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Sperandio, Giuliana
Virei o jogo
1ª edição – 2019/ 300 páginas
Ficção Brasileira
Romance
Chick-lit
Amanda Bonatti.
Sumário
Copyright
Prefácio
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Epílogo
Agradecimentos
Biografia
Siga-me nas redes sociais
Conheça o meu trabalho:
Referências
P
16 anos antes...
Aquele seria um grande dia. Olhei para o papel e reli mais uma
vez, sentia em meu coração a verdade daquelas palavras. Sempre
amei escrever, usava as palavras como uma espécie de desabafo,
não era fácil ser uma adolescente no ensino médio, ainda mais uma
adolescente acima do peso que tem tendências anti-sociais. Amava
ficar na biblioteca entre os livros, meu refúgio e minha paz. Na
última aula de história, o professor Luiz Bruno discorreu sobre a
Segunda Guerra e sobre as bombas que afetaram as cidades de
Hiroshima e Nagasaki no Japão, e foi durante essa aula, sentindo
com todo meu coração as palavras borbulharem de dentro de mim,
que escrevi a poesia que estava em minhas mãos, finalista no sarau
de poesias, no qual estava agora.
A mensagem dizia:
Nat: Baixe agora o TINDER no Google play (Link). Solzita,
esse é o APP que falei pra você hoje no intervalo! É uma maravilha,
altos boys magia nele! Entra aí que tenho certeza que vai achar um
peixão pra você, amiga! Vai fazer essa jiripoca adormecida piar,
uhul... kkkkk
Não me fiz de rogada, escolhi o emoji com a imagem do dedo
médio e mandei sem medo de ser feliz. Não demorou muito, meu
celular vibrou avisando uma nova mensagem. É claro que era ela,
dessa vez recebi um gif da Inês Brasil rindo [xii]e rebolando até o
chão. Eu mereço! Era a cara dela fazer esse tipo de coisa. Que
vadia! Eu amava minhas amigas de todo o coração, no entanto, às
vezes, leia-se quase sempre, elas tinham o dom de, ao tentar me
ajudar, acabar me colocando em um momento reflexão sobre a
minha vida, e... Poxa! Eu tô bem do jeito que estou! Não estou?
Depois dessa conversa, passei o resto da tarde sem me
concentrar direito em minhas tarefas. Malditas reflexões! Essas
vacas estavam me fazendo repensar minha condição de solteirona
convicta. Gente, que saco! Qual é o problema delas viverem suas
vidas e deixarem eu viver a minha em paz? Estou em uma situação
confortável, na segurança do lar com minha querida mãezinha e o
meu gatinho pulguento. Não fazia a mínima questão de acrescentar
a essa equação um homem com suas bagagens de exigências e
neuras.
Aí você deve estar me chamando de radical, a feminista que
odeia homens, mas não, não sou assim. Já tive outros
relacionamentos e quebrei a minha cara com essas relações. Elas
sempre começavam com caras que pareciam ser uns amores. Sabe
aquele papo: “você é linda, inteligente, especial e blá, blá, blá”? Eles
pareciam engraçados, gentis e compreensivos… Então, quando
você já estava gamadinha, esses mesmos príncipes começavam
com as reclamações. Criticavam o que você vestia e o que não
vestia, exigiam mais tempo do que você tinha disponível, afastavam
você dos seus amigos e criticavam seu trabalho… Então, seu tempo
passava a ser somente deles, você se sentia cada dia mais
sufocada e sem tempo para si mesma, anulava-se e perdia sua
verdadeira essência. Sem contar que, muitas vezes, essa mesma
mulher que foi toda modificada acabava sendo trocada por uma
sujeita, que era igual ao que você era antes que ele cismasse em
mudá-la por completo. Vai entender!
Claro que isso não é regra! Os homens não são todos assim,
porém está em falta homem bom no mercado. Ou eles são gays, ou
comprometidos, ou ambos. Infelizmente, a minha parca experiência
com o sexo oposto foi digamos… Brochante! Todos os caras com
quem me envolvi eram uma versão bem parecida com esse modelo
popular cheios de defeito de fábrica. Aliás, eles precisavam urgente
de fazer um recall [xiii]desse modelinho que já estava por demais
ultrapassado. Então, fica a pergunta: será que vale a pena entrar em
um relacionamento e se entregar tanto ao ponto de ser moldada
pelo boy? Na minha humilde opinião: nãoooo! Não quero isso para
minha vida. Se um dia achar o cara dos meus sonhos, com certeza
ele não será perfeito, não será nem um pouco parecido com um
“príncipe encantado”. O meu homem certo será aquele que aceitará
as minhas distorções e maluquices, mas, acima dessa superfície de
insanidade e desordem, enxergará minhas virtudes. Viveremos
juntos e não grudados, e ele será assim como eu, um ser imperfeito.
Perfeição não existe! Enquanto perdemos tempo procurando
príncipes encantados, não enxergamos os sapos bem-intencionados
que existem brejo afora. Digo… Mundo afora.
Depois de tanta reflexão, minha amiguinha enxaqueca se
instalou no sofá do meu crânio, colocou as suas “pernas” para cima,
e com isso me fez crer que não seria uma visitinha passageira.
Precisava, o mais rápido possível, colocar uma porcaria de uma
vassoura atrás da porta do meu cérebro, quem sabe assim ela não
aparecesse mais por aqui. Enquanto não descobria como fazer essa
mágica, apelei para os bons e velhos comprimidos emergenciais
que trazia sempre em minha bolsa. Tomei dois de uma só vez.
Agora, ou essa dor iria embora, ou eu ficava grogue o resto do dia,
e, como conhecia a minha tendência a sortuda, meu pensamento
quase gritou: “É óbvio que será a segunda opção, sua monga! E se
prepare, pois, com certeza, você ainda terá alguma atrapalhada
fodástica por causa dessa lezeira”! E não é que minha consciência
tinha toda a razão? Maldita sabichona!
O expediente terminou sem que avistasse as malucas das
minhas amigas novamente. Devem ter saído de fininho mais cedo
para evitar a fúria do dragão que habita o meu ser. Peguei minhas
coisas, passei no banheiro, soltei meus cabelos e passei um
batonzinho básico. Depois, saí do prédio com o andar um tanto
cambaleante pelo calor e sob efeito dos analgésicos. Ainda bem que
o ponto de ônibus não era distante, não sei se me aguentaria em pé
caso precisasse andar mais que alguns metros. Como disse a sorte
não é minha amiguinha, então papai do céu não fez milagre, o
busão estava lotado novamente. Entrei com dificuldade e me
segurei na barra de ferro do ônibus, rezando para não cair no chão
mais uma vez naquele dia. Poxa, esse seria meu recorde! Duas
vezes em um dia, esse era uma meta que definitivamente não
gostaria de bater, sério mesmo!
Puta que pariu! Ele não pareceu notar. Então, surgiu a questão
moral para me afligir: aviso ou não aviso, eis a questão? Pensei por
menos de um minuto e resolvi ser uma FDP, não quis arriscar ser
xingada, por isso saí de fininho de perto dele e fiquei imaginando o
que o homem explicaria em casa… Opa! Mandei muito mal! Foi mal,
cheiroso! Mas acho que você vai apanhar hoje por minha causa.
C 5
Nem olhei para o celular para ver por qual razão ele havia
vibrado. Resolvi primeiro tomar um banho e comer algo antes de
responder a alguma conversa. Com certeza, se pegasse o celular,
ele me roubaria horas do meu precioso tempo, muitas vezes até
deixava de comer quando estava conversando com minhas amigas
nos grupos, e isso era algo que irritava até mesmo a minha santa
mãe. Escolhi meu pijama dos Minions [xv](sim, por dentro sempre
seria uma criançona, me julgue!) e fui ao banheiro. Enquanto a água
escorria morna sobre meu corpo, meu cérebro começou uma
trairagem, me levando para reflexões da qual tentei fugir o dia todo.
Questões como: quão satisfeita estava em minha vida atual?
Ensaboava-me de forma mecânica, enquanto fazia um balanço de
todas as minhas escolhas. E então me fiz a pergunta que assombra
a maioria das pessoas: o que estava fazendo de minha vida hoje
daria orgulho para a criança que fui? Aquela menininha que vivia
dos sonhos, que queria ser bailarina, cantora, pediatra, jornalista ou
atriz. Claro que não tinha talento para nem metade dessas coisas,
mas, a questão principal era: essa era mesmo a vida que escolhi
para mim? Morar com minha mãe aos 31 anos, sem
relacionamentos sérios ou informais, sem sair de casa para me
divertir, vivendo dia após dia sem objetivos e com um trabalho que
só me fazia infeliz? Eram tantos sem… Sem… Sem… O que fiz da
minha vida?!
Saí do banho, que era para ser relaxante, com esse peso em
minha consciência. O que poderia fazer para mudar minha atual
condição? Começar do zero? Será que daria para recomeçar nessa
idade? Não que fosse velha, porém o mercado de trabalho era uma
selva sem escrúpulos, e o tempo de experiência era a chave do
sucesso ou do fracasso. Hoje em dia, começar do zero quer dizer
que você vai começar com experiência zero, e algumas empresas
sequer olham currículos dos “sem experiência”. Julgava que era
tarde demais para aventuras, mas será que era mesmo tarde?
Tantas perguntas me rondavam agora. Vesti meu pijama, encarei o
espelho e vi uma menina gordinha retribuindo meu olhar com um
outro, inquisitivo e esperançoso, que parecia ter um pedido mudo
em seus lábios e gritos em seus olhos: Liberte-se!
Eram estranhos esses questionamentos virem logo agora, tudo
desencadeado por uma conversa boba de lanchonete, entretanto a
verdade era que, lá no fundo, estava anestesiada. Estava deixando-
me ser conduzida pela comodidade da minha rotina confortável.
Sempre usei como pretexto não deixar minha mãe sozinha, no
entanto ela mesma aproveitava sua vida muito mais do que eu.
Cheguei à conclusão óbvia de que não estava existindo, estava
apenas sobrevivendo. Essa constatação me deixou convicta de que
precisava mudar algumas coisas em minha vida.
Fui para meu quarto, liguei o Jack, meu notebook (tinha mania
de nomear meus objetos) e fui ver as últimas atualizações das redes
sociais dos meus amigos. Logo apareceram imagens de todos os
tipos de casais vivendo intensamente em viagens e passeios,
mensagens com gifs brilhosos de bom dia, boa tarde e boa noite
(não sei por que o Facebook autorizou isso, era irritante já na época
do Orkut[xvi]!), pessoas sorrindo, bebendo, saindo, viajando…
Vivendo e aproveitando, e eu aqui sozinha, reclamando! Que saco!
Fui atingida por um azedume insuportável. Fechei o Jack com fúria
(foi mal, Jack!). Só o que faltava para mim era virar uma megera
amargurada daquelas que ficavam invejando a vida alheia! Esse
negócio de recalque, de ficar me corroendo por dentro não era para
mim, afinal, o que me impedia de fazer exatamente aquilo que os via
fazendo, ali naquela tela? Nada. Era eu quem me empatava de
buscar a felicidade.
Peguei meu celular e fui espiar as novas mensagens no grupo
do Whatsapp[xvii]. As notificações vinham das minhas amigas.
Deviam estar doidas de preocupação, uma vez que não sabiam
nada de mim desde a bendita conversa no Bilbo’s. E que
esperassem um pouco mais! Afinal, eram elas as causadoras da
minha dor de cotovelo e dessa crise existencial que se abatia sobre
mim. Por falar em crise, olhei para a hora e vi que já passavam das
21h00min. Onde será que estava a dona Sônia? Não fui ver no
quarto, contudo, como a nossa casa estava muito silenciosa, deduzi
que ainda não havia chegado da rua.
Ai, ai, ai, ai! Ela andava muito saidinha e misteriosa para meu
gosto. Meu lado filha possessiva não queria nem pensar em minha
mãezinha santa namorando. Só que pelo amor de Deus! Já fazia
alguns anos que meu paizinho se despediu e foi morar em outro
plano. Era justo ela ter uma vida, afinal ela estava viva, era ele
quem tinha morrido.
— Aí, gente! Não sei como vamos lidar com essa moça nova!
Essa tal de Nuccia. E que nomezinho, hein? Ela deve ter entrado
por cota ou coisa do tipo… — murmurou maldosa. Fiquei sem
entender o motivo desse comentário. Apurei meus ouvidos para
prestar mais atenção ao veneno da naja.
— Camila! Para de maldade, já vai implicar com a moça? Você
ainda nem a conhece… — Larissa, que estava conversando com a
cobra, protestou saindo em defesa da moça.
— Ah, Lari, antes fosse só fofoca. Você não sabe que ela é
surda? Pobre coitada, como vai se adaptar à nossa rotina? Aliás,
como vamos nos comunicar com ela? Eu não sei aquela linguagem
de sinais! — afirmou, um tanto maliciosa.
Ouvi passos se aproximando e uma voz forte e feminina dizer
firme:
Não falei sobre o que aconteceu com mais ninguém, nem com
a minha mãe e ou com as meninas. O motivo? Talvez por um pouco
por vergonha ou pela sensação que se falasse muito sobre assunto
poderia atrair novamente algo parecido. No fundo, sabia que era
besteira pura, mas sou cheia de manias bestas. Já bastava o Edu,
que agora era presença constante em meu Whatsapp. Ele me
mandava mensagens para saber como estava, ou apenas contando
coisas engraçadas para me fazer sorrir, mandava áudio cantando e
me divertia com seus papos malucos. Edu era uma pessoa
singular… Era mesmo um cara especial. Deus, inexplicavelmente,
às vezes, traz alguns anjos para nossas vidas da maneira mais
louca. Se você não acredita em Deus, O.K. Então pode pensar que
isso acontece por lei da atração, sorte, destino ou acaso, como
preferir. Só sei que saí no lucro quando escolhi minha playlist
naquele dia em que conheci o Edu.
C 10
— Não quero cortar o teu barato, filha, mas acho que você já
passou um tantinho dos dezessete, né? — Fez troça e desatou a rir
que nem uma hiena.
— Mãezinha linda, eu te amo, porém estou prestes a deserdá-
la! Será que posso um dia tentar me divertir sem ser zombada?
Valeu, falou?! — retruquei, indignada com as piadinhas.
— Calma, estressadinha! Você ficou muito bonitinha de
cosplay [lx]de incrível Hulk[lxi], ou seja lá do que esteja vestida. —
Então, ela fez o inimaginável: puxou seu celular mirando-o na minha
direção.
— Eita, porra! Lá vem ela! — Tentei correr, me esconder, mas
não teve jeito, minha mãe acabou tirando uma foto minha, vestida
de “Natasha”, e enviou para o grupo da família! Ou seja: zoação
garantida pelas próximas três décadas. Valeu, mãe.
Do nada, ela se voltou para mim, parecendo que me engoliria.
Ai, Jesus! A mulher pirou de vez. Senhor, me salva! Edu, meu filho,
cadê você? Claro que tudo isso apenas pensei na minha mania de
dramatizar tudo. Ela me olhou de cima a baixo, virou-me de costas e
achou o que procurava. Fechei os olhos e esperei pela bronca.
— Aiiiiiiiiiii, meu Deus do céu, você fez de verdade? — disse
com uma voz estridente.
— Do que você está falando dessa vez, dona Sônia? — Fiz-
me de burra para tirar com a cara dela… Maldade! Estava ligada na
versão “filha terrorista”.
— Não se faz de boba, mocinha! Estou vendo, não sou cega!
Você não tinha isso no pescoço antes! — Apontou para a tatuagem
nova ali.
— Tá, dona Sônia, não pira! Essa é adesiva, vai sair depois de
algumas lavagens! Não tô tão biruta… ainda não, pelo menos! Se
tivesse feito hoje, aliás, nem poderia exibi-la, essas coisas demoram
para cicatrizar e tal. — O que ela não sabia é que a minha intenção
era fazer uma verdadeira. Por um momento pareceu que vi passar
um misto de decepção e tristeza no olhar dela. Oi? Ela queria uma
de verdade?
— Hey, mamy, porque parece que está desapontada com a
tattoo de mentirinha?
— Não é isso, é que achei linda, posso contar um segredo?
— Diga logo, sou um túmulo! Sem o cheiro podre,
obviamente…
Quando abri a porta para o Edu, ele me deu um “oi” com cara
de espantado, olhou-me dos pés à cabeça de uma maneira
diferente de qualquer olhar que já tenha recebido, quase de
veneração. Sorri satisfeita por tê-lo impressionado positivamente,
porque, cara, caprichei de verdade dessa vez. Eu própria estava me
gostando. A produção contava com botas pretas de couro cano
longo e salto 15, saia de courino preto com tachinhas prateadas,
uma blusa estilo baby-look do Capital que possuía um generoso
decote e mostrava o top vermelho sangue. O cabelo verde caía em
ondas até metade das costas e estava com um penteado de lado,
que aprendi a fazer no YouTube (bendito seja, sempre me salvando
nas horas de sufoco) e que deixava à mostra a tatuagem. Tudo
temporário, pois não queria ser vista como Natasha no trabalho e
ser motivo de piadinha.
— Fala alguma coisa, Edu! Até parece que viu um fantasma,
está catatônico?
— Cacete, Solena! Quem você está querendo matar vestida
desse jeito? — exclamou com o queixo caído e olhos esbugalhados.
— Saí fora! Eu, hein, tô normal — ironizei, rindo da cara dele.
— Normal?! Tá bom! Vou fingir que te vejo sempre assim no
ônibus quando está indo para o trabalho. — Revirou os olhos e me
deu um cutucão no braço, brincando.
— Edu! Vamos nos atrasar se continuar com essas bobagens.
Mexe logo essa bunda magrela! Se perdermos o show, te pico e te
jogo no penico! — Ameacei, envergonhada com os olhares dele.
— Ui!! Linda e perigosa. Assim gamo, dona Gramínea!
— Rá Rá Rá, muito engraçadinho! — Puxei-o porta afora antes
que dona Sônia se juntasse no coro do bullying com o meu visual
“Natasha de ser”.
Senti a moto parar algumas vezes, deve ter sido nas sinaleiras,
não dava para saber já que meus olhos continuavam bem
fechadinhos. Notei que dessa vez a pausa estava mais duradoura,
esperei ele me chamar enquanto agarrava sua jaqueta de couro
com todas as forças. Era como se Edu fosse uma boia em alto-mar.
Já comentei com vocês que ele tem um cheiro maravilhoso? É meio
cítrico com marinho! Respirei fundo pelo menos umas três vezes,
guardando esse cheirinho bom comigo.
— Solena… Pode parar de me cheirar e abrir os olhos.
Chegamos! — revelou Edu em um tom bem-humorado que parecia
querer explodir em uma gargalhada.
— Tá maluco? Que te cheirando o quê, Eduardo?! Se enxerga,
mané! Eu estava com medo… e… e… e… A minha respiração
estava desregulada de nervoso, você correu que nem um idiota! —
esbravejei, tentando disfarçar meu constrangimento por ter sido
pega em flagrante. Dei um soquinho no ombro dele e desci da moto
já bem emputecida, só que esse estado de chilique durou apenas
alguns segundos, até ver que estávamos de frente para casa de
shows. Comecei a pular de alegria… É, meus amigos, o meu caso
era de tripolaridade!
— Nossa, Sol! Que romântico! Essa foi nossa primeira
briguinha como casal, meu amor — ponderou, fazendo troça do
nosso acordo.
— Olha só, Edu. Não se empolga. Esse acordo é para enganar
o povo do trabalho e não tem ninguém de lá aqui, seu espertinho —
disse, mostrando a língua.
— Bem, querida Solena, nunca se sabe, né? Sempre é bom
garantir que a farsa seja bem interpretada e tal… — Então, ele me
puxou e deu um beijo no meu pescoço.
Olhei para ele sem ação. Não que não tenha gostado, aí que
estava o problema. Gostei, na verdade, até demais para o meu
gosto, e pensei no quanto isso estava ficando estranho. Pô, ele era
meu amigo, certo? Não podia começar a criar monstrinhos verdes
na minha cabeça, uma vez que era especialista em me ferrar com
essas ilusões. Além de foder com a amizade, acabaria com o
coração em frangalhos, e isso era algo que não dava pra deixar
acontecer!
— Dez reais pelos seus pensamentos, garota do cabelo verde!
— Caraca! Meus pensamentos estão valendo pouco, hein! —
falei, brincando, em uma tentativa de aliviar o clima neurótico que se
instaurou em mim. — Bora, Edu? Quero entrar e dançar até não
poder mais!
— O seu desejo é uma ordem, senhorita Gramínea — falou,
rindo e me puxando pela mão.
Ele me arrastou pelo meio da multidão que fazia filas
quilométricas para entrar, foi em direção a um cara alto, bem bonitão
e fortão, por sinal, que parecia ser um dos seguranças da casa de
shows. Eduardo falou com ele, os dois trocaram cumprimentos
rápidos de mãos, e fiquei olhando, idêntica a uma abobalhada, para
todo movimento a nossa volta. Nem mesmo o grandão fortão tirou
minha atenção da verdadeira euforia, que era ver pela primeira vez
Capital Inicial!
— Bora! — Ele me puxou, o grandão estava piscando em
nossa direção e abrindo a parte que separava a multidão da
entrada. Confesso que nessa hora morri de medo de ser linchada,
dada a cara feia do pessoal que ficou ali na fila.
— O que você fez para que entrássemos antes desse povo ali
fora, Edu? Pensei que nos fuzilariam com os olhares.
— Ah! Tenho meus truques, baby. Sabe a moto? É do meu
primo! — proferiu, como se assim respondesse todas as minhas
dúvidas.
— Tá! Isso eu sei, mas o que, diabo, isso tem a ver com a
nossa entrada, dã? — Revirei os olhos impacientemente.
— O cara ali fora, por acaso, é o meu primo, sua lentinha! Foi
ele quem me deu os ingressos quando eu disse que estava
namorando… — Pestanejou os olhos com uma falsa cara de
inocência.
— Mas você não está namorando! — falei irritada
— Ele não precisa saber que é de mentirinha… — Piscou
matreiramente.
— Ahhhhhhhhhhh! Por isso, você me deu o beijo no pescoço?
Seu safado! Você me usou para ganhar ingressos grátis! — Dei
outro tapa em seu braço em protesto.
— Captou, baby! Está ficando mais espertinha! — Gargalhou
da minha cara lívida.
Estiquei meu dedo do meio em direção a ele, em resposta
gargalhou ainda mais alto. Saí pisando duro, indo na frente dele
para saber que não tinha curtido ser usada daquela forma, mesmo
que de brincadeirinha.
— Hey, calma, Sol! Vamos curtir a noite sem briguinhas
bestas, já passamos dessa fase. E outra, não fiz só pelos convites,
fiz porque queria estar com você. — Edu puxou o meu braço com
delicadeza com semblante arrependido.
— O.K., sou um pouco chata. Me desculpa por esse chilique,
foi desproporcional, mas não mente mais para mim. Odeio isso.
Agora, vamos entrar que quero ver essa sua bunda magrela
dançando na pista! Antes vem aqui e vamos tirar uma foto para
matar as meninas de inveja. — Ri, maldosa.
— Você é má, Solena! E eu gosto assim! — disse, juntando-se
a mim e fazendo pose.
Na foto, eu e Edu estávamos com rostos grudados, uma
expressão de felicidade. A imagem ficou linda! Se eu mesma não
soubesse que era um namoro de mentira, teria acreditado também.
C 17
Maldita hora que fui encarnar a Natasha, agora ela não queria
mais ser exorcizada da minha vida! Olhei no espelho. Não estava
feia, mas estava, digamos… Chamativo? Diferente? Será que as
pessoas me achariam maluca? Encarei-me no espelho e falei para
mim mesma:
— E se acharem? O que diabos as pessoas de fora têm a ver
com sua vida? Você estava feliz ontem? Então… Foda-se! O resto é
só o resto!
Senti-me melhor depois desse diálogo comigo mesma. Devia
ser a Natasha que habitava em mim se manifestando. Que coisa
mais bizarra, meu Deus! Dei uma risada alta, ouvi batidinhas de
patinhas na porta. Abri e um vulto ligeiro pulou para dentro.
— Oi, Sardinha! Bom dia, gatinho sumido! Você anda me
trocando pelas regalias da dona Sônia e o Santiago, né? Seu
vendido!
Ele me olhou e começou a se lamber, distraído, ou me
ignorando propositalmente, sabe-se lá. Em se tratando do Sardinha,
nunca terei certeza. Saí do banheiro e ele veio atrás de mim com
seu miado insistente. Acho que estava com fome e minha mãe
ainda devia estar dormindo.
— Bora comer, gatinho folgado! Só me procura na hora do
aperto. — Olhei-o acusadoramente, mas me sentia com ótimo
humor.
Senti o celular vibrando no bolso do meu roupão. Peguei para
ver quem era, afinal minha curiosidade ainda era maior que minha
fome, e é claro que eram as meninas. Viram algumas das fotos com
o Edu e estavam me bombardeando no grupo do Whatsapp.
— Viu, Sardinha? Elas caíram que nem patinhas no meu
“namoro” com Edu, ou seja, estou livre dos sites de relacionamentos
e possíveis encontros desastrosos com esquisitos ou velhotes por
aí. — Sorri, enquanto meu gato me olhava com cara de paisagem
como quem diz: “Vai rolar o rango ou não?” — Não me olhe assim!
Sardinha, você é um morto de fome, já tô indo! Tô largando o
celular, viu? Vou deixar as três se roerem um pouco mais…
Abri uma lata de sardinha para o Sardinha. Bizarro! Se
pararmos para analisar era quase um canibalismo! Ás vezes, minha
imaginação parecia tão fértil que dava para supor, ou ter quase
certeza, que minha mãe me deu adubo líquido ao invés de leite na
mamadeira. Confesso, isso foi nojento! Blerg! Mas se não tenho
filtro na língua, que dirá na minha imaginação!
Quando terminei de forrar a barriga do meu gato guloso, e
claro também a minha, ele saiu disparado para o quarto da minha
mãe e voltei sozinha para o meu. Não disse que ele era uma traíra?
Joguei-me na cama, curtindo a vibe da preguiça. Peguei “meu
amigo” rosa-choque, coloquei meu fone e joguei na seleção musical
do Capital para relembrar os momentos perfeitos do dia anterior.
Aliás, pensando nisso, notei que o Edu não tinha enviado nem uma
mensagenzinha. Será que ainda estava dormindo? Estávamos no
meio da tarde!
Estiquei o braço para pegar o celular e mandei uma
mensagem para ele.
— Hey, belo adormecido, acordaaaaaaa!
Pelo visto não estava conectado. Esperei alguns minutos e
nada, que droga! Já estava com saudades daquele doido. Fui para o
grupo das meninas para ver o que elas queriam antes. Abri o grupo
do quarteto fantástico e estava cheinho de conversa e estava quase
passando batido por ela, quando uma parte me intrigou. Voltei ao
início e li atentamente toda a conversa.
Nu: Oi, Sol! Que gatinho esse Edu, hein! Eu pegava fácil!
Nat: E aí, gatinhas? Bom dia! Achei ele um tanto magrelo para
o meu gosto, mas nada mal para quem estava a perigo! E aí, Sol,
sua safadinha, você esticou a noite ou ficou enrolando o garoto?
Suzy: Ei, meninas, pelo amor de Deus! Ela nem deve estar
vendo as mensagens agora, com certeza está dormindo ou
aproveitando o domingo. Sosseguem o facho de vocês!
Nat: Às vezes, acho que você é uma velha presa no corpo de
jovem, Suzy. Mudando de assunto... Vocês viram quem também
estava lá?
Suzy: Velha é tua bunda, Nat. E como você sabe quem tava
lá, tá doida, Nat? Por acaso, a senhora foi ao show em modo
espírito ou virou uma mosca e saiu voando?
Nat: Oh, senhora engraçadinha, caso não saiba, me atualizo
nas redes sociais ao contrário de vocês! E, por acaso, tenho a
Vacamila no meu Facebook.
Nu: Mentira que o demônio oxigenado estava assombrando o
mesmo local que a Sol?! Que merda! Será que ela destilou algum
veneno na nossa amiga?
Suzy: Eita porra! Que vocês duas estão com tudo na fofoca,
hein? Só observo.
Nat: Porra nenhuma! Duvido muito! Dou o meu lindo rabinho
para cachorro comer se ela não ficou é muito longe de nossa
Solzinha e seu "boyfriend", já que ela estava era muito ocupada pelo
visto.
Nu: Como assim?!! Conta esse babado direito, Nathalie!
Suzy: Tô aqui pegando a pipoca, porque vi que papo vai
render.
Nat: O Chefinho gato estava com a nossa malvada nada
favorita!
— Sonha comigo…
Desliguei, sorrindo de orelha a orelha. Era tão fácil conversar
com o Edu, era incrível como ele sempre me fazia tão leve.
C 22
Nu: Apoiada
Suzy: Apoiada 2
Sol: Nat, você não é motorista, mas chegou ao ponto! Se
vocês não me salvarem nesse momento, terei que ir de pijamas
mesmo!
Nat: Tão engraçadinha... Nem brinca com uma coisa dessas!
Você vai fazer todo mundo sair correndo se aparecer com esse
pijama dos Minions sinistro… hahahaha
Sol: Rá!… Muito espirituosa você, Nathalie!
Suzy: Falando sério. O que você precisa de nós, Sol?
Nu: Obviamente, essa mocoronga só reparou que não tinha
roupa no último minuto do segundo tempo. Tô errada, Solzita?
Sol: Não, vaca! — Revirei os olhos e não deixei de sorrir, elas
me conheciam muito bem…
Nat: Então, bora levantar a bunda gorda e caçar uma roupa
bem chegay pra você virar a Miragem da nossa Miragem!
Sol: Não exagera, Nathalie!
Suzy: Não se preocupa, Solzinha, o esquadrão do bom gosto
te salvará da difícil tarefa de escolher roupas no shopping!
Sol: Afinal???
Edu: Você já é linda, Sol!
Sol: :P
Revirei os olhos com o elogio, sorri. Peguei minha bolsa, nem
comeria nada antes, meu estômago já estava cantando uma ópera,
decidi chamar um carro pelo aplicativo, seria mais fácil e mais rápido
chegar e acabar logo com a tortura!
Nu: Calma, Suzy, essa louca deve estar dormindo o dia todo!
Não foi feita pra manguaça.
----Três horas depois-----
Suzy: Gente, ainda nenhum sinal da Solena? Tô preocupada!
Tentei ligar um milhão de vezes, só dá caixa postal!
Nat: Cara, pior que até eu estou preocupada.
Nu: A hora que ela ver o que está rolando na “internet”, vai
surtar!
Suzy: Puta merda! E quem não surtaria?
Nat: Será que foi a vagaranha da Camila?
Nu: A única pessoa que tinha algo a lucrar espalhando esse
vídeo era essa surucucu loira oxigenada…
Nat: Espero que amanhã ela vá com uma armadura anti-
porrada. Porque ninguém me segura, vou dar naquela mulher até
ela trocar de pele!
Suzy: Não faz merda! Em vez de uma demissão, serão duas.
Nat: Mas vocês acham realmente que demitiriam a Sol por
causa de algo assim?
Meu livro fluía, agora que minha vida estava no rumo certo.
Passava horas e horas escrevendo; quando não estava com o
notebook, estava com Guilherme, lendo ou com as meninas. Gui
passou a ser presença constante em minha vida e me apoiava em
meu sonho. Eu sorria à toa. Estava feliz que nem pinto no lixo!
Estava finalmente vivendo. Emprego? Não estava tão preocupada,
ainda tinha meses de seguro e dinheiro na poupança. Viveria esse
sonho que era escrever meu livro, minha história, era tão excitante.
Era agora uma escritora! Minha mãe e Santiago estavam se virando
bem sem mim no quesito despesas e senti o peso sair um pouco
das minhas costas. Seguia meus sonhos, vivia um amor, curtia meu
tempo com as pessoas que eu amava e que me amavam. Estava
finalizando outro capítulo, quando recebi uma mensagem. Era do
meu Miragem. Meu, meu, meu! Todinho meu.
Miragem: E aí? Será que minha escritora preferida, topa dar
uma voltinha?
Sol: Como posso ser sua escritora preferida se nem terminei o
livro, seu bobo?
Revirei os olhos depois que digitei a resposta, sorrindo que
igual a uma besta.
Miragem: Tenho absoluta certeza de que será um sucesso.
Até porque se esse livro consegue te roubar de mim, ele tem que
valer muito a pena. Não disse se topa.
Sol: Acabei de finalizar um capítulo, acho que posso tirar uma
folguinha.
Miragem: Deus seja louvado! Até mais tarde então, vou contar
os minutos daqui até a hora de beijar sua boca de novo.
Fiquei sem fôlego e sem fala com essa última frase.
Sol: Aiii, aiii acho que logo mudarei o gênero do meu livro se
continuar me falando essas coisas! — gargalhei.
Miragem: Mulher não me faz te sequestrar agora mesmo,
porque tenho planos e não posso ceder a essas tentações nesse
momento. Você me deixa louco, my sunshine.
Sol áudio: Me manda um áudio me chamando assim? — Pedi
dengosa. Eu amava ser chamada assim por seu timbre forte e ao
mesmo tempo sedutor.
Miragem áudio: — My sunshine, ai,Sol, como te quero. — ele
falou com a voz rouca de desejo, estremeci e me arrepiei toda. Ai
que homem delicia!
Sol: Eu vou ficar ouvindo esse áudio até você chegar, você me
deixa doida, Guilherme.
Miragem: Não me tenta, te sequestro, uma semana sem sair
com a cara na rua. Eu, você e uma cama.
Sol: Pelo amor de Deus, Guilherme! Para de falar essas
coisas, preciso de um banho frio!
Miragem: Puta que pariu, e agora como fico imaginando essa
cena?
Sol: Você quem provocou, agora aguenta!
Sol: Não faço ideia, mas preciso largar esse telefone e deixar
você livre para chegar logo, também tenho que terminar o serviço
aqui, antes que se depare com uma bruxa mal acabada e dê meia
volta.
Gui: A bruxinha mais linda. Beijos, meu amor, até daqui a
pouco.
Sol: Beijos, Miragem!
Sorri com a última mensagem, lembrando-me da primeira vez
que ela me chamara assim sem perceber o que estava fazendo, e
como se tornara um tomate sem conseguir conter a risada de seu
rosto afogueado. Foi nesse dia que me explicou como surgiu o
apelido entre ela e suas amigas. Depois disso, todas as vezes que
me deparava com as três, não conseguia conter um sorriso
conspiratório. Peguei meu carro na garagem do prédio e rumei pelas
ruas do Rio de Janeiro com o coração aos pulos.
49
— Gui, eu não sabia que o Edu estava indo lá. Não desconta
em mim, tudo bem? — falei magoada.
— Eu sei, mas você poderia ter mandado ele embora, né? Deu
confiança para esse cara ficar de blá, blá, blá, Solena! Mesmo
depois de me contar que ele foi um babaca com você, ainda assim
parou pra dar trela, não te entendo às vezes! — exclamou irritado.
— Guilherme, ele veio pedir desculpas e tentar explicar o
inexplicável. E eu o recebi por achar que era você. Eu o ouvi por
educação, Eduardo foi um amigo muito querido pra mim e doeu
muito perder a amizade dele. Eu, eu… só queria que as coisas não
fossem tão difíceis e dolorosas, sabe? Você devia tentar me
entender um pouco — expliquei tristemente.
— Mas ele te magoou! Estou aqui agora!— falou e socou o
volante exasperado. Estava na cara que esse dia especial iria ser
"fail".
— Claro que sim! Mas se continuar não confiando em mim e
agindo como um troglodita toda vez que alguém se aproximar de
mim, não sei se vai dar certo! Não sei por que diabos você me pediu
em namoro se não confia nos meus sentimentos, Guilherme! —
protestei irritada, cansada e triste.
— Eu te amo! Te amo desde quando te vi dançando
loucamente naquela pista com os cabelos verdes balançando ao
som de Natasha! Aliás, amo muito antes disso, antes mesmo que
me desse conta de que te amava. Será que isso não conta?—
Parecia magoado também, e senti-me mal por isso.
— Desculpa. Só não esperava mesmo que o Edu aparecesse
hoje e isso me deixou triste e desestabilizada. Você é maravilhoso e
estou sendo uma boba. — Sorri e coloquei a mão na coxa dele em
busca de sua mão. Em uma discussão besta se a gente quer que
uma relação dê certo, alguém precisa dar o braço a torcer, e lá
estava eu erguendo a bandeira da paz, tudo que menos queria era
os fantasmas do ciúme e da insegurança entre nós.
— Desculpe também, Sol. Estou sendo um idiota insensível e
troglodita ciumento. Sei que ele era seu amigo e você gostava dele,
e tenho que me acostumar que, sendo você uma pessoa tão doce e
especial, sempre existirão outros sujeitos babando por você. O que
importa é que você escolheu ficar comigo, isso basta. — disse e
sorriu. Sua mão alcançou a minha e apertou em tom tranquilizador.
30 minutos depois…
— Vocês estão ouvindo isso? — indaguei, quando escutei o
som de uma buzina em frente à nossa casa, mas não era o som da
buzina do carro do Guilherme, essa reconheceria em qualquer lugar.
— Sim. Deve ser algum maluco tentando se mostrar! —
esbravejou Nathalie, indo bisbilhotar na janela. — Opa! Sol… Acho
bom você vir dar uma olhadinha aqui…
— O que foi? Não vão dizer que é o Eduardo? — indaguei
apreensiva. Desde o dia da aliança, ele não mais tinha me
procurado, mas vai saber! Ele tinha o pior senso de timing, sempre
atrapalhando as surpresas…
As meninas correram para ver o mesmo que a Nat e viraram
para mim boquiabertas gritando em uníssono:
— Vem logo, Sol!
Olhei para elas, depois para minha mãe e Santiago que
sorriam, e corri para ver o que estava acontecendo. Quando enfiei
minha cara pela janela, minha boca se abriu surpresa. Havia uma
Kombi com um laço lilás e os dizeres “Virei o jogo” na lateral, com
Guilherme na direção exibindo um sorriso imenso no rosto.
— O que é isso? — Olhei atônita para todos ali presente, meu
coração disparado no peito. — Alguém sabe o que aquele louco faz
com uma Kombi com o nome do meu livro?
— Vai lá receber o seu noivo, sua tonta! — falou minha mãe
com lágrimas de emoção e sorrindo.
Abri a porta veloz, senti que fui acompanhada por todos em
silêncio. Quando saí, Guilherme descia do carro sorrindo. Veio em
minha direção, beijando meu rosto.
— O que significa tudo isso, Guilherme, está doido? — Olhava
dele para a Kombi incrédula.
— Ué! Precisamos dar um final ao seu livro, então eu trouxe a
“Natasha” para dar uma mãozinha! — revelou, como se não tivesse
falando a maior loucura do mundo.
— Como assim? Endoidou de vez? Quem é Natasha?
Estava feliz por minha amiga. Gostei de ver que ela não se
apoquentou por causa do meu caso com Edu. Solena estava em
outra e estava voltando! O trio viraria quarteto de novo em breve e a
gente ia inventar novas aventuras.
Beijos.
Giuliana Sperandio.
(Junho/2019)
B
Prove que não tem medo da escuridão: abra esse livro e seja
abraçado pelas criaturas que vivem nela. Aposte a sua alma e
esteja pronto para perdê-lá.
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A BONECA MALDITA
Contos publicados:
[ii]
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