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Copyright© 2019 Aline Sant’Ana

Copyright© 2019 Editora Charme


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dos editores.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos
descritos são produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança
com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
1ª edição 2019
Fotos da Capa: Depositphotos
Criação e Produção: Verônica Góes
Revisão: Equipe Editora Charme
Criação do E-book: Ana Martins
CIP-BRASIL, CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DE EDITORES DE LIVROS, RJ
Aline Sant’Ana
Grego Arrogante / Aline Sant’Ana
Série Sem Fronteiras Para O Amor; 5
Editora Charme, 2019
IBSN: 978-65-5056-000-3
1. Romance Brasileiro - 2. Ficção brasileira
CDD B869.35
CDU 869.8(81)-30
Sem Fronteiras Para O Amor é uma série de doze contos, escrita em
homenagem aos leitores que foram sorteados para participarem deste
projeto. Cada livro é dedicado a um leitor em especial, que escolheu seu
país favorito, o nome dos personagens, incluindo suas características
físicas e pessoais. E o enredo foi criado a partir de uma música selecionada
pelo leitor, que inspirou a autora a escrever cada história.
“Oh, eu nunca soube que era você quem estava esperando por mim
Porque éramos apenas crianças quando nos apaixonamos
Não sabíamos o que era
Eu não vou desistir de você dessa vez
Mas, querida, apenas me beije devagar”
ED SHEERAN, “PERFECT”.
Dedicado à Pri Andrade.
Me diverti, me apaixonei, me encantei por esse grego arrogante!
Espero que ele seja capaz de marcar a sua vida, como fez com a minha.
Sabe aquele cara na escola que não sabe conversar? Que não vai às
festas e, aos dezesseis anos, ainda é vestido pela mãe?
Esse não sou eu.
O corredor estava lotado com a turma, marcando as festas para o
final de semana, e eu certamente iria em boa parte delas. Conforme
entrei, fui cumprimentando todo mundo. Os caras, com abraços, e as
meninas, com beijos no rosto.
Nós, gregos, temos essa coisa: nos damos bem uns com os outros. E,
cara, francamente, a minha vida em Atenas era foda. Eu tinha uma família
enorme e apaixonada, uma namorada por semana, pessoas que me
rodeavam e me faziam feliz...
Exceto por uma coisa, lembrei. Um detalhe, claro, que eu evitava até
pensar.
Enquanto mexia no armário para pegar o material, escutei uma
conversa que me fez prestar atenção. E, assim que o assunto ficou mais
interessante, me dei conta de sobre quem estavam falando.
— Alexia Leandros terá o seu primeiro encontro — alguém
cochichou. — Estou tão feliz por ela porque aquele garoto é maravilhoso.
Alexia era o detalhe que eu evitava pensar.
Convivemos a vida inteira. Na infância, tudo funcionava.
Brincávamos juntos, chegamos a ser melhores amigos. Começamos a
discutir aos onze anos, porque os hormônios começaram a dar as caras.
Éramos uma junção de puxões de cabelo ali, chute aqui, jogada de água
na cara pra lá e a nossa competitividade era uma coisa que não tinha
explicação.
Nós começamos a nos odiar na mesma proporção em que Alexia
ficava cada dia mais bonita e, igualmente, cada dia mais diabólica. Bem,
não importa a beleza de Alexia. Eu coloco toda a culpa das nossas brigas
na pré-adolescência, nos hormônios e na personalidade insuportável
dela.
E o pior: não conseguíamos fugir um do outro.
Eu a via todos os dias na escola. Tá achando ruim? Não, tem mais.
Nossos pais são melhores amigos no maior estilo “bem-vindo ao inferno,
filho. Senta aqui do lado da sua amiga Alexia”. Os chefes das famílias
Konstantinos e Leandros têm resorts ao redor da Grécia e vivem
viajando juntos, além de se reunirem toda semana quando estão em casa,
com festas e comemorações. A sorte é que nossas famílias eram grandes
e eu conseguia desaparecer quando ninguém percebia que o filho único
dos Konstantinos estava faltando.
Raros momentos, preciso dizer.
Então, era foda porque Alexia estava na escola, na minha casa, na
minha rua. Sim, seis casas nos separavam e não parecia o suficiente nem
se eu estivesse no Alasca.
— E eu acho que ela está apaixonada — a menina completou a
fofoca. — Alexia é a menina mais popular da escola e está finalmente
apaixonada! Uma inspiração para nós encontrarmos o amor, não acha?
Um pensamento veio subitamente e me fez parar o caderno no meio
do caminho, quando a raiva por Alexia se dissipou e me fez entender, de
verdade, sobre o que era o assunto.
Alexia estava apaixonada e teria um maldito encontro?

Era a terceira aula do dia, e eu não conseguia prestar atenção. Alexia


havia mudado de lugar. Estava sentada ao lado de Nikos. Durante todas
as aulas, vi a mesma coisa: a mão dele sobre a dela, enquanto Alexia ria
baixinho do que Nikos dizia.
Que porra?
O professor finalmente encerrou a aula, dando início ao intervalo, e
eu fechei o caderno, sem fazer sequer uma anotação. Nikos se levantou e
falou algo para Alexia. Assim que o cara saiu com seus amigos pela porta,
Alexia começou a arrumar suas coisas.
Eu sentara quatro cadeiras atrás de Alexia, então, ela não percebeu
que não estava, na verdade, sozinha quando esvaziaram a sala. Alexia se
levantou, desligada, e assim que o fez, fiquei pensando como poderia ser
tão bonita.
O próprio diabo encarnado em uma pele cor de oliva, olhos negros
como a noite, cabelo liso e comprido da mesma cor das suas íris. Ela era
excessivamente linda. Seu apelido era Kardashian, para entender um
pouco a beleza dessa garota de 1,73m que fodeu a minha adolescência.
Mas Alexia Leandros era um detalhe, certo?
Me levantei e a cadeira fez um barulho alto quando a empurrei para
trás. Alexia se assustou, levou a mão ao coração e, assim que se virou,
seus olhos se estreitaram. Sorri de canto de boca, provocando.
— Vai se ferrar, Adonis.
— O que eu fiz?
— Nasceu, para início de conversa.
Insuportável.
Cheguei perto dela. Alexia me mediu de cima a baixo, cheia de
desconfiança, e meu sorriso ficou mais largo.
— Fiquei sabendo que você vai ter um encontro.
— Quem te disse?
— Alguém no corredor da escola.
Encostei a mão na parede próxima a Alexia, sabendo que isso a
deixaria nervosa. Sua boca hoje estava com um batom cor-de-rosa, e foi
inevitável olhar para lá. Isso me fez ficar com raiva de mim mesmo, por
eu ter tantas garotas disponíveis, e ainda assim não conseguir deixar de
admirar Alexia.
— O meu encontro não te diz respeito, Adonis. Se me der licença,
tenho coisas mais interessantes para fazer do que ficar na sua odiosa
companhia.
Dei um passo em sua direção assim que ela se moveu até a porta,
bloqueando o caminho. Alexia bufou. Invadi o seu espaço pessoal, só para
deixar uma coisa bem clara. Acho que minha pressão subiu, e senti os
batimentos golpearem meu pescoço. Toda vez que eu ficava perto de
Alexia, meu sangue fervia, e não de um jeito bom.
— Não estou dizendo que eu tenho alguma a coisa a ver com isso! —
rosnei.
— Que bom.
— Eu nem quero saber se você tem saído com os caras da escola!
— Ótimo!
— E nem se você fica beijando por aí...
Alexia ergueu uma sobrancelha.
— Beijando?
— Nikos, né? Tá na cara. Ou vai se encontrar com ele para discutir
filosofia?
Alexia começou a rir e espalmou as mãos no meu peito, tentando me
empurrar, sem sucesso.
— E se beijei? Nunca fiquei questionando o que você faz da sua vida.
Que, por sinal, é bem promíscua. Uma garota por semana, uau... quantas
doenças sexualmente transmissíveis você já pegou?
Ar quente saiu da minha boca e não ouvi uma frase que ela disse a
não ser “e se beijei?”.
— Fantástico! Então, vai lá beijar o Nikos. Fiquei sabendo que ele é
ótimo mesmo.
— Aquele boato do Nikos é mentira.
— Oooooh — dramatizei o choque. — Quer dizer que ele não enfia a
língua toda babada dentro da sua boca? Que bom para você, Alexia.
Encontrou um cara que consegue ligar e desligar o botão que produz
saliva. Tá de parabéns mesmo. Um super-herói.
— Seu sarcasmo não é engraçado.
— Não estou tentando ser engraçado.
— Nikos é perfeito.
— Então, você já provou o beijo dele?
Alexia cruzou os braços na altura do peito.
— Não vou responder.
— Seu primeiro beijo... e tá ficando com alguém que não sabe beijar?
— Você quer o quê, então, Adonis? — Alexia ficou com as bochechas
vermelhas, tão irritada comigo que eu via em seus olhos o quanto queria
dar uma bofetada na minha cara. — Quer dizer com quem eu devo me
encontrar? Nem amigos nós somos. Não suporto estar na sua presença!
— E nem eu na sua!
— Por isso a gente se evita! — ela gritou de volta. — Ah, não aguento
isso não, Adonis. Eu tô saindo e você vai me deixar passar.
— Cuidado para não se afogar beijando o Nikos. Capaz de você
morrer no oceano.
— Você que devia tomar cuidado. Vai que seu pinto cai de tanto que
você usa essa ferramentinha.
— Ferramentinha é o caralho.
Ela tentou me empurrar de novo e eu não sei o que aconteceu, acho
que foi meu cérebro que deu pane, alguma coisa falhou no meu sistema e
havia alguma merda no meu pensamento do tipo: ela vai beijar esse cara
pelo resto da vida.
Isso tudo, somado à vontade de chacoalhá-la.
Segurei seus pulsos, sem força alguma, só envolvi meus dedos em
sua pele, sem conseguir parar de olhar em suas íris negras. Existia
alguma coisa ali que me acalmava, mesmo com toda a repulsa que
tínhamos um pelo outro e, por mais que visse a raiva dançando e
brilhando em seus olhos, eu consegui enxergar outro sentimento
indecifrável ali também.
Alguma parte minha disse: se afaste, caia fora, não faça isso. Só que
eu não pude dar ouvidos a ela. Não quando minha mente começou a criar
mil imagens que envolviam Alexia nos braços de Nikos. Puxei-a, sem
raciocinar, colando seu corpo no meu. Alexia chegou a abrir os lábios
para me xingar, provavelmente, mas eu não os deixei separados por
muito tempo. Uma fração de segundo se passou antes que eu descesse o
rosto em direção ao pecado, em direção a tudo que eu tentava evitar. A
boca de Alexia jogou um ar contra a minha.
Fechou as pálpebras.
E eu simplesmente beijei-a.
Os lábios dela, rígidos. Os meus, calmos.
Suas mãos saíram do meu suave aperto e espalmaram meu peito.
Alexia pôde sentir os batimentos idiotas do meu coração, pela raiva,
claro, que tinha dela. Mas não pareceu se importar. Moldou seus lábios
nos meus, causando um tormento em mim. Seu beijo era suave, macio,
cheio de alguma coisa que eu não soube descrever. O lábio inferior veio
para o meio dos meus, se movimentando, enquanto eu respondia da
mesma forma, beijando-a devagar, contradizendo a briga que tivemos,
descobrindo que Alexia tinha gosto de morango. Senti meu corpo
incendiar, mesmo que fosse um beijo sem línguas e pegada, mesmo que
fosse só uma união de bocas. O perfume de flores dela surgiu no meio
daquilo e Alexia agarrou a minha camiseta, amassando com força em
seus dedos, como se quisesse me puxar para mais perto e...
Então, me dei conta.
Era Alexia Leandros ali.
De verdade.
Abri os olhos subitamente, chocado com o que fiz.
O desespero bateu rápido quase no mesmo segundo em que ela
também se deu conta. Sua boca ficou rígida como mármore. Ela se
afastou, me usando para se empurrar para trás, como se precisasse se
impulsionar. Alexia arregalou os olhos e levou a ponta dos dedos até os
lábios entreabertos.
— Seu beijo é terrível! — Ela fez uma careta. Ainda assim, eu pude
ver a respiração afetada, os olhos brilhando. Mentirosa. — Por que diabos
fez isso? Eu não gosto de você, Adonis. Eu não suporto você. E você me
beijou!
— Também não gosto de você. O beijo foi um erro.
Mas alguma coisa estava pesando e não era pelo beijo que demos.
Consciência? Minha impulsividade era uma merda. Eu não tinha o direito
de beijá-la, mas, espera... não era como se Alexia não quisesse, certo? Dei
uma espiada na minha camiseta completamente amassada, as marcas
dos dedos de Alexia ainda ali.
Abri um sorriso.
— E nunca mais me beije de novo! Já foi péssimo por uma vida
inteira.
— Foi?
— Claro que sim! Você... baba.
Sua boca estava seca, e eu sabia que não tinha babado. Cara, eu sabia
que meu beijo era bom. E eu nem tinha usado a língua.
— Aham.
— E eu odiei cada segundo.
— Sei.
— Por que você não acredita em mim? — Alexia gritou. — Acha que
estou apaixonada por você como todas as meninas do colégio?
— Você nunca se apaixonaria por mim.
— Exatamente!
— E nem eu por você.
— É claro!
O sinal tocou, avisando que o intervalo havia acabado. Eu e Alexia
fomos cercados de gente, mas eu não consegui tirar os olhos dela.
Lembrei, naquele instante, que no ano seguinte eu passaria oito meses
servindo obrigatoriamente ao exército e, logo depois, eu me mudaria
para a Suíça, para fazer o programa de Gestão Hoteleira no Swiss Alpine.
Eu ficaria alguns anos longe de Atenas, da minha família e amigos, pelo
bem do meu futuro e...
Longe de Alexia.
Sem brigas, sem discussões, sem vê-la e odiá-la.
Não existiria mais isso. Nada disso.
Ela se sentou novamente na cadeira, furiosa, sem ter coragem de me
encarar. Nikos se aproximou dela e perguntou baixinho o que aconteceu.
Eu estava pronto para uma briga, quando ouvi Alexia dizer que tudo
estava bem.
Daquele dia em diante, nós continuamos a nos bicar como sempre
fazíamos, mas nunca mais nos tocamos, nem para nos provocar em um
sentido de empurrar ou dar um tapa no braço. Mantínhamos distância
como se... o beijo tivesse nos transformado. Não falamos no assunto, era
como se nunca tivesse acontecido.
Então, depois de ir embora de Atenas, de oito meses servindo ao
exército, mal vendo Alexia, e me mudar para a Suíça, me peguei sentindo
falta do seu humor sarcástico, do jeito que ela estreitava os olhos quando
estava brava, da maneira que não conseguíamos ficar sem discutir.
Alexia Leandros já foi minha melhor amiga uma vez. Deveria ser isso,
né?
Com certeza era.
Eu resolvi ignorar as chamadas do meu pai. Tinha avisado que ia
tomar um café com Katerina, minha melhor amiga, e não queria ser
incomodada. Papai tinha uma mania de me ligar quinze vezes para
contar uma novidade do vizinho ou dizer sobre a notícia que viu na TV.
Desliguei o Iphone e encarei Katerina. Ela estava distraída, deslizando o
dedo pela tela do seu celular.
— No que está pensando, Kate?
Ela abriu um sorriso.
— Sobre o nosso assunto de ontem.
Rolei os olhos.
— Não sei por que você me perguntou sobre aquilo.
— É porque... me veio ele na mente.
Katerina estudou comigo na escola e fizemos a mesma faculdade,
Economia, na Universidade Nacional e Kapodistriana de Atenas. Com
todo o QI que tínhamos, me surpreendia que ela cismasse com uma coisa
tão banal como um garoto da nossa escola que se mudou para a Suíça.
— Do nada?
— Não sei, Lexi. Eu te perguntei se tinha notícias... vocês eram meio
colados um no outro. Seis anos se passaram e você diz que nem sabe que
aparência ele tem agora? Nem uma troca de mensagens?
— Colados? — Comecei a rir. — A gente brigava como animais
defendendo território. E, não, como te respondi ontem, eu nem busquei
saber como ele está e... não me importa. Deve continuar do mesmo jeito,
com uma namorada por semana, a diferença é que mudou de país.
— Hum... — Kate voltou os olhos para o celular. — Será?
Adonis Konstantinos foi uma praga na minha vida. Aquele tipo de
garoto que você quer chacoalhar e bater ao mesmo tempo. Competíamos
indiretamente por notas na escola e, quando ele tirava um nove e eu, um
oito, acontecia um inferno. Ele fazia questão de se gabar nas festas que
nossos pais ofereciam e... bem, nos jantares? A gente discutia na frente
dos adultos, que riam e diziam: “ah, eles se adoram...”. Como podiam ter
uma visão tão deturpada? Fora que, aos doze anos, ele cortou a cabeça do
meu ursinho favorito. E eu quebrei seu carro de controle remoto porque,
convenhamos, são direitos iguais.
A única qualidade que Adonis tinha era ser bonito.
Sim, ele era, eu admito. Não sei se cresceu e ficou terrível. Espero que
sim, mas o filho dos Konstantinos tinha uma beleza única. Tem muitos
homens lindos em Atenas, mas nenhum se comparava à estrutura física e
ao rosto de Adonis. O nome que sua mãe deu... era como uma
premonição. E isso me deixava ainda mais irritada. Não bastava ser lindo,
ele tinha um nome delicioso.
E justo aquele menino lindo e odioso foi capaz de roubar o meu
primeiro beijo.
Eu não suportava que ele tivesse sido o primeiro. Odiava que fosse
tão cretino. Então, para que procurar o meu pesadelo na internet? Ver
como ele estava e trocar mensagens? Não, muito obrigada.
— Achei ele no Instagram — Kate jogou, semicerrando as pálpebras.
O celular em sua mão pairou entre nós. — Se quiser, por curiosidade...
— Não quero.
Katerina se recostou na cadeira, puxando o celular.
— Como você acha que ele está?
— Horrível.
— Você acha ou espera isso? Tem certeza que não quer dar uma
olhadinha?
Estreitei os olhos.
— Tenho. E por que você foi procurá-lo, Kate?
— Fiquei curiosa. Ele era o garoto mais bonito da escola e te deu seu
primeiro beijo. Aliás, Adonis postou aqui que...
— Eu não quero saber, Kate. É sério. Não insista. Adonis está bem
longe da minha vida agora e espero que se mantenha assim por muito
tempo.
O celular de Kate tocou e ela franziu a testa. Em seguida, me lançou
um olhar.
— É a sua mãe.
— Atende.
— Olá, Maria. — Kate fez uma pausa, o celular já na orelha. Por mais
que fosse incompreensível o que mamãe estava dizendo, pude ouvir o
tom urgente dela. Estiquei a mão e pedi o celular. Kate arregalou os
olhos. — Espera, espera. Eu vou passar para Lexi.
Me arrependi por ter desligado o meu. Assim que coloquei o celular
dela no ouvido, torci para não ser uma notícia ruim.
— Mãe? O que aconteceu?
— Meu Deus, Alexia! Como você desliga o celular? Eu aqui
desesperada...
— Ai, Deus. Está tudo bem?
— Sim, está! Mas preciso urgentemente te contar uma coisa. —
Segurei o celular com mais força. — Adonis voltou para Atenas.
Encarei Katerina, pensando se ela sabia e estava tentando me
preparar para o choque. Senti minhas mãos ficarem frias, meu estômago
dar um giro e meu coração saltou como se fosse sair pela boca. Kate me
olhou, como se me pedisse desculpas por realmente saber a razão do
meu choque. Ela tentou me avisar...
— Filha?
— Por que ele voltou? — Senti a pálpebra do olho esquerdo tremer.
— Eu não sei, querida. Você sabe que seu pai não me conta tudo. E
tem mais coisa... eu ouvi uma conversa do seu pai com o Giannis
Konstantinos. Parece que eles estão aprontando alguma, porque Petros
está empolgadíssimo. — Meu pai empolgadíssimo? Tinha coisa aí... — E
ele passou o endereço do café que você foi.
— Para quem? — gritei ao telefone.
— Para Giannis, o pai do Adonis!
— Mãe, você não acha que o Adonis vai...
Comecei a olhar ao redor do café, buscando o maldito em algum
lugar. Não encontrei e respirei fundo. Seis anos sem ver o Adonis e ia ser
assim, no susto?
— Adonis deve ir para aí. — Enquanto mamãe falava, eu ouvia meus
batimentos nos tímpanos. — Filha, quis te avisar porque sei que você não
ia muito com a cara dele, mas espero que esse sentimento tenha passado.
— Não passou.
— Seja razoável. Te eduquei para ser uma boa menina.
— Eu sou uma péssima menina quando Adonis entra na equação.
Vou tentar não surtar com essa tramoia do papai com o Giannis. Seja lá o
que eles estejam fazendo...
— Sabe que seu pai adora surpresas. Acho que ele imaginou que
você ficaria feliz em rever um amigo.
— Eu não sei de onde Petros Leandros tirou isso.
Ela suspirou.
— No fundo, você até gosta do Adonis.
— Não! — rebati, como se tivesse novamente dezessete anos.
Suspirei fundo, tentando ser racional. — Tudo bem, mãe. Vou tentar ser
razoável.
— Se comporte. Te amo. — Mamãe desligou a chamada.
Entreguei o celular para Kate, chocada. Eu imaginei que ele fosse
ficar na Suíça, curtindo a vida depois da faculdade e até se estabelecer
por lá. Adonis não era um garoto com amarras e, apesar de amar a
família, o amor que ele tinha por si mesmo era tão grande que eu
imaginava que ele se beijava na boca, pelo espelho, toda manhã.
Encarei Kate.
— Adonis voltou.
— Era isso que eu estava tentando te dizer... Eu vi no Instagram e
não sabia como contar. Ele postou uma foto desembarcando há alguns
dias.
— Mas não é só isso, Kate. Adonis está vindo para cá.
Ela franziu a testa.
— Como assim? Para o café?
— Sim.
— Ai, meu Deus! — Kate se inclinou sobre a mesa e começou a
mexer no meu cabelo. Semicerrei os olhos para ela enquanto minha
melhor amiga jogava meus longos fios para um lado, criando uma franja
falsa.
— O que pensa que está fazendo?
— Te arrumando. Espera! — Kate pegou a bolsa no encosto da
cadeira e tirou um batom vermelho. Ela segurou meu queixo e nem tive
tempo de processar enquanto ela pintava meus lábios. Kate tinha
enlouquecido. — Não me olha com essa cara... ah, assim. Pronto. Esfregue
os lábios um no outro.
Fiz o que ela me pediu, rolando os olhos.
— Já estou arrumada o suficiente para dar um soco na cara dele no
segundo em que Adonis for arrogante?
— Você está linda, Alexia.
O sino na porta avisou que alguém chegou. Kate foi perdendo o
sorriso enquanto algo atrás de mim chamava sua atenção. Eu vi os lábios
da minha amiga se entreabrirem e seus olhos castanhos cintilarem. Eu
conhecia aquele olhar. Era o que eu chamava de Reação Catastrófica a
Adonis. Todas as mulheres o encaravam da mesma maneira. Era como se
houvesse uma atração instantânea, enviada direto para o cérebro
feminino, de que aquele homem era o auge da genética perfeita.
Ou seja, Adonis não estava feio, como eu tanto esperava.
Merda.
Eu não movi um músculo, continuei encarando Kate como se não
sentisse que Adonis estava no mesmo estabelecimento que eu.
Ouvi passos atrás de mim. Botas masculinas. O perfume veio antes,
pimenta e limão, totalmente diferente da fragrância que usava antes. É,
seis anos se passaram, talvez ele tenha amadurecido e...
Recebi um puxão no meu cabelo.
Idiota!
Não, ele não tinha amadurecido.
Empurrei a cadeira para trás com força e escutei um palavrão, em
uma voz rouca e grossa, quando percebi que atingi alguma parte do seu
corpo. Espero que alguma parte importante. Saí da cadeira, sorrindo,
tranquila em meus saltos altos vermelhos. Me dignei a olhá-lo assim que
fiquei de pé e precisei erguer o queixo, porque ele tinha crescido bons
centímetros.
— Você não amadureceu, pelo visto.
Eu estava mentindo.
Aquele menino havia se transformado em um homem de ombros
largos e músculos definidos, tornando seu corpo quase uma escultura
grega. Adonis estava com uma camiseta branca de manga curta, exibindo
o bronzeado e a tatuagem no braço direito. A calça jeans clara era justa e
rasgada. Os coturnos também entregavam certa rebeldia. Mas todo o
conjunto, ainda que fosse de arrepiar, não chegava perto ― por mais que
eu odiasse assumir ― da beleza em seu rosto. O maxilar continuava
quadrado, mas agora ele era mais homem. Havia uma barba de poucos
dias, negra como a noite. Seus dentes exibidos, branquinhos, em um
sorriso de canto de boca. Os lábios cheios estavam mais bonitos. Os cílios
escuros, os olhos azuis, que tinham centenas de tonalidades, como o mar
do meu país, exótico e tão claro que brilhava ainda mais devido às
sobrancelhas negras. O cabelo curto nas laterais e repicado em cima era
diferente da adolescência. Moderno, sexy, um absurdo.
Por que Deus presenteia um homem que tem uma personalidade
terrível com uma beleza como essa? Armadilha para mulheres?
— Eu cumprimentava você assim antes. — A voz dele estava mais
grossa, masculina e adulta. Adonis abriu um sorriso completo, descendo
os olhos por meu corpo, na mesma velocidade que fiz com ele. A ponta da
sua língua passeou entre os lábios, e ele sorriu de novo. — Achei que
tivesse sentido saudade da implicância. Ou de mim.
Cruzei os braços na frente do peito.
— Nunca.
— Ah, é? — Ele riu. — Pois então saiba que eu nem pensei em você
enquanto estive fora.
— Ótimo! Nem eu. E imagino que você estava bem ocupado fazendo
uma agenda de novas namoradas.
— Hummm. — Ele franziu os lábios. — Talvez. E você? Estava
ocupada se afogando nos beijos do Nikos?
Eu abri um sorriso.
— Nós namoramos depois do colégio. Dois anos muito felizes.
Essa parte do muito felizes era mentira, mas ele não precisava saber.
Adonis estreitou o olhar e enfiou as mãos no bolso frontal da calça
jeans. Isso fez com que os músculos dos seus braços saltassem e a
tatuagem esticasse um pouco.
— Sério? Então, já que não se afogou em dois anos, fico feliz em te
ver viva.
Soltei uma risada sarcástica.
— Você se acha tão superior aos outros.
— Eu sou sincero. Você nunca me viu mentir para alguém. E Nikos
era péssimo para você.
— Ele foi ótimo e, não, você não é sincero. É arrogante.
— Pode ser.
— E insuportável.
— Não, isso aí é com você.
— Adonis!
— O quê? — Ele sorriu. Depois, me olhou de novo, virando a cabeça
para o lado, sua atenção descendo. Ele admirou meus saltos e o macacão
branco, para só depois voltar a me encarar. — Aprontou muito nesses
últimos seis anos?
— Me formei em Economia. Ajudei meu pai nos resorts. Namorei.
Aproveitei. Fiz amizades. Evoluí.
— Hum.
Mas ele não disse mais nada e eu fiquei sem ter o que falar. Só
sabíamos discutir e, a partir do momento em que Adonis veio com uma
pergunta tão normal, fiquei sem reação. Kate, parecendo ler meus
pensamentos, se enfiou no meio. Ela foi uma das poucas meninas da
escola que nunca ficou com ele. Kate namorava desde o primeiro ano do
Ensino Médio, e agora estava noiva do Kostas, seu grande amor.
Perguntou-lhe como estava nesses últimos anos, mas eu não consegui
ouvi-los direito porque observava Adonis e enxergava uma coisa
diferente, uma que fez meu sangue esquentar por saber que aquele
menino que eu repudiava havia se tornado um homem indescritível.
Arrogante, mas bonito demais para não ser notado.
— Eu posso roubar a Alexia do café de vocês? Sei que vim sem
avisar, mas meu pai me passou o endereço daqui e me mandou buscá-la.
— Faz quanto tempo que você voltou? — Kate indagou.
— Cheguei há menos de uma semana. Já venho conversando com
meu pai sobre vir e etc... Agora que me formei em Gestão Hoteleira e fiz
estágio, além de trabalhar por lá durante um ano, me sinto pronto para o
que der e vier.
— Isso é ótimo, Adonis. Fico feliz por você.
— Obrigado. Então, Alexia. — Ele desviou a atenção para mim. —
Você vem?
Eu pisquei, sem entender.
— Seu pai pediu para você me buscar?
— Sim, parece que é uma reunião dos Leandros e Konstantinos. Mas
isso é tudo que sei. — Deu de ombros. — Sério, se eu não aparecer com
você lá, serei deserdado.
— Não precisa dizer isso. Eu vou. — Virei de costas para Adonis,
puxei a bolsa do encosto da cadeira e dei dois beijos no rosto de Kate.
Suspirei fundo. — Eu te ligo.
— Estarei esperando.
— Obrigada pelo frappé.
Ela sorriu.
— Eu sabia que você ia adorar esse lugar.
Quando virei de costas, buscando Adonis, percebi que ele tinha me
dado privacidade para dar tchau para Kate. Franzi o cenho quando o vi
mexer no celular, já perto da porta. E, como se soubesse que estava
sendo observado, olhou direto para mim e abriu um sorriso.
Que droga. Ter Adonis de volta na minha vida não era uma coisa que
eu sonhava. Especialmente por ele continuar tão egocêntrico e ter se
tornado ainda mais...
Bonito.
Eu não fazia ideia do que meu pai estava tramando com Petros, pai
de Alexia. Só me disseram que eu tinha que me reunir com eles e Alexia
na minha casa.
Lancei um olhar para ela, enquanto abria a porta de entrada. Não
tínhamos trocado uma palavra dentro do carro e eu deixei o som calar
qualquer diálogo que poderíamos ter. Provavelmente acabaríamos nos
provocando e brigando.
O silêncio, então.
Alexia passou pela porta, deixando seu perfume de rosas pelo
caminho. Desconfiada, parou na sala de estar, observando a decoração, as
colunas e tudo que estava acostumada. Mas, enquanto estava ocupada
com o ambiente, não consegui evitar de observá-la.
Porra, eu sabia que ela estaria ainda mais bonita do que aos
dezessete anos.
Não a seguia no Instagram, ela deixava a conta bloqueada. Mas o
Facebook continha fotos da sua vida no decorrer desses seis anos. Não
foi uma surpresa o namoro com Nikos, nem que ela viajou para alguns
lugares nas férias, muito menos que amadureceu e criou um corpo que...
por Deus, qualquer homem desejaria. As fotos dela nas festas em
Mykonos eram de fazer qualquer um acreditar que se tratava de uma
modelo internacional.
Alexia estava de tirar o fôlego e, ainda assim, as fotos que vi não
fizeram jus ao que eu enxergava pessoalmente.
Seus cabelos negros caíam até o meio das costas, a pele estava
bronzeada como sempre, mas agora havia uma marca de sol, do seu
biquíni, bem ali no decote. E o corpo, que evoluiu, estava de matar. Os
seios de Alexia estavam maiores e tão quentes. Não que eu gostasse da
ideia do meu corpo reagir ao dela.
Algumas coisas não mudam, né? Que caralho...
Eu tive um pouco de noção da vida de Alexia, embora parecesse que
ela não tinha noção nenhuma da minha. Eu vi toda a surpresa em seu
olhar assim que Alexia viu o que seis anos fizeram comigo.
— Então, onde estão nossos pais?
— Pai! — gritei, jogando as chaves do carro e da casa no aparador. —
Chegamos.
— Venham até o escritório! — ele gritou à distância. — Você trouxe
Alexia?
— Sim — respondi e Alexia me lançou um olhar enviesado, me
questionando mais uma vez o que era aquilo tudo.
Quando você fica muito tempo sem ver alguém pessoalmente, é
natural comparar o que mudou? A sensação de vê-la ali e tê-la tão perto
era curiosa. Eu fiquei me perguntando se ela tinha malhado ou o que
acontecera com seu rosto, que parecia mais sexy. Os cílios estavam
maiores, e a sua boca...
— Você vai me levar até o escritório ou vai ficar aí parado?
Respirei fundo.
É, realmente, a chatice perdurou.
— Vem comigo.

Assim que encarei nossos pais, percebi que tinha alguma coisa
errada. E não em um sentido de “estamos em guerra”. Era mais como:
“vamos aprontar com vocês”. Os dois estavam rindo e bebendo Uzo, uma
bebida típica do meu país com até 50% de índice alcoólico. Apesar da
dose em suas mãos ser pequena, eu pude ver que estavam comemorando
alguma coisa e a felicidade não tinha nada a ver com a quantidade de
álcool ingerido. Não estavam altos e nem bêbados. Era mesmo uma
comemoração.
Eles bateram um copo no outro e gritaram: Opa!, uma frase que dizia
que estávamos celebrando.
Cruzei os braços na frente do peito, irritado com aquilo, e me sentei
quando os dois pediram para nos acomodarmos no sofá de dois lugares,
de frente para eles. Meu braço roçou em Alexia quando ela se acomodou,
e senti que ela tentou ir mais para o lado e suspirou quando não
conseguiu.
Giannis, meu pai, estava sentado sobre sua mesa de madeira,
encarando-me como se tivesse um segredo a compartilhar. Petros, pai de
Alexia, estava com um semblante divertido enquanto olhava a filha.
— Certo, vocês vão dizer o que está acontecendo ou vai ser um
mistério?
— Sabe, filho. — Meu pai abandonou a pequeno copo de Uzo, já
vazio, e abriu um sorriso para mim. — Eu e Petros esperamos por isso
durante muitos anos e esse dia finalmente chegou.
— E que dia é esse, senhor Giannis? — Alexia questionou.
— O dia em que vocês dois vão ter responsabilidade — o pai de
Alexia esclareceu.
Comecei a rir.
— Sério? — Encarei meu pai. — Eu me formei com honras. Trabalhei
como um louco no hotel...
— Já sei tudo o que você fez, filho, e acho incrível, mas não é o
bastante. Você estudou, tirou notas razoáveis e recebeu um sete em seu
estágio final. Acho que estava ocupado demais com as festas na Suíça. É
triste dizer isso, mas você não é responsável. Não o bastante.
Senti os olhos de Alexia em mim, e travei o maxilar, me segurando
muito para não explodir. Meu pai me cobrava além da explicação, talvez
por isso havia uma veia competitiva em mim. Eu queria esfregar na cara
dele que conseguiria qualquer coisa. Apesar de amá-lo, Giannis era
exigente quanto com seu único herdeiro. Ele estreitou o olhar e isso me
fez apertar o braço do sofá.
— Alexia, digo o mesmo para você — Petros soltou.
Não olhei para ela, mas ouvi seu suspiro exasperado.
— Aproveitou muito a faculdade de Economia e me ajudou bastante,
mas falta algo. Se envolveu com um namorado que te distraiu e não era
bom o suficiente. Quando mais precisei de você, estava ocupada curtindo
shows, festas e saindo com suas amigas. Esse é o tipo de comportamento
que me mostra o quanto falta paixão pelo que faz.
— Eu amo os resorts!
— Não o bastante.
Ela começou a rir, sarcástica. Alexia tinha muitas risadas, mas essa
feria o ego de qualquer homem.
— Certo, então vocês nos chamam aqui, como duas crianças que
estão de castigo, para jogarem todos os nossos defeitos e o fato de não
sermos filhos bons o bastante? — Alexia agarrou a bolsa e se levantou. —
Estou caindo fora.
— Não vai ouvir nossa proposta até o fim? — Meu pai encarou
Alexia. — Nossa, Petros. Ela é mesmo sua filha.
O homem abriu um sorriso.
— Se é.
Isso fez Alexia bufar e se jogar no sofá. Ela cruzou as pernas e seu
salto bateu, por acidente, bem no osso da minha perna. Prendi a
respiração porque doeu pra caralho, mas não disse nada. Alexia, sem
olhar para mim, levou sua mão para onde havia batido, sobre a calça,
como se pedisse desculpas. Sua palma aqueceu o lugar e eu abri a boca,
em choque. Durou poucos segundos, e foi tão automático para Alexia que
ela nem se ligou do que tinha feito.
Senti os olhos dos nossos pais em nós.
Sua mão saiu da minha perna.
— Vocês dois têm um espírito competitivo maravilhoso. São como eu
e Giannis — Petros chamou a minha atenção, enchendo o copo com Uzo
mais uma vez. Serviu ao meu pai também e eles brindaram. — O
problema é que dois competiam de forma nada saudável há seis anos, o
que me faz pensar que agora, mais maduros, serão como eu e Giannis.
Não é, amigo?
— Ah, claro. Eu acredito neles.
— O que querem dizer? — perguntei.
— Que vocês dois deverão fazer uma atividade.
— E para que nos submeteríamos a isso? — Alexia rebateu.
— Porque vocês são os futuros donos das redes de resorts Leandros
e Konstantinos. Estamos velhos, não é, Petros? — Meu pai sorriu para o
amigo. — Temos que passar o trabalho para esses dois em uns dez anos.
— Eu quero viajar pelo mundo — o pai de Alexia desabafou.
— Espera. Nós vamos fazer uma atividade que nos dará,
separadamente, os direitos da rede de resorts de vocês em dez anos? —
Me levantei. — Pai, isso é uma loucura. Já sou o herdeiro por direito. Já
provei que sei administrar um hotel. O que mais quer que eu faça?
— Vamos por partes — meu pai esclareceu e puxou uma cadeira
para ele e outra para Petros. — Vocês não devem se preocupar com isso
agora. A única coisa que queremos que façam é...
— Ir para Mykonos — Petros completou.
— E comprar um resort. — Meu pai sorriu.
Eles queriam que...
— O quê? — Eu e Alexia quase gritamos ao mesmo tempo.
— O dono é um pouco...
— Excêntrico — Petros acrescentou.
— E a gente quer o resort dele. Íamos competir pela compra, claro,
oferecendo os recursos e apresentando as propostas — meu pai
continuou. — Mas lembramos do acordo que fizemos há alguns anos:
quando vocês passassem dos vinte, começaríamos a lhes delegar
responsabilidades, se já não fossem responsáveis o suficiente.
Alexia gargalhou.
— Isso é tão irracional e arcaico. O que vamos provar com isso?
— Provarão que são capazes, além de administrar os resorts, a
barganharem em busca de expansão e crescimento. O resort deste
homem, em Mykonos, já está falindo e ele só precisa enxergar isso. Quem
ganhar e oferecer a melhor proposta... — Petros explicou.
— Terá o resort — meu pai arrematou. — Vocês vão ter um resort só
para vocês, enquanto os dez anos não chegam. Vão ter seu dinheiro e
muito mais do que já ganharam até agora. Vão ter responsabilidade e
poderão fazer o que bem entenderem.
Me sentei no maldito sofá quando perdi o chão. Alexia ficou imóvel e
eu finalmente olhei para ela. Nossos pais estavam nos dando a chance de
lutar por algo nosso e, para isso, teríamos que competir. Já fazíamos isso
seis anos atrás, mas nunca nessa proporção. Nunca valendo tanto.
— Temos algumas regras — Petros disse. — Não é para falarem
profissionalmente mal um do outro para o dono do resort. Não podem
voltar para casa até que o dono dê uma resposta definitiva a vocês. É
para ser uma competição saudável e queremos êxito.
Meu sangue começou a circular mais rápido com todas as
informações. Eu ficaria um tempo afastado de tudo, em Mykonos, com
Alexia. Competiríamos pela compra de um resort que poderia ir para o
lado Leandros ou Konstantinos. Isso era quase como a Guerra Civil dos
Vingadores.
Alexia me encarou, os olhos arregalados, as bochechas vermelhas.
Realmente fodeu.
Ela olhou para frente e eu também.
Como não dissemos nada, eles interpretaram da forma que
quiseram.
— Isso significa que vocês estão dentro, certo? — Meu pai sorriu.
Eu não estava dentro de nada, mas Alexia se levantou e disse sim
antes que eu pudesse responder. Ela queria essa oportunidade e seu pai
entregou nossas passagens para Mykonos, lançando-me um olhar.
— Vocês serão ótimos competidores.
— Não podemos contestar essa ideia? — perguntei.
— Não se quiserem o resort. E tenho certeza de que, assim que
pisarem em solo firme... ah, aquele resort... — Meu pai suspirou. —
Amigo, eles trarão para um de nós. Acho que isso merece outro brinde.
— Estou dentro.
— Ótimo! — Giannis Konstantinos suspirou. Acho que, naquele
instante, eu odiei um pouco o meu velho. — Agora, vamos comer, porque
já estou faminto!
No que tínhamos nos metido?
Encarei Alexia e, em seu rosto, não havia nenhuma resposta. Apenas
a constatação do absurdo e o choque, assim como tinha certeza que
estava o meu.
— Como assim só tem um quarto? — praticamente gritei para a
recepcionista, espalmando as mãos sobre a bancada.
— Estamos em uma época de alta demanda. Vocês não fizeram
reserva e, sinto muito, se quiserem, terão que dividi-lo. Caso não
queiram, tem um resort a duzentos e cinquenta quilômetros daqui e
super indico...
— A informação que tive é que estava tudo acertado. Inclusive, o
senhor Alexandros, dono do resort, estava nos esperando.
— Um minuto, por favor.
A mulher pegou o telefone e pediu para conversar com Alexandros.
Eu fiquei, na noite anterior, tentando persuadir meu pai a me
oferecer outra oportunidade, que eu provaria o meu valor comprando
qualquer outro resort que ele quisesse, desde que eu não tivesse que
fazer isso ao lado de Adonis. Qual é, seis anos sem vê-lo, odiando-o por
tanto tempo, e agora teria que competir com ele e dividir uma suíte com
esse homem? Era palhaçada demais para vinte e quatro horas.
Tamborilei os dedos sobre a bancada.
Fora que a viagem até Mykonos foi extremamente esquisita. Eu e
Adonis trocamos farpas durante todo o voo de quarenta e cinco minutos.
E eu não conseguia imaginar nós dois coexistindo em um mesmo espaço.
A recepcionista me encarou e soltou uma notícia chocante:
Alexandros não fazia ideia de quem nós éramos e nada tinha sido
acertado antes.
Nossos pais não nos deram nem uma colher de chá.
Contive a vontade de pegar o celular para gritar com papai quando
senti a presença de Adonis.
— Querida, deixe-me te perguntar uma coisa. — Ele se recostou na
bancada e a mulher suspirou, provavelmente hipnotizada por Adonis. Ele
estava vestindo uma blusa da cor dos seus olhos e o perfume de limão e
pimenta, que parecia tomar cada centímetro quadrado, fechava o caos. —
Não existe outro lugar que eu possa ficar?
As bochechas da mulher ficaram vermelhas. O cretino estava
pedindo, de verdade, a cama dela para dormir? Senti uma espécie de
revolta pulsando em minhas veias. Como ele conseguia ser tão
descarado? Estava prestes a mandar Adonis calar a boca quando vi a
reação da mulher.
— Eu... eu...
— Pago o valor que você quiser.
Ela baixou os olhos e encarou a aliança em seu dedo.
Adonis se afastou.
Eu abri um sorriso tão largo por ele ter recebido uma recusa que
meu dia ficou cem vezes melhor.
— Eu sinto muito. Se quiserem o quarto...
— Teremos que dividi-lo — acrescentei.
Me afastei da bancada e puxei Adonis para um canto. Ele estava com
um sorriso divertido. Tentei focar no que tinha que falar com ele.
Esperava que esse choque pela beleza de Adonis passasse com algumas
horas de convivência.
— Vou pedir camas separadas — avisei.
— Claramente.
— E nossos pais pediram para a gente não falar mal
profissionalmente um do outro para o Alexandros, então, se comporte.
— Uhum.
— Outra regra: nada de andar pelado pelo quarto.
Adonis ergueu uma sobrancelha e assentiu em concordância, mas vi
malícia em seu olhar.
Revirei os olhos e nem respondi, embora meu corpo tenha se
rendido ao que meu cérebro criou. Adonis a alguns passos de mim, sem
cueca, andando pelo quarto, o corpo todo malhado, bronzeado e...
Você não odeia ele, Alexia?, uma parte do meu cérebro gritou. Mas o
beijo dele foi tão bom há seis anos... meu corpo cantou. Assumo, eu menti
para Adonis porque, sinceramente, naquela época, eu não queria que ele
saísse por cima.
Voltei para a bancada e respirei fundo umas duas vezes antes de
dizer:
— Eu quero o quarto que você tiver.
A recepcionista abriu um sorriso e senti Adonis chegar tão perto de
mim que seu peito colou no meu braço. Dei uma leve cotovelada nele, o
que o fez se aproximar ainda mais. Adonis estendeu seu cartão de
crédito.
— Passe o valor integral aqui, por favor.
— Quanto tempo vão ficar?
— Pode deixar em aberto? — Adonis quis saber.
— Claro.
Lancei um olhar para ele. E foi um erro imperdoável. Com Adonis
assim, eu podia ver bem o formato da sua boca e como a barba tornava
seus lábios ainda mais convidativos.
— Vamos ser companheiros de quarto agora— sussurrou.
— Por obrigação.
Ele soltou uma risada gostosa.
— É, Alexia. — A atenção de Adonis escorregou para os meus lábios.
— Eu não iria, por escolha, querer conviver com você.
Estreitei os olhos.
— Como se eu amasse estar na sua presença.
— Aqui, os cartões de acesso — a recepcionista nos ofereceu e eu
peguei prontamente. — Tenham uma excelente estadia. Podem deixar as
malas aqui. Levaremos até o quarto de vocês.
Caminhei na direção dos elevadores e apertei o botão repetidas
vezes, tentando abstrair a presença do Adonis. Durante o percurso,
pensei que eu teria um tempo antes de tentar marcar uma reunião com
Alexandros e elaborar uma estratégia. Talvez, mostrar que o ganho
financeiro compensaria a venda do resort.
Precisava me concentrar para fazer isso acontecer, não ter qualquer
distração, porque eu queria muito mesmo esse resort, eu queria poder
administrá-lo e viver disso por dez anos. Era uma tremenda chance que
meu pai estava me dando e, por mais que odiasse a forma como isso
começou, eu não era de deixar uma oportunidade passar.
Quando as portas dos elevadores se abriram, Adonis deu um passo
para frente, colando seu corpo nas minhas costas. Com a boca dele a
centímetros da minha orelha, fiquei arrepiada, enquanto trocava olhares
com ele pelo imenso espelho do elevador.
— Que comecem os jogos — murmurou.
A suíte era um palácio romântico. A sala de estar era imensa, o
banheiro, luxuoso pra caralho, toda a decoração branca e azul-clara, em
homenagem ao meu país. Abri um sorriso quando vi o quarto. As camas
de solteiro pareciam de casal. Assim que as malas foram entregues,
Alexia começou a desfazer a sua, colocando as peças no guarda-roupas.
Cruzei os braços na altura do peito e apoiei o peso do corpo no batente
da porta.
— Você acha que esse espaço todo é seu?
Ela me lançou um olhar por cima do ombro.
— Claro que é. Eu tenho vestidos que amassam.
— E eu, camisas que precisam ficar aí.
Alexia bufou e arrastou os cabides para a direita, me deixando um
micro espaço na esquerda, e voltou a olhar suas roupas. Espiei sua mala e
estreitei os olhos quando me deparei com uma necessaire transparente,
cheia de renda. Calcinhas... hum, que interessante.
— Isso é o que eu consigo para você.
— Eu quero mais. — Voltei a olhar para suas costas. O cabelo de
Alexia estava preso em um coque no alto da cabeça e ela estava de calça
jeans e camisa social branca. Sempre em seus saltos altos coloridos.
Dessa vez, de um amarelo neon.
— Que pena... — murmurou, teatralmente.
— Alexia, não começa assim que eu posso fazer da sua vida um
inferno. — Sorri, por mais que ela não pudesse ver.
Ela parou de mexer nos cabides e se virou para mim, com as mãos na
cintura. Se alguém nos visse agora, diria que estamos casados há pelo
menos uns cinco anos. Na adolescência, eram implicâncias bobas, mas na
convivência... o negócio aperta. Como eu dormiria esta noite sabendo que
Alexia Leandros estava tão perto de mim? A mulher que era o verdadeiro
significado da palavra caos, na mesma medida em que resumia a luxúria.
Tinha alguma coisa naqueles cabelos negros que brilhavam, naqueles
olhos que me puxavam para perto e na sua boca, que só sabia despejar
coisas que me provocavam.
Engoli em seco e Alexia abriu um sorriso.
— Tudo bem, Adonis. Você quer guerra? Teremos. A começar pelo
básico: já se programou para apresentar uma proposta ao Alexandros?
Ergui as sobrancelhas.
— Claro, na noite passada, assim que saímos da reunião.
Isso, de alguma forma, a deixou furiosa.
— Por quê? — joguei. — Não se preparou?
— Já estou tomando providências.
— O que significa que você não tem nada.
— Eu tenho tudo, Adonis.
Alexia virou de costas para mim, o que me deixou apreciar sua linda
bunda redonda e a cintura fina.
— Eu vou dar uma volta. Não esqueça de deixar um espaço para
mim.
— Já vai encontrar o Alexandros?
— Não te conto nem sob tortura.
Ela fechou as portas do guarda-roupas e virou-se para mim. Seu
sorriso me fez estagnar, porque aquele era um sorriso sincero. Um que
nunca a vi oferecer para mim, só para seus amigos e familiares. Alexia
colocou uma mecha do seu cabelo sexy para trás da orelha e começou a
caminhar até mim, movendo os quadris de um lado para o outro, como
modelos fazem na passarela. Talvez eu tenha ficado hipnotizado por um
minuto ou dois e não acreditei quando suas mãos espalmaram o meu
peito. Alexia subiu um pouco na ponta dos pés, mesmo de salto. Meu
coração trotou como um louco e obriguei-me a pensar que era a raiva
que sentia dessa mulher bipolar.
— Então, boa sorte. Eu vou acabar com você de qualquer maneira.
Me veio na cabeça a verdade: Alexia queria jogar sujo.
Me aproximei do seu rosto, e raspei meus lábios bem na maçã,
tomando um tempo ali.
— Não se eu acabar contigo antes.
Me afastei tão rápido que Alexia perdeu o equilíbrio. Ela apoiou a
mão no batente da porta, respirando fundo.
Pelo susto ou porque eu a afetava?
Semicerrei as pálpebras e virei as costas, saindo do quarto com meu
corpo ainda fervendo por aquela mulher.
Será que Alexia Leandros se sentia atraída por mim ou eu estava
enlouquecendo?
Horas mais tarde, depois de dar uma boa volta no resort, conversar
com muitos funcionários e analisar os pontos positivos e negativos, voltei
para o quarto e encontrei Alexia digitando rapidamente no notebook, os
óculos de grau na ponta do nariz. Ela nem se deu conta da minha
presença. Comecei a desabotoar a camisa assim que entrei e foi aí que ela
percebeu que não estava mais sozinha.
Alexia desviou os olhos da tela e focou em mim.
Tirou os óculos e me encarou de cima a baixo, descendo a atenção
quente por meu corpo. Minha respiração ficou suspensa. Terminei de
arrancar a camisa e caminhei até o guarda-roupa, abrindo um curto
sorriso quando vi que ela deixou uma parte um pouco maior para mim.
Pendurei a camisa e pensei em desfazer as malas, quando a voz de Alexia
cortou o silêncio.
— São dez horas da noite, Adonis. Onde esteve esse tempo todo?
Vida de marido e mulher. Eu disse.
— Andei e fiz contatos.
— Hum. — Ela voltou a digitar. Ficamos em um silêncio
surpreendentemente confortável enquanto eu desfazia a mala e Alexia
trabalhava no seu notebook. Assim que acabei, pegue uma boxer e fui até
o banheiro, pronto para tomar um banho. Alexia continuou digitando e
não disse mais nada.
Observei-a.
Acompanhei um pouco da vida de Alexia à distância ao longo do
tempo e, apesar de implicarmos um com o outro, parecia que algo entre
nós havia mudado. Talvez, não mais a birra adolescente, e sim a
consciência da vida adulta. Eu olhava para aquela mulher e isso me trazia
todas as memórias que tivemos desde pequenos. Era estranho conhecer
uma pessoa por anos, se afastar dela e, ainda assim, sentir como se tudo e
nada tivesse mudado.
— O que está olhando, Adonis? — Ela continuou a digitar, sem me
olhar.
— Você tem noção de que nos conhecemos a vida inteira?
Alexia parou de digitar, mas seus olhos se mantiveram fixos na tela.
— Sim.
— E que nos odiamos noventa por cento desse tempo?
Ela riu.
— É.
— Por quê?
Foi o momento de Alexia me encarar. Ela abriu um sorriso e deu de
ombros.
— Porque é assim que a gente faz, Adonis. É assim que somos. Achou
que íamos nos ver depois de seis anos e nos tratarmos com carinho?
Acabei rindo.
— É. Não ia acontecer.
— Jamais.
— E amanhã vamos começar a competir para valer. — Cruzei os
braços e ergui uma sobrancelha sugestivamente.
— Vamos sabotar um ao outro?
Que linda, puta merda.
— Ah, espere tudo de mim, Alexia.
— Vamos ver o que você tem de melhor, então.
Comecei a desabotoar a calça, e Alexia nem desviou os olhos para ver
se eu teria coragem de abaixar o zíper. Mordi o lábio inferior e abri um
sorriso preguiçoso.
— Veremos.
Entrei no banheiro e fechei a porta. Tomei uma ducha longa,
esfriando meus nervos. Era como se eu me sentisse atraído pela disputa
entre nós. Alexia era a única mulher que eu não conseguia dobrar. Fiquei
pensando nisso o tempo todo do banho e, assim que saí, de boxer e
enrolado em uma toalha, vi que Alexia continuava trabalhando no
notebook. Deixei a toalha cair, de propósito, e ela só desviou o olhar
rapidamente.
Suas bochechas ficaram quentes.
E aí estava: Alexia Leandros se sentia mexida por mim.
Ah, caralho. Aquilo foi com uma vitória e uma constatação de algo
que, quando adolescente, não tinha tanta certeza. Mas aquelas bochechas
ficando vermelhas e a olhadinha rápida... Alexia não faria isso a menos
que eu a afetasse de alguma forma.
Me joguei na cama sob o lençol e comecei a puxar a boxer, tirando-a.
Alexia escutou a movimentação e seu rosto se virou para o meu, o olhar
fixo no quadril e no movimento que fazia enquanto abaixava a única peça
de roupa que me impedia de estar nu.
Estiquei o braço e deixei a boxer na gaveta do criado-mudo.
Seu queixo caiu e eu espiei para ver se estava tudo coberto.
O lençol era de ótima qualidade, mas ele se ajustou exatamente no
meu comprimento relaxado. Encarei Alexia, esperando que ela dissesse
alguma coisa.
Alexia piscou umas cinco vezes, sem parar de me olhar ali.
Meu sangue começou a circular mais rápido, a proposta na ponta da
minha língua: quer resolver toda a raiva com uma foda deliciosa? Senti
minhas bolas se contraírem suavemente, e meu pau deu um espasmo
leve.
— O que eu pedi para você, Adonis? — Sua voz falhou.
— Que eu não andasse pelado pelo quarto — murmurei, rouco.
— E o que você está fazendo?
— Estou pelado deitado na cama. É bem diferente de andar pelado. E
eu gosto de dormir sem roupa.
Alexia suspirou fundo e me encarou.
Naquele instante, não houve dúvida.
O olhar de Alexia era lascivo e desejoso. O jeito que ela me encarou
dizia que, se fôssemos diferentes, se fôssemos dois desconhecidos, um já
teria pulado no corpo do outro, porque a atração existia.
Mas nós éramos Adonis e Alexia, competindo por um resort.
Molhei os lábios.
— Boa noite, Alexia.
Toquei o interruptor do abajur.
— Você vai me pagar por isso.
Sorri e mantive o dedo ali por um tempo, antes de desligá-lo.
— Se quiser ficar nua, fique à vontade.
Alexia gargalhou.
— Isso seria óbvio demais.
— Jamais vou privar a sua criatividade. Me surpreenda.
Alexia estreitou as pálpebras.
— Boa noite, Adonis.
Ela desligou o notebook e o colocou sobre o criado-mudo. Em
seguida, virou-se na cama, puxando o lençol até o queixo, cobrindo a
camisola comprida e toda fechada que escolheu para passar a primeira
noite comigo.
É... eu e Alexia éramos delicados. Não como uma rosa. Éramos mais
como uma arma nuclear prestes a ser detonada.
— Alexiaaa, porra! — Escutei o grito de Adonis do banheiro.
Abri um largo sorriso. Eu tinha substituído o papel higiênico por
uma fita adesiva prateada, daquelas que vemos em filmes policiais. Isso
era para, propositalmente, Adonis não saber da reunião que, com muito
custo, consegui marcar com Alexandros.
Adonis merecia isso depois de ficar pelado embaixo do lençol e me
fazer imaginar, nem que fosse por um segundo, como seria aquela parte
da sua anatomia rígida como ferro.
Delicioso e...
Mas, sobre o que eu queria falar mesmo?
Ah! Ontem, digitando no notebook, tive acesso às informações que eu
precisava com o contador do resort. Consegui isso porque descobri que o
contador do senhor Alexandros era o mesmo do meu pai. Enchíamos o
bolso dele de dinheiro e, por mais que fosse antiético da parte dele
oferecer dados tão particulares, bem, o dinheiro sempre ganha.
E, enquanto Adonis circulava pelo resort, eu adicionei o senhor
Alexandros no Facebook e conversei com ele a respeito da possibilidade
de marcarmos uma reunião. O homem era meio... excêntrico mesmo e
disse que, se eu realmente quisesse conversar com ele, que o encontrasse
às nove da manhã na recepção.
Era tudo ou nada.
Terminei de retocar o batom, ouvindo Adonis me xingar mais um
montão de vezes antes de bater a porta e deixá-lo lá, sem papel higiênico.
Alexia 1. Adonis 0.

Alexandros era um homem na faixa dos cinquenta anos, com boa


aparência, mas calado demais para alguém que administrava um resort e
era dono de um rombo financeiro de mais de onze milhões de euros.
Enquanto eu tentava convencê-lo a vender a propriedade, sentia que o
homem ficava mais rígido na cadeira da sala de reuniões, e mais
predisposto a me odiar. Tentei parar de falar sobre números e benefícios
financeiros, indo para o lado emocional da coisa.
— Imagino que o senhor tenha se dedicado muito para chegar até
aqui.
Alexandros ajeitou o nó da gravata.
— Sim, bem, a vida toda.
— E é realmente difícil pensar na possibilidade de vender um lugar
tão precioso.
Ele engoliu em seco.
— Sem dúvida.
— Mas, observe ao redor, senhor Alexandros. — Apontei para a vista
incrível que tínhamos, mesmo do térreo, da imensa piscina e dos
hóspedes. Com as paredes de vidro, era possível ter uma noção de tudo
ao redor. — As pessoas adoram este lugar. É tão cheio de vida.
Alexandros fez o que eu pedi e assentiu, um pouco emocionado.
— O senhor não quer continuar vendo isso tudo funcionar? O resort
continuando a receber turistas? Caso o senhor mergulhe em dívidas, não
conseguirá mantê-lo e terá que fechar as portas. A propriedade irá para o
banco e...
— Com toda a certeza do mundo, eu quero, senhorita Alexia, que o
meu resort continue. — Os olhos castanhos dele focaram em mim. — Eu
só não encontrei a ideia revolucionária que me ajudará com isso. Não
tenho pretensão nenhuma de vendê-lo, e sim recuperá-lo com meu
próprio suor. Eu construí cada tijolo com meu sangue e coração.
O senhor Alexandros deslizou o papel em branco sobre a mesa, que
ofereci, para ele me fazer uma proposta.
— Sinto muito, não posso vendê-lo. Eu tenho que encontrar outra
forma...
A porta se abriu em um rompante. Afastei o olhar de Alexandros e da
reunião que estava indo de mal a pior para encontrar Adonis
Konstantinos, com uma calça social branca e camisa da mesma cor,
aberta e despojada. Ele tirou os óculos espelhados e eu estreitei os olhos,
me questionando como ele saiu do banheiro e como havia me
encontrado.
Adonis sorriu para mim. Ele tinha um plano.
— Olá! Desculpe, interrompi alguma coisa?
— Não, senhor. Já acabamos aqui. — Alexandros se levantou e abriu
um sorriso, como se meu inimigo fosse o salvador da pátria. Mordi a
parte de dentro da bochecha, irritada demais para fazer qualquer coisa
além de dar um olhar matador para Adonis.
— Desculpe, acho que não nos conhecemos ainda. — Adonis se
aproximou e estendeu a mão. — Sou Adonis Konstantinos.
— Alexandros Baltazzi.
— Ah, daí vem o nome do resort. Baltazzi! Você é o dono?
Descarado.
— Sim, sou. E você está hospedado aqui?
Adonis lançou um olhar para mim.
— Digamos que sim. Adorei o lugar. Tão cheio de... vida.
Ele tinha escutado toda a conversa?
Fiquei paralisada enquanto Adonis conversava com Alexandros
como se não tivessem acabado de se conhecer. Ficaram uns quinze
minutos enaltecendo o resort Baltazzi, as piscinas, os bares, as festas, a
ótima comida... Eles até combinaram de tomar um drink depois das oito
da noite.
Até que Alexandros percebeu que eu ainda estava ali.
— Oh, perdoe a minha falta de educação. Esta é Alexia Leandros.
Vocês já se conhecem?
Adonis ia responder, mas eu fui mais rápida e abri um largo sorriso.
Se Adonis não se apresentaria de forma profissional, dizendo que era o
filho do Giannis Konstantinos e que tinha intenção de comprar o resort,
então, eu poderia...
— Claro que nos conhecemos. — Fui até o lado de Adonis e toquei
seu ombro. — Somos amigos e até pegamos o mesmo voo para cá.
Alexandros ficou surpreso.
— Sério?
— Sim! — Comecei a rir, suave e extrovertida. — Pensei em trazer
um amigo, sabe?
— Isso é ótimo. Esse resort é ótimo a dois.
— E não é? — Abracei de lado Adonis e dei um tapa em seu peito. Ele
não se mexeu, mas gemeu porque... foi forte. — Adonis passou por umas
fases difíceis na vida. E nada melhor do que sombra e água fresca para
cuidar da saúde.
— O que você teve, garoto?
— Ele acabou de sair de uma instituição. — Inventei a primeira coisa
que veio na minha mente. Adonis me beliscou. — É ninfomaníaco e teve
que... se internar. Entende?
Alexandros ficou com o rosto sério, encarando Adonis como se o
julgasse e o enxergasse de forma diferente. Adonis apertou minha
cintura, querendo me matar, quando Alexandros interrompeu a troca
física e dolorosa com uma risada.
— Caramba! Isso é fantástico! Quem não gosta de sexo, não é
mesmo? E você se recuperou? Acho que poderemos conversar muito esta
noite. Quem sabe não me conta um pouco sobre você, Adonis.
— Vai ser ótimo reencontrá-lo. — Adonis abriu um sorriso.
Alexandros balançou a cabeça, encarando nós dois.
— Já devem ter dito isso a vocês. — O homem pegou sua pasta em
cima da mesa e foi se dirigindo até a porta. Ele segurou a maçaneta e
abriu um largo sorriso. Eu não o tinha visto sorrir durante os vinte
minutos que nossa reunião durou. — Mas, de toda forma, preciso dizer.
Vocês formariam um belo casal.
Adonis se afastou de mim quando Alexandros se foi, e começou a
gargalhar tão alto que eu quis dar um tapa na cara dele. E, o pior de tudo,
Adonis ficava tão bonito enquanto ria, que borboletas estúpidas e
adolescentes bateram asinhas na minha barriga.
— Você tentou me sabotar e não deu certo. — Adonis começou a
contar nos dedos. — Um: a camareira apareceu cinco minutos depois que
você saiu e me deu papel higiênico. Dois: a recepcionista bonitinha me
disse onde você estava assim que consegui descer. Três: Alexandros te
odiou e me adorou. Anota essa também: eu tenho um encontro com o
cara.
— E você vai fazer o quê? — Cruzei os braços na altura do peito. —
Se tornar o melhor amigo do homem até que ele te venda o resort?
Alexandros não está interessado.
Adonis veio até bem perto de mim. Não tive tempo de piscar, o
movimento foi tão rápido e suave que só meus pelos subiram
imediatamente em alerta. Os dedos ásperos dele tocaram meu queixo,
puxando meu rosto para cima. Por mais que nossos corpos não
estivessem colados, o calor da sua pele atingiu a minha e eu prendi a
respiração. Adonis alternou sua atenção entre minha boca e meus olhos,
várias vezes, até conseguir abrir um sorriso preguiçoso de canto de boca.
— Só é considerado impossível se você nunca tentar, Lexi. — Ele
usou o meu apelido de quando éramos pequenos e não tínhamos
problemas um com o outro. — E, para uma negociação, a sedução é uma
ferramenta primária. Uma que você ainda não aprendeu. Mas, deixa, eu
vou te mostrar com o tempo. — Sua boca ficou a milímetros da minha.
Meu coração deu um salto tão forte que o senti pulsar na garganta.
Adonis virou o rosto para o lado, como se fosse me beijar. Meus lábios
automaticamente tremeram, talvez, esperando. Meu corpo era um traidor
maldito. — Relaxe e aproveite esta viagem, miss Kardashian. Porque o
prêmio será meu.
Seus dedos saíram do meu queixo e seu corpo foi para trás. Adonis
foi se afastando lentamente, como se me desse tempo para processar. Só
que o meu cérebro é uma coisinha preciosa e inteligente. O que pude
prestar atenção no curto espaço de tempo que isso aconteceu foi que,
para Adonis, aquela proximidade também foi significativa.
Já mais distante, vi que seu peito subia e descia, seu rosto estava
mais corado, os lábios entreabertos em uma respiração mais profunda, o
olhar brilhante.
E a verdade daquela reação física me engoliu como um tsunami de
emoções. Uma constatação que jamais me permiti ter. Uma linha, entre
nós dois, que nunca sonhei que poderia ser cruzada.
Adonis Konstantinos se sentia atraído por mim.
Por alguma razão desconhecida, meu coração acelerou como nunca
enquanto meus olhos não saíam dos seus. Os nervos tremeram sob
minha carne, vibrando, meus pulmões retendo todo o ar que
conseguiram reunir.
— Te vejo depois, Lexi.
Adonis me deixou sozinha com aquela verdade estapafúrdia que
pesava sobre meus ombros como se tivesse uma tonelada.
Decidi trabalhar longe do quarto e de Alexia, especialmente depois
do que aconteceu na sala de reuniões. Meu corpo respondeu àquela
mulher, na expectativa de beijá-la e de calar sua boca da única forma
provável: tirando seu fôlego e fazendo suas roupas caírem no chão.
Deixe-me confessar um negócio: homens são seres criativos e a
imaginação vai longe.
Então, eu meio que imaginei como seria ter Alexia completamente
nua na minha frente. Aqueles seios grandes que eu envolveria com meus
dedos, a boca carnuda que eu chuparia até tê-la bem vermelha, e todos os
beijos que eu escorregaria até sugar seus mamilos, ouvindo Alexia gemer
o meu nome.
O meu e de mais ninguém...
Mas isso era na imaginação porque, na vida real, eu não daria o braço
a torcer. Qual é, você me conhece o suficiente para saber que sou
orgulhoso. E também sabe que, se eu ceder, vai dar merda.
Para não dar de cara com Alexia, levei meu notebook para baixo e
elaborei um plano de ação para saber como proceder com o Alexandros,
tentando focar a cabeça no trabalho.
As duas cabeças.
Mas, enfim, o homem não sabia o eu queria de verdade e, segundo a
regra dos nossos pais, Alexia não poderia me sabotar profissionalmente.
Então, ela jogou limpo, mas estava na hora de eu começar a jogar sujo.
Trabalhei duro até o instante em que, inevitavelmente, tive que subir
para o quarto, a fim de tomar banho e me encontrar com o Alexandros às
oito da noite.
Alexia estava no telefone com sua amiga. Percebi pela gargalhada
alta e pelo apelido Kate saindo de sua boca. Lexi me lançou um olhar,
agarrada com o aparelho, e não perdeu o sorriso conforme eu entrei. Por
mais que soubesse que não era pra mim, foi inevitável não sorrir de
volta.
— Sim, como eu disse, estamos indo bem. Mas Alexandros não quer
vender o resort. — Kate deve ter dito algumas coisas, porque Alexia ficou
em silêncio. Comecei a arrancar a camisa, deixando-a no cesto do que ia
para a lavanderia, e fui até o guarda-roupa pegar peças limpas. — Uhum.
Os números não são bons para ele. Mas dizer sobre números não adianta.
O homem é apegado a esse lugar.
Desabotoei a calça e joguei as roupas que usaria sobre os ombros.
— As coisas estão indo... — Alexia me lançou um olhar. — É, nada
além do planejado. Eu já esperava uma recusa e não estou surpresa.
Minha tática será outra agora.
Abri um sorriso para Alexia.
— Mande um oi para Kate — falei alto.
Alexia arregalou os olhos e seus dedos ficaram brancos quando
apertou o celular.
— Não, não tem ninguém aqui... Kate. Não, não é a voz do Adonis.
Que ideia.
Fui gargalhando até o banheiro. Agora Alexia teria que explicar como
eu vim parar no seu quarto. Mas isso não era um por cento de toda a
maldade que eu pretendia aprontar com ela.
Consegui tomar um banho e me vestir para o encontro com
Alexandros. Assim que abri a porta do quarto, Alexia estava me
esperando, com uma das mãos apoiada na parede do corredor e a outra
na cintura.
Acho que eu tive uma parada cardíaca e, ainda assim, continuei vivo.
A camisola comportada foi substituída por uma amarela como ouro,
colada em cada centímetro de sua pele. Seda e renda. Não chegava nem
ao meio das coxas definidas, deveria estar uns quatro dedos abaixo da
calcinha. Prendi a respiração e uma onda desceu em espiral até a cabeça
do meu pau, dando um impulso de vontade.
Mordi o lábio inferior, dançando o olhar por aquela mulher, não
podendo tocá-la, mas isso não me impedia de admirá-la. O ar-
condicionado estava ligado e os pelos de Alexia estavam arrepiados. Os
mamilos apontados para mim, me provocando. A boxer começou a me
incomodar, a calça sobre ela também. Eu me contive de levar a mão até lá
e ajeitar, porque, caralho, eu não podia ser mais óbvio.
Então, para me distrair, encarei seus olhos negros na iluminação
baixa do quarto, e o semblante de Alexia dizia que aquela menina de
dezessete anos havia se tornado uma mulher.
Isso me quebrou.
Meu corpo já sabia disso. Meu cérebro, não.
Alexia Leandros não era mais a garotinha que eu puxava o cabelo
quando a cumprimentava. Não era a adolescente do Ensino Médio que
tirava notas boas. Ela era adulta agora, com um corpo que me fazia
querer pisar em fogo e ainda gostar disso.
Mas eu não podia...
— Enquanto você vai para a sua tão agradável reunião com o senhor
Alexandros, pensei em ficar por aqui, confortável. Meditar, fazer ioga.
Você volta que horas? — perguntou suavemente, com uma voz que me
fez dar alguns passos para frente.
— O que você perguntou?
— Eu quero fazer ioga e meditar... que horas você volta?
Dancei os olhos por todo o seu corpo, da cabeça aos dedos dos pés.
— Você vai fazer ioga com essa camisola? — Que mais parece um
pedacinho de pano feito para o pecado, quase acrescentei. Minha voz saiu
arranhada e grave, como se estivesse há dias sem água.
Lexi sorriu de canto de boca.
— Gosto de usar coisas que não inibam meu movimento.
Aquilo foi o suficiente para meu cérebro criar imagens em que eu a
virava do avesso e ela deixava, flexível, receptiva, me engolindo todo, tão
molhada que...
— Para você não me ver de ponta-cabeça e com a calcinha amarela
na sua cara, vai responder a minha pergunta? — adicionou.
Meu cérebro fritou, cara. Ela combinava a calcinha com a camisola. E
eu não consegui raciocinar. Alguma parte minha dizia que a pergunta que
Lexi fez deveria vir com uma simples resposta da minha parte. Mas
aquela mulher estava ali, toda feminina em uma camisola sexy, com a
pele brilhando sob a parca luz do quarto. Seu perfume floral atiçava meu
corpo e dava asas à imaginação. Concentre-se. O que Alexia queria saber?
Ah, certo...
— Uma hora.
— Perfeito. Já terei encerrado o que eu quero fazer. Boa sorte com o
Alexandros.
Não sei como saí do quarto com a ereção mais dolorosa e urgente
que já senti na vida. Não faço ideia de como peguei o elevador e desci. As
mulheres passavam por mim, mas ignorei todas elas. Não consegui
encarar ninguém. Era Alexia nos meus pensamentos quando pedi o
primeiro drink, Alexia enquanto falava com Alexandros, sem conseguir
me concentrar na primeira impressão que eu queria passar para a
negociação mais importante que já fiz. Era Alexia o tempo todo e, já na
terceira dose, com Alexandros rindo de algo que eu nem sabia que tinha
dito, a consciência voltou.
Alexia fez de propósito.
A camisola, a provocação, ela sabia que, se ficasse daquele jeito na
minha frente, eu não conseguiria pensar em mais nada porque tenho um
pau que domina o meu corpo.
Então, balancei a cabeça e abri um sorriso para Alexandros, me
livrando de Alexia.
E a reunião indireta com o cara finalmente pôde começar.
Mas não antes de um pensamento atingir meu cérebro: Alexia vai
pagar por isso.
Cinco longos dias se passaram com Adonis conseguindo se encontrar
com Alexandros todas as vezes, e o homem não me concedeu nem mais
uma reunião. Ele sabia o que eu queria, e perdi vantagem. Mas eu tinha
uma carta na manga excelente e que nem Adonis havia pensado, com
certeza.
Consegui descobrir que Alexandros ia fazer uma espécie de
confraternização para um círculo íntimo de amigos, na piscina. Claro que
Adonis foi convidado, e eu não. Mas havia uma determinação em mim de
que ia me enfiar naquele lugar porque o prêmio dessa confraternização
era a saída perfeita.
Aumentei o som. Sweet but Psycho, de Ava Max, estava tocando nos
meus fones de ouvido. Sozinha no quarto, senti o sabor da liberdade. A
cada dia, ficava mais difícil conviver com Adonis. Era como estar ao lado
de alguém com superpoderes que lê seus pensamentos e abre um sorriso
malicioso a cada instante em que você o imagina sem roupa. Não era algo
que eu estava encucando, sabe? Me sentir atraída por Adonis me tornava
humana, mas resistir a isso me tornava Alexia Leandros. E eu queria
continuar resistindo, muito obrigada.
Apesar de ver, nos olhos de Adonis, que ele também se sentia assim.
Enfim, eu estava ótima com isso. Sou adulta e sei frear minha libido.
E ele deve saber frear a dele, já que não tinha feito nada em relação a
isso.
A nossa situação não era grave.
Não era como se eu estivesse tendo sonhos eróticos com o herdeiro
dos Konstantinos e nem como se a atração que sentia por ele estivesse
subindo a níveis catastróficos. Muito menos que, justo Adonis, me
instigasse a sentir a coisa mais forte, em nível de atração, que já
experimentei por alguém. Era uma coisinha razoável...
Comecei a dançar ao som da música porque eu queria comemorar
antecipadamente a minha vitória. Fechei os olhos e curti a batida do
remix de Morgan Page, rebolando. Só que, assim que fechei as pálpebras,
me imaginei dançando com Adonis. Suas grandes mãos segurando minha
cintura, seu corpo balançando com o meu. Afastei o pensamento e tentei
imaginar outra coisa. Um cantor que eu gostava, Panos Kiamos. Ele era
gato e tentei visualizá-lo dançando comigo. Funcionou por cinco
segundos, até eu ser interrompida por um som alto logo atrás de mim.
Me virei, assustada, arregalando os olhos e arrancando os fones da
orelha.
Eu deveria saber que ele estava ali, pelo seu perfume único.
Adonis estava sorrindo, um braço cruzado na altura do peito e, o
outro, dobrado, a ponta dos seus dedos no queixo. Naquele sorriso
safado, havia toda a diversão e a atração que eu queria afundar no mar.
Adonis já estava pronto para a confraternização. Uma bermuda de
praia, em vários tons de azul, mas sem estampas, da mesma cor dos seus
olhos, pairando bem no V profundo, abaixo do que deveria ser
considerado uma zona segura. Os gomos do abdome destacado e a pele
bronzeada brilhavam com protetor solar recém-passado. Havia uma
toalha branca jogada sobre seu ombro direito e ele tinha óculos escuros
estilo aviador no rosto, tornando-o perigoso e quente como o inferno.
— Então, você dança. Isso eu não sabia.
Semicerrei o olhar.
— Eu faço muitas coisas que você não sabe.
— É. — Adonis desceu os olhos por mim. — Percebi.
Fiquei irritada com o flerte e comecei a me afastar de Adonis, mas aí
me lembrei da confraternização, do prêmio, e do fato de que eu precisava
que me levasse. Adonis estava muitos passos à minha frente, estava
conquistando a confiança do homem e, se continuasse assim, eu perderia
feio. Apesar de sentir que Alexandros não venderia o resort nem para
alguém que considerasse um amigo. Ainda assim, eu não poderia correr
esse risco.
Respirei fundo e dei meia-volta.
Adonis ainda estava parado onde o deixei. A mão no queixo, me
analisando. Por mais que ele estivesse de óculos, senti seu olhar
semicerrado em mim.
— Adonis. — Encontrei a voz. — Tem planos para hoje?
— Você sabe que eu tenho.
— Hum, interessante você dizer isso. Leu o convite? — Peguei-o em
cima da mesa e estendi para ele.
— O quê? — Adonis pegou com delicadeza, seus dedos demorando-
se um pouco mais nos meus. Seus olhos azuis passearam pelas letras. —
E daí? — Ergueu as sobrancelhas, enquanto lia o papel. —
Confraternização na piscina. O convite é o passe de entrada. Ir com
roupas de banho.
— Você viu atrás? — Sorri.
— Atrás do quê?
— Do convite, Adonis. — Contive a vontade de rolar os olhos.
Ele virou o papel e tirou os óculos escuros. Vi sua expressão ir de
deboche para choque conforme lia o que estava escrito. Pressionei os
lábios, segurando a vontade de rir.
— Tem que levar uma acompanhante porque é uma
confraternização e uma competição? — A voz dele ficou mais aguda, e eu
achei graça. — Todos aqui já estão com... acompanhantes. Uma
competição entre casais?
— Sim, querido. Todos avisaram antecipadamente ao senhor
Alexandros, que colocou o nome dos dez convidados ao lado de suas
mulheres. Só falta o seu... oh, tadinho. Sozinho, sem ninguém para
acompanhar. — Virei o relógio no meu pulso. — Você tem meia hora
para encontrar uma mulher para ir com você. Boa sorte.
Adonis ficou branco. De verdade. Ele umedeceu os lábios e encarou
mais uma vez o papel, lendo toda a informação dessa vez.
— O prêmio para a competição de casais será uma suíte presidencial,
ao lado da suíte dele, na área exclusiva do resort, além de um passeio de
barco, a convite do anfitrião e de sua esposa, para a festa Summer... —
Adonis sussurrou, lendo o convite.
— O que significa que, se você ganhar com a sua acompanhante,
ficará pertinho do Alexandros por vários dias, enquanto durar a estadia.
E, além disso, irá para a festa mais famosa de Mykonos, com a chance de
fazê-lo vender o resort. — Suspirei. — Parece uma boa oportunidade
para você, Adonis. Agora, tem vinte e cinco minutos para encontrar uma
mulher que seja boa o bastante em competições e que aceite ir,
desesperadamente, para uma suíte presidencial e uma festa. Não deve
ser difícil, né? Você é ótimo nisso.
Para irritá-lo, peguei uma lixa, que já estava no bolso da minha calça,
e comecei a fazer a unha. Adonis continuou lendo o convite sem parar,
alheio ao tempo. Dei uma espiada no relógio.
— Dezenove minutos. — Sorri.
Adonis estreitou os olhos para mim, largando o convite no chão. Ele
viu a minha roupa: calça jeans, camisa social rosa e saltos altos rosa-
choque. Propositalmente, não estava já vestida. Adonis passou por mim,
pisando duro, e eu continuei lixando a unha, de costas para ele, enquanto
fazia alguma coisa em nosso quarto. Escutei zíper ali, zíper aqui, abre e
fecha o guarda-roupa... Ele demorou um tempo. Abri um sorriso quando
voltou com um biquíni nas mãos, quase na mesma tonalidade da sua
bermuda, carregando aquilo como se fosse uma peça altamente
contagiosa. Era luxuosa. A parte de cima transpassava na frente com um
x e bem no meio do x havia uma pedraria prata. A parte de baixo era a
mesma coisa, só que a parte metalizada era um quadradinho singelo nas
laterais.
Fui pegar o biquíni, e ele recuou a mão, sorrindo.
— Você tem certeza? — perguntou.
Estreitei os olhos.
— Me dá logo isso aqui.
Adonis alargou o sorriso.
Alguma coisa esse homem tinha aprontado.
— Você tem dez minutos. — Foi a vez de Adonis me avisar.
E me deixou sozinha no quarto.
Respirei fundo.
Eu tinha conseguido uma vantagem.
Se eu e Adonis ganhássemos, conquistaríamos de vez Alexandros
Baltazzi. Tirei minhas roupas, coloquei o biquíni, busquei uma toalha,
uma saída de banho e um chapéu Panamá.
Era isso, eu estava pronta.
A música estava alta. Era uma animada que estava estourada na
Grécia: Magia, de Josephine. A piscina já estava com os gols do polo
aquático, o que imaginei ser um dos desafios entre os casais. Essa área do
resort havia sido fechada para a festa. Entreguei o convite e, assim que o
fiz, Alexia sorriu para mim. Um dos sorrisos sinceros, um dos sorrisos
que diziam “estamos finalmente do mesmo lado”.
Meus batimentos deram uma acelerada, e eu não reconhecia o que
era isso. Sempre acontecia quando estava com Alexia por perto. Só com
ela. Era ridículo. Seria pela tensão contida e pela raiva nutrida ao longo
dos anos?
Não era como se eu... como se o meu coração idiota escolhesse bater,
por toda uma vida, única e justamente por Alexia, certo?
Claro que não.
Não estava acostumado a me afetar pelas mulheres que se
aproximavam de mim, nunca deixei que me conhecessem, que
compartilhassem comigo uma vida. Não sou a receita ideal para um
namorado perfeito e estava bem com isso, nunca me envolvi a esse
ponto.
Mas, agora...
Eu estava há uma semana com Alexia. Essa merda estava fritando o
meu cérebro, não era possível. Porque me peguei gostando de saber que,
toda noite, mesmo em camas separadas, era ao meu lado que Lexi
dormia. Almoçávamos muitas vezes juntos, tentando ser cordiais um com
o outro, embora as cacetadas sempre viessem. E a última vez que almocei
sem Alexia, ou seja, ontem, senti falta...
É a convivência, né? Convivência gera apego, por mais que você não
suporte quem esteja ao seu lado.
Puxei-a pela cintura, colando a lateral dos nossos corpos, sem avisar,
de uma só vez, batendo seu corpo contra o meu. Ela arfou e eu ergui as
sobrancelhas, olhando-a através do óculos escuros.
— Vamos ser um casal — expliquei.
— Não era bem a proposta... — sussurrou.
— Não?
Alexia engoliu devagar, e vi o ponto da sua garganta escorregar
lentamente.
— Não mesmo.
— Ah, então você veio! — Escutei a voz de Alexandros, junto a uma
risada feminina. Virei-me para olhá-los. Sua esposa era uma mulher de
uns quarenta anos, com curvas e bonita. Os cabelos escuros eram curtos
na altura do ombro e ela ofereceu a mim e a Alexia um sorriso carinhoso.
— Vim, amigo. Obrigado pelo convite.
Alexandros nos apresentou à sua esposa e, depois, emendou:
— E vejo que trouxe uma companhia adorável. — Alexandros olhou
para Alexia. O cara não fez nada, só olhou para o rosto dela, mas aquilo
me irritou. Comecei a pensar que azul-claro, naquela pele bronzeada de
Alexia, naquele corpo delicioso... não foi a melhor escolha que fiz. —
Preciso pedir desculpas por tê-la tratado tão mal da última vez que nos
vimos. Pensei muito na proposta que me fez.
— Oh... — Alexia ficou surpresa e eu também. Minha mão ficou mais
firme na sua cintura. — Estou feliz em ouvir isso.
— Podemos conversar mais tarde?
— Claro — Alexia concordou, sorrindo.
— Então, qual é a história de vocês? — a senhora Baltazzi indagou,
parecendo admirar a interação entre nós dois.
— Somos amigos.
— Estamos ficando.
Respondemos ao mesmo tempo. Alexia, claro, com a primeira
afirmação.
Ela riu e bateu carinhosamente no peito do marido.
— Parecem nós dois no começo.
Os olhos de Alexandros brilharam e ele sorriu largamente. Ele tocou
meu ombro e me encarou como meu pai faria.
— Eu disse que vocês são ótimos juntos. Uma atitude muda tudo.
Parabéns, rapaz. Só falta convencê-la de que são um casal.
— Ainda não... — Alexia exalou impacientemente. — Estamos longe
disso e nos conhecendo... de novo.
Ela não estava mentindo, mas gaguejava quando tinha que enrolar a
verdade.
— Pois deveriam. — A senhora Baltazzi sorriu. — Venha, vamos
curtir o dia!
Eu e Alexia acabamos conhecendo os dez casais que competiriam
conosco. Foi um tempo curto de apresentações e percebi que Alexia
começou a ficar inquieta ao meu lado. Continuei bebendo meu drink de
frutas vermelhas, me fingindo de santo, enquanto ela se remexia cada vez
mais. Lancei um olhar de canto para ela.
Não me julgue.
Alexia colocou fita no lugar do papel higiênico. Disse que sou
ninfomaníaco. E me fez trazê-la nesse lugar. Quando entreguei o biquíni,
perguntei se estava certa de vir comigo.
Lexi começou a ficar vermelha e eu sorri para ela, com o canudinho
entre os lábios.
Alexia arregalou os olhos, no meio da roda de amigos de Alexandros.
Ela me encarou, tentando, discretamente, coçar com o braço o mamilo
esquerdo. Aquilo foi demais para mim. Soltei uma risada que
interrompeu a conversa importante sobre política.
— Desculpe. — Sorri. — Continuem.
Alexia me deu uma cotovelada e, então, a coceira começou a se
espalhar. O mamilo direito foi seu alvo, e tentou, com muito custo, enfiar
a mão dentro do biquíni sem que ninguém percebesse.
Pressionei os lábios, me contendo de rir do desespero dela.
— O que você fez? — sussurrou, ficando na ponta dos pés na
tentativa de alcançar minha orelha.
— Eu? — me fiz de inocente. — Só te entreguei o biquíni. E te
perguntei se você tinha certeza...
Alexia semicerrou os olhos, puta da vida.
— Você colocou alguma coisa aqui, não foi? Demorou muito no
quarto e... — Ela espremeu uma perna na outra. — Caralho, Adonis. Eu
vou matar você. Minha... está...
— É a falta de sexo, amor? — sussurrei de volta, em uma conversa
paralela ao grupo. — Está com coceira na sua...
— Não ouse! — Alexia gritou, se retorcendo toda, os olhos injetados
e furiosos. E, então, ela me abraçou meio de lado. Achei que fosse para
me envolver como as cobras fazem, até asfixiar a vítima.
Mas não.
Alexia estava tentando se esfregar.
Em mim.
A risada soltou da minha garganta antes que pudesse perceber.
Alexia rosnou, levantando a perna até a parte interna da sua coxa
alcançar meu pau, como se estivesse me assediando em público, na
frente de vinte e duas pessoas.
— Está tudo bem, Alexia? — Alexandros indagou.
Silêncio.
Ela parou, com a perna ali, os braços na minha cintura, agarrada
como se fosse montar em mim. Todos os olhos da pequena festa estavam
em nós dois. Abri um sorriso, com as duas mãos no drink, me passando
por um homem que não tem culpa de ser tão gostoso. Lancei um olhar
para Alexia e ela foi, aos poucos, voltando ao normal daquela situação
constrangedora. A perna desceu, seus braços caíram ao lado do corpo e
seu rosto estava vermelho como se houvesse uma pimenta inteira em sua
boca.
Eu tinha previsto uma coceirinha, mas ficou melhor que a
encomenda.
— Está. Eu... — Ela estremeceu. — Está tão quente aqui, né?
— Oh. — Alexandros abriu um largo sorriso para mim, cheio de
malícia. Uma conversa entre olhares masculinos, algo como “sua garota
não consegue ficar longe de você”.
Assenti e dei de ombros.
Que culpa eu tinha...
— Querida, temos uma ducha privada logo ali. — Alexandros
apontou para um lugar mais afastado. — Adonis, talvez você queira
acompanhá-la...
— Claro, jamais deixaria a minha garota passar calor sozinha. —
Puxei sua cintura e sorri para Alexia.
Foi então que ela percebeu. Vi o reconhecimento em seus olhos.
Entendeu que todos estavam achando que ela estava louca por sexo.
Sexo quente.
E comigo.
Alexia ia me matar.
— Vem, amor. — Peguei Alexia pelo braço e sorri contra sua orelha.
— Gostou? Ainda não acabei.
Ela rosnou para mim, literalmente, e foi andando de forma engraçada
ao meu lado, querendo se coçar, sem poder. A gargalhada foi inevitável
quando Alexia se soltou do meu suave aperto e correu para a ducha, sem
se preocupar se tinha alguém vendo. Só que eu sou um homem rápido.
Fechei a porta em meio segundo, e só tive um vislumbre das suas costas
nuas, porque a parte de cima caiu fora.
Perdi a risada. Em cinco segundos, eu estava em uma espécie de
sauna com ducha. Relativamente pequena. E o biquíni de Alexia foi para
o chão enquanto ela jogava água fria no corpo. Passando as mãos por ele.
Completamente nua. Suspirando pelo alívio da coceira.
A bunda redondinha, as coxas largas, a cintura estreita, os seios
sendo vistos sem que eu pudesse enxergar seus mamilos. A enxurrada
descia com pressa por seu corpo lindo, abraçando aquela perfeição de
mulher, os cabelos molhados, beirando o início da bunda. Minha
respiração ficou rasa para, em seguida, se tornar ofegante. Bem no meio
da sua bunda, conforme ela empinava para sentir a água pelo corpo, eu
tive um vislumbre de sua boceta, sem pelos, tão doce, porra, que fez tudo
em mim se tornar o próprio fogo do inferno.
O sangue correu sob a pele, meu pau ficou tão duro e dolorosamente
pronto, que senti isso em minhas veias, nas minhas bolas, bem na glande,
latejando. Meu cérebro fritou, minhas pernas ignoraram meus comandos,
enquanto eu sabia que Alexia tinha certeza de que estava sozinha. Ela
estava me xingando de nomes nada bonitos.
Tirei os óculos escuros, para ver Alexia Leandros com mais clareza, e
coloquei-os sobre a cabeça. Desci os olhos por aquele corpo feito para o
pecado, as linhas daquela mulher, a pele brilhando pela água que caía
sem parar. Seus dedos começaram a esfregar os mamilos pontudos e eu
jamais me esqueceria da visão da sua boceta molhada.
Dei um passo para o lado.
Aquela era a garota que convivi a vida inteira. Era muito além de
olhar nua uma mulher que eu tinha vontade de levar para a cama. Apesar
de estar com a mente completamente nublada por causa de um tesão
incontrolável, Alexia Leandros, pelada, na minha frente, me fez entender
que eu não compreendia direito o que acontecia entre nós simplesmente
porque, se começasse a analisar o que ela significava para mim, ia chegar
à conclusão de que eu nunca poderia compará-la a ninguém.
Alexia era única.
E não por estar pelada e ser uma escultura em forma de mulher.
Era porque Alexia era a única que poderia transpor todas as
barreiras que criei em torno de mim.
Como na adolescência, vi aquela cena toda acontecendo mais uma
vez. Meus passos até ela, a mente zerada, os movimentos nada
comedidos. Escutei um som assustado sair de sua garganta quando ela se
virou e viu que não estava sozinha. E, por mais que eu quisesse e muito
escorregar a atenção para seu corpo delicioso, não consegui tirar meus
olhos dos seus. Aquele mar de calmaria que precede a tempestade.
Aquele único ponto entre nós dois de paz. Ela não entendeu nada, e eu
nem queria que entendesse.
Joguei meu óculos no chão, pouco me fodendo se ele quebrou.
E, em meia batida de nossos corações, eu estava embaixo da ducha.
Todo molhado da água fria, com o corpo de Alexia quase colado ao meu.
Ela quis me bater, com as mãos espalmadas no meu peito. Só que, dessa
vez, não havia roupa. Era a pele dela e só a minha bermuda entre nós.
Dei um passo para frente e meu pau, ereto, bateu em algum lugar da
sua pele, através da bermuda, o que a deixou fraca contra a parede. Suas
pálpebras pesaram e eu contive o grunhido desejoso que ia sair da minha
boca. Vi que ela estava pronta para me perguntar o que diabos eu estava
fazendo ali e por que invadi sua privacidade. Mas, ao mesmo tempo em
que queria jogar tudo isso na minha cara, Alexia não pôde.
Eu vi o desejo.
Meus dedos foram para os seus pulsos; havia muitos lugares para
tocar, mas eu queria outra coisa. Prensei meu corpo contra o dela, todo o
resto que faltava, encaixando a gente de um jeito bem gostoso. Seu corpo
no meu era como saciar a sede do deserto. Alexia arfou, surpresa, quando
juntei suas mãos em cima das nossas cabeças, entrelaçando nossos
dedos, pressionando forte. Pisquei uma única vez, meu corpo queimando
no fogo dela, meu peito roçando em seus mamilos, quando me abaixei.
— Dessa vez, não vou dizer que isso é um erro — sussurrei,
descendo minha boca até a sua.
Eu a vi hesitar, mas não deixei que pensasse.
Meus lábios tocaram os seus e, diferente da adolescência, eu tive
pressa. Pressa de provar de verdade aquela mulher. Mergulhei em sua
boca, os lábios macios e quentes contra os meus subitamente frios.
Fiquei tonto com o contato, porque Alexia foi receptiva. Os batimentos
pulsaram em todas as partes importantes do meu corpo, e não me senti
nada satisfeito, porque eu queria tudo de Alexia, cada centímetro.
O sabor de frutas vermelhas, do meu drink, foi perceptível e Alexia
passou a ponta da língua no contorno dos meus lábios molhados da
ducha, como se quisesse tirar o último resíduo do sabor. Seus peitos
vieram em direção ao meu tórax, espremendo, querendo, ao mesmo
tempo em que meu quadril foi para frente, moendo em Alexia. Ela ergueu
a perna e enroscou em mim, quase como se me pedisse para entrar.
Oh, porra.
Minha língua escorregou pela sua pela primeira vez, girando em
torno, experimentando o sabor dela contra o meu, o quanto era
aveludada e quente, deliciosa. Era como tirar o gosto da parte mais
luxuriosa do sexo e colocar em duas línguas se curtindo. Seus dentes
rasparam propositalmente na minha língua e Alexia deu uma suave
mordida, me arrancando um gemido, que retribuí mordendo seu lábio
inferior e lambendo-o em seguida.
Nossas respirações ficaram tão altas e ofegantes que foram ouvidas
por mim além da ducha.
Mantive nossas mãos em cima de nossas cabeças, porque eu não
queria o tato, eu queria mostrar a ela o quanto nossos corpos juntos e
nossas bocas unidas já eram o suficiente para nos levar à loucura.
Girei a língua em sua boca, tocando o céu e embaixo, o que fez Alexia
trazer sua boceta para o meu pau e se esfregar nele como se fosse gozar
só com isso. Descobri que morder o lábio inferior dela a deixava
completamente insana de tesão. Sorri contra seu beijo, por meio
segundo, para depois, implacável, incansável, incontido... beijá-la de
novo, e de novo, angulando seu rosto para tê-la profundamente, cada vez
mais rendida, cada vez mais mole, a ponto de não conseguir fazer outra
coisa a não ser manter seu corpo com o meu.
Minha boca desceu da sua para o queixo, indo pela linha da
mandíbula até o pescoço, percorrendo a ponta da língua em sua pele
molhada. A perna de Alexia ficou mais firme na minha bunda, e ela foi
perdendo o senso.
E foi aí que soltei seus pulsos.
Suas mãos vieram imediatamente para os meus cabelos e o beijo
ficou ainda melhor. Desci as minhas por suas costas, brincando com seu
cabelo, puxando-o. Só que, dessa vez, longe da provocação infantil. Ela
gemeu quando desci até chegar à sua bunda, apertando cada pedaço dela
com meus dedos bem fundos, fazendo marca.
Caralho, como ela era gostosa e cheia de vontade.
Minha boca buscou a sua, porque eu nunca conseguiria ficar mais do
que cinco segundos longe dos seus lábios, não depois de descobrir que
um beijo de Alexia era melhor do que todas as incontáveis vezes que
transei por aí. Seus dedos começaram a descer dos meus cabelos até o
peito, o espaço rente entre nós se desfazendo quando a deixei me sentir.
Minha barriga ondulou porque sua língua estava se perdendo na minha,
e seus dedos estavam descendo, bem na linha dos meus pelos, chegando
a um lugar que eu queria desesperadamente ser tocado.
Meu pau latejou, todo duro e pulsando como se houvesse um coração
ali.
Alexia mordeu minha língua suavemente, me deixando chupar a
dela, enquanto eu afastava o meu quadril em um pedido silencioso que
descesse a mão. E, cacete, ela o fez. Por cima da bermuda, sentiu a
grossura e a rigidez do meu pau, ronronando, enquanto eu não conseguia
mesmo parar de beijá-la, entorpecido por ser o melhor beijo que já
provei, justo com ela, enquanto meu coração parecia dizer que não
haveria nenhuma outra. Essa porra de sensação me assustava a ponto de
me desejar correr para o lado oposto.
Só que eu fui incapaz.
Só mais um pouco...
Alexia apertou meu pau em seus dedos, subindo e descendo a carícia.
Ah, sim... só mais um pouco.
Desci minha boca fervendo para o seu queixo, chupando seu pescoço
em seguida, para subir e sugar seu lóbulo deliciosamente, rodando-o com
a língua, estremecendo a pontinha ali para que Alexia imaginasse o que
eu seria capaz de fazer se me deixasse chupar sua boceta.
Ela não aguentou.
Sua mão desfez o botão da minha bermuda, puxou o zíper para baixo
e segurou meu pau na sua mão quente. Alexia arfou ao senti-lo pela
primeira vez. Naquele suspiro, havia sua entrega e a verdade: ela queria
senti-lo há muito tempo. Rosnei na sua orelha e mordi o lóbulo,
arranhando-o levemente com meus dentes, para depois chupá-lo.
Pele com pele assim, com Alexia, sem nunca me esquecer nem por
um segundo que eu estava me pegando forte em uma ducha com o meu
desejo sexual mais antigo e com a minha primeira amiga, me fez sentir
que seria capaz de gozar na primeira vez que ela descesse e subisse o
contato, tocando na glande.
O beijo que dei em sua boca depois disso foi voraz. Desesperado pelo
tesão reprimido e com gosto de punição. Como se eu a culpasse por me
deixar maluco, como se eu gritasse, com a minha língua brigando com a
dela, que eu queria fodê-la duro, contra a parede, até que Alexia gozasse
tanto que não conseguisse, nunca mais, pensar em outro homem.
Egoísta, arrogante, ridículo, um filho da mãe possuído por um desejo
eterno, mas não consegui evitar.
Minhas mãos saíram de sua bunda, foram até os mamilos, e eu
belisquei-os, na mesma intensidade daquele beijo que não parecia ter
fim. Alexia gemeu e respondeu mordendo minha boca. Rebati enfiando a
língua mais fundo, como se discutíssemos enquanto nos sentíamos e
competíamos sobre quem levaria o outro mais rápido à loucura.
Ela estremeceu, com meu pau em sua mão, batendo uma, louca para
me colocar dentro dela, e eu agradeci mentalmente ao meu corpo por
não ter gozado como um adolescente. Estava gostoso demais aquele
toque, bom o suficiente para não querer que tivesse fim.
Meu corpo pressionou o de Lexi e, com uma mão em seu bico,
beliscando, ocupei-me com a outra em sua bunda. Sem desgrudar nossas
bocas, levantei Alexia ali mesmo. A única coisa que ela fez foi ofegar e, aí
sim, afastar nossas bocas, pela súbita mudança de cenário.
A gente não vai aguentar.
Alexia voltou a me beijar, lânguida, sem pressa e sem a ansiedade de
antes. Seus cabelos me tocaram quando baixou a cabeça para mim, e eu
fui todo de Alexia naquele segundo. Sua pele, sua mão em mim, o cheiro
do seu protetor solar se misturando ao meu. Àquela altura, não sabia
mais o que era meu e dela, mas tudo se tornou...
Nosso.
Lexi guiou meu pau para a entrada da sua boceta, passando a
cabecinha bem entre seus lábios molhados e lubrificados. Não pela água,
por mim. Porra! Que vontade de foder até nossos músculos terem
cãibras. Vontade de ouvi-la gritar Adonis tantas vezes até perder o
raciocínio e só restar os gemidos deliciosos que saíam de sua garganta.
O corpo dela estava implorando, me pedindo, era como se cantasse
para mim. Você sente o que eu quero? Me dê. E era isso que ela estava
fazendo, passeando meu pau por sua boceta, tocando seu clitóris, me
experimentando, me fazendo experimentá-la. Era a coisa mais deliciosa e
erótica pegar todo o mel dela para mim.
Sua língua veio, louca, e eu respondi da mesma maneira, quase no
mesmo segundo em que escorreguei Alexia um pouco, a ponto de o meu
pau entrar alguns centímetros entre seus lábios. Nós dois gememos pelo
contato pele com pele, molhado com molhado, sua entrada fervendo
minha glande, me engolindo. Saí de sua boca por um segundo, porque
precisei olhar em seus olhos.
Nebulosos, certos do que queriam, meio entorpecidos de vontade,
mas com a mesma calmaria que fazia o meu coração trotar como um
louco.
— Alexia...
Fui interrompido quando escutei uma batida na porta. Meus
músculos congelaram.
— Crianças, os jogos vão começar! — uma voz feminina avisou.
Alexia tirou suas mãos de mim. Ela segurou em meus ombros e eu
afastei o quadril, tirando o pouco que havia do meu pau dentro do seu
corpo.
— Estamos indo — respondi. — Alexia teve um problema sério com
uma coceira. Ela está... — Encarei ao redor dos seus peitos, tentando me
concentrar em não reparar neles. As auréolas eram dois tons mais
escuros que sua pele, pequenas, e seus mamilos estavam acesos. Engoli
em seco. Ao redor de tudo aquilo, o pó que coloquei em seu biquíni fez
um estrago. Todo o seu peito e a pele do colo estavam vermelhos, assim
como seu quadril e sua... Sem dúvida, aquelas mini bolinhas vermelhas
iam provar, por serem vistas além da marca do biquíni, que realmente foi
um mal-entendido. Eu não queria que Lexi saísse dali com fama de
ninfomaníaca. Não depois do que fizemos. Pus Alexia no chão e me
afastei alguns passos, guardando meu pau duro dentro da bermuda. —
Alexia teve uma reação alérgica e está toda vermelha.
— Oh, Deus. — Reconheci imediatamente que era a voz da senhora
Baltazzi. — Alexia está bem? Se quiserem ir...
— Não, não queremos. — A voz de Alexia veio cheia de tesão. Era a
primeira vez que a escutava em todo esse tempo. E esse tom de voz
estava em uma das coisas que eu também jamais queria esquecer. — Eu
vou participar com Adonis. Só espero que não achem que isso passe... que
é contagioso. Acho que tive alergia ao tecido do biquíni.
— Quer que eu consiga outro novinho para você? Temos uma loja
aqui nesse andar. Só me fale o tecido.
— Seria ótimo, senhora Baltazzi. Encontre um que não tenha muito
elastano, por favor.
— Eu já retorno. Vou avisar a todos que está tudo ok e que... bem...
Homens têm um pensamento terrível.
Ela saiu antes que tivéssemos tempo de explicar mais um pouco.
Meu peito ainda subia e descia, eu estava prestes a entrar no corpo de
Alexia, eu a beijei como se o mundo fosse acabar, a minha boca estava
assada, caralho, e isso nunca aconteceu. Assada de beijar. E o meu pau
estava doendo, precisando de alívio, minhas bolas perdidas e sem
entenderem o motivo de eu ter parado.
Alexia me encarou e começou a pegar suas peças no chão, sem dizer
uma palavra. Ela desligou a ducha e caminhou até um pequeno armário,
onde pegou toalhas.
Jogou uma para mim e, rapidamente, cobriu todo o corpo. Eu desviei
o olhar. Me preocupei em ficar seco e começar a pensar em zumbis
comendo cérebros e dentaduras de idosos, animais podres, qualquer
coisa que fizesse meu membro brochar.
— Seu beijo continua péssimo — Alexia sussurrou, chamando minha
atenção.
Encarei-a, preparado para rebater, mas o que vi...
Meu coração não estava pronto para aquilo.
Porque Alexia sorriu para mim.
E não foi só o gesto, foi a constatação de que eu nunca tinha visto
esse sorriso de Alexia, exatamente o que estava me dando agora.
Jamais.
Para ninguém.
Eu sorri de volta, me sentindo um idiota e sem razão para isso,
perdendo toda a merda do bom senso quando meus batimentos
aceleraram e alguma coisa rodou no meu estômago.
Não era fome.
Era Alexia.
— Eu babei, foi?
Ela riu e cobriu o rosto com as duas mãos.
— O que diabos a gente fez? Foram os drinks?
— Não, Alexia.
Finalmente, ela teve coragem de me olhar de novo.
— Já disse que não vou falar, mais uma vez, que foi um erro. Não foi
— prometi.
— O que você está dizendo? — me perguntou, com a voz baixa.
Cheguei a dar um passo para frente, mas me contive.
O que eu ia dizer? Que estávamos atraídos um pelo outro desde que
nossos hormônios começaram a borbulhar e que afastamos essa ideia
porque éramos crianças?
Não, essa merda parece irreal.
— Meio que... somos adultos agora. Não é errado sentir vontade de...
— Mas é você, Adonis — Alexia argumentou. E não foi pejorativo. Foi
do tipo “você não vê que isso é insano?”.
Dei de ombros.
— Vamos ter tempo pra pensar sobre isso. Agora, a gente vai ter que
voltar lá e ganhar essa merda porque, talvez, seja a única chance de
conseguirmos conversar com Alexandros de forma isolada desse lugar.
— Você está querendo dizer que quer trabalhar comigo agora? —
Ergueu a sobrancelha, incrédula.
Sorri, como um gato que comeu o canário.
— Somos competitivos, Lexi. E um beijo não vai mudar isso.
O que foi aquilo?
Coceiras têm correlação com tesão? Acho que não porque, se for isso,
descobri que tenho algum fetiche bizarro.
Eu e Adonis não tocamos mais no assunto, mas, depois do beijo, era
como se tudo tivesse suavizado. Ao menos em público e durante a
confraternização, agimos como se tivéssemos... mesmo... ficando. Talvez
porque nós tenhamos nos beijado e quase...
Caramba, o que foi mesmo aquilo?
Adonis não beijava, ele possuía cada parte do meu corpo com sua
boca, como se sua língua tivesse botões de ação em lugares que eu
desconhecia. Nunca foi dessa maneira, especialmente com Nikos, que foi
o primeiro e único homem que tive na cama, e ele não era nada assim. A
intensidade de Adonis funcionava para todas que já o provaram? Ele
fazia essas coisas e deixava as mulheres insanas? Provavelmente sim,
não ia ser diferente comigo, mas esse pensamento começou a me
incomodar.
Quer dizer, até o beijo na sauna, Adonis era o último homem que eu
transaria. Eu estava tão firme no meu propósito de não me render a ele.
Mas Adonis tomou partido, eu fui pega desprevenida e, quando vi, já
estávamos nos atracando loucamente.
Aconteceu.
E isso era uma droga porque ele era a fórmula de homem dos sonhos
que deu errado. Porque era engraçado, competitivo, sabia ser legal, havia
uma enorme perspectiva de futuro e sabia bem o que queria da vida,
tinha um papo incrível, mas era arrogante, cafajeste e sabia me irritar
como ninguém.
O que eu ia querer me envolvendo com um homem como esse?
Nunca namorou. Ok. Nunca se apaixonou. Ok. Nunca levou nada a sério.
Ok. A tríade do desastre estava bem na minha cara, então por que eu
comecei a pensar que poderia ter mais de Adonis?
Eu estava no meio da Reação Catastrófica a Adonis.
Veio assim, meio do nada, depois que a confraternização acabou.
Alexandros nos levou para passear e almoçar com seus amigos. Durante
o almoço, eu fiquei encarando Adonis ao meu lado e me perguntando
como seria... só não brigar com ele a cada cinco segundos e tê-lo de
verdade na minha vida?
Eu até tinha me esquecido do pó de qualquer coisa que ele colocou
no meu biquíni. Se bem que, convenhamos, dá até para relevar isso.
Porque nós arrebentamos na competição e ganhamos a suíte
presidencial, ao lado da de Alexandros. Assim como a festa. Esta noite,
nós íamos para o tal quarto e, sinceramente, achei que ia ficar um clima
horrível entre nós, mas percebi que, juntos, a gente conseguiu entrar em
sincronia, da mesma maneira que competíamos um com o outro.
Interessante descoberta que tivemos naquele polo aquático e,
depois, em todas as atividades que nos fizeram ganhar o prêmio.
E, agora, eu tinha outro fator inédito bem na minha frente.
Especialmente porque, naquele segundo, Adonis estava ajudando
uma senhora da terceira idade a atravessar uma passarela do resort. Ela
usava um andador e estava um pouco perdida. Adonis nem sabia que
estava sendo analisado e, quando me peguei sorrindo, percebi que tinha
alguma coisa errada.
Comigo.
Toquei na minha boca.
Sim, eu estava sorrindo.
Para Adonis e de um jeito bobo e idiota que entrava na minha
planilha de preocupações do tipo eu quero mais daquele homem.
Peguei o Iphone e, assim que encontrei o contato nos favoritos, liguei
para a minha melhor amiga. Ela era a única que poderia me entender e,
talvez, soltar um: “eu te avisei que entre vocês a história não acabou e blá
blá blá”, mas era preferível escutar isso do que me sentir perdida, como
se estivesse naufragando.
A senhora deu um beijo no rosto do Adonis quando ele se abaixou e
acariciou o cabelo dele, como se fosse uma criança. Adonis sorriu para
ela, pegou delicadamente a mão da senhora e deu um beijo no dorso,
sorrindo em seguida.
Merda.
Merda.
Merda.
Eu adorei ver aquilo e acho que as borboletas que estavam
acampando no meu estômago também.
— Alexia? — minha amiga indagou do outro lado.
Suspirei fundo.
— Eu preciso de conselhos.
Estávamos em uma suíte que era absurda em tamanho e elegância.
Toda decorada e com cores fortes como vinho e dourado. Eu e Adonis
entramos e nossas malas já estavam lá, assim como tudo parecia
preparado para nós dois. A sala possuía dois sofás exageradamente
grandes e uma televisão que me faria morar, sem dúvida, naquele lugar.
O banheiro possuía um espaço incrível e a banheira cabia umas quatro
pessoas. Quando chegamos ao quarto...
— Só tem uma cama — sussurrei.
— Uma cama king-size que parece dez camas em uma só — Adonis
soltou e me lançou um olhar.
Deus, ele estava maravilhoso. Usando a calça jeans rasgada, mas,
dessa vez, uma preta que era justa em cada parte do seu corpo. Além
disso, estava com uma regata branca com corte V, exibindo as tatuagens
do seu braço e o bronzeado da pele.
Tomamos banho assim que nos livramos das obrigações sociais.
Separados, é bom ressaltar isso, mas, mesmo passadas tantas horas, meu
corpo ainda estava aceso, à noite, de algo que fizemos pela manhã. Eu
queria terminar o que começamos, especialmente porque Adonis tinha
se rendido a mim de um jeito tão gostoso, e aquele corpo dele e seu
membro delicioso... mas eu não sabia como fazer isso mantendo meus
sentimentos trancados em um baú.
Adonis sempre me irritou, mas, de alguma forma, eu sabia que havia
alguma coisa além desse ódio gratuito. Na adolescência, chegava a passar
horas olhando as fotos dele nas redes sociais, ainda que o visse todos os
dias. A cada vez que escutava o nome dele em casa, meu estômago ficava
gelado. Toda vez que o via, meu sangue circulava depressa.
Obriguei-me, por muitos anos, a pensar que isso era uma reação ao
que ele causava em mim, de forma negativa, e nunca parei para pensar
que eu poderia estar apaixonada por Adonis aos dezessete anos ou até
antes disso. Naquela época, só a citação dessa ideia era uma coisa
absurda. Eu gargalhava quando minha mãe dizia que ódio e amor andam
lado a lado.
Depois do beijo, fiquei tão confusa que dei graças a Deus por Adonis
ter se mudado.
Eu tinha muita coisa para processar, muitos anos de um
autoconhecimento que acreditava ser a mais pura verdade quando,
talvez, eu estive me sabotando esse tempo todo e escondendo de mim
mesma o que eu senti naquela época. Se conseguisse aceitar essa
verdade, talvez compreendesse por que Adonis ainda mexia comigo de
forma catastroficamente avassaladora.
Hoje, com vinte e três anos, eu sabia que o que aconteceu na sauna
não foi só tesão reprimido. E, se já estava pensando em como seria tê-lo
na minha vida, como disse Kate ao telefone, era porque eu estava a um
passo de...
— Você vai ter que dormir no sofá, certo? — decidi perguntar. — É
mais seguro.
— Você acha que eu mordo, Alexia? — A voz rouca e grave fez os
pelos da minha nuca levantarem.
Me lembrei do corpo forte de Adonis me sustentando contra a
parede, o membro grosso e longo em meus dedos ávidos e com vontade
de sentir aquele homem dentro de mim. O tesão começou a desenrolar
no meu corpo, descendo devagarzinho até a calcinha, só com a
lembrança.
— Eu acho que você faz mais do que morder. — Sorri.
— É, eu realmente faço bem mais do que morder. — Adonis pegou o
controle da televisão. — Enquanto não decidimos, quer ver um filme
comigo?
Pisquei, uma parte minha surpresa com a mudança abrupta de
cenário. Quando olhei para Adonis, ele estava com um sorriso tão
preguiçoso e sexy e, ao mesmo tempo, tão carinhoso, que senti um aperto
na garganta.
— Claro. Vou só tirar os sapatos.
Quando voltei à sala, Adonis já estava sentado no amplo sofá, com as
pernas abertas como todo homem senta, e uma almofada em seu colo. Ele
estava escolhendo, no catálogo da Netflix, o que veríamos. Me sentei ao
seu lado e Adonis me olhou de esguelha, sorrindo de lado. Tentei focar na
TV, para ajudá-lo a escolher e, quando Adonis estava lendo a sinopse de
um filme, eu sorri. Ele passou os dedos nos cabelos, jogando-os para trás.
— Vamos ver esse? — perguntei.
Era uma comédia romântica com Matthew McConaughey.
— Era o que eu queria ver. — Adonis suspirou. E, então, ele virou-se
para mim. Aquele mar particular estava turbulento dessa vez. Reparei na
respiração rasa de Adonis, em seus lábios vermelhos, na maneira que ele
encarava a minha boca e os meus olhos, alternando a atenção, como se
sonhasse em como seria me beijar de novo. Meu coração bateu tão forte
naquele segundo, que precisei agarrar a almofada que tinha disponível,
tentando me conter de pular nele e fazer alguma besteira. — Posso te
fazer uma pergunta?
Você quer me levar para a cama e acabar logo com isso? Vamos, por
favor...
— Pode — murmurei.
— Na verdade, serão duas. — Sorriu de lado.
Assenti, incapaz de falar com a expectativa do que Adonis diria.
— Sei que tem sido uma loucura nossa competição e tal. Alexandros
também não facilita. Mas... — Pela primeira vez, em toda a minha vida, a
autoconfiança de Adonis se foi. Ele estava inseguro. A perna direita subia
e descia em um balançar ansioso, e o lábio inferior era mordido. Meu
Deus, o que Adonis tinha? — Você tem se divertido nessa viagem?
O quê?
Abri a boca e fechei tantas vezes que, em algum momento, meu
maxilar estalou. Adonis esperou a resposta para uma pergunta que eu
tinha certeza que ele nunca fez a mulher alguma.
Por mais que parecesse um questionamento simples, não era. Em
meu país, quando um homem começa a demonstrar interesse romântico,
e não em um sentido de vamos transar ali num cantinho e nunca mais se
ver, mas algo como eu acho que estou gostando de você, esse tipo de
questionamento vem. Os homens gregos sempre querem saber se suas
mulheres estão se divertindo, se elas estão gostando da sua companhia.
E Adonis Konstantinos...
— Eu...
Era uma coisa enraizada em nossa cultura. Diversão e comida.
Família e comemorações. União e força. Adonis provavelmente nem
compreendia a razão de estar me perguntando aquilo, porque era um
segredo que nós, mulheres, guardávamos entre nós. Bisavós passam para
avós, que passam para nossas mães e, em seguida, a informação chegava
a nós. Era um indício de que havia um homem interessado em você.
Provavelmente, minha mãe desmaiaria se estivesse aqui.
— Sim, Adonis. — Engoli. — Estou me divertindo bastante no resort
e em sua companhia. Não faz mal aprontar umas com você. — Sorri de
leve, por mais que tudo em mim estivesse um verdadeiro caos.
— É, né? Tem sido bom esse tempo. — Ele escorregou o olhar para a
minha boca. Então, Adonis chegou perto, inclinando-se para mim, até que
seu nariz ficasse a milímetros do meu. Os batimentos galoparam no meu
peito, pescoço e alguma parte íntima demais para que eu conseguisse
respirar. Adonis sorriu e, de repente, se afastou. — Pronto, ajeitei sua
almofada. Pode se recostar.
Ele estava se preocupando comigo.
E não era só isso.
Havia algo gritando entre nós que eu não conseguia calar.
Me recostei e vimos o filme, embora a minha cabeça estivesse longe.
Em algum momento, Adonis pediu pipoca e vinho para nós dois. Foi uma
combinação surpreendentemente maravilhosa. Nós concordamos de o
vinho ser tinto, de a pipoca ser feita na manteiga e sobre o filme que
estávamos vendo. Quando acabou e fomos para o segundo ― mais uma
coisa que concordamos ―, outro de comédia romântica, Adonis pegou as
minhas pernas e colocou meus pés sobre as suas coxas rígidas e
musculosas. A pipoca tinha acabado, o vinho também, mas eu ganhei algo
muito melhor: seus dedos massageando meus pés inconscientemente.
Adonis gargalhou pelos filmes que vimos e, a certa altura, perdi a conta
de quantos foram. Ele me lançava olhares, atento de verdade ao fato de
eu estar ou não me divertindo. Acabei suspirando fundo, seus dedos
trabalhando calmamente na planta dos meus pés.
— Adonis.
— Hum? — Virou-se para mim. — Quer mais pipoca?
Ele não estava só preocupado com a diversão, ele estava preocupado
em me alimentar. Mais uma coisa que os homens do meu país fazem. Meu
coração ficou angustiado. Por favor, não deixe esse sentimento ir embora,
Adonis.
— Percebeu que concordamos em várias coisas hoje?
Adonis pausou o filme.
— É?
— Com os filmes, a pipoca e o vinho.
Pensou por um momento e pareceu chocado com essa constatação.
Seus longos dedos, sem parar de massagear meus pés, me deixaram mole
e excitada. Provavelmente, minha voz estava rouca, e uma garrafa de
vinho tinto depois... eu só queria beijá-lo e me perder em seu corpo, sem
me importar com o baú dos sentimentos.
— É verdade, Lexi. Será que estamos virando adultos? — Me
ofereceu um sorriso que pareceu de um predador prestes a comer a
presa.
— Eu acho que estamos coexistindo pacificamente. — Ri.
Adonis puxou minha perna e deu um beijo no dorso do meu pé.
Arrepios dançaram em minha pele. Não durou cinco segundos, mas seus
lábios em qualquer parte minha...
— A gente nunca se esforçou para fazer isso acontecer. — Ele sorriu
para mim assim que abaixou meu pé.
— É, eu acho que não.
Ficamos em silêncio por um tempo, só nos olhando. Adonis não
avançou nada naquela noite, ele só me deixou à vontade em sua
companhia, querendo me provar que respeitaria se eu não quisesse
continuar, querendo me dizer que tudo bem ele dormir no sofá.
Mas, definitivamente, algo mudou entre nós.
E o baú dos meus sentimentos foi incapaz de se manter fechado.
Eu dormi no sofá.
Embora não fosse adiantar merda nenhuma porque, em teoria, eu
poderia ir até o quarto de Alexia e simplesmente...
Mas eu não fiz isso.
Cara, como era difícil conter o tesão por aquela mulher depois de já
ter provado sua boca, o quanto era gostosa, o quanto respondia a mim.
Mas eu entendia. Quer dizer, acho que sim. Íamos complicar tudo se
transássemos, certo? Acho que era esse o receio dela. Eu só daria um
passo se tivesse sinal verde.
Lancei um olhar para ela. Alexia estava... porra. Linda demais. Ela
tinha colocado um dos seus saltos coloridos. Dessa vez, usava um vestido
branco e justo e o salto era de um verde muito forte e claro, mas que, de
certa forma, combinava com ela. Fiquei pensando como seria tê-la nua só
com os sapatos. Os saltos afundando na minha bunda enquanto...
— Você está pronto? — perguntou.
Pisquei, um pouco tonto.
— Aham.
— Você não acha estranho Alexandros nos chamar... juntos? Sendo
que ele deu a entender que queria conversar comigo sobre a proposta
que fiz a ele?
Dei de ombros.
— Como Alexandros acredita que somos amigos...
— Hum, tem alguma coisa que não encaixa nisso tudo. Eu nem tive a
chance de tentar mostrar algo novo para ele.
— Mas agora você tem.
Alexia riu.
— Você está me apoiando, Adonis Konstantinos?
Sorri de lado.
— Jamais.
Eu sabia que ganhar o resort era importante para Alexia. Era para
mim também. Não era possível que um de nós não conseguisse o
contrato.
Saímos da suíte e fomos até o ponto de encontro do Alexandros. Ele
estava na mesma sala de reuniões que Alexia o encontrou pela primeira
vez. Diferente do que pensei, usava uma roupa casual e uma camisa
florida, aproveitando o verão e essa época incrível do ano. O cara abriu
um sorriso quando nos viu, nos abraçou e deu em Alexia dois beijos no
rosto.
— Eu não quero tomar o tempo de vocês. Será bem rápido.
Eu e Alexia nos entreolhamos.
— Sentem-se.
Alexandros nos serviu água com gás bem gelada. Vi que Alexia estava
nervosa, porque levou a mão à boca, querendo roer a unha, mas conteve
o movimento. O senhor Baltazzi soltou um suspiro e se recostou na
cadeira.
— Eu já ouvi a proposta da senhorita Alexia, sei que está disposta a
ouvir o meu valor e trabalhar com isso em uma negociação agradável
para nós dois. — Os olhos de Alexandros estavam nela. Vi a surpresa em
Alexia e me senti do mesmo jeito. O homem tinha deixado bem claro que
não tinha intenção de vender o resort. — Analisei a senhorita durante
esses dias e acompanhei de perto a sua determinação. Também fiz uma
pesquisa.
Ele colocou os óculos de grau e puxou alguns papéis de uma pasta
sobre a mesa.
Alexia fez algo que me surpreendeu: sob a mesa, procurou a minha
mão.
Lancei um olhar para ela, ao mesmo tempo em que entrelaçava
nossos dedos. Lexi respirou fundo.
— Formada em Economia em uma das universidades mais
aclamadas da Europa, em Atenas. Nota final de conclusão do curso um
dez bem redondo. Auxiliou seu pai, que é dono de uma rede de resorts, e
subiu a receita da empresa em dez por cento em um ano. — O homem
tirou os olhos do papel e encarou Lexi. — Você é boa, senhorita
Leandros.
— Eu aprecio muito a sua análise e o fato de repensar na minha
proposta. — Sua voz veio doce e, aos meus ouvidos, sexy pra caralho. —
Fico feliz em me considerar para comprar o seu resort e por ter mudado
de ideia...
— Eu não mudei de ideia. — Ele cruzou os braços na altura do peito.
— Sempre quis vender o resort, só queria ter mais tempo para poder te
analisar e, bem, qual é a graça se as coisas não forem um pouquinho
difíceis? No entanto, apesar de saber que você é realmente muito boa, há
uma coisa que está faltando.
Os olhos de Alexandros vieram para mim.
— O que te traz aqui, Adonis.
Estreitei o olhar.
— Qual é a sua proposta? — perguntou, na lata.
Apoiei os cotovelos sobre a mesa, me aproximando do homem.
— Não me lembro de ter dito...
Alexandros riu.
— Veja bem, eu tenho uma Leandros e um Konstantinos no meu
resort. Filhos dos mais poderosos donos de resorts da Grécia. Você achou
mesmo que eu não saberia a sua intenção? Não me leve a mal, você se
tornou um ótimo amigo, e creio que seja uma pessoa excelente, mas a sua
proposta não veio ainda e estou curioso.
Certo, eu subestimei a inteligência dele.
Fiquei subitamente incomodado de dizer qual era a minha oferta e o
que eu tinha pensado, justamente na frente de Alexia. Ainda assim, eu
tive que dizer.
— Compro o seu resort pelo valor que estipular, mas também quero
oferecer, de forma vitalícia, dez por cento do rendimento anual, de forma
que não tenha que se preocupar com dinheiro pelo resto da sua vida.
Alexandros piscou e Alexia suspirou. A minha proposta era melhor
do que a dela. Além do cheque em branco, Alexia não havia oferecido
nada. Eu sabia que aquele suspiro era como se decretasse sua derrota,
algo que não quis que ela sentisse. Alexia manteve sua mão na minha e
eu dei um suave aperto, um pedido de desculpas. Me deixou meio que...
feliz... o fato de que Alexia não tirar a mão dali. Era sua forma de dizer
que era madura o suficiente para entender que o que quer que houvesse
entre nós dois não influenciava nos negócios.
— Legal, mas não sei... — Alexandros soltou.
E isso, eu tenho certeza, deixou Alexia e a mim completamente em
choque.
— Preciso avaliar bem essa possibilidade. Vamos fazer o seguinte:
vou pensar. Teremos uma festa maravilhosa amanhã e isso me dá tempo
de trazer uma resposta para vocês. Acho que... é. É isso. — Alexandros se
levantou e, assim, do nada, caminhou e fechou a porta da sala de reunião,
nos deixando sozinhos.
Encarei Alexia e a vi dar de ombros.
— Nossos pais avisaram que ele é excêntrico.
— Não posso discordar dessa merda. Completamente...
— Louco? — Ela riu. — Eu teria dito sim à sua proposta no primeiro
minuto.
— Boa, né?
Ela rolou os olhos e apontou para cima.
— Sua arrogância beira este teto.
Arqueei uma sobrancelha.
— Eu tenho outras coisas bem grandes também que você pode
gostar.
Recebi um tapa no braço e uma gargalhada deliciosa. Alexia era
maravilhosa e totalmente... cara, totalmente leve. O jeito que ergueu os
lábios e...
Lá estava.
Aquele sorriso de novo, só meu, e de mais ninguém.
— Depois dessa reunião... esquisita. Quer beber comigo?
Sim, você não leu errado. Esse era eu, Adonis Konstantinos,
convidando Alexia Leandros para um encontro. Não era nada formal
como um jantar à luz de velas, se bem que ela merecia. Eu sei, eu sei.
Você deve estar rindo aí porque, merda, eu estava interessado em Alexia
como nunca fiquei em mulher nenhuma. Eu a queria e, honestamente,
não sabia se só tê-la na minha cama aliviaria uma vontade nova que
crescia e eu não entendia bem o que era.
— Você está me convidando para um drink? — Alexia perguntou,
surpresa.
— Ué, qual o problema?
— Você, Adonis.
Soltei sua mão e abri os braços.
— Não acho que tenha sido abduzido, se é isso que quer saber.
Alexia se levantou, rindo, jogando seu cabelo liso e negro para as
costas. Ela me lançou um olhar sobre o ombro e ergueu as sobrancelhas.
— Você vem?

Alexia completou a minha ideia do drink. Decidimos fazer isso na


suíte. Então, pedimos serviço de quarto com as bebidas que queríamos
tomar. Adicionei ao pedido comida, porque precisava que Alexia
estivesse bem alimentada. Nos sentamos no chão da sala, sobre o tapete
e as almofadas tão grandes que eram do tamanho de um quarto de uma
cama. Descalços, à vontade, rimos das aventuras que dividimos e das
coisas que aconteceram durante a nossa infância e adolescência.
Entramos no assunto do que houve nos seis anos que ficamos separados,
e me surpreendeu Alexia dizer que a vida estava meio quadrada e sem
diversão nesse início da fase adulta. Ela confessou, encarando-me olho
no olho, que eu ter reaparecido animou as coisas de novo.
Alexia não disse, mas eu soube, ali, que ela sentiu a minha falta.
— Podemos fazer um jogo. — Mordi o Souvlaki, uma espécie de
churrasco no palito servido com pão pita, molho, salada e batata frita.
Alexia roubou uma batata, mergulhando-a no molho.
— Que tipo de jogo?
— Verdade ou desafio.
— Isso é tão... a cara da nossa adolescência.
— Sempre fizemos com todo mundo, mas nunca entre nós. Vai ser
divertido.
— Eu acho que você quer arrancar umas verdades de mim. — Alexia
sorriu, bebendo seu drink em seguida.
Era exatamente isso que eu queria fazer.
— Quer começar?
Lexi se ajeitou.
— Claro. — Pareceu pensar um pouco, enquanto pegava o queijo feta
e dava uma boa mordida. — Hum... verdade ou desafio?
— Verdade.
— Você ficou com muitas meninas na Suíça?
Não precisava mentir para ela.
— Algumas, mas não a quantidade de garotas que ficava na
adolescência.
Isso a surpreendeu.
— Não esperava essa resposta.
Mordi mais da carne.
— Porque você sempre pensou o pior de mim, Lexi. Bem, minha vez.
Verdade ou desafio?
— Verdade.
— O seu namoro com o Nikos foi tão bom assim?
Alexia abandonou a batata que ia mergulhar no molho. Ela me
encarou e abriu um sorriso meio tímido.
— Droga, odeio ter que ser sincera. Não, não foi bom. Nikos não era
muito presente, sexualmente falando. Também não... beijava essas coisas
todas, como você disse na época. Eu acreditei que seria diferente com o
tempo, mas percebi que o nosso relacionamento... nem amor tinha.
Acabamos tudo de forma bem amigável. Enfim, sinto que foi um tempo
jogado fora, porém valeu a experiência.
Como um homem poderia não ter apetite sexual com uma mulher
como Alexia? Se aquele filho da puta ousou foder a autoestima dela, eu
juro por Deus...
— Por que você está com essa cara?
— Você ficou bem, depois do término?
Lexi franziu o cenho.
— Sim, aproveitei bastante a vida de solteira. Tá tudo bem, Adonis?
Meu coração estava apertado de uma forma que nem sabia explicar.
Abandonei a comida e apoiei os cotovelos sobre as coxas, sentado como
índio, me inclinando para Alexia.
— Você sabe o quanto é linda, não sabe?
Lexi piscou.
— Sei que sou agradável de ver...
— Linda — falei, rouco. Encarei sua boca. — Repete pra mim que
você é linda.
Ela engoliu em seco.
— Eu sou linda — sussurrou.
— Mais alto — pedi.
— Eu sou linda!
— Você é linda pra caralho.
Isso a fez rir.
— O que você está fazendo?
— Te mostrando que você é melhor do que o bosta do Nikos.
— Obrigada, eu acho.
— E eu realmente te acho linda — confessei, sem tirar os olhos da
sua boca.
Ficamos em silêncio por um tempo, esquecendo da brincadeira, com
nada além da atração que havia entre nós dois pairando no ar, o calor
dançando por mim e me fazendo ter uma ereção quase imediata, com
vontade de mostrar para Alexia o quanto ela era linda. Com meu corpo,
com meus beijos, com uma vontade que não cessaria.
Não agora.
Talvez nunca.
— Eu senti sua falta — soltei. — Acompanhei você pelas redes
sociais, vi como estava feliz e nunca quis te incomodar. Terminamos a
coisa toda de um jeito esquisito, o beijo roubado que eu te dei. Não
queria que... sei lá... me tratasse mal ou ficasse incomodada com a minha
aproximação.
Os lábios dela viraram uma linha fina enquanto me encarava, sem
entender o que se passava dentro de mim.
— Eu gostei do seu beijo e, aliás, foi o primeiro da minha vida. Fiquei
mexida por semanas e, quando finalmente beijei o Nikos, não conseguia
parar de pensar em como poderia ter sido se eu deixasse fluir com você
naquela época. Eu fui adolescente, mimada, birrenta e infantil.
Meu coração parou de bater porque, cara, eu fui o primeiro e ela
confessou que se sentiu mexida... Alexia estava mais próxima de mim,
quase como se quisesse ser beijada de novo. Se inclinou em minha
direção, os drinks e a comida esquecidos na mesa de centro. Só havia nós
dois naquele quarto, uma música que colocamos para tocar, no rádio,
fazendo uma trilha sonora.
— E eu sempre me senti atraído por você. Acho que desde os doze
anos. Eu só arranquei a cabeça do seu urso porque queria chamar a sua
atenção e não sabia como.
O jogo de verdade e desafio havia se tornado um jogo de confissões.
Alexia riu.
— Eu odiei você, quase na mesma proporção em que...
Ela deixou a frase no ar. Seus lábios estavam ali, tão perto de mim,
vermelhos e me convidando a beijá-los. Senti os batimentos saírem do
ritmo, a sensação me sufocando de uma maneira que me vi incapaz de
respirar. Tudo no meu corpo se agitou, como se estivesse doente, como
se alguma coisa terrível acontecesse com o meu organismo. Meu
estômago deu um loop bizarro, meus dedos tremeram e ficaram gelados.
Eu pisquei, imerso em Alexia. E, por mais que eu não conhecesse a
sensação, soube, naquele segundo, o que era.
Eu estava apaixonado por Alexia Leandros.
Porra, e isso era tão assustador. Não me sentia no controle do meu
próprio corpo, só me vi levar a mão até o seu rosto, acariciando com o
polegar sua bochecha, sentindo a maciez do seu cabelo no dorso da
minha mão e na ponta dos meus dedos. Alexia fechou as pálpebras, os
cílios negros em contraste com sua pele bronzeada. Ela era tão linda, tão
minha, talvez por toda a vida, então por que eu não a tomei nos meus
braços antes?
Naquele segundo, me vi levando-a para todos os restaurantes da
Grécia e do mundo. Me vi alimentando aquela mulher, fazendo-a se
divertir de todas as formas possíveis. Em baladas, em parques, na praia,
no campo. Eu queria que ela risse ao meu lado e me batesse quando
fizesse alguma gracinha. Deus, eu queria Alexia, e não sabia se ela estava
na mesma sintonia dos meus pensamentos.
— Verdade ou desafio? — sussurrei.
De olhos fechados, rendida à carícia, Alexia sussurrou:
— Não sei se quero responder uma verdade agora. Desafio, então.
Engoli em seco.
— Eu desafio você a me beijar de novo.
Alexia abriu lentamente os olhos.
Escorreguei o polegar até tocar seu lábio inferior, acariciando-o com
a ponta do dedo, aquele ponto macio que eu adorava morder.
— Tenho medo de começar a beijar você. — Alexia me encarou ali,
sem vergonha ou pudor. Era a verdade daquele desafio. — Tenho medo
porque, se eu começar, a gente não vai parar.
Abri um sorriso, admirando cada traço do rosto lindo daquela
mulher.
— Então, só me beije outra vez quando realmente me quiser, Alexia.
Não antes, e nem depois. No momento certo.
O polegar saiu dos seus lábios e eu me inclinei para deixar um beijo
no canto de sua boca, levantando os pelos do meu corpo, me deixando
ainda mais duro pela vontade contida. Me afastei de Alexia e mordi o
lábio inferior, estudando a reação ao que eu disse. Ela estava atônita, me
encarando como se o que eu falasse fosse capaz de mudar tudo.
— Tem certeza, Adonis? — sussurrou.
— Eu tenho. Só falta você.
Ela pegou uma batata frita fria e colocou na boca. O sorriso de Alexia
depois de mastigar me disse que ela ia fazer justamente o que eu pedi a
ela.
Me tenha, Lexi. Me tenha quando você me quiser. Porque, dessa vez, eu
não pretendo ir a lugar nenhum.
Continuamos até de madrugada. Naquelas horas com Alexia, eu
percebi que não havia nada mais interessante do que dividir batatas
fritas e verdades com ela.
Está se perguntando onde eu dormi depois que a festa acabou, né?
No sofá, porque eu sou bem comportado.
Trocamos verdades que jamais teríamos coragem de dizer um ao
outro se não tivéssemos dado o primeiro passo. Adonis mudou ali, o jeito
de me olhar e me tratar, e eu não pude fazer qualquer coisa além de
ceder. Não sabia onde estava me enfiando, deixando meu coração ser
levado por um homem que nem sabia o que era se comprometer com
uma mulher, mas, no momento em que ele disse para beijá-lo quando
tivesse certeza de que queria algo mais, eu soube... Deus, estava
apaixonada por Adonis até o pescoço. Não havia o que ser feito sobre
isso, meu lado racional dizia para eu correr para o outro lado e tentar
fugir dele. Mas como fugir de algo que está acontecendo em nós?
Hoje era o dia da festa do Alexandros. Eu já tinha ido para a festa
Summer e sabia que lá era como o ápice das festas na Grécia. Música
eletrônica, gente usando roupas de banho e da maneira mais elegante
possível, além de alternativa. Pessoas de todo mundo viajavam para
Mykonos só para aproveitá-la.
Encarei-me no espelho do quarto, a porta fechada para que pudesse
me trocar. Adonis tinha feito isso no banheiro e, de certa forma, imagino
que ele já tenha ido para essa festa centenas de vezes, sabendo bem
como tinha que se vestir.
O maiô que escolhi era de crochê, o que o tornava sexy e elegante ao
mesmo tempo. Um decote em V bem generoso e as alcinhas finas
valorizavam meus seios. Abaixo deles, a peça descia em um crochê
vazado, mostrando minha barriga, além de ser completamente aberto
nas laterais e nas costas. Se alguém me visse por trás, acharia que eu
estava usando um biquíni. Na parte de baixo, era super comportado,
como os biquínis tradicionais, e possuía dois lacinhos discretos para
amarrar do lado, mas apenas decorativos.
Engoli em seco.
Eu sabia que esse biquíni era para Adonis.
Passei um creme de morango com protetor solar fator trinta. Peguei
a saída de banho branca bem transparente, longa e de mangas, da mesma
cor do biquíni, mas era lisa e sem nada de crochê, e a vesti. Pus um
chapéu branco que possuía uma faixa preta em toda a volta, além dos
meus óculos escuros de gatinho.
E me senti preparada para o que quer que eu fosse encontrar depois
daquela porta.
Inspirei fundo.
E Adonis Konstantinos estava lá.
Não, droga, eu não estava pronta.
Ele escolheu uma sunga estilo boxer, que ia até o começo das suas
coxas, justa em cada parte importante daquele corpo maravilhoso. A
boxer era uma sacanagem absurda. Branca com suaves toques de cinza.
Eu pude ver exatamente a linha do membro, onde eu toquei e senti sua
pele pulsar nos meus dedos, e sonhei em como seria abaixar aquela peça
única e escorregar por suas coxas musculosas...
Subi os olhos, os batimentos cardíacos na minha garganta.
Adonis tinha estilo e estava tão gostoso. Ele pegou uma faixa reta e
amarrou na altura da testa, o que destacou ainda mais seus cabelos
negros e sua pele da cor do pecado. Nos olhos, havia óculos escuros
espelhados, prata, combinando tanto que, em três peças, Adonis
arrancou todo o meu ar.
— Caralho, Lexi... — ele soltou. A voz rouca e pesada, seus olhos
provavelmente me escaneando. — Você quer que eu te leve para essa
festa ou que a gente faça uma comemoração particular aqui mesmo?
Precisei me encostar na parede porque meus joelhos tremeram.
— Eu bem que adoraria ficar aqui, mas vamos ouvir a resposta do
Alexandros e descobrir quem ganhou. — Cruzei os braços na altura do
peito.
Adonis umedeceu os lábios avermelhados e grossos.
-— Chegamos ao Dia do Juízo Final. — Sorriu de lado.
Meu Deus, eu queria tirar uma foto daquele homem e colocar no
plano de fundo do meu celular. Dediquei mais uns cinco segundos
analisando seu corpo e percebi que o volume no meio das suas pernas
havia aumentado um pouco.
Por minha causa.
Isso me fez sorrir e andar devagarzinho em direção a Adonis. Aquele
ponto no meio da sua garganta subiu e desceu lentamente.
— Você está linda, Alexia.
— E você está querendo tirar a minha concentração.
— É? — sussurrou. — Eu realmente adoraria tirar toda a sua
concentração, porra...
— Uhum.
Toquei em seu peito, sentindo os pelos na ponta dos dedos,
escorregando para o seu ombro e descendo devagar pela tatuagem em
seu braço. Adonis foi se arrepiando, a respiração intensa e, por mais que
ele estivesse com os óculos que me refletiam como um espelho, sabia que
estava me admirando. Desci mais a mão, e Adonis soltou um som quente
do fundo da garganta, o que me fez pensar se ele faria esse barulhinho
gostoso quando estivesse dentro de mim.
Adonis deu um passo para trás, parecendo ter consciência de algo.
Ele arrancou os óculos, com um sorriso imenso no rosto.
— Você quer me distrair.
— Não. — Sorri, inocente.
— Quer sim, Lexi, você quer me atrasar de propósito. Vai me deixar
tonto de tesão e com uma ereção tão filha da puta que vai dizer que irá
na frente...
— Como você pensa mal de mim...
— Eu te conheço. E isso não vai acontecer.
Ele pegou as chaves de acesso, ainda rindo, e sua carteira.
— Você vem ou vai tentar alguma gracinha?
— Não vou tentar nada.
Eu não, mas Adonis tentou cinco minutos depois disso.
O filho da mãe apertou o botão de todos os elevadores disponíveis,
eu deveria ter me ligado que isso era uma cilada. Assim que o primeiro
elevador da extrema esquerda deu o plim, Adonis correu até lá e fechou a
porta antes que eu tivesse tempo de entrar. Outro elevador surgiu e eu
entrei, sozinha, pensando em como conseguiria chegar até Adonis. Se não
me engano, só haveria um barco disponível para irmos até a festa.
Congelei no lugar.
Se Adonis pegasse o barco sem mim...
Avistei-o na recepção, correndo que nem um fugitivo, e, quando
gritei o nome dele, correndo atrás, escutei sua risada à grande distância.
Na corrida, ele era melhor do que eu, suas pernas eram mais compridas,
e eu teria que me adiantar de algum jeito.
Ah, aquilo!
— Licença — pedi a um funcionário do hotel, tirando das mãos dele
o carrinho de malas, aquele mesmo com rodinhas. Subi nele e comecei a
usar de patinete. Quase atropelei um casal e gritei desculpas assim que
saí da zona de recepção.
Achei Adonis.
Um trovão soou no céu.
Ótimo.
Ele, ainda correndo, sem se afetar, lançou um olhar para trás e riu
quando me viu naquela situação. Maldito homem gostoso. Cheguei do
lado dele em menos de três minutos e isso tirou o sorriso do seu rosto.
Adonis, sem parar de correr, estreitou os olhos.
— Olá, querido. Acho que vou ganhar de você nessa. Quer pegar o
barco sem mim?
— Você não vai chegar lá usando essa merda. Daqui a cinco minutos,
a gente sai e o terreno é acidentado.
Perdi o sorrisinho do rosto.
— Sério?
— E eu já te falei que meu hobby é correr?
Lancei um olhar para frente e ele estava certo. Já estávamos saindo
da propriedade do resort e íamos para uma área cheia de pedregulhos e
terreno acidentado. Abandonei o carrinho e tentei correr ao lado dele,
mas Adonis era realmente bom. Dei-lhe uma cotovelada e o desgraçado
nem se mexeu. Assim que chegamos no terreno, Adonis deu uma volta
absurda e começou a ir na direção da parte dos fundos do resort.
Um atalho?
E foi aí que uma chuva ou, melhor, uma tempestade, começou a cair
sobre nossas cabeças. Eu estava a poucos passos de Adonis, e tentei
puxá-lo pela sunga, o que o atrasou poucos passos. Ele não conseguia
parar de rir, talvez porque fosse mesmo ridículo o que estávamos
fazendo, e aquele chuva estúpida...
Adonis puxou a minha saída de banho e conseguiu tirá-la, me
atrasando muito quando, milagrosamente, passei na frente dele. Já perto
da piscina, tirei minhas rasteirinhas e as taquei em Adonis. Ele desviou
da primeira, mas a segunda atingiu-o bem na barriga. Adonis ficou puto,
eu vi na cara dele, e bastou um segundo para eu entender o que ia fazer.
Ele me alcançou como se fosse um touro vendo vermelho e, em um
puxão, meus pés saíram do chão e foram para o ar.
— Me solta!
— Eu vou, pentelha.
Adonis me pegou no colo, estilo noiva, e em meia batida do meu
coração, senti água envolvendo todo o meu corpo, quente em relação ao
tempo lá fora. Abri os olhos embaixo d’água. Adonis ainda estava ali, ele
havia se jogado na piscina aquecida comigo, enquanto a chuva ainda caía.
Submergi, com os lábios abertos em choque, e ele estava tão puto comigo
como eu estava com ele.
— Eu só não te afogo porque é ilegal — Adonis resmungou.
— A gente vai se atrasar!
— A culpa é sua que veio tentar me seduzir — ele rebateu.
— Nunca fiz isso!
Nós dois nos encaramos.
Com a chuva torrencial sobre nossas cabeças.
E começamos a gargalhar.
A risada de Adonis foi tão sincera, que ela me puxou para rir junto
dele. Parecíamos dois adolescentes de doze anos, do mesmo jeito do
passado, e o rosto de Adonis iluminou o meu coração.
A verdade é que entre nós dois talvez sempre fossem existir as
brigas, não éramos perfeitos, e sempre provocávamos um ao outro, mas
eu queria aquilo, eu queria aquele homem. Pela primeira vez na minha
vida, sem ser algo profissional, eu tive certeza de um relacionamento,
tive certeza de querer alguém tanto quanto eu queria o sucesso na minha
carreira.
Tive certeza de que o garoto que já foi o meu melhor amigo era
também o meu grande amor. E pode ter demorado muito para eu
assumir esse sentimento, mas, naquele instante em que estávamos na
piscina, com o mundo caindo sobre nós, e Adonis rindo de como éramos
idiotas...
Me aproximei, segurei seu rosto com uma das mãos e a risada de
Adonis desapareceu. Tirei seus óculos escuros e, aproveitando que
estávamos perto, os deixei na beirada da piscina. Eu queria ver seus
olhos, eu precisava vê-los. Seus cabelos estavam molhados e a bandana
branca, encharcada da chuva e da piscina. Ele estava completamente
molhado e delicioso, surpreso pela minha atitude. Adonis piscou devagar
e seu olhar recaiu nos meus lábios.
Dei um impulso pequeno para frente até nossos corpos colarem.
Suas mãos, embaixo d’água, foram imediatamente para a minha cintura.
A cabeça de Adonis pendeu para a direita, exatamente onde minha mão
estava, e ele fechou os olhos.
Senti meu coração bater forte quando me aproximei e colei nossos
narizes.
Adonis não estava fazendo nada, ele estava me deixando guiar. Ele
queria que eu tivesse certeza, mas eu tinha.
Ainda assim, escutei sua voz rouca perguntar:
— Verdade ou desafio?
— Verdade — sussurrei.
— Se você me beijar agora, você será minha, Alexia. Minha e de mais
ninguém. Porque eu quero você mais do que eu posso confessar em voz
alta.
Inspirei o mesmo ar que Adonis até que, lentamente, guiasse minha
boca para tocar a sua. Essa era a minha resposta, o sim que eu queria; o
comprometimento que Adonis estava me prometendo era o que eu mais
desejava na vida. Me esqueci da festa quando sua boca,
surpreendentemente quente, começou a se mover contra a minha.
Foi diferente dessa vez, como se nunca tivéssemos nos beijado antes.
Adonis encaixou seus lábios entre os meus, o seu inferior entre minha
boca, depois o superior, me beijando tão leve e suave que o gesto
inseguro da parte dele era um traço que jamais pensei ver em Adonis. Ele
não sabia se eu o queria tanto assim, ele não tinha certeza da minha
resposta, por mais que estivéssemos nos beijando.
Minha resposta não estava clara o suficiente.
Suas mãos ficaram mais firmes na minha cintura quando usei a
ponta dos meus dedos para descer do seu rosto e tocar seus ombros,
desbravando seu peito firme enquanto pedia passagem com a minha
língua. Com calma, mas com intensidade. Adonis soltou um grunhido de
prazer assim que aprofundou o beijo junto comigo. Sua língua rodando
de leve em torno da minha, tocando toda a minha boca, me levando para
tão longe. Seus lábios moldados nos meus, seus dedos afundando na
minha pele. Entreguei-me ao beijo como se implorasse para que
entendesse que eu estava apaixonada, e que eu não poderia dizer, dado o
pouco tempo que estávamos convivendo. Ainda assim, Adonis...
compreendeu.
Porque, quando esse homem finalmente aceitou que aquele beijo era
o meu sim, eu me perdi em seus braços.
Foda-se o resort.
Foda-se o tempo que havia entre nós.
Foda-se as pirraças, as brigas, tudo o que passamos por medo de
viver exatamente o que estávamos vivendo agora.
Era tão incrível e eu só conseguia me amaldiçoar por ter me afastado
da melhor coisa que já aconteceu em toda a minha existência.
Alexia Leandros.
Me beijando na chuva e na piscina.
Exposta com seus sentimentos e com seu corpo.
Beijei-a profundamente. Mordisquei seu lábio inferior, invadindo a
minha língua mais uma vez para provar a sua. Ela tinha um sabor tão
gostoso, e o jeito que me beijava... nenhuma mulher já o fez. Não com
essa certeza, com sentimento de verdade, como se não pertencêssemos a
nenhum lugar senão aos braços um do outro.
Desci a mão até tocar sua bunda, trazendo-a para a minha ereção
pedinte, meu corpo ansioso para entrar nela. Alexia gemeu baixinho e eu
podia jurar que já estava molhada quando escorreguei meus beijos até o
seu pescoço, mordiscando seu lóbulo, tomando sua orelha devagarzinho
entre meus lábios, até escorregá-los de novo e atingir aquele ponto que a
faria...
— Adonis...
Isso.
Meus dedos foram subindo, sentindo o seu maiô e a pele quente de
suas costas por causa da piscina aquecida. Eu queria pele com pele, e
odiei o maiô imediatamente. Alcancei seus ombros, sem parar de beijar
seu pescoço, e desci as alças finas, até expor seus seios.
Tive que me afastar um segundo para olhá-los.
Alexia estava ofegante, corada, e com os mamilos tão pontudos para
mim que achei que fosse gozar na maldita sunga. Sem perder tempo,
peguei Alexia pela nuca com uma das mãos e com a outra acariciei seu
mamilo direito, brincando e apertando-o suavemente na ponta dos meus
dedos. Alexia trouxe o quadril instintivamente para frente, buscando a
minha ereção. Ela jogou a cabeça para trás, se esfregando em mim.
Isso, se esfrega no meu pau...
Desci o rosto e beijei sua clavícula, para depois descer a língua para
aquele vale delicioso entre os seios. Prendi a respiração quando meu
nariz ficou sob a água, e chupei seu mamilo esquerdo bem gostoso,
tomando tudo, chupando direitinho. Voltei para respirar e encarar
Alexia, quando suas pernas rodearam a minha cintura, e ela começou a
imitar o que faria quando estivesse dentro dela.
— Vou ajudar você — sussurrei, a voz grossa pra caralho, ainda
apertando seu biquinho duro com a outra mão. — Afaste um pouco seu
quadril.
Ela fez que sim com a cabeça, incapaz de falar.
Desci a mão sob a água, e Alexia, com os olhos nebulosos, prendeu a
respiração quando fui até o meio de suas pernas. O tesão escorregou por
todo o meu corpo, pairando nas bolas e na glande, latejando o meu
comprimento por inteiro, duro como pedra. Ofeguei quando as pontas
dos meus dedos sentiram o maiô e aquele lugar macio e quente entre
suas coxas. Ela resfolegou quando arrastei para o lado a peça e foi a
minha vez de perder os sentidos quando senti o mel de Alexia na ponta
dos meus dedos. Ela estava molhada demais, gostosa pra caralho. Eu
ainda iria chupar essa boceta até ela gozar na minha boca, mas,
primeiro...
Mantive seu maiô daquele jeitinho, com a boceta de Alexia exposta.
Fui até minha sunga e abaixei para que ficasse bem na linha entre a
minha bunda e a coxa, abaixo das bolas. Com meu pau livre, deixei-o
rente ao corpo, quase alcançando o umbigo, e umedeci a boca.
— Vem.
Ela olhou para baixo e encaixou nossos quadris.
Os lábios de sua boceta abraçaram o meu pau, mas sem que eu
pudesse entrar nela, era só para Lexi me usar para se esfregar. Alexia e
eu gememos juntos quando o quadril dela foi para cima e para baixo,
meu pau ajudando a atiçar seu clitóris. Voltei a brincar com seus peitos,
meu paraíso particular, prendendo a respiração quando os chupava e
respirando quando voltava para seu pescoço, perdendo o ar mais uma
vez quando tomava seus lábios nos meus, sua língua na minha, todo o
desejo de Alexia que eu poderia arrancar.
Aquela mulher me tirava o fôlego.
Ela começou a se esfregar com mais força, e senti o pré-gozo se
formar, meu membro louco para entrar nela. Agarrei sua bunda com
vontade e prensei-a contra a parede da piscina, experimentando Alexia
se perder quando buscou a minha boca, me beijando de um jeito tão
lascivo que quem começou a se movimentar contra a sua boceta fui eu.
Lexi aumentou o movimento dos quadris, sua boceta estava frenética no
meu pau, e eu sabia que ela ia gozar a qualquer momento.
Segurei seu cabelo com firmeza entre meus dedos, minha boca
entreaberta para respirar direito, a chuva caindo em Alexia, descendo
por seu rosto, calando seus gemidos. Nossos quadris indo e vindo.
— Olha. Aqui — pedi, ofegante.
Porque eu estava quase fodendo a mulher dos meus sonhos.
E aquele esfrega-esfrega já era melhor do que qualquer coisa que
tive na vida.
Ela abriu os olhos, completamente pesados de prazer.
— Eu vou...
— Uhum.
— Preciso...
— Precisa que eu entre na sua boceta, né?
Lexi mordeu o lábio inferior, adorando minha boca suja.
E, então, soltou um gemido.
— Adonis...
Bem meu nome... Porra...
Seus quadris tremeram em mim, suas pernas perderam a força
quando gozou, ela estremeceu em meus braços e eu só pude abraçá-la,
envolvendo-a em um aperto que a manteria colada no meu corpo. Seu
quadril se moveu devagarzinho, como se quisesse aproveitar cada
segundo daquilo, afundando suas unhas em meus ombros, colando sua
boca quente bem na linha da jugular.
Ela começou a beijar sem pensar, recuperando a respiração
irregular. Meus olhos rolaram de tesão, e Alexia, assim que recobrou a
consciência, fez alguma coisa com o quadril que liberou meu pau,
deixando-o apontado para ela. Foi instintivo; ela estava buscando o que
queria. Movi o meu quadril um pouco para trás e, abraçado àquela
mulher, senti quando cheguei exatamente no ponto certo, e fui um pouco
para frente.
Alexia voltou a gemer, e soou mais como um choramingo delicioso
de quem queria ser preenchida. Sua boca ainda estava no meu pescoço, e
deixei que ela explorasse.
Língua, lábios, mordidas.
— Me toma pra você... — murmurei.
Foi exatamente nesse segundo que minha glande entrou, buscando
espaço, meu pau ardendo de uma vontade tão urgente que não me
permitiu ser gentil. Lexi já tinha gozado, o que facilitou, e eu entrei com
tudo, batendo lá no fundo da sua boceta deliciosamente molhada, quente
e excitada.
Porra. Porra. Porra!
Ela mordeu meu pescoço, querendo remexer o quadril para que eu
me movesse, mas eu precisava de uns segundos. Me afastei do abraço,
segurei na cintura de Alexia sob a água e a encarei.
— Você fica ainda mais bonita quando estou dentro de você. — Sorri
de lado, louco de tesão.
— Adonis...
Suas mãos buscaram meu rosto.
— Me fode — pediu, me puxando para um beijo.
Um homem jamais negaria esse pedido, mas, ainda assim, eu a
provoquei. Recuei o quadril um pouco, arrematando de uma vez para
dentro dela, para depois fazer isso de novo. Uma, duas, três, quatro,
infinitas vezes, adorando nossas peles unidas, sem camisinha coisa
nenhuma, só fodendo aquela mulher bem gostoso, tendo-a me acolhendo
por inteiro, me engolindo a ponto de eu sentir as bolas bem naquela linha
abaixo da sua boceta. Alexia ousou, apertando de novo suas pernas em
mim, como se me pedisse dentro dela, sempre, e mais rápido. Sua mão
desceu das minhas costas. e eu só tirei o braço para que ela pudesse
passar e me explorar.
Lexi agarrou minha bunda.
Minha língua rodou em toda a sua boca, enquanto gemíamos e
engolíamos a perdição um do outro.
Eu estava dentro dela, caralho, e era tão...
Eu tô louco por você, Lexi. Sempre quis...
Ela pulsou em volta do meu pau.
Minha racionalidade apagou.
Criei um ritmo rápido, indo contra a força da água, me esforçando
porque eu precisava de cada vez mais atrito. Os mamilos da Lexi
rasparam no meu peito, tornando tudo mais erótico e íntimo. Seus olhos
abertos me encararam e ela mordeu a boca para me mostrar o quanto
estava gostoso, mas não havia necessidade porque Alexia estava
pulsando em mim, e o sexo com essa mulher só me fez perceber que
nunca me saciaria. Nem quando gozasse infinitas vezes dentro dela.
Cacete, como eu queria gozar dentro dela.
Procurei sua boca, metendo fundo e raso, rolando o quadril para
pegar tudo e deixar Alexia perceber que nenhum homem a trataria
assim. Eu queria que ela gozasse, cara, como eu queria sentir ela gozando
em volta do meu pau. Me afundei com força, os músculos da minha
bunda trabalhando sem parar, o som das costas de Alexia contra a
parede da piscina, bem duro, me fez perceber o quanto aquilo estava
forte e sem controle.
A chuva abrandou, mas não meu corpo contra o dela. Ouvi Lexi
gemer meu nome, para depois gritá-lo, me arranhar todo, me beijar como
se não estivesse aguentando, como se precisasse de mais. Mordi sua
orelha, perdido na sensação de ter aquela delícia de mulher sob minhas
mãos, em volta de mim, me acolhendo lá dentro. Agarrei seu mamilo com
os dentes, me curvando todo, e aí Alexia...
Ela começou a rebolar em mim.
Quebrando o quadril.
Indo para frente e para trás.
Me tomando e aliviando o meu esforço.
O prazer crescia em uma espiral quente e lasciva por todas as
minhas veias, me deixando mais duro do que jamais fiquei, batendo
minha pélvis em Alexia de forma abrupta e sem controle.
Suas mãos vieram para o meu rosto, depois de ela me marcar tanto
com as unhas que a minha pele ardia e, onde ela havia arranhando, o
prazer descia direto para o minha glande, pulsando-a.
Nos encaramos e Lexi jogou a cabeça para trás com calma, se
apoiando na parede, se contorcendo toda, a coluna arqueada naquela
posição. Eu deixei que ela fizesse isso, e fui mais para trás. Segurei seu
quadril com firmeza, no melhor ângulo possível, vendo os mamilos de
Alexia saírem da água enquanto ela ficava naquela deliciosa posição que
a deixou toda aberta para me receber. Embalei a gente num ritmo mais
lento, a visão de Alexia na chuva, que havia se tornado uma garoa, toda
rendida a mim, seu corpo molhado, o maiô no meio da cintura e só a
boceta de fora...
— Adonis!
Ela pulsou com toda força, estremecendo de novo, gozando para
mim, me mostrando o quanto ficava ainda mais gostosa quando chegava
lá. Toda entregue, bochechas coradas, quadril tentando rebolar enquanto
eu só estocava deliciosamente, mergulhando em seu calor úmido e
receptivo.
Levou um tempo até retornar a si, e eu segurei com toda a força para
não gozar com ela, mas eu tinha que perguntar se podia fazer isso, por
mais que estivesse tão louco... não ia gozar dentro se Lexi não tomasse
pílula.
Esperei-a me encarar. Levei-a para a parede da piscina de novo, até
tê-la olhos nos olhos. Sem parar o ritmo do meu quadril, ofegante pra
cacete, admirei o tom castanho de suas íris, quase negros pela dilatação
das pupilas.
— Você... toma... anticoncep... — Não conseguia me comunicar com
ela, não quando meu pau estava latejando e louco para...
— Sim. Goza dentro de mim, Adonis. — Seus dedos enredaram nos
meus fios bagunçados. Alexia arrancou a minha bandana, jogando-a na
piscina. Depois, arrastou meu rosto para ela, até que sua boca inchada da
minha raspasse nos meus lábios. — Goza gostoso pra mim.
Porra, isso é o que todo cara quer ouvir.
Gemi do fundo do peito, arranhando meus pulmões, me fazendo
queimar vivo quando seus lábios me beijaram. Lexi se moveu comigo,
aumentando o ritmo, até que eu não conseguisse fazer nada a não ser me
render à mulher que tinha cada pedaço meu.
Me afundei, bem no ponto mais íntimo, quando meu pau começou a
dar espasmos, jorrando todo o meu prazer dentro dela. O tesão foi tão
forte que me cegou, e não sei como continuei beijando sua boca, sentindo
sua língua na minha, suas mãos em todos os lugares. Fui e voltei meu
quadril infinitas vezes, gozando longamente dentro dela, como se meu
pau agradecesse por finalmente estar com a mulher que ele queria há
tanto tempo.
Cara, a sensação foi indescritível, um prazer que senti em cada parte
do meu corpo, um orgasmo que contraiu minhas bolas e fez minhas coxas
doerem de tão tensas que ficaram. Lexi me acolheu com seus beijos, suas
mãos, me curtindo naquele momento em que mal pude olhar para ela,
ouvindo meus batimentos nos tímpanos a cada vez que meu quadril ia e
vinha e eu ejaculava.
Pareceu que horas passaram até conseguir focar em seus olhos, até
conseguir enxergar o sorriso em seus lábios, até ver uma coisa que nunca
vi após gozar dentro de uma mulher.
Amor.
Isso me fez sorrir como um idiota. Me fez entender que, por mais que
eu tivesse feito um sexo na piscina nada tradicional com Alexia, foi a
sensação que ficou depois disso que fez cair uma fichinha no meu
cérebro.
Eu a tinha fodido duro, mas tinha feito com amor de verdade.
Acariciei seu rosto, passeando o polegar por sua bochecha,
admirando cada linha do rosto perfeito de Lexi. Ela me encarou de um
jeito novo e... curioso.
— Tem certeza de que você não é um deus antigo da Grécia? Você
parece um deus grego gozando.
— E como deuses gregos parecem quando gozam? — Minha voz saiu
nada além de um chiado rouco e satisfeito. Quase me ouvi ronronar.
— Exatamente como você.
Dei um suave beijo em sua boca; meu pau ainda não tinha relaxado e
estava dentro dela.
Que deliciosa essa sensação.
— Eu tô louco por você, Lexi.
Ela piscou.
— E eu não sei como é estar apaixonado, mas se for como eu me
sinto em relação a você... então, é um sentimento aterrorizante e
maravilhoso.
Não soube bem se Alexia estava chorando, por causa de todas as
gotas da chuva em seu rosto, mas seus olhos ficaram vermelhos.
— Eu não sei também como é me apaixonar de verdade, mas se o
coração acelera...
— Se a vontade é insana — acrescentei, me afundando nela mais
uma vez.
— Se eu quero estar com você o tempo todo — Lexi gemeu.
— E te dar tudo o que eu posso oferecer nessa vida. — Sorri. — É,
Lexi. A gente tá apaixonado.
Ficamos ali, só nos olhando, até que eu recuasse o quadril e
simplesmente a abraçasse. Envolvi os braços em torno dela, sentindo o
perfume suave que ficou depois da chuva e da piscina, mas o mesmo de
antigamente: rosas. Dessa vez, havia morango também, e eu adorei a
combinação. Mergulhei meu rosto em seus cabelos, agradecendo por não
termos sido orgulhosos demais.
Perdemos uma reunião importante, talvez a mais importante de
nossas vidas.
Mas eu ganhei uma coisa bem melhor em troca: Alexia.
Voltamos para a suíte presidencial e a verdade é que não
conseguimos nos afastar. Então, quando avisei que ia tomar banho,
Adonis foi comigo. Ele lavou todas as partes do meu corpo e depois
entrou em mim com um gemido tão maravilhoso, que tive certeza de que,
só de ouvi-lo, seria capaz de gozar.
E aconteceu, caramba, como aconteceu...
Uma, duas, três ou quatro?
Fomos para a cama, sofá e o tapete felpudo também.
Ficamos tão loucos que a gente não conseguiu passar mais de trinta
minutos sem transar.
Acredite, eu contei.
E eram transas longas, lascivas, de puxar o cabelo e bater a cabeceira
da cama contra a parede. Além disso, Adonis adicionou uns tapas na
minha bunda que foram... meu Deus. Só que, no decorrer do sexo, o ritmo
mudava. Adonis entrelaçava os dedos nos meus e me encarava como se
eu fosse a coisa mais preciosa que já existiu.
Eu não pude lutar contra, eu era daquele homem desde que me
conhecia por gente.
E como ele era magnífico na cama.
Não havia outro adjetivo para descrever. O sexo oral foi o melhor
que já recebi e também, simplesmente, colocar Adonis na minha boca e
vê-lo rendido a mim, me deixava tão poderosa que fiz isso em todas as
vezes que rolamos na cama e em todos os cantos da suíte presidencial.
Horas depois, ofegantes e suados ― eu precisava de outro banho ―,
Adonis me puxou e beijou o topo da minha cabeça, inspirando meus
cabelos.
Foi quando o celular de um de nós dois tocou.
Arregalamos os olhos ao mesmo tempo.
— Alexandros! — dissemos juntos.
Levantamos em um pulo, e acho que já eram quase oito da noite.
Adonis riu de mim ao tentar caçar o celular quando descobri que era o
meu toque. Assim que achei, vi que era o número de Alexandros. Lancei
um olhar para Adonis, e atendi, semicerrando as pálpebras.
Contendo a voz ofegante, exalei fundo.
— Olá, senhor Alexandros.
— Alexia, você pode me perdoar?
Ergui uma sobrancelha.
— Como disse?
— Imagino que vocês tenham ficado horas me esperando. —
Alexandros nem me escutou. — Não pude ir e não avisei com
antecedência. Minha esposa recebeu uma ligação do hospital, dizendo
que minha sogra fraturou o osso do quadril e nós precisamos ir
correndo. Sinto muito mesmo. Esperei a festa acabar para conseguir me
desculpar apropriadamente. Estou em Atenas e não consigo voltar esta
noite. Podemos remarcar para amanhã cedo?
Arregalei os olhos.
Alexandros não tinha ido...
— Não tem problema, claro, podemos remarcar. Como está a sua
sogra?
O que eu diria? Que me esqueci de uma reunião de trabalho para
dormir com o meu “amigo”? Isso seria antecipar o belo não que
Alexandros poderia me dar.
Adonis se aproximou, completamente nu, tirando a minha
concentração. Encarei seus olhos azuis, por mais que tudo naquele corpo
gritasse para eu admirar. Sua boca se moveu, muda, mas pude entender
seus lábios.
— Ele não foi?
Balancei a cabeça, confirmando.
— Ela está bem, quer dizer, na medida do possível. Minha esposa
ficará esta noite aqui, mas amanhã retornamos. Obrigado por entender.
Peça desculpas também para o Adonis. Espero que tenham aproveitado a
festa.
— Aproveitamos... — Desci os olhos pelo corpo de Adonis... E
pigarreei para encontrar a voz. — Aproveitamos bastante.
— Que bom. Vejo vocês amanhã às nove na sala de reunião de
sempre. Providenciarei o café da manhã, fiquem tranquilos. —
Alexandros desligou.
Adonis riu assim que a chamada finalizou. Me puxou pela cintura,
circulando com a ponta do nariz um ponto da minha bochecha.
— Imagino que tenhamos corrido à toa.
Expliquei para Adonis o que houve e ele se afastou um pouco,
encarando meus lábios.
— Fomos salvos pela sogra dele. Perderíamos o contrato se ele não
nos visse na festa.
— Fomos tão imprudentes. — Adonis pegou meu queixo entre seus
dedos. — Eu não me arrependo.
Acabei sorrindo porque... era Adonis ali.
— Também não me arrependo.
E, mais uma vez, nós fomos tomar banho juntos.
Fiquei me perguntando se esse homem tinha alguma chavinha que o
desligava...
Espero que não.

Alexandros não estava brincando quando disse que a reunião seria


acompanhada de café da manhã. Foi como se ele trouxesse toda a comida
do hotel e colocasse sobre a mesa. Por sermos só nós três, estranhei toda
aquela comemoração. Fiquei certa de que o homem tinha decidido entre
nós dois e isso me deixou um pouco nervosa.
Adonis apoiou a mão nas minhas costas assim que entramos.
Alexandros abriu os braços e nos ofereceu um dos seus raros, porém
bonitos, sorrisos.
— Ah, fico feliz que estejam aqui!
— Obrigado, Alexandros. Como você está?
— Estou bem, apesar do susto com a minha sogra. Mais uma vez,
sinto muito. — Ele nos cumprimentou com abraços e beijos. Depois,
encarou a mesa do café da manhã e esfregou uma mão na outra. —
Temos muitas delícias aqui. Quero vocês dois bem alimentados. Sirvam-
se.
— Claro. — Adonis tomou a frente, passou o álcool gel nas mãos, que
estava sobre a mesa, propositalmente para usarmos, e separou dois
pratos. Percebi que ele começou a me servir, preocupado em me
alimentar. Sério, isso era tão sexy e romântico, no maior estilo grego.
Fiquei apenas admirando-o, com os braços cruzados na altura dos seios,
enquanto Alexandros me lançava um olhar, sorrindo e balançando a
cabeça como quem dizia “esse cara está gostando de você”.
— Linda, você aceita iogurte grego com nozes e mel?
— Sim, por favor.
— Sei que não come muito. — Adonis riu. — Me lembro de eu repetir
o jantar umas cinco vezes e você deixar a metade no prato, quando
éramos crianças. Vou colocar um pouco de cada coisa que sei que você
gosta.
— Obrigada.
Ele lembrava das coisas que eu gostava.
Deus, acho que derreti ali mesmo.
Adonis colocou no meu prato torta de queijo feta e espinafre, o
iogurte e alguns damascos. Para ele, foi o mesmo, com adição de pêssego,
rosca grega com mel e canela, duas fatias de mamão, queijo feta com
azeite e azeitonas e uma fatia de bolo.
Sério, o homem comia muito bem e certamente ia comer mais
depois.
Alexandros também se serviu e, no início, enquanto comíamos o café
da manhã com um bom copo de suco de laranja, Alexandros nos contou
um pouco sobre sua sogra, qual era o estado dela, e quando poderia
receber alta. Disse que a senhora era muito espevitada e estava tentando
praticar ioga antes de entender que seu corpo não dobrava tão bem
assim. Então, caiu sentada, e o resto já sabíamos.
Alexandros, segurando uma rosca grega, apontou a metade do
alimento que sobrou de uma mordida para mim e depois para Adonis.
— Vocês dois são jovens e estão apaixonados. Quando será o
casamento? — soltou, do nada.
Engasguei com o suco de laranja e Adonis apenas sorriu,
despreocupado. Arregalei os olhos quando percebi que ele não se sentiu
afetado com a pergunta.
— Eventualmente, Alexia será Leandros e Konstantinos, mas, por
ora... eu só quero aproveitar esse início.
Alexandros balançou a cabeça.
— Você a conhece desde pequeno, né? Isso é amor antigo. Não dou
seis meses para vocês casarem.
Casamentos na Grécia eram muito valorizados. As festas eram cheias
de familiares, dança, bebida e celebração. Éramos conhecidos por sermos
festeiros, então, um casamento era importante a ponto de quase se
tornar um feriado nacional para a família.
Honestamente, não me via inserida nisso tudo tão cedo. Mas a forma
que Adonis me olhou depois da indireta do Alexandros me fez pensar
que ele... me queria a esse ponto.
E não sei qual foi o sentimento que surgiu em mim. Surpresa,
satisfação e uma vontade imensa... de ser feliz com ele. Isso me assustou
e me fez engolir o suco com mais dificuldade.
— Mas, vamos aos negócios. Estão prontos? — Alexandros limpou os
lábios com um guardanapo. Adonis imediatamente parou de me olhar e
de comer. Ele soltou o pão no prato e encarou o homem. — Não, Adonis,
continue a comer. Como sempre, vou ser breve.
Deus, seria um não coletivo?
— Pensei muito na proposta que ambos me fizeram. Cada uma
tentadora a seu modo. Mas, antes de eu dar uma resposta, preciso
explicar uma coisa.
Eu e Adonis nos inclinamos mais na mesa, atentos.
— Enquanto estava no hospital, ao lado da minha esposa, que estava
tão preocupada com a mãe, percebi que, em todos os tempos de crise,
estivemos lado a lado. Ontem, eu estava lá para abraçá-la e, anteontem,
quem recebeu um abraço fui eu.
Uau.
— Sabe, Adonis e Alexia, se não fosse pela minha esposa, eu não
estaria vendendo esse resort. Ela me fez enxergar muitas coisas nesses
anos todos, me fez crescer como homem e como profissional.
Prometemos, perante Deus, que estaríamos juntos na alegria e na
tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza. E, mesmo
quando eu ainda era um universitário sem perspectivas de futuro, aquela
mulher me amou. Hoje, me arrependo de não ter tido o apoio dela
profissionalmente em um sentido de colocá-la como sócia. — Alexandros
riu. — Eu certamente não estaria falido.
— É um exemplo o amor de vocês. — falei.
— E é por isso que não posso escolher um de vocês.
O quê?
Fiquei em silêncio, absorvendo a conversa. Mas ele disse que ia
vender o resort...
A porta da reunião se abriu e eu e Adonis olhamos para trás. Nossos
pais entraram, vestidos com seus ternos caros, sorrindo para Alexandros.
Eles abriram os braços e o homem se levantou para abraçá-los, como se
fossem velhos amigos.
— Quanto tempo, Alexandros! Que bom vê-lo — meu pai disse.
— Certamente, muito tempo. Uns dez anos. — Giannis, pai de Adonis,
sorriu largamente.
Adonis ia se levantar, provavelmente revoltado com aquilo, mas
coloquei a mão em sua coxa e balancei a cabeça, negando.
Então, nossos pais nos olharam.
E, longe de ser uma piada, os dois estavam... orgulhosos.
— Os filhos de vocês são ótimos — Alexandros elogiou. — Me deram
a melhor proposta que recebi, cada um com sua estratégia, mas de forma
inacreditável. Chamei vocês dois porque queria que estivessem neste
momento. Como avisei ao telefone, particularmente, ver os dois de forma
individual, não consigo... não dessa forma. Quer dizer, Alexia é feroz. Ela
vai direto na jugular e diz: Você não vai conseguir manter o resort. A
sinceridade me encanta e ela é analítica. Vê planilhas financeiras como
ninguém e tem um olhar crítico. Assim como Adonis é mais despojado,
mas não menos atento, e sabia exatamente o que eu queria ouvir e se
tornou meu amigo, ao invés de apenas um comprador. Inteligente,
corajoso e tem jogo de cintura.
— Entendo o que você quer dizer. — Meu pai me encarou, ainda
sorrindo.
Minhas mãos estavam suando.
Adonis pegou uma e entrelaçou nossos dedos sob a mesa.
— Meu filho é ótimo de lábia. Ele conseguiu aumentar cerca de
cinquenta por cento da clientela do hotel que trabalhou na Suíça, sem se
esforçar com o marketing. Ainda assim, ele conseguiu muita coisa.
— Alexia foi capaz de aumentar a renda da minha rede de resorts em
dez por cento. Ela é exemplar.
Nossos pais estavam nos elogiando?
Senti as lágrimas se formarem, e minha garganta apertou. E, pelo
visto, Adonis também estava se sentindo assim, porque seus dedos
ficaram mais firmes nos meus.
— Dito isso tudo. — Alexandros se levantou. Na mesa, como sempre,
havia uma pasta. Ele abriu e pegou alguns papéis. Arrastou o nosso prato
do café da manhã para o lado e colocou dois contratos na frente dos
nossos olhos. — Não posso dar o resort para um de vocês, porque ambos
se completam. Juntos, conseguirão administrá-lo e, unindo a visão dos
dois, será imbatível. Mas, ainda assim, devo acrescentar que adorei a
cláusula dos dez por cento anuais, Adonis, então a mantive. Se estiver
bom para vocês, cinquenta por cento do meu resort será de Alexia
Leandros e os outros cinquenta por cento, de Adonis Konstantinos.
Encarei o contrato na minha frente e senti uma mão pesar sobre meu
ombro. Era papai. Mas meus olhos foram imediatamente para Adonis, e
consegui ver a emoção nos seus olhos, no sorriso que ele me deu, como
se dissesse: a gente merecia que fosse nosso.
Nossos pais podem conhecer Alexandros, mas esse mérito foi fruto
do nosso esforço e das propostas que elaboramos sem ajuda de ninguém.
Engoli em seco, enquanto ainda olhava Adonis, perdida naquele mar
azul de suas íris, no sorriso de canto de boca, emocionado. Sem parar de
me encarar, a voz dele saiu grave e rouca.
— Alguém tem uma caneta? — perguntou, altivo.
O pai dele estendeu a caneta, com o sobrenome dos Konstantinos, e
Adonis só tirou os olhos dos meus para encontrar a última página e
assinar. Então, ele estendeu para mim. Peguei, roçando meus dedos nos
dele, pedindo que ele sentisse que... trabalharmos juntos seria muito
mais do que dizer que queria transformar um relacionamento explosivo
em algo mais, pedindo que entendesse que assinar isso era como
confirmar um passo muito além do que poderíamos dar, mas o meu
coração dizia que isso era o certo, que não havia outro caminho a seguir.
Teríamos o primeiro resort Leandros Konstantinos de toda a Grécia.
Encarei o contrato, desviando o olhar de Adonis, passeando os olhos
pelas linhas, tomando o meu tempo para ver se tudo estava certo. Não
encontrei nenhuma cláusula abusiva, apenas os dez por cento
prometidos e o valor de Alexandros, um número bem abaixo do que
estava disposta a oferecer, e acredito que Adonis também.
Aquele era o contrato da minha vida.
Não...
Aquele era o contrato da nossa vida.
Rubriquei as páginas e assinei. Eu e Adonis invertemos os papéis e,
quando já tínhamos tudo assinado, palmas soaram pela sala de reuniões.
Nossos pais nos puxaram para um abraço caloroso. Assim que senti o
meu pai, deixei as lágrimas caírem, sua mão firme nas minhas costas,
enquanto a outra acariciava meus cabelos, como quando era criança.
— Estou tão orgulhoso de você, filha.
— Ah, pai... me diz que você não antecipou tudo com o Alexandros...
— Não. Ele só nos ligou para comparecermos na reunião final.
Tínhamos ideia apenas de que, pela maneira que falou, escolheria vocês
dois, mas isso não foi uma surpresa para mim e Giannis. Nós sabíamos
que vocês se completavam.
Me afastei do meu pai, piscando para afastar as lágrimas.
— Como assim?
Seus olhos castanhos me admiraram com carinho e ele segurou meu
rosto, passando o polegar nas minhas lágrimas, tirando-as do caminho.
— Quando vocês eram crianças e competiam por tudo, também
faziam tudo de acordo com uma sincronia incrível. Vocês tocavam piano,
competindo, mas um usava um lado do instrumento e o outro... o lado
oposto. Adonis tirava dez em Línguas e você, dez em Matemática. Os
passos que vocês deram, por mais que fossem sempre uma discussão
indireta, foram lado a lado.
— Nunca pensei...
Ele sorriu.
— Nunca pensou que teria um sócio?
— Adonis? Não...
Papai gargalhou.
— Eu e o Giannis, quando éramos jovens, também competíamos.
Mas, conosco, era pelas meninas. Queríamos ficar com a mais bonita, a
mais gostosa e etc... depois, quando percebemos que isso era idiotice, nos
tornamos bons amigos. Hoje, temos o mesmo negócio, e auxiliamos um
ao outro. — Petros Leandros deu de ombros. — Se deu certo para nós,
sabíamos que daria certo para vocês.
Abracei meu pai mais uma vez e, depois, Alexandros, que me teceu
inúmeros elogios e disse que nós dois éramos a escolha certa. Fui
abraçada por Giannis, que sussurrou no meu ouvido: seja bem-vinda ao
primeiro resort das nossas famílias.
Até que, no fim de tudo, só restou meus olhos em Adonis.
Ele estava lindo. Com um terno de três peças em uma cor nude e uma
gravata azul, da cor dos seus olhos, além da camisa em um creme um
pouco mais claro do que o terno. Sua aparência, tão arrumadinha perto
do seu lado despojado, me dava vontade de bagunçar aquilo tudo, só
sonhando com o instante em que o teria sem roupa, mais uma vez, na
cama.
Meu sócio sem roupa na cama.
Como se soubesse o que eu estava pensando, Adonis se aproximou
de mim. Fiquei congelada quando pensei que ele fosse me beijar na
frente dos nossos pais, e senti meu coração na boca, mas Adonis apenas
tocou a base das minhas costas, bem no limite da bunda, e nos virou para
Giannis, meu pai e Alexandros.
— Agradeço a oportunidade. Não vou decepcionar nenhum de vocês.
Estou muito feliz em ter um resort meu e de Alexia. Mas, posso
considerar a reunião como encerrada? Porque há um assunto particular
que quero tratar com Petros Leandros.
Ai.
Meu.
Deus.
Alexandros abriu um sorriso, e Giannis cruzou os braços na altura do
peito, franzindo o centro. Meu pai só olhou para mim, parecendo
despreocupado, para depois se concentrar em Adonis.
— Bom, estamos entre amigos aqui. Então fale, filho.
A mão de Adonis ficou mais firme nas minhas costas.
— Durante esse tempo que passei com Alexia no resort, acabamos
nos conhecendo de novo, nos tornando amigos e inimigos da mesma
forma que fazíamos antes, mas algo entre nós... eu não vou dizer que
surgiu, porque era um sentimento que já existia, só nunca tivemos
coragem o suficiente para vivê-lo.
Giannis arregalou os olhos, Alexandros parecia saber de tudo e meu
pai... bom, ele começou a ficar vermelho. Engoli em seco.
— Estou apaixonado por Alexia, e o sentimento é recíproco. Então,
Petros, vou aproveitar este momento, este exato momento em que me
torno sócio de sua filha, para também perguntar se o senhor me concede
a honra de namorar Alexia. Eu quero muito poder construir uma vida ao
lado dela.
Oh, Deus!
Eu não fazia ideia de que Adonis faria um pedido, de que ele queria
mesmo namorar comigo. Isso foi tão surpreendente para mim quanto
para todos na sala. Senti meu coração bater mais forte do que quando
assinei o contrato, e as lágrimas que soltei antes vieram com mais força.
Não por estar emocionada por ser pedida em namoro, mas por ser
Adonis ao meu lado, com coragem suficiente para enfrentar meu pai e o
seu. Por ser Adonis, justamente ele, um homem que jamais assumiu um
compromisso, dizer em alto e bom som, da forma mais tradicional
possível, que não me queria apenas como uma sócia, e que esperava que,
para estarmos juntos, nossas famílias estivessem de acordo.
E isso foi tão bonito e nobre...
Lancei um olhar para ele, vendo-o tenso com a espera da resposta.
Estava lindo, em pé, com o queixo erguido, esperando que fosse cortado a
qualquer momento.
— Filho... — o pai dele tentou.
Então, meu pai deu um passo à frente. Ele parecia... vermelho... ainda.
Mas não consegui decifrar o que estava em seu rosto.
— Você nunca levou uma garota a sério. O que vai me dizer para me
convencer de que não será um cafajeste com a minha filha?
Adonis nem hesitou.
— Eu sou apaixonado por ela desde que era criança, sempre escondi
isso muito bem, mas agora eu não tenho mais por que mentir. Saí das
sombras, Petros. E eu quero Alexia.
— Você quer namorá-la?
— Sim.
Meu pai me olhou, parecendo que uma cabeça havia nascido a mais
no meu pescoço.
— E você quer ele?
— Com todo o meu coração.
Giannis riu, feliz.
— Isso é tão incrível!
Meu pai olhou feio para Giannis.
— Incrível porque não sou eu que tenho um filho que está tentando
roubar a sua menininha.
Giannis ergueu uma sobrancelha.
Meu pai suspirou.
— Como prova do que eu sinto — Adonis adicionou —, estou
disposto a passar os cinquenta por cento do meu resort para Alexia, caso
o senhor não me deixe namorá-la. Eu não conseguiria trabalhar ao lado
dela todos os dias, sem tê-la. Caso o senhor aceite, prometo que vou
honrar a sua filha todos os dias. Eu não quero mais ninguém em todo
esse mundo, que não ela.
Encarei Adonis, perplexa.
— Você não vai entregar os cinquenta por cento!
— Se for necessário, sim, eu vou.
— Não mesmo! Você ganhou por direito.
Adonis ergueu uma sobrancelha.
— Vai mesmo discutir comigo agora, linda? Não se esqueça de que
ainda posso puxar o seu cabelo.
Mas o jeito de Adonis de puxar o cabelo agora na fase adulta era bem
diferente e mais sexy do que na infância.
Provocador.
— Não precisa de nada disso. — Meu pai suspirou. — Eu concedo e
aprovo o namoro. Mas fique sabendo que, se fizer qualquer coisa para
magoar a minha filha...
— Ah, certo. Ele vai cortar o seu pinto, filho. — Giannis sorriu. — E
eu vou deixar. Porque considero a Alexia minha filha.
Adonis abriu um sorriso que valia todos os resorts da face da Terra.
— É sério?
Petros sorriu e me lançou um olhar.
— Responda à pergunta do rapaz, Lexi.
Admirei Adonis e segurei em seu rosto, sem vergonha de estar na
frente de três homens adultos. Dois deles, nossos pais e, um, nosso
cliente. Naquele segundo, só existíamos nós dois. Mergulhada nos
diversos tons de azul dos seus olhos, perguntei-me o motivo de termos
demorado tanto para nos confessarmos. O motivo de não termos curtido
o amor desde que éramos mais jovens. Ainda assim, agradecendo por
termos nos reencontrado, por Adonis ter voltado e ter me buscado
naquele café.
Eu estava feliz porque finalmente havia encontrado o amor, um que
estava comigo o tempo todo, só não me dei conta.
— Eu aceito ser sua namorada. E é sério. Obrigada, Adonis. Significa...
Ele não me deixou completar e me deu um beijo, comportado até,
por não haver línguas, mas tão intenso, que senti em cada parte do meu
corpo. Ouvi palmas, e gritos de Opa! de nossos pais, combinando de
tomarem Uzo para comemorar, ao lado de Alexandros.
Quando ficamos sozinhos, nos braços um do outro mais uma vez,
percebi que essas férias me renderam um sócio e um namorado, as duas
coisas na mesma pessoa. Também me fizeram recuperar o meu melhor
amigo e tirar um inimigo declarado da minha lista.
Sabe... acho que valeu a pena me apaixonar por um grego tão
arrogante.
Eu encontrei, em Alexia, uma mulher forte, mais do que qualquer
outra que já me deparei na vida. Uma mulher que compartilha
problemas, sonhos, felicidade e tristeza, que não tem medo de ser quem
é, e eu simplesmente amo isso nela. Encontrei a minha melhor amiga, a
melhor amante e a melhor competidora ― de forma saudável, devo dizer
― que poderia ter achado na Grécia. Ela é o meu apoio, a minha âncora, a
minha felicidade e o meu renascimento.
Alexia Leandros, resumindo, é a mulher da minha vida.
E havia uma caixinha no bolso do meu terno, que guardei no
armário, para pedi-la em casamento nesse final de semana.
Eu sei, Alexandros estava certo.
E vocês também. Sei que sabiam que eu ficaria de quatro por essa
mulher, devem ter passado esse tempo todo rolando os olhos a cada
negação minha, mas, obrigado por terem paciência, eu era um homem
livre e solteiro que não fazia ideia dos benefícios de estar apaixonado.
Agora, Lexi era toda a minha vida.
As confraternizações com nossas famílias eram espetaculares, cheias
de animação, comida, música boa e... unimos ainda mais os Leandros e
Konstantinos depois do namoro. Na verdade, eu acho que era mais uma
desculpa para estarem tão perto, todo mundo era amigo demais para não
se unir sempre que pudesse, de qualquer forma.
Bem, o nosso resort também estava a todo vapor, conseguimos sair
do vermelho em três meses e agora era só aproveitar os lucros.
Queríamos expandir para Santorini também, e já estávamos analisando o
que poderíamos comprar. O que Alexia não sabia era que eu estava com
um contrato na mão, possível dentro do nosso orçamento, e que seria
naquele lugar paradisíaco que estávamos prestes a fechar negócio que eu
a pediria para se casar comigo.
Agora, estávamos em uma das reuniões animadas de nossas famílias,
na casa dos Leandros. Encontrei Alexia descalça no jardim, sob a luz do
luar e da iluminação externa, querendo um pouco de ar fresco. Assim que
a vi à distância, tirei meus sapatos para curtir a grama e sentir a
natureza. Caminhei devagar até ela e envolvi-a calmamente em meus
braços, abraçando-a por trás. Me abaixei para beijar seu pescoço e ela
suspirou fundo.
— Sua tia está tentando puxar todos os homens para dançar —
avisei.
Alexia riu.
— Por isso saí de lá porque, quando ela começa a fazer isso, o seu tio
quer puxar todas as mulheres para dançar.
— Está no sangue da nossa família a competição — expliquei,
sorrindo contra a pele do seu pescoço.
Lexi ficou arrepiada.
— Acho que eles são apaixonados e não assumem.
— Outro mal de família.
Ela riu de novo e se virou para mim. Acariciei seu cabelo, tirando-o
da frente do seu rosto. Alexia estava perfeita naquela noite. Os olhos
brilhando, a boca iluminada por um batom cor-de-rosa, a cor que ela
passava na adolescência. Em seis meses, eu estava ainda mais
apaixonado por ela hoje do que ontem, e sabia que seria assim pelo resto
dos meus dias, um dos motivos para ter comprado uma aliança e me
arriscar com um pedido de casamento no final de semana. Lexi não sabia,
mas ela estava tão perto de se tornar minha, que isso me fez sorrir.
— Por que está sorrindo? — Seus dedos vieram para os meus lábios,
tocando-os delicadamente.
— Você está perfeita esta noite.
— Ah, Adonis...
— É sério. Você está particularmente perfeita.
— Acho que são os hormônios — ela sussurrou.
E arregalou os olhos, me soltando e tampando a boca.
O quê?
— Que hormônios?
— Ai, Deus. Eu tinha algo para contar esta noite para você, mas estou
tão nervosa. Eu não sei como dizer isso.
— Lexi... — Me aproximei, acariciando sua bochecha, admirando seu
rosto. — Você pode me contar qualquer coisa que quiser.
A música lá na sala ficou mais alta, sinal de que nossos tios estavam
mesmo puxando as pessoas para dançar. Lexi ficou emocionada, de
alguma forma, e eu não soube o que fazer, exceto admirá-la e fazer
carinho em seu rosto. Então, envolvi o braço na sua cintura, peguei sua
mão e comecei a embalá-la.
— Você disse que não queria dançar com meu tio — mudei de
assunto, nos balançando no ritmo do som. Uma das minhas músicas
favoritas: Perfect, do Ed Sheeran. — Mas aceita dançar comigo?
Alexia aceitou, mas eu senti que algo estava abalando-a
terrivelmente. Continuei a dançar com ela, inspirando o perfume do seu
shampoo, sentindo suas curvas nas minhas mãos, dançando na grama
com a única pessoa que carregava todo o meu mundo e não fazia ideia
disso.
— Adonis... — ela sussurrou contra a minha camisa.
Me afastei um pouco para olhá-la.
Ela puxou do bolso da calça uma coisinha: uma tira minúscula
embrulhada em um plástico, todo amassado. Eu sabia o que era aquilo,
mas precisei focar meus olhos para entender...
Duas linhas.
O primeiro sentimento foi de surpresa, mas ele veio junto com uma
felicidade e uma constatação que nunca esperei ter na vida.
— Você está grávida?
Alexia começou a chorar e balançou a cabeça, assentindo.
Eu me tornaria pai. Pai de uma criança que fiz com a mulher mais
extraordinária que já tive o prazer de conhecer. Eu não sei o que Alexia
pensou, mas eu vi medo em seu olhar. Balancei a cabeça, negando aquela
reação dela, puxei-a para os meus braços e a ergui, colando seu corpo ao
meu. Ela resfolegou de susto, talvez imaginando que eu fosse surtar ou
ser um babaca por isso. Porra, não estávamos planejando, mas...
Eu vou ser pai!
Coloquei-a no chão, em um misto de lágrimas dela e minhas, em um
misto de sorrisos e beijos em sua boca, perdido em uma explosão
diferente de tudo o que já senti. Um amor cresceu no meu peito, um amor
além do que eu tinha pela mulher que todos os dias me fazia amá-la mais,
e meu coração passou a amá-la, ainda mais, e a amar... alguém que eu
ainda não conhecia, mas que já havia se tornado o motivo da minha
existência.
— Eu te amo tanto. — Beijei sua boca pela milésima vez,
conseguindo só ali encontrar a voz. — Meu Deus, Alexia... nós vamos ter
um bebê, porra! Isso é tão maluco e incrível. Eu te amo. Eu te amo...
Ela me abraçou com toda a força dos seus finos braços, me
apertando e pulando em mim como se fosse um bicho-preguiça. Acho
que o teste de gravidez caiu no chão, mas a vontade de tê-la ali, agarrada
a mim... caralho, ela era mesmo toda a minha vida.
— Eu vejo todo o meu futuro quando olho para você — ela sussurrou
no meu ouvido, emocionada. — Eu te amo, Adonis. E amo que estejamos
começando algo completamente novo, aterrorizante e maravilhoso.
Agarrado a ela, beijei-a na boca, explorando sua língua com a minha,
curtindo o beijo apaixonado. Só me afastei quando precisei dizer uma
coisa a ela:
— Obrigado, Lexi. — Minha voz saiu trêmula. Eu estava feliz pra
caralho. — Obrigado por estar perfeita esta noite.
Naquele final de semana, eu cairia em um joelho e selaria a nossa
felicidade para sempre, apesar de reconhecer que eu já a tinha, bem ali,
descalça naquela grama, carregando em sua barriga todo o amor que um
homem poderia pedir, a minha própria eternidade.
Descobrimos, em alguns anos, que o fruto do nosso amor era um
garoto cheio de saúde, com uma personalidade competitiva, intensa e
cheia de carisma. Os meus olhos, a cor da pele de Alexia, o tom dos meus
cabelos e os lábios da mulher que me fez entender que tudo o que eu vivi
depois dela foi...
Não havia como descrever, mas a palavra perfeição chegou perto do
que a minha Alexia e o nosso Alex trouxeram para mim.
O nosso amor foi inevitável, irremediável e perfeito exatamente da
maneira que tinha que ser.
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