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Copyright © 2023 Deby Incour

Capa, Projeto Gráfico e Diagramação Digital: Débora Ferraz


Revisão e Preparação de texto: Marcielle Alves
Leitura Crítica: Larissa Souza e Josiane Cristina
Imagens de capa: Adobe Stock
Artes da diagramação: Canva Pro
Ilustração: Luciana Souza

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser


reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou
mecânico sem a permissão por escrito da autora e/ou editor.

(Lei 9.610 de 19/02/1998.)

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

1ª EDIÇÃO - 2023
Formato Digital – Brasil
ALERTA DE GATILHOS
NOTAS DA AUTORA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
BIOGRAFIA
Essa é uma leitura com gatilhos como: linguagem obscena,
ansiedade, sexo explícito, luto e machismo. Se qualquer uma dessas
coisas lhe causam gatilhos, por favor, priorize sua saúde mental,
não leia este livro.
Weeks passou por leitura crítica, para responsabilidade em
determinados assuntos abordados na história. Relacionamento
tóxico e acidente, são temas que citados, mas não tão
explicitamente, entretanto, mesmo assim, foram falados com
responsabilidade.
Nenhuma romantização em temas específicos deve ser
feita, e toda ajuda psicológica e, se necessário, judicial, deve ser
buscada quando depressão, ansiedade, assédios, machismo,
relacionamento tóxico e outros temas sérios acontece com você em
qualquer circunstância que seja, e tudo que lhe atinge de modo que
te machuque mental e fisicamente, existirem.
Esse livro é um romance adulto, em que uma jovem está
vivendo seus sonhos, crescendo em sua carreira, construindo-a. No
decorrer de nossas vidas, até nosso último suspiro, fazemos muitas
coisas erradas, então não espere que ela ou qualquer
personagem desse livro seja perfeito, correto e santo.
Se espera encontrar isso, pare por aqui mesmo, pois vai se
decepcionar. Malcolm, Vicky e outros personagens, falham,
cometem erros e deslizes, assim como qualquer pessoa. As
atitudes deles são como deveriam ser, de acordo com o rumo da
história, se conectando às personalidades e não apenas com as
idades, afinal, podem existir pessoas de quarenta anos tendo uma
mentalidade e atitudes de alguém de quinze, e sejamos sinceros:
idade não define personalidade e atitudes; ações, caráter, e a vida,
sim.
ENTÃO REPITO: se quer personagens com atitudes
extremamente maduras, esse livro nunca será para você. Agora se
busca personagens com atitudes próximas da realidade, em que
ninguém é perfeito, e cada um decide como quer viver, por
favor, continue.
Agora falaremos do esporte apresentado nesse livro
como World Golden Jump, que é inspirado na NBA, e por conta
disso, você poderá encontrar termos, lugares, regras e outras
semelhanças entre ambos.
A Golden é UMA INSPIRAÇÃO NA NBA, não é ela, então,
não espere que tudo seja regrado da mesma forma. Por isso não é
citado dentro da história, em que o universo é totalmente fictício.
Aqui é a minha história, e a liberdade da ficção me permite criar,
inventar tudo do modo que eu imaginar. Tudo aqui vem do
universo maluco chamado minha mente, e é nesse universo que
convido vocês a entrarem.
TITULARES DO TIME:

Tyron – Camisa 14 (Armador – Capitão)


Killian – Camisa 9 (Armador)
Tanner – Camisa 5 (Ala)
Zion – Camisa 19 (Ala)
Alfred – Camisa 29 (Pivô)

OUTROS MEMBROS DO TIME:

Drake Grant – Dono


Jimmy Cornell – Gerente Geral
Malcolm Bell – Treinador
Ashton Walsh – Personal
Para você que escolheu essa história: ei, ser nós mesmos custa um
preço, mas que devemos estar dispostos a pagar. Pessoas frustradas
consigo, tendem a julgar todos aqueles que são diferentes, que são eles
mesmos, que venceu de algum modo. Nos escolhermos, é parte de uma
vitória, então, deixe que falem, porque é sinal que se tornou um vencedor. A
originalidade é o que chama atenção na maioria das vezes, se não, em
todas elas.
“No momento em que você desiste, é o momento em que deixa outra pessoa
vencer.”
— Kobe Bryant
Meses antes

O mau de se ter uma prima e uma amiga namorando e você sendo a


única solteira, é que em algum momento — ou em vários —, terá que se
virar sozinha ou ficar só para algo.
Posso julgar? Não! E me odeio por estar fazendo exatamente o que
sei que é errado e não concordo. Amo as duas, Cherry e Kristal são tudo
para mim, e sou adulta, posso superar o fato daquelas duas cretinas estarem
grudadas nos paus daquelas girafas humanas. E agora estou aqui, saindo do
trabalho, sendo obrigada a curtir uma noite de sexta-feira totalmente
sozinha.
É sério, Tyron e Oliver não têm nada para fazer, tipo assim, do outro
lado do mundo, ao menos por uma semana? Não que eu esteja reclamando.
Eu sei... Elas estão fazendo o melhor para dar atenção a todas as
pessoas importantes de suas vidas, principalmente a Cherry, que está uma
pilha de nervos criando sua linha de cosméticos, no meio de uma enorme
mudança para a mansão em que agora vive com o namorado.
Tem a Kristal também, que se divide entre Nova York e Palo Alto,
além do trabalho que sempre nos consome um pouco. E claro, ela também
faz de tudo para ser presente, sempre por perto quando precisamos.
Droga, fiquei uma solteirona sozinha.
Sorrio animada pela parte do solteirona, afinal, estou correndo de
todo e qualquer relacionamento. Mas sozinha é demais até mesmo para
mim.
Só que é sério, eu vou montar uma agenda para ter mais tempo com
minhas meninas, Oliver e Tyron que se virem.
Me aproximo do meu carro, não o coloquei no estacionamento. Saí
atrasada e aquela vaga é um inferno. Quem projetou aquela porra não fez
pensando em carros, só pode. Ela é estreita, horrível!
Um guarda se aproxima do meu carro, com um bloquinho em mãos.
AH, NÃO!
Pulo na frente do homem, que sobressalta assustado.
— Senhor, eu já estava saindo. Juro, por favor...
Ele me reconhece, afinal, só essa semana me deu duas multas.
— Terceira vez estacionada em um local errado, senhorita. Terceira
multa então. Deveria ter aprendido com as duas primeiras.
Faço uma careta quando ele me estende o papelzinho. Ajeito a bolsa
no antebraço e respiro fundo ao olhar o valor. Mais uma multa de oitenta
dólares. Esse homem quer me roubar, só pode!
— Eu trabalho no prédio, o senhor poderia ser mais amoroso
comigo. Estou cansada, a vaga do estacionamento é horrível. Se o senhor
ver, vai multar quem fez aquela porcaria! Por favor, vou falir desse jeito e
meus pais vão me matar se sonharem que tenho mais uma multa em uma
semana! — Imploro, ninguém resiste a minha carinha de santa.
Ele ajeita o chapéu e respira fundo.
— Com todo respeito, senhorita, não acha que é adulta demais para
ter medo da bronca do pais? E por ser adulta, deveria respeitar as regras. A
placa é clara: “PROIBIDO ESTACIONAR”! — Ele mostra a placa. Essa
maldita!
Reviro os olhos e ele assente se afastando.
— Ain, não é velha demais... — Imito ele falando. — Tenha pais
loucos e more sob o mesmo teto que eles, e vai ver como as coisas são! —
Bufo irritada, vendo o homem sem compaixão atravessando a rua.
Ele me olha e acena para eu sair daqui.
Porra!
Entro no carro totalmente irritada. Jogo a multa em cima do painel
junto das outras duas. A bolsa vai para o banco ao lado. Olho ao redor e,
Deus, preciso organizar esse lixão que virou meu carro. Tem de tudo aqui!
Fecho a porta, coloco o cinto, e sumo daqui antes que ele me aplique
uma multa por respirar em local que não pode estacionar.
Ligo o som do carro bem alto. Não será essa multa que vai piorar
minha sexta-feira. Vou chegar em casa, tomar um banho, ficar gostosa e ir
para um bar, onde arrumarei um cara gostoso para transar e desestressar.
Vou beber, comer, ser feliz, mesmo que sem amigas e com multas para
colecionar.
WAP da Card B toca e vou cantando alto junto do som. A rodovia
está bem movimentada hoje, mas será o melhor caminho para passar em um
drive-tru e já pedir minha alimentação muito equilibrada: hambúrguer,
fritas e um enorme copo de Coca-Cola.
— Pussy A-1 just like his credit. He got a beard, well, I'm tryna wet
it. I let him taste it, now he diabetic. I don't wanna spit, I wanna gulp. I
wanna gag, I wanna choke. I want you to touch that lil' dangly thing that
swing in the back of my throat…
Continuo berrando a música completamente imprópria e pouco me importo
com isso. Gesticulo conforme canto, mas talvez seja exatamente a última
vez que cantarei em liberdade. Pois acerto a traseira do carro preto que
trocou de faixa, mas tenho certeza que o filho da puta não deu seta ou eu
teria reduzido. O airbag do meu banco ativa e xingo todo o universo por
isso, porque era só o que faltava hoje.
É claro que pode piorar.
Para o meu grande azar do dia, tem blitz, e a polícia rodoviária está
logo a frente, com suas sirenes, trocando de faixa e entregando que estou
muito ferrada
Eu vou ser presa.
Desligo o som imediatamente e solto o cinto, empurrando a bagunça
do airbag. Vejo pelo retrovisor o trânsito se formando atrás de mim. A
polícia estaciona, e um dos policiais começa a falar no rádio, sinalizando
para os carros atrás trocarem de faixa.
Cacete, eu fiz um belo estrago no carro da pessoa à frente. Espero
que esteja tudo bem com ela.
O outro policial vai até o outro carro e fala tranquilo com a pessoa
pela janela, e se não tem preocupação, é porque não foi grave e isso vai
terminar bem. É só acionar o seguro e pronto! Claro que no meu caso vou
ter que gastar uma fortuna porque o airbag do banco do motorista ativou, e
não vou trocar de carro, terão que dar um jeito nisso. Um carro novo a essa
altura da minha situação caótica, não faz parte dos planos
Eu paguei o seguro do carro esse mês? Caralho!
Abaixo o vidro conforme o policial vem até a mim. Engulo em seco,
a cara do homem é de muito mau humor. Sexta-feira e arrumei trabalho a
essa hora para eles, até eu estaria puta.
— A senhorita está bem? — questiona e afirmo. — Tem noção que
estava acima da velocidade permitida? Por favor, desça do carro, nos
apresente seu documento e os do carro.
Como é? Eu, acima da velocidade? Eu não estava acima da
velocidade!
Bufo ainda mais irritada e puxo a bolsa ao sair do carro.
— Olha, policial... — Leio seu nome em seu peito. — Olha, policial
O’Connell, com todo respeito, mas eu não estava acima da velocidade. A
pessoa da frente trocou de faixa de modo inesperado, e...
— A senhorita estava acima da velocidade. Seus documentos! —
insiste, sem qualquer paciência.
Pego os documentos que pediu e encosto no carro, olhando para o
lado. Olho o modelo do carro, um Tesla, porra!
Um maldito Tesla.
Ele confere meus documentos, enquanto o outro policial fala com a
pessoa dentro do carro após colocar cones para desviarem desse lado da
rodovia.
Ele digita algo no celular, provavelmente puxando minha ficha, que
até então era limpa.
Chacoalho a perna irritada. Estou nervosa, com fome, e isso vai
demorar.
— A senhorita ingeriu álcool? — questiona, nervoso.
— Claro que não! Sou doida, mas não dirijo alcoolizada, é só fazer
o teste e vai saber — respondo nervosa.
— É melhor a senhorita diminuir o tom e se acalmar se não quiser
piorar essa bagunça toda.
Reviro os olhos. Olho para o carro e vejo a pessoa finalmente saindo
dele. O homem alto, negro, por volta de 1,90 m, ajeita a jaqueta preta. Ele
se vira para nós e sinto todo o sangue do meu rosto sumir. Na verdade, meu
sangue desaparece, porque tudo gela internamente.
Puta que pariu! Eu estou muito ferrada.
Ele caminha lentamente sendo acompanhado pelo outro policial,
enquanto entrega os documentos ao retirá-los do bolso. Meu coração
acelera pelo medo, pelo prejuízo, por saber que não combino com uniforme
de detenta.
Eu terei que vender a alma ao diabo para resolver isso!
— Senhorita Foster! — A voz grossa e nada calma diz meu nome e
sinto que estou mais que ferrada, estarei morta daqui alguns instantes.
Os dois policiais se entreolham e depois nos olham.
— Se conhecem? — o policial O’Connell questiona e respiro fundo.
— Sou jornalista, trabalho para a Golden às vezes... — Me olha
confuso. — Qual é?! Não finja que não sabe quem é o cara ao seu lado, ou
que não sabe o que é a Golden. Podemos resolver logo isso? Só me fale o
que tenho que pagar, acionaremos os seguros e pronto!
Explodo de vez. Só espero que eu tenha um seguro para essa merda
toda e dinheiro suficiente para mais merdas que vão querer cobrar à parte.
— Eu já pedi para senhorita ter modos. Estava errada também! — o
policial diz nervoso. — Sua sorte é não ter qualquer passagem pela polícia
anteriormente. Vai responder nossas perguntas, será responsabilizada
também, porque estava acima da velocidade e estávamos vendo desde que
pegou essa parte da rodovia...
— Eu errada?! — grito. — Ele não estava? Por quê? Por que ele é
Malcolm Bell? Ah, só pode ser brincadeira! Ele trocou de faixa sem dar a
porra da seta!
— Como é? — Malcolm diz nervoso, dando um passo para frente,
mas isso não me intimida. Aproximo também e ergo o rosto, encarando-o
mais firme, para que meu 1,57 m possa me dar mais poder perto desse
homem! — Se não estivesse com o som alto e distraída dentro desse carro,
teria percebido que dei seta e buzinei três vezes!
Buzinou? Ele não buzinou!
Começo a rir.
— É a sua palavra contra a minha! Eu digo que não deu seta e não
buzinou! E aí, como fica isso?
Ele me olha irritado. Esse homem não vai com a minha cara, ainda
mais que o sobrinho de merda dele. Francis, virou problema para mim no
jornal. Malcolm deve ser tio protetor.
— Só pode estar louca. Puxem as câmeras da rodovia, vejam quem
estava acima da velocidade, não respeitou a distância entre os carros e não
notou minha buzina e seta. Os senhores estavam perto, ouviram eu buzinar!
Pronto, três contra uma, era o me faltava.
— OLHA AQUI, SENHOR MALCOLM BELL, EU QUERO QUE
PROVE QUE BUZINOU OU DEU SETA. PROVE! E SE FOSSE PARA
ANDAR COM LERDEZA EM UMA VIA EXPRESSA, ERA MELHOR
ANDAR NA PORRA DA OUTRA FAIXA! — Grito extremamente irritada
com tudo. Os três me acusando como se eu fosse a única culpada.
— CHEGA! DELEGACIA AGORA! SE VÃO AGIR DESSE
MODO, AMBOS VÃO SE EXPLICAR NA DELEGACIA. — O outro
policial dá ordem.
Olhamos para ambos, eu sem acreditar nisso.
— Não vou! Isso é um absurdo! — retruco.
— Senhorita Foster, não está colaborando e desse jeito não
chegaremos a lugar nenhum. Nos acompanhe, agora.
— Não toca em mim! — aviso quando ele tenta se aproximar, mas
desvio. — Só falta querer me algemar agora. Que palhaçada! E já aviso,
cuidem bem do meu carro! E quer saber? Eu sabia que teria que pagar,
resolver essa bagunça, mas de raiva, de pirraça, o senhor vai se livrar
sozinho desse problema! — Aponto para o treinador dos Red Fire.
Ele vai mesmo lidar com isso. Não tenho como bancar esse estrago
e possível multa caso eu realmente tenha ultrapassado o limite de
velocidade.
Sério, estou muito fodida.
— Como é que é? Quem pensa que é para falar assim, garota?! —
Malcolm diz mais nervoso, e impedindo minha passagem.
— Chega! Se ambos não pararem e nos escutarem, as coisas só vão
piorar — somos avisados e travo o maxilar sem desviar o olhar dos olhos
escuros que me encaram com fúria.
E é assim, em uma sexta-feira à noite que entro em um carro da
polícia, provavelmente para minha última vez vendo o mundo fora das
grades.
O guincho do seguro chega para retirar nossos carros, e somos
levados para a delegacia. Tudo porque o universo me odeia.
— E é melhor irem caladinhos aí atrás, ou isso vai piorar cada vez
mais!
A voz de um dos policiais é séria e tendo em vista que a paciência
deles não é muita, apenas olho com desdém para o idiota ao meu lado, antes
de encarar a janela, e a viatura sair com a porra de uma sirene tocando!
Liguei para as meninas, porque jamais ligaria para os meus pais,
mas nenhuma das duas me atendeu. Nem ao menos Tyron ou Oliver fizeram
isso, então minha última e terrível solução foi chamar Jennifer, minha
chefe, que disse estar a caminho daqui, porque não parece que serei liberada
tão cedo.
Estou sentada de frente para um policial diferente, em uma sala,
enquanto o Malcolm sei lá onde está, espero que bem longe daqui.
Por culpa dele e do seu maldito carro, me lasquei.
— Vinte e sete anos completados recentemente, três multas de carro
só nesta semana, acima da velocidade, não ingeriu álcool, mas conseguiu
irritar aos policiais ao ponto de ter que vir para a delegacia. Senhorita
Foster, não havia necessidade de tudo isso!
Reviro os olhos.
— Só falo na presença da minha advogada! — Ergo a sobrancelha.
Ele bufa esfregando o rosto enquanto bate a caneta no papel a sua
frente.
— Por Deus... A senhorita não assassinou ninguém. Pode cooperar?
— Posso, desde que me liberem. Conheço meus direitos, e não irei
falar sem advogados!
— Não quer resolver o problema do carro? Ambos estão errados e
devem arcar com as consequências!
— Não irei bancar nada. Eu até iria, se aquele homem não tivesse
sido tão rude. E cadê ele? Está sendo interrogado também? Ou teve
privilégio por ser quem é?
— Está insinuando algo, senhorita? — Respiro fundo e nego. —
Ótimo, pensei que não complicaria tudo mesmo. Todos queremos logo
acabar com isso, então se colaborarem, todos estaremos livres. Vocês de nós
e nós de vocês!
— E eu terei que pagar uma multa e mais o carro dele se o seguro
não cobrir tudo? Ele paga o quê?
— Foi comprovado que o sr. Bell não deu seta, o carro não estava
funcionando esta função e ele não percebeu. Também errou, mas não tanto
quanto a senhorita, que estava acima da velocidade permitida mesmo que
na via expressa e pela distração de som alto, não ouviu a buzina, que teria
sido um bom alerta e evitado isso.
Jogo a cabeça para trás e vejo o babaca sendo liberado na sala ao
lado. Enrosco o pé na cadeira, que vai direto ao chão e solto um grito.
— DEUS, EU RECEBO TÃO POUCO PARA LIDAR COM ISSO
EM UMA SEXTA-FEIRA! — o policial diz revoltado.
Poderia me ajudar a levantar em vez de reclamar. Cavalheirismo
morreu mesmo.
Malcolm olha para a sala e balança a cabeça, como se comprovasse
alguma coisa que pensou. Levanto-me sem qualquer dignidade mais, mas
em paz ao ver a mulher que acaba de aparecer e vai livrar meu rabo disso
tudo!
Assim espero.
— Minha advogada chegou! — Sorrio animada, levantando a
cadeira e olhando para o homem à minha frente. — Veja, senhor. Ela vai
resolver tudo.
— Ela não é advogada. Essa não é a dona da Sport Universe?
— Isso mesmo. — Sorrio dando uma piscadinha para ele. — E se o
senhor prometer livrar meu rabo disso aqui, posso conseguir qualquer
ingresso de qualquer jogo que desejar. No lugar que quiser!
Ele me olha e acho que fiz mais uma besteira.
— Está tentando me subornar, senhorita Foster?
Arregalo os olhos e caio sentada na cadeira, estendendo os pulsos
para frente. Exausta.
Eu perdi.
Não verei aquelas duas cretinas se casando, tendo filhos chorões e
mimados. Não poderei cuidar dos meus avós quando já nem conseguirem
andar direito mais. Meus pais vão se esquecer de mim e dar graças a Deus
pela paz em suas vidas. Oliver e Tyron terão entrevistas tranquilas, sem
ninguém para irritá-los. Mas é isso, perdi a guerra, a batalha, a dignidade.
Perdi tudo. Meu triste fim é esse.
— Vai, prende. Eu desisto. Estou com fome, frio, sede. Faz muitas
horas que estamos aqui, estou definhando. Me prenda de vez. Desisto de
tudo. Esse dia tá um lixo, sabe, seu policial? Minhas amigas furaram
comigo, levei multa, bati o carro, e agora estou aqui, em uma delegacia, e a
única pessoa que pode livrar meu rabo é a minha chefe, que pode me
demitir em seguida. Vai me prenda. Acabou. Cansei. Me leve ao tribunal,
prisão perpétua.
Ele revira os olhos e esfrega o rosto com força.
— Jesus! Só está há quarenta minutos aqui. Não horas. Me
acompanhe, em silêncio!
Levanto-me cansada. Quarenta minutos? No tempo dele. No meu
são quarenta horas.
Pego minha bolsa e o sigo, sentindo minha alma ir embora. Eu
preciso de uma comida, uma Coca para me hidratar.
Jennifer conversa com os dois policiais que me trouxeram e com o
Malcolm. Agarro ela. Minha salvadora!
— Não converse com os inimigos. Eles estão me torturando há
horas, chefinha!
— Quarenta minutos e não estamos torturando a senhorita, está
sendo o contrário — o policial que me interrogava fala, enquanto os outros
dois me olham como se quisessem que eu sumisse o quanto antes do
caminho deles. E Malcolm... Esse aí parece estar prestes a agarrar meu
pescoço e nem é de um jeito gostoso, que eu aprovaria.
Nossa, ele é gostoso, né?
Foco, Vicky!
Jennifer me afasta e me olha como se pudesse me matar a qualquer
instante.
Pega a senha, querida.
— Vamos resolver logo tudo isso. De verdade, não acredito que a
minha jornalista está se colocando em uma situação assim que poderia ser
resolvida em minutos! — Me repreende.
— Depois me xinga. Eu não posso pagar o estrago, nunca terei
como lidar com o estrago no carro desse idi... — Pigarreio. — Desse
homem!
— Eu darei um jeito. Pagaremos tudo, acionaremos os seguros
também. Vamos acabar logo com isso — ela diz me olhando de lado.
Ela vai me expulsar da Sport Universe!
— Ok, vamos resolver logo isso — Malcolm avisa.
Faço uma careta para ele, mas minha chefe me puxa para o lado,
pedindo um instante a todos.
— Calada. Não abra sua boca até sairmos daqui. Que problema
ridículo arrumou. Olha, sua sorte é que eu estava por perto. É melhor
começar a respeitar esses policiais e o Malcolm!
— Mas...
— EU DISSE CALADA, VICKY! — diz entredentes, parece minha
mãe até. — Vai ficar quieta e fazer o que mandei, ou vai passar o dia aqui
até alguém da sua família vir te socorrer!
Nossa, que agressiva. Por que as pessoas estão tão agressivas
comigo hoje?
— Ok. Já estou cansada mesmo... Desconte tudo do meu salário
depois, fazer o quê?!
— Pode ter certeza que vou mesmo. Porra, Vicky!
Abraço minha bolsa e espero ela resolver tudo, sob os olhares que
lançam sobre mim, principalmente do treinador, que se já não me suportava
por bater de frente com seu sobrinho ou atormentar os jogadores dele nas
entrevistas, agora o homem deve me odiar muito.
Que se foda! Eu só queria comer e transar!
Duas semanas do ocorrido e duas semanas que minha prima e minha
amiga falam sobre isso em meu ouvido, além da minha chefe que teve que
cuidar de tudo. Meu carro ficou uma fortuna para resolver a questão do
único airbag que ativou e tive que inventar uma enorme desculpa em casa
para meus pais entenderem o porquê fiquei sem carro, pelo menos acho que
funcionou, já que dizer que é porque fui presa por fazer merda, me renderia
uma morte precoce.
Ajeito-me em minha cama. Meus pais saíram e Cherry e Kristal
estão na bagunça que é meu quarto. Mais tarde tenho um evento que não
estou com a mínima vontade de ir, mas não estou podendo recusar nada na
Sport, não depois da Jennifer ter me ajudado.
O problema é exatamente os nomes na maldita lista de convidados.
É um evento de inverno, marcando o fim dele que se aproxima e com isso o
início das nossas temporadas de jogos. Kristal e Cherry não vão, porque
ambas têm compromissos de trabalhos também.
— Vicky, pense que pode resolver essa confusão com o treinador,
pedir desculpas. Tem que aceitar que errou também. Vai, ânimo! — Cherry
diz, cutucando meu pé. — Final de semana iremos para a Malibu aproveitar
nossos avós, vai relaxar mais. Mas hoje precisa ir ao evento e cooperar.
— Mascotezinha tem razão, amiga. Pelo que Jennifer contou e que
você disse, ambos estavam errados, mas você perdeu a cabeça demais. Se
não tivesse surtado, não teria chegado ao ponto de ir parar lá na delegacia.
Sua sorte é que seus pais não sabem, ou teriam te deserdado! — Kristal
cutuca minha cintura e rio pela cócega.
— É... Realmente surtei. Mas porra, era sexta-feira, estava cansada e
agiam como se eu tivesse sido a única culpada! — explico e elas
concordam. — Posso pegar leve, mas se ele vir falar merda, não vou ficar
calada! Malcolm está estressado comigo desde o ano passado, quando o
sobrinho dele se tornou uma pedra em meu sapato! Quero só ver como será
a escalação para a Golden esse ano. Me recuso que aquele idiota tenha
privilégios de novo!
Kristal ri e Cherry revira os olhos.
— Pode parar de arrumar problemas? Vicky, estou com mil coisas
para lidar, como terei paz sabendo que você está aprontando e sendo presa?
— Cherry indaga e sorrio para minha coisinha fofa, ou nem tão fofa mais,
pois noto o chupão mal camuflado pela maquiagem em seu pescoço.
Safada.
— O mundo tem problemas comigo, não eu com o mundo. Vou no
evento, cumprir minha função de representar a Sport e ficar muda. Não vou
aprontar. Prometo! — falo para acalmá-las.
— É o que esperamos. Agora vai, vamos te ajudar a se preparar e
depois nos ajuda, porque tenho um jantar com um bando de engravatados
chatos e a Cherry um jantar de negócios também.
— As sombras de vocês não vão? — pergunto e elas riem.
— Para de ser ciumenta. Final de semana será só nosso, prometo —
minha prima fala e puxo-a, agarrando seu corpo. — Quando vão parar com
isso?
— NUNCA! — Kristal fala se jogando em cima da gente.
Minha prima grita e gargalhamos.
— Ok — falo enquanto as loiras se afastam. — Vou tentar ficar
animada para ir em um evento cheio de gente importante do esporte,
enquanto finjo que sou boa moça! — Sorrio e elas me olham de lado. —
Que foi? Já estarei tentando. Deveriam me agradecer!
As últimas duas semanas foram uma loucura. Tive que inventar para
os meus pais uma desculpa qualquer sobre meu carro, multas para pagar, o
trabalho intenso na Sport, e agora esse evento que a pessoa que
provavelmente está desejando minha cabeça, estará lá.
Só queria voltar para Malibu quando a temporada do ano passado
finalizou, e ficar lá com as meninas e os meninos, aproveitando e
esquecendo que somos adultos com problemas da vida para resolvermos, e
porra, minha vida só tem isso: problemas.
Mas a vida real chamou, semanas e mais semanas passaram, e aqui
estamos nós, prestes a retornar à loucura que é a nossa vida quando as
temporadas de esporte retornam e aquele jornal vira uma loucura.
E porra, estou duas semanas sem transar, e sexo é a única coisa que
poderia me relaxar nesse momento. Sério, esse mês tem que acabar logo!
— Se comporte e sei que sobreviveremos a mais um ano — minha
prima diz.
— Que horror. Sempre me comporto! — falo lembrando-me do meu
aniversário que bebi e fiquei louca. — Eu sempre tento me comportar. —
Pigarreio.
Elas me olham e sorrio dando uma piscadinha, enquanto agarro os
dois coelhos de pelúcia, um que peguei em uma máquina de parque de
diversões no ano passado, e o outro que comprei em um sexshop.
— Já testaram um desse? É ótimo. Se eu não arrumar um sexo essa
semana, ele e os meus brinquedinhos serão úteis!
— VICKY! — Minha prima chama minha atenção, ficando
vermelhinha, enquanto Kristal só gargalha.
— Na verdade, me sinto assada, isso sim! Preciso de pausa de sexo
por alguns dias, infelizmente.
— KRISTAL, QUE INVEJA! — Grito e Cherry esconde o rosto
embaixo da almofada.
Gargalhamos, e porra, amo tanto estar com essas meninas, uma pena
cada vez mais nossa vida adulta estar tomando todo nosso tempo, mas se
estão felizes, é o que me importará sempre!

Ajeito meu vestido curtinho, frente única, alças finas, marcando na


cintura, todo em paetê preto, com pequenas fendas as laterais. Uso uma
sandália preta da Louboutin. É uma roupa bem sexy, mas não me importo,
era isso ou eu não iria. Até porque, pretendendo sair o quanto antes de lá e
seguir para algum bar ou boate e me divertir um pouco, mereço isso. Meus
cabelos pretos estão soltos, lisos, a maquiagem é marcante, com lábios
nude, tudo feito por minha prima. Uso alguns acessórios e pego uma bolsa
pequena e delicada, que cai sobre meu ombro.
As meninas já foram, e estou indo só agora. São nove horas da
noite, ficarei somente uma hora e nada mais, é meu limite quando sei que o
evento será chato.
Saio do quarto e desço para a sala onde meus pais estão sentados
assistindo TV. Eles me olham e sorrio para eles.
— Vicky, tenha juízo! Sempre que sai, imagino a polícia me
ligando! — minha mãe diz e meu pai concorda. — As meninas vão?
Se ela soubesse que já andei no carro da polícia...
— Não, dona Michelle. Pode confiar em mim? — pergunto.
— Querida, somos seus pais, sabemos que é louca. Não, não
podemos confiar totalmente — papai diz e abro a boca. — Te amamos, mas
somos sinceros, fizemos uma filha louca!
— Pai! Olha, saibam que sou louca, mas tenho juízo! — Pelo menos
acho que tenho.
Eles se entreolham e me encaram.
— Cuidado, filha. Não beba de copo de estranhos, qualquer coisa
nos ligue! — minha mãe diz.
— Não tem um vestidinho maior, não? — meu pai questiona
enciumado e rio.
— Esse era o maior, juro! — provoco e ele respira fundo. — Eu não
sou criança, sei me cuidar. Amo vocês!
Jogo um beijo para eles e saio de casa escutando mamãe dizer:
“Landon, acreditou mesmo que a batida de carro foi no estacionamento do
jornal? Por que acho que Vicky aprontou e segue fingindo que não?”.
Controlo o riso enquanto puxo o celular da bolsa para pedir um
carro, já que o meu ainda segue no conserto, só semana que vem estará
pronto e não consegui pedir um reserva, aparentemente tudo na minha vida
anda dando errado.
Peço o carro e vejo a mensagem da Jennifer:
Jennifer: Não apronte! Vicky, é sério. Esse evento tem muita mídia.
Você está representando o jornal. Conto com sua colaboração. Fique ao
menos uma hora por lá, antes de tentar fugir.

Deus, até parece que sou o diabo!


O carro não demora e logo estou a caminho do local do evento,
procurando paciência para lidar com pessoas que se sentem superiores por
serem grandões nos bastidores do esporte. Sempre costuma ter gente assim
nesses eventos, e será uma merda ter que aguentar esse bando de gente
chata.

Passar pela imprensa sem ser parte dela, é estranho, mas não vou
mentir, me sinto poderosa quando os flashes refletem em mim e as pessoas
me reconhecem. Amo minha profissão, mesmo não sendo uma pessoa
fanática por esportes, amo trabalhar nos bastidores disso aqui e ser
reconhecida pelo meu trabalho, mostra que estou no caminho certo. É uma
área dominada por homens, e ver mulheres tendo voz, é o que me inspira
cada vez mais em continuar.
Entro no lugar, é um espaço não muito grande, todo bem decorado,
com palco, telões e luzes amarelas, bem sutis.
Muitas pessoas importantes estão por aqui, mas foco no bar do outro
lado, é para onde vou e ficarei para não ter que lidar com ninguém e sumir o
quanto antes desse lugar. Vim ano passado, e foi um tédio, mas tinha a
Kristal para me animar. Esse ano é só eu enfrentando esse povo querendo se
fingir de bom para que saiam boas coisas no jornal, já que sabem que sou
dele, e todos temem os tabloides, mas temem ainda mais não terem apoio de
um dos maiores jornais de esporte do país, esse que tenho muita alegria em
ser parte dele.
Encosto-me em um canto do balcão, está mais escuro essa parte e
peço uma bebida, enquanto observo ao redor. Comidas finas demais para
meu paladar infantil. Eu deveria ter comido antes de sair.
A música é ambiente, uma chatice por sinal. Me entregam minha
bebida e tomo contando os segundos para sumir daqui, me livrar desse
cheiro de perfumes fortes, charutos e álcool incentivando a animação
estranha dessas pessoas que só se preocupam com a fama e consigo mesmo.
Vejo as duas pessoas que param no bar e viro de vez minha bebida.
Será a hora mais longa da minha vida!
Tio e sobrinho.
Era só o que me faltava! Jennifer havia dito que somente eu
representaria o jornal hoje!
Coloco o copo no balcão e me afasto antes que ambos me vejam.
Esse ano me mudei para a Califórnia, e desde então, as coisas têm
sido um pouco mais complicadas, pois tenho que me dividir entre participar
dos eventos aqui, e estar em Nova York durante o começo temporada, já
que nosso centro de treinamento é lá. Mas o que mais me motivou a me
mudar, foi porque meus pais e meu sobrinho Francis vivem aqui, e esse foi
o único jeito que encontrei de conseguir ser mais presente do que restou da
minha família.
Desde que os pais do Francis, Chase e Giulia, se foram, nossa
família ficou ainda menor. Eu mal tinha tempo para eles vivendo em Nova
York, e foi por isso que precisei renunciar a Big Apple, [1]para poder ver de
perto se está tudo bem.
Claro, durante o começo da temporada e em alguns compromissos,
terei que estar lá, meu time é lá, mas não tinha escolhas, aquela cidade te
suga e te torna solitário demais se não desacelerar. Precisei aprender a
colocar o pé no freio, porque estava sendo sugado pela solidão, e porque me
vi sendo dependente dela, ao ponto de mergulhar em trabalho mesmo
quando não era necessário, e isso estava consumindo um tempo precioso
com aqueles que amo e que sentiam minha ausência.
Sempre fui um homem de família, cresci sonhando em me casar, ter
filhos e sempre fui apaixonado pelo basquete. Cheguei a jogar, mas tudo
mudou quando Chase, meu irmão, se foi e tive que assumir o lugar dele na
vida do Francis, ser presente ao máximo, e como jogador isso seria pior,
então fiz escolhas, abri mão de um sonho e adentrei em outro, conseguindo
me tornar treinador dos Red Fire, o que pelo jeito faço muito bem, pois sou
considerado um dos melhores.
Minha vida inteira é sobre buscar o plano B e ainda ter outros de
reserva, porque normalmente algo sempre me tira o plano A. Vivo com um
alfabeto em mãos, gosto de me prevenir, porque não pode existir a
possibilidade de tudo desandar, porque uma coisa é ligada a outra. Prefiro
ter mil planos, do que perder a cabeça porque só existia um.
Quando se passa pelo luto duas vezes, e se ganha responsabilidades
em cima deles, ou você aprende a caminhar com a vida, ou ela te derruba de
vez. E foi o que aconteceu, era viver outros planos, ou me afundar no que
havia desandado.
Não me arrependo de ter cuidado do meu sobrinho, só me arrependo
de não ter sido mais firme em muitos momentos, e ter deixado ele virar esse
jovem que parece não se importar com nada e ninguém para ter o que quer,
ainda que isso custe um preço caro a se pagar, como se desconectar de sua
família.
Somos a única família que ele tem, já que a família de sua mãe
nunca existiu para ela, porque Giulia cresceu em um lar adotivo, ficou
adulta e jamais foi escolhida por nenhuma família, saiu de lá e trilhou seu
próprio caminho, que posteriormente se cruzou com o de meu irmão, e o
que ela tinha éramos nós, somente nós e nada mais.
Talvez se eu tivesse escutado meus pais que diziam que Francis só
ouvia a mim, ele não teria se tornado alguém que pensa que o mundo deve
girar ao seu redor. Hoje vejo isso, quando venho notando em que ele está se
transformando. É inteligente, estudou bem, fez suas escolhas, mas existe
uma soberba que me faz muitas vezes não ter paciência para lidar. Já tive
sua idade, mas porra, estou com trinta e sete anos, cansado, querendo
sossegar a cabeça, encontrar alguém especial, trazer mais tranquilidade aos
meus pais que já estão na casa dos setenta quase beirando aos oitenta anos,
tudo que preciso é paz, não voltar a me preocupar com alguém que é adulto
e está na hora de agir como tal.
Eu o amo, mas confesso que estou no meu limite ultimamente. E
ano passado, desde que entrou para a Sport Universe, notei que tudo
desandou de vez. Algo piorou, é como se um novo Francis tivesse surgido,
só que muito mais frio, fechado e sem parecer querer dialogar.
— Não acredito que ela foi chamada e tive que vir como seu
acompanhante! — Francis reclama ao meu lado, olhando para a Vicky
Foster, sua colega de trabalho do outro lado, que com toda certeza está
sendo segurada pela ladainha do dono da fábrica que cria os produtos da
marca da Golden. Esse velho é bom de papo.
Não sei quem é pior de lidar: o adulto que não cresce ao meu lado,
ou com a louca que parece sempre surgir do além na porra da temporada, e
como se não bastasse, ainda fodeu meu carro novo e nos fez ser
encaminhados para a delegacia.
Ok, eu também me exaltei, mas caralho, essa menina é doida! Não
tem um que não tenha pânico dela na Golden.
— Pare de implicar com essa garota. Deveriam agir como equipe,
não como duas crianças mimadas! Estou farto de suas reclamações sobre
ela, Francis. Cresça, porra!
Ele revira os olhos e bufa, bebendo a bebida.
— Fala isso porque não precisa lidar com ela. Tudo ela reclama.
Não aceita que cheguei ano passado e sou melhor ao ponto de ganhar mais.
Quer mais dinheiro? Trabalhe mais. Essa garota está conseguindo tirar
minha paz, mas ela não sabe com quem está lidando, se acha que vai me
fazer recuar, está enganada. Peguei leve ano passado, mas esse ano, se vir
para cima, me incomodar, ela vai aprender o que é ser jornalista de verdade.
Precisou da prima para trabalhar ano passado, mal consegue formular
perguntas e matérias sozinha! É um vexame e a Jennifer a defende.
Sinceramente?! Os sócio do jornal estão prontos para chutá-la e não vai
demorar! Se todos concordarem, Jennifer não terá como defender sua
protegida.
Respiro com cautela e bebo meu uísque.
A garota é doida, mas é uma boa jornalista, isso ninguém deveria
duvidar. E conheço bem o machismo desse meio, não duvido que algo
assim esteja envolvido na briga desses dois.
— Francis, deveria dar exemplo. Vem de uma família que começou
de baixo, seus pais sempre foram respeitosos com todos. Seus avós sempre
te ensinaram respeitar as pessoas, principalmente as mulheres. Essa sua
birra está ridícula. Passou o ano passado inteiro difamando essa menina.
Não tem motivos para esse ódio gratuito.
— Está defendendo-a? Ela fodeu seu carro, tio! Ela é chata pra
caralho. Passe um dia na presença dela e vai se sentir um santo por não
enforcá-la. Se não fosse pela birra dela ano passado, eu teria assumido a
exclusiva com os Tigers, além de me dividir com todos os outros. Tudo por
porra de dinheiro. Ganância fodida dessa aí.
— Chega! — Me estresso de vez. — Espero que não arrume
confusão por aqui! Se continuar agindo desse modo, quem vai rodar na
porra daquele jornal será você, porque só vejo alguém com ganância nesse
momento, e não é ela.
Ele resmunga e se afasta indo de encontro a um grupo de outros
jornalistas. Será que fui insuportável na casa dos vinte também? Caralho,
parece adolescente!
Volto ao bar e peço outra bebida, finalizando a minha. Estou fugindo
das pessoas hoje. Cansado, irritado, querendo paz, mas tive que vir, afinal,
vim representando o meu time e tenho um discurso qualquer para fazer.
Nem pensei no que irei falar, mas qualquer coisa basta, todos logo estarão
bêbados, só desejando que isso acabe logo.
Sinto um perfume de rosas levemente adocicado e viro meu rosto
para o lado. Vicky Foster para ao meu lado e pede uma bebida, então se vira
para mim, estendendo a mão. Sigo o movimento com o olhar, mas não
deixo de notar de perto como está vestida. A maluquinha é linda, isso é
inegável!
Seus olhos misteriosos me analisam e sua expressão é de quem se
diverte com o que vê.
— O quê? — pergunto sério.
Ela recolhe a mão e resmunga algo indecifrável.
— Vim pedir desculpas pelo ocorrido... — Estende a mão de novo.
— Me desculpa por toda bagunça?
Analiso o quanto ela está fazendo isso sem qualquer vontade e tenho
vontade de rir, mas me mantenho sério.
Seguro sua mão, apertando firme, ela olha para o movimento e
depois me encara. Largo sua mão pequena e viro-me para pegar minha
bebida. A dela é entregue também, a qual segura o copo quase o
derrubando.
— Está desculpada, senhorita Foster. Não é como se fosse resolver
qualquer coisa.
— Pronto, paz selada. Posso sumir desse lugar infernal! — Respira
aliviada e encosta no balcão, deixando a bolsa sobre o banco. Me olha de
lado e dá de ombros. — Prometi manter a paz, sabe como é, né? Odeio esse
evento, só quero sumir logo daqui, precisava ser sincera.
Não a julgo quanto a isso. Também quero sumir daqui.
— E por que veio se não suporta? Não me parece ser do tipo que
segue ordens facilmente — falo o que observo de longe desde que começou
a ser mais presente na temporada de basquete.
Ela ri alto, diferente da delicadeza que algumas mulheres buscam ter
nesse lugar. Bebe sua bebida e retira a bolsa do banco, sentando-se sobre
ele, colocando a pequena bolsa ao meu lado. Cruza as pernas sem se
importar se revela demais, e não sou cego, sigo o movimento antes de
tornar a olhar seu rosto.
É, ela é linda e sua beleza chama atenção junto de sua personalidade
peculiar.
— Jennifer me escalou para vir. Sou péssima em respeitar regras,
mas ela me livrou do problema com você, era isso ou me foder mais! Só
estou esperando dar uma hora certinho e irei sair para me divertir de
verdade. Música boa, comida, bebida melhor que esses drinks cheios de
frescuras e sexo. Eu realmente preciso de sexo!
Ergo a sobrancelha e balanço a cabeça bebendo minha bebida. É
como todos comentam pelos corredores: Foster não tem filtro.
— É sempre assim? — questiono e ela me olha confusa. — Meus
jogadores falam que é sem filtro, só não esperava tanto assim, se bem que
pelo modo que me tratou ano passado no desentendimento com meu
sobrinho, espero de tudo.
Ela sorri com deboche e de algum jeito isso me irrita. Algo nela me
incomoda, por isso sempre mantive distância, a observando de longe, tendo
contato apenas se necessário.
Ela é problema e estou fugindo de mais confusão. Já me basta os
problemas que tenho.
— Ué? Não transa? Eu transo. E não sou sem filtro, só falo sem
frescuras. O problema é que sempre esperam que mulheres sejam frescas,
delicadinhas, comportadas como se fossem damas dos séculos passados...
Eu não sou assim. Bebo, saio, me divirto, fujo de tanta frescura, falo o que
penso e sem medo algum. O que tem de mais? Isso se chama liberdade
consigo mesma. Vocês da Golden que são caretas demais. Tudo se
espantam, nem parece que sempre estão estampados nos jornais, no meio de
orgias, traições, álcool e muita baixaria!
Revira os olhos e bebe mais da bebida deixando-me sem palavras.
Poucas pessoas têm esse poder.
Ela desce do banco e deixa o copo. Pega a bolsa e solta uma lufada
de ar.
— Nunca estive nos jornais com essas notícias, senhorita Foster.
Ela ri me encarando.
— Claro que não, sr. Grito. — Franzo o cenho. — É um treinador
velho, careta como os velhotes da Golden. Seu sobrinho poderia ser assim,
me estressaria menos! — Ergue a sobrancelha.
Juro que se surgir mais brigas desses dois, amarro ambos em um
maldito porão.
— Grito? Sr. Grito? Que porra é isso, garota? — Volto ao foco da
merda que ela disse.
— Ué, o que faz além de gritar com seus atletas idiotas? — Sorri
como se fosse óbvia sua questão. — Assume, é parte da turma dos caretas
irritantes disso aqui, não é à toa que veio para discursar. — Pisca para mim
e sorri diabolicamente. — Passar bem, treinador Bell.
Viro a bebida de uma vez, enquanto ela me dá um aceno se
afastando.
Só pode ser brincadeira! Essa garota fodeu meu carro novo e agora
me chama de velho, careta e sr. Grito! Ela nem me conhece. Inferno!
Quem ela pensa que é para falar isso? Eu sou muito bem resolvido
na minha vida pessoal! Não sou careta! Um caralho em ser careta. Eu sou
responsável, é diferente, afinal, preciso lidar com um bando de homens
mimados que não controlam a própria vida e fodem a minha.
Agora ela me estressou de verdade!
Pego o celular e mando uma mensagem ao Francis, enquanto
caminho para sumir desse lugar, abandonando o bar sem pensar duas vezes.
Dane-se o discurso, me resolvo com o time depois!
Saio rápido antes que me parem pelo caminho.
Encontro a louca na saída aos fundos do lugar, já que fiz o mesmo
caminho que ela. Está sozinha, provavelmente esperando um carro. Ela olha
assustada quando a porta bate atrás de nós.
— Que foi? Olha, a última vez que veio com esse olhar, terminamos
em uma delegacia. Com todo respeito, treinador, me dá um descanso. Eu só
quero paz hoje, e raramente busco por isso, é um milagre, compreende?
O carro chega e ela se aproxima para entrar nele, mas impeço sem
pensar muito. Apoio a mão sobre a porta que ela abriria.
— Quem pensa que é para dizer aquelas merdas e sair assim?! ­—
Vocifero.
— Ah, já entendi. Afetei sua masculinidade, não foi? Desculpe. Às
vezes escapa! Se me der licença... — Sorri ironicamente e tenta abrir a
porta, mas continuo impedindo. — Qual é? Ok, lá vai... Desculpa por ser
sincera!
Olho para o céu pedindo paciência a Deus.
Torno a olhar para a morena baixinha e inclino meu corpo na sua
direção. Ela é tão marrenta, que não se move, segue me olhando com
deboche. Parece que nada a abala. Isso me estressa mais. Ela enfrenta.
— Não me conhece. Não sabe nada sobre mim para sair falando
merda e pensando que tem esse tipo de intimidade. Sabe o que faço além de
gritar e ser careta como diz, senhorita Foster? — Minha voz é baixa, mas
muito firme. Nem me reconheço mais nesse momento. Ela conseguiu me
tirar o juízo com apenas duas vezes que nos encontramos. Bastou ficar um
pouquinho mais próxima, e já começou a ferrar tudo.
Ela cruza os braços e sorri de lado.
— É chato? Cara, você vai pagar o valor da corrida se continuar me
atrasando! — Revida. — Pode sumir da minha frente com todo respeito? Eu
nem deveria ter pedido desculpas, não foram sinceras. Tentei apenas ser
respeitosa, só que não está ajudando a merda da minha língua nesse
momento, afiadíssima para com certeza me fazer ser presa de vez. Então
pode sair e me deixar entrar no carro, Malcolm Bell? Cara, me esquece.
Nem nos falamos direito, vai. Dá um sossego!
Meu sangue ferve com sua ousadia infernal.
Puxo seu corpo com força e ela se assusta soltando um gritinho.
Empurro-a em direção ao carro e seguro seu rosto com uma mão apenas,
apertando a parte de baixo dele, suas bochechas pressionadas pelos meus
dedos assim como seu queixo. Seus olhos me encaram firmes e sem pensar,
beijo sua boca. Eu domino a porra da boca que me irritou ano passado
quando nos falamos por birras dela e do Francis, me irritou há duas
semanas com a batida, e me irritou hoje sendo imensamente atrevida.
Ataco sua boca, pressionando seu corpo, apertando sua cintura fina,
meus dedos tocam a pele nua das suas costas. Um fogo infernal se acende
em mim, tomado pela raiva, pelo deboche que ela me entregou e atinge em
cheio bem no meu pau, que endurece ferozmente traindo-me. São semanas
sem sexo, lógico que um contato assim faria um estrago.
Eu fodo a razão que busco ter, e para piorar, ela revida de um jeito
quente. Vicky Foster não me empurra, ela se entrega com um fogo
comparado ao meu. O beijo é gostoso, isso é o pior de tudo.
Largo sua boca toda borrada pelo batom, fugindo do perigo um
pouco, ambos ofegantes. Mas ela sorri diabolicamente.
— Achou que isso me espantaria? Já tive melhores, treinador —
sussurra sem perder qualquer compostura. Ela não fica vermelha por
timidez, ela está assim pelo tesão e vejo em seus olhos o alerta para o
imenso perigo.
Ela é o diabo, consegue fazer com que todos entrem em suas
travessuras. Essa garota tem que ficar longe, sempre tive certeza sobre isso.
Só que agora, nesse momento, procuro o inferno onde ela habita. Talvez o
álcool, a raiva, o estresse das últimas semanas, ou talvez seja só ela sendo o
erro para a minha vida, nem penso muito quando abro a boca e deixo as
palavras:
— Dispensa o carro! — A voz sai rouca de dentro de mim. —
Vamos ver se vai continuar achando que sou a porra de um velho e careta!
Ela ri baixinho como se cantasse vitória por algo que imaginava que
aconteceria.
— Está propondo provar o contrário? — fala com uma voz
aveludada demais, como uma sereia enfeitiçando um idiota. Eu sou o idiota
desse conto. — Sabe, Malcolm Bell, disse que eu não te conhecia, mas tem
um detalhe: trabalho para saber da vida de todo mundo. Já você... — Passa
a língua pelos lábios e meu pau mais uma vez sente isso. — Sabe o que
pouca gente sabe sobre mim até precisar vivenciar ao meu lado? É que
nunca tive medo de brincar com fogo e pouco me importo em me queimar!
Me empurra sorrindo e dando-me uma piscada. Engulo em seco,
tentando conter a agonia que me consome, a voz que grita em mim que as
coisas estão erradas, que isso tudo pode atear não apenas fogo, mas ser
uma imensa bomba tóxica.
— Não vou cancelar. Vou para o bar em busca do que quero: sexo,
comida e bebida. Se quiser pode me acompanhar, vou ser boazinha dessa
vez, sem ferir tanto seus sentimentos. — Suas palavras gritam pelo o que
ela quer e envolve a mim. Ela é uma caçadora e eu sou a presa do dia.
No fundo, ela sabe que brincaria com fogo e eu revidaria, pronto
para queimá-la. Vicky Foster sabia onde se metia essa noite, e caí em seu
jogo.
A louca abre a porta do carro me dando passagem. E só posso estar
muito surtado, porque entro, e tudo isso por jamais ter tido alguém tão
corajoso o suficiente para falar tanta merda na minha cara e me causar isso
que ela fez em poucos minutos com poucas palavras, mas as palavras
corretas para me atingir em cheio.
Todos que realmente me conhecem, sabem que existe um limite. Ela
rompeu quando mexeu com meu ponto fraco: a porra do meu ego e por
achar que me conhece apenas por ser uma jornalista intrometida.
Existe uma coisa chamada razão, e ultimamente não usufruo muito
da minha, sempre faço tudo pela emoção do momento. Se bem que nunca
usufrui da voz da razão berrando em minha mente para não fazer merda.
Mas culparei meu lado que ama sentir o fogo prestes a queimar.
Esse meu lado é quem comanda noventa e nove por cento do meu corpo e
do meu cérebro. Quando sinto que posso viver o perigoso, isso me anima,
me excita. Exceto por rodas-gigantes, odeio aquela merda esquisita que fica
girando e balançando e não faz nada além disso. Que coisinha mais sem
graça e perigosa!
E foi exatamente por não ouvir a razão e sentir o fogo queimar, que
não pensei muito quando fiz Malcolm Bell entrar no carro e me
acompanhar até a boate onde estamos. É um local escondido em Palo Alto,
aqueles lugarzinhos secretos, passagens por dentro de outros lugares. Eu
amo esse tipo de boate, bar, restaurante, em que parece que estamos
cometendo um crime, nos escondendo de algo.
Eu nunca sequer pensei no treinador dos Red Fire de outro modo,
até provar o beijo do infeliz. E não é que faz isso gostoso? Então uni a
vontade de transar com o “ninguém precisa saber”, e porra, amo homens
mais velhos para isso. Coisa de um dia, sem sentimentos, sem nada, e é
nítido que ele pensou da mesma forma, porque não soube disfarçar seu
olhar. Brinquei com fogo e ele quer me queimar, e dane-se, pode me torrar
inteira, é o que desejo hoje.
O local é todo escuro, poucas luzes iluminam, a música é alta, e
sempre cheio de pessoas de todas os estilos possíveis. As dançarinas dão
um show à parte e o DJ sempre consegue arrancar a turma do chão,
pulando, gritando, se mexendo sem parar.
Bebo a bebida de procedência duvidosa, as que são as melhores na
minha não confiável opinião. Sem frescura, eu gosto do prático, em que te
entregam a bebida na força do ódio por estar cheio e sem paciência para
lidar mais uma noite com pessoas bêbadas e chatas. Isso sim é um bom
lugar para mim e minha personalidade já comparada com a do diabo, o que
é estranho porque não é como se já estivessem ficado cara a cara com o ele
para me compararem. Mas enfim, esse é o meu tipo de local, bebida e que
sempre encontro o venho buscar: sexo bom, sem frescuras ou
compromissos.
Malcolm está parado ao meu lado, bebendo sua cerveja por não
confiar nos nomes das bebidas que oferecem por aqui. Ele observa ao redor,
vejo isso pela pouca luz que reflete em seu rosto. Minha vontade é rir da
situação, porque é nítido que ele está fora do ambiente que costuma estar.
Aqui não é seu habitat natural.
Apoio um cotovelo no bar e levo a azeitona a boca. Ajeito a bolsa a
minha lateral e sorrio vendo as pessoas dançando. Eu amo dançar, mas amo
mais comer e transar. Sinceridade sempre.
— Está assustado com o que vê? — questiono alto para que possa
ouvir, afinal, o homem é alto, quase um segundo andar perto de mim, mas
não tanto quanto Tyron e Oliver, esses dois se superam.
Ele bebe sua cerveja e me olha de lado erguendo a sobrancelha.
— Já estive em lugares piores, mas faz muito tempo isso. Só estou
surpreso que esse tipo de local secreto ainda exista e seja tão frequentado. É
antigo, não é tão atual assim.
Concordo.
— Nova York tem bastante, costumo ir neles quando estou por lá —
comento. — Gosto disso, a mídia não fica igual louca rodeando por aqui,
existe paz.
— Não gosta de lidar com o que trabalha. Que irônico isso. — Sinto
a ironia em seu tom.
Sorrio dando de ombros.
— Eu não sou paparazzi obcecado, é diferente. Não é porque sou
jornalista que gosto de estar com a cara o tempo todo estampada nos
jornais. Além disso, esses malditos nunca acertam meu ângulo bom. Isso é
um crime!
Noto o sorriso que ele tenta esconder. Viro de vez minha bebida,
sentindo o álcool queimar, provavelmente me matando por dentro, mas já
dizia a lenda que brilha, Edward Cullen: Eu vou para o inferno mesmo.
— Eu vou dançar, você vem? Quero dizer, sabe fazer isso? — Não é
provocação, é realmente algo que gostaria de saber. É tão sério, não me
parece ser do tipo que gosta de dançar.
— Dispenso. Eu nem deveria estar aqui, tenho coisas para lidar logo
cedo.
Reviro os olhos. Como falei: o velho é careta. Se bem que já saí
com uns quarentões que tinham mais fôlego que eu, o que me assusta, pois
meu sedentarismo um dia vai me matar também.
— Segura aí então! — Jogo minha bolsa em cima dele que segura
rápido e saio rindo da sua cara de tonto.
O coitado nunca precisou lidar cem por cento comigo, agora está em
pânico. E sabe o que é pior? Malcolm é resmungão, mas se fosse só por sua
aparência, não daria a idade que tem. Ele aparenta ser mais jovem, é bonito,
tem um bom estilo. Só é ranzinza como todos dizem e como já vi. Mas
também o que eu queria? Sendo tio daquele idiota, não teria como vir coisa
boa, deve ser genética de temperamento.
Invado a muvuca na pista de dança e me deixo ser levada pela
música agitada, em um remix perfeito. Danço tirando toda a tensão dos
últimos dias, me dedicando a exatamente relaxar, e quem sabe conseguir um
bom sexo, se não for com o careta, será com alguém aqui, afinal, vim a caça
e não saio sem o que quero.

Retorno ao bar depois de ficar um tempo dançando. Malcolm Bell


continuou no mesmo local, um canto afastado das pessoas que se
empoleiram sobre o balcão de madeira para pedir suas bebidas.
Roubo a nova garrafa de bebida de sua mão e viro um bom gole,
lembrando-me de não beber bebida alheia, mas o que esse doido usaria? Se
bem que tarado nem sempre tem cara.
— Se me dopar com algo, volto pior que o capeta para destruir sua
vida! — aviso entregando a garrafa e pegando minha bolsa.
— Eu te doparia com o que estou bebendo, garota? Seja mais
esperta, Foster!
Pensando por esse lado.
— Estou com fome, não é como se meu cérebro funcionasse bem
assim — explico e ele me olha como se pensasse em alguma ofensa.
Babaca.
Malcolm deixa a garrafa sobre o balcão após virar o restante. Um
idiota que sai tropeçando do balcão, esbarra em mim e meu corpo vai parar
de encontro ao do treinador, que me segura firme... Nossa, que pegada
firme! Tento não pensar muito sobre isso, já que será pior se não terminar
em nada e eu ficar frustrada.
— Filho da puta! Presta atenção! — reclamo, mas é claro que o cara
nem ouviu. A música não permitiria já que não falei alto o suficiente.
Me afasto do treinador, ele me olha de lado e sorrio.
— Você adora ser agressiva com as pessoas.
— Como assim?
— O carro, as brigas com o Francis, mais cedo no evento, e agora...
É sempre explosiva demais.
— Se não me estressassem eu seria uma pomba branca da paz,
acredite! E vai voltar ao assunto do carro? Não superou ainda? E sobre mais
cedo, falei o óbvio, só precisa aceitar. Veja bem, está em um local para se
divertir e ficou grudado nesse canto desde que chegamos. Malcolm, você
sabe se divertir? Sendo muito sincera, você nunca está nos jornais
envolvido nos tipos de diversões que outros costumam estar. — Franzo o
cenho.
Acho que atingi seu ego sobre alguma coisa... de novo, porque ele
me oferece o mesmo olhar de mais cedo. O homem empurra meu corpo no
balcão e ataca mais uma vez minha boca. Não serei eu a reclamar por ser
pega de surpresa desse modo pela segunda vez.
Me beija bem mais bruto, talvez a raiva misturada ao tesão, não sei,
mas gosto. Puxo mais seu corpo inclinado na minha direção. Deixo a bolsa
no banco ao meu lado direito, entre mim e a parede, no minúsculo espaço
que estamos.
Uma coisa é certa: além de gritar, ele sabe beijar e faz isso muito
bem. Larga minha boca e leva a sua até meu ouvido. Estou agitada pela
forma como fui pressionada no balcão, e pela forma que nos beijamos, com
ele pronto para provar o quanto posso estar errada. Minha boceta está
contraindo sem parar, o friozinho na barriga ansiando pelo sexo que só abre
brechas e parece nunca vir.
Merda, preciso muito de sexo.
— Ainda segue achando que sou careta, Foster? — sussurra em meu
ouvido e sorrio. Sua voz está rouca, nervosa e excitada.
Com a boca no seu ouvido lanço as palavras:
— Depende, posso repensar se me provar o contrário. Gostaria de
provar?
Ele parece grunhir, como se lutasse contra tudo isso aqui, mesmo
sabendo que é uma batalha perdida.
Somos adultos porra, se quer me comer? Vem!
O que dois quer, um não faz charme. Esse é o meu lema.
Volta o rosto para frente do meu e torna a me beijar. Não, ele não só
me beija, ele fode minha boca, como se fosse uma prévia do que pode fazer
comigo lá embaixo.
Não me importo com quem ele seja, isso é irrelevante para mim. Me
importo comigo, em terminar a noite como quero e me divertir. Sim, sou
egoísta em relação a isso. É por isso que não me permito sentir nada,
controlo meus sentimentos e não caio nisso de amor e coisas fofas. Sou o
suficiente para mim mesma e isso me basta.
Seu pau está muito duro e minha calcinha já era. Juro que se ele der
o fora sem terminar o que está começando, eu vou jogar todas as pragas do
universo em cima dele e nem é brincadeira.
— Tem um lugar melhor que aqui? — questiona ofegante e sorrio.
Pego minha bolsa e retiro a grana, jogando no bar junto da comanda.
O homem se aproxima pegando rapidamente. Seguro a mão enorme do
treinador e saio arrastando-o para longe da bagunça.
Existe um estacionamento reserva da loja que esconde essa boate
nos fundos dela. Sempre venho aqui, e esse horário fica apenas para os
funcionários da boate. Sei disso porque já visitei esse espaço para minhas
pequenas travessuras da noite.
Levamos uns cinco minutos para chegar nele, nos desviando das
pessoas que nem sempre nos viam e isso atrasou um pouco.
O estacionamento tem uma luz não muito boa, mas ainda assim, é
uma claridade maior que na boate e me faz piscar algumas vezes para meus
olhos focarem no ambiente.
Está vazio, tem apenas seis carros.
— Aqui... Tem certeza? — ele questiona e rio, o eco da minha
risada se espalha pelo ambiente fechado.
— Achei que provaria que não é careta, Malcolm Bell! — Ergo a
sobrancelha.
— Você está louca para me irritar de verdade, não é? Eu sempre
soube que era problema! Nunca tantas pessoas falariam de você com tanto
pânico ou estresse à toa. Você é perigosa, e o pior, sabe disso e usa ao seu
favor!
Touché! Se tenho armas, uso todas.
Me puxa rápido, minha bolsa vai ao chão, mas não me importo. Ele
me empurra na direção da picape verde escura, a mais perto de nós, e torna
a me beijar. Dessa vez ainda mais bruto e excitante, como se já não tivesse
me deixado completamente molhada lá dentro. Os gemidos escapam dos
nossos lábios, mas pouco me importo se podem nos pegar aqui. Como
disse: o perigo, o fogo interno prestes a me queimar, tudo isso me excita.
Ele vira meu corpo, meus braços se apoiam no carro, meus cabelos
são levados para um único lado e meu pescoço é beijado enquanto seu pau
esmaga minha bunda.
Existe momentos que desejo pular as preliminares, esse é um deles.
Só quero ser fodida bem aqui, rápido, bruto e logo.
Ele leva uma mão para a minha frente, bem no meio das minhas
pernas e me toca por dentro da calcinha pequena e fio dental que uso.
— Me chama de careta, mas está encharcada com apenas um beijo,
senhorita Foster? — provoca-me fazendo um sorriso surgir em meu rosto.
— Imagine então quando eu te foder aqui, colada a um carro de alguém
desconhecido, em um estacionamento qualquer, correndo o risco de sermos
pegos, e quem sabe, nos identificarem e vazarem isso a imprensa! — Sua
voz não é nada parecida com a que vive estressada nos jogos. É autoritária
de um modo diferente, mais quente. Que me deixa louca para provar logo o
que vai me dar.
Gemo em resposta, desejando loucamente que ele faça o que tem
que ser feito. Seus dedos esfregam minha boceta, e o filho da mãe sabe
encontrar um clitóris em segundos. Considero um pecado ser um dos
poucos que saibam fazer isso!
— Droga... Me fode logo! — Peço e ele sorri mordendo meu ombro,
a dor e o tesão, tudo perfeito.
Ouço seu cinto.
Agora sua calça sendo aberta.
A mão sai do meio das minhas pernas.
Viro o rosto sutilmente e vejo a carteira saindo de seu bolso.
O preservativo me faz sorrir, afinal, o careta anda preparado.
A cueca abaixa junto com a calça que é justa ao seu corpo, só o
suficiente para me deixar ainda mais ansiosa. A carteira vai ao chão assim
como minha bolsa.
Malcolm Bell é enorme e grosso. As veias marcam seu pau duro e
babado pela excitação que o consome. O V se revelando um pouco pela
blusa azul-escura de mangas longas que se ergue o suficiente. Ele é
musculoso, as pernas, os braços, tudo indica isso.
Porra, ele tinha que ser tão gostoso e estiloso?
Passo a língua pelo lábio inferior assistindo-o colocar o preservativo
facilmente, sem tirar os olhos de mim. Lançando-me o desafio para provar
que estou errada em relação ao julgamento que fiz sobre ele. O homem se
aproxima, mal tenho tempo de me posicionar melhor, porque ele
simplesmente estoura a minha calcinha, o tecido dela estralando em minha
pele, doendo e me fazendo soltar um gritinho. Ele amassa o tecido preto,
colocando sobre o carro, ao lado do meu rosto, para que eu veja o resultado
do seu estrago.
Uma mão vem parar no meu pescoço, ele segura, virando meu rosto
para ele. Afasta minhas pernas com a sua, meus saltos arrastam pelo chão
em um atrito que arrepia. Se inclina e sorri de um jeito muito quente.
— Acha que aguenta o que tenho para você? — indaga ofegante e
mordo o cantinho da boca.
As pessoas acham que eu sou o diabo? Elas já viram Malcolm Bell
excitado sorrir?
— Descubra por si mesmo, treinador! — Pisco. Ele encaixa o pau
na minha entrada, a cabeça já me alarga por ser grossa como a base, e então
me penetra deslizando de uma vez, me abrindo toda, alargando-me por
inteira. — Porrraaa... — Gemo alto e ele aproxima a boca do meu ouvido
gemendo assim como eu.
— Quer continuar? — questiona e acho fofa sua preocupação, mas
ele não é louco de parar. — Abre mais as pernas... — Faço e ele geme mais
e não sou diferente. — Isso... Agora responda! Quer que eu te foda?
Aguenta?
Rebolo um pouquinho e sinto ainda mais o que está me deixando
muito preenchida e levemente dolorida. Mas estou tão excitada que tudo
fica mais fácil, seu pau praticamente se afoga em meu interior.
— Não está se mexendo por quê? — pergunto e ele dá um riso
rouco.
Então começa a se movimentar, minha boceta se acostumando com
seu tamanho cada vez mais. Aperta minha cintura, a mão ainda presa em
meu pescoço, e faz meu rosto ficar firme encarando-o. Ele mete até o fundo
antes de sair um pouco e tornar a entrar, não sai por completo, apenas o
suficiente. Meu corpo chacoalha com os movimentos e os gemidos
espalham cada vez mais, escoando pelo estacionamento, assim como os
sons dos nossos corpos batendo um no outro.
Me empino mais, ele geme entredentes, larga meu pescoço, e
segura minha cintura com ambas as mãos, apertando-me firme. O vestido se
ergue mais e por conta do movimento, meus seios saltam pelo decote, já
que não uso sutiã. Os bicos duros esbarram no carro gelado e isso me
arrepia mais.
Ele me fode mais forte e preciso me segurar mais firme na lataria do
carro, cuidando para não arranhar. Pareço uma boneca em suas mãos e
gosto disso, da forma como me domina. É uma delícia ser fodida pelo
Malcolm! Malcolm fodendo é uma delícia de assistir.
Ele soca mais fundo, mais forte, me deixa louca. Meus gemidos
viram gritos, choros manhosos de prazer. Nunca meu orgasmo veio tão
rápido como começa a vir agora. O idiota nota, porque se curva sobre mim,
mantendo firme meu corpo.
— Ainda. Me. Acha. Careta? — questiona a cada penetração.
— Merda... Eu vou gozaaar... Malcolm...Aaah... — falo perdida e
ele sorri.
Meu corpo começa a estremecer, e o aperto dentro de mim, o
orgasmo me consumindo. Explodo totalmente entregue a isso.
— Porraaaa! — Ele rosna em meu ouvido realmente como um
animal feroz, gozando, atingindo o ponto intenso do seu prazer junto do
meu.
De repente o movimento para e somos apenas respirações fortes e
corações acelerados. Ele segue me segurando firme, e agradeço
mentalmente. Estou fraca, as pernas bambas nesse momento.
— Te chamaria... de meio-careta... agora... — sussurro. — Eu
preciso... de um hamburguer.
— Quê? — questiona ofegante também.
— Estou com fome. Já estava, fiquei com... mais.
Ele balança a cabeça, saindo de dentro de mim com calma e me
sinto como uma bexiga esvaziando. Me ajeito com calma, encostando-me
no carro, assistindo-o se ajeitar, enrolando a camisinha e dando um fim
nela, na lata de lixo perto da porta.
— Quer que eu te deixe na sua casa? Peço um carro e te acompanho
— questiona colocando a carteira em seu bolso
— Não! Essa parte nunca rola comigo. Vou comer primeiro e depois
sigo para casa. Sei me virar após o sexo, não se preocupe.
— Não estou dizendo que não sabe, mas é nítido que está fraca! E
está sem calcinha.
Sorrio e aponto para a minha bolsa. Ele pega entregando-me. Pego
minha calcinha e jogo na sua direção e aceno com a cabeça. Ele segura o
tecido analisando-me.
— Fica de lembrança para você. É, tem um pau muito delicioso, vai
me fazer lembrar dele amanhã quando eu sentir arder. Sinta-se honrado,
poucos conseguem isso comigo! — Respiro fundo. — Adeus, treinador! E,
por favor, manterei isso só entre nós, espero que faça o mesmo. Será
melhor!
Deixo-o parado no meio do estacionamento, conforme sigo pelo o
outro lado, fraca, sem calcinha e em busca de comida em alguma
lanchonete por aqui. Sei que ele deve estar me achando louca, mas isso
realmente não me importa. Consegui música boa, dancei, bebi, um bom
sexo e agora vou comer, meu combo da noite fechadinho.
Esse sim é um dos meus finais de noite perfeito.
Certo, com o cara que não deveria ser, mas quem se importa? Não é
como se fosse lidar diariamente com ele. Talvez nos esbarremos pelo
Golden e nada mais, isso se eu for escalada para ela, já que a Jennifer não
comentou nada ainda. Mas é cedo para isso, tem um tempo ainda para tudo
isso ser planejado.
Mas posso dizer que o treinador dos Red Fire sabe fazer cesta como
ninguém. Começo a rir da minha piada ridícula e sem noção.
Dias atuais – Poucas semanas para a nova temporada da World Golden
Jump

O verão começa a dar as caras pelo país e aqui na Califórnia acho


que demonstra ainda mais isso. As férias escolares e universitárias
começam a dar lugar para praias lotadas, viagens, um caos por parte dos
que aqui residem e dos que vem a passeio.
Estou com meus pais em um restaurante de Palo Alto, viemos jantar
juntos. O sol ainda é presente em sua luz dourada agora, trazendo o
anoitecer.
Os últimos meses foram extremamente cansativos, entre idas e
vindas de Nova York para cá, e tendo que ajeitar a casa que me mudei. Eu
já sabia que isso seria assim, não me incomodo, mas não posso dizer que
não sonhei com esses dias livres antes de embarcar de vez para Nova York,
e preparar meu time para a etapa final, onde seguiremos para a nova
temporada da Golden.
Ser treinador não é só preparar o time, é lidar também o psicológico
deles, observar, saber a hora de frear ou acelerar, porque eles dependem de
mim, dos meus comandos. A sorte é que os Red Fire não costumam me dar
trabalho em quadra, com responsabilidades do tipo, é muito raro disso
acontecer, e é por isso que ainda não pirei ao extremo absoluto, afinal, lido
com reuniões, papeladas, eventos, estratégias, estudos... É, realmente não é
só gritar e comandar, é muita coisa a mais.
Bebo meu suco natural antes de voltar a comer a salada que pedi,
diferente dos dois à minha frente que comem bife, batata frita, e tomam
Coca-Cola. Realmente admiro por esses dois terem uma boa saúde, porque
parecem duas crianças comendo.
— Como ainda não ficou verde? — dona Dorothy questiona.
Encaro-a e meu pai sorri.
Ambos tão diferente e ao mesmo tempo tão iguais. Ele um ex-
militar, ela uma ex-bailarina. Ambos tiveram grande sucesso em suas
carreiras, mas agora se dedicam apenas a família
Minha mãe ajeita os cabelos negros com os fios grisalhos, o natural
dela, com seu volume e cachos. Ela está sempre mudando, ama suas laces
de todos os tipos, cores e modelos. Não existe uma só personalidade para
dona Dorothy, e ela varia o cabelo de acordo com seu humor.
— Do que está falando? — questiono e ela sorri.
— Vive comendo coisa verde e quando não é comendo, é tomando.
Querido, não que cuidar da saúde é ruim, mas assim, um hot dog, um
frango frito, uma Coca-Cola, sabe... de vez em quando, não faz mal.
Reviro meus olhos e sorrio. Limpo a boca com o guardanapo que
estava sobre meu colo e deixo-o ao lado do meu prato em seguida.
— Assim como a senhora faz? — ela concorda. — Só que no seu
caso é todo dia e sem qualquer alimentação saudável. — Eles riem da
minha reclamação. Nunca me levaram a sério, não seria hoje que iriam
levar. — Deveriam se alimentarem melhor. Olhem o índice de doenças por
conta da má alimentação, nosso país tem números assustadores sobre essa
questão.
Meu pai dá de ombros, parece uma criança mimada. Por que quando
ficam mais velhos, parecem regredir?
— Já fiz, e tudo isso me permitiu chegar até aqui, confesso, mas
sabe, com a nossa idade, tudo que ainda vivermos é lucro. Acha que vamos
mesmo terminar a vida sem aproveitar de tudo? Agora não tem mais jeito.
Chegar até os cem anos não vai funcionar, aparentemente. Já trabalhei, criei
você e seu irmão, e que Deus cuide dele do lugar em que estiver, ainda
cuido da sua mãe, nossa vida é estável. É só viver agora. Olhe aí, passou
tudo tão depressa. Perdemos pessoas que amávamos, o que nos resta agora
é isso, viver, comer mesmo, passear, viajar, rir, brincar. Afinal, o que será o
dia de amanhã? O que será daqui algumas horas?
Senhor Corey sempre tem seus discursos sobre a vida. Sim, meus
pais sempre se cuidaram muito bem até a idade chegar e começarem agir
como criança. Às vezes penso que são mais crianças que o Francis.
Entendo quererem viver, também os quero vivendo bem, mas me
preocupo com esse tanto de gordura que comem. Sou um pouco neurótico
com essas coisas? Talvez. Mas porra, já perdemos o Chase por um maldito
tumor, quem nos garante que não é genético? Quem garante que os exames
frequentes que fazemos não estão errados? Eu sei lá... Só quero que saiamos
desse mundo da melhor forma, sem ser como ele. Ninguém merece isso.
— Não vou discutir sobre isso hoje. E ainda não me falaram onde
Francis se meteu.
Minha mãe leva uma batata a boca e meu pai suspira.
— Ele lá quer saber da família? O negócio dele é aquele jornal e as
implicâncias com a tal da moça que trabalha com ele — meu pai é quem
responde.
Respiro fundo. Ele ainda segue nessa implicância com Vicky
Foster...
Droga... para piorar, aquela maldita noite meses atrás ainda me
assombra, e quando digo isso, não é exagero. Eu tenho sonhos fodendo-a de
diversas formas. É como se tivesse criado uma obsessão pelo que provei
uma única vez, por um impulso ridículo.
O modo como foi embora, e agora sem vê-la por meses, realmente
faz parecer que foi tudo um sonho, uma assombração. Só ouço sobre ela e
sinto ainda o calor de sua boceta queimando meu pau, apertada, molhada,
espremendo-me por inteiro.
Para, Malcolm, seu foco deve ser longe dela. Essa garota é muito
perigosa e agora sabe muito bem disso!
Ajeito-me na cadeira e pigarreio.
— Francis tem que parar com isso. Se ele pensa que terá paz caso
entre para a escalação da Golden com a Sport, está enganado. Conversei
com o Zachary, exigi que se ele entrar, quero meu sobrinho sob meus olhos
enquanto estiver nos bastidores. Usei desse privilégio, coisa que odeio. Se
ele aprontar, vai ser punido como uma criança mimada, que é a forma como
está agindo.
Eles concordam.
— Eu sempre disse que pegava leve demais com ele. O menino
sempre teve em você, a imagem que perdeu do pai. Agora corrigir o erro
com ele sendo adulto, será difícil. Ainda acho que a forma que Francis vai
aprender, será se ferrando! É assim a vida, ou aprende na calma ou na
turbulência — minha mãe fala e concordo.
— Concordo que deve se preocupar com ele, mas é como sua mãe
disse, Malcolm. Francis terá que aprender sozinho, não tem mais jeito. Pode
ficar de olho, ficar roxo de tanto falar, não vai resolver. Uma hora ele e essa
garota vão bater de frente de vez, e quer saber? Estou torcendo por ela, sem
nem conhecer. Ele tem raiva porque encontrou alguém que o revida, já que
cresceu aprendendo não ser contrariado. — Ergue a sobrancelha, irônico
como sempre.
— Ok... Já entendi. Assumo que errei. Eu só tentei deixar tudo mais
leve para ele e acabei estragando as coisas. Era muita coisa acontecendo. Só
que independentemente de qualquer coisa, ele terá que voltar a nos ouvir e
respeitar. Farei isso acontecer, ou não me chamo Malcolm Bell!
Eles sorriem.
— E quando você vai nos ouvir? — minha mãe questiona e levo um
pouco de salada a boca. — Estamos velhos, com um pé na cova e outro
fora! Queremos mais netinhos para estragar e você lidar. Quero poder ver
meu filho levando uma bela moça ao altar. De preferência uma que te deixe
vivendo testes cardíacos, para perder essa pose de durão e careta!
De novo isso de eu ser careta? Que inferno!
— Eu não disse que não me casaria ou não teria filhos. Sabem que
desejo isso. Só quero a pessoa certa. Não quero passar anos ao lado de
alguém que pode ser a pessoa errada, ter filhos com uma pessoa que no
futuro nem esteja mais comigo, não é uma opção para mim. Eu sei que são
coisas que descobrimos com o tempo, que nenhum relacionamento é cem
por cento garantia de longa duração, mas levo a sério isso. Não quero sair
me casando com diversas pessoas até descobrir a certa. Fazendo filho em
cada uma que surgir. Eu nem combino com isso. Casamento e filhos desde
sempre, são coisas sérias para mim!
— Temos um ponto. Também penso isso. Mas não querendo colocar
pressão, só que se puder adiantar esse casamento, serei grato. Não quero
estar no seu casamento com um babador, andador e mal ouvindo ou
enxergando!
Prendo o riso. Como pode ser tão dramático?
— E eu quero entrar com você sem que tenha que me carregar! Uma
hora esse silicone aqui não vai dar conta de sustentar tudo, não terá botox
que vai segurar meu rosto. Filho, estou prestes a virar uma boneca de tanto
aplicar coisas para ficar o mais intacta possível. Posso acabar explodindo no
seu casamento!
Bebo meu suco novamente.
— Ela tem razão! — Papai a indica com o polegar apontado para o
lado. — Se riscar um fósforo perto dela, explode de tanto produto!
Me engasgo com o suco. Eu tento me manter sério perto dos dois,
mas é impossível não rir. O pior é não conseguir imaginar a vida sem eles
também.
— Pra quê humilhar, Corey? Menos! — ela reclama e ele sorri do
mesmo jeito de anos, sempre repleto de amor.
Limpo a boca mais uma vez e me ajeito na cadeira.
— Vou me casar e ter filhos com alguém especial, que eu ame
muito. E vocês não vão explodir ou ficar sem andar direito no meu
casamento. Prometo, ok? — falo e eles concordam, mas sei que vão me
cobrar isso daqui dois dias.
Meu celular começa a tocar. Pego em meu bolso e é o Francis.
Mostro aos dois à minha frente, que sorriem. Atendo pronto para xingá-lo
por estar deixando os avós de lado.
— Posso saber onde se meteu? Não disse que jantaria conosco?
— Desculpe! Eu estava na academia, iria depois daqui, mas agora
estou no hospital.
— Quê? Como assim? — Meu coração acelera com suas palavras.
Um maldito filme se passa pela minha cabeça nesse instante e um alerta
berra “de novo esse inferno!”. — Francis, o que aconteceu?
— Relaxa! Sofri um acidente na academia. Não foi nada tão grave.
Mas preciso de carona para casa. Terei que ficar sete semanas de repouso,
segundo o médico.
— Sete semanas e não foi nada grave? Porra! — resmungo irritado,
preocupado. Parece o Chase, dizendo que seus sintomas estranhos não eram
nada, e terminou da pior forma.
— Tive uma leve lesão no pé, o médico exagerou nisso tudo,
querendo repouso da minha parte. Se eu seguir o que o médico orientou,
talvez não precise ficar esse tempo todo de repouso, agora do contrário,
talvez piore e então teremos problemas maiores. Farei algumas sessões de
fisioterapia nesse tempo, porque é um problema que segundo o médico,
pode ficar voltando depois. Estou bem, só com dor ao pisar, mas fui
medicado para melhorar. Não precisar surtar e nem apavorar meus avós!
Olho para os dois à minha frente questionando o que houve,
perdendo a cor do rosto.
— Tarde demais sobre seus avós... Estou indo. E vai me explicar
como fez essa merda! Vou querer falar com o médico, ter certeza se é só
isso mesmo.
— Tio, só vem logo! Vou te mandar tudo por mensagem para me
encontrar mais fácil.
— Ok. Já estou indo. — Ele desliga.
Recebo rapidamente a mensagem com o local que vai me esperar e
qual dos hospitais está. É um dos hospitais escolas de Stanford.
— O que houve? Fale! — minha mãe questiona assustada.
— Seu neto aprontou, mas está bem... No caminho explico. Olha,
mãe, suas pragas são ótimas!
— Quê? — meu pai questiona.
— Ela disse que ele não tinha jeito para essa vida de academia,
porque é atrapalhado como o pai. Pois bem, ele se lesionou. Vamos!
Chamo pelo garçom e pago nosso jantar. Pelo jeito nunca as coisas
ficam em paz por muito tempo na família Bell.
— Pronto, viu só? Agora além dos pais lascados, terá um sobrinho
quebrado em seu casamento. Isso deveria ser sinal para casar-se hoje! — ela
resmunga levantando e meu pai a ajuda, rindo como sempre.
— Voltamos a isso? Sério? Mãe, esquece casamento por hoje!
Esse papo vai mudar rapidinho quando ela souber que vai ter que
lidar com um Francis resmungando por algumas semanas. Ao invés de
casamento, vai me pedir socorro onde eu estiver.
Eles saem andando na minha frente, enquanto ajeito as coisas em
meu bolso.
Sinto um olhar sobre mim, o que é normal devido minha carreira,
mas olho e vejo-a depois de meses, parada se aproximando de uma mesa
junto de sua outra amiga jornalista, Kristal, que fala com o garçom. Vicky
me olha parecendo muito surpresa. Sua amiga a chama e ela sorri
diabolicamente ao se sentar na mesa que o garçom indica.
Me afasto atordoado, porque seu olhar só prova que tudo realmente
foi real, eu caí na tentação que o diabo trouxe de bandeja, ele próprio
carregando, e no caso, ele é ela.
A fisgada em meu pau me mostra o quanto ela é terrivelmente
perigosa e o quanto a distância é o mais importante e seguro nesse
momento, porque ela consegue minha instabilidade, algo que pouquíssimas
pessoas são capazes de conseguir, e o pior: ela conseguiu isso com uma
pequena provocação, segundos de uma idiota provocação, imagine o que
pode fazer com dias, meses disso...
Não! Manterei essa menina muito longe de mim.
Caminho em passos lentos, aproximando-me da mesa da Kristal,
onde ela está concentrada em algo no notebook. Abaixo-me sutilmente e
coloco o rosto em seu ouvido então sussurro:
— Já sabe se vai para a Golden?
— AAAAI! VICKY! — Ela grita sobressaltando da cadeira e me
fazendo rir. As pessoas do nosso andar olham e balançam a cabeça. Já
desistiram de nós, e é bom mesmo, bando de falsos que ficam nos
difamando pelas costas.
Afasto e sento-me ao seu lado, balançando as pernas cobertas pela
calça preta bem justa ao meu corpo. Olho para as minhas sandálias
vermelhas enquanto a doida se recupera do inocente susto que dei.
— Já te disse no jantar. Ontem, assim que cheguei aqui, recebi a
escala. Agora se continuar com esses sustos, vou acabar recebendo meu
óbito! — reclama e a olho enquanto suspiro.
— Jennifer não vai me mandar. Não recebi nada e pelo que ouvi, até
o Francis e mais duas jornalistas já foram escalados. Será que é pelo
prejuízo do carro que ela teve que lidar? Faz meses, caramba! Já até
arrumei novas multas.
— Vicky, calma! Tenho certeza que você vai para a Golden esse
ano. Você mandou muito bem nas duas últimas temporadas, seriam tolos em
não te escolherem. — Me olha de lado e sorri. — E sobre as novas multas,
de verdade, já desisti de você. Quanto mais velha se torna, mais sem juízo
parece ficar.
— Gostosa da minha vida! Amo você, principalmente por ter tanta
fé em mim nesse lugar. E sobre as multas, eu mesma já desisti, dirijo mal.
— Aperto sua bochecha e ela revira os olhos me afastando. — Se sou
carinhosa reclamam, se não sou, reclamam!
— Arrancar a bochecha das pessoas, assustar elas, nada disso é ser
carinhosa! Sério, você ainda vai matar alguém! — Respira fundo. — E por
que estava tão avoada no jantar de ontem? É por causa da escalação?
Concordo, porque é por isso, mas também porque depois de meses,
vi o treinador dos Red Fire, e ainda não contei a ela e a Cherry que
transamos. Porra, elas vão acabar comigo. E além disso, parece que ele vai
se casar, só piora tudo, porque ou ele arrumou alguém rápido demais e é
emocionado ao extremo e já vai se casar, ou era casado quando transamos.
Agora estou preocupada de ter contribuído para enganar alguma mulher.
Não estou louca, a mãe dele falou que ele deveria se casar ontem mesmo, e
parecia certa sobre isso.
Por falar nisso, vendo pessoalmente seus pais, nossa, que família
linda! Muito mais bonita que através das notícias da imprensa.
Como consigo arrumar tantos problemas assim? Nem eu me
compreendo mais!
— Se eu não for para a Golden, vou atormentar a vida da Jennifer,
do presidente e do vice. Vou ser o prego no sapato deles. Eu juro! Droga,
quando narro algum que comecei a gostar, esquecem de mim? Sou meio
louca, mas... — Ela me olha de lado de novo. — Ok, sou muito louca, mas
sou gente boa!
— Vão te escalar, só espera a Jennifer aparecer, não a vi desde cedo,
mas enfim, pergunta, não custa nada, gata. E por falar nisso, esse lugar está
calmo demais, é um alerta para alguma coisa grave?
— Tipo a Jennifer ter expulsado esses sócios de merda, que só
fodem nossas vidas?
— NÃO, FOSTER! — A voz atrás me faz levar a mão ao peito e a
Kristal rir. — Não consegue mesmo ficar calada, não é? Por que é assim?
— Jennifer fica na minha frente e sorrio.
Amo essa mulher. Se eu não fosse burra por gostar de homens, juro
que me renderia a ela, porque que mulher gata, linda e foda!
— Me diz que vou ser escalada para a temporada. Não seja
rancorosa — falo e Kristal me belisca. — Ai, louca!
— Eu falei para perguntar, não piorar tudo — Kristal diz entredentes
e Jennifer sorri.
— Já me acostumei com a Foster. Eu vim realmente falar com você
sobre isso. A escalação final saiu, você vai cobrir alguns jogos da
temporada como repórter e a Kristal, como já conversado, segue cobrindo
como jornalista nas matérias exclusivas do site. — Sorrio totalmente
animada, porque isso significa que ficarei com a Kristal. — Não se
empolguem tanto ainda...
— Ah, lá vem! O que os engravatados fizeram comigo agora? Juro,
a vida tem que parar de me confundir com os Vingadores, cansei de lutar,
porra — falo nervosa e ambas sorriem.
— Escuta primeiro, Vicky! — Jennifer chama minha atenção e a
olho atenta. — Antes de seguir com essa função, terá que cobrir o lugar do
Francis Bell por sete semanas com os Red Fire. Ele sofreu uma lesão e terá
que ficar ausente, fui informada hoje. Assim que ele retornar, você segue
para o que foi escalada.
— E foi sério a lesão? — questiono realmente preocupada.
Independente dele ser um insuportável, não desejo esse tipo de mal, só
algumas leves pragas. Nada grave.
— Não, mas será necessário o repouso. Ele vai cobrir apenas os
Red, um pedido do tio dele ao Zachary. Mas por ora, você assume.
Começo a rir e ambas me olham.
— Que novidade ele ter algum privilégio. O engraçado é que tem
muita gente sempre sendo privilegiada por aqui, enquanto Kristal e eu só
nos ferramos!
Jennifer suspira.
— As coisas vão mudar, prometo a vocês! Só sejam mais pacientes
e cooperem em manter o máximo da paz até eu resolver tudo, ok? E não
julgue a situação dele, parece que envolve algo pessoal nesse pedido do tio
dele. Zachary não entrou em detalhes.
— Tudo bem, mas dessa vez a Vicky está certa, Jennifer. É
complicado lidar com o que lidamos aqui dentro e lá fora. Só continuo
sendo escalada porque Zachary tem medo de mim hoje em dia. Vicky
porque você teve que mover céu e terra para ela estar na Golden e ganhar o
mesmo que o Francis, por funções iguais! Mas outras aqui dentro não
conseguem nem chegar perto dessa chance. Eu mesma ganho abaixo do que
outros jornalistas com a mesma função que a minha. Está ficando cansativo.
E toda vez que estoura uma bomba, cai em nosso colo, sem pensar duas
vezes. A gente ama esse lugar, mas o último andar precisa começar a
valorizar mais as mulheres desse jornal, sem que tenhamos que nos
humilhar para ter algo. Como eu disse, já basta lá fora em que cagam para
nós e é um inferno conquistar nosso espaço! — Kristal desabafa e
concordo. Nossa chefe assente lentamente.
— Sei disso e me dói ao extremo que precisamos deles para manter
o jornal. Os custos são muito altos, por mim, todos teriam o mesmo
tratamento aqui. Mas como falei, as coisas vão mudar, confiem em mim. Se
o que eu estiver fazendo der certo, até o final desse ano estaremos livres de
certas amarras. Que isso fique somente entre nós — fala e me encara séria.
— Ei, eu sei ficar quieta, ok? Que absurdo sempre me acusarem de
fofoqueira.
— Porque você é! — ela e a Kristal dizem juntas.
Sorrio e dou uma piscadinha.
— Compartilho informações importantes. É muito diferente!
Elas se entreolham e acabo rindo mais um pouco.
— Me acompanhe, Vicky. Já vamos adiantar as papeladas para
depois só despachar você junto da Kristal!
Vou fingir que ela não falou de mim como se eu fosse uma tralha!
Acompanho Jennifer até sua sala, com uma Kristal rindo atrás de
nós das caretas que faço.

O jornal virou um pandemônio e tudo minutos antes do meu almoço


com a Kristal. Se eu não achar que isso é castigo por todas as vezes que fui
uma safada, não sei o que poderia ser.
Alguns jogadores da Golden estão aqui para uma coletiva de uma
última hora. Tudo culpa do Zachary, o velho não tem realmente o que fazer,
só pode. Quem fica arrumando serviço para os outros assim do nada? Porra!
Porém em meio a tantos rostos, só consigo focar na pessoa sentada
na mesma fileira de cadeiras que eu, com sua expressão arrogante, seu olhar
frio, vestindo uma calça justa ao seu corpo, uma camiseta preta
acompanhada de uma jaqueta clara por cima.
Malcolm Bell, o homem que por meses não via, agora encontro-o
duas vezes seguidas.
Kristal está fazendo as anotações e não posso sair para comer, pois
ainda estou esperando-a, e enquanto isso, apenas dou apoio moral à equipe
de repórteres, afinal, já trabalhei demais, agora, eles que façam isso no meu
lugar. Somos uma equipe e esse povo tem que trabalhar também, não
somente fofocar.
O que é isso? Acham que a vida é fácil? Não é não!
— Só quero sair logo daqui. Preciso comer e descansar longe desse
lugar. O final de semana poderia chegar logo. Meus avós estarão aqui, isso
significa comidinhas da senhora Abigail — falo e ela ri.
— Não se esqueça que prometemos ajudar a Cherry com a escolha
da logo e passar o domingo lá.
— Verdade, tem isso. Mas não tem problema, faço qualquer coisa
para essa semana terminar.
Me entregam uma pasta e vejo o nome do Francis nela,
automaticamente reviro os olhos. Jennifer falou que me daria tudo que o
Francis já havia começado para usar nas primeiras semanas da temporada
de basquete.
A coletiva segue e abro a pasta, sentindo um arrepio no corpo, com
olhares que sinto sobre mim. Olho de lado e o vejo me olhando. É
inevitável não lembrar do quanto o treinador fode gostoso e sinto uma
fisgada no centro das minhas coxas.
Ele desvia o olhar rapidamente e sorrio sentindo um desafio
estranho percorrer minhas veias, algo que em muito tempo não sentia.
— Cara, isso aqui vai ser um inferno, prefiro aturar mil vezes o
Oliver e o Tyron. Vou ajeitar nossas coisas, se perguntarem por mim, diga
que pulei da janela!
— Vicky! — Kristal chama minha atenção e sorrio me levantando e
fechando a pasta.
Passo por ela, saindo o quanto antes de perto desses jogadores
tentando soar perfeitos com suas respostas tolas. Trouxeram dois de cada
time, alguns treinadores e donos dos times também estão presentes.

O nosso andar está vazio, os curiosos estão todos na sala da


imprensa. Ajeito minhas coisas espalhadas e jogo tudo na bolsa. Organizo
as coisas da Kristal e deixo tudo junto da pasta para não esquecer.
— Meu Deus, Francis, você é realmente doido da cabeça. Quem faz
esse tanto de coisa para fazer perguntas? Parece até uma investigação
criminal — Olho o tanto de coisa dentro da pasta transparente, que está
quase explodindo e os elásticos estourando.
Pior que terei que seguir o que ele faria, porque estarei cobrindo-o.
Que ódio.
— Temos que conversar, Foster! — a voz rouca que diz com
firmeza, surge nas minhas costas fazendo-me sobressaltar. Fecho os olhos
por alguns segundos, parecendo até que estou encrencada, mas juro que não
fiz nada hoje.
Viro-me lentamente e vejo-o com toda sua altura e pose de mandão.
— Sobre? — questiono. Ele olha para os lados. — Não tem
ninguém além de nós dois aqui, treinador.
Ele bufa como se estar perto de mim fosse contaminá-lo. Parece
estar com medo. Seus olhos finalmente retornam para mim e me encaram
sérios demais, escuros, intensos.
— Já sei que vai assumir o lugar do Francis nas primeiras sete
semanas. Olha, seja como inferno for isso, ninguém pode saber o aconteceu
naquele maldito estacionamento. Aquilo foi um erro imenso. Eu falhei, me
deixei levar como um adolescente imbecil! Isso não vai se repetir, então é
melhor ninguém saber, nem mesmo suas amigas!
— Prima e amiga — corrijo-o e ele me olhar bravo. — E por que eu
sairia espalhando isso? Além disso, o que as pessoas têm a ver com isso
caso vazasse? — Ergo a sobrancelha e cruzo os braços. — Medo de detonar
seu casamento? Por que não me disse que tinha alguém? Olha, sou muito
doida, mas jamais sairia com alguém prestes a se casar, isso é nojento!
Ele fica confuso.
— Não tenho ninguém. De onde tirou essa merda? — resmunga
mais nervoso. — Quer saber? Não importa. Eu não misturo qualquer
relação com trabalho, então não ache que alguma coisa pode acontecer de
novo, porque não vai! Se mantenha longe de mim e farei o mesmo com
você. A minha carreira vem acima de qualquer coisa, não irei foder as
coisas, então feche sua boca!
Sorrio e encosto na mesa, respirando calmamente.
— O que acha que vai acontecer? Melhor, o que acha que aconteceu
depois do que fizemos? Tatuei seu nome, planejei nosso casamento com
pastas no Pinterest, já estou vendo o enxoval para nossa casa linda e
romântica, além de ter escolhido o nome dos nossos três filhos e dois
cachorros? — Começo a rir enquanto o homem parece querer me matar.
Isso não é novidade. — Não sou esse tipo de mulher, garota, jovem,
pirralha, ou o que quiser nomear. Foi sexo, um sexo muito bom, mas nada
demais. Elas não sabem de nada, até porque, não foi nada além de sexo,
como já falei. Não se preocupe que minha função na Golden é trabalhar e
aterrorizar a vida de quem me irritar. — Olho para seu corpo e depois seu
rosto. — Para quem está tão preocupado em ser pego ou em afirmar que foi
um erro, não deveria ficar excitado só por me ver... Esse é o mau das calças
justas em homens, poucas enganam — provoco.
Desencosto da mesa e descruzo os braços para passar por ele, mas o
homem me segura pelo braço e me faz ficar à sua frente. Somente esse
puxão me deixa excitada, porque me lembro de cada detalhe daquela noite e
no quanto fiquei deliciosamente dolorida no dia seguinte.
— Isso é um jogo para você, sei disso. Já fui esse tipo de pessoa,
mas não jogo mais essas merdas. Você encontrou em mim um desafio, está
nítido em seus olhos. Descobriu como me provocar, como atingir o que
quer. Se acha que é assim que vai foder qualquer coisa com meu sobrinho,
está enganada. Não sou parte dos seus jogos. Não sou o Tyron ou o Oliver
que se deixaram levar pelas garotas que saíram desse lugar. Não vou
colocar tudo a perder porque você é um diabo em pessoa, pronta para dar o
bote no primeiro otário que surgir no seu caminho. Eu vi seu olhar ontem, o
vi hoje naquela sala e vi naquela noite. Sou um desafio imenso para você e
percebeu isso. Esqueça o que estiver pensando e seja profissional, porque se
isso vazar, nós dois seremos prejudicados.
Puxo meu braço dele.
— Malcolm Bell, naquele dia realmente senti um desafio por você,
só que não repito desafios... — Analiso-o de novo — Quero dizer, eu não
repetia...
— Foster! — diz entredentes e sorrio.
Esse é meu enorme problema, odeio me sentir desafiada, porque
odeio perder.
— Relaxa, durma em paz, cara. Não vou parar seu coração pelo
medo de ser pego. Sua carreira vale para você o que a minha vale para mim.
Sabe a diferença entre mim e as namoradas desses jogadores? Eu não me
permito sentir nada além do desejo, porque amor é uma roubada enorme. E
para atingir seu sobrinho, não preciso te usar, porque tiro a paz dele só por
existir. — Sorrio com raiva.
Minha respiração está ofegante pela raiva da sua prepotência. Quem
ele pensa que é? Acha que depois desses meses, arquitetei algo para
continuar o que começamos? Que idiota!
Senti sim um desafio aquele dia e estou sentindo outro agora, mas só
para tirar o juízo dele. Eu sei controlar até mesmo as pirraças que possuo
internamente, não seria ele a me fazer perder o controle.
— Você é o diabo em pessoa, não consigo confiar em nada do que
diga. Saiba que se alguém descobrir o que aconteceu, o presidente e o vice
não vão gostar nada, ou acha que acreditarão que é normal todas as
mulheres que saem daqui para irem pra Golden, terminem com alguém e
faça uma bagunça na imprensa? Nada pode chamar mais atenção do que a
temporada! Esse é o principal jogo para eles, o que envolve a mídia sendo
exclusivamente para o campeonato deles!
— Vocês são todos uns machistas nojentos! Porra... — Travo o
maxilar com raiva.
— Não sou eu, Vicky, são eles. Se não quer se foder, feche essa
boca. Tem duas carreiras aqui que não precisam de estragos por uma noite
qualquer! Esse é o mundo em que vivemos, a profissão que escolhemos!
Você deveria saber disso, porque viu o que a Kristal passou e o que sua
prima quase passou! Não pense que eles deixarão mais um problema
semelhante passar. — Suas palavras são duras, e o pior é saber que são
verdadeiras.
Não tinha pensado sobre isso antes. Se o que aconteceu entre nós
vazar, não acho que será mais tão fácil de resolver. Ainda mais com o
Francis que defende essas pessoas e tem a confiança deles. Ele terá a mim
em suas mãos e ninguém da Golden vai deixar mais um problema de
relacionamento passar, afinal, isso aqui tem que ser mais profissional do
que qualquer outra coisa, porque envolve muita grana. Uma coisa são os
jogadores, outra bem mais séria é se envolver com pessoas grandes demais
nesse meio, e Malcolm Bell é uma delas.
— Eu vou me calar — respondo baixo, firme.
Ele só assente e se afasta após me dar mais um olhar inexpressível.
Deixo-me cair na cadeira e respiro fundo.
Dessa vez realmente deveria ter pensado mais antes de ter me
levado pelo maldito desafio que senti quando provoquei ele naquela noite.
Que ninguém tenha nos visto e vaze o que aconteceu na imprensa ou a
Jennifer me mata, e tenho certeza que meus dias como repórter e jornalista
estarão por um fio. Além disso, Cherry e Kristal arrancam minha cabeça e
meus pais me internam no hospício por ter ido longe demais nas minhas
travessuras.
O problema de se render aos desafios, é que uma hora eles te
colocam em alguma merda, e acho que fiz isso. Afinal, a cada vez que olho
para ele desde que o vi naquele evento e naquela delegacia, uma coisa
bizarra se acende dentro de mim. Bastou provar uma vez, para então querer
repetir, e isso nunca aconteceu antes.
Não é sentimento, é desejo, e um desejo forte.
Estou me sentindo na temporada de caça, e Malcolm Bell parece ter
se tornado uma boa presa.
Respiro fundo conforme me aproximo dos meus jogadores após o
final da coletiva. Estou de cara fechada, isso já impede muito as pessoas de
se aproximarem. Alf e Tanner, ala e pivô do time, foram os dois que vieram
para a coletiva por já estarem na cidade.
Minha cabeça está longe. Desde ontem, após ver a Vicky, toda
aquela infernal noite está muito acesa em minha memória, mais do que nos
últimos meses. É como se fosse uma droga que te vicia de primeira. Eu
sabia do perigo, e ainda assim fui idiota em cair em tentação naquele dia.
Já imaginava que poderia acabar encontrando-a, afinal, fui obrigado
a acompanhar isso aqui, só não contava que ela assumiria o lugar do meu
sobrinho por algumas semanas. Deve ser algum castigo filha da puta por eu
ter caído nos seus jogos.
Óbvio que isso me desestabilizou. Sei que essa menina é perigosa,
sempre fui muito atento a isso, só que agora tenho certeza que não estava
louco. Ela é extremamente perigosa.
— Fala, treinador! Sentiu nossa falta? — Alf indagada e Tanner ri.
— Senti, igual sinto falta das minhas enxaquecas — falo sério e
Tanner gargalha, enquanto Alf faz beicinho.
— Já fui melhor tratado nesse time!
Acerto sua cabeça e começo a caminhar com eles me seguindo. Só
quero sumir daqui sem ter que falar com o restante dos meus colegas de
trabalho.
— O treinador é sempre muito delicado, Alfred, não aprendeu
ainda? — O jovem negro, bem alto, e agora também todo tatuado, revida.
— Tanner, gosta dos seus dentes? — questiono conforme saímos do
andar da imprensa seguindo pelas escadas.
Eles gargalham atrás.
— Logo nos encontraremos em Nova York, e espero que tenham
tido tempo para se manterem bem, porque se os resultados dos treinos dos
dois estiverem péssimos, estarão muito fodidos com os treinos finais. No
momento que poderiam pegar leve, serão torturados, e não estou brincando
— Relaxa, homem. Fomos bons garotos — Alf diz tocando meu
ombro conforme terminamos de descer as escadas e entramos no andar da
sala da Jennifer Mitchell.
Acerto sua mão e ele ri.
De verdade, pago todos os tipos de pecados com esses caras.
Vejo Kristal e sua amiga conversando. A loira fugiu da sala da
imprensa assim que acabou tudo.
— E a deusa dos Tigers está presente — Alf diz e se aproxima da
Kristal abraçando-a. — Me diga que vai ficar só com nosso time esse ano?
Tyron é insuportável sem você!
Tanner sorri aproximando-se das duas, cumprimentando-as, mas
com mais intimidade com a Kristal. Vicky Foster nem sequer olha para
mim, ignorando-me por completo, e isso é ótimo.
— Para o azar de vocês, não! Mas a Vicky vai ficar sete semanas
com vocês — ela responde rindo. — Como vai, treinador? — questiona e
cumprimento-a com um aceno sutil. Dessa eu gosto. Ela não me irrita.
— Bem. Sua chefe? — questiono e ela sorri.
— Daqui a pouco aparece. Estamos esperando-a também. Quer algo
para beber? — pergunta toda educada.
— Ei, alguém focou no que a loira aqui disse? A outra vai ficar
conosco? Eu vejo um filme de terror, vocês não? — Tanner questiona
apavorado.
— Estou aqui, idiota. Não sou invisível! — Vicky revida.
Olho para a Kristal, agradecendo e negando o que havia me
questionado antes do Tanner surtar.
— Gosto da Vicky! Ela é doida demais, cara — Alf diz passando
um braço pelo ombro dela, que o mede de cima a baixo.
— Tem um segundo para tirar esse braço daqui antes que eu te
castro — ela fala e ele retira rindo. — E quem deveria estar com raiva era
eu. Lidar com os bundas moles dos Red Fire ou dos Tigers é o meu terror.
Principalmente quando o namorado da minha amiga e da minha prima
jogam no time. Já tenho que aturá-los fora da arena. Ninguém merece! —
Revira os olhos e tento não focar em sua boca contornada com o batom
vermelho ou na calça marcando suas coxas.
— Você meio que aterroriza eles. Entendo o medo — Kristal diz
dando de ombros.
— Viu?! — Tanner avisa. — Treinador, posso jogar só depois da
sétima semana?
Todos os olhos se voltam para mim e somente agora a morena me
olha.
— Claro. Aproveita e pede a sua rescisão contratual assim que
retornar. Mais alguma coisa? — respondo levando as mãos ao bolso da
calça. Alf e Kristal riem, enquanto Vicky tenta controlar o riso.
— Se quiser optar pela rescisão, vai ser ótimo para o meu trabalho
em lidar com um a menos de vocês — Vicky diz e ele a olha de lado. Ela
pisca completamente debochada.
Vejo Jennifer saindo do elevador.
— Primeiro Malcolm e depois falo com você, Vicky — avisa.
— Ah, não! Pelo amor de Deus, preciso sair desse lugar para comer,
Jennifer — Vicky fala desesperada. — Eu vou desmaiar. Está me segurando
nesse jornal há horas!
Sua chefe bufa e acredito que sinta vontade de enforcá-la.
— Já que é para assinar algumas papeladas, vem você e o treinador.
Preciso que assine o termo de responsabilidade com a ida para a Golden e o
contrato particular deles, me enviaram agora. Falta só esses dois. Os demais
podem aguardar aqui fora. Hoje isso está um inferno!
Jennifer caminha para a sua sala e Vicky praticamente corre atrás
dela, provavelmente para sumir logo daqui.
— Impressionante — Kristal sussurra e a olhamos. — Somente a
fome para fazê-la correr.
Os meninos riem e só passo por eles. Com as porcarias que vejo
essa menina comendo na temporada, não me admira o espanto da amiga.
Entro na sala e Jennifer está colocando os papéis sobre a mesa.
— Esses são seus. Vicky, pelo amor de Deus, me prometa que vai
seguir essas regras. Não aguento mais problemas!
— Eu já quebrei alguma? — pergunta e sua chefe a fuzila com o
olhar.
— Malcolm Bell, esses aqui são as autorizações que confirmam que
podemos usar a imagem dos dois jogadores. Assine-as, por favor. Deixaram
você encarregado dessa responsabilidade.
Como sempre jogam tudo no meu rabo.
Me aproximo da mesa para pegar os papéis e confiro tudo. A garota
ao meu lado se mexe e seu perfume me traz mais lembranças. Pigarreio
nervoso.
— Claro — falo.
Ele nos entrega canetas.
Confiro rapidamente os papéis e assino todas as folhas. Vicky segue
lendo e com cara de poucos amigos.
Eu queria reparar menos…
Maldito estacionamento, maldito ego e orgulho que me fizeram cair
em tentação.
— A Golden não quer controlar minha calcinha também não? Todo
ano isso aqui fica mais ridículo ainda! — resmunga, mas assina os papéis.
— Sem reclamar, Foster! Pense que pode piorar, já que uma das
cláusulas abre margens para negociações de outras.
Acho difícil, já que essa menina só faz isso. Intrometida, reclamona
e atrevida dos infernos!
— Aqui, Mitchell, mais alguma coisa? — Entrego a ela.
— Não, querido. Tudo sob controle agora. Ansioso para mais uma
temporada?
— Ele ganha querido e eu sou considerada uma tralha... A cada dia
mais valendo menos nesse lugar! — A doida entrega os papéis a ela que ri.
Vicky me olha de lado e esse maldito olhar me atinge em cheio. — Pronto?
— pergunta a chefe, que concorda. — Estou livre?
— Está, Vicky! Faça as malas, preciso de você em Massachussetts
amanhã cedo. Passagens compradas já. Jogo de futebol americano, abertura
da temporada. Vai cobrir o Francis nele também.
— Sério? Até longe esse garoto fode minha vida! Puta merda. Eu
odeio futebol americano, deveria saber disso.
— O que você ama? Vai logo e sem reclamar. — Ela praticamente
expulsa a doida que passa por mim sem me olhar, ignorando-me
novamente, mas esbarrando seu corpo ao meu, fazendo-me prender o ar.
Jennifer cai na cadeira e respira fundo.
— Estou mais preocupado do que ansioso com a temporada —
respondo sua pergunta anterior e ela assente.
— Imagino. Toda temporada é uma novidade. Só espero que nessa,
minha equipe esteja controlada. Mas sem Francis e Vicky juntos por sete
semanas, sei que terei paz! Pelo menos assim espero.
Se ela sonhar o que aconteceu meses atrás, não sei se estaria tão
aliviada, mas não serei eu a estregar sua paz.
— Preciso ir. Até breve — falo e ela assente.
Saio de sua sala. Ela realmente está muito cansada.
— Vamos? Pago o restaurante, Bell — Alf diz assim que me vê.
— Igual sempre paga dos seus amigos? Dispenso. Quero distância
de vocês até os jogos. Nos vemos em breve em Nova York. É melhor terem
essa mesma disposição, eu não brinquei sobre os resultados dos exames de
vocês e treinos.
Os dois jogadores me olham assustados.
Vejo Kristal e Vicky entrando no elevador, e mais uma vez a morena
me lança seu olhar perigoso.
Essa menina vai torturar minha vida, a cada instante tenho mais
certeza. Que essas semanas passem voando.
Recebo uma mensagem em meu celular e retiro do bolso para
conferir.

Mãe: Olha, venha dar um jeito no seu sobrinho, ou eu vou fazer do


meu jeito! Que moleque resmungão. Por Deus. Vamos, Malcolm, venha
logo!

Respiro muito fundo antes de colocar o celular no bolso de novo.


Esse dia não para de me trazer problemas de alguma forma.
— Vocês dois, se comportem, é sério. Eu preciso ir. Nos vemos em
Nova York!
Falo e eles assentem.

Entro na casa dos meus pais, uma mansão bem confortável em um


condomínio próximo à Universidade de Stanford. Mesmo condomínio em
que comprei a minha casa.
O silêncio e falta de um dos carros na frente da casa, indica que eles
devem ter saído, provavelmente para não matar o neto, que eles amam, mas
que dá trabalho.
Subo as escadas pulando de dois em dois degraus. Sigo para onde é
o quarto do Francis. A porta está aberta, não preciso bater.
Ele está deitado na cama, com as pernas para o ar, assistindo TV.
O garoto que em aparência é a cópia de sua mãe, a jovem branca de
olhos esverdeados, me olha e já fecha a cara.
— Meus avós já foram falar merda! Não tem nada melhor do que
ficar vigiando meus passos, tio?
Caminho para dentro do quarto e paro em frente sua cama,
tampando sua visão para a TV.
— Na verdade, eu tenho, mas sempre tenho que parar para resolver
suas merdas. Não sei o que aprontou agora e pouco me interessa saber...
— Então para o que veio?
— Calado! Eu falo, você escuta. Eu mando e você obedece. E
quando eu falar, quero que me olhe nos olhos, Francis! — Minha voz não é
amigável e sei disso porque ele me olha um pouco assustado. Não, nunca
falei assim com ele. Só que estou cansado de tanto problema para lidar. —
Não me interessa o que fez, mas espero que durante as próximas sete
semanas, você dê menos trabalho. Terei mil coisas para lidar e seus avós
fazem um favor em cuidar de você. Já é adulto, eles não deveriam ter que
lidar com sua malcriação de garoto mimado! Colabore, Francis, ou as coisas
vão complicar para o seu lado. Tudo tem um limite e o seu já extrapolou!
Ele desvia o olhar.
— Se era só isso, tio, pode ir! Não vou trazer dores de cabeça ao
senhor!
Esfrego o rosto.
— Pare, Francis. Pare de se revoltar com o mundo. Ninguém aqui
tem culpa de nada. Se dói em você, saiba que também dói em todos nós. Já
te pedimos para aceitar ajuda, mas se recusa. Só que ninguém pode ser seu
saco de pancadas, isso não é justo com as pessoas que só querem seu bem!
Eu amo você, garoto, e eles também te amam. Se pegamos no seu pé, é
porque queremos seu bem. Nos tratar igual um nada, só faz você perder,
não nós!
Ele não me olha mais, mas também não insisto. Apenas respiro
fundo.
— Vou para casa. Precisa de algo? — Ele nega. — Um
fisioterapeuta vem para cuidar de você e ver se consegue melhorar o quanto
antes essa lesão.
Ele me olha agora.
— Quem vai assumir meu lugar no jornal?
— Não sei ainda. — Minto. Só preciso de um pouco de paz, e tocar
no nome dela vai piorar tudo. — Se eu souber te aviso, mas provavelmente
logo te informarão. — Ele assente. — Qualquer coisa me ligue. Vê se
aprende a escutar, Francis. O maior sábio é aquele que aprende a ouvir antes
de sair falando.
Me afasto de sua cama e olho para a TV, ele vê um desenho que
sempre via com seu pai.
De alguma forma, a dor que um dia não veio claramente a ele, hoje
se faz presente. Eu entendo, sinto essa dor também, meus pais tanto quanto
nós. Só que não dá para ele torturar as pessoas que só querem seu bem. Não
dá para descontar em todo mundo seu ódio com a vida. Isso não é justo com
ninguém. Se fosse uma vez ou outra, poderíamos relevar, ou se fosse parte
do seu gênio forte ou chato... Só que não é. Ele a cada dia que se passa fica
mais frio, mais egoísta.
Saio do seu quarto e desço as escadas para ir para casa, ter
finalmente um pouco de paz, se é que isso é possível.
Eu odeio futebol americano e vou seguir odiando. E meus pais
devem me odiar muito, porque estão aqui assistindo ao jogo a convite do
time que tem parceria com eles nos equipamentos de treinos, e ainda ficam
acenando e sorrindo para mim como dois malucos.
— Posso desistir? — pergunto a Cherry, afinal, eu tinha que torturar
alguém comigo e ela estava livre hoje.
— Não! — Ela me vira para entrar na parte da imprensa em que irei
cobrir os intervalos. — Você pode continuar. Está linda, me fez te maquiar.
E além disso, me fez vir até aqui. Vamos!
— E de brinde, trouxe aquele idiota ali. Sério, esse dia pode piorar?
A Jennifer me odeia!
— Olha, não ofende. Vim trazer apoio moral, Diablo — Oliver
Reed fala. O imbecil está deitado no sofá menor que ele, bebendo
energético e atacando as comidas. — Vai logo! Se pode torturar a turma do
basquete, pode fazer o mesmo com esses brutamontes! Vai lá.
Olho de lado para ele.
— Posso acertar o microfone nele? — Imploro a Cherry que ri.
— Não. Você pode ir... Vai, Vicky. Está na hora!
Ela me empurra de vez e saio aos tropeços, ouvindo-a gritar: “você
consegue!”.
Consigo o cacete. Eu odeio isso. Não entendo essa merda violenta.
Por que fui trabalhar com esporte? Que merda!
Me aproximo e o primeiro jogador está presente, todo suado,
vermelho, parecendo sofrer e prestes a morrer. Olho para a equipe da Sport
Universe me aguardando e respiro fundo, arrumando o ponto em meu
ouvido.
— Se demorar mais, irei completar 100 anos — Sawyer fala em
meu ponto. Ele é basicamente o meu chefe depois da Jennifer. Ele organiza
as filmagens, posicionamentos, confere tudo, basicamente um diretor geral,
faz tudo. E um rabugento, não posso esquecer de falar o quanto é rabugento
— Pensei que já tinha! — Replico e ele ri do outro lado.
Me aproximo do jogador que limpa o rosto e me olha sem paciência.
Nem sei o nome dele, passei mais tempo resmungando do que prestando
atenção, mas Sawyer nota, porque berra em meu ponto, como um bom filho
da puta que pode ser:
— Gabriel. Running Back! Pergunte sobre os dois bloqueios finais
que ele ajudou em sua posição, e como acha que pode seguir o jogo que
está muito intenso e surpreendente.
Lá vai... Vamos incorporar a repórter.
— Gabriel, com base nos últimos momentos, só se fala dos dois
bloqueios finais que fez em sua posição de RB. Estava preparado para
enfrentar um jogo tão intenso logo agora de primeira? Como acha que pode
seguir o próximo tempo? Pensa em mais dificuldades, já que ambos os
times estão dando tudo de si em campo?
Estendo o microfone a ele.
— Que garota esperta! Nem parece que não sabe o que faz — o
resmungão fala em meu ponto e controlo o riso.
O jogador respira fundo antes de responder:
— Fazer os bloqueios, logo após pegar a bola vinda do QB, não foi
fácil. O time adversário está muito atento às nossas jogadas, e assim como
nós, veio para vencer. Continuarei dando o melhor de mim, e sei que cada
jogador fará o mesmo. O próximo tempo não tenho o que esperar, porque
tudo é sempre uma grande surpresa, mas temos que estar preparados para
tudo.
— Claro. Então é isso... Obrigada, Gabriel! — Viro-me para a
câmera. — Conversamos rapidamente com o Gabriel agora, e como podem
ver, ele parece bem cansado e o jogo ainda não terminou. Vamos
acompanhar de perto e ver como isso aqui dará continuidade. Vicky Foster,
diretamente de Massachussetts.
Me fazem sinal para dar “ok”, e solto o ar com força.
— Porra, nunca mais! A próxima vez que a Jennifer me jogar essas
bombas, peço demissão!
— E ainda não acabou, Foster! — Sawyer berra em meu ouvido e
juro que minha vontade é de matá-lo.
Entrego meu microfone à equipe, que ri, porque eles também têm
acesso ao meu ponto e ouviram tudo. Pragas!
Passo pelo corredor, preciso de comida e bebida. Cherry e Oliver
deram fuga daqui, devem ter ido assistir junto dos meus pais na área VIP.
Palhaçada isso.
Ergo as mangas do blazer preto que estou usando e me aproximo da
mesa. Pego um prato com um pouco de torta de maçã. Observo as pessoas
que passam e acenam sutilmente para mim.
Deito-me no sofá, comendo minha torta e relaxando.
— Foster! — Sobressalto, me engasgando com a torta.
Viro o rosto para a voz e vejo meus pais.
— Credo, papai! Parece até assombração! — Me ajeito após me
recuperar. Sento no sofá como a mocinha comportada que não sou.
— Filha, se entupindo de doce antes de se alimentar direito? Sério
isso? — dona Michelle resmunga e apenas rio, afinal, doce é a perfeição do
mundo. — Olha isso, Landon! Dá um jeito nessa menina!
— Eu já desisti. Deveria fazer o mesmo, traz menos estresse! —
Meu pai se aproxima, bonitão como sempre, senta-se ao meu lado e pega
minha torta.
Minha mãe balança a cabeça, cruza os braços e sorri.
— E aí, a filha de vocês começou arrasando? — pergunto puxando
meu prato do meu pai que segura firme e não me entrega. Sorrio.
— Foi muito bem, meu amor. Você é sempre um espetáculo nisso.
Mesmo odiando futebol americano — papai fala e suspiro.
— Ele tem razão, minha linda. Você foi muito bem. — Ela sorri,
ajeitando os cabelos escuros.
Levanto-me e sorrio mais animada.
— Agora estou menos estressada. Irei torturar os jogadores e será
perfeito! — Bato palmas animada e caminho em direção a mesa de doces.
— Vicky, por que é assim? Querida, ainda será presa! — minha mãe
lamenta.
Se ela soubesse que meses atrás praticamente fui presa. Prendo o
riso e pego um pedaço de bolo agora.
— Relaxa, mãe. Sua filha é o símbolo da tranquilidade e paz!
Meu pai se engasga rindo e minha mãe disfarça.
Ninguém me leva a sério, mas não é como se eu mesma levasse.
Me jogo no colo da Cherry quando termino tudo. Oliver e meus pais
estão conversando com os jogadores. Na verdade, Oliver está enturmando-
os, já que a empresa deles tem crescido cada vez mais no meio esportivo, e
como a Golden ainda não os quer, tem quem queira.
A Foster’s Fitness está indo muito bem, e com os novos apoiadores
de vários times de diversos esportes, isso está alavancando as vendas dos
maquinários, só que eles realmente precisam se enturmar mais, e ninguém
melhor que o bom de papo, cheio de contatos para ajudá-los.
— Não vejo a hora de entrar naquele avião e chegar em casa. Quero
um banho e dormir! Amanhã acho bom a Jennifer me liberar mais cedo, eu
mereço! — resmungo e minha prima sorri.
Sento direito, abraço-a e suspiro, ajeitando minhas pernas sobre seu
colo.
— Quem vê pensa que não ama o que faz — comenta e sorrio.
— Amo, mas vir para cá às pressas e já retornar, é cansativo.
Acordamos muito cedo.
Minha Mascotezinha concorda. Todos viemos juntos bem cedo para
dar tempo.
— Está animada para a Golden? Tyron, Kris e Olie só falam disso.
Não veem a hora de retornar.
Dou de ombros e fecho os olhos morrendo de sono.
— Estou e ao mesmo tempo não. Cobrir o Francis será complicado.
Terei que seguir a programação dele nessas semanas. E ainda terei que lidar
com o Tyron e o treinador irritante daquele time!
Ela ri e cutuco sua cintura.
— Pare de implicar com ele. Desde o ano passado tem dado até
apelido. Kristal elogia muito o treinador Bell. Deveria dar uma chance e
não julgá-lo com base no sobrinho.
— Porque ela não lida diretamente com o sobrinho dele e não vai
lidar diretamente com ele.
— Ela já lidou com ele, esqueceu? Trabalhou com os Red Fire.
Abro os olhos e reviro.
— Esqueci. Mas a Kristal é doida, ela acha o Tyron gente boa! —
Implico e Cherry gargalha.
— Você precisa de juízo, Vicky! Vinte e sete anos de pura loucura.
— Eu preciso de juízo? Você namora Oliver Reed, Mascotezinha. Se
tem alguém que perdeu todo juízo desde então, é você!
— Vicky! — Ela me repreende e começo a rir.
— Vai, levanta essa bunda gostosa. Vamos atrás desse povo para
irmos logo para o aeroporto ou perderemos o voo.
Levanto-me e puxo ela que solta um gritinho. A loirinha linda se
ajeita enquanto saio arrastando-a.

A viagem até em casa foi tranquila, vim dormindo no voo e cheguei


em casa não querendo saber de mais nada, tomei um banho, me tranquei em
meu quarto e acordei só agora, sem saber a hora e mais nada da minha vida.
Apenas que estou de ponta cabeça na cama, sendo que deitei retinha.
Olho de um lado para o outro e sento-me na cama, vendo meus
coelhos de pelúcia me julgarem, o que é de apenas uma máquina de parque
e o que é para minha diversão.
Limpo a baba em meu rosto e tento ajeitar o meu cabelo, já que
dormi com ele molhado. Deve estar uma bagunça, certeza, meus dedos até
enroscam. Puxo meu celular da mesa de cabeceira repleta de copos, pacotes
de snacks, latas de refrigerante e energético.
São quatro e meia da manhã. Droga, dormi muito e agora não vou
conseguir dormir mais. Vejo as mensagens das meninas, mas depois
respondo elas. Olho ao redor e meu quarto está uma zona, roupas jogadas,
coisas espalhadas, e vai continuar até eu ter vontade de arrumar.
Porra, eu sou uma bagunceira!
Levanto-me toda perdida, tropeçando. Vou para meu banheiro e me
vejo no espelho, estou parecendo uma doida. Vou ter que lavar esse cabelo
de novo e dar um jeito, ou irei trabalhar parecendo doida, não tem milagre
que tire esse tanto de frizz que se formou por dormir com ele molhado.
Tiro a camiseta velha que estou usando, entro no boxe para tomar
um banho e tentar melhorar minha aparência e já ficar pronta para trabalhar.
Será a primeira vez que chegarei primeiro que todo mundo naquele lugar,
porque se eu acordar a Kristal antes para ir comigo, ela acaba com a minha
vida e nem é brincadeira isso.
Ligo o chuveiro e deixo a água cair pelo meu corpo. Fecho os olhos
e sinto mãos me envolverem, apertando meus seios e descendo pelo vão das
minhas pernas, tocando minha boceta, enquanto um pau duro e grande
cutuca minha bunda deixando-me louca imediatamente. Olho de lado sob
meus gemidos que começam a surgir e vejo o seu rosto sorrindo para mim e
beijando meu pescoço.
— Malcolm... — sussurro fechando os olhos.
Um barulho alto e bem estridente me faz sobressaltar abrindo os
olhos de uma única vez. Sento-me correndo na cama, suada, ofegante.
Eu estava sonhando? Meu Deus!
— Caralho! Eu sonhei com esse cara! Por que comi tanto doce
assim que cheguei de Massachussetts? Merda! Isso é praga daquele idiota
— falo ofegante e levo a mão ao peito, olhando para meus seios com bicos
duros marcando por cima da camiseta que uso para dormir.
Olho meu celular jogado ao lado, despertando sem parar. Salto da
cama correndo para não me atrasar mais que o normal.
Isso só pode ser brincadeira! Sonhar com aquele careta.
Tropeço na minha bagunça e vou de cara no chão.
— AH, CARALHO! — Xingo nervosa.
— VICKY, TUDO BEM?! — Minha mãe berra.
Não, mãe. Eu acordei suada porque sonhei com um idiota que fode
bem!
— ESTOU BEM! — Grito de volta e respiro fundo, recolhendo
minha dignidade do chão, se é que tenho ela essa manhã.
A semana passou mais lenta que qualquer outra coisa, e só tive
descanso ontem para hoje. Ontem aproveitei meus avós que estão em casa,
e hoje estou chegando junto da Kristal na casa da Cherry e do Oliver, afinal,
prometemos ajudar a nossa Mascotezinha com a tal da logo.
Kristal estaciona o carro que ganhou do seu irmão final do ano
passado. Não sei por que não confia em mim dirigindo. Absurdo total.
Primeiro que ela queria vir andando. Kris já viu o tamanho desse
condomínio que eles moram? Nem por milhões de dólares eu iria vir
andando. Sou louca, mas não a esse ponto. Descemos do carro e olho a
enorme mansão. Uma das mais bonitas do condomínio, verdade seja dita.
O carro do Oliver e da Cherry está aqui, então o capeta está em casa.
— Eu ainda não acredito que meu irmão comprou uma mansão
desse tamanho. Vicky, pra quê oito quartos? Piscina imensa, sala de jogos,
sala de jantar, sala de troféus, sala de não sei mais o que... A garagem deles
cabe uns 10 carros se bobear. É exagero demais! Oliver é louco, e meus pais
ainda duvidam quando eu digo — ela diz ao observar a casa toda branca,
com designer bem moderno, palmeiras na frente e uma porta maior que o
dono.
— Mais espaço para transar? — pergunto olhando para ela que
começa a rir.
— Você é ridícula! Puta merda! Vamos entrar logo.
Começo a rir e caminhamos para a porta. Kristal coloca a digital na
porta e entra.
— Sabe que considero um absurdo Oliver ceder a você a digital e
não a mim também, né? Ele pensa que farei o que? Porra!
Tudo isso porque invadi o quarto dele. Claro que fiz, desconfiei que
era minha prima, e não estava errada. Em minha defesa, foi por pura
proteção.
— CHEGAMOS, ESPERO QUE ESTEJAM VESTIDOS! — Berro
e Kristal prende o riso.
A casa tem um estilo bem moderno dentro também, em tons claros.
Eles não precisaram mexer em nada além de algumas coisas de decoração,
como na sala de troféus, e o quarto deles. Que por sinal, fizeram a mim e a
Kristal organizar toda as coisas novas que compraram para a cozinha.
Milionários e abusando da boa vontade dos amigos e familiares, um
absurdo. Eu sinto até hoje a dor em meus braços de tanto trabalhar.
— Aqui em cima, no quarto — Cherry berra.
— Pelo menos não estamos chegando em um pós-foda — Kristal
comenta e começo a rir.
— A ridícula sou eu, né? Não quero imaginar minha prima
transando — falo subindo as escadas com ela.
— E nem eu, o meu irmão. Mas mesmo assim sempre entramos
nesse assunto. Não é estranho? Cherry é uma bebezinha ainda para nós!
— Depende... Não é normal bebezinho aparecer com chupões,
arranhões e bundas vermelhas.
— VICKY! — Kristal berra e gargalho. — Chega, estou
traumatizada agora.
Seguimos pelo enorme corredor do segundo andar, indo para o
quarto dos pombinhos. Entramos no quarto com a porta aberta e
encontramos a Mascotezinha na cama, no meio de um monte de papelada,
com os cabelos em coque, usando um short e um top tudo na mesma cor,
azul escuro.
— Sua ajuda chegou — Kristal diz e nos aproximamos na cama,
cumprimentando a loirinha.
— Vou precisar mesmo. Estou muito indecisa. Meus tios e meus
avós não ajudaram em nada nos últimos meses, e a senhora Reed e o Oliver
pior ainda. Me deixaram mais confusa ainda, porque cada um escolheu uma
coisa em todas as vezes que questionei. — Faz beicinho desanimada e
sorrimos.
— Pois a voz da sua sabedoria vai te ajudar — falo, me sentando na
parte de baixo da cama, junto da Kristal.
— Minha voz da sabedoria? Vicky, você disse para eu lançar sem
logo nenhuma ou identidade visual, que seria menos dor de cabeça!
Prendo o riso.
— Ok, sem julgamentos. Vamos ver o que tem aqui.
— Primeiro nos mostre o que mais gosta — Kristal fala e concordo.
Ela faz uma careta e encosta na cabeceira branca e estofada. Olho de
relance para a sua mesa de cabeceira e vejo o quadro com a foto de nós três
juntas e outra da nossa família, ainda quando nós duas éramos crianças,
meus tios estavam vivos ainda. Sorrio, porque Cherry jamais se desconecta
de nós, mesmo com toda correria que está vivendo.
— É esse o problema. Não sei... Não é como se eu batesse os olhos
e falasse: é esse!
— Já pensou em pedir mais modelos? — pergunto.
— Temos vinte aqui. Se pedir mais um, o designer me mata, tenho
certeza. Por que sou chata? Eu poderia ser que nem vocês, prática nas
minhas escolhas!
— Quem disse que é chata? — A voz do Oliver surge no cômodo.
Ele se aproxima e deixa um beijo no topo da minha cabeça e da sua irmã.
— Gatinha, Diablo...
— E a paz acabou — comento baixinho e o loiro alto sorri, se
aproximando da namorada. Está todo arrumado, provavelmente está na
correria da temporada que está prestes a começar.
— De novo com essas logos? Nada ainda? — questiona olhando a
bagunça e Cherry nega. — Pede novas logos, bebê. Até chegar na que
deseja. Uma hora vai se conectar com alguma. Não adianta ninguém
escolher por você, porque a marca é sua.
— Ele tem razão e me dói dizer isso — Kristal diz, deitando a
cabeça em meu colo e olhando as folhas.
— Sei lá, eu não sei bem o que quero ainda, esse é o problema —
fala e sorrimos.
Olho as logos espalhadas na cama e as duas na mão da Kristal.
— É, nada disso é você, Mascotezinha — comento com sinceridade.
— Eu queria algo que representasse meus pais e a mim. Preciso
disso para patentear ela para já usá-la em tudo da marca.
— Bom, eu vou deixar vocês por aqui. Preciso ir, tenho treino,
preparativos para o comercial do suplemento e vitaminas, e uma coletiva.
— Beija a namorada de modo carinhoso. — Nos vemos mais tarde,
Cerejinha. Não sei bem a hora que vou chegar, pode comer sem mim.
Ela concorda.
Ele se afasta e ela sorri para ele toda apaixonada. Que ânsia de
vômito, mas no bom sentido. Eu acho.
— Cuidem dela! Tchau!
Respondemos e ele sai do quarto.

Elas seguem olhando, falando, rabiscando e pontuando o que pode


ou não dar certo, enquanto só vou olhando tudo. Tem um tempo que
estamos aqui, até pedimos comida porque a fome bateu forte.
— E se... Espera, me passem uma caneta! — Elas param de
conversar e me olham. — Cherry seus pais representam o céu, estrelas, e
tudo de belo, ok? — concorda. — O que mais te representa são os apelidos
que te damos e seu jeito meigo, ok? — concorda de novo. — E se fosse
algo assim...
Faço um rascunho rápido para mostrar a ela, atrás de um dos papéis
das logos, que estava em branco.

Mostro a ela e seus olhos brilham.


— Minha letra é horrível e desenho muito mal, mas só para você
entender mais ou menos o que quero dizer — comento.
Kristal se aproxima da Cherry para ver.
— Isso é uma ótima ideia! Representa a Cherry com seu nome e
apelido, e as estrelinhas representando os pais dela, além do nome, claro:
Madeline e Julian.
— Isso... Meu Deus, Vicky! Sua ideia é realmente o que eu
precisava. Vou encaminhar isso ao designer e pedir algo assim, e com toda
certeza vai carregar seu apoio nessa logo. Isso aqui será um quadro,
acredite! — Ela se joga em cima de mim, fazendo uma bagunça nos papéis.
— Te amo. Te amo. Te amo!
— Ei! E eu? — Kristal resmunga nos fazendo rir e puxamos ela.
— Pelo jeito dei uma ideia boa, é isso? Se for, pode falar para os
meus pais, nossos avós e para a Jennifer? É um momento histórico! — falo
e ela gargalha se afastando junto da Kristal.
— É exatamente isso que quero. Eu nem pensei na possibilidade de
unir meu principal apelido, além do Mascotezinha e cereja faz jus ao meu
nome também, logo, representa muito a mim.
— Então temos uma logo nova para nascer e será a oficial? —
Kristal questiona.
— Temos! Vou pedir ao designer para adaptar isso. Uma criação de
Vicky Foster com adaptação dele! — Cherry fala animada olhando a folha e
isso me deixa feliz. Ver esse brilhinho nos olhos dela é capaz de me
emocionar.
— Podemos descansar agora? — pergunto.
— Depois de tudo isso, podemos. Vejo as cores da identidade visual
depois. Com a logo fico mais inspirada para o resto.
— ALELUIA! — Kristal diz, caindo esparramada na cama, por
cima dos papéis. Cherry deita ao seu lado e eu do seu outro lado. As três
desmaiadas.
Minha prima ergue a folha e olhamos.
— Estou orgulhosa de você, Cherry! — falo e ela sorri.
— Nós estamos, Mascotezinha. Nossa alegria é ver você feliz!
Ela desce a folha sobre o seu colo e suspira.
— Vou sentir falta de vocês durante a temporada — diz e
assentimos. — Passou muito rápido. Fico feliz em ter vocês e o Olie indo
sempre ao sonho que tanto amam, mas bate saudade passar meses com
contato limitado. O que vai me salvar é que ficarei quinze dias na Coreia do
Sul com a senhora Reed para pesquisas nos laboratórios de skin care e
maquiagem de lá. E depois finalmente decidir o local que irei montar o
escritório, além da reforma dele, contratação, e todas essas coisas que já
estão começando acontecer. Isso vai encher meus dias e cabeça, para não
me sentir tão sozinha por aqui.
— Vai montar laboratório próprio? — Kristal pergunta.
— Segundo sua mãe e alguns profissionais que estou em contato, é a
melhor coisa. Porque o controle em cima das produções será mais amplo e
cuidadoso. É um dos motivos de irmos para a Coreia, lá irei ter algumas
reuniões, e buscar por especialistas que queiram entrar em parceria com o
laboratório. Terei que ter colaborações nisso.
— Incrível! Só seja bem inclusiva nos tons das maquiagens. É um
absurdo algumas marcas ainda não investirem em mais tons para todos os
tipos de peles — comento e elas concordam.
— Isso com toda certeza vai acontecer. É o primeiro pedido da lista
do que desejo na M.J.. Além de valores mais acessíveis em produtos de
qualidade, por isso terão produtos de diversos valores, dos mais caros aos
mais baratos, mas todos com a mesma qualidade, a diferença será em
quantidade, embalagens, porque são coisas que encarecem o produto
também. Mas quero inclusão de tudo, era o que minha mãe iria fazer, e o
que eu vou fazer também.
— Aceito ser cobaia dos produtos. Vou amar testar e economizar em
compras — Kristal fala e rimos. — Mas também em toda loja que eu for e
ver produtos da M.J. vou comprar e sair falando: é minha amiga, olhem!
Cherry fica vermelhinha e ri.
— Eu direi: É DA MINHA PRIMA, SINTAM INVEJA! Serei sua
garota propaganda. Só usarei seus produtos para trabalhar, para tudo!
— Seremos! Farei a Sport inteira usar. Até aqueles machos chatos,
vão colocar a skin care em dia ao menos — Kristal diz.
Começamos a rir.
— Sempre uma ajudando a outra em seus sonhos e nos desastres da
vida — digo e elas concordam.
Ficamos quietinhas um tempo.
— Quem topa piscina em casa, para relembrar os velhos tempos? Eu
vou sentir falta!
— Fechado, Kris. Vou me trocar e pegar minhas coisas! Vamos.
Aproveito para ver meus avós, que ainda não fui lá. Eles vão me matar! —
Cherry passa por cima de mim e corre para seu closet. — Podem guardar
esses papéis para mim, por favor? Joguem em qualquer gaveta!
Olho para a Kristal e ela nega.
— Vai... Trabalhe, loira! Estou cansada. Tenho que descansar minha
beleza. Além disso, eu dei a ideia da logo. — Fecho os olhos e recebo um
tapa na perna. — KRISTAL!
Ela ri saindo da cama.
— Olha, assim fica difícil amar vocês! Só me maltratam!
— Que dó... Vicky Foster é maltratada demais, gente!
— Seu deboche é infernal, garota! Porra! — Mostro o dedo a ela, e
começamos a rir.
Termino de arrumar minhas duas malas e desço com elas para o
primeiro andar, onde meus pais estão. Tenho que ir para Nova York, no
centro de treinamento dos meus jogadores.
A temporada começa no final dessa semana, e nunca torci para os
dias dos jogos retornarem logo. Os últimos dias foram infernais, Francis
sem poder se movimentar muito, está pior do que andando para cima e para
baixo fazendo merda.
Eu vou enlouquecer e não vai demorar.
Deixo as malas perto dos sofás, enquanto meus pais me olham.
— Ok... Qual a merda da vez? Desembuchem — falo e eles dão de
ombros.
— Nada, querido. Por que teria algum problema? Vivemos tão em
paz...
Esfrego a testa enquanto apoio uma mão na cintura e respiro fundo.
— Mãe, pai... O que houve?
Meu pai cutuca minha mãe que o cutuca de volta.
— Ok... Eu falo, já que o bunda mole aqui não quer falar. Vamos
viajar só por duas semanas�… para o Brasil, passar uns dias no Rio de
Janeiro e Salvador. Acha que pode dar conta de algum problema com o
Francis? Tentamos cancelar a viagem, mas não querem estornar o valor e
não vamos perder dinheiro. Foram passagens e hotéis caros. Fechamos
pacote de turismo também e...
— Mãe, ok! Vão viajar. Ele tem o fisioterapeuta, os funcionários da
casa, e qualquer coisa mais urgente, eu venho. Não se preocupem,
aproveitem a viagem.
Eles sorriem animados. Parece que tenho duas crianças e não pais.
Mas acho bonito essa cumplicidade e o modo como encontraram de aliviar
a dor da partida do Chase e da Giulia.
Meu celular vibra e pego no bolso conferindo.
— O carro chegou. Preciso ir. Qualquer coisa, me liguem. Por favor,
se cuidem! — Me aproximo deles, que se levantam e os abraço apertado. —
Amo vocês!
— Também te amamos, filho! Boa temporada esse ano. Arrume
tempo para nos ver, ou iremos nos jogos te irritar — minha mãe fala e
sorrio me afastando. — Olhe, Corey, ele ainda sorri!
Olho de lado para ela e meu pai ri.
— Vai, se cuide também e vê se encontre um amor nesses meses.
Abra esses olhos, saia da sua bolha esquisita e fechada. Nem parece meu
filho — meu pai resmunga e respiro fundo.
Pego as malas e vou saindo, deixando os dois falando às minhas
costas sobre casamento. Eu sabia que o assunto não demoraria voltar.
Enquanto não me casar e der netos a esses dois, vão continuar
malucos.
Eu vou me casar ainda, ter filhos, mas com a pessoa certa, uma
mulher centrada, calma, que seja meu oposto, que seja especial ao seu
modo, mas tranquila. A calmaria que preciso. Exigente demais?
Possivelmente, mas é o que busco.
E por isso está há trinte e sete anos praticamente solteiro, com
poucos relacionamentos duradouros.
A voz berra em minha cabeça e xingo-a mentalmente por estar certa
Minhas exigências só me fizeram passar mais tempo sozinho do que com
alguém, pois busco o perfeito e tradicional e nunca encontrarei isso, a vida
não é do modo que desejamos, assim como o mundo é outro, são novos
tempos, não posso me prender a um padrão que só existe na minha cabeça.
Só é difícil aceitar que meus pais têm razão sobre minha vida pessoal: ela é
monótona, sozinha e meu jeito piora tudo.
O motorista desce do carro e me ajuda com as malas. Agradeço-o e
deixo um beijo na minha mãe e outro abraço em meu pai.
— Cuidem da minha casa, não aprontem. Não acredito que direi
isso, mas... tenham juízo!
Os dois entrelaçam os braços e sorriem travessos.
Por Deus, onde errei com meus pais?
Entro no carro, confiro a hora e sei que agora em diante será estresse
e muito grito. Minha garganta vai precisar lutar com a força de um
guerreiro.
Aceno para eles.
— Corre, antes que arrumem assunto de casamento de novo —
aviso ao motorista assim que entra no carro e ele me olha confuso, mas
assente sorrindo em seguida.
Quase seis horas depois de um voo comercial, estou em Nova York.
Ficarei em um hotel já que meu apartamento entrou em venda e não dá para
ficar lá, mas isso não é um problema para mim, estou acostumado com essa
rotina de hotéis, faz anos que passo parte da minha vida pulando de um para
o outro.
O hotel é perto do centro de treinamentos dos Red Fire, e é já estou
a caminho dele. Esse final de semana o time não joga em L.A, o primeiro
jogo será com quem os Tigers jogar, eles abrem a temporada esse ano.
Ainda não pegaremos eles esse final de semana, e isso é bom, uma pressão
psicológica a menos em cima do time logo de início.
Nos últimos dias montei estratégias do primeiro jogo, tive reuniões
com o dono e gerente geral do time. Para o início, não tem como preparar
muita coisa, pois tudo dependerá dos primeiros jogos, e então vamos
estudando os times, nos adaptando em tentar ser igual ou melhor, mas
evitando ser pior, porque isso não ajuda em nada.
Me aproximo do local, paro na porta do centro de treinamentos e
cumprimento alguns seguranças que são antigos por aqui. Ao chegar na
catraca de entrada, retiro meu cartão de acesso do bolso, coloco nela e sou
liberado.
Meu celular não para de receber notificações. É sempre assim, a
temporada chega e a paz acaba. Tudo na vida tem um preço, e o meu por ser
um dos melhores no que faço, é exatamente abdicar da tranquilidade por um
tempo, mas não dá para ter tudo.
— Um bom diabo ao inferno retorna — Ashton Walsh, personal do
time diz assim que me vê. Está bebendo café encostado na porta.
— Fico surpreso com sua coragem! Perdeu o medo do perigo,
Ashton? — Cumprimento-o e ele sorri.
— É o que o seu time está dizendo. Só repliquei.
Levo as mãos ao bolso e olho ao redor.
— Tranquilo por aqui. O que houve?
— Gerente geral e dono do time estão aqui. As crianças fingem ser
comportadas.
Assinto e ergo a sobrancelha.
— Agora entendi... Deixe toda a papelada na minha mesa.
— Como sabe que tenho papelada?
— Você sempre tem papelada para me estressar. Vou pegar um café,
falar com o pessoal e só me estresso depois! — O personal ri e passo por
ele, que continua parado na porta — Papelada, Ashton. Agora — falo firme
e escuto seu tênis arranhando o chão, com ele se movendo rápido.
Balanço a cabeça e sigo para a quadra, cumprimentando algumas
pessoas pelo caminho. Todo o time está em peso aqui, desde os reservas aos
titulares. Estão espalhados, alguns sentados, outros deitados no chão.
Paro perto de uma das bolas caídas e pego arremessando-a na cesta,
ela faz um barulho alto ao bater no chão, todos olham e se ajeitam
rapidamente, menos Tyron, que do jeito que está sentado, continua. Esse
garoto é um desaforado, mas gosto dele, me lembra muito quem fui no
passado.
— A razão da nossa vida chegou — Alf diz e Killiam o acerta com
o braço.
— Vamos ver se vai continuar pensando assim quando eu conferir
tudo que o Ashton me entregar — falo me aproximando mais, parando no
centro da quadra e olhando ao redor. — Estão parados por quê? — indago.
— Drake e Jimmy estavam aqui — Tyron, capitão do time, toma a
frente da resposta. Os demais concordam como cachorrinhos de enfeite em
carro que só balançam a cabeça. — Já treinamos mais cedo com o Ashton.
— Ótimo. Treinem mais, agora sob minha supervisão. Dividam-se
em duas equipes, treino de igual para igual. Quarenta minutos de treino para
aquecer, depois quero apenas os reservas por aqui, quero um treino fechado
com vocês. Titulares depois podem descansar. Amanhã às quatro da manhã,
todos aqui, vou dividir as tarefas, será como o draft.
— Como é? — Zion diz, se engasgando com a água que bebia.
Tyron me olha irritado. — Treinador, é a semana do jogo, normalmente é
pegar leve! Tá lembrado?
— Exatamente, mas se tiveram tempo para as farras ontem, têm para
darem tudo de si nessa temporada. Acham mesmo que não vi as notícias
assim que pisei aqui? E juro que se eu tiver que lidar com o Drake e o
Jimmy putos, a vida de vocês estará com os dias contados. Sabem a
responsabilidade? Mantenham ela, não me irritem com essa porra.
— Eu nem saí de casa — Tyron fala puto.
— É o capitão deles, não é? Um time precisa do seu capitão. Se eles
treinam, você treina! — Ele os fuzila com o olhar. A raiva dele não é um
problema meu. — Antes do jogo, quero que todos tenham sessões com o
psicólogo do time. Quero todo mundo com a cabeça no lugar, o que me
lembra... — Respiro fundo já ficando irritado. — Teremos por sete semanas
uma das jornalistas da Sport Universe conosco. Por favor, sem problemas,
já basta quem é a pessoa que estará, não deem espaço para tornarem isso
um caos maior!
— E quem será? — Killiam questiona e Tyron começa a rir, com
seu jeito irônico. — Por que ele está rindo? Ele é como você, treinador,
nunca ri! Quem é a jornalista?
— Foster! — falo entredentes. Todos fazem uma careta e começam
a murmurar. — Não faço ideia do que ela está designada a cobrir, então
cooperem para as manchetes serem favoráveis!
Eu queria poder estar xingando por isso, mas preciso manter a
porra da postura quando sei que terei que lidar com o problema que
arrumei meses atrás!
— Amiga da sua namorada, mantenha ela controlada. Vicky
aterroriza a todos, Sparks — Tanner fala. — Quando eu soube disso antes,
quase morri!
— Me deixem fora dessa. Vicky e eu temos limites a não serem
ultrapassados, e um deles é eu não virar o foco dela, porque é uma dor de
cabeça que não quero. E não aprontem, se essa garota se irritar, ela mata
vocês, e a Kristal acaba com a minha vida se souber que atormentaram a
amiga!
Balanço a cabeça, indignado. Eles realmente a temem. Uma garota
que nem tamanho tem direito. Sinceramente, que bando de bundas moles!
— Vamos. Estão falando demais e fazendo de menos! Já volto e
quero todos treinando!
Saio da quadra remoendo o ódio por ter sido idiota. Sempre soube
do perigo que essa menina era e caí na dela. Nunca vou superar isso, e irei
repetir eternamente essa merda para não nunca esquecer e não cometer essa
loucura de novo.
Não tenho medo dela, eu tenho raiva por ter sido burro.
Sigo para a minha sala, provavelmente Drake e Jimmy estão lá.
Aproveito para pegar o café que ainda não peguei.
É incrível como esse esporte suga minha calmaria, bastou vir para
cá, me estresso até com a porra do vento.
Vida de casal é chata.
Vida de casal é puro vômito de arco-íris.
Vida de casal é tão... Meu Deus, que preguiça!
Estou encostada no cercado de madeira da casa dos Reed, perto dos
arbustos. Resolvemos fazer aqui mesmo a festa de despedida. Tyron chegou
quase agora, em um bate e volta corrido de Nova York para cá. Oliver e
Cherry também estão aqui. E por Deus, eu amo minhas amigas e estou feliz
pela felicidade delas, mas não aguento mais ver olhares apaixonados, beijos
e agarração.
Bebo minha bebida observando a cena.
De onde eles tiram tanto amor assim? Isso deveria ser proibido. A
boca não cansa de tanto beijar? Será que todo casal fica bobo e meloso
assim?
Cadê minha Kristal da putaria?
Cadê minha Cherry tendo que ser arrastada para se manter perto de
um homem?
Cadê o Oliver das provocações?
E o Tyron mal-humorado constantemente?
— Se continuar olhando-os assim, vai sugar toda energia deles —
Sobressalto com a voz da vovó às minhas costas. Ela ainda segue aqui com
o vovô. Meus pais não querem deixá-los irem embora tão cedo.
Viro-me um pouco e ela está debruçada sobre a cerca.
— Vovó, eles não têm mais nem energia para continuar nisso. Foi
tudo sugado tem muito tempo!
Ela começa a rir.
— Estão apaixonados, Vicky. Quando você se apaixonar, será assim
também e vai morder a língua!
— Nem morta! Primeiro, nunca me apaixonei a esse ponto, não
seria agora. Tive minhas paquerinhas tolas do colégio, mas nenhuma virou
namoro. Namoro, casamento, essas coisas não são para mim. Não existe
nada melhor do que a liberdade! — Sorrio e bebo minha bebida.
— Diz isso porque ninguém te enlaçou de verdade. A hora que um
homem ou uma mulher, quem é que sabe, te deixar de quatro, como vocês
dizem, vai mudar todo esse pensamento.
A senhora Abigail me odeia?
— Primeiro, eu realmente só curto homens, o que já considero um
defeito em mim; segundo, a senhora me odeia? — Olho para ela que
gargalha. — Não tem um jantar aí com meus pais e a família Reed?
— E perder a chance de ver de perto você agoniada vendo as duas
ali rendidas? Nunca! Olhe que lindo! Vai falar que nunca sentiu necessidade
de ter uma só pessoa, alguém especial? — questiona e o olho para os dois
casais.
— Não! Não mesmo. Vovó, eu acho relacionamento superestimado.
As pessoas ficam dependendo de outras para dar a elas o que elas podem
conquistar sozinha. Se quero chocolates, flores ou o que for, como já dizia
dona Miley Cyrus, eu posso dar isso a mim mesma. Não preciso esperar que
outro queira me presentear, me dar carinho, para ter isso. Posso me dar tudo
e mais um pouco!
— Verdade. Não depender de alguém para isso, é muito importante.
Mas vai por mim, se prender a isso de que sozinha é bem melhor, sem ter
vivido a experiência de ter tido alguém, pode ser um tiro no próprio pé.
Nunca experimentou e pode viciar!
— De novo: a senhora me odeia? — Olho para a dona Abigail. Ela
apenas ri.
— Talvez...
— Vovó!
Umbrella da Rihanna inicia na playlist. Kristal começa a cantar,
fazendo Cherry rir quando ela a puxa para a piscina. Os outros dois entram
em uma competição de basquete com a cesta que nunca mais saiu da área
da piscina, Até o Oliver quebrar algo novamente com essa bola dura e a
senhora Reed dar um fim nisso para nunca mais encontrar.
Antes da piscina e comes e bebes, estávamos jogando no basquete
eletrônico da Kristal, mas tudo virou uma coisa melosa entre os casais e
agora pelo jeito, voltaram a normalidade.
— Bom, vou lá, antes que George apronte se metendo nas
comilanças, querendo comer como seu pai e o Steven Reed. Olha, seu avô
ainda vai ser o motivo do meu infarto, garota!
Começo a rir e ela me joga um beijo antes de se afastar.
Volto a olhar para as meninas, até ser acertada pela porra da bola
laranja.
— SEUS FILHOS DA PUTA! — Grito ao ver meu copo atingir o
chão.
Oliver começa a rir se aproximando. As meninas controlam o riso
na piscina, duas traíras da pior espécie. Tyron nem se move de onde está.
— Se machucou? — mesmo rindo, o idiota Reed questiona e nego.
— Não, ou vocês dois não estariam vivos mais! — Pego a bola e
soco nele, que gargalha mais ainda. — Olha, eu tenho que amar muito
vocês duas para aturar esses relacionamentos e esses idiotas! — Me jogo na
piscina com elas.
— Olha só quem virou a rabugenta — Cherry fala e jogo água nela
que solta um gritinho.
— Rabugenta não. Quase fui morta! Não viram? Eu poderia ter
morrido!
— Claro... Iria morrer. Meu Deus! — Kristal debocha. Olho firme
para ela que gargalha. — Relaxa. Não morreria e jamais deixaríamos eles
machucarem a nossa doida! — Ela me agarra.
— Acho bom, ou não terá quem escalar sua janela no meio da noite!
— Ergo o queixo brincando e elas riem. — Agora me digam que podemos
nos divertir sem essa coisa de apaixonados que do nada surge? Eu imploro a
vocês! Juro, estou sentindo meu brilho sumir!
— Prometemos... — A bola atinge a piscina e gritamos. — TYRON
SPARKS! — Kristal berra com o namorado que tem a cara de pau de dar
uma piscadinha para ela.
— Sério, melhor controlar, estamos alcoolizados, as chances de
acertarmos elas são grandes, e morrermos em seguida, maior ainda —
Oliver fala aproximando da piscina e se sentando na beirada dela.
— Espaço pequeno, sem opções para evitar estragos — Tyron diz
com ironia, se sentando ao lado do amigo e faz sinal para pegarmos a bola
na água.
Cherry pega e entrega a ele. Kristal se afasta.
— Então vai cobrir os Red? Boa sorte! Dizem que o capitão do time
é chato pra caralho — Oliver fala e Tyron acerta ele com um tapa bem
dado.
Passei a amar um pouco o Tyron.
— Se aguentei os Tigers ano passado, aguento qualquer coisa —
comento e Oliver me olha puto. Começo a rir junto das meninas. — O que
foi? As únicas tontas com torcidas por aqui, são as duas loiras esquisitas. Eu
só visto a camiseta de vocês porque elas me obrigam. Do contrário, acho
ambos irritantes, assim como seus times. — Dou de ombros e pisco para
eles.
— Terei mesmo que aguentar ela? — Tyron pergunta à namorada,
que concorda rindo.
— Vai. E vai cuidar dela essas sete semanas, para que não arrume
problemas! — Kristal acrescenta.
— É mais fácil ele precisar de cuidados — Cherry diz dando de
ombros e a olho.
— Que isso? Estão contra mim? Qual o problema de vocês? Eu
nunca dei problemas. Se tem pessoas que causaram problemas, são vocês
quatro, e estão aí me acusando com suas palavras ou olhares julgadores.
Não foi eu que saí transando com o capitão e ala do time e fui parar nas
notícias. — Sento-me na parte altinha de dentro da piscina e elas me olham
boquiabertas, enquanto seus namorados prendem o riso.
— Ela tem um ponto — Oliver fala.
— Olie! — Cherry chama sua atenção e o cachorrinho dela joga um
beijo.
— Cerejinha, é verdade. Vicky só é louca, mas faz parte, e ela
realmente nunca deu problemas na Golden.
— Viram? Eu sou quase uma santa! Deveriam se inspirar em mim.
— E sermos presas porque fodemos o carro de um dos treinadores
mais poderosos da Golden? — Kristal revida.
— Pra quê tocar na ferida? O que houve com o amor que sentia por
mim, Kristal Reed? — Levo a mão ao peito fingindo estar ofendida.
Cherry encosta na parede da piscina e Kristal se senta ao meu lado.
— Seus pais ainda não sabem, e sua sorte é que não vazou na
imprensa, ou seu problema seria pior que o nosso — Cherry avisa.
— O que é isso? Pra quê tocar em um assunto pesado? Onde estão
as bebidas e comidas? Não vejo elas por perto. Vamos, seus putos,
trabalhem! Tragam bebidas e comidas para suas rainhas! Sim, me incluo
dentro do pacote, porque nós três somos um pacote. Levou uma, leva todas!
Oliver começa a rir e Tyron revira os olhos, se levanta e já puxa o
amigo que o xinga.
— Vamos, ela mastigando ou bebendo é menos dor de cabeça —
Tyron avisa à girafa loira que continua resmungando em ter que ajudá-lo.
— Viram? É assim que funciona: Vicky Foster manda e os homens
obedecem. Sentiram o poder? — Pisco para elas que gargalham.
— Você é maluca! — Kristal ajeita o biquíni e sorri. — Já sabe
como adaptar para o seu jeito de trabalhar, o que o Francis faria?
— Não me lembre disso. O cara é chato. Ele faz passo a passo das
coisas, tem noção disso? Quem monta agenda com passo a passo? É
loucura! — Faço uma careta. Minha Mascotezinha se aproxima, se
sentando ao meu lado também.
— Você vai dar conta! São só sete semanas, logo passará e vai poder
se aventurar em diversos jogos sem se sentir presa a um só ou nas regras do
que o Francis Bell colocar — Cherry diz e Kris concorda.
— Parece até castigo. Eu ser escalada para ficar no lugar dele, logo
depois de ter tran... — Fecho a boca rapidamente com o que quase escapa.
— Depois de ter brigado tanto com ele. É foda! — Essa foi por pouco.
— Vai dar certo. E quando estivermos juntas, tento te dar uma força.
Sete semanas passam rápido, vai ver — Kris fala e sorrio.
— Amo vocês, suas românticas irritantes — Agarro uma de cada
lado e aperto. — E se eu explodir as coisas que ele deixou e falar que foi
acidente?
— NÃO! — elas respondem juntas.
Poxa, não custa nada tentar.
— VAMOS, TYRON E OLIVER! ESTOU SENTINDO MINHA
PRESSÃO CAIR, É A FOME E A FALTA DE ÁLCOOL! — Grito e elas
se afastam, tampando o ouvido.
— Sério, por que ainda somos suas amigas?
— Você por falta de escolhas, só tem eu de amiga, e a Cherry,
porque é minha prima, não tem para onde fugir!
— Ai, essa doeu — Kris fala e sorrio.
Sorrimos, enquanto a girafa morena e loira começam a se aproximar
com garrafas de cervejas e uma bandeja com comidas.
É disso que estou falando: paz, antes de ser torturada com barulhos de
gritos, apitos e jogadores irritantes!
Realmente não acho justo não poder assistir a abertura da temporada
porque tenho que estar com os Red Fire, mas nem sempre querer é poder.
Cherry e Kristal estarão juntas em L.A, já eu estou na Grande Maçã,
literalmente acabei de chegar no hotel e já desejo fugir porque sei que será
complicado assumir a responsabilidade de outra pessoa, principalmente
porque trabalhamos de modos completamente diferentes.
Já revisei milhões de vezes todo o planejamento do Francis nas
próximas sete semanas, e estou torcendo para ele melhorar antes. O garoto é
louco, posso comprovar isso, ele tem um cronograma montado e não posso
desviar. Só pode ser brincadeira. Nunca que alguém fosse assumir meu
lugar, eu obrigaria a pessoa a fazer do meu jeito. Cada um tem seu modo de
trabalhar com o jornalismo.
Pego meu celular e envio uma mensagem às meninas, questionando
se posso me jogar do Empire State. Olho pela janela do quarto de hotel com
vista para uma parte da Times Square. A cidade está lotada como sempre,
principalmente por ser temporada de verão, as pessoas resolvem sair para
coisas que o frio não permitiria.

Cherry: Não! Você pode respirar fundo e curtir isso, vai tornar
mais fácil.

Kristal: Eu te ressuscito e te mato! Controla essa bunda! Vai dar


tudo certo.

Começo a rir porque é engraçado o quanto somos diferentes e ainda


assim a Cherry consegue ser a mais carinhosa.
Nem me jogar de um prédio imenso eu posso. Meus direitos sendo
controlados na cara dura!
Começo a trabalhar a partir de amanhã, mas vim hoje porque não
tinha voos para amanhã cedo e precisava assinar pessoalmente uns
documentos com o time amanhã de manhã. Até tentei avisar a Jennifer que
era um sinal para eu não vir, mas ela chutou meu rabo logo hoje que meus
avós fariam massas frescas para o jantar. Minha chefe me odeia e minha
família também.
Desencosto da janela e pego minha bolsa e meus óculos de sol da
Prada, que ganhei de presente do Oliver, como se eu não tivesse dito que
queria. É o mínimo. Quer minha prima? Me agrade para ter paz.
Vou comer alguma coisa e dar uma volta na cidade, é o que me
resta. Me olho no espelho enorme no hall de entrada do quarto. Coloco os
óculos para camuflar a cara de cansaço por virar a madrugada arrumando a
mala correndo para embarcar hoje cedo para Nova York.
— É... hoje não tem um batom vermelho que camufle sua derrote,
gata — falo comigo mesma.
Pego o acesso do quarto na caixinha perto da porta e jogo na bolsa,
saindo do quarto.
Eu poderia infernizar a vida do Tyron hoje para não ficar tão
sozinha, mas o filho da puta foi para L.A ver o jogo do amigo, com nada
menos que um jatinho particular, e eu tendo que vir antes porque ninguém
me cedeu um jatinho, nem aquela girafa morena dos infernos.
— Paz, Vicky Foster. Você é uma nova mulher esse ano! Sem
ameaças, sem estresse! — Aperto o botão do elevador.

O papo de não me estressar morreu quando incorporei os nova-


iorquinos e seus estresses diários, e xinguei três pessoas que simplesmente
passaram me empurrando como se eu fosse invisível.
Não posso ser presa de novo!
O barulho infernal da Times Square nunca muda. É obra, carros,
música, pessoas falando, gritos, uma bagunça caótica. Eu amo a cidade,
mas esse não é meu lugar favorito dela, o que é um choque para muitas
pessoas.
Só ama a Times Square quem vem a passeio e não precisa conviver
com isso. Sempre que venho, é a trabalho e o estresse me faz ficar ainda
mais estressada nessa bagunça.
É linda? Claro que é.
Esse lugar à noite é de arrepiar, principalmente se você estiver com
alguma vista privilegiada, mas sou uma garotinha da Califórnia, que não
pode ficar mais doida do que já é vivendo isso aqui. Por isso a Kristal ama
aqui também, é doida igual a loucura da agitação que domina esse lugar.
Entro em um café, o primeiro que aparece ao meu lado e está mais
vazio que os outros.
Me aproximo do balcão, peço um café gelado com caramelo e um
donut com cobertura de morango. Aguardo alguns minutos para pegar o
pedido e já deixo pago.
Me sento em uma mesa pequena livre aos fundos. Jogo a bolsa e os
óculos sobre ela e respiro fundo. Bebo o café e dou uma mordida generosa
no donut. Isso sim é o meu paraíso. Comida me acalma de todas as formas.
Pego meu celular na bolsa e acesso à internet para começar a ver as
notícias sobre os jogos, preciso coletar todas essas informações. O idiota do
Francis deveria me passar, já que é exigente com suas coisas.
As apostas desse ano são em uma nova briga entre os Tigers e os
Red Fire. Não é nenhuma novidade isso, mas muita gente também aposta
entre Red Fire, Tigers e United Foxes.
Aposto em todo mundo seguir em paz para eu ter paz!
Abro o bloco de notas e faço algumas anotações e confiro tudo que
preciso cobrir nessas semanas:
- Entrevistas;
- Rotina dos jogadores;
- Treinos;
- Jogos;
- Coletivas;
- Repassar informações importantes para quem cobrir as matérias
gerais;
Faço uma nova anotação:
- Não matar ninguém e nem ferir nenhum dos Direitos Humanos
deles e do Francis.
Sempre bom me lembrar disso. Nunca se sabe quando um surto
pode bater.
Ajeito minhas coisas na bolsa, coloco os óculos e pego o café e o
donut, já saindo do café. Vou continuar comendo enquanto caminho pela
cidade.
E depois ainda dizem que não me exercito.

Entro no hotel retirando meus óculos e já conferindo meu celular,


que está chegando várias de mensagens da Jennifer. Me sento no sofá na
entrada do enorme hotel luxuoso da cidade. Pelo menos nisso fui
valorizada.
Ligo para a mulher que parece até casada comigo. Duvido que ela
ligue para a Kristal de cinco em cinco minutos.
— Vou começar a achar que me ama demais — falo e ela resmunga
me fazendo rir.
— Já vou te avisar antecipadamente para não ser pega
desprevenida. Francis está com seu contato. Tivemos que avisá-lo que você
assumiria o lugar dele, não dava para esconder mais, então hoje ele pediu
seu contato, porque fizemos um acordo com ele. Já saiu na imprensa quem
dos nossos jornalistas estariam à frente, seu rosto está em tudo.
— Como é que é o negócio? Francis Bell tem o que meu? O que é
isso? É piada, né? — questiono rindo de nervoso e sem querer saber que
merda de acordo é esse.
— Não! Tudo que ele precisar te passar ou você a ele, será
diretamente um com o outro, e, por favor, civilizadamente! Estou em uma
correria enorme, não posso ficar fazendo ponte de um para o outro. Sejam
adultos!
Começo a rir.
— Adulto e Francis não se encaixam na mesa frase, Jennifer! Se ele
ficar tentando controlar minha vida, eu vou acabar com ele, e não estou
brincando. Esse garoto está me irritando desde o ano passado. Por que
mesmo ele entrou na Sport?
— Você também não é nada fácil. Temos que confessar que nem um
nem o outro facilita. E ele entrou porque precisávamos de mais um
jornalista para te ajudar, no caso deu bem errado o plano. Pode, por favor,
cooperar? Por mim?
Reviro os olhos e esfrego o rosto quase arrancando minha pele.
Cherry teria cinco infartos vendo isso.
— Ok, juro que irei fazer o possível. Mais alguma bomba?
— Sim, mas não será problema para você. E ainda bem que isso só
entrou nas normas desse ano do acordo entre nós e a Golden!
— O que? Proibido xingar? Se for, já assino a rescisão antes que
seja expulsa!
— Não. Atualizaram de novo as normas, após contratos assinados.
Lembra que poderiam mexer ainda? Fizeram! Esses caras estão se
achando demais, mas logo mais vão aprender a trabalhar no nosso ritmo se
quiserem nosso apoio! Enfim, proibiram relações entre nossos jornalistas e
qualquer membro da Golden durante a temporada.
Me engasgo lembrando-me exatamente do que houve meses atrás.
Isso não pode vazar, se bem que, foi bem antes de assinar qualquer coisa.
Deus, que azar!
— Isso seria problema para a loira apaixonada, eu sou imune a isso.
Teremos paz no que diz respeito a relações amorosas e afins — falo e ela
ri. — Zachary e Jayden estão realmente traumatizados com o foco das
notícias indo para casais e não para eles, né? Duas temporadas que isso
aconteceu!
— Pois é! Jayden teve a cara de pau de dizer que estávamos
montando um Tinder no jornalismo com a Golden. Falou que quer ética,
profissionalismo ao extremo ou ano que vem não entramos mais para a
parceria com eles. Só se esqueceram que quem depende de nós são eles!
Olha, é tanta merda, que estou explodindo de estresse já. Mas fica o alerta,
sei que com você não terei problemas do tipo. Kristal já não tem mais
problemas com isso, Cherry não trabalha conosco, mas também já
aconteceu e não tem mais o que ser evitado.
— Estou mais surpresa por ele saber o que é o Tinder. — Começo a
rir. — Tudo bem, fica tranquila. Amanhã incorporo o modo profissional,
prometo!
— E é isso que me apavora. Suas promessas que sempre terminam
mal. Prometeu melhorar como motorista e parou na polícia!
— Precisa lembrar? Passado é passado. Agora preciso desligar.
Qualquer coisa só me berrar. Tchau.
Ela se despede e respiro com calma, jogando o celular na bolsa.
Parece até loucura, em pensar que poderiam ter feito isso nas duas
últimas temporadas e evitado os meus pombinhos. É como se o destino
soubesse bem o que fazer, eu hein! E olha que nem acredito muito nessas
coisas.
Levanto-me e sigo para o elevador. Vou tomar um banho e dormir, é
o que me resta. Amanhã começa tudo de novo e precisarei de uma
sabedoria interna para evitar perder meu emprego, ser presa ou destruir a
Sport Universe.
Olha, é muita coisa para uma pessoa como eu. Sinceramente,
olhando por esse lado, preferia ter ficado de fora dessa temporada.
Estou na área do refeitório no Centro de Treinamentos do time, hoje
teremos um treino bem leve. Estou esperando eles chegarem, enquanto
tomo meu café. Tyron não participará desse, mas vai compensar com uma
hora a mais de treino em seu retorno, fazendo sozinho para bater o tempo de
desempenho em quadra que precisa ser entregue a Golden. É um último
treino antes do jogo, não costumamos pegar pesado, para evitar lesões.
Irei colocar o Killiam para substituir o Tyron em sua posição como
capitão, já que ambos têm a mesma posição, que é a de armador, e colocarei
algum reserva no lugar do Killiam. E toda mudança, é tudo porque meu
capitão pensa que é legal ficar fazendo bate e volta de um lugar para o outro
em semana de jogo, mas não posso controlar, não quando se trata dele e o
seu melhor amigo. Sempre foi assim, quando ele cisma que precisa estar
com o amigo, fode a própria agenda se preciso for.
Jimmy, o gerente geral do time, se aproxima e dá tapas nas minhas
costas, se sentando no banco ao meu lado, perto do balcão de café.
— Madrugou?
— Não é como se eu dormisse muito durante a temporada — falo e
bebo um gole do café forte e sem açúcar que peguei para ver se me
mantém bem acordado.
Ele sorri e assente.
— Ficou sabendo das novidades com a Golden? Vazou a toda
imprensa essa manhã.
— Novidade seria eles não terem algo que foi vazado. O que é a da
vez? — pergunto.
— Todos os jornalistas que participarão dessa temporada,
principalmente os vindos da Sport, não podem ter qualquer relação com
nenhum membro da Golden. Claro que isso só é uma preocupação para
quem pensa em começar algum caso pelos bastidores.
Viro o restante do café, engolindo-o sem me importar, mesmo
pegando fogo. A garganta queima assim como o estômago, e deixo essa
sensação tomar um pouco do meu foco, ao menos por míseros segundos, só
para controlar o pânico que começou a crescer internamente, e as
lembranças sendo expostas dentro de mim mais uma vez.
Apoio o copo sobre o balcão e faço uma careta quando o rosto dela
vem a minha memória.
— E por que fizeram isso? Nunca teve coisas assim nesses anos
todos — Minha voz está sendo controlada, mas ainda assim a indignação
fica um pouco evidente.
Porra, se vazou alguma coisa minha com aquela jornalista... Não,
eu iria saber caso acontecesse! Minha assessoria, advogados, minha
equipe no geral iria saber e me comunicar.
Respira, inferno!
— Bom, eu chuto que é por causa dos holofotes que cresceram em
cima dos casais e se apagaram os dos jogos. A imagem da Golden vende
muito, gera dinheiro de todas as maneiras, e ter esses desvios de foco, não é
algo que agrade Zachary e Jayden.
Assinto apenas.
A merda que aconteceu não pode se repetir e ninguém pode sonhar
com isso, ou estarei fodido. Meu nome e minha ética serão jogados no
limbo. É uma briga que não quero comprar com a Golden.
— Eu tenho que preparar o treino e ver quem já chegou. Nos vemos
por aí — falo para ele e saio do banco.
— Boa sorte!
Concordo e me afasto indo para a minha sala buscar o livro das
jogadas, que tem o treino de hoje.

Confiro o treino atento a tudo. Apitando ou gritando se necessário.


O treino preparatório raramente permito ser aberto a imprensa. E é por isso
que nem com celular os jogadores podem entrar aqui, o acesso é restrito
apenas a mim, a eles e ao gerente ou dono do time. E se necessário, aberto
ao personal e meu assistente.
— Tanner e Zion, estão fazendo o quê? Qual o problema dos dois?
São alas, joguem em suas posições, porra! — falo irritado. — Vocês
precisam respeitar o espaço dos outros. Fecharam duas vezes o Killiam e o
Alfred. Prestem atenção!
Eles concordam e voltam a jogar. Vou anotando tudo das jogadas
nos papéis presos na prancheta vermelha em minha mão. Nem preciso olhar
para saber que algum deles fez merda, identifico só pelo barulho mais
estridente do tênis derrapando. Levo o apito que está preso em meu pescoço
até a boca e deixo o som sair ecoando pela quadra.
— Equilíbrio! Esses deslizes à toa não serão bons no jogo. Foco! —
Não olho, falo enquanto sigo anotando tudo.
— Cara, como é que ele sabe...
— FOCO ALFRED! — Grito e apito novamente para voltarem a
jogar.
Olho para eles agora e encosto perto da porta, observando
atentamente cada movimento.
Batidas na porta me fazem revirar os olhos. Me aproximo mais,
destrancando-a, dando de cara com o Jimmy e quem eu me menos queria
ver nesse momento: Vicky Foster!
— O quê? — falo ainda mais irritado.
— Sei que odeia a imprensa no treino, mas ela tem que cobrir tudo,
cara. São ordens da Golden e autorizadas pelo Drake. Se o dono do time
manda, temos que obedecer.
Respiro fundo e dou passagem à garota, e só seu olhar entrega o
deboche e ironia que carrega. Ela acena para o Jimmy, que me encara rindo.
— Sério, sua expressão está péssima. Pega leve com a menina e
com os caras. Respira, Malcolm! Só respira — fala e fecho a porta com ele
rindo.
Vicky se aproxima da arquibancada e se senta nela, retirando o
celular e um iPad da bolsa, em seguida, ajeita o cordão da credencial de
acesso geral a tudo da Golden.
Foco, Malcolm. Você é mais profissional do que pensa!
Me aproximo da quadra, observando-os e conferindo em seguida o
tempo em meu relógio. Ainda tem meia hora aqui e espero que ela saia o
quanto antes. Estou tentando ser profissional, pensar na batida na porra do
meu carro para só manter o ódio, mas a maldita noite no estacionamento
vem à minha memória com flashes, e isso me deixa mais puto ainda, porque
me sinto um adolescente por ficar pensando em uma única noite de sexo. É
como se fosse minha primeira vez. Porra!
A bola por pouco não me acerta, mas sou mais rápido no reflexo e
seguro.
— Tanner, tem alguma cesta aqui? — questiono e ele nega
prendendo o riso. — Ótimo. Então foque onde ela está! — Jogo a bola para
ele.
Escuto o risinho baixo bem atrás de mim, mas nem olho. Não vou
me desconcentrar.
— Mais cinco minutos. Depois treinos individuais. Vamos, isso está
muito parado — aviso anotando mais informações.
Confiro como vou construir o primeiro jogo, riscando algumas
coisas que já vi que não será bom arriscar por ora.

O treino individual se inicia, agora apenas com os titulares. Ashton e


Elliot chegaram para ajudar.
— Arremessa, Zion! — Elliot, meu assistente, pede.
— Zion está tenso em um treino fechado. Isso não é nada bom —
comento com o Ashton indicando o ala com a cabeça. — Quero ele com o
psicólogo amanhã. Sempre peço a eles uma consulta antes das aberturas,
mas com o Zion é essencial que converse com o psicólogo. Tem algo
errado.
— Acho melhor também. Está ansioso, olhe os batimentos — Ele
mostra no aparelho em suas mãos. Eles estão treinando com algumas
tecnologias para checarmos de perto a questão da saúde física. — Não é
apenas pela agitação.
— Zion, descansa! — Grito parando-o imediatamente.
— Mas nem comecei ainda...
— Descansa — falo mais firme e ele assente não gostando muito. —
Alfred, pode ir! — Olho para ele que está sentado ao lado da Vicky.
Aparentemente, é o único dos jogadores que realmente não tem tanto medo
dela.
Alfred caminha para a quadra. Zion retira os aparelhos de si e
entrega ao personal, então se senta afastado dos outros, ficando mais perto
da Vicky.
— Fica de olho enquanto falo com ele — aviso ao Ashton que
concorda, indo até o Alfred para colocar os aparelhos com a ajuda do Elliot.
Me aproximo do Zion, tentando evitar a presença da pessoa perto
dele, que parece com humor ainda pior hoje, já que nem caiu nas
provocações do time. Apenas ficou fazendo anotações, observando o treino,
e às vezes sorrindo quando o Alfred falava algo com ela. Eles têm o mesmo
cérebro, deve ser isso que os une.
— Qual o problema? — questiono a ele, falando mais baixo. —
Onde sua cabeça está?
— Não entendi, treinador.
— Está distraído desde a hora que chegou, e agora, se eu não tirasse
você dali, poderia ter um infarto, seus batimentos estavam quase chegando
ao limite. Ashton acredita que está ansioso e não duvido disso. Está
disperso e ao mesmo tempo acelerado demais. O que está havendo? —
Deixo o caderno das jogadas e a prancheta na arquibancada, observando-o.
— Não é nada... Não sei o porquê estou assim. Nunca me senti
ansioso desse jeito.
Assinto ouvindo-o.
— Amanhã vai falar com o psicólogo do time, tudo bem? — ele
concorda.
— Vai me tirar o primeiro jogo?
— Quem vai me falar se quer estar ou não no jogo, será você. Eu
vou confiar no que me disser. Ninguém melhor do que você mesmo para
poder tomar uma decisão sobre isso. Amanhã conversa com o psicólogo, e
tem até a abertura da temporada para me falar. Farei a substituição se
necessário.
Ele assente chateado.
— E se não me sentir bem, mas depois ficar, posso entrar para o
jogo?
— Pode! Eu te coloco no jogo de novo, desde que esteja bem e não
se force a fazer isso.
Ele concorda mais uma vez.
— Não fala para o Tyron, ele se preocupa demais com a gente e não
quero encher a cabeça dele com o que nem sei de que se trata.
— Tudo bem.
Ele olha para a Vicky que nos olha sem disfarçar. Seus lábios
pintados de vermelho se entreabrem e seus olhos com delineado se
arregalam.
— Ei! Eu sou o quê? Fofoqueira?
— É amiga da namorada dele e amiga dele também — ele fala.
— Tenho limites sobre as informações que repasso. Relaxa, não irei
falar nada.
— Valeu! — Ele agradece e ela balança a cabeça em concordância.
— Melhoras —diz baixinho a ele, que agradece de novo, só que
agora com um aceno sutil.
— Está liberado. Descanse — aviso.
Ele se levanta e aperto seu ombro antes de se afastar. Levo as mãos
ao bolso e olho para os outros jogadores. Eles me olham sem entender e só
nego lentamente com a cabeça.
Alfred se pendura na cesta cantando uma música de ninar, enquanto
se balança, fazendo os outros rirem.
— ALFRED! — chamo sua atenção e ele pula da cesta. — Quer
ficar mais uma hora aqui?
— Não, treinador. Perdão. — Ele prende o riso.
— Foco, Alf — Elliot pede a ele.
Como se fosse possível. Esse garoto é louco.

Todos começam a sair da quadra, com medo de que eu invente mais


treino. Acham que sou idiota, até mesmo Ashton e Elliot correm para fora.
Termino as anotações e vejo a jornalista passando por mim. Seu perfume
com cheiro de flores, em uma mistura sexy e deliciosa, fica pelo ambiente a
cada passo que ela dá.
— Foster, retorne — falo, ela para de andar e se vira lentamente,
xingando baixinho.
— O que é? Eu não treino e não sou seus atletas — resmunga.
— E quem disse que quero treinar você, garota? — Ergo uma das
sobrancelhas.
— Então? — Sua voz é impaciente, assim como sua expressão.
— Quero ver o que vai publicar. Não me importa quais tenham sido
as ordens da Golden, não vou permitir que tudo do treino vaze.
— Só pode ser brincadeira! — Ela revira os olhos e bufa irritada, e
reparo no quanto seus olhos saem do castanho e ficam mel em luzes mais
claras, o que faz realçar seu olhar. Que olhos lindos essa maluca tem. —
Reclame com seus chefes ou o os donos da Golden. Se quiser, reclame com
a Jennifer, ou melhor, com seu sobrinho. Eu só cumpro ordens, cara! Posso
ir?
Estendo a mão, bem sério. Tentando tirar o foco da boca que já
esteve na minha ou dos olhos que chamam completamente minha atenção
agora. Que caralho de feitiço é esse que ela tem? Isso é assustador. Doentio!
— Está falando sério? — Faz uma careta. — Só coletei o que seu
digníssimo sobrinho iria fazer! — Ela retira o iPad da bolsa e desbloqueia,
me entregando com o bloco de notas aberto. — Faz o que quiser, cansei —
Se senta de novo, deixando a bolsa ao seu lado.
Confiro tudo.
— Quando isso vai ao ar?
— Ao vivo amanhã no jornal à noite no canal da Sport Universe. Já
na matéria que a Kristal vai montar, não sei! Não costumo comandar o que
o restante fará.
Entrego o iPad a ela.
— Retire sobre a falta do Tyron no treino. A imprensa já vai
atormentar o suficiente, não precisamos de mais ataques.
Ela sorri com ironia.
— Não posso. Tenho que mostrar isso ao doido do seu sobrinho, que
passou a porra da manhã inteira me irritando. Se ele achar que isso tem que
ficar, não posso fazer nada. — Ergue a sobrancelha.
— Não sou idiota, se você quiser, não tem Francis que te controle.
Tire isso e se ele reclamar, diga para falar comigo, assim como os demais!
Ela dá de ombros e se levanta pegando a bolsa.
— Mais alguma ordem, alteza? — indaga e não respondo. Que
garota petulante!
Caminha para sair, mas para na metade do caminho e se vira para
mim.
— Viu a novidade da Golden, treinador? Cuidado, se ficar me
cercando muito, pode ser que desconfiem de algo. Até eu vou começar a
pensar que faz de tudo para me manter por perto. Não perde a oportunidade
de vir falar comigo. Primeiro no jornal e agora aqui…
— Some daqui, Foster! E acho bom você ficar com essa boca
fechada, porque pode perder muito com isso. Eu provavelmente viraria
manchete por alguns dias, já você, as chances de nem um emprego ter
depois, são enormes. — Sei que estou sendo um escroto dizendo isso, mas
essa garota tira o pior de mim em segundos por perto.
Ela ri.
— Além de careta, é igual ao sobrinho. Não nega o motivo dele ser
insuportável. Teve a quem se inspirar!
Engulo em seco, controlando toda e qualquer resposta que eu possa
dar, e assim manter o controle.
Seu celular começa a tocar e ela retira do bolso.
— Olha só, estou falando com o diabo e o herdeiro do inferno está
me ligando! — Ela bufa, se afastando de vez. — Minha prisão está com os
dias contados para acontecer, dessa vez inafiançável e sem uma Jennifer
para me livrar, pelo visto!
Porra! Como pude ceder a essa garota?!
Ela vai fazer comigo exatamente o que faz com todos que lhe dão
alguma liberdade: tornar a vida um inferno!
Isso deve ser algum filme de terror e eu sou a protagonista que só se
ferra. É impossível que qualquer outro que tenha ficado exclusivamente
com um time, tenha que madrugar todo dia até o grande jogo, porque tem
que acompanhar os horários dos jogadores. Uma vez ou outra? Ok. Agora
todo dia? Para quê? Todo dia eles fazem a mesma coisa até terem seu
primeiro jogo.
Eu vou matar o Francis por me fazer seguir esse cronograma
ridículo.
São 4h40 da manhã, e aparentemente aquele treinador infeliz
programou uma reunião de estratégia de jogos. Ele tem o que na cabeça?
Isso não poderia ser mais tarde? Quem tem raciocínio essa hora da manhã?
Eu não lembro meu sobrenome esse horário.
Me olho no espelho e foi o melhor que consegui, uma roupa toda
preta, mais fechada porque está um pouco frio agora, afinal, nem o sol está
trabalhando essa hora por aqui, ele tem folga em alguns lugares do mundo
esse horário!
Maquiagem? Um corretivo, blush, rímel e um hidratante labial.
Logo eu, cheia de vaidade, tendo que abdicar disso, porque um treinador e
seu sobrinho resolveram arruinar meu soninho de beleza.
Ajeito a bolsa em meu ombro, apertando o celular em minhas mãos
e morrendo de fome. Eu não sou ninguém sem comida, principalmente se
sou acordada na base do ódio. Se bem que faço muitas coisas na força do
ódio, o que não é novidade para ninguém.
Enviei mensagem às meninas, para que quando acordarem, estejam
prontas para me tirar da cadeia, porque hoje eu vou matar alguém, sinto
dentro de mim.
Saio do quarto, jogando o cartão da porta na bolsa e odiando tudo a
cada segundo que se passa. Me aproximo do elevador, esmurrando o botão
e olho as mensagens no celular, porque Jennifer também não dorme. Que
isso? Jesus!
Ouço barulho de porta, olho para trás e só pode ser piada...
Não acredito que ele é meu vizinho de quarto! Que castigo mais
doloroso.
Malcolm Bell me olha e é possível que minha expressão seja de ódio,
porque ele fica sério, me avalia como se me desafiasse a matá-lo.
Ele olha a hora em seu pulso e coloca as mãos no bolso da calça.
Não emite uma palavra e tampouco eu. Melhor assim.
O elevador finalmente chega, entro correndo e aperto o botão para o
térreo do hotel, torcendo para dar tempo de fechar as portas e deixar o idiota
do lado de fora, mas para meu azar, ele entra a tempo e encosta no canto
oposto a mim, com toda sua altura e postura de “sou o senhor do mundo”.
Reviro os olhos e olho para meu celular, vendo o restante das
mensagens que raramente respondo se não forem importantes. Meus pais
me enviaram mensagens e nem vi, mas é só para saber como estão as
coisas.
Péssimas. Horríveis. Horripilantes.
As portas se abrem e saio na frente, quase derrubando o casal que
esperava o elevador. Por que esse povo não dorme?
Meu celular começa a tocar. É o Francis, mas não atendo. Tudo tem
limite, esse garoto ultrapassou todos já. Ele não deveria estar se cuidando?
Porra, me deixa em paz!
Paro na porta do hotel e a cidade está movimentada, mesmo a essa
hora da manhã, ou melhor, madrugada. O centro de treinamento é
praticamente ao lado. Pego meus fones na bolsa e coloco, conectando ao
bluetooth do celular e colocando em uma playlist aleatória das que crio.
Justin Bieber começa a tocar alto em meus ouvidos e sorrio, porque
sei que as meninas iriam rir vendo isso, madrugada e eu ouvindo o crush do
passado. É, nem posso dizer que meu passado me condena, porque era e
continua sendo bom.
Sigo pela mesma calçada, virando à esquerda. Olho de relance para
trás e vejo-o mais atrás, falando ao celular. Pior que o imbecil é bonito. A
genética é abençoada porque vi os pais dele, e o Francis não é diferente.
Uma pena ambos serem insuportáveis.
Torno a focar na rua e na música. Vejo o local, ainda bem que já está
chegando, porque já me sinto exausta. Realmente vou morrer antes dos
trinta, mas ninguém me ouvirá falando isso em voz alta.
Aperto o passo para chegar logo.
Passo pelos seguranças que apenas acenam sutilmente, sérios. Me
aproximo da catraca na portaria, tiro os fones jogando na bolsa e procuro a
credencial de acesso.
— Cadê? Que merda! — Xingo baixinho. — Só pode ser
brincadeira!
Por que minha bolsa tem que ter tanto lixo e tralha? Que ódio!
— Algum problema, senhorita? — O senhorzinho coloca o rosto
para fora da cabine.
— Esqueci o acesso. Me diz que vai me liberar? Já sabe quem sou!
— Olho esperançosa para ele.
— Sinto muito, mas parece que estamos tendo azar hoje. Até
liberaria para a senhorita, mas esqueci meu cartão de acesso também. E o
outro guarda saiu por alguns instantes.
— Tudo bem. — Sorrio para ele. O coitado não tem culpa. Quem
tem culpa de eu estar cansada, esquecendo tudo, acaba de parar ao meu
lado.
— Bom dia! — Cumprimenta o senhorzinho, que responde
sorridente para ele. Ele passa seu acesso na catraca e me olha. — Passa!
— Sou animal agora?
— Quer voltar e buscar o que esqueceu? — Revida.
Engulo o orgulho e passo, dando uma piscadinha para o senhorzinho
que sorri sem jeito.
— Valeu! — falo sem olhar para Malcolm Bell.
Caminho sem olhar para trás, a humilhação do dia já foi paga com
sucesso. Tendo que depender de quem estava xingando.
O local está vazio ainda.
Que ótimo!
Me aproximo das enormes portas que não se abrem. Puxo o ar com
força, esperando a pessoa se aproximar. Malcolm passa seu acesso nela e só
agora se abrem automaticamente.
Eu devo estar pagando algum enorme pecado.
— O que você está fazendo aqui tão cedo, garota? — ele indaga e
me impressiona o quanto é corajoso.
Olho para ele e tento manter a calma que nunca foi meu forte.
— Questione a Jennifer e ao seu sobrinho. Só estou cumprindo o
cronograma dele! Tem café nesse buraco? Comida? Qualquer coisa?
O idiota não responde. Ele caminha, literalmente me ignorando.
Olho para o alto.
— Eu juro, estou tentando ser uma boa pessoa, mas ninguém
coopera!

Encontrei o café e a comida, graças à moça que trabalha com isso e


me ajudou, pois também já estava por aqui. Deixei minha bolsa em uma
sala de descanso que achei perdida por aqui, peguei apenas meu celular e o
iPad. E é com eles e meu café melado que caminho para qualquer lugar, em
busca de fazer qualquer coisa útil que possa ser usado na matéria.
Ela vai ao vivo hoje à noite. De tarde tenho a gravação da narração
sobre ela e a equipe que vai me acompanhar já está toda aqui. Vieram
ontem de noite, diferente de mim que precisava estar o mais rápido possível
aqui, por causa do voo e para assinar as papeladas com o time.
Estou andando pelo corredor e ouço vozes saindo de uma sala, mas
não é uma sala qualquer, é a do Malcolm. Seu nome está na placa da porta
que está entreaberta. Eu não iria escutar conversa alheia, longe de mim tal
coisa, mas envolve meu nome. Não sou louca, ouvi muito bem meu nome.
Paro perto da porta e vejo-o pela pequena fresta, está sentado atrás
da mesa, o celular está na sua frente, no viva-voz.
— Está defendendo-a? Essa menina simplesmente não responde
minhas mensagens e nem atende minhas ligações. Porra, ela vai foder todo
meu cronograma! E ainda queria tirar uma das informações sobre o Tyron!
Quem ela pensa que é? Ela está me cobrindo, tem que fazer o que foi
combinado!
Entreabro os lábios. Que filho da puta!
— Não estou defendendo ninguém, Francis! Só que você está
exagerando. Se está com problemas, fale com sua chefe. E sobre o Tyron,
eu mandei retirar. Se isso for ao ar, irei notificar o jornal, e não estou
brincando. Tem limites com meu time! Fui claro?
Hmm... então o titio é rígido com o sobrinho? Surpreendente.
E ele tem razão, os burburinhos do Ty não estar em Nova York já
circulam, porque sabem que está tendo alguns treinos.
— Como é? Olha, ok! Se ver essa menina, mande ela fazer o
trabalho direito e me responder. Não adianta falar com a Jennifer, porque
ela adora proteger as merdas da Vicky e da Kristal!
Bebo meu café e na cara de pau abro totalmente a porta do
escritório. Malcolm ergue o olhar das papeladas à sua frente e levanta sua
sobrancelha. Me aproximo da cadeira na frente da mesa e me sento, pronta
para o desfecho desse papo. Afinal, envolve a mim, e aparentemente, meu
jeito de trabalhar.
— E o que mais a Jennifer protege, Francis Bell? Estou ansiosa para
saber — falo, apoiando meu copo sobre a mesa junto do meu celular e iPad.
— Mas... Que porra está fazendo com o celular do meu tio?!
Seu tio faz pouco caso, está mais preocupado com os papéis que
começa assinar.
— Bom, como sou o assunto, achei que seria conveniente eu estar
presente. Conte mais sobre o que pensa sobre mim e sua chefe, vou adorar
saber!
— Olhe as porras das mensagens que te mandei e me ligue!
O idiota desliga. Pego meu café e bebo um pouco.
— Que pena, estava começando a me animar. Vai sonhando que vou
ligar! — Olho para o treinador.
— Entrou sem bater, se intrometeu em uma conversa, agora segue
me olhando. O que quer, Foster?
— A simpatia dos dois é comovente. E eu estava passando pelo
corredor quando ouvi a conversa sobre mim, nada mais justo que participar.
E não quero nada... Mas já que estou aqui, não quer resumir o que vai rolar
e acrescento uma pequena nota só na matéria, daí posso voltar para o hotel e
descansar, porque tenho gravações a tarde, preciso estar bem descansada!
— Recosto na cadeira dura. O homem está com uma postura impecável
sentado e eu largada na cadeira com uma postura digna de dó.
Malcolm estende um papel sem me olhar e pego. Ele continua
focado nas suas coisas, parece até que tem medo de ficar perto de mim.
Amei!
Confiro e é agenda do dia.
— Jura que precisou marcar isso cedo só para falar de estratégias?
Não terá mais um treino? Eu não acredito nisso! Por isso não chegaram na
final da última temporada, os jogadores estavam como zumbis pelo jeito!
Me fizeram vir à toa!
A caneta bate na mesa e acho que toquei na ferida do homem. Ergo
o olhar e ele está bem mais sério, me encarando como se em pensamento
arrancasse minha cabeça.
— Já pode sair, Foster. Está aí o que queria saber.
— Quem sou eu para entender de jogo, não é? Escapou. Foi sem
querer! Juro! — me defendo porque o homem realmente está puto, e não
estou a fim de ser a vítima de seus gritos. Já o vi puto com as pessoas,
dispenso.
Forço um sorriso e volto a olhar para o papel, enquanto me levanto.
— Obrigada! Aqui seu papelzinho. Se cuida! — Entrego o papel a
ele e pego minhas coisas saindo antes que ele soque um apito no meu
ouvido.
Controlo o riso saindo da sala. Que homem mais sentimental.
Primeiro se afetou porque o chamei de careta e agora porque fiz um
inocente comentário sobre a última temporada.
Será que o sobrinho tem pontos fracos assim? Se tiver, posso tirar o
juízo dele como faz comigo!
Que horror. Nunca fui assim. Culpa da Kristal, que me ensina tudo
errado.
Caminho cantarolando Baby, mais animada por irritar quem me
irritou.
Sawyer é o terceiro motivo de ódio do meu dia, e chego à conclusão
que meu estresse são os homens, se eles não existissem, eu teria paz. Estava
feliz indo embora, daria um jeito de enrolar sobre as informações de hoje.
Mas ele simplesmente surgiu com a equipe aqui e quer imagens,
impedindo-me de ir embora.
Na reunião fechada não podemos entrar, mas eles estão coletando
imagens do local, e tenho que ficar, até porque, preciso ter noção de tudo
para saber como acrescentar na matéria e poder gravar tudo.
— Sai da frente, Vicky — Sawyer diz.
Olho para o infeliz com idade para ser meu pai. Ele abusa porque
sabe que se eu xingar, vai jogar isso na minha cara.
— Me erra, cara! Vão logo com essas filmagens. E outra coisa, não
tenho criatividade para tanto roteiro em cima disso não! Vai me ajudar,
bonitão! — aviso e ele ajeita os óculos no rosto.
— E quando você faz seu trabalho sozinha?
— Por que mesmo a Jennifer nos deixa trabalhando juntos ainda? —
Passo por ele dando um murrinho em seu braço e o babaca ri.
— Porque depois da loira, sou o único que ainda te atura! Preciso de
aumento para continuar te aturando!
Faço uma careta e confiro o que me mostram das filmagens,
perguntando se consigo jogar um bom áudio por cima. Confirmo, não que
eu ache que farei uma ótima matéria, afinal, nada aqui está do meu jeito, é
tudo com base nas ideias centrais do Francis.
— Filmem o vestiário, será bom em algumas partes do texto falando
sobre as expectativas do primeiro jogo dos Red, mostrar os uniformes,
acessórios... — Peço para eles.
— E não é que o meu carma usa o cérebro? Anda prestando atenção
no que ensino, Foster? Estou surpreso!
— Sawyer, vai para o inferno — respondo irritada e os demais da
equipe riem, ele não é diferente, claro.
Definitivamente, só ando com gente pior que eu.
Caminhamos para o vestiário e paro na porta berrando.
— ESPERO QUE ESTEJAM VESTIDOS E ISSO ESTEJA
LIMPO. O HORÁRIO NÃO VAI PERMITIR CENAS EXPLÍCITAS! —
falo e abro a porta de uma vez. — Perfeito, está vazio. Filmem, eu vou
pegar minhas coisas, porque depois daqui podemos ir. Preciso descansar ou
não vou conseguir gravar depois.
Eles concordam e vou atrás da minha bolsa que deixei na sala de
descanso, depois que saí da sala do Malcolm e soube que a equipe estava
aqui.
Entro na sala que é perto do vestiário e para meu enorme azar, dou
de cara com os grandões da Golden. Esses dois não tem trabalho, não?
Zachary e Jayden, presidente e vice, juntos, para o meu azar.
Eles me olham e tento me comportar.
— Vicky Foster. Então a senhorita estará com os Red Fire nas
próximas semanas... Isso é bom! — Zachary diz e só assinto.
— Só espero que dessa vez não tenhamos problemas amorosos. A
senhorita já deve saber das regras. Porque sinceramente, desde que fizemos
esse acordo com o jornal onde trabalha, é sempre uma dor de cabeça —
Jayden fala sem qualquer delicadeza, não que ele já tivesse tido algum dia.
— Bom dia aos senhores também! E não precisam se preocupar,
estou aqui unicamente para cobrir meu colega de trabalho e fazer o meu
trabalho. — Sou seca na resposta.
— É o que esperamos! A senhorita nunca nos trouxe problemas,
espero que continue — Zachary diz.
Bem que a Jennifer e a Kris disseram que na verdade não teve
grandes mudanças. Zachary só lambe a Kristal agora porque está com
medo. Viu que ela tem se destacado muito e o que jogou na cara dele está se
cumprindo, ele pode ser trocado antes de notar isso. Só que comigo eles não
têm medo, nunca tivemos contato frequente, só poucos encontros, e vão
tentar me intimidar como fizeram com ela no início, só se esqueceram que
ninguém é igual, e eu perco o emprego, mas coloco eles em seus devidos
lugares rapidinho. Amam se engrandecer para cima das mulheres ou de
quem consideram mais fraco. Babacas!
Não me admira Jayden trocar de esposa sem parar, e o Zachary ter
tido dois casamentos fracassados e não ter filhos, mesmo dizendo por aí que
gostaria de ter tido. Por falar nisso, a ex-esposa do Zachary chutou o rabo
dele dias depois do evento que fui, só se falava disso nas notícias, nem ela
aguentou esse insuportável. Isso já estava previsto, ela não aparecia mais
com ele, o homem nunca mais citou a mulher em nada e ninguém mais
falava deles, até o divórcio vazar na imprensa e o escândalo vir como
bomba nos tabloides e imprensa geral.
É... Kristal jogou uma praga bem forte em cima do homem, porque
ele só tem se ferrado, mesmo tentando se fazer de grandão.
— Digo o mesmo aos senhores — respondo sorridente.
— Não sei se entendi, senhorita Foster — Jayden revida.
— Como não? — Me aproximo do sofá, pegando minhas coisas. —
Nunca tive problemas com a Golden também, espero continuar não tendo.
O que o senhor não entendeu? Ninguém quer problemas, não é mesmo?
Eles assentem desconfiados.
Criei teorias na cabeça deles, certeza.
— Temos uma reunião com o treinador. Passar bem, senhorita —
Zachary diz e ambos saem sem esperar uma resposta.
Dois idiotas, é isso que são. Se meus pais fecharem acordo com eles,
vão precisar de muita paciência e bons advogados.
Me assusto com a entrada repentina do meu outro problema:
Malcolm bell.
— Ah, não! Eu não vou aguentar lidar com...
— O que eles queriam? — Me corta, fechando a porta atrás de si.
— Estava vigiando? — Cruzo os braços rindo. — Saber sobre nós!
— O homem engole em seco, é nítido. — Calma, estou brincando! Vieram
com as ameaças veladas deles, mas que sempre ficam muito claras para
mim. Ah, e estão atrás de você para uma reunião. Agora se puder sair da
frente da porta, serei grata.
Me aproximo e ele me olha desconfiado.
— Era só isso mesmo? — concordo. — Espere um pouco para sair!
Eles estão na sala ao lado falando com o gerente do time!
Franzo o cenho e começo a rir, mas ele tampa minha boca e isso só
me faz rir mais ainda, porque entendo bem o que está havendo. Acerto sua
mão e a ele retira da minha boca. Recupero um pouco do fôlego.
— Está se escondendo deles? Eu não acredito nisso. O homem que
todos temem, está fugindo dos outros grandões da Golden. Até que enfim
esse dia começou a me render lucros!
— Fica quieta, essas salas têm paredes finas — fala irritado. Prendo
o riso e assinto. — Eles não podem saber de nada, isso é sério, Foster!
— Eu não vou falar nada, homem. Pode dormir em paz. — Sorrio.
— Não acredito... Desse tamanho e com medo daqueles dois bananas!
— Está falando o quê? Está fugindo do meu sobrinho! E não estou
fugindo deles, só não estou com paciência para lidar com as ladainhas dos
dois hoje!
— É, temos um bom ponto... — Meu celular começa a tocar. —
Olha aí, pra quê foi falar do demônio? Está me ligando de novo. Tenho
certeza que é ele!
Pego o celular na bolsa e confiro só para ter certeza, e não erro.
Mostro a ele.
— Seus problemas com ele não me interessam... — Ele abre a porta
e olha, mas fecha correndo de novo. — Porra! — sussurra.
Recuso mais uma vez a chamada. Mais tarde falo com esse doido.
Apenas envio uma mensagem dizendo que estou ocupada.
— Pois deveria se interessar, porque se não fosse os privilégios que
cede ao Francis, eu não teria que lidar com ele — digo enquanto guardo
meu celular. — Pode ser que não tenha conseguido tudo por privilégios,
mas sabe que ele ser assim é por achar que pode ser um escroto, ou seja, é
porque sente que tem poder sobre as pessoas, e com isso concluímos que
ele tem privilégios para pensar tal coisa! E mais uma vez eu estou...
Não termino de falar, escuto as vozes dos dois do lado de fora
perguntando ao gerente do time se viram o treinador, que estão a manhã
toda querendo falar com ele. Escuto a voz do Sawyer questionando por mim
também. Pego meu celular correndo na bolsa e silencio ele antes que tente
me ligar.
— Eu tenho que sair — sussurro. — Vai ser pior se nos pegarem
juntos aqui e sozinhos! — Me aproximo dele e da porta, mas me impede,
negando.
— Espera... — Forçam abrir a porta. — Merda — sussurra
entredentes.
— Está devendo para os dois, porque não é... — Ele me puxa de
costas para si e com uma mão só, tampa minha boca.
Reviro os olhos. Eu sou o quê? Uma boneca de pano?!
Cruzo os braços.
Prefiro quando tampam minha boca e me fodem junto.
Os dois fofoqueiros falam que me viram aqui. Acho que é Sawyer
que tenta abrir a porta, mas não consegue. O treinador é bem forte, pelo
jeito, porque segura ela com uma mão só.
O gerente do time diz que devem ter fechado para limpeza e assim
ninguém entrar. Zachary e Jayden não gostam nada de não encontrarem o
treinador e Sawyer diz que já devo ter ido para fugir dele. Me conhece tão
bem esse velho rabugento, que fofo.
As vozes começam a distanciar. Acerto sua mão de novo, mas ao
invés de me soltar, ele inclina o rosto na lateral do meu, os lábios bem no
meu ouvido.
Aí é um golpe muito baixo.
— Se eu me foder, te levo junto. É melhor evitar que o que
aconteceu vaze, ou não vai gostar das consequências! O que aconteceu
naquela maldita noite foi um erro e nunca mais irá repetir. Então ninguém
tem o porquê saber. Esses dois querem foder alguém esse ano e não vão
medir esforços para fazer isso com os primeiros que os incomodarem.
Então coopere com o silêncio, Foster!
Credo, que voz deliciosa. Pra quê falar assim no ouvido? O que
mesmo tenho que fazer?
Só assinto, não que eu tenha prestado atenção em tudo, afinal, uma
voz grossa e rouca no meu ouvido, e um corpo desse me pressionando
assim, não é como se me fizesse concentrar nas palavras. Estou até
arrepiada.
Ele tira a mão da minha boca e me viro para ele sorrindo.
— Que bela pegada, treinador Bell — provoco um pouquinho. É
mais forte que eu.
— Não estou brincando. Eu não sou os jogadores! Na minha mente
você não vai entrar. E não irei cair mais nos seus joguinhos!
— Que joguinhos? Não tenho culpa que minhas verdades te deixam
fragilizado ao ponto de cair em tentação. Mas vou dar sossego ao seu
coração. — Dou tapinhas em seu peito. — Posso sair agora? Preciso
descansar minha beleza.
— Some!
Bato continência e sorrio.
— A parte que você é um foragido do dois bananas, devo guardar
segredo também? Seria uma ótima pauta de risos entre minha amiga e
prima. — Eu sei, às vezes sou pior que criança, não me importo, é meu jeito
e dane-se o que pensam.
— Faça isso e vai pedir para nunca ter entrado na Golden! Some
logo daqui.
— Olha, prefiro quando é bruto de outro jeito. É mais divertido.
Precisa relaxar, treinador! Muito estresse vai te matar! — Ele abre a porta
parecendo que vai me atingir com algo a qualquer instante.
Sorrio saindo da sala e dando uma piscadinha para ele.
Coitado, essa nova norma da Golden vai torrar o juízo do homem.
Ele realmente quer continuar passando a imagem de ser perfeito, não é
possível. Nem tinha a regra quando aconteceu, se vazar, o que poderiam
fazer? Eu, hein!
Sinto o rastro do seu cheiro sobre mim conforme ando e sorrio
maliciosamente.
Se controla, Vicky. Pare de tornar ele uma presa.
Uma deliciosa presa, devo dizer!
Quem diria que o treinador fora da pose de careta é gostoso e fode
bem? Não sou hipócrita e nem sonsa, só quando quero.
Eu preciso de sexo, um bom sexo, isso vai me manter longe de
problemas.
A imprensa começa tomar a frente do hotel onde estamos
hospedados, agora que todos os jogadores resolveram ficar juntos aqui para
assistir a abertura dos jogos amanhã. A paz de ir e vir a qualquer instante
começa a diminuir, pois quando a World Golden Jump abre, as coisas
começam a perder o controle em muitos aspectos. Essa é a parte que nunca
gostei, porque a atenção a tudo que fazemos triplica.
Estou no hotel tomando café na área totalmente reservada para todos
da Golden. Jimmy está aqui, acompanhado do Elliot e Ashton. Ainda bem
que não precisamos lidar com Zachary e Jayden, pois ambos foram para
Los Angeles participar da abertura. Esses dias aturando-os rodeando como
ratos atrás de arrumar confusão, tem sido sufocante.
Meu celular chega diversas mensagens dos meus pais com fotos de
seus dias no Brasil e sorrio. Parecem duas crianças.
Olho para os outros três ao redor da mesa que conversam algo sobre
mulheres. A verdade é que não presto muito atenção, parei quando tive que
ouvir sobre uma noite quente que o Jimmy disse ter, o café entalou na hora.
— E você? — Elliot me cutuca e olho para ele enquanto me ajeito
na cadeira.
— Eu o quê?
— Não ouviu nada do que falamos, não foi? Perguntamos se você
pretende desencalhar ainda esse ano. Temos os meses finais, mas mesmo
com a temporada pode acontecer algo — Jimmy fala.
Só pode ser brincadeira. Meus pais falaram com eles?
— Não sei se terei tempo para pensar nisso agora. Tenho um monte
de marmanjo para ficar em cima! — Afasto o prato que comia as frutas e
recosto na cadeira.
— Eu nunca te entendo! Fala que tem o desejo de casar-se, ter
filhos, mas foge de mulher igual o diabo foge da cruz. É gay, por isso foge
das mulheres? — Ashton diz e os outros dois esperam atentos a resposta. —
Nada contra se for, cara. Seja feliz! Mas é o que justificaria você fugir delas
e ao mesmo tempo dizer que quer ter uma família. Talvez seja homossexual.
É isso?
— Não sou gay, Ashton! Por que estão na mesma mesa que eu? Tem
outras dez vazias! — Ergo a sobrancelha e eles riem. — Eu só não tenho
tempo de pensar em relacionamento agora. Preciso de tempo, só isso.
Deveriam tomar conta da vida de vocês e deixar a minha em paz.
— Deveria nos agradecer por te aturarmos. É insuportável — Jimmy
retruca. Esse velho é irritante, puta merda!
— Eu deveria chutar o rabo dos três — falo, mas minha atenção se
perde um pouco quando vejo Vicky Foster entrar no espaço com um dos
caras da equipe da Sport Universe. Ela ri de algo que ele fala. — Merda! —
O que deveria ser um sussurro falha. Parece que quanto mais quero ficar
longe, mais essa garota aparece.
Os três olham, afinal, nem disfarcei.
— É, todos temem essa menina! Dizem que é uma jornalista que
adora deixar os outros sem respostas, mas é foda no que faz, sabe?
Positivamente — Elliot comenta.
— Não mentiram. Já fui entrevistado por ela. Ela tem uma linha de
raciocínio rápido demais. Tem que tomar muito cuidado com o que falar,
pois pode virar contra si mesmo. É doida, mas gente boa — Ashton
comenta e sorri.
— Eu gosto dela! Os doidos são os melhores. A amiga dela, a
Kristal Reed, é bem legal também. A Sport foi muito boa em ceder grandes
espaços a elas, pois sabemos que as coisas são complicadas ainda — Jimmy
diz.
— Não foi a amiga dela que teve problemas com o Zachary, e o
homem agora lambe o chão que ela passa? Ele foi bem idiota também,
sejamos sinceros, mexer com uma jornalista da Sport, namorada do Sparks
e irmã do Reed, além de ser filha dos Reed. O pai dela é dono de vários
hotéis espalhados pelo país e agora no exterior, e a mãe dona de clínicas de
SPA ou algo assim, é ligado a beleza. Só peixes grandes... Ele mexeu em
um enorme vespeiro — Ashton comenta e os outros concordam.
— Ele deveria respeitar ela só por respeitar, sem temer nada! —
Eles me olham agora, minhas palavras chamam a atenção. — Com quem
ela namora, é irmã ou filha, não deveria importar. A garota merecia respeito
e a Golden errou feio com ela, o Zachary, Jayden, o ex-jogador dos Tigers;
Richard, o tal do repórter espião querendo foder a vida do Tyron, todos
erraram feio, isso inclui a nós, que fechamos os olhos para muita merda
aqui dentro. O machismo desse lado é nojento. Elas não deveriam precisar
de grandes nomes para serem respeitadas.
— É, tem razão... Mexa com uma mulher da minha família para ver
se não mato um — Ashton diz e assinto.
— Viu? Isso deveria funcionar com pessoas que não são da sua
família também — falo e ele concorda. — Sei que vocês jamais permitiriam
algo assim com qualquer mulher, mas quantas vezes o medo de nos foder
aqui nos cala? — Olho para a Vicky, que segue para sua mesa com um
prato cheio de besteiras, não tem uma fruta, algo sem esse tanto de açúcar.
Ela quer se matar? Esse tanto de açúcar logo cedo, só pode ser
isso!
— E olha que você e o Jimmy são grandões aqui. Imagine nós?
Quando se envolve muito dinheiro e pessoas muito poderosas a gente acaba
se calando. É... Somos tão merda quanto e talvez esteja na hora disso mudar
logo por aqui — Ashton diz revoltado. Olho para ele por um instante e
assinto.
— Façam como eu, fale e foda-se. Parei há muito tempo de me calar
nessa merda. Amo isso aqui, mas se quiserem, que me demitam! Foda-se —
Jimmy fala estufando o peito e a barriga junto, pois acerta a mesa e os
outros dois riem. É outro que ama comidas, principalmente os doces,
mesmo não podendo mais devido problemas de saúde, mas ele escuta?
Nunca.
— Estou com o velho! Ultimamente, se eu puder mandar se foder,
estou mandando! Nos últimos dois anos, as coisas têm piorado. Melhora de
um lado e destroem do outro. Mas algo me diz que esse ano é melhor as
ratazanas tomarem cuidado! — Ashton sorri.
— Por quê? — Jimmy questiona.
— Não ficaram sabendo dos cortes que a Vicky deu nos dois esses
dias? Estava passando pelo corredor da sala de descanso no centro de
treinamentos, junto dos caras, e ouvimos ela os respondendo à altura que
mereciam. Vieram com aqueles ameaças disfarçadas deles, logo com a
doida! — Ele solta um risinho. — Ela foi bem curta e grossa na resposta e
os dois pelo jeito não gostaram muito, saíram com cara de poucos amigos.
Se ela for a escolhida da vez para eles infernizarem, até começo a sentir
pena... deles, claro.
Eles riem e eu franzo o cenho. Foi no dia que me escondi...
Que merda essa menina está aprontando? Ela não faz ideia com
quem está mexendo. Eles podem ferrar a vida dela em segundos... E eu nem
deveria estar pensando nisso.
E, sério, cadê uma fruta naquele prato? Olha como ela come todo
aquele açúcar. Pelo amor de Deus, alguém tira esse prato dela?!
— Bom, preciso ir, prometi para minha irmã que ficaria com minha
sobrinha hoje. Tio Ashton vai entrar em cena! — Ele se levanta.
— Coitada da criança — revido e ele me mostra o dedo. — Estou
mentindo? Não controla um bando de homem de quase dois metros.
Imagine uma criança indefesa!
— Sua irmã realmente confia em você? Ela usa drogas? — Elliot
diz e sorrio de lado. — Vão à merda, seus idiotas! — Se afasta.
— Ele nos chamou de idiota? — Jimmy questiona.
— Perdeu o medo de morrer. Preciso lembrá-lo sobre esse medo —
comento.
— Eu também vou nessa. Vou organizar as coisas que pediu —
Elliot fala comigo e concordo.
É um bom garoto. Começou a trabalhar comigo tem pouco tempo.
Mas meus jogadores já estão estragando-o, está ficando muito saidinho.
Acenamos para ele que sai da mesa.
Olho de relance para a garota de batom vermelho e delineado preto,
ela come enquanto conversa com o homem, parecem bem íntimos.
E isso não é da sua conta. Foco, Malcolm!
— Zion vai jogar? — Jimmy me questiona, voltando minha atenção
à nossa mesa.
— Vou descobrir em breve. Mas ele parece melhor, acredito que vá
jogar. Não vou ficar questionando, para não o pressionar.
— Você é um bom treinador. É como pai desses caras. Eles confiam
muito em você. Só é uma pena você nunca ter continuado jogando. Teria
sido um bom jogador também, Bell.
— Isso já foi. Eu amo o que faço — respondo sério e ele sorri.
— Claro que ama, é nítido. Mas não impede de pensar no que não
aconteceu. Eu já joguei, sabe disso, vivi a experiência, cheguei até o final
dela... Essa fase já passou para você, e é por isso que se tornou um grande
treinador, porque coloca nesses garotos o que saiu rápido demais da sua
vida. Isso aqui não é só sobre amor, é sobre sonhos. Te admiro ainda mais
por isso, porque nunca deixou a perda te afetar, pelo contrário, inspira
outros a continuar. — Dá tapinhas no meu ombro e se levanta. — Nos
vemos por aí. Tenho duas reuniões agora.
Concordo e ele se afasta e acena para a Vicky que retribui.
Todos sabem o que eu deveria ter sido, mas todos também sabem
que desisti por tudo que aconteceu com meu irmão. Minha história está em
qualquer lugar, basta pesquisar. Hoje provavelmente eu já estaria
aposentado, era meu plano. Me aposentaria antes dos quarenta, casaria, teria
filhos e talvez ensinasse outros a chegar no topo.
Só que a vida me fez pular para a parte que eu ensinava, e hoje, são
anos vivendo como treinador. Amo isso, mas Jimmy tem razão, isso aqui é
sobre sonhos, só que talvez o que eu sonhava não era para mim e já aceitei
isso.
Tive três reuniões hoje e não aguento mais lidar com qualquer
humano, mas terei que lidar com muitos amanhã, pois tenho que estar na
abertura da temporada em um bate e volta rápido para Los Angeles.
Infelizmente, nem sempre faço o quero.
Drake, o dono do time, pediu, tudo questão de marketing, e claro
que ao invés de só mandar alguns jogadores, ele me coloca em suas
loucuras. Tyron já está lá, mas não será suficiente, já que todos sabem o
motivo: ele está lá pelo Oliver Reed.
Terei que buscar a paciência que ficou perdida no útero da minha
mãe.
Me aproximo do espaço de lazer do hotel onde finalmente poderei
sumir do contato humano, pois está reservado a Golden, e duvido que tenha
alguém aqui, já que todos estão na correria, pois tudo começa amanhã.
Cumprimento alguns funcionários no corredor e me aproximo da
entrada, o espaço é um jardim com um chafariz pequeno no centro, alguns
bancos e mesas espalhadas a céu aberto.
— Só pode ser brincadeira — sussurro ao ver a figura deitada em
um dos bancos, parecendo uma doida.
Vicky Foster está com o celular em mãos e conversa com alguém
por videochamada. Eu deveria sumir daqui, mas fico observando.
Essa doida sabe que se ficar por muito tempo nessa posição, de
ponta cabeça, vai ter um aumento de pressão e se ela levantar de uma vez,
pode acabar tendo uma forte tontura e caindo de cara no chão? Essa menina
deve se odiar muito, só pode.
— Queria que estivesse com a gente. Pensei que veríamos a
abertura juntas. Hoje estive com a Cherry em Stanford, os Tigers jogaram
com o time universitário de novo, para avaliarem quem pode ter um futuro
na Golden. Olha, isso de cada uma estar em um canto está sendo um saco!
É a voz da Kristal Reed.
— Nem me fale, tem horas que odeio nossos empregos. Mas pensa
pelo lado positivo, vai ter a Cherry e o Tyron aí. Em algum dos jogos
iremos estar juntas.
— Mas não será a abertura da temporada! Eu vou falar com a
Jennifer, ela tem que te liberar, que merda! Estava tudo certo de vermos a
abertura juntas, que inferno!
— Nem se ela liberasse tem como mais. Não tem voos para amanhã
cedo mais, e hoje tenho que cobrir uma coletiva em algum horário que nem
sei mais. Sério, estou odiando isso e não tem nem uma semana! É horrível
trabalhar e não poder ser você mesma. Tenho que ficar seguindo
literalmente tudo que o Francis queria. Isso nunca foi o combinado, mas
pelo jeito foi algum acordo entre ele a Jennifer, e para evitar confusão, ela
deve ter cedido. — Ela bufa desanimada. — Sei lá, só acho que irei me
arrepender muito em ter vindo dessa vez, às vezes acho que eu nem deveria
estar aqui, sabe, o convite demorado, e ainda para cobrir o Francis primeiro
e só então seguir meu caminho. Agora isso de honrar a agenda dele, e ela
nem me falou muito sobre isso, mal teve explicações precisas... Tem algo
estranho, Kris!
— Pode parar. Esse garoto está sugando sua energia. Vicky Foster
nunca fica para baixo e desanimada assim. Que merda! Vai dar tudo certo.
Está onde deveria estar. Olha, tenho que ir, nos vemos em algum jogo. E
seu delineado está torto!
— Kristal! — Vicky chama sua atenção e ela ri. Acabo sorrindo do
papo delas. Não me lembro de ter tido amizades assim.
— Estou de TPM, gata, posso tudo! Você não usa o filtro entre o
cérebro e a boca todo dia, apenas fico assim de TPM... Tenho que desligar,
prometi sair para comer com minha mãe. Segundo ela, está sendo
abandonada por suas meninas. Acredita que ela adotou você e a Cherry?
Eu deveria ser a única amada aqui, que fique claro!
Vicky gargalha. A maluca tem um riso bonito. Escandaloso, mas
bonito.
— Ela ama que eu roube comida da casa de vocês. Sei, sou a alegria
da família Reed. Eu deveria cobrar por ser a animação que falta na vida de
vocês!
Sua amiga ri e a xinga. Elas se despedem em seguida.
Respiro fundo pronto para sair, mas algo me impede e culpo meus
pais por isso, por terem me educado bem demais ao ponto de eu ceder às
pressões internas que surgem para ser bonzinho. Eu poderia só ser um
escroto que liga o foda-se para tudo.
Entro no espaço começando a me arrepender assim que os olhos
dela pousam em mim.
Vai, Malcolm, é só sair! Sai, idiota!
Seu rosto está vermelho por ela estar de ponta cabeça.
— Juro que não fiz nada! Olha, se aquele seu sobrinho falou algo
sobre eu ter xingado toda geração de Bell, ele pode estar mentindo! — Se
explica e ergo uma das sobrancelhas. — Certo, talvez, mas só talvez
mesmo, eu possa ter xingado toda geração Bell, mas ele tira o pior de mim.
Só pode ser brincadeira.
— Senta direito — reclamo e ela me olha com ironia. — Estou
falando sério, Foster! Seu rosto já está vermelho.
Ela revira os olhos e tenta se sentar, mas é óbvio que teria tontura,
porque fez isso muito rápido.
— Ai... — Ela leva uma mão a testa. — Foi praga sua!
— Claro... Foi praga minha e não você estar de ponta cabeça! Era
para ter sentado devagar!
Ela me olha feio.
— Explicasse essa parte antes, idiota!
Respiro fundo.
E ela me chamou de idiota? Essa... Puta que pariu, eu preciso de
paz!
— Era só o óbvio... Quer saber? Esquece! Não vim falar disso. Pode
prestar atenção?
Ela pisca algumas vezes e me encara meio vesga, ainda está tonta a
maluca.
— O que quer então?
— Precisa acordar muito cedo amanhã. Às quatro da manhã.
— Como? Acho que não ouvi direito! Às quatro? Tipo, quatro horas
da manhã mesmo? — questiona assustada e assinto. — Você me odeia?
Treinador, isso tudo é porque te chamei de careta e pelo o que aconteceu?
Porque se for, supera! Não aguento mais esse castigo.
Olho para os lados e solto o ar com força.
— Só faça o que estou falando. E se eu fosse você, faria, ou vai se
arrepender depois e não adianta infernizar meu ouvido em seguida.
Me afasto com ela resmungando.
— AI QUE ÓDIO QUANDO VOCÊ FAZ ISSO! EU ESTOU
FALANDO... VOLTA AQUI... MERDA, ESTOU MUITO TONTA!
Controlo o riso até sair completamente do lugar.
Olho a hora em meu pulso e são exatamente 3h59 da madrugada.
Estou parado ao lado do elevador, braços cruzados, olhando para a porta
dela. Se em um minuto ela não aparecer, não vou esperar um segundo a
mais. Ela sabia do horário.
Aperto o botão do elevador no instante que a porta do quarto se
abre. Ela está de cabelos soltos, boné preto, lábios tingidos de vermelho e
seu fiel delineado. Veste uma roupa toda preta e tênis branco nos pés. A
pequena bolsa está à sua lateral.
A cara? De sono e poucos amigos.
— Se eu tinha que ser humilhada pelo horário de novo, ao menos
precisava me produzir, ou espantaria as pessoas. Não que me preocupe
muito! — Ajeita os anéis em seus dedos.
As portas do elevador se abrem e espero-a entrar e faz isso
resmungando. Parece criança mimada.
Entro logo atrás e ela fica me encarando.
— Como seus jogadores te aguentam? Por isso o Tyron é mal-
humorado, não é? Isso é hora de acordar as pessoas? Isso aqui deveria
resultar em cadeia!
— Se puder ficar quieta, isso será mais fácil — aviso e ela bufa
irritada.
— Agora tenho que ser muda também, era só o que me faltava!
Devo ter pulado essa parte do contrato que assinei, só pode!
Saímos do elevador com ela ainda resmungando. Sério, vou esganar
essa menina!
Caminhamos para fora do hotel e ela se vira para ir sentido ao centro
de treinamentos.
— Aonde vai, Foster? — Chamo sua atenção e ela se vira para mim.
— Pro inferno — responde e encaro-a bem sério. — Qual lugar eu
iria? Só tem um lugar que passo mais tempo do que gostaria!
Um carro preto para a nossa frente. No momento certo, porque se
demorasse mais, realmente a esganaria. Aceno para o Ronald que sorri.
Abro a porta de trás.
— Entre!
Ela franze o cenho e se aproxima desconfiada.
— É assim que costuma dar fim nas pessoas que te incomodam?
— Se fosse, acha que eu responderia isso com um “sim”? Só entra
logo, garota!
— Saiba que se algo acontecer comigo, vai se arrepender
amargamente! — Aponta um dedo na minha direção, com suas unhas
longas e pretas. A garota mal tem tamanho perto de mim, precisa ficar na
ponta dos pés para me ameaçar e quer que eu a leve a sério?
Ela entra no carro e continua resmungando, porque não sabe ficar
calada. Caralho, por que não trouxe uma fita adesiva? Essa doida me faz ter
pensamentos péssimos. Porra!
Entro no carro e fecho a porta. Ela coloca o cinto e faço o mesmo.
— Pode me falar para onde vamos? Vi a agenda do dia de vocês, só
tinha que iriam assistir ao jogo de abertura juntos e parece que era no hotel,
nem no centro de treinamentos era!
Ergo o dedo indicador até a minha boca.
— Shh... — Pego meu celular e confiro as mensagens e está tudo
certo. — Fique em silêncio, já falou demais.
Escuto o risinho do Ronald.
— Te odeio. Está mais do que claro, e esse moço que nem sei quem
é, será a testemunha disso: Vicky Foster odeia Malcolm Bell com todas as
forças dela. Gravou isso, moço? — pergunta e ele assente rindo. — Não ria,
isso é algo sério!
— Espero que tenha gravado mesmo, Ronald — aviso e ele assente.
— Quando chegarmos, lembre a senhorita Foster que ela me odeia.
Ronald é meu segurança e motorista particular. Trabalha comigo há
alguns anos, confio muito nele. Durante a temporada, que é o período que
realmente preciso, ele é meu motorista; já em eventos ou lugares mais
complicados, que exijam um cuidado maior, ele também é meu segurança.
Isso geralmente acontece com uma frequência maior nesses meses de
holofote em cima de todos nós.

O carro estaciona na pista ao lado do jatinho particular dos Red Fire.


— Pronto, senhor. Estão entregues!
Vicky solta o cinto e se inclina para ver.
— Por que estamos aqui? Esquece, não vai responder mesmo —
Desce do carro.
— Que Deus me ajude. Minha alma bondosa só me fode — falo e
solto o cinto.
Desço do carro com o Ronald rindo. A equipe que nos levará está
aguardando perto do avião.
— Boa viagem a Los Angeles, senhor. Estarei aguardando quando
retornarem! — Ronald avisa e Vicky nos olha.
— Espera... Vamos para L.A? É a abertura da Golden? — a maluca
questiona e assinto. — Mas não sabia que eu teria que cobrir... Não tem
nada na agenda da semana. E falei ontem à noite com a Jennifer e ela disse
que não teria como, porque não tinham voos mais e eu teria que ficar para
cumprir a agenda do Francis...
— Eu tenho que estar na abertura da temporada. O que acha que
trará maior visibilidade? A abertura da temporada ou falar que os jogadores
dos Red viram a abertura juntos?
Seus olhos brilham e ela bate palmas animada. Eu só não contava
com sua reação seguinte, ao se jogar em cima de mim e me abraçar. Sou
pego de surpresa, então não tenho qualquer atitude. Fico parado sentindo
seu corpo colar ao meu.
— Nunca conte a ninguém que te abracei. Pelo amor de Deus!
Minha reputação tem que ser mantida — diz ao se afastar — Nunca duvidei
da sua bondade! — Leva as mãos ao peito e semicerro o olhar.
— Lembra que mandei gravar bem o que ela disse, Ronald? Então,
agora é a parte que a leva embora, afinal, é um espaço pequeno para ficar
com quem odiamos.
— Não é louco! Ronald, você não ouviu nada. Pode ir. Vai, está com
uma aparência cansada. Provavelmente poucas horas de sono, te entendo.
Esse homem é o cão. Agora vai!
Vicky joga beijos para ele ao se afastar do carro e corre em direção
ao jatinho. A equipe a cumprimenta e ela acena animada enquanto entra
rapidamente, provavelmente com medo que eu cancele sua ida.
Vontade não falta.
— Que menina doidinha — ele comenta.
— Nem me fale... — Reviro os olhos e me afasto. — Até mais
tarde, Ronald!
Serão cinco horas aguentando essa maluca em um espaço
minúsculo. Olho para o céu e respiro muito fundo.
Me dê paciência.

Estamos no ar já, então não tenho mais como me livrar dela.


Foster retira o boné e ajeita o cabelo. Ela resolveu ficar bem na
minha cola e está sentada de frente para mim, mesmo com os outros lugares
disponíveis.
— Foi o destino que fez eu me arrumar melhor essa madrugada.
Mas agora desembucha... Como conseguiu que a Jennifer me mandasse ir
também? Preciso aprender para convencê-la melhor. — Sua expressão é de
garota arteira, e de algum jeito estranho, tenho vontade de sorrir, mas
controlo bem.
Nos avisam que podemos soltar os cintos agora e assim fazemos.
— Não falei com ela.
— Então se não foi isso... Espera, ontem... Você ouviu a conversa
com a Kristal, não foi?
Não respondo. Fico olhando pela janela, tentando ignorá-la.
— Pode deixar, não vou falar para ninguém que o treinador careta
tem um coração quentinho no meio do seu Polo Norte interno. Obrigada! —
Cutuca meu pé com o seu. — Vai, não seja careta, homem! Sorria.
— Você não sabe ficar quieta? — Olho-a de lado e ela nega rindo.
— Só quando estou irritada ou chateada, o que não é o caso. E
quando estou doente, costumo ficar quase morta. — Dá de ombros.
— Desculpem atrapalhar, gostariam de comer ou beber algo? — A
comissária de bordo nos oferece, Vicky concorda e aponta para os doces do
cardápio.
— Ela quer frutas e eu só um café sem açúcar!
— Eu quero frutas? Teu rabo! — Ergo a sobrancelha com sua
resposta repentina. — Desculpe. Foi automático. — Faz uma caretinha que
seria fofa se eu não soubesse bem o quanto é perigosa. — Preciso controlar
minha boca. Eu quero a torta de maçã, o donut de chocolate e suco de
laranja.
— Claro, com licença.
Balanço a cabeça.
— Você vai se matar caso continue a comer só açúcar. Fez isso
ontem também.
— Está me vigiando, treinador? — questiona com deboche e desvio
o olhar.
— Só fique muda pelas próximas horas, ok?
Ela ri baixinho e concorda.

Estamos em Los Angeles, na entrada da Crypto Arena. O jogo será


daqui três horas, mais cedo que o normal na Golden. Devido uma
tempestade tropical prevista para mais tarde, adiantaram o jogo para evitar
imprevistos.
— Assim que acabar o jogo, temos que ir. Entendeu? Tyron voltará
conosco — aviso e ela concorda.
— Entendido, treinador Bell — provoca e bate continência. — E o
que falarei caso a Jennifer queira minha cabeça? Me meteu nessa, vai me
ajudar!
— Mande-a falar comigo. Agora vamos entrar logo.
— Eu não trouxe minha credencial de imprensa. Você não avisou o
que faríamos — diz, mas já imaginava isso.
Pego a minha no bolso da jaqueta que estou usando, pois estava frio
mais cedo, passo-a na catraca de acesso e o segurança acena com a cabeça
em cumprimento.
— Pode liberá-la. Está comigo. — Mostro a credencial, afinal,
ninguém é obrigado a me reconhecer ou saber quem sou.
— Claro! Por aqui, senhorita — indica a outra catraca e a libera.
— Obrigada! — Ela agradece e se aproxima de mim em seguida. —
Nossa, como é bom ser fodão nisso aqui, né? Se eu estivesse sozinha, ele
teria chutado meu rabo e eu teria chutado as bolas dele — diz rindo. Olho
para ela e foco em seus olhos. Paro de andar e ela faz o mesmo. — O que?
— Me aproximo dela e inclino um pouco em sua direção. — Que foi? Tem
bicho? Tira! Tira!
Puxo com cuidado e ela reclama.
— Seu cílio estava caindo. — Entrego a ela. — Deveria ter mais
atenção no que faz.
— Claro que estava, alguém fez eu acordar de madrugada para me
arrumar. Então não foi falta de atenção, é só sono — resmunga. — Vou
caçar minhas meninas. Finalmente ficarei livre de você e seus jogadores! É
a paz que eu buscava.
Ela passa na minha frente e fico olhando-a. Ela arranca o outro cílio
e isso me faz sorrir.
Tão bonita e tão irritante.
Olho para o céu e peço paciência mais uma vez, pois precisarei de
muita.
Entramos na arena e no mesmo instante ela para e corre para se
esconder atrás de mim.
Mas o que...
— Pelo amor de Deus, não me diga que é seu sobrinho. Se eu tiver
que lidar pessoalmente com ele, serei presa — resmunga irritada. — Não
posso parar na cadeia de novo por culpa de mais um Bell!
Olho para frente e vejo exatamente o que era pra ser alucinação.
Esse filho da mãe deveria estar repousando em casa!
— Tem como parar de me usar de esconderijo? E a primeira vez, foi
porque acertou meu carro — falo com ela, que agarra minha jaqueta e
coloca o rosto a minha lateral, ficando na pontinha dos pés.
— Nem pensar. Eu livrei seu rabo de lidar com o Zachary e o
Jayden. É a sua vez agora! E pensei que já tivesse superado o carro,
homem!
— Quem trouxe o assunto foi você, senhorita Foster!
— Tem um ponto, Bellzinho! — Juro, nunca ouvi nada tão irônico
quanto esse maldito “Bellzinho”.
Eu devo estar pagando pecados. Isso é praga dos meus pais por
ainda não ter lhes dado uma nora e netos, tenho certeza.
Puxo-a para meu lado e ela resmunga, mas ajeita a bolsa e o boné.
Vejo seus cílios caírem no chão, pois estavam grudado em sua mão.
Meu Deus, em que estou me metendo?!
Francis se aproxima com uma cadeira de rodas, enquanto a maluca
ao meu lado xinga baixinho.
— Valeu por não ter ajudado. Na próxima, me joga do avião, será
melhor — sussurra.
— Vontade não faltou, que fique claro.
Ele para à nossa frente e olha com fúria para a Vicky. Vai começar o
tormento das duas crianças!
— O que essa menina está fazendo aqui? Ela deveria estar na porra
de Nova York! — Não esconde a raiva em seu tom.
— Primeiro, abaixe o tom, não tem ninguém gritando aqui.
Segundo, a única pessoa que não deveria estar aqui, é você. O que
aconteceu com o “tem que repousar”? — falo e ele me olha nervoso. — É
melhor se controlar, não será um bom dia a você, Francis!
— Eu vou nessa... — Vicky acena e se afasta rapidamente.
— Sério? Na frente dela? Porra, tio! Ela já não me leva a sério e o
senhor me tira a autoridade sobre ela? — retruca nervoso.
— Vamos, antes que eu chute essa cadeira e você vai voltar a andar
no desespero! Seus avós sabem que veio? Porque se não sabem, vão saber!
Cadê o seu fisioterapeuta? — Estou muito irritado e ele sabe disso, porque
não rebate.
— Não sabem. Vim com um colega de trabalho. Não estou
forçando. Só não aguentava mais ficar preso em casa. Quem deixou ela vir?
A Jennifer prometeu que ela honraria tudo que planejei nessas sete
semanas!
— Isso é um problema que não te diz respeito. Não faço ideia de
que merda de acordo foi esse, mas Francis, ela trabalha para a Sport e não
para você. Se controle. Se me arrumar dor de cabeça hoje, as coisas vão
complicar para você, e não estou brincando. Era para se cuidar, cacete!
Ele só me ignora e se afasta.
Tem horas que tenho vontade de arrebentar esse garoto!
Ligo para os meus pais, mesmo sem querer, mas eles vão precisar
ficar mais de olho no Francis, não tem jeito! Esse moleque vai aprontar e os
funcionários vão fazer o que ele quiser.
Não tenho como vigiar vinte e quatro horas os passos dele, e estou
de saco cheio dessa guerrinha ridícula desde que ele entrou na Sport ano
passado. Não aguento mais lidar com essa raiva que cresceu ainda mais
nele. Infelizmente não terá como evitar, meus pais precisarão me ajudar e
com isso interromper seus planos, porque será complicado lidar com ele
aprontando assim, como se fosse criança.
Encontro com as meninas sentadas na primeira fileira, como sempre.
O jogo de hoje é os Tigers enfrentando os United Foxes, que foi o
time que mais pontuou ano passado, então não precisou do sorteio que
costuma ter. Eles foram para final ano passado, realmente pontuaram muito
também. Os times que inicia a temporada da Golden, junto do vencedor do
ano anterior, nem sempre são parte do sorteio, às vezes acontece de algum
time ter tantos pontos à frente, que acaba sendo o escolhido. Foi exatamente
o que aconteceu aqui.
— Ai, meu Deus! O que está fazendo aqui? — Kristal é a primeira a
me ver e surtar. Cherry também olha na minha direção e sorri bem animada.
— Surpresa! — Ela pula em meus braços e sorrio, ainda mais feliz
do que já estava por estar aqui com elas.
Cherry levanta e se junta a Kristal, me abraçando também. Um
abraço coletivo é iniciado e me sinto mais leve com elas, longe de loucura
que fui colocada por causa da distância repentina, do Francis e de suas
funções. Porra, minhas energias estão sendo sugadas.
— Nossa, que paz estar aqui — falo ao nos afastar. Até sinto meus
ombros relaxarem.
— Pensei que não iria vir. Não me diga que fugiu — Cherry diz
preocupada e sorrio.
Nos sentamos e ajeito a bolsa sobre meus pés, então nego para
acalmar a minha prima.
— Claro que não, e olha que vontade não me faltou. Peguei carona
com o treinador. Não teria nada para cobrir lá e aqui tem mais coisas.
Enfim, o importante é que estou aqui. — Olho ao redor e vejo Tyron
conversar com o Oliver do outro lado.
Francis está me enlouquecendo tanto, que até dessas duas girafas
sinto falta. E tem menos de uma semana que comecei a trabalhar na Golden.
— O importante é que está aqui. Eu precisava das minhas meninas
para não pirar. TPM, e para piorar tudo, tenho que entregar uma matéria
completamente complicada ainda hoje, até à noite. Tenho que falar de todos
os detalhes do jogo final e compará-lo com esse. Eu realmente começo a
duvidar da minha capacidade nesse momento — Kris fala. Está manhosa e
isso me faz rir.
— Pode parar com isso! Ergue essa cabeça, gata. Você vai arrasar,
porra! Pode cancelar esse baixo-astral. É só sua TPM te deixando assim.
Sabe que é foda. Não esqueça quem foi que fez Zachary Rice pedir
desculpas — lembro-a e ela sorri.
— Vicky tem razão. Vai ficar incrível, só está mais desanimada
porque está naqueles infernais dias, então para de se diminuir, só não está
nos melhores dias e está tudo bem. — Cherry oferece seu carinho.
— É... vocês têm razão... Mas tenho certeza que esse jogo vai me
animar mais. Poder torcer só para um time, sem me sentir dividida. Tem
coisa melhor? Por que me deixaram namorar o melhor amigo do meu irmão
e que ainda joga no time rival?
— Não deu tempo, já estava sentando nele antes que pudéssemos
avisar — falo e ela ri alto, já Cherry fica com as bochechas coradas e
sussurra para eu calar a boca.
Oliver e Tyron se aproximam e me cumprimentam com um beijo na
testa.
— Diablo, veio torcer pelo seu ídolo? — Oliver provoca e se abaixa
ao lado da namorada, acariciando a perna dela. Tyron revira os olhos para a
pergunta do amigo.
— Ué, mas não vi ninguém que sou fã por aqui! — Olho ao redor,
pirraçando. — Ah, estava falando de você? Sinto muito, sempre torço para
a bola acertar sua testa! — Suspiro animada.
— Engraçadinha — ele retruca e começamos a rir.
Tyron olha para o lado e sigo o seu olhar. Malcolm Bell conversa
com o treinador dos Tigers e o idiota do Francis está junto.
Por Deus, nunca desejei tanto eliminar duas pessoas de uma única
vez.
— Veio me buscar com medo que eu fugisse? — Tyron me pergunta
e sorrio.
— Na verdade, vim de carona. Se quiser dar fuga, me avisa antes, te
ajudo e fujo também. Me leva e ninguém morre! — aviso e Tyron me olha
de lado.
— É, cara... Alguém tem que cuidar da criança — Oliver brinca
com o amigo nos fazendo rir. — Bom, preciso me aquecer, me desejem boa
sorte. — Se levanta deixando um beijo na Cherry.
— Não precisa de sorte, é perfeito no que faz — Cherry diz a ele e
finjo uma ânsia de vomito. Kris acerta minha perna e começo a rir.
— Fala sério, tem melhor pessoa que ela? Não tem! Viu, Kristal? É
assim que deveria ter continuado, não traindo a mim e correr para o time do
idiota aí. — Não perde a chance de pirraçar a irmã.
— Meu coração cabe ambos. Além disso, estou aqui à espera do
grande jogo. É melhor vencer, Oliver Reed. Não me faça ter ataques
cardíacos — ela retruca e ele sorri.
— Vou ver o que posso fazer! — Pisca ao se afastar e vai em
direção ao Jamal, que joga a bola para ele.
Oliver acerta o Tyron, que se vira para xingá-lo e as pessoas riem da
cena.
— Sério, eles são adultos mesmo? — Kristal pergunta.
— Fica o aí o grande questionamento. Mas se levarmos em
consideração que temos a Vicky que é igual a eles... Acho que ninguém é
adulto — Cherry diz e a olho completamente chocada.
— O que é isso? Anda muito rebelde, Mascotezinha! Oliver te
transformou em uma cerejinha podre!
Ela me joga um beijo e quem resiste a essas carinhas fofas? E assim,
faço tudo que quer.
Tyron arremessa a bola na cesta, no arremesso da sorte que eles têm
um com o outro e leva as torcidas a gritarem. Ambos riem e Tyron se senta
entre a Kristal e a Cherry. Ele fala algo para ela do Oliver e ela ri.
Amo ver minha menininha sendo feliz, se comunicando, se
soltando... Cherry merece toda felicidade do mundo, porque já sofreu
demais quando perdeu meus tios.
Para meu azar, que é do tamanho do Universo, Malcolm se
aproxima e senta-se literalmente ao meu lado. Pelo menos o Francis ficou
do outro lado. Aguentar dois Bell de uma vez seria castigo.
— Os seus pais não vieram? — pergunto a Kris.
— Não. Tiveram que viajar a trabalho.
— Pensei que eles viriam, junto com meus pais e avós.
— Não... Eles voltaram hoje para Malibu e os tios foram levá-los —
Cherry é quem responde agora.
Assinto e olho para arena, mas discretamente viro para o lado,
vendo Malcolm olhar para frente, enquanto o treinador dos Tigers se
aproxima e puxa conversa com ele, mas não presto muito atenção. Kris
deita a cabeça em meu ombro, enquanto o namorado acaricia sua mão.
Quando fica assim manhosa, nem parece que só falta morder.
— Então teremos fiscalização em peso no jogo. Capitão e treinador
dos Red — o treinador Hunt Jones diz. — Espiões?
— Na verdade, só vim dar apoio moral ao seu ala, para ele não
terminar chorando — Tyron responde e o treinador ri.
— Não me admira que Oliver faça isso. Agora ter Malcolm de fiscal
no jogo, me intimida, hein. Um dos maiores treinadores por aqui!
Reviro os olhos.
Meu Deus, que puxa saco!
— Posso te dar umas aulas depois, começando por não puxar meu
saco, porque não irei facilitar se tivermos que nos enfrentar como sempre.
Prendo o riso que tentar sair.
Então ele se tocou que o Hunt estava só puxando seu saco, afinal, é
um grande treinador também.
— Sempre bem-humorado — ironiza rindo.
Malcolm sorri levemente, o que já considero um milagre, não me
admira se estiver doente.
Por que estou prestando tanta atenção nele?
Balanço a cabeça rapidamente.
— O que foi? — Kris me pergunta.
— Nada. Que demora para começar o jogo! — Desconverso.
— Ansiosa, senhorita Foster? — o treinador Hunt questiona. —
Saudade do time?
Se eu falar que não, porque passar meses colada neles, me fez ver
que meu limite para suportar jogadores, é mínimo, serei grossa?
Escolho a melhor resposta:
— Digamos que tenho um limite em aturar o Oliver e ele me faz não
ter saudade! — Sorrio e ele ri.
Sinto uma atenção sobre mim e olho de lado, mas Malcolm desvia o
olhar. Seu perfume poderia sumir junto também. O careta é muito cheiroso.
O Hunt volta a falar com o Malcolm e agradeço por me deixar em
paz. Aproveito para pegar meu celular e assim registrar algumas coisas para
criar conteúdo e ser menos torturada pela Jennifer caso ocorra.

O jogo terminou com os Tigers vencendo por vinte pontos à frente


dos Foxes. Claro que isso animou a Kristal. O namorado dela já foi para o
hotel organizar suas coisas, pois vamos retornar hoje, antes da possível
tempestade tropical que pode chegar. Aproveitei para registrar bastante
coisas e já enviei para Sawyer conferir o que podemos aproveitar.
Nos afastamos da loucura, quando vamos para aos bastidores.
Kristal está esperando Cherry encontrar com Oliver, para depois se despedir
da minha prima, do irmão e do Tyron, já que a Mascotezinha retornará para
Palo Alto e Ty seguirá para Nova York, já ela segue para seu próximo
destino assim como o irmão.
— Foi bom assistir ao jogo com vocês! Relaxei de verdade. Eu
precisava disso, sério! — Kris alonga o pescoço.
— Jura? Ainda bem que alguém relaxou, porque estou surda com
seus gritos. Sério, você não sabe ser imparcial, gata! — Toco o ouvido e a
Kristal ri.
— Ninguém pode me julgar. Se não gostarem, que rasguem meu
contrato. — Joga os cabelos para trás e rio. — Bom, amanhã embarco para
Chicago, mas assim que eu tiver minha agenda toda programada, vejo
quando teremos cidades juntas para nos vermos. E espero que a gente
consiga nos encontrar para o aniversário da Cherry!
— Gente, se não der, está tudo bem. Quero que ambas foquem em
seus trabalhos e sejam as melhores como já estão sendo! — Cherry me
abraça de lado e sorrio passando os braços ao seu redor, enquanto ajeito a
bolsa que despenca em meu ombro. — E estarei focada nas minhas coisas.
Está tudo bem. Se der faremos algo, do contrário, está tudo bem também.
Não coloquem mais coisas para resolver na cabeça de vocês que já está
lotada de afazeres.
— Já disse que é perfeita? — Kristal fala a olhando com carinho.
Uma das melhores coisas para mim, foi ver que a Kristal não só
recebeu a mim tão bem quando nos tornamos amigas, como também se
apegou a Cherry e cuida dela como se fosse uma irmã mais nova.
Cherry é a nossa bonequinha e não importa o tempo, sempre vamos
cuidar dela assim. Não é à toa que é a nossa Mascotezinha.
— Amo vocês e vou sentir saudade — ela diz e aperto-a.
— Eu também vou e amo vocês, sabem disso. Mas, agora preciso ir
ou perderei minha carona. O Sparks pode atrasar, mas se for eu, não duvido
que o treinador me deixe voltar andando. E odeio caminhadas, sabem disso!
Elas riem e nos despedimos. Nem parece que nos matamos às vezes,
mas faz parte.
— Vai. Vou ficar aqui com a Cherry enquanto espero o Tyron voltar.
Não apronte, se comporte, Vicky Foster! — Kristal pede e sorrio.
— Sempre!
Ambas me olham desconfiadas.
Que horror, o que pensam que sou?

Encontro o Malcolm junto do sobrinho na sala de espera. A porta


está aberta, mas mesmo assim dou leves batidas nela enquanto aperto a alça
da bolsa. Ambos me olham e então entro.
— Estou aqui. Tyron foi buscar as coisas dele — aviso e o Malcolm
concorda.
— Espero que ao menos tenha coletado coisas descentes, pois terá
meu nome em apoio a tudo que criar. Então não ferre as coisas, Foster! —
Francis diz.
Respiro fundo enquanto me sento no sofá. Deixo a bolsa cair de lado
e retiro o boné. Ajeito o cabelo e encaro ele. Seu tio está tomando café,
sentado do outro lado.
— Olha, Francis, eu nem queria estar associada a você. Se acha tão
ruim assim que eu tenha assumido a sua função, reclama com os grandões
da Sport ou com a Jennifer. Sou funcionária, não dona do lugar. Não dito as
regras. — Dou de ombros, já estou de saco cheio dessa briguinha ridícula.
Estendo as pernas cruzando uma na outra.
— Qual o seu problema, garota? — ele me questiona de modo rude.
O tom das suas palavras diz muito o rumo que ele quer seguir. — Ninguém
naquele lugar quer trabalhar com você. O mínimo era ser grata por eu ter
aceitado que você assumisse. Sabia que não era para você estar na Golden
esse ano? Jennifer exigiu que ou você entrava, ou ninguém da Sport estaria
presente. Ou achou normal demorarem para te chamar? Quando você
assumiu o meu lugar e vieram me falar após dias, eu poderia cancelar meu
contrato ou deixá-la assumir essas semanas. Essa era a condição, e preferi
aceitar desde que seguisse meu cronograma, porque me foderia depois
quando retornasse e estivesse tudo diferente. — Joga as palavras em cima
de mim, como se estivesse engolindo-as a ponto de finalmente explodir
agora. — Se está aqui, é por minha causa. Então comece a me tratar
melhor, ou...
— Ou o quê? — Minha voz altera, enquanto minha cabeça rodeia
com todas as informações que ele revelou. Meu sangue está queimando de
raiva. — Qual é meu problema? Pergunta errada! Qual é a porra do seu
problema?! — Levanto-me. Seu tio me encara e deixa o copo de café de
lado, como se esperasse o momento que eu fosse matar o seu sobrinho. —
Está nessa merda porque tem seus privilégios por ser sobrinho de quem é.
Eu nunca precisei usar a porra do meu sobrenome para nada. Lutei para
estar onde estou, e ainda continuo tendo que lidar com gente babaca como
você. Se você não teve seus pais para lhe dar a porra de uma educação
descente, ou se o seu caráter é ser um lixo mesmo, não tenho culpa. Não
faço parte das suas frustrações.
“E tem mais, eu não pedi para que se machucasse. Então se tem
alguém aqui que precisa agradecer, é você; me agradecer por eu continuar
fazendo sua função ou então não estaria aqui, até porque fui a única na mira
para assumir essa merda, não é mesmo? Ninguém quer trabalhar comigo, e
sabe por quê? Porque todos querem que lambam os pés deles e eu não farei
isso. Não sou você. Então resolva suas merdas pessoais e me deixa em paz.
Saio disso, mas te levo comigo!”
Explodo de vez.
— Não, eu não tive os pais e isso não é a porra de um problema seu!
Então não toque nesse assunto, porque não tem o direito de falar deles! —
Ele passa com sua cadeira ao meu lado, quase me atropelando.
Merda.
Mil vezes merda!
— Francis! — Chamo-o e tento ir atrás dele, mas seu tio me impede,
se levantando e segurando-me. — Caralho... Eu peguei pesado... E-eu...
Merda! — Me frustro mais.
Malcolm me vira para ele.
— Não pegou pesado, Foster. Francis tem passado dos limites. Por
isso não interferi em nada aqui ou pioraria. Aparentemente, o luto que ele
guardou por anos, resolveu vir agora, em forma de ódio. Ele está odiando
todas as pessoas, até ele mesmo. Ir atrás dele só vai piorar tudo. Deixe-o
esfriar a cabeça e depois tentam conversar.
— Mas... — Um nó se forma na minha garganta. — Eu deveria ter
pensado... Droga, deveria ter controlado a boca. Deixado passar a
provocação. Jamais iria tocar no assunto dos pais dele assim, seu irmão...
Eu só fiquei puta pela merda toda que ele falou. Só percebi quando ele
revidou... Que raiva!
— Vicky, me escuta... — Malcolm começa, mas nego.
Me afasto e pego minha bolsa, saindo da sala, bem chateada como
tudo terminou.
Ele foi um idiota, mas eu não precisava falar dos pais dele. Desci ao
nível dele e sem necessidade. Francis queria arrumar briga, e dei isso a ele,
só que da pior forma.
E mais uma vez, minha língua afiada ferrou ainda mais as coisas.
Tyron está me esperando no estacionamento da arena e disse que a
Vicky está com ele. Bom, um problema a menos.
Depois que ela saiu da sala, fui atrás do Francis, para saber como
estavam as coisas para ele retornar a Palo Alto, e era melhor não ter ido.
Discutimos também. Eu sabia que seria problema ele aqui, desde o
momento em que o vi. Não interferi na briga dos dois, pois sabia que ela
tinha razão, afinal, ninguém aguenta ficar sendo provocado o tempo todo e
se manter sempre calado. Tudo que acontece de errado com ele, sempre
busca alguém para jogar suas frustrações, e no momento está sendo ela.
Falei com meus pais para ficarem de olho nele. Voltam para casa na
segunda-feira, e até Francis retornar ao trabalho vão ficar de olho. No
fundo, isso me preocupa, porque meus pais não falam, mas se culpam por
quem o neto está se tornando, e eu também tenho feito isso ultimamente.
Sei que errei em algumas coisas, mas começo a me questionar se não errei
em tudo.
Me pego pensando no que o meu irmão faria nessa situação, ou
como a mãe dele agiria... É difícil não pensar. Francis é jovem, nem nos
trinta anos chegou ainda, tem tanta coisa para aprender, eu ainda tenho, mas
ele está se fechando cada vez mais e esse ano as coisas parecem ter saído de
vez do controle.
Queria entender por que ele odeia tanto a Vicky. Não tem sentido.
Ele é um idiota sim, não anulo isso, mas nunca tratou ninguém como trata
ela. Se bem que ... nem sei quem ele é mais e isso me assusta também.
Fiz algumas fotos e dei algumas entrevistas o mais rápido possível,
para retornar logo a Nova York. Agora me aproximo do estacionamento em
que o time nos enviou um carro para nos levar ao aeroporto.
Vejo de longe a Vicky conversando algo com o Tyron, mas ela está
séria, o que essa garota não é, não totalmente.
— Vamos? — Paro na frente deles.
— Sim! O tempo está mudando e os alertas também. Temos que ir
logo — Tyron fala e concordo.
Entramos no carro que nos esperava e um milagre acontece: Vicky
Foster fica muda até chegarmos no aeroporto. Algo me diz que esse silêncio
vai perdurar até o chegarmos em Nova York.
Pelo jeito, não foi uma boa ideia deixá-la vir.

Restam três horas de voo.


O silêncio reina por duas horas já.
Tyron dorme com seus fones de ouvidos. Vicky está sentada
afastada de nós, no assento de dois lugares perto da mesa. O jato é todo
personalizado da melhor forma. Compraram esse recentemente e tem mais
um de reserva, afinal, quanto mais poder, mais querem exibir.
Olho para ela e a garota realmente ficou mal pelo que falou ao
Francis. Surpresa é a minha em ver que ela tem um coração, se afeta pelas
coisas, não tem só a frieza que tanto dizem por aí. Está com o rosto virado
para a janela, as pernas apoiadas no assento, toda encolhida. Seus tênis
estão no chão, junto da sua bolsa.
Nenhum dos dois precisava chegar nesse limite hoje. Eles precisam
conversar com calma, nada vai resolver aos gritos. Mas duvido muito que
ela ou o Francis ceda fácil.
A comissária de bordo pergunta se quero algo e nego, então
questiona a Vicky que nega também.
Posso não conhecer tão bem essa menina, o pouco que sei é pelo
que falam ou que observei, e nesse pouco, posso estar errado, mas recusar
comida não me parece algo normal. Ela vive comendo pelos bastidores,
quando não está xingando alguém.
Respiro profundamente. Vicky fecha a janela enquanto a comissária
se afasta pelo corredor e se tranca através da porta aos fundos, oposto à
cabine.
Fecho a minha janela também. As luzes se apagam e por estar tudo
fechado, o ambiente fica escuro, apenas as pequenas luzinhas acima de nós
iluminam um pouco.
Olho-a fixamente e ela continua quieta.
Merda.
Levanto-me e faço talvez a pior coisa que eu poderia: me aproximo,
sentando-me ao lado dela. Ela ergue o braço e acende a luz mais fraca sobre
o assento.
— O que foi? — Seus olhos focam nos meus. Está sem o boné
desde mais cedo. — Olha, se foi pelo aconteceu mais cedo, juro que sou a
pior pessoa do mundo agora para falar, porque sei que vou acabar falando
merda de novo e...
Nego, sem deixar que termine de falar.
— Só escuta, ok? Pode fazer isso? — pergunto e ela revira os olhos,
mas assente. — Não se culpe pelo que disse. Ambos se alteraram. Ele não
deveria ter dito nada daquilo, você revidou e terminou da pior forma. Mas
ficar se remoendo por isso, não vai melhorar nada. Amanhã mesmo ele vai
te ligar e incomodar como sempre faz. Nem vai parecer que esse problema
de hoje existiu. Eu o conheço, ou pelo menos acho que sim.
— Minha prima perdeu os pais. Se alguém falasse uma merda assim
para ela, fosse insensível a esse ponto, eu acho que mataria a pessoa. Eu fiz
aquilo que protegeria minha prima se fizessem a ela. É por isso que estou
puta. Não me arrependo de nada do que falei hoje, exceto ter envolvido os
pais dele. Fui baixa demais. E duvido muito que ele vá agir naturalmente.
Mas tudo bem... — Vira o rosto ignorando-me.
Está muito chateada e isso está mais do que nítido.
— Não é como se fosse alta — comento e ela me olha.
— Não acredito... E depois te chamo de careta e fica bravo. Que
piada idiota! Bem de velho, treinador. — Ela ri baixinho e balança a cabeça.
É, animou ela, pois já voltou a me irritar.
Ficamos nos encarando e puta merda, isso é perigoso, pois
memórias que não deveriam retornar, fazem exatamente isso: retornam para
me assombrar.
— Até que é um careta gostoso, treinador. — Pirraça, mudando sua
expressão para uma que já conheço e me fez cometer um grande erro.
— Foster, pare! Não comece com esse seu joguinho — falo baixo e
firme e ela só sorri como se não temesse nada e ninguém.
— Só estou sendo sincera. Eu provei e não foi nada mal, ué. Vou
mentir? — provoca ainda mais.
Sinto uma fisgada bem no meu pau e engulo em seco. Não dá, essa
menina precisa ficar longe.
— Pare com isso. Esqueça o que aconteceu, garota! — Levanto-me
e volto ao meu lugar, escutando seu risinho provocador.
Ao menos está mais animada.

Chegamos ao hotel, após deixar o Tyron na casa dele para que


arrumasse suas coisas para os próximos jogos. Ronald nos buscou e ainda
bem que não comentou nada sobre mais cedo. Quanto menos notarem
qualquer coisa entre mim e a Vicky, será melhor. Nada que nos ligue e nos
leve a maldita noite no estacionamento, pode vazar, então sermos bem
distantes, é o melhor.
Entro no elevador com ela e aperto o botão do nosso andar.
— Se amanhã me fizer acordar de madrugada de novo, não
responderei pelos meus atos. Isso é um absurdo! Espero ver a cara de vocês
só no jogo — resmunga.
— Eu prefiro quando fica calada — falo aguardando chegarmos em
nosso andar.
— É sempre assim, estressado?
— Depende. Quando me incomodam, sim, e normalmente sempre
fazem isso.
O andar chega e as portas se abrem.
— Isso foi uma indireta para mim? Pensei que fosse mais direto, sr.
Grito.
Respiro fundo, saindo do elevador, escutando seus passinhos atrás.
— Se eu falar tudo que penso, sou preso. Agora só fica quieta,
garota. Só quero ter o restante do dia em paz, e isso significa você ficar
longe e calada. — Olho-a e ela ergue as mãos na altura dos seios e faz uma
cara de santa, o que não combina com ela.
Ela ergue um dedo, enquanto me aproximo da minha porta e retiro o
cartão de acesso do meu bolso.
— O que é, Foster?
— Valeu mesmo por ter me levado hoje. Isso não é uma trégua entre
nós, pelo jeito, mas… obrigada! — Sorri e maldito seja esse sorriso que
chama atenção, pois traz um ar de menina levada.
Concordo e abro minha porta.
— Treinador, deveria se divertir mais, está muito tenso e estressado.
Fica a dica. — Ela procura algo em sua bolsa, pelo jeito o cartão de acesso,
mas antes derruba o boné, e o pega. — Achei! Bom, agora irei relaxar e
gozar é a melhor coisa após a manhã agitada. — Pisca para mim e destrava
sua porta. — Deveria fazer o mesmo. Se precisar de ajuda, sabe onde bater
— provoca como uma boa maluca que pode ser.
Entreabro os lábios, vendo-a sumir.
ESSA GAROTA PRECISA FICAR MUITO LONGE!

Acordo bem dolorido. Desde que entrei no quarto não saí mais,
apenas tirei a roupa e me deitei. E maldito seja os sonhos que tive, que me
fizeram acordar assim: duro, enorme e dolorido.
Eu só precisava de tranquilidade, mas essa garota está tirando tudo
isso em um passe mágica. Primeiro o carro, depois o evento, veio o bar e o
estacionamento, agora essas provocações sempre que estamos perto. E para
piorar tudo, foi com ela que sonhei, era seu rosto que eu via e era seu corpo
que fodia.
Esfrego o rosto e olho para baixo, meu pau praticamente saindo da
cueca, esticado ao seu extremo. A cabeça molhada, brilhando.
“Deveria fazer o mesmo. Se precisar de ajuda, sabe onde bater!”.
Suas palavras invadem minha mente e meu sangue ferve mais,
queima tudo de dentro para fora.
Estou fodido. Essa é a verdade. Naquele dia, ela enfeitiçou meus
desejos e agora está terminando o que começou, não tenho mais dúvidas
sobre isso. Vicky Foster se tornou o motivo dos meus piores pesadelos e
desejos.
Desço a cueca e agarro meu pau. Meus olhos se fecham e eu só a
imagino quando o aperto e subo e desço minha mão por toda a base, me
masturbando rápido, bruto. Quando começo a gemer, é como se eu fizesse
isso em sua presença, é como se eu a ouvisse também.
Posso sentir a porra do calor da sua boceta, ela me apertando
completamente, pequena, estreita, tentadoramente perfeita. O seu perfume
de flores domina minha memória, assim como o gosto de sua boca junto
com a tentação que seus lábios são.
A memória é viva mais do que nunca para mim, e isso jamais me
aconteceu. Algo foi plantado naquele dia e os jatos de gozo atingindo meu
abdômen dizem isso, porque tem muito tempo que não gozo só de pensar
em uma mulher, quero dizer... Isso jamais aconteceu. Todas as vezes que
gozei assim, foi dentro de uma mulher, não só por pensar nela.
Os jatos explodem em mim e meus gemidos são altos.
Foda-se!
Abro os olhos e vejo toda a bagunça criada e o pior: ainda não me
sinto totalmente satisfeito.
Nunca acreditei na história de sereias e seus encantos para trazer
homens até elas, porque isso é mentira. Ou era, até agora... Vicky Foster
acaba de me fazer duvidar até mesmo da merda da minha sanidade mental
nesse momento e eu estou ainda mais puto, porque passo a acreditar que
sereias existem e ela é uma, encantando-me com seus poderes que me
atraem e podem me matar na mesma medida.
Ela não tem o direito de me fazer gozar.
Ela não pode invadir meus sonhos e minha mente.
Ela não pode me provocar ao ponto de me tirar do sério.
Ela não pode foder meu carro, meu pau e a minha cabeça.
Ela não pode ter esse controle sobre mim.
Ela não pode!
Que as malditas semanas voem e eu possa ficar longe oficialmente
dessa maluca que está levando minha sanidade embora.
Caminho com o celular preso em minha mão, com ninguém menos
que Francis Bell me enchendo o saco como sempre.
Eu me produzi com ele em videochamada e vim até a arena The
Garden com ele ainda na minha cola. O garoto não desiste. Quer confiscar
tudo que farei, afinal, hoje é o grande dia para os Red Fire, que jogarão
contra os Foxes.
Não tenho paz, estou aceitando isso já.
A equipe da Sport já me aguarda aqui. Tenho que encontrá-los
— Estou bem?
— Quê? — o idiota questiona.
— Na aparência, garoto! Estou bem? Estou me achando tão
basiquinha. E a culpa é unicamente sua que não me deu paz ainda. Cara,
não tem mais nada para fazer?
— Eu quero ter a certeza que não fará merda. E sim, está bom seja
lá o que tentou fazer!
Entreabro os lábios e paro perto de uma parede meio espelhada,
vendo meu reflexo. Estou com uma calça jeans clara, justa ao corpo, um
cropped branco e um blazer preto por cima um pouco fechado. Sandálias
pretas nos pés e acessórios prateados como anéis, brincos e colar.
Certo, a maquiagem não é das melhores, mas ao menos na minha
mente, meu delineado parece bem melhor depois da terceira tentativa e meu
batom vermelho nem borrado está, o que é um milagre. Não exagerei no
blush e garanti que os cílios estivessem bem colados. Meus cabelos estão
lisos e soltos, foi o melhor que deu para fazer com esse idiota atormentando
minha vida.
Poxa, dei o meu melhor e o imbecil diz que “está bom seja lá o que
tentei fazer”?
Eu vou matá-lo!
Ajeito a alça da bolsa e a credencial em meu pescoço.
— Pois saiba que estou muito gostosa, viu! O mínimo, era me
elogiar muito, apenas por aturar você. — Olho para ele que revira os olhos.
— Pode focar mais no trabalho? Vamos, você tem que coletar uma
pequena entrevista antes dos jogadores entrarem em quadra. Escolha ao
menos um. Será colocado no ao vivo.
Torno a caminhar e sigo para a sala de descanso, respirando fundo
para não matar ninguém.
A porta está aberta, Alfred está na sala e para minha surpresa,
Jennifer e Malcolm também.
Esse dia pode piorar?
Jogo a bolsa no sofá e puxo o iPad de dentro junto da caneta. Todos
me olham sem entender nada.
— Se você continuar falando na minha cabeça, o máximo que vai
acontecer, é eu retornar a Palo Alto e acabar com você, e juro, não vai
demorar!
— Menos conversa, Foster!
Abro o bloco de notas e escrevo rápido com a caneta e jogo ele no
colo do Alf. Disfarçadamente faço sinal de silêncio a todos.
Alf sorri e assente. Chuto seu pé para ele fazer logo.
— Foster, estão a sua espera na... — Ele se força a entender e chuto
de novo ele para inventar qualquer coisa. Porra, minha letra não ajuda! —
Estão te esperando no vestiário!
— Olha que pena, Francis. O dever me chama! Tchauzinho!
— Me retorne em seguida. Eu quero ter a certeza que não vai...
Desligo na cara dele antes de terminar de falar e caio sentada ao
lado do Alf.
— Valeu!
— Que letra horrível! Mas, de nada! — Dá de ombros e sorrio.
— O que está aprontando, Vicky! Você me prometeu não aprontar
— Jennifer diz e posso ver seu coração prestes a saltar.
— Ele estava desde mais cedo na minha cola. Eu me trocando para
vir e ele falando sem parar — falo.
— Como é? — Malcolm indaga sério.
— Claro que não me troquei na frente dele... Ah, vocês entenderam!
Mas também, não é como se ele fosse notar se eu fizesse, ele não calava a
porra da boca! — Inclino a cabeça para trás e o Alf me olha.
— Desisto dos dois. Eu cansei. Estou indo, pois passei apenas para
resolver algumas coisas, infelizmente não poderei ficar. Foi uma viagem
bem rápida. Por favor, fique de olho nela! Sem a Kristal ou a prima dela por
perto, me arrepio só de imaginar no que ela pode aprontar. A última vez
terminou com ela presa — minha chefe fala com o treinador.
— Você foi presa? — Alf indaga. — Sério, eu te adoro, garota! —
Ele beija minha bochecha e começo a rir.
— Pelo menos alguém ficou feliz com minha quase prisão, pois não
foi bem isso, certo que tive que precisar de ajuda para... Esquece. Vamos
mudar de assunto? Como por exemplo: Por que não disse que viria? —
Olho para a Jennifer.
— Porque foi de última hora. Aproveitei para resolver umas coisas
por aqui. Mas preciso ir. O jornal está uma loucura. E não pode me exigir
satisfações, pois a senhorita que as deve para mim, como a viagem a Los
Angeles que soube de última hora — retruca e me faz sorrir.
Franzo o cenho e me ajeito no sofá.
— Espera, aconteceu algo? O que aqueles engravatados idiotas
fizeram?
Ela sorri e nega, se aproximando para deixar um beijo em meu
rosto.
— Vai ficar tudo bem. Estou resolvendo tudo. Qualquer coisa me
ligue!
Concordo. Ela se despede do Malcolm, que com ela é carinhoso,
comigo só falta me chutar.
Qual o problema dos Bell comigo?
— E é melhor se preparar, pois se isso confirmar, só desejo boa
sorte a você, pois sei que tudo vai cair em seus braços — ela fala com o
Malcolm que respira profundamente.
Olho para o Alf que dá de ombros e cochicha em meu ouvido:
— Cheguei segundos antes de você, não sei de nada.
Concordo.
— Mato os dois e fica tudo em paz — ele responde e ela sorri. —
Boa viagem, Jennifer!
Ela concorda e se afasta, indo embora e me deixa curiosa.
— O que queria comigo, treinador? — Alf questiona e ele olha para
o jogador.
— Preciso que fique de olho no Zion. Ele vai jogar e sei que você
será o que menos vai tornar isso evidente. Qualquer coisa durante o jogo
que ache que ele precise sair, me avise. Não repasse isso aos demais, eles
são mais brutos, jamais lidariam disfarçadamente com isso.
Ele concorda.
— O que ele tem? — pergunta e olho de um para o outro. Malcolm
me olha e desvia o olhar.
— Ele está bem. Só faça isso, por favor. Agora se junte aos demais
no vestiário, já estou indo lá para falar com vocês.
Alf se levanta e me entrega o iPad e a caneta.
— Sim, senhor. Fui! — Ele bate continência e prendo o riso.
Desse garoto eu até gosto. Doidinho da cabeça, coitado.
Ele sai da sala e guardo o iPad e a caneta.
— Estava certo. Nem parece que aconteceu tudo aquilo entre mim e
o Francis. — Suspiro ao confessar e ele me encara.
— É, ainda devo conhecer um pouco do meu sobrinho — responde
de modo rude e franzo o cenho.
O homem sai da sala e ergo a sobrancelha.
Ué, o que foi isso? O que eu fiz agora? Que homem maluco!

Recolhi a primeira entrevista com o Tanner, agora vou cobrir apenas


as entrevistas finais e alguns intervalos dos jogos se necessário.
Estou na área da imprensa, coberta por vidraças, e observo o jogo. A
arena está cheia, afinal, um time da casa está jogando. Os Red Fire estão na
frente por pouca diferença contra os Foxes.
Os Red Fire parecem um pouco perdidos. Tyron já ganhou duas
faltas e o Killiam acaba de ganhar a primeira. Zion está mais centrado, mas
ainda não está totalmente cem por cento, não quando o camisa 99 o derruba
facilmente, e olha que sou eu falando disso, a pessoa que foca apenas nas
partes extremamente importantes.
O Tanner faz uma cesta de três pontos e a torcida vibra. Mas em
seguida os United Foxes revidam, marcando três pontos, feitos pelo camisa
23, capitão deles. Os caras são muito bons, isso está cada instante mais
claro, afinal, deram um pouco de trabalho aos Tigers e estão dando trabalho
aos Red Fire.
A garganta de Malcolm Bell deve estar pedindo socorro, porque
daqui vejo o homem berrando com seu time, e já consegui notar
xingamentos saindo de seus lábios, porque isso é a leitura labial mais
correta que consigo fazer. O homem está estressado, ao ponto de ter retirado
a gravata e colocado dentro do bolso. Elliot, seu atual assistente, fica em
sua cola, marcando as coisas, mas ninguém parece ter coragem de lidar com
o treinador agora. O homem está soltando fumaça pelo nariz.
Tamborilo os dedos em meu braço que estão cruzados e observo
tudo.
— Boa sorte na hora de recolher entrevista com o treinador. Duvido
que ele vai ceder fácil e se fizer, muito boa sorte — Sawyer diz, parando ao
meu lado e o olho rápido.
— Nem me lembre disso. O senhor Grito está de volta e possuído. E
ainda a Kristal acha que ele é gente boa? Olha isso, ninguém quer ficar
perto do homem!
Saw ri e se afasta.
Mas uma coisa preciso admitir nesse momento: ele consegue ficar
gostoso nervoso assim. As veias em seu pescoço ficam mais evidentes,
assim como as que se forçam em sua testa no nervoso que cresce a cada
instante dele. A mão que para na cintura e a outra que passa pela cabeça,
evidencia o quão firmes elas são, e porra, eu senti e são ótimas.
É, depois que provei, posso assumir que o treinador é um tremendo
de um gostoso mesmo, e enquanto o povo o teme assim, fico aqui pensando
em putaria.
Viva à minha mente catastrófica.
Balanço a cabeça e torno a focar no jogo, que termina o primeiro
tempo.
Descruzo os braços e caminho para fora do espaço, em busca de
saber se tem algo útil para recolher para o ao vivo assim que terminar.
Confiro se o celular está em meu bolso traseiro para qualquer coisa poder
avisar a equipe sobre algo.

Me aproximo do vestiário, cumprimentando algumas pessoas. A


imprensa tem acessos durante o jogo que outros mesmos sendo VIP não
tem. Essa é a parte boa, conseguimos colher mais coisas que o normal,
porém, não é qualquer pessoa da imprensa, precisa ter contrato com a World
Golden Jump também, assim como a parceria que a Sport Universe possui,
ou também teríamos territórios restritos por aqui. A minha tem passe livre
para muitas coisas, mas também se torna uma arma mirada para nós
mesmos, porque qualquer merda, recai sobre nós, já que tínhamos o tal do
acesso mais amplo.
A porta está fechada e é possível ouvir a bronca que todos recebem
do Malcolm.
— Cacete, eu estou lá pedindo para fazerem as coisas, mas estão
ignorando. Estão jogando totalmente fora do que foi planejado para hoje.
Parem de mostrar todo o jogo de vocês! Estamos no início e os Foxes já
conhecem todas as brechas e pontos fracos de vocês. Onde estão com a
porra da cabeça? Eu sou algum idiota que vocês não têm um pingo de
respeito em quadra? RESPONDAM! — Ele grita mais forte e até eu
estremeço ao lado de fora.
— Não, treinador! — respondem juntos.
— Então joguem direito e prestem atenção em quem comanda
vocês. Fui claro?
— Sim, treinador!
— Descansem e entrem naquela quadra com outra postura, ou o
banco reserva vai entrar de vez, e vocês vão parar nele!
Ele se aproxima da porta, abrindo com tudo. Me assusto com o
estrondo que ela faz. Malcolm me olha e sinto que vai sobrar para mim,
mesmo sem eu ter culpa de nada.
— Fique longe deles, Foster! Não quero você com meus jogadores
até o final do jogo! Eles precisam de foco somente no jogo — diz bem
nervoso.
— Eu só estou cumprindo ordens da Sport e fazendo o que a Golden
esper...
— Não me interessa! Fui claro? — Me interrompe de modo ainda
mais rude. — Será que ninguém me escuta nessa porra? Fora daqui, agora!
— Ele grita e ergo uma sobrancelha.
Olho para dentro do vestiário, em que todos os olhos estão sobre
nós. Tyron só assente para eu fazer isso, e só farei para não piorar a
situação, porque sei que se fugir do controle, ele vai intervir e vai acabar se
prejudicando.
Dou uma última olhada para o Malcolm e me afasto pisando firme.
Vou sentido contrário ao que vim, para caminhar mais e respirar mais fundo
ainda, porque sei que se eu não me controlar, esse treinador estará muito
ferrado.
Meu celular começa a tocar. Pego para ver quem é e desligo o
aparelho.
Vá para o inferno todos os Bell que me rodeiam!
Estou estressado, essa é a maior verdade do dia.
Eu simplesmente não tive a melhor noite de sono, não com sonhos
que não paravam de surgir. Hoje é um péssimo dia para eu lidar com
qualquer coisa, e ter jogo, foi assinar minha sentença de prisão, pois irei
parar na cadeia a qualquer instante, porque minha paciência que já é quase
inexistente, agora se tornou nula.
E merda, ver a aquela jornalista maluca, vestida daquele jeito,
chamando atenção, mais que o normal, piorou o meu estresse. Agora ainda
lidar com esse jogo infernal... Estou a ponto de ter um ataque do coração.
Observo atento a eles, minhas mãos no bolso da calça, tirei o paletó,
estou apenas com a camisa sem gravata, abri alguns botões e subi as
mangas. Minha cabeça está a mil, muita coisa se passando nela, mas
principalmente o rosto daquele pequeno demônio.
O que você fez da sua vida, Malcolm Bell?
— SPARKS, REPASSA! — Grito para ele, que repassa para o
Killiam que consegue desviar do camisa 76 e marcar uma cesta de dois
pontos.
Olho o marcador, estamos sete pontos à frente. Precisamos de mais,
isso é pouco, eles podem virar, tem muito jogo pela frente ainda.
Zion pega a bola e desvia de dois adversários, enquanto o Tanner
pega a bola dele e repassa para o Tyron, que tentar marcar, mas é
bloqueado.
Puxo o Tyron que passa por mim:
— LEIA MELHOR ESSE JOGO! VOCÊ É CAPITÃO E
ARMADOR. FOQUE NOS CÓDIGOS QUE COMBINAMOS, MENOS
FALATÓRIO. VAI! VAI! — Empurro-o de volta para a quadra.
— Teremos que fazer algumas substituições nos próximos
momentos. Eles estão ficando muito exaustos — Elliot diz e concordo.
Tanner, o ala lateral, faz uma boa leitura do jogo, sei disso, porque
ele fecha um contra-ataque e arremessa muito bem a distância, marcando
mais pontos aos Red Fire.
Isso!
Olho ao redor procurando por um certo rosto, mas não vejo. Ainda
tem essa, estou puto por tê-la tratado daquela maneira. Não tinha
necessidade daquilo. Infelizmente, ela só estava na hora errada e no lugar
errado.
Alfred vai ao chão e se levanta irritado, querendo brigar com o
jogador que o derrubou. Tyron intervém junto do árbitro e eu apenas
balanço a cabeça negativamente.
Ergo o olhar para aérea privada, bem acima e vejo os dois ratos
presentes. Zachary e Jayden não têm nada melhor para fazer?
Alfred se aproxima com o sinal que faço para ele.
— CAIU? LEVANTA E SEGUE O JOGO. CONTROLE MENTAL!
NÃO ENTRA NESSA. É ISSO O QUE QUEREM!
— OK, TREINADOR!
— Vai! — Empurro-o.
Chega a ser piada eu falar de controle mental quando não estou
tendo nenhum hoje.
Olho para os meus reservas que estão prestando atenção no jogo.
Irei trocar o Tanner em breve, ele está mais cansado. Só preciso pensar em
quem conseguirá ser praticamente ele em quadra, para não deixar essa
brecha.
Penso o mais rápido possível e faço um sinal para o Sean, ala
reserva e camisa 88. Os demais o empurram e ele se aproxima.
— Se aquece, no próximo tempo você vai assumir o lugar do
Tanner. Preciso que foque no jogo e dê o seu melhor nessa quadra!
— Sim, treinador.
— Não fique nervoso. Confie em si mesmo! Vai!
Falo com o Elliot, para avisar à bancada que teremos substituições
em breve e ele concorda.
Olho o relógio em meu pulso apenas por olhar.
O marcador para, sem mais pontos. Mais um tempo que terminou.
Os jogadores se aproximam, cansados, suados. Nossa equipe
distribui água e toalhas para eles.
— Tanner, você vai ficar no banco. Descanse. Sean vai assumir sua
posição — aviso e ele concorda.
— Os demais, descansem aqui mesmo ou no vestiário. Continuem
focados, esse é o time que quero. Ainda temos muito jogo. Estamos na
frente, mas precisamos ficar muito mais. Quanto mais pontos forem
marcados, menos trabalho teremos. Erraram? Consertem o erro. Não parem,
não revidem. Controle mental é a parte mais importante do jogo. De nada
adianta terem um bom físico, saúde perfeita, jogarem bem, mas a cabeça se
perder fácil. A mente tem que ser aliada de vocês e não a inimiga.
Eles só concordam e se espalham.

Depois de mais um tempo estressante, estamos praticamente ao fim


do último tempo. Troquei mais um jogador, o Zion. Estão jogando com três
titulares e dois reservas. O jogo segue agitado, ambos os times estão dando
tudo si, está mais do que claro. As torcidas estão em clima de final de jogo,
assim como as líderes de torcida e mascotes.
Estou um pouco rouco já, e não é para menos.
Faltam seis minutos para o fim. Minhas mãos seguem no bolso da
calça, enquanto observo tudo e foco no marcador, preciso estar sempre
atento a ele. Já os meus jogadores, odeio que foquem nele, porque isso pode
se tornar um inimigo.
Tyron pega a bola, o tempo passando, repassa para o Killiam. Alfred
pega em seguida, tenta a cesta, mas é bloqueado. O camisa 4 deles pega a
bola, tenta uma cesta sozinho, porém é bloqueado pelos Red Fire.
O marcador não para.
Sean pega a bola, Killiam repassa para o outro reserva, Alfred pega
em seguida, e é cercado, sua chance é arremessar para o Tyron, e nem
preciso falar, ele faz. Tyron pega, quica a bola algumas vezes dando
passadas largas com ela, o cronômetro quase zerando, ele gira o corpo e
arremessa, os dois pontos vem e o marcador para.
RED FIRE 112 X 99 UNITED FOXES
A vitória é dada e a torcida comemora junto dos meus jogadores,
que correm na minha direção, junto dos reservas. Fico parado e sorrio.
Bando de crianças gigantes.
— VENCEMOS PORRA! — Tyron grita.
— Depois de me irritarem, era o mínimo — respondo ao Tyron.
— Qual é?! Nos dê um beijinho ao menos — Alfred diz e o empurro
para longe.
— Parabéns. Conseguiram fazer um bom jogo. Cumpram os
protocolos e descansem um pouco. Cumprimentem o time rival, respeito em
primeiro lugar. Vão.
— Nem um beijinho? — Alfred pede.
— SOME DAQUI — falo e ele sai rindo com os outros.
Me afasto antes que fiquem em cima de mim. Sei que o Elliot vai
cuidar de tudo. Pego o celular em meu bolso, enquanto passo pelo corredor
rumo aos vestiários. Envio uma mensagem ao Francis, que retorna na
mesma hora, xingando e mandando eu dar recados. Eu lá sou a porra de
homem de recados?
Anoto no celular o que pedi a ele, enquanto continuo caminhando e
ignorando as pessoas. Meu limite de lidar com humanos, já excedeu,
preciso repor as energias.
Aperto o botão para ligar, mas em seguida já desligo, pois vejo a
figura da pessoa vindo pelo corredor com seu iPad em mãos, enquanto uma
moça prende nela pontos auditivos.
— Claire, avisa ao Sawyer que preciso da equipe toda aqui embaixo.
Irei recolher as entrevistas aqui mesmo, sem tempo de fazê-los subirem. O
que conseguirmos, será o suficiente, não vou insistir para ninguém ceder.
Jennifer e a Golden que se virem com os times, nós não temos nada a ver
com isso!
— Pode deixar. Testaremos o ponto e microfone minutos antes de
entrarmos ao vivo — a Claire fala e Vicky concorda.
— Obrigada pela ajuda. Pode ir, vou apenas repassar algumas
perguntas à assessoria de imprensa deles, para ver se está tudo bem.
A menina concorda e se afasta. Vicky continua caminhando e passa
por mim, me ignorando completamente e não posso reclamar sobre isso. O
jeito que a tratei na frente do time não foi nada legal.
Observo-a se aproximar da assessoria de imprensa do time e de
alguns jogadores, e mostrar a eles o seu iPad, provavelmente, mostrando-
lhes as perguntas. Me olha rapidamente e está séria.
Respiro fundo e me afasto, parando na porta da sala de descanso.
Aproveito para retirar a credencial e colocá-la no bolso da calça. Observo a
cena.
A equipe dela se aproxima e começam a montar o cenário. Outras
pessoas da imprensa aparecem e o lugar vira um inferno.
Tyron e Alfred cedem a entrevista com a Sport. Os demais falam
com os outros jornais.
Foco nela e nos olhares de pedido de socorro do Tyron, enquanto o
Alfred parece animado. Balanço a cabeça para ele, que revira os olhos.
A entrevista começa e é ao vivo, ou seja, Sparks vai ter que se
controlar. De onde estou, consigo ouvi-la com atenção, mesmo com as
demais entrevistas acontecendo.
— Primeiramente, parabéns pela vitória! — Ela os parabeniza e eles
agradecem. — Agora, observando bem o jogo, pude notar que tiveram
algumas dificuldades iniciais. Como acham que poderiam ser melhores
hoje? O United Foxes teve muitas vantagens sobre vocês durante os
primeiros momentos. O psicológico sempre é bem afetado nessas
circunstâncias. Acham que isso pode ser melhor trabalhado, diante de tanta
pressão?
Vicky é boa nas perguntas, porém muito certeira. Ela faz a pessoa
pensar bem antes de responder.
— Sim! A mente ou é nossa amiga ou é nossa inimiga. Não existe
meio termo, e acredito que a pressão psicológica que estamos enfrentando
nessa temporada está mais intensa, principalmente porque ano passado,
nem na final chegamos — Tyron responde.
— Trabalhar a mente nessas horas, é a parte mais difícil, então
quando um se abala, os demais acabam indo pelo mesmo caminho e tudo
desanda — Alfred completa.
— E por falar em desandar... Tyron levou diversas faltas, o que anda
acontecendo com o capitão que sempre foi o mais centrado em quadra? —
E as perguntas apimentadas começaram, e não são no bom sentido.
Tyron a olha de lado e é nítido ela controlando o riso.
— Depende. Nunca me considerei totalmente centrado.
— E não é. Mais louco que ele, só dois dele — Alfred fala e acabo
sorrindo.
— Certo. Já que está falando de loucura... Alfred, fale um pouco ao
público do que não para de se falar na internet nesse momento: Quando os
jumps com envergaduras épicas virão? A torcida sente falta desses
momentos marcantes que protagonizava.
Alfred sorri sem jeito.
— Acho que não tenho mais coluna para isso. A idade está
chegando e até para abaixar posso travar.
Foster ri e acabo sorrindo com seu riso.
— A idade chega para todos, não é? — ela provoca e a equipe dela
acaba rindo. — Sparks, o próximo jogo é em Oakland, e os últimos jogos
por lá não foram todos bem para os Red Fire. Você, como capitão, acha que
podemos esperar grandes coisas para esse ano? Podemos nos surpreender
positivamente?
É, a garota sabe fazer as pessoas terem que pensar muito mesmo,
porque uma resposta errada, pode ser prejudicial e a mídia não vai perdoar.
Agora entendo realmente tudo.
— Bom, jogos são imprevisíveis, mas sei que daremos nosso
melhor. Não posso prometer vitória, mas sonhar não é crime!
Ela concorda, e olho para ele assentindo. Mandou bem na resposta.
— Obrigada aos dois por terem cedido o tempo de vocês. Agora
retorno ao estúdio com nossos dois jornalistas no plantão...
Ela continua falando com o jornal ao vivo e os dois se afastam.
Tyron se aproxima de mim.
— Quem deixa ela fazer essas perguntas que nos deixam com a
corda no pescoço? Porra, tudo que temos que responder pode nos foder.
Temos que sempre pensar muito — ele resmunga e dou de ombros.
Normalmente sempre me pedem entrevistas da Sport, mas pelo jeito,
isso não acontecerá hoje e já imagino o motivo. Nunca fui entrevistado por
ela, e não sei se fico feliz ou preocupado.
— Pensar antes de responder não vai matá-los! Reclame menos,
Sparks — respondo e ele resmunga, se afastando.
Ela retira o ponto e entrega o microfone à equipe.
Outros jornalistas me pedem entrevista e falo só com um deles,
coisa rápida, menos de cinco minutos.
Entro na sala de descanso, aproveitando que está vazia e me
aproximo do frigobar, pegado uma garrafa de água.
Bebo um pouco do líquido gelado e fecho-a, deixando de lado assim
que a porta se abre. Vicky me olha e a expressão que estava mais tranquila
se fecha mais.
Penso que ela vai sair, mas a garota é dura na queda. Ela pode estar
com raiva, mas já ficou claro que não é do tipo que sai de cena, os
incomodados que façam isso.
Ela se aproxima do frigobar e pega uma garrafa de água. Antes de se
afastar, seguro seu braço e ela segue o movimento.
— Precisamos conversar — falo mais calmo.
— Qualquer assunto de trabalho, trate com a Jennifer, a Golden ou
com seu sobrinho. Só estou como substituta por aqui — sua resposta é
rápida e firme.
— Não é sobre isso. — Solto seu braço e ela solta o ar com força.
— O que quer? — Seus olhos me encaram firme e não consigo
desviar.
— Me desculpar por mais cedo. Eu estava estressado e descontei em
cima de você. Não foi uma atitude correta. Assumo isso.
— Hum... Tudo bem.
— Só isso? — Ergo a sobrancelha. — Não vai xingar, zombar,
revidar?
— E por que eu faria isso? Ao que parece, faz parte dos Bell serem
assim. Escrotos com as pessoas de modo gratuito! Com licença.
Ela se vira, me dando as costas para sair. Fecho os olhos por alguns
segundos e respiro profundamente.
— Foster? — Chamo-a, mas a garota me ignora. — Vicky!
Ela toca a maçaneta e fecha os olhos, parecendo controlar-se
mentalmente e então me olha.
— Sim?
Me aproximo dela e os malditos sonhos começam a me perseguir,
assim como as lembranças do estacionamento, e suas falas quando
retornamos de Los Angeles.
— Olha, só me deixa em paz, sério! Estou cansada. Seu sobrinho
passou a manhã toda infernizando minha vida, ao ponto de eu ter que
desligar o celular. De brinde, você me trata igual lixo, e ainda na frente de
outras pessoas. Isso só porque estava tentando cumprir a porra do meu
trabalho. Minha vida era incrível quando não tinha nenhum maldito Bell no
caminho e agora...
Não a deixo terminar de falar. Eu puxo sua cintura, fazendo seu
corpo colar ao meu. Empurro nossos corpos colados até a porta e ela me
encara ofegante. Sua garrafa cai no chão.
— Acha que está tudo bem aqui também? Desde aquele dia no
estacionamento as coisas desandaram. Primeiro a porra do meu carro,
depois aquela noite. Não satisfeita, agora está colada a mim e ainda
soltando as merdas das suas provocações cheias de duplo sentido. Tem a
porra de regras novas, mas ainda assim acha que está difícil só para o seu
lado? — Inclino meu rosto na sua direção, sentindo cada vez mais seu
maldito cheiro. — Eu tenho que ver dia e noite, a garota que fodeu minha
mente naquele dia. Tenho que lidar com essa sua boca teimosa falando sem
parar para cima e para baixo... Então não ache que só sua vida era melhor
antes!
— Então reclama com quem me colocou aqui, treinador! Eu não
pedi para estar nos Red Fire! — revida nervosa. — Irei cumprir o que fui
designada a fazer. Se te incomodo, fique longe do meu caminho, porque não
mudarei a minha rota para não cruzar com a sua. Estou de passagem.
Somente algumas semanas para estar longe desse inferno!
Se ela soubesse...
Olho seus lábios tingidos de vermelho, me trazendo lembranças.
Malditas lembranças.
— Só cala a boca e iremos sobreviver!
— Não me mande calar a boca, que eu...
Eu a beijo...
De novo...
Eu caio mais uma vez na tentação que ela emana. Eu beijo a garota
que está me deixando louco, e não é positivamente. E o pior: Vicky não me
para. Ela não me impende. Ela abre espaço, quando sua língua cruza a
minha e suas mãos contornam as laterais do meu rosto.
Mesmo de salto, ela fica na pontinha dos pés, então inclino mais
ainda na sua direção, devorando sua boca gostosa, em um beijo nada calmo.
Suas unhas percorrem meu pescoço me arrepiando, e isso atinge meu pau,
que começa a endurecer na velocidade da luz.
Ela geme com o beijo e isso me atinge mais. Aperto sua bunda antes
de subir a mão por baixo do blazer preto e tocar sua cintura nua. Sua pele
está arrepiada. Meu pau está muito duro e só consigo pensar em ir até o
final com isso aqui.
Agarro sua nuca por baixo dos cabelos macios, largando seus lábios
e beijo seu pescoço, ela geme mais. Mordo a pele de leve e suas unhas
cravam mais em mim.
Barulhos na porta nos despertam da loucura que estamos fazendo.
Travo-a com uma mão, para que não entrem, enquanto nos olhamos
ofegantes. Sua boca extremamente borrada e o olhar queimando em desejo.
Ela desce o olhar para o meio das minhas pernas, completamente
marcado pela ereção que se formou. Um sorriso diabólico surge em seus
lábios.
As tentativas de entrar na sala continuam, mas estou perdido pela
porra da tentação que cresceu aqui dentro.
A maluca desliza as mãos pelo tecido da minha camisa e desce
lentamente até ficar de joelhos na minha frente, me fazendo entender muito
bem o que aprontará. Essa será sua vingança, me deixar louco no lugar que
corremos riscos.
— Vicky — sussurro e ela pisca para mim.
Vicky abre minha calça e desce ela junto da cueca branca. Meu pau
salta para fora, todo esticado, inchado, duro. Ela olha animada e nego
lentamente, mas a diaba assente.
Mais tentativas de abrir a porta, e agora apoio ambas as mãos sobre
a madeira.
Ela leva um dedo à boca, me pedindo silêncio.
Essa garota é o próprio diabo!
Não tenho tempo de controlar qualquer coisa, porque ela me devora,
e não é delicada. Vicky Foster me devora até o limite, surpreendendo-me
mais uma vez. Ela não sente ânsia, seus olhos não marejam. Sabe muito
bem o que faz.
Meus lábios entreabrem e preciso controlar os gemidos que querem
escapar.
Ela me chupa gostoso, forte, acariciando minhas bolas com uma
mão, enquanto a outra se apoia em minha coxa e suas unhas me arranham.
— TEM ALGUÉM AÍ? — perguntam do lado de fora.
A maluca simplesmente continua. Ela não para, apenas me fode com
sua boca, devorando-me como se fosse parte de algo muito gostoso, que
ama comer. Um gemido escapa dos meus lábios, perdendo o controle.
— Porra — sussurro. — Eu vou gozar...
Para minha total surpresa e raiva, Vicky Foster se levanta, largando-
me.
Encaro-a e ela passa a língua pelos lábios.
Ela junta nossos corpos e alisa meu rosto com apenas um dedo.
— Isso, treinador, é pelo jeito que me tratou mais cedo. Quer gozar?
Terá que fazer isso sozinho agora!
Balanço a cabeça sem acreditar que ela teve essa coragem. Percebo
que desistem de entrar e aproveito para segurar seu rosto com apenas uma
mão.
— Só esqueceu de algo, Foster... Você não me conhece. —
Aproximo a boca do seu rosto. — Vou aceitar sua provocação agora. Mas se
prepare, porque agora você sai de cena, mas mais tarde vai implorar por
descanso, quando eu te foder inteirinha. Eu te deixei brincar muito com
isso, só que está na hora de conhecer quem é Malcolm Bell.
Puxo seu lábio inferior. Ela sorri em provocação.
Ajeito minha roupa e ela se arruma rapidamente, e ajudo-a com a
bagunça do batom em seu rosto.
Ela conseguiu despertar um lado meu que em anos estava
adormecido.
Demorei para sair da arena, tive que fazer mais duas cenas ao vivo,
logo depois do que aconteceu entre mim e o Malcolm, o que me resultou
em ter que refazer minha maquiagem, claro.
Mas não vou mentir, amei a pequena loucura e tirá-lo do controle.
Mereceu depois do jeito que me tratou. Eu tinha que me vingar de algum
dos Bell, que seja com o mais gostoso deles.
Enrolo-me na toalha e saio do banho rindo das lembranças. É, como
o Oliver diz: eu posso ser uma Diablo.
Me olho no espelho com partes embaçadas pelo mormaço do banho.
Solto os cabelos e sorrio mais ainda.
Saio do banho e me aproximo da cama, onde vejo meu celular
acender a tela. Pego e confiro a mensagem, é as meninas dizendo que
arrasei hoje. Agradeço e me sento na cama, lembrando-me do que o Francis
disse.
E se for verdade tudo aquilo? Estou aqui porque ele me autorizou
assumir o lugar dele, e teria saído mesmo após a Jennifer falar comigo?
— Droga, mas pelo que sei, ele nem sabia antes da notícia ser
divulgada..., só que tudo faz sentido. Eu demorei para ser convidada, estou
meio que sendo obrigada a seguir todo planejamento dele, não posso agir do
meu jeito... Merda! — Solto o ar com força e deito o corpo para trás.
Batidas na porta me faz olhar para o lado e franzir o cenho. Sento-
me na cama e olho a hora no celular. Já está tarde. O jogo foi na parte da
tarde e terminou a noite. Quem quer que seja, deve ser da Golden, eles são
os únicos que sabem onde estou. Mas vir a essa hora aqui? Eles não têm o
que fazer?
Não vou me espantar se for o Francis de muleta.
Ajeito a toalha em mim e caminho até a porta, abrindo-a com
cuidado e escondendo o corpo. Às vezes tenho uns picos de senso.
Coloco somente o rosto no vão da porta e meu olhar foca na pele
negra repleta de gominhos amostra. A calça de moletom preta e baixa,
revelando o V e os pequenos pelos ali. Olho para a mão onde uma gravata
vermelha está enrolada, a reconheço, porque ele a usava mais cedo antes de
arrancar.
Vou subindo o olhar e abro a porta lentamente sem acreditar. Eu
devo estar muito surtada. Isso é algum sonho bizarro. Meus olhos vão
subindo em câmera lenta e encontro o rosto sério, com o olhar escuro
fazendo promessas absurdamente deliciosas. O seu perfume se mistura ao
cheiro de sabonete.
— Treinador — sussurro.
— Quem mais seria, Foster?
Ergo a sobrancelha. O homem é ousado, vejam só!
Cruzo os braços e encosto no batente da porta.
— O que quer aqui?
Ele olha para os lados, antes de abaixar o olhar. Apoia uma mão em
minha cintura e sinto um arrepio forte. Empurra meu corpo para trás, não
pede para entrar, apenas entra de uma vez, fechando a porta atrás de mim
em um baque que me faz sobressaltar pelo pequeno susto.
— Eu vim cumprir o que falei na arena. Você brincou com quem
não deveria e vou te mostrar que não sou os moleques com quem sai, que
caem nos seus feitiços e você os usa quando quer.
Engulo em seco e sorrio.
— Está se achando muito, treinador. Não acha que está com o ego
além do limite? Moleques? Nunca saí com eles. Saio com homens que
realmente saibam me comer muito bem! Não sei se pode tentar se comparar
a eles, foram tantos. Nossa... Perdi as contas. — Não minto, é a verdade
sobre minha vida. Sempre fui ativa sexualmente.
Ele sorri, mas não é qualquer sorriso, tm perigo e seriedade nele.
Com um único puxão ele solta a toalha do meu corpo e sigo com o
olhar o movimento do tecido caindo aos meus pés. Mas me afasto.
Ele caminha na minha direção e dou um passo para trás. Mais um
passo dele. Mais um passo meu de costas. Sua mão me puxa com força para
si, em uma pegada forte. Um suspiro forte escapa dos meus lábios pelo
choque que essa pegada me trouxe. Minhas mãos espalmam em seu peitoral
duro, malhado e meus seios grudam em sua pele. Seu rosto se inclina na
minha direção e seus olhos se fixam nos meus.
— Não vai precisar me dizer que fui o melhor. Vai se lembrar disso
amanhã, e vai demostrar isso hoje, sem deixar uma palavra sequer sobre
isso sair dessa sua boca malcriada. — Sua voz é ainda mais grave, intensa.
Sorrio com ironia, camuflando a ansiedade que começa a crescer em
mim.
— Então é melhor fazer mais e falar menos, Malcolm Bell —
sussurro com a boca roçando à sua.
Ele sorri e não é qualquer sorriso, tem safadeza nele.
Penso que vai me beijar, mas ele empurra meu corpo sobre a cama.
Despenco no colchão macio.
— Só precisa me dizer para parar, que farei. Entendeu? — Pede e
concordo um pouco confusa. — Palavras. Quero ouvir sua boca dizendo
isso, Foster!
— Sim! E se não parar, chuto suas bolas, saiba disso!
Ele sorri de lado e algo me diz que não duvida que eu faça isso.
A gravata vermelha cai em cima de mim, enquanto ele ajeita meu
corpo sobre a cama. Eu só deixo, porque algo me diz que isso vai ser muito
bom.
Malcolm monta sobre mim, e assim posso sentir ainda mais seu
cheiro, observar seus músculos e o quanto é lindo e gostoso.
— Confia em mim?
— Não confio em homem nenhum — respondo e ele me olha sério.
Sorrio. — Confio ou já teria chutado seu rabo. Além disso...
— Fique quieta — diz erguendo meus braços para cima e começo a
entender bem o que vai acontecer aqui. Isso me anima mais, porque já tive
muitas experiências sexuais, mas essa não foi uma delas.
Ele une meus braços e com a gravata os prende na cabeceira da
cama apertando-os.
— Está machucando? — pergunta e nego.
Se levanta da cama e fica me olhando. A calça marca o quanto ele
está duro. Estou ansiosa pelo que vai acontecer.
Sua mão vai a um dos bolsos da calça e retira de dentro dela, cinco
pacotes de preservativo, jogando um por um na cama.
Será que vou andar amanhã?
Olho para ele que parece ler minha mente, porque sorri.
— Não! — responde à questão que só se passava na minha cabeça.
— Ou talvez sim, mas vai sentir bem...
Esse quarto já estava tão quente assim antes?
Ele retira a calça e descubro que está sem cueca, quando seu pau se
revela facilmente, grande, grosso, repleto de veias e com um gosto incrível.
Droga, eu deveria ter terminado, só para sentir ainda mais o gosto
dele.
Ele torna a se aproximar, subindo na cama e fica de joelhos à minha
frente.
— Abre bem essas pernas e faça tudo que eu mandar, fui claro?
Abro-as ao máximo e ele segue o movimento.
— Assim está bom, senhor Mandão? — provoco e sou surpreendida
por um tapa em minha boceta, que me faz soltar um gritinho.
— Eu vou foder você a noite inteira e depois vai terminar o que
começou mais cedo. Em seguida, cada um seguirá sua vida e essa será a
última vez!
Passo a língua pelo lábio inferior e sorrio.
— Perfeito! Se já puder começar... — Outro tapa e dessa vez o grito
vem com um gemido forte.
— Eu faço as regras aqui, não você, garota! — Se inclina na direção
da minha boceta e a ansiedade triplica. Tento me mexer, mas os braços
presos me impedem. — Quanto mais forçá-los, mais marcado ficará depois.
Vou te chupar e está proibida de gozar, fará isso somente quando eu deixar,
fui claro?
— Aí é sacanagem! — Ele ergue a sobrancelha. — Vai se vingar por
mais cedo, não é? Filho da...
Ele não me deixa terminar, porque começa a me chupar muito forte,
com minhas pernas muito abertas e suas mãos travando-as para que não se
fechem. Assim como fiz mais cedo, ele não é delicado, vai direto ao ponto
e, puta merda, o desgraçado sabe usar a porra da boca.
Tento erguer o quadril em sua direção, mas ele impede, porque não
estou no comado, e entendo isso quando acerta um tapa em minha coxa, e
sei que ficará marcado, tenho certeza. O tapa arde, traz mais tesão ainda.
Malcolm Bell me chupa muito gostoso e se ele me quer sem gozar,
não é assim que vai conseguir. Seu olhar se ergue na minha direção, e
caramba, o homem me deixa mais louca.
Ele suga meu ponto mais sensível e um grito escapa dos meus lábios
em um gemido forte.
— Eu... Eu vou gozar — falo assustada porque isso nunca aconteceu
rápido assim.
Ele larga minha boceta e me encara sério.
— Somente quando eu deixar...
Ele entra com três dedos de uma vez dentro de mim enquanto
inclina o corpo sobre o meu. Apoia-se em um dos braços e seu pau roça em
minha pele. Nossos rostos estão bem colados e meu olhar preso ao seu.
Ele começa a mexer os dedos de um lado para o outro dentro de
mim, então entra e sai com eles e repete o movimento.
— Malcolm! — Chamo-o em um som forte.
— Está completamente melada só porque te chupei, indo à loucura
com apenas isso... Vai ter que se controlar mais, Vicky — sussurra, e se o
diabo tiver uma voz perigosa para quando vai aprontar, essa é ela.
Ele chacoalha mais os dedos dentro de mim e o que eram gemidos,
vira um choramingo vibrante. Eu tento mexer os braços de novo, mas
lembro-me como estão. Estou totalmente vulnerável a ele.
— Malcolm! — Chamo-o desesperada. Meus olhos marejam com a
sensação.
— Estou aqui... Controla um pouco mais! — Roça a boca em mim.
Sua voz é sádica, assim como seu olhar, e me sinto muito louca por gostar
do controle que ele está tendo sobre mim.
Nego, não vou conseguir mais segurar.
— Não... não... — O desespero em minha voz cresce porque sinto o
orgasmo vir, queimando-me dos pés à cabeça.
Eu debato-me e ele sorri. Sua boca cola em meu ouvido e sua voz
perigosa se apossa quando diz:
— Goza, Vicky... Goza... Porque esse será o primeiro dessa noite!
Eu gozo, porque esse filho da puta conseguiu me controlar de um
jeito estranho. Eu gozo choramingando em um orgasmo desesperado, com
meu corpo tremendo e um grito de prazer escapando dos meus lábios.
Seus dedos saem de mim e ele os traz para perto de nossos rostos.
Chupa um e traz os outros dois para minha boca e chupo, deliciada com o
que acabou de acontecer.
Ele se afasta novamente e puxa um dos preservativos, rasgando a
embalagem com o dente, e nunca pensei que essa porcaria de cena clichê,
fosse realmente tão sexy de assistir.
Desliza o látex pela base longa do pau que já tive o prazer de sentir
e torna a se posicionar, agora entre as minhas pernas.
— Não vai me soltar?
— Agora não — responde e sorrio. Passa um dedo pela minha
boceta e ofego. — Ainda está sensível. Perfeita para entrar em você. Se eu
bem me lembro, é pequena e assim vou te foder melhor.
Se essa porra for um sonho, eu vou ficar muito puta.
Não acorda!
Não acorda!
Não acorda!
Ele posiciona o pau na minha entrada e me penetra de uma vez,
alargando-me até o final.
— Porra... Como é quente. Mesmo com a camisinha consigo sentir...
Caralho! — Aperta minhas coxas.
— Você é realmente enorme. Oooh... Malcolm! — falo e ele se
mexe.
Se inclina na minha direção e toca meu seio com uma mão. O bico
está duro e excitado. Ele chupa, mamando nele, enquanto começa a se
movimentar bem forte. Eu quero tocá-lo, mas não posso, ele tem o controle
de tudo.
Malcolm me fode e me chupa da forma mais gostosa que já senti.
Seu pau sai um pouco e entra de novo, suas bolas batem em mim.
Sou apenas gemido e gritos.
Ele larga um seio e vai para o outro, dando mordidas no biquinho e
chupando em seguida.
Malcolm quer me matar e vai conseguir.
— E-eu quero te tocar. — falo ele larga meu seio.
— No momento certo... Controle-se, Foster — fala e tento puxar
meus pulsos, mas só aperta mais. — Não faça isso, te machucar não é parte
disso aqui!
Reviro os olhos e sorrio concordando.
Gira-me rápido, em uma habilidade surpreendente, fazendo meus
pulsos amarrados, acompanharem o movimento. Seu pau sai rápido de
dentro de mim.
Agora estou de quatro, empinada para ele e recebo um tapa forte em
minha bunda, que faz meu corpo impulsionar para frente.
— Aaah... — Solto um gemido em seguida. Ele torna a me penetrar.
— Boceta gostosa... Inferno!
Ele me fode mais bruto ainda, puxando meus cabelos de modo
feroz, enquanto inclina o corpo sobre mim e morde minha orelha.
— Treinador... Meu Deus... — Ele entra e sai completamente de
dentro de mim.
— Não me chama assim agora! — Vocifera em meu ouvido.
— E... O que vai acontec... acontecer? Aaaah... — Ele repete o ato
de sair completamente e entrar de uma vez. — Treinador! — Chamo de
novo.
Ele se afasta um pouco e acerta um tapa forte na minha bunda.
— Não seja teimosa, garota! — Acerta outro tapa e grito repleta de
prazer.
— Eu vou gozar de novo... Malcolm... Não para! — O desespero
cresce dentro de mim.
Não consigo controlar, eu começo a ter um outro maldito orgasmo,
gritando seu nome e recebendo tapas em minha bunda, que ficarão ardidos e
marcados amanhã.
Ele começa a gozar, seu gemido aumenta, assim como suas
estocadas, até que ele sai de dentro de mim e meu corpo despenca.
Dois orgasmos seguidos e o louco tem mais quatro camisinhas.
Que não seja um sonho!
Viro-me de lado como consigo e vejo-o retirar a camisinha e
amarrá-la, antes de jogar para o lado. Ele me olha e balança a cabeça, se
aproximando de mim e quando penso que me soltará, ele se deita ao meu
lado, colando seu pau na minha bunda.
Estamos ofegantes, suados.
Ele vira meu rosto para si e me beija segurando meu rosto. Me
remexo e seu pau semiereto começa a endurecer de novo.
— Eu falei que deveria gozar só quando eu permitisse — sussurra.
— Fica complicado com você me fodendo assim e espancando
minha bunda, não acha? — Sorrio.
Ele toca minha boceta e desliza os dedos por ela.
— Está muito sensível?
— Um pouquinho... — Seu pau encaixa no vão da minha bunda. —
Eu quero mais... Se eu não quiser, irei falar! Prometo... — Seus olhos fixam
nos meus. — Isso está gostoso, me fode mais, treinador... Vai...
Ele acerta minha boceta e mordo o lábio contendo o gemido. Puxa
outra camisinha e coloca em seu pau, então se ajeita atrás de mim e ergue o
suficiente da minha perna para me penetrar de novo, só que dessa vez, ele
entra calmo. Ajeita minha perna e agora de ladinho, começa a me foder de
novo, sem longas pausas.
Preciso de muito mais.
Uma de suas mãos sobe para o meu pescoço, onde seus dedos se
fecham sobre ele, mas não apertam, por mais que eu deseje isso.
— Não tem como parar... Não nessa boceta que me aperta tanto! —
ele fala e o aperto mais. — Caralho, Vicky!
Seu ritmo intensifica, sua boca cola em meu pescoço, chupando a
pele que ficará marcada, e nada disso me interessa, quero sentir tudo. Ele
me fode de novo, bruto, veloz, os gemidos aumentam no quarto, os
movimentos agitam a cama, os tapas acertam minha boceta e seios, meus
pulsos criam uma leve ardência e o suor começa a pingar.
Meu ponto G é atingindo e nesse momento esqueço quem sou.
Malcolm Bell me faz esquecer tudo.
Não tem mais palavras, é uma mistura insana de sons, que se
espalham pelo quarto, até ambos começarem a gozar de novo, eu pela
terceira vez seguida, tudo guiado pelo controle que ele lançou sobre meu
corpo.
Seu pau sai de dentro de mim com cuidado.
Não sei realmente mais controlar meu corpo. Estou muito fraca
agora, preciso de um tempo. Tento soltar meus pulsos, mas não consigo.
— Calma, vou soltar. — Ele se aproxima agora, sem camisinha já e
desfaz o nó, soltando com cuidado meus pulsos. Esfrega com carinho onde
estão bem vermelhos. A gravata cai ao nosso lado.
Ele se afasta pegando as outras três camisinhas, coloca-as na mesa
de cabeceira e torna a se deitar ao meu lado. Me ajeita na cama e beija meus
lábios com calma.
— Me lembre de te irritar mais vezes — brinco e ele sorri. — Eu
não durmo agarrada com quem transo, Malcolm Bell.
— Minhas regras hoje. Amanhã não tocaremos nesse assunto e
fingiremos que nem intimidade temos. Então fique calada. E ainda tem três
camisinhas a serem usadas!
Sorrio e me ajeito mais confortável na cama.
— Mandão demais, não acha?
— Não viu nada... Descanse, Foster.
— Falou que tem mais camisinhas a serem usadas — provoco.
— E serão, mas descansa agora! Está bem fraca.
Reviro os olhos que estão pesados.
Meu celular vibra, perdido na cama e pego-o, encontrando após
bater as mãos atrás de mim.
— Seu sobrinho não dorme? Ele já pensou em arrumar alguém para
transar?
Ele pega o celular da minha mão e deixa sobre a mesa de cabeceira.
— Esquece ele agora. Não é o momento de lidar com o Francis.
— Nem tem como eu pensar em nada... Meu cérebro parou tem um
tempinho. Quero um hambúrguer, só pra relaxar.
Sorrio e ele balança a cabeça, tornando a me beijar, mais calmo.
Estou chegando no centro de treinamentos dos Red. Iremos viajar
hoje, mas tem uma coletiva agora cedo e acordei muito atrasada. Corri para
tomar um banho e me arrumar às pressas, ou conforme meu corpo permitiu
isso, porque estou totalmente exausta, dolorida. Nem tive tempo de conferir
o estado real do meu corpo.
Depois da terceira vez gozando, realmente apaguei. Não vi o
Malcolm sair, não vi mais nada acontecer. Acordei com o Sawyer
esmurrando a minha porta achando que eu tinha morrido. Só então vi as
inúmeras ligações e mensagens.
Se a intensão do Malcolm era me ferrar hoje, ele conseguiu, mas
pelo menos tive benefícios ontem.
Sorrio me lembrando da loucura toda. Sei que não foi sonho, porque
meu corpo dolorido mostra isso.
Passo pelo pessoal, cumprimento-os rápido e corro para a salinha
que tem aqui, para fazer uma maquiagem rápida e comer algo antes de ir
encontrar a equipe. São nessas horas que sinto saudades da Cherry
trabalhando ao meu lado, ela já teria feito minha maquiagem perfeitamente
e montado com sua letra perfeita, tudo que preciso fazer, ou as perguntas e
talvez conteúdos úteis a serem usados.
E por falar nela...
Meu celular toca com sua videochamada e atendo enquanto tiro tudo
da bolsa para tentar me ajeitar.
— Bom dia, minha Mascotezinha... Me diga, como se maquiar
rápido sem fazer merda?
— Bom dia... Liguei para ver se está tudo bem e pelo jeito... O que
aconteceu? Perdeu a hora, né?
Olho para ela e apoio o celular na bola de basquete que fica de
decoração na mesinha ao lado. Confiro minha bolsa de maquiagem. Peguei
na mala o básico e joguei dentro dela. Sento-me com cuidado no sofá,
porque estou meio dolorida. Isso é real.
— Perdi a hora. Foi uma loucura... — Vejo as notificações do
Francis chegando. — Estou ferrada, essa é a verdade. Mas quando não
estou? — Sorrio nervosa.
Olho para ela, que franze o cenho e se aproxima mais da câmera do
celular, enquanto toma o que parece ser uma vitamina, deve ser as coisas
mais saudáveis que consome.
— Isso no seu pescoço é um... — Começa a falar e olho para o
espelhinho que pego.
Merda. Ontem nada me importava, mas agora tendo que gravar para
a porra do jornal, é outra história.
— É um chupão! Nem queira saber. Me diz que dá para esconder
isso com maquiagem?! Para piorar, não vim com nenhuma blusa de gola
alta, ou algo assim.
Olho para a minha camisa branca, bem delicada, com as mangas
dobradas e só agora olhando bem, noto os pulsos levemente vermelhos.
Estou fodida, literalmente.
Abaixo as mangas e respiro fundo.
— Até dá, se você tiver aí um corretivo ou base que se misture ao
tom da sua pele e seja de alta cobertura. Se tiver os dois, melhor. Ou algum
corretivo colorido para misturar para formar... Esquece, você vai piorar
tudo. Tem base e corretivo? — Acho que ela notou minha cara de confusa e
desistiu dessa ideia.
— Peguei só o corretivo, merda! Mas é alta cobertura! — Olho e
pego ele também — Só passar?
— Passa e dê leves batidinhas com o dedo mesmo. Constrói
camadas, se necessário. Não sei se vai esconder muito, mas... Vicky, no que
se meteu?
— Quer mesmo saber? — Ela fica vermelhinha, é possível ver
mesmo pelo celular. — Digamos que foi algo beeem quente!
— Não!
Sorrio e abro o corretivo. Faço o que ela disse, mas sem chances de
funcionar, peguei um corretivo que uso para iluminar o rosto. Vai ficar
muito claro e com a as câmeras que usamos, que dá para ver até a alma, isso
será péssimo.
— Não! Muito claro. Cadê suas maquiagens?
— No hotel. Peguei tudo correndo.
— Solta o cabelo, será o jeito de esconder isso.
— Temos um problema... — Franzo o cenho desesperada. — Ele
está uma loucura. Suado... Eu tinha que lavar, mas não deu tempo. Por isso
que fiz rabo de cavalo. Não tem como isso ficar solto.
A porta se abre e olho para a figura que me trouxe esses problemas.
Ele me olha surpreso.
— Com quem está saindo? Por que quando fica sozinha só
apronta? Meu Deus! Fale com a Jennifer, invente algo. Isso aí está muito
nítido! Não viu antes de sair do hotel?
— Eu estava atrasada, reparar nisso não era opção. E acho que ando
saindo com vampiros, sabe?! — falo e Malcolm leva as mãos ao bolso da
calça e me olha com ironia. — Eu vou dar um jeito. Nos falamos depois,
meu amorzinho. Te amo!
— Te amo! E não arrume mais problemas, Vicky!
Pisco para ela e desligo a chamada.
Coloco o celular ao meu lado e limpo o corretivo que ficou horrível
no pescoço. Malcolm segue o movimento. Se ele sorrir, eu o matarei.
— A coletiva já começou?
— Não. Vai começar daqui cinco minutos.
— Merda! — Levanto-me rápido demais e acabo soltando um
resmungo.
Pego meu celular e mando mensagem ao Sawyer. Ele vai ter que me
ajudar a pensar em algo.
— Eu falei que deveria me mandar parar. Por que não fez quando
atingiu o limite? — A voz do Malcolm se torna mais próxima e só agora
noto que ele está quase colado a mim.
— Porque eu queria. Só que eu não contava em ter que usar minha
imagem hoje. Estou ferrada, porque não vai dar tempo de buscar uma roupa
que esconda isso aqui ou maquiagem! — Aponto para meu pescoço.
Ele toca com cuidado, parece preocupado.
— Vicky, porra... — Começa a falar, está nervoso.
— Para com isso! Eu estou bem. Isso é só um dia caótico na minha
vida. Por que acha que todo mundo manda eu não me meter em problemas?
— Sorrio. — Relaxa, seu jogador faz pior! — Ele me olha puto. — O
Tyron, sabe, com a Kristal... Esquece! Eu preciso falar com o Sawyer.
Sento-me no braço do sofá, ainda dolorida e resmungo baixinho.
Noto o sorrisinho discreto nos lábios do filho da mãe. Encaro o celular.
— Vai para o hotel. Eu vou dizer que veio, mas passou mal. — Olho
para o Malcolm. — É sério. Ronald vai te acompanhar, ele está aqui.
— O hotel é aqui do lado.
— Não perguntei isso, Foster.
— As portas velhas costumam ser mais delicadas que você, sabia?
— pergunto em um resmungo.
Ele se aproxima, ficando entre minhas pernas e olho assustada.
Mas o que...
Retira o celular do bolso e com a outra mão apoia em minha cintura,
acariciando.
Eu hein, que coisa estranha. Não foi ele que disse que hoje não
iríamos agir como se tivéssemos intimidade?
Malcolm digita algo no celular e depois me olha.
— Ele está te esperando. Vá para o estacionamento. Eu resolvo as
coisas aqui. Não se preocupe.
— Espera aí... Eu venho a pé e você de carro? Cadê os direitos
iguais disso aqui?! — Fico boquiaberta.
— Eu tenho um compromisso depois, antes de viajarmos para a
próxima cidade. Ele iria me acompanhar. Não é o que pensa.
— Ah... Então desculpa! — Sorrio sem graça. — Mas e se
descobrirem que menti? Sempre descobrem. Essa é a verdade! Tirando
meus pais, que até agora não sonham que a filha quase ficou morando na
cadeia... — Inclino o rosto e mordo o cantinho da boca.
— Você sempre fala muito? — Coloca o celular no bolso. Seu
carinho não para.
— Só quando estou nervosa demais ou empolgada ao extremo.
— Ou seja, nunca cala a boca?
— Muito engraçado, treinador! Quando estou chateada, irritada,
costumo me calar, me fecho para o mundo, não que seja da sua conta. Mas
já que... — Ele aproxima o rosto do meu e roça os nossos lábios. — Achei
que quisesse fingir que nem nos conhecemos. Viciou? — falo baixinho e ele
beija meus lábios, me fazendo sorrir.
— Você é uma espécie de castigo para mim, puta merda — sussurra
puxando-me mais para si.
A porta se abre de uma vez e somos surpreendidos pelo Sawyer que
nos olha, afinal, o treinador está entre as minhas pernas, com uma mão na
minha cintura e com nossos rostos colados. Malcolm se afasta rápido e
pigarreia. Ajeito minha postura controlando a vontade de rir por ver o
treinador careta todo perdido.
— Você não viu nada! — aviso o Sawyer que lança um olhar
julgador. — Ou a Jennifer vai saber que quando some e não atende as
chamadas dela, é para ficar se pegando com a Claire! — Ele arregala os
olhos. — Acha que sou idiota? Sei bem o que aprontam.
— Me respeita! Tenho idade para ser seu pai, menina!
— E dela também! Ela tem minha idade, meu amor. — Sorrio em
deboche.
Sawyer bufa irritado.
— O que aprontou agora? — questiona.
— Eu vou fingir que estou morrendo e você vai confirmar. Não
posso apresentar nada hoje! Precisa me ajudar, Sawyer. É sério.
— E o... Ah, já vi foi tudo! — Ele olha para o meu pescoço e para o
Malcolm. Esfrega o rosto, nervoso. — Vicky, a Golden... — O tom de pai
preocupado surge, porque quando quer, me trata como filha.
— Não tem nada acontecendo aqui — Malcolm diz sério. — Não
saia dizendo o que não sabe!
— Ele já sabe disso, treinador, não é? — Olho para o Sawyer que
confirma a contragosto. — Por favor, preciso disso. Não terei tempo de
resolver nada para aparecer nas câmeras sem parecer que transei com um
vampiro!
Sinto o olhar penetrante do Malcolm sobre mim e dou de ombros.
— Tudo bem, mas só dessa vez. E o que quer que estejam
aprontando, saiba que ela se prejudicará, enquanto o senhor, treinador, logo
a imagem será limpa. Não ferre essa menina, ou o respeito que tenho pelo
senhor, vai acabar! — Sawyer o ameaça e isso me surpreende.
— Eu já disse que não tem nada acontecendo! — Malcolm dá um
passo à frente e fico olhando. — Vai continuar insistindo? Quer mesmo
continuar com essa merda? — A voz do treinador é assustadora nesse
momento, junto do seu olhar sério.
— Eu me importo com ela! — Meu chefe não recua. — Essa garota
me irrita, mas é boa no que faz. Não merece se prejudicar porque é doida, e
o senhor que deveria ser mais responsável, não está sendo. É peixe grande
demais para ela lidar!
— Se importa, só isso mesmo? — Malcolm intensifica seu tom. Mas
que merda é essa? — Está insistindo demais no que não deveria! Quer ditar
como eu devo ou não ser responsável? É isso que está querendo? — Ele dá
mais um passo para frente.
Levanto-me com cuidado e fico entre ambos, empurrando o
Malcolm, que nem se move.
É de pedra esse louco?
— Ei, que merda é essa? Eu estou aqui, sabiam? Não preciso de
ninguém me defendendo, ou arrumando confusão! Podem ser adultos? Eu
odeio ter que ser a adulta, então serei grata se me devolverem meu posto em
que só ligo o foda-se — falo sério com eles.
Sawyer se afasta.
Olho para o Malcolm, que me encara e firmo meu olhar. Ele se
afasta a contragosto, é nítido.
— Só estou preocupado. Aquela regra pode te prejudicar muito,
Vicky. E por mais que digam que não há nada, tem sim! Eu não sou burro!
Olha com quem está se metendo, é isso mesmo que quer? Ele vai se safar
depois de umas semanas, mas seu nome ficará jogado na lama, conhece
bem esse meio! — Sawyer insiste.
Engulo em seco porque sei disso.
— Eu vou ficar bem. Nada mais está rolando, acredite em mim. Eu
vou voltar para o hotel, só confirme minha versão. Jennifer vai saber como
contornar isso. Nunca faltei com meu trabalho, só estou pedindo esse favor
hoje, tudo bem?
— Tudo bem. Vou ligar para ela. Tenha juízo, Vicky! Pense bem
nisso! — Ele sai dando uma olhada para o Bell. Me viro para o treinador.
Solto uma grande lufada de ar.
— O que foi isso?
— Ronald está à sua espera. Vá, antes que mais alguém venha aqui!
— Ele corta o assunto.
Assinto ao pegar minhas coisas e saio dessa loucura toda.
Estou no café ao lado do hotel, fiz Ronald parar aqui e o arrastei
junto. As pessoas cagam para o meu pescoço, estão mais preocupadas com
a correria do dia a dia delas.
— Não acho certo eu ficar, senhorita.
— Vai tomar café comigo, sim, senhor. Seu chefe te dispensou, que
eu vi. Está com cara de quem tem fome, e estou morrendo de fome
também. Além disso, preciso conversar para relaxar depois da manhã
maluca que tive.
Sentamos diante da mesa, trazendo nossos pedidos. Claro que não
tem nada saudável no meu prato, mas me admira não ter no dele também.
Estamos comendo o típico café americano e acrescentei um pedaço de bolo
com o interior colorido.
— Vai, me conte, trabalha muito tempo com o treinador dos Red
Fire? Vamos conversar. Se abra, preciso saber de uma vida que não seja a
minha! — Peço em meu tom dócil e é até estranho, porque normalmente
uso ele apenas quando quero descobrir coisas, e bem, eu não quero
descobrir nada sobre Malcolm, não é?
Ele sorri, ficando mais confortável. Pelo jeito, ama falar sobre isso e
como adoro fofocar, já amei esse homem.
— Sim! Desde que ele entrou para o time como treinador, anos
atrás. Senhor Bell é um homem muito bom!
— Sei... — Reviro os olhos em deboche e como um bacon com um
pouco de ovos.
— É verdade, senhorita! Ele é um homem muito bom comigo e com
as outras pessoas. Sempre busca ajudar quem precisa. — É nítido o quanto
se orgulha do seu chefe.
— Como assim? — Bebo um pouco do café gelado que peguei.
Mais uma vez meu tom de jornalista que consegue tudo, surge.
Merda, por que quero tanto saber?
— Ele que banca minha casa aqui em Nova York, por exemplo. Eu
sou do Texas, onde toda minha família está. Vim para cá em busca de
melhorar a vida deles, que é bem humilde e comecei trabalhando na
limpeza do centro de treinamentos. Mas fizeram alguns cortes por lá e eu
seria mandando embora, então ele descobriu que tenho treinamento como
segurança e defesa e que dirijo muito bem, então me contratou na mesma
hora. Ele diz que é porque viu minha vontade de trabalhar, mas sei que ele
ouviu quando pedi mais uma chance, pois não teria como bancar meu
aluguel e ajudar minha família e que eu não conseguiria emprego em mais
nenhum lugar e ainda assim, não me mantiveram no quadro de
funcionários.
Olho para o homem completamente animado falando disso e fico
surpresa com o que me revela. Ronald é bem simpático e falante, me lembra
uma certa maluca: eu.
— Que bom que tudo deu certo. Espero que sua família esteja bem!
— Sorrio. — Tem irmãos?
— Minha família está bem sim, obrigado por se preocupar. Tenho
mais dois irmãos casados e um sobrinho, meus pais são bem de idade, o que
podemos, fazemos por eles. Com o meu emprego, consigo ajudar ainda
mais, já que o senhor Bell me paga muito bem e também ajuda com
bastante coisa, como bancar os estudos do meu sobrinho...
— Ele faz o quê? — A surpresa cresce ainda mais.
— Perdão! Ninguém deveria saber... Perdão... — Fica todo perdido.
— É que não tenho amigos além dele por aqui, na primeira oportunidade,
não calo a boca, como ele diz... Céus, eu não deveria ter dito nada!
— Se acalma, não irei falar nada, Ronald, está tudo bem! — Sorrio
para que ele se acalme. — Te entendo sobre não calar a boca. Está tudo
bem. Só fiquei surpresa, é informação demais.
Ele assente e começamos a comer, e fico pensando nas informações
que recebi em poucos minutos.
— E me fale, Ronald, é casado, namora, como é a vida? — Rio da
cara que ele faz.
— Solteiro. — Ele sorri tímido. — Já tive alguns amores na vida,
mas nada sério. Além disso, não tenho tempo. Preciso focar no trabalho,
para finalmente conseguir terminar de pagar a casa dos meus pais. Sou o
mais novo dos irmãos, e como todos precisam lidar com suas vidas
também, me encarreguei de tentar dar um descanso para nossos pais, do
modo que merecem.
Sorrio, porque o entendo. Pela minha família, faço qualquer coisa.
Como um pedaço do bolo e me delicio com o sabor.
— Você mora perto ou o homem te faz madrugar ainda mais do que
já faz com todo mundo, e ainda fazer longas viagens até chegar aqui?
Ele sorri e nega.
— Eu moro aqui perto, dá para ir a pé ao centro de treinamentos,
mas só fico à disposição do senhor Bell, quando realmente é necessário para
ele. Agora, com ele morando em Palo Alto, só trabalho muito mesmo
durante a temporada de basquete.
Ah... Então por isso o encontrei naquele dia do carro, no evento, e
ele surgiu no jornal... Não foi por estar viajando, ele está morando lá.
— Faz tempo que ele se mudou? — Bebo meu café.
— Alguns meses já. Final do ano passado ele já organizava tudo
para ir embora, e durante as festas, já ficou de vez por lá.
Acertei! Que azar o meu, viver sob o mesmo oxigênio que aquele
careta mandão e que infelizmente fode bem e é um tremendo de um gostoso
e lindo.
— Ah, entendi. Sou de lá também. — Suspiro. — Dizem por aí, que
torno Palo Alto mais tranquilo, acredita?
Comento e nós rimos.
— Agora coma, homem. Está muito magrinho, como sempre diz
minha avó! — Sorrio, lembrando da única mulher que entende que comer é
dos deuses.
— O senhor Bell pode ficar bravo comigo, pois ele pode precisar
dos meus serviços e só não quis falar, e...
— Ele não precisa! Aquele homem quando precisa de algo, fala, ou
melhor: ele grita — brinco e o Ronald tenta conter o riso. — Será um
segredinho nosso. Merecemos esse descanso dele, assume!
Ele sorri sem jeito.
— Eu gosto dele. É um bom homem, como já disse. Ouso dizer que
só precisa viver mais e se estressar menos.
— Não quer a paz mundial? Me parece mais fácil! — Faço uma
careta e ele ri. — Vai, experimenta esse bolo, está perfeito. Algo me diz que
é bom de comilanças como eu! Dizem por aí que como demais, não acho
isso!
— Não, senhorita, já não me deixou pagar pela comida...
— Homem, sinta-se privilegiado por eu dividir minha comida, então
abre a boca vai!
Coloco o bolo em sua boca e começo a rir dos olhos arregalados
dele.
— Muito bom, né?
Tiro o garfo da sua boca e ele a limpa rapidamente, se levantando
rápido e ajeitando o terno.
— Mas, o que... — Viro-me para onde ele tanto olha e vejo
Malcolm Bell junto do Elliot e Ashton. E minha paz terminou, isso é
castigo. — Agora entendi. Era melhor ter se espantando pelo bolo. Sente-se
e finja que nada aconteceu.
— Ele está entrando com os outros.
— Senta, vai! — Puxo sua mão e o homem se senta todo duro na
cadeira.
Apoio discretamente o braço sobre e mesa e a mão no meu pescoço,
onde está o chupão, e sorrio para o trio que se aproxima.
Com tanto café na porra de Nova York, eles vêm justo aqui. Que
piada!
— Com licença senhores... senhorita! — O pobre Ronald sai
foragido do café. Não deu tempo de ninguém falar nada, nem mesmo seu
chefe.
— Bom dia, senhorita Foster — Ashton e Elliot dizem juntos.
— Bom dia! — Sorrio, sentindo o olhar do Bell queimar sobre mim.
O que fiz agora? Ele vive no limite entre me esganar e me fuzilar
com o olhar. Eu já chutei as bolas dele e não estou sabendo?
— Vão fazendo os pedidos. Preciso passar um recado à senhorita
Foster — o treinador diz e sei que me ferrei.
Os dois se afastam e Bell me olha, dando sinal para eu me levantar.
Nego com a cabeça. Ele insiste. Nego de novo e forço um sorriso.
— Levanta — diz entredentes olhando as pessoas ao redor.
— Estou comendo — respondo do mesmo jeito que ele.
Ele passa a mão pela cabeça, esfregando os cabelos bem rentes, em
um corte que não chega zerar, mas deixa o sombreado dos cabelos pretos.
— Levanta logo, Foster!
Reviro os olhos e levanto pegando minha bolsa.
Caminho para fora da lanchonete com ele na minha cola. Paramos
um pouco afastados das enormes janelas.
— O que pensa que está fazendo? — pergunta, nervoso como
sempre.
— Comendo?
— E levando o Ronald para as suas loucuras? Dando comida na
boca dele? Que merda é essa? — Seu tom é esquisito, parecido com o que
teve com o Sawyer mais cedo.
— Comer é loucura? E nem fale do pobre homem. Ele saiu que nem
um doido daqui. Deve estar infartando agora. Que feio, senhor Malcolm
Bell! — Cruzo os braços ao ajeitar minha bolsa.
— Eu não pedi para ir para o hotel? — Parece que vai infartar a
qualquer momento.
— Eu estava com fome — retruco.
— Lá tem comida, porra!
— E daí? Desde quando controla meus passos, seu maluco? Olha,
vou te denunciar! Isso é perseguição! — Ele olha para os lados e se
aproxima mais. — Olha, os paparazzis sempre estão atentos... Seriam
ótimas fotos à imprensa! — Ergo uma sobrancelha em deboche e ele só
falta bufar como touro e arrastar o pé para trás.
— Você está doente! Lembra? É isso que foi dito!
Faço uma careta.
— Merda. Por que não disse antes? E a minha comida? Porra! —
Jogo a cabeça para trás e xingo mentalmente toda a minha existência.
— Volta para o hotel e deixe o Ronald em paz, Foster! Estou falando
sério!
— Mas e minha comida? Quero comer. Já acordei cedo, tive que
lidar com o Sawyer. É o mínimo eu comer!
— Aquilo nem é comida. Está só se matando!
— Olha, não fale da minha comida! Qual o seu problema com o que
como? Se você é todo fitness, é um problema só seu. Eu quero meu bolo!
— Some daqui, Foster. Antes que se prejudique... Que nos coloque
em apuros!
— Sem meu bolo? Eu preciso de doce para relaxar. E sabe o pior,
meu estresse está sendo causado por quem não quer me deixar comer! Me
dá paz, homem! Que inferno! É por isso que nunca fico próximo de quem
transo, porque acaba assim, uma tragédia!
Ele parece que vai explodir.
— Vai para o hotel e vou te dar o maldito bolo. Eu confirmei à
Jennifer que não estava bem, porque ela achou que o Sawyer estava
enrolando-a e você tinha aprontado. Se ela souber que estou mentindo, vou
te esganar!
— Qual o seu problema com ela? — Sorrio maliciosamente — Ah...
Não me diga que vocês dois... Por isso trata ela tão bem? Estou chocada! —
E chateada. Porque se for por essa lógica, deveria me tratar um pouquinho
melhor.
— Claro que não! — Passa a mão na cabeça. — Vicky, por favor, vá
para o hotel. Não esqueça do que está no seu pescoço também. Se aqueles
dois linguarudos virem, vão saber que não é por doença que sumiu hoje. A
Sport cobriria a coletiva que foi cancelada porque a jornalista não estaria, já
que estava doente. Esse chupão dirá outra coisa.
Respiro fundo.
— Está bem! — Descruzo os braços. ­— Eu só queria meu bolo, mas
não se pode ter tudo!
Arrumo minhas coisas para seguir para o aeroporto, e de lá iremos
para Oakland nos dois jatinhos dos Red Fire. Os segundos de glória estão
presentes, afinal, minha manhã foi uma coisa muito sinistra.
Aproveitei que fiquei no hotel e lavei o cabelo para conseguir usá-lo
solto e ajudar a camuflar a cagada no pescoço; já está um pouco melhor,
pois agora usei o corretivo certo, e com o cabelo também, posso ficar mais
tranquila. Jennifer me mandou mensagem perguntando o que tenho, e falei
que acordei com enxaqueca e mal-estar, mas que vou ficar bem.
Que pecado mentir assim. Mas tudo por uma noite bem quente.

Chego na pista onde os jatinhos sairão, um levará a equipe por trás


do time e a mim e o outro os jogadores. Finalmente estou tendo privilégios,
porque ano passado com os Tigers, ninguém me cedeu um mimo que fosse.
O que carrega o time e o que carregará a equipe por trás do time, isso
incluem a mim, porque me recuso me lascar como me lascava ano passado
com os Tigers. Oliver vai ter que me dar o mundo por isso, pois seu time
não me valorizou.
Sawyer e a equipe estão indo em um voo comercial. Sei que ganhei
esse privilégio, porque faz parte do cronograma maluco e do acordo do
Francis com a Golden.
O que ele tem que consegue jatinhos? A Kristal também, porque ela
se deu muito bem aqui. Preciso fazer algumas perguntas à Jennifer, tem
muita palhaçada acontecendo. Eu sou tão gente boa.
Observo eles e balanço a cabeça.
É dinheiro demais envolvido. O time agora tem dois jatinhos, é
muito surreal!
Vejo o Ronald e sorrio. O homem se aproxima junto dos jogadores.
Ele carrega uma pequena caixa em mãos e estende-a na minha direção.
— Tem uma bomba aqui, né? O treinador brigou com você? Se ele
brigou, desculpa. Vou falar com ele... — Largo minhas malas e pego a
caixa.
— Não, senhorita. Inclusive, ele já está em um dos jatinhos com
parte da equipe, e vou acompanhá-lo nessa viagem. Está tudo bem.
Assinto e cumprimento os jogadores, inclusive o Alf que rouba um
beijo da minha bochecha. Rio da sua cara de pau.
Tyron se aproxima e Ronald se afasta pedindo licença. Assinto.
— Está tudo bem? — pergunta preocupado e franzo o cenho.
— Bem? Por que não estaria?
— Sim! Falaram que estava doente! — Me olha desconfiado e ajeito
meu cabelo no pescoço.
— Ah... Estou melhor sim! — Sorrio e abro a caixa com medo. Mas
meu sorriso aumenta.
— O que é isso? Sério, Vicky, até para viajar carrega comidas?
Começo a rir e mostro o dedo do meio para ele.
— Não, girafa! Vai, carrega minhas malas!
— Como?
— Com as pernas, as mãos... Vai!
— Não foi a isso que me referi, Vicky — rebate nervosinho. Que
saudade do seu mau-humor.
— Só leva. Estou doente, tem que cuidar da melhor amiga da sua
namorada. Vai! — Chuto a bunda dele, literalmente, e me afasto sob seus
xingos e risos dos seus colegas que viram de longe, enquanto sigo para
onde sou encaminhada.
Olho o pedaço gigante da fatia do mesmo bolo que eu comia e sei
bem que não foi o Ronald que fez isso por mim.
Malcolm Bell... se está tentando me conquistar, saiba que nunca
conseguirá.
Estamos em Oakland e hoje o time tem day off, exceto por mim, já
que minha cabeça nunca para.
Enquanto eles descansam, aproveito para focar na vida pessoal, pois
tenho que falar com meus pais e ver se está tudo certo. Também preciso ver
com a minha mãe se ela consegue alguma empresa de limpeza e
manutenção para contratar lá pra casa, pois ficará muito tempo fechada, e
não dá para ela e meu pai ficarem indo lá sempre para cuidar, eles já têm as
coisas deles.
Estou na área da piscina do hotel, sentado em uma das mesas. O
ambiente está vazio, acredito que o clima um pouco nublado não esteja
chamativo para as pessoas. O verão está nos detalhes, mas ainda assim, a
estação não se firmou em cem por cento em todos os lugares do país.
Apoio o celular sobre o suporte no centro da mesa e ligo para minha
mãe.
Bebo meu suco natural, enquanto espero dona Dorothy atender, o
que às vezes demora. Ajeito os fones em meu ouvido.
Escuto passos atrás de mim e viro um pouco do rosto e xingo
mentalmente.
Só pode ser castigo.
Vicky se aproxima usando um short preto bem curto e justo ao seu
corpo e uma camiseta larga, na cor branca. Carrega em suas mãos uma lata
de Coca-Cola e o celular.
Meu corpo inteiro sente sua presença e minha mente se volta à nossa
madrugada juntos. Porra, eu deveria ter pegado mais leve, a garota ficou
com mais marcas do que deveria, mas foi inevitável quando a vi nua
daquele jeito, gemendo loucamente.
Droga, por que tão linda e deliciosa?
Minha mãe atende a videochamada, me fazendo sobressaltar com
sua voz em meus ouvidos.
— Olha que homem lindo! Eu fiz meus filhos muito bem. Amém! —
Ela ergue os braços em agradecimento e sorrio.
Vicky se aproxima da minha mesa puxa uma cadeira e coloca o
celular sobre a mesa. Eu nego, mas ela assente. Nego de novo e ela se senta,
deixando os chinelos no chão, porque é claro que essa maluca não me
ouviria. Ainda por cima, joga as pernas sobre meu colo. Olho ao redor e
continuamos sozinhos.
Ela realmente não teme o perigo de sonharem que transamos.
Pigarreio e ajeito os óculos sobre meu rosto.
— Como estão as coisas por aí? — questiono e minha mãe se ajeita
no sofá.
— Ah, querido. Estão ótimas. Dei dois petelecos no Francis e
mandei seu pai ir às compras para me dar paz. Quer vida melhor? Além
disso, passar esses dias em um país tropical, foi a melhor coisa. Me sinto
renovada! — Ela suspira.
— E o Francis, como está o tornozelo dele? — Sinto o olhar da
Vicky sobre mim quando cito meu sobrinho. Olho de relance para ela, que
presta atenção enquanto bebe seu refrigerante e morde o canudo.
— Está melhorando. A fisioterapia tem ajudado, mas o menino
acertou o tornozelo na quina da cama, aí pronto, está dolorido, mas vai
ficar bem.
Respiro fundo com essa informação. Ele quer se matar, só pode.
— E como o temperamento dele está? — Bebo meu suco. — Mãe,
Francis tem dado trabalho demais, temos que resolver isso.
— Agora eu senti os planetas se alinharem! — Vicky fala muito
alto, e quando a olho, ela arregala os olhos. — Desculpa! — sussurra.
— Quem está aí com você?
— Ninguém, mãe! Ouviu o que disse?
— Como ninguém? Era voz de mulher. Está me escondendo algo?
Não me diga que finalmente está com alguém? Isso é música para meus
ouvidos! — Sorri.
— Não estou com ninguém. E não é ninguém importante que está
aqui.
— Ai, essa doeu! Não precisa humilhar também! — Vicky retruca e
retira as pernas do meu colo ao se levantar. A doida para ao meu lado e
acena para a câmera do celular e vejo o brilho crescer no rosto da minha
mãe, com um sorriso enorme que parece que vai rasgar suas bochechas.
A maluca retira um dos fones do meu ouvido, sem que eu possa
impedir e coloca no dela.
— Olá! É um prazer conhecê-la, senhora Bell! Sou Vicky Foster e
provavelmente já deve ter ouvido falar de mim. Seu netinho me ama! — A
maluca se debruça sobre meus ombros e seu perfume me faz engolir em
seco. — Eu realmente não sou ninguém importante aqui, mas saiba que seu
filho e seu neto, com todo respeito do mundo, precisam de mais delicadeza,
e quem fala isso à senhora, é alguém bem bruta.
Tento tirar o fone, mas ela impede. Minha mãe gargalha.
— Não acredito! Vicky Foster, a que tira o juízo do meu neto?
Agora está tirando do meu filho também? Querida, sou Dorothy Bell e já
sou sua fã! — A sua empolgação é um choque.
— Só pode ser brincadeira... Foster, some daqui! — Tiro seus
braços do meu pescoço e ela ri.
— Me conte tudo que esses dois estão aprontando. Quero saber de
tudo, menina, porque é um tormento criá-los. Se um é casca grossa, o outro
é teimoso demais. Eu vou ficar louca a qualquer momento.
Ela puxa sua cadeira para se sentar ao meu lado.
Essa garota não tem noção? Quem ela pensa que é? E por que minha
mãe está dando moral para uma pessoa estranha?
— Pois conto sim, senhora. Seu filho é o cão, com todo respeito do
mundo. E vendo a senhora agora, tão sorridente e simpática, não sei como
ele pode ser assim. — Olho para a morena ao meu lado e ela me dá uma
piscadinha. Eu vou enforcá-la e não vai demorar. — Além disso, seu neto...
Senhora Bell, ele é insuportável, machista, e fica o tempo todo na minha
cola. Não me deixa trabalhar em paz. Enfim, ambos precisam de boas
maneiras. Sou uma pobre vítima no meio dos dois.
Olho para ela e semicerro o olhar. Vicky não fica vermelha ao
mentir e fazer drama. Que demoninha!
— Querida, não foi por falta de ensinamentos. — Mamãe suspira
cansada — Agora está explicando o porquê Bell e Francis não arrumam
ninguém. Olha como tratam você... Tão linda e simpática. Me perdoe por
eles serem assim, não foi por falta de educação, porque o pai do Malcolm,
o Corey, também é um lord com as mulheres.
Eu só posso estar em um pesadelo. Desde quando minha mãe me
detona para uma estranha?
— Eu estou aqui, não sei se as duas notaram — aviso irritado e a
Vicky faz uma careta. — Foster, está na hora de ir, não acha?
— Já vou... Não precisa expulsar. Vou nadar um pouco!
— Você não pode nadar — digo entredentes e ela franze o cenho. —
Estava doente, lembra?
A maluca demora um pouco para entender.
— Ah é... Pois é...
— Como assim está doente, querida? — Por um segundo, esqueci
da minha mãe. Olho para a tela do celular e ela parece preocupada com
quem acabou de conhecer. É bondade demais em uma humana só. Ela tem
que ficar bem longe da Foster, é isso!
— Peguei algo forte... De bastante impacto — fala e me olha de
lado. Pigarreio, e a garota sorri. — Mas já estou melhor, senhora Bell. Foi
um prazer em conhecê-la. A senhora é linda e um amor!
Minha mãe sorri repleta de ternura.
— Estimo melhoras, querida. E qualquer coisa, só entrar em
contato. Pedirei ao Malcolm para nos manter próximas. Quero estar a par
do que meu filho e neto aprontam. E se te atormentarem, bata neles —
minha mãe fala como se eu fosse uma criança e não a porra de um homem
de quase quarenta anos.
Vicky ri animadinha demais e me olha feliz.
— Eu amei ela. Sério! — Me cutuca e a fuzilo com o olhar. — Até
mais, senhora Bell!
Ela me entrega o fone e se levanta. A filha da mãe se curva sobre a
mesa para pegar sua bebida, me dando uma bela visão de sua bunda
agarrada no tecido do short, em que revela uma parte dela, levemente
avermelhada. Fico excitado só por saber quem causou isso a ela. Pega seu
celular também e calça seus chinelos antes de se afastar.
Coloco os fones e vejo-a indo para outra mesa, onde se senta, bebe o
refrigerante e mexe no celular. Isso prova que ela só veio para me irritar,
pois iria ficar em outra mesa.
E qual a parte de que tem que fingir que está mal, ela não entendeu?
Na próxima, vai lidar sozinha com as consequências.
Inferno, não tem que ter uma próxima. Foi a última vez juntos,
Malcolm Bell!
— Então não é ninguém importante? E está se preocupando com
ela entrar na piscina? — minha mãe aponta suas insinuações. Se ela
soubesse a verdade...
— Mãe, não começa. Já te falei que ainda irei me casar, ter alguém,
mas ela não chega nem perto de ser essa pessoa! Só estamos trabalhando
juntos, apenas isso.
Minha mãe sorri e odeio esse sorriso.
— Tudo bem... Se está dizendo, quem sou eu para retrucar? Não é
ela. Mas que é bonita, ah, meu filho, ela é e muito. Deve chamar atenção
por onde passa!
Não sabe o quanto!
Continuo a conversa com minha mãe e peço ajuda dela com as
empresas que preciso. Dura mais uns dez minutos, até nos despedirmos de
vez. Terminei meu suco durante esse tempo.
Guardo o celular e os fones no bolso.
Fico olhando para ela, e o que pensei ser apenas sete semanas, pode
ser meu tormento por mais um tempo. Jennifer só pode estar brincando com
a minha cara. Mas não posso ficar pensando nisso, não agora.
Ajeito a cadeira que ela deixou ao meu lado e levanto-me no
instante que ela se levanta, enquanto fala com alguém no celular. Deixo
meu copo sobre a mesa, pois um funcionário já vem retirar. Vicky faz o
mesmo com lata de Coca-Cola. Não presta muito atenção, está mais focada
na ligação.
Ela passa por mim e caminho um pouco atrás dela, mas mantenho
certa distância. Nos aproximamos do elevador e escuto um pouco do que
ela fala. Deve ser com sua amiga ou prima. É algo sobre sair hoje,
relacionado à folga, que precisa beber, se divertir e transar. Sim, ela deixa
claro isso. Aperta o botão e fico observando.
Mais pessoas se aproximam para entrar no elevador. Ela diz à
pessoa que vai descansar e amanhã se falam. As portas se abrem, todos
entramos e cumprimento-os com um aceno de cabeça. Vicky aperta o andar.
Ela está no mesmo andar que eu, de novo.
Me enfio no fundo do elevador cheio, enquanto a maluca se
aproxima e por ser pequena, acaba ficando onde tem um espaço mais vago,
bem na minha frente, colada em mim.
Respiro fundo e vejo a merda das portas se fecharem após todos
entrarem e apertarem seus botões. Estamos quase no último andar e a
maioria ficará nos dois abaixo de nós.
— Você não é o treinador dos Red Fire? — um senhor pergunta.
— Sou sim — respondo e o homem se anima.
— Sou um grande torcedor do time! Eu sabia que estava te
reconhecendo! Pode me dar um autógrafo? Devo ter caneta perdida aqui...
Vicky solta um risinho na minha frente e balança a cabeça
negativamente, cruzando os braços. Discretamente aperto sua cintura, para
que sossegue e ela ri um pouco mais, tentando disfarçar.
O homem retira uma caneta de dentro do bolso da camisa e em
segundos vira uma bagunça de todos pedindo autógrafo e arrumando papel
e caneta de seus bolsos, bolsas, paletós. Até fotos tiro com alguns.
Tento ser simpático, mesmo estando cansado.
Os andares chegam e vai se esvaziando o elevador. Até sobrar
apenas Vicky e minha falta de paciência.
Ela se aproximada porta enquanto ri.
— Não abra a boca, Foster — aviso e ela ri ainda mais.
Nosso andar chega e ela é a primeira a sair.
— Malcolm Bell, senhor Grito e Careta, sabe ser simpático com
seus fãs? Essa é novidade. Com os fãs e com a Jennifer é simpático, e sabe
o que lembrei? O Francis também é simpático com outras pessoas... Espera
aí, é um complô dos dois contra mim? — Solta suas baboseiras.
Caminho pelo corredor, escutando seus passinhos atrás, como uma
criança pronta para pentelhar alguém.
— Vai, fala! Nós nunca nos falamos antes do carro e bom... Você já
sabe. Por que implica tanto comigo? — Se coloca na minha frente, andando
de costas.
— Vicky, eu preciso de paz. Pode sair da frente, por favor? — Ela
encosta exatamente na minha porta. — É o meu quarto.
— Responde primeiro. Porque mesmo sendo estressadinho, ainda
assim consegue ser mais simpático com outros do que é comigo. É algo dos
Bell contra mim? Se bem que sua mãe é um amorzinho!
Esfrego a têmpora. Retiro do bolso meu acesso ao quarto e abro-a,
me afastando um pouco da demoninha que me persegue.
Abro a porta e Vicky por pouco não cai para trás.
— Tudo bem, já vi que não vai falar. Enfim... Obrigada pelo bolo.
Sei que você que mandou o Ronald me entregar — diz e assinto.
— Não que eu acredite que mereça mais doces, já que pelo jeito, se
entope de porcarias. — Pontuo e ela ri.
— Cara, você é muito chato. Meu Deus! Vou nessa, minha folga não
pode ser estragada pela péssima energia do treinador Bell.
Ela passa por mim e pigarreio.
— Vai sair hoje? — pergunto sem nem saber por quê. Mas a maldita
conversa dela no celular me vem à memória. — Você deveria ficar quieta.
Esqueceu do que foi inventado para evitar o trabalho?
Ela se vira para mim e me encara um pouco confusa.
— Como sabe... Estava ouvindo minha conversa? E eu que levo a
fama de fofoqueira, vê se pode... — Mexe o celular em sua mão. — Merda,
meu acesso... saí do quarto sem ele. Que ódio. Vou ter que descer para
pegar. E respondendo sua pergunta: sim, treinador. Eu tenho uma vida fora
da minha profissão, sabia? Deveria ter também, seria menos ranzinza. E
vou saber me virar nas desculpas caso vaze algo.
Eu até poderia dizer que iria pedir ajuda para ela pelo telefone em
meu quarto, mas só pela sua resposta audaciosa, vai se virar sozinha, afinal,
a caminhada lhe fará bem. Algo me diz que é o mais perto de “exercício”
que faz.
Ela me dá um tchauzinho e se afasta cantarolando algo.
Garota atrevida!
Sabe o sinônimo de paz? Ele não existe na minha vida. Não quando
penso que poderia descansar, mas minha equipe me colocou para ir em um
evento na cidade e confirmou a porra da minha presença.
E ainda reclamam que sou estressado demais.
Saio do quarto de hotel. São 22h e quanto antes chegar, mais rápido
conseguirei fugir do evento relacionado ao lançamento de um perfume. Eu
nem uso essa maldita marca, nunca nem passei perto. Não sei o que farei lá,
mas tudo pela imagem da porra do time!
Paro em frente ao elevador e aperto o botão, enquanto levo as mãos
ao bolso da calça preta que uso. Uma das portas do corredor se abre e vejo
parte dos meus problemas surgindo. Vicky vem usando uma minissaia preta
toda brilhosa e na parte de cima, uma espécie de cropped, ou seja lá que
porra for isso, revelando toda sua barriga, cobrindo um ombro só e de
manga longa. É conjunto da saia, só pode ser, pela cor e brilho. Usa um
colar mais discreto, anéis e brincos. Seus cabelos estão soltos e está com
uma maquiagem marcante, mas com lábios mais rosados de um modo mais
natural e brilhoso.
Desço o olhar para seus pés, onde usa uma sandália com detalhes
dourado, da Saint Laurent, mesma marca da bolsa que está, que pelo jeito, é
uma das marcas que gosta muito, pois já a vi usando outras vezes.
Ela sempre usa sapatos, bolsas e acessórios no geral, mais caros,
como Saint Laurent, Prada ou Louboutin. Não que eu repare demais, mas é
inevitável, são chamativos.
Suas pernas estão iluminadas, assim como sua barriga.
Provavelmente usou algum produto para isso.
A porta do elevador se abre e escuto seu pigarreio.
— Quer um babador, treinador? — questiona entrando na minha
frente e deixando o rastro de seu perfume marcante, uma mistura de flores,
levemente adocicado.
Entro em seguida, meio atordoado. Aperto o botão e as portas se
fecham.
— Você vai sair assim? — pergunto sem pensar muito. Engulo em
seco e observo-a, principalmente quando seus olhos focam em mim.
— Estou nua e não notei? — Ergue a sobrancelha de forma irônica.
— Não... Mas... Esquece! — Fecho a cara, sentindo meu sangue
fervilhar. Travo até mesmo o maxilar.
Ela sorri de modo diabólico e seguimos em silêncio até chegarmos
ao térreo.
Saímos do elevador e caminhamos para a entrada do hotel, onde
Ronald já deve estar me esperando com o carro que alugamos.
Ela retira o celular da bolsa, provavelmente para pedir um carro de
aplicativo.
Vejo o Ronald e me aproximo dele, que está parado ao lado do
carro.
— Boa noite, senhor. Vamos? — pergunta e olho novamente para a
Vicky. Está tão linda.
Ela realmente vai sair assim? E que caralho de coração acelerado é
esse? Estou tão calmo, não era para estar assim.
— Boa noite. Eu vou pedir um carro. Leve a senhorita Foster aonde
ela quiser ir e fique esperando-a para retornar!
Ronald me olha confuso.
— Mas senhor... — Ele olha para ela. — Ela parece estar esperando
alguém ou um carro já.
— Se vira. Inventa qualquer coisa, mas faça ela aceitar sua carona e
segurança hoje.
— Mas...
— Vai, Ronald! É uma ordem — digo mais firme, cada vez mais
nervoso.
— E se ela ainda assim recusar?
Respiro forte, meus batimentos mais agitados. Estou morrendo
nesse cacete.
— Se vira. Sei lá... Você ama puxar conversa e ela é ótima com isso.
Fique na cola dela! Não deixe saber que foi eu que mandei — aviso irritado.
Ele me olha e lança um sorrisinho. — Tire esse sorrisinho idiota da cara.
Vai logo, inferno!
— Está bem... Está bem. Com licença!
Ele caminha até ela, enquanto me afasto pedindo um carro para
mim, porque se eu ficar, ela vai desconfiar e acho que vou morrer. Porra,
chega doer o peito de tão acelerado que meu coração está.
Essa garota é maluca. Não tenho que me preocupar em nada com
ela, mas está na responsabilidade do time, só estou fazendo minha parte em
cuidar de sua segurança.

Estou no evento tem uma hora e Ronald conseguiu convencê-la a


aceitar a carona, pois me confirmou por celular. Ele inventou que dispensei
seus serviços essa noite, que estaria de bobeira e odeia ficar parado.
Não me importa se ela caiu nessa história, o que me importa é que a
convenceu da carona. Só que agora, eu deveria estar me sentindo mais em
paz, mas não estou.
Que porra!
Aquela saia, ela cortou o tecido, tenho certeza.
E, porra, ela ainda está com as marcas da nossa madrugada e mesmo
assim está pensando em mais sexo? Eu não tenho nada a ver com isso, de
fato, cada um com sua vida, e não me importa o que as mulheres façam,
desde que estejam felizes com isso. Só que porra, ela falou como se não
fosse nada, como se não estive dolorida ainda, escondendo o chupão... Essa
garota é... É... Inferno, nem sei o que pensar!
Merda, isso não é da minha conta! Ela faz o que quiser!
Tento ser sociável com as pessoas que falam comigo e assim distrair
a cabeça, porque daqui a pouco sumirei daqui.
Vejo a mensagem em meu celular:

Ronald: Deixei-a em um bar bem popular aqui na cidade.


Infelizmente, não posso ficar parado aqui, os guardas estão multando todos
os carros, senhor.
Malcolm: Se vira, Ronald. Você é mestre em dar um jeito. Fique de
olho nela!

Ronald: Mas, senhor, por que tanta preocupação assim? A


senhorita Foster parece saber se virar muito bem.

Nem eu sei, essa é a verdade.


Bebo um bom gole da minha bebida e o álcool não me relaxa, nem
ele está conseguindo fazer isso essa noite.

Malcolm: Só faça o que mandei, Ronald!

Olho ao redor, todos muito bem vestidos. A música ambiente,


flashes para todos os lados. E eu só desejo ficar longe daqui o quanto antes,
mas terei que esperar ao menos o discurso do dono do perfume.

Já estou no hotel.
As horas passam sem parar e não consigo dormir. Ronald não falou
mais nada até agora e isso está me irritando cada vez mais. É madrugada e
nem ele, nem ela, deu sinais de vida. Minha preocupação só está
triplicando.
Pego meu celular e procuro a garota nas redes sociais. Encontro seu
perfil facilmente, e é aberto. A última atualização dela foi no feed com a
foto assim que saiu, que já recebe milhares de curtidas e comentários. Não
posso abrir seus stories, ou saberá que vi.
Meu celular começa a tocar e é o Ronald. Finalmente!
— Senhor, dormia?
— Não. Pode falar.
— Já retornamos. Ela já está aqui no hotel com um rapaz. O senhor
precisará dos meus serviços ainda?
Sento-me na cama, pois andava de um lado para o outro.
— Você a deixou com quem? Eu acho que não ouvi direito, Ronald.
— Com um rapaz que ela saiu do bar...
— Deixou aqui no hotel? Ela e o rapaz?
— Sim. O senhor está bem?
Sinto meu coração tornar acelerar. De novo essa merda!
— Ronald, está demitido! — Esbravejo.
— O senhor sempre me demite quando está com raiva. O que
houve? Fiz o que pediu.
— Eu não falei que deveria trazer ela com companhia — digo
entredentes.
— Mas ela iria retornar com ele. Perguntou se eu não me importava
de dar carona ao dois. O s-senhor disse que eu d-deveria retornar com ela.
Eu retornei!
— Só com ela. Desse um fim no idiota! Ronald, vai descansar!
— Mas o senhor me demitiu!
QUAL É DA PORRA DO UNIVERSO TESTANDO MINHA
PACIÊNCIA HOJE?
— Boa noite, Ronald! — Desligo na cara dele.
Jogo o celular na cama e esfrego o rosto.
Eu não deveria me importar. Ela está bem, isso é o bastante.
Porra, uma raiva imensa começa a crescer dentro de mim.
Caminho até o frigobar e pego uma água bem gelada para tentar me
acalmar.
Preciso ficar longe dessa menina. Tem algo muito errado
acontecendo!
Bebi, comi e não encontrei um cara que me interessasse, não quando
estou puta sabendo que Ronald está na minha cola, porque aquele maldito
treinador mandou. Isso me tirou o juízo que restava e não consegui focar
em mais nada.
Ronald não me engana com aquele papo furado e só por isso fiz ele
mentir, dizendo que voltei para o hotel com um cara, ou eu não voltaria com
ele e seu chefinho ficaria puto.
Quem Malcolm Bell pensa que é para fazer isso? Ele não foi nada
discreto na cara de raiva quando soube que eu sairia vestida assim. Também
sei que ele ouviu minha ligação com a Kristal. Só me faço de sonsa para
evitar o estresse e saber aproveitar bem o que planejo.
Começo a rir enquanto caminho pelo corredor, carregando meu
celular e cartão de acesso à porta.
Malcolm Bell não sabe com quem se meteu. Ele quer se meter na
minha vida, mas vai pagar por isso, porque irei tirar até o último fio de juízo
dele. Eu vou fazer esse homem enlouquecer, vou usar todas as armas que
tenho. Se ele pensa que vai controlar minha vida assim do nada e sair ileso,
está enganado.
Ele vai implorar para eu sumir da vida dele ou não me chamo Vicky
Foster.
Paro diante de sua porta e bato nela. Passos dentro do quarto só
reforçam o que sabia: ele nem dormiu na espera de respostas do Ronald, seu
péssimo comparsa, já que bastou eu usar meu tom dócil de quando quero
algo, e minhas manhas, que o homem caiu no meu papo.
A porta se abre e sua expressão de surpresa só reafirma tudo.
— O que quer aqui, Foster? — questiona enquanto admiro seu
peitoral nu.
Ergo o olhar e sorrio. Passo por ele e entro em seu quarto. Sua
expressão de curiosidade fica evidente.
Ele se entrega em cada detalhe.
Deixo meu celular e meu cartão de acesso sobre a poltrona ao lado
da porta. Ele fecha a porta e me olha muito mais sério que o normal.
— Ainda acordado, treinador? — Observo ao redor, tudo
organizado, enquanto o meu em menos de 24h está uma tremenda bagunça.
— Não deveria estar com... — Ele para de falar quando torno a
olhá-lo. Provavelmente se dando conta do erro que cometeria.
— O que eu deveria estar fazendo? Transando com o cara que vim?
— questiono com deboche e me sento em sua cama, cruzando as pernas e
apoiando as mãos sobre o colchão macio. Um sorriso surge em meus lábios.
— Não me interessa nada sobre sua vida. Agora se já acabou, pode
sair! — O homem está bem irritadinho.
— Não. Eu quero ficar aqui e saber… por que acha que tem direito
de comandar meus passos? — indago e ele cruza os braços me encarando.
— Acha que sou idiota e não sei que mandou o seu funcionário ficar me
vigiando? Sabe, para quem disse que aquele seria nosso último sexo e no
dia seguinte fingiríamos que nada aconteceu, está sendo bem contraditório,
se preocupando com o bolo que eu queria, mandando seu funcionário me
vigiar...
Ele sorri com sarcasmo e se senta na poltrona à frente.
— O bolo, prometi que daria. O Ronald, foi apenas por segurança, o
que deveria aprender a se preocupar mais, já que é uma pessoa pública. Não
confunda as coisas, Vicky. Não é nada mais que isso! — Sua voz é baixa,
mas firme.
— Quem eu espero que não confunda as coisas, é você, treinador...
— Levanto-me e caminho em sua direção, onde monto em seu colo e minha
saia sobe ainda mais. Apoio as mãos em seus ombros e ele me olha do
mesmo jeito quando foi até meu quarto. Malcolm Bell não consegue mais
se controlar perto de mim e isso é muito bom. — Porque eu não me
apaixono. Não tenho relacionamentos ou coisas do tipo. Comigo, nada mais
é do que só curtição!
Ele agarra minha bunda e me puxa ainda mais para si, em um gesto
bruto, que me faz ofegar. Seu pau está endurecendo.
— Quem deveria começar a pensar um pouco sobre isso, é você,
garota. Pois largou um cara e veio atrás de mim!
Começo a rir e ele me olha ainda mais sério.
— Tão inocente, Malcolm Bell... Esperava mais esperteza de sua
parte, treinador! — Roço os lábios nos seus e rebolo lentamente em seu
colo. . Minha boceta ainda está um pouco dolorida, mas porra, esse homem
é gostoso demais.
Saio do seu colo e me ajoelho à sua frente, colocando meus cabelos
para trás. Eu vou cumprir o que planejo, ele vai pagar por hoje e ainda por
cima, serei beneficiada enquanto o enlouqueço até o final da maldita última
semana colada nos Red Fire.
— Fiquei devendo terminar o que comecei, treinador... — Mordo o
cantinho da boca e seu olhar queima sobre mim, conforme abaixo sua calça
junto da cueca. O safado quer isso, pois me ajuda retirar os tecidos. Afasto
as peças para longe.
Vê-lo assim, sentado na poltrona, completamente nu, é uma bela
visão. Seu corpo é bem definido, os músculos na medida perfeita. Seu pau é
longo, largo, os pelos são levemente aparados e me deixam ainda mais
excitada.
É, será uma boa vingança nos próximos dias.
Retiro meu cropped, ficando nua na parte de cima. Malcolm apoia
as mãos nas laterais da poltrona e estica um pouco mais das pernas. Isso
deveria virar uma pintura, puta merda.
Ele me olha como se fosse me engolir inteira.
Aproximo-me do seu pau e devoro-o até o limite. Levo ele até
minha garganta e o sugo, enquanto busco suas bolas com as mãos e
massageio. O homem geme alto, forte e meus olhos se prendem ao seu
rosto, onde vejo-o entreabrir mais os lábios, inclinando a cabeça levemente
para o lado. Ele fecha os olhos por alguns segundos, antes de tornar a me
encarar.
Afasto minhas mãos, colocando-as para trás e fico em total
submissão a ele, que percebe rapidamente, quando agarra minha nuca com
força.
— Porra... Não faz isso, garota... — Sua voz é de descontrole e isso
só mostra que atingi meu objetivo, pois o homem está louco. — Eu não vou
parar até encher essa boca de gozo! Quer mesmo que eu controle? —
Chupo-o mais forte e ele geme.
Ele não questiona mais. Começa a mover o quadril, fodendo minha
boca, entrando e saindo rápido de dentro dela, tocando minha garganta com
a ponta do seu pau. Meus olhos marejam um pouco, porque ele é bruto no
movimento, mas é gostoso, não quero que pare. Estou encharcada só por
vê-lo assim.
Malcolm Bell geme alto, seus dedos apertam ainda mais minha nuca
e quando ele se levanta, ergo o olhar, encarando toda sua postura perfeita.
Seus dedos se enrolam nos meus cabelos também e ele puxa os fios, me
fazendo gemer com a boca cheia.
— Caralho... Oooh! — Ele vai mais forte. Meu corpo balança com
os seus impactos. Sua cabeça inclina para trás. — Vicky... Puta que pariu!
— Berra meu nome.
Sua atenção se volta para meu rosto, no instante que seu pau pulsa e
o primeiro jato explode quente dentro da minha boca. O segundo jato vem...
E mais um. Minha boca vai enchendo e o gozo começa a escorrer dela,
descendo pelo meu pescoço, pingando no chão.
Ele retira o pau da minha boca e engulo o que consigo, mas ele
termina de gozar em meus seios, lambuzando-me.
Sorrio admirando a cena.
Levanto-me, parando à sua frente e ele me puxa para si.
— Você quer me enlouquecer! — Sua voz está ofegante. — Olha
para você, coberta do meu gozo... Porra, que delícia que está! — Me beija
sem se importar por eu estar com a boca toda lambuzada do gozo dele. Sua
mão passa por baixo da saia, e ele agarra minha bunda, me erguendo em seu
colo. Contorno as pernas ao seu redor. — Eu não posso te foder hoje,
garota! Ainda está dolorida.
— Adoro sexo anal... Lá não estou dolorida — provoco e ele sorri.
Desse sorriso eu gosto.
— Não... Hoje não. Para de me provocar. Estamos em um jogo
perigoso e sabe disso!
Beijo sua boca e ele caminha comigo, então me deixa sobre sua
cama, onde se deita sobre mim.
— Se não for seu pau enfiado em mim, será um vibrador ou meus
dedos. De qualquer jeito irei gozar hoje, treinador!
— Pare de me chamar assim, já disse!
— Por quê? Fica mais excitado? — Travo mais minhas pernas ao
seu redor e seu pau já está duro novamente e cutuca minha boceta. —
Faltam 3 daquelas camisinhas. Só usamos duas. Que tal duas para minha
boceta e uma para minha bunda? — provoco ainda mais.
— Eu não vou comer sua bunda hoje!
— Então minha boceta hoje e a bunda outro dia? — Sorrio.
Ele balança a cabeça e torna a me beijar, enquanto desliza uma mão
por baixo da minha saia e entra por dentro da minha calcinha, me tocando
onde estou melada. Preciso gozar.
Circula meu clitóris, massageia e afasta nossos lábios por um
instante. Minha boca fica entreaberta, liberando meus gemidos que se
espalham pelo quarto, enquanto me contorço embaixo do homem que
jamais pensei sentir tanto tesão assim.
Em nenhum dos meus pensamentos desejei o treinador do Red Fire,
não até aquele evento que nos levou àquele bar, e até ontem, quando
mostrou o que mais pode fazer.
Quem diria que uma pequena vingança que surgiu hoje, seria uma
das melhores? Eu tiro seu juízo e ganho muitos orgasmos junto.
— Malcolm — sussurro e ele beija meu rosto. Seu pau roça na
minha boceta. Deslizo minhas unhas por sua pele ele geme com a boca
próxima ao meu ouvido.
Seus movimentos aceleram e os meus gemidos viram choramingo
de desespero, altos, intensos. Meus dedos apertam sua pele e o salto da
minha sandália desliza por sua bunda dura, malhada.
— Tão nervosinha, mas em meus braços vira uma putinha
deliciosa... Submissa a cada toque meu... — Sua voz é um convite ao
inferno, só que eu lidero esse espaço, preciso sempre me lembrar disso com
ele.
Meus olhos pesam à medida que o orgasmo começa a vir.
— Malcolm... Malcolm... — Chamo-o desesperada, apertando-o
para mim.
Ele não para, apenas continua e rebola, trazendo mais contato ainda
do seu pau no meu clitóris, acompanhando seu toque com os dedos.
— Aaaaaaaa! — Grito ao gozar alucinada, perdida, sem saber de
mais nada. Meu corpo está trêmulo.
Sinto o líquido quente em minha virilha e é seu gozo. Ele goza por
me ver gozar. Sua boca devora a minha mais uma vez e me perco ainda
mais.

Saio do seu banheiro, após tomar banho.


Ele me emprestou uma camiseta, porque minha roupa estava sem
chances de usá-la e não poderia sair naquele estado desse quarto.
Observo-o sentado na cama, cotovelos apoiados sobre as pernas.
Vejo que ele organizou minhas coisas espalhadas. Temos um homem
organizado por aqui então?
Me aproximo e pego minhas coisas.
— Devolvo a camiseta depois — falo e ele assente. — A próxima
vez que quiser saber da minha vida, me pergunte. Não coloque mais o
coitado no Ronald nisso. É sério, Malcolm! Vou te responder? Não sei, mas
ao menos não envolvemos mais pessoas.
— Eu confio no Ronald. Se tem alguém que realmente confio além
da minha família, é nele.
Assinto e prendo a mecha do meu cabelo atrás da orelha.
— Só que não tem qualquer direito de ficar controlando meus
passos. Eu saio, transo, faço o que quiser e com que eu quiser!
— Isso pode acabar mal. Tem noção disso? — questiona ignorando
o que falei. Ergue os olhos quando me aproximo. Fico parada bem a sua
frente, agarrada às minhas coisas.
— Só dará merda se cometermos deslizes. Além disso, aqui, não
temos qualquer relacionamento ou sentimentos, treinador. Relaxa, vai! É só
sexo, diversão e nada mais. — Me inclino na sua direção e beijo seu rosto,
sendo embriagada por seu perfume marcante. — Deixa de ser careta, senhor
Grito. — Dou uma piscadinha.
— Vá descansar. Terá poucas horas de sono! — Olha o relógio em
seu pulso.
— Ah, não! De novo madrugar? Qual é a da vez? Eu vou manipular
essa agenda!
Ele se levanta e dou um passo para trás.
— Terão coletivas pela manhã, imagino que vá cobrir também.
— Com certeza. Vou nessa, que minha paz acabou. Boa noite,
treinador! — Sorrio enquanto abro a porta e ele assente.
— Boa noite, Vicky!
Saio do seu quarto e escuto a porta se fechar atrás logo em seguida.
Sinto um negócio muito esquisito em meu peito. Será que a minha
comilança e falta de exercícios começou a cobrar do meu corpo?
Eu não posso morrer agora!
Entro no espaço em que será a coletiva. Estou com uma saia curta
preta que imita couro, uma camiseta branca presa por dentro da saia e
coturnos nos pés. Meu cabelo está solto e minha maquiagem é apenas um
batom vermelho para me deixar menos morta e meu fiel delineado que um
dia está bom e nos outros torto, mas tudo bem.
É bem cedo, a coletiva tinha que ser agora porque o espaço está
reservado para mais três coletivas, porque teremos dois jogos na cidade,
com times diferentes.
Espero que meu cérebro funcione para trabalhar hoje. Sawyer e
Claire ajudaram deixando algumas perguntas prontas, afinal, essa agenda
está uma loucura. Ainda não me adaptei, porque por anos, sempre trabalhei
do meu jeito em qualquer time ou esporte, e agora tenho que fazer tudo
como outro faria.
Pela primeira vez, não me sinto eu mesma trabalhando e isso está
acabando comigo, não sei se suportarei essa loucura por mais algumas
semanas. Nunca pensei que diria isso, mas o Francis tem que voltar logo.
Minhas energias estão sendo sugadas a cada vez que preciso agir como
outra pessoa.
Bebo um gole do meu café que comprei do outro lado da rua e sigo
em busca do Sawyer, para recolher as perguntas.
Cumprimento algumas pessoas pelo caminho e quando vejo um dos
meninos das filmagens, pergunto pelo Sawyer, e ele me diz onde encontrá-
lo. O lugar é no próprio hotel que estamos, que é enorme.
Nem consegui comer, estou cansada demais. Sei lá, não acordei me
sentindo eu mesma hoje, estou estranha, incomodada, só queria ter ficado
no quarto, mas o dever me chama.
Encontro ele com a Claire em uma pequena salinha.
— Eita, pela cara, não está bem... O que houve, Vicky? — Claire
questiona e nego sorrindo fraco.
Aproximo do sofá e me sento no braço dele, tirando meu celular do
bolso na parte da frente da saia.
— Cansada, mas vou ficar bem.
Sawyer me olha e balança a cabeça negativamente.
— Assumir as obrigações do Francis não está te fazendo bem.
Deveria falar com a Jennifer. Olha o tempo que está no lugar dele e olha
como já te consumiu. Não é nada correto o que a Sport fez! Cada jornalista
trabalha de um jeito — Sawyer reclama e a Claire concorda.
— Pois é... Mas como não vai resolver, é melhor eu fingir que estou
bem. As perguntas? — Peço de uma vez e eles me olham preocupados.
Devo estar horrível para ficarem desse jeito.
Claire me entrega e começo a conferir. São cinco perguntas só. É o
limite para cada jornalista.
— Vou ver tudo. Podem preparar o restante das coisas. Já encontro
vocês. Obrigada! — Agradeço.
Ele assente. Claire acaricia meu braço antes de sair e Sawyer afaga
meu cabelo.
— Fale com a Jennifer, menina. Não seja teimosa, você não está
bem, Vicky. Respeite seus limites. Não é vergonha recuar.
O problema é que nunca precisei recuar, nem sei como fazer isso.
Sempre ouvi a Kris ou a Cherry falar sobre sentirem suas energias
serem sugadas por algo, mas nunca realmente levei em consideração isso,
pelo menos não até agora.
A pressão do Francis, todas essas tarefas, não poder agir como eu
agiria...
Vou enlouquecer e não vai demorar.
— Não se preocupe, ficarei bem, velhinho. Vai lá, vai!
Ele balança a cabeça e sai.
Respiro com calma e fico olhando as perguntas. Meu celular começa
a tocar e o nome da Kristal aparece na tela. Atendo.
— Oi, gata.
— Até que enfim consegui um tempinho para falar com você. Como
está? Estou preocupada. Sumiu. Mal interage no nosso grupo. O que está
havendo, senhorita Vicky Foster? — questiona rindo e sorrio.
Bebo um pouco do café e balanço a cabeça mesmo que ela não veja.
— Eu estou bem, só cansada demais, Kris... Meio que estou
pensativa sobre algumas coisas. É muita coisa acontecendo, só isso... —
Suspiro.
— Hei, como assim? Vicky, o que está havendo? Cherry também
está te achando esquisita. Você não é assim, nunca nos esconde nada.
Desabafe, isso vai ajudar. Nos deixe te ajudar.
Sorrio com sua preocupação.
— Estou bem, Kris. Vocês têm as coisas de vocês, não se
preocupem comigo. Ah, logo pensarei sobre o aniversário da Cherry, vou
ver as agendas, me passe a sua e...
— E mais nada! Vicky, pare de fugir do assunto. Sempre que fica
mal, você foge, não nos deixa te ajudar. Fica reclusa. Isso não é bom, só te
faz mais mal. O que está acontecendo?
Travo o nó na garganta que surge, porque não sou de chorar fácil.
Estou me sentindo como nunca senti antes...
Estou me sentindo um pouco sozinha, só que não consigo falar isso
em voz alta. Não dá, porque nunca precisei de ninguém, jamais dependi das
pessoas para resolver minha vida. Sou adulta, tenho que saber me virar. E...
Droga, sentimentos são uma furada e eu não vou me abater por eles.
— Tenho uma coletiva agora, depois conversamos. Para de se
preocupar comigo, estou bem... — Sinto-me observada. Olho para a porta e
vejo Malcolm parado, usando uma camisa preta com os primeiros botões
abertos e uma calça social da mesma cor, justa ao seu corpo. O relógio
dourado chama atenção em seu pulso. Está lindo. — Depois nos falamos,
Kris. Te amo!
— Vicky...
Desligo ou ela vai continuar. Kristal sente quando tem problemas e
não vai sossegar até descobrir. Hoje só não acordei em um bom dia. Eu vou
ficar bem, sempre fico.
— Oi — falo baixo e ele respira fundo, entrando de vez na sala,
fechando a porta atrás de si. Deixo meu celular cair ao meu lado, no
estofado azul escuro e olho a folha de perguntas.
Ele se aproxima, me fazendo erguer o olhar. Retira o copo de café
da minha mão e coloca sobre a mesinha ao lado.
— Oi... O que houve?
— Como assim? —Desconverso.
Toca meu rosto e acaricia e isso me surpreende. Malcolm Bell está
me dando carinho?
— Eu ouvi o que disse. Não me parece bem, parece muito cansada,
e seu cão de guarda me fez ameaças no corredor, sobre eu dar um jeito no
meu sobrinho ou ele daria, porque está ferrando você.
Sorrio e reviro os olhos.
— Sawyer é um velho intrometido! Parem de ficar se preocupando,
sei me virar. — Desvio o olhar, mas ele ergue meu rosto e meus olhos
focam nos seus.
— O que o Francis fez, Vicky? Seja sincera.
— Quer por ordem alfabética? Posso fazer — brinco, ou pelo menos
tento.
— Estou falando sério. O que meu sobrinho fez dessa vez?
— Por incrível que pareça, até o momento, nem notícias dele eu
tenho. Agora preciso ir, tenho uma coletiva para cobrir com um bando de
jogadores irritantes. Sabe quem estará na bancada?
— Tyron, Tanner, Zion e eu. Agora não mude de assunto. Você é
sempre cheia de energia e atormenta a todos por onde passa. Não me
provocou desde que entrei aqui. Tem alguma coisa acontecendo. O que
houve? — insiste.
Balanço a cabeça negativamente. Levanto e me afasto dele. Pego o
celular e meu café.
— Eu tenho que ir. Até daqui a pouco, treinador.
Saio da sala.
Não! Eu fujo da sala, porque essa preocupação de todos, está me
deixando ainda mais estranha.
A coletiva termina uma hora depois e pelo menos acho que mandei
bem nela. Sawyer organiza a equipe para saírem, e começo a sair, porque
tem umas falas por cima da gravação da coletiva que iremos fazer depois do
almoço, e preciso mandar alguns pontos que separei para a Kristal colocar
na matéria do site.
Também tenho que ligar para os meus pais para saber como estão as
coisas, e falar com meus avós, porque faz dias que não entro em contato.
Passo pelo corredor onde tem algumas pessoas, inclusive da turma
dos Red Fire.
— Vicky? — Tyron me chama.
— Oi. — Paro próxima a ele e seus colegas de time. Malcolm está
junto também e me olha de um jeito estranho, parece preocupado. — Estou
com pressa, Sparks.
— Está tudo bem? — pergunta me avaliando.
— Sério? A Kristal falou com você, não foi? Mande a sua namorada
sossegar! Eu estou bem, que porra! — Explodo, assustando até mesmo a
mim.
Eles me olham, mas Malcolm e Tyron é quem mais me avalia, como
se buscassem algo.
— Vicky, não foi ela...
— Estou bem. Parem de ficar me perguntando isso. Que inferno!
Me afasto, mesmo com seus chamados e balanço a cabeça.
Lágrimas enchem meus olhos e me odeio por estar assim.
Fui dormir bem, não faz sentido acordar assim.
Sigo para os elevadores do outro corredor, prendendo a porcaria do
choro. Só posso estar de TPM, não tem outra coisa.
Soco o botão e aguardo essa merda vir. Pego meu celular no bolso e
tem ligações do Francis, da Cherry e da Kristal. Coloco de novo no bolso,
não quero falar com ninguém.
— Vicky! — Olho para o lado e vejo o Tyron.
— Agora, não! Sério, preciso ficar sozinha!
Ele para ao meu lado, me puxa para seus braços e começo a chorar
de vez. O nó desenrola na minha garganta e um soluço escapa dos meus
lábios.
— Não precisa falar nada. Vem comigo, precisa tomar um ar.
Vamos. — Ele me aperta mais em seus braços e só concordo sem conseguir
falar mais nada.

Estamos no jardim do hotel, em um canto mais afastado. Estou


sentada ao seu lado com a cabeça encostada em seu peito, enquanto ele se
mantém abraçado a mim.
— Vão vazar isso à imprensa e da pior forma — sussurro chorosa,
me sentindo ridícula por estar assim.
— Não me importa. Estava nítido que não estava bem. Suas
perguntas de modo seco, mal nos olhava, não interagiu com ninguém. Essa
não é você, garota.
— Só estou cansada. Noite mal dormida... eu acho...
— Só isso mesmo? Tem certeza?
Nego, porque mentir não vai anular mais nada.
— Está tudo uma bagunça aqui dentro, Ty... — Minha voz falha.
— Ei... Respira! Em que eu posso te ajudar? Fala comigo, Vicky.
Me importo com você, por mais que às vezes eu fuja porque me deixa
perturbado. Eu me importo e muito!
— Eu te perturbo? — Ergo o olhar e ele assente sorrindo de lado. —
Melhorei um pouquinho agora.
Semicerra o olhar me arrancando um sorriso sincero.
— Quer falar o que realmente está acontecendo?
Nego porque nem eu sei.
— O que quer fazer?
— Deitar um pouco. Dormir. Quando eu acordar será melhor, sei
disso. — Espero que seja assim. — Não fale nada para as meninas ou para
o Oliver. Por favor, Ty! — Ele concorda e sei que vai cumprir. — Obrigada!
— Sempre que precisar, pode me procurar. Não sou a Kristal ou
Cherry, mas posso tentar te ajudar. Vicky, por muito tempo, achei que
pudesse resolver tudo sozinho, só que não é bem assim as coisas. Colocar
para fora o que estamos sentindo, deixar as pessoas ajudar, tentarmos nos
entender... Tudo isso ajuda. Pedir ajuda, não tentar ser forte sempre, não vai
te tornar menos Vicky. Entende?
Concordo e me afasto, limpando meu rosto que deve estar uma
loucura.
— Obrigada por isso, Ty! Kristal tem sorte por ter você na vida dela.
Mas não conte que eu disse isso — falo e ele concorda sorrindo. — Preciso
ir. Eu vou ficar bem, sei disso.
— Vai sim... Descanse essa cabeça um pouco. Qualquer coisa, me
procure, tudo bem?
Assinto e o abraço de novo antes de sair do jardim em busca do
aconchego da cama e dos travesseiros, mesmo querendo o aconchego dos
braços das meninas. Nunca pensei que precisaria disso tanto quanto agora.
Assino alguns papéis que me trazem, mas minha cabeça está longe.
Tive que vir na arena para tratar de assuntos burocráticos que sempre tenho
que lidar e irei fiscalizar um pouco do treino leve que o time terá com o
Ashton, além de estudar estratégias de jogos a serem passadas a eles.
Porém nada disso está tirando minha preocupação com certa pessoa.
Merda.
Eu sei que isso não deveria ser problema meu, mas porra, ver a cara
abatida da Vicky, o jeito como gritou com o Tyron... isso me destruiu e é
estranho pensar que uma pessoa que chegou há pouco tempo em meu
caminho, se tornou alguém tão marcante ao ponto de me preocupar assim.
Queria ter ido atrás dela, mas não podia, porque tem o caralho de
novas regras e porque Jayden Hampton, vice-presidente da Golden, chegou
bem na hora que ela deu as costas saindo às pressas para longe de todos.
Um deslize e não prejudico apenas a mim, mas a ela também, assim como o
jornal.
Porra, por que fui me meter com essa garota? Desde que voltamos a
nos encontrar depois da noite no estacionamento, algo sempre nos coloca
grudados, só que a cada instante que se passa, mais a desejo, mais quero
tocá-la, agarrar seu corpo, beijar aquela boca teimosa. Eu sonho com ela e
me sinto um garoto descobrindo os desejos sexuais, sem controle sobre eles.
Só que é mais que isso. Me preocupo com as porcarias que ela come, com
as expressões que ela tem... Que merda estou fazendo?
Largo a caneta sobre a mesa e esfrego o rosto.
Tem muita coisa em jogo, não posso ferrar tudo, só que a cada
segundo, me sinto mais sufocado nessa bagunça em que me coloquei junto
dela. Nunca gostei de viver com incertezas, desordens, e agora estou aqui,
no meio disso tudo, sendo protagonista dessa loucura toda.
E ainda tem mais semanas pela frente, com ela exatamente aqui,
grudada a mim, e talvez isso se estenda, tudo dependerá do que a Jennifer
me falar em alguns dias. E no meio disso tudo, ainda tem a preocupação
com o Francis, com o time... Eu vou enlouquecer. Se eu terminar essa
temporada vivo, considerarei um grande milagre.
Batidas na porta me despertam do desvaneio. Peço para que entrem
e Elliot entra com mais papeladas.
— Ashton pediu para o senhor conferir tudo isso. São alguns dados
psicológicos do time. Também pediu para avisar que o treino começará em
alguns minutos.
Pego a papelada e assinto.
— Daqui a pouco estarei na quadra com vocês. Jayden está
presente?
— Infelizmente... Mas está pelos bastidores. Acredito que não ficará
em cima do time, não tem motivos para isso.
Concordo.
Elliot já trabalhava na Golden, só não comigo. Ele entende bem
minha preocupação em ter um dos ratos na nossa cola.
— Ok. Mais alguma coisa?
— Não. Na verdade, sim... A equipe da Sport acabou de chegar.
Eles gravarão algumas coisas.
— Avise-os dos limites para isso. — Me ajeito na cadeira. — Sabe
se a jornalista Vicky Foster está presente?
— Sim, ela veio junto deles.
Tamborilo os dedos sobre a mesa.
— Peça-a para vir até aqui. Preciso repassar algumas coisas... Eu
mesmo falarei sobre os limites das filmagens.
— Tudo bem. Vou nessa, treinador.
Ele sai da sala fechando a porta e respiro mais aliviado. Se ela veio,
está melhor. É o que espero.
Volto a olhar para as papeladas. Tenho que terminar de assinar e
conferir o que o Elliot trouxe.
Não demora para batidas na porta surgirem novamente.
— Entre — falo ainda focado nos papéis.
— Pelo amor de Deus, não me fale de regras, limites... Não aguento
mais nenhum Bell falando disso hoje!
Viro o rosto e vejo-a com seu celular em mãos. Ainda está com a
mesma roupa, o rosto parece um pouco inchado, mas se ela andou
chorando, camuflou com maquiagem.
— Entre e feche a porta. — Peço e largo a caneta. Giro a cadeira na
sua direção.
Ela respira fundo e revira os olhos, mas faz o que digo. Caminha, se
aproximando da mesa e senta-se sobre ela. Deixa o celular ao seu lado e
cruza os braços.
— Qual a regra da vez? Vou ter que começar a enumerar! Acabo de
falar com o Francis e o garoto arrumou mais ladainha.
Me levanto e paro na sua frente, ficando entre suas pernas. Ela me
olha confusa, principalmente quando seguro seu rosto com ambas as mãos e
beijo com calma seus lábios. É mais forte que eu. Não pude evitar.
Palpitações intensas iniciam em meu peito e tento espantá-las com
pensamentos distintos, mas não consigo pensar em nada além de sua boca
presa à minha.
Afasto nossos lábios, mas continuo segurando seu rosto. Ela me
olha confusa.
Eu estou confuso.
— Está tudo bem? — questiono baixo e ela desvia o olhar. —
Realmente estou preocupado, Vicky. — Até mais do que possa imaginar.
Ela me olha e assente, mas sei que ainda não está cem por cento, o
brilho atrevido sumiu do seu olhar. Algo aconteceu, ela parecia muito bem
ontem.
— Quer me falar o que está havendo? — Ela nega lentamente e
assinto. — Tudo bem, então. O que precisa agora?
— Um hamburguer, fritas e uma Coca-Cola bem gelada. — Pede e
a olho sério. — Eu não comi nada, ué! Estou com fome. Comer sempre me
anima.
Largo seu rosto e apoio as mãos em sua cintura.
— Não comeu nada e já são... — Olho a hora em meu relógio. —
Quase três horas da tarde. E quer que sua primeira refeição seja algo
gorduroso acompanhado de altas doses de açúcar?
Ela assente como uma criancinha empolgada com algo que deseja.
— Vou pedir para trazerem salada, frango e um suco natural para a
senhorita!
— Meu Deus! Como pude me aproximar de alguém pior que velho?
Se bem que... Temos dez anos de diferença, você é um idoso para mim,
sabia?
— Já está bem melhor, porque está me irritando! Vicky, você só
come besteiras, não te vejo comer nada mais saudável. O mais perto de algo
saudável que já a vi ingerir, é água.
— O que já deveria considerar milagre. — Cutuca meu peito.
— Garota... — Balanço a cabeça e aproximo nossas bocas de novo,
beijando-a rápido.
— Não vai rolar o lanche, não é? — Faz manha.
— Não! Não comeu nada e comer isso, vai te fazer mal. Não seja
teimosa. Me escuta uma vez.
— Só vou aceitar a salada, porque não terei tempo de comer em
algum lugar e comer meu lanche aqui, será um inferno com você jogando
praga. Capaz de eu vir a óbito!
— Não seja dramática. Vou pedir sua comida, e antes que eu me
esqueça, podem filmar apenas o início do treino.
— Sabia que teria regras! — Ela ri com ironia. — Tudo bem.
Melhor eu ir, antes que o vice surja aqui. Hoje realmente preciso de paz
mental.
Sorrio e ela me olha surpresa. Até eu estou, não sou de ficar
sorrindo à toa.
— Ronald está aqui. O hotel é um pouco longe da arena, se quiser
retornar com ele depois que terminar tudo...
— Está me cedendo seu segurança e motorista particular? Se vier
descontando algo do meu salário e eu desconfiar que tem relação a isso,
mato você!
Sorrio novamente. Ajudo-a descer da mesa e ela se ajeita.
— Vou deixá-lo avisado. Irei demorar aqui.
— Vive pelo trabalho, treinador. Deveria viver de verdade, sabe...
Valeu pela comida que vai pedir, mesmo sendo sem graça, e agradeço pelo
Ronald, porque odeio caminhadas ou esperar carro de aplicativo. — Assinto
e ela sorri. — Como estou? Sawyer me deixaria aparecer borrada nas
câmeras, acredite, ele é um demônio quando quer!
Olho para ela e levo as mãos ao bolso da calça.
— Está linda, Foster.
— Sério? — questiona surpresa.
— Por que eu mentiria? — indago e ela me olha desconfiada. —
Está linda como sempre.
— O dia está tão esquisito... Credo! — Pega seu celular e caminha
em direção a porta. — Suco de laranja, nada desses sucos misturados,
esquisitos, que parecem uma bomba prestes a explodir.
Concordo com a exigente.
Ela abre a porta e solta um grito:
— Credo, assombração! — Olho e vejo o vice-presidente. Merda.
— Como é, senhorita Foster?
— Ah, foi no automático. Foi o susto só. Com licença.
Ela passa por ele e prendo riso. Essa menina é maluca demais.
Jayden me encara e pigarreio, controlando o riso que se forma para
sair.
— Vim parar conversarmos sobre o próximo jogo.
— Claro. Só que tenho um treino para conferir agora.
— Isso pode esperar — responde sem um pingo de educação, como
sempre. A soberba sempre presente.
Respiro fundo para não perder a cabeça. Tem horas que só assim
para manter a sanidade com esse idiota que consegue ser pior que o
Zachary.

O treino foi rápido porque o outro time usaria também o espaço.


Vicky junto da equipe, fez algumas imagens e pedi a comida dela. Ronald
afirmou que ela pegou, espero que tenha comido.
Jayden não sai da nossa cola, então Elliot errou, ele tinha motivos
para ficar nos rodeando, e o motivo é: não ter nada de melhor para fazer,
porque se tivesse, não estaria aqui.
Os meninos se preparam para saírem da quadra, junto da equipe da
Sport, e tento a todo custo não ter minha atenção sobre a morena baixinha.
Meus olhos, meu corpo, minha mente... tudo está sendo puxado para ela e
isso está me tirando do sério. Jayden está ao meu lado como uma sombra.
Foster se aproxima com seu iPad.
— Com licença. Treinador, poderia assinar aqui? É uma autorização
que confirma que as imagens do treino foram liberadas pelo senhor. — Me
estende o iPad com a caneta e parece até outra pessoa falando. Seu tom é
brando, educado.
Pego de suas mãos e assino enquanto ela aguarda.
— Como está sendo cobrir seu colega, senhorita Foster? Muito
trabalho? — Jayden questiona e sinto minha expressão se fechar.
Entrego o iPad e a caneta a ela, que segura bloqueando a tela e
abraçando-o.
Esse idiota é um sonso de primeira, porque infelizmente tudo que o
Francis disse, é verdade. Quando me encontrei com Jennifer recentemente,
ela confirmou, Vicky não deveria estar na Golden, não queriam ela, e esse
acidente com o Francis, foi a chance dela entrar, porque seria mais fácil
mantê-la até a final, Jennifer só não quis contar para não a magoar.
Ao que parece, Jayden foi quem mais foi contra ela estar aqui,
porque segundo ele, todas as mulheres que a Sport Universe manda, termina
com casos entre os atletas, tirando o foco das responsabilidades que elas
deveriam ter. Mas sabemos que a verdade é porque é um machista fodido e
quer sempre o foco de tudo na Golden, nele e no Zachary, seu meio-irmão,
que poucos sabem que são.
— Não é como se eu não tivesse muito trabalho quando faço a
minha função sozinha, senhor Hampton.
Essa é a minha garota.
O que?
Como assim “minha”?
Franzo o cenho com esse pensamento idiota.
— Não foi isso que me referi e a senhorita deve saber, pois é muito
inteligente, não? — O imbecil a provoca. Ele está querendo algo ou
desconfiando de alguma coisa.
— Sou. Claro que sou ou não estaria aqui, não é? Uma oportunidade
como essa, é dada a poucos, não é, senhor? — Ela inclina a cabeça para o
lado e não gosto do rumo que isso está tomando.
O vice-presidente a encara de modo frio, sério, analisando-a.
— Acredito que ainda se lembre da nova regra da Golden. — Aí
está o motivo dele puxar assunto. Puta merda.
Vicky não troca sua expressão, se mantém neutra.
— Depende, são tantas, mas vou chutar: o senhor se refere à última
novidade? — questiona e ele concorda. — Sim, claro que me lembro. Só
não sei se compreendi o porquê de sua pergunta.
O sorriso no rosto dele é falso. Jayden é como uma cobra, ele se
rasteja entre as pessoas, até conseguir dar o bote. Travo meu maxilar,
minhas mãos entram em meus bolsos e endireito ainda mais a postura.
— É que mais cedo a senhorita estava trancada em uma salada
fechada com o treinador Bell. Tenho certeza que nenhum dos dois
infringiriam essas regras, só que pega muito mal situações do tipo! —
Falso. Ele desconfia de algo e vai tentar nos intimidar.
Vicky vai retrucar, mas disfarçadamente nego. É isso que ele quer.
— O senhor tem razão. Foi o costume de pedir que todos que
entrem para falar comigo fechem a porta, e desse jeito a conversa fique
privada, afinal, sempre estão à espreita para vazar algo à imprensa, sabe
como funciona isso. Não vai se repetir. Mais alguma coisa? — indago e ele
nega nos observando. — Ótimo. Então a senhorita Foster já pode se retirar,
pois tenho coisas para fazer e acredito que o senhor tenha também, e a arena
será utilizada, não queremos atrapalhar o próximo time, correto? — Meu
tom é bem sério.
Ele concorda a contragosto.
— Espero que esse tipo de situação não se repita. O nosso foco é o
esporte, não queremos que casais tomem a atenção da mídia novamente e
tire o foco do que investimos bilhões de dólares para manter. Com licença,
tenham um excelente fim de tarde!
Ele se afasta sem falar mais nada. Olho para a Vicky que solta uma
lufada de ar.
— Acha...
— Aqui não! Depois nos falamos. Tem olhos e ouvidos escondidos
por aí, confie em mim, nunca estamos realmente sozinhos.
Ela concorda e ajeita uma mecha do cabelo antes de me lançar uma
piscadinha diabólica e se afastar.
Eu vou enlouquecer nesse inferno comandado por ela!
Pego meu celular no bolso e digito uma mensagem rápida:
Malcolm: Abaixa a porra dessa saia, Foster. E pare de rebolar
tanto para andar!

Ela para de andar e retira o celular do bolso. Escuto seu xingo que
ecoa pela quadra.

Vicky: Não vou aguentar dois Bell me irritando! Eu vou matar um


dos dois ou os dois de uma vez!

Sorrio, subindo o olhar e vendo-a erguer o braço direito enquanto


torna a andar e mostrar o dedo do meio. Que demoninha atrevida!

Termino de me arrumar para o jantar do time que teremos hoje à


noite. Uma decisão de última hora. Será algo fechado, sem a imprensa
presente.
O dia foi corrido e tudo que eu queria, era me esconder nesse quarto,
mas preciso ir, é bom para o time, ter esses momentos com todos unidos,
traz mais união, eles se sentem mais acolhidos e o psicológico fica mais
calmo.
Coloco o celular no bolso junto da carteira e abro a porta, sendo
surpreendido por quem está diante dela com a mão parada em punho
fechado como se fosse bater na porta. Olho ao redor e não tem ninguém no
corredor, então torno a olhar para ela.
— O que houve? — pergunto enquanto ela me analisa.
Está com um short curtinho branco, um top preto e meias nos pés.
Seus cabelos estão presos em um coque alto e seu rosto está totalmente
limpo de maquiagem. Observo as coisas em sua mão e ergo a sobrancelha.
— Vai sair? — pergunta sem jeito, o que é totalmente estranho
vindo dela.
— Jantar com o time.
— Ah, é verdade, eu vi agora pouco na agenda com letras enormes,
“sem imprensa”. — Sorri, mas não é sincero.
— O que houve, Vicky?
— Nada! Estava... É... — Pigarreia. — Dando umas voltas pelo
hotel só, e só vim ver se você, é...
— Se eu...? — insisto quando ela para de falar.
Ela desvia o olhar algumas vezes e começo achar fofo ver pela
primeira vez essa garota sem jeito.
— É... Ver se você tem a agenda de amanhã. Eu a perdi mais cedo e
a Jennifer vai me matar se pedir de novo. Revirei meu e-mail e não achei, e
o Francis é capaz de voltar a andar logo só para me esganar se eu pedir a
ele.
Assinto e sorrio, porque se ela viu agora pouco na agenda sobre o
jantar, como não tem mais ela desde cedo?
— Uma pena eu não acreditar em nenhuma palavra do que disse. O
que realmente quer, Foster?
— Era isso. Tem a agenda?
— Vicky — insisto e ela desvia o olhar, ainda não está cem por
cento bem. É nítido. Está abatida. Hoje não está sendo um bom dia a ela. —
E estava andando pelo hotel com iPad, necessaire e carregadores?
Ela olha para as coisas em suas mãos e pela primeira vez vejo seu
rosto corar.
— É... Eu... Tem a agenda?
— Entra. — Dou passagem a ela que fica me olhando. — Entra,
vai...
Ela entra ainda mais sem jeito e fecho a porta. Olho a hora em meu
relógio no pulso.
— Em mais ou menos duas horas e meia estarei de volta. Pode ficar
aqui.
Seus olhos brilham animados.
— Sério? Eu não quero incomodar, é só que... Está um dia
levemente complicado e não quero ficar sozinha, o que é irônico porque
amo ficar sozinha e resolver tudo sozinha... — Seus olhos marejam e sinto
meu peito apertar. Está falando sem parar, ou seja, está nervosa.
— É por isso que veio? — ela concorda e sorri de lado. — Aguenta
ficar esse tempo sozinha?
— Sim, não se preocupe. E prometo não tacar fogo em nada seu.
— Isso era para me deixar menos preocupado?
Ela sorri e concorda.
— Tem meu número, qualquer coisa me ligue ou mande mensagem,
ok?
— Eu sei me virar, treinador.
Me aproximo deixando um beijo em sua testa.
— Sabe sim... Logo estarei de volta — ela concorda e pego o cartão
de acesso do quarto. — Vou levar, para o caso de eu retornar e estar
dormindo. Tem meu número, lembre-se disso.
— Eu vou ficar bem, Malcolm, vai logo!
Olho para ela e respiro fundo.
Eu nunca quis tanto não ter que cumprir um compromisso como
agora.

Ronald está me levando porque o local fica um pouco afastado do


hotel. Fico olhando pela janela e vendo toda a cidade agitada. Já começa
anoitecer e minha cabeça ainda assim está no quarto de hotel.
O que está acontecendo com ela? Ela parecia tão bem ontem.
Quando retornou para filmar o treino também parecia melhor, e agora...
O que está havendo com a Vicky?
— Segue com o combinado, me deixe lá e já pode retornar em
seguida, quando for necessário, te ligo para que me busque, assim não
precisa ficar esperando.
— Sim, senhor! Mais alguma coisa?
— Sim. Quando estiver retornando, passe em algum lugar e compre
uma caixa de donuts sortidos. Deixe no meu quarto.
— Donuts, senhor? — Ele me olha pelo espelho retrovisor com o
cenho franzido.
— Sim, Ronald.
— Tem certeza? Donut, aquela rosquinha cheia de açúcar, corantes,
confetes... Donuts?
— Essa mesmo...
— O senhor está bem? — pergunta mais confuso ainda e sorrio
balançando a cabeça.
— Estou. Não é para mim, é para a senhorita Foster. Não deixe que
saibam que ela está no meu quarto. Entendido?
— Uhum... — Ele pigarreia em uma mistura de riso. — Perdão,
senhor. Minha garganta secou.
— Beba água, Ronald — falo sério, notando bem que ele achou
graça no meu pedido e na informação sobre Vicky. — Não é nada do que
está pensando!
— Claro... Eu não pensei em nada, senhor Bell! — Pigarreia de
novo.
— Quer ajuda para desengasgar?
— Não, senhor!
— Que bom! — revido.
Pelo amor de Deus! Não tem nada demais em querer mimar a
menina para ela se animar.
Envio uma mensagem a Vicky, avisando que o Ronald deixará algo
lá, para ela abrir a porta e não se assustar pensando que é outra pessoa.

O jantar acontece de modo tranquilo. Sempre temos esses


momentos, é bom, relaxa o time mais do que as pessoas imaginam. Não é
fácil passar meses longe das pessoas que ama, vivendo sobre pressão
psicológica, física e com menos privacidade ainda. Momentos de
descontração ajuda a tranquilizá-los.
Tyron está sentado ao meu lado. Os demais conversam entre si, com
suas piadas idiotas e falando muita besteira. Elliot, Ashton e Jimmy estão
aqui também.
— Qual o problema, Sparks? — questiono a ele que está o jantar
inteiro distraído e pensativo.
Ele me olha e gira lentamente o copo à sua frente.
— Preocupado.
— Com o time? Se o capitão estiver preocupado, terei que ficar, e
não pretendia isso essa noite.
Ele sorri de lado e nega.
— Com a Foster, treinador. Conheço essa menina há dois anos e
nunca a vi ficar assim. Enfim, é coisa pessoal.
Bebo um pouco do vinho e olho para o pessoal, a atenção deles não
é em nós.
— Como assim? Por causa do que ela fez hoje, gritando e saindo
nervosa?
— Sim, ela conversou comigo, e não quer nem que as meninas,
nem o Oliver, saibam de nada. O senhor sabe tudo que aconteceu com meu
irmão e desde então, me traz gatilhos ver alguém se fechando assim quando
não está bem. Ela não está agindo como ela mesma no trabalho, parece
cansada de um jeito estranho. Só preocupação mesmo. Namorar a Kristal
Reed, é aprender a gostar e se preocupar com as amigas dela também.
— E está em dúvida se fala ou não com a sua namorada e a prima da
Vicky sobre isso? — ele concorda. — Olha, você conhece melhor que
ninguém essas meninas. O que a sua consciência está dizendo?
— Respeitar o que ela pediu. Porque deixar as outras duas
preocupadas agora, só vai piorar tudo, afinal, ainda não se sabe o que
realmente está acontecendo com a Vicky.
Assinto.
— Então faça o que sabe que será o correto. As vezes achamos que
vamos ajudar, só que pioramos tudo. Espere e se ela não melhorar, é hora de
tomar atitudes mais drásticas. Sabe, Sparks, eu acho que sei o que pode
estar afetando-a, não se preocupe, as coisas vão se ajeitar ou ao menos
melhorar um pouco. — Toco seus ombros e ele me olha confuso.
— Como assim?
Nego e termino meu vinho, ansioso para retornar ao hotel.
Viro o rosto para o Killiam que fala comigo.

Entro no quarto de hotel com cuidado, porque não sei se ela dorme.
A TV está ligada com o som baixo.
Vicky dorme deitada no sofá, toda encolhida. A luz está apagada e
somente a claridade da TV ilumina o quarto.
Tiro os sapatos e as coisas do bolso, colocando-os na poltrona. Vejo
suas coisas aos seus pés no sofá e olho para cama. Ela nem tocou nessa
cama, está do jeito que deixei. Balanço a cabeça em negativa. Vejo a caixa
do donut perto da TV e me aproximo para ao menos ver se ela comeu. Abro
e tem apenas quatro. Ronald disse que comprou seis quando devolveu meu
cartão, então ela comeu.
Sério? Formato de coração e rosinhas? Porra, Ronald!
Me viro para o sofá e me aproximo. Pego-a no colo com cuidado e
levo-a para cama, ajeitando-a por baixo do edredom branco.
— Ele é mais gostoso — ela sussurra e observo-a confuso.
Está dormindo ainda. Deve estar sonhando com algo porque sorri.
— Espero que esteja falando de comida — sussurro.
O que é mais gostoso?
Me afasto para me trocar e deitar.
Não demoro para fazer isso e me deito ao seu lado, após desligar a
TV e acender o abajur, olhando-a, que se esparrama na cama me fazendo
sorrir.
Onde eu me meti?
Sinto meu coração acelerar e isso me preocupa, porque se minha
saúde está muito bem, essas palpitações só podem estar sendo... Esfrego o
rosto com ambas as mãos, até sentir um corpo se aconchegar em mim. Olho
para a cena e solto um riso.
— Para quem não gosta de dormir com quem transa… — falo baixo
e abraço seu corpo, mexendo com carinho em seu cabelo.
Ela ergue o rosto e seus olhos abrem lentamente.
— Obrigada.
— Pelo quê? — Toco seu rosto.
— Por me deixar ficar e pelos donuts.
— Eu não mandei o Ronald comprar de coração e rosinhas.
— Uhum... Vou fingir que acredito. — Sua voz é sonolenta.
Não vou discutir, ela vai continuar me provocando de qualquer
maneira.
— Está melhor? — ela concorda. — Com o que sonhava? —
pergunto curioso e ela sorri.
— Comida, por incrível que pareça. Nada mais gostoso que comida,
treinador!
Sorrio e ela se ajeita mais em mim.
Continuo lhe dando carinho e ela esconde o rosto em meu pescoço.
Sua respiração nele me traz um arrepio gostoso. Meu coração acelera mais e
não me importo se ela pode sentir. Estou começando a entrar na fase da
aceitação.
Sim, Vicky Foster mexe comigo mais do que deveria.
Noto que ainda está triste, desanimada. Ela está em busca de
aconchego, carinho e já notei que é difícil pedir isso.
Começo a falar baixinho e espero que ouça tudo.
— Meu irmão, Chase, era muito irresponsável, era um bom homem,
mas vivia loucamente, até conhecer Giulia, mãe do Francis. Foi por ela que
resolveu melhorar em muita coisa. Se formou, começou a trabalhar em uma
grande empresa de compra e venda de empresas falidas, mexia com bolsa
de valores, finanças, coisas sérias e importantes. Giulia só tinha a gente,
cresceu em um lar de adoção, até sair de lá quando adulta. Nunca foi
adotada por ninguém, nós éramos sua família. Quando eles se casaram, ela
engravidou em seguida e durante a gravidez descobriu que era de risco. Por
muitas complicações que descobriram, ou ela interrompia ou escolhas
seriam feitas no parto. Giulia nunca se preparou para engravidar,
simplesmente aconteceu, e ela nunca soube dos problemas de saúde que
possuía. — Lembro-me do seu sorriso lindo ao descobrir que seria mãe pela
primeira vez. Ela falava que seria para a criança, o que nunca teve em sua
vida. — Mesmo com tudo isso, minha cunhada escolheu ir adiante, era uma
escolha unicamente dela. Foi a primeira vez que vimos uma crise intensa no
casamento que parecia ser perfeito. Meu irmão não queria perdê-la, havia
outros meios de terem um filho, mas ela já amava tanto o filho, que quis ir
até o final e nada do que fosse dito pelos médicos ou por nós resolveria
mais. Ela sabia o que queria e nós não mudaríamos nada.
Seu rosto se afasta do meu pescoço e ela deita a cabeça em meu
peito, quietinha, mas sei que está acordada ainda.
— Enfim, o que era previsto aconteceu. Ela se foi e o Francis veio
ao mundo. Chase ficou devastado, nós também, mas não como ele. —
Engulo em seco, contendo a emoção em lembrar disso. — Começou a
entrar em quadros depressivos, mas ainda assim, tirava uma força enorme
para cuidar do filho. Poucos anos depois, ele começou a sentir fortes dores
de cabeça. De início, achávamos que era por tanto remédio que tomava para
estresse ou por viver pelo trabalho e pelo filho. Ele havia se fechado, o
homem de luz já não existia mais.
“Enfim, essas dores foram piorando e insistíamos para que fosse ao
médico, mas ele não nos ouvia, arrumava desculpas. Até que um dia o
Francis ligou para meus pais, apavorado, dizendo que o pai estava caído no
chão do banheiro. Ele foi levado ao hospital e os médicos descobriram que
ele estava com um tumor cerebral muito avançado. As dores de cabeça, as
mudanças de humor... Não era apenas estresse e depressão, tinha algo ainda
mais grave acontecendo. Ele entrou naquele hospital e nunca mais saiu. Era
a segunda pessoa da nossa família que entrava em um hospital e não voltava
para nós.”
Respiro fundo e lembro-me de tudo, o quanto isso nos
desestabilizou. Vicky acaricia meu peito. Engulo em seco mais uma vez e
espero alguns segundos para conseguir continuar. O nó em minha garganta
é forte.
— Eu era obcecado pelo basquete, iria para o draft, todos faziam
suas apostas em mim, e no dia do draft, dentro daquele lugar, desisti de
tudo. Ninguém entendia nada, meus pais brigaram muito comigo, porque eu
estava jogando anos de dedicação fora. Só que eu, o mais novo dos dois
filhos deles, via o que estava acontecendo e sabia que teria que ser forte se
quisesse erguer a família de novo.
“Francis teve que fazer tratamento psicológico, mas foram poucas
sessões. Então ele começou agir como se nada tivesse acontecido, não
chorou, não teve reação alguma, estava canalizando tudo para dentro de si e
se fechando. Meus pais se forçando a seguir com a vida... Eu parecia ser o
único a não achar nada normal tudo aquilo. Então tive que ser forte de
verdade, engolir toda e qualquer dor, para cuidar da minha família e do meu
sobrinho. Só que no basquete, nunca conseguiria, porque ficaria longe deles
por muito tempo.”
Vicky ergue o rosto e me encara com os olhos marejados.
— Malcolm...
— Escuta, Maluquinha... — Peço e ela assente. — Eu praticamente
criei o Francis, e aos poucos, vi meus pais voltarem a sorrir de verdade.
Eles encontraram razões para continuar vivendo. Viajam sem parar, riem,
agem como crianças, mas vivem. Eles ajudaram a criar o Francis, mas a
figura paterna que ele teve foi eu. E do mesmo modo que me fechei para ser
forte, ele aprendeu a ser igual. Só que eu passei a treinar os jovens em um
centro de basquete, até ser convidado para Golden depois de um tempo.
Entrei junto do Sparks para os Red Fire. Eu tive distrações, descontava e
ainda desconto a dor na academia, treinando os jogadores, enchendo minha
cabeça; isso tudo para não pensar só no passado e na falta que Giulia e
Chase fazem. Só esqueci de ensinar isso ao Francis, esqueci de dizer a ele
que precisava sentir, que se fechar assim não faria bem. Dei a ele tudo que
precisou, só não dei a conversa certa, que dinheiro e bens materiais não
dariam.
— Você não tem culpa... Deu o seu melhor, cada pessoa sofre de um
jeito, Malcolm...
Sorrio fraco e toco seu rosto. Tão linda!
— Meus pais me alertaram que isso não seria bom e eu não ouvi.
Quando ele entrou para a universidade, acreditei que seria mais
comunicativo, só que ele focou tanto em trabalho e em viver por isso, que
tudo tem piorado. Antes que pense, não, ele não está na Sport por minha
causa; ele era uma das pessoas na lista de entrevistas para o cargo e foi
escolhido. Jennifer foi saber que era meu sobrinho, quando um dia fui
buscá-lo porque estava sem carro. Assim como você, Francis é orgulhoso,
jamais aceitaria usar o sobrenome influente para algo. Ele poderia conseguir
muita coisa, a avó era uma grande bailarina profissional, o avô um ex-
militar respeitado, o pai era conhecido demais na área que atuava e o tio,
um treinador respeitado da maior competição de basquete do país... Ele não
quis ajuda. Ele nunca quer nossa ajuda para nada.
Ela se senta na cama, cruza as pernas e me olha.
— Por que está dizendo tudo isso? Não entendo, Malcolm —
pergunta baixinho.
Me ajeito na cama, com as costas encostada na cabeceira. Ela segue
o movimento.
— Estou te contado uma coisa que não encontraria em jornal algum.
O verdadeiro bastidor da família Bell, que todos acham que fomos fortes e
superamos rápido, mas ninguém sabe toda dor que carregamos, das coisas
que deixamos de lado e o quanto isso ainda dói. Todos olham para mim e
pensam que sou essa muralha o tempo todo, frio, sério demais. Tudo bem
que sério sempre fui, o oposto do Chase, mas tive que amadurecer rápido
demais, para cuidar de uma criança entrando na adolescência e tentar
animar meus pais. Fingir ser forte o tempo todo me trouxe até aqui, só que
quando olho ao redor, ninguém quer saber como realmente estou, porque
para eles, eu aguento tudo. Sou uma muralha na mente de todos.
Ela olha para as mãos em seu colo e assente.
— Eu sinto muito por tudo e saiba que comecei a ter 1% de simpatia
pelo Francis. — Sorrio. — Ele realmente nunca relacionou nada a você ou
sua família. Descobri que vocês são da mesma família, ano passado com a
Kristal e minha prima, quando vimos os dois juntos e lembramos das
notícias sobre seu irmão ter tido um filho, e só então entendemos tudo.
Confirma o que disse sobre ele nunca usar o sobrenome da família para
nada. Mas não justifica ainda o ódio gratuito que ele sente por mim. O
jornal ceder a ele várias coisas, não é novidade, a bancada engravatada é
bem machista. Só que o modo como ele age comigo... Nunca fiz nada a ele.
— Não, não justifica, e você ficar tentando ser forte, também não é
o caminho. — Ela me olha. — Exatamente o que ouviu, e vou ter uma
conversa séria com o Francis, porque sei que em partes, ele tem a ver com
o que está acontecendo com você. Está cansada mentalmente, porque
ninguém aguenta ser sugado dessa forma. Só que precisa falar, não faça
como eu, como ele, como meu irmão fez. Se comunique, Vicky. Fale com a
Jennifer, se posicione de verdade com o Francis, não deixe que as pessoas
destruam sua paz. Ninguém tem o direito disso. E quer saber? Ambos são
parecidos, mais do que imaginam. — Ela revira os olhos. — Sabe que são,
só não quer admitir. São teimosos e orgulhosos. Se um grita, o outro quer
gritar mais alto. Se um ataca, o outro inicia uma guerra. Não sabem
conversar, dialogar de verdade, sem ataques, sendo adultos e bons
profissionais que são, cada um ao seu modo.
— Por que acho que isso está sendo um sermão com história real e
triste, para me fazer refletir melhor? — Me olha.
— Porque é realmente isso. Olha como está, acha justo ficar assim e
se machucar mais? Não vai aguentar ficar mais algumas semanas se não
tomar uma atitude sensata, Vicky.
— É... Eu sei... Por isso que pensei em deixar a Golden e retornar a
Palo Alto. — Uma lágrima escorre pelo seu rosto. — Nunca desisti de nada,
só que não sei o que está acontecendo. Esse ano estou estranha... E toda
essa cobrança em todos esses dias, a pressão... Estou surtando!
Puxo-a para meus braços.
— Acha que nós dois também é parte dessa pressão? — pergunto e
sinto receio de sua resposta.
— Não. É a parte mais divertida desses dias, por incrível que pareça.
E saiba que negarei até a morte se contar isso para alguém — responde e
sorrio.
— Dorme, amanhã será um dia novo e poderá pensar com calma
sobre tudo. Faça o que vai te deixar em paz, mas nunca tome uma decisão
precipitada sobre algo importante. Dizem por aí que não se pode voltar
atrás, e isso às vezes doerá, porque é melhor viver com “eu fiz de tudo”, do
que morrer com o “e se?”.
— Sente arrependimento por ter abandonado o basquete?
— Às vezes sim, mas aprendi a lidar.
Ela assente e suspira.
— Treinador? — Me chama baixinho.
— Oi?
— Estou me sentindo sozinha, nunca pensei que isso aconteceria e
estar aqui, vivendo essa loucura esses dias, está me fazendo pensar em
muitas coisas que jamais imaginei que um dia passaria pela minha cabeça.
— Por isso veio chateada para meu quarto? Parecia melhor depois
da manhã intensa.
— Eu liguei para as meninas. — Seu tom diz que algo saiu errado.
— Cherry estava ajeitando as coisas para sua viagem a trabalho, mas antes
se encontraria com o Oliver na cidade que ele estava. Kristal estava
escrevendo uma matéria e depois iria para um evento importante... Tentei
falar com meus pais e estavam em um jantar. Meus avós iriam fazer uma
fogueira juntos. A vida de todos andou e eu amo muito eles, só que percebi
que só tenho eles, e agora que cada um tem um rumo, têm suas vidas
amorosas, pessoais e profissionais agitadas, e eu continuei parada aqui,
vivendo do mesmo jeito de sempre. Não condeno eles, quero que sejam
felizes, só que... Esquece vai...
— Está com medo. Medo de ficar sozinha de vez.
— É... Acho que sim... Esse dia só tem que acabar logo, porque
desde a hora que acordei, sentia que não seria bom.
Aperto-a em meus braços e não falo nada. Mesmo tentando
disfarçar, ela chora baixinho até cair no sono. Eu não durmo, fico velando
seu sono, cuidando e dando carinho, para que se sinta acolhida.
Por trás de pessoas fortes, existem pessoas que podem não estar
aguentando mais e basta um pingo para que tudo transborde de vez.
Voltei para meu quarto logo cedo, precisava me arrumar para
trabalhar, porque estarei presente no dia dos jogadores hoje, acompanhando
tudo, porque amanhã é o grande dia.
Termino de ajeitar o cabelo em um coque baixo e bagunçado com
alguns fios soltos na frente. Coloquei uma calça jeans clara, sandália azul e
uma blusa preta, justa ao corpo. Falta ainda fazer a maquiagem, mas farei
isso rápido.
Pego a necessaire com elas e vejo a caixa dos donuts que me faz
sorrir. Malcolm foi incrível, de uma maneira que nunca imaginei que
pudesse ser. Nossa conversa, o carinho dele, tudo foi... Não sei explicar
direito porque nunca senti algo assim, mas foi leve, calmo e ao mesmo
tempo assustador.
Balanço a cabeça com o friozinho que surge na minha barriga. Deve
ser fome!
— Foco, precisa se arrumar logo, Vicky! — Brigo comigo mesma.
Ao menos me sinto muito melhor e isso é o mais importante agora,
não quero ficar pensando demais sobre isso, porque realmente tem algo
estranho demais acontecendo.

Estamos em uma van toda preta, que levará o time para fazer
algumas fotos. O treinador está conosco e um dos cameraman da Sport
também veio acompanhar, para filmar tudo.
Me penduro no encosto do banco onde está o Alfred e o Tyron.
Irritar as pessoas manterá minha animação do dia, sei disso e depois de
ontem, só quero manter a tranquilidade.
— Eu espero que esteja no celular com a Kristal, porque se for com
outra mulher, vou arrancar seu pau fora e fazer você comê-lo!
— VICKY, SAI DAQUI! — Ele grita puto e os meninos riem. —
Não tem trabalho?
— Tenho. Estou nele, mas meu cameraman está lá na frente com o
motorista, ou seja, agora posso te incomodar. — Dou leves tapinhas em sua
cabeça e ele empurra minha mão.
— Tyron está fodido. Não tem a namorada, mas tem a amiga da
namorada para vigiá-lo — Alf diz e o olho.
— Hm, então precisa de vigia, Tyron Sparks? Cara, você sabe que
sua namorada é louca também, né? Eu teria medo se fosse você — falo.
— Os dois querem calar a boca? Puta que pariu! Quem deixou a
Foster vir com a gente? — Tyron indaga e sorrio.
Olho para onde Malcolm está com o Elliot e vejo seus olhares
discretos na minha direção. Dou uma piscadinha para ele que me olha feio.
— Reclama com a Golden e o jornal. Só sigo ordens. Além disso, eu
que deveria reclamar em ficar rodeada de um bando de atletas que são um
porre!
— Por que não foi cobrir a temporada de futebol americano? Está
acontecendo também! — Tanner diz e o olho de lado.
— Não me ofende. Eu odeio futebol americano!
— Por quê? — Alf me olha ao perguntar.
— Porque esse esporte é do capeta. Eu odeio quando tenho que
cobrir qualquer coisa deles.
— Que esporte gosta, Vicky? Você reclama de todos — Tyron
indaga e sorrio safada.
— Se sexo contar como esporte, tem todo meu pódio.
Eles riem e Tyron me empurra para meu assento. Mas vejo Malcolm
me fuzilar com o olhar.
O que eu fiz? Acordei animada, só isso!
— Se não gosta de esporte, por que se tornou jornalista esportiva?
— Killiam questiona e sorrio.
— Porque não gosto de praticar esportes e alguns acho chato, mas
gosto de trabalhar falando deles. Pesquisar o assunto também é interessante,
mesmo que muitas vezes eu recorra à Kristal, para salvar meu rabo. Além
disso, eu queria ser jornalista e repórter, trabalhar com o público, TV, rádio,
qualquer coisa comunicativa. Já me imaginaram noticiando tragédias ou
falando de política e coisas do tipo?
— NÃO! — respondem juntos e acho ofensivo. Poxa, poderiam
pegar leve.
— Então... E o que seria de vocês sem minhas belas perguntas, que
precisam usar a ervilha que chamam de cérebro para responder?
— Poderia ser jornalista de fofoca. Adora uma — Tyron revida.
— Ei! Me respeita, girafa! Não faço fofocas, já disse. Eu gosto de
estar por dentro dos assuntos e compartilhar o que acho necessário!
— Estou com ela. Informação nunca é demais! — Alf diz e ergue a
mão. Bato nela e rimos.
— Vocês compartilham o mesmo cérebro! Puta merda — Zion
reclama e sorrimos.
A van entra em um estacionamento fechado.
Chegamos, finalmente!
— Ainda bem que chegamos. Mais um segundo aturando essa
garota, eu a jogaria pela janela — Tyron reclama e sorrio vendo-o se
levantar.
— É assim que vai deixar seus jogadores me tratarem, treinador
Bell? — provoco.
— Eu vou jogar todos vocês para longe se não calarem a boca — ele
reclama e Alf me olha rindo, então pisco para ele.
Todos começam a sair e pego minha bolsa. Malcolm é o único deles
a ficar na van. Passo por ele, mas ele me segura e olha para onde todos se
afastam.
— Se continuar falando sobre sexo ou dando espaço para
intimidades com meus jogadores, terá problemas. Deixe-os em paz, Foster!
Começo a rir.
— Deveria se preocupar em usar as camisinhas que faltam,
treinador... Faltam três — sussurro e desço da van dando um tchauzinho
para ele, que me encara muito sério.
Os meninos estão tirando foto e estou recolhendo algumas
exclusivas para o jornal, e de olho no que o cameraman faz, para ver se
está tudo certo, já que o Sawyer não veio.
Registro alguns momentos com o celular, mas meus olhos estão do
outro lado, onde Malcolm conversa com a moça que organizou essa sessão.
Nossa, ele sabe sorrir bem para as pessoas, né? Fico impressionada
com isso, porque comigo é raro, com outros não parece ter esse problema.
Aperto o celular em minha mão e ergo a sobrancelha em vê-lo rir de
algo que ela diz.
Olha como ele ri... Que homem risonho! Admirável isso.
Reviro os olhos e coloco o celular no bolso, cruzo os braços,
encosto-me na parede e vejo os meninos fazendo as fotos. Eles usam
camisetas do time, bola e se divertem na bagunça que criam.
Ouço o riso escandaloso da mulher. Olho e ela toca no braço dele ao
rir toda animadinha. Pelo jeito, a única mulher que o mundo desconfiaria de
ter algo com ele, sou eu. As outras podem subir na cabeça dele, que
ninguém pensaria nada. E foda-se que com o jornal tem regras, mas se eu
me aproximo, ele me expulsa quando estamos em público.
Curioso isso.
Alf passa por mim para trocar de roupa, mas puxo-o pela camiseta e
ele retorna de costas, quase caindo.
— Opa... O que houve, gata?
— Quem é essa organizadora? — Solto sua camiseta e ele se ajeita,
olhando para os dois risonhos.
Se inclina um pouco na minha direção para falar.
— Ah, ela sempre organiza todas as nossas sessões ou eventos. É
irmã da Camila Rogers, conhece? Uma das olheiras da Golden — concordo.
— Então, ela é a irmã da Camila. — Agora entendo o porquê achava que já
a conhecia, ela se parece muito com a irmã. — Dizem por aí que o treinador
e essa aí... — Indica mulher com um aceno sutil — Já tiveram um caso no
passado, mas ninguém confirmou nada.
— Sério? Que interessante... Qual o nome dela?
— Abby. Abby Rogers. Por quê?
— Nada não. Achei surpreendente ela com o treinador. Ele está
sempre sério, mas com ela é bem soltinho.
— Ah, entendi. Sim, eles sempre se tratam bem quando se
encontram. — Chamam por ele. — Fui, gata!
Concordo e ele se afasta. Puxo o celular do bolso e pesquiso por ela.
Vejo diversas informações. É gerente de marketing da Golden, sempre
coordena os melhores meios de divulgação dos times, como grandes
eventos, fotos e sempre está em cima de tudo para que as coisas fiquem do
jeito que deseja.
Nossa, como é profissional.
Engraçado, não a vi olhar uma única vez para as fotos sendo feitas!
Guardo o celular no bolso, e nesse instante, a bola vem na minha
direção, até bato nela, mas não desvio a tempo e ela pega em uma parte do
meu rosto, mas pelo menos a dor é menor.
— Porra! Vicky, está bem? — Killiam pergunta e ele e Tyron se
aproximam.
— Qual o problema de vocês? — pergunto irritada.
— Era para o Tyron pegar, mas ele não viu. Desculpa! Deixa-me ver
isso...
— Machucou? — Tyron pergunta preocupado e o olha de lado.
Killiam tira minha mão do meu rosto e confere.
— Ficou um pouquinho vermelho. Desculpa! — Killiam me abraça
rindo. Cretino.
— Tyron, se você rir, eu te mato! Isso vale para qualquer um! —
Grito.
— Quer gelo? Eu arrumo para você — Sparks diz e nego.
Malcolm se aproxima, está sério.
Claro, a queridinha dele não está mais por perto, aí vem todo
marrento.
— Deixem que eu vejo isso, voltem ao que estavam fazendo.
Deveriam prestar mais atenção nas coisas que fazem. Essa merda mais forte
teria machucado bem sério ela — diz irritado. — Vai, Killiam — diz ao
jogador que se afasta de mim rapidamente.
— Foi realmente sem querer, treinador. Nunca iria machucá-la
propositalmente — Killiam se explica.
— Vem, cara — Tyron diz ao colega. — Vicky, está bem mesmo?
— Estou! Estão perdoados. Vão logo, suas pestes!
Eles se afastam e Killiam sussurra um pedido de desculpa de novo e
concordo. O coitado deve estar traumatizado, mas bem-feito, porque porra,
essa bola dói.
— Vamos ver isso para não inchar — Malcolm diz.
— Não precisa, treinador. Eu sei me virar sozinha. Além disso,
quanto menos ficarmos próximos, menos problemas teremos, não é?
Ele franze o cenho.
— Vicky, deixe eu te ajudar com isso. Não seja teimosa.
— Eu já disse ao senhor que não precisa. Com licença! — Me
afasto, irritada.
Era só o que me faltava, querer se mandão do nada. O homem vive
me expulsando quando tem risco de nos verem e agora vem dando ordens?
Eu sou o que? Um animal que ele adestra? Vá a merda!
Além disso, as regras da Golden com o jornal têm que ser
respeitadas, não é? Quem sou eu para prejudicar alguém?!
Esse treinador dos infernos me faz repensar até minha pequena
vingança em deixá-lo doido. Em um dia é fofo e no outro é um mandão dos
infernos que fica rindo à toa com outra mulher. Para o inferno os homens.
Argh, que inferno!
Se meu rosto cair, eu mato o Killiam!
Vou matar o Sawyer que jogou essa bomba para eu lidar e ainda sou
agredida pela porra de uma bola!
Meu celular vibra e pego para ver, é uma mensagem do Francis:

Francis: O que está fazendo? Cadê você?

Planejando a morte do seu tio. Será lenta e dolorosa e matarei um


dos jogadores dele de bônus!
Vou dar um jeito nesse rosto primeiro, depois falo com ele. Que
castigo, viu!

Depois da tragédia com a bola, teve mais fotos e agora estamos


entrando na van para retornarmos ao hotel onde vamos descansar e mais
tarde, os meninos terão reunião de estratégias para o jogo, a segunda,
porque ontem tiveram também. Irei cobrir, mas só poderá ir ao ar, alguns
trechos e bem depois do jogo.
Sento-me no banco do fundo, encostada na janela. Deixo minha
bolsa aos meus pés, enquanto respondo algumas mensagens das meninas,
porque depois de ontem, piorou as suspeitas de que eu não estava bem.
Respondo também algumas da minha família e envio as informações que o
Francis pediu, e isso me faz pensar um pouco sobre o que o Malcolm disse.
Droga, agora além da cara fodida, vou ficar pensando no imbecil do
Francis!
É, eu vou matar o Malcolm Bell.
Alguém se senta ao meu lado e só pelo perfume sei quem é.
Esse homem não sabe me dar paz? Cadê a Abby? Ele deveria
infernizar ela!
Ele se ajeita no banco e reviro os olhos.
Coloco o celular na bolsa e fico olhando pela janela, vendo a van
sair do lugar, todos em silêncio, cansados.
Eu estou sonhando com comida, bebida, festas, música e sexo,
afinal, tem coisa melhor?
Uma mão pousa em minha coxa e aperta com força, me arrepiando
forte e me fazendo prender o ar por alguns segundos. Viro o rosto e vejo
Malcolm, que me olha de um jeito que já vi antes, quando apareceu na
minha porta com aquela gravata. O olhar praticamente dizendo que vai
foder alguém de todas as formas.
Uma ansiedade cresce dentro de mim. Sua mão sai da minha perna e
ele vira o rosto.
Ok, eu posso deixá-lo me foder mais uma vez e depois matá-lo,
afinal, tenho prioridades.
Estou na arena mais uma vez para a última reunião de estratégia
com o time antes do jogo de amanhã. Na manhã seguinte ao jogo,
partiremos para a próxima cidade e espero que seja menos corrido do que
está sendo agora, com tantas coisas acontecendo.
As fotos mais cedo tomaram um tempo da minha agenda que não
deveria ter tomado, mas foi porque também precisei fazer algumas fotos
junto do time para a campanha de uma revista.
Olho a hora em meu relógio, daqui a pouco preciso lidar com os
jogadores, mas antes tenho que organizar tudo para ir direto ao assunto. Nós
jogaremos contra os Strong Wave e eles têm tido uma melhora no empenho
em quadra. Nos jogos fora da temporada, eles mostraram claramente que
estão prontos para enfrentarem grandes times como os Red Fire.
Assisto o máximo de jogos que posso durante a pausa da temporada
e sempre busco estar atento às notícias dos times durante a Golden, para
saber como trabalhar com meu time. Agora com o Elliot me ajudando, está
mais fácil, porque ele fica de olho quando não tenho tempo e assim vamos
revezando. Além disso, Francis sempre nos ajuda quando comenta sobre os
jogos, por estar a par devido ao seu trabalho. De um jeito ou de outro,
sempre estou por dentro das últimas vitórias, pontuações e estratégias de
times, porque conhecer bem nossos adversários, é tão importante quanto
criar um time forte.
Bebo meu café, enquanto anoto algumas coisas que podemos usar
de estratégias com base no último jogo dos Strong e o que temos que
melhorar referente ao nosso último jogo.
A porta de se abre e nem preciso olhar para saber de quem se trata.
Seu perfume e seu andar entregam bem.
— Ocupado, treinador? — questiona com a voz mansinha demais.
Essa garota aprontou ou vai aprontar.
— Depende, Foster. Vai me irritar? Se for, estou ocupado. — Ergo o
olhar e ela abraça seu iPad como se fosse inocente, o que sei que não é.
Seu rosto não ficou inchado e ela cobriu a vermelhidão com a
maquiagem. Eu ainda quero matar o idiota do Tyron e do Killiam por essa
falta de atenção com a bola, essa merda poderia ter sido séria.
— Eu vim apenas trazer alguns documentos para conferir, tudo a
mando da Jennifer. — Estende seu iPad e pego-o.
Confiro passando o dedo na tela e são mais autorizações sobre as
gravações desses momentos mais sigilosos. Porra, Jennifer tem tanto medo
assim de um processo? Porque isso aqui já virou excesso de
profissionalismo. Retiro a caneta presa à capa e assino tudo.
— Mais alguma coisa? — Entrego a ela, que pega a nega.
— Valeu! — Se vira para sair e fico observando.
— O que quer, Vicky? — Ela gira os saltos e me olha com um
sorrisinho levado. — Aproveite e me diga por que agiu daquela maneira
mais cedo, quando só tentei te ajudar.
Levanto-me e fecho a porta. Jayden não está aqui hoje, não vai
implicar pela porta fechada. Retorno para a mesa e me sento na cadeira de
novo.
— Impedindo minha rota de fuga? — questiona e firmo o olhar. —
Engraçado, mais cedo parecia tão animado, mas basta estarmos juntos que
fica mal-humorado. Já que te incomodo tanto, é melhor eu ir, treinador Bell.
— Mais um passo e vou te deixar de castigo em cima de uma cesta
de basquete.
— Não seria capaz — diz boquiaberta e ergo a sobrancelha. —
Droga, você seria, né? Isso é uma ameaça e ameaçar as pessoas é crime!
— É mesmo? Então deveria estar em prisão perpetua já! — Estendo
as pernas e tamborilo os dedos da mão direita sobre a mesa de madeira.
Faz uma careta divertida, mas me contenho para não sorrir.
Tão linda e tão diabólica!
— Vamos, fale! Não tenho todo tempo do mundo, Foster!
— Eu apenas te tratei como costuma me tratar na frente das pessoas,
treinador!
Balanço a cabeça, isso não me convenceu.
— Agora fale o que realmente quer, essa sua cara está muito
suspeita.
— Que horror! Pensa tão mal sobre mim... Triste isso! — O
deboche e ironia dessa garota sobem o nível todo dia.
Coloca seu iPad sobre a mesa, caminha em direção ao pequeno
frigobar e pega uma Coca-Cola para beber. Se ela chegar aos trinta anos,
pode considerar um milagre. Abre a pequena lata e pega um canudo na
mesa com utensílios para as bebidas.
— Então, tenho uma dúvida. Uma coisa pequena, nada assim
extraordinário, é mais pelo comentário que ouvi, não que eu seja fofoqueira
e curiosa a esse ponto, mas é...
— Vicky, pelo amor de Deus, fale de uma vez! — Peço, notando
que ela está nervosa, já que disparou a falar.
Bebe o refrigerante e se senta no sofá, tentando parecer que está
relaxada, mas é nítido que não está.
— Ok... Aquela senhorita Rogers, irmã da Camila, a comprida,
pernas longas, que estava com você mais cedo, enfim... — Gesticula com as
mãos e juro por Deus, quero muito rir, por já imaginar o que vem em
seguida. — Você e ela... — Pigarreia. — Já tiveram algo?
O riso preso faz um som em minha garganta antes de eu desviar o
olhar para não rir. Agora tudo faz sentido.
— Está com ciúmes da Abby? — Torno a olhá-la.
— Se eu estou com ciúmes? Bebeu? Vicky Foster não sente ciúmes,
pelo menos não dos homens com quem apenas transa. Ciúmes é algo tolo,
só bobinhas apaixonadas sentiriam isso e não sou essa pessoa! E Abby?
Então tem muita intimidade, usa o primeiro nome. — Começo a rir, sem
poder controlar mais. ­— Não entendi qual a graça, Malcolm! — Bebe seu
refrigerante.
— A graça é exatamente sua pergunta e sua explicação. E garanto
que quem deu a sugestão que tive algo com ela, foi o Alfred, aquele língua
grande.
— Não conto minhas fontes. Vai responder?
— Vou, mas com uma condição, Foster... — Ela me olha animada,
curiosa, porque está louca por essa informação.
— Qual?
— Vai ter que me dizer a verdade por ter ficado nervosa mais cedo,
mesmo que eu já desconfie do motivo!
— Isso é injusto. Não é um acordo bom! Não vou aceitar.
— Então continue com sua curiosidade. Se me der licença, preciso
continuar aqui. — Me ajeito na cadeira para continuar trabalhando e desvio
o olhar.
Escuto-a se levantar irritada e caminhar na minha direção. Deixa sua
bebida sobre a mesa, e se encosta nela, cruzando os braços, ficando
literalmente à minha frente, entre minhas pernas.
— Maldita seja minha curiosidade. Vai, desembucha — diz
entredentes. — Eu irei falar a verdade. Vai, Malcolm! — Desvia o olhar e
sorrio.
Apoio um cotovelo sobre o braço da cadeira e levo a mão ao queixo,
observando-a. Inferno, eu preciso senti-la de novo! Vicky está me
enlouquecendo de tantas formas, que a cada instante se torna mais difícil
manter o controle. Tudo nela me atrai, suas birras, teimosia, boca atrevida,
seu atrevimento no geral, seus sorrisos e até suas ironias e deboches.
Maldito seja o dia que bateu em meu carro, porque algo me diz que
bem ali, naquela droga de batida, algo foi marcado pelo destino.
— Nunca houve nada entre mim e a Abby... — Ela me olha. — Não
da forma que pensam.
— Já se beijaram? — Assinto. — Já transaram? — Assinto de novo.
— E como diz que não houve nada? Que forma acha que pensam? — Me
olha como se eu fosse um idiota.
— Não tivemos uma relação depois disso. É exatamente isso que
pensam: que tivemos um relacionamento. Mas foi uma única vez e tem
muitos anos. Logo quando assumi os Red Fire. Depois disso, só
continuamos colegas. Abby namora tem dois anos, evita exposição do
relacionamento na mídia para ter paz, porque você sabe como funciona esse
meio.
— Nossa, para quem é só colega, tinha muitos risos mais cedo da
sua parte. — Ergue uma sobrancelha e desvia o olhar.
— Eu estava normal, Vicky.
Ela me encara e sei que deseja me matar, seu olhar entrega.
— Não estava. Comigo, você age como se eu fosse uma criminosa,
principalmente quando tem pessoas por perto. Tudo bem, tem a droga dessa
nova regra da Golden com a Sport, mas não sabia que me ignorar
publicamente o máximo que pudesse, fazia parte dela. — Gesticula
descruzando os braços. — Com ela, com a Jennifer, qualquer outra pessoa
ou mulher, mesmo sendo todo sério, sorri, conversa, mas comigo é só
“Foster”. São broncas sobre como me alimento e só é carinhoso quando não
estou bem, o que é o mínimo, sendo bem sincera. E quer saber? Mais cedo
fiquei irritada, chateada, não sei bem, porque porra, fica sempre sendo todo
mandão comigo, mas com outras... nossa, é só sorrisos, e ainda dizem que
Malcolm Bell não sorri. Imagine só se mostrasse mais os dentes, iria ter
cãibra na boca!
Escuto tudo com atenção e sorrio. Ela me olha mais sério ainda.
— Terminou? — questiono e ela revira os olhos concordando. —
Agora quero que me responda: Para quem eu compro almoço e doces? —
Desvia o olhar. — Quem eu deixo passar a noite em meu quarto e fico
dando carinho e cuidando quando não está bem? Ou quem eu deixo o
Ronald levar para cima e para baixo de carro? Me responde, Vicky!
— Eu... Mas...
— Mas nada! — Impeço-a de continuar. — Me vê brigando com
alguém sobre como essa pessoa se alimenta? — Ela nega e me encara sem
jeito, cruzando os braços. — E sabe por quê? Porque não me preocupo, só
me preocupo com o seu bem-estar, o que é bem egoísta da minha parte
dedicar essa preocupação apenas a você. Realmente não sou fácil de ficar
sorrindo por aí, mas na maioria das vezes, eu os forço, só para ser
simpático e evitar desconforto em uma conversa. Sabe quem mais tem meus
sorrisos sinceros? — Ela fica muda. — Você! Você os tem, Vicky Foster!
— Ai, Malcolm, conta outra vai... Eu vi bem como estava cheio de
alegria com a Abby! — É nítido que ela está enciumada, não consegue nem
disfarçar e isso é surpreendente até mesmo para mim.
— Porque ela estava relembrando como foi o draft do Tyron e o
quanto segue sendo marrento como antes. Ela assistiu junto da irmã quando
ele entrou para a Golden. E tenho muito carinho pelo Tyron, porque ele
lembra muito o jogador que um dia fui. E pelo amor de Deus, não deixe o
Alfred saber disso, ele vai fazer drama até o meu último suspiro! — Me
ajeito na cadeira e ela sorri de lado. — Te evito na frente das pessoas,
porque você consegue roubar meu foco e sei que não conseguirei disfarçar
por muito tempo que algo está acontecendo entre nós. Te chamo de Foster,
porque me irrita na maior parte do tempo e aparentemente, é o único jeito
que me escuta quando está sendo teimosa, o que é quase sempre!
Revira os olhos de novo e só comprova o que eu disse. Me levanto e
a coloco sentada sobre a mesa, encaixo-me entre suas pernas e seguro seu
rosto com ambas as mãos.
— Ainda não percebeu que está ferrando minha mente? Me
deixando louco? Não deveria duvidar nunca do meu carinho por você,
porque infelizmente ele existe, Vicky.
— Infelizmente?
Sorrio.
— Sim, porque isso significa que só estou dando mais poder aos
seus feitiços. Agora para de pensar merda e dar ouvido às conversas do
Alfred. Ele não sabe nem onde fica a própria cabeça, como pode confiar
nele? E agora me fala, está melhor? E não me refiro somente ao seu rosto.
Suspira e assente.
— Sim para os dois.
— Agora realmente preciso agilizar as coisas para a reunião com o
time. Porém mais tarde te encontro no hotel — Beijo sua boca e cacete, é
sempre muito bom. —Temos três camisinhas que não foram usadas naquela
noite, alguém jogou isso na minha cara mais cedo — sussurro e ela sorri
animada.
— Talvez até te faça uma pequena surpresa, Malcolm Bell... Isso se
eu achar que merece confiança depois de tudo que falou.
— É mesmo? E do que se trata a surpresa? — Sorrio e ela fica
olhando toda boba.
E a ainda acha que não sorrio para ela. Garota boba, ainda não
notou que são os mais sinceros que recebe?
— Se eu abrir a boca, não será uma surpresa! — Me beija agarrando
meu pescoço.
Aperto suas coxas e ela geme em meus lábios.
— Vai antes que eu te foda bem aqui e nos coloque em problemas!
— Talvez eu goste de arrumar problemas! — sussurra.
— Não tenho dúvidas disso. Vai!
Ajudo-a descer da mesa e ela pega seu iPad e o refrigerante.
— É verdade tudo que disse antes, Malcolm?
— Eu não minto, Vicky. Basta observar melhor os detalhes,
Maluquinha.
Ela concorda e se afasta com uma expressão estranha, mas não diz
nada. Vejo-a sair e torno a me sentar na cadeira.
— Garota, você está acabando comigo! — Jogo a cabeça para trás e
esfrego o rosto com as mãos.
Não via a hora desse dia terminar. Saí da arena direto para uma
reunião, só tive tempo de tomar um banho e comer algo agora, quase
anoitecendo. Só não me sinto tão cansado, porque de um jeito estranho,
passar o dia com aquela morena ciumenta na minha cola, me relaxou. É
muito confuso ver que ela tem esse poder sobre mim. Na verdade, ela tem
muitos poderes e isso não deveria acontecer, só que está acontecendo. Não
consigo mais fugir desse emaranhado que ela me amarrou.
No começo, apenas desejava fugir dela, mas a cada dia que passa, a
cada semana que se completa, a necessidade de tê-la por perto aumenta, e o
pior, viver isso, desse modo proibido, deveria deixar um alerta, mas só
deixa tudo mais gostoso, porque é algo nosso, não existe imprensa, pressão
das pessoas, apenas nos entendemos sozinhos.
Só que tudo isso também me preocupa, porque sei dos meus desejos,
do que espero para o meu futuro, como construir minha família, e ela é
totalmente o oposto e deixa isso claro sempre. Se tudo isso intensificar, eu
posso sair machucado. Não tenho mais idade para me submeter a esse tipo
de situação.
Estou cansado, foram anos lidando com tantas coisas pesadas, que
só busco paz. É por isso que desejava uma mulher calma, tranquila em
todos os aspectos, bem diferente de mim...
Desejava.
Merda, até penso nisso no passado agora. Quando a beijei pela
primeira vez, sabia que era um erro, só não imaginava em que lugar esse
erro nos levaria e que mexeria tanto comigo depois.
Me vejo cuidando dela, sendo possessivo, me incomodando quando
ela está com conversas mais intimas com os jogadores. Cacete, só de ver o
Killiam mais cedo abraçando-a, aquilo me tirou do sério. Quando notei que
ela sentia ciúmes, intensificou tantas outras coisas. Inferno, se ela queria me
enlouquecer, está fazendo um bom trabalho.
Mas tem a Golden no meio dessa bagunça toda, com a maldita nova
regra. Um deslize, só uma porcaria de deslize e estamos ferrados, ela ainda
mais, porque esse meio ainda é muito machista e a Vicky ficará marcada,
enquanto eu após alguns dias, ninguém lembraria mais. Acusariam ela,
diriam que me seduziu... Eu não posso deixar com que ela se prejudique
assim. Talvez Vicky não tenha noção real disso tudo, ou tenha e não se
importe, mas eu me importo.
Bato em sua porta e torço para que ninguém apareça no corredor.
Ela me enviou uma mensagem dizendo para vir aqui e só isso foi capaz de
me deixar ansioso. Ela veio para o hotel um tempo antes de mim, após
passar horas na minha presença. Para quem fala tanto como se fosse
desapegada, Vicky Foster está muito apegada a quem deveria ser só uma
transa qualquer.
A porta se abre e me deparo com a morena de cabelos soltos, rosto
limpo e usando uma camisola preta, bem sexy, toda transparente, e não, ela
não usa calcinha. Subo o olhar para seu rosto novamente, sentindo o efeito
que ela consegue causar em mim, apenas com sua presença. Um frio
percorre meu corpo, assim como um calor intenso que começa a surgir.
— Vai sair, treinador? — Me analisa e questiona com sua voz bem
doce.
— Talvez... — Passo para dentro do quarto e fecho a porta. — Era
essa a surpresa? Matar a pessoa com a surpresa, não deveria ser considerado
uma surpresa.
Ela sorri, e inferno, é tão lindo esse sorriso. Só não quando vem
após me irritar, porque aí, até ele me irrita.
— Não quer descobrir qual a surpresa, treinador? Achei que mais
cedo tivéssemos dito algo sobre ter sobrado três camisinhas daquela noite.
— Caminha com calma, parando na minha frente.
Meu olhar segue para a cama, onde vejo um frasco de lubrificante.
Essa garota vai aprontar e puta merda, meu pau está sentindo a necessidade
de descobrir o que ela fará ou já fez.
Abre os botões da minha camisa e desliza as unhas pelo meu peito,
arrepiando-me. Puxo seu corpo para mim e ela solta um gritinho com o
impacto e susto. Agarro seu pescoço e me inclino em sua direção. Sei que
ela sente meu pau endurecendo, porque geme quando ele se mexe.
— Não brinque com fogo, Vicky... Pode se queimar e muito!
— Talvez eu queira ser queimada... — Puxo seus cabelos. —
Aaaah... Eu gosto disso...
— De quando puxo seu cabelo? — Sorrio de lado.
— Também, mas de quando fica com esse olhar, porque é o mesmo
da noite da gravata e adoro aquele Malcolm Bell — sussurra, nossos lábios
próximos um do outro.
Não resisto mais, devoro sua boca de um jeito mais intenso, sem
muita delicadeza. Agarro sua bunda com uma mão, apertando a carne e a
morena geme entre nosso beijo. Acerto um tapa e ela larga minha boca
gemendo mais alto. Viro-a de costas para mim, agarro seus seios e aperto os
bicos duros . Ela geme mais e esfrega a bunda em mim, roçando meu pau
totalmente duro agora.
Beijo seu pescoço e ela inclina a cabeça para o lado, totalmente
rendida. É tão fácil de se render a mim. Vicky Foster perde toda sua postura
quando está em meus braços. Subo uma mão para o seu pescoço e a outra
deslizo para o meio de suas pernas, tocando sua boceta, que está bem
molhada. Aperto seu pescoço, conforme toco-a com meus dedos.
— Por que está excitada a esse nível? Nem começamos ainda... Eu
nem espanquei essa bunda, garota!
— Malcolm... A surpresa — sussurra desespera.
Ela se afasta contra minha vontade, porque anseio ficar colado nela,
e me olha ofegante. Franzo o cenho e a vejo- caminhar lentamente até a
cama, retirar a camisola e deixá-la cair no chão escuro.
Seu corpo é exuberante. Vicky é perfeita.
— Qual é a surpresa? — questiono.
Ela se move sobre a cama com cuidado, gemendo com o pequeno
movimento que faz. Na beirada da cama, em cima do colchão, ela se inclina
e fica toda empinada, de quatro, o rosto virado para mim com um sorriso
safado. Torno a olhar para seu corpo e então vejo a maldita surpresa: a
pedrinha vermelha em seu ânus. Vicky Foster está usando a porra de um
plug anal.
— Gostou, treinador? — sussurra com a malicia predominando seu
tom.
Me aproximo sem acreditar. Paro diante da cama e toco sua bunda,
acariciando-a, admirando a cena.
Ela quer me matar!
— Me preparei para que me comesse de todas as formas hoje... —
Olho para ela quando diz essas palavras e um descontrole me consome de
vez.
Retiro os sapatos e a camisa, deixo tudo pelo chão. Toco a pedrinha
empurrando-a para dentro quando começa a sair e Vicky geme alto.
— O que eu faço com você, garota? Porra! — Acerto sua bunda e
ela grita toda safada. — Quer mesmo isso?
Ela concorda.
— Do seu jeito... Eu quero tudo do seu jeito, Malcolm!
É, ela quer me matar!
Retiro meu cinto e puxo suas mãos para trás.
— Confia em mim?
— Não precisa perguntar, eu sempre confio!
Suas palavras me tocam mais do que ela possa imaginar e geram em
mim uma responsabilidade maior em nunca machucá-la na vida.
Amarro seus braços para trás, prendo pelo pulso com meu cinto, de
um jeito que a não machuque, mas que fique bem presa. Seu rosto agora
cola no colchão sua bunda está totalmente para o ar, empinada ao limite.
Afasto suas pernas o suficiente e porra, sua boceta escorre um pouco da
excitação. O plug escorrega um pouco, de tão lubrificada que está. Aperto-o
de novo e ela geme mais.
Retiro a carteira do bolso, que mal fecha por conta das três
embalagens de camisinhas que ficaram aqui desde aquela noite. Jogo-as na
cama e jogo a carteira no sofá. Do outro bolso retiro o celular e o cartão de
acesso ao meu quarto e dou o mesmo destino que a carteira. Não sei bem
dizer tudo que estou sentindo agora, mas eu preciso foder essa mulher!
Retiro a calça junto da cueca e ela assiste tudo com o rosto virado e
os lábios entreabertos.
— Precisa me falar se quiser parar. Fui claro?
— Sim!
Acerto sua bunda e ela grita fechando os olhos e impulsionando a
bunda para frente.
— Porra, está linda com esse plug. Uma delícia para ser fodida! —
Acerto outro tapa e ela grita. A vermelhidão marca sua bunda.
Deslizo o dedo por sua boceta e ela começa a gemer, principalmente
quando coloco ele dentro dela. Retiro e coloco de novo, espalhando ainda
mais todo o melado. Pego uma camisinha abrindo-a e coloco em meu pau,
sem pressa, porque a ansiedade está a excitando mais, e desejo que chegue
ao seu limite.
Encaixo meu pau na sua entrada e entro de uma vez em sua boceta
que me acolhe ainda mais apertada, porque seu ânus está cheio também.
Seu corpo impulsiona para frente, mas o puxo para mim.
— MALCOLM! AAAAH... — Grita misturando seu prazer ao meu.
— Cuidado! Quem passar no corredor pode ouvi-la me chamando e
não queremos que saibam que estou te fodendo, Foster! — Acerto sua
bunda e ela prende o gemido. — Muito bem... Nada de gritar e nada de
gemer muito alto. É muito escandalosa, garota — provoco-a e acerto mais
um tapa.
Todas as proibições a excitam mais, já notei isso. Puxo o cinto,
trazendo seu corpo ainda mais para mim. Ela fecha os olhos mordendo os
lábios, mas no instante que me movimento, ela geme alto.
— Foster... controla! — Acerto de novo sua bunda e ela
choraminga.
Começo a foder sua boceta, rápido, forte, vendo o plug escorregar e
a cada vez que faz isso, empurro para dentro novamente. Vicky esconde o
rosto na cama, prendendo seus gemidos. Vê-la amarrada assim, à minha
mercê, caralho, me deixa ainda mais louco de tesão.
Ela aperta meu pau no que já está bem apertado e sinto-me a ponto
de explodir.
— Porra... Aaah... — Gemo perdido nesse momento, vendo a cena e
tendo a certeza que preciso mais disso.
Abro mais suas pernas e vou ainda mais fundo. Travo-as para que
não movimente e ela se desespera, virando o rosto vermelho para mim.
— Malcolm... Malcolm... Eu vou gozar... — Chora pelo prazer
consumindo-a toda.
Aperto o plug em sua bunda e ela choraminga mais forte agora. Suas
pernas tentam se fechar e ela tenta mexer as mãos, mas está impedida.
Acelero os movimentos e ela precisa esconder o rosto de novo para conter
seus gritos. O orgasmo a atinge e seu corpo começa a estremecer inteiro.
Meu pau lota a camisinha a cada movimento que faço, gozando forte. Eu
gemo como um louco.
Saio de dentro dela com cuidado e vejo a camisinha realmente
cheia, mas meu pau duro ainda, não satisfeito só com isso. Não quando tem
outro buraco para ser fodido e ela está assim, toda rendida para mim.
Retiro a camisinha e amarro-a antes de deixar cair no chão. Coloco
outra e me aproximo dela. Beijo sua bunda e acaricio a carne vermelha. Seu
rosto se vira para mim, ainda mais vermelho. Os cabelos estão bagunçados
e não tem nada mais sexy do que essa cena.
— Restam duas — sussurra sorrindo.
— Tira o plug... — Corto o assunto. — Empurra ele para fora. Eu
quero que você o faça cair — ordeno e ela me olha boquiaberta.
Morde o lábio inferior e olho para sua bunda, vendo-a empurrar o
plug até ele cair na cama. Um modelo médio, nem muito grande, nem muito
pequeno. Seu ânus está totalmente avermelhado.
Pego o lubrificante e pingo algumas gotas em meus dedos e passo
nela, contornando seu buraco e introduzindo dois dedos lentamente. Ela
geme, mas está bem relaxada, isso é bom. Retiro-os e coloco de novo e ela
rebola neles, devorando-os, querendo mais.
— É uma safada mesmo! — Acerto sua bunda e ela solta um
gritinho e sorri.
Retiro os dedos e posiciono meu pau, porque não quero perder nem
um segundo mais. Apoio as mãos uma de cada lado seu, equilibrando meu
peso, conforme vou entrando nela, lento, porque por mais que esteja
preparada, sou grande. Aproximo o rosto do seu e seus olhos se prendem
aos meus, marejados.
— Ain... — resmunga baixinho, manhosa. — Malcolm — seu
sussurro só falta me matar, de tão gostoso e sexy que está.
— Está doendo muito?
— Um pouquinho só — responde. Entro mais, fechando os olhos
por alguns segundos. — Aaah...
Coloco o rosto em seu pescoço, buscando o máximo de controle que
consigo para não me enterrar de vez, porque é tão apertado, tão gostoso.
— Calma, só mais um pouco... Não tem noção do autocontrole que
está me fazendo ter... Porra, Vicky! — Mordo sua orelha de leve e ela geme.
Ela me empurra para fora e isso ajuda a entrar mais fácil. — Isso... Boa
garota!
Entro por completo e espero-a se acomodar antes de fodê-la de vez.
— Você é enorme, eu já sabia... mas agora estou tendo mais
certeza... Cacete!
Sorrio e ela geme quando se mexe um pouco.
— Não faz isso se não estiver pronta. Vai me deixar louco...
A filha da puta faz de novo, se mexe, mas rebolando bem lento
enquanto geme toda cheia de manha. Fecho os olhos e me mexo um pouco
e quando seu gemido vem bem intenso, sei que está pronta. Me afasto o
suficiente para segurar sua cintura e então começar a entrar e sair de sua
bunda.
— Porra, que bunda deliciosa! — Meto de uma vez e ela geme meu
nome. — Já falei para controlar essa boca! — Acerto sua bunda.
— Difícil com você fodendo minha bunda, idiota! — retruca.
Sorrio, mas acerto mais um tapa em sua bunda só pelo atrevimento
dela.
Fodo-a forte de novo e ela grita sem conseguir controlar mais, nem
mesmo abafando no colchão resolve. A cada grito, eu espanco a bunda dela
como castigo, mas ela gosta, porque fica mais excitada. Me chama sem
parar, chorando, gemendo, gritando. Vicky implora para que eu a foda sem
parar, que eu vá mais forte e eu faço.
Abro sua bunda e desço o olhar para a sua boceta vermelha mais
abaixo, toda inchada, então acerto um tapa nela e minha garota geme ainda
mais forte. Soco forte dentro do seu ânus, que vai me esmagando a cada
investida. Ela vai se desesperando a cada instante, principalmente no
segundo tapa em sua boceta.
Assisto o gozo escorrer de dentro dela, se espalhando
deliciosamente. Toco seu clitóris, sem deixar de foder sua bunda e seus
gemidos viram choro de prazer, desesperados, trêmulos.
— Malcolm... Não para... Não para...
— Rebola! — Mando e ela faz, e cacete, estou no paraíso. Meu
celular começa a tocar e foda-se, ninguém vai nos parar. — Não para.
Continua!
O som do celular se mistura à bagunça de sons, até apenas nossos
gemidos se tornarem os protagonistas, principalmente quando o orgasmo
nos atinge, nos levando ao limite, e gozamos ainda mais, até seu corpo
despencar sobre a cama com alguns espasmos.
Gozo até a última gota antes de sair de dentro de dela.
Retiro a camisinha e amarro, pegando a outra para levar ao lixo e
me limpar, antes de retornar para desamarrá-la e cuidar dela.

Ela está com a minha camisa, os cabelos presos, enquanto uso


apenas minha cueca. Estamos na cama e confiro meu celular descobrindo
que era o meu pai que me ligava, mas depois vejo do que se trata. Deixo o
aparelho de lado e olho para ela, que parece pensativa.
— O que houve? Está muito dolorida?
— Não foi nada... Só estou aqui pensando no quanto é bom ter um
sexo fixo também. Estou começando a entender minha prima e amiga. Dá
menos trabalho do que ficar procurando, além disso, se for bom, é melhor
ainda. — Vira o rosto para mim. — Não acha?
— Em certo ponto é sim, mas porque está pensando nisso agora?
Ela monta em meu colo e ajeito as costas na cabeceira da cama.
— Não ria e nem tire conclusões precipitas, promete? — Assinto. —
Eu sinto falta de sair para dançar, beber, me divertir. Devido essa correria,
não tenho muito tempo, mas meio que não sinto falta de sair à caça de uma
noite de sexo com um estranho. E isso nunca aconteceu, entende? Talvez
seja o estresse e por eu gostar do sexo entre nós... Não sei, só que quando
saí, que você fez aquela idiotice de mandar o Ronald me seguir, achei que
não conseguia achar ninguém, por estar puta com o que fez, mas agora
pensando bem, acho que não achei porque não queria encontrar.
Acaricio suas coxas ao meu redor, sentindo sua pele macia se
arrepiar ao meu toque, mas presto bem atenção no que disse, e isso abre
portas dentro de mim que por muitos anos estiveram fechadas.
— Vicky, quero que seja sincera sobre uma coisa. — Peço e ela
concorda, me olhando atenta. — Se isso aqui acabasse virando mais que só
sexo, você fugiria ou tentaria experimentar? Seja sincera comigo, por favor.
Ela fica em silêncio por alguns segundos e aguardo paciente sua
resposta.
— Malcolm, eu não sei se devo responder isso, porque...
— Só seja sincera, sem medo. Somos só nós dois aqui. Não precisa
fingir que não se afetaria com nada, que tem aversão à sentimentos, ou
mentir para tentar não me machucar... Só seja sincera comigo, é o que te
peço.
Meu coração acelera. Ela apoia as mãos em meu peito e sei que o
sente, porque seu olhar entrega isso.
— Eu não sei, porque nunca lidei com essas coisas, só ouço as
pessoas falarem. Só que... Malcolm? — Me chama baixinho.
— Fala, minha Maluquinha. — A palavra de posse sai sem que eu
pense, é automático. Ela sorri timidamente.
— Isso é proibido. Agora está gostoso, mas uma hora você pode
cansar disso, e não aguentar viver às escondidas até o final do ano, que é
quando acabará a temporada e não quero me machucar, então bloquear tudo
e qualquer coisa que eu possa sentir, me parece no momento a melhor
escolha.
Puxo seu corpo para que se deite sobre mim. Acaricio suas costas e
afago seu cabelo. Tenho nesse momento a mais absoluta certeza que tudo
mudou e um novo sentimento surgiu, algo que não posso evitar, não após
suas palavras me atingirem tanto, me causarem medo e ansiedade.
Vicky Foster fez com que eu me apaixonasse por ela e não foi agora,
foi desde aquela batida de carro, quando bateu não só nele, mas bateu de
frente comigo. Foi isso que o destino selou: o nosso caminho, e tratou de
unir tudo. A nossa primeira vez juntos, foi tudo que ele precisava para que
essa garota penetrasse minha mente e me dominasse por inteiro. Passar
todos esses dias com ela, só está deixando isso cada instante mais claro.
— Acho que é tarde para pensar em cansar de algo — sussurro e
beijo o topo da sua cabeça.
— Malcolm, não faz isso, não complica minha cabeça maluca... Por
favor...
— Tarde demais, Vicky. Esse tipo de jogo não termina do modo que
queremos, nunca seriam somente as nossas regras e desde o início sabíamos
disso. Não sou homem de enrolar e esconder as coisas.
— S-só está confuso...
— Não. Eu sei bem o que estou sentindo. E eu sei bem quem eu
quero.
Ela ergue o rosto e me encara com uma expressão fofa, me fazendo
ter certeza de tudo, só por sentir o frio na barriga e o coração acelerar mais
com esse olhar.
— Não fala apaixonado... Não diga isso... É um crime contra mim!
Sorrio com carinho para ela.
— Me prende então, porque eu estou apaixonado por você e vai ter
que lidar com isso, Vicky Foster. — Ela esconde o rosto no meu pescoço.
— Não espero que retribua, só não vou agir como um idiota e fingir mais
que não tem nada acontecendo, porque tem. Tudo o que falei mais cedo,
todos esses dias, meses, tudo que nos aproxima e a cada vez que tenho em
meus braços, me traz mais certeza disso. — Sou sincero e puta merda,
nunca me senti tão em paz por poder falar algo que estava cravado dentro
de mim e eu queria negar. — Não tenho mais idade para fugir da verdade.
Uma hora isso aconteceria, e foi exatamente com a coisinha mais irritante
que surgiu na minha vida. — Toco a ponta do seu nariz e ela sorri.
— Isso tem que acabar, é o melhor, Malcolm. Assim ninguém se
machuca.
Fecho os olhos e respiro fundo sentindo um pouco mais do impacto
de suas palavras. Como eu previa: isso daria problemas, e eu seria o mais
prejudicado em relação a sentimentos. Mas não posso condená-la, porque
me rendi a ela desde a primeira vez que nos beijamos, só não queria admitir
isso, mas passei meses pensando, até a temporada iniciar e tudo isso agora é
só para confirmar que eu, Malcolm Bell, o homem que todos pensam que
controla tudo, e até mesmo pensei que poderia, na verdade, me perdi nos
braços de uma garota baixinha, com cabelos escuros, olhos lindos, uma
língua terrível e uma péssima alimentação, que briga por um pedaço de bolo
mais do que qualquer guerreiro em uma batalha entre nações.
— Fique só essa noite comigo então.
— Malcom, não...
— É o que peço, por favor. Porque tem algo que ainda não sabe
sobre mim, Vicky...
— O que? — Ergue o olhar e toco seu rosto com carinho.
— Eu odeio despedidas. Odeio ter que dizer adeus.
Ela toca meu rosto, seus olhos lindos marejados em um castanho
mais claro. Então ela me beija e pela primeira vez, é um beijo em que tem
sentimentos comandando mais do que o desejo, sentimentos que estavam no
mudo e agora resolveram ter voz.
Eu me apaixonei
Nunca precisei respirar fundo tantas vezes como está sendo hoje.
Nunca senti meu peito tão apertado e uma angústia tão estranha. É como se
parte de mim tivesse sido levada. E o pior: essa sensação está desde a hora
que acordei e vi o lado da minha cama vazio.
Não quero ficar pensando no que pode ser isso. Hoje tem jogo, é um
dia importante, não posso me prender a esse detalhe, tenho que ser
profissional.
— Você tomou a atitude certa, Vicky. Foi o melhor dar um basta —
sussurro conforme me ajeito na sala da imprensa. Estou sozinha aqui
enquanto espero a arena começar a encher.
Ajeito meu blazer preto e a blusa branca por baixo. Estou toda de
preto, apenas com batom e sapatos vermelhos; é o que traz cor ao look de
hoje. Estou tentando agir como se nada tivesse acontecido ontem, mas
aquela conversa, a declaração do Malcolm, tudo fica se repetindo na minha
mente.
Eu o senti beijar minha testa antes de sair, mas não tive coragem de
abrir os olhos. Aquilo foi a despedida. Em algumas semanas nada disso
seria real de qualquer forma, tudo ficaria no passado.
É como qualquer outro cara com quem já saí, não tem motivos para
eu me sentir assim. Não preciso de um namorado ou de um grande amor.
Posso ser suficiente para mim mesma.
Limpo o borrado no cantinho da boca.
— Mas por que estou me sentindo tão mal? — Caio sentada no sofá
e recosto nele. Cruzo as pernas e respiro fundo pela milionésima vez.
Inclino a cabeça para trás, sem me importar se vai amassar as ondas que fiz
em meu cabelo.
A porta se abre e me assusto. Viro o rosto lentamente e fico ainda
mais surpresa.
— O que fazem aqui? — Franzo o cenho, completamente confusa.
— Achou mesmo que não iríamos vir? O que inferno está havendo
com você, Vicky Foster? — A voz da Kristal é séria. Não tem sorriso ou
qualquer vislumbre de alegria em seu rosto e muito menos no da outra
loirinha.
Olho para as duas e logo atrás delas, os dois gigantes surgem.
— Mas...
— Chega de fugir! Tem até antes do jogo começar para nos contar o
que está acontecendo — Cherry diz.
Eles se aproximam e elas se sentam ao meu lado e me abraçam.
Droga, eu nem sabia que realmente precisava disso até sentir. Ouço a porta
se fechar e Oliver e Tyron se aproximam, sentando no sofá à frente.
— Gente, estou bem. Oliver não tem um jogo? E o Tyron deveria
estar se preparando para o dele? E vocês duas, não tinham compromissos?
Que inferno estão fazendo aqui? — faço as perguntas e elas se afastam, mas
agora sorrindo.
— Eu tenho jogo, Diablo, mas só amanhã e a Cerejinha insistiu para
eu vir junto — Oliver se explica.
— Não insisti não. Você quis vir porque é fofoqueiro — Cherry
revida e ele a olha rindo.
— Cherry Hale, está muito ousada — revida e ela ri para o
namorado.
Encaro o Tyron e ele balança a cabeça.
— Eu não falei nada. Estou tão surpreso quanto você. Não sabia que
os três viriam. Encontrei com eles agora. A minha própria namorada não
falou nada! — Olha para a Kristal que dá de ombros.
— Claro que eu daria um jeito de vir. Principalmente com você mal
nos respondendo, agindo estranho — Kris explica e ajeita os longos
cabelos.
— E eu também. Seus pais e nossos avós estão preocupados. Vicky,
eles queriam vir, mas sabiam que você nunca lhes falaria nada. Quando
ligou para eles, desconfiaram que tinha algo estranho, sua voz estava
esquisita.
— A Jennifer está preocupada também. Disse que só se comunica
com ela por mensagens ou rápidas ligações e não tem reclamado de mais
nada. E encontrei com o Francis, até aquele doido falou que tinha algo
estranho, porque você não estava mais revidando ao modo que fazia —
Kristal comenta.
— Ele não deveria estar de repouso? Por que todo mundo está
cuidando da minha vida? — Um nó se instala na minha garganta. — Eu
estou bem. Os dois deveriam se preocupar com seus jogos e as duas com
seus trabalhos. Cherry, não vai viajar?
— Vou, mas é só amanhã, e abandonaria qualquer coisa para estar
aqui, porque estou preocupada. Olha como está na defensiva. Vicky, nós
três vamos embora hoje à noite, paramos tudo por você, não nos afaste
como se fossemos estranhos.
Olho para eles e reviro os olhos, então me levanto.
— Estou legal. Perderam o tempo de vocês vindo aqui. Vivam suas
vidas, estou bem. Parem de se preocupar!
— Não parece. Não se jogou em cima das meninas ou fez uma piada
desde que chegamos — Oliver diz.
Me aproximo da poltrona no canto e me sento afastada deles.
— Eu só estou cansada e...
— Para de mentir! Eu não falei nada por achar que era o melhor.
Mas a Kristal largou o trabalho dela para ver o que está acontecendo.
Cherry tem que ir para o outro lado do mundo a trabalho, mas mesmo
assim largou tudo para estar com você. Oliver tem um jogo amanhã,
deveria estar se concentrando. Eu deveria estar na reunião com o time,
porque sou o capitão deles, mas estamos aqui. Paramos nossas vidas,
porque nos importamos com você! Então não minta para nós — Tyron fala
bem sério e sinto suas palavras me atingirem, como jamais imaginei
acontecer.
Respiro fundo mais uma vez. O silêncio toma conta da sala.
Levanto-me e sento entre as meninas de novo. Não tem jeito, eles
nunca vão me deixar em paz se eu não falar.
— Ok, mas precisam me prometer que nada sairá daqui — falo e
eles concordam.
— A fofoqueira pedindo segredo... Irônico — Kristal diz rindo e
eles sorriem. — Perdão. Fale, gata. No que podemos ajudar para voltar a ser
maluca?
Sorrio e balanço a cabeça.
— Estou assim porque estou cansada e não é mentira. — Começo da
forma que considero mais fácil — Descobri o porquê fui escalada para a
Golden e ainda estou processando se isso foi ou não legal. Francis está que
nem uma assombração atrás de mim. Jayden e Zachary estão me rodeando...
— Suspiro cansada — Não quero colocar meus problemas nas mãos de
vocês, que têm suas vidas para lidar. Cherry com a correria da marca dela,
os meninos com os jogos, e Kristal está trabalhando como louca também.
Meus pais estão tendo a melhor fase da empresa agora, não precisam que a
filha traga mais problemas, e nossos avós, eles estão tão em paz, o vovô
pensando mais em si e não no trabalho, pra quê tirar a paz deles? Além
disso, o vovô não pode passar nervoso. Estou lidando com as coisas, vai dar
certo, eu acho... — Desabafo e só por falar esse pouquinho, me sinto um
mais leve.
— E desde quando lidamos com tudo sozinhos? Vicky, quando vai
aprender que pedir ajuda, desabafar, não é crime? Deveria ter nos dito! —
Cherry reclama.
— Para quê? Mascotezinha, você está na sua melhor fase, a Kris na
dela, meus pais e nossos avós também, por que vou ficar enchendo vocês de
problemas? Sou adulta, sou independente, nunca precisei de ninguém, não
seria agora...
— Nunca precisou? — Kris pergunta e parece chateada. Droga. —
Vicky, nós somos o que para você nesse tempo todo? Não é porque é
durona, que isso significa que nunca precisa de nada ou ninguém. Todas as
vezes que precisou de apoio moral ou físico, estávamos todos lá, e sem
pedir nada em troca. É assim que essa amizade funciona. Uma pela outra,
lembra? Ou isso também nunca valeu de nada para você?
— Kris... — Oliver chama sua atenção.
— Não, Girafa loira, ela está certa. Eu me expressei mal. Desculpa.
É só que... — tento me explicar melhor, mas travo.
Tyron se levanta e toca o ombro do Oliver que faz o mesmo. Eles
conversam pelo olhar.
— Esse é um momento de vocês. Conversem. Daremos um jeito de
ninguém vir aqui por enquanto, mas não garanto que vai durar muito a
privacidade — Tyron diz.
— Obrigada, Ty! — Kristal agradece.
Eles me olham e assinto, grata por entenderem que preciso falar a
sós com elas. Ambos saem, nos deixando sozinhas.
— Agora continue. Só tem nós aqui — Cherry fala baixinho e
segura minha mão, entrelaçando nossos dedos.
— Obrigada por terem vindo. Eu estou meio perdida hoje, por isso
não surtei — explico e concordam.
— O que iria falar antes deles saírem? — Kristal indaga.
Nego lentamente, porque eu não diria nada. Nem sei por onde
começar.
— O que realmente está havendo? É mesmo só a pressão do
trabalho e o que descobriu sobre sua vinda para a Golden? — Cherry
questiona.
Levanto-me, soltando sua mão e paro no centro da sala olhando para
elas. Troco o peso de uma perna para outra.
— Esqueçam o que descobri… — Explodo de vez — Eu estava
saindo com alguém e acho que ferrei as coisas! Não para mim, claro. Eu
nunca ferraria nada assim para mim, porque sou esperta demais quanto a
isso. Só que ferrei, e a pessoa provavelmente nunca mais vai olhar na minha
cara e é um direito dela, eu acho, não é? — Franzo o cenho confusa.
— Quê? Do que está falando? Só fala desse tanto e tudo confuso,
quando está bem nervosa. Com quem estava saindo? — Kristal pergunta e
coço a nuca. — Vicky... Com quem estava saindo?! — reforça a pergunta e
faço uma careta.
— Deus, é pior do que imaginávamos. Vicky não está com
problemas básicos, ela os criou, então é um problema monstro, Kris! —
Cherry recosta no sofá com uma mão no peito.
— Vicky Foster, fale agora o que fez! — Kristal exige como se
fosse minha mãe. Garota mandona.
— Precisam prometer que nem os meninos vão saber! — Imploro.
— Ai. Meu. Deus... Está com algum jogador? Vicky, as regras
novas... Deus! — Kristal fala assustada.
— Pior — digo entredentes.
Ambas se inclinam para frente e se entreolham.
— Pior? — indagam juntas e assinto nervosa.
— Muito pior que um jogador — sussurro.
— Fale logo! — Cherry pede.
Aproximo delas e me abaixo na frente de ambas, sentando-me no
chão com as pernas cruzadas. Pronta para ser morta.
— Malcolm Bell — falo baixinho e elas começam a rir, mas
permaneço séria.
— Vicky, para de brincadeira. Fala logo com quem está saindo —
Kris diz.
Continuo olhando para elas, ainda séria. Ambas se entreolham de
novo e depois me olham boquiabertas.
— Não é brincadeira, né? — Cherry pergunta desesperada. — Eu...
Olha, dessa vez não sei nem o que dizer. Tenta algo aí, Kristal! — Ela
recosta no sofá com uma mão na testa.
Kristal está boquiaberta e olhos arregalados. Seus olhos verdes
parecem que vão me engolir viva. Agora sei o motivo que o Tyron e o
Oliver sentem medo e não a desafiam, . Ela tem cara de doida!
— Falem algo... Eu posso explicar!
— Comece explicando, porque perdi todo o raciocínio! — Kristal
também larga o corpo sobre o sofá e fica olhando para o teto.
Merda. Então minha situação é bem ruim mesmo.
— Ok... — Que seja o que tiver que ser. — Tudo começou naquele
evento há alguns meses, que fui em Palo Alto. Logo após a batida no carro
dele. Fomos para outro lugar após o evento e aconteceu... Transamos, mas
juro que não foi nada demais. Eu nem sabia que trabalharia com o time dele
e que a Golden colocaria essa merda de regra! Enfim, depois voltamos a
nos esbarrar, uma coisa levou a outra, e... Estávamos meio que juntos, não
sei explicar. Só que tudo deu errado ontem — resmungo chorosa.
— Errado? Mais errado do que já deu quando começou? Vicky, a
Golden vai te comer viva! — Cherry joga a verdade bem no meio da minha
cara.
— Mas já acabou tudo... Acho que desconfiaram de algo, mas não
precisam se preocupar. Tudo acabou. Além disso, daqui algumas semanas,
nem estarei mais aqui, ou quem sabe antes eu suma logo disso tudo... Estou
cansada e não estou exagerando. Cansei de não poder trabalhar do meu
jeito, de ter aqueles dois loucos me vigiando, de aguentar essa pressão.
Ainda por cima, lidar com ele dizendo que se apaixonou por mim!
— É O QUÊ?! — Elas gritam me assustando.
Eu deveria prepará-las melhor para falar disso.
— É isso. Por isso acabou. Falei que era a última vez. Não estou
apaixonada e isso era para ser só diversão. Além disso, ele é louco. Quem
em sã consciência se apaixonaria por mim? Gente, nem combino com isso!
— Faço uma careta e elas reviram os olhos juntas.
— Vicky, como assim? Você é linda, inteligente, engraçada, claro
que muitos se apaixonariam por você. Só é surpreendente ser aquele
homem todo sério... Mas isso não importa. Como assim não sente nada?
Você jamais ficou mais de uma vez com um homem e agora diz que estava
esse tempo todo saindo com ele? Por isso ele te levou para a abertura, claro!
— Cherry fala e se levanta andando de um lado para o outro.
— Claro! Vicky nunca iria com ele se não tivesse algo rolando... E
ela está toda estranha. — Kristal entra na teoria maluca da minha prima
como se eu não estivesse presente.
Me levanto e sento-me no sofá.
— Gente, foca! Eu não me importo com os sentimentos dele — falo,
mas isso me machuca, dói meu peito e sinto agonia. É uma sensação ruim.
— Não preciso de homem nenhum me mimando, cuidando de mim, se
preocupando com o que como ou o inferno que for — falo nervosa, a voz
agitada. Minhas mãos estão trêmulas. Eu vou morrer!
Ambas me encaram.
— Não precisa? E por que está quase chorando ao falar isso? Vicky,
você está toda estranha só por causa da pressão do trabalho ou porque
começou a descobrir que tem sentimentos e eles estão te consumindo? —
Kris pergunta e Cherry concorda.
— Ficaram loucas? Não tenho e nunca terei esse tipo de sentimento,
nem por ele e nem por ninguém. Amar é uma roubada! Não preciso de
alguém me fazendo perder quem eu sou para me encaixar na vida dele —
falo mais alto, irritada.
— Não! Quem disse isso? Vicky, amar não precisa ser sofrido como
vemos por aí. Amar não significa que você perderá sua essência ou deixará
de ser quem sempre foi. Olhe para nós duas, não precisamos mudar para
entrar na vida do Oliver e do Tyron, tampouco eles para entrar na nossa.
Amar é se completar e se unir a alguém que vai te fazer sentir a pessoa mais
incrível do mundo — Cherry explica e nego.
— Está vendo? Eu não quero depender de um homem para me sentir
incrível, me amar, me mimar... Eu não quero! — Revido, ficando nervosa e
ansiosa.
Kristal sorri.
— Vicky, não precisa ser assim. Mas às vezes, é bom ter alguém que
vá fazer por nós, aquilo que em dias péssimos não temos forças. Até mesmo
alguém para dividir nossos sonhos, coisas da vida, momentos incríveis. Se é
a pessoa certa, ela vai somar. E sendo muito sincera, trabalhei com ele e o
Tyron tem um respeito incrível por esse homem, se ele assumiu isso para
você, então é porque é algo forte. Tenho certeza que ele não brincaria com
essas coisas — Kristal diz e olho para os meus sapatos.
Cherry se senta ao meu lado também e toca minha perna.
— Nunca precisei de ninguém para essas coisas. Porra, nunca nem
me apaixonei, não posso ser o que ele espera, entendem? Ele é uma boa
pessoa... Droga, é uma pessoa incrível, às vezes irritante, mas é incrível. Só
que não posso... Realmente não posso me apegar, porque isso faz sofrer! —
Minha voz embarga.
Droga, ele me deu bolo e donuts fofos. Me fez comer salada... eu
evito salada se não for nos meus lanches!
— Vicky, quando meus pais morreram, você foi a pessoa que me
ensinou a pedir ajuda, a me comunicar, a aceitar o carinho das pessoas e a
entender que não podia viver pensando que todos me deixariam. Você me
acolheu, deu amor, carinho, cuidou de mim em incansáveis madrugadas de
pesadelos. Se apegou ainda mais a mim. E agora me fala que não pode se
apegar, que isso faz sofrer? — Cherry acaricia minha perna e a olho.
— É diferente, Cherry. Eu não sei explicar...
— Você está com medo — Kristal fala e olhamos para ela. — Vicky,
nesses anos todos, você diz que não precisa de nada e ninguém, e sabe por
quê? Porque você sempre teve tudo aquilo que acha que não precisa. É
amada, mimada, recebe carinho, apoio, proteção... Você tem exatamente o
que diz que não precisa. Ninguém é realmente feliz sendo sozinho em tudo.
A solidão não é uma conquista, só que ninguém está pronto para essa
conversa. Ela é uma escolha em muitos momentos, mas jamais uma
conquista. Então, amiga, você está com medo, está nítido isso, e tudo
porque agora está sentindo nossa distância, não porque te abandonamos,
mas porque estamos em ritmos diferentes, e também está com medo de ter
alguém novo chegando.
Pisco algumas vezes para conter as lágrimas.
— Kris tem razão. Talvez essa distância que estamos tendo devido à
loucura das nossas vidas, está te deixando assim, perdida em tudo. Porque,
Vicky, você nunca foi sozinha para nada. Você criou essa teoria como
proteção, só que agora que realmente está se sentindo sozinha em tudo, ele
ter dito isso a você, pode ter feito com que pensasse que ele também iria
embora, porque sente que será como foi com nós, que estamos seguindo
rumos diferentes e não quer sentir a solidão por se apegar de novo a
alguém. E quando assumir o que só de conversar com você, conseguimos
enxergar, vai se machucar menos. Está com medo da ausência, porque
nunca sentiu... até agora. Mas estamos aqui, e se o deixar entrar na sua
vida, ele também estará, mas todos dentro dos nossos limites, assim como
você, porque temos vidas agitadas.
Solto uma lufada de ar e faço beicinho.
— Deveriam me bater por ter aprontado e não deixarem minha
cabeça mais confusa... Nós dois não combinamos, sei disso... E eu saberia
se fosse apaixonada por ele também!
Elas riem e me agarram.
— Como saberia se nunca experimentou isso? Não tem como bater
em você por algo que eu e sua prima passamos também. Tudo bem que
agora seu emprego está em risco, mas sempre damos um jeito. Só espero
que não se arrependa por não tentar entender o que realmente sente e o que
significa toda essa bagunça dentro de si mesma.
— Ela tem razão, minha prima... Que não seja tarde para você
começar a reagir sobre tudo em sua vida. Se fechar como está fazendo e
mentir para si mesma não vai resolver.
— Não estão ajudando, que fique claro! — resmungo e elas riem. —
Amo vocês. Vou ficar bem. Meu trabalho é a prioridade e vou resolver tudo
com o Francis, é isso que importa agora. O treinador... — Suspiro. — Não
tem mais o que pensar sobre ele. Já foi. É o melhor.
Elas assentem sem falar mais nada e ficam agarradinhas a mim, e
sorte que cortamos o assunto, porque pessoas começam a entrar na sala.

Entro na quadra junto das meninas e para meu azar, Ed Sheeran toca
bem alto com a porcaria de Perfect. Não, a música não é ruim, é bonita, mas
sério? Logo hoje? Não tinha nada mais animado para tocar nesse lugar?
Que inferno!
As torcidas vão começar a entrar agora. Sawyer já me aguarda para
testarmos os microfones e câmeras.
— É, vou aproveitar para recolher conteúdos e tentar ser menos
xingada pela Jennifer — Kristal diz e começo a rir.
— Não mandei fugirem de suas tarefas. Por falar nisso, e seu
aniversário, como ficará, Cherry? — Olho para ela que sorri sem jeito. —
Ah, não... Não vai comemorar?
— Então, terei que estender a viagem na Coreia. Estarei lá durante
meu aniversário, mas não tem problema, porque estarei fazendo algo que
amo, além disso, a Karen vai estar comigo, não estarei totalmente longe de
todos nesse dia. Não se preocupe, estou feliz!
— Tudo bem, só não vou xingar porque estou vendo que está bem
animada com tudo isso!
— Nem me fala. Minha mãe está quase me trocando por ela! —
Kristal reclama e começamos a rir.
— Para, não tem nada disso! — Cherry fica vermelhinha.
Que saudade das minhas meninas. Consigo até me sentir eu mesma
agora.
Elas se sentam em seus lugares e olho meu celular conferindo as
mensagens.
— É... Até que posso entender — Kristal fala e olho para ela,
confusa com seu comentário.
Sigo o olhar das duas, virando o rosto com calma e vejo Malcolm de
terno preto e camisa branca, com os primeiros botões abertos. A calça e o
paletó parecem terem sido desenhados nele, porque marcam seu corpo de
um jeito único. Ele ajeita a credencial em seu pescoço enquanto conversa
com ninguém menos que a tal da Abby Rogers.
Perco um pouco do foco, na verdade, perdi todo meu raciocínio.
Malcolm está incrivelmente lindo hoje, ainda mais que o normal e
nem sei como fez isso, porque ele já é lindo. A mulher conversa algo com
ele, bem entretida.
— Olhe, a irmã da Camila! Faz tempo que não vejo essa mulher.
Genética incrível da família Rogers, meu Deus — Kristal comenta.
— Camila é a tal olheira que todos temem da Golden? — Cherry
questiona.
— Uma das olheiras tenebrosas, mas é gente boa. Só que leva bem a
sério sua função. Essa é a irmã dela, gerente de marketing da Golden. O que
me deixa irritada nisso tudo, é ver esse tanto de mulher incrível dando a eles
ainda mais nome no país, e os idiotas seguem sendo machistas! — Kris
retruca.
— Vicky? — Cherry me chama e olho para ela, desviando o olhar
dos dois. — Tudo bem? Ficou pálida de repente!
— Ah sim, deve ter sido uma leve queda de pressão. Bom, preciso
falar com o Sawyer. As duas se comportem!
— Nós duas? Quem andou aprontando feio não fomos nós! —
Kristal retruca e mostro o dedo a ela.
A música começa a tocar de novo. Mas que merda é essa? Não
pagaram o suficiente ao DJ para tocar mais músicas?
Me afasto delas e subo a escadaria para onde a equipe está. Me
aproximo da porta do local e olho para baixo, vendo-o.
Ele sabia que eu estava lá. Cherry quando me chamou fez eco por
ainda estar vazio, a música não o impediu de ouvir, tenho certeza. Mas ele
nem sequer me olhou e agora se aproxima do corredor para os vestiários,
junto dela.
Não deveria estar doendo, mas está. Merda, está doendo muito.
O jogo entre os Red Fire e os Strong Wave acontece. As meninas
estão assistindo na parte de baixo, enquanto estou com a equipe na parte
dedicada à imprensa. Preferi não ficar lá embaixo, para poder focar mais no
jogo e fazer melhor meu trabalho.
Conversar com elas foi bom, porque tirei uma parte do peso que eu
estava sentindo e nem sabia que precisava tanto desabafar, mas não quero
ficar pensando nisso agora. Combinamos de jantarmos juntas antes de irem
embora. Mais um tempinho com elas será ótimo.
Observo o jogo através das vidraças que não estão muito limpas.
Faço algumas anotações no meu iPad, crendo que irei entender minha letra
depois, mas tenho certeza que terei que decifrar.
Tyron faz uma cesta surpreendente em um bonito jump e me arranca
um sorriso sincero. A torcida surta, obviamente. O jogo está mais garantido
para os Red Fire. Se ganharem, vão quebrar o que chamam de maldição, já
que todos os últimos jogos deles aqui em Oakland foram bem maus.
Killiam está fazendo um bom jogo e Zion não é diferente. Todos do
time parecem bem concentrados, e isso poupa o treinador deles de ficar
gritando demais, ou ele só quer fazer bonito para a tal Abby, que junto com
a irmã, está sentada atrás de onde o Malcolm está. Da Camila eu gosto, já
essa Abby, diria que não me simpatizei, mas não julgo, quem sou eu para
julgar? Longe de mim, fazer algo do tipo.
— Claire, vou sentar ali naquele lugar vago, junto do pessoal. Estou
com o celular. No próximo intervalo gravamos, ok? — aviso, já que ela
estava digitando algo no notebook em seu colo.
— Claro! Avisarei ao Sawyer! — Sorri.
Claro que avisa, ama buscar motivos para estar coladinha nele.
Parece que o mundo resolveu me rodear de amores, pelo amor de Deus!
Me afasto e saio da área em que estava, já descendo a escadaria.
Passo por algumas pessoas que me olham confusas, afinal, estou
credenciada como imprensa e aqui no meio deles não seria meu lugar, mas é
onde me sento, bem na parte de cima, em um banco vago, no meio de um
monte de torcedores repletos de emoções. Cruzo minhas pernas e fico
quieta, focada no que tenho que fazer.
O jogo continua agitado, os Strong Wave marcam três pontos, mas
ainda assim, estão dez atrás dos Red Fire. Tanner é levado ao chão e o
jogador adversário recebe uma falta. É nítido que o Tanner gostou, porque
dá um sorrisinho levado. Não vou duvidar se falarem que ele armou essa
falta.
Balanço a cabeça e sorrio, porque que não direi isso em voz alta no
meio desses torcedores malucos, pois é capaz de me jogarem daqui de cima.
Olho para o treinador e dou uma leve suspirada involuntária.
Está tão gostoso hoje...
Mas isso não muda nada!
A torcida grita e isso chama não só a minha atenção, mas também a
de um garoto ao meu lado, que deve ter uns quinze anos. Nem da minha
boca sai tantas palavras de baixo calão assim. O que o esporte faz com as
pessoas, é assustador, o povo só falta infartar.
Vejo o Alfred no chão e entendo o motivo do surto, outra falta.
Não julgo os Wave, cada um usa suas armas. Eu que não sei jogar,
seria desse jeito, socando todo mundo.
Às vezes fico pensando que se meus pensamentos vazam, sou presa
por ferir os Direitos Humanos e todo respeito mundial.
Começo a rir sozinha, afinal, sou uma boa pessoa, me considero até
da paz perto de algumas pessoas.
Meu celular começa a vibrar. Retiro do bolso e vejo o nome do
Francis. É uma mensagem:

Francis: Preciso de você, agora!

Ah, pronto! O que esse maluco aprontou agora? Poderia ser ele
dizendo que vai retornar antes do previsto e poderei sumir disso aqui!
Olho para seu tio e vejo-o falar com a Camila, mas é a Abby que
tenta sua atenção. Reviro os olhos e me levanto, guardando o celular no
bolso.
— Com licença, repórter passando — falo ao passar pela galera
maluca.
Corto caminho pela parte de cima, subindo a escadaria. Entro na
área que estava antes e desço a escada rolante, indo para o lugar onde ficam
as salas e vestiário. Preciso estar em paz para lidar com esse cara.
Sinceramente, me questiono qual pecado estou pagando diariamente,
porque deve ter sido algo muito grave.
Caminho em direção a sala de descanso, onde irei encontrar comidas
e bebidas também. Passo pela porta aberta.
— Preciso de álcool para conseguir lidar com esse cara e nem tem
nessa sala! — Olho para o lado e cumprimento uma pessoa, passando
rápido por ela. — Ei, Francis!
Paro abruptamente no meio da sala e me viro em câmera lenta para
o garoto sentado com uma muleta ao seu lado.
— Mas o que inferno está fazendo aqui e ainda todo ferrado?! —
falo mais alto que o esperado, quase derrubando o iPad. — O que é isso?
Está tendo alguma promoção para Oakland e ninguém me avisou? Todos
estão vindo!
Coloco o iPad na mesa e pego um energético. Bebo ele sem
acreditar no que vejo. Não é miragem. Francis Bell está aqui.
— Fecha a porta, meu tio não pode saber que estou aqui, pelo
menos ainda não!
— Ele está na quadra, tem alguns minutos para esse tempo acabar...
QUE MERDA FAZ AQUI?
Me aproximo e sento no braço do sofá à sua frente. Ele revira os
olhos. Quem deveria estar fazendo isso era eu.
— Conversei com meu médico e o fisioterapeuta. Se eu não forçar o
pé mais que o necessário, posso fazer minhas coisas, desde que continue
com a fisioterapia ao menos duas vezes na semana, e isso é o de menos, tem
a equipe na Golden para isso. Decidi voltar antes ou vou enlouquecer. Não
aguento mais um minuto em Palo Alto, mas isso não te interessa!
— Ah, me interessa sim, porque envolve meu rabo! A Jennifer sabe
disso? — Bebo mais do meu energético. Sério, preciso de uma boa dose de
álcool!
— Claro que sabe! Acha que sou você e aquela sua amiga que
fazem merda por vontade própria e comunicam depois?
— Aquela sua amiga, não! Use os nossos nomes, gato! Temos
nomes, Vicky e Kristal. Se quiser posso soletrar para o senhor aprender! —
Encaro-o fixamente e ele me fuzila com seu olhar, que nunca me abala em
nada. Só perde tempo tentando me amedrontar. — E se a Jennifer sabe, por
que ainda estou aqui e não fui comunicada?
— Conferiu seu e-mail? Se tivesse feito isso, não estaria
reclamando!
Que estresse, viu!
Puxo o celular do bolso e entro no meu e-mail. Vejo que tem um da
Sport Universe, é um comunicado. Leio tudo atentamente sentindo que meu
castigo só está triplicando.
— Não foi isso que desejei! Não foi mesmo. Não... Isso é um erro,
não é? Me fala que é um erro, Francis! — Encaro-o e pela sua cara de
desgosto, isso é real. — VAMOS TRABALHAR A TEMPORADA
INTEIRA JUNTOS?
— Para de gritar, louca! Estou tão puto quanto você. Jennifer parece
que perdeu o juízo. Isso não estava funcionando nem a distância!
Guardo o celular no bolso. Ela ainda teve a coragem de finalizar o e-
mail dizendo: Se respeitem, precisam aprender a trabalharem juntos. Conto
com vocês!
JENNIFER MITCHELL ME ODEIA!
Termino de beber meu energético e deixo a lata na mesa ao lado.
— Isso é loucura! Como vai trabalhar se não pode forçar esse pé?
Passamos horas de pé! E trabalharmos juntos? Ela ficou louca?
— Vamos ter que dividir isso. Eu não vou ceder, Vicky! Ou os dois
ficam, ou nenhum fica, você viu a merda do e-mail! Você vai ter que me
ouvir!
Começo a rir e me levanto, parando perto da sua muleta. Pego-a e
aponto na sua direção. Minha sanidade está por um fio nesse momento.
— Se pensa que vai me controlar pessoalmente, está cometendo um
erro. Posso até pensar em continuar, mas será de um jeito que funcione para
ambos, ou essa muleta vai entrar onde não se vê a luz e não estou
brincando! Eu passei a porra dos últimos dias surtando, criando rugas, meu
olho chega a tremer, e devo estar prestes a infartar! — Grudo a ponta da
muleta em seu peito e ele se inclina para trás. — Você e aquele seu tio,
tornaram meus últimos dias infernais. Se eu morrer hoje, minha expressão
será ódio puro, vão chamar alguém para poder encaminhar minha alma à
luz, porque ela deve estar na porra das trevas! Então, ou fazemos esse
caralho funcionar para ambos, ou nós dois iremos fazer nossas lindas
malinhas e vamos embora. Fui clara? — Nunca falei tão sério na minha
vida, como se fossem minhas últimas palavras. Mas também nunca estive
tão movida na força do ódio!
— Terminou?! — Ele empurra a muleta de seu peito e puxa,
tirando-a de mim. — Larga isso, maluca!
— Maluca? Garoto, esse seu maldito roteiro de trabalho está me
enlouquecendo! Não sou um robô para trabalhar conforme você. Eu não sou
assim!
— Isso não vai dar certo! Faça suas malas. — Ele se levanta e
parece pisar errado, porque cai sentado e o ajudo.
— Não se quebra mais, idiota! Vão achar que tentei te matar.
Sossega essa bunda, que vou pensar em algo, porque conto com a grana alta
que receberemos no final disso!
Ele me olha desconfiado. Cruzo os braços e caminho de um lado
para o outro. Pensaria melhor comendo um hambúrguer e fritas!
Jennifer me paga. Vou esganar essa mulher. Isso é castigo demais.
Sabia que ela ter me livrado da cadeia sairia caro!
Respiro fundo e o encaro, parando a sua frente.
— Já sei... Você não pode ficar muito tempo de pé, porque está todo
torto aí! — Ele me olha feio. — Você entendeu. Até estar tudo bem, você
cuida da parte técnica de tudo, imagens legais a serem recolhidas e matérias
a serem criadas, tudo que o Sawyer precisar de nós. Eu fico à frente das
câmeras como já estava antes, porém você faz o bastidor do seu jeito e faço
a linha de frente do meu. É pegar o largar! E olha que não costumo negociar
com quem só penso em matar!
Escutamos o barulho dos times descendo para o vestiário.
— Então? Vai! Pense rápido — falo e ele respira fundo.
Estressadinho.
— Ok, inferno! Isso é castigo, só pode!
— Olha só, primeira vez que concordamos, Coisinha Estranha!
Agora tenho que ir. A equipe está toda na parte da imprensa, vai querer
ficar lá ou aqui?
— Vou para lá! Preciso saber o que vai aprontar!
Ele se levanta e pego meu iPad, esperando o idiota caminhar em
seus passos mais lentos, afinal, não sou tão escrota assim, se ele cair, pelo
menos consigo tentar segurá-lo, antes que se mate por inteiro. Quero saber
o que o tio dele vai achar dessa decisão maluca.
Que médico é esse que acha que esse doido está bom para ficar
trabalhando? O pé está imobilizado! Se bem que a Jennifer nunca aprovaria
se não tivesse certeza de que ele não vai se prejudicar mais.
Ah, aquela Jennifer... Me paga!
O jogo está no final, hoje não fiz ao vivo nos intervalos, porque com
certeza a Sport está segurando a audiência do jogo, já que é um grande
momento aos Red Fire, prestes a vencer aqui depois de um tempo sem
conseguir isso. E esses cortes, mesmo que no intervalo, não seriam legais,
porque estão cobrindo os bastidores e com microfone nos capitães dos
times, para o público ter acesso a tudo nesse grande jogo.
— Se mesmo acidentado, ele vier encher meu saco, vou acertar essa
muleta nele! — Sawyer reclama quando para ao meu lado e indica o Francis
com a cabeça.
Prendo o riso.
— Quanta maldade nesse coração, velhote!
— Não me estressa também, menina!
Dou uma piscadinha e me encosto no vidro para ver o jogo. Tyron
marca três pontos e os Wave pegam a bola e correm para tentar marcar, mas
o Killiam recupera a bola e repassa para o Tanner, que passa para o Zion e
esse arremessa marcando um ponto.
Nossa, como correm, se movimentam... Deus me livre! Estou só
cansada assistindo.
Tyron pega a bola, mas o time adversário recupera e marca dois
pontos.
Que afrontosos!
Olho na direção do Malcolm e o homem está ficando impaciente,
porque já abriu o paletó e as mãos estão no bolso, com ele fuzilando seus
jogadores e dando alguns gritos.
E eu achando que ficaria longe dele, mas agora recebo a notícia que
além de ficar, irei aguentar tio e sobrinho. Pisco algumas vezes com aquela
sensação confusa de novo, bem estranha.
Gritos me assustam e é o Tanner fazendo a cesta final.

RED FIRE 130 X 110 STRONG WAVE

Nossa, apenas pisquei e acabou? Que péssima jornalista e repórter


estou sendo hoje! Que droga.
Respiro fundo e pego minhas coisas para me preparar para fazer as
entrevistas no corredor do vestiário. Sawyer me faz um sinal que já está
indo para lá. O maluco do Francis o segue e me olha feio. O que eu fiz
agora?
A comemoração não é muito demorada, porque o jogo demorou um
pouco mais que o normal, devido as penalidades marcadas sem parar. Então
a arena começa a esvaziar, os torcedores vão embora, alguns felizes e outros
tristes pela derrota dos Wave. E fica apenas a imprensa e familiares que
seguem para onde todos vão se reunir.
Pego uma rosquinha e saio comendo, evitando o fluxo e indo pela
quadra. Vejo as meninas e o Oliver seguindo o pessoal.
Termino de comer minha pequena rosquinha. Sério, estão querendo
que eu morra de fome nessa merda? Assim que chego na quadra, está
apenas o Malcolm e ele me olha, me fazendo sentir coisas estranhas.
— O que o Francis está fazendo aqui? — pergunta nervoso. A
prancheta vermelha em sua mão e sua paciência no limite.
— Pergunte a ele, treinador. Estou tão perdida nisso tudo quando o
senhor. — Me viro para sair.
— Vicky! — Me chama, e por Deus, por que sua voz me deixa tão
desestabilizada? — Por que as meninas e o Oliver estão aqui? O que está
havendo? E por que não ficou com elas?
Sorrio com ironia, paro à sua frente e cruzo os braços. Ambos no
meio da quadra agora vazia e silenciosa. Ele com suas perguntas e eu cheia
de confusão interna, sem saber mais nada.
— E por que isso importa? Sendo bem sincera, não acho que
realmente deva importar, afinal, passou parte do jogo entre cuidar do seu
time e estar com a Abby. E quer saber, está tudo bem, já imaginava que
seria complicado depois de tudo... Só me deixe fazer meu trabalho e você
continua com o seu, é o melhor!
Ele ergue a prancheta ao gesticular e leva a outra mão ao bolso.
— Melhor para quem? — sussurra. — O que falei segue intacto. Se
eu estivesse me importando com quem está sendo ou não minha sombra,
não teria visto que não ficou aqui e não estaria preocupado em saber o
porquê sua prima e amiga estão aqui. Até mesmo o ala dos Tigers veio
junto! Você sabe que as coisas são complicadas. Acha que gosto de te evitar
e fingir que pouco me importo? Porra, tenho trinta e sete anos, fazer esse
papel de adolescente namorando escondido, não é para mim! Mas para
proteger você, estou fazendo o que mais odeio: me importar com a merda
que pensam ou possam fazer.
Meu coração acelera e engulo em seco.
— Não estamos namorando!
— Não. E sabemos bem o porquê não estamos tentando nada mais
desde que saí do seu quarto. Você escolheu isso e estou respeitando!
Balanço a cabeça.
— É melhor eu ir antes que essa conversa termine mal.
— Nada mudou… Espero que saiba disso! Não vou insistir, nem
forçar, é sua decisão, só não peça para eu não me preocupar, isso não vai
acontecer.
Ele fecha os olhos por alguns segundos e me afasto, engolindo em
seco mais uma vez. Vejo as meninas no corredor me olhando boquiabertas.
— Por favor, não falem nada... — Minha voz está trêmula e me
odeio por isso.
— Você se apaixonou também! É mais que óbvio isso. Por isso está
apavorada — Cherry diz.
— Eu disse para não falarem nada — resmungo e ando na frente
delas.
— Mas... Argh! Vicky, você vai se arrepender se fugir disso e deixá-
lo ir! Escuta o que estou dizendo. Se apaixonar não é crime, garota! —
Kristal retruca.
Reviro os olhos marejados.
— Se pode foder sua vida e se ele é um controlador de comidas, é
quase um crime!
— Quê?! — perguntam juntas, mas se calam quando nos
aproximamos da equipe da Sport.
Eu não me apaixonei também!
Eu não aceito isso!
Pego meu iPad e vejo que a praga do Francis já separou de quem
irei recolher as entrevistas, e Malcolm Bell é um deles!
Francis se aproxima enquanto vou conferindo tudo.
— Esse castigo não acaba? Qual é? — indago frustrada.
— Do que está falando? Foca no que tem que fazer! — ele retruca e
as traíras sorriem, porque veem o que tenho em mãos e o nome do Malcolm
Bell em destaque. Ele será um dos entrevistados.
Poderia enumerar os piores dias da minha vida e hoje entraria para o
top três, tenho certeza. Tudo está literalmente horrível. Primeiro, as meninas
fizeram com que eu me abrisse e até demais; depois, o retorno do Francis
com a bomba de que iremos trabalhar juntos; em seguida, o Malcolm me
coloca de novo contra a parede, falando essas coisas que me deixam com o
coração prestes a pifar; e agora, ainda tenho que entrevistar quem quero
fugir, e pior, a sombra dele está ajeitando-o para aparecer nas câmeras.
— Se continuar escrevendo desse jeito, vai afundar a tela do iPad —
Oliver fala. Por que esse maluco ainda está aqui?
Olho de lado para ele, que ergue as mãos e se esconde atrás da
namorada que é um pingo de gente, como se isso fosse protegê-lo.
— Melhor não mexer com quem está se descobrindo — Kristal
provoca.
— Odeio vocês, que fique claro — falo irritada.
A equipe se aproxima para colocar os pontos de áudio e microfones
em mim.
— Se está desse jeito porque a tal da Abby está com ele, e mesmo
assim, diz não sentir nada pelo treinador, imagine se estivesse sentindo?
Faria o quê? Mataria ela? — Cherry questiona baixinho quando se inclina
na direção do meu ouvido.
— Calada antes que eu arranque sua língua, Cherry Hale!
— Ei, Diablo, deixe a minha Cerejinha em paz! Você está medonha
hoje! — Olho para o loiro e quero arrancar cada fio de cabelo dele.
Tyron está do outro lado e começa a ser preparado pela equipe. Ele
vai ficar no lugar dos outros meninos, porque também tem uma coletiva da
Golden acontecendo agora, de última hora.
Camila Rogers, uma das olheiras, se aproxima e nos cumprimenta.
— Se tem Vicky Foster e Kristal Reed, tem coisa boa vindo!
Trabalhando juntas hoje? — Camila fala e sorrio.
— Não, a Jennifer não nos aguentaria juntas — Kris responde e
sorrimos.
Terminam de me ajeitar e agradeço, mas antes olho para o Malcolm
do outro lado, ao menos a tal Abby desgrudou.
— E você, perdida por aqui? — pergunto e ela nega rindo.
— Os Wave! Estou de olho em alguns jogadores para uma possível
troca para times mais pra frente. Quem sabe futuramente dê certo —
explica.
— Sua responsabilidade em escolher quem será a próxima a estrela,
é algo que admiro, porque eu odiaria ter que fazer isso — Kristal diz e
concordo.
— Camila é perfeita, apoiou a mim e ao Tyron, duas perfeitas
estrelas do basquete! — Oliver se gaba e nos faz rir.
— Cala a boca, garoto — retruco. — Tyron, pelo amor de Deus,
controla essa coisa aqui? Cherry não consegue — reclamo e o Sparks ergue
a sobrancelha.
— E sou babá do Oliver agora? — Ergo a sobrancelha com sua
pergunta. — Cuidado com a resposta, Vicky!
Sorrio e Kristal ri alto.
— Eles são bons mesmo, não me arrependo em nada. Agora preciso
ir, minha agenda está lotada. Vim apenas dar um “oi” para vocês e me
despedir da minha irmã. Ela está em uma péssima fase.
Meu alerta ativa.
— Como assim? — pergunto e ouço os risinhos das duas tontas.
— Coisas do coração... O famoso coração quebrado por amores da
vida! — Camila não precisa expor nitidamente para eu entender que a Abby
e o namorado devem estar separados, brigados ou qualquer merda do tipo.
— Deveria levá-la para um passeio, longe disso tudo. Dizem que
ajuda — falo e Kristal aperta minha cintura e Cherry me olha feio. — O que
foi, gente? Estou apenas dando uma dica de coração! — Dou de ombros.
— Pensei nisso, mas o trabalho parece estar distraindo-a. E o
treinador e ela são conhecidos de longa data, talvez alguém fora da família
ajude.
Claro que ajuda, afinal, Malcolm Bell é psicólogo do amor e eu não
estava sabendo!
— Ah, que tudo se resolva, Camila! Foi muito bom revê-la! —
Kristal toma a frente.
Encaro o Malcolm e seus olhos focam em mim, e maldita seja
minha fome, pois fica me dando friozinho na barriga sem parar.
E há louco que diz que isso é paixão. É só fome!
Camila se despede de nós e respiro fundo. Francis se aproxima com
sua muleta.
— Esse é persistente! Vem até quebrado te atormentar — Kristal
comenta.
— Kristal! — Cherry chama sua atenção, mas até seu namorado ri.
— Oliver, sério?
— Amor, é que a Kristal está certa. O cara mal consegue andar e
quis vir trabalhar. Agora sim acredito que esse Francis odeia a Vicky e quer
atormentar ela de qualquer jeito. Mas será que não é amor escondido, não?
— indaga rindo.
Kristal começa a gargalhar e a encaro. Tão peste!
— Chega, vocês me cansam! Esse dia só piora!
Me afasto com eles rindo. Os meninos ainda não sabem de nada, ou
já estariam me torturando com isso do treinador e agora com o sobrinho na
minha cola também.
Sawyer me chama para começarmos e me entregam o microfone e o
pequeno bloco de informações com as colinhas. Francis se aproxima.
— Vai me fiscalizar mesmo?
— Claro! Meu nome estará nisso tudo também.
— Se continuar, vai estar em uma lapide enorme ainda hoje! —
Viro-me e trombo com o treinador, que me segura, e só esse contato me
deixa estranha. Me afasto e controlo os xingamentos que querem escapar da
minha boca. — Podemos começar? — pergunto a ele, que só assente.
— Vamos conversar depois, Francis! — ele avisa bem sério ao
sobrinho e eu teria mais medo desse tom de voz, do que ter que lidar
comigo mesma.
Francis não responde, apenas se afasta e se senta no banco livre.
Olho para as meninas e é claro que vão ficar, querem ver minha humilhação
de perto. Tyron se aproxima junto da Abby.
— Foster, tudo bem? — Ela me cumprimenta e escuto um risinho da
Kristal do outro lado. Eu vou matar essa garota.
— Estou ótima — respondo seca, queria controlar, mas algo fala
mais alto. Ela me olha confusa. — Treinador e Sparks, tudo certo?
Entramos ao vivo em cinco minutos — falo olhando a hora em meu relógio
e me afasto um pouco.
Eles concordam. Claire nos posiciona, Sawyer fica junto da equipe
de filmagem e som. Faço o teste no microfone.
— ESPERA! — Cherry grita e olho assustada.
Ela vem pulando os fios, toda fofinha. Se aproxima de mim e me
vira para ela.
— Qual o seu problema em colar cílios ou fazer delineado? —
sussurra, metendo a mão no meu olho.
— De novo isso? Sério, alguém pode deletar esse dia da minha
vida? — sussurro de volta.
— Ou tira ou arruma cola para isso, não vai segurar!
— CLAIRE, PRECISO DE VOCÊ! — Berro e ela surge igual
assombração ao meu lado. — Minha bolsa de maqui...
— Aqui! — Me estende e a olho assustada.
— Você é tão estranha! Não me peça salário — falo e ela ri. —
Obrigada!
Cherry me ajuda e a garota é rápida. Claire se afasta com as coisas
assim que a Mascotezinha termina e sorrio para minha prima.
— Te amo! Obrigada... Agora vai! — Empurro-a e ela sorri ao se
afastar mais.
— Pronto, ou a senhorita quer uma SPA? — Sawyer fala no ponto
em meu ouvido e me viro olhando para ele.
— Babaca! Vamos! — Sorrio.
Fico entre o treinador e o Sparks. A Abby segue ao lado do
Malcolm. Inclino o rosto encarando-a. Juro, ela está conseguindo tirar o
pior de mim e sou contra rivalidades assim, acho desnecessário, sem
sentido, mas está sendo inevitável.
— A entrevista é só com os dois. Se puder não atrapalhar, serei grata
— aviso e sei que estou sendo rude e me odeio por isso, porque não sou
assim à toa, mas agora estou sendo.
— Ah, sim! Perdão! — Se afasta e respiro fundo.
Olho para o Malcolm que balança sutilmente a cabeça.
Ficou com dó? Cuida dela depois, se afogue na Abby! Inferno!
Entramos ao vivo, então tento ser eu mesma e acho que consigo,
porque desenrolo tranquilamente o início de tudo, com as primeiras
perguntas. Deixei algumas por minha conta mesmo, fora das que o Francis
colocou ou aprovou.
— E você acha que então a terrível maldição que os torcedores dos
Red dizem ter aqui, foi quebrada? Tem quem realmente acredite e só se fala
disso pelas redes sociais nesse momento — direciono a pergunta ao Tyron,
que sorri.
— Quem é que sabe? Vamos torcer para que realmente isso tenha
acontecido. Mas acredito que é também um foco maior que tivemos.
Viemos de uma fase de erros e acertos, e que bom que estamos acertando
ultimamente!
Sorrio com sua resposta.
— Vocês ficam felizes, mas os torcedores muito mais. Haja coração
para quem realmente torcer para vocês... O que nos leva para mais uma
pergunta! — Sinto o olhar do Francis sobre mim, afinal, era para eu ter
terminado já. — Treinador, basicamente, ainda é o início da temporada,
consegue dizer o que ela já está sendo ou ainda é muito cedo? Nos últimos
jogos, foi nítido que esteve muito nervoso e com muita comunicação em
quadra com o time, isso já é o reflexo sobre algo?
Malcolm leva as mãos ao bolso da calça e queria não achar sexy
quando ele faz isso. Fica mais sério, mais gostoso...
Merda, preciso de foco!
— Toda temporada é bem imprevisível. Dizer que consigo já definir
algo por agora, seria mentira, mas já posso me preparar melhor com o time
para os próximos jogos, porque os times que pegamos vieram para o ataque
e jogar apenas na defesa, sem ser ameaçador, pode ser um grande erro.
Sua resposta é bem pensada e isso me leva a fazer a próxima:
— O senhor não costuma ser o tipo de pessoa que fala muito sobre
erros, sempre diz mais sobre aprendizados. Teve erros na última temporada
que não quer repeti-los agora, pois eles deixaram grandes aprendizados? —
indago e pela cara que faz, ele quer me matar por estar colocando-o contra a
parede.
Todos sabem que Malcolm Bell odeia entregar muito sobre suas
avaliações de jogos, mas amo apimentar minhas entrevistas.
Ele leva alguns segundos para responder, parece procurar uma
melhor maneira de responder isso sem dizer: “Foster, some!”
— A partir do momento que considero os aprendizados, falo sobre
os erros. Todo aprendizado vem por algo marcante que não foi positivo para
nós ou para pessoas que conhecemos. Quando digo que o time tem muitos
aprendizados, é porque erramos muito também, toda temporada iremos
errar e acertar. Mas o maior erro, é literalmente ter medo de errar, por mais
clichê que possa parecer. Não quero que meus jogadores sejam robôs em
quadra. Eles são humanos, assim como eu. Nem todas as estratégias irão
funcionar sempre, mas o medo de arriscar me parece mais preocupante, e é
algo que não quero que aconteça, porque significa que não estamos
tentando coisas novas — diz bem sério e sem desviar os olhos do meu.
Engulo em seco, porque seu olhar me diz que por algum motivo,
não estamos mais falando sobre jogo. Perco o foco da última pergunta que
faria para encerrar, porque seu olhar lê minha alma e isso me assusta.
— É... Bom, foi um prazer estar mais uma vez com grandes nomes
do time aqui! Obrigada aos dois por cederem alguns minutos à Sport.
Vamos acompanhar de perto essa temporada e ver como será o desenrolar
dela. Vicky Foster diretamente de Oakland para todo o país!
Corto rapidamente e passo para o estúdio para acabar logo isso.
Assim que saímos do ao vivo, me aproximo do Sawyer que me encara sério,
enquanto vou tirando os fios.
— O que foi isso? Por que parece que criou uma enorme tensão
nessa resposta do treinador? Perdeu o foco, Foster!
— Nada. Não aconteceu nada. Me deu só uma leve tontura e acabei
me perdendo um pouco. Peça ajuda ao Francis para o restante das coisas da
matéria que vai ao ar mais tarde. Vou passar o restante do dia com as
meninas, minha parte foi feita!
Ele concorda e agradeço mentalmente por não perguntar mais nada.
— Vou pegar minhas coisas e serei toda de vocês — falo para as
meninas que me olham estranhas, igual o Oliver. Pelo jeito, o climão se
estendeu mais do que eu imaginava.
Pego minha bolsa depois de recolher minhas coisas e retoco o
batom. Só preciso de comida e paz.
As meninas e os meninos aparecem na sala da imprensa e olho
sorridente.
— Comida, agora! Eu como e vocês me atualizam de suas vidas!
Ah, e não me poupem os detalhes! Vamos. Oliver e Tyron pagam! — Me
aproximo.
— Nada muda. Quando ela amadurece, hein? — Oliver reclama e as
meninas riem.
— No dia que você conseguir isso, pode ensinar. O que acha? —
Dou tapinhas nele e passo pela turma.
— Pior que ela tem razão, ambos são crianças crescidas — Tyron
diz ao amigo que o olha chocado.
Começo a rir, porque amo quando minhas loucuras tem apoio.
— Vicky Foster precisa de comida, álcool e música. Então serei eu
mesma de novo! — Abro os braços animada.
— Tem certeza, Vicky? Vai ser você mesma? — Kristal indaga
acabando com minha alegria.
— Por que sinto que elas estão escondendo algo de nós? — Oliver
pergunta.
— Porque estão, ou acha que elas nos contam tudo? — Tyron puxa
o amigo, que se afasta resmungando.
Olho para as duas loiras sem acreditar.
— Me odeiam, só pode! Parem com isso, nada vai acontecer e não
tem nada de diferente dentro de mim. Não sou como vocês, romance não é
para mim! Sou um passarinho livre, me deixem ser livre! Agora vamos,
porque é sério, estou com muita fome.
Puxo-as e elas resmungam, mas é o melhor jeito de cortar esse
assunto e esquecer esse maldito dia!
Sinto a tensão em meus ombros e pescoço. Desde que acordei, estou
tenso, sem conseguir relaxar como deveria para o dia hoje e com o jogo,
tudo piorou. As coisas têm saído do controle e sempre as mantive em
ordem, mas agora vejo tudo escapar por entre meus dedos e não sei o que
segurar primeiro, porque tudo desliza de uma única vez.
Caminho em direção ao quarto que o Francis está, porque é só mais
um problema no meu dia. Vê-lo aqui não me trouxe paz, só me fez
visualizar o problema como algo ainda maior, porque isso significa que ela
vai ficar junto dele até o final, pelo menos foi isso que a Jennifer me falou
quando nos encontramos nos bastidores de um dos jogos. Quando Francis
retornasse, tentaria manter a Vicky junto dele, porque queria sua equipe
mais unida do que nunca agora. Eu só não contava que ele retornaria assim,
sem me falar nada, e que eu estaria apaixonado pela Foster. Porque se eu
estivesse sendo sensato, me manteria longe, mas agora estarei por mais
tempo ao lado dela. E ela vai ficar mesmo, não precisam me confirmar isso,
porque é óbvio que minha vida não seria tranquila, seria pedir demais.
Paro diante do seu quarto e bato na porta, aguardando que abra.
Tento focar nesse problema agora. Uma coisa por vez.
A porta se abre e ele me olha sem ser muito expressivo. Me oferece
a passagem e passo pela porta, aguardando-o. Ele caminha com a ajuda da
muleta para não forçar tanto o pé. Se senta na poltrona e larga a muleta ao
lado.
Observo ao redor e vejo duas malas e isso me faz balançar a cabeça
negativamente.
— Por que seus avós não me informaram que viria? Eles sabem? —
Vou direto ao ponto.
— Sabem, mas falaram que não iriam entrar no meio dessa
confusão. Que você iria saber lidar!
Claro, afinal, o criei desse jeito! Meus pais sempre querendo me dar
lições como acham melhor, só que no final termino louco.
— O médico autorizou isso? Porque eram sete semanas, Francis! —
Sento-me no sofá pequeno na sua frente, pernas levemente abertas, sem o
paletó, mas ainda com a mesma roupa de mais cedo, porque não tive tempo
para descansar.
— Claro que autorizou, tio! Tenho a autorização dele. E eu não iria
aguentar ficar com meus avós infernizando minha vida e vendo essa louca
ferrar as coisas. Foster está perdida! Ela nunca daria conta disso sozinha.
Não poderia continuar parado vendo-a foder tudo!
Esfrego a têmpora e respiro bem fundo.
— A louca como diz, é a mesma que aceitou continuar, mesmo
depois de todas as merdas que disse a ela. E a que tenho certeza que aceitou
continuar trabalhando ao seu lado. Nos últimos dias, ela fez exatamente o
precisava ser feito, enquanto você só a julga!
Ele ri com ironia.
— Vai defendê-la agora? Nem o senhor a suporta direito! Só vamos
trabalhar juntos porque a Jennifer não deu escolhas, ou...
— Ou estariam os dois fora, não foi? — indago e ele concorda
irritado. E ela deixa a bomba dos dois na minha mão! — Ela aceitou de
bom grado?
— Claro que não! Olha, se veio aqui arrumar defesa para essa aí,
está perdendo seu tempo!
— Essa aí? — Ergo as sobrancelhas. — É assim que gostaria que se
referissem à sua avó ou à sua mãe? Como se sentiria vendo alguém tratar as
mulheres da sua vida desse jeito? Eu realmente gostaria de saber! Porque
posso ter errado muito na sua criação, mas jamais te ensinei a ser um
merdinha!
— Tio, isso não vai chegar a lugar algum e...
— E calado! — Altero a voz e ele sobressalta. — Quem pensa que
é, Francis? Se acha o melhor em tudo, não é? Deixa-me te contar uma
coisa: para ser o melhor em algo, primeiro tem que ter humildade e saber
respeitar as pessoas! Ela ou qualquer outra pessoa, merece respeito. Você
conseguiu ultrapassar todos os malditos limites e ainda assim se acha no
direito de se referir à sua colega de trabalho como se fosse uma coisa
qualquer! — Levanto-me e levo as mãos ao bolso da calça. — Sabe o que é
isso que sente por ela? Inveja! Porque ela não precisa bajular ninguém para
conseguir o respeito das pessoas. Mesmo sendo um meio fodido e machista,
ainda assim ela consegue o que você não está conseguindo.
— Não sabe o que diz — diz entredentes.
Começo a rir com ironia.
— Não sei? Então vamos lá... me ensine o que preciso saber.
Enquanto você nem existia, batalhei para um inferno para conseguir estar
aqui hoje. Larguei minha chance de ser jogador, para cuidar de você, da
nossa família. Continuei engolindo cada resquício de dor, para consertar o
que estava quebrado e te dar tudo que não poderia ter na ausência dos seus
pais. Entrei nisso aqui e virei o melhor, e sabe por quê? Porque não precisei
humilhar e nem tentar derrubar ninguém! Cheguei aqui e construí o meu
nome sozinho, sem jogar meus problemas em cima de quem não tem nada
com eles! Sabe o que não te ensinei, moleque? Que a vida cobra cada merda
que fazemos! — Explodo de vez.
Ele apoia na muleta e se levanta com raiva. Seus olhos estão
vermelhos, marejados.
— Sempre fui sozinho! — Grita. — Você nunca foi meu pai! Não
tente continuar se colocando no lugar que não te pertence! Pare de agir
como se tivesse feito tudo, porque quando precisei, você se jogou na
Golden e virei apenas o sobrinho que via quando dava. Acha que presentes
supriam o que eu sentia falta? Vocês nunca perguntaram como eu estava de
verdade. Perdi a minha mãe sem nem conhecê-la e tive que ver meu pai
caído no chão de banheiro, essa é a porra da última imagem que tenho dele.
Perdi tudo, então não ache que vou ficar contente por ver aquela garota
conseguir tirar tudo que estou construindo, apenas porque a Jennifer adora
fazer as vontades dela e da amiga! Só tenho isso, nem ela, nem ninguém
vai me tirar!
Balanço a cabeça negativamente.
— Você precisa buscar ajuda, é isso que tem que fazer o mais
rápido. Acha que só você perdeu? Seus avós perderam o filho! Eu perdi
meu único irmão. E se pensa que era fácil estar distante, está enganado. Me
arrependo cada dia por isso, mas ou eu erguia essa família, ou todos
afundavam de vez. Acha que o que seu pai deixou, te sustentaria por muito
tempo sem investir? Seu avô é um ex-militar aposentado e sua avó já foi
uma grande bailarina, mas tudo que tinham, aplicaram em uma casa para
viverem juntos, vivendo apenas do que seu avô ganha!
“Acha que entrou para universidade como? Tem o melhor carro,
mora em uma mansão, nunca te faltou nada, e tudo porque precisei me
ausentar para fazer isso! Era isso ou nem na Sport estaria, porque o dinheiro
que seu pai deixou, te sustentaria por pouco tempo, porque ele era ótimo no
que fazia, mas nunca pensou que precisava cuidar do próprio dinheiro,
como cuidava do trabalho.
“É fácil se prender à sua dor e acusar todos ao seu redor sem olhar o
caminho que cada um trilhou. Seus avós abdicam de tantas coisas para estar
com você sempre que precisa, mas claro, isso ainda é pouco, não é? Larguei
Nova York para estar mais presente em Palo Alto, mas ainda assim são
esforços fracos, é isso que pensa, né? Estou de saco cheio do seu jeito de
agir, ninguém merece pagar pela sua dor!”
Soltar essas palavras assim, me deixa com o peito dolorido, porque
nunca chegamos a tanto.
— Eu nunca disse que não era grato! — Berra.
— Não, mas também nunca mostrou ser! — Grito também. —
Realmente não sou seu pai, Francis, mas tentei ao máximo para que não
sofresse tanto. Se falhei e isso não foi o suficiente para você, ainda assim
não justifica como trata essa menina! Seu problema é comigo e com seus
avós, então pare de colocar pessoas que não têm nada a ver com isso dentro
dessa sua batalha! Essa menina que tanto humilha e ataca, é a mesma que
ficou mal por ter tocado no assunto dos seus pais. É a mesma que vi te
ajudando a chegar no setor da imprensa, andando calmamente atrás de você,
observando seus passos.
“É a que está acordando de madrugada para seguir seu cronograma.
É a mesma que aceitou ficar, mesmo depois de tudo, e pode ter certeza que
não foi só por ela, por mais que eu tenha certeza que tenha dado entender
que era! Se tem problemas, resolva-os e pare de atacar as pessoas, porque
pode acabar ficando sozinho, Francis, e vai por mim, é uma merda ser
sozinho!
Retiro as mãos do bolso e olho-o uma última vez antes de dar as
costas, engolindo em seco. Toco a maçaneta para abrir a porta e sair daqui
antes que perca a cabeça.
— Desculpa... Sei que deu seu melhor, é que está doendo... Caralho,
está doendo como nunca doeu antes! — Sua voz de choro me faz virar para
olhá-lo.
Respiro fundo e me aproximo a passos lentos e puxo-o para meus
braços, como fazia antigamente, quando era um garotinho. A muleta cai,
assim como os muros de seu luto.
— Ainda assim, não justifica machucar todos como está fazendo,
garoto! Porra, quer gritar, xingar? Faça isso, mas faça de uma vez, porque
está machucando as pessoas e no fundo, isso vai te matar aos poucos, e
antes que perceba, estará sozinho, porque terá afastado até sua família, ao
ponto de não conseguirmos entrar mais no bloqueio que criará!
Ele chora de soluçar e meu peito se aperta ainda mais. Me aproximo
da cama e sento-me, trazendo-o ao meu lado. Ele se agarra a mim como
uma criança desesperada. Lágrimas escorrem pelo meu rosto, em silêncio.
— Não consigo fazer parar de doer, e a raiva... a r-raiva começa a
me dominar... Ela não tem culpa, vocês não têm culpa... E-eu... Está doendo
pra caralho!
— Respira, garoto... Só respira.
Acaricio suas costas e deixo-o chorar, porque é a primeira vez que
ele chora de verdade pelo luto que sufocou dentro de si mesmo.
Francis não é uma má pessoa, eu sei disso, mas ele se perdeu e todos
falhamos com ele. Mesmo que ainda nada justifique tratar as pessoas assim,
isso é o que ele consegue oferecer enquanto luta sozinho internamente.
— Quando tudo começou a desandar?
— Não sei... Só começou e não sei o que fazer — responde.
Assinto. Tudo que eu falar agora pode piorar tudo, então é melhor
que ele coloque para fora do modo que está conseguindo.
— Amo você, garoto, e ainda que existam brigas, vamos dar um
jeito nisso. Só precisa nos deixar entrar na sua dor para tentar ajudar.
Precisa abaixar a guarda, ou sempre será assim, gritos, brigas e mais dores.
Ele não diz nada, apenas se afasta e enxuga o rosto.
— Preciso ficar sozinho, tio!
— Tem certeza? — pergunto e ele concorda olhando para suas
mãos.
Concordo e levanto-me, deixando um beijo no topo de sua cabeça.
— Me ligue se precisar, sabe o andar que estou!
Ele balança a cabeça e olho-o uma última vez antes de sair do
quarto.
A cabeça está cheia e é assim que entro no elevador que já estava
nesse andar e aperto para o meu. Me encosto nos espelhos e inclino a
cabeça para trás. Engulo em seco, tentando controlar o nó que se forma em
minha garganta.
As portas se abrem alguns segundos depois e respiro fundo antes de
sair por elas. Escuto o outro elevador se abrir e algo me faz olhar. Meus
olhos se deparam com o meu segundo problema.
— Malcolm Bell... — Ela ri alto. Sua voz está mole.
Um segundo problema, e ainda por cima está bêbada!
Olho procurando por suas amigas, mas não estão.
— Vicky, estava sozinha?
Ela ri ainda mais e tropeça ao andar, mas sou mais rápido e a seguro.
Ela gargalha agora.
— Nãooo... Quero dizer... Elas nem sabem que fugi do baaar... Ou
era restaurante? Tanto faz! — Cutuca meu peito e sua bolsa quase cai. —
Pode me soltar?
— Não consegue andar! Ficou louca em voltar nesse estado
sozinha?
Ela revira os olhos e sorri tentando me afastar, mas impeço.
— Vem, tem pessoas da Golden nesse andar — sussurro.
— Não vou com você! — Ela grita e me empurra. — Se não me
soltaaar, vou gritar!
Jesus, que noite!
Me afasto com cuidado, observando-a.
— Vicky, não tem como ficar assim sozinha... E temos que sair
daqui! — Olho para os lados.
— Não vou ficar com você! — Começa a revirar a bolsa. — Cadê a
porraaa do negócio de abrir essa coisa aí? ARGH! Tudo está um inferno
hoje e a culpa é sua! — Ela me olha irritada e inclino a cabeça. — Não
adianta me olhar assim... Estou com fome ainda! — Começa a misturar o
riso com choro.
— Me deixe te ajudar, não está bem! — Me aproximo mais, com
cautela, mas ela nega fazendo beicinho e me controlo para não sorrir. — Por
que não quer deixar eu te ajudar? Não acha o acesso do quarto e daqui a
pouco pode aparecer alguém aqui, Foster!
— Porque você é um idiotaaa! Se declara e depois fica com aquela
lá... Me deixa em paz! EU SÓ QUERO PAZ! — Tenta se afastar, mas
tropeça de novo.
Fecho os olhos por alguns segundos, entendendo tudo. Ela está
achando que tem algo entre mim e a Abby...
Meu Deus, quando ela vai entender que não tem mais nada? Abby
realmente cruzou algumas linhas hoje, mas ela não está bem, descobriu que
foi traída logo após aceitar um pedido de noivado. Ela só está confusa, mas,
porra, Vicky não enxerga o que está claro?
— Vem comigo, você toma um banho e prometo te dar o que quiser
para comer!
Seus olhos brilham.
— Jura? — Assinto. — E e-ela? — Soluça e perde o equilíbrio, mas
se apoia em mim.
— Não tem ela, Vicky!
— Não?
— Não! Vem comigo, por favor! Não está bem para ficar sozinha.
Ela olha para sua porta e olhamos para o elevador se abrindo, onde
sua amiga e prima saem dele.
— Eu vou te matar! Olha seu estado e veio sozinha! — Kristal grita.
— Vicky... Que droga, por que não escuta a gente? — Cherry diz à
prima, parece irritada.
— Estou beeem! Posso me virar sozinha! Cadê o n-negoxinho
disso?
As meninas me olham e ergo a sobrancelha, cruzando os braços e
encostando na parede. Vicky continua procurando o acesso que dá para ver
que está enroscado dentro da bolsa. As outras duas balançam a cabeça.
— Como vamos embora com você assim? Por que não nos ouviu e
parou de beber? Temos que retornar, precisamos ir embora... Droga, Vicky!
— Kristal puxa o cartão da sua bolsa e entrega a ela, que sorri vendo-o.
— Achei — diz como se fosse ela que encontrou.
— Vão, não se preocupem — falo e elas me olham. — Não sou
idiota, ela já abriu a boca, ou não olhariam para mim como olharam assim
que saíram do elevador — falo o que é óbvio.
— Tem certeza, treinador? — Cherry pergunta. — Vicky pode ser
um pouco mimada quando bêbada!
— Ela é chata, mimada e passa mal! — Kristal é mais direta.
— Ei! — Vicky se vira rápido demais e a prima a ampara. — Não
preciso que esse aí me abrace... Quero dizer cuide da Vicky... ops... de mim!
— Não se preocupem, ao que parece, é a noite em que cuidarei de
todos! — Me olham confusas. — Podem ir, vocês terão notícias que ela está
viva.
Olham desconfiadas e a amiga assente, mas duvido que Vicky saiba
com o que está concordando.
— Por favor, entenda, ela só está confusa... Vicky nunca sentiu nada
dessas coisas e está apavorada — Kristal fala.
— Cuida dela, por favor. Ela sempre quer cuidar de todos, mas
nunca aceita que tentem fazer isso por ela. Normalmente fazemos sem que
perceba — Cherry explica.
Descruzo os braços, segurando a Vicky, que tenta abrir a porta e
quase cai quando tenta chutar, por não abrir, afinal, o acesso é para ir na
fechadura e não no meio da porta.
— Vão. Vou tirar ela daqui antes que chame a atenção de quem não
deve.
Elas concordam e olham uma última vez a amiga antes de se
afastarem e pedirem o elevador que não demora a chegar, então entram nele
e vão embora.
— Ei! — Seguro seu queixo e viro seu rosto para mim. — Para de
ser teimosa, vem comigo. Não precisa olhar para mim se não quiser, mas
não vai ficar sozinha. Seja no seu quarto ou no meu, eu estarei com você,
entendeu?
Faz uma careta e joga o acesso em mim.
— Essa booosta não funciona...
Seguro o acesso e o coloco em sua bolsa. Puxo a teimosa para o meu
lado e caminho com ela para o meu quarto.
Vai ser uma noite longa, prevejo isso.
Ela tomou um banho e aceitou que eu ficasse por perto esperando.
Dei uma camiseta, que ficou praticamente um vestido, e uma cueca, que
virou um short nela. Seus cabelos estão presos em um coque bem
bagunçado e agora ela está sentada no meio da minha cama.
— Eu vou tomar um banho rápido, prometa que vai ficar quietinha
aqui!
Ela concorda sonolenta e boceja em seguida. Olho-a uma última vez
antes de pegar minhas coisas para tomar o banho.

Saio do banheiro e ela está deitada, agarrada ao travesseiro. Seus


olhos estão abertos, mas ainda está bem sonolenta.
Me aproximo da cama e sento-me na beirada. Toco seu rosto e retiro
os fios de cabelo dele, prendendo atrás de sua orelha.
— Está chateado c-comigo? — pergunta, sua voz mais sonolenta do
que bêbada, o banho deve ter ajudado um pouco.
— Não. — Solto uma leve lufada de ar.
— Verdade?
— Não minto para você, Maluquinha. Só estou bravo que tenha
vindo desse jeito para o hotel, quando estava sozinha.
— É pior que chateado. — Boceja de novo.
— Descansa, depois conversamos. Não está muito bem e está
visivelmente cansada.
Ela concorda e fecha os olhos, me fazendo sorrir fracamente.
Fico olhando seu rosto lindo e seria impossível não me apaixonar,
fosse por sua beleza, sua autenticidade ou seu jeito especial de ser. Ela
conquista com todas suas qualidades e imperfeições e esse é o maior
problema: ainda que eu quisesse fugir, nunca conseguiria, não depois que
entendi o que ela significa para mim.
— Careta? — Me chama ainda de olhos fechados.
— Mesmo com sono e bêbada, consegue me provocar?
Abre os olhos lentamente.
— Não usa a gravata vermelha e nem o cinto com ela... Também
não dê donuts, bolo e nem aquela salada. Isso vai doer...
Meu peito se enche com mais amor. Vicky está acabando comigo.
— Dorme, minha linda.
— Promete isso, por favor?
— Tudo isso é só seu e de mais ninguém. Acredite — respondo com
a verdade, mesmo que talvez ela não lembre muito amanhã.
Ela concorda e torna a fechar os olhos.
— Malcolm? Por que estamos balançando?
Prendo o riso e balanço a cabeça.
— Não tem nada balançando, Vicky. Dorme.
— Tem sim, meus sentimentos por você!
— Jesus... Vicky, dorme. Vai se arrepender muito disso depois.
— Não gostou da cantada? Eu sou ótima com elas!
— Malcolm? — Me chama de novo.
— Oi, linda?
Ela abre os olhos e suspira.
— Hoje se um museu te encontrasse, te pegaria, porque estava uma
excelente obra de arte!
Começo a rir, sem acreditar no que estou ouvindo e ela sorri.
— Terminou suas cantadas ridículas?
— Tenho um monte delas.
— Claro que tem! Dorme agora, Vicky!
Ela concorda e fecha os olhos.
Vicky, por que logo você tinha que bagunçar minha vida?

Acordo com o despertador do celular. Puxo-o com o braço livre e


desligo. Esfrego os olhos e olho para a garota deitada em meus braços, com
a perna por cima das minhas e a cabeça deitada em meu peito nu.
— Vicky. — Chamo-a com cuidado.
— Hm? Se morreu, enterra!
Sorrio.
Ela é meu castigo acordada, bêbada, dormindo e ainda assim, não
consigo deixar de me apaixonar.
— Temos que nos arrumar. O voo para o Canadá é agora.
— Que horas são?
— É melhor eu nem falar ou vai ser pior. Vai, precisa comer algo
antes de irmos.
— Não. Minha cabeça dói... Por que me deixaram beber?
— Eu nem sabia o que iria aprontar, ou nem nesse estado teria
chegado! E por isso precisa comer antes, para evitar tomar remédio de
estômago tão vazio e piorar tudo.
Ela abre os olhos e ergue o rosto me encarando.
— Claro que não, é um velho rabugento e careta!
Encaro-a sério e ela se levanta com cuidado, sentando na cama e
resmungando da cabeça.
— Vou me arrumar enquanto peço algo para que coma e remédio
para sua cabeça, depois vamos para seu quarto e arrumamos suas coisas.
Ainda tenho que conferir como o Francis está.
— Aconteceu algo com ele? Não foi eu... eu acho! Ai minha cabeça!
— reclama. Levanto-me e ela me encara. Seu olhar desce para minha calça.
Pigarreio e ela me encara novamente. — Estou com ressaca e não cega.
— Não aconteceu nada com ele! Vou pedir as coisas, use o banheiro
enquanto isso.
Ela concorda e se levanta resmungando.

Arrumo suas coisas junto com o Ronald, porque ela ainda está
desconectada do mundo. Era muito claro que a bebedeira traria esse
resultado. Comeu pouco, porque começou a enjoar por causa dor de cabeça.
Eu juro, quero esganá-la por não se cuidar.
— Já devem estar vindo ajudar a carregar as malas. O Francis está
na recepção esperando também.
— Ok, senhor. O carro ficará no aeroporto, onde vão recolhê-lo. Isso
já ajuda atrasar menos.
Assinto e ele se afasta, levando as coisas para a porta de entrada. A
Vicky está sentada na poltrona, com a cabeça inclinada para trás.
— Francis vai junto?
— Digamos que tenho duas crianças para lidar e cuidar! — Olho a
hora em meu relógio.
Ronald que está ainda saindo com as coisas, acaba rindo e o olho de
lado.
— Posso ir de táxi ou com os meninos. — Se ajeita na poltrona e me
olha.
Está com um moletom preto, tênis e uma aparência bem cansada.
— Sem discussões às cinco e meia da manhã. Vamos.
Ela levanta bocejando e pega a bolsa. Coloca o capuz e sai do quarto
comigo atrás.
Ronald já está no elevador com o funcionário do hotel, levando as
malas, então pegamos outro.

Estou sentado entre os dois, para evitar que se matem, mas pela cara
de cansaço deles, não teriam forças nem para isso. É o que espero, porque
teremos algumas horas de voo.
Ela coloca seus fones e encosta a cabeça no vidro de olhos fechados,
enquanto o Francis fica olhando para fora. Ergo o olhar para o retrovisor e
Ronald prende o riso.
Eu ainda vou demitir esse cara!
Inclino a cabeça para trás e fecho os olhos. Sinto o movimento
rápido da Vicky e olho para entender o que está acontecendo.
— Ronald, tem como parar? — Pede desesperada e joga os fones na
bolsa.
Puxo sua touca e ela está pálida. Ela vai vomitar!
— Encosta, Ronald — falo e ele concorda, parando na primeira
esquina e acendendo o pisca alerta.
Ela abre a porta, retira o cinto às pressas e desce do carro. Tiro meu
cinto e saio junto dela, sentindo o olhar do Francis sobre nós. Ela só tem
tempo de inclinar o corpo na lata de lixo e já começa a vomitar.
Me aproximo dela, que tenta me empurrar, mas não deixo. Seguro
seu cabelo, retirando do seu rosto e acaricio suas costas, até que coloque
tudo para fora. Ela se afasta do lixo assim que termina, os lábios pálidos
como seu rosto.
— Melhor? — pergunto e ela nega.
— Misturei muita merda ontem... Droga! — Ela faz uma careta e
puxo-a com cuidado.
— Podemos voltar ou precisa de mais um tempo?
Balança a cabeça e levo-a até o veículo.
— Nada mais vai sair... Nunca mais vou beber — resmunga e
entramos no carro. — Vamos.
Ajudo-a com o cinto e coloco o meu. A porta se fecha e o Ronald
torna a dirigir.
Francis puxa algo da mochila no meio de suas pernas, é uma
necessaire preta. Ele não olha, apenas estende na direção dela, que fica
olhando confusa, assim como eu.
— Pegue logo! Passo mal em alguns voos, vai ter coisas para te
ajudar aí!
Ergo a sobrancelha surpreso com isso. Ela pega desconfiada e abre a
necessaire com remédios, lenço de papel e mais algumas coisas.
Ela pega o papel e limpa a boca e um remédio que conheço, que
serve para enjoos.
— Ronald, tem águ... — Vai pedir, mas é interrompida.
Francis estende a garrafa dele e sigo o movimento com o olhar.
Devo estar na porra de um sonho estranho. Ela pega a garrafa mais
desconfiada ainda e bebe ao engolir o remédio. Guarda tudo e entrega a ele.
— Fica com a água — avisa, pegando a necessaire e jogando dentro
da mochila.
— Ok... Valeu... Eu acho — diz baixo e balanço a cabeça perdido
nisso tudo.
O carro segue o caminho para o aeroporto nesse clima muito
esquisito. O que aconteceu?

Vicky é a primeira a sair do carro para correr para o jatinho. Ronald


ajuda a tripulação com as coisas. Os outros carros vão chegando com o
time, Elliot, Ashton e Jimmy.
Francis sai do carro e entrego sua muleta, que o Ronald pegou no
porta-malas.
— Façam o que quiser da vida de vocês, não me interessa em nada.
Só que se querem evitar uma grande merda, é melhor disfarçarem melhor!
— Não sei do que está falando, Francis — aviso ficando puto.
— Qual é, tio? Dando carona? Levando para abertura da temporada?
Cuidando dela enquanto ela vomita? Ela parece bem próxima ao Ronald
também. Além disso, a defende sempre que pode. Eles estão prontos para
prejudicar alguém, sejam mais espertos!
Ele se afasta e observo-o em silêncio. Outros passam por mim e
cumprimentam.
— Vamos, cara? Mais um grande jogo — Jimmy diz e concordo.
Tem muita gente sabendo do que não deveria. Isso precisa parar.
Tyron se aproxima e pela cara, vem mais bomba.
— Cadê a Vicky? — Ele não cumprimenta ninguém.
— Está lá dentro — respondo. — O que houve?
Ele faz um sinal para que o acompanhe e sigo-o, me afastando do
Jimmy. Tyron pega o celular no bolso, desbloqueia e me mostra a tela.
São fotos dela no bar, completamente bêbada. Manchetes bem
maldosas e comentários piores ainda.
— Se aqueles dois virem isso, vai ser um prato cheio para
infernizarem ela!
Porra.
— Não deixe ela ver isso agora. Depois resolvemos isso. Os dois
estarão no Canadá. Vamos ver como vão agir!
Ele concorda e respira fundo.
— Treinador, se a machucar, todo e qualquer respeito que tenho pelo
senhor vai acabar — fala e franzo o cenho. — Ninguém me falou, vi ambos
saindo do seu quarto quando fui ver como ela estava mais cedo, mas preferi
evitar bagunça e entrei no mesmo elevador que saí. Dessa vez é diferente, é
o emprego dela em risco de verdade! Não vai ter ninguém para salvá-la,
porque eles estão com raiva dos últimos acontecimentos envolvendo a
Sport, e só estão mantendo essa parceria, porque é um dos melhores jornais,
tudo por status e dinheiro. Então não ferre as coisas com ela, porque o que
tentaram fazer com a Kristal não vai chegar perto do inferno que farão na
vida dela. É um homem sério, responsável, dez anos a mais de experiência
que ela, então seja sábio, porque ela é doida!
Ele se afasta e só pode ser brincadeira. Esse dia nem começou e
estou lidando com muita coisa!
Desligo a chamada com a Jennifer, totalmente sem acreditar no que
acabo de ouvir. Depois de acordar com uma ressaca infernal, ainda fico
sabendo disso. Só pode ser brincadeira.
Caminho em passos firmes e decididos até a sala do treinador, na
arena Scotiabank. Viemos para cá hoje mesmo, para um reconhecimento de
arena, com um leve treino dos meninos e umas fotos e entrevistas.
Minha cabeça melhorou da dor, mas ainda não estou me sentindo
muito bem, não sei mais se é ressaca ou a bagunça que está dentro de mim.
Ainda nem falei com as meninas direito, mas irei falar logo mais, para
saberem que realmente sobrevivi a humilhação de ontem.
Cacete, eu queria esquecer tudo que fiz. Sério que usei aquelas
cantadas idiotas? Ainda pedi para ele não fazer com a Abby o que fez para
mim? Meu Deus, que vexame! De combo, vomitei e tive que receber ajuda
do Francis também.
Eu realmente assinei meu contrato vitalício na humilhação e não
estava sabendo. E para piorar, Jennifer me informou que ainda tem as fotos
de ontem com manchetes nojentas e comentários ridículos.
Alguém me empurra do precipício? Porque é capaz de eu tentar e
nem resolver!
Entro na sala, sem bater. Ele que lide com isso. Eu vou matar esse
treinador!
O homem de calça preta e uma blusa azul de manga longa, se vira
para mim e me olha irritado. Está no celular, mas aí é um problema
unicamente dele! Fecho a porta e cruzo os braços, me aproximando da mesa
onde está. A sala aqui é bem pequena, simples, um filtro de água e um sofá
qualquer... sem muita coisa mesmo.
Os Red jogará contra os Southeast Alligators, e eles usarão a arena
para o mesmo que nós, só que mais tarde. Dividiram o espaço para isso,
então nós temos que ser dentro do prazo aqui, mas Malcolm Bell não me
ajuda trabalhar sem atrasos, não quando sinto apenas vontade de matá-lo
agora.
— Pai, nos falamos depois, tenho que lidar com uma coisa agora!
Ergo uma sobrancelha.
— Coisa? Agora eu sou uma coisa, Malcolm Bell? — falo alto, sem
me importar. — Me esconde as coisas e sou uma coisa também? Que belo
dia! — resmungo.
Ele me olha ainda mais puto e não me importo. Faz sinal para eu me
aproximar e nego. Ele insiste, mas continuo negando e sei que estou sendo
pirracenta, parecendo uma criança, mas quero ter o direito de ficar brava
com esse idiota.
Ele arrasta a cadeira e estica o braço, me puxando para si e tropeço
indo parar em seu colo.
— Minha Saint Laurent, idiota! — Olho minha sandália preta para
ver se não arranhou.
Coloco o celular na mesa e inclino o rosto na direção do celular dele
para ouvir a conversa porque sou curiosa. Ele tenta impedir, mas é inútil.
— Voz de mulher e diz que tem que lidar com uma coisa? Filho, eu
já te ensinei melhor!
Prendo o riso e ele me fuzila com o olhar.
— Pai, eu realmente tenho que desligar.
— Ah, deve ser a jornalista ou era repórter, ou os dois? Não
recordo direito, mas sua mãe comentou algo. Olha, meu filho, eu sei que os
tempos mudaram, mas tenho certeza de que tratar alguém assim não é
normal não. Se continuar tratando essa moça desse modo, dizendo que ela
é uma coisa, ela vai chutar seu traseiro e eu vou rir, porque direi: “eu
avisei”! Tem que tratá-la como uma dama, uma rainha! Não seja um
babaca depois de velho!
Começo a rir e o Malcolm tampa minha boca. Sorte dele que esse
batom é um pouco mais resistente. Tento tirar sua mão, mas ele é mais
forte.
— Pai, pelo amor de Deus, não comece com isso. Desde quando
ouve as maluquices da minha mãe? Depois nos falamos. Se cuida!
— Sempre diz isso, mas eu ligo, ignora e depois some! Se continuar
nos ignorando, vou atrás de você para te dar uma surra. Sou velho, mas
ainda sou forte, viu!
Malcolm sorri e balança a cabeça. Afasto o rosto e reviro os olhos,
porque ele não destampa minha boca. Não tenho direito de rir nesse
inferno!
Eles se despedem e ele desliga a chamada, então coloca o celular
sobre a mesa e só então larga minha boca.
— Vai privar meu direito de rir agora? Pois saiba que daria tudo
para ver seu pai te socar! — Tento me levantar, mas ele me impede. — Que
foi? Eu vim para te esganar, espero que esteja ciente!
— Me esganar? — Ele olha a hora em seu pulso. — Que merda tem
nessa cabeça para aprontar como aprontou? Ontem deixei passar, mas hoje
você vai me ouvir!
— O que eu fiz? A única vítima sou eu!
— Vítima? Voltou bêbada, sozinha, podendo acontecer alguma
merda com você, por ser teimosa. Infelizmente, o mundo é uma droga,
Vicky, e nós temos que tomar cuidado, principalmente você como mulher,
porque sempre terá um filho da puta pronto para fazer uma merda! —
Desvio o olhar, porque não posso nem falar que ele está errado. — É assim
que sempre curte suas noites? Era assim que desejava voltar no dia que
mandei o Ronald atrás? Não me importo que beba, se divirta, desde que
esteja junto das pessoas certas, confiáveis. Largou suas amigas que vieram
como loucas atrás de você, enquanto voltava à noite, sozinha e naquele
estado. Nem sua porta soube abrir! — Ele segura meu rosto e vira para si
com cuidado. — Que merda tinha na cabeça? E se algo acontecesse?
— Malcolm, nada aconteceria... — Tento amenizar, mesmo sabendo
que é inútil e que ele está certo.
— Não é ingênua. É inteligente demais para responder isso! Juro
que se continuar sendo doida desse jeito, vou te deixar por uma hora de
ponta cabeça dentro de uma cesta de basquete!
— Eu te mato! — Levanto-me do seu colo e dessa vez ele não
impede. Encosto na mesa e apoio as mãos nas laterais dela. — Além disso,
não quero falar sobre esse vexame! Minha ressaca retorna só de pensar.
Errei, ok? Vou tomar mais cuidado. Realmente exagerei em voltar sozinha
naquele estado, mas pelo menos se eu tivesse perdido a memória, teria sido
menos vergonhoso, já que não lembraria de tudo! ­— Ele bufa irritado e
sorrio de lado. — Agora me fale você, por que não disse que já sabia que eu
e o Francis provavelmente trabalharíamos a temporada inteira juntos?
Ele se levanta e começa organizar a mesa. Apenas sigo-o com o
olhar.
— Porque não era nada certo ainda e iria infernizar minha vida antes
de ter certeza.
— Pois me conhece bem mesmo, mas isso não vai me impedir de
infernizar agora. Não vou aturar ele e você, senão irei parar no manicômio!
— Ainda não parei, mesmo lidando com um monte de jogador,
papeladas infinitas, gente chata e vocês dois. Não se preocupe, vai
sobreviver! — Termina de organizar as coisas e me sento na cadeira que ele
estava.
— Às vezes tenho vontade de te matar, mais do que sinto vontade de
fazer isso com o seu sobrinho!
Ele olha o relógio no pulso e em seguida a mim.
— Não deveria estar trabalhando?
— Deveria, mas minha chefe estava falando um monte para mim e
deixou claro que Malcolm Bell me escondeu que eu iria lidar com o diabo
ainda mais do que já lidava — retruco. Ele pega o celular que começa a
chegar notificações e me ignora. Só pode ser castigo! — Está me ouvindo?
— Estou, infelizmente estou. E por que sua chefe estava brigando
com você, Foster? — Guarda o celular e me encara.
Coço a nuca e mexo a cadeira de um lado para o outro.
— Coisas da vida... — Dou de ombros.
— Pela sua cara de quem aprontou, eu duvido muito!
Sorrio com ironia e me levanto. Pego meu celular, coloco no bolso e
me aproximo do Malcolm.
— Enfim, estou irritada porque não me alertou dessa bomba, mas
também quero te agradecer por ontem. E, por favor, esqueça tudo que falei,
é humilhação demais para uma noite só!
— As cantadas ridículas e o seu pedido? Esses prefiro continuar
lembrando.
Sinto meu rosto esquentar e é esquisito sentir isso. Vejo o sorriso
surgir em seu rosto. Ele gosta de me ver toda desconcertada.
Babaca!
— Pois não me lembro disso. Só da parte que cheguei e me ajudou.
Não sei do que está falando!
— Não sabe? Posso te lembrar. — Toca meu rosto e se inclina na
minha direção, me deixando agitada, o coração acelerando e não posso falar
que é fome mais, porque comi um enorme hamburguer não tem uma hora, e
que esse doido por comida saudável não sonhe com isso. Ainda levei o
Ronald junto.
— Não sei e não quero lembrar — sussurro e ele roça os lábios nos
meus, me deixando mais perdida do que minha saúde. Tento me apoiar na
mesa, mas quase caio e ele me segura.
— Por que é tão teimosa, quando tudo fica cada vez mais claro?
— Por que continua insistindo nisso, treinador? — Fecho os olhos
quando me aperta ainda mais em seu corpo. Apoio as mãos em seus ombros
e só então abro lentamente os olhos. Seus lábios roçam mais ainda os meus.
— Malcolm...
— Garota teimosa!
Ele me beija e puta merda, como a cada vez isso se torna ainda
melhor? É sempre como se fosse a primeira vez, e me assusta, pois as
sensações parecem sempre mais recarregadas, fortes, potentes.
Seu beijo é uma ida do céu ao inferno, a tranquilidade e a luxúria, e
tudo ao mesmo tempo. Ele me consome de dentro para fora, me deixando
vulnerável e rendida a ele.
E tudo isso me assusta cada vez mais, porque... e se as meninas
estiverem certas? E se toda minha vida estiver mudando mesmo? E se a
Vicky Foster que fui um dia, não pertencer a quem estou me tornando
agora?
Quantos “e se” e todos sem respostas ainda.
Ele puxa meu lábio inferior de um jeito sutil e o friozinho na minha
barriga intensifica. E de novo: não é fome! Inferno, isso não é fome!
Encaro seus olhos que gritam algo para mim e isso me deixa ainda
mais perdida.
Torno a beijá-lo porque quero entender tudo isso. Preciso entender,
não aguento mais. Tem algo grande acontecendo e estou ansiosa, nervosa.
Quero saber mais sobre isso porque odeio não entender nada.
— Vicky...
— Por favor... Malcolm, por favor! —Imploro algo a um homem,
imploro em um desespero diferente, que me queima.
Ele me olha, talvez lutando com a razão e o desejo, porque estamos
em um lugar perigoso, só que vejo o exato momento que opta pelo que
quero, que na verdade, é algo que nós desejamos. Retiro o celular do bolso
e coloco sobre a mesa, assim como ele faz com o dele e em um instante
rápido, ele me coloca sobre ela, fazendo uma bagunça no que foi
organizado.
Se afasta, passando a chave na porta e então se aproxima, ficando
entre minhas pernas. Não dizemos nada, simplesmente acontece. Ele retira
minha blusa vermelha e joga no chão, me deixando apenas de sutiã preto.
Retira as coisas do seu bolso e as coloca na bagunça que virou a mesa. Seus
olhos estão focados nos meus e entrega o que palavra nenhuma seria o
suficiente para dizer.
Me beija e dessa vez deixando o fogo nos queimar por completo, o
desejo consumindo todo o ambiente pequeno. Com sua ajuda e com seus
lábios ainda colados aos meus, ele retira minhas sandálias, e não me
importo com as quedas que elas têm, se vão danificar, nada disso importa.
Sua mão vem para a minha calça jeans escura e ele abre.
Rapidamente puxa o tecido de modo bruto, trazendo minha calcinha junto.
As peças se perdem na bagunça. Abro sua calça e sua boca percorre meu
pescoço, me arrepiando inteira. Tento controlar meus gemidos, porque sei
que tem muita coisa em jogo aqui.
Ele nos afasta e puxa a sua carteira, tirando um preservativo dela.
— O último dos cinco? — pergunto baixinho, ofegante.
— O último de todos os cinco que trouxe!
Entreabro os lábios quando ele sorri para mim.
— Comigo? Todos que trouxe foram usados comigo, Malcolm?
— Restam dúvidas ainda, Vicky Foster?
Ele abaixa o suficiente de sua calça e a cueca vai junto. Rasga a
embalagem e coloca o preservativo. Engulo em seco quando abre bem
minhas pernas e me encara, perfurando minha alma com seu olhar.
Apoio as mãos em seus ombros, não desvio o olhar, não consigo, ele
me controla até mesmo assim. E quando ele me penetra, o gemido é
engolido por sua boca e tenho certeza sobre uma coisa: com ele, tudo é
diferente. Algo muito diferente acontece ao seu lado.
Me penetra rápido e afasta um pouco dos nossos lábios. O ar quente
de nossas bocas próximos, me faz sentir acolhida. Ele empurra minhas
pernas para trás e me penetra mais fundo ainda. Minhas mãos se apoiam
sobre a mesa, amassando os papéis, alguns escorregam. Inclino a cabeça
para trás e mordo os lábios, tentando controlar mais ainda o desespero de
querer gritar, gemer alto.
— Malcolm! — Chamo-o mais baixo que consigo.
— Shh... — Agarra meu seio mesmo com o sutiã e o aperta bem
forte. Preciso controlar mais ainda o fogo que me queima.
Ele vai até o fim, entra e sai, aperta minhas pernas, me
enlouquecendo como ninguém jamais foi capaz.
Droga, ele consegue tudo... Tudo de mim!
É tão gostoso, que queria passar horas assim, e não que fosse tudo
tão rápido. O medo de descobrirem, tudo isso está intensificando ainda mais
o tesão, o desejo em querer muito mais. Assisto a cena e enlouqueço, vendo
seus lábios entreabertos e seu olhar cheio de desejo. As veias marcando
suas mãos, que me mantém do jeito que ele quer, e porra, é sempre o
melhor jeito.
Mete bem fundo e quero berrar, dizer para me foder mais forte
ainda, me deixar sair destruída daqui, para que eu me lembre disso ao longo
do dia, igual fez uma vez.
Sinto meu corpo começar a queimar e minhas pernas
enfraquecerem. Meus olhos marejam pelo prazer, pelas emoções que me
consomem.
Um orgasmo nos atinge ao mesmo tempo e ele conhece meu corpo
tão bem, que me agarra, beijando-me, apenas para conter meus gritos e
gemidos que sairiam altos. E assim ele fica até nos acalmarmos e podermos
nos afastar.
Retira a camisinha e enrola em um papel, amassando-a e joga no
lixo. Como sempre, me ajuda a me recompor, é cuidadoso e muito
carinhoso. Em seguida, ele se ajeita. Ajudo-o com as coisas na mesa e
confiro se não deixamos rastros de nada.
— Precisamos ir, antes que isso nos cause problemas — avisa, só
que está esquisito, sério.
— Malcolm? — Chamo-o enquanto ele coloca as coisas em seu
bolso.
— Vicky, agora não é hora para as conversas que terá. No final,
sabemos sua decisão e eu disse que não vou insistir em nada.
Mordo o cantinho da boca e ele se aproxima, limpando o batom que
mesmo sendo resistente, não duraria a essa loucura toda, óbvio.
— Mas, Malcolm...
Ele nega e faço beicinho emburrada. Ele nem quer me ouvir. Eu
realmente o chateei e está claro isso.
Mas também o que diria? Que quero tentar? Que talvez, só talvez,
possa estar começando me apaixonar? Ou que talvez já esteja e a ficha está
caindo como um tijolo na minha cabeça?
Quando Vicky Foster se renderia a isso e pensaria nessas coisas?
Destranca a porta e ajeito a cadeira no lugar. Ela a abre e ele olha de
um lado para o outro. Parece que o caminho está livre, sua expressão é mais
aliviada.
— Pode ir, daqui a pouco irei.
Ele assente e sai da sala, enquanto caio sentada na cadeira.
O que faço agora? Nunca cheguei nessa parte e me recuso pedir
ajuda daquelas duas traíras que vão me provocar eternamente.
Pego meu celular e rolo os contatos, parando exatamente em um
nome, que depois da minha mãe, seria a única que poderia me ajudar. Está
na hora de pedir reforços de quem preciso assumir que me pareço muito. É
o que farei assim que terminar minhas coisas.
Olho para a porta e vejo o Francis.
— Então é assim que diz trabalhar muito?
— Vamos, Estranho! — Levanto-me e caminho para próximo dele.
— Não cansa de me perseguir? — Olho-o e pego as pastas de sua mão.
— Se fizesse tudo certo, não te perseguiria!
— Só não vou te xingar, porque estou muito na paz agora. Não se
acostume!
Ele faz um barulho com a garganta e caminho ao seu lado.
Se eu o chutar, seria pecado? Rio do meu próprio pensamento
maquiavélico.
— Jayden e Zachary estão aqui.
— E o que tenho com isso? Eles são outras assombrações!
— As notícias, Foster. Deu um show ontem!
Faço uma careta.
— Que droga! Estou ferrada, pelo jeito. A Jennifer vai gritar no meu
ouvido que me avisou! — Respiro fundo.
Ele para, me fazendo parar também, já que levanta a muleta como se
fosse uma cancela de estacionamento, barrando meus passos.
— Ficou doido?
— Presta atenção e não ache que isso é o início de uma amizade! —
Começo a rir, porque o coitado só pode ser doido achando que eu pensaria
isso. — O que eles falarem, deixe falar. Não fique revidando sem
necessidade. É o melhor jeito de passar ilesa nisso, ainda mais que estão
desconfiados de você com você sabe quem!
— Como é? — Grito e ele só falta me acertar com a muleta.
— Fala baixo, porra! É isso mesmo, não sou idiota e eles também
não! Seu emprego te importa? Então infelizmente é o jogo deles que terá
que jogar! Sabia disso ao assinar o contrato. Será a palavra deles contra a
sua, por mais que isso te deixe nervosinha!
Franzo o cenho.
— Por que está tentando me ajudar? O que está aprontando,
Francis?
— Nada, garota! — Ele abaixa a muleta e volta a caminhar. Sigo-o,
mas sem entender nada. — Eu só não sou tão babaca como pensa! Você me
irrita e te quero longe, e sim, te falei muita merda já, só que preciso de
você, ou também não ficarei aqui!
Começo a rir e chego mais perto dele.
— Repete... Quero gravar isso. Você precisa de quem, Francis?
— Não irei repetir. Só cale a boca!
Rio ainda mais e cantarolo.
— Se continuar cantarolando Justin Bieber, vou te acertar com essa
merda!
— Conhece Sorry? Ah, não. Eu não posso começar a gostar mais
um por cento de você. Agora já são dois por cento e isso é muito! Merda,
ainda me ajudou com o vômito... Três por cento. Chega. Volte a ser um
cretino completo, machista e muitas outras merdas! Como vou tirar o juízo
da Jennifer e do seu tio sem poder reclamar tanto de você?
Posso estar louca, e geralmente estou, mas vejo um sorrisinho
tentando ser controlado, mas é uma tentativa inútil, porque apesar de tentar
virar o rosto, ainda assim dá para ver.
Tudo está louco demais! Que mundo paralelo foi esse em que
entrei?
Termino de me trocar após o banho. Coloquei um short curtinho
preto e uma camiseta grandona branca. Prendo rápido meu cabelo com um
coque e passo meus cremes e perfumes antes de sair do banheiro.
Preciso fazer algumas coisas do trabalho, aproveitar que minha
cabeça está focada, já que hoje consegui escapar do presidente e do vice
dele, pois sei que iriam me deixar doida. Já amanhã não sei, porque será o
jogo e depois já iremos para a próxima cidade, sem pausas por aqui.
Pedi para minha avó me ligar assim que ela tivesse um tempinho e
espero que faça logo. Odeio quando preciso de algo, fico muito ansiosa.
Sento-me na cama e pego o iPad e um bloco de anotações, para
criar o roteiro de tudo que faremos amanhã, já que Francis terá que ceder
também. Combinamos hoje que eu faria o roteiro e ele testaria do meu jeito
também, antes de julgar. Ele não teve escolhas, já que para me ouvir, o
ameacei com a muleta de novo, mas tudo bem, trouxe bons resultados e sem
danos.
Envio mensagens às meninas dizendo que estou bem e que depois
prometo falar com elas, porque realmente tenho que focar aqui para
apresentar tudo ao Sawyer, para ele aprovar antes de passar ao Francis, ou
não vai adiantar nada um gostar e um dos nossos chefes não aprovar.

Termino tudo e me alongo, sentindo meu corpo inteiro implorar por


massagem nesse momento, devido a péssima postura que eu estava
trabalhando.
Meu celular começa a tocar e o nome da vovó aparece na tela, me
fazendo sorrir. Atendo rapidamente e me deito na cama, ao ponto de
respirar relaxada, só por sentir o macio do colchão após horas sentada torta.
— O que aprontou? Chega me dar tremedeira!
Começo a rir.
— Oi, também amo a senhora! — Ela ri do outro lado e como é bom
ouvir esse som. — Como está? A senhora e o vovô estão bem?
— Claro, querida, tem como não ficar vivendo em Malibu? Esse
lugar me deixa até bronzeada. Canadá estava me transformando em um
fantasma!
— Por falar nele, estou aqui! Mas irei embora amanhã. Será rápido.
— Seu avô não pode sonhar com isso. Ele quer conferir
pessoalmente os mercados, mas se for, vai se afundar em trabalhos!
Sorrio e olho para o teto.
— Amanhã, dou uma conferida nas coisas e acalmo o velhinho.
Prometo!
— Faria isso?
— Claro, vovó! Eu faço qualquer coisa por vocês.
Ela ri animadinha.
— Inclusive se casar e me deixar sonhar que verei você e Cherry
casadas e com filhos antes de eu morrer?
— Não exagera! Cherry até pode ser, mas não conte comigo... E isso
nos leva a um assunto sério!
— Ah, Deus! Está grávida?! — Grita e afasto um pouco do celular.
— George vai ter um infarto e seus pais vão morrer em seguida!
— Calma! Eu não estou grávida. É outra coisa... do tipo
sentimentos, essas coisas, sabe...
— Como assim? Conte-me tudo!
Suspiro e fecho os olhos.
— Vovó, lembra que falei que sou como aquela música Flowers da
Miley Cyrus? Sobre fazer tudo para mim mesma sem precisar de alguém,
mais especificamente, homens? Que posso me comprar flores, conversar
comigo mesma, dançar sozinha... Essas coisas, lembra?
— Sim... Lembro de algo assim... E eu disse algo sobre não falar do
que não havia sentido ainda. Desembuche! Sempre foi direta.
Faço uma careta e abro os olhos. Ela poderia ter esquecido isso!
— Então... Existe uma pequena possibilidade de eu ter descoberto
que a Miley estava certa, mas que alguém fazer isso por mim também não
seria ruim! AAAH, QUE INFERNO FALAR ISSO EM VOZ ALTA! —
Grito.
O silêncio da minha avó me assusta, mas logo me traz raiva quando
ela começa a rir. Minha avó ri da própria neta!
— Vovó! — Chamo sua atenção.
— P-perdão, querida... Ah, perdão o que? Quem eu quero enganar?
Vicky Foster se apaixonou? Eu vivi para ver isso... GEORGE, SUA NETA
ESTÁ AMANDO!
— Vovó, não estou amando coisa alguma! Não piora a situação. Isso
é algo grave e achei que poderia me ajudar. Pode levar a sério?
— VICKY AMANDO? QUEM? ELA MESMA? — Escuto meu avô
gritar e bufo.
— Não, homem! Um homem... Querida, que homem? É gostoso?
— Vovó, pode focar no problema?
— Posso.... Calma, homem, já falo tudo. Que homem fofoqueiro —
ela retruca e acabo rindo.
— SE ELE TE MACHUCAR, EU MATO! DEUS, DUAS DAS
MINHAS CRIANÇAS NAMORANDO? NÃO VOU AGUENTAR. PRECISO
FALAR COM LANDON E MICHELLE!
— NÃO! — Grito. — Vovó, não deixa ele fazer isso! Ninguém sabe
de nada. E não estou namorando. Os dois podem me ouvir? — Sento-me
nervosa.
— Claro — ela responde rindo. — É que isso é algo histórico, meu
amor. Mas fale, desabafe com sua vovó!
Por que achei que falar com uma pessoa igual a mim daria certo?
— Eu não sei dizer se tudo que estou sentindo é essa coisa de paixão
mesmo. E acho que o chateei mais do que imaginava. Hoje mal quis me
ouvir. E isso é tudo meio proibido, sabe? Envolve muita coisa de trabalho,
coisas sérias... O que faço? Me jogo de uma montanha? — Choramingo.
— Pare de drama! Ergue essa cabeça que neta minha não foge!
Primeiro, é claro que não vai saber, nunca sentiu, mas pode ter certeza que
se estiver acontecendo, vai sentir coisas estranhas, que nunca sentiu antes.
Foi assim quando parei de sair com vários rapazes porque me apaixonei
pelo seu avô.
— E como foi isso? Poupe certos detalhes, pelo amor de Deus! Tem
um limite em falar de sexo comigo, e ele vem quando vocês e meus pais
inventam de se expor demais! — Deixo claro e ela ri.
— Como posso resumir e ser clara para você que é teimosa? —
Nossa, tão delicada! — Bem, todos com quem eu saía, procurava apenas
para curtir, já não fazia mais sentido. Ninguém me atraía mais,
compreende? Quando estive com seu avô, tudo ficou estranho. Eu sentia
falta dele, as coisas com ele pareciam mais reais, profundas, mágicas, não
era nada raso. George me fazia querer abdicar de outros para ter somente
ele. Mas também me fazia sentir mais viva, diferente, mais mulher, mais
sexy, ousada...
— Poupe esses detalhes! — Interrompo e ela dá um risinho. — E
aí?
— Aceitei o que o destino aprontou. Eu era doida, mas não burra
para ir contra o que estava predestinado. Pra quê sofrer por teimosia? Seu
avô trouxe uma nova Abigail, uma que eu gostava. Me assustei, mas sabia
que era a minha melhor versão. Ele me completava, e foi assim que eu
soube que era para a vida toda.
Deito de novo, parecendo uma estrela do mar. Suas palavras me
trazem o que não quero acreditar.
— Vovó?!
— Oi, querida!
— Fodeu. Fodeu muito! — Choramingo mais.
— É tudo isso e mais um pouco, não é?
— Como tiro isso? Tem remédio? Tomo remédio! Faço qualquer
coisa. Me recuso a estar apaixonada. Isso é estranho! Não quero ser
estranha! — Me desespero.
— Estranha? Querida, estranha você sempre foi! Sempre desconfiei
que faltava alguma coisa nessa sua cabeça. Seus pais não quiseram
acreditar!
— DONA ABIGAIL!
Ela ri.
— Querida, o que deseja que eu diga? Que tem cura? Que tem
remédio? Se quiser que eu minta, então minto!
Fecho os olhos. Não acredito que aquelas duas malucas estavam
certas e que toda essa bagunça é por isso. E ainda falam que é bom se
apaixonar? Estou ficando louca, surtada, possuída!
— E agora? Me fala! O que eu faço agora?
— Deixa acontecer? Vicky Foster, por que tanto medo? Está
ficando mais velha, amadurecendo em mais coisas, é óbvio que algo assim
aconteceria em algum momento! Não tem nada demais. Todo mundo já se
apaixonou um dia e se não aconteceu, vai acontecer!
Nego lentamente.
— Esse não era o plano. Eu seria a solteirona milionária, homens só
para uma noite e nada mais. Esse era o plano!
— Primeiro, o tanto que gasta com comida, nem se ganhasse na
loteria, manteria o dinheiro por tanto tempo, além disso, gasta horrores
com esses sapatos caros e bolsas mais caras ainda. Querida, não tem
dinheiro no mundo que te manteria milionária, só seria solteira mesmo e
talvez vivendo com os pais porque decretou falência!
— Eu não entendo. Me ama ou me odeia? Estou ferrada e a senhora
ainda me joga mais merdas na cara?
— Alguém precisa te fazer acordar, meu amor! Eu te amo e é por
isso que quero que reaja. Levanta essa bunda que tenho certeza de que está
na cama e reaja! É linda, jovem, uma mulher que pode tudo, inclusive
resolver essa situação. Esse homem já deu indícios que sente o mesmo?
Mordo o cantinho da boca e respiro fundo.
— Ele confessou tudo, vovó. Ele deu o primeiro passo e fugi!
— Ah, querida, então resolva isso. Seja adulta! Se tem o mesmo
sentimento, por que fugir sem antes experimentar? Sempre foi corajosa,
não é hora de recuar!
— No fundo eu sabia que diria algo do tipo!
— Se sabia, então é porque sabe que está sendo muito boba! Não
precisava do meu conselho, só precisava ouvir da minha boca o que não
consegue falar em voz alta!
Assinto mesmo que ela não veja. Meu celular chega notificação e
olho rápido, é o Sawyer querendo saber se já tenho as coisas prontas.
— Vovó, obrigada. Tem razão e as meninas também... — Engulo em
seco. — Vou resolver isso. Sou Vicky Foster, não é? Não fujo de nada!
— Isso mesmo!
— Não conte a ninguém da nossa família. É complicado essa
situação, envolve muita coisa.
— Querida com quem se envolveu? Mafioso? — Seu tom de
preocupação é evidente.
Começo a rir.
— Não. Prometo que não cheguei a esse nível! Agora preciso
resolver coisas de trabalho. Se cuide, amo você. Dá um beijo no vovô por
mim. Amanhã mando notícias dos mercados, qualquer coisa vou no
escritório para ter mais certeza de tudo.
— Ok, querida. Se precisar, ligue que te socorro e te levo
comidinhas para animar! Te amo!
— Perfeita! A senhora é perfeita!
— Eu sei, é um dom — responde rindo. Eu amo essa mulher!
Nos despedimos.
Será que tem manual sobre paixão na internet? Seria tão mais fácil!

Entro na academia com as coisas. Só o Sawyer para fazer eu vir


aqui, falar de trabalho enquanto ele se exercita!
Olho ao redor bem rapidinho sem prestar muita atenção em tudo,
mas já noto que é bem grande, com várias áreas. Está praticamente vazia.
Vejo o maluco na esteira e me aproximo, sentando-me em uma ao seu lado.
— Veio até aqui e não vai movimentar esse corpo? Menina, você vai
se matar ainda — reclama.
— Não fiquei louca nesse nível. Que fique claro que só de estar
aqui, me sinto cansada!
Olho ao redor de novo e meus olhos focam onde antes não haviam
estado. Na parte da musculação, onde Ashton, Elliot e Malcolm malham
juntos. Ashton está dando as instruções, pelo jeito.
É uma outra sala, com apenas uma parte de vidro. Malcolm está sem
camisa, suado, e puta merda, que gostoso. Os gominhos ainda mais
evidentes, assim como seus músculos. A calça preta de moletom é justa ao
seu corpo e revela uma parte da cueca, mostrando a marca dela. O V, o
maldito V está tão aparente.
Eles erguem peso e nunca pensei que acharia a academia tão
atraente.
— Eu vou chutar sua bunda e vai me ouvir! — Sawyer retruca e o
olho, piscando algumas vezes.
— O que falava? — pergunto meio perdida.
— As coisas. Fale o que vai fazer amanhã, Foster!
— Ah, claro... Eu... Certo! — Pigarreio e olho rapidamente de lado
de novo.
Levanto-me e paro na frente da sua esteira e me debruço, virando o
iPad para ele conferir.
— Aqui!
Mostro tudo a ele e explico como podemos fazer amanhã, já que
temos pouco tempo aqui e temos que colher o máximo de coisas que
conseguirmos para não perder grandes coisas que outros jornais podem
fazer antes de nós.
— Perfeito, mas sem entrevistas no final, não teremos tempo. Serão
dois intervalos para cobrir, então o que pode acontecer, é estender mais o
planejamento da matéria sobre o próximo jogo, e lançar ela antes dele.
— É, não tinha pensado nisso. Mas, tem uma matéria que vai ao ar
ainda hoje também, não será muita coisa seguida?
Ele bebe um pouco de água e nega.
— Não. Essa outra converso com a Jennifer e liberamos uns
minutos antes do jogo.
— Por mim, tudo bem. A matéria pode ser feita pelo Francis, já que
é algo mais tranquilo para ele fazer por ora.
Ele concorda e puxo o iPad de volta, sentando-me na esteira ao
lado.
— Hoje se deram melhor. Qual o milagre?
— Medo de ambos sermos expulsos! — Dou de ombros e Sawyer
sorri.
Olho de novo para a parte da musculação e vejo os três vindo. Sinto
um friozinho na barriga, sabendo que verei Malcolm.
Agora essa palhaçada vai ficar toda hora assim?
Viro o rosto, para não ficar igual uma doida babando no homem.
Que fase, Vicky. Que fase!
Eles cumprimentam e Sawyer responde enquanto apenas aceno com
a cabeça. O olhar do Malcolm sobre mim, é escancarado. Finjo estar
fazendo algo no iPad. Percebo quando eles vão para as outras esteiras, a
mando do Ashton. Ergo o olhar para o Sawyer que me encara.
— Sem nem uma palavra ou te mato — aviso baixinho e ele balança
a cabeça. — Mais alguma coisa? — falo mais alto agora.
— Antes que eu esqueça: Zachary e Jayden querem falar com você!
— Está brincando, né? — pergunto e ele nega.
Levanto-me e deixo o iPad em cima da esteira. Me aproximo da
dele, debruçando sobre a parte do painel.
— O que eles querem? — falo mais baixo.
— Suas fotos. Arrumou dor de cabeça, sabe disso!
— Merda! E o que disse a eles? — Ele aumenta o ritmo e começa a
correr. — Você se odeia?
— Eu quero viver até os noventa ao menos, Foster!
— Não tem noventa e cinco? — provoco e ele só falta me matar
com o olhar.
Escuto risos do outro lado e é o Elliot e o Ashton. Dois fofoqueiros.
Malcolm está sério, como se estivesse irritado. Droga, ainda assim, é
gostoso!
— O que disse a eles?
— Que passaria o recado! Querem uma reunião com você amanhã
antes do jogo. E Jennifer já sabe!
— Claro que sabe. Ela sabe tudo! Não chore quando eu for expulsa,
porque é o que vai acontecer!
— Só será se não controlar essa língua!
— É aí que temos um problema. Acha mesmo que vou aguentar
aquelas duas baratas velhas falando merda? Não sou a Kristal que demorou
para revidar e nem a Jennifer que tenta apaziguar tudo — explico e ele
respira ainda mais agitado. — Está morrendo! Estou falando, isso mata!
— O que me mata, é ter que lidar com você. Tantas pessoas na
equipe que eu poderia lidar, mas tenho que cuidar de você! Amanhã vai
entrar muda e sair quieta dessa reunião!
— Vou pensar no seu caso. Não quero que chore na minha ausência!
— Me aproximo dos colchonetes e me deito neles.
— Vai ficar deitada na academia? Vicky, eu vou enterrar você ainda!
Começo a rir do drama do homem. Olho para os outros três e Elliot
e Ashton tentam controlar o riso. Claro que vou ficar aqui, tenho algo
delicioso para admirar e está emburrado com algo.
— Deveria agradecer por eu entrar nesse lugar. E sabe o que vai me
matar? Você reclamando no meu ouvido, literalmente! Eu me cuido, saiba
disso!
— Comendo apenas porcarias? Odiando atividade físicas?
— Não como apenas porcarias — me defendo. — Ashton, salada no
hamburguer não conta como alimentação saudável? — Olho para o
personal dos Red, que acaba rindo ainda mais. Nem parece o homem sério
que só falta matar os jogadores.
— Não, sinto muito, mas não!
Nem para mentir presta!
Sawyer sai da esteira e enxuga o rosto na toalha que pega na sua
bolsa ao lado.
— Nem preciso falar mais nada, não é? — Ele joga na minha cara e
mostro o dedo a ele. — Vai, levanta-se. Vou tomar um banho e você vai
chamar todos para nos encontrarem, então iremos nos juntar com a equipe
para fazer os ajustes finais da matéria que vai ao ar hoje.
— Homem, me dá paz! — Estendo a mão e ele me ajuda a levantar.
— O Francis não iria ajudar?
— Todos vão ajudar, Foster!
— Odeio quando é o chefe e não o bom velhinho. Vamos! — Pego o
iPad.
Ele pega as coisas dele e olho para o Malcolm de novo. Merda, não
posso nem ficar admirando mais. Se bem que pela cara irritada e o silêncio
absoluto, ele parece querer me expulsar daqui mesmo.
O que eu fiz agora? Será que foi pelo o que aconteceu na arena?
Sawyer se despede deles e dou um tchauzinho com a mão.
Saímos da academia e pela primeira vez, é contra a minha vontade.
Caminhamos pelo corredor para irmos ao elevador, mas escuto passos atrás.
Viro-me e vejo o Malcolm, ele para e faz um sinal discreto para mim.
Fico entre ir embora ou ficar, mas resolvo escutar os conselhos da
minha avó e o que sei que é certo.
— Sawyer, encontro vocês daqui a pouco. Tome seu banho e já peça
para ajeitarem tudo! Leva meu iPad.
Entrego ao Sawyer que olha para trás de mim.
— Vocês estão brincando com fogo. Espero que saibam no que estão
se metendo!
— Vai, Saw, sei o que estou fazendo! — Ou pelo menos acho que
sei.
Ele se afasta e entra no elevador. Sigo para onde o Malcolm me
espera e paro à sua frente.
— Treinador?
— Vá para o banheiro da academia. Acesse aqui por fora.
— Sua cara está me fazendo questionar se isso é seguro!
— Agora, Foster!
Pronto, eu aprontei e não sei nem o que foi dessa vez!
Me afasto e vou para o maldito banheiro, antes que o homem tenha
uma morte repentina.
Entro no corredor dos banheiros. Ele aparece em seguida e sem
dizer nada, segura minha mão, olha ao redor e me leva para um dos
banheiros. Pede silêncio e concordo. Olha tudo e está vazio.
Tranca a porta e fico olhando-o.
— O que houve agora? Malcolm, se for se estressar por tudo que eu
possa aprontar, é melhor ter sete vidas! — Sorrio.
— Por que está andando com ele e vestida assim?
Olho para os lados, então olho minhas roupas e chinelos.
— Assim como? Shortinho e camiseta? Vestida com roupa? —
indago com ironia.
— Seu short nem aparece e está sem sutiã, porque está marcando
seus seios...
Balanço a cabeça negativamente, porque isso só pode ser um castigo
enorme.
— Ah, não... Não me diga que é machista e babaca assim —
retruco.
— Claro que não sou, não me importo como se vista desde que se
sinta bem! Mas vai ficar andando com ele assim?
Franzo o cenho confusa com esse papo doido.
— De novo: estou vestida! — revido mais uma vez. — Está com
ciúmes do Sawyer? É isso? — Começo a rir, entendendo tudo. — O que
foi? Pensou que eu o esperaria no banheiro, e enquanto ele toma banho e
ligaria para a equipe, assistindo a cena? Sinceramente, você deveria
descansar, não está bem! — Ele me olha mais sério ainda. — Malcolm Bell
com ciúmes... É, isso não se vê todo dia!
— Não estou achando graça. Você está querendo me enlouquecer e
está conseguindo!
Mordo o lábio e me aproximo dele, ficando na pontinha dos pés.
Contorno seu pescoço com os braços, sem me importar que está suado.
— Sawyer não é meu tipo. Ele é quase um segundo pai para mim,
irritante, rabugento, mas gente boa. Já você, treinador... — Beijo seu rosto.
— Fica ainda mais gostoso treinando e irritadinho! — provoco.
Ele acerta minha bunda e me agarra.
— Pare de me enlouquecer, Foster! Preciso de paz e está acabando
com ela. Não me confunda, porque preciso focar nos jogos! Isso é sério, eu
cansei desses jogos. Já disse que não vou insistir, mas não vou também
aguentar lidar com essa bagunça que está causando sem me deixar entender.
Sim, estou com ciúmes dele, era isso que queria ouvir? Estou morrendo de
ciúmes! Foda-se o que veste, isso não me importa, só que me importo
quando aquele cara está tendo por perto, a mulher que estou loucamente
apaixonado e ela está toda espontânea, casual, sendo ela mesma, sem se
preocupar com maquiagens, sapatos caros. Isso me deixa puto.
Meu coração acelera. Ele me agarra firme e me ergue, fazendo
minhas pernas enroscarem ao seu redor. Encosta meu corpo na parede e
toca meu rosto com a mão livre, já que com a outra me mantém firme em si,
segurando minha bunda.
Suas palavras me fizeram ter ainda mais certeza sobre tudo.
— Malcolm... — Fala, Vicky, você consegue! — Q-quero... Tentar
— falo o que sei que é certo.
Ele me olha confuso, franzindo do cenho.
— Tentar o que, Maluquinha?
Sorrio sem jeito.
— Deixar rolar... Facilita aí, porque está sendo complicado
conseguir falar! — Minha voz está trêmula pelo nervosismo.
— Deixar rolar? Vicky, vai precisar ser clara, porque não estou
entendendo — diz em tom sério.
Merda!
— Ok... Nós, quero tentar. Eu quero deixar rolar, porque estou
sentindo coisas por você. E me falaram que isso é uma coisa chamada
paixão e achei bem intrometido isso porque... — Paro de falar porque ele
começa a sorrir. — O que houve? — Franzo o cenho.
— Eu já havia entendido o que quis dizer logo de primeira. Só
queria ouvir você ser mais direta nisso!
— Ai, seu idiota! — Acerto seu ombro. — Malcolm, isso é sério!
Não brinque assim!
Ele me beija, antes de voltar a sorrir.
— Claro que é sério! Vamos tentar, minha linda. Mas teremos que
ser cuidadosos, por mais difícil que seja. Eu não quero te prejudicar!
Concordo.
— Eu nunca passei por isso, então... — Ele me desce e se inclina na
minha direção acariciando meu rosto e beijando minha testa. — Precisa ter
paciência.
— Ter paciência?
— Sim, você precisa, senhor Grito e Careta! Não mandei ferrar
tudo. Agora aguente — reclamo e ele sorri.
— Vamos tentar, tudo com calma. Vamos fazer do modo que se
sentir melhor. Eu prometo! — Sorrio. — Não tem nada melhor do que ouvir
isso vindo de você, não quando achei que não aconteceria. Mas é claro que
a mulher que eu me apaixonasse, iria exigir muito do que pouco tenho, que
é a paciência. O destino não facilitaria tanto!
Acerto seu ombro e ele ri.
E então me beija, inclinando meu corpo para trás. Seguro seu rosto
com ambas as mãos, derretendo-me um pouquinho mais em seus braços.
É, não era fome, era paixão, que merda!
Nos afastamos e o olho.
— Eu tenho que ir.
— Pelo bem da minha sanidade, poupe meu coração, Foster!
Coloque uma burca para ficar perto do povo do seu trabalho!
Gargalho e ele acaba sorrindo.
— Ou para ficar perto do Sawyer? Deixa de ser doido! — Começo a
rir. — Sawyer quer outra jovem, uma que já o deixa todo idiota! — Pisco
para ele e me aproximo da porta. — Se preocupe em cuidar do seu estoque
de camisinhas, treinador — provoco.
— Talvez eu não queira mais me preocupar com isso.
Principalmente se uma certa pessoa se cuidar bem...
Sinto um frio muito forte na barriga. Ele sabe me deixar
desestabilizada.
— Para algumas coisas, tenho uma certa responsabilidade, por mais
que duvidem. — Sorrio e ele me encara de um jeito que adoro.
Saio do banheiro. Não estou apavorada, nem com medo, pelo
contrário, estou leve. Sinto uma leveza por ter deixado as palavras saírem.
Vovó tinha razão: tudo muda e realmente tudo mudou!
O time se prepara para o jogo contra os Alligators. A arena está
parcialmente cheia, mas isso não é realmente o que me importa e sim em
como eles estão. Zion que tem apresentado mais ansiedade ultimamente,
parece estar bem melhor, tranquilo, então é um problema a menos para
lidar, porque com certeza, isso me deixaria ainda mais em cima dele.
Confiro o relógio e ainda tem um tempo antes do jogo começar. Já
conversei com o time, agora quero que fiquem livres, relaxem, respirem
com calma, sem pressão. Aproveito para analisar a estratégia de jogo,
apenas por costume.
Zachary e Jayden estão presentes e isso sempre traz mais tensão,
porque nunca se sabe o que vão aprontar ou como vão agir, são muito
imprevisíveis, então manter o foco no jogo e evitar chamar a atenção deles
com problemas, é o melhor.
Sinto a presença da Foster, sem nem mesmo precisar olhar. Seus
saltos pisam animadinhos demais no chão. Não a vi depois de ontem, foi
uma correria e em seguida, tive que cumprir algumas coisas da agenda que
surgiu de última hora. E hoje, bom, não vi a hora que ela chegou.
Ergo o olhar e vejo-a sorridente, usando uma saia curta vermelha,
que imita couro, uma camisa branca presa por dentro na frente e solta atrás,
marcando bem sua cintura. Saltos Louboutin pretos, que entregam bem a
marca, com o clássico solado vermelho, é o que vejo assim que ela ergue
um pé quando para atrás do Tyron, sentado no banco do vestiário e estende
uma vitamina na frente dele.
— A vitamina que muda vidas, ela mudou a minha e pode mudar a
sua!
O time inteiro começa a rir e tento me manter sério. Hoje foi ao ar o
novo comercial do Tyron com o Oliver Reed e o Jamal, o capitão dos
Tigers, falando sobre vitaminas e proteínas, e essa frase ficou exatamente
para o Tyron.
Vicky gargalha se afastando e encara o frasco da vitamina. Está
linda, ainda mais que o normal. Lábios nudes, olhos marcantes com o
delineado que ama. Usa alguns acessórios e os cabelos estão soltos e lisos.
— Não tem um trabalho? — ele questiona, visivelmente puto.
— Cara, alguém teria que zoar isso. Porra, que sorriso ridículo foi
aquele falando essa frase? — Tanner fala e os outros riem de novo.
— “Já fazem parte da minha rotina em ser um bom atleta!” —
Alfred provoca e Zion o acerta para ele parar.
— Se ele pedir para usarem os reservas por culpa de vocês, eu os
mato — Zion diz rindo.
— Qual é?! Ty, é um garoto propaganda! Além disso, o Olie e o
Jamal sofreram junto. A jogadinha de cabelo do Oliver no final é a coisa
mais ridícula que já vi na vida. Como é que conseguem continuar
namorando assim? Se bem que o coitado do Jamal é solteiro, não que eu
seja fofoqueira — Vicky diz enquanto torno a ficar focado nas minhas
coisas. Ela joga a vitamina para o Killiam.
— Foster, poderia não tirar o foco do meu time? — falo e os
meninos zombam.
— Nossa, que bando de adolescentes! Eu vim aqui pegar dois de
vocês. — Ergo o olhar bem sério. Ela me olha e sorri. — Quero dizer, levar
dois comigo. Quero fazer uma breve entrevista e não podem recusar, foi um
inferno convencer o Francis Bell a querer cortar o planejamento com
minutos antes da matéria de hoje ir ao ar. Precisam vir logo.
Eles me olham, provavelmente pedindo socorro, mas a morena se
aproxima de mim e puxa o cordão do apito preso na prancheta, então apita.
— Vamos! Não tenho o dia todo. Zion e Alfred, pode ser vocês...
Killiam não quero, quase me matou com uma bola, o Tanner vive me
difamando, e o Tyron... não, eu não vou conseguir gravar nada sem olhar
para ele e rir, lembrando do comercial. É, sobrou os dois titulares. Vamos,
lesmas! — Apita de novo.
— Me dê isso aqui, garota! — Puxo dela. Parece criança de tão
pentelha.
— Eu sempre quis fazer isso, treinador. Não estrague meu
momento! — Sorri como se fosse um anjo. — Libera eles? É rápido, eu
prometo!
— Dez minutos, no máximo! Vão, acompanhem ela!
Ela sorri animada, já eles, parece que estão indo para o abate, quero
dizer, o Zion, porque o Alfred só falta ir saltitando. Eu vou ser obrigado a
colocar esse moleque em seu devido lugar. Ele é animadinho demais com
quem não deveria!
— Para a sua sorte, não irei atormentá-los depois. Bom jogo! — ela
diz, mas me olha de lado e sorri, se afastando com os meninos.
Respiro com mais força que o necessário. Guardo o apito no bolso e
me aproximo do Tyron.
— Converse com os titulares, talvez iremos precisar deles hoje.
Ele concorda e me afasto.
No caminho fora do vestiário, encontro o Elliot e entrego a
prancheta e o apito a ele para guardar, enquanto vou atrás de um café.
Preciso descansar a cabeça antes de isso tudo virar uma loucura de vez.
Me aproximo, cumprimentando algumas pessoas e sendo
cumprimentado por outras. Vejo o Ronald, que tenta se esconder assim que
me vê, e isso só acontece quando tem problemas.
Paro perto dele e ele finge que só me viu agora.
— O que aconteceu? — questiono e ele nega. — Ronald!
— Nada, senhor. Só estou animado para ver o grande jogo!
Semicerro o olhar e puxo as mangas da camisa social.
— Ronald, tem um segundo para falar o que está havendo antes que
eu te chute daqui!
Ele coça a nuca e fica todo sem jeito. Eu devo ser o demônio para
sempre terem medo de me falar as coisas.
— Então... — Ele indica com a cabeça a sala de descanso. A porta
um pouco aberta. — A senhorita Vicky entrou com aí com o senhor Rice e
o senhor Hampton. O modo como exigiram uma conversa com ela, sendo
muito sincero, senhor, não achei legal. Foram rudes.
Engulo em seco e travo o maxilar. Meu sangue ferve de raiva com
essa informação.
Assinto e toco seu ombro. Vejo o meu sobrinho vindo com calma,
mas adianto o passo indo até ele.
— Entre na sala de descanso. Se eu fizer isso de cara, pode piorar
alguma coisa. Então entre primeiro e farei isso em seguida.
— O que houve?
— Sua colega de trabalho está lá dentro com Zachary e Jayden, e o
Ronald não gostou do modo como conduziram ela.
— Que porra! Quando falo que ela só apronta. Falei para ela que
isso aconteceria. Se a expulsarem, me ferro junto. É melhor a Foster ficar
muda!
Ele se afasta xingando e se apoiando na muleta. Hoje teve
fisioterapia mais cedo e conversei com a equipe, confio neles, afinal,
cuidam dos Red, e realmente ele está melhorando, só não pode ficar
batendo o tornozelo, ou passando muito tempo de pé. Tem que repousar.
Ele entra fingindo que não viu que tinha gente. Espero ele estar
totalmente dentro da sala e olho para o Ronald que até tenta negar, mas sabe
que vou entrar. Faço isso, entro.
— Falaram que eu te encontraria aqui, Francis. Preciso conferir
algumas coisas com você — falo e ele assente. Olho para os outros dois,
sérios, com uma expressão nada amigável. — Zachary, Jayden, como vão?
— Ótimo, treinador, mas poderíamos estar melhor, se não
tivéssemos que lidar com o que não era para estar acontecendo — Jayden
diz.
Olho para a Vicky encostada em um armário, com os braços
cruzados e expressão fechada.
— Algum problema, senhores? — Francis se senta no sofá,
deixando a muleta de lado.
Zachary ri com ironia e responde:
— Como se nunca tivéssemos! Mas é incrível como sempre a turma
desse jornal resolve nos arrumar mais.
Olho para Vicky e ela revira os olhos. É nítido que está tentando
controlar a língua.
— Aconteceu algo grave? Parecem bem sérios — falo, observando-
os, mas sabendo o que é que vieram falar. São as fotos da Vicky no bar, só
se fala disso ainda.
— A senhorita Foster está em todas as manchetes, como a repórter
da Sport Universe dando um show durante a temporada da Golden! O que
vão pensar que somos?
— Pessoas normais, senhor Hampton? — Francis responde ao
Jayden e escuto o pigarreio da Vicky, provavelmente controlando o riso.
— Não entendi o que quis dizer, garoto. Ela está aqui a trabalho!
Senhorita Foster tem sido observada e não é de hoje que está oferecendo
respostas atrevidas, ou se trancando em salas com treinadores, e agora fecha
o combo: na mídia completamente bêbada e levando o nome da Golden
junto — Jayden revida.
— Com treinadores? Não coloque no plural, senhor Hampton! E
sim, foi um erro eu ter feito aquilo tendo um contrato cheio de proibições
como o de vocês, mas como o Francis disse: somos humanos. Vivemos uma
intensa pressão com isso aqui. Não tenho culpa que os paparazzi deram
para cuidar da vida de pessoas como eu também — ela revida e a olho de
lado, para que fique quieta. É o melhor, porque é isso que querem, que ela
perca a cabeça.
Ambos a olham ainda mais nervosos.
— Eu realmente acho que é demais querer controlar a vida de todos.
Temos uma vida fora daqui. Os senhores me desculpem, mas não acho
correto a crucificarem por estar vivendo a própria vida longe do trabalho.
Não era horário de trabalho, a parte dela com toda certeza já havia sido
feita. Todos temos uma vida fora daqui — falo sério, não me importando
com o tom que digo isso.
— Não estou entendendo! Ela trabalha para o seu time também,
deveria querer mais respeito! — Zachary deixa sua frustração evidente.
— Senhor, ela já disse que errou, não disse? Depois do jogo de hoje,
arrumarão outros assuntos nas fofocas. Não dá para controlar tudo, isso é
um fato! — Francis a defende e sinto orgulho disso, porque esse é o tipo de
pessoa que eu e seus avós tentamos ao máximo ensiná-lo a ser.
— Gente, não preciso de advogados. Agradeço, mas não preciso.
Isso não é um julgamento, ou é? Cometi algum crime? Não se preocupem,
irei seguir mais à risca o contrato, serei uma perfeita robô! — Vicky dispara
e respiro fundo.
— Garota, preste atenção em como nos trata. Se esse contrato for
encerrado por erros da senhorita, não vai ter um lugar que vá conseguir
emprego mais, porque nem na Sport continuará, já que aquele lugar pode
ter a melhor audiência, mas depende do que nós oferecemos para se manter.
Será nós ou você, e vão nos escolher. É por essas e outras que prefiro
homens aqui, sem esse temperamento histérico, irresponsável. Vocês
mulheres são movidas a emoções demais — Jayden rebate e minha raiva
triplica.
Vicky vai responder, mas faço um sinal para que se cale e Francis a
impede de se aproximar deles, colocando sua muleta na frente dela.
— Como é? Temperamento histérico? Irresponsável? Estão falando
das mulheres que trabalham conosco ou dos homens? Porque toda semana é
uma dor de cabeça diferente com algum jogador metido em um monte de
polêmicas. Toda temporada, os senhores pegam alguma mulher para
perseguir com insinuações absurdas. Nossa melhor gerente de marketing é
uma mulher, porque os homens não deram conta. Nossa melhor olheira é
uma mulher, porque consegue ver além do contracheque e do sobrenome
que carregam. O pai de vocês fundou isso aqui graças a mulher dele na
época, que teve garra e pensou além da mente fechada que ele tinha no
início. Nossas meninas agitam as torcidas como ninguém... O café que
adoram beber, é feito pelas mãos das histéricas, assim como a refeição. O
jornal que tanto dá ibope a vocês, mesmo que digam o contrário, a dona é
uma mulher. A equipe de limpeza, em grande maioria, são mulheres, assim
como quase todo serviço pesado, porque claro, homens não queriam essas
funções aqui!
Eles tentam falar, mas impeço.
— Ainda não acabei! Bacana mesmo, é trazerem uma mulher para
intimidar, trancar ela em uma sala com vocês para ameaçar. Mas ela estar
em uma sala comigo, esse é um problema enorme. — A mão da Vicky toca
meu braço, mas a afasto. — Ela beber, claro esse era o problema, e não o
machismo escancarado que estão tendo, mesmo quando mulheres fazem
isso aqui funcionar melhor do que nós mesmos! Não acham que isso é o
que deveria parar? Entregam a porcaria de um contrato absurdo para essas
meninas da Sport, e elas dão a vida delas nisso aqui! — Meu tom não é
amigável, mas estou de saco cheio desses dois. — Mas ainda assim, elas
levam a culpa de tudo! Culpam por beberem, por terem relações com
alguém, por rir, por falar, por revidar as humilhações que trazem a elas...
Nunca pensaram que se elas quisessem, poderiam se vingar friamente de
vocês? Abrindo denúncias contra toda essa merda?
— QUEM PENSA QUE É PARA FALAR ASSIM CONOSCO,
MALCOLM?! VOCÊ SÓ É UM FUNCIONÁRIO QUALQUER AQUI
DENTRO! — Jayden grita, dando um passo em minha direção. Não recuo.
Francis tenta levantar-se, mas Vicky o impede. — NÃO TEM DIREITO DE
FALAR ESSES ABSURDOS!
— Absurdos, Jayden? Falar a verdade é um absurdo? Vocês dois são
machistas. Posso só ser um funcionário daqui, mas não dependo da Golden.
Se eu estalar os dedos, arrumo centenas de contratos ainda melhores longe
daqui. Sabe quem depende de mim e do meu nome? Os Red Fire e vocês.
Sabe por que ainda permaneci? Pelos meus meninos, porque por vocês, eu
já teria chutado isso há muito tempo. Fui criado sabendo como respeitar a
todos e isso inclui as mulheres. Tenho caráter para fazer isso!
— Você não sabe o problema que arrumou por fazer essa merda —
Zachary diz com ódio e começo a rir.
— Qual o problema? Já que adoram ameaças, deixa eu apresentar
uma para vocês: Se eu saio, levo os Red Fire junto, podem ter certeza. Levo
centenas de patrocinadores que respeitam muito a mim e ao meu trabalho.
Tiro a Sport disso aqui, porque Jennifer Mitchell nunca aceitaria continuar
onde nem mesmo um dos melhores treinadores conseguiu permanecer, ou
onde suas funcionárias seguem sendo humilhadas. Saio levando um por um.
Querem falar de poderes? Serem os fodões e ameaçarem? Me digam como
se defenderiam se todas essas mulheres se voltassem contra vocês? Porque
tenho uma lista enorme de pessoas que as defenderiam e ajudariam, e
querem saber? Eu estaria no topo dessa lista!
Ambos estão vermelhos de raiva, porque sempre ameaçam, mas
nunca sabem como se defender quando alguém os ameaça de volta. Tudo
tem limites. Não estou irritado apenas por ser a Vicky, mas porque tratam
todas as mulheres assim.
— Gente... Treinador, chega, por favor... — Vicky vem até nós,
ficando colada a mim e encarando os dois. — Isso saiu do controle!
Querem encerrar meu contrato? Façam. Simples assim. Só não envolvam
quem não tem nada com isso!
— Meu tio tem razão, Foster! Eles foram longe demais.
Ambos nos olham e Jayden ri com raiva.
— Um deslize, mais um maldito deslize e todos estarão fora e
veremos quem tem mais poder! — Jayden dá as costas enfurecido.
— Não queria estar na pele dos dois! Não nos queiram como
inimigos. Queiram nossa amizade, nunca nossa raiva — Zachary diz.
— Será que estão em condições de continuarem ameaçando? No
lado de fora está cheio de pessoas, acha que não ouviram tudo? — falo e ele
engole em seco e isso é nítido. O idiota não pensou nisso. — A fama de
bonzinhos só está piorando. Gostam do dinheiro, então é melhor cada um
ficar no seu canto, para todos continuarem ganhando! — completo.
Ele olha com mais raiva ainda e sai como o seu meio-irmão. São tão
unidos, que tentam ocultar essas informações das pessoas. Imbecis!
Solto o ar com força e Francis joga o corpo para trás. Vicky se vira
para mim, visivelmente chateada.
— Não queria arrumar problemas para você. Não deveriam ter se
metido. Eles só querem motivos para encher meu saco, eu daria um jeito —
diz, mas puxo-a pela cintura e seguro seu queixo.
— Ninguém mais está aguentando os dois. Eles já extrapolaram os
limites. Muitos ainda vão perder a cabeça com eles, acredite nisso.
Ela solta uma lufada de ar e vira o rosto para o Francis.
— Valeu também! — Sorri, mas está preocupada.
— Não pense que fiz por você. Fiz pelo nosso emprego — responde
bravo e ela sorri.
— Uhum... Quatro por cento agora. Caramba, Coisa Estranha! Se
chegar a cinco por cento, eu morro. Me recuso a isso — fala e fico sem
entender. Franzo o cenho, bem confuso com tudo isso.
— A porcentagem que a doida anda gostando de mim. Pelo amor de
Deus, não tenho paciência para isso. — Ele pega a muleta. — Não demora,
temos serviço!
Ele sai resmungando e Vicky ri. Ela se vira para mim quando a porta
se fecha e se afasta um pouco.
— Para quem me odeia, até que anda ajudando bastante, fechou até
a porta — fala e concordo sorrindo. Vê-la mais leve é minha alegria,
mesmo que ainda esteja preocupada, o pequeno vinco entre suas
sobrancelhas entrega isso. — Nossa melhor gerente de marketing, nossas
meninas da torcida... Interessante isso — ela diz, cruzando os braços e faz
um beicinho emburrado.
Sorrio e me aproximo dela, desfazendo sua pose de emburrada.
Agarro seu corpo e a beijo, e puta merda, isso se torna melhor a cada
instante.
— Focou só nisso, não é?
— Difícil não focar em outras coisas. Dizem por aí que sou
levemente ciumenta. Estou começando a acreditar.
— Levemente? — Ergo a sobrancelha.
— Não pode me julgar. Não é diferente! — Me beija, segurando
meu rosto. — Foi fofo defender a mim e as mulheres em geral. É o mínimo,
eu diria, mas é bonito ver, porque infelizmente é raro.
Olho a hora e beijo-a de novo.
— Tenho que ir, minha linda. Não se meta em confusão, tudo bem?
— Vou tentar! — Ela faz uma carinha de sapeca.
— Foster!
— Relaxa, hoje conseguirei assistir até sentada na arena. Vai ser
mais tranquilo.
Assinto, me sentindo mais calmo. Porque não sei se os dois a
atormentariam ainda mais nos bastidores, porque com ela em público e na
frente das câmeras pensariam duas vezes antes de aprontarem suas merdas e
ela vai pensar bem antes de revidar e se prejudicar.
— Depois terá algo para fazer?
Ela contorna meu pescoço com os braços e concorda.
— Prometi à minha avó que irei conferir umas coisas da rede de
supermercados do meu avô, e tentarei pensar no que comprar para a
Cherry... — Ela franze o cenho. — Ah, que merda. Eu esqueci do
aniversário da Cherry! É hoje e aquela doida não me lembrou! — Ela me dá
um beijo rápido. — Nos vemos na arena, lindo!
Ela fala saindo correndo, igual uma maluca. Levo as mãos ao bolso
e sorrio.
— Ela me chamou de lindo de um jeito carinhoso? — Franzo o
cenho. — E ela esqueceu do aniversário da própria prima com quem é
nitidamente bem apegada?
Eu realmente arrumei alguém oposta a mim, só não imaginava que
era porque seria bem maluquinha e uma completa diabinha.
Ligo para Cherry, torcendo para que ela ainda não tenha ido para a
Coréia. Houve alguns imprevistos, parece que o voo foi cancelado, algo
assim, vi tudo correndo nas mensagens enviadas, porque estava atrasada
para vir ao jogo.
Como eu pude esquecer do aniversário dela? Minha garotinha vai
completar vinte e três anos, um neném na minha vida!
— Teve sorte! Entrei na área de embarque e daqui a pouco entro no
avião! — Ela atende e sorrio aliviada. — Tudo bem?
— Quem é a aniversariante mais linda desse mundo?! — Me olho
no espelho do banheiro, em que me tranquei para conseguir falar com ela
com mais calma.
Ela começa a rir.
— Não sei, porque o meu aniversário é só depois de amanhã!
— Oi? Como assim? Hoje é o dia! — Olho na tela do celular e volto
ele para minha orelha.
— Não, Vicky, é depois de amanhã. Lembra que falei que passaria
meu aniversário na Coréia? Prima, onde está sua cabeça? Pelo jeito está
pior que antes! Nunca acerta as datas, mas algo me diz que tem coisa por
trás dessa vez.
Começo a rir sem acreditar. Sempre me provocam por ser péssima
com datas, mas eu simplesmente não me ajudo!
— Então feliz aniversário adiantado? — indago e ela ri. — O que
quer de presente, Mascotezinha?
— Nada, sabe que não me importo com isso. Desde que todos
estejam bem, já é algo importante para mim e um grande presente!
Sorrio e reviro os olhos.
— Mas ainda assim vai ter presente. Vou pensar em algo e quando
voltar de viagem te mando! — Me debruço sobre a pia do banheiro e sorrio
sem jeito. — Cherry, resolvi dar uma chance a ele e a tudo isso.
— Ai, meu Deus! Sério? Existe um romance? Existe Vicky e...
Droga, não posso falar! Existe? — Fica bem animada.
— Existe, estou deixando rolar, isso é novo para mim, sabe disso.
Ainda estou meio assustada, vamos ver se me acostumo com a ideia. E
precisamos tomar cuidado, Jayden e Zachary hoje vieram me infernizar por
causa das fotos que vazaram do bar e ele se meteu. Foi complicado, me
senti mal, porque ele estava disposto a se ferrar por mim e isso assusta.
— Oh, meu amor... Claro que assusta, porque nunca sentiu isso com
pessoas fora do seu convívio. É normal ele se preocupar, querer te proteger,
isso demonstra que ele realmente se importa e quer cuidar de você!
Dou de ombros sorrio.
— É, pode ser...
— Está feliz?
Penso com carinho antes de responder.
— Sim, estou. É algo gostoso de sentir, mesmo que me assuste. Ele
é especial e isso me impressiona, porque não pensava nisso e alguém que
antes não era nada, virou tudo... Foi assim com o Oliver?
Ela ri e isso me faz sorrir mais.
— Foi. No instante que me apaixonei, tudo mudou. E quando
entendi que a paixão era amor, foi ainda mais intenso as emoções, e a
verdade é que todo dia continua sendo. Todo dia eu o amo mais um pouco,
mas às vezes, amar alguém tanto assim assusta mesmo, só que isso não me
faz recuar, entende? Porque fazemos bem um ao outro e nos completamos.
— Que brega! — brinco e ela ri. — Eu te amo. Se cuida nessa
viagem. Karen está aí?
— Está sim. Foi pegar algo para beber antes de ficar aqui.
— Deixe um beijo nela. Tenho que ir, Mascotezinha. Eu te amo
demais, sabe disso, né?
— Eu sei. Também amo muito você. Vou te mandar por mensagem
uma coisa que recebi agora pouco. Beijos!
Nos despedimos e fico à espera do que ela vai me enviar e não
demora para a mensagem chegar. Abro-a e meu sorriso aumenta e fico
emotiva, o que é uma droga, ando emotiva demais para o meu gosto, só que
é o sonho dela a cada instante se tornando mais real. Ela merece demais ser
feliz e conquistar tudo que sonha.

Observo com carinho sua logo e vejo que ela realmente gostou da
ideia maluca que tive e isso só me deixa ainda mais feliz, porque sinto que
fiz parte de algo para ajudá-la.

Vicky: Está perfeita! Tenho muito orgulho de você! Ansiosa para


ver essa marca se espalhando pelo mundo.

Cherry: Obrigada por sempre me apoiar em tudo. Isso tem parte de


você, assim como tem da nossa família e da família Reed e Sparks, que tem
dado apoio, ajudando tanto com cada coisinha jurídica, empresarial, apoio
moral e assim vai... Obrigada por me mostrar o mundo, Vicky! É muito
incrível o que podemos encontrar quando paramos de deixar o medo nos
dominar.

Releio sua mensagem algumas vezes antes de responder. Ela sabe


tocar na minha alma mesmo sem querer.
Me ajeito para sair daqui e trabalhar, chega de emoções por hoje.
Envio uma mensagem a Jennifer antes de sair, explicando
rapidamente o que aconteceu, melhor deixá-la preparada para os problemas
que possam surgir.

Entro na arena parcialmente cheia. Já gravei o que faltava da


matéria, na verdade, o Francis fez boa parte, foi algo em equipe, o que é
assombroso vindo de nós, mas deu certo e foi ao ar, só com dois minutos de
atraso.
Vejo o Malcolm perto do seu time e merda, sinto tudo revirar dentro
de mim de um jeito bom.
Me aproximo do meu lugar para me sentar, em meio a enorme
barulheira que está nesse lugar. Ao meu lado estão algumas pessoas bem
famosas e familiares dos jogadores.
Tiro algumas fotos e em uma delas acaba pegando o Malcolm.
Que homem lindo, gostoso, perfeito!
Dou zoom na foto e fico olhando igual idiota, ele parado falando
com o time, segurando a prancheta, a bunda marcada na calça justa, os
músculos marcados na camisa. Como eu não reparava nisso antes?
— Está tão rendida assim, minha linda? — Uma voz que me
estremece surge bem ao meu lado, falando em um tom para que apenas eu
ouça.
Ergo o olhar e ele está parado ao meu lado, colocando a prancheta
sobre o assento vago, que só agora noto seu nome. Estarei bem ao lado dele,
tudo bem que ele nunca fica sentado, mas estarei ao seu lado. Por que estou
ansiosa? Isso é tão tolo.
Faço uma careta e bloqueio a tela do celular, ajeitando a postura e
olhando para frente. Seu riso não é disfarçado, escuto o som. Olho para ele
que me dá uma piscadinha, antes do Elliot se aproximar para falar com ele.
Não ouço o que falam, mas Malcolm retira a prancheta do assento e
se senta nele, colocando-a sobre seu colo. Elliot se afasta para ir falar com o
time. Cruzo as pernas sem que revele demais, já que estou de saia e ela é
curta. Vejo os dois velhos do outro lado nos encarando.
— Não deveria ter feito aquilo. Só arrumou problemas para você —
falo olhando para frente, para disfarçar.
— Não vamos voltar a isso. Eu fiz o que tinha que ser feito e não me
arrependo. A única coisa que me deixa realmente arrependido, é não ter dito
a verdade e foda-se o resto. Apenas quero poder te tocar em público, te
beijar, ficar ao seu lado, sem mais segredo.
Meu coração acelera. Ainda não olho para ele.
— Isso prejudicaria até a Jennifer e ela não merece essa dor de
cabeça. Eles já desconfiam, não são idiotas, mas não existem provas. O
time precisa de você e por mais que tenham esses problemas, sei que ama
isso, é nítido. Isso é a sua vida.
— Outra coisa também está se tornando minha vida.
Engulo em seco com sua resposta e olho para o chão brilhoso da
quadra.
— Você vai cansar disso. Tem meses para a final da Golden, não vai
aguentar. Não é mais adolescente para viver algo assim, em segredo. Pra
quê arriscar o que sei que não vai durar? Não vai suportar. — Deixo de
tentar esconder as coisas que penso ou sinto. Só quero ser sincera com ele e
com as pessoas que amo.
— Enjoar por viver isso escondido? Não seja tola. É ruim, odeio
isso, mas enjoar por causa de uma situação que foge do nosso controle?
Jamais. Estou apaixonado por você e não brinco com isso. Pare de pensar
por mim.
Viro o rosto e o olho. Ele sorri com carinho. Apenas assinto e
suspiro, recostando no assento e deixo o celular no bolso detrás da saia,
antes de cruzar os braços e ficar olhando para as pessoas.
Chamam por ele, fazendo-o se levantar.
É, dona Vicky, você caiu no golpe do treinador e a queda foi brusca!

Gravei nos dois primeiros intervalos e estou literalmente livre.


Poderia ir e deixar as coisas para o Francis resolver, enquanto vou até o
escritório do meu avô ver como estão as coisas da rede de supermercados,
mas o jogo está bem agitado e jamais perderia a chance de ver o Tyron
sendo jogado no chão pelo camisa 22 do time adversário, enquanto o
Killiam entra em uma briga com o camisa 11, que é capitão dos Alligators,
me fazendo rir ainda mais.
É desse tipo de entretenimento que gosto. Faltou apenas a Kristal
xingando todo mundo e quase sendo expulsa, enquanto a Cherry tentaria
acalmar.
Como a pipoca que peguei para ver o circo pegar fogo. A prancheta
vermelha do Malcolm nunca foi tão socada, tenho certeza. O homem só
falta soltar fumaça e fogo, e nem é comigo, tem coisa melhor?
O camisa 33 entra na confusão e a arbitragem vem com reforços
para intervir. Malcolm puxa o Killiam, jogando-o no banco ao meu lado e
me inclino um pouco para a direita, quase subindo no colo da supermodelo
que está com os filhos e o marido. Ela ri e eu também.
— Fique aqui, caralho! — Malcolm grita enfurecido com ele.
Estendo a pipoca na direção do Killiam que me olha torto. Ué, tô
tentando ajudar.
Começo a rir ainda mais. Isso está perfeito!
A torcida se agita mais e as faltas começam a ser cobradas, o jogo
está parado tem alguns minutos já. Tenho certeza que depois disso, o árbitro
vai querer aumento. Pelo menos, eu pediria no lugar dele.
Fico ansiosa pelo retorno do jogo. Elliot vem falar com o Killiam e
o Tyron também.
E ainda ouvi mais cedo dos dois velhotes que mulheres são
histéricas. A lei do retorno nunca foi tão certeira.
O jogo retornou após mais alguns minutos e é uma pena minha
pipoca ter acabado, mas por sorte tinha uma Coca-Cola bem geladinha
comigo, para acompanhar essa final do jogo que já passa do horário
previsto para acabar, afinal, virou UFC do nada!
Os Red Fire estão na frente, mas por pouca diferença. Malcolm está
para ter um filho com bolinhas vermelhas e que soltam fogo.
Tyron consegue fazer uma cesta, mas marca um ponto só. Zion tenta
bloquear o camisa 15, mas os Alligators estão com sangue nos olhos. O
camisa 21 repassa para o 33, mas o Killiam entra na briga para recuperar a
bola e Tanner o ajuda, sendo mais rápido e repassa ao Alf, que consegue
arremessar e marcar dois pontos.
Malcolm está com as mãos no bolso, a coitada da sua credencial está
toda embolada em seu pescoço, quase pedindo socorro. Os reservas dos Red
parecem que estão jogando também, de tão nervosos que estão.
Para que tanto estresse? Vejo apenas entretenimento e dos bons!
O time rival marca dois pontos e os Red revidam, marcando três.
Bato palminhas animada, porque se continuarem nessa briga, isso vai
render tantos memes na internet, por exemplo, a queda do Tyron, que foi de
bunda ao chão e tentou levantar-se, mas caiu de novo. Eu preciso desse
meme!
Zion vai se pendurar na cesta para acertar a bola, mas é bloqueado
pelo camisa 11, capitão dos Alligators, e não para por aí, Tyron fecha o
bloqueio junto do Killiam e Tanner tenta ajudar, mas falha.
Olho para o Malcolm que balança a cabeça negativamente. Hoje o
clima será tão agradável entre esse time, que olha, não tem Buda que
mantenha a paz!
Bebo minha Coca-Cola e vejo os Red Fire marcarem mais dois
pontos, graças ao Alfred. Até o coitado parece irritado. Conseguiram tirar a
paz do menino, que absurdo.
Envio fotos no grupo com as meninas.

Vicky: Sério, isso aqui é o melhor jogo que já assisti. Nunca vi


tanta confusão assim. Quero isso em todo jogo!

Kristal: Estão espancando meu namorado e você gosta? Caralho,


Vicky! Faça algo!
Vicky: Estou fazendo, estou rindo e me divertindo. Qual é, isso é
entretenimento da melhor qualidade!

Envio uma foto bebendo minha Coca-Cola e ela envia tantos


xingos, que na hora que a Cherry conseguir ver essas mensagens, vai pensar
que caiu em algum lugar muito terrível, que fomos hackeadas.
Olho para os meninos quando a torcida grita. Vejo no telão o replay,
Tyron meteu duas cestas seguidas. As rezas da namorada dele devem ser
fortes!
Sinto um olhar sobre mim e viro o rosto, vendo o Malcolm me
encarando sério. Dou de ombros, afinal, não adianta vir me culpar, não
tenho nada a ver com essa confusão toda, infelizmente.
Falta pouco para esse caos acabar e fico chateada com isso, estava
tão bom.
Mais dois pontos do time rival e eles estão ainda com muita
esperança, mas acho que ela morre quando o Killiam marca três pontos na
força do ódio, o que fica evidente, pois a cesta chega mexer forte com o
impacto da bola.
Malcolm grita tanto, que tenho certeza que não terei sua voz
dizendo que vai me foder bem gostoso, ou me xingando bem no ouvido, o
que é uma pena. Mas não podemos ter tudo, não é mesmo? Lastimável essa
parte.
Bebo o restante da Coca-Cola, mas me engasgo quando apenas em
um piscar, o time rival marca dois pontos e Tanner marca um.
— Eu não posso tomar uma Coca em paz nesse inferno? —
reclamo.
— TYRON, FOCO! — Malcolm grita com seu queridinho. Está
rouco já. Coitado, não vai chegar aos cinquenta anos desse jeito. Serei viúva
tão cedo.
Mais uma cesta e agora vindo do Alf e então o marcador para. A
gritaria fica tão forte, além dos surtos, que parece que a arena vai desabar.
Me sinto uma formiga no meio de gigantes.
Como assim acabou o entretenimento?

135 RED FIRE X 127 SOUTHEAST ALLIGATORS

O telão mostra o fim da minha alegria. Tudo que é bom dura pouco,
é uma pena, viu!
Levanto-me para sair desse inferno, mas me vejo tendo que passar
por esse bando de malucos. Alfred me puxa todo suado e me agarra. Acerto
ele com o copo da bebida e ele ri, mas é acertado na cabeça pelo Malcolm.
Sim, estou no meio deles, só querendo sumir daqui.
O time está animado, mas o Malcolm não e é por isso que quero
uma rota de fuga, mas o infeliz me impede de sair discretamente, pousando
a mão nas minhas costas.
— O time inteiro está proibido de sair nos próximos dias. Será uma
semana focada nos dois jogos que teremos seguidos — ele anuncia e quero
rir com a cara de choque que todos ficam. — Não esperem meus parabéns.
Esse jogo foi uma vergonha. Não tiveram qualquer foco, caíram nas
provocações, estão sem controle mental. Se qualquer um de vocês se
meterem em farra nos próximos dias, o time inteiro será punido!
— Treinador... — O coitado do Tanner tenta argumentar.
— Não tem conversa! Cumpram o protocolo. Treino há anos
jogadores que foram escolhidos para estar aqui por serem os melhores e
serem adultos! Não treino crianças ou adolescentes. Se não conseguem
controlar a mente de vocês, então não merecem o lugar que estão!
Tyron vai falar algo, mas para porque um barulho em meio a
bagunça e gritos, chama nossa atenção. Malcolm me puxa mais para si,
como se estivesse me protegendo de algo e isso me faz sorrir sem jeito.
Tento disfarçar, porque está lotado e cheio de imprensa. Acredito que ele
nem percebeu as atitudes que teve até agora.
Olhamos para a bagunça do outro lado, só que é nos telões que nos
revelam o motivo, e por Deus, eu queria ter calma, ser séria, ter compaixão,
mas não dá. Do fundo da minha alma vem uma forte gargalhada, alta,
estridente e escandalosa, quando vejo Jayden encharcado de bebida e
Zachary caído, entalado entre os assentos da arquibancada, e quando digo
entalado, é que ele está todo torto entre os assentos, enquanto tentam puxá-
lo dali.
Malcolm aperta minha cintura e os meninos começam a prender o
riso, mas a risada do Alfred rouba a cena, é dá alma também, vem com
gosto, aquela que faz todos rirem juntos.
Meus olhos marejam, não consigo parar de rir. Viro o rosto
escondendo no peito do Malcolm porque quero parar de rir, mas não dá.
— Para... Vicky, respira — ele diz entredentes, mas é impossível.
Zachary Rice está entalado e Jayden Hampton pingando a bebida.
Me afasto dele. Alfred joga a cabeça para trás de tanto rir e o Tyron
tenta tampar a boca dele, mas até as pessoas que estão perto começam a rir.
Olho o telão e não acredito que fizeram replay disso.
Alguém será demitido hoje!
E assim descubro como essa merda aconteceu: Zachary se virou
para falar com o Jayden que estava bebendo algo e uma criança desceu
correndo para ir até o time dos Alligators, quando esbarrou no homem, que
perdeu o equilíbrio. O velho tentou se equilibrar no irmão, foi bebida
voando, Jayden se ensopando e Zachary caindo em câmera lenta, ficando
enroscado entre os assentos.
Eu vou fazer xixi na roupa!
Choro de rir e nem o Malcolm está conseguindo controlar mais,
porque até pigarreia. Tyron vira o rosto e puxa o Alf. Killiam esconde o
rosto nas costas do Zion.
O velho consegue sair com a ajuda das pessoas e está todo
desengonçado, a gravata torta, quase o enforcando. O paletó e camisa estão
sujos e sua calça toda molhada, parecendo que fez xixi.
Tampo a boca e saio da arena desesperada, suando. Minha demissão
vai vir, porque eles me viram e tenho certeza de que estou vermelha de
tanto rir. Até minha barriga dói.
Encontro o Ronald e o Francis.
— EU VOU MORREEER! — Berro e encosto na parede.
— Para, Foster — Francis diz, mas nem ele consegue ficar tão sério.
— Mas foi engraçado, senhor — Ronald me defende e ri, tentando
ser mais discreto que eu.
Quem passa por nós, tenta ocultar o riso, mas todos estão falhando
demais.
Zachary e Jayden viraram vexame no que são donos.
— Empresta sua muleta para o homem, ele vai precisar — falo
levando a mão na barriga, sem ar, tentando me recuperar.
Francis me olha de lado igual ao tio que se aproxima.
— Não pode me culpar — falo, me acalmando aos poucos. — Já
estou indo, tenho coisas para fazer.
— Ronald vai com você. Não vou precisar dele por agora —
Malcolm fala.
— Sim, senhor! — Ronald responde.
— Vai aonde? Garota, temos coisas para terminar — Francis
retruca.
Puxo sua muleta e bato ela em sua bunda. Ele me xinga e Ronald ri.
— Vem. Vamos passear. Reclama demais, precisa relaxar!
Ele olha para seu tio que balança a cabeça. O homem está esgotado
já.
— Não vai fazer porra nenhuma? — pergunta ao tio.
— Vou matar os dois se continuarem aqui. Sumam — Malcolm
responde irritado e sorrio.
— Vamos, Coisa Estranha! Não é todo dia que convido alguém para
passear e não para matar a pessoa. Sinta-se honrado. Pensa que poderia
estar sendo vexame público, seria bem pior — falo rindo e cutuco suas
costas com a muleta. Ele retira da minha mão.
— Cuida dela, por favor! Esse dia já está agitado demais! —
Malcolm implora para o Ronald.
— Cuidar dela? E eu que me fodo com essa louca? — Francis
retruca e faço cara de deboche.
— Se Ronald cuidar dela, você tem chances de sobrevivência e eu
terminarei o dia sem mais problemas.
— Ei! — resmungo e Malcolm me olha feio. Jogo um beijinho para
ele, o desestabilizando, porque ele tenta segurar o sorriso, mas os cantinhos
de sua boca entregam. — Vamos! Não tenho o dia todo.
Saio com os outros dois e tento não lembrar da trágica cena, porque
se eu rir mais um pouco, vou infartar e preciso conferir as coisas para meu
avô antes de ir embora, assim que descansar a cabeça para poder verificar
tudo com calma e, claro, sozinha.
Um tempo depois...

Sabe aquela sensação de leveza? Eu a sinto nos últimos meses,


desde o instante que resolvi deixar a vida ser como tinha que ser. Às vezes,
queremos tanta controlar tudo, mas tem coisas que não estão sob o nosso
controle, e foi esse meu erro em vinte e sete anos. Eu quis que tudo fosse do
meu jeito, quando nem sempre pode ser assim.
Não direi que tudo está perfeito nos últimos meses, porque manter
minha relação escondida da imprensa e de pessoas que não podem saber por
enquanto, está sendo cada vez mais complicado.
Muitas vezes nossos toques, olhares, tudo surge no automático. Não
dá para controlar, é inevitável, principalmente quando depois de semanas
juntos, chegamos até aqui, no que eu posso chamar de namoro.
Como chamar isso de outra coisa quando por meses, é na cama dele
que estou, é nos braços dele que sinto necessidade de me jogar? E sim,
vovó sempre esteve certa e a meninas também: tudo intensifica. E está
intensificando.
E por isso tudo se tornou mais complicado, porque Zachary e
Jayden sempre que podem, vêm nos infernizar. Eles até desconfiam, mas
não podem provar e depois da ameaça do Malcolm, sabem que se ambos
saírem, eles perdem muito mais, porque pela primeira vez, quiseram
arrumar confusão com quem jamais abaixaria a cabeça para eles em nada.
Acho que por isso, que depois de todos os jogos e viagens, me sinto
em paz podendo vir para casa relaxar por alguns dias antes do último jogo.
Meu Deus, o último jogo! Como isso passou tão rápido? E o melhor,
vai terminar do melhor jeito: Red Fire e Tigers juntinhos. Ninguém previa
isso, porque todos juravam que outros times estariam mais fortes nessa
briga, só que aqui estão eles de novo, em uma final para parar o coração de
todo mundo.
Eu queria poder dizer que só quero o caos, mas algo mudou quando
deixei Malcolm entrar na minha vida, e isso vai além dos sentimentos. Eu
me sinto mais sensível para algumas coisas, mais sentimental, me
preocupando mais, aprendendo que sentir emoções não é um erro, muito
pelo contrário, só nos torna mais forte.
Não é à toa que passei gostar cinquenta por cento do Francis, tenho
mais compaixão, mas isso porque mesmo que entre nossas brigas, até que
estamos encontrando um jeito de dar certo. Dizem por aí que ele está
fazendo terapia, isso está ajudando, com certeza. Talvez eu precise também,
isso é tão bom para todos, mas uma coisa de cada vez, um grande passo por
vez.
Desço do carro que para em frente minha casa, em Palo Alto. De
volta ao lar depois de meses sem conseguir pisar aqui. Sem imprensa, sem
trabalho por alguns dias, sem me preocupar com nada além de respirar perto
da minha família, das minhas meninas.
Só uma coisa eu gostaria que fosse diferente agora, e é que o
Malcolm pudesse aproveitar comigo, com minha família, meus amigos. Eu
sei, falta pouquinho para o fim desse inferno de contrato e aguentamos tanto
até aqui, só que me bate uma certa invejinha em ver a Cherry e Kris sem
precisar esconder nada. Nem mesmo o Sawyer esconde mais nada com a
Claire. E nós, droga, isso é um saco.
Pego minhas malas no carro com a ajuda do motorista, o agradeço e
pago a corrida antes de entrar em casa. A casa dos Reed está sem os carros,
não devem estar em casa. Kris chega de tarde, pois foi para Nova York em
um jantar com os Sparks e retorna com o Tyron, e Cherry iria pegar o
Oliver no aeroporto mais tarde. Já eu, passarei os próximos dias com eles e
os amo, mas sentindo ausência do que não poderei estar por perto agora.
Quando me tornei bobinha assim? Que ódio!
Mas, porra, aguentei saladas, verduras, água e mais água nos
últimos meses, com aquele maluco dizendo que estava cuidando de mim e
da minha saúde e pior: Ronald ajudou! E agora tenho que aguentar mais
algumas semanas para termos liberdade.
Por que tudo entre nós gira em torno de semana? Não poderia ser
em um dia? Como aconteceu com nossa primeira vez juntos? Eu era feliz
ali e não sabia, que castigo!
Entro em casa, meus pais não estão, os carros também não estão
aqui. Solto uma forte lufada de ar.
— Lar!
Olho ao redor e sorrio animada. Largo as malas e corro para meu
quarto. Abro as janelas fechadas e me jogo na cama. Que leveza forte
agora!
Passo a mão pelo rosto limpo de maquiagem e retiro o boné preto.
Envio mensagem as meninas avisando que cheguei. Meus pais estão
trabalhando, verei eles mais tarde, prometi à minha mãe que sossegaria em
casa hoje.
Levanto-me da cama, com o celular em mãos e saio do quarto,
passando pelo da Cherry, quero dizer, o antigo quarto dela. Abro a porta e
está do jeitinho de sempre, só que não, tudo mudou.
Fecho a porta e desço as escadas, indo para a cozinha em busca de
água, sim, água, porque aquele doido me fez cuidar dos meus rins.
Pego na geladeira uma garrafinha e vejo o recado na porta:

“Se encostar na torta de chocolate antes do jantar, eu arranco seus


dedos. Beijos, mamãe! Te amo, saudade!”

Começo a rir. A minha família me odeia e tenho certeza a cada dia.


Deixo o celular no balcão no instante que chega uma mensagem das
meninas.
— Cadê aquele cretino?
Desde ontem que não o vejo. Vim para casa sabendo que
infelizmente ele não teria tempo para ficar em Palo Alto esses dias por
conta de agenda, que só após a temporada conseguiria voltar para casa. Mas
custava uma mensagem?
Sou muito estressada para relacionamentos. Retiro tudo que
pensava. Não quero mais. Acabou!
Largo a garrafa de água e pego meu celular, indo para a sala, onde
me jogo no sofá.
— O que eu faço agora? Tanto tempo com mil agendas para
cumprir, que até desaprendi ficar livre!
Acordo ouvindo falatório. Olho ao redor e estou no meu quarto, subi
para cá depois que decidi que dormir era uma das primeiras coisas que faria
no tempo livre.
Sento-me na cama, tentando entender que tanta gente fala. Ainda
estou meio perdida. Deve ser a Cherry com meus pais, ou a Kristal.
Procuro pelo meu celular, mas devo ter deixado lá embaixo. Saio da
cama, olhando meu estado no espelho e pareço uma foragida do hospício.
Procuro algo para prender o cabelo e quando encontro, amarro em um
coque qualquer. Olho a roupa que uso, um camisetão surrado escrito “amo
hamburguer” que coloquei após o banho rápido para dormir mais relaxada.
Bocejo, saindo do meu quarto e ouço minha mãe:
— Claro que sua filha aprontou e claro que chegou em casa, olha o
rastro das bagunças dela! Landon, estou tremendo!
Sorrio, começando a descer a escada, mas paro no meio dela, me
agarrando ao corrimão quando ouço uma voz que faz meu corpo inteiro
estremecer e não sei se positiva ou negativamente.
Olho para a sala, não me viram ainda. Meus pais estão de costas e
Malcolm está com as mãos no bolso da calça, próximo a um dos sofás.
O que esse maluco faz aqui? Ele surge do nada!
Os três rostos se viram para mim, quando xingo achando que era
apenas mentalmente, mas acabou escapando.
Sinto-me acusada por algo. Tento buscar na minha memória o que
aprontei, mas nem muleta o Francis tem mais, parei de ameaçá-lo com ela
tem um bom tempo. Também acertei a cabeça do Killiam uma única vez
com a bola, mas nem foi essa semana e o Alfred que começou, além disso,
Zion e Tanner eram testemunhas que foi sem querer. Dei umas respostas
rebeldes para o Zachary e o Jayden, mas Malcolm não pode me julgar
porque anda fazendo pior que eu. Nem vim dirigindo, não pode falar que
bati no carro dele.
Será que vai cobrar o acidente com o seu Tesla? Porra, seria rancor
demais e já foi resolvido!
Desço os degraus lentamente, até me aproximar deles.
— Papai! — Abraço-o e ele me aperta em seus braços, beijando
meu rosto.
Me afasto indo até minha mãe e a abraço apertado.
— Sentiram minha falta? — Sorrio preocupada e eles me olham de
lado. Malcolm me encara e não sei se sua expressão me anima ou me
apavora. — O que o treinador dos Red Fire está fazendo aqui? — Engulo
em seco.
— Ah, Vicky Foster, é o que queremos saber! — Meus pais cruzam
os braços e me encaram, falando junto em uma sintonia perfeita.
— Acabei de acordar. Cheguei hoje. Como podem achar que fiz
algo?
— Temos motivos de sobra para achar que está aprontando e
escondendo algo. E ter o treinador do time que trabalha, batendo na nossa
porta, não nos deixa tranquilos — papai diz e olho para o Malcolm.
— Calma, posso explicar. Não envolve batida de carro ou prisão,
posso garantir aos senhores!
Agora fodeu!
Olho furiosa para ele, que franze o cenho. Meus pais arregalam os
olhos e abre a boca. Papai cai sentado no braço do sofá e minha mãe se
apoia no encosto.
Balanço a cabeça negativamente.
— Eu posso explicar isso depois!
— Mas vai explicar direitinho isso ­— mamãe diz chocada.
Ainda não se acostumaram com a filha que eles têm? Eu, hein!
— O que o senhor faz aqui? — Olho para o Malcolm e pigarreio.
Ele ergue a sobrancelha e começo a entender. Um friozinho na minha
barriga começa a surgir.
Nego com a cabeça e ele assente. Insisto que não e ele afirma que
vai fazer.
— Podem dizer o que está havendo? — meu pai indaga quase sem
fôlego.
Cruzo os braços sem acreditar que Malcolm Bell vai aprontar essa
comigo. Eu nem estou vestida para isso, estou parecendo uma doida! Eu
nem preparei meus pais, que desconfiam que escondo algo.
— Eu gostaria de conversar com os senhores sobre algo, como disse
assim que cheguei. E tem relação com a filha de vocês.
Algo me diz que aquelas duas pragas ou Tyron tem relação com
isso, porque até meu endereço o doido tem!
— Amor, vamos ter que vender a Foster’s Fitness, porque pelo jeito,
o prejuízo que sua filha causou é enorme!
— Minha filha? Ela apronta e vira minha filha?
Reviro os olhos. Olho para o Malcolm, que sorri de lado, todo
engraçadinho. Palhaço!
— Posso me ajeitar primeiro? Aí comemos algo, talvez vão precisar
de álcool também — aviso e meus pais me olham apavorados.
— A casa vai para leilão — papai diz e acabo rindo.
— Parem de pensar o pior. Eu sou a criação de vocês, saibam que
sou exatamente o que criaram! — Pontuo.
— Ah, mas não é mesmo! Isso tem dedo dos seus avós e da Cherry
que sempre te defendem e a Kristal também não vai longe — mamãe
defende sua educação e começo a rir mais ainda.
— Vai logo se ajeitar — papai diz e dou uma piscadinha para ele. —
Sente-se, senhor Bell. Sinta-se em casa, enquanto essa casa ainda é nossa.
Se puder adiantar qual o tamanho do prejuízo, serei grato!
Meu Deus, que falta de confiança em mim. Eu sou tão terrível
assim?
Passo por eles e começo a subir a escada, enquanto o Malcolm sorri
e se senta no sofá. Faço um sinal de que irei matá-lo e ele nem me dá
confiança. Ele nunca me ouve, só pode ser brincadeira!
Vou direto para meu closet, separando algo para vestir, afinal, se
tiver que levar meus pais para o hospital, estarei apresentável.
Ele some e aparece com essa bomba e nem brava consigo ficar,
porque esse careta me tornou alguém toda feliz com suas atitudes
relacionadas a nós dois!
Estar em Palo Alto após meses longe, me traz a sensação de estar
em casa, algo que pensei que ainda demoraria acontecer depois de viver por
anos em Nova York e sempre voltar àquela cidade. Aqui era algo
passageiro, mas se tornou lar. Dizem que lar é onde você se sente em paz
com si mesmo ou onde habita em corações que vivem ali, acredito que seja
um pouco dos dois.
Mas com tudo isso, eu ainda não viria para cá, passaria os dias que
restam para o último jogo organizando coisas de trabalho em Nova York,
nessa pausa que teremos, afinal, precisávamos, porque não paramos em
nenhuma data comemorativa, e todos estavam à beira do limite.
Estar aqui, significaria estar perto dela e acabar correndo o risco de
ferrar as coisas faltando tão pouco para o fim. Por isso, precisei deixar claro
que não pisaria em Palo Alto por ora.
Só que não estar aqui, dizer essas palavras para a Vicky e ver a
forma que ela olhou em meus olhos, isso me quebrou. Essa relação é algo
novo para os dois, mas ainda mais para ela. Eu nunca recusei amar ou ser
amado, tive pequenos amores no passado, sonhava com um futuro
construindo minha própria família, e sempre coloquei trabalho à frente de
tudo, indo contra tudo que eu desejava, talvez pelo medo de me meter com
a pessoa errada, ou não ser tão presente para ela, como já não sou para meus
pais e sobrinhos.
O que seriam mais alguns dias aguentando viver escondido nessa
relação e depois estarmos livre de tudo? Eu achava que era algo simples de
resolver, que não mudaria nada, mas droga, aqueles olhos castanhos ficaram
ainda mais claros, o sorriso quando disse que tudo bem, que iríamos nos ver
no último jogo, não foi sincero. Eu precisei ceder em muitas coisas,
respeitar outras, mas ela precisou muito mais.
Ver o jeito que ela ficou, me deixou péssimo. É óbvio que por mais
teimosa e orgulhosa que seja, não admitiria certas coisas, mas sempre a
observei, mesmo antes de nos aproximarmos, e não seria diferente agora.
Não era fácil para ela não poder me tocar publicamente, ter que
entrar e sair escondida do meu quarto como se fosse uma criminosa. Ficar
longe nos eventos. Aguentar os dois ratos nojentos nos observando sempre
que podiam, porque eles sentem medo de que eu honre o que falei naquela
discussão meses atrás, mas tudo que desejam, é um grande deslize para que
possam ter provas, e então voltariam tudo contra nós.
Eu sempre a protegi e sempre farei isso, porque essa indústria ainda
é péssima para mulheres e isso é uma merda. Tudo seria sempre pior para
ela, mesmo que seja desbocada e bata de frente, ainda assim, as pessoas não
a ouviriam, provavelmente, nem mulheres dariam ouvido, porque
infelizmente, já notei o quanto algumas são machistas também, quando na
verdade, deveriam se unirem para ficarem a cada instante mais fortes contra
todo machismo e desigualdade que possuem com elas. Seria uma briga que
foderia sua cabeça, sua imagem, e eu jamais deixaria isso acontecer
podendo evitar. Só que algo nesse momento precisa ser mais protegido e é
seu coração.
Nossa relação está muito mais intensa, ela ficou pouco com suas
amigas, não via seus familiares, era somente eu e as pessoas que agora ela
tinha por perto, como Francis, Ronald, Tyron, seu chefe e a namorada dele,
que assumiram relacionamento ao longo da temporada. Então no instante
que eu disse que não viria e seus olhos mudaram, seu sorriso não foi
sincero.
Sabia que Vicky tinha cedido mais que eu, que estava muito mais
cansada, e essa ausência não seria bom, porque não seria uma saudade
positiva, seria tóxica, porque aquela cabecinha imaginaria coisas que não
existem, apenas para se proteger e toda sua evolução nos últimos meses,
aprendendo a se comunicar, a demonstrar, isso tudo se perderia, porque
ainda está na fase de aprendizado sobre a mulher que está se tornando.
Às vezes, é preciso pensar no que é melhor agora, e não focar a
longo prazo, porque existem coisas momentâneas, que se não cuidadas
imediatamente, se tornarão problemas no futuro. E o melhor agora, era estar
aqui com ela e tornar esses dias especiais, relaxar aquela cabecinha que
deve estar pensando coisas e criando situações apenas para se proteger de
sofrer.
É por isso que estou aqui, para estar com ela, para estar em casa
com minha família que também precisa de mim, afinal, me mudei para cá
com esse objetivo, e para descansar, não colocar o trabalho como
prioridade, como tenho feito em anos.
Ajeito-me no sofá, ouvindo a conversa baixinha dos pais dela vinda
da cozinha e isso me faz sorrir. Faz uma meia hora que ela subiu para se
ajeitar e eles foram a até a cozinha preparar o jantar, mas realmente acho
que na verdade só me deixaram a sós para poder pensar no que a filha
aprontou para o treinador do time estar aqui, o que me faz pensar que essa
garota só apronta.
Ouço passos na escada e ergo o olhar. Vicky está perfeita e querendo
me enlouquecer, perder o foco no que vim fazer. Ela usa um cropped de
alças finas e detalhes rendados, revelando sutilmente sua barriga, uma saia
cintura alta bem colada ao seu corpo, descendo até a altura de seu tornozelo
e nos pés, uma Saint Laurent preta com os detalhes prateados das tiras
trançando seu tornozelo. É a sandália que dei a ela no penúltimo jogo da
temporada e a fez surtar ao ponto de dar pulinhos e gritos animados.
Aparentemente, suas sandálias, sapatos e bolsas, valem mais que eu. Porra,
um maldito bolo vale mais que qualquer coisa para essa menina. E ainda
assim eu a amo, exatamente por ser desse jeito maluquinha e única. Está
também com alguns acessórios, os cabelos soltos e lisos. Sua maquiagem
tem seu batom vermelho e o delineado, seus companheiros de quase todos
os dias.
Se aproxima, parando na minha frente e seu perfume de flores me
embriaga e puta merda, eu só queria tirá-la daqui e grudar em seu corpo e
sua boca e nunca mais sair de perto.
— Como estou? — pergunta baixinho e dá uma volta, revelando sua
bunda bastante marcada pelo tecido vermelho agarrado a ela.
— Querendo me matar — sussurro. — Está perfeita.
Ela sorri e olha para os lados, antes de se inclinar sobre mim,
apoiando as mãos em minhas pernas e deixar um beijo casto em meus
lábios. Preciso assumir um terrível autocontrole nesse momento para não
fazer nenhuma loucura.
Se afasta diabolicamente e segura minha mão, me fazendo levantar.
— Eu poderia ter dito tudo a eles, faria isso.
— Não faria, porque ficaria nervosa com minha ausência e recusaria
até meu contato, apenas para desapegar e não sofrer. — Toco seu rosto e
amo ver o quanto se rende aos meus toques, com os suspiros lentos que
solta, os tremores que surgem às vezes, os arrepios que surgem em sua pele,
ou o modo que seus olhos brilham ainda mais.
— Eu não faria isso.
— Sabe que faria. — Sorrio e deixo um beijo em sua testa. —
Vamos falar com eles? Acredito que estão quase morrendo, pensando que a
filha aprontou. Por falar nisso, ainda não tinha dito que bateu no meu carro
e foi conduzida a delegacia?
— Conduzida? Fui obrigada! E não bati, chegamos à conclusão de
que ambos erraram. Não mude os fatos. Está lá nos papéis da delegacia,
treinador! — Ergue a sobrancelha e balanço a cabeça. Ela sempre tem uma
resposta na ponta da língua. — Mas voltando ao assunto: deixe que eu fale
primeiro, vou saber causar menos infarto neles, ok? — Assinto.
Seguimos para a cozinha, onde seus pais estão e param o que estão
fazendo ao nos ver. Ela se aproxima da ilha e apoia as mãos sobre a pedra.
Paro ao seu lado e os encaro. Vicky é uma mistura de ambos em genética,
mas com certeza em altura, é da mãe, porque seu pai é alto. E em
personalidade, algo me diz que para os pais serem tão apavorados assim, é
porque não é nada como eles, e pelo pouco que ouvi e presenciei em suas
conversas com sua avó por ligações, onde até conheci a senhora Abigail, se
a Vicky fosse filha dela, não seria tão parecida.
— Filha, fale de uma vez, o que aprontou. Não conseguimos pensar
em mais nada! — Sua mãe pede, quase chorando em desespero. Seca as
mãos no pano, enquanto seu pai segue cortando lentamente um tomate.
Ela me olha de lado e sorri, então se vira para os pais.
— Estamos juntos. Estamos namorando — ela diz de uma vez. O
tomate é esmagado e uma perna de sua mãe falha, porque ela se equilibra na
outra e se apoia na ilha.
Porém o que me chama atenção é ver ela dizer a palavra
“namorando”, porque nunca definimos nada, por mais que seja isso mesmo.
Nunca de fato defini, por medo de assustá-la, só que esqueço o quanto ela
gosta de me surpreender.
— Esse era seu jeito de saber como falar? — indago e ela dá de
ombros. Claro que o jeito dela é sempre buscando o caos.
— J-juntos? Filha, defina n-namorando? — Sua mãe pede, já que
seu pai parece ter entrado em estado de choque.
— Dona Michelle, como definir namoro? Sério isso? Mãe, estamos
juntos. Faz meses que estamos juntos e é por isso que ele está aqui, para
contarmos a vocês. E porque ele é um intrometido, já que eu poderia fazer
isso! — Se não alfinetar, não é ela.
Sua mãe nos olha e em seguida retira a faca da mão do marido e
joga na pia.
— Querido, precisa reagir, não posso lidar com essa informação
sozinha. Não fiz essa garota sozinha!
Controlo o riso porque de repente imagino um futuro ainda distante,
onde existe uma criança, e é uma cópia fiel da mãe. Eu estaria muito
ferrado, porque seria exatamente como a senhora Foster, lidando sozinho
para conduzir da melhor forma as bombas que todos os dias surgiriam,
afinal, uma criança idêntica a Vicky Foster, seria diversos testes cardíacos a
mim.
— Gente sem drama, vai — ela resmunga.
— Calme. Deixem eu explicar — falo e eles me olham. — Sei o
quanto está sendo um choque receber essa informação desse jeito, mas era
um jeito de evitar que isso se espalhasse.
— Espalhasse? O contrato! Vicky, as cláusulas do contrato! Os
dois... Michelle, pega o medidor de pressão — Landon diz e Vicky ri, mas
logo para quando a olho de lado.
— Peço que só me escutem, por favor — falo e eles assentem em
choque. Algo me diz que se o que eu falar não os convencer, meu destino
será o mesmo do tomate. — Não imaginávamos que isso aconteceria,
ninguém prevê por quem irá se apaixonar, nem que essa pessoa vai se tornar
parte de nós. — Olho para minha Maluquinha e ela sorri sem jeito. Volto a
olhar para eles e respiro fundo. — Eu me apaixonei completamente pela
filha de vocês e não me arrependo disso em nenhum instante. E sim, existe
esse contrato, em que ela como repórter da Sport, e eu como treinador dos
Red Fire, jamais poderíamos ter algo durante a temporada. O fato de
estarmos nessa relação ao longo dos meses, é um risco todos os dias. Só que
eu escolhi viver esse risco, mas também proteger o risco maior que seria
para ela.
— Mas por que não nos disseram nada antes? Não iriamos sair
berrando ao mundo sobre isso — sua mãe diz chateada.
— Porque são os pais dela e esse tipo de notícia, se eu fosse pai,
gostaria de saber pessoalmente se pudesse ser evitado através de um
telefone. Ainda mais sendo a filha única de vocês.
— Uma correção, senhor Bell: ela não é nossa única filha. Cherry é
uma filha para nós também, independente das circunstâncias e sei que sabe
de quem falo, porque com toda certeza, aquela outra garotinha já sabia
disso e nos escondeu também — seu pai fala e concordo.
— Papai... Mamãe... Eu me apaixonei, esse deveria ser o maior
choque para vocês e não em que momento conto isso — ela diz e ri.
— Pode ter certeza que ele também está sendo — sua mãe revida.
— O que quero dizer, é que estamos juntos, e sim, existe esse
contrato, só que ele acabará em alguns dias e então nada disso mais será um
segredo, só que antes disso, vocês tinham o direito de saber, para
entenderem que não brinco com ela, muito pelo contrário, eu a respeito,
sinto orgulho, admiro e sou completamente louco por ela — falo sentindo
meu peito acelerar.
Vicky me encara e se aproxima, passando os braços pela minha
cintura e me abraçando. Contorno sua cintura com um braço e ela suspira.
— Eu preciso sentar e de algo forte para beber! — Seu pai puxa um
banco da ilha e se senta, limpando as mãos no pano. — Ouviu isso? Sua
filha está namorando! Mais uma de nossas meninas nos abandonando!
Sua mãe nos olha e um sorriso começa a surgir em seus lábios e seus
olhos marejam.
— Eu vi também, não apenas ouvi... Olhe, Landon! — Ela cutuca o
marido. — A Vicky está diferente. Existe pitadas de amadurecimento e
grandes gotas de alegria. Nossa filha cresceu mais um pouquinho! — Sua
voz fica chorosa.
— Mãe, sem chorar! — Vicky pede e sorrio. — Estou feliz e eu sou
louca por ele também. Só que tudo isso só vai fazer sentido, se tivermos o
apoio de vocês, entendem? Não me importo com a opinião das pessoas, só
que a opinião da minha família e das pessoas que amo, eu me importo.
Cherry, Kris, vovô e vovó já sabem, e o Tyron também, mas foi inevitável
não descobrirem ao longo dos meses, só que com vocês eu queria que fosse
pessoalmente... Nós queríamos. Porque são ainda mais importantes para
mim. Ah, e ele me faz comer saladas, frutas e sucos naturais, isso deveria
ser ainda mais motivo de alegria!
— Landon, saladas, suco natural, frutas... Ouviu isso? A Vicky tem
chances de viver até os trinta.
Começo a rir e Vicky me olha emburrada.
— Ouvi e estou sem acreditar. Mas o que posso fazer? Sou apenas
um velho sendo abandonado pelas princesas dele, porque um safado e um
treinador surgiram. Querida, por que deixamos essas meninas lidarem com
esporte?
— A Cherry nunca lidou.
— Mas foi para um estágio na Golden, e ela já foi líder de torcida!
— Ah, tem isso. — Ela balança a cabeça pensativa.
— Papai, não estamos abandonando vocês... Só crescendo.
— Por que não tivemos mais filhos? Vamos ficar sozinhos — ele
reclama e sua esposa toca seu ombro.
— Vicky já valeu por dez crianças — Michelle diz e prendo o riso,
porque a Vicky me aperta mais forte.
— Eu vou cuidar dela, prometo isso a vocês.
— Claro que vai, ou eu mato você, senhor Bell — Landon avisa.
— Pode me chamar apenas de Malcolm.
Vicky se afasta e se aproxima do pai, o abraçando por trás.
— Eu realmente sou apaixonada por esse homem, acreditem. —
Beija o rosto de seu pai e sua mãe enxuga os olhos.
— Vai cuidar dela? Protegê-la a todo instante? — ele indaga sério.
— Todos os dias, a cada segundo que for preciso.
Ele assente e segura a mão da filha.
— Tudo bem, posso tentar lidar com mais uma das minhas meninas
namorando, mas com uma condição! — Ele vira o rosto para a esposa e
depois para mim. — Após o fim do contrato, não vai continuar escondendo
essa relação, porque filha minha não é para ser segredo de ninguém!
— Papai...
— Não, linda... Ele tem razão. E eu prometo que ao final do
contrato, nada disso será mais segredo, porque se até agora mantivemos
assim, foi pensando nela e não em mim.
Eles assentem e ela sorri, me dando uma piscadinha.
— Deus, estou tão feliz! — Sua mãe a agarra.
Seu pai estende uma mão na minha direção e seguro. Ele aperta
firme, me olhando nos olhos e não desvio o olhar, porque eu honro minhas
promessas, não penso em mudar nada do que foi dito.
Sua mãe vem até a mim e me abraça, completamente feliz pela filha
e sei que seu pai não é diferente, mas é pai, obvio que ver mais uma de suas
garotas, ter outro homem em sua vida, causa um pequeno ciúme.
— Vamos preparar um jantar incrível! Cherry não sei se vem, mas
acredito que não porque com certeza Vicky já mandou ela fugir para não
lidar com nossa bronca por esconder tudo. E Kristal, aquela danadinha vai
ver só, pois me escondeu também — Michelle diz e sorrio.
— Sempre nos protegemos, deveriam ter se acostumado já.
— Meus pais me escondendo... Aqueles dois são outros que vão me
ouvir — ela reclama e Vicky ri.
— Pensei que o George me amasse, mas ele acoberta essas duas —
Landon fala e Vicky se aproxima, segurando minha mão.
— Posso pedir algo se desejarem — falo e eles me olham.
— Eu sabia que iria gostar de você! Mas nós pedimos, não se
importa com isso? — Landon fala e nego. — Perfeito, porque não tenho
cabeça para cozinhar!
— Querido, não iria cozinhar. É péssimo nisso. Até o tomate você
esmagou!
Eles entram em uma discussão de tomate e Vicky me puxa para a
sala, rindo.
— Bem-vindo à família Foster! Se prepare para lidar com a Weber!
— Fica na ponta dos pés e contorna meu pescoço com seus braços. Aperto
seu corpo contra o meu.
— Ainda não lidou pessoalmente com a família Bell... Não sabe o
que te espera, linda!
Ela ri e beija meu rosto.
Após o jantar, Vicky pegou suas coisas para irmos para a minha
casa. Seus pais entenderam que é o único jeito de ficarmos sem imprensa
depois de meses, foram bem compreensivos com isso. O jantar foi ainda
mais agradável, principalmente quando observei bem o que os relaxaria,
que foi falar sobre maquinários esportivos, os melhores e o piores do
mercado e ficaram de me apresentar os deles.
Paramos perto do carro que ficou aqui esperando e ela sorri ao ver
que é o que bateu. Sim, ela bateu, só não vou discutir isso mais, porque ela
me vence pelo cansaço em me deixar louco.
Olhamos ao redor e essa rua é mais tranquila, sem paparazzi, mas já
pensei em tudo. Combinei com o Tyron que qualquer suspeita que a
imprensa pudesse ter, argumentaríamos que essa aproximação tem relação
com o time e por isso ele também está em Palo Alto, já que passará esses
dias aqui.
Ele entende o que tudo isso pode fazer a ela e jamais negaria ajudá-
la. Ela só não sabe que aquele que tanto implica, é o que mais quer ajudar e
me ameaça sempre que pode. Só por ela deixo, porque de resto, eu mando e
aquele moleque obedece.
Coloco suas coisas no porta-malas e abro a porta de trás para ela,
que olha para dentro do carro, confusa.
— Ronald — fala animadinha e entra no carro, colocando sua bolsa
no banco.
Entro em seguida e fecho a porta.
— Senhorita Foster, é um prazer revê-la!
— Vai ficar aqui também?
— Sim, senhorita! Aonde precisarem, estarei!
Ela sorri, porque adora ele. É claro que adora, ele cai na sua
ladainha.
— Ronald, para casa. E trouxe?
Ele concorda e acende a luz mais forte do carro. Pega no banco da
frente e me entrega a primeira parte. Vicky ergue uma sobrancelha e sorri.
— O que é isso?
— Só estou mimando a minha garota, que terá o mundo no que
depender de mim.
Entrego o buquê de rosas para ela, completamente decorado, com
borboletas brilhantes em cima de algumas e uma pequena coroa dourada
encaixada entre as rosas.
— Malcolm... — Ela fica sem jeito e sorrio. — Obrigada! São
lindas! Eu amei, de verdade! — Se inclina na minha direção, me beijando.
Ele me entrega a outra parte, ela ri e solta um gritinho animada.
— Mc Donalds e uma sacola da Chanel? — questiona e concordo.
Ronald começa a dirigir e seguro buquê para ela conferir o restante.
Ela abre a sacola da Chanel primeiro, retirando a caixa e conferindo a bolsa
preta dentro dela.
— Malcolm, é linda! — Sorrio. — Você é maluco! Meu Deus! —
Se inclina no meio das coisas e me beija de novo. — Mas, lindo, sabe que
me conquistaria só com o lanche, né? — Ela guarda a bolsa e abre o saco do
McDonald’s. — Você é perfeito! Estava com medo de abrir e me trolar com
salada!
— E correr o risco de me jogar do carro? — falo e ela ri.
Ronald pigarreia e o encaro.
— Engasgou, Ronald?
— Não senhor! É só que... eu avisei!
— O que ele avisou?
— Nada, Vicky!
— O que você avisou, Ronald?
— Que o lanche a animaria mais que a bolsa e a flores.
Ela sorri e dá de ombros.
— Ele não está errado, mas amei tudo — diz colocando uma batata
na boca.
Pode ter amado, mas sua barriga sempre vem em primeiro lugar.

Paramos na portaria do condomínio, onde Ronald é liberado. Vicky


me olha e balança a cabeça rindo e fico sem entender o motivo.
— Você mora aqui? — indaga e concordo.
— Por quê?
— Cherry e Oliver moram aqui também.
— Sério?
Ela concorda e olha pela janela.
— Isso vai ser perfeito. Se vazarem algo por eu estar aqui, posso
alegar que apenas estava na casa deles, que fica à direita nessa rua. —
Aponta mostrando, enquanto Ronald vira sentido contrário.
É um condomínio enorme, por isso escolhi uma casa aqui, não
apenas por ter meus pais por perto para ficar de olho em casa enquanto
passo um tempo longe, mas pela privacidade em ser bem reservado, além
de enorme, o que traz mais privacidade entre as casas.
Ele segue para onde moro e estaciona em frente. Está tarde já, por
volta das 23h, já que ficamos bastante tempo na casa da Vicky.
Descemos do carro e ela pega suas coisas, tento ajudar, mas me
entrega só a sacola da bolsa, não me deixa chegar perto do saco do Mc
Donalds. Deve estar com medo de que eu esconda isso.
Ronald pega sua pequena mala no porta-malas e me entrega.
— Mais alguma coisa, senhor?
— Não, obrigado! Vá descansar. Fique com o carro.
— Certo. Boa noite... Boa noite, senhorita!
Respondemos a ele que se retira, enquanto sigo com ela para dentro
de casa.
— UAU! — ela diz, olhando a fachada cinza claro da casa, toda
iluminada pelas luzes de entrada que estão no jardim.
Abro a porta com minha digital e dou passagem a ela primeiro.
Entra olhando ao redor, nunca escondeu que era curiosa. Fecho a porta e
acendo as luzes, que clareiam toda a sala.
— Ok... Uau!
— Gostou? — Sorrio e pego as coisas de sua mão, colocando-as
sobre o sofá branco.
— É linda. E diferente.
— Diferente?
— É... — Ela me olha e sorri. — Não fica bravo! — Ergo a
sobrancelha. — Mas achei que seria uma casa mais séria, pelo seu jeito, e
não um ambiente bem claro, moderno. Sejamos sinceros, é um velho
rabugento! — Dá de ombros.
Puxo-a pela cintura e ela solta um gritinho. Beijo sua boca com
vontade. Seus braços envolvem meu pescoço e me perco em sua boca
deliciosa.
— Não sabe o quanto senti vontade de fazer isso desde a hora em
que te vi — falo, tornando a beijá-la e ela geme em meus lábios.
Afasto nossas bocas, agora com seus lábios borrados e
avermelhados. Limpo os cantos e ela sorri.
— Em pensar que eu estava brava porque não tinha notícias sua e já
estava pensando em desistir de tudo!
— Você é ansiosa demais, linda. — Sorrio. — Vem, vou te mostrar a
casa.
— Não quer começar me apresentando o quarto?
— Deixa de ser safada, garota! — Acerto sua bunda empinada e ela
ri.
Seguro sua mão para mostrar toda a casa que é enorme para ela.

O último cômodo a ser mostrado é meu quarto, o maior da casa,


com vista para a piscina e jardim dos fundos.
Paro na porta, com as mãos no bolso enquanto ela olha ao redor.
— Confesse, não foi você que decorou tudo.
— Não foi. Comprei a casa pronta, precisei comprar poucas coisas e
a maioria era de uso pessoal. Móveis, estrutura, tudo estava pronto.
— Faz sentido agora. — Ela sorri. — É muito linda mesmo. E bem
grande para uma pessoa só.
Sorrio e ela se senta na beirada da cama.
— Se convidando para vir morar comigo, Foster?
— Claro que não, maluco! Mas é que as casas desse condomínio são
bem exageradas.
— Quando vim para cá foi porque eu precisava ficar mais perto da
minha família, pois Nova York me sugava de dentro para fora. Amo aquela
cidade, só que durante folgas e férias, ela me puxava para trabalho. Eu
raramente vinha ver meus pais. Se eles não fossem a Nova York, talvez só
nos veríamos uma vez por ano. Aqui, por ser um lugar mais tranquilo,
mesmo sendo uma área universitária, me faz desacelerar também. Mas
também, sempre pensei em construir uma família e aqui seria perfeito.
— Por isso a casa grande. Entendi. E seus pais, moram perto?
— Mesmo condomínio, mas algumas ruas longe daqui.
Ela assente.
— E o Ronald, vai ficar aqui? Onde ele está ficando?
— Ele está em um hotel. Mas não vai ficar aqui. Só quando tiver
necessidade dele vir a Palo Alto. Do contrário, ficará em Nova York e
conosco, apenas durante a temporada.
— Conosco? — Ergue a sobrancelha.
Me afasto da porta, tirando as mãos do bolso da calça e caminho na
sua direção.
— Eu penso em um futuro com você, Foster. E você, pensa em um
futuro ao meu lado? Acho que temos que começar a pensar nisso, afinal, em
poucos dias será o fim do contrato e então teremos que fazer escolhas.
Inclino meu corpo sobre o seu, que se deita na cama, espalhando
seus cabelos escuros pela colcha clara. Subo sua saia, me encaixando entre
suas pernas agora nuas. Suas mãos tocam meu rosto, seus olhos presos aos
meus. Meu pau começa a endurecer e ela solta uma lufada de ar junto com
um gemido. Forço-o ainda mais em sua boceta e ela geme mais um pouco.
Ela toma minha boca, beijando-me. Sua língua explora a minha, em
um beijo que começa a esquentar muito rápido. Esfrego-me nela e suas
pernas me prendem mais para si. Agarro uma de suas pernas, apertando a
pele macia.
Seus dedos em uma confusão agitada começam a desabotoar minha
camisa preta, de um jeito bruto, estourando um deles. Retiro ela nos braços
e o tecido vai parar em qualquer canto do chão. Chuto meus sapatos sem
largar seus lábios deliciosos.
Ela geme ainda mais, ficando ofegante, se remexendo embaixo do
meu corpo. Desce os dedos para minha calça e abre o cinto, toda
atrapalhada, até conseguir chegar no botão dela, onde abre e com um puxão
o zíper se abre.
Desce os dedos pela minha cueca e isso me deixa ainda mais louco,
sentindo seu toque suave sobre meu pau. Termino de tirar a calça e a cueca,
largando sua boca vermelha, inchada.
Puxo sua saia e ela retira o cropped. Seus seios estão inchados e os
bicos estão duros. Arrebento sua pequena e maldita calcinha vermelha e
puxo seu corpo para beira da cama, abrindo completamente suas pernas.
A sua boceta está completamente lubrificada pela excitação.
Molhada, uma delícia de se ver. Ela encara meu pau e o seguro,
direcionando em sua entrada. Encaixo-o e agarro suas mãos, prendendo-as
acima de sua cabeça, então entro nela de uma única vez.
— Aaaah! — Grita e suas pernas se fecham ao meu redor.
— Abre! Quero você bem aberta. Agora! — ordeno e ela geme
assentindo.
Os saltos da sandália me arranham e isso me arrepia. Ela abre bem
as pernas, ficando totalmente aberta e isso me faz ir ainda mais fundo.
Fodo-a bruto, do jeito que funcionamos. Meus movimentos são
fortes e ela grita, perdendo o controle dos seus sons. Mas aqui nada
importa, porque aqui ela pode berrar meu nome e não teremos problemas.
Meto tão forte, rápido, que os sons dos nossos corpos batendo são
altos. A cama faz barulho como não faria em movimentos tranquilos. Seus
dedos apertam os meus quando chupo seu seio, puxando o biquinho e dando
uma leve mordida. Seguro suas mãos com uma mão apenas e a outra deixo
livre para apertar seu rosto e dar um leve tapa antes de beijá-la de novo e
chupar seu lábio inferior.
Saio de dentro de dela e ela choraminga querendo mais. Deito-me e
puxo-a de lado, agarrando uma de suas pernas e erguendo, então penetro-a
de novo e ela grita mais. Mantenho uma das suas pernas erguida e com a
outra mão aperto seu pescoço, segurando-a no lugar.
Vou entrando e saindo, indo até o fundo, com ela imobilizada por
mim e gemendo alucinada enquanto suas mãos puxam o tecido da cama.
— Que delícia... Aaaa! — Ela grita e aperto um pouco mais seu
pescoço, o que a faz gemer chorosa.
Toco seu ponto G e seus gemidos viram um choro de prazer,
trêmulo. Eu vou fundo, sentindo-a me apertar.
— Malcolm... Meu Deus... Meu Deus!
— Deixa... Vai, minha deliciosa, deixa vir!
Viro seu rosto para mim, a mão ainda agarrada ao seu pescoço,
apertando-o enquanto seus lábios formam um grito silencioso. Ela nega
perdida, seus olhos brilhando, seus dedos apertando ainda mais forte o
tecido da cama.
Aperta mais forte ainda o meu pau e assim ela começa ejacular,
molhando nossas pernas e a cama. Seu corpo tremendo, lágrimas
escorrendo em seu rosto, o grito silencioso ganhando som.
— Isso, linda... Mais um pouco, vem... — Meto de novo e encosto
nossas testas, roçando nossos lábios. — Que boceta gostosa, porra!
Tiro de novo meu pau e ela ejacula mais.
— M-Malcolm... Não consigo p-parar!
— Não para então... Toma, come mais meu pau! — Meto de novo
no buraco agora escorregadio demais, largando seu pescoço, onde está
vermelho.
Ela agarra meu pescoço do jeito que consegue e grita com os lábios
próximos aos meus. Começo a gozar dentro dela e ela começa a ter um
orgasmo, suas pernas ainda mais trêmulas e implorando por algo
indecifrável. Meu coração está uma bateria desgovernada.
— Caralho... Ooooh! — Gemo, gozando forte ainda, metendo nela.
Olho para baixo vendo a bagunça, o gozo escorrendo, enchendo totalmente
sua boceta quente, apertada, perfeita.
Saio de dentro dela e a bagunça se espalha ainda mais. Nossos
corpos se esparramam pela cama e nossa respiração está alta, espalhando no
ambiente. Ela vira o corpo vindo para mim e me beija com calma, fraca,
manhosa.
— Penso, lindo. Eu penso em um futuro em que exista nós dois e
claro, seu delicioso pau!
Acerto sua bunda e ela ri.
— Que bom, porque algo me diz que ele vai existir!
— Se eu sobreviver a esses dias, algo me diz que irei ficar sem andar
e nem é brincadeira! — Olha para meu pau endurecendo de novo.
— Pode ser que ocorra! Agora vem, senta nele, que estou louco para
sentir você subir e descer no meu pau!
Ela morde o cantinho da boca e sorri, me beijando e fazendo
exatamente o que falei: montando em mim e me enlouquecendo como
sempre.

Acordo com o som do celular tocando sem parar. Depois da loucura


toda, trouxe minhas coisas para o quarto, mas é claro que o celular não sei
onde coloquei.
Procuro o som, tateando a cama, a mesa de cabeceira ao lado dela,
mas não acho. Viro-me para o lado e estou sozinha, Malcolm não está aqui.
Reviro as cobertas e nada.
Que inferno!
Olho em cima da mesa de cabeceira do outro lado e vejo o objeto
escandaloso que não para. Puxo-o enquanto me enrolo nas cobertas e
atendo sem ver quem me liga, porque estou muito sonolenta. Transar boa
parte da madrugada é cansativo, exige muito do meu corpinho.
— Quem é o demônio me ligando a essa hora da madrugada?
— É assim que atende sua chefe?
Ah, merda!
— Jennifer, o que houve? Quem morreu para me ligar de
madrugada? — Bocejo.
— Madrugada? São dez horas da manhã, garota!
Mas fui dormir às cinco!
— Que seja! O que houve? — Bocejo de novo e esfrego o rosto,
tirando as remelas. Nossa, eu devo estar uma amostra de um mundo pós-
apocalíptico.
— Venha para o jornal. Tem duas horas para isso. Quero uma
reunião de emergência!
— Sério?!
— Não. Brincadeira... Claro que é sério!
Nossa, que rude! Cadê o carinho?
— Ok... — Bocejo de novo e esse é mais longo. — Eu vou!
— Vicky Foster, isso é sério! Esteja aqui em duas horas!
— Ok. Vou estar, confie em mim!
Ela resmunga e desliga. Deixo meu corpo tombar para trás. Não se
pode mais dormir nesse mundo. Meu Deus, com quem eu tenho que
reclamar para ter paz?

O primeiro andar está silencioso. Sigo para a cozinha e não tem


ninguém. Na sala de jantar, tem uma mesa de café prontinha, repleta de
frutas, suco, iogurte... Começo a rir, porque é claro que o café da manhã
montado por ele seria assim.
Pego uma maçã apenas e mordo ela, enquanto saio da sala de jantar
e passo pela sala de novo, vendo meu buquê em um vaso na mesa de centro,
porque o fiz procurar um vaso de madrugada para elas não morrerem. Me
aproximo dele e pego a coroa decorando as rosas e a coloco na cabeça, indo
procurar o dono da casa.
Vou de cômodo em cômodo, até encontrá-lo no lugar que eu deveria
ter procurado primeiro: academia.
Ele está pendurado em um aparelho, subindo e descendo com os
braços. Encosto na porta, cruzando um braço e com o outro levo minha
maçã à boca, ainda comendo. Assisto a cena, afinal, é para admirar, o
homem tem um corpo divino. Não entra na minha cabeça que essas coisas
que parecem levar à morte, podem deixar as pessoas gostosas também.
Ele sai do aparelho, fadigado, suado.
— Veio treinar, Foster?
— Nem morta — retruco e ele balança a cabeça. — Existe um
limite, e exercícios são eles. Não dizem que sexo queima caloria? Então, ele
é a minha atividade física! — Sorrio.
Ele enxuga o rosto e bebe água da garrafa em cima do banco de
madeira.
— E a princesa está com essa coroa agora por quê? E comendo
maçã? É uma miragem?
Faço uma careta para o idiota.
— Vou fingir que não notei sua ironia no “princesa”. Não é como se
eu fosse encontrar meus donuts, muffins e bolos por aqui!
— É, não encontraria... Mas comeu o lanche de madrugada. Me
admira não ter passado mal.
— Pelo amor de Deus, sem sermão de alimentação, Malcolm! Você
me deu, não reclame! Além disso, preciso ir.
Ele se aproxima, deixando um beijo na minha boca e passa por mim.
Sigo-o, observando seu corpo de costas.
— Se continuar me observando, vai precisar de um babador!
— Está tão engraçadinho — ironizo.
— Aonde vai?
— Na Sport, Jennifer me deu duas horas para estar lá. Alguma
reunião de emergência. Juro que se for apenas para fazer com que eu
trabalhe durante meus dias livres, esgano aquela mulher!
Ele concorda e acho estranha sua expressão.
— Do que você sabe? — Ele entra na casa e sigo atrás. —
Malcolm?
— De nada, Vicky. Como eu poderia saber? Eu preciso de banho e
comer algo.
Segue para as escadas, mas sou mais rápida, passo na sua frente e o
faço parar.
— Fala! Você sabe de algo. Vive com segredinhos com a Jennifer!
O que está rolando?
Ele me olha e nega lentamente, antes de se inclinar, me beijando de
novo e me deixando perdida. Passa por mim em seguida e demoro uns
segundos para voltar a focar.
— Malcolm! — Chamo-o irritada.
— Foster, some!
Careta dos infernos!
Passei em casa para pegar meu carro e já estou na Sport. Ou quase!
Saio do carro e estaciono em frente ao prédio. Olho para todos os
lados, não tem nenhum guarda de trânsito aqui. Espero que continue assim,
porque não vou guardar naquele estacionamento com vagas horríveis só
para ter que sair logo em seguida.
Ajeito a alça da bolsa em meus ombros e sigo para dentro do prédio,
dando mais uma olhada, mas tudo em ordem.
Isso!
Entro e cumprimento algumas pessoas, passando pela entrada dos
funcionários com meu acesso. Sigo para os elevadores e vou para o andar
da sala da Jennifer, onde também fico e que tem meses que não vejo. Se
alguém se apossou da minha mesa, eu coloco esse prédio no chão!

Jennifer nos trouxe para a sala de reuniões, e quando digo nós,


envolve a mim Kristal, Francis e Sawyer.
Estendo as pernas sobre o colo da Kristal, enquanto estou
esparramada na cadeira. Nossa chefe está na ponta da mesa, sentada nela e
com alguns papéis.
— Jennifer, se isso for uma demissão, por favor, não me conte! Não
tenho preparo financeiro para algo desse porte — aviso. Meus pais nunca
ficariam me sustentando, eles acabariam com minha vida. E sim, tenho
reservas, mas ninguém sabe, deixo julgarem e me provocarem, afinal, sou a
única que precisa saber mesmo.
Kristal me olha de lado e acerta minha perna. Sorrio para minha
loira rebelde.
— Não é demissão, não se preocupem. Eu chamei somente vocês
para essa reunião, porque ela precisa ser totalmente sigilosa. E vocês são as
únicas pessoas que confio cegamente aqui dentro no momento.
— Confia no Francis? Cegamente? — indago.
Ele chuta minha cadeira, pois está sentado atrás de mim, porque
virei a minha para ficar de frente para a Jennifer.
— Foster! — Sawyer chama minha atenção e jogo um beijinho para
ele. Kristal prende o riso, a safada sabe se controlar.
— E o que seria esse mistério todo, Jennifer? — Kris questiona.
Nossa chefe suspira e ajeita a postura, como se pudesse ficar ainda
mais perfeita, a mulher exala elegância e poder.
— Após a final da World Golden Jump, as coisas vão mudar por
aqui. Quero que me escutem primeiro — concordamos e ela continua. —
Ao longo dos anos, estamos tendo muitos problemas que tem fugido do
meu controle, exatamente porque a nossa bancada de sócios acabava por
conseguir comandar muitas coisas, já que precisamos deles para nos manter.
Só que com isso, muita coisa extrapolou os limites, como os contratos com
diversos esportes, incluindo a Golden, que tem passado dos limites com as
exigências que nos impõem. Eles precisam de nós e não o contrário. Não é
justo que tenhamos que sempre ceder a tantas coisas, e no fim, sermos
prejudicados com contratos leoninos e totalmente apoiados pelos sócios,
afinal, eles olham o dinheiro que vão receber e não tudo que teremos que
enfrentar.
Ela pega um dos papéis e olha para ele. Kristal me olha e dou de
ombros. Pela cara do Sawyer também não faz ideia de nada.
— Manter o jornal sozinha é pesado, sem apoio é difícil.
Principalmente quando se é mulher nesse meio, enfrentamos muitos “nãos”,
desconfianças, falta de apoio, entre outras coisas — explica e olho para trás
e Francis me fuzila totalmente com o olhar quando dou um sorrisinho. Foco
na minha chefe de novo. — Com isso, eu precisava de apoios diferentes,
que nos desse liberdade, que fosse uma parceria de verdade e precisava
conseguir comprar as ações dos nossos atuais sócios, convencer eles a
vender.
— E você conseguiu algo? — Francis questiona.
Ela sorri animada e se levanta assentindo.
— Sim! Consegui pessoas dispostas a fazer isso ao longo dos
últimos meses. Que apoiarão o jornal sem interferir. E o principal: consegui
convencer os atuais sócios a venderem. Porém isso será após o final da
temporada da Golden, já que é a única que fechamos parceria oficialmente
esse ano.
— Isso é perfeito! Se vai manter a Sport em paz e você terá voz
nela, fico feliz — Sawyer diz e concordamos.
— Só de saber que aqueles engravatados escrotos não estarão mais
aqui e nossa paz vai reinar, me traz até mais ânimo de trabalhar — Kris diz
e assinto.
— Estava um inferno isso. Jennifer estava refém do que ela
construiu — comento e minha chefe concorda. — Mas quem são os novos
sócios do jornal? Poderemos saber ou será tudo sigiloso?
— Podem. — Ela estende os papéis e pegamos para conferir.
Ela se senta novamente e começo a ler, sem acreditar no que estou
vendo. Não são apenas empresas, são pessoas muito importantes no meio
do esporte. Só que um nome me chama muito mais atenção.
— Meu tio é um dos principais? Ele comprou duas ações? —
Francis questiona surpreso.
Erguemos o rosto para ela, que concorda.
— Sim. Faltava dois concordarem com a venda, só que não tinha
mais ninguém que eu pudesse ir atrás. Então dias atrás, ele entrou em
contato comigo para passar algumas informações sobre a Golden e o time,
coisas de rotina, e comentei se ele conhecia alguém que pudesse me ajudar.
Sei o quanto ele é um ótimo profissional e uma pessoa incrível, então
confiei a ele essa informação. Ele então se ofereceu em apoiar o jornal, sem
interferir se não for necessário.
Tento controlar o sorriso. Kristal me olha de lado e acaricia minha
perna. Era isso que ele estava escondendo então. Mas por que ele faria isso?
Malcolm ajuda as pessoas, sei disso, Ronald é prova, mas por que se meter
no jornal?
— E todos sem exigências? — Kristal questiona.
— A exigência é que sempre trabalhemos com respeito. Eles estarão
à frente apenas quando necessário, mas são pessoas que confiam em mim e
no nosso trabalho e eu confio neles. O único que fez uma exigência além
dessa foi Malcolm Bell. — Ela cruza as mãos sobre a mesa. — Ele quer que
mais mulheres estejam trabalhando conosco e que os contratos com a
Golden antes de serem aceitos, sejam passados por ele, já que é a que mais
tem exigências absurdas. Isso será ótimo, afinal, Zachary e Jayden podem
confrontar qualquer pessoa, mas jamais ele, porque o treinador é muito
respeitado no país, um dos melhores. Se ele sair, a Golden cai, porque
muitos grandões saem também.
Meu coração acelera como um idiota. Ele fez isso pelo que o
Zachary e o Jayden aprontaram. Malcolm não deixaria barato o que
aconteceu meses atrás.
— Perfeito! Mas e o quadro de funcionários? Não será mexido, né?
— Não, Francis. Mas teremos mudanças. Vamos unir mais o
pessoal, chega de rodinhas de fofocas. Vamos aprender a trabalhar mais
unidos, em todos os andares.
Assentimos e olho para a Kristal, sabendo que independente de
qualquer coisa, se tem grupo, temos que estar juntas.
— Parabéns, sabia que conseguira melhorar isso aqui! — Levanto-
me e vou até ela, abraçando-a de lado.
— Não terá aumento, Vicky!
Sawyer e Kristal riem.
— Mas aquela espécie ali não vai receber mais quando estivermos
fazendo a mesma função, certo? — indago, me afastando e cruzando os
braços.
— Não... Quando você e o Francis estiverem na mesma função, será
de igual para igual. Chega de diferenças para qualquer um aqui dentro. Esse
nunca foi o meu objetivo e agora que teremos controle de tudo, isso vai ser
como sempre deveria ter sido.
— Eu concordo com tudo, mas se puder evitar que trabalhemos
juntos, serei grato, porque essa garota é insuportável. Ela me enlouqueceu
nos últimos meses — Francis reclama.
— Que absurdo! Eu fui um amor com você — revido.
— Amor? Você? Amiga, não força a situação também — Kristal
fala e a olho boquiaberta. — Quem quer enganar? É um cão!
— Não sei por que reclama, Francis, pois o que fiquei sabendo é que
andou defendendo-a dos donos da Golden — Jennifer fala e nós dois a
encaramos. — Eu sei de tudo! Nada passa por mim. — Ela me olha de lado
e engulo em seco. — Nada mesmo — reafirma, me encarando.
— Muito boa essa reunião. Muito feliz por você e por nós! Vamos?
— Kristal se levanta. Essa peste está se livrando da encrenca. Que safada.
Sawyer se levanta. Até ele!
— Parabéns, Jennifer! Você é ótima no que faz e isso será incrível.
Tem nosso apoio! — Ele passa por ela, apertando seu ombro.
O idiota do Francis se levanta também.
— Que seja feito o melhor. Parabéns. Preciso ir agora! — Ele sai.
Todos os três saem, me largando com a leoa!
— Parabéns, arrasou! Amei as notícias, mas preciso ir, estou com
muitas coisas para lidar e...
— Você me prometeu que não iria aprontar, Foster! — Ela me corta
e mordo o cantinho da boca. — O que faço com vocês?
— Como descobriu? — pergunto, pisando de um pé para o outro.
— Zachary e Jayden andam desconfiados, mas não têm provas, e
queriam a todo custo acabar com o contrato, mas consegui contornar a
situação. E Malcolm ficou furioso demais contando o que eles falaram a
você, e não era só questão de ele ser um bom homem, havia sentimentos.
Ah, e não menos importante: quando descobriu que ele faz parte dos sócios
daqui agora, seus olhos brilharam demais! E seus colegas e amiga, não
ajudaram fugindo. Se estavam com medo de sobrar para eles, é sinal que
sabem!
— É... Pode ser que tenha algo, mas juro que foi sem querer! Não
me demite!
— Nem que eu quisesse, porque sejamos sinceras, ele vai te
proteger. Essa compra das ações tem vingança, além de apoio por ele querer
só ajudar.
Dou um sorrisinho e descruzo os braços, indo pegar minha bolsa
presa na cadeira.
— Está brava? — pergunto e ela suspira.
— Estou, porque isso poderia te prejudicar, mas também sei que
ninguém manda no coração. Só esperem esse contrato acabar, não sejam
imprudentes, ainda mais agora que tudo está se resolvendo e teremos a
Golden na nossa mão e não mais o contrário.
— Pode deixar, eu prometo.
— Já me fez promessas antes.
— Mulher, confia! — Me aproximo e deixo um beijo em seu rosto.
— Ah, e obrigada por ter me feito ir para a Golden, e conseguido minha
permanência quando o Francis era o único que ficaria. Eu sei de tudo.
Obrigada por sempre fazer de tudo por nós! — agradeço o que está dentro
de mim tem um tempo.
Jennifer sorri emotiva, me fazendo rir.
— Vocês vão me enlouquecer ainda. Vai, antes que eu arrume
serviço para você!
Saio rapidinho da sala.

Olho meu carro e sorrio animada vendo que não tem multa. Entro
nele bem feliz, afinal, o dia está perfeito. Jennifer com boas notícias, irei
encontrar as meninas mais tarde na casa da Cherry e não tenho multas. Isso
é perfeito.
Coloco o cinto e jogo a bolsa no banco do lado. Ligo meu som um
pouco mais baixo. Passarei em algum lugar para comprar algo para comer.
Batidas no vidro me fazem virar lentamente o rosto e praguejar
muito mentalmente. Abaixo o vidro e desligo o som, sem acreditar nesse
carma.
— Senhorita, acho que já nos conhecemos! Caso não se lembre de
mim, sou o guarda que vai lhe deixar mais uma multa para a sua incontável
coleção.
Mas que homem debochado!
Ele rasga o papel e me entrega a porra da multa. Oitenta dólares!
— Sério? Eu já estou saindo. Acho que o senhor tem problemas só
comigo!
— Ou a senhorita tem problemas em respeitar as leis. Se continuar
aqui, será pior!
— ARGH! — Subo o vidro e ligo o carro, saindo dali antes que
termine em uma delegacia de novo.
Que porra!
Agora vou precisar de dois donuts. Eu iria comer só um, pensando
em fazer uma dieta, mas ele conseguiu me irritar e isso me traz fome!
Duvido que tenha multado todos os carros ali. Esse homem me
odeia demais!
— Eu não vou entrar!
— Para de drama! Estão nos esperando.
— Estão esperando você, Malcolm! Você não falou que eu viria. E
as meninas estão me esperando algumas ruas abaixo daqui. Por favor, me
deixa passar longe dessa situação? Eles vão me expulsar. Já basta a multa
que levei mais cedo.
Ele vira o rosto e pela cara vou levar bronca.
— Multa? Levou multa? Vicky, que merda fez?
— Nada, mas o guarda de trânsito perto da Sport me odeia.
— Odeia você? Porra, por que acho que uma vez só na delegacia
não foi o suficiente para você?
— Porque realmente não foi! — Sorrio e ele fica ainda mais sério.
— Ok, parei. Agora, por favor, me deixe fugir disso!
Ele desce do carro e contorna abrindo minha porta.
— Ou vai andando, ou vai sendo carregada. Os vizinhos vão amar o
espetáculo.
— Você é um careta infernal!
Pego minha bolsa e desço do carro, socando a porta. Malcolm quer
me enlouquecer. Simplesmente arrumou um almoço com seus pais sem me
falar nada. Eu nem estou tão produzida para isso. Cheguei na casa dele e já
recebi essa bomba. E o pior: Francis mora aqui, se ele abrir a boca de todas
as ameaças que faço a ele, vão dizer que sou psicopata!
— Desfaz essa cara emburrada — fala, andando à minha frente.
— Nem está vendo para saber se estou emburrada.
— Não está? — pergunta ao parar diante da porta.
— Estava. Ai, vamos logo enfrentar isso. E já digo, se me obrigarem
a viver de mato igual você e minha mãe vivem, eu vou surtar! Malcolm,
preciso de uma caloria, nem meu donut consegui comprar, estava uma fila
imensa. Estou em abstinência, meu corpo implora por qualquer besteirinha.
Ele revira os olhos e abre a porta, entrando na enorme casa. Tudo
nesse condomínio é gigante e extravagante. Jesus!
Ele segura minha mão e caminho com ele, observando tudo porque
sou curiosa. Vejo alguns porta-retratos pela sala, são fotos de família.
Malcolm e o irmão eram bem parecidos. Já o Francis, é uma cópia da mãe,
meu Deus!
Ele segue em direção às vozes animadas. Entramos em uma sala de
jantar enorme, com uma parede de vidro dando vista para um jardim
impecável. Nosso jardineiro iria surtar aqui, porque ele se anima cuidando
das pouquinhas plantas que mamãe tem.
Os três rostos se viram para nós e o falatório cessa.
— Querido, é uma miragem ou Malcolm está com uma mulher e
segurando a mão dela? — sua mãe questiona.
— Se for miragem, ambos estamos malucos, meu amor!
Francis revira os olhos me encarando.
— É no jornal, é na temporada e agora é em casa. Podem me falar
quando esse castigo vai terminar? — ele questiona.
— Calado, garoto. Seu tio trouxe uma mulher. Levantam-se, é hora
de agradecer a Deus!
— Pai, deixa de palhaçada!
Malcolm nos aproxima da mesa, e ambos se levantam para nos
cumprimentar, mas meus olhos focam na mesa repleta de coisas nada
fitness.
— Vicky, esses são meus pais: Dorothy com quem já falou e Corey
— Malcolm diz. — Mãe e pai, essa é Vicky Foster, minha namorada.
— Querida, como é ainda mais linda pessoalmente! — A mulher me
aperta e vejo o demônio do Francis rir vingativo. Não sei se gosto desse
riso.
— Obrigada, senhora Bell. A senhora é muito linda também. Ambos
são! — Olho para seu esposo e ele sorri todo feliz.
— Tão educada, doce. Sente-se, vou arrumar seu lugar na mesa.
Esse danado não me disse que viria!
— Não quero atrapalhar, posso...
— Não tem nada disso. Sente-se, por favor — seu pai insiste.
Malcolm puxa uma cadeira para mim e me sento, deixando a bolsa
pendurada nela. Ele se senta ao meu lado. Sua mãe pede a um dos
funcionários para colocar mais um lugar na mesa e isso não demora.
— É uma honra receber você. Já desconfiávamos, mas meu filho,
como já deve notar, adora esconder as coisas e pegar a todos de surpresa —
sua mãe diz e ele balança a cabeça.
— Vamos, sirvam-se. Espero que goste de tudo, querida! — Seu pai
é bem alegre.
— Obrigada. Deve estar tudo maravilhoso. E não pensem que foram
os últimos a saber, também não havíamos contado para meus pais.
— Por falar nisso...
— Mãe, não comece! — Malcolm chama sua atenção.
— Eu só iria dizer para fazermos algo juntos, para enturmar as
famílias.
Olho para o Malcolm e quero rir da cara dele. Malcolm Bell, o
homem todo sério, careta e bravinho, tem pânico dos pais. Eu vivi para ver
isso!
— Eu te conheço, mãe!
— É, querida, desse jeito vamos espantar a menina. Vamos comer,
depois você fala de casamento!
Começo a me engasgar, ouvindo a risada do Francis do outro lado.
Era isso, esse idiota sabia onde eu estava me metendo.
— Parabéns, assustaram ela — Malcolm reclama.
Balanço a cabeça e nego, me recuperando.
— Nada disso! Me engasguei com a saliva. — Minto.
— Podemos comer? — Francis indaga nervoso.
— Sim — Malcolm responde rápido.
Seus pais me olham sorrindo. São fofos, mas pelo jeito, tiram o
juízo do filho e do neto.

Após o almoço e a deliciosa sobremesa, estamos reunidos na sala.


Estou sentada lado a lado do Malcolm, que tem um braço ao redor do meu
ombro. Francis sumiu e é bom, as chances dele me jogar na fogueira são
enormes.
— Então meu filho resolveu parar de viver só pelo trabalho... Isso
me deixa aliviada!
— Eu nunca disse que viveria só por ele — Malcolm esclarece.
— Não, mas também não abria brechas para outras coisas. Mas
sabe, tudo acontece como tem que acontecer. Veja só, encontrou uma bela
moça, com uma boa carreira, doce, educada e que te atura — seu pai fala e
prendo o riso, porque Malcolm me aperta.
— Ela é especial sim — fala e o olho.
— Veja, Corey, como são lindos juntos! Se completam. Eu sabia que
isso terminaria assim. Desde que vi os dois naquela ligação, além das outras
vezes que nos falamos nos últimos meses. Lembra que falei sobre isso? —
questiona ao esposo.
— Sim, falou mesmo. Mas pensei ter ouvido algo sobre uma regra
do contrato da Golden com a Sport. Francis comentou sobre não poder
relacionar com ninguém, algo do tipo.
Malcolm suspira e apoio minha mão em sua perna.
— Sim. O senhor está certo. Estamos tentando evitar que isso saia
na imprensa, não é fácil, mas está acabando o contrato — falo e Malcolm
concorda.
— Que romântico. Um relacionamento proibido. — Sua mãe
suspira.
— Isso significa que precisa manter a boca fechada, mãe. Suas
amigas não podem saber!
— E não vão. Acha que sou fofoqueira? Me respeite!
Sorrio e seu pai também.
— Claro que ele não pensa isso. Sempre digo que não tem fofoca,
tem compartilhamento de informações, ou coisa parecida.
— Exatamente! Eu já amo essa menina! Vicky, você é perfeita! —
Ela fica animada.
— Filho, está muito ferrado. Vai por mim... Essas duas — seu pai
diz e sua mãe pisca para mim.
Eu a adorei!
Ficamos conversando por mais um tempo e diferente do que pensei,
é sem dramas, só bons risos e algo leve.
É, ninguém supera o drama dos Foster ou Weber.

Entramos no meu carro, Malcolm está dirigindo, já que o seu está


com o Ronald e ele quis deixar o coitado descansar.
— Você é adotado, lindo? — pergunto, colocando o cinto e
Malcolm me olha confuso. — Eles comem besteira, falam besteira, são bem
sorridentes, animados... Você não tem nada deles!
— Às vezes questiono a vida o que fiz de tão errado para pagar
tantos pecados com você!
Começo a rir enquanto ele dirige e vou ensinando o caminho para a
casa do Oliver.

Paramos em frente e vejo o carro da Kristal.


— Vamos? — pergunto e ele acaricia meu rosto e me olha de um
jeitinho carinhoso. — O que houve?
Ele sorri e nega.
— Te amo, Vicky Foster — sussurra e isso me arrepia inteira.
Imediatamente meus olhos marejam.
— Malcolm...
— Shhh... Não precisa falar nada se ainda não conseguir, mas quero
que saiba que eu te amo, Maluquinha. — Uma lágrima escorre pelo meu
rosto sem que eu tenha controle, e ele enxuga com carinho e sorri. — A
cada dia tenho certeza disso. É uma mulher muito especial e amo tudo em
você, desde suas loucuras, ao seu jeito mais calmo.
Solto o cinto e me inclino na sua direção, beijando-o com muito
carinho e amor.
— Você é incrível. Perfeito! — Beijo-o de novo.
— Vamos, linda.
Assinto, pego minha bolsa e saio do carro, sem esperar para que ele
abra a porta. Só para respirar logo o ar da noite de dezembro em Palo Alto.
Ele me ama.
Malcolm Bell me ama.
Eu não posso surtar!
Ele me ama.
Aquele gostoso irritante me ama!
Balanço a cabeça assim que ele se aproxima de mim e caminhamos
para dentro da casa. Por sorte, a porta já estava aberta. Preciso entrar logo e
encontrar algo para beber.
As vozes chamam atenção na cozinha. Deixo minha bolsa no sofá e
seguro sua mão, caminhando para onde está o pessoal.
Paramos na entrada da cozinha, onde param de conversar para nos
olhar. Oliver, que bebia uma cerveja, nos encara com a garrafa na boca e
quando seus olhos pousam em nossa mão, seus olhos azuis se arregalam e
ele cospe toda a cerveja na direção do Tyron.
— Oliver — Cherry diz assustada.
— Filho da puta! — Tyron xinga.
— M-mas... E-eles... Eu devo estar bêbado — Oliver fala, enquanto
Cherry ajuda o Tyron com a bagunça que foi causada.
Malcolm e eu cumprimentamos as meninas e o Tyron.
— COMO NINGUÉM ESTÁ EM CHOQUE! — Oliver grita
nervoso. — Vocês sabiam? Vocês sabiam e esconderam de mim? —
questiona indignado. Olha para a namorada, que faz uma carinha tímida e
me agarra. — Até você, Cerejinha?
— Olie...
Oliver ergue um dedo para ela não continuar.
— Eu estou sendo traído! A Diablo está com o treinador dos Red
Fire. Minha namorada sabia, a minha irmã sabia, meu melhor amigo sabia.
E eu não sabia! Como ninguém me contou essa fofoca?!
Começo a rir.
— Por que não era para ser espalhada? — Malcolm diz em tom
irônico.
Tyron passa pelo amigo e o acerta na cabeça, antes de tirar a
camiseta toda suja.
— Viu? Não sou fofoqueira como diziam. Agora menos drama e
pegue uma bebida para mim. Ah, e sem abrir a boca sobre isso, Girafa loira
— falo apertando minha prima antes de me afastar.
Oliver olha para mim e o Malcolm, ainda indignado, mas vai pegar
a cerveja.
— Ele vai demorar para digerir isso — Tyron fala. — E vocês dois
não estão se expondo demais?
— Assim como você e seus colegas sempre se expõem nas bagunças
que se metem? — Malcolm revida.
— Ai... Obrigada, treinador. Posso te chamar de Malcolm? — Kris
pergunta e Tyron a olha feio.
Malcolm assente para ela.
— Nunca vou te perdoar por foder minha vida, colocando meu
treinador no nosso meio — Tyron diz e rio.
— Medinho, Sparks? — provoco.
— É que ele e o Oliver não sabem ter maturidade e estão com medo
de ter alguém para ensiná-los como ser maduro — Kristal revida.
Ergo a mão e ela bate na minha.
Oliver nos entrega a cerveja.
— Eu ainda não estou acreditando... Com a Diablo? Sério? — Ele
questiona ao Malcolm, entregando uma cerveja a ele que nega. — Sabe que
ela é o demônio, correto? Vicky é um monstro!
— Um monstro que te manteve vivo por comer minha prima!
— VICKY! — Cherry berra e dou de ombros, abrindo minha
cerveja e bebendo.
— O único que tem a perder com isso sou eu. Não reclame, cara —
Tyron resmunga.
— Por quê? Faz tanta merda assim que pode interferir no seu jogo e
está apavorado? — Malcolm rebate.
— Eu amo essa turma, é uma união que não tem fim! — Ergo a
cerveja e a Kristal bate sua garrafinha na minha.
Cherry sorri balançando a cabeça.
— Ela corrompeu você — Tyron reclama.
— Ela corrompe todo mundo, Tyron! Vicky é a maçã podre —
Oliver diz.
Começo rir animadinha.
— Olha que se for falar do que foi corrompido, a Cherry tem uma
morte precoce — comento.
Malcolm me olha de lado e sorri, porque entende o que falo.
— Você é podre — Kristal diz e jogo um beijo para ela.
— Por que eu acho que isso vai ser um caos? O treinador vai nos
prender em um porão! — Cherry cochicha para que apenas nós três
possamos ouvir.
— Porque será isso — Kristal fala.
— Olha que dependendo do jeito que ele me prender, vou amar! —
Mordo o cantinho da boca.
— Ela piora com o tempo — Cherry reclama e começo a rir.

Estamos nós três perto da piscina, enquanto eles estão na cozinha


conversando sobre jogo. Deus me livre, isso é castigo. Meses lidando com
jogo e agora falar disso também? Eles se odeiam?
Cherry trouxe cobertores para nós, porque está uma noite gelada.
— É incrível como cada temporada nos trouxe coisas novas e
especiais, né? — Cherry comenta, olhando para dentro da casa onde vemos
os três conversando.
— Não só para o coração, mas para a vida. Temos que ser muito
grata. Olha o que estamos conquistando! Cherry com sua marca, eu sendo
reconhecida cada vez mais por mim mesma e não pelo meu sobrenome, e...
— E eu sigo só sendo eu...
— Como pode dizer isso, Vicky? — Cherry reclama. — Olha o
tanto que evoluiu. Tem trabalhado só como repórter, lidando com o público,
o que tanto queria. Se abriu, se permitiu sentir. Está amadurecendo mais.
Você também teve mudanças.
— Ela tem razão! Era isso que eu iria dizer antes de me interromper.
Todas nós tivemos grande evoluções, assim como eles ali. Cada um com
sua luta particular, mas que no final, juntamos tudo e virou isso aqui, uma
bagunça gostosa de viver — Kristal fala e sorrio.
Ficamos em silêncio por um tempo, apenas curtindo a presença uma
da outra. Às vezes não tem nada para ser dito, só precisamos disso, ficar
agarradinhas umas nas outras e aproveitar o momento.
Oliver gargalha de algo que o Malcolm diz ao Tyron, e isso me faz
sorrir. Essa turma consegue arrumar tantos momentos especiais, que ficam
na memória.
— Um dia sentiremos falta disso tudo. Vamos formar nossa família,
nosso tempo será reduzido, estaremos focadas em nossa casa e profissões,
nossos momentos serão mais por ligações, e as comemorações serão cheias
de risos e fazendo de tudo para criar mais memórias — Cherry diz.
— Isso não assusta vocês? Saber que em algum momento isso não
será mais como agora?
— Um pouquinho... Mas significa que evoluímos ainda mais —
Kristal responde. — Mas temos que fazer uma promessa. — Ergo o olhar
para ela, pois estou entre suas pernas. — Estaremos sempre a um segundo
de distância uma da outra.
Assinto e Cherry também.
— Sempre! — minha prima e eu falamos em uníssono.
Cherry deita a cabeça no meu colo.
— Hoje ele disse que me ama — confesso e elas me olham
surpresas. — Não consegui responder, mas me senti tão feliz com o que ele
disse, que pensei que iria enlouquecer. Foi do nada!
Sorriem e acabo sorrindo também.
— Os melhores “eu te amo” vem assim, quando a gente menos
espera — Cherry diz.
— Está mesmo feliz, né? — Kris pergunta e assinto. — É, quando
me contou naquele jogo que estavam juntos oficialmente, eu sabia que algo
muito especial em você tinha mudado. Está um pouquinho mais madura!
— Ei! Eu sou muito madura!
Cherry desvia o olhar e Kristal ri. Começo a rir também e viramos
três boas risadas. Eles olham para fora e balançam a cabeça. Oliver faz um
sinal de que vai me matar e Tyron me ameaça com o olhar. Dois idiotas, no
final sabemos que quem os matará primeiro sou eu.
— Podíamos passar a noite todos aqui, conversando, aproveitando,
como nos velhos tempo! — Cherry propõe.
— Por mim tudo bem! — Kris responde animada.
— Malcolm vai aceitar, ele sempre faz o que quero! — Suspiro.
— Ele está mimando ainda mais ela! Na hora que ela causar danos
maiores do que ir parar na delegacia, somos nós duas que teremos que lidar
com isso — Cherry reclama.
— Deixa ela invadir o quarto dele pela janela, dizendo que é filme
de romance, que ele vai parar de ficar mimando-a — Kristal diz.
— Sou mimada mesmo, amo ter todos colados a mim, me mimando.
Me prendam por isso — revido e elas riem. — Ah, ganhei uma multa hoje!
Quem vai pagar para mim? Oitenta dólares!
— Pode esquecer!
Cherry se levanta e a Kristal me empurra do seu colo. Traíras da
pior espécie.
Retornamos para dentro da casa e me aproximo do Malcolm,
parando a sua frente, abraçando sua cintura com o rosto colado em seu
corpo. Ele passa um braço ao meu redor.
— Viemos propor de todos passarem a noite aqui. O que acham? —
Cherry indaga.
— Por mim tudo bem — Oliver diz. — Assim tenho mais tempo de
provar ao Malcolm que sou um amor e que foder a mim e o meu time no
último jogo, é uma péssima escolha. Que ele tem que tratar bem o
namorado da prima da namorada dele!
— Isso não vai acontecer — Malcolm diz. — Não misturo trabalho
com coisas pessoais! — Olho para ele. — Calada!
— Não sei se parabenizo o Malcolm por ter conseguido conquistar a
Vicky, ou desejo boa sorte — Kristal fala confusa.
Começamos a rir.
— Vamos ficar? — pergunto e ele assente. — Só precisamos buscar
as coisas na sua casa. Ah, Tyron e Oliver, preciso de quarenta dólares de
cada um — falo séria e as meninas balançam a cabeça chocadas.
Os idiotas pegam as carteiras jogadas na ilha e me entregam o
dinheiro, conforme me afasto do Malcolm.
— Para quê? — Tyron questiona.
— Não sei não, mas acho que caíram no golpe dela — Malcolm
comenta.
— Perfeito, minha multa será paga!
— Pegou dinheiro com a gente para pagar sua multa? — Oliver
questiona bem puto.
— Nunca confiem na Diablo. Acreditem em mim, isso é perigoso.
Quem mandou darem primeiro e perguntarem depois! — Coloco no bolso
da calça e Malcolm balança a cabeça. — Não me julgue, lindo. Eles que são
idiotas!
Cherry e Kristal gargalham.
— Não vai fazer nada? — Tyron pergunta ao Malcolm.
— Sou namorado, não o pai dela. E vocês deram o dinheiro sem
questionar. Se tem algo que aprendi nos últimos meses, é sempre questionar
tudo que se diz respeito a Vicky Foster!
Olho boquiaberta para ele. Que filho da mãe!
Os meninos ficam irritadinhos, principalmente com suas namoradas
rindo e indo para a sala.
— Vamos buscar nossas coisas? — pergunto ao Malcolm, que
assente. — Superem, pensem que estão ajudando uma boa amiga!
— Não somos amigos — Tyron revida.
— Nem você consegue acreditar nisso.
— Ela tem razão — Oliver fala e o amigo o olha sério. — Não
menti, cara!
— Vamos logo, antes que aplique mais golpes! — Malcolm segura
minha mão e sai me puxando, enquanto jogo beijinhos para os outros dois.
Pronto, um problema a menos. Minha multa será paga com a ajuda
que meus amigos ofereceram!
Seu cabelo está totalmente enrolado em minhas mãos, enquanto os
puxo forte, fazendo com que seu corpo se empine ainda mais na minha
direção. Ela geme bem alto no meio da sala. Está de quatro sobre meu sofá,
enquanto fodo sua bunda, sendo esmagado pelo seu ânus que me engole
todo.
É cedo, nem café da manhã tomamos ainda e ela já conseguiu me
enlouquecer, provocando-me e me deixando rendido como sempre.
Suas mãos amarradas para trás com seu próprio sutiã, enquanto a
tenho toda dominada por mim. Acerto sua bunda com a mão livre em um
tapa forte, marcando sua pele.
— MALCOLM! — Ela grita, só deixando-me com mais tesão
ainda. — MAIS FORTE! AAAAH...
— Cachorra safada! — Acerto outro tapa em sua bunda e ela grita
de novo. Levo a boca ao seu ouvido. — Não goza! Vai gozar com meu pau
na sua boceta, entendeu?
Ela choraminga e beijo sua boca.
— Eu vou gozar... Puta merda! Malcolm, por favor... por favor... —
Implora.
— Controla! — Acerto de novo sua bunda e ela geme manhosa. —
Não mandei me provocar enquanto eu treinava. Agora aguenta e rebola essa
bunda!
Ela começa a rebolar e porra, que delícia. Continuo movimentando-
me, entrando e saindo. Vejo sua boceta pingar e o gozo começar a escorrer,
com ela gemendo sem parar.
— Eu disse para não gozar agora, não disse? — Viro seu rosto para
mim, está vermelho, suado. — O que eu faço com você, garota? — Aperto
seu rosto e beijo sua boca deliciosa.
Tiro meu pau de sua bunda, retirando a camisinha e jogando no
chão. Sem demora, entro em sua boceta apertada que está pegando fogo e
engolindo-me tão bem, em um encaixe perfeito.
— Porraaa! — Gemo com a sensação.
Seus olhos marejam conforme vou socando dentro de sua boceta.
Solto suas mãos e ela agarra o sofá, os cabelos grudando em sua pele suada
assim como a minha.
— Você... Vai acabar comigo... Ain... Não para! — Abre mais a
pernas. Essa é a minha garota.
Meus movimentos não são calmos, são fortes, seu corpo balança e o
sofá arrasta um pouco. Saio de dentro dela, sentando-me nele e a puxo para
meu colo. Suas mãos apertam meus ombros e sua cabeça se inclina para o
lado, os cabelos indo junto, seus olhos presos aos meus.
Faço-a subir e descer, controlando os movimentos. Pego um de seus
seios com a boca e começo a mamar nele, chupando gostoso, fazendo
movimento de sucção. Seus lábios se entreabrem e ela fica com uma
expressão perfeita, de puro prazer, porque até fodendo essa mulher fica
linda.
Mordo o biquinho duro e ela geme mais alto. Vou para o outro seio e
sua sensibilidade nele deve estar maior, porque seus olhos voltam a marejar
e seus gemidos se tornam um choramingo safado, manhoso.
Agarro sua bunda sem largar seu seio. Suas unhas descem para o
meu peito, arranhando-me. A maluca se ajeita em cima de mim e começa a
subir e descer.
— Caralho! — Largo seu seio, jogando a cabeça para trás. O
barulho ao lado de fora entrega que o Ronald chegou com meu carro. Ela
para de se mexer e a encaro. — Não pare! Continue!
— Malcolm...
— Continua!
Ela concorda, voltando a quicar em meu colo, e isso me faz ir muito
fundo.
Ronald toca a campainha. Vicky começa a quicar mais rápido. Ela
geme alto e bato em sua bunda.
— Quieta!
— Malcolm... Malcolm... Meu Deus! — Se desespera.
Me aperta forte e meu pau pulsa. Suas pernas começam a estremecer
e seguro seu corpo com firmeza. Seus lábios se abrem quando o orgasmo
vem e minhas vistas embaçam com o que me atinge. De repente, tudo
parece silencioso ao nosso redor, então explodo dentro dela, puxando sua
boca para mim, devorando seus gritos, enquanto seus braços agarram meu
pescoço.
É como se eu ouvisse a campainha bem distante, mesmo que esteja
na sala. Continuo gozando, como se não tivesse fim. Seus joelhos tocam as
laterais das minhas pernas e continuo metendo nela, mais calmo agora.
Largo seus lábios, nossos olhares presos um no outro, meus lábios
entreabertos assim como os dela.
Ela desce o olhar e acompanho o movimento, vendo nosso gozo
vazar, de tão cheio. Esporro a última gota, sentindo-me enfraquecer de vez,
ainda dentro dela e perdidos nessa bagunça no meio da sala.
— Já vai — aviso ao Ronald, mesmo com a voz rouca, cansada.
— Me lembre de te provocar mais vezes — Vicky sussurra e sorrio
para minha linda.

Vicky foi para casa dela enquanto eu precisava resolver algumas


coisas de trabalho que infelizmente não dava para adiar. Após a noite
tranquila com os amigos dela e a manhã de sexo na sala de casa, estou mais
relaxado, então provavelmente conseguirei passar o dia sem matar ninguém.
Acredito que hoje ela ficará na casa dos pais, já que seus avós
chegaram de Malibu. Vicky é muito ligada à família, mesmo passando mais
tempo distante do que perto e isso é nítido. Eles são tudo para ela e sei que
minha maluquinha faria qualquer coisa por eles. Entendo isso porque
também sou essa pessoa.
Estou em um evento da nova coleção de roupas dos Red Fire, em
Los Angeles, mas retorno hoje mesmo a Palo Alto. Vim de carro, um pouco
mais que cinco horas para ir e voltar. Chegarei bem tarde em casa, mas só
preciso estar na minha cama. Não aguento mais hotéis e só quero ter que
ficar em algum, na final que será aqui em L.A, pois não tem jeito de fazer
bate e volta, e se possível, somente na próxima temporada.
Dessa vez eu trouxe o Francis comigo, porque quero ter mais
momentos com ele. Sei que está tentando, que aquela nossa conversa meses
atrás, despertou uma vontade de melhorar nele, e não quero vê-lo regredir.
Bebo o champanhe. O time reserva que veio para o evento, foi um
pedido meu ao Jimmy e ele conversou com o Drake, dono do time, para dar
essa chance aos meninos que não são os titulares, porque merecem esses
momentos também. Eles ficaram felizes quando o convite chegou e quando
me viram aqui, isso mostra o quanto são dedicados, o quanto amam o time e
merecem toda consideração também.
— Achei que traria aquela lá — Francis fala e o olho de lado.
— Vocês dois não têm jeito. Às vezes, parece que lido com crianças.
Ele sorri e bebe seu champanhe.
— Começamos a nos dar bem, mas jamais iremos ser cem por cento
amigáveis um com o outro. Acredite, ela é pauta em toda terapia minha,
porque ela consegue me irritar.
— Pior que não duvido que seja. E eu queria trazê-la, mas ainda não
podemos.
Ele concorda e confere a coleção de bonés.
— Ela fica chateada. Já vi algumas vezes durante a temporada. Deve
ser difícil mesmo ter que se manter escondida. Acha que desistiria se o fim
do contrato não fosse agora? — pergunta e me olha.
— Não. Eu não desistiria. Provavelmente eu ferraria as coisas ou
viraria o mundo em busca de brechas nisso tudo, mas não desistiria e não
permitiria que ela se prejudicasse.
— Mas ferraria tudo para si mesmo? — indaga e assinto. — Por
quê? A ama tanto assim?
— Não imagina o quanto. Passei anos pensando em um futuro, sem
encontrar a pessoa certa para viver comigo. Nesse tempo, construí tudo que
tenho e que sou. Eu amo o basquete, Francis, mas eu amo ainda mais a vida,
preciso viver e com ela isso acontece.
— Trocaria sua carreira por ela? — Franze o cenho e concordo.
— Minha carreira já viveu muitas coisas. Já ganhei tanto
profissionalmente. Mas quer saber? Não vale o preço de uma conquista
pessoal. Eu amo tudo que tenho e sou, mas depois que abandonei o esporte
como atleta, foi como anular um sonho, mesmo que algo bom viesse em
seguida, como veio. Essa sensação, viver com o “e se”, não recomendo a
ninguém. Não quero viver isso no amor, então sim, eu largaria tudo se fosse
a única solução para ficar com ela e não a prejudicar. Eu ferraria as coisas
para mim, porque já vivi tudo que eu queria como profissional, o resto é
consequência. Tenho trinta e sete anos, daqui a pouco quando menos
esperar, já estou com quarenta, é hora de desacelerar um pouco e aproveitar
o que construí. De que adianta ter tudo que tenho, se não aproveito e
compartilho com um alguém especial? Seus avós estão bem, você está
seguindo seu caminho, é minha hora de fazer o mesmo.
Termino meu champanhe e ele assente.
— Ontem, quando meu avô falou de casamento, ela se engasgou. Já
pensou que talvez ela não queira esse futuro? Não estou jogando
negatividade, só estou pensando. Porque do jeito que fala, a ama demais e
pensa muito nisso.
Respiro fundo e olho as camisetas na arara.
— Já pensei, mas tudo no momento certo. O que tiver que ser, será.
Penso sim em casar com ela, ter filhos, mas não é uma decisão somente
minha. Com ela, é tudo sempre uma surpresa e algo me diz que eu posso me
surpreender, mesmo que não saiba se positiva ou negativamente.
Ele concorda e me mostra uma camiseta. Falo que ele deveria levar.
Entrego a taça à moça que passa recolhendo.
— E quer um conselho, Francis? — falo, tirando um moletom da
bancada de madeira e conferindo. — Construa sua carreira, mas não se
esqueça da vida pessoal, para não ser tarde demais.
— Pareceu até a vovó dizendo isso.
— Ela sabe das coisas. Só não a deixe saber que eu disse isso!
Ele termina a bebida e sorri.

Estamos retornando para casa após algumas fotos na loja, um jantar


com o time em um restaurante e uma entrevista para uma rádio. O dia foi
bem agitado e tive tempo de encostar no celular só agora, já voltando para
Palo Alto.
São 20h, chegarei de madrugada em casa. Ronald ficou descansando
no hotel, pois já sabíamos que faríamos essa pequena viagem ainda hoje.
Francis está dormindo, enquanto confiro as ligações perdidas e as
mensagens da Vicky.
Ligo para ela enquanto observo a vista pela janela.
— Oi, lindo. Tudo bem? Estava preocupada.
— Estou bem, já a caminho de Palo Alto.
— Vai retornar hoje? Malcolm, vai chegar muito tarde aqui! Depois
daquela agenda enorme que mostrou que teria, deve estar esgotado!
Sorrio com sua preocupação.
— Ronald está comigo, ele está levando o carro.
— Por que não vieram pela manhã? Bem que dizem que quanto
mais velho, mais maluco vai ficando!
— Está me chamando de velho, Foster?
— Não mude de assunto! Vai chegar muito tarde aqui.
— Está tudo bem, minha linda. O que queria falar comigo?
— Eu só iria dizer que vou em casa. Meus avós fizeram diversos
dramas e ameaças para mim e a Cherry. Vamos passar a noite aqui.
— Tudo bem. Já imaginava. Quando eu chegar, te aviso, ok?
— Promete? Malcolm, por que é um careta teimoso? O que custava
ficar em um hotel?
— Prometo. Não se preocupe, está tudo bem. Ronald está bem
descansado.
— Dois teimosos.
— Nós estamos em três, se o Ronald cansar, tem eu o Francis, um
de nós dois pode dirigir. Ou o carro nos leva sozinho!
— Nossa que conforto saber que seu carro de playboy traz vocês!
Eu estava de dieta, agora me irritou e serei obrigada a comer os lanches
que minha avó está fazendo!
— Que dieta? Só não come as paredes porque não são feitas de
açúcar ou gordura!
Ela ri e esse riso é tudo para mim.
— Cuidado. Se cuida e me avisa quando chegarem!
— Tudo bem. Boa noite, linda. Amo você!
Desligamos a chamada e antes de guardar o celular no bolso, recebo
uma foto dela, com uma lingerie vermelha, bem sexy.

Vicky: Para te manter bem acordado e não deixar o Ronald dormir


no volante! Minha bunda e eu já sentimos falta dos seus tapas. Beijos,
treinador!

Fecho os olhos por alguns segundos e guardo o celular no bolso. Ela


me causa problemas cardíacos mesmo a distância.
— Quanto tempo ainda de viagem, Ronald?
— Melhor nem saber, senhor. Tem trânsito, algum evento nas
redondezas.
Nossa, que ótimo! Acabo de ativar meu humor de cão.
Estou em casa, família toda reunida desde ontem e isso significa o
caos do mais alto nível. Meus avós estão aqui em Palo Alto para alguns
exames do meu avô, coisa de rotina para sempre estar em dia com sua saúde
que tem melhorado cada vez mais. A Califórnia tem feito bem para ele.
Meus avós quiseram preparar o almoço de hoje sozinhos, não
deixaram ninguém ajudar, simplesmente nos expulsaram da cozinha e por
pouco não nos chutaram. Então nos reunimos na sala, já que está frio e
chovendo, e lá fora não seria opção.
Chamei o Malcolm para vir aqui e assim conhecer meus avós
pessoalmente, já que os viu apenas por chamada de vídeo. Não sei a hora
que ele vem, já que o doido chegou praticamente de manhã e estava bem
cansado.
Estico minhas pernas no colo da Cherry, enquanto minha mãe mexe
em meus cabelos, já que estou com a cabeça em seu colo. As três no mesmo
sofá e papai no sofá do outro canto da sala, tomando um vinho que pegou
na cozinha antes de ser expulso pelos sogros.
— Já que estamos parados aqui, nós temos algo para contar às duas.
— Mamãe começa e ergo o olhar para ela.
— Aconteceu algo sério? — Cherry pergunta, sua voz assustada.
— Não, meu anjo. Se acalma. Não é nada grave. Seus avós já
sabem, mas queríamos conversar com as duas e contar uma decisão que
tomamos depois de anos — meu pai fala, nos fazendo olhá-lo.
— Estão me assustando! — Franzo o cenho e Cherry concorda,
acariciando minha perna.
Notei eles meio inquietos desde ontem, mas preferi não falar nada,
pensando ser algo da minha cabeça, mas pelo jeito, não era.
— A Golden entrou em contado com a Foster’s Fitness, no caso,
comigo e com a sua mãe. Enfim, finalmente querem parceria conosco.
Depois de anos tentando, resolveram ceder — papai explica, mas seu tom
não é legal.
— Por que parece que isso não é algo bom? Não era o que tanto
queriam? — indago um pouco confusa.
Minha mãe acaricia meu rosto e olho para a minha prima me
encarando confusa também.
— Era, só que eles nunca quiseram nossa empresa quando não
tínhamos tanto reconhecimento assim pelos grandes esportes ou times.
Quando começamos a tentar buscar outras soluções, seguindo até um
conselho da Cherry, tudo mudou e para a melhor. Queríamos muito a
Golden, mas ela só nos viu quando outros viram, fora isso, nos ignoravam,
buscavam diversas desculpas, às vezes, nem tempo arrumavam para nós —
mamãe explica.
— Exatamente isso. Recusamos a oferta deles. Não por orgulho,
mas porque isso mostra que nossa marca não serve para eles, só querem
para competir com outros grandões que aceitaram. Zachary e Jayden nem
sequer vieram falar conosco, apenas mandaram terceiros. A oferta era
ridícula, com um contrato absurdo. Tem coisas que não vale o preço. O que
estamos conquistando com outros, tem tido um retorno maior e muito
melhor, ao ponto de termos conseguido doar equipamentos para uma ONG
que ajuda atletas com necessidade especiais e que precisam de apoio para
voltarem ao esporte e a viverem de novo pelos seus sonhos.
Sorrio e Cherry enxuga o rosto, chorona como sempre.
— Meu conselho foi tão bom assim? — ela pergunta.
— Claro, querida! Você ajudou muito, assim como a Vicky e meus
pais. Sempre nos apoiaram em tudo! Se estamos aqui, é graças a vocês —
mamãe diz e puxo a Cherry para cima de mim, abraçando a minha
garotinha.
— Se é isso o melhor, saibam que estou feliz e sei que a Cherry
também! — Ela assente em meus braços. — A Golden é incrível,
maravilhosa nesse meio, a maior, só que enquanto aqueles idiotas estiverem
no comando, ou não começarem a valorizar mais as pessoas e não apenas o
que elas têm a oferecer, vão perder muita coisa. Que bom que a empresa
está decolando. Isso mostra que nunca precisaram deles, só precisavam
abrir os olhos e enxergar além. — Sorrio.
Meu pai pisca para mim e jogo um beijo para ele.
— E isso nos leva a mais um ponto que queremos conversar —
papai diz.
— Deus, por que eu acho que agora é uma bomba? — falo e Cherry
concorda.
— Porque talvez seja um pouco — mamãe diz e sento-me, levando
Cherry comigo. Olhamos de uma para a outra e voltamos para minha mãe,
que continua: — Como sabem, sempre temos que resolver muitas coisas em
Los Angeles ou ir até Malibu para ter certeza de que seus avós estão bem. O
tempo de viagem de carro é sempre complicado e é a melhor maneira de
fazer isso diversas vezes no mês. Estamos tendo que marcar consultas
médicas aqui do avô de vocês, para ficar em cima, ver se está tudo correto,
porque o tempo entre aqui e Malibu em bate e volta, é horrível. E sabemos
que não dá para eles ficarem vindo sempre, é cansativo, eles não têm mais
idade para isso.
— Mãe, aonde quer chegar? — indago com um certo medo.
Ela suspira e olha para o meu pai antes de voltar a falar.
— Vamos vender essa casa e comprar uma em Malibu. Lá estaremos
perto dos seus avós, mais perto de Los Angeles, aonde sempre temos que ir,
agora lidando com tantos times e onde a distância para ir será muito menor.
Palo Alto tem ficado complicado para nós com essa rotina corrida.
Engulo em seco. Cherry me encara e levanto-me assustada.
— Eu cresci aqui, bem nessa casa. Cherry e eu crescemos aqui. E
tem meu trabalho aqui, a Kristal, a Cherry e... Eu estou desabrigada? —
Levo uma mão ao peito.
Cherry prende o riso e meus pais sorriem.
— Filha, sabemos que tem muito carinho por essa casa, mas vai
fazer vinte e oito anos. Tem seu emprego em um bom lugar, sabemos que
jamais iria conosco e deixar sua vida, só que nós precisamos ir. Sua mãe e
eu temos seus avós, temos nossos negócios... Agora que a Cherry está mais
crescida também, vivendo a própria vida, morando com o namorado,
abrindo uma empresa, e que você evoluiu tanto, profissional e
sentimentalmente, é hora de nós dois cuidarmos de nós, dos nossos
negócios e dar mais atenção aos seus avós, que tanto já fizeram por nós.
Balanço a cabeça assentindo.
— Em um curto período de tempo, conheço pessoalmente os pais do
meu namorado, descubro que ele literalmente virou um dos meus chefes,
ele revela que me ama, meus pais recusam a Golden, vão vender a casa e
estou desabrigada. Eu estou com medo do próximo minuto! — Caio sentada
na poltrona.
— Vicky, não está desabrigada. Eles nem venderam ainda, isso
demora — Cherry diz rindo. — Não venderam ainda, né? — Olha para eles
me fazendo olhar também.
— Então... Essa não foi vendida, mas já encontramos a que vamos
comprar em Malibu, colada a dos avós de vocês — papai fala.
— Então isso quer dizer que... — Começo, mas sou interrompida.
— Que esse será nosso último Natal aqui. Nos últimos meses,
estávamos resolvendo tudo e o corretor só está esperando que a gente saia,
para ele colocar essa casa à venda e a nossa nova casa falta assinar a
papelada, só que só faríamos isso ao falar com ambas.
— Eu estou desabrigada. Preciso procurar uma casa! Ah, estou feliz
por vocês e isso me trará ainda mais desculpas para fugir para Malibu e
buscar um bronzeado que nunca vem, sempre fico apenas vermelha. Enfim,
onde vou arrumar uma casa? — Cherry me olha animadinha. — Nem
pensar. Naquele condomínio eu teria que vender meus órgãos!
— Nós vamos te ajudar, filha. Acha mesmo que não sabíamos que te
pegaríamos desprevenida? Vamos arrumar um local para você. Podemos te
dar uma casa, ou apartamento, você escolhe...
— Pode parando, senhor Landon! Eu posso resolver isso. Sou
adulta, estudada, uma repórter foda e uma mulher mais foda ainda. E tenho
economias! — Me olham chocados. — É, sempre me julgam, mas sou uma
mulher responsável!
Eles riem, porque ninguém me leva a sério nesse inferno!
— Eram essas as notícias. Tudo bem com vocês? — mamãe
pergunta.
— Sim, tia! Estamos felizes, de verdade! Ah, e também tenho
novidade.
— Por Deus, chega de novidade! — Jogo a cabeça para trás e
coloco a língua para fora.
— Para de drama — papai fala rindo.
— Conte, querida! — Minha mãe pede à Cherry.
— A Maddy. J será anunciada ao mundo no final do ano e
provavelmente no segundo semestre do ano que vem começaremos a lançar
os primeiros produtos da linha inicial.
— AAAAA! — Salto da poltrona e me jogo em cima dela,
arrancando um gritinho da minha prima. — ESTOU TÃO FELIZ,
MASCOTEZINHA!
— Por que ela não fez isso conosco? — meu pai questiona.
— Será que é por que falamos em seguida que ela só terá onde
morar até o Natal? — mamãe responde com ironia e rio.
— ESTÁ ME ESMAGANDO! TIA MICHELLE, DÁ UM JEITO!
— Pede ajuda.
— Se virem as duas. Vou ver o que os dois estão aprontando na
cozinha. E, querida, estou muito feliz. Sua marca já é um sucesso!
— Sua tia tem razão, é um enorme sucesso! — papai completa.
Cherry tenta me empurrar e começo a rir, porque faz cócegas. Ela
me joga no chão e uma gargalhada explode de dentro de mim e ela entra no
mesmo ritmo.
Abro os braços no chão, meus pais indo para a cozinha. Aos poucos
vamos recuperando o fôlego.
— Cherry? — Chamo-a e ela pendura a cabeça para fora do sofá. —
Tudo mudou!
— Sim, e para a melhor. Todos nós seguindo nosso caminho, mas
sempre estaremos juntos!
Concordo e solto uma longa lufada de ar.

Malcom não veio para o almoço, mas prometeu que viria a parte da
tarde. Meus pais e meus avós conversam na cozinha, enquanto Cherry e eu
seguimos para a Kristal, para ficar um pouco ela.
Faço a Cherry passar pela abertura especial que fiz há muito tempo
entre os terrenos. Ela caminha na frente, resmungando que a fiz passar por
passagens assim, como se fosse um animal.
Entro com ela na casa dos Reed e os pais da Kristal não estão em
casa. Subimos direto para o segundo andar e impeço Cherry a falar, para
podermos assustar a Kristal. A governanta, Kássia, nos vê e ri quando peço
silêncio. Outra que já desistiu de mim
Paramos perto da porta do seu quarto e abro de uma vez.
— KRISTAL REED, ESTÁ PRESA POR ROUBAR MEU
CORAÇÃO!
— AAAAAAA! — Ela grita e tropeça, caindo da cama, que por
sinal, está bagunçada. — SUA FILHA DA PUTA! VICKY FOSTER, EU
VOU TE MATAR!
Ela berra nervosa e eu apenas gargalho da cena. Cherry corre para
ajudá-la.
— Eu tentei impedir, mas ela me fez ficar calada! — Ajuda a Kris se
levantar e a loira me olha como uma leoa prestes a atacar.
— Foi mal. Não resisti. Mas, poxa, fiz até uma declaração de amor!
— Ergo uma sobrancelha e sorrio maliciosamente.
Me aproximo delas, que se sentam na cama e me jogo em cima de
ambas.
— SAI DAQUI, SUA MALUCA! VICKY, VOCÊ AINDA VAI ME
MATAR!
— Não reclama, que vai sentir saudade. Porque em pouco tempo,
nem sua vizinha serei mais — falo e ela me empurra de modo bruto. —
Credo, anda lutando?
Cherry ri.
— Como assim? Que merda aconteceu? Vai casar? Malcolm te
convidou para morar com ele? Aquele filho da puta do Sparks não dá um
maldito primeiro passo quanto a isso, mas o Oliver que era um safado deu e
o Malcolm chegou ontem e já fez isso?
— Ai, temos confusão no paraíso. Guardem as facas, a louca está a
solta!
— Vicky! — Cherry me acerta na perna, e sorrio. — Não, Kris, não
tem nada isso. E as vezes o Tyron não fez, porque está esperando o
momento certo, ou porque ambos estão focados demais na carreira...
— Pela cara dela, não está ajudando, Mascotezinha — comento e
minha prima me olha feio. — Calei!
— Então, o que é? — pergunta curiosa.
— Longa história — comento e respiro fundo.
Começo a lhe contar tudo, e como provavelmente terei que ser
rápida para encontrar um lugar para mim.
Retornamos para casa e a Cherry foi tomar um banho para sair para
jantar com o Oliver, a Kristal e o Tyron. Dispensei, porque ficarei com o
Malcolm, que acabou de chegar em casa.
Ele agarra meu corpo, beijando-me do jeitinho que me deixa louca.
Estamos sozinhos na sala, então ele aproveita a oportunidade, agarrando
minha bunda e apertando forte, enquanto controlo o gemido que quer
escapar dos meus lábios.
Nos afastamos quando escutamos vozes vindo e vejo meus avós se
aproximando. Meu avô com uma caixa de ferramentas.
— Jesus! As portas do céu foram abertas e ninguém me contou?
Vejo um anjo e me sinto em pecado por achá-lo tão sexy!
— VOVÓ! — falo rindo e Malcolm ri baixinho.
— Estou aqui, Abigail — vovô diz enciumado.
— Eu sei, infelizmente eu sei, amor! — Ela dá tapinhas no braço
dele e ele acaba rindo. Ninguém controla essa senhorinha.
— Nossa, vovó, só se controla! Ok... Malcolm, esse são meus avós,
George e Abigail Weber. Já se conhecem virtualmente, agora é a vez de
fazer isso pessoalmente!
— É um prazer em conhecê-los pessoalmente. Vicky sempre os
elogia muito. — Ele se aproxima do meu avô primeiro, segurando a mão
livre dele e noto quando meu avô a aperta firme.
Minha família ainda me mata de vergonha.
Vovó literalmente coloca sua mão na cara dele, para que ele segure e
deixe um beijo. Cruzo os braços e balanço a cabeça negativamente.
— Sério, vovó?
— Querida, não é todo dia que vejo um namorado seu e que ainda
por cima, pessoalmente é ainda mais bonito!
— Não sei se gosto da Vicky e da Cherry namorando — meu avô
resmunga e me aproximo dele, abraçando-o de lado, na sua barriguinha
saliente.
— Deixe de ciúme! O senhor é o único homem da nossa vida! O
melhor do mundo! — Beijo seu rosto.
Malcolm sorri quando dou uma piscadinha para ele.
— Não quero roubar sua neta, senhor Weber. Não se preocupe.
Prometo cuidar bem dela.
— Claro que vai, ou eu te mato!
— Mata nada, homem. Travou a coluna tirando os matos da porta de
casa. Imagine brigando com esse gigante? Por falar nisso, não quer um
café? Uma torta? Estou achando ambos tão magrinhos! — Ela toca a
barriga dele e começo a gargalhar. Ela não vale nadinha.
— Vou divorciar dela!
— Fala isso todo dia, vovô, e segue louco por ela — falo e ele dá de
ombros. — Vovó, Malcolm não come doces. É insuportável!
— Eu como, só não na mesma quantidade que você. Alguém tem
que se cuidar, não é? — se explica e reviro os olhos.
— Pois vai comer sim. O que é isso de não comer?
— Querida, ele se cuida. Não passa fome. É diferente.
— Eu ouvi que ele não come, foquei apenas nisso. Vamos, vou
preparar algo para ele. Vai lá ajudar seu genro antes que ele derrube aquela
porta da lavanderia na cabeça dele e a Michelle termine de matá-lo!
Me afasto do meu avô e sorrio para ambos.
— Você espere aqui, vou trazer algo. Nada de fugir. Vamos,
querido! — Ela enrosca o braço no do meu avô e seguem para a cozinha.
Olho e rio.
— Deveria ser filha dela — Malcolm comenta e faço uma careta.
Sento-me no sofá e chamo-o para fazer o mesmo. Ele se senta ao
meu lado e me puxa para seus braços, me beijando de novo.
— Muito cansado? — pergunto e ele nega. — Sua cara entrega que
está. Falta pouco para a final. Está chegando.
Ele concorda e acaricia meu rosto.
— Tudo bem por aqui? Existe um vinco de preocupação entre suas
sobrancelhas.
Sorrio e brinco com o botão da sua camisa preta por baixo do casaco
da mesma cor que usa.
— Comidas e sexo vão resolver! Por falar nisso, estou morrendo de
fome.
Ele sorri e balança a cabeça.
— Sempre está com fome, só que ultimamente isso está mais forte.
Olha que posso começar a desconfiar que está grávida, amor. Fome
exagerada, cansada, desejo sexual mais aflorado...
— Sobre isso... — Ergo o olhar e seus olhos fixam nos meus,
começando a brilhar. — Não estou, nem adianta se animar. Isso é
ansiedade, não vejo a hora de podermos parar de esconder tudo. Falta tão
pouco, mas ao mesmo tempo parece que está tão distante. Não aguento
mais ficar vivendo com medo, sabe? Isso está me deixando louca. No
momento, meio que espero de tudo, inclusive se eu estivesse grávida, nem
isso me espantaria mais, é tanta coisa acontecendo...
— Ei... Calma. O último jogo está vindo e então será o fim do
contrato. Eu sei, é sufocante, mas isso vai passar — fala e concordo. —
Então a Vicky Foster não se apavoraria se descobrisse estar grávida? —
brinca e sei que para distrair minha cabeça.
— Nessa altura do campeonato? Não. E sabe que isso é até
engraçado? Até ontem, eu não queria nem pensar em namoro e agora, a
possibilidade de engravidar, não me assusta mais. Mas acho que sei o
motivo.
— E qual é? — Beija a pontinha do meu nariz e me sinto uma idiota
por me derreter por isso.
— Porque seria um filho seu, e sei que cuidaria muito bem dessa
criança, que seria um pai incrível. Acho que quando temos em quem
confiar, o que antes era o medo, vira uma escolha entre querer ou não, e um
espanto menor caso aconteça de um jeito inesperado. Não existe pressão,
medo, só escolhas acompanhadas de uma paz em saber que se acontecer,
não estarei sozinha, entende? Não, né? Confuso? Eu sei, é que estou
cansada. Meus pais me deixaram louca com tanta informação hoje.
Ele sorri e assente.
— Eu entendi, linda. E o que houve com seus pais?
— Em resumo: negaram parceria com a Golden e até aí tudo bem,
porque a cara quebrada do Zachary e do Jayden é minha paz, pode me
julgar. Mas também contaram que vão comprar uma casa em Malibu, perto
dos meus avós, enfim, esse será nosso último Natal aqui. Terei que começar
a procurar uma casa com urgência, antes que eu me torne uma desabrigada.
Ele começa a rir. Que ótimo, minha vida maluca anima o
estressadinho.
— Ou pode respirar, porque sabe que pode vir morar comigo.
— Sei? — Franzo o cenho assustada. — Malcolm, você
enlouqueceu?
— Talvez sim, desde o dia em que te beijei pela primeira vez.
Franzo ainda mais o cenho.
— Ok... Vou levar isso como elogio e declaração de amor!
Aperto seu rosto e o beijo.
— Não está mesmo? — diz entre o beijo.
— Não, seu louco!
Ele ri e começo a rir também.
— Malcolm, por que não me falou sobre a Sport? Virou um dos
sócios — comento e ele sorri.
— Porque era para ser surpresa, minha linda.
— E foi. Acredite nisso. Malcolm, se fez isso por causa do que
aqueles dois fizeram, eu...
— Ei, para com isso. Eu não fiz apenas por isso, mas por acreditar
naquele jornal, e que as mulheres ali merecem mais valor, coisa que com
aquela turma antiga, nunca aconteceria. Não é para ter controle sobre você,
sobre tudo ou o que estiver passando negativamente por essa cabecinha. Fiz
por que sabia que era a coisa certa.
Respiro fundo e torno-o beijar. Sempre achei loucura conseguir se
encantar cada vez mais por alguém, mas com ele isso acontece todos os
dias.
FINAL DA WORLD GOLDEN JUMP

Estamos na Crypton Arena para o jogo final, com os dois times que
mais lotam esse lugar, os Tigers e os Red Fire. E parece que sou a única
tranquila quanto ao jogo, já que a família Reed e Sparks estão
enlouquecendo dentro da quadra, esperando o jogo começar, além disso,
Cherry e Kristal estão bem ansiosas também. Minha única ansiedade para
hoje é outra, isso vale mais do que qualquer outra coisa nesse momento.
Não sei como irei cuidar do meu trabalho, porque estou muito
atrapalhada, contando cada maldito segundo para o final disso tudo.
Encontro as meninas no corredor da arena, vendo os pais do
Malcolm entrarem na sala de descanso. Parece que todos resolveram vir
para me deixar ainda mais ansiosa, porque meus pais acabam de chegar
também, vejo-os entrando na mesma sala com os Bell. Pelo menos vão se
conhecer de vez agora.
— Vicky, respira. Está nítido que está nervosa. Você que deveria
estar nos acalmando hoje! — Kristal agarra meu braço.
— No momento, eu só penso no final do contrato e saber que o
Zachary e o Jayden estão aqui, não ajuda.
— Vai dar tudo certo. Serão livres depois de hoje.
— Cherry, mas e se eles foderem a vida do Malcolm? Porque vão
saber que as suspeitas eram reais — resmungo.
— Malcolm saberá lidar com isso, não entra em pânico! E outra,
vocês honraram o contrato, a partir do momento que não ficaram se
exibindo em público e milagrosamente nada vazou à imprensa ou se
espalhou na boca dos tabloides — Kris diz e respiro fundo.
— Ela tem razão! Sonhava com esse dia e ele chegou. Vai viver sua
felicidade e deixem que pensem qualquer coisa. O contrato não existirá
mais. Ninguém vai prejudicar ninguém, ou eles já teriam arrumado um jeito
para fazer isso — Cherry fala e assinto.
— Vocês têm razão. Estou sendo idiota. Vamos incomodar os
meninos antes do jogo. Vou aproveitar que irei cobrir apenas as entrevistas
finais, o Francis fará os intervalos. Vamos!
Elas concordam e ergo a cabeça, enquanto caminhamos em busca
deles.

Nos informam que ambos estão no vestiário dos Tigers então é para
onde vamos.
O vestiário está aparentemente vazio, os jogadores devem estar
espalhados pela arena.
Entramos em silêncio olhando uma para a outra, já que não vemos
eles. Paramos na porta do local dos chuveiros onde a porta está entreaberta
e escutamos as vozes. Paro ambas que vão falar, quando algo chama a
minha atenção na conversa dos dois.
Elas aproximam mais o rosto da porta assim como eu.
— E nada da nossa aposta no ano passado. Lembra? Segue firme
com ela, Sparks? Por isso não deu nenhum passo a mais com a Kristal?
Medo de perder — As palavras do Oliver me deixam em alerta. As meninas
me olham confusas.
— Claro que não. Mas você parece estar se controlando, já até
chamou a Cherry para morar com você. Porque não casa logo? Medo de
tatuar meu nome?
Levo uma mão a boca.
— Deixa de ser idiota! Claro que não. Vai acontecer, no momento
certo. O único aqui que parece com medo de perder a aposta é você. E
agora temos um detalhe, apostamos quem casaria primeiro, só não
contávamos com a Vicky namorando. E se for ela, como ficará? — Oliver
indaga.
Abro a porta de uma vez e ambos nos olham assustados. Oliver
termina de amarrar o tênis e os olhos entregam o medo de termos ouvido.
Nós três cruzamos os braços, encarando-os.
— Deixa eu ver se entendi bem, meninas... Eles apostaram quem se
casaria primeiro, aí o primeiro a se casar, perderia e teria que tatuar o nome
do outro. Foi isso mesmo? — Kristal pergunta e assinto balançando a
cabeça e semicerrando o olhar para as duas girafas.
— Entendi o mesmo. De repente, nossos relacionamentos viraram
parte de uma aposta feita pelas nossas costas — Cherry diz.
— Meninas, podemos explicar. Era só uma brincadeira, e... —
Oliver tenta, mas nego com a cabeça.
— Se eu fosse vocês, nem tentaria explicar, será pior — digo e elas
concordam.
— Então é por isso que em dois anos, rumo a três, nunca mais falou
sobre um futuro comigo? Sem pressão, mas nem no assunto toca mais —
Kristal fala com o namorado.
— Claro que não! Ficou louca?
— Ain... Eu não falaria isso! — Faço uma careta. — Perguntar se
ficou louca? Uma bola bem fora da cesta, Sparks!
Ela me olha feio e sorrio com ironia.
— E você, Oliver, por isso falava tanto que o Tyron tinha que tomar
a frente de mais um passo com a Kristal e dizia que era preocupação de
irmão, com medo dele só a enrolar por anos? — Cherry questiona e ele
nega em câmera lenta. — Vai negar que ficou falando disso nos últimos
meses?
— Tudo isso para que o Tyron perdesse? E aí o Tyron não falava
mais nada sobre um futuro comigo, por medo de perder?
— Kristal, eu acho que ambos empacaram com vocês por medo, são
orgulhosos, não iriam querer perder — comento e elas concordam.
— Dá para parar de colocar lenha nessa fogueira, Diablo? — Oliver
diz nervoso.
— Não fui eu que fiz a merda. O que é bem assustador!
— Por falar nisso, estou curiosa agora. E se a Vicky acabar casando-
se primeiro, o que aconteceria? Ambos perderiam? Não pensaram nisso,
não é? Porque são dois idiotas — Kristal fala e eles se entreolham,
caladinhos.
— Eu tenho uma solução! — Ergo o dedinho e elas me encaram.
— Vicky... Olha lá o que vai aprontar! — Tyron diz entredentes e
sorrio diabolicamente.
— Estou até com dor de barriga! — Oliver diz nervoso.
— Diga, Vicky — Cherry diz e os olha de lado.
— Já que ambos aprontaram e a aposta renderia uma tatuagem...
Acredito que depois disso, ambos deveriam tatuar a inicial dos nossos
nomes bem no peito, o que acham? E eu no lugar das duas, daria um castigo
de três semanas sem sexo e ainda faria questão de usar uns brinquedos
eróticos pertinho deles, só para enlouquecê-los.
— Ficou louca?! Você nem foi citada nessa merda! — Oliver
enfurece e começo a rir.
— Gostei... Ela não foi citada, irmãozinho, mas vejam só, ela pode
ser quem vai fazer ambos perderem!
Isso me traz um friozinho na barriga que tento controlar de forma
inútil.
— Perfeito para mim — Cherry concorda.
— Vão concordar com a loucura dela? Foi uma aposta inocente e
nada disso afetaria nossos relacionamentos! Foi algo idiota entre amigos!
— Tyron tenta argumentar.
— É melhor irem se preparar para o jogo. Irei procurar um lugar
especial aqui em Los Angeles para essa tatuagem. Nunca aposte nada dos
nossos relacionamentos, e se fizerem, é melhor não serem burros ao ponto
de falarem disso em um lugar em que seriam pegos — Kristal diz e
concordo.
— Vocês realmente foram ridículos! Vão logo para a quadra! —
Cherry resmunga e mordo o cantinho da boca vendo os dois passando por
nós putos.
Eles saem e a porta se fecha sozinha. Olho para elas e levamos
alguns segundos para começarmos a rir, pedindo silêncio uma para a outra.
Olhamos para a porta e nada deles.
— A cara deles! Ficaram assustados. Que dois idiotas. Como
apostam isso sem pensar que você poderia se casar primeiro? Que burrice!
— Kristal fala e concordo.
— Quase dois metros de altura e não conseguem explicar o que
aprontam. Meu Deus! — Cherry diz.
— No final, terminará com eles de joelhos implorando para que se
casem com eles, só para não passarem três semanas lidando com as
provocações sexuais! Algo me diz que isso afetou mais!
— Sim — elas respondem rindo.
— Vamos! Temos que ir para os nossos lugares.
— Como conseguimos nos manter sérias? — Cherry questiona.
— Um milagre — respondo e voltamos a rir.

Estamos as três sentadas juntas. Nossas famílias estão do outro lado,


bem pertinho do Zachary e do Jayden. A torcida como sempre, está bem
agitada e minhas meninas não são diferentes, estão ansiosas. A Kris mal
consegue manter seu lado profissional, não está neutra, é nítido que está
morrendo por ambos os times.
Do meu outro lado está Ronald, eu o trouxe para cá, o coitado
merecia ver o jogo daqui da primeira fileira. Ele me olha e sorri
amigavelmente, retribuo o gesto. Seu chefe está quase morrendo, nervoso,
agitado, gritando muito com o time, com a ajuda do Elliot que está lado a
lado dele.
Jamal, capitão dos Tigers, está com a posse de bola e marca três
pontos, fazendo a torcida gritar e o mascote do time agitar ainda mais ela.
Estamos no tempo final e não consigo imaginar quem vencerá, porque estão
muito colados nas pontuações desde o início da temporada e agora no jogo
final também.
Tyron pega a bola do Kylo, camisa 17 do time adversário, que havia
pegado a bola após a cesta do seu capitão. Sparks bate ela no chão,
desviando de um jeito muito surpreendente do Oliver, que tenta bloqueá-lo,
mas Killiam o protege e Tyron arremessa, marcando dois pontos.
Olho o marcador, porque ele não ditará apenas o jogo, mas os
minutos para esse contrato terminar. Depois que ele encerrar e eu cobrir as
entrevistas, acabou, literalmente acabou tudo.
Alfred pega a bola, mas a perde para o Wilder dos Tigers que a toma
de um jeito único, mas Alfred recupera a bola, a torcida grita, um coro de
“vai, vai” começa, ele passa pelo Alec, dos Tigers, desvia do Oliver e marca
um ponto. Os meninos dos Red gritam, e os reservas comemoram também.
Olho para o Malcolm, que está com uma mão no bolso, na outra
mão ele mantém a prancheta. Ele me olha por um instante e é como se o
mundo congelasse. Eu pensava que isso era mentira, mas sinto isso. Ele
discretamente mostra o relógio e entendo o que quer dizer. Desvio o olhar
tentando controlar o sorriso.
— Vai, Olie — Cherry diz e a olho sorrindo. — Droga, olha em que
me coloquei. Me sinto mal torcendo pelo meu namorado quando o Ty
também está jogando!
— Bem-vinda ao lado complicado dessa relação — Kristal fala sem
tirar os olhos da quadra. — CARALHO, JAMAL, PRECISA DERRUBAR
ASSIM O TYRON?
— Se controla, maluca — falo, cutucando a doida que dá de ombros
e a Cherry ri. Olho para o Ronald que nos olha rindo. — Se acostume e
esteja preparado caso os seguranças tentem tirar ela, proteja minha amiga.
— Sim, senhora — ele diz rindo.
— Torce para quem?
— Sou torcedor dos Alligators, só não deixa o meu chefe saber
disso.
Começo a rir e concordo.
Tanner está com a bola e tenta uma cesta, mas falha, levando bronca
do Tyron por alguma coisa. Oliver passa pelo Sparks, o empurra com o
ombro e o camisa 14 dos Red o olha de lado tentando ser sério, mas acaba
rindo. Não tem jeito, rivais na quadra, mas sempre amigos e isso é acima do
esporte.
Ajeito minha saia preta, ansiosa para esse tormento acabar logo.
Ronald me oferece seu casaco para colocar sobre as minhas pernas e
agradeço seu gesto. Cubro-as para evitar mostrar demais, já que não paro de
mexer as pernas.
Oliver marca dois pontos em um piscar de olhos e isso me faz olhar
o marcador. O friozinho na barriga cresce ainda mais quando vejo que
faltam minutos para o jogo acabar.
A torcida começa a ficar de pé, Malcolm dá seu último grito com o
time, porque Zion está com a posse de bola e ele passa para o Tyron, o
marcador está à frente, se eles conseguirem quatro pontos, ganham. Tyron
arremessa, meu braço é apertado pela Kristal e o dela pela Cherry. Dois
pontos a mais. Oliver pega a bola rapidamente, tenta passar pelos Red, mas
perde ela para o Killiam, que tenta desviar e precisa do Tyron para ajudá-lo,
esse vem protegido pelo Tanner, que tem o Alf na sua cola. Alec e Jamal
dos Tigers tentam proteger o amigo, Killiam precisa arremessar ou repassar
a bola, e ele repassar para o seu capitão. O camisa 14 não pensa muito, ele
gira e faz o que tem que ser feito.
Tudo fica em silêncio, até explodir em gritos e a arena tremer pelos
pulos das pessoas. Oliver pula em cima do amigo, sem se importar de não
ter tido seu time campeão esse ano, porque é visível que ele está feliz,
quando fica grudado no amigo igual um macaquinho.
Os reservas dos Red se misturam na bagunça em quadra, puxando o
Malcolm e todos os outros do time para perto deles. Meu coração se agita
com a cena, porque sempre achei linda a final da Golden, porque é nítido
que mesmo com a tristeza para aqueles que perderam, existe a paz do
retorno para casa depois de meses sem saber o que é isso de verdade.
— Droga, vou esquecer por alguns minutos a porcaria da aposta, só
para beijar esse idiota — Kristal diz, nos fazendo rir. — Mas sem sexo!
— Kristal, fala baixo! — Cherry fica vermelha e rio mais ainda.
Elas me olham, enquanto os meninos começam a desviar da
bagunça e vir até a nós.
— É o seu final feliz. Vai, agora você é seu próprio marcador, minha
prima. Termina esse trabalho e encerra esse contrato.
— Mas...
— VAI, VICKY. VAI. OS MENINOS VÃO ENTENDER SUA
FUGA! CORRE! — Kristal me empurra do assento.
Olho para elas e entrego o casaco do Ronald.
— Vai, senhorita! — Até ele.
Os meninos se aproximam e me olham.
— Amo vocês e parabéns! — Jogo beijos para eles e saio rápido.
Procuro pela equipe para começar logo com isso. Meu coração
parece que vai explodir.
Retiram os pontos do meu ouvido e entrego o microfone, após
entrevistar o Jamal e Killiam. Foi rápido, final da Golden é muito corrido
para os jogadores, tem muitas entrevistas, coletivas, tudo além do comum.
Me aproximo do Sawyer, Claire e Francis.
— Como foi? Senti que estava meio nervosa e...
— Acabou, garota! Está livre, esquece o trabalho. Passou os últimos
meses lidando com tantas coisas, vai viver — Sawyer diz e sorrio sem jeito.
— Ele tem razão, Vicky. Foi perfeita, como sempre. Atormentou os
jogadores, Jamal quase te matou, e agora acabou. Vai fazer suas coisas, a
gente termina tudo aqui.
— Eu preciso enviar umas coisas a Jennifer e...
— Vai! Eu cuido de todo o resto — Francis diz, nos fazendo olhá-lo.
— Tem certeza?
— Se não for agora, não darei uma segunda oportunidade. Vai logo,
menina — ele diz.
— Ok, gosto de você sessenta por cento agora! Obrigada! — Sorrio.
— Se me chamar de tia, eu te mato! — Aponto o dedo para ele, que me
olha feio. — Ok, estou indo. Mas assim, posso desistir? Acho que vou
vomitar!
— Vai logo, Foster — os três falam nervosos e concordo.
Credo, que gente mais sem paciência!
Saio de perto deles, desviando de várias pessoas para procurar o
Malcolm. Retiro o celular do bolso, esperando uma maldita mensagem que
parece nunca chegar. Entro na quadra, está vazia agora, bom, quase, porque
Malcolm ainda está nela. Ele e mais algumas pessoas.
Meu celular vibra e vejo a mensagem, sentindo minhas mãos
gelarem:

Jennifer: Parabéns! Foi ótima nessa entrevista final. Acabou,


Vicky. O nosso contrato acabou. Nosso último trabalho foi feito. Parabéns a
você e a toda equipe.
Solto uma lufada forte de ar. Parece que o mundo saiu das minhas
costas. Eu nunca pensei que me veria tendo que lutar contra meu trabalho
para manter minha sanidade intacta.
Caminho com calma pela quadra. Malcolm para de conversar com o
Drake, dono do time. Jimmy, Elliot e Ashton que estão perto deles, olham
quando o Malcolm se vira.
Ele leva as mãos ao bolso da calça.
Paro a sua frente, guardando o celular no bolso detrás da saia.
Ele me encara profundamente, soltando uma lufada de ar.
Cruzo os braços e mordo o cantinho da boca.
Ele se mantém sério, mas seus olhos mostram que só é farsa.
— Acabou — falo baixinho.
— Acabou, Foster.
— É o fim do contrato. — Minha voz sai trêmula.
— É o fim do contrato.
— E agora? — Engulo em seco e ele deixa um sorriso escapar.
— E agora? Deixe-me pensar... Meu time ganhou e esse maldito
contrato encerrou. Só penso em uma coisa.
Meu coração parece que vai explodir.
— E o que seria, treinador Bell?
— Prefiro mostrar!
Retira as mãos do bolso e me puxa com força pela cintura, sem se
importar que tem algumas pessoas presentes. Apoio as mãos em seus
ombros, minha respiração está agitada com sua pegada e a ansiedade.
— M-mostrar? — Me atrapalho um pouco e ele assente.
— É, Vicky... Mostrar!
E pela primeira vez em meses, ele me beija em público, onde a
imprensa pode nos ver e o mundo pode saber de tudo. Sinto minhas pernas
bambearem, mas sei que ele não me deixaria cair, porque ele me manteve sã
esses meses inteiros, protegendo-me e cuidando para que me sentisse
amada.
Escuto uns gritinhos e sei que são minhas meninas e provavelmente
familiares, que amam me fazer passar vergonha. Os assobios, com certeza
tem relação com os meninos e o time dos Red Fire, que não perderiam a
oportunidade de atormentar seu treinador.
Só que alguém pigarreando é o que nos faz afastar os lábios.
Malcolm me mantem firme ao seu lado, quando vemos de quem se trata. Os
dois, Zachary e Jayden.
— Acho que temos um problema enorme aqui — Jayden diz
nervoso.
Fecho os olhos por alguns segundos e quando Malcolm vai
responder, o impeço.
— Não. Não temos! É o fim do contrato. Conseguem provar que
isso acontecia antes? — Eles me olham com raiva. — Não. Como eu já
imaginava. Essa maldita regra era durante o contrato, mas ele acabou,
Zachary e Jayden. Então, não, nós não temos um problema!
Escuto Kristal gritar “Essa é a minha garota!”.
— Vocês dois andam brincando com fogo. Me admira muito
insistirem em nos ameaçar!
— Espera... Quem está ameaçando o quê, Jayden? — A voz do
Drake, dono dos Red surge ao nosso lado. — Que tom é esse que estão
falando com o meu treinador? É desse modo que tratam minha equipe
quando não estou presente? É esse o respeito que dizem ter pelo meu time?
Ergo a sobrancelha e Malcolm me aperta ainda mais para si mesmo.
— Drake, você não tem ideia do que... — Zachary tenta falar.
— Agora entendo o porquê tantos times estão de saco cheio disso.
Vivem por ameaças e isso acaba de se confirmar diante dos meus olhos. É
esse o respeito que pregam? — Drake Grant é firme. — Primeiro, quiseram
convencer a mim e ao meu time que o melhor era o Tyron fora, e depois
tentam me fazer acreditar que o Malcolm deveria ser substituído. Estou
começando a pensar que a Golden que precisa se explicar!
— Não faz ideia do quanto, Drake! — Malcolm afirma. — Acredito
que sendo um homem de respeito e que gosta de tudo às claras, vai adorar
ter uma conversa com outros e inclusive comigo sobre algumas coisas!
Sorrio animada, vendo os dois idiotas sendo desmascarados.
— Eu vou adorar essa conversa! — Gregory Haddock, dono dos
Tigers aparece do nada, acompanhado do Conrad Allen, gerente do time.
Olho para onde vem os burburinhos e é a imprensa em peso, porque
nos tornamos um espetáculo. Vejo minha família, as meninas e os meninos.
— Acho que está realmente na hora, de conversarmos seriamente
sobre muita coisa! — A voz que surge no meio da imprensa, faz todos
olharem. — Como a dona do principal jornal que carrega a Golden, é hora
de começarmos a colocar ordem em algumas coisas, não acham, Zachary e
Jayden?
Jennifer veio! Isso está melhor que o retorno do Justin Bieber aos
palcos!
Os dois velhos ficam em um beco sem saída, porque o império que
construíram começa a cair bem na cabeça deles. Ergo o olhar para o meu
gigante, porque agora tenho um e ele pisca para mim, e inferno, eu suspiro
por piscadinhas. Eu suspirava apenas por fritas, hambúrguer e todas as
minhas guloseimas!
Poucos meses após a final da World Golden Jump...

Entro em casa, totalmente atrapalhada com as inúmeras pastas que


carrego. Só pode ser castigo, porque a Jennifer me jogou na mira dos lobos
e me colocou para trabalhar com a porra do futebol americano nesses jogos
livres deles, porque o filho da mãe do Francis de repente teve uma forte
gripe.
Engraçado que o vi ontem e estava ótimo. Nós moramos no mesmo
condomínio, porque sim, eu aceitei o convite do Malcolm para morarmos
juntos e decidi isso quando passamos o Ano-Novo na casa dos meus pais
em Malibu, com nossas famílias e a família Reed. Lá, tomamos essa
decisão oficialmente, então terminei de tirar minhas coisas da antiga casa e
corri para cá, já que meus pais tinham somente até depois das festas para
entregar as chaves ao corretor, foi o máximo de tempo que ele conseguiu
segurar.
Enfim, Francis é um idiota. Retiro toda e qualquer porcentagem em
gostar dele, não dá, ele é insuportável. E o tio dele não compra essas brigas
mais, manda nós dois resolvermos.
Estou com ódio do Malcolm também, ele fala que me ama, me
mima, mas não me defende quando o sobrinho inventa gripe durante meus
dias livres pouco antes da nova escalação para a Golden? Inferno.
Estou ansiosa para saber quem será escalado, porque Zachary e
Jayden se queimaram demais após a final, além das denúncias anônimas de
várias mulheres sobre tudo que passaram nas mãos deles. Estão cheios de
processos e dizem que não dão as caras mais à frente dos negócios,
terceiros lidam com isso. Eu queria muito retornar só para rir de pertinho
dessa situação e me informar melhor com os fofoqueiros dos corredores.
A casa está silenciosa, o carro do Malcolm não está aqui, então deve
estar na rua. Deveria estar aqui para escutar meus dramas, já que Cherry
está na correria para o lançamento da sua marca que será no dia do seu
aniversário, daqui alguns meses, e Kristal está em Los Angeles a trabalho.
Eu preciso desabafar do quanto sinto vontade de quebrar o pescoço do
sobrinho do meu namorado.
Abro a porta do nosso quarto e me assusto com a figura do Malcolm
parado perto da janela. Esse homem parece assombração, Jesus!
Deixo as coisas sobre a cama, onde meus olhos focam nas duas
sacolas, uma da Louboutin e outra da Prada, e na frente delas um buquê
lindo de rosas vermelhas, além de uma caixa média de donuts.
Franzo o cenho, tiro meu sapato e deixo as minhas coisas sobre a
cama. Malcolm se vira na minha direção e fica me encarando com uma
carinha suspeita.
— Achei que não estivesse em casa, seu carro não está aqui.
— Deixei na revisão.
Assinto, desconfiada do que esteja acontecendo.
— É... O dia foi longo, seu sobrinho aprontou de novo e começo
achar que você também! — Coço a nuca e ele sorri de lado. — Malcolm, o
que você aprontou? Se foi algo sério, fale de uma vez, eu aguento, eu...
— Casa comigo?
— Eu aguento qualquer coisa e... O que você disse? — Engulo em
seco, sentindo uma leve fraqueza nas pernas. — Acho que ouvi errado.
— Não ouviu. Casa comigo? Eu quero passar segundos, horas, dias,
semanas, meses, a vida ao seu lado, tendo você como minha mulher, só que
oficialmente. — Ele começa a vir na minha direção, porque eu mesma
esqueci como que anda. Eu sei andar? — Vou perguntar de novo. Casa
comigo, Vicky Foster? — Está paradinho na minha frente e do seu bolso sai
uma caixinha branca que com uma facilidade admirável, ele abre com
apenas uma mão, revelando o anel bem brilhante, nada discreto
Olho do anel para ele, pensando que poderia desmaiar agora mesmo.
Vamos fazer um ano juntos em breve, começamos a morar juntos tem
alguns meses e ele simplesmente quer casar? Ele quer me deixar maluca,
claro que quer. Porque ele sempre apronta algo para me deixar assim sem
jeito!
— Malcolm... Isso é algum esquema de pirâmide?
— Como é? — Franze o cenho. Minha respiração está muito
agitada. E eu achando que o Francis me mataria primeiro.
— Isso mesmo que ouviu. Primeiro surge no meu caminho naquele
dia da batida dos carros, depois me beija como um doido naquele evento, e
em seguida me fode em um estacionamento. Logo depois começamos a
trabalhar juntos. Você me conquista de vez, me faz quebrar as barreiras
internas e aguentar aqueles velhos idiotas, para poder assumir nossa
relação, que por sinal deu muito o que falar na internet e ainda causa muitos
surtos. E aí me convence a morar com você e agora me pede em
casamento? Isso é algum esquema de pirâmide para me fazer ficar rendida
eternamente a você?! Responde! — Minha voz está alterada, nervosa.
— Vicky... Amor, eu...
— EU AMEI, MESMO SE FOR UM ESQUEMA! ISSO É A
COISA MAIS ANIMADA DESSA SEMANA QUE QUASE FUI PRESA
DE NOVO, PORQUE O FRANCIS E AQUELE GUARDA DA PORTA
DO JORNAL QUEREM ME ENLOUQUECER!
Pulo em seu colo e ele me agarra.
— Isso é um sim? Estou muito confuso agora!
Começo a rir e beijo sua boca, antes de me soltar dos seus braços e
andar de um lado para o outro, sentindo-me muito agitada, animada, uma
coisa louca.
— Nada de cerimônia grande. E quero me casar em Malibu. Ah, por
favor, não espere que eu me vista como uma princesa, isso é demais para
mim. Meu vestido será sexy sem ser vulgar, prometo. — Fico pensativa e
olho para ele, que me encara como se eu fosse louca. — Malcolm, temos
que pensar nas comidas, isso é a parte mais importante. Sem saladas, suco
verdes e essas coisas esquisitas que consome todo dia, ou ficarei viúva,
estou falando sério! Já basta me fazer comer essas coisas em casa. Sinto
aquele suco verde desde o dia que me fez tomar, na semana passada. Estou
traumatizada. Ah, o bolo, eu amo bolo. Três, quero três estilos de bolos... —
Ele se senta na cama. — O que foi?
— Você aceitou?
— Está desistindo? Você não é louco de desistir agora. Eu já disse, é
a coisa mais feliz dessa semana. Eu nem pensava em me casar e desde que
nos conhecemos, comecei a pensar em vestido branco e bebês chorões. Ah,
por falar nisso, fiz um teste de gravidez ontem porque estou atrasada e
esqueci de falar, mas deu negativo. Fiz cinco no caso.
—O que? Vicky! Respira! — ele fala mais alto agora.
— O que foi? — Me sento em seu colo e pego o anel da caixinha,
colocando-o em meu dedo. — Estou noiva! — Meus olhinhos brilham e
meu coração não desacelera.
— Vicky, estou preocupado. Está realmente bem?
— E por que não estaria? Amor, estou ótima! Eu aceito me casar
com você. Como não aceitaria? Malcolm, depois de tudo que vivemos e do
modo como me faz sentir mais mulher, mais amada e me respeita por quem
eu sou, como poderia negar? Eu quero me casar com você! Agora pode
focar no que falei sobre o casamento? Poderíamos nos casar antes da
temporada, o que acha?
Ele balança a cabeça e começa a rir, deixando a caixinha de lado.
— Por que eu achei que poderia te surpreender? É sempre o
contrário! Você é muito maluca, Foster! — Sua voz é a coisa mais perfeita
nesse momento, repleta de surpresa e emoção.
— Futura senhorita Bell!
— Senhora Bell.
— Senhorita! Senhora me envelhece demais. Deixo esse cargo para
você.
— Senhora Bell ou um cardápio só de coisas saudáveis no
casamento.
Abro a boca e arregalo os olhos.
— GOLPE BAIXO! MUITO BAIXO!
Ele sorri e me beija. Isso vai me acalmando, desacelerando o surto,
até tudo silenciar e sentir lágrimas rolarem pelo meu rosto, sem que eu
possa controlar. Afastamos nossos lábios e ele enxuga meu rosto com
cuidado.
— Mais calma agora? — concordo e ele sorri. — Casa comigo?
Passa a vida ao meu lado, meu amor?
Balanço a cabeça sem acreditar que estou mesmo vivendo isso.
Já dizia Justin Bieber: Never say never.
— Caso! Me caso com você, treinador. Desde que não me obrigue a
treinar com você às cinco da manhã.
— Deixarei passar isso.
— Não vai deixar. Você é quase hipocondríaco.
Ele me beija de novo e me abraça e amo tanto esses braços fortes,
carinhos, musculosos... Nossa, Malcolm não para de ficar gostoso? Foco,
Vicky!
— Por isso os presentes?
— Não é como se eu não te mimasse sempre.
Concordo rindo, e me levanto do seu colo para conferir as sacolas e
claro que amo tudo, Malcolm tem um bom gosto e conhece os meus.
Ganhei uma bolsa com fundo preto e pedras prateada da Prada e um
sapato preto com pequenos detalhes em pedras da Louboutin. Abro a caixa
de donuts e sorrio. Toco as rosas vermelhas e suspiro.
Olho para o dono dos meus suspiros e me aproximo de novo,
ficando entre suas pernas e inclinando meu corpo sobre o seu, até nos
deitarmos na cama.
— Já disse o quanto é perfeito e amo estar nesse seu esquema de
pirâmide que faz eu me render cada dia mais? — sussurro.
— Ama?
— Claro que amo! Eu amo você, coisa linda da minha vida! —
Beijo sua boca e afasto nossos lábios. — O que foi? Por que está me
olhando com essa cara de bobo? Eu só... Meu Deus! — Arregalo os olhos.
— Você disse. Pela primeira vez você disse, Vicky! — Seus olhos
brilham tanto, que é lindo de ver.
Falei que amo ele e nem notei. Foi tão espontâneo... Eu o amo, por
isso aceitei vir morar com ele, aguentei meses escondendo nosso
relacionamento no ano passado, e agora aceitei casar e me empolguei tanto
planejando tudo. Eu o amo e por isso estou chorando igual uma tonta agora.
Claro... Merda, isso é o mais puro amor. Eu amo esse homem!
— É, eu disse, mas acho que você já sabia, porque sempre sabe tudo
sobre mim, treinador Bell. — Sorrio emotiva, porque agora sou emotiva
também.
Ele sorri e vira meu corpo sobre a cama, ficando em cima de mim.
Malcolm acaricia meu rosto de um jeito tão bom.
— Você mostrava em cada olhar, gesto... Se falou só agora, é porque
era o momento certo, minha linda.
— Sua linda e sua noiva! — Mostro o anel.
— E pentelha. Colocou na mão errada. — Ele troca o anel de mão e
começo a rir.
— É que sou nova nisso de noivado. — Dou uma piscadinha e ele
balança a cabeça. — As meninas e minhas família vão surtar!
— Todos já sabem. Falei com todos antes, sei que é importante para
você.
— Então todos esconderam de Vicky Foster essa surpresa? — Abro
a boca em choque.
— Claro, ou não seria surpresa! — Ele beija a pontinha do meu
nariz.
— Estou muito tempo fora do meu habitat! Está na hora da Diablo
voltar. Me esconderam algo, então irei segurar a notícia se aceitei ou não
por alguns dias. Injusto me esconderem!
— Era surpresa, não podia saber! — insiste, mas ainda sigo
querendo atormentar todos.
Ele ri e torna a me beijar, me enlouquecendo.
— Os presentes, Malcolm — falo quando esbarramos neles. —
Deus, presente! Malcolm, eu não dei o presente de aniversário da Cherry no
ano passado. Eu disse que daria e esqueci! — Empurro um pouco,
encarando-o.
— E só lembrou agora? Jura?
— Muita coisa na cabeça e com um noivo gostoso assim, fica difícil
pensar muito... Mas já sei o que darei a ela. Vou levar amanhã na casa dela.
Me olha desconfiado e enrolo as pernas ao seu redor, enquanto pego
um donut e levo a boca, me deliciando com o chocolate.
— Vicky, deixa a garota em paz.
— Relaxa, irei apenas dar um caixa com mimos para apimentar a
relação dela com o Oliver.
— Vai matar a menina.
— Eu sei o que estou fazendo. Toma, come um pedacinho, precisa
de açúcar, antes que morra amargo.
— Nã... — Coloco em sua boca impedindo-o de falar e começo a
gargalhar da cara de sério dele. Deixo o restante na caixa e ele mastiga o
donut com raiva.
— Se eu posso ficar verde comendo esse monte de coisa saudável
que me faz comer, o senhor pode comer um docinho às vezes. Não seja
careta, Malcolm!
— Você será o motivo do meu infarto.
— Nem pensar! Ser viúva não combina comigo, só combinará por
uma boa causa, do tipo...
— Comida saudável no casamento... Eu entendi — responde e
sorrio. — Te amo, minha Maluquinha.
Ele me beija de novo e a mistura de chocolate com Malcolm Bell, é
perfeita. Principalmente conforme vai esquentando o beijo e vou me
rendendo cada vez mais, como sempre. Ele prende minhas mãos para cima,
mantendo-as no lugar com as suas. Um gemido escapa da minha boca entre
nosso beijo e ele sorri, puxando meu lábio inferior.
— E que história é essa de testes de gravidez?
— Longa história. Fiz uma bagunça com o anticoncepcional,
enfim... Não estou grávida. Mas se continuarmos... — Ele beija meu
pescoço me deixando sem foco. — Transando sem parar... Eu posso tomar
certo, ele ainda assim não vai aguentar e... — Se esfrega em mim e mais um
gemido sai da minha boca quando sinto seu pau duro me pressionar.
— E?
— Esquece. Só continua, nem sei mais o que estava falando...
Ele ri e me agarra com mais brutalidade, do nosso jeitinho e eu não
trocaria isso por nada. Porque para quem não acreditava em
relacionamentos para si mesma, estar noiva é um grande passo.
Malcolm ergue minha saia e desliza a mão por baixo dela, tocando-
me com seus dedos, me fazendo gemer mais ainda.
É, eu realmente encontrei o cara perfeito, alguém que é o meu
oposto, mas ao mesmo tempo, tão igual a mim.
Ele me olha e sorrio antes de morder os lábios e o deixar controlar
nossa comemoração de sexta à tarde.
Droga, eu amo tanto esse treinador!
Agradeço primeiramente a Deus, por tudo. Sem Ele, eu sei que nada
disso seria capaz.
Escrever essa turma de Time to love, foi uma das coisas mais
especiais para mim, principalmente por poder ter tantas pessoas especiais
por perto, principalmente durante esse livro. Se esses livros são o sucesso
que são, não é apenas pela história, mas sim por todos que fizeram ela
acontecer e as espalharam pelo mundo.
Kristal, Tyron, Cherry, Oliver, Vicky, Malcolm e todos os outros
personagens, obrigada por vocês terem sido meu sol quando tudo havia
ficado nublado por um tempo. Vocês fizeram eu acreditar em mim
novamente, quando falavam dentro da minha cabeça sem parar e me
fizeram contar essa história.
Obrigada, Marcielle e Larissa, por serem tão especiais na minha
vida. Não agradeço vocês só por serem as minhas assessoras, mas por terem
sido grandes amigas, passando madrugadas aguentando minhas loucuras,
rindo comigo dos meus dramas, conferindo a Amazon e surtando primeiro
que eu com qualquer conquista por lá, me fazendo sempre lembrar do
quanto eu sou incrível e que não é pecado valorizar a mim mesma, muito
menos egocentrismo. Obrigada, minhas meninas, eu amo vocês.
Heveny, minha irmãzinha de coração, obrigada por levantar meu
ego, por estar todo esse tempo comigo e mesmo à distância, torcer todos os
dias por mim e ser tão carinhosa, quando eu sou apenas uma ogra nada
delicada. Obrigada por sonhar comigo e por mim, e ter tanta fé em mim e
no meu trabalho. Eu amo tudo o que significa para mim. Obrigada por ter
acompanhado de perto toda a história dessa turma e ter sido a primeira a
ouvir a ideia sobre eles e me incentivar a escrever. Love u.
Josiane, minha Aquariozinho, achou mesmo que eu não agradeceria
uma das betas desse livro e que deixou os melhores comentários no
arquivo? Obrigada por todo seu amor, carinho e apoio. Tudo começou tão
naturalmente que quando vimos, virou essa baguncinha perfeita, em que
começávamos falando de capítulos e terminávamos rindo dos insetos te
perseguindo no seu mato ou das cobras em seu quintal, afinal, escolheu
morar perto da natureza e só se esqueceu que não é tão corajosa assim para
lidar com os animais dela. Mas saiba que te acho a pessoa mais corajosa
desse mundo quando não se trata de aranhas e cobras, e te amo muito por
tudo que é, e só por ser assim, a pessoa mais doidinha e que inventa
apelidos para os personagens. Ah, já perdoou o Francis, né? Te amo,
pequena.
Isabel, obrigada por estar comigo desde o início desses malucos,
com nossas conversas mais insanas ainda, em que surgem diálogos
esquisitos, mas que no final, nos entendemos na nossa bagunça. Obrigada
por todo o apoio, que muitas vezes veio com seu jeitinho nada delicado de
ser, mas que combinava com o meu jeito ogra, e nessa mistura louca, surgiu
essa dupla que é do jeitinho que a terapia ama, hein! Te amo, dona do Vinni,
e por sinal, está mais do que na hora de assumir para as suas leitoras que ele
é meu!
Luana, obrigada por ter estado comigo também, principalmente
nessa reta final, em que uma foi dando apoio para a outra para terminarmos
nossos livros nessa loucura que é a nossa vida de escritora.
Leitoras do grupo do WhatsApp, todas as leitoras que possuo,
porque vocês tornaram tudo mais especial, muito mais do que imaginam.
Amo vocês do fundo do meu coração. Sem vocês, não existiria a Incour e
esses personagens nunca se espalhariam pelas pessoas.
Luciana (ilustradora), Marcielle (revisora e assessora), Larissa e
Josiane (leitoras betas e críticas), parceiras (bookstans e todas as outras que
nunca sei nomear corretamente), obrigada por fazerem esse livro acontecer.
Ele tem um toque especial de cada um, com suas leituras, revisões,
ilustrações, apoio, crítica, divulgação, primeiras impressões... Nossa, o que
seria de Time to love sem vocês? Obrigada, mil vezes obrigada por tudo.
Você, leitor, que leu até aqui, obrigada por chegar nesse livro e
mesmo que seja alguém que tenha odiado, te agradeço por ter lido, ou ao
menos tentado.
Com todo amor do mundo,
Deby.

Isso não é um adeus, é somente um até logo.


Paulista viciada em Starbucks, da casa de Sonserina e que tem como
terapia caseira assistir Friends.
Começou a escrever na adolescência e desde então nunca mais
parou. Adora inventar cenários caóticos e completamente cômicos em seus
livros, o que condiz com o jeito que costuma tentar ver a vida: o mais leve
possível e tentar rir mesmo que em meio ao caos.
Estudante de Marketing e completamente apaixonada por esse meio
de divulgação digital, em que sempre busca novas estratégias de prender
seus leitores.
Já trabalhou como Social Media e Designer, hoje vive totalmente
dedicada aos seus livros, e o que antes conciliava com a escrita para se
sustentar, se tornou o seu segundo plano e sua forma de desafogar um
pouco das palavras quando sua mente se enche com tantas vozes de novos
personagens implorando para terem suas histórias contadas no mar infinito
de inúmeras ideias que sempre aparecem, principalmente na na hora do
banho.
Sonha em viajar ao mundo, mas enquanto isso não acontece, viaja
através das palavras dos universos que cria.

Instagram:
https://www.instagram.com/deby.incour/

Twitter:
https://twitter.com/debyincour
RECANTO DAS ALEGRIAS:

IMPROVÁVEL AMOR
RENDIDOS AO AMOR: SPIN-OFF DE “IMPROVÁVEL AMOR”
PAR PERFEITO: CONECTADOS DESDE SEMPRE – NOVELA

STARS ON THE RACETRACK:

FAST LOVE
SLOW DOWN
UM AMOR INESPERADO
TO LOVE: OFF STARS ON THE RACETRACK – 1
INTENSE: OFF STARS ON THE RACETRACK – 2

TIME TO LOVE:
SECONDS
MONTHS
WEEKS

LIVROS ÚNICOS:

BRINCANDO COM O DESTINO


EM BUSCA DE INSPIRAÇÃO

TODOS OS LIVROS ESTÃO DISPONÍVEIS NA AMAZON PELO


KINDLE UNLIMITED
[1]
Big Apple é como costumam se referir a Nova York, principalmente os próprios norte-americanos.

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