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Todos os direitos são reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Este livro, ou qualquer
parte dele, não pode ser reproduzido por quaisquer meios sem prévia autorização expressa da autora.
Revisão
Érica Carriço
Lucas, possui um histórico de ideias ruins. E não surpreendeu ninguém
quando pediu a ajuda de sua melhor amiga para fingir um relacionamento e
despertar ciúmes em sua ex-namorada. Porém, como sempre acontece com
ideias ruins, pouca consideração foi dada aos prós e contras dessa situação.
Eles certamente não previram a forte atração que poderiam sentir um pelo
outro. Agora, precisam lidar com as consequências inevitáveis que as
mentiras sempre trazem consigo.
Há quem diga que na vida existem dois tipos de amores: o amor da sua vida
e o amor para sua vida...
Talvez seja possível encontrar esses dois tipos em uma mesma pessoa. Mas
Isabella, talvez, já não acredite mais em acasos.
Poderão eles serem a exceção?
NOTA DA AUTORA
Seja como for, logo nos tornamos uma equipe e, durante todo o colegial,
estudamos na mesma sala, convivendo um com o outro boa parte de nossos
dias.
Sabe quando você anda tanto com uma pessoa que todos os seus trejeitos
são parecidos? Daí um ou outro confunde gestos com traços e por fim
éramos irmãos. E no final das contas, adorávamos esse papel. Servia muito
bem para colocar pessoas na fita ou afastá-las, quando conveniente.
Pedro namorou um bom tempo com a Amanda, mas a vida de adulto, como
já combinamos, é complicada. E como meu amigo não atendeu às
expectativas da patricinha, o relacionamento esfriou e acabou. Deus sabe o
quanto fui grato por isso.
Daí a vida, que estou começando a acreditar que não é a minha maior fã, me
fode sem vaselina e nem me convida para um chopinho para a conquista.
— Isabella Cristina, é pedir muito ajudar seu melhor amigo? — era sim,
custaria muito.
Poderia gritar mais uma vez, mas vamos combinar desde já que sou uma
idiota quando se trata do Lucas, e apenas o encarei.
— Não vou fazer isso, Lucas.
— Lavo os pratos todas as noites por um ano — ri alto.
— Desespero?
— Não tem ideia. E faço massagem nos seus pés todos os dias enquanto
essa farsa durar — comentou, agitando os dedos das mãos em uma vã
tentativa de demonstrar suas habilidades.
Aquela conversa já durava mais de uma hora. Lucas era bom em pedir ou
talvez eu é que fosse bem ruim em negar... Uma coisa meio que levava a
outra.
O plano dele era realmente uma merda, como advertiu.
Eu era amiga da Tina, e Valentina é uma pessoa incrível e merece ser feliz.
O relacionamento deles terminou, ela seguiu, mas Luc ainda a adora.
Se Lucas não fosse tão especial e eu não tivesse a certeza que faria minha
amiga feliz, talvez fosse mais fácil ignorar sua última tentativa desesperada
de se reaproximar dela. Contudo, as coisas são como são.
Lucas a faria feliz e ela era toda a felicidade que meu amigo gostaria de ter.
No final das contas, eu só queria que ele fosse feliz.
Tive certeza que iria me arrepender dessa decisão. Mas o que seria me
cortar mais um pouco com estilete?
Lucas me faria sangrar, talvez até não sobrar mais nada. E esse foi meu
último pensamento enquanto sorria dentro do seu abraço.
Lucas ainda não aceitava bem o fato de ver Tina com outros caras, mas
parecia enganar bem os mais próximos. Sempre segurava sua mão nesses
momentos.
— Tô aqui — Pedro a recebeu com seu abraço de urso. – Seja bem-vinda,
princesa. Como foi de viagem?
O moreno era enorme e envolveu facilmente seu corpo entre seus braços.
Minha amiga sorriu, recebendo de bom grado o cumprimento.
— Ocorreu tudo bem. Estava com tantas saudades de vocês. Cadê o Lucas?
— No trabalho, mas deve chegar logo — Pedro garantiu. — Temos que
comemorar porque estamos todos juntos novamente. Estava morrendo de
saudade de você, pimentinha.
Tina de repente ficou tímida e ele percebeu. Contudo, foi o olhar que
trocaram que me deixou apreensiva.
— Em alguns dias — sorrio sem realmente achar graça. — Tina, temos que
conversar sobre algo.
Ela se sentou na cama e me deu a atenção que a situação exigia.
— Bem, é melhor que saiba por mim — suspirei, puxando minha camiseta
como se precisasse realmente ser ajeitada. — Eu e o Lucas estamos ficando
— me sinto tão idiota. — Não sei se é sério, mas estamos tentando. Na
verdade, não falei sobre isso com ninguém ainda. Queria muito conversar
com você antes — tão, tão idiota.
— Nossa – me encarou séria e me senti imediatamente péssima. Merda
Lucas! — Ah, acho que ok, Isa — disse por fim. — Não estamos mais
juntos há bastante tempo. Sempre achei que você e o Lucas tinham uma
conexão diferente. Mas me desculpa, porque ainda assim a notícia me
pegou de surpresa — me deu um sorriso triste. — É tudo novo, vou
estranhar um pouco no início, mas vai passar. Eu amo todos os dois e
espero mesmo que dê tudo certo entre vocês.
— É algo recente e pode não ser nada ainda, mas estamos tentando. Claro,
se por você estiver tudo bem.
Ela garantiu que estava, mas percebi que não. Por fim, a ideia do Lucas
parecia ter funcionado.
Lucas teve a brilhante ideia de fingirmos um relacionamento.
Meu amigo realmente acredita que se despertar ciúme o suficiente em
Valentina, fará com que magicamente ela se dê conta que ainda o ama. E
como estratégia, será uma espécie de namorado maravilhoso para mim, a
relembrando dos benefícios de se ter um homem fantástico ao seu lado.
Palavras dele, não minhas. Reviraria mais uma vez os olhos se não tivesse
apenas pensando a respeito.
Essa história tem inúmeros problemas. O primeiro e mais preocupante seria
Pedro.
Pedro é nosso amigo e mora conosco, e como não foi incluído na trama, as
chances são grandes de nos questionar de forma nada sutil, já que até o
aparecimento da Valentina não havia presenciado nada suspeito.
O plano é uma merda, não canso de falar isso.
Valentina não é trouxa e eu certamente não queria magoar seus sentimentos,
se realmente ainda sentir algo por Luc.
Por todos esses motivos, mentir para as pessoas mais próximas e que
nos conhecem profundamente será um grande erro. E o maior deles,
com certeza, será passar por cima dos meus sentimentos de novo pelo
homem o qual eu chamo de melhor amigo.
Lucas é lindo, sempre foi. Foi fácil me apaixonar por ele. Lógico que nunca
confidenciei isso a ninguém. Lucas sobretudo é meu melhor amigo e jamais
quis correr o risco de fazer com que se distanciasse para não me magoar.
Porque ele faria isso, exatamente isso.
Sei que nunca sequer cogitou ter algo comigo, me vê apenas como uma
irmã, e respeito sua decisão. Juro que tento fazer o mesmo e na maior parte
do tempo até consigo, mas é mais difícil quando tenho que suportar vê-lo
com outra pessoa.
O que não foi necessariamente um problema, já que Luc realmente amou
uma pessoa na vida, Valentina.
Meu coração se apertou quando os vi juntos pela primeira vez e foi difícil
ouvi-lo dizer repetidamente o quanto a amava. Dói sempre. E Valentina é
maravilhosa, eu realmente amo essa garota. E quem não amaria?
O que faço a respeito? Nada! Quero que ambos sejam felizes, mesmo que
jamais exponha meus sentimentos, mesmo que isso me faça sofrer dia após
dia. Posso fazer isso por ele.
Esperava realmente que com o passar do tempo esse amor diminuísse, que
ficasse mais fácil. Seria ótimo acordar um dia e simplesmente passasse a
vê-lo como um amigo querido. Não tive essa sorte até o momento,
infelizmente.
Imediatamente sinto meu rosto esquentar, mas sou besta demais e sigo
apenas em silêncio.
— Senta — aponta para o sofá. — Vou fazer sua massagem nos pés — me
paparica. — E quando eles chegarem, nos agarramos.
Como é?
Senti o desconforto da minha amiga assim que declarei que nos pegaríamos.
Não vai ser realmente fácil fingir essa parte, mas achei que isso havia
ficado subentendido quando fiz a proposta.
Nunca vi a Is com outros olhos. Ela é linda, claro. Contudo, não faz meu
tipo. Sei que é bem comum receber atenção de homens e mulheres, sua
beleza é até bem óbvia.
A loira senta sem jeito no sofá e logo pesco seus pés para tentar fazer com
que se desestresse. Torço que a massagem seja suficiente para que o clima
pesado se dissipe de alguma forma. Ela adora massagem nos pés, essa
sempre é nossa moeda de troca. Minha e a de Pedro.
— Lucas, como faremos isso? — fala depois de um tempo, me encarando
assustada.
Não deu tempo para calcular bem o movimento e acabamos batendo a boca
um no outro.
Cogito dizer um palavrão, mas a porta se abre e somos flagrados.
Era o que tinha em mente. Na verdade, não era bem isso. Esperava algo
mais ensaiado. Não deu tempo. E agora é uma situação constrangedora para
todo mundo.
Is não esperava o movimento, e tenho certeza que nem por um segundo
aparento estar excitado com a situação. Uma bela bosta.
Essa é mais uma das coisas que não planejei direito. Como mentir para o
cara que me conhece a vida inteira?
Is e eu temos zero química e disso ele entende bem.
Fico parado encarando meu amigo, esperando uma intervenção divina para
nos tirar dessa furada.
— O que foi isso? — Isabella sussurra assim que bate à porta do meu
quarto.
— Foi horrível, não foi? Como iremos nos beijar, Is? — e esse sou eu
desesperado.
Agora me dou conta que, talvez, o plano não funcione exatamente como
imaginei.
— Temos que fazer dar certo, Luc, já que isso é importante para você. E nos
passarmos por mentirosos nessa altura do campeonato será uma bela merda.
— Acho que não sei como fazer isso dar certo — digo o óbvio.
— Olha, sei que não sente atração por mim, mas tive uma ideia que pode
nos ajudar — me encara esperançosa. — Vamos encarar isso como se fosse
uma meinha — quase gargalho, mas abafo o som com a palma da mão para
não sermos ouvidos.
— Como se eu fosse beijar o Pedro.
— Cala a boca e me escuta pelo menos uma vez, já que nos colocou nessa
enrascada. Teremos que nos beijar e convencer o Pedro, que nos conhece a
fundo, que isso é real.
— Essa parte está clara, Is. Como faremos isso é que parece ser o problema
— ela bufa e revira os olhos, como faz todas as vezes que nos acha
irritantes.
— Quando eu era menina, fiz um trato com uma amiga. Uma ensinaria a
outra a beijar.
Arregalo os olhos, esperando que desminta.
— Ok, faremos isso — fala visivelmente nervosa. — Ok, posso fazer isso
— repete, mas não se convenceu. — Deita!
— Quer fazer isso em cima de mim? — indignado.
— Lógico que não! Deita de lado — instrui. — Vai ser esquisito pra
caramba se o Pedro entrar no quarto e ver a gente se beijando sentados um
de frente pro outro. Aí que o plano vai pra vala mesmo.
Ok, posso fazer isso! Esse sou eu tentando me convencer.
A trago para mais perto do meu corpo, deslizando minha mão por seu couro
cabeludo. Is adora que lhe faça cafuné, sabe? Não é bem isso que faço
agora. Está mais para um agarre na nuca. E ela me quebra arfando na minha
boca.
Outra parte que também não calculei direito, beijo traz necessidades.
Toques, pressões, proximidade, e é justamente o que estou fazendo. Ela
morde meu queixo e descubro que essa é uma zona erógena que não sabia
que existia. O ato traz mais urgência. Não é mais reconhecimento, é uma
constatação.
Quero obrigar o meu cérebro a reconhecer que é a minha amiga aqui e que
devo impor limites, mas todo o oxigênio está sendo drenado bem rápido
para uma região específica.
Vou fazer o quê? Se meu corpo está com vontade de manter a coisa toda
distante da classificação livre.
Isabella se entrega, sempre faz isso, com qualquer coisa que lhe deem como
desafio. E meus parabéns. Hein, Is. Parabéns.
— Puta merda, vocês estão se pegando real! — Pedro grasna, nos
despertando do transe.
Abro meus olhos no susto, me deparando com minha amiga. Estamos
arfando, ainda tentando entender o que aconteceu.
— Não bate mais na porta não, filho da puta? — trovejo. — A educação,
enfiou no cu?
— Tá com o ovo na bunda? Vim só chamar vocês para jantarmos.
Isabella se levanta e sai do quarto sem dizer nenhuma palavra.
— Deixou a garota com vergonha, idiota — encaro meu amigo, de quase
dois metros de altura, sem entender o porquê de estar tão puto.
Não é como se não fosse o plano ser flagrado.
Ah meu Deus, eu beijei o Lucas! EU BEIJEI O LUCAS... E agora? Tô
surtando.
— O que foi, Isa? — Tina pergunta assim que entro na pequena cozinha de
ladrilhos cafona, na cor bege.
— Nada — falo rápido demais e ela apenas me analisa.
Para minha sorte, Valentina sempre foi do tipo de pessoa que não se
intromete na vida alheia. Talvez fosse esse fato, compartilhado, que fez com
que nos aproximássemos, apesar de tudo.
Não demora para que Lucas e Pedro se juntem a nós, e rapidamente o
pequeno espaço diminui consideravelmente. E não tenho cara para encará-
los agora.
Que situação foi essa que me meti?
— Tudo bem, Is? — Luc questiona baixinho quando me abraça por trás,
assim que chega.
Ainda não o encaro, mas assinto em silêncio para que fique tranquilo. Ele
me dá um beijo na bochecha e se vira para colocar sua comida.
6 anos antes...
— Acredita que aquele idiota terminou comigo por causa daquela garota
sem graça? — ouvi Amanda dizer assim que estava para entrar no
banheiro da faculdade.
Sua fala me desestimulou a seguir caminho. Tudo o que não precisava era
um embate com ela. Na verdade, ninguém merece ter, em qualquer parte de
seu dia, um conflito com a morena arrogante. No fundo, estava feliz que
Pedro tenha enxergado sua personalidade horrenda sem qualquer estímulo
da minha parte. Talvez Lucas o tenha ajudado com essa parte.
— Oi... — cruzei com Pedro na saída da faculdade. — Foi rápida.
Havia avisado que iria ao banheiro. E ele me aguardava pacientemente ao
lado do grande portão de ferro com entalhes geométricos que sempre
admirava.
— É... não estava apertada o suficiente e quero muito comer aquele
cachorro-quente agora — nem a pau contaria o que aconteceu. Meu amigo
não levaria tão de boa assim.
Riu alto e lhe dei um tapa, tentando manter a postura de brava. Mas é
impossível não me juntar ao som de sua risada. Sempre agradecia o espaço
que me dava, mesmo diante de uma mentira deslavada.
Lucas sempre faz isso, é seu mecanismo de defesa quando está nervoso.
Tentar ser engraçado fora de hora.
— É super estranho, Luc. E sinceramente não sei como está conseguindo
levar de boa.
Ele afasta o seu banco para trás e permaneço observando, tentada a
questionar o que pretende.
— Vamos fazer o seguinte. Vamos conversar sobre os nossos limites, ok?
— assinto. — Quando chegarmos na areia vou te abraçar e ficar com você.
Nada que já não fazemos normalmente a vida inteira.
— Acho que está subestimando demais a situação. Não é esse o problema e
você sabe disso.
— Vem aqui — me ignora. — Vamos dar uns amassos e saber quais são
nossos limites.
E lá vamos nós...
Lucas encosta sua boca na minha devagar, ainda receoso. E minhas
pálpebras se fecham involuntariamente.
Para meu completo azar, Luc tem o melhor beijo que já ganhei. Meu
coração dispara no peito e esse é um bom motivo para que me dê conta de
que, quando isso acabar, talvez não sobre nada dele.
A merda é que descobrimos que temos química, contrariando o que ele
esperava. Confesso que me agarrei nessa possibilidade também.
E não demora muito para que minhas mãos comecem a explorar seu corpo.
Como cortesia ganho o mesmo afago.
A coisa toda perde o controle rápido demais. Lucas agarra com força meu
quadril, me trazendo para mais perto. E quando imagino que não dá para
piorar, piora. Sempre piora.
Sinto sua ereção.
Esse é o segundo alerta, o ponto ideal para impor limites. Mas ele não para,
e eu não tenho convicção nenhuma de interromper.
Quando me dou conta, já estou rebolando em seu colo, buscando por mais
atrito. Lucas geme me fazendo sentir uma dor gostosa, alertando que fui
longe demais.
— Is, está bem gostoso. Muito, muito — geme comigo. — Quer mesmo
que eu pare agora?
— Não consigo — rebolo mais um pouco. — Eu...
Como merda pouca é bobagem, ele e Tina nos encaram na parte de fora do
carro. A negra de cabelos encaracolados volumosos, agora com pequenas
mechas iluminadas, sorri sem jeito e me perco um pouco em seu olhar. Eu
poderia afirmar que o plano deu certo a contar por suas expressões, mas
estou incomodado, não sei bem com o quê.
— Fica tranquila, esse era o plano e está dando certo. Logo, logo, não
precisaremos fingir mais.
— O plano era nos pegarmos e você ficar excitado? Não lembro de termos
combinado essa parte — declara sarcástica.
Lógico que assim que profere as palavras, nossos olhares são atraídos
imediatamente para minha ereção.
— Não... não, não, não... — choraminga, e alargo meu sorriso.
— Relaxa, Is. Isso acontece com qualquer um — tranquilizo, encarando a
mancha de sua excitação que ficou gravada em meu short. — Não foi nada
demais.
— Vou tirar o short e ninguém vai perceber — seguro seu rosto, tentando
acalmá-la. — Nos beijamos Is, é totalmente normal ficarmos excitados —
pelo menos acredito que sim.
Na verdade, não deveria ser assim. Mas o corpo humano é mecânico, não é?
É apenas estímulo.
Vinte minutos depois, descíamos a pequena trilha que dava acesso à praia
caminhando de mãos dadas. O papel de namorados apaixonados seria
prioridade.
— Até que enfim — Pedro protesta assim que nos sentamos ao seu lado na
areia branca. — Estava vendo a hora de ter que buscá-los para não serem
presos por atentado ao pudor.
Nenhum de nós dois diz qualquer coisa. Isabella apenas se mantém focada
em punir a areia com as mãos, segurando os grãos em seu punho com força.
— Bom pessoal... Que tal relembrarmos os velhos tempos e jogarmos
alguma coisa? — Tina salva. E Is compartilha um olhar de agradecimento.
— Vôlei? — sugiro.
— Por mim tudo bem. Vai jogar com a atual ou com a ex? — Pedro, sem
qualquer tipo de noção, questiona.
Tina e eu nos entreolhamos. Sempre fui seu par. Aproveitava momentos
assim para agarrá-la e curtir um pouco mais de sua companhia. Era nosso
lance de casal. Entretanto, dadas as circunstâncias, hoje não poderei
escolhê-la.
A parte boa é que Valentina é muito ruim jogando, muito mesmo, e sempre
perdíamos para Pedro e Is. Não que esteja reclamando. Se possível, eu
perderia mil vezes ao seu lado e, ainda assim, ficaria feliz. Mas estou
tentando ver o lado positivo da história. Colabora!
Não demorou até que formássemos as duplas, e durou um pouco menos
para que eu e Isabella estivéssemos ganhando de lavada. E a cada ponto
marcado comemorávamos com um high five no alto.
Foi divertido ganhar do Pedro para variar, o que pareceu bem dúbio.
— Estou morta e está mais calor hoje do que qualquer outro dia — a loira
fala assim que nos jogamos na areia, após vencermos a partida.
— Quer nadar um pouco? — convido.
— Eu te amo, Luc. Mas nem por um milagre me fará entrar nessa água fria
hoje. Nossa amizade, pode não parecer, mas tem limites. E esse é um deles.
— É um desafio? Porque você sabe muito bem que nada me faria mais feliz
do que um bom desafio — semicerro os olhos em sua direção. — Vou te dar
uns minutos de vantagem para fugir de mim.
— Sabe que não somos mais adolescentes, não é? Não pode fazer essas
coisas. Não gosto de água fria, Lucas — reclama.
— Temos que descobrir um meio termo, Is. Não gosto do que está rolando
entre nós. Eu propus fingirmos um relacionamento, e a minha amiga está se
afastando de mim.
— Ainda acho esquisito, mas vou te apoiar como sempre. Mas não dá para
manter isso por muito tempo, Lucas — murmura após um tempo.
— Não vamos. E se ficar esquisito, paramos. A última coisa que quero é te
magoar, Is. Você continua sendo a minha pessoa favorita.
— E você a minha.
— Eu pedi para que não mexesse na cor Valentina, somente isso. Parecia
bem simples para mim – esbravejo.
— Gata, você está com cara de femme fatale. Os dias de princesa ficaram
para trás — João enfatiza, engrossando o coro.
— Adorei o comprimento, João. Arrasou! — ela fala, ignorando
completamente; mais uma das muitas coisas que estranhei.
Valentina havia chegado na cidade há pouco tempo, mas parecia ter mais
intimidade com o cabeleireiro do que comigo. Poderia elogiar essa sua
habilidade mais uma vez, mas o choque que sentia ao ver minha imagem
não deixava.
Estava consideravelmente mais loira, bem mais. E meu cabelo havia sido
cortado na metade, mal chegavam aos ombros.
Antes da transformação, havíamos passado por massagens e banhos
relaxantes. Aprovei essa parte e, talvez, somente por esse motivo ainda não
tivesse voado em sua jugular.
— Ainda não acredito que jogou todas as minhas peças íntimas fora,
Valentina. Isso foi longe demais — disse sem ânimo, enquanto me encarava
no espelho do pequeno armário.
— Se reclamar, refaço seu guarda roupa todo. Você não é mais uma menina
de doze anos, Isabella. Suas roupas íntimas estavam pela hora da morte —
argumenta.
Quis contestar, mas iria dizer o quê? Não Tina, ainda não transamos. Ou,
que tal, não durmo com o Lucas.
Eu deveria matar o Lucas isso sim. Aliás, imaginar matando os dois me
deixava incrivelmente mais leve.
— Me deixa ver mais uma vez esse conjunto — abre meu roupão. — Mas
nem morta vou deixar que desperdice meu presente.
E em um movimento questionável, Valentina arranca meu roupão e se
tranca no quarto. Entendeu? NO MEU QUARTO.
— Vira para o outro lado, Pedro. Valentina abre essa porta AGORA!
— É um desfile da Avon? — o moreno questiona. — Lembrei do meu
tempo de moleque.
— Não ouse comparar meu presente com Avon — Tina se indigna do outro
lado da MINHA porta. E eu seminua no corredor. Esse dia não acaba.
— O que está acontecendo aqui? — Lucas por fim dá o ar da graça, abrindo
a porta de seu quarto.
E eu? Eu me jogo em cima dele, nos trancando dentro do seu quarto.
— Oi!
— O que está fazendo? — reclamo.
— Eu... Bem... — o filho da mãe não formula nenhuma resposta.
— LUCAS!
As horas passam e o sono não vem. Não vem porque eu gostaria de estar
me atracando com meu melhor amigo nesse exato momento.
— Luc?
É o que basta para presentear sua manhã com um sorriso amarelo e logo me
levantar para me aprontar para o trabalho. Isabella faz o mesmo, mas pela
minha vida, evito olhar para seu corpo. Em um tempo recorde, pego minha
roupa e parto em direção ao banheiro.
Eu deveria fazer uma lista de coisas que particularmente dariam errado no
meu plano. É isso.
1º – Sermos pegos na mentira por nosso amigo.
— Bom dia novamente, amor — disse assim que lhe entreguei a xícara de
café do jeitinho que gostava.
Isabella estava sentada na pequena mesa da cozinha de apenas quatro
lugares e bastante desgastada pelo tempo. Eu amo verdadeiramente esse
lugar, desde os móveis de cores desbotadas, de um azul claro que em algum
momento foi moda, às paredes de ladrilhos portugueses com arabescos
desgastados pelo tempo. Amo ainda mais a sensação de casa que tudo aqui
me remete. Claro que, dado aos eventos da noite anterior, essa sensação é
um pouco ofuscada.
Voltei para casa o mais tarde que consegui. Jantei no escritório e fiz questão
de comprar um kit de cama extra. Como dizia meu pai: “um homem com
experiência é um homem grande”. Eu não dividiria mais cobertores e
travesseiros com Isabella.
Levei tudo o mais rápido que pude para o quarto e, após um banho
relaxante, como imaginava, Is bate na minha porta pontualmente. Isabella
traja um baby-doll dessa vez. Estaria mais aliviado, se aquela porra ainda
assim não fosse sexy para um senhor caralho. Eu queria chorar.
Is me cumprimenta e vai direto se deitar na cama, ocupando seu lugar. Fiz
questão de comprar um travesseiro a mais para separar meu pau daquela
bunda linda que descobri ter.
Veja bem... Isabella era magrela, inocentemente eu pensava assim até
ontem. Sempre optou por roupas mais soltas e que não deixavam se fazer
perceber o que maquiavelicamente escondia por debaixo delas. Não que eu
nunca tenha visto Is de biquíni. A verdade é que não me dei ao trabalho de
observar com atenção o seu corpo.
Eis que ela me aparece vestida como uma daquelas modelos famosas de
lingerie, com seu cabelo platinado e uma maquiagem que faria qualquer
homem se ajoelhar aos seus pés e implorar para que deixasse... Bem, você
sabe.
Foi naquela fração de segundo que me dei conta que Isabella era magricela
porra nenhuma. E eu fui ludibriado por toda uma vida, como se tivesse
recebido aquele eterno "na volta a gente compra" de mãe, inquestionável.
Seus seios pulavam para fora daquela porra que chamava de sutiã. E o pior
nem era isso, era aquela calcinha minúscula e completamente transparente.
Is se virou e eu me fodi.
Adoro bundas, sabe? E a bunda da Isabella é especialmente bonita naquela
tanguinha toda cavadinha... FOCO LUCAS! Eu preciso de foco. Preciso de
foco e uma punheta.
Estamos em silêncio e no escuro.
Tá calor pra cacete aqui. Essa porra desse ar está com defeito?
"Valentina me enrolou para cortar meu cabelo, pintar, depilar cada pelo do
meu corpo". Cada pelo. Porra, isso me fode em um nível que não dá para
mensurar. Eu me abraçaria se fosse possível. Estou com pena de mim.
Mais uma noite de pau duro ao lado da Is. Que porra. É doloroso, sabe? As
bolas pesam.
"Não tenho uma porra de calcinha confortável, Lucas, nenhumazinha se
quer". Que merda! Ela deve estar usando uma tanguinha minúscula por
debaixo daquele short.
Preciso dormir... só um pouquinho. Pensar na... vai ajudar em nada, Lucas.
NADA! EU PRECISO D.O.R.M.I.R.
— Bom dia, amor. Por que não me acordou? — Is se serve de uma xícara
de café e enche a minha novamente.
Até aqui tudo ótimo, não é? Ela se inclina e me dá um beijo na boca bem
rapidinho. E meu pau acorda. DE NOVO!
Praticamente engulo meu café e saio para meu refúgio, ou seja, o trabalho.
Uma vez que meu lar não é mais um.
[...]
É a quarta noite que não durmo nada. Encaro meu reflexo de panda no
espelho, deixando transparecer todo meu mau-humor. Não aguento mais.
Sério! NÃO AGUENTO MAIS.
— Lucas? — Valentina aparece na porta do banheiro.
— Bom dia, Tina — queria tratá-la com mais carinho, mas o dia não
amanheceu especialmente bom.
— Está tudo bem? Parece cansado.
— Não tenho dormido muito — para falar o mínimo.
— Sei o quanto é inapropriado dizer isso agora, mas sinto falta às vezes —
revela.
Também, quase todos os dias. Penso, mas não falo.
— Mas sei que a Isa vai te fazer feliz, sempre soube que vocês nasceram
um para o outro. Só não queria admitir na época.
Ciúmes, Valentina?
Já posso comemorar?
Me mantenho em silêncio fazendo a barba, enquanto a encaro pelo reflexo
do espelho, com uma expressão boba de quem recebeu seu presente favorito
e ainda não sabe como agradecer.
— Na verdade, vim somente avisar que hoje terá um evento de Halloween
da empresa. Trarei fantasias para todos nós e não aceito recusas. Me
conhece o suficiente para saber que é pura perda de tempo contestar alguma
coisa comigo.
— Vou enfartar, sério. Como você está gata nessa roupa, pimentinha. Aceito
ser furado por seu tridente na hora que quiser — Pedro dá voz aos meus
pensamentos.
E eu? Eu fico aqui parado, tentando não parecer um idiota, enquanto
analiso discretamente cada parte das curvas que tanto sinto falta.
— Gostaram? — dá uma voltinha e quase morro. — Nossas fantasias
combinam. Vem logo Isabella. VAMOS NOS ATRASAR.
— Não acredito que me fez vestir isso — Is chega reclamando.
E aí meu amigo? Vou te contar o tamanho do meu problema.
Sabe quando você deseja muito um jogo de videogame? Você junta a
parca[1] grana da sua mesada por meses a fio, e finalmente garante a quantia
necessária para adquirir a fonte de todo o seu desejo. Você vai à loja –
muito jovem e inocente – empolgado e ansioso para comprar seu tão
almejado prêmio.
Aí vem a vida e te fode. Você chega na loja feliz, sabe? Realizado por
conseguir seu intento, e se depara com um novo lançamento. Naquele
momento sua inocência não permite enxergar o verdadeiro problema, a
frustração de não ser o suficiente. Você não sabe se o novo jogo será tão
bom quanto a versão que almejou e esperou por meses, mas é tentador
imaginar que sim. E essa é a Isabella, vestida de anjo.
Falando assim não consigo detalhar para você o tamanho do meu problema.
Mas vou te contar: é um sutiã brilhoso que fazem os peitos dela ficarem em
3D e uma sainha de pregas bem curta, curta mesmo, e nada mais... Quer
dizer, tem a cinta-liga que está completamente visível. Puta merda.
Esse nem seria o problema se eu não desejasse minha amiga noite após
noite. Graças a minha ideia idiota de fingir um relacionamento. É de fazer o
cu cair da bunda, com toda a certeza.
— Está linda, Isa. Fico feliz que a Valentina tenha, enfim, te convencido a
não se esconder em suas roupas largas. Hoje o Luc terá mais alguns cabelos
brancos — Pedro diz e sorrio. — Fica tranquila que se o idiota se meter em
confusão por sua causa, tem um amigo bem grande aqui disposto a ajudar a
te proteger.
Para provar seu ponto, força os músculos do abdômen e braços. Eu rio.
— Obrigada, grandão. Sabe que te amo, não sabe? E se tem alguém que
pode me proteger, se eu de fato precisasse de alguém, é você.
— Te amo mais, anjo. E nada me faz tão feliz do que assistir esse seu
sorriso. Quero realmente que seja feliz, Isa.
Sei que não é apenas uma encenação. Como um acordo implícito quando
estamos fingindo, nos chamamos de amor. Mas quando é real ou estamos
apenas nós dois, voltamos a ser novamente Lucas e Is.
— Eu te disse — Tina endossa sem som e pisca, provando seu ponto.
— Não sei bem se estou cem por cento confortável assim, mas vamos, que
Tina não pode se atrasar.
[...]
— Ei, ei, ei... Levanta esse rosto e tira essa carinha de assustada —
Valentina fala quando estamos prestes a entrar no evento.
— Não sei não, Tina. Aqui não deixa de ser meu ambiente de trabalho e
estamos vestidas, bem... nem posso dizer que isso é realmente um traje.
Na verdade, não é bem uma festa fechada. Está mais para um grande evento
entre diversas empresas de moda. Desses glamorosos que tem muitas
pessoas estranhas dando em cima dos outros. Chamam de “fazer contatos”.
Bem, o contato é seu e você tem o direito de chamá-lo como quiser, não é?
Valentina é do tipo de amiga que toma as dores dos outros. Não gostou de
como as meninas me tratavam. Não ligo, sabe? Minha vida pessoal deixo
fora das portas da empresa. Lá dentro dou o meu melhor e pouco me
importo com o que falam a meu respeito. Já Tina, não!
Respiro fundo como me orientou e entro ao seu lado, fazendo cara de
paisagem mas, por Deus, evitando olhar para o lado se possível.
É uma segurança fingida, mas ultimamente estou tão boa em atuar que até
acredito estar na profissão errada.
É estranho para caramba receber a atenção que estou recebendo. Estou
acostumada a passar despercebida todos os dias, mesmo nas horas em que
somos obrigados a socializar entre uma pausa e outra.
Das mulheres recebo olhares estranhos, muito provavelmente por estar
dançando ora com Pedro, ora com Lucas. Essa parte até entendo.
Entretanto, são os olhares masculinos que me deixam completamente sem
graça. Uns de surpresa e outros, outros que por Deus...
— Aquela não é a vaca da... qual é mesmo o nome dela? Ah! Patrícia —
Tina aponta para a mulher conversando com o Lucas.
Patrícia. O que falar dela? Bem... Patrícia certamente possui a síndrome de
personalidade histriônica. O tipo de pessoa que é suscetível a uma variação
rápida de humor, bastante dramática, teatral e influenciável. Seu objetivo
quase sempre é chamar a atenção. Nem vou comentar o fato de achar seu
caráter um pouco duvidoso, atrapalhando sempre que tem oportunidade
aqueles que julga ser sua concorrência. Nesse momento, eu!
Gosta particularmente de competir comigo, almeja a vaga de gerência que
estamos concorrendo. E agora, nesse exato momento, sou sua pedra no
sapato, uma vez que provocou a demissão da Tatiana. Por isso, acredita ser
de bom tom estar nesse momento dando em cima, com inúmeras
insinuações, do meu namorado de mentira. É apenas uma provocação de
uma pessoa imatura.
Bem que gostaria de ignorar, mas sou amiga daquele idiota que está todo
sorrisinhos para ela nesse momento. E Patrícia é a própria profecia se
cumprindo. Certeza que se raspassem a sua cabeça encontrariam três
números seis bem aparentes.
Tomo três shots de uma única vez e vou lá salvar aquele imbecil.
— Oi amor, acho que chegou a hora de me tirar para dançar — Lucas me
encara como se tivesse nascido chifres em mim.
— Patrícia, me dê licença. Minha namorada está avisando que chegou
minha vez — sorri, se desculpando e já me abraçando pela cintura.
Toda minha vida é bem estruturada e meus passos são calculados com
esmero para que tenha uma carreira ilibada. Não sou dada a excessos.
Acredito que a única loucura que me meti recentemente foi esse
relacionamento de mentira que praticamente fui obrigada a ter.
Lucas está dançando bem próximo, tento ignorar os gominhos do seu
abdômen que estão molhados de suor, pedindo por gentileza que eu os
prove com a língua.
Tem sido noites difíceis apesar de não termos nos beijado. O desejo está lá,
bem na superfície.
A droga da pista está enchendo bem rápido, obrigando a colar nossos
corpos que, até então, estavam em uma distância segura, respeitando nosso
acordo tácito[3].
Me viro de costas em uma tentativa de fazer com que nossas bocas não se
colem. Por Deus, não podemos nos beijar.
Me recordo que quando tinha mais ou menos dez anos, meu pai, já doente
naquela época, adiantou o Natal.
Estávamos em agosto, acordei mais cedo sabendo que minhas horas junto
ao meu velho eram contadas, e tive a surpresa em ter a manhã preenchida
por presentes especiais. E foi uma sensação indescritível receber, sem
quaisquer expectativas, as caixas coloridas contendo coisas que sequer pedi,
mas que seriam eternamente importantes. Meu pai me ensinou naquele dia a
dar sem esperar nada em troca. Minha mãe e eu tivemos nossos presentes, e
meu pai, nossa gratidão. Ainda assim, sorria feliz.
Estava sonhando com esse dia, um dos poucos verdadeiramente felizes da
minha infância, quando senti um arrepio gostoso de tesão. Abri os olhos e
vi Is me dar mais um presente fora de hora. Quis abrir a boca para perguntar
o que estava fazendo, mesmo que fosse óbvio, mas gemi, sentindo um
arrepio varar minha espinha e se concentrar na cabeça do meu pau.
Meu Deus, essa mulher era boa em tudo. Não sei mesmo o porquê de não
termos feito isso antes. Contudo, posso prometer que as manhãs depois
dessa não teriam mais arrependimentos passados.
— Isso... — tentei dizer, mas senti sua língua rodear a cabeça do meu pau
antes de voltar a me engolir quase por inteiro. — Isso está uma delícia, Is,
mas traz sua boceta gostosa que também quero sentir seu gosto.
Ela sorriu com parte do meu pau na boca e se levantou, retirando sua
calcinha em tempo record, e logo se acomodou novamente, agora entre meu
rosto. Sem qualquer pudor ou melindres. Éramos nós, novamente. Iria fazer
uma piada e elogiar sua boceta, que para meu total deleite estava pingando,
mas Isabella abocanhou novamente meu membro e esqueci o propósito.
Não há nada mais gostoso do que saber que uma mulher está com tesão
apenas por te ter na boca. Provei Isabella com vontade. Abocanhei toda sua
boceta antes de me concentrar em sugar seu grelinho duro e convidativo.
Senti nos meus dedos a necessidade da sua boceta, que implorava por
toques. E meu pai já havia me ensinado a ser generoso. Por isso, mergulhei
dois dedos, a comendo enquanto sugava de leve seu clitóris.
Me concentrava em seus gemidos abafados por meu pau, enquanto os meus
próprios eram murmurados nela. Nossos orgasmos foram sincronizados, o
que me fez agradecer. Por Deus, não estava em condições de continuar.
Sorri, porque era esquisito para porra o prazer que Isabella me dava,
diferente de tudo.
Uma hora depois, após um banho gostoso e mais uma rodada de sexo,
entravámos na cozinha para nossa rotina de todas as manhãs. Tudo era
igual, absolutamente normal, e meu sorriso contava o quanto estava feliz
para caralho.
— Achei que perderiam a hora hoje — Valentina falou, colocando um
pedaço de pão na boca e sorrindo de lado.
— Não dormi porra nenhuma hoje escutando vocês dois — Pedro
reclamou, bebendo seu café. — Espero que tenha valido a pena.
— Cada minuto, grandão — para nossa surpresa, Isabella foi quem tomou à
frente, piscando para nosso amigo.
— Foi mal, brother. Seremos mais discretos — prometi, enquanto bebia
meu café.
Apesar de trabalharmos juntos, assuntos pessoais ficavam da porta para fora
do galpão. Havia muito a ser feito, o projeto estava rodando e em poucos
dias nossas vidas mudariam por completo. E isso ocupou tudo, ou quase.
Meus pensamentos, de vez em quando, eram levados para a loira que me
fazia contar as horas para vê-la.
Nunca fui tão feliz, nunca desejei que as horas passassem tão rápido. Meu
coração falhava às vezes, parava e voltava a bater em um compasso que
temia ser ouvido por uma pessoa que estivesse próxima a mim.
Foi difícil me concentrar na rotina de trabalho. Minha mente me levava para
a noite anterior e para a manhã de hoje a todo momento do dia. A tal ponto
que quando o relógio marcou o horário da saída não acreditei. Fiquei aérea
até me dar conta que de fato o dia havia encerrado.
Valentina e eu entramos no bar sem termos conversado sobre nada pessoal.
Minha amiga era extraordinária, ela estava feliz, era perceptível. Entretanto,
sei que não me indagaria com suas curiosidades, deixaria que eu contasse
em meu próprio tempo. E seria eternamente grata por isso.
O bar estava animado, cheio de jovens e tocava músicas alegres. Gostava
particularmente do ambiente rústico, todo em cimento queimado e madeira.
As bebidas aqui também eram bem gostosas.
Avistamos nossos amigos sentados nas banquetas em frente ao balcão e
seguimos em direção a eles. Assim que os alcançamos abracei Pedro, sendo
esmagada em seus braços. Eu ri alto e beijei sua bochecha, dando espaço
para que cumprimentasse Tina depois.
Lucas se levantou e me beijou com o mesmo desespero com que retribui. A
sensação era que, assim como eu, também tivesse contado as horas até aqui.
Quando terminamos, sorrimos um para o outro, cúmplices, nos encarando
daquela forma profunda que passamos a fazer.
Estávamos bem e eu o amava demais.
Conversamos, rimos e dançamos. Uma noite leve regada a bebidas e
sorrisos.
— Roda, meu amor — pediu, me girando em seus braços.
Ouvir o apelido agora talvez fosse perigoso.
A pista de dança não estava cheia. Contudo, Luc fez questão de me puxar
para dançar, e estava tão eufórica que ficar sentada não era uma opção. Ao
voltar para seus braços, segurei seu rosto, gravando cada pedacinho dele de
perto mais uma vez, antes de buscar sua boca.
A vida era maravilhosa e não precisava de mais nada para completá-la.
Plenitude, era isso que estava sentindo.
Voltar para casa foi difícil. Encarar Pedro foi difícil. Saber que seria pai e
me casaria com uma pessoa que não amava e mal conhecia seria difícil.
Magoar minha pessoa favorita foi impossível.
Eu entendia que ela queria se afastar, mas vê-la partir com tanta dor me
destruiu. E saber que não teria ninguém para lhe consolar foi foda.
Uma semana sem notícias. Valentina não sabia nada sobre ela e Pedro
estava desesperado, na mesma situação.
Seu telefone tocava até cair, nenhuma mensagem visualizada ou resposta de
seu paradeiro. Nada de nada.
Minha culpa, e não havia nada que pudesse fazer.
Paula anunciou a gravidez e pensei que fosse enlouquecer naquele
momento. Nem ela mesma acreditou que fôssemos nos casar. Ainda parece
surreal.
Entretanto, não mudava o fato de termos comprado uma casa grande e
luxuosa demais, ou de estar vestindo agora um terno caro e sob medida. E,
nesse momento, estar me preparando para a cerimônia simples em nosso
quintal. Nosso. Surreal.
Queria que a Is viesse para cá, nem precisava me ver por agora. Ainda
assim seria nossa sócia e ganharia o suficiente para não depender de
nenhum filho de uma puta como eu. Poderia morar com Pedro no
apartamento que compramos e não ficaria sozinha, sofrendo em algum
lugar que nem sabíamos onde.
Um dia ainda seria feliz. Encontraria um cara legal, que lhe daria a família
que merece. Is merece ser feliz. E eu? Apenas assistiria de longe,
conformado.
Eu sentia minha vida desgovernada como um trem descarrilhado,
destruindo tudo. Um medo filho da puta de ser pai e falhar, morrer e deixar
um inocente sofrer por mim. Ainda assim, isso tudo não diminuía a
amargura que sentia no peito por estar abrindo mão de coisas demais.
Minha culpa, única e exclusivamente; arcaria com todas as consequências.
Antes da Is, nunca me imaginei casando. Mas se fosse fazer isso, seria com
ela.
Agora estaríamos dançando nossa dança, a beijaria com calma e lhe falaria,
olhando naqueles olhos verde mar, o quanto a amava.
Nossos amigos e minha mãe estariam aqui, bebendo e comemorando nosso
dia.
Entretanto, nada disso acontecia. Minha esposa estava entre os seus amigos,
sorrindo contida, enquanto minha Is gargalharia entre os nossos. Seria o dia
mais feliz de nossas vidas.
O cara que considero como um irmão não estaria agora enchendo a cara, e
nem teria me dito que isso tudo era uma grande besteira. Que dá para criar
um filho sem estar casado e ser um bom pai ainda assim. Não teria me dito
que eu estava cometendo o maior erro da minha vida.
Pedro estaria feliz, dançando com nossa amiga e prometendo quebrar a
minha cara se eu a magoasse. Estava até um pouco decepcionado por não
ter feito exatamente isso.
Valentina faria um brinde a nós, jogando na minha cara o quanto era uma ex
maravilhosa e que foi a responsável por nos unir. Esfregaria o fato de que é
muito mais esperta do que eu jamais seria, e eu concordaria em gênero,
número e grau. E seria eternamente grato por isso.
Contudo, ainda assim, dadas as circunstâncias, por um momento desejei
jamais ter tido esse plano. Minha garota estava sozinha em algum lugar e
seria por minha culpa. Talvez eu ainda fizesse merda engravidando uma
mulher qualquer, mas Isabella estaria por perto segurando minha mão.
Não! Não mudaria o fato de ter beijado sua boca ou tomado seu corpo.
Jamais seria um arrependimento, mesmo que ocorresse uma única vez. Sou
egoísta demais para abrir mão disso. Porque nos dias que se seguirão, serão
essas lembranças que me manterão são.
[...]
Uma semana viraram duas e duas chegaram a três. Estava casado, e já havia
participado de alguns exames de imagem de meu filho. Sim, era um
menino.
Sentia falta do Pedro. Minha nova companheira de quarto era bem diferente
do meu amigo brincalhão, bem mais controladora e maçante.
Nos dávamos bem, nos respeitávamos, mas ainda não conseguia nos ver
como marido e mulher. Entretanto, estaria ao seu lado, tentaria e criaríamos
juntos aquela criança. Tudo estava sendo preparado para a chegada de
Tomás.
Encarava o grande jardim quando o telefone de casa tocou. Sei que não era
ninguém importante, poucas pessoas sabiam de sua existência.
— Quem era? — perguntei para minha esposa alguns minutos depois, assim
que me trouxe um copo de suco, se juntando a mim na grande varanda.
Um domingo agradável se seguia, sua família e Pedro haviam vindo
almoçar conosco. Conheceram o quarto do bebê e pudemos revelar o sexo e
seu nome.
— Engano — me abraçou, se recostando em meu ombro.
Busquei o aroma de uva, não encontrei. Suspirei e mantive meus olhos no
horizonte, assistindo ao pôr do sol, pensando nela.
Aonde você está, Is?
Encarava aquele pedaço de papel sem acreditar. E agora parecia uma puta
ironia tudo isso.
Lucas me contou que seria pai e fugi.
Uma vez, quando criança, passei em frente a uma agência de viagens. Não
tínhamos dinheiro para viajar na época, a grana era contada para comida e
nada mais, mas ainda assim minha mãe se sentou comigo no banco da praça
e observamos uma foto de uma cidade bonita do interior. Nunca tivemos a
oportunidade de visitar o lugar.
Blumenau era linda, como havia visto no panfleto. Já não era tão pequena,
mas ainda contava com vizinhos que se conheciam e pessoas simpáticas,
contradizendo os boatos que por aqui eram todos mais frios.
A cidade, com raízes alemãs, era encantadora. O centro tinha aquelas
construções que seguiam a arquitetura do lugar que deu origem ao seu
nome, e praças lindas com muitos patinhos no lago. Parecia um bom lugar
para recomeçar.
Vim conhecer, matar a curiosidade e acabei ficando. Afinal, por que não?
Precisava me afastar, por enquanto, de tudo e de todos, até que o aperto no
meu peito fosse tolerável. Ainda não era, e temia que nunca fosse um dia.
Aluguei um espaço quase na fronteira da cidade, longe de todo o centro
comercial. Queria paz. A casa não era muito grande. A construção de sua
fachada foi inspirada na arquitetura enxaimel alemã, com telhados em
formatos engraçados e vigas aparentes de madeira branca em forma de xis.
E foi exatamente o que me encantou logo de cara.
Por dentro tudo era em madeira mais escura. Um sobrado que se parecia
muito com uma casa de bonecas. Tinha uma varanda e um pequeno espaço
no quintal com algumas plantas e uma parreira de uvas. Um sonho. Me
senti confortável assim que conheci seu interior, uma sensação de lar. Era
simples, mas trazia a paz que tanto busquei nesses últimos dias.
A ideia inicial era ficar ali por algum tempo. Contudo, na primeira noite
sonhei com minha mãe. Ela preparava uma cuca naquela cozinha, e o cheiro
de baunilha e canela empesteou todo o lugar. Minha mãe sorria e me
contava que havia amado o lugar.
Então, utilizei seu dinheiro para comprar o imóvel e comecei a mobiliá-lo
como gostaria. E tudo agora já estava do meu jeitinho: móveis em madeira
rústica com estampas românticas florais, tapetes felpudos, cortinas simples
que deixavam a luz transpassar, muitas plantas e fotografias minhas e de
minha mãe. Meu lar.
Contudo, foram muitos dias difíceis até aqui e três semanas não foram
suficientes para ajustar meu sistema imunológico, que continuava ruim.
Não conseguia comer nada, a comida simplesmente não parava no
estômago. Estava fraca e abatida. Já não aguentava mais os efeitos daquela
tristeza que era sentida a cada minuto do dia.
Fui ao hospital mais próximo para uma consulta, em busca de um remédio
que ajudasse a melhorar os sintomas. Alguns exames depois e eu segurava o
resultado entre as mãos. Não acreditando que a vida poderia me pregar mais
essa peça.
Como a informação escrita em negrito me faria me distanciar e esquecer o
Lucas? Isso nos uniria pela vida toda.
Lucas não queria ser pai. Poderia sorrir com sua falta de sorte, mas o
assunto era bem sério.
Pois bem, que tal mais um? É isso, eu estava grávida e chegando ao quinto
mês.
Encarei minha barriga plana e era inacreditável saber que havia uma vida
ali, em uma gravidez já avançada.
Entretanto, o coraçãozinho do meu filho batia tão rápido e forte que seria
impossível duvidar.
— Garoto, é você que está deixando a mamãe doente assim e já está me
dando trabalho como seu pai? — perguntei, alisando onde deveria estar.
Um menino perfeitinho pelas imagens.
E eu teria que contar ao Lucas.
Suspirei forte enquanto aguardava meu amigo atender.
— Alô? — disse com sua voz rouca de sono. E sorri, porque sentia muito
sua falta.
— Oi, grandão! — ouvi um barulho de algo caindo e ampliei o sorriso. —
Como você está?
— Cacete! Puta merda, Isabella. Quer me matar do coração? — bufou. —
Onde você está?
— Estou em uma cidade no sul do país. Estou bem, ou quase.
— Isabella, me fala onde você está. Quero te ver — disse com uma
seriedade que não combinava com sua personalidade, e que poucas vezes
presenciei em todos esses anos.
— Ainda não estou pronta, Pedro. Preciso de espaço dessa loucura toda —
suspirei. — Mas fique tranquilo, estou viva. Salva meu número, mas não
passe para ninguém sem minha autorização.
— Você tem ideia do quanto estávamos preocupados? Por que não procurou
a Tina?
— Não consigo por agora, mas sei que isso tudo vai passar. Talvez nunca
volte a ser como antes. Mas espero que realmente fique mais fácil —
expliquei, sentindo a voz embargar.
— Lamento tanto, Isa — pelo timbre, podia jurar que estava chorando do
outro lado. Pedro era grande, mas passional como nenhum outro que
conheci.
— Vai dar tudo certo, Pedro. Agora seja um bom amigo para o Lucas e o
ajude nessa fase. Ele não pode entrar em depressão novamente.
— Eu sei. E quanto a você?
— Vou ficar bem — prometi, alisando mais uma vez minha barriga. Agora,
mais do que nunca, precisaria ser forte. — Passe o telefone para o Lucas,
preciso conversar com ele.
— Cacete! — reclamou. — Ele não está mais morando aqui, Isa —
explicou com pesar. — Mas você pode ligar para o celular dele.
Ouvir isso causou uma dor diferente.
— Não quero que tenha meu número novo por agora.
— Vou te passar o telefone da casa dele, então. Está sem bina. Ligue
tranquilamente. E por favor — suspirou —, não some, Isa.
— Não vou — prometi, antes que me passasse o novo número.
E como poderia não cumprir com essa promessa agora?
— Resolve o que tem que resolver, mais tarde ligo para saber como está —
concordei com um hum-rum. — E… Isa?
— Fala, grandão.
— Eu te amo demais, não esqueça disso.
— Eu também amo você, Pedro. Muito.
Encerrei a ligação antes que perdesse a coragem do que tinha que fazer.
Acho que foi um progresso a viagem até Santa Catarina. Quer dizer, Lucas
e eu conversamos durante o percurso. Nada profundo, somente sobre nosso
dia a dia em uma rotina normal. Na verdade, a conversa era mais para
entendermos o que faríamos no final dessa semana e como serão nossas
vidas daqui em diante.
O que contamos um para o outro certamente nos deu material para
pensarmos a respeito.
Tentei manter o foco em assuntos seguros. Porém, histórias demais nos
fazem esquecer de onde estamos agora. Daí, ele fala algo engraçado e me
pego rindo.
Às vezes lembramos de algumas histórias e, bem...
Acho que não dá para chamar alguém de ex amigo. Você pode ter um ex
amor, mas um ex amigo, jamais. Você percebe que não importa o tempo que
ficaram separados ou tanto faz que tenham mudado e agora sejam pessoas
diferentes. Em algum momento da conversa você percebe exatamente o que
te faz gostar daquela pessoa. Aquele laço que te liga ao outro. E foi aí que
percebi que jamais poderia odiá-lo. Antes de qualquer coisa, Lucas e eu
fomos amigos e eu sempre torceria por ele. Sempre.
Ainda assim, me pegava observando-o enquanto estava distraído e me
xingava mentalmente por ainda me sentir fraca.
Tudo havia ocorrido bem na cidade. Resolvemos o que tínhamos para
resolver. Entretanto, assuntos burocráticos sempre ocupavam tempo demais.
Levou o dia todo para resolver tudo que era necessário, mas na pasta azul
sobre o banco de trás estava a certidão do meu filho atualizada, assim como
a liberação para viagens e passaportes. Foi impressionante saber que o
dinheiro era capaz de agilizar qualquer coisa. Não estava acostumada com
essa vida, Lucas sim. Ele parecia outra pessoa quando se fazia valer de seu
status.
Paramos para jantar em uma pequena lanchonete. Pedimos hambúrgueres
enormes e rimos um do outro sobre a forma com que devorávamos nossos
sanduíches.
Um dia foi o suficiente para nos aproximar. De alguma forma me senti bem,
porque finalmente poderíamos seguir em frente.
Em um papo bem mais leve combinamos de, inicialmente, Lucas vir
semana sim e semana não ao Brasil. E, durante as férias, iríamos ao seu
encontro, visitá-lo em Portugal. A decisão tinha validade até o final do ano,
quando sentaríamos novamente para definir como seriam as coisas dali em
diante. Tudo parecia, de certa forma, estar voltando ao seu curso.
A parte difícil vinha sempre quando voltávamos para o carro e tínhamos
que ocupar um espaço bem limitado. Depois que a velha intimidade parecia
querer retornar à superfície, ficava cada vez mais difícil ignorar seu cheiro
ou a forma com que seus braços tencionavam quando virava o volante. E
sabia que estava ferrada quando reparei que sua camisa social verde se
agarrava aos seus braços de maneira criminosa.
Vamos combinar que Lucas está bem mais gostoso, como diz Pedro, agora
em seus trinta anos. Feições mais sóbrias e uma barba que me fazia querer
descobrir sua textura. Entre minhas pernas, claro.
Daí, percebi que tinha que arranjar algum tempo para sair com alguém. Não
Antônio, mas alguém, urgentemente.
— A chuva apertou, não é melhor darmos uma parada? — perguntei,
ouvindo os pingos baterem alto no teto do carro.
— Vamos ligar o rádio e ouvir se falam alguma coisa, mas ficar aqui na
estrada é perigoso.
E era mesmo. Já estávamos em um trecho bem avançado, mal iluminado, e
em breve a pista começaria a ser de barro por conta das obras na rodovia.
Não demorou muito para que ouvíssemos que bem perto dali havia ocorrido
um deslizamento de terra.
— Acho melhor tentarmos achar um lugar para passar a noite. No GPS tá
mostrando que à frente tem um motel. Cerca de oitocentos metros. É
melhor do que voltarmos e corrermos mais riscos.
— Tudo bem. Vou ligar para dona Izabel e pedir para que durma com
Gabriel hoje.
Me ocupei em fazer a ligação, encerrando no exato momento em que
estacionávamos no lugar. E parecia que muitas pessoas tiveram o mesmo
plano, porque o estacionamento estava lotado.
Seguimos para a recepção e, assim que passamos pelas portas de vidro,
notei que o lugar parecia um motel bem caro. Se não me contassem,
acreditaria se tratar de um hotel.
O chão e os balcões eram de um tipo de pedra que nunca havia visto, e nem
tentaria descobrir o nome. Era toda rajada, com detalhes em branco, cinza e
dourado.
Me sentei em uma das poltronas de couro vermelho, enquanto Lucas se
encarregava de pedir os quartos.
Quando acreditei que havia demorado demais, fui conferir o que estava
acontecendo.
— Senhor, como já disse, não temos quartos. O último disponível é este que
lhe falei — o homem careca, de aproximadamente quarenta e poucos anos,
parecia cansado. Certamente precisando de um banho quente e uma cama.
Éramos dois.
— O que está acontecendo? — perguntei assim que cheguei.
Lucas tamborilava[13] os dedos no balcão, e fazia uma cara de quem tinha
pouca paciência para ter que lidar com o pobre recepcionista.
— Só tem um quarto simples, o último — encarei seu rosto —, com apenas
uma cama e um pequeno sofá que não caberia nem nossas bolsas.
Eles começaram a discutir novamente sobre valores ou uma forma de
remanejar alguém, e eu só queria um banho.
— Vamos ficar com esse, senhor — dei meu cartão para que pagasse a
estadia.
Cinco minutos depois, subíamos para o quarto. Não havia o que fazer, de
qualquer modo.
Entrei na suíte e era bem pequena mesmo. Um carpete caramelo, típico de
lugares assim, e paredes brancas ornadas com dois quadros com pinturas
eróticas feitas de sombras. Até aí, tudo bem, afinal era um motel.
Observei o pequeno sofá na antessala, e nem se ficássemos sentados
conseguiríamos utilizá-lo para dormir. Nem eu e muito menos Lucas
éramos considerados pessoas baixas.
Deixei minha bolsa no sofá e me encaminhei para dentro do quarto.
Uma cama com lençóis brancos simples, uma tevê presa à parede, duas
mesas de cabeceiras em madeira clara e mais nada.
Não quis encará-lo.
— Vou tomar um banho — avisei, me dirigindo para a única porta
sobressalente do lugar.
Seria uma noite bem longa.
Isabella deixou seu sobretudo em cima da cama e entrou no banheiro.
Ela havia mudado radicalmente seu estilo de se vestir. Agora, era bem mais
comum vê-la usando vestidos. O escolhido da vez era um verde musgo, no
mesmo estilo dos demais; alças com um decote modesto, que começava
justo em cima e se abria em seu quadril. Não gostaria, mas notei que seus
seios haviam ficado maiores após a gravidez. Já seu quadril, notei uma vez
ou outra, quando o vento fez com que o tecido se agarrasse em sua pele.
Uma porta me separava agora da loira completamente nua em um quarto de
motel, com M, e pensar no corpo dela não ajudava em nada.
Me ocupei em trabalhar um pouco pelo celular até que chegasse minha vez
de tomar banho.
A mulher saiu do banheiro com parte dos cabelos presos e a outra solta, sem
quaisquer indícios de maquiagem. E por incrível que pareça, aparentava ser
ainda mais nova do que verdadeiramente era.
Já tentou vestir uma camisa social no banheiro após um banho quente? É
horrível! Aquela porra se agarra na pele, te desafiando a caber na peça, e sei
que dormir de calça jeans será um incômodo, tenho certeza.
Me juntei a ela na cama, porque a outra opção era a mesa de cabeceira, mas
mantive o maior espaço possível entre nossos corpos.
— Se incomoda se eu ligar a tevê por um momento? — questionei.
— Não.
E regredimos para nãos e sins.
Não é interessante que uma pequena ação possa desencadear uma grande
catástrofe? É como aquelas bolinhas que, quando jogadas do topo de uma
montanha, causam um grande estrago ao chegarem lá embaixo.
Veja bem, tenho um currículo invejável, e mais diplomas nas paredes que
boa parte dos seres humanos. Ainda assim, nada disso fez qualquer
diferença quando, sem pensar no básico, apertei aquele botão.
E logo tive ao meu lado uma Isabella de olhos arregalados, enquanto eu
inclinava a cabeça para tentar entender a posição dos corpos exibidos na
tela.
Sei que eram profissionais, não creio que daquele ângulo uma pessoa
comum possa replicar a cena. A mulher gemeu bem alto, e agora dava até
saudade do gemidão do aplicativo em uma sala de reunião cheia de gente
importante.
— É melhor... — apontei o controle em direção ao aparelho, indicando que
desligaria a televisão, e a vi me encarar desorientada. — Bar? — convidei.
Após o episódio que certamente ficaria gravado na minha cabeça, e tendo
em vista que ainda era muito cedo para dormir, o melhor a ser feito seria
ficar na companhia de outras pessoas em um território neutro.
Nos levantamos ao mesmo tempo, saindo em lados opostos da cama, e nos
encaminhamos para o corredor do prédio o mais rápido que conseguimos.
Não demorou muito até localizarmos o andar onde era possível beber
alguma coisa e permanecer em um local público.
Claro que o espaço seguro em questão era uma espécie de pequena boate.
Não estava no clima para isso, mas umas bebidas e pessoas estranhas
seriam melhor do que ficar em um quarto sozinho com a Isabella após uma
cena de sexo explícito.
A boate estava consideravelmente vazia. Talvez devido ao horário ou
simplesmente pelo fato do lugar ser um motel e as pessoas estarem
ocupadas com outras atividades.
Pedimos nossas bebidas, ocupando as banquetas em couro vermelho brega
que ficavam em frente ao balcão. Optamos por escolhas seguras. Nada
forte, para que não ficássemos bêbados no motel e... bem, você sabe.
Não conversávamos muito, o som não permitia de qualquer forma.
Entretanto, não demorou muito para que um casal se aproximasse e puxasse
assunto. O que, se me perguntassem, acharia uma estupidez, já que não
dava para ouvir porra nenhuma do que falavam.
Eu estava naquele modus operandi de apenas assentir sem entender
qualquer palavra dita.
— O que acham de irmos para um lugar mais calmo? — a morena
convidou, e Isabella me encarou para ver se eu concordava.
Assenti e logo entramos em um espaço privado, com um sofá e uma mesa
em pedra, ambos na cor negra. O lugar parecia ter também um isolamento
acústico, pois o som agora quase não incomodava mais.
O casal parecia ter mais ou menos nossa idade. Ambos eram morenos de
pele branca. A mulher usava um vestido provocante, mas estávamos em
uma boate dentro do motel. Então, considerei normal.
Ela e Isabella passaram a se ocupar em manter a conversa entre elas, o que
me deixou como opção interagir com o completo estranho. Estava pronto
para perguntar sobre futebol, assunto de zona neutra entre homens.
— Elas são bem bonitas juntas, não é? — o homem falou.
Juro por Deus, estava prestes a dizer o quão inapropriado seu comentário
havia sido. Afinal, como poderia saber que nós não estávamos juntos? Quer
dizer, estávamos em um motel, não é?
Contudo, ao final da frase, minha curiosidade foi aguçada e logo minha
atenção estava nas duas mulheres. Elas pareciam entrosadas, e a morena
tocava em Isabella enquanto conversava. Não dava para ouvir exatamente o
que falavam, pois todo o diálogo ocorria em um tom um pouco mais alto do
que sussurros. Sua mão passeou pelas coxas de Isabella, revelando um
pouco mais de pele, e me concentrei ali.
— Amei seu vestido, os botões são de verdade? — era uma pergunta
simples, absolutamente comum, mas algo na forma em que foi feita pareceu
se referir a outra coisa.
Eu e o homem ao meu lado permanecíamos calados, observando a interação
das duas.
— São sim — a outra respondeu, alheia à malícia da morena.
Contudo, era um cara experiente e algo na cena começou a me incomodar.
E esse algo foi a estranha abrir dois botões da parte de cima do vestido da
Is, revelando boa parte de seu decote.
Isabella sorriu sem graça e encarei o homem ao meu lado, que faltava babar.
— Como quer fazer primeiro? — o cara sussurrou para mim, e encarei seu
rosto.
— Isabella, acho que está na hora de irmos, não é?
Ela me olhou confusa. Entretanto, me conhecia bem o suficiente para não
questionar a urgência na minha voz.
— Sim, sim. Obrigada pela conversa.
Se despediu e logo se levantou. Saímos por uma das portas e não demos
maiores explicações. Mas a essa altura, foda-se, né?
O que não podia imaginar é que a porta dos desesperados escolhida por nós,
na pressa, dava acesso a algo bem pior do que a experiência anterior.
Parecia que estávamos jogando videogame, e a nova fase me fodeu de um
jeito...
Acessamos um corredor escuro, onde apenas uma luz negra iluminava
parcamente o caminho.
Ainda estava refletindo sobre o que exatamente havia acontecido, quando
um gemido me fez estacar no lugar, fazendo com que o corpo do homem
atrás de mim se chocasse ao meu, quase nos levando ao chão.
Outro gemido foi ouvido e me virei para encarar seu rosto, buscando
qualquer orientação sobre o que fazer. Já não sabia se era seguro continuar.
Talvez o melhor a ser feito, naquele momento, fosse voltar por onde
viemos.
— Acho que estamos em um labirinto de swing — pronunciou baixo em
meu ouvido, e me arrepiei por inteira.
A palavra swing e sua voz rouca, assim juntinhos, formavam uma péssima
combinação.
Outras pessoas estavam atrás de nós, nos incentivando a continuar pelo
caminho, e eu não sabia o que fazer.
— É melhor seguir, aqui é zona neutra para investidas— Lucas disse, e quis
lhe pedir, por favor, que parasse de sussurrar assim.
Assenti e, um pé após o outro, segui pelo corredor.
O caminho dava acesso a pequenas salas na penumbra, onde era possível
ver algumas cenas, e eu jamais estaria preparada de alguma maneira para
elas.
Para meu total desespero, todas de sexo explícito. O pior é que era real. Não
havia aqueles gemidos falsos que ouvimos em filmes pornô. Não... não,
pareciam bem sinceros. Eram daqueles que te fazem pingar entre as pernas
só de ouvir.
Pela minha vida, tentava não focar nas imagens, mas aparentemente minhas
implicações morais não tinham o mesmo problema. E se pararmos para
refletir a respeito, devo ter observado uma cena ou duas com mais
consideração do que pretendia.
Demorou um pouco até que eu resolvesse manter a cabeça baixa e seguir o
percurso, mas os sons... Esses eram impossíveis de ignorar.
Agarrei a coxa do Lucas como se fosse um bote salva-vidas. Acho que
deveria estar machucando-o, mas como não reclamou, apenas continuei. Me
concentrei no ato para de alguma forma saber que, o que quer que estivesse
acontecendo ao nosso redor, era real.
Fiz o percurso o mais rápido que consegui e achei seguro focar no objetivo.
No caso, as portas duplas no final do corredor, com a certeza de que nos
levariam ao fim do martírio.
As portas, como secretamente implorava, não davam acesso à saída. Ao
invés disso, davam acesso a uma sala enorme, com alguns sofás e uma
cama imensa no centro.
Não seria nada demais, se não houvesse cerca de vinte casais ali dentro.
Sim, estava contando. Ainda assim, se estivessem conversando, tudo bem.
Não era o caso.
A primeira coisa que senti foi o cheiro de sexo no ar. Forte. A segunda era
que estava bem quente ali. Mais ou menos uma sensação de estar entrando
em uma sauna. Era quase possível sentir a neblina quente na pele.
Havia uma música sensual tocando em uma batida baixa que não se
sobrepunha, de jeito algum, aos sons no cômodo.
Eram vinte casais fazendo sexo entre si e entre todos. Um prisma pornô
difícil de ser ignorado.
Lucas xingou baixinho, como se de alguma forma pudesse atrapalhar a
concentração dos demais, ou apenas não queria trazer mais devassidão ao
mundo, vai saber. Mas dadas as circunstâncias, não faria diferença alguma;
os corpos estavam concentrados demais uns nos outros para sequer notarem
nossa presença.
Outras pessoas continuavam entrando na sala, e parecia ficar cada vez mais
apertado. Contudo, esse fato aparentemente era um incômodo somente para
mim. Não parecia de modo algum que os outros presentes se afetariam com
mais atritos.
Entretanto, minhas opções se encontravam bem limitadas. Ou ficaríamos
pressionados um ao outro, ou logo estaríamos dentro da orgia.
Eu havia lido um bocado de livros sobre o tema mas, diante dos fatos,
suspeito que meu conhecimento sobre o assunto tenha sido subestimado.
Senti sua ereção por trás, e quem seria eu para julgar? Aliás, se ele estava
excitado, também poderia ficar. A regra é clara, não é? Me agarraria a esse
salvo-conduto.
Fugimos do nosso quarto por conta de um pequeno frame de pornô, e agora
a coisa toda estava em 3D bem na nossa cara. Um passo a mais e, de
coadjuvantes, seríamos protagonistas.
E eu queria, sabe? Ser uma daquelas pessoas que frente ao improvável tem
outra reação. Algum mecanismo de defesa ou de autopreservação que me
fizesse conseguir finalmente tomar uma atitude e sair do lugar.
Contudo, o canto da sereia havia sido forte demais para qualquer um dos
dois. E ficamos ali, parados, observando partes e o todo.
Me virei para sua direção para privar um pouco minha visão.
— Lucas?
— Hum? — questionou com uma voz bonita. Uma bem boa, de quem está
cheio de tesão.
Permanecia vidrado no que acontecia atrás de mim. Ainda assim, segurou
minha cintura, me prendendo dentro de seus braços.
— Precisamos sair daqui!
— O quê? — me olhou, confuso.
Puxei seu pescoço e falei ao seu ouvido.
— Nos tire daqui — declarei, e o senti estremecer.
Contudo, se há algo que sempre admirei é que Lucas é um cara de atitude.
Assim que proferi as palavras já estava me puxando pela mão e nos
conduzindo a outras partes do labirinto, até finalmente encontrar a saída e
nos livrar do que sempre seria a experiência mais insana da minha vida.
A parte difícil agora seria ocupar um pequeno espaço com ele após toda a
loucura da noite. Quer dizer, eu devia ter envelhecido doze anos só pelo
estresse na última hora.
Entramos no quarto o mais rápido possível. Tentei tomar sua frente para
acessar o banheiro primeiro, mas a intenção dele era claramente outra.
Lucas me impediu de continuar e me virou para que pudesse encará-lo.
Não parei para refletir muito bem sobre ações, acho que ele também não.
Quer dizer, dificilmente dois segundos serviriam como análise.
Dois segundos foram o suficiente para que tomássemos a boca um do
outro.
Assim que nos beijamos, gememos um na boca do outro. Salivei ainda mais
quando senti seu gosto. O peito apertou daquela forma gostosa que somente
senti com ela, e odiei o fato de me sentir assim.
Quando Isabella e eu acessamos aquele corredor, fiquei duro
imediatamente. i.m.e.d.i.a.t.a.m.e.n.t.e.
Juro que tentei me concentrar em outras coisas, mas o fato do corpo dela
estar a centímetros do meu e o cheiro de uva invadir minhas narinas não
ajudou em nada. Pelo contrário, a cada passo e a cada nova imagem, eu me
pegava pensando em curvá-la e a comer aonde estivéssemos. E foi um
esforço filho da puta não fazer exatamente isso.
Falhei miseravelmente assim que atravessamos a porta do quarto, e era de
se esperar que estivesse no mesmo estado afetado tanto quanto eu.
Abandonei sua boca querendo provar mais de sua pele, arrastei minha
língua da clavícula à sua orelha, notando seu arrepio com o contato.
— Isso não muda nada — sussurrei em seu ouvido.
— Às vezes me pergunto como pude ser apaixonada...
Não esperei que terminasse a frase. Puxei seu vestido com força,
observando os botões pularem da peça, expondo seus seios. Quase gemi
com a cena.
Contudo, me ocupei em apalpá-los, testando seu peso, e não demorei muito
a pô-los na boca, provando de sua pele quente e exposta mais uma vez. Só
mais uma.
Isabella não concluiu o pensamento, o mesmo foi interrompido por um
gemido gostoso, e odiei o fato de ficar ainda mais excitado com ele.
A senti amolecer em meus braços e me aproveitei do fato para suspendê-la
e levá-la até a cama. Assim que a tombei em cima da superfície macia, seu
vestido se acumulou na cintura e agradeci pela visão. Definitivamente
aprovava suas novas vestes.
Entretanto, não demorou muito para que a livrasse de sua calcinha.
Trabalhamos em conjunto para nos livrarmos da peça. Aparentemente
também tinha pressa.
A experiência anterior a havia afetado e era bem possível notar que não
estava incólume. Na verdade, era o oposto. Isabella estava molhadinha e
convidativa de um jeito que fez com que minhas bolas latejassem com a
visão.
Me ajoelhei entre suas pernas e sei que iria falar alguma coisa engraçada,
mas estava excitado demais para conversar agora. Aliás, se parasse para
pensar, seria um erro que meu pau não estava ansioso em cometer.
Suspendi suas pernas, a trazendo até minha boca e abocanhei-a de uma vez,
por completo. Ela se debateu, fechou os olhos e gemeu deliciosamente.
Aquela porra de som que se agarrava à cabeça e tirava a sanidade.
A posição era privilegiada. Era possível assistir todas as suas reações. Sua
feição safada, em busca de toques e ansiando por mais, ocuparia boa parte
dos meus sonhos eróticos.
A penetrei com os dedos, localizando um ponto específico atrás de sua
pelve, e a vi puxar os próprios cabelos tomada pelo êxtase que era
acometida.
Entre a investida no ponto certo, a sugada macia em seu clitóris e a
experiência vivenciada minutos atrás, foi demais para a Is. E odiei o fato de
adorar assistir que seu corpo ainda se entrega tão fácil a mim.
Ela gozou forte, me fazendo sentir as contrações de sua boceta, com aquela
carinha que quase me fez esporrar nas calças.
Uma pessoa podia morrer de tesão? Bem... eu não sei, mas agora poderia
jurar que era bem possível.
A deixei lânguida na cama e me ocupei de provar seu gosto nos meus dedos
e lábios, sugando qualquer resquício seu. Não haveria desperdícios.
— Puta que pariu — exclamou.
Me pus a tirar a roupa e a observei fazer o mesmo. Era foda o contato
visual, isso sempre me colocava em uma rua escura, sem perspectiva de
fuga.
Me sentei ao seu lado na cama e, com calma, a vi tomar a iniciativa, se
acomodando em cima de mim e unindo nossos sexos.
Quando meu pau a penetrou em uma lentidão dolorosa, senti todo meu
corpo se arrepiar. A velha corrente elétrica perpassava por mim outra vez.
Essa experiência que não se repetiu com mais ninguém, somente com ela.
Odiei o fato de amar me afundar na Isabella outra vez.
Sempre fui um cara experiente, na maioria das vezes consigo me controlar
até que a mulher goze primeiro. Contudo, Is rebolou e gemeu, e comecei a
listar os códigos do novo programa que estava desenvolvendo. Ela agarrou
meus cabelos e reivindicou minha boca na sua. E foda-se.
Nossos corpos se reconheciam, sabiam o ritmo, a forma, o encaixe, tinham
memória e era difícil não gemer para caralho, assim como fazia.
Isabella gozou e me arrastou junto, como sempre. Senti a visão escurecer, a
boca secar e os membros ficarem moles e cederem. E odiei o fato de me
sentir tocar o paraíso mais uma vez.
— Como isso é possível? — questionou, me encarando.
— Eu não sei.
E não sabia mesmo.
Meu coração acelerou mais uma vez assim que toquei a campainha de seu
quarto. Lucas sabia da minha chegada, não era exatamente uma surpresa. A
recepção havia informado e ele tinha autorizado minha subida, mas duvido
muito que soubesse a intenção.
Eu acreditava que o motel em que estivemos era chique, mas o hotel
escolhido por ele me mostrava o quanto estava enganada. Meu caminho até
aqui foi ornado com mármore caro, vidros e lustres de cristais tão imensos
que era quase como se olhasse para as estrelas.
— Vai minha filha, vá encontrá-lo. Não aguento mais sua crise de
consciência, se segue ou não seu coração. Fico com Gabriel — Tia Vilma
praticamente me expulsou de casa.
E aqui estava eu, apoiada no batente branco da porta, encarando o chão
lustroso e esperando que atendesse, sentindo o coração bater na garganta.
— Oi — disse assim que abriu.
Bastou um olhar e ele soube o que eu havia ido fazer ali. Não foram
necessárias respostas verbalizadas.
Agarrou minha nuca da forma que sabia que gostava e encontrou minha
boca no meio do caminho.
Estava prestes a encerrar meu dia quando a recepção me ligou, avisando
que havia alguém que gostaria de falar comigo. Quando descobri que esse
alguém na verdade era Isabella, meu coração disparou no peito. O medo de
que alguma coisa pudesse ter acontecido com meu filho fez gelar os ossos.
Entretanto, se fosse de fato uma emergência ela teria me ligado, não era? E
não estaria aqui pessoalmente.
Estava aflito, andando de um lado a outro do cômodo, cogitando seriamente
em descer ao seu encontro. A campainha tocou e sequer hesitei em atender.
Abri a porta e o peito doeu de saudade. Era um caminho perigoso, mas
reconheci de imediato a mesma necessidade em seus olhos.
E por mais que meu orgulho não permitisse verbalizar em voz alta, eu sentia
falta. Sentia falta do seu bom dia e do seu boa noite. Sentia falta de me
deitar ao seu lado e contar como foi o dia. Sentia falta de apenas ficarmos
em silêncio e ser compreendido sem qualquer som. Sentia falta do seu
cheiro, seu carinho, seu sorriso. Eu sentia falta de tudo além do óbvio. Além
da mágoa.
Foi imperativo puxar e colar nossas bocas, dando início a um beijo
desesperado de quem não vai perder tempo algum além do propósito de
sentir o outro. E bastava nossas salivas se encontrarem para que
despertasse um frenesi de necessidades das quais me impelia a buscar
um pouco mais dela em mim.
Não me recordo de ter fechado a porta, espero que pelo menos tenha batido.
Contudo, não é um ponto realmente relevante agora que vá fazer com que
me importe ou interrompa o que estamos fazendo.
Agora meu foco é despi-la, e Isabella tem o mesmo objetivo, já que, de
forma ansiosa, faz o mesmo comigo.
Em pouco tempo, estamos na grande cama com dossel dramático, enquanto
sobe em cima de mim de forma demasiadamente calma, em contraponto à
euforia anterior.
Isabella se encaixa em mim e fecho meus olhos só por alguns segundos,
somente para apreciar a sensação. Ela se movimenta de forma lenta,
gostosa, redescobrindo nosso ritmo. Seu rosto expressa tanto desejo, tanta
necessidade, que é impossível não me perder assistindo-a.
Seus cabelos compridos despencam nas laterais de seu corpo, brincando de
esconder seus seios. Ora revelando e ora os escondendo, em cada
movimento delicioso que faz.
Coloco suas mechas atrás das orelhas somente para admirar um pouco mais
a vista, e preencho minhas mãos com eles, gravando cada parte de sua pele
macia.
Ela morde os lábios e logo descubro que quero fazer isso também. Por isso,
a puxo em minha direção para prová-los mais uma vez.
Inverto nossas posições para poder ouvi-la gritar de prazer, acertando
aquele ponto que sei que a deixa fraca. Os sons que ocupam todo cômodo é
a canção mais bela composta. A de entrega, a das sensações.
Nada nunca foi igual, nada nunca se comparou. E com essa constatação, me
perco na consciência, dentro de mim mesmo, dentro do prazer que ninguém
além dela conseguiu proporcionar.
Minha raiva ontem era de amar o que não deveria nela. Hoje, era não
conseguir perdoá-la ainda assim.
Acordei sozinho na cama, ficou para trás somente o aroma de uva, o qual
era a única prova de que Is havia realmente estado por aqui.
Travei uma briga interna admirando seu senso e incomodado ao mesmo
tempo. Porque não importava o quanto eu tivesse dela, ainda não seria o
suficiente.
Eu quis ceder, quis desistir da mágoa, do orgulho, mas sabia que uma hora
ou outra a conta chegaria. Uma hora a falta de confiança me afetaria, e nos
magoaríamos uma vez mais.
Estava cansado desse ciclo interminável em que buscamos um ao outro e
acabamos fazendo mais mal do que bem.
Busquei meu filho na escola, me despedindo dele na porta de sua casa.
Estava retornando à Portugal com o coração apertado e com a consciência
de quem não dedicou tempo suficiente para nada.
Seriam sete dias de ausência, e se pararmos para pensar não era nem muito
tempo. Mas parecia, mesmo assim.
Não entrei para me despedir dela. Tive um medo filho da puta de fraquejar,
e embarquei naquele avião sendo um homem muito diferente do que aquele
que havia chegado aqui há um mês atrás.
Tia Vilma havia dito que hoje era um dos dias difíceis; ultimamente
estavam cada vez mais frequentes.
Abri as portas de vidro que davam acesso ao pequeno quintal da casa do
Lucas, o avistando sentado na grama sozinho, todo de preto. Eu odiava
essa cor e toda sua simbologia.
Caminhei devagar para não revelar de imediato minha presença, gostava
de observá-lo em silêncio.
Sabia de alguma forma que o dia seria triste; as nuvens cinzas e o vento
cortante que balançava as copas das árvores anunciavam isso
perfeitamente.
— Oi — disse, assim que o alcancei.
— Oi — respondeu, sem nem mesmo me olhar.
Me sentei ao seu lado na grama verde, prestando atenção no seu olhar
perdido no horizonte.
Não gostava de vê-lo assim. Eu tomaria todas as suas dores sem hesitar,
somente para que nunca mais precisasse sofrer.
Recostei em seu ombro e apenas me mantive quieta, sentindo sua
respiração oscilante. Para quem o observasse de longe ele estava sereno,
mas de perto era possível notar o tamanho da sua tristeza.
Os segundos viraram minutos e os minutos avançavam sem palavras. Lucas
estava perdido dentro de si mais uma vez.
— Luc, conversa comigo?
O garoto olhou para mim, franzindo o cenho[15] em uma careta de dor.
— Eu não sei o porquê, Is, só sei que fico assim. Às vezes, não sei como
parar — sua voz embargou e um nó se formou em minha garganta
imediatamente. — Eu me sinto em um lago escuro, à noite. Eu tento nadar
mas não sei pra onde ir, estou sozinho e cansado. Não sei se consigo
permanecer nadando, não sei se quero.
Uma lágrima escorreu no exato momento em que a chuva começou a cair.
O céu também começava a chorar com o garoto triste.
Segurei sua mão, entrelaçando nossos dedos, e olhei bem no fundo dos seus
olhos verdes.
— Não está perdido, Lucas. Estou aqui segurando sua mão. Não vou soltar,
não vou parar de nadar com você. E quando você cansar, vou nadar por
nós dois. Eu vou te arrastar até a margem à força, se necessário, mas não
vou desistir de você e nem vou deixar que desista.
Sei que chorava, mesmo não conseguindo distinguir lágrimas e chuva, mas
seus olhos vermelhos e tristes contavam sua história.
— Às vezes fico bem, na maior parte do tempo, eu juro. Até me perder
dentro de mim, da minha tristeza. Sem fundamento ou propósito, ela apenas
está lá. Me puxando para baixo, me afogando.
Levei minha mão à sua face, fazendo um carinho de leve como se pudesse
secar suas lágrimas, mesmo debaixo de tanta água.
— Eu te amo — confessei. — Eu sei quem você é, Lucas. Eu enxergo você.
Ele segurou a mão que estava em seu rosto, levou aos lábios e beijou com
carinho. Meu pobre coração deu um salto e bateu tão forte que chegou a
aquecer o corpo. Contrariando o dia frio de junho.
— E eu amo você, Is. Não vou desistir.
Beijou minha testa e se deitou no chão, encarando o céu. Me juntei a ele,
porque onde quer que fosse ou o que quer que fizesse, eu estaria ao seu
lado.
— Acho que vou chamar a menina nova para sair. O que acha dela? — me
encarou, em uma tentativa de mudar o humor.
— Valentina parece ser uma pessoa legal.
— É... acho que vou convidá-la — concluiu com um sorriso fraco, e imitei
seu gesto.
Mantive o sorriso no rosto, agradecendo em silêncio a chuva por esconder
agora minhas próprias lágrimas.
Meu coração sangrava mais uma vez por ele, mas tudo bem. Se era isso
que precisava para sair desse luto, o apoiaria quantas vezes fossem
necessárias. Apertei sua mão e voltei a encarar o céu, me partindo só para
juntá-lo.
Dizem que amores adolescentes passam. Que nessa fase sentimos muito e
tudo é mais intenso, mas irá passar quando amadurecermos.
Então, vou mentir um pouco mais para mim hoje. Vou me enganar mais
uma vez que um dia vai passar. Vou ficar na torcida para que me enxergue
ou vou rezar para deixar de amá-lo, mas até lá vou sangrar. Por ele e por
mim. Talvez só por hoje, talvez só mais uma vez, quem sabe só por essa
noite? Isso! Só mais um pouco.
Pedro chegou e se deitou ao lado de Lucas, segurou sua mão, buscando a
minha para também segurá-la.
Não sei quanto tempo ficamos nessa posição. Chorando e encarando o céu,
era sempre assim.
Ali naquele quintal, em um dia triste, três adolescentes seguravam a mão
um do outro. Três garotos sem pai e com histórias tristes para contar.
Lucas sofria pelo que não tinha, eu sofria pela vida dura que levava, mas
Pedro... Pedro vivia um inferno.
Segurávamos as mãos como um aviso claro de que não nos soltaríamos,
que estaríamos lá um pelo outro. Nada seria mais forte do que nossa
amizade, do que o amor que sentíamos um pelo outro.
Dizem que amores adolescentes passam, mas eu sabia no fundo da alma
que jamais deixaria de amá-los. Esse sentimento, esse laço, não se
apagaria com o tempo, nem mesmo com a eternidade.
Arcade – Duncan Laurence
14 anos antes...
4 anos antes...
Acabei de vestir minha jaqueta de couro preferida, quando ouvi dois toques
na porta.
— Entra.
— Oi, grandão — Isabella entrou no quarto, e sua postura deixava claro o
quanto estava receosa. — Vim te ver, porque aparentemente está me
evitando.
Estava mesmo. Entretanto, não pelo motivo que acreditava. Cheguei de
viagem e levei o Gabriel para um passeio pela cidade por todo o dia. Adoro
aquele garoto, por isso não percebi o tempo passar, e agradeci imensamente
por isso.
— Não estou. Por que acha isso? — ela se sentou na minha cama.
— Acho que por conta da última vez que nos vimos.
— Já estamos grandinhos para não saber que estávamos zoando com a cara
um do outro, Isa. Relaxa.
Me lançou um olhar de quem dava pouco crédito e me juntei a ela na cama.
— Não quero que as coisas fiquem estranhas entre nós, Pedro. Não vou
perder mais nenhum amigo.
— Não vai mesmo. Não sairei de sua vida — garanti, com um beijo em sua
bochecha.
— Está se arrumando para sair? — se deitou na cama, e absorvi o impacto
da imagem.
— Bem... estava, mas está com a carinha de quem não quer ficar sozinha —
sorriu. — Então, estou pensando em mudar os planos e sairmos pra jantar, o
que acha?
— Não te mereço.
— Anda — dei um tapa na sua perna, já me levantando. — Vai se arrumar e
coloca aquele vestido preto que te dei.
— Não quero que fique me dando presentes, Pedro — ralhou, e sorri.
Apontei para a porta.
— Discussão sem futuro. Eu vou te dar o que me der na telha. Eu vou fazer
da sua vida um inferno de roupas novas e joias, vou te levar para os
restaurantes mais chiques e caros. Nossa juventude ficou para trás, anjo.
Não precisava mais de explicações. Nossa infância e adolescência foram
um pesadelo, e no que dependesse de mim, Isabella teria somente o melhor.
Ela se levantou, me deu um beijo no rosto cheio de significado e saiu para
se arrumar.
[...]
O restaurante era bem requintado. Uma banda tocava músicas românticas e
todo o lugar estava em uma penumbra agradável.
Os lustres de cristais, as mesas ornadas com linho branco e arranjos de
flores a deixariam desconfortável. A quantidade de talheres e taças na mesa
também reforçaria o fato de que não está acostumada a frequentar lugares
como esse. E no que dependesse de mim, mudaria isso bem rápido.
O maître[18] nos conduzia aos nossos lugares, e Isabella olhava assustada
para cada canto do restaurante. Certamente com receio de esbarrar em algo
ou fazer alguma grande besteira, ainda me lembro dessa sensação. O que
precisava entender é que merece tudo de melhor que a vida pode
proporcionar. Não há motivos para se sentir deslocada.
— Meu Deus, por que me trouxe aqui? — expandiu os olhos, assim que
fomos deixados a sós. — Nem sei que talher usar. Vou fazer besteira.
— Já está fazendo — a encarei divertido. — Se você quiser comer com a
mão, é só me dizer que também faço — pisquei.
— Você não existe.
Aos poucos foi se soltando e relaxei. O vinho ajudou, e depois da segunda
garrafa nem reclamava mais do preço das coisas. Eu amava sua companhia,
a forma especial que deixava tudo leve. Conversamos sobre os negócios, os
novos contratos, sobre seu noivado e, por fim, como ela e Gabriel estavam
se adaptando a cidade.
— A comida é boa, o lugar é lindo, mas gente rica é estranha — olhou em
volta. — O cantor se matando ali e ninguém dá atenção.
— Tem razão — me levantei e estendi a mão. — Vamos dançar, porque sei,
que é isso o que quer.
Isabella adorava dançar, isso sempre a fazia rir. E, particularmente, gosto de
assisti-la feliz.
— Tá maluco? — disse nervosa. — Senta agora.
— Não, não... Vem logo.
— Não sei o porquê de ainda perder meu tempo com você e com o Lucas,
nunca me ouvem... — reclamou, mas se levantou mesmo assim, me
acompanhando até a pista.
— Vamos mostrar a essas pessoas como apreciamos cada coisa que
recebemos, porque fomos fodidos demais para não dar valor a tudo —
busquei sua cintura e comecei a nos embalar no ritmo da canção suave.
Ela apenas se calou, recostando sua cabeça em mim, e começou a seguir
meus passos.
Não conhecia a letra mas, à medida que a canção avançava, me dava conta
que não poderia escolher uma trilha sonora melhor para o momento.
'Cause I can't make you love me if you don't
I'll close my eyes then I won't see
The love you don't feel when you're holding me
Morning will come and I'll do what's right
Just give me till then to give up this fight
And I will give up this fight
Encarei seu rosto bonito. Ela mantinha os olhos fechados, apenas curtindo a
melodia. E vê-la assim em meus braços, tão entregue, fez com que minha
garganta travasse.
Isabella jamais seria minha. Eu queria que fosse feliz, mas por algum
motivo agora parecia bem difícil. Parecia definitivo demais.
Talvez fosse mais fácil me afastar. Contudo, essa era uma batalha perdida
há muito tempo. A mim restava somente garantir que ficasse bem. Se ela
me pedisse para ficar, eu ficaria.
Eu continuaria a fingir e tentaria convencer a mim mesmo de que seria
possível suportar. Por ela.
Nunca tive inveja do Lucas por ter o seu corpo, mas isso não se aplicava ao
seu coração.
Perder Isabella seria a coisa mais difícil, mesmo diante da história que tive.
Tudo isso era nada, se comparado.
Vai ficar tudo bem. Por ela.
Me apegaria a momentos assim. Quando seu abraço ainda me conforta,
quando seu sorriso me deixa feliz e atenua somente um pouco a dor.
Quando sei que sou amado, mesmo que não seja da forma que gostaria.
Se fosse outro dia, a rodaria somente para vê-la sorrir. Entretanto, hoje não.
Hoje a prendo em meus braços, com medo de soltá-la de vez. Me agarro a
esse breve instante efêmero, antes que vire fumaça entre meus braços e não
consiga mais alcançá-la.
Seja feliz, meu Anjo.
— Cunhadinho... — a voz da mulher que particularmente odiava nos
arrancou de nossa bolha. — Não sabia que tinha alguém especial.
— Oi, meu nome é Isabella — Isa se apresentou, alheia de quem se tratava.
Paula, e sua total falta de limites.
— Ah meu Deus... Is? — cantarolou animada. — Mas essa história está
cada vez melhor. O que não daria agora para ver a cara do Lucas e saber
que estão apaixonados — gargalhou.
— Paula... — a alertei.
Isabella me olhou confusa e assustada.
Encontrar essa mulher sempre seria um pesadelo.
— E não é uma ironia do destino? — os olhos azuis da morena chegavam a
crispar de interesse.
E ela mais parecia uma daquelas vilãs ricas e belíssimas de um filme clichê
ruim. Sempre soube que o Lucas não possuía qualquer senso de julgamento
de caráter alheio. Vivia salvando a pele daquele imbecil.
— Vamos, grandão? — Pedro, que até então estava com uma cara
amarrada, pronto para um embate, me olhou confuso com um breve
lampejo de diversão nos olhos e sorriu. — Uma preguiça de gente chata.
Me virei e puxei sua mão para que me acompanhasse. Minha vida já
possuía dramas demais para escolher passar por mais esse.
Paula que lidasse com seus próprios problemas.
Eu hein, preguiça. Vou bater boca nada.
— Não acredito que fez isso — se virou para ver a mulher que deixamos
para trás. — Ela está furiosa — riu.
— E eu satisfeita com o jantar. Vamos?
— E sou eu que não existo — me puxou para seus braços, sacudindo a
cabeça como se ainda não acreditasse na cena que protagonizamos.
— Oi, amor. O que vou te pedir agora não será fácil — ouvi seu suspiro,
com uma breve risada no final. — Me perdoa, porque te farei chorar mais
uma vez. E eu não queria, amor. Me perdoa, Is? — sua voz embargou. —
Não tenho tempo... Preciso que fale para minha mãe que a amo. Preciso
que fale para meu filho todos os dias que ele foi meu melhor presente e que
o amo demais. Me promete, Is? Merda! Sei que o Pedro tomará conta de
vocês dois e que jamais ficarão sozinhos, mas aquele cabeça dura também
precisará de você. Ele finge que é forte, mas sabemos que, de nós, é o mais
sentimental. Fala pra ele que o amo, diga a ele que foi um privilégio tê-lo
em minha vida. Is, precisa repetir as palavras exatas: que ele precisa ser
feliz, precisa correr atrás do que ama, porque a vida é muito curta. E eu
não tenho mais tempo...
Pude ouvir o seu choro, enquanto tentava se acalmar para prosseguir.
— Você é meu último pensamento, amor. Eu te amo demais e isso não
acaba...
E o nada... o completo silêncio que gritaria a sua ausência para sempre.
Perdi as contas de quantas vezes ouvi esse áudio, somente para matar a
saudade. Somente para tê-lo um pouco mais.
Dezoito meses. Quinhentos e quarenta dias. Doze mil novecentas e sessenta
horas. Quarenta e seis milhões seiscentos e cinquenta e seis mil segundos.
Às vezes parece muito, mas a dor não atenua em nada.
Uma coisa engraçada é o tempo. As pessoas cismam em dizer que ele cura
tudo, até as mais duras perdas se amenizam com o seu passar. O que não
percebem, no entanto, é que quando menos esperamos, estamos sem ele.
Deixamos de ter aquele último adeus, a chance de dizer o que realmente
sentimos e coisas realmente importantes. Ocupamos nossas cabeças com
coisas inúteis: se realmente trancamos a porta do carro, se deixamos a
janela aberta... e, de repente, nada disso faz mais sentido.
Meu tempo agora é marcado por pequenas coisas. Quando me obrigo a
fingir que sou forte... quando preciso levantar da cama e continuar pelo meu
filho. Quando continuo seguindo por ele e por Pedro. Quando vou à terapia,
quando malho com Pedro todos os dias em que está em casa, quando me
obrigo a comer, ou até quando sorrio mesmo sem vontade, quando
continuamos saindo e fingindo seguir em frente.
Você pensa que com sua dor o mundo vai parar para te esperar; não vai...
ele continua normal e você continua acontecendo para o mundo, na mesma
engrenagem que antes, porém diferente.
Não é fácil, talvez nunca seja.
Eu amo meu filho. Gabriel é inquestionável e até isso me enche de culpa.
Porque no final, Lucas tinha razão... Nenhuma criança merece passar por
essa dor. Nenhuma!
Ele não precisava se sentir culpado por isso e tenho certeza absoluta que era
exatamente o que aconteceria. Lucas viveu seu maior medo, a sua ausência
na vida do seu filho. Talvez ele sempre soubesse.
Não era culpa de ninguém, mas ainda sentia que era minha. Não importa
quantas vezes a terapeuta insistisse em negar.
Eu quis voltar para Blumenau, Pedro não deixou. Ele perguntou se gostaria
de mudar de casa, respondi que não faria diferença.
Não fazia diferença alguma, nada que eu tentasse, nada que eu fizesse.
Nada!
[...]
Despertei sentindo a cama afundar com seu peso.
— Fugiu de seu quarto novamente? — questionou, assim que me aninhei ao
seu corpo.
Depois do Lucas, era difícil não me preocupar com suas viagens de
negócios. Pedro e eu nos aproximamos de uma forma impossível, como se
isso fosse possível. Ele não falava, mas sabia com alguma certeza que,
assim como eu, tinha medo de me perder, de ficar longe da gente por muito
tempo. Nos tornamos aquelas pessoas carentes, que precisam uns dos
outros. Que se despedem direito todas as vezes, porque bem sabemos que
pode ser a última. Falamos que nos amamos, nos abraçamos e curtimos
ficar juntos. Gabriel, Pedro e eu... somos tudo o que restou de nossa família.
Tia Vilma aparece nas férias, é sempre difícil para ela também,
principalmente para ela.
— Gosto mais de sua cama do que da minha. Especialmente quando está
fora. Gosto de sentir seu cheiro nos lençóis. Durmo melhor — garanti, me
aproximando de seu pescoço, sentindo o cheiro gostoso de sua loção pós-
barba. Agora me apegava a tudo, a cada pequeno detalhe.
Ele apenas me abraçou forte e me deu um beijo no rosto. Não precisava
dizer mais nada. Pedro sabia.
Você pode imaginar como é o luto, pode pensar a respeito, pode sentir
empatia e até se compadecer pelo outro. Mas eu te garanto, você não sabe
absolutamente nada. Isso se não tiver vivenciado.
Os profissionais dizem que são cinco estágios principais:
O primeiro é a negação e isolamento. Passei por isso assim que recebi a
notícia, a dor é como tivessem me rasgado a sangue-frio, de dentro para
fora. Aliás, qualquer dor física seria recebida de bom grado.
Depois, tudo o que é possível sentir é raiva, pela vida, por Deus. Até
mesmo por Lucas ter me deixado aqui, precisando seguir sem ele.
Aí vem a barganha. Quando acreditamos que qualquer coisa seja possível, e
nos agarramos à crença. Fiz muitas orações pedindo para despertar do
pesadelo que se tornou a minha vida.
Devo estar agora no quarto estágio, o da depressão. Porque quando aquele
avião caiu, quem morreu fui eu.
E parece que o quinto e último estágio, o da aceitação, não vai chegar
nunca. Me tornei aquela pessoa egoísta, que quer desistir de tudo, mesmo
sabendo que não é possível.
No dia treze de agosto minha vida mudou. Uma parte importante minha foi
arrancada de mim e fiquei incompleta, insuficiente.
Não acredito em alma gêmea, não acredito na vida após a morte, não mais...
Mas se essas coisas realmente existissem, acho que seria assim o
sentimento da perda.
A dor te cega.
Não é estranho o fato de uma pessoa não existir mais?
Passei semanas encarando a porta, esperando que ele cruzasse por ela. Nos
filmes, os mocinhos voltavam. Por que minha história deveria ser diferente?
Entretanto, não tive a sorte de que tudo não passasse de um susto. No lugar,
eu velei uma foto com o caixão vazio, exatamente como me sentia.
Dói demais... e sempre.
Descobri que o pior dia do luto não é exatamente quando somos avisados
sobre a morte, não é nem mesmo a missa de sétimo dia, ou o primeiro ano...
Entenda bem, todos esses momentos são difíceis. Contudo, os piores dias
são aqueles comuns, quando acontece algo corriqueiro e ele não está lá para
compartilhar. Nesses… nesses somos inevitavelmente quebrados
novamente.
— Oi, amor. Me desculpa por estar chorando novamente por você. É que
você me deixou sozinha aqui, tendo que ser forte por nosso filho, e eu ainda
não sei viver sem você — encarei o céu estrelado, balançando meus pés na
sacada e sentindo a brisa fria da noite, enquanto rodava o anel dado por ele
em meu dedo.
Os braços do meu amigo me envolveram, me segurando forte. Pedro
sempre sabia quando eu estava me quebrando. Foram tantas vezes que já
não sabia se era possível me refazer.
— Estou aqui, anjo. Estou aqui por você. Você precisa enxergar que não
está só.
Encarei seus olhos, castanhos e gentis, e assenti.
Repousei meu rosto em seu peito, esperando que seu carinho me salvasse de
mim mesma, mais uma vez.
— Mamãe... O zoológico foi bem divertido — meu filho falou animado, se
jogando em cima de mim no sofá.
Encarei meu amigo, o agradecendo com o olhar. Como retorno, sequer
precisou verbalizar, estava ali o aviso claro que, da próxima vez, teria que
estar com eles.
A essa altura é bem seguro afirmar que não me considero uma pessoa forte.
Apenas me apegava ao fato de precisar levantar da cama e continuar por
eles.
Dois anos se passaram. Havia dias melhores e outros como esse que, se
pudesse, dormiria ao longo de toda sua extensão. Somente para passar por
mais um, mais vinte e quatro horas.
Ainda assim, ouvi Gabriel com atenção, enquanto me contava as aventuras
do dia e todos os animais que pôde conhecer de perto. Eu ainda tentava ser
uma boa mãe, mesmo em momentos assim.
— Vamos sair para jantar? — Pedro questionou, se jogando ao nosso lado
no sofá. — Esse garoto me faz questionar se estou fora de forma ou se é
apenas o fato de estar ficando velho demais — declarou, bagunçando o
cabelo de Gabriel.
— Para de bobeira. Não está velho coisa nenhuma — beijei seu rosto.
— Pode ser pizza, tio Pedro?
— Pode sim, meu amor — garanti, o agarrando e fazendo pequenas
cosquinhas. Seus risos sempre me arrancavam sorrisos sinceros.
Uma hora depois, entrávamos no restaurante com roupas da mesma cor.
Sempre que Pedro comprava uma nova peça — e isso acontecia com certa
frequência —, trazia roupas parecidas para nós.
Meu amigo é vaidoso e gasta uma pequena fortuna em seu guarda-roupa.
Não ligo para essas coisas mas, se o faz feliz, vestimos o que nos der.
Sempre saímos assim, combinandinhos. As pessoas sempre sorriem quando
nos veem. Aos de fora, realmente deve parecer algo fofo, e Gabriel adora de
qualquer maneira. E no que diz respeito a mim, o que puder fazer para que
suas vidas tenham momentos leves, farei.
[...]
— Sabe que uma hora ou outra tem que retomar sua vida, não é? —
questionei Pedro, assim que entrei em seu quarto para dormir. — Precisa
viver, Pedro. Sair... Ficar com mulheres.
— Preciso que vocês fiquem bem. Não se preocupe com minhas
necessidades — sorriu, quando me juntei a ele em sua cama. — Aliás, você
sabe que adoro fazer esses programas com vocês, não sabe?
Senti sua pele fresca de banho e me aninhei ao seu corpo.
— Eu te amo tanto — garanti, lhe dando um beijo na bochecha.
Ele me rodou, ficando parcialmente em cima de mim.
— Não é nenhum esforço ficar com vocês — disse, me encarando. — Amo
vocês. E já te falei uma porção de vezes que não precisa agradecer por eu
querer passar mais tempo com vocês — segurou meu rosto para que o
encarasse. — São tudo o que há de mais importante na minha vida.
Beijou meu rosto e retribui. Pedro sorriu e fez novamente. Brincávamos
assim, sobre despedidas, quantas fossem necessárias.
[...]
— Acorda dorminhoca — senti seus lábios em meu rosto. — Nada de
preguiça. Levanta antes que eu te arraste para o banheiro — murmurei uma
reclamação. Mas sabia que sua ameaça era real. Por isso, tratei logo de me
levantar.
Quando se tratava de recomendações médicas, ele sempre seguia à risca. A
junta orientou exercícios todas as manhãs. Serotonina e dopamina. Nossa
alimentação e exercícios eram como leis inquestionáveis, e eu me esforçaria
sempre para estar bem.
Uma hora de exercícios depois — com meu personal particular —,
continuava a discutir com ele.
— Não quero ir nessa convenção. Precisa arrumar um rabo de saia e me
deixar em paz, Pedro.
Viajaríamos em breve para o sul da França, um final de semana de contatos
e eventos. Agora também era sócia, e minha presença se fazia obrigatória.
Mas a verdade é que a viagem era nada comparada ao que aconteceria em
alguns dias, e eu somente queria reclamar de qualquer outra coisa que me
tirasse o foco do real motivo.
— Você sabe que mesmo que eu tivesse alguém, teria que ir — afirmo,
enquanto preparava nossas anilhas. — Quer conversar sobre o que
realmente está te incomodando? — falou preocupado.
Ninguém me conhecia tão bem quanto Pedro, ele prestava muita atenção
em tudo, especialmente em mim, e inegavelmente estava certo.
O problema jazia no fato de Gabriel embarcar para o Rio em breve; ele e
Maria. E isso não me tranquilizava em nada. Não queria que meu filho
pegasse avião nenhum, nunca! Mesmo sabendo que não estava sendo
racional.
Era um grande passo em minha terapia. Dois anos...
Meu filho queria assim, tia Vilma chorou emocionada por uma hora inteira,
e eu só queria fugir com meu filho e jamais deixá-lo longe de mim. Quinze
dias era demais, onze horas em um avião era muito. Não iria conseguir!
— Não quero ficar remoendo isso agora — peguei meu peso e comecei a
imitar seus movimentos. — E você é um saco às vezes, sabia?
Me lançou um sorriso e se manteve concentrado, respeitando meu silêncio.
Quando finalmente concluí minha série, sentia que minhas pernas, se
pudessem, me abandonariam. Cada músculo do meu corpo doía de um jeito
novo. Um bem especial, no melhor modus operandi Pedro de ser.
Nessas horas era difícil não acreditar que contratar um profissional seria
melhor. Para meu ego, claro!
— Você tem que saber que não sou você — reclamei, colocando as mãos na
lombar, me alongando. — Tudo em mim dói. Até o fiozinho do meu cabelo.
— Se treinasse todos os dias não sentiria mais dor — repreendeu, deixando
seus halteres no chão. — Mas nada que dez minutinhos na plataforma
vibratória não resolva. Ela vai dar um jeito nesses músculos moles.
Nem contestei. Ele certamente sabia o que estava fazendo, muito melhor
que eu.
Pedro programou o aparelho e apenas obedeci seu comando, subindo na
plataforma. A vibração causava uma sensação intensa e constante, fazendo
com que as extremidades do meu corpo começassem a ficar dormentes. E
estava funcionando maravilhosamente bem, a dor se atenuava, cedendo aos
poucos.
Me ocupei em observar meu amigo malhando pesado. Concentrado no
esforço que lhe era exigido, fazendo com que sua transpiração se tornasse
cada vez mais aparente. Sua feição era bonita, daquelas que homens fazem
quando sentem prazer com alguma coisa.
Certamente há algo erótico em homens malhando. As veias dilatadas, os
músculos ressaltados e, com certeza, os maxilares cerrados. Sim... era isso.
Pedro tinha um maxilar bem bom.
Talvez fosse o aparelho, talvez fosse a visão, ou apenas fosse a
circunstância do meu corpo ter adormecido por tempo demais. O fato é que
começava a despertar aos poucos. Fazia tanto tempo que não sentia nada
remotamente parecido, que meu cérebro achou interessante que eu não
interrompesse de vez as ondas que subiam por minhas pernas, se
concentrando em tudo, ao invés de fugir dali. E eu deveria mesmo fazer isso
agora.
— Pedro... — chamei, mas minha voz saiu tão fraca que temi não ser
ouvida. — Desliga pra mim, por favor.
Abaixei a cabeça, a apoiando entre meus braços, temendo soltar um gemido
no processo.
— Está se sentindo bem, Isa? — instantaneamente levantou meu rosto para
observar minha feição. E eu somente precisava que desligasse aquela coisa.
Seu rosto estava carregado de preocupação, examinando minhas pupilas
com atenção.
Por que não desligava logo essa merda?
— Pedro... — chamei mais uma vez. Entretanto, seu nome veio
acompanhado de um arfar que não deixaria dúvidas, de forma alguma,
sobre o que estava sentindo. E nessa altura, já não queria mais que
desligasse o aparelho. Que se foda, não queria parar... — Merda! Sai daqui
agora.
— Caralho, Isabella!? — me encarou mais uma vez, se dando conta da
situação, e finalmente se virou, me deixando sozinha na sala.
E foi o suficiente... Por Deus... Eu gozei forte, como há dois anos não fazia.
O alívio trouxe imediatamente lágrimas aos meus olhos, por tantos motivos
diferentes que nem saberia explicar agora.
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16 anos antes...
— Oi, tia Vilma. Como está a senhora? — lhe dei um beijo assim que me
recebeu.
— Estou bem, minha filha. Como tem andado? — sorriu gentil, me
abraçando. — Já faz um tempo que não vejo você por aqui.
— Lucas tem andado ocupado.
A loira sorriu, mas era mais como se estivesse cansada de alguma coisa.
— Isso não é desculpa. Sinto falta de nossas conversas de garotas.
Assenti, enquanto caminhávamos para dentro de sua casa.
— Prometo vir mais vezes, mesmo sem o Lucas — a abracei com carinho.
— Os meninos estão no quarto?
— A casa é sua, e pode vir mesmo quando Lucas estiver com Valentina —
seu olhar dizia muito mais do que suas palavras, e apenas abaixei minha
cabeça concordando. — Estão no quarto.
Apontou a direção como se realmente fosse necessário, mas era apenas sua
maneira de me liberar de uma conversa difícil.
A porta estava aberta e era possível ver os dois deitados, como de costume.
Lucas em sua cama e Pedro na bicama. O moreno passava tanto tempo
aqui que tinha uma só para ele.
Estava prestes a entrar reclamando por não me chamarem, quando ouvi
Pedro dizer:
— Isabella é linda, Lucas — e isso me fez parar imediatamente, sentindo
meu coração pulsar forte e descompassado.
Eu era apaixonada pelo Luc, mas beijar Pedro ontem não foi qualquer
coisa. Havia sido diferente de tudo que já havia sentido em um beijo.
Pareceu... certo. Eu pensei muito a respeito e não sei como ficariam as
coisas, mas não iria reclamar se ele quisesse repetir. Quantas vezes mais
acreditasse ser necessário.
— Ela é, mas é como uma irmã — o loiro deferiu.
Havia ouvido essa frase algumas vezes, e todas machucavam da mesma
forma.
— Nos beijamos ontem — Pedro contou rápido, como se precisasse
confessar de uma só vez.
Lucas o encarou imediatamente e seu rosto estava sério.
— Fica tranquilo, cara. Não rolou química — fez pouco caso, e me senti
estranha.
Claro que ele não era obrigado a sentir nada com nosso beijo, e tinha o
total direito de acreditar não ter sido nada demais. Meu amigo ficava com
muitas garotas o tempo todo, mas eu não. Talvez, por isso, possa ter tido
um significado diferente para mim.
— Mas isso é óbvio, você que é muito idiota para ainda tentar.
Pensei em ir embora, chegando a me virar de volta para o corredor.
Ok. Não seria a primeira ou a última vez que ouviria palavras difíceis. E
não seria um beijo que macularia o amor que sentia por eles. Respirei
fundo e entrei no cômodo.
— Quer dizer que agora nem sou chamada mais?
— Não acredito que realmente tenha vindo — falei animada, assim que abri
a porta.
— Jamais deixaria de ser sua companhia, Isa — sorriu. — Mas isso não
quer dizer que não terá um preço, pois tive que desmarcar com a Tônia. E
você sabe que isso é um grande feito. Para mim, claro!
— Nossa! — levo a mão ao peito, como se estivesse de fato lisonjeada. — E
sabemos que a menina tem uma fama, não é? Mas não vou fazer o mesmo,
Pedro. Sinto muito.
Ele ri alto e me abraça assim que cruza a porta.
— É uma pena — toma a direção da cozinha. — Comprei lasanha pra
gente. Bora comer, porque estou com uma fome de três mendigos tristes —
fez uma feição de completa tristeza, dando ênfase à frase. Contudo, Pedro
realmente odiava sentir fome, e isso o deixava sempre de mau-humor.
— Olha! Se empenhou para o nosso jantar. Por isso que é sempre o meu
par.
Ele piscou e se colocou a aquecer nossos pratos. E eu seria eternamente
grata, pois sabia bem o esforço que fez para que pudesse comprar essa
comida.
— E, no mínimo, deveria me oferecer o que a Tônia — de muito bom grado,
posso dizer — faria.
— Não vou fazer um boquete em você, grandão. Supera.
— Puta injustiça isso.
— Toma vergonha nessa sua cara, Pedro — dei um tapa em seu braço. — E
nem sabemos se seria realmente bom assim.
O sorriso que meu deu contava que sim, ele sabia exatamente como seria.
[...]
— Caraca, tá muito bom isso aqui — falei, assoprando um pouco mais da
comida fumegante, em uma nova garfada.
— Dona Laura sempre arrebenta no rango — deu uma boa garfada. — Tá
muito bom mesmo — falou com a boca cheia.
Concordei com a cabeça, porque realmente estava dos deuses.
— Como está o novo projeto? — perguntei.
— Acho que vou surtar em algum momento — expandiu os olhos. — Aquela
merda tá dando a maior dor de cabeça — apontou o garfo em minha
direção. — Me fala o porquê mesmo de ter escolhido essa profissão, hein?
Às vezes, tenho vontade de dar um tapa no Lucas por ter lhe ouvido.
— Para ficar muito rico e comprar toda a merda que te der na telha —
recitei o que sempre dizia.
— Vamos deixar aquela merda de lado hoje à noite, e você me fala como foi
o seu dia. Conseguiu alguma coisa?
Não era uma cobrança, ele jamais faria. Estava mais para saber qual era
meu estado de espírito, após um dia inteiro panfletando currículos.
Mudar de cidade com eles foi maravilhoso, mas não era nada fácil buscar
um emprego. Seis meses e nada. E eu tinha que arrumar algo rápido, para
ajudar nas contas. Não é como se eles pudessem me bancar por muito mais
tempo.
Algo em minha feição deixou clara a frustração que sentia por não ter tido
retorno algum das entrevistas que fiz, pois logo se pôs a falar.
— Não se preocupa, Isa. Vai conseguir alguma coisa. Vai ver — garantiu.
— Eu sei que vou, mas é cansativo buscar e não receber retorno. Deveria
ser proibido RH’s não darem retorno — falei frustrada, enquanto lavava
nossos pratos.
— É, vamos esquecer essa merda toda por uma noite. Nós dois não
falaremos mais de trabalho. E vamos ver logo esse filme que você escolheu.
Mais uma coisa para te cobrar mais tarde — ele brinca, e reparo na tigela
de chocolate derretido em sua mão, cheia de frutas picadas.
— Custava deixar as frutas separadas?
— Mas vão para o mesmo buraco — contestou. — Não vai fazer diferença
alguma. Você que é fresca demais, Isabella.
Semicerrei os olhos em sua direção, mas me calei. Ele havia trazido a
comida, afinal de contas. Além disso, não se opôs em perder um encontro e
assistir a um filme comigo.
— Vem logo — peguei o doce e dei a primeira garfada. Realmente não faria
diferença, estava bom da mesma forma. — Porra, tá muito bom.
— Te falei — se jogou no sofá e me aninhei em seu corpo, lhe dando um
bocado do doce na boca.
— Isso é o máximo que vou fazer para te compensar — sorriu com minha
declaração. — E sua massagem, claro.
— Massagem e comida boa. Não vai me ver reclamar por isso.
Nos colocamos a assistir o filme em silêncio. Até eu notar que um pouco de
chocolate havia escorrido e sujado seu queixo. O limpei com o dedo,
levando-o à boca em seguida. Era chocolate, afinal. Um luxo que
raramente nos dávamos.
Pedro me encarou surpreso com a ação e eu demorei a entender o porquê,
até ele fazer exatamente igual, ao limpar minha boca. Havia erotismo no
gesto, ainda que tenha sido involuntário e inconsciente.
Meu amigo tem uma boca carnuda, que parecia macia e tentadora demais
enquanto sua língua passava suavemente entre os lábios, limpando os
resquícios do doce.
— Tá me encarando demais, Isa.
— É, acho que estou — devia ser a porra do filme. Não é uma boa
combinação morar com dois homens bonitos, não transar e assistir
romance. — E você também.
— É, acho que estou.
— Acho que preciso de um beijo para melhorar esse dia de merda — repeti
suas palavras de alguns anos atrás. Ele sorriu, e me aproximei.
Seus olhos se fecharam e um suspirar profundo saiu por entre sua boca.
Talvez nunca encontre alguém no mundo que tenha tanto carinho e cuidado
por mim, além de minha mãe e ele. Eu sou a prioridade de Pedro desde
quando erámos crianças, desde um dos seus piores dias. E eu o amei desde
o primeiro momento e continuo certa de que o amarei até meu último dia.
Seria tão mais fácil estar apaixonada por ele, e ele é de fato apaixonante.
Faz tanto tempo que não rememoro essa ideia.
— Não posso dar o que deseja, Isa — sua voz saiu como um sussurro, que
beijava meus lábios mesmo que não os tocassem realmente. — Sabe que
não é de mim que espera esse beijo.
A declaração me fez buscar seus olhos, que agora estavam fixos nos meus.
— Sabe, amigo. Às vezes um beijo é apenas um beijo, assim como foi o meu
para você há alguns anos atrás.
Me levantei com a intenção de ir em direção ao quarto.
— Um beijo nunca será apenas um beijo com você, anjo.
— É, sei bem como pode ser — me retirei. — Boa noite, Pedro.
— Meu Deus, Pedro. Não vou conseguir... — Falei, assustada.
No quarto daquele hotel, fizemos uma promessa de não perder mais tempo.
Aproveitaríamos a ausência do Gabriel e viajaríamos pela Europa para que
eu conhecesse os lugares dos quais havíamos conversado há uma vida atrás.
Tanta coisa havia mudado. Tanta coisa aconteceu.
— Não vou pular sem você. — garantiu.
Juro que esperava passeios calmos. Museus, cafés, talvez até alguns bares
dançantes. Claro que a ideia de turistar minha era bem diferente da dele. E
agora me via com uma corda que passava por meu corpo à beira de um
precipício. E tudo que eu precisava era de coragem, a qual descobri não ter.
— Moça, preciso que pise na linha tracejada. — o instrutor pediu e eu senti
minhas pernas quererem ceder.
— Não vou... — busquei socorro, encarando o Pedro. — você vai me
empurrar.
— Não irei fazer isso... — o homem de cerca de quarenta anos, era
brasileiro, apesar de estarmos na Suíça. E quis me garantir mais uma vez
que estava tudo certo e que eu pularia no meu tempo.
Antes de ser atada, fiquei impressionada com a beleza do lugar. Estávamos
na parte central de uma grande floresta e abaixo de nós, apenas um rio
corria. O verde era deslumbrante e eu amava o cheiro da mata, mas isso
tudo foi ofuscado imediatamente assim que me amarraram a um fio de
barbante e me pediram um pouco de fé. Mas eu tinha um filho pequeno para
cuidar e não iria conseguir pular de jeito nenhum.
— Eu vi o que fizeram com o garotinho, quando disseram: confia...
— Anjo. — Pedro chamou, segurou meu rosto com carinho para que eu
prestasse atenção. — Estou aqui com você, mas se quiser desistir, tudo bem.
Fazemos outra coisa. — disse calmo e eu neguei. — Vamos fazer isso junto,
tudo bem? Sobe no meu colo. — suspirei, assentindo. — Confia em mim?
Dei um passo em sua direção e ele me colocou em seu colo. Cruzei minhas
pernas e braços por seu corpo, acomodando meu rosto em seu ombro, com
receio de encarar o abismo. Ele deu alguns passos para trás, nos
aproximando do fim da plataforma.
— Confia em mim? — perguntou mais uma vez, encarando meus olhos.
Meu coração batia tão rápido que achei que poderia desmaiar a qualquer
momento.
— Com minha vida. — apesar disso, confirmei.
Ele me abraçou forte e sorriu. Um impulso para trás e estávamos em queda
livre, dando piruetas no ar. Sentindo um frio na barriga indescritível.
— Abre os olhos, amor. — pediu enquanto nos balançávamos no grande
vale.
Fiz o que me pedia e sorri. E a vista... a vista era deslumbrante. Nesse breve
momento, no instante em que nossos corpos pendiam em liberdade acima
da natureza tão sublime, me senti livre. O grandão tinha razão, não
poderíamos deixar de fazer isso.
[...]
Pedro me rodava e me trazia para perto de seu corpo, nos balançando em
sincronia ao som que tocava no restaurante ao ar livre, sentindo a brisa da
noite quente em Nápoles. Me puxou para mais um beijo, estremecendo toda
a minha carne com o contato. E já contabilizávamos alguns no dia. É como
se agora não fosse possível ficarmos muito tempo longe um do outro.
— Preciso de você mais uma vez. — suspirou pesado, me arrepiando no
processo. — Acho que estou viciado em você, anjo.
— Não posso dizer que não quero.
— Tá falando sério? — buscou a confirmação em meus olhos. — Se falar
um “a” que seja, te arrasto daqui agora.
Mordi meus lábios, confirmando com a cabeça. E foi o que bastou para que
tomasse minha mão e nos arrancasse praticamente em uma corrida dali
comigo em seu encalço.
Cruzamos um beco escuro que dava acesso à pousada, mas a necessidade e
a sensação do proibido me fizeram frear, interrompendo as passadas,
segurando sua mão. O puxei para a parte mais escura, onde torcia para que
os vasos de plantas fossem suficientes para nos abrigar. Lógico que se
alguém passasse por ali, seríamos pegos. Aliás, até torcia para que esse
fosse o caso.
— Tem certeza?
Como resposta, desci meu vestido lentamente, ficando somente de calcinha
à sua frente.
Se há uma coisa que sempre me fazia estremecer, seria seu olhar de desejo,
quase que carnívoro, sempre quando era acometido pela luxúria. O puxei
para mais perto...
— Espera, não terminei de apreciar... — suspirou com um olhar faminto. —
Porra, Isabella.
Sorri e comecei a abrir sua bermuda, admirando a visão à frente. Pedro era
dotado e todo bonito. Bonito mesmo, do tipo que faria qualquer ator pornô
chorar de inveja e qualquer mulher salivar de desejo.
Sua boca colou à minha, reivindicando cada parte para si. E eu era dele por
inteiro. Rosto, pescoço, e quando alcançou meus seios, gemi entregue à
sensação ampliada pelo proibido. Seus lábios encontraram os meus, porque
deixá-los longe agora jamais seria uma opção. Senti aquela dor gostosa no
peito que passei a ter todas as vezes em que nos beijávamos.
Ele me penetrou em uma única arremetida, deglutindo cada som que saía
entre meus lábios. Em uma urgência de necessidade que não seria
contestada. E se me perguntassem, agradeceria o fato de me tomar por
completo. Cada arremetida entrava suave, me deixando à beira do abismo.
E como era bom.
— Eu te amo. — declarei encarando seus olhos que agora estavam quase
negros. Nublados de tesão.
— Não fala isso agora assim, porra. — suspirou pesado me arrepiando mais
uma vez, acumulando aquela dormência gostosa no ventre. — Você tira
todo meu autocontrole.
Seus dedos alcançaram meu ponto sensível. Veja bem, não foi um esfregar...
bastou um roçar suave de seus dedos para que eu começasse a gozar
imediatamente, deixando escapar um quase grito com o prazer que me dava
de tão bom grado. Não demorou para que acompanhasse, na melhor das
sincronias que poderia existir.
— Porra, sou louco por você. — confidenciou prendendo meus lábios com
sua boca. — Louco, porra.
— Também te amo, grandão. — ele sorriu e o acompanhei.
Já olhou para alguém e pensou... uau?
Observei mais uma vez seu corpo nu na cama. Isabella dormia como há
muito tempo não parecia conseguir. Seu rosto repousava sereno entre os
lençóis que, em conjunto com seus cabelos macios espalhados pelo tecido
claro, traziam um erotismo à cena que se desenrolava na minha frente. Ela
rolou, buscando por mim, revelando seus seios no processo, e eu senti um
espasmo imediato de desejo. Uma certeza que passei a ter era que jamais
me saciaria dela.
Como se fosse possível, meu sentimento por essa mulher se avolumou,
tomando cada parte do meu ser. Isabella tomou tudo para si, e não havia
nada que eu pudesse fazer a respeito.
— Está me procurando? — questionei, em um timbre de voz afetado.
— Hum... Por que se levantou tão cedo? — disse, manhosa.
Não era cedo, mas queria que descansasse o suficiente. Passamos a noite
praticamente em claro, conversando e nos amando. E apesar do cansaço
aparente, não me arrependia de nenhum segundo.
— Pedi nosso café da manhã, mas não precisa se levantar agora.
— Não se preocupe — me encarou com seus olhos claros. — Não pretendo
levantar dessa cama tão cedo. Aliás, todas as refeições serão feitas aqui
hoje.
— Está cansada? — brinquei. — Precisa descansar depois da noite de
ontem?
— Nem perto disso — sorriu. — E me diz o que está fazendo vestido e em
pé, se te quero aqui, de preferência dentro de mim.
Sorri, já me despindo.
— Seu desejo é uma ordem.
Busquei sua boca, me sentindo, mais uma vez, um filho da puta sortudo por
ter agora acesso ao seu corpo. Foi tanto tempo sendo privado, que tudo o
que mais queria era jamais sair de perto dela. E foi uma grata surpresa saber
que seu apetite sexual era exatamente como o meu, e não me veria reclamar
de sempre ouvi-la pedir por mais.
Sei que a lembrança de minha conversa com a Valentina há tantos anos
atrás não veio em boa hora, mas tinha que concordar com a garota. Pedro
era indescritível na cama.
Seu corpo ondulava contra o meu, em um rebolado lento que buscava todas
as partes certas dentro de mim, e restava somente gemer e apreciar a
sensação.
Era sexo, mas era também outra coisa. Enquanto seu corpo buscava prazer
no meu, assim como fazia com o seu, eu sentia que era mais do que amada.
Pedro venerava com atenção tudo em mim. Seus olhos jamais saíam do meu
rosto, e sua boca se desprendia da minha somente para buscar outra parte de
mim que achasse ser importante naquele momento. Mas, para minha sorte,
logo retomava meus lábios, aquecendo meu coração de uma forma que
jamais experimentei.
O engraçado é que sempre imaginei que seu sexo fosse bruto, cheio de
desejo. Entretanto, seu quadril me experimentava com calma, como se cada
momento fosse mais importante do que a busca em si pelo orgasmo. E eu já
sentia aquela dormência gostosa que precede o êxtase se avolumando no
ventre, e tentava respirar como dava, me obrigando a estender um pouco
mais do que fazíamos.
— Eu te amo — declarei, assim que o prazer varreu cada parte de meu
corpo. Parecia tão fácil falar essas palavras agora, tão natural.
— Porra, Isabella — deferiu, se entregando ao seu próprio prazer. — Eu te
amo, anjo.
— Estou apaixonado por você — ela me encarou surpresa. E não imagino o
porquê, pois se havia algo que passamos a fazer constantemente era dizer
“eu te amo”, a todo maldito tempo.
A puxei para meu colo, envolvendo seu corpo em meus braços somente
para senti-la mais próxima a mim.
— Uma vez me perguntou o que eu faria se fosse nosso último dia —
declarei, encarando seu rosto bonito. — E nem de longe pude ser sincero
como gostaria.
Seus olhos buscaram mais uma vez por resposta, em uma conversa
silenciosa que costumávamos travar. Contudo, as palavras precisariam ser
ditas, antes que meu cérebro reclamasse por ter me calado tempo demais.
— Se hoje fosse meu último dia, se dentro de algumas horas tudo se
acabasse, a última coisa que eu gostaria ver são seus olhos, encarando
minha alma. E eu te diria todas as vezes que te amo. E o único
arrependimento que levaria comigo seria não ter tido um pouco mais de
você e acordado todos os dias ao seu lado. E eu me arrependeria de todas as
vezes que meu receio falou tão alto, que as palavras “amo você” se
calaram… porque eu te amo, anjo, sempre é pra sempre.
Seus olhos se encheram de lágrimas.
— Se, naquele primeiro beijo, eu tivesse te dito que te amava e que queria
passar o resto da minha vida ao seu lado, o que teria feito? — busquei a
resposta, mesmo sabendo que, na época, seu amor pertencia a outro.
— Isso teria mudado tudo — respondeu sem precisar refletir muito, me
surpreendendo com suas palavras.
Encarei seus olhos, que sempre seriam sinceros, e eu precisava não perder
mais tempo, foram muitas oportunidades caladas até aqui.
— Quero ser seu primeiro bom dia e o seu último boa noite. Quero poder
adormecer sentindo seu cheiro e me sentir em paz, porque ninguém além de
você e meu filho me trazem essa sensação. Você é sempre a melhor parte
dos meus dias, Isabella. Desde sempre. E eu passei tempo demais tendo
medo de te contar o que sentia para esperar mais um dia que seja sem te
pedir para ser minha. Casa comigo, Isa?
— Pedro... — sorriu. — Eu te amo, mas me fala se não está sendo
precipitado. Você precisa pensar a respeito com calma, e avaliar todas as
suas opções.
— Eu passei uma vida toda avaliando, anjo — garanti, acariciando seu
rosto. — Não preciso de mais tempo. Eu preciso de você caminhando ao
meu encontro em um altar, e garantindo que não perderemos mais tempo
para sermos felizes.
O sorriso que me deu entre lágrimas jamais seria esquecido. Meu amor por
Isabella seria sempre descrito com uma única palavra: inefável[21].
— Nada me faria mais feliz.
Achei bom que não precisasse refletir a respeito e não perderíamos mesmo
mais tempo.
Enquanto a girava na cama, buscando mais uma vez seus lábios, fiz uma
promessa silenciosa. Cumpriria o que prometi ao Lucas naquela sala há
tantos anos atrás: eu tentaria fazê-la feliz a cada dia.
— Você é meu amarelo — Pedro soltou assim do nada, me fazendo sorrir.
Caminhávamos na areia branca, enquanto a praia ainda estava deserta.
Encarei seus olhos, que me observavam, esperando uma pergunta óbvia.
— Tudo bem... me fala o que isso significa — cedi.
— Sempre pensei em você como a pessoa que traz cor e alegria à minha
vida.
— Não estou sabendo lidar com esse Pedro apaixonado — falei, e ele me
puxou para seus braços.
— É? — roubou um beijo, sorrindo entre meus lábios. — E por que não?
— Nunca te vi falando algo remotamente parecido com ninguém.
— Não seria possível mesmo, já que meu coração sempre teve dona.
— Não pode ficar falando essas coisas para mim, Pedro — fingi
indignação. — É impossível não amá-lo ainda mais. Precisa parar de ser
fofo, poxa.
— E eu acho bom mesmo que seja assim, meu anjo. Porque pretendo fazer
você me amar mais a cada dia e, quem sabe, consiga sentir um pouquinho
— fez um gesto com os dedos e sorri com a declaração — do que sinto por
você.
— Engraçado que sempre penso em você como uma cor. Você é meu azul,
grandão.
— É... eu me lembro o que significa.
— Como pode ter uma memória tão boa assim? Isso é bizarro.
— Eu me recordo de todos os momentos que vivemos, Isa. De todas as
conversas, inclusive os testes de revistas que me obrigava a fazer —
repreendeu. —Essa era a única parte que eu poderia ter de você na época.
Então, fazia valer a pena.
Não era verdade... mas não quis pesar nossa conversa descontraída.
— Tá certo.
E, me conhecendo mais do que a mim mesma, me ergueu em seu colo,
arrancando mais um beijo que fazia disparar meu coração, me fazendo
sentir paz. Porque o seu amor por mim trazia sempre calmaria e certezas.
Tattoo - Loreen
20 anos antes...
Abracei meu amigo, sentindo o peito queimar com uma saudade que ainda
não sentia. Isa e ele eram tudo o que eu tinha, e minhas opções de socorro
estavam bem limitadas.
Após duas costelas quebradas e uma concussão na cabeça, eu precisava
fugir da família que deveria cuidar de mim, mas que aparentemente era
tudo o que não sabiam fazer.
Precisou de uma semana inteira internado no hospital e muitas mentiras
para que a decisão fosse tomada. Agora estava prestes a entrar no ônibus
que me levaria até a casa da minha avó paterna, a qual jamais conheci.
Parecia uma ideia melhor do que ficar e continuar a apanhar do homem
que minha mãe colocou dentro de casa. A pior parte era saber que, diante
de suas atitudes, ela não possuía um osso no corpo que lutasse por mim.
— Você pode ficar com a gente lá em casa, minha mãe já te garantiu isso.
Até nos formarmos e sairmos daqui — ele falou mais uma vez.
Entretanto, ninguém precisava ter trabalho por minha causa e não é como
se tia Vilma tivesse condições de ter mais um adolescente em sua casa para
cuidar.
Seus olhos seguravam as lágrimas de uma vida inteira. Lucas foi meu
primeiro amigo, o primeiro de verdade que se importou comigo. E eu não
seria o moleque que despejaria um monte de merda na sua vida agora.
As lágrimas que ele segurava não tinham o mesmo propósito nos olhos
dela. Isabella parecia sentir falta de ar quando a puxei para meus braços,
querendo que sua dor atenuasse.
— Vou ficar bem, Isa — tentei tranquilizá-la, mesmo sentindo um bolo na
garganta que começava a fazer com que o ar não entrasse direito. — Vou
voltar para vocês assim que for possível.
— Não — respondeu chorosa, e uni nossas testas respirando com
dificuldade. — Não vou conseguir te perder, fica comigo. Não vai. Pode
dormir lá em casa ou na casa do Lucas. Não se separa de nós, Pedro. Não
me abandona!
Sua mão massageou o próprio peito como se fosse possível atenuar a dor
que sentia.
Meu coração acelerou, e eu queria ceder... nunca quis tanto algo. Isabella
era especial, uma amiga querida, minha família, assim como o Lucas. Mas
quando despertei ouvindo seu chamado, eu entendi que não era somente
amizade o que sentia por ela. E agora, me despedir causava uma dor que
começava no peito e se alastrava por todo o corpo.
— Eu vou ficar bem. Prometo voltar para vocês assim que puder. Isso não
vai nos separar — senti meu amigo se unir ao nosso abraço. — E você
sempre será nosso anjo, Isabella. Obrigado por chegar em nossas vidas.
Lucas riu e concordou. Isa era a pessoa mais meiga que já havia
conhecido. Foi ela que discutiu com meu padrasto, se jogando na frente do
meu corpo para que ele cessasse. E eu nem queria imaginar o quanto me
custaria saber o risco que correu.
Trinta minutos foram necessários para nossa despedida. O motorista deu a
última chamada sem qualquer vestígio de paciência, e eu tive que ceder e
entrar, ocupando meu assento.
Acreditei que os dias anteriores a este tivessem sido difíceis, mas agora,
aqui, parecia um erro gigante pensar assim.
As lágrimas que corajosamente segurei foram derramadas assim que o
motor foi ligado. Perder todos aqueles que amava, assim de uma vez, não
seria algo fácil a ser feito. Olhei pela janela e vi Lucas consolando a loira,
que parecia frágil demais. E eu não queria ser o motivo de sua tristeza,
nunca. E, talvez por isso, não pensei, apenas peguei minha mochila com as
poucas roupas boas que tinha e desci do automóvel, correndo na direção
deles.
Puxei Isabella para meu abraço, querendo consolar sua tristeza, como se
essa fosse minha missão na vida, uma necessidade.
— Não posso ficar longe de vocês. Foda-se se me matarem.
— Nós somos sua família, cara. E estaremos aqui por você, sempre. Minha
mãe vai tomar conta de você.
Isabella apenas sorriu e assentiu concordando, se recostando em meu peito
e respirando aliviada. E eu entendia qual era a sensação porque, pela
primeira vez no dia, o ar entrou do jeito certo.
Não importa o quê, me distanciar não era uma opção, e eu teria que
aprender a lidar com as consequências disso amanhã. Hoje não, hoje eu
confortaria seu coração e mentiria dizendo que tudo ficaria bem.
Say You Won't Let Go - James Arthur
Tudo que pude observar à minha frente era ela caminhando em minha
direção com um sorriso lindo. Daqueles dos quais já não sentia tanta falta,
pois ela havia reaprendido a dá-los novamente. Eu sorri, mesmo com a
visão turva, pensando mais uma vez o quanto eu era sortudo por tê-la em
minha vida.
— A mamãe parece uma princesa — Biel disse, segurando minha mão.
Quis corrigir e falar que ela se parecia mais com um anjo, naquele vestido
branco esvoaçante e com uma tiara dourada em seus belos cabelos. Linda,
incorrigivelmente linda. Contudo, apenas observei seu rostinho ansioso e
sorri, assentindo.
A mulher que sempre considerei uma mãe a acompanhava, de braços
cruzados durante todo o percurso, sobre o tapete de pétalas de rosas
espalhadas pelo chão. E nada, absolutamente nada me fez mais feliz do que
esse momento agora.
Beijei a mão da loira mais velha, e em seguida seu rosto, agradecendo mais
uma vez com o olhar por tê-la aqui, pois palavra nenhuma seria suficiente
para tal.
— Sejam muito felizes, meus filhos — Tia Vilma desejou, vertendo
algumas lágrimas. Ela buscou a mão de nosso filho, partindo em direção ao
assento disponível, pondo seu neto no colo.
— Uau... — foi o que consegui dizer para Isabella. Minha cabeça parecia
ter entrado em pane, e nenhum pensamento era coerente o suficiente além
desse.
Parecia que o sorriso não queria desgrudar da minha boca. Encarei seu rosto
novamente, enxugando parte das lágrimas que vertiam de seus olhos.
— Sempre soube que era o mais emocionado — beijei seu rosto. — Não
precisa chorar, seu bobo. Já sou sua.
— E eu sou o cara mais sortudo que já existiu por isso.
Dois meses foram necessários para organizar nosso casamento. Não era
nada pomposo. Havia somente uma dúzia de pessoas mais próximas, e
nossa pequena família. Escolhemos nos casar no terraço do prédio mesmo,
mas que possuía uma vista espetacular para a cidade, além de sermos
agraciados com um pôr do sol estupendo de presente.
A decoração foi toda feita com rosas brancas e cristais. Alguns tecidos
transparentes balançavam sob o gazebo que, em conjunto com as lanternas,
davam um ar romântico sem igual. Em um sonho, era como me sentia.
Meu filho… correção, nosso filho, usava um terninho cinza claro
exatamente igual ao seu. Gabriel imitava inclusive o seu penteado, e eu
achava lindo o fato dessa criança querer se espelhar no homem mais gentil
que conheci.
Encarei o céu, sorrindo mais uma vez. Agradecendo aos meus anjos em
silêncio por mais esse presente. Parecia que alguém havia derramado um
líquido espesso e morno no meu peito, que agasalhava e acalentava meu
coração por inteiro com uma porção generosa de carinho e aconchego.
O juiz iniciou seu discurso, mas eu sequer conseguia prestar atenção no que
recitava. Toda minha atenção era destinada ao moreno ao meu lado, que
segurava minha mão. E Pedro, quando não se aguentou, me trouxe para um
abraço, permanecendo atrás de mim enquanto ouvíamos a locução do
homem à nossa frente. Era melhor assim, de qualquer forma.
Nos separamos somente no momento em que fizemos nossos votos.
— Eu acho que te amei no momento que te vi pela primeira vez, ainda
quando éramos crianças, e você pediu para ser nossa amiga. Mas a certeza
veio mesmo quando eu, em uma outra vida mais complicada, tive que me
despedir. Naquela tarde, eu descobri que viver longe de você não seria uma
opção — acariciou meu rosto, em um carinho que somente ele sabia me dar.
— Passei uma vida inteira desejando que fosse feliz, em silêncio, perdendo
mil oportunidades de dizer o quanto te amo, assim mesmo, no presente, pois
amar você é um efeito de ação. E não dizer isso a todo o momento é um
erro que nunca mais vou cometer, meu amor. Porque, Isabella, eu te amo.
Amo você e nossa pequena família. Amo dividir os dias e todas as minhas
histórias importantes. Te amei no momento em que me salvou sem mesmo
se dar conta. E amo o seu sorriso, que é sempre a parte mais bonita dos
meus dias. E você bem sabe que minha história poderia ter sido bem
diferente. Eu amo quando me encara com esses olhos espertos e me conta
que faço parte de seu universo inteiro. E eu sou o cara mais feliz por saber
que esse sentimento é recíproco. Eu prometo que vou fazê-la feliz, meu
anjo. Enquanto viver, vocês serão sempre a minha prioridade.
Finalizou, e eu mal podia enxergá-lo, em meio às lágrimas que sentia
escorrerem quentes por meu rosto.
— Eu descobri... — tentei dizer, mas falhei... limpei a garganta e me
obriguei a dizer mais uma vez. — Eu descobri que a vida é aquilo que
acontece entre os nossos planos... é o que vai em desacordo... e você não
tem qualquer controle sobre ela. Algumas coisas podem ser ruins, mas
outras... outras, como essa, são incríveis — encarei seus olhos emocionados
como os meus, sentindo o coração pressionar no peito. Aquela dor gostosa
que Pedro sempre me causava. — E amá-lo foi tão fácil. Ao seu lado
descobri que o amor é muito mais do que uma falta de ar, ou até mesmo um
disparar do coração. Seu amor é o que me centra. Eu amo que sempre me
apoie e me priorize. Você é a minha pessoa, aquela que nunca foi um acaso.
É onde meu abraço casa, meu porto seguro. A nossa história foi de
recomeços. E eu me pego hoje pensando o quanto você não tem ideia de
quantos sorrisos já dei, só de pensar em você. Eu amo nossa vida. Amo
quando chega em casa e me acompanha em uma dança sem propósito, gosto
de olhar para você nos momentos em que é um pai extraordinário para
nosso filho. Gosto de me sentar ao seu lado e poder conversar sobre
qualquer assunto, porque você sempre será o meu par. E eu fui o par
imperfeito por muito tempo, somente para entender que, às vezes,
precisamos mudar a perspectiva. Obrigada por me amar quando ainda
não sabia retribuir como precisava. Obrigada por ser paciente e me esperar.
Você vive dizendo que eu te salvei, mas a verdade é que foi você que fez
isso por mim, por uma vida inteira.
— Eu te amo — foi o que disse em resposta, antes de mais um beijo, onde
era possível sentir o quanto suas palavras eram verdadeiras em ações.
E eu sabia que havia uma promessa ali... seríamos felizes.
— Pai, preciso conversar com você sobre algo importante — meu filho me
disse, assim que coloquei mais um pedaço de carne na grelha.
Encarei seu rosto, que agora era quase uma cópia exata do Lucas, e sorri.
Em seus vinte e quatro anos de vida, tudo o que fez foi nos encher de
orgulho. Havia se formado recentemente em medicina, e jamais nos deu
trabalho, sendo sempre um menino brilhante e essencialmente bom. O
puxei para meus braços, porque amava demais meu garoto, e nunca resistia
poder abraçá-lo todas as vezes possíveis.
— Fala filho, do que precisa?
— Estou pensando em fazer o pedido? — encarei seus olhos verdes. —
Mas queria sua opinião a respeito antes. Acha que é muito cedo? Quer
dizer, acabamos de nos formar.
— O pedido? — tentei parecer menos orgulhoso. — Aquele pedido? O
oficial?
— Sim, Sr. Pedro. Está me ouvindo?
Michele era uma boa moça. Se conheceram no curso de medicina e logo se
apaixonaram, pois tinham muito em comum. E, se esse fosse seu desejo, eu
o apoiaria com toda a certeza.
— O que seu coração está falando, Biel?
— Que ela é a mulher da minha vida — suspirou, me arrancando um
sorriso, porque conhecia muito bem esse olhar. — Mas somos jovens, e
acabamos de nos formar. Não acha que é cedo demais?
— Garoto, presta atenção no que vou te dizer. Se tem certeza sobre isso,
não perca tempo. Eu sou a prova viva de que o tempo passa rápido demais e
é implacável. Então, se agarre a todas as oportunidades que deseja e viva
sempre intensamente. E, se for para se arrepender de algo, que seja por
alguma coisa que fez e nunca pelo que deixou de fazer. Mas... — expandi
os olhos em sua direção — precisa contar para sua mãe.
— Eu vou — me abraçou. — Mas preciso de sua ajuda, pai. Sabe como
dona Isabella pode ser durona quando quer.
Dei um gole em minha cerveja e pisquei para ele.
— Conta comigo para o que precisar, moleque. Mas não esqueça que ela te
ama mais do que qualquer coisa no mundo.
— Eu sei. — garantiu com um beijo, se retirando em seguida para alcançar
sua futura noiva que havia terminado de conversar com Miguel, seu melhor
amigo, e começava a vir em nossa direção.
Era mais uma tarde como tantas outras, cercados de calma e de pessoas que
amamos.
Encarei minha esposa, que brincava com nosso cão. Quer dizer, mais dela
do que meu, pois Max a seguia pra cima e pra baixo. O labrador amarelo
lhe arrancava sempre muitos sorrisos, e era uma parte importante da nossa
família.
Havíamos retornado para o Rio, para vivermos na mesma casa a qual
pulamos o muro diversas vezes para roubar maçãs e nadar escondido. Sua
feição de agradecimento jamais seria esquecida.
Destapei seus olhos, revelando a surpresa.
— O que estamos fazendo aqui? — questionou confusa, com um largo
sorriso nos lábios.
— Te trazendo para conhecer a nossa casa. Surpresa!
— Não acredito — me encarou. — Jura que é nossa?
— Nossa, meu amor. Aqui começa a nova etapa de nossa história.
Ela pulou em meu colo eufórica, como sabia que ficaria, beijando meus
lábios e correndo em seguida para pular na nossa piscina.
Não haveria outra escolha, este sempre seria o nosso lugar. O nosso
cantinho especial.
Encarei minhas meninas brincando na piscina com sua avó, e eu não
poderia estar mais feliz. Ana e Luiza chegaram em nossas vidas de repente.
Era para ser mais uma visita ao orfanato, quando as gêmeas se aproximaram
de nós com uma tristeza que não poderia ser ignorada. Sabemos qual é a
realidade do Brasil. Irmãs, negras, com mais de oito anos, não possuem
muitas chances de adoção. Quer dizer, a exceção fugiu à regra, quando nos
apaixonamos por elas imediatamente. Mais um de nossos reencontros.
Agora já eram adolescentes, com seus dezesseis anos, e me tiravam o juízo
todos os dias. Mas, quer saber se eu trocaria isso? Jamais!
Isabella notou que eu a observava e acenou, partindo em minha direção. No
percurso, encarou a piscina onde estavam todos os nossos filhos e suspirou.
Foi quando uma rajada de vento soprou, bagunçando seus cabelos,
causando uma visão linda de ser apreciada. Ela levantou seu rosto para o
céu, e sorriu. Era um daqueles sorrisos lindos, que eu gostava de colecionar.
Nunca mais a vi chorar, sua saudade agora era demonstrada com sorrisos, e
seus dias sempre foram repletos de alegria. Uma hora os momentos difíceis
tinham que terminar.
— Depois de tantos anos, ainda me olha com esse olhar apaixonado? —
beijou meus lábios. — Quem diria que seria o mais emocionado?
— Por você? Serei sempre, meu anjo. Aliás... — a prendi em meus braços,
sorrindo em sua boca — já falei que te amo hoje?
— Em cada gesto — garantiu.
— É... eu te amo, meu anjo.
— E eu amo você.
PLAYLIST
Save Me - Hanson
Iris – Goo Goo Dolls
Arcade – Duncan Laurence
Here Without You - 3 Doors Down
I can't make you love me - George Michael
Let It All Go - Birdy, Rhodes
Someone To Stay - Vancouver Sleep Clinic
A drop in the ocean - Ron Pope
You and Me – Lifehouse
Tattoo - Loreen
Say You Won't Let Go - James Arthur
Spotify
AGRADECIMENTOS
Seus planos são até bem simples: ter um bom emprego, manter bons amigos
e se possível uma boa dose de diversão.
A vida por outro lado parece ignorar toda sua pequena lista e lhe envia
alguns belos problemas ao mudar de cidade para seu novo emprego.
Tudo o que ela não esperava é que seus maiores desafios teriam cerca de
1,90 de altura, terno e gravata e um humor dos infernos.
Ela estava pronta para dar as cartas, até perceber que nada é exatamente
como pensava. Mas seus planos não previram a atração que sentiria por
Andrew e tão pouco que fosse recíproco. O que não seria um problema, se o
homem em questão não fosse o marido de sua amiga.
Ele acredita que é um verdadeiro playboy e não se acha bom o bastante para
ser digno de sua confiança.
Essas são apenas algumas de várias definições que podemos usar para
descrever a nova antologia da Serpentine Editorial, que comemora em
grande estilo a junção de carisma, diversão, suspense, romance, e outros
diversos gêneros literários tão enraizados no cotidiano literário.
3.
4.
5.
[1]
parca:
qualidade de escasso; pouco: parca saúde; pessoa de parcos bens. Econômico na maneira como
decide gastar dinheiro; poupado.
[2]
espécime:
[3]
tácito:
[4]
amálgama:
fusão perfeita entre coisas; mistura. No sentido figurado, uma amálgama é o nome que se dá à
mistura de coisas diversas e heterogêneas.
[5]
mandamental:
[6]
mise en place:
termo francês que significa "pôr em ordem, fazer a disposição"; arrumar e preparar a cozinha para
começar a confeccionar os pratos.
[7]
sorve:
do verbo sorver. O mesmo que absorve, aspira, chupa, suga; beber aos poucos.
[8]
esguelha:
[9]
crispava:
[10]
vultoso:
[11]
escrutínio:
[12]
embair:
[13]
tamborilar:
imitar um tambor, batucar; bater os dedos ou qualquer objeto sobre uma superfície.
[14]
indulto:
[15]
cenho:
[17]
intumescido:
[18]
maître:
[19]
vertia:
[20]
traquejo:
[21]
inefável:
que não se pode nomear ou descrever em razão de sua natureza, força e beleza; indescritível,
inebriante, encantador.
[22]
confrangeu: