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“O verdadeiro amor lança fora todo o medo!”

1 João 4:18
4
.1.

- Lizzie? – sussurrou Alicia após alguns minutos de


silêncio no quarto universitário onde viviam há
apenas dois meses.

- Hum... – resmungou a menina que estava quase


pegando no sono.

- Conheci alguém...

Essa notícia fez Elizabeth despertar, sentar-se na


cama e acender a luz de sua cabeceira. Sua amiga
nunca havia se apaixonado ou namorado, mesmo
aos 19 anos, se ela estava lhe contando, era porque
provavelmente o que estava sentindo era sério.

- Como assim?

- O nome dele é Jack, ele faz residência no hospital


onde vou estagiar no quinto semestre.

- Jack... ele fez medicina aqui?

- Fez sim!

- E vocês conversaram? Como foi? – perguntou a


amiga, querendo saber mais detalhes.

- Nos trombamos no corredor na visita de inspeção


com a professora Kelly, me perdi do grupo e como
você sabe, sou desastrada e desesperada! – disse

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entre gargalhadas – Acabei trombando com ele e, sei
lá, nunca senti um frio na barriga igual.

- Você está claramente apaixonada!

- Lizzie, ele é lindo!

A menina estava rindo feito uma boba.

- Almoçamos e combinamos de jantar amanhã.

- Oficialmente um encontro!

- Estou tão nervosa, nunca fiz isso!

- Vai ser incrível, você vai ver!

Alicia e Lizzie cresceram juntas, eram vizinhas


quando crianças, sempre estudaram na mesma sala
na escola e agora estavam realizando o sonho de
morar juntas e fazer a mesma faculdade, apesar de
terem escolhido cursos diferentes.

Alicia passou em Enfermagem e Elizabeth em


Direito, ambas na universidade pública. Estavam há
poucas horas da casa de seus pais, conseguiam
voltar para visitá-los em alguns finais de semana.

Não demorou muito tempo em que Alicia e Jack


estavam conversando, logo engataram em um
namoro e só falavam de casamento, mesmo sendo
tão recente todo o relacionamento, eles tinham
certeza que queriam estar juntos, e logo!

Lizzie sempre apoiou a amiga e queria vê-la feliz,


não tinha como não sonhar junto com Alicia, a
menina estava mais realizada do que nunca!

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- Amiga, preciso falar com você agora! – cochichou a
menina no ouvido da outra enquanto estavam
estudando na biblioteca.

Elas saíram até o corredor para não fazer barulho.

- Jack me pediu em casamento! – disse mostrando-


lhe o anel de noivado.

A moça não poderia estar mais feliz, apesar de tudo


estar acontecendo tão rápido na vida da amiga. Não
tinha muito tempo para lidar com as mudanças que
tudo aquilo lhes traria.

- Eu estou tão feliz! Vamos falar com meus pais


neste final de semana!

- E eu não poderia estar mais feliz por você! –


respondeu Lizzie.

O final do segundo semestre de faculdade foi todo


voltado aos preparativos do casamento de Alicia e
Jack, estavam planejando algo simples, no sítio dos
pais do rapaz.

- Nem acredito que nosso dia chegou! – disse Alicia,


quando começou a falar seus votos na cerimônia de
casamento.

Tudo estava lindo, a tarde com o pôr do sol mais


amarelado dos primeiros dias de verão. A noite as
luzes iluminavam a pista de dança onde os noivos
faziam sua primeira aparição após serem declarados
marido e mulher.

Para Lizzie tudo era novo, voltaria para seu segundo


ano de faculdade, mas agora moraria sozinha, não

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teria sua melhor amiga para dividir as contas, as
gordices nos dias de TPM ou para assistirem seriado
até de madrugada. Estava pensando em como seria,
já que desde a infância não se desgrudavam. Ainda
se veriam todos os dias, porque Alicia e Jack
morariam não muito longe dali, as duas ainda teriam
mais três anos de faculdade pela frente, e ele mais
um ano e meio de residência.

Passou a lua de mel e as festas de final de ano, onde


logo já estavam retornando as aulas na faculdade.

Alicia não parava de surpreender a amiga, no


primeiro dia de aula levou um pequeno presente para
Elizabeth, que contava que ela seria “titia em breve”.

- Eu estava me cuidando amiga, tinha marcado a


data para colocar o DIU, mas aconteceu, ficamos em
choque, não planejávamos um bebê agora! –
explicou.

- Mas como estão? Com a notícia?

- Estamos muito felizes! Hoje à noite vamos contar


para os nossos pais! – disse com empolgação.

A gravidez de Alicia estava ocorrendo bem até o


terceiro mês, quando um exame preocupante os
levou ao oncologista.

- Infelizmente é maligno! – disse o médico, com os


exames em mãos. O tumor no cérebro cresceu
silenciosamente e não dava muito tempo para que
eles pudessem esperar o nascimento do bebê para
que começassem o tratamento.

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O médico sugeriu que em situações como essas, a
opção era sempre optar pela vida da mãe, já que um
tratamento tão agressivo como a quimioterapia não
seria compatível com a continuação da gravidez.

Alicia jamais cedeu a essa opção, apesar da


insistência do marido, familiares e amigos, ela disse
que já era uma mãe, e que colocaria a vida do seu
bebê acima da sua. Os últimos meses de gravidez
foram cheios de incertezas, muitas lágrimas, mas
cheios de esperança. Jack era incansável na procura
de novos tratamentos que trouxessem uma nova
perspectiva de cura para a sua esposa.

- Amiga, pega aquela roupinha rosa que está na


primeira gaveta, por favor? – pediu Alicia enquanto
arrumava junto com Lizzie a mala da maternidade.

- Claro! E vocês vão mesmo esperar até ver o


rostinho para decidir o nome?

- Vamos sim! Quero ver com que carinha ela vai


nascer.

- Tenho certeza que ela vai ser a menina mais linda


desse mundo!

- Lizzie, preciso que me faça um favor.

Fazia tempo que Alicia falava algumas coisas como


se estivesse se despedindo, e Elizabeth sempre
tentava fugir desse tipo de conversa, estava
sofrendo, mas não queria passar toda a sua tristeza.

- Amiga...

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- Por favor! – insistiu Alicia – Estou escrevendo essas
cartas para cada aniversário da minha menininha,
pelo menos até seus dezoito anos. O Jack não pode
sonhar que fiz isso, porque ele vive falando que eu
preciso viver como se jamais fosse morrer.

- Eu concordo com ele!

- Amiga, tenho medo por você, pelo Jack e meus


pais... vocês não parecem enfrentar a realidade
como ela é!

Lizzie sentiu seus olhos encherem de lágrimas, era a


primeira vez desde que recebeu a notícia, em que
Alicia falava abertamente sobre a possibilidade de
não sobreviver ao parto.

- Eu posso viver, mas também posso morrer! E o


único pedido que tenho feito a Deus é que se minha
hora tiver chegado, para que Ele me permita ver o
rostinho da minha filha ao menos uma vez.

- Eu não consigo... – disse Elizabeth deixando suas


lágrimas abundarem a roupinha que estava em suas
mãos. Pensar na possibilidade de não ter mais sua
melhor amiga ali, fazia seu coração se despedaçar
em mil partes.

- Amiga, amanhã vou entrar naquela sala de parto e


se eu não sair quero que saiba que você foi uma das
pessoas mais importantes da minha vida, você fez
valer a pena cada pequeno momento que passamos
juntas e eu sou tão grata por saber que minha bebê
terá uma tia como você! Sei que você vai amenizar a
falta de uma mãe na vida dela.

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- Por favor pare Alicia! – disse a moça, abraçando
sua melhor amiga.

- Lizzie me prometa que vai estar aqui nos momentos


importantes em que eu não poderei estar na vida
dela, sempre a lembre do meu amor!

- Eu prometo! – disse em um sussurro!

- Eu te amo tanto amiga!

- Eu te amo ainda mais! Me orgulho da mulher que


você é! Sempre será minha inspiração.

Essa foi a última conversa que as melhores amigas


tiveram antes que Alicia entrasse na sala de parto
para dar à luz a sua menininha, de lá seu corpo já
saiu sem vida, não sem antes ter tido seu pedido
realizado, olhou para a sua pequena e sorriu
deixando algumas lágrimas rolarem.

- Mel... – sussurrou.

- Mel... é um lindo nome amor! – disse Jack enquanto


beijava sua esposa que já estava partindo.

O dia seguinte foi cheio, uma mistura de sentimentos


inimagináveis. Tanto amor por aquele serzinho
inocente que havia chegado ao mundo, mas tanta
saudade por aquele outro ser incrível que havia
deixado esse mundo e agora desfrutava do melhor
lugar de todos, ao lado do Deus a Quem ela tanto
amava.

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.2.

O primeiro mês de vida de Mel foi desafiador para


Jack, ele decidiu depois de algumas semanas, que
era hora de voltar para o seu apartamento, perto do
seu trabalho. Seus pais e os pais de Alicia sugeriram
que ele se mudasse para mais perto, mas precisava
terminar sua residência e não era uma opção ficar
sem seu pedacinho de gente.

Lizzie estava terminando seu segundo ano e logo


estaria de férias, ofereceu toda a ajuda a Jack, eles
revezavam enquanto ela estava na aula, ele cuidava
de Mel e quando precisava ir para a sua residência,
Lizzie assumia. Funcionou muito bem até que a bebê
completasse seu oitavo mês e seu pai finalmente se
formasse.

- Jack! – disse Liz ao bater à porta. Foi entrando


porque não havia recebido nenhuma resposta e tinha
a chave extra para emergências.

O rapaz estava no sofá, enquanto Mel dormia


tranquilamente em seu peito. Era em momentos
assim que Lizzie desejava que Alicia estivesse ali,
ela se sentiria tão sortuda pela sua família.

A moça foi até a cozinha preparar o jantar, essa noite


ela ficaria com Mel porque Jack estava de plantão na
emergência.

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- Liz? – disse Jack da sala.

- Oi! – respondeu, aparecendo na porta.

- Não vi você chegar... desculpe apaguei!

- Imagina! Como foi o dia da Mel?

- Hoje, cansativo! Vou colocá-la no berço, já volto!

Alguns minutos mais tarde Jack veio, já com seu


jaleco e sua mala para o plantão no hospital.

- Mais uma vez não tenho como te agradecer por


tudo! – disse ao recostar na pia da cozinha.

- Não precisa! Mas me conta, o que aconteceu com a


pequena hoje?

- Percebi dois dentinhos nascendo, deu um


pouquinho de febre e muito choro.

- Tadinha... tem dipirona aqui?

- Comprei ontem porque tinha acabado, tá lá no


banheiro.

- Tá legal, posso dar se a febre voltar?

- Pode sim! Ah, queria saber sua opinião sobre uma


coisa...

- Claro!

- O hospital do Câncer lá de Altos me fez uma


proposta para ser um dos oncologistas deles.

- O quê? Jack isso é demais! – disse a menina


abraçando-o – Parabéns!

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- Estou bem tentado a ir, ainda mais por estar a
quinze minutos dos avós da Mel, eles sentem muito
por não estarmos por perto.

- Claro! Super entendo...

- Mas, sei que você tem se desdobrado tanto para


me ajudar com a bebê, não queria tomar essa
decisão de ir para tão longe de você sem sua
opinião.

- Fico feliz por pensar nisso! Você sabe como amo a


Mel né? E quero vê-la feliz, sei que também é
importante que os avós estejam por perto e essa
proposta para a sua carreira é incrível. É claro que
vou te apoiar... apesar de não saber o que fazer com
tanto tempo livre sem vocês por aqui! – brincou.

Os dois caíram na gargalhada.

Jack agradeceu o apoio e se despediu para não se


atrasar para seu plantão.

Depois de algumas horas, Mel acordou e as duas


passaram mais algumas horas brincando, foram
interrompidas quando o celular de Lizzie tocou.

- Oi Jack – era o rapaz do outro lado da ligação.

- Tá tudo bem por aí?

- Estamos bem! Ela não teve mais febre e comeu


toda a papinha, daqui a pouco vou dar um banho e a
mamadeira.

- Que bom, fico feliz de saber que estão bem.

- E por aí?

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- Noite agitada! – disse com um suspiro.

- Tá bem, bom trabalho!

- Brigada Liz! Boa noite!

- Boa noite!

- Era seu papai... – disse com voz de bebê, enquanto


Mel dava seu sorriso mais babado da noite. Era hora
do banho com toda certeza.

Após fazê-la pegar no sono decidiu dar um jeitinho


na casa que já começava a dar sinais de bagunça
acumulada.

Respirou aliviada após sentir cheirinho de casa


limpa, tomou um banho demorado e se deitou no
quarto de hóspedes, onde costumava ficar quando
precisava cobrir os plantões de Jack.

Começou a sentir um aperto em seu coração ao


pensar na possibilidade de não ter Mel a poucos
minutos de distância. Nos últimos meses, aquele
pedacinho de gente que era a cara de Alicia, havia
ajudado a moça a superar a saudade que tentava
rasgar seu coração todos os dias. Agora com tanto
tempo livre, o que faria? Estava ansiosa só de
pensar nisso.

- Bom dia Jack! – disse ao vê-lo entrar pela porta da


sala. Ele chegava e ela estava pronta para ir para o
escritório onde estava estagiando.

- Bom dia Liz! A Mel ainda está dormindo?

- Está sim!

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- Que feitiço você faz com essa menina, que ela só
dorme a noite toda e até tarde quando você está
aqui?

Elizabeth riu enquanto servia uma xícara de café


para os dois.

- Como foi o plantão?

- Teve um acidente de carro na BR, um casal e uma


criança deram entrada em estado grave. Socorri o
marido e a situação é delicada.

- Sinto muito...

- Tudo bem!

- Jack, eu estava pensando essa noite, no final do


ano consigo fazer uma prova de transferência para a
faculdade de Altos, você se importaria se também
me mudasse para lá? Não consegui pregar o olho só
de pensar na possibilidade de não ver a Mel todos os
dias.

O rapaz abriu um sorriso sincero.

- Nós adoraríamos, não sei para quem eu ligaria no


meio de uma crise de choro durante a madrugada.

- Jura?

- Claro, mas não quero que isso te atrapalhe. Trocar


de faculdade é sempre bem trabalhoso, perde
algumas matérias da grade e tudo o mais.

- Eu sei, mas não me importo!

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- A Mel tem sorte da Alicia ter deixado você aqui, por
ela!

Lizzie sentiu seus olhos marejarem, abraçou


rapidamente o rapaz que também estava quase
chorando e se dirigiu em direção a porta.

- Liz – chamou Jack – obrigado também pelo que fez


na casa. Esse cheiro tão bom não é comum por aqui
– brincou.

A moça riu.

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.3.

- Não dá para acreditar que amanhã a Mel já faz


cinco anos! – disse Jack enquanto terminava de
enrolar brigadeiros para a comemoração que Lizzie
estava organizando com a família.

- Passou tão rápido!

- E eu não esqueci que, depois de amanhã, a tia


mais legal da Mel vai fazer vinte e sete anos!

- Não me lembre disso! Tô sentindo o peso da idade


nas costas! – brincou.

- Até parece Liz, espera os trinta! – disse o rapaz que


havia feito aniversário há dois meses.

- Estamos oficialmente ficando velhos!

- Pode parar... tem muito para viver!

- Papai! Papai! – gritou Mel da sala, onde estava


brincando com a vovó Madá, mãe de Alicia.

- Oi filha!

- A vovó me ajudou a montar o castelo da princesa


Sophia! Olha que lindo!

- Nossa! Lindo mesmo!

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- Jack, vou colocar ela no banho, tudo bem?

- Claro, muito obrigado Madá!

- Imagina.

A casa estava agitada, todos os avós estavam


ajudando nos preparativos, a irmã mais velha de
Alicia estava vindo com o marido e os dois filhos de
outra cidade, que ficava há oito horas dali, chegaria
para o café da manhã.

O dia seguinte foi cheio, tinha papel de presente por


toda a casa da vovó Madá, onde estava sendo a
festinha, muitas crianças correndo de um lado para o
outro. Tio André, marido de Jaque, irmã de Alicia, era
o bombeiro oficial da piscina, já que as crianças
estavam empolgadas demais.

- Lizzie – disse Madá, ao chegar à cozinha onde a


moça estava terminando de montar os hot-dogs.

- Oi tia!

- Hoje é um dia especial, sempre lembro da minha


Alicia, e hoje com mais saudade do que dor.

- Nem me fale, preciso manter a mente ocupada para


não pensar demais.

- Você tem feito jus aquilo que minha filha sempre


falou e pensou sobre você, que era a melhor amiga
do mundo! Sempre seremos gratos por tudo o que
fez e faz pela nossa Mel.

- Nem precisa agradecer, faria tudo de novo! Amo


demais essa pitchuca!

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- Estou um pouco preocupada com o Jack, já que
vocês são mais amigos, queria conversar com você.

- Por quê?

- Já faz cinco anos que Alicia nos deixou e ele nunca


se envolveu com mais ninguém. A vida está
passando, queremos muito que ele tenha um novo
amor, que seja feliz.

- Ah tia, ele é muito dedicado a Mel e ao trabalho,


acho que realmente não tem muito tempo para
conhecer pessoas.

- Entendo... e essa mesma preocupação com ele,


tenho com você!

A moça riu.

- Não precisa...

- Você assumiu um papel de mãe e jamais te


agradeceria o suficiente, mas você também precisa
se abrir para construir sua família.

Elizabeth não entendeu bem o porquê, mas sentiu


uma pontada em seu estômago. Estava tão
acostumada a tratar Mel como sua filha, que ouvir
Madá a fez lembrar que apesar de amá-la como sua,
não era, e isso lhe trazia um incômodo inexplicável.

- Liz... – interrompeu Jack – sabe se ainda temos


aquela bexiga rosa? Estão querendo fazer guerra de
bexigas – justificou.

- Acho que está na caixa de plástico no porta malas


do meu carro.

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- Ah beleza, vou dar uma olhada! Obrigado!

Madá a olhou de forma sugestiva quando Jack saiu.

- O que foi?

- Jack é um bom homem...

- É sim! Marido da minha melhor amiga e pai da


minha afilhada! – disse com certo nervosismo na voz.

- Viúvo da sua melhor amiga e minha filha! – corrigiu


carinhosamente – Um homem bom que precisa se
refazer, só converse com ele sobre isso quando tiver
uma chance, por favor!

- Claro tia!

Aquela conversa a deixou confusa:

“Não é possível que a tia Madá esteja sugerindo algo


desse tipo! Meu Deus! É o Jack...” – pensar sobre
qualquer possibilidade de rolar alguma coisa com o
rapaz era completamente distante, jamais tinha
passado em sua mente em todos esses anos.

Afastou aqueles pensamentos e se concentrou em


terminar de servir os convidados.

- Tia Liz! – disse Mel enquanto a moça lhe dava o


último banho do dia, antes de colocá-la na cama.

- Sim

- Hoje foi o dia mais feliz de todos...

- Jura meu amor? Fico tão feliz!

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- Você, o papai e as vovós fizeram a festa mais
bonita, eu amei!

- Lembra que hoje é aquele dia que a gente lê mais


uma cartinha da mamãe?

- Aham...

- Vou ler pra você antes de dormir!

De pijamas e deitada no meio entre Lizzie e Jack, a


moça começou a ler a cartinha, que falava
carinhosamente de como ela imaginava que tinha
sido o dia da sua filha, como ela a amava e estava
feliz por saber que ela estava crescendo saudável e
rodeada de amor.

- Jack... – sussurrou quando terminou de ler, Mel


estava quase pegando no sono – pela primeira vez,
tem uma parte só para você!

- O quê?

- Está escrito... “para Jack”.

O rapaz pegou rapidamente a carta e começou a ler,


pigarreou algumas vezes e levantou-se da cama,
beijou sua filha que já estava dormindo e pediu
licença para Elizabeth.

A moça não leu a segunda parte, mas sabia que de


alguma forma tinha mexido com o rapaz.

22
.4.

- Bom dia aniversariante! – disse Jack quando Lizzie


entrou no apartamento pela manhã.

- Bom dia! – disse com um sorriso.

- Parabéns titia! – disse Mel que estava no colo do


pai, segurando um presente.

- Ah meu amor, muito obrigada! – disse, pegando o


presente e dando um abraço nos dois.

- Posso te ajudar a abrir? – perguntou a menina, ela


adorava rasgar papeis de presente.

- Claro!

Enquanto rasgavam os papéis, Jack servia-lhes uma


xícara de café.

- Uau! Não acredito Jack! É a coleção dos livros da


Anne With an E!

- Achei que ia gostar, percebi você maratonando o


seriado.

- Eu amei! Muito obrigada!

- Imagina! A Mel me ajudou a escolher, né filha?

- Aham! Escolhi o papel rosa de presente titia!

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- É o papel mais lindo que já ganhei meu amor! Vem
cá! – disse abraçando-a e enchendo de beijos.

- Liz, não é justo você passar seu aniversário aqui,


pensei de ligar para uma das vovós ficar com a Mel
hoje!

- Jamais! Essa com certeza vai ser a melhor parte do


meu dia!

O rapaz riu.

- Então, posso levar vocês para jantar hoje, se não


tiver planos.

- Na verdade... – disse com certa hesitação – hoje eu


tenho um encontro.

Jack fixou seu olhar na moça, parecia surpreso com


a novidade.

- Espero que essa sua cara de espanto não seja pelo


fato de finalmente eu ter um encontro.

- Não... – disse com uma gargalhada – imaginava


que você tinha encontros, mas pra ser no dia do seu
aniversário, deve ser especial.

- Pior que não é nada demais, pelo menos ainda não.


E para o seu governo, é a primeira vez que saio com
alguém depois de tudo com a Alicia.

- Mentira Liz, sério?

- Aham...

- Estou me sentindo culpado agora! Te damos tanto


trabalho que você parou sua vida amorosa!

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- Imagina Jack, não foi trabalho algum, você me deu
um presentão nessa vida, que foi o fato de participar
da vida da Mel, vê-la crescer... não trocaria isso por
nada!

- Titia... – chamou Mel que estava deitada no tapete


assistindo seu desenho favorito.

- Oi amor!

- Amanhã vai ser minha peça da escola, o papai vai,


mas todos os meus amiguinhos vão com as mamães
também, queria que você fosse como minha mamãe.

Lizzie engoliu seco e olhou rapidamente para Jack


que estava sorrindo. No decorrer do crescimento de
Mel, algumas vezes ela havia chamado a tia de
mamãe, mas Liz sempre explicava que a mãe estava
no céu. Dessa vez, Mel entendia que a tia não era
sua mãe, mas conscientemente queria que ela
representasse esse papel na escolinha.

- Jack... – sussurrou como se perguntando o que ela


deveria responder.

O rapaz acenou positivamente.

- Mel, a titia ficaria muito feliz em ir!

- Mas pode ser como minha mamãe? Igual meus


amiguinhos?

Novamente Liz olhou para Jack, pedindo socorro


somente pelo olhar.

- Filha, por que você quer que a titia vá como se


fosse mamãe?

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- Porque meus amiguinhos têm mamãe e eu também
quero.

Liz estava com uma mistura de sentimentos, não


achava justo alguém tomar o lugar de Alicia na vida
de Mel, mas a menina estava sofrendo por não ter
alguém para chamar de mãe.

Jack olhou para a moça e perguntou:

- Tudo bem para você?

Liz apenas acenou positivamente.

- Então amanhã a tia vai na sua apresentação! –


disse para a filha.

- Como minha mamãe? – perguntou.

- Sim... – sussurrou Liz em resposta a menina.

Aquele pequeno serzinho não estava se contendo de


alegria, levantou-se do tapete, abraçou a tia e
começou a pular e gritar:

- Eu tenho uma mamãe... eu tenho uma mamãe!

Liz e Jack estavam com os olhos marejados.

O rapaz correu para casa após seu plantão, porque


não queria atrapalhar o encontro de Lizzie.

- Oi Jack! – disse a moça vindo em sua direção com


seu vestido preto, foi o escolhido para o jantar. Havia
feito alguns cachos no cabelo com o babyliss e uma
maquiagem simples, mas caprichou no batom
vermelho.

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- Uau! – disse o rapaz paralisado enquanto fechava a
porta da entrada.

- Acha que exagerei?

- Nem um pouco... – sussurrou – está linda!

- Obrigada Jack – sem nem respirar entre uma


sentença e outra, começou a falar que Mel ainda não
tinha terminado a lição de casa e que trouxe comida
do restaurante onde almoçou com a menina, se ele
quisesse poderia jantar.

- Liz, calma, respira! – disse com uma gargalhada.

- Não consigo, tô tão nervosa! Faz tanto tempo que


não saio em um encontro, estou com medo de ser
um desastre!

- É impossível que isso aconteça! Você vai ver! Vem


cá vai... – disse oferecendo um abraço – respira!

- Titia, terminei! – gritou Mel do banheiro.

- Ela saiu do banho... – explicou Lizzie.

- Pode deixar comigo! Tem um vinho na geladeira,


toma um pouco, vai te acalmar.

Após alguns minutos Jack chegou à cozinha de


banho tomado.

- Aceita um vinho? – ofereceu a moça.

- Hoje eu tô precisando!

- Dia difícil?

- Puxado... perdi um paciente.

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- Ah Jack, sinto muito!

- Tudo bem... o quadro dele era bem difícil de


reverter.

- Posso remarcar e a gente fazer alguma coisa com a


Mel.

- Espertinha, te conheço bem para saber que está


querendo fugir desse encontro!

- Não fui inteligente em marcar bem no dia do meu


aniversário, se for um desastre vai ficar pra história!

- Se você não se divertir, vem aqui depois, eu e a


Mel vamos fazer uma maratona de Anne With an E
com você! – brincou.

- Ah não... já quero ficar! – disse, quando o celular


tocou.

- Ele chegou?

- Acho que sim! Me deseje sorte...

- Boa sorte Liz!

- Brigada Jack! Deixe um beijo na Mel!

Surpreendentemente o encontro foi um sucesso, foi


divertido e o papo rolou fluido. Quando chegou ao
prédio, passou no apartamento de Mel para lhe dar
um beijo de boa noite. Há mais ou menos um ano,
havia conseguido alugar um apartamento no mesmo
prédio de Jack, o que facilitou a logística no dia a dia
com a menina.

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- Acordados ainda? – disse, quando abriu a porta e
encontrou a menina e seu pai no sofá assistindo
desenho.

- Titia!

- Oi meu amor! Por que não tá dormindo?

- Alguém tá fazendo manha pra dormir hoje... – disse


Jack, claramente cansado – bem vinda ao décimo
episódio de Princesa Clara – brincou.

A moça riu, tirou os sapatos e se sentou ao lado


deles no sofá.

- Mel, vem aqui no colo da titia – a menina foi – deita


aqui que a gente vai acalmar o coraçãozinho para
dormir.

Enquanto acariciava seu cabelo, cantarolava uma


música de ninar que elas já estavam acostumadas.

- Se ela dormir, eu desisto! – sussurrou Jack.

Em menos de dez minutos a menina já havia pegado


no sono.

- Que sonífero você tem? Não é possível! – brincou.

- Está acostumada com o colinho...

- Você é demais mesmo! – disse – Deixa eu colocá-


la na cama.

Quando voltou a sala, tirou o desenho e colocou uma


música.

- Ufa, não aguento mais desenho! – brincou.

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- Ossos do ofício, papai!

- Pois é! Aceita um vinho?

- Aceito!

Ele serviu duas taças na cozinha.

- E como foi o encontro?

- Surpreendentemente, foi muito bom!

- Sabia!

- É, foi divertido, acho que ainda levo jeito! – brincou


– Mas, e você Jack?

- O que?

- Quando vai voltar a ativa nos encontros?

O rapaz riu nervoso.

- É um pouco mais complicado agora, preciso pensar


na Mel e em tudo o mais.

- Entendo! Você nunca mais saiu?

Jack balançou a cabeça em negativo.

- Não, desde a Alicia.

- Posso te dar umas dicas do que fazer no primeiro


encontro – disse com uma gargalhada – já que agora
sou expert – brincou.

- Tem alguém se achando... – disse – sabe, foi isso


que a Alicia disse na carta de cinco anos da Mel.

- Sério?

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- Sim! Ela sempre brincou que se algo acontecesse
com ela, eu precisava esperar cinco anos até me
envolver com alguém de novo. Na carta ela disse
que não acreditava que tinha me pedido para esperar
tanto, era tempo demais pra ficar sozinho. Ela pediu
para que eu me abrisse para novas pessoas. Mas sei
lá, é estranho!

- Sei muito bem o que sente! Por muito tempo


parecia que sair e me divertir era tão injusto, mas
hoje foi tão bom e eu sei que conhecendo a Alicia
como eu conheço, ela iria querer isso!

- Sem dúvidas... – disse Jack – me parece que o


encontro foi realmente bom.

- Foi legal, mas acho que o melhor foi justamente


isso, me sentir bem em me divertir, e não culpada.

- Eu entendo perfeitamente!

- Você também se sente assim?

- Um pouco! Eu sinto falta é claro, mas sinto algo


parecido quando me imagino tentando algo novo
com alguém.

- Você também sabe disso, mas só para te lembrar...


ela iria querer que você fosse feliz!

- Eu sei...

- Preciso ir Jack, já está tarde! Tenho reunião bem


cedinho.

- Tudo bem, amanhã estou de folga, vou levar a Mel


na casa dos avós.

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- Vai ser um dia divertido!

- E a noite é dia da pizza aqui em casa, se quiser


participar!

- Sabe que não perco uma pizza por nada!

- A Mel tá ansiosa para abrir massa e se sujar inteira!

- Eu também estaria se fosse ela!

Liz levantou e Jack a seguiu para abrir a porta.

- Boa noite Jack!

- Boa noite! – disse dando-lhe um rápido abraço.

32
.5.

O café da manhã foi na casa dos pais de Jack que


moravam há dez minutos do apartamento do rapaz.

Catarina, sua mãe, encontrou James, quando fez um


intercâmbio no Canadá aos dezoito anos, se
apaixonaram, casaram e vieram morar no Brasil.
Jack era o filho do meio de mais dois irmãos, Léo e
Nate que moravam no Canadá.

- E como está a Liz? Achei que ela viria também... –


comentou a mãe.

- Ela estava trabalhando hoje, não pôde vir!

- Vovó... sabia que a tia Liz virou minha mamãe?

Os avós rapidamente direcionaram seus olhares a


Jack, como se pedindo uma explicação?

- Não desse jeito que vocês estão pensando... –


explicou o rapaz. E comentou sobre a apresentação
na escola de Mel.

- Não seria uma má ideia filho! – soltou James.

- Amor... – brigou Catarina.

33
- Não... tudo bem! Mas, gente, ela era a melhor
amiga da Alicia, não imaginam o quanto isso soaria
estranho?

- De forma alguma Jack! Se tem alguém que todos


nós ficaríamos felizes em ver ao seu lado, seria a Liz
– disse a mãe.

- Que história é essa?

- Todos nós concordamos que vocês fazem um


trabalho fantástico ao criar a Mel juntos, por isso
achamos que seriam um ótimo casal – entregou o
pai.

- Quer dizer que vocês têm conversado sobre a


minha vida e a da Liz? – perguntou Jack, querendo
dar risada de toda aquela situação.

Ele era viúvo, mas não quer dizer que não


continuava a ser um ser humano. É óbvio que já
havia se sentido atraído pela moça, ela era linda e
por todos esses anos estava sendo mais que o chão
de Jack. Mas essa ideia sempre foi afastada para
bem longe, sabia que principalmente para Liz, seria
uma ideia incabível, por causa de toda a história com
Alicia.

Enquanto fingia que toda aquela conversa com os


pais não surtia qualquer efeito sobre ele, dava
gargalhadas das tentativas da mãe em ser discreta e
do pai em ser o mais revelador possível.

Mais tarde, colocando Mel na cadeirinha para


almoçarem com os outros avós, o pai o puxou de
canto.

34
- Filho, desculpe as brincadeiras.

- Imagina pai, tudo bem!

- Você sabe que merece ser feliz de novo, não é?

- Eu já sou!

- Eu sei, mas a Mel está crescendo e um dia, será só


você de novo, neste dia você vai entender o quanto
ter alguém que te faz bem ao lado é importante.

- Tudo bem...

- Ninguém vai tomar o lugar da Alicia, porque ele era


só dela! Mas agora é uma nova história!

- Obrigado pai!

A tarde, Mel curtiu a piscina com os avós e o papai,


quando chegou em casa estava capotada.

- Que casa silenciosa! – disse Liz quando Jack abriu


a porta.

- É incrível o que uma tarde de piscina pode fazer


com uma criança de cinco anos – brincou.

- Quer deixar a noite da pizza para outro dia?

- Não, já estou abrindo a massa, sei que ela vai


acordar com fome.

Liz cortava os ingredientes do recheio enquanto Jack


terminava de colocar a massa na fôrma.

- Que sabor a senhorita vai querer? – disse com


sotaque italiano.

35
- Marguerita, por favor!

- Saindo!

Estavam se divertindo enquanto tomavam um vinho


argentino que Liz havia trazido, ganhou de um cliente
depois de vencer sua causa.

- Quer dizer que a doutora Elizabeth colocou o


tribunal abaixo hoje? – brincou Jack, enquanto
comiam sentados na mesa da pequena varanda.

- Foi um trabalho em equipe é claro, mas a sensação


de ganhar é incrível.

- Imagino! – disse - Quais são seus planos? Para os


próximos anos?

- Estou bem realizada profissionalmente, mas ainda


espero uma promoção importante!

- Isso é bom!

- Tenho mais sonhos pessoais agora.

- Se puder compartilhar algum...

- Claro que posso Jack, ainda mais com você! –


pensou por alguns segundos e continuou – Eu quero
muito viajar... conhecer o mundo! Fiz o mesmo
mochilão que a Alicia aqui na América do Sul, mas
tenho vontade de conhecer outros países e culturas.

- Isso é demais!

- Você morou fora né?

36
- Sim, antes da faculdade morei no Canadá por um
ano, tenho família lá.

- Pelo pouco que ouvi e vi, Montreal é linda!

- É sim, especialmente no Natal... deixa eu pegar


meu celular, tenho algumas fotos!

Liz se encantou com cada canto da cidade, parecia


que tinha saído de um filme.

- Já quero ir pra lá!

- Podemos... estamos planejando de ir ao casamento


do Léo.

- Sério? Não é uma má ideia!

- Então fechou! Vai ser no começo do próximo ano.


Mês que vem vou começar a pesquisar as
passagens.

- Legal! Já é um país que posso começar a dar check


na listinha! – brincou.

- Que mais?

- No aniversário da Mel, a Madá veio conversar


comigo porque estava preocupada e que eu deveria
pensar em começar uma família.

- Sério?

- Sim... aquilo me machucou um pouco, mas sei que


não foi a intenção dela! Eu só... amo a Mel como se
tivesse saído de mim!

- Eu sei...

37
- Mas o que ela disse é verdade, apesar disso,
preciso ter meus filhos, e sinceramente já tô com
saudade de bebês – brincou – era uma fase tão
gostosa da Mel.

- Era mesmo! Lembra quando a gente a deixou por


um segundo na cadeira com a papinha e quando
voltamos a cozinha inteira estava com purê de
abóbora? – disse Jack com uma gargalhada.

- Como lembro! Acho que até hoje deve ter abóbora


escondida na sua antiga cozinha!

- Dava um trabalho sem medida, mas era uma delícia


mesmo!

- Era sim! – respondeu Liz com um sorriso sincero –


Acho que quero isso para o meu futuro, casa,
marido, filhos... sabe quando você começa a sentir
falta de algo que nunca teve?

- Imagino...

- A Mel supre meu lado mãe, te juro! Mas tenho


vontade de ver a barriga crescer, ter enjoos e todas
aquelas outras coisas... – brincou.

- Eu entendo! – disse encarando-a.

Só por hoje ele não quis afastar o pensamento de


como Liz era uma mulher incrível, e ela estava linda
com aquele vestido verde, que deixava seus olhos
claros ainda em mais evidência. Seus cabelos longos
e escuros estavam de um lado só e quando ela
sorria, uma pequena mecha insistia em cair sobre
seu rosto.

38
- Mas e você, Jack Holligan – sobrenome que havia
herdado do pai – quais os planos para o futuro?

Ele respirou fundo.

- Estou me permitindo sonhar de novo... nada muito


concreto ainda, mas já é alguma coisa.

- É sim... quero muito te ver feliz Jack!

- Eu já sou, sabia? Hoje tenho tudo que preciso...

E era uma verdade, ter Liz ali fazia com que ele não
sentisse falta de outra companhia. Eles se
entendiam, eram melhores amigos e tinham uma
ligação ainda maior por causa de Mel, que tinha
acabado de acordar e foi correndo para o colo da tia
assim que a viu na varanda.

- Titia! Que saudade!

- Eu também estava meu amor! – disse, enchendo-a


de beijos.

- Vocês fizeram pizza sem mim? – perguntou,


olhando para o pai.

- Se fôssemos esperar por essa dorminhoca,


estaríamos morrendo de fome até agora! – brincou,
enquanto a agarrava para lhe encher de cócegas.

Liz adorava ver cenas como essa. Jack era um ótimo


pai e o admirava ainda mais por isso. É claro que o
achava bonito, mas isso não vinha ao caso, porque
ele foi marido da sua melhor amiga e fim. Foi assim
que afastou seus pensamentos naquela noite.
Ficaram montando um quebra cabeça até Mel pedir

39
para ver seu filme preferido e apagar no sofá ao lado
de seu pai.

A moça tentou levantar-se com o máximo de cuidado


para não acordar os dois que pareciam exaustos.
Pegou um cobertor no quarto de Jack e os cobriu,
desligou a tv, guardou algumas coisas na geladeira,
deu mais uma olhada naquela cena dos dois
dormindo agarradinhos e sorriu antes de apagar a luz
e sair.

40
.6.

Liz passou algumas noites com Mel para cobrir os


plantões de Jack, esperava a menina dormir para
trabalhar, já que estava com alguns casos
complicados e os julgamentos estavam chegando.
Neste final de semana estava planejando se dedicar
um pouco mais porque Mel e Jack estavam se
preparando para viajar com os avós.

- Mel, vamos pegar aquele seu maiô de florzinha? Tá


na segunda gaveta, traz para a titia colocar na mala.

- Eu não quero ir sem você! – protestou.

Liz também já estava sentindo saudade, era a


segunda vez, desde que Mel nasceu, que passaria
dois dias sem vê-la, isso a deixava com o coração
apertado.

- Lembra do que conversamos? Vai ser uma viagem


muito legal com os vovôs, a titia e seus primos. Vai
ter piscina, parquinho e muito sorvete!

- Mas o papai vai, por que você não pode ir também?

Como explicar que ela e o pai estavam em


categorias diferentes? Não era a mesma coisa ela ir
a uma viagem de família, se sentiria desconfortável.
Pareceria que ela e Jack eram alguma coisa e por
isso rejeitou as inúmeras vezes em que ele, Mel e

41
até mesmo Madá, a convidou para ir junto. Além
disso, Jaque, irmã de Alicia, também estaria lá e
desde a morte da irmã, pela aproximação de Liz com
Mel, parecia haver um certo ciúmes por parte da
moça, mais um motivo para Liz rejeitar a proposta de
viajar.

- Filha, vamos lá? – disse Jack, batendo no batente


da porta do quarto da menina.

Ela foi triste abraçar o pai.

- Que foi meu amor? – perguntou, olhando para Liz


em busca de algum sinal do que poderia estar
acontecendo.

- Não quero ir sem a titia...

Jack sorriu compadecendo-se da menina.

- Já falei para ela que vai ser muito divertido e que


ela vai comer muito sorvete com os priminhos.

- É verdade...

- Mas não vai ser tão legal assim, porque você não
vai estar com a gente! – disse a menina com voz de
choro.

- Isso eu tenho que concordar... – sussurrou Jack,


com um sorriso no canto da boca.

Liz sorriu de volta e ofereceu colo para consolar a


menina e dar possibilidade de o rapaz colocar as
malas no elevador. Desceu com eles até o carro e
deixou cair algumas lágrimas depois de colocar Mel
chorando na cadeirinha.

42
- Você vai ficar bem? – perguntou Jack preocupado.

- Vou tentar... – disse.

O rapaz limpou suas lágrimas e a puxou para um


abraço apertado.

- Vamos sentir sua falta... – disse com um olhar


sincero.

- Eu também...

Os dois se entreolharam por alguns segundos, até


Liz soltá-lo e voltar para dar um beijo em Mel que
estava se acalmando.

- Te ligo quando chegarmos por lá! – disse o rapaz,


saindo da garagem com o carro.

- Combinado!

- Tchau Liz...

- Tchau titia!

- Aproveitem muito!

Um vazio inexplicável habitava o coração de Liz


quando chegou a seu apartamento. Estava tão
apegada a esses dois! Sim, não era somente a falta
de Mel que estava fazendo-a derramar algumas
lágrimas, já sentia saudade de Jack também, e isso
era estranho. Não queria se sentir dessa forma, mas
não conseguia controlar o que estava passando em
seu coração nesse exato momento. Decidiu tomar
um banho e fazer uma noite da beleza, hidratou o
cabelo, fez uma máscara no rosto e escolheu uma

43
roupa confortável para passar a noite em seu
escritório, precisava ocupar sua mente.

Meia noite seu celular tocou:

- Te acordei? – era Jack.

Seu coração pulsou diferente ao ouvir a voz do


rapaz.

- Não, estou aqui no escritório! Estava mesmo


ficando preocupada com vocês...

- Chegamos agora a pouco no hotel, o voo deu uma


atrasada.

- Que bom que chegaram... a Mel está bem?

- Está sim! Quis dormir com os primos hoje...

- Ah que bom! E a Jaque?

- Simpática como sempre! – disse em tom irônico.

Ela não apoiou o casamento de Alicia com Jack na


época, por achar que era tudo muito recente. Depois
da morte da irmã sugeriu cuidar de Mel até que o
rapaz se formasse, ele se ofendeu muito com isso e
desde então, o relacionamento dos dois é passivo
pela Mel, para que ela cresça em um ambiente
familiar saudável.

- Sabe que ela foi um dos motivos pelo qual não


aceitei ir com vocês, né?

- Imaginei sim... ela cisma com a gente né? Mais


uma coisa que temos em comum! – disse Jack com
uma gargalhada.

44
- Mas tenta aproveitar... você precisa descansar!

- Prometo que vou tentar!

- O que vai fazer com essa noite sem galinha


pintadinha? – perguntou Liz em tom de brincadeira.

- Nem sei mais o que adultos fazem! Precisava de


você aqui para me dar umas dicas.

- Sai para comer alguma coisa, é uma cidade nova,


acho legal conhecer!

- Boa ideia... vou ver se crio coragem para sair dessa


rede, na minha varanda com vista para o mar! –
disse em tom de brincadeira.

- Se o objetivo era me fazer inveja... conseguiu! Meu


cenário aqui é uma mesa cheia de papéis.

O rapaz riu.

- Você também precisa descansar sabia? Quando foi


a última vez que tirou férias e foi viajar?

- Sabe que já sofro de ficar um final de semana longe


da Mel, morreria se fosse um mês!

- Estamos com saudade de você já! No avião, todo


lanche que vinha a Mel falava que ia guardar para
você!

- Mentira Jack... isso é sério?

- Sim!

45
- Tô pegando um avião agora! Não vai dar pra
esperar até segunda... quero encher essa menina de
beijo!

- Ela iria adorar! Nós iríamos né... – corrigiu – assim


eu não teria que enfrentar a Jaque sozinho o final de
semana inteiro – brincou.

- Espertinho! Essa eu vou deixar para você!

- Vou deixar você trabalhar então...

- Vou revisar os papéis mais um pouquinho e depois


ver algum seriado!

- Faz isso sim! Boa noite Liz!

- Boa noite Jack, aproveita bastante!

- Vou tentar!

- Tchau...

- Beijo!

No dia seguinte, o rapaz mandou várias fotos de Mel


na piscina e a noite no parque de diversões. Antes
de jantar, ela insistiu que queria ver a tia, então Jack
fez uma vídeo chamada.

- Oi titia!

- Oi meu amorzinho, tô morrendo de saudade!

- Eu também! Você tá tão bonita!

- Obrigada! A titia vai sair com uns amigos...

46
Jack ainda não tinha aparecido na chamada, mas
ouvia tudo do banheiro enquanto se arrumava para
jantar com a família.

- Ah, achei que era para vir comer com a gente!

A moça riu.

- Eu adoraria, mas estamos um pouquinho longe!


Como está sendo a viagem? Está se divertindo?

- Aham, o papai me deixa comer sorvete todo dia!

- Ah é? Seu pai é muito bonzinho, não são todos os


pais que fazem isso! – brincou.

- Ele é bonzinho mesmo! E muito bonito... olha ele se


arrumando! – disse, virando a câmera para o pai que
estava terminando de arrumar o cabelo.

Liz ficou sem graça de concordar com a garota, e


Jack foi até a cama onde Mel estava para falar com a
moça.

- Viu que tenho uma fã né? – brincou.

- Eu percebi!

- Pago bem para ela falar bem de mim, né filha?

- Aham! Com sorvete!

Liz caiu na risada, adorava esses dois.

- Mas e você? Tá linda mesmo... – disse Jack.

- Obrigada! Aquele cara, do meu aniversário, sabe?


Me chamou para jantar com uns amigos.

47
- Segundo encontro então?

- Não sei, mas se for, estou ganhando de você!

O rapaz riu.

- Vou dar um jeito de te alcançar nesse placar –


brincou.

Liz sentiu seu coração apertar, era estranho pensar


que se Jack se envolvesse com alguém e esse
relacionamento se tornasse algo sério, ela precisaria
mudar as coisas com ele e Mel, não conseguia se
imaginar sem os dois na sua vida diária.

- O interfone está tocando, acho que preciso ir.

- Tá legal! Aproveita!

- Você também Jack!

- Vem dar tchau pra titia, filha! – chamou.

- Tchau tiiiiia – gritou – te amo!

- Te amo meu amor! Curte bastante aí!

Quando desligou, Jack ficou pensativo. Para ele, era


igualmente estranho pensar em Liz construindo uma
família, tendo outro cara convivendo com a Mel, com
certeza isso traria mudanças para o relacionamento
dos três e não estava preparado para isso, não
agora.

48
.7.

Para a alegria de todos, o voo chegou no horário e


assim que Liz chegou do escritório, tomou um banho
e correu para ver Mel.

- Oiii, to entrando – disse, abrindo a porta da entrada.

- Tô na cozinha! – gritou Jack.

- Oi!

- Liz... – disse, abraçando a moça. O abraço foi


demorado como nunca, a falta foi verdadeira.

- Senti muita saudade! – disse a moça, que sentia


seu coração palpitar diferente.

- Eu também! – disse baixo, enquanto soltava sua


cintura.

Logo Mel estava correndo até a cozinha!

- Titia! – gritou quando a viu.

- Meu amor! – disse, enchendo-a de beijos – Como


você cresceu em dois dias!

A garota riu.

- Trouxe vários presentes... vem ver! – disse Mel,


puxando-a pela mão até o quarto.

49
Tinha desde suco do avião, sabonete do hotel, até
um chapéu de praia, que Mel insistiu em trazer para
Liz.

- Tive que segurar, porque até a areia da praia ela


queria trazer para você! – disse Jack, aparecendo na
porta.

A moça gargalhou.

- É que, como você não pôde viajar com a gente,


quis trazer todos os pedacinhos da viagem para
você!

Aquilo fez o coração de Liz derreter.

- Eu amei todos os presentes, amei ainda mais por


você ter voltado para mim!

Mel subitamente pulou do colo da tia, a beijou e disse


que a amava.

A noite foi divertida, com pizza, claro!

- Titia, pode me colocar para dormir hoje?

- Posso sim!

- Eu vou lavando a louça então! – disse Jack.

Liz adorava a hora de colocar Mel na cama, era um


momento só delas, onde contavam histórias e a tia
cantava a mesma canção até que a menina pegasse
no sono, o que não demorou para acontecer, estava
claramente cansada da viagem.

- Já? – perguntou Jack quando Liz chegou à cozinha.

50
- É incrível o que uma viagem pode fazer com uma
criança de cinco anos! – disse, imitando a voz do
rapaz que vira e mexe falava essa frase.

Isso o fez dar uma gargalhada divertida.

- Vinho?

- Aceito!

Foram até a varanda e se sentaram na mesa bistrô,


a vista era linda, Jack morava no décimo andar e as
luzes da cidade pareciam pintar todo o cenário. Uma
música bem calma tocava ao fundo.

- E como foi seu final de semana?

- Cansativo, mas produtivo! – respondeu Liz.

- Conseguiu terminar o que precisava fazer?

- Boa parte sim, essa semana tenho algumas


audiências, mas me sinto mais preparada!

- Que bom! E o encontro?

Liz o observou atentamente, Jack estava diferente,


especialmente agora quando lhe perguntava do
encontro. Parecia um pouco incomodado.

- Foi legal, os amigos dele são divertidos.

- É mesmo?

- Sim, isso me fez pensar que nossa vida social


precisa melhorar... – brincou.

- Por quê? – disse com uma risada.

51
- Jack, nós não temos amigos, a não ser os pais dos
amigos da escola da Mel.

- Já é alguma coisa!

- Não... a partir de hoje, você vai sair mais com seus


amigos do trabalho, e eu também! Nós somos jovens
ainda, mas vivemos o mundo da Mel, precisamos
melhorar isso.

- É, eu sinto falta de uma saída de adultos.

- É disso que estou falando, nós precisamos!

- Então, vou deixar a Mel nos meus pais essa


semana e vou te levar para jantar com uns amigos
do trabalho, topa? – perguntou, esperando qual seria
a reação da moça.

Pensou por alguns segundos e respondeu:

- Topo!

- Combinado, deixa eu ver como está minha escala


de plantões – disse pegando o celular.

Liz ficou pensativa no que aquilo poderia significar,


mas por alguns segundos deixou de se preocupar,
sua vida era movida a preocupação, queria viver uma
noite com Jack sem pensar em escola, comida,
brinquedos e afins.

- Na quarta à noite, rola pra você?

A moça teria algumas audiências e reuniões, mas a


noite estaria livre em qualquer dia da semana.

- Rola sim...

52
- Te pego às 19h então... deixo a Mel na minha mãe
e volto para te pegar.

- Combinado!

- Amanhã confirmo com uns amigos se também


podem.

- E onde nós vamos?

- Tem um restaurante legal em uma cidade bem


pertinho daqui, dizem que a vista é espetacular!

- Legal! Um brinde a nossa vida social! – brincou,


levantando a taça.

Ele retribuiu o gesto.

Quarta-feira, durante o dia Liz teve duas reuniões e


uma audiência, mas conseguiu sair um pouco antes
e passar no salão, marcou manicure e uma escova
em seu cabelo que estava cada vez maior, queria
cortar, mas adorava ele grande também, uma dúvida
eterna.

Às 19h sua campainha tocou, era Jack, ele estava


lindo com uma camisa social preta, era raro o ver
sem o famoso jaleco branco de todos os dias. Seu
perfume exalava longe e seu cabelo ainda molhado
estava penteado para trás. Liz o viu pelo olho mágico
de sua porta, sorriu por se sentir tão nervosa...

“É o Jack, Elizabeth, pare de graça!” – disse para si


mesma em pensamento.

- Uau! – foi o que ele disse, assim que ela abriu a


porta.

53
A moça escolheu seu vestido vermelho, um salto
pequeno e um brinco dourado que se destacava.

- Pra você! – disse o rapaz lhe entregando uma rosa.

- Jack, não precisava, muito obrigada! – respondeu


sem graça.

- Estou treinando para voltar a ter encontros, depois


você me diz se está dando certo – disse com um
sorriso.

- Seu primeiro dia de treinamento com a expert em


encontros... – respondeu Liz com uma gargalhada.

Chegaram ao restaurante e três casais os


esperavam em uma mesa grande, próximo a janela.

Dois médicos e suas respectivas esposas, e uma


médica com seu noivo. Depois das apresentações,
Jack puxou a cadeira para ajudar Liz a sentar. O
lugar era refinado, tinha música ao vivo e meia luz.
Estava cheio, por isso foi importante reservar.

- Então Liz, o Jack fala muito sobre você! – disse


Felipe, um dos médicos da equipe.

- Espero que bem...

- Sempre muito bem!

- Vocês são casados há quanto tempo? – perguntou


Keila, esposa de Julio, outro médico.

- Na verdade... – disse, olhando para Jack pedindo


um socorro.

- Nós não somos casados... – explicou o rapaz.

54
- Ah, desculpe, mas já marcaram a data ou você só
está enrolando a mulher? – brincou.

Todos riram, inclusive Liz, mas de nervoso.

- Nós somos amigos... – explicou Jack.

- Ah me desculpem... não sabia!

- Tudo bem! – disse Liz.

Os casais eram animados, o noivo da Doutora Laura


era oficialmente o contador de piadas. Todos riram a
noite inteira com as histórias do rapaz. Por algumas
vezes Liz pegou Jack olhando-a de forma diferente.

Os rapazes foram acertar a conta e as mulheres


foram até o banheiro.

- Liz, o Jack me contou toda a história... – disse


Laura.

- Pois é...

- É lindo o que você tem feito por eles! Jack sempre


fala de você com muita gratidão e brilho nos olhos.

- É mesmo?

- Sim...

- Ele e a Mel também são especiais para mim!

- Sabe, tem algumas médicas e enfermeiras no


hospital que são loucas pelo Dr. Jack, saberia dizer o
porquê de ele não estar aberto a se envolver com
alguém?

55
- Acho que ele está começando a pensar nisso de
novo, depois de tudo que aconteceu.

- Entendi, tenho a impressão que não é só por isso!


Acho que ele já tem alguém...

- Por que você diz isso?

- Não sei... uma impressão apenas! – disse – Bem,


foi um prazer te conhecer! Espero que possamos nos
encontrar mais vezes.

- O prazer foi todo meu!

Os casais se despediram e foram até o carro.

- O que achou da nossa vida social badalada? –


perguntou Jack, em tom de brincadeira quando
estavam voltando para casa.

- Acho que não estamos tão por fora como eu


achava... – disse Liz.

- Viu! Ainda sabemos conversar coisas que não


sejam ligadas a crianças – brincou.

- Sabemos... seus amigos são divertidos.

- Desculpe pelo mal entendido com a esposa do


Julio, não sabia que ele não tinha dito a ela que não
éramos um casal.

- Tudo bem... sem problemas!

- Minha mãe mandou mensagem dizendo que a Mel


já dormiu, pediu para deixá-la até amanhã.

56
- Que bom, seria melhor avisar na escola que ela vai
faltar.

- Verdade! Amanhã eu dou uma ligada.

- Tenho o WhatsApp da professora, posso mandar


uma mensagem – sugeriu Liz.

- A noite mal terminou e já estamos falando da Mel...

- Não sabemos não fazer isso! – brincou.

Voltaram para casa ouvindo música e conversando


sobre o jantar. Quando chegaram ao prédio onde
moravam, Jack fez questão de deixá-la na porta de
seu apartamento que ficava dois andares abaixo do
seu.

- Quer entrar? – perguntou Liz – Já que está com


vale night podemos ver um filme, sei lá.

- Claro!

Escolheram uma série que estavam vendo juntos,


Jack não durou nem o primeiro episódio, o que
sempre fazia Liz tirar sarro dele. Mas a história
estava tão interessante que ela decidiu continuar.
Claro que o rapaz a acusaria de traição quando
descobrisse, mas a curiosidade foi maior.

Ela apagou no terceiro episódio. Quando Jack


acordou, a tv estava ligada e a moça estava
dormindo em seu braço. Por alguns minutos o rapaz
ficou ali, observando-a. Era tão boa a sensação de
tê-la em seus braços, não queria ir embora, mas
achou melhor. Tentou se desvencilhar

57
silenciosamente, mas foi em vão, o sono leve de Liz
a fez acordar.

- Desculpe, não queria ter te acordado! – disse Jack.

- Tudo bem! Que horas são?

- Três da manhã...

- Nossa!

- Terminei o terceiro episódio, que pena que você


dormiu! – brincou.

- Jack, você não durou nem o primeiro!

- E espero que alguém não tenha visto sozinha...

Liz fez uma cara de culpada.

- Esse pecado não tem perdão!

- Amanhã você me acompanha!

- Espertinha! – suspirou – Já vou tá?

Liz se levantou para levá-lo até a porta.

- Boa noite – disse abraçando-a.

- Boa noite Jack Holligan...

Ele riu. Achava engraçado por ela ser a única pessoa


que o chamava por esse sobrenome.

Os dois se encararam por alguns segundos. Seus


olhares estavam diferentes, não era como
antigamente quando não havia nada além da
parceria. Agora, existia um carinho, uma vontade,

58
algo oculto onde nenhum dos dois estava disposto a
mexer, estavam com medo de descobrir, por isso
rapidamente o rapaz soltou sua cintura e caminhou
em direção ao elevador.

Liz fechou a porta e sentiu seu coração apertar. Era


aquele sentimento de culpa outra vez. Agora, não por
se divertir, mas por se divertir com o Jack. Se sentia
traindo a confiança de sua amiga e isso a fez chorar
embaixo do edredon.

59
.8.

No dia seguinte, Liz foi até o apartamento de Jack,


ficaria com Mel esta noite por causa do plantão do
rapaz.

- Boa noite! – disse Jack ao abrir a porta.

- Hello! – disse, cumprimentando-o como sempre


fazia.

- Titia! – disse Mel, correndo para abraçá-la. Era


sempre a mesma recepção e Liz adorava!

- Deixei um macarrão no forno para vocês comerem


mais tarde!

Jack era um ótimo cozinheiro, havia puxado seu pai.

- Macarrão? Que delícia papai! – gritou Mel.

- Tudo bem? – perguntou Liz a Jack quando foram


até a cozinha.

- Tudo sim!

- Parece estranho...

- Hoje aconteceu algo!

- Hum...

60
- Sabe o Felipe? Da minha equipe? – perguntou,
recostando-se na pia.

- Claro!

- Me ligou dizendo que uma amiga dele estará na


cidade e que tinha falado de mim para ela.

- Ah é? – disse Liz com certa decepção na voz.

- Sim... ele perguntou se eu não toparia jantar com


eles amanhã à noite, para conhecê-la.

A moça pensou por alguns instantes no que dizer...

- Uau... seu primeiro encontro oficial então?

- É... não sei na verdade! Não sei como encarar isso!

- E o que você respondeu?

- Concordei...

- Legal Jack, fico feliz por você! – disse, desviando o


olhar do rapaz.

- Pensei de deixar a Mel nos meus pais amanhã à


noite.

- Imagina, ela fica em casa comigo!

- De jeito nenhum Liz, é muita folga deixá-la com


você enquanto vou me divertir.

- Jack, para com isso! Jamais seria folga! Sabe que


eu adoro ficar com ela! Vou levá-la no cinema, faz
tempo que anda pedindo para ir!

Ele pensou por alguns instantes.

61
- É sério! Eu faço questão... – insistiu.

- Tá legal! Prometo chegar cedo!

- De jeito nenhum, não é para ir preocupado com a


hora que vai voltar. Ela dorme lá em casa e você fica
mais à vontade! – ofereceu.

Ele a encarou, estava tentando decifrar alguma


informação além daquilo que Liz estava dizendo.

É claro que a moça estava surpresa, ainda mais pelo


clima que pareceu rolar entre eles na noite anterior,
mas queria transparecer que aquilo não estava
abalando-a de nenhuma forma.

- Ok, muito obrigado! – concordou.

- Imagina!

- Vou nessa para não atrasar.

- Tá legal! Bom plantão...

- Obrigado Liz... – disse, segurando em seu cotovelo


e descendo até sua mão, deu um leve aperto antes
de sair.

A moça ficou alguns minutos na cozinha enquanto o


rapaz se despedia da filha, só voltou a sala quando
ouviu a porta se fechando. Durante toda a noite só
conseguia pensar em quanto aquela conversa com
Jack a incomodou. Era estranho, estava com um nó
na garganta, sentia algo parecido com ciúmes. Mas
também raiva, porque se a situação não fosse tão
complicada para os dois, poderiam, sequer pensar
em terem algo.

62
“Mas pelo visto ele não sente o mesmo...” – pensou.

- Bom dia! – disse Jack.

- Shiii! – sussurrou – Ela ainda está dormindo!

Liz já estava pronta para ir ao escritório, tinha uma


reunião importante e pensou de chegar mais cedo
para se preparar um pouco mais.

- Já está indo? Dá tempo de um café?

- Infelizmente não... vou pegar um no caminho! –


disse enquanto terminava de arrumar sua pasta.

Jack achou estranho, ela sempre tinha tempo para


um café, e naquela manhã a moça quase nem olhou
para ele.

- Tá tudo bem? – perguntou, segurando-a pelo


cotovelo quando ela estava prestes a sair pela porta
que ainda estava aberta.

- Sim... só nervosa! Tenho uma reunião importante


agora cedo e gostaria de me preparar um pouco
mais! – explicou.

- Entendi! Vai dar tudo certo... – disse, com um


sorriso de canto.

- Brigada Jack! Espero a Mel às 19h então, tá bem?

- Tem certeza? Posso deixá-la com meus pais...

- Não... já comprei os ingressos para o cinema!

63
Ele sorriu e a olhou de forma penetrante. Aquilo fez o
coração de Liz congelar, ela queria só fugir dali, o
mais rápido possível!

Graças a Deus, ela conseguia separar suas emoções


quando precisava focar no trabalho. Havia
conseguido um cliente importante para a empresa e
seu chefe decidiu levá-la para almoçar em
comemoração.

- Seu futuro é muito promissor na nossa empresa


Liz... – disse Júnior.

- Obrigada!

- Estamos felizes com o seu desempenho durante


esses anos, queremos que saiba que a próxima vaga
de sócio júnior que abrir, ela será sua!

Essa notícia definitivamente surpreendeu Elizabeth,


estava feliz em seu cargo, mas ser sócia era
realmente algo importante e que vinha buscando.

- Eu fico muito agradecida, senhor!

- Só Junior, por favor!

- Desculpe!

- Bem, preciso ir para não me atrasar para a próxima


reunião. Peça o que mais quiser, é tudo pela conta
do escritório e tire o resto do dia de folga! Você
merece!

- Muito obrigada!

Fazia tempo que não tinha um tempo livre e hoje era


um dos dias que estava precisando. Ligou para uma

64
de suas amigas que morava ali por perto e a
convidou para uma tarde no Spa.

- Amiga, não se faz esse convite para uma mãe de


duas crianças, é claro que eu aceito! É o que mais
preciso! Só vou ver com a minha mãe se ela pega as
crianças na escola e passa a tarde com eles.

- Ótimo!

- Te encontro lá!

- Combinado Bru!

Bruna se tornou amiga de Liz depois que a moça


representou a empresa de seu marido em uma ação.
Era alguém que vira e mexe, almoçava junto e saia
para fazer compras.

- Era exatamente isso que eu precisava! – disse


Bruna, enquanto estava recebendo uma massagem
relaxante nos pés.

- Eu também... – resmungou.

- Tem alguém de mau humor?

Liz deu uma gargalhada pela maneira como a amiga


falou.

- Estou meio sei lá!

- TPM?

- Pode até ser... – disse com uma risadinha.

- Coloca pra fora!

65
- Não sei, hoje a Mel vai dormir lá em casa porque...
– suspirou - o Jack tem um encontro!

- O que? – disse Bruna, encarando a amiga.

- Eu sei... também fiquei surpresa! E o pior é que eu


mesma o incentivei a isso!

- E agora você está arrependida porque finalmente


percebeu que não pode perder esse homem
maravilhoso?

Liz deu uma gargalhada.

- É estranho... não me sinto pronta para assumir que


sinto algo pelo Jack, mas também morro de ciúmes
só de pensar em vê-lo com outra pessoa. Já imagino
a Mel a chamando de mãe!

Dessa vez Bruna quem deu uma gargalhada.

- É sério!

- Liz, tá difícil te dizer o que fazer... você não quer


ficar com ele, mas também não o quer com ninguém!

A moça riu.

- Você já imaginou o que as pessoas falariam se me


vissem com o Jack? Não quero nem pensar no que a
Jaqueline diria...

- E daí? Só vocês sabem o tanto de coisas que já


viveram juntos! E se existe algum motivo para vocês
estarem exatamente onde estão... por que não o
descobrir?

Liz suspirou ao sentir seus olhos marejarem.

66
- Amiga, não tem nada de errado em vocês se
apaixonarem.

- Não consigo me sentir assim! Só me sinto culpada


e a pior amiga do mundo em pensar qualquer coisa
sobre o marido da Alicia.

- Ex-marido, Elizabeth! A Alicia se foi, pare de viver


como se ela ainda estivesse viva! Se ela tivesse,
óbvio seria um problemão, mas ela não está!

- É impossível viver sem pensar que estou


usurpando o lugar que pertence a ela, e sempre vai
pertencer!

- Liz, escuta o que vou te falar! – respirou fundo


antes de continuar – O plano que Deus tinha para
ela, Ele cumpriu! Cada dia, hora e minuto! Se ela não
está aqui, é porque ela não deveria mesmo!
Qualquer mulher que se casar com Jack não tomará
o lugar que era dela, porque o lugar que existe agora
não a pertence mais, e Deus quis assim!

A moça ouvia atentamente.

- É uma nova história e não a mesma! Nossa vida é


isso, são ciclos, capítulos que terminam para
começar outros.

O dia de Spa terminava na seção de beleza, onde


faziam as unhas, escova e uma maquiagem neutra
para “voltarem para casa sentindo-se ainda mais
bonitas do que quando entraram”, era o lema do
local.

- Nem sei como te agradecer por isso! – disse Liz


abraçando-a.

67
- Eu que te agradeço! Estava necessitada de uma
tarde só de mulheres, é muito homem em uma casa
só! – brincou. Bruna era mãe de dois meninos.

Quando chegou em seu apartamento, colocou uma


roupa confortável para levar Mel ao cinema.

- Oi Jack! – disse, abrindo a porta quando a


campainha tocou.

- Oi!

- Titia! – gritou Mel.

- Oi meu amor!

- Olha... trouxe a Susy para ir ao cinema com a


gente.

Era sua boneca de estimação.

- Ainda bem, porque comprei um ingresso para ela


também! – brincou.

- Obrigado mais uma vez! – disse Jack ao entrar e


fechar a porta.

O rapaz havia caprichado no visual, costumava usar


roupas mais escuras quando não estava vestido para
o trabalho. Estava com uma jaqueta de couro e uma
calça jeans preta.

- Não precisa agradecer! – disse Liz, encarando-o,


diferente daquela manhã.

- Você fez alguma coisa no cabelo?

- Só escova...

68
- Tá lindo!

A moça riu.

- Não sei onde vamos, porque fiquei de encontrar o


pessoal na casa do Felipe – continuou - mas vou te
mandando mensagem para saber como estão as
coisas.

- Não se preocupe Jack.

- Tá legal! – disse, estava encarando-a como se


buscasse alguma coisa a mais.

- Papai... Depois você vem dormir com a gente?

- Claro! O papai vem sim!

- Você tem a chave daqui, não é? – perguntou Liz.

- Sim...

- Pode usar, se já estivermos capotadas na cama,


não é princesinha?

- Aham! – respondeu Mel.

- Acho que preciso ir! – disse Jack, dando um beijo


na pequena que estava brincando com a sua
bonequinha no tapete – Tchau Liz... – disse dando-
lhe um rápido beijo no rosto.

- Jack! – disse a moça quando ele já estava saindo.

- Sim!

- É... – gaguejou – Só, se divirta! – balbuciou.

Ele sorriu e acenou com a cabeça.

69
.9.

Assim que Liz estacionou o carro no estacionamento


do Shopping, percebeu que o carro de Jack também
estava ali, sabia disso por causa do adesivo do
hospital que tinha nele.

- Não é possível... – resmungou.

- O que titia?

- Nada meu amor!

Foram caminhando em direção a entrada do


Shopping onde ficava alguns restaurantes, e tudo o
que ela não queria, aconteceu. Jack, Felipe, sua
esposa e a tal moça com quem o rapaz haveria de
jantar, estavam na fila esperando liberar uma mesa
no restaurante japonês.

- Papai! – gritou Mel, correndo para abraçá-lo.

- Oi pessoal! – disse Liz.

Todos a cumprimentaram.

- Desculpe, não sabia que estavam por aqui! – disse,


direcionando sua fala a Jack.

- Imagina, não tem problema!

- Decidimos de última hora – explicou Felipe.

70
- Alberto? – disse Liz, para o rapaz que saía do
restaurante acompanhado de uma loira.

- Elizabeth! – parecia tenso – Que surpresa te


encontrar por aqui!

- Digo o mesmo!

Enquanto isso, todos estavam olhando para os dois,


inclusive a loira que o cutucou para que fosse
apresentada.

- Ah desculpe! – disse – Amor, essa é Elizabeth,


advogada da empresa – e virando-se, disse – Essa é
Paula, minha noiva.

Liz ficou em silêncio por alguns segundos até


processar o que estava acontecendo. Alberto vinha
paquerando-a e levando-a para encontros com
jantares românticos, enquanto escondia a sua noiva.
A moça queria socá-lo, mas preferiu manter a calma.

- Muito prazer!

Feito as apresentações, o rapaz se despediu e saiu


rapidamente. Logo em seguida a mesa de Jack foi
chamada pelo garçom.

Liz pegou na mão de Mel e a chamou


carinhosamente para irem ao cinema enquanto o
papai iria jantar com os amigos.

- Vamos titia.

- Liz espera! - gritou Jack quando os amigos já


haviam entrado no restaurante – Esse Alberto é
aquele...

71
- Sim, com quem tive alguns encontros!

- E ele...

- Sim, escondia uma noiva! Meu Deus, que horrível...

- Ei, você não tem nada a ver com isso! Ele é um


babaca!

- Papai o que é babaca? – perguntou Mel.

Os dois se entreolharam.

- É uma pessoa que faz coisas ruins filha... –


explicou.

Liz começou a rir, com gargalhadas, as vezes tinha


essa reação quando ficava nervosa.

- O que você acha de eu remarcar com o pessoal e


levar vocês para casa?

- De jeito nenhum Jack! Eu estou bem! Não estava


gostando dele, só me sinto mal por ter sido
enganada!

- Tem certeza? Eu posso...

- Não! Fique tranquilo! Eu e a Mel temos uma noite


de filme e gordices pela frente, não é amorzinho? –
perguntou a menina.

- É sim!

Jack a encarou por alguns instantes, queria ter


certeza de que ela estava realmente bem.

- Vai lá... ela é bonita! – disse, referindo-se a moça.

72
Ele revirou os olhos em negativa, estava sem graça
com a situação.

- Vem cá! – disse, oferecendo-lhe um abraço. Depois


agachou e cochichou algo no ouvido da filha.

- Vocês vão mesmo ficar de segredinhos? – brincou,


levando-os a gargalhar.

- Tchau... – disse o rapaz, voltando ao restaurante.

Até que o filme foi divertido, Mel gargalhou diversas


vezes, o que fazia com que o coração de Liz
derretesse. Ouvir aquelas risadinhas, era a melhor
sensação do mundo! Depois compraram um lanche e
decidiram comer em casa. A menina pediu colo
enquanto se dirigiam ao carro, a noite foi agitada e
ela estava cansada.

Liz a pegou, apesar da menina estar crescendo,


adorava carregá-la em seus braços.

Essa foi a cena que Jack viu da janela do


restaurante, que o fez distrair por alguns instantes e
desejar correr até o estacionamento para se juntar
aquele abraço. Era isso que ele queria naquele
momento, levar suas meninas para casa.

Voltou sua atenção a conversa da mesa quando


percebeu que seus pensamentos o tinham levado
longe demais.

“Minhas meninas?” – pensou – “É isso!”

Finalmente se rendeu aquela que vinha sendo sua


luta diária, afastar os pensamentos e sentimentos
que estava tendo por Elizabeth.

73
- Ainda acordadas? – disse, entrando no
apartamento ao ouvir algumas risadas.

As duas estavam de pijamas e pantufas no sofá,


assistindo desenho e comendo brigadeiro de panela.

- Acho que dei muito açúcar para ela! – justificou Liz,


quando o rapaz entrou.

Ele riu.

- Papai! – disse Mel, correndo para abraçá-lo – Vem


comer brigadeiro com a gente!

- Vou sim, só vou pegar uma água! – disse,


caminhando até a cozinha.

Liz foi logo em seguida, queria saber como havia


sido o encontro.

- E aí? – perguntou.

- Tem alguém comendo até com o queixo... – disse


Jack com uma gargalhada, e se aproximou para
limpar um pouco de brigadeiro que estava no queixo
de Liz.

Suas mãos se encontraram no ar, quando


instantaneamente a moça também foi limpar seu
rosto.

De repente ali estava ele de novo, o clima de duas


noites atrás. Jack estava perto o suficiente para
perceber que sua respiração ficara mais ofegante, e
seus olhos estavam hipnotizados um no outro.

Ele se aproximou lentamente... queria que ela


soubesse como estava se sentindo.

74
Liz parecia estar travando uma batalha interna, mas
não se esquivou do que estava para acontecer,
também queria descobrir.

- Papai! – gritou Mel da sala, trazendo-os de volta a


realidade.

Jack sorriu, abaixou a cabeça e respondeu a menina,


ainda com as mãos na cintura de Liz.

- Sim filha!

- Pode vir comer brigadeiro comigo?

Elizabeth riu, demoraram tanto tempo para


assumirem que tinha um clima acontecendo entre
eles e parecia que ainda assim não era o momento
de descobrirem.

Viram o mesmo desenho de sempre, até que Mel


pegou no sono, estava deitada abraçada com seu
pai, que dormiu antes dela. Foi inevitável, Liz ficou
observando-os por alguns minutos, até que Jack
acordou e a flagrou.

Ele sorriu e ela retribuiu.

- Acho que tá na hora de irmos para casa... –


sussurrou para que a menina não acordasse.

Liz concordou com um aceno.

Jack levantou-se e pegou Mel no colo, enquanto a


moça juntava as coisas da menina na pequena
mochila de abelhinha que ela sempre andava para
cima e para baixo.

75
- Você não me contou como foi o encontro... – disse
Liz quando Jack estava parado na porta, pronto para
ir para o seu apartamento.

- Não sei explicar, não foi ruim, mas meu coração


não estava lá – disse com um olhar sincero e
sugestivo.

Liz sentiu seu coração bater mais rápido.

“Será que ele está dizendo o que eu acho que está?”


– foi o pensamento que passou nos milésimos de
segundos antes dela sorrir e se despedir.

76
.10.

Nos dias que se seguiram, nenhum dos dois tocaram


no assunto do clima que havia entre eles. Jack
soltava algumas indiretas e Liz continuava lutando
contra seus medos e sentimento de culpa.

- Este final de semana estamos pensando em ir à


praia com o Felipe e sua família... – disse o rapaz,
quando chegou do plantão pela manhã e encontrou a
moça pronta para sair para o trabalho.

- Que delícia!

- Vamos com a gente?

- Mas Jack, a amiga do Felipe com quem você


jantou, não estará lá também?

- Não, já confirmei! Ele também percebeu que não


rolou nada com ela – disse com um sorrisinho, isso
levou Liz a virar rapidamente para a pia, serviu dois
cafés, porque não queria que Jack visse sua
expressão de satisfação com aquela notícia.

- Que dia vocês vão? – perguntou, entregando-lhe


uma xícara de café.

- Pensei de encontrá-los amanhã na praia.

- Acho que é uma boa ideia!

77
- É?

- Sim...

Jack comemorou com um sorriso largo e um gole em


seu café.

- Preciso ir para não atrasar para a reunião... – disse


Liz dando-lhe um beijo no rosto.

Um final de semana na praia, sem os avós de Mel,


era a primeira vez que viajariam assim e isso estava
trazendo diversas emoções para Elizabeth, mas
decidiu que só por esses dois dias deixaria seus
medos e ansiedades de lado e permitiria que as
coisas acontecessem da forma mais natural possível.

Quando chegou do escritório, conferiu a mala de Mel


que Jack havia arrumado para o final de semana.
Como esperado, ele havia esquecido de colocar
algumas coisas importantes.

- Malas prontas! – disse, quando chegou a cozinha.


Jack estava terminando o jantar junto com Mel.

- Titia, estamos fazendo um risoto bem gostoso!

- O cheiro está mesmo uma delícia...

- O papai tá me ajudando! – disse espontaneamente,


levando os dois a gargalhada.

A noite era sempre a melhor parte do dia de Liz,


quando podia curtir aquelas duas pessoas que eram
as mais importantes da sua vida. Ficava com
saudade durante o dia.

78
- Dormiu! – disse, ao aparecer na porta do quarto de
Jack que estava terminando sua mala.

- Foi difícil hoje hein? – disse, referindo-se ao


trabalho que a filha deu para pegar no sono.

- Acho que ela tá ansiosa pela viagem.

- Uhum... – disse, encostando-se no outro lado da


porta, ficando de frente para Liz – Tô bem feliz por
você ter topado viajar com a gente!

- Fiquei feliz pelo convite também...

- Tenho um presentinho de final de ano adiantado


para você! – disse, entregando-lhe um envelope
pequeno.

Quando abriu, ficou sem palavras, havia uma


passagem para o Canadá.

- Jack... – disse com a boca aberta.

- Achei uma promoção legal para irmos na data do


casamento do Léo.

- Eu... não sei o que dizer!

- Não precisa! Só vai ter que nos aguentar alguns


dias a mais no Canadá.

Ela deu uma gargalhada e abriu os braços,


convidando-o para um abraço.

- Obrigada! – sussurrou.

Ele a segurou por alguns segundos a mais do que


estava acostumado, enquanto levou uma das mãos e

79
acariciou seus cabelos. Ficaram de frente para o
outro, desejando que aquele pequeno espaço entre
eles fosse rompido.

- Papai! – gritou Mel.

- Tá difícil – disse com uma gargalhada.

- Eu já vou, assim ela não me vê – disse Liz.

- Tá bom! Passo lá às 7h para te ajudar com a


mala...

- Combinado... tchau! – disse, se afastando enquanto


ele lhe segurava a mão.

- Tchau! – respondeu.

Conseguiram pegar a estrada com Mel ainda


dormindo na cadeirinha, as primeiras duas horas
foram silenciosas, Liz acabou pegando no sono
também. Acordou quando ouviu a menina pedindo
para ir ao banheiro. Jack parou no primeiro posto que
viu.

- Eu a levo... – ofereceu Liz.

- Então vou comprando uns cafés.

- Combinado!

- Titia, estamos chegando na praia? – perguntou,


quando a moça terminava de ajudá-la a se vestir.

- Estamos quase lá amorzinho, só mais um


pouquinho.

80
Quando voltaram para o carro, Jack já estava com
algumas coisas para o café da manhã na estrada. A
moça achava lindo como eles sempre oravam de
mãos dadas antes das refeições. Sentia saudades de
quando fazia isso com seus pais. Liz perdeu a mãe
muito cedo e seu pai casou de novo quando ela era
adolescente. Não foi muito fácil o relacionamento
com a nova esposa de seu pai, isso a afastou muito
da família. Todos os anos tentava uma aproximação,
mas a madrasta não facilitava muito as coisas para
ela.

- Amém! – gritou Mel, atacando seu pão de queijo.

- Acho que vou ali atrás com ela para ajudar a não se
sujar muito... – disse Liz.

- Tá bem, assim já vou seguindo viagem para


chegarmos mais rápido.

Mais duas horas de viagem e chegaram à casa onde


Felipe já estava com sua esposa e os três filhos,
duas gêmeas da idade da Mel e um menino que
devia estar perto de completar um ano.

Depois de ajeitarem as coisas foram procurar algum


restaurante para almoçarem.

- O Fe me contou a história do Jack – disse Lídia,


esposa do rapaz, quando os homens saíram da
mesa para levarem as crianças até o playground do
restaurante.

- Pois é, uma história triste para todos nós –


concordou.

81
- Imagino o quanto deva ter sido difícil para você
também!

- Sofremos muito, mas hoje estamos conformados e


enfim...

- Sabe, no parto do Pedro, quase morri! Tive uma


parada cardíaca e foi tudo um milagre.

- Nossa, sinto muito!

- Obrigada, mas estamos bem agora! Só fiquei


pensativa depois que ouvi a história do Jack. Como
eu gostaria, do fundo do meu coração, saber que
teria uma amiga como você, que seria o suporte que
meus filhos e meu marido precisariam.

Liz ficou assustada, sem nem saber sobre seus


medos e sentimentos, Lídia estava ali, quase que
dando uma resposta para tudo o que ela estava
sentindo.

- Não consigo me sentir assim, como uma boa


amiga! – confessou.

- Por que diz isso?

- Eu acho que não consigo mais olhar o Jack só


como, o Jack de sempre, sabe! Marido da minha
melhor amiga, pai do serzinho mais importante da
minha vida... – confessou.

- Não quis dizer nada naquele jantar, mas era claro


para mim que estavam apaixonados...

- Não estávamos! – disse – Ao menos, não


conscientemente.

82
- E o Jack sente o mesmo?

- Não tenho certeza, nunca conversamos


abertamente sobre isso, mas ele demonstra que sim.

- Eu também acho! Mas se sente mal por amá-lo?

Liz pensou por alguns segundos na resposta que


daria, parecia que confessar aquilo abertamente lhe
tiraria de todas as suas amarras, de tudo que ela
estava construindo para manter seu coração longe
do rapaz.

- Lídia, ele foi marido da minha melhor amiga!

- E daí? Não é como se ela estivesse aqui e você


tivesse traindo a confiança dela! Pelo contrário, você
demonstrou amor, suporte e abnegação durante todo
esse tempo. E se fez isso por ela, tudo bem! Mas
não tem problema nenhum, agora você fazer isso por
você e por ele!

- É difícil não me sentir uma pessoa horrível quando


estou perto dele e desejando estar com ele e ser
dele, entende?

- Acho que sim! Mas não concordo que deva


alimentar esse sentimento de culpa! Não tem nada
de errado! Você é uma mulher solteira e ele também!

- Eu sei...

- Diz pra mim, se ele estivesse aqui na viagem com a


gente e fosse um amigo do Felipe, com quem você
não tem nenhuma história ou ligação, se interessaria
por ele?

- É claro! – disse com uma gargalhada.

83
- É isso! Falta você vê-lo como um homem, que
claramente também está interessado em você!

Liz ficou pensando nas palavras de Lídia enquanto


passavam a tarde na praia. A casa era próxima e
dava para andar somente alguns metros e já
estavam na areia.

- Vou ali em casa levar o Pedro para tirar a soneca –


disse a moça.

- Também quero ir mamãe – disse uma das


pequenas.

Já era fim de tarde e as crianças estavam


começando a demonstrar sinais de cansaço.

- Amor, então preciso que venha comigo para ajudar


no banho – sugeriu.

- Claro! – disse Felipe, levantando-se e juntando as


coisas.

- Se quiserem deixar a Sara aqui com a gente,


ficamos mais um pouquinho com elas – disse Liz.

- Quer ficar filha? – perguntou Felipe a menina que


estava brincando com Mel na areia.

- Quero papai!

- Brigada gente! – disse Lídia, se despedindo.

As meninas estavam parecendo panquecas de areia,


Jack as levou para se lavarem na água enquanto Liz
recolhia os brinquedos.

84
Mel e Sara iam à frente de mãos dadas, cada uma
segurando seu baldinho.

Jack segurou levemente a mão de Liz, isso a pegou


de surpresa, mas decidiu retribuir o gesto.

- Acho que você precisa me explicar algumas


coisinhas Sr. Jack Hollingan... – disse, fitando-o
enquanto caminhavam.

- Com todo o prazer, é só topar jantar comigo essa


noite...tipo um encontro, tô precisando de mais um
para alcançar você no placar – disse em tom de
brincadeira.

Liz caiu na gargalhada.

- Mas e a Mel?

- O Felipe sugeriu de ficar com ela para sairmos um


pouco...

- Ah é?

- Uhum!

- Eu topo!

Ele sorriu, com aquele sorriso de satisfação que


deixava o coração de Liz acelerado.

- Tem certeza que não vai atrapalhar? – perguntou


Liz a Lídia, que estava colocando um filme para as
meninas na sala.

- Absoluta! Já pedimos pizza e tenho certeza que


logo elas estarão capotadas.

85
- Brigada viu!

- Vai, se diverte e e se permita descobrir o que vocês


realmente querem! Não leve seu medo junto para
essa noite!

Liz agradeceu, conhecia Lídia a tão pouco tempo,


mas ela já estava sendo uma boa amiga.

86
.11.

- A luz de velas e à beira-mar, Jack Holligan? –


disse, quando se sentaram nas almofadas que
estavam ao redor de uma mesa baixa.

Tinham algumas tendas ao redor do restaurante,


onde casais jantavam com velas acesas, música ao
vivo e um acréscimo do som das ondas que estavam
a poucos metros deles.

- Não tô pra brincadeira nesse meu segundo


encontro! – brincou.

- Percebi!

Pediram a sugestão do chef que estava uma delícia!


Era difícil terem um jantar sozinhos, sempre estavam
com Mel, e era diferente ver Jack com outros olhos,
vê-lo como alguém por quem Liz estava apaixonada.

- Já que você me pediu algumas explicações... –


começou Jack, quando terminaram a sobremesa –
Desde o aniversário de cinco anos da Mel, quando
recebi aquela carta da Alicia, as coisas mudaram em
meu coração – pausou – Liz, é óbvio que já tinha me
sentido atraído por você algumas vezes, afinal de
contas, olha pra você! É difícil ter uma mulher como
você ao meu lado e não sentir nada.

A moça sorriu.

87
- Mas nunca alimentei esses pensamentos e
sentimentos, estávamos tão ocupados com a Mel! Eu
não me sentia pronto para amar e cuidar de alguém
de novo! Mas depois dos cinco anos dela, algo
mudou, me vi querendo estar com alguém
novamente, e eu só conseguia pensar em você!
Quando as pessoas sugeriam encontros e que eu
deveria voltar a namorar e pensar em me casar de
novo, tudo que me vinha a mente era como eu
adorava estar com você! Como adorava ter você e a
Mel todos os dias ali, comigo! Adicionar qualquer
outra pessoa a nós três me deixava nervoso e
desanimado.

Liz ouvia tudo atentamente, estava se sentindo ainda


mais apaixonada à medida que Jack se declarava.

- Então você inventou de ter um encontro e ali tudo


ficou ainda mais claro pra mim! Fiquei mordido de
ciúmes quando te vi toda linda para sair com aquele
cara. Me segurei para não te dizer tudo que eu já
estava sentindo aquele dia.

- É mesmo? Desde lá?

- Desde muito antes... – pausou – Achei que seria


uma boa ideia conhecermos outras pessoas, porque
afinal era só nós dois desde que a Mel nasceu. Meu
encontro foi um fiasco porque fiquei a noite inteira
olhando no relógio para ver se já poderia me
despedir e estar com vocês.

- Jack...

- É isso que sinto desde então! Uma vontade


absurda de te amar, de cuidar de você e de ter você

88
ao meu lado por todos os dias que me restar! E... eu
sei que estamos em uma situação delicada e isso me
impediu até hoje de dizer como eu me sentia, mas
cansei! Cansei de deixar que o medo do que as
pessoas vão dizer me impeçam de dizer pra você
que... – pausou - eu te amo e que eu não tenho
qualquer dúvida de que quero você!

Liz estava com os olhos marejados, estava


apavorada na mesma medida em que se sentia
completamente apaixonada por aquele homem.

Sem sequer pensar, o beijou.

Deixou ali que todo o seu coração fosse aberto, para


que Jack pudesse entrar e saber que ela também era
dele, que ela o amava!

No dia seguinte, Lídia quis ouvir tudo que aconteceu


no jantar e ficou feliz ao saber que os dois tinham se
acertado.

Parecia que ali, longe de toda aquela bagunça que


era a situação deles com a família da Alicia, as
coisas eram mais fáceis! Elizabeth se sentia tranquila
de demonstrar a Jack como ela se sentia e ele da
mesma forma. Voltaram para casa depois do jantar,
Mel dormiu a viagem toda e não acordou mesmo
quando o pai a colocou na cama.

- Acho que preciso ir também, amanhã tenho que


estar cedinho no escritório.

- Tem certeza? – disse Jack abraçando-a.

- Aham... – disse, beijando-o.

89
- Não comprei nada dos presentes que precisava
para esta semana!

Já era quase Natal e Jack passaria com seus pais,


depois levaria Mel para ver os avós.

- Podemos ir amanhã à noite no shopping, também


preciso comprar umas coisas para a viagem! –
Embarcariam para o Canadá dia vinte e seis, e
ficariam até a primeira semana depois do ano novo
para o casamento do irmão de Jack.

- Combinado! Tenho que dar um jeito de arranjar


uma árvore de natal, a Mel não para de me pedir! –
disse o rapaz.

- Podemos comprar amanhã e montá-la o mais


rápido possível... afinal faltam só três dias para o
natal!

- Verdade!

- Então boa noite Jack Holligan!

Ele a puxou para um abraço quando desequilibraram


e caíram no sofá.

- Adorei nosso final de semana! – disse Liz, quando


se entreolharam abraçados.

- Eu também...

Era difícil se despedir, agora que haviam descoberto


que queriam estar juntos. A moça fechou a porta
sentindo seu coração apertar.

Chegou em seu quarto, pegou uma foto sua e de


Alicia que ficava em sua cômoda e disse:

90
- Amiga, não me odeie por amá-lo! Por favor! Jamais
me permitiria sentir algo assim se você estivesse
aqui! Você sabe! Talvez eu também tivesse casada e
com filhos! Mas nem eu e nem ele, planejamos essa
situação! Por favor, me perdoe! – foram as suas
últimas palavras antes de pegar no sono.

91
.12.

As compras de natal foram cansativas. Montaram a


árvore no dia seguinte à noite quando ambos
voltaram do trabalho e Mel da escolinha.

- Como você vai fazer amanhã? – perguntou Liz.

- Pensei em dar uma passada no seu pai antes de ir


para o jantar na casa dos meus.

- Legal! Ele vai adorar, vive perguntando da Mel.

- Sogrão... – disse com uma gargalhada que a fez


sorrir também. Seu pai sempre lançava indiretas de
como ela e Jack fariam um lindo casal.

- E depois?

- Janto com os meus pais e passo o restante da noite


no mega natal da Dona Madá! – a mãe de Alicia era
sempre exagerada em suas comemorações. Ficou
pior depois da morte da filha. Jack achava que era
uma forma de se distrair e não pensar em mais uma
data dessas sem a presença de Alicia.

- Preciso dar uma passadinha nas duas casas


também! Sua mãe já me mandou mensagem! Disse
que vai fazer a torta de limão e que só deixará cortar
quando eu chegar.

92
- Ela faz isso todo ano!

- E eu adoro! – disse – Depois preciso ir à festa da


Madá também, se não ela me mata!

- Mata mesmo!

- Posso te pedir um favor?

- Claro!

- Podemos ainda não abrir para ninguém sobre nós?


– disse Liz.

- Tudo bem... – concordou.

- A Jaqueline estará lá e só quero ter uma noite de


paz, sem comentários e afins.

- Entendo... por mim tudo bem! Fingi esse tempo


todo, posso aguentar mais uma noite! – brincou.

- Fingiu muito mal mocinho, porque eu já sabia que


você estava caidinho por mim!

Jack deu uma gargalhada alta.

- Shiiii! Vai acordá-la... – Mel já havia dormido há


uma hora.

Eles ficaram ali, sentados no tapete da sala até que


Liz se desse conta da hora! Trabalharia todo o
expediente na véspera de Natal, não estava muito
feliz com isso, mas era o preço que pagaria pela
promoção.

Combinou de encontrar Jack na casa de seu pai.

93
Elizabeth havia comprado um vestido novo, era um
pouco mais chique que o normal porque geralmente
as festas na casa da mãe de Alicia exigiam um traje
mais sofisticado.

- Uau! – disse Jack quando abriu a porta e viu Liz,


ainda não a tinha visto arrumada para a festa – Tá
linda!

Ela sorriu e acenou em agradecimento.

- Sr. Fernando!

- Jack! – disse o pai da moça, abrindo os braços para


abraçá-lo.

- Titio! – gritou Mel, correndo até ele.

A madrasta de Liz fazia questão de parecer a pessoa


mais agradável do mundo para todos, menos para a
moça.

- Como está indo? – perguntou Jack, quando ela o


acompanhou até o carro.

- Péssimo como sempre!

- Vamos comigo? – sugeriu.

- Não posso... meu pai ficaria muito chateado!

- Te encontro daqui a pouco então! – disse, dando-


lhe um abraço – Não chegue muito tarde, quero
comer torta de limão logo! – brincou.

Ela gargalhou.

94
- Parece que Jack está cada vez mais bonito... –
comentou Paula, esposa de seu pai.

- Pois é...

- Aposto que muitas mulheres devem estar dando em


cima dele naquele hospital.

- Talvez.

- Que bom né! Logo, logo a Mel terá alguém para


chamar de mãe! – disse, provocando-a.

Elizabeth pensou em responder algo, mas estava


com preguiça de começar qualquer discussão.

Eles costumavam comer antes mesmo da meia noite,


assim que terminou a sobremesa se despediu do pai
e dos convidados, dizendo que precisava passar em
alguns lugares antes de ir para casa.

Chegou à casa dos pais de Jack a tempo para


começarem a sobremesa. Finalmente se sentia em
casa, com pessoas que ela amava e a amavam de
volta, estava sentindo seu coração entrar no clima
natalino quando viu James com a netinha no colo
contando a história do nascimento de Jesus, junto a
um presépio próximo a árvore de Natal que estava
lindamente decorada por Catarina, ou Cat como
costumava chamar.

- Sua torta de limão é a melhor do mundo! – disse Liz


enquanto ajudava a senhora a recolher a louça para
colocar na pia.

- Fico feliz que tenha gostado!

Liz foi vestindo o avental para lavar a louça...

95
- De jeito nenhum, não precisa se preocupar!
Amanhã coloco tudo na máquina de lavar louças.

- Imagina Cat, faço questão!

- Não... não e não!

- Pode ir lá mãe, eu e a Liz cuidamos disso! – disse


Jack ao chegar à cozinha.

- Não precisa filho!

- Nós insistimos... vai lá curtir sua netinha um pouco,


daqui a pouco chegamos por lá!

Mesmo com certa hesitação, Cat aceitou e se juntou


aos dois na sala de estar.

- Era tudo que eu queria... – disse Jack, abraçando


Liz – um momento a sós para te desejar feliz natal.

A moça lhe retribuiu com um sorriso.

- Você, com certeza, é meu melhor presente... –


disse ela.

Ele sorriu e lhe deu um beijo.

- Mas parece que agora esse nosso tempinho a sós


vai nos custar essa pequena pia de louça! – brincou.

- Com certeza valeu a pena! – respondeu Jack.

Se despediram de James e Cat e foram até a casa


de Madá, para a famosa festa natalina.

- Chegou quem estava faltando para a minha alegria


ser completa! – disse a avó, correndo para abraçar

96
sua netinha - Feliz natal queridos! - disse a Jack e
Liz.

- Podem se servir, começamos a cear agora!

– Fiquem à vontade, disse Tomas, pai de Alicia.

- Obrigada!

Se sentaram a grande mesa que havia no jardim,


Jaqueline desejou feliz natal rapidamente aos dois,
somente por educação.

Parece que esse ano haviam mais convidados,


pessoas que Jack ainda não conhecia. Ele foi
colocado para sentar-se ao lado de uma prima do
marido de Jaque, e Liz ficou perto dos filhos da irmã
de Alicia.

- Eles não fariam um lindo casal? – cochichou Madá


ao ouvido de Liz, se referindo a Jack e a moça.

Liz sorriu e levantou-se para ajudar Mel a se servir


quando percebeu alguns olhares do rapaz.

As comemorações seguiam todo um protocolo, após


o jantar e a sobremesa Madá entregou um presente
para cada convidado, mas muitas embalagens eram
para seus netinhos. Desde que Tomas, seu marido,
se aposentara de uma grande empresa de
Engenharia, viviam muito bem financeiramente,
sempre esbanjando nas comemorações. Uma das
queixas de Madá para com Jack é que ele sempre
quis fazer festas caseiras, familiares e pequenas
para Mel, tentava fugir um pouco desse luxo todo
que tinha na família da mãe da menina.

97
- Parece que estão tentando te arranjar uma
pretendente... – cochichou Liz quando encontrou
Jack na mesa de sobremesas.

- Chegaram tarde demais! – disse com um sorriso


sincero.

- Vou ao banheiro e acho que já vou para casa, tá


bem?

- Tem certeza? Não quer ficar mais um pouco e


vamos juntos? – sugeriu.

- Acho que prefiro ir um pouco mais cedo...

- Tudo bem então! Te mando mensagem quando


chegar, acho que preciso fazer mais uma horinha por
aqui por causa da Mel.

- Entendo! Já venho me despedir...

O banheiro do jardim era gigante, enquanto Liz


terminava de se vestir, ouviu vozes entrando, parecia
Jaqueline e a prima de seu marido.

- Me parece que o Jack só tem olhos para aquela


moça que veio com ele.

- Também percebi alguns olhares! Eu sabia que


aquela amiguinha da minha irmã estava se
aproveitando da situação, não bastava roubar o lugar
de mãe que pertencia a Alicia, agora também quer
roubar o marido... ela nunca me enganou!

- Eu hein... Deus me livre de ter uma amiga dessas!

98
Liz ouvia tudo de dentro do banheiro onde estava,
permaneceu ali até ouvir as vozes se afastando e a
porta fechar.

Era exatamente aqueles pensamentos que haviam


impedido que a moça abrisse seu coração para Jack
antes. Pensar que as pessoas questionariam seu
amor e sua lealdade a Alicia a fazia chorar, de
alguma forma aquelas acusações de Jaque faziam
Liz se sentir culpada. Correu do banheiro ao carro e
nem se despediu de Jack, não queria que ninguém
percebesse sua cara de choro.

Chegou em casa, tomou um banho e se jogou na


cama, estava com o rosto inchado de tanto chorar.
Percebeu que tinha algumas ligações perdidas de
Jack e duas horas depois ele estava tocando sua
campainha. Preferiu ignorar, não queria conversar,
mas o que ela não lembrou é que ele tinha uma
chave extra e ela pôde ouvi-lo entrando
silenciosamente.

- Liz... – sussurrou, passando os dedos pelo cabelo


da moça enquanto ele se sentava na cama.

- Oi! – respondeu abrindo os olhos.

- Fiquei preocupado com você! Foi embora sem se


despedir...

- Desculpe, me deu uma dor de cabeça e você


parecia estar empolgado na conversa com os
rapazes, não quis atrapalhar – justificou.

- Entendi, mas tá melhor? Tomou algum remédio?

99
- Não... tomei um banho e acho que dormir vai
ajudar!

- Tá bem!

- A Mel já está dormindo?

- Tá sim, tá no seu sofá! – disse com um sorriso de


canto.

Eles se entreolharam, pareciam se decifrar apenas


com os olhares.

- Vou deixar você descansar – continuou – amanhã


vou ficar lá em casa, se quiser passar o dia com a
gente – sugeriu.

Liz queria um tempo para pensar em tudo que estava


passando em seu coração, mas achou melhor aceitar
o convite para não confundir o rapaz. Ele lhe deu um
beijo e saiu silenciosamente levando Mel para casa.

100
.13.

Na tarde seguinte, Liz estava ajudando a menina a


fazer mala enquanto Jack preparava o almoço.
Viajariam no próximo dia para o Canadá e se
preparavam para pegar o mês mais frio do ano em
Montreal.

- Papai, a titia me falou que vai tá muito frio na casa


do tio Léo – disse Mel correndo até a mesa onde
Jack estava servindo o almoço.

- Vai mesmo filha! Por isso o papai comprou mais


casacos pra você!

- Prontinho, a mala da dona princesa está pronta! –


disse Liz colocando-a no corredor.

- Obrigada tia princesa! – respondeu Mel.

Levando os dois a gargalharem.

Jack a olhou ternamente, e balbuciou um “obrigado”.

Almoçaram e colocaram um desenho a tarde para


assistirem, Mel cochilou na metade do filme junto
com Jack, Liz aproveitou para levantar-se e cuidar da
louça do almoço, depois fez um café e
provavelmente o aroma fez com que o rapaz
despertasse.

101
- Que bom acordar com esse cheiro! – disse ao
chegar à cozinha.

- Cafezinho para despertar os dorminhocos... –


brincou.

- Muito obrigado! – disse abraçando-a.

Liz ainda estava mexida pelas palavras de Jaqueline


na noite anterior e o rapaz parecia perceber.

- Está tudo bem? – perguntou.

- Sinceramente?

- Sempre!

- Não estou não... nem um pouco! – respondeu,


sentindo seus olhos marejarem.

- O que ouve? – perguntou, apertando seu braço em


sinal de conforto.

Liz contou tudo que ouviu no banheiro.

- Mas você sabe que ela nunca gostou da gente...


era óbvio que ela pensasse algo desse tipo! –
comentou Jack.

- A questão é que ela pegou no ponto que


justamente importa para mim... não quero colocar
minha amizade com a Alicia em cheque.

- Tenho certeza que elas são as únicas pessoas que


pensam assim, todas as outras nos apoiariam.

- Será mesmo Jack? Tenho tanto medo de chatear


os pais da Alicia, os nossos amigos em comum.

102
- Você sabe que eu também tive que enfrentar esse
tipo de pensamento, né? Óbvio que me senti assim,
mas decidi passar por cima de tudo isso, pela
certeza de que eu quero você! Quero estar com você
independente de quem se incomode com isso!

- Não sei...

- Você não tem essa certeza?

Liz ficou em silencio por alguns segundos.

- Jack, eu só não quero me sentir uma pessoa


horrível por estar com você!

- E você não é!

- Mas não consigo me sentir de outra forma...

- Então vamos assumir, vamos contar para todo


mundo que estamos namorando e enfrentar tudo
juntos... – sugeriu.

- Jack, me desculpe, mas acho que ainda não estou


pronta!

Agora, foi a vez dele ficar pensativo.

- O que você quer fazer?

- Preciso de um tempo... – disse Liz – quero resolver


tudo isso em meu coração antes de enfrentar o
mundo.

- Quer um tempo de nós?

Elizabeth não sabia o que realmente queria, mas


nesse momento, acabar com aquele sentimento de

103
culpa e que a fazia sentir-se uma pessoa horrível
parecia mais urgente do que enfrentar o mundo por
amor a Jack.

Ela apenas afirmou com a cabeça e deixou que as


lágrimas rolassem.

Jack foi até a sala porque Mel havia acordado e


estava chamando-o.

Liz limpou suas lágrimas e decidiu se despedir,


queria ficar sozinha.

- Titia você vai arrumar suas malas também? –


perguntou a menina.

- Vou sim amor... – ela lhe deu um abraço e pediu


que Jack a acompanhasse até a porta.

- Tchau mamãe! – a menina as vezes insistia em


chamá-la assim, o que fazia o coração de Liz
derreter.

- Então, acho que seria melhor eu não ir para


Montreal com vocês... – disse.

- Liz, de jeito nenhum! Acho que podemos ser


maduros o suficiente para encararmos essa viagem
numa boa! Todos estão super felizes por você ir e a
Mel iria surtar.

O rapaz estava com um semblante cabisbaixo.

- Tem certeza?

- Claro! – insistiu.

- Tá legal...

104
- Pego suas malas amanhã às 5h da manhã, tá?
Combinei com um motorista amigo meu.

- Ok, obrigada! – disse.

Um silêncio estranho se formou entre os dois, algo


que nunca havia acontecido. Parece que as coisas
não seriam mais as mesmas, pelo menos não por
enquanto.

105
.14.

Chegaram cedo ao aeroporto para fazer o check-in e


despachar as malas, os avós estavam ajudando a
neta no café da manhã, enquanto Jack e Liz foram
se servir no buffet da cafeteria.

- Tem certeza que vai comer só isso? – perguntou


Jack.

- Estou meio sem fome... – respondeu Liz.

- Você? Sem fome? – brincou.

O que a levou a dar um sorriso de canto.

- Estamos bem tá? Quero que seja a primeira viagem


dos seus sonhos... – cochichou Jack, puxando-a
para um abraço.

Durante a viagem, a moça se sentou na janela, Mel


no meio e Jack na ponta, mas depois de algumas
horas a menina quis ver as nuvens e Liz trocou de
lugar com ela.

- Será que elas tem gostinho de algodão doce? –


perguntou.

- Talvez sim... – respondeu a moça, ela gostava de


dar asas à imaginação da menina.

Jack sorriu.

106
Depois de mais algumas horas, Mel estava dormindo
no colo de Liz e ela havia pegado no sono no ombro
do rapaz. Cat adorou presenciar essa cena quando
foi ao banheiro, ela queria tanto que seu filho
encontrasse alguém que o amasse e o fizesse feliz.

Chegaram depois de quase onze horas de voo, sem


nenhuma escala. Estavam bem cansados, mas
foram recebidos calorosamente por Léo, Francesca,
sua noiva, e Nate, irmão mais velho de Jack.

Liz achava engraçado ver os irmãos, eles se davam


tão bem, isso a fazia sentir ainda mais saudade de
Alicia. Como sempre foi filha única, a menina se
tornou sua irmã.

Na manhã seguinte, a moça acordou com as risadas


de Mel vindo do andar de baixo da casa. Ela era a
única criança, primeira sobrinha e neta, toda a
atenção estava voltada para aquela menininha que
dali alguns dias seria dama de honra no casamento
do seu tio.

Quando Liz desceu, percebeu que eles estavam


rindo justamente disso, ela estava ensaiando a
entrada com os votos do casal. O que a moça não
tinha percebido era que tinha uma integrante a mais
na plateia, aplaudindo Mel.

- Bom dia! – respondeu em uníssono, quando ela


desceu as escadas e os cumprimentou.

- Liz, essa é Katie, melhor amiga da Francesca, ela


também será madrinha do nosso casamento –
apresentou Léo.

- Muito prazer...

107
Todos misturavam inglês com português na hora de
se comunicar, mas Liz estava conseguindo se virar
por ter estudado a língua por alguns anos e usar
constantemente em seu escritório.

A moça foi até a cozinha procurar uma xícara de


café, ainda estava sentindo o cansaço da viagem.

- Titia! – disse Mel, correndo para abraçá-la ao vê-la


indo até a cozinha.

- Bom dia meu amorzinho! Dormiu bem?

- Dormi! E você?

- Eu também!

- Bom dia! – disse Jack, ao chegar na cozinha.

- Bom dia! Conseguiu descansar?

- Nossa! Apaguei... e você?

- Eu também!

- Hey Liz – era Katie que também se juntara para


uma xícara de café – é a primeira vez que vem para
o Canadá?

- É sim... – respondeu.

- Com certeza você irá amar! É um lugar lindo!

- Tenho certeza que vou sim...

- Pede para o Jack te levar para conhecer alguns


lugares legais! Ele é bom de roteiros por aqui!

108
Liz fitou Jack procurando por algum tipo de
explicação.

- É mesmo?

- É sim... já conhecemos muitas coisas juntos, não é


Jack? – disse direcionando-se a ele.

Ele acenou positivamente.

- Falando nisso, preciso te levar naquele restaurante


que costumávamos ir, você vai ver como está
diferente! Cada vez melhor!

- Legal! Podemos ir sim...

Novamente Liz o fitou e ele desviou o olhar.

- Acho que essa semana estarei livre na quarta à


noite, se não tiver nada nos planos podemos ir, o que
acha? – disse, pegando-o de surpresa.

Ele quase se engasgou com o café e respondeu


depois de alguns segundos:

- Claro... só vou conferir como está a programação


do meu irmão e te aviso!

- Podemos levar a princesinha também! – dessa vez


ela se direcionou a Mel que estava sentada no colo
de Liz – Você quer ir jantar comigo e com o papai em
um restaurante legal?

- Aham...

Katie sorriu de forma angelical e voltou a sala com


sua xícara de café na mão.

109
- Acho que eu perdi alguma coisa aqui... – disse Liz
em tom de brincadeira.

- Há sei lá, dez ou mais anos atrás, quando vim para


o Intercâmbio, eu e ela namoramos por alguns
meses, terminamos porque eu fui embora.

- Uau! – disse com uma gargalhada sarcástica –


Parece que ela quer um “remember”.

- Para!

- Pessoal, vamos sair para explorar o bairro e irmos


ao mercado, querem ir? – todos toparam, não sem
antes colocar os casacos que haviam trazido, estava
congelando lá fora.

O passeio foi divertido, Liz achava graça de todas as


investidas que Katie jogava para cima de Jack e ele
parecia envergonhado.

Por dois dias andaram ao redor dos bairros


próximos, mas no terceiro, James insistiu que fossem
até seus familiares, todos eles só conheciam Mel por
fotos, Jack e Liz ficavam babando na menina
tentando se comunicar com as outras crianças, como
parecia mais fácil para ela.

- Não consegui fugir do jantar de hoje à noite... –


disse Jack enquanto se arrumava.

- Não conseguiu ou não quis? – pergunto Liz em tom


sarcástico.

- Titia, essa calça tá me apertando... – reclamou Mel.

- Então vamos ver se essa outra aqui fica melhor!

110
Jack as observava silenciosamente enquanto
terminava de pentear seus cabelos lisos que o
deixavam ainda mais charmoso.

- Por que a titia não vai com a gente? – perguntou a


menina.

- Hoje nós vamos jantar com a tia Katie, lembra que


ela nos convidou para ir a um restaurante bem legal?

- Aham...

- Encontro vocês na volta então! – disse a moça


dando um beijo no rosto da pequena e lançando um
olhar triste para Jack, estava encarando tudo na
brincadeira até essa noite.

Ele lhe ofereceu um sorriso de canto e saiu,


deixando-a sentada na cama.

As horas pareciam se arrastar, tentou ler um livro,


tomou chocolate quente com os pais do rapaz em
frente a lareira e até jogou um jogo de tabuleiro com
Léo e sua noiva, mas quando todos foram dormir ela
ainda não conseguia parar de pensar no jantar de
Jack, Mel e Katie.

“Para eles estarem demorando tanto, parece que


está sendo bom e divertido! Droga, a Mel vai adorá-
la!” – pensou.

Depois de uma hora, estava na sua terceira xícara de


chocolate quente, apenas a luz da lareira iluminava a
sala, ouviu a porta da entrada se abrir e percebeu
que Jack estava carregando Mel no colo, já capotada
de sono.

111
- Ainda acordada? – cochichou.

- Perdi o sono... – justificou.

- Tá tudo bem?

- Sim, acho que bebi muito café a tarde...

Ele acenou em concordância.

- Vou colocá-la na cama – disse.

- Já vou subir também... acho que está tarde, né!

- Quase meia-noite – respondeu.

Jack subiu a escada a sua frente, enquanto a moça o


seguia, tentando ranger o menos possível aquela
escada de madeira. Liz entrou no quarto do rapaz
para dar um beijo de boa noite em Mel.

- Parece que a noite foi boa... – sussurrou a moça


caminhando em direção a porta.

- Foi legal...

Eles se entreolharam por alguns segundos.

- Boa noite Jack!

- Ela... – respirou fundo antes de continuar – me


chamou para irmos a um concerto amanhã, ela tinha
dois ingressos e insistiu a noite inteira para que eu
fosse – explicou.

Liz sentiu seu coração apertar, estava com ciúmes e


ao mesmo tempo com raiva de Jack, por ele ter
aceitado sair novamente com Katie.

112
- Você não me deve explicações... – disse
rispidamente, virando-se para caminhar até a porta
do seu quarto.

- Hey, espera! – disse, tomando-a pelo braço – Se eu


estou te falando, é porque quero que você saiba...

- Tudo bem Jack, agora eu já sei então! Boa noite! –


disse, fechando a porta de seu quarto, sem dar
chance de ele dizer qualquer sentença.

113
.15.

No dia seguinte, Liz tentou se manter o máximo


ocupada na cozinha com Cat, enquanto preparavam
as refeições. Jack e os rapazes foram experimentar
as roupas para o casamento e Francesca e Katie
insistiram em levar Mel para ver o vestido de
daminha, Liz adoraria ter ido, mas o convite não se
estendeu a ela, o que a chateou um pouco.

- É impressão minha ou você e o Jack estão se


tratando diferente? – perguntou a mãe do rapaz,
enquanto descascava as batatas.

- Diferente como, Cat?

- Você claramente o está evitando...

Liz sorriu, adorava o jeito meigo de Catarina, ela


tinha o semblante e a voz mais adorável do mundo.

- Só estou tentando entender algumas coisas... –


respondeu.

- Relacionadas a Mel? – insistiu.

- Não posso dizer que sim, mas também a envolve.

- Entendo... tudo bem se não quiser falar! Só quero


que saiba que pode contar comigo! – ofereceu.

114
- Desculpe Cat, é que é tão complicado, não sei por
onde começar!

- As vezes colocar para fora pode ajudar a esclarecer


as coisas.

- Eu acho que... – pausou e sentiu seus olhos


marejarem – eu o amo! – confessou.

Cat deixou escapar um sorriso sincero.

- Tenho certeza que ouvir isso me deixou tão feliz


quanto ele ficaria em ouvir.

- Eu só não consigo colocar esse amor acima de


todos os meus medos e inseguranças...

- E suponho que agora estejamos falando da Alicia...

- Sim!

- Quais seus medos?

Liz explicou tudo o que ouviu no Natal e como


aqueles sentimentos a aprisionavam.

- Não posso te garantir que todos vão concordar e


respeitar a decisão de vocês, mas tenho certeza que
as pessoas que os amam de verdade, querem vê-los
felizes! Eu amo você com todo o meu coração e isso
não diminui em nenhum centímetro o que eu sentia
pela Alicia, sabe? Não é uma substituição, é só uma
nova história e eu não poderia ficar mais feliz de
saber que você seria a mulher que faria meu filho e
minha neta felizes, na verdade você já é essa
pessoa!

A moça sorriu e a abraçou.

115
- Obrigada Cat! Agora acho que o Jack precisa saber
o que ele realmente quer... com a Katie voltando
para a vida dele. As vezes sinto que só ficamos
juntos porque eu era a opção mais óbvia, sabe? Mais
cômoda também, por toda a nossa dinâmica com a
Mel.

- Acho que é algo que vocês vão descobrir, mas pelo


que conheço do meu filho, ele nunca foi de escolher
o caminho mais fácil, quando ele decide, é porque
esse é realmente seu desejo.

- Entendo...

Não demorou muito e todos chegaram com fome,


Mel estava contando como seu vestido era lindo e
que se sentiu como a princesa do filme que ela
costumava assistir cem vezes ao dia.

Liz se sentia incomodada por ver a menina tão


grudada em Katie, a moça era realmente boa com
crianças e Mel estava adorando-a.

- Pessoal, amanhã pensamos de romper o ano no


Lago, sempre tem uma queima de fogos incrível –
disse Nate.

Todos concordaram com a ideia.

- Ah, e hoje a noite um amigo tá chegando da


Austrália, vai ficar com a gente até o casamento! –
disse Léo.

- Não me diz que o Dário vem? – perguntou Jack.

- Ele mesmo cara! Até me esqueci que vocês se


conheciam...

116
Pelo visto era mais um conhecido da época em que o
rapaz havia morado no Canadá.

Dário chegou na hora que o jantar estava sendo


posto à mesa. Ele era esportista e seu porte físico,
bronzeado e cabelo confirmavam a suspeita. Durante
o jantar ele contava animado algumas histórias e
todos riam das suas piadas.

Quando Jack chegou do concerto que havia ido com


Katie, encontrou Liz e Dário lavando a louça do jantar
na cozinha, pareciam animados.

Mais tarde, Mel dormiu no sofá enquanto os adultos


jogavam poker, o pai a pegou para levar a cama e
não voltou mais, provavelmente também tinha
capotado. Naquele dia, Jack e Liz pouco se falaram,
a moça o pegou olhando várias vezes durante o dia,
mas especialmente a noite quando Dário parecia dar
uma atenção especial a ela.

No dia seguinte, combinaram de jantar em um


restaurante próximo ao Lago, assim ninguém
precisaria ficar na cozinha. Caminharam um pouco
ao final da tarde, já que os dias escureciam mais
cedo durante o rigoroso inverno em Montreal. Katie
discretamente fez questão de sentar-se próximo a
Jack, já Mel parecia estar com saudade da tia e
pediu para sentar-se ao lado de Liz, que também
estava próxima de Dário.

Era inevitável não morrer de rir com o rapaz, ele era


muito divertido, não queria fazer ciúmes a Jack, mas
estava adorando o fato dele não parar de encará-la a
noite inteira.

117
Quase na hora da queima de fogos, se posicionaram
em frente ao Lago onde já havia uma pequena
multidão se aglomerando. Dada a largada para a
contagem dos dez últimos segundos do ano, Liz
sentiu sua mão se aquecer por baixo das luvas que
usava... era Jack, segurando-a silenciosamente.

Eles se entreolharam por alguns segundos até que


os fogos começassem a estourar e transformar o céu
escuro em uma pintura colorida e brilhante. Liz sentiu
o rapaz se aproximar lentamente enquanto seus
olhos se mantinham fixos.

- Papai! Feliz ano novo! – disse Mel, interrompendo-


os e correndo para abraçá-los.

Jack a pegou no colo e puxou Liz para que


participasse do abraço.

Se existiu algum momento na vida em que Liz se


sentiu mais completa, esse dia era hoje, exatamente
ali, enquanto sentia-se aquecida pelos braços das
pessoas mais importantes da sua vida... nada mais
parecia importar!

118
.16.

O dia do casamento de Léo havia chegado, Liz ficou


responsável por arrumar Mel, enquanto os irmãos e
os pais foram se trocar em um quarto de hotel, e a
noiva e as madrinhas foram se arrumar no
apartamento dos pais de Fran, que ficava localizado
em um lugar chique da cidade.

Jack e Liz não haviam mais conversado sobre o


clima da noite da virada, só pareciam estar mais
próximos do que antes.

A cerimônia foi linda, Mel cumpriu direitinho o seu


papel de dama de honra, entrou sorrindo e entregou
os votos aos noivos, depois se comportou como uma
princesa ao lado no pai, que também estava lindo em
seu smoking preto.

A festa já estava rolando quando finalmente Jack


conseguiu chegar à mesa onde Liz estava sentada.

- Estou reencontrando parentes que nem lembrava


que tinha... – brincou.

A moça gargalhou.

- Achei que fosse proibido vir mais bonita que a


noiva! – cochichou quando se sentou.

Ela lhe lançou um olhar apaixonado.

119
- Com licença, posso ter a honra de dançar com o
meu par de padrinho preferido? – era Katie.

Liz apenas acenou positivamente com a cabeça.

Mel pediu colo depois de dançar com as outras


crianças, para ela a festa já havia terminado.

- Quer me dar ela um pouco para que você possa


jantar? – perguntou Katie, quando se sentou à mesa.

- Não... tudo bem!

- Ah por favor, eu insisto! – disse, já retirando-a de


seus braços.

Isso incomodou profundamente Elizabeth.

- É bom ela ir se acostumando com o colo de outra


titia, se o Jack vier mesmo trabalhar aqui... – disse.

- O que? – perguntou Liz sem entender o que a moça


queria dizer.

- Ah ele ainda não te contou? O diretor do maior


hospital daqui é pai de uma das amigas da Fran –
explicou - ele fez o convite para Jack e estou
insistindo com ele para que aceite.

Liz respirou fundo e pediu licença, precisava de uma


explicação.

Jack a encontrou em um dos corredores quando


percebeu seu sinal.

- Tudo bem?

120
- Deixa eu ver se entendi o que acabei de ouvir! Você
está se mudando para o Canadá e nem ao menos
me perguntou o que eu achava de ficar a milhares de
quilômetros longe da Mel?

Ele respirou fundo.

- Ainda não acertei nada...

- Mas, então é verdade? É uma possibilidade?

- Sim... recebi uma ligação ontem, mas foi tudo tão


corrido, não consegui conversar com você!

- Mas conseguiu tempo para contar a Katie?

- Liz para! Não é nada disso...

- Me diz o que é então? Pedi um tempo e você em


menos de dois segundos já estava aberto a novas
possibilidades, ou antigas né! – disse, referindo-se a
moça - E agora vai mudar de país, levar a Mel para
longe de mim – nesse momento as lágrimas já
estavam rolando.

- Liz, não é isso! Você está entendendo tudo errado!


Podemos conversar em casa? Acho que aqui não
vamos conseguir.

- Tudo bem... – disse saindo em direção ao banheiro,


precisava respirar.

Depois da noiva jogar o buquê, que para terminar de


estragar a noite de Liz, quem o pegou foi Katie, a
moça se levantou com Mel no colo e pediu que Cat
avisasse Jack que já estava indo para casa com a
menina.

121
Quando o rapaz chegou, as encontrou dormindo
abraçadas no quarto de Liz e preferiu não atender a
sua maior vontade que era de se juntar aquele
abraço e dormir ali.

No dia seguinte, Liz mal olhava para o rapaz,


estavam correndo para terminar de arrumar as
coisas e voltar para casa à noite. Durante o voo não
conseguiram sentar juntos, Mel insistiu em ficar ao
lado da tia enquanto Jack e os pais estavam em
poltronas separadas. O primeiro dia pós viagem foi
apenas para descansarem e conseguirem
desarrumar as malas, a noite finalmente, com muita
insistência de Jack, conseguiram sentar-se para
jantarem sozinhos, depois de Mel dormir.

- Posso me explicar agora, bravinha? – perguntou o


rapaz.

Liz apenas concordou com a cabeça com um meio


sorriso.

- Meus pais vão voltar a morar no Canadá, e recebi


uma proposta incrível para trabalhar em um grande
hospital em Montreal e já tentar fazer o meu
doutorado.

A moça permanecia em silêncio.

- Jamais tomaria uma decisão dessa sem conversar


com você...

- Desculpe por ter descontado tudo em você aquela


noite!

- Tudo bem!

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- É sem dúvida uma oportunidade incrível!

- É sim...

- E deixando todas as minhas emoções de lado, é


claro que te encorajaria a ir e agarrar essa chance.

- E sem deixar as suas emoções de lado?

Os olhos de Liz se encheram de lágrimas.

- Não imagino a minha vida sem a Mel... – pausou –


e sem você!

Ele suspirou.

- Mas acho que sabíamos que uma hora essa nossa


dinâmica iria ficar complicada!

- Não precisa ficar... – disse Jack.

- Como?

- Vem comigo... quer dizer, com a gente!

- Jack, meu trabalho é incrível aqui, tem meu pai que


também é difícil...

Ele balançou a cabeça em concordância.

- Já percebeu que sempre existe algo entre nós?

Ela lhe lançou um olhar triste.

- Mas eu entendo... – completou o rapaz,

- Quando você precisa dar uma resposta?

- Até amanhã, para me mudar na próxima semana!

123
- Já?

- Sim...

124
.17.

Liz foi para o seu apartamento aquela noite sem


chão, não conseguiu pregar o olho a noite inteira e
só levantou da cama na manhã seguinte porque
tinha que voltar ao escritório depois das suas
pequenas e turbulentas férias.

Os próximos dias foram cheios de muitos choros,


enquanto ajudava Jack a vender e empacotar tudo
que levaria.

- Que horas sai seu voo? – perguntou, quando


desceram a última mala para o carro.

- Às 17h.

- Não acredito!

- O que foi?

- Esqueci que tenho a reunião com o Diretor...

- Amanhã é o grande dia? A nova Sócia da


empresa? – perguntou Jack.

- É sim...

- Fico feliz por você... – disse com um olhar sincero –


se tem alguém nesse mundo que merece ter todos
os sonhos realizados, esse alguém é você!

125
Ela subitamente, sem pensar, lhe deu um beijo e ele
retribuiu. Deixou suas lágrimas escorrerem antes de
deixá-lo ali, no estacionamento, e correr para o
apartamento. Aquela noite queria dormir abraçada a
Mel.

Pela manhã, mal conseguiu falar com eles, qualquer


pensamento que lhe passava trazia lágrimas e não
queria que a menina a visse chorando. Os abraçou
fortemente antes de correr para o escritório e chegar
atrasada a sua primeira reunião do dia.

A tarde se arrastou até a hora que os sócios se


reuniram para conversar com Elizabeth.

- Estamos realmente felizes pelo seu desempenho e


como já foi dito por intermédio do Júnior, queremos
te convidar a ser nossa Sócia. Espero que saiba que
é a primeira mulher a alcançar essa posição em
nossa empresa e esperamos que seja a primeira de
muitas! Por isso é tão significativo para nós tê-la em
nosso time! Não conseguimos pensar em alguém
melhor que você para assumir esse cargo!

Elizabeth parecia ouvir aquelas palavras como se


tivessem a quilômetros de distância, não conseguia
parar de pensar em Jack e Mel, seu estômago
embrulhava só de pensar em chegar em casa e não
os ter ali.

- Eu me sinto honrada pelo convite, mas preciso


recusar!

Todos ficaram surpresos.

- Eu achei que esse trabalho era tudo que eu queria,


mas na verdade eu já tinha o que eu mais queria

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bem perto de mim! E se eu não me apressar vou
perdê-los... então me desculpem, mas preciso ir!

Liz dirigiu loucamente até a casa de Madá, sabia que


Jack passaria lá para se despedir.

- A comemoração acabou... – disse Jaqueline


quando a recebeu na porta.

- Por favor, me diz que eles ainda estão aqui!

- Não estão...

- Que droga! – disse, virando-se para voltar ao carro.

- Vai lá roubar o marido da sua melhor amiga! –


gritou.

- Jaque, eu sinto muito, muito mesmo pela sua perda


e dor com a morte da Alicia! Apesar de você não
acreditar eu a amava tanto, que meu peito chega a
doer de pensar no dia em que a perdemos.

As lágrimas de Liz começaram a jorrar, eram coisas


que estavam guardadas há anos.

- Não planejei, mas amo, da forma mais profunda


possível, a Mel e o Jack. Me sinto agora, exatamente
do mesmo jeito que me senti no dia que perdi a
Alicia, sem chão, sem ar, sentindo que minha vida
não vai fazer mais sentido se eu não tiver com eles.

Pela primeira vez Jaqueline deixou escapar algumas


lágrimas e depois de alguns segundos sussurrou:

- Acho melhor correr, eles precisam saber como você


se sente!

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Liz sorriu e saiu em disparada até o aeroporto. No
caminho tentava limpar as lágrimas e clamava a
Deus, pedindo que o voo dos dois atrasasse.

Correu até o portão de embarque e ouviu a


atendente da companhia aérea informar que o
embarque já estava encerrado.

- Filha, o que faz aqui? – era Madá.

- Pelo amor de Deus, me ajudem a entrar naquele


avião, o Jack precisa saber que eu o amo! – disse
entre lágrimas.

Madá e Tomas se entreolharam com brilho nos olhos


e foram até a atendente junto de Liz, implorar para
que deixasse a moça entrar e que era um caso de
vida ou morte. A mãe de Alicia era a melhor pessoa
para fazer um drama e graças a Deus funcionou, a
moça estava preocupada com Liz que não parava de
chorar.

- Tudo bem, você tem um minuto nesse microfone –


disse a aeromoça entregando-lhe o objeto.

Liz respirou fundo.

- Jack Holligan... Jack! – continuou falando enquanto


aquelas enormes fileiras de passageiros terminavam
de se sentar, guardar malas e apertar os cintos –
Espero que não seja tarde demais para contar para o
mundo inteiro, ou pelo menos para essas centenas
de pessoas que estão aqui que... Eu te amo! Você e
a Mel são tudo que eu sempre sonhei, não quero
mais nada a não ser estar onde vocês estiverem!

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O rapaz se levantou e tentou passar alguns
passageiros que ainda estavam de pé no corredor.

- Jack... – era ele, olhando-a da forma mais profunda.

Ele sorriu e a puxou para um abraço.

- Espero que não seja tarde demais... – disse ela,


quando se entreolharam.

- Esperaria o tempo necessário por você!

Ele segurou em seu rosto e a beijou. Era exatamente


ali, onde os dois deveriam estar, um no abraço do
outro.

- Titia! – era Mel correndo para se juntar a eles.

- Oi meu amor! – disse Liz abraçando-a fortemente.

- Você vai com a gente?

- Você quer que eu vá?

- Quero muito! –

- Então eu vou!

Depois de dois dias, Liz chegou ao Aeroporto em


Montreal e encontrou Mel e Jack segurando duas
plaquinhas, a dele dizia: “Você quer...” e a dela: “Ser
minha mamãe?”.

- Esse é um pedido oficial, dela e meu! – disse o


rapaz. Então ele se ajoelhou e lhe mostrou uma
pequena caixinha com um anel.

- Elizabeth – pausou - minha Liz... quer casar


comigo?

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- Sim! – disse abraçando-o.

- Tinha que ser você! – suspirou.

Liz tinha em sua listinha de sonhos, viver um grande


amor. E por fim, viveu vários. O amor profundo de
irmã por Alicia, o amor inexplicável de mãe por Mel e
o amor capaz de enfrentar qualquer coisa, era o que
sentia por Jack. Não queria se preencher de nada
mais, a não ser do verdadeiro amor, Aquele que lhe
possibilitava ter o suficiente para transbordar, Ele
lança fora todo o medo e Nele não há temor! (1Jo
4:18)

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Sobre a autora:

Juliana, mais conhecida como Ju, é formada em Teologia


com Ênfase em Educação Cristã pelo Seminário Bíblico
Palavra da Vida. Desde que se converteu aos 13 anos de idade
tem se dedicado a conhecer e servir ao Senhor. É casada com
Diego, também formado em Teologia pelo Seminário
Presbiteriano do Sul e formado em História. Os dois são
casados há quase 5 anos e servem juntos a Igreja
Presbiteriana do Brasil. Você pode saber mais sobre os outros
livros da autora no site: www.blogpapodeguria.com.

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