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Copyright © 2023 Karine Gomes

Todos os direitos reservados

Processo editorial: Kreativ Editorial

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer


forma ou quaisquer meios eletrônicos, mecânico e processo xerográfico,
sem autorização por escrito dos editores.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº


9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

TEXTO REVISADO CONFORME NOVO ACORDO


ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA.

Neste texto você vai encontrar alguns neologismos, coloquialismo


e várias expressões como “tá”, “tava” “pra”, entre outros, que foram
usados propositalmente para deixar a leitura gostosa e mais próxima à
forma como falamos.

1ª Edição

2023
Dedicatória
Nota da autora
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Epílogo
Agradecimentos
Outras obras
Sobre a autora
Onde me encontrar
Dedico esta história a todos aqueles que erraram,
mas que se arrependeram e fizeram ou farão
o possível para corrigir seus erros.
Hey lindezas!

Esta é uma obra de ficção, portanto, acontecimentos e situações


podem não ser aplicadas na realidade. Por ter conteúdo erótico e linguagem
imprópria, o livro é indicado para maiores de 18 anos.
Apesar desse livro ser um romance leve e tranquilo, alguns
assuntos como: relação familiar tóxica e abusiva, machismo e assédio
sexual podem despertar gatilhos em pessoas sensíveis a essas situações.
Agradeço a todos os leitores pela compreensão, pois a duologia
seria lançada em novembro, mas devido a diversos imprevistos, precisou
ser adiada.
Não se Entregue é o segundo livro da Duologia Irmãos Prinz, e
mesmo que eles possam ser lidos separadamente, o ideal é que vocês leiam
o primeiro livro para não receber spoiler, ok?!
Em Não se Apaixone vocês conheceram o Olliver pela visão da
Vick, do Ed e pelos boatos que correm pelos corredores da UCLA, mas nem
tudo o que parece, é de fato o real. Nesse livro vocês vão poder conhecer
mais profundamente o Olliver, saber seus medos, seus receios e quem ele é
de verdade, onde o próprio Ollie vai contar sua história e permitir que, não
só a Maddie, como todos vocês possam conhecê-lo mais profundamente, e
até mesmo se apaixonarem por esse "princeso".
Não esperem tramas mirabolantes. Apesar de existirem surpresas
no livro, nenhuma delas trás drásticas reviravoltas.
Não se Entregue foi escrito com a intenção de fazer você rir, se
apaixonar e se emocionar com a história desse casal que habitou minha
mente por tantos meses. Espero que gostem e se entreguem a esse livro,
assim como me entreguei para finalizar a duologia à altura desses irmãos.
Ele é um rebelde, se afastou da família para seguir seu próprio
destino.
Ela é uma garota tímida que saiu do Texas para seguir seu sonho.
Ele gosta de se divertir e ser o centro das atenções.
Ela só quer andar sem ser notada.
Eles não têm nada em comum, mas, ao passar um tempo juntos,
eles vão descobrir que o ditado "os opostos se atraem" nunca fez tanto
sentido.

Olliver Durand é o popular quarterback do Bruins. Visto como


cafajeste e rebelde, faz de tudo para provocar seu pai, uma figura muito
importante em seu país de origem. No entanto, a situação muda quando ele
se aproxima de Maddison Brown, uma garota tímida e estudiosa que jamais
direcionou um segundo olhar ao playboy bonitão. Uma amizade nasce e
logo vai se transformando no coração dos dois, mas, um erro de Ollie pode
colocar tudo a perder.
Solto o ar ao descer do avião, sabendo que uma nova vida me
espera nos Estados Unidos. Uma vida sem regras, mesmo que temporária;
sem olhares acusatórios, cobranças e palavras duras, me fazendo sentir
culpado pela perda da pessoa mais importante da minha vida. Meu pai sabe
ser cruel quando quer e dessa vez ele não se poupou. Lembro-me com
clareza de cada palavra dita quando me deixou vir pra cá.
— É bom mesmo que você se afaste, já que não serve nem para
cumprir seu papel de filho por não passar de um jovem rebelde e
descontrolado, que tanto fez, até que sua mãe morreu de desgosto. Mas já
aviso que, se alguém descobrir sua verdadeira identidade e isso respingar na
nossa família, as consequências não serão boas para você. Então, não me
decepcione mais uma vez, Olliver.
Minha mãe… A mulher mais incrível do mundo, que morreu há
algum tempo em decorrência de acidente que, segundo meu pai, eu fui a
causa, pois ela havia ido atrás de mim certa noite.
Balanço a cabeça para dissipar esses pensamentos e caminho em
direção a esteira para pegar minha bagagem.

Uma semana depois…

Essa casa é enorme e estou a ponto de enlouquecer. Sem meu


irmão pegando no meu pé, meu segurança e todos os empregados da casa,
me sinto sozinho. Por isso, com uma ideia em mente, procuro no celular o
abrigo de animais mais próximo e pego um uber até lá.
O lugar é grande e está lotado de bichos por todo o canto. São
cachorros e gatos de várias cores e diversos tamanhos, mas um felino em
especial me chama atenção. Ele é cinza malhado e está de barriga para
cima, recebendo carinho de uma pessoa ruiva de cabelos longos cobertos
por uma touca preta dessas de frio.
Assim que me aproximo da grade, eles sentem minha presença e
ambos olham em minha direção. Quem agrada o bichano é uma ruiva
pequena e delicada, com olhos muito claros, cabelos longos e muitas sardas
espalhadas por seu rosto.
Contudo, antes que eu possa me informar melhor sobre o
animalzinho que pretendo levar comigo para casa, ela se afasta e sai por
uma porta aos fundos, me deixando sozinho. O gato se levanta devagar, me
analisando com desdém, e assim decido que ele, Kakarotto, é quem me fará
companhia.
Antes que possamos sair da sua “casa” provisória, ele ainda olha
para a porta por onde a garota saiu, como se dissesse que ela é importante e
que vai sentir sua falta. Por incrível que pareça, sinto que, em algum
momento, terei o mesmo pensamento.
Enquanto olho para a foto nas minhas mãos, sinto lágrimas
intrometidas escorrerem pelo meu rosto. São tantas memórias… Ed, Vick,
ela e eu estamos sorrindo para a câmera, em um momento de comemoração
pós-jogo, e agora, esse pedaço de papel é tudo o que me resta dela, a
lembrança de que sou um idiota que colocou tudo a perder, e os nossos
incríveis momentos juntos.
Eu deveria ter percebido, quase dois anos atrás, o quanto ela era
importante para mim. Não imaginava que me apaixonaria pela garota que
me olhou de relance e fugiu, que deixou a mim e meu gato caidinhos de
amores por ela lá naquele abrigo.
Como fui burro! Estava tudo na minha cara o tempo todo, e
pensar nisso dói de uma forma tão profunda, que é como se perfurassem
minha alma.
Depois de uma vida cheia de cobranças, regras e tudo mais, me
envolver nunca esteve nos planos, afinal, isso é o que meu pai sempre quis
e meu objetivo de vida é contrariá-lo. Contudo, aqueles olhos azuis-
esverdeados e o cabelo ruivo foram a minha ruína, principalmente somado
ao seu jeito tímido e fofo, que se solta completamente na minha presença,
como se ela se transformasse em outra pessoa. Descobri nela uma colega de
turma, uma amiga, uma companheira e uma amante incrível, que bagunçou
os meus sentidos e derrubou todas as minhas convicções. No entanto, o que
me resta agora é, literalmente, chorar pelo leite derramado, pois não há nada
que eu possa fazer para ter a minha garota de volta.
Mais uma lágrima escorre pelo meu rosto com a lembrança e
então, tenho um estalo, contradizendo meu pensamento anterior. Não irei
desistir assim, sem lutar.
— Pode esperar, Girassol, estou indo e não vou desistir enquanto
não tiver você de volta!
Deixo a água fria percorrer o meu corpo, relaxando meus
músculos doloridos após uma tarde intensa na academia. Apesar de os
treinos do Bruins só começarem na semana que vem, não deixei de lado a
musculação, pois mesmo nas férias, um atleta como eu precisa manter a
forma, senão depois levo semanas para voltar ao ritmo. O técnico apostou
alto quando me deu a vaga de quarterback[1], mesmo estando no início da
faculdade, por isso, não posso deixar a desejar e nem decepcionar, pois sei
que existem vários urubus à espreita, só esperando um deslize para
reivindicarem a minha vaga no time. E eu não vou permitir que algo assim
aconteça.
Saio do banho renovado e vou ao meu quarto me vestir, pois hoje
— como em todos os outros dias da última semana — é dia de festa em
uma das fraternidades. Enquanto penteio meu cabelo, ouço meu celular
tocar e pelo toque, sei que é meu irmão.
— Fala, Eustácio! — digo, sabendo o quanto isso o irrita.
— Não vou nem te falar nada, Olliver! — resmunga, fazendo jus
ao apelido de velho resmungão que lhe dei. — Estou ligando para dizer que
papai está a um passo de me mandar para os Estados Unidos para tomar
conta de você, já que, pelo visto, não sabe se comportar como o adulto de
vinte anos que deveria ser.
— De novo isso, Ed? Se bem que, te trazer aqui não é uma má
ideia… Você pode ter alguns anos de normalidade na faculdade, ao invés de
ficar lambendo o chão que o papai pisa, como um maldito cachorrinho…—
acuso, sabendo que vou tirá-lo do sério.
— Chega dessa conversa, Ollie! Você sabe que esse é meu destino
e minha responsabilidade, afinal alguém precisa ser responsável nessa
família. — Bingo! A mesma resposta de sempre. Meu irmão é tão
previsível…
— Blá blá blá… Já acabou com o sermão?
— Olliver… — Ouço repreensão em sua voz.
— Tenho uma festa pra ir e um pai para envergonhar, Ed. Até
mais, irmãozão! — Desligo, sem lhe dar chance de resposta.
Enfio o celular no bolso e confiro minha aparência no espelho,
satisfeito com o que vejo, e ao sair do quarto, Kakarotto me olha com
aquele ar de tédio muito característico dele, para depois olhar para sua
tigela de ração vazia. Esse gato parece pensar que é ele quem manda na
nossa relação. Vou até o armário e pego dois sachês de salmão, porque o
sem vergonha é exigente, e despejo na sua vasilha decorada com esferas do
dragão, antes de trocar a água. Ele caminha vagarosamente até onde estou,
inspeciona o que lhe servi e, com muita má vontade, senta como se fosse da
realeza — irônico, eu sei — e começa a comer como um lorde.
Afago sua cabeça antes de sair — porque sei que ele odeia — e
caminho até a garagem, onde encontro meu Jeep Gran Cherokee preto.
Entro no veículo e dirijo para mais uma noite de farra, afinal, é para isso
que estou aqui neste país, para ser um homem livre!

Estou sentado no sofá macio da Kappa Alpha Theta, observando


as pessoas ao redor bebendo e dançando numa confusão de luzes coloridas
e música alta, enquanto uma morena deliciosa, e moradora desta
fraternidade, se remexe no meu colo, fazendo o meu pau acordar. Safada!
Ela sabe que já garantiu a noite na cama do quarterback e vai se aproveitar
disso, mostrando para todo mundo. Levo minhas mãos à sua cintura,
ajeitando a posição para que sinta o volume da minha ereção. Ela vira a
cabeça para trás e dá um sorriso sensual que me faz puxá-la para um beijo
nada casto. Foda-se, minha fama me precede e não preciso me comportar.
Não mais, não aqui.
— Ei, Oliie! Que tal uma festinha a três? — uma loira propõe,
arrastando as unhas pela minha nuca, em seguida esfregando seu nariz no
pescoço da morena.
— Sinto muito, baby, eu sou cafajeste, mas possessivo, não curto
dividir. Que tal amanhã, hein? — sugiro, e ela sorri, acenando com a cabeça
e se afastando, dando uma piscadela antes de sumir entre as pessoas que
dançam na pista improvisada.
— Você não vale nada, Olliver — a morena sussurra no meu
ouvido, lambendo o lóbulo da minha orelha.
— Eu nunca disse que valia... — Pisco para ela e me ergo,
levando-a comigo para fora da casa, rumo ao meu carro, que vai ser o
abatedouro da noite.
Passamos pelas pessoas eufóricas e muito bêbadas que nos
apertam contra seus corpos suados e, com algum esforço, chegamos ao
gramado, onde vemos casais se beijando, grupinhos falando alto e rindo,
mas minha atenção é desviada de tudo isso quando a morena me abraça por
trás e sua mão entra na minha calça, apertando meu pau por cima da cueca,
que a essa altura já implora por alívio.
Aperto o passo e a arrasto comigo, prensando-a contra a lataria do
carro assim que o encontro. Ataco sua boca com fome, chupo sua língua e
mordo seu lábio inferior, ouvindo seu gemido conforme minhas mãos
apertam sua bunda escondida por um vestido minúsculo e colado que vai
facilitar — e muito — o meu trabalho de ter e proporcionar prazer essa
noite.
Suas mãos entram por baixo da minha camiseta, arranhando
minhas costas, ao mesmo tempo em que meus lábios descem pelo seu
pescoço, beijando e lambendo, fazendo-a gemer e se esfregar em mim.
Decidido a não dar um show em público, arrasto-a comigo para
dentro do veículo e é lá que a brincadeira fica séria. A garota, muito afoita,
abre minha calça com uma rapidez impressionante, quase não me dando a
chance de vestir a camisinha, algo que eu jamais concordaria, pois até posso
querer provocar o meu pai, mas não pretendo espalhar herdeiros por aí.
Diferente do eu esperava, as coisas aconteceram rápido demais, e
quando terminou e a morena se despediu, um sentimento de vazio encheu o
meu peito.
Eu quis estar aqui, desafiei meu pai, fui na contramão dos seus
planos para mim, deixei para trás boas universidades no meu país, tudo
para me sentir livre, para que não precisasse me adequar às suas regras de
etiqueta estúpidas e toda a pompa que sempre me cercou.
No entanto, apesar de me sentir realizado aqui, sendo o filho
rebelde e badboy de quem papai se envergonha, a lembrança viva de sua
falecida e amada esposa, já que sou extremamente parecido com minha
mãe, sinto que falta algo. Ou melhor, falta alguém. Um amigo verdadeiro,
alguém que me entenda ou, quem sabe, o meu irmão. Sim, ter Ed aqui seria
incrível, pois dessa forma conseguiria arrancá-lo das garras e das
obrigações a que ele foi submetido desde novinho.
E com esse pensamento, dirijo para casa, dando a noite por
encerrada, sem imaginar o que me espera nos próximos dias.
Sinto o suor escorrer pela minha testa enquanto meus tênis entram
em contato com o asfalto num ritmo acelerado devido a corrida. Já malhei
hoje, mas a mensagem do meu irmão avisando que está vindo para cá me
deixou eufórico demais e preciso gastar o máximo possível de energia se
quiser dormir mais tarde.
Eu poderia simplesmente escolher uma garota qualquer e me
perder nela por algumas horas, me inundando de ocitocina, no entanto,
diferente do que todo mundo pensa e dos boatos que correm por aí, não sou
esse comedor nato. Tenho minhas fodas casuais e, com certa frequência,
alguma gata esquentando a minha cama, porém, isso é tudo muito vazio e já
não acho que esteja me bastando. Preciso de mais. Mais emoção, mais
desafio, mais… sei lá o quê.
Não sei explicar, e é por isso que me dedico tanto ao futebol, pois
os momentos em campo me fazem sentir realizado e é essa sensação que
quero para a minha vida.
Perco a linha de raciocínio quando vejo cabelos incríveis voando
com o vento forte, conforme a garota anda apressada com uma pilha de
livros nas mãos. Reconheço-a de imediato. A inseparável bolsa com
estampa de girassol está pendurada em seu ombro e a ausência da touca
esquisita que ela usa com frequência me faz sorrir.
Ruivinha, como a denomino na minha mente por não saber seu
nome, a garota fofa e estranha que conheci no abrigo de animais, que faz o
mesmo curso que eu na UCLA e tem me intrigado nos últimos tempos.
Diminuo o ritmo ao passar por ela, subindo na calçada para me
aproximar despretensiosamente.
— Oi! — cumprimento e a vejo congelar no lugar como um
bichinho acuado. Ela não me responde, muito menos ergue a cabeça. —
Ruivinha? Tudo bem? — pergunto quando paro ao seu lado, curioso.
Nenhuma vez dirigi a palavra a ela, mas a animação desse dia me leva a
tomar essa atitude.
Essa garota é uma grande incógnita para mim; sempre calada em
um canto nas aulas, estudando nos intervalos, não vai a nenhuma festa e
nunca, jamais, sequer me deu um olhar de interesse.
Ela levanta o rosto na minha direção, mas a nossa diferença de
altura dificulta que olhe diretamente nos meus olhos. Aposto que, se eu a
abraçasse, ela sumiria entre os meus braços e seria possível apoiar meu
queixo no topo de sua cabeça.
— O-oi! — responde, apertando ainda mais os livros contra o seu
corpo.
— Vindo da biblioteca durante as férias? Sério? — questiono com
um sorriso, para que ela não note a repreensão na minha voz.
Ela apenas confirma com a cabeça e quando vou perguntar mais
alguma coisa, simplesmente aperta o passo e sai andando sem olhar pra
trás.
Eu, hein? Só reforça a minha opinião sobre ela ser estranha.
Como já parei a corrida, seco o suor e caminho até a casa que
divido com mais quatro colegas de time, um sobrado espaçoso que
comporta a todos nós com tranquilidade. Quando estou perto do gramado
da entrada, meu celular toca e a cara branquela do meu irmão aparece na
tela.
— Tudo isso é saudade, Eustácio? — debocho, porque ele nunca
me liga com tanta frequência assim.
— Oi pra você também, Olliver — responde de mau humor. —
Olha só, estou ligando para avisar que chego na segunda-feira e espero que
você tenha um quarto sobrando pra mim na casa, pois essa foi a exigência
do papai, pois, segundo ele, você é um moleque mimado que precisa de
supervisão e limites.
— É claro que ele disse isso — comento revirando os olhos, e me
sento nos degraus em frente ao imóvel. — Afinal, o que eu fiz de tão grave
para merecer sua ilustre presença? — Me faço de desentendido, pois o meu
comportamento desregrado nos últimos tempos foi, em parte, com a
intenção de provocar o velho o suficiente para finalmente ter o meu irmão
aqui comigo.
— Que tal ter sido fotografado com duas garotas numa festa
semana passada e depois fazendo sexo no carro? É bom o suficiente pra
você? — diz, debochado.
— Espera aí, como ele tem essas fotos? — Não é à toa que estudo
teatro, já que essa minha atuação indignada é digna de Oscar.
— É sério que você achou que ele permitiria que fosse para outro
país, em outro continente, e não deixaria ninguém te vigiando de longe,
irmãozinho? Você é tão inocente… — zomba.
— Tá, tá, eu suspeitava, porém, ele nunca se importou realmente
comigo, né? Por que se preocupar com o "bebê de segurança", tendo um
herdeiro inteligente e submisso disposto a fazer todas as suas vontades?
— Ollie, não fala assim… — meu irmão alerta.
— Você sabe que essa é a verdade, Ed. E tá tudo bem. Eu sei que
a mamãe me amou e, seja lá onde ela esteja, sei que olha por mim e isso me
basta — confesso, tentando disfarçar a melancolia na minha voz, pois esse
assunto é o meu ponto fraco.
— Você sente muita falta dela, não é?
— Toda vez que olho no espelho — explico, já que sou uma cópia
viva da mulher mais importante da minha vida, numa versão masculina.
— É… — Meu irmão se perde nas palavras e sei que é o
momento de encerrar o assunto. Eu sei que ele também amava muito nossa
mãe, mas sempre foi mais próximo do nosso pai, que o prepara para seguir
seus passos desde pequeno.
— Tá tudo bem, irmãozão. Agora me conta, que horas você
chega?
— O pouso está previsto para às dez da manhã, e…
— Estarei lá! E vou providenciar para você uma cama no porão,
entre as ferramentas e as bagunças que a gente tem naquele muquifo —
brinco, encerrando de vez o assunto e com algumas ideias em mente, já que
hoje é sexta-feira da penúltima semana antes de as aulas começarem, ou
seja, sinônimo de festas loucas e sem hora para acabar. — Nos vemos na
segunda, Ed!
— Juízo, Ollie! — avisa e, antes que eu encerre a ligação,
completa — Minha bagagem já chegou?
— Chegou, sim. Alguma recomendação, Vossa Alteza?
— Pode deixar tudo nas caixas, que arrumo quando chegar.
— Não se preocupe, Sr. Certinho, já ordenei que organizassem
tudo no seu closet, separado por cor, tamanho, bla, bla, bla, bla.
— Olliver, eu estou falando sério e, pour l'amour de Dieu,
mantenha seu bichano endiabrado longe das minhas coisas!
— Deixa comigo, Eustácio!
Ele resmunga mais alguma coisa que não faço questão de
entender, pois estou rindo de como meu irmão parece um idoso de oitenta e
dois anos, e com isso, encerramos a ligação e entro em casa, encontrando os
quatro marmanjos no sofá, jogando videogame.
— Caiu da cama, ó poderoso quarterback? — Trevor começa
com as provocações, mas eu ignoro, sei que é tudo despeito por ele ser o
meu reserva.
Tudo que meu suposto amigo queria era substituir Bryan Evans, o
consagrado quarterback do Bruins, porém, eu fui o escolhido, obviamente
por ser o melhor. Ele que lide com isso agora.
— Só quero avisar que meu irmão chega na segunda e vai morar
aqui com a gente.
— Mas… — Trevor até tenta argumentar, mas eu o impeço.
— Como sou eu quem paga a maior parte do aluguel, imagino que
não haja problema. Certo? — pergunto retoricamente, cruzando os braços.
— Ele vai ficar com o quarto vago ao lado do meu — comunico e me
afasto, seguindo para a cozinha, disposto a pegar um copo d'água.
— Ollie… — Hunter chama e olho para ele, ao mesmo tempo em
que Kakarotto o analisa de cima do balcão, como se fosse o rei da casa —
Se precisar de alguma ajuda com a mudança do seu irmão, pode chamar, tá?
Mais tarde te ajudo a desocupar o quarto.
— Valeu, cara! — agradeço ao único que realmente é meu amigo
aqui.
Ele volta para a sala e eu caminho até às escadas, louco por um
banho.
— Oliiver — ouço a voz de Matt e interrompo meus passos,
olhando pra ele —, já que seu irmão está vindo e, pelo que você sempre diz,
ele é meio certinho, podemos fazer uma última festa de arromba antes de
ele chegar? Domingo? — pergunta e me olha com expectativa, enquanto os
outros três parecem animados com a sugestão.
— As festas não vão mudar, continuaremos com nossa rotina
normal — respondo, e logo uma ideia me anima. — Inclusive, vamos fazer
uma festa de boas-vindas para recepcionar o nosso novo morador.
Após ouvir suspiros de alívio de Trevor, Matt e Jackson, sigo para
o meu banho.

Entro no Joe's, o pub mais badalado nos arredores da UCLA, e


logo vejo muitos rostos conhecidos. A maior parte do público é composta
de alunos da universidade e não demoro a encontrar a turma do time em
uma mesa no canto, perto de onde duas duplas jogam sinuca.
— E aí, Ollie! Beleza? — James, o running back do Bruins me
cumprimenta.
— Fala, brother! Tudo certo e com você?
— Tranquilo. — Ele sorri com seu jeito tímido. — Senta aí! —
convida, mostrando a cadeira ao seu lado.
— Vou ali pegar uma bebida e já volto — aviso e ando em direção
ao bar, onde de longe vejo Vick, minha amiga safada, levemente doidinha e
muito parecida comigo, atendendo algumas pessoas.
— Oliie, como você está, gato? — Ela se pendura em meu
pescoço por cima do balcão e beija minha bochecha, fazendo vários machos
ao redor virarem o pescoço e torcerem o nariz em despeito.
É isso que dá ter uma amiga gata.
— Bem, loira. E aí, muito trabalho?
— Urgh, nem me fale! Tive que pegar mais turnos para fazer uma
grana extra, mas tudo o que queria nesse momento era encher a cara em
uma festa e beijar uns boys gostosos — comenta, me fazendo rir.
— Hoje eu não posso te ajudar com isso, mas domingo vai ter
uma festa lá em casa e você está convocada a comparecer — digo, dando
uma piscadela que a faz sorrir.
— Fechado! E então, o que vai querer? — pergunta, apontando o
balcão atrás de si.
— Uma água com limão e gelo, mas…
— Eu já sei: fazer com que pareça um drink másculo e cheio de
álcool — ela me interrompe, me conhecendo muito bem
— Isso mesmo, garota! É por isso que eu te amo. — Jogo um
beijo para ela e aperto seu nariz com carinho.
— Claro, me ama porque eu te ajudo a manter essa fachada fajuta
de badboy. — Ela ri e eu dou de ombros.
Vick se vira para preparar a minha bebida, enquanto sento em
frente ao balcão para esperar. Vejo os caras quase comendo-a com os olhos
conforme se remexe com destreza e me irrito, mas sei que não preciso fazer
nada a respeito, pois ela é plenamente capaz de se defender e eu sei bem,
porque já a vi peitar muito marmanjo e quando Vick se estressa, aconselho
chamar um exorcista para acalmar a fera.
— Aqui, gato! — Ela me entrega um copo alto com líquido
transparente, gelo e rodelas de limão, que parece mais uma margarita, mas
vai servir.
No entanto, assim que dou o primeiro gole, sinto meu telefone
vibrar no bolso direito da calça jeans, e quando olho para a tela, o nome de
Jenna aparece.
— Diga, meu bem. — Atendo, ouvindo um suspiro seguido de um
choramingo.
— Alerta vermelho, Ollie! — Sua voz denuncia o que está
acontecendo.
E ao ouvir essas palavras, bebo o restante do líquido em meu copo
de uma só vez, pago e saio do bar.
— Estou indo!
Estaciono em frente a Book’s and coffee's, uma cafeteira simples,
mas elegante, que também fica na zona universitária — assim como o pub,
as fraternidades e a minha casa — e entro, ouvindo o sino de vento da porta
fazer barulho.
De trás do balcão, Abby sorri para mim.
— A que devo a honra de ver o QB mais famoso do campus aqui?
Tá precisando de umas rosquinhas, certo? — pergunta sorrindo.
— Tudo bem, Abby? Isso mesmo, preciso de uma caixinha de
rosquinhas variadas e com muito recheio e um pote de Ben & Jerry's de
caramelo.
— O sorvete você pode pegar ali no freezer. — Aponta para o
lado direito e sorri com incredulidade, cruzando os braços. — Eu só fico me
perguntando como você consegue manter esse tanquinho aí comendo açúcar
desse jeito.
— É a genética — respondo, dando de ombros. Além da fama de
pegador, ainda pensam que eu sou um viciado em doces.
Ela se vira e vai pegar o meu pedido, enquanto caminho até o
local indicado. Estou voltando com o pote quando fios ruivos chamam a
minha atenção e logo me lembro da garota de mais cedo, a fofa e estranha.
Por favor, não me julgue, mas a forma como ela se comporta é um
tanto peculiar, não dá pra negar.
Ao me aproximar, vejo a tal bolsa de girassol pendurada ao seu
lado e tenho certeza de que é ela, então, numa atitude impensada, puxo a
cadeira à sua frente; o movimento chama a atenção, fazendo-a desviar o
olhar do livro que estava lendo e erguer a cabeça, encontrando-me olhando
diretamente para ela. Assim tão de perto é possível enxergar com clareza a
cor dos seus olhos, que parecem o mar das Maldivas em seu tom azul-
esverdeado límpido; as pequenas sardas espalhadas por seus rosto, os lábios
grossos e rosados que me fazem querer prová-los e o nariz delicado e
arrebitado que lhe dá um ar de garotinha inocente.
— Nos encontramos novamente, Girassol! — comento e ela
arregala os olhos.
— Como é? — Sua voz é suave e levemente rouca, e tudo o que
consigo pensar é como deve ficar sensual gemendo sob meu corpo. Aponto
para a bolsa e após alguns segundos, ela entende o motivo do apelido. —
Eu tenho nome — resmunga.
— Com certeza tem, mas eu não sei, e Girassol me parece
apropriado. — Ela sorri, apesar de tentar parecer durona e uma mecha de
cabelo cai sobre seu rosto. Não contenho o impulso de tocar os fios e levá-
los até atrás de sua orelha.
— Sou a Maddison, mas pode me chamar de Maddie — responde.
— E eu sou…
— Olliver Durand, o quarterback do Bruins, todo mundo sabe —
ela me interrompe.
— Mas você não é todo mundo — comento, usando uma das
expressões curiosas que aprendi com a Vick.
Ela não se contém e ri de forma envergonhada, o que também me
faz rir.
— E então, Maddie, o que faz aqui sozinha em plena sexta-feira?
— Vim ler um pouco, me distrair.
— Mas te vi saindo da biblioteca hoje. Não leu o suficiente? —
Ergo a sobrancelha e seu rosto assume um lindo tom rosado, deixando
evidente sua vergonha.
— Sim, mas… — ela hesita, tímida — Eu não sou nem um pouco
popular… então…
— Entendi — falo e, por algum motivo que desconheço e nem
quero pensar a respeito, digo a coisa mais improvável possível — Porém,
isso vai mudar! Vamos dar uma festa lá em casa domingo e você está
convocada — explico e ela parece chocada.
— O-o quê? Não, não… Eu não gosto de…
— Convocada, Maddie! Você não precisa gostar, mas ao menos
precisa dar uma chance. Combinado?
Ela solta um suspiro, como se não tivesse mais argumentos.
— Eu não sei… Nem te conheço.
— Maddie! Você sabe que sou o Ollie e jogo no time da
universidade…
— Tá bom. — Solta o livro na mesa e cruza os braços.
— Se tiver uma amiga, pode levá-la com você — aviso, mas
antes que ela possa responder, ouço meu nome ser chamado.
— Ollie — Abby chama, mostrando a caixinha pronta.
— Já volto — digo à Maddie e vou pegar meu pedido.
Levanto-me da cadeira e caminho até o balcão, observando um
sorriso estranho no rosto de Abigail.
— Presa nova, Ollie? — Abby pergunta, com um sorriso
debochado. — Ela é… diferente.
— O que quer dizer com isso? — indago, irritado por perceber o
desdém dela com a garota.
— Ela não se parece com as Barbies que você costuma pegar, só
isso. É diferente, e linda.
— Isso ela é mesmo, no entanto, ela não é uma presa, porque não
sou um predador caçando, e não tem essa de "que eu costumo pegar". Eu
me envolvo quando há interesse recíproco, não tem um padrão. E eu não
vou "pegar" a Maddie, porque ela não é uma coisa que possa ser pega —
resmungo contrariado, enquanto minha mente debocha de mim.
Não vai pegar porque ela não te dá bola, seu babaca!
Há mais de um ano eu a vi pela primeira vez, lá no abrigo de
animais e, por alguma razão, seu jeito me intrigou. Adotei o Kakarotto, a
vida seguiu e só no final do semestre passado é que percebi que estávamos
no mesmo curso da faculdade. Eu sequer a tinha visto pelo campus ou em
outros locais dos arredores, mas então, um dia ela passou por mim ao sair
da sala de aula, seu cheiro de mel invadiu as minhas narinas a ponto de me
deixar levemente tonto e embriagado. Ela não olhou na minha cara, quase
tropeçou nos meus pés, e é óbvio que isso mexeu com meu ego.
Por isso, desde esse dia, sempre que ela passa, eu fico como um
idiota que parece não entender que nem todas as mulheres vão se jogar nos
meus braços.
— Tá aqui ainda, Ollie? — Abby chama e percebo que divaguei
bonito.
— Tô, claro, mas já estou de saída — respondo, e viro mais uma
vez na direção de onde a ruivinha está, mas a mesa se encontra vazia e nem
sinal dela.
— A Cinderela fugiu antes que virasse abóbora — debocha Abby,
ao ver a touca da Maddie caída ao lado da cadeira onde ela estava sentada.
Fico irritado, pois eu pretendia conversar com ela por mais alguns
minutos. Por isso, pago, pego o tecido do chão e saio sem me despedir,
seguindo para a fraternidade onde Jenny espera por mim.

— Ollie! — a garota diz com a voz chorosa assim que abre a


porta, pulando no meu pescoço.
— Oi, gatinha! — Abraço-a com dificuldade devido as minhas
mãos estarem ocupadas. — Como você está? — pergunto quando nos
afastamos.
— Péssima! Parece que houve um assassinato na minha calcinha
— reclama cruzando os braços e eu prendo o riso, pois sei que essa época
do mês é tensa e não quero apanhar sem motivo.
— Trouxe o que você precisa. — Mostro as sacolas e seu sorriso
se alarga.
— Você é perfeito demais! — diz, arrancando tudo das minhas
mãos e me puxando com ela para entrar na casa, seguindo em direção às
escadas.
Assim que entramos no seu quarto, ela fecha a porta atrás de si e
corre para a cama, senta-se em posição de lótus e abre a caixa de
rosquinhas. Sorrindo, sento-me na poltrona à sua frente, enquanto vejo-a se
lambuzar na cobertura.
— Huummm, Ollie… Você é o melhor — geme e eu abafo uma
gargalhada. Ela sempre faz isso para que as outras moradoras da casa
pensem que estamos transando.
Vinte garotas moram aqui, sendo que oito delas — as legais e não
esnobes — são minhas amigas, que todos acreditam serem minhas fodas
fixas. Não vou mentir dizendo que nunca fiquei com nenhuma delas, ou
com todas, mas é algo bem esporádico, porque preciso me concentrar nos
treinos e nos jogos. O treinador confiou em mim, Bryan Evans me apoiou
para substituí-lo e não posso me dar ao luxo de decepcioná-los.
— Você salvou a minha vida, Ollie — balbucia Jenny, enfiando
uma rosquinha com recheio e cobertura de chocolate dentro do pote de
sorvete, levando à boca em seguida. — Quem diria que o que era pra ser
uma transa se tornaria amizade, hein? — Ela sorri.
Um belo dia, estávamos nos beijando no meio de uma festa, então
as coisas foram esquentando e subimos para o quarto aos amassos. Desci as
alças do seu vestido e me deliciei com seus seios, porém, quando tirei a
peça de seu corpo, vi uma grande mancha vermelha em sua calcinha e achei
melhor alertá-la, já que nem todas as mulheres se sentem confortáveis em
fazer sexo nesse período.
Jenny ficou muito constrangida e começou a chorar, então, ao
invés de ser um babaca, a trouxe para os meus braços até que se acalmasse,
pois cresci com um prima da minha idade e sei bem como são as mulheres.
Em seguida, pedi que ela tomasse um banho e ficasse confortável enquanto
eu sairia rapidinho.
Lembrei-me de todas as vezes em que Arabella passou por esse
período e, por sermos muito próximos, era eu quem suportava seus surtos,
até descobrir que chocolate e sorvete a deixavam mais calma. E foi assim
que o "alerta vermelho" surgiu. Naquela noite, após sair do banho com uma
roupa confortável, Jenny me encontrou em sua cama, completamente
vestido, com uma caixa de bolinhos de chocolate e sorvete de menta, pois
foi só o que encontrei àquela hora.
No dia seguinte, todas as meninas com quem eu já tinha ficado na
fraternidade estavam sabendo do ocorrido e, entre fodas casuais, surgiu uma
amizade muito legal entre nós e um voto de confiança de que eu sempre
estaria lá por elas, contudo, elas me ajudariam a manter a fama de pegador.
Não que eu não seja, já que gosto muito de sexo, mas também preciso me
dedicar aos estudos e ao time, então, muitas vezes, quando preciso de um
pouquinho de paz e sossego, fujo pra cá.
— Obrigada, Ollie! — Jenny beija minha bochecha, afastando as
lembranças.
Chego ao meu dormitório atônita e um tanto ofegante após correr
da cafeteria até aqui. É, eu, definitivamente, sou um bicho do mato, como
era chamada na escola, e fugi do cara mais cobiçado da universidade. Ser
criada por dois pais em uma fazenda afastada da cidade no interior do Texas
não colaborou muito para que eu fosse uma pessoa sociável e comunicativa,
no fim das contas.
Fui adotada ainda bebê por John e Ted Brown, que me deram todo
o amor que eu poderia querer, porém, sempre foram duas coisinhas
ciumentas e desconfiadas, afinal, ser um casal homoafetivo já não é algo
fácil, por isso eles tinham, e ainda tem, muito medo que eu sofresse por ser
filha deles. O resultado disso tudo é que eu sou extremamente tímida e
prefiro mil vezes a companhia dos livros. A única exceção é Penélope,
minha melhor amiga e colega de quarto.
— Que cara é essa, bonequinha? Parece até que viu um fantasma!
— Por falar nela… — Maddie, eu tô falando com você! — reclama, após
não obter resposta.
— Oi, Peny! Não é nada… só… — Começo, mas paro ao pensar
se devo realmente contar sobre o meu "encontro" inusitado de mais cedo.
— Ah, não! Nem vem com essa que eu sei que aí tem coisa. E a
senhorita vai me contar — decreta, sentando-se no tapete cor-de-rosa e
felpudo que tem no nosso quarto.
Reviro os olhos diante do seu drama e, dando-me por vencida,
coloco a minha bolsa na cadeira e me sento à sua frente.
— Você consegue ser insistente quando quer — resmungo.
— E eu sei que você me ama mesmo assim — diz, convencida.
— Euuu… Vi o Olliver Durand na cafeteria agora há pouco —
conto de uma vez e sua careta confusa me faz rir.
— E o que tem de mais nisso, Maddie? Você está na mesma sala
que ele há um ano, já deveria ter se acostumado a ver aquela carinha
deliciosa de deus nórdico.
— Pelas vacas do Texas, Peny, você não tá entendendo. — Agora
é a vez dela de revirar os olhos e cruzar os braços. — Eu o vi hoje de manhã
quando voltava da biblioteca, ele me cumprimentou e eu fiquei parecendo
uma idiota, gaguejando e tremendo, depois saí correndo — explico,
sentindo minhas bochechas esquentarem de vergonha e vejo minha amiga
com a cara mais surpresa do mundo.
— Eu não acredito nisso, Maddison! — Ela parece brava,
erguendo os braços, exasperada. — Você tem noção de quantas garotas
queriam ter a chance de falar com o quarterback mais gostoso da UCLA?
— Eu sei, mas… congelei. E depois fugi. Entrei em pânico, oras,
nem sabia o que dizer a ele.
— Maddie, Maddie… Preciso te ensinar muitas coisas, amiga. —
Ela me abraça, mas logo se afasta, encarando-me. — Mas e qual é a
história da cafeteria?
— Então… enquanto você estava no Joe's, eu fui lá tomar um
chocolate quente e ler, e de repente aquele homem de quase dois metros
estava sentado à minha frente, puxando assunto.
— Continua — diz, percebendo que não é só isso.
— Ele me convidou para uma festa na casa dele no domingo. —
Abaixo a cabeça, envergonhada.
— Finalmente! Sua primeira festa na faculdade! Tá bom que
demorou mais de um ano para acontecer, mas chegou o seu momento,
bonequinha! — Eufórica, ela se levanta, fazendo uma dancinha ridícula no
meio do quarto.
— Não se anima porque eu não vou.
— Mas é claro que vai! E ainda vai se exibir com o boy gostoso
na frente de todas aquelas Barbies.
— Não, Penélope. Eu não vou.
Ela abaixa os ombros, desanimada, e volta a sentar na minha
frente, segurando minhas mãos.
— Você precisa aproveitar as oportunidades que aparecem,
Maddie. É tão jovem e linda, tem tanta coisa pra viver… Precisa sair do seu
casulo e mostrar ao mundo a borboleta linda que é. — Ela sorri de modo
singelo, mas então um sorriso safado toma conta de seu rosto. — Ah, e
perder de uma vez essa virgindade, porque sexo é bom demais. — Ergue as
sobrancelhas sugestivamente.
Minha amiga é uma mulher linda, pele parda, olhos verdes, um
corpo de fazer qualquer homem babar e ainda por cima exala
autoconfiança. Sem contar que parece uma boneca de luxo com seu guarda-
roupa composto por peças de marcas caras e famosas.
Penélope Davis é filha de uma ex-modelo e um CEO poderoso do
ramo automobilístico, que poderiam muito bem bancar o aluguel de uma
mansão para ela aqui, contudo, o que tem de rica e linda, tem de humilde, e
não se liga nessas coisas. Ela queria a experiência completa de estar na
faculdade, por isso, hoje dividimos um quarto aqui e posso dizer, com toda
certeza, que conhecê-la foi a melhor coisa que me aconteceu, apesar de
sempre termos que aturar seus seguranças que fingem estar disfarçados e à
paisana, mas que a gente sempre vê.
— Eu vim para Los Angeles estudar, não para namorar ou ir à
festas. Preciso focar, pois é meu futuro que está em jogo.
— Eu sei, meu bem, mas se divertir de vez em quando faz bem.
— E eu me divirto lendo. Isso me basta.
— Pelo amor dos deuses, Maddie, ler romances onde os
protagonistas não ficam juntos no final e ainda te fazem chorar feito uma
doida não me parece ser um bom conceito de diversão.
— Não vem criticar, não, pois eu leio pra chorar mesmo, me
emocionar. Se quisesse rir, ia a um show de stand up comedy.
— Você é estranha, Maddie. Muito estranha. — Rimos juntas e
decidimos assistir um filme.

Ontem, após assistirmos “Ele é demais”, Penélope, ainda sem


sono, cismou em assistir também “Ela é demais”, afinal, minha amiga tem
um fraco por clássicos — e pelo Freddie Prinze Jr., é claro — e tentou de
todas as formas me convencer a ir a tal festa na casa do Olliver. Parece que
o filme fez sua cabecinha fervilhar de ideias e agora ela está disposta a me
ver vivendo um romance clichê daqueles entre a garota estudiosa e pouco
interessante e o atleta badalado da universidade. Na hora até pensei em me
ofender pela forma que se referiu a mim, mas, pela doçura em suas
palavras, sei que Peny me ama como eu sou e tudo o que fala é pela minha
felicidade.
Já era mais de três da manhã quando ela se rendeu ao sono,
enquanto eu fiquei com os olhos bem abertos, encarando o teto cheio de
borboletinhas fluorescentes, pois a cada vez que os fechava, o sorriso de
Olliver Durand invadia meus pensamentos e as vozes na minha cabeça
também tentavam me convencer a deixar o medo e a timidez de lado e me
divertir.
O resultado disso são as enormes olheiras que vejo refletidas no
espelho, quase se fundindo à porção de sardas espalhadas pelo meu rosto.
Porém, o pior de tudo é que agora me encontro em um tremendo dilema:
aceitar ou não o convite do quarterback? Nunca me interessei por atletas, na
verdade, por garoto nenhum, pois os livros sempre foram toda companhia
que eu precisava, mas, no fundo, sei que minha amiga está certa, que
preciso sair, me divertir e aproveitar minha juventude. Contudo, não posso
dizer que isso não me assusta, e é por esse motivo que decido ligar para as
duas pessoas mais importantes da minha vida.
— Cenourinha, que saudade! — papai Ted diz, assim que atende a
chamada de vídeo.
— Acho que estou um pouco grandinha para esse apelido, papai
— reclamo.
— Ah, deixa disso, minha filha. Para mim você sempre será
minha garotinha apaixonada por cenouras. — Seu olhar sonhador me diz
que ele está se lembrando das nossas tardes colhendo cenouras quando eu
ainda era pequena. Eram momentos maravilhosos que passávamos juntos,
para em seguida bagunçarmos a cozinha do papai John preparando um
bolo.
— E o senhor sempre será o pai maravilhoso que me enchia de
comida e cosquinhas — falo nostálgica e seus olhos marejam.
— Urgh! Por que você faz isso, Maddie? Sabe que eu me
emociono fácil… — Ele enxuga o cantinho dos olhos e depois abana o
rosto com as mãos, espantando o choro iminente, afinal, papai é uma drama
queen de marca maior.
— O senhor é a minha manteiga derretida preferida, pai — brinco,
como faço desde sempre, e ele sorri. — Onde está o papai John?
— John, amor… a Maddie quer falar com você! — ele grita
olhando para trás, e logo meu outro pai aparece, com seu corpo alto e forte
e cara de poucos amigos, adornada pela barba espessa.
— Como você está, filha? — ele pergunta, apoiando o queixo no
ombro do marido.
— Estou bem, papai. — Sorrio devido ao seu jeito todo protetor.
— Tem certeza? Está se alimentando direito? Estou te achando
tão magrinha… — Preocupado como sempre.
— Tenho, sim, pai. — Respiro fundo, criando coragem para dizer
o motivo da minha ligação. — É… Fui convidada para uma festa que vai
acontecer amanhã… — falo baixinho, envergonhada. Meus pais sempre
foram superprotetores, mas também muito carinhosos e fazem tudo pela
minha felicidade, porém, essa é a primeira vez que sou convidada para algo
e estou apreensiva, preciso saber o que eles pensam a respeito.
— Nossa, que legal, Maddie! — papai Ted exclama. — Viu só,
John, nossa menininha está crescendo.
— Menos, Ted… Se controla, meu amor. — Ele abraça o marido
por trás, deixando um beijo no topo de sua cabeça careca. Em seguida,
ergue o olhar para a tela do telefone e me encara. — Uma festa, hum? Posso
saber onde será?
— Vai ser na casa do quarterback do Bruins, Olliver Durand —
sussurro.
— Aquele gato? Uau! Minha cenourinha tem bom gosto para
homens — papai Ted comemora.
— Calma, pai, é só uma festa. Olliver e eu estudamos na mesma
turma e acabamos nos esbarrando na cafeteria. Acho que ele só me
convidou por educação — digo algo que está martelando minha mente,
afinal, o que o poderoso QB ia querer com uma garota como eu?
— Você precisa se olhar mais no espelho, minha filha. É uma
garota linda, além de doce e gentil. Só um cara muito burro não veria isso.
— Papai John, como sempre, valorizando as tais qualidades que sempre viu
em mim.
— Não sei, pai… Ele é popular, lindo, vive cercado de garotas
incríveis e eu sou só… eu.
— Ai ai ai, mocinha! Vou precisar pegar um avião e ir aí te
mostrar o quão perfeita você é? — Papai Ted parece irritado agora, falando
mais alto e com os braços cruzados.
Apenas nego com a cabeça.
— Vocês acham que eu… deveria ir nessa festa? — indago,
sentindo a voz trêmula.
— Mas é claro que sim. Não é, amor? — papai Ted confirma e
olha para papai John.
— Acho que você deve se permitir, Maddison. Aproveite sua
juventude, viva tudo o que tiver que viver, sem arrependimentos. Apenas
peço que se cuide. Nada de drogas, sexo sem proteção ou ficar bêbada por
aí, ok?
— Pode deixar!
— Ah, e deixe o spray de pimenta na bolsa — Ted grita.
— Vou comprar um teaser pela internet e mandar entregar aí. —
Esse é John e suas loucuras. — Se cuida, querida!
— Eu amo você, Cenourinha! Aproveita!
— Eu também amo vocês! — Mandamos beijos através da tela e
desligamos.
Meu coração parece mais convencido agora, mas não mais
tranquilo.
Sinto um cutucão no meu braço e abro só um dos olhos, apenas
para confirmar que se trata de Penélope, que, pelo visto, não tem nada pra
fazer, já que está me acordando de um merecido cochilo em pleno sábado à
tarde, após um turno de ajuda lá no abrigo de animais.
— Vai logo, Maddie, levanta! — resmunga, batendo seu pezinho
no chão.
— A não ser que o dormitório esteja pegando fogo, por favor, me
deixe dormir — reclamo, com a voz ainda enrolada devido ao sono.
— Vai amiga, acorda, por favor, preciso de você. — Essa frase
dita em um tom choroso é como um gatilho para mim e me faz sentar
rapidamente, coçando os olhos antes de olhar para ela.
— Quem foi o babaca dessa vez, Peny? — murmuro irritada, já
traçando planos imaginários e nunca realizáveis de como arrancar algumas
bolas, pois está cheio de idiotas por aí que pensam que por ser uma garota
extrovertida e comunicativa, minha amiga é uma presa fácil e tentam se
aproveitar dela.
— É o Hunter… — responde, envergonhada.
— Hunter Mackenzie? — pergunto sobre um dos garotos que sei
ser do time do Olliver.
— Uhum — afirma com um sorriso bobo no rosto.
— E o que foi que ele fez? — Com certeza a confusão está
estampada em minhas feições, pois minha amiga não me parece nem um
pouco ofendida por algo que o tal Hunter possa ter feito.
— Me convidou para ir na festa na casa dele amanhã. — Sua voz
exala animação.
— E isso é bom, certo?
— É ótimo, Maddie, incrível! — Ela bate palmas feito uma foca
amestrada. — Hunter mora na mesma casa que Olliver, ou seja, os nossos
garotos vão dar uma festa e estão nos esperando!
Nossos garotos… Quando me dou conta da sua linha de
raciocínio, balanço a cabeça freneticamente em negativa, nem querendo
cogitar a ideia de ir para esse antro de universitários bêbados e cheios de
hormônios aflorados, querendo aproveitar os últimos dias de férias. Danem-
se os conselhos dos meus pais, isso é demais pra mim e pronto.
— Qual é, Maddison? Não acredito que você vai ser tão estraga-
prazeres assim! — rebate com um bico gigante, como a garotinha mimada
que ela é.
— Esse não é o meu habitat, Peny, e você sabe disso. Além do
mais, tenho certeza de que o Olliver só me chamou por educação, eu já
disse isso. Será que você não entende, poxa!? — Estou realmente chateada
agora e ela percebe, pois se abaixa à minha frente, segurando minhas mãos.
— Desculpa, amiga. Eu só quero te ver aproveitando a juventude,
curtindo, beijando na boca… Quero que você se enxergue como eu te
enxergo.
— Sem essa, Penélope. Você enxerga uma versão de mim que não
existe. Eu sou isso aqui — levanto-me e mostro minha roupa grande demais
para o meu tamanho, mas confortável o suficiente para que eu me sinta bem
—, a garota esquisita da universidade. Ou você acha que eu não escuto os
burburinhos quando passo? — Coloco pra fora algo que está me
incomodando há um tempo.
— Oh, amiga, eu não sabia que você se incomodava com essas
coisas… — balbucia e eu logo a corto.
— Claro que me incomodo, ou você pensa que sou um homem de
lata sem sentimentos?
— Não é isso, Maddie, mas você sempre parece não se importar
com nada, tão segura de si e…
— Não é à toa que estudo Artes Cênicas, Penélope. Eu sei atuar,
mas uma hora cansa — desabafo, me sentindo tão pequena nesse momento
que nem sei como agir.
— Olha só, mais um motivo para você ir comigo na festa amanhã.
A gente pode te arrumar de um jeito diferente e…
— Não, Peny. Eu não vou me emperiquitar toda só por causa de
uma festa que nem quero ir.
— Tá, não vou mais insistir nisso. Se um dia você quiser a minha
ajuda para dar uma repaginada no visual, é só pedir. — Ela sorri pra mim.
— Mas, então, que tal me ajudar a escolher algo no shopping para que eu
fique toda emperiquitada, hein? A gente pode passar para comer aqueles
waffles cheios de mel que você adora.
Penso por um milésimo de segundo, meu estômago ronca e não dá
pra resistir.
— Você sabe como me conquistar. — Retribuo o seu sorriso e a
abraço. — Vou me trocar rapidinho e já saímos, eu tô morrendo de fome!
Escuto sua risada, mas já estou dentro do banheiro, encarando o
espelho. Cabelos ruivos, olhos claros, sardas, muitas sardas e a minha
inseparável…
— Opa, cadê a minha touca? — Passo a mão pelos cabelos, só
agora me dando conta de que não me lembro de tê-la colocado essa manhã.
Ela é tão parte de mim que coloco e tiro de modo automático.
Fecho os olhos e tento refazer os meus passos, racapitulando tudo
o que fiz ontem à noite, e então me lembro: a cafeteria!
Quando a moça do balcão chamou o nome do Olliver, tive uns
trinta segundos de loucura e tirei a touca, ajeitando os cabelos com as mãos
para ficar mais apresentável, mas quando me dei conta do que estava
fazendo, juntei minhas coisas correndo e levantei, fugindo descaradamente
do quarterback bonitão. Provavelmente, no momento da minha fuga, ela
caiu em algum lugar.
Minha única tristeza quanto a isso é que esse foi o último presente
da vovó Clare, mãe do meu pai Ted, antes de seu falecimento.
Sentindo um nó na garganta após uma perda tão significativa para
mim, lavo meu rosto, ajeito os cabelos e saio do banheiro em direção ao
meu guarda-roupas, de onde tiro uma calça jeans justa e surrada, botas de
cano curto que já viram dias melhores, uma camiseta básica branca e minha
jaqueta de couro. Não é o melhor dos looks, mas o máximo que posso fazer
agora.
— Está pronta, Maddie? — Peny pergunta, pegando sua bolsa.
— Claro, vamos — Indico com a cabeça e seguimos para a saída.
Nosso dormitório fica no andar térreo, por isso, logo que saímos
para o corredor já avistamos a porta de entrada e é lá que algo me chama
atenção. Sem hesitar, me aproximo devagar, estendendo a mão para que
Penélope não faça nenhum movimento brusco.
— Mas o que… — resmunga, mas eu levo o dedo indicador aos
meus lábios, pedindo silêncio.
— Shiiii… Você vai assustá-lo.
— Assustar quem? — pergunta sussurrando, tentando olhar por
sobre o meu ombro.
Abaixo-me com o máximo de cuidado possível e estico a mão até
o bichinho verde e com a pele rugosa. Ele poderia se assustar e soltar
veneno, mas viver na fazenda por tanto tempo me deixou experiente nesse
tipo de situação. Ao perceber que ele não apresenta nenhum sinal de que vai
sair pulando por aí, passo meus dedos delicadamente e, por incrível que
pareça, ele fecha os olhinhos. Tão bonitinho!
— Maddie, o que você tá… Argh! — ela grita e o pobrezinho dá
um pulo assustado. — Um sapo! Socorro! Socorro! Minha amiga está sendo
atacada por um sapo!
— Ai meus cabritinhos! Fica quieta, sua doida! — digo e vou
atrás dele, que dá mais alguns pulos antes de parar num arbusto. — Pra quê
espantar uma coisinha tão fofa assim? — reclamo, pegando-o em minhas
mãos com cuidado.
— Larga essa coisa, Maddison! Credo! — berra, mas agora ele
está quietinho entre meus braços.
— Para de ser fresca, ele não é uma coisa, é o Naruto — rebato.
— Quem? Você deu nome pro sapo? — Incredulidade resume sua
expressão. — E de onde saiu isso?
— Dei, e agora ele é meu, você goste ou não — imponho,
ignorando sua careta. — É o nome do personagem de um anime, mas só os
sábios entenderão.
— Humpft! Você enlouqueceu, Maddison Brown. Essa é a única
explicação que eu encontro. — Ela ergue as mãos, aparentemente furiosa.
— Não é você quem vive dizendo que preciso fazer novos
amigos, Penélope? — retruco, olhando-a firmemente enquanto anda de um
lado para o outro.
— Amigos humanos, Maddison! Não um anfíbio que você achou
na rua e que pode ter raiva! — grita.
— Raiva? — bufo, irritada. — E desde quando sapo tem raiva,
criatura? Pirou?
Ela respira fundo, para à minha frente a uma distância segura e me
encara.
— Olha só, porque estamos discutindo isso, hein? Coloque o sapo
no chão, lave as mãos e vamos logo. Você não estava faminta? — Ajeita sua
bolsa no ombro.
— Mas eu quero ficar com ele — balbucio, olhando para o
bichinho em meu colo que parece muito tranquilo.
— Maddie… — Seu tom de alerta não me passa despercebido.
— Por favor, Peny — me aproximo e ela dá um passo para trás
—, me deixe ficar com ele, sim? Prometo que vou mantê-lo longe de você.
— Faço a minha melhor cara de criança pidona.
— E como você vai conseguir isso, exatamente? — Ela ergue
uma sobrancelha, duvidando da minha palavra.
— Eu prometo e isso é tudo o que importa.
Penélope olha para cima, como se pedisse paciência a algum ser
divino, inspira e expira profundamente, antes de me encarar com o sorriso
mais maquiavélico que já vi em seus lábios.
— Tudo bem.
— Jura? — pergunto e ela afirma com a cabeça. — Obrigada,
obrigada! — agradeço e vou em sua direção para abraçá-la, mas minha
amiga ergue uma mão em advertência.
— Com uma condição. — Seu olhar vitorioso me desarma. Eu
deveria ter desconfiado de que tinha alguma coisa aí. — Você fica com
esse…
— Naruto — a interrompo, dizendo o nome dele.
— Certo, você fica com o Naruto, mas, em troca, vai na festa
comigo amanhã — decreta e cruza os braços, sabendo que já venceu essa
batalha.
— Mas, Peny…
— É pegar ou largar, mocinha. Você fica com o sapo, mas vai
atrás do seu príncipe.
Dessa vez ela jogou sujo! Penso por um instante, mas já tenho
minha decisão tomada.
— Tá bom. Mas eu só vou ficar lá o quanto suportar. Se me sentir
desconfortável, venho embora na mesma hora.
— Combinado! Agora some com essa coisa daqui, pelo amor dos
deuses!
Concordo com a cabeça e volto correndo para o nosso quarto,
abrindo a porta apressadamente com uma mão e segurando Naruto com a
outra.
— Essa é sua nova casinha, meu amor, e espero que seja muito
feliz aqui — digo, levando-o para o banheiro. Coloco um pouco de água na
banheira e o deixo lá dentro, lavo as mãos e fecho a porta em seguida. Lá
no shopping providenciarei melhores acomodações para ele.
Saio do quarto animada e encontro minha amiga batendo o pé no
chão, encostada na lateral de um carro.
— Chamei um Uber. Vamos logo! — resmunga, entrando no
veículo e eu a sigo.
Finalmente o domingo chegou e com ele, a euforia para a festa
desta noite. Confesso que estou estranhamente animado, afinal, convidei a
Maddison e espero que ela venha. Não sei dizer ao certo o motivo disso,
mas sinto que preciso me aproximar dessa garota de alguma forma. Seu
jeito quieto e misterioso aguçou o lado curioso em mim e o seu sorriso…
Ah, aquele sorriso lindo fez algo se revirar no meu estômago.
— Bora, Ollie! Segura direito isso aí, senão a bebida já era! —
reclama Trevor, empurrando o barril de chopp para os meus braços.
Entro em casa e caminho até o quintal dos fundos, colocando-o
junto com as outras bebidas que estão só esperando pelos convidados. Só
para variar, esse tipo de evento não tem hora marcada para começar, então,
já tem uma galera se esgueirando pelo nosso gramado e se amontoando nos
cantos.
Confiro mais uma vez se está tudo em ordem e entro em casa,
subindo direto para o meu quarto, onde Kakarotto me espera na porta com
sua típica cara de poucos amigos, como se estivesse prestes a pular no meu
pescoço e acabar com toda a bagunça que ele sabe que vai acontecer.
— Relaxa, amigão! Você pode ficar no quarto, se quiser, assim
ninguém te incomoda — aviso, fazendo um cafuné desajeitado na sua
cabeça, enquanto ele se esquiva da minha mão.
Assim que abro a porta, Kakarotto sobe na minha cama,
desfilando seu corpo felino e enchendo de pelos o meu lençol, antes de
chegar até um tecido cinza-escuro embolado sobre o meu travesseiro, a
touca dela. Achei melhor deixá-la onde posso ver, assim não esqueço de
devolvê-la esta noite. O folgado do meu gato dá algumas voltas sobre
aquilo e logo se deita, fazendo o pobre tecido de cama. Já era! Vou ter que
comprar outra para devolver.
Irritado, me aproximo dele e puxo o pano, fazendo-o rolar para o
lado e miar em reclamação.
— Pode reclamar o quanto quiser, eu não estou nem aí!

Humano irritante! Alguém precisa explicar as regras para ele. Já


que faz mais de um ano que estou aqui e ele ainda não aprendeu que sou eu
quem manda nessa casa.
Onde já se viu, dar uma festa bem no horário do meu sono de
beleza!? Já basta ter que suportar aqueles quatro bobões com o cérebro de
ervilha morando aqui, agora mais essa.
Estou de mau humor, pois desde anteontem que o cheiro da
humana que cuidava de mim no abrigo está exalando do quarto do Olliver, e
tenho que dizer que sinto falta dela, mas quando eu finalmente encontro de
onde ele vem, esse mané tira de mim a única coisa que poderia me deixar
mais calmo hoje.
No fim das contas, vou aproveitar que o cheiro dela ainda está
fresco no meu olfato e procurar um canto para me esconder, afinal, a minha
própria companhia é bem melhor do que a de todos esses humanos
inferiores e barulhentos.
Mas antes, aproveito que o humano foi para o banho e procuro um
par de tênis que ele goste bastante e faço questão de fazer xixi nele.

Saio do banho cantarolando distraidamente e logo um odor


incômodo e conhecido atinge minhas narinas. Abaixo-me e começo a
farejar feito um cachorro, até encontrar a origem do problema, ou seja, o
alvo da vez.
— Porra, Kakarotto, logo nos meus tênis favoritos? — reclamo,
mas é claro que aquele "ser superior" não está mais aqui. Eu amo o meu
gato, falo pra todo mundo que ele é muito bonzinho, mas, no fundo, sei que
o bichano tem uma mente maquiavélica e um gênio do cão.
Pego o par de tênis pretos e coloco sobre a pia do banheiro para
lavar depois e vou me trocar, pois não sei qual horário a Maddison chega e
quero estar lá embaixo para recepcioná-la. Escolho uma sunga roxo-
fluorescente, uma das minhas marcas registradas nas festas — já que, vez
outra, acabo sem calças e dentro da piscina —, visto uma calça jeans escura
e não muito justa, camiseta branca e coloco a jaqueta do time por cima. De
coturno nos pés, penteio meu cabelo e passo um perfume novo que o Ed me
mandou como presente de aniversário e desço as escadas.
Sou recebido pela fumaça, o som alto e as luzes piscando
alucinadamente, ao mesmo tempo em que vejo várias pessoas dançando na
pista improvisada no meio da sala, enquanto outras se espalham pelos
outros cômodos.
Sou cumprimentado pelos caras do time e por várias garotas que
eu nunca vi na vida, conforme caminho até a cozinha para pegar uma
garrafa de água com gás.
— Sem álcool para você hoje, QB? — Trevor pergunta, já com a
voz enrolada pela bebida.
— Alguém precisa ser responsável nessa casa, cara! — respondo
com irritação, pois o desdém em sua voz me tira do sério.
— Blé! Se para ser responsável eu preciso ser chato como você,
prefiro a minha irresponsabilidade.
— Disso eu tenho certeza — resmungo sem que ele ouça e bato
em seu ombro, antes de andar até o gramado à procura da ruivinha.
Tem muita gente por aqui, alguns bebendo, outros jogando beer
pong, tem aqueles que estão se pegando descaradamente porque o acesso
aos quartos é proibido, e claro, aquela turminha que gosta de pegar uma
brisa e a gente finge que não vê.
No entanto, nem sinal da ruiva. Dou mais uma volta por ali e mais
um gole na minha água, esperando que ela chegue logo.
As horas vão passando, eu converso com algumas pessoas, danço
um pouco com as meninas da fraternidade, e nada da Maddison aparecer.
— E aí, Ollie, que tal uma competição de quem bebe mais
cerveja? — Matt convida ao me ver.
— Foi mal, cara, hoje eu dispenso — respondo, voltando para a
cozinha em busca de algo que não esteja quente para beber.
Assim que chego lá, vejo duas garotas cochichando e rindo,
usando vestidos minúsculos que mais parecem camisetas, mas quando me
veem, seus sorrisos se alargam e ambas se aproximam, colocando as mãos
em meu peito.
— Olha só se não é o QB mais amado da UCLA — diz Jane, uma
negra linda que é líder de torcida, mordendo os lábios de forma
provocativa.
— Oi, meninas! Curtindo a festa? — Afasto o corpo para trás,
tentando me esquivar.
— Acho que curtiremos melhor se tivermos o prazer da sua
companhia — Elle, a loira que também faz parte da equipe sussurra perto
do meu ouvido, tentando descer sua mão até o cós da minha calça, mas eu a
seguro e impeço.
— Foi mal, mas hoje não vai rolar — aviso, vendo biquinhos
falsos surgirem em seus lábios.
— Tem certeza? Nós apostamos se você iria preferir uma de nós
ou… as duas — Jane fala com uma voz sensual, deslizando a unha pelo
meu braço num carinho que deveria me deixar duro, mas só me irrita.
— Sinto informar que hoje não farei parte da brincadeira. Quem
sabe numa próxima? Aproveitem a festa, o time todo está aí e tenho certeza
de que não faltarão candidatos para vocês.
Vou até a geladeira e pego uma latinha de energético, dando um
gole generoso, sentindo o líquido refrescar minha garganta.
Cansado de esperar, me sento no sofá com a bebida ainda na mão,
dou um gole e fecho os olhos. Estou exausto pelo ritmo de treinos que o
meu personal trainer planejou na última semana devido a volta às aulas e
aos treinos do time, ansioso pela chegada de Edward e pela presença da
ruiva na festa, mas preciso me manter acordado e atento, principalmente
para ficar de olho nesses descabeçados que moram comigo, por isso a
bebida — que já acabou —, para que eu permaneça alerta.
Estou distraído em meus pensamentos quando sinto alguém se
sentar no meu colo e, assim que abro os olhos, uma boca com muito gosto
de cerveja toma a minha, desequilibrando-se e fazendo com que eu precise
colocar minhas mãos em sua cintura para firmá-la, e é nesse momento que
os olhos mais lindos que já vi me encaram, como as águas do mar do Caribe
em dia de sol, mas eles não estão radiantes e tímidos como no dia da
cafeteria, e sim, tristes.
Apressado, tiro a garota — que nem sei o nome — do meu colo e
me levanto, desviando das pessoas dançando e seguindo atrás de ruivinha,
mas só a alcanço quando já está no gramado da frente.
— Você veio, Girassol! — constato sorrindo, mas ela não retribui,
cruzando os braços ao se virar para mim, mas mantendo seu olhar baixo.
— Oi, Olliver — cumprimenta a uma distância segura. — Eu vim,
mas já estou de saída. Foi bom te ver — diz e sai andando.
— Espera, Maddie! Você acabou de chegar e nós nem
conversamos ainda.
Ela se vira para mim com o rosto vermelho, contrastando com a
cor da sua camiseta e esfrega uma mão na outra em claro sinal de
nervosismo. Noto seu peito subindo e descendo com a respiração pesada, ao
mesmo tempo em que suas narinas se abrem e fecham. A garota parece um
touro bravo prestes a estraçalhar o toureiro. No caso, eu, e nem sei o
motivo.
— Não faltarão oportunidades, mas agora eu preciso mesmo ir.
Até mais! — Ela sai apressada e até penso em segui-la, mas me lembro de
Arabella explicando os sinais de uma mulher irritada e, definitivamente, é o
caso de Maddison, e eu não estou a fim de ser morto hoje por uma ruiva
brava.
Fico alguns segundos parado, tentando entender o que houve, até
que sinto tapinhas no meu ombro.
— Olha só, o nosso grande e aclamado QB acaba de levar um fora
da esquisita! — Trevor debocha, com seu humor ácido e podre que sempre
acaba com o meu.
— Ninguém levou fora nenhum aqui, seu babaca. Ela é só uma
amiga — resmungo, empurrando seu braço que estava perto demais de
mim.
— Amiga… sei… Uma amiga que você quer comer, mas não te
quer. — Sua fala enrolada faz a minha ira subir a níveis alarmantes. — Não
acredito que logo você, o grande Olliver pegador, vai deixá-la ir embora
sem dar ao menos uns amassos.
— Cala a boca, Trevor! Fique sabendo que, se eu quisesse,
poderia ficar com a Maddison. Mas quero apenas a sua amizade. Além do
mais, não te devo satisfação da minha vida — digo, cruzando os braços.
— Não tem essa de amizade entre homem e mulher, querido
Olliver — desdenha sem o menor amor à vida, fazendo saliva espirrar no
meu rosto, o qual limpo com nojo. — O homem quer comer, e a mulher
quer ser comida, simples assim.
— A Maddison não é esse tipo de garota, seu idiota! — Começo a
perder a paciência. Já relevei muita merda do Trevor, mas estou chegando
ao meu limite. Por isso, começo a me afastar, mas ele puxa o meu braço, me
fazendo olhá-lo.
— Não é pro seu bico, isso sim! — Ri feito uma hiena bêbada. —
E preciso dizer que seu gosto caiu muito de nível. Você sabia escolher
melhor as mulheres que pegava — continua com o deboche.
— Todas são para o meu bico, amigo. Basta eu querer —
respondo, sentindo um gosto amargo por parecer tão escroto, mas preciso
me livrar desse cara.
Percebo que ele se enfurece, afinal, toquei em sua ferida, já que
ele sempre quer as garotas que escolho, mas, na maioria das vezes, elas
ficam comigo. Não pelo meu status ou aparência, mas pelo respeito,
cuidado e caráter, algo bem raro no meu colega de casa. Por isso, ele se
afasta cambaleante, me deixando de péssimo humor.
Antes que eu possa pensar em fazer alguma coisa, sinto uma mão
em meu ombro e já me viro irritado, pronto para dar um soco na cara do
babaca.
— Calma, aí, bonitão! Vai ser covarde a ponto de bater em uma
mulher, é? — Uma linda garota de pele parda e longos cabelos cacheados
me encara, esperando minha resposta.
— Er… Sinto muito, pensei que fosse outra pessoa — digo,
envergonhado pela minha atitude explosiva.
— Humm… sei. — Ela coloca as mãos na cintura, pronta para a
briga, e vejo Hunter atrás dela. — Bom, eu quero saber que merda você fez
com a minha amiga, porque ela acabou de me mandar uma mensagem
avisando que voltou para o dormitório.
— E quem seria sua amiga? — pergunto, imitando sua postura.
— Maddison Brown. Conhece? — indaga com sarcasmo.
— Ah, sim, conheço, mas não sei o que houve. Logo que a vi me
levantei para ir cumprimentá-la, mas a Maddie me disse que iria pra casa e
parecia brava — comento.
— Claro que ela parecia brava, seu imbecil! Ela veio à primeira
festa desde que entrou na faculdade porque você convidou e, pelo que posso
imaginar, deveria estar se pegando com alguém. Com certeza Maddie
percebeu que você não fazia questão da presença dela aqui .
— Eu não estav… — começo a me defender, mas então me
lembro. — Bom, uma garota sentou no meu colo e me beijou e quando vi…
— Não precisa falar mais nada — ela me interrompe, erguendo a
mão. — O pobre e indefeso Olliver Durand, quarterback de quase dois
metros de altura, foi atacado por uma maníaca e beijado à força — ri com
tanto deboche que me sinto um garotinho sofrendo bullying do valentão do
colégio.
— Eu posso expli…
— Não, não pode. E fique longe da minha amiga, seu
energúmeno!
— Espera aí! Quem você pensa que é para falar assim comigo? —
Inflo o peito, completamente indignado agora.
— Sou a melhor amiga da Maddison e sei o quanto foi difícil para
ela querer vir nessa festa hoje. Ela é uma garota tímida do interior, não está
acostumada com essas coisas, mas se iludiu com o seu convite e agora,
provavelmente, vai ficar trancada no quarto pelo restante do curso. — E
assim, ela me empurra e sai andando, com seu braço entrelaçado ao de
Hunter.
Depois da bronca da amiga nervosinha e superprotetora da ruiva,
decidi que precisava de uma bebida, pois os acontecimentos dessa noite me
tiraram do sério. Por isso, caminho apressado até os fundos da casa, até ver
uma silhueta curvilínea num vestido preto minúsculo, balançando seu corpo
de um lado para o outro com uma garrafa de tequila na mão, enquanto a
outra bagunça seus cabelos loiros.
— Vick! — digo, abraçando-a de lado.
— Ollie, como você está, gato?
— Irritado — confesso, pegando a garrafa de sua mão e dando um
gole, que desce queimando pela minha garganta
— Calma aí, calma aí! Desde quando você bebe assim, de
verdade? — pergunta me encarando, até que entendimento passa por seu
rosto. — Porra! Tem mulher na parada, né? Você nem forrou o estômago
com cerveja, começou logo com vodka pura, com certeza tem mulher. —
Ela sorri, como se tivesse feito a descoberta do século. — Quer conversar
sobre isso? — indaga, e eu penso muito antes de concordar.
— Quero. Vamos sentar ali no cantinho, eu tô me sentindo muito
estranho hoje. — Aponto para um lugar com pouca iluminação, então
caminhamos até lá e nos acomodamos no chão.
— Agora desembucha, gato. O que aconteceu?
— É… eu conheci uma garota…
— Claro que conheceu! Esses olhos verdes e o cabelo loiro te
fazem conhecer muitas garotas. Sem contar que acho que sua mãe te passou
açúcar ao nascer — comenta, mas eu fico perdido, sem entender. — Lá no
Brasil, quando uma pessoa é muito irresistível, dizemos que a mãe passou
açúcar… Enfim, continue.
— O nome dela é Maddison, e faz o mesmo curso que eu na
faculdade. Eu a conheci no abrigo de animais, quando peguei o Kakarotto.
— Eu a conheço, ela também faz parte da equipe de orientação
aos novos alunos do campus. A Maddie é uma gracinha, mas muito na dela.
— Ela é mesmo. E linda.
— Humm… e desde então está apaixonadinho? — debocha,
erguendo uma sobrancelha.
— Não estou apaixonadinho porra nenhuma, Vick! É que ela é…
diferente, intrigante, sei lá.
— E o que te faz pensar assim? — Ela parece muito atenta ao
assunto agora.
— Ela passou por mim na sala várias vezes e é como se nem me
visse, nunca a vi em festas ou algo do tipo, está sempre encolhida num
cantinho e isso me deixou intrigado. Além do mais, ela é fofa e, ao mesmo
tempo, esquisita — explico.
— Ai, Oliiver, você é muito egocêntrico mesmo, cara! E imbecil
por chamar a garota assim — exclama, aparentemente irritada. — Já parou
pra pensar que ela pode simplesmente ser muito tímida, não gostar de se
enturmar e, acima de tudo, pode não ser mais uma das garotas que sempre
se arrastam aos seus pés?
— Não — admito. — Eu só fiquei curioso mesmo e pelo
pouquinho que conversamos, ela me pareceu divertida, talvez pudéssemos
ser amigos.
— E quem disse que não podem?
— Ninguém disse com essas palavras, na verdade, mas tivemos
um desencontro quando ela chegou na festa. Eu corri atrás dela, mas a
ruivinha preferiu ir embora — conto, exasperado.
— Ruivinha, é? — brinca, batendo seu ombro no meu.
— Para de bobeira, Vick. Foi só uma forma que encontrei de
chamá-la dentro na minha cabeça quando eu ainda não sabia o seu nome.
— Dentro da sua cabeça? Realmente, gato, você tá estranho.
— Achei que sua intenção era me ajudar, mas você tá muito
engraçadinha — reclamo.
— Desculpa, Ollie. Enfim, porque você a convidou para a festa?
— Porque queria conhecê-la melhor — revelo.
— A sua língua queria conhecer a dela também? — Ergue as
sobrancelhas, me desafiando, mas eu só reviro os olhos, fazendo-a voltar a
falar sério. — Apesar desse seu jeito cafajeste, você é muito gracinha,
Ollie! Sei que vai pensar em algo para tentar se aproximar dela.
— Pode ser, mas…
— Mas nada! Levanta daí e vamos jogar beer pong. Hoje você vai
encher a cara!
Ela sai me arrastando até onde Matt e o babaca do Trevor estão,
arrumando os copos para começar a partida.
— Ora, ora… o QB vai se misturar aos reles mortais para jogar?
— Trevor pergunta, cada vez mais bêbado.
— Ele vai, sim, e comigo! Vocês contra nós dois. — Vick pisca
um olho para ele. — Se prepare para perder e dar PT hoje, playboy!
Trevor e Matt riem feito dois idiotas completamente alcoolizados
e fora do juízo normal, nos chamando para o jogo. Vick e eu nos
aproximamos ainda mais da mesa e antes que eles digam alguma coisa,
minha amiga avisa:
— Eu começo, porque as damas vêm primeiro. — Ela joga a
bolinha, que logo acerta um copo. — Uhuuulll! Sua vez, Ollie!
Pego a bolinha, mas a cara com que Trevor me olha me
desconcentra e acabo errando o arremesso.
— Vai beber, QB!!! — ele grita, apontando o dedo pra mim.
Mesmo sem vontade, tomo aquela cerveja quente horrível e
chacoalho a cabeça para me situar. Em seguida, Vick me estende a garrafa
de vodka.
— Toma, vai tirar esse gosto da sua boca.
Assinto e bebo, já me sentindo meio tonto, porque o gole foi bem
generoso. O jogo continua e mesmo não tendo bebido muito no início, a
bebida nublou os meus sentidos e eu passei a errar tantas bolinhas que
quando vi, estava jogado no gramado, tentando me manter de olhos abertos.

Barulhos me incomodam e abrir os olhos é quase uma tarefa


impossível. Sinto minha cabeça latejar de um jeito inexplicável, a boca com
um gosto de cabo de guarda-chuva velho e quando finalmente forço minhas
pálpebras a se moverem, tenho uma bela surpresa. Estou deitado no
gramado de casa, com Kakarotto ao meu lado e dois homens me analisando.
— Deus, por que vocês estão gritando? — pergunto, ainda meio
atordoado pelo sono e a ressaca. — Ed? Phillipe? O que vocês estão
fazendo aqui? — Porra, eles chegaram mais cedo ou eu perdi
vergonhosamente a hora! — Seu voo não deveria chegar às dez horas?
Ele sorri daquele jeito estranho que deixa claro que eu fiz merda.
De novo.
— Sim, mas isso foi há uma hora.
Droga! Sento-me na grama e olho ao redor, vendo o tamanho da
bagunça que me aguarda. São copos coloridos, papéis, até calcinhas e
cuecas espalhados em várias direções, deixando claro que a festa foi boa e
que eu acabei apagando após beber como nunca antes.
Contudo, deixo para pensar nisso depois e, sendo um péssimo
anfitrião e sem sequer dar um abraço de boas-vindas em Edward, comento
que estou atrasado e subo correndo para o meu quarto, pois preciso tomar
um banho e ir para o treino, senão o técnico vai me matar logo no primeiro
dia.
Deixo a água fria molhar meu corpo, na esperança que leve
embora toda essa nhaca da bebedeira e em poucos minutos já me sinto
melhor.
Depois de vestido, ajudo Edward a levar suas coisas para o quarto,
sempre de olho para que Kakarotto e ele não se esbarrem e deem início ao
apocalipse. Durante o curto trajeto pelo corredor, ouço-o reclamar por meus
amigos terem ido para o treino sem mim, o que não é bem uma novidade,
mas ele ainda não precisa saber disso.
— Você tem certeza de que esses caras são seus amigos? —
resmunga, com seu bom e velho jeito rabugento. — Quer dizer, quando eles
chegaram na garagem deveriam ter notado o seu carro por lá — argumenta,
deixando aflorar seu lado protetor de sempre.
— Eu sei lá o que pode ter rolado, mano. Você precisa relaxar,
deixar de ser um pouco desconfiado das coisas — Sorrio da forma mais
natural que consigo, parando em frente a última porta do corredor. —
Merdas acontecem. Quem ia me achar atrás dos arbustos? — justifico,
afinal, se nem no meu quarto eles se dão o trabalho de procurar, imagine só
jogado no gramado. No entanto, isso não me incomoda, pois desde que
começamos a morar juntos é assim: a gente divide a casa, as despesas, faz
festas, mas um não se mete na vida do outro, não há realmente uma relação
de amizade e cumplicidade entre todos, apenas com alguns de nós.
— Pode ser que você esteja certo — concorda.
Porém, o que Ed não sabe é que, na real, o único que considero
mesmo meu amigo é Hunter, que foi o primeiro a vir morar aqui e é um cara
mais na dele e com alma de geek, apesar de ser todo tatuado. Os outros eu
apenas suporto pelo bem do time, pois precisamos de uma boa convivência
para que nossa sintonia em campo funcione, e é justamente por isso que
eles moram aqui, já que o técnico achou que seria legal morarmos juntos
quando fomos aceitos para o time e como eu tinha muito espaço sobrando,
aceitei.
Estamos discutindo em francês, nosso idioma materno, quando
nos aproximamos do quarto e, qual não é minha surpresa ao dar de cara
com a Vick, que estava muito bêbada para ir embora e fez o favor de xeretar
as coisas do Sr. Certinho?
Percebo que meu irmão fica mexido pela presença da garota
devido a coloração rosada em seu rosto, e também pela sua falta de
coordenação ao cair de bunda no chão, e por mais que ele tente disfarçar,
está bem claro no rosto dele o quanto vê-la usando sua escova de dentes e
sua camiseta o irritaram.
Apresento-os e deixo que se entendam, deixando-os para trás e
correndo para a garagem, pois já estou super atrasado.
Apesar de não ter bebido nada alcoólico ontem, pois não estou
acostumada e nem tive tempo, pois fiquei uns três minutos na festa —
tempo que deveria ter gastado fazendo um miojo, mas Penélope me obrigou
a ir depois de me convencer a comprar uma roupa nova para arrasar e me
divertir —, minha cabeça dói como se eu estivesse de ressaca, ou então sido
atropelada por uma manada de mamutes.
Confesso que achei que Olliver tinha me convidado por
obrigação, mas, lá no fundo, bem fundo mesmo, pensei que houvesse algum
interesse para tal convite. É claro que não havia. Olliver pegador Durand
está tão acostumado a ter todas as garotas aos seus pés, porque me notaria,
afinal? Não que eu quisesse ser notada, no fim das contas.
Enfim, estou confusa e me contradizendo loucamente, por isso
fecho os olhos com força, respiro e conto mentalmente até dez, antes de
reabri-los e criar coragem para me levantar. Olho para o lado à procura da
minha melhor amiga, mas sua cama está vazia e arrumada. Pelo menos uma
de nós se deu bem ontem à noite.
Caminho até uma mesinha no canto do quarto, onde está o terrário
novinho de Naruto, e abro a tampa, olhando para meu novo bichinho.
— Oi, neném! Cadê o sapinho fofo da mamãe, hein? — Ele
permanece estático, como se não tivesse me ouvido. Também, o que eu
esperava? Que ele pulasse no meu colo e lambesse meu rosto como um
filhote de labrador?
Ai ai ai, Maddison! Vai escovar os dentes e tomar banho, porque
você não está no seu juízo perfeito.
Vou para o banheiro — que tive que lavar todinho quando
chegamos do shopping no sábado, pois Penélope quase teve um infarto ao
ver onde deixei o bichinho — ainda pensando na festa, em como eu me
senti ao chegar naquele lugar cheio de gente, os olhares, os cochichos…
Não foi legal, mas pior mesmo foi dar de cara com Olliver beijando outra
garota. Nem sei explicar o que houve, mas, na noite de ontem, eu só queria
que a atenção dele fosse totalmente minha. Não de um jeito romântico, mas
queria ouvir mais da sua risada, admirar seu rosto bonito e seu jeito
divertido, e não ter isso me deixou desapontada.
Espanto esses pensamentos deprimentes e vou me vestir, pois hoje
tenho meio turno de trabalho voluntário no abrigo de animais. Assim que
saí do sítio dos meus pais no Texas e cheguei aqui, procurei uma forma de
não me afastar totalmente dos animais e das coisas que faziam eu me sentir
conectada com a minha casa, pois me sentia muito sozinha. A vaga no
abrigo de animais veio muito a calhar e, apesar de não ter nenhum retorno
financeiro, todo o amor que recebo dos bichinhos vale a pena.
Usando uma calça jeans escura bem velhinha, camiseta preta e
uma camisa xadrez de vermelho por cima, faço um rabo de cavalo no meu
cabelo, ainda sentindo muita falta da minha touca favorita, calço os tênis,
pego minha inseparável bolsa de girassol e saio de casa, logo depois de
alimentar o Naruto.
O caminho até o abrigo não é muito longo, por isso prefiro ir
caminhando, respirando ar puro e olhando a paisagem, enquanto Avril
Lavigne canta em meus fones de ouvido. Durante o período de aulas eu
sempre me sinto mais constrangida, como se todos estivessem me olhando,
me julgando pelo meu jeito mais introvertido, então, prefiro aproveitar essa
última semana de férias, onde ainda me sinto um pouco livre.
É quase hora do almoço, e como não tive tempo de comer nada
por ter acordado tarde, passo na Book’s and coffee's para pegar um
frapuccino e uma fatia de brownie, que vou comendo no caminho.
Entre uma mordida e outra ao som de “Complicated”, um veículo
preto e grande chama a minha atenção ao reduzir a velocidade. Um frio
sobe pela minha espinha, indicando que alguma coisa pode dar errado, mas
é quando o vidro do motorista se abre que eu realmente fico surpresa:
Olliver Durand me olha com um sorriso no rosto, aquele sorriso que eu
queria ter visto ontem, e por isso, decido ignorá-lo, afinal, somos de
mundos totalmente diferentes e eu deveria ter percebido antes mesmo de ir
à casa dele.
Enfio todo o restante do brownie na boca e bebo um gole
generoso da minha bebida, apertando o passo ao avistar a placa do abrigo a
poucos metros de mim.
É isso. Essa é a minha vida, e não preciso de um quarterback
popular e bonitão para bagunçá-la ou tirá-la do eixo.
Depois de quatro horas lavando cubículos, escovando pelos e
distribuindo ração, estou completamente exausta, louca para cair na minha
cama e dormir por setenta e duas horas ininterruptas, mas assim que abro a
porta do meu quarto, sei que isso será impossível. Penélope está deitada em
sua cama entre as pernas de Hunter Mackenzie, enquanto os dois assistem
“Um amor para recordar” e o bom rapaz enrola os cachinhos do cabelo
dela em seus dedos. Não faço ideia do que minha amiga fez para convencer
a um dos jogadores do time a assistir uma sessão de drama desse nível, mas,
pela cara de bobo com a qual ele olha para ela enquanto acha que não está
sendo observado, chego a conclusão que: ou ele é muito persistente e quer
muito tirar a virgindade dela, se é que ele sabe dessa questão, ou o cara está
muito apaixonado.
— Oi — cumprimento com a voz baixa devido a vergonha. Não
que eu seja um puritana sem graça, mas não é muito comum para mim tanta
proximidade assim com o sexo masculino, ainda mais aqui, em nosso
refúgio, onde nenhum cara entrou anteriormente.
— Maddie, que bom que chegou! — Peny diz com sua voz
animada e eu sorrio por vê-la assim, conforme Hunter apenas acena com a
cabeça e dá uma piscadinha. — Vem ver um filme com a gente! — convida,
mas eu apenas nego.
— Obrigada, mas estou muito cansada. Vou tomar um banho —
aviso e vou até meu armário pegar meus pertences, em seguida me tranco
no banheiro.
Não me demoro muito no banho e em poucos minutos estou
limpa, usando um conjunto de moletom preto surrado e confortável,
calçando pantufas de abelhinha e, com um coque alto no cabelo e muita
vontade de comer e ler um livro.
— Aonde você vai, Maddie? — Penélope pergunta e se senta
melhor ao me ver pegar o exemplar mais do que gasto de Romeu e Julieta e
algumas barrinhas de cereal, além de uma garrafa de água em nosso
frigobar.
— Vou ler por aí.
— Mas você…
— Estou indo, Peny e não vou demorar! Foi bom te ver, Hunter!
— Viro as costas e saio.
Chego à porta rapidamente e logo sou recebida pela brisa fresca
da tarde que me faz sorrir. Caminho até uma grande árvore nos arredores do
dormitório e me sento sob ela, colocando o livro e a garrafinha ao meu lado,
saboreando uma barrinha de cereal. Como não percebi antes que estava
faminta?
Como se concordasse com meu pensamento, meu estômago
inconveniente ronca alto, fazendo-me corar de vergonha e olhar para os
lados, torcendo para que ninguém tenha ouvido esse vexame.
E é durante essa busca que o vejo. Embaixo de uma árvore um
pouco afastada de onde estou, Olliver parece tentar alcançar alguma coisa.
Ele estica a mão e ergue o corpo, ficando nas pontas dos pés, mas,
aparentemente, não obtém sucesso em sua empreitada.
Não consigo ver com clareza o que ele tenta pegar, por isso me
levanto e caminho a passos lentos e o mais silenciosamente possível,
mantendo uma distância segura, porém, escondida atrás de uma árvore,
então eu ouço:
— Vem, carinha, desce daí, eu te ajudo!
Forço a visão o máximo que consigo e me deparo com a cena
mais fofa que já vi: Olliver gracinha Durand escalando a árvore e, após
alguns instantes, descendo com um gatinho branco e fofo nos braços. Assim
que seus pés tocam o chão, uma garotinha corre na direção dele e abraça
suas pernas.
— Obrigada, tio! O floquinho tava morrendo de medo aí em cima,
mas eu não sou grande o suficiente pra pegar ele.
Eu posso com uma coisa dessas? Pelas vaquinhas do Texas, é a
cena mais fofa que já vi na vida! Ele entrega o bichinho nos braços dela e
afaga os cabelinhos loiros, sorrindo para a menininha.
— Acho que ele tá com sede, melhor levar ele pra casa — avisa e
ela acena com a cabecinha em concordância, saindo em seguida, enquanto o
bonitão continua lá, olhando para os lados, parecendo perdido em
pensamento. Minutos mais tarde, ele se mexe e caminha até seu carro,
sumindo do meu campo de visão.
Demoro alguns segundos para sair do meu estado de inércia após
esse flagra, volto para onde deixei minhas coisas e me jogo no chão,
sentindo o coração acelerar, feliz por ver que, talvez, o mulherengo não seja
tão babaca assim.
Estou exausto! Voltar aos treinos do Bruins é sempre cansativo,
mesmo para mim, que não me acomodei durante as férias. O treinador
Stevens estava empolgado e não economizou na hora de pegar pesado com
a gente, por isso, tudo o que quero nesse momento é chegar em casa, tomar
um banho, me jogar na cama e dormir até a hora de acordar para o treino de
amanhã. Despeço-me dos meus colegas de time, coloco a bolsa com meu
uniforme no banco do carona e dou partida.
Durante o caminho, vejo uma garotinha desesperada embaixo de
uma árvore, ao mesmo tempo em que ouço miados e já sei do que se trata,
afinal, perdi as contas de quantas vezes precisei salvar Kakarotto, que
demorou a se adaptar a casa e vivia fugindo para a árvore que tem nos
fundos, me tornando em um mestre em resgate de gatos.
Paro o carro e converso com ela, avistando sua mãe a poucos
metros de nós, e rapidamente consigo tirar Floquinho do seu esconderijo.
No entanto, antes de ir embora, sinto como se estivesse sendo observado,
por isso, olho para todos os lados à procura de algum rosto conhecido, mas
tudo o que vejo são alguns jovens aproveitando o sol do fim da tarde,
algumas crianças passeando com os pais, mas ninguém que eu reconheça.
Volto para o carro e dirijo até em casa, encontrando meu irmão na
cozinha, tentando preparar algo para comer.
— Humm… O que está fazendo de bom aí, Eustácio? — pergunto
e logo vejo que é um sanduíche com uma aparência nada apetitosa.
— De bom, provavelmente nada — resmunga, olhando para sua
"criação" com cara de nojo.
— Então joga isso fora. Você nunca, em hipótese alguma, deveria
tentar cozinhar. Com esse seu humor “incrível”, não tem como sair nada
que preste — debocho e ele cruza os braços. — Assim que sair do banho eu
peço uma pizza pra nós — aviso e caminho até as escadas, vendo Kakarotto
parado feito um bibelô, com cara de poucos amigos. Só pra variar.
— Ed, você sabe se alguém deu comida para o Kakarotto? —
grito para o meu irmão.
— Eu dei, antes que essa cria de Satã resolvesse arranhar a minha
cara. — Bufa em desgosto, se aproximando de mim.
— Sério, irmãozão, vocês precisam parar com isso. Ele é só um
gatinho inofensivo, Edward.
— Foi Capiroto quem começou, eu só me defendo das suas
patinhas demoníacas.
Reviro os olhos, deixando meu irmão e o gato se encarando como
dois foras da lei de filme de faroeste, e caminho até o banheiro do meu
quarto. Tiro as roupas e entro embaixo d'água, sentindo meus músculos
relaxarem instantaneamente. Quando fecho os olhos para enxaguar o
shampoo dos cabelos, lembro-me do olhar distraído da ruivinha hoje mais
cedo, quando estava indo para o treino. Tenho que admitir que ela estava
linda sem a touca, comendo aquele bolo como se fosse a última comida da
face da terra. No entanto, seu olhar desdenhoso para o meu lado não me
passou despercebido, até que ela virou a cara e saiu apressada.
Bom, quero ser amigo dela porque, de alguma forma, ela me
despertou curiosidade, no entanto, posso esperar até o início das aulas para
conversarmos melhor.

Após três dias de treinos intensos, finalmente estou de folga hoje,


mas ainda preciso ir ao campus para uma reunião com o treinador. Por isso,
acordei um pouquinho mais tarde, fiz minha corrida matinal e agora
estamos todos juntos tomando café da manhã, rindo e falando sobre os
jogos.
— Você voltou com tudo para essa temporada, QB, duvido que
alguém bata o Bruins dessa vez — Hunter comenta, fazendo Trevor revirar
os olhos. — O time está entrosado, acho que temos boas chances esse ano.
— Eu não acho tudo isso, não. Todo mundo está sujeito a ser
substituído, basta um instante de distração e… puff! Aparece outro muito
melhor que você — Trevor desdenha, sem desviar seus olhos dos meus.
Sinceramente, não sei qual é a desse cara, o porquê de tanta
inveja, tanta implicância. Ele não passa de um playboyzinho mimado que
tem tudo o que quer ao alcance das mãos. Sinto muito se sou um jogador
melhor do que ele e fui escolhido pelo treinador. Trevor que lute!
Antes que eu dê uma resposta merecida para o idiota, meu irmão
aparece para comer e avisa que precisa ir até a universidade levar uns
documentos e que vai aproveitar para conhecer o local.
Os caras do time, sendo babacas como sempre, levantam a
hipótese de quem será a “guia” do meu irmão: Victória ou Maddison. Eu já
sabia que a doidinha da Vick fazia essas atividades extras para ganhar mais
pontos, mas a ruivinha é novidade para mim.
Porém, isso não impede que eu fique irritado com o rumo da
conversa e com os comentários idiotas dos caras, mas como sei que pelo
menos a maioria deles tem a idade mental de uma criança da quinta série,
apenas nego com a cabeça aos olhares questionadores do meu irmão, que
também parece desconfortável com a situação, e sigo para o banho.
Vinte minutos mais tarde, estamos a caminho da UCLA quando as
perguntas aparentemente desinteressadas do meu irmão me surpreendem.
Não que eu imagine que o Ed seja virgem, mas é bem curioso que logo
Victória Thompson desperte interesse no certinho e rabugento do Eustácio,
apesar de ele querer disfarçar.
— É, esse lugar parece legal — meu irmão diz assim que
estaciono em frente ao campus e descemos do veículo.
— Acho que você vai gostar de estar longe de toda aquela pompa
que te cerca desde pequeno, irmãozão — brinco, bagunçando o cabelo dele.
Edward me olha com a cara emburrada, ajeitando os fios com as
mãos, enquanto andamos até em frente ao prédio da secretaria.
— Nós pod... Caralho. — Sinto todo o meu raciocínio evaporar ao
ver a ruivinha se despedir de um cara e vir em nossa direção.
Maddison Brown sorri com simpatia para o Ed e me olha com o
maior pouco caso já visto, ignorando totalmente as minhas chances de falar.
Definitivamente, não, não dá pra esperar o início das aulas, pois a
sua atitude mexeu diretamente com o meu ego, e homem de ego ferido é
uma desgraça.
Emburrado, deixo meu irmão com a ruiva e sigo até a sala do
treinador.
— Olliver Durand, como vai? — Estende a mão para me
cumprimentar.
— Bem, treinador, e o senhor? — Devolvo o cumprimento e logo
nos acomodamos para conversar a respeito do time, ver alguns lances e
táticas que estamos errando e precisamos melhorar.
— Bom, meu jovem, com o início da temporada, estou
procurando um capitão permanente para o time, e preciso confessar que seu
desempenho tem me surpreendido. Seu nome é o mais falado entre a equipe
e, se continuar assim, a braçadeira pode ser sua — diz após mais de uma
hora de reunião, me deixando animado.
— Será uma honra, treinador — comento.
— Eu sei que sim. Agora, continue o bom trabalho e nós
voltaremos a conversar em breve.
Assinto e nos despedimos.
Chego em casa e encontro a sala vazia, então subo para o meu
quarto, mas antes, para no do meu irmão para saber se deu tudo certo na
universidade e, quem sabe, descobrir alguma coisa a mais sobre Maddie.
— Você não sabe bater, Olliver? — reclama quando abro a porta,
encontrando-o deitado na cama com as mesmas roupas de antes, olhando
para o teto como se ali ele fosse encontrar as respostas para os maiores
mistérios do universo.
— Sei, mas se não for para te irritar, não estarei cumprindo bem o
meu papel de irmão mais novo — debocho e vejo-o revirar os olhos. — Se
papai te vê fazendo isso, com certeza o filhinho perfeito seria repreendido.
— Sai daqui! O que você quer? — reclama, sentando-se para me
encarar.
— Só vim perguntar se foi tudo bem lá no campus… — Disfarço,
olhando para os lados, para que ele não veja o interesse claro.
— No campus, ou com a Maddison? — Eleva suas sobrancelhas,
não disfarçando a vontade de rir. — Acho que talvez você não esteja na lista
de pessoas favoritas da garota, irmãozinho.
É evidente que Edward não ia deixar de me zoar pela forma como
Maddie me tratou, afinal, eu sempre fui o pegador entre nós dois, sempre
me gabei pelo sucesso com as mulheres, e agora, fui esnobado sem a menor
cerimônia pela ruivinha.
É uma questão de honra que ela fale comigo e, quem sabe, aceite
ser minha amiga, talvez algo mais… quem sabe? Amizade colorida me
parece uma boa ideia.
Caralho! Três dias de convivência com o Ed e eu já fiquei
certinho. Quer dizer, não certinho como ele, que parece um lorde do Século
XIX, mas estou com pensamentos politicamente corretos demais para
alguém como eu, que levei anos construindo a reputação de rebelde. Ficou
confuso? É, também acho. Estou me sentindo assim desde ontem. Já
adianto que, apesar de gostar muito de ter uma mulher esquentando minha
cama e ser sempre gentil, nenhuma delas jamais grudou no meu cérebro, me
fazendo questionar minhas atitudes.
No entanto, parece que Maddison conseguiu tal feito. Desde o dia
da festa, seu olhar triste se grudou em minha mente e sinto que preciso me
desculpar, principalmente após o tratamento nada amistoso na universidade
ontem.
É por isso que hoje estou determinado a encontrá-la e devolver
sua touca. Com essa decisão em mente, desço as escadas e encontro Trevor,
Matt e Jackson tomando café da manhã com as caras mais amassadas do
mundo.
— Alguém anotou a placa? — pergunto com deboche, indo até a
fruteira pegar uma banana.
— Que placa, porra? — Jackson inquire mal-humorado, levando
as mãos à cabeça.
— A placa do caminhão que atropelou vocês. — Começo a rir,
mas eles não parecem achar graça da piada.
Dou de ombros e, fingindo normalidade, pergunto:
— Alguém sabe onde a Maddie mora? — Abro a geladeira,
permanecendo de costas para eles, porque sei que vão me zoar.
— Que Maddie, a esquisita Brown? — Trevor nos brinda com sua
dose diária de idiotice.
— Maddison Brown, a rata de biblioteca? — É a vez do Matt
abrir a boca.
— Maddison Brown, que estuda artes cênicas, ruiva, usa uma
touca… — explico, e vejo os três me analisando com extrema curiosidade.
— Pelo visto, você andou reparando muito na esquisita. Tá
pegando? — Trevor continua com a torneira de asneiras aberta, me
irritando.
— Alguém sabe ou não onde ela mora, porra? — Perco a
paciência de vez.
— Ela me disse ontem que mora em um dos dormitórios, talvez a
Vick saiba, elas me pareceram amigas quando nos encontramos. — Meu
irmão entra na cozinha e me cumprimenta com um tapinha no ombro depois
de responder.
— Valeu, irmãozão, vou tentar falar com a loirinha — agradeço e
saio da cozinha depois de beber um pouco de água da minha garrafa.
Vou até a garagem colocar ração e água para o Kakarotto, que me
olha com o maior descaso do mundo, esparramado em sua almofada, então
volto para o meu quarto para calçar os tênis de corrida e pegar a touca.
Instantes depois, saio porta afora sentindo o frescor da manhã,
aceno para Phill, que teoricamente é nosso segurança e secretário, apesar de
parecer mais um pau mandado do meu pai e babá do meu irmão, coloco
meus fones de ouvido escutando a voz de Dan Reynolds me embalar,
guardo o celular e a touca no bolso e começo a correr.
Passo pelos arredores da UCLA ainda vendo pouco movimento,
afinal, todo mundo está aproveitando os últimos dias de descanso antes da
maratona de aulas, trabalhos e jogos começar e logo avisto os dormitórios.
Porém, são muitos e não faço ideia de em qual a Girassol mora, por isso,
lembro da dica do meu irmão e ligo para Victória, obviamente sem sucesso
nenhum, já que a doidinha deve estar dormindo ou trabalhando em um dos
seus muitos empregos.
Por isso, abusando de todo o meu charme, entro no primeiro
prédio do conjunto de dormitórios e abordo uma garota que se aproxima
com um sorriso predador no rosto.
— Ollie Durand, que honra tê-lo aqui — disse, tocando em meu
braço com uma intimidade que não lhe dei, pois nem a conheço.
— Bom dia, moça — cumprimento educadamente, me afastando
dois passos. — Você conhece Maddison Brown? Sabe se ela mora aqui?
— Hum… não me lembro desse nome.
— Ela é ruiva, pequena, de olhos claros… — descrevo.
— Não, não vi — responde e logo completa: — Mas se você
estiver a fim de se divertir, posso te ajudar com isso. — Se aproxima
novamente, tentando colar nossos corpos, mas a impeço.
— Valeu, gata, mas não é isso que estou procurando hoje — aviso
e me desvencilho dela, andando até a saída, repetindo essa pergunta a cada
prédio que entro.
— O-olliver… Nã-não conheço ne-nenhuma Maddie — gagueja
uma garota tímida.
— Não tem ninguém assim aqui, mas posso pintar meu cabelo de
ruivo se quiser — oferece uma líder de torcida.
Oito prédios visitados, sem nenhum sucesso. No fim, acho que
meu irmão se confundiu e que a Maddison não mora por aqui.
Estou parecendo aqueles guardas do Príncipe da Cinderela atrás
da dona do sapatinho, penso, revirando os olhos.
Estou entrando no último prédio, totalmente sem expectativas,
quando encontro Hunter no corredor.
— Ei, Ollie, o que faz por aqui? — pergunta, me
cumprimentando.
— Estou procurando a Maddie, aquela ruiva que…
— A melhor amiga da Penélope? Acabei de sair do quarto delas
— comenta, me interrompendo.
— Como é que é? O que você estava fazendo lá? — indago, ainda
sem saber o motivo.
— Peny e eu estamos nos conhecendo melhor, sabe… — diz,
erguendo uma sobrancelha sugestivamente.
— Ah, sim, sei. E a Maddie tá lá?
— Tá sim, é naquela porta ali. — Indica, apontando o local. Sua
cara indica curiosidade, mas Hunter é muito discreto para perguntar.
— Valeu, cara — agradeço, caminhando pelo corredor.
Bato na porta com cuidado, não querendo fazer muito barulho,
pois já fui assediado o suficiente por hoje.
Assim que a madeira é afastada, vejo aqueles olhos azuis me
encarando com surpresa.
— Olliver?
— Oi, Maddison. Tudo bem? — Olho fixamente em seu rosto,
notando como ela fica linda sem aquela touca cobrindo seus cabelos, o que
me dá até certo remorso em devolvê-la.
— O que faz aqui? — pergunta, cruzando os braços, mostrando
que não vai ser fácil conseguir um sorriso, quem dirá sua amizade.
— Eu vim… — paro por um instante, com uma ideia em mente.
Depois de tanto procurá-la, posso mesmo me comparar ao Príncipe da
Cinderela, então me ajoelho em apenas uma perna, mantendo a outra
dobrada, tiro a touca do bolso e estendo em sua direção, começando o meu
discurso: — Em uma noite, encontrei certa garota e adorei o seu papo, seu
jeito tímido, mas então ela fugiu, deixando cair isso aqui — mostro o
tecido. — Agora, estou em busca de certa garota, que terá a honra de se
tornar minha amiga. Você a conhece?
Seus olhos brilham marejados, e fico surpreso com tamanha
emoção.
— Você encontrou a minha touca. — Estica o braço, tentando
pegá-la, mas eu a seguro firme, sentindo o joelho doer. — A touca que
ganhei da vovó… — Tenta puxar o tecido.
— Encontrei, mas, para devolvê-la, tenho duas perguntas — digo
e ela me encara, curiosa. — Primeira: você me desculpa por sábado? Eu
queria muito ter conversado com você, mas as coisas saíram do meu
controle. Eu te convidei e queria que sua noite fosse divertida, e nem tive a
chance de fazer isso acontecer.
— Você não tem que se desculpar… — começa, mas eu a
interrompo.
— Eu preciso.
Ela sorri e estende a mão.
— Se te faz feliz, está desculpado.
— Ótimo. Posso fazer a segunda pergunta de pé? Meus joelhos
estão me matando — resmungo.
Ela sorri mais abertamente, corando até a raiz dos cabelos
— Pode sim.
— Você aceita ser minha amiga? — Ela me olha surpresa, sem
entender. — Amigos, Maddie. Já estudamos juntos, eu adorei conversar
com você, e seria muito legal ter uma amiga mulher… — argumento de
forma tosca, sem saber o que dizer.
— Não entendo seus motivos para tal pedido, mas… Eu gostaria,
sim, de ser sua amiga.
— Yeah! — comemoro e acomodo a touca sobre os seus cabelos.
Seu olhar contente e aliviado me deixa feliz.
— Então, amiga, o que acha de ir à festa de boas-vindas do meu
irmão no sábado? Prometo me redimir pelo fiasco da semana passada.
Puta que pariu, essa ideia de festa de boas-vindas foi,
definitivamente, a pior que eu tive. Quer dizer, não a festa em si, mas sim,
ter aceitado que Trevor viesse comigo comprar as coisas, pois os outros
rapazes estavam ocupados.
Ter que dirigir ouvindo-o se gabar dos seus feitos medíocres com
as mulheres já foi um inferno, afinal, o cara é um escroto que não tem o
menor respeito por suas conquistas, as tratando apenas como um depósito
de porra e fazedoras de suas vontades, além disso, ainda tive que suportar
suas músicas de gosto duvidoso, a cara de panaca e as piadas sobre o vídeo
que vazou do momento em que pedi desculpas para a Maddie. Isso, sim, foi
o auge. O auge da minha fúria.
Para ajudar, eu estava muito distraído no treino hoje e por isso
errei algumas jogadas, o que gerou uma bronca do técnico e,
consequentemente, uma ameaça quanto a me substituir por Trevor no
primeiro jogo. Sei que isso é apenas para me impulsionar a dar o meu
melhor, mas o idiota não entende e agora está esfregando na minha cara.
— Ai ai, Olliver, como se sente sabendo que vai perder a vaga de
QB pra mim, hein? — debocha. — Eu me sinto pleno por finalmente ver a
justiça sendo feita e o meu talento reconhecido. — Sua risada irônica me
deixa a ponto de matá-lo. Minha vontade é agarrar sua garganta e só soltar
quando ele estiver implorando por ar.
Porém, não o faço e, irritado, estaciono em frente a loja de
conveniência e desço do carro sem ao menos esperá-lo. Pego um carrinho e
começo a andar pela loja — infelizmente sendo seguido por ele —, onde
escolho petiscos, chips, cervejas de boa qualidade dessa vez, um chopp
mais barato para quando todo mundo estiver muito bêbado, energético e
vários ingredientes para fazermos batidas, já que fiz questão de contratar
um barman, pois meu irmão merece o melhor. E vai ficar uma fera quando
vir a festa de arromba que preparei para ele.
Após infinitos minutos de tortura em sua presença, nos quais me
recusei a conversar, apresento a identidade falsa que consegui assim que
cheguei ao país, pago tudo e levo as compras até o carro, onde acomodo
tudo no porta-malas, enquanto ele mexe no celular sentado no banco do
passageiro.
Com tudo guardado, tomo meu lugar e antes de dar partida, viro-
me para ele.
— Espero que se comporte dessa vez. Na última festa você me
irritou, tirou várias garotas do sério e não vou aceitar isso, Trevor. —
Acomodo-me e dou partida, dirigindo para casa.
— Ora, ora… está achando que é quem, Olliver? Minha mãe?
— Eu já disse a você que sou o responsável por aquela casa, por
isso, preciso manter a ordem e o respeito. Principalmente hoje, que a festa é
em homenagem ao meu irmão.
— Credo, eu no seu lugar preferiria mentir e dizer que sou filho
único. Aquele cara é muito chato! — resmunga, me deixando possesso por
criticar Edward. Ele pode ter defeitos, ser pau-mandado do meu pai e muito
certinho, mas é meu irmão e eu o amo mais que tudo. Faria qualquer coisa
por ele.
— Não se atreva a falar do Ed, Trevor — rosno entredentes. — Se
não está satisfeito, a porta da rua é a serventia da casa. Vai embora e o diabo
que te carregue!
— Você me parece muito valente para alguém que tem tanto a
perder, Olliver — ameaça, me deixando confuso.
— Do que você está falando?
— Nada. No momento certo você vai entender — afirma e desce
do carro ao perceber que estacionei em frente a nossa casa.

Diferente das outras vezes, caprichei muito mais na decoração da


festa, com balões metálicos de gás hélio nos tons de roxo e cor-de-rosa,
porque são as melhores cores para brilhar no escuro. Transformamos a
bancada da cozinha em uma espécie de bar, para que os bartenders possam
trabalhar em paz. Copos personalizados nessas mesmas cores estão
espalhados em pontos estratégicos e na sala, em frente a porta de entrada,
uma faixa escrito: “Seja bem-vindo, Eustácio” está pendurada.
Ajeito minha camiseta branca, analiso a calça jeans e puxo o cós
para conferir se coloquei a sunga cor-de-rosa neon. Sim, eu coloquei.
Tradições não podem ser quebradas, afinal, desde a minha primeira festa no
ano passado funciona assim. E o mais engraçado é como isso surgiu.
Eu estava há poucos dias nos Estados Unidos e ainda não
conhecia ninguém. Apesar de ser um cara super comunicativo, estar
sozinho pela primeira vez, sem minha mãe ou o meu irmão, ainda era
estranho. Logo após minha visita ao Campus, fui convidado para uma festa
na piscina em uma das fraternidades, mas acabei não trazendo sunga, por
isso, decidi ir ao shopping comprar uma para estar preparado. Porém, ao
chegar em uma loja, uma vendedora muito solícita me mostrou alguns
modelos e, infelizmente, as únicas com a minha numeração eram cor-de-
rosa ou roxo-neon, e ao conferir o meu relógio, vi que já estava atrasado e
por isso levei as duas.
Chegando na festa, ao vestir a cor-de-rosa, percebi várias garotas
se aproximando de mim, querendo conversar, e notei deixá-las mais
confortáveis e nem sei o porquê, mas naquele dia mesmo já levei uma delas
para a minha casa, daí em diante a tradição das sungas surgiu e nunca faltou
mulher na minha cama.
Afasto as lembranças e olho ao redor da sala, onde o DJ já tem
seu equipamento montado tocando suas músicas, algo mais pop no início, e
toda a equipe que contratei está à postos. Os primeiros convidados
começam a chegar e se acomodam nos sofás, gramado e onde mais se
sentem confortáveis.
Cumprimento a todos e decido circular um pouco, pois quero estar
presente quando a Maddie chegar. Encontro os caras do time já enchendo a
cara no quintal dos fundos, principalmente os três babacas que moram
comigo, pois não avisto Hunter em lugar nenhum, e pelo que andei
observando, o marrentinho deve estar babando na amiga da ruivinha.
Após conversar um pouco com eles, vou até a cozinha pegar uma
bebida, quando dou de cara com o meu irmão, parado feito uma estátua em
frente a faixa que mandei fazer.
— Que merda é essa, Olliver? Não acredito que você fez isso! —
diz baixo para que só eu ouça, me encarando. Nem quando está muito bravo
meu irmão certinho perde a linha.
— Surpresa! — digo um pouco mais alto e me aproximo do seu
ouvido — Não seja estraga-prazeres, Ed, queria comemorar por você estar
aqui. Então ao menos finja que gostou — murmuro e me afasto. Ele revira
os olhos e, mesmo irritado, não deixa a boa educação de lado e
cumprimenta os presentes no ambiente, antes de sair batendo os pés feito
uma criança birrenta para o quintal.
Desvio meu olhar para o lado o oposto e é quando a vejo entrando
pela porta: cabelos ruivos soltos, lisos e com as pontas cacheadas, olhos
azul-esverdeados hipnotizantes, a pele clarinha feito porcelana adornada por
inúmeras sardas e um sorriso tímido que a deixa ainda mais encantadora.
Para completar, ela usa um vestido amarelo rodado, fazendo jus ao seu
apelido, Girassol, finalizando com All Star brancos nos pés. Nesse
momento, tudo o que consigo pensar é no motivo de um dia eu tê-la achado
esquisita, pois tudo o que vejo agora é uma garota linda, meiga e
hipnotizante que acaba de roubar para si toda a atenção da festa.
Enquanto a observo, vejo um rubor tomar conta do seu rosto e
meu dou conta de que ter tantas pessoas a olhando deve ter sido demais
para ela, por isso, vou ao seu socorro, e ela sorri encabulada quando me
aproximo e deixo um beijo roubado em sua bochecha.
— Oi, Girassol, que bom que você veio! — comento e estendo a
mão para cumprimentá-la, ao que ela aceita com cuidado, e posso sentir
seus dedos trêmulos e suados tocando os meus.
— Oi, Olliver. Você vai continuar com esse apelido bobo? —
pergunta baixinho, perto do meu ouvido, me fazendo sentir o calor de seu
hálito e seu cheiro gostoso de mel.
— Não é bobo — respondo, endireitando a coluna e cruzando os
braços em um pose imponente. — É uma gracinha e combina com você —
argumento.
— Uhumm… — diz, mordendo o lábio em um claro sinal de
nervosismo, por isso decido deixá-la mais confortável.
— E se quer saber, eu dou apelidos para todo mundo — rebato.
— Ah é? Então prove. — Ergue a sobrancelha, me desafiando.
— Olha só — aponto para a faixa atrás de mim —, meu irmão é o
Eustácio, o Hunter ali — indico meu amigo que acaba de entrar com a
colega de quarto da Maddie — é o marrentinho. — Arranco um sorriso
tímido dela. — O Jackson é o panaca — mostro um dos moradores da casa
— o Matt é o imbecil e o Trevor é o idiota — enumero todos os garotos que
moram aqui e acabaram de adentrar a cozinha.
— Seus apelidos são bem carinhosos, né? — brinca.
— Você não viu nada. Mas não vamos nos distrair com isso, pois
hoje você veio para aproveitar a festa — declaro e ela sorri.
— Certo, e o que você sugere? — indaga.
— Que tal pegarmos uma bebida? Tem ponche sem álcool para o
enjoado do meu irmão e tenho certeza que ele não vai se importar em
dividir conosco, já que sequer prestou atenção em tudo o que preparei.
— Poxa, eu sinto muito — diz baixo, como se lamentasse.
— Que isso, não sinta! Eu tô muito feliz por ter o Ed aqui, mas a
missão da minha vida é irritá-lo e acho que consegui isso com louvor hoje.
— Gargalho e acabo com a distância entre nós, abraçando-a de lado e
beijando o topo de sua cabeça em um ato impulsivo que a faz retesar o
corpo todo. — Desculpe, me empolguei. Ter uma amiga como você é
diferente, já que a Vick é toda desinibida e eu acabo me esquecendo que
nem todo mundo é assim.
— Tudo bem, é engraçado o jeito como quase desapareço ao seu
lado. — Ela sorri e se aconchega em mim. — Eu nunca tive um amigo,
então é meio estranho pra mim, mas vou me acostumar.
Amigo. Quem diria que Olliver pegador Durand um dia ia querer
ser meu amigo. Logo eu, a garota que vivia sozinha, sonhando com uma
amizade sincera, algo que só aconteceu quando conheci Penélope no meu
primeiro dia de aula aqui na UCLA. Lembro-me de como me sentia
perdida, sentada em um canto da sala de aula e com a touca quase cobrindo
os olhos, quando a garota se aproximou, falando pelos cotovelos o quão
animada estava por finalmente sair de casa e deixar de ser tratada como
uma bonequinha perfeita de exposição.
Naquele momento, eu não imaginava que conheceria minha
melhor amiga. Coincidência do destino ao não, soube mais tarde que ela
seria minha colega de quarto, já que só veio para L.A. no dia em que as
aulas começaram e ainda nem tinha se instalado.
Agora estamos aqui, um ano depois, chegando na festa. Pois é,
quando aceitei a amizade de Olliver, aceitei também dar mais uma chance
às comemorações universitárias e confesso que é assustador ver tanta gente
espalhada por aí; uns comendo, outros bebendo, jogando ou se pegando
como se estivessem na privacidade de um quarto. Tudo isso é demais para
mim, mas prometi que iria tentar e aqui estou, um pouco ansiosa para
encontrar o meu novo amigo.
Penélope fez questão de me arrumar como uma das muitas
Barbies que ela com certeza tinha quando era mais nova, deixando meus
cabelos soltos e bonitos, e me obrigando a colocar o meu vestido amarelo
que foi presente de aniversário dos meus pais e eu nunca usei. Por sorte ela
não quis rebocar o meu rosto com maquiagem, se contentando apenas com
um rímel incolor e gloss cor-de-rosa, mas, ainda assim, posso sentir os
olhares das pessoas sobre mim, como se eu fosse um ser de outro planeta
que quer dominar a Terra.
Olho ao redor e percebo que minha amiga sumiu do meu campo
de visão, provavelmente colada a Hunter, de quem ela, aparentemente, não
se desgruda mais.
Caminho em direção à entrada da casa e quando chego à sala, dou
de cara com ele, com seus cabelos loiros espetados, mais de um metro e
noventa muito bem aproveitados em seu corpo definido e nada exagerado,
que está delineado pela camiseta branca. Quando ele se aproxima e beija
minha bochecha, sinto todo o meu fôlego desaparecer, pois estar assim, tão
perto de Olliver Durand, é mais do que eu poderia esperar.

— Tem certeza de que seu irmão não vai se importar em termos


acabado com o ponche dele? — pergunto quando voltamos da cozinha, uma
hora depois de eu ter chegado. Nos acomodamos em um degrau das escadas
para conversar e evitar que os casais bêbados se atrevessem a tentar usar os
quartos, segundo me explicou o quarterback.
Diferente de tudo o que imaginei, Olliver não é um cara metido,
esnobe ou playboy como pintam por aí. Ele é engraçado e gentil com todo
mundo, sempre tentando dividir a sua atenção com as pessoas que se
aproximam.
— Tenho, sim. E, de qualquer forma, daqui a pouquinho a Vick
chega aí e amansa a fera, caso necessário.
— Eu bem vi mesmo uns olhares diferentes e ela toda assanhada
para o lado do seu irmão, mas ele disse que não era nada. — Dou de
ombros.
— Não esquenta, Ed ainda está em negação, mas não vejo a hora
da loira pegar ele de jeito — diz, rindo. — Acredita que ela veio perguntar
se eu me importava se ela quisesse pegar o meu irmão?
— Isso é a cara dela mesmo. Mas eles parecem tão diferentes…
— Nunca ouviu falar que os opostos se atraem? — Concordo com
a cabeça. — Além do mais, meu irmão está precisando transar para ver se
melhora um pouquinho aquele humor do cão — ele diz com naturalidade,
enquanto sinto meu rosto queimar de vergonha por vê-lo falar assim de
sexo. Mas, a verdade é que ele está certo. É algo natural, que todo mundo
aqui faz, exceto eu.
— Talvez você esteja certo — admito, tentando mudar de assunto.
— Eu sempre estou. — Sorri. — Ai, caralho! — reclama e olha
para trás. — Que merda, Kakarotto! Por que você me arranhou? — reclama
e vejo o gatinho que ele adotou no abrigo tentar passar por nós. Afasto-me
um pouquinho do seu dono, mas, ao invés de descer as escadas e ir para sei
lá onde, o bichano se acomoda em meu colo e ronrona, fazendo Olliver
olhar espantado para seu bichinho.
— Como você é fofo! — digo, afagando sua cabecinha e ele se
esfrega todo em mim.
— É um safado, isso sim. Ele olha para todo mundo como se
fosse o dono da casa, sempre com cara de quem vai matar um, e tá todo
derretido aí por você — reclama e tenta colocar a mão na cabeça do gato,
que se afasta e quase se esconde embaixo do meu braço.
— Acho que ele gostou de mim — digo, sorrindo.
— Eu tenho certeza, mas não o julgo. Errado ele não tá —
responde, dando de ombros.
Brinco mais um pouco com seu pelo malhado de cinza e preto e
logo Kakarotto se afasta, voltando a subir as escadas.
— Que tal mais uma bebida? — oferece.
— Sem álcool, por favor — peço, sorrindo, algo que tenho feito
muito essa noite.
— Deixa comigo! — Ele se levanta e sai, voltando poucos
instantes depois com duas latinhas de energético. — Aqui. — Me entrega
uma e abre a sua, tomando um grande gole ainda de pé, mas antes que ele
volte a se acomodar ao meu lado, ouvimos alguém chamar o seu nome.
— Ollie! — Um rapaz com a jaqueta do Bruins gesticula com a
mão e Olliver se vira para mim.
— Vou só ver o que o Brad quer e já volto — avisa e se vai mais
uma vez, me dando uma piscadinha.
Permaneço no mesmo lugar, observando as pessoas dançando,
conversando, se divertindo e preciso confessar que estou feliz por ter vindo.
Bebo todo o energético devagar, sentindo as bolhas brincarem na minha
língua, em seguida coloco a latinha ao meu lado.
Muitos minutos passam e nem sinal do Olliver voltar, até que vejo
alguém se aproximar; Trevor, se eu não me engano.
— Mas vejam só, se não é a esquisita que Olliver disse ser sua
amiga… — Sua voz enrolada entrega o quão bêbado ele está. — Até que
hoje você tá dando um caldo — diz, tocando meu cabelo, mas me afasto. —
Talvez seja a cerveja chique que o nosso quarterback comprou que esteja
me fazendo te enxergar assim, já que eu duvido muito que você tenha
conserto — completa, me fazendo sentir lágrimas se acumularem nos meus
olhos.
Eu sempre soube que não seguia o padrão de beleza das meninas
por aí, que minhas roupas não são sexys ou descoladas, mas nunca ouvi isso
assim, dito na minha cara, mesmo que seja por um idiota que está mais
louco que o Batman[2] de tanto que bebeu. Contudo, não vou deixar que ele
perceba o quanto me afetou, por isso, levanto-me e, evitando tocá-lo,
afasto-me o mais rápido que posso caminhando até a cozinha, onde vejo
uma fila de pessoas aguardando suas bebidas muito alcoólicas e coloridas,
mas não avisto Olliver, então passo pela sala, pelo gramado da frente,
sentindo que não poderei segurar o choro por muito tempo, por isso, saio
em busca de um banheiro, onde eu possa lavar o rosto e chamar um Uber
para ir pra casa.
Abro algumas portas no andar de baixo e tudo o que encontro é
um armário de produtos de limpeza, uma mini academia e biblioteca.
Aproximo-me da última porta e quando vou abri-la, ouço gemidos que
deixam muito claro o que está acontecendo ali dentro. Tento me afastar, no
entanto, sinto aquele perfume que me inebriou a noite toda, algo refrescante
e envolvente, e que eu reconheceria em qualquer lugar depois de hoje; o
cheiro dele.
Por isso, movida por uma curiosidade desnecessária e
incontrolável, levo a mão a maçaneta, torcendo para que esteja trancada
para que eu dê meia volta, vá pra casa e siga minha vida, mas o som dentro
daquele cômodo aumenta e eu não resisto, abro a porta com cuidado,
ficando paralisada com o que vejo à minha frente.
Penélope e Zion, um dos jogadores do Bruins, estão se beijando
como se não houvesse amanhã. A alça da blusa da minha amiga está caída,
e o rapaz desce beijos pelo seu pescoço, ao mesmo tempo em que suas
mãos apalpam tudo o que podem encontrar. Quando estou me afastando
para dar-lhes privacidade, ouço ela gemer alto e ao olhar para baixo, vejo
Hunter sob sua saia, provavelmente fazendo algo muito bom com a boca.
Fico em choque por alguns segundos, principalmente por ter
sentido o cheiro do Olliver e pensar que era ele quem estava ali, mas não
quero ser vista, então, saio de fininho e quando me viro, dou de cara com o
quarterback todo curioso, erguendo a cabeça para olhar dentro do cômodo,
que percebi ser um banheiro.
— Parece que estão se divertindo… — comenta, com aquele
sorriso safado que só ele tem.
— É…é… parece que sim — balbucio, ainda atordoada.
E como estão! Peny vai ter muito o que me contar depois.
— Vem, eu tô com sede e tenho um estoque secreto de bebidas
que quero te mostrar — diz, pegando minhas mãos, entrelaçando nossos
dedos e me guiando até a cozinha.
Passamos por várias pessoas, ganho alguns empurrões e pisões
dos mais empolgados na pista de dança improvisada, e quando chegamos
em frente a geladeira, Olliver me olha e sorri, levando o dedo indicador aos
lábios, como se pedisse para eu guardar um segredo.
— Nossa, quanto mistério! — brinco, falando baixinho perto do
seu ouvido.
Ele se abaixa e abre a gaveta de legumes, tirando lá do fundo uma
garrafa com um líquido marrom claro, e quando a coloca onde posso ler o
rótulo, começo a rir.
— Suco de maçã? Essa é sua bebida secreta? — debocho,
erguendo a sobrancelha, e ele dá de ombros, rindo também.
— Estou em início de temporada, Girassol, não posso abusar —
responde e me puxa para sentarmos no chão em um cantinho da cozinha.
Assim que me acomodo ao seu lado, ele abre a embalagem e me
oferece, ao que aceito de bom grado, afinal, estou com sede. Quando
devolvo o suco, ele simplesmente o leva até os lábios, sem hesitar um
segundo sequer.
É, parece que estamos nos beijando por tabela! E porque eu tô
pensando nisso?
Ele me entrega a garrafa e, sentindo meu coração bater de um
jeito estranho, bebo, tentando imaginar que gosto tem a boca dele. Mas
então minha consciência me traz de volta, deixando bem claro que somos
amigos e que não tenho que deixar esses pensamentos invadirem a minha
mente.
E assim, passando de uma mão para outra, vamos bebendo até o
suco acabar, em um silêncio confortável, quebrado apenas pelos sons da
festa. Encosto a cabeça na parede e fecho os olhos, sentindo o cheiro bom
de Olliver pairando no ar, até que ele apoia sua cabeça em meu ombro, me
fazendo retesar, afinal, ainda não temos essa intimidade e isso me deixou
bem sem jeito.
Amigos, Maddie, vocês são amigos, isso é normal, deixa de ser
esquisita, mulher! A culpa é sua de nunca ter vivido isso, já que vive se
escondendo atrás dos livros — minha mente grita, e tenho vontade de gritar
de volta, em voz alta, mas, com certeza, Olliver iria pensar que sou louca e
sairia correndo, algo que, sinceramente, eu não quero que aconteça.
Solto uma lufada de ar e ele ergue a cabeça para me olhar, seus
olhos bem pertinho dos meus, me fazendo viajar na imensidão verde que
são suas írises.
— Que foi? — pergunta, sem desviar os nossos olhares.
— Eu preciso ir — digo, sem jeito por ter monopolizado sua
atenção a noite toda. Com a fama que tem, com certeza o quarterback deve
estar subindo pelas paredes, louco pra pegar alguém. — Vou deixar você se
divertir, tá? Foi muito legal ter vindo hoje. Obrigada — falo, já me
levantando, mas ele segura minha mão e se levanta também, quase cobrindo
meu corpo com o seu, praticamente me prensando contra a parede.
— Eu me diverti. Muito. Ou melhor, muito mais do que em
qualquer outra festa — declara.
Fico sem graça com seu escrutínio, pois é como se ele enxergasse
a minha alma quando me olha desse jeito, então abaixo um pouco a cabeça,
deixando que alguns fios do meu cabelo quase tapem meu rosto, mas ele
leva seus dedos até meu queixo, me fazendo encará-lo, então coloca a
mecha atrás da minha orelha e sorri.
— Mas, antes de ir, você me deve uma dança.
— Não me lembro de ter prometido nada — afirmo, sorrindo
timidamente.
— Pensei que já estava implícito no convite para a festa, mas,
como você não entendeu… — Ele se afasta um pouquinho, pega a minha
mão e faz uma mesura, curvando-se: — a senhorita me daria a honra desta
dança? — pergunta, com aquele sorriso nos lábios.
— Seria uma honra, senhor, mas, sinto informar que não possuo
tais habilidades — entro na onda, falando de forma rebuscada. — Receio
que seu pé não será poupado.
— Não seja por isso. — Então, sem aviso, ele me ergue pela
cintura e coloca meus pés sobre os seus, me fazendo envolver os braços em
seu pescoço e agradecer por ter vindo de tênis. E assim, caminha até
sairmos da cozinha, mas sem nos colocar no meio da bagunça de
universitários alcoolizados.
A música acaba e eu olho para ele com um pedido de desculpas,
mas logo outra melodia se inicia em um ritmo envolvente, e Olliver começa
a nos mexer seguindo a batida, me fazendo sorrir como há muito tempo não
me lembro de fazer.
Nossos corpos não estão colados, mas posso sentir o seu cheiro e
seu calor através das roupas, enquanto ele nos conduz de maneira
impecável.
— Uau, Girassol, você é uma excelente dançarina — brinca,
girando comigo pelo pequeno espaço onde estamos.
— E você é muito gentil e cortês. Um Princeso, eu diria.
Sinto-o enrijecer e imagino que ele não tenha gostado da
brincadeira, fazendo com que eu me arrependa por não ter ficado quieta,
mas então ele sorri e me olha com deboche.
— Princeso, é? — pergunta. — Príncipe não seria mais
tradicional?
— Seria, mas não acho que combine com você, já que parece
muito fora da curva para ser um príncipe, então, Princeso combina
perfeitamente — explico, sorrindo.
— Tá bom, gostei.
Ele aperta mais minha cintura, fazendo meus seios se chocarem
com seu peitoral definido, em seguida, aproxima a boca do meu ouvido e
começa a cantar a letra da música:

Eu vejo essa linda garota na minha festa, ela está usando amarelo

Sua voz é suave e gostosa de ouvir.

As outras garotas se esforçam demais, mas essa garota é de boa

Ele rodopia novamente, me arrancando uma risada de susto,


fazendo com que eu aperte mais os braços ao redor do seu pescoço.

Sério, eu preciso de uma chance, vou usar pra me apresentar


A frase sai baixa e seu hálito toca meu pescoço, me fazendo arrepiar.
Finalmente eu encontro um jeito de falar com ela, mas ela não quer papo

Fico toda tímida pela forma sensual com que ele pronuncia as
palavras, me arrancando suspiros e fazendo com que eu precise, a todo
momento, lembrar minha mente de que somos amigos e estamos dançando,
apenas isso.
Em poucos instantes a música acaba, então desço dos seus pés e o
encaro, sem saber exatamente o que dizer, mas ele sorri e novamente coloca
uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.
— Muito obrigada por essa noite, Olliver, eu me diverti muito —
agradeço, pronta para ir embora.
— Foi um prazer, Girassol, mas… cadê meu apelido? — indaga,
cruzando os braços.
— Que apelido? — Faço-me de desentendida.
— Ah, qual é, Maddie? Somos amigos e amigos se tratam por
apelidos carinhosos — justifica e aperta o meu nariz com carinho, como se
eu fosse um bebê e ele, uma daquelas tias sem noção.
— Foi muito bom ter vindo, Princeso.
— Agora sim. — Ele sorri. — Nos vemos amanhã na aula?
— Eu vou ser aquela de touca — brinco.
Ele me dá uma piscadinha e se aproxima, mas um barulho alto
desvia nossa atenção, então, sem pensar duas vezes, ele agarra minha mão e
nos conduz apressados até a origem do som, e quando chegamos no quintal
dos fundos, Edward está estático perto da piscina, com cara de choque,
enquanto Vick está parada aos seus pés, com as calças do pobre garoto
abaixadas. É a cara da loira fazer isso.
Olho para Olliver, tentando imaginar como ele vai salvar o irmão
desse constrangimento, já que muitas pessoas ao redor estão rindo, gritando
e algumas até vaiando. E, chocando um total de zero pessoas, o quarterback
simplesmente se aproxima de Ed e abaixa as próprias calças, deixando à
mostra uma sunga cor-de-rosa que brilha sob as luzes coloridas espalhadas
ali, na mesma cor de parte dos copos que estão nas mãos da maioria dos
convidados. O pessoal vai ao delírio e os gritos e assovios ficam ainda mais
altos.
Não resisto e sorrio, mas tampo a boca com a mão, olhando ao
redor para conferir se ninguém está prestando atenção em mim, e assim, ao
ver todos distraídos, saio à francesa, com a certeza de que guardarei muitas
boas memórias dessa festa e de Olliver Durand, que, provavelmente, vai
povoar meus pensamentos por alguns dias, com seu jeito imprevisível e
irreverente, muito diferente de tudo o que eu imaginava a seu respeito.
Assim que abro meus olhos e tento me espreguiçar, sinto minhas
costas doerem e ao olhar para o lado e encontrar o olhar julgador do
Kakarotto, percebo que dormi no sofá. O sofá dele, a propósito, já que se
acha dono dos móveis e da casa. Levo as mãos aos olhos, esfregando-os
para despertar, então chamo meu gato, que ainda me olha com desdém e
mia em reclamação.
— Vem cá, amigão! Vamos conversar. — Mexo os dedos em sua
direção e, como o bom debochado que é, ele simplesmente se espreguiça,
vira de barriga pra cima e me olha. — Você gostou de rever a Maddie, não
é, seu espertinho? — Como se me entendesse, ele mia em resposta. —
Também fiquei feliz por ela ter vindo. Sabia que agora somos amigos? —
Sei que é impossível, mas parece até que o safado revirou os olhos pra mim.
— Você está com inveja que eu sei, por isso nem vou deixar essa sua cara
cínica me afetar — digo e me levanto, pegando o travesseiro e indo para o
quarto.
Encontro com Vick e meu irmão nas escadas, acabei cedendo o
meu quarto para a loira ontem, que estava mais pra lá do que pra cá de
bebida e cansaço, mas estou tão quebrado que tudo o que faço é
cumprimentá-los e correr para a cama, louco por um colchão macio e
dormir até o dia de amanhã.

O domingo passou voando, pois eu realmente dormi quase o dia


todo, mas agora me sinto energizado e pronto para uma semana de treinos,
aulas e tudo mais.
Confesso que, desde que comecei a estudar, nunca me senti tão
animado para um primeiro dia de aula. Porém, nada me fará admitir que
talvez seja pela expectativa de ver a Maddie. Passar aquele tempo com ela
sábado foi incrível e eu quero mais; mais dos seus sorrisos, das suas
bochechas corando e do seu cabelo tentando esconder o rosto.
Chego à cozinha e encontro apenas Hunter e Ed tomando seus
cafés em silêncio, enquanto meu irmão come uma torrada e meu amigo se
acaba em um prato enorme de ovos com bacon e panquecas.
— Bom dia, galera! Prontos para o primeiro dia de aula? —
pergunto, indo até a pia com o liquidificador nas mãos. Pego no armário os
ingredientes do meu shake de proteína e começo a prepará-lo.
— Eu tenho nojo de gente bem-humorada pela manhã —
resmunga Hunter, arrancando uma risada baixa do meu irmão.
— Não posso fazer nada se você teve uma noite ruim, brother, eu
dormi feito uma pedra — respondo.
— Eu não disse que tive uma noite ruim, pelo contrário, ela foi
mais agitada do que o previsto. Na verdade, a agitação começou no sábado
— conta, fazendo cara de cafajeste.
— Sem detalhes, por favor — Ed resmunga.
— Quanto bom humor, Eustácio — debocho. — Quer carona?
— Quero. — Ele se levanta e eu tomo todo o líquido que preparei
de uma vez, em seguida, pego minhas coisas e sigo para a garagem, onde
meu irmão já me espera sentado no banco do passageiro do Jeep.
Seguimos em silêncio até a universidade, apenas o som do carro
ecoando no ambiente, tocando músicas brasileiras que a Vick colocou em
um pendrive para mim e que, pela cara do Ed e as reviradas de olhos
constantes, ele odiou. Só pra variar.
— Chegamos. Até mais tarde, irmãozão! — digo assim que
estaciono na vaga. Pego minha mochila com o material, deixando a bolsa
com a roupa e o equipamento de treino no banco de trás e desço, me
despedindo do meu irmão e correndo para o meu prédio.
Conforme caminho apressado, sinto minhas mãos suarem e uma
ansiedade incomum se alojar no meu estômago. Cumprimento algumas
pessoas que falam comigo pelo caminho e em instantes, adentro a sala da
turma de artes cênicas da UCLA.
Ah, e quer saber porque eu decidi estudar justamente isso?
Bom, quando eu era mais novo, mamãe me levava com frequência
ao teatro, enquanto Ed estava sendo "treinado" pelo nosso pai para um dia
assumir o seu cargo, e eu simplesmente amava esses momentos. As
histórias, os figurinos e claro, as horas especiais que passava ao lado da
minha mãe.
Além disso, sempre fui julgado por me expressar, ser rebelde e
tudo mais, já que nunca soube fingir, ou melhor, atuar de acordo com o que
meu pai esperava de mim, e é por esse motivo também que estou aqui. E,
obviamente, o motivo mais importante de todos: irritar o meu progenitor, já
que o velho Edward sempre disse que eu deveria estudar algo como
administração, ciências políticas ou relações internacionais, e eu, como o
excelente filho que sou, escolhi justamente o curso que ele mais detesta,
pois acha que atores são um bando de pessoas à toa que deram errado na
vida por terem preguiça de trabalhar. Ridículo, eu sei, mas ouvi isso a vida
toda, apesar de discordar.
Saio das minhas divagações quando alguns alunos passam ao meu
lado, pedindo licença para entrar na sala e eu nem percebi que estava
parado na porta, bloqueando a passagem. Foco meus olhos no lado de
dentro do ambiente repleto de cadeiras distribuídas em vários degraus e
uma massa de cabelos ruivos logo chama minha atenção, adornados por
uma touca preta comum, mas que fica incrível nela, assim como me disse
que estaria. Ela está de cabeça baixa, distraída com algo em seu caderno,
então ando até a última fileira de degraus, sentando-me ao seu lado. Sua
amiga está duas cadeiras à frente e acena para mim com um olhar julgador,
ao qual retribuo com um sorriso.
— Bom dia, Girassol! — cumprimento, fazendo-a se assustar.
— Ah, oi, bom dia! — responde, fechando rapidamente o
caderno, envergonhada.
— O que você está escondendo aí? — pergunto, erguendo a
cabeça para tentar espiar.
— Na-nada — diz apressada, ruborizando.
— Hum… — brinco, mas sou interrompido pela professora
entrando na sala.
— Bom dia, gente! — cumprimenta após colocar suas coisas
sobre a mesa. Em seguida, ela pega uma caneta e se vira para o quadro,
anotando seu nome. — Eu sou a Sra. Morgan e vou lecionar Atuação para
teatro, cinema e televisão. Sejam muito bem-vindos a esse novo semestre, e
espero que possamos nos entender e trocar experiências incríveis aqui.
A turma toda se anima, afinal, é para atuar que estamos aqui.
Assim que os burburinhos diminuem, a professora fala um pouco sobre ela,
onde já trabalhou, em que lugares atuou e nos passa o cronograma de suas
aulas.
Eu, como jogador de futebol do time da universidade, preciso me
esforçar ao máximo, pois se tiver notas ruins, tanto o técnico quanto meu
pai me colocam no banco e isso é a última coisa que eu quero no momento.
Nunca pensei em me tornar jogador de futebol americano, na
verdade, já que no meu país era bem mais provável que eu partisse para o
rúgbi, para desespero do meu progenitor. Sempre fui um garoto ativo, que
gostava de se exercitar, subir em árvores escondido, nadar, além de praticar
arco e flecha, esgrima e canoagem; eu me sentia livre quando estava me
exercitando. Porém, logo nos primeiros dias de aula, quando as vagas para
testes abriram, decidi me arriscar, afinal, eu não teria muito o que fazer
sozinho nesse país, além de querer uma experiência completa de fazer parte
de uma universidade americana.
— Bom, pessoal, agora que todas as apresentações foram feitas…
Para compor a primeira nota da disciplina — ela sorri, vendo as caras de
espanto de alguns e de euforia de outros —, vocês se dividirão em grupos
de três pessoas e irão representar uma cena clássica, seja de um filme ou
livro, e não pode haver repetição. — Os barulhos de vozes recomeçam e a
professora precisa chamar a atenção da turma como se estivéssemos no
primeiro ano. — E é para segunda-feira, daqui a duas semanas. — Aí, sim,
a comoção é geral. — E não vou aceitar desculpas, afinal, bons atores
precisam estar prontos para improvisar, é assim que realmente testamos o
talento de vocês. Tenho certeza de que se sairão bem.
Olho para o lado, Maddison parece em choque.
— Girassol… — sussurro. — O que foi?
— Ela tem pavor de atuar — revela sua amiga.
— E entrou logo nesse curso? — comento, tentando entender.
— A gente não escolhe com o que sonha, QB, o sonho só surge e
puff!, você quer realizá-lo — explica e não posso discordar. O meu sonho
sempre foi ser livre das garras e obrigações da minha família, mesmo sem
saber ao certo qual caminho seguir.
— E o que eu posso fazer para ajudar, ruivinha? — pergunto,
tomando a liberdade de pegar sua mão, que está gelada.
— Eu… eu.. — balbucia, totalmente sem rumo.
— Vamos fazer algo nós três, a Maddie fica com a parte dos
figurinos e cenário, se necessário — Penélope sugere e eu concordo
imediatamente. Nada me faria mais feliz do que participar de algo com ela,
podendo aproveitar mais da sua companhia.
— E o que você pensou… — começo, mas sou interrompido
quando Penélope diz alto:
— Romeu e Julieta aqui, Sra. Morgan! — Ela acena e a
professora concorda com a cabeça, anotando no quadro a história escolhida.
— Mas porque… — tento perguntar, mas sou interrompido
novamente:
— É o livro preferido da Maddie. — Ela sorri e pisca para a
ruivinha, que assente e finalmente mostra que o que escondeu às pressas era
um exemplar bem gasto da obra de Shakespeare. .
— Certo, para mim está ótimo. E qual cena faremos? — pergunto
olhando para Penélope, já que parece que o gato comeu a língua da Maddie.
— A cena final, da morte. — Surpreendendo, é Maddison quem
responde.
— Perfeito! — Penélope bate palmas, animada. — Vou poder
explorar toda a minha veia dramática.
Sorrimos e a aula segue por mais alguns minutos, até sermos
liberados pela professora.
— Maddie — chamo quando a vejo sair da sala. Penélope sumiu
minutos antes, deixando a amiga sozinha.
Após a aula de ontem, tivemos mais três aulas juntos e pude
conhecer um pouquinho mais das meninas, em especial sobre a Maddie.
Apesar de tímida, ela é divertida e uma pessoa incrível para se ter por perto.
— Oi — responde, virando-se para mim.
— Pensei que talvez você pudesse me esperar aqui e assistir ao
treino hoje, assim que terminar vamos juntos para o dormitório de vocês
para decidirmos os detalhes da nossa cena.
— Sinto muito, Princeso, mas hoje preciso ir à biblioteca mais
tarde. Quero muito reler “Sonho de uma noite de verão” e esqueci o meu
exemplar na casa dos meus pais.
— Entendo — digo, um pouco decepcionado. — Então nos
vemos amanhã e marcamos de ensaiar. Pode ser?
— Combinado. — Ela sorri, e não resisto a me aproximar, tocar
seu rosto e deixar um beijo demorado em sua bochecha, aproveitando para
aspirar seu cheiro bom de mel. Ela enrubesce e me sinto realizado por tal
feito. Essa garota está mexendo comigo. Mais do que gostaria de admitir, na
verdade.
Nos despedimos e sigo a passos rápidos para o refeitório mais
próximo ao centro de treinamento, mas, no meio do caminho, uma ideia
surge, por isso, mudo minha rota e ando até a biblioteca. Ainda tenho
alguns minutos de sobra e, de qualquer forma, posso comer um sanduíche
na volta.
Instantes depois, estou em frente a construção antiga, grande e
ladeada por janelões de vidro, que deixam o ambiente iluminado e elegante.
Entro no ambiente silencioso e assim que me encontro entre as muitas
prateleiras de livros, dirijo-me até a sessão de clássicos e não demoro a
encontrar a coleção dos livros de William Shakespeare, entre eles, cinco
exemplares do livro que Maddison está procurando.
Sem nenhum pingo de peso na consciência, pego todos eles e
caminho até o canto mais escuro do local, onde ficam os livros menos
procurados. Entre exemplares ultrapassados de diversas matérias, ergo a
mão o mais alto que consigo e coloco, no alto da prateleira, os cinco livros,
escondidos por calhamaços de capa dura.
Amanhã de manhã eu passo aqui e os coloco novamente nos seus
lugares, mas hoje, preciso garantir que a ruivinha não os encontre. A
primeira parte do meu plano foi concluída com sucesso!
E assim, saio da biblioteca e paro numa cafeteria próxima para
pegar um sanduíche e um suco, antes de seguir direto para o treino.
— Bora, QB! Parece que viu um passarinho verde! — grita
James, quando erro um passe durante o treino.
Balanço minha cabeça em busca de foco.
— Garoto, eu sei que pode me dar um lançamento melhor do que
esse, você e o Zion conhecem as jogadas. Se concentre!
— Deixa comigo.
Grito para os meus companheiros ocuparem os seus lugares e me
posiciono atrás de Hunter, o nosso Center[3], pensando no que vou fazer.
Assim que o apito soa e sinto a bola bater em minhas mãos, dou
quatro passos para trás, procurando pelo meu Wide Receiver[4] e braço
direito em campo, Zion, mas, de novo, ele está fora da rota, alguns
segundos atrás.
Sabendo que a defesa não vai aguentar tanto, finjo atirar um dardo
na direção do outro Wide Receiver, atraindo a atenção dos meus amigos,
porém, como estamos perto da linha de vinte jardas, coloco a bola embaixo
do braço e corro pelo primeiro espaço que vejo abrir entre os defensores.
Corro até a linha do Touchdown e marco.
— Bando de molengas! Se Olliver conseguiu correr assim no
treino, vocês estão fodidos contra o Colorado — brada o treinador Stevens.
Ouço resmungos dos meus companheiros, mas ignoro, afinal,
estou ansioso para que o treino termine logo. Ao olhar para Trevor, não
resisto ao ver sua cara amarrada e ergo a sobrancelha em provocação, com
um sorrisinho debochado nos lábios. O treinador anuncia o fim e seguimos
para os vestiários. Diferente dos meus companheiros, ao invés de tomar
banho, apenas me troco e dirijo para casa.
Assim que chego lá, tomo um banho rápido, me visto com uma
bermuda preta e camiseta branca, calço meus tênis e vou até minha
prateleira em busca de “Sonho de uma noite de verão”. É, no fim das
contas, estava tudo planejado. Antes de sair, lembro-me que não passei
perfume, então, pego-o no meu closet e borrifo um pouco no pescoço,
abdômen, pulsos e, ao olhar para o livro em cima da escrivaninha, faço uma
loucura e, folheando-o, espirro um pouco de perfume de longe, torcendo
para não manchar nenhuma página, e ainda deixar meu cheiro ali
Satisfeito com a minha ideia, pego meu celular, as chaves do
carro, o livro e vou em direção à garagem. Entro no carro e dou partida,
dirigindo para os dormitórios, porém, no caminho, meu estômago ronca, me
lembrando que, na pressa, não comi nada e, ao olhar as horas, vejo que já é
hora de jantar, por isso, desvio o meu trajeto e passo em uma pizzaria que
eu adoro e peço duas pizzas, queijo e pepperoni, junto com uma garrafa de
energético e outra de suco de maçã.
Meia hora mais tarde, já com o jantar no banco do passageiro,
retomo o caminho até os dormitórios, torcendo para que as meninas estejam
lá. Estaciono em frente ao prédio delas e desço, escondendo o livro sob a
camiseta, na parte de trás da minha bermuda e com as caixas e garrafas na
mão, cumprimentando as pessoas que me chamam pelo caminho. Paro em
frente ao quarto delas, coloco as garrafas no chão e, com a mão livre, bato
na porta.
Demora alguns segundos para que a porta seja aberta, mas quando
finalmente acontece, perco o fôlego ao ver Maddison com os cabelos pra
cima, enrolados em um coque muito bagunçado, com vários fios escapando
em seu rosto, usando um pijama curto e de alcinhas com estampa da vacas e
uma pantufa combinando.
— Olliver?
— Oi, Girassol!
— Não foi para amanhã que nós marcamos? — Ela parece
confusa.
— Foi, foi sim. Mas eu estava com fome, os meninos não estavam
em casa — me aproximo para sussurrar —, e eu não gosto de comer
sozinho, sabe? Achei que vocês pudessem querer dividir uma pizza. —
Mostro as caixas e logo Penélope aparece, colocando a cabeça por sobre o
ombro da amiga.
— Nós queremos, com certeza! — ela diz, animada. — Entre,
entre. — Dá passagem e indica o interior do cômodo.
Entro e não posso deixar de analisar tudo: duas camas de solteiro
com mesinhas de cabeceira ao lado, duas portas laterais que provavelmente
são o banheiro e o closet, uma cortina branca delicada tremulando na janela;
na cama do lado direito há uma colcha floral azul e na mesinha, um abajur
todo elegante e pomposo; já do lado esquerdo a colcha é clara com listras e
estampa de mini cenouras, e na mesinha há apenas uma luminária simples e
um porta-retrato de uma garotinha ruiva com dois homens, um muito
sorridente e outro mais sério.
— Pode colocar aqui, QB — Penélope chama, me mostrando uma
mesa redonda no canto oposto das camas.
Coloco tudo lá e olho ao redor, notando uma prateleira cheia de
livros, um frigobar, TV grande na parede e uma cômoda com um aquário
em cima. Enquanto inspeciono descaradamente, as meninas pegam copos e
guardanapos, se acomodam ao redor da mesa e me chamam para sentar.
— Vem, Princeso. — Maddie indica a cadeira ao lado da sua e me
acomodo sem hesitar, sentindo seu cheiro inundar as minhas narinas,
trazendo aquele frenesi estranho que percebi que só ela provoca em mim.
Começamos a comer, e ao mesmo tempo discutimos sobre o
nosso trabalho, esclarecendo alguns pontos e pensando em algumas ideias
para tornar a cena mais original, nem que seja apenas colocar as falas numa
linguagem mais atual. Maddie, como a fã de carteirinha de Shakespeare
que é, não gosta muito, mas Penélope adora e mesmo com receio de
contrariá-la, tento convencê-la.
— Girassol — viro meu corpo em sua direção após engolir meu
último pedaço de pizza e tomar um gole generoso de energético —, sei que
pra você é inadmissível alterarmos o texto, mas acho que a versão original é
bem conhecida e se fizermos apenas uma atualização na linguagem, pode
chamar mais atenção — explico, mas ela mantém um bico emburrado
naquela boca rosada. — Não queremos contrariá-la, de verdade. Então, o
que acha de tentar e, se não gostar, a gente muda? — proponho, olhando de
relance para Penélope, que concorda.
— Tudo bem — aceita, por fim.
— Essa é minha garota! — digo e pego seu rosto com as duas
mãos, beijando a ponta do seu nariz, fazendo-a ruborizar, e só então me dou
conta do que disse, notando um sorrisinho travesso no rosto de Penélope.
Contudo, não posso “desdizer” o que disse, por isso, me levanto e
caminho até o aquário, notando que não se trata disso, e sim, de um terrário.
— Olha só o que temos aqui… — exclamo surpreso ao encontrar
um sapo ao invés de peixinhos ou, quem sabe, uma tartaruga. — Como ele
se chama?
— Naruto — é Maddie quem responde.
— Ele é seu?
— É sim. — Ela se levanta e vem até onde estou, parando ao meu
lado. Penélope continua sentada à mesa, comendo em silêncio e mexendo
no celular. — Encontrei lá fora e trouxe para ser meu novo amigo e, quem
sabe, matar um pouquinho da saudade de casa.
— De onde você é? — pergunto, curioso.
— Morava em um sítio no Texas antes de vir pra cá. Cresci em
meio aos bichos, a natureza…
— Imagino que seus pais sintam muito sua falta — comento,
lembrando dos dois homens na foto ao lado da sua cama.
— Papai John é mais durão e finge melhor, mas sempre que ligo,
papai Ted me enche de perguntas, recomendações e pede para ir visitá-los.
Eles são os melhores pais que eu poderia ter, me adotaram quando ninguém
mais me quis — revela e noto vários sentimentos em sua fala, desde amor e
gratidão, à tristeza e medo. Abraço-a de lado, deixando um beijo no topo de
sua cabeça.
— Eles são muito sortudos, com certeza — completo, olhando
para ela, que sorri timidamente. — Então… você gosta de anime? —
pergunto, apontando para o sapinho, querendo aliviar o clima.
— Ah, não… nunca assisti, na verdade.
— E porque Naruto? — Estou verdadeiramente curioso.
— Estava passando em frente a uma loja de brinquedos e vi uma
caixa com um sapo de borracha com esse nome escrito, achei que
combinava, afinal, era o nome do sapo — responde com tanta inocência que
não resisto e começo a rir. Ou melhor, gargalhar.
Adoro quando ele ri. No sábado, sua risada e seu sorriso me
contagiaram, algo que antes eu admirava apenas de longe, mas que
finalmente pude ver de perto, porém, nesse momento, enquanto ele quase
perde o fôlego de tanto rir de sei lá o quê, tudo o que eu quero fazer é
apertar esse pescoço lindo, assim como Homer Simpson faz com o Bart.
— Posso saber qual é o motivo da graça? — pergunto, cruzando
os braços.
Ele leva alguns segundos para se recompor, respirando fundo
diversas vezes para recuperar o fôlego, então explica:
— Desculpa, Girassol, mas não posso negar que sua inocência é
hilária. — Fecho a cara ainda mais e ele ergue as mãos em sinal de
rendição. — Foi mal, foi mal… Parei.
— Fico feliz por servir de entretenimento pra você — digo brava
e vejo Penélope esconder o sorriso por trás do celular, ainda em silêncio.
— Bom, eu ri porque, na verdade, Naruto não é o nome do sapo, e
sim, do garoto, o protagonista da série. Os sapos são guardiões que,
basicamente, o ajudam nas batalhas. Assim como os Pokémons ajudam o
Ash, sabe?
— Não, não faço ideia. Tudo o que sei sobre Pokémon é que
aquele bichinho amarelo dá choque. — Dou de ombros.
— Certo, então… — ele dá a volta ao meu redor, colocando seu
braço sobre os meus ombros — vou ter que te dar uma aulas sobre o
universo geek, senão vou precisar atualizar as minhas referências — diz e
sorri, me fazendo retribuir, mesmo sem entender nada do que ele está
dizendo. Por isso, faço como os Pinguins de Madagascar e somente sorrio e
aceno com a cabeça, concordando.
— Hey, pessoal, o que acham de assistirmos um filme? Ainda é
cedo, a gente já comeu, já definiu detalhes do trabalho, agora podemos
relaxar — minha amiga sugere e vejo um sorriso enorme surgir no rosto do
quarterback.
— Adoro a ideia! Podemos começar a sua introdução geek,
Girassol! Que tal? — ele propõe, animado.
— Por mim, tudo bem, vamos só tirar esse lixo daqui para não
juntar bichos, por favor — comento, apontando para as caixas de pizza e
garrafas vazias.
— Vamos lá, eu te ajudo — Olliver diz e caminha até a mesa,
juntando tudo em seus braços fortes, não deixando nada para eu levar. Não
discuto também, é muito bom ter alguém para fazer as coisas pra gente de
vez em quando.
Abro a porta e seguimos pelo corredor até a saída do prédio,
avistando as lixeiras logo à frente. Olliver joga tudo ali e se vira para mim,
mostrando aqueles dentes branquinhos e brilhantes.
— E aí, encontrou o livro que você queria?
Só então me lembro da frustração que senti ao procurar o que eu
tanto queria na biblioteca e não encontrar. O mais interessantes é que a
bibliotecária sequer tinha registro dos empréstimos desses exemplares, por
isso, voltei para casa desanimada e estava jogada na cama, olhando para o
teto e pensando e em absolutamente nada quando o loiro chegou no nosso
quarto.
— Não, parece que todos foram emprestados.
— Ah, que pena. E você queria muito lê-lo? — indaga, com um
semblante realmente pesaroso.
— Queria, sim. É o meu confort book e, sempre que sinto
saudades de casa, eu o leio, lembrando do meu pai Ted lendo para mim
quando eu tinha uns doze anos.
— Entendi. — Ele abre um sorriso discreto. — Talvez eu possa te
ajudar. — E então, ele leva as mãos para trás de seu corpo e, como em um
passe de mágica, tira de lá um exemplar de edição especial extremamente
conservado do meu livro favorito, estendendo-o em minha direção.
— Co-como? De quem é esse livro?
— É meu — diz com tranquilidade.
— E porque você o trouxe para mim?
— Não queria que você perdesse a chance de ler algo que estava a
fim caso não o encontrasse.
— Mas essa é uma edição especial, deve custar muito caro —
reclamo.
— O maior valor não está na embalagem, e sim, em cada letra,
cada linha escrita aí, e eu quero muito que você tenha o prazer de ler. —
Continua com o livro estendido, pois eu ainda não havia criado coragem
para pegá-lo.
— Prometo que devolvo rapidinho — afirmo.
— Não precisa de pressa, leve o tempo que precisar, Girassol.
E assim, com o livro abraçado ao meu corpo, saio caminhando em
direção à porta do prédio do dormitório e sou seguida de perto por ele, que
logo me alcança e apoia sua mão em minha lombar, me conduzindo como
os mocinhos dos livros que costumo ler.

— Uau! — digo assim que o primeiro filme da franquia Star Wars


acaba.
São mais de onze da noite e já posso ouvir o ronco da minha
amiga na sua cama. Olliver está deitado no tapete que fica entre as duas
camas, apoiado em diversas almofadas, pois se negou a deitar na minha
cama. Um cavalheiro, como diria minha amiga.
— Muito legal, né? — pergunta, se sentando.
— É sim. Quando podemos ver os outros? — questiono, mais
animada do que poderia prever.
— Que tal amanhã? Não tenho treino e, se você não tiver
compromisso depois das aulas, podemos fazer uma maratona e assistir
vários deles na sequência — sugere.
— Adorei a ideia! — exclamo sorrindo, mas logo um silêncio se
instala entre nós e não sei o que dizer para quebrá-lo.
Mesmo com a pouca luz do quarto, nossos olhos se encontram e
me perco naquelas írises brilhantes que tem dominado os meus
pensamentos.
— Maddie…
— Olliver…
Dizemos ao mesmo tempo.
— Está na minha hora, senão acordo tarde e chego atrasado para o
treino com o meu personal — conta. — Nos vemos amanhã? — Ele se
levanta.
— Uhum. — Saio da cama e caminho até a porta, abrindo-a para
ele.
— Até mais, Girassol — despede-se, segurando em meu rosto e
deixando um beijo em minha bochecha, bem no cantinho da minha boca,
fazendo minhas pernas bambearem.
— Até — é tudo o que consigo dizer, pois estou atônita com sua
atitude.
Será que o Olliver está flertando comigo, ou eu estou ficando
louca?

— Maddie, pelo amor de Deus, essa roupa tá ótima, e o QB só vai


vir assistir um filme, não te pedir em casamento, amiga! — Penélope
reclama, ao me ver analisando o meu conjunto de moletom em frente ao
espelho.
Hoje o dia amanheceu um pouco mais fresco e eu, como a
friorenta inveterada que sou, já quero me agasalhar toda. Contudo, também
quero ficar apresentável, mas sem parecer “me arrumei pra você”. Dá pra
entender? Não, é claro que não dá. Olliver me deixou muito confusa quando
foi embora ontem e agora eu estou aqui, sem saber como agir.
— Toma, calça logo isso aqui. — Ela me entrega meu par de
pantufas de patinho, que combinam perfeitamente com o meu moletom
amarelo. — Eu ainda não consigo acreditar que você tem uma coleção de
pantufas. Quem faz isso? — pergunta indignada, como em todas as vezes.
Minha amiga coleciona roupas de grife, sapatos, maquiagens e
nem por isso eu pego no seu pé, já ela, por outro lado, vive implicando com
meus calçados fofos e confortáveis, algo que comecei a colecionar ainda na
infância, quando tudo o que eu queria calçar eram pantufas, e como eu ia
para o meio do nosso quintal de grama e às vezes lama lá no sítio, meus
pais acharam melhor me presentear com vários pares diferentes, assim eu
sempre teria um calçado limpinho enquanto o outro estivesse para lavar.
Toc toc toc.
— Ele chegou! Ai, pelos meus cabritinhos, ele chegou! —
exclamo nervosa, andando de um lado para o outro.
— Sossega, Maddison, já estou indo abrir a porta pra ele —
resmunga e se levanta para fazer o que disse, enquanto eu me sento na
cama, fingindo uma postura casual, afinal, é só uma maratona de filmes
com um amigo. Certo?
— Hey, QB! Trouxe alguma coisa gostosa pra gente comer hoje?
— Peny pergunta na maior cara de pau, obstruindo a passagem do loiro.
— Essa caixa de donuts e sorvete de caramelo servem? — ele
pergunta estico o pescoço para poder ver seu sorriso ao perguntar isso.
— E como servem! Pode entrar, sinta-se em casa — minha amiga
diz, já pegando as coisas da mão dele.
— Oi, Girassol — cumprimenta assim que se aproxima da minha
cama e se abaixa para deixar um beijo na minha bochecha que incendeia a
minha pele. — Gostei dos patinhos! — Aponta para os meus pés, me
fazendo abrir um sorriso tímido. Tenho certeza que pareço uma criança
vestida assim. Que droga!
— Oi, Olli… — começo a dizer, mas seu olhar acusador me faz
chamá-lo de outra forma — Oi, Princeso! — Ele abre um sorriso enorme ao
ouvir seu apelido saindo dos meus lábios e dá uma piscadinha, me fazendo
derreter igual picolé no calor do Texas.
— Pronta para mais Star Wars?
— Mais que pronta! — respondo e escuto um gemido, ao olhar
para o lado, Penélope tem açúcar e chocolate até na ponta do nariz,
enquanto devora um donut. — Gulosa! — acuso e ela me mostra a língua
toda cheia de doce mastigado, provocando em mim uma careta de nojo. —
Você profanou os meus doces, Penélope! Nunca mais vou comer donuts na
vida — resmungo, chateada Eu queria tanto uma rosquinha daquela… mas
sou enjoada demais para comer depois dessa cena.
— Podemos começar o filme? — Olliver pergunta, quebrando o
clima.
— Claro! — Me ajeito na cama e bato no colchão para ele se
acomodar. — Pode ficar aqui, esses filmes são muito longos para você
assistir no chão, vai ficar quebrado.
Ele sorri e se senta, tira os tênis e apoia as costas na cabeceira da
cama, esticando as pernas. Ele é enorme e ocupa praticamente o espaço
todo!
Levanto-me e pego o controle da TV, e quando caminho para me
acomodar no tapete, o quarterback me puxa pela mão, puxando-me para o
meio de duas pernas.
— O-o qu-que está fazendo? — gaguejo, envergonhada.
— Você também precisa de um lugar para se acomodar, Girassol,
e aqui tem espaço para nós dois. — A naturalidade em sua voz é
impressionante.
Ainda com as costas tensas por não saber como me ajeitar, sinto
quando suas mãos me pegam pela cintura e ele apoia minhas costas em seu
peito musculoso e quente, deixando um beijo no alto da minha cabeça. —
Pode soltar o filme, por favor.
Faço o que pede e me aconchego mais a ele, sentindo seu cheiro
gostoso me envolver.
O filme tem início, mas logo sinto um incômodo no meu
estômago, pois, apesar de ter almoçado há pouco tempo, já estou com fome
de novo, e olhar para o lado vendo minha amiga se deliciar com a caixa de
donuts não está ajudando em nada.
— Quer? — ela pergunta, me oferecendo um, mas nego com a
cabeça. E é nesse momento que meu estômago escolhe para roncar, me
deixando constrangida. — Parece que seu estômago discorda — cantarola
e, irritada, me levanto e vou até meu estoque de barrinhas de cereal de
chocolate, com a intenção de me empanturrar delas e ficar satisfeita.
— Já provou elas com sorvete? — A voz de Olliver me assusta e
quando o olho, ele tem um sorriso lindo nos lábios.
— Ainda não, mas farei isso agora — digo, indo até o frigobar e
pegando o pote que ele trouxe.
Vejo minha amiga se levantar e seguir para o banheiro, saindo de
lá instantes depois, arrumada para sair.
— Não vai assistir o filme? — indago.
— Não, boneca, acabei de receber uma mensagem urgente,
preciso ir — explica, com a maior cara de safada que eu já vi. Ela sorri e se
despede, indo embora em seguida.
Volto para a cama com algumas barrinhas, o sorvete e colheres,
mas Olliver tira tudo da minha mão e, com um cuidado impressionante para
um homem desse tamanho, ele abre as embalagens, enfia uma das barrinhas
no sorvete e, ao invés de provar seu ponto, ele simplesmente o guia até os
meus lábios, me alimentando como se eu fosse uma criança.
Mesmo envergonhada, não resisto e abro a boca, sentindo o
gelado e o crocante se misturarem em minha língua, causando uma
explosão de sabores surpreendente.
— Hummm… você tem toda razão!
— É claro que tenho — responde com uma piscadinha que é o
meu ponto fraco nesse homem.
Ele repete o gesto, colocando o doce em sua boca agora, e vai
intercalando entre nós dois.
Estou distraída mastigando e olhando para a tela da TV quando
sinto algo quente e úmido em minha bochecha. Olho para o lado, apenas
para me chocar ao perceber que Olliver Durand acabou de lamber minha
bochecha, bem no cantinho da boca.
— O quê? — pergunto, extremamente envergonhada, sentindo um
calor se espalhar na região e ele sorri, falando pertinho do meu ouvido:
— Estava sujo de sorvete, não dava para desperdiçar. — E com
isso pisca novamente, quase me fazendo derreter.
Logo o sorvete acaba, ele coloca as embalagens na mesinha de
cabeceira e me puxa mais uma vez para seus braços, e eu me aconchego,
aproveitando ao máximo cada segundo desse contato.
— Uau! Deve ser muito legal ter um sabre desses! — digo em
determinado momento, quando vejo Jedis lutando.
— Eu tenho um, ganhei de presente do Bryan Evans, o antigo
quarterback do Bruins. Posso te mostrar a qualquer hora, é só ir lá em casa.
— Ele sorri e eu fico olhando-o feito uma boba, até encontrar minha voz
para responder:
— Claro, claro.. Vai ser legal! — Volto a me acomodar em seu
peito e ele desliza seus dedos delicadamente por meus braços em um
carinho gostoso.
Um após o outro, vamos mudando os filmes ao final de cada um,
sem perceber que já é quase madrugada.
Viro-me para avisar ao quarterback que ele precisa ir embora para
descansar, afinal, temos aula amanhã, mas me deparo com seu rosto bonito
adormecido, a boca levemente aberta e os cabelos bagunçados caindo em
sua testa, enquanto ele ressona baixinho.
Nem se eu fosse a pior pessoa do mundo o acordaria agora.
Por isso, levanto-me com cuidado e, fazendo o máximo de força
que consigo, puxo seu corpo para se acomodar melhor na cama. Desligo a
TV e dou uma última olhada para meu "hóspede", antes de ir me deitar na
cama da minha melhor amiga. Porém, ao ver o corpo grande, musculoso e
que tem tirado o meu sono todo encolhido em um canto na minha cama, não
resisto e, em um ato de coragem, ou loucura, ergo seu braço e deito sobre o
outro, sendo abraçada logo em seguida.
E assim, sou levada para mundo dos sonhos em poucos instantes,
envolvida pela presença e o cheiro marcante de loiro que está bagunçando
os meus pensamentos.
Acordo sentindo aquele cheirinho delicioso de mel ao qual já me
acostumei e o calor de um corpo parcialmente sobre o meu. Sem me
lembrar do que houve na noite passada, abro os olhos, encontrando um
emaranhado de fios ruivos sobre o meu peito e um rosto delicado e com a
boca aberta virado em minha direção.
Ela é linda demais! É tudo o que consigo pensar, e claro, seus
lábios rosados me convidam, como polos opostos sendo atraídos, no
entanto, tenho força de vontade o suficiente para respirar fundo e espantar
esses pensamentos.
Eu quero beijá-la, meu corpo grita, mas minha mente está muito
consciente de que isso não é o certo a se fazer. Não posso mais negar que
ela mexe comigo, mas não será dessa forma que terei um beijo seu.
Eu propus amizade à Maddie, mas, no fundo, eu sempre soube
que era muito mais do que isso. Agora, preciso lidar com todas as sensações
e sentimentos que a ruivinha tem me despertado.
Olho para o meu relógio e percebo que estou quase atrasado para
o treino com o meu personal. Preciso ir embora.
— Hey, Girassol! — Afasto seus cabelos e sussurro perto do seu
ouvido, tentando acordá-la, contudo, ela nem se mexe,
Faço um cafuné em sua cabeça, tentando desembolar os fios que
estão espalhados para todos os lados e, com cuidado, vou me esgueirando
para fora da cama.
Assim que consigo me levantar sem que ela acorde, caminho até o
banheiro, lavo o rosto, enxáguo a boca com pasta de dentes e um
enxaguante bucal que encontrei no armário, ajeito o cabelo e me sinto
pronto para ir pra casa.
Ao voltar para o quarto, vejo a ruivinha abraçada ao travesseiro
que eu estava usando e isso traz um sorriso ao meu rosto, por isso, antes de
sair, abaixo-me e deposito um beijo em sua testa, deixando-a descansar
mais um pouco, já que ainda é bem cedo para ela, que vai apenas para a
aula.
Saio do prédio em silêncio e penso em dirigir para casa,
entretanto, assim que passo em frente a uma cafeteria próxima ao
dormitório, lembro-me que deixei a porta destrancada e com isso, Maddison
vulnerável.
— Merda, Olliver! Como foi se esquecer da segurança da garota,
cara?!
Irritado comigo mesmo, estaciono e me dirijo ao interior do
estabelecimento.
— Bom dia, senhor! Em que posso ajudar? — Muito solícita, a
atendente sorri para mim.
— Gostaria de um copo térmico grande de chocolate quente, um
café puro e uma porção de donuts variados, por favor.
— Vai comer aqui?
— Não, pode embalar os donuts e o chocolate — oriento.
Ela me entrega o café e logo se vira para preparar o restante do
pedido. Tomo um gole generoso e aproveito para observar o local, que é
bem limpo, com mesinhas de madeira espalhadas, luzes penduradas e um ar
de café francês que me faz lembrar de casa, mais especificamente dos
momentos em que saía com minha mãe para comer croissants e tomar
capuccino, algo que fazia parte de um ritual só nosso.
Assim que a moça me entrega tudo embalado para a viagem, pago
e dirijo de volta ao quarto das meninas.
Assim que paro o carro, procuro uma caneta no porta-luvas e
deixo um bilhete pra ela na tampa da caixa com seu café da manhã.

"Que seu dia seja tão doce quanto esses donuts.

Ps: Coma escondido da Penélope

Tenha um bom dia, Girassol!"

Satisfeito com o resultado, vou a passos rápidos até o quarto,


encontrando Maddie ainda na mesma posição, então coloco tudo sobre sua
mesinha de cabeceira.
— Descanse, Girassol, nos vemos mais tarde. — Afago seus
cabelos.
Em seguida, vou até a porta, tiro as chaves da fechadura e, após
uma última olhada para a garota adormecida, saio do cômodo e o tranco por
fora, passando as chaves por debaixo da madeira.
Agora, sim, posso começar meu dia tranquilamente.
Volto para o carro e chego em casa em poucos minutos,
encontrando tudo silencioso. Sei que ainda é cedo, mas Ed costuma ser
quase madrugueiro e não acorda tarde, porém, afasto esses pensamentos e
deixo para falar com ele depois, já que estou atrasado.
Em meu quarto, tomo um banho e escovo os dentes, de maneira
decente dessa vez, me troco e saio para encontrar o meu personal na
academia, que não tem um pingo de compaixão ao me passar exercícios
muito pesados que me deixam esgotado.
— Caralho, Mike! Sua mulher tá fazendo greve de sexo e você tá
descontando a frustração em mim? — resmungo e ele ri.
— Para sua informação, estou muito bem servido lá em casa, você
é que está disperso e molenga hoje — debocha, me irritando, passando
outra série de exercícios em seguida.
É quase hora da aula quando ele me libera e corro para a
universidade, aproveitando para me trocar no vestiário. Deixo minhas
coisas no meu armário, pois terei treino do Bruins mais tarde.
Com minha mochila nas costas, sigo para a sala de aula.

É hora do almoço e não vejo a Maddison no refeitório. É claro


que não combinamos nada. Na verdade, a gente sequer conseguiu conversar
hoje, apenas a cumprimentei de longe e ela retribuiu, já que não havia
nenhum lugar vago perto dela na sala de aula.
Fico distraído com a bagunça dos meus colegas de time e quase
me atraso para o treino. Saímos apressados e quando chegamos ao campo, a
cara do treinador não é das melhores.
— Pensei que as moças estavam se maquiando e haviam
esquecido do treino — debocha, mas sua irritação é visível.
— Sinto muito, treinador — digo em nome de todos nós e ele
chacoalha a mão, dispensando explicações.
O treino começa com o time de ataque em campo, mas estou tão
cansado por ter dormido tarde e pela musculação essa manhã, além de
disperso por causa do que Maddison está me causando, que meu
desempenho é horrível, se levarmos em conta o que fiz na temporada
passada e nos primeiros treinos desta.
— Está morrendo, Durand? Teve sua memória apagada durante a
noite e desaprendeu a jogar? — treinador Stevens grita, fazendo todo o time
me encarar, segurando o riso. — Mais um erro e Trevor entra no seu lugar!
Retomamos nossa posição, mas assim que a bola é passada para
mim pelo Center e dou os passos para trás para tomar distância, caio de
bunda no chão sem nem conseguir lançá-la.
— Pro chuveiro agora, Durand! — Stevens brada e, conhecendo-o
bem, sei que não está aberto a negociação.
Sem baixar a cabeça, obedeço-o, seguindo a passos firmes até o
vestiário. Tiro meu uniforme, deixando-o no banco e entro no chuveiro do
canto, esperando que a água caia sobre o meu corpo e clareie a minha
mente.
Minutos depois, escuto vozes entrando no local e logo vejo
Trevor, Matt e Jackson pelo canto do olho, mas disfarço. O que menos
preciso agora é desses três me infernizando. Encerro o banho e me enrolo
na toalha, indo até o meu armário.
Estou secando os cabelos quando sinto um tapinha nada sutil em
minhas costas e a voz que tanto tem me tirado do sério soa em meus
ouvidos:
— Bom trabalho, Durand. Continue assim e logo a vaga de
quarterback e de capitão serão minhas. — Sinto o desprezo e a inveja
escorrerem de suas palavras, mas disfarço, inflo o peito e me viro em sua
direção.
— Vai sonhando, reserva. Você pode até tentar, mas nunca vai ser
melhor do que eu, ou seja, a vaga jamais será sua, por mais que seu ego
queira.
— Eu não teria tanta certeza assim… — diz, andando ao meu
redor como se fosse um predador tentando amedrontar a presa. A diferença
é que a presa não sou eu. — Parece que você anda muito ocupado com uma
amiguinha nova e isso tá te deixando bem distraído, não é? — Afina a voz,
como se estivesse falando com um bebê.
— Não começa… — repreendo, mas ele me interrompe ao
estender uma folha em minha direção.
— Ora, vejam só se não é a amiguinha do nosso quarterback
favorito aqui. — Aponta para uma foto da Maddie entre outras garotas. —
Parece que saiu a lista das dez garotas mais cobiçadas da UCLA deste
semestre, e olha que surpresa, a ruiva está aqui. — Ri, debochado. —
Confesso que sempre a achei muito esquisita, mas no sábado ela estava
muito gosto…
O interrompo, agarrando-o pela camiseta.
— Não ouse falar dela, seu merda!
— Calma aí, QB… que mau humor todo é esse, hã? — Ele se
solta do meu agarre, finge pensar e logo um sorriso sinistro surge em seus
lábios. — Ah, já sei! Ela é a única da lista que você ainda não pegou, né?
Eu imagino como isso deve estar afetando sua cabeça, afinal, o grande
pegador Olliver Durand não pode deixar passar nenhuma. Ainda mais essa,
que aposto ter uma bocetinha virgem, adornada por pelinhos ruivos… —
Cerro os punhos, me controlando para não acertar a cara dele, pois depois
do meu desempenho de hoje, é bem capaz de ser expulso do time por causa
de uma briga no vestiário.
— Não se atreva, Trevor.
— Parece que achei seu ponto fraco… — Ele toca o indicador no
meu peito algumas vezes, querendo provocar. — Mas, tenho uma ideia que
vai te deixar muito feliz — comenta, esperando que eu pergunte o que é, no
entanto, não vou dar esse gostinho a ele.
Por isso, apenas viro de costas, pego uma cueca no armário e tiro
a toalha. Ele que lide com a minha bunda. Ouço um arranhar de garganta,
mas continuo me vestindo calmamente, ignorando sua presença.
— Se eu fosse você, ia querer ouvir — comenta, me fazendo virar
com a camiseta na mão, após ter vestido a calça.
— Que bom que eu não sou você então. — Cruzo os braços e o
encaro. — O que você quer?
— Bom, já ficou muito claro para mim o quanto a esquisita
Brown, que agora é uma gostosa, é importante pra você, da mesma forma
que a vaga de titular é importante pra mim, e ela é a única da lista que
nenhum de nós pegou, por isso, vou te propor o seguinte: você tem dois
meses para pegá-la e fazer dela sua namorada. Se conseguir, eu a deixo em
paz e saio da sua casa, mudo até de universidade e te deixo em paz —
revela seu plano idiota, esperando que eu diga algo, mas apenas ergo a
sobrancelha, esperando o restante. — Mas, se você não conseguir, volta
para o país de merda de onde saiu, deixa o time e a garota é minha. — O
sorriso sinistro está de volta ao seu rosto e me causa asco.
— E se eu não quiser aceitar isso? — pergunto, desafiando.
— Aí você pode dar as boas-vindas ao inferno, pois eu serei o
próprio demônio e não vou te deixar em paz. E nem a ela — finaliza, se
sentindo vitorioso. Um arrepio sobe por minha coluna só de pensar no que
ele pode fazer com a minha Girassol.
Se fosse em qualquer outro momento, eu socaria sua cara e iria
embora com o coração leve, mas hoje, depois do que houve no treino, de
tudo o que senti ao ser mandando para o chuveiro mais cedo e de tudo o que
a Maddie tem despertado em mim, não posso simplesmente ligar o foda-se.
Preciso protegê-la e me manter aqui, pois não quero, em hipótese alguma,
ter que voltar para Prinz e aguentar os mandos e desmandos do meu pai.
— Tenho sua palavra de que você vai me deixar em paz durante
esses dois meses e, principalmente, depois deles? — indago seriamente,
estendendo a mão.
— Tem. Eu posso não valer muita coisa, mas sei honrar minhas
apostas.
— Ótimo.
— Temos um acordo? — pergunto, ainda com a mão estendida.
— Temos. — Ele aperta a minha mão, selando o que foi dito.
Que inferno! Eu me sinto um lixo. Quer dizer, muito pior que um
lixo, porque ele pode, ao menos, ser reciclado e servir para alguma coisa
depois, mas eu, nesse momento, sinto que sou imprestável. Sério, que
merda eu fui fazer? Por que eu aceitei essa porra de aposta com o Trevor?
Aqui, deitado no chão frio da torre do sino da igreja perto da
universidade, meu esconderijo secreto, essas são algumas das perguntas que
rondam minha mente. No entanto, basta fechar meus olhos e visualizar o
sorriso da Maddie em todas as ocasiões em que estivemos juntos para
pensar que preciso protegê-la e o idiota não vai deixá-la em paz se eu não
fizer o que ele quer.
Trevor é um babaca, filho de um político influente que faz todas
as suas vontades e acha que, por causa do cargo do pai, é superior. Nem se
ele quisesse! O indivíduo é tão insuportável, que nem toda a influência e
dinheiro do mundo o tornam aceitável.
Contudo, admito que, na verdade, a proposta dele apenas me
impulsionou a ir atrás de algo que já estava martelando em minha mente,
afinal, a quem eu quero enganar? Maddison mexe comigo mais do que
qualquer outra garota já fez.
Então, por que não tentar conquistá-la, assim como ela tem feito
comigo? Nada vai ser mentira. Só preciso me sentir menos canalha para
fazer dessa forma, porque, sinceramente, acho que ficar com ela é tudo o
que eu quero nesse momento.
Não sei há quanto tempo estou aqui, meu estômago já roncou e o
ignorei, porém, um barulho chama minha atenção, ou melhor, uma voz;
conhecida, cativante, motivo da minha autocomiseração. Ergo meu corpo,
apoiando-me na mureta, mas me mantenho escondido. Espio por cima dos
tijolos e então a vejo em frente a igreja: ruiva, delicada, usando um
moletom enorme que fica lindo nela e sua velha e inseparável touca.
O que será que ela faz aqui? Não dá para ouvir a conversa dela
com o senhor que a acompanha, mas eu que não irei descer para descobrir.
Alguns minutos se passam e eles sorriem, se despedem com um abraço e
ela sai caminhando, provavelmente indo para o dormitório. Não é muito
longe, porém, já são mais de nove da noite e eu acho perigoso que ela vá
sozinha.
Por isso, desço correndo de onde estou e ando até o meu carro,
tomando o cuidado para não ser visto. Fazendo o máximo de silêncio
possível, entro no veículo e dou partida, encontrando-a facilmente pelo
caminho. Evito me aproximar muito para não causar nenhuma desconfiança
e assim, dirigindo a menos de vinte quilômetros por hora, acompanho-a até
que a vejo entrar em segurança no prédio dos dormitórios.
Meu telefone toca e o número do nosso guarda-
costas/babá/homem de confiança do meu pai aparece na tela: Phillip. Eu
gosto do cara e sou muito grato a ele por ter cuidado de nós, Ed e eu,
quando nossa mãe morreu e nosso pai estava ocupado demais com seus
negócios para entender o luto dos filhos, principalmente o meu, que nunca
fui querido pelo meu progenitor.
No entanto, toda vez que ele liga é a mesma ladainha. Meu pai
querendo ter certeza de que estou me comportando como a porra de um
fantoche, ameaças de me levar de volta, me deixar sem dinheiro e até me
deserdar caso eu envergonhe ou exponha o nome da sua preciosa família. E
não posso esquecer do clássico e mais importante: em todas as vezes ele
manda Phill me lembrar que fui o culpado pela morte da minha mãe, como
se isso já não me perturbasse o suficiente, pois eu só tinha quinze anos e ela
era a pessoa que eu mais amava no mundo.
De tudo o que já ouvi e vivi, isso, com certeza, é o que mais dói,
como se meu coração estivesse sendo rasgado. Se eu sequer imaginasse o
que aconteceria naquela noite, nunca teria saído de casa, teria sido um filho
melhor pra ela, obedecido às ordens do meu pai para tê-la aqui, me dizendo
que não sou a pior pessoa do mundo, mesmo que isso seja mentira, pois
todas as minhas atitudes provam o contrário.
Com o coração angustiado e dez ligações rejeitadas, dirijo até o
local onde sei que serei acolhido e não julgado essa noite.
— Ollie, que prazer ter você aqui! — Jane diz e me abraça assim
que bato à porta da fraternidade em que ela mora.
Tenho algumas amigas aqui e sei que me deixarão ficar essa noite,
lugar onde ninguém irá me procurar, onde posso me distrair e apenas ser eu
mesmo, o Olliver que veio para os Estados Unidos cheio de sonhos, de
vontade de ter uma vida diferente.
— Tudo bem, Jane? — pergunto, abraçando-a.
— Melhor agora. O que faz perdido por aqui? — Apoia-se no
batente da porta e cruza os braços.
— Estou precisando espairecer um pouquinho — explico.
— Com ou sem hot? — indaga, tocando meu peito.
— Sem hot, por favor.
— Humm… é uma pena. Mas podemos te ajudar. Estamos
fazendo maratona de filmes de menininha. Tá a fim? — Ela dá passagem
para que eu entre, o que faço sem hesitar. Talvez uma boa dose de filmes
água com açúcar me ajude a aliviar a mente e tirar esse nó do meu peito.
— Oi, meninas! — cumprimento-as assim que chego na sala,
encontrando seis garotas deitadas sobre colchões e almofadas. Seis garotas
que eu já peguei. Sete, se contar a Jane, que acaba de se acomodar em
frente a TV.
Trevor tem razão, eu sou um pegador. Que merda! A Maddie
merece muito mais do que isso. Mas se o babaca se aproximar dela… Argh!
Caralho! Não sei o que fazer.
— Vem, Ollie, tem um lugar pra você aqui — Wendy bate no sofá
às suas costas e eu tiro meus tênis antes de caminhar até lá.
— E o que vocês estão vendo? — questiono.
— “Um amor pra recordar” — respondem em coro.
— E é bom? — quero saber, para me preparar.
— É um clássico! Pega uma caixa de lenços pra você e presta
atenção aí, quarterback! — diz Melinda, apontando para a caixinha no
braço do outro sofá e soltando o filme.
Pelo que consigo ver, o filme já passou da metade e não demora
muito para que eu ouça soluços e fungadas típicos de choro. Apesar de só
ter visto o final, admito que não é um filme ruim, e na mesma hora penso na
Maddie. Se ela gosta das tragédias de Shakespeare, ia adorar ver isso.
E aqui estou eu, mais um vez pensando nela.
Meus devaneios só cessam quando meu estômago ruge e as
meninas me olham, antes de caírem na gargalhada.
— Com fome, Ollie? — debocha Tiffany, com um olhar
sugestivo.
— Estou, mas de comida de verdade. A última vez que comi foi
no almoço — explico, ignorando o contexto sexual da sua pergunta. —
Quem quer pizza? — indago e todas assentem, gritando como um bando de
garotinhas — Vou pedir então. — Pego o celular e faço o pedido
rapidamente, enquanto elas colocam outro filme.
Dessa vez, “A culpa é das estrelas” é o escolhido e tenho a
impressão de que elas tiraram o dia para desidratar, porque não é possível
escolher um filme de chorar atrás do outro. Sorte que pedi refrigerante, suco
e sorvete também, pois essa noite vai ser longa…

Ai, minhas costas! Parece que dormi no chão duro e… Caralho,


dormi mesmo! Sinto algo molhar meu braço e é a saliva da Jane que escorre
por ela estar debruçada em mim. Não sei em que momento vim parar no
meio delas, porém agora estou entre os colchões e sentindo o piso duro sob
mim, meu corpo está todo dolorido, pois há várias garotas empoleiradas em
minhas pernas e braços.
Pego meu celular no bolso para conferir as horas e noto que já
perdi o treino com meu personal, que vai ficar uma fera, e tenho uma hora
para chegar à universidade. Por isso, levanto-me com cuidado e subo as
escadas até o banheiro, encontrando Tiffany lá, com cara de desespero.
— Bom dia, Tiff! Tudo bem por aí? — pergunto, notando que ela
está vestida, mas toda molhada.
— Oi, Ollie! Nada bem, na verdade. — Aponta para a torneira
que, nesse momento, parece um gêiser[5], molhando todo o banheiro.
— O que aconteceu aí? — Me aproximo, mas não muito, porque
não quero ficar encharcado a essa hora da manhã.
— Sei lá! Há dias eu falo para as meninas que precisamos de um
encanador, mas ninguém me levou a sério. Agora eu fui abrir essa porcaria
para escovar os dentes e olha só no que deu. — Me mostra o registro da
torneira em sua mão. — Eu não sei o que fazer — resmunga.
— Primeiro, vamos fechar o registro geral, depois, vemos se
posso ajudar em algo.
Ela olha para os lados, sem fazer ideia de onde é o tal registro
geral, mas eu logo o encontro embaixo da pia. Moral da história: tomei um
banho involuntário para fechá-lo.
— Ai, Ollie, eu sinto muito! Não era pra isso acontecer —
choraminga, ao ver minha camiseta toda colada ao corpo e o cabelo caindo
pela testa, pingando.
— Tá tudo bem, Tiff. Por acaso tem alguma caixa de ferramentas
por aqui?
Ela pensa por alguns instantes, até sorrir e responder:
— Tem, tem sim. Meu pai deixou as coisas dele no porta-malas
do meu carro — diz e sai saltitante para buscar as ferramentas. Aproveito e
tiro a camiseta, torcendo-a e estendendo no box. Minutos depois ela
reaparece e me entrega tudo.
— Vou preparar um café em agradecimento enquanto você
termina tudo aí. — E com isso ela sai e eu pego o celular, pesquisando no
Google o que fazer para arrumar isso.
Eu sou um cara prestativo, mas não quer dizer que eu saiba fazer
tudo, né, afinal, nunca precisei.
Pego na caixa tudo o que será necessário e começo o trabalho,
sempre conferindo no vídeo o que devo fazer e, mais de uma hora depois, o
banheiro está seco e a torneira arrumada. Mas eu perdi a aula. E a chance de
ver a Maddie.
Por isso, desço as escadas, encontrando apenas Jane na cozinha e
a mesa do café posta.
— Bom dia, Ollie! — cumprimenta sorrindo e vou até ela,
deixando um beijo em sua testa, o que a faz aumentar o sorriso. — Acho
que nunca irei me acostumar com esse seu jeito galante.
— Ih, pode parar com isso. Você sabe que eu sou assim.
— Não é à toa que todas as garotas do campus te querem, QB.
Gentil, educado, mas fofo e cafajeste também… e ainda tem uma pegada…
ui! — Se abana. — Você é um pacote completo.
— Boba!
— Manezão! — Mostra a língua, mas então uma cara sapeca
surge em seu rosto. — Ouvi alguns rumores sobre você estar andando com
uma certa ruiva…
— Não são rumores, mas o povo é muito fofoqueiro.
— É claro que são. Todo mundo quer estar por dentro da vida da
grande promessa do Bruins. — Dá de ombros. — Quem é ela?
Penso por um instante, mas sei que preciso falar, talvez assim me
sinta melhor por me envolver com ela. Não é só sobre a aposta, mas sobre o
que estou sentindo e, claro, sobre protegê-la. Lembro-me disso a todo
momento, fazendo minha mente aceitar. Por isso, decido desabafar, ao
menos um pouquinho.
— Maddison Brown. Estamos no mesmo curso. E ela é… —
procuro algum adjetivo para descrevê-la, mas é difícil achar apenas uma
palavra, por isso, acabo falando demais, talvez soando como um bobo
apaixonado — doce, gentil, linda…
— E o que mais? — Apoia o queixo nas mãos cruzadas,
suspirando.
— Ela mexe comigo — confessa.
— Estou vendo. Ontem tinha sete garotas ao seu dispor e você
não demonstrou interesse por nenhuma. — Ameaço responder, mas ela me
interrompe. — Não precisa se justificar. Uma hora, todo mundo encontra "a
pessoa", e se ela for a sua, será uma tremenda sortuda. — Ela sorri, e suas
palavras penetram o meu cérebro e o meu coração, me fazendo aceitar o
que ela disse e pensar em uma forma de conquistar Maddison, para que ela
não me odeie, caso descubra no que eu nos meti.
Olho ao redor da sala, mordendo o lápis e mexendo na minha
touca, sentindo falta de ver certos cabelos loiros arrepiados por aqui. Faz
quase dois dias que não vejo Olliver. Eu estava gostando da sua companhia,
do seu jeito brincalhão, mas desde ontem ele sumiu. Não nos falamos na
aula e hoje ele simplesmente não apareceu, o que é muito estranho, já que
eu não o vi faltar nenhum dia de aula no ano passado inteiro, e agora, ele
não vem logo na primeira semana? Isso é estranho.
Porém, não me deixo dominar por esses pensamentos, preciso
focar que somos só amigos e seguir a minha vida.
Assim que a aula termina, Peny sai correndo, dizendo que tem
algo importante a resolver, por isso, vou para a sala de figurinos conferir os
últimos detalhes dos trajes que ela e Olliver usarão na cena que precisamos
apresentar. Por sorte, Romeu e Julieta é um clássico e várias turmas já
apresentaram, por isso, não tenho dificuldade em encontrar um vestido
claro de época, calça escura e uma camisa branca, além de botas para ele.
Pego tudo e levo para casa para lavar e para que eles experimentem, em
seguida, passo na biblioteca para ler um pouquinho antes de precisar ir para
o abrigo. Como deixei Naruto alimentado, vou aproveitar para ir direto.
Ajeito minha touca sobre a cabeça, puxo o moletom cinza para
baixo e saio do prédio de artes, a caminho do meu lugar do mundo: a
biblioteca.
Assim que adentro aquelas grandes portas, sou recebida pelo
cheirinho inconfundível de papéis antigos, e novos, e tinta, o que me causa
uma sensação indescritível de felicidade.
Caminho pelos corredores, analisando cada prateleira até chegar
na sessão de romance, onde um livro logo rouba minha atenção: "Orgulho e
preconceito" praticamente brilha à minha frente e não penso duas vezes
antes de pegá-lo e escolher uma mesa no cantinho para me acomodar.
Perco-me nas páginas amareladas, vendo a história de Lizzie e
Mr. Darcy se construir, suspirando a cada nova linha lida. Não tem como
negar, sou uma romântica incurável que ainda sonha com seu primeiro
amor, aquele que vai lhe dar o primeiro beijo, a primeira noite e que será
dono do seu coração.
E, por algum motivo, pensar nisso traz novamente Olliver aos
meus pensamentos. Eu nunca quis aceitar e por diversas vezes fingi uma
indiferença que não nutria realmente pelo quarterback, mas, quando se
cresce em uma cidade pequena, com pais gays e sendo uma garota que se
veste de forma meio incomum para os padrões, sonhar com o garoto mais
popular da escola é uma tremenda perda de tempo.
E digo isso por experiência própria, pois me apaixonar por Donald
no sexto ano quase foi minha ruína. Eu era a esquisita e ele o playboy
popular que, certo dia, encontrou meu caderno caído, cheio de corações em
volta dos nossos nomes. Após ser zoada por isso e ouvir de sua boca que
jamais olharia para mim, decidi que garotos eram um assunto delicado
demais e que eu deveria me afastar. Principalmente dos populares. Mas
então Olliver Durand apareceu, com seu jeito brincalhão e quis ser meu
amigo. E eu, burra como sou, estou começando a confundir as coisas.
Irritada com esses pensamentos, fecho o livro e o devolvo ao
lugar, percebendo que estou muito atrasada para o meu turno no abrigo, por
isso, saio correndo da biblioteca, pensando num caminho alternativo que
me leve para lá mais rápido.
Traço a rota mentalmente e me lembro que passar pela rua das
fraternidades vai me poupar uns cinco preciosos minutos, por isso corro
para lá. Estou distraída, andando apressada, quando vejo uma cabeleira loira
muito familiar que chama a minha atenção, seguida por um torso nu,
branquinho como só ele é, seus músculos torneados e um sorriso
encantador. Olliver Durand.
Ele se despede de uma garota com um abraço e um beijo no rosto,
mas, a essa altura, minha mente já está criando caraminholas sobre o
motivo de ele ter faltado a aula e estar aqui, seminu.
Pelas vacas do Texas, Maddie, o garoto é solteiro, livre,
desimpedido e dono do próprio nariz! Não é da sua conta o motivo de ele
estar aqui. Vocês são amigos. A-M-I-G-O-S!
Valeu, consciência, eu realmente estava precisando dessa!
Ignoro a coceirinha desagradável que ver essa cena causou no
meu coração e continuo a caminhar, chegando ao abrigo em tempo recorde.
Com certeza, limpar cocô vai me distrair.
Poxa, eu estou exausta! Assim que a água do chuveiro escorre
pelos meus ombros, sinto como se parte do desconforto que estou sentindo
me abandonasse. Nada como uma tarde de trabalho e um banho relaxante
para deixar a gente renovada. Agora, tudo o que preciso é da minha cama
confortável, um doce gostoso e um filme para terminar a noite.
Melhor programa para uma sexta-feira!
Contudo, o toque do meu telefone e a foto de Penélope da tela me
fazem imaginar que ela tem outras ideias para hoje.
— Oi, Peny!
— Maddie, amiga… Você pode me encontrar na cafeteria? — Sua
voz desanimada aciona um alerta na minha cabeça.
— Tá tudo bem, Penélope? — pergunto, me enxugando apressada
e pegando uma roupa qualquer no guarda-roupa.
— Tá, eu só… Estou precisando conversar.
— E não podemos fazer isso no conforto das nossas camas? —
indago, implorando para que ela diga que sim.
— Eu pensei em espairecer um pouco, tomar um chocolate quente
ou, quem sabe, um frappuccino de caramel…
— Você já me convenceu! Estou indo — interrompo-a.
Escolho um moletom roxo da UCLA que era do papai Ted e já viu
dias melhores, calça jeans e minhas botas surradas de cano baixo, coloco a
touca na cabeça, já que, por sorte, havia lavado o cabelo mais cedo e agora
os fios estão sequinhos, dou comida ao Naruto, que está cada dia mais
gordinho, e saio apressada. A cafeteria não é longe do campus, porém, já
está de noite e a precária iluminação no local devido a lâmpadas queimadas
deixa tudo muito perigoso, por isso, peço um uber, que chega rapidinho e
em menos de dez minutos estou entrando a Book’s and coffee's.
Avisto a minha amiga numa mesa perto do balcão, mas afastada o
suficiente do meio da salão para termos um pouquinho de privacidade e
logo me aproximo, sentando à sua frente.
— Ufa, cheguei! — comento, mandando um beijinho pra ela no
ar.
— Obrigada, amiga — diz, antes de dar um longo gole em sua
xícara.
— Agora vai, desembucha — peço, apoiando o queixo nas mãos.
— Primeiro, vamos ao seu frappuccino, pois, se te conheço bem,
você chegou do abrigo e não comeu nada.
E, concordando com o que ela diz, meu estômago ronca alto,
fazendo minhas bochechas ruborizarem.
Olho para o balcão, onde a mesma atendente do dia em que
encontrei Olliver aqui está apoiada, simplesmente mexendo nas unhas e
ignorando tudo ao redor. Olho em seu crachá e vejo que se chama Abby,
por isso, chamo-a não muito alto.
— Ei, Abby! — Nada. — Abby, pode vir aqui, por favor? —
chamo novamente, e ela continua me ignorando, pois é visível que está me
ouvindo. — Abby — tento uma última vez, ainda sem resposta.
Irritada, Penélope levanta e vai até lá, mesmo sabendo que o
correto é elas virem até as nossas mesas.
— Ô, querida… você não percebeu que estamos chamando
porque queremos fazer um pedido? — pergunta, irritada, fazendo a moça
erguer o olhar para ela, revirando os olhos.
— Percebi. E daí?
Noto que Peny se segura para não dar uma resposta atravessada à
garota, por isso me levanto e peço:
— Pode preparar um frappuccino de caramelo, por favor, com
uma fatia de brownie?
Ela revira os olhos novamente e, sem me responder, se vira e vai
pegar o que eu pedi.
— Qual é a dessa garota? — Penélope pergunta, irritada.
— Sei lá, desde o dia em que encontrei Olliver aqui ela começou
a me tratar assim. Vai entender.
— Ah, não, mais uma fã do quarterback gostoso? — comenta e eu
arregalo os olhos. — Que sina, amiga! Você deveria ter escolhido um boy
menos concorrido — diz, me deixando com muita vontade de me esconder
embaixo da mesa.
Antes que eu formule uma resposta, negando qualquer interesse
ou envolvimento com o Durand mais novo, a porta se abre novamente e três
garotas entram, falando alto e sorrindo, se acomodando na mesa ao nosso
lado.
— Eu fiquei muito feliz pelo Ollie ter aparecido ontem. Estava
com saudades daquele gostoso — uma delas diz, me deixando em alerta.
Peny me olha e ergue a sobrancelha, como se dissesse: “eu disse
que o páreo era duro!”, mas nada diz, apenas se concentra no que estão
falando.
— Nem me fale. Sempre que ele aparece, a alegria é garantida,
apesar que eu o achei um pouco diferente ontem — a loira responde.
— Tristinho, né? — acrescenta a outra.
— Sim. E eu estou super disposta a espantar qualquer tristeza
dele… — comenta a terceira, e todas começam a rir.
Sinto-me em choque, porque, de alguma forma, ouvir isso doeu.
Eu estava preocupada com seu sumiço, mas agora entendo bem o motivo.
Meu cérebro idiota que precisa entender que aquele loiro não é pro nosso
bico e desencanar.
Ô, meus cabritinhos, não dava para se encantar por outro mais
fácil e menos bonito, coração? Fala sério!
— Maddie. Maddison! — minha amiga chama e eu a olho,
espantada. — Vem, vamos sair daqui — ordena, mostrando o meu pedido
embrulhado para a viagem e me puxando para fora do estabelecimento.
Em silêncio, pegamos um uber enquanto beberico minha bebida e
somente quando chegamos em nosso quarto é que ela começa a falar:
— Eu não imaginei que você tinha ficado tão mexida por ele,
Maddie…
— Mas eu não… — começo, para sua mão me manda parar de
falar.
— Não adianta mentir, tá estampado na sua cara e tá tudo bem,
mais cedo ou mais tarde iria acontecer.
— Não, Peny, você não tá entendendo. Não tem nada acontecendo
aqui.
— Aí, com certeza tem. — Aponta para o meu peito.
— Nós somos amigos — argumento.
— E isso não te impede de gostar dele de outra forma.
— Mas ele é um galinha — resmungo. — E muito popular.
— Não sabemos ao certo o que aconteceu, a gente pegou o bonde
andando e sentou na janelinha, amiga, mas, de qualquer forma, o cara é
solteiro, e se você quiser ele, vai ter que agarrá-lo.
— Mas eu não quero…
— Continue dizendo isso, quem sabe você acredita — cantarola,
indo para o banheiro.
— Ei, você não queria conversar? — pergunto, me sentando na
cama, devorando um brownie.
— A gente conversa depois! — avisa e dá uma piscadinha, antes
de sumir pela porta do banheiro.
Sabe aquele momento em que você sabe que está errado, mas não
se conforma e se vê prestes a enlouquecer? Pois é, estou vivendo
exatamente isso. Decidi me afastar da Maddie por uns dias, apenas para
pensar na melhor forma de agir, já que ela não sai da minha cabeça, mas
hoje ainda é sábado e eu estou louco para vê-la. Por isso, resolvo dar uma
volta para espairecer, passear com o Kakarotto, levá-lo para rever seus
amigos do abrigo e… Aff! A quem eu quero enganar mesmo?
“Rever os amigos do abrigo” é a desculpa mais esfarrapada que eu
já usei. Enfim, como acordei cedo, já que ontem passei o dia todo brincando
de fazer nada após sair da fraternidade, desço para dar ração ao meu gato e
tomar café, para depois sair.
— Miau! Miau!
— Eu sei, eu sei, você tá com fome. O que não é novidade —
respondo ao Kakarotto, após ele miar e se entrelaçar às minhas pernas.
— Miau! Miau! Miau!
— Eu já entendi, caralho! Você não sabe esperar dois minutos? —
reclamo, pegando a ração de salmão e despejando em sua vasilha. O
bichano safado olha para o pote e depois para mim, volta-se para o pote,
cheira e simplesmente ignora, subindo na bancada da cozinha em forma de
protesto. — Ah, não enche, Kakarotto! Você tem noção de quanto custa
essa ração fresca que você come? É claro que não, né? Sorte que temos a
herança da mamãe e os investimentos… Queria ver você revirando o lixo
atrás de comida — reclamo debochado e ele solta uma espécie de rosnado
para mim, mostrando os dentes. Era só o que me faltava! — Come aí, a
gente precisa sair para ver umas gatinhas — comento e sorrio pelo meu
trocadilho.
No entanto, o gato continua emburrado, me encarando como se
pudesse arrancar meus olhos a qualquer momento, enquanto eu preparo
ovos mexidos para mim.
— Bom dia! — Ed diz ao chegar na cozinha.
— Bom dia, irmãozão! — cumprimento, me virando para ele. —
Quer? — ofereço o que estou preparando e ele assente, por isso, pego mais
ovos para adicionar à frigideira.
Sorte que a Vick é uma amiga incrível e me ensinou a cozinhar
algumas coisas, senão eu estaria realmente perdido vivendo só de fast-food.
— Você anda meio sumido esses dias… acho que não te vejo
desde quarta ou quinta-feira — comento.
— Eu tive uma viagem com o papai, voltei ontem à noite —
explica. — A propósito, é tão difícil assim atender as ligações dele? Ele
queria falar com você.
Na mesma hora sinto meu bom humor azedar e a animação
diminuir.
— É claro que queria. Tanto que mandou Phill me ligar.
— Você sabe que ele…
— Ele é um homem muito ocupado… bla bla bla — debocho. —
Ed, para de achar que, em algum momento, a gente vai se entender, porque
não vamos.
— Ele é nosso pai, Ollie, praticamente nossa única família.
— Minha família é você, Kakarotto e o Phill. No mais, são
conhecidos que não fazem diferença na minha vida.
— Você poderia tentar dar uma chance a ele — meu irmão sugere.
— E você precisa entender que eu não sou você. — digo com
sarcasmo. Não sou o filho perfeito, o modelo ideal de sucessor. A pessoa
que mais se importava comigo não está mais aqui, então não preciso fingir
ser alguém que não sou e nem lamber sacos por aí. — Dou de ombros.
— Ollie, não fala assim.
— Espero que um dia você me entenda, Ed.
Depois disso, sentindo um nó gigantesco na garganta, comemos
em silêncio, sem nos encarar, enquanto Kakarotto miava em frente a
geladeira.
— O seu bichano quer frango.
— Quem disse? Eu não dou essas coisas pra ele — respondo,
ainda concentrado no meu prato.
— Um dia ele não parava de miar e eu dei, precisava dormir um
pouco e essa coisa não me deixava em paz.
— Certo… Obrigado por isso — digo com sinceridade.
Ele apenas assente e terminamos de comer sem trocar mais
palavras. Lavo os pratos que sujamos e dou o tal frango ao meu gato, que o
devora em segundos, antes de subir para me trocar. Quando volto, Ed não
está mais na cozinha, então encaixo a guia na coleira do Kakarotto e saio, o
prendendo no banco do carro. Ele odeia usar isso, mas hoje vai ter que ficar
quietinho aqui.
Saio da garagem e dirijo tranquilamente pelas ruas ao redor do
campus. O dia está lindo, e tudo o que consigo pensar é em como eu
gostaria de encontrar a Maddie, ficar apenas deitado na grama sentindo seu
cheirinho de mel, ou então levá-la até o Píer, ver seu sorriso ao andar na
roda gigante… Droga! No que eu estou pensando? E porque esse
pensamento me deixa tão animado?
Chacoalho a cabeça para me situar e mal percebo quando
chegamos à rua do abrigo. Diferente do dia em que estive aqui e adotei o
Kakarotto, a rua hoje está movimentada, várias pessoas entrando e saindo
do local, provavelmente à procura de um bichinho de estimação, e então,
cabelos ruivos balançando com o vento surgem no meu campo de visão e
Maddie aparece, toda atrapalhada, tentando conter quatro cachorros que
poderiam devorá-la se não fossem mansos, pois são enormes.
— Calma, meninos! Desse jeito vocês vão me derrubar! — grita,
segurando as guias com o máximo de força que consegue.
Ela se atrapalha toda, mas fica ainda mais linda com as bochechas
coradas devido ao esforço e, no fim, Maddie é quem está sendo levada para
passear, e não o contrário. Sorrio, sentindo-me mais leve e, num arroubo de
coragem, estaciono e pego Kakarotto no colo, caminhando em direção a ela.
— Precisa de ajuda, Girassol? — pergunto, erguendo a
sobrancelha para encará-la.
— Ah, é… Oi, Olliver! Tudo bem? — cumprimenta, ainda
tentando segurar as quatro ferinhas que estão prestes a jogá-la no chão.
— Tudo! Deixa eu resolver isso — digo e pego rapidamente as
guias da sua mão, puxando os cães para o meu lado e passando o meu gato
para o seu colo. — Pronto, galera, agora essa disputa é justa, porque vocês
são muito grandes para uma dama — brinco e ela sorri timidamente. —
Muito trabalho por aqui?
— O de sempre, mas como hoje tem muita gente visitando, eles
ficam agitados — explica.
— Entendo. E para onde você iria levá-los?
— Só para dar uma voltinha no quarteirão.
— Então vamos, eu vou com vocês — aviso e indico o caminho
com a cabeça.
Maddison me encara atônita, sem entender o que estou fazendo.
— Você não tem nenhum treino ou jogo hoje? Ou então algo mais
interessante pra fazer do que ficar cuidando de cachorros? — questiona em
um tom um pouco ácido, acariciando a cabeça do Kakarotto, que está
apoiado em seu ombro como um bebezinho.
— Digamos que hoje é meu dia de folga.
— E você escolheu uma péssima forma de aproveitá-lo —
responde e, ao se dar conta do que disse, leva uma das mãos à boca,
tapando-a. — Desculpa, eu não quis ser indelicada.
— Não se preocupe, não foi, mas, respondendo ao seu
comentário, não vejo melhor jeito de aproveitar o tempo livre senão em
companhia da garota mais linda da universidade.
Percebo que ela fica constrangida e tenho vontade de me bater por
ter provocado isso nela, contudo, ela logo sorri e puxa assunto:
— Está tudo bem com você? — Olho-a, sem entender. — Nunca
te vi faltar a uma aula e ontem você não foi. Imaginei que pudesse ter
acontecido alguma coisa.
— Tive um imprevisto pessoal, mas já tá tudo bem — limito-me a
responder.
Fazemos o restante do trajeto em silêncio, apenas rindo do
desespero dos cachorros para correrem livres por aí, até que chegamos à
porta do abrigo e ela volta a falar.
— Já separei os figurinos do trabalho de atuação. Se você estiver
livre durante a semana, podemos ensaiar as falas com a Peny. Acredito que
dois ensaios sejam o suficiente, só vocês já irem lendo o texto em casa.
— Sim, senhorita! — Sorrio. — Eu já conheço o texto, vou só
reler algumas vezes e se for necessário, fazemos algumas alterações na
hora.
— Combinado — responde e ouvimos o seu nome ser chamado
por uma moça de cabelos brancos. — Eu preciso ir — avisa, indicando que
vai pegar as guias dos cachorros e devolver o Kakarotto, que não fica muito
feliz ao trocar de colo.
— Nos vemos na segunda então — me despeço de longe,
soprando um beijo no ar, com medo de ter meu gato sendo atacado pelas
bocas enormes dos “amiguinhos” da Maddie.
— Até lá, Olliver! — Dá um tchauzinho de longe e entra no
abrigo.
Olho para Kakarotto, que tenta a todo custo descer do meu colo ao
avistar uma gatinha branca desfilando pelo pátio do local, mas o seguro e
caminho até o carro.
— É, amigão, a gente tá muito fodido! — comento, prendendo-o
no banco novamente.
Estou deitado em meu quarto, focado em ler a cena de Romeu e
Julieta, quando minha porta se abre num rompante.
— Ah, não, Ollie, só pode ser brincadeira! — Ed reclama
adentrando o cômodo, me fazendo largar o livro e me sentar.
— Que foi, Eustácio? Alguém pegou seu Armani e rasgou em
pedacinhos? — debocho, sabendo que vou irritá-lo.
— Se fosse isso eu não estaria bravo, porque tenho uma porção
deles, irmãozinho. — Sinto a ironia chegar a mim como um soco e sei que
irritaram meu irmão de verdade dessa vez.
— O que aconteceu?
— Esse seu gato demoníaco invadiu o meu quarto e destruiu as
minhas coisas! — brada, apontando para a porta, onde Kakarotto está
sentado se lambendo tranquilamente, como se não estivesse sendo acusado
de alguma coisa.
— O que, exatamente, ele destruiu? — pergunto, sabendo que
esse felino pirracento vai me dar um prejuízo, tudo isso porque não o deixei
correr atrás da gatinha no abrigo.
— Minha camiseta favorita do Metallica e alguns livros. Ele fez
buracos na minha camiseta, Olliver!!!
— Porra, Kakarotto! Precisava disso? — Olho para o gato, que
continua pleno em sua tarefa. — Sinto muito por isso, Ed. Ele ficou meio
irritado com o nosso passeio mais cedo, mas eu prometo repor o que ele
estragou.
— Eu não vou aguentar isso por muito tempo, Ollie, é sério.
— Ed — me aproximo, tocando o seu braço —, ter você aqui é
uma das melhores coisas que me aconteceu, então, por favor, me desculpe
por isso. Vou fazer o possível para manter Kakarotto longe de você.
Ele suspira pesadamente e eu sei que serei perdoado, algo muito
importante para mim, já que nada do que disse é mentira ou fingimento. É
muito bom ter meu irmão aqui comigo, dessa forma eu não me sinto
sozinho, sei que minha família está aqui e espero que permaneça.
— Vou te dar esse voto de confiança, Olliver.
— Valeu, irmãozão — agradeço e o abraço, mas ele logo se afasta
com sua rabugice de sempre.
O restante do fim de semana passou como um borrão e hoje já é
segunda-feira. Reconheço que estou um pouco mais ansioso do que deveria
para ver a Maddie e, por fim, tentar uma aproximação mais efetiva, já que
nossa paz e tranquilidade dependem disso.
Porém, como nem tudo são flores, estou atrasado para a aula
devido ao atraso no treino físico com o meu personal trainer, que não estava
feliz por eu ter faltado na sexta e pegou pesado.
— Vamos, Olliver! Mais vinte flexões e você está liberado —
avisa debochado, como se estivesse me fazendo um favor.
Apenas suspiro pesadamente e volto à minha série, que já conta
com sessenta flexões.
E sim, é uma quantidade grande, mas eu preciso ter ombros largos
e braços fortes, por isso ele investe muito nessa parte.
— Dezoito, dezenove — respiro fundo, usando o último fôlego
que me resta —, vinte. — Termino a contagem e deixo meu corpo ceder,
pois estou esgotado. Há duas horas estamos treinando e eu não aguento
mais.
— Bom trabalho, QB! Fico feliz em ver que não desistiu.
Aceno com a cabeça e caminho em direção ao vestiário, pois hoje
treinamos na academia do centro de treinamento da universidade. Em
poucos minutos estou pronto e seguindo para a sala, mas quando chego a
aula já começou e não há nenhum lugar vago perto da Maddie, que sequer
ergue a cabeça quando o professor autoriza a minha entrada.
— Que esse atraso não se repita, Sr. Durand.
— Pode deixar, professor, me desculpe.
Procuro uma cadeira vazia e me sento do lado oposto de onde a
Girassol está, e me esforço para prestar atenção na aula. Três matérias
depois, somos dispensados para o almoço. Procuro Maddison entre a
bagunça de alunos caminhando em direção aos refeitórios, mas não a
encontro, por isso, me sento em um banco que tem no gramado, esperando
por alguma iluminação divina de onde encontrá-la. Confiro o celular, e me
dou conta de que nem o número dela eu peguei. Por isso, mando uma
mensagem para Hunter.

Eu: E aí, cara! Beleza?

Hunter: Fala, QB!


Tudo na boa e vc?

Eu: Tranquilo também.


Tá no campus?

Hunter: Claro, brother, se não estudar, tô fora do time,


e vc sabe como eu sonho em ser selecionado no DRAFT.

Eu: Vdd.
Pode me passar o contato da Penélope, por favor?

Hunter: E pq vc quer o telefone da minha garota, hã?

Eu: Estou procurando a Maddie, na vdd.

Hunter: E não pediu o telefone dela ainda?


Que vergonha, Ollie, eu esperava que vc fosse tão rápido com as mulheres
como é em campo.

Eu: Vai me zoar ou ajudar, caralho?

Hunter: Como tô de bom humor, vou ajudar.


A patricinha disse que ela tá na biblioteca.

Eu: Vlw, brother!

Nossa, como eu fui lerdo! Por que não pensei primeiro na


biblioteca? Era tão óbvio. Mas então, meu estômago protesta por eu ainda
não ter comido nada e uma coisa me ocorre: Não deu tempo de a Maddie
almoçar e ir para lá, ou seja, a ruivinha deve estar sem comer. Por isso,
passo no refeitório e compro sucos e sanduíches para nós, escondo na
mochila e sigo para o prédio onde ela está, na esperança de encontrá-la.
Passo pela enorme porta de vidro, vendo o local pouco
movimentado devido ao horário. Checo meu relógio apenas para ter a
certeza de que tenho duas horas até o treino do Bruins começar e ando pelo
local repleto de altas prateleiras e muitos livros, à procura de uma cabeleira
ruiva adornada por uma touca preta.
Olho em todas as mesas e nada, nem sinal da Maddison, o que é
muito estranho, pois sua amiga nunca erra. Dou a volta pelo ambiente,
olhando entre cada prateleira e cantinho, até que a avisto sentada no chão,
muito concentrada em um livro que não consigo ver a capa à distância.
Para não assustá-la e nem parecer um maldito perseguidor, vou
até o corredor atrás do que ela está e, com muito cuidado, coloco minha
mochila no chão e começo cautelosamente a retirar os livros os livros que
nos separam. Por sorte, todos os livros são grossos e após tirar seis deles,
tenho espaço suficiente para o que eu preciso, então sussurro:
— Ouvi dizer que tem alguém que se enfiou nos livros e não
almoçou hoje, por isso, o delivery especial Girassol está às ordens.
Ela se vira assustada e dá um sorriso amarelo quando me vê por
entre os livros, causando-me certo estranhamento, mas logo me lembro que
ontem ela também não foi tão receptiva como das outras vezes, e isso me
faz pensar que há algo de errado acontecendo e que preciso descobrir.
— Ai, Olliver, você me assustou — murmura, colocando a mão
no peito.
— E você sumiu — rebato.
— Não sumi, apenas queria terminar esse livro e aproveitei para
ler aqui, quietinha.
— Prometo que não vim te atrapalhar, só queria saber como está
minha amiga e vê-la alimentada — respondo, me sentando no chão e
apoiando as costas na prateleira, assim como ela está no lado oposto. —
Espero que goste de sanduíche de peru. Trouxe suco de maçã também. Mas
você precisa ser discreta, pois, se verem, seremos expulsos daqui —
comento, passando o copo e o embrulho pelo vão da madeira, olhando para
os lados para checar se não há ninguém por perto.
— Adoro. Obrigada — responde e a vejo pegar tudo e se virar
novamente.
Faço o mesmo, pegando o meu sanduíche, já que sinto como se
meu estômago estivesse colado às costas por tanto tempo sem comer e
preciso de energia para o treino. Comemos em silêncio e em muitos
momentos morro de vontade de puxar assunto, de perguntar mais sobre ela,
mas Maddison não parece interessada, por isso permaneço quieto.
— Conseguiu resolver seus imprevistos pessoais na sexta-feira?—
pergunta de repente, me sobressaltando.
— Hã… — penso por um momento e me lembro que foi isso que
disse ela, quando, na verdade, estava na fraternidade, tentando arejar a
mente. — Sim, sim, consegui.
— E… as meninas da fraternidade te ajudaram? — questiona e,
agora sim, meu coração quase sai pela boca.
Como é que é? Como ela soube que eu estava lá?
— Oi? — Faço-me de desentendido mesmo.
— Eu te vi saindo de lá na sexta, sem camiseta. E depois as ouvi
falando sobre você ter ido lá e estar meio triste — revela, hesitante. — Eu
só… fiquei preocupada.
Um sorriso surge em meu rosto quando uma ideia passa pela
minha cabeça.
— Ficou com ciúmes, Girassol? — Olho por entre os livros,
erguendo a sobrancelha, mas ela ainda está apoiada, sem olhar para mim.
— O quê? Não, não, claro que não. Só me preocupei, sabe… As
garotas pareciam muito inclinadas a te ajudar e consolar — diz em um tom
gélido e sorrio. Sim, ela está com ciúmes.
— Girassol… — chamo, enfiando o meu rosto pelo vão, apoiando
o queixo na madeira. — Não se preocupe, você é a que mais importa pra
mim.
— Do que você está falando? — indaga, repetindo o meu gesto e
encarando meus olhos, parecendo confusa.
— Elas são minhas amigas de… — paro, me lembrando que não
vai soar bem afirmar que tinha amigas de foda antes de conhecê-la, o que,
inclusive, parou no momento em que nos falamos pela primeira vez e eu já
estou de bolas azuis por ficar sem transar. Mesmo sem entender o porquê
disso — …de longa data. Nos tornamos amigos no ano passado e elas
sempre se preocupam comigo.
— Uhum… entendo.
— Acredite em mim — peço, estendendo a minha mão. — Estou
muito feliz por ter você na minha vida — solto sem filtro algum, sentindo
certo alívio por poder ser sincero ao menos nesse quesito.
— Também estou feliz por ser sua amiga. — Retribui o
cumprimento, fazendo meu coração bater estranho por sua fala.
Sua amiga. Amiga… Eu não quero que ela seja só minha amiga,
caralho! O que eu faço agora?
— Eu fiz algo não muito legal visando um bem maior, para
proteger alguém muito especial para mim e algo que eu amo e… não me
senti em paz com isso. Eu precisava me distrair e acabei indo assistir uns
filmes com as meninas e dormi por lá. E sobre a camiseta, é porque houve
um acidente com o encanamento do banheiro.
— E por que você está me contando isso?
— Porque quero que confie em mim e entenda que tudo o que eu
te digo é verdade. Você é muito especial para mim, linda.
Antes que ela formule uma boa resposta, meu celular toca e eu
atendo ao ver o nome do Center na tela.
— Achou a Maddie? — Hunter pergunta.
— Achei, sim, cara! Obrigada!
— Então agora corre, porque você tá atrasado para o treino — diz
e desliga, me fazendo conferir as horas. Merda, eu não estou só atrasado.
Estou muito atrasado!
— Tudo bem? — ela pergunta.
— Tudo, só preciso correr para o treino — respondo, me
levantando e dando a volta na prateleira, ficando em sua frente. — Mas
antes, posso ter o seu número? É o cúmulo eu não ter o telefone da minha
melhor amiga.
— Melhor, hum? Sei... — brinca. — Me dá seu telefone — pede,
estendendo a mão.
Desbloqueio a tela e ela logo registra o contato, mas antes de
salvar, pego o celular de sua mão e altero seu nome para “Minha Girassol”.
— Prontinho! — aviso, sorrindo. — Agora eu preciso ir. Até
mais, Girassol! — Beijo sua bochecha demoradamente e saio apressado em
direção ao vestiário para me trocar. É hoje que o treinador come o meu
fígado mal passado e acebolado!
— Croac-croac!
— Você entende agora o meu dilema, Naruto?
— Croac-croac!
— Sim, pois é… Eu realmente me senti muito mal vendo o
Olliver saindo seminu da casa daquelas meninas, mas quando ele me
contou, mesmo que indiretamente, o motivo de estar lá, e ainda teve aqueles
olhos pidões do Gato de botas, eu não resisti. Não dava para não acreditar
nele. — Acaricio o sapo, que está ouvindo o meu monólogo há uns dez
minutos e ainda não tentou fugir do meu colo. — O que eu faço, Narutinho?
Ai, meus cabritinhos, eu não posso entregar meu coração pra ele! Preciso
parar de ser tão boba — choramingo, mas um barulho no meu celular
chama minha atenção.
Coloco meu sapinho no seu terrário e vou até o aparelho, onde
uma mensagem de número desconhecido pisca.

Número desconhecido: Oi, Girassol!


Por incrível que pareça, eu estava pensando em vc.
Salve meu contato aí.
Pode ser como: “meu melhor amigo gostoso”. Eu não vou me opor... rs

Sua gracinha me faz rir e, ao mesmo tempo, aquece o meu


coração. Eu não esperava que ele realmente entrasse em contato, assim
como a maioria dos caras faz. Vou até os meus contatos e salvo da melhor
forma que consigo pensar: Olliver PERIGO Durand.

Eu: A sua modéstia ainda me espanta, Olliver.

Olliver PERIGO Durand: O que houve com o “Princeso”, hein? Fui


rebaixado?

Eu: Está muito engraçadinho para merecê-lo.

Olliver PERIGO Durand: O que você está fazendo?

Eu: Conversando com o Naruto.

Olliver PERIGO Durand: E ele tá te respondendo? rs

Eu: Ele me ouve e não dá palpites, é mais que suficiente :P

Olliver PERIGO Durand: Até quando tenta ser brava, vc é fofa, Girassol.

Eu: Vamos ver se vc pensa assim depois de me ver com fome,


ou de alguém mexer na minha coleção de pantufas.

Olliver PERIGO Durand: Viu, só? É fofa!


Quem mais teria uma coleção de pantufas?

Eu: Alguém que sente muito frio nos pés?

Olliver PERIGO Durand: Não, alguém perfeita como vc.

Depois desse comentário, que me deixa encabulada mesmo não


intencionalmente, coloco o celular de lado e decido dormir. Amanhã tem
aula e a semana vai ser cheia com turnos no abrigo, ajuda na igreja e a
preparação para a nossa cena.

Mal pisquei e hoje já é quarta, mas estou exausta como alguém


que não descansa há mil dias ininterruptos — referência que eu nem tenho,
inclusive, mas decidi exagerar, porque estou mesmo muito cansada. Só vi
Olliver nas aulas e almoçamos no refeitório ontem e hoje, junto com Peny e
o pessoal do time de futebol americano. Preciso dizer que é assustador
comer entre aqueles homens enormes, e tenho a impressão que me
esmagariam com um mísero abraço.
Assim que saio do abrigo, percebo um carro preto me seguindo e
sinto minhas mãos trêmulas, e quando ele reduz a velocidade e encosta ao
meu lado, penso em sair correndo, como se fosse capaz de correr mais do
que um automóvel.
Porém, os vidros se abrem e meu coração dispara ao ver o sorriso
mais lindo do mundo estampado no rosto do meu “amigo”. As aspas são
para enfatizar para o meu cérebro a real posição dele na minha vida.
— Oi, Girassol! O que acha de um café e uma carona? —
pergunta, debruçando-se no vidro.
— Eu adoraria, Princeso, mas tenho um compromisso hoje —
comento, me aproximando.
— Compromisso é? É um encontro? — Ele parece curioso.
— Pode-se dizer que sim — respondo evasiva.
— Com um cara?
— Alguns deles — digo e ele arregala os olhos.
— E é seguro? — Ollie cruza os braços.
— Se estiver com tempo, você pode ir até lá descobrir. — Dou de
ombros.
— Então sobe aí, porque eu preciso de um café e um bolinho
antes de uma aventura dessas.
Sorrio, tentando imaginar o que se passa nessa cabecinha loira
linda.
Ele desce do carro e abre a porta para mim, como um perfeito
cavalheiro e assim que me acomodo no banco, ele toma o seu lugar e dá a
partida. Paramos em frente a Book’s and coffee’s em menos de cinco
minutos e ele desce correndo para abrir a porta para mim.
— Obrigada, gentil senhor! — Faço uma mesura, segurando a
lateral do meu moletom e rindo.
— C'est un honneur, Milady! — E assim, ele dobra seu braço e
apoia minha mão nele, como um Príncipe do século XIX, me guiando para
dentro do estabelecimento, mas eu paro ao processar sua frase.
— Você fala francês? É francês, né? — pergunto, surpresa.
— Uhum… — assente e desvia o olhar. — E inglês, alemão,
espanhol…
— Você é realmente uma caixinha de surpresas, Olliver — digo,
tocando em seu braço para que ele olhe para mim. Seu sorriso é contido,
como se tivesse vergonha de falar sobre si mesmo, o que ele nunca faz, pois
até o momento não sei nada sobre sua vida além do que vejo na
universidade.
Assim que entramos, muitos rostos se viram em nossa direção,
afinal, ele deve ser o cara mais popular e querido da UCLA no momento, a
quem todo mundo segue e quer saber sobre a vida.
— Oi, Abby! — ele cumprimenta a atendente que não foi muito
gentil comigo na semana passada, mas o sorriso que a moça direciona ao
quarterback seria capaz de iluminar o Rose Bowl todo de tão brilhante.
— Quanto tempo, Ollie… — diz com uma voz anasalada e
enjoativa que embrulha meu estômago. Argh! — Vai ser o de sempre hoje?
— pergunta a ele, ignorando descaradamente a minha presença.
— Humm… vamos ver… — Ele olha o cardápio preso à parede e
escolhe: — Vou querer um café grande com creme, ovos com bacon, dois
bagels e dois pedaços de brownie — informa e se vira para mim — O que
vai querer, Girassol?
— É… é… — gaguejo um pouquinho, mas ele sorri e coloca meu
cabelo atrás da orelha, me deixando mais tranquila, — Um frappuccino de
caramelo e brownies também.
— Anotou tudo, Abby? — Ele se dirige novamente à atendente.
— Sim, Ollie — responde, quase babando em cima do braço dele,
me deixando ainda mais irritada.
— Obrigado, querida. Vamos esperar ali naquela mesa. — Ele
aponta para um local mais ao canto e, antes de caminharmos juntos, passa
seu braço sobre o meu ombro, me causando um conforto inexplicável e me
guiando.
Assim que chegamos à mesa, ele puxa a cadeira para mim,
fazendo minhas bochechas ruborizarem e, para desfazer o meu
constrangimento, brinco:
— Definitivamente, você não tem coroa, mas é um Princeso! —
digo sorrindo.
Ele não diz nada, mas se senta à minha frente em silêncio e fica
me observando de um jeito desconcertante, como se tivesse algo a me dizer
e não soubesse como. Nossos olhos se encontram, mas os seus são tão
misteriosos que não consigo identificar nada além de toda a intensidade que
ele carrega.
Nossa conexão é quebrada pelo toque do meu celular e vejo o
nome do meu pai Ted piscando. Hesito em atender, mas Olliver continua
me olhando e indica o aparelho que deixei sobre a mesa.
— Atenda, Girassol, pode ser importante.
Respiro fundo e faço o que ele diz, colocando o celular em frente
ao rosto, porque, como sempre, papai Ted fez videochamada.
— Cenourinha, que saudade, meu amor! Como é bom ver você!
— meu pai grita e olho para Olliver, que prende o riso. — Ei, para quem
você está olhando, mocinha? Tem alguém aí com você que é mais
importante que o seu paizinho aqui, hã?
Eu até penso em formular uma bela desculpa, mas o quarterback
exibido simplesmente se levanta e com rapidez coloca sua cadeira ao meu
lado, aparecendo na tela junto comigo.
— Oh my Gosh! Olliver Durand! — meu pai grita eufórico, como
se tivesse acabado de conhecer seu maior ídolo. — John, amor, corre aqui!
Nossa Cenourinha está com o QB gostoso!
Sinto meu rosto pegar fogo nessa hora, tamanho é meu
constrangimento e, sem mais reação, simplesmente me escondo no ombro
de Olliver, para que ninguém veja que estou toda vermelha.
— Olha só, John, que gracinha, eles de chamego — e quando ele
diz isso, eu não resisto.
— Pai, por todas as vacas do Texas, não faz isso! — imploro com
a voz chorosa de tanta vergonha.
Corroborando com a fala do meu pai, o meu “amigo”
engraçadinho passa o braço ao redor do meu ombro, me apertando junto a
ele.
— Ô, garoto! Que mãos são essas em cima da minha bebê, hein?
— Papai John aparece, cruzando os braços e fazendo cara de durão.
— Ai, era só o que me faltava! — resmungo, puxando a touca o
suficiente para cobrir o meu rosto.
— Muito prazer, Srs. Brown. Eu sou Olliver Durand, amigo da
Maddie.
— Não me lembro de ter toda essa intimidade com meus amigos
— meu pai resmunga e leva um soco do marido.
— Para de ser careta, amor! Como eles são fofos juntos. Eu já
shippo esse casal! #ODDIE.
Olho para Olliver, esperando que ele saia correndo, mas o
engraçadinho me aperta mais forte em seus braços e beija minha têmpora,
fazendo meu pai gemer em euforia, enquanto papai John bufa.
— Paizinho, por favor… — peço. — Qual o motivo da sua
ligação mesmo?
— Ah, sim. Eu liguei para saber como você estava, já que não
mandou notícias nos últimos dias e também para saber da festa que o
bonitão aí te convidou, mas, pelo que vejo, deu tudo certo, hum?! — Ele
ergue as sobrancelhas.
— Deu sim, papai.
— Fico feliz por isso! — responde. — Você está radiante, querida
e fico muito feliz por te ver assim, mas acredito que já passou da hora de se
livrar dessa touca, não acha? — pergunta, voltando ao assunto delicado de
sempre. — A vovó sabia que você a amava e acho incrível que use o último
presente para se lembrar dela — diz, com seus olhos marejados —, mas as
maiores lembranças estarão para sempre na sua memória e no seu coração,
e você tem cabelos lindos, não deveria escondê-los — completa.
— Eu concordo — Ollie sussurra no meu ouvido.
— Vou pensar a respeito, papai — respondo e Abby se aproxima
com nossos pedidos.
Pego minha bebida e tomo um longo gole, gemendo em
satisfação.
— Bom, vou deixar vocês terem seu encontro em paz — diz
sorrindo e papai John está ao seu lado, ainda sério. — Espero conhecê-lo
pessoalmente em breve, Olliver, somos grandes fãs do Bruins e do seu
trabalho.
— Obrigada, senhor!
— Ai não, não fala assim que eu me sinto um idoso — resmunga
e sorrimos, enquanto John revira os olhos. — Só Ted, por favor.
— Como quiser — o quarterback assente.
— Venham nos visitar. Amamos você, Cenourinha! — E assim
nos despedimos e eles desligam.
Enfio um pedaço de brownie na boca, na tentativa de mantê-la
ocupada e não precisar falar nada ao cara ao meu lado, que tem o rosto
apoiado na mão e o braço escorado na mesa.
— Cenourinha? — pergunta. — É a sua cara mesmo. — Um
sorriso brota em seu rosto e ele passa a mão pela minha bochecha. — Tinha
brownie aqui — avisa e lambe o dedo, me arrepiando inteirinha.
Essa amizade está ficando insustentável, isso sim. Se continuar
desse jeito, vou enlouquecer. Continuo comendo e bebendo meu
frappuccino, fingindo não me importar com nada ao redor e Ollie respeita o
meu silêncio, também aproveitando seu pedido.
— Eu adorei os seus pais — ele comenta após alguns minutos.
— Eles são os melhores do mundo — respondo.
— Gostei de saber um pouquinho mais sobre você, Girassol. —
Coloca a mão no meu queixo e ergue minha cabeça para que eu olhe nos
seus olhos.
— Ainda não sei nada a seu respeito — argumento.
— E o que você gostaria de saber?
— O que você quiser me contar. — Sorrio, tocando sua mão.
— Bom, eu sou o Olliver, tenho vinte anos, sou quarterback do
Bruins…
— Eu já sei de tudo isso, Princeso.
— Tenho um irmão rabugento.
— Não fale assim, eu tenho visto Edward com Victória e ele
parece ser uma pessoa bem legal.
— Na verdade, ele é a pessoa mais incrível que eu conheço. —
Seu tom emocionado não passa despercebido. — O único defeito é que ele
faz tudo o que nosso pai quer. Cresceu e foi criado para ser o filho perfeito e
isso me irrita! — resmunga.
— Ciúmes de irmão? — Ergo a sobrancelha.
— Antes fosse. Eu fico revoltado que meu pai mande e desmande
na vida dele como se não fosse uma pessoa com direitos e vontades. O peso
da responsabilidade do legado da nossa família é muito grande e tudo o que
eu queria era que Ed fosse livre — desabafa e percebo que nem tudo são
flores na família dele.
— E de onde vocês são? Já ouvi dizer que não são americanos.
— Somos de um país na Europa, bem pertinho da França.
— Hum, que misterioso — brinco.
— E porque veio parar aqui em Los Angeles?
— Sinceramente? Eu queria ficar longe do meu pai e de tudo o
que ele representa, então, decidi que estar em outro continente seria bom.
Penso em mais uma pergunta para fazer, mas meu celular apita,
indicando que deu o meu horário.
— Preciso ir para o meu compromisso.
— Não faço ideia do que seja, mas vou com você.
— Na igreja? Esse é o seu compromisso com “alguns homens”?
— pergunto, confuso. — Pensei em muitas coisas, como uma boate de strip,
um grupo de estudos e talvez até teatro amador, ou então pedir dinheiro no
semáforo — digo, rindo. — Mas jamais imaginei que você me traria aqui.
O que vamos fazer? — quero saber, olhando para ela, ainda dentro do
carro.
Estacionei em frente ao mesmo local onde a vi conversando com
um senhor outro dia, perto da torre do sino, mas não esperava que fosse
aqui que ela me traria. O lado bom é que, ao menos, tenho a chance de
descobrir o que ela fazia aqui.
— Vem, vamos, já estamos atrasados — chama, descendo do
carro, parecendo ter suas energias renovadas.
Sigo-a devagar, mas não resisto e apresso o passo, me
aproximando e colocando a mão em sua lombar, guiando-a, para que fique
claro que estou aqui. “Faça xixi nela também, para marcar seu território”,
minha mente grita, mas eu me faço de sonso.
Chegamos em frente a porta, mas, ao invés de entrar, Maddie dá a
volta, entrando pela lateral. Olho ao redor, o calor é muito intenso aqui e
quando finalmente foco minha atenção, percebo que estamos em uma
cozinha.
— Está cada vez mais misterioso — murmuro, perto do ouvido
dela.
Ela se vira para me responder, mas o mesmo senhor de semana
passada aparece.
— Maddison, querida! Que prazer tê-la aqui mais uma vez.
— Eu disse que viria, pastor Todd. Em que posso ajudar? —
pergunta, então arranho a garganta para que se lembre que estou aqui. —
Ah, esse aqui é Olliver, meu amigo. Ele também veio ajudar. — Aponta
para mim.
— Toda ajuda é sempre muito bem-vinda! — Estende a mão para
mim. — É um prazer conhecê-lo Olliver. — Ele sorri. — Estou ansioso
pelo início da temporada, o Bruins promete arrasar — elogia animado e
sorrio. Parece que esse país respira futebol americano.
— O prazer é todo meu — retribuo ao seu cumprimento.
— Pastor, tudo pronto! — Uma senhora que está em frente ao
fogão mexendo uma grande panela avisa.
— Perfeito! — diz e olha para nós em seguida. — Vamos,
garotos?
Assentimos e o seguimos é até um local onde pegamos toucas
descartáveis e colocamos nas cabeças; nesse momento Maddie tira sua
touca preta e guarda na bolsa de Girassol.
— Você fica ainda mais linda assim — digo ao ver seus cabelos
soltos emoldurando seu rosto delicado e pego o tecido branco, colocando
sobre os fios, para que nada caia na comida.
Em seguida, o pastor nos indica algumas mesas, que levamos para
o lado de fora da igreja e logo as panelas são trazidas. Poucos instantes
depois a fila começa a se formar e eu finalmente entendo o “compromisso”
da minha ruivinha: ela ajuda a servir comida aos necessitados. E se tudo o
que sei a seu respeito já me deixou rendido aos seus pés, ver o amor com
que faz isso, como ajuda as pessoas, faz eu admirá-la ainda mais e o meu
coração se encher de algo que ainda não sei nomear; porém é forte e grande,
e me tira quase todo o ar.
Pode parecer muito idiota da minha parte dizer isso, mas desde
quando a vi no abrigo, um ano atrás, alguma nela me chamou a atenção e
marcou algo em mim. Ela agir como se eu fosse invisível por tanto tempo
apenas aguçou minha curiosidade e cutucou o meu ego, mas a cada dia em
que conheço mais um detalhe sobre Maddison, sinto que fiz a maior burrada
ao aceitar aquela aposta, no entanto, foi ela também que me deu coragem
para estar mais próximo e finalmente agir.
— Tudo bem, Olliver? — pergunta, se aproximando.
— Tudo, claro. — Sorrio pra ela.
— Pronto para servir? Esse pessoal aqui é bem animado —
comenta com doçura em sua voz. Ela realmente ama o que está fazendo.
— Mais do que pronto, é só me dizer o que fazer.
E assim, passamos as próximas duas horas servindo a todas as
pessoas que não paravam de chegar até nós. Foi muito gratificante para
mim, alguém criado com todo o luxo e pompa que o meu título e família
poderiam proporcionar, estar aqui, recebendo sorrisos sinceros apenas por
oferecer um prato de comida. Se eu fosse capaz, faria o possível para nunca
ver as pessoas passando por situações como essa.
E esses pensamentos me levam à Prinz, o meu país, o lugar
governado pela minha família e onde não faço ideia da real situação do
povo. Inclusive, vou tirar um momento para falar a respeito disso com Ed,
que, como futuro governante daquele lugar, pode ter um olhar mais atento
aos necessitados.
— Com fome, quarterback? — pergunta Maddie.
— Só um pouquinho.
— O que acha de jantar comigo hoje? — propõe, me olhando com
seus olhinhos pidões.
Confiro as horas e vejo que já passa das oito e meia da noite e
amanhã temos aula cedo, até irmos a algum lugar vai demorar muito e,
apesar de amar a companhia dela, tenho treino cedo, não posso ir me deitar
tarde.
— Eu adoraria, mas não acho uma boa ideia procurarmos um
restaurante agora. Está tarde — lamento, puxando-a para um abraço, ao
qual ela não resiste.
— E quem falou em restaurante, senhor misterioso que fala três
línguas e veio de algum lugar da Europa? — brinca, me fazendo abrir um
sorriso enorme.
— O que tem em mente, Girassol? — indago, a apertando mais
em meu braço, puxando sua touca com a outra mão e deixando um beijo
sobre seus cabelos.
— Aqui temos pratos, comida e eu tenho um lugar especial onde
podemos comer. — Mexe as sobrancelhas de forma engraçada. — Ou vai
me dizer que só come em restaurantes renomados, com porções que não
sujam nem um buraquinho no dente e com três estrelas Michelin?
— Até parece! — reviro os olhos. — Eu praticamente vivo de
fast-food, Girassol. Ou macarrão instantâneo.
— Meu Deus! E como mantém esse físico? — pergunta, passando
as mãos pelo meu abdômen, mas percebo que ela nem se dá conta do que
faz.
— Então você reparou no meu “físico”? Conte-me mas sobre isso
— peço, cruzando os braços, deixando-a toda vermelhinha de vergonha.
— Ai, Olliver, como você é exibido!
— Eu? Mas foi você quem falou do meu corpo, oras!
— Tá, tá… esquece o que eu disse então — diz e sai andando, me
deixando para trás.
— Ei, ei, Girassol — chamo, andando atrás dela, pegando em seu
braço. — Estou só brincando e, respondendo à sua pergunta, eu malho
todos os dias, além dos treinos do time. Gasto muita energia. — Ela apenas
me olha e nada diz. — E sim, vai ser um prazer jantar aqui com você.
— Ai, até que enfim! Vamos logo porque eu estou faminta —
revela, me arrancando uma gargalhada.
Caminhamos lado a lado até a cozinha, onde pegamos nossos
pratos. Claro que o dela é muito menor que o meu, que tem praticamente
uma montanha de comida que o próprio pastor fez questão de preparar,
dizendo que preciso estar alimentado para o primeiro jogo da temporada.
— Vem — Maddie chama e eu a sigo, surpreendendo-me ao vê-la
caminhar para o meu esconderijo, a torre do sino.
Subimos os degraus com cuidado e quando chegamos lá em cima,
me surpreendo com o que encontro: uma toalha branca está forrando o
chão, com duas lamparinas iluminando o local, além de duas latinhas de
energético e uma fatia de torta que não consigo identificar do que é à
distância, mas vejo dois garfos. Olho para ele interrogativamente e ela dá de
ombros.
— As meninas da cozinha são um pouco emocionadas.
— Percebi. — Estendo a mão para ela, ajudando-a a se sentar e
me acomodo ao seu lado em seguida.
A observo por alguns instantes, feliz pelo gesto e pela
coincidência, por isso sorrio e ela ergue as sobrancelhas.
— O que foi? — indaga.
— Só estou surpreso.
— Com o quê?
— Esse é o meu esconderijo. Sempre que preciso pensar, ou que
algo não sai como eu gostaria, até mesmo quando estou muito feliz, venho
pra cá. Eu vi você falando com o pastor na outra noite e fiquei me
perguntando o que fazia aqui — revelo.
— É mesmo uma grande coincidência. Ou o destino. — Dá de
ombros.
Assinto e começamos a comer e, assim que dou a primeira
garfada, gemo em satisfação ao sentir a carne desmanchar na boca, a
combinação dos legumes… Nossa! É tudo perfeito!
— Bom, não é? — Maddie pergunta. — Me lembra de casa, da
comida do papai John.
— Está incrível! E imagino como você sinta falta deles.
— O tempo todo. Eles são os melhores do mundo.
Sorrio ao ouvir o carinho com que fala dos seus pais, algo que não
demonstro ao falar do meu, que é mais tóxico que Chernobyl.
O restante do jantar é regado a risadas e amenidades, também
combinamos um ensaio para sábado à noite, que é quando estarei mais livre
e Peny também concordou quando Maddison falou com ela por mensagem.
Quando terminamos o jantar, Maddie pegou o prato de torta, que
descobri ser de frutas vermelhas, e com cuidado, cortou um pedaço e trouxe
o garfo à minha boca. O sabor da torta somado ao seu cuidado aqueceram o
meu coração. Estou muito perdido por essa garota! Ela foi intercalando as
garfadas entre nós dois até que o doce acabou e, após juntarmos tudo,
descemos e com tudo limpo e nos devidos lugares, seguimos para o
dormitório.
— Eu amei o nosso jantar — digo.
— Foi muito importante para mim ter você lá.
— Para mim também foi, pode ter certeza, e vou querer ajudar
sempre que puder.
— Combinado, princeso! — confirma, piscando para mim, da
mesma forma que faço para ela.
— Você é linda! — solto, sem filtrar os meus pensamentos.
Ela abaixa a cabeça envergonhada, mas não resisto e ergo seu
rosto, deixando um beijo no cantinho da sua boca, ouvindo-a suspirar.
— Até amanhã, Girassol!
— Até! — Ela desce correndo e logo está entrando pela porta do
prédio, me deixando com um sorriso besta no rosto e o coração disparado.
Parece que o tempo voa quando estamos ansiosos e foi assim que
o restante da semana passou, sem mais momentos com a Maddie além das
aulas, apenas trocas de mensagens, onde nos conhecemos um pouquinho
mais, e o ensaio no sábado, que foi muito divertido, já que Penélope é uma
garota muito engraçada.
Hoje já é segunda-feira, dia da apresentação da nossa cena e estou
muito tranquilo, esperando pelas meninas na porta do dormitório. Combinei
de buscá-las para que chegássemos cedo, pois nosso trabalho é logo na
primeira aula.
Olho para o celular e envio uma mensagem para Maddie:

Eu: Estou esperando vcs, Girassol :D

Girassol: Ok!
Sua resposta curta me espanta, mas só entendo o motivo quando
ela abre a porta do carona e se senta no banco. Maddison está pálida, como
se pudesse desmaiar a qualquer momento.
— Ei, ruivinha! O que foi? — pergunto, segurando seu rosto com
minhas mãos.
— A Peny… — balbucia, com os olhos marejados.
— O que houve com ela? Está tudo bem?
— Ela… ela… tá doente — diz e uma lágrima escorre por sua
bochecha e a seco com meu dedo.
— Fica calma. É algo grave? Precisa que a levemos ao médico?
— Não, ela só tá vomitando muito. Foi algo que comeu e fez mal.
Já dei os remédios, suco, agora ela está dormindo.
— E porque você está assim, Girassol? Ela vai ficar bem.
Podemos subir e ficar com ela, se te deixar mais tranquila.
— Aí que está o problema, Olliver. A gente não pode! Temos a
cena para apresentar e a personagem principal não vai. Você entende a
gravidade disso? A gente vai se dar muito mal… — Leva as mãos ao rosto
e percebo que ela está chorando, como a pessoa sensível que já percebi que
ela é.
— Calma, linda — a abraço meio sem jeito devido a posição que
estamos dentro do veículo —, a gente fala com a professora, explica a
situação e pede mais prazo. Fica tranquila, vai dar tudo certo.
— Você promete?
— Prometo — digo, mesmo sem ter certeza se conseguiremos
uma segunda chance com a professora. — Podemos ir? — pergunto,
secando o restante de suas lágrimas e deixando um beijo em sua testa. Vê-la
dessa forma acaba comigo, pois o que sinto se torna mais forte a cada dia e
tudo o que mais quero é ver o seu sorriso. Não suporto mais estar tão perto
e, ao mesmo tempo, tão longe.
Ela assente com a cabeça e coloca o cinto de segurança, apoiando
a cabeça no vidro. Vejo que segura com força seu material e a bolsa de
girassol em seu colo. Só agora paro para observá-la com atenção e percebo
que está sem a touca, com seus cabelos lisos e as pontas cacheadas do jeito
que a deixam maravilhosa; ela usa um vestido até os joelhos, em um tom de
azul-escuro com flores brancas minúsculas, embaixo de uma jaqueta de
couro marsala.
— E os figurinos? — pergunto, puxando assunto, pois uma ideia
surgiu em minha mente.
— Já estão na universidade, deixei guardados na sexta-feira.
— Você já tomou café da manhã?
— Uhum, comi barrinha de cereal — explica, sem me olhar,
observando a rua.
— Você sabe que elas são bombas calóricas, né? Podem te fazer
mal a longo prazo.
Ela apenas dá de ombros e sei que não adianta insistir. Maddie
precisa de um tempo para se acalmar e darei isso a ela.
Dirijo calmamente, pois estamos bem adiantados e quando
chegamos ao campus, noto que ela está cochilando. Levo a minha mão até
seus cabelos que caíram sobre o rosto e os afasto, observando seus olhos
fechados, os cílios grandes descansando sobre as bochechas que são
cobertas de pequenas sardas que dão um charme gritante a ela e realçam
ainda mas sua beleza. Minha ruiva é perfeita!
Esfrego as costas dos dedos pela sua pele e chamo baixinho
próximo ao seu ouvido:
— Girassol… nós já chegamos! — Ela permanece de olhos
fechados. — Linda, chegamos, precisamos ir para a aula — aviso e suas
pálpebras tremulam conforme ela desperta.
— Nossa, acabei dormindo, me desculpe — pede, envergonhada.
— É só limpar a baba do vidro e tá tudo certo — digo e aponto
para uma mancha inexiste, enquanto ela arregala os olhos, ficando toda
vermelhinha.
— É brincadeira, Girassol.
— Bobo! — resmunga, dando um soquinho no meu braço.
Desço do veículo e corro para abrir a porta para ela, que sorri e
desce, me acompanhando. Coloco minha mochila no ombro direito, pego
seu material e apoio o outro braço sobre os seus ombros, já que nossa
diferença gritante torna confortável andarmos assim e gosto de me sentir ao
seu redor, como se fosse capaz de protegê-la.
As pessoas passam por nós sorrindo e nos cumprimentando e
imagino que, se fosse capaz, Maddie teria uma capa da invisibilidade para
passar despercebida por toda essa gente que a encara.
Chegamos à sala de aula e nos acomodamos no lugar que Maddie
e Penélope sempre sentam, no alto, no cantinho da última fileira. Vejo suas
mãos se contorcer sobre a mesa e ela estala os dedos, visivelmente nervosa.
Num impulso, pego em sua mão e a seguro entre as minhas.
— Fique calma, linda, vai ficar tudo bem.
Ela sorri sem muita firmeza e deita a cabeça na carteira, como se
tudo isso estivesse a esgotando. Aproveito seus cabelos espalhados pelas
costas e deslizo meus dedos sobre eles, sentindo a maciez dos fios e o
cheiro de mel se espalhando pelo ar. Sinto seu corpo relaxar aos poucos e a
sala começar a encher.
Alguns minutos depois, a Sra. Morgan entra na sala e chamo
Maddie para irmos até ela e a ruiva se levanta apressada, mas seguro em sua
mão para que entenda que não está sozinha.
Descemos juntos as escadas e a professora sorri quando nos vê.
— Olliver, Maddison, bom dia!
— Bom dia, Sra. Morgan — dizemos em uníssono como crianças
do primeiro ano e isso faz o sorriso da professora se alargar.
— Prontos para a cena de hoje? Querem ser os primeiros? —
questiona, animada.
— É justamente sobre isso que queremos falar com a senhora —
começo. — Penélope também faz parte do nosso grupo, ela seria uma das
protagonistas, mas amanheceu bem doente e não poderá vir à aula —
explico.
— Oh, entendo. E é grave?
— Ela comeu algo ontem que não lhe fez bem, passou mal a noite
toda — Maddie completa.
— Certo. E o que posso fazer por vocês? — Quer saber, cruzando
os braços.
— Gostaríamos de saber se há uma possibilidade de nos
apresentarmos na próxima aula, para que possamos fazer o melhor, como
ensaiamos — concluo.
— Bom, meninos, eu sou conhecida por ser uma professora justa
e, por isso, não posso dar mais prazo a vocês, senão precisarei fazer o
mesmo com outros grupos que tenham algum contratempo e a matéria da
próxima aula está toda preparada. Não há como, eu sinto muito.
— Mas como iremos apresentar sem a protagonista ? — Maddie
está aflita.
— Qual é o seu papel, querida? — indaga a Sra. Morgan.
— Eu fiquei responsável pelos figurinos, cenários, etc…
— Então aí está a solução. Se apresente no lugar da sua amiga e
garanto que estenderei a nota do grupo a ela. É tudo o que posso fazer por
vocês — lamenta e se vira para se acomodar em sua mesa. — Caso não se
apresentem hoje, infelizmente ficarão com zero nesse trabalho e posso
afirmar que essa nota fará bastante falta.
Maddie me olha apavorada e peço licença à professora, que
concede, e vamos para o lado de fora da sala.
— A gente tá ferrado, Olliver! Ferrado! — diz em um fôlego só,
prestes a hiperventilar.
— Ei, ei, ruivinha, se acalme. Respire comigo — peço e inspiro e
expiro devagar e profundamente, segurando em seus braços com cuidado
para que me acompanhe. Ela repete meus movimentos sem hesitar. — Isso,
muito bem, linda.
Ela leva cerca de um minuto para se recuperar e quando se
acalma, seus olhos estão marejados.
— O que a gente vai fazer?
— Você confia em mim? — Ela assente com um gesto de cabeça.
— Você ama Shakespeare, conhece essa cena como ninguém e participou
dos ensaios e das modificações, tenho certeza de que vai se sair muito bem
contracenando comigo.
— E-eu? — gagueja.
— Sim, você, e sei que o figurino te serve. Podemos passar as
falas uma vez para você se sentir segura.
— Não, sei, Olliver…
— Você consegue. Vamos fazer isso juntos? — pergunto,
abraçando-a. Ela leva alguns instantes, mas assente.
— Tudo bem.
— Certo, então vamos lá. Você chega ao cemitério com um frasco
de veneno na mão. Olha para os lados e logo se deita em uma pedra, no
tecido que preparou para representá-la, e deixa o frasco de lado. Em seguida
eu chego e corro em sua direção, apavorado por te ver desfalecida,
acreditando que tinha tomado aquilo. Então digo a minha fala:
“Oh, querida esposa, nem mesmo a morte foi capaz de tirar tua
beleza.
Aqui permanecerei com os vermes, teus servos. Aqui mesmo irei
fixar meu eterno
repouso, e diante de ti permitir as últimas vezes. Olhos, vejam
pela última vez; braços, se permitam um último abraço! E lábios, com um
beijo legítimo, selai este contrato com a morte. Vem, condutor amargo! Me
guia para junto da minha amada.” Em seguida eu bebo e caio ao seu lado
e você diz suas falas.
— “Meu amor! Oh, Romeu! Bebeste tudo, nem uma só gota me
deixastes, nem mesmo em teus lábios.”
— Isso, Girassol, muito bem. Depois você diz o que ela pensa,
para o público estar ciente.
— “Ouço um barulho. Preciso andar depressa.” Vasculho ao
redor e encontro a faca na sua roupa. “Ah, um punhal!” Eu o pego e aponto
para meu próprio peito antes de dizer: “Tua bainha é aqui. Repousa em
mim e deixa-me morrer.”
— Exatamente, Girassol! Você foi incrível e tenho certeza de que
ficará perfeito.
— Eu tô com medo, princeso — revela e me abraça.
— Não precisa, estarei com você o tempo todo.
Ela sorri e logo retornamos à sala, onde a professora já deu início
a aula. Três grupos se apresentam antes de nós e durante a última cena antes
da nossa, corremos para nos trocar e colocar os figurinos.
Quando retornamos, a turma está nos esperando em silêncio. Vejo
que Maddie treme um pouco, mas pisco para ela e sussurro:
— Vai dar tudo certo.
E assim, preparamos o nosso cenário rapidamente, coloco a trilha
sonora que escolhemos no meu celular sobre a mesa e a cena se inicia.
Maddie entra e faz tudo como planejamos, e logo se deita na nossa “pedra”.
Entro em seguida, pronto para dizer minhas falas, mas quando a vejo ali, de
olhos fechados, tão linda, algo se revira dentro de mim e tudo muda. A
cena, meus pensamentos, minhas convicções, e por isso, ajo no improviso:
— Oh, minha doce Girassol, nada é capaz de tirar a tua beleza
— digo, tocando seu rosto com cuidado. — Aqui permanecerei a te
admirar, até que se assuste e me afaste. Aqui mesmo deixo meu coração,
pois você o roubou e ele não mais me pertence. — Beijo sua testa
delicadamente. — Espero que em breve possamos viver todas as nossas
primeiras vezes. Que meus olhos sempre possam contemplar tua beleza;
que meus braços possam te acolher sempre que necessário e que meus
lábios finalmente conheçam os seus através de um beijo legítimo, selando
um contrato de tudo o que sinto por você. Que nada me tire de junto da
minha amada. — Após dizer isso, admiro mais uma vez seu rosto lindo e,
sem pensar em mais nada, baixo o meu rosto para mais perto do seu e selo
nossos lábios com cuidado, apenas nos tocando, sentindo o seu calor.
Maddison abre os olhos assustada ao se dar conta do que
aconteceu e tenta improvisar suas falas.
— M-meu amor! Oh, Romeu! E-eu… eu… — Ela me encara,
seus olhos se enchendo de lágrimas e, sem nenhuma explicação e deixando
meu coração aos pedaços, ela se levanta e sai correndo pela sala, batendo a
porta atrás de si.
Penso em correr ao seu encontro, tentar pedir desculpas, me
explicar, mas a professora se levanta e inicia uma salva de palmas e toda a
turma a acompanha, me deixando sem escapatória. Agradeço e ela indica
que eu volte para o meu lugar.
— Foi uma cena realmente surpreendente e primorosa. A emoção
contida nas vozes de vocês e a surpresa, além de ambos não morrerem, ela
apenas fugir, nos deixando imaginar o que aconteceu depois. Foi uma
adaptação incrível e vocês estão de parabéns.
Assinto e me sento, conferindo o relógio do celular a cada trinta
segundos, ansioso para sair daqui e encontrá-la.
Assim que a aula se encerra, pego as minhas coisas e as dela,
arranco o figurino de qualquer jeito e saio à procura da minha ruivinha pelo
campus, mas não preciso andar muito, já que a encontro na biblioteca, no
mesmo cantinho do outro dia, mas, dessa vez, ao invés de estar lendo, ela
está com os braços em volta dos joelhos e a cabeça baixa, e consigo ouvir
os soluços baixos do seu choro que sacodem seu corpo.
Abaixo-me e me ajoelho à sua frente, pensando nas melhores
palavras para dizer.
— Girassol — chamo e ela ergue a cabeça, os olhos e o nariz
vermelhos.
— Por que você fez isso? — pergunta em um sussurro que parte
ainda mais o meu coração.
— Me perdoe, Maddie, mas eu não consigo mais resistir, é muito
mais forte do que eu — explico, desnudando a minha alma. — Eu juro que
tentei ser seu amigo, fui eu quem propus isso, mas há tempo demais você
mexe comigo e eu fui um idiota por não ter entendido antes, por não ter
tentado me aproximar. Mas agora, depois de estar perto de você nas últimas
semanas, tudo ganhou proporções gigantescas e eu não sei mais ser só seu
amigo.
— O que você quer dizer? — balbucia, com a voz embargada,
— Eu preciso e quero você na minha vida. Não só como minha
amiga, mas como algo a mais. Preciso sentir o seu cheiro, ser o responsável
pelos seus sorrisos, sentir sua pele na minha…
— Olliver, por favor…
— Você não se sente assim também? — pergunto, apavorado por
ser rejeitado pela única garota que mexeu comigo de verdade.
Ela olha bem fundo nos meus olhos antes de dizer:
— Eu preciso de um tempo para processar tudo isso — pede e se
isso é tudo o que posso dar a ela nesse momento, eu darei.
— Tudo bem. Você sabe onde me encontrar — digo. — Posso ao
menos te dar um abraço? — pergunto.
Ela assente e eu me aproximo, ainda de joelhos, envolvendo seu
corpo com meus braços e deixando um beijo no topo de sua cabeça.
— Não se esqueça o quanto você é importante pra mim, Girassol.
E me perdoe mais uma vez. — E com isso me levanto e saio, dando a ela
tudo o que é possível neste momento: tempo.
Atordoada, abro a porta do meu quarto no dormitório, ainda
pensando no que aconteceu mais cedo na aula. Olliver me beijou. Olliver
Durand simplesmente me beijou e na frente de todo mundo! Ai, meus
cabritos! Eu tô tão confusa, porque somos amigos, mas… eu gostei tanto e
queria mais. Muito mais. No entanto, não imaginei que o meu primeiro
beijo seria assim, aos vinte anos, com o cara mais lindo e popular da
Universidade, no meio de uma cena em frente a todos os alunos e a
professora. E a gente ainda foi aplaudido, pelo amor de Deus!
— Hey, Maddie! Tá tudo bem? — Penélope pergunta quando
entro. Ela está deitada em sua cama, ainda pálida, provavelmente por causa
do mal-estar que estava sentindo mais cedo.
— Oi, Peny! Você tá melhor? — indago, me aproximando da
cama, mas antes checo se não há mais vestígios de lágrimas em meu rosto e
coloco a mão em sua testa para conferir a temperatura. Ainda bem que está
sem febre.
— Meu estômago ainda dói muito, como se tivesse sido arranhado
por mil gatos raivosos, mas só vomitei cinco vezes desde que você saiu,
então, acho que estou melhor e… Você estava chorando? — Se apruma na
cama, segurando as laterais do meu rosto, analisando meus olhos com
atenção.
— O quê? Não, claro que não. Por que eu choraria? — respondo
na defensiva, me afastando dela.
— Isso é você quem tem que me dizer, oras! A professora não
aceitou adiar a apresentação?
— Não…
— E o que vocês fizeram? — Seus olhos estão arregalados de
preocupação agora.
— Eu fiz a Julieta — digo baixinho e vou até o terrário do Naruto,
pegando-o em minhas mãos.
— Como é que é? Você conseguiu se apresentar? — Sua voz sai
mais alta, demonstrando surpresa e alegria. Assinto com a cabeça. — Você
finalmente está florescendo, Girassol! — Ela se levanta com dificuldade e
aperta minhas bochechas.
— Até você vai usar esse apelido agora? — reclamo, trazendo o
sapo para mais perto do meu peito, o que faz ela se afastar.
— Ui… ele é propriedade exclusiva do quarterback gostoso
agora? — debocha.
— Talvez — murmuro, sem graça.
— O que você não está me contando, hein? A apresentação foi
boa? — Peny volta a deitar em sua cama.
— Acho que sim… gente até foi aplaudido — revelo, me
sentando sobre o colchão.
— Meu Deus, isso é demais! E como foi? — Ela está animada,
apesar de visivelmente abatida.
— Acho que deu tudo certo e… — respiro fundo, pensando bem
nas palavras que vou dizer, porque sei o quanto minha amiga vai ficar doida
— ele me beijou no final.
— Espera — ela se ergue novamente, apoiando as costas na
cabeceira da cama —, como assim te beijou? Não tinha cena de beijo na
história. — A confusão é clara em suas feições.
— Pois é, mas ele simplesmente mudou as falas do final e me
beijou.
— E o que a professora disse sobre essa mudança no roteiro?
— Olliver disse que ela adorou, achou inovador e surpreendente.
Ganhamos nota máxima.
— Maddie, que coisa incrível, mas… — ela pensa um pouco,
antes de criar coragem e perguntar. — Você deu seu primeiro beijo assim?
— Noto pesar em sua expressão.
— Uhum — acaricio a cabeça do Naruto, disfarçando a confusão
de sentimentos em que me encontro.
— E é só isso? Foi muito ruim?
— Não, foi perfeito — balbucio.
— Então não estou entendendo o motivo dessa sua carinha,
Maddison.
— Nós somos amigos, entende? Não era para isso acontecer.
Depois eu saí correndo da sala, ele me seguiu e disse que quer mais do que
amizade, porque gosta de mim mais do que um amigo e agora eu não sei o
que fazer — choramingo.
— Você não gosta dele, é isso? — pergunta, tentando entender a
situação.
— Gosto, Peny, na verdade, gosto mais do que deveria para
alguém que é meu amigo. Eu admiro o Olliver desde que o vi pela primeira
vez no abrigo. Ele é lindo, mas eu achava que ele era um cafajeste com o
cérebro do tamanho de uma ervilha, mas então ele se aproxima e me mostra
um cara fofo, gentil, carinhoso…
— E isso é ótimo, você não acha? — ela quer saber.
— É claro que é, mas…
— Não faz isso com você, Maddie…
— Ele é popular, fala com todo mundo, e eu sou isso aqui, esse
bicho do mato que veio praticamente da roça.
— Nada disso é defeito ou desculpa, amiga. Se ele te beijou, falou
com você, principalmente depois de todas as demonstrações de fofura essa
semana, é porque ele realmente gosta de você.
— Não sei, Peny.
— Não pense demais, Maddie. Aproveita, amiga! É a primeira
vez que você gosta de alguém de verdade, e acho que não tem ninguém
melhor que Oliiver Durand para conquistar esse seu coraçãozinho fofo aí —
declara, me deixando ainda mais tentada a ir atrás do quarterback.
— E agora, o que eu faço? — pergunto, após um tempo de
silêncio em que me perco em pensamentos.
— Agora você coloca esse sapo melequento aí, toma um banho,
fica bem cheirosa, veste algo confortável e vai atrás do seu homem, garota!
Mas, vai com calma, ok? Pega e não se apega, não se entregue tão fácil
assim!
Sorrio, pensando que esse é o melhor e mais louco conselho que
ela já me deu.
Bato na porta, sentindo as pernas bambas de nervosismo. Poucos
segundos depois, ouço a maçaneta girar e ele aparece, lindo, usando uma
calça de moletom preta, camiseta branca básica, com os cabelos molhados e
uma carinha de cachorro que caiu do caminhão de mudança que dá vontade
de apertar.
— Girassol?
— Oi — digo envergonhada, olhando para as minhas botas
surradas.
— Tá tudo bem? — pergunta e ergue a mão para tocar meu rosto,
mas ele logo desiste.
— Está sim, eu… — quase gaguejo e digo a primeira coisa que
vem à minha mente: — vim ver o sabre de luz que o Bryan Evans te deu,
como você me prometeu.
— Ah, sim, claro. — Ele parece desanimado, mas se afasta da
porta para me dar passagem. — Entra, tá lá no meu quarto, eu vou buscar
— diz, se afastando, mas seguro seu braço.
— Eu posso ir até lá com você? Para ver o sabre, claro.
Olliver me olha confuso, mas assente com um sorriso discreto nos
lábios.
— Vamo lá! — Ele estende a mão e eu a pego sem hesitar,
entrelaçando nossos dedos enquanto ele sobe os degraus.
Assim que chegamos, Olliver abre a porta e entra comigo no
cômodo, que é mais organizado do que eu imaginava. No canto perto da
janela fica uma cama de casal bem grande, ao seu lado, uma prateleira de
madeira escura que vai do chão ao teto com vários livros e action figures
que vão de Star Wars, Dragon Ball e Pokémon, até Super-heróis da Marvel.
Na parede da frente fica uma escrivaninha em L feita da mesma
madeira da prateleira, com diversos livros em cima, porta-canetas, o
notebook e o tão popular sabre de luz, o pretexto mais absurdo e covarde
que eu poderia ter inventado para vir até o quarto dele.
— Aqui está ele. — Pega o objeto e estende para mim. — Só
precisa ter cuidado porque parece que o Bryan o quebrou em uma de suas
peripécias sexuais, então, quando eu disse que curtia Star Wars ele me deu,
caso eu quisesse consertá-lo. Eu até consegui, mas não está cem por cento
firme.
Retiro-o de sua mão e o analiso com cuidado, imaginando a cara
do papai John com um “brinquedinho” desses. Ele é todo sério por fora,
mas, por dentro, é um tremendo geek que disfarça muito bem.
— Nossa, Olliver, mas ele é incrível! Tão grande, comprido… E
muito mais grosso do que eu imaginava.
— Você nunca viu um desses pessoalmente? — ele pergunta,
cruzando os braços.
— Não tão de perto assim, estou impressionada — comento,
deslizando minha mão pela extensão do objeto.
— Dá pra perceber. — Sorri. — Viu que mesmo sendo grande,
sua mão consegue envolvê-lo todinho? — diz, se aproximando às minhas
costas, falando quase no meu ouvido, mas sem baixar o tom de voz, apenas
para me arrepiar.
— Uhum…
— Pode apertar, mas tome cuidado, porque ele é bem sensível —
indica o botão que faz a luz acender e mais que depressa eu clico, fazendo o
objeto de iluminar. — Isso, assim mesmo.
Porém, em um pequeno deslize devido ao tremor das minhas
mãos causado pela sua proximidade, o sabre escapa e rapidamente nos
abaixamos para tentar salvá-lo, o que faz com que nossas testas se choquem
e eu não consigo conter um gemido.
— Ai! Hum… — resmungo, esfregando a testa, enquanto ele
guarda o objeto que, por sorte, não caiu no chão.
Ele se aproxima e toca a minha testa com cuidado, fazendo um
carinho no local.
— Tá doendo muito?
— Só um pouquinho, mas pode continuar a usar seus dedos
mágicos que logo melhora — brinco, aproveitando do seu toque e da
corrente elétrica que ele causa em minha pele.
Ficamos nos encarando em silêncio, os olhos fixos um no outro,
mas nossa conexão é quebrada quando ouvimos sussurros e risadas vindos
do quarto ao lado. Olliver revira os olhos e se aproxima da parede, colando
sua orelha ali para tentar escutar alguma coisa.
— O que houve? — indago, me juntando a ele.
— Ed e Vick estão cochichando. Eles acham que a gente está
transando. — Ele sorri, mas é um sorriso que não chega aos seus olhos.
— Humm… Eles estão redondamente enganados — respondo,
sentindo um amargor subir pela minha garganta, porque aqui, nesse
momento, tudo o que eu queria era ter algo mais “íntimo” com o Olliver.
— É uma pena — ele diz, virando-se para mim e afagando minha
bochecha.
— Pois é… — digo, já que não tenho mais palavras. Fecho os
olhos aproveitando seu carinho, querendo muito mais dele.
— Por que você fugiu, Girassol?
Sinto o rubor tomar minhas bochechas, pois tenho vergonha de
admitir que gosto mais dele do que deveria.
— Eu fiquei com medo — confesso, abrindo os olhos e encarando
seu abdômen definido por baixo da camiseta, louca para deslizar meus
dedos ali e sentir o calor de sua pele.
— Medo de quê? — Ele se inclina e apoia uma mão em minha
cintura, falando bem pertinho do meu ouvido.
— De estar confundindo tudo.
— Como assim?
— Você tem me feito sentir coisas que eu não deveria sentir pelo
meu amigo — revelo, envergonhada.
— E se eu disser que você tem feito o mesmo comigo? — declara,
erguendo meu queixo para que eu olhe para ele.
— Não sei se isso é uma boa ideia, Princeso.
— Eu acho que é uma ideia incrível, e se você não me parar
agora, eu vou te beijar de verdade dessa vez.
Pelas vacas do Texas! Tudo o que eu menos quero é pará-lo, por
isso, fecho os olhos, apenas esperando por algo que, mesmo secretamente,
anseio.
Sinto sua respiração tocar minha pele e logo seus lábios se
encontram com os meus em um beijo que começa suave, como se Olliver
estivesse me descobrindo, o que ele realmente está. Sua língua toca o meu
lábio inferior e antes que eu possa reagir, uma mordidinha é deixada ali,
eletrizando todo o meu corpo. Devido à minha experiência nula nesse
assunto, apenas aproveito esse contato e aguardo a oportunidade de prová-
lo também. Quando sua língua pede passagem para dentro da minha boca,
não resisto e separo os lábios, deixando que ambas se encontrem e dancem
juntas, misturando os nossos gostos e trazendo arrepios para todo o meu
corpo. Afoita e querendo mais, chupo seu lábio e continuo o beijo, sentindo
seu sorriso contra a minha boca. Nossas línguas voltam a se encontrar e nos
tornamos um emaranhado de lábios, desejo e antecipação por mais, pelo
que está por vir, mas então ele interrompe o beijo e sussurra:
— Girassol, como é bom ter você aqui nos meus braços. — Sua
boca desce pelo meu pescoço, onde ele espalha beijinhos.
Sua mão se agarra ao meu cabelo com cuidado, como se ele
pensasse que pode me quebrar, mas isso não é verdade, por esse motivo,
levo minhas mãos até seu pescoço e o aperto contra mim, querendo sentir
mais dele.
— Calma, linda… — diz e volta a me beijar com mais vontade
dessa vez, tanto que posso sentir sua ereção roçando em mim, porém, ele
não avança, apenas anda de costas, com nossas bocas unidas, e se acomoda
na beirada do colchão.
Encaixo-me entre suas pernas e aproveito que a diferença de
altura diminuiu para levar meus dedos até seus fios loiros e bagunçá-los,
juntando nossas bocas com mais vontade, enquanto suas mãos apertam
minha cintura, deixando claro que não quer espaço entre nós.
— Acho que esperei por isso mais do que imaginava — ele diz,
espalhando beijos pelos meus rosto.
— Eu também.
— Fica aqui comigo essa noite? — pede e eu fico estática, sem
saber o que responder, mas ele logo esclarece: — Prometo que vamos
apenas dormir, mas quero dormir de conchinha e acordar com você nos
meus braços, assim como fizemos no seu quarto.
— Tudo bem, eu fico — respondo quando o alívio me domina,
tendo a certeza de que quero o mesmo que ele. Ele me puxa para o seu colo,
nos abraçamos e ficamos ali, apenas ouvindo o retumbar de nossos corações
e as respirações aceleradas por causa da adrenalina.
— Que tal um encontro na sexta-feira? — propõe depois de
alguns minutos e afasto minha cabeça do seu peito para olhar em seus
olhos.
— Oi?
— Essa semana vai ser corrida devido aos treinos para o primeiro
jogo da temporada, mas quero sair com você, só nós dois, em um encontro.
— Você tem certeza? — indago, ainda confusa.
— Toda certeza do mundo.
— Então eu aceito.
Confiro as horas no celular mais uma vez, aproveitando para reler
a mensagem do Olliver:

Princeso: Girassol, o treino atrasou. Pode me encontrar na minha casa às


seis da tarde, por favor, minha linda?

E sim, eu mudei o nome do contato dele, não resisti.

Eu: Claro, Princeso, sem problemas.

Princeso: Estarei te esperando. Estou ansioso pelo nosso encontro e por


mais dos seus beijos :*)

Eu: Eu também! ;)
Olho para a porta da casa de dois andares onde ele mora e respiro
fundo, insegura pelo nosso primeiro encontro oficial; aliso meu vestido
xadrez de vermelho e branco levemente rodado, aproveitando para secar o
suor das mãos nele.
Vai lá, Maddie, você viu que as coisas estavam evoluindo, agora é
só seguir o baile. Vai dar tudo certo!
E é com essas frases motivacionais fajutas que crio coragem e
bato na porta. Aguardo alguns instantes, mas ninguém aparece, então bato
novamente com um pouco mais de força e ela se abre. Ainda receosa,
coloco um pé após o outro e adentro o lugar que já é conhecido por mim,
porém, dessa vez não está lotado de gente dançando e nem avisto nenhum
dos moradores.
— Miau! Miau! Miau! — É tudo o que escuto antes de sentir a
bola de pelos cinza de Olliver se esfregando em minhas pernas.
— Kakarotto! Como é bom ver você, fofinho! — digo,
abaixando-me para fazer carinho no gato.
Ele continua se esfregando em mim, como se estivesse muito
contente em me ver. Abaixo-me e o pego em meu colo, acariciando o seu
pelo macio e cheiroso. Kakarotto se esfrega todo em meu pescoço, me
fazendo cócegas.
— Não posso julgar o bichano nojento, eu adoraria estar no lugar
dele — Trevor diz ao aparecer nas escadas, me causando arrepios. — O QB
tá no banho e pediu pra avisar que já vem e mandou te entregar isso. —
Mostra uma sacola vermelha sobre o sofá.
— Tem certeza de que é para mim? — confirmo, antes de me
aproximar.
— Pelo que vi, seu nome está do lado de fora, então é sua. — Dá
de ombros e se afasta, indo para a cozinha.
Coloco Kakarotto no chão e me sento no sofá, pegando a sacola.
Realmente está escrito “Maddie” do lado de fora, mas antes que eu possa
conferir seu conteúdo, derrubo a embalagem no chão e me surpreendo ao
ver um tecido vermelho e delicado caindo de dentro dela, todo em renda, e
quando o abro, constato ser uma calcinha.
— Por que será que Olliver me deu uma calcinha logo no nosso
primeiro encontro? — falo baixinho, mais pra mim mesma. — Será que…
não é possível! — Levo as mãos à boca, chocada. — Será que ele espera
que role sexo logo no primeiro encontro? — Sinto meu coração disparar,
pois, ao mesmo tempo em que tenho medo por ser virgem, sinto que com
nenhum outro será tão perfeito como pode ser com Olliver, que já deixou
claro o quanto é carinhoso e cuidadoso comigo.
Fico confusa, um pouco perdida quanto ao que fazer, porém, não
posso mentir que ele mexe demais comigo e que nesse momento meu corpo
todo está quente, louco para sentir seu toque e aproveitar todo o prazer que
ele pode me proporcionar. E é pensando nisso que, em um ato de coragem,
pego a sacola e saio à procura de um banheiro, que logo encontro no
primeiro andar.
Tranco a porta e me olho no espelho, notando minhas bochechas
vermelhas, tanto pela timidez quanto pela excitação, pela expectativa do
que pode acontecer mais tarde, então, em um ato de coragem, desço minha
calcinha simples de algodão pelas pernas e coloco na sacola, vestindo meu
presente. O tecido é lindo e delicado e sua textura contra minha pele é
deliciosa de sentir. Pela primeira vez na vida me sinto sexy e isso é muito
bom.
Sorrio mais uma vez para o espelho e saio do banheiro,
encontrando Olliver na sala.
— Oi, Girassol, que bom que você chegou! — diz, me abraçando
e atacando minha boca como se não pudesse suportar a saudade. Não
reclamo, pois eu mesma não consigo me conter.
Nossos lábios se reencontram, nossas línguas duelam e seu gosto
bom de creme dental de hortelã e Olliver me deixam tonta. Agarro os
cabelos de sua nuca e o puxo mais contra mim, sentindo contrações em
minha intimidade, provavelmente causadas pelo quarterback maravilhoso
que agora me beija como se essa fosse a última coisa que ele fará na vida.
— Que saudade, linda! — sussurra com sua testa colada à minha
quando nos separamos por falta de fôlego.
— Eu também estava, princeso! — respondo e logo sinto algo
roçando em minhas pernas que quase me faz cair. Ao olhar para baixo,
Kakarotto está brincando com um objeto cilíndrico e preto, batendo suas
patinhas de forma afoita.
— Ei, amigão, o que é isso? — Olliver pergunta, tentando
alcançar, mas o gatinho é mais rápido e escapa, jogando seu brinquedo para
longe. Quero rir, mas sinto uma espécie de choque entre as pernas que
quase fazem eu me contorcer, mas disfarço o máximo que posso, contendo
um gemido.
Uau, eu nunca me senti assim por ninguém!
Respiro fundo, tentando controlar o fogo que sinto me invadir, e
logo Olliver volta, olhando para o chão, vendo caída a sacola do presente
que deixou para mim.
— Vejo que encontrou o seu presente. — Sorri, acariciando minha
bochecha. Abaixo-me e o pego.
— Trevor disse que era para mim — comento.
— Era mesmo, mas aquele cara é um enxerido. — Torce os lábios
em desgosto, mas logo sorri. — Espero que tenha gostado.
— Eu amei, muito obrigada. — Deixo um selinho em seus lábios.
— Pronta para irmos? — Assinto com a cabeça. — Jantar e
cinema, ou cinema e jantar? — pergunta.
— Prefiro cinema e jantar.
— Seu desejo é uma ordem, mon tournesol — responde em
francês, me deixando toda mole por ele.
— O que isso quer dizer?
— Meu Girassol. — Abraça minha cintura com as duas mãos,
olhando fixamente em meus olhos, como se assim pudesse descobrir todos
os meus segredos.
Sinto os pequenos choques novamente e me contorço o mais
discretamente que consigo, mas nada passa despercebido por ele, que ergue
a sobrancelha para mim.
— Tudo bem aí?
— Uhum, tudo — balbucio.
— Então vamos. — Olliver pega em minha mão e deixa um beijo
nela, antes de nos guiar até a garagem. Como de costume, ele abre a porta
para mim, no entanto, antes que eu adentre o veículo, sinto um choque mais
intenso e mais longo que me faz gemer.
— Aaaaaaiiiii! — Não sai alto, mas o suficiente para que ele ouça
e me olhe de um jeito interrogativo. — Acho que estou muito ansiosa —
minto, pois não quero parecer louca. Só pode ser dor de barriga, o que não é
nada sensual para um primeiro encontro.
Nos acomodamos no veículo e ele liga o som, onde “Thunder”, do
Imagine Dragons toca, e não poderia haver música que mais combine com
ele do que essa.
Vamos conversando pelo caminho, falando sobre o treino, sobre
nossa semana, que foi extremamente corrida e só conseguimos nos ver de
verdade hoje.
Chegamos ao shopping e Olliver agarra minha mão, entrelaçando
nossos dedos como se isso fosse a coisa mais importante do mundo para
ele. Não vou mentir e dizer que não fico feliz, afinal, estou com o cara mais
perfeito da universidade e que tem mexido muito comigo nos últimos
tempo, o único que faz meu coração disparar.
Na fila do cinema, escolhemos um filme de super-heróis e
compramos um balde enorme de pipoca e refrigerantes, e me sinto aliviada
por aqueles espasmos terem passado. Até entendo que já está mais do que
na hora de perder a virgindade, mas aquela sensação foi muito incomum
para mim. É bom saber também que não era nenhum piriri causado pela
ansiedade de estar com ele, pois seria uma vergonha passar a noite como
uma rainha, “no trono”.
Andamos abraçados até a sala, equilibrando tudo o que
compramos e nos sentamos em poltronas na frente, pois Olliver disse ser
mais emocionante assistir daqui.
— Não sei descrever como é bom estar com você aqui, Girassol
— declara e me dá um selinho.
Em instantes, as luzes se apagam e os trailers começam, e os
choques entre as minhas pernas reiniciam. Não é possível! Tem alguma
coisa errada comigo. Tento me concentrar no filme, mas as sensações estão
cada vez mais intensas, fazendo um calor surreal subir por todo o meu
corpo e uma vontade desconhecida de sentir algo me penetrando me
invadir.
Remexo-me na poltrona, desconfortável, sem saber o que fazer
para trazer o alívio que preciso.
— Linda, tá tudo bem? — Olliver pergunta baixinho perto do meu
ouvido, colocando sua mão sobre a minha coxa, aumentando em níveis
alarmantes a excitação que estou sentindo.
Sua mão desliza cuidadosamente por cima do meu vestido,
acariciando de uma forma que deveria me acalmar, mas me acende ainda
mais e, sem saber o que fazer para ter o alívio que preciso, agarro em seu
antebraço e puxo sua mão mais pra cima, praticamente em sobre minha
boceta, implorando a todos os deuses possíveis que essa sensação de
precisar de mais vá embora
— O que está acontecendo, Maddie? — Olliver me olha
espantado, pois me contorço em busca de alívio, sem saber o que fazer
estando dentro do cinema.
Porém, o desejo se sobrepõe a razão e, com um olhar aflito,
imploro ao loiro ao meu lado:
— Por favor, vamos sair daqui agora, eu preciso de você.
O quarterback me olha confuso, mas não questiona, apenas pega
minha mão e juntos saímos dali, chegando ao corredor entre as salas, onde
os choques se intensificam de modo tão alucinante que preciso me agarrar a
ele para me manter de pé.
— Banheiro. Por favor, me leve para o banheiro.
— Certo, banheiro. É ali. — Indica a porta com a identificação de
feminino e masculino.
Entramos no primeiro e o puxo comigo para uma cabine
desocupada. Por sorte, o ambiente está vazio e, sem raciocinar com clareza,
empurro Olliver para se sentar sobre o vaso sanitário que se encontra com a
tampa fechada e me sento em seu colo, com as pernas abertas em cada lado
do seu quadril, jogando minha bolsa e jaqueta no chão. Devoro sua boca,
afoita, mordendo, lambendo e me esfregando nele em busca de alívio.
Confuso, ele segura meu rosto com suas mãos e me encara.
— O que tá acontecendo, Maddie?
— Eu… eu… não sei — choramingo, sentindo o desespero
crescer cada vez mais entre as minhas pernas.
Sinto a umidade molhar minha calcinha e estou a ponto de
implorar que Olliver enfie seus dedos ali e me traga algum alívio. Mando
toda a minha racionalidade para o inferno e é exatamente isso que faço
quando puxo sua mão, enfiando-a por baixo do meu vestido.
— Me toca, por favor e me faz gozar, eu não aguento mais! —
imploro e quando sua mão encosta na calcinha, parece que algo vem ao seu
conhecimento, pois ele fecha a cara por um momento, respirando fundo,
mas então me olha novamente e me beija com vontade.
— Vai ser um prazer te dar prazer, Girassol — e, dizendo isso,
seus dedos mergulham em minha boceta, explorando com cuidado,
enquanto meus olhos estão cravados nele, absorvendo cada detalhe do seu
rosto perfeito. — Você tá tão encharcada, linda! — sussurra e morde o meu
pescoço. — Hoje serão meus dedos, mas em breve vai ser o meu pau que
você vai sentir nessa bocetinha gostosa.
Ele trabalha com afinco, escorregando os dedos pelos meus
grandes lábios, esfregando-os e fazendo pressão, subindo e descendo, até
chegar ao meu clitóris que, ao mínimo toque, me faz explodir de um jeito
que nunca aconteceu quando eu me tocava sozinha.
Durante os espasmos, agarro seu rosto e devoro sua boca, não me
reconhecendo, pois estou tomada pelo tesão e pelo prazer que o orgasmo
me proporcionou. Ele corresponde a cada movimento da minha língua na
sua, me deixando desejosa por mais, mas sei que estamos em um lugar
perigoso e quando eu o tiver dentro de mim, não vai ser no banheiro do
shopping.
Encerramos o beijo e ele sorri, me surpreendendo quando leva os
dedos que estavam em mim ao lábios, sorvendo todo o meu gozo.
— Você é deliciosa, Girassol! Deliciosa e minha. Só minha —
declara, possessivo.
— Toda sua, princeso.
Ele me abraça forte, apoiando seu rosto sobre os meus seios e só
quando minha respiração finalmente se normaliza é que ele se levanta e me
coloca de pé no chão.
— Vamos? Acho que tivemos diversão suficiente para um
primeiro encontro.
— Mas… e você? — Aponto para o seu pau extremamente duro
marcando na calça jeans e que eu senti em contato com a minha boceta.
— Hoje tudo é sobre você, linda! — Ele me beija mais uma vez e
saímos do banheiro, indo em direção ao estacionamento.
— Jantar? — pergunta.
— Eu topo. Estou faminta. — Sorrio.
— Estrelas Michelin ou fast-food?
— Fast-food, com certeza!
Ele dirige até um drive-thru e pedimos hambúrgueres, batata frita
e refrigerantes. Não paramos para comer, enquanto ele dirige, vou dando
comida na sua boca e ele sorri, me olhando de forma tão doce que sinto
todo o meu interior se derreter. Esse foi o melhor encontro de todos.
É, eu acho que estou apaixonada. Ou melhor, apaixonada pra
caramba!
Assim que chegamos na porta do prédio do dormitório, Olliver
tira o cinto de segurança e olha para mim.
— Nossa noite foi incrível! — Acaricia minha bochecha em uma
mania que percebi ele ter e que eu adoro. — Calcinha vibratória, hein?
Dessa vez você me surpreendeu muito — diz e eu o olho, confusa.
— O quê? Do que você está falando?
— Da calcinha que você estava usando, oras! Adorei ver você
toda cheia de fogo. — Tem feições safadas em seu rosto.
— Olliver… Você me deu aquela calcinha — respondo, cruzando
os braços. — Estava na sacola de presente. Imaginei que quisesse algo a
mais essa noite e decidi tentar — explico, baixando a cabeça,
envergonhada.
— Como assim, Maddie? Eu comprei chocolates pra você. Pensei
que é o que toda garota gostasse.
— Mas…
— Espera — segura meu rosto —, quem te entregou o presente?
— Trevor. Ele me disse que você havia deixado para mim no sofá.
— Filho da puta!
— Calma, princeso, algum problema?
— Nada com que você tenha que se preocupar, linda. Agora eu
preciso ir.
E com um último beijo, ele se despede e vai pra casa.
Desgraçado! Eu vou matar o Trevor!
Ele inventou essa porra de aposta e agora está tentando me
sabotar.
— Trevor! — grito na porta do seu quarto assim que chego em
casa. — Trevor, caralho! — Bato na madeira e ele a abre com a cara mais
lavada do mundo, fingindo que estava dormindo com um bocejo falso.
— Por que você tá tentando me sabotar, filho da puta?
— Eu? Mas o que foi que eu fiz? — pergunta, até levando a mão
ao peito de forma teatral.
— Que porra você queria trocando o presente da Maddison?
Queria constrangê-la no nosso encontro?
Ela abre um sorriso perverso que me deixa louco para socá-lo até
que fique sem nenhum dente na boca.
— Eu só queria apimentar as coisas pra vocês, já que você é bem
lentinho.
Agora é a minha vez de sorrir.
— Bom, se foi isso, só posso agradecer, porque ela ficou
insaciável — digo e me viro, sabendo que acertei o seu “calo”.
— Eu estava lá, controlando aquela merda de calcinha. Vi que
vocês saíram antes da metade do filme — grita, exaltado.
— Obrigado por isso também. — Pisco e me afasto.
— O outro controle estava sendo usado como brinquedo do seu
bichano nojento. Ele estava jogando ele pela casa toda quando cheguei.
— Vou comprar salmão fresco para agradecer o Kakarotto.

Chegou o dia do primeiro jogo e, infelizmente, será fora de casa,


por isso, Maddison não poderá estar presente, mas prometeu que irá assistir.
Estou ansioso, pois finalmente me tornei o capitão do Bruins e farei o meu
melhor para honrar a confiança que me foi depositada.
Já fizemos o reconhecimento do campo e agora estamos no
vestiário, esperando o início da partida.
— Não espero nada menos que o seu melhor, Durand — diz o
treinador Stevens.
— É o que farei, senhor — respondo e me levanto, pronto para
incentivar o meu time a arrasar hoje.
E, cumprindo minha promessa, por quarenta e cinco a dezessete,
ganhamos do Colorado State. Não foi um jogo difícil, já que a defesa deles
estava cheia de buracos, o que facilitou o nosso ataque, que estava muito
bem entrosado. Animado pela vitória, tudo o que quero é chegar no hotel e
descansar para voltar para casa amanhã de manhã.
Mas antes, preciso ligar para a Girassol, pois já estou com crise de
abstinência dela, mesmo que tenhamos nos visto ontem. Estou
completamente viciado nela, nos seus beijos e no seu jeito único de ser. Por
isso, tomo banho no vestiário e assim que chego ao hotel, jogo minhas
coisas de qualquer jeito num canto e deito na cama, pegando o celular.
— Girassol? — digo assim que ela atende.
— Vocês ganharam!!! — ela grita, animada.
— Ganhamos, linda. Cada touchdown que fiz foi pensando em
você. Estou morrendo de saudades… — revelo, sem medo de parecer
meloso.
— Você é um amorzinho, Olliver… — fala sorrindo.
— Shiii… só com você, é um segredo nosso — brinco. — Onde
você está?
— No meu quarto.
— Sozinha?
— Uhum… A Peny saiu para jantar com os pais dela.
— E como você está vestida?
— De pijama. Short e blusinha.
— Eu preferia que estivesse sem nada, aqui comigo, nessa cama
enorme…
— E o que você faria? — pergunta, mas percebo que está lutando
contra a timidez.
— Deslizaria meus dedos por sua pele, te beijaria inteirinha e te
deixaria louca de prazer antes de me enterrar em você… — sussurro,
sentindo meu pau muito duro ao imaginar a cena.
Ficamos em silêncio por alguns instantes e ouço sua respiração
ficar mais pesada.
— Princeso — ela é a primeira a falar, sua voz saindo em um
choramingo —, tô com tanta saudade de ter seus dedos dentro de mim...
— Só faz um dia que estou fora, Girassol, mas também não vejo a
hora de estar aí e poder te lamber todinha, sentindo o seu mel lambuzar a
minha cara.
— Não fala essas coisas, eu tô com tanta vontade de ter você...
— Então leva seus dedos até essa bocetinha gostosa e imagina que
são os meus, deslizando e te dando todo o prazer que você merece. Pensa
no dia do cinema, em como esfreguei seu clitóris, como foi gostoso…
— Ai, Princeso… — geme, e sei que está me obedecendo.
Enquanto ouço sua voz manhosa pelo telefone, tiro meu pau para
fora e aperto meus dedos em sua extensão, tentando aliviar o tesão que
estou sentindo. Incontrolável, desisto da ligação e faço uma chamada de
vídeo, sendo brindado com seu rosto rosado pelo desejo, pela necessidade
de algo que só eu posso proporcionar.
— Se toca pra mim, Girassol, eu quero ver, enquanto faço o
mesmo olhando pra você.
Mesmo tímida, ela encontra um arroubo de coragem e puxa o
shortinho branco para fora de seu corpo e arrasta a calcinha pelas pernas,
me dando uma bela visão da sua bocetinha com pelinhos ruivos e bem
aparadinhos, o que me enlouquece e faz o pré-gozo escorrer da cabeça do
meu pau. Não posso acreditar que a primeira vez que a vejo nua estou a
quilômetros de distância e nem posso tocá-la.
— Você é tão perfeita! — digo, encantado com o beleza de sua
pele, o contraste com seus cabelos revoltos. — Isso, meu amor, imagine que
são meus dedos aí, a minha barba por fazer roçando no seu pescoço, o meu
cheiro dominando os seus sentidos e o meu corpo sobre o seu, te dando todo
o prazer que merece e te marcando como minha. Só minha. — Manipulo
meu pau para cima e para baixo com mais velocidade, buscando o alívio
que meu corpo tanto anseia.
— Princeso, eu... — balbucia, já envolta na nuvem do orgasmo.
— Vai, Girassol, goza pra mim, só pra mim — e ao concluir
minha fala, faço o mesmo, vendo o esperma escorrer pelos meus dedos. —
Ai, que delícia!
Fecho os olhos, deixando toda a ocitocina dominar e relaxar o
meu corpo. Ouço sua respiração ofegante e quando abro os olhos, ela está
completamente vermelhinha.
— Isso foi incrível, linda. — Eu ainda não acredito que tive essa
coragem. — Sorri, escondendo o rosto com as mãos.
— Teve e foi perfeito, porque sou eu, o seu homem. E você é
minha, todinha minha.

Nunca me senti tão feliz por chegar em casa como agora. Após o
momento perfeito com a Maddie, conversamos mais algumas amenidades e
fomos dormir, mas eu estava louco para voltar para L.A. e vê-la, tê-la
pertinho de mim, ao alcance dos meus braços, dos meus lábios…
Subo as escadas, vendo cada um dos caras do time irem para seus
respectivos quartos, provavelmente dispostos a hibernar o restante do
domingo. Não sei onde está o meu irmão, mas também não irei procurar
agora, pois minha prioridade é ver minha ruivinha. Entro no meu quarto e
coloco minhas coisas no cesto de roupa suja e corro para tomar um banho.
Enquanto me visto, ouço a campainha tocar, por isso, desço
descalço, só de bermuda, praguejando por alguém estar empatando a minha
saída, porém, quando abro a porta, meu coração dispara e um sorriso
gigante brota em meus lábios. Parece que estou tendo um déjà vu.
— Girassol…
— Oi, princeso. Espero que não se importe por eu ter vindo te ver,
mas não resisti. — Dá de ombros, envergonhada.
— É a melhor surpresa do mundo — digo e pego-a em meus
braços, fecho a porta e nos rodo pela sala. Seu gritinho de susto e a
gargalhada que o acompanha enchem ainda mais o meu coração daquele
sentimento intenso que só vem crescendo desde que nos tornamos amigos.
Ela olha em meus olhos com uma intensidade que parece enxergar
a minha alma e, ainda em meus braços, toca o meu rosto com suas mãos,
unindo nossos lábios em um selinho demorado, em seguida, esfrega nossos
narizes e sorri,
— É bom ter você aqui.
— É bom estar aqui, minha ruiva.
— Já tomou café da manhã? — pergunta assim que a coloco no
chão.
— Comemos no aeroporto, já que o voo atrasou — explico e vejo
que ela fica sem jeito. — Você comeu? — Sento-me no sofá e a puxo para o
meu colo.
— Uhum. Pensei que, talvez, você quisesse fazer alguma coisa ou
sair para almoçar…
— Eu quero tudo o que você quiser, linda. Simplesmente tudo —
declaro, mas logo completo rindo: — Exceto voltar para o meu país, pois
ainda não estou pronto para isso.
— Mas em algum momento você terá que voltar, visitar a
família…
— Minha família são o Ed e o Kakarotto, ambos estão aqui.
— Mas… e seus pais? — percebo que ela se sente invasiva ao
perguntar, mas acaricio seu rosto, tranquilizando-a.
— Minha mãe morreu quando eu tinha quinze anos e o meu pai…
bom, não posso dizer que somos as pessoas preferidas um do outro.
— Oh, eu sinto muito! — pede com pesar.
— Imagina, tudo bem. — Sorrio, tentando quebrar o clima de
melancolia que se alastrou pelo ar. — Mas então… acho que ainda é cedo
para almoçarmos, mas, que tal um doce e um filme? A Vick me ensinou
uma receita deliciosa. Podemos pedir comida mais tarde.
— O que você quiser, princeso. — Deita a cabeça no meu ombro
como uma garotinha doce, toda manhosa.
— Vamos para a cozinha — digo, pegando-a no colo e Maddie
entrelaça as pernas em minha cintura.
Assim que chegamos lá, coloco-a sentada no balcão, enquanto
abro os armários em busca dos ingredientes. Por sorte, há um supermercado
aqui perto que vende produtos estrangeiros e não foi difícil encontrar o que
precisava para preparar o tão popular brigadeiro. Não sou a pessoa mais fã
de doces do mundo, mas admito que esse docinho brasileiro me conquistou.
Pego tudo o que vou precisar e coloco sobre a pia sob o olhar
atento da Maddie.
— O que você vai preparar?
— Um doce delicioso que a Vick me ensinou.
— Hummm… já estou curiosa.
Abro a lata de leite condensado e pego um pouquinho em uma
colher, direcionando-a para a boca da ruiva.
— Prove — peço e quando ela coloca a língua para fora em
contato com o doce, preciso sufocar um gemido ao imaginá-la deslizando
ao redor do meu pau. Esse pensamento deixa minha mão trêmula e, sem
esperar, derrubo um pouquinho do produto leitoso no queixo e colo da
Maddie.
— Ai, droga! Como eu sou desastrada! — resmunga e ameaça
limpar, mas seguro sua mão, encarando seus olhos.
— Deixa que eu limpo. — E, sem cerimônia, levo minha língua
ao seu queixo, sorvendo qualquer resquício de doce. Ouço-a arfar, antes de
dizer:
— Acho que você realmente gosta de me lamber — diz de forma
inocente, provavelmente lembrando do dia em que fiz a mesma coisa com o
sorvete.
— Você não faz ideia do quanto — sussurro e apoio as mãos ao
lado de suas pernas, me aproximando e passando a língua sobre o doce que
quase escorreu por entre os seus seios.
Conforme me “esforço” para deixá-la limpinha, Maddison geme,
o que causa um reboliço dentro de mim;
Apanho a latinha e, com a colher, despejo uma pequena
quantidade sobre seu ombro direito e limpo com a língua, repetindo o
processo em sua perna, já que está de vestido e isso facilita muito a minha
vida. Conforme distribuo o produto, ela me encara, suas bochechas coradas
deixando claro que está tão cheia de tesão quanto eu, que já não consigo
disfarçar a ereção sob o short fino que estou vestindo.
— Ahhhh… Olliver! — balbucia quando minha língua sobe por
sua coxa, capturando muito mais do que leite condensado, mas também o
sabor de Maddison, da minha garota. — Isso é bom demais.
Continuo espalhando o conteúdo da lata, intercalando entre sua
pele e seus lábios, que eu devoro com os meus, até que não haja mais
nenhum produto para ser usado.
— Acho que o nosso brigadeiro vai ficar para a próxima — ela
diz, com seu peito subindo e descendo, a respiração acelerada e o desejo
estampado em seu rosto.
— Vai, mas eu me fartei da melhor sobremesa que existe. —
Mordo seu lábio inferior e ela me puxa para um beijo. — Agora vamos
assistir ao filme, mas estou a ponto de perder a sanidade.
— Eu gostaria de ver isso — provoca, completamente dominada
pelo tesão.
— E você vai, linda, mas não hoje, porque a casa está muito cheia
e quero todos os seus gemidos exclusivamente para mim.
Desço-a do balcão e a puxo até o meu quarto, onde a limpo com
uma toalha umedecida e somente quando está totalmente limpinha é que ela
se deita na cama, aninhada a mim e pronta para assistir os últimos filmes de
Stars Wars.
Eu nem acredito que estou aqui! A energia que emana da torcida é
contagiante e mesmo sem entender nada sobre futebol americano, me sinto
parte desse universo que é muito importante na vida do Olliver. Ele tem
treinado muito e ainda se esforçado para conciliar as aulas e os treinos
exaustivos, o que não nos deixou com muito tempo além daquele dia em
sua cozinha, onde estava prestes a me entregar para ele, caso não fosse um
cara muito controlado.
Ainda lembro da caixa com o bilhete que recebi hoje pela manhã:

Girassol,

Hoje nós vamos jogar em casa e tudo que eu mais quero é ter minha garota
lá,
torcendo por mim e usando a minha camiseta.
Você será o meu amuleto da sorte!
Autografei para que, além do meu nome nas costas,
tenha também um pedacinho de mim no seu coração.
Estarei te esperando!

Seu Princeso

Dentro da caixa havia uma camiseta com o seu número e nome,


além de um autógrafo no lado esquerdo, que ficaria sobre o meu peito.
Obviamente que ela ficou enorme em mim, mais parecendo um vestido,
mas não me importei e a vesti junto com uma calça jeans e meus All Star
brancos.
— A gente vai assistir ao jogo de pertinho! — Penélope diz,
eufórica por ver os lugares que o quarterback conseguiu para nós na
arquibancada. Só assim mesmo para eu sair dos meus devaneios e parar de
pensar no Olliver um pouquinho. Por uns dois segundos.
Estamos bem pertinho do campo, afastadas apenas por uma grade
de proteção, mas podemos ver com muita clareza os meninos em campo.
Minha amiga tenta disfarçar, mas ouço seus suspiros quando o Center,
Hunter, e o Wide Receiver, Zion, aparecem. Não faço ideia do que
significam esses nomes ou posições, mas foi isso que minha melhor amiga
disse, e é tudo o que preciso saber.
O jogo de hoje é no Rose Bowl, por isso podemos assistir sem
problemas.
— Vai, Tigrão! — Penélope grita quando a bola está nas mãos de
Hunter e eu só consigo rir. Acho que prefiro não saber a origem desse
apelido.
A bola passa de Hunter para o Ollie e depois que ele a lança eu já
não faço ideia do que está acontecendo, mas, pela gritaria da torcida,
acredito que tenha marcado um Touchdown.
— O meu Princeso é o melhor! — grito quando vejo os caras do
time o cumprimentando. É, ele realmente fez algo importante.
Vejo pelo telão quando ele olha para câmera e diz algo, mas não
entendo nada, me parece uma palavra desconhecida, em outra língua.
Mesmo boiando em relação ao que acontece em campo, vejo o
momento em que Olliver é derrubado e meu coração se aperta, mas ele logo
levanta e vai para o banco, retornando quando há a troca de times.
Quatro quartos depois, a torcida vibra e vejo no placar que o
Bruins ganhou de quarenta a trinta e dois do Washington State. Isso!!!
Os jogadores começam a sair do gramado, indo para o banco se
hidratarem e comemorar com os companheiros e quando procuro por
Olliver, vejo que o quarterback corre em direção às arquibancadas, em
minha direção. Como uma habilidade invejável, ele sobe os degraus com
firmeza, olhando para mim.
— Girassol! — grita. — Nós ganhamos!!!
— Parabéns, Princeso! — grito de volta, agarrando seu pescoço
quando ele se aproxima.
— Mas a vitória só vai ser completa se, além de sorte no jogo, eu
tiver também sorte no amor — brada sorrindo, se afastando um pouquinho
para falar bem alto. Seu rosto está todo vermelho e suado pelo esforço, mas
ouso dizer que ele nunca esteve tão lindo. — Maddie… — ele pega a minha
mão e se ajoelha à minha frente — desde que te conheci, eu não sei mais
viver sem você, ruivinha. Você é o maior motivo dos meus sorrisos e me faz
querer ser alguém melhor todos os dias — declara ainda gritando e percebo
que o estádio está bem mais silencioso agora. — Girassol… você é
maravilhosa e tudo o que eu mais quero é ter você definitivamente na minha
vida. Quer namorar comigo? — pergunta e fico estática.
Eu quero, é claro que quero, só não esperava que ele me pediria
assim, no meio de tanta gente. Fico alguns segundos em silêncio, mas sinto
um cutucão nas costelas.
— Amiga… todo mundo está esperando uma resposta — diz
Penélope, apontando para o telão de onde o pedido está sendo transmitido
para todo mundo.
— Ai, meus cabritinhos, que vergonha! — respondo, sentindo
meu rosto todo ficar quente.
— E então, linda, vai me dar a honra de ser seu namorado? —
Olliver pergunta novamente, olhando dentro dos meus olhos.
Aceno com a cabeça positivamente e ouço gritos de
comemoração.
— Ela aceitou! O Sr. Piroquinha é um homem comprometido
agora. Chupa, mundo!!! — ele comemora, se levantando e me agarrando
pela cintura, rodando comigo com dificuldade no pequeno espaço. — Eu
sou o homem vai feliz do mundo hoje, ruivinha — declara, beijando meus
lábios.
— E que negócio é esse de Sr. Piroquinha? Chupa, mundo? Que
palavras são essas? — pergunto confusa quando nos afastamos um
pouquinho.
— Ah, foi a Vick quem me ensinou. É português. É como dizer
que eu sou um cara fodão no esporte.
— Hummm... entendi. — Sorrio, mesmo que não tenha entendido
nada. Depois eu procuro no Google.
Maddie sorri pra mim, enquanto fico jogado em sua cama,
pensando em tudo o que aconteceu nos últimos dias. Nem sei explicar o
sentimento que brotou em meu coração, mas estar com ela é
simplesmente… perfeito. Ela é divertida, carinhosa, inteligente e linda, um
belo tiro no meio do peito de um soldado cafajeste como eu.
Acabamos de sair do Rose Bowl após mais uma vitória e viemos
para o seu quarto comemorar, já que a galera do time resolveu ir para uma
festa, incluindo a colega da minha namorada. É isso aí, NAMORADA! A
Maddie aceitou o meu pedido louco e improvisado.
— Olliver — chama, me fazendo sair dos devaneios e olhar para
ela, que leva as mãos ao cabelo, enrolando-o em um nó estranho no alto da
cabeça, mas que a deixa ainda mais maravilhosa. — Vou só tomar um
banho rapidinho e já volto pra gente escolher o filme, tá? — avisa e antes
que eu diga algo, ela me sopra um beijo e some pela porta do banheiro.
— Caralho! Essa mulher está me deixando com as bolas azuis e
nem imagina… — resmungo, mas sei que ela não me ouviu, pois ouço o
chuveiro ser ligado, apenas para ser desligado segundos depois e ela
reaparecer com a toalha enrolada na cintura, somente com parte do corpo
para fora do cômodo, me olhando com suas bochechas vermelhas que me
tiram o juízo.
— É…Olliver… — chama baixinho e eu olho pra ela. — Você
pode pegar o meu pijama aí na gaveta da mesinha de cabeceira, por favor?
— pede envergonhada.
Arranhando a garganta, levo as mãos aos cabelos, bagunçando-os
ainda mais, antes de me sentar e responder:
— Claro, claro. Mas, por favor, espere lá dentro, meu juízo e meu
pau agradecem — digo de modo sofrido, tentando conter a excitação que
teima em invadir todo o meu corpo.
Ela acena com a cabeça e volta para o banheiro. Levanto-me com
toda a coragem que encontro e abro a gaveta, mas, ao invés de encontrar o
tal pijama, encontro um amontoado de rendas coloridas; escolho uma e a
puxo, deparando-me com uma calcinha cor-de-rosa sexy demais que não
deixa nada para a imaginação por ser totalmente transparente e ao virá-la,
percebo que a parte de trás é simplesmente uma correntinha cheia de
brilhos, com um coração no alto e, imaginá-la vestida apenas com isso faz
meu pau perder todo o autocontrole que lutei para manter essa noite.
Não resisto e levo o tecido até o nariz, aspirando o cheiro gostoso
de mel tão característico da Maddison e que já me deixou viciado. Seus
beijos e abraços têm sido uma tortura e nem de longe o suficiente para
aplacar a vontade que tenho dela.
Perco-me analisando cada peça com cuidado, imaginando sua pele
clarinha e cheia de sardas adornada por essas rendas e quase fico louco,
tanto que não percebo que ela saiu do banho e está do meu lado.
— O-olliver… o que você tá fazendo? — Quando olho em seu
rosto, vejo o choque por encontrar sua lingerie em minhas mãos.
— Maddie… eu… — Respiro fundo, abaixo a cabeça e fecho os
olhos, controlando meus impulsos, mas então sinto que ela se aproxima,
toca meu braço e seu cheiro mais uma vez invade minhas narinas. Por isso,
me recuso a não olhá-la e abro os olhos, focando em seu rosto, antes de
sussurrar perto do seu ouvido: — Por favor… eu posso te tocar? — Meu
pedido sai quase como uma súplica e vejo sua boca se abrir e ela puxar uma
respiração forte, antes de acenar positivamente com a cabeça. — Eu preciso
ouvir as palavras saindo da sua boca, Girassol.
— Por favor, Princeso, eu preciso que você me toque — implora e
eu não resisto mais, solto o pedaço de renda no chão e levo minhas mãos à
sua cintura, antes de aproximar minha boca da sua, apenas sentindo o seu
hálito, o calor dos seus lábios próximos aos meus, mas, antes de beijá-la
como desejo, passo minha língua pelo seu pescoço, vendo seu corpo todo
estremecer.
Em seguida, uma de minhas mãos vai para sua nuca, trazendo sua
boca para se encontrar com a minha, causando aquela explosão de sentidos
que sempre acontece quando nos beijamos. Seus lábios se abrem levemente
e ela arfa, enquanto deslizo minha língua delicadamente, sentindo a textura
de sua pele. Sem mais resistir, ela passa seus braços pelo meu pescoço e eu
a abraço mais forte, devorando sua boca com a minha. Mordo seu lábio
inferior e ela geme, acabando com o pouco de juízo que me resta.
Pego-a no colo e ela entrelaça as pernas em minha cintura e nos
guio até a cama, deitando-a de costas. Seus cabelos se espalham pelo
travesseiro claro e o sorriso em seu rosto é o mais lindo que já vi, uma
mistura de inocência e desejo que me conquista. Deslizo os dedos pela sua
bochecha e ela se aninha em minha mão, fazendo meu coração bater ainda
mais alucinado em meu peito.
— Posso? — peço, levando minhas mãos à junção da toalha
acima dos seus seios. — Eu quero te ver, preciso te tocar, Girassol… por
favor… — suplico com o olhar e ela cobre minhas mãos com as suas, me
ajudando na tarefa de despi-la. Assim que o tecido felpudo é retirado,
admiro cada pedacinho de pele exposta para mim, adorando como ela
enrubesce ainda mais.
Sem hesitação, escorrego meus dedos pelas laterais do seu corpo,
sobre as costelas e me abaixo, distribuindo beijos pelo seu pescoço e colo,
conforme minhas mãos a exploram. Desço meus lábios ainda mais,
encontrando o topo dos seus seios e quando me inclino para abocanhar um
de seus mamilos rosados, ela ergue levemente o corpo, oferecendo-o para
mim, e isso é a minha ruína. Saboreio sua pele macia, arrancando de
Maddie gemidos extasiados. Suas mãos agarram meus braços e ela me
arranha, esfrega seu corpo no meu procurando mais atrito.
— Calma, Girassol… vou dar tudo o que você precisa — balbucio
com minha boca encostada na dela, puxando-a para um beijo novamente.
— Eu preciso de você, Olliver.
— Porra, assim fica difícil me segurar! — chio baixo, vendo-a
suspirar e ataco sua boca com desespero. Sugo e mordo seus lábios,
deixando nossas línguas duelarem enquanto minhas mãos exploram seu
corpo, apertando seus seios, sua bunda, tudo o que alcançam.
— Não precisa se segurar, eu sou sua. Toda sua e de mais
ninguém — diz de um modo inocente e, ao me dar conta do que ela pode
estar falando, o neandertal que habita em mim ameaça dar as caras.
— Minha... só minha? Nunca foi de ninguém? — pergunto,
confirmando.
— Só sua e de mais ninguém.
— Caralho! Você é perfeita demais, Maddie! — Beijo-a mais uma
vez e desço beijando seu corpo; ombros, braços, colo, passo a língua em
seus mamilos e chupo com vontade, depois deslizo para a barriga, rodeando
seu umbigo com minha língua, adorando cada pequena sarda que encontro
em sua pele de porcelana.
Minhas mãos deslizam por suas costelas e ela se arrepia, mas logo
desço mais, parando em sua bunda, onde seguro com vontade e, sem
cerimônia, deixo um beijo em sua bocetinha linda de pelos ruivos,
aspirando seu cheiro maravilhoso; o cheiro da minha garota. Ela se remexe
e não perco mais tempo, passando minha língua de baixo para cima,
abrindo sua boceta, explorando cada cantinho, sentindo o seu gosto elevar
meu tesão a níveis estratosféricos. Chupo os grandes lábios antes de me
afastar um pouquinho e observá-los, escorregando meu dedo pela sua pele
macia, abrindo-a todinha para mim até revelar seu clitóris que parece pulsar
por mim. Vejo sua lubrificação escorrer e não me seguro mais, chupando e
lambendo com vontade, ouvindo-a gemer alto.
— Olliver! Ai, meu Deus! — grita, suas mãos agarrando o lençol.
— Isso, não para, por favor — implora quando faço movimentos circulares
com a língua e a penetro com um dedo, com cuidado, querendo que essa
seja uma experiência incrível pra ela.
Continuo os movimentos e logo sinto seu interior me apertar e o
sabor do seu gozo invadir minha boca.
— Você é perfeita, porra! A minha garota perfeita! — rosno e ela
anda convulsiona algumas vezes, antes de seu corpo se acalmar e sua
respiração se normalizar.
— Que delícia… — balbucia, de olhos fechados e o corpo
esparramado na cama.
— Eu disse que iria te fazer gozar na minha boca e lambuzar
minha cara — sussurro em seu ouvido, com meu corpo sobre o seu. Ela está
nua, linda, com seu corpo que me leva à loucura todo exposto, enquanto eu
estou completamente vestido e isso me dá um tesão do caralho!
Subo por seu corpo, chupando seus seios novamente e lambendo o
seu pescoço, sentindo seu cheiro maravilhoso de mel grudando em minha
pele. Beijo seus lábios e ela agarra meu pescoço, seus dedos firmes em
minha nuca.
— Eu quero mais, Olliver, preciso de mais! Quero ser
completamente sua.
— Seu pedido é uma ordem, minha linda. — Levanto-me da cama
e estendo a mão para ela, puxando-a junto a mim.
Ela me olha sem entender, mas então pego suas mãos e levo até a
barra da minha camiseta, indicando que ela a tire, o que faz com cuidado,
beijando cada pedaço de pele que revela. Assim que termina, joga o tecido
no chão e se concentra no botão da minha calça, descendo o zíper em
seguida. Ajudo-a a descer a peça pelas minhas pernas e tiro os tênis e meias
antes de ficar apenas de boxer branca na frente dela. Pego um pacote de
preservativo no bolso da calça e jogo sobre o colchão para nos proteger.
Maddie senta na beirada da cama e me puxa para perto dela, cheirando-me
por cima da cueca, fazendo meu pau babar.
— Porra, linda, assim você me mata! Estou sem gozar há tempos,
não vou aguentar muito com você fazendo isso. — Ela me olha toda
inocente e lambe os lábios. — Ah, foda-se, eu preciso me enterrar em você!
— digo e avanço, deitando-me por cima dela, beijando-a com um desejo
incontrolável e quando ela se esfrega em mim, saio de órbita e ordeno: —
Se abre bem para mim, amor. Vou ser o mais cuidadoso possível para que
seja prazeroso pra você.
— Sendo com você, eu sei que vai ser perfeito. Confio em você!
— Com os pés enganchados no cós da minha cueca, ela a empurra para
baixo e ergo um pouco o corpo terminando de tirar, ouvindo-a arfar quando
meu pau salta, finalmente livre, muito duro e melado.
Manipulo ele com a mão para ajudar a me controlar e deixo um
beijinho e uma chupada sobre sua boceta. Ela me entrega a camisinha e
rasgo o pacote, deslizando o látex por toda minha extensão, antes de me
debruçar sobre ela.
— Quero que concentre seus olhos em mim, ok? — Ela assente e
enfio dois dedos em sua boceta, melando-os com sua lubrificação e seu
gozo recente e espalho sobre o meu pau, então me posiciono em sua
entrada, forçando um pouquinho a cabeça para entrar.
Maddie é muito apertada e estrangula meu pau, por isso respiro
fundo para não gozar nos primeiros segundos. Ela me olha com seus olhos
desejosos e assente, indicando que eu continue, então forço mais um pouco,
logo sentindo a barreira de sua virgindade e, em um impulso inesperado, ela
entrelaça as pernas em minha cintura e me puxa de uma vez, me fazendo
enterrar em seu corpo até sentir as bolas baterem em sua bunda.
— Aiii.. — choraminga e levo minha mão até seu rosto,
acariciando sua bochecha, enquanto sustento o peso do meu corpo com
apenas um braço.
— Calma, amor, você foi muito apressadinha. — Beijo seu nariz.
— Vou esperar você se acostumar, me avise quando puder me mexer.
Ela envolve seus braços em meu pescoço e me aperta contra si,
como se sua vida dependesse disso.
— É tão bom sentir você dentro de mim… É tão… certo —
sussurra, e sinto meu coração querer sair pela boca apenas para encontrá-la.
É inegável o quanto ele está de quatro por essa garota. Nós estamos. Nossa
garota.
Ela se remexe e fixa seus olhos nos meus, deixando claro que
posso me movimentar.
Começo as estocadas de forma lenta, vendo em seus olhos todo o
desejo que deve transbordar dos meus.
— Sou totalmente louco por você, ruivinha.
— Eu me apaixonei por você e não consigo mais disfarçar —
declara.
— Não precisa disfarçar, porque você é minha. Minha garota,
minha namorada, minha mulher. — E com essa declaração, aumento a
velocidade, ouvindo-a gemer alto e então nos viro, colocando-a por cima de
mim. — Agora cavalga, amor. Cavalga com vontade porque estou quase lá
— digo, dando um tapa na sua bunda.

— Eu também estou quase, Ollie… ah… aii… Olliver!

— grita e sinto seus espasmos, que me puxam com ela, nos levando para o

orgasmo mais intenso da minha vida, me dando a certeza de que nada mais

será igual depois dela.


Ainda não consigo acreditar que é verdade. Maddison Brown,
minha amiga, colega de turma e a garota que roubou meu coração é minha
namorada. Confesso que, quando vim para Los Angeles, não estava nos
meus planos me apaixonar. A gente se viu, estudou juntos e, de uma hora
para outra, percebi que meu coração batia mais forte pela ruiva.
Agora estou aqui, vendo-a de bruços, nua, com apenas um lençol cobrindo
sua bunda linda, os cabelos espalhados pelas costas, contrastando com as
sardas que a deixam ainda mais perfeita. Perfeita e minha!
Deslizo meus dedos por sua pele, como se pudesse desvendar
todos os seus segredos apenas vendo-a dormir. Estou tão feliz que nem sei
explicar — mesmo sendo um cara de mais de um metro e noventa dividindo
uma cama de solteiro minúscula —, pois algo me diz que nunca me
cansarei disso, nunca me cansarei dela. Nossa entrega ontem foi tão intensa,
que até agora sinto em meu coração um gostinho de pra sempre que só
Maddie despertou em mim.
Diferente de tudo o que já experimentei na vida, ontem não foi
apenas sexo. Não, foi muito mais, eu pude sentir a conexão a cada vez que
nossos olhos se encontraram, mesmo que depois da primeira rodada
tenhamos feito amor no tapete, no banheiro, apoiados na porta e muito
mais, ainda assim foi amor, puro e verdadeiro, daquele que traz uma certeza
ao coração e aquele sentimento de plenitude.
Um toque de celular chama minha atenção e logo Maddie acorda
sobressaltada, se levanta correndo e pega o aparelho que deixou sobre a
mesa de canto onde elas fazem suas refeições.
— Droga, é meu pai! — resmunga, me olhando assustada,
enquanto a observo com carinho. E tesão. Porra de mulher gostosa!
Ela está prestes a atender quando olha para baixo percebe que está
nua. Sorrio e entrego a ela o lençol, onde ela se enrola e atende apressada.
— Paizinho! — diz, com um sorriso amarelo.
— Oi, meu amor! — A voz grossa é diferente da que ouvi outra
vez a chamando de Cenourinha, ou seja, é o pai com cara de bravo dessa
vez. — Como você está?
— Estou bem e o senhor? — Ela tenta dar um jeito nos cabelos, se
equilibrando para segurar o telefone e o lençol.
— Por que está enrolada assim, filha? Está doente? É febre, não
é? Eu falo pro Ted que você não se cuida direito… — reclama, parecendo
preocupado.
— Calma, paizinho! É que… — Ela pensa por um segundo e me
olha, pedindo ajuda, e eu apenas dou de ombros, porque não sei o que dizer.
— É que fez muito calor essa noite e eu acabei dormindo só de lingerie, me
enrolei para atender o telefone.
— Você, dormindo às dez da manhã? Com certeza está doente.
Nós vamos pegar o primeiro voo para ir aí cuidar de você e…
Pegando Maddie de surpresa e interrompendo seu pai, apanho seu
telefone e coloco em frente ao mesmo, mesmo que eu ainda esteja com o
torso nu.
— Como vai, Sr. Brown? — cumprimento e ele me olha
espantado. — A Maddie está ótima, mas nós dormimos tarde após o jogo de
ontem, por isso perdemos a hora — explico, vendo minha namorada em
choque.
— Vocês… o quê? Dormiram? Tipo, juntos? — Sua voz sai meio
esganiçada pelo susto e minha ruivinha se senta ao meu lado, com o rosto
todo ruborizado.
Antes que eu possa responder, o outro pai dela aparece, pulando
animado e balançando o celular.
— John, amor! Eles estão namorando! — grita, empolgado. —
Olha só que pedido mais fofo! — Mostra a tela do aparelho para o marido,
que franze o cenho, analisando a cena.
— Você está namorando com esse brutamontes, filhinha? — John
questiona, deixando Maddie constrangida. Passo meu braço sobre seu
ombro, mostrando que estou aqui com ela.
— Para com essa implicância, homem! Nossa Cenourinha cresceu
e tem um gosto excelente para namorados. — Ted sorri, como se vivesse
em constante estado de êxtase. — Estou muito feliz por vocês, já estava na
hora — completa, fazendo seu marido revirar os olhos.
— Escuta aqui, rapaz, Maddison é o maior tesouro da minha vida,
se você ousar magoá-la…
— Se eu ousar fazer isso, pode deixar que farei o favor de chutar
minha própria bunda, senhor. Sua filha é a coisa mais importante da minha
vida — interrompo, abrindo meu coração e puxando a ruiva para o meu
colo, tomando cuidado para não revelar que ela não veste nada por baixo do
lençol.
— Espero que tenha a decência de vir pedi-la em namoro
oficialmente na pausa dos jogos. — Então baixa a voz e sussurra: — Tenho
uma espingarda e não tenho medo de usá-la.
— Pare de mentir, John. Você não acertaria nem um elefante
africano se estivesse na sua frente — debocha Ted, fazendo Maddie e eu
rirmos e o marido fechar a cara.
— Vai ser uma honra, senhor. Mas ficaria muito feliz se viessem
passar o Dia de Ação de Graças conosco, assim podemos fazer um grande
jantar. Talvez meu irmão possa participar também.
— Acho uma ideia maravilhosa! — concorda Ted. — E você,
Cenourinha, aproveite, querida e não faça nada que eu não faria! —
completa sorrindo.
— Pode deixar, papai!
— Até mais, crianças! — Ted se despede.
— Está avisado, Sr. Durand — John encerra. — Amo você, meu
amor!
— Também amo vocês!
E dessa forma eles desligam e percebo que finalmente minha
namorada respira aliviada.
— Tudo bem, amor, acho que passei no teste — digo, piscando
para ela.
Eu não queria deixar a Maddie em casa, juro que não. Por mim,
estaríamos grudados vinte e quatro horas por dia, feito cachorro e carrapato.
Ou melhor, eu estaria beijando aquela boca gostosa e fodendo aquela
bocetinha vinte e quatro horas por dia. Mas sei que ela está dolorida, e que
também precisa descansar para a semana intensa que teremos pela frente,
além de precisar ter o seu próprio tempo, para fazer coisas que gosta e que
eu jamais irei atrapalhar.
Foi por isso que me despedi e vim para casa, aproveitar para
relaxar um pouco dos treinos.
Estou na cozinha preparando um sanduíche quando meu irmão
aparece. Desde que está em L.A., tenho notado que mais alegre, menos
retraído e muito menos carrancudo. Parece que minha amiga doidinha e
safada está fazendo muito bem a ele.
— Nossa, posso saber o motivo desse sorriso gigante aí na sua
cara? — pergunta, se sentando no banquinho em frente ao balcão.
— Acho que estou apaixonado — comento.
— Você acha, Ollie? Pelo amor de Deus, só um cego não vê o que
se passa entre vocês dois — debocha. — Ou melhor, até um cego veria,
porque é tão palpável que aposto que dá pra sentir até em braile. Eu vi
vocês juntos na biblioteca.
— Idiota! — rebato.
— Fiquei sabendo do pedido de namoro. Parabéns, irmãozinho!
— Valeu, Eustácio.
— Você pensou no que conversamos?
— Eu preciso de um pouquinho mais de tempo, Ed. Não posso
contar a verdade para a Maddie agora, porque ser um Príncipe não é o único
segredo que guardo dela.
— Ollie, não sei se a Vick vai me perdoar se descobrir por
terceiros. Nosso pai está no meu pé.
— Eu entendo, Ed.. Só mais um tempinho, eu prometo. Vou
resolver as pendências e contamos a elas. Eu quero ser livre e feliz e desejo
o mesmo pra você.
— Tá bom. Mas não demore — pede. — Agora eu preciso ir, a
Vick está me esperando.
— Fico feliz que tenha finalmente se dado essa chance, irmãozão.
Eu sabia que você não era um jedi e que não se corromperia ao se apaixonar
— brinco, fazendo-o sorrir.
— Que sorte a nossa, porque eu não tenho muito o perfil de Darth
Vader e ainda não estou muito certo quanto a me juntar ao lado sombrio da
força. — Ri e me dá um tapinha nas costas antes de sair.
Sento-me para começar a comer, vendo Kakarotto dormindo num
cantinho na cozinha e pensando em como minha vida está entrando nos
eixos.
— Foi um show e tanto aquele de ontem — Trevor entra na
cozinha em seguida, quase me fazendo engasgar com o sanduíche.
— Não sei do que você está falando. — Continuo comendo, me
fazendo de desentendido.
— Comigo o seu teatrinho não cola, Durand. Ou deveria dizer
Príncipe Olliver?
— Não me enche, Trevor! Os dois meses estão quase no fim e eu
estou cumprindo a minha parte na aposta.
— Vamos ver até quando…
— O que está insinuando? É você quem fica tentando armar pra
cima de mim o tempo todo, eu estou só seguindo a minha vida, cara! Vê se
me esquece.
— Acho que você tem coisas demais, enquanto eu tenho ficado no
banco… Além do mais, ainda está trepando com a ruiva gostosa e não estou
gostando disso.
— Você não tem que gostar de porra nenhuma! — Levanto, o
pegando pelo colarinho. — Deixe a mim,, a minha namorada e a minha
família em paz e vai viver sua vida de merda longe. Esse é o nosso trato.
— Vou pensar no seu caso… Mas, se eu fosse você, manteria os
olhos bem abertos — ameaça e sai, me deixando com um gosto amargo na
boca.
Preciso esclarecer tudo com a Maddie antes que seja tarde demais.
Hoje, o Bruins, time do meu namorado — ainda não me
acostumei a falar isso, apesar de amar a sensação das palavras deslizando
pelos meus lábios —, vai jogar em casa, porém, após uma semana muito
cansativa de aulas, ajuda no abrigo de animais e na igreja, estou esgotada.
Por isso, Vick, Peny e eu combinamos de não ir ao Rose Bowl, e sim,
assistir o jogo pela TV direto do Joe’s. Será uma noite das meninas.
Mando uma mensagem para o Olliver, dizendo que estarei
torcendo por ele e que sei que irá arrasar em campo, depois guardo o celular
e vou me arrumar.
Estou em frente ao meu closet, tentando decidir o que vestir,
quando Peny me estende uma mini saia de couro preta, um cropped branco
de renda, meia arrastão preta e aponta para as minhas botas no canto do
quarto.
— Vista isso, por favor, e deixe seu namorado louco. Ele não
merece te ver só de moletom, pelo amor dos deuses! — resmunga.
— Ele pode me ver nua também, se quiser. Não me oponho nem
um pouquinho — respondo, mordendo o lábio inferior para conter a
vergonha ao lembrar das mãos de Olliver deslizando pelo meu corpo.
— Você ficou muito saidinha para o meu gosto! — rebate.
— Olha só quem fala, a garota que vira e mexe tá com dois caras
— retruco e mostro a língua.
— Estou muito orgulhosa da piranhazinha que você está se
tornando, ruiva — brinca, desconversando e me abraça, deixando um beijo
babado na minha bochecha.
— Tenho excelentes professoras — debocho.
— Então se veste logo, porque hoje vamos te dar um intensivão
para enlouquecer o QB. — Ela ri, e logo estamos prontas, seguindo para o
pub.
Meia hora mais tarde, chegamos ao Joe’s e encontramos Vick
sentada, nos aguardando.
— Hey, gracinha! Nossa, sua pele está um arraso, deve estar
dando até de ponta cabeça, né? Ollie é um puto! — diz a loira, me
abraçando e passando a mão pelo meu rosto, para em seguida cumprimentar
minha amiga.
Minhas bochechas queimam de vergonha por ela ser tão direta,
mas não consigo evitar de sorrir.
— Sentem-se, por favor, porque o jogo já vai começar e nós
vamos encher a cara!!! — grita, animada. — Jake, traz uns shots pra gente!
— pede ao garçom, que assente, e logo está colocando copinhos, tequila, sal
e limão na nossa mesa.
— Eu nunca bebi isso na vida — resmungo, sem graça.
— Para tudo tem uma primeira vez — Penélope argumenta e Vick
concorda com a cabeça.
— É só você ir intercalando a bebida com água e petiscos que vai
ficar bem. Eu ensinei esse truque ao Bonitinho, porque ele também não
sabia beber.
Após essa “dica valiosa”, Vick enfileira os copinhos, despeja o
líquido e coloca um pouco de sal no dorso na mão, em seguida o lambe,
vira a tequila e chupa o limão, erguendo as mãos e comemoração.
— Uhul! A noite está só começando! — Sua animação é
contagiante, mas ainda não tenho certeza sobre beber isso, afinal, nunca
coloquei nada de alcoólico na boca.
Ela completa o seu copinho e aponta para que imitemos o gesto.
Olho bem reticente para minha melhor amiga, mas ela parece muito
empolgada e tranquila quanto a beber, então, dando de ombros, sigo-as,
lambendo o sal e bebendo, para em seguida chupar o limão.
Argh! Pior sensação que já tive na vida! Esse negócio desce
queimando, aquecendo o meu corpo e me fazendo tossir até meu pulmão
quase sair pela boca, tamanho é o esforço que faço para voltar a respirar.
— Credo, Vick! — reclamo quando me sinto mais normal,
batendo no peito com a mão fechada para a queimação passar, vendo tudo
rodando ao meu redor. — Pelos meus cabritinhos… eu preciso de água —
peço, fazendo as duas gargalharem e voltarem a beber.
Peny e Vick continuam no ritual da tequila, enquanto eu tento me
manter consciente com uma garrafa de água que pedi ao garçom após ter
bebido álcool quase puro, com os olhos fixos na TV.
— Vamos, gracinha, na noite das garotas todo mundo precisa
beber! — Vick diz, estendendo um drink vermelho para mim em uma taça
bonita, com cerejas boiando, gelo e fumacinha saindo. Sugo o canudinho e
chego a fechar os olhos quando o líquido docinho entra em contato com a
minha língua. Humm… que delícia!
Aproveito que estou com sede e tomo tudo de uma vez, pedindo
mais um. As duas garotas na mesa se entreolham e sorriem, e logo o
garçom traz outro. E outro depois desse. E mais outro, por fim, quando o
time aparece em campo diante da tela, não sei dizer quantas taças tomei,
mas estou muito feliz. E talvez um pouco tonta.
— Aquele é o meu namorado!!! — grito e aponto para a TV
quando Olliver aparece, ostentando todos os seus músculos definidos
marcando naquela camiseta azul. — Vai, Princeso, arrasa e faz um gol pra
mim! — berro como se ele pudesse me ouvir e as meninas gargalham.
— Touchdown, ruivinha, é touchdown que fala — Vick me
corrige, mas eu só sei sorrir. E enxergá-las quase como um borrão.
— Isso, isso! — assinto e tento me concentrar na partida, mas é
quase impossível.
As meninas pedem uma porção de batatinhas e algumas cervejas,
e eu divido minha atenção entre comer, beber drinks e assistir ao jogo, sobre
o qual eu não entendo nada e não faço ideia do que esteja acontecendo. Vez
ou outra alguém grita no bar, comemorando ou xingando os jogadores, mas
eu continuo na minha.
O segundo quarto acaba e Victória se vira pra mim com um
sorriso que me dá arrepios.
— Então, gracinha, conta pra gente… O gato é bom mesmo com
as mãos entre quatro paredes ou só em campo?
Olho-a, confusão estampada em meu rosto, mas então Vick faz o
favor de demonstrar com um gesto obsceno de mãos, e abro a boca ao
compreender o que ela perguntou.
— É… eu… — começo a balbuciar coisas incompreensíveis,
tentando achar uma resposta, mas não consigo.
— Estamos entre amigas, Maddie, manda esses pudores pro
inferno e vamos fofocar sobre nossos homens! — Peny argumenta.
— É isso aí! — Vick comemora. — Gente, o meu Bonitinho é
uma coisa de outro mundo quando ativa o modo safado. Ele consegue me
deixar assada toda vez e me faz gemer gostoso. Nunca fui tão bem comida
na vida — explana, me deixando chocada.
— De ficar assada eu entendo! Até agora me pergunto o que eu
tenho na cabeça para aceitar ficar com dois caras com paus enormes… —
Peny revira os olhos. — Mas quando eles sugeriram uma DP — ela se
abana com as mãos, como se a lembrança lhe causasse muito calor —, eu
não pude negar, né... — Sua cara de safada deixa claro que ela não se
arrepende nem um pouquinho da experiência.
Fico de cabeça baixa, lembrando dos momentos que tive com
Olliver. Ele é muito carinhoso, gentil, sabe onde tocar e me levar à loucura,
mas seu toque ainda é calmo. Acredito que, por eu ter perdido a virgindade
recentemente, ele acha que posso quebrar a qualquer momento. E nem
adianta dizer que ele é assim com todas, pois já ouvi muitos rumores sobre
a pegada do meu quarterback e não vejo a hora de experimentar.
— E aí, gracinha, vai contar pra gente como é Olliver Durand na
hora do "tchaca tchaca na butchaca"? — pergunta Victória, após meu
silêncio prolongado.
— O que é isso? — indago, confusa.
— É sexo, mulher! Trepada, foda, bimbada, esconder a cobra e
tudo mais.
— Então… é… Eu não tenho um parâmetro, sabe, o Olliver foi o
primeiro com quem fiquei. Primeiro beijo, tirou minha virgindade… —
digo, constrangida por ser tão esquisita e ter demorado tanto, mas os olhares
delas deixam bem claro que entendem e que cada uma tem seu tempo. Elas
não me julgam.
— E como foi? Ele foi cuidadoso com você? — pergunta Vick,
com uma seriedade bem incomum a ela.
— Ele foi perfeito, me tocou como se eu fosse o bem mais
precioso que ele já teve na vida… — respondo, sonhadora. — E ele me fez
gozar. — Sorrio. — Dizem que nem sempre acontece na primeira vez, mas
Olliver conseguiu. Duas vezes.
— Olha só, agora sim, o QB subiu no meu conceito! — Penélope
exclama. — Só me diz, pelo amor dos deuses, que vocês vão transaram no
nosso quarto — implora e eu não resisto, rindo da sua cara, pois ela acertou
em cheio. — Ah não, Maddison! Só espero que não tenham usado os meus
lençóis egípcios.
— Seus lençóis estão seguros — aviso. — Mas não posso dizer o
mesmo sobre o tapete, as cadeiras, a bancada do banheiro… — enumero e
sua cara de pânico é hilária.
— O que os olhos não veem, o coração não sente, gata. Esquece
isso — Vick ameniza a situação. — Pelo visto, vocês têm aproveitado
bastante.
— Uhum — confirmo.
— E do que você mais gostou? Rolou algo diferente? — Victória
continua com o interrogatório.
— Gostei de tudo. Só… — começo, mas fico com vergonha de
reclamar do meu namorado.
— Pode falar, gracinha, estamos aqui para te desvirtuar e levar
para o mau caminho.
É claro que estão. O que mais eu esperaria de duas safadas de
carteirinha, não é?
— Eu só queria que ele me pegasse de jeito mesmo. Sexo bruto
que fala, né?
— Maddie, estamos em pleno século vinte e um, chega de
pudores, nada te impede de tomar a iniciativa — Peny explica e abre a
bolsa, tira algo lá de dentro e me estende uma caixinha. — Comprei isso pra
você, acredito que vá gostar e, com certeza, vai te deixar com muito mais
fogo. Tem o passo a passo de como usar, mas você também pode ver uns
vídeos no Youtube. Ou assistir aquele segundo filme do Grey, o boy mostra
direitinho como colocar. — Ela tem um sorriso malicioso no rosto, em
seguida a conversa segue por caminhos um tanto safados, me deixando
cheia de ideias e de tesão. Nossa, como tá calor aqui! Ui!
Vick aproveitou também para me ensinar alguns truques básicos
de autodefesa, pois, segundo ela, o campus anda muito perigoso,
principalmente porque o reitor Fox fica fazendo vista grossa para tudo.
Entre conversas e muita bebida, aquela vermelha e docinha para
mim, perdemos o final do jogo, mas sei que os meninos ganharam de
quarenta e dois a trinta e dois do Utah, o que nos deixou felizes.
— Meninas, eu… — falo, um pouco alegre demais pela
quantidade de bebida que ingeri esta noite — Eu acho que amo o Olliver.
Preciso dar os parabéns pela vitória e contar pra ele — explico e elas
assentem, sorrindo. — E também tenho algumas dicas para colocar em
prática. — Tento fazer a cara mais safada que consigo e elas entendem, se
levantando comigo, seguindo para fora do pub após pagarmos a conta.
E com ideias muito luxuriosas, entramos em um táxi, direto para a
casa dos nossos homens.
Este é o primeiro jogo desde que pedi Maddison em namoro e,
infelizmente, ela não estará presente. Não vou mentir e dizer que não a
queria na arquibancada, usando a minha camiseta para que todos soubessem
que ela é minha e gritando o meu nome, pois eu queria. E como queria.
Contudo, entendo o quanto ela está cansada devido à sua rotina puxada, por
isso, sorrio quando leio sua mensagem antes da partida:

Girassol namorada: Oi, Princeso! Vc não tá bravo mesmo por eu não ir ao


jogo?

Eu: Claro que não, Girassol, eu entendo que vc tá cansada.


Tá tudo bem. Os jogos no estádio são muito tumultuados e vc iria se cansar
ainda mais.

Girassol namorada: Vou assistir com as meninas lá no Joe’s,


mas a gente se fala depois do jogo, tá? Estarei torcendo por vcs.

Eu: Eu sei que sim, e depois a gente pode comemorar a vitória só nós dois,
em cima de uma cama. Ou no carro, no mato, na biblioteca… Onde vc
quiser.

Girassol namorada: Vou querer comemorar em cada um desses lugares,


Princeso!

Eu: É claro que vai, minha monstrinha do sexo.

Girassol namorada: Bom jogo e pense em mim.


Girassol namorada: Não, não pense, não. Não quando estiver em campo.
Se concentra, pq não quero meu namorado quebrado depois de apanhar
daqueles brutamontes do outro time.

Eu: Pense pelo lado bom, se eu me machucar, vc pode cuidar de mim.

Girassol namorada: Prefiro me aproveitar de vc inteiro. Se cuida!

Eu: Pode deixar! Estarei contando os minutos pra te ver.


Beijos nessa sua bo…a gostosa.

PS: complete a palavra como preferir :D

Girassol namorada: Eu também quero te ver! Meu safofo! rs :P


Eu: Não faz isso com a minha masculinidade, Maddie!

Girassol namorada: Beijoooooooo ;*)

Acabo de ler sentindo uma euforia no peito, e também dentro das


calças, porque só de pensar em “comemorar” com a Maddie depois faz a
adrenalina subir e eu quero dar o meu melhor, e bem rápido, para ir logo pra
casa.
— Olha só o nosso QB, tá rindo feito um bocó para o celular.
Alguma garota na parada? — pergunta Aaron, um dos caras do time com
quem eu tenho pouco contato.
— Tem sim, a garota. Ou melhor, a minha garota — respondo,
orgulhoso e possessivo.
— Uiiiii… agora ele é um homem sério — Mike debocha, como
um bom garoto que nunca saiu da quinta série.
— Você não ficou sabendo? — Hunter comenta, colocando a mão
no meu ombro. — Ele e a Maddie estão namorando desde o último jogo —
explica.
— Então você é monogâmico agora? Foi amarrado pelas bolas?
— questiona Aaron.
— Fui e não me envergonho disso — admito.
— Iiiihhhh… nosso quarterback passou pela evolução Pokémon,
de galinha para cadelinha — grita, rindo da minha cara, fazendo parte dos
caras no vestiário rirem também, mas eu não ligo. Estou feliz com a minha
ruiva, e ela é tudo o que eu quero na minha vida.
— Por acaso as moças estão com o jogo ganho, por isso vieram
tricotar no vestiário? — berra o treinador Stevens ao entrar no local.
— Sinto muito, treinador, nós já estamos… — começo, mas ele
me corta erguendo a mão.
— Sumam da minha frente agora e vão para o gramado! — deixa
uma última ordem e sai andando.
— Bora, galera, hoje é dia de arrasar! — chamo todos e saímos do
vestiário, caminhando pelo túnel até chegarmos ao campo.
A torcida grita quando nos vê, animados para mais uma partida
eletrizante, onde o Bruins vai dar o seu melhor.

— Nós ganhamos, porra! — grito em comemoração com meus


companheiros. — Vocês foram fodas! — Tapas nas costas e socos nada
sutis são distribuídos, como forma de expressarmos nossa animação.
— Cerveja para comemorar? — Jackson pergunta.
— Eu passo por hoje, tô indo comemorar com a Maddie —
comento, sendo vaiado pela maioria. — E por favor, prefiro que vocês não
comemorem lá em casa dessa vez. Eu realmente preciso descansar — peço,
olhando para Matt e Jackson que estão mais perto.
— Estou indo também. Pode me dar uma carona, QB? — Hunter
pergunta. Vejo os outros moradores lá de casa fecharem a cara, mas pouco
me importo. Estou realmente cansado, tanto da semana, dos jogos e,
principalmente, de aguentar esses três. Estou a um triz de botá-los pra fora.
— Claro, bora — chamo e ele me segue até o carro. Deixamos
para tomar banho por lá.
O trajeto leva em média quarenta minutos e quando chegamos,
tudo está muito silencioso. Acredito que Ed deve estar jogado na cama,
lendo algum livro chato do seu curso e ouvindo música. Ou talvez batendo
uma pensando na Vick, porque, atualmente, essa é uma hipótese válida, já
que a loira saiu com a minha namorada e com certeza o deixou sozinho.
Passo pela cozinha para conferir os potes do Kakarotto, notando
que a água e a ração estão novas e fresquinhas, por isso, lavo as mãos, pego
uma maçã e subo as escadas com a minha mochila no ombro, comendo a
fruta.
Assim que chego ao corredor, vejo meu gato parado em frente a
porta, praticamente jogado, com a barriguinha para cima, patas esticadas,
deixando claro que ele está muito confortável e que, talvez, não vá
desempacar para eu entrar.
— Oi, amigão! Que tal sair daí, hein? — peço e ele apenas mia,
como se negasse. — Vai, Kakarotto, não tô a fim de fazer uma abertura
digna do ballet Bolshoi para entrar no meu quarto. — Não adianta, ele
continua ali.
Por isso, estico o braço, abro a porta e o empurro para o lado com
cuidado, adentrando o cômodo. Atiro a mochila no chão, deixando para me
preocupar com as roupas sujas depois, e vou para o banho.
Enquanto me lavo, lembranças da Maddie invadem a minha
mente, fazendo meu coração bater acelerado e o meu pau crescer, louco
para comemorar com ela do jeito mais prazeroso possível. Agilizo o banho
e saio, me secando na toalha antes de ligar para ela.
Visto uma boxer preta, calça de moletom da mesma cor e uma
camiseta cinza com estampa do Star Wars, passo perfume e, quando pego o
celular, ouço o barulho de um carro parando em frente a minha casa.
Acredito que sejam os caras, no entanto, vozes muito mais
melodiosas chegam aos meus ouvidos, fazendo meu corpo todo arrepiar e
entrar em estado de euforia.
Só pode ser ela!
Jogo a toalha em um canto e desço apressado, abrindo a porta em
seguida. Saindo do táxi estão Vick, Penélope e ela, minha Girassol, minha
namorada.
— Princeso! — grita quando me vê, falando de um modo bem
engraçado para os seus parâmetros e caminha a passos incertos até mim,
envolvendo seus braços ao redor do meu pescoço. Seguro em sua cintura,
ajudando-a a se equilibrar. — Eu vim aqui porque tenho uma coisa muito
importante pra te dizer — sussurra de forma nada discreta, sua fala se
embola um pouquinho e ela ri, como uma boa bêbada. — É é é é… —
Feições pensativas tomam seu rosto e ela olha para as outras duas ainda
encostadas no veículo amarelo. — Esqueci — completa, e as três riem tanto
que precisam sentar no chão.
Chacoalho a cabeça, chocado com o estado alcoólico delas, afinal,
ver a Vick alterada é algo mais comum pra mim, mas devo admitir que ver
Maddie usando uma roupa que deixa pouco para imaginação, com o corpo
quase estendido no meu gramado, é uma visão um tanto instigante.
Principalmente se levar em conta o estado de excitação em que me encontro
nesse momento.
— Fica aqui quietinha, Girassol, já te levo pra dentro — peço, me
agachando à sua frente e deixando um beijo em sua testa. Ergo-me e
caminho até o táxi. — Obrigado por trazê-las em segurança, cara! — digo
ao taxista. — Quanto ficou a corrida?
Ele me informa o valor e corro lá dentro para pegar minha
carteira, pagando-o logo em seguida e me despedindo.
— Agora, vocês três, esperem aqui, porque eu sou um só —
aviso, apontando o dedo para as bêbadas, que assentem, ainda rindo como
garotinhas arteiras. Volto para a sala de casa e, na base da escada, grito: —
Eustácio, Hunter, venham me ajudar com suas mulheres, pelo amor de
Deus!
Em segundos, ouço as portas dos quartos abrindo e os dois
descendo; Hunter com um sorriso besta no rosto, apesar de apressado, e
meu irmão com cara de quem caiu da cama.
— O que aconteceu? — Edward pergunta e eu aponto para a
porta, caminhando para lá.
Os dois me seguem e ao encontrar as meninas, Ed se esforça para
não rir da situação da sua não-namorada, enquanto Hunter sorri ao se
aproximar de Penélope.
— Hoje você aproveitou, hein, patricinha? — diz, ajudando-a a se
levantar e lhe dando um abraço apertado. — Vem, eu vou cuidar de você.
— Ele a pega no colo, e a morena se agarra ao seu pescoço, mas ainda
posso ouvi-la berrar:
— Cadê o Zion? Chama ele também, porque hoje eu quero ser o
hamburguer do sanduíche de vocês, meus pães!
Não resisto e caio na gargalhada, porque parece que, além de
álcool, a garota tomou algum afrodisíaco, porque está com o fogo aceso.
— Vem, ruivinha, vamos entrar, você precisa de um banho e algo
bem doce para aliviar essa bebedeira — digo para a minha namorada, que
se ergue a contragosto.
— Você também vai me carregar? — pergunta manhosa, se
pendurando em mim.
— É claro que vou. Sempre e pra sempre — respondo com toda a
sinceridade, apertando-a contra mim, mas ela parece nem perceber, com a
mente nublada pela bebida.
— Me leva de cavalinho? — pede, me soltando e contornando o
meu corpo. — Eu queria um príncipe num cavalo branco, mas você pode
ser as duas coisas hoje, o príncipe e o cavalo — explica, em mais um de
seus devaneios e não resisto, rio com vontade. A Maddie bêbada é uma
gracinha.
— Vem, minha princesa, seu príncipe barra cavalo vai te levar
para seus aposentos reais.
— Irra! — diz quando sobe nas minhas costas e prendo suas
pernas com as minhas mãos, sentindo seus braços apertarem meu pescoço
com vontade, provavelmente com medo de cair. — Me carrega, Princeso,
me carrega pra sua vida! — pede e ouço Vick rindo.
— Vamos, Vick, você também precisa de banho e cama —
Edward diz e a loira se pendura nele, resmungando.
— Bonitinho, eu bebi demais… — reclama. — Acho que eu vou
morrer! — Faz drama, arrancando um suspiro divertido do meu irmão.
— Tenho certeza de que, o máximo que você vai conseguir, será
uma ressaca amanhã.
— Escuta aqui: se eu morrer, quero ser enterrada de quatro, pra
terra me comer do jeitinho que eu mereço. — Victória sendo Victória! E Ed
não resiste e gargalha.
Começo a andar em direção à porta de entrada, então Maddie
grita:
— Eu nunca fui comida de quatro! Quero ser comida de quatro
hoje! Agora, Princeso!
Admito que fico sem graça, então meu irmão passa por mim
quando chegamos na sala, levando a loira em seus braços, mas antes diz:
— Boa sorte, garanhão! Dê a sua mulher o que ela está pedindo
— debocha, segurando o riso —, mas, por favor, eu não quero ouvir!
— Isso eu já não posso prometer — respondo e subo as escadas,
chegando no meu quarto.
Desvio de Kakarotto quando passo pelo corredor e, assim que
chegamos ao quarto, coloco Maddie no chão.
— Vem, Girassol, você precisa de um banho — aviso e a puxo
pela mão para levar ao banheiro, mas ela me segura.
— Eu caprichei na roupa para te ver hoje, Princeso — diz e se
aproxima, tocando meu peito por cima da camiseta, deslizando os dedos
pelo Jedi desenhado —, estou louca para ver o seu sabre de luz, e você vai
me fazer desperdiçar esse visual “foda-me agora” que a Peny me fez
vestir?
Finjo pensar por um momento, mas ela parece muito alterada para
que eu faça qualquer coisa agora.
— Não acho legal a gente transar com você nessas condições,
Girassol. Prefiro você totalmente sóbria — explico, abraçando-a de modo
que sua cabeça bata no meu queixo e eu consiga aspirar o aroma gostoso
dos seus cabelos.
Ela se aconchega a mim e aproveito cada segundo do seu corpo
quente no meu, no entanto, quero cuidar dela como merece, por isso, me
afasto, deixando-a paradinha no lugar. Caminho até o frigobar e pego uma
garrafa de água e uma barra de chocolate.
— Beba tudo e coma, vamos tirar esse álcool do seu corpinho
gostoso.
— Estou muito consciente das minhas vontades, Princeso… —
argumenta. — Mas, se você não quiser me comer, eu posso brincar um
pouquinho com você. Do jeito que eu quiser — pontua a última frase,
descendo sua mão pela frente do meu corpo e me dando um aperto que faz
meu pau dar um pinote nas calças, de tão duro que se encontra.
— Não brinque com fogo, Maddie — peço, usando o último fio
de sanidade que tenho.
— Eu quero mais é me queimar, Olliver… Vamos provocar um
incêndio nesse quarto. — A firmeza e sensualidade em sua voz me deixam
louco, principalmente quando sua boca se aproxima da minha, porém, ela
pega os itens da minha mão, tomando a água quase toda de uma vez, em
seguida, abre o chocolate e dá algumas mordidas, me encarando.
Provocadora de um jeito que eu nunca vi, Maddison não se
contenta e chega bem perto, contudo, não me beija, mas lambe os meus
lábios juntos, me fazendo abri-los, então ela morde a parte inferior, chupa e
logo sua língua está explorando minha boca, entrelaçando-se à minha de um
jeito irresistível, me fazendo compartilhar o chocolate. Seu gosto me
alucina, ainda mais misturado ao doce, por isso, sem mais resistir, agarro
sua bunda com as minhas mãos, trazendo-a para mais perto de mim,
roçando-a em minha ereção, o que a faz gemer.
Ela interrompe o beijo e sobe a língua pelo meu pescoço, ao
mesmo tempo em que aperta minha nuca com uma de suas mãos e a outra
arranha o meu abdômen por baixo da camiseta.
— Você é tão gostoso… — sussurra no meu ouvido, para logo
puxar minha camiseta para cima, retirando-a de mim. Não me oponho e
jogo a peça no chão. — E todo meu! — Ela dá a volta pelo meu corpo e me
empurra em direção à parede, onde apoio as costas, esperando seus
próximos movimentos.
Nossos olhares se encontram e vejo fogo no dela, que imagino
espelhar o meu. Ele curva o tronco para baixo, retirando as botas
vagarosamente, enquanto sua bunda se encontra empinada em minha
direção. Assim que o calçado sai, ela se vira novamente para mim,
colocando-se de joelhos à minha frente.
Um suspiro ansioso escapa por meus lábios quando ela puxa
minha calça e cueca para baixo, expondo o meu pau, quase tocando-o com
sua boca vermelha e convidativa.
— Hoje sou eu quem manda aqui — avisa antes de dar uma
lambida da base à glande, e eu apenas assinto, livrando-me da roupa aos
meus pés, aproveitando o prazer que ela pode me proporcionar.
Sua língua circula a cabeça do meu pau e ela captura uma gota do
pré-gozo que se alojava ali, gemendo em satisfação.
— Seu sabor é o melhor do mundo, mas hoje eu quero mais —
declara, e não entendo de imediato o que ela diz.
Maddie continua trabalhando com sua boca voraz, espalhando
lambidas por onde alcança, não deixando de fora minhas coxas, virilha, as
bolas e muito menos o períneo. Confesso que nenhuma garota foi tão
ousada assim antes, mas sendo ela, tudo é perfeito e eu só quero mais, por
isso, toco em seu queixo, esperando que ela olhe para mim.
— Que tal fazermos isso juntos? Quero que você sinta o mesmo
prazer que estou sentindo agora — murmuro e ela sorri quando lhe estendo
a mão.
Puxo-a para cima e a beijo com ainda mais vontade, sentindo meu
gosto em seus lábios, mas até isso é prazeroso, pois é uma mistura de nós
dois. Paro o beijo e lambo o seu pescoço, ao mesmo tempo em que passo
meus dedos pelas laterais de sua barriga exposta e a vejo se contorcer.
— Não tortura, Ollie… — reclama e se deita de costas na cama. A
saia sobe um pouco com o gesto, expondo sua calcinha preta e a meia
trançada que eu não faço ideia do nome, mas que quero rasgar com os
dentes. — Eu quero esse pau gostoso na minha boca.
— Calma, Girassol… porque eu também quero sentir o seu gosto.
— Então vem aqui em cima e a gente faz um meia-nove. Quero
sentir seu corpo em cima de mim — reclama, se erguendo apenas o
suficiente para agarrar minha mão e me puxar para si.
— O que deram pra você, hein? — pergunto, pegando seu rosto
com minhas mãos e olhando dentro dos seus olhos. — Nunca te vi tão
safada assim.
— Eu não faço ideia, mas se eu não gozar nos próximos minutos,
as coisas vão ficar feias pra você, Princeso. E hoje eu quero forte! Muito
forte!
— Deixa comigo, ruivinha, seu desejo é uma ordem — e, dizendo
isso, afasto-me um pouco e pego em suas coxas, virando-a de barriga pra
baixo no colchão. Ela dá um gritinho devido ao susto, mas quando puxo seu
quadril para cima, empinando sua bunda pra mim, ela não se opõe.
Sem enrolação, ergo o pouco que sobrou da saia até sua cintura,
deixando-a exposta para mim e ela rebola, desejosa. Então, sem me conter,
levo a mão à sua meia e a rasgo, vendo sua bunda gostosa e branquinha
surgir livre.
— Uii! — resmunga, mas agora o Olliver safado está em modo on
e nada vai me fazer parar até que ela goze como nunca.
Deixo um tapa leve em um lado e ela geme, por isso, repito o
gesto com o outro e, sem pensar muito, desço meus lábios até a pele
levemente avermelhada, lambendo-a. Maddie geme quando puxo sua
calcinha até às coxas, afastando-as com minhas mãos. Passo o dedo em sua
boceta pequena, sentindo o quão molhada ela está.
— Tudo isso é por mim? — sussurro em seu ouvido, debruçando-
me sobre suas costas, esfregando meu pau em sua bunda.
— Hummm... só por você, Ollie!
Sua fala é o gatilho que eu precisava para me abaixar e dar uma
lambida em sua intimidade, pegando dos grandes lábios até o cuzinho
rosado que parece me chamar. Ela se contorce e eu repito o gesto algumas
vezes, sabendo que minha namorada está muito perto de atingir o primeiro
orgasmo da noite. Levo meu dedo para se juntar à brincadeira, intercalando
as lambidas com chupadas e estocadas, e ela geme tão alto que sou capaz de
dizer que fomos ouvidos nos dormitórios da universidade.
Maddie rebola com vontade e diria até com desespero, como se
isso não fosse o suficiente, e eu continuo a chupá-la e estimular seu clitóris
com meus dedos, aproveitando a outra mão para alcançar um seio por baixo
da sua roupa e apertá-lo, e isso é tudo o que faltava para ela se desmanchar
em prazer, gozando profusamente e molhando meu rosto de uma forma que
nunca aconteceu comigo, mas que me deixa orgulhoso.
Ele grita ao invés de gemer, parecendo fora de si, até que seu
corpo todo se rende quando suas pernas cedem e ela deita. Deito-me sobre
ela, sentindo o calor do seu corpo me envolver.
— Você é tão perfeita, Girassol, e eu sou um filho da puta sortudo
por te ter na minha vida.
— Eu te amo, Princeso — sussurra contra o lençol e eu congelo
no lugar.
Não esperava ouvir isso agora, ainda mais com toda essa história
de aposta perturbando a minha mente.
Tenho quase certeza de que sinto o mesmo, e digo quase porque
nunca amei uma mulher além da minha mãe, sequer posso dizer que me
apaixonei por alguém, mas não me acho digno de dizer em voz alta, não
antes de arrumar toda essa bagunça na qual eu me meti.
— Vem, ruivinha, vamos tomar um banho para você poder dormir
limpinha — digo e me ergo, sentindo um incômodo no meu peito.
Deus me livre, eu sou novo demais pra me tornar cardíaco!
— Eu não quero tomar banho agora, quero transar de verdade —
resmunga e se vira, seus olhos ainda repletos de luxúria encarando os meus.
— Assim que eu tiver certeza de que está plenamente sóbria,
prometo dar tudo o que você quiser.
— Sou eu que mando hoje — reclama, me dando a mão para se
levantar. — E vou usar e abusar desse seu corpão delicioso — diz, quando
choca seus seios com o meu tórax.
— Mal posso esperar por isso — respondo sorrindo, pois, mesmo
com toda a merda que existe na minha vida, essa garota é o sopro de brisa
fresca nos meus dias, o sol que surge no céu nublado e as estrelas que
iluminam as noites mais escuras. Ela é tudo pra mim.
Levo-a para o banheiro, ainda atordoado com sua declaração, e é
impossível não notar seu olhar safado enquanto morde o lábio inferior. Sem
nenhum pingo de pressa, ela retira a blusinha que está vestindo, que a essa
altura já não esconde muita coisa, revelando seus seios que têm o tamanho
ideal para minha boca; em seguida, ela puxa a saia, levando a meia e a
calcinha junto.
— Gostosa! — arfo, puxando-a pra mim e nos levando para baixo
do chuveiro e abrindo o registro.
— Aii! — reclama ao sentir a água quase fria caindo por sua pele.
— Você está sendo muito mau comigo, Durand — diz manhosa e se
aproxima, arranhando meu peito. — Está precisando de uma lição —
sussurra, apertando meu pau que está em posição de sentido desde que ela
chegou aqui.
— O que foi que você bebeu, hein? — pergunto, segurando sua
nuca e mordendo o seu queixo.
— Um shot de tequila — bombeia o meu pau duas vezes, me
fazendo gemer —, uma cerveja, água — sua mão desliza em minha coxa e
vai parar na minha bunda — e um drink docinho maravilhoso — completa.
— Espera aí… — Me afasto um pouquinho e olho bem em seu
rosto. — Bochechas coradas, pupilas dilatadas, tesão fora do normal… —
enumero. — Esse drink era vermelho, com uma cereja flutuando e fumaça?
— pergunto, apenas para confirmar minha suspeita.
— Esse mesmo! E é tããããoooo gostoso — afirma, agarrando os
dois lados da minha bunda, colando-me a ela.
O atrito da minha glande com sua pele me faz fechar os olhos por
um momento, duvidando da minha sanidade e do meu autocontrole, pois
estou prestes a gozar como alguém com ejaculação precoce, já que nem fui
estimulado o suficiente e estou a ponto de enlouquecer.
— A Vick te deu um "diabinho sortudo", Girassol — conto, mas
ela parece confusa.
— Ela não me deu diabo nenhum, Ollie. Que loucura!
— É o nome do drink. Ele não tem álcool, mas é extremamente
afrodisíaco. Quantos você bebeu?
— Não sei… uns quatro, ou talvez seis. É tão docinho que perdi
as contas.
— Porra! Por isso te achei tão diferente. A tequila e a cerveja não
seriam suficientes para te deixar assim, mas tesão em excesso, com certeza.
Ainda mais para alguém que ainda está descobrindo o prazer e não sabe
controlá-lo — explico, sentindo ela se esfregar em mim de maneira
desesperada.
— Eu tô muito excitada, Ollie, preciso gozar de novo — diz e
pula em meu colo, pega meu pau e o esfrega sem pudor sobre seu clitóris,
revirando os olhos de prazer. Deixo-a aproveitar por alguns instantes, mas
logo a corto, pois corremos o risco de cair aqui no box.
— Vamos nos lavar e sair daqui primeiro, prefiro ter você em uma
superfície segura. E com proteção, porque a gente é muito jovem para ter
bebês agora.
— Eu gosto de bebês — comenta. — Vamos pegar a camisinha e
treinar muito para quando chegar a hora, estarmos craques. — Ela ri de um
jeitinho tão doce e descontraído que faz meu coração quase rasgar o peito
de tão forte que bate.
Acaricio seu rosto de um jeito suave, observando cada traço
delicado, cada sarda e cada detalhe que me faz ser louco por ela, contudo,
Maddie encerra o nosso momento fofo quando se abaixa à minha frente e,
sem aviso, abocanha o meu pau com vontade, quase o levando ao fundo da
garganta.
Ela chupa com vigor, intercalando com lambidas e arranha minhas
coxas.
— Você tem um pau tão lindo, grande, grosso… aposto que é
maior que a régua que cabe no meu estojo — comenta, me tirando
momentaneamente da nuvem de luxúria.
— De quantos centímetros é essa régua? — indago, juntando seus
cabelos em minha mão em um rabo de cavalo para poder ver seu rosto.
— Vinte.
— Três centímetros do meu pau ficariam pra fora do estojo então
— murmuro, vendo-a arregalar os olhos, para logo em seguida voltar a me
chupar.
Ela geme durante o processo, aumentando ainda mais o meu tesão
devido a vibração e quando estou prestes a gozar, ela se abaixa mais um
pouco, apertando o meu pau com a mão enquanto lambe minhas bolas, para
em seguida deslizar a língua pelo meu períneo novamente e escorregar por
baixo das minhas pernas, ficando cara a cara com a minha bunda.
Retraio-me imediatamente e apoio as mãos na parede, mas ela
alisa minhas nádegas e diz:
— Posso tentar uma coisa que vi em um filme?
— Era pornô, né? — suspiro.
— Uhum. Mas eu paro se quiser.
— Confio em você, ruiva.
E após esse sinal verde, ela morde cada banda, depois passa a
língua pela minha pele, assim como eu fiz com ela. Para meu completo
choque, em seguida, Maddie escorrega os dedos pela fenda, me fazendo
retesar ainda mais, porém, sinto que ela percebe e, ao invés de ir mais
longe, apenas acaricia aquela região, me causando sensações novas e boas
que me deixam a ponto de gozar.
No entanto, ela não permite que eu o faça, engatinhando até estar
à minha frente novamente e volta a me chupar, deixando seus dedos me
explorarem ali atrás, apenas por fora e quando sinto que o tesão fica demais
para mim, fazendo meu pau inchar, ela simplesmente introduz a ponta do
dedo no meu cu, me fazendo gozar de forma alucinada e sentindo minhas
pernas fracas.
Ela engole o quanto consegue, mas uma parte do esperma escorre
por seu queixo, como se eu a estivesse marcando como minha. O que ela é
e eu não abro mão.
— Agora sim, a gente pode se lavar e ir para a cama, pois eu
ainda não acabei com você — diz ao se erguer e eu mal posso esperar para
descobrir o que essa Maddie cheia de tesão é capaz de fazer.
— Senti sua falta lá no estádio, vestindo a minha camiseta e
mostrando pra todo mundo que você é minha — comento, abraçando-a por
trás conforme ela acaba de se enxugar.
Estamos os dois nus e a noite só está começando.
— Eu posso vesti-la agora enquanto você me come de quatro.
— Vai ser uma delícia te comer vendo o meu nome estampado nas
suas costas, com esses cabelos lindos chacoalhando a cada estocada. —
Mordo sua orelha e ela solta a toalha no chão, se virando pra mim.
Em seguida, vejo-a caminhar até o meu closet, pegar um uniforme
limpo e vestir sem nada por baixo, junto com a camisinha que ela pega na
gaveta.
Ela se aproxima às minhas costas e abre o pacotinho, levando suas
mãos para a frente e desenrolando o látex pelo meu pau meio sem jeito,
mas, ainda assim, causando impulsos elétricos pelo meu corpo devido ao
seu cheiro e ao seu toque.
Após concluir sua tarefa, Maddie vai até minha cama e sobe no
colchão, se ajoelhando e empinando a bunda do jeito que a coloquei mais
cedo.
— Vem, Ollie, me fode com vontade — pede, olhando para trás e
sendo dominada pela luxúria.
Não me faço de rogado e me aproximo com a intenção de
prepará-la para mim, mas sua boceta escorre tanta lubrificação que não
penso em mais nada, estoco com vontade, de uma só vez, ouvindo-a gemer
de prazer.
Começo uma sessão de estocadas, deslizando minhas mãos por
sua pele sob a camiseta, apalpando e estimulando cada pedacinho dela.
— Isso, mete com força! — implora e eu obedeço, vendo-a
rebolar e vir de encontro a mim.
Nos perdemos por alguns instantes, mas ela logo toma as rédeas,
assim como disse que faria, e nos separa, me puxando de modo que eu caia
de costas na cama. Sem mais delongas, ela monta em meu quadril, cada
perna de um lado do meu corpo e senta com vontade, começando a
cavalgar.
— Você é um puto gostoso, Durand! — diz com a voz mais
grossa pelo tesão.
— Gostosa é você, ruiva!
— Então prove, me come como se sua vida dependesse disso! —
brada e me dá um tapa na cara, me assustando, mas elevando ainda mais
minha excitação. — Mete com vontade, porque você é só meu! — Ela não
se contém, expondo um lado que jamais imaginei encontrar na garota doce
e tímida que eu conheci e que roubou meu coração.
Entretanto, não estou reclamando. Sou tão louco por ela que sou
capaz de fazer qualquer coisa para que ela seja feliz. E bem comida.
Maddie continua cavalgando e eu ergo sua camiseta, expondo
seus seios e os abocanhando com vontade, a fazendo gemer ainda mais.
Estamos em uma busca desenfreada pelo clímax, perdidos em sensações,
mas é quando ela me beija com seu jeito carinhoso que não resisto e
explodo em um orgasmo intenso que me deixa tonto, sentindo-a me apertar
e perceber que ela também chegou lá, para logo sentir seu peso todo sobre
mim e sua respiração se acalmar, sabendo que minha garota esgotou suas
energias e dormiu satisfeita, se o sorriso em seu rosto for algum indicativo,
porque eu, além de apaixonado e rendido por ela, também estou muito
fodido.
Acordo com batidas em minha porta e demoro a me situar.
— A ruiva te deu uma canseira, irmãozinho? — Ed diz, entrando
no quarto sem ser convidado. Ele para próximo a porta, olhando ao redor.
— A noite foi boa, se levarmos em conta a bagunça que está isso aqui e
todo o barulho que ouvimos — debocha e eu me sento, esfregando os olhos,
sentindo falta de alguém que deveria estar ao meu lado. Cadê a Maddie?
— Por que você não aproveitou o embalo e transou com a Vick,
ao invés de ficar prestando atenção na gente? — resmungo, observando as
roupas jogadas no chão, embalagem de camisinha e tudo mais, mas nenhum
sinal da minha Girassol.
— E quem disse que eu não fiz isso? — pergunta, erguendo a
sobrancelha.
— Eca, Eustácio, eu não quero saber da sua vida sexual com a
minha melhor amiga.
— Eu também não queria saber da sua, mas vocês não são
exatamente silenciosos.
— Você viu a Maddie? — indago, preocupado que ela esteja lá
embaixo com aquele bando de urubus.
— Não vi, mas já dei comida pro seu gato demoníaco, fiz café,
me despedi da Vick lá fora e nem sinal dela. Provavelmente precisou ir
embora. — Aponta para um papel dobrado em cima do travesseiro que eu
não tinha visto. Pego-o e leio:

Bom dia, Princeso!

Nossa noite foi simplesmente incrível e não vejo a hora de repetir.


Acho que ficarei assada por alguns dias :P
Precisei ir embora porque hoje tem feira de adoção no abrigo e vão
precisar de mim.
A gente se vê mais tarde?

Girassol

Termino de ler, mas, ao invés de me sentir feliz, sinto meu peito


apertado. Nós realmente tivemos uma noite incrível, Maddison é uma
garota maravilhosa e… eu estou mentindo pra ela. Como pude chegar tão
no fundo do poço? Sequer tenho coragem de confessar que a amo em voz
alta.
Nunca quis me aproveitar dela, e quando Trevor me encurralou,
eu sabia que tinha sentimentos fortes pela ruiva, e foi por isso que aceitei
essa merda de aposta. Trevor é um babaca mimado e, quem sabe, coisa pior,
não sei do que ele seria capaz apenas para provar que é melhor que eu. Ele
poderia prejudicá-la e eu não posso permitir isso, além do mais, não quero
ter que voltar para o meu país, para todas aquelas regras, proibições, para
todo o desprezo que meu pai sempre jogou em cima de mim. Ficar aqui e,
quem sabe, me tornar um jogador profissional, pode ser a saída de uma vida
eternamente infeliz, já que eu tenho plena certeza de que não nasci para
assumir o lugar do meu pai. Ou melhor, ele nunca iria me querer lá. É capaz
de preferir abraçar o capeta do que me ver sendo seu sucessor.
— Ollie, tá tudo bem? — Meu irmão se aproxima e toca o meu
braço, só então me dou conta de que divaguei após ler o bilhete.
— Uhum… tudo certo — respondo de modo automático, porque
não quero enfiar o meu irmão nessa bagunça.
— Vamos tomar café da manhã então? Estarei te esperando na
cozinha — avisa e caminha até a porta.
— Já estou descendo.
Assim que ele sai, vou até o banheiro, tomo um banho rápido e
escovo os dentes, logo me vestindo com uma bermuda e camiseta e o
encontrando na cozinha.
— Não me diga que foi você quem preparou os ovos e os
bolinhos… — comento ao ver a mesa arrumada e imploro mentalmente
para que não tenha sido meu irmão mesmo, ou precisarei sair para comer
algo decente.
— É claro que não, Ollie, foi a Vick. Você sabe que meu talento
para cozinha é nulo.
— E como sei… — debocho, me sentando à sua frente. —
Lembra aquela vez que você cismou em fazer ovos mexidos e salpicou
farinha de rosca por cima? Argh! Me arrepio só de lembrar. Ou quando
achou que seria uma boa ideia fazer um sanduíche de maionese com banana
e morango? Definitivamente, você é o pior cozinheiro do mundo, irmãozão.
— E você é o cara mais ingrato e tapado que existe! Eu só queria
aproveitar os poucos momentos que tínhamos juntos. — Percebo certa
melancolia em sua voz e toco em sua mão.
— Foi mal, Ed. Você sabe que eu sou um cara brincalhão…
— Eu sei que você é um garoto bem irresponsável às vezes,
parece que não cresceu, Olliver, tanto que me mandaram pra cá para te
vigiar.
— Você não sabe do que está falando, Ed…
— Então me fala!
— Olha só, os dois irmãozinhos brigando logo cedo. Quem
roubou o pônei do outro? — diz Trevor ao aparecer na cozinha com sua
presença desagradável.
— Cala a boca! — ordeno.
— Vem me fazer calar, QB… — provoca, mas eu respiro fundo,
não me deixando influenciar por ele.
— Vai se foder! — brado, encerrando o assunto.
— Eu prefiro foder outra coisa… uma certa ruiva gosto…
O interrompo, me levantando e dando um soco no seu queixo,
impedindo que fale qualquer coisa a respeito da minha namorada.
— Você não deveria ter feito isso! — brada ao se equilibrar,
levando a mão ao local atingido.
— E você não deveria se meter comigo — rebato. — Acabou,
entendeu? Aquilo que conversamos já era.
— Nananinanão! Eu digo quando acaba e, definitivamente, não é
agora, Olliverzinho! Tenho um material maravilhoso que deixaria Only
Fans no chinelo, então, é melhor você ficar bem calminho… — avisa e sai
rindo, com seu ar de superioridade.
— Que merda foi essa? — Ed pergunta, assim que me jogo na
cadeira novamente.
— Nada com que você tenha que se preocupar.
— Olliver…
— Já disse que não é nada, Ed.
— Então porque você não manda esse cara embora daqui? Nós
dois temos bons investimentos, a herança da mamãe… não precisamos
dividir a casa e as despesas com ninguém — argumenta.
— Você não entende… eu não posso.
— Ollie — chama com cautela.
— Eu já disse que não posso, Edward — respondo e saio, sem ter
tomado um gole de café sequer. Inferno!

Não é de hoje que odeio esses imbecis que moram aqui, e faço
questão de deixar bem claro, com meu jeitinho adorável de ser. Mas,
mesmo com todo o ranço que eles me causam, foram poucas as vezes em
que precisei tomar medidas extremas, só que ontem, as coisas foram longe
demais.
Trevor, o ser mais fedorento, xexelento, nojento e tudo mais que
exista de “ento” desse lugar se atreveu a mexer com o meu humano. Sim!
Será que ele não sabe que com o humano dos outros não se mexe?
Eu sou o único que tenho o direito a afrontá-lo, provocá-lo e tudo
mais, porém, o idiota fez algo muito, muito feio, que foi, além de
bisbilhotar a vida do meu humano, aprontar para Maddie, a humana mais
fofa que eu já conheci.
Pois é! Há dias eu tenho visto ele aprontar. Trocou o presente que
tinha cheiro bom que o humano comprou pra ela por um negócio esquisito,
um pano vermelho com duas coisinhas pretas que rolavam pelo chão. Até
usei uma delas pra brincar.
Tentou mexer no shampoo que a humana usava aqui, mas fiz o
favor de derrubá-lo pela janela e agora, o vi colocar uma coisa no quarto do
humano. Ele disse ao idiota do Matt que era uma câmera. Eu não sei o que
é, mas ouvi dizer que é pra gravar as coisas, como aquelas que passam na
tela grande da sala.
Eu jamais permitiria isso.
Ele é uma coisinha invejosa que merece uma lição, por isso, fiz
questão de entrar no seu quarto, usando aquela técnica maravilhosa que
aperfeiçoei para abrir portas, e me aliviei em todos os lugares possíveis. Na
cama, no armário, nos sapatos… Foi um festival de xixi e cocô para todo
lado.
Saí de lá me sentindo ótimo, sabendo que cumpri a minha missão
de proteger meu humano que é muito inocente às vezes. Só que eu não
contava que o xexelento ia vir atrás de mim, louco para me pegar. Ou
melhor, querendo acabar com a minha raça e até, quem sabe, acabar com
uma das minhas vidas, já que tenho sete.
— Volta aqui, seu bichano desgraçado! — ele grita, correndo atrás
de mim.
Escapo pelo corredor, fazendo-o de bobo, mas um cheirinho
felino muito familiar me distrai e acabo não sendo tão ágil e ele quase me
acerta. Sorte que o humano burro que é irmão do meu apareceu e, pela
primeira vez na sua vidinha sem graça, fez o favor de me ajudar.
Não entendo bem o que estão dizendo, pois minha atenção está
toda voltada para a bolinha de pelos mais perfeita que já vi, e que nunca me
deu trela quando estava no abrigo de animais, que está aninhada no colo do
engomadinho.
Ouço gritos entre os dois, mas é como se suas vozes estivessem
distantes. O xexelento não desiste e tenta de todo jeito me alcançar, mas o
engomadinho fala mais alto e aproveito para me esconder atrás de suas
pernas. Esquivo-me dos ataques, mas não está sendo suficiente, já que tem
uma coisa linda roubando todo o meu juízo no recinto.
Eu sempre a admirei de longe, com toda a sua classe, pelos
brancos e sedosos desfilando pelo abrigo, afinal, ela era a única comportada
o bastante para ficar solta, e agora está aqui, bem na minha frente, acabando
com a minha concentração.
Sinto quando o engomadinho se abaixa e me ergue em seu colo
desajeitado, mas não vou reclamar, pois agora estou mais perto para a
bolinha de pelos mais perfeita que já vi, que rosna quando me vê.
Meow! Ela é uma gata selvagem… Adoro!
Porém, alegria de gato dura pouco, já que logo o meu humano
aparece, erguendo a voz também, fazendo o xexelento sair e o engomadinho
me passar para o seu colo.
— Nós vemos em breve, mon amour[6]— digo a ela, que ainda
tenta me arranhar, mesmo estando afastada.
Resmungo para ir ao chão e quando sinto o piso sob minhas patas,
saio rebolando com o meu gingado de gato da realeza.
As últimas semanas têm sido simplesmente incríveis. Maddie e eu
estamos cada vez mais entrosados e, mesmo que não tenha resolvido ainda
toda a merda envolvendo Trevor, preciso parar de me acovardar, por isso,
decidi que vou dizer à minha namorada o quanto a amo, não dá mais para
segurar.
Maddison é uma garota incrível e me mostra isso a cada dia, me
acompanhando nos jogos que pode, nas festas, como a da Vick, onde ela
realmente encheu a cara, precisando ir para casa carregada em meus ombros
como um saco de batatas. Fomos ao cinema, ajudei-a no abrigo,
estudamos… Tudo o que um casal que ama estar juntos faz, nós fizemos.
Hoje é o dia do último jogo antes do recesso para o Dia de Ação
de Graças, onde estamos planejando um jantar entre Maddie, eu, Ed, Vick e
os pais da minha namorada, que devem chegar amanhã do Texas. Ted bem
que quis vir a tempo para o jogo, mas Daisy, a égua que Maddie possui no
sítio, entrou em trabalho de parto ontem e os vovôs babões não queriam
deixar a mamãe e o potrinho sozinhos logo na primeira noite, por isso irão
embarcar após o almoço, pois um grande amigo dos meus sogros chegou
hoje para cuidar de tudo por lá na ausência deles.
— Precisamos sair, Princeso — Maddie avisa, com as chaves do
meu carro na mão. Estamos na minha casa e iremos direto para o Rose
Bowl, onde será a partida desta noite.
Para mim, todos os jogos são importantes e em todos eles dou o
meu melhor, no entanto, jogar contra o USC é sempre uma emoção
diferente, já que eles são os nossos maiores adversários no campeonato.
Tenho me saído muito bem como quarterback titular e capitão,
recebendo muitos elogios do treinador e da comissão técnica. Recentemente
até saí em uma matéria no jornal local, onde fui apontado como uma grande
aposta para o DRAFT do próximo ano.
Fiquei um pouco receoso que isso chegasse aos ouvidos do meu
pai, mas o soberano de Prinz parece muito ocupado para perder seu tempo
com a minha carreira e o meu futuro. Edward é o sucessor ao trono,
preparado desde o berço para isso, então, tenho certeza de que não importa
qual carreira eu queira seguir ou o que planejei para o meu futuro, pois
ninguém na realeza espera algo de mim.
— Vamos, Girassol. — Pego minha bolsa com o uniforme e jogo
no ombro, antes de agarrar a mão da minha namorada e descer as escadas.
— Quer que eu dirija para você ir descansando? — oferece.
— Acho uma ótima ideia, amor — respondo, prensando seu corpo
contra a lataria do meu carro, atacando sua boca em um beijo urgente. A
cada dia que passa, sinto que preciso de mais da Maddie e tenho a certeza
de que, além de minha namorada, ela é o grande amor da minha vida. Só
preciso descobrir o que ela pensa sobre isso.
Entro no banco no passageiro e vejo-a se ajeitar, regulando o
banco e os espelhos para que fique confortável. Vê-la dirigindo é sempre
uma distração bem-vinda, pois ela é uma motorista muito responsável, mas
estressada, que adora gritar com aquelas que ela acha que não sabem dirigir
ou não respeitam as regras de trânsito.

Chegamos ao estádio e precisamos nos separar, pois ela vai para


as arquibancadas enquanto eu vou para o vestiário. Encontro meus colegas
de time se trocando e faço o mesmo, sentindo um olhar estranho às minhas
costas, como se estivesse sendo observado, e quando me viro, vejo que
Trevor me encara com uma expressão quase assassina e um olhar
assustador que me causa asco. Seus lábios se abrem e posso ler “cuidado”
sendo proferido, o que arrepia cada pelo do meu corpo, sem saber do que
esse louco é capaz.
Nunca fui um cara medroso, enfrento meus problemas sozinho, e
como temos um porte físico muito parecido, seu tamanho não deveria me
intimidar, mas quando se trata desse idiota, todo cuidado é pouco, pois já
ficou claro para mim que seu problema é muito maior do que simplesmente
não ser o titular. Trevor se corrói em inveja, querendo meu lugar, minha
namorada e sei lá mais o que e nem entendo o motivo.
Sorte que essa droga de aposta termina hoje e conto com sua
palavra para sumir da minha vida pra sempre.
— Vamos, vamos, seus molengas! O jogo vai começar e vocês
ainda estão no vestiário, se maquiando como se fossem noivas! Fora daqui
já! — grita o treinador Stevens e corremos para nos arrumar e sair do
vestiário.
Desde o início sabíamos que teríamos um jogo acirrado pela
frente, e os três primeiros quartos deixaram isso bem claro, pois a diferença
em nosso placar é mínima. Ainda assim, toda a equipe deu o seu melhor.
Estamos caminhando para os últimos segundos da partida, nosso time de
defesa está em campo, enquanto o ataque espera sua vez de entrar. Sinto um
esbarrão forte no ombro e logo vejo Trevor sorrindo perversamente, antes
de sussurrar:
— Cuidado, QB, mantenha os olhos bem abertos.
Ignoro e quando somos chamados novamente a campo, posiciono-
me atrás de Hunter e grito a próxima jogada com palavras que só os meus
companheiros vão entender.
Assim que pego a bola, tomo distância e aguardo enquanto Zion
chega na sua rota, porém, antes que ele complete o percurso, vejo Charlie,
do USC, abrindo um espaço na defesa.
Olho para o outro lado e vejo James aberto e lanço para ele, antes
de sentir os mais de cento e vinte quilos de Charlie se chocarem contra
mim.
Caio no chão, sem ar, sentindo o meu ombro doer.
— Tem certeza que aguenta a ruivinha gostosa que está gritando o
seu nome em cima de você? Posso me apresentar e mostrar a ela do que um
homem de verdade é capaz — provoca com escárnio e o empurro para sair
debaixo do seu corpo.
Sinto uma raiva descomunal me invadir e fecho as mãos em
punho, pronto para partir para cima dele, mesmo que tenha quase o dobro
da minha largura, porém, assim que ele se afasta, o grito da torcida chega
em meus ouvidos e me levanto, vendo meus companheiros correrem em
minha direção para me parabenizar, então Hunter aponta para o telão,
mostrando que, mesmo caindo, consegui marcar o Touchdown. Pena que
isso não é o suficiente para nos dar a vitória contra o nosso maior
adversário.
Voltamos para o banco, enquanto a defesa segura os últimos
segundos do jogo, antes do árbitro declarar o final da partida, com um
placar de quarenta e oito a quarenta e cinco para eles.
No entanto, mesmo chateado com a derrota, o treinador vem
correndo até mim e me abraça.
— Durand… hoje você simplesmente arrebentou, garoto! — Dá
tapinhas nas minhas costas. — Quatrocentas e vinte jardas e seis
Touchdowns… Tenho certeza de que o Heisman é seu! — grita, fazendo
todos os meus companheiros me olharem e virem me abraçar, exceto
Trevor, que passa por mim bufando como um touro bravo, afinal, ele ainda
não jogou nenhuma vez nessa temporada e tenho certeza de que está muito
puto comigo.
Saco! Depois de quatro jogos invictos, hoje o Bruins perdeu. Eu
ainda não entendo nada sobre as regras do futebol americano, mas Olliver
ama o que faz, estar em campo, e estava tão confiante que finalmente
derrotariam seu principal rival, que também acreditei que eles sairiam
vencedores dessa disputa, mas não foi dessa vez.
Do alto da arquibancada consigo ver seus rostos desanimados.
Eles mereciam ganhar, porém, não deu, infelizmente. Ao lado de Peny,
desço os degraus e caminhamos para encontrar os garotos na porta do
vestiário.
A multidão eufórica do USC ainda grita e comemora a vitória, e
desviar de tantos torcedores animados é uma tarefa difícil, tanto que
levamos alguns minutos para finalmente chegarmos ao nosso destino.
— Os garotos devem estar arrasados — minha amiga comenta e,
sinceramente, nem sei com quem ela está preocupada, já que ainda não
entendo em que rolo se meteu com Hunter e Zion. Contudo, o que
realmente importa para mim é que ela esteja feliz e não se machuque.
— Com certeza. Meu Princeso vai precisar de muito carinho —
brinco, vendo-a erguer as sobrancelhas sugestivamente com um sorriso
safado nos lábios.
— E você está mais que disposta a dar isso a ele. Certo?
— Certíssimo! — Nós rimos e mesmo do lado de fora, é possível
ouvir os gritos alterados do treinador Stevens.
— Será que ele vai pegar muito pesado? — ela põe em palavras a
mesma dúvida que ronda minha mente.
— Eu espero que não. Esse é o último jogo antes do recesso,
ninguém merece que a folga deles seja nesse climão.
— Tem razão.
Alguns minutos depois, os meninos aparecem com suas bolsas nas
costas e o olhar de derrota é angustiante no rosto de cada um desses
gigantes.
— Pronto para ir pra casa, Princeso? — pergunto, abraçando o
meu namorado, sentindo o cheiro gostoso de banho recém-tomado.
— Nada disso! O treinador pegou muito pesado com a gente hoje,
tudo o que precisamos agora é afogar as mágoas em uma boa quantidade de
álcool. Nós merecemos! — Blake, um dos meninos da defesa diz. — Além
do mais, nosso QB fez um jogo espetacular e corre um grande risco de
ganhar o prémio de melhor jogador, então, ainda temos o que comemorar!
— Mesmo com planos de levar Olliver para casa e enchê-lo de carinho,
acabo concordando.
— Não estou no clima, cara! Tudo o que eu quero é comer e ficar
colado na minha ruivinha — Olliver diz, me apertando ainda mais contra si.
Sua voz me soa tão melancólica que chega a embrulhar o meu estômago.
— Acho que ele tem razão, amor. A gente pode ficar juntinho
mais tarde, durmo lá na sua casa, se quiser. Agora eu acho que beber entre
amigos é uma boa ideia e você realmente tem que comemorar pelo
excelente desempenho — respondo e logo sussurro no seu ouvido: —
prometo que a gente vai ficar muito bêbado com suco de maçã.
Ele ri e deposita um beijo sobre os meus lábios, me deixando
boba, como sempre.
Quando será que irei me acostumar que esse homem incrível,
lindo, gostoso e carinhoso é todinho meu? Talvez nunca, mas nem me
importo.
A brisa fria sopra e sinto meu corpo todo se arrepiar, me
escondendo ainda mais sob o abraço de Olliver.
— Vou te dar minha jaqueta, Girassol — diz, tentando se afastar
para tirar o casaco do time, mas esfriou muito, não é justo ele correr o risco
de pegar um resfriado. E eu nem estou mal agasalhada, só o frio que está
demais mesmo.
— De jeito nenhum! Vou passar em casa rapidinho e te encontro
no Joe’s. Que tal?
— Não vou te deixar ir sozinha pra casa, linda — rebate.
— Pode deixar, QB, também preciso vestir algo mais quente. A
gente vai e volta rapidinho, ok? — Peny avisa.
— Viu, Princeso, pode confiar, a gente encontra com vocês em
breve. — Sorrio. — E mais tarde você é todinho meu, para eu usar e abusar
— digo em seu ouvido e mordo seu lábio inferior, fazendo um sorriso
safado e fofo brotar em seus lábios. Meu Ollie é um safofo mesmo.
— Bora, ruiva, porque eu tô louca pra voltar e beijar muuuuito
depois — Peny grita, já me puxando para o estacionamento. Ela ganhou um
carro recentemente e tá um nojo.
Seguimos rindo e assim que nos aproximamos do veículo, tenho
uma sensação estranha de estar sendo observada, a ponto de sentir todo o
meu corpo se eriçar. Olho para todos os lados, mas não vejo ninguém, além
de alguns torcedores do USC que também estão indo embora.
— Tudo bem, amiga? — Penélope pergunta através do vidro do
passageiro, quando paro com a mão na maçaneta e não entro.
— Uhum, tudo — respondo de modo automático e abro a porta,
me acomodando no banco.
Ela liga o rádio e a voz de Sia toca nos alto-falantes, fazendo
minha amiga cantar alto. Ela tem uma voz linda que eletriza todo o meu
corpo.

Sou incontrolável, sou um Porsche sem freios


Sou invencível, sim, eu ganho todos os jogos
Sou tão poderosa, não preciso de baterias para jogar
Sou tão confiante, sim, estou incontrolável hoje
Incontrolável hoje, incontrolável hoje
Incontrolável hoje, estou incontrolável hoje

A cada palavra cantada com tanta emoção, é como se a música


falasse comigo de uma forma que não sei explicar. É forte, intensa e linda,
assim como Penélope. Como eu também me sinto desde que Olliver entrou
na minha vida e eu me permiti amá-lo. Perco-me na letra e quando a canção
acaba, eu coloco para tocar de novo. E de novo. Penélope me olha de canto
de olho, mas nada diz.
Em poucos minutos, chegamos em frente ao nosso prédio e
entramos em silêncio, cada uma perdida em seus próprios pensamentos.
— Vou só pegar um casaco e alimentar o Naruto, é rapidinho —
aviso.
— Tome seu tempo, vou aproveitar para usar o banheiro e retocar
a maquiagem. Preciso estar mais linda ainda quando chegar naquele bar —
comenta, com uma piscadela.
Pego um sobretudo quentinho, pois, apesar de ainda ser meio de
novembro, o frio já deu as caras por aqui. O clima de Los Angeles é ameno,
mas eu sou uma criatura muito friorenta, então, qualquer ventinho já me faz
tremer. Alimento o Naruto rapidinho com algumas larvinhas e bato na porta
do banheiro.
— Vai demorar, Peny? — pergunto.
— Não amiga, já saio. Se quiser, pode me esperar lá fora.
— Combinado, estou descendo. — Dirijo-me para a porta, mas,
antes de sair, aproveito para pegar uma mochila que sempre deixo pronta
com algumas trocas de roupa para quando vou pra casa do Olliver. Tudo
bem que ele fez questão de deixar um espaço em seu closet e já colocou
coisas minhas lá, mas prefiro estar sempre preparada.
Sinto novamente aquela sensação de estar sendo observada assim
que chego ao gramado em frente ao dormitório, mas ignoro e caminho até o
carro da Peny, contudo, antes que eu alcance o veículo, braços fortes me
prendem contra seu corpo e, ao invés de sentir aquele aconchego que
sempre me domina quando meu namorado me abraça dessa forma, sinto
medo, mas ele me aperta, impedindo que eu me vire para ver quem é.
— Olha só, o bichinho de estimação do nosso querido
quarterback. E dessa vez ela está toda sozinha e indefesa — reconheço a
voz cínica de Trevor falando perto do meu ouvido, seu hálito quente me
causa nojo. — Você sabia que o seu querido namorado não se importaria se
a gente aproveitasse para se divertir um pouquinho antes de ir para o bar?
— Tenho certeza de que ele se importaria, sim — respondo com a
voz trêmula, tentando manter a calma, pois seu aperto está me sufocando.
— Ah, mas você não conhece Olliver como eu conheço.
— Com certeza, conheço muito mais — rebato, tentando me
soltar.
— Olha só como ela é forte para uma florzinha… — Gargalha. —
Como é mesmo o apelido ridículo que ele te deu? Girassol? Coisa mais
brega. — Ele ri com escárnio e desce suas mãos pelos meus braços, com o
intuito de tocar meus seios, mas isso eu jamais irei permitir.
— Você tem três segundos para me soltar, ou…
— Ou o quê? — ele me interrompe.
— Ou então vai se arrepender — digo e me lembro dos
ensinamentos da Vick:

— Você cresceu em uma fazenda, gracinha, tenho certeza de que


viu muitos animais por lá.
Se um dia um cara que não é seu namorado te agarrar por trás,
lembre-se das éguas, vacas e afins, leve a perna um pouquinho pra frente,
pegue impulso e a jogue para trás com muita força, como um coice.
Qualquer cara vai cair se você acertar o lugar certo. E se ele não cair, ao
menos vai se desestabilizar, aí você vai pra frente dele e mete uma joelhada
nas bolas. Nunca falha.

Vai, Maddie, você consegue!, digo a mim mesma antes de agir.


Tenho apenas um segundo para pensar e quando vejo, estou
fazendo o que a minha cunhada doidinha disse, sentindo meu corpo ser
liberto e o brutamontes se afastando de mim, apesar de não cair.
— Sua vadia! — grita, fora de si! — Essa sua boceta nem vale
tudo isso…
Volto àquele dia, lembrando o que mais ela me ensinou:
— E se não funcionar, Vick? — pergunto, bem mais bêbada do
que deveria.
— Então você vai fechar a mão com força, tentando ao máximo
proteger seus dedos para que não quebrem com o impacto, vai mirar bem
no meio da cara do idiota e socar como se sua vida dependesse disso. Em
seguida, você corre e pede ajuda.

Vejo que Trevor não está mais em cima de mim, mas também não
está longe, com suas mãos sobre o meio de suas pernas, furioso como um
touro no brete antes de um rodeio. Provavelmente o acertei como deveria,
porque ele geme.
O local está deserto e pouco iluminado. Bem que a Vick avisou
aquele tapado do reitor Fox sobre as lâmpadas queimadas, mas o homem
não lhe deu o devido crédito.
Não me sinto ágil o bastante para tentar a joelhada, mas posso
socá-lo. Por isso, dou alguns passos à frente e reúno toda a força e coragem
que habitam em mim ao fechar a mão e olhar em sua cara, antes de acertar
com tudo o que tenho, vendo-o cambalear e finalmente cair. Seus gemidos
seu audíveis, mas eu não me importo.
— Maddie, o que tá acontecendo aqui?— Penélope aparece, se
assustando ao presenciar a cena.
— Corre, Peny! — grito e avanço para o carro, sendo seguida por
ela. Ela destrava o veículo e dá partida apressada. — Vamos, vamos, dirige.
Precisamos sair daqui — peço, desesperada.
— Calma, tô indo!
E assim, como um verdadeiro piloto de fuga, minha amiga dirige,
nos levando para longe dos dormitórios. Meu fôlego está escasso, o coração
acelerado, como se a qualquer momento ele fosse sair pela minha boca. O
silêncio impera e só os sons das nossas respirações é ouvido.
Quando estamos afastadas o bastante do local, Peny toca meu
braço e me faz olhá-la.
— Quer me contar o que houve? — pergunta.
— Me deixa só raciocinar e eu conto, tá? Preciso de um tempo —
peço e ela assente.
Logo chegamos ao Joe’s e descemos do carro em silêncio, mas
sua mão tocando minhas costas me mostra que ela está comigo, me dando
todo o apoio que preciso e eu só posso agradecer por isso, dando-lhe um
abraço apertado. Sinto uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto, mas
ainda não me sinto pronta para falar. Quero apenas aproveitar algumas
horas com meu namorado antes de qualquer coisa.
— Você demorou, Girassol! — Ollie diz e ouvir esse apelido está
me causando arrepios agora, tanto que ele percebe e me abraça assim que
alcanço a mesa onde está sentado com seus amigos, provavelmente
pensando que estou com frio.
O barulho não é o mesmo de quando eles ganham um jogo, afinal,
não há euforia e comemoração, eles apenas estão com olhos focados na
enorme TV presa ao teto, analisando cada lance da partida que é mostrado
em um programa esportivo.
— A Peny estava caprichando — desconverso e ele sorri,
levando-me para seu colo, envolvendo os braços em minha cintura.
Vejo um copo à sua frente e com um olhar ele assente, mostrando
que é dele, por isso o pego e dou um grande gole, querendo tirar a secura da
minha boca devido a situação de instantes atrás e também para tentar
disfarçar que não me sinto bem.
— Suco de maçã — comento, porque o copo está todo decorado
como um drink alcoólico. Meu namorado é surpreendente.
Ele sorri e dá de ombros, voltando sua atenção para a TV.
Penélope senta-se ao nosso lado, sem nenhum dos seus jogadores ao redor,
provavelmente dispensou os dois por hoje.
— Tá tudo bem? — pergunta baixinho e eu só entendo porque
faço leitura labial.
Aceno positivamente com a cabeça, porque, neste momento, não
quero pensar em nada, apenas ficar aqui, nos braços do Ollie, torcendo para
irmos embora logo.
— Uma porção de batatas para o nosso melhor quarterback — diz
o garçom ao se aproximar e colocar o prato sobre nossa mesa.
— Obrigado, Jake! — Olliver agradece e pega uma batatinha,
molhando no catchup e colocando na minha boca. — Você me parece com
fome, linda… — Ele sorri.
— E eu estou, mas não é de batata… — brinco após mastigar e
engolir, e ele faz, mais uma vez, aquela cara.
— Safadinha! Acho que criei um monstro — debocha, me
fazendo enrubescer.
— A culpa é sua por ser tão gostoso. E safado. E fofo — rebato,
me aproximando para morder sua orelha.
— Nem vem de novo com essa conversa de safofo, Girassol. Isso
acaba com a minha moral — responde.
— Você não precisa de moral, Princeso, porque você é meu e eu
te conheço, sei o que tem aqui — aponto para o seu peito —, aqui — indico
sua cabeça — e aqui — afasto-me um pouquinho e aperto seu pau por cima
da calça, fazendo-o gemer.
— Meu Deus… A gente precisa ir embora agora! — brada e
ameaça se levantar, mas um barulho alto chama nossa atenção. — Mas o
quê… — começa a falar, mas é interrompido pela voz do asqueroso do
Trevor saindo da TV, em uma filmagem dentro do vestiário, que mostra os
dois frente a frente.

— …a esquisita Brown, que agora é uma gostosa, é importante


pra você, da mesma forma que a vaga de titular é importante pra mim, e
ela é a única da lista que nenhum de nós pegou, por isso, vou te propor o
seguinte: você tem dois meses para pegá-la e fazer dela sua namorada… se
você não conseguir, volta para o país de merda de onde saiu, deixa o
time…

A seguir é possível notar um corte na imagem, provavelmente por


não ser nada relevante e Olliver volta a falar:

— Temos um acordo?
— Temos. — Eles apertam as mãos, selando essa merda.

Então a imagem é cortada e logo estamos no quarto do Olliver, ele


e eu, em um momento íntimo, onde ele beija o meu pescoço e começar a
tirar a minha roupa, abrindo com cuidado os botões da minha blusa.
Olho em choque para a tela, vendo que estou apenas de sutiã e
calça jeans, enquanto ele acaricia meus seios. Estamos ambos de lado,
mostrando perfeitamente cada detalhe que eu sempre escondi com minhas
roupas grandes demais.
Estou atônita, sinto minhas mão tremerem ao ver toda essa
exposição, o barulho no bar cessou e todos prestam atenção no que está
sendo mostrado, e quando olho para o lado, Olliver não reage, está com os
olhos vidrados na tela também.
Não sei o que fazer, me sinto tão exposta, tão desprotegida,
vulnerável, e quando ele leva as mãos ao fecho para desabotoar o meu sutiã,
uma garrafa é arremessada com muita força na TV, fazendo-a rachar e
escurecer, impedindo que aquele show de horrores continue.
— Acabou, amiga — Peny diz no meu ouvido e me abraça,
deixando claro que a minha heroína nesse momento é ela.
Não reajo, não consigo, então a voz nojenta do Trevor volta a
soar:
— Como podem ver, o nosso QB não é tão certinho como todos
pensam e barganhou sua vaga no time, afinal, todos sabem que o treinador
Stevens ia dá-la para mim. — Ri, e quando olho em seu rosto, consigo ver
seu nariz ficando arroxeado devido ao soco que eu dei. Bem-feito! — E
claro, não podemos esquecer da garota, já que Olliver Durand sempre foi
um pegador e não ia perder a chance de pegar a carne fresca e intocada do
campu… — Ele não termina de falar, pois um Olliver muito furioso avança
sobre seu corpo, cobrindo-o de socos, sem chance de escapar.
E então, os dois amigos do Trevor partem para cima do meu
namorado, ou ex, ainda não sei, e a bagunça se torna generalizada. Socos e
chutes são distribuídos entre as pessoas, garrafas voam, o som de vidros
quebrando é ensurdecedor e tudo o que eu faço é me encolher num
cantinho, tentando recobrar o meu juízo e sair correndo daqui, para onde
ninguém vai me encontrar, longe de todo o inferno que se tornou a minha
vida nos últimos minutos.
A briga continua, até as meninas se metem, erguendo cadeiras e
ameaçando bater umas nas outras, puxando cabelos e isso me assusta, de
modo que sinto meu rosto encharcado de lágrimas.
— Hey, gracinha! Vamos sair daqui — a voz de Vick chega aos
meus ouvidos e sinto seus braços ao redor dos meus ombros, me puxando
para sair de onde estou.
— Vick… — sussurro.
— Sim, sou eu — responde, acariciando o meu braço. — Vem,
vou te levar para o meu quarto.
Caminhamos rumo à saída do bar, desviando das pessoas e dos
objetos voadores que ameaçam nos atingir e, com algum esforço, chegamos
à entrada e, ao contornar a lateral do imóvel, avisto uma escada. Ela sobe os
degraus rapidamente, me puxando consigo até avistar uma porta, que abre e
nos coloca para dentro.
— Eu não consigo acreditar… — balbucio, ainda tentando
organizar os acontecimentos recentes na minha cabeça. Victória me guia até
o sofá, onde me sento, enxergando tudo ao meu redor como um borrão.
— Você está segura aqui, gracinha — diz, com um sorriso
forçado. — Não sei que porra o Trevor e o Olliver aprontaram para você
estar desse jeito, mas Edward e eu estamos aqui para o que precisar —
avisa, tentando me acalmar. — Vou preparar um chá pra você e já volto.
Faço o que ela sugeriu e me acomodo no sofá, encolhendo-me em
posição fetal e fechando os olhos.
Por todas as vacas do Texas, o que foi que aconteceu? Estava
tudo indo tão bem, tão feliz e, de repente, sou agarrada por um imbecil
escroto e logo em seguida me descubro em meio a uma aposta, uma
mentira.
Por que Olliver fez isso comigo? Quem é ele de verdade? Nada do
que vivemos foi real?
Muitas perguntas sem resposta rondam minha mente, fazendo
com que eu me sinta horrível, miserável até, com minha cabeça prestes a
explodir. E, devido a esse turbilhão de pensamentos, sequer vejo o tempo
passar e só abro os olhos quando Vick me entrega uma xícara de chá
fumegante. Ela tem um olhar desanimado e um sorriso complacente no
rosto, mas, dessa vez, vou me permitir ser egoísta e não perguntar o motivo,
porque meu cérebro parece em pane.
— Obrigada! — agradeço e sopro o líquido, bebendo logo em
seguida, permitindo que o calor acabe de anestesiar os meus sentidos. Ela
apenas pisca para mim carinhosamente.
— Descanse! — diz e some por uma porta, que acredito ser o
banheiro.
Tomo todo o conteúdo da xícara e a coloco no chão em seguida,
voltando a fechar os olhos.
Acredito que, após o surto de adrenalina com os acontecimentos
da noite, eu tenha dormido, pois quando abro os olhos, o dia está
começando a clarear, apesar de ainda parecer muito cedo.
Olho para o lado e Lady, a gatinha mais pomposa do abrigo está
na ponta do sofá, me encarando com um ar de desdém e superioridade,
como se eu tivesse invadido os seus aposentos reais.
Contudo, ignoro-a e me levanto, mas não encontro Vick em nenhum lugar,
por isso, pego o meu celular no bolso do meu sobretudo e olho as horas:
pouco antes das seis da manhã. Não encontro nenhuma chamada ou ligação
do Olliver, o que é como mais uma facada em meu coração já machucado.
Uma lágrima rola por meu rosto e, respirando fundo, decido que preciso
seguir a minha vida, então ligo para a Penélope, que atende após a segunda
tentativa de chamada.
— Maddie, amiga! Oi! — diz, afobada. — Meu Deus, onde você
se meteu? Eu estava desesperada à sua procura, depois que tudo…
— Peny… — Minha voz soa embargada. — Você pode vir me
buscar, por favor? — praticamente imploro.
— Claro, meu bem! Onde você está? — Ouço o farfalhar de
tecidos e imagino que ela esteja se arrumando para sair.
— Na casa da Vick, em cima do bar.
— Estou indo! — E assim, encerramos a chamada e após uma
última olhada no local, constatando que é a cara da sua moradora, abro a
porta com uma chave extra que encontro pendurada no porta-chaves e desço
as escadas. Depois penso em como devolvê-la.
Sendo bem masoquista, olho através das grandes janelas para o
lado de dentro do Joe’s, apenas para confirmar que tudo foi real.
O cenário de guerra que encontro no interior do bar me faz
lembrar de tudo o que aconteceu ontem. São mesas reviradas, cadeiras e
garrafas quebradas, uma confusão generalizada. Por mais que eu tente, um
nó se forma em minha garganta e, mesmo me esforçando, as lágrimas
começam a rolar, me deixando até sem fôlego.
Esforço-me para conseguir chegar à calçada, sentindo o ar frio do
início da manhã. Em menos de cinco minutos avisto o carro de Penélope se
aproximando e quando ela para, abre a porta para mim, e eu me jogo no
banco do passageiro, ainda com lágrimas saindo profusamente dos meus
olhos. Ela me abraça apertado sem nada dizer, apenas permitindo que eu
coloque para fora tudo o que me aflige. Sinto que sua blusa fica molhada,
mas ela parece não se importar; eu, muito menos.
Após algum tempo que não sei precisar, respiro fundo, seco o
rosto e olho para minha amiga:
— Me tira daqui, por favor.
Eu nunca fui um santo, sempre taxado como o filho rebelde e
irresponsável da família, mas não esperava ir parar na cadeia. Minha cabeça
roda enquanto Edward e eu somos arrastados por policiais para fora do bar
e enfiados em viaturas.
O caminho é feito em silêncio e meu irmão sequer me olha, e eu
não posso julgá-lo, afinal, entrou numa briga que não era dele. Vejo que seu
rosto está machucado e sangrando, como o meu provavelmente também
deve estar, mas a dor em meu peito é tão forte que anestesiou todo o resto.
Não me incomodo quando somos puxados para fora dos veículos,
ou quando somos empurrados para a cela. Eu sequer me manifesto quando
o delegado faz uma gracinha, falando sobre estudantes serem irresponsáveis
e resolverem tudo na base da pancada. Para mim, simplesmente não faz
sentido brigar agora.
O olhar acusador do meu irmão me dilacera e, por isso, não
espero suas reclamações ou julgamentos, simplesmente me acomodo no
banco de cimento, apoio a cabeça na parede e começo a falar:
— Em primeiro lugar, Ed, eu sinto muito em ter te arrastado para
isso. Nunca foi minha intenção envolver ninguém, mas… Eu precisava me
livrar do Trevor.
Meu irmão me olha confuso e cruza os braços, esperando que eu
continue.
— Esse cara tá na minha cola desde que fui aceito no Bruins. Ele
chegou primeiro, já era reserva e quando me tornei titular, ele simplesmente
surtou. Como um cara mimado que sempre teve tudo o que quis, ele não
soube perder e começou a me irritar. Eu o aceitei na casa a pedido do
treinador, assim como os outros caras, pois como éramos novos no time,
seria legal aumentar o entrosamento. Mas depois descobri que Trevor foi
parar lá porque havia decepcionado seu pai e, como punição, ia ter que
dividir a casa com outras pessoas.
— Eu te disse que aqueles caras não eram seus amigos…
— Eu já sabia disso, mas se te contasse, você me acharia um
fracassado que vive de aparências e não tem nenhum amigo de verdade.
— Jamais diria isso, Olliver.
— Você tem ideia do que é crescer sabendo que você é uma
espécie de “bebê de segurança” que só foi concebido para servir de doador
de órgãos para o herdeiro ou então, no último caso, assumir o trono caso
não haja mais ninguém?
— Quem disse…
— Eu sei, Edward, nada precisou ser dito. Sei ler nas entrelinhas.
— Respiro fundo, precisando continuar. — Quando você chegou aqui, eu
senti que finalmente poderia ser eu mesmo, não precisava mais de falsos
amigos, porque tinha você, o meu irmãozão, e isso me bastava.
— Não sei o que dizer… — ele tentar argumentar, mas eu não
deixo.
— Então eu conheci a Maddie e… porra, foi como encontrar o
que faltava em mim. Eu me apaixonei tão perdidamente por ela, que não
soube como agir, com medo de que ela descobrisse quem eu realmente era,
conhecesse nosso pai, porque aquele velho jamais iria aceitar que eu tivesse
algo com alguém fora da realeza, mesmo me odiando. Só que aí o Trevor
apareceu me ameaçando, querendo a minha vaga e a minha garota. — Sinto
lágrimas pinicarem meus olhos, mas seguro o máximo que consigo. — Nem
era tanto pelo time. Eu poderia mudar de faculdade, ou então escolher outra
coisa para fazer, mas ele disse que, se eu não topasse a aposta, ele tornaria
as nossas vidas um inferno. E eu vivi no inferno por tempo demais para
querer voltar para lá, Ed.
— Por que você não me disse, porra? Eu poderia ter te ajudado!
— brada, irritado.
— Porque eu queria ser capaz de fazer algo sozinho. Era a minha
vida, a minha garota em jogo. Ele me ameaçou, disse que se eu não
conseguisse conquistá-la, além de ter que abrir mão da minha vaga no time,
teria que abrir mão dela.
— Mas quem garante que a Maddison aceitaria ter algo com esse
cara?
— Aí é que está, Edward, ela não precisava aceitar, porque o
Trevor não presta! Ouvi boatos de que ele assediava as garotas e até sobre
tentativas de estupro. Como você se sentiria sabendo que a Vick correria o
risco de cair nas mãos de um cara desse? — digo, sentindo meu peito se
comprimir. — Eu morreria se ele fizesse algo com a minha ruivinha.
— Eu entendo, mas… Poderia ter te ajudado, poderíamos dar um
jeito.
— Agi por impulso, por medo… Eu… eu sinto muito, Ed.
— E o que foi que houve lá no bar? — indaga, querendo saber o
motivo daquele alvoroço.
— Ele nos gravou. Gravou parte da aposta, editou como quis,
então gravou nossos momentos íntimos e mostrou para todo mundo que
estava lá no Joe’s. Ele expôs a minha garota, a humilhou e ela não merecia
aquilo. Fiquei fora de mim e parti para cima.
— Talvez eu tivesse feito o mesmo se fosse com a Vick.
— Você não precisaria, pois é muito mais inteligente do que eu,
nunca se meteria em uma roubada dessa.
Ficamos em silêncio, cada um tentando absorver as palavras ditas
e os acontecimentos sem ver as horas passarem. Não consigo parar de
pensar na Maddie, em como e onde ela está, o que está sentindo,
pensando… porra! Ela deve me odiar e só de pensar em perdê-la é como se
perdesse parte de mim também.
Depois de um tempo, Ed briga, me critica, e por mais que eu
rebata, sei que ele tem razão. Sou um imbecil e mereço tudo o que estou
passando. Pessoas como eu não merecem compaixão e nem felicidade. Esse
é o meu destino.

Sinto como se estivesse em estado vegetativo desde que chegamos


a Prinz. Tudo passou como um borrão que eu, sinceramente, ainda torcia
para ser um grande pesadelo. Lembro-me vagamente de Phill nos tirando da
delegacia, da bronca, dos fotógrafos… Vick… minha amiga doidinha
parecia arrasada e Edward não estava em melhor estado. Gostaria de saber
como ele está, pedir desculpas mais uma vez, mas meu irmão prefere me
evitar, o que é compreensível.
Estamos aqui há quatro dias. Quatro malditos dias em que não
saio do quarto para absolutamente nada, mesmo tendo sido avisado que
nosso progenitor está viajando. Tirando minha mãe, esse lugar não me traz
boas lembranças. Maddison não sai dos meus pensamentos e tudo o que
tenho dela é uma foto, tirada junto com meu irmão e Victória, onde o
sorriso da minha Girassol iluminava tudo ao redor.
Ah, como eu queria poder falar com ela, ao menos saber como
está… A angústia é tão grande que em alguns momentos penso que irei
sufocar. Pego meu celular e fico relendo as nossas mensagens, relembrando
dos momentos incríveis que passamos juntos, sem a menor coragem de
entrar em contato. Eu não sou a pessoa certa para ela, Maddison merece
muito mais e o melhor que posso fazer para provar o meu amor é me afastar
e deixar que siga sua vida.
Ouço batidas na porta, que me tiram da bolha melancólica em que
me enfiei.
— Entre — digo, pouco me importando com quem quer que seja.
— Vossa Alteza — Phillipe faz uma reverência quando adentra o
cômodo —, acredito que lhe faria bem sair um pouco daqui.
— Valeu, Phill, mas estou bem. Não tenho nada pra fazer fora
dessas paredes. — Dou de ombros.
— Talvez gostasse de saber que seu irmão está conversando com
Vossa Majestade no escritório neste momento — diz e pisca o olho, me
mostrando que meu irmão saiu do quarto. Talvez seja uma chance de
finalmente me desculpar apropriadamente e, quem sabe, abrir meu coração
de uma vez por todas.
Nesses quatro dias, tive muito tempo para pensar e cheguei à
conclusão de que, por mais que eu sempre tenha desejado proteger meu
irmão das merdas que me aconteciam, não é justo que eu carregue esse
fardo sozinho a vida toda. Eu errei e assumo os meus erros, mas sempre
houve alguém por trás de tudo, alguém que eu protegi, na esperança de
receber migalhas do seu amor e da sua atenção; alguém que sempre foi
visto como bom pai e marido, como o soberano respeitado de um país
próspero, mas que, por baixo daquelas roupas caras e pomposas, se esconde
uma pessoa vil e ardilosa, que fez da minha vida o próprio inferno.
Levanto-me da cama, decidido e ansioso para falar com meu
irmão, ajeito meus cabelos com as mãos e abraço Phill apertado, fazendo-o
arfar de susto, antes de retribuir o meu gesto.
— Obrigada, amigo — digo e calço meus tênis, saindo do quarto
em direção ao quarto do meu irmão para esperá-lo. Não faço a menor
questão de esbarrar com meu pai, por isso, é mais seguro aguardar aqui.
Por sorte, o assunto não parece ter sido muito produtivo, pois
Edward surge no corredor minutos depois. Sua aparência não está melhor
que a minha, pois também parece acabado, com olheiras discretas e ombros
tensos.
Mesmo que ele diga que está bem na medida do possível e que
talvez, mesmo sem minhas burradas, as coisas poderiam ter acontecido da
mesma maneira, eu me sinto extremamente culpado por tudo. E é por isso
que acabo revelando o maior segredo da minha vida:
— Edward, tem algumas informações que eu jurei nunca te dizer,
mas depois do que aconteceu nesses últimos dias, não posso correr o risco
de te perder.
— Me perder? — Ele parece confuso. — Ollie, eu nunca te
abandonaria — diz, mesmo sem saber que o que tenho para dizer pode
mudar tudo.
— Nem mesmo se eu disser que a culpa da mamãe ter morrido foi
minha? — Nesse momento a represa se rompe e não consigo mais controlar
a avalanche de emoções que me domina, me levando a um choro
incontrolável.
Meu irmão me olha em choque, abrindo a porta do quarto
apressadamente e me puxando para dentro.
— Do que você está falando, Olliver? — Ed se senta na beirada
da cama, aguardando que eu fale, então puxo a cadeira da sua escrivaninha
e me acomodo à sua frente, pronto para colocar para fora o que guardei por
todos esses anos.
— Você sempre ouviu que eu era um filho rebelde, que não
obedecia, que não tinha jeito. Certo? — pergunto e ele assente. — Bem, até
pode ser, mas, e se eu dissesse que todo o meu comportamento sempre foi
exatamente ao do Rei quando ele era mais jovem?
— Não entendo aonde você quer chegar, irmão.
— Lá na delegacia eu te disse sobre ser um bebê de segurança, e
não foi algo que eu inventei, Ed, eu ouvi. Ouvi o papai gritar com nossa
mãe, dizer que ela tinha se apegado demais a mim, sendo que, na verdade,
eu era apenas o seu “reserva”. Você tem ideia de como ouvir isso perturbou
a cabeça de uma criança de dez anos? — inquiro. — Eu nem sabia direito o
sentido daquelas palavras! — sinto as lágrimas encharcarem meu rosto sem
controle. — Eu sempre notei que ele me cobrava demais, sempre nos
comparando, dizendo que eu nunca seria como você, porque era um garoto
burro e indisciplinado que nunca seria nada na vida, enquanto você seria o
Rei que perpeturaria o legado impecável da nossa família.
Edward tira os sapatos e se ajeita melhor na cama, me encarando.
— Na época eu fingia que não me importava, mas eu me
importava, porra! Eu só queria ser amado, receber a atenção que você
recebia. Ele rasgava os meus desenhos dos dias dos pais, enquanto mandava
emoldurar os seus e colocar em seu escritório, mas a mamãe sempre me
dizia que era só impressão minha, para eu não me importar, porque, para
ela, eu era muito especial, então ela os colava com fita e guardava. É por
isso que ela me levava ao teatro, ao cinema, ao mesmo tempo em que você
estava se preparando para ser o futuro monarca. Ela queria amenizar um
pouco da dor que ele me infligia. — Seco o rosto com as mãos. — Eu
nunca quis ser um garoto ruim, eu me esforcei para ser bom, mas não foi o
suficiente… — O choro sai de modo tão sentido que chego a perder o ar,
então meu irmão se levanta e me puxa para sua cama, me abraçando
apertado.
— Eu sinto muito, Ollie, sinto muito, de verdade.
Perco-me no seu abraço, recebendo o carinho da única pessoa que
eu tenho nesse mundo. Quando meus soluços se acalmam, me afasto para
continuar a história:
— Então, quando eu tinha quinze anos, queria muito ir a uma
festa na casa de uns amigos da escola. Éramos todos do grupo de teatro, ia
ser algo divertido, sem bebidas… mas ele me proibiu, disse que garotos
como eu não mereciam diversão, que eu tinha que estar pronto para cumprir
o meu propósito. Então eu fugi. Escapei por uma passagem secreta que
encontrei na biblioteca e fugi. Quando voltei, soube do acidente… — conto,
querendo que ele junte as peças pra eu não precisar falar.
Ele fica quieto por alguns instantes, mas parece que não
compreende o que houve.
— Ao chegar em casa, papai me pegou pelas orelhas e me levou
para o seu escritório, onde ele disse que a mamãe tinha ido atrás de mim
pois estava preocupada, eu estava sozinho, sem motorista ou seguranças, e
por isso ela sofreu um acidente quando um cervo surgiu do nada na pista
e… — minha voz trava na garganta. — Se ela não tivesse saído para me
procurar, não teria acontecido nada, ela ainda estaria aqui. — Desabo num
choro convulsivo. — Me perdoa, Ed, eu nunca quis que a mamãe morresse.
Ainda lembro das palavras do nosso pai: “Você é o maior desgosto dessa
família e o culpado pela morte da sua mãe. Você só traz desgraça consigo”.
— Meu Deus! — meu irmão exclama.
— Depois desse dia, ele simplesmente preferiu esquecer que eu
existia ou problematizar qualquer atitude que eu tivesse. Até que pedi para
sair do país e ele pareceu aliviado, mas disse que se eu sujasse o nome da
família, ele me traria de volta e eu ficaria aqui, trancado, aguardando o
momento em que serviria para alguma coisa.
— Ei, ei — Ed diz, segurando o meu rosto. — Você não tem culpa
de nada, Ollie. De nada mesmo. Tira isso da sua cabeça, pois nunca foi
culpa sua.
— Mas…
— Mas nada, Ollie. Eu sinto muito por nunca ter percebido essa
merda toda. Você é a melhor pessoa que eu conheço e tem um futuro
brilhante pela frente, pode fazer coisas grandes… Não carregue um peso
que nunca foi seu.
— Você não me odeia?
— Eu jamais te odiaria, você é o meu irmãozinho e eu te amo! —
diz e me abraça apertado, e sinto que um novo ciclo se inicia nas nossas
vidas.
— Você precisa comer, Cenourinha, não pode simplesmente se
entregar dessa forma, meu amor — diz papai Ted, sentando na minha cama
e me puxando para os seus braços.
— Eu não tenho vontade, papai. Sinto muito — digo, sentindo
aquele nó na minha garganta que não me abandona há dias.
Príncipe. Olliver é um príncipe de um país do qual eu nunca ouvi
falar. Eu deveria ter suspeitado, ele era principesco demais mesmo. E ele
mentiu, apostou que ficaria comigo… Eu ainda não consigo aceitar isso. O
Olliver que eu conheci não é essa pessoa. Ele é doce, amável, carinhoso e se
preocupava comigo.
Acho que de tudo, isso é o que mais dói, saber como eu fui uma
idiota que não percebeu os sinais e… Droga! Que sinais? Ele sempre
pareceu tão sincero. O amor me cegou, essa é a verdade, porque eu amo
tanto aquele mentiroso de uma figa!
As lágrimas voltam a escorrer e meu pai as seca com carinho. Eles
chegaram pouco depois que eu voltei da casa da Vick e nos enfiaram em um
hotel afastado do campus para nos livrar dos paparazzi que já dominavam
as áreas comuns da universidade. Soube que o reitor Fox finalmente fez
algo de útil e expulsou os abutres de lá, mas não tenho a menor vontade de
sair. Eu apenas queria ver a Vick, saber como ela está lidando com tudo
isso, afinal, acho que ela também foi pega de surpresa com a “novidade”.
— Maddie, querida, trouxe o frappuccino que você tanto gosta lá
da cafeteria. — Papai John entra no quarto com um copo térmico gigante e
as lembranças que ele me traz quase me deixam pior, mas meus pais não
merecem passar por isso. Então, respiro fundo e tomo um gole, sendo
invadida por lembranças do Olliver. Dos seus sorrisos, das piadas, do seu
jeito de fazer amor comigo…
— Aiaiai… você vai desidratar desse jeito, Cenourinha, vamos
assistir alguma coisa para distrair a cabeça! — exclama papai Ted, pegando
o controle da TV, ligando-a.

— Vossa Alteza — Phill me chama quando estou sentado no


jardim, admirando as flores que mamãe tanto amava —, Vossa Majestade, o
Rei, mandou avisar que haverá um jantar especial essa noite e que o senhor
está convocado a comparecer.
— Primeiro de tudo, Phill, sem essa de Vossa Alteza, pelo amor
de Deus — peço, olhando pra ele. — Segundo, sem essa porra de senhor,
porque eu não sou um velho, guarde essa chatice para a Sua Majestade, o
Rei — debocho. — E terceiro, que seja, eu preciso comer, de qualquer
forma. Estarei lá — aviso e me levanto, seguindo para dentro do palácio.
A caminho do meu quarto, encontro Edward e ele sorri para mim.
Nossa relação melhorou muito depois que ele soube de toda a verdade e em
momento algum duvidou de mim, o que me deixou aliviado.
Contudo, o Rei Edward II não ficou muito feliz com o
comportamento do seu sucessor e está soltando fogo pelas ventas. É bem
provável que esse jantar seja para torrar a nossa paciência, porque ele ainda
que ainda somos garotinhos de cinco anos que precisam fazer tudo o que ele
mandar.
— Foi convocado também? — pergunto ao meu irmão.
— Com certeza. Estarei lá com você — responde sorrindo. —
Nos encontramos na escada.
Chego ao meu quarto e encontro Kakarotto espalhado na minha
cama. O bichano está levando a vida que sempre quis, comendo salmão
fresco todo dia, dormindo na cama mais macia possível e sendo um exibido
gato da realeza. E o melhor, ele não perturba mais o meu irmão. Não que
tenham se tornado amigos, longe disso, mas, aparentemente, deram uma
trégua e isso já é muito bom, porque estar aqui já é problemático e
desgastante o suficiente.
Contudo, a forma como ele me encara é tão julgadora que, se ele
pudesse falar, era capaz de estar me xingando de todos os nomes possíveis
neste momento.
— É, amigão. Não sei o que faremos da nossa vida ainda, mas
logo as aulas voltam e não quero mais estar nesse lugar quando isso
acontecer.
Deito-me ao seu lado, sendo empurrado por suas patinhas e ele
faz questão de deixar as unhas de fora, para mostrar que ainda é ele quem
manda no território. Gato abusado.
Estou pronto para a tortura da noite. Vou sorrir e acenar como um
bom pinguim e encarar o meu pai o mínimo de vezes possível. Desde que
cheguei, não tive a “honra” de encontrá-lo e isso é um bônus, mas, dessa
vez, não dá pra escapar. Caminho pelo corredor acarpetado, sentindo meu
coração disparar, e não de um jeito bom, pela expectativa de estar cara a
cara com o Rei de Prinz.
Assim que chego no topo da escada, encontro meu irmão, assim
como ele prometeu e ele sorri.
— Estou com você, irmãozinho.
— Sempre, irmãozão.
Somos anunciados formalmente, o que me faz revirar os olhos,
mesmo mantendo a postura altiva, em seguida, descemos lado a lado,
encontrando nosso pai lá embaixo.
Ele nos lança um sorriso amarelo e nos postamos um de cada lado
dele, vendo que o salão possui uns trinta convidados. Não conheço nenhum,
e nem faço questão, já que a maioria nos olha de nariz em pé, como se
fossem os donos do mundo.
— Boa noite a todos! — o Rei cumprimenta e todos prestam uma
reverência. — Agradeço a presença de vocês para esse jantar especial em
homenagem aos meus filhos. — Edward e eu nos entreolhamos, sem
entender aonde ele quer chegar com isso. — Por terem vivido um curto
período na América, trouxeram consigo alguns hábitos, sendo eles a
comemoração do Dia de Ação de Graças. E também gostaria de aproveitar
essa data tão especial para fazer um anúncio maravilhoso. — Faz suspense,
enquanto esse bando de baba-ovo faz cara de interesse. — Prinz e Sollaris
se tornarão uma grande família a partir de hoje, pois meu filho mais novo, o
Príncipe Olliver Prinz, se casará com a Princesa Amaya.
Ouço uma salva de palmas e olho para o meu irmão, chocado, e
ele balança a cabeça negativamente, não sei se dizendo que o casamento
não irá acontecer, se inconformado com a atitude do nosso pai ou então
implorando em silêncio que eu não faça nenhuma merda. Procuro ao redor
quem pode ser a tal Princesa e uma garota loira, muito bonita e delicada
acena, me fazendo saber que é ela. Sinto muito, Princesa!
Olho bem em seus olhos e digo sem emitir som:
— Sinto muito, irmãozão!
Assim que as palmas cessam, dou um passo à frente, deixando
claro que quero falar.
— Boa noite, Senhoras e Senhores! Agradeço a presença de
todos, é uma honra tê-los conosco nessa noite. Entretanto, gostaria de
antemão me desculpar com a Princesa Amaya, mas não haverá casamento.
— Viro-me para ela. — Não é nada com você, mas meu coração já tem
dona e não farei parte dessa palhaçada de casamento arranjado. Obrigado a
todos e aproveitem o jantar! — Termino e me viro, subindo as escadas e
voltando para o meu quarto.
Não a pau serei uma marionete do meu pai. Essa porra acaba
agora!
Estou deitado na minha cama, bolando um plano para tirar
Edward e eu do palácio ainda essa noite. Não tenho mais lágrimas para
chorar e não vou me conformar em perder o amor da minha vida sem lutar
por ela.
— Pode esperar, Girassol, estou indo e não vou desistir enquanto
não tiver você de volta!
Ainda é cedo e, com certeza, aquela palhaçada lá embaixo ainda
terminou, por isso, levanto-me, coloco uma roupa confortável e um casaco,
pego o Kakarotto e, antes de sair do quarto, agarro a jaqueta limpa do
Bruins que está sobre a poltrona.
Olho bem ao redor para ter certeza de que não tem nenhum
guarda à espreita e me esgueiro para o quarto do Ed. Empurro a porta e vejo
que está aberta, mas meu irmão não está em nenhum lugar.
— Droga! Vai ser mais difícil do que eu pensava.
Ando com cuidado, evitando ser visto, até que, ao passar por uma
das muitas salas do palácio, escuto a voz levemente enrolada do meu irmão.
Com certeza esse idiota bebeu. Ouço também a voz do Rei e espero que ele
saia do local, já que, pela forma que fala com Edward, com certeza a
conversa não vai se prolongar. Escondo-me atrás de uma armadura ridícula
exposta no corredor, segurando o Kakarotto para fazer o mínimo de barulho
possível, e quando finalmente vejo meu progenitor deixar a sala, entro no
local, encontrando o meu irmão enchendo a cara com whisky.
Ele fica surpreso ao me ver e não entende bem o que eu digo
quando aviso que irei sequestrá-lo, afinal, ele é muito certinho e levemente
bêbado seu cérebro não deve estar em seu funcionamento normal.
— Levanta daí porque nós três vamos pegar o próximo voo de
volta para os braços das nossas garotas — aviso e ele me olha confuso, por
isso o puxo pela mão, ajudando-o a vestir a jaqueta que joguei em seu colo
e saindo de fininho pelo corredor.
— Vai logo, Edward, me passa essa droga de telefone —
resmungo, pedindo o celular descartável que meu irmão recebeu como
contrabando de Phillip.
— Calma, calma, meus reflexos ainda estão meio lentos — rebate,
sofrendo para tirar o aparelho do bolso e me entregar. Mando uma
mensagem para o Phill e aguardo.

Número desconhecido: Precisamos da sua ajuda. Ala sul, saída


secreta da biblioteca.

Obviamente ele não responde, mas sei que posso confiar que vai
aparecer.
— Por que não pegamos aquele seu skate velho para chegar até o
aeroporto? — meu irmão sugere, me fazendo revirar os olhos.
— Não vou nem te responder, Edward…
— Ah, já sei! Vamos pegar algumas folhas de palmeira lá no
jardim. Se subirmos no terraço e as amarramos nos braços, podemos saltar e
voar.
— Nós não temos palmeiras e você não é o Ícaro, pelo amor de
Deus! Fica quieto e me deixa pensar — brigo e ele dá de ombros. O Edward
no modo foda-se o mundo está começando a me irritar.
Escuto passos e puxo meu irmão para mais perto da parede,
escondendo-nos longe da luz do corredor.
— Fiquem calmos, garotos, sou eu — Phill avisa, me trazendo um
alívio imenso.
— Que bom que você veio. Precisamos sair daqui — digo.
— Eu imaginei que isso aconteceria e farei o possível para ajudar.
Na verdade, já pensei em um plano — explica. — O jantar foi todo trazido
por um serviço de buffet, junto com os utensílios e tudo mais. O caminhão
para retirar tudo chega daqui a uma hora, vou colocar vocês lá dentro junto
com os funcionários. Enquanto isso, providenciarei passagens para saírem
do país e depois, embarcam para os Estados Unidos.
— Muito obrigado, Phill! Eu sabia que poderia contar com você
— Abraço-o, emocionado.
— Eu te amo, Phill, você é o melhor — a versão bêbada do meu
irmão diz, arrancando uma risada de mim. Definitivamente, esse cara
precisa da Vick para ter um rumo na vida.
Phillip sai para providenciar tudo e como não participei daquele
jantar idiota, estou morrendo de fome, e Kakarotto já está reclamando
também, com certeza sentindo falta do seu lanchinho da noite. Por isso,
deixo meu irmão sentado num cantinho da passagem secreta, onde ninguém
pode vê-lo e saio rumo à cozinha com meu gato no colo.
Encontro Margot na cozinha e ele sorri para mim de um modo que
somente minha mãe sorria.
— Alteza, em que posso servi-lo? — pergunta, fazendo uma
reverência.
— Primeiro, sem me chamar de Alteza, Margot. A senhora me viu
correr pelado pelo palácio, não tem como haver formalidades entre nós. —
Ela sorri, assentindo. — E nós estamos morrendo de fome. Tem algo que
possamos beliscar aí? — questiono, apontando ao redor da cozinha.
— Mas é claro, menino Olliver, sempre! — Ela sai abrindo portas
de armários, geladeira, gavetas e logo temos pães, queijo, suco de maçã e
algumas uvas para saborear.
Além disso, Margot coloca um grande pedaço de salmão em
frente ao meu gato, que cheira o alimento e empina o nariz, virando de
costa e se sentando, como se recusasse a comida.
— Eu disse que ele gosta de frango, Olliver, para de frescura com
o Capiroto. — Edward aparece meio cambaleante na cozinha e abre a porta
da geladeira, pegando um pedaço de frango cru e jogando para o meu gato,
que geme e ronrona ao abocanhar aquilo.
— Não é possível, é hoje que o inferno congela! Vocês fizeram as
pazes — digo, arrancando risadas de Margot e das outras mulheres na
cozinha.
— Que nada! É que esse bichano demoníaco fica se engraçando
pra cima da minha Lady. E o pior é que ela parece gostar, apesar de se fazer
de difícil, ou seja, vou acabar sendo sogro dessa cria de Satã, então não
posso matá-lo, ou a Lady vai ficar triste e a Vick me mata por tabela por
chatear a bebezinha dela.
Deixo Ed reclamando sobre meu gato estar querendo deflorar a
gata que ele deu para Victória e aproveito para comer antes que Phillip
volte.
Quando estou satisfeito, despeço-me de Margot com um abraço
apertado, sem saber quando voltarei a vê-la e arrasto Edward e Kakarotto
comigo até a passagem secreta da biblioteca. Chegamos à parte do fundo do
palácio, onde são recebidos caminhões de alimentos, da lavanderia e afins e
Phill surge de trás de uma porta que quase não notei ali.
— Tudo pronto, garotos. — Pega dois bonés e óculos escuros,
entregando para nós. — Eu cuidei e acobertei cada travessura de vocês na
infância, espero que essa seja a última e, se Deus quiser, por uma boa causa.
Sejam felizes e não se esqueçam que o povo de Prinz precisará de vocês
quando chegar a hora. — Ele nos abraça apertado, trazendo lágrimas aos
meus olhos, mas me recuso a chorar, porque sei que isso não é um adeus, e
sim, um até breve.
Assim que o caminhão encosta, Phill fala com o motorista e nos
coloca no baú, dando um tchauzinho antes de fechar as portas.
É isso, vamos correr atrás da nossa felicidade.

Desembarcamos no LAX mais de quinze horas depois, já que


saímos do aeroporto de Prinz e fomos em uma escala para não sei onde
apenas para despistar nosso pai, antes de finalmente embarcarmos para Los
Angeles. Ainda assim, valeu a pena.
Assim que chegamos à cidade, descobrimos que a casa onde
morávamos havia sido entregue após perderem a mim, ao Ed e Trevor como
moradores. Liguei para Hunter e soube que ele está morando no
apartamento do Zion; Matt e Jackson eu não sei e não faço questão de
descobrir.
Sorte que os seguranças da Família Real haviam pego todas as
nossas coisas e levado para o palácio. Por isso, acabamos de fazer o check
in em um hotel, mas Ed já saiu correndo atrás da Vick. Não posso julgá-lo,
pois faria o mesmo se houvesse a mínima possibilidade de ser ouvido. Sei o
quanto minhas atitudes devem ter machucado a Maddie, por isso, mesmo
amando-a mais que tudo na minha vida, não tenho coragem de procurá-la.
Não ainda, sem um bom plano ou um daqueles grandes gestos que
acontecem em filmes.
Então, deito minha cabeça no travesseiro e começo a pensar em
várias coisas que poderia fazer para que ela me ouvisse e, quem sabe, me
desse uma chance de explicar. E é pensando nisso que pego meu telefone e
ligo para Penélope, que atende após o terceiro toque.
— Como ousa me ligar, seu quarterback de araque? Eu estou com
tanta vontade de fazer picadinho de você e jogar para os cachorros do
abrigo comerem… — diz com seu jeito sério, defendendo a amiga com
unhas e dentes.
— Oi, Penélope. Eu… sinto muito! — digo, soltando o ar dos
meus pulmões como se estivesse há dias sem respirar. — Eu sei que errei, e
nada do que eu disser vai mudar isso, mas… Eu só queria saber como ela
está.
— O que você acha? — rebate. — Minha amiga está péssima!
Sorte que tio Ted e tio John estão com ela. Estão passando uns dias no
Biltmore, para espairecer e fugir dos paparazzis, afinal, você e seu irmão
são muito populares por aqui agora e é claro que todo esse escândalo
respingaria nela.
— Sei que isso não muda nada, mas… eu sinto muito, de
verdade!
— Não é para mim que você tem que dizer isso, Olliver. — E
assim, ela desliga na minha cara.
Contudo, não consigo esquecer de algo que ela disse: ela está no
Biltmore. Mesmo hotel onde estou deitado em uma cama macia nesse
momento. Esse destino é uma cadela mesmo, que deve estar rindo da minha
cara agora. Tão perto e tão longe… Argh!
Minha vontade é jogar o celular na parede e dormir até ter trinta e
cinco anos e maturidade suficiente para resolver tudo isso, mas quando eu
fecho os olhos, a ideia de como começar a limpar essa bagunça surge,
trazendo um sorriso ao meu rosto. Preciso fazer algumas ligações.

— Nossa, finalmente consegui chegar aqui! — Meu pai Ted


exclama com seu jeito drama queen de sempre. — Soube que alguém muito
importante está hospedado nesse hotel e foi uma verdadeira corrida de
obstáculos driblar todos os paparazzis e curiosos.
— Estamos em L.A., papai… Hollywood, Califórnia, lembra?
Sempre tem algum famoso andando por aqui, coisa mais normal do mundo.
— Oi, amor — Ted cumprimenta John com um beijinho e meu
coração fica aquecido por vê-los assim depois de tanto tempo juntos. — Tá
muito frio lá fora, gente, vocês não imaginam, por isso, vamos nos embolar
aqui na cama para assistir um filme. Venham — Bate ao lado na cama
enorme, chamando meu pai e eu. Ele pega o controle e liga a TV e quando
o jornal local aparece, sinto meu coração querendo sair pela boca, pois ouço
a voz dele e quando me viro para confirmar, lá está Olliver: com seus
cabelos loiros arrepiados, seus olhos lindos, vestindo um terno que o deixa
perfeito. Como um príncipe, meu cérebro me lembra.
Paro em frente à TV, querendo entender o que está acontecendo.
Todos esses dias meus pais me isolaram do mundo, sem me deixar ter
notícias para que não sofresse mais. Tudo o que eu soube é sobre Olliver ser
da realeza, e que Trevor estava hospitalizado, mas já sob custódia, pois
sairia direto para a prisão para aguardar julgamento. Pelo visto, aquele
babaca não assediou só a mim, ele foi além e as vítimas decidiram falar. E
também tem a acusação pela exposição dos momentos íntimos que tive com
Olliver, o que, aparentemente, vai pesar muito nas costas dele.
“Estamos aqui no auditório da UCLA, onde o Príncipe Olliver, de
Prinz, convocou uma entrevista coletiva”, diz a repórter, mas eu não quero
ouvi-la, quero saber o que ele vai falar.

“Boa noite a todos! Agradeço a presença de vocês aqui hoje e


também ao reitor Fox, que autorizou essa entrevista. Sei que nos últimos
dias muitos boatos envolvendo o meu nome e do meu irmão surgiram, por
isso estou aqui para fazer alguns esclarecimentos. Mas antes, preciso
contar uma história a vocês.
Existe um reino localizado na Europa, bem perto da França, onde
a Família Real de Prinz governa há mais de duzentos anos. Meus
antepassados, que eram um povo muito visionário, encontraram uma
grande ilha e lá se estabeleceram como Reino de Prinz, uma monarquia
muito semelhante à Inglesa, mas sem todo o glamour da Rainha Elizabeth,
é claro.”
Ele faz piada, sendo o cara brincalhão de sempre, por quem me
apaixonei.
“Bom, atualmente, o Rei Edward Anthony George Prinz II, meu
pai, é quem governa o país e, por muito tempo, tentou governar a mim
também, o que é uma pena, já que sempre fui um filho rebelde.”
Risadas são ouvidas no ambiente, afinal, Olliver não consegue
ficar sério, isso faz parte dele, o que o torna perfeito.
“E, por ser esse filho rebelde é que vim parar aqui na UCLA, pois
eu queria ser livre de toda a responsabilidade de ser filho de um monarca,
apesar de não ser o próximo na linha sucessória. E foi aqui que encontrei a
pessoa mais especial que já tive o prazer de conhecer. Uma garota tímida e
linda vinda do interior do Texas, que queria apenas estudar, mas teve sua
vida bagunçada por mim, mas ouso dizer que a maior bagunça foi ela quem
fez. Maddison Brown me fez enxergar o mundo de uma forma diferente, fez
eu me sentir capaz de muitas coisas e, acima de tudo, me ensinou a amá-la
como nunca mais amarei outra mulher.”
Ouço sons surpresos ao meu redor, papai Ted já está todo
derretido, enxugando os olhos, enquanto John parece prestes a matar
Olliver com requintes de crueldade.
“Por esse motivo, hoje venho dizer que, apesar de todas as
especulações, o noivado planejado entre mim e a Princesa de Sollaris não
irá acontecer. Amaya é uma mulher incrível e merece encontrar alguém que
ame com todo o seu coração, entretanto, essa pessoa não sou eu, pois há
meses meu coração foi ocupado e duvido muito que Maddison saia dele um
dia.”
Muitas exclamações podem ser ouvidas, aparentemente, ele tem
um poder muito grande de conduzir as pessoas.
“Eu cometi muitos erros na ânsia de provocar o meu pai, mas, o
maior deles foi magoar a mulher da minha vida, a minha ruivinha, o meu
Girassol. Portanto, não haverá casamento e, consequentemente, nenhuma
aliança dessa natureza entre Prinz e Sollaris, a menos que Arabella queira
se casar com o Príncipe George.” Ele cita a prima de quem já ouvi falar
algumas vezes e não tenho certeza se em pleno século XXI alguém ainda
encara esse negócio de casamento arranjado.
“Então, só haverá casamento se Maddie me der a honra de ser
perdoado e fazer dela a Princesa Maddison de Prinz. E espero, do fundo do
meu coração, que isso aconteça, pois eu não sei mais viver sem essa mulher
na minha vida. Sem os seus sorrisos, suas palhaçadas, seus carinhos e sem
o seu amor.”
Meu coração traidor começa a galopar no peito, como se a
qualquer momento fosse escapar e cair no colo desse quarterback
mentiroso. Como numa apresentação bem-feita, o foco da câmera se fecha
em seu rosto quando ele declara:
“Maddie, se você estiver assistindo isso, eu sinto muito por tudo,
de verdade, e espero que um dia possa me dar a chance de explicar tudo e,
quem sabe, me perdoar. Não irei te procurar, pois não quero que se sinta
pressionada, mas saiba que estarei te esperando com todo o meu amor.
Obrigado a todos!”
Quando ele encerra, posso ver seus olhos marejados e uma
lágrima solitária escorrer por sua bochecha.
Droga! O que eu faço agora?
— Acho que você deveria tentar ouvi-lo, filha — papai Ted diz,
me abraçando por trás. Desde que a entrevista terminou, estou estática
sentada na beirada da cama, sem saber ao certo o que pensar.
— Para de besteira, Ted! Nossa filha está sofrendo há dias por
causa desse idiota. Vai mesmo jogá-la para cima dele de novo? — John
resmunga, em seu modo superprotetor.
— Não seja babaca, John! Você sabe o quanto palavras não ditas
podem ferrar um relacionamento. Não estou dizendo que é para ela ir
correndo pular nos braços dele e o perdoar, mas sim, para dar uma chance
do garoto se explicar. Não sabemos quais foram os motivos para fazer o que
ele fez, mas se até os criminosos têm o direito de se defender, por que ele
não teria? — Ted cruza os braços e sabemos que ele chegou ao seu limite.
Meu pai é a pessoa mais calma que eu conheço, mas ele odeia
injustiças.
E se ele estiver certo e realmente houver um motivo muito
plausível para tudo o que Olliver fez? Meu coração idiota continua
insistindo para eu ouvi-lo e, depois de ver como o quarterback pareceu
sincero e abatido, estou tentada a lhe dar ao menos o benefício da dúvida.
— Papai, não tenho certeza se isso é uma boa ideia — comento,
me olhando no espelho. Estou usando um vestido de lã grosso, meias, botas,
além de um cachecol e o sobretudo. Uma onda de frio surgiu do nada, como
se até o clima se solidarizasse comigo, por isso, estou toda agasalhada.
— Cenourinha, imagine só se daqui a alguns anos você o vir na
TV e pensar: e se eu tivesse lhe dado a chance de explicar? E se eu o tivesse
ouvido? Será que as coisas seriam diferentes? — Ele pega em minhas mãos
e me encara. — Não dá para viver de “e se”. Não se arrependa por algo que
deixou de fazer. Algo me diz que tem muito mais por trás dessa história do
que nós sabemos. — Papai Ted beija minha testa. — Ele pode ser um
babaca? Claro! Pode ser mentiroso e tudo mais, mas também pode ser uma
vítima nisso tudo.
— Não posso dizer que estou feliz com isso, porque prefiro que
minha filhinha seja sempre só minha, mas Ted tem razão, todo mundo
merece a chance de se explicar.
— Obrigada por serem os melhores pais do mundo. — Eles me
apertam em um abraço triplo, antes de beijarem minhas bochechas.
— Já sabe onde procurar?
— Tenho uma intuição — digo e pisco para eles, saindo do hotel.
Peço um uber e assim que ele chega, dou o endereço da igreja.
Durante o trajeto, vou pensando em tudo o que gostaria de falar, de
questionar, mas o que mais invade a minha mente é: eu amo o Olliver e
acho que isso nunca vai mudar. E é esse sentimento que me assusta, porque
ele me deixa vulnerável e pode nublar a minha percepção. Mas… Ele se
expôs em rede mundial, falou sobre nós, disse que me amava… Uma
pessoa ruim e maldosa não faria uma coisa dessas. Ao menos é nisso que eu
quero acreditar.
Recebo uma mensagem de Peny me dizendo que o quarterback a
procurou e que,mesmo ele sendo um babaca, ela está do meu lado para o
que eu decidir, pois só quer a minha felicidade.
O carro estaciona em frente ao prédio onde tantas vezes eu estive
e é impossível frear as lembranças daquele primeiro jantar, do olhar alegre
no rosto do Olliver apesar da simplicidade da comida e do local. Pago o
motorista e saio antes que eu perca a coragem, seguindo direto para a torre.
Subo os degraus com cuidado e nem preciso ir até o topo para ver
aquela cabeleira loira que eu tanto amo. Pelas vacas do Texas, que saudade
eu estou desse garoto! Ele está deitado no chão, o olhar focado no teto
como se pudesse desvendar todos os mistérios do universo apenas olhando
para aquele sino pendurado. Parece mais magro, mas não menos lindo.
— Eu não sabia se você realmente viria, mas estava contando com
isso — diz, ainda sem olhar para mim.
— Nós não marcamos nada. E se eu não aparecesse? — respondo,
me aproximando.
— Eu continuaria a vir aqui, como tenho feito nos últimos três
dias, na esperança de poder te ver, de me explicar.
— Mas o recesso está no fim. E as aulas? O time?
— Nada é mais importante pra mim do que você. Será que ainda
não percebeu? — questiona, se sentando com os joelhos flexionados e as
costas apoiadas na mureta, me encarando.
— Você é bom com as palavras, seria ótimo em discursar para o
seu povo, como Rei de Prinz — digo, me sentando de frente para ele, mas
não tão próximo.
— Eu não posso ser rei, Girassol. Edward é o sucessor ao trono.
— Mas e se ele abdicasse? — Levanto a hipótese. Soube pela
Vick que ela e o “Bonitinho” conversaram, ele não parece disposto a voltar
para os mandos e desmandos do pai.
— Meu irmão nunca faria isso, ele nasceu para ser rei, foi criado
para isso.
— Mas liderar está no seu sangue — digo, mas ele dá de ombros,
olhando para baixo. — Você pode me contar o que aconteceu? Desde o
começo.
— Para isso, vou precisar ir muito antes da merda toda de aposta.
Você precisa conhecer o meu passado.
— Estou com tempo — aviso, sentando na pose de lótus.
Olliver respira fundo, olha bem nos meus olhos e começa a relatar
sua infância, a indiferença e o desprezo dos pais, o carinho da mãe… A
cada palavra dita, sinto sua dor como se rasgasse o meu peito. Quem vê o
grande e bem-sucedido quarterback no seu dia a dia, sempre sorrindo,
brincando, não imagina as marcas e dores profundas que ele carrega.
Olliver nada mais é do que um garotinho perdido, que se sente sozinho e
precisa de amor, de cuidado, de atenção. E o pai dele precisa de um
hospício, velho maldito!
— Eu já estava no meu limite quando Trevor me procurou. Meu
pai tinha mandado o Ed para me vigiar como se eu fosse um garotinho
irresponsável, eu estava me cobrando muito quanto a fazer o meu melhor no
time, e tinha você, que iluminava os meus dias. Quando ele te ameaçou, eu
não consegui pensar em mais nada. — Ele se aproxima com cuidado e
segura minhas mãos, olhando dentro dos meus olhos. — Não era pelo
futebol, pelo status… nada! Era por você. Porque eu te amo e não queria
que você ficasse à mercê de um cara como ele, que estava visivelmente
obcecado por tudo o que me cercava. Mesmo que você não quisesse ficar
comigo, eu queria te ver feliz e segura, por isso achei que seria a única
alternativa que eu tinha. Me perdoe por tudo, Girassol, por favor… —
implora, as lágrimas empoçadas em seus olhos devido a emoção. Enquanto
as minhas escorrem livremente pelo meu rosto.
— E porque você não me contou? Quando ficamos juntos pela
primeira vez ou então quando começamos a namorar… Eu teria te
entendido, Ollie.
— Será que teria? Você faz ideia do medo absurdo que eu tive de
te perder? — pergunta, mas em seguida ri com escárnio. — E de que
adiantou, não é? Eu te perdi do mesmo jeito.
— Eu precisava te ouvir, saber o que aconteceu, porque… Eu não
consegui parar de amar você, Olliver.
— Mas você merece alguém que seja inteiro, que te ame de volta
e mereça a mulher incrível que é. Eu sou só um cara quebrado.
— Eu tenho uma supercola, sabia?
— E o que isso quer dizer? — Ele está confuso.
— Que eu entendo o que você fez e, no fundo, agradeço muito por
ter pensado em me proteger. No dia da briga no bar, o Trevor tentou me
agarrar, mas eu escapei graças aos ensinamentos da Vick. — Choque
domina suas feições e eu sorrio. — Já passou, mas devo tê-lo deixado com
as bolas roxas ou talvez um nariz machucado.
— Essa é a minha garota! — Assim que as palavras saem da sua
boca, ele baixa a cabeça. constrangido. — Me desculpe, eu ainda não me
acostumei a não ter você…
— E nem precisa — afirmo, engatinhando até ele. — Eu te amo,
entendo o que você fez. Claro que enfiou os pés pelas mãos, mas todo
mundo está sujeito a errar. — Sento-me no seu colo, abraçando seu
pescoço. — Mas se mentir para mim de novo, será um homem morto,
Olliver Prinz. Ou Olliver Durand?
— Olliver Philip Thomaz Durand Prinz, na verdade.
— Muito principesco.
— Me perdoe por tudo, Girassol, eu te amo, você é a mulher da
minha vida e eu nunca, jamais, faria algo para te magoar. Ao menos não de
propósito.
— Tenho uma condição. — Suas mãos em minha cintura se
apertam ainda mais.
— E qual seria ela?
— Me amar pelo resto da sua vida.
— Acho que posso fazer isso.
E assim, selamos com um beijo o nosso recomeço.
— Olliver, se comporta, por favor… — peço, quando ele sobe
suas mãos pela minha coxa por baixo da mesa na biblioteca.
— Ninguém mandou você ser tão gostosa. E eu já estou com as
bolas roxas, seus pais não iam embora nunca — resmunga, subindo ainda
mais a mão, chegando à minha calcinha.
— Eles queriam ter certeza de que você cuidaria bem da filhinha
deles, oras.
— É claro que irei cuidar, pois a filhinha deles é a mulher da
minha vida e passarei todos os meus dias dando o meu melhor pra isso. —
Arrasta seu nariz pelo meu pescoço, eriçando todos os meus pelos.
— Você precisa parar, princeso — resmungo, colocando um livro
sobre o meu colo para afastar sua mão.
Faz uma semana que as aulas voltaram e viemos para cá fazer
uma pesquisa que a professora de literatura pediu, mas está cada vez mais
difícil com esse namorado insaciável. Meus pais foram embora há dois dias,
mas Olliver tinha treinos, além do mais, aqueles dois ficaram na cola do
meu namorado o tempo todo, provavelmente com medo de que ele me
disvirtuasse. Ah, se eles soubessem…
Antes que eu possa freá-lo, Olliver pega o livro no meu colo e o
abre com as páginas para baixo, facilitando assim que erga meu vestido e
mergulhe sua mão entre as minhas pernas. Controlo um gemido, pois a
biblioteca está cheia e não quero que descubram o poder dos dedos do meu
namorado.
Ele me toca por cima da calcinha, subindo e descendo em carícias
lentas, mas que são o suficiente para me acender toda. Não satisfeito, ele
fecha o livro, o coloca na mesa e me pega pela mão, me fazendo levantar.
— Vem, Girassol, não é desse livro que precisamos, vou te
mostrar o certo. — Sai me puxando pelos corredores, até irmos para um que
fica bem ao fundo, com aqueles livros que ninguém procura e que,
estrategicamente, tem uma lâmpada queimada.
Assim que chegamos lá, ele pega minhas duas mãos com a sua e
as segura pelos meus pulsos sobre a madeira da prateleira. Com sua outra
mão, ele puxa meu quadril um pouquinho para trás, deixando minha bunda
empinada e com sua perna, afasta as minhas.
— Vou te dar o “livro” que você precisa — avisa e, sem mais,
pega um pequeno exemplar de capa dura que estava na prateleira e esfrega a
lombada entre as minhas pernas, fazendo eu me contorcer toda.
— Olliver! — balbucio, sentindo o tesão correr pelo meu corpo.
— Quietinha, linda, senão não vai gozar — sussurra e morde o
lóbulo da minha orelha. Ele continua o seu trabalho, esfregando o livro por
cima da minha calcinha, mas, ainda assim, provocando uma avalanche de
sensações em mim. — Isso, minha gostosa, rebola essa bunda deliciosa no
meu pau. Ele está louco pra te comer. — Lambe meu pescoço e apoio a
testa na madeira, pois a avalanche de sensações que ele me provoco é
surreal.
— Quer o livro, ou prefere o meu pau, hã? — pergunta, me
arrancando mais um gemido.
— Quero o seu pau, amor, entrando bem fundo — imploro, me
esquecendo totalmente de onde estamos.
— Mas você tem que prometer não fazer barulho, ruiva, senão
seremos pegos, e não vai pegar bem para um casal da monarquia ser
flagrado em um momento assim — avisa e toda vez que ele se refere a nós
dessa forma sinto meu coração acelerar.
Monarquia… nunca me imaginei namorando um príncipe e ele
parece muito disposto a ter um futuro comigo. Confesso que não pelo status
ou pela pompa, mas fazer parte da Família Real me parece tão importante e
gratificante, afinal, poderemos ajudar a cuidar de um povo, ajudar
pessoas… Isso me deixa empolgada.
— Vai ficar quietinha, Girassol? — murmura, me trazendo de
volta à nossa nuvem de luxúria.
— Uhum…
— Eu quero ouvir as palavras, linda.
— Vou, Ollie, agora me come de uma vez, pelo amor de Deus! —
imploro e, ainda segurando minhas mãos juntas, com a outra ouço ele abrir
o zíper da sua calça, em seguida afasta minha calcinha, pincela seu pau em
minha entrada e me penetra de uma vez, me fazendo morder o lábio para
conter o gemido.
— Porra, que gostosa. Que saudade de estar dentro de você, amor.
— Eu também estava com saudades, mas agora, mete com força,
vai — suplico e ele me atende, chocando seu quadril contra o meu com
vontade, nos levando ao ápice em questão de minutos. Sinto seu gozo me
encher, ao mesmo tempo em que o meu o lambuza, e essa troca é a melhor
do mundo.
— Eu te amo, Ollie!
— Eu te amo mais, Girassol, sempre e pra sempre!
Olho para trás, vendo minha mulher e minha filha acenarem em
minha direção, me passando confiança. Acho que só estive nervoso assim
quando fui selecionado no DRAFT e quando ganhei o Heisman, mas agora
é diferente. Esse não é um momento feliz. A ansiedade não é por um bom
motivo.
Meu irmão está me esperando na porta do quarto e me dá um
sorriso de lado, de quem também não queria estar aqui. Contudo, agora não
pensamos mais em nós, e o que faremos a seguir vai definir o futuro de todo
um país, de milhares de pessoas que dependem de nós.
— Vamos lá, irmãozinho, você está pronto e essa história precisa
ser encerrada para que você comece uma nova, sendo o governante mais
jovem e competente que Prinz já viu.
— Eu ainda não tenho certeza de que isso é uma boa ideia —
respondo, sentindo minhas mão suarem.
— Você sabe que é a melhor ideia possível, está se preparando
para isso há anos.
— Não sei…
— Está arrependido em ter se aposentado do futebol? — pergunta,
me encarando.
— De maneira nenhuma. Foi um sonho realizado que eu nem
sabia que tinha, mas jogar quatro anos foi mais que o suficiente. Isso não é
vida pra mim. Sou um homem de família agora — afirmo, orgulhoso.
— Quem diria que você seria pai antes de mim…
— É isso que dá transar sem camisinha, cara, acontece. Mas foi o
melhor acontecimento da minha vida — revelo. — Maddie e Liv são a
minha vida. E claro, Tommy também está sendo muito aguardado —
comento, falando sobre o bebê que Maddie está esperando.
Aquela rapidinha da biblioteca nos trouxe Olivia, minha
princesinha sapeca e que agora tem quase sete anos. Maddie e eu já
havíamos decidido morar juntos, então apenas oficializamos tudo com uma
cerimônia íntima na igreja onde ajudávamos, com uma festa simples, mas
repleta de pessoas que nos amam.
Meus sogros ficaram loucos, John, inclusive, fez questão de me
mostrar sua arma, mas depois me abraçou e agradeceu muito por lhes dar
uma netinha. Desde então, eles venderam o sítio e foram morar perto de
nós, sendo uma rede maravilhosa para minha esposa e minha filha.
Maddie terminou a faculdade, mesmo que às vezes precisássemos
nos revezar para cuidar da bebê e do Kakarotto, que ficou insuportável
quando minha esposa foi morar com a gente, só querendo ela o tempo
inteiro. Porém, ao término da universidade, ela optou por cuidar da nossa
filha e me acompanhar nos jogos, algo que amei, e hoje cuida de alguns
trabalhos sociais com crianças e animais. Naruto se foi, infelizmente. E não,
ele não morreu, mas na mudança de casa, o aquário caiu e o bichinho
escapou, voltando a viver na natureza. Mesmo que minha Girassol tenha
ficado triste, foi melhor assim.
— Ollie? Tudo bem — Edward pergunta, me fazendo olhá-lo.
— Sim, sim, tudo ótimo.
— Você parecia perdido em pensamentos aí — comenta.
— E eu realmente estava. — Sorrio. — Estava pensando na
reviravolta da minha vida e em como sou feliz.
— Você merece, irmãozinho. — Ed me abraça apertado.
— Você também e fico realizado ao ver você e Vick felizes.
— Minha mulher é incrível — diz, todo apaixonado.
— Claro que é, fui eu quem te apresentou a ela — brinco e ele me
dá um soquinho no braço.
— Chega de adiar, ok? Ele já falou comigo um tempo atrás e eu
disse o que faria. Vamos apenas confirmar isso. Juntos.
— Certo. Vamos lá — assinto e ele abre a porta.
O quarto é todo branco, mas enorme e luxuoso como de um hotel,
a não ser pelos aparelhos espalhados, o bip constante e o homem debilitado
deitado na cama. O Rei Edward II não é mais o mesmo. Há alguns meses
ele descobriu um câncer no cólon, mas já estava em estágio avançado, com
metástase em outros órgãos. Ele até tentou esconder, mas após desmaiar em
uma reunião, Ed e eu fomos chamados, afinal, o Rei está morrendo.
— O que ele faz aqui? — resmunga com dificuldade, mas sem
perder a altivez. Nem em seu leito de morte ele me aceita como seu filho.
— Já conversamos sobre isso, pai. O senhor vai renunciar — Ed
responde.
— Vou, e você será o novo Rei.
— Não serei e o senhor sabe. Eu nunca quis isso e cansei de ser
um fantoche que fazia todas as suas vontades. Eu vou abdicar.
— Mas você não pode…
— Posso e vou — afirma.
— E como ficará Prinz? — pergunta, melancólico.
— Olliver assumirá o trono, ele é o segundo na linha de sucessão.
— Esse moleque não sabe governar um país — rebate, e os
aparelhos começam a apitar, chamando a atenção de uma enfermeira que
entra correndo no quarto.
— O que houve aqui, Majestade? — pergunta, se dirigindo ao
meu pai.
— É um assunto de família, nada do seu interesse, nos deixe
sozinhos — reclama e a moça revira os olhos antes de sair do quarto.
— Não perde a arrogância nunca, não é? — comento, repreensivo.
— Um Rei pode ser o que ele quiser, ele tem o poder.
— É por isso que o senhor foi um governante de merda, pois acha
que é tudo sobre você, mas, na verdade, é tudo sobre o povo e suas
necessidades.
— O povo faz o que a gente manda — argumenta com desdém.
— O povo reprimido, sim. Mas eu quero ter um povo que me
admire, quero ouvir o que eles precisam e transformar Prinz num lugar
melhor.
— Você vai fracassar — diz, tossindo. Vejo algumas gotas de
sangue escaparem dos seus lábios e tento me aproximar para ajudar, mas ele
ergue a mão, me impedindo. — Você tem que assumir, Edward.
— Eu já disse que não. E tenho certeza de que Olliver será o
melhor Rei que esse lugar já teve. Ele está pronto e estarei ao seu lado,
auxiliando no que precisar.
— Vocês são uma vergonha mesmo — reclama. — Agora saiam
daqui, porque ao menos tenho o direito de morrer em paz. Espero que Deus
me leve antes dessa maldita coroação — grita como pode e fecha os olhos,
deixando claro que o assunto acabou.
Ed acena para mim e saímos do quarto. Conforme caminho, sinto
como se todo o peso que carreguei minha vida toda fosse se dissipando,
ficando para trás com toda a opressão do meu pai, todo o seu ódio e rancor.
— Não ligue para o que ele diz — meu irmão começa, mas o
interrompo.
— As palavras dele não tem mais o poder de me ferir, fique
tranquilo. — dou um tapinha em suas costas e quando olho para a frente,
um sorriso nasce em meus lábios. — Somos dois putos sortudos, não
somos? — pergunto, vendo Maddie, Liv e Vick nos esperando, com Lady e
Kakarotto aos seus pés.
— E como somos — concorda. — Você não vai mudar de ideia,
não é? — indaga, provavelmente com medo.
— Não, irmãozão, fique tranquilo. — Toco em seu ombro, o
chamando para sentar nas cadeiras do corredor do Hospital Real, onde só
são atendidos membros da nobreza. Por enquanto . — Claro que quando
você me procurou anos atrás eu pensei que você estivesse ficando louco.
Onde já se viu, eu sendo o rei? Eu mal sabia governar a minha vida! —
Rimos juntos.
— Eu sempre enxerguei uma força e determinação em você que
acredito que só mamãe enxergava. Você corria atrás do que queria, era
impetuoso e liderou seus times em campo com maestria. Era só uma
questão de tempo até você perceber que nasceu para isso.
— Ainda tenho minhas dúvidas…
— Eu não, e quando você ficar com medo, estarei aqui para te
abraçar, assim como quando você era pequenininho e tinha pesadelos.
— Você é o melhor irmão do mundo, Ed.
— Eu sei, e você também não é nada mal — brinca. — Agora
vamos, pois temos que alimentar nossas mulheres se não quisermos iniciar
o apocalipse.
— Teve alguma notícia do Trevor?
— Vai apodrecer na cadeia. Ele foi condenado a mais de
cinquenta anos de prisão por estupro, além dos assédios, de crime
cibernético. O ex-senador o deserdou e disse que não tinha mais filho, ele
nem tem direito a cela especial — conto.
— Ele mereceu. Criminosos precisam ser punidos.
— Concordo. E agora, é vida nova, pois tenho um país para
assumir.
— Quem diria, hein? — meu irmão diz. — Eu, que sempre fui
certinho, decepcionei o nosso pai.
— E eu que sempre fui todo errado vou ser rei. — Gargalho. — O
certinho ficou errado e o errado ficou certinho...
De frente para o espelho, observo o traje oficial e sinto um frio na
barriga. Eu vou ser Rei! Porra, eu vou SER REI! A coroação será dentro de
poucas horas e minhas mãos estão suando frio de forma desesperadora.
— Ei, princeso, se acalme — Maddie me abraça pelas costas,
olhando nossos reflexos no espelho. Como eu sou um filho da puta sortudo!
Minha mulher é perfeita.
— E se eu falhar?
— Significa que você é humano, e eu estarei lá ao seu lado, te
ajudando e te apoiando.
— Eu tô com medo, Maddie — digo, me virando para ela.
Maddison está usando um vestido azul-escuro longo, que marca
sua barriguinha de quatro meses de gravidez e a deixa muito gostosa. Seus
cabelos continuam longos e estão presos em um penteado elegante,
finalizado com uma trança; a maquiagem é suave, para não esconder as
sardas lindas que ela tem no rosto. Minha rainha.
Quem diria que com vinte oito anos assumirmos um país.
Meu pai relutou, mas quando falamos com ele, a renúncia já havia
sido assinada, em seguida, meu irmão abdicou e anunciamos que eu
assumiria o trono. Diferente do que eu imaginava, a notícia foi recebida
com festa pelo povo, que anseia por um governante atual, moderno,
preocupado com suas necessidades e disposto a tudo pelo nosso país.
E espero atender as expectativas deles, pois tudo o que mais quero
é que Prinz seja um lugar incrível para se morar, onde as pessoas se sintam
acolhidas e possam criar seus filhos com tranquilidade, assim como quero
criar os meus.
A porta se abre novamente e uma coisinha de pouco mais de um
metro de altura entra, correndo e grudando em minhas pernas.
— Papai!!!
— Oi, minha princesa. — Abaixo-me para pegá-la. — Por que
você está toda suada?
— Eu estava fugindo — sussurra.
Olho para o lado, vendo Ed e Vick com os braços cruzados, rindo.
Lady entra em seguida, tendo Kakarotto em sua cola, miando feito um
louco. Ele vem até mim, se esfregando em minhas pernas e fica de pé, com
as patas dianteiras apoiadas em mim.
— Fugindo do quê? O que você aprontou, Olivia?
— Eu peguei só um filhotinho do Kakarotto e da Lady, mas ele
ficou muito bravo e veio correndo atrás de mim — resmunga, chateada.
— Mas eu já disse que não era para mexer com eles, filha —
Maddison repreende.
— É que eles são tão fofinhos! — responde, imitando a Agnes de
“Meu malvado favorito”, o filme preferido dela.
— Depois eu levo você lá e a gente brinca com eles escondido.
Que tal? — oferece Vick, se aproximando. — Tá bonito, hein, Majestade!
— Dá um tapa nas minhas costas.
— Valeu, cunhada!
— Vamos, amor, precisamos tomar os nossos lugares — Ed avisa,
enlaçando a cintura da esposa com seu braço.
— Vamos, Bonitinho, mas depois a gente vai encher a cara, tá? —
diz, como se fôssemos todos convocados.
— Eu não posso beber. — Maddie ri.
— Não pega bem o Rei ser visto embriagado por aí no dia da
coroação, Victória.
— A gente enche a cara no nosso quarto, Vick, depois você
aproveita e “prepara o peru” daquele jeito que só você sabe — sussurra alto
demais, mordendo o pescoço da minha cunhada. Sério, eu não precisava
dessa imagem mental.
— Saiam daqui, pelo amor de Deus! — brado e ambos saem
rindo.
— Pronto, meu Rei? — Maddie pergunta, abraçando a mim e a
nossa filha.
— Pronto, minha Rainha.
— Eu te amo!
— Eu te amo mais, sempre e pra sempre — respondo e dou um
selinho na sua boca, ouvindo um “Eca” de Liv, que ainda está no meu colo.
Saímos do quarto em direção à Catedral onde será a coroação e ao
chegar lá, fico surpreso com tanta gente. Repórteres de todo o mundo,
policiais, bombeiros e o povo. É muita gente, nem sei descrever.
Maddie sai primeiro, sendo amparada por meu irmão para descer
da carruagem que nos trouxe até aqui e segue com o restante da nossa
família para o interior da basílica. Segundo as leis do nosso país, apenas o
futuro rei entra pelo tapete vermelho, e somente ele faz o juramento e
recebe a coroa. Maddie será minha rainha consorte, mesmo sem coroação.
Coloco os pés para fora da carruagem e desço com cuidado,
sentindo minhas pernas trêmulas. A emoção é gigante e parece haver um
redemoinho no meu estômago. Subo os degraus que estão circundados pela
Guarda Real segurando suas espadas e chego à entrada do local. Está tudo
lotado, desde membros da nobreza de Prinz como da realeza e políticos de
outros países. Ando devagar e quando chego diante do arcebispo, o
cumprimento e ele faz uma reverência. Algumas palavras são ditas e o
juramento repetido por mim, e após isso, viro-me de frente para aquela
multidão, sentindo meu coração explodir de alegria. Parece que, finalmente,
deixei de ser inútil e encontrei o meu lugar.
Sinto a coroa sendo depositada em minha cabeça e fecho os olhos
momentaneamente, absorvendo a sensação e quando os abro, vejo meu pai
em uma cadeira de rodas bem perto de mim, ao lado do meu irmão. Ele está
ainda mais debilitado, mas permanece arrogante, com seu nariz em pé.
— Vocês são minha decepção, Edward. Você disse que tomaria a
decisão correta quando chegasse a hora… — Ouço meu pai dizer, mas isso
não me abala. Não mais.
— E eu tomei. Depois da Victória, essa foi a melhor de todas —
rebate meu irmão, sorrindo pra mim.
— Recebam agora, Vossa Majestade Olliver Phillip Thomaz
Durand Prinz, Rei de Prinz. E sua Rainha, Maddison Elizabeth Brown
Prinz, Rainha consorte de Prinz.
— “Vida longa ao Rei” — o povo grita.
É, eu sou a porra do Rei agora!
FIM
Dessa vez, eu nem tenho palavras suficientes para agradecer, por
isso, em primeiro lugar eu agradeço a Deus, pois ele me sustentou até aqui.
Agradeço a minha família, que me apoia, nem que seja me
ligando a cada 5 minutos para perguntar se eu já terminei.
Agradeço do fundo do meu coração à Camila Cocenza, essa
pessoa maravilhosa que apareceu na minha vida e acreditou em mim, no
meu potencial e na minha ideia, sempre dizendo que eu era capaz. Camis,
como eu já disse, nunca vou poder agradecer o suficiente. Eu te amo,
lindona!
Preciso deixar um agradecimento mais que especial à Izabelle,
minha assessora, beta, psicóloga particular, amiga e a melhor pessoa que eu
já conheci. Belle, sem você, esse livro não teria saído. Obrigada pelas
músicas, pelas ideias, pelos puxões de orelha e por todas as vezes que me
trouxe de volta à realidade quando eu queria desistir e não me achava
capaz. Obrigada, por tudo! Eu amo você, viu... E não é pouco!
Não posso deixar de agradecer à Aline Bianca, a minha safada
favorita, que está sempre disposta a ajudar em tudo e à Bruna Linacre, que
cuidou da planilha da parceria com tanto cuidado, porque eu teria surtado se
tivesse que pensar nisso.
Agradeço a você, leitor, que chegou até aqui, dando uma chance
ao meu Princeso e sua Girassol, que teve paciência com os atrasos, surtou
com os spoilers... Vocês são demais! E claro, às minhas meninas do
AleatoriaMente, que fazem dos meus dias mais felizes.
E claro, obrigada a todas parceiras, que estiveram ao nosso lado
desde o começo. Vocês são demais, meninas!

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Até a próxima!
Era pra ser
Doce amor
LUNY: Contos de amor na Universidade
Fran: Inapaixonável
O que eu faço por você
Sob o meu encanto
Uma virgem para o playboy
O CEO Fera
Meu melhor amigo, meu amor
Uma família para o viúvo
Um contrato para o CEO
As tentações da CEO
Sexy boys – O misterioso
Karine Gomes, porque o nome é enorme, parece até de princesa, é
ribeirãopretana e está nesse mundão de meu Deus desde 1990. É casada,
mãe, ariana, cristã, confeiteira e agora, autora. Ah, e levemente rabugenta
também, apesar de rumores afirmarem que ela é fofa. Ama cantar e é
movida a música. E a doces.
Descobriu que, através da literatura, poderia viajar sem sair de
casa, tornando-se assim uma “louca dos livros”. Em 2020 decidiu dar asas
às histórias que povoam sua mente, entrando de cabeça nessa vida de autora
independente, sempre buscando levar risadas e ensinamentos para seus
leitores. É uma beijoqueira de carteirinha, que adora ajudar e fazer os outros
rirem.
Pode me chamar a qualquer hora, vai ser um prazer conversar
com você, saber suas opiniões e claro, bater aquele papo gostoso.

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possam conhecer a história. É rapidinho e não custa nada.

Beijokah ;)
[1]
Quarterback (QB) é uma posição do futebol americano. Jogadores de tal posição são
membros da equipe ofensiva do time (do qual são líderes) e alinham-se logo atrás da linha central, no
meio da linha ofensiva.
Pessoa que chega ao extremo da loucura, comete atos absurdos.
[2]

Estar entorpecido.
[3]
Center é uma posição do futebol americano dos Estados Unidos e do Canadá. O
center é o jogador posicionado no centro da linha ofensiva. O center é o jogador que dá a bola ao
quarterback ao fazer o chamado snap passando a bola entre as pernas quando o QB chama a jogada.
[4]
Um Wide Receiver (WR) é uma posição ofensiva no futebol americano e canadense,
e é o jogador chave na maioria das jogadas para pontuações.
[5]
Um gêiser, também grafado como géiser, é uma nascente termal que entra em
erupção periodicamente, lançando uma coluna de água quente e vapor de água. O nome gêiser
provém de Geysir, nome de uma nascente eruptiva em Haukadalur, na Islândia; este nome deriva por
sua vez do verbo gjósa, "jorrar"
[6]
Meu amor

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