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Textos Sagrados A Questão do Vinho Magical Philosophy

MagiA & Teurgia


www.magick-theurgy.com Coração da Tradição Hermética Abril/Maio/Junho 2011

Selene
A Deusa Lunar Visitando
as
Divindades
Os Hinos
Sagrados

Qabalah
&
Dogmatismo?

EDIÇÃO 1
 

Obra. De fato. Sempre. E duvido.


Claro.
Uma idéia paira.
Inicialmente tênue, e então toma
forma.
Ela se agiganta e encanta,
Eu penso que a mantenho, mas ela
escapa.
Ela está de volta. Fico excitada…
Ela graceja e eu sorrio.
Com o meu suave pincel, eu a acari-
cio e faço-a se render ao meu desejo.
Ao suave e ágil toque
Eu a lisonjeio novamente.
Eu repouso-a na minha tela.
Domada enfim, banhada em luz
e envolta em sombra, é minha.
NATASHA DOULIEZ - PINTORA Para sempre. Um mágico momento.
Eu sonho que capturei
http://www.natasha-douliez.com o indescritível espírito da eternidade.

2 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011


 

M AGIA  & T EURGIA  Abril/Maio/Junho 2011

ÍNDICE
Artigos
Visitando as Divindades 8
 Harmonização com Selene
 por Sophie Watson, Roelof Weekhout
& Patricia Bourin.

A Vida Epicurista 17
 A Questão do Vinho
 por Roelof Weekhout

Tributo a Denning & Phillips 18


 por Julien Larche

Qabalah & Dogmatismo? 20


 por Jean-Louis De Biasi

Eclésia Ogdoádica 24
 Missão
PELO C.C.DA E.O.

Magical Philosophy 26
O Turíbulo
 por Patricia Bourin

Textos Sagrados 31
Corpus Hermeticum – Nova Tradução
 pela Eclésia Ogdoádica.

www.magick‐theurgy.com 3
 

SEÇÕES
5 Carta do Editor SIGA-NOS NO:
6 Harmonização Planetária Facebook: http://goo.gl/OoIsM
7 Prefácio
15 Aurum Solis, Luz da Tradição Oci- Twitter: http://goo.gl/hVOTJ
dental, Os Três Pilares
Basta clicar no link acima para acessar os
 pela Ordo Aurum Solis
websites, ou utilizar o seu celular/TabletPC
para scanear o código ao lado, caso você es-
16 Hinos Sagrados teja lendo a versão impressa desta revista.
Traduções originais dos Hinos
Sagrados da Tradição Ocidental. PARA ADQUIRIR UMA CÓPIA IM-
 Nesta edição: Hino para as Moiras PRESSA DESTA REVISTA
 por Raul Moreira
Basta clicar no link abaixo (ou copiar)
34 Símbolos da Grande Obra: e usufruir a edição impressa da re-
O Corvo vista “Magia & Teurgia”.
 por Martin Beliard http://www.cafepress.com/academiaplatonicabrasil 

38 Ecos dos Ancestrais


 Apuleio – Mistérios de Ísis
@ “MAGIA & TEURGIA” APRECIA AS CORRES-
PONDÊNCIAS DOS LEITORES!
 por Irene Craig Por favor envie suas correspondências e
comentários para cartas@magick-theurgy.com
41 Críticas  As cartas podem ser resumidas e editadas
 Livros e filmes relacionados com Magia, para ficarem claras. Os editores reservam o
Teurgia e as Tradições Ocidentais. direito de editar os materiais enviados.

Magia Teurgia na Web


Extras Online
Documentos - Áudio - Vídeo

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4 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011


 

C RT D O E D IT O R

MAGIA & TEURGIA

Editor-Chefe
Jean-Louis de Biasi
H oje, estamos vivendo em um momento
muito especial na história. Várias guerras
antigas que estão profundamente en-
raizadas na intolerância religiosa continuam a
matar milhares de pessoas em todo o mundo em
Editor-Executivo nome de Deus. É verdade que esta situação não é
Patricia Bourin algo novo. No entanto, a persistência de tal com-
 portamento, especialmente quando associada ao
Editor Web
Simon Tamenec uso de armas modernas e de meios de comunicação de ponta, naturalmente
intensifica as consequências para todos. Ao mesmo tempo, novas gerações
Diretor de Arte de jovens homens e mulheres estão buscando mais liberdade e respeito.
Julien Larche
Iniciados do passado eram muito frequentemente atacados (e até mesmo
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Lisa Veys assassinados) pela sua insistência no direito de exercer a liberdade de pen-
samento e por sua independência em relação aos dogmas do poder político
Publicação no Brasil das religiões. Os fundadores da Corrente de Ouro da Tradição Hermética
 ÁGORA HERMÉTICA Ogdoádica, que hoje é conhecida como Aurum Solis, desenvolveu uma
www.agorahermetica.com.br  tradição fundada em Hermópolis e Alexandria (Egito). Esta linhagem foi
fundada há muito tempo e fornece ao buscador um caminho para a espiritu-
Traduzido de
“MAGICK & THEURGY”
alidade, bem como rituais e práticas que permitem que ele / ela iniciem a
Copyright © 2011  jornada sagrada: o retorno ao Divino. No entanto, como os Mestres fun-
Jean-Louis de Biasi dadores ensinaram, esta ascensão espiritual só pode ser realizada com um
Publicado pela
 ACADEMIA PLATONICA
 bom equilíbrio entre uma obra moral interior e um ritual Teúrgico bem es-
P.O.Box 752371, Las Vegas, truturado. Hoje, como no passado, estes dois aspectos podem, se devida-
Nevada, 89126, USA mente apresentados e utilizados, ajudar cada Iniciado a se tornar um ser 
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humano melhor, que fique ativamente envolvido no mundo, respeitando as
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crenças dos outros, contanto que não sejam crenças fundamentalistas.
PARA CONTRIBUIÇÕES
Todos os textos podem ser Ainda assim, é importante ressaltar aqui, que os hermetistas (tanto do pas-
enviados no formato sado quanto do presente) nunca se esqueceram de prestar atenção ao seus
msword e pdf para: corpos. A união entre a alma e o corpo enfatiza o papel essencial da dimen-
contributions@magick-
theurgy.com são física do nosso ser. É por esta razão que os prazeres associado à busca
do Bem e do Belo em tudo, sempre têm sido uma parte real e significativa
EDIÇÃO PORTUGUESA deste caminho. Você não tem que rejeitar seu corpo físico a fim de atingir 
portugues@magick-theurgy.com
mais facilmente os planos superiores. Em vez disso, você tem que tomar 
EDIÇÃO RUSSA consciência de seus desejos, e equilibrar os diferentes aspectos de seus cor-
russian@magick-theurgy.com  pos físico e energético, de modo que você seja capaz de se tornar um Inici-
ado. Aumentar a sua luz interior irá ajudá-lo a desfrutar da sua vida aqui e
EDIÇÃO FRANCESA
francais@magick-theurgy.com
agora!

NOTIFICAÇÃO LEGAL  Na Luz da Estrela Gloriosa,


Copyright © 2011 Aurum Solis -
E.O. Todos os direitos reservados.
Magick & Theurgy é marca
registrada da Aurum Solis - Jean-Louis DE BIASI
Eclésia Ogdoádica  Editor-Chefe

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Harmonização Planetária
U m dos períodos mais importantes da história da
Tradição Hermética Ogdoádica, hoje chamada
de Aurum Solis, se desenrolou em Florença, na
Itália, durante os anos de 1438 e 1439. Vários eruditos
gregos, entre eles o neoplatônico Georgius Gemistus
simpatia universal, os membros da Academia Platônica
 procuravam se elevar rumo ao mundo espiritual. Eles
demonstraram que a felicidade é possível aqui embaixo,
através da rearmonização dos planos interiores do indi-
víduo.
Plethon (ou Pleto), viajaram para Florença e foram aco-
lhidos lá durante o Concílio de Florença, o qual reuniu O trabalho teúrgico implica em três aspectos:
as Igrejas do Oriente e do Ocidente.. - uma postura moral de pureza interior, de frater-
nidade e de amor ;
Esse grande filó- - uma formação
sofo, herdeiro da Aca- filosófica, expressão
demia Platônica, de uma mente (es-
entrou em contato com  pírito) religiosa ou Re-
Cosimo de Médici e ligio Mentis;
transmitiu um con- - um trabalho ritu-
 junto de textos filosó- alístico e estético fun-
ficos e herméticos até damentado na astrolo-
então desconhecidos. gia. É nesse aspecto do
Marsílio Ficino rece- antigos ensinamentos
 beu de Cosimo a que se inspiram os
ordem para traduzi- ritos do presente tra-
los, começando pelos  balho.
livros de Hermes. Um O Cosmos é regido
grupo foi constituído  por um padrão orde-
em torno desse em- nado e por um estado
 preendimento e colo- original de equilíbrio
cado dentro da harmonioso. Os plane-
continuidade da antiga escola de Platão. Cosimo dôou tas, que se movem nas esferas celestiais, participam
 para tanto a Villa Careggi, que tornou-se a sede dessa desse padrão harmonioso. A cada um deles é atribuído
nova Academia Platônica. um caráter específico, ligado a uma Divindade corre-
spondente. Desenvolvida progressivamente pelos inici-
Todos os seguidores de Platão reuniam-se para ados que estudaram as origens da humanidade, a
"praticar a filosofia". Tratava-se antes de tudo de dis- Astrologia, em sua dimensão iniciática, tornou-se a
cussões filosóficas no espírito do « Banquete Platônico fonte de um importante sistema de correspondências que
». Mas longe de se limitar ao aspecto intelectual, a demonstra um liame essencial entre tudo o que existe
Tradição Hermética abrangia vários ritos e práticas de no universo. Cada planeta, cada signo, corresponde a
natureza teúrgica. A magia astrológica desenvolvida por  um completo conjunto de símbolos, tais como: um som,
Ficino baseava-se na tradição das assinaturas e na afir- uma cor, um perfume, etc. Essas correspondências (as-
mação da Tábua de Esmeralda : " O que está embaixo é sociações) abrangem arquétipos de caráter psicológico.
como o que está em cima, e o que está em cima é como Assim, o universo do qual fazemos parte não consiste
o que está embaixo, para a realização dos milagres de de astros frios, estrelas mortas, mas de poderosos ar-
uma coisa só." quétipos Divinos agindo sobre nós por suas posições no
Utilisando esses ritos, os hinos, a música, as cores e Cosmos e por seus deslocamentos.
o conjunto de correspondências decorrentes das leis da (Continua na pág. 43)
6 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011
 

PREFÁCIO

 por Carl Llewellyn Weschcke

dução de alimentos, da carência de água, fontes de e-


nergia seguras e limpas, e a eficiência e a criatividade

S
na produção e comunicação. E a nova ciência traz a
into-me honrado, e agradecido, por escrever 
compreensão não só do universo físico, mas cada vez
o Prefácio para a primeira edição de "Magia
mais dos níveis quânticos, onde os planos astrais e os
& Teurgia", como publicação oficial da
mais elevados se encontram e originam o plano físico.
Aurum Solis.
Hoje, estamos no limiar da civilização global - se é
Eu sou grato porque a Aurum Solis está exercendo
que podemos superar os desafios.
tanto um papel público quanto estotérico nestes tempos
tão difíceis de crescente conflito religioso e violência A Magia tem realmente um papel neste processo?
 patrocinada;com extremas alterações meteorológicas e Sim, enfaticamente que sim!A Magia é realmente a ciên-
climáticas, e até mesmo com a própria Terra tremendo; cia da Vida Consciente. Magia não é apenas se vestir 
onde as funções econômicas e políticas estão em desor- com robes de estilo religioso, e realizar cerimónias
dem e devem mudar - e, ainda, senão diretamente afe- aparentemente religiosas em ambientes enriquecidos
tados, o público em geral parece interessado apenas em com cores e incensos. E Magia não é meramente o ato
ser entretidos e apoiados pelos governos, sem receitas de lançar encantamentos para se obter amor, sorte e
suficientes para continuar nesse caminho sem mudanças lucro. E Teurgia é a aplicação de fórmulas para evocar 
substanciais e invocar as energias e inteligências do não-físico para
se manifestarem no mundo físico, sob a direção da
E, no entanto, temos duas maravilhosas correntes
mente consciente do mago.
oferecendo atualmente a "salvação" – a nova ciência e
tecnologia baseada na Física Quântica e a Magia reno- Até então, nunca as oportunidades para o progresso
vada, o lado ativo da Sabedoria Antiga - oferecendo humano foram tão grandes, e nunca os desafios para a
compreensão e solução. Ciência e Magia sempre têm  própria sobrevivência da humanidade e da civilização
marchado de mãos dadas, apesar da aparência de con- foram tão grandes e tão imediatos. Nunca antes - fora
flito que tem sua fonte na religião organizada que de mitos e lendas - as Ordens Mágicas têm estado em
 procura o controle sobre os homens e mulheres. tal posição para influenciar o resultado por meio do en-
tendimento pessoal das forças de trabalho e de ação pes-
Sempre que discutimos o papel das antigas ordens es-
soal para mudarmos a direção. É vital "espalhar a
otéricas, é fundamental que entendamos o "sigilo". His-
 palavra" através de nossas publicações e comunicações,
toricamente, o sigilo muitas vezes tem sido necessário
em versão impressa e on-line, através da educação em
 para proteger tanto a ciência quanto a magia da religião,
grupo e individual, e através dos meios que são
e a política de motivação religiosa, como pode ser facil-
econômicos e sociais.
mente vista hoje como fundamentalismo sectário está
novamente atacando a liberdade de pensamento e de A Aurum Solis pode ser o veículo para o Divino, para
vida. Mas, hoje, não precisamos, e não devemos, nos es- operar no Homem e na Mulher como previsto desde o
condermos. Devemos abertamente unir outra vez a Princípio, quando a Palavra foi verbalizada pela
Magia e Ciência para derrotar a opressão religiosa e seu  primeira vez para manifestar tudo o que É. 
conseqüente terrorismo político. A nova ciência traz a Conheça os livros de Carl Llewellyn Weschcke em:
compreensão tanto da causa e quanto da solução para a http://www.llewellyn.com/author.php?author_id=4861
terra e sua mudança climática, e as soluções para en-
frentar as crises do crescimento populacional, da pro-
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V ISITANDO AS DIVINDADES

M itos são uma ótima


maneira de explorar,
ainda que alegoricamente,
as obras e as vidas das Di-
vindades Imortais. Isto, na-
turalmente, é um conheci-
mento importante para os
Magos, Astrólogos e Alqui-
mistas, cujas artes são
baseadas em simpatias e
correspondências.

SELENE
A DEUSA LUNAR
 por Sophie Watson

Filha dos titãs Hiperion (luz) e Theia (éter), Selene teve


muitos descendentes. Pandeia (orvalho), o Horai (as es-
tações), e Mousaios, famoso discípulo de Orfeu, são
Genealogias dentre eles, os maisamplamente conhecidos. Eles foram
Embora muitas Deusas fossem associadas com os as- gerados por Selene em suas uniões com Zeus,Helios, e,
 pectos lunares na Grécia antiga, Selene, irmã de Hélios no caso de Mousaios, em associação com as Musas. Al-
(Sol) e Eos (Aurora), sozinha, representava plenamente gumas fontes também a mencionam como a mãe do
os tons prateados da Lua e seus deslocamentos noturnos. Leão de Neméia, um dos monstros contra os quais Hér-
8 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011
 

lar? Por que, em cada caso, com Zeus,


Hélios, e com as Musas? Para refletir 
sobre esses mitos, ou recontar as histórias
com uma renovada inspiração, vai ajudá-
lo a compreender o lugar de Selene no
Cosmos, bem como em sua progressão es-
 piritual.

Invocação
Selene, como Deusa da Lua, está natu-
ralmente, relacionada com as influências
espirituais e materiais dessa estrela, mas
também, e mais amplamente, com a fer-
tilidade; com os ritmos naturais; com a
magia; com a profecia; e com as cele-
 brações noturnas dos mistérios; com a
feminilidade e a maternidade; e, como
visto em sua estreita associação com Hé-
cate e Ártemis, com a natureza selvagem
e com os instintos.
Selene deve, portanto, ser invocada em
assuntos ligados a novos começos, ferti-
lidade e partos, crescimento, em prol da
harmonização dos ciclos biológicos e na-
turais em geral; e para nós mulheres, do
ciclo menstrual em particular. A Deusa
 pode ser invocada para a clareza de visão
(tanto exterior quanto interior), para o de-
senvolvimento de empatia e da sensuali-
dade, do instinto e da intuição, para
operações oraculares, especialmente
aquelas que envolvem sonhos e pathwork-
ing, e para qualquer tipo de solicitação, ou
cules teve que lutar, de acordo com a história mítica dos meditação, que envolva a memória.
Doze Trabalhos desse herói.
Os mitos são uma ótima maneira de explorar, ainda
que alegoricamente, as obras e as vidas das divindades
imortais. Genealogias, ou seja, a origem e geração de
Deuses e Deusas, ou, em alguns casos, heróis e criaturas
míticas, muitas vezes nos permitem compreender as
 principais qualidades das Potênicas, relacionando umas
com as outras. Isto, naturalmente, é um conhecimento
importante para os Magos, Astrólogos e Alquimistas
cujas artes são baseadas em simpatias e correspondên-
cias. Um breve estudo do Leão aparecerá em uma edição
 posterior desta revista, mas eu convido os leitores a mer-
gulharem nos logoi (discursos) dos grandes poetas e a
meditarem sobre as gerações de Pandeia, as estações, e
dos Mousaios. Por que a Lua estaria relacionada com o
orvalho, com os ciclos sazonais, e com a poesia oracu-
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Símbolos
Você pode decorar o seu lararium (um
altar tradicional para as divindades e os
seus próprios ancestrais) de acordo com
certos símbolos para invocar Selene. A
lista é dada abaixo. Estes símbolos tam-
 bém podem ser usados ao se elaborar i-
magens talismãnicas, móveis, ou jóias
 para a Deusa. O ato de colocar esses de-
senhos em sua obra com base nesses sím-
 bolos específicos vai garantir contatos
harmoniosos e propícios com a Lua. Eles
 podem ser utilizados como materiais
(madeira, pedras e jóias, objetos mági- Essa Estátua de
cos), ou como imagens. As formas, Ártemis foi encon-
 padrões e cores de folhas, frutos, pedras trada em Éfeso.
e jóias devem inspirar suas criações:
 No reino vegetal: avelã, louro, todos os Ártemis é muitas
salgueiros, mamão, sementes de papoula, vezes associada
hissopo, centeio,todos os lírios , narcisos, com Selene, como
agrião, chás verde (genmaicha e sencha), a Deusa da Lua.
repolho e alfaces, todas as cabaças Éfeso, localizado
(melões, jerimum, pepinos e abóboras), na moderna
 banana, ameixas,todos os feijões, ervi-
Turquia, foi o local
lhas e lentilhas, nozes e bagas em geral.
 No reino animal: Urso, cavalo, mula, onde o Grande
 boi, vaca, todos os porcos, cachorro, Templo (uma das
camelo, hiena, elefante, gato,coruja, Grandes Maravi-
corvo, gralha, bacurau, abutre, e da mi- lhas do Mundo) foi
tologia: Minotauro, touro alado,serpente erguido.
com cabeça de carneiro, harpia, e hidra.
 No reino mineral: Prata, berilo, alexan-
drita, ortoclásio (tipo moonstone), cristal
de rocha, pérolas, fluorite (espatoflúor),
alabastro, hialita (variedade de opala). (cuidado para distinguir entre raízes e folhas em suas
Outros símbolos são a Lua crescente, os chifres notas), e também se deve familiarizar-se com os an-
 prateados, um véu prateado, a carruagem prateada pu- tiquíssimos perfumes associados com a Lua: cânfora,
xada por cavalos brancos ou mulas, e uma tocha. ilangue-ilangue, gálbano e óleo de jasmim são os meus
favoritos, mas artemísia,raízes de íris (lírio-florentino),
Oferendas e perfumes e gaultéria também pode ser muito útil em invocações.
Ao se trabalhar com Selene, deve-se obter alguns dos Com o tempo, o seu relacionamento com Selene vai se
símbolos do reino vegetal (citados acima) como ofertas desenvolver, e isso vai lhe permitir reconhecer correta-
de alimento. O leite é a melhor opção dentre todas as mente os perfumes associados com ela. Você então será
 bebidas utilizadas em rituais e orações para a Deusa. A capaz de explorar e descobrir novos perfumes relaciona-
queima de perfumes deve, no entanto, preceder as ofer- dos com a Lua, e experimentar diferentes receitas de in-
tas ao se trabalhar com as divindades. Você pode utilizar  censo de sua própria autoria. Símbolos, ofertas e
um turíbulo ou caldeirões (réchaud) para essas ofertas  perfumes estão aí para você descobrir o papel da Deusa
de incenso. Você pode experimentar com os perfumes na Natureza, assim como em dentro de você mesmo. Di-
de algumas das plantas e sementes mencionados acima virta-se experimentando estes aspectos, descobrindo a
sua própria divindade. Que a Deusa esteja contigo! 
10 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011
 

SELENE
&
VINHOS
 por Roelof Weekhout 

F
inalmente, a cor do vinho no copo deve ser 
 brilhante, até mesmo cintilante, como a maioria
dos vinhos jovens, pálidos, tendem a ser. Estes
vinhos também têm muitas vezes a acidez que estamos
 procurando.
Os Vinhos que se encaixam nestes três aspectos são:

O
- Sauvignon blanc de Marlborough (Nova Zelândia)
 primeiro aspecto para procurar no vinho para
- Riesling das áreas mais frias da Nova Zelândia, Aus-
este planeta é a refrescância. Um vinho "su-
trália, França e Alemanha
culento" com bastante acidez representa a
- Um jovem Gewurztraminer da região de Alsácia
compleição aguada e frio da lua.
(França)

E
- Rueda com uma elevada percentagem de Verdejo
m segundo lugar, um vinho com muita ex-
(Norte da Espanha)
 pressão é apropriado para o planeta de sonhos
- Chardonnay, bem seco, não envelhecido, de vinhas
e imaginação. Uvas expressivas como Sauvi-
mais quentes (como Chablis na França)
gnon Blanc (Sauvignon branca), Riesling e Gewurz-
Certifique-se de que o vinho está devidamente refri-
traminer vão lhe dar um aroma apropriado.
gerado, mas não tão frio. Aprox. 46 ° F (8 ° C) é o ideal.

Nota: o vinho pode ser usado como uma oferenda e para degustação durante a cerimônia, ou em outro
momento do dia, quando você alemjar uma maneira divertida de estar em contato com esse poder divino.
Lembre-se que beber pouco é bom e que o ponto principal não é ficar bêbado. Você tem que encontrar um
 bom equilíbrio e ser capaz de apreciar esta bebida. Então beba com cuidado. Se você não tiver a idade legal
 para beber álcool, use suco; ou neste caso, leite. Sob o ponto de vista ritualístico, a conexão será perfeita.

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HARMONIZAÇÃO
COM SELENE
 por Patricia Bourin

Época: qualquer período do ano.


Dia: Segunda-feira.
Altar (Bomos): no Leste.
Luzes: uma luminária ou uma vela violeta.
Outros equipamentos: Você vai precisar de
uma vela, para acender a vela do planeta a partir 
da chama do Bomos; incenso (se você optar por 
usar um); incensário (se você usar carvão vege-
tal); pano branco; a representação da Divindade
(ou Divindades) – isso é opcional.
Vestuário: Vestido com roupas confortáveis.
Caso você utilize carvão vegetal, acenda-o
fora e depois traga-o para dentro do local de tra-
 balho.

Fique de pé ao Oeste do Bomos, diante do


Leste, com os braços relaxados, naturalmente
Uma rara estátua de Selene está em exibi- aos lados.
ção em Villa Getty, Santa Monica, CA. Acenda a Luminária sobre o Bomos.

1. ABERTURA
Levante seus braços à sua frente de modo que
as palmas das mãos fiquem voltadas para o céu.
(Na sequência seguinte, você pode usar os gestos
tradicionais específicos, enquanto você declama
a respectiva passagem)
Declame em Latim:
A- Ave Lux Sanctissima
B- Sol Vivens
1o Pilar:
Teurgia C- Custos Mundi
D- In Corde Te Foveo
E- Membris Circumamictis Gloria Tua.
http://goo.gl/vJzlP
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12 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011


 

[Tradução das palavras em


Latim (não declame): A- Salve,
Santíssima Luz! B- Sol Vivente;
C- Guardião do Mundo; D- Eu
te mantenho em meu coração;
E- Meus braços circundam tua
Glória].

2. CIRCULUS
Estenda o seu braço direito
horizontalmente, com o indi-
cador apontando para frente.
Mantendo o nível, gire no sen-
tido horário, traçando um cír-
culo de luz ao seu redor.
Visualize este círculo como uma
Ó Deusa soberana, escuta minha voz!
 bruma, uma cortina de luz que Poderosa Selene traz tua luz neste local onde nos
envolve o teu templo e o isola encontramos. Tu que corres pela noite e manifesta
do resto do mundo. Feche este tua presença no ar que nos envolve, esteja pre-
círculo à sua frente e então re- sente entre nós! 
laxe seus braços nas laterais do
seu corpo.
minha oferenda para vós neste dia.
3. DEDICACIO SUB R OSA NIGRA  Dirija para mim vossa proteção e vosso poder, e com
Depois de alguns momentos de pausa, levante os isso eu manifestarei vossa beleza e vossa glória
 braços com os cotovelos flexionados, de modo que os eterna em minha vida.
 braços fiquem na sua frente em uma posição quase ho-
rizontal, girados ligeiramente para fora, os antebraços e Caso você tenha um sino, toque-o algumas vezes.
as mãos ficam erguidas verticalmente, com as palmas
das mãos para a frente (voltada para fora), então Caso deseje, você pode agora se sentar (no chão ou
declame: numa cadeira), feche os olhos e intensifique a luz vio-
 Do portal da Terra ao portal do Fogo, leta. Visualize à sua frente a representação de Ártemis.
 Do portal do Ar ao portal da Água,
 Do centro do limbo de Poder ao limiar adamantino, Matenha a visualização. Em seguida, vibre
que o santuário seja estabelecido aqui! com força o nome divino: «  SELENE  » -
http://goo.gl/LUXi5
Descanse a posição e relaxe seus braços.
Intensifique a visualização da Divindade e imagine
4. H ARMONIZAÇÃO COM SELENE, O DIVINO AR - que ela está de pé à sua frente. Entoe o hino específico
QUÉTIPO LUNAR .  para a divindade, criando um vínculo espiritual com ela:
Caso você tenha um sino, toque-o algumas vezes. Ó Deusa soberana, escuta minha voz!
 Poderosa Selene traz tua luz neste local onde nos en-
Coloque um pouco de incenso sobre o carvão e contramos.
declame: Tu que corres pela noite e manifesta tua presença no
Ó potentes Divindades, escutem a minha voz à me- ar que nos envolve, esteja presente entre nós!
dida que ela se eleva até vós. Tu, jovem filha da noite, portadora da tocha, astro
Voltem vosso olhar para mim, enquanto vos invoco. magnífico, crescente e decrescente, ao mesmo tempo
Que este perfume se eleve em vossa direção, como a macho e fêmea, mãe do tempo;
Tu que clareia a noite com teu brilho prateado, dirige
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teu olhar sobre nós e sobre nossa obra.  pura e santa, afim de que eu possa conhecer exata-
 Esplêndido contentamento da noite, concede-nos tua mente o deus incorruptível e o homem que sou.
 graça e tua perfeição. Que jamais um Gênio malévolo extenuando-me por 
Que teu curso celeste te guie agora a nós, ó jovem males, me retenha indefinidamente cativo sob as
moça tão sábia. ondas do esquecimento e me distancie dos Deuses!
Vem, bem-aventurada, e seja-nos propícia, fazendo Que nunca uma expiação aterrorizante encarcere,
brilhar tuas três luzes sobre este novo iniciado. nas prisões da vida, minha alma caída nas ondas
 geladas da geração, e que lá não quer errar por 
Sinta a Divina presence enquanto você respira pro- muito tempo!
funda e regularmente. Vós, portanto, ó Deuses, soberanos da deslumbrante
Caso você esteja sentado, levante-se e execute Sabedoria, atendei-me, e revelai àquele que se
o movimento da Lua, sentindo o seu corpo enquanto apressa na senda ascendente do retorno, os santos
você se move no espaço. delírios e as iniciações que estão no coração das
http://goo.gl/G5kiZ  palavras sagradas!
Relaxe os seus braços e sinta a Divina alegria e a
Divina energia que você recebe.
7. CORPO DE LUZ
5. OFERENDAS Imagine que a dimensão do seu corpo cresce, cada
Mantenha a visualização da Divindade. Levante as vez maior, até a sua cabeça alcançar as estrelas. Abra
oferendas que você preparou antes da cerimônia (flores, seus braços ligeiramente, com as palmas das mãos
alimentos, sucos, vinho, etc) para a Divindade, para a voltadas para cima, e declame:
sua benção. Visualize a Divindade aceitando a sua ofe-  Eu te invoco, ó Chama Secreta que habita no
renda. Quando sentir que é o momento adequado, Sagrado e Luminoso silêncio!
recolha as oferendas e relaxe os braços. Coma ou beba Que a Beleza, a Verdade e a Bondade se manifestem
 parte da oferenda, enquanto você sente a comunhão in- em mim!
terior com Selene. (Nota: Você não precisa ter tudo da Que a Ordem se estabeleça sobre o Caos!
lista na sua oferenda. Basta ofertar o que lhe parece mais Que Harmonia se expresse em mim e em todos os as-
adequado para o ritual que você está executando.)  pectos da minha vida!

Quando sentir que é o momento propício, libere a vi- Volte sua mente na direção do seu corpo físico,
sualização da Divindade. abaixo.

8. ENCERRAMENTO
6. ASCENSÃO AO DIVINO Cruze seus braços, o esquerdo sobre o direito. Ima-
Abra a sua mente para as outras esferas celestiais gine que o seu tamanho diminui até retornar à dimensão
acima e abaixo de você. Sinta e imagine uma esfera de normal. Respire pacificamente. Abaixe a sua cabeça
estrelas fixas no mais profundo azul acima de você, que ligeiramente e declame:
está repleto de estrelas douradas cintilantes. Adicione Que tudo que veio a ser realizado seja meu, agora e
incenso em honra a todas as divindades e pronuncia o  sempre!
hino para todos os Deuses de Proclo (hino principal da
Eclésia Ogdoádica): Fique em silêncio por alguns momentos, e diga:
 Atendei-me, Ó Deuses, vós que segurais a barra do  Konx Om pax!
leme da Sabedoria Sagrada, e que, ao acender nas
almas dos homens a chama do retorno, trazei-os de Caso você tenha um sino, toque-o algumas vezes. 
volta para junto dos Imortais, dando-lhes, pelas ini-
ciações indizíveis dos hinos, o poder de se evadir da
caverna obscura e de se purificar.
 Atendei-me, potências libertadoras.
Concedei-me, pela inteligência dos livros divinos e
ao dissipar a obscuridade que me envolve, uma luz
14 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011
 

OS TRÊS PILARES
Os três pilares desta tradição são: a Teurgia, a Filosofia e o Epi-
curismo. Esses três pilares foramas bases da tradição neoplatônica
em sua constituição, e são, até hoje, o corpo visível
da Tradição Ogdoádica.

1o Pilar: Teurgia ( Pilar Ritualístico)


Teurgia é a parte fundamental da Aurum Solis. Conforme Jâmblico afirmou: “o
alvo da Arte teúrgica é a purificação, liberação e salvação da alma através dos atos
divinos dos ritos sagrados”. Esses ritos Teúrgicos inefáveis foram louvados por 
Proclo como: “um poder maior que toda a sabedoria humana, abrangendo as
 bênçãos de profecia e os poderes purificantes da Iniciação”. Consequentemente,
essa ascensão ao divino aumentará seu poder psíquico, apesar de isso ser uma con-
sequência e não um objetivo em si.

2o Pilar: Filosofia ( Pilar Teórico)


Filosofia é a parte teórica da Aurum Solis. Nossos ensinamentos não estão res-
tritos aos escritos de filósofos, nossas lições têm a intenção de ensinar ao estudante
todos os aspectos da Tradição Ocidental, incluindo: Cabalas Grega e Hebraica, Her-
metismo, Teologia, línguas sagradas, Alquimia, Astrologia... Essas lições são sem-
 pre baseadas na aplicação prática desse trabalho. A leitura constante de filósofos
da nossa Tradição revela, gradualmente, a verdadeira essência da Filosofia ao es-
tudante, permitindo que ele se junte àqueles que amavam a Sabedoria e àqueles
que foram capazes de ler e entender os Mistérios do mundo.

3o Pilar: Epicurismo ( Pilar Físico)


Todo trabalho Teúrgico e espiritual é baseado na premissa de “ser aqui e agora”,
sem renunciar a nossos corpos. Consequentemente, nossa Tradição reconhece que
a busca por Beleza, Harmonia e a habilidade de desfrutar de prazeres balanceados
de nossa vida cotidiana são fundamentos da verdadeira estabilidade interior.

www.magick‐theurgy.com 15
 

HINOS S GR DOS

Hino para as Moiras


Os hinos órficos eram potentes textos utilizados para invocar e di-
alogar com as divindades. Hoje, esses hinos sagrados da Tradição
Ocidental foram traduzidos de modo que você possa utilizá-los em
sua vida mágicka!

Tradução portuguesa por Raul Moreira

M oiras eternas, filhas da


obscura Noite, deusas
do céu e da terra, es-
cutem o chamado de minha
 prece;Vós que residis nos rios do
lago celeste, lá onde uma água
 branca jorra da noite secreta, e
corre nas profundezas da caverna
rochosa, voai para a terra sem limites
dos seres vivos, onde me encontro.
Cobertas de púrpura, vós atravessais o plano
dos mortos em vossa carruagem gloriosa, para
avançarem rumo aos mortais, que como eu, vós
atendeis com esperança.
Exceto Zeus, nenhuma outra divindade habi-
tando o santuário celestial onde residem os imor-
tais, observa a vida como vós. Eu vos invoco:
Átropos, Láquesis e Clotó!
Escutem minha prece e sejam-me favoráveis, ó
Deusas.
Filhas de um pai ilustre, aéreas, invisíveis, ine-
xoráveis, indestrutíveis, tudo o que vós dais a nós,
vós podeis também retirar de nós.
Moiras eternas, escutem minha prece e aco-
lham minhas santas libações.
Aproximem-se com benevolência
do iniciado que sou e dissipem minhas penas,
tecendo o melhor destino que eu possa manifestar 
e encarnar.

16 www.magick‐theurgy.com MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011


 

Quando o celebrante elevou o


cálice de vinho até os seus lábios, a
expressão facial manifestou uma más-
cara temporária que parecia proteger contra
maus espíritos e que também evocava
Dionísio.
(Terracota, datada em torno de 520 A.P., em Villa
Getty, CA)
A QUESTÃO

O
vinho tem um lugar proeminente na
DO Tradição Ogdoádica. Seu uso ocupa uma

VINHO
 posição central em vários dos nossos
ritos, e é um elemento integrante do ban-
quete Platônico onde as questões filosóficas são susci-
tadas em alegres discussões. Do ponto de vista
epicurista, no entanto, o vinho é uma substância que
 pode “armar uma cilada”. Se - como um epicurista - o
O Vinho é um elemento inte- seu objetivo é apreciar a essência de uma taça de vinho,
grante do banquete Platônico  para usufruir plenamente da complexidade e da harmo-
nia do vinho, sem beber a garrafa inteira, você vai se en-
onde as questões filosóficas contrar numa situação delicada. O vinho é uma vibrante
são suscitadas em alegres dis- essência sedutora...
cussões.
O estilo europeu de fazer vinho
 produz uma paleta muito complexa.
 por Roelof Weekhout 
Muito frequentemente, o segundo
gole de uma taça de vinho será dife-
rente do primeiro. Uma forma de
atentar para isso é mantendo um gole 2o Pilar:
Epicurismo
de vinho em sua boca por um tempo,

www.magick‐theurgy.com
 

degustando atentamente. Ele vai mudar de textura,


 primeiro liberando açúcares, depois ácidos, e final-
mente, taninos (o amargo). Estes são frequentemente
acompanhados por diversas e variadas sensações táteis
da língua e bochechas. Os sabores detectado pelo nariz
variarão também, primeiro revelando tons frutados, mas
mudando lentamente para sabores mais terrosos como
da madeira, da compostagem, do couro, de café e fumo
nos vinhos tintos e cal, calcário, feldspato e sílex em
vinhos brancos. Assim que o vinho é vertido numa taça,
ele começa a mudar por causa da exposição ao oxigênio,
e em muitos casos, devido à temperatura ambiente mais
elevada. Esses processos influenciam no sabor, no
aroma e na textura do vinho. Devido a esta natureza
volátil, o vinho nos convida a prová-lo de novo para re-
viver a sensação e para avaliar como ele continua mu-
dando e revelando novos aspectos de sua natureza. Se
TRIBUTO
você fizer isso, o álcool começa lentamente a fazer o seu
trabalho. Dois ou três goles são suficientes para se sentir 
A
os primeiros efeitos. Os vasos capilares do seu rosto vai
se dilatar, e você começa a se sentir um pouco mais MELITA DENNING
quente, e muitas vezes, a se sentir mais livre. O álcool
remove algumas de suas inibições enquanto que aguça
os seus sentidos, especialmente o sentido do olfato.  por Julien Larche
Como resultado, a segunda taça de vinho realmente tem
um gosto melhor do que a primeira, ou pelo menos
 parece ser mais expressiva. Neste ponto, o vinho te atrai
 para si, oferecendo mais de álcool em troca de mais ex-
 periências sensoriais ao mesmo tempo reduzindo a sua
acuidade mental da realidade. Neste momento – espe-
cialmente quando você gosta do sabor do vinho - você
vai começar a desenvolver uma ligação emocional com
o líquido. "Uau, eu realmente adoro este vinho" é fre-
quentemente ouvido nesse estágio. As sensações táteis
e olfativas do vinho estão agora vinculadas às referên-
cias emocionais, tais como conforto, alegria, bem-estar,
e até mesmo com o amor. Neste ponto, o melhor é real-
M
campo dos
elita Denning (Godfrey Vivian) e Osborne
Phillips (Leon Barcynski) são autoridades
internacionalmente reconhecidas no
Mistérios Ocidentais, e são dois dos mais
mente parar de beber. Se você continuar a mergulhar no notáveis divulgadores da Tradição Ogdoádica, a da
álcool, os sentidos vão começar a amainar novamente,  primeira escola Hermética cujas palavras-chave são o
 provocando a necessidade de mais vinho, de modo a ex- conhecimento e a regeneração, e cuja influência e obras
 perimentar as mesmas sensações incesantemente. Para são historicamente prescutáveis por vários séculos pas-
a maioria das pessoas, porém, é muito difícil parar por  sados.
aqui. Assim que você realmente começa a gostar do
Os autores receberam sua principal formação e-
vinho, você precisa largá-lo. Para um epicurista de ver-
sotérica na Ordo Aurum Solis, uma sociedade mágicka
dade, no entanto, isto é sempre um desafio.
que se manifestou em sua forma moderna em 1897 e
Da próxima vez que você levar a taça de vinho aos que continua a existir e a trabalhar em prol do bem
lábios lembre-se desse artigo e aproveite seu vinho ao comum até os dias atuais.
máximo. Saboreie profundamente… apenas não vá tão
fundo! 

18 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011


 

Melita Denning foi a primeira mulher Grã-Mestre da do Retorno para os buscadores. Honramos Melita Den-
AS, de 1976 a 1987 e de 1988 a 1997 (23 de março), ning (Vivian Godfrey) e Osborne Phillips (Leon Bar-
data de sua morte. Como Grã-Mestre, ela governou a cynski) pela sua Grande Obra!
Ordo Aurum Solis por 20 anos, o período mais longo
que qualquer líder já governou na história da nossa or-
ganização moderna. Num determinado momento, Vi- PROLÍFICOS E NOTÁVEIS AUTORES
vian passou cerca de seis anos viajando pelo Oriente
Médio e pelo Mediterrâneo reunindo conhecimentos
ocultos. Estes estudos, em última análise, a levaram a
descobrir o trabalho da Aurum Solis durante a sua ex-
 ploração de matérias similares. Ela estudou psicologia
P or volta de 1971, Denning e Phillips
começaram a trabalhar com Carl Llewellyn
Weschcke. Por volta de 1979 eles se mudaram
 para os Estados Unidos. Juntos, eles foram os autores
de vários livros nos primórdios da Llewellyn Publica-
Junguiana com Buntie Wills, e foi também uma estu-
dante do amigo de C.G. Jung: Toni Sussman. Ela era tions, dentre os quais está a apresentação formal da
filosofia e prática da Ordem Aurum Solis sob o título:
“The Magical Philosophy”.
Esta série de 5 livros em sua primeira edição levou à
 publicação progressiva da três grandes volumes que
revelaram uma percepção muito profunda dentro da
Tradição Ocidental. Pela primeira vez, Denning e
  OSBORNE PHILLIPS Phillips relevaram a tradição Ogdoádica (Aurum Solis)
 para o público. Estes livros oficiais foram seguidos pos-
teriormente pelo excepcional livro "Magia Planetária",
amplamente reverenciado, e que será reeditado no verão
também amiga, desde a adolescência, de Olivia Robert- de 2011, na mesma época do lançamento do próximo
son, fundadora da Sociedade de Ísis, uma vez que eram livro de Jean-Louis De Biasi: “The Divine Arcana of 
mulheres jovens. Melita falava inglês, francês, italiano Aurum Solis” (Os Arcanos Divinos da Aurum Solis)
e latim. http://goo.gl/AoDv1 
Osborne Phillips foi o Grão-Mestre da Ordem de
1997 a 2003. Aos 16 anos, ele recebeu treinamento má-
gicko por parte de Ernest Page, que era tanto o Diretor 
da Ordo Sacri Verbi (que hoje está completamente in-
Descubra os livros de Denning e
tegrada à Aurum Solis) e um notável astrólogo de Lon-
Phillips em: http://goo.gl/lXxKB
dres. Por algum tempo, no início dos anos 70, ele foi o
ou clique na tela abaixo.
líder da equipe de pesquisa psíquica da Aurum Solis.
Leon foi aluno de U Maung Maung Ji, um professor de
filosofias Orientais, que trabalhou com o Secretário-
Geral das Nações Unidas, U Thant. Ele é um Membro
da Associação Biográfica Internacional, Patrono Vitalí-
cio do Instituto Biográfico Americano, e membro ho-
norário da Academia Anglo-Americana. Em 2003, ele
transmitiu a plena autoridade da Tradição Ogdoádica -
Aurum Solis para Jean-Louis DE BIASI, consagrando-
o ao mesmo tempo como Grão-Mestre vitalício (Veja a
declaração):
http://goo.gl/kqEqE.
 Na história das tradições iniciáticas, constatamos que
 pessoas excepcionais sempre vêm à frente para ajudar a
desvendar os Mistérios e para ajudar a abrir o Caminho

www.magick‐theurgy.com   19
 

A
Qabalah é geralmente mostrada como uma
senda que deve ser utilizada para ajudá-lo a
entender o mundo. O diagrama da Árvore da
Vida oferece um padrão de ética e morali-
dade que auxilia você a achar os sinais e as orientações
enquanto você viaja pela vida neste grande mundo. Ape-
sar de valiosa, você logo descobrirá que a Qabalah não
é a única resposta para as questões da vida. O dogma re-
ligioso, que é uma parte tão fundamental da Qabalah, é
ausente das práticas de Alta Magia da Teurgia. O ritual
e as práticas internas da Teurgia enfatizam a busca pes-
soal pelo Criador do Universo e nutre a vontade de es-
tabelecer e manter uma relação íntima e pessoal com o
Divino.

A
QABALAH
DO DOGMA
AO HERMETISMO
 por Jean-Louis de Biasi  O passo inicial na busca por um relacionamento com
o Criador é fazer contato com as emanações do Divino
que nossos iniciados ancestrais chamavam de “as Di-
vindades”. Quando você
usa as palavra hebraicas,
gregas e egípcias de
 poder estritamente
equivalentes, você será
capaz de estabelecer esse
contato sem as influên-
cias dogmáticas que se
tornaram associadas à
Qabalah. Quando você
começa usando as
 palavras gregas e egíp-
cias de poder (em vez de

20 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011


 

Magical Philosophy”) de forma que você


 pudesse perceber quão essenciais esses ensina-
mentos são. Esses livros eram difíceis de achar 
até recentemente; felizmente, serão reimpressos.
Em breve, apresentaremos seus aspectos mais
importantes no site, a fim de ajudá-lo a entender 
os princípios que ensinam. Esses livros contêm
ensinamentos esotéricos muito profundos. Ao
 passo que, algumas vezes, é difícil compreender 
as diferenças do entre os ensinamentos da
Tradição Ogdoádica e os de algumas outras
tradições mágicas (como a Golden Dawn), esses
livros facilitarão a percepção dessa diferença.
De fato, há enormes diferenças entre essas
tradições. Conforme você também verá através
dos meus vindouros livros da Llewellyn Publi-
cations, as diferenças nos ensinamentos de nossa
Ordem são frequentemente revolucionários.
É interessante notar que as formulações he-
 braica, latina, grega e egípcia dos rituais estão
conectadas a energias muito distintas. Os efeitos
não são exatamente os mesmos quando se altera
a pronúncia do hebraico para o grego. Cada lín-
gua está conectada à história daquela cultura e,
geralmente, a um momento específico. Além
disso, os Poderes Divinos que cada língua in-
voca não são precisamente equivalentes. Para
ilustrar essa questão, usarei um exemplo: cada
tradição cria uma egrégora que existe nos planos
invisíveis. Quando você usa palavras de poder,
A e/ou nomes de determinadas Divindades, você se
árvore cabalística conecta a um poder divino específico (mas uma conexão
talvez seja o símbolo mais conhecido da Qa- também será estabelecida entre você e a egrégora asso-
balah. Ela pode ser vista como a parte invisível ciada àquele poder). Por exemplo, quando você usa as
de nossos corpos espirituais, e como um ar-  palavras de poder da Qabalah Hebraica,também é
quétipo útil em diversos rituais teúrgicos. conectado à egrégora dos antigos e contemporâneos
Judeus Cabalistas, à sua história, às suas memórias, aos
considerar as hebraicas como uma obrigação), você, seus textos... Se você usar as palavras sagradas gregas,
imediatamente, será capaz de sentir uma enorme dife- também será conectado à egrégora dos Mestres Her-
rença no poder que será capaz de invocar e usar. Você metistas da Corrente Dourada, às suas práticas, aos
compreenderá que tem condições de, imediatamente, deuses para os quais faziam preces, etc…
aproximar-se das suas origens Divinas. Essa é a
Tradição Teúrgica Ogdoádica. A brilhante apresentação proporcionada por Denning
e Phillips nos seus livros (da Lewellyn Publications)
Os Grão-Mestres anteriores de nossa Ordem pu- revelaram esse aspecto interno e enfatizaram a necessi-
 blicaram uma apresentação muito completa e poderosa dade de aprender sobre essas tradições em profundidade,
da Alta Magia que foi essencialmente focada na abor- afim de ser capaz de fazer significativo progresso na
dagem hebraica. Seria inestimável para você ler e as- compreensão e no uso das ferramentas das Tradições
similar os livros relativos à Aurum Solis por Denning e Hermetista e Ogdoádica. Em “Filosofia Mágica”
Phillips, principalmente “A Filosofia Mágica” (“The (“Magical Philosophy”), você descobrirá uma rara a-
www.magick‐theurgy.com 21
 

 presentação das correspondên- (como o Estado de Israel) e os


cias entre as palavras sagradas Estados Unidos, que tem a estri-
hebraicas, gregas e neoplatôni- dente Águia (símbolo de Zeus)?
cas. O livro intitulado “Magia A resposta deve ser um enfático
Pla-netária” (Planetary Magick) “SIM”!
foi ainda mais fundo nessa apre-
Durante os séculos XIX e XX,
sentação do Sistema Hermetista.
o aspecto lingüístico hebraico da
Denning and Phillips fornece-
Qabalah esteve em uso primário.
ram para o leitor uma rara opor-
Ao mesmo tempo, os inciados
tunidade de ter acesso a um
das Tradições Ogdoádica e Her-
 profundo e potente entendi-
metista, nessas gerações,
mento destes aspectos do sis-
 preparam a consciência dos
tema Hermetista.
Adeptos Hermetistas para que
Entretanto, como eu disse an- continuassem fazendo a Tradição
teriormente, as egrégoras que Hermética avançar. Eles apren-
estão associadas com as dife- deram a associar a si mesmos as
rentes línguas que devem ser u- egrégoras que estavam mais
sadas nos rituais Hermetistas  próximas das egrégoras originais.
não são precisamente equiva- É fácil entender por quê.É claro
lentes. Além disso, certas egré- hoje que as egrégoras rela-
goras são mais conectadas a cionadas a tradições monoteístas
momentos históricos específicos é muito frequentemente usada
dos países em que se origi-  por extremsitas religiosos. Essa
naram. Para esclarecer isso, contribuição desequilibrada afeta
deixe-me mostrar outro exem-  profundamente a egrégora (e
 plo. aqueles que tentam usá-la em
 práticas ritualísticas). Mesmo
Durante o período da for- Uma rara representação da Ár- que os praticantes não estejam
mação e do nascimento dos Es- vore da Vida Hermética e do posi-
cientes desse problema, o uso
tados Unidos, Benjamin cionamento tradicional das partes
dessas vibrações e dessas visua-
Franklin acreditava que o me- do Cosmos. A história e uma ex-
lizações produzirá um resultado
lhor símbolo para o país seria o plicação completa serão apresen-
muito diferente do de uma egré-
Peru selvagem. Seria difícil tadas no próximo livro “The
gora mais pura, mais próxima da
 para os americanos imaginar  Divine Arcana of Aurum Solis”,
intenção original. Os radicais que
hoje um símbolo que não fosse Llewellyn Publications, que será
contribuem com a egrégora
a Águia.O uso da Águia como o lançado no 3o trimestre de 2011.
monoteísta também têm um
símbolo primário da liberdade
efeito deletério nos seus corpos
americana é clara e radical-
invisíveis, causando desequilíbrio. Não é possível man-
mente distinto das imagens evocadas pelo Peru sel-
ter um equilíbrio saudável e associar-se às altas e lumi-
vagem. Períodos históricos criam egrégoras culturais de
nosas influências que você deve ter esperado se você se
si próprios, e os símbolos ligados a esses períodos
conectar à egrégora errada. É claro que pessoas que não
devem ser entendidos para que sejam utilizados apro-
têm habilidades psíquicas podem ter dificuldade em sen-
 priadamente em práticas ritualísticas. Portanto, as egré-
tir e ver esses desequilíbrios e efeitos deletérios, mas os
goras Herméticas que temos discutido necessitam ser 
efeitos danosos à sociedade são evidentes. As crises que
compreendidas no contexto de sua língua, da egrégora
vemos em nosso mundo cotidiano é uma ampla demons-
à qual eram associadas e do perído em que se desen-
tração disso. Em contraste, a Tradição Hermetista
volveram. Tenha em mente que a Águia foi o principal
mostra-nos o caminho da tolerância. O Hermetismo não
símbolo de Zeus! Você acha que deve existir uma dife-
 permite a superioridade de nenhuma religião ou tradição
rença entre o caráter e a egrégora de uma nação que tem
sobre outra. O extremismo é inexistente. Ainda mais que
um candelabro (menorah) como seu símbolo primário
22 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011
 

isso, uma sociedade, como a


norte-americana, que, ex-
 plicitamente, exibe símbolos
que são Hermetistas e pagãos
demonstra esse princí-
 pio de tolerância e equilíbrio
muito bem (veja o livro “Se-
crets and Practices of the
Freemasons – Sacred Myster-
ies, Rituals and Symbols re-
vealed”, por Jean-Louis de Biasi,
da Llewellyn Publications). Pelo fato de a América ado-
taros princípios de liberdade religiosa e o direito de
igualdade de todo ser humano, o uso desses potentes
egrégoras será ainda mais efetivo e poderoso. Quando
você começar essas práticas, sentirá o efeito muito ra-
 pidamente, depois de apenas algumas semanas. Ainda
assim, devemos ser cautelosos.Eu não quero dizer que
os ensinamentos e as práticas da Qabalah Hebraica de-
veriam ser banidos. Nossos Mestres usaram essa senda
hebraica. É um importante passo na aprendizagem. É
 por isso que o 1º Grau da Aurum Solis é focado nesse
sistema. Apenas lembre que a Qabalah Hebraica é usada
como uma senda e apenas como uma senda (uma senda
é algo que cobrimos com mistério e código para ajudar-
nos a revelar seus segredos). A senda em si não é, de
forma alguma, uma Verdade absoluta. Na verdade, como
se pode ver nos livros da “Filosofia Mágica” (“Magical
Philosophy”), a Qabalah Hebraica é usada de acordo
com os princípios Hermetistas. Lembre-se disso en-
quanto avança em seus estudos pelo caminho Her-
metista. Isso tornará as transições entre os sistemas mais
fáceis e co-locará o processo em perspectiva. No nosso
site, você encontrará essa apresentação da Qabalah Her-
metista. Nós Acima, você pode ver representações ca-
fragmenta- balísticas de Christian Knorr von Rosenroth,
mos a apre- que foi um Cabalista Cristão e um expert em
sentação em idiomas orientais.
seções que À esquerda, você pode ver uma represen-
são proje- tação circular de Robert Fludd que ilustra o
tadas para cosmos de acordo com a Tradição Hermética
ensinar os Ogdoádica.
 p r i n c í p i o s
mais impor-
tantes de  por que é possível representar a Árvore Cabalística de
n o s s a várias formas. Também auxiliarão você a compreender 
O r d e m . a diferença entre a Árvore usada mais frequentemente e
Além disso, a Árvore Cabalística Hermetista usada em nossa Ordem.
esses artigos foram redigidos por algumas das maiores Conversaremos mais sobre isso na próxima parte de
autoridades da Ordem. Eles ajudarão você a entender  nossa apresentação.   J. L. de Biasi G.M. da O.A.S.
www.magick‐theurgy.com 23
 

ECLÉSIA OGDOÁDICA
M ISSÃO

 N
a época da Renascença italiana, um filósofo
 pelo C.C. da Eclésia Ogdoádica religioso bizantino chamado Gemisto Pletão
(Gemiste Pléthon) dirigiu-se para Florença
(Itália) e lá transmitiu os diferentes aspectos
da tradição hermetista. Ele era herdeiro da antiga re-
ligião (pré-cristã) e das tradições místicas mediterrâneas.
Pletão escreveu um livro intitulado "O Livro das Leis"
no qual ele fornece informações sobre os rituais, as
tradições e os ensinamentos filosóficos associados aos
antigos Mistérios. Alguns de seus livros foram queima-
dos pela Inquisição Católica. .Felizmente, ele transmitiu
sua autoridade e seus conhecimentos aos líderes da nova
24 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011
 

OBJETIVOS PRINCIPAIS
da “ECLÉSIA OGDOÁDICA ”
- Propiciar um sentido de reverência e respeito ao culto
dedicado às Divindades Imortais e aos Mistérios Sagra-
dos correlacionados.
- Ajudar cada indivíduo a desenvolver a sua capaci-
dade de tolerância com relação aos outros, em cada in-
stante de sua vida.
- Promover e praticar os ideais da Religião Hermetista
(conhecida sob o nome de Eclésia Ogdoádica) através
dos cultos, dos serviços sociais, da educação e do en-
sino.
- Esforçar-se para enriquecer a espiritualidade da hu-
manidade através da assimilação dos valores contidos
nas Santas Escrituras Hermetistas, e aplicá-los na vida
cotidiana.
- Estabelecer e manter centros públicos com o obje-
tivo de praticar atividades como: praticar os serviços re-
ligiosos Hermetistas, aspectos sociais, educativos,
culturais e literários, e apresentar atividades artísticas
relacionadas com os objetivos mencionados acima.
- Ensinar e organizar pesquisas nas Santas Escrituras
Hermetistas, que são: o Corpus Hermeticum (Corpus de
Hermes, incluíndo o Asclépio, e os Fragmentos de Es-
tobeu) e os Oráculos Caldeus. Todos esses documentos
são apresentados numa tradução validada pela E.O. (à
medida que pesquisas arqueológicas e de eruditos de-
scobrirem mais textos antigos pertinentes, mais textos
da Tradição Hermética podem ser adicionados ao Cor-
Academia Platônica colo-  pus principal.)
cada sob a proteção de
Cosme de Médici. - Construir, organizar e manter templos locais (locais
de culto), tais como definidos em suas Leis e Regula-
Graças a essa transmissão, mentos, nos diferentes países onde a Eclésia Ogdoádica
a sucessão religiosa e espiri- estiver representada.
tual ficou salva. A Eclésia
Ogdoádica da Aurum Solis é - Realizar serviços e cerimônias religiosas públicas
a herdeira dessa antiga (casamento; culto; consagração de estátuas; benção e
tradição, assim como sua  proteção do lar; etc.)
manifestação pública, e con- - Desenvolver, promover e ensinar o respeito por 
tinua a oferecer um serviço todos os homens e mulheres sem distinção étnica, de
 público dessa potente e an- cor, de crença, de posição social, de orientação sexual
tiquíssima Tradição. ou deficiência física. 
Mais informações: http://www.ecclesiaogdoadica.org
www.magick‐theurgy.com 25
 

O TYMIATHERION
TURÍBULOS
Todas as tradições espiritu-
ais e iniciáticas estão usando
incenso em seus rituais; e con-
sequentemente, turíbulos. Este
artefato parece tão antigo
quanto os seres humanos que
começaram a adorar poderes
invisíveis.
As Tradições Iniciáticas Oci-
dentais têm utilizado extensiva-
mente incensários e incenso.

E
m alguns casos, como nas or-
dens ocultistas européias do
século 18 (em grupos mágickos
com os Elu-Cohens), o incenso
foi utilizado em grande quantidade para
criar uma atmosfera específica que pro-
 piciasse as manifestações mágicas. O ob-
 jetivo não era cultuar, mas ajudar o mago
em ações específicas.
Ao mesmo tempo, as igrejas muitas vezes
utilizavam incenso em suas cerimônias
diferentes.
 por Patricia Bourin  No entanto, temos que lembrar que incensários
e incenso foram utilizados em todos os rituais
originais da antiguidade.
Como herdeiro da Tradição Hermética Ogdoádica, a
Aurum Solis continuou a fornecer ensinamentos especí-
ficos sobre os artefatos, os diferentes perfumes, incen-
sos, ervas e seu uso nos rituais. É importante entender 
que essas informações são originais, e que geralmente
não são muito conhecidas em grupos mágickos mais
 populares.
Esta Tradição Hermética provém dos Mistérios e dos rit-
uais greco-romanos. Como MelitaDenning & Osborne
26 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011
 

Phillips esclareceram na série Aurum Solis chamada maga, que nasceu como um bárbaro. Uma cidade na
"Magical Philosophy": "Dois tipos de incensário são u- Líbia fora chamada Thymiaterion, talvez porque a forma
sados pela Aurum Solis: o thymiaterion ou recipiente da cidade parecia com a de um incensário. No Império
vertical (semelhante ao rechaud); e o turíbulo [um in- Romano, a palavra Thymiaterion tornou-se Turibulum,
censário suspenso por correntes]". Esta introdução vindo de Tus e da palavra Acerra. Pessoas carregando
mostra as raízes desta tradição e eu vou seguir as indi- turíbulos estavam presentes nas procissões religiosas.
cações fornecidas neste livro para nos aprofundarmos Uma constelação celeste recebeu como metáfora o
nos detalhes desses interessantes artefatos. nome de turibulum.
Eu vou apresentar esse estudo em três partes: 1 - os in- Os incensários de nossos ancestrais foram deliberada-
censários; 2 - o uso dos incensários; 3 - Incensos, per- mente fabricados em diversas formas, como podemos
fumes e sua utilização em rituais.  perceber observando os artefatos que remontam à An-

C
tiguidade, e exibidos por inúmeros museus ao redor do
omo Denning e Phillips informaram, a
mundo. Baixos-relevos, gravuras em edifícios antigos,
 palavra mais frequentemente utilizada pelos
 pinturas em copos, etc. todos exibem diferentes tipos de
gregos para denominar os recipientes nos
incensários.
quais incenso e perfumes eram queimados
como oferenda aos deuses é Thymiaterion (ou Tu-  No entanto, essa evidência traz à tona um ponto impor-
miatherion). Esta palavra vem do verbo Tumian, que tante, o qual torna uma idéia equivocada, e que se tornou
significa incensar. No entanto, os gregos usavam outras comum nos tempos modernos, a de nos dias atuais
 palavras relacionadas de tempos em tempos, tais como acreditarmos que incensários
Libanotis (palavra para um recipiente que era muitas foram uma invenção Cristã;
vezes usado para manter o incenso; incenso = Libanos)  porém, os incensários eram tão
e a palavra eskaris, que é o nome de um artefato geral-  bem conhecidos na antiguidade
mente no formato de um pequeno santuário ou fogão. O quanto hoje em dia. Os cristãos
Thymiaterion era feito de terracota, metal e alguns eram não foram os primeiros a usar 
feitos inteiramente de prata ou de bronze, e em seguida, caixinhas penduradas por uma pe-
 prateados. Cada peça era uma obra de arte. Eles foram quena corrente ou cordão e elevadas em frente dos
cuidadosamente mantidos no tesouro dos Templos Gre- altares, a fim perfumarem o ar. O uso deste tipo de in-
gos, em Atenas, Pireu, Delfos, Epidauro, Esmirna, etc. censário nos tempos antigos está bem registrado, e
O inven- muito antes da introdução do incenso no mundo Oci-
tário de dental.
Delos lista
Taças foram descobertas em Tróia (Grécia) com furos
os turíbu-
em suas alças. Parece muito provável que estas taças es-
los dedi-
tivessem penduradas, amarrando alguma coisa através
cado a
desses furos, e sendo usados como incensários. Outros
A p o l o
artefatos como este foram encontrados em toda a Itália.
várias
Por exemplo, os artefatos constituídos por duas tampas
vezes. Um
hemisférica que podiam ser unidas para formar uma es-
dos turíbu-
fera, foram encontradas em vários locais, incluindo a
los que era
Etruria no noroeste da Itália. Este artefato em particular 
frequente-
tem uma ampla haste (base)
m e n t e
com um orifício circular na
m e n -
 parte superior e ganchos nas
cionado na
laterais, onde uma corrente de
lista, foi
metal foi inserida, através do
dado aos
qual o ornamento podia ser 
Deuses por 
suspenso.
alguém
chamado Parece óbvio que este artefato
Boulo- foi feito para conter perfumes.
www.magick‐theurgy.com 27
 

Parece que eles se originaram no Extremo Oriente. Este África. Alguns membros da África enviaram para o
tipo de artefato continuou a ser utilizado durante toda a Grão-Mestre da Aurum Solis um desses incensário.
história. Há pinturas de Pompéia com uma represen- (Veja a foto, na vertical em frente a Demeter)
tação de um turíbulo que parece ser muito similar ao in-
Outros incensários feitos durante o período romano têm
censários em uso nos tempos modernos. O Museu de
a forma de edifícios reais que não existem mais hoje
 Nápoles tem em exposição um incensário circular com
uma tampa móvel ligada a uma corrente que permite
levantá-la da mesma forma que os incensários mo-
dernos (similares aos das capelas e assim por diante).
Do Oriente, veio uma outra forma antiga de incen-
sário, que era muito diferente, em aparência, do Tu-
miateria ou turibula. Estes incensários são
freqüentemente encontradas nos vestígios arqueológi-
cos do antigo Egito, Assíria, Chipre, etc. Na Grécia,
esta pequena caixa usada para conter incenso foi
moldada em várias formas estranhas, como você pode
ver na última página.
 Na Grécia antiga, encontramos também alguns incen-
sários com uma forma mais regular. Na época do
Parthenon, em Atenas, o Thymiaterion foi moldado na Este turíbulo
forma de um cilindro de base circular. A tampa era
em terracota é
cônica, com furos. O perfume era queimado no vaso
e a fumaça perfumada era liberada através dos furos utilizado ainda
na tampa. Este artefato se parece mais com um hoje em algu-
castiçal do que com um incensário. A única diferença mas partes da
entre um castiçal e este incensário parece ser a tampa África, e em
com furos. Por esta razão (em algumas das traduções vários rituais
dos escritos sobre estes objetos), tem havido alguma Ocidentais.
confusão entre os castiçais e os incensários (vide
figura abaixo). Mais tarde na Grécia, o tumiateria e a
turibula foram modificados e
 passaram a ter designs mais
complicados, assim como o de-
sign dos castiçais evoluiu.
 No auge dessa evolução no de- É fácil con-
sign dos turíbulos, encontramos fundir cálices (destruídos há muito tempo). Ou-
incensários elaborados em terra- e incensários. tros ainda têm uma forma que é
cota que têm dois andares. A muito similar a cálices. É muito
tampa é usada como uma cober- À esquerda, difícil saber se eles eram cálices
tura. A parte superior continha as outro incen- ou incensários. Eles foram
ervas usadas para perfumar a fu- sário em ter- chamados de Kothos. Outros in-
maça. As duas partes foram se- racota é censários, denominados kernoi ou
 paradas por uma partição com exibido. kerchnoi, eram feitos de terracota
um furo central, permitindo a (com furos) e foram utilizados
chama (que queimava na parte nos Mistérios de Elêusis (os ritu-
inferior) alcançar as ervas e criar  ais realizados em Elêusis, Grécia).
a fumaça perfumada. Este tipo É muito difícil saber se eles foram
de incensário é usado ainda hoje em algumas partes da usados para queimar ervas e incenso, ou como suporte

28 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011


 

 para velas. No entanto, também encontramos copos Turíbulo permite ao Mago


metálicos (bronze), apoiados sobre três pernas e uti- segui-los e incrementá-los.
lizados como incensários. O carvão vegetal era colo-
cado no copo e o incenso era colocado no carvão em
3. Como um adjuvante ao
 brasa.
causar o movimento den-
Como você pode ver, os incensários Gregos e Ro- tro da Luz. Como um
manos são muito semelhantes aos usados hoje nas meio de sintonizar o am-
Tradições Iniciáticas Ocidentais, como a Aurum biente.
Solis.  Da mesma forma, atos rit-
É claro que a antiguidade não nos informa como usar  ualísticos específicos, tais
esses incensários cerimonialmente. Felizmente, os como o incensamento da
iniciados da Corrente Dourada preservaram este co- matéria, dos utensílios,
nhecimento, de modo que possamos utilizar o incenso etc., em um estágio crucial 
apropriadamente em nossos rituais, sem os erros ine- em um trabalho, como um
rentes aos erros de tradução inerente a muitas outras mínimo auxílio para a
ordens ao redor do mundo. modificação de substância. O Thymiaterion ou o
turíbulo pode ser usado.

C
Dependendo da ação e do ritual, ambos turíbulos podem
omo você pode ler no volume 3 da obra ser usados. O ensino oral indica qual deve ser usado de
Magical Philosophy, Llewellyn Publica- acordo com a parte do ritual.
tions:
 Aqueles que trabalham de acordo com o
 sistema A.S. estão submetidos às seguintes regras 4. Para auxiliar a plena materialização de um Espírito
quanto ao uso do incenso (apenas os pontos-chaves evocado.
 são dados).  Essa é uma exceção à regra quanto ao uso moderado
O emprego de incenso é permitido: do incenso: reconhece-se que quantidades consi-
deráveis podem ser necessários para alcançar o obje-
1. Como um meio de direcionar a mente para uma
tivo. O Thymiaterion tem que ser usado.
modalidade em particular.
Esta situação é muito rara, pois está restrita a iniciados
 Este é o único uso do incenso, que é invariavelmente
avançados. No entanto, é bom saber que neste caso a
válido em qualquer trabalho, seja qual for. O Thymia-
forma do incensário é essencial.
terion tem que ser usado.
A estabilidade deste turíbulo é usado como a base da
mente estável focada em uma modalidade. Alguns grãos 5. Como um ato de adoração.
de incenso são usados no início da obra. Nas próximas Uma mera oferta aos deuses. E também, a oferta de in-
edições dessa revista, o processo invisível será explica- censo, sob a forma sacramental, para uma deidade pre-
dos.  sente. O Thymiaterion ou o turíbulo pode ser usado
.
2. Como uma purificação simbólica, geralmente asso- Enfatizamos o uso do plural para falar sobre os "Deuses"
ciada à lustração (limpeza simbólica). no presente texto. Como você verá mais adiante, a
Uma questão preparatória: limpeza e purificação da questão do incenso associado a "Deus" é diferente. No
matéria, tanto dos utensílios quanto dos pretendentes. entanto, neste caso o uso de um incenso específico é útil.
 Assim como a limpeza do corredor e a purificação de Eu posso salientar novamente que neste caso a forma do
um templo não consagrados, de modo prévio ao tra- incensário é significativa. As formas têm poderes es-
balho. O turíbulo tem que ser usado.  pecíficas e geram um determinado tipo de energia. Elas
 podem estar mais conectadas à memória e ao amplo ar-
A purificação expressa a utilização de uma energia em
quétipo do que ao próprio artefato. É por isso que cada
movimento. Como a água, estes fluxos de energia têm
divindade não pode aceitar todas as oferendas prove-
que se expandir no local, e o movimento regular do

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Uma maravilhosa pintura de Alma


Tadema, mostrando uma preparação
ritualística durante o período Romano.

incenso somente como um instrumento de con-


sagração será um uso mágico, e não teúrgico. O
 processo envolverá somente poderes externos, sem
relação com o eu interior do Mago. É por isso que
o incenso não é permitido.
2. Como um equivalente da unção, em quaisquer 
circunstâncias: por exemplo, o incensamento de
utensílios efetivamente carregados, etc., no ápice
das cerimônias de consagração.
Aqui novamente o incenso não pode ser o fim em
si mesmo.

3. Ambulação de aspersão e incensamento com a


intenção de limpeza e purificação de um templo
consagrado.
É uma crença estranha em alguns grupos que,
mesmo um templo consagrado tem que ser purifi-
cado sempre. No entanto, na tradição teúrgica, um
templo consagrado foi, durante a cerimônia, tema
de uma modificação especial do seu corpo invisível.
Depois disso, um templo consagrado se tornou
"sagrado", o que significa "separado do mundo ma-
terial." Esta é a razão pela qual não há necessidade
de purificar o lugar regularmente.

4. Como uma tentativa de reforço das defesas as-


trais.
Teremos oportunidade de voltar a falar sobre essa
noção de defesas astrais. Hoje você pode se lembrar 
nientes de qualquer recipiente. Estamos falando de teur- que a melhor defesa astral é a elevação do eu interior 
gia, e símbolos são mais do que representações materi- em direção ao divino, e conseqüentemente, aumentando
ais. Eles são elos, pontes entre o visível e o invisível. a luz dos corpos invisíveis. Neste caso, o mal não pode
Seria difícil invocar ou adorar Hermes com um incen- agir sobre nós
sário Cristão, por exemplo. .
5. Como um ato de adoração a algo inferior aos seres
O emprego de incenso não é permitido: divinos .
1. Como uma forma de consagração por si só. A Tradição Hermética e Teúrgica não adora outros seres
O incenso é um elemento ritualístico, uma ferramenta, além das divindades imortais, ou o Divino em si.
mas não o objetivo em si mesmo. Nos rituais teúrgicos,  Na próxima edição da revista, terei a oportunidade de
o mago trabalha simultaneamente, e com plena cons- esclarecer sobre o uso dos incensários e do incense de
ciência, nos dois planos: visível e invisível. A con- acordo com a Tradição Ogdoádica, com trechos do
sagração é o resultado de todo um processo. O uso do “Magical Philosophy”. 

30 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011


 

AS SANTAS ESCRITURAS
HERMÉTICAS

O
hermetismo remonta a um passado bem
remoto. A Tradição Hermética Og-
doádica, que conhecemos hoje como «
Aurum Solis », perpetua ensinamentos e
ritos que remontam à Suméria e ao Egito antigo, espe-
cialmente no local sagrado de Hermópolis. Esta
tradição foi recebida e conservada pelos Mestres da
Corrente de Ouro.
As Santas Escrituras Herméticas são constituídas por 
vários livros. O primeiro, e o mais importante, é
chamado de Corpus Hermeticum (Corpus de Hermes).
De acordo com alguns ensinamentos muito sagrados, antigos e secretos
desta Tradição, estes textos provavelmente foram escritos em Alexandria, por 
volta do primeiro século de nossa era. Foi nesse mesmo momento que os mes-
mos iniciados (aqueles que registraram os ensinamentos em texto a fim de
 preservar o conhecimento) desenvolveram a alquimia, a astrologia e a filosofia
neoplatônica. Jâmblico, um dos Mestres teurgos de nossa Tradição (entre os
séculos III e IV) e Proclo (no século V) utilizavam esses textos como sua es-
critura principal.
Ao longo dos últimos séculos, os escribas e tradutores adicionaram várias
 partes que não faziam parte dos documentos originais, introduzindo numerosos
erros (às vezes intencionalmente) e mudando o significado das sentenças que
são fundamentais para a sua compreensão.
 Nos tempos modernos os escribas e tradutores eram muitas vezes eruditos
acadêmicos, que fizeram um enorme trabalho de modernização destes mate-
riais sagrados, mas muitas vezes eles fizeram isso com quase nenhum entendi-
mento da tradição espiritual, e sem reconhecer as partes incorretas,
mantendo-as.
Por muitos anos, a Ordem Aurum Solis e a Eclésia Ogdoádica têm utilizado
esses textos em seu trabalho privado. Mas como iniciados, os Grandes Oficiais
trabalharam extensivamente nestes textos, a fim de manterem o significado
esotérico, filosófico e religioso originais.
Esta tradução será útil para qualquer um que esteja ávido para conhecer o
coração da Tradição Ocidental. Ela será progressivamente publicada nesta re-
vista.

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LIVRO UM
POIMANDRES

1 Um dia, enquanto eu estava mergulhado em meus pensamentos, refletindo sobre a na-


tureza dos seres, eu senti um torpor invadir meu corpo, como se eu mergulhasse num
sono profundo, abatido por uma refeição pesada ou por uma grande fadiga. Mas estra-
nhamente meu espírito se elevava pouco a pouco, pairando acima de mim, nas alturas
sutis. Foi lá que eu vi um ser gigantesco, de uma estatura impossível de mensurar. Ele se
aproximou englobando a imensidão do espaço. Sua voz ressoou nitidamente em meu es-
pírito, dizendo: « O que tu buscas? O que tu desejas conhecer? »
2 Eu respondi sem hesitação: « Mas tu, quem és? »
- Eu sou Poimandres, ele respondeu; o Nôus, o Soberano absoluto de todas as coisas. Eu
estou contigo a todo instante, e eu sei o que tu buscas, mesmo que nem sempre tu possas
denominar.
3 – Oh! Eu busco conhecer os seres, a natureza de Deus; eu aspiro conhecer o Universo
com todas as forças de minha alma!
- Teu desejo é justo. Mantenha-o em ti, e eu te ensinarei os mistérios de todas as coisas.
4 Com essas palavras, ele mudou de aspecto repentinamente. Seu ser por inteiro tornou-
se uma viva e intensa luz que me banhou num arrebatamento e com uma alegria que ja-
mais tinha conhecido até então. Eu não via limite para esta presença insondável, e meu
coração se abria a todo instante com o benefício, amando sem restrição, unindo-me com
todas as fibras de minha alma ao que eu percebia e sentia.
Porém distante, abaixo de mim, percebi um movimento sinuoso. Uma ondulação tene-
brosa e assustadora se deslizava próximo ao local onde me encontrava. Ela avançava,
parecia uma sombria serpente que se enrolava em espirais num silêncio ameaçador.
Pouco a pouco, a obscuridade tornou-se menos intensa, enquanto que o ar se carregava
com uma crescente umidade. Subindo até mim, nuvens de vapor começaram a emanar
como braços imensos e articulados, cujos movimentos geravam silvos estranhos. O
mundo que até então era silencioso, se animava, gritos inarticulados pareciam jorrar do
Fogo que preenchia o ar.
5 A luz tornou-se mais intensa e um sopro vibrante jorrou. Este som que eu não com-
preendi, fez vibrar meus tímpanos e desceu para se misturar com aquela estranha na-
tureza em formação. No instante em que ele alcançou a obscuridade carregada de
umidade, um fogo magnífico, brilhante, quase irreal, se lançou para as regiões maravi-
lhosas onde eu me encontrava. As chamas se elevavam e rodopiavam conduzidas pelo
vento e pelo ar. Essa intensa e maravilhosa dança era um verdadeiro encantamento ce-
leste. Abaixo, a água e a terra estavam tão intimamente misturadas uma na outra, que
era impossível distingui-los em seus movimentos.

32 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011


 

6 E então ressou novamente a voz de Poimandres: « Tu compreendes o significado


do que tu vês ? »
- Não, eu disse.
- A luz que tu contemplas é a minha, a do Nôus, eu que existia bem antes que a o-
bscuridade se manifestasse, e bem antes que umidade se revelasse nela. Quanto ao
sopro, aquela palavra luminosa no silêncio; ele jorrou do meu coração; ele é o filho
de Deus.
- Eu mal compreendo essa linguagem...
- Procura ver o que te a dizer o teu próprio ser. O Verbo, o Logos, ao mesmo tempo
filho e luz, é a faculdade de ver e de entender. Deus, o Pai, é o teu Nôus. Essas duas
naturezas jamais ficam separadas, e a tua vida depende dessa união.
- Eu te agradeço, ó Poimandres.
Eu senti que a sua atenção se concentrava em mim, que uma força intensa surgia no
ar que me circundava, e ele disse : « Fixa teu olhar no cerne da luz, e que nasça em
ti a compreensão a qual tu aspiras. »
7 A tensão que senti aumentou de intensidade e todas as partes do meu ser
começaram a tremer. Pareceu-me que a parte em mim que ele tinha denominado
Nôus se harmonizada com o cerne da luz que eu contemplava. Eu passei a ver uma
luz constituída plenamente por múltiplas Potências se expandir até formar um
mundo sem limites. Mas esse fogo potente era mantido por uma força ainda maior
que o sustentava solidamente, dando-lhe sua estrutura, sua estabilidade.
Completamente imerso na visão dessas Potências luminosas, eu ouvi novamente a
sua voz ressoar : « Tu viste a forma arquetípica, o princípio primordial que existe
antes mesmo do início do que não tem fim. »
- Mas, eu disse, de onde surgiram os elementos da natureza?
- Da Vontade de Deus, que contemplando a beleza do mundo arquetípico, ideal, mo-
delou as almas segundo sua própria natureza.
Continuará na próxima edição...

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S ÍMBOLOS DA   G RANDE   O BRA

O
CORVO

 por Martin Béliard 

Corvos são frequentes nas mi-


tologias mundiais. Na Tradição
Hermética, as aves escuras estão

O
relacionados com Hermes e s animais aparecem em grande número na
Apolo. Um estudo no simbolismo mitologia Grega. De acordo com poetas
rapidamente revela como o corvo gregos, escultores, historiadores e filóso-
fos que expressaram e refletiram sobre
é também parte de uma lin- seus mitos e histórias, sabemos que a carruagem de
guagem hermética sobre a Re- Afrodite era puxada por cisnes, Hécate era a regente dos
generação da Alma. cachorros e cães de caça; Poseidon, o mestre dos cava-
los; e Zeus, o grande metamorfo, foi associado com a
águia, o touro, a serpente, etc .... Conforme vários estu-
dos comparativos de mitologia demonstram, essas re-
lações simbólicas entre animais e divindades estão longe

34 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011


 

de serem arbitrárias; elas falam através de formas pro- e atirou em sua amante.
fundamente enraizadas de relacionamento humano com
Coronis, abatida, lentamente arrancou a flecha do seu
a natureza e com a divindade.
coração, e enquanto estava morrendo, ela disse para o
Para se aproximar dos Deuses e das Deusas, pode-se Deus que ele deveria ter esperado o seu filho nascer 
usar oferendas e perfumes, mas imagens e símbolos antes de se vingar da ofensa. Cheio de mágoas e ar-
mágicos também são úteis e frutíferos para se explorar  rependimentos por seu amor, Apolo tentou todo tipo de
maneiras de se invocar divindades e se conectar com cura e todos os segredos divinos que ele sabia para trazê-
elas. Símbolos de animais podem ser utilizados para la de volta à vida, mas foi em vão. Enquanto o corpo da
esse mesmo fim, como representações em talismãs, es-  princesa queimava numa pira em seu reino, Apolo final-
tatuetas consagradas e projeções mentais. Além disso, mente conseguiu salvar o fruto de sua união, a criança
estes símbolos não só permitem uma eficaz aproxi- ainda por nascer, seria conhecido como Asclépio, o
mação com uma divindade, mas também constituem Deus da medicina.
uma linguagem hermética mais ampla que descreve de
Apolo levou o filho para o sábio Quíron. Ele então
forma viva a dinâmica da Regeneração da Alma.
olhou para o Corvo, e como puniçãopor seu zelo exces-
sivo, tornou negra a sua plumagem branca.

 N
as antigas mitologias em todo
o mundo, o corvo é portador 
de muitas qualidades impor-
tantes. Na tradição Grega e
Romana foi essencialmente um símbolo de
comunicação entre os mundos, mas tam-
 bém, como você verá a seguir, da escuridão
que expressa os primeiros passos da Grande
Obra.
Píndaro e Ovídio escreveram sobre o
corvo. Píndaro foi um poeta grego do século
5 da Era Comum, devotado a Apolo. Oví-
dio, um poeta romano do século 1 da Era
Comum, é um dos maiores autores da
O corvo aparece em cultos Mitraicos, nos
história Ocidental, e suas obras permaneceram po- quais ele foi associado com Hermes. « Korax »,
 pulares e influentes na cultura européia desde a An- ou « corvo », era a primeira das sete iniciações
tiguidade até o Renascimento. Píndaro e Ovídio Mitraicas, e estava relacionada com Mercúrio.

M
narraram o mito do corvo através da estória de
Coronis. O primeiro o faz em seus Odes Píticos; e o se- uitos elementos simbólicos aparecem
gundo, em suas Metamorfoses. neste breve mito. Mantendo nossos
olhos no corvo, sabemos que ele foi
Os dois relatos do mito são bastante similares. O  para Ovídio Phoebeia ales, ou “a ave
corvo foi outrora sagrado para Apolo, seu mestre. Nestes de Apolo”. Além disso, o corvo era um mensageiro, e
tempos, de acordo com os poetas, as penas da ave eram um pássaro branco que se tornou preto. Esta última car-
de uma brilhante cor branco-neve. Coronis, uma acterística é proveitosa se considerada diante da morte
 princesa da Tessália, era amante de Apolo. O corvo teve e cremação de Coronis, e do nascimento de Asclépio.
um vislumbre dela sendo infiel ao Deus, deitando-se
com outro homem. Querendo servir Apolo bem, e Quanto a estes elementos, também devemos acres-
demonstrar a sua lealdade, o pássaro voou de volta para centar que o corvo aparece em cultos Mitraicos, nos
contar para o seu mestre. Apolo, após ouvir o corvo, en- quais ele foi associado com Hermes. « Korax », ou «
trou numa fúria incomum. Irritado com Coronis, ele pôs corvo », era a primeiro das sete iniciações Mitraicas, e
a sua lira e a coroa de louros de lado, armou o seu arco, estava relacionada com Mercúrio. Esta é a razão pela
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qual, nos dias atuais, a Eclésia Ogdoádica honra Hermes último é exatamente o pássaro que o jovem está ten-
com a imagem de um corvo no chão de seus templos. tando alcançar.
As aves em geral, e especialmente aqueles de Por que o alquimista que procura pela pedra, ou pela
 plumagem escura, eram frequentemente usadas para  panacéia, prefere o pássaro preto aos brancos? Na minha
representar as almas dos mortais na poesia e na arte da opinião, nas estórias de Píndaro e de Ovídio, o corvo
Grécia antiga. Após a morte, pensava-se que o Hermes torna-se preto como um testemunho da morte de Coro-
Ctônico nis, assim como do nascimento de Asclépio. Na tradição
atrairia a alma alquímica, proveniente da literatura clássica, o corvo é
com o seu o sinal da Magnum Opus, e mais precisamente, a con-
 b a s t ã o firmação de se estar no caminho do retorno. O corvo é,
sagrado. A em outras palavras, o signo de Hermes como o mestre
alma teria a da magia e seus cognatos.
forma de um
 Na Grécia antiga, o Temenos
 pássaro es-
era o espaço de um santuário,
curo, e
onde as divindades eram hon-
seguiria Her-
radas. Nas Casas da Aurum
mes no
Solis, este é o nome que damos
Hades, e no
ao espaço sagrado onde os ritos
além. O
(1ª e 2ª moradas) da Ordem são
realizados. No chão, ao Oriente
Na linguagem alquímica, diz- deste espaço, encontram-se três
se que o corvo aparece no ca- degraus. O primeiro, ao nível
dinho do alquimista como uma do chão, é preto; o segundo,
lama, mas secretamente rica,  branco; e o terceiro e último,
uma substância escura. O vermelho. Tenha isso em mente
aparecimento desta substância ao refletir sobre o simbolismo
mágico e hermético do corvo, e
confirma o sucesso da primeira
também, do processo de rege-
etapa da Grande Obra: o neraçãoespiritual como um
processo de calcinação. Este todo. Na linguagem alquímica, diz-se que o corvo
primeiro passo é a putrefação aparece no cadinho do alquimista como uma lama, mas
da prima materia, ou o tema do secretamente rica, uma substância escura. O apareci-
trabalho, por um recorrente e mento desta substância confirma o sucesso da primeira
constante fogo. Ele transforma a etapa da Grande Obra: o processo de calcinação. Este
matéria de volta para uma terra  primeiro passo é a putrefação da prima materia, ou o
escura, tão rica como o solo tema do trabalho, por um recorrente e constante fogo.
negro do Egito; do qual, como Ele transforma a matéria de volta para uma terra escura,
mencionado nos Hinos Órficos, tão rica como o solo negro do Egito; do qual, como men-
Apolo veio. cionado nos Hinos Órficos, Apolo veio.
Como indicado na Tabula Smaragdina, o poder do
corvo, assim como o deus veloz e volátil, permitia a pas- Primeiro Pai, ou Nôus, está perfeito quando propria-
sagem entre os mundos. mente convertida em terra. E além do mais, ela resulta
na separação de dois princípios espirituais a partir desta
O corvo aparece em uma gravação interessante de um
escuridão inicial: o Mercúrio e o Enxofre. Os quais al-
texto alquímico do século 16, Aureum Vellus, de Tris-
gumas vezes são representados por um unicórnio, e um
mosin . É apresentada ao leitor a imagem de um jovem
alce (ou leão), e são ditos como sendo feminino e mas-
escalando uma escada para alcançar um pássaro escon-
culino. Esta separação ocorre em um mesmo cadinho (o
dido em uma árvore. O que é notável é que há muitos
 próprio ser), o que significa que ambos princípios estão
 pássaros brancos na árvore, e um negro, um corvo. Este
36 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011
 

em uma contínua relação íntima e dinâmica durante toda


a produção do remédio universal (panacéia). O caminho
 para o adeptado é a harmonização adequada desses
K ameas, ou Quadrados Mágickos, têm
sido um das mais importantes ferramen-
tas da Tradição Ocidental, desde a época da
 princípios, e a realização da sua própria divindade. Idade Média. Geralmente elas eram escritas
em pergaminhos, porém esta não é a melhor 
O corvo, como a criação desta substância inicial, es-
forma para utilizar em rituais. De fato, as letras
cura e enlameado, é às vezes chamada de "adubo", uma
Hebraicas têm um poder extremamente in-
idéia que se assemelha, de certa forma, com as primeiras
tenso, e o seu preciso design é muito impor-
linhas do Poimandres quando, despertado pelo Nous,
tante para gerar um resultado real e
vê-se um imenso ser de luz produzindo uma substância
substancial. Apesar de haver um efeito real
escura onde os elementos são, lenta e progressivamente,
gerado pela ação das formas por si só, deno-
harmonizados. A Meditação sobre estas passagens, seja
minado “o poder da Forma”, este tipo de ener-
em relação ao simbolismo alquímico ou não, é sempre
gia édefinida pela espessura das diferentes
 proveitosa para os teurgos.
letras das kameas.
Voltando ao Aureum Vellus, por que o aspirante aos
mistérios procura por um pássaro preto em vez dos
 brancos?
E
basados
sses quadrados mágickos, denomina-
dos também como Kameas, estão em-
neste princípio, utilizam
simultaneamente o próprio poder das letras, o
Bem, basta pedir o corvo. Hermes não é apenas o
poder da combinação das letras, assim como
Deus dos segredos que sela e esconde, ele também é o
o poder do quadrado por inteiro, e a manifes-
mensageiro dos discursos sagrados, e a chave volátil
tação em três dimensões. Existem sete
 para os nossos trabalhos. Meditemos sobre esses proces-
Kameas tradicionais. As Kameas Planetárias
sos. Não precisamos conhecer antecipadamente o des-
estão associadas com as Sephiroth Yesod,
tino, ou a estrada à frente, para refletir sobre o nosso
Netsah, Hod, Tiphéreth, Gébourah, Chesed,
trabalho. Iniciados do passado deixaram pistas no Cam-
Binah.
inho do Retorno, lá repousam o significado de
‘Tradição’, e de símbolos. 
D iferentes rituais utilizam os poderes das
Kameas, e as invocações inscritas
nelas. Existem também meditações especiais
AS KAMEAS que podem nos ajudar a aprendermos a nos
conectarmos com os diferentes Sephiroth,
planetas e planos divinos.

As 7 Kameas (Quadrados Mágickos), 1


para cada planeta, estão gravadas em
ouro.

Elas estão disponíveis


em Hebraico ou Grego
em: http://goo.gl/5KjXj

www.magick‐theurgy.com 37
 

‘No século 2 da Era Comum surgiu um cômico romance iniciático inti-


tulado As Metamorfoses. Sua história é a de um homem transformado
num asno que acabaria por se tornar um sacerdote de Ísis. Esta novela
é uma grande janela para os Mistérios Isíacos da Antiguidade.’

 bém, desde cedo exaltaram Ísis, e ela muitas vezes foi


associada com Deméter e Perséfone em Elêusis. Mais
tarde, seu culto foi estabelecido no Império Romano,
onde seus templos rapidamente se espalharam por Roma
e Gália. Lutetia, onde fica atualmente Paris, era o re-
canto de um de seus grandes locais de culto fora do
Egito.

Í
sis é a antiga Deusa Egípcia da magia, da lua, e Louvada por cerca de dois milênios em torno do Mar 
feminilidade. Inúmeras imagens coloridas da Mediterrâneo, a Deusa deixou a sua marca no mundo
Deusa adornam a maioria dos templos egípcios. ocidental. Iniciados Modernos Iniciados têm maneiras
Além disso, sabemos sobre ela através de dois  particulares de invocar Ísis, celebrar seus mistérios, e de
mitos registrados em papiros que datam dos séculos 12 serem tocado por suas bênçãos. Arqueólogos classicis-
e 13 antes da Era Comum : o envenenamento e a cura tas, no entanto, precisam de fontes para aprofundar os
de Rá, e a regeneração de Osíris. Estas são histórias bem seus estudos dos cultos de Ísis na Antiguidade. Uma dos
conhecidas que podemos encontrar na maioria dos livros mais ricos relatos que eles têm sobre o assunto é a obra
sobre mitologia. Na primeira, Ísis ludibria o seu pai Rá As Metamorfoses de Apuleio de Madaurus. Trechos
 para revelá-la o seu nome mais secreto. Na segunda, desse maravilhoso o romance romano são encontradas
Ísis, juntamente com Néftis, opera a regeneração de Osí- abaixo, e eu espero despertar o entusiasmo do leitor para
ris que tinha sido morto por Seth. Em ambas as histórias o trabalho espiritual com a Rainha dos Céus.
ela aparece como uma das mais belas, mais sábias,e
mais poderosas Magas dentre as divindades Egípcias. Apuleio foi um Platonista da metade do século 2 da
 Numídia, África do Norte. Ele escreveu muitos textos e
Popular, e de grande importância para as tradições comentários sobre a filosofia de Platão, e sobe a religião
egípcias, seus mistérios eram celebrados em templos por  antiga. As Metamorfoses, também conhecido como O
todo o país. Durante séculos, suas bênçãos e iniciações Asno de Ouro, é o seu trabalho mais famoso, e o única
foram procuradas por Magos; e ela era invocada, junta- romance latino que chegou a sobreviver à antiguidade
mente com Thoth e Hórus, em encantos e orações de em sua totalidade. A obra conta a história das extrava-
cura egípcias para homens e mulheres. Os gregos tam- gantes aventuras de Lucius, um aristocrata transfor-

38 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011


 

ApuleiO
& OS MISTÉRIOS de Ísis
 por Irene Craig 

mado em um Asno por sua amante. Tecida em muitos então eu entrei e comecei a rezar diante da face da Deusa
outros contos narrados pelo protagonista, e principal- (Ísis). O Sacerdote preparou e arrumou as coisas divinas
mente cómico, As Metamorfoses também pode ser lido de cada Altar, e retirou a fonte e o vaso sagrado com a
como uma jornada espiritual do herói durante suas aven- súplica solene. Então eles começaram a cantar os lou-
turas; e a sua jornada para se tornar humano novamente, vores da manhã. Aos poucos, eis que chegou o meu
levá-o a buscar as bênçãos, e os conselhos, da Rainha servo que eu havia deixado no país quando Photis por 
dos Céus. Tendo sido visitado inúmeras vezes por Ísis erro me transformou num Asno. Ele trouxe com ele o
em sonhos, sua jornada espiritual termina quando ele se meu cavalo, recuperado por ele através de certos sinais
tornar um sacerdote da Deusa. O trecho abaixo foi ex- e símbolos que eu tinha em minhas costas. Então eu
traído do livro 11 de As Metamorfoses. O texto principal  percebi a interpretação do meu sonho, por que razão que
 provém do Projeto Gutenberg, um recurso on-line muito ao lado da promessa de ganho, o meu cavalo branco foi
útil para o estudo da tradição clássica. A atual versão foi restaurado para mim, que era representado pelo argu-
ligeiramente modificada para se adequar às sutilezas mento de Candidus, meu servo.
modernas.
Feito isso, retirei-me para o serviço da Deusa na es-
As Metamorfoses  perança de maiores benefícios, considerando que eu
tinha recebido um sinal e um símbolo, por meio dos
Em uma noite o Grande Sacerdote apareceu-me em quais a minha coragem aumentava mais e mais a cada
sonho, apresentando seu colo cheio de tesouros. Sur- dia para usufruir das ordens e dos sacramentos do tem-
 preso, perguntei o que significava. Ele respondeu que  plo. Eu, muitas vezes, conversava com o Sacerdote, de-
ele foi enviado para mim desde o país de Tessália, e que sejando bastante que ele me desse a Iniciação da
um servo meu chamado Candidus havia chegado tam- religião. No entanto, ele que era um homem sério pro-
 bém. Quando acordei, pensei comigo mesmo sobre o telou minha afeição dia após dia, com conforto e melhor 
que esta visão queria dizer, considerando que eu nunca esperança, como os pais costumam refrear os desejos de
tive nenhum funcionário chamado por esse nome, mas seus filhos. Dizendo que o dia em que qualquer um deve
qualquer que fosse o significado, na verdade eu achava ser admitido em sua ordem é nomeado pela Deusa; o
que isso era um presságio de ganho e uma oportunidade Sacerdote, que deve ministrar o seu culto é escolhido
 próspera. Enquanto eu estava assim impressionado, eu  por sua providência, e as despesas necessárias das ce-
fui até o templo, e fiquei lá até a abertura dos portões, rimônias são atribuídas por seu mandamento. O Sacer-
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dote, assim, desejou que eu atentasse com uma paciên- ele percebeu a minha presença, ele começou dizendo:
cia admirável, e que eu deveria tomar cuidado também “Ó Lucius agora que eu conheço bem a tua arte bem-
tanto com a excessiva precipitação, como com a exces- aventurada e abençoada, a qual a divina Deusa acata
siva negligência, considerando que havia o igual perigo com tão grande misericórdia, por que estás atrasado? Eis
de: caso eu fosse chamado, me atrasar; ou não, de ser  o dia que tu desejaste, no qual tu deverás receber por 
 precipitado. minhas mãos a Iniciação, e conhecer os mais puros se-
Além disso, ele disse que não
havia ninguém em sua companhia
com uma mente tão desesperada,
ou tão imprudente e audaciosa,
 para empreender algo sem o con-
sentimento da Deusa. O sacerdote
considerou que estava sob o poder 
dela tanto condenar quanto salvar 
todas as pessoas. No entanto, se
alguém estivesse a ponto de mor-
rer, e no caminho para a conde-
nação, fosse capaz de receber os
segredos da Deusa, estaria em seu
 poder, pela divina providência,
redimi-lo para o caminho da
saúde, como que por um certo
tipo de regeneração. Finalmente,
ele disse que eu deveria atender o
 preceito celeste, embora era evi-
dente e claro que a Deusa já tinha
dignado-me em me chamar e me
nomear para o seu ministério. Eu
também tinha que me abster da
 profana e ilegal carne ilegal, da
mesma forma que os Sacerdotes
que já tinham sido recebidos, a
fim de que eu pudesse chegar  Uma sequência da celebração de Ísis
mais apto e puro para o conheci-
durante o período Romano em Pom-
mento dos segredos da Iniciação. Então fui obediente a
essas orientações, e atencioso para com o sossego manso
péia, Itália. Pintura no Museu de Nápoles
e a provável taciturnidade, e servir diariamente no tem-
gredos dos Deuses”. O ancião então me pegou pela mão
 plo. No final, a salutar doçura da Deusa não fez nada
e levou-me até a porta do Templo Maior, onde na
 para me desapontar, pois na noite em que ela apareceu
 primeira entrada, ele fez uma solene celebração. Após
 para mim em uma visão, mostrando que havia chegado
finalizar os louvores matinais, ele trouxe livros que es-
o dia que eu tinha desejado por tanto tempo; ela me disse
tavam no local secreto do templo. Eles foram em parte
quais disposição e encargos eu deveria ocupar, e como
escritos com caracteres desconhecidos, e parcialmente
que ela tinha designado o seu Sacerdote principal, Mi-
 pintados com figuras de animais declarando brevemente
tras, para ser ministro comigo em seu culto. Quando eu
cada sentença, com as cabeças e as caudas, numa dis-
ouvi esses mandamentos divinos, eu me alegrei bastante
 posição circular. Os livros eram estranhos e impossíveis
e me levantei de madrugada para falar com o grande
de serem lidos por pessoas profanas. Lá, ele interpretou
Sacerdote, o qual, por sorte, vi saindo de sua câmara.
 para mim tais coisas, visto que eram necessárias e úteis
Saudei-o, e pensei comigo mesmo em perguntar e pedir 
 para a preparação da minha Iniciação.
o seu conselho com vigorosa coragem; mas assim que
Continuará nas próximas edições…
40 MAGIA & TEURGIA ‐ Abril/Maio/Junho 2011
 

CRÍTIC S LITERÁR I S
 por Martin Béliard 

metismo e Cabala, e também se embasam em décadas


de experiência na prática da magia.
A façanha de De Biasi é fazer a Maçonaria ganhar 
vida para o leitor não familiarizado com o caráter pro-
fundamente mágico de suas práticas. Ao longo de todo
o livro, e especialmente nos capítulos 6-8, o autor traduz
em rituais, os elementos do seu estudo sobre os símbolos
da Maçonaria. Através desses potentes ritos, e também,
 pelos princípios mágicos explicados por De Biasi ao
longo de todo o livro, Segredos e Práticas dos Franco-
maçons será uma leitura proveitosa para todos aqueles
que estão interessados em Hermetismo, Magia, Cabala
e Maçonaria.
DE BIASI, Jean-Louis. Secrets and Practices of the Vídeos do livro: http://goo.gl/31dHx
Freemasons : Sacred Mysteries, Rituals, and Symbols
 Revealed. Woodbury, Minnesota: Llewellyn Pub-
lications, 2010. xix + 292 pp. $19.95.
http://goo.gl/lN46T
Secrets and Practices of the Freemasons é um estudo
completo da história e das práticas do Ofício. O autor,
Jean-Louis de Biasi, é um Mestre Maçom há muito
tempo Iniciado nos Mistérios. Através de análises pre-
cisas das potências expressas na arquitetura da
Maçonaria, e em seus símbolos e rituais, de Biasi dis-
corre sobre a história, as práticas e a filosofia oculta da
Maçonaria em uma obra única. Com uma ênfase em en-
sinamentos práticos, ele apresenta ao leitor as chaves
 para compreender os símbolos da Maçonaria, os quais
estão associados com específicas técnicas mágicas para
a própria elevação espiritual do praticante. Fritz Graf é mais conhecido nos círculos acadêmicos.
Um historiador bem estabelecido, especializado em epi-
Este livro também é interessante pelo seu foco em grafia clássica, sua obra foca na história da religião e
símbolos encontrados na arquitetura esotérica de Wa- magia Gregas. Inicialmente escrito pelas Les Belles Le-
shington DC. O leitor irá se deliciar neste aspecto da in- ttres em 1994 sob o título Idéologie et Pratique de la
vestigação de Biasi. O Monumento de Washington, do Magie dans l’Antiquité Gréco-Romaine (Ideologia e
Capitólio, do Mall, o Monumento de Lincoln, a Casa do Prática da Magia na Antiguidade Greco-Romana), o tí-
Templo, e muitos outros elementos da paisagem ar- tulo Magia no Mundo Antigo foi traduzido para o Inglês
quitetônica de Washington DC são analisados sob uma  pela primeira vez em 1997. Mais amplo no escopo do
 perspectiva esotérica. Estas análises se reportam a uma que a maioria das outras publicações de Graf, ele esboça
riqueza de material histórico e filosófico, tais como o uma imagem mais ampla da Magia na Antiguidade ao
Platonismo, a filosofia Pitagórica, o Mitraísmo, o Her- redor do Mar Mediterrâneo.

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Além de ser muito bem escrito, duas coisas tornam


este livro um objeto de pesquisa muito interessante, cuja
leitura vale a pena: (1) a sua abordagem da história da
magia; e (2) a amplitude das fontes com as quais o autor 
interage. Em Magia no Mundo Antigo, as fronteiras
entre magia e religião ficam obscuras. Diferente de es-
tilos mais antigos de erudição, essa obra permite que a
magia passe das franjas das culturas antigas para o
coração de práticas religiosas diárias, em alguns casos.
Isto, naturalmente, não significa que a magia desa-
 parece. Pelo contrário, isso mostra como ela permea as
sociedades Grego, Romana, Egípcia. Graf demonstra
esse fenômeno cultural, interagindo com várias repre-
sentações de magia e magos, filosofias ocultistas e
crenças da época, o uso de defixios, ou tabuletas de
maldição, assim como documentos escritos e fragmen-
tos de papiros sobre ritos de iniciação.
Eu convido os praticantes de magia para lerem Magia
no Mundo Antigo, bem como livros similares de história
da autoria de Graf e de outros historiadores contemporâ-
neos. Os ocultistas devem procurar estar cientes da
ampla variedade de material histórico - epígrafes, pa-
 piros, sítios arqueológicos, traduções - que temos
acesso. A história é uma ferramenta valiosa para magos
modernos. Não se esqueça do parentesco que temos com
o passado. Assim como os gestos do homem das caver- Hipátia de Alexandria é a primeira mulher 
nas desenhando cavalos nas paredes de Lascaux podem conhecida por seu papel na transmissão da
ser comparados com os gestos de pintores modernos Tradição. O que é ainda mais notável é que
grafitando numa tela; é da mesma forma para as nossas ela foi iniciada nos Mistérios Hermetistas e foi
 palavras, símbolos e gestos que nos conectam aos a líder da escola platônica de Alexandria no
magos, aos adeptos, e às pessoas astutas das épocas mais ano 400 antes de nossa era.
antigas.  Leia mais e assista ao trailer 
em:http://goo.gl/QPEpg

Uma gravação das chaves enoquianas pronunciadas


de acordo com os ensinos da Ordo Aurum Solis. Você
conhecerá as chaves entoadas no método cantus in-
stans, e algumas no método cantus vocans. Outras ainda
são declamadas na musicalidade original, e algumas
palavras sagradas enoquianas são vibradas com cantos
harmoniosos.
Esse CD foi gravados há 15 anos atrás numa Casa ofi-
cial da Ordem por um Grande Oficial da Aurum Solis.
Você pode adquirir esse CD em:http://goo.gl/8aTCV

42 M
MAGIA &&
AGICK TEURGIA
THEURGY ‐ Abril/Maio/Junho
 ‐ April/May/June 2011
 

(Continuação da pág. 6) - estabelecermos um elo entre os arquétipos celestes


exteriores e as potências internas de nossa psique;
Perceba, é literalmente verdadeiro: " o que está em-
 baixo é como o que está em cima ". Logo, nosso ser é - restaurarmos o equilíbrio interior utilizando um ri-
um verdadeiro cosmos em miniatura. Somos constituí- tual definido com componentes específicos (estética,
dos por várias influên- música, etc.).
cias e aspectos, tanto
A presente coletânea de artigos
 psicológicos quanto vi-
fornece uma versão dos Sete rituais
 bratórios. Alguns, mais
Planetários baseados nas potências ar-
marcianos, destacam-se
quetípicas helenísticas. As potências
 pela intensa energia, pela
dos planetas são representadas nestes
força, pela coragem e
ritos pelas Divindades da mitologia
 pela cólera; enquanto
grega: Apolo, Ártemis, Ares, Hermes,
outros, mais jupiterianos,
Zeus, Afrodite e Cronos. Elas são per-
são reconhecíveis pela
sonalidades poderosas, capazes de
 justiça e às vezes pelo
agir profundamente sobre o nosso ser.
orgulho. Assim, somos
ocultamente constituídos Cada personalidade (Deusas e
 por esses astros ou Deuses) corresponde a um planeta e a
 potências internas. O seu um dia da semana, como mostra a
equilíbrio harmonioso tabela abaixo:
estabelece em nós a
 Domingo: Planeta: Sol - Símbolo: b
saúde, a serenidade e a
- Divindade: Hélios.
 paz. É fácil constatar que
essa alegria do coração, e Segunda: Planeta: Lua - Símbolo: k
essa saúde do corpo nem Divindade: Selene.
sempre são uma reali- Terça: Planeta: Marte - Símbolo: h
dade. Infelizmente, o de- Divindade: Ares.
sequilíbrio, a angústia e Quarta: Planeta: Mercúrio - Símbolo :
as doenças estão bastante
 presentes no cotidiano de Representação do Cosmos se- j - Divindade: Hermes.
nossas vidas humanas. gundo a tradição clássica, os 4 e- Quinta: Planeta: Júpiter - Símbolo: F
Entretanto, a correção e lementos e as 7 esferas - Divindade: Zeus.
o equilíbrio dessas insta- planetárias. De Robert Fludd. Sexta: Planeta: Vênus - Símbolo: m
 bilidades, requer um en- - Divindade : Afrodite.
tendimento de nossa verdadeira natureza. Os aspectos
interiores de nosso caráter (dos quais somos constituí- Sábado - Planeta: Saturno - Símbolo: G - Divindade:
dos) estão intimamente ligados à ordem do Cosmos por  Cronos.
inteiro. A Astrologia torna-se dessa maneira o meio de A realização regular desses ritos lhe ajudará a
compreendermos as potências que compõe nossa per- adquirir uma maior compreensão das potências que lhe
sonalidade. A magia celestial nos possibilita agir, afim influenciam inconscientemente. Você sentirá progressi-
de recriarmos a harmonia que perdemos no processo vamente um maior equilíbrio em sua vida, e uma ate-
dessa existência. nuação de todas as suas angústias face à sua e-xistência.
Mas não pense que tudo isso ocorrerá espontaneamente,
Assim, ritos baseados nesses conhecimentos foram como que por um milagre. A prática destes ritos de har-
estabelecidos desde a mais alta antigüidade. Os princí- monização agirá como gotas d'água caindo regularmente
 pios são simples: sobre uma rocha dura - e acabando por quebrá-la. Desse
- recriarmos o Cosmos num cenário ritualístico, u- modo, cada prática se acrescerá às outras para deixar sua
sando símbolos e assinaturas; marca em você, trazendo-lhe novamente ao centro do
cosmos, ao centro do seu ser.

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44 MAGICK & THEURGY ‐ April/May/June 2011

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