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Pedro Calmon
Martins Fontes
Copyright© 2002, Livraria Martins Fontes Editora Ltda ..
São Paulo, para a presente edição.
Acompanhamento editorial
Helena Guimarães Bittencourt
Revisão gráOca
Sandra Regina de Souza
Llgia Silva
Sandra lia Farah
Edna Gonçalves Luna
Produção gráfica
Geraldo Alves
Paginação/Fotolitos
Studio 3 Desenvolvimento Editorial
Projeto gráfico
Katia Harumi Terasaka
Bibliografia.
ISBN 85-336-1680-5
02-5289 CDD-981.021
à
Todos os direitos desta edição reservados
Livraria Martins Fontes Editora Lida.
Rua Conselheiro Ramalho, 3301340 01325-000 São Paulo SP Brasil
Te/. (11)3241.3677 Fax(11)3105.6867
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Índ i ce
1 - A sociedade
1 1 -0homem
9 . A formação do povo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Europeus e mulatos - Psicologia portuguesa - O mestiço - A esqui
vança da família branca - A negra.
10 . O negro, fator nacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
O tráfico - Procedência e distribuição - A seleção - Três tipos.
11. O mamaluco, lusíada do sertão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
O bandeirante - O meio-índio - Conquistadores - O pastoreio - A
fazenda de criar - O sertanejo.
12. O misticismo da riqueza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
Os caminhos pastoris - Ouro e diamantes - A coxilha e a estância
- A era do algodão - O café - Correntes negras - Norte e Sul -
Outros rumos.
1 1 1 -A organização
13 . O governo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
O Estado e o colono - A autonomia local - As obras públicas - Co
municações.
14. A xenofobia colonial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
As balizas - Perigo externo.
15. O sentimento nacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
O nativismo.
16 . Fim da era colonial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
O Brasil dos dois lados do Atlântico - A urbanização - Sociabilida-
de - A língua atada - Colônia inglesa - Tolerância - A revolução
dos costumes - A independência.
IV - O espírito
Bibliografia.................................................................................. 233
Prefácio à História Social de Ped ro Calmon
EDIVALDO M . BOAVENTIJRA1
dando com Franz Boas. O ano de 1933 seria de Gilberto Freyre, com
a publicação de Casa-grande e senzala: "Virou ele pelo avesso a com
preensão do país. Apresentou-nos pela primeira vez a intimidade pre
guiçosa de 'sobrados e mocambos', os escabrosos costumes de copa
e cozinha , ao luar sensual do Nordeste, o outro lado da vida (. . . )"
(Calmon, 1995, p. 192). Critica como se escrevia história à época:
rei cavaleiro; Dom Pedro II, o rei filósofo; a Princesa Isabel; o Mar
quês de Abrantes e outros - e os fatos do primeiro e segundo rei
nados , com o Espírito da sociedade imperial encontra-se completa
mente à vontade para proceder ao "estudo dos grandes conjuntos,
das classes, dos grupos sociais, das categorias sócio-profissionais" ,
conforme Albert Soboul (apud Cardoso e Brignoli, 1983, p . 353).
Considere-se com Soboul que a história social como disciplina espe
cial dentro do conjunto das ciências históricas "está vinculada ao
estudo da sociedade e dos grupos que a constituem, em suas estru
turas e pelo ângulo da conjuntura; nos ciclos e na longa duração" .
Calmon começa pelo Império, isto é, um território que deixa de
ser colônia.Transforma-se com a abertura dos portos em um Estado
com aparência européia que deve assimilar idéias, instituições, cos
tumes e métodos do Reino Unido e da França. Destaca as forças sen
timentais do início do século XIX vitoriosas com as guerras da Inde
pendência, como o nacionalismo e o indianismo, uma exterioridade
pitoresca da paixão brasileira . Repudiaram-se as origens coloniais e
substituíram-se os nomes lusitanos pelos indígenas - Cangussus, Jês,
Baitingas, Patativas, Mussurungas. Uma situação nos singularizava na
América. Enquanto as demais nações eram repúblicas, o Brasil defi
nira-se pela monarquia. Atenção mereceram os conflitos com o Sul
herdados da Colônia. Encara os três períodos: o reinado tumultuado
de Dom Pedro 1 com as sociedades secretas; as aberturas da regên
cia; e o longo reinado de Dom Pedro II. Dos procedimentos e das
etapas políticas , passa à economia dos engenhos, das fazendas e da
vida nas cidades com a presença da escravidão: "a escravatura conti
nuará a exteriorizar a riqueza da casa". A vida social se entretém entre
senhores e escravos. Surge a era do café, no Rio de Janeiro e depois
em São Paulo, que cria uma nova aristocracia . A máquina entra em
cena, a extinção do tráfico, as migrações, os novos produtos, como os
diamantes, o cacau, a borracha, o algodão e o surgimento dos cami
nhos de ferro, o telégrafo, a vida social, o Rio Grande do Sul se ex
pressa (. . . ). Termina com a ordem monárquica, o funcionamento do
regime de gabinete e o poder moderador. Um capítulo é dedicado à
XII História social do Brasil
Notas bibliográficas
0 EDITOR
Expl i cação
P. e.
Rio (Museu Histórico Nacional) , setembro de 1934.
A sociedade
1 . Pe rfi l de uma civi l ização
2. "0 plano das l ndias e as guerras marroqui nas foram, na concepção do I nfante, um grande conj un
to, um plano un ico." Cf. a sugestiva tese de Joaquim Bensaude, Origines du plan des lndes, tradu
ção mandada fazer por Fél ix Pacheco, Jornal do Comercio, Rio, 1 2 de outubro de 1 9 30.
3 . Charles Dieh l , Une republique patricienne, Venise, p. 1 9 6, Paris, 1 92 5 . Holandeses, cem anos de
pois, apegados ao roteiro de Vasco da Gama, "voltaram carregados de i mensas riquezas" (Abade
Va l l emont, G/i e/ementi dei/a Storia, IV, 400, Veneza, 1 738): o Atlântico do None vencera defi niti
vamente.
4 . Diá logos das grandezas, pp. 1 3 1 -2, ed. R. Garcia.
Espírito da sociedade colonial 5
5. João Ribeiro faz derivar de "bres i l " ou "braçai l", designação francesa do pau-de-ti nta, que desde o
século X I I aparece no cancioneiro bretão, o nome do B rasi l . O mesmo lenho era conhecido em Ve
neza, por "verzin" ou "berz i no". Chamara-lhe Marco Polo "byrço" . . . G i l Vicente, no Auto da fama
( 1 5 1 5), já falava em "terra do B rasi l", cuja riqueza, segundo Camões (e. X, 1 40), era o "pau verme
lho". Pretende J. Ribeiro que fosse o nome do B rasil o primeiro galicismo que i ncorporamos à l ín
gua . . . Deixou claro Gustavo Barroso (Aquém da Atlântida, p. 1 5 3 , passim, São Paulo, 1 93 1 ) que o
nome Brasil provém da i l h a do mesmo nome que desde o sécu lo X I I I surge nas cartas semifantásti
cas do Atlântico. De "brasa", seguramente, é que ele não deriva, como queriam os cronistas clássi
cos. A "Neue zeitung aus pres i l l andt", 1 5 1 5 , i nd i cava constantemente a terra "do bras i l " - como se
d i ria costa "do ouro", costa "do marfi m", terra "do fogo", i l h a "da madeira" . . . Referia-se à conhe
cida madeira de tingir, capaz de identificar as terras descobertas, não a uma nova espécie cor de
brasa . . . " (ver Capistrano de Abreu, nota a Varnhagen, História geral do Brasil, 3• ed., 1, 1 1 -2).
6 História social do Brasil
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Casa-forte do século XVII. O solar de Megaipe, Jaboatão, Pernambuco. Tipo de "castelo" rural.
Civilização do açúcar. (Desenho de A. Norfini. Col. do Museu Histórico.)
Espírito da sociedade colonial 9
As castas
1 . Cf. o viajante John White, que esteve no Rio de Janeiro em 1 787; Afonso Taunay, Na Bahia colo
nial, p. 466.
2 . Canas soteropolitanas, I , 1 39, ed. B raz do Amara l .
1 2 História social do Brasil
3. Não importava o cl ima, esti mulante ou depressivo:" Apesar da doçura do c l i ma, os habitantes des
te di strito não são menos i ndolentes que os das partes septentrionais do Bras i l " (Saint- H i l a i re, Via
gem ao Paraná, trad. David Carnei ro, p. 1 67, Curiti ba, 1 93 1 ) . Ao Maranhão falara Viei ra, em 1 65 3 :
" D i reis q u e o s vossos chamados escravos s ã o os vossos pés e mãos; e tambem podereis d izer que
os amais mu ito, porque os criastes como fi l hos, e porque vos criam os vossos."
4 . Cartas persas, p. 1 68, trad . Maria Barreto.
5. História do Brasil, VI, 480.
6. Von Martius, Através da Bahia, 2• ed., p. 76, trad . Pi rajá da S i l va; Loreno Couto, Desagravos do
Brasil, p. 2 2 7 .
Espírito da sociedade colonial 1 3
O negociante
1 O. Relatório do marquês de Lavradio, Rev. do lnst. Hist., t. VI, pp. 409-86. Os colonos, segu ndo La
Barbinnais, dividiam-se em três classes: senhores de engenho, negociantes e maríti mos (Nouveau
voyage autour du monde, Ili, 1 86, Paris, 1 7 1 7).
1 1 . Denunciações da Bahia, ed. Capistrano, p. 2 1 4.
1 2 . P. Simonem Marques, Brasília Pontifícia . . . , p. 280, L i sboa, 1 749.
1 3 . Pyrard de Lavai, Voyage . . . . p. 539, Paris, 1 61 5 .
1 4 . Denunciações da Bahia, p. 89; Rodolfo Garcia, Denunciações de Pernambuco, p. XXI I , São Pau
lo, 1 929.
1 5 . Ol ivei ra Martins, História de Portugal, li, 1 3 1 , ed. de 1 908.
1 6. Southey, História do Brasil, VI, 439.
Espírito da sociedade colonial 1 5
1 7 . José lngen ieros. La evolución de las ideas argentinas, 25, Buenos Ai res, 1 9 1 8 .
1 8. Argeu Guimarães, Os judeus portugueses e brasileiros na América espanhola, Journal de la Soe.
des Amér. de Paris, XVI I I , 1 926, p. 3 0 3 .
1 9 . Taunay, N a Bahia colonial, p. 29 1 ; ver também Pau lo Prado, Paulfstica, p. 1 8, São Paulo, 1 92 5 .
20. Tradução d e Claudio de Souza, Rev. do lnst. Hist., vol . 1 65 , p. 568.
2 1 . Ver Saint- H i l a i re, Voyage- Rio de Janeiro et Minas, 1, 226, Paris, 1 830; Southey, op. cit., VI, 479.
2 2 . Varnhagen, Hist. ger. do Brasil, 3• ed. i ntegral, I l i, 3 9 3 , anot. por Rodolfo Garcia.
1 6 História social do Brasil
O lavrador
O fenômeno açúcar
26. Southey, História do Brasil, IV, 4 1 9 . D isse Tol lenare: " Nenhum homem que se respeita quer ven
der um tal escravo na região onde reside" (Notas dominicais, trad. Alfredo de Carva lho, p. 1 44).
27. Frei Jaboatão, Catálogo genealógico, Rev. do lnst. Hist., vol . UI, p. 238. O engenho de Seregipe,
dos jesu ítas, em 1 63 5 val i a 50 m i l cruzados.
28. Havia engenhos com 200 trabalhadores, 60 bois, um consumo de 3 mil carros de lenha por safra
(Domingos do Loreno Couto, Desagravos do Brasil, ed. da B i b l . Nac., p. 1 76).
1 8 História social do Brasil
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Igreja jesuítica e padrão de terras. Saco de S. Francisco, da Praia Grande. Século XVII. ê:
(Desenho de A. Norfini. Col . do Museu Histórico.) "'
20 História social do Brasil
rém sendo el-rei informado que, por essas urcas serem mais fortes e
artilhadas, todos queriam carregar antes nelas e cessava a navega
ção dos navios portugueses e quando os quisesse para armadas não
os teria, nem homens que soubessem a arte de navegar, parecendo
lhe bem esta razão a el-rei e outras que o moveram a escrever ao go
vernador Diogo Botelho e aos mais capitães não consentissem mais
em suas capitanias entrar navio algum de estrangeiros por via de mer
cancia nem por outra alguma , mas os metessem no fundo e per
seguissem como a inimigos. " 40
40. Frei Vicente, História do Brasil, 31 ed., p. 404. O au mento da produção açucarei ra no l i século
não correspondeu às expectativas dos cron istas do 1. Estimou o autor dos Diálogos das grandezas
em 500 m i l arrobas a exportação, em 1 6 1 8. Ao findar esse século, apenas dupl icara: 1 .295 m i l ar
robas. Entretanto o preço se mantivera, quase estabi l izado . .o preço do q u i l o de açúcar (segundo
os nossos cálcu los), que em 1 6 1 8 era de 87 réis em Portugal, onerado de todos os impostos, su
biu, em 1 698, a 1 60 réis. Dada a quebra do valor da moeda, pode-se dizer que não sofrera alte
ração. N ão se deve esquecer que o regime de l ivre comércio fizera do açúcar da i l ha da Madei ra,
do açúcar do B rasi l depois, um produto geral mente aceito de toda a Europa. O l i m ite do lucro era,
em 1 63 5 , de 2 cruzados por 1 5 qui los. Caindo o preço da arroba a 4 e 5 tostões, o prejuízo do se
nhor do engenho era grande (Anais do Museu Paulista, IV, 78).
3 . Os contrastes da vida colonial
O esplendor rural
A senhora
6. Ver as nossas anotações aos Sermões patrióticos, de Viei ra, p. 79, Rio, 1 93 3 .
7. G regório d e Matos, Obras, ed. da Acad . Bras., I l i , 2 1 9 e 266.
8. Viagem através da Bahia, ed. Pi rajá, p. 1 1 4 .
26 História social do Brasil
9. J.-B. Debret, Voyage pittoresque, li, 33; Henderson, A History of Brazil, f. 346, Londres, 1 82 1 .
Espírito da sociedade colonial 2 7
1 O. H ippolyte Taunay e Ferdi nand Dénis, Le Brésil, li, Paris, 1 82 2 . Sobre o medieval i smo da família
americana, ver Arthur W. Calhoun, A Social History of the American Family, 79, Cleveland, 1 9 1 8.
1 1 . Frei Vicente, História, 31 ed., p. 268.
28 História social do Brasil
1 2 . Leopoldo Pereira, 5. Paulo nos tempos coloniais, p. 1 42, São Pau lo, 1 92 2 .
1 3 . Tol lenare, Notas dominicais, p. 1 29 .
1 4. Coreal , apudTaunay, N a Bahia colonial cit., p. 2 7 1 . "Vejo a m a i o r parte d a s senhoras definhar e m
molestias nervosas, proced idas da i nação e enjôo em q u e vivem . . . " ( Rodrigues de Brito, Cartas
econômico-políticas, 2• ed., p. 62). Em Santa Catarina, La Pérouse reparara na mesma ciu menta
rec lusão da mul her.
1 5 . Sai nt-H i l a i re, Viagem no interior do Brasil, trad . David Carnei ro, p. 1 1 9, Curitiba, 1 93 1 .
1 6. Tau nay, Visitantes do Brasil colonial, p. 1 0 1 , São Paulo, 1 93 3 .
4 . Miséria e grandeza dos colonos
A indumentária
O povo mestiço
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Casa-forte. Período "emboaba" . Mansão destinada à defesa do ouro de el-rei. S. José dei Rei. Minas . §:
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(Desenho de A. Norfini. Col . do Museu Histórico.) w
34 História social do Brasil
mui grande feita com uma casa forte dentro, em que tinha algumas
peças de artilharia . . . " Os potiguares destruíram-na em 1 57416• O fi
lho daquele levantou em Guiana o seu engenho, com "uma casa for
te de madeira de taipa e mão dobrada, donde, com os arcabuzes que
os brancos dentro tinham e o seu gentio com arcos e frechas" se
defendeu dos bárbaros, até lhe queimarem a propriedade17•
Expulso o selvagem e florescentes as lavouras, o reduto, ou a
"torre " , cedeu o lugar à casa-grande .
A colonização, passando da fase heróica à econômica, trocou
o fortim artilhado, feito para repelir, pelo sobrado vasto e patriar
cal, feito para reunir. Foi o provedor-mor Pero de Góis quem cons
truiu a melhor casa da Bahia ao tempo de Tomé de Sousa: com
prou-lha o governador, para moradia do bispo D. Pero Fernandes
Sardinha, por 80$000, pagos metade em 1 5 52, metade em 5318• Em
algumas povoações o castrum desaparece, absorvido pela civitas:
em outras, como na Bahia e no Rio de Janeiro, a esta - burguesa e
aberta - continuou a proteger o castellum amuralhado e dominan
te à velha moda19•
Não havia na terra artistas, que estilizassem a construção; po
rém o colono trouxera a sua idéia dos casais portugueses expostos
ao sol cru , a sua lembrança das alfamas, a visão das "verandahs" ,
dos "mucharabiehs" , das fortes paredes brancas, dos telhados pró
prios para o desaguamento nas grandes chuvas e para a sombra das
grandes calmas . Juntou esses elementos de arquitetura árabe e pe
ninsular e levantou a casa-grande . Encontramos habitações iguais
no sul da península Ibérica e em Marrocos . O muro liso era dos
castelos; a janela com a adufa moura, granadina; a varanda, que con
vidava ao repouso após a refeição abundante, alentejana.
Descreveu o padre Cardim a primeira mansão colonial, a de Gar
cia d'Ávila: "Agasalhou o padre em sua casa armada de guadamecins
com uma rica cama, deu-nos sempre de comer aves, perús, manjar
branco, etc. Ele mesmo, desbarretado, servia a mesa e nos ajudava á
missa, em uma capela, a mais formosa que ha no Brasil, feita toda de
A higiene
2 3 . Escreveu Martius, no Rio: "Possui ndo as casas, segu ndo costume orienta l, sacadas fechadas dian
te das janelas, foram substitu idas por ordem rea l por balcões abertos. "
Espírito da sociedade colonial 3 7
1 644, dava como uma novidade o uso, que i a cativando a boa gen
te, de "lavar todos os dias as mãos e quasi sempre o rosto . . . " Che
gara a ser moda , disse Brantome, calçar o amante as meias que a
amada usara dez dias24• Não se deve esquecer que Santa Vitalina
pecara porque numa sexta-feira santa aspergira d'água o rosto fe
bril . . . A grande medida profilática adotada por Pedro, o Grande,
fora a proibição das longas barbas aos russos . Luís XIV nunca ba
nhou inteiramente o corpo . . . "O uso do banho é permitido, con
tanto que não se tome por volupia" , avisava o Dicionário das ciên
cias eclesiásticas, de 1 7602; - posterior às mais belas fontes de Ouro
Preto e Mariana .
O colono ainda naquilo imitou o índio que, à beira dos rios, le
vava uma limpa vida anfíbia26• O asseio oriental, que os ingleses
trouxeram da Í ndia, com as banheiras, aclimara-se na casa brasilei
ra como a "varanda" e a adufa . A paixão dos banhos fluviais foi in
tensa em Pernambuco e em São Paulo. A Tollenare encantaram as
mulheres de Recife, debatendo-se, como oceânides nuas, na água
transparente do Capibaribe alumiada de luar. Famílias inteiras, a ma
trona, as raparigas, as mucamas, banhavam-se harmoniosamente
no rio claro, limitando-se a mergulhar, como ninfas assustadas, quan
do os curiosos, para vê-las, se debruçavam das pontes.
"Era costume antigo em S . Paulo - escreveu o Padre Manoel da
Fonseca - ou porque fosse maior a sinceridade daqueles tempos,
ou porque, estando menos povoada esta terra, dava ocasião mais
oportuna, saírem seus moradores no tempo do verão, nas horas em
que o calor do sol mais se acende, a banhar-se nos rios Tietê, Ta
manduateí, que com as suas aguas regam aquela cidade. " 27
O transporte
O colono, que em sua casa não usava bragas, além das ceroulas,
e resumia nalguns mochos o mobiliário, tinha por desonroso andar a
A mesa
43. " . . . Ti nha havido banquetes brasileiros dos quais se exc l u i a o pão e o vinho da Europa; servia-se
com ostentação a farinha de mandioca e a ru i m aguardente nacionais . . . " (Tollenare, Notas domi
nicais, p. 76).
44. Tol lenare, op. cit., p. 1 2 7.
4 5 . Visconde de Araxá, Reminiscencias e phantasias, 1, 1 75, Vassouras, 1 88 3 .
46. Southey, Hist. do Bras., VI, 3 2 5 .
47. Capistrano de Abreu, nota a Cardim, ed. R. Garcia, p. 4 3 3 .
Espírito da sociedade colonial 4 1
A cama e a rede
5 1 . Tau nay e Alcântara Machado; veja-se deste Vida e morte do bandeirante, p. 54, São Paulo, 1 929.
5 2 . Alcântara Machado, op. cit., p. 52.
5 3 . Taunay, Na Bahia de D. João VI, p. 1 6.
Espírito da sociedade colonial 43
Raridade do dinheiro
60. Saint-Hilaire, Voyages dans /es provinces de Rio de Janeiro et de Minas Geraes, I, 209, Paris, 1 830.
6 1 . D . Francisco Manuel de Melo, Apólogos dialogais ( 1 655), 1, 1 30, ed. de 1 900. Em 1 568, o padre
Inácio de Azevedo, escrevendo ao geral S. Francisco de 8orja, alegava não haver dinheiro aqui,
Espírito da sociedade colonial 45
donde "os que de Portugal tiverem de i r para o Brasi l vão para ser recebidos lá, porque o Bras i l
n ã o o s póde sustentar em Portugal . . . " (Doe. citado p e l o P e . Serafi m Leite, Jornal do Comercio,
Rio, 8 de maio de 1 934). Em São Pau lo "não raro á propria Camara se tornava impossivel l iquidar
debitas em moéda. Assim, a 3 0 de Abri l de 1 592, era o seu portei ro, á fa lta de numeraria, pago . . .
e m palha" (Taunay, S. Paulo nos primeiros anos, p . 83, Tou rs, 1 920).
62. Viei ra, Canas, l i , 304, ed. de 1 886.
63. Canas, li, 3 3 3 .
6 4 . Canas, l i , 3 3 7 .
46 História social do Brasil
o que tem deixado esta praça, noutro tempo tão opulenta, totalmen
te exhausta de moeda, com que não ha quem compre ou venda, nem
com que . "65 Foi fundada na Bahia uma casa de moeda em 1 694,
para lavrar peças de ouro e prata inferiores de 20% às da metrópo
le, com a rigorosa proibição da sua remessa para fora do Brasil: e
assim se conservou na colônia um giro privativo e suficiente66• Ape
nas o lavrador não via essa mesma moeda provincial. O próprio
mineiro não a guardava. Exclamaria por isso Bougainville: "As mi
nas do Brasil não produzem dinheiro . " 67 Entesoirava, em vez de
cruzados, escravos. Os mercadores recebiam-lhe a produção em con
ta do fornecimento anual, e o saldo ficava com o negreiro, porque
se considerava verdadeiro capital a juro alto o trabalhador africano
ou a mãe preta . Saint-Hilaire ainda encontrou em Minas Gerais, em
1818, essa preocupação, de transformarem os fazendeiros em es
cravos as suas economias. Não havia no país bancos de depósito68,
nem sociedades comerciais, nem a exploração da propriedade ur
bana . Entretanto o negro fazia produzir a terra e aumentava a famí
lia trabalhadora, multiplicando, com a prole que seguia a sorte do
ventre , o patrimônio e a influência do senhor. De começo, a fortu
na foi computada pelo número de caixas de açúcar. Depois, pela
porção de trabalhadores forçados. Do senhor de engenho se dizia
que fabricava 300, 500 caixas. Do fazendeiro de café se diria que ti
nha 600 ou mil negros. Como hoje dizemos que um argentário pos
sui 6 ou 10 mil contos. A unidade de valor era o negro. O mecanis
mo da riqueza colonial simplificava-se na interdependência das
suas molas: o navegante da costa da África vendia a prazo o escra
vo ao importador, que o revendia, à conta da colheita, ao produtor
rural. Liquidadas as dívidas, o lucro do primeiro era formidável em
relação à sua despesa, mas os ganhos do comissário ainda mais con
sideráveis, enriquecendo-o em pouco tempo, a termos de acumular
os fartos dotes das filhas freiras, dos filhos frades ou doutores, e os
morgados em que convertiam afinal a abastança malsinada.
dualismo.
O morgado
1 . More i ra G u i marães, Rev. do lnst. Hist., 1 • Congr. Nac. de H i st., I l i , 466. " . . . N unca me foi possivel,
por mais esforços que fizesse, juntar capazes de qualquer ação 200 cavalos e seus respectivos sol
dados . . . " (Oficio do gov. Cunha Menezes, 1 777, Anais da Bibl. Nac., vol . 3 1 , p. 386).
50 História social do Brasil
As milícias
O letrado
O frade
5 . Breve relação das coisas relativas aos colégios, 1 5 84, p. 56. Ver capítu lo V I I .
6. " . . . Q u e n a d a e r a neste m u n d o q u e m n ã o tinha u m fi lho rel igioso da Companh ia, e , a n ã o s e r nes
ta, em alguma das outras rel i giões que tinham por segu nda classe, motivo porque ainda hoje se
acham restos de fam i l ias com quatro e ci nco i rmãos rel igiosos e rel igiosas, e algumas com outros
tantos clerigos, e por esta razão foram imensos cabedai s cair em corpos de mão morta . . . " (Vi l he
na, Cartas soteropolitanas, 1, 282-3).
Espírito da sociedade colonial 5 3
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54 História social do Brasil
A freira
1 3 . Recomendamos a leitu ra desse l ivro, editado em 1 725, como de um breviário da vida de renún
cia e exaltação mística dos conventos de freiras contemporâneos de soror Mariana.
1 4. Tomemos por exemplo a G regório de Matos. Na sua obra se referem a frei ras, do Desterro da Ba
hia ou de Portuga l, as segu i ntes poesias: Obras, 1 (pp. 1 48 e 1 49), li (p. 62), I l i (pp. 42, 43, 44, 45,
59 e 2 1 8), V (pp. 39, 254, 2 74, 2 8 1 , 306 e 307) e VI (pp. 1 88 e 1 95).
1 5 . G regório, Obras, V, 2 76.
1 6. Braz do Amaral, anot. às Cartas, de Vi l hena, li, 490.
Espírito da sociedade colonial 5 7
1 7. Anais da Bibl. Nac., vol . 3 1 , p. 65. Sobre a vida claustral do século XVI I I na Bah ia, Wanderley Pi-
nho escreveu u m completo e interessante ensaio, que a revelou.
1 8. Taunay, Na Bahia de D. joão VI, p. 1 2, Bahia, 1 928.
1 9 . Revista do Arquivo Público Mineiro, l i , 3 5 1 , ano 1 93 3 .
2 0 . B raz d o Amaral, anot. às Cartas, d e Vi l hena, l i , 490.
58 História social do Brasil
A falta de mulheres
O individualismo
36. Capistrano de Abreu, Capftulos de história colonial, p. 2 1 5 . Ver também Ol ivei ra Viana, Popula
ções meridionais, 3• ed., p. 369.
37. Notas dominicais, p. 70. O sentido dispersivo do povoamento do B rasi l domi nara os núcleos co
loniais estrange i ros, como, por exemplo, os da região florestal da Bahia. Apesar de serem os ger
mânicos i ndivíduos mais propensos à vida grem ial, a l i se transportaram, das suas fracassadas co
lônias para fazendas isoladas, "grandemente afastadas umas das outras" (Otto Quelle, A atuação
germânica no Estado da Bahia, na Rev. do lnst. Geogr. e Hist. da Bahia, nº 59, p. 460, 1 933). Foi
o que se observou com os casai s i l héus que passaram o Rio G rande, " . . . sem conheci mento da
Região nem do trato civil dos homens . . . " (Borges Fortes, Casais, p. 1 76, 1 932).
6 . A Madre I greja
O protetor do culto
1 . O "providencial ismo" do senhor de engenho era místico (pelo culto), m i l itar (pela m i l ícia), econô
mico (pela produção), social (pela fam i l ia): porém às vezes o pater, que condenava um escravo à
morte, reforçava a sua autoridade fazendo-se médico da sua tribo. "São bem conhecidos alguns la
vradores do reconcavo que, por caridade, curam mu ita gente com fel i z sucesso, como o senhor do
engenho de Poucoponto . . . " (R. de B rito, Cartas econômico-políticas, p. 64).
2 . Loretto Couto, Desagravos do Brasil, p. 1 76.
3 . Gabriel Soares, Roteiro do Brasil, p. 1 20: " Pelo que querem ser antes capelães da misericordia ou
dos engenhos . . . "
4. "São Paulo havia de ser como essas cidades de Minas e Goiaz, que ficam desertas du rante a sema
na e que se povôam sómente quando o cumpri mento dos deveres rel igiosos obriga a comparece
rem os lavradores da vizinhança" (Sai nt- H i l a i re).
5 . Augusto de Lima Jun ior, Mariana, Rio, 1 93 2 . Recomendamos a leitura desse comovido relatório so
bre os costumes de uma cidade eclesiástica - talvez os mais fiéis ao passado colonial conservados
no Bras i l . Visconde de Araxá, Tradições e reminiscências, 1, p. 1 24.
6. Pedro Calmon, anotações aos Sermões patrióticos de Viei ra, Rio, 1 93 3 .
66 História social do Brasil
1 O. Ver G regório de Matos, Obras, ed. da Academ ia B rasi l e i ra, IV, 42.
1 1 . Cf. Taunay, Na Bahia colonial, p. 290.
1 2 . Sabugosa proi bi ra por isso rei nados de negros na festa do Rosário, o entrudo, foguei ras de S. João,
festas de S. Gonçalo.
1 3 . Cf. Taunay, op. cit., p. 372. Costumes análogos ainda encontramos no sertão. Ver J. da Si lva Cam
pos, Tradições baianas, p. 76, Bahia, 1 930. E no Rio, cf. La Florette, Taunay, Visitantes do Brasil
colonial, p. 99.
1 4 . Taunay, Na Bahia de D. João VI, p. 36, Bahia, 1 928. " . . . E para maior fervor da sua devoção for
mam dansas, e outros l icitos diverti mentos . . . " (Loretto Couto, Desagravos do Brasil, p. 1 58).
68 História social do Brasil
Devoções
1 5 . Cf. Taunay, Rio de Janeiro de antanho, Rev. do lnst., vai . 1 44, p. 463.
1 6 . Henderson, A History of Brazil, p. 66.
Espírito da sociedade colonial 69
Capelas-núcleos sociais
A povoação jesuítica
1 8. Ver does. barão de Studart, Notas para a história do Ceará, p. 2 2 6 ss., Lisboa, 1 89 2 .
1 9 . " . . . O I rmão Leão . . . querendo eternizar esta nova Residencia fabricou a o s i ndios casas de taipa
de pilão, começando a ordena-la em modo de quadra, que já hoje se vê fechada . . . " (Pe. Manuel
da Fonseca, Vida do ven. Pe. Belchior de Pontes, Mel horamentos, São Paulo, p. 1 46).
Espírito da sociedade colonial 7 1
20. Ver G u i l lermo Furlon S. ) . , los jesuitas y la cultura rioplatense, p. 1 07 (com i l u strações admi rá
veis), Montevidéu, 1 93 3 .
7. A instrução e os jesu ítas
O colégio único
A escola primária
2. "Suas ocu pações com os proximos são: ensinar os meninos dos Portugueses a ler e escrever. . . "
(Anchieta, Informação da prov. do Bras., 1 585; ver Cartas, ed. da Acad. B ras., p. 4 1 7). Dessas esco
las primãrias, de "ler e escrever", tinham em Pernambuco, Bahia, I l héus, Porto Seguro, Espírito San
to, Rio de Janei ro, São Vicente e P i rati n i nga.
3 . É a crítica de Gabriel Compayré, Histoire de la pédagogie, p. 1 1 5, Paris, 1 9 1 1 .
Espírito da sociedade colonial 75
O ensino secundário
Os três estabelecimentos
8. Ver Pe. Madurei ra, Rev. do lnst. Hist., Congr. Inter. de H i st., t. VI, p. 397.
9 . Fr. Guex, Histoire de /'instrution et de /'éducation, p. 955, Lausanne, 1 906.
1 O. Anchieta, Informações, 1 584, in Cartas, ed. da Acad., p. 4 1 2 .
1 1 . Gabriel Soares, Roteiro do Brasil, p. 1 2 1 .
1 2 . Mendes dos Remédios, História da literatura portuguesa, p. 3 3 0, Lisboa, 1 92 1 .
1 3 . G. Compayré, Nouveau dictionnaire de pédagogie et d'instruction primaire, p. 904, Paris, 1 9 1 1 .
Espírito da sociedade colonial 7 7
1 4. Varnhagen, Hist. ger. do Bras., 3• ed. integral, IV, 1 77. A Câmara da Bahia requerera ao rei, em
1 67 1 , a equiparação do Colégio local à U n iversidade de É vora. "Pela provisão de 1 6 de Julho de
1 675, o governo português perm itiu então que aos estudantes de fi losofia e retorica que tivessem
cu rsado as aulas dos jesuitas na Baía, se levasse em conta na U n iversidade de Coimbra e de Evo
ra um ano de Artes (o que correspondia hoje ao cu rso de bacharelado em ciencias e letras), con
forme se praticava com os alu nos dos colegios de Lisbôa e B raga" (Accioli, Memórias históricas e
políticas da Bahia, 1, 2 2 3 ; e Egas Moniz, Problemas de educação nacional e de instrução pública,
p. 1 84, Bahia, 1 924).
1 5 . Anchieta, lnfor., 1 5 84, i n Cartas cit., p. 4 1 5 .
1 6. Agostinho d e Campos, Casa de pais, p. 2 4 7 , L isboa, 1 9 1 9.
1 7. Chateaubriand, O gênio do cristianismo, trad. Cam i lo, l i , 249.
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Os médicos
A renovação da paisagem
24. " L'arboriculture ne parai! pas avoir été três developpée chez les Tupinamba. l l s ne plantaient com
me arbres fru itiers que des acajous . . . mangaves . . . papayers . . . et, pour leur uti l ité, des calebas
siers" (A. Métraux, La civilisation matérielle des tribus tupi-guarani, p. 66, Paris, 1 928).
25. Anchieta, Cartas, ed. da Acad. Bras., anot. por Afrânio Peixoto e Antônio Alcântara Machado, p. 44.
26. Viei ra, Cartas, li, 2 2 7 .
82 História social do Brasil
O colono típico
27. G regório de Matos, Obras, ed . da Acad. B ras., VI, 1 20. Ver lgnácio José de Macedo, Considera
ções sobre . . . monarquia portuguesa, p. 1 1 2, Lisboa, 1 834; Pe. Cabral, Os jesuítas no Brasil, p.
1 98, nota.
28. Gabriel Soares, Roteiro do Brasil, p. 1 22 . Maurício de Nassau faria depois o seu jardim com "to
das as castas de arvores de frutos que se dão no B ras i l , e ainda mu itas que lhe vinham de diferen
tes partes•; e "pos nesse jard i m 2 m i l coquei ros, trazendo-os a l i de outros lugares . . . • (Frei Manuel
Calado, O valeroso l ucideno, p. 52).
29. "Cultivam-se pa lmas de côcos grandes e col hem-se mu itos, principalmente á vista do mar . . . sem
os mais proveitos que tiram na lndia . . . • (Frei Vicente, Hist. do Bras., 31 ed., p. 33).
30. Alfredo de Carva lho, Estudos pernambucanos, p. 346.
Espírito da sociedade colonial 8 3
3 1 . Já Gabriel Soares escrevera . . . "Têm muitos cu rrais de vacas, onde se afirma que trazem mais de 2
m i l vacas de ventre, que nesta terra parem todos os anos, e têm outras mu itas grangearias de suas
roças e fazendas onde têm todas as novidades de mantimentos . . . " ( Roteiro do Brasil, p. 1 2 1 ).
32. Quadros, local ização etc., in Alberto Lamego, A terra goytacá, 1 1 1 , 1 5 7.
84 História social do Brasil
O obscurantismo
O ciúme na colônia
O criminoso escravo
Nas Minas Gerais, onde a família branca ainda não pudera ser
organizada, "caso de morte publicamente executada era violar a fé
da concubina, se o ofendido não preferia açoitar solenemente o cul
pado . Era o adulterio da época'' , o seu "codigo de sangue" 11 •
Ali, segundo Antonil, não havia homem branco que não se acom
panhasse do seu negro espingardeiro. Atribuiu o padre Manuel da
Fonseca o costume de entrarem os escravos armados nas terras mi
neiras aos atentados, que os paulistas perpetravam, castigando "em
boabas" , que, em revide, arregimentavam os "congos" que traziam do
litoral12: tropas negras contra tropas mamalucas . Depois, sucessivas
ordens governamentais proibiram aos cativos o porte de armas de
fogo, até de paus ferrados, com que cometiam crimes freqüentes. O
número de negros afeitos à luta por conta dos amos pode ser avalia
do pela expedição de 171 1 , que organizou Antônio de Albuquerque
em socorro do Rio de Janeiro tomado por Duguay-Trouin. Compu
sera-se de 3 mil homens de linha e 6 mil pretos militarizados13•
A barbárie negróide agravara, no litoral, a paixão portuguesa 14•
A população era a mais escura da colônia e cada vez mais se tingia,
com a abundante importação de africanos. Os escravos domésticos
emprestavam ao homem branco a sua selvageria; e ele a dirigia
contra os seus rivais. Por isso os assassínios foram tão numerosos,
Crimes célebres
1 5. Notas dominicais, p. 1 00 .
1 6. Taunay, Rev. do lnst. Hist., vol . 1 44, p. 4 7 7 .
1 7. Southey, História do Brasil, VI, 480.
1 8. Pedro Calmon, O crime de Antônio Vieira, Melhoramentos, São Paulo.
1 9. Loretto Couto, Desagravos do Brasil, p. 1 90.
Espírito da sociedade colonial 8 9
Os "feudos"
20. Pedro Taques, Nobiliarquia, ed. Taunay, 1, 68; Taunay, História geral das bandeiras paulistas, IV,
3 7, São Pau lo, 1 928; e História seiscentista de S. Paulo, vol . l i . Em São Pau lo, fraudando a lei so
bre a adm i n istração dos índios, "cada chefe de fam i l i a tinha este titulo (de 'adm i n i strador'). Só no
termo da vila pau l i stana se contavam mais de 400, e nas capitanias anexas mais de 4 m i l . .. " (ver
Taunay, Hist. ger., IV, 293).
2 1 . Basíl io de Maga lhães duvidou da riva l i dade entre os de São Paulo e os de Taubaté (Does. sobre o
bandeirismo, Rev. do lnst. Hist. de S. Paulo, XVI I I , 481 ). Mas os documentos publicados por Feu
de Carval ho, na Revista do Arq. Públ. Mineiro e no seu Ementário da história mineira, vieram
mostrar que os "emboabas" se preva leceram daquela divisão, habilmente explorada pelos i nvaso
res portugueses.
90 História social do Brasil
2 2 . Ver Varnhagen, Hist. do Bras., 3' ed . integral , I l i , 395, e notas de R. Garcia. A guerra explodiu com
o a larma dado pelo capitão-mor Pedro Ribei ro, a quem o governador mandara prender.
2 3 . Pe. Manuel da Fonseca, Vida do ven. Pe. Belchior de Pontes, p. 1 2 7.
Espírito da sociedade colonial 9 1
24. Cf. doe. inédito que publ icamos em art. no Jornal do Comercio, Rio, de 1 9 de maio de 1 932, reti
ficando os cronistas, como Diogo de Vasconcelos, Hist. antiga de Minas, que i ndicaram sua mor
te em Portugal . Uma carta do vice-rei Galveias, de 1 738 (o mesmo que fora capitão-genera l das
M i nas por ocasião do "Triunfo Eucarístico"), refere-se ao fa leci mento de Nunes Viana e à necessi
dade de preencher o lugar com pessoa d istinta.
25. Resultado de uma energia bárbara e sem d i reção . . . Ver Gustavo Ba rroso, A/mas de lama e de aço,
p. 1 4. O tipo colon ial do patriarca está ai nda fixado, v. g., na ata de Juazei ro, documento de 1 9 1 1 ,
transcrito pelo autor citado: a í os "chefes" locais se asseguram u m apoio mútuo, como em alian
ça de potentados feudais.
92 História social '"' Brasil
Polícia e justiça
26. Gustavo Barroso, Almas de lama e de aço, p. 35, São Pau lo.
27. Barroso ( Terra de sol, 3' ed., p. 1 4 1 ) dá outros informes sobre as lutas tribais do Nordeste. I nspira
ram a Afrânio Peixoto o seu admi rável romance Sinhazinha.
Espírito da sociedade colonial 9 3
O homem
9. A formação do povo
Europeus e mulatos
5 . Antropologicamente, desmentiu o Bras i l o pessi m ismo de Buckle e tornou i rrisória a profecia de La
pouge, quando ju lgou que nos transformaríamos num Congo. Gobi neau tem razão, quanto à pre
domi nância do "espírito branco". A uniformização da raça faz-se por ci ma, na orientação dos seus
elementos nobres; não por baixo, de acordo com os seus elementos inferiores. A fusão dos povos
num só povo lhe resumiu, no B rasi l , as qualidades positivas do seu tronco europeu: o esforço in
consciente da nossa evolução consiste na d i l uição dos tipos primitivos-puros {caboclos e negrói
des), vinculados ao tipo predomi nante-misto pelas condições igua l i tárias da nossa civi l ização.
6 . "Los descubridores y conquistadores dei siglo XVI fueron algo semejantes a los imm igrantes dei si
glo XX . . . " ( B lanco Fombona, Los conquistadores, p. 1 96).
1 00 História social do Brasil
Psicologia portuguesa
O mestiço
1 4. Quatrefages, L' espece humaine, p. 2 8 3 . Ver a informação de d'Orbigny, Voyage dans /es deux
Amériques, p. 1 5 5, Paris, 1 836.
1 5 . Earl Ei nch, les effets d u mélange des races, Mémoires sur / e contact des races, Londres, 1 9 1 1 , p. 1 23 .
1 6. Anais da Bibl. Nac., vol . 3 1 , p. 9 7 . Dois terços d e negros, disse d'Orbigny, op. cit.
Espírito da sociedade colonial 1 03
A negra
"As negras e ainda uma grande parte das mulatas, para quem a
honra é um nome quimerico e que nada significa - escreveu Vilhe
na - são ordinariamente as primeiras que começam a corromper
logo de meninas os senhores moços, dando-lhes os primeiros en
saios de libidinagem, em que de crianças se engolfam; principias de
onde para o futuro vem uma tropa de mulatinhos e crias que depois
vem a ser perniciosissimos nas familias. Sucede muitas vezes que
os mesmos senhores chamados velhos , para distinção dos filhos,
são os mesmos que com suas proprias escravas dão máus exem
plos ás suas proprias familias, motivando desgostos e talvez a mor
te a suas consortes, e tendo muitas vezes as escravas suas favorecidas
a astucia de extinguir-lhes os filhos legitimas, para ficarem mais li
vres de embaraços por morte dos senhores. Outros ha que nunca
casam, só por não poderem largar aquela arpia, a quem os meninos
vivem agarrados. Ha eclesiasticos, e não poucos, que por aquele an-
Se as brancas se vendessem
Ou por ouro ou por prata,
Compraria. uma delas,
Para servir à mulata.
E apostrofava:
O tráfico
1 . Calógeras achou uma méd i a de 55 m i l negros para as entradas anuais no período próspero do trá
fico (Formação do Brasil, p. 54, Rio, 1 93 1 ). Em 1 81 7 a Bahia recebia por ano 1 2 mil escravos (cf.
Martius, op. cit., p. 86). Antonio José Gonçalves Chaves, em 1 82 2 , calculara em 3 m i l hões a i mpor
tação de africanos (Memórias econômico-polfticas, reeditadas por J. B. Hapkemeyer, p. 39, Porto
Alegre, 1 922).
1 08 História social do Brasil
Procedência e distribuição
9. Considérations historiques et politiques sur les Républiques de la Plata, p. 288, Paris, 1 850.
1 O. Instrução pa ra o marquês de Valença, Anais da Bibl. Nac., vol . 3 1 , p. 441 .
1 1 . Ver também Capistrano de Abreu, Capítulos de história colonial, p. 1 8, Rio, 1 907.
1 2 . Visconde de Paiva Manso, op. cit., p. 1 40.
1 3 . Gabriel Soares, Roteiro . . ., p. 1 26.
1 4 . Ver Diálogos das grandezas do Brasil, ed. R. Garcia, p. 1 43 .
Espírito da sociedade colonial 1 1 1
A seleção
29. Notas dominicais, p. 1 44; Koster, Voyages, l i , 258; Martius, op. cit., p. 97.
30. Maurice Satineau, Histoire de la Guadeloupe, p. 263, passim, Paris, 1 928; Dutertre, Histoire des
Antilles, l i , 5 1 5 .
3 1 . Relation du voyage de la mer du sud . . . , Paris, 1 7 1 6.
3 2 . Ed. R. Garcia, p. 84.
1 1 4 História social do Brasil
Três tipos
36. J.-B. Debret, Voyage pittoresque, li, 1 05 . Sobre a superioridade do negro baiano, Taunay, Visitan-
tes do Brasil colonial, p. 21 7.
37. Ver Renato Mendonça, A influência africana no português do Brasil, p. 34, Rio, 1 93 3 .
38. Ver Cardim, Tratados, e d . R. Garcia, p. 2 3 7 .
39. Varnhagen, História do Brasil, 3• e d . integra l, 1 , 2 8 1 .
1 1 6 História social do Brasil
O bandei rante
O meio-índio
andar a pié, y descalzos, que como pudieran por las calles desta
Corte, caminan por aquellas tierras, y valles, sin ningun estorbo, tre
cientas y cuatrocientas leguas, sin que jamás les falte la comida, por
que saben coger el tiempo en que los pifiones están sazonados, y
los parages donde han de hacer provision. Saben las poblaciones de
los gentiles, de cujas labranzas se sustentan, y previnen para ade
lante; la miel silvestre es mucha , y la diligencia de los Tupis en bus
caria es rara; con que caminan con regalo" . "Embrenham-se até no
reino de Cumâ e nas partes do Peru . " "Só depois de muito tempo é
que chega a noticia de ser o expedicionario falecido no decurso de
sete anos, confirmam e a.firmam e juram numero de testemunhas
de experiencia que bem sabem o risco e perigo do sertão. Ou vem
uma certidão do cura beneficiado deste assiento de minas de Potosi
e sus anexos en la província de los Chichas dei Perú, ou de outro lu
gar mais remoto, a atestar a morte de um morador en el Brasil en el
togar de San Pablo, como aconteceu com Antonio Castanho . " 1 1 "Bi
chos do mato" , chamou-lhes uma vez o capitão-general das Minas
conde de Assumar12; senhores do mato, diríamos agora.
Têm a sua técnica da guerra ao índio, que os sertanistas das ou
tras regiões imitam e observam. Assim, o regimento que levou o po
voador baiano Pedro Leonino Mariz, na sua bandeira de 1 727, man
dava obedecer às "regras paulistas da campanha" , poupando aos
índios de boa fala, como tupis e tobajaras, "que costumam admitir
pombeiro" 13, e batendo os de "língua travada'' , tais aimorés, suru
quins, mongoiós . . . , que "pela frase dos paulistas é dar albarrada'' ,
ou acometer de imprevisto e arrasadoramente, depois de os terem
seguros por se aproximarem de rastos, "sem tosse nem espir
ros . . . " 14 • Copiam os índios, o sistema de plantar as roças nas suas
estações de repouso, pedindo assim à terra nova a mandioca, o mi
lho, a batata, o fumo, das futuras jornadas . O primeiro cuidado de
Fernão Dias, ao entrar o Sabarabuçu , foi mandar que Matias Cardo
so fizesse as suas roças no vale do rio das Velhas . O primeiro arraial
das Minas se chamou de "roça grande"15• A "bandeira" tomava, por
Conquistadores
O pastoreio
A fazenda de criar
O sertanejo
pal alimento nesta terra'' , que a roça próxima, lavrada em terra vir
gem, ou "capoeira " , dava-lhe com abundância . Para obter aquela
farinha queimava e destruía os matos à volta, numa incessante con
quista de chãos novos. Onde colhera, não mais plantava29• Primaria
mente nômade, avançava, devastando, com a sua pequena roça de
mandioca : sacrificava-lhe uma floresta inteira . Alguns punhados de
farinha de pau representavam o incêndio de uma selva majestosa;
grande elaborador de "capoeiras" , o sertanejo era, inevitavelmente,
um algoz da natureza que tão fartamente o recompensava : "todo o
sistema da agricultura brasileira parte da destruição das florestas, e
onde não há matas não há cultura"3º. O tupi fora assim31• O homem
do sertão, entretanto, não o imitava apenas na sua atividade desor
denada . la para o campo à moda dele, em "caminho da roça", for
mando os lavradores uma silenciosa coluna com as mulheres ao
centro, por mais defendidas . Ao jeito do índio assinalava a passa
gem quebrando galhos, golpeando troncos 32• Sentavam-se, comiam,
dormiam, edificavam as casas de taipa, navegavam nas canoas monó
xilas, como o índio. O gosto dos descantes à viola, dos "desafios" en
tre cantadores, glosando mutuamente as consoantes da trova, da no
velística popular, feita de vanglória e lirismo, são ainda indígenas 33•
Tal o desprezo da acumulação, que já vira Lery no Brasil, a pobre
za indiferente, a imprevidência, trabalhando apenas para o prato,
segundo Acufia, confirmado por Martius: "Atribue-se, talvez com ra
zão, a visível preguiça e a rusticidade dos habitantes á circunstancia
de serem eles em grande parte 'tapuiada' , isto é, de procedencia in
dígena . " Equilibravam-se, porém, aqueles vícios, com o instinto de
independência, o isolamento desconfiado, o amor ciumento da terra,
que tornavam povoador precioso o sertanejo, desinteressado do co-
29. " . . . E como os tabacos se lavram sempre em terras fortes e novas e muito distante das aldeias . . . "
(Vieira, Cartas, I, 1 1 3). Ver frei Vicente do Salvador, História do Brasil, 3" ed., p. 57.
30. Saint- H i l a i re, Voyage dans /e provinces d e Rio d e Janeiro et Minas Geraes, 1, 1 93 . Ver também Eu
cl ides da Cun ha, Contrastes e confrontos. Os engen hos de açúcar concorreram para o desfloresta
mento do 1 itoral, outrora rico de grandes matas. "Cedo se ha de ver que por fa lta das lenhas junto
ao mar hão de ir os engen hos traz delas ao sertão como em Pernambuco . . . " (Descrição, Anais do
Museu Paulista, IV, 780).
3 1 . O primeiro estudo sobre o estado social dos índios na sua relação com as condições geofísicas fez
Alexandre Rodrigues Ferreira, no fim do sécu lo XVI I I . Ver Capistrano de Abreu, Ensaios e estudos,
p. 65, Rio, 1 93 2 . De Capistrano, leia-se também O descobrimento do Brasil, p. 250, ed. da Soe.
Capistrano de Abreu, 1 929.
3 2 . Alexandre Rod rigues Ferreira, ver Revista Nacional d e Educação, p. 9, 1 934.
3 3 . Cardim, Tratados . . . , p. 308.
1 2 8 História social do Brasil
Os caminhos pastoris
1 . Varnhagen, Hist. geral do Brasil, 3• ed., Ili, 4 1 1 . O rendi mento da lavoura açucareira ao tempo de
Anton i l era de 2 . 5 3 5 : 1 42$800. O fumo dava 3 34:650$000. A exportação de couros andava em
2 0 1 : 800$000.
1 3 2 História social do Brasil
2. Francisco de Brito Frei re, Hist. da guerra brasf/ica, p. 406, Li sboa, 1 675.
3. Ver P. Calmon, A conquista, p. 1 75 e ss., Rio, 1 929.
4. André João Anton i l , Cultura e opulência do Brasil, Li sboa, 1 7 1 1 , pp. 1 84-5.
5. Carta de 8-1 1 - 1 7 1 8, Revista do Arquivo Público Mineiro, ano XXIV, li, 502.
6. Rev. do Arq. Públ. Mineiro, ano XXIV, li, 5 1 9.
7. Índex de várias notícias pertencentes ao Estado do Brasil, e do que nele obrou o Exmo. Sr. Conde
de Sabugosa, ms. codice no I nstituto H i stórico, n• 346, i nédito.
Espírito da sociedade colonial 1 3 3
Ouro e diamantes
8. A passagem das Minas para a Bahia, pelo S. Francisco, já preocupava, em 1 672, o governo-geral
( Documentos históricos, VI, 22).
9. Anton i l , Cultura e opulência do Brasil . . . , ed . Taunay, pp. 2 1 5-6. Pedro Calmon, A conquista, histó
ria das bandeiras baianas, p. 1 2 7, Rio, 1 929. Em 1 732, os diamantes concentravam no Tijuco 40
m i l pessoas ( Rodrigo Octavio, Felisberto Caldeira, p. 73, Rio, 1 92 1 ). Vi la Rica chegou a ter 80 m i l
habitantes.
1 34 História social do Brasil
gosa : "As minas foram a total perdição do Brasil e a falta delas hoje
será a sua ultima ruína . . . "
A coxilha e a estância
A era do algodão
1 1 . " . . . E mais agora mando fazer algodoais, para mandar lá mu ito algodão, para que mandem panos,
de que se vistam os meni nos, e não será necessario que o Colegio de Coimbra cá nos ajude senão
com orações, antes de cá lhe sermos bons em alguma cousa" (Nóbrega, Cartas do Brasil, p. 1 30,
ed . da Acad. Bras.). Os próprios padres, por humi ldade, usaram roupetas de algodão ti ngidas ao
jeito indígena, e que, perdendo a cor, "já parecia vermel ha" (Pe. Manuel Fonseca, Vida do ven.
Pe. Belchior de Pontes, ed. cit., p. 3 7) . Segundo Nordenskiold, foram os tupis-guaranis os propa
gadores na América da cu ltura algodoeira (ver A. Métraux, la civi/isation matériel/e des tribus
tupi-guarani, p. 62, Paris, 1 928).
Espírito da sociedade colonial 1 3 7
O café
1 2 . Como o algodão sobrepujara o açúcar em Pernambuco, ver O l i veira L i ma, notas à Hist. da revo
lução de 1 8 1 7, p. 1 3, Recife, 1 9 1 7. O fenômeno se repetiu com a guerra americana de secessão.
Ver Alfredo de Carval ho, Estudos pernambucanos, p. 349.
1 3 8 História social do Brasil
Correntes negras
Norte e Sul
Outros rumos
A organização
1 3 . O governo
O Estado e o colono
aos colonos o modelo da vida tropical - com a sua cerca, os seus ar
mazéns e paços, as suas igrejas e roças, as suas autoridades e ar
mas, para que, sem mais ajuda do seu rei, endividado em conse
qüência das guerras da Ásia e da concorrência das outras nações
marítimas, construíssem pela costa2 as "feitorias" . Que . . . "toda esta
reputação e estima do Brasil se acabou com el-rei D. João . . . " Vol
tou Portugal a socorrer o Brasil quando frotas francesas, inglesas e
flamengas o investiram. O homem que imigrara trabalhou, misturou
com índios e africanos a sua raça, prosperou , transformou-se, utilizan
do os seus dotes de adaptação, de audácia, de inteligência. O Estado
não o auxiliou senão por omissão - acoroçoando-lhe as empresas
econômicas com as isenções fiscais ou com os prêmios nobiliárqui
cos - e, com egoísmo, para afastar o competidor alienígena. Portugal
mandou-lhe o chefe militar, a justiça togada, a instituição municipal,
um bispo e os seus padres, missionários e arrecadadores das ren
das públicas - deixando que o colono realizasse, de acordo com a
própria inspiração, plasmado pelo meio, reagindo sobre o meio, mo
dificado pelo contato dos povos submetidos, os seus tipos originais
de economia e sociedade .
Mem de Sá veio expulsar os franceses . "O tempo que lhe vaga
va da terra - informa frei Vicente do Salvador - gastava o bom go
vernador na administração da justiça", que "a trazia ele particular
mente a cargo por uma provisão dei-rei, em que mandava que nem
uma ação nova se tomasse sem sua licença. O que mandou el-rei
por ser informado das muitas usuras, que já em aquele tempo come
tiam os mercadores no que vendiam fiado . . . E assim cessaram as
demandas, de modo que, fazendo o doutor Pedro Borges, ouvidor
geral, uma vez audiência, não houve parte alguma requerente, do que
levantando as mãos ao céu deu graças a Deus . " 3 Já no III século,
"tantas peias tinham os governadores pela lei, que acaso algumas
vezes não poderiam eles ter a necessaria autoridade para governar
na distancia a que se achavam da metropole, se as tendencias natu
rais do instinto de conservação e de mando lhes não fizessem pro
pender para o arbitrio . . " 4 .
6. "Foi o B ras i l um caudal i nexhau rível . . . Havia as frotas abarrotadas de ouro. As que vieram do
Rio e da Bala em 1 764 trouxeram para os cofres do estado 1 5 m i l hões e 1 /2 de cruzados, 220 ar
robas de ouro em pó e fol hetas, 437 a rrobas de ouro em barra, 48 a rrobas de ouro l avrado, 8.871
marcos de prata, 42 .803 peças de 6$400, 3 .036 oitavas e 5 q u i l ates de diamantes etc." (Cam i l o
Castelo B ranco, Perfil d o marquês de Pombal, p p . 2 74-5, Porto, 1 900). "A riqueza pub l i ca, dis
pendida á doida em construções faraonicas de igrejas e conventos, era o produto casual das mi
nas de ouro do B ras i l . . . " (Teófi lo B raga, Os árcades, p. 9, Porto, 1 9 1 8) . Segundo lorde Anson, a
Europa recebia anualmente 2 m i l hões esterl inos em ouro do Bras i l (Montesqu ieu, L'espirit des
fois, p. 348, nota).
7. Ver Anton io José Gonçalves Chaves, Memórias econômico-políticas, 1 822, reeditadas por J. B.
H aphemayer, pp. 4 e 1 O, Porto Alegre, 1 92 2 .
8 . História do Brasil, 3' e d . , p. 3 4 9 ; Diálogos das grandezas, p. 1 29, passim.
9. Ver Taunay, São Paulo nos primeiros anos, p. 5 .
" N ada houve q u e n o s l ivros da Câmara fizesse refletir um pouco do catacl i smo em que desapare
ceu a nacional idade l usitana."
1 O. Cartas, li, 226.
Espírito da sociedade colonial 1 49
A autonomia local
1 1 . O sistema de companh ias cessionárias não é originariamente holandês. Portugal, ao l i m iar da de
cadência do seu i mpério asiático, transferiu o comércio do Oriente a várias compan h ias que ar
mavam frotas e faziam o escambo (Fidelino de Figueiredo, Estudos de história americana, p. 38,
São Paulo).
1 2 . Foi o perigo indígena o principal motivo da u n i ão das famíl ias de i m igrantes . . . (ver conde de Ca
barrus, Cartas, pp. 1 3-4, Madri, 1 922).
1 50 História social do Brasil
As obras públicas
24. Em nota acrescenta o viajante:"Je n'ai vu au B rés i l que des ponts de peu d'étendue" ( Voyage dans
les provinces de Rio de Janeiro et Minas Geraes, 1, 61 ).
2 5 . Taunay, Anais do Museu Paulista, V, 94.
26. Pau lo Prado, Paulfstica, p. 1 2, nota. "Nos rios sem pontes, e nos lugares pantanosos, eram as car
gas baldeadas nas proprias costas dos tropei ros . . . " (Spencer Vampré, Memórias para a hist. da
academia de 5. Paulo, 1, 55, São Pau lo, 1 924).
27. Cf. capítu lo XI da nossa História da civilização brasileira.
28. Cartas econômico-políticas, pp. 49-50.
29. Vieira, Cartas, li, 228.
1 54 História social do Brasil
Comunicações
As balizas
Perigo externo
5 . Ver Denunciações da Bahia, ed . Capistrano, pp. 7 1 , 9 1 , 1 23 etc. A dois franceses presos no Rio de
Janeiro poupara a vida Tomé de Sousa, empregando-os nos seus ofícios de intérprete e ferreiro (Var
nhagen, Hist. geral, 3• ed ., I, 3 1 1 ).
&pírito da sociedade colonial 1 6 1
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Rua comercial do Recife em meados do século XIX. A cidade-rica. Choque de costumes coloniais e
europeus. Lit. de Carlos Perns. (Desenho de Z. Schlappriz.)
Espírito da sociedade colonial 1 63
1 O. Mawe, Voyages dans l'intérieur du Brésil, 1, 1 39, Paris, 1 8 1 6. O viajante John Luccock encontrou
um sertanejo, de Mato Grosso, convencido de que além de portugueses e espanhóis só havia no
mundo gentios . . . No Rio de Janeiro, quando se revoltaram, em 1 828, os dois batalhões alemães,
"pretos e pardos se salientaram, atacando a páu e a faca a todos os estrangei ros que encontravam"
(Ca lógeras, A polftica exterior do Império, li, 5 1 9, Rio, 1 928). Sobre o ódio aos franceses, Taunay,
Visitantes do Brasil colonial, p. 1 p 1 .
1 5 . O sentimento nacional
O nativismo.
O nativismo
1 5 . Nas colôn ias espanholas, v. g., houve, até 1 8 1 1 , 702 bispos espanhóis e 278 americanos, 1 66
vice-reis espanhóis e 4 americanos, 5 5 8 capitães-genera i s espanhóis e 1 4 americanos (C. Parra
Perez, E/ régimen espanol en Venezuela, Madri, 1 9 32).
1 6 . Cartas, l i , 2 3 8 .
1 7 . R. Garcia e O l iveira L i ma; ver nota à Hist. geral do Brasil, de Varn hagen, 31 ed ., I l i , 3 9 4 .
Espírito da sociedade colonial 1 69
1 8 . Em viagem às paragens h i stóricas de M i nas, Gustavo Barroso chamou a nossa atenção para o
fato, i nvariável, de serem calçadas as imagens de S. José em todas as igrejas montanhesas, o que
não encontramos em outras regiões do Bras i l . Cremos expl icar essa singularidade com a obser
vação de Saint- H i l a i re, relativamente ao orgu lho "emboaba" das botas . . . (Saint-H i l a i re, Viagem
ao Paraná, p. 1 66).
1 70 História social do Brasil
Maroto pé de chumbo
Calcanhar defrigideira
Quem te deu o direito
De casar com brasileira? 20
2 3 . Cit. de M. Bhering, Anais da Bibl. Nac., vol . 43, p. XXX I . Compare-se com a observação de J. E.
Rodo, Montalvo, Cinco ensayos, 33, Madri, relativamente à América espanhola. "La muchedum
bre indígena quedó por bajo de l a idea . . . "
1 6 . F i m da era colon ial
A u rbanização
8. Em 1 759, a popu l ação da cidade da Bahia era de 40.263 habitantes, e a do recôncavo, de 62.833
(Instrução para o marquês de Valença, 1 779, Anais da Bibl. Nac., vol. 3 1 ) .
1 7 6 História social do Brasil
Sociabi l idade
A língua atada
Colônia inglesa
Tolerância
2 3 . Sierra y Mariscai, Idéias gerais sobre a revolução do B ras i l , Anais da Bibf. Nac., vol . 43, p. 5 6 .
24. Ver Alfredo de Carvalho, Estudos pernambucanos, p. 1 47.
1 82 História social do Brasil
2 5 . Fugindo o assu nto ao roteiro deste l ivro, não é demais que lhe dediquemos uma referência. No
jogo das i nfluências estrangei ras, a americana se entremostra em 1 789, por ocasião da I nconfi
dência de Mi nas. Mas a conj u ração d ita dos alfaiates, na Bahia, em 1 798, acusa o alvoroço pro
duzido pelas leituras francesas, envelhecidas de ci nco anos. A conspiração de 1 80 1 , descoberta
em Pernambuco, denunciava a mesma contemplação. O governo português fazi a persegu i r os
"franceses" - nome que dava aos leitores de l ivros e jornais de França - e com eles confundia os
maçons. A transmigração da família real estabelece a moda britânica. Como, nos concelhos da
coroa, prevalecera a corrente anglófi la ( L i n hares) contra a francófi la (Barca), na vida social do
B rasi l o i nfluxo i nglês se sobrepôs ao gau lês. A Missão F rancesa marcou o rei nício da domi nação
espiritual de Paris. D. Pedro 1 fez uma monarquia copiada à de N apoleão. Porém, os deputados
constitu i ntes e o conselho de Estado que elaborou a primeira Constituição do país conheciam as
principais obras referentes à I ndependência e organização dos Estados U n i dos. O parlamento bra
s i l e i ro participou, durante todo o regime monárquico, das duas atrações, do método inglês e da l i
teratura francesa. A s nossas crises pol íticas guardaram c o m as de França um isocronismo cu rioso:
1 830, 1 832 , 1 848, 1 870, 1 884, 1 889. O esqueci mento das fontes norte-americanas da formação
pol ítica era quase total ao proclamar-se a República no ano-centenário da Revolução francesa. O
que se sabia da pol ítica não francesa provinha dos mesmos l ivros franceses . . . Tobias Barreto notou:
" . . . chegamos ao estado lastimavel de não admitir outras idéias, não imaginar mesmo que exis
tam, senão as que importamos de Paris" (Ensaios e estudos de philosophia e critica, 2• ed ., p. 94).
Espírito da sociedade colonial 1 8 3
A independência
26. " N o Bras i l , a independencia na ordem dos fatos econom icos, foi precursôra da pol itico-admin is
trativa", disse um mestre (Góes Calmon, Vida econômico-financeira da Bahia, p. 4, Bahia, 1 92 5 ) .
1 84 História social do Brasil
O espírito
(Paisagem emboaba)
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Espírito da sociedade colonial 1 9 1
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F.spírito da sociedade colonial 1 9 9
1 . Potosi, situada numa altitude quase i nabitável, disse E l i sée Reclus, chegou a abrigar 1 60 mil pes
soas, maior popu lação que a de Madri. . .
2 . Duguay-Trouin, Mémoires, p . 1 65 , Amsterdam, 1 75 6 .
Espírito da sociedade colonial 2 0 7
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Arquitetura luso-oriental. Diamantina. Meados do século XVIII. Rua sem influências brasileiras.
Civilização "emboaba". (Desenho de A. Norfini. Col. do Museu Histórico.)
Espírito da sociedade colonial 2 1 3
* *
* *
1 . Já em 1 583, diz o padre Fernão Cardim, uma índia oferecera a Anchieta "uma porcelana da lndia
cheia de queijad i nhas d'açucar . . . " ( Trat. da terra e gente do Brasil, ed. R. Garcia, p. 298).
Espírito da sociedade colonial 2 1 5
1 . A Sé da Bah ia, i ndescu lpavel mente demol ida em 1 93 3 , em holocausto a um u rbanismo de emer
gência, é várias vezes c itada neste l ivro, devido aos estudos que a respeito da sua arte col igiu o au
tor em 1 92 7-29.
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Urbanismo colonial. Trecho de Ouro Preto, valorizado pela fonte barroca. A casa nobre de Marília.
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Fim do século XVIII. Civilização " emboaba " . (Desenho de A. Norfini. Col . do Museu Histórico.) '°
2 2 0 História social do Brasil
2. Ver L. G . de La Barb i n nais, Nouveau voyage autour du monde, I l i , 1 8 1 , Paris, 1 72 3 . A carta régi a
de 4 de outubro de 1 650, ms. na B iblioteca Nacional, inéd ita, trata d o s navios que traziam lastro
de pedra grossa para as obras do Forte do Mar.
3. Também Froger, 1 695, cf. Taunay, Na Bahia colonial cit., p. 2 9 1 . O viajante Coréal observou: " N ão
vi l ugar onde o cristian ismo se apresente mais pomposo do que nesta cidade, seja quanto á rique
za e multidão de igrejas, dos conventos e rel i giosos, ou quanto á feição devota dos fidalgos . . . "
(Taunay, op. cit., p. 2 72).
Espírito da sociedade colonial 2 2 1
4. Viu François de Pyrard, em 1 6 1 O, " . . . une três bel le égl ise cathedrale au Assée ou y a doyen & cha
noi nes . . . " ( Voyage cit., p. 539). Consideremos: " É maior o gasto que se faz em fretes dos materiaes
empregados na construção das casas que o seu custo" (Rodrigues de Brito, Cartas econômico-polí
ticas, p. 5 1 ) .
222 História social do Brasil
5 . Torna-se necessário fixar o insti nto de descobrimento do bandei rante e a sua velha suposição de
que o Sabarabuçu fosse a encantada região dos tesouros. Em 1 643 (meio século antes dos "desco
bertos" das Gerais) fora Manoel Homem Albernaz nomeado capitão do descobrimento da prata da
serra do Sabarabuçu. Faleceu em 1 6 53 (Anais da Bibl. Nac., does. do Arq. U ltram., vai . 39, doe.
802). Também em 1 643 fora designado para aquele descobrimento o capitão Gaspar de Souza
U l hôa (Anais cit., doe. 798). Dissera Pedro de Souza Perei ra, em carta de 20 de maio de 1 65 3 , que
Anton io N u nes Pinto trouxera pedras de prata, do Sabarabuçu, provavelmente (Anais cit., doe.
1 839). Era que ficava Sabarabuçu - e Taba iana - no paralelo de Potosi, segundo a informação de
Sebastião Cardoso de Sampaio ao Conselho U ltramarino (Anais da Bibl. Nac., vai . 39, doe. 1 838).
2 2 . Reino da flora
gras, por trás das quais espiavam mulheres reclusas . . . Não foi o ho
mem que estendeu a cidade; mas o ouro que a orientou . Os quin
tais abraçavam avidamente, com a muralha de pedra seca, as lavras
de serra acima . Diz-se que a matriz do Pilar jaz sobre uma mina e
que a igreja do Rosário esconde outra . Mansões havia que suspen
diam sobre o "sarilho" das jazidas os seus jardins altos, podendo o
mineiro vigiar, entre as camélias e as árvores de fruto, que lhe som
breavam o banco de cantaria, o trabalho bruto dos negros na mina
da sua horta. O arraial de Pascoal da Silva derramava-se pela que
brada de Ouro Podre onde o metal luzia nos grotões, rolava nas en
xurradas, aflorava, grosso e freqüente, como se chovido do sol loiro.
Foi o monte mais escavado e revolvido da terra das Minas . Hoje é
o seu mais trágico recanto. Entre os escombros do morro da Quei
mada e Ouro Preto, dois bairros ligados por uma estrada alpestre,
onde a rua dos Paulistas, a ponte de Marília e o Vira-Saia se encon
traram na mesma tranqüilidade de vale verde e calado - o contras
te é sobretudo lúgubre.
Sai-se da vida bruxuleante para a morte decomposta .
O arraial de Pascoal da Silva é o cadáver de uma povoação cuja
ossatura pulverulenta se contorce ao sol; aí reina, com o mato lô
brego das ruínas, a paz dos túmulos . A rua que atravessamos, para
alcançar a capela do padre Faria através de Ouro Podre, é uma ave
nida de necrópole. Os pilares desaprumados, as frontarias a meio
demolidas, paredões enlaçados de vegetação, restos de jardins que
descem, lineares e imundos, até a estrada, algum sobrado fidalgo,
sem telhado, as vastas paredes fendidas, arbustos debruçados dos
balcões senhoris como hóspedes fantásticos, que se extasiassem na
destruição, acompanham longamente o viajante. Há uma nota clara
e úmida, entre essa desolação: é a fonte das águas férreas que o go
vernador Ataíde levantou , em 1 806. Debaixo do tapete de relva a
velha calçada soa: aquilo foi caminho nobre, e os bispos de Maria
na, nas suas andas vermelhas, ao trote das mulas brancas xaireladas
de ouro, por ali entravam em Vila Rica . Há cem anos o arraial mor
reu ; e inda os muros gretados e limosos se erguem, balizando-o até
os alicerces negros das casas do potentado, incendiadas em 1720. A
luta, entre o que o homem solidamente fez e a natureza faminta, pro
longa-se por um quilômetro de destroços . É uma vila que está sen
do digerida. Porque foi a capital do ouro maldito. Seguramente qui-
Espírito da sociedade colonial 2 2 7
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SOARES (Glhriel) - R•lti•o do Bruil, ad. Vamhqen.
SOUTHEY - Hiltorio io a,,.,.1.
STUDART - Nolll.J '°"" • HiJtorill do C.....i; '-11bm, llW'l
STADEN (8-) - llioor11• "" B>wi/, ed. da llimdtmia.
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