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A.L.

JACKSON
A.L. JACKSON

Distribuição: Eva

Tradução: Equipe Sweet Club Book’s

Revisão: Nádia Santos, Lissa

Leitura Final: Michele P.

Formatação: Eva
A.L. JACKSON

Existem alguns erros que cometemos que vamos


nos arrepender pelo resto de nossas vidas. Para
Christian Davison, foi o dia em que ele traiu Elizabeth
Ayers.

Durante cinco anos, Christian lamentou o dia em


que se afastou de sua família e fará de tudo para
reconquistá-la.

Elizabeth pode perdoar alguém que tenha


cometido o imperdoável? Ou existem algumas feridas
que são tão profundas que nunca vão curar?
A.L. JACKSON

"Christian, deixe-me ir." Elizabeth se esforçou para


desembaraçar-se dos braços em volta de sua cintura. Christian apertou
seu abraço. Ela riu e empurrou contra seu peito.

Suas palavras vieram abafadas na curva do seu pescoço, onde


ele pressionou a boca contra sua pele suave. "Não, fique."

"Eu gostaria de poder, mas eu tenho que ir para a aula." Ela se


afastou, os olhos castanho-dourados sorrindo para os azuis intensos
dele.

Ele fingiu fazer beicinho, mas soltou seu aperto, permitindo-a


rolar para longe dele. Um sorriso puxou sua boca quando ele se virou
para deitar de bruços, observando como Elizabeth se vestia com a luz
da noite irradiando através das cortinas da janela de seu quarto. Ela
inclinou-se para puxar a calça jeans em suas longas e tonificadas
pernas. Mechas de cabelo loiro escuro cascateavam em ondas
desarrumadas por cima do ombro, obstruindo seu pequeno rosto, em
forma de coração, embora cada linha, covinha e curva tinham sido
gravadas em sua mente. Tudo sobre ela o fazia pensar em mel, o tom
de mel de seus olhos, a sua pele beijada pelo sol, a doçura de sua boca.

Ele sabia no momento em que a conheceu, que eles eram


perfeitos um para o outro. Eles foram emparelhados em um grupo de
estudos há quatro anos, durante o seu primeiro ano na Universidade
Columbia. Quando ele entrou pela porta do pequeno café e a viu pela
primeira vez, ela tinha roubado seu fôlego. Então, quando ele se sentou
e conversou com ela, ele descobriu que ela não era apenas bonita, mas
uma das pessoas mais inteligentes e compassivas que ele já conheceu.
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Como Christian, Elizabeth queria ser uma advogada, embora por


razões completamente diferentes. Enquanto ele planejava se tornar um
advogado imobiliário, para que, um dia, pudesse ser um parceiro na
firma de advocacia de seu pai, Elizabeth estava entrando em direito de
família, com foco em direitos das crianças. Ela não estava nisso pelo
dinheiro. Ela pensou que era a melhor maneira de se tornar uma
defensora para aqueles que não podiam se proteger.

A paixão que saiu da boca de Elizabeth no primeiro dia tinha


feito Christian se questionar sobre o que acreditava e para o que ele
vivia. Mesmo assim, ele tinha certeza que ela faria dele uma pessoa
melhor. O que Christian considerava mais atraente era a forma
descontraída que ela era com ele. Muitas das meninas que conheceu
quando ele veio para Nova York eram sufocantes e chatas ou estavam
interessadas apenas em festejar a custa de seus pais ricos.

Mas não Elizabeth. Ela estava firme na escola e comprometida


com o futuro, mas ela ainda tinha tempo para desfrutar todos os dias
de sua vida, algo que Christian teve dificuldade em encontrar um
equilíbrio. Ele sempre foi empurrado por seu pai para fazer o melhor,
para ser o melhor e, de alguma forma, ele se perdeu ao longo do
caminho. Ele se tornou arrogante, pretensioso e completamente
envolvido em si mesmo. Elizabeth tinha desafiado sua atitude egoísta
desde o início. Christian não estava acostumado que lhe dissessem
‘não’, mas, de alguma forma, seus encantos típicos não tiveram efeito
sobre ela.

Elizabeth nunca foi uma pessoa de coisas frívolas, um caso com


um rapaz bonito de cabelos pretos e olhos azuis inclusos. Quando ela
conheceu Christian, era claro o que ele estava procurando, e Elizabeth
nunca se permitiu ser tão descuidada com suas afeições. Mas,
conforme o semestre foi progredindo e as suas sessões de estudo foram
desenvolvendo com conversas bem diferentes dos tópicos de suas
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aulas, ela descobriu mais nele do que o garoto de fraternidade, como


inicialmente havia pensado que ele fosse. Ela tinha encontrado, quando
cavou mais fundo em seu passado e rompeu sua fachada egoísta, um
rapaz de boa índole que tinha sido emocionalmente prejudicado pelas
pressões impostas por seus pais elitistas.

Então, quando ele a convidou para sair novamente quatro meses


após sua primeira reunião, ela tinha cedido. Em seguida, ela percebeu
que já estava incrivelmente apaixonada por um menino que era
perigosamente parecido ao tipo de homem que ela jurou que nunca iria
permitir ter o controle de seu coração.

Eles eram inseparáveis desde então, passando juntos todos os


momentos livres de suas apertadas agendas. Christian pediu-lhe
muitas vezes para morar com ele e, enquanto ela achava incrivelmente
convidativa a ideia de acordar ao lado dele todas as manhãs, Elizabeth
sempre recusou tranquilamente, comprometida com a imagem que ela
tinha pintado em sua mente desde a infância. Era a imagem de uma
casa nova com um novo marido, um lugar onde ela se tornaria mãe e
ele se tornaria pai, embora agora ela achasse essa imagem distorcida.

Elizabeth olhou por cima do ombro, para Christian, enquanto se


preparava para sair, e uma onda de culpa caiu sobre ela por manter
isso dele por tanto tempo. Ela sabia por uma semana. Todos os dias
ela pretendia dizer-lhe, mas cada vez que abriu a boca, as palavras
simplesmente não saiam. Mesmo com o progresso que o vira fazer,
crescendo do adolescente egoísta que ela conheceu em seu primeiro
ano na Universidade de Columbia, para o homem de bom coração que
ela conhecia agora, ele ainda tinha sua vida traçada, um plano que
pretendia seguir, e ela não tinha certeza de como ele lidaria com esta
notícia. Ela não estava preocupada com seu relacionamento. Sentia-se
confiante no seu compromisso mútuo. Eles eram sólidos. O que a
preocupava era o quanto de estresse isto colocaria sobre ele. Isso não
era exatamente o que ela esperava de seu último ano de graduação
antes de entrar na escola de direito também. Elizabeth simplesmente
acreditava que ela era melhor em aceitar o que a vida jogava em seu
caminho.
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Agarrando sua mochila, ela atirou-a por cima do ombro e se


inclinou para colocar um beijo rápido na boca de Christian. "Tchau.
Vejo você amanhã."

Ele retornou seu beijo, demorando um pouco mais do que ela


tinha. "Vou sentir sua falta."

"Saudades de você também."

Elizabeth se virou e saiu do pequeno apartamento do terceiro


andar de Christian. A cada passo, os pés ficavam mais pesados,
enquanto se perguntava sobre a melhor maneira de dizer a ele. No
momento em que chegou ao último conjunto de escadas que levavam
para o andar térreo, ela se convenceu de que só precisava dizer. Ela
virou-se e correu de volta até as escadas. Ela tinha uma chave, mas,
por alguma razão, sentiu a necessidade de bater. Bateu com força na
sua porta.

Alongando, Christian bocejou e sentou-se ao lado da cama,


decidindo que seria melhor estudar, já que ele passou a maior parte do
dia na cama com Elizabeth. Não que ele considerava um desperdício de
tempo. Quando alguém bateu à sua porta, ele rapidamente puxou o
jeans do chão e passou a mão pelo seu espesso cabelo preto, sem ter
ideia do que o esperava do outro lado da porta.

Espiando através do olho mágico, ele avistou Elizabeth. Ele


estava confuso — não pela presença dela, mas pelo fato de que ela
estava fora de sua porta, pedindo permissão para entrar. Ele abriu a
porta e franziu a testa. "Elizabeth, o que você está fazendo?"

"Eu preciso falar com você." A ansiedade distinta atada através


das palavras o deixou com medo, e ele puxou-a para dentro, fechando
a porta atrás deles.
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"O que há de errado?" Obviamente, havia algo de errado, ou ela


não estaria parada em seu apartamento, olhando para os pés com os
braços rígidos presos sobre o peito.

"Estou grávida."

Christian ficou tenso ao ouvir suas palavras sussurradas,


lutando para decifrá-las — ele tinha certeza que ela não tinha acabado
de dizer o que ele pensava que ela disse.

Ficou evidente, porém, que ele não estava enganado quando ela
finalmente trouxe seu olhar para ele, com os olhos lacrimejantes e com
medo. Suas mãos começaram a tremer, e ele passou-as nervosamente
pelo seu cabelo mais uma vez, enquanto se permitiu realmente ouvi-la.

Um bebê? Isso iria arruinar tudo — tudo pelo qual ele tinha
trabalhado, tudo pelo qual ela tinha trabalhado, e cada plano que eles
já tinham feito. Seu peito se apertou, e, pela primeira vez em sua vida,
ele sentiu como se pudesse ter um ataque de pânico. Parte dele queria
exigir saber como ela poderia ter sido tão descuidada, antes que o lado
racional dele o fez aceitar que o que tinha acontecido era tanto culpa
dele como era dela. Era o lado racional que a viu tremer e quis confortá-
la, para lhe dizer que estaria tudo bem.

Era o mesmo lado que ele disse para não entrar em pânico e eles
tinham opções. Isso não tinha que ser um grande negócio.

"Hey," ele disse suavemente, quando deu um passo em frente


para envolver seus braços em torno dela. Ele passou a mão através de
seu longo cabelo para acalmá-la. Seu rosto pressionado em seu peito
enquanto ela lançou um suspiro audível de alívio com seu toque. "Está
tudo bem", ele sussurrou calmamente para o lado de sua cabeça. "Nós
vamos cuidar disso."

Elizabeth recuou como se tivesse sido golpeada e olhou seu rosto.

"Christian, você realmente não espera que eu faça isso, não é?"
Ela perguntou incrédula.

Por mais que Christian amasse Elizabeth, pensava às vezes que


ela simplesmente não conseguia ver direito através de sua mente
idealista. É claro que eles falaram sobre suas crenças antes e ele
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conhecia seu ponto de vista, mas isso foi antes que eles fossem jogados
na situação. Isso mudou as coisas. Ele estava convencido de que era a
única maneira.

"Elizabeth... Você tem que fazer."

Elizabeth balançou a cabeça, parecendo lutar contra as


lágrimas. Ela deu dois passos para longe dele. "Eu estou tendo esse
bebê, Christian."

"Pense nisso, Elizabeth." Suas palavras saíram mais duras do


que pretendia, e Christian, de repente, percebeu o quão zangado estava
por ela já ter tomado uma decisão sem ele. "Como você espera ir à
faculdade de direito e ter um bebê? Você já pensou nisso?" Ela tinha
que ver o quão impossível à situação era.

Elizabeth parecia confusa, como se não conseguisse entender o


que ele estava tentando dizer e gaguejou, "Eu... Eu não sei. Nós...
Vamos descobrir isso."

Christian fechou os olhos e se afastou dela quando ela começou


a chorar. Ele tentou refrear seu temperamento, embora ele realmente
quisesse gritar com ela e dizer quão estúpida e irracional ela estava
sendo. Isso iria arruinar a vida deles — a vida dele. Um pouco
inconscientemente, Christian encontrou-se tendo pensamentos de que
ele tinha trabalhado tão duro para se superar, pensamentos de si
mesmo, o que ele precisava e que ele queria. De repente, ele não viu a
menina ferida na frente dele, a garota que ele amava, a garota que ele
tinha a intenção de passar o resto de sua vida.

Viu alguém de pé em seu caminho.

Ele virou-se rapidamente e nivelou os olhos a ela, seu rosto duro


enquanto palavras manipuladoras saíram de sua boca, antes que ele
pudesse realmente pensar nos seus significados. "Sou eu ou o bebê,
Elizabeth. Você não pode ter nós dois."

Ela engoliu profundamente e assentiu com a cabeça, enquanto


visivelmente aceitou o ultimato que Christian tinha colocado diante
dela. Afinal, Christian sabia que havia realmente uma decisão a se
tomar.
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"Adeus, Christian." Pela segunda vez naquele dia, ele teve que
trabalhar para dar sentido ao que Elizabeth tinha dito.

Passando por ele, ela estendeu a mão para virar a maçaneta.

"Elizabeth." Ela parou quando ele chamou seu nome. Por trás,
Christian observou a ascensão e queda de suas respirações irregulares,
chocada com as palavras sem coração que ele cuspiu em suas costas.
"Volte quando você mudar de ideia."

Ela balançou a cabeça quando abriu a porta e bateu-a fechada


atrás dela.

Christian olhou para a porta fechada, dividido entre correr atrás


dela ou esperar por seu retorno. Mas se ele fosse atrás dela agora, ele
sabia que isso significava que um deles iria ceder, e não ia ser ele.

Duas horas mais tarde, Christian sentou em sua mesa,


estudando políticas de médio prazo, o tempo todo atento ao som de
passos fora de sua porta que ele tinha certeza de que iria ouvir. Ele
focou sua atenção no pesado livro diante dele, tentando ignorar a
crescente ansiedade que sentia cada vez que pegava seu telefone
celular para verificar se tinha perdido alguma mensagem.

Nenhuma veio.

Era bem depois da meia-noite, quando ele se arrastou para a


cama, convencido de que ela só precisava de algum tempo para
perceber que ele estava certo. Ele tinha que estar certo. Ele não se
permitiria pensar de outra forma, por isso cada vez que a onda de culpa
vinha, ele empurrava de lado.

Ele a imaginou acordada, assim como ele estava, virando


desconfortavelmente em sua pequena cama no canto mais distante do
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seu quarto, e, lentamente, chegando a um acordo com o que ela


precisava fazer.

Mas quando ele arrastou seu corpo agitado da sua cama na


manhã seguinte, seu telefone ainda não tinha mensagens.

Ele tinha sido cruel, sabia disso. Ele só podia esperar que não
tivesse empurrado longe demais, mas que ela de alguma forma
entendesse que ele estava apenas tentando proteger o futuro deles.

Christian comeu uma tigela de cereal frio e, em seguida, obrigou-


se a entrar em seu chuveiro, desesperado para encontrar algo que
afastasse o cansaço. Ele encontrou-se com a cabeça enevoada, tanto
pela falta de sono, quanto pelos cenários que passaram pela sua mente,
aqueles em que incluíam uma vida sem Elizabeth.

E se ela nunca mais voltar?

Ele realmente poderia desistir dela?

Enquanto esfregou o sabão sobre o corpo, ele tentou imaginar


uma existência sem ela. Uma vida sem o som perfeito de sua voz, a
maneira que soava quando ela ria. Uma vida em que ele não tocava a
suavidade de sua pele ou tinha o direito de puxar o seu corpo contra o
dele. Uma vida sem uma criança chorando no quarto ao lado enquanto
ele tentava, sem sucesso, estudar para o bar1.

Gemendo, ele sacudiu a cabeça e forçou tudo para fora, dizendo


a si mesmo que não iria chegar a esse ponto.

Ele tinha certeza de que quando a visse na aula hoje, ela iria
tomar seu assento normal ao lado dele na sala de aula, inclinar-se e
sussurrar em seu ouvido que ele estava certo.

Mas quando seu assento permaneceu vago, sua inquietação


cresceu, remoendo seu estômago. No momento em que o professor
terminou a aula, Christian correu da sala para o café onde eles
estudavam todas as segundas, quartas e sextas. Ele freneticamente

1
A bar examination – É um teste para determinar se um candidato está qualificado para exercer o direito em uma
determinada jurisdição. É como se fosse a prova da OAB.
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esquadrinhou o ambiente, encontrando vários rostos levemente


familiares, mas não o que ele queria ver.

No momento em que ele chegou ao complexo de apartamentos


dela, ele estava ofegante, tanto pelo esforço da milha que tinha corrido,
como pelo medo que tomava espaço em seu coração. Ele bateu na
porta, sem lhe dar tempo para responder antes de gritar "Elizabeth!"
Não havia nenhum som do outro lado, nenhum farfalhar das cortinas
ou fracos barulhos de pés. Mesmo assim, ele não estava satisfeito.
Atrapalhando-se com as chaves, ele encontrou a certa e empurrou-a
na fechadura.

A porta se abriu para a tranquilidade, o pequeno estúdio


confortavelmente cheio como sempre. A única coisa que parecia errada
eram os cobertores de sua cama normalmente puros, estavam
espalhados no chão. Christian cruzou o espaço para a única sala
separada. A porta para o banheiro descansou entreaberta, naquele
quarto tão vazio quanto o primeiro.

Christian pressionou suas costas contra a parede e respirou


fundo. Ele não estava preparado para isso. Ele nunca pensou que isso
iria tão longe.

Relutantemente, ele se forçou para fora do apartamento,


fechando e trancando a porta atrás dele antes de sair, odiando a voz
dentro de sua cabeça que dizia que isto era o melhor.

Recuperando-se da traição, Elizabeth desceu os três lances de


escadas para longe do homem ela tinha pensado que estaria sempre ao
seu lado. Ela sentiu como se tivesse sido mortalmente ferida por suas
palavras. Christian sabia que não era uma opção para ela. Como ele
poderia até mesmo ter sugerido isso?

Na dureza de suas palavras, ela procurou em seus profundos


olhos azuis pelo homem que ela pensou que conhecia, mas nunca
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deveria ter realmente conhecido. O homem que ela pensava que


conhecia nunca teria sido tão cruel. Ela sabia que quando lhe disse
adeus, sua voz tremia de desgosto, mas a sua escolha era inabalável.
Não havia nada mais importante do que a criança que crescia dentro
dela. Quando ele chamou-a pouco antes dela sair, ela rezou para que
ele tivesse mudado de ideia. Acima de tudo, ela o amava e não queria
viver sem ele, mas depois disso, ela estava com medo. Ela não queria
criar uma criança sozinha, mas ela percebeu que teria que fazer isso
quando não ouviu nenhuma suavidade em sua voz, apenas palavras
para infligir dor.

Lágrimas caíam sem parar enquanto ela caminhava do


apartamento de Christian até o seu. Seu estômago estava em nós e
protestando a cada passo que ela dava.

Ela se recusou a olhar para trás enquanto seguiu em frente, com


os pés pesados com desgosto, o peso fazendo-a tropeçar.

No meio do caminho para casa, a dor em seu estômago se


intensificou, e ela vomitou em alguns arbustos plantados sob a janela
de uma loja. Isso só a levou a chorar ainda mais e as cólicas pioraram,
o que resultou em mais três episódios antes que ela chegasse ao único
lance de escadas que levavam até a porta do apartamento. Ela agarrou-
se ao corrimão, segurando-se até que ela vomitou mais uma vez ao
lado.

Até então, ela estava chorando, incapaz de controlar o tremor


que tinha tomado seu corpo. Ela chegou ao seu apartamento e, com as
mãos trêmulas, entrou no único lugar que ela podia pagar.

Ela sentiu frio, seu corpo convulsionando enquanto ela puxava


as roupas de seu corpo e entrava em um chuveiro que deveria ser
quente o suficiente para escaldar. Mesmo assim, ela não encontrou
calor, e enrolou-se sobre si mesma no chão do chuveiro, esperando
conforto. Ela só tremeu e balançou mais. Ela sentiu como se estivesse
congelando de dentro para fora e nada poderia descongelar o frio que
se instalou profundamente em seus ossos. Ela enrolou-se numa toalha
e afundou no chão do banheiro, levantando novamente ao vaso
sanitário.
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Elizabeth estava com medo.

Ela nunca se sentiu tão terrível antes. Ela estava machucada. A


pior parte foi que ela não podia discernir a origem da dor, se era de algo
verdadeiramente errado com ela ou a partir do trauma de ter sua vida
despedaçada.

Acima de tudo, ela se preocupava com seu bebê. Ela não sabia
muitas coisas sobre a gravidez, mas nada sobre isso parecia normal
para ela. Então, quando seu estômago recuou novamente e nada
apareceu, ela teve certeza de que precisava de ajuda.

Ela levantou-se, firmando-se com uma mão contra a parede


quando oscilava com tonturas, e rezou para que pudesse alcançar seu
telefone.

Ela queria tanto Christian, e seu primeiro instinto era discar o


número dele, mas ela se forçou a marcar sete dígitos diferentes do que
os que ela queria desesperadamente.

Christian não era mais dela, não era alguém com quem ela
poderia contar, e havia apenas outra pessoa nesta cidade que ela
confiava.

Sua voz era áspera e rouca de sono quando ele respondeu, "Olá?"
Mais tempo tinha passado do que Elizabeth tinha percebido. Já era
quase meia-noite.

"Matthew..." Ela murmurou seu nome quase inaudível. O


desespero na voz dela o puxou de sua neblina, e ele pulou da cama.

"Elizabeth?" Matthew ficou frenético. "O que está errado? Você


está bem?"

Pelo menos três segundos se passaram antes que ela chiou uma
trêmula: "Não"

Matthew puxou as calças e colocou os braços na primeira camisa


que ele poderia encontrar, mantendo o telefone pressionado entre sua
orelha e ombro. Ele tentou, sem sucesso, parecer calmo.
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"Elizabeth, querida, me diga o que está errado." Ele já estava fora


da porta e dando partida em seu carro antes que ela pudesse responder
que estava doente.

Matthew estava em seu apartamento e correu pelo pequeno lance


de escadas antes mesmo de cinco minutos passarem, onde ele
encontrou sua amiga enrolada em sua cama, tremendo sob uma pilha
de cobertores.

"Elizabeth?" Ele correu para o lado dela, puxando as cobertas


para trás para expor apenas sua cabeça, seu cabelo loiro escurecendo
para um marrom com o suor abundante caindo na testa.

Ele estendeu a mão para empurrar seu cabelo longe para que
pudesse ver o rosto dela, chocado com a palidez de sua pele e a
vermelhidão dos seus olhos inchados.

Matthew queria fazer-lhe um milhão de perguntas, mas ela


estava alternando dentro e fora da consciência, e ficou claro que ela
precisava de mais ajuda do que ele poderia dar. Ele empurrou as
cobertas no chão, exceto uma que ele envolveu-a antes de trazê-la em
seus braços. Seu pequeno corpo era mais pesado do que o previsto,
completamente mole, e ele lutou para leva-la escadas abaixo e para o
seu carro.

Ele contemplou discar 911, mas o hospital estava tão perto, ele
estava certo de que poderia levá-la para sala de emergência antes de
uma ambulância chegar.

Dentro de minutos, Matthew estava dirigindo em torno da


unidade circular com o brilho vermelho do cartaz que dizia "Sala de
Emergência".

Ele entrou pelas portas automáticas, gritando por socorro. Em


uma enxurrada de atividades, vários auxiliares puxaram Elizabeth de
seus braços e a colocaram em uma maca.

A enfermeira levou Matthew a uma pequena área com cortinas


onde Elizabeth estava inconsciente. Ele se sentiu sobrecarregado
enquanto a enfermeira fazia perguntas que ele não podia responder.

"Data de nascimento?"
A.L. JACKSON

"Ela está em qualquer medicação?"

"Será que ela tem alguma alergia?"

"Quando os sintomas começaram?"

Balançando a cabeça, que tinha começado a pesar com a imensa


quantidade de estresse, ele declarou que não sabia.

Ele caiu em uma dura cadeira de plástico, contra o canto da


parede e viu como eles começaram a picar e estimular sua amiga. Ele
sentiu-se desamparado, sem ter ideia do que deveria fazer.

Ele deveria ligar para alguém?

Christian?

A mãe de Elizabeth?

Não. Ela o havia chamado, e isso por si só lhe deu uma pista. Ela
precisava dele e ele escolheu estar lá para ela, mesmo que isso
significasse esperar sem ter ideia do que estava acontecendo.

Enquanto sentou em silêncio no canto e observou as enfermeiras


e um médico trabalhando em Elizabeth, ele pensou em como ela tinha
entrado em sua vida. Ele a conhecera no ano anterior, no pequeno
restaurante onde trabalharam nos fins de semana. Eles eram
semelhantes em muitos aspectos. Os dois moravam em uma cidade
que não poderiam pagar, frequentando uma faculdade que tinham
sonhado pela maior parte de suas jovens vidas, vivendo de bolsas de
estudos, subsídios e empréstimos estudantis que ambos estariam
pagando em seus trinta anos. As gorjetas que eles faziam em um turno
de sábado mal cobriam a comida e as necessidades da semana. Mas
nenhum dos dois olhava essas coisas como negativas em suas vidas.
Em vez disso, eles abraçaram a oportunidade e a seguiam, tornando-
se amigos.

Matthew, obviamente, sabia o quão bela Elizabeth era. Ele não


era cego, mas ele nunca a tinha visto dessa forma e não nutria
sentimentos não correspondidos. Ele a amava como uma amiga.
Verdadeiramente.
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Isso não quer dizer que ele gostava do namorado dela. Para
Matthew, Christian era um rico menino mimado que não fazia nada
mais do que besteiras enquanto brincava na faculdade. Ele estava certo
de que Christian iria quebrar o coração de Elizabeth.

Matthew estremeceu por Elizabeth quando eles inseriram uma


agulha comprida e grossa em seu antebraço antes de anexar uma bolsa
com remédio intravenoso ao acesso no seu antebraço.

No que pareceu uma eternidade, Matthew sentou e observou


Elizabeth dormir enquanto a cor lentamente voltava ao seu rosto
enquanto a bolsa pingava seu conteúdo em suas veias. Realmente,
tinha passado pouco mais de uma hora quando o médico muito jovem
que a examinou retornou com gráficos na mão.

Ele estendeu a mão livre através do pequeno espaço para


Matthew. "Dr. Lopez."

Matthew assentiu e apertou sua mão. "Matthew Stevens."

"Todos os seus resultados de teste estão de volta... Severamente


desidratada... Anêmica... Gravidez... Muito stress..." Matthew tentou se
concentrar no que o médico estava dizendo, mas realmente não ouviu
nada mais do que gravidez.

Matthew sentiu-se tonto com as implicações que isso teria para


a sua amiga. Lentamente tudo se encaixou, o telefonema tarde da noite
para ele quando deveria ter sido para outra pessoa, os olhos inchados
– as palavras do médico, sobre muito estresse desencadeando o
choque.

Matthew enrolou os punhos, enojado que alguém poderia tratar


sua amiga tão mal. Seu primeiro instinto era ir direto ao apartamento
de Christian Davison e destruí-lo. Em vez disso, ele moveu para sentar-
se na beira da cama de Elizabeth e passou a mão pelo cabelo
emaranhado de sua amiga, silenciosamente prometendo-lhe que
sempre cuidaria dela.
A.L. JACKSON

Christian ficou na frente do espelho de corpo inteiro, estudando-


se na longa beca preta, vendo nada mais do que uma desculpa patética
de um homem olhando para ele.

Ele deveria se sentir orgulhoso. Receber seu bacharel em


Columbia com altas honras deveria ser um dia de orgulho.

Mas Christian não se sentia orgulhoso — ele sentia-se


envergonhado.

Ele a tinha visto cerca de três semanas antes, na fila da loja,


embora ela não o tivesse visto. Ele tinha reunido os poucos itens que
precisava, desodorante, xampu e creme dental, e rapidamente fez seu
caminho de volta até os caixas. Ele tinha procurado pela fila mais curta
quando viu os cachos ondulados de cabelo loiro que ele conhecia tão
bem. Ele havia sentido uma atração imediata, a necessidade de ir em
direção a ela, mas tinha congelado quando ela se virou para o lado,
expondo a grande protuberância em seu abdômen.

Como um covarde, ele tinha se escondido, observando-a com


uma curiosidade quase mórbida de trás de uma fileira de prateleiras.
Ele sentiu-se doente, observando a mulher que ele ainda amava, mas
tinha traído, esticando-se para alcançar os itens no carrinho — fraldas,
cobertores e pequenas coisas que ele não reconhecia. Ela estava se
preparando para o nascimento do bebê.

Assustava que ela parecia mais magra do que ele se lembrava,


sua pele pálida e com aspecto doentio, magra, como se a massa
crescente em sua frente havia roubado toda a vida do resto do seu
corpo.
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Mesmo assim, ela ainda era a mulher mais bonita que ele já tinha
visto.

Mas, como ele já sabia ser, ele permaneceu como um covarde e


não fez nada, apenas observou enquanto ela pagou por suas coisas e
saiu pela porta.

Foi a única vez que ele a tinha visto desde que tinham brigado
em seu apartamento. Ela nunca voltou para a aula, nunca ligou ou o
procurou, nunca mudou de ideia.

Ele não tinha feito nenhum esforço real de sua própria parte,
desde o primeiro dia, quando ele foi ao seu apartamento, ligando uma
única vez e desligando ao ouvir um homem atender seu telefone. Ele
poderia ter tentado mais, deveria ter tentado mais, mas ele tinha
seguido o caminho mais fácil. Ele tinha se convencido de que não iria
sofrer por ela, fingia que suas noites sem dormir não tinham nada a
ver com sua preocupação por ela. Disse a si mesmo que ela seguiu em
frente, que ela não precisava dele, que ela tinha encontrado o seu
próprio caminho. Mesmo que ela tivesse, ele sabia que ainda não eximia
sua responsabilidade com a criança.

Assim como sua culpa foi crescendo, ele tinha feito mais e mais
para afogá-la, passando longos dias em sala de aula e noites ainda mais
longas, com a cabeça girando com a quantidade de álcool que tinha
consumido, em seguida, acordando com mulheres desconhecidas em
camas desconhecidas.

Não, hoje não era um dia de orgulho.

Christian pegou o capelo e se arrastou escada abaixo, para se


juntar aos seus pais, esperando em seu carro.

O jantar de comemoração foi tudo o que Christian esperava que


fosse, o som de garfos e facas batendo contra a porcelana filtrando-se
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na atmosfera abafada do Clube, os garçons de smoking e muito


dispostos a servir. O pai de Christian, Richard, disse-lhe que a sua
graduação tinha apenas começado e que os próximos três anos na
faculdade de direito seriam os mais difíceis de sua vida. Claire, a mãe
de Christian, sentou-se isolada enquanto ouvia o marido dar a seu filho
uma instrução que, obviamente, não precisava.

Não era nada que Christian não tinha ouvido antes. Cada
conversa que ele tivera com o pai tinha sido o mesmo. Ele esperava
que, por apenas uma noite, seu pai ficasse satisfeito, que eles
pudessem relaxar e apenas falar, mas era sempre sobre o próximo
passo, a próxima conquista.

Felizmente, Claire interrompeu e mudou o assunto com uma


conversa fiada sobre seus planos de viagem para o verão. Ela parecia
irritada com o marido esta noite, seu sorriso apertado e sem luz
verdadeira vindo de seus olhos azuis. Normalmente, ela permanecia
praticamente em silêncio durante as conversas familiares, bebendo um
copo de vinho e acenando de acordo com o que Richard dizia a seu
filho. Hoje à noite, porém, ela parecia ansiosa, como se fosse explodir
se Richard pronunciasse mais uma palavra sobre o futuro de Christian.
Christian viu sua mãe do outro lado da mesa e se perguntou sobre sua
felicidade. Ele se perguntou se em todos os anos que ele tinha pensado
que ela era perfeitamente contente em sua casa enorme e encontros
sociais infinitos, ela estava sempre muito feliz em tudo, porque quando
ele realmente observou, ele não viu a verdadeira alegria na cara dela.

Christian não conseguia sequer se lembrar da última conversa


de verdade que ele teve com sua mãe, então ele sorriu para as histórias
que sua mãe contou. Seu rosto assumiu uma nova vibração enquanto
ela falava dele quando criança, e ele relaxou em sua cadeira, não mais
de guarda alta, até que sua mãe fez uma pergunta que ele não tinha se
preparado para responder. "O que aconteceu com aquela garota que
você estava namorando? Qual era o nome dela... Elizabeth?"

Christian sentiu-se tenso e sua vergonha voltou, mas ele


encontrou-se respondendo a ela, porque ele precisava dizer a alguém.
Olhando para o seu prato, ele murmurou, "Nós terminamos."
A.L. JACKSON

"Oh?" Perguntou a sua mãe, como se esperasse outra explicação,


uma que ela ficaria chocada ao ouvir, mas ainda mais chocante foi que
ele queria dizer a ela.

Ele levantou os olhos para ela e falou, apesar de estar agitado e


cheirar a confissão.

"Ela está tendo um bebê."

Quase ao mesmo tempo, seus pais deixaram cair seus talheres


na mesa, encarando enquanto esperavam ele esclarecer.

"Ela me disse no outono. Eu lhe disse que não queria isso... De


modo que ela me deixou. Eu não falei com ela desde então."

Christian tentou manter contato visual com sua mãe quando ele
disse essas coisas, mas teve que desviar o olhar quando ele viu a
decepção em seu rosto.

Sua voz tremeu, mas ainda era o mais forte que ele já tinha
ouvido. "Christian", ela exigiu "Como, você poderia tratar alguém..."

O discurso de Richard cortou Claire, quando o pai de Christian


jorrou palavras sobre a irresponsabilidade, dinheiro e reputações
manchadas. Apenas Christian notou quando sua mãe se levantou e
saiu correndo da mesa.

A volta do restaurante para casa foi tensa e silenciosa. A mãe de


Christian tinha deixado a mesa logo após a sua admissão. Durante os
vinte minutos que ela estava fora, Christian foi repreendido por seu pai.
Quando ela voltou, era óbvio que ela tinha chorado, sua maquiagem
estava borrada e seus olhos vermelhos. Depois que ela voltou ao seu
lugar, ninguém falou uma palavra e nem tinha desde então.

O motorista parou na frente do prédio de Christian e Richard não


fez nenhum movimento, embora sua mãe tenha saído do carro e
A.L. JACKSON

abraçado Christian de uma maneira que não fazia há muitos e muitos


anos. Quando ela se afastou, seu rosto estava molhado de lágrimas de
novo e sua mão tremia quando ela levantou para tocar sua bochecha.
"Faça isto direito." Ele não esperava por este encorajamento, e isso o
deixou confuso ao vê-la tomar o seu lugar no banco de trás do carro.
Ele olhou para as luzes traseiras enquanto se dirigiam para longe e
desapareciam na noite.

Christian abaixou a cabeça quando fez o seu caminho para o


apartamento dele, sabendo que o que sua mãe disse era verdade. Ele
poderia fazer isso direito, mas ele também sabia que provavelmente
nunca seria corajoso o suficiente para fazê-lo.

Uma vez lá em cima, Christian mudou de rumo e, em seguida,


caminhou para o prédio ao lado do seu, para se juntar as pessoas que
ele mal podia considerar amigos, mas que comemoravam a formatura
da melhor maneira que sabiam. A música estava alta e o apartamento
apertado, o quarto quase vivo com o movimento de pessoas que
consideravam este um dos melhores dias de suas vidas.

Christian nunca se sentiu pior.

Com uma loira platinada em seu colo, ele se sentou no sofá,


drenando sua sexta cerveja e imaginando o que diabos ele estava
fazendo ali. A multidão tinha se tornado turbulenta e desagradável, e
Christian não queria nada mais do que escapar de tudo isso. Ele só
não tinha ideia de onde ele queria ir.

Ele fechou os olhos e fingiu que não ouviu a voz alta e bêbada de
Nathan, um cara que mal podia estar perto quando sóbrio, muito
menos depois de ter consumido metade do seu peso em álcool. Mas ele
não podia ignorá-lo, quando Nathan deu uma tapa nas costas dele, sua
voz retumbante arrastada com o riso quando ele gritou: "Eu ouvi que
os parabéns estão em ordem para o papai orgulhoso."

Christian sentiu todo o sangue se esvair de seu rosto, deixando-


o tonto, mal capaz de dizer, "O quê?"

Nathan gargalhou como se nada fosse mais divertido para ele. "O
que? Você não ouviu cara? Você se tornou um pai esta manhã."
A.L. JACKSON

Christian se levantou e empurrou a menina rindo de seu colo.


Ele nunca tinha se odiado mais. Como ele poderia ter feito isso? Ele
amava Elizabeth, não era? Mas as pessoas não fazem coisas assim para
as pessoas que elas amam.

Ele vomitou assim que saiu para o corredor - não por causa do
álcool que tinha consumido, mas pelo desgosto que ele encontrou
dentro de si. Ele tropeçou em casa e na cama, rezando para que ele
adormecesse e acordasse sem todos os seus arrependimentos.

Mas o sono não veio, e ele ficou olhando para o teto, incapaz de
deixar sua mente parar tempo suficiente para encontrar descanso. Às
quatro horas, ele desistiu e saiu da cama, ainda vestindo jeans
enrugados e uma camiseta que cheirava a cerveja. Colocando um
suéter da Columbia que estava descartado no chão, ele andou.
Obviamente, ele sabia para onde estava indo, embora não se permitisse
pensar conscientemente.

Ele entrou pela porta da sala de emergência, porque todas as


outras portas estavam trancadas durante a noite. Quando ele chegou
ao andar da maternidade, uma enfermeira o deteve. O horário de visita
não começava por mais três horas, mas quando ele explicou que ele era
um pai e mostrou o seu ID, a mulher permitiu que ele a seguisse.

Ele reuniu toda a sua coragem e empurrou para frente,


preparando-se para admitir a Elizabeth que ele estava errado.

Ele iria dizer a ela que sentia muito, que ele levaria tudo de volta,
se pudesse. Ele estava preparado para implorar pelo perdão que ele
sabia que não merecia. Mas o que ele não estava preparado para
encontrar era Matthew, de costas para ele, sentado em uma cadeira e
acariciando o rosto de Elizabeth enquanto ela dormia.

Christian congelou quando percebeu que era tarde demais; ele


tinha feito muito mal. Ele ficou em silêncio e observou o homem que só
deveria ser seu amigo sentar-se no local onde ele deveria estar. Ele
observou Matthew adorando a menina que merecia cada toque e
abraço, a garota que merecia um homem melhor do que ele sabia que
ele seria. Ela merecia um homem como Matthew que reforçou e
preencheu o lugar que Christian nunca deveria ter se afastado.
A.L. JACKSON

Ele permitiu a dor brotar em seu peito, e ele disse uma despedida
silenciosa para a garota que ele iria sempre amar. Ele deu um passo
para trás e deixou a porta fechar entre eles. Enquanto ele escapou pelo
corredor, ele focou sua atenção no chão, não permitindo olhar através
da grande janela de vidro, onde ele sabia que seu filho dormia. Ele sabia
que se ele visse, ele nunca seria capaz de ir embora.

Elizabeth estava sendo cuidada e feliz e, pela primeira vez,


Christian faria algo que não era para si mesmo.

Afinal, isso era o melhor.


A.L. JACKSON

Fiquei no meio do meu escritório, respirando fundo enquanto


olhava para a Baía de San Diego. O que pareciam ser milhares de
veleiros pontilhava a água balançando na brisa fresca. Era bonito,
calmante e tão diferente do caos urbano em que vivi durante meus dois
primeiros anos como um advogado enquanto atuei como um defensor
público na cidade de Nova Iorque.

Eu nunca tinha ido a San Diego, mesmo que tivesse ouvido falar
muito sobre ela.

Elizabeth era de San Diego, cresceu aqui. Eu passei inúmeras


horas ouvindo histórias sobre ela, sua mãe e suas duas irmãs. Todos
os sábados eles faziam uma viagem para a praia, não importava o
clima. Eles não tinham muito dinheiro, e era um passeio que não
custava nada mais do que a pequena quantidade de gasolina que
gastavam para ir até lá. Elizabeth nunca diria que tinha sido pobre,
embora claramente eles tivessem sido. Ela afirmava que muitos
estavam numa situação pior do que a sua família. Ela dizia que sua
mãe trabalhava duro e ela e suas irmãs nunca ficaram sem as coisas
que necessitavam.

Eu me perguntava sobre ela com frequência, apesar de fazer


quase cinco anos desde que eu saí daquele hospital e continuei como
se não houvesse uma vida completamente diferente que eu deveria
A.L. JACKSON

estar vivendo. Eu sempre esperava ouvir alguma coisa, uma intimação


para dar apoio à criança, audiência ou um pedido que seria
completamente insuportável — o pedido para eu abandonar meus
direitos como pai porque alguém queria esse título—, mas nenhum
deles havia chegado. Eu tinha assegurado que eu seria sempre fácil de
encontrar, não tendo que fazer nada mais do que colocar meu nome
em um site de busca, e Elizabeth poderia pegar o telefone e chamar-me
diretamente. Mas ela nunca fez isso.

Eu estava assombrado pelas escolhas que eu tinha feito,


atormentado por insônia e ansiedade na maioria das noites passadas
acordado em arrependimento. Eu não sabia nada do meu próprio filho.
Inúmeras vezes, eu tinha digitado Elizabeth Ayers em meu
computador, mas descobri que eu nunca poderia completar a pesquisa.
Por mais que eu quisesse, eu não merecia saber. O que me dava o
direito de mergulhar em suas vidas pessoais, saber onde eles viviam,
se Elizabeth tinha se casado, o nome do meu filho? Não, eu não tinha
o direito, mas isso nunca manteve meus pensamentos longe deles.

Suspirei pesadamente quando o zumbido do meu telefone me


tirou dos meus pensamentos. Cavei no bolso, deslizando o dedo sobre
a tela para aceitar a chamada.

"Aqui é Christian."

"Christian, como as coisas estão indo por aí?" Sem saudação, o


que não foi nenhuma surpresa, o meu pai foi direto ao que interessa.

Comecei a enchê-lo sobre a minha percepção do edifício, o


gerente do escritório, e minha suposição de que tudo estava indo como
o planejado, embora eu só tivesse chegado no dia anterior. Eu tinha
ido diretamente para o meu apartamento, exausto de dirigir por três
dias.

Eu tinha voado no mês anterior para me reunir com o meu


corretor de imóveis e comprar um novo condomínio de arranha-céus
apenas cinco minutos de carro do meu novo escritório. Eu sempre
soube que um dia iria trabalhar para a empresa do meu pai, eu só não
tinha ideia de que meu pai iria abrir uma nova filial no outro lado do
A.L. JACKSON

país e me pedir para dirigi-la. Eu não tinha certeza de como eu me


sentia sobre isso.

Conforme os anos progrediram, meu respeito por meu pai havia


se dissipado e meu ressentimento crescido, deixando-nos pouco mais
do que parceiros de negócios. A noite do meu jantar de graduação tinha
sido o último da família que eu conhecia. Foi a noite em que minha
mãe fez as malas e meu pai viu a melhor coisa da sua vida sair pela
porta e não fez nada sobre isso. Eu o odiava por isso, porque ele só me
fez ver a mim mesmo.

Quando eu vislumbrei o descontentamento nos olhos da minha


mãe naquela noite, eu não tinha ideia de quão profundo isso foi.

Tinha sido um novo começo para nós como mãe e filho. Ela tinha
chegado a mim, semanas mais tarde, perturbada e em lágrimas,
confessando as muitas maneiras que ela acreditava que tinha falhado
comigo. Ela me disse que como uma jovem mulher, ela tinha sido cega
pela riqueza e sociedade, e ela empurrou-me para fazer grandes coisas,
porque me amava e queria o melhor para mim, mas, de algum modo,
esqueceu-se de me ensinar a ser compassivo e gentil. Ela me disse que
ela tinha aprendido a não se importar com essas coisas, e quando eu
sentei lá e falei sobre Elizabeth, isso quebrou o seu coração. Ela sentiu
que, de alguma forma, falhou comigo. Eu discordei. A falha era toda
minha.

Mas acima de tudo, a sua preocupação era por Elizabeth — a


garota que tinha dado à luz ao neto que minha mãe provavelmente
nunca teria a oportunidade de conhecer. Mamãe tinha admitido então
que ela gostava tanto de Elizabeth, embora, com pesar, ela nunca
tivesse mostrado isso. Mamãe tinha dito que Elizabeth a lembrou muito
da menina que ela costumava ser antes que ela se perdesse num
mundo que tinha sido tão atraente quando se casou.

Através disso, nos tornamos desesperadamente próximos,


dependendo um do outro, porque éramos a única pessoa que o outro
tinha. Ela era a minha mais próxima confidente - meu único confidente
- e estava claro para ela que eu me mantive em reprovação.
Honestamente, ela também o fez. Ela queria saber como eu dormia
durante a noite sabendo que eu tinha uma criança lá fora em algum
A.L. JACKSON

lugar. Eu lhe disse que não dormia. Ela me implorou para ir encontrá-
los, ainda me incentivando a fazer isso direito.

Ela discordou da minha lógica. Ela me disse que manter


distância não faria nada além de causar mais dor, não anularia isso.
Obviamente, a distância me causou dor. Sim, ela sabia que eu era o
culpado, mas ela insistiu que não significa que eu não merecia uma
segunda chance.

Desde que a minha mãe o deixou, meu pai nunca mencionou o


nome dela. Cada conversa tinha sido centrada na minha educação e,
uma vez que me formei, entrei na empresa. Assim como hoje. Eu
terminei a chamada curta com meu pai e desliguei após prometer a ele
que eu iria chamá-lo no dia seguinte com uma atualização.

Olhando em volta do meu escritório, eu me perguntava por onde


começar. Uma grande mesa de mogno estava de frente para a porta, a
madeira escura brilhando com a luz do sol que reluzia através das
janelas do chão ao teto. Em sua superfície estava apenas um telefone
e a placa de identificação, desmentindo a desordem do resto da sala.
Pilhas de caixas apoiadas contra uma parede e volumes de livros
sentaram-se na frente das estantes de mogno correspondente, à espera
de serem organizados. Anos de estudos de casos precisando ser
arquivados, a grande maioria enviada do escritório principal na
Virgínia.

Exalei uma respiração pesada através do meu nariz, ainda não


estava pronto para a tarefa na minha frente.

Em vez disso, encontrei-me na orla. Eu usava um casaco leve,


minhas mãos enfiadas nos bolsos. Eu andei ao longo da trilha
pavimentada e me mantive ao lado, a fim de ficar fora do caminho dos
corredores e ciclistas. O ar estava frio, mas não desagradável para uma
tarde no início de maio.

Tudo parecia tão estranho.

Eu era tão acostumado com a correria de Nova York, a multidão,


a sensação de que não havia um momento livre, mas aqui era como se
a segunda mão tivesse sido abrandada. Eu virei contra o vento e fechei
os olhos. Meu cabelo chicoteando em torno do meu rosto enquanto o
A.L. JACKSON

sol aquecia meu rosto, meus sentidos preenchidos com o som de


gaivotas e o cheiro do mar.

Na calma e paz, eu nunca me senti tão sozinho.

Retirando meu telefone, eu disquei. Eu precisava ouvir a voz


familiar. Ela respondeu no segundo toque.

"Christian, querido."

"Ei, mãe."

"Como foi a sua viagem?"

Eu ri sem graça. "Cansativa."

"Eu imagino. Você deveria ter aceitado a minha oferta para


ajudá-lo."

"Eu gostaria de ter aceitado."

"Então, o que você acha de San Diego?"

"Eu não sei. Eu realmente não tive a oportunidade de explorar


ainda, mas... é solitário." Eu acho que eu estava sempre solitário, mas
estando num lugar tão estranho fez isso pior.

Claire suspirou. "Christian, por favor..." Eu podia ouvir a


urgência em seu tom. "Faça seu melhor, conheça novas pessoas. É um
lugar novo, um novo começo.”

Corri a mão pelo meu cabelo enquanto olhava para a água,


desejando que eu pudesse. Não era como se eu não tivesse tentado. Eu
tinha encontros, uma vez chegou a ser um pouco sério, mas eu só
acabei a machucando. Ela queria mais do que eu poderia dar, meu
coração e minha mão, e eu me recusei a casar com alguém que eu
nunca iria realmente amar. Com essa realização, a ideia de namoro
tornou-se inútil, e eu me recusei a acordar na cama de um estranho,
por isso, há mais de um ano, eu vinha dormindo sozinho.

Minha pausa disse a mãe mais do que qualquer resposta que eu


poderia dar, e, com a crescente inquietação, eu mudei o assunto.

"Quando é que você vem?"


A.L. JACKSON

"Em breve. Possivelmente nos próximos meses."

"Bom. Já sinto sua falta."

Eu podia sentir o triste sorriso da minha mãe e isso me fez sentir


ainda mais falta dela. "Eu sinto falta de você também, querido. Ligue-
me logo, tudo bem."

"Ok, mãe. Te amo."

"Eu também te amo."

"Tchau."

A pequena quantidade de conforto que a ligação para a minha


mãe trouxe passou rapidamente, deixando-me mais uma vez
questionando a minha decisão de me mudar para a Califórnia.

Hesitei na água por mais de uma hora depois da ligação com


minha mãe, imerso na tranquilidade solitária da baía, antes de
finalmente me forçar a voltar para o meu apartamento vazio. Percebi,
uma vez que eu tinha tomado o dia de folga, que eu deveria usá-lo bem
e fazer algumas coisas antes de mergulhar na enorme carga de trabalho
que tinha à minha espera no escritório amanhã.

Felizmente, eu tinha comprado um apartamento equipado, e os


caminhões de mudança já haviam entregado os meus pertences do meu
apartamento de Nova Iorque, mas os meus armários da cozinha e
minha geladeira estavam vazios. Embora eu fosse solteiro, era raro
encontrar uma caixa de pizza vazia deixada ao acaso na minha mesa
de café, ou refeições congeladas no meu congelador. Não era que eu
particularmente gostasse de cozinhar, mas eu gostava de comer bem.

Eu tive que admitir que houvesse alguma atração em San Diego,


enquanto eu sentava no assento do motorista do meu Audi A8 cinza.
Ele tinha pouca utilidade enquanto vivia em Nova York, e eu tinha
certeza enquanto entrava no enorme estacionamento em frente ao
supermercado e estacionava em um dos muitos espaços livres, era algo
que eu poderia facilmente ficar acostumado.

Lentamente, eu me movi para cima e para baixo em cada


corredor, enchendo minha cesta com todos os itens que necessitava
A.L. JACKSON

para armazenar em minha cozinha. A loja não estava cheia, eu presumi


que era provavelmente comum para uma tarde de quinta-feira.

Eu tomei meu tempo e não tinha pressa para voltar para o vazio
do meu condomínio. Eu levei ainda mais tempo quando andei através
da seção de produtos naturais.

Enquanto enchia um saco com pêssegos, eu senti olhos em cima


de mim. Os cabelos finos arrepiaram na parte de trás do meu pescoço,
não com medo, mas com um senso de consciência.

Virando-me para olhar por cima do meu ombro, buscando a


fonte, eu congelei quando eu descobri a origem.

Ela me encarou, olhando para mim com tanta curiosidade


quanto eu olhei para ela, nenhum de nós capaz de se virar. Ela era
absolutamente linda. Seu cabelo negro estava puxado em um rabo de
cavalo. Seu rosto redondo era emoldurado por franjas curtas e por
alguns fios de cabelo que tinham caído fora do elástico. Suas bochechas
estavam rosa contra sua pele pálida, sem manchas do sol, mas foram
seus olhos que pararam o coração em meu peito. Seu intenso azul me
observou fascinado, amplo, intrigado e tão familiar.

Tentei me sacudir disso e virar. Eu tinha certeza que minha


mente estava apenas brincando comigo, me punindo um pouco mais,
me provocando com a ideia de que eu conhecia essa menina.

Mas então sua boca se transformou em um sorriso de abalar a


terra, expondo uma fileira de dentes quadrados perfeitos, tão pequenos
que havia poucos espaços entre eles.

A quantidade impressionante de emoção que me atingiu quase


me deixou de joelhos quando eu caí apaixonado pela pequena pessoa
em frente a mim.

A pequena criança continuou a sorrir para mim de onde ela se


agarrou a perna de uma mulher de pé e de costas para mim. Eu não
pude deixar de sorrir de volta para ela. Isso a fez rir e me fez sorrir
ainda mais.

A mulher olhou para a menina para ver por que ela estava rindo.
Ela seguiu a atenção da criança para onde eu ainda estava de pé,
A.L. JACKSON

sorrindo descontroladamente para ela. Eu relutantemente olhei para a


mulher, detestava me afastar do momento que a criança e eu tínhamos
acabado de compartilhar, mas logo me senti autoconsciente quando
encontrei uma expressão perturbada no rosto da mulher.

Ela era jovem, talvez em seus vinte e poucos anos, e


provavelmente não mais do que 1 metro e 50 de altura. Seu cabelo loiro
era cortado acima dos ombros, e seu corpo cheio de curvas estava
vestido com uma camiseta de capuz da faculdade, shorts e chinelos. O
traje casual era algo que eu estava rapidamente vindo a apreciar, o que
era muito frequente nesta nova cidade.

Estudei os olhos castanhos da mulher, em busca de


reconhecimento, alguma prova para confirmar a conexão que meu
coração já tinha feito. Eu não achei nada. Eu tinha certeza que eu
nunca tinha visto esta mulher antes.

Apenas a criança.

Com ânsia, eu virei meu olhar de volta para ela, certo de que ela
não era uma estranha.

A mulher definiu uma mão protetora sobre o ombro da menina e


me deu um olhar feroz, um aviso que me levou a olhar de volta ao seu
rosto.

Eu queria dizer alguma coisa para explicar, mas antes que eu


pudesse formar as palavras, a mulher pegou a mão da menina e a levou
para longe, sua voz severa e suave ao mesmo tempo em que recordou
a criança a nunca falar com estranhos.

Fazendo uma careta, eu tentei voltar para a minha seleção de


frutas, mas a minha intriga era muito grande. Tentando manter uma
distância, eu arrastava atrás delas, fingindo comprar itens que já
estavam no meu carrinho, enquanto eu as segui pelos mesmos
corredores que eu já tinha passado. Eu sabia que não deveria, mas eu
não conseguia parar.

Eu estava tão atraído por aquela menina como ela parecia estar
por mim.
A.L. JACKSON

Em vão, tentei parecer indiferente, enquanto essencialmente


perseguia as duas, contando até cem na minha cabeça antes de segui-
las para o próximo corredor. Desta vez, quando entrei em vista, a
criança não estava mais andando, mas sentada no banco na frente do
carrinho.

Deus, eu me senti como um verme. Eu estava fazendo a mulher


nervosa, e eu só podia imaginar o que ela estava pensando. O medo era
palpável, uma vez que irradiava dela. Ela começou a se mover mais
rápido, literalmente, jogando coisas em seu carrinho.

Mas o que eu poderia fazer? Chamá-la e dizer que não era algum
tipo de pervertido doente? Afirmar que eu achava que conhecia a
criança, que eu acreditava que ela era minha? Mesmo para mim, essas
palavras pareciam loucura. Elas só iriam assustar mais a mulher.

Quando finalmente chegamos ao caixa, eu escorreguei em uma


fila algumas filas depois da delas, distraidamente carregando minhas
compras na esteira transportadora enquanto eu tentava vê-las com o
canto do meu olho.

Ela era preciosa - perfeita. Eu estava completamente


hipnotizado.

De onde ela estava sentada, duas filas distante, eu poderia


realmente vê-la, os braços roliços com a pequena pulseira de ouro que
ela usava em um de seus pulsos, o arco rosa que segurava seus cabelos
no rabo de cavalo bagunçado, e a pequena fissura em seu queixo que
combinava com a minha.

"Senhor?"

Eu pulei quando eu percebi que alguém tinha falado comigo.


Minha atenção estava tão envolvida na garota que eu tinha esquecido
onde estava. Olhei para a caixa, sem ter ideia do que ela havia dito.

Ela revirou os olhos para mim antes de repetir: "Cento e setenta


e dois dólares e noventa e três centavos."

Pegando a minha carteira, eu fiz minha compra, enquanto


mantive um olho sobre a menina. Toda vez que fizemos contato visual,
ela sorriu novamente.
A.L. JACKSON

Quando elas se dirigiram para a saída, eu senti como se eu


estivesse em uma corrida, como se esta fosse a única chance que eu
tinha recebido, e me senti desesperado para pegar um último vislumbre
da menina antes que ela saísse da minha vida para sempre.

Empurrando meu carrinho através das portas automáticas, eu


fiz a varredura do espaço e facilmente vi a mulher loira
desajeitadamente jogando os sacos plásticos no porta-malas de um
pequeno sedan branco, enquanto ela mantinha uma das mãos sobre a
barriga da criança, que ainda estava sentada no carrinho.

Eu me senti mal por causar a mulher tanto sofrimento, mas eu


era impotente diante do chamado que aquela criança tinha sobre mim.
Eu empurrei meu carrinho até o lado oposto da mesma fila que elas
estavam estacionadas, parando a apenas uns 15 metros delas. Eu
estava de pé, olhando descaradamente, permitindo-me um sorriso
triste em troca de um brilhante que menina me deu.

A mulher engasgou quando ela olhou para cima, encontrando-


me tão perto deles. Ela bateu o porta-malas fechado e puxou a menina
nos braços, pegando o sapato da criança na cesta. Ele caiu no chão.
Ela olhou para o sapato e, em seguida, para mim, os olhos arregalados
de medo, antes de se virar e o abandonar no chão. Por cima do ombro
da mulher, a criança me observava, sua pequena mão estendida para
mim. Eu levantei minha própria em um adeus silencioso, cheio de um
imenso sentimento de perda, enquanto eu via o pequeno carro dando
marcha à ré para fora do local, em seguida acelerando rapidamente
para longe.

Suspirando, eu balancei a cabeça, de repente, me perguntando


se eu tinha perdido completamente a minha mente. Eu tinha acabado
de aterrorizar um completo estranho, porque eu estava
inexplicavelmente atraído para uma menina, e eu não pude deixar de
me sentir mais do que um pouco envergonhado por isso. Mas tinha
sido um puxão irritante, que não podia ser ignorado.

Caminhando lentamente para onde o carrinho da mulher tinha


sido abandonado no meio do estacionamento, peguei o pequeno sapato
de lona rosa e segurei contra o meu peito, me perguntando o que diabos
eu deveria fazer agora.
A.L. JACKSON

Eu atirei-me inquieto na cama, incapaz de manter os olhos


fechados. Eu estava mais do que acostumado a noites sem dormir, mas
isso era algo completamente diferente. Meu corpo inteiro protestava,
cantando que eu tinha algo para fazer.

Percebi agora que subconscientemente isso era o que eu


esperava e provavelmente era a verdadeira razão pela qual eu havia
concordado em vir a San Diego, acreditando que havia uma
possibilidade de Elizabeth ter se mudado para cá, esperando que um
dia, mas sabendo que as chances eram poucas, gostaria de esbarrar
com ela ou alguém de sua família. Apenas a ideia tinha sido suficiente
para me fazer aceitar a oferta do meu pai.

Sentando ao lado da minha cama, eu segurava minha cabeça em


minhas mãos, com meus cotovelos pressionados em minhas coxas.
Respirei fundo e tentei acalmar meu coração acelerado. Olhei para o
pequeno sapato rosa em minha mesa de cabeceira e sabia que não
havia nada que eu pudesse fazer. Não foi diferente agora do que tinha
sido todos esses anos atrás. Se eu visse a criança, eu nunca seria capaz
de ir embora.

Ainda esta tarde, eu tinha questionado a minha escolha de vir


para cá, mas agora eu sabia que havia uma razão.

Levantei-me e atravessei a sala até a mesa onde o meu laptop


estava. A tela se iluminou quando levantei a tampa, iluminando o
quarto antes escuro. Tomei uma respiração profunda quando digitei o
nome — algo que eu tinha feito tantas vezes antes —, mas desta vez
era diferente.

Desta vez eu completei a pesquisa.


A.L. JACKSON

Sentei-me em silêncio, minha mente viajando a mil milhas de


distância da estrada congestionada. Meus pensamentos estavam em
um homem que eu desejei que eu pudesse esquecer e me agarrar
desesperadamente ao mesmo tempo. Por que eu fazia isso para mim,
eu não sabia. Mas todas as manhãs, era a mesma coisa. Depois de
deixar a minha filha na pré-escola, ele iria invadir, as memórias
embutidas arranhando seu caminho para fora e para dentro da minha
mente.

Por que eu não podia simplesmente esquecê-lo? A minha filha


tinha quase cinco anos de idade, mas parecia que tinha sido apenas
ontem que Christian havia insensivelmente nos forçado a sair de sua
vida.

E ainda doía.

Eu estava com tanta raiva por causa da amargura que


permaneceu, a minha incapacidade de seguir em frente — minha
incapacidade para amar de novo.

Balançando a cabeça, eu lutei contra as lágrimas.

Uma buzina soou, fazendo-me saltar e tirando-me do meu torpor.


A pista estava aberta diante de mim, onde os carros à frente já tinham
passado pelo cruzamento. Eu fiz uma careta quando olhei no meu
espelho retrovisor para o motorista frustrado atrás de mim, joguei
minha mão para cima em um pedido de desculpas que eu não estava
inteiramente certa de que ele iria ver, e acelerei para liberar o acúmulo
de tráfego.
A.L. JACKSON

Nem sempre foi assim. Realmente, a dor só veio à tona nos


momentos de silêncio. Eu tinha tanto amor na minha vida. Eu nunca
iria me abater ou tê-lo como garantido. Quando eu estava sozinha,
porém, era impossível ignorar o peso no meu peito — a dor.

Eu o odiava por deixar isso lá.

Ninguém deve ter tanto controle sobre o coração de outra pessoa,


e eu gostaria de nunca permitir me tornar tão vulnerável novamente.

Chegando ao banco cinco minutos antes das nove, eu dirijo ao


redor e estacionado no mesmo lugar que eu fazia todos os dias. Minhas
aspirações de me tornar uma advogada haviam sido esquecidas há
muito tempo.

Terminar meu bacharelado tinha sido quase impossível, me


levando mais de dois anos de aulas à noite para terminar o meu último
ano. Três anos esgotante de faculdade de direito não eram algo que eu
poderia lidar.

Eu não estava disposta a sacrificar o tempo com a minha


menina.

Lizzie era o meu mundo.

Minha gravidez foi incrivelmente difícil. O golpe que Christian


tinha me infligido havia me afetado emocionalmente e fisicamente.
Aquela primeira noite tinha sido uma das mais aterrorizantes da minha
vida. Todo pensamento coerente que eu pudesse formar, entrando e
saindo da consciência, centrou-se na possibilidade de que eu poderia
perder meu bebê. Era uma possibilidade e eu tinha certeza que eu não
iria sobreviver. Meu coração foi deixado em farrapos, mutilado. O amor
que eu tinha para a criança era a última corda segurando-me. Eu podia
sentir meu corpo tentando rejeitar a gravidez, enquanto meu coração e
mente guerreou para mantê-la.

Permaneci internada por três dias antes do meu corpo finalmente


aceitar a criança em crescimento dentro de mim, mas, naquele
momento, eu não tinha ideia da luta pela frente. Eu tinha estado doente
durante todo o tempo, meu corpo nunca concedendo plenamente às
fases normais de gravidez. Enquanto o meu médico me disse que a
A.L. JACKSON

doença da manhã tende a durar até as primeiras doze semanas, eu


vomitava todas as manhãs até o dia em que Lizzie nasceu. Eu tive que
me retirar das aulas e colocar minha carreira acadêmica em espera
enquanto eu estava sentada em casa e cuidava de mim através desses
nove miseráveis meses.

Mas eu não podia reclamar. Eu tinha aceitado que era um


pequeno preço a pagar para ter o meu filho.

Eu tinha estado apaixonada pelo meu bebê desde o momento em


que eu soube que estava grávida, mas esse amor não poderia me
preparar para o que eu senti na primeira vez que segurei Lizzie em
meus braços.

Não havia palavras para descrever o amor e a devoção que me


inundou quando a minha menina foi colocada contra o meu estômago,
seus gritos estridentes através da sala de parto. Quando eu estendi a
mão e corri os dedos através do chocante cabelo preto na cabeça da
minha filha, Lizzie imediatamente se acalmou.

Com essa carícia, eu encontrei o propósito para a minha vida.

Soltando uma respiração pesada, eu inclinei minha testa no


volante, tentando limpar minha mente das emoções conflitantes
rodando através de mim. O contraste do amor que eu tinha para minha
filha e desdém para Christian fez minha cabeça girar, sabendo que sem
Christian, não haveria Lizzie. Eu não poderia começar a me arrepender
de um relacionamento que tinha trazido a minha filha para o mundo.
Eu só podia lamentar a forma como tudo tinha terminado.

Passei a mão pela frente do meu cabelo e empurrei minha longa


franja loira para longe do meu rosto antes de relutantemente sair do
meu carro. Eu estava na calçada e endireitei minha blusa branca e
calças pretas, forçando-me para mais um dia de insignificância.

Não que eu particularmente não gostava do meu trabalho. Eu


estava grata a ele. Era apenas difícil de passar os longos dias de
monotonia insatisfeita longe da minha filha.

Clico no botão na minha chave, meu Honda Civic vermelho de


quatro portas apitou, certificando que estava seguro para o dia. Após
A.L. JACKSON

ser contratada no banco, um pouco mais de um ano, eu tinha


comprado meu carro e minha casa, ambos usados e um pouco
desgastados, entretanto eram meus. Era algo que eu tinha trabalhado
tão duro, ter uma casa em um bairro seguro com um quintal para a
minha filha poder brincar, e foi uma realização da qual eu não podia
deixar de me sentir orgulhosa.

Atravessei as portas, imediatamente recebida por Selina, uma


das caixas. "Bom dia, Elizabeth", disse ela, sempre alegre.

"Bom dia." Eu sorri para a jovem, que era pouco mais que uma
menina, seu escuro cabelo castanho puxado para trás em um rabo de
cavalo elegante e sua maquiagem feita com perfeição ao redor de seus
olhos de chocolate escuro. Selina tinha uma aura sobre ela, um
entusiasmo inconfundível que me chamou. Eu supunha que era uma
conexão subconsciente para a garota que eu costumava ser.

Tomei meu lugar duas janelas distante de Selina e estampei um


sorriso amigável em meu rosto. Passei o dia recebendo o fluxo
constante de clientes, me concentrando apenas nas tarefas simples em
minha frente, e o tique-taque do relógio contando as horas até que eu
estaria com minha Lizzie.

Assim que o relógio bateu cinco horas, eu estava de pé e


dirigindo-me a porta, ansiosa para chegar em casa antes de Lizzie e
minha prima Natalie.

Abrindo o meu telefone, eu li um texto de Natalie, dizendo que


estava indo para o supermercado e estaria em casa às cinco e meia.

Liberto um longo suspiro de apreciação quando afivelo o cinto no


assento do meu carro. Natalie era um salva-vidas. Eu honestamente
não sei o que eu faria sem ela e Matthew.

Ao lado de Lizzie, que eram as duas pessoas mais importantes


da minha vida.

Matthew tinha sido a única pessoa que eu poderia contar


enquanto estava doente com a minha gravidez. Do momento em que eu
acordei no hospital até o momento em que dei à luz, ele tinha estado
lá. Eu quase me sinto envergonhada ao lembrar que tínhamos sido
A.L. JACKSON

amantes uma vez, embora fosse uma relação que nunca foi destinada
a ser.

Não era que nós não achávamos o outro atraente. Era só que
Matthew não tinha sentido nenhuma faísca em nosso toque, e meu
coração ainda pertencia a quem o tinha destruído.

Quando tínhamos nos mudado para San Diego, quando Lizzie


tinha cinco meses de idade, para estar mais perto de minha mãe e do
resto da minha família, eu sabia que a precária relação que Matthew e
eu compartilhamos não podia durar. Eu só não tinha ideia de que ia
acabar tão cedo.

Foi aqui que ele conheceu Natalie.

Quando eles tinham fugido para Las Vegas sete meses depois,
minha família, especialmente minha mãe, estava tão zangada com eles
e não conseguia entender por que eu não estava. O que eles não
entendiam era o quanto Matthew já tinha sacrificado por mim, por
Lizzie, e não havia nenhuma chance de eu ficar no caminho de sua
felicidade.

Na época, Natalie tinha acabado de completar dezoito anos, mas


não demorou muito para eu ver a verdadeira ligação que eles tinham.
Natalie pode ter sido jovem e ingênua, mas não minimizava o amor que
sentia por Matthew. E Matthew — ele a adorava.

Nós quatro tínhamos nos tornado uma espécie de


pseudofamília, mas uma família, no entanto. O casal vive menos de
cinco minutos de Lizzie e eu, participando do cuidado diário da
pequena menina como se fosse sua própria. Eu sabia que Matthew e
Natalie amavam o papel que eles cumpriam em nossas vidas, embora
eu não pudesse evitar, mas me sinto em dívida com eles.

Quem não se sentiria?

Era altruísmo em sua forma mais pura.

Pouco antes das cinco e meia, eu entro na garagem da minha


pequena casa de dois andares, a tinta branca fresca e o gramado
aparado pelas incontáveis horas de esforço de Matthew em seu
cuidado. No momento em que eu tinha parado em frente com o corretor
A.L. JACKSON

de imóveis, eu sabia que esta casa acolhedora seria nossa casa. Eu


imediatamente me apaixonei pelas árvores de murta florindo que
cercavam cada lado e as duas árvores de cítricos atrás.

Juntei minhas coisas e, assim que eu saí do carro, Natalie para


em seu pequeno sedan branco e estaciona na rua.

Meu rosto se iluminou num sorriso. Foi aqui que encontrei a


minha alegria. Foi uma alegria que apagou todas as memórias
dolorosas do dia. Aqui eu não conseguia lembrar a dor no meu coração
ou a tristeza que tomou conta de mim no silêncio do meu carro. Aqui
eu estava feliz.

Sorri e acenei enquanto eu caminhava pela calçada.

Antes que eu pudesse alcançá-las, a porta do passageiro de trás


abriu e Lizzie se atirou para fora, jogando os braços no ar. O rosto da
criança brilhava de felicidade enquanto corria descalça até o carro,
seus olhos azuis piscando de excitação.

"Mamãe!"

Eu a peguei. "Oi, menina." Eu me agarrei a ela, beijando a maçã


suave de sua bochecha, encontrando alívio no peso da minha filha em
meus braços.

Estar longe dela por muito tempo durante o dia era quase
insuportável.

Lizzie se aconchegou mais perto, seus pequenos dedos


segurando a parte de trás do meu pescoço através do meu cabelo.
Puxando-a para mais perto, eu a cheirava.

Eu tinha certeza de que ninguém nunca tinha amado uma


criança tanto quanto eu amei a minha.

Afastei-me para ver o rosto perfeito da minha filha, a minha voz


suave enquanto eu falava. "Como foi o seu dia, querida?"

"Oh, mamãe, eu me diverti muito." Lizzie se afastou, puxando os


braços do meu pescoço para que ela pudesse expressar a sua história
A.L. JACKSON

com as mãos. "Era o dia B na escola hoje, e depois cantamos uma


canção de abelha porque ela começa com a letra B2 e..."

Eu sorri para a minha filha, meu rosto rompendo com a força do


meu sorriso. O som de sua voz fez meu coração disparar, meu peito
encheu-se com carinho enquanto Lizzie retransmitia um relatório do
seu dia. Eu estava em êxtase de como inteligente a minha filha estava,
como intuitiva, como perceptiva era das coisas ao seu redor.

"Então nós colorimos fotos, e eu fiz um para você e tia Natalie e


tio Maffew" Lizzie tagarelava com emoção e orgulho.

"Isso soa muito divertido, Lizzie. Eu não posso esperar para ver
as imagens que coloriu", eu murmurei para minha filha. "Então, você
foi uma boa menina para a tia Natalie depois que ela pegou você hoje?"

Como se eu realmente precisasse perguntar, eu não conseguia


me lembrar de uma época em que a minha filha tinha se comportado
mal.

"Mamãe" — a voz de Lizzie ficou muito alta, e eu tive que morder


o lábio para não rir — "Eu sou sempre uma boa menina."

"Sim, você é, não é?" Eu cantava enquanto esfregava o nariz no


pescoço de Lizzie, fazendo-a gritar com o riso.

"Pare mamãe! Sem cócegas!"

Rindo, inclinei-me para colocar a minha filha no chão, mas não


antes de Lizzie olhar para mim, o rosto próximo maravilhado. "E vi um
homem bom hoje, mamãe."

Confusa, olhei para Natalie em busca de esclarecimento,


pensando no que minha filha estava falando. Natalie fez uma careta
com as palavras de Lizzie, mas murmurou depois, obviamente, não
desejando discutir isso na frente dela.

Isso me deixou desconfortável, mas encolhi os ombros, supondo


que não poderia ter sido nada de importante desde que eu não tinha
recebido um telefonema de Natalie.

2
Bee – Abelha em inglês.
A.L. JACKSON

Natalie e eu descarregamos as compras do carro com Lizzie ao


reboque.

Segui para a sala da minha casa modesta, um sentimento de


satisfação vindo mim. Eu ainda era incapaz de acreditar que eu
finalmente tive meu próprio lugar. O confortável sofá marrom de
camurça ficava no meio da sala, de frente para a televisão, o tapete
bege repleto de brinquedos e travesseiros.

Este foi de longe o meu lugar favorito. Era raro o dia em que
Lizzie e eu não estávamos no chão, jogando brinquedos ou sentadas no
sofá lendo um livro.

Lizzie saltava a nossa frente, entre o sofá e as escadas, no


caminho para a cozinha, cantarolando a canção que aprendeu no início
do dia.

Quando nós empilhamos os sacos de supermercado no topo das


bancadas de falso granito, eu não pude deixar de notar a maneira que
as mãos da minha prima tremiam, sua mandíbula rígida. Ela estava
completamente fora do personagem para alguém tão descontraída.

Pegando cegamente em um saco, eu comecei a guardar os


mantimentos, enquanto eu observava Natalie, ficando, por fim, muito
impaciente para esperar por ela oferecer uma explicação.

"O que está acontecendo com você hoje?" Eu exigi minha voz
baixa e preocupada.

Natalie olhou para Lizzie, que estava sentada na mesa da cozinha


colorindo, antes de olhar para mim.

"Houve apenas um cara que me assustou no supermercado." Ela


tentou jogá-lo fora com um encolher dos ombros, mas a careta no rosto
revelou seu alarme; sua voz era pouco mais que um sussurro quando
ela tentou esconder a nossa conversa de Lizzie.

Com a minha testa franzida e cabeça inclinada para o lado, tentei


ler em seu rosto. "O que você quer dizer?"

"Ele apenas..." — Natalie fechou os olhos e balançou a cabeça


como se fosse doloroso para ela recordar o evento — "...ficou olhando
A.L. JACKSON

para Lizzie." Ela abriu os olhos, encontrando o meu. "A parte mais
perturbadora era que Lizzie parecia ser tão interessada nele enquanto
ele estava com ela... era apenas... assim... estranho." Natalie hesitou
antes de se conformar com a palavra, como se não fosse capaz de
encontrar outra maneira de descrever a interação.

As palavras anteriores de minha filha vieram a mim, aquelas


sobre ver um bom homem. Eu precisava ter outra conversa com ela
mais tarde sobre os perigos de falar com estranhos. Agora, no entanto,
eu estava atrás de detalhes, sem saber se isto era algo que eu realmente
precisava me preocupar. Enquanto as intenções de Natalie eram
sempre boas, ela tinha a tendência a exagerar.

"O que ele fez que te deixou tão desconfortável?"

"Bem..." Natalie respirou fundo pelo nariz, virou-se para os


mantimentos, e retomou a tarefa enquanto ela falava. "Eu estava
escolhendo maçãs e, quando me virei, eles estavam apenas olhando um
para o outro."

Isso soou estranho, assim como Natalie tinha dito. Mordendo


meu lábio, eu tentei conter o pânico brotando em mim, concentrando
em ouvir Natalie enquanto eu guardava duas caixas do cereal favorito
de Lizzie no armário.

"Então em todos os corredores que passei, ele estava lá, e eu


tinha certeza de que ele já tinha coisas desses corredores em seu
carrinho. Realmente parecia como se ele estivesse nos seguindo. O
mais assustador foi que Lizzie ficava me pedindo para ir devagar para
que ela pudesse falar com ele. Quando eu perguntei se ela o conhecia,
ela disse que achava que sim, mas quando eu perguntei de onde, ela
disse que não sabia."

Minha pele se arrepiou quando calafrios percorreram minha


espinha. Olhei por cima do meu ombro, necessitando apenas confirmar
que a minha filha estava lá. Lizzie ainda estava colorindo e
silenciosamente cantarolando para si mesma. Eu fiz uma oração
silenciosa de agradecimento, antes de voltar para os sacos na minha
frente.

"Que idiota", eu murmurei sob a minha respiração.


A.L. JACKSON

Foi um comentário que Natalie deve ter ouvido, porque ela


continuou. "Oh, isso fica ainda pior. Eu fui carregar os mantimentos
no porta-malas do carro, e quando me virei, ele estava ali, apenas
estava lá olhando para ela. Eu não acho que eu já estive tão assustada
na minha vida. Peguei Lizzie, atirei-a no carro e fui embora." Ela
encolheu-se, acrescentando com pesar, "Eu perdi um dos sapatos
favoritos de Lizzie, mas eu não estava a ponto de perder tempo para
parar e pegá-lo."

Dei de ombros. "Não se preocupe com isso, vamos substituí-lo",


eu disse, apenas agradecendo pela minha prima ter sido tão cautelosa
com Lizzie. A coisa toda tinha sido provavelmente inofensiva, mas
quando era sobre a minha filha, prevenir era sempre melhor do que
remediar. Eu prefiro muito mais que Natalie exagere que seja
complacente. Foi uma das razões pelas quais eu confiava nela para
cuidar de Lizzie.

Voltei a guardar os mantimentos, olhando entre o que eu estava


fazendo e Natalie. Eu poderia ver que ela ainda estava abalada e
questionava a si mesma. "Você fez a coisa certa, Natalie. Nós vamos
apenas manter um olho ao redor, e se notarmos qualquer outra coisa
estranha, vamos denunciá-lo, ok?" Na esperança de acalmá-la, eu
estendi a mão e a abracei.

Natalie assentiu contra o meu ombro enquanto sua tensão


visivelmente dissipada. "Ok."

Quando ela se afastou, eu apertei sua mão em uma


demonstração de apoio, antes de me virar e pegar um par de caixas de
um saco. "Então, você pode descrevê-lo?"

Um pouco mais calma, Natalie inclinou suas costas contra o


balcão. "Bem, sim, eu acho que não poderia esquecê-lo. Ele
definitivamente não era alguém que normalmente me deixa nervosa.
Quero dizer, ele estava vestindo um terno de negócios... um bom terno
de negócios... Você poderia dizer que ele tinha dinheiro."

Eu fiz uma careta, reorganizando a imagem que eu tinha na


minha cabeça, porque um homem em um terno de negócios
definitivamente não era o que eu tinha imaginado.
A.L. JACKSON

"Ele era alto e muito magro, mas eu não sei, musculoso ao


mesmo tempo?" Natalie usou as mãos para demonstrar sobre o quão
grande ela pensou que o homem era. "Ele era, provavelmente, da sua
idade, e de muito, muito bom aspecto."

Quanto mais Natalie o descreveu, mais eu comecei a pensar que


ela tinha exagerado a coisa toda. Sua representação soou mais como a
visão que a maioria das mulheres tem de um cara dos sonhos do que
algum perseguidor assustador.

"Ele tinha o cabelo preto... e os seus olhos... ele tinha os olhos


mais marcantes; eles eram um azul intenso."

Engoli em seco, deixando cair às caixas que eu estava segurando


quando bati minhas mãos sobre a minha boca para absorver o som que
saiu.

Oh Deus, por favor, não.

Natalie saltou para trás, parecendo chocada com a minha súbita


mudança de comportamento, seus olhos seguindo os meus que
estavam trancados em Lizzie. A menina olhou para cima e sorriu
largamente quando ela nos notou olhando para ela, com os olhos
brilhantes cheios de alegria, totalmente inconsciente de qualquer coisa
errada.

"Oh Meu Deus", Natalie murmurou baixinho quando tudo se


encaixou no lugar.

Eu me atirei desconfortavelmente na cama, incapaz de fugir do


medo que tinha me seguido em uma noite de sono agitado. Eu sonhei
com ele de novo e de novo, por vezes, encontrando-me envolta na
ternura de seus braços e outras vezes encontrando com a dureza das
últimas palavras que ele tinha me dito. Eu não sabia o que era pior.

Quando eu não podia suportar ver seus olhos azuis nos meus
sonhos mais, eu me levantei e me arrastei pelo corredor até o quarto
de Lizzie. Sua porta ficava parcialmente aberta, apenas o suficiente
para a luz do corredor entrar, aquecendo seu quarto em um brilho
suave.
A.L. JACKSON

Encostei-me ao batente da porta, olhando para a minha filha e


me perguntando como qualquer criatura poderia ser tão bonita.

Ela me encarava, o rosto pressionado contra o travesseiro


enquanto dormia de lado, com o cabelo espalhado atrás dela. Ela se
agarrou ao seu cobertor favorito, o rosa claro com barra de cetim. Ele
estava puxado contra o peito, sua mão pequena segurando o material.

Nunca me senti tão impotente. Eu faria qualquer coisa para


proteger a minha filha, mas realmente, eu não sabia se havia alguma
coisa para protegê-la.

Mesmo que o homem fosse Christian, o que me fazia pensar que


ele iria tentar levar Lizzie de mim agora? Ele havia deixado claro que
não queria nada com a criança, e eu tinha certeza de que um encontro
casual não ia mudar isso.

Ainda assim, eu não podia deixar de me sentir ameaçada pela


ideia dele estar aqui, na minha cidade. De pé, silenciosamente na porta
da minha filha, eu prometi a mim mesma que não importa o que
aconteça, eu nunca permitiria que ele destruísse a minha família, se
ele vier hoje ou em dez anos. Nunca eu iria permitir que Christian
tivesse a chance de ferir Lizzie do jeito que ele me machucou.

Até o momento de ir trabalhar na manhã seguinte, o lado


racional de mim tinha desacreditado a possibilidade de que o homem
na loja fosse Christian, embora de alguma forma no meu coração, eu
sabia que era ele. Eu disse a mim mesma que ele não era o único
homem de cabelos pretos e olhos azuis no mundo, e que Christian
estava, provavelmente, mais de três mil quilômetros de distância, agora
um advogado figurão na empresa de seu pai.

Passando através do trabalho, grata que era sexta-feira e que eu


tinha todo o fim de semana com Lizzie. Eu havia planejado uma viagem
para a praia, algo que havia se tornado uma tradição para nós. Eu
adorava quando eu era criança. Algumas das minhas melhores
lembranças vieram dos intermináveis dias que passei brincando na
areia com minhas irmãs, e eu queria dar a minha filha essas mesmas
experiências.
A.L. JACKSON

A casa estava vazia quando cheguei. Matthew teve o dia de folga,


então ele e Natalie tinham levado Lizzie ao zoológico e disseram que não
estariam em casa até por volta das seis. O que me deu uma chance de
correr ao redor da casa, juntando os brinquedos do chão e colocando
na caixa de brinquedos que ficava contra a parede, e arrumar a
cozinha, tarefas que sempre pareciam ser negligenciadas durante a
semana.

Assim que girei o botão para iniciar a máquina de lavar louça, a


campainha tocou cinco vezes seguidas. Sorrindo, me dirigi à porta da
frente, sabendo que havia apenas uma pessoa que poderia ser tão
impaciente. Eu abri.

"Lizzie!" Eu cantei, inclinando-me para baixo ao nível da minha


filha, para que eu pudesse abraçá-la, salpicando o seu rosto com beijos
ruidosos.

"Oi, mamãe. Veja o que o tio Maffew me deu.” Lizzie


orgulhosamente ergueu uma pequena girafa de pelúcia.

"Oh que fofo. Isso foi tão legal da parte dele." Matthew caminhou
pela calçada e eu sorri largamente para ele quando levantei, dando meu
agradecimento silencioso. Ele nunca deixou de fazer a minha filha se
sentir especial.

"Ei, Liz." Matthew se inclinou para beijar minha bochecha


quando ele entrou pela porta, seguido por Natalie, que parou para me
dar um abraço.

"Ei, pessoal. Obrigada por levar Lizzie. Parece que ela teve uma
explosão." Eu olhei entre o casal e Lizzie, que estava de joelhos no chão
pegando os brinquedos que eu tinha acabado de arrumar,
murmurando sobre seu elefante de pelúcia.

Matthew tirou o boné de beisebol de sua cabeça e passou a mão


pelo cabelo castanho curto.

"Sem problemas. Tivemos um grande momento, não foi, Lizzie?"

"Sim!" Ela concordou do seu lugar no chão.

"Vocês vão ficar para o jantar? Eu estou fazendo lasanha."


A.L. JACKSON

Matthew olhou para Natalie e depois sacudiu a cabeça, se


desculpando. "Sinto muito, Liz, mas nós planejamos um encontro à
noite".

Eu tentei, sem sucesso, esconder a decepção que corou meu


rosto. "Oh, ok."

Matthew deu um sorriso triste. Era um que eu conhecia bem,


que me disse que estava tudo bem para seguir em frente e que eu não
tinha que ficar sozinha. Enquanto eu apreciei o sentimento, era algo
que eu não iria considerar. O único relacionamento depois de Matthew
que eu tentei tinha terminado perto do desastre, e eu aceitei que nunca
iria amar novamente. Esse conhecimento tornou namorar sem sentido.
Eu só estaria desperdiçando um tempo precioso que poderia ser gasto
com a minha filha.

Fingi não notar a conversa silenciosa que Matthew tentou ter


comigo, eu chamei Lizzie para vir se despedir. Seguimos Matthew e
Natalie para seu carro, Lizzie dando abraços e beijos para o fim de
semana. Abracei os dois, sussurrando o meu agradecimento. Ambos
asseguram, mais uma vez, que eles devem ser os únicos a me
agradecer.

De pé na beira da calçada na entrada da garagem, Lizzie e eu


acenamos e os vimos indo embora. Olhei para Lizzie, que estava
abraçando minha perna e sorrindo para mim. Ela era tão preciosa.

Carinhosamente, eu passei a mão pelo cabelo da minha filha, o


meu sorriso cheio de dentes correspondentes aos dela. "Você está com
fome, princesa?"

Lizzie assentiu contra a minha mão quando me mudei para tocar


seu rosto, seu sorriso evidente foi pressionado contra a palma da minha
mão. Respiro profundamente, eu saboreava a emoção que viajava entre
nós, só para ficar rígida quando ouvi uma voz que eu nunca poderia
esquecer chamando meu nome.

"Elizabeth?"
A.L. JACKSON

11.7 quilômetros.

Fiquei olhando sem piscar para a tela quando gravei o número


na minha cabeça.

Elizabeth Ayers vive a 11.7 quilômetros de distância.

Meus dedos tremiam enquanto tracei a linha no mapa, a fantasia


da minha criança vivendo perto de mim tornando-se uma firme
realidade. Meu peito encheu com as mesmas emoções de adoração que
eu senti antes, quando eu vi pela primeira vez a criança e permiti que
a minha mente vagasse com possibilidades, possibilidades de conhecê-
la, de amá-la - de ser seu pai. Eu queria desesperadamente preencher
essa posição. E eu sabia que ela me queria também.

Ao mesmo tempo, eu estava apavorado em ver Elizabeth


novamente. O pensamento dela nos braços de outro homem era quase
insuportável, agravado por saber que eu a tinha forçado lá. Mas maior
do que tudo isso, seria estar na frente dela com a vergonha que eu
sentia. Eu sabia que não merecia nada delas, merecia que não me
deixassem desempenhar qualquer papel em suas vidas, mas se eu
merecesse ou não, eu não podia voltar atrás. O rosto da criança estava
gravado em minha mente.
A.L. JACKSON

O trabalho passou devagar demais. Passei o dia tentando me


concentrar nas coisas que eu tinha que terminar, mas minha mente
continuamente se desviava para uma menina com cabelo preto e olhos
azuis. No momento em que a minha última reunião do dia tinha
acabado, eu estava de pé e me dirigindo a porta, esquivando-me da
interferência inevitável dos empregados com necessidade de
orientação. Em qualquer outro dia, eu não teria me importado, mas
hoje foi diferente. Eu rapidamente me desculpei de cada conversa com
pouco mais do que uma palavra e corri para os elevadores em direção
a garagem abaixo.

Digitando o endereço que eu tinha memorizado na noite anterior


no meu GPS, parti para encontrar a minha filha. Cada batida do meu
coração batia mais forte quanto mais perto eu estava. No momento em
que eu virei para a rua estreita, alinhada com pequenas casas, eu mal
podia respirar. A capacidade deixou-me totalmente quando me deparei
com o endereço.

Em pé, na calçada, estava a minha filha nos braços de Matthew,


a mesma criança que eu tinha me apaixonado no dia anterior. Ela
estava abraçando-o com força. Fui tomado de ciúmes e perda,
enquanto eu observava a cena diante de mim. Lutei contra essas
emoções, lembrando-me que isto era minha culpa.

Rapidamente, porém, meu ciúme se tornou confusão enquanto


eu observava Matthew definir a criança para baixo e puxar Elizabeth
para um abraço antes de colocar um beijo modesto contra sua
bochecha. A confusão apenas cresceu quando Matthew se voltou para
a mesma mulher de ontem, tomou sua mão, e a levou até o carro.

Rapidamente, estaciono próximo ao meio-fio do outro lado da


rua, certificando-me que os dois carros estacionados na rua estavam
obstruindo a vista do meu carro.

Senti-me perplexo quando eu testemunhei Matthew inclinar-se


através do console de seu carro e beijar a garota, depois que ela se
sentou no banco do passageiro. O beijo não foi obsceno, mas
claramente era partilhado entre amantes. Em seguida, os dois foram
embora e me deixaram lutando para dar sentido ao que eu tinha
acabado de ver.
A.L. JACKSON

Meu coração afundou quando o choque se transformou em


realização. Eu balancei a cabeça, mordendo o interior da minha boca
até tirar sangue. "Não." Eu fechei os olhos, desejando apenas respirar
antes de desmaiar.

Matthew não estava com Elizabeth. Bati meu punho contra a


minha perna, minha cabeça cheia de acusações enquanto eu
silenciosamente me amaldiçoei por ser incrivelmente estúpido. Ele
deveria estar com ela, amá-la, cuidar dela. Eu literalmente me senti
doente com o ódio que corria através de mim, esse julgamento dirigido
apenas a mim mesmo.

Abrindo os olhos, olhei em direção à calçada. Um nó se formou


na minha garganta enquanto eu olhava para Elizabeth. Ela era tão
linda, linda demais. Meu corpo queimou para a única mulher que eu
já tinha amado. Por que eu tinha sido sempre tão estúpido, tão egoísta?
Como se alguma coisa poderia ter sido mais importante do que ela.

Elizabeth acariciou a mão pelo cabelo da nossa filha, o amor


aparente na expressão suave de seu rosto enquanto ela tocou o rosto
da criança. Eu não podia esperar mais. Saí do meu carro e fui em
direção a ela, do outro lado da rua.
A.L. JACKSON

"Elizabeth."

Um arrepio percorreu minha espinha, quando sua voz penetrou


meus ouvidos, escoando através do meu corpo. O som veio como calor
correndo pelas minhas veias, deixando um choque de frio, uma vez que
passou. Minha cabeça se levantou, encontrando seu rosto, seus olhos
azuis intensos, emoção derramando a partir deles enquanto olhava de
Lizzie para mim. Isso era tudo que eu podia fazer para não cair no chão
quando senti o mundo que eu tinha construído desabar em torno de
mim.

As palavras de Lizzie mal se distinguiam quando ela puxou meu


braço, tentando chamar minha atenção. "Mamãe, é o homem bom."
Tudo o que eu conseguia pensar era que Christian havia voltado aqui
para esmagar o último pedaço do meu coração. Com uma mão, eu
apertei meu estômago que se retorcia em nós, a outra pressionada
sobre minha boca para cobrir o grito chocado em minha garganta. Eu
me encontrei incapaz de desviar o olhar enquanto eu encarava
Christian através das lágrimas quentes de raiva. Certamente, ele
poderia ver em meu rosto e em meus olhos, o amor por ele que eu ainda
mantinha como uma menina tola aguardando o retorno de seu amante
perdido há muito tempo. Enfureceu-me que ele ainda tinha esse tipo
de controle sobre mim. Mas isso não era sobre o meu coração partido.
Isso era sobre a menina puxando meu braço, tentando mais uma vez
chamar minha atenção.

Eu tinha que protegê-la. "Lizzie, vá para dentro."

Quando falei, Christian tirou sua atenção de mim e olhou para


Lizzie com adoração. Por que ele estava olhando para ela assim? Como
se ela significasse tudo. Com os olhos brilhantes, Lizzie olhou para ele,
A.L. JACKSON

sorrindo como se a qualquer segundo ela iria correr pela rua e em seus
braços.

Eu não podia deixar isso acontecer.

"Lizzie... vá para dentro, agora."

"Mas, mamãe..."

"Agora!" Eu me encolhi, odiando o jeito que eu parecia,


especialmente porque foi dirigida a minha filha.

O olhar no rosto de Lizzie me rasgou em pedaços, a confusão por


estar recebendo gritos sem ter feito nada de errado. Lágrimas escorriam
pelo seu rosto gordinho, e ela hesitou um momento, olhando mais uma
vez para Christian, antes de correr para casa.

Sem dúvida, eu tinha quebrado uma parte do coração da minha


filha, enviando-a para dentro, mas o que eu estava protegendo era
muito maior do que isso. Sua mente inocente não poderia começar a
entender a mágoa que este homem acabaria por trazer a ela.

Lentamente, eu me virei de volta para Christian, lutando para


parecer forte, para ser forte, e para fazê-lo entender que ele não era
bem-vindo aqui. Meus joelhos estavam tremendo quase tanto quanto
meu lábio inferior e eu estava certa de que ele sabia que eu não era
nada. Toda emoção que eu já tinha experimentado fervia apenas sob a
superfície - o amor, o ódio, o medo, a perda e, acima de tudo, a traição
-, a turbulência dentro de mim, fazendo o meu corpo tremer de raiva.

Ele olhou para mim, sua expressão de remorso, sincero -


esperançoso até. Fez-me furiosa. De pé, em frente a mim, estava o
homem que tinha me deixado para criar uma criança sozinha,
certamente sem nunca nos dar um segundo pensamento. Agora, ele
estava a apenas alguns centímetros diante de mim, expectante, como
se Lizzie e eu lhe devêssemos alguma coisa.

Inacreditável.

"Como você ousa." As palavras não eram o que eu esperava jorrar


da minha boca, mas eram apropriadas. Como ele ousa aparecer aqui
na minha casa depois do que tinha feito. Rapidamente, eu limpei as
A.L. JACKSON

lágrimas, tentando apagá-las do meu rosto. Ele nem sequer merecia.


Ele não merecia nada.

"Elizabeth." Seus olhos se encheram de emoção que eu tinha


acreditado uma vez ser genuína, uma suavidade que falava de amor e
lealdade, mas eu sabia que agora era nada mais do que uma ferramenta
de manipulação. Recusei-me a ser vítima dele novamente.

"Como você ousa vir aqui." Levantei-me mais alto em uma


tentativa de manter meu espaço.

O que eu disse não fez nada para balançar Christian de qualquer


propósito que o levara até ali, e ele deu mais um passo para a rua.
Comecei a entrar em pânico, minha mente agarrando a qualquer coisa
que eu podia fazer para ele compreender quão séria eu estava. "Se você
der mais um passo, eu vou chamar a polícia."

Christian parou no meio da rua, o olhar chocado e um pouco


frustrado quando ele passou a mão pelo cabelo preto. Ele balançou a
cabeça, a dor em sua voz pegando-me desprevenida.

"Elizabeth, eu não vou te machucar."


As palavras dele me trouxeram firmemente de volta à realidade.

Uma risada desdenhosa escapou dos meus lábios. "Você não vai
me machucar?" Eu olhei nos olhos dele, certificando-me de que ele
entendeu. "Ninguém nunca me machucou tanto quanto você fez
Christian. Ninguém." Sim, eu parecia uma amante desprezada, mas
isso era exatamente o que eu era. "Agora eu quero que você saia."

"Elizabeth, eu sinto muito... Foi minha culpa... Eu sei... Por


favor." Eu vi quando ele tropeçou sobre si mesmo, tentou se desculpar
como se qualquer desculpa que ele poderia dar ganharia o acesso a
nossas vidas. Recusei-me a acreditar em suas mentiras. Uma vez eu
tinha confiado nele com a minha vida, mas agora eu sabia melhor. Eu
nunca iria permitir que a minha filha ou eu mesma fôssemos colocadas
à disposição de Christian novamente.

"Saia."

"Por favor, Elizabeth. Preciso ver minha filha."


A.L. JACKSON

Sua filha? Todos esses anos eu sabia que Christian era um


homem egoísta, mas eu nunca poderia ter imaginado a profundeza
disso. Engoli em seco, balançando a cabeça em seu descaramento,
incapaz de acreditar no que ele acabara de dizer. "Ela não é sua filha.
Ela é minha filha." Ele poderia se desculpar por tudo o que ele queria,
mas ele nunca iria mudar o que ele fez. Ele havia nos descartado e ele
não tinha o direito de adentrar em nossas vidas.

Virei-me e o deixei lá, em pé. Eu não podia suportar estar em sua


presença por mais um momento.

Lizzie estava na janela, parecendo ferida e assustada por tudo


que não podia compreender. Em apenas cinco minutos, Christian tinha
conseguido jogar a minha família em completo tumulto, e eu não tinha
ideia de como reparar o dano que ele já tinha feito. Tudo o que eu sabia
era que minha filha estava sofrendo. Corri para dentro e a arranquei
para longe da janela. No início, ela resistiu, lutando em meus braços
para voltar lá, antes que ela enterrasse o rosto no meu pescoço. Eu
podia sentir sua confusão, a forma como ela precisava de mim para
confortá-la o tempo todo sendo atraída para o homem lá fora. As
lágrimas corriam pelo meu pescoço e na minha camisa. Eu a acalmei à
medida que balançava ela, segurando-a com um braço enquanto a mão
livre corria do topo de sua cabeça até suas costas, sobre os fios de seda
de seu cabelo.

"Está tudo bem, querida," murmurei contra sua cabeça. "Vai


ficar tudo bem."

Ela se afastou, o rosto perfeito confuso e quebrado, e fez-me uma


pergunta que eu me senti incapaz de responder. "Mamãe, quem é esse
homem?"

Como eu poderia dizer que o homem que eu tinha acabado de


mandar embora era seu pai ou lidar com as perguntas que certamente
viriam a seguir? Em vez disso, eu pressionei meus lábios na sua testa
e sussurrei, "Mamãe te ama tanto, Lizzie."

Ela assentiu, como se sua mente de quatro anos de idade


entendesse que eu estava pedindo-lhe tempo, que meu coração ainda
não estava pronto para quebrar o dela ainda mais. Ela se agarrou ao
A.L. JACKSON

meu pescoço desesperadamente enquanto eu a abracei, antes que eu,


relutantemente, a colocasse no chão.

"Você pode ser uma menina grande para a mamãe, subir as


escadas e brincar no seu quarto até o jantar ficar pronto?" Acariciei sua
bochecha enquanto eu implorava com os meus olhos. Ela olhou para
mim, nunca parecendo tanto Christian do que naquele momento. Sorri
tristemente para ela, desejando que não doesse tanto.

Ela lançou um último olhar para a janela antes de olhar para


mim. "Tudo bem, mamãe".

Uma vez que ela estava em segurança no andar de cima, eu


cautelosamente olhei através das cortinas, rezando para que Christian
tivesse desaparecido, embora intuitivamente sabendo que ele não
tinha. Ele estava sentado em seu carro, seu olhar encontrou o meu, os
olhos implorando por perdão enquanto o meu silenciosamente
implorava para que ele nos deixasse em paz.

O jantar foi tranquilo. Lizzie falou muito pouco a noite inteira,


nada além de "Obrigada, mamãe." quando eu coloquei seu pequeno
prato de lasanha na frente dela. Nenhuma de nós comeu muito, e eu
sabia que sua mente estava focada no que tinha acontecido esta tarde,
assim como a minha estava. Eu devia uma resposta à sua pergunta,
mas eu ainda não tinha encontrado o caminho certo para contar a ela.

Nós passamos pela nossa rotina normal à noite, embora sem


entusiasmo. Em seu banho noturno faltava os risos normais e salpicos,
e, pela primeira vez em sua vida, ela não queria uma história para
dormir. Ela subiu em sua cama, e eu puxei as cobertas sobre o seu
peito e beijei suavemente sua cabeça. Eu esperava que ela se aninhasse
em seu travesseiro e bocejasse da forma como ela sempre fazia, mas
em vez disso ela olhou para mim, esperando. Caí de joelhos ao lado da
A.L. JACKSON

cama, sabendo que eu não poderia adiar por mais tempo. Abri a boca,
procurando o caminho certo para dizer a ela, mas ela falou primeiro.

"Ele era meu papai?" Todo o ar me deixou quando suas palavras


suaves e tímidas vieram como um sussurro em seu quarto escuro. Eles
estavam cheios de tanta esperança, e agora eu não podia fazer nada
além de esmagar sua esperança, tão logo ela tinha nascido.

Uma única lágrima escorreu pelo meu rosto enquanto eu assenti.


Engolindo em seco, olhei ao redor do quarto enquanto eu tentava reunir
coragem suficiente para falar. Finalmente, me voltei para ela. "Sim,
querida, era." Lizzie sabia pouco de Christian. Ela tinha perguntando
uma vez, logo depois que tinha começado a pré-escola. Ela queria saber
por que ela não tinha um papai como o resto das crianças. Eu só tinha
dito a ela que seu pai vivia longe. Eu sabia que um dia eu teria que
explicar a escolha que ele fez. Eu só não achava que seria tão cedo.

Respirando profundamente, eu estendi a mão e escovei o cabelo


para longe de seus olhos, brincando com os fios longos, enquanto eu
comecei a falar. Tristeza tomou conta de seu rosto quando eu descrevi
o mais suavemente que pude que seu pai havia escolhido uma vida
diferente, uma sem nós nela. Orei para que ela não fosse entender o
que isso realmente significava. Claro, eu deveria ter sabido melhor.

Minha filha sempre perspicaz me olhou diretamente no rosto e


perguntou: "Você quer dizer que o meu papai não me queria?"

Como eu deveria responder a isso? Eu descobri que não podia.


Não o faria. Nenhuma criança deve se sentir rejeitada da forma como
ela tinha sido. Em vez disso, eu subi na cama ao lado dela e a puxei
para mim. Eu beijei sua testa, prometendo que eu a queria a partir do
momento que eu descobri que ela estava para nascer.

Christian pode não a ter querido, mas eu nunca quis mais nada
na minha vida.

Nós ficamos assim durante o que pareceu horas, ganhando o


consolo de minha filha enquanto eu tentava fornecer-lhe o mesmo, a
respiração dela finalmente começou a nivelar quando ela caiu no sono.
Permiti-me deliciar com o conforto tranquilo da minha filha.
Aproximando-me do sono, Lizzie se aconchegou mais perto e
A.L. JACKSON

pressionou o rosto no meu peito, murmurando de algum lugar em seu


subconsciente. "Mas meu pai me quer agora."

Meu estômago se retorceu quando o meu celular tocou. Apanhei-


o do console do meu carro, olhando para a tela enquanto eu dirigia -
não que eu precisasse ver. Eu sabia exatamente quem era. Ele estava
ligando continuamente desde sexta-feira passada, quando ele apareceu
na minha casa. Eu tinha passado a noite no quarto de Lizzie, sem
vontade de deixar o calor de sua presença. Sábado de manhã, fui
acordada por um beijo brincalhão na minha bochecha. Eu tinha aberto
os olhos para encontrar Lizzie rindo de mim. Parecia o começo perfeito
para o dia.

Esse sentimento não durou muito tempo, desaparecendo quando


descobri as quatro chamadas perdidas, duas mensagens de voz e três
mensagens de texto - todas de Christian. Elas eram todas iguais, cheias
de desculpas e súplicas para fazer uma reparação. Inicialmente, eu
estava chocada. Eu não tinha ideia de como ele tinha conseguido o meu
número de telefone celular. Ao longo da semana seguinte, o número de
chamadas aumentou com fervor em sua voz.

Eu apertei para silenciar o som e, na minha frustração, eu joguei


o telefone contra o banco do passageiro.

Eu estava assustada.

Ele estava tão desesperado como se sua vida dependesse de ver


ou não Lizzie novamente. Minha mente paranoica tinha começado a
evocar cenários aterrorizantes, a maioria delas centrada em uma
chamada da escola de Lizzie, dizendo que ela tinha desaparecido de
repente, visto pela última vez com um homem que tinha uma
semelhança estranha com ela. Se eu me aproximasse da situação de
forma realista, porém, eu sabia que havia pouca chance dele fazer algo
tão criminal.
A.L. JACKSON

Esse era o meu pior medo, porém, o que era legal, quais os
direitos que ele poderia ter. Cada noite desta semana, depois de eu ter
colocado Lizzie na cama, eu tinha pesquisado. Parecia que tudo se
resume ao que o tribunal iria acreditar que seria o melhor interesse da
criança. O problema era que eu sabia o que era melhor para a minha
filha e isso era mantê-la longe do homem que acabaria machucando-a,
mas eles iriam ver dessa forma? Isso me deixou sentindo
completamente fora de controle, sem saber do nosso futuro.
Vulnerável.

Eu me encolhi quando meu telefone soou novamente, indicando


uma nova mensagem de voz. Rezei para que se eu a ignorasse por muito
tempo, ele finalmente iria desistir.

O trabalho passou em uma névoa. Os rostos eram um borrão, e


eu esperava que o torpor que me rodeava não estivesse afetando o meu
trabalho. Acontece que eu tinha esperado em vão. Scott, um dos nossos
dois agentes de crédito, pegou meu braço e me puxou de lado, com uma
expressão preocupada. Ele era divorciado, tinha 32 anos de idade, e,
tirando Christian, provavelmente o homem mais atraente que eu já vi.
Ele não deixou diminuir seu aperto enquanto seus olhos verdes
procuraram meu rosto, seu polegar fazendo círculos sobre minha pele.

"O que está acontecendo com você esta semana, Liz? Estou
preocupado com você." Sua voz era suave, macia, pingando com o
carinho, que eu disse a ele uma e outra vez que eu nunca poderia
retornar. Ele tinha resolvido ser meu amigo, mas eu tinha certeza de
que ele acreditava que um dia eu mudaria de ideia.

Tirando a franja do meu rosto, suspirei profundamente. "Eu


estou bem", eu sussurrei sob a minha respiração. "Está sendo apenas
uma semana ruim." O que era um eufemismo. Tinha sido uma das
piores semanas da minha vida.

"Você quer falar sobre isso?"

Eu balancei a cabeça, esperando que o meu sorriso forçado


projetasse o meu apreço. "Não, eu estou bem. Obrigada. Eu só tenho
um monte na minha mente agora."
A.L. JACKSON

Ele balançou a cabeça, apertando meu braço. "Ok, Liz, mas eu


estou aqui para você." Ele baixou a cabeça, encontrando meus olhos.
"Você sabe disso, certo?"

"Sim, eu sei."

"Tente concentrar-se lá fora, está bem", acrescentou com


relutância, claramente desconfortável, trazendo minhas deficiências
durante a semana passada. "Eu não sou o único que percebeu que você
esteve fora de seu jogo nesta semana." Ele fez um gesto com a cabeça
em direção à nossa gerente de filial, Anita, que estava nos observando
de sua mesa em frente à entrada.

Eu me encolhi, sentindo-me culpada e envergonhada por


permitir que meus problemas pessoais afetassem o meu trabalho.

"Obrigada pelo aviso."

"Por nada. Agora volte ao trabalho", disse ele quando seu tom de
voz ficou brincalhão. Eu sorri para ele, balançando a cabeça enquanto
eu caminhava de volta para minha janela.

Tomei uma respiração profunda, voltei à minha gaveta, dando-


me uma conversa de vitalidade mental, sobre deixar meus problemas
pessoais em casa. Mesmo se o sorriso que dei para a minha próxima
cliente fosse falso, pelo menos era um sorriso e não uma careta. Ela
completou sua operação e me desejou uma boa noite, eu desejei-lhe o
mesmo.

Chamei o próximo enquanto olhava para o minha tela do


computador, limpando-a para preparar para o cliente seguinte.

"Elizabeth, eu preciso falar com você." Sua voz baixa me bateu


tão duro como se ele tivesse me batido contra uma parede.

Christian estava na minha janela, com as mãos segurando o


balcão quando ele se inclinou para mim. Eu tentei desviar o olhar de
seus olhos penetrantes, para escapar da intensidade por trás deles. A
paixão nadando neles foi, provavelmente, a coisa mais assustadora que
eu já vi. Foi então que eu percebi que ele não iria desistir. Oprimida,
comecei a chorar.
A.L. JACKSON

"Por favor, nos deixe em paz", eu supliquei, implorando a ele para


apenas uma vez não pensasse só em si mesmo.

"Sinto muito, Elizabeth, eu não posso. Eu tenho que ver Lizzie."


Seu rosto se iluminou quando ele disse o nome dela. Isto me fez doente.

Eu balancei minha cabeça. "Não." Eu não estava cedendo. Eu


não permitiria que ele ferisse meu bebê.

"Por favor, não faça isso, Elizabeth. Você não pode me impedir
de vê-la", ele declarou como se ele tivesse direito sobre dela. Tanto
quanto eu estava preocupada, ele tinha desistido de seus direitos no
momento em que ele tinha me expulsado. Eu ia lhe dizer muitas coisas,
até que as palavras "Eu a amo" passaram por seus lábios.

Ele a amava? Eu podia sentir meu rosto corar quando a raiva


subiu por minhas veias. "Você o quê?" Eu fervi incapaz de conter a fúria
subindo. "Você não a ama." Cinco anos sem nenhum contato e agora
ele a ama? Eu podia sentir-me começando a tremer, e desta vez eu não
iria segurar. Ele precisava saber o quão equivocado estava. "Você é
egoísta demais para saber o que é o amor, e eu não vou ficar parada e
assistir você quebrar o coração de Lizzie quando você tiver o suficiente
dela, do jeito que você fez comigo."

Christian empalideceu com as minhas palavras, quase como se


ele não soubesse que tinha quebrado o meu coração, e se ele não tinha
percebido isso, então ele era verdadeiramente um tolo. Eu tinha amado
ele – muito. Eu tinha dito a ele todos os dias e eu quis dizer isso. Ele
prometeu casar-se comigo, passar sua vida comigo, me amar para
sempre. Aparentemente, eu tinha sido uma tola em acreditar.

"Elizabeth." Sua voz estava rouca quando ele implorou, "Eu não
sou mais aquela pessoa. Por favor, me dê uma chance. Eu prometo que
não vou a lugar nenhum."

Eu queria rir na cara dele. "Eu não me esqueci da última vez que
você fez essa promessa, Christian." Tantas vezes ele disse que nunca
iria me deixar.

Aproveitei sua pausa, a sua perda de palavras, e endureci a


minha voz. "Fique fora de nossas vidas, Christian." Ele precisava saber
A.L. JACKSON

que nenhuma quantidade de arrependimento iria dar-lhe o perdão. O


que ele tinha feito era imperdoável.

Christian segurou a cabeça entre as mãos, e quando ele olhou


de volta para mim, seu rosto estava contorcido em uma angústia que
eu não entendia. "Por favor, Elizabeth... não... não me faça levar isso
para o tribunal."

Meus joelhos ficaram fracos assim que ele vocalizou o meu maior
medo, e eu tinha certeza de que meu coração ia falhar no meu peito.
Ele estava indo realmente tentar tirar a minha filha. Dei um passo
vacilante para trás enquanto a sala começou a girar. Havia tantas
emoções rondando, consumindo, mas um pensamento cancelou todos
eles. Abri a boca e, mesmo que o som mal saiu, eu estava certa de que
ele ouviu.

"Eu te odeio."

Cobri minha boca enquanto corri para a sala de descanso, na


esperança de esconder-me antes que eu quebrasse completamente. No
momento que eu estava a salvo por trás da porta, eu me perdi. Gritos
ecoaram pela pequena sala, meu corpo convulsionando, agarrado com
medo. Eu tentei me equilibrar segurando na mesa, mas caí de joelhos,
as pernas incapazes de suportar o peso do que tinha acabado de
ocorrer. Eu senti como se estivesse me afogando. Sons vinham em
ondas confusas aos meus ouvidos, e eu senti o movimento e sabia que
não estava sozinha, embora eu fosse incapaz de me concentrar em
nada além da sensação de medo que percorreu meu corpo. A pressão
no meu peito me deixou ofegante, em busca do ar que eu não conseguia
encontrar.

Alguém me balançou, uma voz alarmada repetindo, "Elizabeth."

Esforcei-me para ver o rosto, para ouvir a voz, e, finalmente, abri


meus olhos para encontrar Scott ajoelhado à minha frente. O olhar de
preocupação que ele tinha anteriormente foi substituído por um de
pânico. Suas mãos tremiam enquanto ele segurava meus ombros.

A mão macia esfregou minhas costas enquanto a voz suave de


Selina persuadiu, "Acalme-se, Liz. Respire fundo... Apenas relaxe."
Com suas palavras, o meu ataque de ansiedade deu lugar a uma
A.L. JACKSON

torrente de lágrimas, e eu cai nos braços de Scott, soluçando em sua


camisa.

Selina se levantou e voltou, segundos depois, com um copo de


água e um pano frio, molhado, pressionando um contra a minha testa
e levando o outro aos meus lábios. Scott me ajudou a sentar em uma
cadeira e eu aceitei a água, permitindo que a frieza acalmasse a minha
garganta ardida, embora não podia fazer nada para acalmar minha
alma.

Tudo o que eu conseguia pensar era que eu falhei com a minha


filha.

Selina me levou para casa e Scott seguiu em meu carro. Era


evidente que eu não estava em condições de terminar o meu dia de
trabalho. Selina se ofereceu para entrar, mas eu recusei. Eu só
precisava ficar sozinha.

Eu me arrastei para o andar de cima, cada passo me sugando


em desespero. No momento em que entrei no meu quarto, eu voltei a
ficar de joelhos, chorando no tapete.

Eu não tinha ideia de quanto tempo tinha passado quando ouvi


a campainha da frente tocar, e, em seguida, tocar novamente.

Finalmente, o som de uma chave na fechadura e o ranger da


porta da frente veio.

"Elizabeth?" A voz de Natalie veio do andar de baixo.

Em seguida, a alegre voz de Lizzie cantou, "Onde está você,


mamãe?"

Eu chorei mais forte, no chão, pensando em como em breve


Christian iria roubar essa alegria. Pisadas soaram contra as escadas,
e eu podia sentir Natalie parada na porta do meu quarto. Os passos de
Lizzie seguiam logo atrás.

Levantando minha cabeça, eu vi o rosto de Natalie conforme ela


entrou com os olhos arregalados enquanto ela via a bagunça em meu
rosto por eu ter chorado tanto.
A.L. JACKSON

"Por favor, não deixe que Lizzie me veja desta forma," eu consegui
dizer com minha voz rouca.

Ela hesitou, desejando claramente vir ao meu lado, antes de


assentir e se afastar. Ela parou Lizzie pouco antes dela chegar à porta.

"Lizzie, querida, sua mãe não está se sentindo muito bem agora.
Vamos descer e iniciar o jantar."

"Ela está doente?" A voz de Lizzie caiu para um sussurro. Eu


podia sentir sua tentativa de perscrutar o quarto, e Natalie
movimentando-se para bloquear sua visão.

"Sim, querida, mas ela vai ficar bem, não se preocupe."

A porta do quarto foi fechada entre nós, e eu fui deixada com


apenas o eco de sua descida ao térreo e a ansiedade que tinha me
pregado ao chão. Eu queria levantar, secar os olhos e ir para a minha
filha, mas eu sabia que não seria capaz de ficar na frente de Lizzie e
fingir que a vida que conhecíamos não tinha acabado de chegar a um
fim.

Parecia que horas haviam se passado enquanto eu nadei na


minha miséria, mas o céu mal tinha escurecido, com a aproximação da
noite, quando a minha porta se abriu e eu estava embrulhada no
conforto dos braços de Matthew. Ele sentou no chão contra a minha
cama e me puxou para o seu colo. Ele me embalou e me acalmou como
se eu fosse sua filha, a mão correndo pelo meu cabelo enquanto ele
colocava beijos suaves na minha cabeça.

Debrucei-me lentamente sobre a mesa, olhando para o copo de


café morno que estava intocado em minha frente. Matthew e Natalie
caminharam tranquilamente para a cozinha.
A.L. JACKSON

"Ela está dormindo", disse Matthew apenas um tom acima de um


sussurro. Ele soltou uma respiração pesada e passou a mão sobre o
rosto.

Olhando para cima, minha boca tinha um gosto aguado,


"Obrigada".

Natalie e Matthew se sentaram à mesa, olhando-me com cautela.


"Você está bem, Liz?" Matthew perguntou com simpatia, embora com
uma corrente de fúria que eu sabia que ele estava tentando esconder
de mim.

Fungando, eu balancei a cabeça. Eu não estava bem. Eu nunca


tinha tido mais medo. Eu trabalhei tão duro para construir essa vida,
para proporcionar um lar seguro e estável para Lizzie, repleto de
incentivo e amor. Eu tinha criado uma família com a qual ela poderia
contar; pessoas que nunca escolheriam deixa-la, mas sempre iriam
optar por ficar. E em um momento, Christian ameaçou tirar tudo.

"O que eu vou fazer?" Botei pra fora, mais lágrimas escorrendo
pelo meu rosto enquanto eu expressei meus medos. "Eu não posso
deixar que ele a machuque." Eu sabia que tinha que proteger a minha
filha dele. Eu só não sabia como.

"Talvez ele não vá fazer isso, Liz. Talvez ele realmente só queira
vê-la", Natalie ofereceu, seu tom esperançoso, suas palavras causando
a erupção de um grito de mim.

Matthew arregalou os olhos para Natalie, e ele inclinou a cabeça


para o lado como se quisesse dizer você não está ajudando as coisas.

Natalie deu de ombros defensivamente. "O que? Só estou dizendo


o que vi. Agora que eu sei quem ele é, posso compreender a expressão
de seu rosto. Era como se ele quisesse conhecê-la."

Seu comentário só me fez chorar ainda mais.

Natalie agarrou a minha mão, apertando-a. "Sinto muito, Liz. Eu


não queria incomodá-la, mas e se ele tiver mudado?"

Eu aceitei o lenço oferecido por Matthew e assuei meu nariz,


enquanto balançava a cabeça. Eu não estava chateada com Natalie. Ela
A.L. JACKSON

não conhecia Christian como eu. Eu tinha certeza que Natalie estava
certa de alguma forma, de Christian querer conhecer Lizzie agora. O
dia em que ele ficasse entediado era o que me preocupava.

Matthew estendeu a mão sobre a mesa e cobriu as nossas mãos,


minha e de Natalie. "Elizabeth, eu acho que você deve deixar que ele a
veja." Sua expressão era compassiva, e, embora eu soubesse que ele
nunca diria nada para me fazer mal, senti como se ele tivesse me dado
um tapa no rosto.

"O quê?" Eu puxei minha mão e balancei a cabeça, incapaz de


compreender como Matthew podia mesmo sugerir algo tão irracional.
Eu faria o que fosse preciso para manter minha filha longe de Christian.

Matthew estendeu a mão para mim novamente, parecendo


torturado. "Olhe para mim, Elizabeth." A expressão dele era intensa,
sincera quando ele olhou para mim por cima da mesa. Ele estava
sofrendo, cada pedacinho, tanto quanto eu. "Eu amo Lizzie como se ela
fosse minha, e eu faria qualquer coisa para protegê-la. Você sabe disso,
certo?"

Claro que eu sabia. Eu balancei a cabeça.

"Então este pode ser o melhor caminho. Pense nisso. Você não
quer que aquele idiota leve você ao tribunal."

"Eu não posso acreditar que eles lhe dariam a custódia", eu


disse, querendo soar confiante. Em vez disso, mais questionamentos
surgiram. Depois do que ele fez, como eles podiam conceder-lhe os
direitos parentais? Eles poderiam? Mais lágrimas vieram.

"Liz..." Matthew fez uma pausa, antes de olhar para mim com
algo semelhante a pena. "Ele é um advogado, e você é um caixa de
banco..." Ele parou. Eu sabia que ele não estava me criticando. Ele
estava afirmando um simples fato; Christian tinha recursos, acesso aos
melhores advogados da família, e conhecia todos os aspectos da lei. Eu
tinha algumas centenas de dólares e alguns trocados em minha conta
corrente.

"Como posso ficar parada e assistir a minha filha ter seu coração
partido por seu próprio pai, quando ele for embora? Eu só... não posso
A.L. JACKSON

deixar isso acontecer." O pensamento era apenas demais. Se eu deixar


Christian ter o seu caminho, eu estaria jogando Lizzie aos lobos. Cada
parte de mim gritava para proteger minha filha dos danos que Christian
certamente traria, embora realistamente eu sabia que o que Matthew
estava dizendo era certo. Seria muito pior se Christian tivesse direitos
legais. Eu não poderia imagina-lo tendo qualquer direito legal na
educação da minha filha.

Uma mão suave tocou de leve nas minhas costas, quando Natalie
disse em uma voz suave, "Vai ficar tudo bem, Liz. Nós vamos passar
por isso."

Matthew se inclinou sobre a mesa e alisou o cabelo emaranhado


do meu rosto. "Ela está certa, querida. Nós vamos passar por isso, eu
prometo. Aconteça o que acontecer, nós estaremos aqui para Lizzie. Ela
nunca vai estar sozinha," Matthew prometeu.

Com a visão turva, eu olhei para Matthew e Natalie. Peguei um


lenço de papel da caixa e enxuguei os olhos, balançando a cabeça
quando eu sentei e respirei fundo para tentar aliviar o medo que sentia.
Eu tive algum conforto em saber que, no final, Matthew e Natalie
estariam lá, assim como sempre tinham estado. O que não me deu
nenhum conforto foi o conhecimento do que eu precisava fazer em
seguida.

Levantei-me e Matthew e Natalie me acompanharam. Tristeza


pairava no ar com a decisão que tínhamos feito. Abracei primeiro
Natalie e, em seguida, Matthew. Afastando-me, segurei a mão de
Matthew e sorri melancolicamente.

"Obrigada."

Ele devolveu o abraço, franzindo seus lábios enquanto ele


assentiu uma vez, sua expressão enfatizando sua segurança. "Nós
estamos aqui, Liz... sempre."

"Melhor vocês irem para casa. Está ficando tarde." Já se


passavam mais de meia-noite, e tinha sido um dia longo,
emocionalmente desgastante.
A.L. JACKSON

"Tem certeza?", Perguntou Matthew. "Podemos ficar se você


precisar de nós."

Eu balancei minha cabeça. "Não, eu vou ficar bem."

Matthew hesitou, olhando para Natalie, antes de concordar. "OK.


Vamos vê-la amanhã."

Seguindo-os até a porta de entrada, abracei-os novamente,


desejando-lhes boa noite. Lentamente, eu fechei a porta e tranquei. No
momento em que estava fechada, eu estava presa com emoções que eu
não tinha certeza se possuía força suficiente para lidar. Tudo tinha sido
demais. Virei-me e deslizei para baixo, encostada na porta. Segurando
minha cabeça em minhas mãos, enterrei-a entre meus joelhos,
chorando silenciosamente. A dor vinda da minha boca ecoou pela casa.

Como eu poderia levar a minha filha até ele? Eu sabia


exatamente o que ele faria, qual jogo ele praticava. Ele faria Lizzie se
apaixonar por ele, assim como ele tinha feito comigo, iria fazê-la
acreditar que ela era tudo para ele. Em seguida, ele iria deixar a minha
filha e levar o coração dela com ele. Como pode qualquer mãe tomar a
decisão de colocar seu filho em perigo? Mas eu tinha sido deixada sem
uma escolha.

Eu fiquei em pé e subi as escadas. Uma vez no meu quarto, eu


procurei em minha bolsa no chão e peguei o meu celular. Tomando
uma respiração profunda e firme, eu disquei o mesmo número que
quase havia me dado um ataque de ansiedade em cada vez que ele
tinha chamado durante a última semana. Era tarde, e eu orei para ir
direto ao correio de voz.

Eu perdi a minha voz e quase meus nervos quando Christian


atendeu. Calor espalhou pelo meu corpo com o som de sua voz. Eu
fechei os olhos e balancei para longe essa reação tola. Eu o odiava, eu
me lembrei, e ele era perigoso. Não importavam os sentimentos que eu
ainda tinha por ele, eu não poderia esquecer essas duas verdades
fundamentais.
A.L. JACKSON

Deitado na minha cama, eu olhei para o teto, sem a menor ideia


de onde ir a partir daqui. Eu sabia que deveria desistir, ficar calmo,
mas encontrei-me incapaz de cogitar o pensamento de não ver Lizzie
novamente.

Eu rolei e enterrei meu rosto no travesseiro, na esperança de


encontrar respostas lá. Nenhuma veio. Ergui a cabeça para minha
mesa de cabeceira, olhando para o relógio onde se lia 00:30h. Era tarde
em San Diego e muito mais tarde na Virginia, mas não havia mais
ninguém que iria entender. Fazendo uma decisão rápida, sentei-me ao
lado da minha cama, peguei meu telefone e disquei. Ela respondeu ao
primeiro toque.

"Christian, o que está errado?" A voz de minha mãe estava rouca


do sono, mas sua mente estava clara o suficiente para saber que eu
não a teria chamado no meio da noite, se algo não estava errado.

Pronunciei as primeiras palavras que me vieram à mente. "Mãe,


elas estão aqui." O silêncio pairou grosso no ar. Os quilômetros entre
nós foram preenchidos com uma conversa silenciosa, alegria silenciosa
e pesar esmagador.

Finalmente, minha mãe falou quando o choque passou, e eu


poderia dizer que ela estava chorando. "Fale-me sobre a minha neta."

Limpei a garganta de algumas das emoções, apenas o suficiente


para falar. "O nome dela é Lizzie."

Minha mãe choramingou, fazendo meu peito se contrair ainda


mais. A acumulação de umidade em meus olhos me trouxe tão perto
de chorar como eu tive desde que eu era um menino pequeno. Minha
A.L. JACKSON

voz estava cheia de adoração, conforme eu descrevi para a minha mãe


o nosso primeiro encontro, como se eu soubesse que eu estava
conectado à criança na primeira vez que a vi, como eu fiquei
apaixonado por ela no mesmo momento.

Meu tom de voz tornou-se alarmado quando eu disse a ela que


fui à casa delas e sobre Elizabeth me mandar ficar longe. Minha
angústia aumentou para quase histeria quando cheguei a parte sobre
ir ao seu trabalho.

"Mãe, Elizabeth me odeia." Sua afirmação de que era tarde tinha


me devastado. Por ter ferido essa bela criatura ao ponto dela me odiar
– eu não podia suportar pensar na dor que eu tinha causado a ela.

"Ela está com raiva de você, Christian, e ela tem todo o direito de
estar, mas eu não posso acreditar que ela odeia você."

Eu balancei a cabeça contra o telefone. Minha mãe não tinha


visto o rosto de Elizabeth. Eu sabia que ela tinha dito a verdade.

Mamãe suspirou. "Christian, eu não vou mentir para fazer você


se sentir melhor. O que você fez com ela foi terrível... doloroso, e você
vai ter que entender que não pode desfazer quase seis anos de erros em
um dia. Você vai ter que ser paciente."

Eu me mexi desconfortavelmente. Eu não queria ser paciente.


Eu queria ter a minha filha.

"Pense nisso. Ela não ouviu falar de você desde o dia em que você
essencialmente a chutou para fora, e, em seguida, você aparece na casa
dela. Ela tem que estar chocada, e, honestamente, provavelmente um
pouco com medo da maneira como você tem agido. Ela não sabe as
suas intenções. Se eu fosse ela, eu provavelmente reagiria da mesma
forma."

Resignado, deitei-me na cama, esfregando os meus olhos com a


palma da minha mão. Mamãe estava certa. Elizabeth provavelmente
estava pirando. Eu estava agindo como um lunático, mostrando-me em
sua casa sem aviso prévio, chamando incessantemente, e indo ao seu
trabalho. Eu balancei a cabeça com a minha estupidez.
A.L. JACKSON

Eu respirei fundo e soltei lentamente. Eu quase podia sentir


minha mãe relaxar através do telefone, como se ela percebesse o que
estava se passando comigo. "Eu sei mãe. Eu só quero corrigir isso
tanto. E se ela não me der uma chance?"

A voz de mamãe era suave, reconfortante. "Eu sei que você quer.
Mas você precisa dar um passo atrás... Dar-lhe algum espaço para
respirar. Ela construiu sua própria vida sem você nela, e vai levar
algum tempo para ela encontrar um lugar onde você se encaixe." Ela
fez uma pausa, dando-me tempo para absorver o que ela estava
dizendo. Quando voltou a falar, sua voz ainda era simpática, mas firme.
"Você deve a ela esse tempo, Christian."

Isto foi exatamente o motivo por qual eu liguei para minha mãe.
Ela sempre tinha um jeito de colocar as coisas em perspectiva, quando
eu não podia. "Você está certa. Eu prometo que vou dar-lhe algum
tempo." A satisfação da minha mãe viajou através do telefone. "Você vai
fazer isso direito. Você verá."

Eu não podia deixar de sorrir. Quantas vezes ela me incentivou


a fazer isso certo? Eu só esperava que um dia Elizabeth fosse realmente
me deixar fazer. Suspirei.

"Obrigado, mãe."

"Por nada, querido. Agora vai dormir um pouco, ok?"

"Ok", eu prometi. "Desculpa por ter ligado tão tarde."

Eu podia ouvir minha mãe balançando a cabeça. "Não se


desculpe. Estou aqui por você... Sempre."

"Eu te amo, mamãe." Significou muito para mim, ser capaz de


dizer essas palavras para minha mãe, livremente e sem hesitação.

"Eu te amo muito, Christian." Significou ainda mais para ela


dizer de volta para mim.

"Boa noite, querido."

"Noite."
A.L. JACKSON

Pacificado, coloquei meu telefone na mesa de cabeceira e me


enrolei em meu travesseiro. Eu poderia descansar tendo um plano,
tendo conhecimento, alguma orientação. Eu daria a Elizabeth um
tempo para lidar com o meu ressurgimento em sua vida, e então eu iria
lentamente tentar fazer contato com ela. Como a minha mãe disse, eu
lhe devia isso.

À deriva em direção ao sono, eu estremeci ao ser surpreendido


pela vibração na mesa de cabeceira. Eu sorri quando percebi de onde
o ruído estava vindo e atendi ao telefone, ansioso para ouvir qualquer
que seja o conselho que mamãe tivesse esquecido de me dizer.

"Olá?" Eu murmurei através do meu sorriso sonolento.

Onde eu previa ouvir a voz de minha mãe, fez-se silêncio. "Olá?",


Perguntei de novo, meu estômago de repente desconfortável. Puxei o
telefone da minha orelha, verificando o número que eu não tinha visto
ao atender a ligação. Meu coração quase parou.

"Elizabeth?" Eu implorei, com o tom mais aterrorizado do que


animado para ouvir a voz dela, sem ter ideia do porquê, de repente, ela
estaria me ligando bem depois da meia-noite.

Depois do que pareceu uma eternidade, ela finalmente falou,


suas palavras cheias de desdém. "Se você realmente quer ver Lizzie, me
encontre no McDonald’s da Universidade, em Fairmount às cinco e
meia no sábado."

Alívio me inundou, e eu soltei com uma força audível o ar dos


meus pulmões, me preparando para agradecê-la, mas a linha ficou
muda antes de eu ter a oportunidade.

Segurando o volante, eu olhei através do meu para-brisa para os


contornos amarelos e lutei para controlar a minha respiração. Dizer
A.L. JACKSON

que eu estava nervoso seria uma injustiça. A ansiedade era sufocante.


Eu sabia que hoje seria um momento decisivo em minha vida.

Hoje eu iria encontrar a minha filha.

Não havia nada que eu quisesse mais, mas, sinceramente, eu


estava apavorado. Eu não tinha ideia do que esperar, como agir, ou
como ser um pai. Eu nem sequer sei se Lizzie sabia que eu era o pai
dela. Pior do que todos esses medos, era a preocupação de que esta
seria a única chance que eu teria, o único encontro com uma filha que
eu não sabia nada, mas amava com toda a minha alma. Eu não tinha
ideia do que tinha feito Elizabeth mudar sua mente, o que aconteceu
para ela me ligar no meio da noite, mas eu tinha que ficar com a
esperança de que ela viu a minha sinceridade, que ela entendeu que
eu só queria fazer as coisas direito.

Eu esfreguei as palmas das mãos úmidas nos meus jeans antes


de pisar fora do carro. O carro vermelho de Elizabeth estava vazio no
outro lado onde eu tinha estacionado.

Meu coração batia forte, e eu tentei, sem sucesso, manter as


minhas mãos firmes quando estava andando para a entrada. Parando
na porta, respirei fundo em uma tentativa de me acalmar antes de
entrar. Havia pessoas em todos os lugares, mas meus olhos foram
atraídos para frente do restaurante, onde Elizabeth e Lizzie estavam de
pé, lado a lado à espera. O rosto de Lizzie foi agraciado com o sorriso
mais incrível no momento em que ela me viu. Meus nervos acalmaram
com seu calor e um sorriso incontrolável se espalhou no meu rosto. Ela
começou a saltar no lugar quando eu fiz o caminho através do ambiente
e, como se fosse possível, seu sorriso cresceu. A única coisa que me
impediu de correr e pegar Lizzie em meus braços era Elizabeth. Seu
rosto era quase inexpressivo, embora eu pudesse ver tudo por trás de
seus olhos, podia sentir isso irradiando de seu corpo.

Ódio.

Elizabeth me odiava.

Meu rosto caiu junto com a esperança que eu tinha de que talvez
ela estivesse amolecendo para mim.
A.L. JACKSON

Eu segurei seu olhar maligno por uma fração de segundo antes


de tirar a minha atenção dela e colocá-la sobre a razão pela qual eu
estava lá. Ajoelhei-me em um joelho na frente da minha filha. Os olhos
azuis de Lizzie brilhavam de alegria, seu sorriso sem fim. Meus olhos
vagaram sobre ela e, pela primeira vez, eu era capaz de ver plenamente
minha filha.

Seu cabelo negro estava puxado em tranças de cada lado da


cabeça, acentuando o arredondamento do rosto dela. Ela usava shorts
jeans e uma blusa cor de rosa com flores e borboletas bordadas na
frente. Eu não poderia deixar de sorrir quando vi seus pés pequenos
calçados com sandálias rosa brilhante, e seus pequenos dedos do pé
pintados de rosa. Minha menina gostava de rosa. A pele macia de seus
braços e pernas estavam pálidas e suaves. Desejando
desesperadamente segurá-la, eu não queria nada mais do que a
envolver e ter seus braços em volta do meu pescoço.

Sorrindo suavemente quando eu olhei para seu rosto, falei pela


primeira vez com a minha filha. "Olá, Lizzie."

Ela riu. "Oi."

O som de sua risada me tirou o fôlego.

"Eu sou..." De repente, fiquei muito desconfortável, sem saber


como me apresentar. Cuidadoso, eu olhei para Elizabeth, na esperança
de ter um direcionamento, uma indicação de como ela deseja que eu
continue. Ela olhou para mim, quase como se ela estivesse me
desafiando a dizê-lo.

Engolindo com dificuldade, abri a boca mais uma vez, tentando


forçar as palavras, "Eu sou seu-"

Lizzie riu novamente. "Eu sei quem você é, seu bobo. Você é meu
papai."

Papai.

Fiquei impressionado com a magnitude do que isso significava,


a responsabilidade de ser pai. Ondas de devoção passaram por mim
enquanto eu silenciosamente prometi a ela que eu estaria sempre lá
para ela, sempre a amaria, seria o melhor pai que eu poderia ser.
A.L. JACKSON

Balançando a cabeça lentamente, levei a mão trêmula para o seu


rosto, correndo a palma da minha mão ao longo da suavidade de sua
bochecha. "Sim, eu sou seu pai."

Um grito ferido escapou de Elizabeth, e ela estremeceu seu corpo


encolhendo-se para longe de nós, enquanto ela ainda segurava a mão
de Lizzie, como se estivesse tentando remover-se da situação, sem sair
do lado da filha. Ela virou o rosto tão longe de nós quanto possível, mas
não o suficiente para esconder a torrente de lágrimas que corriam pelo
seu rosto.

A culpa que tinha me deixado em meus joelhos, me trouxe para


os meus pés. Andando para o lado dela, eu tentei encontrá-la.

"Elizabeth." O som saiu estrangulado e pequeno, cheio de


desespero.

Ela levantou a mão para bloquear o pedido de desculpas óbvio


que estava por vir. "Apenas... Não."

Soltando a mão e tirando seu foco de mim, ela olhou para Lizzie,
seu rosto endurecido derreteu em ternura súbita. "Vamos comer
alguma coisa, querida."

Lizzie assentiu com entusiasmo e seguiu a mãe, o domínio de


Elizabeth ainda firme na mão da nossa filha. Eu parei por alguns
passos, ficando em fila diretamente atrás delas. Enquanto um
cavalheiro teria se oferecido para pagar, eu era sábio o suficiente para
saber a tempestade que determinada oferta traria. Eu assisti em
adoração como Lizzie balançou ao lado da mãe, olhando por cima do
ombro para mim a cada segundo e me lançando o sorriso mais doce
que eu já vi. Eu a amava - tanto que doía, e com cada segundo que
passava, só aumentava.

Após fazer o pedido, Elizabeth mudou de lado, e eu fui para o


caixa. Honestamente, a última coisa que eu tinha vontade de fazer era
comer, mas eu pedi a primeira coisa que vi quando olhei para o
cardápio. Eu permiti Elizabeth liderar, seguindo ela e minha filha para
preencher nossas bebidas antes de colocar minha bandeja no lado
oposto ao delas na mesa.
A.L. JACKSON

Era provavelmente a situação mais estranha em que já estive ao


sentar na cabine. Eu assisti como Elizabeth pairava sobre a mesa. Ela
pegou sua comida da bandeja e colocou-a sobre a mesa, colocou os
canudos em suas bebidas e se recusou a olhar em meu rosto. A pior
parte era que eu não conseguia tirar os olhos dela. Sem muito sucesso,
tentei não cobiçar enquanto ela se inclinou, tentei ignorar como a
camisa cinza que ela usava mostrava apenas uma sugestão do inchaço
de seus seios, tentei fingir que seu apertado jeans preto não me
lembrou da perfeição de seu corpo e como era senti-lo contra o meu.

Maldito seja Christian. Recomponha-se. Não era por isso que eu


estava aqui. Essa razão subitamente sentou-se ao meu lado, chocando-
me ao escolher sentar ao meu lado. Eu sorri para ela e afastei um pouco
para dar espaço a ela. Ela se sentou de joelhos para que pudesse
alcançar a mesa, e então se aproximou ainda mais, de modo que
estávamos nos tocando. Instintivamente, envolvi meu braço em volta
dela e puxei-a para mais perto, aconchegando-a contra o meu lado. Foi
incrível. Então ela beijou minha bochecha.

Eu congelei, dominado pelo calor assombroso criado por um


simples gesto. Eu a encarei, não querendo desviar o olhar do amor
nadando nos olhos de Lizzie.

"Lizzie, por favor, coma o seu jantar", Elizabeth disse quando ela
se sentou em frente a nós.

Carinhosamente, olhei para a minha filha, fazendo um gesto com


a cabeça em direção à comida. Tanto quanto eu não queria quebrar a
ligação que tínhamos acabado de compartilhar, o vínculo que
estávamos construindo, eu esperava não perturbar Elizabeth mais do
que eu já tinha.

Comer na frente de Elizabeth me fez sentir estranho. Nós


dividimos o que parecia ser um milhão de refeições antes, mas agora
eu me senti extremamente autoconsciente quando eu dei pequenas
mordidas em meu hambúrguer, sentindo no limite enquanto o silêncio
pairava sobre a mesa. Elizabeth parecia ainda mais desconfortável,
provavelmente por causa dos olhares que estava esgueirando para ela
em todas as chances que eu tive.
A.L. JACKSON

Eu tinha sentido tanta falta dela, sem nunca imaginar que a


veria novamente. Meus olhos vagaram sobre o seu rosto, vendo as
mudanças e tudo o que permaneceu o mesmo. Ela estava mais magra
agora, as maçãs do rosto mais proeminentes, mas não a ponto de
parecer doente como ela parecia quando eu a tinha visto apenas
algumas semanas antes dela dar à luz a Lizzie. Seu cabelo era
basicamente o mesmo loiro escuro com mexas naturais um tom mais
claro do que o resto, embora ela agora usasse a franja longa que
continuamente parecia cair sobre os olhos. Quando ela empurrou de
lado, vislumbrei uma cicatriz logo acima de seu olho esquerdo. Meu
instinto elevou-se com as possibilidades de onde a cicatriz tinha vindo.
Eu evitei seus olhos cor de mel tanto quanto possível, não querendo
ver a repulsão que eu sabia que iria encontrar lá.

Lizzie comeu seus nuggets e suas maçãs tranquilamente, quase


reservada como se ela pudesse sentir a tensão no ar. Abraçando o seu
corpo mais perto, tentei tirar sua atenção do lugar triste que sua mente
parecia ter ido e sussurrei contra sua cabeça, "Estou tão feliz por estar
aqui com você."

Ela se virou para mim, com uma expressão esperançosa. "Sério?"

Eu queria perguntar por que ela iria pensar que eu não estaria,
mas eu já sabia a resposta. Ao invés, garanti-lhe com um aceno firme
da minha cabeça. "Sério."

Com isso, suas inseguranças pareceram desaparecer, e ela


começou o que parecia ser um jogo improvisado de vinte perguntas.
Ela me perguntava alguma coisa e depois que eu respondia, eu a
perguntava algo semelhante em troca. Fez-me terrivelmente triste que
eu estava perguntando a minha filha essas coisas pela primeira vez
quando ela tinha quase cinco anos de idade, mas o fato é que eu não
conhecia a sua rotina, suas comidas favoritas, seus lugares favoritos.
Eu não sabia o que a deixava com medo ou a fazia chorar. Eu aprendi
hoje, que era ver a sua mãe chorar. Eu queria dizer a ela que isso me
fazia triste também, mas não consegui encontrar a coragem para dizer
isso em voz alta.

Elizabeth se esquivou da nossa conversa, não oferecendo uma


opinião e respondendo apenas quando Lizzie perguntava algo
A.L. JACKSON

especificamente a ela. Muitas vezes, ela desviou o olhar, permanecendo


com a sua mandíbula rígida, embora ainda tremesse enquanto ela
parecia lutar em cada minuto da conversa que Lizzie e eu
compartilhávamos. A única vez que ela acrescentou algo foi quando
Lizzie me perguntou onde eu morava, e eu disse a ela, perto da água
em Harbor. Elizabeth bufou e visivelmente revirou os olhos enquanto
ela declamou um sarcástico, "Ótimo".

Eu estremeci, esperando sua raiva, mas não o seu desprezo.

Lizzie, por outro lado, ficou emocionada ao ouvir que eu vivia


perto da água. Ela saltou em seu assento enquanto ela gritava "Você
vive na praia?"

Lizzie manteve uma tagarelice quase constante à medida que


comemos - não que eu me importasse. Ela tinha a voz mais doce que
eu já ouvi. Ela estava tão perto que estava quase sentada no meu colo,
quando terminou seu último nugget. Ela continuamente sorriu e
constantemente estendeu a mão para tocar meu rosto e abraçar o meu
pescoço.

Eu me senti tão indigno do carinho que ela me deu. Ela amava


tão livremente, confiava tão facilmente. Será que ela sentiria o mesmo
quando a inocência de sua mente desaparecesse, quando ela
entendesse o significado de traição?

"Acabei", ela cantou ao engolir sua última mordida. "Posso


brincar agora, mamãe?"

Elizabeth assentiu com firmeza. Era evidente que ela preferiria


não ser deixada sozinha comigo. Eu, por outro lado, estava orando para
ter uma chance de conversar com ela em particular. Lizzie começou a
descer, mas parou e olhou para mim. "Papai, tudo bem se eu for brincar
agora?"

Tentando ser discreto, eu olhei para Elizabeth, tendo a certeza


que a simples frase iria causar-lhe grande aflição, antes de proferir em
voz baixa: "Claro querida." Eu entendi o que essa frase significava. Ela
aceitou-me, não só como seu papai, mas também como seu pai.
Claramente, Elizabeth entendeu também. Seu rosto ficou vermelho,
queimando em ressentimento.
A.L. JACKSON

Eu olhei para a minha filha até que ela desapareceu em um tubo


vermelho, antes de lentamente me virar para Elizabeth. Ela apoiou-se
sobre a mesa, olhando para uma batatinha e distraidamente
mergulhando-a no ketchup.

"Elizabeth", eu disse timidamente, esperando, ao menos uma


vez, ter uma discussão civilizada com ela. Levantando a cabeça, ela
olhou diretamente em meus olhos. Eu suspirei, desviando o meu olhar
enquanto corria minha mão sobre a parte de trás do meu pescoço,
tentando afastar um pouco a tensão, antes de reunir coragem
suficiente para olhar diretamente para ela.

"Obrigado." Eu precisava que ela soubesse o quão grato eu era


pela chance que ela estava me dando, mesmo se parece que ela não
queria realmente me dar uma.

"Você não me deixou muita escolha, não é, Christian?" Ela disse,


com a voz baixa e cheia de hostilidade.

Eu balancei minha cabeça. "Do que você está falando?"

"Você está brincando?" Ela me perguntou, incrédula. "Você


realmente vai se sentar e agir como se você não ameaçou levar-me ao
tribunal se eu não permitisse que você a visse?"

Merda. Eu deveria saber. A ameaça vazia que eu tinha feito era


a única razão pela qual fui permitido ver a minha filha. Elizabeth não
tinha escolhido me deixar ver Lizzie. Ela sentiu que tinha sido forçada.

Que grande idiota eu continuamente provava ser. Por um breve


momento autoindulgente, considerei não fazer a correção.

Mas, ao passo que eu não queria nada mais do que ver Lizzie, ter
um relacionamento com ela, e ser parte de sua vida, não havia
nenhuma maneira que eu poderia permitir que Elizabeth continuasse
vivendo com medo de que um dia eu iria tentar tirar Lizzie dela. Se
algum dia eu estaria ganhando sua confiança de volta, eu teria que
começar sendo honesto.

"Não, Elizabeth." Eu me inclinei para a mesa, falando quase num


sussurro, "Eu não vou fazer isso. Eu estava chateado que você não
estava retornando minhas chamadas, e... eu... eu só fui pego no
A.L. JACKSON

momento e disse isso. Eu não iria fazê-la passar por isso... Eu não vou."
Eu fiz a promessa enquanto olhava em seu rosto, orando para ela
acreditar no que eu disse, e orando ainda mais para ela não se irritar
com a percepção de que ela tinha sido essencialmente enganada para
esta reunião. Quando eu tinha ameaçado leva-la aos tribunais, quando
estava em seu trabalho, eu imediatamente desejei que pudesse pegar
as palavras de volta. Lei era o que eu conhecia e o que naturalmente
saia de minha boca antes que eu pudesse impedir. Eu nunca iria
colocar Elizabeth em algo tão angustiante como uma batalha de
custódia. Eu tinha certeza de que poderia resolver isso entre nós.

Ela sentou-se em linha reta quando ela balançou a cabeça em


descrença. Esbanjando cinismo, ela disse, "Você sempre conseguiu ter
o seu caminho, não é, Christian? Eu sempre soube que você iria ser o
melhor advogado. O que era que você costumava dizer? “Torcê-lo até
que ele se encaixe”?"

"Elizabeth..." Eu implorei. Manipulá-la nunca tinha sido meu


objetivo, mas de alguma forma eu consegui fazê-lo, mesmo sem
perceber. Eu deveria ter deixado claro, logo em seguida, quando eu
tinha visto o olhar em seu rosto, mas eu estava muito ferido por suas
palavras que nunca me ocorreu que elas tinham estimulado. "Eu sinto
muito."

"Você diz muito isso."

Eu me mexi desconfortavelmente, murmurando quando eu


tropecei em meu remorso, "Eu tenho um monte para me desculpar."

A dureza em seu rosto vacilou, seus olhos banhados em tristeza,


antes de erguer as paredes de volta no lugar. Mas, nesse momento
fugaz de vulnerabilidade, eu vi um brilho de quem Elizabeth tinha sido,
e isso me deu esperança.

Elizabeth estremeceu quando ouviu mamãe sendo chamado de


algum lugar acima. Papai seguido logo depois. Olhei para cima e
encontrei Lizzie acenando descontroladamente de uma esfera de
plástico transparente que quase tocava o teto alto. Um medo irracional
tomou conta de mim quando eu a vi. Logicamente, eu sabia que esses
playgrounds foram feitos para crianças, que eram projetados para a
A.L. JACKSON

sua segurança, mas eu não poderia conter o frio que subiu na minha
espinha. Meus olhos dispararam para Elizabeth, que acenou com tanta
emoção para Lizzie. Voltei-me, acenando também, embora claramente
sem compartilhar o entusiasmo.

"Ela não é um pouco pequena para estar lá em cima sozinha?


Parece um pouco... alto."

Elizabeth continuou a acenar enquanto falava através de seu


sorriso, obviamente forçado, "É assustador ser um pai, não é?" Pela
primeira vez, sua voz não tinha um tom cortante e parecia que sua
afirmação era mais para si do que para mim.

Olhando para Lizzie, eu não podia fazer nada além de concordar.


"Aterrorizante."

Em silêncio, Elizabeth e eu continuamos a observar Lizzie, cada


um de nós virando para sentar de lado na cabine. A pergunta estava
queimando na minha boca o tempo todo em que eu tinha estado aqui,
e finalmente encontrei a coragem de fazê-la, antes de perder a chance.
"Então, você e Matthew não são..." Ouve uma pausa antes da sua
resposta.

Elizabeth virou a cabeça para mim, claramente chocada com a


minha pergunta. "O que? Não." Seu nariz franzindo, como sempre
acontecia quando ela parecia genuinamente confusa com alguma coisa.
"O que... como é que é?" Sua testa enrugada quando ela olhou para
mim, perplexa.

"Eu só-"

Ela me interrompeu quando o choque parecia passar. "Você sabe


o que? O que eu faço com a minha vida pessoal não é da sua conta."
Balançando a cabeça, ela empurrou a franja de forma agressiva de seu
rosto antes de voltar sua atenção para Lizzie.

Certo. Não é da minha conta. Frustrado, inclinei-me em meus


cotovelos, pressionados em meus joelhos, e passei as mãos sobre a
parte de trás da minha cabeça, enquanto olhava para os meus sapatos.

Um calor já familiar espalhou por mim e eu olhei para cima,


ficando cara a cara com uma menina muito animada. "Você me viu lá
A.L. JACKSON

em cima, papai?" Ela apontou orgulhosamente para a bola clara. "Eu


estava tão alto!"

"Sim, querida, eu vi. Você é uma menina grande." Eu deixei de


fora a parte onde ela quase me deu um ataque cardíaco.

Elizabeth começou a limpar o lixo da mesa, empilhando suas


caixas vazias e embalagens em uma bandeja, e eu sabia que o dia mais
importante da minha vida estava chegando ao fim.

Deus, eu não quero que isso acabe.

Com grande relutância, levantei e comecei a limpar a minha


parte.

Era isso? A última vez que eu seria autorizado a ver a minha


bebe?

Engasguei com a dor provocada por esse pensamento, minha


cabeça martelando e meu estômago revirando quando todas as células
do meu corpo protestaram.

"Vamos lá, papai." Lizzie puxou minha mão que de repente estava
na dela.

Abalado em movimento, eu a segui, odiando cada passo que me


trouxe mais perto do fim. Elizabeth caminhou com propósito à nossa
frente como se ela tinha finalmente encontrado sua fuga. Mais rápido
do que a minha mente poderia processar, estávamos em pé ao lado de
seu carro, minha mão agarrando Lizzie com firmeza. Eu estava
apavorado para deixá-la ir.

Lizzie, não me deixe.

"Papai, você vem à minha festa de aniversário no próximo


sábado?" Puxado do meu discurso interior, a pergunta chocante foi
feita como se ela tivesse ouvido meus pensamentos.

Eu lancei um olhar de soslaio para Elizabeth, tentando avaliar a


reação dela. Ela ficou tensa antes de finalmente falar as palavras
controladas enquanto tentava esconder o tom óbvio de irritação em sua
voz. "Tenho certeza que ele já tem planos, Lizzie."
A.L. JACKSON

Eu balancei a cabeça rapidamente. "Não tenho planos." A menos


que ela considerasse sentar no sofá, mudando sem pensar os canais
de televisão, como planos.

Elizabeth bufou e virou, parecendo em guerra com algo dentro


de si. Finalmente, voltou-se para nós e ergueu o queixo ao dizer, "Três
horas. Minha casa." Elas não eram apenas palavras. Eram um aviso
que eu ouvi alto e claro. Não estrague isso.

Inundado de alívio, eu liberei a pesada respiração que estava


segurando e prometi: "Eu vou estar lá."

O olhar que Elizabeth deu me disse: É melhor você estar.

Lizzie gritou meu lado. "Oba!" Então ela se jogou em meus


braços, pegando-me desprevenido. Eu levantei-a sem jeito, nunca
antes tendo segurado uma criança, e, em seguida, abracei-a,
segurando com força suficiente para sentir seu coração batendo
violentamente contra o meu. Ela apertou os braços em volta do meu
pescoço e enterrou o rosto no meu peito. Eu respirei um momento,
memorizando tudo.

Em seguida, contra a minha orelha, ela sussurrou: "Eu te amo,


papai."

Engoli em seco e abracei-a ainda mais perto, enquanto o "Eu te


amo" saia da minha boca. Meus olhos ardiam com a emoção, tão
rápida, esmagadora. Lágrimas fugiram antes de eu entender o que
estava acontecendo.

Pela primeira vez, desde que eu era uma criança, eu estava


chorando.

Abrindo os olhos para encontrar Elizabeth olhando para mim,


abri a minha boca e disse baixinho: "Obrigado." Se ela entendeu ou
não, ela tinha acabado de me dar de volta o meu coração. Ela segurou
o meu olhar por um instante antes de virar o rosto para o chão. Meu
coração doía quando eu coloquei Lizzie de volta no chão, querendo
abraçá-la para sempre, mas pacificado em saber que eu iria vê-la em
breve. Ela subiu no assento e prendeu o seu cinto de segurança.
Inclinando-se, dei um beijo suave em sua testa.
A.L. JACKSON

"Tchau, menina preciosa."

Ela sorriu para mim, franzindo o nariz da maneira mais bonita.


"Tchau, papai."

Fechar a porta foi provavelmente a coisa mais difícil que eu já


tinha feito.

Elizabeth arrastou os pés em desconforto, os braços em torno de


si de forma protetora.

Eu queria dizer tanto, explicar, mas percebi que hoje eu empurrei


minha sorte quase tão longe quanto ela iria.

"Tchau, Elizabeth," Eu disse suavemente.

Seu rosto contorcido em agonia enquanto ela mordeu o lábio


inferior tremendo. Eu me odiava por fazê-la se sentir dessa maneira.
Invadido pelo desejo de confortá-la, eu estendi a mão antes de ter a
oportunidade de pensar melhor. Com os olhos arregalados de choque,
ela cambaleou para trás. Meus olhos ficaram tão grandes quanto os
dela quando eu percebi o que eu tinha feito.

Então ela pulou em seu carro e fugiu.


A.L. JACKSON

Sem fôlego, eu estava amarrando o que parecia ser o milésimo


balão que tinha enchido hoje. Sem surpresa, eles eram rosa. Todos eles.

Mãos fortes descansaram em meus ombros enquanto os dedos


massageavam suavemente em uma tentativa de afastar a tensão em
meus músculos. "Você está bem, Liz?"

Dei de ombros contra suas mãos, olhando por cima do meu


ombro para Matthew. O que eu ia dizer?

Que eu estava bem? Porque eu não estava. Nada parecia pior do


que Christian invadindo a segurança da minha casa. Olhos simpáticos
prometiam que ele entendeu.

Realmente, eu não sabia como eu iria passar o dia de hoje.


Assistir Christian interagir com Lizzie no sábado passado tinha sido
nada menos do que excruciante. Eu rezei para que ele não fosse
aparecer, terminando a coisa toda rapidamente, provocando o
inevitável.

Claro, ele veio.

Ouvir Lizzie chamá-lo de papai tinha quebrado o meu coração


novamente, e ouvi-lo concordar me fez querer cuspir na cara dele. Eu
não podia ver Lizzie aconchegando-se a ele, a forma que ele colocou seu
braço ao redor dela, como ele olhou para ela. Eu passei a maior parte
do tempo estudando impressões digitais gordurosas na parede, lutando
contra o impulso de pegar minha filha e correr para fora da porta, e me
lembrando de que este era o menor de dois males.

Em seguida, o bastardo me agradeceu como se eu tivesse lhe


dado um presente e negou que ele teria me levado ao tribunal. Tão
A.L. JACKSON

típico, ele tinha jogado o mocinho depois de ter conseguido o que


queria. Eu decidi ali mesmo que eu ia acabar com isso. Eu não
permitiria que ele brincasse comigo ou com a minha filha.

Esse plano foi esmagado quando Lizzie o havia convidado para


sua festa de aniversário. O que eu deveria fazer? Recusar o pedido da
minha filha? Seu rosto tinha mais esperança do que eu já tinha visto.
Eu tinha procurado uma desculpa, uma razão para ele não vir, certo
de que ele não sacrificaria duas tardes de sábado seguidas para uma
criança que ele nem conhecia, uma criança que eu me recusava a
acreditar que ele se importava.

E, uma vez que nada ocorre do meu jeito, ele rebateu, dizendo
que não tinha planos. Lizzie estava emocionada e tinha saltado
diretamente em seus braços.

O momento seguinte quase me arruinou, quase fui incapaz de


suportar o que estava acontecendo. Eu queria virar, mas não pude
quando Lizzie estava em seus braços, suas palavras abafadas mas
claras. Ela disse que o amava e ele retribuiu o carinho. Suas lágrimas
quase me fizeram questionar minha decisão, a sinceridade de seu
sussurro: "Obrigado."

Então, quando ele estava diante de mim, eu tinha quase


quebrado, as perguntas que tinham rodado na minha cabeça o tempo
todo lutavam para sair da minha boca.

Como você pode?

Você pensou em mim? O que você acha da nossa filha?

Por que você não me ama o suficiente?

Será que você ainda me ama?

Por que agora, depois de tantos anos?

E nesse segundo, eu queria saber por que ele estava olhando


para mim como se ele me quisesse.

Seu movimento para me tocar tinha me lançado de volta a minha


realidade. Perigoso. Eu tinha estado lá antes e eu sabia que se eu lhe
permitisse falar, explicar, eu seria uma vítima fácil de seu engano. Eu
A.L. JACKSON

acreditaria, e acreditar em Christian Davison novamente seria a jogada


mais tola que eu poderia fazer.

"Ei, Liz, onde você quer isso?" Mamãe estava na porta entre a
sala de estar e cozinha, segurando a pinhata3 em forma de coração que
ela tinha enchido com doces e pequenas guloseimas para as crianças.

"Hum... Acho que o Matthew tem uma corda preparada lá fora."


Eu o olhei e ele acenou com a cabeça, já seguindo seu caminho.

"Eu vou cuidar disso, Linda."

"Obrigada." Ela entregou a ele e Matthew desapareceu pela porta


de vidro deslizante para o quintal. Mamãe permanecia me observando
enquanto eu recolhia o último grupo de balões para levar para fora,
finalizando as decorações.

"Você está bem?" A voz da minha mãe era cheia de inquietação,


seu rosto gravado com o tipo de preocupação que só uma mãe podia
sentir.

Sorri tristemente para ela. Mamãe e eu éramos próximas e


compartilhávamos quase tudo. Ela sabia o quão profundamente
Christian tinha me ferido, e não havia ninguém que entendia tanto
como ela. Meu próprio pai a tinha deixado por outra mulher, deixando-
a sozinha para criar três meninas. Ele tinha desaparecido de nossas
vidas para sempre, no meio da noite.

"Eu vou ficar bem, mãe."

Ela procurou meu rosto, não acreditando na minha resposta. Era


como se ela pudesse sentir cada medo que eu tinha.

"É melhor você ir lá para cima e terminar de arrumar Lizzie. São


quase duas e meia. Eu vou ajudá-los a terminar lá fora." Ela inclinou

3
Pinhata é um enfeite recheado de bombons, que fica suspensa no ar e o participante da brincadeira (aniversariante,
por exemplo) vendado tenta quebra-la com um bastão e, assim, liberar os doces.
A.L. JACKSON

a cabeça para o teto, quebrando o momento intenso que tínhamos


compartilhado.

Eu balancei a cabeça e comecei a subir as escadas. A risada de


Lizzie flutuando para baixo aliviando o meu humor. Os primos dela
obviamente tiveram muito sucesso em entreter, enquanto o resto de
nós preparava sua festa. Minha família era tão solidária e eu não
poderia ser mais grata. Felizmente, tirando um sábado inteiro para nós,
todo mundo apareceu na primeira hora esta manhã para ajudar.

Todas as três crianças estavam no chão do quarto de Lizzie.


Lizzie e seu primo, Angie, que era apenas um ano mais velho, estavam
ouvindo atentamente o irmão mais velho de Angie, Brandon, ler uma
história. Era tão adorável.

Eu observei por alguns minutos antes de interromper. "Ei, Lizzie.


É hora de se vestir. Seus convidados irão chegar em breve."

Ela deu um pulo, gritando e correndo em círculos em seu quarto.


"Oba!" Ela estava tensa, mas eu só podia sorrir por causa de sua
excitação. Peguei o vestido de princesa de seu armário e ela gritou
novamente quando o viu, batendo palmas freneticamente.

"Oh, mamãe, eu vou ficar tão bonita!"

Maggie e Brandon saíram do quarto, e eu ajudei Lizzie com o


vestido rosa de babados, que era realmente uma fantasia que ela tinha
visto na loja de brinquedos e se apaixonado. Era um pouco acima da
minha faixa de preço, mas eu tinha guardado um pouco ao longo do
último mês e a surpreendi com ele quando cheguei do trabalho ontem
à noite.

"Você é a princesa mais bonita que eu já vi", eu disse com um


sorriso, beijando seu nariz. Ela riu e girou na frente do espelho de corpo
inteiro atrás de sua porta. Ela usava uma tiara de plástico em seu
cabelo, e calçou os pequenos sapatos de cetim.

Minha Princesa.

"Obrigada, mamãe." Sua voz era suave e cheia de apreço e


amor assim como ela olhou para mim. Ela era a criança mais
surpreendente.
A.L. JACKSON

Eu a abracei com força antes de me sentar e segurar as mãos


pequenas na minha. "Por nada, querida. Feliz aniversário." Eu não
estava surpresa ao descobrir lágrimas nos meus olhos. Eu estava me
sentindo muito emocional, tanto triste como alegre, que a minha
menina estivesse fazendo cinco anos, para não mencionar a forte
tensão que Christian tinha trazido a minha vida. Lizzie estendeu a mão,
pegando uma lágrima com o dedo.

"Não fique triste, mamãe."

Eu balancei a cabeça veemente. "Não bebê. Estas são lágrimas


felizes." Ela tinha me visto chorar muito ultimamente, e eu me recusei
a permitir que outro colapso emocional afetasse o seu dia.

"Vamos. Vamos ver a sua surpresa." Eu estava de pé, segurando


minha mão na dela. Ela segurou-a, minha garantia foi suficiente para
apagar a preocupação que eu tinha causado nela. Seus pés estavam
ansiosos quando ela me arrastou escada abaixo.

Lizzie congelou no momento em que ela saiu, o rosto aceso em


reverência. "Oh, mamãe", ela sussurrou enquanto lentamente
observava o nosso pequeno quintal que tinha sido transformado em
seu reino para o dia. Matthew tinha alugado uma enorme tenda branca
que cobria o quintal inteiro, desde o fim do pátio até a parede, o tipo
normalmente reservado para casamentos. Centenas de balões cor de
rosa pendurado nela, cobrindo todo o lado. Bandeirinhas de prata
enrolado a partir deles, brilhando e brilhando no sol da tarde. Natalie
e minha irmã mais nova, Carrie, tinham pintado um mural que tinha
anexado ao longo da parede de trás com uma cena que descreve um
castelo branco cercado por colinas verdes espalhadas com unicórnios
brancos. Algumas mesas estavam pelo pátio, cobertas com toalhas
rosa, cada centro da mesa com uma princesa de conto de fadas
diferente cercado por flores recém-colhidas. Minha irmã mais velha,
Sarah, se ofereceu para fazer um bolo, e o enorme bolo de princesa em
3-D estava orgulhosamente em uma mesa contra a parede.

Seu rosto brilhava. "Obrigada, mamãe." Ela olhou para mim de


onde estava, ao meu lado, sua mão ainda firmemente na minha.
A.L. JACKSON

Fiz um gesto com a cabeça para o resto da nossa família que se


reuniam na nossa frente, cada um deles aguardando ansiosamente sua
reação. "Não foi só eu, Lizzie. Eles fizeram isso para você." Nunca eu
teria sido capaz de fazer isso sem eles. Eles eram tão bons para a minha
filha, tão bons para mim, e eu os amava mais do que o mundo.

Lizzie disparou para frente, abraçando e beijando cada um deles,


rindo e corando quando todos afirmavam que ela era a mais bela
princesa que já tinham visto. Olhei para a minha família,
silenciosamente agradecendo-lhes por tudo o que tinham feito. Seus
olhos nadavam com carinho, firmando a promessa de que eles não
queriam isso de outra maneira.

Eles nunca nos viram como um fardo, mesmo que às vezes eu


me sentisse assim.

Os olhos de Lizzie se arregalaram de empolgação com o som da


campainha, enquanto os meus se arregalaram com alarme.

"É hora da festa!" Natalie cantou, voltando-se para levar Lizzie


em seus braços e girando-a em uma exagerada dança quando elas
desapareceram dentro da casa para atender a porta.

Nervosa, eu corri minha mão sobre meu rosto e pelo meu cabelo
em uma vã tentativa de me acalmar.

Sarah apareceu ao meu lado, cutucando meu ombro. "Relaxe."

Eu suprimi um suspiro.

Como eu poderia relaxar quando eu estava indo receber


Christian em minha casa, aquele que tinha me ferido mais
profundamente do que ninguém, o que assombrou meus dias e me
segurou nos meus sonhos?

Impossível.

A pior parte de tudo isso foi que, em algum lugar dentro de mim,
eu sabia que permitindo ele estar aqui hoje era um convite oficial para
ele entrar em nossas vidas.
A.L. JACKSON

Antecipação agitou meu estômago, me empurrando para frente.

Sim, eu estava nervoso e incapaz de imaginar como passar uma


tarde com a família de Elizabeth poderia ser agradável, mas eu não me
importava. Ver a minha filha de novo, compartilhar seu aniversário com
ela, era a única coisa que importava.

O sábado passado tinha sido o dia mais importante da minha


vida. Maravilhoso, perfeito e totalmente horrível, mas o mais
importante. Em pé, no meio do estacionamento do McDonald’s,
observando as luzes traseiras do carro de Elizabeth desaparecer, eu fui
atingido com tantas emoções que eu não podia discernir todas. Pela
primeira vez, eu realmente entendi o que eu tinha perdido. Eu não
estava lá quando minha filha nasceu, não tinha ideia de como ela era
quando bebê, não tinha testemunhado seus primeiros passos, suas
primeiras palavras. Eu tinha perdido aniversários e feriados, anos de
amor e, certamente, muitas dores de cabeça. Eu perdi Elizabeth.

Deus, eu perdi Elizabeth.

O sono me fugiu naquela noite enquanto eu lidava com a raiva,


toda ela dirigida a mim. Lizzie tinha me desfeito naquele dia e, uma vez
que ela soltou o arrependimento que eu tinha mantido engarrafado por
anos, eu não poderia segurá-lo por mais tempo. Minha alma chorou
pelo que tinha perdido, por todos os dias que eu tinha vivido sem elas,
por todos os momentos desperdiçados, pelo tempo que não poderia ser
recuperado. Eu enterrei meu rosto no meu travesseiro enquanto eu
pensava em Elizabeth e na dor que eu tinha causado a ela, no que ela
deve ter sentido.

Vergonha.
A.L. JACKSON

Eu senti isso antes, mas, naquela noite, ela me devorava. No


momento em que o sol rompeu a noite, aceitei que eu nunca poderia
fazer nada para apagar esses erros. Eles tinham marcado nossas vidas,
enviando-as em um curso que nunca deveriam ter ido. O único poder
que eu tinha era sobre o presente, e eu estava determinado a viver todos
os dias por Lizzie e Elizabeth. Mesmo se Elizabeth nunca me perdoasse,
eu iria viver por ela.

Isso não significava que eu tinha esquecido o que minha mãe


tinha me dito. Elizabeth precisava de tempo para lidar com meu
retorno, tempo para descobrir onde eu iria caber em suas vidas.

Comecei a desejar pelas 19:15.

Quando liguei às 19:15 no domingo à noite, Elizabeth tinha


respondido, parecendo irritada, gelada.

Mas pelo menos ela tinha respondido. Eu tomaria o que eu


poderia receber.

Eu só tinha oferecido um rápido, não correspondido, "Oi", e


perguntei se eu poderia falar com Lizzie para perguntar o que ela queria
para seu aniversário. Tão forte como era o desejo de desculpar-me
novamente e tentar falar com Elizabeth, eu percebi que minhas
palavras nunca vão significar nada para ela até que eu mostre a ela o
que eu realmente quero dizer.

Claro, eu queria saber o que Lizzie queria para seu aniversário,


mas foi realmente apenas uma desculpa para ligar. A inquietação que
eu senti o dia inteiro em sua ausência foi aliviada com o som de sua
voz, rindo enquanto ela cantava "Oi, papai" no telefone, suas palavras
como um caloroso abraço. Quando eu liguei no dia seguinte, no mesmo
horário, Elizabeth parecia tão irritada, mas talvez menos surpresa. Na
terceira noite, Lizzie atendeu gritando "Papai" no telefone.

A quantidade de amor que correu em mim cada vez que eu ouvia


a voz dela era chocante, mais do que eu tinha imaginado ser possível.

Passei as ligações ouvindo-a, aprendendo sobre ela, conhecendo-


a. Através delas, eu também recolhia informações sobre Elizabeth,
pequenos petiscos que respondiam algumas das minhas perguntas e
A.L. JACKSON

outros que só deram origem a mais. Eu nunca pedi, mas estava muito
feliz em aceitar tudo o que Lizzie oferecia.

Sete e quinze, Lizzie pode contar com isso. Não importava se eu


estava sozinho na varanda do meu condomínio, olhando para a baía,
ou se iria me tirar de uma reunião do conselho – esse era o nosso
tempo.

Minha respiração ficou presa na minha garganta quando eu


entrei na sua rua e vi o número de carros. Balões cor de rosa amarrados
a uma caixa de correio balançavam na brisa, a confirmação aos
convidados de que eles tinham vindo ao lugar certo. Um sentimento
instável passou por mim quando saí do meu carro e ouvi os sons de
crianças brincando e conversas adultas provenientes do quintal de
Elizabeth. Puxei os quatro presentes do porta-malas do meu carro e
tentei equilibrá-los com uma mão enquanto eu passava a outra mão
pelo meu cabelo, em outra tentativa inútil de acalmar meus nervos.

Tocando a campainha, eu senti meu peito apertar com


entusiasmo e pavor.

Eu me mexi desconfortavelmente enquanto esperava, não tendo


certeza do que eu iria enfrentar em primeiro lugar. Quando a porta foi
aberta, olhei ao redor da pilha de presentes que eu tinha equilibrado
na minha frente. O sorriso no rosto da mulher transformou-se em uma
carranca. Eu a reconheci como Sarah, irmã mais velha de Elizabeth,
embora eu só a tivesse visto em fotos. As duas tinham uma semelhança
notável. A única diferença eram os cinco anos e prováveis dez quilos
que Sarah tinha a mais que Elizabeth, embora nenhuma dessas coisas
fizesse qualquer uma menos atraente.

Eu ofereci um sorriso débil.

Ela estreitou os olhos e recuou contra a parede. Cruzou os braços


sobre o peito e me permitiu entrar, sem nenhuma recepção.

Eu fiz uma careta e deixei cair os olhos para o chão, quando eu


pisei sobre o limiar.

Isso seria desconfortável.

"Todo mundo está lá fora", ela murmurou.


A.L. JACKSON

Eu lhe disse um suave "Obrigado", que não foi correspondido.

Deslocando os pacotes em meus braços, eu olhei ao meu redor e


sorri.

Elizabeth.

O lugar gritava ela. Era quente e desordenado e confuso.

No meio da sala, havia um sofá marrom aconchegante com


cobertores difusos drapejados nas costas e grandes travesseiros
jogados aleatoriamente contra ele. A caixa de brinquedos transbordava,
derramando brinquedos sobre o tapete. Fotos emolduradas estavam
em cada prateleira e mesa, se misturaram com os livros sobre a grande
estante no canto, e cobrindo as paredes que levaram até o andar de
cima.

Eu queria estudar cada uma para descobrir Lizzie em todas as


idades. Em vez disso, eu me forcei a seguir o ruído do quintal. Eu andei
através da pequena sala de estar e o contorno que levou para a cozinha.
A porta de vidro estava bem aberta para a festa acontecendo do lado de
fora.

Eu respirei fundo, tentando me convencer de que eu poderia


fazer isso, e sai pela porta.

"Papai!" Lizzie gritou sobre o volume crescente de vozes.

O silêncio tomou conta do lugar. Os convidados pararam no meio


das frases e todos viraram para olhar, ou melhor, me encarar, exceto a
criança preciosa que se atirou na minha perna, me abraçando. Eu sorri
para ela, caindo para o meu joelho para puxá-la em um abraço de um
braço só, enquanto continuei a equilibrar os pacotes no outro braço.
Eu quase derreti quando vi o que ela usava.

"Olá, querida." Eu beijei seu escuro cabelo sedoso, com cuidado


de evitar a tiara adorável que ela usava.

"Feliz Aniversário."

"Estou tão feliz que você veio papai." Por um momento, eu


esqueci que ela era uma criança de cinco anos. Era tanta emoção em
suas palavras e maturidade em sua voz, como se a minha presença era
A.L. JACKSON

uma validação de confiança e ela entendesse meu coração. Eu só podia


rezar para que ela entendesse.

"Eu também," eu disse para tranquilizá-la, abraçando-a


novamente. "Eu também." Bati em suas costas antes de soltá-la. Ela
sorriu e, em seguida, correu para se juntar ao grupo de crianças
correndo e brincando na grama.

Eu também.

Mesmo que isso significasse suportar a hostilidade silenciosa que


se instalou sobre o pequeno grupo de adultos no quintal de Elizabeth,
isso valeu a pena. Eles ficaram eretos, com as costas rígidas, tendo
uma postura protetora. Eu não queria nem começar a imaginar o que
essas pessoas pensavam sobre mim, embora eu não pudesse culpá-las.
Se as nossas posições fossem invertidas, eu tinha certeza que me
sentiria exatamente da mesma maneira.

Desviando o olhar, eu me ocupei ao procurar a mesa dos


presentes. Coloquei os pacotes sobre ela, parando um momento antes
de me virar de volta para enfrentar o embaraço da situação.

Todos tinham regressado às suas conversas, embora eles


falassem baixo, o que eu só podia supor ter muito a ver comigo. Tensão
palpável agarrou-se ao ar, a festa atenuada pela minha presença.

Eu lutava contra a necessidade de me justificar para essas


pessoas, de explicar as minhas intenções, e de desculpar-me. Palavras
não significavam nada, eu me lembrei. Eu tinha que ganhar esse
perdão e ele só viria realmente através de uma pessoa: Elizabeth.

Ela ignorou minha chegada. Ela estava de costas para mim


enquanto falava baixinho com um casal que eu não reconheci, e ela
agiu como se não tivesse notado a mudança no ambiente, fingiu que
não significava nada, que eu não significava nada.

Eu encontrei alívio em uma cadeira de plástico no canto do


quintal, onde sentei fora de vista e observei Lizzie brincar. Ela correu
dentro e fora da casa, as crianças brincando um jogo de pega-pega,
gritando e rindo enquanto se moviam em um grupo. Eu inclinei meus
cotovelos sobre os joelhos, esforçando-me para ver melhor como eles
A.L. JACKSON

teciam através de mesas, cadeiras, e entre onde os adultos estavam


conversando.

O rosto de Lizzie brilhava, a felicidade derramando dela enquanto


corria ao redor do quintal.

Tão bonita.

Minha criança.

Nunca imaginei que amar alguém poderia machucar tanto.

Eu fiz o meu melhor para evitar olhar para Elizabeth, mas houve
momentos em que eu não poderia deixar de procurar por ela, para ver
como ela conversava com a família e amigos, com as mãos animadas e
sua risada livre, puro mel, grosso e quente-doce.

Quando ela sentia a intensidade dos meus olhos em cima dela,


ela ficava imediatamente tensa, mas mesmo assim ela nunca se virou
para encontrar o meu olhar.

Tão envolvido com a mulher na minha frente, eu pulei quando a


cadeira ao meu lado movimentou.

Merda.

Matthew.

Ele se sentou, e, de longe, ele teria parecido calmo, embora eu


soubesse que ele não estivesse. Sua mandíbula se contraiu e os
músculos contidos estavam tensos. O que pareceu uma hora se passou
quando nós nos sentamos em silêncio, não reconhecendo o outro,
enquanto a tensão ricocheteou entre nós.

Quando ele finalmente falou, sua voz era baixa, indignada. Suas
narinas alargando-se na medida em que ele forçou uma respiração
pesada e controlada pelo nariz. "Você tem um monte de nervos
malditos, homem."

Enrijecendo, eu lutei contra o instinto de ficar na defensiva. O


grupo de crianças veio embaraçado de volta para fora, todos
perseguindo Lizzie que ria mais forte do que eu já tinha visto. Olhar
A.L. JACKSON

para ela me fez lembrar o porquê eu estava aqui, relaxei quando esse
conhecimento me acalmou.

Matthew riu cínico e sarcástico, quando ele me pegou olhando


para Lizzie. "Você sabia que você quase conseguiu o que queria?"
Matthew apontou para ela com a cabeça, enquanto ela corria ao redor.

Sua declaração rasgou a minha atenção de Lizzie. "O que?"

"Você não tem ideia do que Elizabeth passou enquanto você


passou a viver a sua vidinha confortável, não é?" Ele pressionou os
punhos cerrados em suas coxas, sua raiva mal contida. "Como ela
lutava todos os dias, como ela sacrificou... Como ela quase perdeu
aquela criança por causa do que você fez."

Todo o sangue drenou do meu rosto. Eu me senti tonto, fraco,


com visões de Elizabeth sofrendo, a ideia de Lizzie não sendo uma parte
deste mundo era uma desilusão doentia.

E eu quis isso, exigi.

Segurei a parte de trás do meu pescoço, atingido por uma culpa


escaldante.

"E agora, ela finalmente tem a sua vida junta e você valsa de volta
para ela, como se fosse um direito dado por Deus", disse Matthew com
um tom que segurava uma sugestão de um grunhido, cada palavra
entregando um golpe diretamente para o meu intestino.

Mas eu levei isso, mereci isso – precisei disso. Eu precisava saber


o que eu tinha feito.

O riso de Elizabeth veio em nossa direção. Olhei para ela,


magoado e enojado com a realização de que eu tinha errado com ela
tão severamente. Eu tinha certeza que a superfície desses erros não
tinha sido nem mesmo riscada. Parecia que, a cada passo, eu aprendia
que eu tinha a ferido mais profundo do que eu poderia ter imaginado.

Tanto para a nobreza infundada, tanto para o conto de fadas que


eu tinha pintado em minha mente, que agora eu percebi que tinha
evocado apenas para me fazer sentir melhor.
A.L. JACKSON

Os lábios de Matthew tremiam quando ele engoliu e empurrou


seus punhos mais fortemente em suas pernas. "Eu não sei qual é o seu
jogo, mas você precisa saber que vou fazer o que for preciso para
protegê-las. Você entende o que estou dizendo?"

"O que você quer que eu diga, Matthew?" Minha voz saiu rouca,
lamento atado com frustração. "Que eu sinto muito? Porque eu vou, se
isso te faz sentir melhor, mas isso não vai mudar nada do que eu fiz no
passado."

Ele retrucou, virando-se para mim em descrença. "Você acha que


eu quero um pedido de desculpas?" Ele sacudiu a cabeça, olhando-me
incrédulo. "O que eu quero é que você fique fora de suas vidas."

"Bem, isso não vai acontecer", retorqui mais rápido do que eu


tinha previsto. Matthew precisava entender que eu não estava jogando
algum jogo e não havia nenhuma maneira no inferno que ele iria
manter-me longe de Lizzie.

Ele estreitou os olhos. "Se você realmente se preocupa com elas,


você vai ficar fora de suas vidas."

Eu queria rir porque ele estava me alimentando com a mesma


linha de besteira que eu tinha me alimentado pelos últimos cinco anos.

"Eu não vou a lugar nenhum, Matthew." Eu mantive minha voz


baixa e determinada, mas livre de desprezo.

Matthew pode me odiar, mas ele estava lá quando eu não tinha


estado, e minha filha o adorava. Sem falhar, Lizzie tinha o mencionado
em cada ligação que tínhamos compartilhado esta semana. A essência
era que eu o respeitava, e minhas ações não tinham lhe dado nenhuma
razão para ele devolver o favor. Eu aceitei isso.

Ele hesitou duvidoso, antes de sua expressão endurecer e ele


ficar pairando sobre mim. "Machuque elas e eu juro por Deus que eu
vou fazer você pagar por isso."

Vi sua ameaça pelo o que era: uma tentativa desesperada de


proteger duas pessoas que ele amava, uma ameaça que nenhum
homem são deixaria de me fazer. Eu poderia facilmente ter jogado de
volta em seu rosto. Em vez disso, assenti em entendimento submisso,
A.L. JACKSON

sabendo que eu nunca o daria uma razão para considerar isso. Ele
balançou a cabeça, curto e com o que parecia ser um sentimento de
satisfação, antes de se virar e se juntar a mulher muito jovem que eu
já sabia ser sua esposa. Como Matthew tinha terminado com a prima
de Elizabeth, permaneceu um mistério.

Quando Lizzie tinha falado sobre seu tio Maffew e tia Natalie, eu
tinha queimado com curiosidade, desejando que eu pudesse chegar e
perguntar sobre isso. De alguma forma, eu sabia que Matthew e
Elizabeth tinham estado juntos, mas por uma razão ou outra acabaram
apenas como amigos, ou o que quer que fosse. Vendo Matthew e
Elizabeth interagir era como assistir a um irmão superprotetor se
preocupar com uma irmã mais nova.

Afundei ainda mais na cadeira e me forcei a relaxar enquanto


observa as pessoas que estavam aqui porque amavam a minha filha. O
quintal era pequeno o suficiente para ouvir nomes. Alguns nomes que
eu reconheci a partir de histórias que Elizabeth tinha me contado e eu
reconheci alguns rostos das fotos. Havia também alguns
desconhecidos, crianças pequenas e amigos que se tornaram uma
parte da vida de Elizabeth depois que eu a tinha deixado.

Tinham se passado quase sete anos desde que eu tinha visto


Linda, a mãe de Elizabeth. Seu rosto e suas mãos estavam envelhecidos
pelos anos de trabalho duro, mas seus olhos eram gentis enquanto
observava sua família de onde estava sentada no pátio, sob o toldo. Ela
sempre me pareceu cautelosa, lenta para confiar, mas amou com tudo
o que ela tinha quando ela fez. Para Elizabeth, ela tinha sido uma
heroína, uma rocha.

A irmã mais velha de Elizabeth, Sarah, trabalhou


incessantemente, voando dentro e fora da cozinha com tigelas de
alimentos, enquanto o marido, Greg, estava fazendo churrasco. Sua
irmã mais nova, Carrie, ficou ao lado de Natalie, as duas em uma
conversa constante, rindo e sorrindo, com seus cotovelos ligados como
se fossem melhores amigas.

E então havia Elizabeth. Era inútil tentar me impedir de vê-la.


Senti cada movimento dela, então eu finalmente desisti e cedi. Meus
olhos a seguiram enquanto ela se misturava com seus convidados, seu
A.L. JACKSON

sorriso largo e gracioso como ela acolheu cada um, grata por sua
presença.

Eu sabia que ela podia me sentir, consciente do meu olhar


atento. Estar perto dela mexeu comigo, meu amor, minha culpa e
desejo, emoções que deixaram meu coração pesado e minhas pernas
fracas.

Isso machuca.

Eu tinha que me lembrar de que qualquer coisa que eu sentia


agora era pálido em comparação com o que eu tinha feito a Elizabeth.
Autopiedade só serviria para descontar minhas próprias ações.

Saber disso não foi suficiente para parar a onda de ciúmes que
eu sentia em relação a ele, Scott. Ele era o mesmo homem que tinha
me dito para sair do banco naquele dia que eu tinha aparecido no
trabalho de Elizabeth, o único que eu a ouvi chamar conforme ele
atravessa a porta, aquele que continuamente estendeu a mão para ela.
Eram toques leves, pequenas carícias de mãos que claramente queriam
mais. Eu encontrei-me agradecendo a Deus quando ela não retornou
nenhum deles, mas colocou o espaço entre eles de forma quase
imperceptível, de um modo provavelmente só notado por Scott e por
mim.

Encheu-me com alívio, e eu percebi que só me fez mais patético,


ter conforto na esperança de que Elizabeth estivesse sozinha.

Eu me perguntei se eu poderia deixar de ser um babaca egoísta.

"Os hambúrgueres estão prontos!" Greg fez o anúncio, e o


pequeno grupo de pessoas se separou, formando fila com os seus
sorrisos largos conforme enchiam seus pratos.

O pensamento de um hambúrguer direto de uma churrasqueira


do quintal deu-me água na boca, mas eu não tinha a intenção de
comer. Seria muito desconfortável esperar comida quando eu não era
bem-vindo, embora eu não devesse ter sido surpreendido quando Lizzie
estava diante de mim com suas pequenas mãos segurando um prato
estendido em oferta.
A.L. JACKSON

"Você está com fome, papai?" Olhos azuis amáveis encaravam-


me, perceptiva e consciente.

Engoli o temor e assenti. "Obrigado, querida." Ela me agraciou


com o mesmo sorriso consumidor quando aceitei a oferta dela, dentes
minúsculos expostos, ondulações desenhadas, deixando meu coração
na minha garganta enquanto eu observava ela se afastar e tomar o seu
lugar na mesa as crianças pequenas.

Eu comi a minha refeição no meu canto, embora não sozinho


quando eu senti o espírito de Lizzie ficar ao meu lado. Era quase demais
para ser regado em seu amor imerecido.

Uma vez que a comida tinha sido servida e já deixada de lado,


Elizabeth, Natalie e Carrie trouxeram os presentes de Lizzie e colocou-
os em torno dela na grama. Lizzie saltou de excitação. Em admiração,
vi como a minha filha de cinco anos de idade esperou sua mãe ler cada
cartão para ela.

Ela abriu os presentes com cuidado e agradeceu a quem lhe deu.


Sua surpresa era genuína quando ela desembrulhava cada um, não
esperando nada, mas grata por receber.

Elizabeth tinha criado a criança mais incrível, tão humilde, tão


sensibilizada.

Os olhos de Lizzie se arregalaram quando ela abriu a maior caixa


que eu tinha dado a ela. Uma boneca. Ela tinha pedido uma boneca,
que acabou por ser um pedido mais difícil do que eu imaginava. Havia
centenas na loja, e eu tinha sido grato quando a jovem funcionária me
ajudou a selecionar um. A boneca era realista, feita à mão, e tinha
longos cabelos negros e olhos azuis. Assim que a mulher tinha
mostrado isso para mim, eu sabia que era perfeita, embora eu tivesse
que erguer meu queixo do chão quando eu descobri o quanto custava.
O olhar no rosto de Lizzie me disse que valeu a pena. Ela desembrulhou
os outros presentes que dei, cada um era um acessório diferente para
a boneca, cada peça a vendedora insistiu que ela adoraria.

Quando as outras caixas foram abertas, Lizzie levantou-se e


correu pelo gramado, pulando no meu colo e jogando os braços
pequenos em volta do meu pescoço. "Obrigada, papai! Eu a amo!"
A.L. JACKSON

Segurei-a contra mim, murmurando contra sua cabeça, "Por


nada, querida. Feliz Aniversário."

Ela sentou-se com um sorriso tão grande que se estendia ao


longo de todo o seu rosto.

Senti como se meu coração fosse estourar no meu peito.

Eu faria qualquer coisa para ver esse sorriso.

Estendi a mão e afastei uma mecha de cabelo que tinha caído em


seus olhos, meu sorriso suave. "Eu amo você, menina preciosa."

"Eu também te amo, papai."

Ela me abraçou de novo, forte, e depois fugiu do meu colo e


correu para terminar de abrir o resto de seus presentes.

Ergui a cabeça e peguei todo mundo olhando para mim. Todos


eles foram rápidos para voltar a atenção para Lizzie, que começou a
abrir o último dos presentes, todos exceto a mãe de Elizabeth.

Sua expressão era ilegível, mas intensa com a sondagem. Eu me


mexi desconfortável. Se havia uma pessoa aqui, além de Elizabeth e
Lizzie, que eu decepcionei, foi Linda. Eu nunca iria esquecer a última
vez que a tinha visto, quando ela me puxou de lado e me fez prometer-
lhe que eu nunca quebraria o coração de sua filha. Num piscar de
olhos, eu tinha jurado que nunca faria.

Quando Lizzie agradeceu a todos uma última vez por seus


presentes, Elizabeth anunciou que era hora do bolo. Todos se reuniram
ao redor da mesa, inclusive eu. Incapaz de resistir, eu retirei o meu
telefone e gravei Lizzie, enquanto ela sorria de orelha a orelha, seus
olhos correndo ao redor para as pessoas que a amavam quando eles
cantavam "Parabéns." Ela respirou fundo antes de soprar as cinco velas
uma vez só, enquanto todos aplaudiam e gritavam: "Faça um desejo".

O rosto de Elizabeth era indescritível quando ela comemorou com


sua filha, cheia de vida e muito amor. Eu vi alegria e nenhuma
evidência da dor que eu lhe causara. Eu olhei um momento demasiado
longo, e Elizabeth chamou minha atenção. Sua felicidade esgotou-se, o
A.L. JACKSON

desânimo tomou seu lugar. A vergonha me pediu para desviar o olhar,


mas eu me mantive firme.

Por um momento, fomos apanhados um no outro, beirando a


algo familiar, desejo obscurecido por anos de separação.

Ela piscou rapidamente, quebrando a nossa ligação, com a mão


tremendo enquanto ela pegou uma faca para cortar o bolo de Lizzie.

Eu me coagi a voltar para o meu canto, enquanto o bolo era


cortado em grossas fatias cor de rosas.

Natalie parou na minha frente, o braço estendido. "Bolo?"

Eu levantei uma sobrancelha, pego de surpresa antes de


encolher e aceitar o pequeno prato. "Obrigado." Ofereci um sorriso
muito cauteloso.

Seu sorriso era largo quando ela se sentou na cadeira que seu
marido tinha ocupado anteriormente.

Meu sorriso desapareceu enquanto me preparava para o ataque.

"Então, como você está indo?"

Eu fiz uma careta. Ela estava realmente me perguntando como


eu estava?

"Hum?" Foi tudo o que consegui expressar, confuso.

Ela riu, o som aquecido em sua garganta. "Tão ruim, hein?"

Eu balancei a cabeça e ri baixinho na troca inesperada. "Nah. Eu


sou apenas grato por estar aqui."

Ela deu uma mordida no bolo e murmurou "Hmm."

Virei-me e tentei lê-la, procurando entender o que ela queria. Seu


rosto era suave, livre de desagrado quando os quentes olhos castanhos
sorriam para mim.

Em um instante, fui levado de volta a seis anos, para a doçura


de Elizabeth.

Bondade.
A.L. JACKSON

Natalie irradiava isso.

Por um momento, eu olhei para longe e reuni a minha coragem


antes de me voltar para ela. "Escute, eu sinto muito sobre o que
aconteceu na loja, semanas atrás." Estremeci com a lembrança, o
terror flagrante em seus olhos quando eu a encarei no estacionamento.
Engoli em seco com a necessidade de me explicar. "Eu só a vi e eu
sabia." Eu balancei a cabeça com pesar. "Eu não queria assustá-la."

Ela fez uma careta, mas encolheu um ombro. "Sim, você


assustou o inferno fora de mim. Eu amo tanto aquela pequena menina.
Eu faria qualquer coisa para protegê-la." Ela olhou para Lizzie e depois
de volta para mim, sua expressão séria. "Mas agora que eu sei quem
você é, eu..." Ela apertou os lábios como se estivesse debatendo o que
dizer. "Entendi."

Será que ela realmente entendeu?

Ela deve ter visto o desespero em meu rosto, porque simpatia


caiu sobre o dela. "Eu acredito em você."

"Você acredita... O quê?", perguntei.

"Que você a ama... As ama." Ela apontou para onde Lizzie e


Elizabeth estavam sentadas na grama, compartilhando um pedaço de
bolo. Ela olhou para mim, procurando o meu rosto. "Você a ama, não
é?"

"Sim", eu sussurrei. "Eu amo."

Ela me deu um breve aceno de cabeça. "Bom. Então não estrague


isso."

Corri a mão pelo meu cabelo, tentando dar sentido a essa


conversa. Duas horas atrás, o seu marido tinha quase ameaçado
matar-me e ela parecia estar me encorajando. Ela sorriu para a minha
confusão, colocou seu último pedaço de bolo em sua boca, e pulou.
"Vejo você por aí?" Ela incitou com a sobrancelha levantada.

Eu balancei a cabeça e repeti o que havia dito a seu marido antes.


"Eu não estou indo a lugar nenhum."
A.L. JACKSON

Satisfação espalhou por seu rosto e ela estendeu a mão. Eu


estendi a minha e apartei. "Bem, então, é bom finalmente conhecê-lo,
Christian Davison."

Ela andou através do gramado, deixando-me balançando a


cabeça, perplexo ao descobrir um aliado tão improvável, mas grato, no
entanto.

As visitas começaram a se despedirem.

Demorei-me.

Eu não queria dizer adeus.

Quando o último dos convidados de Lizzie tinha ido embora e só


Matthew e Natalie permaneceram, eu relutantemente fiquei de pé e fiz
o meu caminho através do gramado. Lizzie estava sentada na grama
brincando com a boneca que eu tinha dado a ela.

Abaixei-me para correr a minha mão através de seu cabelo


macio. "Eu tenho que ir agora, querida."

Lizzie ficou triste. "Já?" Aparentemente, ela não queria que eu


dissesse adeus também.

Sorrindo, eu me sentei na grama ao lado dela, puxando-a para o


meu colo e em meus braços. Abracei-a contra mim. "Sim, meu anjo, eu
tenho que ir."

Ela me abraçou mais apertado e de sua boca saiu um apelo


sussurrado. "Você vai voltar?"

Engasguei com o seu medo.

Afastei-me, olhando-a nos olhos. "Sim, Lizzie, eu vou estar de


volta. Eu prometo." Olhando para cima, eu peguei Elizabeth nos
observando de dentro da janela da cozinha, suas feridas proeminentes
nas linhas na testa. "Eu prometo," eu disse de novo quando eu enterrei
meu rosto contra a lateral da cabeça de Lizzie.

Eu tive que me forçar a ficar de pé, virar as costas e deixar a


minha menina sentada no meio de seu quintal. Meus pés estavam
A.L. JACKSON

pesados quando eles entraram na cozinha da pequena casa. Meus


passos vacilaram quando me deparei com Elizabeth.

Ela estava de costas para mim. Suas mãos estavam contra o


balcão da cozinha e sua respiração era audível quando ela olhou para
Lizzie através da janela.

"Obrigado, Elizabeth," eu sussurrei.

Ela choramingou, sua voz um ruído quieto. "Por favor, não a


machuque."

Todo o ar me deixou.

"Eu não vou." Nunca.

Seu corpo tremia quando um soluço silencioso escapou. "O que


você quer Christian?"

O que eu quero?

Fazê-la sorrir, enxugar suas lágrimas, segurá-la.

Ser um pai, um verdadeiro pai, não um em título, mas aquele


que tinha adquirido esse direito.

Eu queria ficar.

"Eu quero a minha família", eu forcei através do nó na minha


garganta.

Elizabeth ficou rígida, as mãos segurando o balcão em apoio,


suas palavras afiadas. "Saia da minha casa."

Engoli a minha dor, o medo de que eu nunca recebesse o perdão,


e assenti.

"Ok", eu disse calmamente quando me virei para sair. Hesitei na


entrada, olhando para trás por cima do meu ombro. "Mas eu vou
voltar."
A.L. JACKSON

Sexta-feira tinha sido sempre um dia que eu esperava, cheio de


expectativa para o fim de semana a seguir, e emoção para o tempo gasto
com a minha filha. Agora era um dia de temor.

Olhei para o relógio digital no micro-ondas. Apenas quinze


minutos a mais.

Mergulhando minhas mãos na água e sabão, tentei concentrar


na tarefa na minha frente, em vez de no quanto eu odiava isso, mas,
um trabalho sem sentido como lavar pratos, não foi suficiente para
encobrir a dor em meu coração.

Compartilhar a minha filha era uma tortura.

O dia depois do aniversário de Lizzie, Christian tinha ligado às


7h15, da mesma maneira que ele tinha feito todas as noites na semana
anterior e todos os dias desde então. Ele pediu para falar comigo depois
de dizer adeus a Lizzie. Ele queria saber quando ele podia vê-la e, mais
especificamente, ele queria um dia só dele.

O homem teve a audácia de me pedir os sábados. Sábados eram


meus, um dia sem interrupção para a minha filha e eu, apenas nós
duas. Não havia nenhuma maneira que eu iria ceder a isso.

Em vez disso, eu lhe dei noites de sexta-feira.

Assim, nos últimos dois meses, Christian tinha aparecido na


minha porta toda sexta-feira as seis para pegar Lizzie e a tinha deixado
no mesmo lugar às oito.

Ele tinha duas horas. Para mim, era demais. Ele não merecia
nenhum momento em tudo.
A.L. JACKSON

A pior parte era o quanto Lizzie sempre aguardava essas noites


com Christian, quão animada ela se tornava enquanto observava o
relógio perto de seis. Ela nunca questionou se ele iria aparecer ou não;
ela esperava por ele, confiava nele.

E eu fiquei à espera, nos bastidores, para pegar as peças quando


ele não aparecesse.

Isso doeu.

Eu carreguei a máquina de lavar louça e contava os minutos, me


preparando para enfrentar Christian. Somente aqueles poucos minutos
no meu alpendre para trocar a "nossa" filha eram excruciantes.

Dois minutos depois, a campainha tocou.

Respirando fundo, eu sequei minhas mãos, joguei a toalha de


mão de lado e fiz meu caminho para a porta da frente. Olhando através
do olho mágico, eu abri a porta e virei para encontrar Lizzie e Christian
em pé na varanda.

"Oi, mamãe." Lizzie sorriu para mim, os cabelos em tranças e


seus olhos vivos. Ela apertou a boneca para o lado dela, o ultrajante
brinquedo que deve ter custado uma fortuna e que ela nunca ia a
qualquer lugar sem levar.

"Olá, querida." Eu sorri para ela, recusando-me a invejar a


alegria da minha filha junto ao seu pai. "Você se divertiu?"

Ela olhou para Christian e sorriu largamente antes de olhar para


mim, balançando a cabeça. "Sim. Papai me levou para o parque e
tivemos um piquenique."

Cobri minha careta e forcei-me a dizer "Isso parece divertido,


querida". Meus olhos voaram para Christian. Suas mãos estavam
escondidas nos bolsos de sua calça, a gravata foi descartada e os dois
primeiros botões de sua camisa branca estavam desabotoados. Seu
cabelo, que estava penteado quando ele apareceu na minha casa mais
cedo, era agora uma desordem, mechas de cabelo cobrindo o azul
vibrante de um de seus olhos.

Ele era lindo. E eu o odiava por isso.


A.L. JACKSON

Voltei minha atenção para Lizzie, apontando para seu pai com a
minha cabeça. "É hora de dizer ao papai boa noite, Lizzie."

O rosto dela caiu junto com meu coração. Era angustiante,


observar o adeus a Christian, como ela se agarrava a ele, suas palavras
sussurradas de amor e promessas de como eles iriam sentir falta um
do outro até que se vissem novamente.

Christian a beijou na cabeça mais uma vez antes de liberar seu


domínio sobre ela e empurrou-a para a porta. "Boa noite, minha
princesa."

"Boa noite, papai."

Fechei os olhos, desejando que eu não tivesse que testemunhar


isso. "Lizzie, vá para cima. Eu estarei lá em um minuto para começar
o seu banho."

"Tudo bem, mamãe." Lizzie subiu as escadas com Christian e eu


a observando subir. Virei para ele. Esta parte era sempre tão estranha,
especialmente à luz da declaração que ele fez no aniversário de Lizzie.
Eu sabia o que ele queria dizer, a sua intenção.

Ele me queria de volta.

Eu tinha passado um momento fugaz fantasiando sobre estar em


seus braços novamente antes do meu lado racional gritar comigo por
ser uma tola, e eu exigir que ele saísse da minha casa. Ele nunca entrou
desde então.

"Boa noite, Christian." Eu tinha dado a mim mesma gracejos


fingidos.

Ele olhou para seus pés antes de olhar para mim, enquanto ele
passou a mão pelo cabelo, um hábito nervoso seu que eu não tinha
esquecido. "Escute Elizabeth..."

Eu me preparei. Era isso. Minha mente correu com o que eu diria


a minha filha, como eu faria para consolá-la.

Ele coçou a parte de trás de sua cabeça, arrastando os pés, antes


que ele fez uma careta e disse em um tom suave, "Preciso de um favor".
A.L. JACKSON

Fiz uma careta, firmando-me em meus calcanhares e cruzando


os braços. Ele não estava saindo. Ele estava pedindo por mais. Maldito
seja ele.

"O que?"

Ele soltou uma respiração pesada de seu nariz, sua expressão


esperançosa. "Minha mãe está chegando à cidade na próxima semana,
e eu estava esperando que pudéssemos levar Lizzie para o Sea World
no sábado?"

Eu balancei minha cabeça. "Você sabe que o sábado é o meu dia


com Lizzie, Christian. Por que você não pode levá-la durante a
semana?" Como se eu fosse fazer concessões para sua mãe, aquela
mulher superficial e pretensiosa, que não tinha feito mais do que
empinar o nariz para mim. E Deus sabia que Christian poderia se dar
ao luxo de tirar o dia de folga.

"Porque minha mãe não está chegando até sexta-feira tarde da


noite, e ela tem que sair domingo para voltar ao trabalho. É o único dia
em que podemos ir", ele explicou como se fizesse completo sentido onde
não havia nenhum.

Essa mulher nunca tinha trabalhado um dia em sua vida. Eu


não sabia que eu estava franzindo a testa em confusão até que
Christian falou.

"Sim, Elizabeth, minha mãe trabalha", ele disse, soando


levemente irritado. "Ela e o meu pai se divorciaram há cinco anos."

"Sério?" Perguntei surpresa. A questão tinha me escapado antes


que eu pudesse entender. Eu não me importo com ele ou com o que sua
família faz, eu me lembrei. Mas, realmente, eu estava um pouco
curiosa. Claire Davison trabalhando? A mulher que andava como se
sua vida social fosse a coisa mais importante no mundo? O pensamento
era cômico.

Christian riu, seus olhos brilhando em diversão. "Chocante, não


é?"

"Sim." Por que eu respondi, eu não sabia.


A.L. JACKSON

Sua voz suavizou. "Ela não é quem você pensa que é, Elizabeth."

Eu balancei a cabeça, querendo desviar a linha de conversa que


me atraiu para sua vida pessoal e voltar para o que importava: o tempo
precioso que eu tinha para passar com a minha filha. "Sábados são
meus, Christian." As palavras eram suaves, mas firmes.

Ele suspirou e por um momento olhou para longe antes que seus
olhos disparassem de volta para mim, determinados.

"Venha conosco."

O que? Eu não poderia imaginar algo tão torturante como passar


um dia inteiro com ele e sua mãe.

Ele deu um passo para frente, mergulhando a cabeça para


capturar meu olhar. "Por favor, Elizabeth." Meu coração acelerou com
a proximidade dele, o calor de sua presença sobre o meu rosto e no
meu peito, onde ele se estabeleceu em algum lugar no fundo do meu
estômago.

Perigoso.

"Hum... Eu..." Eu me atrapalhei com as palavras, procurando


uma desculpa.

"Por favor, Elizabeth. Apenas um dia." Sua voz ficou mais baixa
quando ele implorou: "Por favor... Venha."

A intensidade de seus olhos quebrou minha resolução. "Certo."

Gratidão encheu seu rosto, sua boca curvando em um pequeno


sorriso satisfeito. "Obrigado." Seu rosto estava tão bonito e parecia tão
sincero. Eu gostaria de poder acreditar.

Em uma tentativa de ressuscitar o muro entre nós, dei um passo


para trás, longe das garras que eu senti afundando devagar na minha
pele. Eu sussurrei "Só desta vez."

Seu sorriso não vacilou. "Ok, então, eu vou pegar vocês duas às
nove no próximo sábado."

Franzindo os lábios, eu acenei uma vez antes de fechar a porta e


expulsá-lo.
A.L. JACKSON

Virei-me para encontrar o rosto de Lizzie pressionado entre duas


barras de trilhos no topo da escada, seu sorriso sem fim. Fechando os
olhos, eu balancei a cabeça, perguntando o que eu tinha acabado de
fazer.

Lizzie sentou de joelhos, vestindo uma camiseta rosa e shorts


jeans, seus pés em sandálias brancas, observando pela janela da
frente. Sua pequena mochila foi colocada sobre seus ombros, sua
boneca estava em seu braço. Ela estava lá por quase meia hora, e era
nem mesmo oito e meia, ainda.

Ela acordou-me antes do amanhecer, saltando na minha cama,


gritando de emoção para eu me levantar. Imediatamente enterrei meu
rosto mais profundo em meu travesseiro, detestando ter que enfrentar
o dia.

Christian tinha ligado ontem à noite, as seis, da mesma forma


como sempre, só que desta vez Lizzie o acompanhou até o aeroporto
para que ela pudesse conhecer sua vovó. Isso é o que Lizzie tinha
chamado.

Ela falou sobre a mulher por mais de uma hora depois de


Christian a tinha deixado na minha porta, bem depois das nove e meia
na noite passada.

Vovó.

A mulher que nunca tinha mostrado qualquer interesse em


Lizzie, nunca tinha ligado, nunca tinha tentado sequer uma vez entrar
em contato.

Vovó.

Foi o suficiente para me fazer ver vermelho.


A.L. JACKSON

Vestindo shorts e uma camiseta, eu calcei um par de chinelos e


puxei meus cabelos em um rabo de cavalo bagunçado, em seguida,
coloquei uma toalha, protetor solar e camisetas em minha mochila.
Lizzie ama o Sea World, e nós tínhamos ido vezes suficientes para saber
que ela ia ficar molhada e com frio.

"Tudo pronto, mamãe?" Lizzie olhou para mim de onde ela estava
sentada no chão, seu corpinho pequeno zumbindo com antecipação.

Obriguei-me a sorrir de volta. "Sim, bebê. Está tudo pronto." Por


mais que eu temi esse dia, eu nunca iria deixar Lizzie saber.

Andando ao redor da casa, endireitando-me em uma tentativa de


impedir o pânico chegar. Como vou passar o dia com Christian... E sua
mãe? Ela nunca gostou de mim. As poucas vezes em que nos
encontramos, ela nunca falou muito, oferecendo nada mais que um
Olá, embora seus olhos fossem os mais calculistas que eu tinha visto.
Eu só poderia assumir as coisas horríveis que ela pensava de mim, as
coisas que o pai de Christian nunca hesitou em dizer em voz alta.
Escavadora de ouro, Richard tinha me chamado, e ela nunca
discordou. Isso tinha ferido. A única coisa que eu sempre quis de
Christian era o seu amor, o seu compromisso, mas nunca o seu
dinheiro.

Saltando para cima, Lizzie gritou: "Papai está aqui!" Ela lutou
para alcançar a fechadura, destravando apenas quando a campainha
tocou. Ela se jogou nos braços abertos de Christian e ele a pegou.

"Bom dia, menina." Ele olhou por cima do ombro para mim
quando ele a abraçou. "Bom dia, Elizabeth."

"Bom dia", eu murmurei, pegando a minha mochila e a bolsa e


me dirigi para a porta.

Christian colocou Lizzie para baixo e pegou sua mão.

Engoli em seco, sentindo o calor em meu rosto com meus


pensamentos.

Eu jurava que ele estava fazendo isso de propósito, a maneira


como ele usava sua camiseta preta esticada sobre a definição óbvia de
seu peito e tórax, seu jeans escuro pendurado baixo em seus quadris.
A.L. JACKSON

Forçando os olhos fechados, eu lutei para lembrar o que eu senti


quando eu tinha deixado o apartamento dele no fim de nosso tempo
juntos, o que ele disse, para lembrar por que eu odiava este homem.
Eu inclinei meus ombros e caminhei em direção à porta com a minha
determinação firmemente fixada no local.

Quando Christian e Lizzie caminharam lado a lado pela calçada,


eu tranquei a porta, me preparando para a raiva que eu sabia que viria
quando eu me virasse face a face com a mãe de Christian.

Andei os dez passos pela calçada e congelei quando eu dobrava


a esquina para a entrada de automóveis.

Claire estava na frente do carro de Christian com Lizzie nos


braços, o rosto enterrado no pescoço de Lizzie. Claire olhou para cima,
com lágrimas brilhando em seus olhos, uma mistura de alegria e dor
em seu rosto.

No mesmo instante, um nó se formou na minha garganta. Como


ela poderia segurar a minha filha assim depois que ela a rejeitou todos
estes anos? Eu não entendia isso, nada disso: Christian, sua mãe,
como eu me sentia, a simpatia que passou por mim quando eu vi o
rosto de Claire. Eu não queria me importar.

Com o que parecia ser grande relutância, Claire colocou Lizzie


para baixo. Eu endureci quando ela se aproximou de mim. Seu cabelo
tinha acinzentado, mas brilhou no rabo de cavalo apertado que ela
usava, com o rosto praticamente sem rugas; as poucas ao redor dos
olhos e da boca eram sutis e suaves. Seus olhos eram tão azuis como
os de Christian, tão intensos, tão quentes. Ela era linda, tão
incrivelmente, mas de uma forma totalmente diferente do que eu me
lembrava. A presunção se foi, em seu lugar uma gentileza que eu nunca
associei com esta mulher.

Ela parou a dois passos de mim, parecendo insegura. Seu lábio


inferior tremeu quando ela disse: "Obrigada, Elizabeth." Ela deu um
passo para frente, agarrando minha mão mole num aperto. "Obrigada."

Eu balancei a cabeça sem entender e dei um pequeno passo para


trás. Eu não tinha certeza se eu estava disposta a aceitar seus
A.L. JACKSON

agradecimentos. Sua boca caiu em um pequeno sorriso triste, e ela


apertou minha mão novamente antes de soltar e se virar.

Christian colocou Lizzie em um assento de elevação no banco


traseiro do lado do motorista de seu carro, os dois delirando sobre o
quão animado estavam. Christian nunca tinha ido para o Sea World e
ele considerou Lizzie como seu guia turístico, fazendo cócegas quando
ela fez sua promessa de lhe mostrar todas as suas coisas favoritas.
Claire riu e juntou-se em suas brincadeiras enquanto subia no banco
do passageiro da frente.

Sugando uma respiração profunda, eu me forcei a caminhar para


o lado oposto do carro, para sentar ao lado de Lizzie. Eu me sentei nos
assentos de couro preto, sentindo-me o mais desconfortável que eu já
senti na minha vida. Eu não pertenço aqui. Lizzie não pertencia aqui.
Fomos jogadas de lado, e agora aqui estamos nós, entregando-nos à
misericórdia de Christian. Era tão errado. Como eu gostaria de poder
ter de volta a decisão que eu tinha feito para lhe permitir ver Lizzie, em
primeiro lugar. Ele teria desistido por agora, e Lizzie e eu estaríamos
vivendo a vida tranquila que eu tinha construído para nós, não
esperando para o fundo a cair fora dele.

Em silêncio, eu ouvi como Christian, Claire e Lizzie tagarelavam


sem parar. Claire fez a Lizzie inúmeras perguntas sobre sua vida, o que
ela gostava e o que ela não gostava. Claire sentou-se lateralmente em
seu assento, sua atenção voltada para a minha filha e seu filho. O mais
difícil de ouvir eram as histórias que ela contava a Lizzie, de quando
Christian era uma criança. Adoração irradiava dela como ela descreveu
um menino curioso, quão inquisitivo ele tinha sido e os problemas que
ele continuamente se metia. Claire estendia a mão e acariciava o ombro
de Christian ou seu antebraço e, às vezes, segurava sua mão.

Olhei para eles, incapaz de compreender o que estava


acontecendo na minha frente. Era como se ela nem sequer fosse a
mesma mulher. A mulher que eu tinha conhecido, Christian tinha sido
pouco mais do que indiferente e eu quase a desprezava, acreditando
em meu coração que ela nem sequer amava seu próprio filho.

Mas agora-
A.L. JACKSON

Eu balancei a cabeça, envergonhada quando eu peguei o olhar


de Christian no espelho retrovisor quando eu fiz isso, mesmo que eu
não pudesse desviar o olhar. Ele sorriu suavemente, como se estivesse
reiterando que ela não era quem eu pensava que ela era, que ela era
maravilhosa e encantadora e que eu não deveria tentar parar o carinho
por ela construindo dentro de mim.

Eu rasguei minha atenção, forçando-a para fora da janela, para


o mundo acontecendo além deste carro, porque era impossível de
suportar o que estava acontecendo lá dentro. Limpei as lágrimas que
começaram a correr pelo meu rosto, lágrimas de frustração por ter sido
jogada no meio desta reunião, lágrimas de raiva pelo que estava
acontecendo agora, com cinco anos de atraso, e o pior de tudo, lágrimas
de alívio com o conhecimento de que a mãe de Christian o amava. Essas
lágrimas me assustaram mais ainda.

Vinte minutos depois, entramos no vasto estacionamento do Sea


World, já transbordando de carros. Os três saíram fora. Eu permaneci,
tomando o meu tempo para ajustar minha mochila enquanto eu
tentava me recompor.

A névoa fria da manhã tinha começado a se dissipar, e os raios


brilhantes de sol romperam, aquecendo a minha pele. Se nós
estivéssemos aqui em quaisquer outras circunstâncias, eu teria
pensado que este era o dia perfeito para vir aqui.

"Mamãe, você vem?" Lizzie gritou por cima do ombro, olhando


para mim de onde Claire e Christian a ladeavam, uma mão em cada
um deles e de pé cerca 15 metros de distância.

Balançando a cabeça, eu pendurei minha mochila sobre meus


ombros. "Logo atrás de você." Christian sorriu no que só poderia ser
interpretado como pura emoção, enquanto Claire olhou para trás um
tanto simpaticamente, como se soubesse o quão difícil isso era para
mim, mas eu tinha certeza de que ninguém mais poderia entender o
tipo de tortura que isso era.

Eu fiquei pelo menos dez passos atrás deles, com cuidado para
manter uma distância. Lizzie gritou de alegria enquanto andavam em
frente ao estacionamento. Christian e Claire a levantavam no ar a cada
A.L. JACKSON

poucos passos. Seu riso soou, alto e baixa, melodioso, alegre, um forte
contraste com o ressentimento que eu sentia por dentro. Eu não podia
acreditar que Christian estava levando como se isso fosse normal, como
se eu pertencesse aqui com eles, como se ele não tivesse me demolido
em sofrimento por este dia.

Nós chegamos à fila para a cabine do bilhete, os três ainda de


mãos dadas, enquanto eu mantinha uma pequena quantidade de
espaço entre nós.

Christian deu um passo adiante, o próximo na fila, passando um


cartão de crédito através da janela. "Três adultos e uma criança."

"Christian, não", eu disse, serpenteando ao redor dele para dar


meu cartão de débito para a mulher.

"Elizabeth." A voz dele conseguiu sibilar e implorar ao mesmo


tempo. "Apenas deixe-me pagar. Por favor."

Eu balancei a cabeça em teimosia. "Eu não quero o seu dinheiro,


Christian."

Escuridão nublou sua expressão e ele baixou a voz, inclinando a


cabeça para mim. "Eu sei, que você nunca quis Elizabeth. Você nunca
sequer pediu o que era seu." Desarmada pela tristeza que eu vi nos
olhos dele, eu encontrei-me chocada demais para resistir mais tempo.
Dei um passo para trás e conscientemente guardei meu cartão de volta
no bolso, aterrorizada com a facilidade com que ele tinha acabado de
me convencer.

Christian entregou a cada um de nós um bilhete. Eu aceitei o


meu com alguma relutância, a minha atenção voltada para o chão
quando eu murmurei "Obrigada", sob a minha respiração, desejando
que não devesse a ele minha gratidão. Olhei para cima para encontrá-
lo me olhando fixamente, os lábios franzidos, pensativo. Ele abriu a
boca como se fosse falar, mas fechou-a e desviou sua atenção.

"Você está pronta, querida?" Christian pegou Lizzie, o fervor de


volta em sua voz, embora soasse um pouco forçado.

"Sim!" Lizzie aceitou a mão, saltando ao lado dele enquanto eles


foram em direção aos portões.
A.L. JACKSON

Aversão pesava sobre meus pés, e eu marchei atrás deles,


grunhindo para o homem que recebeu meu bilhete e me desejou um
bom dia.

Isso seria impossível.

Passei a manhã como uma intrusa em seu trio, na periferia de


seu prazer. Christian conheceu cada exposição com admiração não
adulterada, como uma criança em reverência. Eu me mantive relutante
enquanto os seguia através de habitats, observando como eles se
maravilhavam com tubarões, golfinhos e baleias com enorme fascínio.
Mas a fascinação deles com os arredores era pouco em comparação ao
encanto em que parecia se encontrar a minha menina.

Se fosse possível, Christian em nenhuma vez perdeu o contato


com Lizzie. Sua mão estava continuamente na dele e quando seus pés
se cansaram, ele não hesitou em coloca-la em suas costas. Lizzie ficou
de olho em mim para garantir que eu nunca estava muito atrás, o seu
precioso rosto impulsionando-me para perto. Christian olhava em
minha direção, consciente, embora ele raramente demorasse; sua
atenção estava voltada para a minha filha.

"Papai, este é o meu favorito!" Lizzie jorrou quando nos


aproximamos das piscinas, e ela correu para frente para ficar na ponta
dos pés para mergulhar seus dedos na água. Arraias circulavam e
Lizzie acariciou suas costas enquanto flutuavam.

Christian inclinou-se para a piscina, seu primeiro toque


hesitante quando ele estendeu a mão, apenas passando as pontas dos
dedos ao longo da borda da asa de uma pequena arraia. Ele olhou para
Lizzie e depois para mim, incapaz de conter a emoção em seu sorriso.

"Isso é incrível." Ele balançou a cabeça tão hipnotizado quanto


Lizzie, quando ele afundou sua mão na água, desta vez levando a palma
da mão para baixo, no centro da parte de trás da arraia.

"Elas não são bonitas, papai?", Perguntou Lizzie, arrastando os


dedos levemente sobre as criaturas subindo através da água.
A.L. JACKSON

Christian passou o dorso de sua mão pelo seu rosto e sob o


queixo, sua expressão terna. "Linda", ele disse, claramente falando
apenas de Lizzie.

Tive que virar, afastando-me do que eu vi, mas recusava a


acreditar, o eu tinha visto cada vez que ele tinha estado com ela.

Ele não poderia amá-la. Ele simplesmente não conseguia. Ela era
apenas uma distração, isso é tudo. Isso, o que quer que fosse, era
insustentável, fugaz. Eu tive que rapidamente me agarrar a essa
crença. Qualquer outra coisa me tornaria fraca, vulnerável, e eu não
podia dar ao luxo de me deixar sem defesas adequadas.

Em meu desconforto, a manhã passou devagar. Cada minuto


arrastado com meus pés. Nos quatro comemos o almoço em uma mesa
que era muito pequena. Extremo esforço foi gasto com foco em minha
comida e não nas piadas constantes que Christian fazia, o riso de Lizzie
contaminando quando ela ria sobre a tolice que emanava de seu pai.
Ele era brincalhão, descaradamente assim, não dando nenhuma
desculpa para as caras ridículas que ele fazia com a única preocupação
de conseguir uma reação de Lizzie.

Ele parecia tanto com o homem que uma vez eu pensei que ele
fosse.

Um sorriso surgiu no canto da minha boca, que eu recusei a


liberar. Mordi o lábio, amaldiçoando a capacidade de Christian de me
desarmar, perguntando a mim mesma, mais importante, por que eu
estava permitindo que ele fizesse isso.

Alívio tomou conta de mim quando ele finalmente se levantou


para recolher o nosso lixo, empilhado sobre uma bandeja, e atravessou
o restaurante para descartá-lo. Eu estava grata pela pausa
momentânea de sua presença.

Christian voltou, segundos depois, limpando suas mãos e


perguntou: "Aonde vamos agora, Lizzie?"

Lizzie desceu de sua cadeira, saltando. "Podemos ir brincar na


água, agora?"
A.L. JACKSON

Cinco minutos mais tarde, nos aproximamos da área de brincar.


Christian e Lizzie tinham corrido à frente, enquanto Claire e eu nos
arrastávamos atrás em silêncio. Lizzie olhou para trás, seu sorriso
impaciente incitando-nos a apanhar.

"Você quer brincar mamãe?" Ela cantou quando estávamos no


alcance da sua voz.

Nunca eu tinha perdido a oportunidade de brincar com a minha


filha, mas, neste cenário, eu não poderia imaginar ou inventar coisas
ao lado de Christian. Era muito íntimo.

"Hum, eu acho que vou só ver você desta vez, Lizzie. Vá em


frente." Decepção atravessou seu rosto, e eu fiquei em um joelho na
frente dela, correndo uma mão carinhosa pelo seu braço. "Eu vou estar
sentada ali, observando-lhe o tempo todo. Ok, querida?" Eu apontei
para um banco sob a sombra de uma árvore e me forcei a sorrir.

Ela olhou para trás, balançando a cabeça quando ela se virou


para mim. "Tudo bem, mamãe."

Dei um suspiro de alívio quando ela concordou. Por mais que eu


não queria deixar a minha filha triste, eu estava desesperada por
alguns momentos para limpar a minha cabeça. Eu a beijei na testa
antes de recuar para o isolamento bem-vindo do banco vazio.

A solidão não durou muito tempo.

"Ela é uma criança maravilhosa", Claire disse quando ela se


sentou ao meu lado. "Você fez um trabalho incrível com ela."

Eu lancei um olhar de soslaio. Ela olhou para frente, observando


Christian e Lizzie brincando na água atirando-a para cima. Eu balancei
a cabeça, sem saber como responder ou se eu ainda queria responder.
Seis horas atrás, eu tinha pensado que Claire Davison tinha um
coração frio e desprovido de emoção, mas, agora, eu só podia vê-la
como amável e gentil. Eu ainda não tinha certeza de como lidar com
isso.

Lizzie gritou, arrancando a minha atenção de Claire. Lizzie riu


quando ela se esquivou de uma explosão de água.
A.L. JACKSON

"Pegue-me, papai!"

Christian perseguiu-a, seu riso alto e surpreendido quando uma


corrente de água atingiu-o contra o lado de seu rosto, em seguida,
novamente em seu peito, encharcando sua camisa.

Lizzie gritou e dançou. "Você está todo molhado, papai!"


Christian correu para ela, varrendo-a de seus pés, segurando-a em
seus braços. Ele riu e brincou "E agora eu vou te pegar todo molhado."

Lizzie chutou seus pés, uivando com risos e gritos, "Não, papai,
não", embora fosse claro que ela adorou cada segundo disso.

Minha depressão cresceu apenas em observá-los. Lizzie tinha se


apaixonado pelo pai, a coisa que eu mais temia. Eu não tinha ideia de
como ela iria sobreviver uma vez que ele a deixasse.

Claire interrompeu meu tormento ao pronunciar suavemente,


"Ele é um bom homem, Elizabeth."

Fechei os olhos contra as palavras dela, lágrimas de raiva


escapando e correndo quente pelo meu rosto. Eu tinha passado o dia
inteiro segurando a minha dor, fingindo que não doía olhar para ele, e
eu não poderia contê-lo por mais tempo. Eu estava tão assustada, com
medo da bagunça confusa de emoções que rodavam dentro de mim,
com medo da parte de mim que queria acreditar que ele era um bom
homem.

"Estou com medo." As palavras saíram da minha boca antes que


eu pudesse detê-los.

Ela emitiu um suspiro triste e lento, sua testa curvou-se em


simpatia. "O que ele fez com você foi terrivelmente errado, Elizabeth, e
eu não a culpo por se sentir da maneira que você sente. Mas eu acho
que você deve saber que ele lamentou cada dia que ele passou sem
você, todos os dias sem sua filha."

Eu balancei minha cabeça, minha voz afinada com amargura e


atada com agonia. "Se ele realmente me amasse, ele teria voltado."

Ela fez uma careta e acenou com a cabeça, embora ela não
estivesse concordando. "Ele deveria ter voltado."
A.L. JACKSON

"Então por que não?" Desespero escorria de mim.

Ela olhou para onde Christian e Lizzie estavam e voltou a olhar


para mim. "Isso é algo que você vai ter que perguntar a ele." Ela olhou
para seu filho e neta novamente, sacudindo a cabeça. "Eu nunca
entendi isso." Sua voz era baixa, e eu não tinha certeza se ela falou
para eu ouvir a última parte.

"Eu não estou pedindo para você esquecer o que ele fez,
Elizabeth, mas eu estou pedindo-lhe para dar-lhe uma chance de
provar a si mesmo." Ela não estava dizendo que ela tolerava o que ele
tinha feito, nem condenava. Ela simplesmente estava apoiando o filho
que ela amava.

Consumida com a incerteza, eu observava o homem que havia


me esmagado e que ainda tinha o controle do meu coração. Eu queria
acreditar no que Claire estava me dizendo. Acreditar que ele realmente
me amou, acreditar que ele me amava agora, e, mais importante, que
ele nunca me machucaria novamente. Eu só não sei se eu algum dia
eu poderia.

Como se ela tivesse lido meus pensamentos, Claire acariciou


minha mão, a compreensão carregada em suas palavras.

"Às vezes, o perdão leva tempo."

Peso estabeleceu-se em meu peito, e eu achei difícil falar. "Eu


não sei se eu posso."

"Mas você ainda o ama", disse ela.

Suspirei e virei o rosto. Amar Christian era algo que eu nunca


admitiria em voz alta, algo que eu mal reconhecia na minha própria
cabeça. Claro, Matthew e Natalie sabiam, embora tenha se mantido
tácito entre nós.

"Eu vejo isso na maneira como você olha para ele," ela pressionou
com convicção.

Meu silêncio só poderia afirmar o que ela já sabia.

Silencio caiu sobre nós enquanto assistimos Christian e Lizzie


brincar. Tanta coisa havia mudado em nossos anos de separação, tanto
A.L. JACKSON

que eu não entendia. De alguma forma, seu coração tinha suavizado e


expandido enquanto o meu cresceu duro e cínico. Essa parte
importante de mim gritou em como descuidada eu estava expondo
meus sentimentos à mãe de Christian.

Mas por alguns momentos pacíficos, eu escolhi ignorar aquela


voz e apenas absorver o consolo carregado em suas palavras.

"Obrigada", eu sussurrei. Eu estava agradecendo-lhe por tantas


coisas, pelo conselho que eu não tinha certeza de como lidar, por sua
compaixão, por sua compreensão, por amar a minha filha, por amar a
Christian - talvez até mesmo por me amar. Sem dúvida, ela já tinha se
infiltrado em meu coração. Acima de tudo, eu estava agradecendo-lhe
por me mostrar que as pessoas tinham a capacidade de mudar.

A mão de Claire apertou sobre a minha, e ela balançou a cabeça


lentamente. "Não, Elizabeth, obrigada."

A arena estava embalada para o último show do dia, o céu


escureceu e o ar esfriou. Nós nos esprememos em uma fila no meio,
perto do topo. Estávamos todos cansados, Lizzie especialmente.
Christian a tinha levado nos braços pela maior parte de uma hora, e,
embora todos nós sabíamos, Lizzie tinha insistido que não estava
cansada e queria ficar para ver a Shamu show e fogos de artifício à
noite.

Obviamente, eu não era a única que ela tinha na palma da mão.

Christian estabeleceu-se ao lado de Claire com Lizzie em seu colo


e eu não tinha escolha a não ser tomar o pequeno espaço ao lado dele.

A tarde tinha passado rapidamente, a partir do momento em que


eu tinha prestado atenção proposital à maneira que Christian interagiu
com a minha filha. Eu me forcei a não olhar e os meus olhos iriam me
trair, mas com uma mente aberta para ver a adoração clara no rosto
A.L. JACKSON

dele, enquanto observava tudo o que ela fazia, a forma que os olhos
dele se iluminaram quando ela falava, a maneira delicada que ele a
segurou, assim como ele fazia agora. Ela estava enrolada em seu colo,
seus olhos caídos de contentamento preguiçoso, enquanto
esperávamos o show começar. Ela estava dormindo antes do alto-
falante anunciar o início. Christian olhou para ela, sua expressão de
adoração enquanto varria a franja de seus olhos, uma mão macia
correu para o lado de seu rosto.

Eu engoli o caroço na minha garganta, lutando para aceitar o


que o meu coração cheio de cicatrizes guerreou contra.

Ele a amava.

Ele inclinou o rosto para o meu, seus olhos em fúria, tantas


emoções nadando em suas profundezas. "Eu a amo tanto, Elizabeth."
Então, muitas vezes, eu tinha o ouvido declarar isso quando ele lhe
dizia adeus, mas esta foi a primeira vez que eu acreditei. Ele a deslocou,
abraçando-a mais contra seu peito, virando-se para pressionar um
beijo na cabeça dela. "Muito", ele sussurrou, embora desta vez as
palavras não fossem destinadas para mim.

Eu tinha certeza que o show era fascinante, um final mágico que


teria enchido de admiração a multidão de olhos arregalados, embora
eu não tivesse visto. Encarando sem ver à frente, eu era incapaz de me
concentrar em nada além do ardor que emana do homem que estava
sentado ao meu lado, embalando a minha filha. Quando o show
terminou e deu lugar a fogos de artifícios iluminando o céu, eu levantei
meu rosto para o ar fresco da noite, fechei os olhos, e por um minuto
deixei tudo ir. Eu estava tão cansada de estar com raiva e de viver uma
vida guardada. Naquele momento, eu me convenci de que essa
preocupação constante não podia parar o que estava acontecendo ao
meu lado, e, por enquanto, eu deixaria Christian tentar ser um pai. Ele
pode falhar, e ele pode ir embora, mas eu simplesmente não podia lutar
contra isso por mais tempo. Eu lhe daria a chance de provar a si
mesmo.

Embora eu soubesse que Claire tinha intencionado mais quando


ela fez esse pedido, eu duvidava que uma ferida profunda pudesse ser
curada, que eu poderia confiar o suficiente para arriscar meu coração
A.L. JACKSON

dessa forma novamente. Mas, enquanto o meu corpo foi envolvido no


calor de sua proximidade, uma parte de mim queria poder.

A volta para casa foi feita em silêncio, e pela primeira vez em


quase três meses, eu senti algo parecido com relaxamento. Lizzie tinha
feito pouco mais do que se mexer quando Christian havia transferido
ela de seus braços para seu assento no banco de trás. Agora eu assistia
o luar, filtrado através da janela, em seu rosto, sua pele clara brilhante.

Um tambor maçante da ansiedade ainda ecoava no meu peito,


um lembrete da responsabilidade que repousava sobre mantê-la
segura, e eu tinha certeza de que essa incerteza era algo que eu nunca
seria verdadeiramente livre.

Christian puxou para minha calçada pouco antes das onze. O


bairro estava tranquilo quando eu saí de seu carro, tanto o meu corpo
e minha mente cansados. Alongando, eu era incapaz de sufocar o
bocejo que veio quando dei a volta do lado do motorista do carro.
Christian chegou antes de mim e esperou ao lado da porta aberta de
Lizzie.

"Posso?" Ele inclinou a cabeça para Lizzie.

Por instinto, eu quase disse não, mas em vez disso dei um passo
atrás. "Certo."

Pego de surpresa, ele me estudou por um momento antes de


sorrir sonolento e abaixar a cabeça na parte traseira de seu carro. Mais
uma vez, seus movimentos eram suaves, consciente da criança
dormindo enquanto ele soltou-a e pegou-a em seus braços, mexendo
enquanto ele tentava pegar sua boneca e mochila.

"Aqui, deixe-me pegar isso." Eu o empurrei de lado e recolhi as


coisas de Lizzie antes de lentamente levar Christian e Claire pela
A.L. JACKSON

calçada até a minha porta da frente. Respirando calmamente, eu inseri


a chave, girei a fechadura e empurrei a porta aberta.

Pela primeira vez desde o aniversário de Lizzie, Christian passou


pela soleira da minha casa, cumprindo a promessa que ele tinha feito
de retornar.

Ele ficou na entrada, segurando a minha filha e parecendo, mais


uma vez, pedir permissão.

Com uma pequena quantidade de reticência, fiz um gesto com a


mão em direção à escada. "O quarto dela é a primeira porta à direita."

Christian rapidamente subiu as escadas, seus passos leves


quando ele desapareceu no andar de cima.

Claire estendeu a mão e segurou meu rosto, seu toque um


sussurro grato.

Eu balancei a cabeça contra ela, permitindo que uma única


lágrima amedrontada deslizasse pelo meu rosto. Ela enxugou e, em
seguida, correu para se juntar a seu filho no andar de cima.

Palavras suaves e silenciosas flutuaram no andar de cima. Eu


não tinha ideia de quantos minutos eu fiquei sozinha antes de
Christian e Claire finalmente saírem do quarto de Lizzie, seus passos
de chumbo revelando a sua relutância em deixá-la. Eu mexia, sem
saber o que fazer em minha própria casa, sentindo-me fora de ordem
pela sua presença.

Christian foi até a porta, parando quando ele ficou na minha


frente, sua expressão solene.

"Obrigado, Elizabeth." Ele olhou para as escadas e, em seguida,


de volta para mim. "Este foi o melhor dia da minha vida."

Olhei para os meus pés, incapaz de responder. O dia tinha sido


muito, e a tristeza que veio com sua declaração quase me deixou de
joelhos. Ele se arrastou para fora da porta da frente, e na sua ausência,
Claire me envolveu em seus braços. "Obrigada, Elizabeth", ela
sussurrou em meu ouvido. "Você é uma incrível e maravilhosa garota,
e eu estou tão feliz que você me permitiu partilhar este dia com você."
A.L. JACKSON

Em confusão e desgosto, agarrei-a para mim, chorando em


silêncio contra seu ombro. Ela silenciou-me e murmurou: "Tudo vai dar
certo. Basta esperar, você vai ver." Ela se afastou e pegou meu rosto
em suas mãos. "Você verá."

Ela me abraçou mais uma vez antes de se afastar e sair pela


porta.

Fungando, limpei meus olhos com as costas da minha mão,


rindo um pouco sem sentido na boneca que eu ainda segurava. Levei-
a para cima e coloquei ao lado de minha filha, que estava dormindo.
Beijei o rosto de Lizzie e rezei para que sua avó estivesse certa.
A.L. JACKSON

Alguma coisa tinha mudado. Tinha havido uma mudança em


algum momento durante esse dia, o dia em que tinha sido o mais
incrível da minha vida. Tinha sido um vislumbre do que a vida teria
sido se eu não tivesse jogado tudo fora, se nós tivéssemos sido uma
família.

Claro, eu tinha sentido o desconforto de Elizabeth, quando ela


tinha guardado a si mesma em uma tentativa de proteger-se de mim.
Mas conforme o dia tinha progredido, eu a senti amolecer- descongelar.

Relaxar no conforto úmido da noite de San Diego, observando a


beleza explodindo no céu da noite, cercado pelas três pessoas que eu
mais amava, tinha sido surreal, uma fantasia que eu tinha tido um
milhão de vezes se tornando realidade. O calor do corpo de Elizabeth
ao meu lado tinha sido hipnotizante, e eu poderia me concentrar em
nada mais do que o peso ideal de minha filha em meus braços e o calor
irradiando da pele de Elizabeth.

Foi então que eu senti a mudança quando a tensão parecia


drenar dela, uma calma tomando o lugar.

Eu tinha arriscado um rápido olhar em sua direção. Minha


respiração presa na minha garganta. Meu amor por ela parecia como
se fosse explodir no meu peito.

Eu não acho que eu algum dia poderia esquecer a expressão em


seu rosto.

Ela era tão linda, e vê-la assim, tão calma como se tivesse sido
libertada de um peso sufocante, me trouxe alívio.
A.L. JACKSON

Esse alívio tornou-se esmagador quando ela me acolheu em sua


casa. Cada parte de mim queria envolvê-la em meus braços, para
agradecê-la sem parar pelo presente que ela tinha me dado, confiar em
mim o suficiente para me permitir em outra parte do mundo de Lizzie
– o seu mundo. Isso era tudo para mim.

Obviamente, alguma coisa tinha acontecido entre Elizabeth e


minha mãe, apesar de mamãe recusar a me dizer. Ela insistiu que o
que Elizabeth confiou a ela ficaria entre as duas, e com uma mão suave
no meu braço, ela me incentivou, mais uma vez, a ser paciente.

E eu o faria. Eu esperaria para sempre por Elizabeth.

Pouco a pouco, ela se abriu. Ontem à noite, quando eu tinha ido


pegar Lizzie para a nossa visita de sexta, Elizabeth não tinha vocalizado
o convite, mas ficou de lado quando ela abriu a porta, uma permissão
silenciosa que eu tinha aceitado.

Tanto quanto eu queria, no entanto, eu não iria empurra-la. No


final da noite, Lizzie e eu dissemos a nossa despedida na porta.

Eu não tinha ideia do que pedir a Elizabeth ou o quão longe o


seu perdão iria. Mas, por agora, eu fiquei satisfeito em saber que eu
estava fazendo a coisa certa no caminho para voltar a ganhar a
confiança dela.

Cada segundo que ela me deu foi precioso.

Eu só desejava que os minutos longe não fossem tão solitários.

Abraçando o pequeno travesseiro quadrado ao meu peito, eu


afundei ainda mais no couro preto do meu sofá.

Inquietação beliscou meus nervos conforme eu passava canal


após canal na tela plana contra a parede, o isolamento me lembrando
mais uma vez que eu estava vivendo a vida errada. Era noite de sábado.
Eu deveria estar com a minha família.

Suspirando, eu apontei o controle remoto para a televisão e


desliguei-a, desistindo da tentativa fracassada de me entreter. Joguei
o travesseiro de lado, levantando e esticando os meus braços acima da
cabeça, bocejando enquanto fiz meu caminho para o meu quarto. Tirei
A.L. JACKSON

minha camisa, imaginando que um banho quente era a minha melhor


aposta para uma distração calmante.

Do outro quarto, meu telefone retumbou contra a mesa de centro


de vidro, zumbindo antes de começar o seu toque estridente. Olhei para
o relógio na mesa de cabeceira.

Oito e vinte e três.

Corri de volta para a sala principal, esperando que fosse a minha


mãe ligando para me desejar uma boa noite, embora parte de mim
esperava que fosse Lizzie pensando em mim. Imaginei seu doce rosto
pressionado contra o telefone de sua mãe enquanto ela ligava só para
dizer que me amava mais uma vez, antes que a mãe a levasse para
cama.

Sorri quando vi o identificador de chamadas. O nome e o número


de Elizabeth apareceram na tela enquanto o telefone vibrou e soou
novamente.

Agarrei-o, deslizando o dedo na tela imediatamente antes que


fosse para o correio de voz.

"Ei, querida." Eu podia sentir a força do meu sorriso, grato pela


surpresa bem-vinda.

"Christian..." Eu me senti mal quando ouvi sua voz, em pânico e


com medo.

"Elizabeth?" Imediatamente o pânico na minha voz combinou


com o dela. "O que está errado?"

Quando ela falou, sua voz tremia, e eu poderia dizer que ela
estava chorando. "Lizzie caiu da escada."

O medo subiu pela minha espinha, e eu lutei contra a náusea


correndo até a minha garganta com a imagem doente que passou pela
minha mente. Eu estava de volta ao meu quarto e arrastando minha
camisa sobre a minha cabeça antes que eu tivesse tempo para
responder. "Ela está bem?" Eu tentei manter a calma e ficar lúcido, mas
eu sabia que estava a cerca de cinco segundos de um colapso. O
pensamento de algo acontecer com Lizzie - eu não iria sobreviver.
A.L. JACKSON

Elizabeth falou numa quieta aflição, sussurrando: "Eu acho que


ela quebrou o braço e ela tem um corte acima do olho... isso não para
de sangrar." Sua voz falhou na última sentença, engasgando com sua
preocupação, embora sua informação instantaneamente aliviou a
corrida em meus nervos.

As lesões de Lizzie definitivamente não pareciam tão graves


quanto eu tinha imaginado primeiramente como elas seriam. Enfiei os
pés em meus sapatos e peguei minhas chaves da mesa.

Eu tinha chegado na porta quando Elizabeth começou a falar


desastradamente palavras sinceras. "Eu tentei ligar para Matthew, mas
ele não atendeu... e Lizzie não para de chorar... e ela fica perguntando
por você." Sua voz caiu conforme sua inquietação aumentou. "Você
pode vir? Eu não quero levá-la para o hospital sozinha." Um breve
momento de silêncio caiu entre nós com o seu pedido. Seu desconforto
em pedir minha ajuda era clara, mas a necessidade de nossa filha era
muito maior do que isso.

A porta do meu apartamento bateu fechada atrás de mim quando


eu atingi o corredor e corri para o elevador.

"Eu já estou no meu caminho."

O tráfego era mais pesado do que eu esperava, mas eu ainda fiz


a curta viagem para a casa de Elizabeth o mais rápido possível. O bairro
já estava calmo quando virei em sua rua. As crianças já não estavam
brincando nos gramados de seus quintais ou nas calçadas. Em vez
disso, janelas brilhavam conforme as famílias tinham tomado suas
atividades dentro.

Saltei do meu carro, sem me preocupar em parar e bater quando


cheguei à porta. Eu a abri para encontrar Lizzie no colo de Elizabeth,
amontoadas no sofá. Lizzie agarrava seu braço esquerdo de forma
protetora contra o peito e choramingava enquanto Elizabeth passava
uma toalha úmida na cabeça dela.

"Lizzie", eu disse quando a preocupação e o alívio correram para


fora de mim, de onde eu estava na entrada, ainda segurando a
A.L. JACKSON

maçaneta da porta. Meu coração doeu ao vê-la desta maneira, mas eu


estava grato que não tinha sido muito pior.

"Papai." Ela fungou, mas ainda conseguiu me dar boas-vindas


com um pequeno sorriso.

Fui para a sala, caí de joelhos na frente dela, e afastei o cabelo


emaranhado preso ao seu rosto. "Oh, querida, você está bem?" Meu
olhar varreu sobre ela, verificando por último a toalha que lentamente
saturava com sangue, que Elizabeth pressionava na testa de Lizzie.

"Meu braço dói." Ela fez uma careta e puxou seu braço mais
perto, seus olhos brilhantes estavam com lágrimas. Parece que estava
com uma faca no meu peito que me fez pensar se era fisicamente
possível sentir a dor de outra pessoa.

"Eu sei, menina, eu sei." Eu sorri tristemente e, em seguida,


mudei para que eu pudesse pegá-la. "Vamos, levá-la."

Os olhos de Lizzie se arregalaram e ela se afastou. Por um


momento, meu coração doeu com a rejeição antes dela balançar a
cabeça teimosamente. "Não, papai, eu não gosto de médicos."

Oh.

Olhei para Elizabeth, seus olhos suplicantes. Diga algo.

Cheguei mais perto. Tentei ignorar o fato de que quando eu fiz


isso, eu pairava sobre Elizabeth, seus joelhos roçando meu peito a cada
respiração instável que eu tomei.

Em vez disso, me concentrei no que era importante- tranquilizar


minha filha.

"Você sabia que eu costumava ter medo do médico, quando eu


era um menino?" Perguntei, mantendo meu tom leve, num esforço para
confortar Lizzie.

Ela pareceu surpresa. "Você tinha?"

"Sim", respondi, balançando a cabeça. "E você sabe o que eu


aprendi?"

Ela balançou a cabeça.


A.L. JACKSON

"Os médicos querem nos ajudar a nos sentir melhores", eu disse,


esperando soar convincente o suficiente.

"Mas os médicos dão injeção", disse Lizzie, apertando os lábios


em desafio.

Eu reprimi uma risada. Mesmo em sua aflição, ela ainda era a


coisa mais linda que eu já vi. Eu senti o sorriso de Elizabeth, e imaginei
que ela estava pensando a mesma coisa.

Estendendo a mão, eu a coloquei sobre o rosto de Lizzie, correndo


o polegar em sua bochecha. "Às vezes eles fazem, mas é apenas para
ajudá-la a se sentir melhor."

O lábio inferior de Lizzie tremia. "Mas eu odeio injeção, papai."

Minha expressão suavizou em simpatia. Esta foi a primeira vez


que eu realmente vi minha filha assustada, e enquanto eu queria tirar
todo o medo, para ser seu herói e prometer a ela que eu nunca deixaria
nada nem ninguém machucá-la, eu não poderia fazer isso. Eu tinha
que ser honesto com ela.

"Eu sei, Lizzie." Inclinei-me ainda mais. "Mas se você tem que
tomar uma injeção, mamãe e eu estaremos lá com você o tempo todo,
ok?"

"Promete?" Lizzie sussurrou, ainda com medo, embora eu


pudesse sentir sua resistência desaparecendo.

"Prometo". Essa foi uma promessa que eu poderia fazer.

"Tudo bem, papai."

Cuidadosamente, tomei Lizzie em meus braços e murmurei como


eu estava orgulhoso dela. Elizabeth olhou para mim quando ela
entregou Lizzie e murmurou "Obrigada." Seus lábios se moviam
lentamente, com cautela. Eu sabia que era difícil para ela colocar muita
confiança em mim, para colocar a nossa filha ferida em meus braços.
Eu balancei a cabeça uma vez, quando encontrei os seus olhos, sem
dizer nada promissor para nunca dar a ela razão para se arrepender.

Eu carreguei Lizzie para o carro, e coloquei o cinto de segurança


nela em seu assento, consciente de seu braço ferido. Elizabeth subiu
A.L. JACKSON

no banco traseiro ao lado dela, despejando as indicações para o pronto-


socorro mais próximo. Dentro de minutos, nós caminhamos através
das portas e conseguimos que Lizzie fosse atendida.

Nós sentamos no canto mais distante da sala de espera. Segurei


Lizzie em meu colo.

Elizabeth sentou-se na cadeira ao meu lado, mais perto de mim


do que ela provavelmente estava confortável. Cautelosamente, olhamos
para a sala cheia de pessoas que carregavam as mais variáveis doenças
e lesões que nem poderíamos imaginar.

Soltei um suspiro alto pela minha boca.

Obviamente, isso estava indo para ser uma noite muito longa.

As dez, provavelmente graças à dose do medicamento que


Elizabeth havia lhe dado antes de eu chegar à sua casa, a dor de Lizzie
tinha diminuído o suficiente para que ela tivesse adormecido enrolada
no meu colo enquanto eu esfregava círculos contínuos ao longo de suas
costas. Elizabeth tinha dito pouco, quando ela verificou sua filha, doces
palavras de tranquilidade e conforto.

Lizzie não poderia ter uma mãe melhor.

Pela centésima vez naquela noite, eu olhei para a mulher bonita


ao meu lado. Ela parecia exausta, bolsas escuras começando a
aparecer abaixo de seus olhos cor de mel, suas ondas loiras em
desordem pela quantidade de vezes que ela tinha passado os dedos
através delas. Desta vez, ela deve ter me sentido olhando, e ela ergueu
os olhos para encontrar os meus quando ela sorriu um pouco em
desculpa.

"Obrigado por estar aqui, Christian", disse ela, como se pensasse


que eu estar aqui estava me incomodando.

Inclinei a cabeça, virando para que falasse contra sua orelha.


"Você estaria em outro lugar agora, Elizabeth?"

Ela olhou para a nossa filha que estava dormindo e depois de


volta para mim, com a sobrancelha franzida. "Claro que não."
A.L. JACKSON

Olhei para ela intensamente. "Nem eu." Ela piscou várias vezes
antes de franzir os lábios e assentir. Minha boca caiu em um pequeno
sorriso triste, sabendo que parte dela ainda não acreditava nisso. Mas
estava tudo bem porque eu sabia que a outra parte dela fez.

Era apenas mais uma coisa que só o tempo iria provar.

Ficamos em silêncio. O tempo passou arrastado, enquanto uns


pacientes foram chamados e outros chegavam para tomar o seu lugar.
Elizabeth bocejou, seus olhos caídos. "Isso é ridículo", ela murmurou
baixinho enquanto esfregava a palma da mão sobre o rosto.

"Aqui." Eu me mexi, colocando Lizzie em seus braços. Seus olhos


dispararam ao meu rosto, selvagens e suplicantes. Não me deixe.

Ela caiu de volta para a desconfiança tão facilmente. Doeu. "Eu


volto já."

Menos de cinco minutos depois, voltei com dois copos de isopor


de café fumegante. Eu tinha preparado o de Elizabeth do jeito que eu
lembrava que ela gostava, um creme e dois açúcares.

Ela gemeu de prazer quando entreguei o copo. "Christian." Ela


respirou o aroma, os olhos fechados enquanto ela o levou aos lábios.
"Você é um salva-vidas."

Então ela piscou-me o primeiro sorriso verdadeiro que ela tinha


me dado desde que eu tinha voltado para a sua vida.

Para o que tinha que ser a vigésima vez nos últimos dez minutos,
Elizabeth olhou por cima do ombro, verificando se Lizzie estava
confortável. Lizzie tinha voltado a dormir quase imediatamente quando
a coloquei no carro.

Elizabeth suspirou enquanto olhava para frente, caindo mais


fundo no banco do passageiro da frente. Seu cotovelo descansou contra
a porta com a sua cabeça na palma da mão. "Eu sempre exagero
quando se trata dela", ela soltou mais para si mesma.

Olhando de relance para a minha direita, eu sorri suavemente


para a dona do meu coração, que eu agora sabia que se questionava
A.L. JACKSON

como uma mãe, preocupada que ela estava cometendo erros, que ela
era muito cautelosa ou não cautelosa o suficiente. Aparentemente, a
maternidade faz isso com você. Ela virou a cabeça no encosto do banco
e virou-se para mim, os olhos cansados, mas quentes. Meu sorriso
cresceu.

"O quê?" Ela falou lentamente, retornando um sorriso


preguiçoso.

"Eu só estava pensando quão boa mãe você é." Eu entrei em sua
garagem, desligando o motor e esperando que eu não tivesse arruinado
o clima amigável que tínhamos construído ao longo das últimas horas.

Ela riu baixinho. "Às vezes eu sinto que eu não tenho ideia do
que estou fazendo."

Através do espelho retrovisor, olhei para a criança que ela tinha


criado, a menina que eu tinha dificuldade em ver como qualquer coisa
além de perfeita, e balancei a cabeça antes de voltar para Elizabeth.
"Você não deve duvidar tanto de si mesma."

O desejo de estender a mão e tocá-la era quase demais para


resistir- a forma como seus lábios se separaram em resposta às minhas
palavras enquanto ela olhava através do pequeno espaço para mim,
seu corpo e mente cansados. Fez-me lembrar do jeito que ela parecia
pouco antes de adormecer em meus braços.

Eu rapidamente me retirei do carro, antes de fazer algo muito


estúpido.

Cuidadosamente, peguei Lizzie em meus braços e segui Elizabeth


para dentro da casa escura até o andar de cima, para o quarto de Lizzie,
onde eu coloquei a nossa filha em sua pequena cama. Enquanto
Elizabeth procurava no armário a camiseta favorita de Lizzie, tirei os
seus sapatos e calças. Guiados pela luz fraca que filtrava pela entrada,
Elizabeth e eu trabalhamos juntos para ter Lizzie pronta para a cama,
removendo sua camisa sobre a tipoia em seu braço, que protegia seu
cotovelo e punho, seus dedos pequenos agora estavam inchados.

"Você não tem ideia de como estou feliz que este não é um gesso,"
Elizabeth sussurrou enquanto tirava a camisa de sua cabeça.
A.L. JACKSON

Eu balancei a cabeça. Eu não poderia estar mais de acordo.

As lesões de Lizzie poderiam ter sido muito piores, mas ela havia
escapado com apenas um pulso torcido e o corte na cabeça só tinha
exigido uma atadura simples. O mais importante para Lizzie era o fato
de que isso significava nenhuma injeção. Ela tinha sido tão corajosa
com o médico e as enfermeiras, permanecendo sentada quando eles
tinham que examinar e fazer uma série de raios-x, cooperando quando
eles colocaram a bandagem acima de seu olho e envolveram seu braço
na tipoia.

Eu estava tão orgulhoso dela.

Lizzie mal se mexeu quando eu a segurei e Elizabeth a vestiu,


puxando a camisola de cetim rosa facilmente sobre a cabeça. Ela levou
mais tempo para manobrar cuidadosamente o braço de Lizzie através
da manga.

Elizabeth segurou o edredom para trás, enquanto eu deitei nossa


filha sobre os lençóis e, pela primeira vez na vida de Lizzie, ambos os
pais a colocaram na cama.

Mesmo sob as circunstâncias terríveis, parecia incrível.

Pressionando meus lábios na cabeça de minha filha, eu


sussurrei contra ela, "Eu te amo, Lizzie."

Ela gemeu uma resposta ininteligível que foi direto ao meu


coração.

De pé, bocejei e espreguicei. O relógio digital pequeno na


cabeceira de Lizzie brilhava duas e dezenove.

Era muito tarde, mas eu ainda não estava pronto para ir.

Da porta do quarto, vi Elizabeth beijar a nossa filha e passar a


mão pelo cabelo escuro de Lizzie, antes dela relutantemente se levantar
e atravessar o quarto.

Saí para o corredor e Elizabeth seguiu atrás de mim, deixando a


porta entreaberta atrás dela.
A.L. JACKSON

Nós dois demos um suspiro de alívio simultâneo, a provação


oficialmente terminada.

De pé na luz suave do corredor de Elizabeth, nos dois estávamos


parados, sem vontade de nos mover. Havia tantas coisas que eu queria
dizer, que precisava dizer no silêncio expectante entre nós. O momento
estendeu-se e inevitavelmente se tornou desconfortável.

"É melhor você descansar um pouco," eu finalmente disse,


desejando que eu não tivesse que dizer adeus.

Ela se moveu. "É muito tarde, Christian." Ela torceu as mãos.


"Por que você não fica? Eu não tenho um quarto de hóspedes, mas o
sofá é muito confortável... Se você quiser." Fiquei nervoso com suas
palavras quando ela estendeu a mão, mas nossas mãos não se tocaram.
"Lizzie vai querer ver você de manhã."

Ela parecia pensar que ela precisava me convencer. Ela não


entende que eu nunca quis sair? Mas tanto quanto eu queria ficar, eu
entendi que isso era uma enorme oferta para Elizabeth fazer.

"Você tem certeza?"

Ela assentiu com a cabeça. "Sim... Fique." Talvez ela nunca iria
admitir isso, talvez ela nem sequer percebeu isso em si mesma, mas
quando eu olhava para ela, eu sabia que ela queria que eu ficasse. A
armadura que usava para proteger a si mesma não foi suficiente para
esconder a esperança em seus olhos.

Engoli em seco, procurando a minha voz. "Elizabeth-"

Ela levantou a mão para me impedir. "Por favor, Christian...


Não."

Por instinto, dei um passo para trás e fechei os olhos para me


impedir de dizer coisas que ela não estava pronta para ouvir. Logo
teríamos que conversar e colocar tudo para fora. Mas eu ouvi seu apelo
e, hoje à noite, eu não iria empurrá-la mais longe do que ela estava
pronta para ir.

"OK."
A.L. JACKSON

A tensão entre nós dissolveu, e ela entrou em ação. "Espere um


segundo." Ela virou-se e desapareceu em seu quarto no final do
pequeno corredor, antes de voltar menos de dois minutos mais tarde
com uma nova escova de dente e um par de calças de pijama.

"Aqui." Ela entregou a pequena pilha para mim. "Matthew deixou


estes aqui há muito tempo."

Eu olhei incrédulo para as coisas na minha mão e, em seguida,


para Elizabeth. Ela esperava realmente que eu usasse isso? Matthew
não era exatamente o meu maior fã.

Ela riu e balançou a cabeça. "Está tudo bem, Christian. Basta


usá-los." Ela sorriu e apontou para as escadas. "Há um banheiro fora
da sala de estar."

Eu ri com a confusa mulher na minha frente que me surpreendia


em cada turno. Eu não deveria ter sido surpreendido. Elizabeth sempre
foi a pessoa mais carinhosa e compassiva que eu já conheci, e ela ainda
era. Eu só tinha que descascar as camadas um pouco para vê-la.

Como é triste que elas estivessem lá por minha causa.

"Boa noite, Elizabeth." Um sorriso gracioso espalhou pelo meu


rosto.

"Boa noite, Christian." Um momento foi gasto um olhando para


o outro, nadando em nostalgia e no que poderia ter sido, antes de eu
me virar e deixa-la parada no topo das escadas.

No pequeno banheiro, eu retirei minhas roupas e coloquei o


pijama de flanela azul, sentindo uma pontada de culpa quando fiz isso.

Eu estava cansado, mas havia uma energia agitando dentro de


mim, deixando-me inseguro de quanto sono eu realmente poderia ter
esta noite. Tantas vezes eu tinha imaginado isso, como seria ficar aqui,
embora as circunstâncias fossem, agora, tão diferentes do que o que
tinha imaginado em meus sonhos. Eu estaria dormindo no sofá - não
com Elizabeth.

Correndo as mãos úmidas pelo meu cabelo, eu exalei e esperei


que conseguisse, pelo menos, algumas horas de sono. Abrindo a porta
A.L. JACKSON

e desligando a luz, eu entrei na sala de estar mal iluminada e fiquei


cara a cara com Elizabeth.

Parei no meio do passo, surpreso ao encontrá-la esperando por


mim do outro lado da porta do banheiro. Seus olhos se arregalaram
quando viram meu peito nu antes de seu rosto ficar vermelho e ela
desviar o olhar para o chão.

"Desculpa... Eu... Hum... Pensei que você pode gostar de ter


estas."

Ela estendeu os braços, me tirando do meu choque quando ela


chamou a atenção para o que segurava em suas mãos.

Havia três álbuns, do tipo que eram perfeitamente quadrados e


cheios de horas e horas de arte materna.

Elizabeth estendeu-os mais longe, incentivando-me a pegá-los.


Eu tremi quando levantei uma mão na tentativa de aceitá-los, minha
boca seca e incapaz de expressar minha gratidão por seu presente. À
medida que ambos olhamos os álbuns entre nós, ela olhou para mim
com o que só poderia ser descrito como simpatia, uma ternura que
quebrou meu coração e curou-o ao mesmo tempo. Ela assentiu com a
cabeça enquanto retirou as mãos e, em seguida, virou-se e correu para
cima.

Ansiedade aguda e saudade intensa encheram o meu peito


enquanto eu pensava em enfrentar o que havia dentro, os álbuns com
um peso opressivo. Eu lentamente me mudei para o sofá e coloquei os
cinco anos de memórias no meu colo, memórias que eu não tinha
certeza se eu estava pronto para enfrentar. Corri meus dedos sobre a
capa marrom e lutei para encontrar a coragem de abri-los. Demorou
cinco minutos completos antes de conseguir. O brilho apagado da
lâmpada na ponta da mesa lançou luz suficiente para iluminar o que a
primeira página detinha: um anúncio de nascimento.
A.L. JACKSON

Elizabeth Grace Ayers

Nascida em 23 de maio às 04h37.

46 centímetros

Peso: 2,35 quilogramas

De tirar o fôlego - comovente.

Lágrimas caíram e não havia nada que eu poderia ter feito para
impedi-las.

Em minhas mãos estava a imagem de uma criança pequena, com


o rosto vermelho e novo, a boca pequena franzida. Mesmo assim, seus
olhos cinza-azulados estavam arregalados e expressivos. Uma massa
de cabelo brilhante e preto estava no alto da sua cabeça, a minha fenda
marcando o seu queixo.

Minha filha.

Meus dedos traçaram a imagem.

Tão pequena.

Eu voltei para o dia que eu tinha visto Elizabeth antes que ela
desse a luz – quão magra e, até mesmo, doente ela parecia. Sabendo
agora que Lizzie tinha sido tão pequena, fez com que a realidade
desabasse sobre mim. Meu estômago revirou, minha cabeça girou, e
suor irrompeu na minha testa. Elizabeth não apenas parecia doente,
ela estava doente. Eu tinha deixado ela quando ela estava doente.

Eu era um monstro.

Engasguei com o caroço na minha garganta e me forcei a virar a


página – fotos instantâneas de um bebê adormecido no berçário do
hospital, sendo balançado nos braços de Matthew, pressionado no seio
de sua mãe. A última foi de longe a mais bonita, a forma como Elizabeth
segurou a sua filha como se ela tivesse encontrado o mundo, porque
ela sabia que tinha.

E eu tinha perdido.
A.L. JACKSON

Cada página exibiu a vida da minha filha, cada etapa que eu


tinha perdido – a primeira comida, o primeiro passo, a primeira palavra,
o primeiro aniversário. Lizzie sorriu para a câmera com um chapéu
pontudo na cabeça, dois dentes na parte superior e dois na parte
inferior, e um bolo redondo com uma vela na frente dela - rodeada por
aqueles que a amavam.

Eu não estava lá.

Imagens de uma menina bochechuda, correndo, brincando,


sempre sorrindo encheram as páginas seguintes. Mais aniversários,
mais Natais, Páscoas, cada celebração - Cinco anos de vida.

E eu não estava lá porque eu tinha abandonado a minha família.

Mas quando eu virei na última página do último álbum, eu


estava lá. Lizzie sentava no meu colo com os braços em volta do meu
pescoço, me envolvendo em amor imerecido enquanto ela agradeceu-
me pelo presente de aniversário que eu não tinha ideia se ela iria
mesmo gostar.

Pior do que ver o que eu tinha perdido, era saber o que tinha sido
deixado de fora dessas páginas, o que não foi colocado em exibição.
Todas as noites sem dormir, toda a preocupação, cada medo. Falhas e
metas não atendidas. Mágoa, cada lágrima derramada.

Submerso em tristeza, tentei enterrar meu pesar no travesseiro


que Elizabeth tinha deixado para mim no sofá. Ele só cheirava a ela.
Eu pressionei meu rosto mais profundo, tentando abafar anos de
tristeza e perda, para esconder a devastação me despedaçando. Parecia
como a morte, cinco anos mortos pelo egoísmo e estupidez.

Quem de nós tinha pagado o maior preço? A criança bonita que


brilhava como o céu em todas as páginas, seu sorriso alegre, seu rosto
pacífico? Sua mãe, a única traída, a que tinha trabalhado tanto, que
tinha amado tanto, que criou uma criança como esta? No final, eu sabia
que tinha que sido eu. Eu era o único que tinha perdido, o único que
tinha vivido sem isso, aquele que era um tolo de ter imaginado que
alguma coisa poderia ter sido melhor do que isso.
A.L. JACKSON

Sem dúvida, eu não merecia estar aqui, me enrolando no


conforto do cobertor que Elizabeth forneceu, descansando minha
cabeça no travesseiro que só poderia ter vindo de sua cama, aceitando
sua bondade quando ela me permitiu entrar em sua casa.

Acima de tudo, eu não merecia o amor de Lizzie.

Na noite em que eu tinha me despedaçado após Elizabeth me


permitir ver Lizzie a primeira vez, eu pensei que tinha entendido, mas
eu não tinha ideia. A verdade é que eu nunca entenderia. Eu não estava
lá e eu nunca realmente saberia. E não havia nada que eu pudesse
fazer para ganhar esse tempo de volta. Mesmo se Elizabeth me
perdoasse, eu acho que eu nunca poderia me perdoar.

Mesmo com muita tristeza que essas memórias calmas me


trouxeram, eu não podia deixar de apreciar a experiência velada, grato
por ter um vislumbre da vida enquanto eu não estava realmente
vivendo. Eu lamentei esses anos e abracei o travesseiro de Elizabeth
mais perto enquanto eu me confortava com seu cheiro, me confortava
com a sua presença, enquanto a elogiava por compartilhar a vida que
eu tinha optado por não fazer parte – elogiando ela por ser corajosa o
suficiente para me permitir ser uma parte agora.

Essa presença se tornou mais forte, palpável. Eu lancei-me para


cima quando percebi que eu não estava sozinho, meus olhos atraídos
por ela. Elizabeth estava ali, agarrada ao corrimão no topo da escada,
olhando para baixo em minha direção, as lágrimas manchando seu
rosto. Nenhum de nós disse nada em voz alta, embora meu coração
falasse milhares de arrependimentos, cada um deles um pedido de
perdão que eu nunca poderia merecer.

Em seus olhos, eu vi o que eu mais desejava.

Elizabeth se importava comigo – ferida por mim - me amando.

Olhei para trás e derramei tudo o que eu tinha naquele momento,


rezando por uma vez que ela não iria questionar isso e eu também.

Ela fechou os olhos e deu dois passos para trás, a incerteza e o


medo fluindo a partir dos cantos, expondo um coração ferido que tinha
esquecido como confiar, mas que não tinha esquecido como amar.
A.L. JACKSON

Movimentei-me buscando mais o calor, recusando-me a deixar o


conforto da presença persistente de Elizabeth ao enterrar meu rosto no
seu travesseiro e puxar o cobertor mais apertado em volta do meu
corpo. Um cutucão desconhecido mexeu comigo, me tirando do que eu
tinha certeza de que foram as duas melhores horas de sono que eu já
tive.

"Acorde, papai." Uma pequena risada soou perto do meu ouvido.

Eu rolei do meu estômago para o meu lado e, em seguida, abri


meus olhos para o paraíso.

Lizzie se inclinou sobre mim, sorrindo.

Pisquei afastando o sono, sorrindo enquanto eu me concentrei


na criança preciosa na minha frente. Ela ainda usava sua camisola,
mas não havia nenhuma dor da noite anterior.

"Oi, menina," eu sussurrei, minha garganta crua pela falta de


sono e horas de remorso incontido. "Venha aqui." Eu levantei o
cobertor, convidando-a a rastejar no meu lado. Depois da noite
passada, eu precisava segurar a minha filha. Ela parecia perfeita,
sentada ao meu lado e com a cabeça apoiada no travesseiro. Coloquei
um beijo em sua testa antes de passar as pontas dos dedos sobre a
pele agora machucada sobre o olho.

"Como está se sentindo, querida?"

"Estou quase melhor. Meu braço só dói um pouco." Seus dedos


roçaram sobre o meu peito enquanto ela flexionava e estendia os dedos
em uma demonstração de recuperação.

Meu peito se encheu de emoção, sua proximidade provocando


uma tristeza assustadora da noite anterior e uma apreciação grande
A.L. JACKSON

pela graça que eu tinha recebido que me permitiu segurá-la dessa


maneira hoje.

Seus olhos ardiam, sua inocência pura ofuscada por uma


profunda consciência súbita. "Papai, o que está errado?" Os mesmos
dedinhos inchados estenderam para acariciar meu rosto numa afeição
imerecida que eu nunca iria tomar como garantido.

"Nada está errado, princesa. Tudo é perfeito."

E assim, a criança estava de volta. Seus olhos se iluminaram


quando ela mexeu fora do meu alcance e em seus pés. "Vamos lá, papai.
O café da manhã está quase pronto", disse ela, tentando me arrastar
do sofá com seu braço bom.

Sua declaração definiu meus sentidos em movimento. O cheiro


vindo da cozinha despertou memórias de tempos atrás - bacon, ovos e
biscoitos. Minha boca salivou e meu estômago roncou. Ninguém fazia
café da manhã como Elizabeth.

Lizzie puxou minha mão de novo, claramente tão animada sobre


o café da manhã de sua mãe como eu estava. Sem resistência, eu
permiti que Lizzie me levasse para a cozinha só para vacilar em meus
passos com a visão na minha frente.

Elizabeth estava no fogão, de costas para nós, vestindo uma


calça de pijama preta e uma regata correspondente. Seu cabelo loiro
estava preso em um coque bagunçado na base de seu pescoço. Pedaços
errantes tinham soltado e caído pelas costas. Ela estava descalça,
brilhante e linda.

Eu lutava para respirar através do intenso desejo que percorreu


meu corpo.

Ela lançou um rápido olhar por cima do ombro, piscando outro


sorriso genuíno. "Bom dia."

Ela voltou para seu trabalho, deixando-me para sussurrar um


bom dia quase inaudível em retorno quando na verdade eu queria
cantar.
A.L. JACKSON

Elizabeth batia o que parecia ser mais do que uma dúzia de ovos
mexidos em uma tigela de uma frigideira. "É melhor você estar com
fome. Eu fiz comida suficiente para alimentar um exército." Seu tom
era leve, talvez até mesmo alegre, como se a intensidade da noite
anterior tinha sido há muito esquecida.

Pareceu-me natural caminhar por trás dela e envolver meus


braços em torno de sua cintura, inclinar-me por cima do seu ombro e
colocar um beijo de bom dia em sua bochecha, dizer a ela que eu a
amava.

Em vez disso, eu disse: "Morrendo de fome."

"Bom." Ela abriu a porta do forno e se inclinou para retirar uma


bandeja de biscoitos caseiros.

Eu tive que desviar o olhar, e meus olhos errantes avistaram a


mesa pequena no canto da cozinha. Estava feita para cinco. De repente,
fiquei muito desconfortável.

"Uh, Elizabeth?"

"Sim?" Ela parou de colocar biscoitos em uma cesta e olhou em


minha direção.

Fiz um gesto em direção à mesa com a minha cabeça. "Você está


esperando companhia?"

Compreensão surgiu em seu rosto. "Sim, Matthew e Natalie vem


para o café da manhã todos os domingo de manhã."

Passei as mãos pelo meu cabelo. Não tinham ocorrido mais


confrontos entre Matthew e eu desde o aniversário de Lizzie, mas eu
não diria que estávamos exatamente amigáveis, também. Eu só o tinha
visto um punhado de vezes, de passagem, quando eu estava pegando
ou deixando Lizzie, mas cada vez ele me olhava com muita desconfiança
e desdém.

Elizabeth olhou para mim como se soubesse exatamente o que


eu estava pensando. Ela apontou para o banheiro. "É melhor você se
apressar e se trocar. Eles vão estar aqui a qualquer minuto."
A.L. JACKSON

Eu sabia então que seria melhor eu superar isso se eu fosse fazer


parte da vida de Lizzie.

Fui ao pequeno banheiro somente para colocar as roupas que eu


tinha usado no dia anterior, escovar os dentes, e para passar as mãos
molhadas pelo meu cabelo em uma tentativa de domar o desastre na
minha cabeça, mas quando eu saí Matthew e Natalie já estavam lá.

A partir da curva, eu assisti o pedido de desculpas profusas que


Matthew deu a Elizabeth enquanto segurava Lizzie em seus braços,
quase sem fôlego em sua explicação. "Elizabeth, eu sinto muito. Nat e
eu estávamos no cinema na noite passada e eu desliguei meu celular.
Eu não recebi a mensagem até pouco tempo, antes de chegarmos aqui".

Elizabeth tentou impedi-lo. "Matthew... Honestamente... Foi


bom. Não se preocupe com isso." A garantia de Elizabeth não fez nada
para aliviar o seu remorso. Ele abraçou Lizzie com ele. "Eu sinto muito,
Lizzie." Ele parecia à beira das lágrimas.

"Está tudo bem, tio Maffew," Lizzie prometeu, enquanto ela se


aninhou contra seu pescoço antes de se afastar e olhar entre Elizabeth
e eu. "Mamãe e papai cuidaram de mim."

Por um breve momento, a atenção de Matthew mudou de Lizzie


para mim. Sua expressão era cautelosa, mas pela primeira vez, faltava-
lhe o desprezo que normalmente manifestava. Ele abriu a boca como
se fosse dizer algo, mas virou quando Elizabeth chamou para o café da
manhã.

Eu não podia deixar de me sentir fora de lugar quando os quatro


se estabeleceram em seus lugares habituais sem um pensamento.
Matthew e Lizzie mergulharam diretamente na conversa, assim que ele
pediu que ela contasse tudo o que aconteceu na noite anterior,
enquanto ele pegava a comida espalhada sobre a mesa na frente dele.
Meus pés estavam colados ao chão, conforme eu assistia-os com inveja
benevolente, sem pesar ou ressentimento, mas avarento pelo vínculo
que eles tinham formado.

Elizabeth olhou para cima de seu assento, me sufocando no calor


em seu olhar. Ela inclinou a cabeça, me chamando para tomar o lugar
ao lado dela.
A.L. JACKSON

Por mais que eu me sentisse como um estranho, a minha


necessidade de ser uma parte desta família superava o desconforto que
eu experimentei enquanto atravessava a sala e puxava a cadeira entre
Elizabeth e Lizzie.

Três pares de olhos se viraram quando eu sentei em meu lugar,


Natalie parecia como se ela acreditasse que eu pertencia lá, Matthew
estava cauteloso, e Elizabeth com uma pitada de vermelho em suas
bochechas. Aparentemente, eu não era o único a me sentir
autoconsciente. Mas, mesmo que isso fosse novo e cheio de incertezas,
não o torna menos certo.

Lizzie era a única que parecia não notar nada fora do comum e
continuou com a descrição animada da noite anterior, aliviando o
constrangimento.

Com um sorriso tranquilo no meu rosto, eu escutei minha filha


tagarelar e fiquei incapaz de conter o prazer que eu senti quando eu
enchi meu prato com as delicias que Elizabeth passou para mim. Se
Lizzie esteve em perigo na noite anterior, eu nunca teria sabido.
Matthew e Natalie penduravam em cada palavra à medida que a
cobriam de simpatia e a animavam por ser uma menina tão corajosa
enquanto ela contou sua experiência.

Pela aparência do meu prato, eu sabia que parecia ser um


guloso. O café da manhã caseiro estava amontoado, mas eu não pude
resistir. Quantas manhãs eu tinha acordado para encontrar Elizabeth
cozinhando na pequena cozinha do meu apartamento em Nova York?
Eu estava salivando no momento em que eu mordia um biscoito
molhado com manteiga e geleia de framboesa. Um gemido escapou de
mim antes que eu pudesse impedi-lo.

A voz ao meu lado estava tão quieta que eu não tinha certeza se
eu tinha imaginado. "Eles sempre foram os seus favoritos."

Inclinei a cabeça para ela, sorrindo suavemente, desejando poder


ter a liberdade de estender a mão e tocá-la no rosto, e sussurrei:
"Obrigado por fazê-los."

Percebi que estávamos sendo observados, mas eu não me


importei. Eu tinha escolhido deixar de ser um covarde no dia em que
A.L. JACKSON

eu finalmente procurei Elizabeth, e se eu tivesse que colocar meu


coração para fora na frente de sua família, para mostrar a ela que eu
me importava com ela, que eu nunca tinha me esquecido dela, mesmo
por algo tão simples como biscoitos caseiros, eu faria.

"Então, Christian...", disse Natalie, cortando antes de colocar


uma garfada de ovos em sua boca. Ela mastigou e engoliu antes de
continuar. "O que você acha de viver em San Diego?" Eu olhei por sobre
a mesa para ela, consciente de que estava tentando fazer-me
confortável e me receber em seu círculo. Ela sempre foi gentil comigo,
me dando o benefício enquanto todos os outros permaneceram em
dúvida.

Meu olhar cintilou entre as meninas na minha esquerda e direita,


antes de voltar para ela. "Eu amo estar aqui."

"Eu também," Lizzie adicionou enquanto ela empurrou a metade


de um pedaço de bacon em sua boca.

Sim. Eu simplesmente amava estar aqui.

"E o trabalho?", Perguntou Natalie.

"Uh..." Honestamente, eu realmente não sabia como responder a


ela. Eu sabia que tinha um trabalho dos sonhos e eu gostaria de poder
apreciá-lo mais, mas, no final, ele realmente só serviu para me lembrar
do que eu me afastei para alcançá-lo.

Natalie riu. "Trabalho é trabalho, certo?"

Eu ri da sua observação, embora fosse muito mais profundo do


que o óbvio. "Sim, eu acho que você pode dizer isso."

Elizabeth ficou tensa ao meu lado quando nós abordando o que


eu sabia que ia ser um assunto muito delicado para nós. Elizabeth
nunca tinha estado nisso por dinheiro, mas não significa que ela não
tinha aspirações. E ela estava certa, o que ela havia dito naquela tarde
- que poderíamos ter imaginado.

Lizzie saltou sobre o tema. "No trabalho do meu pai, você pode
ver o oceano e em sua casa também", ela disse com seus exuberantes
olhos arregalados. Meses antes, eu tinha levado Lizzie ao meu escritório
A.L. JACKSON

para mostrar a ela onde eu trabalhava, e, claro, ela tinha ido para o
meu apartamento várias vezes. Ela claramente tinha ficado
impressionada com o fato de que eles pareciam estar sobre a água e
tinha declarado que um dia ela iria viver à beira-mar também. Era um
desejo que eu ficaria muito feliz em realizar.

Elizabeth se juntar à conversa me pegou desprevenido. "Então,


como é trabalhar para o seu pai?" Ela me estudou com um verdadeiro
olhar cheio de preocupação. Ela sabia quão turbulenta a minha relação
com o meu pai tinha sido, e ele tinha sido nada mais do que um idiota
hipócrita para ela. Fiquei surpreso que ela tivesse sequer o
mencionado.

Eu olhei diretamente para ela e soltei uma respiração pesada


antes de responder com sinceridade. "Miserável." Eu coloquei os ovos
mexidos em minha boca para encobrir o desprezo que eu sentia por
meu pai. Ele governou sua empresa com mão de ferro e tratava cada
um de seus empregados como lixo, inclusive eu. Por que ele me pediu
para ser a "cabeça" do escritório de San Diego quando ele pensou que
eu era incapaz de fazer algo direito estava além de mim.

Ela assentiu com a cabeça suavemente, como se tivesse


esperado. "Eu sinto muito."

"Eu também." Por tudo.

Sua atenção caiu para seu prato, absorvida em espetar os ovos


com o garfo.

Era tudo tão desconcertante, a maneira que Elizabeth e eu


tínhamos que andar na ponta dos pés em torno um do outro, como se
todos os simples comentários vinham com uma ameaça de nos
arrebatar na ressaca e nos afogar em nosso passado.

Voltei-me para Natalie, na esperança de seguir um tópico mais


seguro. "O que você faz, Natalie?"

Seus olhos castanhos se iluminaram quando ela pulou em um


relato detalhado dos últimos quatro anos de sua vida, seus objetivos,
sua faculdade, seu encontro com Matthew. Mesmo que ela fosse jovem
e via o mundo através de um temor quase infantil, ainda havia uma
A.L. JACKSON

profundidade nela. Eu gostava dela e poderia facilmente contar-lhe


como uma amiga. "Então, agora, eu estou tendo aulas no período da
manhã para terminar a minha licenciatura e cuidar dessa pequena
coisa doce na parte da tarde." Ela cutucou Lizzie na barriga com o dedo,
fazendo com que Lizzie gritasse.

Matthew assistiu sua esposa com ternura, o rosto brilhando


enquanto ela falava. Olhei para Elizabeth, em seguida, de volta para
ele, em busca de qualquer tipo de mal-estar com a interação, enquanto
me perguntava como a vida parecia tão simples quando a situação não
era nada. Elizabeth assistia com carinho. Talvez quando eu vi Matthew
ao lado de Elizabeth naquela noite eu tinha estado muito cego pela
minha autopiedade para ver claramente, mas eu podia ver agora. Ele
tinha estado ao lado de Elizabeth, dedicado como um protetor, seu
guardião, mas seu toque faltava o que derramava dele quando ele
olhava para sua esposa.

Ele nunca tinha amado Elizabeth - não do jeito que eu fiz, não
da maneira que ele amava Natalie.

Eu era tão idiota, a cada realização, uma amplificação dos erros


que eu tinha feito.

Para o restante do café da manhã, eu ouvi e aprendi. Matthew


não falou comigo que não fosse um olhar penetrante ocasional como se
ele desse qualquer coisa para saber meus pensamentos.

A pequena família de Elizabeth seguiu do jeito que eu imaginava


que sempre faziam, relaxados, curtindo uns aos outros, e conversando
sobre o que aconteceu durante toda a sua semana.

Elizabeth riu.

E o mundo estava certo.

"Posso ajudar com alguma coisa?" Eu estava na porta da cozinha


de Elizabeth, quando ela carregou a máquina de lavar louça com as
louças sujas da manhã de domingo. Eu tinha acabado de descer do
quarto de Lizzie, onde eu tinha passado a última hora brincando com
A.L. JACKSON

ela no chão, desde bonecas, carros, até um jogo que me obrigou a usar
brincos de plástico e uma tiara de princesa.

Eu ganhei.

Elizabeth sorriu por cima do ombro. "Não, estou terminando."


Ela fechou a máquina de lavar louça e girou o botão para começar.

"Isso foi ótimo, Elizabeth. Obrigado."

Ela balançou a cabeça indicando que não foi um problema.


"Estou feliz que você estava aqui."

"Eu estou feliz que eu estava, também." Mais do que ela poderia
imaginar.

Ver Lizzie três dias seguidos tinha sido maravilhoso, e mesmo


que eu estivesse ciente que este pedido contaria como empurrar
novamente, eu não poderia imaginar não vê-la por uma semana inteira.
"Então, eu estava pensando... Talvez se eu pudesse pegar Lizzie na
terça-feira na escola para levá-la para o almoço?" Eu me senti nervoso,
mudando meus pés, preocupado com a sua reação. Então, eu divaguei.
"Eu só ficaria com ela por um par de horas e eu poderia trazê-la de
volta para Natalie. Você nem sequer saberá que ela saiu."

Ela não hesitou. "Eu não vejo por que não. Apenas deixe-me
verificar com Nat."

Natalie concordou, o que não me surpreendeu. Ela parecia


entusiasmada com a ideia. O arranjo seria para eu pegar Lizzie na
escola e, depois, deixá-la na casa de Natalie e Matthew. Eu digitei o
endereço que Natalie tinha me dado no meu telefone enquanto ela e
Matthew abraçaram e beijaram Elizabeth e Lizzie, dizendo adeus, seus
afetos grandes enquanto eles prometeram que se veriam amanhã.

Natalie me abraçou. No início, me pegou de surpresa, mas eu fui


rápido em retribuir com um murmurou: "Obrigado", baixo contra sua
orelha. Ela assentiu com a cabeça e, em contrapartida, me apertou
mais forte, uma compreensão clara se deu entre nós.
A.L. JACKSON

O maior choque foi quando Matthew se aproximou e estendeu a


mão. Eu aceitei, embora meu aperto fosse fraco e inseguro. Ele apertou-
a, firme e sem repreensão. "Obrigado por estar lá na noite passada."

Eu concordei, embora eu não quisesse seus agradecimentos.


Nenhum pai deveria precisar ser agradecido pela participação no que
era sua responsabilidade, mas eu tinha que aceitar que as minhas
escolhas passadas resultaram no julgamento de minhas ações agora.

"Tudo bem, nós estamos indo embora." Natalie puxou o braço de


Matthew, pegando sua mão. Com um último adeus, eles saíram pela
porta da frente, a sua partida sinalizando que o meu tempo aqui hoje
tinha terminado bem.

"Eu acho que é melhor eu sair também." Meu tom era menos do
que entusiasmado.

Eu me ajoelhei na frente da minha filha e peguei-a em meus


braços. Não havia nada pior do que dizer-lhe adeus. "Eu te amo,
bebezinha. Papai vai buscá-la na escola na terça-feira." Alisei seus
cabelos. "Você gostaria disso?"

"Sim!" Ela apertou os braços em volta do meu pescoço. "Você é o


melhor pai do mundo!"

Sua percepção de mim era tão distorcida, tão longe da verdade,


mas não haveria nenhum bom propósito em corrigi-la agora. Eu
precisava falar com ela sobre isso, eu sabia, tanto quanto eu precisava
falar com sua mãe, mas não no momento em que eu estava indo
embora. Então, puxei-a para mais perto, segurando-a firmemente.

"Adeus, princesa." Relutantemente, eu deixei-a ir e me levantei


para sair.

"Tchau, papai."

Elizabeth nos observou de onde estava encostada na parede


embaixo da escada, uma nova tristeza em seu rosto. Era uma tristeza
que eu conhecia muito bem. Eu usava isso o tempo todo.

"Adeus, Elizabeth. Obrigado por tudo".

"Adeus, Christian."
A.L. JACKSON

Abri a porta e sai para o calor do sol de verão.

Elizabeth seguiu-me até a porta para me ver.

"Elizabeth?" Eu virei para ela, fazendo uma pausa em sua


varanda. Esta não foi uma reflexão tardia. Isso tinha estado em minha
mente desde a noite passada. "Por que você não voltou para a aula?"

Ela se acalmou quando o significado da minha pergunta surgiu


em seu rosto. Sua voz era calma e rachou quando ela respondeu.
"Estive doente."

Fechando os olhos, eu concordei e me afundei na onda sufocante


de culpa, e na minha vergonha, eu virei e deixei Elizabeth sem mais
palavras.

A pré-escola era um edifício grande, branco com letras coloridas


pintadas em toda a frente e arbustos crescendo contra suas paredes.
Uma cerca de ferro forjado pintada de azul brilhante abrangia a área,
e os equipamentos de playground enchiam o quintal que era protegido
do calor por um guarda-sol azul.

Exatamente ao meio-dia, eu andei através da porta em direção


ao escritório, me sentindo um pouco fora do lugar e nervoso. O espaço
estava principalmente tranquilo, apenas o som distorcido de crianças
brincando que escoava através das paredes finas. A jovem atrás do
balcão perguntou se poderia me ajudar.

"Sim, eu estou aqui para pegar Lizzie Ayers".

Seu rosto se iluminou em reconhecimento. "Oh, sim, foi nos dito


para esperar por você." Ela folheou uma pilha de arquivos em sua mesa
e pegou uma pasta com o nome de Lizzie na frente. Ela puxou uma
folha de dentro dela, passou-a para mim, e colocou uma caneta em
A.L. JACKSON

cima dela. "Eu só preciso que você preencha isso e eu preciso verificar
a sua carteira de motorista."

A maior parte do formulário foi preenchida por Elizabeth, sua


caligrafia distinta me adicionando à lista de pessoas autorizadas a
buscar Lizzie na escola. Houve apenas uma pequena parte onde eu
precisava adicionar meus dados pessoais.

Meu coração palpitava quando percebi o enorme salto de fé que


Elizabeth tinha tomado por mim.

Eu já tinha o direito de pegar a minha filha dentro e fora da


escola.

Com a mão trêmula, eu adicionei a informação e passei o


formulário de volta para a recepcionista, juntamente com a minha
carteira de motorista.

Ela olhou-a, levantou um dedo, e disse: "Só um minuto."

Ela fez uma fotocópia, acrescentou-a no arquivo, e me mostrou


onde assinar para pegar a minha filha. Então ela me levou pelo corredor
até a sala de aula de Lizzie.

"Papai!" Lizzie me viu no segundo em que entramos pela porta, e


correu através do espaço com os braços estendidos.

"Olá, querida." Eu a peguei e a beijei na testa, balançando-a


enquanto eu a segurava em meu peito. "Senti sua falta."

"Eu senti sua falta também, papai."

"Vamos, vamos pegar suas coisas."

Lizzie me mostrou seu cubículo recheado com seu trabalho do


dia, orgulhosa quando ela me presenteou com uma imagem que ela
tinha pintado. Embora a imagem tivesse sido elaborada com a mão de
uma criança de cinco anos de idade, os dois adultos e a criança de
mãos dadas, um com cabelo amarelo e dois com cabelo preto, deixou
claro o que ela tinha desenhado.

“Isso é lindo, Lizzie.” Tão lindo.


A.L. JACKSON

Eu a ajudei a arrumar sua mochila sobre a tipoia que ela ainda


usava no braço e, em seguida, peguei sua mão boa e a levei para fora.

"Onde, Lizzie?" Eu olhei para ela através do espelho retrovisor,


onde ela estava afivelada em seu assento no banco de trás do meu
carro.

"Eu quero pizza!"

Então seria pizza.

Logo estávamos sentados em uma mesa redonda para dois na


pequena pizzaria que eu pesquisei em meu telefone. Era o tipo de lugar
onde o proprietário cozinhava na parte de trás, enquanto gritava ordens
aos seus funcionários na frente, um lugar onde uma pessoa poderia
pedir pizza pela fatia e sentar-se em mesas cobertas em panos
vermelhos e brancos, um lugar onde o cheiro inebriante de massa de
pão recém assada pairava no ar.

Lizzie sentou-se sobre os joelhos, bebendo um refrigerante claro


e borbulhante através de um canudo, nós dois conversando sobre o
nosso dia. Ela me disse da briga entre dois meninos no recreio, sua voz
desaprovando enquanto ela descreveu como eles tiveram que se sentar
durante todo o resto do intervalo.

Eu ri e então disse a ela sobre a reunião do conselho que eu tinha


que participar durante toda a manhã, deixando de fora todos os
detalhes chatos, dizendo a ela, em vez disso, como eu tinha passado o
tempo todo olhando para fora sobre os veleiros na água, enquanto
pensava apenas nela.

O garçom chegou com a nossa comida e reabasteceu nossas


bebidas. As fatias de pizza eram enormes e gotejavam gordura, e eu
convenci Lizzie a permitir que eu cortasse em pedaços para que ela
pudesse comê-la com um garfo em vez de tentar equilibrá-lo com a mão
boa.

"Obrigada, papai", disse ela com uma expressão suave de


apreciação em seu rosto, quando eu coloquei o prato de volta na frente
dela e entreguei um garfo.
A.L. JACKSON

"Por nada, querida." Eu sorri enquanto ela espetou um pedaço


de sua pizza de queijo e colocou em sua boca. Só então eu voltei-me
para lutar com o enorme pedaço na minha frente.

Nós comemos em paz por um par de minutos, enquanto eu


contemplava a melhor maneira de começar a discussão que eu estava
certo que seria uma das mais difíceis da minha vida, mas eu não podia
adiar por mais tempo.

"Lizzie, querida?"

Sorrindo, ela ergueu os olhos do prato e olhou para mim por cima
da mesa.

"Você está feliz que o papai esta aqui... agora?" Realmente, eu


sabia o que ela diria. Eu só não sabia a melhor maneira de entrar na
conversa.

Ela assentiu com a cabeça quando ela deu outra mordida. "Uh-
huh."

"Será que sua mãe alguma vez falou com você sobre por que eu
não estava com você quando você era mais jovem?"

Ela encolheu os ombros, como se isso não importasse em tudo.


"Você não me queria."

Eu queria morrer com a dor estonteante que a sua resposta me


trouxe. Engolindo o nó na minha garganta, eu segurei a mesa na minha
frente, me forçando a falar. "Lizzie, eu sinto muito." Mesmo se não
tivesse sido sempre o caso, mesmo que eu tivesse passado os primeiros
cinco anos de sua vida me perguntando sobre ela, ansiando por ela,
houve um dia em que eu tinha acreditado que essa criança iria arruinar
a minha vida.

"Está tudo bem, papai."

Não havia nada bem sobre o que eu tinha feito, mas aceitei-o
como a sua maneira de me falar que ela já tinha me perdoado.

Debrucei-me fortemente contra a mesa, abaixando-me para que


eu pudesse olhar para o rosto da minha filha. "Eu preciso que você
A.L. JACKSON

saiba Lizzie, que, enquanto eu viver, nunca vou deixá-la novamente.


Você entende?"

Ela sorriu um sorriso simples, um de sinceridade e confiança.


"Eu sei papai." Ela sorriu e perguntou se ela poderia ter outro
refrigerante.

Era um pouco após as três, quando cheguei ao local com meu


nome gravado em uma placa de prata na garagem do meu prédio.
Apertei o botão várias vezes, desejando que o elevador se apressasse.
Eu deveria estar em outra rodada de reuniões do conselho às três
horas. Depois de passar a hora depois do almoço em um parque
próximo, eu tinha deixado Lizzie na pequena casa de um andar que
Natalie e Matthew compartilhavam. Com um sorriso, Natalie tinha me
convidado a entrar. Ela me envolveu em um abraço encorajador
quando eu expliquei que eu tinha que voltar para o escritório.

Parecia que cinco minutos haviam se passado, mas na realidade


foram apenas cerca de 30 segundos, antes das portas do elevador se
abrir. Eu soltei um suspiro de alívio quando saí para o nosso andar,
um minuto depois, correndo para o meu escritório para pegar os
arquivos que eu precisava para a reunião.

Eu quase tropecei em meus pés quando eu encontrei meu pai


sentado na minha mesa, o rosto torcido em desaprovação. "Então,
muito gentil você aparecer, Christian."

Recuperando-me da minha surpresa, eu balancei a cabeça e


atravessei a sala para encontrar a papelada.

"Que bom que você me avisou que estava vindo para a cidade,"
Eu atirei de volta para ele. De pé, na frente da minha mesa de cara com
o meu pai, eu vasculhei os arquivos, peguei o que eu precisava, e os
empurrei em minha pasta.
A.L. JACKSON

"Eu apenas pensei em aparecer para ver como as coisas estavam


indo por aqui." Ele acenou com a mão ao redor da sala.

"Elas estão indo bem." Ele já estava bem ciente disso. Claro, nós
tínhamos tido algumas dificuldades no início, mas nada que não fosse
esperado.

"Não parece assim para mim." Eu parei minha atividade frenética


e olhei para o homem sentado na minha cadeira, olhando para mim,
seus olhos escuros brilhando com discordância. "Cuide em me dizer
por que eu estive sentado neste mesmo lugar por... oh..." Ele olhou para
o Cartier em seu pulso. "As últimas três horas enquanto você estava
longe de ser encontrado?"

Eu sabia que meu pai esperava que eu vivesse a minha vida do


mesmo modo que ele, vinculado ao escritório, não se preocupando com
mais nada além do título elevado que ele me deu.

Eu me recusava.

"Eu estava com a minha filha. Você tem um problema com isso?"

Ele parecia como se eu tivesse acabado de esmagar um peso de


papel ao lado de sua cabeça, cambaleando com o golpe que o tinha
desferido.

O choque foi rápido em se transformar em fúria. Ele se levantou


rapidamente, as palmas das mãos planas sobre a mesa. "Você voltou
com aquela pequena prostituta faminta por dinheiro? Você é realmente
um estúpido, Christian?"

A pasta que eu segurava esmagou contra a parede quando eu a


joguei através da sala, vidro quebrando no impacto, quadros caindo ao
chão.

Eu apenas disse ao idiota que ele tinha uma neta, e, em vez de


pensar em perguntar o nome dela, ele pensou em dinheiro?

Eu não podia suportar olhar para o homem patético na minha


frente - seu cabelo preto e grisalho em torno de suas orelhas, apenas
usado dessa maneira porque ele acreditava que lhe dava um olhar de
A.L. JACKSON

distinção - não podia suportar vê-lo tremendo com raiva sobre o que
eu sabia que era o seu embaraço, sobre a minha criança bastarda.

Eu o odiava por isso.

Com a mão trêmula, eu puxei minha carteira do meu bolso de


trás e tirei a pequena foto de Lizzie que eu deixava lá. Bati-a sobre a
mesa na frente dele e tomei uma decisão que eu tinha certeza que
nunca iria me arrepender. "Você pode contar isso como a minha
demissão."
A.L. JACKSON

Eu não tinha mais ideia em que eu acreditava, ou onde eu estava.


A porta tinha sido aberta, uma linha foi cruzada, e eu não podia decidir
o que eu sentia por ele. Eu sabia que isso aconteceria, tinha até
empurrado para isso. Quão fácil teria sido chamar a minha mãe ou a
minha irmã mais velha quando o telefone de Matthew foi para a caixa
postal.

Mas não, eu tinha chamado Christian.

No tempo que ele levou para dirigir para a nossa casa, eu


agonizava sobre essa decisão, que tipo de erro eu estava cometendo, e
seu efeito final sobre a minha filha. Eu ainda acreditava que ele iria
machucá-la?

Então, quando ele se ajoelhou diante dela, sua preocupação e


sensibilidade era o suficiente para nos encobrir, suficiente para
afugentar os temores do meu bebê e aliviar o pânico batendo contra
meu peito, eu pensei, Não. Ele nunca faria.

Não foi difícil rastrear a origem disso até o momento em que eu


estava sentada ao lado de Claire e ela me fez questionar tudo o que eu
segurei por tanto tempo, tudo o que eu achava que entendia.

Eu balancei a cabeça e tentei me concentrar no trabalho, apenas


para ficar tensa quando uma mão muito íntima percorreu meu braço e
descansou na parte inferior das minhas costas. "Hey, Elizabeth, Anita
pediu-me para terminar por ela hoje. Você precisa de ajuda com
alguma coisa?" Scott se inclinou sobre meu ombro e olhou para a tela
do meu computador. Ele estava tão perto que eu podia sentir sua
respiração no meu pescoço.
A.L. JACKSON

Recuei para frente, num movimento instantâneo. Com o mouse


na mão, eu cliquei para fazer o fechamento diário dos procedimentos,
fui até meus relatórios do dia e pressionei para imprimi-los. "Eu só
estou terminando aqui." Entreguei-lhe a pequena pilha de papéis,
fechando a gaveta e trancando. "Aqui está."

Scott era meu amigo, e eu sorri para ele de uma forma que
indicasse que era a única coisa que ele era. Seus olhos verdes
brilhavam sem entender. Ele tinha sido ousado recentemente, o seu
toque não tinha mais uma pitada de desejo, mas um desejo evidente.
Ele examinou os documentos no que pareciam minutos, quando
provavelmente foram apenas segundos - demorados.

Movendo os meus pés, eu tentei permanecer paciente sob seu


escrutínio do meu trabalho e do meu corpo, enquanto ele estava
inadequadamente perto. Tudo o que eu queria fazer era sair, pegar meu
telefone, discar para Natalie e perguntar-lhe como o dia tinha sido.

Hoje foi o primeiro dia que Christian pegou Lizzie na escola.

"Parece bom, Elizabeth", Scott disse, concordando com a cabeça


e dando um passo para trás, ainda persistente.

"Ótimo". Olhei ao redor, procurando por uma fuga fácil.

"Então, uh..." Ele olhou para os papéis em suas mãos antes de


olhar para mim. "Você tem planos para sexta à noite?"

Eu fiz uma careta, desejando que ele parasse de continuamente


me colocar nessa posição, aquela em que eu tinha que desapontá-lo.
Ele estava começando a tornar as coisas desconfortáveis entre nós.

"Scott..." Eu suspirei e olhei para longe, empurrando minha


franja do meu rosto, exasperada.

"Elizabeth", ele implorou baixo como um sussurro. "Eu estou


cansado de esperar." Baixando seus olhos, ele procurou meu rosto.
"Por favor, apenas... Tente."

"Eu não posso."

Sua voz levantou numa fração de frustração. "Por que não?"


A.L. JACKSON

"Por favor, Scott, você é meu amigo." Não estrague isso, eu queria
pedir.

Ele deu um passo para trás e bufou, antes de se virar e me deixar


olhando para suas costas enquanto ele se afastava em direção a sala
de descanso.

Coloquei minhas mãos espalmadas contra o meu balcão,


suspirei e desliguei o meu monitor do computador, enquanto eu me
perguntava por que eu não poderia me obrigar a dizer sim. Era apenas
um jantar. Por que isso tem que ser um negócio tão grande?

Na sala de descanso, eu juntei minhas coisas do armário e liguei


o meu telefone, ansiosa para estar na privacidade do meu carro para
que eu pudesse fazer a ligação. A tensão encheu a sala, irradiando de
Scott, quando ele entrou e ficou olhando à frente, ele se recusou a olhar
na minha direção. Selina ofereceu um pequeno sorriso compreensivo,
um encolher de ombro simpático.

"Boa noite a todos," Eu disse enquanto pendurava minha bolsa


sobre meu ombro e saia correndo da sala, passado pelo lobby, e saindo
para o ar fresco da noite, o céu cinza nublado. Eu suspirei e me
perguntei quando as coisas se tornaram tão complicadas. Caminhando
ao longo da lateral do edifício, olhei para os meus pés, contando os
meus passos, e tentando não pensar em Christian e na sua dor que
ecoou pela minha casa, me chamando, quase me levando ao abismo.

Era inútil. Ele me perseguia em meus pensamentos e sonhos –


esperando encostado ao meu carro.

Eu congelei quando o vi, uma dor de profunda agitou no meu


estômago.

Ele inclinou-se contra o meu carro, largado com as mãos


enfiadas nos bolsos de seu terno cinza escuro, sua atenção focada no
local onde ele mexia com a ponta do sapato em um pequeno buraco no
pavimento.

"Christian?" Eu chamei, assustando-o, seu rosto ansioso


encontrou o meu.
A.L. JACKSON

Em dois segundos, eu cruzei o estacionamento e parei a


centímetros dele. "O que está acontecendo?" Meu primeiro pensamento
foi preocupação com a minha filha, mas eu sabia que Natalie teria me
chamado caso houvesse algo errado.

Christian sentou-se mais reto, cruzou os braços sobre o peito e


passou a mão pelo cabelo enquanto aumentava sua agitação. Seu
comportamento fez com que a dor no meu estômago crescesse,
transformando-se em apreensão. A boneca que ele tinha dado a Lizzie
estava ao lado dele, sobre o porta-malas do meu carro, e ele a pegou e
entregou-a para mim. "Lizzie deixou isso no meu carro hoje. Eu pensei
que ela podia pedir por isso." Ele fingiu calma, embora seus olhos
mostrassem que ele estava preocupado com outra coisa.

Estudei o brinquedo com os olhos estreitos, como se contivesse


algum tipo de resposta. Olhei novamente para ele. "Christian?" Era
óbvio que a boneca não tinha nada a ver com a razão pela qual ele
sentou-se no meu carro.

Ele gemeu e passou a mão pelo cabelo de novo, o movimento


fazendo cair cabelo sobre o seu rosto.

"Eu tive uma briga com o meu pai." Ele tremia enquanto falava
as palavras, parecendo como se o mundo tivesse abalado, quebrado.

Eu balancei a cabeça, tentando processar por que isso parecia


tão crucial.

"Eu renunciei", ele esclareceu com um aceno apertado, como se


estivesse tentando se convencer de que sua ação tinha sido a correta.

Ele renunciou.

As lágrimas saltaram aos meus olhos e eu me afastei. "Você está


indo embora?" Escorregou da minha boca, lento e magoado, mais uma
acusação do que uma pergunta.

Eu não podia acreditar que ele faria isso, não depois de tudo,
depois de eu o ter acolhido em minha casa. Eu era uma tola.

Christian pareceu confuso, e, em seguida, deslizou na mesma


tristeza com a que ele me observava nos últimos três meses. "Deus,
A.L. JACKSON

não, Elizabeth. Claro que não." A tristeza aumentou enquanto ele


observou a compreensão chegar a mim, assistiu-me enxugar as
lágrimas de desconfiança perpétua e, em seguida, as que caíram com
o alívio que ele estava ficando.

"Eu não vou a lugar nenhum." Seus olhos brilhavam


profundamente com a promessa, intensos enquanto eles pareciam
procurar os meus com a compreensão- a aceitação.

Baixei a cabeça e fechei os olhos enquanto segurava a boneca de


Lizzie ao meu peito. Será que em algum momento vai chegar o dia em
que eu vou acreditar, que eu vou parar de esperar que ele vá embora?

Eu levantei meu rosto para encontrar o dele. "Sinto muito,


Christian."

Lamentei minha suposição, minha reação instintiva, e desejei


que eu pudesse leva-la de volta e me focar nele. Uma vez que eu
finalmente parei de pensar em mim mesma, eu percebi que ele tinha
vindo aqui por uma razão. Ele precisava de apoio e conforto quando ele
me confidenciou que tinha largado o emprego.

Desde o dia em que eu conheci Christian, eu sabia que trabalhar


para o seu pai tinha sido o motivo pelo qual ele se esforçava, o que o
tinha empurrado ainda mais, o que o fez trabalhar para ser o melhor.
Embora eu nunca concordasse com as razões por trás disso, eu sabia
o quanto era importante para ele.

E agora ele se afastou.

Eu me senti como uma idiota completa.

Christian se encolheu com o meu pedido de desculpas, expirando


o ar pelo nariz enquanto sacudiu a cabeça.

"Não se desculpe, Elizabeth," ele ordenou suavemente quando


olhou para mim com o que parecia compreensão completa, sua queixa
era apenas consigo mesmo.

Dando um passo inseguro à frente, eu olhei para ele sob sua


cabeça parcialmente inclinada. Ele tinha se abaixado ainda mais sobre
A.L. JACKSON

o meu carro, as mãos empurravam ainda mais fundo nos bolsos


enquanto ele chutava pequenas pedras com o sapato.

"Você está bem?" Perguntei com cuidado, procurando o seu


rosto.

Franzindo a testa, Christian apertou os lábios como se estivesse


fazendo a si mesmo a pergunta.

Por fim, ele deu de ombros e ofereceu um fraco, "eu acho",


embora fosse claro que ele não acreditava nisso mais do que eu.

"Você quer falar sobre isso?"

Richard Davison era provavelmente o menos amável, a pessoa


mais difícil que eu já encontrei na minha vida, mas Christian sempre
negociava com isso. Eu não poderia imaginar o que iria levá-lo a jogar
tudo fora agora.

A raiva latente atravessou o rosto de Christian, enquanto


manteve a mandíbula rígida. "Não, eu acho que eu vou te poupar dos
detalhes." Ele soltou uma respiração pesada, afundou os ombros e
olhou para seus pés. "Eu não sei o que eu deveria fazer agora. Passei
minha vida inteira trabalhando para ter um lugar na empresa do meu
pai, e agora..." Ele olhou para mim perdido.

Eu lutei contra a vontade de consolá-lo, de montar em suas


pernas cruzadas nos tornozelos na sua frente, de envolver meus braços
em volta do seu pescoço, e prometer-lhe que ficaria tudo bem.

Em vez disso, eu me arrastei um pouco mais perto e bati na


lateral do seu sapato com a ponta do meu. "Hey," falei suavemente,
"Você vai descobrir isso. Vai ficar tudo bem."

Ele olhou para os nossos pés e, em seguida, de volta para mim


com uma carranca ainda sobre sua boca. "Eu nunca vou ganhar tanto
trabalhando em outra empresa quanto eu ganhava trabalhando para o
meu pai." Ele olhou para mim como se ele estivesse esperando pela
minha reação, como eu me sentia sobre esta notícia.
A.L. JACKSON

"O dinheiro é realmente importante para você?" A pergunta saiu


baixa, sondando, como se a sua resposta significasse tudo, como se
isso fosse de alguma forma mudar alguma coisa dentro de mim.

Porque há quase seis anos, sua resposta era sim.

Ele balançou a cabeça, tão lento, o movimento cheio com a


compreensão da origem da minha pergunta. "Não, Elizabeth... Não
mais. Eu só preciso que você saiba que as coisas podem ser diferentes
agora."

Mais uma vez, Christian turvou as linhas de quem éramos,


enquanto minha mente finalmente entendeu o motivo dele estar aqui,
onde sua preocupação o tinha colocado.

Ele queria a minha aprovação, como se fôssemos uma família e


isso era uma decisão para ser feita em família.

O passo que eu dei foi leve, quase imperceptível, mas o suficiente


para colocar alguma distância entre nós antes de eu me perder
completamente neste homem. Eu engoli um pouco da emoção,
desesperada para aliviar a angústia de Christian e, ao mesmo tempo,
desesperada para me distrair da necessidade que sentia para me
aproximar e consolá-lo.

"Você está me pedindo um empréstimo, Christian?" Isso saiu


rude, inoportuno, embora eu não pudesse evitar rir sobre quão ridícula
a minha tentativa de animá-lo soou.

Um sorriso surgiu no canto de sua boca e ele riu pelo nariz.


"Nunca se sabe, Elizabeth, nunca se sabe." Um sorriso cheio rompeu
quando ele olhou para mim, sua expressão aliviada.

"Obrigado."

Eu sorri de volta para ele suavemente, ficando cada vez mais


difícil de esconder o amor que eu tinha mantido por ele durante tanto
tempo. Mordi meu lábio inferior e balancei a cabeça, desejando que eu
pudesse oferecer-lhe algo mais do que outro exausto boa noite,
Christian.
A.L. JACKSON

"Boa noite, Elizabeth," ele sussurrou, seus olhos quentes


enquanto ele se levantava. Ele estendeu a mão em um pequeno aceno
antes de se virar e entrar em seu carro estacionado próximo ao meu.

Eu não podia me mover enquanto eu observei ele sair.

"Essa é a razão pela qual você não vai dizer sim?" Eu pulei
quando a voz áspera e ferida atingiu meus ouvidos. Virei para olhar por
cima do ombro e encontrar Scott próximo à parede do edifício,
balançando a cabeça em decepção. "Você está voltando com aquele
idiota, não é Elizabeth? Depois de tudo o que ele fez para você?"

Fiquei boquiaberta com Scott, seu rosto vermelho de raiva e


incredulidade. Engoli a minha vontade de defender Christian,
lembrando as muitas vezes que eu tinha difamado Christian enquanto
eu chorava no ombro de Scott.

Eu realmente esperava que ele pensasse bem de Christian agora?

"Não." Eu balancei a cabeça, rápida em combater a afirmação de


Scott. Eu sabia o que isso deve ter parecido para ele – o que isso tinha
parecido para mim.

"Não", eu disse de novo para convencer tanto a Scott e quando a


mim. Eu não estava voltando com Christian. Eu não podia.

Ele me causou muito dano, e eu nunca iria sobreviver a outro


coração quebrado assim.

"Não?", Perguntou Scott, seu tom cético, desafiando, "Então,


jante comigo." Ele se afastou da parede e deu um passo adiante. Sua
voz perdeu sua força quando ele implorou, "Só uma vez, Elizabeth. Se
você não gostar, então eu prometo que eu nunca vou pedir de novo".

Eu queria dizer para ele ir ao inferno, perguntar-lhe como ele


achava que tinha o direito de me manipular deste jeito.

Em vez disso, eu concordei. Eu me convenci de que era apenas


um jantar, que não era um negócio tão grande, que nunca poderia
haver nada entre Christian e eu outra vez, e eu disse sim a Scott.
A.L. JACKSON

O espelho de corpo inteiro no canto do meu quarto zombou da


minha estupidez enquanto eu estava diante a ele alisando a blusa
branca e a saia preta que ficava um pouco acima dos meus joelhos. Eu
estava ansiosa, agitada. Minhas grossas ondas louras tinham sido
transformadas em um monte de cachos, meus olhos foram delineados
e meus cílios revestidos, uma espessa camada de gloss transparente
cobria meus lábios.

"Você está bonita, mamãe", disse Lizzie. Ela se sentou com as


pernas atravessadas na minha cama e sorriu enquanto ela me viu ficar
pronta.

Eu sorri de volta para ela através do espelho, sem entusiasmo, e


coloquei em meus pés um par de sapatos preto, lutando contra outra
onda de culpa.

Conforme os últimos três dias se passaram, a realização tinha


lentamente se infiltrado, aceitando o motivo real que eu tinha aceitado
este encontro. Por dois anos, eu tinha sido bem sucedida em evitar os
afetos de Scott, em colocá-lo fora, e em um momento de fraqueza aos
pés de Christian, eu entrei em pânico. Eu senti a necessidade de provar
a mim mesma que era mais forte do que as emoções que surgiam por
Christian, mais forte do que a necessidade por ele que estava
ameaçando transbordar.

Agora, eu me preparava para um encontro que eu não queria ir


— me preparava para um encontro com um homem que só se
importava comigo e era meu amigo.

A campainha tocou. Lizzie saltou da minha cama e voou para o


andar de baixo, em antecipação ao seu pai.

Peguei uma jaqueta leve e minha bolsa, minhas mãos trêmulas


enquanto eu coloquei o casaco sobre meus ombros. Pouco à vontade,
A.L. JACKSON

eu suspirei e olhei uma última vez no espelho antes de me forçar a sair


do meu quarto.

Pairando no topo da escada, vi Christian ajoelhado no hall de


entrada com a nossa filha em seus braços, o rosto enterrado em seu
cabelo. Pela primeira vez em uma sexta-feira à noite, ele não estava
vestindo um terno, mas sim um jeans e uma camiseta, um lembrete
austero de sua escolha em deixar a empresa de seu pai poucos dias
atrás.

Tomando um suspiro trêmulo, desci as escadas, hesitante e


lenta, como se meu subconsciente acreditasse que se eu fosse
silenciosa o suficiente passaria despercebida, minhas ações irracionais
e compulsivas ficariam esquecidas e invisíveis.

Claro, Christian olhou na minha direção. Seu rosto se espalhou


em um sorriso tímido, os olhos avaliando enquanto ele percebia a
minha aparência. "Oi, Elizabeth."

"Oi." Eu segurei no corrimão, reticente em dar mais um passo.


Eu me senti tão exposta, como se pudesse ver através de mim e decifrar
minhas intenções.

"Você está muito bonita." Seu rosto corou com o elogio,


autoconsciente, mas ele continuou. "Você vai sair?"

Talvez ele pudesse.

Engolindo, eu balancei a cabeça e dei o último passo para o hall


de entrada de azulejos, minha mente trabalhando uma forma de
explicar, uma forma de justificar o que eu estava me preparando para
fazer. Outra parte de mim insistiu que eu não precisava dar-lhe uma
satisfação, mas, de alguma forma, nesta noite, essa linha de raciocínio
parecia errada.

Antes que eu pudesse responder-lhe, houve um leve batido na


porta da frente, que estava apenas parcialmente fechada. Scott espiou
pela fresta, empurrando o que faltava para abrir a porta com um
pequeno buquê de flores escolhidas a dedo em sua mão.

"Olá," Scott disse, quase sem fôlego quando ele percebeu no que
ele tinha acabado de entrar.
A.L. JACKSON

Enquanto eu senti Scott examinando o ambiente, desconfiando


de seus ocupantes e da tensão distinta que tinha acabado de se
estabelecer no ar, eu não conseguia nem olhar para ele.

Minha atenção estava em Christian. Seu rosto empalideceu


quando o reconhecimento lhe surgiu, e seus olhos brilharam aos meus,
entristecido, e depois foram para o chão. Suas mãos tremiam quando
ele se abaixou na frente de Lizzie e ajudou-a com seu casaco fino.

"Você está pronta, querida?", Ele murmurou para ela quando ele
usou as duas mãos para libertar o seu longo cabelo que estava preso
dentro de sua jaqueta, sua ternura para nossa filha inalterada por sua
angústia.

Ficou claro que Lizzie não era imune à intensidade da sala, da


tristeza na voz calma de seu pai, ou o meu desconforto por causar toda
a situação. Seu foco disparou entre seu pai e eu, sua preocupação
saliente.

Dei um passo para frente e coloquei uma mão em seu ombro


enquanto me inclinei para ela. "Tenha um grande momento com o seu
pai esta noite, Lizzie. Eu estarei em casa antes que você chegar".
Minhas palavras significavam como uma garantia para os dois, uma
tentativa de pacificar a preocupação da minha filha e uma promessa a
Christian que eu estaria de volta.

"Tudo bem, mamãe." Lizzie pegou a mão do pai, e ele levou-a para
fora sem uma palavra de despedida. Christian parou por um segundo,
quando ele encontrou o comportamento presunçoso de Scott. Cada
palavra insultuosa que eu disse contra Christian estava no rosto de
Scott, lançando um desafio. Era como se Christian visse isso cair no
chão, uma provocação não recíproca, desarmado para a batalha, seus
pés andando na calçada em rendição.

A respiração pesada que eu soltei não era em alívio, como Scott


tinha interpretado.

"Você não está brincando," Scott disse quando ele atravessou a


soleira. Sua expressão era simpática, quando ele se sentiu mal por
mim. "Isso foi realmente... Desconfortável. Você é uma santa por
aguentar tudo isso." Ele acenou para a calçada na direção que
A.L. JACKSON

Christian e Lizzie tinham acabado de partir, como se entendesse tudo,


como eu me sentia, como era difícil assistir a minha filha ficar com o
homem que eu amava toda sexta à noite e agir como se isso não me
afetasse.

Seus pressupostos despertaram uma faísca de amargura, uma


irritação com ele, por incitar-me para este encontro. Mas eu sabia que
não poderia culpá-lo por isso. Este foi o meu erro. Sim, ele tinha me
atormentado para isso, me importunou até que eu tinha cedido, mas
foi apenas porque eu nunca tinha sido clara com ele. Tantas vezes eu
disse a ele que só poderíamos ser amigos, embora o meu argumento
fosse fraco, dado com uma falsa esperança de que talvez, no futuro, eu
estivesse pronta, embora eu soubesse que eu nunca estaria. Eu apenas
nunca quis ferir os sentimentos do meu amigo.

Scott me entregou o pequeno buquê de flores roxas e rosas, e eu


agradeci e levei para a cozinha para colocar em um vaso de água. Eu
usei esse momento para me reagrupar, para me lembrar de que era
apenas um jantar. Era apenas um jantar.

No momento que eu tinha colocado o vaso no centro da mesa e


trancado a porta, Christian estava prestes a entrar em seu carro, já
tendo colocado Lizzie. Desta vez, seus olhos não caíram. Eles
queimaram em mim, triste aflição me seguindo até o meio-fio, onde
Scott estacionou na rua, inabalável enquanto Scott me ajudou no
assento do passageiro de seu sedan preto.

Será que eu iria machucá-lo tanto quanto ele me machucou? Ele


podia sentir algo perto da devastação que eu tinha sentido na noite em
que ele tinha me jogado de seu apartamento? Sua expressão me disse
que sim, pelo menos parte disso.

Eu não encontrei nenhuma satisfação nisso, nenhum triunfo em


sua miséria. Em vez disso, eu queria falar para ele que eu estava
arrependida.

"Pronta?" Scott perguntou quando ele sentou no banco e ligou o


carro.

Forçando um sorriso, eu menti com um aceno de cabeça,


odiando a pessoa que me tornei.
A.L. JACKSON

Eu corri para o andar de cima, apressando-me através dos


botões da minha blusa, o zíper da minha saia e tirando os meus saltos,
tentando me livrar da minha culpa.

Não funcionou.

Eu era uma pessoa terrível, pura e simples.

Eu tinha usado meu amigo.

Vasculhando meu armário, eu puxei um par de calças de


moletom e uma regata. Agressivamente, eu puxei uma escova pela
minha cabeça cheia de produtos e cachos bem feitos e torci meu cabelo
em um rabo de cavalo frouxo, desejando que a ação pudesse, de alguma
forma, apagar cada memória desta noite.

Scott tinha sido tão ansioso, animado mesmo. Ele parecia certo
de que eu finalmente tinha atravessado aquela ponte e eu seria sua no
final. Isso estava em seus olhos, na maneira como eles brilhavam
quando me olhava, na maneira que sua perna passava contra a minha
debaixo da mesa - no beijo que eu tinha evitado com um movimento da
minha cabeça, aquele que havia aterrissado com a rejeição em minha
mandíbula. Eu senti isso, em seguida, de pé na minha porta, na
maneira que Scott retirou seus afetos sem retorno, com as mãos ainda
firmes segurando meus ombros enquanto ele rasgava o resto de si
mesmo.

Seus olhos tinham sido gentis, sem a reprovação que deveria ter
aparecido quando ele recuou e proferiu um pedido de desculpas. "Sinto
muito, Elizabeth, eu não devia ter te forçado a isso."

Eu engasguei com o seu pedido de desculpas, com raiva que eu


tinha lhe feito sentir a necessidade disso, e insisti que era eu quem
deveria estar arrependida.
A.L. JACKSON

Ele tinha se movimentado de desconforto e tentou esconder o


olhar ferido no rosto, enquanto a ideia de nós tornou-se um desencanto
firme em sua mente.

Ele deu de ombros com indiferença e disse "Está tudo bem". Nós
dois sabíamos que não estava. Nós dois sabíamos o que eu tinha feito.

Ele saiu com vergonha em seu rosto e um hesitante "Vejo você


na segunda-feira".

No meu banheiro, eu tirei a maquiagem do meu rosto, apagando


o último pedaço de evidência física deste fiasco autoinfligido.

Cinco segundos depois, a campainha tocou, e isso quase me


enviou em espiral para o chão em confusão. Eu não sabia, de cima a
baixo, o que eu queria e para onde deveria correr, o que temer e o que
abraçar. Quando ele tocou pela segunda vez, me dei conta de que
Christian provavelmente pensou que eu ainda não tinha chegado em
casa.

Corri lá embaixo, meus pés descalços pousando com um baque


pesado em cada passo que eu dava. Eu me atrapalhei quando
destrancava as fechaduras para abrir a porta.

Christian pareceu surpreso com o movimento súbito, ainda mais


quando ele percebeu a minha aparência desgrenhada, meu pijama e
cabelo despenteado, e eu só podia imaginar a expressão
correspondente em meu rosto.

Lizzie valsou para dentro, sua voz numa melodia doce, cantando
elogios sobre a noite com seu pai. Ela tagarelava sobre como eles
tinham feito o jantar juntos em seu apartamento, compartilharam
enquanto eles contavam as luzes dos barcos flutuando sobre a água, e
como ela gostaria que eu estivesse lá para ver isso.

O tempo todo, Christian estava na minha porta, com o rosto liso


e a boca solta em sinal de rendição.

Debrucei-me contra a borda da porta, segurando-a como um


suporte enquanto me preparava para cruzar outra linha.

"Você ficará?"
A.L. JACKSON

Seus olhos esvoaçavam sobre o meu rosto, pesquisando,


procurando por respostas que nenhum de nós tinha. A única coisa que
eu sabia era que eu o queria aqui com Lizzie, comigo - que eu não podia
suportar vê-lo ir embora, que eu precisava que ele ficasse - que eu
queria não ter medo que precisasse tanto.

"Por favor", disse eu, quase implorando.

Sua testa franziu quando o meu apelo pareceu romper sua


derrota dormente. Suas mãos pressionando em punhos em suas coxas,
sua boca tremendo quando ele olhou por cima do ombro, sondou a
minha sala de estar para encontrá-la vazia. Seus olhos perfuraram a
minha angústia. "Eu odeio isso, Elizabeth," suas palavras desgastadas,
sua respiração ofegante. "Isso não deveria ter sido assim."

Eu não tinha palavras em resposta a essa verdade. Eu só abri


mais a porta e dei um passo atrás implicando a mensagem.

Por favor.

Mesmo que fosse só por esta noite, eu queria fingir que não era
assim, que ele não tinha me machucado e, por sua vez, que eu não o
tinha machucado - que eu não tinha ferido Scott no processo.

Eu queria fingir que Christian cedeu e entrou pela porta que ele
não estava inseguro de suas boas-vindas. Fingir que nós diminuímos
as luzes e o conto de fadas animado ganhou vida através da tela, e que
nós não olhamos um para o outro com a incerteza, nervos
chacoalhados, e peitos esmagados. Fingir que nós três nos reunimos
no sofá como fazíamos todos os dias e que era normal para Lizzie
sentar-se entre nós se aconchegando ao lado do seu pai para
compartilhar uma tigela de pipoca e um cobertor espalhado em nossos
colos. Fingir que, juntos, nós tínhamos visto este filme uma centena de
vezes assim como Lizzie e eu tínhamos feito, que ele tinha estado lá
quando vimos pela primeira vez mais de dois anos atrás. Fingir que,
mais tarde, esta sede seria apagada, que Christian iria me colocar para
baixo, que eu seria dele e ele seria meu.

O jeito que deveria ter sido.


A.L. JACKSON

Mas o fingimento só poderia me levar até agora, e eu sabia que


era hora de medir a minha força e resolver até que ponto eu permitiria
o meu coração ir.

Olhei para ele. Seu braço estava sobre o ombro de Lizzie e ele
brincava com os fios do cabelo dela. Sua atenção não estava na
televisão, mas sobre ela, atento à maneira como seu rosto se iluminou
no riso, a forma que ela cantou junto, do jeito que ela escondeu os olhos
quando o filme ficou escuro, mesmo que ela já soubesse o resultado e
que seu herói continuaria vivo. Ele se inclinou, esfregou a boca contra
o cabelo dela, e olhou para mim enquanto ele a abraçou.

E eu sabia que queria que ele fosse uma parte permanente da


minha vida, não como amantes, mas em uma parceria para a nossa
filha, para ele ter um lugar como uma parte desta família.
A.L. JACKSON

Mudando entre as vias, acelerei no trânsito, grato que a I-5 fluiu


livre; O tráfego no meio da manhã de sábado era leve conforme eu viajei
para o norte. O vento batia em meu cabelo, as janelas e o teto solar
aberto.

A viagem voou, e, mais rápido do que eu poderia ter imaginado,


o GPS me instruiu a pegar a saída e eu estava procurando uma vaga
no estacionamento aberto. Entrei na primeira que eu pude encontrar,
desliguei o motor e saltei do meu carro. Os chinelos pretos que, apenas
alguns meses atrás, eu tinha jurado nunca usar trituravam contra o
pavimento solto debaixo dos meus pés, atirando areia conforme eu
segui o caminho acima e sobre o aterro.

Protegi os olhos, examinando os banhistas que pontilham a costa


abaixo.

Elas não eram difíceis de achar.

Elizabeth sentou-se em um cobertor, vestida em shorts bege e


um top vermelho, pernas longas esticadas na sua frente enquanto ela
se reclinava sobre os cotovelos, seu cabelo chicoteando ao redor,
enquanto ela observava a nossa filha brincando na areia. Ela tentou
enfiar uma madeixa espessa atrás da orelha antes de ter sido goleada
com outra rajada de vento.

Apressado, eu cortei o caminho e pisei na areia pesada,


afundando a cada passo que eu dava.

Lizzie foi a primeira a notar a minha chegada.

"Papai!", ela gritou, deixando cair um balde de plástico e


acenando freneticamente. Elizabeth sentou-se e virou-se para mim,
A.L. JACKSON

seus lábios esticando-se num sorriso que eu tinha certeza que poderia
trazer qualquer homem de joelhos.

Acenei enquanto eu aumentava minha velocidade, encontrando


Lizzie no meio do caminho quando ela correu para mim. "Lizzie", eu
cantava enquanto eu a levantava, a girava e a trazia para o meu peito
em um aperto brincalhão. "Como está a minha menina hoje?"

Ela enrolou-se em volta do meu pescoço, me beijou lá. "Eu senti


sua falta, papai", ela disse contra minha orelha.

Eu a tinha visto na noite passada, mas eu senti falta dela


também. Muita.

Eu a coloquei no chão e peguei a sua mão. Ela pulou ao meu


lado conforme fizemos o nosso caminho para a sua mãe, o rosto de
Elizabeth brilhante e pacífico enquanto nos observava nós dois nos
aproximarmos.

"Bom dia, Elizabeth."

Ela tirou o cabelo do rosto e apertou os olhos contra o sol quando


ela olhou para mim. "Ei, Christian. Você achou aqui fácil?"

"Sim." Eu a olhei por apenas um segundo antes de me sentar no


cobertor ao lado de Elizabeth e puxar Lizzie comigo. Aninhei ela entre
as minhas pernas e segurei em torno de seus pequenos ombros.

Sacudi meus sapatos, enterrei os dedos dos pés na areia fria e


úmida, e senti a praia que Elizabeth e Lizzie tinham tantas boas
memórias. Este lugar era algo sagrado, compartilhado entre as duas, e
eu me senti honrado em ser incluído. Eu sabia que era raro, mesmo
para Matthew e Natalie, ser uma parte disso.

E pensar que apenas na noite passada eu senti meu mundo cair.

Algo tinha nos tocado no estacionamento do trabalho de


Elizabeth na terça-feira, uma nova ligação depois que eu saí
impetuosamente da empresa do meu pai. Eu tinha estado tão seguro
disso que, quando fosse pegar Lizzie, eu tinha planejado pedir a
Elizabeth que se juntasse a nós, sonhando acordado com ela na minha
A.L. JACKSON

cozinha, preparando o jantar com Lizzie e eu, vendo-a sentada ao meu


lado na minha mesa da cozinha.

Eu tinha ficado fraco quando a vi na escada, a reação que ela


tinha invocado em meu corpo, as coisas que eu imaginava fazer com o
dela.

Levou alguns segundos para que a minha mente recuperasse o


controle do meu corpo, e eu percebesse que ela não estava vestida para
uma noite sozinha no sofá. Ela estava saindo.

Então aquele bastardo sensível da festa de aniversário de Lizzie


tinha aparecido.

Senti como se ela tivesse me atropelado, a dor aguda da mão de


Elizabeth quando ela golpeou minha bochecha e cuspiu na minha cara.
Eu não poderia evitar me voltar para ela, desesperado para perguntar-
lhe por quê. Tudo o que eu encontrei foram os resultados do meu
estrago, como se ela tivesse recebido o mesmo golpe, um que eu tinha
infligido, um lembrete de que eu tinha feito isso.

Jantar com Lizzie tinha sido difícil, mas eu disfarcei através


disso, amando-a e fazendo-a sorrir, não querendo permitir que os meus
erros roubassem mais do pouco tempo precioso que eu tinha com a
minha filha.

Então Elizabeth me pediu para ficar.

"Você está com fome?" Elizabeth ficou de joelhos e começou a


desembalar a cesta de piquenique, sanduíches embrulhados em
plástico, pedaços inteiros de frutas, garrafas de refrigerante e água. Ela
olhou para mim com um sorriso tímido enquanto ela colocou entre nós.

"Sim", respondi, ajudando Lizzie com o plástico em volta do seu


sanduíche. Eu torci a tampa de uma garrafa de água para ela e fiz o
mesmo para mim, e então eu partilhei o almoço com as duas meninas
que possuíam minha alma e coração. Lizzie descansou contra o meu
peito entre meus joelhos dobrados, olhando para mim enquanto eu
olhava para ela, sorrindo enquanto ela mordeu o sanduíche de
presunto e queijo. Seu cabelo voou em torno de nós, lambendo meus
A.L. JACKSON

braços, beijando meu queixo – me deixando com medo de que eu


poderia amá-la demais.

Saciados e relaxados, Elizabeth e eu nos sentamos em silêncio,


enquanto Lizzie correu de volta para seus brinquedos, longe o
suficiente que ela submergiu em seu próprio mundo imaginário de
castelos, dragões e princesas, mas não perto o suficiente da água para
nos alarmar. O sol tomou conta de nós, seu calor em contradição
perfeita para o frescor da brisa do mar.

Elizabeth olhou para frente, mas eu quase podia ouvir o clique,


a aceleração de seu pulso, desencadeando a mesma reação em meu
próprio, a corrida de nervos enquanto ela abraçou os joelhos contra o
peito.

"Você pensou em nós?" Sua voz era de dor, e sua pergunta


pairava no ar como uma porta de entrada para o nosso passado, que
ela finalmente me pediu para passar. Até agora, cada vez que eu tinha
tentado falar com ela, ela tinha me parado; mas agora isso veio sem
provocação, por sua própria iniciativa. Tanto alívio quanto isso me
trouxe, eu sabia que não havia nenhuma maneira dessa conversa ser
fácil.

"Todos os dias." Eu olhei para ela e vi a dor e as lágrimas nos


cantos de seus olhos.

Ela virou-se e descansou o lado de seu rosto contra os joelhos,


enquanto as lágrimas se reuniram no âmbar coberto de mel. "Por que
você não veio para nós?"

A solicitação para que eu finalmente explicasse o que eu tinha


feito.

Não. Não seria nada fácil sobre isso.

Eu me contorci enquanto eu me debati sobre como me explicar,


sabendo que nunca haveria qualquer justificativa. Minha consciência
me atacou e eu olhei para a minha filha para ter força. Eu trouxe um
joelho no meu peito e me ancorei a ele enquanto eu cavei minha outra
mão na areia, retirando um punhado e vendo-a cair através do meu
punho, como uma ampulheta.
A.L. JACKSON

Expondo toda a minha vergonha, me virei para Elizabeth na


confissão. "Eu fui."

Eu a observei enquanto as minhas palavras afundavam. Suas


íris alargaram e um tremor sacudiu seu corpo. "O que?" A palavra saiu
como um pequeno grito de seus lábios.

Exalando um pouco da pressão no meu peito, me concentrei em


Lizzie, sabendo que não seria forte o suficiente para lidar com a
decepção no rosto de Elizabeth, enquanto descrevi para ela como eu
não só a tinha abandonado uma vez, mas duas vezes. "Na noite após
Lizzie nascer. Eu fui para o hospital. Eu planejava pedir desculpas a
você, pedir que você me aceitasse de volta." Eu engoli o caroço na
minha garganta e continuei. "Mas Matthew estava lá... e eu... fui
embora."

Reuni coragem suficiente para olhar para ela, para vê-la ter seu
coração partido mais uma vez. Ela virou-se e enterrou o rosto em seus
joelhos, seu corpo convulsionando enquanto ela tentava conter seus
soluços. Ela ergueu-se, ardendo de raiva, incapaz de falar, e depois
fechou os olhos, tropeçando de volta para tristeza.

"É assim que você sabia sobre Matthew", ela disse em voz baixa.
Ela parecia desorientada enquanto tentava adaptar-se a esta revelação
mais desonrosa.

Eu não poderia parar agora, mesmo quando eu estava certo de


que minhas palavras fariam mais mal do que bem, mas quando voltei
para isso, eu prometi a mim mesmo que eu seria sempre honesto com
ela. "Naquela noite, eu me convenci de que estava fazendo a coisa
certa... Sacrificando-me para que você pudesse ter uma vida normal
com Matthew. Sei agora que era apenas uma desculpa, Elizabeth.
Afastei-me da minha filha, porque eu pensei que não poderia ter você.
Eu nem sequer sabia se ela era um menino ou uma menina." Esta
admissão fluiu como veneno da minha boca, vil em sua ofensa.

"Eu lamentei todos os dias. Eu sempre esperava ouvir de você


com um pedido de apoio à criança ou... alguma coisa. Eu esperei, mas
nada veio." Nenhum pedido de desculpas poderia corrigir o meu erro,
mas eu ainda precisava que ela entendesse.
A.L. JACKSON

O lábio inferior de Elizabeth estremeceu, e ela balançou a cabeça,


uma discordância clara do meu raciocínio. "Isso não o torna melhor,
Christian." Ela olhou em direção à Lizzie, e depois estabilizou os olhos
de volta em mim. "Talvez o torne pior. Por muito tempo eu acreditei que
nós nunca passamos pela sua mente, que no momento que eu saí do
seu apartamento nós tínhamos sido esquecidas, e descobrir que você...
Você esperou que eu fosse até você", ela ressaltou as palavras. "É
apenas..." Ela falou, sem saber o que dizer enquanto sua voz sumia.

"Eu pensei que você fosse feliz."

Ela fungou e balançou a si mesma. "Como você pode pensar isso?


Você não acredita que eu amei você? Que eu queria passar a minha
vida com você?"

"Claro que eu sabia que você me amava." Minha voz levantou em


frustração. "Não há nada que eu possa dizer que possa dar qualquer
sentido às decisões que tomei. Resumindo, eu era um idiota egoísta."
Passei a mão pelo meu cabelo, impotente, perdendo a aderência que eu
tinha sobre o meu controle. Inclinando em direção a ela, capturando o
seu rosto com os meus olhos enquanto eu implorava a ela. "Isso não
muda nada, Elizabeth, mas eu realmente sinto muito. Se eu pudesse,
eu teria tudo de volta, voltaria ao momento em que eu fiz você escolher
entre mim e nosso filho. Essa foi a pior decisão que eu já fiz".

Ela virou-se e sentou em silêncio enquanto ouvia a minha


explicação, assistindo a corrida das ondas contra a areia, o seu
constante fluxo e refluxo, mas ainda um progresso constante como
alegava uma placa acima do banco, assim como nós, a baixa necessária
para alcançar o alto.

Olhei para o horizonte, incapaz de discernir onde o oceano se


encontrava com o céu, e determinado com o silêncio dela enquanto eu
continuei a falar. "Minha mãe..." Eu senti seus olhos caírem sobre mim.
"Ela sempre me empurrou para encontrá-la, me disse que eu estava
errado em ficar longe. Eu nunca acreditei nela até que eu vi Lizzie
naquela loja." Eu olhei para Elizabeth, que estava olhando para mim
enquanto minhas palavras saiam em desespero. "Ela é tudo para mim,
Elizabeth."
A.L. JACKSON

Você significa tudo para mim.

Eu não disse isso em voz alta. Ela não estava pronta para ouvi-
lo ainda.

Mesmo sob o peso da conversa, eu vi em sua expressão que ela,


pelo menos, tinha entendido isso, aceitava que eu adorava Lizzie. Essa
expressão mudou como se algo tivesse lhe ocorrido, suas palavras
fluindo com o choque silencioso de seu entendimento. "Você deixou a
empresa de seu pai por causa dela."

Eu não respondi. Eu não precisava. Eu daria qualquer coisa pela


minha filha.

Elizabeth olhou para Lizzie e depois de volta para mim. "Eu sinto
muito, Christian."

"Eu não", eu disse com completa convicção, porque era a


verdade. Eu não poderia continuar a trabalhar para um homem que
diria tais palavras nojentas e infundadas sobre Elizabeth e minha filha.
Eu deveria ter ido embora há seis anos.

Ela riu baixinho, e eu poderia dizer pela suavidade que se


instalou em seu rosto que não era às minhas custas, mas em sua
própria surpresa com minhas ações. "Você é um mistério, Christian
Davison."

Eu balancei a cabeça para a sua ideia. "Não, Elizabeth. Eu


apenas mudei."

Ela assentiu quase imperceptivelmente, seus lábios se


separaram quando a ideia parecia penetrá-la, com os olhos
configurando em acordo. Eu esperava que ela acreditasse que a
mudança foi para melhor.

Respirando juntos, voltamos nossa atenção para Lizzie e


observamos enquanto ela enchia baldes de areia com uma pequena pá
de plástico, virando-os em torres que abrigavam o encantamento de
seus contos de fadas, a boca em movimento sem voz quando ela
brincava com a cena que se desenrolava em sua cabeça. Era como se
tivéssemos pedido um intervalo, um indulto do passado, precisando de
A.L. JACKSON

um momento para recuperar um ponto de equilíbrio antes de


pressionar para frente.

Finalmente, eu abordei o tópico que eu tinha certeza de que


nenhum dos dois queria discutir. "Você vai me contar sobre Matthew?"

Ela emitiu uma respiração pesada, embora não parecia surpresa


com a minha linha de questionamento. "Matthew". Ela lançou um bufo
afetuoso. "Nós tentamos tão duramente nos apaixonar. A primeira vez
que eu dormi com ele, eu estava grávida de quatro meses de Lizzie".

Eu vacilei com a sua honestidade brutal, mas isso é exatamente


o que os últimos seis anos foram - brutais.

Engolindo em seco, ela parecia se perder na memória. "Eu chorei


o tempo todo." Sua voz caiu com um lento suspiro. "Matthew foi tão
bom para mim. Ele beijou minhas lágrimas e prometeu que tudo ficaria
bem, que de alguma forma faríamos funcionar".

Ela olhou para mim com desconfiança, não encontrando meu


rosto. Eu percebi que estava segurando a minha respiração. "Mas
sempre foi forçado. Nós nos amávamos, mas não dessa forma. No dia
após chegarmos a San Diego, Natalie apareceu na nossa porta para
conhecer a minha nova filha e namorado, e era como... como..." Ela
olhou para mim como se estivesse perguntando se eu poderia entender.
"Como se eles pudessem tocar um ao outro através da sala."

"Eu o deixei ir naquela noite." Ela riu sem humor e sacudiu a


cabeça. "Claro que ele tentou recusar, convencido de que Lizzie e eu
éramos sua família, e ele nunca ia nos deixar." Seus olhos brilharam
ao meu. "Sinto muito, Christian. Eu não quis dizer-"

Eu balancei a cabeça, parando-a. "Está tudo bem, Elizabeth." Ela


não deveria pedir desculpas pela minha fraqueza. A verdade era que eu
tinha deixado ela.

"De qualquer forma," ela continuou, "Nós falamos a noite toda, e


ambos decidimos que se ele ficasse, estávamos prolongando o
inevitável. Ele arrumou uma bolsa pequena e foi para um hotel na
mesma rua do meu apartamento. Dentro de duas semanas, ele havia
se mudado com Natalie." Ela suspirou com um encolher de ombros.
A.L. JACKSON

"Quando não doeu, eu sabia que tinha tomado a decisão certa." Ela
olhou para mim com uma careta gravada em seu belo rosto. "Tudo o
que eu sentia era alívio."

Eu não tinha ideia do que dizer – se eu deveria dizer alguma


coisa. Tudo o que eu sabia era que eu devia mais gratidão ao Matthew
do que eu jamais tinha imaginado.

"Mas ele continuou a cuidar de você?" Eu inclinei minha cabeça


para Lizzie, enquanto ainda segurava o seu olhar, não querendo
quebrar este fluxo livre de confiança.

Ela sorriu, o calor de seu rosto o mesmo como se tivesse focada


diretamente sobre Matthew. "Sim, ele fez tudo que podia para nós.
Naquele primeiro ano depois que ele e Natalie se uniram, eu odiava ser
um fardo constante sobre ele, então eu tentei esconder coisas dele". Daí
veio a primeira quantidade de arrependimento que eu tinha visto de
Elizabeth, quando ela falou de Matthew, e ela se moveu em desconforto.
"Tudo o que fizemos foi levá-lo a se preocupar mais, por isso, acabamos
nos tornando esta pequena família estranha que somos."

Passando a mão pelo meu cabelo despenteado pelo vento,


deliberei por um segundo antes de eu decidir que, desde que nós
finalmente estávamos sendo tão sinceros, eu deveria levar isso tão
longe quanto poderia.

"Já houve qualquer outra pessoa?" Perguntei, preocupado que


eu poderia não ser capaz de tolerar a sua resposta.

Ela mordeu o lábio inferior, sacudindo o que deve ter sido um


tremor involuntário. "Havia esse cara... Shawn." Ela engoliu em seco.
"Ele era um idiota." Ela balançou a cabeça de novo e olhou para mim,
quase suplicante. "Eu realmente não quero falar sobre ele."

Agora eu me senti como o idiota, mas ainda assim eu empurrei.


"Será que você o amou?"

"Não", ela disse, a palavra voando de sua boca antes que eu


pudesse terminar a frase. A partir do olhar de desgosto definido no
fundo de seus olhos, eu sabia que ela estava falando a verdade.
A.L. JACKSON

Enquanto eu queria perguntar mais sobre ele, eu podia ver que era
uma porta fechada, que não precisava ser aberta pelo meu ciúme.

"E Scott?", Perguntei, mais uma vez sentindo-me culpado por


cavar tão fundo, mas incapaz de parar quando eu me encontrei tão
perto do coração de Elizabeth, a sua alma estava exposta, tendo apenas
um pouco mais.

Ela parecia estar quase se divertindo com a minha insistência,


me abraçando com o calor de seu pequeno sorriso. "Não, Christian. A
noite passada foi..." A leveza de segundos antes foi substituída com
uma resolução total e uma pontinha de remorso. "… um erro."

O alívio que me escapou foi audível, e eu baixei minha cabeça,


rindo de quão óbvio eu estava.

Ela me cutucou com o cotovelo, o calor de seu braço estimulando


uma reação em mim que estava se tornando mais e mais difícil de
reprimir. Eu não tinha percebido que tínhamos gravitado um em
direção ao outro, nossos corpos agora apenas um pouco distante. "E
quanto a você?" Ele disse quase como uma provocação, mas eu podia
sentir a dor fervendo logo abaixo da superfície.

Eu trouxe o meu rosto ao encontro do dela e vi o medo no


caminho de seus olhos, nunca em descanso, sua pele bronzeada
branca onde ela cravou as unhas em suas pernas.

"Deus, Elizabeth, você realmente quer saber?"

Ela desviou os olhos, contemplativa, antes de levantar de volta


para o meu e balançar a cabeça.

"Eu acho que eu quero", disse ela enquanto parecia chegar a uma
resolução, seu olhar tornando-se firme quando ela olhou para mim
através do pequeno espaço.

Houve um momento em que eu considerei mentir para ela,


poupando-lhe o obsceno, especialmente à luz da divulgação de seu
passado não tão escandaloso, mas eu simplesmente não poderia trazer-
me a esse tipo de desonestidade.
A.L. JACKSON

Eu procurei por ar e minha voz. Finalmente, eu só me forcei a


falar. "Naquele primeiro ano" – quando você estava grávida e doente e
precisando de mim – "Eu tentei esquecer você" Eu bufei em repulsa com
a minha memória. "Eu dormi com qualquer garota que iria deixar."

Elizabeth gemeu e seus olhos cintilaram, mas ela ergueu o


queixo e esperou que eu continuasse.

"Então, depois de vê-la no hospital... Eu só... Eu percebi que o


que eu havia me tornado me fez doente, e eu não poderia continuar por
esse caminho".

Aquele queixo corajoso estremeceu, mas eu não parei. Eu desviei


o olhar e deixei que as palavras saíssem da minha boca, baixas e
monótonas. "Eu namorei um pouco, mas praticamente preenchi o meu
tempo com a escola. Então eu conheci Brittany." Eu senti Elizabeth
tensa ao meu lado, ouvi a sua ingestão aguda de ar. "Nós vivemos
juntos por quase dois anos."

Eu podia sentir que Elizabeth tinha começado a chorar de novo,


mas eu continuei com os meus olhos sobre o chão, desejando que eu
pudesse de alguma forma encontrar uma maneira de enterrar minha
vergonha lá. "Ela queria se casar, e como eu não podia assumir esse
compromisso, ela me deixou."

Embora tivesse sido triste ver Brittany embalando suas coisas e


indo embora, tinha sido parecido com a descrição de Elizabeth de
quando Matthew tinha ido embora. A emoção vencedora foi a de intenso
alívio.

"Você não a ama?" Elizabeth engasgou enquanto ela espremia as


palavras uma a uma.

"Sim... de uma forma. Quer dizer, eu gostava dela. Ela era gentil
e doce, mas..."

Mas, assim como ela e Matthew, eu nunca amei Brittany dessa


forma.

"Mas o que?"
A.L. JACKSON

Sem hesitar, eu olhei para cima para encontrar o rosto de


Elizabeth, as bochechas molhadas e manchadas, e respondi "Ela não
era você".

Ela fechou os olhos, mais lágrimas escorrendo pelo seu belo


rosto.

A dor que ela apresentava me quebrou, e eu não podia suportar


a distância por mais tempo. "Elizabeth..." Eu disse tão devagar, tão
suavemente enquanto estendi a mão para tocar seu rosto para dar-lhe
conforto por toda a dor que eu tinha lhe causado, para mostrar a ela o
quanto eu ainda a amava.

Ela estremeceu com o contato e se afastou enquanto seus olhos


se abriram, deixando minha mão suspensa no ar. "Não." Ela balançou
a cabeça e engoliu. "É tarde demais para nós, Christian."

Eu não perdi a dúvida que tomou conta dela quando ela falou
essas palavras, embora ela continuasse na determinação ilusória. "Eu
não posso fazer isso," ela disse quando ela gesticulou rapidamente
entre nós, apertando os olhos fechados novamente, como se ela não
acreditava nela mesma. Quando ela abriu os olhos novamente, ela
emendou o movimento para incluir Lizzie e um sorriso de expectativa
deslocava a renúncia desanimada de segundos antes. "Mas eu posso
fazer isso... Eu quero fazer isso." Ela assentiu com a cabeça
vigorosamente, e seu sorriso encharcado se espalhou, esperançoso pela
minha resposta.

Eu sorri devagar, permitindo isso arder e, em seguida, iluminar


com a alegria que surgiu através de minhas veias com o pedido dela,
desejando nada mais do que a liberdade de beijar a doçura de sua boca
molhada enquanto isso crescia com aceitação. Em vez disso, eu
capturei a última lágrima que deslizou por seu rosto e, em seguida,
enrolei meu dedo no anel de cabelo emaranhado no rosto, dando-lhe
um leve puxão de afeto, na expectativa do que eu sabia que estava por
vir.

Porque enquanto ela falava o de sempre, o que eu ouvi foi que


ela não estava pronta ainda.
A.L. JACKSON

Eu fiquei de pé, tirei os grãos de areia agarrados ao meu short, e


estendi a mão para ela. "Vamos, vamos brincar com a nossa filha." Ela
riu e enxugou o rosto com o dorso da mão dela antes de alcançar e
pegar a minha.

Eu tinha passado quase todo o fim de semana com Lizzie e


Elizabeth. Nós três tínhamos brincado na praia até o sol finalmente cair
no horizonte e trazer um frio ao ar, e nós terminamos o dia quase
perfeito com um jantar e sorvete de cones. No domingo de manhã tinha
chegado um texto convidando-me para o café da manhã, uma refeição
partilhada numa mesa de risos e tranquilidade, que parecia dar forma
a uma espécie de trégua entre Matthew e eu. Enquanto um vestígio da
sua desconfiança ainda persistia, ele parecia estar lentamente
aceitando a ideia de me ver como uma parte da vida de Elizabeth e
Lizzie.

Eu desejava que o fim de semana nunca acabasse, mas,


infelizmente, a segunda-feira tinha chegado, e, com ela, a bola de
nervos em que eu me encontrava. Arrumei minha gravata, peguei
minha pasta, e dei um último olhar para mim mesmo no espelho antes
de sair pela minha porta da frente em direção ao elevador. Procurar por
uma posição em outra empresa de advocacia era a última coisa que eu
pensei que teria que fazer. Eu sempre acreditei que um dia eu seria o
sucessor de meu pai. As coisas mudaram num piscar de olhos.

O elevador se abriu para a garagem inferior e corri em direção ao


meu carro. Assim que abri a porta, alguém gritou meu nome. "Christian
Davison?" Foi dito como uma pergunta.

Fiz uma pausa para olhar por cima do ombro para o homem em
um boné de beisebol e uma jaqueta, que se aproxima pelo outro lado
da garagem.

"Sim?"
A.L. JACKSON

Com a minha confirmação, ele puxou um envelope grosso de sua


jaqueta. Fechei os olhos numa inútil defesa quando sua intenção
tornou-se clara.

Eu supus que isso era inevitável, mas eu esperava que uma vez,
apenas uma vez, a família iria vir em primeiro lugar.

Eu peguei o pacote sem discutir e afundei no meu carro,


imaginando como ele poderia fazer isso para mim.

Com o coração pesado, eu corri meu dedo sob a aba e abri o


envelope.

Era exatamente o que eu esperava.

Meu pai estava me processando.

Eu dirigi sem rumo pela cidade, passando o tempo, tentando não


me concentrar no envelope no banco do passageiro.

Eu não podia acreditar que o homem pudesse ser tão frio. Ele
estava me processando por essencialmente tudo, como se ele tivesse
rastreado cada acerto e cada erro meu - cada risco e cada perda. A
única coisa que ele não tinha contabilizado era o dinheiro que eu tinha
depositado para Lizzie, antes mesmo de eu sequer saber o nome dela.
Pelo menos isso estava escondido, protegido da sua ganância.

Além disso, meu pai esperava me destruir.

Às cinco e meia, eu estava na casa de Elizabeth e Lizzie, sem


aviso prévio e agitado, desesperado pelo consolo que só poderia ser
encontrado nelas. Fui atingido por uma onda impressionante de alívio
quando Elizabeth abriu a porta e, com um sorriso compreensivo, me
acolheu dentro.
A.L. JACKSON

Contanto que eu tivesse essas duas, eu poderia suportar


qualquer outra coisa que fosse jogada no meu caminho.

Puxei o cobertor de Lizzie mais apertado sobre o corpo dela,


acariciando meu nariz em seu cabelo enquanto eu desejei-lhe boa
noite.

Elizabeth já tinha descido para me dar alguns minutos a sós com


a nossa filha.

Lizzie aconchegou mais em seu travesseiro e murmurou um


cansado "Boa noite, papai". Com um sorriso lento, ela acrescentou, "Te
amo".

Toda vez que ela dizia isso, eu sentia como se meu coração fosse
explodir no meu peito.

Pressionei meus lábios em sua testa e sussurrei "Eu te amo,


princesa". Eu fiquei de pé e atravessei o quarto, parando na porta para
ter mais alguns segundos com a minha filha preciosa. Então apaguei a
luz e deixei a porta meio aberta, como Elizabeth fazia.

Quando desci as escadas, meu coração agitou-se, do jeito que


sempre fazia quando eu sabia que iria ficar a sós com Elizabeth.

Desde a nossa conversa na praia há dois meses, eu passei quase


todos os dias com elas. Cada vez me trazia mais perto de Lizzie, mais
perto de Elizabeth, enquanto nossas vidas se fundiam e lentamente se
tornando uma.

Estar com elas dessa forma, como uma família, me trouxe mais
alegria do que eu poderia imaginar ser possível. Nem mesmo o processo
que se aproximava na distância podia fazer algo para abafar o meu
ânimo.
A.L. JACKSON

Mas, mesmo com o quão próximo tínhamos nos tornado, havia


uma parte de si que Elizabeth manteve fechada. Era a parte que
estabelecia a tensão que enchia a sala e lutava para se libertar cada
vez que estávamos sozinhos.

Ela me queria, eu sabia, mas ela não estava pronta. Eu não tinha
empurrado, no entanto, o que estava se tornando cada vez mais difícil
de fazer. Eu ansiava por ela, uma necessidade física que me manteve
acordado durante as longas horas da noite e muitas vezes me acordou
assim que eu finalmente adormecia lentamente. Meu corpo ansiava por
atenção, algo que tinha estado tanto tempo sem. A necessidade que ela
criou em mim não passou despercebida, mas permaneceu sem
atenção, assim como ela continuava a ignorar seu próprio desejo.

Eu sabia que era apenas uma questão de tempo antes que um


de nós rachasse.

Respirei, me preparando antes de estar na presença de


Elizabeth, e fiz o meu caminho passando por sua sala de estar em
direção a cozinha.

Na porta, eu espreitei e ia dizer alguma coisa para me tornar


conhecido, mas parei quando a vi. Elizabeth se sentou à mesa, cercada
por uma pilha de e-mails. Seu rosto estava molhado de lágrimas
enquanto lia o que ela tinha na mão.

Eu não tive que perguntar para ela o que era.

Dei um passo para frente, hesitante, orando para que isso não
nos causasse mais um revés. Eu não tinha certeza se eu poderia lidar
com ela fugindo de mim novamente.

Ela olhou para cima quando me ouviu, seus olhos castanhos


cheio de lágrimas, confusos - talvez até mesmo machucados.

"O que é isso?" Ela me perguntou, procurando o meu rosto.

Fechei os olhos e corri minhas mãos pelo meu cabelo, lutando


para encontrar uma maneira de explicar. Tantas vezes eu queria dizer
a ela, avisá-la sobre o que eu estava prestes a fazer, mas nunca parecia
ser o momento certo para abordar o assunto.
A.L. JACKSON

Pelo menos foi isso o que eu disse a mim mesmo. Na realidade,


eu só havia deixado de dizer isso porque eu tinha medo da reação de
Elizabeth - a reação que eu via em seu rosto agora.

Reunindo minha coragem, dei alguns passos necessários para


me levar ao lado de Elizabeth, ajoelhei ao lado dela e sussurrei seu
nome. Soou como um pedido de desculpas.

"Por quê?" Ela balançou a cabeça enquanto se sentava para trás,


recusando-se a olhar para mim e olhando para os papéis na frente dela.

Com a mão trêmula, levei-os dela e os coloquei de lado. Elizabeth


só assistiu o movimento, ainda não encontrando meus olhos. Eu olhei
para ela e tentei fazê-la me ver, para entender. "Sempre foi dela,
Elizabeth."

Eu toquei a borda do documento que autorizou a transferência


de fundos de meu nome para Elizabeth. O dinheiro era para ser usado
para o cuidado de Lizzie e apenas a assinatura de Elizabeth era
necessário para finalizá-lo. A soma era significativa, mas, tanto quanto
eu estava preocupado, não chegava perto de ser suficiente. Mesmo que
eu não podia vê-la, eu sabia que a folha abaixo descrevia os
pagamentos que sairiam dos meus cheques e seriam depositados na
conta bancária de Elizabeth, agora que eu tinha começado com a nova
empresa.

Mesmo que meu pai tivesse todo o resto, Lizzie teria o que era
dela por direito.

Eu sabia muito bem que o processo nunca renderia o que era


pedido, que o enorme número estava ali como uma ameaça, uma
maneira de meu pai segurar sua mão sobre mim só por um pouco mais
de tempo.

Mesmo assim, meu advogado e eu pensamos que era mais seguro


se isso ficasse oficialmente nas mãos de Elizabeth, nas mãos que agora
tremiam enquanto seus punhos pressionavam em suas coxas.

"Você não pode nos comprar, Christian," ela finalmente disse,


quando empurrou os papéis distantes.
A.L. JACKSON

Esfreguei as mãos no meu rosto, frustrado com a situação, mas


não surpreso com a reação. Isto foi exatamente o motivo pelo qual eu
não tinha dito nada, por que eu teria mantido o dinheiro em meu nome
se eu tivesse qualquer outra escolha.

Inclinando-me mais perto, em meus joelhos, eu me virei para


olhá-la, enquanto ela tentou esconder sua tristeza por trás dos seus
cabelos louros que escondiam seu rosto. Com a mão trêmula, eu
estendi minha mão e escovei-os para trás, esperando persuadi-la de
sua raiva. "Elizabeth, baby, olhe para mim."

Ela se encolheu com o afeto, ao toque de minha mão, ao carinho


que saiu de meus lábios tão facilmente. Era um que tinha sido proferido
tantas vezes antes, mas nunca desde que ela tinha saído pela minha
porta anos atrás.

Retirei minha mão, me xingando pelo ato que tinha sido tão
natural - confortando Elizabeth, amando-a.

Eu encolhi para longe da rejeição e olhei para o chão quando eu


engasguei através das palavras, oferecendo mais do meu pesar. "Eu só
quero cuidar da minha filha."

Cuidar de você.

Ela mordeu o lábio inferior, lutando contra uma nova rodada de


lágrimas, seu queixo tremendo. Ela olhou para os papéis sobre a mesa
e, finalmente, de volta para mim quando ela perguntou: "Quanto
tempo?" Era uma acusação.

"Eu não sei." Eu dei de ombros com imprecisão. "Um tempo,


agora."

Ela balançou a cabeça em irritação clara. "Eu perguntei quanto


tempo, Christian."

Suspirando, desviei o olhar e respondi calmamente, quase


desejando que ela não ouvisse. "Cinco anos."

Sua expressão passou de confusa para ferida, de amarga para


quebrada. Como um idiota, eu a toquei mais uma vez. Desta vez, ela se
afastou e levantou uma mão para me impedir. Ela fechou os olhos,
A.L. JACKSON

guardado a si mesma, colocando a parede de volta no lugar. "Eu preciso


que você saia."

Abri a boca, desesperado para argumentar com ela, para fazê-la


entender o que minhas intenções tinham sido, mas nada veio.

Engolindo, eu acenei com a cabeça e fiquei parado enquanto me


bateu apenas quão mal sua recusa tinha doído.

Enquanto havia tantas coisas pelas quais eu tive que pedir


desculpas, prover para a minha filha não era uma delas.

Fiz uma pausa na porta para olhar para ela, minha voz soando
tão desanimada quanto eu me sentia. "Se você não quer o dinheiro,
Elizabeth, então tudo bem, não toque nele. Guarde-o até que Lizzie faça
dezoito anos. Mas, de uma forma ou de outra, ele pertence a ela."

Eu sabia que ela ficaria chateada, que toda vez que o dinheiro
era mencionado, Elizabeth ficava tensa, que ela lutou ferozmente para
ser independente porque ela teve que fazer isso por tanto tempo.
Mesmo assim, eu acreditava que nós falaríamos disso e juntos
planejaríamos o futuro de Lizzie, o nosso futuro.

Eu acho que eu tinha sido um tolo de pensar que tínhamos


chegado tão longe.

Com minhas esperanças esmagadas, liguei meu carro e comecei


a sair da garagem de Elizabeth.

Eu estava a meio caminho de casa quando meu telefone tocou.


Elizabeth estava do outro lado soluçando. A única coisa que eu entendi
ela dizer foi "Por favor, volte".
A.L. JACKSON

Enquanto entrelaçava meu pequeno carro no tráfego em direção


ao centro, me senti um pouco nervosa, mas eu não estava muito certa
do porquê. Não era como se eu não tivesse passado quase todos os dias
com Christian durante os últimos dois meses ou mais.

Eu apenas nunca fui para a sua casa antes. Lizzie, por outro
lado, mal podia se conter.

"Mamãe, olha!" Lizzie gritou do banco traseiro. Olhei no espelho


retrovisor para ver o seu dedo apontando para um dos arranha-céus à
frente. "Ali é a casa do papai." Seus olhos estavam arregalados em
antecipação, seu corpo cantarolando em emoção enquanto ela se
contorcia em seu assento de elevação.

Esta noite seria a primeira noite que ela iria dormir na casa de
seu pai.

Mudando de faixa, eu virei para o estacionamento subterrâneo e


digitei o código que Christian tinha me dado.

Rindo, eu corri para alcançar Lizzie quando ela soltou o cinto de


segurança e pegou suas coisas. Ela abriu a porta amplamente e ficou
impaciente.

"Vamos, mamãe!" Ela correu à frente, sua mochila saltando a


cada passo, sua boneca debaixo do braço.

Adorável.

Ela pressionou a tecla ao lado do elevador; era óbvio que ela


estava familiarizada com a rotina. Ela estava sorrindo quando ela
A.L. JACKSON

gritou "Apresse-se, mamãe!". Ela estava sempre animada para estar


com seu pai.

Eu me perguntava quando isso tinha parado de doer.

Eu me aproximei dela e entrei no elevador. Apertei o botão para


o décimo andar, para o apartamento de Christian, e eu a segui pelo
corredor até a porta.

Eu ia bater, mas Lizzie virou a maçaneta antes que eu pudesse.


Ela correu para dentro sem aviso prévio, guinchando de prazer
enquanto ela chamava por seu pai. Christian não parecia surpreso com
sua entrada, mas virou-se de onde estava sentado no sofá, um
computador descansa em seu colo, óculos de armação preta sobre os
olhos, e boas vindas em seu rosto.

De tirar o fôlego.

Eu balancei, afastando o pensamento, e, ao invés, focando na


alegria da minha filha.

Christian pôs o seu computador de lado apenas a tempo para ela


pular no colo dele. "Oi, Papai!"

"Oi, princesa." Ele esfregou o nariz no cabelo dela, segurando-a.

Meu peito inchou quando eu os assisti e comemorei


internamente a sua reunião, grata que a minha filha tinha isso.

Christian olhou por cima do ombro e sorriu para mim de onde


eu ainda estava de pé em sua porta.

"Oi, Elizabeth."

"Oi." Eu ofereci um pequeno sorriso e dei um passo adiante. Pela


primeira vez eu olhei ao redor. Era o típico loft, uma grande sala que
servia como espaço de estar e cozinha. Havia um corredor a direita que
eu assumi que levava aos quartos. A vista para o mar era bonita, mas
a casa era muito menor do que eu esperava, menos arrogante, mais
quente.

Surpreendeu-me, assim como tudo quando Christian estava em


causa.
A.L. JACKSON

Quando eu atravessei a sala, Christian me olhava como se ele


apreciasse cada passo que me trouxe mais perto dele.

Eu ainda não tinha chegado a um acordo com a revelação do


último fim de semana – a conta poupança em meu nome que tinha
mais dinheiro do que eu ia fazer em cinco anos no banco. A raiva que
eu senti quando eu abri o grosso envelope foi ofuscante o suficiente
para fazer minha cabeça girar e meu sangue ferver.

Claro que eu entendi o que Christian estava tentando fazer, que


seu desejo era de sustentar sua filha e, embora ele nunca dissesse isso,
era para mim também.

O que ele não conseguia entender era que, no processo, tinha


banalizado as provações que eu superei, as dificuldades que eu havia
enfrentado, e as privações que eu tinha sofrido. Ele fez luz das noites
que eu passei acordada enquanto eu me preocupava com o futuro da
minha filha e me perguntava como iríamos sobreviver.

Parte de mim tinha argumentado que eu não poderia culpá-lo,


que ele não sabia o que eu tinha passado.

Mas, realmente, essa não era a questão; ele não sabia por que
ele nunca tinha sido homem o suficiente para verificar.

Eu ainda não sabia se eu poderia perdoá-lo por isso.

Tão profundo quanto o meu ressentimento era, a raiva


empalideceu em comparação com o vazio que sua ausência tinha
deixado, e eu estava no telefone implorando que voltasse antes que eu
percebesse o que estava fazendo, antes que eu pudesse compreender o
quanto de poder ele tinha sobre mim.

Isso me assustou, sentir a minha determinação escorregar


enquanto Christian escavava em meu coração, um pouco aqui e um
pouco lá, lentamente, tornando-me fraca, assim como havia feito tantos
anos antes. Às vezes, eu me perguntava por que eu lutava contra isso,
lutava contra ele, já que não importa o quão duro eu tente, nós
acabaríamos no mesmo lugar - onde ele tinha o controle do meu
coração, onde ele poderia quebrá-lo tão facilmente como ele poderia
torná-lo inteiro.
A.L. JACKSON

A dor estava fresca o suficiente para eu saber que não era um


lugar que eu queria estar.

Eu lembrava enquanto eu afundava ao lado dos dois em seu sofá,


consciente para deixar uma pequena quantidade de espaço entre nós -
distância.

Isso não impediu seus olhos de me tocar, o abraço em seu olhar,


enquanto lavava sobre mim, demorando em minha boca.

Fechei os olhos para me proteger disso, a minha única defesa.


Mesmo assim, eu sentia-o.

Eu abri meus olhos quando senti sua atenção mudar e o peso de


seu olhar diminuir, sua voz unicamente para a nossa filha. "Então, o
que você quer fazer hoje à noite, querida?"

Era fácil lamentar que eu não fosse passar a noite com eles
enquanto eu os ouvia fazer planos, uma noite de jogos, histórias, uma
noite tranquila. Tendo os visto brincar diversas vezes, eu tinha certeza
de que eles teriam lotes de risos, abundância de abraços, abraços
ternos.

O relógio da parede indicou que estava ficando tarde, por isso,


com relutância, eu declarei que eu precisava ir.

Na porta, ajoelhei-me para abraçar a minha filha contra o meu


peito e sussurrei para ela ter um grande momento com o seu pai.

Ela assentiu com a cabeça e apertou-me mais. "Eu vou sentir


sua falta, mamãe."

Soltei uma respiração pesada ao lado de sua cabeça. "Eu vou


sentir sua falta também, querida." Mesmo que eu estivesse ansiosa
para a noite, havia uma parte de mim que odiava qualquer tempo gasto
longe dela, a parte que sempre preferia ficar.

Christian ficou ao nosso lado, com suas mãos enterradas no


fundo dos bolsos da calça jeans, seus olhos atentos enquanto nos
observava nos despedir. Eu me perguntei se ele sentia qualquer coisa
assim como eu sentia quando os via dizer adeus.
A.L. JACKSON

Quando me levantei, eu escovei em seu braço e eu esperava que


não ficasse muito óbvio quando me afastei. Não por acaso, eu só estendi
a mão para ele uma vez, no dia da praia, quando ele ofereceu sua mão.
Era uma conexão que tinha provado ser muito para mim, e eu soltei
tão rapidamente como eu tinha pegado.

Se ele percebeu isso agora, ele fingiu não reconhecer. Em vez


disso, ele sorriu. "Obrigado, Elizabeth."

Eu balancei a cabeça e soltei uma pequena gargalhada por seus


desnecessários agradecimentos. "Eu pedi para você cuidar dela essa
noite, lembra?"

"Eu sei." Ele inclinou a cabeça para Lizzie. "Isso significa muito."

Eu balancei a cabeça. Eu tinha, há muito tempo, aceitado a sua


devoção para a nossa filha, embora eu ainda não conseguisse me
impedir de rezar para que essa confiança não fosse um erro. Mas
mesmo que fosse, eu não iria roubar esse tempo de Lizzie. Isso era dela
e, por agora, ela era adorada. E enquanto ela era adorada, eu não
deixaria meus medos ficarem no caminho. Eu sorri para os olhos
arregalados da minha filha e, em seguida, para Christian. "Vocês dois
tenham um grande momento esta noite."

Christian olhou para seus pés e, em seguida, para mim.


"Gostaria que você ficasse com a gente."

Eu também.

Em vez de dizer isso, eu balancei a cabeça e sai pela porta,


acenando por cima do meu ombro com uma risada enquanto o tom de
Christian tornou-se provocante e ele gritou "Vocês meninas não entrem
em muitos problemas esta noite."

Não havia muito risco de acontecer isso.

Eu dirigi pela cidade e fui para a casa da minha mãe minutos


depois das seis. A rua já estava cheia com os carros das pessoas que
eu amava.

Mamãe chamava de noite das meninas, o que era apropriado,


para uma noite de alívio do estresse da vida cotidiana. Esta era uma
A.L. JACKSON

noite para rir e descontrair, brincar, para elevar, para renovar os laços
eternos das mulheres desta família. Servia para nos lembrar do porque
voltamos para esta cidade. Eu sempre apreciei esse tempo reservado
para lembrar o quanto precisávamos umas das outras.

Eu andei até a calçada estreita da pequena casa que eu cresci.


O bairro era antigo, mas valorizado pelos seus residentes, bem cuidado
e bem conservado. As venezianas verdes escuras mostravam a
evidência de uma camada de tinta fresca, e os vasos de plantas sob as
janelas estavam estourando com a cor do outono. Exuberantes árvores
cresceram ao longo da casa, altas e orgulhosas.

Com a bolsa para passar a noite pendurada no meu ombro, eu


andei através da porta da frente da minha mãe sem uma batida. Fui
atingida com o som de uma risada estridente vindo da cozinha.
Aparentemente, a noite das meninas já estava em pleno andamento.
Sorrindo, eu deixei minha bolsa de lado, fiz o meu caminho através da
sala de estar, e abri a porta para a cozinha. Imediatamente todos me
acolheram, um sonoro Elizabeth envolvendo-me enquanto eu entrava
na sala.

Mãe e tia Donna, as matriarcas da família, os nossos pilares,


sentaram à mesa da cozinha pequena. Elas estavam rindo enquanto
bebiam cerveja de latas e comiam batatas fritas. Ambas as vozes eram
altas e profundas, uma vibração rica que falava de segurança e
estabilidade. Fui direto para a mamãe, beijando sua bochecha, e disse
a ela como eu estava feliz em vê-la. Em seguida, abraço Tia Donna e
depois sua filha, Kelly, irmã mais velha de Natalie. Kelly era dois anos
mais nova do que eu, ela era doce e tímida. Ela sempre pareceu ficar
na periferia da conversa, sem muito a dizer, mas com um sorriso
permanente no rosto.

Sua cunhada, Samantha, ficou na extremidade que separava a


cozinha e copa, sua barriga redonda de seu primeiro filho. Ela tomou
um gole de um copo de limonada que eu tinha certeza de que minha
irmã Sarah tinha sido inteligente o bastante para preparar para ela.
Fui até ela, coloquei minhas mãos em seu estômago, e disse a ela que
eu estava animada para conhecer seu bebê. Ela segurou as mãos sobre
a minha, exalando um sorriso de interminável alegria.
A.L. JACKSON

Do outro lado do bar, no balcão da cozinha, Sarah estava


organizando queijo e biscoitos em uma bandeja, misturando molhos e
cortando vegetais. Fiel à forma, suas mãos nunca estavam ociosas. Ela
só fez uma pausa longa o suficiente para me oferecer um abraço
apertado e me dizer que estava feliz por eu estar aqui, antes que ela
voltasse para o trabalho novamente.

Há muito tempo nós desistimos de tentar fazê-la relaxar.

Natalie e Carrie sentaram em banquetas de frente para a mesa.


Inclinei-me para colocar um beijo nas bochechas, levantando as
sobrancelhas e balançando a cabeça em desaprovação simulada
quando se tornou bastante claro que as duas estavam sugando
cocktails mais rápido do que Sarah poderia fazê-los.

Havia apenas oito de nós, mas dentro dos limites da pequena


cozinha da minha mãe, senti como se estivesse rastejando com
pessoas, transbordando enquanto nos movemos em torno do espaço,
mas confortável ao mesmo tempo.

Agora que eu estava aqui, eu já não lamentava que eu não estava


passando a noite com Lizzie e Christian. Eles precisavam de seu próprio
tempo juntos, e eu certamente precisava de uma noite para soltar as
amarras do meu coração, deixá-lo desprotegido, e por uma vez não
sentir a necessidade de me conter.

Com esse pensamento, gentilmente eu aceitei o copo de vinho


branco que Sarah ofereceu e puxei uma cadeira da mesa. Eu enrolei
minhas pernas debaixo de mim e me permiti relaxar. Eu sorri para as
conversas acontecendo ao meu redor. Não era nenhuma surpresa que
Natalie e Carrie eram as mais vocais, sempre divertidas. Elas sempre
tinham estado por perto, desde que eram crianças pequenas, e seu
vínculo só tinha crescido ao longo dos anos. Enquanto Natalie e eu
éramos como irmãs, baseando-se uns sobre os outros no dia-a-dia,
Natalie e Carrie eram melhores amigas. Elas passaram anos falando de
meninos, primeiros beijos, primeiros amores, todos os segredos.

Às vezes, eu me surpreendia que isso não me causasse inveja.

Quando Matthew apareceu, Natalie precisou de Carrie e confiou


nela como alguém que ela poderia contar e que não iria julgar, que só
A.L. JACKSON

iria ouvir. Só porque eu tinha dado a Matthew e Natalie minha bênção


não significa que isso não lhes tinha causado uma grande quantidade
de culpa, que não havia conversas e que todos na família tinham visto
sua recente relação com aprovação.

Eu tinha visto a vergonha em Natalie e eu era a última pessoa


que ela poderia falar durante esse tempo. Eu tinha sito grata que Carrie
tinha estado lá para ajudá-la, enquanto eu observava impotente ela
caindo aos pedaços.

Mamãe e Donna mergulharam suas histórias favoritas muito


exageradas da nossa juventude. Cada uma de nós adicionando nossas
próprias memórias a elas. Risos ecoaram, nossos sorrisos largos, o
volume de nossas vozes aumentando a cada história contada, cada
copo esvaziado.

Eu descobri que eu estava realmente me divertindo, incapaz de


me lembrar dessa sensação tão descontraída em um tempo muito
longo.

Não era como se eu não valorizasse cada segundo com Lizzie.


Mas minha mãe estava certa. Eu precisava de uma pausa, uma noite
sem responsabilidade.

Natalie e Carrie falavam mais alto, rindo e conversando entre si,


mas não tão envolvida uma na outra que não faziam parte do resto de
nós.

Sarah finalmente mudou-se de seu posto na cozinha e sentou-se


ao meu lado na mesa. Ela gemeu de prazer quando ela apoiou os pés
na borda da minha cadeira e bebeu um dos drinks que ela estava
fornecendo a Natalie e Carrie toda a noite. Dei um sorriso significativo
na direção dela, que lhe dizia que ela merecia uma pausa também.

À medida que a noite avançava, ficamos em um círculo, cada


uma preenchendo as outras com a sua vida, o que tinha acontecido
desde a última vez que nós todos nos encontramos. Algumas histórias
eram de pouca importância, outros de grande importância, nossas
alegrias e lutas, o cotidiano, a vida mudando.
A.L. JACKSON

"Então, como está a minha pequena e doce Lizzie?" Perguntou


minha mãe, voltando sua atenção para mim.

Aparentemente, era a minha vez.

"Ela está indo muito bem", respondi sem hesitar. Tenho certeza
que o sorriso no meu rosto era amplo enquanto eu jorrava com orgulho
de mãe. Era tão estranho que a minha menina já estava no jardim de
infância, e eu disse-lhes o quão bem ela tinha ajustado do pré-escolar
à escola de "menina grande", como Lizzie gostava de chamá-la, como
ela floresceu a cada dia e como eu me preocupava que se eu fechasse
os olhos por muito tempo, quando eu abrisse novamente, ela seria uma
mulher.

Eu abri e fechei a boca, sem saber como expressá-lo.

"Em torno de Christian... muito", eu disse com cuidado,


esperançosa que não fosse perturbar minha mãe. Toda vez que ela
perguntava, eu contornava o assunto e nunca lhe respondia
diretamente. Não era que eu estava tentando ser desonesta ou esconder
dela. Eu só sabia que eu não saberia como responder às perguntas que
ela teria.

Assim como agora.

Ela franziu a testa, os vincos naturais que cobriam seu rosto


aprofundando. "O que isso significa?"

Tentei parecer casual. "Ele apenas... tenta passar muito tempo


com Lizzie."

"Pssh... gastar muito tempo com Lizzie?" Natalie cortou enquanto


acenava com a mão em um gesto que dizia que a minha declaração era
ridícula. Balançando a cabeça, ela se inclinou para frente, como se ela
tivesse uma fofoca saborosa para compartilhar. Ela deveria saber
melhor, porque, para as ocupantes da casa, era. "Esse homem está em
sua casa todos os dias, e não é só para ver Lizzie."

Eu atirei-lhe um olhar que disse a ela para calar a boca.

"O quê?" Natalie perguntou na defensiva, como se eu tivesse


algum problema com ela compartilhando algo privado. "Não é um
A.L. JACKSON

grande negócio, Liz. Eu acho que é ótimo... assim como Matthew", ela
acrescentou com um encolher de ombros.

Um suspiro coletivo ecoou no ambiente, e o choque mudou para


inquietação.

Uma mistura de embaraço e raiva explodiu no meu rosto. Não


era assim que essa conversa deveria ser. Eu queria aliviar o resto da
minha família com a ideia de Christian sendo uma parte de nossas
vidas, não Nat dando-lhes combustível para as hipóteses que eu tinha
certeza que eles já estavam fazendo. Ela sabia que minha mãe não
sabia que Christian tornou-se algo tão significativo.

Para o resto destas mulheres, ele ainda era o "infame Christian


Davison".

"Você voltou com ele?" Mamãe exigiu com sua testa franzida em
que eu só podia supor que era desgosto. Eu não poderia dizer se esse
desgosto era devido à ideia ser uma realidade ou se ela estava ferida,
porque ela pensou que tinha sido mantida no escuro sobre algo tão
importante na minha vida.

"Não... não... claro que não... ele é só..." Eu divagava, balançando


a cabeça, sem saber o que dizer, porque eu não tinha explicação para
o que ele era. Eu não sabia.

"Bem, se você não o quer, eu vou levá-lo," Carrie saltou, rindo


através de palavras arrastada como se fosse à coisa mais engraçada
que já tinha dito. "Ele é um homem lindo."

"Cale-se, Carrie," eu cuspi em sua direção. Ela não tinha o direito


de dizer algo assim, bêbada ou não.

Ela riu, nem sequer perturbada que ela iria me perturbar. Ela
provavelmente nem notou.

"Quero dizer, vamos lá, Liz. Você já viu o homem? Você acha que
ele vai ficar por aqui? Esperar por você para sempre? Alguém vai pegá-
lo." Ela deu de ombros e sorriu. "Poderia muito bem ser eu."

Minhas mãos tremiam e as lágrimas picavam em meus olhos.


Nesse exato momento, eu odiava a minha irmãzinha.
A.L. JACKSON

"Cale a boca", eu disse com os dentes cerrados, fervendo antes


de eu me levantar e bater meu copo de vinho sobre a mesa da cozinha.
"Apenas cale a boca!"

Ela sentou-se chocada com a minha reação, antes de uma


expressão de horror cruzar seu rosto quando ela percebeu que ela
realmente tinha me machucado. "Oh, meu Deus, Liz, eu... Eu estou..."
Ela gaguejou, estendendo a mão para mim.

Eu me afastei de suas mãos e balancei a minha cabeça. Eu não


podia ouvi-la agora.

Sai da sala com o som de aplausos simulados de Sarah. "Isso é


realmente grande, Carrie, realmente bonito."

"Eu não quis dizer..." Carrie disse, tentando defender-se, mas


parando quando a voz de Sarah alcançou a dela.

"Cale-se, Carrie. Você já disse o suficiente esta noite."

A porta se fechou atrás de mim, deixando-me com as mãos


trêmulas e o som confuso de palavras acaloradas vindo da outra sala.
Corri para pegar meu casaco, balançando quando me atrapalhei com o
zíper da minha bolsa e, em seguida, atirei por cima do meu ombro e
nas minhas costas.

A porta se abriu, e por um momento as palavras da tia Donna


ficaram claras quando ela repreendeu Natalie e Carrie como se fossem
estudantes que tinham sido apanhadas fumando no banheiro,
censurando suas brincadeiras, criticando as palavras imprudentes.
Mamãe estava na porta, com os olhos simpáticos e preocupados. Assim
que eles focaram em meu rosto, eu quebrei. As lágrimas rolaram pelas
minhas bochechas, quentes, com raiva e mágoa. Ela atravessou a sala
e me tomou em seus braços. Ela enxugou as lágrimas e sussurrou que
Carrie não quis dizer o que ela tinha dito.

Eu balancei a cabeça no ombro dela, permitindo-me desmoronar


em seu conforto. "Eu não sei o que fazer," eu chorei de novo e de novo,
desesperada para que a minha mãe entendesse e tivesse uma resposta.

Eu não sabia o que fazer.


A.L. JACKSON

Ela me silenciou, empurrou o cabelo emaranhado do meu rosto,


e sacudiu a cabeça em empatia.

"Oh, Elizabeth, querida." Ela me apertou e passou a mão pelo


meu cabelo. "Eu não posso dizer o que você deve fazer, querida. Isso é
algo que você vai ter que decidir por si mesma", ela murmurou contra
minha cabeça, um consolo sem esperança.

Eu chorei mais, me segurando a ela, desejando o dia em que


apenas o seu toque aliviava cada medo, seu conselho tinha uma
resposta para cada uma das minhas perguntas.

Como eu poderia decidir, se eu nunca poderia saber com certeza


se ele não iria me machucar ou se iria me deixar mais uma vez?

Ela deu um passo para trás e levantou meu queixo, procurando


o meu rosto. "Você ainda o ama?"

Eu tinha certeza de que ela sabia que eu amava, tinha


provavelmente sempre sabido, embora cada palavra que eu já tinha
falado de Christian com ela tinha sido crivada de desprezo.

Fechando os olhos, acenei uma vez contra sua mão.

Ela soltou uma respiração pesada, e eu abri meus olhos para ela
lentamente, sacudindo a cabeça. Os olhos dela estavam tristes e ela
parecia lutar com o que dizer.

Depois do que ele tinha feito, eu sabia que levaria um tempo


muito longo para ela perdoar Christian, por ferir sua filha tão
profundamente, e eu podia ver em seu rosto que ela estava com medo
por mim e com medo por Lizzie. Mas eu também sabia que ela nunca
iria me ridicularizar se eu escolhesse estar com ele.

Ela abriu um pequeno sorriso de compreensão e estendeu a mão


para apertar as minhas, uma reiteração. Você tem que decidir por si
mesma.

Apertei de volta. "Eu te amo, mãe."

Seu sorriso cresceu apenas uma fração. "Eu te amo tanto, Liz."
A.L. JACKSON

Ela olhou por cima do ombro e de volta para mim, puxando


minhas mãos. "Vamos. Não vamos deixar que isso arruíne a nossa
noite."

Fazendo uma careta, eu passo para trás e enxugo os olhos com


as costas das minhas mãos. "Eu acho que eu vou para casa." Havia
muitos pensamentos correndo pela minha cabeça, muita confusão,
muitas emoções reprimidas que competem por liberação.

O rosto de mamãe caiu. "Liz, querida... já é tarde e você bebeu."

"Eu vou chamar um táxi. Eu só quero ficar sozinha." Não era


realmente a verdade. Eu só não quero estar aqui.

Ela suspirou, mas não ofereceu mais um argumento e, ao invés,


se adiantou para me levar em seus braços mais uma vez. Ela não fez
falsas promessas, não me disse que seria ok, e não me disse que ia dar
certo. Ela simplesmente me envolveu em seu calor, me regado com
amor e apoio infinito.

Finalmente, ela deixou cair os braços e me disse para chamá-la


se eu quisesse falar.

"Boa noite, mãe."

"Boa noite."

Eu saí, à noite fria mordendo meu rosto em chamas. Eu puxei


meu casaco mais apertado e me abracei. Eu estava me sentindo
envergonhada, tola sobre a minha reação exagerada, vulnerável em
meus pensamentos.

Fungando para afastar a evidência de minhas lágrimas, eu cavei


na minha bolsa para encontrar meu telefone e disquei o número que
eu tinha visto estampado no lado de táxis tantas vezes antes. A noite
estava tranquila, a cidade coberta por uma camada pesada de céu cinza
escuro. Eu respirei o ar úmido, levantei o rosto para ele, nunca me
senti mais sozinha.

Levou apenas alguns minutos antes dos faróis cortar a noite e


iluminar a rua, e um táxi parar na frente da casa da minha mãe. Eu
A.L. JACKSON

roubei um último olhar para trás de mim, antes de subir para o banco
de trás e dar as direções ao condutor até a minha casa.

Soprando o ar dos meus pulmões, eu tentei limpar a minha


mente. Minha cabeça pendeu contra o sujo assento de vinil, e eu não
tinha certeza se a sensação de mal estar no estômago resultou do
excesso de álcool no meu sistema, ou a partir do confronto que eu tinha
acabado de ter com a minha irmã.

Meu telefone tocou no meu colo com uma mensagem de texto,


em seguida, tocou novamente e novamente com um monte de
desculpas da minha irmãzinha implorando perdão, prometendo que ela
estava apenas brincando, que ela realmente não queria dizer isso, que
me amava.

Eu sabia que eu realmente não estava chateada com a minha


irmã, mas com a verdade do que ela tinha dito. Christian não iria
esperar para sempre.

Eu poderia lidar com isso quando um dia ele viesse até mim?
Seus olhos azuis dançando enquanto ele me dissesse que ele tinha
conhecido alguém, em como ele confiava em sua amiga que ele tinha
se apaixonado? Eu seria capaz de sorrir e dizer-lhe como eu estava feliz
por ele? Eu poderia dar-lhe encorajamento? Oferecer conselho?

Revirei os olhos para mim mesma.

Eu não poderia nem mesmo lidar com a minha irmã mais nova
brincando sobre isso.

Eu digitei de volta uma resposta rápida, uma que ia tranquiliza-


la, deixa-la saber que estava tudo bem, que ela estava perdoada – um
simples eu também te amo.

Quinze minutos depois, o táxi parou na calçada em frente a


minha casa. As janelas estavam escuras e o brilho amarelo tênue da
lâmpada da varanda oferecia a única luz.

Sozinha.

O motorista olhou por cima do ombro, franzindo a testa.


A.L. JACKSON

Agitando-me fora do meu torpor, eu puxei minha carteira da


bolsa e entreguei-lhe uma nota de vinte, murmurando um calmo,
"Obrigada", enquanto me atrapalhava ao sair do banco de trás do carro.
Ele esperou até que eu abri a porta para o vazio de minha casa antes
de ir embora.

Eu tranquei a porta atrás de mim e me arrastei para cima. Lavei


o rosto e escovei os dentes, não poderia manter os pensamentos na
baía.

Brittany.

Esse nome tinha doído em mim ao longo dos últimos dois meses.
Imagens desconhecidas suas passavam pela minha cabeça quando eu
imaginava como ela tinha sido, como e o que o atraíra para ela, e eu
muitas vezes caía no pensamento dele dormindo com ela.

A vergonha foi clara quando ele admitiu seu passado para mim,
as muitas mulheres sem rosto com quem ele tinha estado, aquelas
cujos nomes ele provavelmente nem sequer sabe. Não eram aquelas
que me incomodavam, porém, aquela que me assombrou durante a
noite, aquela que provocou uma dor no meu peito e tornava difícil
respirar.

O que me incomodou foi que ele encontrou alguém que ele se


importava o suficiente a ponto de dormir ao lado, noite após noite,
alguém que ele se importava o suficiente a ponto de compartilhar o dia-
a-dia.

Quanto tempo antes dele encontrar alguém como ela?

Foi com esses pensamentos que eu me encontrei sentada na


cama, na escuridão do meu quarto, agarrando meu telefone com os
olhos fechados, desejando ficar forte e ignorar a necessidade de ouvir
sua voz. Era pouco após a meia-noite, não tão tarde que ele iria achar
estranho que eu estivesse ligando, perguntando sobre Lizzie, uma
desculpa fácil. Será que ele saberia que não era a verdadeira razão da
ligação? Será que ele saberia que eu já tinha certeza de que minha filha
estava bem, segura e feliz e descansando facilmente no pequeno quarto
que seu pai tinha criado apenas para ela? Será que ele saberia que eu
ansiava por seu calor, o modo como sua voz se envolve em torno de
A.L. JACKSON

mim como se fosse seus braços? Será que ele saberia que eu precisava
dele?

Mais uma vez, eu me encontrei na borda, olhando para baixo,


perguntando quando eu ia ficar tão perto que eu cairia. Ou talvez eu
tivesse acabado de saltar.

Eu balancei minha cabeça.

Não.

Falei comigo para voltar à borda, me forcei a colocar o telefone


na minha mesa de cabeceira e chorei até dormir.

"Ei, Liz," a voz profunda chamou atrás.

Eu estava ao meu balcão da cozinha, meus dedos molhados de


cortar os tomates em preparação para o nosso churrasco, e olhei por
cima do ombro para Matthew pé na arcada. Na minha humilhação, eu
virei e foquei na tarefa na minha frente.

"Oi," eu murmurei para o balcão.

Matthew se aproximou, parou ao meu lado e passou um braço


em volta de mim com um aperto suave. "Você está bem?"

Balançando a cabeça, eu me inclinei para ele um pouco e me


senti relaxar contra o meu amigo. Enquanto eu estava envergonhada,
eu sabia que eu realmente não tinha razão de estar. Matthew só se
importava, e eu sabia que ele não iria julgar ou me provocar, ele não
sabia dos meus momentos da noite anterior.

"Nat e eu trouxemos o seu carro de volta." Ele sorriu como se


nada tivesse acontecido, caso encerrado, e foi até a geladeira para pegar
uma garrafa de cerveja e saiu pela porta dos fundos.
A.L. JACKSON

Eu podia sentir Natalie pairando no mesmo local onde Matthew


tinha estado. Ela estava se mexendo e se sentindo insegura comigo
como eu me sentia com ela. Eu não estava exatamente brava com ela,
mas eu não estava feliz com a forma como ela agiu ontem à noite
também. Ela soltou um suspiro suave, mas audível, como se ela
precisasse para se fazer conhecida, me avisar de sua presença, ou
talvez mesmo para uma necessária garantia de ser bem-vinda.

"Oi, Natalie." Isso saiu baixo com uma pitada de decepção, mas
foi principalmente cheio com as coisas entre nós.

Foi o suficiente para trazê-la de outro lado da sala, os pés como


luz. Ela levantou-se na ponta dos pés atrás de mim, apoiou o queixo
no meu ombro, e colocou os braços em volta de mim para me abraçar
ao seu peito. "Eu sinto muito, Liz." Longe de irreverente, seu pedido de
desculpas foi solene e sincero. "Nós estávamos apenas brincando. Eu
não deveria ter... Eu sei como..." Ela engoliu em seco, pesado com
remorso, e sacudiu a cabeça. "Foi rude, Liz. Fizemos luz de algo que
lhe causa dor e, por isso, eu sinto muito."

Inclinei a cabeça para olhar para ela em um pequeno abraço, e


eu defini a faca que eu estava segurando na tábua de corte para que
eu pudesse chegar para baixo e cobrir as mãos dela com as minhas.
"Está tudo bem." Eu esfreguei os polegares sobre o dorso de suas mãos.

Ficamos assim por alguns momentos, olhando pela janela para


o quintal. Matthew e Christian sentaram-se à pequena mesa do pátio,
conversando enquanto eles cuidavam de suas cervejas, rindo como se
fossem velhos amigos. Lizzie estava sentada no colo de Christian,
sorrindo enquanto ela brincava com as bonecas pequenas em frente a
ela. Parecia que, sem pensar, Christian corria os dedos pelos cabelos
longos de Lizzie, fluindo pelas costas e brincando com as extremidades.

"Doce, não é?" Nat murmurou, sua atenção focada em Lizzie e


Christian.

"Mmm hmm," eu disse em algum lugar no fundo da minha


garganta, incapaz de expressar como isso realmente me fez sentir,
como fez meu coração disparar e me fez questionar tudo que eu segurei
A.L. JACKSON

por tanto tempo. Como isso me fez querer acreditar que ele iria me
tratar da mesma maneira.

"Você não tem que ser mais miserável, Elizabeth," Natalie


sussurrou enquanto ela encostou o rosto no meu, um encorajamento
gentil.

Fechei os olhos para bloquear minha mente do que eu tanto


queria desesperadamente, balancei e discordei. "Eu não sou infeliz."

Ela bufou, embora parecesse simpática e me abraçou mais perto,


antes que ela fosse até a porta de trás, apenas para fazer uma pausa
pouco antes de sair. "Isso não é o que parecia ontem à noite."

Ela deslizou a porta fechada atrás dela, puxou uma cadeira da


mesa do pátio e sentou-se de costas para mim.

Olhei para fora em minha família, a família que tinha


acrescentado mais um, e não podia imaginar qualquer outro à
caminho. Christian me pegou olhando fixamente e olhou para mim com
olhos cheios de adoração, necessidade, carinho e desejo evidente. Pela
primeira vez, eu não desviei o olhar e eu esperava que ele visse em
minha expressão que eu sentia o mesmo, que ele soubesse que eu o
amava, apesar de eu nunca me permitir dizer as palavras.

A tarde foi pacífica e sem tensão. Pela primeira vez, os meus


nervos estavam quietos enquanto eu descansava à mesa com as
pessoas mais próximas a mim. Comemos, brincamos, e
compartilhamos os acontecimentos triviais da nossa semana.

Matthew e Natalie nunca mencionaram a noite anterior, o


incidente esquecido. Lizzie jogava na grama, imersa nos últimos raios
de luz enquanto o sol pairava baixo no horizonte, cada dia mais curto
do que o último quando outubro ameaçou dar lugar a novembro.

Era estranho testemunhar a confiança que tinha surgido entre


Christian e Matthew, sua conversa espontânea e genuína. Anos antes,
quando Christian e eu estivemos juntos, o desprezo que Matthew
detinha para Christian tinha sido claro. Tinha sido como se pudesse
A.L. JACKSON

prever o futuro e ele sabia da traição de Christian antes mesmo dele


cometer.

Eu não pude me ajudar, mas me pergunto o que ele viu agora, o


que havia mudado enquanto os dois homens conversaram como
amigos, que eu acreditava que agora eles se consideravam. Nossa
conversa continuou sem silêncios desconfortáveis, nesta tarde perfeita
de domingo.

Christian estava rindo alto e sem obstáculos quando seu telefone


tocou dentro do bolso do casaco. Ainda rindo, ele afagou o casaco
sentindo o telefone, tirou-o e disse "Desculpe-me um segundo".

Abaixamos nossas vozes para que ele pudesse atender a sua


chamada.

Tentei concentrar no que Natalie estava dizendo, mas não podia


ignorar o modo que Christian endureceu e seu tom endureceu quando
ele respondeu "Sim, aqui é Christian Davison."

Natalie parou no meio da frase. Seus olhos corriam entre


Christian e eu, sua testa enrugou com preocupação enquanto o silêncio
de Christian se prolongava. Eu vi como Christian caiu para frente e
cravou os cotovelos nas coxas. Seus dedos estavam brancos com a
força com a qual ele segurava seu telefone e a outra mão empurrou
incessantemente por seu cabelo.

"O quê?", ele finalmente sufocou em angústia. Houve outra longa


pausa, desta vez sua mão em punho em seu cabelo. Quando voltou a
falar, ele parecia desligado, atordoado, com a voz tão calma que eu
tinha certeza de quem estava do outro lado da linha não o ouviu. "Ok,
obrigado."

Eu queria cair de joelhos para levar seu rosto ao meu, para


confortá-lo do que estava causando essa reação. Mas eu estava
congelada, o sangue derramando em meus ouvidos, me deixando com
mal-estar enquanto eu esperava.

Christian sentou-se, com o rosto retratando nada, desprovido de


emoção, pálido e insensível. Chocado.
A.L. JACKSON

"Christian?" Eu comecei mas parei quando ele olhou na direção


da minha voz e depois de volta a frente, sem ver, murmurando em
descrença.

"Meu pai está morto." Ele fechou os olhos, piscou aberto, e disse
novamente "Meu pai está morto".

Ah não.

Minha mão cobriu minha boca enquanto eu tentava suprimir o


grito que borbulhava, um som aparentemente inadequado para um
homem que eu só tinha desprezado, mas não podia deixar de lamentar
exclusivamente para o fato de que ele era o pai de Christian.

"Eu tenho que ir", disse Christian em palavras que eram quase
inaudível dirigido a ninguém. Ele levantou-se e se moveu como se por
instinto, mas sem compreensão. Nós três o assistimos em choque
quando ele desapareceu dentro da minha casa. Eu me levantei do meu
estupor.

Christian precisava de mim.

Dei um pulo, derrubando minha cadeira ao longo do processo, e


corri para dentro para pegá-lo, apenas para tropeçar por cima do meu
pé quando eu cheguei à sala de estar. Christian estava no sofá curvado,
as mãos segurando a cabeça, enrolado na mesma posição que tinha
estado há apenas alguns segundos antes. Mais rápido do que eu
poderia dar-me tempo para pensar, eu estava de joelhos na frente dele,
sussurrando palavras suaves. Tirei as mãos de seu cabelo, segurei seu
rosto bonito, e passei os polegares sob seus olhos.

Era como se ele nem soubesse que eu estava lá.

Eu nunca o tinha visto agir desta forma. "Christian, por favor,


diga alguma coisa."

Ele balançou a cabeça e pôs-se de pé enquanto falava mais uma


vez, "Eu tenho que ir".

Natalie e Matthew estavam na lateral, observando com


expressões horrorizadas. Eu olhei impotente para eles e murmurei "O
que devo fazer?"
A.L. JACKSON

Christian estava a meio caminho da porta da frente quando o


som suave da voz de Lizzie bateu em nossos ouvidos, com medo e
tremendo.

"Papai?"

Com isso, Christian parou a meio passo, sua voz o suficiente


para quebrar através de qualquer barreira que tinha seu coração e
mente presos.

A liberação da tensão era visível como seus ombros rígidos foram


negligentes, seus olhos claros quando ele virou e chamou a Lizzie em
seus braços e quando ela correu através da sala para ele.
A.L. JACKSON

Girei a chave na fechadura, cansado, minha mente ainda turva,


tentando dar sentido às notícias que eu tinha recebido.

Foi.

Só assim, sem aviso prévio. Eu acho que eu sempre tinha visto


meu pai como inabalável, uma força imortal indestrutível até o dia em
que ele não era mais.

A porta se fechou atrás de mim, e eu estava na penumbra do


meu apartamento, perdido, o sol queimando uma linha fina enquanto
ele afundou e desapareceu na borda do oceano, o fim da minha
percepção. Eu estava no mesmo lugar, observando-o cair até que ele
desapareceu e a escuridão engoliu o quarto.

Assustou-me que eu não senti nada. Ao mesmo tempo, senti-me


fraco, como se eu pudesse entrar em colapso sem saber o porquê.

Dormência excruciante.

Com passos difíceis, andei até o fim do corredor para o meu


quarto. Acendi a luz mais próxima, hesitando na porta antes de
construir coragem suficiente para puxar o pequeno baú marrom
enfiado no canto de trás da prateleira de cima. Era leve, o seu peso era
só da própria caixa. O conteúdo moveu enquanto eu atravessava a sala
e colocava-o ao meu lado na cama. O fecho de metal chacoalhou
quando eu soltei e abri a tampa para ver as fotos que eu mantinha
dentro.

Por um momento, eu me sentei imóvel, perguntando por que eu


estava fazendo isso e o que eu esperava encontrar, antes de eu chegar
e puxá-las para fora.
A.L. JACKSON

A pilha era pequena e continha as poucas memórias impressas


da minha infância – fotos formais e posadas. Era provavelmente sem
sentido procurar algo diferente do que o orgulho de meu pai, mas senti
a necessidade de procurar um vislumbre de algo mais, um sinal de
calor, um vislumbre de um amor que nunca tinha sido proclamado.
Mas, em cada uma, ele estava lá só porque eu tinha feito algo notável,
algo que ele tinha considerado que valia o seu tempo.

Eu balancei a cabeça com um suspiro áspero.

Ele viveu em arrogância, e tinha morrido em arrogância.

Um derrame o tinha levado, algo que teria sido tratável se ele não
tivesse ignorado os sintomas, mas ele tinha sido muito orgulhoso para
acreditar que algo poderia levá-lo para baixo. Eu soube através do
advogado do meu pai que ele tinha começado a enrolar as palavras no
escritório durante o dia, mas ele ignorou as preocupações de todos,
disse-lhes que só tinha uma dor de cabeça, e chamou seu motorista
para levá-lo para casa. Mesmo a mulher do meu pai, Kendra, tão
egocêntrica como eu acreditava que ela fosse, lhe pediu para procurar
cuidados. Em vez disso, ele disse que tinha trabalho a fazer e se
trancou em seu escritório no andar de cima. Ela tinha acordado na
manhã seguinte em uma cama vazia.

Quando o encontraram, ele estava em coma e muito dano já


havia sido feito.

Eles o deixaram com os aparelhos ligados por três dias, e


ninguém sequer se preocupou em me dizer até que eles o haviam
removido do suporte de vida e anunciaram a sua morte.

Sentado na minha cama, eu olhava para as fotos na minha mão,


minha mandíbula apertada quando a primeira verdadeira onda de
emoção me bateu.

Raiva.

Se ele tinha pensado tão pouco de mim, seu próprio filho, por que
alguém em torno dele teria pensado que eu era importante o suficiente
para me chamar e deixar-me saber o que estava acontecendo com o
meu pai? Que eu poderia gostar de saber que ele estava morrendo?
A.L. JACKSON

Se ele nunca se importou em tudo?

E por que eu me importo?

Por que, à margem da dormência que eu sentia, existia dor? Por


que o vazio no meu peito tinha começado a doer?

Larguei as fotos de volta no baú e empurrei os lembretes de quão


pouco eu quis dizer para o meu pai. Deitei-me na minha cama e olhei
para o teto, odiando que isso era tudo o que sempre tinha sido, tudo o
que sempre seria. Que, para ele, eu tinha sido nada mais do que uma
decepção, e, para mim, ele sempre será o idiota que não se importava.

Meu telefone tocou no meu bolso e eu olhei para a mesa de


cabeceira.

Sete quinze.

A dor em meu peito expandiu, mas de uma forma totalmente


diferente. Nossas chamadas sete e quinze haviam se tornado raras, só
porque eu geralmente estava com Lizzie durante esse tempo, mas eu
sempre ligava se eu não estivesse passando a noite com ela. Hoje à
noite, ela tinha me batido para perfurar. Eu me perguntava se era Lizzie
ou Elizabeth que sabia o quanto eu precisava ouvir as suas vozes.

Puxei o telefone do meu bolso, rolei para o meu lado enquanto


eu prendi meu travesseiro sob minha cabeça, e levantei o telefone para
meu ouvido.

"Oi, papai." Sua voz doce suavizou o peso no meu peito e


afugentou a névoa do meu cérebro.

Ela estava tão assustada esta tarde, temendo que eu estivesse


deixando ela, sem entender o que estava acontecendo ou por que eu
tinha reagido daquela forma. Foi essa voz que me tocou, me abalou - a
única que eu nunca poderia ignorar.

"Olá, querida. Como está a minha menina?"

Ela suspirou, o som me envolvendo em seus pequenos braços.


"Só pensando em você, papai."

E, pela primeira vez esta noite, eu sorri.


A.L. JACKSON

Minha mãe estava sentada na minha frente enquanto eu estava


com minhas mãos descansando em seus ombros. Tremores rolaram
através de seu corpo quando ela tentou em vão esconder as lágrimas
que derramava por um homem que ela nunca tinha deixado de amar.

Eu a apertei e esperava que lhe desse conforto, a tranquilidade


calma que eu estava lá.

Embora nós sentíssemos como se não pertencesse, minha mãe e


eu tínhamos nos misturado com o mar de ternos pretos, vestidos preto,
e guarda-chuvas pretos que protegiam da garoa incessante de chuva,
o ar pesado e úmido. Um caixão preto, brilhante e ameaçador no meio
de tudo isso. Ele estava coberto no que parecia ser milhares de flores
brancas e amarelas e um milhão de gotas de chuva. O último
espetáculo do meu pai, a sua despedida final.

Samuel Clymer, parceiro de negócios do meu pai e,


provavelmente, seu único amigo verdadeiro, levantou-se para dar o
elogio. Mudou-se fortemente ao pódio, limpou a garganta enquanto
seus olhos esvoaçavam sobre os presentes. Ele olhou para mim e
minha mãe por um longo momento. Ele era um homem que eu tinha
conhecido por toda a minha vida, alto e corpulento, com as bochechas
redondas e vermelhas. Desde a minha infância, eu me lembrava dele
com uma cabeça cheia de cabelos castanhos e encaracolados. Agora,
ele era careca e usava óculos de contornos de arame que ele
continuamente empurrava para cima no nariz.

Sua voz falhou enquanto disse amáveis palavras de meu pai e


falava de um homem diferente daquele que eu conhecia. Quando
Samuel terminou, ele se mudou para o lado e levantou os óculos para
enxugar os olhos com um lenço branco.

O ministro começou a última oração, e o caixão de meu pai foi


rebaixada para o chão.
A.L. JACKSON

Com a oração, eu abaixei a cabeça e desejei lágrimas que nunca


vieram.

Em vez disso, eu assisti com uma dor oca como a viúva de meu
pai levantou-se para lançar o primeiro punhado de terra em sua
sepultura. Ela era jovem, mais jovem do que eu, seu terno-saia preto
perfeitamente adaptado para caber seu corpo, outro perfeito prêmio
que meu pai tinha vencido.

Quando ela jogou a terra, minha mãe estendeu a mão e segurou


a minha mão. Ela prendeu a respiração em luto como o solo disperso e
regado através das flores. Ela não conseguiu abafar um grito com um
lenço contra a boca. Segurei sua mão na minha quando todos os que
se reuniram para lamentar a morte do meu pai foram à frente para
prestar suas últimas homenagens. Alguns rostos foram parentes,
familiares distantes e velhos amigos, assim como muitos estranhos.

As vozes foram silenciosas e respeitosas quando eles passavam.

Esperamos até a multidão acabar, antes da minha mãe se


levantar, e juntos fomos para frente. Mamãe sussurrou na borda de
sua sepultura, palavras indecifráveis que escorriam juntas, talvez uma
oração, talvez um adeus. Em seguida ela se abaixou e jogou um
punhado de terra sobre o caixão preto abaixo.

Ajoelhei-me e tirei da minha mão no monte de terra macia, fria e


estrangeira. Eu soquei isso e desejei que as coisas tivessem terminado
de forma diferente, que eu pudesse lamentar meu pai como um filho de
verdade deveria fazer.

Eu me senti doente enquanto despejei o punhado de terra sobre


o caixão e murmurei um adeus inédito.
A.L. JACKSON

A limusine virou para a unidade privada forrada com olmos de


arame e carvalhos exuberantes. O sol tinha saído por trás das nuvens
e raios de luz brilhavam através dos ramos por onde passavam.

Mamãe e eu nos sentamos em um silêncio apreensivo enquanto


o motorista seguiu o caminho que se curvava ao redor dos jardins
deslumbrantes, e parou na entrada circular na frente da enorme casa
que outrora chamávamos de lar. Era uma casa imponente de três
andares estilo colonial, o seu telhado inclinado se estendia para o céu.
Persistente se elevou sobre sua altura, impressionante e forte, como o
meu pai se considerava ser.

Do banco de trás do carro, mamãe olhou para a casa que eu


tinha crescido. Sua dor era sufocante, e eu achei que era difícil respirar
na área confinada. Ela olhou para mim, com o rosto molhado e sujo
enquanto balançava a cabeça e seus lábios tremiam.

"Eu não posso acreditar que ele se foi."

Eu não tinha palavras para confortar minha mãe, então eu


estendi a mão e a puxei para mim, abracei-a enquanto ela soluçava
contra o meu peito. Ela me disse uma vez que nunca deixou de amá-
lo, mas eu nunca tinha entendido as profundezas desse amor até que
eu a tinha visto pela primeira vez no lobby do hotel quando eu tinha
chegado, com o rosto pálido - devastado.

"Nós não temos que ficar." Eu a embalei enquanto falei, sem


saber se a minha oferta era mais para o seu benefício ou o meu.

Ela fungou, afastou-se para enxugar os olhos e nariz com um


lenço de papel, e olhou para a casa.

"Não." Ela deslizou seus olhos lacrimejantes para mim, engolindo


a emoção. "Devemos ficar."

Mesmo que eu não quisesse estar aqui, eu sabia que ela estava
certa. No mínimo, eu devia isso a meu pai, uma medida de respeito na
sua passagem, a minha presença enquanto sua família e amigos se
reuniram para se despedir.

Talvez ele não me quisesse aqui, mas, no final, eu era seu filho.
A.L. JACKSON

Com um sorriso apertado, eu estendi minha mão para a minha


mãe. "Vamos."

Ela apertou minha mão, respirando pelo nariz em respirações


calculadas, insegura de sua acolhida ou onde ela estava.

Isso não ia ser fácil para nenhum de nós.

A casa era quase exatamente como eu me lembrava. Os móveis


na sala de estar formal fora do vestíbulo permaneceram os mesmos -
peças estofadas ornamentadas, amplamente não utilizadas,
antiguidades polidas. Uma escadaria dividida para os andares
superiores, e obras de arte penduradas nas paredes, planejadas e frias.

Como eu ansiava pelo calor da pequena casa de Elizabeth, pela


desordem e confusão, pelo conforto de pisar sobre os brinquedos
abandonados no chão, e pela capacidade de descansar os pés descalços
na borda de sua mesa de café gasta.

Eu respirei fundo e disse a mim mesmo, "Você pode fazer isso".

Vozes abafadas ecoaram sobre os pisos de madeira escura. O


primeiro andar transbordou com as pessoas, familiares e conhecidos,
amigos e clientes. Eles convergiram em pequenos grupos, alguns
conversando calmamente e outros abraçando e enxugando as lágrimas
remanescentes.

O olhar de minha mãe acariciou a sala de estar, abraçando boas


recordações antes de finalmente descansar no piano no extremo da sala
de estar.

Meu pai tinha tocado toda a sua vida, sua mãe o dedicava-lhe
aulas desde que ele era um jovem menino. Percebi, de repente, que a
única vez que eu já tinha o visto deixar sua guarda baixa era quando
ele tocava. Eu tinha esquecido como mamãe sentava-se na
espreguiçadeira junto à janela e olhava para fora, absorta nas estirpes
de sua melodia, seu corpo balançando ao ritmo do meu pai, em união
com ele.

Ou talvez eu não tivesse esquecido. Talvez eu não tivesse idade


suficiente para vê-lo pelo o que era.
A.L. JACKSON

Mamãe atravessou a sala para ele como se fosse um imã, e eu


segui um pouco atrás para dar-lhe tempo. Ela correu os dedos ao longo
da madeira em preto brilhante e sentou-se no banco. Ela estendeu o
dedo e tocou uma nota solitária. Seus olhos estavam fechados,
perdidos no passado.

Virei-me para lhe dar privacidade e abri as cortinas que cobriam


as enormes janelas que mostrava a parte de trás da casa e a piscina. A
vista para os pântanos de água salgada de Lynnhaven River. Eu podia
imaginar-me como um menino que brincava através da grama alta,
subindo nas árvores, jogando pedras na água. Mamãe na piscina, e eu
pensava que ela não estava prestando atenção em tudo, mas ela ainda
tinha uma maneira estranha de saber quando eu fazia algo que não
deveria, e chamaria minha atenção pouco antes de eu fazer algo que
certamente me causaria danos.

"Você costumava brincar lá fora por horas." Fiquei surpreso das


andanças de minha mente com as palavras suaves e o toque macio da
minha mãe no meu braço. Ela sorriu para mim, sua expressão
melancólica, como se estivesse imaginando exatamente a mesma coisa
que eu.

A respiração suave veio através do meu nariz, uma apreciação


dessas memórias que haviam sido enterradas sob a pressão que tinha
vindo deste lugar. "Eu adorava lá fora", eu admiti, pegando sua mão.
"Eu tinha esquecido o quanto."

"Claire?" Nós dois viramos. Tia Mary, irmã mais velha de meu
pai, ficou atrás de nós, torcendo as mãos em um lenço branco. Ela
ainda era alta e magra, com o cabelo preto longo puxado para trás em
uma touca na base do pescoço dela, os olhos tristes.

Mamãe ficou tensa. Seu maior medo de vir aqui tinha sido a
reação da família do seu ex-marido, sem saber se condenaria sua
presença ou se de alguma forma traria mais dor.

Tia Mary puxou mamãe para um abraço, chorou em seu ombro,


e disse-lhe o quanto significava que ela veio antes de se virar para mim
e fazer o mesmo. Abracei-a, disse-lhe o quanto eu sentia, antes de me
desculpar para dar-lhes o espaço para se reconectar enquanto elas
A.L. JACKSON

davam desculpas que não deviam, seu afastamento foi uma


consequência das circunstâncias.

Em pé na borda da sala, eu mudei meus pés e minhas mãos


cavaram mais profundo em meus bolsos das calças enquanto eu
aceitava as condolências daqueles que paravam quando passavam. Eu
conversei com primos distantes que eu não tinha visto em anos,
murmurei obrigado pelas condolências de estranhos. Foi difícil fingir
que a relação tensa que meu pai e eu tínhamos compartilhado não
tinha desintegrado no final, que ele não tinha me deserdado, e que eu
não tinha saído de sua vida. Perguntei-me quantos deles sabiam, quais
apertavam minha mão e forçavam um sorriso enquanto se
questionavam o que eu estava fazendo aqui e por que eu tinha vindo.

A esposa do meu pai nem sequer olhou para mim, não que eu
queria algum reconhecimento. Meu pai não era apenas um bastardo,
mas um hipócrita. Eu não conseguia entender como ele era contra
Elizabeth e, em seguida, ele se virava e se casava com uma mulher
como Kendra.

Eu fiquei tenso quando Samuel Clymer me chamou a atenção,


atravessando a sala e se aproximou com a mão estendida. "Christian."

No meu desconforto, desviei o meu olhar, desejando que eu não


tivesse que enfrentar o parceiro do meu pai. Tinha sido fácil sair do
escritório em reação às acusações de meu pai, mas, ao fazê-lo, eu
também me distanciava de Samuel. Ele sempre foi gentil comigo, um
mentor que me ajudou em todos os aspectos quando eu tinha feito a
transferência para San Diego. Por respeito, aceitei sua mão. "Samuel".

"Posso falar com você um minuto?", Ele perguntou quando fez


um gesto com a cabeça na direção do terraço.

Por um momento, eu hesitei. Eu realmente não queria ter essa


conversa aqui no funeral do meu pai. Mas eu aceitei e segui-o para fora
através das portas francesas em direção ao pátio.

Ele ficou em silêncio quando olhou para o rio. Esperei atrás dele,
nervoso para descobrir suas intenções.
A.L. JACKSON

Ele esfregou a palma da sua mão sobre o topo de sua cabeça


careca, suspirando quando ele se virou para mim. Ele empurrou os
óculos no nariz, parecendo perturbado. "Escute..." Ele fez uma pausa
e soltou uma respiração pesada, parecendo precisar encontrar suas
palavras quando deu um passo a frente. "Eu só queria te dizer o quanto
estou triste sobre o seu pai."

Suspirando, eu passei a mão pelo meu cabelo enquanto balancei


a cabeça e murmurei "Obrigado". Eu não sabia como responder. O
nome de Samuel estava listado ao lado do meu pai no processo, e, tanto
quanto eu não me arrependo de parar por aquilo que era importante
na minha vida, eu me arrependia que, no processo, eu deixaria Samuel
para baixo.

Sua voz baixa, apertada na ênfase. "Quero dizer sobre tudo,


Christian". Sua cabeça caiu em sua mão, apertando-a contra a palma.
“Seu pai era meu amigo mais próximo." Suas palavras eram ásperas,
instáveis de emoção. Ele olhou para o céu, lutando. "Mas o que ele fez
com você... Nunca concordei com ele... E eu não vou ficar parado e
permitir que isso aconteça agora." Ele baixou o olhar de volta para mim.
"A empresa está retirando o processo."

Fechei os olhos, sabendo que eu deveria sentir alívio. Em vez


disso, eu me vi lutando para controlar minha crescente raiva.

Isso era tudo o meu pai - e não a empresa, não uma decisão
deixada para o conselho. Tinha sido algo que meu pai tinha levado,
tinha estimulado. Eu recuei, batendo na parede. Embora no fundo eu
soubesse, eu não podia deixar de esperar que o processo tivesse sido
perseguido por causa de minha violação de contrato ou protocolo da
empresa e não um ato de vingança.

Samuel mudou-se para ficar na minha frente e soltou o ar


quando colocou uma mão simpática sobre o meu ombro. "Eu sei o que
você está pensando, Christian. Seu pai era um homem complicado,
mas ele se importava com você... amava você."

Eu zombei, o som como uma ferida desdenhosa na parte de trás


da minha garganta. "Como você pode dizer isso?" Eu olhei para cima
para encontrar os olhos de Samuel. "Você sabe tão bem quanto eu que
A.L. JACKSON

meu pai me odiava." Eu cerrei os punhos e uma onda de tristeza passou


pelo meu corpo quando as palavras saíram da minha boca, dor por um
relacionamento que tinha morrido muito antes de meu pai, talvez
nunca tivesse existido.

Através de todas as pressões e demandas, a obrigação e coerção,


em algum lugar dentro de mim, eu sempre quis acreditar que meu pai
deve ter me amado a seu modo.

Mas ficou claro que ele nunca tinha me amado.

Quanto mais longe eu ficava da casa, mais distantes as vozes de


dentro se tornaram. Desci pelo caminho coberto de cascalho e
atravessei a abertura das árvores. Meus passos ecoaram sobre as
tábuas de madeira quando eu bati na passarela da doca e passei por
cima das águas escuras e verdes do rio Lynnhaven.

Jogando minha jaqueta de lado, sentei-me na beira do cais,


balançando as minhas pernas, e vi quando gaivotas passavam a
milímetros da água. Eu ouvi o seu convite e relaxei na paz.

Este sempre foi o meu lugar de fuga, e eu nunca tinha


necessitado a solidão mais do que agora.

"Oi." A voz suave veio de trás, seus passos tranquilos como se ela
estivesse incerta se deveria me perturbar.

Um sorriso surgiu no canto da minha boca, e eu me virei para


olhar para ela por cima do meu ombro. Embora eu estivesse me
escondendo, eu não me importava com a sua companhia.

A expressão tímida que usava espalhados em um sorriso


pequeno, suave e gentil. Sempre doce.

"Oi." Eu inclinei minha cabeça para o lado, convidando-a a tomar


um assento.
A.L. JACKSON

Ela veio para frente, com cuidado, pois ela passou com os saltos
pela passarela de madeira. Ela enfiou a saia atrás dela e desceu ao meu
lado, sua apreensão clara. A última vez que a vi, ela estava em lágrimas,
desolada, implorando-me para amá-la, mas forte o suficiente para
saber que ela não ficaria com nada menos.

Eu tentei tanto. Eu queria amar Brittany do jeito que ela me


amava, mas nos dois anos que tínhamos vivido juntos, o carinho que
eu sentia por ela nunca floresceu.

"Como você está?" Ela me perguntou, cutucando meu ombro com


o seu e me olhando com seus olhos de chocolate quente. Seu cabelo
castanho escuro estava puxado para trás em seu pescoço, mechas
caindo e em volta do rosto. Embora ela não fosse alta, ela estava toda
pernas, uma combinação de doce e sexy.

Tinha sido uma atração física imediata, a primeira vez que a vi


aqui neste mesmo lugar.

Era uma das grandes festas de véspera de ano novo do meu pai,
a minha presença considerada uma responsabilidade, assim como eu
tinha feito tantas vezes quando era adolescente, eu tinha escapado e
me escondido aqui perto da água quando o ar se tornou muito pesado.
Brittany tinha vindo com seus pais e ela confessou mais tarde que ela
me seguiu.

Nós tínhamos nos beijado à meia-noite e, naquele momento, isso


parecia certo.

Dei de ombros, olhando para ela. "Não muito bem, eu acho."

Ela olhou para a água, mexendo na bainha de sua saia que


estava em seus joelhos. "Eu realmente sinto muito, Christian." Ela
voltou sua atenção para mim, a boca torcendo em uma careta. "Eu sei
que vocês dois tiveram problemas, mas sei que deve ser difícil perdê-
lo."

Soltando uma respiração lenta, eu descansei meus cotovelos


contra os meus joelhos, balançando a cabeça. Eu ainda não sabia o
que eu sentia. "É apenas difícil de acreditar que ele se foi.”

Brittany inclinou-se, acariciando minhas costas.


A.L. JACKSON

Fechei os olhos contra a sensação, calmante e tão errado,


repreendendo-me por permitir novamente conforto em sua mão, mas
eu não poderia encontrar em mim forças para me afastar.

"Eu ouvi que você conheceu sua filha." Ela descansou a


bochecha no meu ombro e olhou para mim, sua expressão cheia de
alegria. Ela sabia como isso tinha me assombrado, tinha testemunhado
as noites sem dormir, a culpa.

"Ela se parece comigo." Eu inclinei minha cabeça contra a lateral


de Brittany, sorrindo para a imagem, o rosto de Lizzie nunca está longe
de meus pensamentos. Eu queria que ela estivesse aqui para
experimentar o lugar onde eu cresci. Eu sabia que nunca estaria de
volta.

Brittany riu, um som pequeno, melancólico. "Mmm... bonita”.


Em sincronia, nossas pernas se viraram e nossas mãos se tocaram.
“Engraçado... Eu sempre imaginei um menino", ela disse suavemente,
suas palavras foram como uma pitada de tristeza quando seu olhar
viajou sobre a água.

Inclinei a cabeça para olhar para ela. "Ela é incrível, Britt. Eu


gostaria que você pudesse conhecê-la. Ela é uma doce menina".

"Estou tão feliz por você, Christian." Ela olhou de volta para mim,
seus olhos castanhos sinceros. Ela mordeu o lábio, aconchegou-se
mais, e agarrou-se ao meu braço. "E a mãe dela?"

Por mais que eu queria dizer que sim, eu sabia o que ela estava
pedindo. Engoli em seco, o movimento brusco, e balancei a cabeça. De
repente, eu me senti desconfortável, nosso rosto muito perto, o seu
toque muito íntimo.

"Eu sinto falta de você, Christian." Com suas palavras


sussurradas, ela se aproximou, levou a mão ao meu pescoço e apertou
os lábios no canto da minha boca. Seu beijo era suave, molhado, cheio
de necessidade, demorado enquanto esperava por uma resposta.

Por instinto, eu me virei para ela, trouxe minhas mãos para suas
bochechas, e segurei seu rosto, refreando-a. "Eu não posso," eu disse,
meu tom tenso.
A.L. JACKSON

"Por favor." Sua respiração se espalhou pelo meu rosto quando


ela se agarrou aos meus braços e disse "Só esta noite".

Meu corpo reagiu, com fome por liberação, por privar-me dela
por tanto tempo, sabendo como seria boa a sensação de perder-me na
familiaridade de seu toque. Mas, para mim, só considerar o que
Brittany sugeriu era a forma mais degradante de infidelidade.

Mesmo se Elizabeth nunca pertencesse a mim novamente, eu


sempre lhe pertenceria.

Movi para longe apenas uma fração, mas o suficiente para deixar
claro que eu estava me afastando, que eu estava dizendo não.

"Você a ama?"

Eu acenei com a cabeça e segurei o rosto da minha amiga


enquanto lágrimas reuniram-se em seus olhos. A decisão que eu tinha
feito mais de seis anos atrás ainda estava prejudicando as pessoas que
eu me importava. "Eu sinto muito, Britt. Eu odeio que eu te
machuquei." Eu segurei minhas mãos firmes contra a umidade de suas
bochechas. "Eu nunca quis te machucar."

Ela retirou-se do meu abraço e desviou o olhar, embaraçada,


depois olhou de volta para mim. "Eu acho que eu sempre soube." Ela
fungou, a boca torcendo em uma espécie de sorriso autoconsciente e
sua expressão triste.

"Eu sempre esperei que fosse tudo sobre a criança, que você
punia a si mesmo por causa dela, e não iria permitir-se seguir em frente
e me amar."

Mais lágrimas caíram pelo seu rosto, e ela olhou para baixo em
uma vergonha que era realmente minha. "Mas quando você fazia amor
comigo... bem... Eu sabia que você não estava lá. Você sempre estava
um milhão de milhas de distância. Eu só não queria acreditar que
estava com ela."

Mais pesar.

Eu não poderia mesmo fazer-me a pedir desculpas mais uma vez,


sabendo que palavras nunca iriam compensar o que eu tinha feito.
A.L. JACKSON

Em vez disso, eu segurei seu rosto em minhas mãos e enxuguei


outra lágrima que caiu. "Você merece muito mais do que uma noite,
Britt." Ela merecia muito mais do que os dois anos que eu tinha
roubado dela, muito mais do que eu já tinha dado a ela, muito mais do
que eu poderia dar a ela.

Tudo que eu tinha era de Elizabeth.

Brittany fechou os olhos, inclinou-se na minha mão, e, por um


momento, pareceu entrar em meu toque, antes de se levantar e, sem
olhar para trás, afastar-se.

Eu nunca quis tanto Elizabeth.

A necessidade era sufocante quando eu entrei no elevador do


hotel para subir ao décimo primeiro andar e abri a porta da minha
suíte. Sem me preocupar em ligar a luz, eu fiquei na sala escura e vazia,
a única iluminação vinda do brilho das lâmpadas da rua abaixo.

O entorpecimento dolorido que eu havia estado desde o domingo


tornou-se um palpitar constante, pressionando, pulsando e forçando
sua saída.

Hoje tinha sido uma tortura, enterrar meu pai, enfrentar a dor
que eu tinha causado a minha amiga, sentar através da leitura do
testamento de meu pai.

Confusão nublou meu coração e mente com a incerteza, muitas


perguntas, e muitos por quês.

Eu não queria nada que era dele, e eu ainda não tinha chegado
a um acordo com o que ele queria para mim.

Eu tinha certeza de que ele teria me apagado de seu testamento


e, em essência, de sua vida, retirando-me do que eu sabia que em sua
mente seria o seu presente mais valioso.
A.L. JACKSON

Para sua viúva, ele tinha deixado a casa, seus carros, e dinheiro
suficiente para manter tudo, para permitir-lhe viver o resto de seus
dias confortavelmente. Mas ele não tinha deixado para ela a sua vasta
fortuna, a herança que ele recebeu de seus pais. Um quarto disso ele
tinha deixado para mim e o resto ele deu à minha mãe. Com este
anúncio, tinha vindo à primeira emoção real que eu tinha visto de
Kendra, primeiro o seu olhar de confusão e, em seguida, a ofensa por
estar sendo negado algo que ela acreditava que merecia.

Mamãe tinha quebrado e gritado que ela não entendia. Ela


implorou por respostas a perguntas que ninguém sabia, porque
Richard iria escolher esta vida sobre ela e, depois, daria a ela. Para nós
dois, foi uma exacerbação à nossa confusão.

Quando ia me levantar para sair do escritório do meu pai, o seu


advogado me levou para o lado e deu-me uma chave para a gaveta da
mesa do meu pai. A chave tinha sido deixada em um cofre em um
envelope com o meu nome nele. Dentro da gaveta, havia imagens, todas
elas de mim. Algumas eu conseguia lembrar, outros eu não podia. Mas
era o que eu tinha encontrado na parte inferior da gaveta que tinha
realmente me abalado. Era um envelope e dentro estava a foto de Lizzie,
que eu tinha deixado na última vez que eu o tinha visto, e uma folha
de papel enrugada, dobrada, as bordas desgastadas e rasgadas como
se tivesse sido dobrado e desdobrado mil vezes. Era uma imagem que
eu não lembrava, mas que, obviamente, tinha sido desenhada por
minha mão, o trabalho bruto de uma criança retratando um homem e
um menino, a legenda desgastada Papai ama Christian escrito no topo.

Tinha compreendido imediatamente o que ele estava tentando


dizer.

Ele tinha me batido com força total e, pela primeira vez,


realmente doeu que eu tinha perdido meu pai.

Ele me amou e ele nunca me disse.

Olhei em volta do meu quarto de hotel vazio e tentei segurar a


raiva, mas ela se foi. No seu lugar ficou só pena.

No relógio ao lado da cama lia-se ser logo após a meia-noite.


A.L. JACKSON

Pela primeira vez desde que eu tinha encontrado com minha


filha, eu tinha perdido a nossa ligação de sete e quinze.

Tirei meus sapatos e o casaco do meu corpo. Quando eu


desabotoei o primeiro par de botões da minha camisa, eu senti o
desespero se instalando.

Minha cabeça girava e meu estômago torcia em nós.

Meu pai estava morto, e eu nunca iria vê-lo novamente.

Foi.

Eu queria Elizabeth. Eu precisava de Elizabeth.

Agarrando o meu casaco da cadeira onde eu joguei, me


atrapalhei com os bolsos, tirei meu celular e me sentei ao lado da cama.
Eu estava desesperado para ouvir a voz dela.

Ela respondeu ao primeiro toque, como se estivesse na


expectativa por mim, esperando por mim, o som doce de sua voz era
meu consolo, meu ponto de ruptura.

"Elizabeth." As lágrimas pelas quais eu rezei vieram finalmente


livres, e eu finalmente consegui chorar por meu pai.

"Oh, Christian." O tom de Elizabeth era suave e compreensivo e


me segurava como se eu estivesse em seus braços - o único lugar que
eu queria estar.

"Elizabeth," eu chorei novamente. Ela era meu único consolo, a


minha primeira lembrança para nunca me tornar como o meu pai. Eu
tinha chegado tão perto - quase tinha jogado tudo fora.

Ele alguma vez sentiu o arrependimento que eu senti? Houve


algum dia em que ele percebeu que estava vivendo a vida errada, que
nunca deveria ter deixado minha mãe ir embora? Quando ele soube
que estava morrendo, ele desejou que pudesse ter tido uma última
chance de nos dizer como se sentia sobre nós em vez de esperar até
que tivesse ido embora e dizer-nos da única maneira que sabia - com o
que ele tinha deixado para trás?
A.L. JACKSON

Engasguei com a emoção, soluçando ao telefone, implorando por


ela novamente. "Elizabeth."

Eu senti como se estivesse me afogando em erros do meu pai,


erros que eu tinha feito por mim mesmo.

Eu estava desperdiçando minhas chances. Se eu morresse hoje


à noite, eu deixaria Elizabeth sem dúvida, nada para decifrar, nenhuma
razão para questionar.

"Christian?" A preocupação de Elizabeth viajou ao longo da


distância e tocou meu coração.

Eu chorei mais forte, chorei por meu pai que tinha sido muito
orgulhoso, e jurei a mim mesmo que eu nunca seria muito orgulhoso.

"Eu te amo, Elizabeth," eu sussurrei as palavras, sem vergonha


e exposto. Ela tinha que saber. "Eu te amo muito."

Do canto da cama, eu me enrolei em mim mesmo e pressionei o


telefone em meu ouvido, em silêncio, pedindo-lhe para ser corajosa o
suficiente para dizer de volta.

Por favor, Elizabeth, diga de volta.

Eu precisava ouvi-la dizer isso de volta... Eu precisava que ela


me aceitasse de volta.

Seu telefone murmurou, e eu a ouvi mudar, senti seus


movimentos. Imaginei-a deitada na cama, imaginei seus longos cachos
louro-escuros espalhados sobre o travesseiro, vendo-a no top preto e
calça de pijama que ela usava para dormir - desejei que eu estivesse
deitado ao lado dela.

"Christian..." Ela sussurrou no que soou como adoração. Se eu


pudesse ver seu rosto agora, eu sabia o que iria encontrar. Eu veria o
que estava na sua expressão quando ela olhou para mim de sua janela
da cozinha no domingo à tarde, a mesma coisa que eu tinha sentido
em seu toque quando ela ajoelhou-se diante de mim e me pediu para
olhar para ela, que eu tinha reconhecido, mas tinha sido incapaz de
responder.
A.L. JACKSON

Ela engoliu em seco e, em sua hesitação, eu sabia que ela não


estava pronta para dizer isso.

Virando-me para deitar sobre os lençóis frios da minha cama de


hotel, eu enfrentei a parede de uma forma que eu tinha certeza que iria
espelhar sua posição, fingido que ela me segurava, sentindo o toque
fantasma dos dedos dela ao longo da minha mandíbula, e ouvi-la
respirar. Isso me acalmou, suavizando a picada, acariciando a dor.
"Elizabeth", eu disse novamente, desta vez em voz baixa, combinando
com a calma que a sua presença distante trouxe, seu nome uma
promessa minha língua - em breve.

"Eu sinto sua falta, Christian." As palavras foram abafadas,


arrastada contra o que eu só podia imaginar ser o seu travesseiro, mas
ainda distinta e poderosa.

Enterrando o meu rosto no travesseiro, eu me alegrei e agradeci


a Deus que ela estava me dando este momento, tão inocente como
íntimo. Juntei-me o suficiente para sussurrar, "Eu sinto sua falta,
também, Elizabeth. Mais do que você sabe."

Deitamos juntos em silêncio ouvindo um ao outro respirar. Ainda


vestindo minhas calças e camisa, puxei o lençol e cobertor sobre meu
corpo e abracei um travesseiro em meu peito. Eu recusei as fantasias
piscando na periferia de minha consciência e me forcei a ficar satisfeito
com a paz de Elizabeth.

Finalmente, Elizabeth sussurrou: "Eu sinto muito, Christian."

"Sinto muito, também."


A.L. JACKSON

Geralmente, apenas Lizzie esperava seu pai pela janela, mas,


hoje, eu não podia deixar de me juntar a ela. Há cada poucos minutos,
eu iria ficar ao lado de minha filha que esperava apoiada sobre os
joelhos, olhando para a rua. As persianas estavam amplamente
levantadas, abertas em convite. O vidro estava manchado com marcas
das mãos ansiosas de Lizzie e pontilhada por seu pequeno nariz.

Christian tinha enviado um texto uns vinte minutos antes para


nos deixar saber que ele tinha desembarcado e estava em seu caminho.

Meu coração palpitava, corria em antecipação, acelerava com


medo.

Christian disse que me amava.

Meu peito se contraiu enquanto suas palavras fluíam através de


mim novamente com o seu teor, a sua profundidade.

Sua declaração tinha quase me desfeito, tinha quase desvendado


o nó que eu segurava tão firmemente retorcido em volta do meu coração
partido. Eu queria tanto dizer. Eu senti dançando na minha língua,
desejando admitir que eu o amava também. De alguma forma, eu
mantive as rédeas, aproveitei isso, e deixei isso arder, sabendo que só
iria crescer.

Por mais um dia, eu tinha mantido meu coração escondido e


protegido.

Passando minhas mãos sobre meus braços, eu tentava acalmar


meus nervos. Obriguei-me a acreditar que o momento que tínhamos
compartilhado no lugar daquelas palavras, não tinha sido muito mais
poderoso do que se eu tivesse acabado de dizer em voz alta. Fingi que
A.L. JACKSON

meu coração não estava mais longe da segurança e que eu não me


sentia mais vulnerável hoje do que eu estive em toda a minha vida.

O movimento da rua trouxe Lizzie a seus pés, a parte traseira do


carro prata de Christian visível quando ele entrou em nossa garagem.
"Ele está aqui", ela quase sussurrou. Seu rosto parecia determinado
enquanto ela saiu pela porta da frente e correu pela calçada para
encontrá-lo.

Ela não tinha sido ela mesma durante toda a semana, mas estava
calma e contemplativa. Finalmente, ontem à noite, quando eu a levei
para a cama, ela se abriu, confessou seus temores, e perguntou "E se
o meu pai morrer também?". Tinha sido uma das coisas mais difíceis
que eu já tinha discutido com a minha filha, o equilíbrio de dar-lhe
tanto a paz e a honestidade, a verdade de que a vida termina em morte.
Ela só foi capaz de adormecer, quando eu deitei ao lado dela e passei
os dedos pelos seus cabelos. Eu sussurrei para ela não se preocupar e
prometi que ela veria seu pai novamente.

Empurrando a mão por minha franja, eu me preparei para a


emoção que eu sabia que viria. Eu hesitei na porta e ouvi as suas
saudações.

Mesmo que eles estavam fora de vista, eu quase podia sentir o


alívio de Christian quando Lizzie estava finalmente em seus braços.

Quando virei a esquina, Lizzie estava anexada ao quadril de seu


pai, agarrada ao seu pescoço como se ela nunca o deixaria partir.

Christian chegou a um impasse quando ele me viu, sua


respiração correndo de seu peito enquanto seu olhar tomou conta de
mim. Seus olhos nadaram em seu mais profundo azul - meia-noite -
quente, mas tão cansado, seu corpo fatigado, pesado com a exaustão
óbvia. Choques caóticos de cabelo preto ergueram-se em desacordo,
círculos salientes sob seus olhos, sua camiseta branca enrugada - sua
expressão esperançosa.

Eu não poderia deixar de dar um passo em frente e sussurrar,


"Bem-vindo ao lar".
A.L. JACKSON

Lentamente, ele se aproximou cada pisada calculada e


determinada. Cada passo que o aproximava aumentou minhas
respirações já acelerada. Os pedaços do meu coração partido estavam
em guerra, emaranhados e torcidos, as ardentes emoções conflitantes
que ameaçavam explodir.

Há centímetros de mim, ele parou e beijou o lado da cabeça de


Lizzie, antes de colocá-la para baixo, nunca tirando seu olhar
penetrante de mim.

Congelada, eu esperei, incapaz de desviar o olhar.

Em algum lugar dentro de mim, eu sabia que não deveria


estender a mão quando ele me alcançou, sabia que eu não deveria
envolver meus braços ao redor de sua cintura quando ele envolveu seus
braços em meus ombros, sabia que eu não deveria enterrar meu rosto
em seu peito, quando ele enterrou o seu no meu cabelo.

Eu simplesmente não conseguia me conter.

Christian me puxou para mais perto, seu corpo pesado e perfeito


contra o meu, cansado e procurado apoio.

"Eu senti tanta falta de você", ele sussurrou em meu ouvido


quando me puxou para impossivelmente mais perto e inspirou. O calor
da respiração dele lambeu minha pele, sua proximidade definida em
chamas.

Ele obscureceu cada faculdade, interrompeu a razão, instigou-


me a esquecer. Fechei os olhos contra as sensações e tentei bloquear o
ressurgimento das lembranças, ignorar a familiaridade de seu toque.
Eu empurrei tudo de lado e me concentrei no que ele precisava -
conforto.

Ele se agarrou a mim como se sua vida dependesse disso.

Um sinal de alerta queimou em algum lugar profundo dentro da


minha alma.

Perigo.

Pela primeira vez, eu ignorei.


A.L. JACKSON

Em vez disso, eu esmaguei meu peito ao seu, permiti a onda de


alívio que surgiu em minhas veias, e saboreei o calor de sua pele e o
calor de seu corpo.

Ecos do nosso passado surgiram na minha mente, nossos


momentos mais felizes, a única maneira que ele poderia me fazer sorrir,
a única maneira que ele poderia me fazer sentir, nossos momentos
mais íntimos. Eu queria segurá-los, mas eles tremulavam e tremiam e
davam lugar a imagens vívidas tão fortes que eu quase podia prová-las
- doente, fria, sozinha - e me lembrei de por que eu nunca poderia ceder
a isso.

Mesmo assim, eu não queria deixar ir e me permiti um pouco


mais antes de colocar uma mão contra seu peito e gentilmente
empurrá-lo para longe. Ele cobriu minha mão com a dele, pressionou-
a sobre seu coração, e sorriu para mim de uma maneira que cortou
outro pedaço da minha armadura.

Afastando meus olhos, cometi o erro de olhar para Lizzie, que


olhava para nós com a mesma expressão que eu tinha visto Christian
usando um segundo antes - como se ela tivesse recebido um pequeno
pedaço do céu.

O que diabos eu estava fazendo?

Provocando minha filha?

Dando uma falsa esperança, alimentando sua imaginação,


pintando um quadro de coisas que nunca poderiam acontecer?

Obriguei-me a dar um passo longe de Christian, reunindo as


emoções que estavam lentamente escapulindo, e desenhando outra
linha.

Para Lizzie, eu disse a mim mesma. Isso era para Lizzie.

Olhei de volta para Christian, lembrando-me que só poderíamos


ser amigos - parceiros. Purgando os resquícios do meu desejo do meu
rosto, eu me endireitei e coloquei de volta a minha máscara. Eu sorri e
me afastei. "Vamos em frente. O jantar está quase pronto."
A.L. JACKSON

Christian inalou e lançou um sorriso em minha direção, torto e


dolorosamente bonito. "Você fez macarrão e almôndegas?" Sua voz
estava cheia de apreciação, nadou na consciência.

Minha máscara caiu tão facilmente, evidência da minha


fraqueza. Senti meu rosto ruborizar e abaixei a cabeça. Eu sabia o quão
óbvia eu estava na preparação de seu jantar favorito, assim como eu
tinha preparado o seu café da manhã favorito na manhã seguinte à
queda de Lizzie.

"Sim, eu achei que você estaria com fome após o longo voo", eu
murmurei para meus pés descalços, dando de ombros para fazer
menos disso do que nós dois sabíamos que era.

Olhei para cima a tempo de ver o seu sorriso torto espalhar.


"Você não tem ideia de quão bom parece. Eu não comi o dia todo."
Virando a atenção para Lizzie, ele pegou uma das suas pequenas mãos
na dele e perguntou, "E quanto a você, princesa, está com fome?"

Oprimida, recuei e tentei me convencer de que nada havia


mudado enquanto ele a conduzia para dentro.

Christian olhou para mim com um sorriso preguiçoso. "Você está


vindo?"

Suspirando, eu disse-me mais mil mentiras e segui-o para


dentro.

"Você quer conversar?"

Apontando o controle remoto para a televisão, eu baixei o volume


e deixei o desenho animado que Lizzie queria assistir. Ela tinha
adormecido cerca de quinze minutos antes, se enrolando no colo de
Christian. Sua respiração doce veio suave contra seu peito, rítmica e
A.L. JACKSON

calmante na penumbra da sala. Ele tocava as mechas de seu cabelo,


parecendo perdido em pensamentos e prováveis minutos de sono.

Olhando para mim, ele fez uma careta através de um profundo


suspiro, passou a palma da mão sobre o rosto cansado, e piscou. "Eu...
não... sei." Não parecia uma resposta à minha pergunta, mas era mais
uma declaração de como ele estava se sentindo.

Se eu estivesse no seu lugar, eu também não saberia o que


sentir.

Estas questões não respondidas formaram linhas na testa dele.


"Eu passei muito da minha vida ressentindo meu pai... culpando-o por
todos os meus problemas... por cada erro que eu fiz." Ele franziu o
cenho quando ele deixou esses erros não ditos, embora muitos deles
fossem muito óbvios. Ele bufou pelo nariz e sacudiu a cabeça. "Você
sabe que ele me deixou um quarto de sua herança?" Ele se concentrou
em seus dedos tecendo pelo cabelo de Lizzie enquanto ainda balançava
a cabeça. Suas palavras caíram em descrédito lento, talvez até mesmo
insinuando um novo respeito.

"E o resto disso para a minha mãe."

"O quê?" Eu não conseguia manter a minha reação chocada


contida.

Christian olhou para mim. À luz da sala de estar eles eram


escuros e tristes.

Sua boca se torceu e se contorceu, e ele parecia estar lutando


para manter suas emoções sobe controle. Apoiando Lizzie, ele se
inclinou para frente, puxou a carteira do bolso de trás, e pegou um
pedaço dobrado de papel de dentro. Com a cabeça baixa, passou-o para
mim.

"Ele manteve isso em sua mesa."

Desconfiada do que eu encontraria dentro, eu olhei para o


pedaço de papel gasto e esfarrapado na minha palma. Eu tinha certeza
que o que quer que tenha acontecido tinha quebrado uma parte do
coração de Christian.
A.L. JACKSON

Cautelosamente, desdobrei, alisei-a no meu colo, e engasguei


com o desenho simples.

Christian deve ter entendido minha surpresa, deve ter lido na


mensagem a mesma coisa que eu vi agora.

"Não me lembro de desenhá-lo... ou senti isso. Eu só desejo que


eu pudesse." As palavras tremiam quando elas caíram com sofrimento
de sua boca trêmula. "Droga," de repente ele cuspiu, passando a mão
pelo cabelo. "Ele perdeu toda a sua vida."

Mais uma vez, sua expressão mudou e o fogo por trás de suas
palavras se apagou e aliviou em dor, como se ele não soubesse se
deveria injuriar a memória de seu pai ou lamentar. “Ele sabia que
estava morrendo, Elizabeth. Eu sei, e ele queria que eu soubesse que
ele se importava comigo." A tristeza se espalhou por ele, uma mistura
de raiva, piedade e tanto arrependimento. "Eu só queria que ele tivesse
a coragem de dizer isso na minha cara."

Traçando as letras, eu imaginava um menino de cabelos negros


desenhando-as, a concentração que teria em sua cara enquanto ele
trabalhava agitado, fazendo a carta com erros ortográficos, o orgulho
que ele teve quando tinha dado ao seu pai.

Eu não me afastei quando Christian estendeu a mão para fazer


o mesmo.

Fechei os olhos quando ele arrancou os meus dedos da folha e


envolveu em sua mão. "Eu não quero me tornar como ele, Elizabeth."
Sua garganta cheia de emoção. "Eu não quero desperdiçar a minha
vida. Eu não quero perder isso", frisou quando ele apertou minha mão.

Liguei os meus dedos aos seus e pisquei para conter as lágrimas.


Ele seguiu o meu olhar para Lizzie, e eu trouxe nossas mãos unidas
para tocar a bochecha como porcelana de nossa filha, antes de me virar
de volta para enfrentar a intenção em seus olhos.

"Você não é."

Um sorriso triste sussurrou no canto de sua boca, e ele deitou


sua bochecha contra a cabeça dela enquanto uma respiração pesada
saiu de seus lábios cansados.
A.L. JACKSON

No silêncio, eu segurei sua mão, escovando meu polegar sobre


sua pele macia. Eu vi como os olhos desvaneceram gradualmente e
fechou em exaustão, escutava suas respirações profundas, mesmo
fora, senti os músculos se contorcer enquanto ele derivou para dormir.

O mais silenciosamente que pude, me desenrolei do sofá, levantei


Lizzie em meus braços, e a levei para sua cama no andar de cima.
Coloquei-a na sua camisola e passei um momento adorando a criança
incrível que Christian e eu havíamos criado, antes de beijar sua testa.

Então eu fui para o meu quarto e arrastei um cobertor e um


travesseiro da minha cama.

Voltei para baixo nas pontas dos pés para encontrar Christian
largado e afundado mais profundamente nas fendas do sofá. Seus
braços estavam estendidos para fora, seu corpo relaxado.

Meu estômago se apertou em dor e desejo.

Por que amá-lo tem que doer tanto?

Colocando os lençóis de lado, me agachei para desatar os sapatos


e tirá-los de seus pés, e levantei as suas pernas para colocá-las no sofá.

Ele se esticou e gemeu incoerentemente quando ele virou,


puxando os fios torcidos em volta do meu coração.

Tão gentilmente quanto pude, manobrei o travesseiro sob a sua


cabeça, sacudi o cobertor, e cobri seu corpo. Hesitei quando eu me
inclinei para puxá-lo para o queixo.

Tão bonito.

Sua boca tinha caído aberta, apenas o suficiente que ele expeliu
respirações macias de ar contra o meu rosto, doce e distintamente
homem, seus longos cílios negros lançando sombras ligeiras em seu
rosto.

Inclinei-me mais e deixei as pontas dos meus dedos


perambularem pela barba resultante do dia em sua mandíbula, passei-
os com ternura sobre seus lábios – eu queria o que eu não poderia ter.
A.L. JACKSON

Então, como uma tola, eu roubei e pressionei meus lábios nos


dele, sabendo que ele só seria meu por alguns momentos.

Eles estavam quentes e úmidos, e perfeitos; eles queimaram


minha pele e trouxeram lágrimas aos meus olhos.

Um tremor rolou no meu peito, preso na minha garganta, e


sacudiu meu corpo.

Peguei um pouco mais, segurei o seu rosto em minhas mãos e,


em meu desespero, beijei-o mais profundamente - provando minhas
lágrimas e a doçura da boca de Christian - flertando com o desastre.

Por que? Eu implorei-o em meus pensamentos, com meu toque


enquanto o beijava outra vez. Por que você teve que nos arruinar? Minha
boca viajou até a mandíbula dele, beijou-o ali contra a pele áspera, fogo
contra meus lábios e atormento para a minha alma, onde eu expus o
meu mais profundo segredo, "Eu te amo, Christian".

Enojada e envergonhada, eu atirei-me longe, escapando para o


andar de cima, e chorei por um homem que eu nunca vou me permitir
ter.

Agarrando minhas coisas, eu suspirei de satisfação, grata que


era sexta-feira e outra longa semana de trabalho tinha chegado ao fim.
Coloquei o meu casaco, sorrindo para Selina. "Boa noite."

Ela sorriu e olhou torto para mim enquanto mexia no seu


armário. "Boa noite... Te vejo amanhã." Ela balançou os quadris,
sugestivo e lento.

Eu ri e acenei por cima do meu ombro enquanto eu a deixei na


sala de descanso.

Natalie e suas festas.

Ela nunca deixaria um ano sem planejar algo escandaloso. Elas


sempre eram grandes e sempre muito divertidas. Ela tinha convidado
todos que eu conhecia, e eu estava certa de que todos estariam pagando
por isso na manhã de domingo.
A.L. JACKSON

Ansiosa para começar o meu fim de semana, eu corria pelo banco


enquanto dizia boa noite para todos no lobby. Eu parei abruptamente
a dois pés da porta quando vi o rosto da minha filha pressionado contra
a porta de vidro, espiando dentro.

Seu sorriso enorme assegurou-me que eu não tinha necessidade


de me preocupar.

Eu ri, sentindo sua onda de excitação quando ela reparou em


mim.

Empurrando a porta aberta, eu coloquei a minha cabeça fora.


Ela usava um vestido marrom com um corpete de cetim e uma saia de
tule, uma fita preta envolta da cintura. A roupa tinha sido completa
com meias brancas, sapatos de verniz preto, e um arco marrom
amarrado em seu cabelo.

"O que você está fazendo aqui e toda vestida?" Perguntei,


sorrindo.

Lizzie sorriu de volta, girando para longe da porta como se ela


fosse uma bailarina, e eu andei o resto do caminho.

A voz de Christian bateu em mim de algum lugar atrás, suave e


quente, intoxicante. "Estamos comemorando."

Sacudindo ao redor, eu encontrei-o inclinado com um ombro


contra a parede do banco. Ele usava um olhar quase arrogante em seu
rosto, a boca torcida em confiança casual. Ele estava vestido com uma
camisa de colarinho azul profundo, enrolada até os cotovelos, os dois
primeiros botões abertos, e calças pretas que pareciam melhor do que
deveriam parecer.

"Achei que, uma vez que o resto de sua família e amigos irão levá-
la amanhã à noite em seu aniversário real, Lizzie e eu iremos levá-la
esta noite." Um sorriso puxou de um lado de sua boca, e ele se
empurrou da parede e deu um passo adiante.

Lizzie pegou minha mão e dançou ao meu lado enquanto ela


cantava "Surpresa!"

Meu espírito se elevou.


A.L. JACKSON

Ajoelhada ao lado de minha filha, eu a abracei enquanto eu olhei


para Christian. "Obrigada."

Ele sorriu tão grande que tocou seus olhos. "Você realmente acha
que nós iríamos deixá-los mantê-la só para eles?" Ele veio para frente
e estendeu a mão para me ajudar a levantar e mais uma vez inflamou
as chamas que eu inutilmente lutava para apagar. Ele congelou, só por
um segundo, quando um palpável tremor percorreu seu braço, e eu
sabia que ele também sentia.

Depois que eu o tinha beijado na sexta-feira, eu me senti tão


envergonhada. Eu tinha certeza que ele podia, de alguma forma, ver a
culpa na minha cara ou encontrar nos meus olhos. Na manhã seguinte,
ele ficou me observando com cuidado, atento a cada movimento meu.
Era como se ele estivesse contando cada vez que eu respirava e lesse
cada palavra que eu falei. Tinha começado, então, as pontas dos dedos
tímidos em todo meu braço enquanto ele ia sair da sala, escovando
suavemente na minha pele, testando, tentador. Apesar da minha
promessa a mim mesma, a minha promessa a Lizzie, eu tinha feito os
mesmos movimentos, dedos furtivos, olhares tocados com fogo.

Christian puxou minha mão. "Vamos. Vamos te seguir para casa


e depois você vem no meu carro".

Quarenta minutos depois, nós caminhamos através do


estacionamento para o restaurante, balançando Lizzie entre nós. Ela
gritou e nos pediu para fazer repetidamente. Christian sorriu para mim
sobre sua cabeça, e eu me apaixonei um pouco mais.

Todos nós estávamos rindo quando entramos no restaurante


lotado. Preenchido com jovens famílias com crianças pequenas, festas
e celebrações, era um desses lugares onde as pessoas se reuniram para
uma sexta-feira à noite para relaxar, esquecer a semana, e para
partilhar uma refeição e bebidas.

Christian levou-nos através da multidão de pessoas esperando


por mesas e para o pódio, anunciando nossa chegada e dando o nome
para a reserva. A anfitriã teceu por entre as mesas para o canto do
restaurante, em uma cabine.
A.L. JACKSON

Eu ri e deixei cair minha boca no ataque simulado quando Lizzie,


mais uma vez arrastou-se ao lado do pai dela. "Porque é que você não
quer se sentar ao lado da Mamãe mais?" Eu provoquei. Lizzie agarrou-
lhe o braço, pousou a cabeça em seu ombro, apertou-se enquanto ela
ria, e disse, "Porque Papai nem sempre consegue dormir em minha
casa."

Christian sorriu me lançou um olhar malicioso que disse que


seria fácil de corrigir.

Em vez de me encolher e amaldiçoar meu coração, eu revirei os


olhos e sorri para que ele saiba que eu sabia exatamente o que ele
estava pensando. Eu me surpreendi com a ação, mas eu estava me
sentindo livre, levada pela atmosfera e a energia que rugia da sala.

Ele sorriu quando abriu seu menu e murmurou algo sob sua
respiração. Seu sorriso era evidente, mesmo quando ele enterrou seu
rosto no menu. Meu sorriso combinava com o seu, amplo e irrestrito.

Era meu aniversário e, apenas hoje à noite, eu estava me


permitindo desfrutar disto, desfrutar a minha família, tão pouco
convencional como era. Christian ofereceu uma bebida de aniversário,
uma enorme mistura de rum com chocolate e chantilly, e não hesitou
em mergulhar o dedo nele para roubar um gosto. Nós pedimos
hambúrgueres e batatas fritas, bebemos e comemos enquanto
conversávamos e brincamos. Nós rimos até chorar quando um palhaço
parou para fazer-nos chapéus de balões. Toda a tensão se foi, por
alguns momentos preciosos nosso passado esquecido.

Saciado e apaziguado, Christian inclinou-se facilmente contra a


cabine com o braço pendurado em volta dos ombros da nossa filha, seu
hambúrguer reluzente.

Feliz.

Olhos azuis dançavam de alegria ao anunciar, "Hora dos


presentes".

Lizzie saltou e bateu palmas. "Ooo, Mamãe, abre o meu


primeiro!"
A.L. JACKSON

Christian pegou uma pequena caixa que ele tinha mantido


escondido em algum lugar debaixo da mesa. Era quadrada e rasa,
coberta de papel vermelho brilhante agrupado, desigual e com um laço
prata - perfeita - envolvida com grande cuidado por mãos pequenas.
Eu soltei uma pequena risada surpresa, com apreciação e me perguntei
quando foi a última vez que me senti tão amada. "Quando vocês tiveram
tempo para tudo isso?" Eu segurei o pequeno presente perto da minha
orelha e gentilmente sacudi a pequena caixa.

Christian deu de ombros e sorriu largamente. "Eu tirei a tarde


de folga para levar Lizzie às compras e para ficar pronta." Ele cutucou
ela e eles compartilharam um sorriso espesso como ladrões. "Eu liguei
para Natalie ontem à noite para deixá-la saber que eu estava pegando
Lizzie na escola hoje."

Eu esperava que a minha expressão fosse o suficiente para


retratar o quanto isso significava para mim, que ele tomasse tempo
para ajudar a nossa filha a fazer algo que era tão obviamente
importante para ela, que ele tirou tempo para mim.

"Mamãe, abre!" Lizzie cutucou.

Eu sorri, sacudi de novo e desenhei as palavras enquanto eu


dizia: "Eu me pergunto o que poderia ser isso?" Achei que ela devia ter
escolhido uma joia.

Lentamente, eu desfiz o laço e corri o dedo sob o papel para soltar


a fita. Senti meu peito vibrar quando percebi que a caixa era de veludo
preto, o seu conteúdo real, e eu me preocupei que isso deve,
provavelmente, custar muito caro.

Então eu levantei a tampa para o presente mais doce que eu já


tinha recebido.

A charmosa pulseira de ouro branco era uma do tipo haste e


esfera, simples e bonita, e me fez sentir incrivelmente especial.

"Você gosta disso, Mamãe?"

Olhei para Lizzie, que estava de joelhos, ansiosa pela minha


reação, e respondi em completa honestidade. "Eu amo isso."
A.L. JACKSON

Passei o dedo sobre ela, tirei-a da caixa, e ergui no ar sobre a


mesa. Três encantos de prata deslizaram para o fundo do cordão, um
com uma esmeralda, representando o aniversário de Lizzie, um com
um topázio amarelo representando o meu, e outra simplesmente
gravada com Mãe.

Christian inclinou sobre a mesa e estendeu a mão. "Posso?"

Sorrindo, eu concordei e passei para ele. Estiquei o braço sobre


a mesa e não podia ignorar os arrepios que se espalham sobre a minha
pele enquanto os dedos de Christian trabalharam na pulseira em torno
de meu pulso e fechou o bloqueio no lugar. Ele torceu, molhou os lábios
em concentração quando ele fez, e, em seguida, olhou para mim e
depois de volta para baixo para terminar o seu trabalho.

Ele murmurou, "Você sabe que você pode acrescentar a isto,


certo?" Ele correu a ponta do seu dedo indicador para baixo na pele
sensível do meu pulso.

Não parecia como uma pergunta, mas como um convite.

Meu rosto ficou vermelho, mas eu me recusei a desviar o olhar.

Lizzie quase subiu em cima da mesa para admirar o bracelete


agora pendurado em meu pulso. "Oh, é tão bonito!" Minha doce criança
olhou aguardando a minha aprovação, na esperança de eu ter gostado
tanto quanto ela. Manuseando os encantos, eu sorri de volta a ela,
disse-lhe novamente o quão bonito que eu pensei que era e que eu iria
usá-lo com orgulho.

"É a minha vez." Christian fez um envelope, maior do que um


cartão normal. Era grosso e retangular e cravou meus nervos com a
forma como ele balançou em sua mão trêmula.

"Feliz aniversário, Elizabeth", disse ele com o mais suave dos


sorrisos.

Voltei um sorriso incerto, hesitando enquanto eu segurava o


cartão entre nós, e percebi que eu não queria sentir mais medo.

Apenas por uma noite, eu não queria ter medo.


A.L. JACKSON

Então eu abri rápido. No começo, eu estava confusa enquanto


olhava para o folheto de reserva em minha mão, até que a minha mente
finalmente chegou ao reconhecimento.

Quando eu levantei minha cabeça em surpresa, encontrei os


olhos de Christian queimando nos meus. Suas palavras vieram mais
esperançosas do que qualquer outra que eu já tinha visto, apaixonadas
quando elas passaram por seus lábios, "Venha a Nova York para o Natal
comigo, só você e Lizzie. Eu quero que ela veja a árvore... Para mostrar
a ela onde ela nasceu... Onde nos conhecemos."

Em sua expectativa, eu perdi toda a razão e joguei toda a


sanidade de lado porque eu realmente queria ir. Fingi que não sabia o
que Christian queria dizer quando ele me pediu para ir a Nova York
com ele, menti para mim mesma novamente, e assegurei-me
novamente que nada tinha mudado.

Porque pela expressão no rosto de Christian, quando eu soltei a


respiração que eu estava segurando e concordei que eu iria, eu sabia
que tudo tinha mudado.

Por alguns momentos, um novo peso pairava no ar, um novo


medo disputando minha atenção, implorando comigo para prestar
atenção.

Eu empurrei de lado e ri pelo meu constrangimento quando o


nosso garçom apareceu de repente na borda da nossa mesa e gritou
por cima do clamor da sala, exigindo atenção quando ele gritou: "Temos
um aniversário na casa!"

Os olhos de Christian brilharam com profunda satisfação


enquanto ele cantou a canção de aniversário junto com o resto do
restaurante. Ele parecia fazer seu próprio desejo quando eu apaguei a
única vela presa em um pedaço enorme de bolo de chocolate.

"Então, como é a sensação de ter vinte e oito, Senhorita Ayers?"


Perguntou Christian com provocação, e seus olhos suavizaram, ele
realmente queria saber.

Como você perdeu muitos anos, eu pensei muito rapidamente,


antes que eu tivesse tempo para descartar seu significado.
A.L. JACKSON

Antes de responder, olhei para Lizzie, minha razão de viver, e de


volta para o homem que de alguma forma serpenteava seu caminho de
volta para a minha vida e tornou-se uma parte tão importante da minha
família. Eu percebi, com toda a honestidade, que isso parecia incrível.
Pela primeira vez em muitos anos, eu estava realmente feliz. Mesmo se
estar com ele me levasse a uma grande contenção, às vezes me rasgasse
em pedaços e me virasse do avesso, valeu a pena cada segundo. Engoli
em seco e respondi: "É uma sensação... realmente... ótima."

Christian sorriu e tocou a ponta do sapato no meu, debaixo da


mesa, uma carícia suave, casta e com afeição.

Eu corei, tirando a franja do meu rosto, um tique subconsciente,


e bati no meu chapéu de balão na minha cabeça.

Fechei os olhos, Christian subitamente se moveu para frente,


inclinando a cabeça para um lado. "Como você ganhou essa cicatriz
acima do seu olho, de qualquer maneira?"

Ele estendeu a mão sobre a mesa para escovar minha franja de


lado, e, instintivamente, eu me afastei. Eu balancei minha cabeça e
forcei um fraco "Não é nada."

Christian franziu a testa e lentamente retirou a mão com a minha


reação.

"Shawn fez isso a mamãe."

A cabeça de Christian chicoteou na direção de Lizzie, enquanto


ela falava as palavras, antes de olhos de fogo disparar de volta para
mim. Eu vi como uma tempestade correu violenta e destrutiva. E assim,
a paz de nossa noite foi substituída por um Christian que eu nunca
tinha visto.

Ele colocou distância entre ele e Lizzie, sentado rígido na cabine


e sem dizer nada enquanto ele pagou a conta. Ele não olhou na minha
direção, nem mesmo quando eu sussurrei "Obrigada pelo jantar."

Ele apenas se levantou e conduziu Lizzie para o banco, nunca


olhando para cima do chão enquanto caminhava atrás de nós até o
carro.
A.L. JACKSON

Levou apenas alguns segundos para Lizzie adormecer no banco


traseiro de seu carro. Christian olhou para frente e me deixou sozinha
para sufocar em meu silêncio fervilhante. Ele não disse nada quando
ele se levantou do carro e pegou nossa filha adormecida de seu banco
traseiro. Ele ficou de lado e esperou por mim para abrir a porta da
frente e levou-a até o quarto dela.

Esperei na parte inferior das escadas para dar-lhe espaço.

Eu entendi que ele estava com raiva, não comigo, mas com
Shawn.

Minutos depois, ele saiu do quarto de Lizzie e olhou para mim


com fúria atormentada.

Algo dentro dele tinha fraturado - rompido.

"Christian..." Eu chamei com meu tom calmo, pedindo-lhe para


não fazer um grande negócio disto. Isto era algo que eu não queria me
aprofundar com ele. Eu não tinha vontade de ressuscitar velhos
fantasmas e tinha sido agradecida por ter evitado o assunto quando
Christian tinha perguntado sobre Shawn na praia. O que aconteceu
com Shawn foi longo e terminou, algo que eu tinha lidado
emocionalmente, que eu tinha chegado a um acordo, e tinha jurado
nunca mais repetir.

Incapaz de escapar da intensidade do olhar de Christian,


enquanto ele lentamente desceu as escadas, eu sabia que não havia
maneira de evitá-lo agora.

No último degrau, ele parou a centímetros de mim e cerrou os


punhos. "Shawn quem?"

Eu balancei minha cabeça. "Não importa."

Acabou.

Estava feito.

Esquecido.

Christian estudou seus pés, espalmando a parte de trás do seu


pescoço, passou por mim, e andou para a minha sala de estar.
A.L. JACKSON

Chegando a uma parada abrupta, ele se virou e olhou para mim. "Não
importa?" Sua voz levantou-se. "Não fodidamente importa? Você está
brincando comigo, Elizabeth?" Ele jogou o braço em um gesto selvagem
apontando para a minha cabeça.

Eu não encolhi, não vacilei. Eu sabia que nenhuma das


inundações de fúria dele era dirigida a mim.

Desta vez, ele implorou, querendo que eu concordasse, "Aquele


idiota te machucou, e isso não importa?" Ele virou, enterrou ambas as
mãos em seu cabelo, e escondeu a cabeça como ele lançou seu
tormento para o chão. "Eu não posso acreditar que eu deixei isso
acontecer com você."

Dando um passo para frente, coloquei uma mão cautelosa contra


suas costas e pressionei a palma da mão no calor de seu corpo.
Tremores rolam através de seus músculos com o contato, e minha
explicação veio em voz baixa e encheu o quarto escuro e silencioso.
"Isso não importa porque eu me curei, Christian. Ele não significa nada
para mim, não significou nada para mim, e ele pagou o preço pelo que
fez. A única parte que me machuca agora é lidar com o fato de que
minha filha teve que testemunhar isso".

Os ombros de Christian caíram ainda mais, o envolvimento de


Lizzie sendo outro golpe. Derrotado, ele engasgou mais e mais com
palavras de culpa, "Eu sinto muito, Elizabeth."

Eu acariciei suas costas, passei a mão por sua coluna, e torci os


dedos nos cabelos finos na nuca de seu pescoço. "Você não pode se
culpar por tudo o que aconteceu enquanto você estava fora."

Ele me olhou por cima do ombro. Seu belo rosto estava iluminado
pela luz nas escadas e contorcido no que só poderia ser dor física.
"Como eu não posso?"

Virei-o e passei meus braços em volta do seu pescoço.

Ele exalou o seu fardo, gemendo de algum lugar no fundo de seu


peito quando ele enrolou um único braço em volta da minha cintura e
puxou-me e eu senti um rubor contra seu corpo. Com a outra mão, ele
A.L. JACKSON

afastou minha franja, enfiou o pesado cabelo atrás da minha orelha, e


correu o polegar sobre a longa cicatriz curada.

Meu coração golpeou, protestou e afrouxou seus vínculos.

Largando a mão do meu rosto, ele trouxe-a para o meu quadril e


cavou em seus dedos para me aproximar. Ele massageou o caminho
até minhas costas e meu pescoço e enterrou sua mão no meu cabelo.

Ele me segurou.

Embalou-me.

Amou-me.

O relógio contra a parede soou a meia-noite.

Christian pressionou sua bochecha aquecida contra a minha e


sussurrou "Feliz aniversário, Elizabeth."

Lizzie posou na frente do espelho de corpo inteiro no meu quarto.


Ela colocou um batom vermelho brilhante em seus lábios, manchando
mais ao redor de sua boca e sobre seus dentes do que em seus lábios,
e balançou em um par de sapatos de saltos altos e três vezes maiores
que seus pés minúsculos.

Eu ri baixinho, de onde eu a vi com o canto do meu olho, e me


perguntei onde eu tinha deixado minha câmera.

"Olhe para mim, mamãe. Não pareço bonita?" Ela girou no lugar,
girando a saia vermelha que eu tinha descartado no chão enquanto eu
tinha procurado através do meu armário por algo para vestir.

Atravessando a sala, eu levantei as duas mãos, girando em torno


dela, e mergulhei-a em uma dança à moda antiga, de improviso. "Você
está absolutamente linda, querida." Então eu fiz cócegas e a beijei
firmemente na bochecha.
A.L. JACKSON

Ela uivava de tanto rir, com o rosto vermelho, tanto pelo batom,
como por sua surpresa. Ela ficou séria, estendeu a mão e tocou minha
bochecha, enquanto ela procurou meu rosto com os olhos atentos.

"Você está muito bonita também, mamãe", ela disse numa calma
garantida, certamente tendo notado meus nervos enquanto eu tinha
caçado pelas minhas roupas, jogando fora as roupas modestas que eu
normalmente usava para trabalhar por algo que Natalie e minhas irmãs
iriam achar apropriado para a noite.

Eu me decidi por uma saia curta e preta, combinando-a com uma


blusa branca que mostrava um pouco de decote e, claro, um par de
saltos pretos muito altos. Mesmo que me fez um pouco autoconsciente,
eu nem sequer me preocupava em vestir algo mais conservador.

Natalie teria apenas me mandado de volta para cima para mudar


de roupa.

Antes que eu pudesse agradecer Lizzie, a campainha tocou, e ela


se contorceu nos meus braços e saiu correndo pela porta e desceu as
escadas.

Christian.

Um tremor de apreensão rolou através de mim queimando e


aglomerou-se no meu estômago quando eu ouvi a voz dele derivando
de baixo para cima.

O sono tinha me evitado durante a maior parte da noite passada.


Eu tinha o perseguido, apenas derivando nas bordas da inconsciência
para encontrar-me de volta em seus braços, rodeada por sua presença,
implorando por seu toque. O pânico me traria de volta, sacudindo-me
na cama, deixando-me ofegante por ar enquanto o sangue batia nas
minhas veias.

Aqueles minutos imensuráveis gastos nos braços de Christian


foram tão bons, tão certos, como a paz e a eternidade, me fez sentir
como se eu fosse escolher ficar.

Quando o consolo oferecido em meus braços tinha mudado,


ambos tínhamos sentido - quando isso se tornou mais - quando o calor
A.L. JACKSON

de seu corpo me lavara em ondas, quente e duro, quase me afogando


em seu desejo.

Eu não teria a força para dizer não.

Levou apenas o tempo dele desembaraçar do meu abraço e forçar


sair para na porta da frente para eu escorregar de volta para o medo,
para questionar o que eu tinha feito, o que eu tinha concordado.

Em seis semanas, eu deveria ir para Nova York com Christian, e


eu não tinha ideia do que isso queria dizer, o que ele esperava, ou o
que eu poderia dar.

Eu balancei a cabeça, alisando a minha camisa, e ajustei a


minha saia, desejando que nem tudo tivesse que ser tão complicado.
Eu desejei que eu não tivesse tanta dor enterrada dentro de mim,
tantos medos profundos. Eu gostaria de poder confiar nele e acreditar
que desta vez ele não iria me deixar para baixo.

Acima de tudo, eu só queria desistir e ceder.

Deus, eu queria desistir.

Eu agarrei o corrimão em apoio no topo da escada quando olhei


para baixo sobre minha sala de estar onde Christian olhou para mim,
abraçando nossa filha em seus braços.

Ele usava calça jeans escura e baixa, e uma camiseta preta, o


cabelo despenteado, seus olhos intensos. O momento em que nossos
olhos se conectaram era como se nossos corpos voltassem exatamente
para onde haviam parado na noite passada. A energia era densa,
rodando com necessidade e pingando de desejo. Choveu baixo, sugou-
nos, e impeliu-me a andar para frente.

Christian colocou Lizzie no sofá para que ela estivesse de frente


para a televisão, não em negligência, mas como se isso fosse algo que
ela não poderia tomar parte, o momento muito íntimo que não poderia
ser compartilhado.

Enquanto eu descia as escadas, olhei para ele enquanto me


observava, não hesitava com o toque de seu olhar, mas o recebia
enquanto viajava, beijava meu corpo e acariciava minhas pernas.
A.L. JACKSON

Seus lábios se separaram, o desejo tácito chamando meu nome.

Parei a um centímetro de distância.

Ele hesitou e engoliu profundamente antes de finalmente dar um


passo para frente, assaltando meus sentidos enquanto colocava uma
palma quente contra minha bochecha. Com a ponta do polegar,
acariciou minha mandíbula.

Fechei os olhos e me inclinei em seu toque enquanto sua


respiração caia sobre meu rosto. Eu esperei, querendo mais do que
devia.

Seus movimentos eram hesitantes enquanto se inclinava para


frente e roçava o nariz ao lado da bochecha oposta. Ele correu para
minha orelha e sussurrou "Você é tão bonita". Suas palavras enviaram
uma emoção correndo sobre minha pele. Ele colocou seus lábios sobre
a mesma linha e pressionou sua boca contra minha mandíbula.

Engoli em seco e apertei seus ombros em apoio, despreparada


para o ataque de emoção - para a dor.

Pela primeira vez, eu estava completamente indefesa, sujeito à


misericórdia de Christian.

Em algum lugar dentro de mim, eu sabia que ele iria me


machucar. Mais uma vez, ele tinha roubado o meu coração e segurava
em sua mão. Ele tinha tomado o controle e eu não sabia como obtê-lo
de volta.

Eu reconheci no pânico que senti quando ele se afastou, no modo


como minhas unhas se enterraram na pele de seus ombros e implorei
para ele, Não me deixe ir.

Christian deixou cair o braço completamente e afastou-se. Um


baixo "Aham" fez virar minha atenção para um Matthew com rosto
vermelho congelado na minha porta. Ele olhou para baixo e encolheu-
se em um pedido de desculpas.

Natalie apareceu na ponta dos pés, espiando por cima do ombro


de Matthew para descobrir o que tinha causado seu marido tropeçar
em um impasse.
A.L. JACKSON

Eu não queria deixá-la ir - nunca.

Os dedos de Elizabeth queimaram minha pele e ancoraram em


minha alma.

Ela entendia o quanto eu a apreciava? Enquanto eu apertava


minha boca contra sua mandíbula e segurava seu rosto, ela sabia que
eu estava louvando a bondade de seu coração e sua capacidade de
perdoar, e que eu me apaixonei por ela cada dia mais?

Levou tudo que eu tinha para me afastar, dar um passo atrás,


mas eu sabia onde estávamos indo, e a última coisa que eu queria era
uma audiência para o primeiro beijo que Elizabeth e eu iríamos
compartilhar em seis anos.

Elizabeth estava tão envolvida no momento, eu tenho certeza que


ela não tinha sequer percebido que Matthew e Natalie estavam de pé
na soleira da porta com a boca aberta.

Passando uma mão frustrada pelo meu cabelo, eu olhei para a


parede oposta, na esperança de acalmar o meu coração, para reprimir
o rugido gritando através de minhas veias, exigindo Elizabeth.

Quando olhei para trás, Matthew permaneceu congelado na


porta e parecia estar estudando Elizabeth. Natalie quebrou a tensão,
passando por debaixo do braço do marido, e entrando no quarto para
abraçar Elizabeth, como se ela não tivesse acabado de entrar em um
dos momentos mais importantes de nossas vidas. "Feliz aniversário,
Liz. Você está pronta para ir?"

Eu vi como Elizabeth assentiu e retornou o abraço de Natalie,


antes de recolher sua bolsa e suéter preto da mesa de entrada. Ela
A.L. JACKSON

olhou para mim com cautela. Mais uma vez, nós dois fomos
impulsionados de volta para o desconhecido, incertos de onde
estávamos.

Ofereci-lhe um sorriso gentil, esperando que lhe dissesse que eu


entendia, que eu também estava assustado, mas que eu estava
parando de desperdiçar o tempo – parando de desperdiçar noites sem
aqueles que eu amava.

Eu embarquei no voo após o funeral do meu pai com uma


determinação recém-descoberta, uma promessa muda para minha
filha e para Elizabeth, que eu iria finalmente fazer isso direito.

Era hora de tomar de volta a minha família.

Natalie se aproximou com um sorriso de quem sabia, passou um


braço em volta da minha cintura e sorriu ironicamente para mim.
Passando um braço em torno de seus ombros, eu a abracei ao meu lado
e sorri para a menina que tinha se tornado minha amiga, minha
confidente, a única que parecia querer Elizabeth e eu juntos. Eu deixei
cair meu braço do seu ombro para apertar a mão de Matthew. Seu
aperto era firme, mas não tinha qualquer animosidade. Seus olhos
correram para Elizabeth antes que retornar para mim quando ele
apertou minha mão. Era claro que ele sabia exatamente o que tinha
ocorrido entre Elizabeth e eu quando ele entrou pela porta. Ele apertou
uma vez antes de soltar minha mão e balançar a cabeça de forma quase
imperceptível, parecendo estar me dando uma bênção e um aviso - uma
declaração de que ele não iria ficar no nosso caminho, mas também
estava claro onde sua lealdade estava.

Seu protecionismo não me incomoda, porque minha lealdade


estava no mesmo lugar. Eu encontrei seus olhos com um aceno.

Natalie e Matthew sufocaram Lizzie com amor e despedidas,


fazendo-a rir conforme eles brincavam com ela, dizendo-lhe para se
certificar de que ela cuidasse muito bem de seu pai enquanto eles
estavam fora.

Elizabeth levou Lizzie nos braços, abraçou, passou a mão através


do cabelo de nossa filha. "Tenha um grande momento com o papai."
A.L. JACKSON

Elizabeth parecia incerta quando ela se levantou e se virou para


mim. Vacilantes emoções cintilaram em seu rosto — necessidade, amor
e muito medo. Eu tinha reconhecido o medo em seu toque quando a
afastei, o medo que tinha raízes profundas e se agarrava a ela como
uma doença.

Eu gastaria minha vida levando-o para fora.

Estendendo minha mão, eu a agarrei, puxei a para o meu peito,


e murmurei contra seu ouvido, "Estarei esperando."

Reticente, soltei a mão dela com uma respiração pesada e vi


enquanto os três saíam pela porta da frente. Eu rezei para que eles
ficassem seguros, e contei com Matthew para trazer minha garota para
casa com segurança para mim, recusando a súbita onda de
possessividade que senti quando percebi que eu não seria aquele a vê-
la na pista de dança com seus amigos ou aquele que estaria lá para
comemorar seu aniversário. Era chocante o quanto eu ansiava por ser
o homem em seu braço. Mas a última coisa a que eu tinha direito era
ciúme, então eu forcei esses pensamentos para longe e olhei para
Lizzie, que me estudava com uma curiosidade astuta de onde ela se
inclinava sobre o encosto do sofá.

Sorri para minha preciosa filha. "Acho que é só você e eu esta


noite, Lizzie."

Lizzie arrastou-me para a cozinha e ajudou a preparar o nosso


jantar, uma caixa de macarrão, molho branco, e brócolis frescos
cortados. Ela sorriu para mim do outro lado da mesa conforme nós
comemos a nossa refeição simples. Afeto inchou quando eu
compartilhei a noite com minha doce e amável menina. Eu escutei suas
palavras simples, tão honestas e puras, e agradeci a Deus pela graça,
porque eu sabia que não havia nada que eu fiz para merecer o sublime.
Lizzie perguntou sobre New York — como seria e o que veríamos. Então,
em uma voz tranquila, ela perguntou "Você vai segurar minha mão no
avião? Eu estou com medo, papai. Eu nunca estive em um avião antes."
Eu sorri para a minha filha, passei a mão através de sua franja, e
respondi "Só se você segurar a minha".
A.L. JACKSON

Depois do jantar, eu a ajudei a colocar seu casaco e saímos para


o ar fresco da noite. De mãos dadas, nós seguimos pela calçada ao
pequeno parque no fim da rua. Eu a empurrei alto nos balanços,
persegui-a sobre as colinas gramadas, saboreei seu riso quando eu a
peguei no fim do escorregador. Meu espírito dançava enquanto
brincávamos, regozijado com esse presente, meu coração sempre
devotado a essa preciosa criança.

Quando Lizzie começou a tremer, voltamos para casa e subimos


as escadas onde a banhei no banheiro de sua mãe. Eu enchi a banheira
com bolhas e seus pequenos brinquedos de banheira e não me importei
quando seu jogo indisciplinado molhou minha camisa. Eu a deixei
respingar e ensopar até que seus dedos tinham enrugado e a água
tinha ficado fria.

"Venha aqui, querida", eu gentilmente chamei e a ajudei a sair


em segurança da banheira, e a envolvi em uma enorme e macia toalha
branca. Passei sobre sua pele úmida e sequei seus cabelos,
perguntando como eu havia me tornado tão sortudo, que em menos de
um ano a minha vida tinha ido de completamente vazia até
transbordante.

"Eu te amo tanto, papai", ela professou quando ela espiou para
mim através da toalha enrolada em volta da cabeça e do corpo
enquanto eu a levava para o quarto.

Inclinei para baixo, eu beijei sua testa e a pressionei para o meu


peito. "Eu te amo mais do que qualquer coisa, Lizzie."

Olhos penetrantes sondaram meu rosto quando ela sussurrou


"Mas você ama a mamãe também."

Meus pés vacilaram, congelados, espantado com a percepção


pungente da minha pequena filha, longe de estar alheia, sempre
consciente.

Eu deveria saber que ela teria notado a mudança entre Elizabeth


e eu na última semana, o recém-afeto, os abraços, os nossos toques
tímidos.
A.L. JACKSON

Engolindo o nó na garganta, eu balancei a cabeça e encontrei seu


olhar esperançoso. "Sim, Lizzie... Eu... Eu amo muito sua mãe."

Eu nunca tinha falado isso em voz alta para Lizzie antes, com
medo de criar expectativas e preocupado que Elizabeth e eu nunca nos
reconciliaríamos, e que continuássemos como parceiros e pais de Lizzie
— Amigos, como Elizabeth nos tinha considerado de alguma forma.

Mesmo que Elizabeth reivindicasse isso, ela deveria saber que


não havia chance de que poderíamos simplesmente permanecer
amigos.

Ela era minha, sempre foi, e eu sempre tinha sido dela. Apesar
do que eu tinha feito, das feridas que eu tinha infligido, ela sempre
tinha sido minha. Quando eu tinha deitado com outras mulheres e ela
com outros homens, nossos corações estavam amarrados, um vínculo
que nenhum de nós poderia escapar.

Eu acho que eu sabia o tempo todo que um dia estaríamos juntos


novamente, e como minha mãe tinha dito, iria levar tempo e paciência.
Quando Elizabeth percebeu isso, eu não tinha certeza. Talvez ela
tivesse percebido isso em algum lugar ao longo do caminho conforme
nós compartilhávamos nossa filha, quando ela me ensinou como ser
um pai e o que lealdade e compromisso realmente significavam. Talvez
ela tivesse sentido quando meu pai morreu e seu coração tinha
sangrado tão livremente por mim ou talvez no abraço que ela me
recebeu quando eu retornei — certamente, no momento em que ela me
beijou naquela mesma noite.

Tinha levado cada grama de determinação para eu ficar quieto,


para não puxar seu corpo contra o meu, fingir que permanecia
adormecido, fingir que o calor de seus dedos não tinha me trazido à
consciência, para fingir que eu não sentia a sua boca sobre a minha.

Eu tinha sido forte o suficiente para dar-lhe esse momento e


permitir a ela o espaço para lidar com as emoções que não poderiam
mais ser contidas. Eu tinha escutado seu choro no quarto acima de
mim enquanto eu saboreava o sal de suas lágrimas em meus lábios,
silenciosamente prometendo-lhe, uma e outra vez, que um dia eu
apagaria essa dor.
A.L. JACKSON

Eu coloquei Lizzie em sua cama, alisei os cabelos úmidos de seu


rosto, e disse a ela novamente que eu a amava.

Bocejando, ela se aconchegou em suas cobertas enquanto eu


puxava-as para o queixo dela e murmurou "Noite, papai. Vejo você de
manhã." A ideia dela proclamando isso a cada noite me deixava tonto
de alegria.

"Durma bem, Lizzie."

Em sua porta, eu vi quando ela adormeceu antes que eu


desligasse a luz. Deixei a porta entreaberta e desci as escadas. Olhei
para o relógio do micro-ondas e peguei uma garrafa de cerveja na
geladeira.

Apenas dez horas.

Paciência.

Eu esperei por meses — por anos, realmente — eu podia esperar


mais algumas horas.

Eu deslizei a porta traseira aberta, deixei uma abertura no caso


de Lizzie acordar, e arrastei uma cadeira para a borda do pátio. Eu me
inclinei para trás para olhar para o céu noturno que era uma névoa
ictérica com o brilho das luzes e derrubei minha cerveja em minha boca
enquanto eu ouvia o barulho da cidade — cães latindo para os
transeuntes, o zumbido da rodovia alguns quilômetros longe, uma
ambulância aos berros à distância.

Fiquei imaginando o que Elizabeth estava fazendo, esperava que


ela estivesse segura, e desejei que ela estivesse em casa.

Pensei na cicatriz acima do olho, o que me tinha torcido em nós


na noite passada, me deixou doente com raiva e sedento de vingança
antes de suas palavras de meses atrás viessem à minha mente.

Ninguém nunca me machucou tanto como você me machucou


Christian. Ninguém.

Eu me odiava mais, sabendo que eu a tinha marcado mais


profundamente do que a desfigurada evidência de abuso em sua pele.
A.L. JACKSON

Mas, de alguma forma, seu coração era mais profundo do que


isso, mais profundo do que a minha traição, e ela tinha me confortado.

Respirando o ar úmido, eu drenei minha cerveja, levantei-me e


entrei para pegar outra.

Apenas onze.

Eu me deixei cair no sofá, liguei a televisão, passando pelos


canais, e ouvi um apresentador falando as notícias. Tomei um gole da
minha garrafa, deixando-a declinar em minha inquietação e acalmar
minha impaciência.

Na minha terceira viagem à cozinha, ouvi o barulho de chaves, o


deslizar de metal, e uma onda de risadas inundando a sala. Eu tirei a
tampa da garrafa da cerveja e joguei-a de lado enquanto eu me movia
para inclinar-me com meu antebraço contra a arcada para ver Natalie
se balançando e rindo com Elizabeth que estava atrás dela. Matthew
as seguiu, balançando a cabeça em uma aparência que parecia uma
leve diversão, suas mãos cheias de sacos de presentes.

Eu não podia deixar de sorrir.

Matthew olhou em minha direção e revirou os olhos quando


Elizabeth e Natalie caíram em outro ataque de riso e ele olhou para elas
novamente com afeto inquestionável. "Eu acho que nossas meninas
podem ter tido um pouco de bebida demais esta noite", disse ele ao
colocar os sacos de lado.

Natalie segurou na parte de trás do sofá e tentou recuperar o


equilíbrio nas botas ridiculamente altas que usava, rindo quando ela
acusou "Você está louco porque você era DD4."

Elizabeth colocou os braços ao redor da cintura dele e beijou sua


bochecha. "Não, sério, obrigada por ter dirigido, Matt. Eu tive um
grande momento."

Ela sorriu para ele quando ele a beijou no alto da cabeça dela.
"Não tem problema, Liz. Feliz Aniversário."

4
DD = “Designated Driver” – É o “motorista da rodada”, pessoa responsável por dirigir para um grupo durante uma
noite de festa. Para a segurança do grupo, o motorista da rodada não pode ingerir bebidas alcoólicas durante a noite.
A.L. JACKSON

Natalie riu aparentemente por nenhuma razão e oscilou no meio


do chão.

"Whoa, lá." Matthew estava imediatamente atrás dela, apoiando-


a quando ele a puxou de volta para seu peito. Ele a abraçou e espalmou
as mãos sobre a sua barriga enquanto ele enganchou seu queixo sobre
o ombro. "Eu acho que seria melhor levar esta para casa." Ele esfregou
seu pescoço e a fez rir antes dele fazer um sinal com a cabeça na minha
direção. "Você vai ficar aqui esta noite?"

Acenei minha garrafa meio vazia no ar e balancei a cabeça. "Sim.


Eu tive um par destas".

Não que eu estivesse indo a qualquer lugar de qualquer maneira.

"Bom." Sem amargura, sem desconfiança.

Natalie cambaleou para frente, me abraçou, e deu um passo


atrás para franzir os lábios e apertar meu queixo e depois virou-se para
beijar Elizabeth em sua bochecha.

Eu reprimi uma risada. Matthew estava com as mãos cheias esta


noite.

Eu apertei sua mão e bati no seu ombro. "Dirija com cuidado."

"Com certeza... Vejo vocês dois amanhã." Com um desejo final de


feliz aniversário para Elizabeth, ele passou um braço em volta da
cintura de Natalie e a levou para fora da porta.

Na sua ausência, ficou um silêncio carregado. Elizabeth olhou


para o chão, remexendo em ansiedade.

Eu não queria que ela se sentisse desta forma, pressionada ou


coagida, e eu soube então que nossa reunião não poderia ser esta noite.
Mesmo que nós dois soubéssemos que ela era minha, que eu era dela,
era óbvio que ela ainda não estava pronta.

Paciência.

"Você teve um bom tempo?" Eu perguntei para quebrar a tensão,


enquanto atravessei a sala e reuni os presentes para levá-los para a
cozinha. Dei-lhe um sorriso gentil.
A.L. JACKSON

Está tudo bem, Elizabeth, eu já sei.

Eu coloquei os sacos coloridos sobre a mesa da cozinha e espiei


através dos pedaços de papel de seda nas garrafas de vinho, sabonetes,
loções perfumadas e lingerie. Elizabeth falou por trás de mim, onde ela
ficou parada na porta. "Sim... Nós nos divertimos muito." Ela riu,
principalmente para si mesma. "Mas meus pés realmente estão
machucados. Estou ficando velha demais para isso."

Rindo de sua afirmação, eu olhei um pouco mais de suas coisas.


Eu gostaria de poder ter estado lá para vê-la abrir os presentes e, de
alguma forma, ter estado com Lizzie, ao mesmo tempo.

Eu puxei uma garrafa de vinho tinto de um saco do presente,


inspecionando o rótulo, e virando em direção a ela quando eu levantei.
"Devemos?"

Eu sabia que provavelmente não deveríamos, que nós dois


bebemos o suficiente, mas eu ainda não queria lhe dizer boa noite.

Sua boca se contraiu em um canto. "Você sabe que Scott deu


isso para mim?"

Olhei entre ela e a garrafa e levantei uma sobrancelha.

"Bem, então nós definitivamente deveríamos."

Por alguma razão, minha provocação pareceu deixar ela


relaxada, e eu vi a tensão sair de seus olhos e derreter de seus
músculos. Ela balançou a cabeça e riu levemente quando atravessou a
sala e colocou-se sobre o balcão da cozinha.

Engoli em seco e tentei me orientar, para manter o controle.

Ela era tão linda. Muitas vezes eu tinha visto ela sentada no
balcão, conversando com Natalie e rindo, mas nunca vestida assim.

Tentei não encarar ao vasculhar a gaveta ao lado da pia atrás de


um saca-rolhas, embora eu não pudesse deixar de roubar olhares. Ela
se inclinou para frente com as mãos segurando a borda do balcão, suas
pernas longas e delgadas expostas todo o caminho até as coxas. Ela
virou lentamente, e as costas de seus saltos pretos batiam
ritmicamente contra o armário debaixo dela, a curva de seus seios
A.L. JACKSON

espreitando para fora do topo de sua blusa, um branco irresistível


próximo a tentação.

Ela usava um sorriso tímido enquanto me observava abrir o


vinho, a cabeça inclinada para me encarar, cachos loiros caindo para
um lado. Enchi dois copos, entregou-lhe um, e sussurrei "Feliz
aniversário, Elizabeth." Eu fiz tim - tim com o copo dela.

Ela tomou um gole enquanto olhava para mim. "Não é meu


aniversário mais."

Fechei os olhos, lutando para respirar, e dei um passo para


colocar alguma distância entre nós.

Era claro o que estava fervendo logo abaixo da superfície, o que


pairava no ar. Eu sabia que deveria acabar com isso e dizer-lhe boa
noite.

Em vez disso, olhei para ela, sorri e encontrei uma desculpa para
mantê-la por alguns minutos mais. "Conte-me sobre esta noite?"

Eu assisti o movimento de sua boca enquanto ela me contou


sobre sua festa, seus amigos, família, as coisas que foram ditas, e as
coisas que foram feitas. Vi quando ela levou o copo aos lábios
novamente e novamente. O tempo passava, os tópicos mudavam,
derivando para velhas histórias da faculdade, os lugares que tínhamos
ido, a diversão que tínhamos compartilhado. Nós rimos e brincamos.
Tornei a encher a taça, recarregando a minha, abri outra garrafa, ouvi
como suas palavras começaram a ficar arrastadas, assim como a
minha mente se tornou lenta.

Eu estava muito relaxado, me sentia muito bem — amei o som


de sua voz. Fui atraído, me aproximando mais, querendo mais.

Eu encontrei-me de frente para ela, de pé entre suas pernas.


Defini o meu vinho de lado e apertei as palmas das mãos sobre a
bancada. Meus polegares suavemente escovando o lado de fora de suas
coxas e suas panturrilhas passando em meu jeans conforme se moviam
lentamente para frente e para trás. Sua boca era sedutora, os olhos
escuros.
A.L. JACKSON

Precisando vê-la, eu estendi a mão e afastei o véu de cabelo


obstruindo seu belo rosto. Ela inclinou a cabeça para o movimento,
convidando o contato. Eu corri a parte de trás da minha mão por sua
bochecha e seus lábios e respirei seu nome. "Elizabeth."

Ela tremia enquanto hesitantemente levantou a ponta dos dedos


para tocar meu rosto e, em seguida, segurar meu queixo.

Nossas respirações encheram a sala, pesadas e com fome. Seus


olhos cintilaram sobre o meu rosto, descansando sobre o local que ela
me tocou. Sob seu toque, minha pele queimava como fogo. Ela olhou
para mim quase em reverência, como se tivesse esquecido o poder da
nossa conexão, esquecido que, juntos, nos sentíamos assim.

Fomos tolos quando pensamos que poderia ser contido.

"Elizabeth..." Eu sussurrei, desta vez implorando.

Por favor.

Eu precisava dela e estava desesperado para senti-la.

Não tenha medo.

Ela levou a outra mão para segurar meu rosto e molhou os


lábios.

Quando ela se inclinou, eu me aproximei, inclinei minha cabeça


e gentilmente rocei meus lábios contra os dela, beijando minha garota
pela primeira vez em mais de seis anos. Seus lábios eram suaves, assim
como eu me lembrava, tinha gosto de vinho e a poderosa doçura do
espírito de Elizabeth. Meu coração saltou e emaranhou com o dela
enquanto seus dedos se enroscavam em meu cabelo. Nossas bocas
eram hesitantes, cautelosas e lentas.

Eu queria mais.

Minha língua testou, e eu gemi em sua boca quando a ponta da


língua de Elizabeth roçou a minha.

Sim.
A.L. JACKSON

Atingido com uma onda de luxúria, eu afundei meus dedos na


pele nua de suas coxas e a puxei para a borda do balcão, minha boca
agressiva contra a dela.

Minha. Finalmente ela era minha.

Suas mãos criaram o pior tipo de desejo enquanto vagavam pelo


meu corpo, pelos meus ombros e pelas minhas costas. Ela me levou
até a borda da sanidade, enquanto ela apertava as palmas das mãos
no meu peito e abaixo do meu estômago, então serpenteou suas mãos
debaixo da minha camisa enquanto ela envolveu suas pernas em torno
da minha cintura.

Eu estava fora, perdendo todo o controle em uma névoa de álcool


e luxúria e desejo reprimido, meu corpo faminto pelo dela por muito
tempo. Sua saia frágil foi subindo sobre seus quadris e sua calcinha de
renda preta pressionadas contra meu jeans conforme a minha boca
procurou cada centímetro exposto de sua pele aquecida.

Ainda assim, eu queria mais.

Eu puxei o topo de sua blusa, expus o botão rosado de seu peito


perfeito, e o levei em minha boca.

Mais.

Minhas mãos se precipitaram sobre a suavidade sedosa de suas


pernas, meus polegares correndo círculos desesperados na parte
interna de suas coxas enquanto meus dedos cavavam em sua pele
macia.

Elizabeth gemeu e puxou minha camisa sobre a minha cabeça.

Mais.

Eu ofeguei em sua boca enquanto deslizei dois dedos sob a borda


de sua calcinha e no calor de seu corpo.

Ela engasgou, apoiando-se em meus ombros. Eu puxei para trás


apenas uma fração, procurando seu rosto enquanto meus dedos
percorreram seu corpo.

Você quer isto?


A.L. JACKSON

Ela respondeu atacando meu cinto e correndo através do botão


da minha braguilha.

Eu encontrei sensibilidade suficiente para sussurrar contra sua


boca, "Não aqui." Minha boca caiu de volta para a dela quando eu a
puxei a partir do balcão. Ela cambaleou ao definir os pés no chão.
Segurei-a para cima, as mãos nos quadris enquanto empurrava-a para
trás e a pressionei contra a parede oposta, beijando-a com força. Ela
disse o meu nome, amarrando junto, e enviou meu coração batendo no
meu peito. "Christian... por favor."

Virei-a novamente. Freneticamente beijando-a enquanto eu a


seguia pela sala de estar. Eu me atrapalhei com os botões da blusa
conforme nós tropeçamos até as escadas e cai com ela chão do quarto.

Em algum lugar dentro de mim, eu sabia que deveria ser


diferente disso. Eu sabia que não deveria empurrar a calcinha por suas
pernas e sua saia até sua cintura. Eu sabia que sua blusa não deveria
ser deixada aberta, seu sutiã esticado debaixo de apenas um peito,
minhas calças de brim empurradas até minhas coxas.

Eu sabia que não deveria empurrar dentro dela, frenético,


gemendo com o quão bom era.

Eu deveria ter ouvido algo em seus pequenos gritos de prazer,


enterrados em algum lugar abaixo da superfície. Mesmo nas sombras
de seu quarto escurecido, eu deveria ter lido em seu rosto quando ela
gozou, encontrado horror em seus olhos no momento seguinte.

Eu sabia que a beleza de Elizabeth não deveria ser desperdiçada,


que ela deveria ser saboreada e acarinhada.

Mas eu estava muito distraído, muito consumido por sua pele,


por sua suavidade, por seu calor — por tudo que ela estava finalmente
me dando — o que eu não podia mais viver sem. Eu penetrei nela rápido
e duro, uma liberação apressada. Eu gritei para a escuridão de seu
quarto e cai em cima dela, buscando por ar.

Beijei sua boca fechada e passei minha mão pelo cabelo atado,
desejando que eu tivesse pensado em lhe dizer que a amava muito
antes de agora.
A.L. JACKSON

Murmurei isso contra a sua boca.

Ela silenciosamente assentiu em troca.


A.L. JACKSON

Abri meus olhos e os apertei contra os fracos raios de luz


matutina que entravam através das persianas no quarto escuro. Eu
fechei os olhos e apertei a palma da minha mão em minha têmpora
esquerda em reação à dor afiada que eu sentia, como se estivesse
dividindo minha cabeça em duas.

Eu tentei sentar-me, mas o quarto girou e me prendeu de volta


para baixo. Piscando, eu tentei me orientar. Memórias da noite de
ontem inundaram e tomaram conta de mim em ondas de náuseas e
vergonha, o balcão da cozinha, no chão do quarto.

Oh meu Deus, veio como um grito do fundo da minha alma.

O calor abafou minha pele, seu peito nu queimando minhas


costas no local onde nos tocamos, seu braço pendurado sobre minha
cintura. Profundas e pesadas respirações soaram contra a minha
orelha e se espalharam pelo meu rosto, seu pulso era um tremor
constante.

Oh meu Deus. Apertei minha mão na minha boca para sufocar


um grito.

Tentei me desembaraçar de suas garras sem acordá-lo. Eu


congelei quando ele apertou seus braços em volta de mim. Murmúrios
ininteligíveis saíram de sua boca, e eu prendi a respiração enquanto
escorregava de sua mão e levantava da cama. Eu segurei minha cabeça
em minhas mãos para combater outra onda de tontura.

Christian gemeu e murmurou, rolando de bruços, e enterrou a


cabeça em meu travesseiro. O lençol descobriu até sua cintura,
A.L. JACKSON

revelando a borda da sua cueca boxer preta e expondo os contornos


definidos de seus ombros largos que afunilavam nas costas estreitas.

Oh meu Deus.

Com os joelhos fracos, eu me firmei com o meu braço contra a


parede. Olhei para mim mesma em desgosto, incapaz de me lembrar
como eu tinha acabado em um top e calcinha, incapaz de me lembrar
de como eu tinha chegado na minha cama.

Como eu permiti que isso acontecesse, permiti ele tratar-me


desta maneira? Eu deveria saber que ele era apenas o mesmo, e que
ele nunca iria mudar.

Na minha vergonha, eu tropecei para o banheiro, tremendo


enquanto envolvi meu corpo trêmulo em um robe preto que cobria as
pernas até os meus joelhos. Amarrei o cinto e, em seguida, agarrei-me
à porta do banheiro enquanto eu olhava para fora, para o belo homem
dormindo na minha cama.

Eu senti meu coração quebrar novamente.

Por quê? Por que ele tinha que estragar tudo? Eu tinha visto isso
vindo como uma tempestade que se agita no mar, apenas alguns dias
antes de chegar até a terra firme. Ele nos virou de cabeça para baixo,
sorriu com intenções desonestas, empurrou até que eu tinha caído
sobre a borda, esperando até que eu confiasse novamente para atacar.

Eu soube o tempo todo onde essa confiança me levaria, que ele


riria em meu rosto enquanto ele a jogava fora.

Era tudo apenas um jogo?

Olhei para o local onde ele me tratou como lixo, onde ele tinha
me fodido no chão do meu quarto. Como lixo a ser jogado de lado, ele
tinha derramado em mim sem um segundo pensamento.

Assim como anos antes. Nós tínhamos ido a um bar da


faculdade, bebemos até que nós cambaleamos de volta para seu
apartamento, rindo, beijando, imprudentes. Nem sequer tínhamos
pensado no que tínhamos esquecido até que tudo terminasse.
Christian tinha encolhido os ombros como se não fosse nada, e eu tinha
A.L. JACKSON

empurrado para o fundo da mente até que eu não poderia ignorá-lo


mais.

Ele me deixaria, como antes.

E mais uma vez eu estaria sozinha.

Eu confiei nele cegamente até o momento em que ele me


expulsou, e eu sabia que não poderia esperar nada diferente desta vez.

Forçando-me pelo corredor, eu deslizei minha mão na parede


para me apoiar. Fechei a porta de Lizzie com um clique suave e senti
algo fragmentando dentro de mim, com se as velhas feridas rasgadas
fossem abertas. Eu mal conseguia suportar o dilúvio de lembranças, o
fardo que carregava, todas as feridas internas infligidas pela vontade
de Christian.

Tudo girava enquanto eu segurava o corrimão e descia


lentamente cada degrau. Minha cabeça latejava com o pulsar e o
martelar de sangue em meus ouvidos. Isso virou meu estômago e
azedou minha boca.

Eu corri pela sala de estar e purguei minha culpa e ressaca no


banheiro térreo, enquanto eu me repreendi por ser tão tola para ceder.

Eu não deveria ter esperado nada diferente ou nada melhor.

Nos pés instáveis, eu me levantei e segurei a pia enquanto jogava


água fria no meu rosto e enxaguava minha boca. Eu amarrei meus
cabelos emaranhados e prendi com uma liga antes de eu procurar no
armário de remédios por uma garrafa de ibuprofeno. Sacudindo,
coloquei quatro comprimidos na minha boca e segurei minhas mãos
sob a torneira para colher água e engolir.

Lágrimas picaram meus olhos quando eu olhei para o espelho e


limpei a boca com uma toalha, sem saber se eu iria sobreviver desta
vez.

Arrastei-me para fora e fui recebida com os restos da noite


anterior — duas garrafas de vinho vazias, dois copos deixado pela
metade, a camisa de Christian descartada no chão.
A.L. JACKSON

Inclinando-me, eu peguei a camisa e fechei os olhos quando a


apertei contra a minha boca e nariz, inalando a doçura do homem que
nunca iria parar de quebrar meu coração.

Eu endureci quando senti sua presença, e, em seguida, ouvi o


suspiro pesado que parecia algo como alívio através da sala. Seus
movimentos foram subjugados quando ele se moveu pela cozinha.

Eu vacilei quando ele passou os braços em volta de mim por trás,


enterrando o nariz no meu pescoço, e sussurrou: "Bom dia." Parecia
uma carícia na minha pele.

Eu choraminguei, minha boca tremendo enquanto eu tomava


uma decisão antes que fosse tarde demais, forçando um quase
inaudível "Não me toque". A velha dor estava fresca, atormentando
minha fraqueza, insultando o erro que eu tinha cometido em permitir
ele em minha casa e de volta à minha vida, zombando de quão
facilmente eu entreguei meu coração.

Ele endureceu, mas não recuou. Eu o senti tremer, engolir,


entender. "Por favor, Elizabeth, não faça isso."

Meu cabelo escovou sobre o seu peito nu enquanto eu


lentamente balancei a cabeça. Por um breve momento, o meu desejo
confundiu minha resolução, o fogo contínuo que queimava entre nós,
um lembrete de quão mal isso ia doer.

Mas eu seria forte o suficiente para acabar com isso agora, antes
que ele destruísse completamente Lizzie e eu, enquanto Lizzie ainda
tinha uma chance de se recuperar. Com o tempo, ela vai se curar,
embora eu soubesse que eu não o faria. Nenhuma quantidade de tempo
pode desfazer a devastação que senti quando me virei para ele e me
soltei de seu aperto, cuspindo as palavras enquanto avancei novamente
em sua direção, batendo a camisa contra seu peito. "Eu quero você fora
da minha casa... fora de nossas vidas".

Ele parecia balançar, perdendo o equilíbrio. Seu rosto se


contorceu em agonia quando ele primeiro olhou para o chumaço de sua
camisa em seus punhos e depois de volta para mim. Era assim que eu
parecia quando ele me jogou de lado? Foi assim que o choque do
A.L. JACKSON

desgosto parecia? Ele poderia sentir da maneira que ele me fez sentir?
Ele poderia entender?

Sua expressão mudou e se fixou em determinação enquanto ele


apertou sua mandíbula. "Não." Ele balançou a cabeça. "Eu não vou a
lugar nenhum, Elizabeth."

Fechei os olhos, recusando-me a ver o compromisso em seu rosto


quando eu forcei as palavras. "Saia."

Eu abri meus olhos, puxando para frente as memórias do que


ele tinha feito. Lembrei-me da expressão calcinada em seu rosto
quando ele me disse para escolher ele ou minha filha. Lembrei-me de
me sentir sozinha, doente e assustada. Lembrei-me da sensação de
lutar pela vida da minha filha.

Eu tinha desistido dos meus objetivos, não por causa da minha


filha, mas porque ele tinha sido muito covarde para defender o que era
certo, porque ele se recusou a assumir a responsabilidade por sua
família. Eu me agarrei a longos segredos suprimidos de vergonha. Eu
tinha escondido da minha família o quão ruim foi meu começo com
Lizzie. Quando eu já havia pedido muito à minha família, eu passei
fome porque eu não podia me dar ao luxo de alimentar a nós duas.
Quando Lizzie e eu tínhamos sido expulsas de nosso pequeno
apartamento, eu tinha vagado pela noite, sentindo-me envergonhada
demais para dizer a minha mãe e Matthew que eu tinha falhado
novamente, e eu ainda acabei na casa de Matthew às quatro da manhã.
Foi então que Matthew e Natalie nos levaram para morar com eles. Eu
me apeguei às lembranças do sacrifício deles — um sacrifício que
Christian não tinha sido homem o suficiente para fazer.

Andei para frente, o forçando para a sala ao lado, e deixar tudo


transbordar. "Saia!"

Desta vez, ele implorou, estendeu a mão para mim e tentou me


conter em seus braços. "Não, Elizabeth. Eu não vou deixar você, não
desta vez. Eu te amo... Oh meu Deus, por favor, não faça isso."

Lutei contra ele e me retorci para fora de seu aperto, recusando-


me a permitir que ele me convencesse de algo diferente do que ele me
mostrou na noite anterior — lembrei-me da troca de cinco minutos no
A.L. JACKSON

chão do meu quarto onde ele me recordou do quão pouco eu realmente


significava para ele e deixei que a raiva escorresse livre.

"Eu te odeio."

Ele saltou para trás liberando-me como se tivesse sido picado.

Eu não parei, mas vomitei minha raiva. "Como se atreve a vir


aqui e virar minha vida de cabeça para baixo... Me levando... Me
fazendo acreditar que você tinha mudado. Eu confiei em você, e no
segundo que eu estava vulnerável, você se aproveitou!"

Seus olhos estavam arregalados de choque quando eles voaram


para encontrar a fúria torturada os meus. "O quê?", Ele perguntou em
voz baixa quando ele deu dois passos para frente. "É isso que você acha
que a noite passada foi?" Seus olhos se estreitaram, e eu me encolhi
quando ele deu outro passo que me tinha presa contra a parede. "Não
se atreva a ficar lá e agir como se você não quisesse tanto quanto eu,
Elizabeth... Fingir que isso..." — ele fez um gesto descontroladamente
entre nós — "Já não estivesse acontecendo. Sim, as coisas ficaram um
pouco fora de controle na noite passada, mas isso não muda nada."

Ele estava certo. Nada tinha mudado. Ele era o mesmo. Ele
prometeria seu coração até que não lhe fosse mais adequado. Tomaria
o que quisesse e jogaria fora o que não queria.

Ele nunca vai ficar.

Derrotada, eu deslizei pela parede e enterrei a cabeça em minhas


mãos, incapaz de parar a corrida de emoção. Ele nunca vai ficar. Eu me
senti despedaçando enquanto as lágrimas escorriam
descontroladamente pelo meu rosto e a realidade da minha loucura
afundou e se tornou real. Eu sussurrei de novo "Eu te odeio."

Christian se inclinou, seu nariz quase tocando o meu, sua voz


como fogo. "Você é uma mentirosa." Ele olhou para mim com raiva
inconsolável e apontou para o quarto de Lizzie. "Eu te amo, Elizabeth,
mas você precisa saber... Eu vou lutar por ela."

Apertando os olhos fechados, eu coloquei de volta as paredes que


ele tinha derrubado, não querendo ouvir o que ele disse. Eu me perdi
A.L. JACKSON

na autopiedade, nos meus erros, em sua traição. Na minha mente, eu


o vi como o menino egoísta que tinha me rasgado.

Ele nunca vai ficar.

Meus gritos torturados não fizeram nada para abafar o eco dos
pés de Christian enquanto ele se afastava, levando consigo o último
pedaço do meu coração. A porta da frente rangia em suas dobradiças
quando ela se abriu, provocando, Ele está deixando você.

Eu não poderia ter imaginado que qualquer coisa poderia ter


doído mais do que o que acabara de acontecer, que poderia haver algo
mais doloroso do que cortar Christian da minha vida.

Mas eu deveria saber melhor, saber que só iria piorar.

Eu lutei por determinação, por um jeito de ficar forte quando


Lizzie de repente apareceu na escada, pânico no clamor de seus pés e
na inundação da histeria de sua boca.

"Não! Papai, não vá!"

Christian virou na porta como se estivesse em câmera lenta.


Todas as cores drenando de seu rosto quando ele caiu de joelhos para
pegar Lizzie em seus braços. Ela se agarrou a seu pescoço e chorou
novamente, mal coerente quando ela implorou: "Não me deixe, papai!
Por favor, não me deixe!"

A náusea de antes ressurgiu quando eu me deitei molemente


contra a parede, desconectada, e assisti a minha filha desmoronar
enquanto Christian tentou segurá-la junta.

Ele embalou, sussurrou contra sua cabeça, e prometeu: "Vai


ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem."

Ele se afastou com um falso sorriso. "Eu vou voltar, querida.


Pode demorar um pouco, mas eu prometo que vou voltar."

Lizzie segurou mais apertado. "Por favor, fique comigo, papai."

Ele engasgou com seu apelo e a abraçou contra seu peito. Por
cima do ombro, ele me implorou com os olhos.
A.L. JACKSON

Eu desviei o olhar.

Ele nunca vai ficar.

Eu tinha que acabar com isso agora por causa dela — e por mim.

"Eu não posso agora, princesa. Mamãe e papai só precisam de


um pouco de tempo separados." Seus olhos esvoaçavam sobre o rosto
dela enquanto colocava um pedaço de cabelo atrás da orelha. "Tente
não ficar triste e basta lembrar que, não importa o que, papai te ama."

Então ele se levantou e saiu pela porta.

Com o clique do trinco, um soluço irrompeu de Lizzie, e ela


correu para a janela. Ela apertou o rosto contra o vidro, sua voz
pequena e quebrada. "Papai". Ela intensificou a cada respiração
enquanto ela repetidamente chamou por ele, "Papai... Papai... Papai!"

Quando ele afastou o carro da garagem e seus pneus cantaram


na estrada, ela deslizou para o chão, onde seus gritos se tornaram
confusos e distorcidos, um eco do meu próprio coração quebrando
saindo da minha menina que se balançava em uma bola no chão.

Por um breve momento, eu pensei que eu poderia morrer, que o


meu coração iria vacilar no meu peito, segurando como o castigo final
para o que eu tinha feito.

Eu tinha quebrado as duas pessoas que eu mais amava. Eu tinha


destruído a minha filha, destruído Christian, tinha arruinado o que eu
sabia que Christian e eu poderíamos ter tido — que eu sabia em algum
lugar sob o medo que já tínhamos construído — quebrado o meu
próprio coração.

Christian estava certo. Eu não o odeio. Eu me odiava.


A.L. JACKSON

Lizzie olhou para o prato intocado de comida na frente dela. Ela


não tinha dito uma palavra o dia inteiro, mas tinha deitado no chão
por incontáveis minutos ou horas enquanto eu tinha feito o mesmo
como resposta do impacto. Algum momento durante o dia, ela tinha se
mudado para seu quarto e tinha fechado a porta, me fechando fora. Eu
tinha dado seu espaço porque eu precisava disso também. Eu tinha
chamado por ela no andar de baixo quando eu tinha percebido que o
sol se pôs há mais de uma hora e ela não tinha comido o dia todo.

"Lizzie querida, você precisa comer", eu disse com minha voz


embargada com a rouquidão, e empurrei o prato mais perto dela. Por
favor.

O meu pedido foi recebido com silêncio, nenhuma reação, como


se eu não tivesse falado nada.

Eu me virei para esconder as lágrimas que se reuniram em meus


olhos. Eu pisquei e elas caíram. Limpei-as com as costas da minha
mão.

Meu celular tocou dentro da minha bolsa no balcão da cozinha.

Fechei os olhos, mas não antes de instintivamente procurar o


relógio na parede.

Sete quinze.

A noite foi longa e solitária, cheia de inquietação — muitos


pensamentos e muita mágoa. Christian perseguiu-me em meus
sonhos, assombrando-me, caçando-me, acordando-me quando ele me
balançava e exigia saber o porquê.

Eu tinha deixado a porta de Lizzie aberta, esperando que ela


chamasse por mim, precisasse de mim. Em vez disso, a mesma
tranquila aflição tinha escoado de seu quarto. Ela virava na cama,
A.L. JACKSON

gemendo através de seu sono sobrecarregado. No início da manhã, eu


a encontrei acordada, sentada na cama, de olhos vidrados e olhando
para o nada, enquanto balançava em seus braços a boneca que
Christian lhe dera.

Eu liguei para o trabalho, quase incapaz de formar uma frase


coerente, tal como eu disse a Anita que eu não estava me sentindo bem.
Ela riu e brincou que eu devia ter tido muita diversão na noite de
sábado para ainda estar sofrendo os efeitos na manhã de segunda-
feira. Resmunguei um fraco "Algo assim", antes de desligar o telefone e
desligar a minha cabeça, não tendo nenhuma ideia de como lidar com
o que eu sentia por dentro.

Meu intestino torcia em culpa quando eu deixei minha filha na


escola, ainda muda e com o rosto inexpressivo — dormente.

Mas eu deixei de qualquer maneira porque eu não podia suportar


ficar e enfrentar o que eu tinha feito.

Nossa praia estava quase deserta numa manhã de segunda-feira


de novembro. Sentei-me na borda da água com os braços envolvidos
em torno de meus joelhos. O vento picou meu rosto conforme ele
lambeu as lágrimas. Agarrei o meu telefone quando ele tocou, o vento
e as ondas abafando os sons em erupção da minha garganta enquanto
eu chorava quando o nome dele iluminou a tela novamente e
novamente.

Parei em frente a casa de Matthew e Natalie às cinco. A porta se


abriu um segundo mais tarde e Matthew saiu. Pressão parecia escorrer
dele quando ele me viu, antes disso mudar e os cantos de seus olhos
enrugarem em preocupação disfarçada com raiva. Ele me encontrou no
meio do caminho, exigindo saber o que estava errado com Lizzie, por
que ela não estava falando, e por que eu não tinha retornado suas
ligações durante toda a tarde.

Olhei para ele e sussurrei "Christian foi embora". Eu senti outro


pedaço de mim se soltar livre quando eu admiti isso em voz alta.

Christian foi embora, por causa de mim.


A.L. JACKSON

Fechei os olhos. Não, Christian fez isso, pensei,


inconscientemente apertando um punho enquanto eu tentava levantar-
me sob a culpa me comendo de dentro para fora.

"O quê?" Matthew adiantou-se e colocou as mãos sobre meus


ombros. Ele me balançou levemente, forçando-me a olhar para ele. "O
que você está falando, Elizabeth?"

"Ele foi embora", eu disse de novo, senti-me balançar. Matthew


pegou minha cintura, me sustentando, e me ajudou a entrar.

Sentei-me em silêncio em seu sofá durante toda a noite,


encolhida sob um cobertor. Eu não podia falar, não podia explicar.
Matthew deixou a casa em um turbilhão de indignação e voltou duas
horas depois, cansado. Ele tirou o boné de sua cabeça e passou a mão
pelo rosto e pelos cabelos curtos enquanto olhava para mim com
compaixão e decepção.

Afastei-me, sabendo onde ele tinha estado.

Natalie pegou sua mão e o levou para o corredor. Do seu quarto,


vieram vozes abafadas quando eles sussurraram meus segredos. Eu
escondi minha cabeça debaixo do cobertor e cobri meus ouvidos como
uma criança de quatro anos. Eu não queria ouvir, saber o que ele tinha
dito, as desculpas que ele tinha dado, ouvir a parte que eu sabia que
era minha culpa.

Lizzie continuou sem falar, sem comer. Ela sentou-se na


extremidade oposta do sofá, agarrando-se ao pescoço de sua boneca, e
chorou em seu sono.

Dizem que covardes fogem diante do perigo ou da dor.


A.L. JACKSON

Eu supus que era o que eu era, o que eu tinha me tornado, muito


temerosa de amar, muito temerosa de ser amada, com muito medo de
viver — então eu corri.

A semana passou em um borrão de escuridão pior do que eu já


tinha conhecido. Eu tentei voltar ao trabalho na terça-feira. Anita tinha
me mandado para casa. Ela disse para voltar quando eu tivesse
resolvido o que quer que eu estivesse lidando.

Passei longos dias na praia, perdida na culpa, raiva e remorso, e


noites ainda mais longas, torturada com suas mensagens. Como uma
masoquista, eu pressionei sua voz quebrada ao meu ouvido e escutei-
o repetidas vezes.

Às vezes, ele me implorava para chamá-lo e disse que não


entendia o que ele tinha feito, mas ele estava arrependido por tudo o
que foi. Ele me disse muitas vezes que me amava.

Com o passar do tempo, as mensagens ficaram cheias de raiva


e acusações, exigindo saber como eu poderia fazer isso com ele, fazer
isso com a nossa filha. Ele implorou comigo que se eu não permitisse
que ele falasse com Lizzie, então pelo menos tivesse a decência de dizer
a ela o quanto ele a amava e sentia falta dela, que ele estava pensando
nela cada segundo de cada dia. Outras mensagens estavam cheias de
silêncio, embora a dor de sua presença fosse suficientemente espessa
para falar por ele.

Cada dia, eu ficava de lado e via minha menina sofrer, a única


pessoa que eu deveria amar mais, que eu deveria proteger e cuidar. Eu
disse a mim mesma que eu estava fazendo isso para protegê-la, e então
tive que me perguntar quando eu me tornei uma mentirosa egoísta. Ela
tinha se retirado dentro de si mesma. Ela ainda não falava e mal podia
comer — não chorava, exceto em seu sono agitado. Seus olhos estavam
enfraquecidos, sua doce intensidade amortecida, seu espírito vibrante
apagado e esmagado. Sua professora tinha ligado cheia de
preocupação, dizendo que Lizzie não estava agindo como ela mesma, e
que ela estava preocupada.

Eu tinha dado a ela uma desculpa patética que eu tinha acabado


de ter uma semana dura e prometi que Lizzie ficaria bem.
A.L. JACKSON

Sexta-feira, eu fui a casa de Matthew e Natalie às cinco da mesma


maneira que eu tinha ido todos os dias da semana. Sentada no carro
em sua calçada, eu tentei me recompor e me colocar junto. Senti frio,
gelada até aos ossos por passar o dia com os pés submersos na água
fria do outono do Oceano Pacífico. Fechei os olhos e segurei o volante,
afastando o enjoo no estômago, a dor no meu coração, e a névoa
nublando minha mente, mas não havia nada que pudesse afastá-los.

Ao perceber uma movimentação, olhei para cima e vi que


Matthew tinha saído da casa com Lizzie em seus braços. Seu rosto
estava enterrado em seu pescoço, e ele a abraçou protetoramente
enquanto ele olhou por cima do ombro para mim. Ele tinha tentado
falar comigo durante toda a semana, mas cada vez eu o tinha parado.
Eu lhe disse que não queria falar sobre isso — eu já sabia o que ele
diria.

Levantei-me do carro para encontrá-los, mas Matthew passou


por mim e gentilmente colocou Lizzie no banco de trás do meu carro,
prendendo-a em seu assento de elevação. Ele beijou sua cabeça e disse
que a amava. Ela não disse nada, olhando para frente com os olhos
vagos. Ele parou por um momento e, em seguida, colocou a mão em
sua testa como se estivesse verificando uma febre. Ele murmurou algo
antes de fechar a porta. Por um momento, ele olhou para mim. Sua
expressão me disse tudo o que eu precisava saber. Ele estava furioso
comigo — me culpando.

Eu endireitei meus ombros e levantei meu queixo


defensivamente.

Ele balançou a cabeça com a minha reação e começou a subir a


calçada sem uma palavra de despedida. No meio do caminho para a
sua porta, ele parou e mudou de posição, antes de se virar com os olhos
apertados.

"Você não acha que já deixou isso acontecer por muito tempo,
Elizabeth?"

Eu balancei a cabeça e franzi a testa, fingindo que não sabia


exatamente sobre o que ele estava falando.
A.L. JACKSON

Matthew esfregou o rosto, agitado enquanto ele forçou o ar de


seus pulmões. Era como se ele tivesse que recuperar o controle antes
que ele pudesse olhar para mim.

"Você tem que colocar um fim a isso, Elizabeth." Ele apontou


para Lizzie sentada na parte de trás do carro. "Ela está miserável." Ele
pontuou as duas palavras como um soco de raiva do seu dedo, embora
ele parecesse triste e desesperado.

"Você nem sabe o que aconteceu... O que ele fez para mim!"

Ele riu de uma forma quase incrédula. Vindo da boca de


Matthew, ainda soava muito como simpatia. "O que? Vocês dois
dormiram juntos? Será que você realmente não esperava que isso fosse
acontecer, Elizabeth? Porque o resto de nós com certeza esperava." Sua
voz suavizou e ele deu um passo adiante. "Eu entendo Liz... por que
você está chateada. A cronometragem foi errada e ele deveria ter
esperado... ele também sabe que deveria... mas você sabe tão bem
quanto eu que isso ia acontecer, e não é certo fazer Lizzie pagar por
isso."

Eu vacilei e dei um passo para trás contra o meu carro, tanto


envergonhada que Christian havia dito abertamente para ele, e confusa
que isso não tinha irritado Matthew.

Minha garganta se contraiu, quando eu, mais uma vez, usei a


minha filha como uma forma de justificar o meu medo. "Ele vai acabar
machucando Lizzie."

Matthew bufou em descrença e deu mais um passo para frente,


baixando a cabeça para me olhar nos olho. "Eu acho que é hora de você
se questionar exatamente quem você está protegendo, porque com
certeza não é essa menina."

"Eu pensei que você estivesse do meu lado." Lágrimas brotaram


nos meus olhos, magoada porque eu acreditava que Matthew sempre
ficaria ao meu lado, mas mais ainda porque eu sabia que ele estava
certo.

Ele olhou para o chão, depois para mim, e deu o último passo
para trazer-nos cara a cara. As palavras dele eram intensas como se
A.L. JACKSON

ele quisesse me chacoalhar para me fazer entender. "Eu estou do seu


lado. Tudo o que eu sempre quis foi o que é melhor para você e Lizzie,
e se você parar de ser tão malditamente medrosa por uma vez na sua
vida, você veria que isso é Christian!"

Com isso, eu quebrei. As lágrimas escorriam e eu caí nos braços


de Matthew. Ele me segurou assim como ele sempre fez. Ele me
embalou e silenciou-me quando me disse "Vai ficar tudo bem, querida."
Ele passou a mão pelo meu cabelo emaranhado e sussurrou novamente
"Vai ficar tudo bem".

Ele deu um passo para trás, agarrando meus braços com as suas
mãos e me apertou com tranquilidade enquanto ele dizia "É hora de se
permitir alguma felicidade, Elizabeth. Você ama aquele homem desde
o dia em que te conheci, e fugir dele agora não vai mudar isso".

Engoli em seco e tentei recuperar o fôlego quando admiti "Eu não


sei como".

Ele me beijou na testa e me apertou novamente. "Sim, você sabe."

Então ele tocou meu rosto e me deixou ali de pé enquanto ele


voltou para a casa dele.

Cambaleando, eu afundei no meu assento. Limpei as minhas


lágrimas com as costas da minha mão e olhei para Lizzie através do
espelho retrovisor. Pela primeira vez desde que seu pai tinha saído pela
nossa porta, quase uma semana antes, sua expressão era algo diferente
de dormente e lágrimas escorriam em seu precioso rosto redondo.

Em silêncio, dirigi para casa. Assim que estacionei dentro da


garagem, eu corri para a porta de Lizzie e a peguei em meus braços,
desesperada para apagar a distância que eu tinha colocado entre nós
ao longo destes últimos dias horríveis.

Eu me senti doente, finalmente aceitando o que eu tinha feito,


que eu tinha mantido a minha filha a distância de um braço quando
ela mais necessitou de mim. E eu tinha feito isso para me proteger da
culpa e de sua dor.

Eu estava na minha garagem, segurando minha filha. Eu a


cheirei, a acariciei com o meu nariz, e a beijei pela primeira vez em uma
A.L. JACKSON

semana. Corri minhas mãos por seus cabelos, o cabelo de seu pai, e
pedi desculpas repetidas vezes "Eu sinto muito, bebê. Mamãe está tão
triste".

Ela enterrou os dedos em minha pele e chorou.

Eu balancei-nos em uma tentativa de consolar a menina


inconsolável em meus braços.

Ela soluçou, subindo mais alto enquanto ela colocou os braços


ao redor do meu pescoço, e falou pela primeira vez. "Eu sinto falta do
meu papai."

Eu soltei uma respiração pesada e puxei-a para mais perto.

"Eu sei bebê. Eu sinto falta dele também".


A.L. JACKSON

Deixar Lizzie dessa forma foi a coisa mais difícil que eu já tinha
feito. A porta bateu atrás de mim mais forte do que eu pretendia, e eu
senti a intensidade do olhar de Lizzie através da janela enquanto
observava eu me afastar dela. Eu não conseguia parar de ouvir o som
de sua voz me implorando para ficar. Os músculos do meu peito
apertaram, e eu tive que me forçar a entrar no meu carro e ir embora.

No final da rua, eu parei, enterrei meu rosto em minhas mãos, e


tentei entender como tudo tinha desmoronado — em uma noite
nebulosa minha vida quase perfeita havia sido destruída. Era uma vida
que eu tinha conhecido apenas por poucos meses, mas que havia
apagado todos os dias solitários que eu tinha antes disso.

Como eu pude ser tão estúpido? Por que eu tive que empurrar e
tomar quando eu sabia que ela não estava pronta?

Eu tinha despertado em uma cama vazia, com o gosto do álcool


na minha língua e uma pitada de Elizabeth na minha pele. Tudo voltou
rapidamente, como a noite tinha ficado fora de controle e tínhamos
entrado em erupção numa paixão reprimida, mãos rápidas e reações
impulsivas. Eu fui atingido com a magnitude do erro que eu tinha
cometido. Eu não tinha perguntado, mas tinha me desfeito dentro dela,
descuidado e irresponsável. Eu deveria saber onde a mente de
Elizabeth iria, o que ela lembraria. Eu tropecei de sua cama e desci a
escada para procurá-la. Eu queria tranquilizá-la do meu amor, mostrar
a ela que, por mais imprudentes que fossem nossas ações da noite
anterior, eu estava lá para ficar. Eu tive uma sensação fugaz de alívio
quando eu a encontrei segurando minha camisa em seu rosto.
A.L. JACKSON

Esse alívio foi quebrado quando ela me empurrou, exigindo que


eu fosse embora e me acusando de me aproveitar dela.

Ela pensou que eu tinha usado ela.

"Droga, Elizabeth", eu disse em voz alta nos confins do meu


carro, batendo minha cabeça contra o assento. Eu contemplei virar e
voltar para sua casa. Em vez disso, eu fui para a estrada principal.

Enquanto eu dirigia de volta para o meu apartamento, eu tentei


me convencer que Elizabeth só precisava de algum tempo para se
acalmar, e, assim como tantas vezes antes, qualquer medida de
progresso que fizemos foi recebida com um passo para trás. De alguma
forma, porém, eu sabia que desta vez era diferente. Eu tinha tocado
Elizabeth em um lugar que ela nunca deveria ter sido tocado, tinha
desencadeado algo mais profundo do que eu jamais sabia existir — algo
que eu tinha criado em seus sentimentos muitos anos antes.

Não havia outra explicação para a reação dela. Esta mulher era
uma das melhores mães que eu conhecia. Ela era uma mulher que
amava nossa filha tão profundamente como eu. Alguma coisa tinha que
ter quebrado dentro de Elizabeth para ela colocar Lizzie através disso
nessa manhã. Eu tinha vontade de sacudi-la, agarrá-la pelos ombros e
exigir que ela acordasse visse o que ela estava fazendo para Lizzie —
para abrir seus olhos para que ela pudesse ver o medo nos olhos de
Lizzie.

Em vez disso, fiquei lutando para confortar a nossa filha o melhor


que pude, prometendo a ela que tudo ficaria bem mesmo quando eu
realmente não tinha certeza de que iria.

Nunca me senti tão devastado quanto eu estava ao entrar no meu


apartamento nessa manhã de domingo. Minha cabeça latejou com os
restos de excesso de ontem à noite, um lembrete das minhas
indiscrições. Eu rastejei para debaixo dos lençóis frios da minha cama
e forcei minhas pálpebras fechadas, na esperança de fugir, de alguns
minutos de indulto. Atrás deles, eu só via o rosto de minha filha e ouvia
o eco das palavras de Elizabeth, eu te odeio... Quero você fora de nossas
vidas.

E eu não sabia a quem culpar.


A.L. JACKSON

Eu errei, eu sabia. Eu deveria ter sido mais cauteloso. Elizabeth


era frágil e deveria ter sido tratada com cuidado. Mas eu sabia que,
mesmo assim, mesmo depois de tudo o que foi dito, ela me queria tanto
como eu a queria. Isso tinha sido construído durante semanas, por
meses.

Além disso, não importa o que Elizabeth e eu tínhamos feito um


ao outro, independentemente de quaisquer erros que possamos ter
cometido e quaisquer consequências que tivemos de enfrentar, não
havia absolutamente nenhuma desculpa para fazer Lizzie sofrer por
causa disso.

Sem conseguir dormir, sentei-me e liguei para minha mãe. Eu só


precisava de alguém para conversar, alguém para oferecer-me
esperança em um momento em que eu me sentia completamente sem
esperança. Contei-lhe tudo com os mínimos detalhes possíveis.

Ela suspirou e murmurou, "Oh, Christian." Sua decepção era


clara. Eu podia vê-la balançando a cabeça, triste e preocupada,
enquanto ela me disse "Dê-lhe algum tempo".

Tempo. Sempre mais tempo.

Eu tentei, mas era quase impossível.

As horas passavam, segundo por excruciante segundo. O sol


encheu o céu e, em seguida, mergulhou em direção ao oceano, o tempo
todo eu estava sentado estático no meu sofá, esperando.

Às sete quinze, eu liguei, e um novo medo tomou conta de mim


quando foi para o correio de voz. Sete quinze não se tratava de Elizabeth
e eu. Era sobre Lizzie. Será que ela realmente tentaria me manter longe
da minha filha?

Quero você fora de nossas vidas.

Uma dor impressionante rasgou através do meu peito enquanto


eu ouvia o silêncio insuportável na outra extremidade, e eu finalmente
supliquei baixo "Por favor, Elizabeth, não faça isso". Orei para ela vir a
seus sentidos.
A.L. JACKSON

Eu tinha quase me esquecido como a insônia me fazia sentir, a


exaustão juntamente com a mente correndo e o coração trovejando. Só
que agora era muito pior. No lugar de persistente culpa e “e se”, tinha
uma perda agonizante. As sombras que uma vez tinham escondido
uma criança desconhecida foram substituídas pelo rosto da minha
preciosa filha, por seu espírito brilhante e suas bochechas
arredondadas, pela confiança em seu sorriso e a fé em seus olhos
quando eu prometia a ela que jamais a iria deixar. Essas imagens
borradas e misturadas com os pensamentos de Elizabeth, a mulher
com o sorriso doce e inseguro, com um coração cauteloso que eu viria
a conhecer ao longo dos últimos meses, a mulher que eu amava agora
ainda mais do que a menina que eu tinha me apaixonado anos antes,
só porque eu tinha crescido para ser capaz de amar dessa forma.

E tanto quanto eu queria me afastar da memória, eu não podia


deixar de pensar na pele de Elizabeth queimando sob minhas mãos na
noite anterior e no quão perfeito isso era. Mesmo que isso estivesse
errado em tantos níveis, ainda tinha sido completamente certo —
porque nós éramos certos.

Gemendo, rolei na cama e desisti de tentar dormir. Levantei-me


e estiquei meus músculos quando a primeira luz infiltrou através das
minhas janelas do quarto.

Entrei cedo no escritório e saí assim que cheguei. Eu não


conseguia me concentrar em nada a não ser a pulsação implacável em
meu peito.

Do meu carro, liguei para Elizabeth uma e outra vez. Eu sabia


que não devia, que eu deveria dar-lhe tempo, mas pedi-lhe para me
ligar. Eu lhe disse que eu nunca tive a intenção de fazê-la sentir-se
usada, que ela e Lizzie significavam o mundo para mim, esperando que
se eu dissesse a ela que a amava o suficiente ela finalmente iria
acreditar.

Matthew apareceu no meu apartamento naquela noite. Não me


surpreendeu em tudo ver a profunda raiva nas linhas de seu rosto
quando eu abri a porta. Isso foi drenado de seu rosto quando ele me
viu, pegando-o desprevenido, antes dele entrar e exigir saber o que
diabos estava acontecendo.
A.L. JACKSON

Eu não o poupei dos detalhes como eu tinha poupado a minha


mãe.

"Porra, Christian. Que diabos você estava pensando?"

Esse era o problema — eu não estava pensando.

Eu afundei no meu sofá, enterrei minha cabeça nas mãos e olhei


para ele. "Eu a amo."

Ele coçou a parte de trás do seu pescoço em desconforto,


suavizando seu comportamento. Sua lealdade estaria sempre com
Elizabeth, mas eu também sentia que em algum momento ao longo do
tempo que nos tornamos amigos, ele acreditava em mim quando eu lhe
disse que eu a amava.

"Isso foi realmente estúpido, Christian... você deveria saber que


você precisava ir devagar com ela... ela é... ela é..." Ele se virou e soltou
um longo suspiro. "Você realmente fodeu com ela, cara." Ele tirou os
olhos de mim, e eu sabia que ele não estava falando sobre o que
aconteceu neste último fim de semana.

"Eu sei."

"Dê-lhe alguns dias... ela precisa de algum espaço. Ela não está
tão bem agora."

Eu assenti, e eu realmente estava tentando.

Mas não demorou muito para a culpa que senti pela noite de
sábado transformar-se e sentir a minha raiva crescer.

Eu não podia acreditar que Elizabeth iria deixar que isso


acontecesse com a nossa filha. Sentei-me do lado de fora da escola de
Lizzie na terça-feira à tarde. Eu esperava que Natalie estivesse lá, que
Elizabeth teria pedido a ela para pegar Lizzie em vez de mim, como eu
tinha feito por tantos meses, mas eu precisava ver Lizzie, para ela
entender que eu não tinha a intenção de deixá-la.

Olhar para Lizzie era como olhar para um fantasma. Minha filha
estava desaparecida e em seu lugar estava uma concha com um rosto
pálido e abatido. Ela seguiu arrastando os pés, sua única linha de vida
era a boneca que ela segurava protetoramente contra ela.
A.L. JACKSON

Do carro, eu a observei do outro lado da rua. Só quando ela


sentiu que eu estava ali, sua dormência diminuiu, o reconhecimento
de um segundo e um lampejo de vida. Natalie levou seu olhar para o
meu e sorriu tristemente quando ela cutucou Lizzie para frente e entrou
em seu carro.

Pela primeira vez, as minhas ligações para Elizabeth não estavam


cheias de desculpas, mas com acusações.

Tanto quanto eu a amava, eu a odiava por colocar a nossa filha


no meio de algo que era então, obviamente, sobre nós dois.

Minha raiva e preocupação só cresceram com o passar dos dias.

Quinta-feira, quando todas as chamadas que eu tinha feito


estavam sem retorno, eu fiz uma chamada que eu nunca quis fazer.

Poucas horas depois de falar com ele, meu advogado, Lloyd


Barrett, ligou de volta e mostrou o que tinha encontrado. Sentei-me na
mesinha da cozinha, com os cotovelos sobre o tampo da mesa,
empurrando a parte de trás da minha cabeça enquanto eu o escutava
ler pela primeira vez o registro de despejo durante o primeiro ano da
vida de Lizzie, poucos meses depois que Elizabeth se mudara para San
Diego. Eu não sabia sobre isso e ainda estava tentando digerir a
informação quando Lloyd continuou. Suas palavras seguintes foram
como punhais que foram direto pelo meu peito enquanto ele lia, palavra
por palavra, o relatório da polícia sobre a chamada do 911, de uma
menina gritando por alguém para ajudar a mamãe, a mulher que tinha
apanhado sendo identificada como Elizabeth Ayers, os paramédicos e
a prisão de Shawn Trokoe.

Com uma pitada de decepção, ele disse, "Isso é tudo o que temos,
mas deve ser suficiente para, pelo menos, provocar alguma dúvida em
seu julgamento".

Isso é tudo?

Eu me amaldiçoei, eu queria amaldiçoá-lo e perguntar-lhe como


quaisquer umas destas coisas não refletiram sobre mim e meu
julgamento.
A.L. JACKSON

Lloyd empurrou através do meu silêncio, me conhecendo bem o


suficiente para que ele suspirasse através do telefone enquanto oferecia
conselhos. "Ouça, Christian, eu sei que isto é duro com você, mas com
a sua história, você vai ter que usar isso ou você não tem uma base
para se sustentar. Você não teve contato com essa criança por cinco
anos, e isso não vai sentar-se muito bem com qualquer juiz que eu
conheço."

Sentei-me com o meu telefone em meu ouvido, sem dizer nada,


sem ter ideia de como proceder. A última coisa que eu queria fazer era
arrastar o nome de Elizabeth no meio da lama, derramar em uma luz
negativa, e pintá-la como uma mãe ruim, porque eu realmente não
acreditava que ela era. Eu só queria uma mediação, um acordo legal
dizendo que eu tinha algum direito de ver minha filha.

"As chances são de que podemos resolver essa coisa fora do


tribunal, e nem sequer precisamos usar isso, mas você tem que ter um
lugar para começar." Eu sabia que ele queria dizer isso como
encorajamento, mas ele realmente não entendeu as consequências do
que ele estava me pedindo, porque eu sabia que dar a permissão de
seguir com isso selaria o nosso destino. Elizabeth nunca me perdoaria,
e eu nunca teria outra chance de provar a ela o quanto eu realmente a
amava. Destruiu-me pensar em fechar essa porta para sempre, mas a
verdade era que ela tinha quebrado meu coração — tinha quebrado o
coração da minha filha.

Eu não queria quebrar a promessa que tinha feito, de nunca


colocá-la em uma batalha de custódia, mas eu nunca iria quebrar a
promessa que eu havia feito para Lizzie, que, enquanto eu viver, eu
nunca iria deixá-la.

As vozes de Matthew e da minha mãe soaram altas na minha


mente, Dê tempo a ela... Dê tempo a ela. Eu só não sei quanto tempo
eu tinha deixado, quanto tempo mais eu podia tolerar ver a minha
menina sofrer.

Passei a mão pelo meu cabelo e cai ainda mais em cima da mesa.
"Somente... dê-me um par de dias, e eu vou deixar você saber o que eu
decidi."
A.L. JACKSON

A noite de quinta-feira foi repleta de pesadelos que eu não tinha


certeza se sonhei conforme eu lutava com a decisão que precisava ser
tomada. Eu argumentava com a parte do meu coração que dizia que eu
iria esperar por Elizabeth para sempre, a parte que a amava tanto que
me causava dor física.

Eu empurrei essa parte de lado quando me levantei da cama na


manhã de sexta, tão cansado e drenado que eu mal podia suportar. Eu
fui para o escritório em uma névoa, sem ideia de como eu iria
sobreviver, mas para ver Lizzie, eu deixaria Elizabeth ir.

No final da tarde, senti-me rasgando, descolando. A dor, a culpa


e a raiva que eu tinha sentindo durante toda a semana havia se tornado
demais. O último pedaço de esperança que eu segurava murchou
quando entrei no espaço vazio do meu condomínio. Eu troquei meu
terno por uma calça jeans e uma camiseta, desejando a sexta-feira
anterior, quando Lizzie e eu fomos às compras e fizemos planos,
enquanto ela zumbia de emoção enquanto eu a ajudava a vestir seu
vestido para o aniversário de sua mãe. Foi nessa mesma noite que
Elizabeth concordou em ir para Nova York comigo — A noite em que
ela me segurou em seus braços ao pé de sua escada.

Em vez disso, eu estava sentado no sofá com o meu telefone na


minha mão, criando coragem para fazer a chamada que cortaria
Elizabeth da minha vida para sempre. Olhei para os barcos boiando na
baía e imaginei Lizzie com o rosto e as mãos encostadas à janela,
ouvindo sua doce voz enquanto ela os contava, e eu sabia que não havia
outra escolha a fazer.

A leve batida na minha porta me parou no meio da discagem. Foi


um pequeno som vindo da porta, a batida que eu sabia que não poderia
vir de nenhuma outra pessoa, senão a que eu mais queria.
A.L. JACKSON

Atravessando a sala em dois passos, rasguei a porta aberta. Por


um momento, eu congelei quando eu cheguei à conclusão de que eu
não estava tendo alucinações e que Lizzie e sua mãe, na verdade,
estavam de pé no meu corredor. Lizzie olhou para mim. Ela parecia
doente, seu pequeno corpo enfraquecido com o desgaste da semana.
Sua expressão amortecida tinha desaparecido, no entanto, suas
bochechas estavam rosadas e manchadas de lágrimas. O vazio
desaparecera de seus olhos. Em seu lugar havia esperança e desespero.
Eu me abaixei lentamente, a peguei e puxei para meus braços.

Ela colocou os doces braços em volta do meu pescoço e gaguejou


sobre as lágrimas que começaram a cair, "Papai".

As emoções que eu tinha reprimido toda a semana em minha dor


chocaram-se e caíram livres em uma esmagadora onda de alívio, e eu
solucei em seu pescoço enquanto ela soluçava no meu. Eu cantava o
nome dela, quase incapaz de acreditar que ela estava realmente aqui.

"Lizzie", eu disse de novo quando me afastei apenas o suficiente


para vê-la e para limpar as lágrimas das suas bochechas. Eu segurei
seu rosto em minhas mãos, provavelmente um pouco apertado demais.
"Eu senti tanta falta de você, menina. Você entende o quanto eu senti?"
Eu forcei as palavras, desesperado para ela entender que eu nunca
quis esta separação. Ela assentiu com a cabeça e chorou enquanto
falava com a sua voz macia de anjo, "Eu também senti sua falta, papai."
Ela raspou as unhas dos dedos contra a minha pele, segurando e
apertando.

Exalando intensa e profundamente, eu a trouxe contra meu peito


e ela se acomodou no meu pescoço. Eu a apertei com um braço em
volta da sua cintura e uma palma na parte de trás de sua cabeça,
olhando para Elizabeth por cima do ombro de Lizzie.

Eu estava quase chocado ao ver que ela parecia como a morte,


como se ela tivesse ido para o inferno e me levado com ela — cansaço,
preocupação e dor estampavam seu rosto, o par perfeito para o meu
rosto. Seu queixo tremeu e ela balançou de onde ela estava, deslocando
seu peso de um pé para o outro. Ela engoliu em seco e desviou o olhar,
enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto.
A.L. JACKSON

Levantei-me e puxei minha filha comigo. Lizzie travou as pernas


em volta da minha cintura tão firmemente como ela passou os braços
em volta do meu pescoço, gemendo como se estivesse com medo de que
eu poderia deixá-la ir. Consolei minha filha, passei a mão pelo seu
cabelo e prometi que ela não ia a lugar nenhum — que eu não ia a lugar
nenhum. Eu não tinha a intenção de deixá-la fora da minha vista em
breve.

Virei-me e deixei a porta aberta. Elizabeth poderia ficar ou ela


poderia ir. Neste ponto, eu não poderia me importar. A única coisa que
importava era a menina tremendo nos meus braços.

Eu carreguei Lizzie para o outro lado da sala, para a cozinha


adjacente e a coloquei sobre o balcão, a distância da grande sala e de
costas para Elizabeth sendo a nossa única privacidade. Eu não iria
muito longe, bastava avançar o suficiente para que eu pudesse ver em
seus olhos, ler sua expressão e entender o que ela sentia. Com suas
mãos nas minhas, eu perguntei a ela, "Você está bem, querida?"

Qualquer um de nós está bem?

Será que alguma vez ficaríamos bem?

Lizzie soltou uma nova rodada de lágrimas, tremendo sob


minhas mãos, e disse "Você me deixou, papai... Eu estava com tanto
medo que você nunca fosse voltar." Eu não tinha ideia de como nós
ficaríamos bem, se eu poderia perdoar Elizabeth pelo o que ela tinha
feito.

Pressionei meus lábios em sua cabeça, alisando fora os


emaranhados de cabelo que aderiram a suas bochechas. "Eu nunca
deixaria isso acontecer, princesa."

Segurei-a lá por um longo tempo, e enquanto ela chorava uma


semana de lágrimas contra a minha camisa, eu murmurei cada certeza
que eu poderia encontrar. Eu disse a ela que eu tinha pensando nela
em cada segundo, prometi-lhe que, não importa o que, sua mãe e eu
teríamos a certeza de que isso nunca aconteceria novamente.

Eu senti o movimento de Elizabeth por trás, o som da porta se


fechando, e o embaralhar suave de seus passos sobre o piso de
A.L. JACKSON

madeira. Quando seu peso se estabeleceu no meu sofá de couro, eu


sabia que ela tinha escolhido ficar.

Honestamente, eu não tinha ideia do que fazer com ela quando


ela se sentou em silêncio na minha sala, não tinha ideia se eu queria
gritar com ela ou agradecê-la, se eu deveria dizer para ela sair ou pedir
para ficar.

Quando Lizzie finalmente se estabeleceu, eu me afastei e sorri


para ela, toquei seu nariz de uma forma brincalhona, desesperado por
algum tipo de normalidade com a minha filha. "Você está com fome,
garotinha?"

Ela assentiu com a cabeça e sorriu um sorriso real com dentes


minúsculos e covinhas.

"Venha aqui." Eu a ajudei a descer do balcão e fomos para a


geladeira. Havia pouco lá, principalmente sobras de comidas que eu
pedi e não tinha sido capaz de comer durante a última semana. No
micro-ondas, nós aquecemos frango com laranja e arroz de um
estabelecimento chinês no fim da rua, enquanto nós compartilhamos
pequenos sorrisos e carinhosos abraços ainda carregados com a
tristeza da nossa separação. Peguei um prato e coloquei na frente dela.
Beijando-a no alto da sua cabeça, eu sussurrei, "Aqui está querida."

Ela sorriu para mim. "Obrigada, papai."

Nós comemos juntos, lado a lado, com o meu braço envolto


possessivamente sobre seu ombro. Nós nos sentamos de costas para
Elizabeth, porque eu não estava pronto para enfrentá-la mais do que
ela estava pronta para me encarar. Entre mordidas, Lizzie e eu
murmuramos palavras de amor e encorajamento para o outro e
pequenas coisas que eu esperava que fossem restaurar a sua
confiança. Ela sorria para mim enquanto mastigava, embora eu ainda
pudesse sentir a sua desconfiança na forma como ela se agarrava a
barra da minha camisa e me olhava como se eu pudesse desaparecer
de repente.

Eu engoli a raiva que isso provocou, me lembrando de que eu


tinha que aceitar o fato de que uma parte disso tinha sido minha culpa
também.
A.L. JACKSON

Lizzie comeu toda a sua comida e depois uma tigela de sorvete


de baunilha que tinha sobrado do último jantar que tínhamos
compartilhado aqui, quando rimos e fizemos sundaes. Ela me
alimentou com pequenas porções em sua colher e riu, e, pela primeira
vez, eu sorri desenfreado e desinibido conforme eu me inclinei para
fazer cócegas em sua barriga.

"Eu te amo tanto, Lizzie."

Ela subiu no meu colo, beijou meu rosto. "Eu te amo ainda mais,
papai."

Eu ri com o jogo que ela queria jogar, sabendo que eu já tinha


ganhado porque não havia limites para o quanto eu amava minha filha,
mas brinquei e cutuquei sua barriga de qualquer maneira. "Nu-uh, eu
te amo mais."

"Bem, eu te amo muito assim, papai." Ela abriu os pequenos


braços e eu a envolvi nos meus.

Desliguei o interruptor de luz do pequeno segundo quarto.


Quando eu tinha comprado este lugar, eu nunca poderia ter imaginado
que acabaria por se tornar o quarto de Lizzie. Havia um brilho quente
ressoando através do meu corpo, uma paz por ela finalmente estar
aqui. Eu fiquei deitado ao lado dela até que eu tinha certeza que ela
estava em um sono profundo, certo de que ela se sentia segura, amada
e protegida. Quando os punhos enrolados em minha camisa finalmente
afrouxaram e suas respirações alcançaram um ritmo suave próximo ao
meu rosto, eu lentamente a coloquei na pequena cama de casal, puxei
as cobertas até seu queixo, e beijei-a no que parecia ser a milionésima
vez naquele dia. Eu teria me contentado em vê-la dormir durante toda
a noite, mas era hora de enfrentar o que estava esperando por mim no
outro cômodo.
A.L. JACKSON

No final do corredor, parei e olhei para onde Elizabeth estava


sentada numa das extremidades do sofá, com a luz apagada da minha
sala. Ela estava de costas para mim, embora eu visse seu rosto refletido
nas vidraças escurecidas das janelas — tão triste e sempre linda.

Eu engoli em seco, e ela olhou para cima e me flagrou olhando


para ela pelo vidro — tão incrivelmente triste. Eu queria limpar sua
tristeza, mas agora eu duvidava que pudesse.

Eu me sentei na extremidade oposta do sofá, na borda da


almofada, numa posição desleixada sobre minhas coxas, com as mãos
penduradas entre os joelhos. Havia tanta coisa para dizer, mas eu não
tinha ideia de onde começaríamos, e eu temia que isso pudesse muito
bem ser o fim. Minutos passavam enquanto nada era dito, a sala estava
quieta, exceto pelo som de nossa respiração, com tristeza e apreensão
pairando estagnada no ar.

"Sinto muito, Christian", Elizabeth disse de repente, com a voz


rouca cortando o silêncio tenso. Ela olhou para os punhos cerrados no
colo e sussurrou baixinho, "Estou tão, tão triste".

De um lado, eu a avaliei enrolada em uma bola apertada no meu


sofá, parecendo tão pequena e derrotada, e eu queria
desesperadamente acreditar no que ela disse.

"Você está?" A ataquei, minha língua inesperadamente afiada e


severa.

Ela estremeceu com as palavras, pressionando as pontas dos


dedos nas cavidades profundas debaixo dos seus olhos e limpou as
lágrimas que pareciam ter caído sem parar desde que ela entrou pela
minha porta horas antes. "Sim."

Eu procurei em seu rosto por honestidade e não encontrei


nenhuma falsidade, apenas uma menina quebrada que estava tão
machucada quanto eu.

"O que eu fiz de errado, Elizabeth? Eu... Eu pensei que nós..." Eu


implorei.

Ela apertou seus olhos fechados, seu belo rosto devastado e


cansado, minha velha ofensa. "Você me deixou.”
A.L. JACKSON

Debrucei-me contra o encosto do sofá e arrastei ambas as mãos


pelo meu cabelo enquanto eu soltava o ar de meus pulmões em direção
ao teto. Olhei para ela e entreguei minha rendição por meio de um
pedido de desculpas sussurrado. "Eu sei o que eu fiz Elizabeth, mas eu
não posso voltar no tempo. Deus sabe, eu desejo que eu pudesse, mas
eu abandonei você, e não há nada que eu possa fazer para mudar isso
agora."

Por mais doloroso que isso fosse, eu ignorei a parte de mim que
não queria nada mais do que estender a mão e consolá-la, para tirar a
tristeza, a parte que a amava e queria pedir-lhe para nos dar uma
chance. Era hora de desistir desse pedaço do meu coração e aceitar que
eu tinha feito muito dano, isso nunca seria apagado, e eu nunca seria
perdoado.

"Eu não posso mais fazer isso, Elizabeth... Você corre cada vez
que eu chego perto. Eu... nós podemos simplesmente... esquecer o que
aconteceu no último fim de semana? Voltar a sermos amigos por causa
da Lizzie? Porque eu não vou viver sem ela, e me recuso a permitir que
o que aconteceu nessa última semana, aconteça novamente."

O que apareceu quando o pesar abalou seu corpo, e ela sibilou


com palavras quebradas, estranguladas. "É realmente o que você
quer?"

"Deus, Elizabeth... Eu... claro que não..." Eu olhei para ela e


toquei meu peito com sinceridade. "Eu estou apaixonado por você. Você
ainda se recusa a acreditar nisso?" Eu balancei minha cabeça,
empurrando para frente através da angústia da minha confissão, a
devastação que ardia por eu deixar ir a única mulher que eu amava —
a única mulher que eu sempre amaria. "Mas a felicidade de Lizzie vem
em primeiro lugar... antes de você... antes de mim."

Por alguns momentos dolorosos, ficamos em silêncio, a boca de


Elizabeth torcia de vergonha antes que ela finalmente engolisse,
lambeu os lábios, e falou através de palavras vacilantes. "Eu te amo,
Christian... tanto... e... e eu não quero abrir mão disso... Eu não quero
abrir mão de nós". Seus olhos estavam fechados, como se estivesse
protegendo-se da minha reação, ou talvez de sua própria admissão.
A.L. JACKSON

Meu coração gaguejou com sua confissão, tanto partido como


muito feliz. Por muito tempo, eu queria ouvir essas palavras saírem de
seus lábios. Eu só não sabia que essas palavras seriam ditas em um
momento de tanta tristeza, que seriam manchadas por anos de sua
mágoa, e que a minha própria emoção em finalmente ouvi-la dizer em
voz alta seria manchada pela imensa quantidade de ressentimento pelo
o que ela tinha feito.

Ela abriu os olhos, ainda cheios de lágrimas e se inclinou para


mim. Sua expressão era completamente intensa e com medo, mas pela
primeira vez, estava completamente desnuda. Não havia mais nada
para se esconder. Sua boca e mãos tremiam quando ela continuou. "O
que aconteceu no meu aniversário... Eu queria aquilo... Eu queria você.
Mas quando eu acordei ao seu lado, eu entrei em pânico. Tudo o que
eu passei depois que você me deixou pela primeira vez voltou correndo.
A forma como isso aconteceu... O fato que tínhamos bebido. Isso me
fez sentir barata, suja, e tudo o que eu conseguia pensar era que você
me deixaria novamente. Mesmo quando eu soubesse que pela manhã
você não estava mentindo quando disse que me amava." Sua voz falhou
e ela fez uma pausa.

"Eu sabia que estava errada durante toda a semana, Christian...


A semana inteira. Eu assisti a nossa menina desaparecer enquanto eu
me agarrava aos meus medos e inseguranças, e tentava me convencer
de que eu estava fazendo isso por ela. O que eu fiz com Lizzie durante
esta semana..." Elizabeth fechou os olhos como se estivesse
protegendo-se da memória. "Eu empurrei minha própria filha para
longe quando ela mais precisava de mim, e eu não sei se algum dia
serei capaz de me perdoar por isso, mas eu posso prometer que isso
nunca vai acontecer novamente. Ela é a minha vida, e eu nunca mais
vou deixar que os meus problemas fiquem no caminho da minha
responsabilidade com ela... Meu amor por ela. Mas eu estou cansada
de correr, Christian, cansada de correr do único homem que eu sempre
quis. Se você pode de alguma forma me perdoar..." Ela molhou os lábios
cor-de-rosa. "Eu quero encontrar uma maneira de perdoá-lo... Eu
quero deixar você me amar e não ter medo quando você fizer isso."

Talvez agora eu realmente entenda por que Elizabeth tinha


corrido de mim por todos estes meses, foi porque ela nunca se permitiu
A.L. JACKSON

acreditar. Um amor tão intenso quanto o que nós compartilhamos, um


que não tinha diminuído através de anos de traição, mas tinha
crescido, isso era aterrador. Temos o poder de destruir, devastar e
arruinar, de pôr um ao outro no lixo.

Mas eu não estava correndo.

Peguei a mão dela e a puxei para o meu peito. Com a conexão,


as lágrimas silenciosas que ela chorou durante toda a noite entraram
em erupção. Ela se agarrou a mim tão forte como Lizzie e chorou tão
forte. Ela sussurrou súplicas confusas em minha camisa enquanto eu
corri minhas mãos através de seu cabelo. "Não me deixe, Christian...
Por favor, não me deixe nunca."

Eu a silenciei e beijei o topo de sua cabeça. "Eu não vou a lugar


nenhum, Elizabeth."

Deitei-nos no sofá ao nosso lado, abracei-a e deixei-a chorar. Seu


corpo oscilava enquanto ela sugava respirações trêmulas e enterrava
seu rosto em meu peito. Eu embalei a menina que eu tinha quebrado,
correndo minha mão para cima e para baixo em suas costas e por seu
cabelo. Ela se aconchegou mais perto, moldando-se em mim, e eu a
segurei mais apertado. À beira do sono, ela sussurrou: "Nunca me
deixe."

Eu puxei a coberta da parte de trás do sofá, colocando-a sobre


os nossos corpos, e puxei-a mais perto ainda. "Nunca."

Eu sabia, quando acordei na manhã seguinte com Elizabeth


ainda envolta em meus braços, que as coisas estavam diferentes. Ela
não me afastou quando eu a abracei e murmurei bom dia contra sua
testa. Em vez disso, ela apertou os lábios no meu peito e me olhou com
um pequeno sorriso tímido.

Foi então que eu soube que estávamos fazendo isso.


A.L. JACKSON

Essa foi a última noite que eu dormi no meu apartamento. Eu


passei o resto dos dias dormindo no sofá de Elizabeth.

Ao longo das últimas cinco semanas, Elizabeth e eu tínhamos


passado cada segundo que pudemos juntos. Eu me encontrei com ela
todos os dias para almoçarmos e nós realmente conversamos. Não
houve contorno ou amolecimento, apenas honestidade — mesmo
quando isso machucava. No início, havia lágrimas constantes e muita
raiva. Mas ela finalmente se abriu e me contou quão devastada ela ficou
quando eu tinha abandonado ela, tudo o que ela passou, e o quanto
ela precisou de mim. Enquanto me esmagou ouvi-la, eu o fiz, porque
eu sabia que nunca poderíamos realmente seguir em frente enquanto
não enfrentássemos o nosso passado. À medida que as semanas
passavam, as lágrimas começaram a secar e um futuro em construção
entrou em vista, o nosso futuro.

Passamos nossas noites juntos como uma família, mãe, pai e


filha. Tanto quanto nós rimos e brincamos, nós dedicamos muito tempo
falando com Lizzie, dando-lhe garantias e respostas diretas para o que
tinha acontecido, sobre a provação na qual a colocamos. Mesmo assim,
começamos a leva-la para um conselheiro uma vez por semana para
nos ajudar a eliminar a semente de abandono que foi plantada nela,
assim como Elizabeth e eu tínhamos começado a ver um conselheiro
de casais.

Nós estávamos fazendo tudo o que podíamos para fazer dar certo.

As noites, ahh... as noites eram perfeitas e inteiramente


tortuosas. Passamos horas no sofá de Elizabeth como adolescentes,
com línguas emaranhadas e mãos errantes. Quando ela finalmente
gemia e rolava para longe de mim, eu a perseguia para beija-la sem
sentido contra a parede fora de seu quarto. Com os joelhos fracos, ela
corria para o seu quarto, rindo e murmurando baixinho, algo sobre eu
ser perigoso.

Quando eu me aconchegava a cada noite em seu sofá


desgastado, com meus sentidos esmagados por Elizabeth, meu corpo
latejando e ansiando por mais, eu não podia imaginar me sentir mais
satisfeito.
A.L. JACKSON

O movimento no andar de cima me chamou a atenção, e eu olhei


para cima. "Ok, estamos caindo fora daqui." Natalie segurou a mão de
Lizzie enquanto elas desciam as escadas com Matthew seguindo de
perto. Lizzie tinha sua mochila nos ombros, sua boneca debaixo do
braço, e o doce sorriso no rosto. Fui até ela, ajoelhando-me na frente
dela, e toquei seu rosto. "Mamãe e papai vão na casa da tia Natalie e
do tio Matthew logo pela manhã para buscá-la, ok?"

Ela assentiu com a cabeça e colocou os braços em volta do meu


pescoço. "Eu sei papai. Eu não posso esperar!"

Eu sorri para ela. "Eu não posso esperar, também. Eu te amo,


princesa." Eu escovei meus lábios em sua testa e me levantei.

Natalie apareceu na ponta dos pés, os braços ao redor do meu


pescoço, e sussurrou em meu ouvido, "Estou tão feliz por vocês... Eu
amo todos vocês... Você sabe?" Ela deu um passo para trás, olhando
para mim, como se para ver se eu entendia.

Eu apertei sua mão. "Eu também te amo Nat."

Lizzie sorriu e se balançou de onde ela estava ao nosso lado.

Matthew apertou minha mão, suas palavras com um toque


pensativo. "Cuide de minha menina."

Eu assenti. Sempre.

Matthew pegou Lizzie em seus braços e conduziu Natalie para


fora. Eu observei até a porta fechar atrás deles. Olhei para cima quando
senti a presença dela. Ela estava no topo da escada vestindo um vestido
de botão azul ajustado que amarrava na cintura e fluía sobre seus
quadris até os seus joelhos. Seu cabelo estava enrolado em ondas
suaves e seu rosto parecia brilhar. Ela parecia ao mesmo tempo
modesta e sexy, e absolutamente me tirou o fôlego.

Esperei na parte inferior da escada e sorri suavemente conforme


observei cada passo dela ao meu encontro lá embaixo.

Ela parou há alguns centímetros de distância.

Eu engoli profundamente e peguei a mão dela. "Você está


maravilhosa, Elizabeth."
A.L. JACKSON

Ela corou. "Obrigada." Sua atenção vagou para baixo sobre


minha camisa de botão marrom, calças pretas, e de volta para o meu
rosto. "Você parece incrível também."

Eu a ajudei com seu casaco e seguimos para o meu carro. Beijei-


a suavemente antes de abrir a porta e acomodá-la no banco da frente.

A viagem foi tranquila, cheia de antecipação e corações vibrando.


Eu segurei sua mão todo o caminho, e me mantive roubando olhares
para a mulher mais linda que eu já tinha visto.

Eu estacionei e fui ajudá-la a sair, abri o porta-malas para pegar


o cobertor e a cesta de piquenique que Lizzie e Natalie tinham me
ajudado a preparar no início do dia.

Com as mãos unidas, fizemos o nosso caminho até a praia.


Elizabeth parou para puxar as sandálias de seus pés quando chegamos
a areia. Talvez fosse tolo nos vestir assim para uma viagem noturna
para a praia, mas nós tínhamos nos vestido para uma celebração,
nessa noite íamos comemorar a nós.

A lua estava alta e iluminava a praia, as ondas suaves em suas


idas e vindas, uma calma pacífica. O ar morno de dezembro em San
Diego refrescando a nossa pele uma vez que corria sobre a água e
contra os nossos rostos, e Elizabeth abraçou seu casaco contra seu
corpo. Ela estremeceu e se encolheu do meu lado enquanto caminhava
descalça sobre a areia fria.

Quando chegamos ao local onde ela compartilhou esta praia


comigo pela primeira vez, eu espalhei o cobertor e a puxei para baixo
ao meu lado. Nós rimos quando nós lutamos contra o vento. Ele
chicoteou em torno de nós, enquanto compartilhamos a nossa refeição
de frutas e queijo e bebíamos champanhe em pequenos copos de
plástico com sorrisos tímidos de expectativa.

Nenhum de nós podia parar de sorrir quando terminamos.

"Venha aqui." Eu estendi a mão e ajudei-a a se estabelecer entre


as minhas pernas para que ela pudesse se apoiar contra o meu peito.
Eu a abracei perto e ficamos olhado para a água escurecida que
A.L. JACKSON

ondulava e brilhava a luz da lua, e sussurrei contra a parte de trás de


sua cabeça, "Eu te amo tanto Elizabeth."

Ela assentiu com a cabeça contra o meu peito e apertou suas


mãos sobre as minhas.

Virei e a puxei de joelhos, antes me inclinar diante dela em um


dos meus joelhos. Nós dois sabíamos por que estávamos aqui e eu já
sabia o que sua resposta seria, mas isso não ajudava, pois minhas
mãos tremiam enquanto eu tateava o bolso do meu casaco e tirava a
pequena caixa preta. Eu levantei a tampa, estendo a minha oferta
modesta, e com ela, prometi o meu coração para sempre.

"Seja minha esposa."

As lágrimas corriam pelo rosto de Elizabeth, mas desta vez elas


eram diferentes, eram cheias de alegria, esperança e um amor não mais
escondido e contido. Ela assentiu com a cabeça e choramingou um
pouco quando eu tirei o simples anel solitário de platina da caixa e o
deslizei em seu dedo e ao seu devido lugar. Com seis anos de atraso e
agridoce, mas doce mesmo assim.

Nós dois olhamos para a mão dela por alguns momentos,


absorvendo o momento, percebendo o compromisso que tínhamos
acabado de fazer. Meu sorriso foi recheado de euforia quando eu olhei
de volta para ela. O dela estava encharcado e irresistível. Puxando-a
para mim, eu passei meus braços em torno dela e a beijei. Eu segurei
seu rosto em minhas mãos e sussurrei "Eu te amo".

Ela não hesitou. "Eu te amo Christian."

Nós juntamos nossas coisas, ansiosos para irmos para casa.


Como sempre, o bairro estava tranquilo quando entramos na sua rua.
Casas brilhavam com luzes de Natal. Enfeites de plástico de Papai Noel
e renas estavam brilhando em quintais e em telhados e a neve falsa que
nunca cai em San Diego decorava as janelas.

Amanhã Lizzie veria neve real pela primeira vez.

Eu estacionei na garagem e corri ao redor para ajudar Elizabeth


a sair do carro. Caminhamos de mãos dadas para a porta e trancamos
atrás de nós. Levou apenas uma fração de segundo para o desejo se
A.L. JACKSON

agarrar a nós, para nos engolir em silêncio, para deixar-nos olhando


um para o outro com pulsos acelerados e corações batendo.

Elizabeth não disse nada, mas puxou minha mão e me levou para
cima, para seu quarto.

Parei no umbral da porta, virando-a para olhar para mim, e


segurei seu rosto em minhas mãos. "Você tem certeza, Elizabeth?" Não
haveria mais hipóteses, e eu não levaria mais do que ela não estava
pronta para dar.

Ela colocou a mão no meu peito, correu até a parte de trás do


meu pescoço e no meu cabelo, e puxou-me até sua boca. Seu beijo foi
lento e enlouquecedor, e ela sussurrou suavemente contra os meus
lábios, "Eu sou sua."

Minhas mãos encontraram seus quadris, e eu a beijei


gentilmente quando eu a coloquei de volta na luz apagada de seu
quarto. Nossos movimentos eram lentos, tenros e adoradores. Em pé
no meio do quarto, lentamente nos desnudamos.

Cuidadosamente, eu a peguei e a segurei em meus braços, deitei-


a em sua cama, nossa cama.

Meu apartamento foi colocado a venda há algumas semanas


antes e nós viveríamos aqui até a casa de Elizabeth ser vendida. Ambos
queríamos algo semelhante, uma casa confortável, onde Lizzie podia
correr e brincar, mas mais perto de nossa praia e algumas salas a mais,
para que pudéssemos enchê-los com um irmão ou irmã, ou dois. Meu
espírito se elevava quando eu pensava em aumentar esta família,
quando eu pensava em ver a barriga de Elizabeth crescer com outra
criança, e estar ao seu lado quando ele foi trazido a este mundo. Eu só
podia imaginar a grande irmã coruja que Lizzie seria, sua admiração
com uma nova vida, a maravilha que iria encher os seus olhos.

Isso teria que esperar, embora. Elizabeth e eu nos casaríamos


neste verão, e precisávamos ter tempo para nós três, para aprendermos
a ser a família que sempre deveríamos ter sido, antes de adicionar um
novo integrante a ela.
A.L. JACKSON

Olhei para baixo onde eu tinha colocado Elizabeth em nossa


cama, as curvas de seu corpo nu totalmente exposto e confiado a mim.
Seu corpo era mais fino do que o que eu tinha conhecido antes, o corte
de suas pernas e ombros definidos, embora seu estômago não fosse
mais perfeitamente plano, e pequenas linhas prateadas eram mal
visíveis em sua pélvis, onde Lizzie permanentemente deixou sua marca.

Amor e devoção bombearam através de minhas veias quando ela


se mostrou tão livremente para mim.

"Você é tão bonita Elizabeth."

Ela olhou para mim, os olhos úmidos e cheios de emoção. Ela


estendeu a mão e me chamou para ela.

Subi na cama, pairando sobre ela com as mãos segurando cada


lado da sua cabeça e mergulhei para beijá-la profundamente. Suas
mãos estavam firmes e com fogo enquanto se moviam nas minhas
costas e para baixo sobre as minhas costas.

Eu me afastei para sussurrar o nome dela, "Elizabeth." Mudei-


me para beijá-la sobre seu coração e murmurei "Obrigado." Mais uma
vez, encontrei sua boca e me abaixei até ela. Eu a envolvi em meus
braços, peito contra peito, pele contra pele, apoiado nos meus cotovelos
para poder segurar seu precioso rosto entre as mãos. Afastei-lhe o
cabelo do rosto e deixei-o cair sobre o travesseiro, atordoado novamente
pela sua beleza. Meus olhos penetraram nos dela, procurando
compreensão, rezando para que ela acreditasse total e finalmente em
nós. "Eu te amo tanto Elizabeth."

Ela trouxe uma mão trêmula até meu rosto, passou a ponta dos
dedos sobre meus lábios, seu anel brilhando proeminente e orgulhoso,
e sussurrou "Eu sei". Seus olhos brilhavam enquanto eu sorria
suavemente para ela e apertava um beijo de boca fechada contra a
doçura de seus lábios, trazendo sua palma para o meu rosto, beijei-a
lá. Seu coração bateu contra meu peito enquanto eu me movia e me
acomodava entre suas pernas. Suas respirações eram curtas e rápidas,
o pulso em seu pescoço rufando sob minhas mãos. Engolindo, eu
agarrei seus ombros e lentamente deslizei em seu corpo, nos fazendo
um. Sua boca caiu aberta em um suspiro silencioso, seus dedos
A.L. JACKSON

cravados na pele de minhas costas. Por alguns momentos, ficamos


imóveis, trancados um no outro, corpo e alma, nossos olhos intensos e
cheios desse desejo, que nunca nos escapara, repleto de um amor que
deveria ter morrido em sua aflição, mas só parecia crescer.

Elizabeth passou os dedos pelas minhas costas e ombros,


colocando-me em chamas e em movimento. Movi-me dentro dela lento
e duro, enquanto ela se levantava para me encontrar com gemidos
rasos e murmúrios de amor, os nossos corpos falando de compromisso
inabalável e fidelidade eterna, uma consumação reverente.

Eu nunca iria tomar com certeza o que eu tinha recebido. Eu


nunca olharia para ela através de olhos indiferentes, ouviria seus
medos e preocupações com orelhas distantes, ou a tocaria com as mãos
impassíveis. Elizabeth foi um presente e Lizzie era o meu tesouro. Eu
adoraria a minha família até o dia em que morresse.

Já não viveria em arrependimento, esforçando-me para


compensar o que eu tinha feito. Eu viveria para cada dia, cada um,
estabelecido e proposto, para ser o melhor pai e marido que eu poderia
ser. E não importava o que a vida nos trouxesse, eu nunca iria embora.

O avião estava no final da pista, retumbando quando seus


motores deram partida e rugiram. Lizzie sentou-se ao meu lado, seu
corpo vibrando com excitação e a ansiedade do desconhecido. Seus
olhos estavam me consumindo enquanto ela olhava para mim com
confiança através de seu medo. Estendi minha mão, palma para cima,
e ela colocou a mão minúscula na minha, uma que agora tinha um
delicado anel de ouro. Enquanto Elizabeth e eu fizemos promessas um
ao outro ontem à noite, esta manhã fizemos promessas à nossa filha.

Quando o avião começou a taxiar, eu apertei minha mão em


torno da de Lizzie e sorri para ela, que sorria ansiosamente para mim.
Elizabeth descansou a cabeça no meu ombro e sua mão esquerda sobre
A.L. JACKSON

o meu peito, observando o diamante vibrante que brilhava em seu dedo.


Ela sorriu para Lizzie e depois para mim. Eu escovei meus lábios em
sua testa e não conseguia conter o sorriso no meu rosto.

O avião acelerou, se elevou e curvou e subiu para o céu. Lizzie


riu com a sensação, olhou de volta para nós com os olhos arregalados,
e disse "Aqui vamos nós!"

Eu apertei a mão da minha filha.

Aqui vamos nós.

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