algumas falhas, sua família
sendo a principal fonte de sua cegueira.
O pai de Calum foi o único que quando investigamos voltou com a
ficha limpa, mas não sei se fizemos as investigações do jeito certo, ou se ele
não descobriu o que faríamos e conseguiu limpar os vestígios de seus
crimes. Talvez a gente tenha cometido o mesmo erro com ele que foi com
Gagneux.
— A garota estava preocupada com Jules, ela correu para tentar
salvá-la. — Aiden sorri, como se a ideia de Jules estar em perigo com um
de nós fosse ridícula. — Os seguranças de Gagneux estavam atrás dela.
— Já pensou que a irmã dela pode ser um dos corpos que
encontramos e que estão no necrotério? — Cash diz.
— Vou pedir as fotos que o legista fez e mostrar a ela. — Asher diz,
já digitando em seu telefone.
— Parece que estamos sendo mais amigáveis a cada dia. — Calum
comenta.
Estreito meus olhos nele, mas me mantenho em silêncio tomando
um longo gole da minha cerveja.
— Você queria o quê? Que deixássemos a garota morrer? Acha que
seria uma boa coisa no momento que estamos? — Asher pergunta. — Não
seja um babaca, Calum!
Calum se levanta.
— Vamos usá-la como isca, se Gagneux quer a mulher ele vai atrás
dela, enquanto isso mantenha um olhar atento nela até que ele venha.
— Não concordo com isso. — Asher responde na mesma hora,
recebendo o apoio de nós.
Não gosto de onde essa situação está indo.
Problemas internos significam má comunicação, e má comunicação
resulta em falhas. Lior não faz ideia do que está acontecendo e planejo
manter assim enquanto ele se preocupa com sua mulher e bebes.
— Vai nos dizer que merda há de errado com você ou teremos que
adivinhar? Porque, sinceramente, não estou a fim de lidar com a sua merda
particular. — Falo. — Não vou usar uma mulher como isca para Gagneux,
só porque você tem um pau enfiado no seu rabo.
— Pensam que podem lidar com isso sem a minha ajuda? — A
pergunta é feita em tom de zombaria.
— Descobrimos tudo sem a sua “ajuda”, então sua importância
aqui é discutível.
Conheço Calum, nós todos somos amigos há anos, e sei que existe
algo mais o incomodando e ele não quer compartilhar conosco. Talvez sua
intenção seja não nos preocupar, mas sinceramente, não estou muito a fim
de jogar esse jogo de adivinhação.
Existe uma grande possibilidade da sua preocupação ser relacionada
a Alina, todos sabemos que o idiota sente algo por ela, mas vem lutando
contra seus sentimentos. Conheço a sensação de querer muito algo e não
acreditar que pode ter. Calum sempre pensou de mais no que as pessoas
achariam e como reagiriam, principalmente quando envolve seu pai.
Outra coisa a qual meu amigo é cego.
O pai dele e sua madrasta são dois babacas, e me custa acreditar que
ele era um dos únicos que estavam com as mãos limpas naquela época.
Simplesmente não se encaixa, e todo o teatro de família perfeita que o filho
da puta tenta passar, é apenas uma forma de se manter por baixo dos panos.
— Qual é o problema? — Cash dá um tapa no ombro dele.
— O que te faz pensar que existe um problema? — Rebate.
— Nós te conhecemos, confiamos em você, por isso pedimos que
faça o mesmo.
Noto quando sua postura muda, ele se levanta e começa a andar
pela sala, deixando de lado a falsa calma que normalmente usa quando está
preocupado.
— Acho que meu pai pode estar com problemas. — Diz.
— O que te fez pensar isso?
Balançando a cabeça, começa a andar de um lado para o outro.
— É apenas uma sensação, não vou brigar com o meu velho até eu
saber o que está acontecendo. — Diz. — Teremos uma festa grande em
alguns dias, até lá irei investigar.
Só existe uma festa que pode acontecer em alguns dias aqui na
cidade, uma das empresas que está abrindo uma cede aqui, nomeou um
novo CEO, e ele será revelado em breve.
— A nomeação do novo CEO? Não sabia que seu pai daria uma
festa. — Cash comenta, confirmando meu pensamento.
— Nem eu, descobri isso por acidente quando estava na casa dele,
acho que ele não percebeu que eu estava lá. — Explica. — Não foi até que
o questionei que ele me contou.
Por que o velho não contou ao filho sobre uma festa como essa?
Não é como se fosse algo de extrema importância, exceto se outro negócio
esteja em andamento por lá e não querem que a gente descubra.
— Alguém sabe o nome do novo CEO? — Asher pergunta.
Todos negamos com a cabeça.
— Estão fazendo um grande suspense em torno disso.
Se Calum não sabe, então duvido que seu pai tenha dito a alguém
fora do seu círculo familiar, ele é extremamente desconfiado, algo que
sempre me deixou com o pé atrás.
— Alina não sabe de nada?
Calum ri.
— Mesmo que ela soubesse, não me diria, não somos próximos.
— Você precisa resolver isso com ela, não é divertido o quanto
lutam um contra o outro. — Asher responde, ignorando a careta de Calum.
Não querendo fazer parte de mais uma briga envolvendo Calum e
seu mau-humor sempre que tocamos no nome de Alina, me levanto e vou
em direção à porta, sem preocupar em me despedir. Minha garota está
dormindo na nossa cama, sozinha, enquanto eu lido com esse bando de
idiotas.
Aiden vem logo em seguida.
Não me surpreendo que ele tenha esperado eu sair antes de fazer o
mesmo, meu irmão só pode lidar com o temperamento de Calum por alguns
minutos, sem explodir. Os dois já lutaram muitas vezes, e felizmente depois
de alguns socos e xingamentos, tudo se resolve e voltam ao seu humor
normal.
Em casa, tranco a porta e ativo o código.
— Não sei se confio no pai do Calum, ainda mais com esses
“problemas”, citados. — Meu irmão diz, se jogando no sofá, ligando a TV,
em seguida pega seu laptop da mesa centro e o coloca em suas pernas.
— Já o investigamos uma vez, e tudo voltou limpo. — Lembro,
receoso do que teremos que fazer.
— O mesmo aconteceu com Gagneux, e adivinha? O homem está
atolado até o pescoço na merda.
— Tem razão, será que os dois estão trabalhando juntos durante
todo esse tempo? — Dizer isso em voz alta é o mesmo que admitir que
falhamos no passado. — Vamos investigá-lo novamente, e dessa vez, vamos
manter a informação em sigilo.
— Mesmo Asher e Cash?
Nego com a cabeça.
— Asher é bom com tecnologia, e pode nos ajudar. — Concordo.
— Cash pode não gostar, mas vai ser melhor do que dizer que estamos
agindo por suas costas.
— Calum…
— Não, seu pai pode ter colocado uma escuta em seu apartamento
para obter informações privilegiadas, por isso vamos deixá-lo investigando
por conta.
— Então é isso? Fomos de confiar em todos, para desconfiar de
todos? — Aiden ri sem humor.
— Não estou desconfiando de todos, estamos apenas fazendo nosso
trabalho.
Conheço meu irmão, é claro que ele está irritado com investigar o
pai do Calum sem deixar que os outros saibam das nossas desconfianças,
mas duvido que Lior seja contra se isso significar nossas mulheres em
segurança.
— Eu…
— A única coisa que me importa nesse momento é manter a nossa
mulher em segurança, e se para isso eu tenha que investigar um dos nossos,
é exatamente o que farei. Sabemos que Gagneux está traficando mulheres,
elas precisam sair daqui de alguma forma, e suspeito que seja o pai do
Calum que está ajudando no transporte.
O som de passos no corredor me tira da minha nuvem de raiva, me
viro para ver Jules sonolenta, usando uma das camisas de Aiden, parada
olhando para nós com preocupação nos olhos.
— O que estão fazendo? — Pergunta.
— Apenas conversando. — Aiden responde, sua expressão irritada
se foi dando lugar a um sorriso.
Por mais que eu queira esganar meu irmão, concordo que Jules não
precisa nos ver brigar e discordar um do outro.
— Venha aqui, pêssego. — Chamo, abrindo os braços, onde ela se
aninha e coloca a cabeça no meu peito. — Pensei que já estivesse
dormindo.
— Ouvi o barulho da TV, em seguida vocês brigando. — Diz,
bocejando.
Percebo a preocupação dela direcionada a mim e Aiden, beijo sua
cabeça e a solto.
— Vá deitar linda, estamos apenas conversando.
Leva um segundo para ela estudar nossas expressões e se afastar
pelo corredor.
— Quando essa merda acabar, vamos viajar com ela e não contar a
ninguém nosso destino. — Aiden fala, parecendo frustrado.
— Por isso precisamos pôr um fim nisso.
Capítulo 20
Jules
Acordo com os gêmeos deitados em cada lado meu, de alguma
forma estranha, meu corpo tem essa necessidade constante de estar em
contato com o deles enquanto durmo. Tem sido divertido aprender suas
manias, expressões e temperamento, ambos são parecidos fisicamente, mas
suas personalidades são extremos opostos.
Me desvencilho deles e vou para o banheiro, ligo o chuveiro, e
enquanto a água esquenta, escovo os dentes e recolho as roupas sujas
espalhadas pelo chão, as colocando no cesto ao lado da porta. Assim que
Aiden acordar, terei mais uma conversa com ele a respeito de sua bagunça,
um dos traços falhos da sua personalidade é a bagunça.
Satisfeita com o vapor no banheiro, entro em baixo do jato quente e
relaxo enquanto a água bate contra minha pele. Depois que fomos até a casa
noturna e salvamos aquela mulher, as coisas se acalmaram, ao menos para
nós, infelizmente para a mulher, sua irmã estava entre os corpos enviados
para o necrotério da cidade. Eu queria poder ajudá-la de alguma forma, mas
tirando pegar quem a matou, não vejo como palavras açucaradas podem
fazer com que supere a perda de sua única parente viva.
Enquanto passei o máximo de tempo possível com ela, os meninos
estavam trabalhando e realizando investigações. Aiden e Asher tem passado
muito tempo no escritório no fim do corredor, o que eles chamam de “seu
lugar seguro”, enquanto Cash e Levi tem ido à cidade com frequência, e
verificado as obras da mansão.
A sensação que tenho é de tudo está acontecendo e, ao mesmo
tempo, nada.
Estamos em uma espécie de limbo onde os meninos trabalham
demais e tem suspeitas válidas, mas eles me mantêm em uma bolha segura,
onde sou alimentada com uma quantidade de informações suficiente para
me manter calma e controlada. Como nada tem acontecido e estamos quase
no natal, ponderei ir até a cidade e fazer algumas compras, quero fazer um
jantar especial para nós, e comprar presentes.
Penso em como posso convencê-los a me permitir sair sem sua
companhia, quando a porta do box se abre e um deles entra. Quando uma
mão desliza pela minha cintura e sou pressionada contra um corpo duro,
sinto meu interior se derreter com um simples toque. Não preciso me virar
para saber quem está me tocando, Levi sempre tem sua maneira de me ter
exatamente onde ele quer e do jeito que quer, em vez de pedir e mandar em
mim como Aiden faz, ele simplesmente me move, como se eu fosse uma
boneca. Sempre me sinto mais delicada quando estou em seus braços,
ansiosa para saber o que ele fará comigo a seguir, e como me dará prazer,
em busca do seu próprio.
— Bom dia. — Murmura, beijando meu pescoço.
— Bom dia. — Respondo, em um tom de voz baixo.
— Dormiu bem? — Ele pergunta.
— Sim, teria dormido melhor se não fosse por vocês não estarem na
cama comigo. — Me viro para estudar seu rosto.
— Estamos tentando resolver tudo o mais rápido que conseguimos.
— Diz. — Quanto mais tempo passa, maior a sensação de impotência.
Não falo, conversei com a minha mãe ontem, e eles estão se
sentindo da mesma forma. Gagneux se aliou com esse homem e os dois são
bons em seus jogos, esperando pacientemente. Essa situação me faz pensar
que esse é um jogo que eles gostam de jogar, e acabam ganhando pela
paciência, esperando que seus inimigos cometam um erro.
— Não pense sobre isso. — Aconselho. — Ficar tenso dessa forma
não vai nos ajudar.
Sinto sua ereção entre nós, seu pau ansioso por uma atenção que
quero dar.
— Não ficar tenso? Parece que você gosta do meu corpo tenso. —
Ele me provoca.
— Apenas quando posso me beneficiar. — Beijo seu peito,
passando a língua em seu mamilo.
— Quero te foder aqui. — Diz, em uma voz intensa. — Você quer
ser fodida?
— Quero! — Respondo, em antecipação, mordo os lábios sabendo
o tipo de prazer que ele é capaz de me dar.
Ele começa a me beijar, sua boca devorando a minha com fome.
Me ajoelho em sua frente, Levi observa, esperando meu próximo
movimento. Nossos olhos ficam presos um no outro, lambo lentamente a
cabeça do seu pau, em seguida o coloco na boca e começo a chupar, usando
a língua, o levo até o fundo da minha garganta, o que faz gemer alto.
— Ahh… porra, que boca gostosa. — Me elogia.
Sua mão acaricia meu cabelo, com uma suavidade que logo é
substituída pela firmeza de sua mão. Me segurando com força, e guiando
meus movimentos no ritmo que ele deseja, até o fundo da minha garganta,
Levi fode a minha boca, como se sua vida dependesse disso, e estou ansiosa
para agradá-lo.
— Chupa meu pau assim, bem gostoso, como uma boa putinha. —
Diz.
Ele sabe o quanto amo quando falam sujo comigo, isso me deixa
ainda mais ligada e disposta a fazer as maiores loucuras. Tento engolir seu
pau inteiro, indo além das outras vezes, mantendo meus olhos fixos nos
seus, admirando o prazer que estou dando a meu homem. A cada elogio que
ouvia dele, tinha vontade de ir mais e mais longe, mas sou impedida quando
ele puxa meu cabelo, seu pau acertando meu rosto, de uma forma sensual.
Percebo que ele está perto de gozar, mas que não quer desperdiçar
fora da minha buceta.
— Me fode. — Peço.
— Levanta. — Ordena.
No momento que estou de pé, ele segura meu cabelo, me puxando
em sua direção e me dando um beijo duro, cheio de posse. Enquanto nos
beijamos, sinto sua mão descer entre nós, indo até a minha buceta, onde ele
acaricia meu clitóris com delicadeza, sabendo exatamente o quanto isso me
deixa mais excitada.
Nós nos beijamos, e nos tocamos por um longo tempo, até que sinto
sua mão deslizando pela minha bunda, e seu dedo pressionar na entrada do
meu anus. Não tenho nenhuma reação, já disse a eles o quanto estou ansiosa
para sentir ele e Aiden dentro de mim ao mesmo tempo.
— Por favor, Levi. — Peço, sem conseguir controlar.
— Chupar meu pau te deixa toda excitada, não é? Como uma boa
putinha, você está ansiosa para a gente foder seu rabo.
— Sim. — Admito, sentindo quando ele coloca um dedo lá e depois
outro. — Quero sentir você e Aiden dentro de mim, me deixando marcada e
me fazendo implorar por mais.
— Você me deixa louco. — Diz, antes de me fazer gritar ao sentar
no banco de mármore do chuveiro, bem em cima do seu pau.
Ele mergulha seu pau na minha buceta, suas mãos segurando o meu
quadril e guiando os meus movimentos. Minha buceta sensível da forma
como me foderam na noite passada, me fazendo gemer, ampliando meu
prazer.
Levi me fode assim por um longo tempo, até gozar dentro de mim.
Mesmo depois de ambos termos gozado, ele continua dentro de mim,
enquanto minha cabeça pende em seu pescoço, estamos respirando
ofegantes. Quando nos recuperamos, ele me ajudar a me limpar, e saímos
do chuveiro.
Voltando para o quarto, verifico Aiden que continua dormindo, sem
camisa, assisto seu peito subir e descer por um momento, antes de me
afastar e ir em direção ao closet, onde me visto com Levi. Saímos em
silêncio, encostando a porta atrás de nós, para permitir que ele descanse.
Aiden tem trabalhado muito tempo com Asher, os dois estão presos
em sua investigação secreta, que irrita um pouco Cash.
Enquanto espero a cafeteira terminar de passar o café, preparo
algumas torradas, uma omelete com queijo e corto algumas frutas. Levi está
falando no telefone, na sala, não parecendo feliz com a pessoa do outro lado
da linha. Não é até que o café da manhã está pronto, que ele desliga, se
senta ao meu lado na ilha para comer.
— Vai compartilhar a informação? — O encaro, esperando por uma
resposta.
— Nada com o que você tenha que se preocupar, apenas assuntos
da reforma da mansão. — Diz, estudo sua expressão, ele não parece estar
mentindo. — Quando comprarmos a nossa casa, não vamos fazer isso.
Faço uma careta, não gosto de reformas, e temos quartos o
suficiente aqui para não precisarmos nos mudar tão cedo. Além disso, gosto
que seus amigos estejam próximos de nós, como uma grande família
vivendo juntos, e cada um tendo seu espaço.
— Não há motivo para nos mudar daqui tão cedo. — Dou de
ombros. — Temos muito espaço por aqui.
Dou uma garfada generosa no meu ovo, só então percebo que ele
está me encarando.
— Realmente não quer uma casa maior?
— Não, gosto de viver aqui como uma grande família. — Admito.
Meu telefone começa a tocar em algum lugar na sala, olho em volta
tentando encontrá-lo, Levi percebe que não vou um esforço maior para
achar o maldito objeto, soltando um suspiro divertido, se levanta e me traz o
aparelho. Com uma rápida olhada no identificador de chamas, atendo e
espero pacientemente meus pais terminarem de conversar do outro lado da
linha.
Não tive a chance de apresentar meus pais aos gêmeos, mesmo que
por telefone, e me incomoda que Aiden esteja dormindo, não quero que ele
pense que estamos o deixando de fora desse momento, ou que estou dando
preferência um sobre o outro.
— Ela atendeu. — Meu pai diz do outro lado da linha.
— Por que ficou quieta e não disse nada? — Minha mãe briga,
como se fosse culpa minha esperar que eles terminem sua conversa.
— Não queria interrompê-los.
Levi ri da minha resposta.
— Ao que parece tem muita coisa que você não quer fazer, não é
mesmo mocinha? Ainda não aceitei essa merda que você estava
escondendo de nós.
— Desculpe, eu não queria preocupá-los.
— Somos seus pais, é nosso trabalho nos preocupar com a sua
segurança. — Meu pai diz.
— Não mais. — Levi diz em voz alta.
— Quem foi esse? — Mamãe pergunta.
O celular apita, avisando que ela quer começar uma chamada de
vídeo, aceito e abro um sorriso ao ver os dois sentados na sala perto da
lareira acesa. É uma visão com a qual cresci, vendo meus pais tão próximos
quanto duas pessoas que se amam verdadeiramente podem ser.
— Mãe, pai, eu quero que conheçam meu namorado, Levi. — Viro
o celular para ele, que acena com a mão e sorri.
— Ele é uma delícia. — Minha mãe elogia.
— É bom que mantenha minha menina em segurança, vamos
conversar melhor quando estiver cara a cara. — O aviso na voz do meu
pai faz Levi se encolher.
— Infelizmente meu outro namorado está dormindo, não quero
acordá-lo já que tem trabalhado como um louco. — Deixo a bomba cair, e
meu pai que estava tomando um gole de café cospe por todo canto.
— É bom que esse sofá não fique manchado, eu vou arrancar suas
bolas, Nathan Petrov! — Minha mãe nem mesmo parece irritada, ela sorri
como se eu tivesse dado a ela a melhor notícia de todas. — Essa é a minha
menina.
— Mãe! — Repreendo, enquanto Levi quase cai da cadeira ao meu
lado rindo.
— O que foi? Ter uma vida sexual ativa é bom para todos, ainda
mais se o outro namorado for tão gostoso quanto esse.
— Levi e Aiden são gêmeos. — Explico. — Mas vai perceber que
ambos não se parecem nenhum pouco em suas personalidades.
— Mas na aparência?
— Sim, eles são gêmeos tecnicamente idênticos.
— Espero que você e seu irmão mantenham minha menina em
segurança, não vão gostar do que acontecerá caso ela se machuque.
Meu pai continua dando seu sermão, quando o telefone é arrancado
da minha mão, me viro e vejo Aiden sem camisa, parecendo uma delícia
sonolenta, sorrir para os meus pais. O manipulador safado, está tentando
trabalhar seu charme, enquanto seu irmão continua ocupado rindo e
tomando seu café da manhã.
— Te garanto senhor que vamos cuidar dela com a nossa vida se for
preciso, meu irmão e eu estamos ansiosos para conhecê-los pessoalmente.
— Diz.
Ficamos na linha com meus pais por mais alguns minutos. Levi se
recupera e entra na conversa, não me surpreendendo quando minha mãe diz
que adorou ambos e que está ansiosa pelo próximo jantar de família, onde
ela vai poder apresentá-los para os meus tios, e se gabar para as minhas tias.
Quando encerramos a ligação, o clima está leve e descontraído.
— Pensei que fosse dormir mais. — Digo a Aiden.
— Tenho mais algumas coisas para fazer. — Responde.
— Incluindo descansar, você precisa dormir. — Levi concorda
comigo.
— Eu estava descansando, até que ouvi vocês falando ao telefone,
não queria ficar de fora da primeira vez que falamos com os nossos sogros.
Reviro os olhos, sei exatamente o que ele está tentando fazer, sendo
tirar o foco da sua falta de sono.
— Fico feliz que a gente tenha tirado a conversa com os meus pais
do caminho. — Falo depois de um minuto de silêncio.
— Isso foi divertido. — Aiden concorda, me fazendo revirar os
olhos.
— Não tenho certeza se pensarão isso quando estiverem frente a
frente com meu pai. — Respondo, me divertindo com suas reações.
A campainha toca, logo em seguida escutamos o som da tranca se
abrindo e Asher aparece, com o aspecto tão cansado quanto o de Aiden. Os
dois estão me irritando com sua teimosia e falta de cuidado. Sono é algo
importante, e se matar trabalhando, passando a noite acordado, só vai
atrapalhá-los.
— Interrompi uma manhã em família? — Pergunta, sem parecer
realmente se importar.
— Sente-se, vou te servir uma xícara de café e pegar um pouco de
comida. — Mando, apontando para a ilha, onde Aiden e Levi estão
comendo.
— Pãozinho de mel, se continuar me tratando assim vou acabar te
roubando para mim.
— Cale-se Asher. — Levi manda.
— Como anda as coisas com a mulher na sua casa? — Aiden
antecipa minha pergunta.
Asher dá de ombros.
— Normal. — Ele percebe que estamos o encarando. — O que foi?
Vai dizer que planejam me casar com ela? Todos vocês estão ficando loucos
agora que estão em um relacionamento.
Sorrio colocando o prato em sua frente.
— Ela é bonita. — Aponto um fato.
Não é uma mentira que estou me tornando próxima dela, sabendo
que é uma pessoa legal, qual é o problema em tentar unir ela com Asher,
que também é um cara legal?
— Muitas mulheres são e nem por isso quero me amarrar a elas. —
Diz. — Além disso, eu já sou casado.
Sua revelação é como uma bomba, o silêncio na sala se torna
ensurdecedor, até mesmo os meus caras largam a colher em seus pratos com
baque. Não sei qual de nós parece mais chocado com isso, e também não se
o choque dos gêmeos é devido a Asher contando a alguém de fora do seu
círculo de amizade, ou se eles não sabiam.
Porém, como eles não saberiam que seu melhor amigo é casado?
— Como é? Por que nunca me disseram isso? — Pergunto,
encarando os três que como eles mesmo disseram, são amigos desde
sempre.
— Nós não sabíamos também. — Se defendem.
— É uma longa história, ainda mais considerando que eu não sei
onde ela está se escondendo.
— Por que ela está se escondendo? — Pergunto. — Você pediu o
divórcio ou algo assim?
Ele ri da minha curiosidade, ou talvez seja da lembrança de sua
esposa, dada a cara fofa que ele faz.
— Não! Minha raposinha adora fugir, ela sabe que no momento em
que eu colocar as mãos nela, não permitirei que corra. — Sua resposta
descontraída me deixa intrigada para conhecer essa mulher.
— Raposinha? — Aiden pergunta. — Chama nossa mulher de
“pãozinho de mel”, mas a sua mulher você chama de raposinha?
Asher dá de ombros, sem se preocupar em responder.
— Você é maluco. — Declara Levi, e aceno concordando.
— Eu só a sequestrei duas vezes... — Para e pensa por um
momento. — Ok, talvez um pouco mais, mas em ambas ela queria o
divórcio.
— Uma mulher inteligente. — Dizem.
— Uma mulher furiosa. — Corrige. — Cometi erros, e a
machuquei, mas eu não existo sem ela.
Tenho a sensação de que o único momento em que descobrirei o
que realmente se passou entre eles, será quando essa mulher aparecer e ela
mesma nos dizer os motivos pelos quais quer se separar de Asher. Em
defesa dela, posso entender porque correu, Asher é um homem intenso, e
por baixo dessa fachada divertida, tenho a sensação de que consegue ser
ainda pior do que Aiden, Levi, e até mesmo Lior.
— Quando vamos conhecê-lo.
Com a maneira que tudo tem se desdobrado, aposto que ele está
apenas esperando o momento certo para agir e roubar sua mulher, mais uma
vez, e desta vez, pela última vez. O que acredito que esteja o segurando,
seja a bagunça que nos cerca.
— As coisas estão complicadas por aqui, não quero arrastá-la para
esse drama, uma vez que temos nossa própria besteira para lidar. — Seu
celular apita e depois de uma olhada, ele faz uma careta. — Tenho a
sensação que estamos chegando em beco sem saída.
— Por quê? — Aiden pergunta.
— Cruzei alguns bancos de dados e descobri que muitas
frequentadoras da casa noturna do Gagneux estão em uma lista de
desaparecidas. — Responde, me surpreendendo, já que pensamos que
ninguém as procuraria. — E depois de algumas ligações, descobri que
muitas estão sendo enviadas para leilão e casas de prostituição.
— Isso complica tudo, não vamos conseguir recuperá-las. — Levi
diz.
— Essas garotas estão perdidas para nós. — Concorda.
— Sim, mas isso além de confirmar as suspeitas da Jules,
confirmam as nossas. — Aiden se levanta, andando de um lado a outro,
parecendo descontente com o que está prestes a dizer.
— Não diga isso ainda. — Levi pede. — Temos que ter provas das
nossas suspeitas antes de trazê-las à tona para todos.
— Sorte a nossa, essa noite eles vão transportar um carregamento
de garotas para fora da cidade, vamos descobrir qual é a rota usada por eles.
— Aiden encara os dois.
Me sentindo um pouco de fora do assunto, faço a única pergunta
que eles não responderam.
— Como vocês sabem que vai ter outro carregamento?
— Descobrimos o lugar onde ele as mantém, temos uns caras de
olho, e no momento que o carregamento sair, vamos colocar nossas mãos
nele.
Essa explicação basta para acalmar minha mente, mas não tem nenhum
efeito no meu coração.
Capítulo 21
Jules
Tenho a sensação de quanto mais a gente está ansioso para fazer
algo, mais o tempo demora a passar. Sendo a única mulher em um
apartamento cheio de homens, a tensão estava me sufocando. Os caras
correndo de um lado para outro, impacientes enquanto aguardavam o aviso
de seus “capangas”, estava me dando nos nervos. Foi quando decidi que
não era tão orgulhosa a ponto de implorar por um minuto longe de casa.
— Estou falando sério, se não me tirarem desse apartamento por um
segundo apenas, eu vou surtar. — Colo a mão cintura e estudo o rosto de
Aiden.
— Jules, não sei se é uma boa ideia.
Me jogo no sofá ao seu lado.
— Por favor, nada está acontecendo. — Lembro. — Pelo menos
não agora.
O sorriso safado que aparece seu rosto, faz meu interior se apertar
em antecipação. Tive Levi mais cedo, mas Aiden tem trabalhado tanto, que
nas poucas vezes que conseguimos um momento a sós, ele está muito
cansado e me sinto culpada por não o deixar descansar.
— Posso te dar algo para fazer. — Infelizmente, no momento em
que seu telefone apita, o sorriso é substituído por preocupação.
— Acho que fica para a próxima. — Bufo, sem paciência.
Normalmente não costumo agir como uma vadia, e duvido que eles
tenham visto esse lado meu no pouco tempo que estamos junto. Ou, talvez,
eles tenham conhecimento, já que Levi revira os olhos para o meu
comportamento e volta sua atenção para o irmão.
— O que aconteceu? — Pergunta.
— O carregamento de garotas vai sair em algumas horas, tudo está
caminhando conforme o plano.
— E por que fez essa careta então?
— Vão sair em dois comboios, e por isso teremos que nos dividir.
— Explica.
Percebo que os outros caras não perceberam sua preocupação,
quando olho para Levi, sei que ele tem a mesma preocupação que Aiden.
Vendo que Cash e Asher não entenderam o que está acontecendo, decido
explicar.
— Eles estão preocupados comigo, em me deixar sozinha. — Digo.
— Posso ir sozinho. — Aiden oferece.
— Ninguém vai sozinho! — Falo, antes que isso se torne uma
discussão. — Estou presa nesse apartamento o dia todo, tem segurança por
todo esse lugar. — Lembro.
— Já fomos atacados aqui antes. — Levi lembra a todos nós do
sequestro desagradável da minha prima.
— Gagneux não vai fazer isso. — Tento.
— Ele sabe sobre você, não vou arriscar deixá-la aqui. — Asher
continua. — Além disso, ele te viu conosco, deve ter ligado os pontos no
clube.
— Se o que vocês pensaram for verdade, e o pai do Calum estiver
envolvido em tudo isso, ele não procurará ninguém no apartamento do
filho. — Diz Cash. — Passei lá esses dias e confirmei que não havia
nenhuma escuta; por isso, está tudo tranquilo.
Entendi que as suspeitas deles é toda em relação ao pai do Calum e
não do Calum em si. Aiden me explicou outro dia, o quanto o homem se
“importa” com o filho, mesmo que estejam em lugares opostos em tudo
isso, Calum é uma espécie de posição social, por quem sua mãe era e o
nível de importância que dão aos seus ancestrais. Se me perguntar, toda a
conversa muito elitista e um pouco exagerada, nunca imaginei que
conheceria alguém considerado da realeza.
— Tudo resolvido, posso ficar lá, enquanto vocês saem. —
Concluo.
— Me sentira mais confortável se estivesse com um de nós. — Levi
tenta discutir.
— E eu me sentiria mais confortável se estivessem juntos, onde sei
que vão ter as costas um do outro, do que sentados perto de mim, sem fazer
nada e me dando nos nervos. — Tenho que me parabenizar por nem mesmo
tomar um segundo para respirar no meu discurso.
Olho o relógio e solto um suspiro aliviado ao ver que está na hora
de eles se prepararem para sair, recolhendo suas armas e seja lá o que
precisa para uma emboscada e possível assassinato. Asher olha na mesma
direção e amaldiçoa baixinho ao perceber a hora, novamente, eles começam
a discutir as coisas, enquanto isso vou para o quarto, pego o IPad de um dos
meninos, se vou ficar no apartamento de um estranho, preciso de uma
distração.
Vou ao banheiro escovar meus dentes novamente, quando Aiden
entra, parando atrás de mim, ele permanece em silêncio, me deixando
nervosa com sua ação. Termino de escovar os dentes, guardo a escova e me
viro para encará-lo, cruzo os braços e aguardo que ele diga algo.
— Não estou feliz com o que está acontecendo. — Finalmente fala.
— As coisas precisam ser assim, ou acha que vou estar bem
sabendo que um dos homens que amo está sozinho lá fora? Pensa que isso
não é complicado para mim? — Estou frustrada com essa situação e lutando
para que ambos não percebam o quanto isso me afeta. — Eu ficaria aliviada
em ter um de vocês comigo, mas uma parte de mim morreria se eu soubesse
que o outro está lá fora correndo perigo.
— Jules…
— Por isso preciso que ambos estejam juntos, se protejam e cuidem
um do outro por mim! Vocês são parte um do outro, e eu não posso viver
sem vocês!
Não pensei que confessaria meu amor a eles em momento como
esse. Nos últimos tempos temos trocado tantas palavras de carinho, que não
pensei ser necessário abrir meu coração dessa forma. Aiden permanece em
silêncio por um longo instante, me deixando ainda mais nervosa se é que
isso é possível.
— Eu não sabia que se sentia assim. — Admite.
Bufo e o empurro para longe, indo em direção ao quarto.
Homens são tão estúpidos!
O que eles pensaram que aconteceria? Que um deles estaria
correndo risco de vida e eu ficaria tranquila, é porque estou sentada na
porra do sofá de conchinha com o outro? Jamais me perdoaria se Levi ou
Aiden se machucassem por estarem longe um do outro. Gagneux não é um
homem confiável, e o simples fato de ser amigo do meu perseguidor, já é o
suficiente para me dizer que não tem escrúpulos.
Aiden me segue em direção ao quarto, permanecendo em silêncio.
— Não sou a melhor em expor os meus sentimentos, mas vocês
deveriam saber os meus motivos! — Rebato.
Não acredito que estamos tendo uma briga, justo no dia em que eles
vão arriscar suas bundas teimosas para descobrir quem está traficando
mulheres. Eu poderia surtar nesse momento, na verdade, acredito que seja
exatamente isso o que está acontecendo.
Pela primeira vez entendo como as mulheres da família se sentem
quando meus tios e pais entram em problemas, e também entendo o motivo
que as leva a se intrometer nessas situações. Mas olhando para Aiden e
Levi, não os vejo se dando bem comigo envolvida diretamente, e enquanto
eu puder evitar desviar sua atenção, é exatamente isso que farei.
Parada em frente a cama, organizando os itens que levarei, sinto as
mãos de Aiden deslizando pelas minhas costas, em direção a minha barriga,
parando em baixo dos meus seios. Prendo a respiração, antecipando o que
ele irá fazer comigo.
— Devo lembrá-la que Levi e eu não somos leitores de mente? —
Murmura, dando uma mordida no meu pescoço. — Embora nós dois
saibamos o que seu corpo quer, não temos como saber o que se passa em
sua mente e coração.
Sua mão desliza pela minha barriga, prendo a respiração, enquanto
ele beija meu pescoço, sua mão entra em minha calcinha, ele começa a
acariciar minha buceta, seus dedos dividindo os lábios dela, com calma,
acaricia meu clitóris percorrendo seus dedos até a entrada da minha buceta.
É uma sensação indescritível, sentir seu corpo pressionado no meu, sentir
sua ereção contra as minhas costas, enquanto ele me tortura com prazer.
Gemo, sentindo seus dedos me penetrando.
— Me foda. — Peço. — Preciso sentir você dentro de mim.
— Pode deixar, pêssego, mas antes quero um gosto da minha
buceta.
— Sua buceta? — Pergunto divertida.
Seus dedos aumentam a velocidade, me deixando na borda antes
que ele pare.
— Tudo em você nos pertence! — Diz, em um tom sem paciência.
Faço movimentos com o quadril, pressionando minha buceta em
sua mão, necessitando que ele volte a se mexer. Aiden me joga na cama, me
dando um tapa na bunda, ele gira meu corpo, e puxa minha calça, abro
minhas pernas, sem vergonha de estar tão exposta a ele, como ele disse,
tudo em mim pertence a eles.
Pairando em cima de mim, ele me dá um longo beijo de língua, em
seguida deixa uma trilha de beijos pelo meu corpo. Gemo e acaricio sua
cabeça, quando sinto sua língua no meu mamilo, e em seguida uma
mordida, e continua a descer pelo meu corpo.
Minha buceta está molhada, o escuto tomar uma respiração
profunda, e quando penso que finalmente irá me chupar, ele beija o interior
da minha coxa, deixando um chupão no lugar. Terei tempo para ficar
irritada mais tarde, no momento, só quero aproveitar seus toques e caricias.
Sinto sua respiração quente contra minha buceta, solto um gemido, meu
corpo se arrepia.
— Porra, você não sabe o quanto amo a vista da sua buceta. — Diz,
em seguida cinto sua língua mergulhar em mim.
Aiden me chupa como se eu tivesse dando a ele o último copo de
água no deserto, e sua ânsia em me provar e dar prazer, me faz gemer como
uma lunática. Nem mesmo me importo que não estejamos sozinhos em
casa. Começo a mexer meu quadril, mas ele me segura, impedindo que eu
continue a me mexer, e continua a chupar, tenho certeza que meus gemidos
estão ficando mais e mais alto e que ele está amando isso. Que todos saibam
que ele faz isso comigo, que meu corpo pertence a eles.
Não tenho certeza do tempo que permanecemos assim, Aiden só me
deixa ir quando meu corpo está tremendo do orgasmo.
— Está satisfeita? — Me pergunta com um sorriso safado.
— Quero que você me foda. — Admito.
Minhas palavras têm o efeito desejado nele, nós começamos a nos
pegar mais intensamente, ele se deita na cama, e me manda montar nele.
Como uma boa garota, obedeço, amando quando nós dois gememos em
uníssono quando seu pau está todo dentro da minha buceta.
— Isso, senta com força. — Manda.
Trocamos mais algumas palavras, e enquanto o ouvir falar
sacanagem me tornava mais e mais excitada.
— Quero que você foda minha bunda. — Admito.
Desde que começamos o nosso relacionamento, tanto ele quanto
Levi vão com paciência, querendo me deixar pronta para ter os dois dentro
de mim, e sinto que se eu não começar a pedir isso agora, eles vão continuar
adiando por medo. Também sei que eles têm algum negócio sobre quem vai
me foder primeiro onde, mas já passamos desse ponto, e eu simplesmente
não posso esperar mais, a próxima vez que estiver com ambos, quero os
dois dentro de mim.
— Jules…
— Por favor, me foda. — Imploro, soltando um gemido baixo que
sei que vai convencê-lo a me dar o que quero.
Saindo de dentro de mim, ele dá um tapa na minha bunda.
— Fica de quatro!
Obedeço, empinando minha bunda para ele.
Ajoelhado atrás de mim, não consigo conter o gemido que me
escapa quando ele corre sua língua da minha buceta até o meu cu. Não me
sinto envergonhada ou tento fugir, como eu disse, já passamos do ponto
onde me sentiria constrangida por algo que fazemos na cama.
Aiden se levanta, ele mergulha seu pau na minha buceta enquanto
fode minha bunda com os dedos. A cada estocada eu gemia e pedia por
mais, ele batia na minha bunda, com força intercalando as batidas com
carícias, até que o sinto sair da minha buceta e seu pau pressionar minha
bunda.
No começo e desconfortável, e ele vai com calma, dando tempo
para me adaptar, e quando finalmente o sinto completamente em mim, solto
a respiração aliviada. Sei que ele está esperando que eu diga algo antes de
voltar a se mexer.
— Pode se mover. — Falo.
Aiden vai de vagar, como se estivéssemos fazendo amor
lentamente, deixando de lado o desejo animal que sempre nos domina na
cama. Quando gozamos, ele sai de mim, nos rola para o lado e me puxa
contra seu peito.
— Sei o que você está tentando fazer. — Murmura.
— Foder com um dos meus homens, não é um segredo. — Dou um
beijo em seu peito e me afasto. — Agora, por mais que eu queira passar o
dia na cama, sei que precisam sair.
Levi aparece na porta momentos depois.
— Quando voltarmos, vamos conversar. — Diz, me olhando de um
jeito carnal.
Dou um beijo em sua boca e vou para o banheiro me limpar.
— Estou à disposição de vocês para qualquer conversa. —
Respondo provocantemente.
Já vestida, eles recolhem as minhas coisas, enquanto me arrumo. Os
dois me acompanham até o apartamento de Calum, e depois de mais um
beijo em cada um, e de ambos me prometerem que tomarão cuidado, entro e
fecho a porta atrás de mim, rezando para que nada de ruim aconteça com
eles.
Capítulo 22
Jules
Por mais preocupada que esteja com os meninos, no momento em
que deito no sofá do Calum, e me aconchego na manta quente, assistindo
Sobrenatural, não levo muito tempo para pegar no sono.
Acordo meio desorientada com a sala sendo iluminada apenas pelo
brilho da TV, me sento esfregando os olhos, é quando escuto vozes no
corredor. Desligo a TV querendo ouvir melhor o que estão conversando.
Penso que pode ser um dos caras, até perceber que é uma voz mais velha.
— Meu filho não sabe de nada, do contrário não estaríamos tendo
essa conversa. — Diz uma das vozes.
— Pereço me importar com o seu filho?
Um frio sobe pela minha espinha ao reconhecer uma das vozes, não
precisa ser um gênio para saber que é o pai do Calum, enquanto a outra,
pertence ao meu pior pesadelo. O que ambos estão fazendo aqui?
— Veja seu tom de voz. — O pai do Calum diz, em seguida ouço
ele digitando a senha na fechadura.
Corro a procura de um esconderijo, felizmente consigo chegar até o
quarto principal e me esconder em baixo da cama. É uma merda que ambos
estejam tão longe, para que eu possa ouvir o que estão dizendo, e pior
ainda, quando percebo que deixei meu celular na sala.
Eles levam mais um tempo longe, até que a porta do quarto se abre
e os dois entram.
— Não sei porque se orgulha tanto do seu filho, se ele foi tão
tapado em acreditar que você está do lado deles. — O homem ri, ainda em
pé perto da porta. — E para piorar, se acredita que ele esconderia algo aqui.
— Calum é o meu único filho, preciso manter a dignidade ao menos
e acreditar que é esperto.
Fico feliz que Calum não seja como seu pai e não faça parte dessa
merda, e, ao mesmo tempo, me sinto péssima por ele ter um pai lixo como
esse.
— Tão esperto que deveria cuidar da própria vida em vez de se
meter nos nossos negócios. — Diz. — Gagneux me disse que os amigos
dele fizeram uma visita.
— Parece que agora que eles estão relacionados diretamente com os
Petrov, não temos muita escolha além de ficar quieto e agir com calma.
— Foda-se, agir com calma! Soube que os Petrov estão atrás de
mim. — Fala o homem.
— O que eles podem querer com você?
O riso do outro homem me causa arrepios.
Juro, que se não fosse por eu estar com frio na barriga e tremendo
com medo de ser pega por eles, estaria surtando com seu riso macabro. Esse
homem não é ninguém que sente piedade ou empatia por outras pessoas.
— Isso é o que estou tentando descobrir. — Diz.
Ele não sabe quem eu sou!
— Pensou em algo?
— Sou novo na cidade, então tive o prazer de me apresentar. —
Responde. — E além da minha “fama” discreta, me mantive quieto.
— Tem que haver algo que não pensou ainda, não queremos os
Petrov metidos nos nossos negócios.
— É tarde demais para isso, se tem uma aqui, provavelmente eles
estão atentos a tudo. Duvido que Dimitri Petrov irá querer sua filha em um
lugar perigoso.
— Mesmo que eles descubram tudo, Gagneux é aquele que está na
linha de frente e quem levará toda a culpa, as garotas são frequentadoras do
seu negócio. — O pai do Calum diz, parecendo animado com a ideia de
Gagneux se foder. — Além disso, sou apenas aquele que cuida do
transporte, posso dizer que não tenho ideia do que ele transporta.
— Acha que eles acreditarão nisso? O teatro de bom moço só cola
uma vez, dirão ser sua obrigação saber o que está acontecendo.
Mais um momento de silêncio, e quando penso que o pai do Calum
ficará finalmente apavorado com a ideia de perder a confiança dos meninos,
ele me surpreende rindo.
— Meu filho vai ficar do meu lado, afinal, não os trai no passado.
— Diz.
— E quando ele descobrir que você também abusou da priminha do
Lior e que a criança que ela estava esperando também pode ser sua?
Eu não estava preparada para isso, e duvido que Lior suspeite, ou
que Calum leve numa boa quando descobrir que esse tempo todo foi
enganado por seu pai. E não faço ideia de como dizer a ele, depois que
conseguir sair daqui.
— A puta está morta, e a criança também. — Diz com segurança.
— Não me preocupo com isso há anos.
— E por falar em preocupação, onde estão todos os amigos do seu
filho? É arriscado entrar aqui.
— Meu cara estava de olho no prédio, disse que todos saíram esta
tarde.
— Aonde foram?
— Não faço ideia, tudo o que me importa é que deixaram o
caminho livre para eu entrar e pegar os documentos. — Escuto o cofre se
fechar. — Depois que a Petrov chegou, eles mudaram a segurança, mas
tenho a senha.
Parece que terei que conversar com os meninos para mudar as
senhas e criarem uma política de compartilhamento de senha do tipo “não
compartilhe a porra da senha”. Quando os dois começam a caminhar em
direção à porta, escuto o meu celular tocar na sala.
— Meu filho deve ter esquecido o telefone em casa. — Grita.
— Não acho que esse telefone pertença ao seu filho. — Meu
perseguidor diz, voltando para o quarto.
— Deve ser da hóspede deles.
O telefone para de tocar, e ambos os homens ficam em silêncio. Me
irrita não saber o que está acontecendo.
— Essa é a Petrov? — O homem pergunta.
— Sim.
O riso maníaco do meu perseguidor diz tudo, ele finalmente
entendeu o motivo da minha família estar atrás dele. E saber quem sou,
tornou tudo mais divertido, ele não tem medo, e sim está ansioso pelo que
pode conseguir.
— Parece que preciso pôr as mãos nela. — Diz animado. — Disse
que todos os homens saíram? Tenho a sensação de que não estamos
sozinhos, o sofá ainda tinha a marca de alguém sentado nele.
— Por que quer pegar a garota? Deixe-a em paz, e vamos sair
daqui!
— Jules é a mulher que matou meu garoto. — Responde. — É por
isso que os Petrov estão atrás de mim.
— Mais um motivo para esquecer essa merda e ir embora.
— Acontece que ela está por aqui, e acredito que esteja ansiosa para
abrir a boca para o seu filho e contar o que o papaizinho dele faz as
escondidas.
— Não seja louco, não há ninguém aqui.
Posso ouvir o medo na voz do pai do Calum, o que é um pouco
patético vindo de alguém que há pouco estava se gavando por ser mais
inteligente que o próprio filho, e que não está preocupado com a
possibilidade de ser pego. Mas a essa altura, desejo que o idiota escute o
velho e vá embora, assim posso correr e avisar a todos.
— Disse que todos saíram, mas a garota está hospedada com eles.
— Lembra. — Se o celular dela está aqui, então…
O babaca não termina, ele já disse uma vez que o lugar em que eu
estava no sofá estava quente, o que deve ser uma grande mentira.
— Pode sair Jules, não vamos te machucar. — O pai do Calum
grita.
Eu nem sei o nome desse babaca e já o odeio com todas as forças!
— Ou fique escondida e torne as coisas mais divertidas, não há
muitos lugares para se esconder aqui. — Ri. — E sem telefone, não vai
conseguir pedir ajuda a ninguém.
Quero morrer!
Qual é a chance de eu me esconder em um apartamento, e ser
justamente nesse lugar que os caras meus entrarem para discutir seus
negócios nefastos? Isso é muito azar para uma pessoa só, o que me faz
acreditar na maldição Petrov. Depois disso, serei totalmente “diga não ao
amor”.
Escuto quando vão de porta em porta, verificando todos os lugares
possíveis do apartamento, sabendo que é uma questão de tempo até que me
encontrem em baixo da cama. Até estou surpresa por não começarem por
aqui.
Infelizmente, não tenho tempo para debater comigo mesma o nível
de burrice deles, estou distraída quando uma mão segura meu tornozelo
com força e sou arrastada para fora do meu esconderijo. Grito de surpresa,
mas sou silenciada quando o homem dos meus pesadelos, sobe em cima de
mim e segura meu pescoço com força.
— Você não sabe quanto tempo esperei por isso. — Ele diz.
— Não a mate aqui. — O velho pede. — Faça onde ninguém
desconfie.
O maluco ri.
— Não tenho planos de matá-la tão rápido, vamos nos divertir.
Essa é a última coisa que escuto antes de perder a consciência.
Capítulo 23
Jules
Acordo com a sensação de queimação na garganta, minha cabeça
dói, e não consigo abrir os olhos, há uma espécie de fita cobrindo a minha
visão, felizmente, a pessoa que fez isso não foi tão boa em seu trabalho.
Através de um espaço da fita, vejo que não estou em um lugar bem
iluminado, a única luz no ambiente vem do que acredito ser uma lâmpada
pendurada.
Estou no chão, sinto a poeira se agarrando a minha pele, minhas
mãos estão soltas, mas há algo em torno do meu pescoço, como uma
espécie de coleia presa com um cadeado grosso. Estico as mãos em busca
de uma parede para me ajudar a levantar, mas acabo me deparando com
uma grade, é quando percebo que estou presa em uma espécie de gaiola.
Todos os meus sentidos ficam em alerta!
Posso não conhecer muito bem o homem que me sequestrou, mas
tenho uma boa ideia do que ele é capaz de fazer.
Faço o meu melhor para ao menos ter uma pista de onde estou,
perco a noção do tempo, mas finalmente, há uma pista. Mesmo que
imperceptível, a luz se mexe, como se houvesse um leve movimento, que
em meu desespero, não pude perceber antes.
Estou presa em um barco.
Esse conhecimento é o suficiente para me assustar, se eles traficam
mulheres para o mundo todo, e usam os barcos para isso, posso estar em um
desses barcos, à espera do próximo destino. Sei que ainda não estamos
navegando, ou além de estar amarrada como um animal enjaulado, eu
estaria vomitando como uma louca.
O som da porta de ferro se abrindo chama minha atenção, me sento
mais próxima dos fundos da gaiola, onde sei que existe uma parede por trás,
onde fica presa a corrente em torno do meu pescoço.
Minha ação faz o homem rir.
— Não sabe como é satisfatório te ver nessa situação. — Declara.
Tenho me familiarizado com o som de sua voz, e eu odeio isso.
— Posso imaginar. — Respondo, minha garganta queimando
quando falo. Rezo para estar por perto quando colocarem as mãos nesse
babaca e o matarem. — Então, como vai ser? Vai me manter aqui, até que
esteja cansado? Vai pedir resgate para a minha família, sabe que eles não
vão levar tempo para colocar as mãos em você.
— Sua família está ocupada buscando por alguém que não existe,
talvez estejam ligados ao nome falso que usei no hospital, ou com a qual
uso para negócios.
Isso explica porque ninguém foi capaz de localizá-lo antes.
— Então devo te chamar por qual nome?
— Já que passamos da brincadeira de gato e rato, te darei meu
nome verdadeiro. — Diz, se aproximando, ele se abaixa em frente a gaiola.
— Me chamo Akantha.
— Devo assumir que sua mãe estava sendo irônica, ou que ela usou
um outro significado fora do dicionário para esse nome? — Pergunto e ele
ri.
— Acredito que ela pensou em Akantha como um espinho.
Bufo, me perguntando se ela não tinha um dicionário com nomes de
demônio no lugar, mais prático e mais realista, tendo em vista que seu filho
pode ser o anticristo.
— Tenho um nome, mas não um rosto. — Minto.
— Engraçado, posso apostar que se lembra de como me pareço.
— Na verdade, não.
Eu devia jogar pelo seguro, fingir que estou me dando bem com ele
e lutar para escapar daqui, mas não consigo esquecer todas as partes de
corpo que ele mandou para o meu apartamento, ou do que fez com aquela
mulher e a menina.
Infelizmente é tarde quando percebo que me controlar é uma
questão de sobrevivência. De alguma forma, ele agarra a corrente no meu
pescoço e começa a me enforcar mais uma vez, luto, e me agarro a grade,
mas não adianta. Sei que preciso me manter acordada, ou posso dormir e
despertar em outro lugar, onde não terei chance nenhuma de lutar e
conseguir escapar.
— Seja uma boa menina. — É a última coisa que ouço antes de
apagar.
***
Levi
Sinto que há algo de errado, quando uma movimentação estranha
começa em um dos lugares de Gagneux, um carro preto chega, abaixa o
vidro, mas não o suficiente para que a gente identifique o motorista, ele
conversa por alguns segundos com o segurança na porta, e em seguida vai
embora.
Tudo em mim grita que há algo errado nessa situação, meus
instintos me mandando seguir o veículo.
— Devemos seguir aquele carro. — Falo para Asher.
No momento em que saímos do apartamento, decidimos que era
melhor Aiden ir com Cash e eu com Asher, uma boa divisão para evitar
distrações desnecessárias. Minha cabeça, assim como a do meu irmão
estariam na Jules, e desta forma, correria o risco de um de nós cometer um
erro.
— O carregamento ainda não saiu. — Diz, não parecendo muito
seguro de que devemos permanecer aqui.
— Eu sei disso, mas tenho a sensação de que temos um peixe maior
para pegar no momento. — Falo.
— A única pessoa que podemos chamar é justamente aquela que
estamos investigando o pai. — Lembra.
Foda-se, Calum pode muito bem vir aqui e ficar de olho no que está
acontecendo, tenho certeza que não é um grande trabalho para ele.
— Ligue para ele, e diga para ficar aqui.
Asher faz o que foi pedido, em seguida me mostra a resposta de
Calum.
— Eu deveria saber que ele nos seguiria. — Digo.
O babaca já está aqui.
Ligo o carro, e arranco na mesma direção que o veículo foi.
Percebendo um carro velho estacionado do lado de fora do estacionamento
de Gagneux, e dentro dele, Calum está sentado, com uma toca e um
cachecol que cobre seu pescoço e boa parte do rosto. Não demonstro que o
reconheci para o caso de alguém perceber nossa interação.
O telefone toca e Asher o conecta com o alto-falante do carro.
— Pensei que me deixariam de fora. — Seu tom é monótono.
— Deixamos você se preocupar com o que tinha que fazer. —
Respondo.
— Ainda assim, poderiam ter me dito e contado comigo nessa. —
Responde. — O carro preto que estão seguindo virou à esquerda na rua,
tenho a sensação de que estão indo para fora da cidade, na direção do
porto.
— Se eles estão traficando garotas como acreditamos, faz sentido
que tenha ido naquela direção. — Asher conclui.
— Talvez estejam indo verificar as condições de transporte da
carga?
Não credito que seja isso, mesmo assim me mantenho em silêncio e
espero a ligação ser encerrada.
De longe avisto o carro, e o sigo em uma distância segura.
O porto fora da cidade não é muito grande, e a maior parte dos
barcos lá, são velhos ou estão abandonados. Eles pertencem a pescadores
locais, o que me causa um certo nível de estranhamento, a maior parte dos
frequentadores desse local está interessado em alimentar suas famílias de
forma limpa.
— Isso é estranho. — Asher murmura.
Não respondo.
A pessoa que dirigia o carro desce, e dá a volta, abre a porta do
fundo, e finalmente temos uma boa visão de quem estava no banco do
passageiro. O homem que tem perseguido Jules esse tempo todo desce, ele
está carregando uma sacola, ambos caminham juntos em direção ao que
aparenta ser um barco abandonado.
— Não posso acreditar que esse verme está escondido aqui. —
Digo, ansioso para ir até lá e colocar minhas mãos nele.
— Devemos informar os outros? — Asher pergunta.
Olho para o relógio no meu pulso, e vejo que ainda falta uma hora
antes do sol nascer, e que os outros provavelmente estão em alerta com o
carregamento. Se tivessem alguma novidade, já saberíamos.
— Vamos esperar mais um tempo, não quero desviar sua atenção, e
tenho certeza que Aiden estaria aqui assim que soubesse disso. — Aponto
para o barco, onde o homem entrou.
Permanecemos no mesmo lugar por um longo tempo, não havendo
nenhum sinal do homem sair. O telefone toca, interrompendo o som
incomodo do jogo que Asher estava se divertindo.
— Sim? — Pergunto.
— O pai do Calum está envolvido em tudo. — Aiden diz. — O
carregamento acabou de passar por seus guardas, não acredito que
deixamos isso passar.
Por um momento tenho uma pequena centelha de desconfiança para
com Calum, me pergunto como ele pode deixar os deslizes de seu pai
passar, mas logo deixo de lado. Confio no meu melhor amigo, se soubesse
que seu pai estava tramando pelas nossas costas, jamais o teria deixado
vivo.
— Espere eles saírem e resgatem as garotas, mantenha a polícia
fora disso. — Aviso. — Não queremos mais atenção a essa situação.
— Cash já está nisso.
— Cash?
— Sim, estou voltando para casa ver como Jules está. — Explica.
— Temos mais seguranças ajudando nessa operação agora.
— Bom, não precisamos de ninguém ferido.
— E vocês, tiveram algum sucesso?
— Calum assumiu a vigia, estamos de tocaia em outro lugar. —
Deixo de fora a informação de quem estamos vigiando propositalmente. —
Fique de olho em Jules.
— Pode deixar.
Desligo o telefone, e noto que Asher está rindo da minha cara.
— O que foi?
— É divertido ver todos vocês, desse jeito, apaixonado.
Isso me lembra da bomba envolvendo relacionamentos que esse
idiota jogou em nós.
— Ao contrário de você que escondeu que é casado? — Encaro. —
Ainda não posso acreditar que fez isso.
Ele dá de ombros.
— É complicado explicar tudo isso. — Admite. — As coisas
começaram...
O telefone toca novamente, com uma chamada do meu irmão.
— Jules desapareceu!
— Como assim, ela desapareceu? — Pergunto, sem conseguir
acreditar.
— Cheguei no apartamento do Calum, e não a encontrei em lugar
algum, seu celular está no chão do quarto, fora isso, não há qualquer sinal
de que ela tenha estado aqui.
— Acredita que ela pode estar lá? — Asher pergunta, apontando
para o barco.
— Lá aonde? Onde vocês estão? — Pergunta. — Me digam para
que eu possa ir até aí.
— Estamos no porto, seguimos um carro que passou no lugar onde
estávamos, e descobrimos que é o perseguidor de Jules. — Digo. — Ele
acabou de entrar em um barco velho.
— Porra! Eu deveria saber que isso ia acontecer. — Escuto a porta
do carro bater e em seguida ele acelerar.
— Dirija com cuidado! Não preciso me preocupar com a sua bunda,
enquanto tento descobrir se Jules está aqui ou não.
— Você não entende, descobri o motivo dos Petrov não
conseguirem o encontrar, ele usa um nome falso em seus negócios, seu
nome verdadeiro é Akantha Kowal, ele tem uma longa lista de crimes de
quando era um adolescente e a maior parte deles envolve agressão sexual.
— Explica. — Fui capaz de conseguir seus registros hoje, e não quis
compartilhar até que tivéssemos resolvido essa situação com Gagneux.
— Dirija com cuidado. — Digo e desligo o telefone.
Jogo o telefone na direção de Asher, e desço do carro, o medo que
estou sentindo pelo que pode acontecer com Jules, me deixando em alerta.
— Não seja imprudente. — Asher pede.
— Imprudente? Minha mulher está presa com aquele psicopata. —
Rosno. — O que faria se fosse a sua esposa lá?
— Tem razão, vamos lá.
Capítulo 24
Jules
Acordo novamente, mas dessa vez algo está diferente, a corda no
meu pescoço se foi, e quando estico a perna, percebo que a gaiola está
aberta. Tirando a fita cobrindo meu rosto, não há nada que me impeça de
sair daqui, exceto o medo de que seja uma armadilha. Akantha não é
estúpido para cometer um erro besta como esse.
A grande questão é, estou desesperada o suficiente para sair
correndo daqui?
Luto com a fita cobrindo os meus olhos, mas não tenho sucesso em
me livrar dela, sou acostumada a não ouvir, não conseguir enxergar é algo
que além de não ser familiarizada, torna tudo muito pior. No entanto,
Akantha é um homem cruel, e saber de tudo o que é capaz, é motivo o
suficiente para que eu decida arriscar cair na água.
Com calma, engatinho para fora da gaiola, tateando o chão até
encontrar uma parede, o metal frio contra a palma da minha mão me dá
arrepios. Me apoio nela e fico em pé, então começo minha busca para sair
desse lugar, sem sucesso, me lembro que esse pode ser um barco pequeno e
que o barulho do ferrolho pode ter vindo de uma claraboia usada para
descer até onde estou.
Mudando meu objetivo, mudo minha busca, até que bato com a
cabeça em algo, e depois de um segundo, confirmo que é uma escada. Tomo
uma longa respiração, antes de começar a subida. É difícil se concentrar em
um momento como esse, com minha vista limitada a um borrão, que não me
ajuda em nada devido à baixa iluminação, o único sentido em que posso
confiar é na minha audição, a qual sabemos que não é meu ponto forte.
Finalmente no topo, volto a engatinhar, em busca de um lugar
seguro para me esconder.
***
Aiden
No momento que meu celular apitou, com o toque programado para
o investigador, eu sabia que as coisas ficariam mais tensas.
— O que é isso? — Cash pergunta.
Mostro a tela para ele, onde há uma mensagem me mandando
verificar meu e-mail, finalmente temos algumas informações a respeito do
perseguidor de Jules, as câmeras do hospital não foram muito úteis, e
conforme os Petrov não conseguiam descobrir nada, pedi ao Levi que me
ajudasse e enviasse o que eles tinham.
Não era muito!
Leio tudo o que conseguiram descobrir e uma sensação ruim se
aloja no meu estômago. Reconheço esse sentimento, como sendo a
necessidade de estar com Jules, tê-la sob minha vista e garantir que esteja
segura ao meu lado.
— Vá para casa, eu cuido dessa parte. — Diz, depois de ler o
relatório.
— Me preocupa saber como Calum vai lidar com essa situação. —
Admito.
— Não acho que vá levar numa boa, ele sempre acreditou no pai.
— Responde. — E saber que o velho está fazendo isso? Vai foder com ele.
Me irrita que não conseguiremos recuperar as outras mulheres
traficadas, mas conseguimos descobrir que boa parte dos mortos
encontrados, trabalhavam para Gagneux e seus comparsas, e que em algum
momento falharam, ou perderam sua utilidade.
— Gagneux está com os dias contados. — Declaro. — Depois
disso, não vou ter piedade com aquele desgraçado.
— E os outros?
— Akantha, é um problema meu e do Levi. — Digo, não vou
permitir que os Petrov se metam nisso, Jules pode ser sua filha, mas é nossa
mulher. — Quanto ao pai do Calum, esse é um problema dele, não vou me
meter a não ser que ele queira.
Ao som de pneus, vejo que alguns dos nossos seguranças já estão se
aproximando, agora que meu amigo não vai ficar sozinho, posso ir para
casa e abraçar minha garota. Mantê-la segura até que o pai do Calum ou
Gagneux abram a boca, e nos digam onde Akantha está escondido.
Infelizmente, meus planos vão por água a baixo rapidamente.
Entro no apartamento de Calum, e não encontro sinal da presença
de Jules, a única indicação de sua presença, é o seu celular caído no chão do
quarto. Odeio essa sensação de impotência que me toma. No fundo, eu
sabia que um de nós deveria ficar com ela, devíamos ter confiado em
nossos homens e enviado eles em vez de ido pessoalmente.
Meu primeiro pensamento foi procurar por ela, na esperança de que
a encontraria em algum lugar do prédio, já estava começando a ficar
desesperado, quando decidi ligar para o meu irmão. No momento que Levi
me disse que tinha uma ideia de onde Jules poderia estar, não pensei duas
vezes.
***
Levi
Sei que Aiden gostaria que eu esperasse por ele, que Jules é o que
temos de mais precioso em nossa vida, e é justamente por esse motivo que
deixo de lado qualquer preocupação com meu irmão e suas vontades, e vou
em direção ao barco com Asher me seguindo.
O barco é velho, e a plataforma de madeira que leva até ele, range
conforme pisamos nela, mas não acredito que as pessoas dentro do barco
estejam prestando atenção, muito menos que estejam esperando visita,
sabendo o quão bem tem se escondido de nós.
— Onde você se escondeu? — O tom de voz é divertido, como se
estivesse brincando com uma criança. — Eu sabia que era uma questão de
tempo antes que tentasse algo, por que acha que deixei a gaiola aberta?
Uma sensação de alivio me invade ao saber que Jules não está a sua
mercê, ela conseguiu se esconder dele.
— Eu nunca vi ninguém se esconder de você. — Um outro homem
comenta, rindo como se estivesse gostando do que está acontecendo.
— É porque eu nunca brinquei de caçar com alguém que foi
treinado para isso, não é mesmo, Jules? Duvido que o velho Petrov tenha
deixado suas netinhas preciosas desprotegidas. — Ri.
A porta da cabine do barco está aberta, quando começo a me
aproximar dela, o grito de Jules é ouvido, quando Akantha, a encontra, o
baque do corpo batendo contra a porta, me acerta, me fazendo voltar alguns
passos atrás, bem no momento em que Jules sai correndo, sem saber aonde
está indo, uma fita cobre seus olhos.
— Jules! — Chamo, no momento em que, por sorte, ela salta do
barco e cai no deque de madeira.
— Levi, cuidado! — Asher, grita, no momento que o homem que
estava acompanhando Akantha, vem na minha direção.
Nós lutamos, Asher, vindo e arrancando o homem de mim, estamos
distraídos, contando que Akantha ainda esteja caído no barco, que não
percebemos que o desgraçado conseguiu se recuperar, ele salta do barco e
consegue agarrar Jules.
É por esse motivo que eu odeio improvisar, agir por impulso
sempre abre brechas para erros como esse. Akantha tem uma arma apontada
para a cabeça de Jules, seu braço em torno do pescoço dela, mantendo um
aperto firme em seu corpo. Aponto minha arma em sua direção, mas ele
apenas ri, sem se importar.
— Nós dois sabemos que a garota é importante para você, não vai
arriscar a segurança dela. — Akantha diz. — Abaixe a sua arma.
— Não vou fazer isso, não sabendo o tipo de pessoa que você é. —
Respondo.
Ele sorri.
— Espeto da sua parte, um docinho como esse pode ser difícil de
ignorar.
— Sabe que não vai sair daqui vivo. — Asher chama a atenção para
si.
— Isso é o que você pensa.
Pelo canto do olho vejo Aiden, sua arma apontada para a cabeça do
Akantha, que nem mesmo percebe o que está acontecendo, até que meu
irmão puxe o gatilho, acertando o bastardo na cabeça. Jules se abaixa ao
som do tiro, mas não rápido o suficiente para a impedir de ser atingida.
Corro em sua direção, assustado quando sua cabeça começa a
sangrar, mas Jules não percebe o que lhe aconteceu, seu foco está em correr.
Corro até ela e a seguro contra os meus braços, Asher vem e me ajuda a
arrancar a fita em torno dos seus olhos. Aiden chegando um momento mais
tarde, em uma corrida tão desesperada quanto a minha para ter nossa garota
em seus braços.
— Temos que te levar para o hospital. — Fala.
— Foi um tiro de raspão. — Jules nos tranquiliza.
— Ainda assim, estamos te levando para o hospital. — Aviso.
Ela revira os olhos, mas não discute com a gente.
— Vão, vou lidar com isso aqui. — Asher olha para Akantha
caindo no chão. — Os Petrov não vão ficar felizes quando descobrir que
isso foi muito rápido.
Dou de ombros.
— Não arriscaria com esse homem solto por aí. — Aiden fala.
— Jules é mais importante para nós do que uma cessão de tortura.
Pego Jules em meus braços e a levo em direção ao carro de Aiden,
deixando Asher com o outro carro. Coloco nossa garota no banco de trás e
me sento ao seu lado, sabendo que tanto meu irmão quanto eu, não vamos
deixá-la fora de nossas vistas por um longo período.
— Como isso aconteceu? — Aiden pergunta.
Nós dois estamos com essa dúvida cruel, nosso apartamento deveria
ser um lugar seguro, pensamos que lá ela estaria segura. Em vez disso,
descubro que ela não só não está lá, como está nas mãos do nosso inimigo,
a pessoa que a tem perseguido, e nós nem suspeitávamos.
— É uma longa história. — Jules responde.
— Você pode nos contar depois que um médico te checar.
— Isso é importante. — Protesta.
— Nada é mais importante que você!
Capítulo 25
Jules
O simples ato de fechar os olhos me lembra do som da voz de
Akantha e das promessas que ele fez enquanto caminhava pelo barco, rindo
no que ele considerava uma “caçada”. Por um momento, pensei que fosse
morrer, que aquele homem fosse conseguir me pegar. Quando senti suas
mãos nas minhas pernas, eu sabia que, mesmo sem ver, precisava lutar.
Foi um momento de sorte quando consegui acertar um chute em sua
cara, e sai do barco. Nem posso descrever quão aliviada estive quando ouvi
a voz de Levi e soube que ele lutaria por mim. Mesmo não estando em seus
braços, eu sabia que estava segura, que os meus homens estavam lá para me
buscar.
E agora, sentada em uma mesa de hospital, com uma enfermeira
checando minha cabeça, enquanto o médico faz algumas anotações no
prontuário, encaro Aiden e Levi, os dois estão me rondando e me dando nos
nervos. Tenho certeza que nem mesmo minha mãe conseguiria me tirar do
sério tão rapidamente.
— Como eu disse, ferimentos na cabeça apenas sangram mais, não
há nada de grave comigo. — Finalmente falo, depois que o médico me
libera, mesmo sob protesto de ambos.
— Ainda não confio nele. — Levi reclama, me fazendo revirar os
olhos.
— Tanto quanto não gosto daquele idiota, estou feliz por leva-la
para casa. — Aiden me aperta contra si.
Outro ponto em tudo isso, por mais que eu queira tranquilizar Levi,
sou grata por Aiden estar me ajudando, preciso poupar minha voz para a
conversa que precisaremos ter. Tenho certeza que será algo desconfortável
para eles, mas será ainda pior para Calum, que terá que lidar com a quebra
da confiança de seu pai, e a descoberta de que mantiveram um estuprador
sob seu teto.
Em casa, Levi me leva direto para a cama, e me coloca lá. Aiden
me entrega o controle da TV, uma garrafa de água, e se deita ao meu lado,
me puxando para mais perto dele, com cuidado para não me machucar.
Percebo a luta nos olhos de Levi, por um momento, quando Akantha puxou
o gatilho, bem diante dos seus olhos, acho que pode tê-lo afetado mais do
que ao Aiden, que estava atrás e não viu a cena toda.
— O que está te preocupando? — Pergunto a ele.
— Ainda não decidi como farei para passar mesmo que um segundo
longe de você depois do que aconteceu. — Ele responde.
— Levi, estou segura graças a vocês. — Lembro. — Por favor, não
deixe que o aquele idiota fez te afete.
— Não sei se você sabe o quanto esteve perto de se machucar. —
Responde ele.
Ele se culpa pelo que aconteceu comigo, o tiro de raspão na cabeça,
o sequestro e toda essa merda que aconteceu essa noite.
— Eu estaria pior sem você. — Digo. — Ele era louco, por isso não
se incomode em ficar se culpando. — Estendo minha mão para ele. — Por
favor, não fique assim.
Precisando me sentir limpa, me afasto de Aiden, e saio da cama.
Ignoro ambos, enquanto caminho em direção ao chuveiro e ligo a água
quente, tiro as poucas roupas que estavam sujas, e as jogo no lixo, não
querendo a lembrança do que aconteceu comigo enquanto as usava.
Aiden e Levi estão na porta, observando cada movimento meu.
Só quando entro em baixo da água, é que ambos começam a tirar
suas roupas e vem atrás de mim. Eles passam as mãos pelo meu corpo, me
acariciando, enquanto limpam a sujeira impregnada a minha pele. Longe de
ser um toque sexual, ainda é algo íntimo, um tipo de cuidado que apenas o
amor é capaz de proporcionar.
Apenas quando ambos se dão por satisfeitos e me consideram
limpa, Aiden desliga o chuveiro, enquanto Levi sai, veste um roupão, e
pega uma toalha para me secar. Saindo do banheiro, noto que enquanto eu
preparava o banho, eles trocaram as roupas de cama.
Encaro ambos.
— Não discuta, vamos cuidar de você. — Aiden diz.
— Poderiam cuidar de outro jeito.
Eles bufam divertidos.
— Não até que esses hematomas saiam do seu corpo.
Reviro os olhos e subo na cama.
— Tudo bem, mas precisamos discutir algumas coisas. —
Respondo.
— Como?
— Como o fato de que o pai do Calum abusou da prima de vocês,
que ele provavelmente é o pai de um bebê que ela estava esperando, e que
ele foi a pessoa que ajudou Akantha a me sequestrar. — Resumo tudo de
uma vez.
— Puta merda! — Dizem em uníssono, pela primeira vez suas
expressões são idênticas.
— Foi isso o que pensei. — Aceno com a mão. — Agora vocês
podem parar de me irritar, e ir fazer o que realmente precisam? Em algum
momento minha família vai descobrir o que aconteceu e eles vão vir até a
cidade, e mais drama vai acontecer. — Divago. — Por isso, precisamos
passar por isso de uma vez.
Como se tivesse sido combinado, a campainha do apartamento toca,
e depois de me lançarem mais um olhar, os dois saem, e aproveitando o
silêncio, me aconchego em meio as cobertas e ligo The Walking Dead.
Pego no sono justamente quando Carol vai resgatar seus amigos do
Terminus.
***
Aiden
Levi volta do quarto, onde acabou de checar Jules, que está
roncando na nossa cama. Sei que o que aconteceu essa noite vai nos
perseguir por um longo tempo, mesmo acordado ainda posso ouvir o grito
desesperado de Jules, quando ela foi pega por Akantha.
Balançando a cabeça, volto minha atenção para Asher, que está
sentado na poltrona mexendo em seu celular, estamos esperando por Cash e
Calum, queremos todos reunidos para contar o que Jules nos disse. Lior já
está a par da situação e ficou encarregado de dizer ao Petrov que não
precisam mais procurar por ele.
— Raphael estava certo. — Asher diz.
— Sobre o que?
— Resolver tudo do jeito mais simples e rápido, sem segundas
chances, nem mesmo para fugir. — Responde. — Gosto de torturar as
pessoas, mas em alguns momentos, a satisfação momentânea soa melhor.
Devo concordar com ele.
Quando tive Akantha sob a mira da minha arma, e puxei o gatilho, a
sensação que me tomou foi de euforia e alivio. No momento que seu corpo
bateu no chão, e eu sabia que ele estava morto, eu tive a certeza de que
jamais permitiria alguém machucar Jules como aquele desgraçado tentou.
— O que mais me preocupa, é a reação dos pais dela. — Admito.
— A que? — Asher me encara, parecendo entediado.
— A nós, é mais fácil aceitar tudo por telefone, e do jeito que os
Petrov são, é uma questão de tempo até que apareçam aqui.
— Aceitar dois homens que morreriam por sua filha? Por mais que
ambos sejam feios, não acho que isso seja um grande problema. — Ri. —
Eles não dizem ou fazem coisas que não querem.
Assim eu espero.
O que me deixa aliviado nesse momento, é saber que já passamos
pelos problemas que nos envolviam de forma direta, e que os que virão,
pertencem a Calum, Cash e Asher, não exatamente nessa ordem.
***
Levi
O aperto no meu peito não vai embora, não importa quantas vezes
eu tenha a certeza de que Jules está bem, dormindo em nossa cama, em
baixo do nosso teto. Segura perto de Aiden e de mim.
Ver meu irmão conversando com Asher, como se fosse uma coisa
normal, e saber que por mais preocupado que esteja, ele está na verdade se
controlando por minha causa, é um alivio.
— Então, como vamos dizer a ele que seu pai é um desgraçado? —
Asher me encara, quando me sento ao lado do meu irmão.
Dou de ombros, sem me importar com a reação de Calum.
— Dizendo, ele não é um bebe a quem precisamos amansar as
coisas, a verdade é uma pílula difícil de ser engolida, mas é algo necessário.
Passamos mais algumas longas horas sentados conversando e
traçando o melhor plano para essa situação. Criamos cobras em nosso
quintal, e precisamos eliminá-las de uma vez por todas.
Com os bebês de Anuvia prestes a nascer, tenho certeza que Lior
não quer sua mulher e filhos metidos nessa bagunça. Por isso mando mais
algumas mensagens o tranquilizando de que cuidaremos de tudo. O que não
o agrada, ele está dividido entre ser um bom marido e pai, e um bom líder.
Lembro a ele de tudo o que sacrificou para garantir que
estivéssemos seguros, nós cuidamos dos negócios, e carregamos a culpa
dessa situação, e cabe a nós resolvermos, enquanto ele aproveita o momento
ao lado de sua esposa.
Cash é o primeiro a chegar, e percebe imediatamente a tensão na
sala.
— Jules está bem? — Pergunta.
Confirmo com a cabeça.
— Temos outro problema. — Aiden diz.
A porta do apartamento abre e Calum entra, não parecendo feliz.
— Deixe-me adivinhar, meu fodido pai é um traidor. — Não é uma
pergunta, é uma declaração.
— Jules ouviu uma conversa dele com Akantha, ele estuprou a...
Não termino de falar, Calum agarra o vaso na mesa ao lado da porta
e o atira contra a parede, suas mãos tremendo de raiva, principalmente por
saber a quem me refiro.
— Durante anos ele tem mentido para mim, anos! — Grita. —
Como pude ser tão cego?
— Não é culpa sua, ele enganou a todos. — Falo.
— É fácil enganar quem está de fora, não tanto quem está perto de
vocês todos os dias. — Responde, caminhando em direção a porta.
— Aonde você vai? — Aiden pede.
— Lidar com o meu pai, fiquem tranquilos, não vou trazer minha
bagunça até vocês. — Diz. — Esse foi meu erro antes, não vou cometer o
mesmo erro duas vezes.
— Não aja por impulso, ele sabe que Jules ouviu tudo. — Lembro.
— Fique tranquilo, não vou. — Responde. — Até lá, não deixem
que ele descubra que ela está viva. — Sai, nos deixando sozinhos.
Asher se levanta do sofá.
— Isso foi interessante, um pouco dramático, mas... — Dá de
ombros. — É do Calum que estamos falando.
Ele caminha em direção a porta.
— Aonde está indo? — Pergunto.
— Vou buscar Gagneux, também preciso me divertir um pouco. —
Diz, antes de fechar a porta atrás de si.
Me jogo no sofá ao lado do meu irmão, e encosto a cabeça e admiro
o teto por um longo momento.
— O que é essa sensação estranha no meu peito? — Pergunto em
voz alta.
— Isso é alivio, todos estamos bem. — Posso ouvir o riso em sua
voz, quando ele se levanta. — Vai ficar a noite toda aí? Nossa garota está
esperando por nós.
Acontece que Jules não estava esperando por nós, ao menos não
acordada.
A mulher tentadora estava deitada no centro da cama, com os pés
descobertos e a cabeça coberta, nos fazendo rir, enquanto a
desembaraçamos, e cada um de nós deita ao seu lado. Com ela deitada no
nosso meio, encaro meu irmão.
— Será que ela aceitaria fugir para Vegas com a gente? —
Pergunto.
— Eu aceitaria, mas meus pais te matariam. — Jules murmura. —
Ao menos precisamos de algumas semanas para planejar algo pequeno,
falarei com a minha mãe.
— Semanas não, elas têm uma semana, e nada mais. — Aiden diz.
— Vocês estão loucos! — Ela murmura, antes de voltar a dormir.
Levo um tempo para cair no sono, mesmo exausto meu cérebro
demora a desligar, mas em algum momento, pego no sono, segurando a
mulher que amo, e sabendo que está segura, que nada e nem ninguém a
machucará.
Capítulo 26
Jules
Mesmo prestes a surtar com o comportamento mandão dos gêmeos,
eu ainda me sinto nervosa quando eles não estão por perto, e foi essa razão
que decidi esperar antes de aceitar o trabalho que o hospital local me
ofereceu. Outro fator que contribuiu para a minha crise de nervos, é a
chegada dos meus pais, que se recusaram a passar mais um dia longe de
mim.
Ando de um lado ao outro na cozinha, verificando o forno, e tendo
certeza que tudo esteja pronto para quando eles chegarem. Enquanto isso,
Levi e Aiden estão sentados assistindo a um jogo na TV, ou fingindo que
não estão me observando, já que os enxotei para longe no momento em que
começaram a abrir as panelas e a se meter no meu caminho.
Faz só quatro dias desde, o que gosto de chamar de “o grande
problema”, tive alguns pesadelos, mas nada que me impeça de seguir com a
minha vida, tudo aceitável considerando o pouco tempo que passamos.
Durante esses dias, algumas coisas aconteceram, uma delas é o nascimento
dos bebês da minha prima, e o desaparecimento de Calum.
Porém, o último, tem uma grande probabilidade de estar
relacionado a sua irmã postiça, a quem se tornou muito óbvio que é alguém
que Calum ama. Mais uma vez, isso não é um problema meu, estou me
limitando a prestar atenção ao meu pequeno grupo familiar, desta forma,
estreito os olhos nos dois homens no sofá, caminhando até eles e parando
em frente a TV.
— O que vocês estão tramando? — Pergunto.
Levi sorri e me puxa para o seu colo.
— Nada. — Diz.
— Vocês não me enganam.
— Estamos apenas esperando os seus pais chegarem, embora sua
mãe tenha nos avisado que chegarão atrasados.
Respiro aliviada ao saber isso, terei tempo para a carne assar, mas
não digo isso a eles.
— E agora, o que farei até ela chegar? — Faço beicinho.
Os dois trocam olhares.
— Podemos te dar algo para passar o tempo. — O sussurro de Levi
contra minha orelha, me deixa arrepiada, e minha buceta molhada.
Ambos se convenceram de que deveríamos esperar até que o meu
emocional estivesse em ordem, antes de levar nosso relacionamento para o
próximo nível, não no sentido de casamento, e sim de foda, eles ainda não
me foderam ao mesmo tempo. O que é um grande problema para mim,
tendo em vista que é tudo o que consigo pensar.
Me afasto dele, voltando para minha posição em pé.
— Podem mesmo? Já deixaram de lado o papo furado sobre
esperar? — Cruzo os braços. — Mais um pouco e irei encontrar outras
pessoas, assim não ficam nervosos na nossa primeira vez.
A provocação atinge o alvo.
Os dois me encaram irritados, e quando Aiden larga o controle no
sofá e começa a se levantar, corro em direção ao quarto, rindo enquanto
escuto eles tropeçando na mesa de centro, na pressa para me seguir.
— Não pense que vai nos provocar e sair impune. — Levi
praticamente rosna, batendo a porta do quarto aberta.
Estou muito ocupada tirando minha roupa, para fazer qualquer outra
coisa, além de atirar um sorriso por cima do ombro, e voltar ao meu
trabalho. Só quando estou completamente nua, que me viro para os encarar.
— Quem disse que quero escapar ilesa dessa provocação? —
Rastejo em cima da cama, amando como eles me encaram. — Estou ansiosa
para o que farão comigo.
Levi é o primeiro a me atacar, me puxando para fora da cama, sua
mão desce até minha bunda, enquanto com a outra, acaricia minhas costas,
nua. Seu pau pulsando contra minha frente, duro como rocha. Aiden parado
há uns passos, assistindo tudo, com um ar de garoto mal que amo, com seu
pau duro pressionando sua calça.
Presa no momento, Levi aperta minha bunda com um pouco a mais
de pressão, me fazendo saltar surpresa. Nossos olhos se encontrando, e o
que ele viu no meu rosto, o incentiva a continuar o que está fazendo.
— Amo quando me olha assim. — Fala Levi.
Seus dedos descem todo o caminho até minha buceta, onde ele me
penetra, e começa a me foder, a vista de Aiden, que assiste a tudo com
interesse. Levi mal começou a me tocar, e sinto minha buceta encharcada de
necessidade.
— Ah… — Gemo, quando ele pressiona seu dedo contra o meu
clitóris.
Levi, parece estar dando um show para o seu irmão, que se
aproxima. Abro bem as pernas, interessada em dar uma boa vista do que
eles irão provar em alguns momentos. Sem qualquer sinal de timidez,
apenas desejo e necessidade.
Quando as mãos de Aiden me tocam, e ele começa a acariciar meus
seios, beliscar meus mamilos, me perco no momento, sem me importar com
quanto barulho estou fazendo, gemo alto. Estendendo a mão, seguro o pulso
de Levi entre as minhas pernas, enquanto ofego, revezando meu olhar entre
ambos os homens.
— Tirem as roupas. — Peço a eles, em um raro momento de
lucidez.
Aiden sorri, como se achando divertido meu pedido.
— Você não manda aqui, pêssego. — Responde, beliscando meu
mamilo, me fazendo gemer.
— Por favor, eu preciso de vocês.
Levi se afasta rapidamente, tira suas calças e camisa, ficando
gloriosamente nu. Lambo os lábios com a vista do seu pau, ansiosa para tê-
lo na minha boca, mas não querendo pedir.
— Acho que ela quer algo na boca dela. — Levi fala. — Nossa
garota gulosa, está ansiosa para ter um pau em sua boca.
— É isso mesmo, Jules? — Aiden pergunta, puxando seu pau e o
deixando perto do meu rosto.
— Sim, por favor. — Peço.
Nunca me senti como uma Deusa do sexo, não até conhecer esses
dois homens e descobri como é bom ter sexo safado com pessoas a quem se
ama. Quem diria que chupar um pau seria tão excitante, quanto esses dois
fazem parecer?
Enquanto chupo Aiden, tomando todo cuidado para levá-lo o mais
profundo na minha garganta, Levi chupa minha buceta, me deixando com
uma sobrecarga sensorial jamais vista antes. Mas o homem maldoso entre
as minhas pernas não me deixa gozar, e Aiden se afasta quando está prestes
a explodir na minha garganta.
— Vocês são maldosos. — Reclamo.
— Não seja uma pirralha reclamando só porque não te deixamos
gozar. — Levi bate na minha perna. — Quero essa buceta bem molhadinha
para eu poder molhar meu pau antes de comer esse cu.
Aiden estende a mão e toca minha buceta.
— Mais molhada que isso e teremos problema. — Fala, levando a
mão direto para a boca. — Amo o seu gosto.
Aiden desliza a mão pelo meu corpo, voltando a sua habitual
tortura, tocando minha buceta, em seguida subindo até os meus seios e
beliscando.
— Pronta para ser fodida por seus dois homens, pêssego? — Levi
pergunta, me penetrando com seu pau grande.
— Sim. — Consigo dizer.
Ele me fode por alguns momentos, afastando o cabelo do meu
rosto, e se inclinando para dar um chupão no meu pescoço.
— Fico louco quando você geme assim. — Declara, saindo de mim.
Sorrindo, puxo ele para um beijo.
— E eu quando me fodem assim. — Respondo.
Aiden ri da minha resposta, e deita ao meu lado, em seguida Levi
me movimenta e quando dou por mim, estou montando Aiden, seu pau
provocando a entrada da minha buceta, ele esfrega contra o meu clitóris, me
provocando, antes de me sentar totalmente.
Solto um gemido, minha buceta está sensível de tanto tesão.
Levi vem logo atrás, seu corpo musculoso pressionando o meu,
enquanto sinto seu pau forçando a entrada da minha bunda. Ele beija o meu
pescoço, tentando me distrair do que está acontecendo dentro de mim, com
calma, ele entra complemente na minha bunda, os dois me dão tempo para
me adaptar, antes de começar a se movimentar.
— Era isso o que você queria, pêssego? — Levi, puxa meu cabelo
para trás, me segurando contra o seu corpo.
— Sim. — Respiro ofegante.
Eu sentia seus paus se movendo em perfeita sincronia dentro de
mim, para frente e para trás em movimento ordenado e lento. Me fazendo
perguntar se eles estavam me dando tempo para me adaptar, ou
simplesmente gostando de me torturar.
Apertado, é assim que se sentia com ambos dentro de mim, e, ao
mesmo tempo, como se eu pudesse ser dividida ao meio e não me
importaria, com tamanho prazer que estava sentindo.
— Porra, Jules! Quero marcar todo o seu corpo, quero que todos
saibam a quem essa buceta pertence. — Aiden diz no meu ouvido, enquanto
sinto seu pau e de Levi dentro de mim.
Eu nunca estive tão cheia em toda a minha vida!
Eu gemi, movendo minha cintura, e eles interpretam isso como um
sinal para ir mais rápido, mais fundo, até que não aguento mais e gozo,
caindo em cima de Aiden, que passa os braços em volta de mim e continua
me fodendo em busca de seu próprio prazer. Levi segura minha bunda,
abrindo mais em seguida dá um tapa forte.
— Vou gozar, não aguento mais. — Levi diz.
— Gozem, eu quero que ambos gozem em mim. — Peço.
Minhas palavras são exatamente do que eles precisam, ambos
gozam, mas não saem de mim, seus quadris se movendo involuntariamente,
e aceito tudo o que me dão. Passamos mais um tempo assim, com eles me
fodendo e sempre que penso não conseguir gozar mais, eles me dão outro
orgasmo. Até que estamos finalmente rendidos, exaustos, e deitados na
cama, comigo entre eles, lutando por ar.
— Gostou? — Aiden quebra o silêncio.
— Nunca senti nada como isso. — Admito.
Estou tão cansada que tudo o que quero nesse momento é me
aninhar entre eles e tirar um longo cochilo, e quando acordar repetir outra
vez tudo o que acabamos de fazer aqui. Infelizmente, a campainha toca, me
lembrando que temos visitas.
— Provavelmente seus pais estão aqui. — Levi, murmura, se
inclinando e pegando a camisa do chão, e vestindo.
Meus pais estão aqui!
Me levanto, sem ter noção de como consegui fazer isso tão rápido
sem desmaiar, e corro em direção ao banheiro.
— Não posso atender meus pais cheirando a sexo! — Grito. — E
nem vocês!
— Meio tarde, Levi já está na sala. — Aiden responde, entrando no
chuveiro atrás de mim.
Desvio do seu toque, o empurrando para a parede oposta.
— Nem pense nisso.
O bastardo provocador ri, mas se mantém distante.
Termino o banho, coloco uma calça de moletom e uma camisa,
prendo o meu cabelo e saio em direção à cozinha para encontrar meus pais.
No momento em que os vejo, percebo três coisas; primeiro: não tem como
esconder o que estávamos fazendo, não com Levi todo descabelado de onde
os meus dedos estavam enquanto ele me chupava; segundo: por mais que
meus pais tenham levado numa boa eu ter um relacionamento com dois
homens, eles não estavam preparados para me ver após ser fodida por
ambos; terceiro: preciso quebrar o clima antes que eu acabe viúva sem nem
mesmo ter me casado.
— Parece que chegamos em um mal momento. — Mamãe comenta,
rindo.
Envergonhada, caminho até ela, dou um abraço e um beijo, em
seguida faço o mesmo com o meu pai.
— Preparei nossa comida. — Mudo de assunto.
— Aposto que fez mais do que fazer a comida. — Quem diria que
eu poderia considerar estrangular minha mãe.
— Mãe! — Repreendo, ao mesmo tempo que meu pai. — Abby!
— O quê? Olhe só como ele é bonito. — Aponta para Levi. — E
sendo gêmeo, não posso deixar de pensar que o outro seja igual.
— Gosto de pensar que sou mais bonito. — Aiden comenta,
entrando na cozinha.
Mamãe o avalia, então sorri.
— Sempre me perguntei qual estilo te atraia mais, vejo que tem um
gosto eclético. — Murmura para mim. — Não julgo, também não podia
escolher entre os garotos bonzinhos e os bad boy.
— Mãe!
— Tudo bem, vamos comer. — Mamãe grita animada.
— Você e Jules vão arrumando as coisas, eu quero conversar com
meus genros.
Papai diz isso já caminhando em direção à porta, os gêmeos o
seguindo sem demonstrar nenhuma reação.
— Devo me preocupar? — Encaro minha mãe.
Ela dá de ombros.
— Só se eles não forem bons o bastante para você.
Essa resposta dela não me tranquiliza, mas não há nada que eu
possa fazer nesse momento.
Capítulo 27
Aiden
Por mais que Nathan esteja interessado em conversar conosco, ele é
quem nos segue pelo prédio até um lugar longe dos ouvidos curiosos de
Jules. Na academia, paro ao lado do tatame, Levi faz o mesmo, cruzando os
braços e esperando Nathan começar a falar.
— Então? — Pergunto, ansioso para voltar para o apartamento.
— O que aconteceu com a minha filha?
Não gosto de lembrar como foi chegar no apartamento e não a
encontrar em nenhum lugar, o desespero que senti quando vi o sangue
escorrendo por seu rosto, mesmo que tenha sido de raspão. Nathan merece
saber o que aconteceu com Jules, como pai ele está preocupado com ela, no
entanto, não gosto de dar satisfação a ninguém.
— Tenho certeza que Lior te deu a versão dos fatos. — Levi
responde.
Não gosto de como estamos misturando as coisas, nossos negócios
não dizem respeito aos Petrov. Entendo que eles têm a necessidade de saber
sobre suas filhas, e que essa situação com Jules é do interesse de todos, mas
no futuro, teremos que estabelecer limites.
— Ainda assim, quero ouvir de vocês o que aconteceu. —
Responde, e pela primeira vez em muitos anos, sinto um pouco de medo. —
Como minha filha foi levada?
Vendo que Levi está lutando com seu temperamento, decido que
serei aquele que contará essa história novamente.
— Gagneux e Alfredo, o pai do Calum, tinham negócios com esse
homem, ele sempre usou nomes falsos, por isso ninguém conseguiu
descobrir sua localização antes. — Respondo. — No início suspeitamos de
Gagneux, logo em seguida descobrimos sobre a ligação com o perseguidor
e por fim, começamos a suspeitar do pai do Calum.
— E deixaram minha filha no apartamento de um traidor? —
Nathan cruza os braços, nos encarando com raiva.
— Calum não é a porra de um traidor! — Levi rosna para ele. —
Não questione as pessoas que temos perto de nós.
Nathan ri.
— Não questionar? Como minha filha foi levada?
— Alfredo trouxe aquele homem para buscar algo, eles invadiram o
apartamento, descobriram que Jules estava lá e a levaram. — Termina Levi.
— Errado! Eles não invadiram, entraram porque tinham o código da
porta, porque um de vocês foi estúpido a ponto de compartilhar a senha de
um lugar “seguro”. — Diz com raiva. — Podem dizer o que for, mas não
neguem a estupidez óbvia.
— Erramos em deixar Jules para trás, a queríamos segura, mas
Calum não é um traidor, ele mesmo está investigando Alfredo. — Digo.
— Se ele suspeita do próprio pai, por que não mudou o código da
porta?
Levi e eu nos entreolhamos.
Nathan tem um bom ponto, mas ele está de fora. É mais fácil ser
racional quando não se está no meio do furacão. Com sentimentos
envolvidos, e com pessoas rondando por todos os lados, ansiosas para foder
com a sua mente, é mais difícil se atentar a esses detalhes.
— Esquecemos disso. — Admite Levi.
O soco vem sem aviso, Nathan dá um soco em Levi, e quando
pondero ajudar meu irmão, sou atingido por um também. Tenho que admitir
que para um homem bem mais velho, esse filho da puta tem um bom soco.
— Quando a segurança da minha filha estiver envolvida, sugiro que
nunca mais “esqueçam” de nada, do contrário, posso esquecer que ela os
ama e matá-los. — Isso não é um aviso, é uma promessa. — Ninguém
encontrará seus corpos.
— Jules é nossa prioridade. — Garanto.
— Bom. — Ele anda alguns passos, mais perto de nós. — E quanto
a esse tal de Calum, devo me preocupar com ele sendo um traidor?
Nego com a cabeça.
— Calum está tão puto quanto nós com seu pai, acredite em mim,
ele não vai deixar essa merda passar. — Levi explica. — O que nos
motivou no passado, continua vivo…
Nathan o interrompe com um gesto de mão.
— Sua história trágica pouco me importa, o que realmente importa
é saber que minha filha está segura. Posso sentar naquela mesa e fingir que
não quero esganar vocês dois, porque é o que as minhas garotas querem. —
Segura meu ombro com força. — Mas não vou aceitá-los tão facilmente, se
querem ser bem recebidos, cuidem bem da minha filha.
Sem esperar por nós, ele se vira e sai, agindo como se fosse o
maldito dono do lugar. Quando a porta se fecha atrás dele, Levi começa a
rir, em seguida estende a mão para mim, com uma careta, pego minha
carteira e entrego a ele uma nota de cem.
— Eu disse que ele nos ameaçaria. — Lembra.
— Sim, eu só não esperava que o filho da puta tivesse um soco tão
forte. — Caminho para o banheiro, onde limpo o machucado, garantindo
que Jules não perceba o que aconteceu conosco.
Conhecemos a fama de Nathan Petrov, o homem ganhava dinheiro
torturando pessoas, é claro que ele nos ameaçaria, depois do que aconteceu
com sua filha, e com o quão fácil o homem que a sequestrou morreu. Nosso
plano era torturá-lo, garantir que sofresse muito antes de morrer, mas no
momento em que a vida de Jules entrou em jogo, nosso objetivo mudou.
Jules sempre será nossa prioridade!
No apartamento, Jules estreita os olhos em nós, mas não diz nada.
Caminho até ela e a puxo para os meus braços, a beijando com
força, só para provocar seu pai, que nos olha com uma careta infeliz. Sorrio
para ele, deixando claro que é uma vingança pelo soco que nos deu.
— Jules estava me contando o que aconteceu com ela, isso foi
assustador. — Abby comenta, enquanto comemos. — Ainda bem que foram
rápidos em resgatá-la.
Nathan bufa.
— Ela nem deveria estar lá, se não fosse por sua burrice.
— Pai! — Jules protesta.
— Sem essa, eles deviam ter mudado a senha.
Jules faz uma careta, ela nos disse que deveríamos ter mudado isso,
que devemos parar de compartilhar a senha do prédio com desconhecidos.
Agora que tudo se resolveu, organizemos a segurança novamente, com
maior rigor.
— Acho que eles aprenderam a lição. — Jules diz, sorrindo. —
Além disso, eu estou bem.
— Você quase tomou um tiro na cabeça. — Abby acrescenta com
uma careta infeliz.
— Pensei que falaríamos sobre coisas divertidas, não quero ficar
remoendo o que poderia ter acontecido. — Jules faz uma careta.
Abby e Nathan trocam um olhar irritado, mas acenam
positivamente com a cabeça, forçando um sorriso, eles começam a falar
sobre o irmão da Jules, e como ele está ocupado com seus negócios. A
mudança de assunto torna tudo mais leve, ao menos para Jules, Levi e eu
tentamos ignorar Nathan avaliando cada movimento nosso.
Ao final, penso que por mais que tente nos odiar, ele está gostando
de ver como tratamos sua filha.
— Sobre o casamento de vocês, acho que podemos fazer algo
grande na casa da família, é como uma tradição. — Abby oferece. — Ou na
igreja que usamos para o casamento de Charlie.
Jules faz uma careta.
— A mesma que ela fugiu? — Pergunta, recebendo um aceno de
cabeça de sua mãe. — Será que podemos fazer uma coisa pequena, apenas
nós? — Pergunta acenando entre nós cinco.
Nathan não parece surpreso com a resposta de sua filha, ele sorri
para Abby e puxa ela mais perto dele. É um gesto íntimo de duas pessoas
que se conhecem há muito tempo e que tem acesso ao corpo de seu
parceiro, Abby apenas se inclina contra o marido.
— É isso o que você quer? — Pergunta a Jules.
— Sim, não quero nada grande. — Admite. — Podemos fazer isso
aqui, e convidar os meninos.
Abby concorda.
— Acho que Anuvia estava certa, no fim das coisas nos tornamos
uma grande família. — Nathan diz.
— Apenas na forma tradicional da palavra. — Digo.
Não quero que pensem que sua influência será aceita nos nossos
negócios.
— Vocês estão extrapolando com toda essa briguinha. — Jules bate
na mesa, nos surpreendendo. — Essa situação não pode continuar.
— Jules… — Começo, mas ela me interrompe com gesto.
— Vocês vão ficar na casa do Lior ou em um hotel? — Pergunta
aos pais.
— Ficaremos em um hotel, sua mãe quer conhecer um pouco da
cidade. — Nathan explica.
— Ótimo! Irei com vocês. — Ela se levanta e marcha irritada em
direção ao quarto.
— Nem fodendo! — Levi responde, indo atrás dela.
Abby parece divertida, sem se importar com as palavras de sua
filha, ela se levanta e puxa o marido com ela.
— O que você está fazendo? — Nathan pergunta a ela.
— Deixando nossa filha resolver seus próprios problemas.
— Ela acabou de dizer que vai conosco para o hotel. — Discute.
Ela revira os olhos.
— Duvido que eles a deixem sair daqui desse jeito. — Aponta para
mim. — Além disso, precisamos conversar também, essa briguinha entre
vocês não pode continuar.
— Briguinha? Não confio neles com nossa filha!
— Nathan Petrov! Eles cometeram um erro, o mínimo que pode
fazer é uma chance a eles, ou se esqueceu de como foi conosco? — Ela
passa por ele, pegando sua bolsa e indo em direção à porta. — Avise a Jules
que amanhã tomaremos café da manhã na cidade. — Diz, quando a sigo
para fechar a porta.
— Claro! — Concordo, Nathan passa por mim, e me encara. Depois
de um aceno em sua direção, e um abraço em Abby, bato a porta e tranco.
Quando chego no quarto, há uma pilha de roupas limpas no chão,
ao lado da cama, onde Jules está deitada com Levi chupando sua buceta.
Seus gemidos ficando mais altos quando seus olhos me notam parado perto
da porta.
— Sua mãe quer te encontrar para o café da manhã na cidade. —
Digo tirando minha roupa, ansioso para me juntar a eles.
— Não fale dos meus pais enquanto seu irmão está chupando minha
buceta. — Reclama entre gemidos.
— Já que temos que conversar, e você não gosta de nos ouvir sem
dramatizar, vou ocupar sua boca enquanto falo. — Digo, subindo ao seu
lado e tirando meu pau, pressiono a ponta entre os seus lábios, os quais ela
abre e começa a me chupar. Levo um segundo para ordenar meus
pensamentos, sem me perder na sensação de seus lábios no meu pau. —
Vamos resolver essa situação desconfortável com seu pai com o tempo, mas
você não vai a lugar algum.
Ela deve estar prestes a gozar, pois Levi se afasta.
— Somos uma família, nós não fugimos uns dos outros. — Fala. —
Se temos um problema, sentamos e resolvemos, sem fuga! Está me
ouvindo, Jules?
Puxo meu pau de sua boca, para poder responder.
— Ouviu Jules? — Pergunto novamente, ela acena com a cabeça,
gemendo quando meu irmão mergulha um dedo em sua buceta. — Fale em
voz alta. — Mando.
— Sim. — Responde, com um gemido.
— Bom! — Sorrio, voltando meu pau para sua boca.
— Agora que tiramos isso do caminho, e seus pais se foram, sabe o
que acontecerá? — Meu irmão pergunta movendo sua mão entre as pernas
dela.
Jules acena, me fazendo sorrir.
— Vamos te foder até você não aguentar mais gozar. — Digo.
Cumprimos com a nossa promessa, fodemos ela até que Jules está
exausta demais para sequer conseguir pensar direito. Quando ela cai no
sono, cansada de mais para discutir, me levanto e preparo algo para
comermos, em seguida mando algumas mensagens, depois arrumo uma
bandeja e levo para o quarto.
Levi está acordado, Jules dormindo com a cabeça apoiada em seu
peito. Ele arqueia uma sobrancelha esperando que eu explique porque
demorei tanto na cozinha, com um aceno, digo que explicarei depois.
— Vocês precisam parar de usar o sexo para me impedir de fazer as
coisas. — Ela murmura, quando subo na cama e coloco a bandeja entre nós.
— Não faremos isso, caso pare de tentar fugir de nós. — Digo.
Ela bufa irritada.
— Por que agem dessa forma com a minha família? Isso não dará
certo se desconfiarem uns dos outros.
Levi fica tenso, sabendo que ela está certa e que precisamos contar
a ela uma das partes não tão divertidas do nosso negócio, fazer que Jules
entenda a importância que ter o controle de tudo é importante.
— Temos medo que sua família tente se envolver nos nossos
negócios. — Levi Admite.
— Eles não fariam isso! — Afirma, com tanta certeza que me sinto
mal por como agimos.
— Estamos entendendo isso, nos abrindo para a ideia de uma
família que gira em torno do amor e não do poder. — Digo. — Mas isso
leva tempo.
— Ao contrário de você, nossos pais sempre estavam interessados
em nos usar, fomos criados para não pensar em ninguém, sabendo que um
passo em falso significaria ser morto, por eles. — Levi explica. — Nossos
pais queriam filhos fortes, mas não…
— Fortes o suficiente para derrotá-los. — Jules termina por ele.
— Sim.
— Lamento que seja assim que veem as relações familiares, mas a
minha família não é assim! E gostaria que parassem de colocá-los nesse
mesmo pacote. Peço que deem a oportunidade de conhecê-los, garanto que
sempre que oferecerem ajuda é por se importarem com vocês, e não porque
querem destruir tudo o que construíram.
— Prometemos que faremos isso. — Tanto Levi quanto eu,
prometemos.
Jules está certa, chegou a hora de deixar o nosso passado onde ele
deve ficar.
Capítulo 28
Levi
É mais fácil falar do que fazer.
Quando prometemos a Jules que deixaríamos nosso passado para
trás, eu não esperava que a noite, quando fechasse os olhos, o passado
voltaria para me assombrar em forma de pesadelo.
***
Acordo com o som de grito de mulher, assustado me sento e olho
em volta, o relógio marca três da manhã, jogo as cobertas para longe e me
levanto, tomando cuidado para não fazer muito barulho, saio do quarto e
vou em direção às escadas. Não chego a colocar os pés no degrau, quando
escuto a risada do meu pai.
Faço uma careta, não querendo encontrar com o velho bêbado a
uma hora dessas, me viro, vou para o quarto de Aiden. Sem me importar
em bater, entro, meu irmão não está lá, mas seu telefone está na mesa ao
lado, indicando que está em casa.
Volto para as escadas e desço sem fazer barulho, talvez ele tenha
ido tomar água na cozinha, ou, assim como eu, ficou curioso com o grito e
se levantou para descobrir o que estava acontecendo.
Eu não estava preparado para o que encontraria ao passar pela
sala de jantar, meu irmão amarrado a uma cadeira em frente a lareira, seu
rosto machucado, enquanto nosso pai ria sentado em sua poltrona. A cena
dele torturando um de nós não é uma grande novidade, ele sempre disse
que isso nos tornaria homens fortes.
A diferença desta vez é haver uma mulher amarrada a mesa, ela
está nua, seu rosto está machucado, sua barriga tem vários machucados,
queimaduras de onde nosso pai a acertou com o atiçador de chamas.
— Eu te avisei garoto, quando dou uma ordem, quero que a
cumpra. — Diz, olhando para Aiden. — Isso inclui foder uma puta, ou
matá-la.
Aiden cospe uma grande quantidade de sangue.
— Como o covarde que é, sempre manda alguém fazer seu trabalho
sujo. — Meu irmão responde. — A diferença entre nós? É que não vou
estuprar uma mulher, muito menos matá-la para você provar um ponto.
Meu sangue gela com as palavras de Aiden.
O velho sempre insinuou algo assim, mas desde que nunca chegou
a cumprir suas ordens, nunca pensei que de fato tentaria nos obrigar a
seguir esse tipo de ordem. Aiden e eu já havíamos percebido as taras dele.
— Deveria dizer que fui pego de surpresa, mas você e seu irmão
sempre mantiveram minhas expectativas baixas. — Responde. — Quão
decepcionante é que seus dois meninos sejam tão covardes a ponto de não
querer foder uma buceta como essa.
— Quão decepcionante é para nós ter um porco… porco, não! O
pobre animal nada fez de errado para ser comparado com alguém como
você.
— Cale-se! — O velho manda.
É claro que Aiden não faz o que lhe é pedido.
Ao contrário, ele levanta a cabeça, com um sorriso zombeteiro no
rosto, ele olha para a mulher sendo torturada em cima da mesa.
— O que me surpreende é que você tenha alguém nesta idade, até
onde eu saiba você prefere as mais novas. — O rosnado irritado de Aiden
me põem em estado de alerta. — Malditas crianças!
Sinto meu sangue congelar em minhas veias, Aiden sabe que deve
manter a boca fechada sobre isso, é a única forma de nos livrarmos dele, é
ele pensando que somos estúpidos e não percebemos o que está
acontecendo.
— Parece que decidiu tirar mostrar suas garrinhas. — Zomba o
velho. — Vamos ver quanto tempo aguenta, vou te ensinar que quem manda
nessa casa sou eu.
Conhecendo meu irmão, não seria uma novidade que o idiota abra
a boca para desafiar o velho, e por mais irritado que eu esteja com ele,
jamais permitirei que o velho cause mais danos do que já nos fez.
Sabendo que tenho pouco tempo, corro para o meu quarto e envio
uma mensagem para Cash, e Calum, eles precisam saber o que está prestes
a acontecer aqui, e que não poderei evitar essa situação. Não espero pela
resposta, pego minha arma, escondida onde sei que meu pai não olharia, e
desço.
Aiden continua preso, assistindo enquanto um dos homens queima
a mulher na mesa com a porcaria de um maçarico, os gemidos de dor dela,
são abafados pelo pano em sua boca, as lágrimas escorrem até a trilha de
seus cabelos. Se as coisas continuarem desse jeito, posso respirar mais
aliviado, isso é o que penso até Aiden abrir a boca novamente.
— Esse é o seu melhor? Tentar me fazer implorar pela vida de uma
desconhecida? — Ele ri sem humor. — Está nos confundindo, não esqueça
que somos seus filhos, ou de todas aquelas cessões de tortura.
O velho ri.
— Agora é forte? Há alguns minutos me pedia para descontar em
você, o que mudou?
— Nenhuma buceta vale ter que te aguentar a noite toda. —
Debocha.
Nosso pai ri, caminhando lentamente até o homem com o lança-
chamas, ele pega o aparelho e vai em direção a Aiden, que apenas observa.
O velho não percebe como o filho se encolhe um pouco enquanto ele
caminha em sua direção, se percebesse, tornaria as coisas ainda piores.
Chegando perto dele, segura a ponta do lança-chamas em seu peito, com
força, em seguida, ainda apertando o objeto contra a carne do meu irmão,
ele acende.
Aiden, grita.
E então toda a merda bate no ventilador.
Saio de onde estou escondido, e atiro no homem que está distraído,
se divertindo enquanto tortura a mulher. Ele não tem tempo de reação,
caindo no chão com a faca ainda em suas mãos.
— O que está acontecendo? — Meu pai me encara, surpreso. —
Decidiu participar da festa? Talvez tenha mais culhões que seu irmão.
— Culhões? — Dou risada. — Você se considera um homem?
— E você, garoto? Se considera homem? Não passa de um bebê
mimado, terei o prazer em ensinar uma lição.
— Está na hora de você aprender uma lição. — Respondo.
— Isso é uma rebelião? Está me traindo? — O velho não espera
uma resposta, ele grita para seus homens.
Gritos, de alerta, são ouvidos, mas já é tarde demais.
Estamos no meio do fogo cruzado, em uma rebelião para assumir o
controle. Libertar Aiden enquanto me livro dos dois homens de confiança
do nosso pai, é um trabalho difícil, mas consigo.
Ele pega a arma de um dos mortos, e começa a atirar.
Nosso pai se afasta, agindo como se fosse a porra de um rei, e
estivesse se divertindo em meio a todo esse espetáculo de merda. O
bastardo sabe que esse é o fim da linha para ele, e no momento que
colocarmos um tiro em sua cabeça, ninguém permanecerá ao seu lado, o
poder será meu e do Aiden.
Quando nos livramos de seus soldados, os que restam não se
atrevem a entrar na sala, ficando do lado de fora da porta, aguardando
para saber quem estará no comando.
Vejo nosso pai tateando sua arma, em cima da mesa de centro.
Caminho até lá, e dou o primeiro golpe em seu rosto, ele até tenta
lutar, mas quando não há um de seus homens nos segurando, para poder
nos espancar, o velho não é tão forte ou tão poderoso, como gosta de nos
fazer pensar.
— Não é bom de briga? Onde está o valentão, que sempre disse
para aguentarmos? — Pergunta Aiden. — Você é um pedaço de merda
patético.
— Vocês têm o meu sangue, deve ser genético.
— Seu sangue não vale de nada! — Rebato.
— Família, garoto, isso vai te foder até seu último segundo. —
Aconselha.
— Que bom que não precisamos de uma família.
Chuto seu rosto.
Esse é o primeiro golpe de muitos que damos no velho, a noite é
longa, e quando dou por mim, estou exausto, e necessito pôr um fim em
toda essa merda. Tudo o que foi necessário para acabar com ele e, dar um
fim em nossa família, foi um tiro na cabeça.
Infelizmente, a garota não resistiu.
Já amanheceu quando Aiden e eu vamos para nossas camas, os
homens que antes serviam ao nosso pai, fizeram o juramento para servir a
nós. Dormimos, sabendo que nos livramos de um fardo, eles limpam a
bagunça de sangue e cadáveres.
***
Acordo com um sobressalto, meu coração acelerado com os
pesadelos da noite em que nos rebelamos. Olho para o lado e vejo Jules
dormindo tranquilamente, uma perna jogada por cima de mim, enquanto
sua mão está atirada em cima do peito de Aiden.
Com cuidado, tiro sua perna de mim, e saio da cama, em vez de
usar nosso banheiro, vou para o quarto de hóspedes, e me lavo, então saio,
indo para a academia. Estou perdido em pensamentos enquanto gasto toda
minha energia socando um saco de areia.
Odeio que os rumos do nosso passado nos levaram a isso, sempre
com o pé atrás e desconfiando das relações em família. Agora devemos nos
esforçar para atender as expectativas de Jules, jamais serei aquele que se
coloca entre ela e sua família, e não vou permitir que Aiden faça o mesmo,
colocando nossa superproteção e medos, acima do nosso amor.
— Caiu da cama? — A voz de Aiden me surpreende.
— Deixou Jules sozinha? — Pergunto.
Ele assente.
— Ela está se trocando para tomar café da manhã com a mãe, e me
mandou até aqui. — Percebendo minha careta, acrescenta: — Além disso,
ela deixou bem claro que está segura, e que eu deveria falar com você.
Balanço a cabeça, Jules pode ser bem convincente quando quer.
— Sei como ela é.
— Então, o que te tirou da cama àquela hora?
— Estava acordado?
Ele nega.
— Jules acordou, e como percebeu estar tenso, achou melhor te
deixar lidar com sua frustração, antes de me mandar aqui.
Sorrio com o pensamento da nossa mulher sendo paciente.
— Tive pesadelos, e não queria os acordar. — Admito.
— Deixa eu adivinhar, nosso pai? — Confirmo com a cabeça. — O
velho fodeu com a gente, mas Jules está certa, não podemos julgar os outros
só porque nossa experiência foi uma merda.
— Eu ia te falar o mesmo, precisamos dar uma chance aos Petrov.
— O único problema é aguentar Nathan Petrov. — Aiden diz, me
fazendo rir.
— Não podemos julgá-lo, se tivermos meninas, tenho certeza que
seremos piores.
— Isso é um fato, já viu nossa mulher?
— Um pesadelo de vestido!
— Foda-se, se eu não amo esse pesadelo.
Nós dois damos risada, e voltamos para o apartamento.
Enquanto Jules se prepara, Aiden e eu bolamos um plano para
“conquistar” nossos sogros, e garantir que nossa mulher, tenha tudo o que
sempre sonhou.
Capítulo 29
Jules
Quando saímos para encontrar os meus pais, tanto Aiden quanto
Levi, estão agindo de um jeito estranho. Mas sou mais esperta que isso, e
não me incomodo em perguntar o que está acontecendo, se eu for sincera,
eles provavelmente farão algo idiota, que fará meu pai surtar.
Chegamos no café e vejo minha mãe sentada em uma mesa no
canto, ela está olhando de cara feia para duas jovens que estão encarando
meu pai, tentando atrair sua atenção, e falhando miseravelmente.
Me sento ao seu lado e pego sua xícara de café, tomo um longo
gole, e faço uma careta, o café já está frio.
— Há quanto tempo estão aqui? — Pergunto a ela.
— Tempo suficiente para o café estar frio, e aquelas duas tentarem
dar em cima do seu pai.
Meu pai volta com uma bandeja cheia de doces, e me entrega um
café, sorrio feliz com a bebida quente, enquanto Levi sai para pedir um para
eles.
— Engraçado, você estava rindo quando os dois jovens na mesa de
entrada estavam flertando com você na fila. — Meu pai a encara.
Reviro os olhos.
— Sério, porque vocês não podem ser pais normais, com barriga de
cerveja, e a cara cheia de Botox malfeito? — Reclamo.
É vez da minha mãe revirar os olhos.
— Ei, não jogue essa merda em mim. — Ela aponta os dedos. —
Não é minha culpa se tenho uma genética ótima e envelheço como vinho, e
quanto ao seu pai? Se eu lido com o meu pai em forma, você pode fazer o
mesmo, me recuso a ficar com um velho babão e feio.
Quero rir do que ela diz, e argumentar que isso é besteira. Mas a
verdade é que, meu avô e minha avó não aparentam a idade que tem,
Miguel Petrov é puro músculo, e parece mais um irmão dos filhos, do que
seu pai, e o mesmo acontece com minha avó. Envelhecer bem é algo de
família, e devo admitir que é ótimo não ter que me preocupar com como
ficarei velha, sei que estarei gostosa.
— Admito que saber que ficarei bonita estando velha, vale ter meus
amigos babando em vocês. — Concordo.
Levi volta, ele não apenas carrega dois copos de café, mais trouxe
também uma grande fatia do meu bolo favorito. Meus pais assistem com
atenção quando ele coloca o bolo na minha frente, me dá um beijo na
cabeça, e então dá a volta para se sentar do meu outro lado. Sei que eles
estão preocupados comigo estando com dois homens, e o impacto que esse
relacionamento terá em mim, caso fracasse.
Depois do café, a qual, os gêmeos relaxam um pouco, e
surpreendentemente, acabam conversando com os meus pais, resultando em
algumas risadas, caminhamos pela cidade. Paro em frente a uma loja de
vestido de noivas, mas não encontro nenhum que chame minha atenção.
— Fique tranquila, temos tempo.
Não tenho tanta certeza disso.
Sinto como se tempo estivesse correndo a mil por hora, e se eu não
começar a planejar as coisas, assumir o controle, os meus pais vão deixar as
coisas correndo com o tempo, até que se sintam seguros sobre o que está
acontecendo com a minha vida.
Saindo da loja, encontramos meu pai encostado no nosso carro,
conversando com os gêmeos sobre futebol. Ambos parecem chocados ao
descobrir que seu jogador de futebol favorito, é, na verdade, o marido da
minha prima, Mia.
— Por que não nos contou? — Aiden me encara.
Parece que arruinei um dos seus sonhos favoritos.
— Pensei que soubessem. — Dou de ombros.
— Como saberíamos se ela raramente aparece com vocês?
É a vez da minha mãe bufar e dar risada.
— Carter é um marido protetor, e Mia estava ansiosa para ficar
longe dos negócios não oficiais da família. — Explica. — Na verdade, é
uma escolha comum aos mais novos. — Aponta para mim, e sei que ela
está se lembrando do meu irmão.
— Aquele garoto quase matou Ahmar quando apareceu em uma
reunião de família, ele simplesmente anunciou que se casaria com Mia,
Ahmar tinha uma lista de palavras para dizer a respeito do relacionamento
do seu bebê.
— Ele também ficou grato por Carter ter cuidado de Mia, já que o
segurança dela amava ficar no telefone. — Mamãe acrescenta. — E quanto
a presença deles, podem conhecê-lo durante as férias.
Passando pelo fanatismo dos gêmeos, seguimos para a próxima
loja, que acaba por ser uma de chocolates, que me tem praticamente
correndo de uma prateleira para a outra, ansiosa para provar todos os
sabores. Meus pais apenas me encaram, acostumados com a minha reação a
chocolate, enquanto Levi e Aiden pegam uma cesta, e a enchem com tudo
que eu toco.
É fofo da parte deles fazer isso por mim!
— Se derem tudo o que ela quer, vão acabar a estragando. —
Mamãe diz, dando uma cotovelada no meu pai. — Não é, Nathan Petrov?
Meu pai só dá de ombros.
— Ela é minha única garotinha, e merece tudo o que quiser.
Ouvir o nome completo do meu pai, faz com que os gêmeos parem,
eles ficam em silêncio por um longo momento.
— Qual é o problema? — Seguro suas mãos nas minhas.
— Nunca parei para pensar no nome do seu pai, ele pegou o
sobrenome da sua mãe? — Aiden encara meu pai.
— Sim, era o que ela queria, e eu não me importei.
— Algum problema? — Mamãe cruza os braços, como se estivesse
esperando uma crítica.
A mãe do meu pai, e meu tio Erick, não deram muita bola, mas seu
pai não ficou muito feliz com o filho mais velho, renunciando ao
sobrenome de sua família, para agradar sua esposa. Ele foi longe o
suficiente para dizer que deserdaria meu pai caso isso acontecesse, não
preciso dizer que meu pai não estava preocupado com dinheiro, tudo o que
ele queria era minha mãe, e foi isso o que ele disse.
Meu avô não o deserdou, ao menos, não imediatamente, meu tio
Erick o irritou também, e foi assim que nós, os netos, passamos a ser
herdeiros de tudo o que lhes pertenceria.
E não, meu avô não é um cara mau!
Após superado o drama, ele e o pai da minha mãe, entraram em
uma espécie de competição para saber qual era o favorito. Ambos são! Cada
um deles nos ensinou e nos mimou à sua maneira, enquanto um nos ensinou
a matar e nos defender, o outro nos ensinou a pescar, a andar de bicicleta.
Perdida nas lembranças da minha infância, não escuto a resposta
dos gêmeos, quando dou por mim, estamos saindo da loja, ambos
carregando várias sacolas de chocolate. A cada loja que passamos, cada
vitrine que paro, um dos dois dá um jeito de entrar e comprar um “presente”
para mim.
Meus pais parecem satisfeitos ao ver como eles me tratam, tenho a
sensação de que não demorará para que todos se deem bem.
Parados em frente ao hotel deles, me sinto um pouco ansiosa, eu
queria passar mais tempo com eles, após superada a inimizade entre eles,
Aiden e Levi, poderia muito bem-estar presa em um sonho, onde as minhas
pessoas favoritas no mundo estão reunidas. Os gêmeos percebem que não
quero me separar ainda, e sorriem, Levi me puxa para os seus braços.
— Por que você não fica com seus pais mais um pouco, enquanto
Aiden e eu resolvemos alguns negócios? — Oferece.
Olho preocupada para eles, o fantasma dos últimos tempos me
assombrando.
— Prometo que estaremos seguros, apenas trabalho de escritório.
— Aiden diz, me puxando para junto de si.
— Vamos, podemos passar o dia fazendo coisas de garota. —
Mamãe não me dá tempo para me despedir deles, segurando meu braço, ela
me arrasta para o hotel, em direção ao SPA.
Enquanto mamãe explica para a atendente o que queremos, que no
caso é o “serviço completo”, fico preocupada com meu pai não ser incluído
nas nossas coisas. Pensei que seria um momento em família.
— Seu pai quer se certificar de que ninguém passe pela segurança
do apartamento de vocês. — Explica. — Por isso ele não está se
incomodando com o que estamos fazendo.
— Meus caras cuidariam disso. — Digo, enquanto deitamos na
mesa de massagem.
Ela bufa, o que, na linguagem Abby Petrov, significa uma coisa, ela
pensa que eles são idiotas e ela não discutirá nada tão óbvio como isso.
Como uma pessoa esperta, não discuto, nem mesmo para defender os meus
homens.
Percebo que ela está mexendo no celular por baixo da mesa. Apenas
uma pessoa consegue tirar minha mãe do sério, e a transformar na maluca
das mensagens de texto, e essa pessoa é meu irmão.
— O que ele aprontou agora? — Peço, depois de um longo tempo
em silêncio.
— Seu irmão simplesmente está agindo como um mimado.
Dou risada.
— Ele, agindo como um mimado, significa que não está seguindo
algum conselho seu.
— Sabia que a secretária dele é uma megera, que está fazendo de
tudo para foder com ele? — Me encara.
Nego com a cabeça.
— Eu estava um pouco ocupada nos últimos tempos.
— Bem, ela é! E sabe o problema em tudo isso? A vadia tem uma
irmã que é um amor de pessoa, mas seu irmão nem mesmo a nota.
— Ele vai cair em si em algum momento. — Declaro, não ansiosa
para me envolver nos problemas do meu irmão.
— Seu irmão já esteve noivo de uma cadela, parece que não
acordou para os problemas que mulheres daquele tipo podem trazer.
Ela tem um bom ponto em dizer isso.
A ex do meu irmão era uma cadela, todos nós a odiamos com todas
as nossas forças, e é claro que meu irmão sendo um pau no cu que prefere ir
contra tudo o que dizemos, decidiu que ela era a mulher “perfeita” para ele.
Não foi uma surpresa quando a maluca tentou envenená-lo, ela queria matar
o idiota e roubar seu dinheiro alegando que teria direito por ter uma união
estável.
Pena para ela, meu irmão não estava apaixonado, e percebeu suas
intenções antes que ela colocasse o plano em prática. Minha mãe esperou
tempo suficiente, até sequestrar e a obrigar a beber o veneno, ela morreu
agonizando no nosso porão.
— Ou ele simplesmente age assim na sua frente, porque ele se
diverte, e como um bastardo sádico, ele gosta de nos irritar. — Digo. — E
escondido, ele tem uma super obsessão secreta pela irmã de sua secretária,
razão pela qual mantém a víbora por perto.
Mamãe me encara como se eu fosse a pessoa mais inteligente que
ela conhece, ela parece muito animada com o que acabei de dizer. E sendo
bem sincera, faz totalmente sentido se tratando do meu irmão.
— Vou me manter longe dos negócios dele. — Promete. — Até lá,
vamos relaxar.
E assim o fazemos, as próximas horas são feitas para relaxar e
aproveitar, nós somos massageadas, esfoliadas, hidratadas, e enroladas,
igual sushi, depois fazemos cabelo e maquiagem. Perdi a noção do tempo,
olhando para o relógio e ficando assustada que já é noite, e não recebi nem
mesmo uma ligação dos meus homens.
A conta do SPA é adicionada ao quarto dos meus pais, um mimo
que jamais recusarei.
Enquanto caminhamos em direção ao elevador, mando mensagem
para Aiden, mas ele visualiza e não responde, faço o mesmo com Levi, e o
idiota tem a mesma reação que seu irmão. Começo a ficar preocupada com
eles, até que mamãe me mostra uma mensagem do meu pai, que diz que
eles estão no meio da instalação de câmeras, e por isso não podem
responder.
— Não sei se confio neles. — Admito.
Minha mãe ri.
— Caso estejam ocupados, não há motivo para se preocupar. —
Fala. — Vamos para o meu quarto, eu te trouxe um presente.
No quarto, eu vejo um saco preto enorme, com a logo da mesma
loja que usamos para comprar o vestido de Charlie, na época em que ela
pensou que se casaria com o “inominável”, o idiota que a enrolou a ponto
de ela fugir no dia do seu casamento.
Curiosa, pego o pacote de cima do sofá e abro, ficando em choque
quando percebo que estou segurando. Passo tanto tempo segurando o pacote
que mamãe começa a ficar nervosa ao meu lado.
— Isso… — Não consigo formular uma frase.
— Se não gosta é se dizer, podemos mandar fazer outro. — Ela
começa a se justificar. — Quando vi o quanto gostou do vestido, voltei na
loja naquele mesmo dia e o comprei, guardo desde aquele dia, pode estar
fora de moda…
— Mãe! — Interrompo, sabendo que se não a interromper, ela irá
longe.
— Sim?
— Eu amei! É perfeito. — Digo, deixando transparecer exatamente
o quanto amei o presente.
— Bom, se gostou, vá e prove. — Manda. — Precisamos saber se
precisa de algum ajuste.
Não preciso que ela peça duas vezes!
O vestido é simples, clássico, e elegante, algo que você veria em
revistas de alta moda com duquesas e princesas usando. Ele também é
perfeito no meu corpo, quando ela fecha o vestido nas minhas costas, e me
olho no espelho, sinto que posso chorar mais. Enquanto me admiro, meus
olhos encontram com dela, e vejo, que a temida Abby Petrov, o terror do
meu avô e dos meus tios, está chorando, emocionada ao ver sua filha
vestida de noiva.
— Mãe!
Corro para abraçá-la.
— Apenas emocionada, você é minha única filha, é natural que eu
me sinta assim. — Se justifica.
— Por um momento pensei que me daria seu vestido de casamento.
— Provoco.
Ela bufa.
— Amo meu vestido, e entendo quem gosta de passar ele como
uma espécie de tradição, mas acredito que cada noiva merece ter o seu
próprio vestido, que vá carregar apenas as suas lembranças. — Explica. —
Por isso escolhi esse para você aquele dia.
Isso faz muito tempo!
— É por isso que me provocava sobre casamento e vestido?
Ela revira os olhos.
— Por mais que eu seja muito nova para ser uma avó, e esteja
satisfeita em zombar do Dom, eu não quero ser uma velha acabada quando
sair com eles.
— Fique tranquila, do jeito que as coisas vão, não levará muito
tempo até que eu esteja grávida. — Admito.
— Eu nem sei o que dizer depois dessa revelação. — Franze a testa.
— Sinto que “boa foda” seria meio exagerado.
— Mãe!
Ela ri.
— Seus caras são bonitos e obviamente te amam mais-que-tudo,
você fez bem na sua escolha. — É a primeira vez que ela diz isso a respeito
de alguém. — Seu pai e eu queríamos alguém que te amasse e cuidasse de
você, que estivesse ao seu lado nos momentos difíceis. E também
queríamos que você amasse alguém com essa mesma intensidade, que
lutasse por eles, mesmo que isso te leve longe de nós.
— Por quê?
Essa conversa toda está tomando um rumo que eu não esperava.
Sempre pensei que meus pais reprovavam meus antigos namorados
porque viam neles algum problema, eles eram fracos de mais para estar em
uma família como a nossa, onde é necessário ser forte. Por isso pensei que
Levi e Aiden se encaixariam, eles eram fortes, lutavam pelo que queria. O
que não percebi é que estar com eles me fez perceber que eu também queria
lutar por eles, estar ao lado deles.
— Relacionamentos não são fáceis ou construídos de bons
momentos. — Responde, pegando o véu de noiva e colocando na minha
cabeça. — Ainda mais em uma família como a nossa, nós tentamos
proteger a quem amamos, mas nem sempre isso é bom.
— Não entendo.
— Meu pai sempre foi um péssimo pai, ele tentava nos proteger a
sua maneira e isso nem sempre era uma coisa boa. Ele machucou sua tia,
Willow, e foi o Erick quem cuidou dela. — Diz.
— Continuo confusa.
— Se você escolhesse se afastar deles, significa que seu amor não
era forte o suficiente, mas lutou contra a opinião do seu pai e minha, você
os protegeu, significa que os ama a ponto de saber o que é melhor para
você. Nem sempre cuidado e proteção são coisas boas, e os pais tendem a
pesar a mão nisso.
As coisas começam a fazer sentido quando ela diz isso desse jeito.
— Eles são as minhas pessoas, para quem vou correr nos momentos
difíceis. — Murmuro. — E eu serei a rocha deles, nesses momentos.
— Nada pode abalar o que vocês têm!
Capítulo 30
Jules
Após toda a conversa emotiva com a minha mãe, ela me convenceu
a sair do hotel vestida de noiva, para surpreender os gêmeos, e desta forma,
fazer com que agilizem as coisas do casamento mais rápido. Eu queria dizer
a ela, que estamos indo com “calma”, por causa dela e do papai, mas achei
mais prudente ficar em silêncio, e seguir o fluxo.
Com um sobretudo, saímos do hotel, algumas pessoas curiosas,
apontaram câmeras de celular na nossa direção, mas não conseguiram
muitos detalhes. Tenho certeza que seremos o motivo de fofoca da cidade
por um tempo.
— Gosto dessa cidade, o máximo de câmeras por aqui são os
fofoqueiros, e não a imprensa. — Mamãe comenta, me ajudando a entrar no
carro.
— Sim, não posso dizer quão rápido me apaixonei por esse lugar.
— Admito.
— Talvez eu compre uma casa aqui.
Me viro para encará-la.
— Mesmo?
— Se a minha garota está na cidade, nada mais justo que eu esteja
aqui. — Responde. — E não é como se eu fosse ficar pobre por ter mais
uma propriedade.
Reviro os olhos.
Conheço os dois bem o suficiente para saber que provavelmente já
tem uma casa na cidade, e apenas não sabem como me contar.
— Se já compraram, posso ajudar na decoração? — Pergunto.
— Claro! Desde que façamos algo adaptável, odeio ter que mudar
tudo devido à moda.
Dou risada.
A última obra que eles fizeram em sua casa, quase levou minha mãe
a loucura.
— Papai não se incomoda com moda.
— Seu pai não sabe nem quais meias deve combinar com aqueles
shorts horrorosos que comprou na praia.
— Ele ainda os tem?
Aqueles shorts são um crime, e eu me recusei a sair de casa com o
meu pai, enquanto ele os usava. A única coisa que mamãe gostou deles, foi
que poucas mulheres tentavam dar em cima, quando os usava.
— Eu sumi com eles, deve estar em algum museu de coisas
horrorosas.
Dou risada do seu comentário.
Senti tanto a falta dela e do meu pai nos últimos tempos, conversar
com eles frequentemente, passar por sua casa e simplesmente tomar café da
manhã juntos, enquanto os dois brigam por algo idiota, e em seguida fazem
as pazes. Tenho para mim que essas “brigas” são apenas a desculpa perfeita
para implicar um com o outro e depois ter uma desculpa a mais para se
agarrar pelos cantos.
— Como você está lidando com não trabalhar? — Sou pega de
surpresa pela pergunta dela.
Mexo as mãos nervosamente, pensando em uma resposta para nós
duas.
Sempre amei trabalhar, ser médica é algo que escolhi para a minha
vida, uma paixão, aquilo que me motivou diariamente a levantar da cama.
Salvar vidas sempre foi mágico, mas tanta coisa aconteceu nos últimos
tempos, que ficou em segundo lugar na minha mente, eu nem considerei o
trabalho, até esse momento.
— Tenho um contato no hospital local, ele me ofereceu uma vaga.
— Você não parece muito certa sobre ela.
Dou de ombros.
— Talvez seja algo que eu queira fazer, mas não com tanta
frequência. — Admito. — Quero aproveitar esse momento no meu
relacionamento, onde não tenho que ficar com medo a cada dois segundos,
e posso simplesmente relaxar.
— Faça isso, não é como se você precisasse do dinheiro.
Essa discussão me deixa ansiosa, estou acostumada a calcular cada
passo que dou, sem agir impulsivamente. Embora pareça um pouco
estranho, tendo em vista o meu relacionamento e velocidade com que as
coisas aconteceram.
— Vou pensar com calma, conhecer o hospital e as pessoas que
trabalham lá antes de decidir.
Satisfeita com a minha resposta, mamãe fica em silêncio o resto do
caminho.
Perdida em pensamentos, só percebo que chegamos quando mamãe
desce do carro, e meu pai aparece ao lado da porta. Ele está usando um
terno preto, seu cabelo penteado da maneira que sempre está nos eventos
importantes. Seguro sua mão, e saio do carro, por um segundo penso ver
uma lágrima escorrendo por seu rosto, mas balanço a cabeça
negativamente.
Nathan Petrov não é um homem chorão!
Papai me abraça por um longo momento, então se afasta e me dá
um beijo na testa.
— Você está linda, querida. — Segura meu queixo. — Quem diria
que a minha princesinha cresceria tão rápido.
Seguro sua mão na minha.
— Não seja tão emotivo, uma hora eu teria que me casar. —
Provoco.
— Infelizmente. — Murmura.
— Vamos logo, vocês dois. — Mamãe grita do elevador.
Cuido para não arrastar a barra do vestido no chão, só soltando
quando o elevador para no nosso andar, e caminhamos em direção ao
apartamento. Tento largar a mão do meu pai e correr para abrir a porta, mas
ele me segura ao seu lado, encaro isso como uma birra por não ser um
grande fã dos meus noivos.
Mamãe caminha na frente e abre a porta, ficando ao meu lado
enquanto passamos, rindo grito:
— SURPRESA!
Levo um segundo para absorver tudo o que está acontecendo.
O apartamento está diferente de quando o deixamos esta manhã.
Tem flores brancas e rosa bebê espalhadas em grandes arranjos pela sala,
algumas velas aromatizadas acesas, dando um charme a mais. É simples e,
ao mesmo tempo, sofisticado, algo que eu mesma teria feito se estivesse no
comando da decoração.
É tanta informação que eu poderia ficar tonta, felizmente isso não
acontece, no momento em que meus olhos pousam nos dois homens
vestidos com ternos escuros, com as mãos no bolso, esperando por mim em
frente a grande janela, ao lado de um cerimonialista nervoso.
Tenho a sensação de estar flutuando.
Alguém deve ter ligado o rádio, o som de uma marcha nupcial
clássica começa a tocar, suave e aconchegante, caminho ao lado do meu pai
até eles.
— Cuidem bem dela. — Meu pai diz, antes de me entregar a Levi e
Aiden.
— Com a nossa vida. — Dizem em uníssono.
— Quando isso… — Aceno em volta, incapaz de terminar meu
pensamento e sem me importar em quebrar o clima de romance.
— Chegamos a conclusão de que organizar uma festa levaria
tempo, e nós queremos que seja nossa esposa, hoje. — Aiden responde.
— Por isso chegamos a um acordo, seus pais têm o tempo que
querem para organizar a festa, e nós temos você como nossa esposa.
Lembrando do que aconteceu no casamento da minha prima, fico
mais do que feliz em estar ao lado deles, e deixar a festa e todos os
preparativos por conta da minha mãe e tias, eu não conseguiria sobreviver a
elas.
— Pode começar. — Aiden manda, o homem salta e começa a falar.
Estou perdida em tudo o que está acontecendo a nossa volta, os
olhos felizes dos meus pais, a decoração improvisada, que vai além de tudo
o que já pensei que poderia querer. Um casamento “perfeito”, cheio de
pessoas, e detalhes, não chega aos pés disso aqui, esse momento onde as
pessoas que eu mais amo no mundo estão reunidas.
— Então, Jules Petrov, você aceita Aiden e Levi como seus
esposos?
Franzo a testa.
— Apenas um de nós vai ser o marido oficial. — Levi explica. — E
serei eu.
— Mas, nós dois teremos o seu nome. — Aiden responde. — E
como é uma cerimônia para a família, não há motivo para não tratar isso
como nós dois.
Aceno entendendo sua lógica.
— O meu nome?
— Sim, nós queremos apagar qualquer vestígio do nosso pai, e
começar a nossa família com o seu sobrenome, um que te traz tantas
lembranças boas.
— Isso está virando uma tradição. — Mamãe murmura animada,
posso ouvi-la batendo palminhas.
— Sim, eu aceito. — Digo, não cabendo em mim de tanta
felicidade.
Nunca me importei com detalhes como nome, até perceber
exatamente o que isso significa. Um sobrenome é mais do que algo que está
em sua certidão de nascimento, ele carrega sua história, a história de sua
família, e se não há uma boa lembrança, não há um motivo para se orgulhar.
— O que acontece agora? — Murmuro.
Levi me surpreende me puxando contra seu peito e me beijando,
quando me solta, Aiden faz o mesmo, estou arfando em busca de ar,
tentando não me envergonhar na frente dos meus pais.
— Agora, vocês aproveitam a vida. — Mamãe responde. — A
maldição Petrov segue para o próximo desavisado.
— Maldição? — Aiden encara.
— Não de ouvidos a ela. — Digo.
— O quê? Todos que estão em volta do nosso drama acabam
apaixonados e com problemas. — Abby Petrov continua a divagar. —
Então, quem será o próximo?
— Eu diria Asher. — Falo, ainda pensando na história de sua
esposa escondida.
Levi e Aiden negam com a cabeça.
— Se fosse para apostar em alguém, seria em Calum, ele tem todo
esse drama com a filha da madrasta. — Levi responde.
Aiden concorda.
— Vamos comer, assim vocês podem me contar a fofoca. —
Mamãe acena para o balcão da cozinha cheio de comida e bolo. — Eu disse
que deveríamos ter nos mudado antes, vai ser divertido assistir isso.
— Querida! — Meu pai a repreende.
— O quê? Eles são todos membros da nossa família agora que Lior
está com Anuvia e Jules com os dois, membros por associação.
Decidindo que minha mãe é maluca, e que tê-la por perto vai ser
muito divertido, deixo de lado as minhas preocupações e aproveito o
momento. Esse é o primeiro dia do nosso feliz para sempre, e aproveitarei
cada segundo ao lado daqueles que amo.
Epílogo 1
Jules
Ok, admito que nunca esperei chegar nessa parte da história onde
preciso detalhar como tem sido a minha “alegria eterna”, até porque, vamos
ser reais, nem tudo são flores. E conforme passamos mais tempo juntos,
mais complicado tudo vai ficando, já ouviu aquela frase “intimidade é uma
droga”?
Bem, em algum momento a fase de lua de mel se acabou, e assim
como Yandel e Bad Bunny dizem em Canción com yandel, “queria que
todas as luas fossem de mel”, mas a verdade é que acabei me casando com
dois idiotas dominadores.
— Tenho a sensação de que fui enganada por vocês, talvez de
tempo de pedir uma anulação. — Comento, entrando no carro e batendo a
porta com força.
— Jules! — Levi usa seu tom mandão, um que estou acostumada.
— Pêssego, com a quantidade de vezes que te fodemos nos últimos
tempos, incluindo esta manhã, nenhum juiz cairia no seu papinho de
anulação. — Aiden ri de mim.
— Não que ele fosse sair se vivo se aceitasse seu pedido. —
Acrescenta Levi.
— Não entendo o que passa na cabeça de vocês, nem mesmo me
deixaram conversar com o diretor do hospital antes de dizerem que EU, não
aceitaria o trabalho.
— Para uma médica brilhante, você me assusta às vezes com quão
distraída é. — Os dois passam a me ignorar e conversar entre si.
Desde semana passada os dois tem agido muito pior do que
normalmente fazem, se eu me abaixo para pegar algo, eles gritam e me
mandam deixar onde está, porque segundo eles, sou casada com dois
homens, não tenho que me preocupar com coisas assim.
Claro que nenhum deles reclama quando me abaixo para chupar
seus paus.
Cansada dessa discussão, me mantenho em silêncio até chegarmos
na mansão onde Anuvia vive com Lior. Quando o carro para salto correndo,
com a dupla de idiotas atrás de mim, e assim como estive fazendo nos
últimos minutos, ignoro eles, e corro para minha prima.
— Onde estão os bebês? — Pergunto a ela.
— No quarto, dormindo. — Cruza os braços. — Pensei que toda
essa correria fosse saudade da sua prima favorita, não febre de bebê.
Caminhamos para dentro da casa, onde cumprimento Lior com um
aceno de cabeça e vamos direto para o quarto dos bebês. Eles são tão
lindos, dormindo tranquilamente, sem nenhum problema, que Anuvia e eu
apenas os admiramos, antes de sair e ir para a sala de TV no andar de cima.
— Eles são lindos!
— É claro que são, já viu o pai deles?
— Eles têm muito de você, também.
— Sim, e quando vai ter os seus? Nunca pensei que te veria tão
ansiosa perto de bebês.
Dou de ombros.
— Ser uma mulher casada faz isso.
— Com dois homens como eles? Me admira que não esteja gravida.
Toda a resposta zombeteira se vai ao momento em que meu cérebro
registra o que ela está dizendo, e como se eu estivesse em um acidente, toda
a minha vida, ao menos as últimas semanas passam diante dos meus olhos.
A quantidade absurda de sexo que tenho tido, e acredite em mim, Levi e
Aiden tem um grande apetite sexual, como os dois tem me tratado, me
impedindo de carregar coisas.
E a cereja no topo do bolo?
Não tive nenhum período desde que nos conhecemos!
Faço as contas mentalmente e o meu anticoncepcional deve ter
parado de fazer efeito há um bom tempo, e com ter um psicopata atrás de
mim, e dois gostosos em me fodendo, isso nem mesmo passou pela minha
cabeça.
— Preciso de um teste. — Falo, desesperada.
— Ainda tenho alguns, Lior gostava de ter vários para mostrar aos
outros. — Bufa irritada. — Como se alguém ia querer pegar naquele pau de
mijo.
— As pessoas não pegavam e o parabenizavam?
— Meio difícil não o fazer quando se está sendo ameaçado de
morte.
Ainda não sei como me sinto com a maternidade, é claro que amo
bebês, e é claro que em algum momento eu teria filhos, mas não pensei que
seria tão rápido, ou que talvez, tenha sido a última a saber.
Não são os pais que descobrem por último?
Anuvia levanta e vai para o quarto dela, sem paciência, a sigo, e
praticamente arranco o teste de gravidez de sua mão. Como médica sei
como eles funcionam, como futura mãe? Duvido da minha capacidade de
ler!
Faço xixi e espero até que o resultado comece a aparecer, por um
momento me recuso até mesmo a olhar, mas depois de uma longa
respiração, pego o objeto assustador, e olho.
POSITIVO!
— Estou gravida. — Digo, assim que abro a porta e entrego o teste
para Anuvia.
— Você me deu com a ponta errada, sua puta. — Ela larga o teste
na pia e lava as mãos. — Não acredito que me fez pegar no seu xixi. —
Após secar as mãos, ela me abraça. — Parabéns, estou muito feliz por você.
— Não sei como vou ser mãe, nem mesmo me sinto uma adulta. —
Admito.
— Essa é a merda sobre a maternidade, e sobre a vida adulta. — Me
leva até a cama, e me coloca sentada. — Você nunca vai se sentir pronta
para nada, não para ver filmes de terror sozinha, ou enfrentar os monstros
no armário.
Encaro minha prima.
— Está comparando a maternidade a um filme de terror?
Dá de ombros.
— Sim, eu ficaria assustada se tivesse que fazer isso sozinha, tem
que ser muito forte para isso, mas pense pelo lado positivo, você não está
sozinha, tem dois homens que te amam. — Segura minha mão. — Na
verdade, você está melhor que eu, tem dois homens e os rodízios da noite
podem ficar mais fáceis.
— Tem razão.
Começo a respirar mais fácil com seus conselhos estranhos.
— Preciso arrumar outro marido, assim tenho como dormir melhor
a noite.
É minha vez de dar risada.
— Só você para achar isso, quando, na verdade, é muito pelo
contrário.
Anuvia faz uma careta.
— Tem razão, vou ter que me contentar com Lior.
— Fico feliz por isso, odiaria ter que matar quem quer que fosse a
outra pessoa. — Lior entra no quarto acompanhado de Aiden e Levi. —
Algum motivo para a reunião no quarto?
Anuvia me olha, enquanto dou de ombros.
— Estou grávida! — Admito em voz alta.
— Parabéns! — Lior diz, sem se afastar de Anuvia, ele olha para os
gêmeos. — Não estão felizes?
Os dois idiotas dão risada, Levi me puxa para seu peito enquanto
Aiden é aquele que realmente expressa alguma coisa.
— Já sabíamos, Levi e eu somos atentos ao corpo da nossa garota.
— Essa garota é minha prima, não quero saber dos detalhes do
corpo dela. — Anuvia protesta. — E não acham que deveria ao menos
planejar algo legal para contar a futura mãe?
— Não são as mães que contam aos pais? — Lior a estuda.
— Jules ultimamente não lembra nem o que comeu no café da
manhã, temos sorte de ter percebido e cortado a cafeína. — Levi admite.
Me afasto dele, me sentindo traída.
— É por isso que tenho sentido tanto sono? Cortaram minha
cafeína? — Planejo dar um soco na cara desses idiotas, e eu facilmente
poderia matá-los. — Eu só não os mato, porque não quero trocar fraudas
sozinha!
— Sorte a nossa. — Aiden ri. — Além disso, não somos muito
convencionais, então não faz sentido essa discussão sobre quem descobriu
primeiro.
Isso é verdade!
Quem diria que ao fugir de um psicopata eu não apenas encontraria
um amor e sim dois, e que minha família cresceria tão rápido. Parece que o
carma romântico Petrov realmente existe, a única coisa que me preocupa, é
aqueles que estão a nossa volta.
— Quem será o próximo?
O silêncio reina a nossa volta, e todos me encaram.
— O quê? — Levi pergunta.
Anuvia sorri, nossa telepatia de primas funcionando.
— O carma romântico da nossa família, queremos saber quem será
o próximo a ser afetado por ele. — Ela explica.
Lior geme.
— Não precisamos de mais problemas por aqui. — Diz.
— Tenho a sensação que sei quem será o próximo. — Aiden ri,
como se fosse divertido ver um de seus amigos se ferrando.
Ao ver que Lior está encarando curioso a espera de uma resposta,
Levi decide esclarecer e dizer a quem se referem.
— Calum!
Anuvia bate palmas, animada com isso.
— Que comecem os jogos!
Definitivamente é mais divertido apreciar o show quando se está
desse lado e não no olho do furacão.
Epilogo 2
Jules
Se antes da gravidez eu já lidava diariamente com os gêmeos
agindo como idiotas superprotetores, conforme o tempo foi passando e
minha barriga crescendo, a sensação que tive foi de que me casei com
homens das cavernas. Me peguei mais de uma vez imaginando matar os
dois e esconder seus corpos em algum lugar onde ninguém acharia.
— Que olhar é esse? — Anuvia me encara, seus olhos indo em
direção a minha barriga.
— Ainda não estou em trabalho de parto, se é essa sua preocupação.
Ela solta o ar aliviada, me fazendo rir.
— Ainda bem, não estou pronta para o que vem a seguir.
Estreito meus olhos em sua direção.
— O que vem a seguir? Você tem filhos, então seja honesta.
— O grito, o choro, as ameaças de morte, e o desejo de ser virgem
novamente e nunca mais fazer sexo. — Enumera.
Olho para o outro lado do quintal, onde Lior está sentado com Levi
e Aiden. Os três estão tentando montar um escorregador, e devo dizer que
estão falhando miseravelmente. Anuvia e eu temos lutado contra o riso,
sempre que pensam que o escorrega está firme, o negócio desaba, e eles
precisam descobrir o que há de errado.
— Acha que devemos dizer a eles que tem três peças de sustentação
caídas atrás deles? — Pergunto, distraída com a cena.
— Uma hora eles vão descobrir, a última vez que tentei falar algo,
Lior disse “querida, somos homens, isso está em nosso DNA, vá sentar sua
bundinha e ficar de olho nos nossos bebês”.
— Isso é algo que os meus caras diriam, na verdade, o motivo da
minha raiva constante é os dois sempre me moverem e me tratarem como
uma criança quando não “obedeço”.
— Essa é a fase de ser tratada como um cachorro, ou você obedece,
ou eles te movem e te deixam de castigo. — Concorda.
— Exato! Então, sempre que preciso me acalmar, me imagino
batendo em um deles, em casos mais drásticos tem até atropelamento.
Anuvia ri.
— Isso é... divertido, e, ao mesmo tempo, assustador.
Dou de ombros.
— Não me julgue!
Jogamos muita conversa fora, e nos divertimos assistindo conforme
os caras ficavam mais e mais frustrados com toda essa situação. Tenho a
sensação de que os homens que entram para a família Petrov não tem
talento para a montagem de coisas, lembro do dia em que meu pai e tios
começaram uma espécie de competição para montar os moveis da minha
prima Mia. Foi a atração da casa, e todos os filhos acabaram ganhando
móveis novos, montados de um jeito muito estranho.
— Isso não te lembra a Mia? — Anuvia pergunta e eu confirmo
com a cabeça.
— Precisamos visitá-la.
Anuvia concorda.
De todos os filhos, Mia e meu irmão são os que mais tempo passam
longe, ocupados demais cuidando dos seus próprios negócios para estarem
envolvidos na conturbada vida da máfia. Mas no caso dela, existe uma boa
razão, seu marido superprotetor mataria qualquer um que a machucasse.
Como toda história romântica da minha família, a de Mia não foi
diferente.
Mia havia acabado de se mudar para a universidade, quando um dia
pegou o caminho errado e quase atropelou um homem, esse homem sendo
Carter, seu marido gostoso que é o capitão de um dos melhores times de
futebol americano, e um dos homens mais bonitos do mundo. No momento
em que bateu os olhos em Mia, ele não parou até estar casado com ela.
— Não sei como o tio Ahmar não o matou. — Anuvia murmura.
Mais uma vez, não sou a única que está pensando na história de
Mia.
— Carter estava protegendo a filha dele, mesmo que ele ainda não
estivesse namorando Mia na época.
— Acho que todos os homens da nossa família têm esse lado
possessivo. — Aponta para os nossos caras. — Como se fosse um requisito
de entrada.
Reviro os olhos.
— Ou tenhamos sorte de encontrar homens como esses, em vez dos
comuns idiotas e indecisos.
— Tio Erick era assim. — Lembra.
— Não disse serem todos perfeitos desde o início, às vezes é
preciso algumas pancadas na cabeça.
Levi me surpreende, ao me oferecer uma garrafa d’água.
— Fantasiando em nos matar novamente? — Pergunta;
— Como você…
— Pêssego, você tem esse olhar de fantasia em dois momentos,
quando estamos te fodendo ou quando estamos te irritando a ponto de não
desejar estar no mesmo ambiente que nós.
— Vocês são muito atentos. — Bufo, tomando quase toda a garrafa.
— Quando vamos para casa?
— Assim que terminarmos de montar, exceto se estiver cansada.
Gemo.
— Isso vai demorar, já que não perceberam que tem três peças de
sustentação caída atrás de vocês. — Reclamo.
Levi olha para as peças como se eu tivesse lhes mostrado um
alienígena.
— Por que não nos disseram antes? — Coloca as mãos na cintura,
parecendo sexy.
Lambo os lábios, gostando da vista.
— Talvez porque sempre que tentamos lhes dizer algo, vocês nos
mandam ficar quietas e “descansar”. — Anuvia responde.
Ela deve ter percebido que minha mente gravida mudou o foco, e
em vez de imaginar a morte dos meus homens, penso em como quero
chupar Levi até ele…
Foco, Jules!
— Agora que viram não deve ser muito difícil. — Digo.
Levi sorri, tendo percebido meu olhar sonhador.
— Fique tranquila querida, vamos terminar isso e te dar o que você
tanto deseja.
Anuvia espera ele se afastar, antes de me perguntar a que estava se
referindo.
Dando de ombros mantenho minha cara feliz, meu humor
melhorando.
Ter paciência se mostra um grande presente quando eles finalmente
montam o escorregador, e os meus homens me levam para casa, e me fodem
a ponto de eu esquecer meu nome.
A vida de casada é uma maravilha!
Epílogo 3
Aiden
Conforme a gravidez de Jules foi avançando, seus humores se
tornavam mais voláteis.
Em alguns momentos pensei que tinham roubado minha mulher
doce e a substituído por um demônio, até que Levi me lembrava que Jules
sempre teve um temperamento que o “demônio” eram seus hormônios. Até
mesmo Nathan ficou do nosso lado em algumas brigas, o que foi uma
surpresa enorme, cheguei a pensar que o inferno estava prestes a congelar.
Levi e eu tivemos que sair resolver algumas coisas, e tivemos que
deixar Jules sozinha em casa, o que se mostra um enorme erro.
— Será que você pode por favor tentar não se matar estando
gravida? — Pergunto, arrastando-a de cima da escada, no quarto do bebê.
— Eu disse que faria isso quando chegasse.
— Você disse que colocaria, e já estou tirando, não gostei e quero
outro. — Responde, revirando os olhos e passando por mim em direção a
grande caixa, que devo acrescentar, não estava aqui esta manhã.
Sabendo que não chegarei a lugar algum começando uma briga,
tento ir pelo lado racional.
— Querida, você está prestes a ganhar bebê, não deveria fazer essas
coisas. — Mudo meu tom de voz.
Tenho que segurar o riso, quando a noto franzindo a testa.
Jules está acostumada com os “sermões” e isso a deixa ainda mais
irritada, por isso, decidi mudar a abordagem.
— Na verdade, estou em trabalho de parto. — Anuncia, me olhando
com uma careta. — E não se sinta confiante, eu não comprei seu tom
calmo, apenas estava tendo uma contração;
— Jules! Devia ter me dito, e não subir em uma porra de escada. —
Praticamente grito.
Toda a calma que eu estava sentindo vai embora, e deixa o marido
preocupado com a esposa, e o pai ansioso.
Acredito que esteja prestes a hiperventilar!
Jules passa por mim, com uma calma que eu não sei como ela
consegue ter, e pega um saco de papel em cima da cômoda, em seguida me
entrega. Não preciso ser um gênio para saber o que devo fazer, começo a
respirar dentro daquela coisa.
— Respire querido, tudo vai ficar bem, nosso bebê vem com saúde.
— Alisa minhas costas.
Levi entra, e para ao ver a cena.
— O que está acontecendo?
— Estou acalmando Aiden, nosso bebê vai nascer. — Jules anuncia
animada. — Por favor, não surte.
Levi mantendo a calma, e sendo provavelmente o único lúcido aqui,
exclui Jules da equação porque ela é a porra da mulher grávida e está
agindo com tanta calma, que me pergunto se não enlouqueceu.
— Não vou. — Ele pega Jules no colo e a leva para fora.
— As malas…
— Estão no carro. — Escuto meu irmão dizer calmamente. —
Além disso, porque você estava o acalmando e não o contrário.
Jules ri.
— Até mesmo os homens mais fodões podem ter um momento de
surto. — Diz. — Além disso, ele parecia que ia desmaiar sempre que via
um vídeo de parto.
— Pensei que não tivesse percebido. — Reclamo, entrando no carro
e a segurando.
— Você ficava verde. — Levi aponta. — Meio difícil não perceber.
A partir do momento em que chegamos no hospital, as coisas
acontecem rapidamente. A médica chega, diz que Jules está pronta para ter
o bebê, decidimos que eu seria aquele que ficaria ao lado dela, enquanto
Levi seria aquele que seguraria o bebê.
Por um momento senti que iria desmaiar, até ouvir o choro de bebê.
Foi como se as coisas tivessem mudado.
Sempre ouvi que os homens não sentiam as coisas com a mesma
intensidade que as mulheres, que é tudo dobrado para elas, se isso é verdade
eu não sei, mas no momento em que coloquei os olhos no nosso bebê, nos
braços de Jules, aquela cena mudou tudo.
Eles eram o meu mundo!
***
Levi
No momento em que coloquei os olhos na nossa filha, meu mundo
parou.
Sei que dizem que recém-nascidos não tem muitas feições e que
seus rostos mudam, mas quando vi nossa filha, pude facilmente identificar
os olhos idênticos aos meus e de Aiden, seu cabelo idêntico ao de Jules.
— Meus parabéns papais. — A médica nos parabeniza, em seguida
sai para nos deixar a sós por um momento.
Aiden se inclina e limpa as lágrimas que escorreram pelo rosto de
Jules.
Vou para o seu outro lado, beijo a cabeça da minha mulher, e me
sento ao seu lado, nós três perdidos no momento, na beleza da pequena
parte de nós, que carrega nossos corações e nem mesmo sabe o que isso
significa.
— Ela é perfeita. — Jules chora.
— Assim como você. — Aiden responde, beijando sua cabeça.
— E vocês. — Responde. — Obrigado por isso.
A encaro, como se a mulher tivesse perdido a cabeça.
— Somos nós que temos que te agradecer, pêssego. — Digo. —
Pelo seu amor.
— Por compartilhar conosco sua família.
— E por tornar nosso mundo completo.
Ao final de nossas palavras, Jules está chorando novamente.
O flash de uma câmera nos tira do nosso momento, olhando para a
porta vejo Abby e Nathan parados ali, com um olhar feliz. Como Jules está
cansada, Aiden pega nossa filha de seus braços e a apresenta aos avós,
enquanto isso, dou mais um beijo em Jules e a cubro.
— Descanse querida, nós vamos ficar de olho no nosso bebê. —
Prometo.
— Vocês fizeram um bebê perfeito. — Nathan elogia. — Ela se
parece com Jules.
— Ela é uma mistura perfeita de todos vocês. — Abby anuncia.
Sabendo que ela irá monopolizar o bebê por um tempo, saio do
quarto para pegar um café na máquina em frente, Nathan me segue,
enquanto Aiden fica no quarto de olho em nossas garotas.
Coloco algumas moedas na máquina e espero, é quando noto o
silêncio.
— Quando soube que minha filha estava com vocês, fiquei
apavorado. — Diz.
Entrego a ele um copo, e espero o outro.
— É normal, não temos um relacionamento…
Ele nega, me interrompendo com a mão.
— Não é por estar com dois homens, e sim por saber que alguém
estava levando minha garotinha para longe de mim. — Admite. — Não vi
isso no começo, mas agora entendo, vocês não a estão levando de mim,
além de aumentarem nossa família, estão dando a ela um novo mundo.
Obrigado por amarem Jules e por fazer dela uma mulher feliz.
— Quero dizer que não entendo, mas tendo uma filha, não posso
me imaginar estando feliz com alguém a roubando de mim. — Respondo o
fazendo rir. — Espero que quando a hora chegar, eu saiba respeitar o
momento dela como você e Abby fizeram.
— É difícil. — Admite.
— Tenho certeza que Nabi Petrov vai saber o que fazer. — Sorrio,
pensando em minha filha sendo como sua mãe.
— Nabi Petrov?
— Uma mistura de Nathan e Abby, Jules queria homenagear os
pais. — Dou de ombros. — Mas decidimos trocar o “y’ pelo "i”.
— Boa escolha.
Pegando o último copo de café, deixo Nathan ter seu momento,
enquanto levo as bebidas para o quarto. Lá encontro Abby e Aiden sentados
no sofá, os dois admirando Nabi enquanto ela dorme.
— Onde está Nathan? — Ela pergunta.
— Tendo um momento.
— Por quê? — Seus olhos se estreitam em mim, como se eu tivesse
feito algo de ruim com seu marido.
— Apenas emocionado em saber que o nome de sua neta é uma
homenagem aos avós.
Quando Abby começa a chorar emocionada, tiro minha filha de
seus braços e me sento do outro lado. E enquanto minha esposa dorme em
segurança, aproveito o momento ao lado das pessoas que mais amo. Olho
para o meu irmão e vejo que ele tem o mesmo tipo de expressão em seu
rosto. Aquela em que finalmente deixamos de lado as merdas do nosso
passado, e aproveitamos cada momento com a nossa família.
Jogando com o amor
Mia
Essa é a décima vez que vejo o meu pai e meu irmão mais velho
sentados no meu quarto tentando montar a mesa de cabeceira que mamãe e
tia Ally compraram. É claro que todas as mulheres disseram que eles
deveriam simplesmente permitir que um dos seguranças ou montadores o
fizesse, Jasper, meu segurança desde que entrei nesta família, disse que
comprou um para sua filha e sabe montar, infelizmente, isso só deixou os
membros da minha família ainda mais obstinada.
— Querido, tenho certeza que Mia não vai se importar se você
deixar outra pessoa montar, tenho certeza, na verdade, que ela preferirá que
destruam a mesa. — Isso faz minha irmã dar risada, mas ela encobre seu
rosto atrás do Kindle, de forma que meu pai estreita seus olhos nela, mas se
mantém em silêncio.
— Que tipo de pai eu seria se permitisse que outros fizessem isso
pelas minhas filhas?
— Um homem sábio? — Mamãe pergunta.
— Não! Isso me faria um péssimo pai, e não quero que as minhas
filhas se sintam desta forma.
Me levando de onde estou e vou até ele, dando um abraço, que o faz
soltar a peça em cima dos dedos do Arthur, isso o faz gemer de dor e
começar a xingar baixinho. Por sorte, mamãe está mais ocupada em
convencer o papai, do que em o repreendê-lo por amaldiçoar.
— Você é o melhor pai do mundo e nunca precisou montar nada. —
Dou um beijo em seu rosto. — Basta deixar isso para o Jasper e podemos
aproveitar o dia para sair em família.
As minhas palavras têm o efeito desejado. Isso é claro, até que os
meus tios Dominic e Dimitri entrem com um sorriso zombeteiro e deixem
claro o quanto eles são bons em “montar móveis” e como o talento para
fazer diversas coisas deve ter pulado uma geração, e tudo ir água a baixo ao
se tornar uma competição.
Quer saber quem ganhou?
Ninguém!
O talento para montar móveis pulou todas as gerações. Não é até
que o meu avô chega, que todos percebem que nunca esteve no DNA
Petrov montar um móvel. Com a forma irritada que eles agem, as mulheres
entram no desafio, os deixando com cara de idiotas quando mamãe, tia
Abby e Ally montam a mesa em menos de trinta minutos.
— Isso é impossível! — Dominic diz.
Tia Duda, que estava sentada lendo as instruções para as outras
mulheres, dá risada e bate com o manual de instruções no peito dele.
— Só é impossível ao se ignorar as instruções, e pensando bem,
nem mesmo assim.
— Duda! — Ele reclama e a segue para longe de nós.
— Acho que podemos levar a mesa para o meu quarto, não
podemos? — Pergunto, me rendendo o olhar de todos os homens.
— Querida, eu disse que colocaria a mesa no seu quarto assim que a
montasse. — Meu pai responde.
Olho para a mesa e em seguida para ele novamente.
— Podemos lavá-la, então?
— Só por cima do meu cadáver, nós iremos montar uma nova mesa,
vá se trocar ou pegar o que quer as garotas peguem, vamos comprar outra
mesa e essa iremos montá-la com as nossas próprias mãos. — A explosão
vem do meu tio Dimitri.
— Mas…
— Vamos querida, podemos comprar mais algumas coisas no
shopping. — Mamãe pisca, querendo fugir da discussão.
No fim das contas, passamos a tarde inteira no shopping após eu
escolher mais alguns móveis para o meu quarto, e é claro que meu pai, tios
e avô, escolheram os mais elaborados com a ideia de provar que não são
“inúteis” como nós pensamos.
— Deixe-os discutirem isso, vai ser bom eles ganharem experiência
para quando você for para a faculdade.
Mamãe e eu temos conversado sobre as faculdades que mais me
interessam, ela me disse que posso ir a qualquer uma, e infelizmente, a
minha principal opção fica do outro lado mundo.
— Minha filha vai ficar perto da família.
Minha irmã ri, e ganha um olhar irritado.
— Suas filhas podem decidir o que querem fazer.
— É só por um tempo, eu prometo, e sempre podemos nos visitar.
— É assim que começa! Primeiro vem a faculdade longe de casa, a
próxima coisa que sei é que algum babaca tentará entrar nas calças da
minha filha!
— Papai, nós dois sabemos que estou indo com um objetivo,
garotos não estão no meu radar no momento.
Mais uma vez, meu comentário me rende olhares estranhos.
— Bem-querida, mesmo que goste de garotas, preciso saber se é
alguém digno do seu…
Caio na gargalhada, não me importando com as pessoas a nossa
volta assistindo.
— Não gosto de garotas, eu realmente gosto de garotos, é só que
não me vejo em um relacionamento em breve. — Explico.
— Bom! Se mantenha assim até que eu esteja morto.
— Não faço promessas que não posso cumprir, e jamais quero que
morra!
Depois da nossa discussão e da garantia de que os móveis
chegariam no dia seguinte, nosso passeio termina em um dos restaurantes
favoritos da minha mãe. Um que segundo ela, o meu pai deu uma mancada
que a levou a fugir e passar o resto da noite vendo filmes com meu tio Alex.
Uma mulher mais velha passa e dá uma piscadela para o meu irmão
Arthur, ele revira os olhos e a ignora totalmente, mas a minha mãe não, e
após deixar claro o que acontecerá caso continue dando em cima do seu
bebê, pagamos a conta e vamos embora.
Quando o dia de ir embora chegar, sentirei falta de momentos
assim, as loucuras diárias da minha família. Voltarei quanto antes para casa,
nem que para isso eu tenha que passar o dia com a cara nos livros.
Mia
Quando me mudei eu sabia exatamente no que estava me metendo,
o surto do meu pai, as lágrimas emocionadas de todos, as promessas de que
me visitariam com muita frequência e é claro, o pedido para que me
mantivesse segura e não convidasse estranho para o meu apartamento.
Não me importei em garantir que cumpriria tudo isso, eu vim até
aqui com um objetivo, e não era me meter em festar e encher a casa como
se não houvesse amanhã. Infelizmente, sem a minha família por perto,
servindo como um escudo pessoal, se dificultou fazer amizades, eu nunca
fui boa com elas, a garota tímida que usa uma máscara de confiança como
minha tia Abby ensinou.
“As pessoas vão te devorar se deixar que elas descubram suas
fraquezas, e a sua, meu amor, é ser tímida, não deixe que ninguém te use!
Mesmo que isso signifique usar uma cara de cadela metida o tempo todo.”
Ela estava certa, e rapidamente aprendi a lição. Depois que algumas
garotas tentaram ser minhas amigas apenas com o intuito de desfrutar das
regalias que tenho, como o apartamento fora do campus em um bairro caro,
o carro luxuoso, mesmo que a maioria do tempo eu seja seguida de longe
por Jasper.
— Como já mencionamos antes, vocês têm duas opções esse mestre
como atividade de ponto extra. — Meu professor diz, passando por mim e
me dando um olhar mal-encarado. — Por mais que alguns aqui não
precisem, estou tornando essa atividade obrigatória, por isso, todos estão
convidados a comparecer a um dos dois eventos esportivos da universidade,
é importante prestigiar seus colegas.
Gemo interiormente, eu devia ter mantido minha boca fechada
quando ele mostrou um cálculo errado, e em seguida, quando ele passou
uma pesquisa errada, em minha defesa, eu fiz isso em particular, quem diria
que o velho era um rancoroso?
Os meus colegas estão todos satisfeitos, animados verdadeiramente
com a possibilidade de ver os atletas estrela, e as garotas é claro, ainda mais
por ver um bando de caras bonitos. Se elas soubessem o tipo de homens que
compõem minha família, ficariam chocadas com o quão imune posso ser
quando o assunto é a beleza de alguém.
Finalmente ele nos libera, faço o meu caminho para fora da sala e
do prédio sem reconhecer a presença de ninguém, não é uma grande coisa,
eles também me ignoram. Entro no meu carro e bato a porta, largo os meus
livros no banco do passageiro e mando uma mensagem para o meu irmão,
Raphael está ocupado com sua corrida, todo mundo está ansioso para ver o
show que meu irmão dá sempre que está nas pistas.
Ligo o carro e olho pelo espelho retrovisor, Jasper espera alguns
segundos antes de me seguir, me dando espaço suficiente para não atrair
atenção dos outros alunos, isso também funciona como uma medida de
segurança. Meu telefone toca e clico no painel do carro para atender a
chamada.
— Alguma novidade?
— Oi, irmão, como você está? Sinto sua falta. — O tom irônico de
Arthur vem do outro lado da linha, me fazendo revirar os olhos.
— E depois você se pergunta porque falo mais com Raphael do
com que você ao telefone.
— Quando a minha irmãzinha doce se tornou essa pirralha
irônica? A vida na faculdade está te mudando.
— Claro, ir do meu apartamento para a aula e então a biblioteca
realmente tem um grande reflexo na minha personalidade. — Xingo
baixinho ao perceber que perdi a entrada para o meu apartamento e terei
que fazer o retorno.
— Nossos pais estão considerando fazer uma visita esse mês.
— Eles me mandaram uma mensagem perguntando se eu me
importaria se eles adiassem a visita devido às corridas do Raphael. —
Explico. — Por isso, não acho que deveria se importar com isso.
— Você e Raphael são tão parecidos.
— Só diz isso porque nós dois gostamos de trilhar nosso próprio
caminho sem a interferência dos nossos pais. — Concluo seu pensamento.
— Nós só temos objetivos parecidos, e não me leve a mal, a coisa de luta e
armas… sou uma amante, não uma guerreira.
Arthur ri do outro lado da linha, meu irmão mais velho e quebrado
de certa forma, mas isso não é uma coisa minha, não é minha história para
contar. Não vejo a hora de ele finalmente encontrar o que quer que esteja
procurando e finalmente ser feliz, seguir com sua vida do jeito que ele
merece.
— Preciso ir, nos falamos mais tarde. — Se despede. — Te amo,
encrenca.
— Também te amo, idiota.
Desligo a ligação e imediatamente vejo uma chamada de Jasper. O
homem trabalha para minha família há anos, e quando disse que me
mudaria, conversou com sua esposa e filha e se mudaram para cá, como
uma forma de agradecimento, meus pais deram um apartamento no mesmo
prédio que eu, e também pagam pela escola dos seus filhos.
— Você perdeu a entrada.
— Me diga algo que não sei. — Reclamo, o fazendo rir. — Arthur
me ligou apenas para checar e acabei me distraindo.
— Acho que é a sua vez de me dizer algo que não sei.
— Vou fazer o retorno e ir para casa.
— Vire a próxima direita e isso irá nos economizar dez minutos.
— Com pressa para estar em casa?
— Mary fez minha comida favorita, não vou chegar atrasado e
comê-la fria.
— Tudo bem, eu jamais irritaria Mary. — Rindo encerro a ligação.
Basta um momento de descuido e quando olho para frente, piso no
freio, felizmente o carro para antes de acertar o homem correndo sem
camisa. Ele obviamente atravessou a rua sem olhar, eu não estava em alta
velocidade, e pela forma como o babaca está me olhando, sinto que sou eu a
errada.
Abaixo a minha janela, mas ficar cara a cara com um peito todo
musculoso e sarado, que pertence a um homem com o rosto de um deus
grego, mexe com os meus hormônios e tiram o meu foco do assunto
principal. É por esse motivo que faço um sinal para que o estranho se afaste
e desço do carro.
— Viu algo que gosta, gatinha? — Me provoca, pelo meu momento
admirando seu peitoral musculoso.
Seria fácil cair na sua provocação, qualquer mulher reagiria de uma
forma tímida e comovida, não uma Petrov. Ele pode ser sexy, mas estou
acostumada com abdomens tanquinho e homens gostosos o tempo todo,
embora nunca tenha me sentido muito atraída por um antes.
— Nada de interessante a não ser um imbecil atravessando a rua
sem olhar! — Bato em seu peito com meu dedo indicador. — O que você
pensa que está fazendo? — Continuo ignorando o quão duro ele é, que
merda esse cara faz?
— Atravessando a rua em um bairro tranquilo onde as pessoas
andam em uma velocidade razoável.
Bufo irritada.
— Eu não estava correndo! — Declaro, então me viro e volto para o
meu carro, fazendo sinal para Jasper se manter em seu veículo e me deixar
lidar com isso.
Antes que eu consiga entrar no carro, braços fortes passam ao meu
lado, fechando a porta sem me permitir entrar.
— Eu deveria saber que uma gatinha como você teria garras, não
estou acostumado com isso.
Dou risada, tipo, realmente dou risada.
— Deixe-me adivinhar, está acostumado a mulheres se jogando em
você o tempo todo? Suspirando e fazendo todas as suas vontades. — O
fasto, e abro a porta do carro novamente. — Da próxima vez que atravessa
a frente do meu carro, vou garantir que você não sobreviva.
— Da próxima vez que eu te ver, vou chamar a polícia, só assim
para recuperar o que você acabou de me roubar.
— Roubar? O que roubaria de você?
— Meu coração. — Ele segura o peito.
Encaro tentando entender qual é a desse cara.
— Isso funciona com alguém?
Dá de ombros.
— Não custa nada tentar.
Ignoro seu sorriso e como seus olhos verdes e intensos fazem com
que eu me sinta, não sei exatamente o que é essa reação que estou tendo ao
seu flerte descarado, ou pior ainda, a sua presença.
Mia
Eu já disse que odeio esportes?
Na minha família todos se exercitam e fazem coisas legais, mas
nunca fomos obrigados a comparecer a jogos ou a praticar qualquer esporte,
meu pai mesmo nos dava seu cartão de crédito para aproveitar as tardes
enquanto eles iam assistir meus irmãos jogar. E por culpa de um professor
que não aceita estar errado, aqui estou eu, e o pior é que nem mesmo
conheço esses caras.
Tiro uma selfie no campo e mando para o meu irmão mais velho,
Arthur vai se divertir com a minha animação, ou melhor, com a falta dela.
Ele sempre diz que devo ser mais sociável.
As líderes de torcida passam ao meu lado, não perco o riso
zombeteiro que elas têm quando passam por mim. A pior parte disso tudo é
que nem mesmo me importo, da mesma forma que não o fiz quando
começaram a me chamar de Frost e outras coisas.
— Sentiu minha falta? — A voz rouca atrás de mim faz o meu
corpo todo se arrepiar, assustada me viro.
— O que está fazendo aqui? — Pergunto.
Ele joga a cabeça para trás e ri.
— Não faz ideia de quem sou, não é?
— Eu deveria saber?
— Não, eu sou o capitão do time que vai jogar esta tarde. —
Explica.
— Então todas essas pessoas estão aqui para te ver.
— De certa forma. — Dá de ombros. — Por que elas te chamaram
de Frost?
— Não sei, não me interessa. — É uma mentira, mas quem disse
que me importo?
Estudando minha expressão, sei que está tentando descobrir se os
comentários maldosos me afetam.
— Isso não te afeta?
— As pessoas têm direito de dizer e pensar o que querem, da
mesma forma que tenho direito de agir como quero. — Respondo. — Não
as conheço e não me importo com elas, por que me importaria com o que
dizem?
— Essa é uma lógica ótima. — Faz uma careta.
— Tenho a sensação de que você é o tipo de pessoa que se afeta
com o que os outros dizem a seu respeito.
— Não, mas me importa que tentem descontar sua raiva em uma
gatinha como você.
E lá vamos nós com esse maldito apelido, como me chama de
gatinha me deixa com as pernas bambas, e faz meu coração pular uma
batida. Sei que ele está fazendo isso para me irritar, mas está tendo o efeito
contrário, e o que interpreta como raiva, é, na verdade, eu tentando me
recompor.
— Vou te ensinar um truque, quando as pessoas falam algo maldoso
a seu respeito, antes de tomar como verdade e se ofender, pense “se eu
estivesse em uma situação de perigo, eu usaria essa pessoa como escudo, ou
me colocaria na frente dela para que não se machucasse?”
— Às vezes o julgamento vem de quem mais amos.
— Felizmente, não posso me identificar com o que está dizendo,
minha família é incrível, eles me apoiariam mesmo que fosse para ser uma
palhaça de circo. — Dou de ombros. — Talvez seja por isso que esse
pensamento funcione.
— Boa família, são poucas as que são assim.
— Deixe-me adivinhar, seus pais te cobram no esporte?
— Meus pais me cobram nos negócios, é sempre o mesmo.
— Mas o esporte é o seu amor? — Ele me olha por um bom tempo.
— De certa forma.
— Você não deveria ter que escolher, faça o que tem que fazer para
conseguir aquilo que quer. — Aconselho. — Estamos conversando e nem
nos apresentamos, me chamo Mia.
— Sou…
— Carter, em campo. Agora! — O treinador grita.
— Prazer Carter, foi bom limpar o ar depois do quase
atropelamento.
Carter está prestes a dizer mais alguma coisa, quando o treinador
grita mais uma vez, sua voz beirando a histeria. Relutante, ele se afasta, me
dando a oportunidade perfeita para admirar sua bunda enquanto se afasta.
— Acho que a Frost tem um crush no nosso capitão, não fique toda
sentimental, os meninos estão curiosos para derreter a geleira entre as suas
pernas.
O comentário parte de uma das líderes de torcida, a mesma que no
primeiro dia de aula tentou fazer amizade comigo quando descobriu onde
eu morava, ela até mesmo se ofereceu para “dividir” o apartamento comigo.
— Pena que qualquer coisa que tenha estado entre as suas pernas
não se aproximará de mim, só deus sabe o que passou por aí. — Zombo,
passando por ela, mas paro de me afastar e a avalio dos pés a cabeça, um
sorriso se formando em meus lábios. — A propósito, deixou cair da bolsa
sua pomada para tratamento de doenças venéreas, você é o assunto do
momento no laboratório.
— Sua…
— Vagabunda? — Zombo. — Nós duas sabemos que esse é um
adjetivo único e exclusivo seu.
Me afasto sem me importar com a maldita nota, não costumo usar a
carta do “tenho privilégios, pois sou uma Petrov”, normalmente, mas se
esse professor insistir, mostrarei o quão fácil é substituí-lo, e conseguir
alguém que realmente verifique os fatos antes de apresentar informações
falsas para a classe.
Antes que eu esteja fora da arquibancada, o jogo começa, o que me
deixa na primeira fila, vários pais de alunos e fãs do esporte gritam
animados para os jogadores, duas mulheres começam a descrever o quão
sexy Carter é, me fazendo revirar os olhos. O cara é um jogador, não apenas
no campo quando no sentido amoroso, e isso é algo que não posso negar.
O problema, e sim, existe um problema, é que ele é sexy e fofo, e
faz coisas engraçadas com o meu coração.
Não entendo muito de futebol, então decido prestar atenção na
conversa dos dois homens sentados atrás de mim. Eles são extremamente
técnicos, o que é uma boa fuga perto do quão gráficas as duas senhoras
estão sendo quando o assunto é os jogadores e sexo.
Conforme o jogo se desenrola me pego mais e mais envolvida, ao
final, me juntei com a dupla de caras e xingo os jogadores do outro time,
assim como o juiz do jogo que está nos roubando descaradamente. Quando
o jogo finalmente termina, estou com a voz rouca de tanto gritar, nosso time
ganhou e é a hora de ir para casa.
Levo um tempo para a multidão se dissipar e eu me sentir segura
em me afastar. Quando estou passando pelos portões, escuto alguém
gritando o meu nome, sabendo que é Carter e lembrando do que as líderes
de torcida disseram, é sábio dizer que não me viro ou reconheço sua
presença, não até que ele segure o meu braço e me obrigue a olhar para ele.
— Não me ouviu?
— Ouvi.
Me encarando, espera por uma resposta, mas que resposta ele quer?
— Por que não parou?
— Não estou interessada em jogos e brincadeiras.
— Jogos e brincadeiras?
Sorrio docemente.
— As pessoas falam muito sobre você, e combinando sua fama,
como a minha, acho que é justo que eu suspeite de você. — Explico.
Ele faz uma careta e passa a mão no cabelo, noto que continua com
o uniforme do jogo, suor escorrendo pelo seu rosto e peito. Ao menos ele
tirou todo o equipamento pesado, bom para ele, pena para mim, ele
conseguiu ser ainda mais sexy.
— Engraçado, recentemente você estava me dizendo para não me
importar com o que as pessoas diziam a meu respeito. — Estuda meu rosto.
— Isso…
Fico sem reação, ele está usando as minhas palavras contra mim.
Antes que eu possa dizer alguma coisa, ele se inclina na minha
frente, nossos rostos próximos, seus olhos verdes fixos nos meus.
— Me dê uma chance, ao menos me conheça, antes de decidir que é
sábio me jogar em baixo de um carro.
Dou um passo atrás, e estendo a mão para ele, é o melhor que posso
fazer nesse momento, com ele estando tão perto de mim. Carter é de tirar o
folego, e no momento em que segura minha mão na sua, me pergunto se
não acabei de fazer um pacto com o próprio diabo.
E a parte mais importante nisso tudo é, eu me importo em perder
minha alma para ele? A resposta é um “não”.
— Podemos ser amigos. — Digo.
Como ele sorri para as minhas palavras, como se eu fosse ingênua
demais por acreditar que nosso relacionamento se resumiria apenas em
amizade.
Carter
Eu estaria mentindo se dissesse que a primeira vez que vi Mia foi
quando ela quase me atropelou. Sempre estive de olho nela, como franze a
testa enquanto está concentrada na aula, como revira os olhos sempre que o
professor passa uma informação errada.
Infelizmente, eu não fui o único a perceber isso, todos os caras
nesse maldito campus estavam interessados nela, todos estavam ansiosos
para por suas mãos naquele corpinho delicioso. Mas esses idiotas não a
viam como eu, não a desejam como eu. Para eles, Mia é um desafio, para
mim, Mia é o meu futuro.
Foi por isso que proibi qualquer ser com um pau de se aproximar
dela.
Enquanto cuidava dela de longe, permiti que explorasse a vida
universitária. É claro que nos limites de segurança, sempre estive de longe,
observando e garantindo que ninguém a machucasse. Felizmente, minha
garota é totalmente focada em seus estudos, e nem mesmo direcionou um
segundo olhar as pessoas a sua volta.
Seu segurança não sendo muito diferente.
Percebi que ele a observava de longe, fazendo um trabalho de
merda, sempre focado em seu telefone celular, ou em uma ligação com sua
esposa. Descuidado o suficiente para não perceber que eu estava nas
sombras os observando.
— Podemos ser amigos. — Mia dá um passo para trás, se afastando
do meu rosto.
Sorrio quando percebo que ela está corando, seu rubor é lindo, e faz
coisas comigo que jamais pensei que pudessem acontecer com um ato tão
simplório. Mas isso é vindo de outras mulheres, e ela não se encaixa em
qualquer padrão.
— Vou te dar isso nesse momento, até você perceber que sou um
cara legal.
— E quando isso acontecer?
Pisco para ela, e dou um sorriso de canto.
— Sabe que não vai conseguir resistir a mim? — Provoco.
Ela revira os olhos.
— Não seja convencido.
Olho para o seu carro e vejo o segurança esperando por ela com a
porta do carro aberta.
— Seu segurança está te esperando. — Aviso, pegando sua mão na
minha e a levando até o carro. — Eu gostaria de te levar para casa, mas
estou todo sujo. — Paramos em frente ao segurança, e eu ajudo a entrar no
carro. — Te vejo amanhã, gatinha. — Fecho a porta, então encaro o
homem. — Deixe-a em segurança.
É um aviso silencioso, ele sabe que não deveria passar tanto tempo
fazendo merda. Mais um pouco de ele fodendo com a segurança de Mia, e
falarei com os pais dela, tenho certeza que será uma conversa interessante.
Quando volto ao vestiário, a maioria dos caras já se foi, incluindo o
babaca que estou ajudando com os estudos, razão pela qual não dormi no
meu apartamento, e sim em sua casa de fraternidade. O único que restou, é
Linc, o idiota que nasceu com um problema crônico de ter o cu no lugar da
boca.
— Não vai comemorar com resto do time? — Pergunta.
— Tenho mais o que fazer.
Tiro meu uniforme e o coloco na minha bolsa de ginástica, essa
merda precisa urgente de lavagem.
— Vi você atrás da frost. — Comenta e posso ouvir o riso em sua
voz, ele está se secando de costas para mim. — Talvez você possa dividir
ela com o resto de nós. Aquela buceta deve valer algo, já que tem nos
ameaçado para ficar longe.
Aqui é que está a coisa, Linc sabe exatamente que deve manter a
boca fechada, Mia é um assunto proibido para ele o resto da equipe. Deixei
bem claro o que aconteceria se eles tocassem no nome dela, ou fizessem
piadinhas de merda.
Com minha toalha em mãos, o surpreendo passando ela em volta do
seu pescoço e apertando com força, ele tenta lutar, mas é em vão, sou mais
forte que ele. É divertido ouvi-lo lutando por ar.
— Eu te avisei, mas acho que você não ouviu. — Rosno baixo o
suficiente para só ele ouvir. — Nunca toque no nome dela, nem mesmo
pense na Mia, fui claro? — Acena com a cabeça. O solto e o empurro para
longe de mim, ele bate contra a parede. — Isso fui eu sendo gentil, não
queira ver como sou quando perco a paciência.
— Louco do caralho, vou contar isso para o treinador. — Chora.
Dou risada.
— Sabe que minha família tem muita influência, ninguém vai
acreditar em você! — Lembro. — Além disso, posso muito bem mudar de
ideia, afinal, não seria uma grande surpresa para todos se você aparecesse
morto por overdose, seria?
— Qual é o seu problema?
Começa a recolher suas coisas, em seguida vai para o armário, e
recolhe o resto dos itens por ali. Se eu soubesse que bastaria dar um susto
nesse filho da puta, e ele sumiria da equipe, teria o feito antes.
— Eu não tenho um problema, as coisas nunca estiveram tão bem
como nesse momento. — Sorrio satisfeito.
Minha garota finalmente deu uma brecha para eu me aproximar, nós
vencemos o jogo, e agora esse idiota está correndo da equipe, me pergunto,
o que mais de bom pode me acontecer hoje?
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