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1ª EDIÇÃO - 2023
Formato Digital – Brasil
ALERTA DE GATILHOS
NOTAS DA AUTORA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
BIOGRAFIA
Essa é uma leitura com gatilhos como: linguagem obscena,
ansiedade, sexo explícito, luto e machismo. Se qualquer uma dessas
coisas lhe causam gatilhos, por favor, priorize sua saúde mental,
não leia este livro.
Weeks passou por leitura crítica, para responsabilidade em
determinados assuntos abordados na história. Relacionamento
tóxico e acidente, são temas que citados, mas não tão
explicitamente, entretanto, mesmo assim, foram falados com
responsabilidade.
Nenhuma romantização em temas específicos deve ser
feita, e toda ajuda psicológica e, se necessário, judicial, deve ser
buscada quando depressão, ansiedade, assédios, machismo,
relacionamento tóxico e outros temas sérios acontece com você em
qualquer circunstância que seja, e tudo que lhe atinge de modo que
te machuque mental e fisicamente, existirem.
Esse livro é um romance adulto, em que uma jovem está
vivendo seus sonhos, crescendo em sua carreira, construindo-a. No
decorrer de nossas vidas, até nosso último suspiro, fazemos muitas
coisas erradas, então não espere que ela ou qualquer
personagem desse livro seja perfeito, correto e santo.
Se espera encontrar isso, pare por aqui mesmo, pois vai se
decepcionar. Malcolm, Vicky e outros personagens, falham,
cometem erros e deslizes, assim como qualquer pessoa. As
atitudes deles são como deveriam ser, de acordo com o rumo da
história, se conectando às personalidades e não apenas com as
idades, afinal, podem existir pessoas de quarenta anos tendo uma
mentalidade e atitudes de alguém de quinze, e sejamos sinceros:
idade não define personalidade e atitudes; ações, caráter, e a vida,
sim.
ENTÃO REPITO: se quer personagens com atitudes
extremamente maduras, esse livro nunca será para você. Agora se
busca personagens com atitudes próximas da realidade, em que
ninguém é perfeito, e cada um decide como quer viver, por
favor, continue.
Agora falaremos do esporte apresentado nesse livro
como World Golden Jump, que é inspirado na NBA, e por conta
disso, você poderá encontrar termos, lugares, regras e outras
semelhanças entre ambos.
A Golden é UMA INSPIRAÇÃO NA NBA, não é ela, então,
não espere que tudo seja regrado da mesma forma. Por isso não é
citado dentro da história, em que o universo é totalmente fictício.
Aqui é a minha história, e a liberdade da ficção me permite criar,
inventar tudo do modo que eu imaginar. Tudo aqui vem do
universo maluco chamado minha mente, e é nesse universo que
convido vocês a entrarem.
TITULARES DO TIME:
Passar pela imprensa sem ser parte dela, é estranho, mas não vou
mentir, me sinto poderosa quando os flashes refletem em mim e as pessoas
me reconhecem. Amo minha profissão, mesmo não sendo uma pessoa
fanática por esportes, amo trabalhar nos bastidores disso aqui e ser
reconhecida pelo meu trabalho, mostra que estou no caminho certo. É uma
área dominada por homens, e ver mulheres tendo voz, é o que me inspira
cada vez mais em continuar.
Entro no lugar, é um espaço não muito grande, todo bem decorado,
com palco, telões e luzes amarelas, bem sutis.
Muitas pessoas importantes estão por aqui, mas foco no bar do outro
lado, é para onde vou e ficarei para não ter que lidar com ninguém e sumir o
quanto antes desse lugar. Vim ano passado, e foi um tédio, mas tinha a
Kristal para me animar. Esse ano é só eu enfrentando esse povo querendo se
fingir de bom para que saiam boas coisas no jornal, já que sabem que sou
dele, e todos temem os tabloides, mas temem ainda mais não terem apoio de
um dos maiores jornais de esporte do país, esse que tenho muita alegria em
ser parte dele.
Encosto-me em um canto do balcão, está mais escuro essa parte e
peço uma bebida, enquanto observo ao redor. Comidas finas demais para
meu paladar infantil. Eu deveria ter comido antes de sair.
A música é ambiente, uma chatice por sinal. Me entregam minha
bebida e tomo contando os segundos para sumir daqui, me livrar desse
cheiro de perfumes fortes, charutos e álcool incentivando a animação
estranha dessas pessoas que só se preocupam com a fama e consigo mesmo.
Vejo as duas pessoas que param no bar e viro de vez minha bebida.
Será a hora mais longa da minha vida!
Tio e sobrinho.
Era só o que me faltava! Jennifer havia dito que somente eu
representaria o jornal hoje!
Coloco o copo no balcão e me afasto antes que ambos me vejam.
Esse ano me mudei para a Califórnia, e desde então, as coisas têm
sido um pouco mais complicadas, pois tenho que me dividir entre participar
dos eventos aqui, e estar em Nova York durante o começo temporada, já
que nosso centro de treinamento é lá. Mas o que mais me motivou a me
mudar, foi porque meus pais e meu sobrinho Francis vivem aqui, e esse foi
o único jeito que encontrei de conseguir ser mais presente do que restou da
minha família.
Desde que os pais do Francis, Chase e Giulia, se foram, nossa
família ficou ainda menor. Eu mal tinha tempo para eles vivendo em Nova
York, e foi por isso que precisei renunciar a Big Apple, [1]para poder ver de
perto se está tudo bem.
Claro, durante o começo da temporada e em alguns compromissos,
terei que estar lá, meu time é lá, mas não tinha escolhas, aquela cidade te
suga e te torna solitário demais se não desacelerar. Precisei aprender a
colocar o pé no freio, porque estava sendo sugado pela solidão, e porque me
vi sendo dependente dela, ao ponto de mergulhar em trabalho mesmo
quando não era necessário, e isso estava consumindo um tempo precioso
com aqueles que amo e que sentiam minha ausência.
Sempre fui um homem de família, cresci sonhando em me casar, ter
filhos e sempre fui apaixonado pelo basquete. Cheguei a jogar, mas tudo
mudou quando Chase, meu irmão, se foi e tive que assumir o lugar dele na
vida do Francis, ser presente ao máximo, e como jogador isso seria pior,
então fiz escolhas, abri mão de um sonho e adentrei em outro, conseguindo
me tornar treinador dos Red Fire, o que pelo jeito faço muito bem, pois sou
considerado um dos melhores.
Minha vida inteira é sobre buscar o plano B e ainda ter outros de
reserva, porque normalmente algo sempre me tira o plano A. Vivo com um
alfabeto em mãos, gosto de me prevenir, porque não pode existir a
possibilidade de tudo desandar, porque uma coisa é ligada a outra. Prefiro
ter mil planos, do que perder a cabeça porque só existia um.
Quando se passa pelo luto duas vezes, e se ganha responsabilidades
em cima deles, ou você aprende a caminhar com a vida, ou ela te derruba de
vez. E foi o que aconteceu, era viver outros planos, ou me afundar no que
havia desandado.
Não me arrependo de ter cuidado do meu sobrinho, só me arrependo
de não ter sido mais firme em muitos momentos, e ter deixado ele virar esse
jovem que parece não se importar com nada e ninguém para ter o que quer,
ainda que isso custe um preço caro a se pagar, como se desconectar de sua
família.
Somos a única família que ele tem, já que a família de sua mãe
nunca existiu para ela, porque Giulia cresceu em um lar adotivo, ficou
adulta e jamais foi escolhida por nenhuma família, saiu de lá e trilhou seu
próprio caminho, que posteriormente se cruzou com o de meu irmão, e o
que ela tinha éramos nós, somente nós e nada mais.
Talvez se eu tivesse escutado meus pais que diziam que Francis só
ouvia a mim, ele não teria se tornado alguém que pensa que o mundo deve
girar ao seu redor. Hoje vejo isso, quando venho notando em que ele está se
transformando. É inteligente, estudou bem, fez suas escolhas, mas existe
uma soberba que me faz muitas vezes não ter paciência para lidar. Já tive
sua idade, mas porra, estou com trinta e sete anos, cansado, querendo
sossegar a cabeça, encontrar alguém especial, trazer mais tranquilidade aos
meus pais que já estão na casa dos setenta quase beirando aos oitenta anos,
tudo que preciso é paz, não voltar a me preocupar com alguém que é adulto
e está na hora de agir como tal.
Eu o amo, mas confesso que estou no meu limite ultimamente. E
ano passado, desde que entrou para a Sport Universe, notei que tudo
desandou de vez. Algo piorou, é como se um novo Francis tivesse surgido,
só que muito mais frio, fechado e sem parecer querer dialogar.
— Não acredito que ela foi chamada e tive que vir como seu
acompanhante! — Francis reclama ao meu lado, olhando para a Vicky
Foster, sua colega de trabalho do outro lado, que com toda certeza está
sendo segurada pela ladainha do dono da fábrica que cria os produtos da
marca da Golden. Esse velho é bom de papo.
Não sei quem é pior de lidar: o adulto que não cresce ao meu lado,
ou com a louca que parece sempre surgir do além na porra da temporada, e
como se não bastasse, ainda fodeu meu carro novo e nos fez ser
encaminhados para a delegacia.
Ok, eu também me exaltei, mas caralho, essa menina é doida! Não
tem um que não tenha pânico dela na Golden.
— Pare de implicar com essa garota. Deveriam agir como equipe,
não como duas crianças mimadas! Estou farto de suas reclamações sobre
ela, Francis. Cresça, porra!
Ele revira os olhos e bufa, bebendo a bebida.
— Fala isso porque não precisa lidar com ela. Tudo ela reclama.
Não aceita que cheguei ano passado e sou melhor ao ponto de ganhar mais.
Quer mais dinheiro? Trabalhe mais. Essa garota está conseguindo tirar
minha paz, mas ela não sabe com quem está lidando, se acha que vai me
fazer recuar, está enganada. Peguei leve ano passado, mas esse ano, se vir
para cima, me incomodar, ela vai aprender o que é ser jornalista de verdade.
Precisou da prima para trabalhar ano passado, mal consegue formular
perguntas e matérias sozinha! É um vexame e a Jennifer a defende.
Sinceramente?! Os sócio do jornal estão prontos para chutá-la e não vai
demorar! Se todos concordarem, Jennifer não terá como defender sua
protegida.
Respiro com cautela e bebo meu uísque.
A garota é doida, mas é uma boa jornalista, isso ninguém deveria
duvidar. E conheço bem o machismo desse meio, não duvido que algo
assim esteja envolvido na briga desses dois.
— Francis, deveria dar exemplo. Vem de uma família que começou
de baixo, seus pais sempre foram respeitosos com todos. Seus avós sempre
te ensinaram respeitar as pessoas, principalmente as mulheres. Essa sua
birra está ridícula. Passou o ano passado inteiro difamando essa menina.
Não tem motivos para esse ódio gratuito.
— Está defendendo-a? Ela fodeu seu carro, tio! Ela é chata pra
caralho. Passe um dia na presença dela e vai se sentir um santo por não
enforcá-la. Se não fosse pela birra dela ano passado, eu teria assumido a
exclusiva com os Tigers, além de me dividir com todos os outros. Tudo por
porra de dinheiro. Ganância fodida dessa aí.
— Chega! — Me estresso de vez. — Espero que não arrume
confusão por aqui! Se continuar agindo desse modo, quem vai rodar na
porra daquele jornal será você, porque só vejo alguém com ganância nesse
momento, e não é ela.
Ele resmunga e se afasta indo de encontro a um grupo de outros
jornalistas. Será que fui insuportável na casa dos vinte também? Caralho,
parece adolescente!
Volto ao bar e peço outra bebida, finalizando a minha. Estou fugindo
das pessoas hoje. Cansado, irritado, querendo paz, mas tive que vir, afinal,
vim representando o meu time e tenho um discurso qualquer para fazer.
Nem pensei no que irei falar, mas qualquer coisa basta, todos logo estarão
bêbados, só desejando que isso acabe logo.
Sinto um perfume de rosas levemente adocicado e viro meu rosto
para o lado. Vicky Foster para ao meu lado e pede uma bebida, então se vira
para mim, estendendo a mão. Sigo o movimento com o olhar, mas não
deixo de notar de perto como está vestida. A maluquinha é linda, isso é
inegável!
Seus olhos misteriosos me analisam e sua expressão é de quem se
diverte com o que vê.
— O quê? — pergunto sério.
Ela recolhe a mão e resmunga algo indecifrável.
— Vim pedir desculpas pelo ocorrido... — Estende a mão de novo.
— Me desculpa por toda bagunça?
Analiso o quanto ela está fazendo isso sem qualquer vontade e tenho
vontade de rir, mas me mantenho sério.
Seguro sua mão, apertando firme, ela olha para o movimento e
depois me encara. Largo sua mão pequena e viro-me para pegar minha
bebida. A dela é entregue também, a qual segura o copo quase o
derrubando.
— Está desculpada, senhorita Foster. Não é como se fosse resolver
qualquer coisa.
— Pronto, paz selada. Posso sumir desse lugar infernal! — Respira
aliviada e encosta no balcão, deixando a bolsa sobre o banco. Me olha de
lado e dá de ombros. — Prometi manter a paz, sabe como é, né? Odeio esse
evento, só quero sumir logo daqui, precisava ser sincera.
Não a julgo quanto a isso. Também quero sumir daqui.
— E por que veio se não suporta? Não me parece ser do tipo que
segue ordens facilmente — falo o que observo de longe desde que começou
a ser mais presente na temporada de basquete.
Ela ri alto, diferente da delicadeza que algumas mulheres buscam ter
nesse lugar. Bebe sua bebida e retira a bolsa do banco, sentando-se sobre
ele, colocando a pequena bolsa ao meu lado. Cruza as pernas sem se
importar se revela demais, e não sou cego, sigo o movimento antes de
tornar a olhar seu rosto.
É, ela é linda e sua beleza chama atenção junto de sua personalidade
peculiar.
— Jennifer me escalou para vir. Sou péssima em respeitar regras,
mas ela me livrou do problema com você, era isso ou me foder mais! Só
estou esperando dar uma hora certinho e irei sair para me divertir de
verdade. Música boa, comida, bebida melhor que esses drinks cheios de
frescuras e sexo. Eu realmente preciso de sexo!
Ergo a sobrancelha e balanço a cabeça bebendo minha bebida. É
como todos comentam pelos corredores: Foster não tem filtro.
— É sempre assim? — questiono e ela me olha confusa. — Meus
jogadores falam que é sem filtro, só não esperava tanto assim, se bem que
pelo modo que me tratou ano passado no desentendimento com meu
sobrinho, espero de tudo.
Ela sorri com deboche e de algum jeito isso me irrita. Algo nela me
incomoda, por isso sempre mantive distância, a observando de longe, tendo
contato apenas se necessário.
Ela é problema e estou fugindo de mais confusão. Já me basta os
problemas que tenho.
— Ué? Não transa? Eu transo. E não sou sem filtro, só falo sem
frescuras. O problema é que sempre esperam que mulheres sejam frescas,
delicadinhas, comportadas como se fossem damas dos séculos passados...
Eu não sou assim. Bebo, saio, me divirto, fujo de tanta frescura, falo o que
penso e sem medo algum. O que tem de mais? Isso se chama liberdade
consigo mesma. Vocês da Golden que são caretas demais. Tudo se
espantam, nem parece que sempre estão estampados nos jornais, no meio de
orgias, traições, álcool e muita baixaria!
Revira os olhos e bebe mais da bebida deixando-me sem palavras.
Poucas pessoas têm esse poder.
Ela desce do banco e deixa o copo. Pega a bolsa e solta uma lufada
de ar.
— Nunca estive nos jornais com essas notícias, senhorita Foster.
Ela ri me encarando.
— Claro que não, sr. Grito. — Franzo o cenho. — É um treinador
velho, careta como os velhotes da Golden. Seu sobrinho poderia ser assim,
me estressaria menos! — Ergue a sobrancelha.
Juro que se surgir mais brigas desses dois, amarro ambos em um
maldito porão.
— Grito? Sr. Grito? Que porra é isso, garota? — Volto ao foco da
merda que ela disse.
— Ué, o que faz além de gritar com seus atletas idiotas? — Sorri
como se fosse óbvia sua questão. — Assume, é parte da turma dos caretas
irritantes disso aqui, não é à toa que veio para discursar. — Pisca para mim
e sorri diabolicamente. — Passar bem, treinador Bell.
Viro a bebida de uma vez, enquanto ela me dá um aceno se
afastando.
Só pode ser brincadeira! Essa garota fodeu meu carro novo e agora
me chama de velho, careta e sr. Grito! Ela nem me conhece. Inferno!
Quem ela pensa que é para falar isso? Eu sou muito bem resolvido
na minha vida pessoal! Não sou careta! Um caralho em ser careta. Eu sou
responsável, é diferente, afinal, preciso lidar com um bando de homens
mimados que não controlam a própria vida e fodem a minha.
Agora ela me estressou de verdade!
Pego o celular e mando uma mensagem ao Francis, enquanto
caminho para sumir desse lugar, abandonando o bar sem pensar duas vezes.
Dane-se o discurso, me resolvo com o time depois!
Saio rápido antes que me parem pelo caminho.
Encontro a louca na saída aos fundos do lugar, já que fiz o mesmo
caminho que ela. Está sozinha, provavelmente esperando um carro. Ela olha
assustada quando a porta bate atrás de nós.
— Que foi? Olha, a última vez que veio com esse olhar, terminamos
em uma delegacia. Com todo respeito, treinador, me dá um descanso. Eu só
quero paz hoje, e raramente busco por isso, é um milagre, compreende?
O carro chega e ela se aproxima para entrar nele, mas impeço sem
pensar muito. Apoio a mão sobre a porta que ela abriria.
— Quem pensa que é para dizer aquelas merdas e sair assim?! —
Vocifero.
— Ah, já entendi. Afetei sua masculinidade, não foi? Desculpe. Às
vezes escapa! Se me der licença... — Sorri ironicamente e tenta abrir a
porta, mas continuo impedindo. — Qual é? Ok, lá vai... Desculpa por ser
sincera!
Olho para o céu pedindo paciência a Deus.
Torno a olhar para a morena baixinha e inclino meu corpo na sua
direção. Ela é tão marrenta, que não se move, segue me olhando com
deboche. Parece que nada a abala. Isso me estressa mais. Ela enfrenta.
— Não me conhece. Não sabe nada sobre mim para sair falando
merda e pensando que tem esse tipo de intimidade. Sabe o que faço além de
gritar e ser careta como diz, senhorita Foster? — Minha voz é baixa, mas
muito firme. Nem me reconheço mais nesse momento. Ela conseguiu me
tirar o juízo com apenas duas vezes que nos encontramos. Bastou ficar um
pouquinho mais próxima, e já começou a ferrar tudo.
Ela cruza os braços e sorri de lado.
— É chato? Cara, você vai pagar o valor da corrida se continuar me
atrasando! — Revida. — Pode sumir da minha frente com todo respeito? Eu
nem deveria ter pedido desculpas, não foram sinceras. Tentei apenas ser
respeitosa, só que não está ajudando a merda da minha língua nesse
momento, afiadíssima para com certeza me fazer ser presa de vez. Então
pode sair e me deixar entrar no carro, Malcolm Bell? Cara, me esquece.
Nem nos falamos direito, vai. Dá um sossego!
Meu sangue ferve com sua ousadia infernal.
Puxo seu corpo com força e ela se assusta soltando um gritinho.
Empurro-a em direção ao carro e seguro seu rosto com uma mão apenas,
apertando a parte de baixo dele, suas bochechas pressionadas pelos meus
dedos assim como seu queixo. Seus olhos me encaram firmes e sem pensar,
beijo sua boca. Eu domino a porra da boca que me irritou ano passado
quando nos falamos por birras dela e do Francis, me irritou há duas
semanas com a batida, e me irritou hoje sendo imensamente atrevida.
Ataco sua boca, pressionando seu corpo, apertando sua cintura fina,
meus dedos tocam a pele nua das suas costas. Um fogo infernal se acende
em mim, tomado pela raiva, pelo deboche que ela me entregou e atinge em
cheio bem no meu pau, que endurece ferozmente traindo-me. São semanas
sem sexo, lógico que um contato assim faria um estrago.
Eu fodo a razão que busco ter, e para piorar, ela revida de um jeito
quente. Vicky Foster não me empurra, ela se entrega com um fogo
comparado ao meu. O beijo é gostoso, isso é o pior de tudo.
Largo sua boca toda borrada pelo batom, fugindo do perigo um
pouco, ambos ofegantes. Mas ela sorri diabolicamente.
— Achou que isso me espantaria? Já tive melhores, treinador —
sussurra sem perder qualquer compostura. Ela não fica vermelha por
timidez, ela está assim pelo tesão e vejo em seus olhos o alerta para o
imenso perigo.
Ela é o diabo, consegue fazer com que todos entrem em suas
travessuras. Essa garota tem que ficar longe, sempre tive certeza sobre isso.
Só que agora, nesse momento, procuro o inferno onde ela habita. Talvez o
álcool, a raiva, o estresse das últimas semanas, ou talvez seja só ela sendo o
erro para a minha vida, nem penso muito quando abro a boca e deixo as
palavras:
— Dispensa o carro! — A voz sai rouca de dentro de mim. —
Vamos ver se vai continuar achando que sou a porra de um velho e careta!
Ela ri baixinho como se cantasse vitória por algo que imaginava que
aconteceria.
— Está propondo provar o contrário? — fala com uma voz
aveludada demais, como uma sereia enfeitiçando um idiota. Eu sou o idiota
desse conto. — Sabe, Malcolm Bell, disse que eu não te conhecia, mas tem
um detalhe: trabalho para saber da vida de todo mundo. Já você... — Passa
a língua pelos lábios e meu pau mais uma vez sente isso. — Sabe o que
pouca gente sabe sobre mim até precisar vivenciar ao meu lado? É que
nunca tive medo de brincar com fogo e pouco me importo em me queimar!
Me empurra sorrindo e dando-me uma piscada. Engulo em seco,
tentando conter a agonia que me consome, a voz que grita em mim que as
coisas estão erradas, que isso tudo pode atear não apenas fogo, mas ser
uma imensa bomba tóxica.
— Não vou cancelar. Vou para o bar em busca do que quero: sexo,
comida e bebida. Se quiser pode me acompanhar, vou ser boazinha dessa
vez, sem ferir tanto seus sentimentos. — Suas palavras gritam pelo o que
ela quer e envolve a mim. Ela é uma caçadora e eu sou a presa do dia.
No fundo, ela sabe que brincaria com fogo e eu revidaria, pronto
para queimá-la. Vicky Foster sabia onde se metia essa noite, e caí em seu
jogo.
A louca abre a porta do carro me dando passagem. E só posso estar
muito surtado, porque entro, e tudo isso por jamais ter tido alguém tão
corajoso o suficiente para falar tanta merda na minha cara e me causar isso
que ela fez em poucos minutos com poucas palavras, mas as palavras
corretas para me atingir em cheio.
Todos que realmente me conhecem, sabem que existe um limite. Ela
rompeu quando mexeu com meu ponto fraco: a porra do meu ego e por
achar que me conhece apenas por ser uma jornalista intrometida.
Existe uma coisa chamada razão, e ultimamente não usufruo muito
da minha, sempre faço tudo pela emoção do momento. Se bem que nunca
usufrui da voz da razão berrando em minha mente para não fazer merda.
Mas culparei meu lado que ama sentir o fogo prestes a queimar.
Esse meu lado é quem comanda noventa e nove por cento do meu corpo e
do meu cérebro. Quando sinto que posso viver o perigoso, isso me anima,
me excita. Exceto por rodas-gigantes, odeio aquela merda esquisita que fica
girando e balançando e não faz nada além disso. Que coisinha mais sem
graça e perigosa!
E foi exatamente por não ouvir a razão e sentir o fogo queimar, que
não pensei muito quando fiz Malcolm Bell entrar no carro e me
acompanhar até a boate onde estamos. É um local escondido em Palo Alto,
aqueles lugarzinhos secretos, passagens por dentro de outros lugares. Eu
amo esse tipo de boate, bar, restaurante, em que parece que estamos
cometendo um crime, nos escondendo de algo.
Eu nunca sequer pensei no treinador dos Red Fire de outro modo,
até provar o beijo do infeliz. E não é que faz isso gostoso? Então uni a
vontade de transar com o “ninguém precisa saber”, e porra, amo homens
mais velhos para isso. Coisa de um dia, sem sentimentos, sem nada, e é
nítido que ele pensou da mesma forma, porque não soube disfarçar seu
olhar. Brinquei com fogo e ele quer me queimar, e dane-se, pode me torrar
inteira, é o que desejo hoje.
O local é todo escuro, poucas luzes iluminam, a música é alta, e
sempre cheio de pessoas de todas os estilos possíveis. As dançarinas dão
um show à parte e o DJ sempre consegue arrancar a turma do chão,
pulando, gritando, se mexendo sem parar.
Bebo a bebida de procedência duvidosa, as que são as melhores na
minha não confiável opinião. Sem frescura, eu gosto do prático, em que te
entregam a bebida na força do ódio por estar cheio e sem paciência para
lidar mais uma noite com pessoas bêbadas e chatas. Isso sim é um bom
lugar para mim e minha personalidade já comparada com a do diabo, o que
é estranho porque não é como se já estivessem ficado cara a cara com o ele
para me compararem. Mas enfim, esse é o meu tipo de local, bebida e que
sempre encontro o venho buscar: sexo bom, sem frescuras ou
compromissos.
Malcolm está parado ao meu lado, bebendo sua cerveja por não
confiar nos nomes das bebidas que oferecem por aqui. Ele observa ao redor,
vejo isso pela pouca luz que reflete em seu rosto. Minha vontade é rir da
situação, porque é nítido que ele está fora do ambiente que costuma estar.
Aqui não é seu habitat natural.
Apoio um cotovelo no bar e levo a azeitona a boca. Ajeito a bolsa a
minha lateral e sorrio vendo as pessoas dançando. Eu amo dançar, mas amo
mais comer e transar. Sinceridade sempre.
— Está assustado com o que vê? — questiono alto para que possa
ouvir, afinal, o homem é alto, quase um segundo andar perto de mim, mas
não tanto quanto Tyron e Oliver, esses dois se superam.
Ele bebe sua cerveja e me olha de lado erguendo a sobrancelha.
— Já estive em lugares piores, mas faz muito tempo isso. Só estou
surpreso que esse tipo de local secreto ainda exista e seja tão frequentado. É
antigo, não é tão atual assim.
Concordo.
— Nova York tem bastante, costumo ir neles quando estou por lá —
comento. — Gosto disso, a mídia não fica igual louca rodeando por aqui,
existe paz.
— Não gosta de lidar com o que trabalha. Que irônico isso. — Sinto
a ironia em seu tom.
Sorrio dando de ombros.
— Eu não sou paparazzi obcecado, é diferente. Não é porque sou
jornalista que gosto de estar com a cara o tempo todo estampada nos
jornais. Além disso, esses malditos nunca acertam meu ângulo bom. Isso é
um crime!
Noto o sorriso que ele tenta esconder. Viro de vez minha bebida,
sentindo o álcool queimar, provavelmente me matando por dentro, mas já
dizia a lenda que brilha, Edward Cullen: Eu vou para o inferno mesmo.
— Eu vou dançar, você vem? Quero dizer, sabe fazer isso? — Não é
provocação, é realmente algo que gostaria de saber. É tão sério, não me
parece ser do tipo que gosta de dançar.
— Dispenso. Eu nem deveria estar aqui, tenho coisas para lidar logo
cedo.
Reviro os olhos. Como falei: o velho é careta. Se bem que já saí
com uns quarentões que tinham mais fôlego que eu, o que me assusta, pois
meu sedentarismo um dia vai me matar também.
— Segura aí então! — Jogo minha bolsa em cima dele que segura
rápido e saio rindo da sua cara de tonto.
O coitado nunca precisou lidar cem por cento comigo, agora está em
pânico. E sabe o que é pior? Malcolm é resmungão, mas se fosse só por sua
aparência, não daria a idade que tem. Ele aparenta ser mais jovem, é bonito,
tem um bom estilo. Só é ranzinza como todos dizem e como já vi. Mas
também o que eu queria? Sendo tio daquele idiota, não teria como vir coisa
boa, deve ser genética de temperamento.
Invado a muvuca na pista de dança e me deixo ser levada pela
música agitada, em um remix perfeito. Danço tirando toda a tensão dos
últimos dias, me dedicando a exatamente relaxar, e quem sabe conseguir um
bom sexo, se não for com o careta, será com alguém aqui, afinal, vim a caça
e não saio sem o que quero.
Cherry: Não! Você pode respirar fundo e curtir isso, vai tornar
mais fácil.
Acordo bem dolorido. Desde que entrei no quarto não saí mais,
apenas tirei a roupa e me deitei. E maldito seja os sonhos que tive, que me
fizeram acordar assim: duro, enorme e dolorido.
Eu só precisava de tranquilidade, mas essa garota está tirando tudo
isso em um passe mágica. Primeiro o carro, depois o evento, veio o bar e o
estacionamento, agora essas provocações sempre que estamos perto. E para
piorar tudo, foi com ela que sonhei, era seu rosto que eu via e era seu corpo
que fodia.
Esfrego o rosto e olho para baixo, meu pau praticamente saindo da
cueca, esticado ao seu extremo. A cabeça molhada, brilhando.
“Deveria fazer o mesmo. Se precisar de ajuda, sabe onde bater!”.
Suas palavras invadem minha mente e meu sangue ferve mais,
queima tudo de dentro para fora.
Estou fodido. Essa é a verdade. Naquele dia, ela enfeitiçou meus
desejos e agora está terminando o que começou, não tenho mais dúvidas
sobre isso. Vicky Foster se tornou o motivo dos meus piores pesadelos e
desejos.
Desço a cueca e agarro meu pau. Meus olhos se fecham e eu só a
imagino quando o aperto e subo e desço minha mão por toda a base, me
masturbando rápido, bruto. Quando começo a gemer, é como se eu fizesse
isso em sua presença, é como se eu a ouvisse também.
Posso sentir a porra do calor da sua boceta, ela me apertando
completamente, pequena, estreita, tentadoramente perfeita. O seu perfume
de flores domina minha memória, assim como o gosto de sua boca junto
com a tentação que seus lábios são.
A memória é viva mais do que nunca para mim, e isso jamais me
aconteceu. Algo foi plantado naquele dia e os jatos de gozo atingindo meu
abdômen dizem isso, porque tem muito tempo que não gozo só de pensar
em uma mulher, quero dizer... Isso jamais aconteceu. Todas as vezes que
gozei assim, foi dentro de uma mulher, não só por pensar nela.
Os jatos explodem em mim e meus gemidos são altos.
Foda-se!
Abro os olhos e vejo toda a bagunça criada e o pior: ainda não me
sinto totalmente satisfeito.
Nunca acreditei na história de sereias e seus encantos para trazer
homens até elas, porque isso é mentira. Ou era, até agora... Vicky Foster
acaba de me fazer duvidar até mesmo da merda da minha sanidade mental
nesse momento e eu estou ainda mais puto, porque passo a acreditar que
sereias existem e ela é uma, encantando-me com seus poderes que me
atraem e podem me matar na mesma medida.
Ela não tem o direito de me fazer gozar.
Ela não pode invadir meus sonhos e minha mente.
Ela não pode me provocar ao ponto de me tirar do sério.
Ela não pode foder meu carro, meu pau e a minha cabeça.
Ela não pode ter esse controle sobre mim.
Ela não pode!
Que as malditas semanas voem e eu possa ficar longe oficialmente
dessa maluca que está levando minha sanidade embora.
Caminho com o celular preso em minha mão, com ninguém menos
que Francis Bell me enchendo o saco como sempre.
Eu me produzi com ele em videochamada e vim até a arena The
Garden com ele ainda na minha cola. O garoto não desiste. Quer confiscar
tudo que farei, afinal, hoje é o grande dia para os Red Fire, que jogarão
contra os Foxes.
Não tenho paz, estou aceitando isso já.
A equipe da Sport já me aguarda aqui. Tenho que encontrá-los
— Estou bem?
— Quê? — o idiota questiona.
— Na aparência, garoto! Estou bem? Estou me achando tão
basiquinha. E a culpa é unicamente sua que não me deu paz ainda. Cara,
não tem mais nada para fazer?
— Eu quero ter a certeza que não fará merda. E sim, está bom seja
lá o que tentou fazer!
Entreabro os lábios e paro perto de uma parede meio espelhada,
vendo meu reflexo. Estou com uma calça jeans clara, justa ao corpo, um
cropped branco e um blazer preto por cima um pouco fechado. Sandálias
pretas nos pés e acessórios prateados como anéis, brincos e colar.
Certo, a maquiagem não é das melhores, mas ao menos na minha
mente, meu delineado parece bem melhor depois da terceira tentativa e meu
batom vermelho nem borrado está, o que é um milagre. Não exagerei no
blush e garanti que os cílios estivessem bem colados. Meus cabelos estão
lisos e soltos, foi o melhor que deu para fazer com esse idiota atormentando
minha vida.
Poxa, dei o meu melhor e o imbecil diz que “está bom seja lá o que
tentei fazer”?
Eu vou matá-lo!
Ajeito a alça da bolsa e a credencial em meu pescoço.
— Pois saiba que estou muito gostosa, viu! O mínimo, era me
elogiar muito, apenas por aturar você. — Olho para ele que revira os olhos.
— Pode focar mais no trabalho? Vamos, você tem que coletar uma
pequena entrevista antes dos jogadores entrarem em quadra. Escolha ao
menos um. Será colocado no ao vivo.
Torno a caminhar e sigo para a sala de descanso, respirando fundo
para não matar ninguém.
A porta está aberta, Alfred está na sala e para minha surpresa,
Jennifer e Malcolm também.
Esse dia pode piorar?
Jogo a bolsa no sofá e puxo o iPad de dentro junto da caneta. Todos
me olham sem entender nada.
— Se você continuar falando na minha cabeça, o máximo que vai
acontecer, é eu retornar a Palo Alto e acabar com você, e juro, não vai
demorar!
— Menos conversa, Foster!
Abro o bloco de notas e escrevo rápido com a caneta e jogo ele no
colo do Alf. Disfarçadamente faço sinal de silêncio a todos.
Alf sorri e assente. Chuto seu pé para ele fazer logo.
— Foster, estão a sua espera na... — Ele se força a entender e chuto
de novo ele para inventar qualquer coisa. Porra, minha letra não ajuda! —
Estão te esperando no vestiário!
— Olha que pena, Francis. O dever me chama! Tchauzinho!
— Me retorne em seguida. Eu quero ter a certeza que não vai...
Desligo na cara dele antes de terminar de falar e caio sentada ao
lado do Alf.
— Valeu!
— Que letra horrível! Mas, de nada! — Dá de ombros e sorrio.
— O que está aprontando, Vicky! Você me prometeu não aprontar
— Jennifer diz e posso ver seu coração prestes a saltar.
— Ele estava desde mais cedo na minha cola. Eu me trocando para
vir e ele falando sem parar — falo.
— Como é? — Malcolm indaga sério.
— Claro que não me troquei na frente dele... Ah, vocês entenderam!
Mas também, não é como se ele fosse notar se eu fizesse, ele não calava a
porra da boca! — Inclino a cabeça para trás e o Alf me olha.
— Desisto dos dois. Eu cansei. Estou indo, pois passei apenas para
resolver algumas coisas, infelizmente não poderei ficar. Foi uma viagem
bem rápida. Por favor, fique de olho nela! Sem a Kristal ou a prima dela por
perto, me arrepio só de imaginar no que ela pode aprontar. A última vez
terminou com ela presa — minha chefe fala com o treinador.
— Você foi presa? — Alf indaga. — Sério, eu te adoro, garota! —
Ele beija minha bochecha e começo a rir.
— Pelo menos alguém ficou feliz com minha quase prisão, pois não
foi bem isso, certo que tive que precisar de ajuda para... Esquece. Vamos
mudar de assunto? Como por exemplo: Por que não disse que viria? —
Olho para a Jennifer.
— Porque foi de última hora. Aproveitei para resolver umas coisas
por aqui. Mas preciso ir. O jornal está uma loucura. E não pode me exigir
satisfações, pois a senhorita que as deve para mim, como a viagem a Los
Angeles que soube de última hora — retruca e me faz sorrir.
Franzo o cenho e me ajeito no sofá.
— Espera, aconteceu algo? O que aqueles engravatados idiotas
fizeram?
Ela sorri e nega, se aproximando para deixar um beijo em meu
rosto.
— Vai ficar tudo bem. Estou resolvendo tudo. Qualquer coisa me
ligue!
Concordo. Ela se despede do Malcolm, que com ela é carinhoso,
comigo só falta me chutar.
Qual o problema dos Bell comigo?
— E é melhor se preparar, pois se isso confirmar, só desejo boa
sorte a você, pois sei que tudo vai cair em seus braços — ela fala com o
Malcolm que respira profundamente.
Olho para o Alf que dá de ombros e cochicha em meu ouvido:
— Cheguei segundos antes de você, não sei de nada.
Concordo.
— Mato os dois e fica tudo em paz — ele responde e ela sorri. —
Boa viagem, Jennifer!
Ela concorda e se afasta, indo embora e me deixa curiosa.
— O que queria comigo, treinador? — Alf questiona e ele olha para
o jogador.
— Preciso que fique de olho no Zion. Ele vai jogar e sei que você
será o que menos vai tornar isso evidente. Qualquer coisa durante o jogo
que ache que ele precise sair, me avise. Não repasse isso aos demais, eles
são mais brutos, jamais lidariam disfarçadamente com isso.
Ele concorda.
— O que ele tem? — pergunta e olho de um para o outro. Malcolm
me olha e desvia o olhar.
— Ele está bem. Só faça isso, por favor. Agora se junte aos demais
no vestiário, já estou indo lá para falar com vocês.
Alf se levanta e me entrega o iPad e a caneta.
— Sim, senhor. Fui! — Ele bate continência e prendo o riso.
Desse garoto eu até gosto. Doidinho da cabeça, coitado.
Ele sai da sala e guardo o iPad e a caneta.
— Estava certo. Nem parece que aconteceu tudo aquilo entre mim e
o Francis. — Suspiro ao confessar e ele me encara.
— É, ainda devo conhecer um pouco do meu sobrinho — responde
de modo rude e franzo o cenho.
O homem sai da sala e ergo a sobrancelha.
Ué, o que foi isso? O que eu fiz agora? Que homem maluco!
Já estou no hotel.
As horas passam sem parar e não consigo dormir. Ronald não falou
mais nada até agora e isso está me irritando cada vez mais. É madrugada e
nem ele, nem ela, deu sinais de vida. Minha preocupação só está
triplicando.
Pego meu celular e procuro a garota nas redes sociais. Encontro seu
perfil facilmente, e é aberto. A última atualização dela foi no feed com a
foto assim que saiu, que já recebe milhares de curtidas e comentários. Não
posso abrir seus stories, ou saberá que vi.
Meu celular começa a tocar e é o Ronald. Finalmente!
— Senhor, dormia?
— Não. Pode falar.
— Já retornamos. Ela já está aqui no hotel com um rapaz. O senhor
precisará dos meus serviços ainda?
Sento-me na cama, pois andava de um lado para o outro.
— Você a deixou com quem? Eu acho que não ouvi direito, Ronald.
— Com um rapaz que ela saiu do bar...
— Deixou aqui no hotel? Ela e o rapaz?
— Sim. O senhor está bem?
Sinto meu coração tornar acelerar. De novo essa merda!
— Ronald, está demitido! — Esbravejo.
— O senhor sempre me demite quando está com raiva. O que
houve? Fiz o que pediu.
— Eu não falei que deveria trazer ela com companhia — digo
entredentes.
— Mas ela iria retornar com ele. Perguntou se eu não me importava
de dar carona ao dois. O s-senhor disse que eu d-deveria retornar com ela.
Eu retornei!
— Só com ela. Desse um fim no idiota! Ronald, vai descansar!
— Mas o senhor me demitiu!
QUAL É DA PORRA DO UNIVERSO TESTANDO MINHA
PACIÊNCIA HOJE?
— Boa noite, Ronald! — Desligo na cara dele.
Jogo o celular na cama e esfrego o rosto.
Eu não deveria me importar. Ela está bem, isso é o bastante.
Porra, uma raiva imensa começa a crescer dentro de mim.
Caminho até o frigobar e pego uma água bem gelada para tentar me
acalmar.
Preciso ficar longe dessa menina. Tem algo muito errado
acontecendo!
Bebi, comi e não encontrei um cara que me interessasse, não quando
estou puta sabendo que Ronald está na minha cola, porque aquele maldito
treinador mandou. Isso me tirou o juízo que restava e não consegui focar
em mais nada.
Ronald não me engana com aquele papo furado e só por isso fiz ele
mentir, dizendo que voltei para o hotel com um cara, ou eu não voltaria com
ele e seu chefinho ficaria puto.
Quem Malcolm Bell pensa que é para fazer isso? Ele não foi nada
discreto na cara de raiva quando soube que eu sairia vestida assim. Também
sei que ele ouviu minha ligação com a Kristal. Só me faço de sonsa para
evitar o estresse e saber aproveitar bem o que planejo.
Começo a rir enquanto caminho pelo corredor, carregando meu
celular e cartão de acesso à porta.
Malcolm Bell não sabe com quem se meteu. Ele quer se meter na
minha vida, mas vai pagar por isso, porque irei tirar até o último fio de juízo
dele. Eu vou fazer esse homem enlouquecer, vou usar todas as armas que
tenho. Se ele pensa que vai controlar minha vida assim do nada e sair ileso,
está enganado.
Ele vai implorar para eu sumir da vida dele ou não me chamo Vicky
Foster.
Paro diante de sua porta e bato nela. Passos dentro do quarto só
reforçam o que sabia: ele nem dormiu na espera de respostas do Ronald, seu
péssimo comparsa, já que bastou eu usar meu tom dócil de quando quero
algo, e minhas manhas, que o homem caiu no meu papo.
A porta se abre e sua expressão de surpresa só reafirma tudo.
— O que quer aqui, Foster? — questiona enquanto admiro seu
peitoral nu.
Ergo o olhar e sorrio. Passo por ele e entro em seu quarto. Sua
expressão de curiosidade fica evidente.
Ele se entrega em cada detalhe.
Deixo meu celular e meu cartão de acesso sobre a poltrona ao lado
da porta. Ele fecha a porta e me olha muito mais sério que o normal.
— Ainda acordado, treinador? — Observo ao redor, tudo
organizado, enquanto o meu em menos de 24h está uma tremenda bagunça.
— Não deveria estar com... — Ele para de falar quando torno a
olhá-lo. Provavelmente se dando conta do erro que cometeria.
— O que eu deveria estar fazendo? Transando com o cara que vim?
— questiono com deboche e me sento em sua cama, cruzando as pernas e
apoiando as mãos sobre o colchão macio. Um sorriso surge em meus lábios.
— Não me interessa nada sobre sua vida. Agora se já acabou, pode
sair! — O homem está bem irritadinho.
— Não. Eu quero ficar aqui e saber… por que acha que tem direito
de comandar meus passos? — indago e ele cruza os braços me encarando.
— Acha que sou idiota e não sei que mandou o seu funcionário ficar me
vigiando? Sabe, para quem disse que aquele seria nosso último sexo e no
dia seguinte fingiríamos que nada aconteceu, está sendo bem contraditório,
se preocupando com o bolo que eu queria, mandando seu funcionário me
vigiar...
Ele sorri com sarcasmo e se senta na poltrona à frente.
— O bolo, prometi que daria. O Ronald, foi apenas por segurança, o
que deveria aprender a se preocupar mais, já que é uma pessoa pública. Não
confunda as coisas, Vicky. Não é nada mais que isso! — Sua voz é baixa,
mas firme.
— Quem eu espero que não confunda as coisas, é você, treinador...
— Levanto-me e caminho em sua direção, onde monto em seu colo e minha
saia sobe ainda mais. Apoio as mãos em seus ombros e ele me olha do
mesmo jeito quando foi até meu quarto. Malcolm Bell não consegue mais
se controlar perto de mim e isso é muito bom. — Porque eu não me
apaixono. Não tenho relacionamentos ou coisas do tipo. Comigo, nada mais
é do que só curtição!
Ele agarra minha bunda e me puxa ainda mais para si, em um gesto
bruto, que me faz ofegar. Seu pau está endurecendo.
— Quem deveria começar a pensar um pouco sobre isso, é você,
garota. Pois largou um cara e veio atrás de mim!
Começo a rir e ele me olha ainda mais sério.
— Tão inocente, Malcolm Bell... Esperava mais esperteza de sua
parte, treinador! — Roço os lábios nos seus e rebolo lentamente em seu
colo. . Minha boceta ainda está um pouco dolorida, mas porra, esse homem
é gostoso demais.
Saio do seu colo e me ajoelho à sua frente, colocando meus cabelos
para trás. Eu vou cumprir o que planejo, ele vai pagar por hoje e ainda por
cima, serei beneficiada enquanto o enlouqueço até o final da maldita última
semana colada nos Red Fire.
— Fiquei devendo terminar o que comecei, treinador... — Mordo o
cantinho da boca e seu olhar queima sobre mim, conforme abaixo sua calça
junto da cueca. O safado quer isso, pois me ajuda retirar os tecidos. Afasto
as peças para longe.
Vê-lo assim, sentado na poltrona, completamente nu, é uma bela
visão. Seu corpo é bem definido, os músculos na medida perfeita. Seu pau é
longo, largo, os pelos são levemente aparados e me deixam ainda mais
excitada.
É, será uma boa vingança nos próximos dias.
Retiro meu cropped, ficando nua na parte de cima. Malcolm apoia
as mãos nas laterais da poltrona e estica um pouco mais das pernas. Isso
deveria virar uma pintura, puta merda.
Ele me olha como se fosse me engolir inteira.
Aproximo-me do seu pau e devoro-o até o limite. Levo ele até
minha garganta e o sugo, enquanto busco suas bolas com as mãos e
massageio. O homem geme alto, forte e meus olhos se prendem ao seu
rosto, onde vejo-o entreabrir mais os lábios, inclinando a cabeça levemente
para o lado. Ele fecha os olhos por alguns segundos, antes de tornar a me
encarar.
Afasto minhas mãos, colocando-as para trás e fico em total
submissão a ele, que percebe rapidamente, quando agarra minha nuca com
força.
— Porra... Não faz isso, garota... — Sua voz é de descontrole e isso
só mostra que atingi meu objetivo, pois o homem está louco. — Eu não vou
parar até encher essa boca de gozo! Quer mesmo que eu controle? —
Chupo-o mais forte e ele geme.
Ele não questiona mais. Começa a mover o quadril, fodendo minha
boca, entrando e saindo rápido de dentro dela, tocando minha garganta com
a ponta do seu pau. Meus olhos marejam um pouco, porque ele é bruto no
movimento, mas é gostoso, não quero que pare. Estou encharcada só por
vê-lo assim.
Malcolm Bell geme alto, seus dedos apertam ainda mais minha nuca
e quando ele se levanta, ergo o olhar, encarando toda sua postura perfeita.
Seus dedos se enrolam nos meus cabelos também e ele puxa os fios, me
fazendo gemer com a boca cheia.
— Caralho... Oooh! — Ele vai mais forte. Meu corpo balança com
os seus impactos. Sua cabeça inclina para trás. — Vicky... Puta que pariu!
— Berra meu nome.
Sua atenção se volta para meu rosto, no instante que seu pau pulsa e
o primeiro jato explode quente dentro da minha boca. O segundo jato vem...
E mais um. Minha boca vai enchendo e o gozo começa a escorrer dela,
descendo pelo meu pescoço, pingando no chão.
Ele retira o pau da minha boca e engulo o que consigo, mas ele
termina de gozar em meus seios, lambuzando-me.
Sorrio admirando a cena.
Levanto-me, parando à sua frente e ele me puxa para si.
— Você quer me enlouquecer! — Sua voz está ofegante. — Olha
para você, coberta do meu gozo... Porra, que delícia que está! — Me beija
sem se importar por eu estar com a boca toda lambuzada do gozo dele. Sua
mão passa por baixo da saia, e ele agarra minha bunda, me erguendo em seu
colo. Contorno as pernas ao seu redor. — Eu não posso te foder hoje,
garota! Ainda está dolorida.
— Adoro sexo anal... Lá não estou dolorida — provoco e ele sorri.
Desse sorriso eu gosto.
— Não... Hoje não. Para de me provocar. Estamos em um jogo
perigoso e sabe disso!
Beijo sua boca e ele caminha comigo, então me deixa sobre sua
cama, onde se deita sobre mim.
— Se não for seu pau enfiado em mim, será um vibrador ou meus
dedos. De qualquer jeito irei gozar hoje, treinador!
— Pare de me chamar assim, já disse!
— Por quê? Fica mais excitado? — Travo mais minhas pernas ao
seu redor e seu pau já está duro novamente e cutuca minha boceta. —
Faltam 3 daquelas camisinhas. Só usamos duas. Que tal duas para minha
boceta e uma para minha bunda? — provoco ainda mais.
— Eu não vou comer sua bunda hoje!
— Então minha boceta hoje e a bunda outro dia? — Sorrio.
Ele balança a cabeça e torna a me beijar, enquanto desliza uma mão
por baixo da minha saia e entra por dentro da minha calcinha, me tocando
onde estou melada. Preciso gozar.
Circula meu clitóris, massageia e afasta nossos lábios por um
instante. Minha boca fica entreaberta, liberando meus gemidos que se
espalham pelo quarto, enquanto me contorço embaixo do homem que
jamais pensei sentir tanto tesão assim.
Em nenhum dos meus pensamentos desejei o treinador do Red Fire,
não até aquele evento que nos levou àquele bar, e até ontem, quando
mostrou o que mais pode fazer.
Quem diria que uma pequena vingança que surgiu hoje, seria uma
das melhores? Eu tiro seu juízo e ganho muitos orgasmos junto.
— Malcolm — sussurro e ele beija meu rosto. Seu pau roça na
minha boceta. Deslizo minhas unhas por sua pele ele geme com a boca
próxima ao meu ouvido.
Seus movimentos aceleram e os meus gemidos viram choramingo
de desespero, altos, intensos. Meus dedos apertam sua pele e o salto da
minha sandália desliza por sua bunda dura, malhada.
— Tão nervosinha, mas em meus braços vira uma putinha
deliciosa... Submissa a cada toque meu... — Sua voz é um convite ao
inferno, só que eu lidero esse espaço, preciso sempre me lembrar disso com
ele.
Meus olhos pesam à medida que o orgasmo começa a vir.
— Malcolm... Malcolm... — Chamo-o desesperada, apertando-o
para mim.
Ele não para, apenas continua e rebola, trazendo mais contato ainda
do seu pau no meu clitóris, acompanhando seu toque com os dedos.
— Aaaaaaaa! — Grito ao gozar alucinada, perdida, sem saber de
mais nada. Meu corpo está trêmulo.
Sinto o líquido quente em minha virilha e é seu gozo. Ele goza por
me ver gozar. Sua boca devora a minha mais uma vez e me perco ainda
mais.
Ela para de andar e retira o celular do bolso. Escuto seu xingo que
ecoa pela quadra.
Entro no quarto de hotel com cuidado, porque não sei se ela dorme.
A TV está ligada com o som baixo.
Vicky dorme deitada no sofá, toda encolhida. A luz está apagada e
somente a claridade da TV ilumina o quarto.
Tiro os sapatos e as coisas do bolso, colocando-os na poltrona. Vejo
suas coisas aos seus pés no sofá e olho para cama. Ela nem tocou nessa
cama, está do jeito que deixei. Balanço a cabeça em negativa. Vejo a caixa
do donut perto da TV e me aproximo para ao menos ver se ela comeu. Abro
e tem apenas quatro. Ronald disse que comprou seis quando devolveu meu
cartão, então ela comeu.
Sério? Formato de coração e rosinhas? Porra, Ronald!
Me viro para o sofá e me aproximo. Pego-a no colo com cuidado e
levo-a para cama, ajeitando-a por baixo do edredom branco.
— Ele é mais gostoso — ela sussurra e observo-a confuso.
Está dormindo ainda. Deve estar sonhando com algo porque sorri.
— Espero que esteja falando de comida — sussurro.
O que é mais gostoso?
Me afasto para me trocar e deitar.
Não demoro para fazer isso e me deito ao seu lado, após desligar a
TV e acender o abajur, olhando-a, que se esparrama na cama me fazendo
sorrir.
Onde eu me meti?
Sinto meu coração acelerar e isso me preocupa, porque se minha
saúde está muito bem, essas palpitações só podem estar sendo... Esfrego o
rosto com ambas as mãos, até sentir um corpo se aconchegar em mim. Olho
para a cena e solto um riso.
— Para quem não gosta de dormir com quem transa… — falo baixo
e abraço seu corpo, mexendo com carinho em seu cabelo.
Ela ergue o rosto e seus olhos abrem lentamente.
— Obrigada.
— Pelo quê? — Toco seu rosto.
— Por me deixar ficar e pelos donuts.
— Eu não mandei o Ronald comprar de coração e rosinhas.
— Uhum... Vou fingir que acredito. — Sua voz é sonolenta.
Não vou discutir, ela vai continuar me provocando de qualquer
maneira.
— Está melhor? — ela concorda. — Com o que sonhava? —
pergunto curioso e ela sorri.
— Comida, por incrível que pareça. Nada mais gostoso que comida,
treinador!
Sorrio e ela se ajeita mais em mim.
Continuo lhe dando carinho e ela esconde o rosto em meu pescoço.
Sua respiração nele me traz um arrepio gostoso. Meu coração acelera mais e
não me importo se ela pode sentir. Estou começando a entrar na fase da
aceitação.
Sim, Vicky Foster mexe comigo mais do que deveria.
Noto que ainda está triste, desanimada. Ela está em busca de
aconchego, carinho e já notei que é difícil pedir isso.
Começo a falar baixinho e espero que ouça tudo.
— Meu irmão, Chase, era muito irresponsável, era um bom homem,
mas vivia loucamente, até conhecer Giulia, mãe do Francis. Foi por ela que
resolveu melhorar em muita coisa. Se formou, começou a trabalhar em uma
grande empresa de compra e venda de empresas falidas, mexia com bolsa
de valores, finanças, coisas sérias e importantes. Giulia só tinha a gente,
cresceu em um lar de adoção, até sair de lá quando adulta. Nunca foi
adotada por ninguém, nós éramos sua família. Quando eles se casaram, ela
engravidou em seguida e durante a gravidez descobriu que era de risco. Por
muitas complicações que descobriram, ou ela interrompia ou escolhas
seriam feitas no parto. Giulia nunca se preparou para engravidar,
simplesmente aconteceu, e ela nunca soube dos problemas de saúde que
possuía. — Lembro-me do seu sorriso lindo ao descobrir que seria mãe pela
primeira vez. Ela falava que seria para a criança, o que nunca teve em sua
vida. — Mesmo com tudo isso, minha cunhada escolheu ir adiante, era uma
escolha unicamente dela. Foi a primeira vez que vimos uma crise intensa no
casamento que parecia ser perfeito. Meu irmão não queria perdê-la, havia
outros meios de terem um filho, mas ela já amava tanto o filho, que quis ir
até o final e nada do que fosse dito pelos médicos ou por nós resolveria
mais. Ela sabia o que queria e nós não mudaríamos nada.
Seu rosto se afasta do meu pescoço e ela deita a cabeça em meu
peito, quietinha, mas sei que está acordada ainda.
— Enfim, o que era previsto aconteceu. Ela se foi e o Francis veio
ao mundo. Chase ficou devastado, nós também, mas não como ele. —
Engulo em seco, contendo a emoção em lembrar disso. — Começou a
entrar em quadros depressivos, mas ainda assim, tirava uma força enorme
para cuidar do filho. Poucos anos depois, ele começou a sentir fortes dores
de cabeça. De início, achávamos que era por tanto remédio que tomava para
estresse ou por viver pelo trabalho e pelo filho. Ele havia se fechado, o
homem de luz já não existia mais.
“Enfim, essas dores foram piorando e insistíamos para que fosse ao
médico, mas ele não nos ouvia, arrumava desculpas. Até que um dia o
Francis ligou para meus pais, apavorado, dizendo que o pai estava caído no
chão do banheiro. Ele foi levado ao hospital e os médicos descobriram que
ele estava com um tumor cerebral muito avançado. As dores de cabeça, as
mudanças de humor... Não era apenas estresse e depressão, tinha algo ainda
mais grave acontecendo. Ele entrou naquele hospital e nunca mais saiu. Era
a segunda pessoa da nossa família que entrava em um hospital e não voltava
para nós.”
Respiro fundo e lembro-me de tudo, o quanto isso nos
desestabilizou. Vicky acaricia meu peito. Engulo em seco mais uma vez e
espero alguns segundos para conseguir continuar. O nó em minha garganta
é forte.
— Eu era obcecado pelo basquete, iria para o draft, todos faziam
suas apostas em mim, e no dia do draft, dentro daquele lugar, desisti de
tudo. Ninguém entendia nada, meus pais brigaram muito comigo, porque eu
estava jogando anos de dedicação fora. Só que eu, o mais novo dos dois
filhos deles, via o que estava acontecendo e sabia que teria que ser forte se
quisesse erguer a família de novo.
“Francis teve que fazer tratamento psicológico, mas foram poucas
sessões. Então ele começou agir como se nada tivesse acontecido, não
chorou, não teve reação alguma, estava canalizando tudo para dentro de si e
se fechando. Meus pais se forçando a seguir com a vida... Eu parecia ser o
único a não achar nada normal tudo aquilo. Então tive que ser forte de
verdade, engolir toda e qualquer dor, para cuidar da minha família e do meu
sobrinho. Só que no basquete, nunca conseguiria, porque ficaria longe deles
por muito tempo.”
Vicky ergue o rosto e me encara com os olhos marejados.
— Malcolm...
— Escuta, Maluquinha... — Peço e ela assente. — Eu praticamente
criei o Francis, e aos poucos, vi meus pais voltarem a sorrir de verdade.
Eles encontraram razões para continuar vivendo. Viajam sem parar, riem,
agem como crianças, mas vivem. Eles ajudaram a criar o Francis, mas a
figura paterna que ele teve foi eu. E do mesmo modo que me fechei para ser
forte, ele aprendeu a ser igual. Só que eu passei a treinar os jovens em um
centro de basquete, até ser convidado para Golden depois de um tempo.
Entrei junto do Sparks para os Red Fire. Eu tive distrações, descontava e
ainda desconto a dor na academia, treinando os jogadores, enchendo minha
cabeça; isso tudo para não pensar só no passado e na falta que Giulia e
Chase fazem. Só esqueci de ensinar isso ao Francis, esqueci de dizer a ele
que precisava sentir, que se fechar assim não faria bem. Dei a ele tudo que
precisou, só não dei a conversa certa, que dinheiro e bens materiais não
dariam.
— Você não tem culpa... Deu o seu melhor, cada pessoa sofre de um
jeito, Malcolm...
Sorrio fraco e toco seu rosto. Tão linda!
— Meus pais me alertaram que isso não seria bom e eu não ouvi.
Quando ele entrou para a universidade, acreditei que seria mais
comunicativo, só que ele focou tanto em trabalho e em viver por isso, que
tudo tem piorado. Antes que pense, não, ele não está na Sport por minha
causa; ele era uma das pessoas na lista de entrevistas para o cargo e foi
escolhido. Jennifer foi saber que era meu sobrinho, quando um dia fui
buscá-lo porque estava sem carro. Assim como você, Francis é orgulhoso,
jamais aceitaria usar o sobrenome influente para algo. Ele poderia conseguir
muita coisa, a avó era uma grande bailarina profissional, o avô um ex-
militar respeitado, o pai era conhecido demais na área que atuava e o tio,
um treinador respeitado da maior competição de basquete do país... Ele não
quis ajuda. Ele nunca quer nossa ajuda para nada.
Ela se senta na cama, cruza as pernas e me olha.
— Por que está dizendo tudo isso? Não entendo, Malcolm —
pergunta baixinho.
Me ajeito na cama, com as costas encostada na cabeceira. Ela segue
o movimento.
— Estou te contado uma coisa que não encontraria em jornal algum.
O verdadeiro bastidor da família Bell, que todos acham que fomos fortes e
superamos rápido, mas ninguém sabe toda dor que carregamos, das coisas
que deixamos de lado e o quanto isso ainda dói. Todos olham para mim e
pensam que sou essa muralha o tempo todo, frio, sério demais. Tudo bem
que sério sempre fui, o oposto do Chase, mas tive que amadurecer rápido
demais, para cuidar de uma criança entrando na adolescência e tentar
animar meus pais. Fingir ser forte o tempo todo me trouxe até aqui, só que
quando olho ao redor, ninguém quer saber como realmente estou, porque
para eles, eu aguento tudo. Sou uma muralha na mente de todos.
Ela olha para as mãos em seu colo e assente.
— Eu sinto muito por tudo e saiba que comecei a ter 1% de simpatia
pelo Francis. — Sorrio. — Ele realmente nunca relacionou nada a você ou
sua família. Descobri que vocês são da mesma família, ano passado com a
Kristal e minha prima, quando vimos os dois juntos e lembramos das
notícias sobre seu irmão ter tido um filho, e só então entendemos tudo.
Confirma o que disse sobre ele nunca usar o sobrenome da família para
nada. Mas não justifica ainda o ódio gratuito que ele sente por mim. O
jornal ceder a ele várias coisas, não é novidade, a bancada engravatada é
bem machista. Só que o modo como ele age comigo... Nunca fiz nada a ele.
— Não, não justifica, e você ficar tentando ser forte, também não é
o caminho. — Ela me olha. — Exatamente o que ouviu, e vou ter uma
conversa séria com o Francis, porque sei que em partes, ele tem a ver com
o que está acontecendo com você. Está cansada mentalmente, porque
ninguém aguenta ser sugado dessa forma. Só que precisa falar, não faça
como eu, como ele, como meu irmão fez. Se comunique, Vicky. Fale com a
Jennifer, se posicione de verdade com o Francis, não deixe que as pessoas
destruam sua paz. Ninguém tem o direito disso. E quer saber? Ambos são
parecidos, mais do que imaginam. — Ela revira os olhos. — Sabe que são,
só não quer admitir. São teimosos e orgulhosos. Se um grita, o outro quer
gritar mais alto. Se um ataca, o outro inicia uma guerra. Não sabem
conversar, dialogar de verdade, sem ataques, sendo adultos e bons
profissionais que são, cada um ao seu modo.
— Por que acho que isso está sendo um sermão com história real e
triste, para me fazer refletir melhor? — Me olha.
— Porque é realmente isso. Olha como está, acha justo ficar assim e
se machucar mais? Não vai aguentar ficar mais algumas semanas se não
tomar uma atitude sensata, Vicky.
— É... Eu sei... Por isso que pensei em deixar a Golden e retornar a
Palo Alto. — Uma lágrima escorre pelo seu rosto. — Nunca desisti de nada,
só que não sei o que está acontecendo. Esse ano estou estranha... E toda
essa cobrança em todos esses dias, a pressão... Estou surtando!
Puxo-a para meus braços.
— Acha que nós dois também é parte dessa pressão? — pergunto e
sinto receio de sua resposta.
— Não. É a parte mais divertida desses dias, por incrível que pareça.
E saiba que negarei até a morte se contar isso para alguém — responde e
sorrio.
— Dorme, amanhã será um dia novo e poderá pensar com calma
sobre tudo. Faça o que vai te deixar em paz, mas nunca tome uma decisão
precipitada sobre algo importante. Dizem por aí que não se pode voltar
atrás, e isso às vezes doerá, porque é melhor viver com “eu fiz de tudo”, do
que morrer com o “e se?”.
— Sente arrependimento por ter abandonado o basquete?
— Às vezes sim, mas aprendi a lidar.
Ela assente e suspira.
— Treinador? — Me chama baixinho.
— Oi?
— Estou me sentindo sozinha, nunca pensei que isso aconteceria e
estar aqui, vivendo essa loucura esses dias, está me fazendo pensar em
muitas coisas que jamais imaginei que um dia passaria pela minha cabeça.
— Por isso veio chateada para meu quarto? Parecia melhor depois
da manhã intensa.
— Eu liguei para as meninas. — Seu tom diz que algo saiu errado.
— Cherry estava ajeitando as coisas para sua viagem a trabalho, mas antes
se encontraria com o Oliver na cidade que ele estava. Kristal estava
escrevendo uma matéria e depois iria para um evento importante... Tentei
falar com meus pais e estavam em um jantar. Meus avós iriam fazer uma
fogueira juntos. A vida de todos andou e eu amo muito eles, só que percebi
que só tenho eles, e agora que cada um tem um rumo, têm suas vidas
amorosas, pessoais e profissionais agitadas, e eu continuei parada aqui,
vivendo do mesmo jeito de sempre. Não condeno eles, quero que sejam
felizes, só que... Esquece vai...
— Está com medo. Medo de ficar sozinha de vez.
— É... Acho que sim... Esse dia só tem que acabar logo, porque
desde a hora que acordei, sentia que não seria bom.
Aperto-a em meus braços e não falo nada. Mesmo tentando
disfarçar, ela chora baixinho até cair no sono. Eu não durmo, fico velando
seu sono, cuidando e dando carinho, para que se sinta acolhida.
Por trás de pessoas fortes, existem pessoas que podem não estar
aguentando mais e basta um pingo para que tudo transborde de vez.
Voltei para meu quarto logo cedo, precisava me arrumar para
trabalhar, porque estarei presente no dia dos jogadores hoje, acompanhando
tudo, porque amanhã é o grande dia.
Termino de ajeitar o cabelo em um coque baixo e bagunçado com
alguns fios soltos na frente. Coloquei uma calça jeans clara, sandália azul e
uma blusa preta, justa ao corpo. Falta ainda fazer a maquiagem, mas farei
isso rápido.
Pego a necessaire com elas e vejo a caixa dos donuts que me faz
sorrir. Malcolm foi incrível, de uma maneira que nunca imaginei que
pudesse ser. Nossa conversa, o carinho dele, tudo foi... Não sei explicar
direito porque nunca senti algo assim, mas foi leve, calmo e ao mesmo
tempo assustador.
Balanço a cabeça com o friozinho que surge na minha barriga. Deve
ser fome!
— Foco, precisa se arrumar logo, Vicky! — Brigo comigo mesma.
Ao menos me sinto muito melhor e isso é o mais importante agora,
não quero ficar pensando demais sobre isso, porque realmente tem algo
estranho demais acontecendo.
Estamos em uma van toda preta, que levará o time para fazer
algumas fotos. O treinador está conosco e um dos cameraman da Sport
também veio acompanhar, para filmar tudo.
Me penduro no encosto do banco onde está o Alfred e o Tyron.
Irritar as pessoas manterá minha animação do dia, sei disso e depois de
ontem, só quero manter a tranquilidade.
— Eu espero que esteja no celular com a Kristal, porque se for com
outra mulher, vou arrancar seu pau fora e fazer você comê-lo!
— VICKY, SAI DAQUI! — Ele grita puto e os meninos riem. —
Não tem trabalho?
— Tenho. Estou nele, mas meu cameraman está lá na frente com o
motorista, ou seja, agora posso te incomodar. — Dou leves tapinhas em sua
cabeça e ele empurra minha mão.
— Tyron está fodido. Não tem a namorada, mas tem a amiga da
namorada para vigiá-lo — Alf diz e o olho.
— Hm, então precisa de vigia, Tyron Sparks? Cara, você sabe que
sua namorada é louca também, né? Eu teria medo se fosse você — falo.
— Os dois querem calar a boca? Puta que pariu! Quem deixou a
Foster vir com a gente? — Tyron indaga e sorrio.
Olho para onde Malcolm está com o Elliot e vejo seus olhares
discretos na minha direção. Dou uma piscadinha para ele que me olha feio.
— Reclama com a Golden e o jornal. Só sigo ordens. Além disso, eu
que deveria reclamar em ficar rodeada de um bando de atletas que são um
porre!
— Por que não foi cobrir a temporada de futebol americano? Está
acontecendo também! — Tanner diz e o olho de lado.
— Não me ofende. Eu odeio futebol americano!
— Por quê? — Alf me olha ao perguntar.
— Porque esse esporte é do capeta. Eu odeio quando tenho que
cobrir qualquer coisa deles.
— Que esporte gosta, Vicky? Você reclama de todos — Tyron
indaga e sorrio safada.
— Se sexo contar como esporte, tem todo meu pódio.
Eles riem e Tyron me empurra para meu assento. Mas vejo Malcolm
me fuzilar com o olhar.
O que eu fiz? Acordei animada, só isso!
— Se não gosta de esporte, por que se tornou jornalista esportiva?
— Killiam questiona e sorrio.
— Porque não gosto de praticar esportes e alguns acho chato, mas
gosto de trabalhar falando deles. Pesquisar o assunto também é interessante,
mesmo que muitas vezes eu recorra à Kristal, para salvar meu rabo. Além
disso, eu queria ser jornalista e repórter, trabalhar com o público, TV, rádio,
qualquer coisa comunicativa. Já me imaginaram noticiando tragédias ou
falando de política e coisas do tipo?
— NÃO! — respondem juntos e acho ofensivo. Poxa, poderiam
pegar leve.
— Então... E o que seria de vocês sem minhas belas perguntas, que
precisam usar a ervilha que chamam de cérebro para responder?
— Poderia ser jornalista de fofoca. Adora uma — Tyron revida.
— Ei! Me respeita, girafa! Não faço fofocas, já disse. Eu gosto de
estar por dentro dos assuntos e compartilhar o que acho necessário!
— Estou com ela. Informação nunca é demais! — Alf diz e ergue a
mão. Bato nela e rimos.
— Vocês compartilham o mesmo cérebro! Puta merda — Zion
reclama e sorrimos.
A van entra em um estacionamento fechado.
Chegamos, finalmente!
— Ainda bem que chegamos. Mais um segundo aturando essa
garota, eu a jogaria pela janela — Tyron reclama e sorrio vendo-o se
levantar.
— É assim que vai deixar seus jogadores me tratarem, treinador
Bell? — provoco.
— Eu vou jogar todos vocês para longe se não calarem a boca — ele
reclama e Alf me olha rindo, então pisco para ele.
Todos começam a sair e pego minha bolsa. Malcolm é o único deles
a ficar na van. Passo por ele, mas ele me segura e olha para onde todos se
afastam.
— Se continuar falando sobre sexo ou dando espaço para
intimidades com meus jogadores, terá problemas. Deixe-os em paz, Foster!
Começo a rir.
— Deveria se preocupar em usar as camisinhas que faltam,
treinador... Faltam três — sussurro e desço da van dando um tchauzinho
para ele, que me encara muito sério.
Os meninos estão tirando foto e estou recolhendo algumas
exclusivas para o jornal, e de olho no que o cameraman faz, para ver se
está tudo certo, já que o Sawyer não veio.
Registro alguns momentos com o celular, mas meus olhos estão do
outro lado, onde Malcolm conversa com a moça que organizou essa sessão.
Nossa, ele sabe sorrir bem para as pessoas, né? Fico impressionada
com isso, porque comigo é raro, com outros não parece ter esse problema.
Aperto o celular em minha mão e ergo a sobrancelha em vê-lo rir de
algo que ela diz.
Olha como ele ri... Que homem risonho! Admirável isso.
Reviro os olhos e coloco o celular no bolso, cruzo os braços,
encosto-me na parede e vejo os meninos fazendo as fotos. Eles usam
camisetas do time, bola e se divertem na bagunça que criam.
Ouço o riso escandaloso da mulher. Olho e ela toca no braço dele ao
rir toda animadinha. Pelo jeito, a única mulher que o mundo desconfiaria de
ter algo com ele, sou eu. As outras podem subir na cabeça dele, que
ninguém pensaria nada. E foda-se que com o jornal tem regras, mas se eu
me aproximo, ele me expulsa quando estamos em público.
Curioso isso.
Alf passa por mim para trocar de roupa, mas puxo-o pela camiseta e
ele retorna de costas, quase caindo.
— Opa... O que houve, gata?
— Quem é essa organizadora? — Solto sua camiseta e ele se ajeita,
olhando para os dois risonhos.
Se inclina um pouco na minha direção para falar.
— Ah, ela sempre organiza todas as nossas sessões ou eventos. É
irmã da Camila Rogers, conhece? Uma das olheiras da Golden — concordo.
— Então, ela é a irmã da Camila. — Agora entendo o porquê achava que já
a conhecia, ela se parece muito com a irmã. — Dizem por aí que o treinador
e essa aí... — Indica mulher com um aceno sutil — Já tiveram um caso no
passado, mas ninguém confirmou nada.
— Sério? Que interessante... Qual o nome dela?
— Abby. Abby Rogers. Por quê?
— Nada não. Achei surpreendente ela com o treinador. Ele está
sempre sério, mas com ela é bem soltinho.
— Ah, entendi. Sim, eles sempre se tratam bem quando se
encontram. — Chamam por ele. — Fui, gata!
Concordo e ele se afasta. Puxo o celular do bolso e pesquiso por ela.
Vejo diversas informações. É gerente de marketing da Golden, sempre
coordena os melhores meios de divulgação dos times, como grandes
eventos, fotos e sempre está em cima de tudo para que as coisas fiquem do
jeito que deseja.
Nossa, como é profissional.
Engraçado, não a vi olhar uma única vez para as fotos sendo feitas!
Guardo o celular no bolso, e nesse instante, a bola vem na minha
direção, até bato nela, mas não desvio a tempo e ela pega em uma parte do
meu rosto, mas pelo menos a dor é menor.
— Porra! Vicky, está bem? — Killiam pergunta e ele e Tyron se
aproximam.
— Qual o problema de vocês? — pergunto irritada.
— Era para o Tyron pegar, mas ele não viu. Desculpa! Deixa-me ver
isso...
— Machucou? — Tyron pergunta preocupado e o olha de lado.
Killiam tira minha mão do meu rosto e confere.
— Ficou um pouquinho vermelho. Desculpa! — Killiam me abraça
rindo. Cretino.
— Tyron, se você rir, eu te mato! Isso vale para qualquer um! —
Grito.
— Quer gelo? Eu arrumo para você — Sparks diz e nego.
Malcolm se aproxima, está sério.
Claro, a queridinha dele não está mais por perto, aí vem todo
marrento.
— Deixem que eu vejo isso, voltem ao que estavam fazendo.
Deveriam prestar mais atenção nas coisas que fazem. Essa merda mais forte
teria machucado bem sério ela — diz irritado. — Vai, Killiam — diz ao
jogador que se afasta de mim rapidamente.
— Foi realmente sem querer, treinador. Nunca iria machucá-la
propositalmente — Killiam se explica.
— Vem, cara — Tyron diz ao colega. — Vicky, está bem mesmo?
— Estou! Estão perdoados. Vão logo, suas pestes!
Eles se afastam e Killiam sussurra um pedido de desculpa de novo e
concordo. O coitado deve estar traumatizado, mas bem-feito, porque porra,
essa bola dói.
— Vamos ver isso para não inchar — Malcolm diz.
— Não precisa, treinador. Eu sei me virar sozinha. Além disso,
quanto menos ficarmos próximos, menos problemas teremos, não é?
Ele franze o cenho.
— Vicky, deixe eu te ajudar com isso. Não seja teimosa.
— Eu já disse ao senhor que não precisa. Com licença! — Me
afasto, irritada.
Era só o que me faltava, querer se mandão do nada. O homem vive
me expulsando quando tem risco de nos verem e agora vem dando ordens?
Eu sou o que? Um animal que ele adestra? Vá a merda!
Além disso, as regras da Golden com o jornal têm que ser
respeitadas, não é? Quem sou eu para prejudicar alguém?!
Esse treinador dos infernos me faz repensar até minha pequena
vingança em deixá-lo doido. Em um dia é fofo e no outro é um mandão dos
infernos que fica rindo à toa com outra mulher. Para o inferno os homens.
Argh, que inferno!
Se meu rosto cair, eu mato o Killiam!
Vou matar o Sawyer que jogou essa bomba para eu lidar e ainda sou
agredida pela porra de uma bola!
Meu celular vibra e pego para ver, é uma mensagem do Francis:
Entro na quadra junto das meninas e para meu azar, Ed Sheeran toca
bem alto com a porcaria de Perfect. Não, a música não é ruim, é bonita, mas
sério? Logo hoje? Não tinha nada mais animado para tocar nesse lugar?
Que inferno!
As torcidas vão começar a entrar agora. Sawyer já me aguarda para
testarmos os microfones e câmeras.
— É, vou aproveitar para recolher conteúdos e tentar ser menos
xingada pela Jennifer — Kristal diz e começo a rir.
— Não mandei fugirem de suas tarefas. Por falar nisso, e seu
aniversário, como ficará, Cherry? — Olho para ela que sorri sem jeito. —
Ah, não... Não vai comemorar?
— Então, terei que estender a viagem na Coreia. Estarei lá durante
meu aniversário, mas não tem problema, porque estarei fazendo algo que
amo, além disso, a Karen vai estar comigo, não estarei totalmente longe de
todos nesse dia. Não se preocupe, estou feliz!
— Tudo bem, só não vou xingar porque estou vendo que está bem
animada com tudo isso!
— Nem me fala. Minha mãe está quase me trocando por ela! —
Kristal reclama e começamos a rir.
— Para, não tem nada disso! — Cherry fica vermelhinha.
Que saudade das minhas meninas. Consigo até me sentir eu mesma
agora.
Elas se sentam em seus lugares e olho meu celular conferindo as
mensagens.
— É... Até que posso entender — Kristal fala e olho para ela,
confusa com seu comentário.
Sigo o olhar das duas, virando o rosto com calma e vejo Malcolm de
terno preto e camisa branca, com os primeiros botões abertos. A calça e o
paletó parecem terem sido desenhados nele, porque marcam seu corpo de
um jeito único. Ele ajeita a credencial em seu pescoço enquanto conversa
com ninguém menos que a tal da Abby Rogers.
Perco um pouco do foco, na verdade, perdi todo meu raciocínio.
Malcolm está incrivelmente lindo hoje, ainda mais que o normal e
nem sei como fez isso, porque ele já é lindo. A mulher conversa algo com
ele, bem entretida.
— Olhe, a irmã da Camila! Faz tempo que não vejo essa mulher.
Genética incrível da família Rogers, meu Deus — Kristal comenta.
— Camila é a tal olheira que todos temem da Golden? — Cherry
questiona.
— Uma das olheiras tenebrosas, mas é gente boa. Só que leva bem a
sério sua função. Essa é a irmã dela, gerente de marketing da Golden. O que
me deixa irritada nisso tudo, é ver esse tanto de mulher incrível dando a eles
ainda mais nome no país, e os idiotas seguem sendo machistas! — Kris
retruca.
— Vicky? — Cherry me chama e olho para ela, desviando o olhar
dos dois. — Tudo bem? Ficou pálida de repente!
— Ah sim, deve ter sido uma leve queda de pressão. Bom, preciso
falar com o Sawyer. As duas se comportem!
— Nós duas? Quem andou aprontando feio não fomos nós! —
Kristal retruca e mostro o dedo a ela.
A música começa a tocar de novo. Mas que merda é essa? Não
pagaram o suficiente ao DJ para tocar mais músicas?
Me afasto delas e subo a escadaria para onde a equipe está. Me
aproximo da porta do local e olho para baixo, vendo-o.
Ele sabia que eu estava lá. Cherry quando me chamou fez eco por
ainda estar vazio, a música não o impediu de ouvir, tenho certeza. Mas ele
nem sequer me olhou e agora se aproxima do corredor para os vestiários,
junto dela.
Não deveria estar doendo, mas está. Merda, está doendo muito.
O jogo entre os Red Fire e os Strong Wave acontece. As meninas
estão assistindo na parte de baixo, enquanto estou com a equipe na parte
dedicada à imprensa. Preferi não ficar lá embaixo, para poder focar mais no
jogo e fazer melhor meu trabalho.
Conversar com elas foi bom, porque tirei uma parte do peso que eu
estava sentindo e nem sabia que precisava tanto desabafar, mas não quero
ficar pensando nisso agora. Combinamos de jantarmos juntas antes de irem
embora. Mais um tempinho com elas será ótimo.
Observo o jogo através das vidraças que não estão muito limpas.
Faço algumas anotações no meu iPad, crendo que irei entender minha letra
depois, mas tenho certeza que terei que decifrar.
Tyron faz uma cesta surpreendente em um bonito jump e me arranca
um sorriso sincero. A torcida surta, obviamente. O jogo está mais garantido
para os Red Fire. Se ganharem, vão quebrar o que chamam de maldição, já
que todos os últimos jogos deles aqui em Oakland foram bem maus.
Killiam está fazendo um bom jogo e Zion não é diferente. Todos do
time parecem bem concentrados, e isso poupa o treinador deles de ficar
gritando demais, ou ele só quer fazer bonito para a tal Abby, que junto com
a irmã, está sentada atrás de onde o Malcolm está. Da Camila eu gosto, já
essa Abby, diria que não me simpatizei, mas não julgo, quem sou eu para
julgar? Longe de mim, fazer algo do tipo.
— Claire, vou sentar ali naquele lugar vago, junto do pessoal. Estou
com o celular. No próximo intervalo gravamos, ok? — aviso, já que ela
estava digitando algo no notebook em seu colo.
— Claro! Avisarei ao Sawyer! — Sorri.
Claro que avisa, ama buscar motivos para estar coladinha nele.
Parece que o mundo resolveu me rodear de amores, pelo amor de Deus!
Me afasto e saio da área em que estava, já descendo a escadaria.
Passo por algumas pessoas que me olham confusas, afinal, estou
credenciada como imprensa e aqui no meio deles não seria meu lugar, mas é
onde me sento, bem na parte de cima, em um banco vago, no meio de um
monte de torcedores repletos de emoções. Cruzo minhas pernas e fico
quieta, focada no que tenho que fazer.
O jogo continua agitado, os Strong Wave marcam três pontos, mas
ainda assim, estão dez atrás dos Red Fire. Tanner é levado ao chão e o
jogador adversário recebe uma falta. É nítido que o Tanner gostou, porque
dá um sorrisinho levado. Não vou duvidar se falarem que ele armou essa
falta.
Balanço a cabeça e sorrio, porque que não direi isso em voz alta no
meio desses torcedores malucos, pois é capaz de me jogarem daqui de cima.
Olho para o treinador e dou uma leve suspirada involuntária.
Está tão gostoso hoje...
Mas isso não muda nada!
A torcida grita e isso chama não só a minha atenção, mas também a
de um garoto ao meu lado, que deve ter uns quinze anos. Nem da minha
boca sai tantas palavras de baixo calão assim. O que o esporte faz com as
pessoas, é assustador, o povo só falta infartar.
Vejo o Alfred no chão e entendo o motivo do surto, outra falta.
Não julgo os Wave, cada um usa suas armas. Eu que não sei jogar,
seria desse jeito, socando todo mundo.
Às vezes fico pensando que se meus pensamentos vazam, sou presa
por ferir os Direitos Humanos e todo respeito mundial.
Começo a rir sozinha, afinal, sou uma boa pessoa, me considero até
da paz perto de algumas pessoas.
Meu celular começa a vibrar. Retiro do bolso e vejo o nome do
Francis. É uma mensagem:
Ah, pronto! O que esse maluco aprontou agora? Poderia ser ele
dizendo que vai retornar antes do previsto e poderei sumir disso aqui!
Olho para seu tio e vejo-o falar com a Camila, mas é a Abby que
tenta sua atenção. Reviro os olhos e me levanto, guardando o celular no
bolso.
— Com licença, repórter passando — falo ao passar pela galera
maluca.
Corto caminho pela parte de cima, subindo a escadaria. Entro na
área que estava antes e desço a escada rolante, indo para o lugar onde ficam
as salas e vestiário. Preciso estar em paz para lidar com esse cara.
Sinceramente, me questiono qual pecado estou pagando diariamente,
porque deve ter sido algo muito grave.
Caminho em direção a sala de descanso, onde irei encontrar comidas
e bebidas também. Passo pela porta aberta.
— Preciso de álcool para conseguir lidar com esse cara e nem tem
nessa sala! — Olho para o lado e cumprimento uma pessoa, passando
rápido por ela. — Ei, Francis!
Paro abruptamente no meio da sala e me viro em câmera lenta para
o garoto sentado com uma muleta ao seu lado.
— Mas o que inferno está fazendo aqui e ainda todo ferrado?! —
falo mais alto que o esperado, quase derrubando o iPad. — O que é isso?
Está tendo alguma promoção para Oakland e ninguém me avisou? Todos
estão vindo!
Coloco o iPad na mesa e pego um energético. Bebo ele sem
acreditar no que vejo. Não é miragem. Francis Bell está aqui.
— Fecha a porta, meu tio não pode saber que estou aqui, pelo
menos ainda não!
— Ele está na quadra, tem alguns minutos para esse tempo acabar...
QUE MERDA FAZ AQUI?
Me aproximo e sento no braço do sofá à sua frente. Ele revira os
olhos. Quem deveria estar fazendo isso era eu.
— Conversei com meu médico e o fisioterapeuta. Se eu não forçar o
pé mais que o necessário, posso fazer minhas coisas, desde que continue
com a fisioterapia ao menos duas vezes na semana, e isso é o de menos, tem
a equipe na Golden para isso. Decidi voltar antes ou vou enlouquecer. Não
aguento mais um minuto em Palo Alto, mas isso não te interessa!
— Ah, me interessa sim, porque envolve meu rabo! A Jennifer sabe
disso? — Bebo mais do meu energético. Sério, preciso de uma boa dose de
álcool!
— Claro que sabe! Acha que sou você e aquela sua amiga que
fazem merda por vontade própria e comunicam depois?
— Aquela sua amiga, não! Use os nossos nomes, gato! Temos
nomes, Vicky e Kristal. Se quiser posso soletrar para o senhor aprender! —
Encaro-o fixamente e ele me fuzila com seu olhar, que nunca me abala em
nada. Só perde tempo tentando me amedrontar. — E se a Jennifer sabe, por
que ainda estou aqui e não fui comunicada?
— Conferiu seu e-mail? Se tivesse feito isso, não estaria
reclamando!
Que estresse, viu!
Puxo o celular do bolso e entro no meu e-mail. Vejo que tem um da
Sport Universe, é um comunicado. Leio tudo atentamente sentindo que meu
castigo só está triplicando.
— Não foi isso que desejei! Não foi mesmo. Não... Isso é um erro,
não é? Me fala que é um erro, Francis! — Encaro-o e pela sua cara de
desgosto, isso é real. — VAMOS TRABALHAR A TEMPORADA
INTEIRA JUNTOS?
— Para de gritar, louca! Estou tão puto quanto você. Jennifer parece
que perdeu o juízo. Isso não estava funcionando nem a distância!
Guardo o celular no bolso. Ela ainda teve a coragem de finalizar o e-
mail dizendo: Se respeitem, precisam aprender a trabalharem juntos. Conto
com vocês!
JENNIFER MITCHELL ME ODEIA!
Termino de beber meu energético e deixo a lata na mesa ao lado.
— Isso é loucura! Como vai trabalhar se não pode forçar esse pé?
Passamos horas de pé! E trabalharmos juntos? Ela ficou louca?
— Vamos ter que dividir isso. Eu não vou ceder, Vicky! Ou os dois
ficam, ou nenhum fica, você viu a merda do e-mail! Você vai ter que me
ouvir!
Começo a rir e me levanto, parando perto da sua muleta. Pego-a e
aponto na sua direção. Minha sanidade está por um fio nesse momento.
— Se pensa que vai me controlar pessoalmente, está cometendo um
erro. Posso até pensar em continuar, mas será de um jeito que funcione para
ambos, ou essa muleta vai entrar onde não se vê a luz e não estou
brincando! Eu passei a porra dos últimos dias surtando, criando rugas, meu
olho chega a tremer, e devo estar prestes a infartar! — Grudo a ponta da
muleta em seu peito e ele se inclina para trás. — Você e aquele seu tio,
tornaram meus últimos dias infernais. Se eu morrer hoje, minha expressão
será ódio puro, vão chamar alguém para poder encaminhar minha alma à
luz, porque ela deve estar na porra das trevas! Então, ou fazemos esse
caralho funcionar para ambos, ou nós dois iremos fazer nossas lindas
malinhas e vamos embora. Fui clara? — Nunca falei tão sério na minha
vida, como se fossem minhas últimas palavras. Mas também nunca estive
tão movida na força do ódio!
— Terminou?! — Ele empurra a muleta de seu peito e puxa,
tirando-a de mim. — Larga isso, maluca!
— Maluca? Garoto, esse seu maldito roteiro de trabalho está me
enlouquecendo! Não sou um robô para trabalhar conforme você. Eu não sou
assim!
— Isso não vai dar certo! Faça suas malas. — Ele se levanta e
parece pisar errado, porque cai sentado e o ajudo.
— Não se quebra mais, idiota! Vão achar que tentei te matar.
Sossega essa bunda, que vou pensar em algo, porque conto com a grana alta
que receberemos no final disso!
Ele me olha desconfiado. Cruzo os braços e caminho de um lado
para o outro. Pensaria melhor comendo um hambúrguer e fritas!
Jennifer me paga. Vou esganar essa mulher. Isso é castigo demais.
Sabia que ela ter me livrado da cadeia sairia caro!
Respiro fundo e o encaro, parando a sua frente.
— Já sei... Você não pode ficar muito tempo de pé, porque está todo
torto aí! — Ele me olha feio. — Você entendeu. Até estar tudo bem, você
cuida da parte técnica de tudo, imagens legais a serem recolhidas e matérias
a serem criadas, tudo que o Sawyer precisar de nós. Eu fico à frente das
câmeras como já estava antes, porém você faz o bastidor do seu jeito e faço
a linha de frente do meu. É pegar o largar! E olha que não costumo negociar
com quem só penso em matar!
Escutamos o barulho dos times descendo para o vestiário.
— Então? Vai! Pense rápido — falo e ele respira fundo.
Estressadinho.
— Ok, inferno! Isso é castigo, só pode!
— Olha só, primeira vez que concordamos, Coisinha Estranha!
Agora tenho que ir. A equipe está toda na parte da imprensa, vai querer
ficar lá ou aqui?
— Vou para lá! Preciso saber o que vai aprontar!
Ele se levanta e pego meu iPad, esperando o idiota caminhar em
seus passos mais lentos, afinal, não sou tão escrota assim, se ele cair, pelo
menos consigo tentar segurá-lo, antes que se mate por inteiro. Quero saber
o que o tio dele vai achar dessa decisão maluca.
Que médico é esse que acha que esse doido está bom para ficar
trabalhando? O pé está imobilizado! Se bem que a Jennifer nunca aprovaria
se não tivesse certeza de que ele não vai se prejudicar mais.
Ah, aquela Jennifer... Me paga!
O jogo está no final, hoje não fiz ao vivo nos intervalos, porque com
certeza a Sport está segurando a audiência do jogo, já que é um grande
momento aos Red Fire, prestes a vencer aqui depois de um tempo sem
conseguir isso. E esses cortes, mesmo que no intervalo, não seriam legais,
porque estão cobrindo os bastidores e com microfone nos capitães dos
times, para o público ter acesso a tudo nesse grande jogo.
— Se mesmo acidentado, ele vier encher meu saco, vou acertar essa
muleta nele! — Sawyer reclama quando para ao meu lado e indica o Francis
com a cabeça.
Prendo o riso.
— Quanta maldade nesse coração, velhote!
— Não me estressa também, menina!
Dou uma piscadinha e me encosto no vidro para ver o jogo. Tyron
marca três pontos e os Wave pegam a bola e correm para tentar marcar, mas
o Killiam recupera a bola e repassa para o Tanner, que passa para o Zion e
esse arremessa marcando um ponto.
Nossa, como correm, se movimentam... Deus me livre! Estou só
cansada assistindo.
Tyron pega a bola, mas o time adversário recupera e marca dois
pontos.
Que afrontosos!
Olho na direção do Malcolm e o homem está ficando impaciente,
porque já abriu o paletó e as mãos estão no bolso, com ele fuzilando seus
jogadores e dando alguns gritos.
E eu achando que ficaria longe dele, mas agora recebo a notícia que
além de ficar, irei aguentar tio e sobrinho. Pisco algumas vezes com aquela
sensação confusa de novo, bem estranha.
Gritos me assustam e é o Tanner fazendo a cesta final.
Arrumo suas coisas junto com o Ronald, porque ela ainda está
desconectada do mundo. Era muito claro que a bebedeira traria esse
resultado. Comeu pouco, porque começou a enjoar por causa dor de cabeça.
Eu juro, quero esganá-la por não se cuidar.
— Já devem estar vindo ajudar a carregar as malas. O Francis está
na recepção esperando também.
— Ok, senhor. O carro ficará no aeroporto, onde vão recolhê-lo. Isso
já ajuda atrasar menos.
Assinto e ele se afasta, levando as coisas para a porta de entrada. A
Vicky está sentada na poltrona, com a cabeça inclinada para trás.
— Francis vai junto?
— Digamos que tenho duas crianças para lidar e cuidar! — Olho a
hora em meu relógio.
Ronald que está ainda saindo com as coisas, acaba rindo e o olho de
lado.
— Posso ir de táxi ou com os meninos. — Se ajeita na poltrona e me
olha.
Está com um moletom preto, tênis e uma aparência bem cansada.
— Sem discussões às cinco e meia da manhã. Vamos.
Ela levanta bocejando e pega a bolsa. Coloca o capuz e sai do quarto
comigo atrás.
Ronald já está no elevador com o funcionário do hotel, levando as
malas, então pegamos outro.
Estou sentado entre os dois, para evitar que se matem, mas pela cara
de cansaço deles, não teriam forças nem para isso. É o que espero, porque
teremos algumas horas de voo.
Ela coloca seus fones e encosta a cabeça no vidro de olhos fechados,
enquanto o Francis fica olhando para fora. Ergo o olhar para o retrovisor e
Ronald prende o riso.
Eu ainda vou demitir esse cara!
Inclino a cabeça para trás e fecho os olhos. Sinto o movimento
rápido da Vicky e olho para entender o que está acontecendo.
— Ronald, tem como parar? — Pede desesperada e joga os fones na
bolsa.
Puxo sua touca e ela está pálida. Ela vai vomitar!
— Encosta, Ronald — falo e ele concorda, parando na primeira
esquina e acendendo o pisca alerta.
Ela abre a porta, retira o cinto às pressas e desce do carro. Tiro meu
cinto e saio junto dela, sentindo o olhar do Francis sobre nós. Ela só tem
tempo de inclinar o corpo na lata de lixo e já começa a vomitar.
Me aproximo dela, que tenta me empurrar, mas não deixo. Seguro
seu cabelo, retirando do seu rosto e acaricio suas costas, até que coloque
tudo para fora. Ela se afasta do lixo assim que termina, os lábios pálidos
como seu rosto.
— Melhor? — pergunto e ela nega.
— Misturei muita merda ontem... Droga! — Ela faz uma careta e
puxo-a com cuidado.
— Podemos voltar ou precisa de mais um tempo?
Balança a cabeça e levo-a até o veículo.
— Nada mais vai sair... Nunca mais vou beber — resmunga e
entramos no carro. — Vamos.
Ajudo-a com o cinto e coloco o meu. A porta se fecha e o Ronald
torna a dirigir.
Francis puxa algo da mochila no meio de suas pernas, é uma
necessaire preta. Ele não olha, apenas estende na direção dela, que fica
olhando confusa, assim como eu.
— Pegue logo! Passo mal em alguns voos, vai ter coisas para te
ajudar aí!
Ergo a sobrancelha surpreso com isso. Ela pega desconfiada e abre a
necessaire com remédios, lenço de papel e mais algumas coisas.
Ela pega o papel e limpa a boca e um remédio que conheço, que
serve para enjoos.
— Ronald, tem águ... — Vai pedir, mas é interrompida.
Francis estende a garrafa dele e sigo o movimento com o olhar.
Devo estar na porra de um sonho estranho. Ela pega a garrafa mais
desconfiada ainda e bebe ao engolir o remédio. Guarda tudo e entrega a ele.
— Fica com a água — avisa, pegando a necessaire e jogando dentro
da mochila.
— Ok... Valeu... Eu acho — diz baixo e balanço a cabeça perdido
nisso tudo.
O carro segue o caminho para o aeroporto nesse clima muito
esquisito. O que aconteceu?
Observo com carinho sua logo e vejo que ela realmente gostou da
ideia maluca que tive e isso só me deixa ainda mais feliz, porque sinto que
fiz parte de algo para ajudá-la.
O telão mostra o fim da minha alegria. Tudo que é bom dura pouco,
é uma pena, viu!
Levanto-me para sair desse inferno, mas me vejo tendo que passar
por esse bando de malucos. Alfred me puxa todo suado e me agarra. Acerto
ele com o copo da bebida e ele ri, mas é acertado na cabeça pelo Malcolm.
Sim, estou no meio deles, só querendo sumir daqui.
O time está animado, mas o Malcolm não e é por isso que quero
uma rota de fuga, mas o infeliz me impede de sair discretamente, pousando
a mão nas minhas costas.
— O time inteiro está proibido de sair nos próximos dias. Será uma
semana focada nos dois jogos que teremos seguidos — ele anuncia e quero
rir com a cara de choque que todos ficam. — Não esperem meus parabéns.
Esse jogo foi uma vergonha. Não tiveram qualquer foco, caíram nas
provocações, estão sem controle mental. Se qualquer um de vocês se
meterem em farra nos próximos dias, o time inteiro será punido!
— Treinador... — O coitado do Tanner tenta argumentar.
— Não tem conversa! Cumpram o protocolo. Treino há anos
jogadores que foram escolhidos para estar aqui por serem os melhores e
serem adultos! Não treino crianças ou adolescentes. Se não conseguem
controlar a mente de vocês, então não merecem o lugar que estão!
Tyron vai falar algo, mas para porque um barulho em meio a
bagunça e gritos, chama nossa atenção. Malcolm me puxa mais para si,
como se estivesse me protegendo de algo e isso me faz sorrir sem jeito.
Tento disfarçar, porque está lotado e cheio de imprensa. Acredito que ele
nem percebeu as atitudes que teve até agora.
Olhamos para a bagunça do outro lado, só que é nos telões que nos
revelam o motivo, e por Deus, eu queria ter calma, ser séria, ter compaixão,
mas não dá. Do fundo da minha alma vem uma forte gargalhada, alta,
estridente e escandalosa, quando vejo Jayden encharcado de bebida e
Zachary caído, entalado entre os assentos da arquibancada, e quando digo
entalado, é que ele está todo torto entre os assentos, enquanto tentam puxá-
lo dali.
Malcolm aperta minha cintura e os meninos começam a prender o
riso, mas a risada do Alfred rouba a cena, é dá alma também, vem com
gosto, aquela que faz todos rirem juntos.
Meus olhos marejam, não consigo parar de rir. Viro o rosto
escondendo no peito do Malcolm porque quero parar de rir, mas não dá.
— Para... Vicky, respira — ele diz entredentes, mas é impossível.
Zachary Rice está entalado e Jayden Hampton pingando a bebida.
Me afasto dele. Alfred joga a cabeça para trás de tanto rir e o Tyron
tenta tampar a boca dele, mas até as pessoas que estão perto começam a rir.
Olho o telão e não acredito que fizeram replay disso.
Alguém será demitido hoje!
E assim descubro como essa merda aconteceu: Zachary se virou
para falar com o Jayden que estava bebendo algo e uma criança desceu
correndo para ir até o time dos Alligators, quando esbarrou no homem, que
perdeu o equilíbrio. O velho tentou se equilibrar no irmão, foi bebida
voando, Jayden se ensopando e Zachary caindo em câmera lenta, ficando
enroscado entre os assentos.
Eu vou fazer xixi na roupa!
Choro de rir e nem o Malcolm está conseguindo controlar mais,
porque até pigarreia. Tyron vira o rosto e puxa o Alf. Killiam esconde o
rosto nas costas do Zion.
O velho consegue sair com a ajuda das pessoas e está todo
desengonçado, a gravata torta, quase o enforcando. O paletó e camisa estão
sujos e sua calça toda molhada, parecendo que fez xixi.
Tampo a boca e saio da arena desesperada, suando. Minha demissão
vai vir, porque eles me viram e tenho certeza de que estou vermelha de
tanto rir. Até minha barriga dói.
Encontro o Ronald e o Francis.
— EU VOU MORREEER! — Berro e encosto na parede.
— Para, Foster — Francis diz, mas nem ele consegue ficar tão sério.
— Mas foi engraçado, senhor — Ronald me defende e ri, tentando
ser mais discreto que eu.
Quem passa por nós, tenta ocultar o riso, mas todos estão falhando
demais.
Zachary e Jayden viraram vexame no que são donos.
— Empresta sua muleta para o homem, ele vai precisar — falo
levando a mão na barriga, sem ar, tentando me recuperar.
Francis me olha de lado igual ao tio que se aproxima.
— Não pode me culpar — falo, me acalmando aos poucos. — Já
estou indo, tenho coisas para fazer.
— Ronald vai com você. Não vou precisar dele por agora —
Malcolm fala.
— Sim, senhor! — Ronald responde.
— Vai aonde? Garota, temos coisas para terminar — Francis
retruca.
Puxo sua muleta e bato ela em sua bunda. Ele me xinga e Ronald ri.
— Vem. Vamos passear. Reclama demais, precisa relaxar!
Ele olha para seu tio que balança a cabeça. O homem está esgotado
já.
— Não vai fazer porra nenhuma? — pergunta ao tio.
— Vou matar os dois se continuarem aqui. Sumam — Malcolm
responde irritado e sorrio.
— Vamos, Coisa Estranha! Não é todo dia que convido alguém para
passear e não para matar a pessoa. Sinta-se honrado. Pensa que poderia
estar sendo vexame público, seria bem pior — falo rindo e cutuco suas
costas com a muleta. Ele retira da minha mão.
— Cuida dela, por favor! Esse dia já está agitado demais! —
Malcolm implora para o Ronald.
— Cuidar dela? E eu que me fodo com essa louca? — Francis
retruca e faço cara de deboche.
— Se Ronald cuidar dela, você tem chances de sobrevivência e eu
terminarei o dia sem mais problemas.
— Ei! — resmungo e Malcolm me olha feio. Jogo um beijinho para
ele, o desestabilizando, porque ele tenta segurar o sorriso, mas os cantinhos
de sua boca entregam. — Vamos! Não tenho o dia todo.
Saio com os outros dois e tento não lembrar da trágica cena, porque
se eu rir mais um pouco, vou infartar e preciso conferir as coisas para meu
avô antes de ir embora, assim que descansar a cabeça para poder verificar
tudo com calma e, claro, sozinha.
Um tempo depois...
Olho meu carro e sorrio animada vendo que não tem multa. Entro
nele bem feliz, afinal, o dia está perfeito. Jennifer com boas notícias, irei
encontrar as meninas mais tarde na casa da Cherry e não tenho multas. Isso
é perfeito.
Coloco o cinto e jogo a bolsa no banco do lado. Ligo meu som um
pouco mais baixo. Passarei em algum lugar para comprar algo para comer.
Batidas no vidro me fazem virar lentamente o rosto e praguejar
muito mentalmente. Abaixo o vidro e desligo o som, sem acreditar nesse
carma.
— Senhorita, acho que já nos conhecemos! Caso não se lembre de
mim, sou o guarda que vai lhe deixar mais uma multa para a sua incontável
coleção.
Mas que homem debochado!
Ele rasga o papel e me entrega a porra da multa. Oitenta dólares!
— Sério? Eu já estou saindo. Acho que o senhor tem problemas só
comigo!
— Ou a senhorita tem problemas em respeitar as leis. Se continuar
aqui, será pior!
— ARGH! — Subo o vidro e ligo o carro, saindo dali antes que
termine em uma delegacia de novo.
Que porra!
Agora vou precisar de dois donuts. Eu iria comer só um, pensando
em fazer uma dieta, mas ele conseguiu me irritar e isso me traz fome!
Duvido que tenha multado todos os carros ali. Esse homem me
odeia demais!
— Eu não vou entrar!
— Para de drama! Estão nos esperando.
— Estão esperando você, Malcolm! Você não falou que eu viria. E
as meninas estão me esperando algumas ruas abaixo daqui. Por favor, me
deixa passar longe dessa situação? Eles vão me expulsar. Já basta a multa
que levei mais cedo.
Ele vira o rosto e pela cara vou levar bronca.
— Multa? Levou multa? Vicky, que merda fez?
— Nada, mas o guarda de trânsito perto da Sport me odeia.
— Odeia você? Porra, por que acho que uma vez só na delegacia
não foi o suficiente para você?
— Porque realmente não foi! — Sorrio e ele fica ainda mais sério.
— Ok, parei. Agora, por favor, me deixe fugir disso!
Ele desce do carro e contorna abrindo minha porta.
— Ou vai andando, ou vai sendo carregada. Os vizinhos vão amar o
espetáculo.
— Você é um careta infernal!
Pego minha bolsa e desço do carro, socando a porta. Malcolm quer
me enlouquecer. Simplesmente arrumou um almoço com seus pais sem me
falar nada. Eu nem estou tão produzida para isso. Cheguei na casa dele e já
recebi essa bomba. E o pior: Francis mora aqui, se ele abrir a boca de todas
as ameaças que faço a ele, vão dizer que sou psicopata!
— Desfaz essa cara emburrada — fala, andando à minha frente.
— Nem está vendo para saber se estou emburrada.
— Não está? — pergunta ao parar diante da porta.
— Estava. Ai, vamos logo enfrentar isso. E já digo, se me obrigarem
a viver de mato igual você e minha mãe vivem, eu vou surtar! Malcolm,
preciso de uma caloria, nem meu donut consegui comprar, estava uma fila
imensa. Estou em abstinência, meu corpo implora por qualquer besteirinha.
Ele revira os olhos e abre a porta, entrando na enorme casa. Tudo
nesse condomínio é gigante e extravagante. Jesus!
Ele segura minha mão e caminho com ele, observando tudo porque
sou curiosa. Vejo alguns porta-retratos pela sala, são fotos de família.
Malcolm e o irmão eram bem parecidos. Já o Francis, é uma cópia da mãe,
meu Deus!
Ele segue em direção às vozes animadas. Entramos em uma sala de
jantar enorme, com uma parede de vidro dando vista para um jardim
impecável. Nosso jardineiro iria surtar aqui, porque ele se anima cuidando
das pouquinhas plantas que mamãe tem.
Os três rostos se viram para nós e o falatório cessa.
— Querido, é uma miragem ou Malcolm está com uma mulher e
segurando a mão dela? — sua mãe questiona.
— Se for miragem, ambos estamos malucos, meu amor!
Francis revira os olhos me encarando.
— É no jornal, é na temporada e agora é em casa. Podem me falar
quando esse castigo vai terminar? — ele questiona.
— Calado, garoto. Seu tio trouxe uma mulher. Levantam-se, é hora
de agradecer a Deus!
— Pai, deixa de palhaçada!
Malcolm nos aproxima da mesa, e ambos se levantam para nos
cumprimentar, mas meus olhos focam na mesa repleta de coisas nada
fitness.
— Vicky, esses são meus pais: Dorothy com quem já falou e Corey
— Malcolm diz. — Mãe e pai, essa é Vicky Foster, minha namorada.
— Querida, como é ainda mais linda pessoalmente! — A mulher me
aperta e vejo o demônio do Francis rir vingativo. Não sei se gosto desse
riso.
— Obrigada, senhora Bell. A senhora é muito linda também. Ambos
são! — Olho para seu esposo e ele sorri todo feliz.
— Tão educada, doce. Sente-se, vou arrumar seu lugar na mesa.
Esse danado não me disse que viria!
— Não quero atrapalhar, posso...
— Não tem nada disso. Sente-se, por favor — seu pai insiste.
Malcolm puxa uma cadeira para mim e me sento, deixando a bolsa
pendurada nela. Ele se senta ao meu lado. Sua mãe pede a um dos
funcionários para colocar mais um lugar na mesa e isso não demora.
— É uma honra receber você. Já desconfiávamos, mas meu filho,
como já deve notar, adora esconder as coisas e pegar a todos de surpresa —
sua mãe diz e ele balança a cabeça.
— Vamos, sirvam-se. Espero que goste de tudo, querida! — Seu pai
é bem alegre.
— Obrigada. Deve estar tudo maravilhoso. E não pensem que foram
os últimos a saber, também não havíamos contado para meus pais.
— Por falar nisso...
— Mãe, não comece! — Malcolm chama sua atenção.
— Eu só iria dizer para fazermos algo juntos, para enturmar as
famílias.
Olho para o Malcolm e quero rir da cara dele. Malcolm Bell, o
homem todo sério, careta e bravinho, tem pânico dos pais. Eu vivi para ver
isso!
— Eu te conheço, mãe!
— É, querida, desse jeito vamos espantar a menina. Vamos comer,
depois você fala de casamento!
Começo a me engasgar, ouvindo a risada do Francis do outro lado.
Era isso, esse idiota sabia onde eu estava me metendo.
— Parabéns, assustaram ela — Malcolm reclama.
Balanço a cabeça e nego, me recuperando.
— Nada disso! Me engasguei com a saliva. — Minto.
— Podemos comer? — Francis indaga nervoso.
— Sim — Malcolm responde rápido.
Seus pais me olham sorrindo. São fofos, mas pelo jeito, tiram o
juízo do filho e do neto.
Malcom não veio para o almoço, mas prometeu que viria a parte da
tarde. Meus pais e meus avós conversam na cozinha, enquanto Cherry e eu
seguimos para a Kristal, para ficar um pouco ela.
Faço a Cherry passar pela abertura especial que fiz há muito tempo
entre os terrenos. Ela caminha na frente, resmungando que a fiz passar por
passagens assim, como se fosse um animal.
Entro com ela na casa dos Reed e os pais da Kristal não estão em
casa. Subimos direto para o segundo andar e impeço Cherry a falar, para
podermos assustar a Kristal. A governanta, Kássia, nos vê e ri quando peço
silêncio. Outra que já desistiu de mim
Paramos perto da porta do seu quarto e abro de uma vez.
— KRISTAL REED, ESTÁ PRESA POR ROUBAR MEU
CORAÇÃO!
— AAAAAAA! — Ela grita e tropeça, caindo da cama, que por
sinal, está bagunçada. — SUA FILHA DA PUTA! VICKY FOSTER, EU
VOU TE MATAR!
Ela berra nervosa e eu apenas gargalho da cena. Cherry corre para
ajudá-la.
— Eu tentei impedir, mas ela me fez ficar calada! — Ajuda a Kris se
levantar e a loira me olha como uma leoa prestes a atacar.
— Foi mal. Não resisti. Mas, poxa, fiz até uma declaração de amor!
— Ergo uma sobrancelha e sorrio maliciosamente.
Me aproximo delas, que se sentam na cama e me jogo em cima de
ambas.
— SAI DAQUI, SUA MALUCA! VICKY, VOCÊ AINDA VAI ME
MATAR!
— Não reclama, que vai sentir saudade. Porque em pouco tempo,
nem sua vizinha serei mais — falo e ela me empurra de modo bruto. —
Credo, anda lutando?
Cherry ri.
— Como assim? Que merda aconteceu? Vai casar? Malcolm te
convidou para morar com ele? Aquele filho da puta do Sparks não dá um
maldito primeiro passo quanto a isso, mas o Oliver que era um safado deu e
o Malcolm chegou ontem e já fez isso?
— Ai, temos confusão no paraíso. Guardem as facas, a louca está a
solta!
— Vicky! — Cherry me acerta na perna, e sorrio. — Não, Kris, não
tem nada isso. E as vezes o Tyron não fez, porque está esperando o
momento certo, ou porque ambos estão focados demais na carreira...
— Pela cara dela, não está ajudando, Mascotezinha — comento e
minha prima me olha feio. — Calei!
— Então, o que é? — pergunta curiosa.
— Longa história — comento e respiro fundo.
Começo a lhe contar tudo, e como provavelmente terei que ser
rápida para encontrar um lugar para mim.
Retornamos para casa e a Cherry foi tomar um banho para sair para
jantar com o Oliver, a Kristal e o Tyron. Dispensei, porque ficarei com o
Malcolm, que acabou de chegar em casa.
Ele agarra meu corpo, beijando-me do jeitinho que me deixa louca.
Estamos sozinhos na sala, então ele aproveita a oportunidade, agarrando
minha bunda e apertando forte, enquanto controlo o gemido que quer
escapar dos meus lábios.
Nos afastamos quando escutamos vozes vindo e vejo meus avós se
aproximando. Meu avô com uma caixa de ferramentas.
— Jesus! As portas do céu foram abertas e ninguém me contou?
Vejo um anjo e me sinto em pecado por achá-lo tão sexy!
— VOVÓ! — falo rindo e Malcolm ri baixinho.
— Estou aqui, Abigail — vovô diz enciumado.
— Eu sei, infelizmente eu sei, amor! — Ela dá tapinhas no braço
dele e ele acaba rindo. Ninguém controla essa senhorinha.
— Nossa, vovó, só se controla! Ok... Malcolm, esse são meus avós,
George e Abigail Weber. Já se conhecem virtualmente, agora é a vez de
fazer isso pessoalmente!
— É um prazer em conhecê-los pessoalmente. Vicky sempre os
elogia muito. — Ele se aproxima do meu avô primeiro, segurando a mão
livre dele e noto quando meu avô a aperta firme.
Minha família ainda me mata de vergonha.
Vovó literalmente coloca sua mão na cara dele, para que ele segure e
deixe um beijo. Cruzo os braços e balanço a cabeça negativamente.
— Sério, vovó?
— Querida, não é todo dia que vejo um namorado seu e que ainda
por cima, pessoalmente é ainda mais bonito!
— Não sei se gosto da Vicky e da Cherry namorando — meu avô
resmunga e me aproximo dele, abraçando-o de lado, na sua barriguinha
saliente.
— Deixe de ciúme! O senhor é o único homem da nossa vida! O
melhor do mundo! — Beijo seu rosto.
Malcolm sorri quando dou uma piscadinha para ele.
— Não quero roubar sua neta, senhor Weber. Não se preocupe.
Prometo cuidar bem dela.
— Claro que vai, ou eu te mato!
— Mata nada, homem. Travou a coluna tirando os matos da porta de
casa. Imagine brigando com esse gigante? Por falar nisso, não quer um
café? Uma torta? Estou achando ambos tão magrinhos! — Ela toca a
barriga dele e começo a gargalhar. Ela não vale nadinha.
— Vou divorciar dela!
— Fala isso todo dia, vovô, e segue louco por ela — falo e ele dá de
ombros. — Vovó, Malcolm não come doces. É insuportável!
— Eu como, só não na mesma quantidade que você. Alguém tem
que se cuidar, não é? — se explica e reviro os olhos.
— Pois vai comer sim. O que é isso de não comer?
— Querida, ele se cuida. Não passa fome. É diferente.
— Eu ouvi que ele não come, foquei apenas nisso. Vamos, vou
preparar algo para ele. Vai lá ajudar seu genro antes que ele derrube aquela
porta da lavanderia na cabeça dele e a Michelle termine de matá-lo!
Me afasto do meu avô e sorrio para ambos.
— Você espere aqui, vou trazer algo. Nada de fugir. Vamos,
querido! — Ela enrosca o braço no do meu avô e seguem para a cozinha.
Olho e rio.
— Deveria ser filha dela — Malcolm comenta e faço uma careta.
Sento-me no sofá e chamo-o para fazer o mesmo. Ele se senta ao
meu lado e me puxa para seus braços, me beijando de novo.
— Muito cansado? — pergunto e ele nega. — Sua cara entrega que
está. Falta pouco para a final. Está chegando.
Ele concorda e acaricia meu rosto.
— Tudo bem por aqui? Existe um vinco de preocupação entre suas
sobrancelhas.
Sorrio e brinco com o botão da sua camisa preta por baixo do casaco
da mesma cor que usa.
— Comidas e sexo vão resolver! Por falar nisso, estou morrendo de
fome.
Ele sorri e balança a cabeça.
— Sempre está com fome, só que ultimamente isso está mais forte.
Olha que posso começar a desconfiar que está grávida, amor. Fome
exagerada, cansada, desejo sexual mais aflorado...
— Sobre isso... — Ergo o olhar e seus olhos fixam nos meus,
começando a brilhar. — Não estou, nem adianta se animar. Isso é
ansiedade, não vejo a hora de podermos parar de esconder tudo. Falta tão
pouco, mas ao mesmo tempo parece que está tão distante. Não aguento
mais ficar vivendo com medo, sabe? Isso está me deixando louca. No
momento, meio que espero de tudo, inclusive se eu estivesse grávida, nem
isso me espantaria mais, é tanta coisa acontecendo...
— Ei... Calma. O último jogo está vindo e então será o fim do
contrato. Eu sei, é sufocante, mas isso vai passar — fala e concordo. —
Então a Vicky Foster não se apavoraria se descobrisse estar grávida? —
brinca e sei que para distrair minha cabeça.
— Nessa altura do campeonato? Não. E sabe que isso é até
engraçado? Até ontem, eu não queria nem pensar em namoro e agora, a
possibilidade de engravidar, não me assusta mais. Mas acho que sei o
motivo.
— E qual é? — Beija a pontinha do meu nariz e me sinto uma idiota
por me derreter por isso.
— Porque seria um filho seu, e sei que cuidaria muito bem dessa
criança, que seria um pai incrível. Acho que quando temos em quem
confiar, o que antes era o medo, vira uma escolha entre querer ou não, e um
espanto menor caso aconteça de um jeito inesperado. Não existe pressão,
medo, só escolhas acompanhadas de uma paz em saber que se acontecer,
não estarei sozinha, entende? Não, né? Confuso? Eu sei, é que estou
cansada. Meus pais me deixaram louca com tanta informação hoje.
Ele sorri e assente.
— Eu entendi, linda. E o que houve com seus pais?
— Em resumo: negaram parceria com a Golden e até aí tudo bem,
porque a cara quebrada do Zachary e do Jayden é minha paz, pode me
julgar. Mas também contaram que vão comprar uma casa em Malibu, perto
dos meus avós, enfim, esse será nosso último Natal aqui. Terei que começar
a procurar uma casa com urgência, antes que eu me torne uma desabrigada.
Ele começa a rir. Que ótimo, minha vida maluca anima o
estressadinho.
— Ou pode respirar, porque sabe que pode vir morar comigo.
— Sei? — Franzo o cenho assustada. — Malcolm, você
enlouqueceu?
— Talvez sim, desde o dia em que te beijei pela primeira vez.
Franzo ainda mais o cenho.
— Ok... Vou levar isso como elogio e declaração de amor!
Aperto seu rosto e o beijo.
— Não está mesmo? — diz entre o beijo.
— Não, seu louco!
Ele ri e começo a rir também.
— Malcolm, por que não me falou sobre a Sport? Virou um dos
sócios — comento e ele sorri.
— Porque era para ser surpresa, minha linda.
— E foi. Acredite nisso. Malcolm, se fez isso por causa do que
aqueles dois fizeram, eu...
— Ei, para com isso. Eu não fiz apenas por isso, mas por acreditar
naquele jornal, e que as mulheres ali merecem mais valor, coisa que com
aquela turma antiga, nunca aconteceria. Não é para ter controle sobre você,
sobre tudo ou o que estiver passando negativamente por essa cabecinha. Fiz
por que sabia que era a coisa certa.
Respiro fundo e torno-o beijar. Sempre achei loucura conseguir se
encantar cada vez mais por alguém, mas com ele isso acontece todos os
dias.
FINAL DA WORLD GOLDEN JUMP
Estamos na Crypton Arena para o jogo final, com os dois times que
mais lotam esse lugar, os Tigers e os Red Fire. E parece que sou a única
tranquila quanto ao jogo, já que a família Reed e Sparks estão
enlouquecendo dentro da quadra, esperando o jogo começar, além disso,
Cherry e Kristal estão bem ansiosas também. Minha única ansiedade para
hoje é outra, isso vale mais do que qualquer outra coisa nesse momento.
Não sei como irei cuidar do meu trabalho, porque estou muito
atrapalhada, contando cada maldito segundo para o final disso tudo.
Encontro as meninas no corredor da arena, vendo os pais do
Malcolm entrarem na sala de descanso. Parece que todos resolveram vir
para me deixar ainda mais ansiosa, porque meus pais acabam de chegar
também, vejo-os entrando na mesma sala com os Bell. Pelo menos vão se
conhecer de vez agora.
— Vicky, respira. Está nítido que está nervosa. Você que deveria
estar nos acalmando hoje! — Kristal agarra meu braço.
— No momento, eu só penso no final do contrato e saber que o
Zachary e o Jayden estão aqui, não ajuda.
— Vai dar tudo certo. Serão livres depois de hoje.
— Cherry, mas e se eles foderem a vida do Malcolm? Porque vão
saber que as suspeitas eram reais — resmungo.
— Malcolm saberá lidar com isso, não entra em pânico! E outra,
vocês honraram o contrato, a partir do momento que não ficaram se
exibindo em público e milagrosamente nada vazou à imprensa ou se
espalhou na boca dos tabloides — Kris diz e respiro fundo.
— Ela tem razão! Sonhava com esse dia e ele chegou. Vai viver sua
felicidade e deixem que pensem qualquer coisa. O contrato não existirá
mais. Ninguém vai prejudicar ninguém, ou eles já teriam arrumado um jeito
para fazer isso — Cherry fala e assinto.
— Vocês têm razão. Estou sendo idiota. Vamos incomodar os
meninos antes do jogo. Vou aproveitar que irei cobrir apenas as entrevistas
finais, o Francis fará os intervalos. Vamos!
Elas concordam e ergo a cabeça, enquanto caminhamos em busca
deles.
Nos informam que ambos estão no vestiário dos Tigers então é para
onde vamos.
O vestiário está aparentemente vazio, os jogadores devem estar
espalhados pela arena.
Entramos em silêncio olhando uma para a outra, já que não vemos
eles. Paramos na porta do local dos chuveiros onde a porta está entreaberta
e escutamos as vozes. Paro ambas que vão falar, quando algo chama a
minha atenção na conversa dos dois.
Elas aproximam mais o rosto da porta assim como eu.
— E nada da nossa aposta no ano passado. Lembra? Segue firme
com ela, Sparks? Por isso não deu nenhum passo a mais com a Kristal?
Medo de perder — As palavras do Oliver me deixam em alerta. As meninas
me olham confusas.
— Claro que não. Mas você parece estar se controlando, já até
chamou a Cherry para morar com você. Porque não casa logo? Medo de
tatuar meu nome?
Levo uma mão a boca.
— Deixa de ser idiota! Claro que não. Vai acontecer, no momento
certo. O único aqui que parece com medo de perder a aposta é você. E
agora temos um detalhe, apostamos quem casaria primeiro, só não
contávamos com a Vicky namorando. E se for ela, como ficará? — Oliver
indaga.
Abro a porta de uma vez e ambos nos olham assustados. Oliver
termina de amarrar o tênis e os olhos entregam o medo de termos ouvido.
Nós três cruzamos os braços, encarando-os.
— Deixa eu ver se entendi bem, meninas... Eles apostaram quem se
casaria primeiro, aí o primeiro a se casar, perderia e teria que tatuar o nome
do outro. Foi isso mesmo? — Kristal pergunta e assinto balançando a
cabeça e semicerrando o olhar para as duas girafas.
— Entendi o mesmo. De repente, nossos relacionamentos viraram
parte de uma aposta feita pelas nossas costas — Cherry diz.
— Meninas, podemos explicar. Era só uma brincadeira, e... —
Oliver tenta, mas nego com a cabeça.
— Se eu fosse vocês, nem tentaria explicar, será pior — digo e elas
concordam.
— Então é por isso que em dois anos, rumo a três, nunca mais falou
sobre um futuro comigo? Sem pressão, mas nem no assunto toca mais —
Kristal fala com o namorado.
— Claro que não! Ficou louca?
— Ain... Eu não falaria isso! — Faço uma careta. — Perguntar se
ficou louca? Uma bola bem fora da cesta, Sparks!
Ela me olha feio e sorrio com ironia.
— E você, Oliver, por isso falava tanto que o Tyron tinha que tomar
a frente de mais um passo com a Kristal e dizia que era preocupação de
irmão, com medo dele só a enrolar por anos? — Cherry questiona e ele
nega em câmera lenta. — Vai negar que ficou falando disso nos últimos
meses?
— Tudo isso para que o Tyron perdesse? E aí o Tyron não falava
mais nada sobre um futuro comigo, por medo de perder?
— Kristal, eu acho que ambos empacaram com vocês por medo, são
orgulhosos, não iriam querer perder — comento e elas concordam.
— Dá para parar de colocar lenha nessa fogueira, Diablo? — Oliver
diz nervoso.
— Não fui eu que fiz a merda. O que é bem assustador!
— Por falar nisso, estou curiosa agora. E se a Vicky acabar casando-
se primeiro, o que aconteceria? Ambos perderiam? Não pensaram nisso,
não é? Porque são dois idiotas — Kristal fala e eles se entreolham,
caladinhos.
— Eu tenho uma solução! — Ergo o dedinho e elas me encaram.
— Vicky... Olha lá o que vai aprontar! — Tyron diz entredentes e
sorrio diabolicamente.
— Estou até com dor de barriga! — Oliver diz nervoso.
— Diga, Vicky — Cherry diz e os olha de lado.
— Já que ambos aprontaram e a aposta renderia uma tatuagem...
Acredito que depois disso, ambos deveriam tatuar a inicial dos nossos
nomes bem no peito, o que acham? E eu no lugar das duas, daria um castigo
de três semanas sem sexo e ainda faria questão de usar uns brinquedos
eróticos pertinho deles, só para enlouquecê-los.
— Ficou louca?! Você nem foi citada nessa merda! — Oliver
enfurece e começo a rir.
— Gostei... Ela não foi citada, irmãozinho, mas vejam só, ela pode
ser quem vai fazer ambos perderem!
Isso me traz um friozinho na barriga que tento controlar de forma
inútil.
— Perfeito para mim — Cherry concorda.
— Vão concordar com a loucura dela? Foi uma aposta inocente e
nada disso afetaria nossos relacionamentos! Foi algo idiota entre amigos!
— Tyron tenta argumentar.
— É melhor irem se preparar para o jogo. Irei procurar um lugar
especial aqui em Los Angeles para essa tatuagem. Nunca aposte nada dos
nossos relacionamentos, e se fizerem, é melhor não serem burros ao ponto
de falarem disso em um lugar em que seriam pegos — Kristal diz e
concordo.
— Vocês realmente foram ridículos! Vão logo para a quadra! —
Cherry resmunga e mordo o cantinho da boca vendo os dois passando por
nós putos.
Eles saem e a porta se fecha sozinha. Olho para elas e levamos
alguns segundos para começarmos a rir, pedindo silêncio uma para a outra.
Olhamos para a porta e nada deles.
— A cara deles! Ficaram assustados. Que dois idiotas. Como
apostam isso sem pensar que você poderia se casar primeiro? Que burrice!
— Kristal fala e concordo.
— Quase dois metros de altura e não conseguem explicar o que
aprontam. Meu Deus! — Cherry diz.
— No final, terminará com eles de joelhos implorando para que se
casem com eles, só para não passarem três semanas lidando com as
provocações sexuais! Algo me diz que isso afetou mais!
— Sim — elas respondem rindo.
— Vamos! Temos que ir para os nossos lugares.
— Como conseguimos nos manter sérias? — Cherry questiona.
— Um milagre — respondo e voltamos a rir.
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RECANTO DAS ALEGRIAS:
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UM AMOR INESPERADO
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