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MINHA MELHOR

AMIGA, virgem

CARLIE FERRER
Copyright 2017 © Carlie Ferrer
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Nenhuma parte desta obra pode ser utilizada ou
reproduzida sob quaisquer meios existentes sem
autorização da autora. A violação dos direitos autorais é
crime estabelecido na lei n° 9.610/98, punido pelo artigo
184 do Código Penal.
Esta é uma obra de ficção, sendo assim criados pela
autora, as regras de luta livre exibidas, assim como
ambientes e personagens.

Capa
Arte: Carlie Ferrer
Imagens: ©CanStock
Caitlin finalmente aparece e permaneço onde estou,
no sofá, olhando para ela. Ela deixa a bolsa na mesa e
aproxima-se, olha para o chão e não posso ver a
expressão em seu rosto, não posso saber como ela se
sente.
— Então, você tem mesmo seguido a gente? Ou essa
foi a primeira vez?
— Não foi. Tenho agido como um adolescente de
bolas presas.
Ela fica um tempo em silêncio, então senta-se à
minha frente e posso ver claramente seus olhos. Ela está
confusa.
— Por quê? Por que você faria isso? Por que ficaria
tentando me seduzir? Por que me levaria a um encontro?
Eu juro que estou há semanas tentando entender você, mas
eu não consigo! Por que, Colin, por que tudo isso?
— Porque eu quero ser o seu primeiro, Caitlin! Eu
quero tirar a sua virgindade. Eu não entendo como você
pode ter pensado em fazer isso com outro homem, mas não
posso permitir. O seu prazer me pertence. Isso que você
tem guardado por tanto tempo, o fez para mim. Você só
precisa enxergar que eu sou o cara certo para fazer isso
com você.
Ela fica em choque. Levanta-se desnorteada e fica
dando voltas na sala. Quero confortá-la de algum jeito,
mas não posso, eu mal posso me controlar nesse momento.
— Por quê? Por que eu deveria fazer isso com você?
— pergunta um tom mais baixo do que sua voz normal.
— Porque ninguém te conhece como eu, eu sei
exatamente onde você precisa ser tocada, onde precisa ser
beijada, eu sei dar a você todo o prazer que merece como
ninguém mais poderia e você sabe disso!
Levanto-me e pego sua mão, seus olhos se focam nos
meus, sei que ela está me ouvindo, só não sei como fazê-
la entender.
— Desde que você revelou ser virgem, tudo o que
consigo pensar é em como você merece ser amada. Só
consigo pensar em tudo o que você tem que sentir na sua
primeira vez. Em como tem que ser tocada e beijada, em
como tem que gemer com prazer genuíno ao meu toque.
Em como vai reagir a minha boca em você, e como ficará
satisfeita quando eu a preencher com meu pau, da maneira
exata que você merece! Eu sei que qualquer outro homem
poderia te dar prazer, Caitlin, não estou negando isso.
Mas você sabe, e eu também, que ninguém mais vai amar
você da maneira como eu vou. Ninguém vai conhecer
você como eu conheço, nem vai cuidar de você, nem
deixá-la louca, como eu faço, porque sou eu que tenho que
fazer isso.
Introdução
A doce amiga virgem.
O intenso lutador devasso.

O mundo de Colin é escuro e repleto de erros, golpes


e posições. Mas ele consegue sobreviver como um
vencedor, e afastar os demônios do passado com a ajuda
de sua melhor amiga, Caitlin. Responsável e bondosa, a
doce amiga não faz parte deste seu lado selvagem: o que
sobe nos ringues e arrasa os adversários. Mas conhece
seu lado mais devasso, já que ele vive quebrando suas
regras anti-sexo no apartamento que dividem.

Enxergando-a como a garotinha que conheceu ainda


criança, seu mundo vira de cabeça para baixo quando a
vê, de repente, como uma mulher. A mais linda e
desafiadora mulher que já conheceu. De repente Colin
passa a ter consciência de seu corpo, seu cheiro e do fato
de que ela entregará tudo isso ao único homem que Colin
jamais suportaria ver tocá-la: seu maior adversário
Stephen.
Colin não tem certeza se Stephen a está usando para
vingar-se dele, mas não pretende tirar a prova, já que não
há a menor chance de ele permitir que a primeira vez de
sua preciosa menina, seja com qualquer outro homem.
Agora que sabe que ela é virgem, agora que a vê como a
linda mulher que se tornou, Colin fará o impossível para
ser o primeiro, e quem sabe único, na cama de Caitlin.
CAPÍTULO UM
As luzes atrás do meu adversário me permitem ver
melhor sua silhueta. Os gritos enlouquecedores à nossa
volta não me distraem, me dão uma sensação de
adrenalina que eu adoro. Mas há algo nesse ringue que me
distrai, a Ring girl da noite. Ela é morena, alta e
deliciosa. Lanço uma piscadela para ela, preciso vencer
essa, acabar com essa luta e levar a morena gostosa para
um motel. Volto a me concentrar no meu adversário. Ele
me encara, eu o encaro, e lanço um gancho de direita em
seu rosto, ao que ele desvia e me dá uma rasteira. Em
seguida seu corpo cai sobre o meu, seu cotovelo em minha
barriga. A plateia grita ainda mais alto, mas tudo o que
ouço é um zumbido quando o filho da puta bate minha
cabeça pela terceira vez no chão. Vejo algo de branco
contando e ele sai de cima de mim. Stephen Imbecil Ryan
me venceu de novo!
Bato em tudo o que vejo pela frente, ouvindo os
gritos de Luke atrás de mim, de que devo me acalmar. Mas
não acho que eu deva. Eu deveria era me irritar mais,
quem sabe assim não vença ao menos uma luta contra esse
maldito! Jogo um banco pelos ares e quando me viro para
mandar Luke, meu grande amigo, calar a boca, a vejo. A
Ring girl deliciosa.
— Olá — ela diz com uma voz manhosa, se fingindo
de envergonhada. — Você está bem?
Meu supercilio está sangrando e meu maxilar parece
que está torto. Que espécie de pergunta idiota é essa?
— Depende. Você veio aqui para ver o estrago, ou
para ser estragada pelo meu pau?
Ela arregala os olhos, fingindo estar chocada, mas
logo diz:
— Vim cuidar de você, bonitão. E adoro ser
estragada.
Puxo a morena para meus braços e nem vejo Luke
saindo do vestiário. Tomo um banho rápido e a alcanço,
preciso sair com ela logo daqui, preciso descontar minha
raiva.
Na saída, vejo Stephen, o imbecil com seu sorriso
vitorioso. Mas ele morre um pouco quando ele vê a Ring
girl pendurada em meu braço. Ele pode vencer todas as
lutas, mas eu sempre levo as garotas. Ponto pra mim.
— Espero que consiga satisfazê-la mesmo com as
costelas quebradas, Hanson — ele provoca quando
passamos por ele.
— Obrigado, Ryan. Espero que consiga... — faço
uma pausa ganhando a atenção de todos ali. — Ao menos
uma garota. Nem precisa satisfazê-la. Não esperaria isso
com sua falta de experiência.
Faço um cumprimento observando bem seus olhos em
chamas e saio com minha garota.

Moro há quase um ano em um pequeno, muito


pequeno, apartamento com minha melhor amiga, Caitlin.
Minha preciosa é estudante de direito, daquelas meninas
boazinhas e doces, com quem se pode ter uma convivência
fácil e tranquila. Mas claro, temos algumas regras para
manter esta convivência. Na verdade, ela tem algumas
regras. E a primeira delas é: nada de sexo no nosso
apartamento. Por isso, assim que abro os olhos e percebo
que o sol nasceu, e que a Ring girl e eu dormimos sem
querer, me levanto em um pulo para acordá-la e dispensá-
la antes que Caitlin acorde e a veja aqui.
Mas, quando olho para o lado da minha cama, está
vazio. Respiro aliviado achando que a garota deu o fora e
que tudo está bem. Visto uma boxer e saio assoviando
completamente feliz do meu quarto, quando um cabelo
preto desbotado me chama atenção.
— Oh, merda!
— Bom dia, Colin. Nem vou perguntar como foi sua
noite — Caitlin diz com aquele sorriso pela metade, que
ela só mostra quando está puta comigo.
Infelizmente, ela o mostra com certa frequência.
— Bom dia, Caitlin, bom dia Ring girl. O que ainda
está fazendo aqui? — pergunto com um sorriso enorme
para não ser grosso. Caitlin odeia quando acha que sou
grosso com as garotas.
— Oh! Bom dia, gatão! Eu estava de saída, mas a sua
irmã gentilmente me convidou para um café, agora estou
fazendo as unhas dela.
Só então reparo que a garota da noite passa um
esmalte vermelho demais na mão da minha preciosa. E ela
nunca usa essa cor de esmalte.
— Que bom que vocês ficaram amigas, Caitlin não se
importa de ter uma amiga dormindo em casa, certo,
Caitlin? — Tento a sorte e recebo novamente aquele
sorriso pela metade.
— Ah não, de maneira alguma. Na verdade, acho que
prefiro mil vezes uma amiga dormindo aqui, do que meu
irmão! — Ela dá uma ênfase enorme à palavra irmão e
trato de despachar logo a Ring girl para não irritar mais
minha melhor amiga.
Deus sabe que se ela se cansar de mim, estarei na
merda.
Quando volto da porta, onde finalmente consegui
fazer a Ring girl sair, Caitlin está com sua mochila
pendurada no ombro, de saída. Ela sacode as unhas e faz
um pequeno bico soprando-as, esperando que sequem.
— Caitlin, me perdoe.
— Não peça perdão se vai fazer de novo, Colin.
Você ao menos sabe o nome desta?
Nego com a cabeça, sem conseguir me sentir
envergonhado por isso, mas algo na maneira como ela me
olha, aquele desapontamento, isso me incomoda.
— Que pena! Ela é uma excelente manicure. Se você
sair com ela de novo, por favor, pegue seu número para
mim. Preciso ir, tem café fresco. Coma algo e coloque a
bolsa de gelo nessa cara, você está horrível.
Ela segue em direção a porta, e resolvo provocar,
aproveitando seu bom humor.
— Então, se as garotas forem úteis para você elas
podem dormir aqui?
— Bom, elas precisam ser úteis para alguma coisa
além de te dar a falsa ilusão de que é homem, só porque
seu pau sobe para qualquer vagabunda nua. Então, não me
importo mais.
— Como assim não se importa mais?
— Não ligo. Pode trazer suas Ring girls e suas fãs
para cá. É seu quarto, sua vida, e eu estou desistindo de
você.
Ela sai pela porta e eu deveria estar sorrindo
emocionado e cantando pela sala, mas, estou muito puto
com ela. Desiste de mim? Que merda é essa? Ela tem
absoluta certeza que sou um idiota que só age com a
cabeça de baixo e não serve nem para cumprir uma mísera
regra. Vou provar para essa santinha que ela está...
Espera, o que estou dizendo? Ela está certa. Este sou
eu e ela me conhece muito bem. Ainda bem que Caitlin é
uma péssima mentirosa, porque eu sei que ela jamais
desistiria de mim. Cantarolo feliz pela sala já pensando
nas três loiras, as primas que não comi na semana passada
porque elas não aceitam qualquer motel.
— Felicidade, aí vou eu!
Saio da faculdade com uma luta agendada, Honor
Black. Nunca lutei com ele, mas já o vi lutar. E sei que
posso vencê-lo tranquilamente. Isso significa dinheiro no
final de semana. Encontro Luke me esperando em seu
carro, ele faz uma careta ao me ver, minha cara não está
das melhores.
— Cara, você deveria esperar esse hematoma sumir
antes de fazer mais deles. Não sei como consegue pegar
garotas com essa cara!
— Não terei novos hematomas, seu frango. E isso já,
já melhora. Além do mais, ninguém resiste aos meus olhos
azuis e esse cabelo loiro — provoco-o e recebo um
palavrão como resposta. — Resolveu me dar carona hoje?
A que devo a gentileza?
— Sei que sua moto ainda está no conserto. E você
sabe, nunca perderia a oportunidade de ver sua
companheira de apê.
Dou um tapa na cabeça dele e entro no carro. Luke é
meu amigo há anos, sabe todas as merdas que já passei, as
que fiz e que fizeram comigo. Caitlin é minha amiga desde
a infância. Morávamos em Madison, Wisconsin, e ela se
mudou antes de mim. Depois de tudo o que aconteceu,
precisei sair da cidade, e vim morar com ela. Luke
também morava em Wisconsin, embora não tenha
conhecido Caitlin lá, ele se mudou comigo para cá e
desde que a viu pela primeira vez, ficou de bolas presas
por ela. O problema é que minha adorada preciosa, só
pensa em estudo. E trabalho. Imagino que ela pegue uns
caras, porque dificilmente está estressada e ninguém é
feliz sem uns bons orgasmos, mas nunca vi nenhum. E ela
não está interessada no meu amigo. Ainda bem, porque
seria estranho ver meus dois melhores amigos de casinho
amoroso pelo apartamento. Deus me livre encontrar Luke
com as bolas balançando uma manhã qualquer, como
Caitlin sempre pega minhas garotas nuas. Então prefiro
não interceder nesse caso. Caitlin que decida se dará uma
chance a ele ou não. Eu espero que não.
Quando chegamos ao apartamento, Caitlin está
sentada, seu longo e volumoso cabelo negro preso no
coque de sempre, com aquelas mexas soltas que cobrem
seu rosto. Usa um pijama de flanela, cheio de patinhos que
deve ser de sua mãe, pelo tamanho. Está com seus óculos
de professorinha e claramente irritada. Ela tem uns dez
livros à sua frente e não deve estar entendendo algo, pois
escreve rapidamente, risca e bufa.
— Boa noite, Caitlin. Precisa de ajuda? — Luke logo
se oferece.
— Não Luke, agradeço.
— Você parece tensa, precisa de uma massagem?
Ela desvia o olhar dele para mim, claramente me
pedindo socorro, mas me divirto vendo-a tentar se livrar
do meu amigo pegajoso. Então dou de ombros e ela me
lança aquele olhar de vou me vingar, seu babaca.
— Ok — diz surpreendendo a Luke e a mim.
— C-como? — ele gagueja.
Ela se levanta, tira a blusa de frio de flanela, por
baixo usa uma camisetinha de seda branca, que é
transparente ao ponto de dar para ver seu sutiã cor de rosa
com lacinhos. Volta a se sentar e fica parada.
— Então, essa massagem é pra hoje?
Luke sai de seu transe e acho que parece tremer ao
tocar a pele dela, eu ouvi mesmo ele gemer? Babaca!
Pego uma Coca na geladeira, dou uma espiada no trabalho
de Caitlin, a pergunta que ela não consegue responder, e
aponto para ela a resposta em um dos muitos livros que
estão espalhados pela mesa.
— Colin, muito de vez em quando, eu te amo — diz
animada marcando a página que mostrei.
Luke me lança um olhar acusador e dou de ombros,
não tenho culpa se sou bom com as mulheres. Até mesmo
com a minha melhor amiga. Rio da cara de idiota dele ao
massageá-la e quando Caitlin emite um pequeno grunhido
de satisfação pela massagem, eu meio que não consigo me
mover. Olho para Luke e o filho da mãe tem um volume na
calça. Ele está excitado com a minha melhor amiga? Nem
pensar!
— Já chega Luke, temos que ir ao clube.
— Não tem luta hoje — ele diz irritado.
— Tem sim, do Stephen. Quero vê-lo lutar de fora.
— Stephen é aquele cara que sempre ganha de você?
— pergunta Caitlin escondendo um sorriso.
— É — assumo entredentes.
— Ah, entendi. Você quer vê-lo lutar da plateia, para
não apanhar dessa vez, certo? — ela provoca.
— Quero vê-lo lutar da plateia para achar seu ponto
fraco. E na nossa próxima luta, você será a Ring girl, vou
derrubá-lo e calar sua boca, atrevida!
Eles ficam rindo e eu vou tomar meu banho.

Caitlin nos dá um leve aceno com a mão quando


estamos saindo, e mal passamos pela porta, Luke me
barra.
— Vamos mesmo deixá-la aí?
— Quem? Caitlin? E para onde a levaríamos?
— Ao clube. Para ver uma luta. Para sair de casa.
Pelo menos uma vez na vida, ela precisa sair de casa. —
Ao ver que não estou convencido, ele insiste — Cara,
olhe para ela. Está exausta e estressada, você sabe que ela
irá descontar tudo isso em você e nas suas festinhas.
Pense bem, uma Caitlin feliz é um Colin livre.
Sorrio.
— Pura balela tudo isso que você disse, mas ok, vou
tentar tirar a professorinha de casa.
Voltamos para o apartamento e Caitlin nem parece se
dar conta disso. Está tão centrada em seus afazeres, lendo
algo claramente chato, estala o pescoço numa tentativa de
relaxar e morde a ponta do lápis.
— Eu poderia gozar vendo-a morder o lápis desse
jeito — Luke diz quase emocionado.
— Que nojo! Pare já com isso!
Aproximo-me de Caitlin e reparo que ela não apenas
morde a ponta do lápis, ela também bate com a língua nele
e de vez em quando o gira na boca. Luke também percebe,
pois se escora em mim ao sussurrar:
— Cara, eu vou mesmo gozar.
O empurro para longe e isso chama a atenção de
Caitlin. Ela nos encara, parecendo perdida por um tempo,
mas então seus grandes olhos claros se focam em mim e
ela sorri.
— Voltaram? Que horas são?
— A mesma de quando saímos, viemos buscar você.
— Ah — é tudo o que ela diz e volta a se concentrar
no livro chato à sua frente.
— Vamos Caitlin, é quarta à noite, as jovens normais
saem nas quartas.
— Achei que saíssem nas sextas. Que eu saiba
quartas são dias de semana, as jovens normais
provavelmente estudam ou trabalham nas quintas, certo?
— Errado. As jovens normais saem todas as noites,
se divertem muito e trabalham contentes no dia seguinte.
— Isso explica o grande aumento do uso de cafeína
pelos jovens da atualidade.
— Você parece uma enciclopédia falando. Largue
este livro e venha comigo.
Estendo minha mão, que ela tranquilamente ignora e
isso se torna uma questão de honra para mim. Quero ver
essa menina séria fora de casa em uma quarta à noite.
Sento-me na mesa, em cima de um livro, bem à sua frente,
fecho seu notebook e a encaro.
— Onde você quer me levar? — ela pergunta
cruzando os braços e me encarando irritada.
Um pequeno franzido aparece em seu nariz e o
desfaço com o dedo, como sempre faço.
— Ao clube. Para ver a luta de Stephen comigo.
— Deixe-me pensar. Você quer que eu vá a um clube,
para ver homens se batendo até sangrar, mulheres
seminuas gritando por sexo e bêbados idiotas dando toda
sua mesada apostando em algum daqueles homens
ensanguentados?
Assinto.
— Parece ridículo com você falando assim —
defendo meu ganha pão.
— É mesmo? Por que será?
— Caitlin, é só uma noite. Você nunca sai de casa,
não sai desde Romeo.
Sei que peguei pesado, tocar no ex cafajeste dela é
golpe baixo, mas ela precisa sair um pouco, se distrair,
ver homens lutando e mulheres seminuas. Precisa ver algo
além dessas letras miúdas e de palavras escritas. Ela
precisa viver um pouco.
— Romeo não tem nada a ver com isso, Colin. É meu
futuro.
— E você é a garota mais inteligente que eu conheço,
não vai perder tudo porque saiu por uma noite. Caitlin
você tem dezenove anos, é jovem, bonita, precisa sair
mais. Sair pelo menos um pouco, vamos, prometo que se
não estiver se sentindo bem eu a trago para casa.
Ela respira e tira os óculos e sei que estou a um
passo de convencê-la. Eu sempre consigo o que quero
com as mulheres, não importa que mulher seja.
— Você vai chegar lá, gritar palavrões enquanto
assiste a luta, depois vai achar uma garota seminua e
trazê-la para cá e eu vou ficar como uma retardada sem
falar com ninguém e tendo de pedir carona para não ser a
vela exótica do seu amasso no carro. Saio com você na
próxima luta que vencer, prometo.
Desço da mesa e a faço se levantar, segurando suas
mãos pequenas nas minhas, apertando-as para acalmá-la e
deixá-la mansa para fazer o que quero que ela faça.
— Colin, nem comece. O que eu vou fazer enquanto
você se pega com uma mulher qualquer lá?
— Ficar comigo! — grita Luke de repente. — Estarei
ao seu lado o tempo todo, juro não sair de perto de você.
Ela faz uma cara engraçada que me faz rir e me olha
desesperada.
— Por favor, dê-me logo um tiro na testa, mas não me
obrigue a isso.
Eu a abraço apertando-a em meus braços e beijo o
alto de sua cabeça, que alcança meu peito, por ela ser tão
pequena e eu, tão grande.
— Se você for comigo, Caitlin Ross, eu prometo não
pegar nenhuma mulher hoje.
Ela se afasta num rompante e me encara com a
sobrancelha arqueada, se divertindo com minha promessa
absurda.
— Você? Vai a um clube com mulheres seminuas e
vai recusar se uma delas quiser lutar com você?
— Sim. Eu juro. Esta noite você será minha mulher,
não vou pegar nenhuma outra.
Ela parece sem graça num primeiro momento, mas
logo se recompõe e diz sorrindo:
— Ok, essa eu pago pra ver. Dois minutos enquanto
eu troco de roupa.

— Você não pode ir ao clube vestida com isso! —


decreto ao vê-la com uma calça de moletom e um cardigã.
— Qual é o problema? — questiona irritada.
— Não vejo problema nenhum — concorda Luke me
dando um soco no braço.
Mas não vou deixar minha melhor amiga entrar no
clube assim, será motivo de piada o resto da vida dela. A
pego pela mão e a arrasto até seu quarto. Abro seu
guarda-roupa e examino.
— Caitlin, você mesma disse que esse tipo de lugar é
frequentado por mulheres seminuas, o que acha que vão
pensar ao vê-la vestida como uma colegial virgem?
— Que não estou gritando por sexo?
A encaro com um sorriso.
— Preciosa, você está. Olha a sua cara.
Ela estende a mão no que é um limite para ela, já
irritada.
— Colin Hanson, nada de falar pornografias comigo!
Foi a primeira coisa que a mamãe te disse quando se
mudou para cá, lembra-se?
— Sim, ela também disse que eu podia fazer e não
falar.
— Nós dois sabemos que isso nunca vai acontecer —
ela diz empurrando-me e pegando um vestido. Ainda é
comprido, mas é justo. Bem melhor que a roupa que está
usando.
— Menos mal, vista esse. Desculpe, Caitlin, você
sabe que eu a respeito mais do que qualquer outra pessoa
nessa vida.
— Eu sei.
Ela tira o cardigã e começa a abaixar a calça, bem
ali, na minha frente. Viro-me para trás assoviando e não a
olho, ela é minha melhor amiga e eu não estava brincando
quando disse que a respeitava mais do que qualquer outra
pessoa na vida. Ela passa por mim quando termina, coloca
um brinco de argola pequeno, mas é um brinco, e calça
uma bota que abraça sua perna e destaca sua coxa.
— Satisfeito? — pergunta dando uma volta.
— Você está quase lá, baby girl. Agora, vamos.
Ela bufa irritada com o apelido que detesta e me
segue porta afora.
Fiz questão de sentar-me no banco do carona antes
que Luke fizesse Caitlin sentar lá. Mas vejo que ele mais
olha para o discreto decote dela do que para a estrada e
para acabar com o desconforto da minha amiga, jogo
minha jaqueta para ela, que sorri em agradecimento e a
coloca.
Caitlin ficou excepcionalmente calada no caminho até
o clube, nem mesmo quando Luke a cantava, coisa que ela
sempre respondia com um “me mate” e todo seu sarcasmo,
ela respondeu. Parecia perdida em pensamentos.
Quando descemos do carro, peço a Luke que vá na
frente e seguro Caitlin um pouco comigo.
— O que está havendo, Caitlin? Você quer ir
embora?
— Não, está tudo bem — diz e desvia os olhos.
— Ei! — Seguro seu queixo obrigando-a a focar
aqueles olhos de amêndoas em mim. — Você sabe que
pode me dizer qualquer coisa, não sabe? Desde aquele
babaca do Romeo você perdeu o costume de me dizer as
coisas, Caitlin.
— Você vivia reclamando que eu falava demais,
devia estar grato. Então, vamos entrar no seu mundo?
— Só quando eu entrar no seu. O que está havendo?
Se é pelo Luke eu te garanto que ele não vai tocar em
você.
— Eu não sei se me encaixarei aqui. Quero dizer, não
que eu vá frequentar esse tipo de lugar depois disso, mas
temo que vá me sentir péssima.
— Se isso acontecer eu a levo pra casa, como
prometi.
— Sim, e será mais uma coisa do seu mundo da qual
eu não faço parte. — Ela cobre rapidamente a boca com a
mão e tenta desconversar, falando sobre uma mulher que
me olha estranho, mas ela está certa.
Conheci Caitlin quando tinha seis anos e me achava o
super-herói. Ela havia acabado de entrar no jardim de
infância, era muito pequena para sua idade e frágil,
parecia uma boneca. Ela era nova na cidade, andava
vestida de princesa e isso não condizia com a realidade
do local onde morávamos. As meninas mais velhas não
gostavam dela, e começaram a ameaçá-la. Eu a via chorar
para a mãe sempre que ia deixá-la na escola. Sendo eu o
super-herói ali, tive que ajudá-la. Eu virei seu protetor.
Nunca mais nos separamos.
Nossa amizade sempre foi algo difícil de entender e
mais ainda de explicar. Ela foi a garota que fez meu
primeiro cavanhaque quando eu quase não tinha pelos e
segurou minha mão na minha primeira tatuagem aos treze
anos. Eu fui o cara que a ensinei a beijar quando ela se
apaixonou por um nerd retardado na quarta série, e fui seu
acompanhante em todos os bailes de escola. Quando ela
fez quinze anos, eu estava proibido de pisar no bairro,
mas mesmo assim fui à sua festa, fui seu príncipe, não
porque éramos apaixonados, nem nada assim, mas porque
nossa amizade vai muito além de qualquer estereótipo e
entendimento.
Sempre houveram piadas de que nos pegávamos, de
que ela era minha puta, coisas maldosas quando me
envolvi com as pessoas erradas, e ela sempre foi o ponto
bom no meio de toda confusão. Ela, foi a única que esteve
ao meu lado quando tudo aconteceu. A única que me ouviu
admitir o que eu havia feito e não me olhou com
julgamentos e pena, mas sim com uma ideia de como me
esconder. Ela foi a garota de quatorze anos que me
escondeu em seu porão por dois meses, deixando de
comer para me dar suas refeições e me fazendo companhia
todas as noites.
Ela é a única garota no mundo com quem eu posso
dormir na mesma cama e não tocá-la de forma erótica,
íntima sim, mas sem segundas intenções. Eu nunca a vi
assim, ela sempre foi a melhor amiga, o porto seguro, a
menina que gostava de mim independente de qualquer
coisa. Tínhamos liberdade de falar tudo um para o outro,
mas quando a testosterona passou a reger meu corpo,
acabamos nos afastando. Ela se mudou e eu só pensava em
sexo e não podia de jeito nenhum falar com ela o que
pensava sobre as amigas gostosas dela. Não queria que
ela visse o grande sem vergonha que eu me tornei. Quando
fui morar com ela, isso ficou claro logo no primeiro mês,
ela impôs suas regras, não segui todas, mas como sempre,
ela ainda é a garota que não me julga, mesmo quando puxa
minha orelha, e a que estará sempre aqui por mim. E eu
sinto falta da época em que podia falar de tudo com ela, e
que ela fazia o mesmo.
— Quando eu cheguei aqui, você estava namorando
sério um grande babaca há quase um ano e eu não sabia.
Foi a primeira coisa que você me escondeu, Caitlin.
Depois de tudo o que ele fez, você nunca mais voltou a ser
você. Se concentrou tanto no trabalho e nos estudos, achei
que fosse passar, que fosse só para não sentir dor, mas
você me colocou de escanteio também.
— Não, eu não fiz isso!
— Jura? Porque eu não sei com quem você sai agora,
não conheço suas amigas, mas sei que você tem alguma.
Não conheço os caras com quem você se relaciona.
— Você não ia gostar deles. E não quero você
pegando minhas amigas para partir o coração delas depois
e me fazer perdê-las.
Sorrio.
— Me dê o benefício da dúvida. Não vou comer suas
amigas.
Ela faz uma careta pela palavra que usei, fazendo-me
rir ainda mais.
— Apresente-me ao menos uma. Juro não me meter
com ela. E um cara com quem você sai.
Ela parece desconfortável.
— Não estou saindo com ninguém. Tudo bem, eu
meio que te coloquei de fora, mas a verdade é que você
apareceu aqui depois de dois anos sem nos vermos e você
respirava sexo. Ficou tão diferente do Colin que eu
conhecia!
— Não fiquei. Na verdade, eu só não mostrava esse
meu lado para você, morando juntos não tive como
esconder.
Ela sorri e me dá um soco leve no braço.
— Não faço parte desse seu mundo depravado e
violento. E se eu assistir a uma luta e achar que esse
ambiente é demais para mim? Não farei parte do que você
ama fazer também. Acho que vamos nos perdendo com os
anos.
Seguro sua mão e olho em seu rosto de boneca
assustada para que ela não tenha dúvidas do que vou
dizer:
— Eu não tenho nada, Caitlin, apenas você. Nunca
posso perdê-la. Se você achar que isso aqui é demais para
você, então vou achar algo que goste de fazer e que você
considere aceitável.
Ela sorri.
— Tudo bem. Estou fantasiando mulheres amarradas
e homens se comendo com os dentes. Vamos tirar essa
impressão de mim.
Entrar de mãos dadas com a Caitlin, estando ela com
a minha jaqueta não foi uma boa ideia. Os seguranças na
porta logo repararam cada centímetro dela, como se ela
fosse mais uma das mulheres que pego. Será que esses
idiotas não percebem que ela ainda é uma menina? A puxo
para mais perto de mim, tentando protegê-la. Seus olhos
curiosos observam tudo, logo que entramos, no corredor
que desce para o ringue, há vários quadros dos grandes
lutadores da casa. E bem na esquina onde viramos para
entrar, em maior destaque, há o dele: Stephen, o imbecil.
Caitlin solta minha mão e se aproxima do quadro, não sei
o que viu nele até ouvi-la suspirar.
— Uau!
— Uau? O que quer dizer esse uau, Caitlin?
— Você não entenderia. Tudo bem, você quer que eu
te conte tudo, então.... Olhe para esse cara! Esses
músculos, a pele dele brilha! Eu consigo contar quantos
gominhos ele tem e meu Deus! Ele tem dez! Você já viu um
cara com dez gominhos? Ele exala testosterona e só de
olhar para essas entradas nesse tanquinho me dá vontade
de ajoelhar-me aos pés dele e perguntar por que ele não
me deixa chupá-lo, só um pouquinho?
— Quando quiser, baby — uma voz atrás de mim faz
Caitlin quase desmaiar, ao reconhecer o cara da foto.
E merda! Eu estou quase arrancando esse quadro e
cada um desses gomos que a Caitlin enxergou nele. Caitlin
abaixa a cabeça sem graça e se aproxima de mim, mas
claro que Stephen não deixaria isso passar batido.
— Sua garota é muito linda e esperta, Hanson.
Melhor tomar cuidado com essa.
— Vai à merda Stephen. Você não vai chegar nem
perto dela.
— Veremos.
Ele olha milimetricamente para Caitlin, que ao invés
de se encolher atrás de mim como ela normalmente faria,
sorri para ele, devolvendo a inspeção.
— Desculpe-me falar do seu... — Ela aponta com o
dedo em direção ao short que ele usa.
— Não tem problema, baby. É todo seu.
Puxo Caitlin pela mão e a arrasto para dentro do
clube e a filha da mãe ainda fica olhando para trás, para o
filho da puta do Ryan. Assim que ele some de vista, ela
começa a rir.
— Que merda foi essa, Caitlin?
Mas ela ri tanto que mal consegue falar. Quase a
sacudo para que pare de rir e me responda, e quando ela
percebe como estou nervoso, suspende o riso com uma
careta.
— Foi uma brincadeira, tá legal? Eu só queria
brincar falando de forma que você nunca falaria perto de
mim, para quebrar esse gelo e nós nãos nos perdermos
tanto.
— Você exaltou o maldito Stephen só para me
mostrar que posso falar de sexo com você?
Ela arregala os olhos vermelha como um tomate.
— Ah meu Deus, esse é o famoso Stephen? Colin,
juro que não fiz por mal. Mas devo admitir, ele é muito
bonito. Não tipo modelo, mais como um homem. Um
homem muito lindo. — Ela está de novo com o olhar fixo
nele e sou obrigado a sacudi-la para trazê-la de volta à
realidade.
Essa noite está me saindo muito pior do que poderia
ter imaginado.
CAPÍTULO DOIS
O maldito Stephen venceu a luta, mas eu não
esperava menos do que isso. O lado bom de tudo é que
pude pegar bem seus pontos fracos.
— Ele apanhou mais por baixo, Colin. Ele não se
defende ali — observa Caitlin após um silêncio
constrangedor na cadeira ao lado da minha.
A última luta da noite de Stephen vai começar e
Caitlin está tentando tirar a merda da tromba que não sai
do meu rosto para ficar tudo bem.
— Preste atenção nessa luta e verá. As únicas vezes
em que foi atingido, foi por baixo. Não é muito inteligente
da parte dele. Ele também bate depressa demais, então
não pode ser tão difícil prever seus movimentos.
— Ele faz isso para não dar tempo ao adversário de
reagir. Bem observado, senhorita Ross. Nem parece uma
expectadora amadora de luta livre.
Ela faz um floreio exagerado com a mão.
— Obrigada, eu sempre dou o meu melhor.
Neste momento avisto Serena, a irmã de Stephen com
quem dormi no mês passado e que não larga do meu pé, se
aproximar. Aproximo-me de Caitlin para uma saída
rápida.
— Problema! — grito em seu ouvido.
— O quê?
Sem tempo para explicar, a puxo pelo cabelo e a
beijo. Sei que vou levar um soco do Luke por isso e
provavelmente uns dez dela, mas não tive saída. Eu
pretendia apenas fingir beijar a Caitlin, mas, para não
correr o risco de não convencer a Serena, a beijei de
verdade. Sem língua, mas foi um beijo. E eu não me
lembrava como seus lábios eram grossos.
Assim que me afasto, Serena passa por nós irritada e
esbarra em Caitlin, derrubando seu refrigerante na minha
jaqueta.
— Ela era o problema? — Caitlin pergunta calma
demais.
— Sim, era. Você, baby girl, é a melhor amiga do
mundo.
— E você é uma merda de amigo — Luke diz, mas
Caitlin e eu fingimos não escutar.
Ele vai entender depois, não é como se Caitlin e eu
nunca tivéssemos nos beijado antes. Não significa nada.
Porra, eu a ensinei a beijar! Podemos considerar isso
como mais um treino.
Bagunço seu cabelo, obrigando-a a desfazer o nó
para prendê-lo de novo, quando o filho da puta do Stephen
dá o golpe mais baixo da história dos golpes baixos. Ele
aponta para Caitlin e a convida para ser a Sorte dele.
No Clube Luck, onde lutamos, cada lutador pode
escolher uma mulher da plateia para ser sua Sorte. Ela
fica lá em cima do ringue, assistindo a luta de perto, e se
ele vencer, ela lhe dá um beijo, pois deu sorte para ele. E
nesse momento o maldito do Stephen está chamando a
minha melhor amiga para ser a Sorte dele.
— Nem fodendo que você vai subir lá.
Só então ela percebe que todos estão olhando para
ela. Solta o cabelo que tentava prender e se encolhe atrás
de Luke, que está ao seu lado esquerdo.
— Por que todos estão olhando para mim? —
pergunta envergonhada.
— Não acredito que o filho da puta a chamou para
ser a Sorte dele! — reclama Luke irritado.
— Sorte? O que é isso?
Stephen desse do ringue em direção a ela, todos os
olhares sobre eles. Mas claro que não permito que ele se
aproxime. Fico de pé e entro na frente de Caitlin,
impedindo-o de chegar até ela.
— Escolha outra, Stephen, ela não está disponível.
— Ela não me parece uma das garotas que você leva
para a cama, Hanson.
— Eu não sou! — Caitlin diz atrás de mim e tenho
vontade de matá-la.
— Ela é minha irmã e de jeito nenhum vai ser a Sorte
para você.
— Sua irmã? Não seria perfeito? Uma irmã pela
outra.
Quero matá-lo, mas mal dou um passo, dois
seguranças me seguram.
— Não arrume briga na plateia, Colin. Sabe que o
Thor te mata.
Thor é o dono do clube e briga aqui dentro só é
aceitável em cima do ringue. Então dou um jeito de esfriar
a cabeça, enquanto o maldito fala com Caitlin.
— Quero que seja a minha Sorte. Você só precisa
subir lá e assistir a luta, quando eu vencer, oferecerei meu
prêmio a você.
Caitlin gagueja e não diz nada.
— Eu já disse que ela não vai.
— Não estou chamando você, embora seja seu sonho
subir no ringue comigo e sair como vencedor de alguma
forma, não é mesmo?
Então o maldito fala a única coisa que convenceria
Caitlin a subir no ringue com meu maior inimigo.
— A garota para quem você fingiu ser a namorada
dele é minha irmã. O seu irmão, destroçou o coração dela.
Só quero deixar bem claro que não sou como ele.
Caitlin me olha com aquela decepção que odeio ver
nos olhos dela e nem preciso ver ela se levantar para
saber que vai subir na merda do ringue.
— Caitlin, você não precisa fazer isso. Isso aqui não
é você.
— Você tem razão, Colin. Isso aqui não sou eu. —
Ela aponta para a garota que nos olha curiosa de longe. —
Eu vou com você, Stephen, mas quero deixar claro que
estou fazendo isso apenas pela sua irmã. Eu sou team
Colin.
Ele sorri estendendo a mão e vejo minha amiga subir
no ringue com aquele maldito. Completamente perdida.
Seu cabelo solto voa com o vento em seu rosto, ela tira
minha jaqueta e a entrega a Ring girl que deixa o ringue. É
costume que elas saiam quando a Sorte está no ringue. E
ali, com o cabelo negro esvoaçante, um vestido colado ao
seu corpo, e mordendo o lábio de nervosismo, Caitlin
Ross, minha melhor amiga, é o objeto de desejo de todos
os idiotas presentes aqui, incluído o Stephen.
A luta começa, mas não consigo ver nada dela. Só
tenho olhos para Caitlin, parecendo totalmente perdida em
cima do ringue, olhando para todos os lados menos para a
pancadaria que se desenrola na frente dela, e claro, para
mim. Ela não olha em minha direção em nenhum momento.
Recebo um soco de Luke completamente irritado.
— Caralho! Quem teve a ideia de merda de trazer a
Caitlin aqui?
— Você.
— Por que caralho você ainda escuta minhas ideias?
Eu devia saber. As garotas daqui são todas iguais, todas
fáceis e oferecidas, mas ela? Basta olhar para Caitlin para
saber que é tímida, que é inteligente e não é uma piranha.
Sem contar que ela é de longe a mulher mais linda nessa
merda de lugar.
— Caitlin é uma menina, Luke. Não a compare com
as mulheres daqui.
Ele sorri debochado e dá um tapa forte na minha
cabeça.
— Abra a merda desses olhos, Colin. Caitlin deixou
de ser menina há muito tempo. Ela é a mulher mais linda
dessa merda toda e não sou só eu que enxergo isso.
Olho para ela ali, Stephen diz algo em seu ouvido
enquanto seu adversário tenta se levantar que a faz rir, e
ela relaxa visivelmente. Não gosto da sensação de vê-la
ficar bem com ele. Tantos homens exalando testosterona
nesse lugar e ela vai se interessar justamente pelo meu
maior oponente. Mas o que vejo quando a olho é a mesma
bonequinha de porcelana de sempre. Minha preciosa, a
menina que devo proteger. E não estou fazendo isso
direito.
O juiz dá a luta como encerrada e Stephen é o
vencedor. Ele pega a merda do pano branco da mão do
juiz e o estende a Caitlin. Como ele não disse a ela nada
sobre beijo, tive uma vaga esperança de que ele não fosse
cobrar isso, mas claro que ele não deixaria passar. Ele
segura o rosto dela, diz algo que a assusta e
vagarosamente aproxima seu rosto do dela, depositando
um puta beijo em sua boca.
— Ele colocou a língua na boca dela? — Luke
praticamente grita.
A plateia grita enlouquecida e eu seria capaz de subir
naquela merda de ringue agora mesmo e partir esse filho
da puta ao meio. Ele agradece convencido a atenção da
plateia e ajuda Caitlin a descer do ringue. Então pega sua
mão e a arrasta para o vestiário.
— Colin... — Luke começa a falar, mas nem dou
tempo que ele conclua
— Ele não vai levá-la para o vestiário, de jeito
nenhum!
Passo pela multidão como um furacão e os alcanço
quando ele vai fechar a porta, consigo impedir com o pé e
a empurro com força.
— Caitlin, vamos!
Ela arregala os olhos por meu grito, então tento me
acalmar.
— Caitlin, minha preciosa, vem comigo. Vamos
embora.
Estendo a minha mão e ela lança um olhar de
desculpas a Stephen que com um sorriso beija a mão dela.
Se fazendo de cavalheiro, coisa que sei que o babaca não
é. Caitlin passa por mim sem pegar minha mão, o que
indica que ainda está brava comigo, mas pelo menos
escolheu a mim. Não posso ameaçar Stephen arriscando
que ela ouça, mas faço isso com o olhar e ele parece levar
isso como um desafio.

Estou pensando em uma maneira de me desculpar


com ela pelo beijo para enganar Serena, quando alguém
pula repentinamente na minha frente e um perfume
exagerado me toma enquanto dois braços rodeiam meu
pescoço.
— Colin, meu bem. Que saudade de você!
— Ah, oi Rachel.
Caitlin me olha com aquele desapontamento, como se
gritasse em minha cara que avisou que seria assim e segue
até o carro. Preciso falar com ela.
— Rachel, hoje não posso. Nos vemos amanhã, tudo
bem?
Dou um beijo rápido em sua testa e corro até o carro.
Caitlin está mexendo no celular e não diz uma só
palavra o caminho todo. Despede-se de Luke com um
tchau seco e entra no prédio sem esperar por mim. Corro
atrás dela como um cachorrinho. Sei que faço isso, mas
ela é minha única família, minha única amiga de verdade.
Quando entro no apartamento ela está tirando o lenço
branco da vitória do Stephen do bolso da minha jaqueta,
que havia sido devolvida a ela quando desceu do ringue.
Estende a jaqueta para mim e leva o lenço ao nariz.
— Até que não foi tão ruim. Quer dizer, não me
importaria de assistir uma luta sua um dia desses — diz
com um sorriso.
— Minha ou desse babaca?
Ela revira os olhos e vai para o banheiro. Tenho um
monte de coisas para fazer, mas fico ali, sentado quase na
porta do banheiro, esperando que ela saia. Sei que já
passou de sua hora normal de dormir, mas quero mesmo
falar com ela. Ela se assusta ao me ver ali, mas sorri para
mim.
— Caitlin, me desculpe.
— Pelo que exatamente?
— Beijar você. Usá-la como parte de uma farsa para
desenganar uma mulher apaixonada. E por ser um babaca
completo que só pensa com a cabeça de baixo e vive
decepcionando a única pessoa no mundo que ele quer
impressionar.
Ela sorri, aquele sorriso doce de quem me perdoou
totalmente.
— Você ainda vai melhorar. Foi cruel o que fez com
a irmã do Stephen, mas não estou aqui para julgar você.
Obrigada por não ter trazido a garota do perfume forte
para cá.
Pego sua mão e a acaricio levemente.
— Caitlin, eu nunca faria isso com você. Sei que
vivo quebrando essa maldita regra, mas estar com você e
mesmo assim precisar da companhia de outra? Isso é algo
que nunca vai acontecer.
Algo passa por seus olhos e ela me abraça. Rodeio
seu corpo pequeno com os braços, apertando-a a mim. E
sinto seus seios pressionando meu peito. Ela está só de
toalha e seu cabelo está molhado. Afasto-me confuso,
porque nunca senti nada do corpo dela antes que não fosse
o calor de seus pequenos braços, e sentir que minha
garotinha tem seios, é completamente insano. Ela se afasta
em direção ao seu quarto, e sendo o grande babaca que
sou, não posso permitir que ela vá dormir em paz.
— Stephen está usando você para me atingir, Caitlin.
Sinto muito por isso também.
Ela para onde está e me olha. Tenta aparentar calma,
mas a conheço o suficiente para saber que não está.
— Por que você acha isso?
— Porque ele me odeia e você estava comigo. Ele
viu que é importante para mim. E você não faz o tipo dele.
Seu rosto fica tão vermelho quando escuta a última
frase, que só entendo que a magoei quando ela fala, e sua
voz parece embargada.
— Então, você acha que não sou bela o suficiente
para atrair um homem como ele? Acha que eu não posso
seduzi-lo?
— Eu não quis dizer... merda, Caitlin! Você é uma
menina! É claro que não pode seduzi-lo, você não é assim.
— Boa noite, Colin.
Ela entra em seu quarto e bate a porta. Corro atrás,
mas ela a trancou e eu sei que não adianta tenta falar com
ela quando tranca a maldita porta. Vou para meu quarto,
tento dormir, mas falho miseravelmente. Odeio me sentir
brigado com ela.

Ouço o tique-taque do relógio e sei que já passam


das três da manhã, quando a porta do meu quarto é aberta.
— Colin — Caitlin chama baixinho. — Está
acordado?
Acendo a luz do abajur e sento-me na cama.
— Aconteceu alguma coisa? Você está bem?
Ela usa uma camisola de flanela enorme e parece
totalmente sem graça por eu estar acordado.
— Não consigo dormir. Na verdade, eu não gosto de
dormir brigada com você. Desculpe ter trancado a porta.
Estendo a coberta e ela fecha a porta e se enfia
debaixo dela comigo. A deito em meu peito e acaricio seu
cabelo para que ela durma.
— Também não gosto de brigar com você, minha
preciosa.
— Não me chame assim. Me sinto um anel quando
você diz isso.
Sorrio e ela se aconchega a mim, sua respiração
ficando mais alta a cada minuto.
— Você é muito bonita, Caitlin. E sei que não é uma
menina, apenas eu a vejo assim. Não acho que não seja
capaz de seduzir alguém como o Stephen babaca, só
quero que tome cuidado. Não quero você machucada de
novo, porque eu a coloquei na mira de um inimigo. Você
me entende?
Ela assente e responde com a voz arrastada pelo
sono.
— Entendo. Mas você está certo, não sou mais uma
menina. Eu sei me cuidar.
Afundo o rosto no cabelo macio dela, e o cheiro de
seu shampoo me faz acalmar e finalmente dormir.

Caitlin não está ao meu lado quando acordo e quando


vejo a hora no despertador, me dou conta do motivo. Já
passa das oito. Me levanto para conferir se ela já saiu
para o trabalho, mas ela está afoita, tentando fechar o
casaco com uma mão, enquanto enfia os pés em seus tênis
e tenta tomar café. Queima a língua, grita um palavrão, se
desequilibra e só não cai de cara no chão, porque sou
rápido o bastante para segurá-la.
— Me ajuda! Feche meu sutiã. E me diga que o fecho
não arrebentou.
Ela tenta tirar o casaco, mas se embola toda, então a
obrigo a ficar parada.
— Tome esse café e me deixe fazer o resto, tudo
bem?
Ela assente e tiro o casaco de seus braços, estava do
lado avesso, o que a faz dar uma gargalhada. Então ela
sobe a batinha branca que usa e fica de costas para mim.
Abotoo seu sutiã e a informo de que não está estragado.
Coloco o casaco em seus ombros e me ajoelho para
amarrar seus tênis enquanto ela toma o café.
— Você comeu alguma coisa?
Ela nega com a cabeça.
— Não dá tempo. Eu como na lanchonete. É por isso
que não gosto de dormir com você, sempre me atraso.
Ela me dá um beijo rápido no rosto e corre porta
afora, deixando a mochila para trás. A levo até a porta e
espero, pouco depois ela sai do elevador correndo, puxa a
mochila da minha mão e a impeço de correr de volta,
puxando-a pela mão.
— Meu beijo de tchau.
— Eu já te dei.
— Mas agora está me dando tchau de novo. Quero
outro.
— Idiota!
Ela bate a testa em meu queixo na pressa, me xinga
de novo e sai correndo.
— Essa é minha garota.
Estranhamente, mesmo sabendo que o Stephen ficará
no pé da Caitlin para se vingar de mim, estou com um
humor divino. Humor esse, que desfalece
consideravelmente quando sou obrigado a entrar na
maldita clínica. Eu deveria estar preso pelo que fiz e
entendo que foi errado, mesmo sabendo que foi justo.
Mas, como minha querida psicóloga sempre me diz, nem
sempre o justo é o certo. Eu fiz justiça com as próprias
mãos e agora preciso arcar com isso. Achei que fosse
mesmo parar na cadeia, mas graças a Lorna, mãe da
Caitlin, estou em liberdade, sendo obrigado a comparecer
nessa clinica uma vez por semana até que a doutora
espertinha resolva me dar alta, e prestando serviços
sociais aos finais de semana. Dessa parte eu gosto.
Trabalho em um orfanato e Caitlin sempre vai comigo, é
algo de nossas vidas de adultos que ainda podemos fazer
juntos e que curtimos juntos.
A doutora Katy tem cabelos loiros bem curtos, por
volta dos quarenta anos e olhos cansados. Penso que a
vida dela não deve ser uma maravilha, e mesmo assim ela
fica aqui tentando consertar a minha. Quando disse isso a
ela, ela me respondeu que todo mundo tem facilidade em
cuidar da vida dos outros. De vez em quando, eu gosto
dela.
— Olá, Colin. Como está a Caitlin?
Ela sempre pergunta pela Caitlin antes de perguntar
por mim. Abro um sorriso enquanto me sento.
— Neste momento, deve estar envergonhada por ter
chegado atrasada no serviço. A senhora sabe como ela é.
— Sim, eu sei. Por isso estranho o fato de ela se
atrasar. Aconteceu algo?
— Nada demais. Nós tivemos uma leve discussão
ontem à noite, custamos a dormir. Fizemos as pazes de
madrugada e ela dormiu na minha cama, por isso saiu
atrasada.
Ela arqueia as sobrancelhas e anota algo em seu
caderno.
— Não aconteceu nada entre a gente, doutora. Eu
jamais tocaria em um fio de cabelo dela dessa maneira.
Além do mais, ela está interessada no idiota do Stephen
Ryan.
Não sei dizer se a expressão em seu rosto, além de
surpresa, é de pena ou de zombaria.
— Stephen? Aquele seu adversário que sempre...
— Ele mesmo! — interrompo antes que ela complete
que ele sempre me vence.
— Interessante.
— Não vejo nada de interessante nisso. Caitlin é uma
menina inocente e ele só a está usando para se vingar de
mim.
— Você não tem como ter certeza disso, então sugiro
que não tente protegê-la. Deixa a Caitlin se virar sozinha.
— O caralho que não vou protegê-la dele. Pode ter
certeza que ele não vai colocar as mãos nela. Não importa
o que eu tenha que fazer, nunca permitirei isso.
Ela anota furiosamente algumas coisas, depois, deixa
o caderninho de lado e me serve uma dose de vodca.
Também pega uma para si. A primeira vez em que fez isso,
confesso que me assustei, mas então ela me disse que eu
já tinha mais de vinte e um e isso se tornou um costume.
Ela acha que me solto mais quando estou sob o efeito do
álcool e para mim, é oportuno que ela pense isso.
— Sabe, senhor Hanson, há algo curioso que gostaria
que você notasse. Sempre que entra em meu consultório e
eu pergunto como você está, você pouco diz, se fecha e
nossa hora não rende. Mas, sempre que você entra em meu
consultório e eu pergunto primeiro pela senhorita Ross,
você abre um sorriso e conversa comigo por uma horinha
inteira.
Viro minha dose de vodca fazendo uma careta e dou
de ombros. Ela espera que eu diga alguma coisa, mas o
que eu poderia dizer? Não gosto de falar sobre mim, gosto
de fala sobre a Caitlin.
— E você acha normal isso?
— Ela é minha melhor amiga e mora comigo — mais
uma vez, não entendo onde ela quer chegar com essas
observações.
— Você tem outros amigos, suponho, com quem
convive diariamente e acredito até, que divida mais da
sua vida, do que faz com a senhorita Ross.
— Tá legal, onde isso vai parar?
Ela imita meu gesto com um dar de ombros e um
sorriso de que devo descobrir sozinho que eu detesto nela.
— Em lugar algum, suponho. Só não é comum essa
sua dependência dela.
— Eu não dependo dela. Ela só é uma coisa boa na
minha vida. O que a senhora está insinuando?
— Absolutamente nada. Você entrou em contato com
a Hannah como eu te pedi?
Ela achou mesmo que uma dose de vodca e ficar
insinuando que sinto algo mais pela minha melhor amiga
me fariam responder essa pergunta de alguma forma como
se fosse um assunto comum?
— Não, isso não vai acontecer. Por que não voltamos
a falar sobre a Caitlin? — proponho já sabendo que ela
vai voltar a bancar o cupido.
— É claro, mas não se iluda de que está desviando o
foco da nossa sessão. Descubro mais de você quando
falamos dela. — Ao ver minha expressão de dúvida, dá
sua última cartada: — Por exemplo, você poderia afirmar
que ela é seu lado bom?
Olho para trás e quando repenso a minha vida, desde
sempre até agora, parece que algo faz todo sentido e essa
megera casamenteira conseguiu decifrar algo meu.
— Sim, na verdade, isso a define perfeitamente para
mim, ela é o meu melhor lado.
Ela volta a anotar furiosamente em seu caderno com
um gesto negativo de cabeça e acho que a escuto
resmungar algo sobre ver tanto e enxergar tão pouco.
CAPÍTULO TRÊS
Olho o celular em minha mão como se ele fosse um
bicho de sete cabeças. Demoro cerca de dez minutos para
ter a coragem de abrir os contatos, mais uns vinte para
rolar a tela até o nome da minha ex madrasta malvada. E
parece que vou demorar uma vida para ter coragem de
fazer essa ligação. Talvez nem a faça nessa vida. Apesar
do que a doutora casamenteira diz, eu ainda não acho que
deva qualquer pedido de desculpas a ela, menos ainda
saber se está bem, quando realmente não me importo.
Melhor ser eu mesmo do que um cara bom.
Jogo-me na cadeira que até poucos minutos estava
ocupada pela Caitlin e resolvo um de seus exercícios. Ela
odeia quando faço isso, gosta que eu a ensine, mas não
tenho vocação para lecionar, prefiro ajudá-la fazendo seu
dever. Ela cantarola no banho enquanto vou resolvendo
tudo apenas para irritá-la, e de repente algo vibra na
mesa. É o celular dela. Dou uma olhada por alto ao ver
um número sem foto.
— Caitlin, seu telefone! — grito. — Quer que eu
atenda?
Ela não para de cantarolar e pego o aparelho, me
dirijo até a porta do banheiro para entregá-lo a ela,
quando reconheço o número na tela.
— Maldito!
Como diabos Stephen Imbecil Ryan conseguiu o
número do celular dela?
Corro para o meu quarto com o aparelho e atendo,
não estou ultrapassando nenhuma regra de invasão de
privacidade aqui, estou apenas fazendo o meu papel de
proteger a minha amiga.
— O que você quer? — atendo.
— Achei que esse número fosse da Caitlin, não seu.
— Última chance, babaca! O que você quer?
— Falar com a Caitlin. Ela sabe que você atende o
celular dela?
— Ela não pode atender.
Desligo o telefone que toca de novo em seguida.
Atendo imediatamente, pois ela parou de cantarolar no
banheiro e não quero que ela escute.
— Hanson, deixa de ser criança, ok? Eu só quero
convidar a Caitlin para sair comigo hoje. Isso não tem
nada a ver com você, ou com o clube, só quero passar um
tempo com ela.
Como se eu fosse acreditar que ele querer sair com
minha melhor amiga não tem nada a ver com o fato de eu
ter magoado a irmã dele. Se o interesse dele por ela não é
pela nossa rivalidade no ringue, então é por vingança.
— Isso não vai acontecer. Quero você bem longe
dela. Eu sei que fui um babaca com a Serena, mas a
Caitlin não tem nada a ver com isso. Vingue-se de mim no
ringue e deixe minha amiga fora disso!
— Você é mesmo um idiota prepotente se acha que
meu mundo gira em torno de você. Estou pouco me
lixando para o que fez com a Serena, eu a alertei sobre
você, ela quis correr o risco. E mesmo se eu quisesse me
vingar de você por isso, eu já o faço, semanalmente no
ringue, certo? O meu interesse na Caitlin somente tem a
ver com ela e mesmo que você desligue o celular dela, eu
vou bater na sua porta até que consiga falar com ela!
Ouço Caitlin cantarolando na cozinha, preciso
desligar a ligação antes que ela pergunte pelo celular.
— Eu vou dar o recado. Mas se você a magoar, Ryan,
pode ter certeza de que mesmo que eu seja expulso do
clube, eu mato você.
— Não tenho medo de você. Mas não vou machucá-
la.
Ele me passa o local de um restaurante não muito
longe para que ela o encontre às vinte horas. Juro que vou
dar o recado, mas claro que não vou fazer isso. Só preciso
dar um jeito de tirar a Caitlin de casa, fazer o babaca
achar que ela deu um bolo nele e então a vida tomará seu
rumo certo de novo.
A observo montar um sanduiche, ela me oferece, mas
estou sem fome. Devolvo seu celular à mesa, após apagar
do registro as ligações do Stephen e penso em como tirá-
la de casa. Principalmente porque tenho uma luta hoje.
— Por que você fez isso? — ela pergunta irritada e
por um segundo penso que descobriu sobre a ligação, mas
está encarando as respostas no seu trabalho.
— De nada, querida.
— Colin Hanson, você é o ser mais odiável e idiota
da face da terra!
— Você deveria me agradecer, Caitlin. Fiz seu
trabalho, agora você está livre o resto da noite.
— É verdade, e o que mesmo eu vou fazer com ela?
Ah, sim! Assistir uma maratona de séries de heróis na
Netflix e na semana que vem quando for fazer a prova, eu
vejo se a história de Oliver Queen pode me dar um dez!
Adoro quando ela faz esses dramas.
— Só que essa noite você não vai ficar sozinha com
a Netflix. — Lanço aquele olhar pidão e ela cai
pesadamente na cadeira de frente para mim, já com o dedo
indicador fazendo um movimento negativo no ar.
— De jeito nenhum! Você não vai atrapalhar meu
romance com Oliver Queen para me meter em algum dos
seus rolos! Não mesmo!
— Caitlin, por favor! — Faço minha melhor imitação
do Gato de botas.
— Não!
— Caitlin, preciso de você. Quero que seja a minha
Sorte essa noite.
Espero sua negação e uma lição sobre o que houve da
última vez em que a levei ao clube, mas estranhamente,
ela permanece parada, como se seus pensamentos
estivessem a quilômetros de distância daqui, logo, me
analisa como se eu fosse um Alien, então parece cair em
si e pigarreia sem graça. Levanta-se da cadeira e, olhando
para o chão, como uma menina envergonhada, fala com a
voz baixa e meio receosa:
— Para que você quer que eu vá? Sabe que assim
não poderá voltar para a casa com uma mulher, não sabe?
— Não faço questão. Mas de você lá para me dar
sorte, eu faço. Não abro mão da sua companhia essa noite,
senhorita Ross.
— Eu vou me trocar — diz baixinho e sai meio
cambaleante em direção ao seu quarto.
E eu não consigo fazer o mesmo porque não entendi
merda nenhuma do que acabou de acontecer aqui. Não
acredito que a convenci tão facilmente. E o que foi essa
reação estranha dela? Bom, pelo menos ela não estará em
casa quando o imbecil vier buscá-la e estando em cima do
ringue comigo, não poderá atender nenhuma ligação dele.
— Hanson 1, Ryan 0! — grito comemorando e vou
finalmente me preparar para a luta da noite.

— Está pronta, preciosa? — grito para a porta do


quarto dela, já pegando minha mochila e pendurando-a no
pescoço.
— Pare de me chamar assim — ela diz saindo do
quarto.
— Caitlin, você está tão... — analiso seu vestido
florido e a sandália sem salto, ela parece uma boneca —
fofa!
Ela faz uma careta e o som da campainha me salva de
levar uns tapas. Penso que deve ser o Luke, mas me
surpreendo ao encontrar Rachel, muito pouco vestida e
extremamente maquiada, parada do lado de fora.
— Rachel?
— Oi meu bem! Você marcou comigo para hoje,
lembra?
Ela me dá um beijo estalado nos lábios e entra
mesmo sem ser convidada. Avalia Caitlin com uma careta.
Quero mandá-la embora antes que Caitlin me olhe daquele
jeito acusador, mas Rachel aponta para ela e diz:
— A bonequinha aí vai de novo? Achei que não
tivesse se habituado ao clube. Sem ofensas, bonequinha,
mas é um lugar muito adulto, você sabe.
— Promíscuo, você quer dizer — Caitlin diz com a
voz firme. — Não tem problema, querida, boas meninas
também podem ser más por uma noite. Vamos, Colin?
— Quem é você e o que fez com a minha boneca? —
sussurro para ela, que me dá de ombros e vai na frente.
Encontramos Luke na entrada do prédio e vamos
todos no carro dele, que abre um imenso sorriso ao ver
Caitlin indo conosco.
Caitlin está com o celular na mão no banco do
carona, enquanto do banco de trás, tento ver o que ela está
fazendo. Parece estar conversando com alguém, e temo
que seja o Imbecil Ryan, então digo algo para chamar sua
atenção, mas não funciona. Luke não para de falar no
ouvido dela o trajeto todo, penso que ela nem está
ouvindo, concentrada em sua conversa com sabe-se-lá-
quem, mas no segundo em que ele cala a boca, ela
comenta sobre o que ele estava falando. Assim que
descemos do carro, puxo Luke num canto e advirto:
— Ela está dando um bolo no Imbecil Ryan sem
saber, então faça o que for preciso para mantê-la longe do
celular até que eu a chame para o ringue.
— Por que você vai chamá-la para o ringue?
— Para ser a minha Sorte. Para que mais?
— E aí se você ganhar, terá que beijá-la? — Ele faz
uma careta e parece prestes a me dar um soco.
— É como beijar uma irmã na boca, Luke. Não é
nada demais.
— Cara, ninguém beija a irmã na boca, você é
doente!
— Que seja! Tome conta dela.
Rachel já sumiu de nossas vistas, como achei que
faria, então abraço Caitlin e explico para ela porque ela
ainda está aqui, mesmo sabendo que muito provavelmente
irei levar Rachel para casa conosco.
— Na semana que vem começa o campeonato
estadual de luta livre e hoje, é a primeira eliminatória.
— Então, se você ganhar já está confirmado no
campeonato?
— Sim, é isso. Por isso preciso tanto de você aqui
hoje, minha preciosa. Você será a minha Sorte, sei que
com você em cima daquele ringue, eu vou vencer hoje.
Ela aperta as pontas dos meus dedos e assente. E
tenho mais do que certeza que vou ganhar.
Honor é chamado ao ringue primeiro, em seguida,
ouço meu nome e ouço a plateia gritar, principalmente as
mulheres. Adoro a sensação de ter tantas pessoas torcendo
por mim, adoro ouvir o adversário sendo recebido com
silêncio enquanto eu sou recebido com o ápice do
barulho. Isso por si só já me dá a força de que preciso
para vencer a luta. A outra parte da força vem da menina
tímida, com seu vestido florido na plateia. Eu a chamo até
o ringue, beijo sua boca no final, o que para mim será algo
corriqueiro, mas o Stephen saberá que minha princesa deu
um bolo nele para vir ficar comigo. Duvido muito que
procure por ela depois disso.
— Honor, você tem uma Sorte? — o locutor pergunta
ao meu adversário que convida ao palco Rhea, uma
loirinha sapeca que pisca para mim antes de ir para o lado
dele.
Já nos encontramos algumas vezes por aí.
— Hanson, você tem a sua Sorte?
Antes que eu possa afirmar, Rachel sobe no ringue,
aproxima-se de mim e deposita um beijo rápido na minha
boca. Merda!
— O que você está fazendo?
Ela pisca para mim e assume seu lugar no ringue
como a minha Sorte. Isso é o que eu ganho por bancar o
idiota com a minha melhor amiga. Tento encontrar Caitlin
entre a plateia e assim que a localizo, me concentro na
luta. Dei uma boa vantagem ao pequeno grande Honor, que
apesar de ser gigante, não tem muita técnica. Não a
técnica que eu tenho, pelo menos. O acerto logo na
primeira tentativa, e não espero que reaja para acertá-lo
com mais força. Ele consegue me atingir duas vezes, vou
ficar com mais um possível hematoma, mas isso torna a
vitória ainda mais saborosa. Deixo ele achar que estou
cansado, deixo-o pensar que tem vantagem e, no segundo
em que ele se prepara para me atingir, eu o derrubo.
Monto sobre ele cobrindo-o de socos. Até que tudo o que
posso ver de seu rosto é um borrão vermelho, então saio
de cima dele já ouvindo os gritos ensurdecedores da
plateia. Eu venci.
Pego o lenço branco da vitória, Rachel aproxima-se
de mim como uma gata manhosa, mas a seguro pela mão e
aponto para Caitlin. Sei que serei punido por isso, o lenço
da vitória pertence à sua Sorte, mas Rachel não era para
ser minha Sorte essa noite, então aceitarei a punição de
bom grado. Caitlin parece mortificada, a chamo com o
dedo indicador, e completamente sem graça por ser o
centro das atenções, ela vem até próximo ao ringue, mas
não sobe nele. É o suficiente para mim, jogo o lenço para
ela, como sinal de gratidão por ela estar ali, ao que ela
reage de maneira estranha, pega o lenço e o leva ao rosto,
olha para mim com algo que não sei identificar e não
tenho tempo de fazê-lo, pois Rachel se pendura em mim e
sua boca toma a minha num beijo voraz. A plateia grita
mais uma vez e o juiz nos manda descer do ringue.
— Nunca mais me apronte uma dessas, seu babaca!
— Rachel reclama antes de sumir de vista.

— Cara, você foi demais! Todo mundo pensando que


você estava desistindo, as apostas começaram a mudar,
mas eu sabia que era um truque! — Luke fala empolgado.
— Eu sei, ele é grande, mas não tem técnica. Ei, não
vai dizer nada? — Puxo de leve o cabelo da Caitlin
provocando-a.
— Parabéns — ela diz e estende o lenço para mim.
— Ele é seu. Eu o dei a você, a tradição é que você o
guarde, ou pode me trazer má sorte.
— Eu não era a sua Sorte essa noite, então...
Rachel aparece como um fantasma e pega o lenço de
sua mão, agradecendo por devolver o que é dela. Como
estou classificado para o campeonato, tenho que
comemorar. Já havia decidido isso antes mesmo do Luke
dar o grito, chamando os caras do clube para nossa
comemoração.
— Prepare-se Caitlin, amanhã você acordará com
uma puta ressaca — provoco-a.
— Você não me disse nada sobre uma noite de
bebedeira com esses brutamontes! — reclama.
— Fazer mais parte da minha vida, lembra? — Ela
faz uma careta e sorrio — Brincadeira, preciosa. Vou
deixá-la em casa antes de irmos para o pub.
Ela agradece com um gesto de cabeça e nos enfiamos
no carro de Luke combinando de encontrar o pessoal no
pub. Sei que hoje minha bebida será por conta da casa.

— Preciso usar o banheiro! — Rachel grita assim


que o carro para em frente meu prédio e desce na frente.
Sigo ela e Caitlin até o apartamento, vejo que Caitlin
olha seu celular e joga-o sobre a mesa desanimada
enquanto tira sua sandália quase infantil.
— Esperando alguma ligação? — pergunto como
quem não quer nada.
— Não é nada.
— Não está esperando algum contato do imbecil do
Stephen, não é? Caitlin, eu te disse que ele não serve para
você.
— Eu sei, na verdade, eu estava. Sei que ele pediu
meu número a Mackenzie essa manhã, achei que ele...
— Quem é Mackenzie?
— Minha amiga, da faculdade.
— E por que ele sabe sobre ela e eu não?
— Porque ele não vai tentar transar com ela.
— Não é justo! Sinto muito que ele não tenha te
ligado. — Sinto mesmo o um nó no estômago por estar
omitindo o que fiz, mas é para o bem dela. E saber disso
me faz sentir melhor.
— Não tem problema, acho que no final das contas
ele não está realmente interessado.
— Você não vai para um pub vestida assim, não é?
— Rachel grita apontando Caitlin quando sai do banheiro
— Boneca, eles nem vão te deixar entrar. Você parece
uma menina de quinze anos!
Caitlin cruza os braços irritada.
— Na verdade, eu não vou ao pub, e não pareço uma
menina. O que tem de errado com a minha roupa?
— Além das flores?
Rachel tira do ombro uma mochila e ao ver meu olhar
questionador explica:
— Eu trouxe porque sei que vou dormir aqui, baby,
venha boneca — pega Caitlin pela mão — vamos
transformar você em uma mulher.
— Boa sorte! — grito ouvindo palavrões da duas do
banheiro. — Caitlin vestida com uma roupa da Rachel,
isso vai ser hilário.
Pego uma maçã enquanto espero decidindo se serei
um bom garoto e não zombarei muito a minha amiga, ou se
serei eu mesmo quando ela sair do banheiro parecendo
uma boneca com cara de palhaça, se a Rachel fizer nela as
maquiagens que faz em si mesma. Então, engasgo com o
último pedaço da maçã quando Caitlin finalmente sai do
banheiro.
— Puta que pariu! — Parado feito um bobo na porta,
Luke fala exatamente as palavras que estavam na minha
mente. — Eu vim chamar vocês, mas uau! Caitlin, uau!
Ela dá uma voltinha para ele com um sorriso no
rosto, e eu mal reconheço esse rosto. Quer dizer, eu
reconheço, mas eu não me lembro de ele ser de uma...
mulher. Caitlin está com um vestido preto colado demais
ao seu corpo e muito curto, com um decote mais do que
generoso. E de alguma forma esse vestido a deixou com as
coxas grossas, uma senhora bunda e seios de dar água na
boca. Bato em mim mesmo para voltar a mim porque não
é possível que uma roupa faça tanta mágica. O rosto dela
não parece uma palhaça, com um batom vermelho e uma
sombra em volta dos olhos, ela parece... minha amiga
está... deliciosa!
Só posso estar ficando louco. Fecho os olhos e me
lembro da menina que ela era poucos minutos atrás, a
doce menina que sempre me ajudou e ela, definitivamente,
não é uma mulher deliciosa. Abro os olhos e ela me
encara em expectativa, três pares de olhos aguardam meu
veredito sobre sua aparência e o dou com calma e certeza:
— O que uma roupa não faz, hein! Você quase parece
uma mulher!
— Babaca! — Rachel pronuncia baixinho e Caitlin
parece decepcionada. É como se algo na maneira como
ela me olha se quebrasse.

— Acho que sou o único aqui vendo minha menina


como uma menina — reclamo com Luke conforme vamos
passando pela fila que aguarda para entrar no pub, e
vários pescoços se viram para babar na bunda da Caitlin.
— Porque ela não é uma menina. Há anos. Não sei
como consegue olhar para ela e não imaginá-la sem roupa
— ele responde suspirando, ao que respondo com um tapa
forte em sua cabeça.
— Respeito.
O zumbido da música alta geralmente tira todos os
pensamentos da minha cabeça. Quando entro aqui apenas
me movo, bebo, e me divirto de várias maneiras. Mas
hoje, estranhamente, mesmo após uma vitória tão
importante, há algo errado com esse lugar. O barman nos
cumprimenta enquanto somos guiados até nossa mesa de
praxe, onde os caras já nos aguardam, campeões são
sempre bem-vindos aqui. Em um dia comum da minha
vidinha normal, eu me sentaria, duas morenas lindas
viriam com bolsas de gelo tratar meus ferimentos e eu
beberia até esquecer o passado, sendo apenas o campeão.
Mas nesse dia em que por cinco segundos vi minha melhor
amiga com seios, há algo inquietante que não consigo
decifrar. Todos os malditos caras desse lugar olham para
ela.
— Carne nova, Hanson? — Edgard com os dentes à
mostra aproxima-se de Caitlin, mas trato de cortá-lo.
— Vaza! — ordeno apenas uma vez e ele prontamente
obedece resmungando.
— Você precisa aprender a dividir — reclama.
Quero pedir desculpas a Caitlin com o olhar, num
código nosso que já é antigo já que faço tantas cagadas
com ela e nem sempre posso falar a palavra desculpa no
momento em que sou idiota, mas ela está me ignorando.
Também posso jogar esse jogo. Puxo Rachel para mais
perto, mas sendo a Rachel, ela se senta no meu colo e nos
beijamos. Olho para Caitlin para ver a expressão de
desaprovação dela, mas ela está batendo papo com Luke,
que lhe oferece uma dose de tequila.
— Caitlin, você não tem que... virar de uma vez —
completo após ela fazer isso e fazer uma careta tão
engraçada que todos na mesa riem.
Não sei como alguém ainda pode achá-la uma mulher.
Não passa de uma menina, minha menina. Rachel volta a
me beijar e pelo canto do olho vejo Caitlin virar a
segunda dose. Afasto Rachel apenas para fazer meu papel
de amigo.
— Ei, Cait, vá mais devagar, princesa. Você não está
acostumada a beber assim.
— Relaxa, Colin babaca! Cuida da sua boca que eu
cuido da minha — diz praticamente gritando, o álcool já
está subindo.
Rachel volta a atacar minha boca enquanto pressiona
seu centro em meu pau, adoro quando ela faz isso, mas a
Caitlin vai ver e não quero que ela pense que sou desses
caras que transa em público, porque não sou. Afasto
Rachel e peço a ela que guarde o fogo para depois.
— Que merda está acontecendo com você? Se é por
causa da bonequinha ela nem está na mesa — reclama
Rachel zangada.
Quase jogo Rachel no chão quando olho para a
cadeira em que até um minuto atrás minha preciosa estava
e não a vejo. Levanto-me já procurando entre os caras
dali, se algum deles estiver com a mão nela... mas aí a
vejo dançando de um jeito engraçado com Luke, e não sei
dizer qual deles é mais desengonçado.
— Acho que seu amigo finalmente vai se dar bem
hoje — Patrick, um dos lutadores do clube observa rindo.
— Duvido. Caitlin não se sente atraída por ele.
— Mas o álcool na cabeça dela não sabe disso.
Luke não se aproveitaria da minha amiga bêbada, não
é? Ele não ficaria com ela sabendo que não está em
perfeitas faculdades mentais. Não é? Merda!
Saio da mesa como um furacão e me aproximo,
enfiando-me entre os dois e Luke fica branco de repente
ao reparar minha expressão.
— Cara, você sabe que ela está bêbada, certo? Se eu
vir você a menos de dois metros de distância dela, juro
que quebro a sua cara!
— Você é o pior amigo do mundo, Hanson — ele
reclama.
Olho para minha menina que me empurra com um
sorriso enorme no rosto.
— Vai transar na mesa, Colin! Nos deixe em paz.
— Eu não faço... — desisto de tentar explicar e volto
para a mesa, para Rachel, sabendo que o Luke vai cuidar
dela.
Mas, nem dez minutos se passam quando ouço um
burburinho de homens gritando como primitivos e
aplaudindo, a música ambiente é substituída por uma
música sensual e todos estão em volta de uma mesa.
Várias cabeças altas à minha frente não me deixam ver
qual é a atração. Provavelmente, mais uma mulher tirando
a roupa para aparecer. Procuro por Luke e Caitlin, mas
não os encontro. Será que ele...
— Cara, você precisa ver isso! — Patrick fala
animado e me levanto, vendo finalmente o que está
causando esse alvoroço e minha alma quase sai do corpo.
Ali, em cima de uma mesa, prestes a cair dela,
porque mal consegue se aguentar de pé, está Caitlin,
dançando desengonçada ao som da música que toca. Ela
não está tentando tirar a roupa, ainda. Aproximo-me
divertido e gravo com o celular, isso será muito útil em
um futuro próximo, tenho certeza. Após o showzinho e
uma boa gravação, aproximo-me dela e seguro suas
pernas.
— Vamos descer daí, stripper? Está tão tonta que vai
acabar caindo de cara no chão.
Os caras vaiam pedindo que ela dance mais, ela faz
isso de um jeito tão embriagado, aos soluços e risadas
histéricas que não entendo como eles podem estar
achando isso sexy. É só uma menina que bebeu demais,
soltando tudo o que tem mantido preso dentro dela por
dezenove anos. Acho engraçadinho, mas sensual? De jeito
nenhum! Um cara alto e tatuado que nunca vi aqui antes a
segura por trás, puxando-a para junto dele, ela sequer se
dá conta do que está havendo antes que eu o empurre.
— Qual é, irmão? Ela está comigo!
Ele não diz nada, embora sua cara não seja nem um
pouco amigável, mas não me importo, ele se afasta dela e
some no meio das pessoas. Ela tropeça nos próprios pés e
a seguro de um lado, enquanto Luke a segura do outro.
— Venha, preciosa, vamos descer daí.
— Colin o mandão, ele me arrasta para a farra e fica
transando na mesa, agora não quer que eu dance.
Os caras à nossa volta vaiam mais alto, enquanto rio
de sua fala arrastada e a desço quase à força, mas ela não
reclama.
— Você deu um show e tanto, hein! — brinco.
— Dei, não é? Porque eles me acham sexy, não me
veem como uma criança.
Bagunço seu cabelo e Luke a abraça por trás e ela
imediatamente o arrasta para a pista de dança novamente.
Missão cumprida, posso voltar à mesa e deixar que meu
amigo tome conta dela. Mas pouco tempo depois, Luke
aparece sem a Caitlin e antes que eu pergunte onde ela
está, a vejo rebolando muito perto de um cara alto,
tatuado, o mesmo que tentou se aproveitar dela minutos
antes. Agora ele procurou briga! Levanto-me já
preparando o punho e Rachel pula na minha frente:
— Você está de sacanagem! Vai ficar comigo ou vai
ficar de babá dessa menina a noite toda?
— O que você acha? — digo e vou até eles, já
empurrando o folgado com ainda mais força do que na
primeira vez.
A multidão à nossa volta faz uma roda, pedindo
briga.
— Qual é cara, a garota está bêbada, tire suas mãos
dela!
Ele vem para cima de mim e é recebido com um
gancho, que o faz cambalear para trás. Ele também está
bêbado.
— Para, Colin! — Caitlin grita me esmurrando
irritada. — Deixa eu viver minha vida!
— Hoje não, princesa. Você bebeu demais.
A arrasto de volta à mesa, mesmo ela resmungando,
resmunga num tom quase de choro e fico rindo de seu
drama adolescente embriagado, a sento ao meu lado, o
que não agrada nem um pouco Rachel, que some na pista
assim que me chama pela milésima vez na noite de
babaca. Mas ela nem me faz falta. Os meninos à mesa
começam a conversar com Caitlin, e ela fala da vida, da
universidade, das amigas gostosas, coisa que ela jamais
faria perto de mim se estivesse sóbria, ela esconde as
amigas de mim como se fossem água e eu um andarilho no
deserto. De repente, ela para de falar e me encara, seus
olhos mal se focando, mas um copo de rum em sua mão.
— Cait, você não deveria misturar tantas bebidas.
— Agora eu vou ter que transar com você? —
pergunta alto demais fazendo todos na mesa prestarem
atenção.
— O quê? Por quê? De onde tirou isso? — Estou
suando frio de repente. — Quero deixar claro que eu não
insinuei isso hora nenhuma — explico a eles que não
estou tentando me aproveitar da minha melhor amiga
embriagada.
— Você dispensou a outra por mima causa, vocês
estavam quase transando aí, achei que eu teria que
continuar — fala de um jeito tão arrastado que seria
engraçado se não fosse tão absurdo.
— Nós não vamos transar. E você bebeu demais,
acho melhor irmos para a casa.
— Deixa de ser trouxa, Hanson. Ela é divertida,
deixa a princesa falar — Patrick diz e recebe o apoio dos
outros caras à mesa.
— Que bom — ela continua — porque eu não ia
querer a minha primeira vez em um bar.
De repente a música para, todo mundo some e só
escuto o eco do que ela acabou de dizer. Não é possível!
— Caitlin, você está dizendo que é virgem? —
pergunto o mais baixo que posso, mas sei que todos à
mesa estão ouvindo porque já estavam totalmente
concentrados nela antes, depois dessa revelação então...
— Eu sou — diz parecendo sem graça — eu sou
virgem. Não é culpa minha, o Stephen babaca não me
ligou. — Ela ri alto demais e engasga.
— Você ia perder sua virgindade com ele? —
pergunto incrédulo e muito grato por ter acabado com isso
antes mesmo de ter começado.
Bato em suas costas e ela volta ao normal, notando
então todos os olhares da mesa sobre ela. Seu rosto cora
violentamente e muito sem graça, ela se defende:
— Mas eu tenho um vibrador. Ele é do tamanho... —
ela começa a fazer um gesto com os dedos indicando o
tamanho e tenho que intervir.
— Chega, Caitlin! Vamos embora agora!
Sob os protestos dos caras à mesa, tiro ela dali e a
arrastro para fora do pub. Não deveria tê-la deixado
beber tanto. Rachel nos vê saindo e me ajuda a amparar
Caitlin, e em seguida Luke aparece com a chave do carro
e uma expressão sonhadora no rosto.
— Mantenha suas mãos bem longe dela — advirto.
— Colin, entre ser seu amigo e ser o primeiro de uma
gata dessas, sinto te informar que a Caitlin sempre vence.
Nem respondo, a coloco o mais cuidadosamente
possível no carro, o que quer dizer que ela bate a cabeça
e grita seu “palavrão” preferido.
— Púbis!
Sorrio.
Rachel, ao invés de sentar-se na frente com o Luke
para dar espaço atrás para a Caitlin deitar, senta-se ao
meu lado, atrás.
— Rachel por que não senta na frente? — digo com o
carro já saindo do estacionamento.
— Porque está frio! — Ela se encolhe e reparo que
Caitlin também parece encolhida.
— Está com frio, princesa? — pergunto, mas não
espero uma resposta, já tiro minha jaqueta e coloco sobre
ela, puxando-a para meus braços.
Ouço Rachel me chamar de babaca, mas não me
importo, só uma coisa ronda minha mente: minha melhor
amiga, é virgem. Não que ela seja assanhada ou uma
garota fácil, mas ela namorou por um ano! Ela tem quase
vinte anos, porra! Como é possível que seja virgem? Sei
que embora seja ajuizada e responsável, ela não é dessas
que espera se casar primeiro e transar depois. Tá que não
falamos de sexo com frequência, ou não dá muito certo
quando tentamos falar sobre isso, mas já a ouvi ao
telefone com amigas aconselhando-as sobre isso. Merda!
Ela ouve gritos de mulheres no meu quarto todos os finais
de semana e se eu soubesse que estava corrompendo os
ouvidos de uma virgem...
Estranhamente, todas as imagens da Caitlin somem da
minha mente, não consigo me lembrar de nada dela, de
nenhum dos milhares de momentos nossos. Preciso olhar
de novo para seu rosto adormecido e babão no banco ao
meu lado, para saber que não adormeci também. E pela
primeira vez desde que a conheço, não sei como enxergar
Caitlin Ross.
CAPÍTULO QUATRO
A água quente corre por meu corpo e na minha mente
só consigo pensar em uma coisa: Caitlin é virgem. No meu
mundo isso é uma grande coisa, uma coisa impossível!
Não consigo entender porque ela não se entregou ao idiota
que quebrou seu coração uma vez, pois teria dado tempo
de fazê-lo antes de descobrir que ele era um idiota. Ou
por que ela nunca falou comigo sobre isso, nem mesmo
para me pedir mais respeito, porque merda! Eu teria tido.
Não teria quebrado muitas regras se soubesse que ela é
virgem.
— Ei! Você está me vendo aqui? — Rachel reclama e
só então me dou conta de que ela está dentro do box
comigo.
— Que horas você entrou aqui?
— Engraçadinho.
Ela me beija e se pendura em meu pescoço, seus
seios se esfregando em meu peito, os bicos intumescidos
fazendo uma pressão que eu geralmente adoro. Uma de
suas mãos desce por meu corpo e faço o mesmo no corpo
dela, tentando retribuir o beijo e tocando sua bunda
molhada. Ela toca meu pau com selvageria, continuo a
beijá-la, a tocá-la... Caitlin nunca experimentou isso. Ela
não sabe como é quando dois corpos nus se tocam por
inteiro, ela nunca tomou um banho erótico com ninguém.
De repente, Rachel se afasta me olhando furiosa.
— Que merda está acontecendo? — Ela aponta para
meu pau e só então me dou conta de que ele deveria estar
de pé.
— Isso nunca...
— É, eu já ouvi essa antes, mas nunca achei que a
ouviria de você. Ridículo! A noite toda aceitando ser
deixada para escanteio para no final ainda acabar
frustrada...
Ela sai do box reclamando e eu deveria estar
preocupado, afinal de contas, foi a primeira vez na vida
que falhei, mas parece que estou desligado do mundo.
Saio do banheiro para encontrar uma Rachel vestida e
nervosa abrindo a porta para ir embora.
— Estou indo.
— Tem dinheiro para o táxi?
— Peguei na sua gaveta.
— Boa noite e... foi mal.
— Foi mal? Vai me dizer isso e me deixar sair daqui
a essa hora?
— Não é o que você quer? Estou confuso.
— Você é mesmo um babaca, Colin Hanson, tomara
que a sua bonequinha adorada não cometa a burrice de se
entregar a você!
Ela bate a porta ao sair e só penso que isso jamais
aconteceria. Eu e a Caitlin?
Embora tenha sido eu quem a ensinou a beijar, então
eu poderia ensiná-la... não! Não poderia! Estou ficando
louco!

Ouço o barulho de ânsia vindo do banheiro e preparo


um café forte para Caitlin, também pego um remedinho e
espero que ela saia.
— Bom dia, flor do dia! — digo animado.
Ela está péssima. Seus olhos estão borrados da
maquiagem da noite anterior, seu cabelo parece um ninho
e sua blusa está toda vomitada.
— Você deveria tomar um banho, vou te preparar
algo para comer.
Ela fica estacada na porta me encarando.
— Está tudo bem? Tirando a ressaca, claro —
pergunto preocupado e seu rosto adoentado fica muito
vermelho.
— Eu bebi muito ontem à noite — afirma.
— É, você deu um enorme prejuízo pro bar.
Vencedores não pagam a conta no pub, nem aqueles
que sentam em sua mesa. Em troca, o lugar enche de gente
que estava assistindo a luta e quer ver os vencedores de
perto. Somos como a atração ao vivo do lugar e bebemos
em troca disso.
— Hum... eu também falei um pouco ontem, não é?
Só então percebo que ela está querendo me perguntar
o que disse à mesa na noite passada, e se ela não se
lembra do que falou, eu é que não vou lembrá-la. Ela não
precisa dessa lembrança desastrosa justo na única noite
em que aceitou sair para se divertir.
— Você só se divertiu um pouco demais. Do que
você se lembra? — sondo.
— De você batendo nuns três caras.
Sorrio.
— Estou aqui para te proteger, baby.
Girl... eu deveria ter dito baby girl, minha garotinha,
mas por algum motivo o final do apelido não saiu.
— Então... você me protegeu dos caras maus, não me
deixou misturar muitas bebidas... — ela puxa uma
respiração dramática e me olha com olhos suplicantes —
e me tirou de lá antes que eu gritasse numa mesa repleta
de homens que sou virgem, certo?
Então ela se lembra. Nesse caso, negar não vai
adiantar.
— Baby, eu não tirei você de lá a tempo nem de te
impedir de gritar que tem um vibrador.
— Oh não! — ela lamenta e corre para dentro do
banheiro, para vomitar de novo.
Entro atrás dela e seguro seu longo cabelo negro com
uma mão, passo o braço livre em volta de sua cintura para
equilibrá-la, e ela choraminga. Não é um choro de
verdade, mas o jeito dela de resmungar.
— Minha cabeça dói!
— Eu sei, já separei algo para ajudar com isso. Por
que não toma um banho e vai se deitar? Eu levo tudo para
você na cama em seguida.
Ela concorda e se afasta de mim.
— Caitlin, sobre ontem, não foi nada demais.
Ninguém vai saber se estava falando a verdade, você
falou muitas coisas absurdas à mesa e estava muito
bêbada — tento animá-la. — Podem até não achar que
seja mentira a história do vibrador de tamanho... — imito
o gesto que ela fez com o dedo para indicar o tamanho do
vibrador, o que a faz fazer uma careta engraçada. — Mas
sobre você ser virgem? Ninguém vai acreditar nisso.
Ela não parece mais animada.
— Porque não pode ser verdade, não é?
Ela me lança um olhar surpreso e tira a blusa de frio
suja do pijama.
— Caitlin, você é mesmo virgem? — quase grito.
— Você já me perguntou isso ontem e eu já te
respondi, a gente pode por favor nunca mais falar disso?
— Mas, por quê? E aquele idiota do Romeo?
— Eu não vou mesmo discutir minha vida sexual ou a
falta dela com você.
Ela tira a blusa deixando à mostra seu sutiã de
moranguinhos. E não consigo tirar os olhos do volume
atrás deles. Os seios dela, brancos e cheios, como eu
nunca reparei isso antes?
— O que está fazendo? — ela pergunta e dou um pulo
de susto.
Como explicar que acabei de descobrir que ela tem
seios?
— Você nunca se importou de tirar a roupa perto de
mim antes — defendo-me.
— Porque você nunca olhou antes. Normalmente eu
faço menção de tirar a roupa e você já vira para o outro
lado ou cobre os olhos, por que não fez isso agora?
Gaguejo, gaguejo e não sei o que dizer. Então ela dá
de ombros e começa a tirar a calça, e saio do banheiro
antes que descubra que além de seios, ela tem bunda.

Estou distraído colocando um café bem forte numa


pequena xícara para ela, tentando apagar da mente a
imagem do volume em seus seios, de como a pele ali
parecia tão macia! O barulho da porta se abrindo me faz
dar um salto e derramo café quente nos dedos. Os levo à
boca e olho para ela, e porra! Ela usa um blusão meu que
estava pendurado no banheiro, uma blusa com a qual
dormi e que nela fica enorme. Mas não grande o bastante
para cobrir decentemente suas pernas, de forma que só
consigo olhar para suas coxas nesse momento, com algum
tipo de fascínio que nunca senti antes.
Ela repara a maneira estranha como olho para ela,
vejo seus lábios se movendo e sei que está dizendo
alguma coisa, mas não tenho capacidade de prestar
atenção, me imagino por um momento tocando sua coxa,
só para sentir a temperatura de sua pele, só para saber se
é tão macia quanto parece.
O que estou fazendo?
Enfio a cabeça debaixo da torneira da pia para
refrescar meus pensamentos e ouço seu resmungo
surpreso.
— Isso é nojento! E por que está com essa cara?
— Você está usando minha blusa. — É tudo o que
digo para não parecer estranho, o que com certeza soaria
se eu tivesse terminado a frase com sinceridade: você está
usando minha blusa e apenas ela.
— Algum problema? Já usei roupas suas antes, você
nunca se importou.
— Achei que fosse tomar o café na cama, Caitlin —
mudo de assunto porque no exato instante não sei dizer se
me importo que ela use minhas blusas, e apenas elas. Não
sei dizer se minha curiosidade incomum sobre a textura de
sua pele é algo que vai passar, que só está acontecendo
porque esse é um dia atípico e amanhã a verei de novo
como a garotinha de aparelho a quem ensinei a beijar.
Sendo assim, não vou proibi-la de fazê-lo e nem liberá-la.
Só preciso que o mundo entre nos eixos de novo e minha
vida volte ao normal.
— Ah meu Deus! — ela grita começando a subir a
barra da blusa, pretende tirá-la. Vejo um deslumbre de sua
calcinha e pulo como um louco quase em cima dela,
impedindo-a de ficar ainda mais seminua na minha frente.
— O que está fazendo? — pergunto entredentes
sentindo o ambiente se aquecer de repente.
— Você nunca se importou de eu vestir suas blusas
antes, se está reagindo assim é porque a estava usando na
noite passada, não é?
Assinto sem conseguir entender o que isso tem a ver
e porque ela quer tirar a roupa toda na minha frente.
— Você e a Rachel... — ela faz uma careta parecida
com a que fez quando estava vomitando — a camisa...
— Não! Eu dormi com ela, mas a Rachel foi embora
logo que coloquei você na cama. Não aconteceu nada na
noite passada, menos ainda com essa camisa.
Ela parece tão aliviada que chega a ser engraçado.
Passa a mão na testa em um gesto exagerado.
— Uau! Por um momento achei que minha primeira
camisa pós sexo seria uma que foi usada para diversão
dos outros.
Sorrio. Só mesmo ela para achar que estava usando
uma camisa que vesti logo após transar com Rachel. A
observo ajeitar a camisa de volta no lugar e se aproximar
da xícara de café. A cara ainda péssima da ressaca e o
rosto meio pálido, ela é quem está usando a camisa, e se
fosse mesmo a primeira camisa pós sexo dela, então teria
que ser da diversão dela. Como essa camisa é minha,
então teria que ser da diversão entre ela e eu.
— Caitlin, vai deitar e vou levar seu café! — ordeno
rispidamente e tento corrigir quando ela me lança um
olhar confuso. — Não quero que desmaie aqui na cozinha,
baby.
— Vou tomar aqui mesmo. Tenho que ir trabalhar —
diz sentando-se com dificuldade na cadeira, como se todo
seu corpo doesse.
— Você não está em condições, Cait. Deixa que eu
ligo para a lanchonete e explico que você está doente.
— Não estou doente, estou de ressaca. Não posso
deixar de trabalhar por causa de uma ressaca, não é? Ou
eu posso? — Ela nem me dá tempo de responder antes de
choramingar exageradamente. — Ah meu Deus, quando foi
que me tornei as garotas com quem você dorme?
— O quê? Como? Dormir com você? — estou
gritando e mais uma vez queimo minha mão com café
quente, tento me acalmar porque quando a olho, ela me
encara como se eu estivesse verde.
— Não foi o que eu quis dizer, estava me referindo a
falta de responsabilidade e de beber no meio da semana
sabendo que não estará bem para seus compromissos no
dia seguinte, enfim... minha cabeça está doendo demais e
vou parar de falar agora.
Ela deita a cabeça sobre a mesa e levo até ela o
remédio que a obrigo a tomar, em seguida, ela volta a
deitar a cabeça na mesa. Fica tão quieta que acho que
adormeceu. Então, o som estridente da campainha a faz
saltar na cadeira e gemer de dor, ao mesmo tempo.
Não acredito quando abro a porta e dou de cara com
Lorna, a mãe da Caitlin. Ela usa uma blusa verde repleta
de coisas brilhantes muito chamativa, a cara dela para
essa hora da manhã. Me puxa em seus braços pequenos e
me aperta.
— Meu meninão! Como você está?
Sua baixa estatura faz com que sua cabeça fique
abaixo do meu peito. E seu abraço é um dos poucos de
que realmente gosto.
— Estou bem, Lorna. Mas você não deveria te vindo
aqui hoje.
Seus enormes olhos castanhos claros se abrem e um
sorriso surge em seu rosto.
— Não me diga que atrapalhei algo entre e você e
minha filha, porque se for esse o caso, eu posso ir
embora...
Sorrio e a convido a entrar, ela faz uma careta ao ver
a cara da Caitlin, jogada na cadeira com uma expressão
de quem está prestes a vomitar.
— Não atrapalhou nada, só que levei sua filha para
um pub ontem à noite, ela bebeu demais e agora está com
uma puta ressaca. O que a senhora vai pensar de mim?
— Oh! — Ela se aproxima de Caitlin tocando seu
rosto para ver sua temperatura, em seguida afaga o cabelo
da filha, evitando o abraço exagerado que normalmente dá
ao vê-la. — Vou pensar que finalmente alguém lembrou a
minha filha que ela ainda é jovem. Ah, Caitlin, sua
primeira ressaca! Eu deveria registrar esse momento,
mamãe está tão orgulhosa! Quero saber detalhes!
Ela se senta ao lado de Caitlin, ao melhor estilo
amiga curiosa, e começa a ser Lorna.
— Você bebeu muito? Tinha homens bonitos lá? Se
divertiu?
Caitlin apenas geme e respondo por ela.
— Não deixei que nenhum espertinho se aproveitasse
dela, Lorna.
Se eu esperava um agradecimento, estou muito
enganado. Recebo uma careta seguida de uma reprimenda:
— Querido, se você não vai levar minha menina para
o paraíso, não pode impedir que outros o façam.
— Mãe! — Caitlin resmunga. — Isso é que dá ouvir
vocês, parece que minha cabeça vai explodir.
Lorna me pede ovos mexidos, sou muito bom na
cozinha e ela adora os que faço, conseguimos com que
Caitlin coma algo, e Lorna pede que eu a carregue até o
sofá. Caitlin insiste que consegue andar, mas a pego no
colo e a deposito com todo cuidado no sofá, não sem antes
perceber seus seios pressionando meu braço e o quanto
minha mão está perto de sua bunda.
Louco! Estou ficando mesmo louco! Esse assunto de
virgindade mexeu com a minha cabeça loucamente. Acho
que é essa coisa toda de pureza, de primeira vez, coisas
com as quais não estou nem um pouco acostumado a lidar,
meu mundo normal é repleto de sexo, mulheres fogosas e
muita sacanagem. Morar com uma virgem de repente
parece estar me tirando dos eixos. Só preciso me acalmar,
eu não transei ontem, o que contribui para que fique
enxergando coisas na Caitlin que não deveria, então só
preciso resolver isso. Sair essa noite, comer uma mulher
sacana e amanhã verei minha amiga como a doce menina
que ela é.
Sou arrancado do meu plano perfeito por um puxão
de Lorna, que praticamente me joga para o sofá onde
Caitlin está deitada.
— Fique perto dela, querido. Sei que ela ama sua
companhia.
Ela pisca para mim e Caitlin reclama. Conversamos
amenidades e nem vejo a hora passar, Lorna é sempre alto
astral e divertida. Às vezes até demais. Fico
impressionado em como ela é o total oposto de Caitlin,
tão centrada e tímida. Recebo duas caretas quando
comento isso em voz alta, mas Caitlin sabe que não tem
absolutamente nada a ver com a mãe.
— Bom, eu preciso ir. Colin, espero que cuide da
minha filha como sempre, e Caitlin, querida, se precisar
de qualquer coisa me ligue que chego aqui em um peido.
— Ah mãe! — Caitlin resmunga.
— Colin, você deveria fazer uma massagem nos pés
dela, já que estão pousados bem perto do seu... — ela não
precisa terminar de falar, Caitlin puxa os pés
imediatamente do meu colo, fazendo-nos gargalhar. —
Bom, melhoras querida.
Como sempre, ela sai pela porta e a espero porque
ela sempre volta para dizer a mesma coisa.
— Da próxima vez que eu vier aqui, espero receber o
convite de casamento de vocês. Vocês sabem, são
perfeitos juntos. Só vocês não veem isso. Mas não é nada
que uma noite de sexo não resolva. — Ela pisca para mim
e bate a porta ao sair.
Olho rindo para Caitlin, que geralmente se esconde
atrás do que estiver mais perto para não ter que ver minha
cara após sua mãe ordenar que façamos sexo e nos
casemos, mas dessa vez ela está quase adormecendo.
Resolvo provocá-la.
— Por que será que sua mãe insiste tanto para que
você fique comigo? Quero dizer, essa não pode ser a meta
dela para você. Eu não tenho família, não tenho dinheiro,
tenho muitas tatuagens e vivo metido em encrenca. Estou
me sentindo quase obrigado a te pedir em casamento.
Ela permanece séria, pensativa, então diz com a voz
mais calma do mundo:
— Acho que ela não se importa com suas tatuagens e
sua falta de senso, já que era prostituta e se casou com um
cafetão... — Dá de ombros como se não fosse nada
demais e acho que meus olhos estão saltando fora das
órbitas.
— O quê?
Então ela ri descaradamente.
— Brincadeira, Colin, viu como também sei ser
engraçada?
— Você vai ver o que é ser engraçada — digo
pulando sobre ela, pretendia enchê-la de cócegas até
irritá-la, mas no primeiro subir leve da minha blusa por
suas coxas, desisto da brincadeira e me recolho ao meu
quarto.
Eu. Preciso. Transar.
Uma Caitlin calada remexe a geladeira e pega um
iogurte, seu rosto está mais corado após o quarto banho do
dia, e ela não vomita há horas. Já é noite, quando se senta
na frente da televisão e me encara.
— Estou indo dar uma volta, você vai ficar bem
sozinha?
— Claro! Como se você passasse todas as noites
comigo, não é Colin!
— Mas normalmente não a deixo em casa com uma
pós ressaca.
Ela roda a colher pequena na boca e até isso me faz
ficar encantado olhando para seus lábios carnudos. Desde
quando os lábios dela são tão grandes e tentadores?
— Não estou mais de ressaca e minha honra está
quase toda recuperada. Pode ir tranquilo. Vou ficar aqui
quietinha com meu Oliver Queen.
Sorrio, não vou insistir porque preciso mesmo sair
daqui urgentemente e me afundar em uma mulher disposta,
livre, que não seja virgem. De preferência escolherei uma
loira, alta e safada, bem o oposto da Caitlin para não se
repetir a cena lamentável do box com Rachel, quando não
consegui parar de pensar em tudo o que a Caitlin não
conhece.
Mas, quase bato a porta de novo assim que a abro.
Com a mão estendida prestes a tocar a campainha e a cara
mais lavada do mundo, está o imbecil Ryan. Tenho o
reflexo rápido de tentar fechar a porta, mas Caitlin o vê e
se levanta imediatamente.
— Stephen, o que está fazendo aqui?
Interfiro antes que ele diga algo que não deva.
— A Caitlin está de ressaca e não está se sentindo
bem, é melhor você voltar outra hora.
Mas, como se eu não tivesse dito nada, ele passa por
mim e entra. E sou obrigado a permanecer parado na porta
porque sei que essa merda vai estourar para o meu lado
agora e preciso pedir desculpas a Caitlin antes de dar
tempo a ela de pensar no que fiz e analisar, porque aí fica
mais difícil fazer com que me desculpe.
— Eu fiquei surpreso quando cheguei no clube hoje e
fiquei sabendo que eu deveria ter tirado sua virgindade
ontem — diz em tom brincalhão sem tirar os olhos dela.
Caitlin parece prestes a vomitar de novo e corro até
ela amparando-a.
— Está tudo bem?
Ela assente e muito sem graça olha para Stephen
pensando em algo para justificar. Tão inocente! Como se
ele estivesse achando ruim ela querer transar com ele. Se
uma mulher soubesse o que um homem pensa quando
escuta algo assim jamais tentaria remediar a situação.
— Fiquei mais surpreso ainda pelo fato de você ter
dito isso depois de ter me dado um bolo. Se você tivesse
aparecido...
Nem quero imaginar o que teria acontecido. A Caitlin
pode ficar com a raiva que for de mim agora, não me
arrependo do que fiz.
— Bolo? Do que está falando? — ela pergunta
confusa e ele me lança um olhar que diz “você está
fodido, cara”.
Conta a ela das ligações que atendi e do recado que
não dei e eu deveria sair correndo porque ela sequer me
lança aquele olhar de decepção que costuma me fazer
pedir perdão imediatamente e aí tudo fica bem. Não dessa
vez, ela sequer me olha. Pede desculpas a ele, afirma que
não sabia sobre o encontro e enquanto espero que ele vaze
para eu poder conversar com ela, ela tem a pior ideia do
mundo.
— Se você quiser, podemos sair agora. Se não
estiver ocupado.
Esteja ocupado, imbecil, esteja ocupado.
— Claro. Na verdade, vim te ver na esperança de
passar um tempo com você.
— Eu vou me trocar em um segundo, fique à vontade.
Ela me ignora mais uma vez ao passar por mim,
chamo seu nome, mas ela finge não ouvir. Assim que bate
a porta do quarto deixando claro o quanto está irritada,
Stephen abre aquele sorriso idiota dele.
— Bela jogada, Hanson. Mas você deve saber que
não estou acostumado a perder para você. Nunca vou
fazer isso.
— Ela não é um título que pode ser disputado, seu
babaca...
— Não, ela não é! E também não é sua propriedade
para que você decida com quem ela deve sair. E sabe, eu
pretendia ir bem devagar com sua amiga, mostrar a ela
que não sou igual a você, mas depois dessa sua gracinha,
vou levar a coisinha linda ali direto para um motel. Ela
não quer perder a virgindade?
Quero dar um soco na cara dele e até dou um passo
em sua direção, mas me controlo e saio da sala. Entro no
quarto de Caitlin como um furacão, e ela está terminando
de vestir uma calça muito apertada que nunca a vi usar.
— Que merda de calça apertada é essa? Desde
quando você sai assim na rua?
Ela me olha como se eu fosse louco.
— Desde sempre. É a calça que mais uso, seu
babaca!
— Caitlin, você não pode sair com ele, ele vai levá-
la para um motel! Ele acabou de me dizer.
Ela para o movimento de pentear o cabelo que havia
começado a fazer e pensa, então volta a pentear como se
não fosse nada demais.
— Bem, espero que seja em um dos caros.
— Você não está falando sério!
Eu estou suando, e meu coração bate tão rápido que
vai sair do meu peito a qualquer momento. Tenho vontade
de trancá-la nesse quarto e gritar na cabeça dela até que
minhas palavras entrem e fiquem gravadas ali para
sempre: Stephen Ryan não serve para você, não perca a
merda da virgindade com ele!
— Você mesmo achou um absurdo eu ser virgem aos
dezenove anos, não foi? Está na hora de resolver isso.
— Caitlin... — quero dizer tantas coisas, o quanto
está sendo ridícula e infantil. Que isso não é algo que se
faz assim, de qualquer jeito, quero gritar coisas que ela
está cansada de saber já que se guardou até agora, mas
parece que ela nem se importa.
— Eu poderia te dar algum crédito e tentar ouvir
você, se você fosse confiável. Se você fosse pelo menos
homem! Mas atender meu telefone e deixar de me passar o
recado como uma garota insegura, francamente, Colin! Eu
vou dizer apenas uma vez e espero que isso fique gravado
na sua mente! Eu vou sair com ele. E vou perder a minha
virgindade com ele se eu sentir vontade de fazer isso, e
você não tem o menor direito de interferir na minha vida!
Ela está tão magoada, tão decepcionada e aquele
olhar de sempre está ali, mas parece mil vezes pior.
Parece que ela me enxerga de uma maneira inferior à que
enxergava até poucos dias atrás, até ontem para ser mais
exato. Até o instante em que a olhei vestida como uma
mulher sedutora e disse que ela quase parecia uma mulher.
Aquela coisa que mudou em seu olhar ali, está aqui agora,
refletindo em cada jeito como ela me olha, em cada
situação que era tão previsível antes. Ela sai e bate a
porta e nem tenho forças para ir atrás dela. Acho que
perdi minha melhor amiga, uma parte dela, pelo menos. A
parte que ainda via alguma coisa boa em mim.
Que se foda! Se ela quer cometer a burrice de se
entregar para um idiota que só quer usá-la é problema
dela! Eu fiz o que podia e o que não podia para alertá-la.
Fiz minha parte. Fui o responsável por ela tê-lo
conhecido, mas não sou mais o responsável por ela deixá-
lo ficar em sua vida. Foda-se pra que merda de motel eles
vão e o que vão fazer essa noite!
Saio de seu quarto batendo a porta, saio do
apartamento batendo a porta! Repetindo para mim mesmo
até que eu acredito nisso: que se fodam a Caitlin e o idiota
do Stephen Ryan!

— ... que se dane! Ela não vai saber como é ter um


homem que a deseja de verdade, não vai vê-lo olhar para
ela com todo ímpeto de devorá-la em sua primeira vez! E
a culpa é toda dela! Por que ela não me escuta?
— Eu não sei, mas você vai ficar aí falando e
olhando minha boceta ou vai descer a boca nela? — a
loira nua e aberta diante de mim questiona irritada.
— Eu vou fazer, querida. Porque eu sim sei dar
prazer a uma mulher! Desculpe por isso, eu só não
entendo... como ela pode querer se entregar para ele? É a
primeira vez dela, porra! Como ela pode querer isso? Não
que eu me importe.
Ela fecha as pernas e se senta, seu rosto atingindo um
tom vermelho impaciente.
— Eu acho que você se importa, e muito. Mas sua
virgenzinha escolheu outro para passar a noite e eu não
estou aqui para ser sua psicóloga. Você vai me comer ou
vai ficar aí descontando sua raiva na minha boceta?
Que merda! Eu não estou com raiva, eu não me
importo, não mais!
— Eu vou fazer o que sei fazer de melhor.
A empurro na cama e abro suas pernas e faço com ela
tudo aquilo que a Caitlin deveria ter da boca de um
homem em sua primeira vez.
CAPÍTULO CINCO
Chego em casa com o dia nascendo, no trajeto do
motel até aqui, coloquei a minha cabeça de volta no
pescoço. Caitlin é minha melhor amiga, é quase minha
irmã mais nova, sei que é meu dever cuidar dela, mesmo
que às vezes precise ser bem babaca para isso, no fim das
contas, ela vai entender que só estava tentando protegê-la.
Mesmo porque, Caitlin é do bem. É extremamente doce e
é a pessoa com mais facilidade para desculpar que eu
conheço. Acredito que tenha aprimorado esse dom
comigo. Assim sendo, sei que não perdi a minha amiga,
nem uma parte dela. Talvez um pouco de sua devoção, que
sendo bem sincero, era infundada. Eu deveria me sentir
mal por vê-la acreditar tanto em mim, por perceber o
quanto ela espera do meu lado bom, quando sei que ele
não existe há muito tempo. Então decido que será mais
fácil agora a nossa relação de adultos. Que todas essas
coisas do meu mundo na qual ela não se encaixa, deixarão
de ser algo que tenho que esconder, afinal de contas, agora
ela pode me ver como sou de verdade. E sei que ela vai
me amar e estar aqui por mim mesmo assim, mesmo me
vendo de verdade.
E vou fazer o mesmo por ela. Apesar de ser uma
menina aos meus olhos, sei que não é, é adulta,
responsável e sabe tomar suas próprias decisões,
portanto, não vou mais interferir em sua vida. Apenas
estarei aqui para quando ela precisar do melhor amigo,
mas a deixarei tomar suas próprias decisões.
Claro, isso assim que eu garantir que ela não vai
perder a virgindade com o Stephen imbecil Ryan! Isso aí
está fora de cogitação, pois não se trata apenas da minha
intromissão. Se trata do meu maior inimigo querendo se
vingar de mim usando meu elo mais fraco, e não posso
permitir isso. Sinto-me até mais responsável e adulto ao
aceitar isso.
Tomo um banho demorado, sentindo-me tão mais
relaxado! Decido abrir de leve a porta de seu quarto,
apenas para garantir que está dormindo e bem. Aproximo-
me com todo cuidado para não acordá-la e, de repente,
imagino se ela não estiver ali. E se ela ainda estiver com
Stephen? Se estiver em um motel com ele, perdendo a
virgindade? Quanto tempo demora para uma mulher
perder a virgindade? Nunca desvirginei ninguém, eu não
faço a menor ideia. E se ela passou a noite com ele, se
está nesse momento deixando que ele seja o primeiro
dentro dela, então eu.... Abro a porta de uma vez, quase
sem ar e sentindo uma raiva imensa correndo por todo
meu corpo. Mas, ali está ela. Dormindo profundamente,
nem se mexe apesar da maneira abrupta com que abri a
porta, sua coberta caída ao chão e seu corpo encolhido na
cama. A cubro com cuidado e saio antes que ela acorde, e
sinto um alívio tão grande e inexplicável por vê-la ali,
pelo menos não passou a noite com ele. Isso quer dizer
que se realmente tentaram algo, ele não foi bom o
bastante, foi rápido demais.
Será que eles tentaram algo? Será que ele foi rápido,
mas foi o primeiro homem da vida dela? E apesar de ter
descontado toda minha confusão e tensão na loira que não
gosta de escutar, me sinto tenso e ansioso de novo.
— Merda, Caitlin! O que é que eu vou fazer com
você?

Ela está de pé, com fones no ouvido e fazendo o café


da manhã quando me levanto, já vestida para ir trabalhar.
Fico reparando se ela está sentindo alguma dor, talvez, se
ela andar de maneira estranha ou fizer qualquer expressão
de dor, isso signifique que perdeu a virgindade, não é?
Dizem que as mulheres ficam doloridas no dia seguinte à
primeira relação. Sento-me em silêncio e a observo. Ela
anda de um lado ao outro na pequena cozinha, mas é um
caminho tão curto que não dá para saber se está sentindo
algo. Observo mais atentamente quando ela anda um
caminho um pouco maior. Ela está mancando? Não pode
ser! Isso deve ser coisa da minha cabeça.
Será que há algo diferente nela essa manhã? Algo
errado? Meus olhos estão tão fixos nela, e do nada seus
olhos aparecem na frente dos meus, me fazendo congelar.
— O que você está fazendo? — pergunta confusa.
— Nada, eu... estava tentando reparar se você está
andando esquisito.
— O quê? — Ela parece ainda mais confusa e me
olha como se algo estivesse esquisito, mas na minha
cabeça.
— Caitlin, me diz que você não foi mesmo para um
motel com aquele cara, diz que você não se entregou
assim para ele.
— Ah, isso? — Ela começa a rir, como se fosse
hilário meu desespero. — Meu Deus, Colin, não acredito
que está mesmo tão preocupado com isso. Não, não
aconteceu nada, foi nosso primeiro encontro, não sou tão
descolada quanto as mulheres que frequentam sua cama.
Preciso conhecê-lo um pouco primeiro.
— Muito! Você precisa conhecê-lo muito, conhecê-lo
completamente!
— Se eu não estivesse tão em cima da hora iria
comentar o fato de você, Colin Garanhão Hanson, estar
tentando me dar uma lição de bom comportamento. — Ela
pega suas coisas e vai em direção a porta de saída. —
Quando a gente acha que já viu de tudo no mundo...
— Ei, Cait, e meu beijo? — tento, mas ela apenas me
olha e bate a porta ao sair. Preciso fazer algo porque ela
ainda está brava.

Luke aparece pouco após a saída de Caitlin, ele


trabalha pela manhã no Luck, na manutenção. Vem me
dizer que Thor está me aguardando, algo sobre a regra que
quebrei ao dar o lenço da minha Sorte a Caitlin, e não a
Rachel. Sei que terei alguma punição, imagino que seja
algo como ter de limpar o clube por uma semana, ou fazer
um serviço externo para Thor, ou, na pior das hipóteses,
perder o direito de ter minha Sorte nas primeiras lutas do
campeonato. Já vi isso acontecer e sei o azar que isso
trouxe para aqueles que sofreram esta punição, mas não
dependo de uma mulher em cima do ringue para vencer um
adversário. Luke pergunta por Caitlin e parece querer me
contar algo, ele dá voltas e não diz nada.
— Porra, Luke, se tem algo a me dizer, diz logo! É
sobre a Caitlin?
— Cara, você vai saber assim que entrar no Luck,
apenas lembre-se que você está indo ser punido por
quebrar uma regra, não vá perder a cabeça e quebrar
outra.
Ele não diz mais nada e meu estado já constantemente
ansioso, piora consideravelmente. Entro no clube como se
estivesse indo buscar o ouro no lugar marcado com o x,
logo que entro, vejo os caras da manutenção fazendo seu
trabalho, Luke se junta a eles e me aproximo de Thor,
sentado em sua mesa, alguns lutadores à sua volta, com o
celular na mão, provavelmente dando feedback a eles de
suas últimas lutas. O clube Luck será a sede deste
campeonato então a honra de Thor está no ringue, aqui.
Ele faz questão que seja um de seus lutadores a ganhar o
título e ai de nós se outro clube vencer aqui dentro. Claro
que nenhum de nós pretende deixar isso acontecer sob
hipótese nenhuma, ele tem mesmo os melhores no time
dele.
Cumprimento os caras e Thor, até esqueço por um
momento do que Luke tentou me dizer, mas logo recordo,
porque presencio e entendo do que ele estava falando.
Hector, um dos lutadores de quem menos gosto, por ser
muito amigo do imbecil, diz com um sorriso debochado:
— E sua garotinha virgem, Hanson? Ouvi dizer que o
Stephen deu um trato nela.
— Quem você pensa que é para de falar dela?! —
Vou pra cima dele, mas me deparo com uma parede da
minha altura e quase tão dura quanto eu. A diferença entre
nós é o olhar gélido que Thor crava em mim, e não me
deixa dar mais nenhum passo adiante.
— Brigas pessoais aqui dentro não, Colin.
Principalmente, não com a competição se iniciando na
semana que vem. Você precisa se controlar, essa garotinha
está te fazendo perder a cabeça.
— Ele está falando da Caitlin.
Um toque de compreensão passa por seu rosto, ele
conhece toda minha história, sabe sobre minha única
família, que se resume a ela.
— Não importa. Não deveria tê-la introduzido nesse
mundo se não sabe lidar com ela dentro dele. Concentre-
se no campeonato, depois você pode duelar por ela com
quem quiser aqui. Principalmente, se a coroa do
campeonato estiver no armário de vitórias do Luck. Não
me force a te alertar de novo.
Concordo com um gesto, e ele parece insatisfeito
com o que vai dizer.
— Foi para ela que você deu o lenço da Sorte na
última luta?
Confirmo e ele faz um gesto negativo com a cabeça,
como se eu estivesse muito errado por fazer isso.
— Se a queria como sua Sorte devia tê-la levado ao
ringue, conhecendo a Rachel imagino que ela não tenha te
dado muita chance de chamar a senhorita Ross, mas, uma
vez que você aceitou a Rachel como sua Sorte, sabia que
sua vitória pertencia a ela. Você quebrou uma regra, meu
filho, e preciso puni-lo.
— Estou ciente. Estou aqui para aceitar qualquer que
seja sua punição.
— Você vai lutar amanhã. Não gosto de colocar meu
segundo melhor lutador em uma luta desnecessária às
vésperas de lutas tão importantes, mas a equipe do clube
The Fierce quer fazer o reconhecimento do ringue e você
vai lutar com um da equipe deles.
Quando imaginei minha punição pelo lance da Sorte,
jamais achei que seria algo que poderia me prejudicar
tanto. Me fazer lutar com um adversário de um clube
concorrente às vésperas do início do campeonato é dar a
eles a minha estratégia de luta. Thor jamais fez isso nos
anos em que luto aqui e ele sabe o quanto isso pode ser
usado contra mim no ringue.
— Mas, Thor, isso é o mesmo que...
— Eu sei. Mais ninguém quis lutar por esse motivo, e
acredite, eu não queria que fosse você, mas você procurou
uma punição na outra noite, quase procurou outra agora.
Vê se isso te incentiva a manter a cabeça no lugar.
Então esse é o ponto, não me punir por dar o lenço da
vitória a Caitlin, mas me fazer pensar duas vezes antes de
perder a cabeça com qualquer um que me provocar
citando ela. Não posso dizer que concordo com esse
castigo, mas entendo. Pensando melhor, vai ser bom ter
algo em que me concentrar que não seja a virgindade da
Caitlin.

Meu celular chama um número que não reconheço,


mas reconheço o prefixo, Madison, a cidade onde nasci, a
cidade que jurei esquecer. Posso imaginar quem seja ao
telefone, só não posso imaginar o que ela quer comigo.
Talvez não esteja satisfeita por eu estar livre, de alguma
forma. No lugar dela, eu também não estaria, mas não há
nada que ela possa fazer, e se ela acha que me provocar
vai fazer com que eu dê um passo em falso e vá parar na
cadeia de novo, está muito enganada.
Logo que entro no consultório da doutora Katherine
Mansfield, jogo meu celular sobre a mesa, ela vê a
ligação perdida, examina o número e me devolve o
celular, começa a anotar em seu caderninho antes mesmo
de me falar qualquer coisa.
— Olá, Colin — diz em seguida — quer se deitar e
ficar mais à vontade?
— A senhora sabe que isso não funciona comigo.
Mas, se tiver um whisky isso vai me ajudar a falar.
— Hoje você quer falar? — pergunta espantada.
Deve ser a primeira vez em um ano que faço essas
terapias forçadas em que quero ter essa sessão com ela e
estou disposto a cooperar.
— Pois é.
Na verdade, eu só preciso de um conselho, não de
uma análise da minha vida bagunçada.
Ela me serve a dose de whisky, que viro de uma vez,
mas se recusa a me servir uma segunda dose sem mais
informações.
— Por que não atendeu a ligação da sua madrasta?
— Ela não é nada minha, e não é disso que quero
falar.
— Imaginei que não fosse. O que houve? Você parece
preocupado.
— Acho que essa palavra é extremamente adequada.
O problema é a Caitlin. Acho que devia trazê-la aqui para
que a senhora converse com ela, de mulher para mulher,
para que possa aconselhá-la.
Ela franze o cenho e tenho sua total atenção.
— Não posso imaginar porque precisaria aconselhá-
la em algo, a senhorita Ross é a pessoa mais ajuizada que
conheço.
— Era. Lembra do que te falei sobre ela e o Stephen?
Pois é, ela quer perder a virgindade com ele.
Ela não diz nada, permanece totalmente parada, me
encarando, mas sua mente maquina em outro lugar, pouco
depois, espero que ela diga algo como “não acredito que
ela ainda é virgem”, ou, “pode trazê-la aqui que vou
convencê-la a não fazer um absurdo desses”, mas, o que
ela diz é:
— A não ser que você queira que eu a aconselhe a
usar camisinha, não entendo o que quer que eu faça,
porque tenho certeza que ela sabe bem disso.
— Como? A senhora só pode estar brincando! A
senhora ouviu direito o que eu disse? Ela é virgem! E ele
quer se vingar de mim! Ela não pode perder a virgindade
justo com ele! Vai me odiar o resto da vida quando
perceber que ele a está usando.
Ela anota algo em seu caderno enquanto vai falando
comigo, como se eu fosse uma criança fazendo pirraça por
um brinquedo que um colega de escola ganhou e eu não.
— Por que exatamente você está com raiva?
— Eu acabei de dizer.
— Vamos pesar isso direito, porque confesso que
estou perdida aqui, Colin. Nós dois sabemos que a Caitlin
é adulta e responsável, que é ajuizada e centrada. Se ela
chegar a ter qualquer relação sexual com este rapaz, o fará
totalmente ciente do passo que está dando. Ela não o faria
se tivesse a menor dúvida de que ele a quer.
— Está dizendo que estou exagerando? Que estou
ficando louco ao querer defendê-la do que vai ser o pior
erro de sua vida?
— Não. Estou dizendo que você não sai com os dois
para saber como ele a trata, para julgar se o que ele sente
por ela é real ou um plano de vingança. E estou dizendo
que seus motivos para estar tão preocupado com isso são
superficiais. Você a conhece bem o bastante para saber
que ela nunca te culparia por algo que ela decidiu fazer.
Você não a está jogando na cama dele, ou está?
Ela parece estar certa, mas, ela não entende... nem eu
entendo. Tento aceitar o que está me dizendo, a Caitlin
jamais vai me culpar por isso sendo que tentei tanto
alertá-la, mas mesmo assim, não posso permitir que isso
aconteça. Não há uma razão no mundo que me faça aceitar
que isso é o certo que ela deve fazer.
— Então você não vai dizer a ela que é cedo demais
e que precisa ter mais certeza antes de dar esse passo? —
pergunto já sabendo a resposta, apenas uma tentativa de
convencê-la a falar, nem que seja apenas isso.
— Não vou. Não sou amiga dela, Colin, você é. Se é
tão importante, diga você.
— Só que ela não está me escutando! Ela parece
enfeitiçada por ele, como se ele fosse tão melhor do que
eu! Porra, eu nem sabia que era ela virgem! Ela é minha
melhor amiga, no entanto não me conta nada, me deixa de
fora de sua vida pessoal e agora isso, saindo justo com
meu maior inimigo, não acreditando mais em mim. Não
posso estar louco por achar que o mundo está de cabeça
para baixo!
A maneira como ela me olha, me irrita, como se
sentisse pena, pior, como se me conhecesse o suficiente
para saber que isso está me enlouquecendo mais do que
estou dizendo. Que vai além de uma preocupação ou medo
de perder a amizade da Caitlin. A doutora Katy faz sua
melhor cara de escute a voz da experiência antes de falar
com a voz mais calma do mundo, como se houvesse
encontrado a chave que soluciona todos os meus
problemas. Mas, não consigo compartilhar de seu
entusiasmo.
— Você precisa entender e aceitar que o problema
aqui não é exatamente com quem ela está decidida a dar
esse passo, mas o fato de ela estar decidida a fazer isso.
— Não tem nada a ver, eu nem sabia que ela era
virgem, então não posso estar tão preocupado com isso
agora!
— Você não sabia, sendo assim nunca parou para
pensar sobre isso, mas agora que sabe, muda tudo! Porque
você simplesmente não quer que ela dê esse passo com
outro homem.
— Como assim?
— Se não fosse o seu inimigo de luta, se fosse o seu
melhor amigo, o Luke por exemplo. E ela decidisse perder
a virgindade com ele, estaria tudo bem para você? Certo?
— Não! Ela nunca gostou dele, nunca se sentiu
atraída, se o escolhesse para ser o primeiro dela seria por
ansiedade de dar esse passo, não porque ela realmente
quer fazer isso com ele.
— Ok, e se for alguém da faculdade dela, que você
não conhece, mas que ela saia há algum tempo e só não
comentou isso com você?
— Não acho prudente que ela se entregue tanto assim
a alguém que eu nem conheci. Quer dizer, se fosse tão
importante para ela, ele frequentaria nossa casa e ela teria
me apresentado, certo? Logo, um desconhecido de seu
curso também seria por ansiedade.
— Você consegue imaginar algum homem, qualquer
um, que seria ideal para ser a primeira relação sexual
dela?
Penso, penso e não, nenhum homem é bom o bastante
para isso. Nenhum é seguro o bastante. Não consigo
responder e aqueles olhos sábios parecem rir de mim por
terem me vencido.
— Foi o que pensei. Boa parte do seu problema não
é quem ela escolheu para fazer isso, e sim que esse
alguém escolhido por ela, não é você.
— Isso é ridículo! Ela é como uma irmã para mim!
Somos amigos desde a infância.
— Está dizendo que se ela escolhesse você para
fazer isso, você não aceitaria? Você não seria o homem
perfeito para dar esse passo com ela?
— Eu a conheço como a palma da minha mão, estive
com ela em todos os momentos, assim como ela me
conhece e confia em mim. Eu a ensinei a beijar, eu cuido
dela independente de qualquer coisa, então sim, eu seria o
cara certo para tirar a virgindade dela, não porque eu
sinta qualquer coisa por ela ou ela por mim, mas porque
somos melhores amigos e ela não vai confiar em mais
ninguém da maneira como confia em mim!
Ao terminar de colocar esse ponto para fora, recebo
em troca um sorriso vitorioso da “voz da experiência”.
— Você já aceitou um ponto hoje então não vou
insistir que abra sua mente toda de uma vez, já foi um
progresso. Guarde isso para si mesmo se sente-se melhor
pensando assim, deixe que isso justifique o desejo que
sente por ela.
— Eu não vim até aqui pedir uma análise do que
estou sentindo, eu vim pedir um conselho de como
convencê-la a não fazer isso até que tenha absoluta
certeza, e a não fazer isso de maneira nenhuma com ele.
— Diga a ela o que você sente. Diga como se sente
em relação a decisão e ao relacionamento dela. Vocês não
são melhores amigos? Ela vai entender.
— O que você quer que eu diga? Que eu me sinto mal
por ela perder a virgindade com meu pior inimigo? Isso
seria muito egoísmo. Não se trata de mim.
— Então você não deveria se intrometer. Se você não
tem certeza do que realmente sente, não se meta na vida
dela.
— Você é a pior psicóloga que eu já vi!

Aproximo-me da lanchonete onde Caitlin trabalha,


logo, avisto Joy, a única amiga da lanchonete que ela me
apresentou, mas o fez com tanto receio, que mesmo a Joy
sendo tão linda, entendi que este era um terreno que eu
não deveria entrar, e não entrei. Não sou sempre um
babaca egoísta com ela. Joy me abre um sorriso lindo e
corre para chamar Caitlin, não precisa ir muito longe, ela
já estava de saída, a mochila pendurada nas costas e o
olhar de cansaço em seu rosto.
As meninas da lanchonete me cumprimentam com
risinhos e piscadelas, mas respondo de maneira educada,
minha atenção voltada totalmente à minha melhor amiga,
que parece linda com o cabelo bagunçado de fim de tarde
e sua expressão cansada.
— O que faz aqui?
Estendo a ela as flores que comprei há duas quadras
da lanchonete, cubro meu rosto com elas e imito uma voz
engraçada, que a fazia rir sempre que chorava quando era
pequena, no jardim de infância:
— Caitlin Evy Ross, eu sou um tremendo idiota e o
pior melhor amigo do mundo! Mas, baby, eu realmente
adoro você. Você é tudo o que tenho, então não fica brava
comigo. — Abaixo as flores a tempo de ouvir os suspiros
das colegas de trabalho dela. — Quando você me afasta,
nossa vida sai do eixo.
Ela sorri, o sorriso mais doce que já vi em seu rosto,
estende as mãos vagarosamente e pega as flores, as leva
até o nariz e sorri ainda mais.
— Nós vamos enterrar tudo isso e seguir em paz? —
pergunta esperançosa com seus enormes olhos de gata
analisando meu rosto.
— Nós podemos conversar sobre isso?
— Coli... — seu sorriso some e ela está prestes a me
dar mais broncas, mas faço um gesto com a mão, pedindo
um tempo, e ela para de falar para me ouvir.
— Eu sei o que vai dizer, e sei como se sente sobre a
minha reação a isso. Eu só quero conversar, ok? Sem
idiotices, sem tentar te proibir de nada, só quero que você
entenda meu lado.
— Se ela não for com você, eu vou, campeão! —
uma voz sedosa diz atrás de mim, mas não me atrevo a
verificar quem falou, não quando Caitlin está me
avaliando tão de perto.
— Tudo bem. Vamos para casa?
— Pensei em irmos andando se não for muito longe
para você. Assim podemos conversar melhor e teremos
testemunhas caso você queira me matar.
— Essa fase já passou. Foi quando descobri o que
você fez, agora só estou decepcionada mesmo.
— Round one, fight! — brinco fazendo-a rir.
Vamos caminhando a passos lentos, sei que ela não é
acostumada a exercícios como eu, e não quero que o
caminho se torne cansativo demais para ela.
— Se você se cansar, eu te carrego — ofereço e
recebo uma careta em troca. — Caitlin, eu realmente
penso que o Stephen a está usando para se vingar de mim,
não porque ache que você não seria capaz de seduzi-lo, na
verdade, não imagino um homem que você não consiga
seduzir com essa carinha de menina e esse corpo
maravilhoso de mulher...
Ela para onde está e me olha confusa, e merda! De
onde saiu isso? Corpo de mulher? Afasto as lembranças
de seus seios naquele sutiã delicado e me concentro no
que preciso que ela entenda. Toco seu braço para que
continue andando e deixo minha mão ali enquanto falo,
talvez o contato da minha mão em sua pele possa ajudar a
fazê-la entender que só quero seu bem.
— Eu sei que há uma chance, cinquenta por cento, na
verdade, de ele estar realmente interessado em você por
você, por ser linda e tão doce. Eu sei disso. Mas isso não
faz com que ele deixe de ser o Stephen. Você entende? Eu
o conheço bem, ele não é uma pessoa boa e eu me
preocupo com você.
Ela tira minha mão de seu braço e deposita um beijo
leve em meus dedos.
— Agora, com você falando como um amigo adulto
que sabe conversar, eu entendi. Realmente entendo o seu
lado, Colin, entendo que queira cuidar de mim como
sempre fez. Mas é a primeira vez em muito tempo que me
interesso por alguém diferente e ele se interessou por mim
também. Acha que não tive essas dúvidas? Que não me
achei menina demais para ele? Eu me achei incapaz de
seduzir alguém do seu mundo, mas quando estávamos a
sós, ele me mostrou o quanto me quer, e não por eu ser sua
amiga, ele apenas me quer. Estou apostando muito nisso, e
não estou pedindo que deixe de tomar conta de mim, Deus
sabe que eu estaria ferrada se não fosse sua proteção, mas
me deixa dar esse passo, ok? Relacionamentos são sempre
um tiro no escuro, mas eu vou arcar com as consequências
disso, só preciso ver onde isso vai dar!
Minha parte racional, que costuma ser o que me guia
quando não estou diante de uma mulher nua, sabe que ela
tem esse direito. Tem o direito de arriscar e minha
rivalidade com Stephen é problema meu e não dela. Mas
há uma parte em mim, algo que não compreendo, que sabe
o quanto isso é arriscado, o quanto é ridículo. E por mais
que eu queira ficar em paz com ela, não consigo aceitar.
— Desculpa, Caitlin. Mas não posso aceitar isso.
Entendo tudo o que disse, mas não aceito. Você e ele? Há
tantos homens que fariam tudo para ter você, por que ele?
— Sabe, a gente vai falar, falar, brigar de novo e não
vamos chegar a um consenso. Vamos ficar com isso: a
vida é minha e você não se mete!
Sinto algo rasgando uma parte do meu peito ao vê-la
preferir perder a proteção que sempre prezou para ficar
com ele. Como se de uma hora para outra eu fosse
descartável, e ele, essencial para ela.
— Nunca pensei que você seria o tipo de amiga que
quando arruma um namorado, esquece dos amigos.
Espero por uma resposta sarcástica, mas ela começa
a rir.
— Ah, Colin, o que é que está havendo com você? Eu
não sou assim, ok? Também não pensei que você seria o
tipo de amigo excessivamente ciumento.
— Não estou com ciúmes.
E não estou mesmo. Isso é outra coisa.
— Tudo bem, não quero mais brigar. Será que dá
para me deixar decidir se eu prometer pensar bem em
cada atitude dele?
— Isso melhora um pouco as coisas. Mas quero
acrescentar algo de suma importância ao nosso acordo. Eu
vou deixar você em paz com esse assunto e você vai
tomar cuidado com as atitudes dele, e não vai perder a
virgindade com ele.
Ela para de andar de novo e abre um sorriso nervoso,
dos que ela abre quando quer me xingar, mas não quer.
— Você está fazendo uma tempestade desnecessária
disso! Não é grande coisa! É uma primeira vez, mas eu só
não a fiz antes porque não senti vontade, não é como se eu
estivesse esperando ou algo assim.
— E está sentindo vontade agora? Com ele?
— É, eu estou. Por que é que você tem que se meter
nisso? Eu não escolho as púbis em que seu pau entra,
porque se eu pudesse escolher, você não dormiria com
dez por cento das mulheres com quem dorme!
— Você está sendo injusta.
— E você está louco! Ponha sua cabeça no lugar e
me deixa em paz!
Ela vai andando apressada na frente, mas toma
cuidado para não amassar as flores, o que considero um
ponto positivo a meu favor. Corro atrás dela sem saber
como fazê-la mudar de ideia. Maldita ideia dessa
psicóloga de merda! Falar o que sinto não ajudou em nada
além de afastá-la mais de mim e jogá-la mais para ele.
— Tudo bem, se você quer mesmo fazer isso, por
favor só me escuta. Eu tenho experiência nisso, você tem
que me escutar! — Seguro seu braço e a puxo, forçando-a
a parar e me encarar.
— Você não vai vir com aquele papo de
preservativos, não é? Porque a minha mãe fez isso assim
que tive minha primeira menstruação.
Faço uma careta que parece aliviá-la um pouco.
Quero parecer confiante e seguro do que estou dizendo,
mas a verdade é que estou tremendo por dentro. Como
uma mulher que não sabe andar de salto. Minha pressão
com certeza está alta e no momento, tenho uma taquicardia
perigosa. Tudo porque não sei como falar o que preciso
falar sem parecer maluco, ou um gay, ou um gay maluco.
— Cait, pequena, isso não é qualquer coisa. Pode
não ser algo que você guardou como a um tesouro até
encontrar o momento certo, mas também não é algo que
você poderá viver de novo na semana que vem caso não
seja o que você esperava.
Seu rosto suaviza e sei que estou conseguindo atingi-
la.
— É sua primeira vez, você só a viverá uma vez, não
pode ser com qualquer pessoa. — Ali, me sinto estranho
com o rumo que meus pensamentos estão tomando, tudo
culpa da maldita doutora Katy com aquela ideia de que eu
deveria ser quem faria dessa, uma maravilhosa
experiência para ela. Não posso dizer isso a ela, de
maneira nenhuma, tenho que fazê-la entender de outro
jeito. Por que ela simplesmente não me escolheu desde o
começo?
Respiro fundo para colocar meus pensamentos de
volta no rumo certo e volto a falar:
— O Stephen é conhecido no clube por nunca sair
com mulher nenhuma. Ele é o que mais vence ali, mas não
pega ninguém, sabe por que isso?
— Acho que não quero saber — toda a atenção que
eu havia conseguido se foi, e me desespero para que ela
não se afaste de novo.
— Porque ele não é bom nisso. Você quer ter sua
primeira vez com um cara ruim de cama? Que não dará a
você tudo o que merece? Caitlin, quando uma garota tem
uma primeira experiência ruim, isso afeta toda sua vida
sexual. Você quer ser frígida? Quer se importar mais com
um livro do que com a pessoa que está dentro de você na
cama? Quer ser dessas que vai ter dor de cabeça toda
noite só para se livrar do trabalho com seu marido?
Sua expressão vai ficando cada vez mais estranha,
sinto que estou falando merda, mas não consigo melhorar
as coisas, cada vez que abro a boca, a enxurrada de coisas
que saem, parece fazer menos sentido.
— Você esperou por dezenove anos e quando
finalmente der esse passo tem que ser algo memorável,
algo bom, não quer contar na rodinha de amigas numa
festa do pijama seminua que sua primeira vez, como a
delas, foi uma merda, quer? Você tem que ser melhor do
que isso. Quando duas pessoas transam e não há a
conexão que você precisa para que seja diferente, é só
mais uma transa. Você quer ser só mais uma transa para o
homem para quem vai entregar sua virgindade? Caitlin...
— Você está se ouvindo? — ela fala de repente e
volta a andar. E não há argumentos que me defendam do
monte de baboseiras que acabei de dizer.
— Só pensa bem se quer mesmo dar esse passo com
ele.
Ela ri, aquele sorriso debochado que raramente vejo
em seu rosto, de quando está perdendo a paciência e está
com dó de acabar comigo.
— Ok.
— O que quer dizer esse ok? — pergunto enquanto
corro atrás dela, para quem não faz nenhum exercício a
senhorita Ross anda bem rápido. — Estamos bem, não
estamos? Ei! — Puxo sua mão e ela olha em meus olhos,
não parece mais com raiva.
— Se você me prometer que não vai interferir no...
— Não prometo! — interrompo porque sei o que ela
vai pedir e não vou mentir para ela. — Não prometo
porque não vou prometer a você algo que não vou
cumprir. Não para você. Prometo tentar. Está bom assim?
Seu sorriso lindo surge de novo e ela se aproxima e
se pendura em mim para depositar um beijo suave em meu
rosto.
— Está bem melhor assim. Quer passar no BK para
comer algo?
— Vamos, estou faminto.
Finjo que não foi um completo e inútil desastre essa
nossa conversa, e me contento por hora com o fato de que
pelo menos ela não está mais chateada comigo.

Caitlin ficou a tarde toda em seu quarto, saindo raras


vezes para comer algo, ou beber algo. Embora tenha
conversado comigo normalmente nos momentos em que
apareceu, senti falta de algo nela. Falta dos finais de
semana que passávamos no sofá, embolados embaixo de
uma coberta vendo filmes ou séries, e falando besteira.
Rindo de nós mesmos, relembrando nosso passado.
Tardes essas, em que ela era apenas uma menina, minha
menina, e eu não tinha que me preocupar com o que ela
faria à noite, quando eu saísse com alguma mulher para
qualquer motel na cidade, tardes em que as coisas
pareciam tão mais simples do que agora!
Tomo um banho para minha luta da noite, não faz
diferença ganhar ou perder já que não vale nada, mas não
gosto de perder e somente por isso vou dar um jeito de
vencer, sem revelar meu real estilo de luta a um time de
adversários. Penduro minha bolsa surrada no ombro e
encontro Caitlin na cozinha quando estou saindo.
— Achei que o campeonato só começasse na semana
que vem — comenta quando me vê vestido para lutar.
— E começa. Mas tenho que lutar hoje porque estou
sendo punido por tê-la dado o lenço da Sorte na última
luta.
— Oh! — Um olhar de culpa passa por seu rosto,
mas sorrio para ela e bagunço seu cabelo macio, o que a
faz rir em resposta. — Boa sorte, então.
— Por que você não vai comigo? Vem ser minha
Sorte essa noite. Prometo que não vou deixar mulher
intrometida nenhuma subir no ringue antes de você.
Ela sorri sem graça, mas não parece animada.
— Sinto muito, mas prefiro não ir. Esse não é o meu
mundo, Colin. Não é um ambiente em que eu me sinta
bem.
— Mas você gostou de torcer na última luta, você
reparou bem os pontos fracos do Stephen, foi tão ruim
assim?
Ela nega com a cabeça e se afasta.
— Não foi, mas era só uma tentativa desesperada de
ficar mais tempo com você. Não é meu ambiente. Acho
que não precisamos ser o que não somos um pelo outro,
não é?
— Acho que não — a forma como ela dispensa
passar essa noite comigo mexe comigo de uma maneira
estranha. Como se não fosse mais especial para ela estar
comigo, como se ela não se importasse. Sei que não está
com raiva, nem sendo cruel, é cruel apenas em mim o
efeito que suas palavras têm.
— Divirta-se, e por mais que você diga que não
precisa, boa sorte.
— Valeu.
Ela entra para seu quarto e vou para o clube com a
sensação incômoda de que algo ainda está faltando.

O clube está lotado, metade dos rostos aqui me são


desconhecidos, são lutadores e público do clube The
Fierce, os ferozes e sua plateia. Talvez até de outros
clubes que vieram para conhecer os movimentos de dois
de seus adversários de uma só vez. Um prato cheio para
os clubes que vão participar do campeonato. Mal dá para
andar aqui dento, de tão cheio. Os vestiários estão cheios
e esta noite, a plateia ocupa além das cadeiras, estão em
pé em volta do ringue, gritando ansiosamente enquanto
aguardam. O dinheiro rola solto em apostas e ouço Luke
dizer que estou na frente, mas pela primeira vez desde que
comecei a lutar, não me importo. Me sinto estranho. Peço
a Luke que não permita que eu tenha uma Sorte, não quero
nenhuma, enquanto ouço o locutor saudar a plateia
ensandecida.
— Senhoras e senhores, bem-vindos ao clube Luck.
Que a sorte esteja com todos vocês esta noite. Já fizeram
suas apostas? Pois aqui estão os lutadores da noite,
campeões, ferozes, prometem um espetáculo e tanto! Com
vocês, senhoras e senhores, Júlio Ramirez, representando
o clube The Fierce.
A plateia dele grita alucinada, realmente faz muito
barulho. Olho para meu lado da torcida, que eles façam
ainda mais barulho quando eu for chamado ao ringue.
— E do outro lado, dois metros de puros músculos, o
mestre da técnica representando o clube Luck, nosso
pequeno grande Colin Hanson! O exterminador!
A minha plateia faz ainda mais barulho do que a do
adversário, acredito que muitos dos gritos vêm das
mulheres de outros clubes que estão aqui.
— Que merda de apelido foi esse? — questiono
Johnnys, o locutor, que apenas dá de ombros com um
sorriso maroto.
— Eu criei, personagens ganham a simpatia da
plateia. Agora cale a boca e vença essa luta.
— Pode deixar.
Cumprimento meu adversário, ele é mais baixo do
que eu, porém, mais forte. Seu rosto cheio de cicatrizes
mostra que tem muita experiência. Essa briga vai ser boa.
Divertida, até. Mas, quando o locutor convida ao palco as
Sortes, explicando para os clubes visitantes a nossa
tradição, eu a vejo.
Seu cabelo negro brilha entre a multidão, e seus
grandes olhos de gata vasculham o lugar até pousarem nos
meus. Ela sorri seu sorriso tímido e só consigo pensar em
que merda ela está fazendo aqui. Vejo uma mulher subir ao
ringue e nego quando o locutor pergunta pela minha Sorte.
Olho novamente e reparo que ela está de mãos dadas com
Stephen, que cumprimenta alguns lutadores do clube
adversário. Seus olhos não saem dos meus e sei que ela
quer me pedir desculpas por estar aqui com ele quando
não quis vir comigo. Será que ele é tão importante assim
para ela, que ela quer ser o que não é, só para estar perto
dele?
O primeiro soco me atinge e me obriga a desviar o
olhar dela, vejo sua expressão de dor e a torcida em seu
rosto. Tento me concentrar no adversário, mas sou
derrubado em seguida, ele monta sobre mim e fico
momentaneamente zonzo com a quantidade de socos
desferidos no meu corpo. Para minha sorte, ele bate pouco
na cara e mais em meu peito e braços. Uma boa maneira
de impedir que eu tenha força para revidar, e uma
confirmação de que ele sabe que vai ganhar.
Consigo me levantar, mas, ao tentar atingi-lo, avisto
Stephen com os braços em volta da Caitlin, dizendo algo
que a faz desviar os olhos do ringue, dura apenas dois
segundos e ela volta o olhar para mim, diz algo que
parece ser reaja, Colin, mas não tenho certeza. Erro meu
golpe e sou atingido com força na orelha. Um zumbido em
meu ouvido me impede de ouvir os passos dele antes que
ele me derrube de novo com um chute na canela.
É aí que me ocorre que se eu vencer, e pegar nas
mãos o lenço da vitória, posso oferecê-lo a ela. Posso
chamá-la para subir ao ringe e ser a minha Sorte, e posso
beijá-la. E isso estragará a noite do imbecil do Stephen e
tenho certeza que vai matar qualquer desejo dele de
desvirginá-la essa noite. Se eu vencer, e a fizer subir ao
ringue, garantirei mais um dia com status de virgem para
Caitlin.
Levanto-me depressa e consigo acertá-lo no peito,
seguido de um Mongolian chop[1], que o deixa zonzo.
Sem demora, e num estilo que não é o meu de lutar, se
parece mais com o do Stephen, de não dar tempo para o
adversário pensar, o acerto de novo e mais uma vez. Eu
não luto assim e posso ver a incompreensão nos rostos de
Luke e Johnnys. No meu modo de lutar, eu consigo prever
os próximos golpes dos adversários, eu consigo estudá-
los e desvendá-los e não bato muito para vencer uma luta,
mas não essa noite. Como um louco desenfreado vou
desferindo golpe atrás de golpe, até que ele cai. Com o
mesmo respeito que ele teve por mim, não acerto mais seu
rosto, já causei certo estrago e não preciso mais disso
para vencê-lo. Com um Facebuster[2], o impeço de se
mexer e sou anunciado o vencedor da luta.
A plateia grita, o locutor exalta minha virada triunfal.
Eu localizo o que estou buscando e aponto para ela
quando o juiz me entrega o lenço da vitória. Caitlin olha
para mim de olhos arregalados e dá um passo atrás, ao
invés de vir em minha direção. A chamo com o dedo, olho
bem em seus olhos, insisto que venha, mas ela não parece
disposta. Então, não tenho outra saída. Pego o microfone
das mãos do Johnnys e a chamo.
— Caitlin, você poder vir aqui por favor? É muito
importante que você fique com isso. — Estendo o lenço e
insisto com o olhar, sorrindo para ela, ela parece em
dúvida e Stephen fala nervoso ao pé de seu ouvido, é por
causa dele que ela não quer ser a minha Sorte. — Caitlin,
por favor.
A plateia a encara e começa a gritar seu nome
pedindo que ela suba no ringue, ela tira sua mão das de
Stephen com um solavanco e com passos vacilantes,
aproxima-se do ringue. Eu a pego pelas mãos e a levanto
o suficiente para que ela possa segurar nas cordas e
passar suas pernas por elas. A levo para o centro do
ringue ao som ensurdecedor da plateia. Ela toca meu lábio
com delicadeza.
— Vai ficar uma cicatriz feia aqui.
Sorrio.
Ela limpa o sangue dos meus lábios com o lenço que
estendo para ela. A plateia continua gritando e só vejo
seus olhos castanhos tão claros pelo reflexo dos refletores
de luz neles, seu rosto corado por ser o centro das
atenções e sua falta de jeito em cima do ringue. Mas, ela
sorri para mim. Sorri porque por mais que não queira
admitir, faz mais parte do meu mundo do que imagina.
— Parabéns — diz com esse sorriso e seguro seu
rosto o mais delicadamente que consigo entre as mãos.
— Obrigado. Você sabe o que tenho que fazer, não
sabe?
Ela assente e eu faço. Aproximo meus lábios dos
dela e a beijo.
Começo devagar, testando o corte em meu lábio, mas
não sinto qualquer dor, sinto apenas o calor de seus lábios
e suas mãos pequenas se apoiando nos meus braços. Então
aprofundo o beijo, pressiono com força meus lábios nos
dela, a puxo mais para perto de mim. Minhas mãos deixam
seu rosto para prendê-la a mim e puxar seu cabelo
forçando sua boca mais de encontro à minha, forçando-a a
abri-la, então invado sua boca quente com minha língua.
Encontro a sua e a domino, ela corresponde com sua
doçura, e isso aumenta ainda mais o desejo que tenho de
beijá-la. Não é o bastante, não parece suficiente. É a
primeira vez que a beijo de língua e me pergunto por que
caralho não fiz isso antes, por que não fiz isso todos os
dias. O beijo dela é delicioso, é quente e intenso. Sinto
seus seios pressionados em meu peito, não ouço mais o
ruído ensurdecedor da plateia, mas consigo ouvir sua
respiração acelerada. Não quero que isso acabe nunca,
mas preciso tirá-la daqui, levá-la para qualquer lugar em
que possamos ficar sozinhos e terminar isso da maneira
perfeita como um beijo desses merece ser terminado.
Diminuo a pressão em seus lábios, mesmo não querendo
fazer isso. Quero beijá-la de novo, quero tê-la mais perto.
Mas, no segundo em que meus lábios deixam os dela, ela
se afasta. Levanta o lenço que entreguei a ela e volto a
ouvir a plateia gritando. Aperta meus dedos com um
sorriso leve e desce do ringue. Ela praticamente corre
assim que seus pés alcançam o chão.
E vai em direção a ele.
Ela reage como reagiu a cada beijo que já dei nela,
quando não passava de brincadeira, quando não passava
de aula de como beijar. Não foi nada demais para ela,
nada que já não tenhamos feito antes. Então por que
caralho parece que acabei de dar o meu primeiro beijo?
Por que ainda posso senti-la em minha boca, nos meus
braços? Seu cabelo negro some na multidão e só consigo
pensar em como é possível que ela não esteja em chamas
como estou neste momento. Será que não foi para ela
como foi para mim? Será que ela não sentiu que esse beijo
não foi nem de longe o suficiente? Embora tenha sido de
longe o beijo mais gostoso que já experimentei na vida.
— O que é que eu vou fazer com você, Caitlin Ross?
Não consigo lembrar dela como a menina que sempre
enxerguei. Não consigo lembrar dela sem sentir seus
lábios carnudos nos meus, sua língua envolta pela minha.
A Caitlin que eu sempre vi não existe mais.
Saber que minha melhor amiga é virgem, mudou
completamente o modo como a enxergo. Ela é uma mulher,
com o beijo mais gostoso do mundo! Eu não sei explicar,
é como se a vida toda eu estivesse enfeitiçado, e de
repente ela dissesse as palavras mágicas que quebram o
feitiço: sou virgem!
Eu estou fodido.
CAPÍTULO SEIS
O leve incômodo em meu rosto não me deixa dormir.
Cheguei do clube, tomei um banho e caí na cama, não sem
antes conferir se ela estava no quarto, mas não estava. Ela
está demorando demais e temo que vê-la me beijando em
cima do ringue não tenha sido suficiente para inibir o
desejo de Stephen. Talvez eu o tenha atiçado ainda mais a
fazer isso. Mas então me lembro da sensação de seus
lábios nos meus, da maneira como ela se agarrou a mim,
como se entregou, eu não estou fantasiando isso. Não pode
ter sido tão indiferente assim para ela. E se ela sentiu
alguma coisa diferente, por menor que seja, então não se
entregou a outro esta noite, sei que não.
O barulho da porta me alerta de sua chegada, mas não
quero ir lá para saber o veredito. Fecho os olhos numa
falha tentativa de dormir e deixo em minha mente que ela
não deu esse passo hoje. Não na noite em que demos
nosso primeiro beijo de verdade.
— Como você está gay, Colin — reclamo.
Ouço o barulho do chuveiro e fico imaginando sua
pele de porcelana molhada, seu cheiro misturado ao
cheiro do sabonete, como ela deve passar a esponja por
seu corpo...
— Pare já com isso!
Me viro de lado na cama e tento pensar no meu
adversário da noite. Mas isso me remete de volta à luta,
ao ringue, a minha vitória e aos lábios da Caitlin. Preciso
trocar de psicóloga porque a doutora casamenteira não
está dando conta.
O rangido da porta me alerta que ela está sendo
aberta, fico quieto, fingindo dormir, mas ouço sua voz
baixinha, quase como se estivesse com medo de falar
comigo.
— Colin, está acordado?
Sento-me e acendo a luz do abajur. Não digo nada,
apenas a observo em um blusão imenso meu, que vai
quase até seu joelho e seu cabelo volumoso solto em volta
de seus braços.
— Está tudo bem? Como está sua boca? — Ela cora
ao dizer a última palavra e sorrio.
— Estou bem. Não está tão feio assim, está?
Ela nega com a cabeça, mas eu a provoco.
— Chegue mais perto e veja se ainda estou beijável
com esse hematoma novo.
— Não seja idiota, Colin — diz sorrindo — eu não
podia dormir sem antes falar uma coisa com você.
Acho que ela vai falar sobre o beijo, vai me
perguntar se foi diferente para mim e vou dizer que sim,
que foi nosso primeiro beijo de verdade. Estou tão
ansioso que ela diga isso, que não sei como reagir ao real
motivo de sua visita noturna.
— Eu quero pedir desculpas por ter ido com o
Stephen ao clube. Quer dizer, eu não quis ir com você,
disse que aquele não era meu mundo e não é, eu não sabia
que estávamos indo para lá. Quando percebi, não soube
como dizer a ele que eu o esperaria do lado de fora, além
do mais os caras estavam falando de você e eu quis
verificar se estava tudo bem.
Não digo nada e ela entra no quarto, suas mãos
entrelaçadas na frente de seu corpo, como uma garotinha
medrosa. Só que não se parece com uma garotinha. Será
que nunca mais a verei como a minha menina?
— Eu sinto muito.
— Ele é realmente tão mais importante para você do
que eu, Caitlin?
Seus olhos se arregalam e ela parece nervosa.
— O quê? Não, claro que não! Ninguém é mais
importante para mim do que você, e isso não vai mudar.
O alivio que sinto ao ouvir essas palavras deixam
claro que ela não fez nada demais com o imbecil essa
noite.
— Fiquei feliz por vê-la lá, por poder dar minha
vitória a você.
— Você só fez isso para provocá-lo. Me colocou em
uma posição terrível.
— Nem tanto, você só tinha que pesar quem era mais
importante para você, acho que o fez sem problemas.
Ela não sabe como responder e desvia seu olhar do
meu, mirando seus pés ao invés do meu rosto.
— Ele a beijou depois daquilo, Caitlin?
Ela se aproxima de mim e senta-se na beira da cama.
— Não fique olhando assim como estou andando, eu
não fiz nada demais. E sim, ele me beijou.
— Foi bom para você? O beijo dele, foi como nosso
beijo?
— Onde você quer chegar com isso?
— A lugar algum. Só quero saber se há diferença no
beijo dele e no meu.
— Sim. Se era só isso, boa noite.
Ela se levanta, mas sou rápido o bastante para
segurar sua mão, e fazê-la sentar-se de novo, seus olhos
fixos nos meus.
— Qual beijo foi melhor? — Ela começa a protestar
com uma careta, mas a interrompo, falando ainda mais
alto. — Eu só quero saber se você se entregou a ele da
maneira como se entregou a mim.
Ela parece confusa, e magoada. E não quero mais
brigar, não sei porque levei a conversa para esse lado, eu
não preciso de uma resposta, se ela sentisse com um beijo
dele metade do que senti ao beijá-la, teria perdido a
virgindade essa noite. Só espero que ela ao menos pense
nisso. Que compare nós dois.
— Desculpe, Caitlin, deixa isso para lá, não quis
chateá-la. Por que não deita aqui comigo um pouco?
Ela demora um pouco a decidir, é nosso ritual sempre
que nos desentendemos. Quando ela precisa me pedir
desculpa, o que é uma coisa muito rara, ela sempre vem
aqui à noite e dormimos juntos. É algo inocente e
acolhedor.
Até agora.
Ela tira a pantufa e deita na cama, por cima da
coberta, faço questão de manter a luz do abajur acesa
porque quero vê-la. Quero ver seu rosto e seus lábios. Ver
a maneira como ela me olha. Ela deita a cabeça sobre seu
braço e me olha daquele jeito doce, seu olhar se focando
por um tempo maior no meu lábio, ela sorri e diz:
— Você ainda está beijável. Se não estiver sentindo
dor.
— Eu a beijei hoje, acha que estou sentindo dor?
Seu rosto cora e ela muda de assunto, falando sobre
como o clube estava cheio e como foi difícil passar pelas
pessoas para chegar ao ringue, e só quero perguntar se ela
sentiu algo diferente esta noite. Quero ouvir de sua boca
que o beijo foi pra valer. Mas não vou fazer isso, nunca
precisei de qualquer confirmação de que mexi com uma
mulher antes, e justo ela, minha melhor amiga, é a maldita
mulher que me faz ficar inseguro como um adolescente
cheio de espinhas. Tudo culpa de sua confissão
embriagada. Por que ela tinha que ter me revelado isso?
Por que eu tenho que dar tanta importância a isso? A cada
vinte pensamentos que tenho, pelo menos dez são sobre
sua virgindade e a maneira com que poderia perdê-la.
Cinco, sobre como impedir que ela a perca com o imbecil
Ryan. E os outros cinco, sobre o campeonato que está para
se iniciar e que vou perder feio se não estiver com a
cabeça no lugar.
— Está pensando na luta? — pergunta baixinho e me
dou conta de que a deixei falando sozinha.
Sorrio, e puxo seu cabelo tirando de trás da orelha,
deixando-o solto sobre seu rosto, ele descansa por sua
boca e o puxo novamente, alisando-o entre os dedos,
sentindo a maciez dos poucos fios, e o calor de seu hálito
em meus dedos enquanto ela reclama que eu pare de puxar
seu cabelo. Assinto respondendo sua pergunta, mas não
continuo o assunto, ela também não pergunta mais nada.
Apenas me observa, mas não consigo identificar nada na
maneira como me olha, é o mesmo olhar de todas as noites
calmas. E não era este o olhar que queria ver direcionado
a mim essa noite.
É a primeira vez desde que nos conhecemos que
ficamos tão quietos estando acordados e tão perto.
Sempre temos sobre o que falar, sempre temos algo para
provocar um ao outro e de repente parece que não somos
amigos. Somos apenas um homem muito ciente de uma
linda mulher ao seu lado. E uma linda mulher que quer
parecer alheia ao que está à sua volta.
Resolvo pegar a ponta daqueles fios que deixei em
seu rosto para voltá-los para atrás de sua orelha, e
percebo que as pontas descansam sobre seu seio, minha
blusa fica tão grande nela, que a gola deixa revelar um
pedaço grande de sua pele branca e arredondada. Pego os
fios e brinco com eles por ali, passeando-os pela pele
descoberta de seus seios, onde queria que meus dedos
estivessem brincando. Ela não diz nada num primeiro
momento, mas de repente contorna a cruz tatuada em meu
ombro com a ponta do dedo. Ela sempre faz isso, fiz essa
tatuagem por ela, é algo nosso. Só que essa é a primeira
vez que realmente sinto seu toque. Coloco os fios de
cabelo de volta atrás de sua orelha e seguro seu pulso,
tirando sua mão pequena do meu ombro, a levo até os
lábios e beijo de leve cada um dos seus dedos. Sua pele é
quente e o cheiro de sua mão, do hidratante que ela usa é
doce, como ela deve ser.
Qual será seu gosto?
Meu pau dá o primeiro sinal de vida e solto sua mão
abruptamente. Ela a deposita de volta embaixo do rosto,
sua testa franzida me avaliando.
— No que você está pensando? Nunca te vi tão
quieto, Colin. Acho que acabou de bater um recorde de
silêncio.
Estou pensando no quanto deve ser doce seu gozo,
minha pequena.
— Você não ia gostar de saber — é tudo o que digo.
— Você lutou diferente hoje. Parecia com raiva,
parecia o Stephen.
Essa comparação geralmente me faria fazer uma
careta e reclamar, mas sorrio, ela está descoberta e na
posição em que está, suas pernas estão à mostra, de forma
que posso ver suas coxas. E a curva que seu quadril faz
quando está assim, de lado, morrendo em sua cintura fina.
— Não vá se confundir e perder a virgindade
comigo.
Ela ri alto e muda de posição, deitando-se de barriga
para cima, seu braço encostando em meu peito nu e suas
coxas grossas ainda mais à vista para mim. Meu pau dá
outro sinal claro de que está totalmente ciente dela, e
embolo um pouco a coberta sobre essa região para que ela
não veja.
— Não acredito que ainda está pensando nisso. Acho
que você ficou impressionado, nunca tinha conhecido uma
virgem, não é?
Sinto que ela me perguntou algo, mas estou
momentaneamente perdido, perdido no volume de seus
seios na minha camisa, e no quanto posso ver deles agora
que estão apontados para cima.
— Eu deveria ter perdido logo a virgindade e então
você não teria que se preocupar tanto comigo como se eu
fosse uma criança que vai fazer besteira, e poderia se
concentrar mais no seu campeonato. Foi inteligente imitar
o Stephen de certa forma, ele ficou bem nervoso, acho que
terá que encontrar outra forma de lutar porque não quer
ser como você para os outros clubes. Ele disse algo
assim.
Estou prestando atenção no seu sutiã vermelho e no
contraste que tem em sua pele branca e pensando se usa
uma calcinha combinando, como será o contraste de uma
calcinha vermelha em sua boceta branca? Merda! Meu pau
está totalmente duro e a coberta não é mais suficiente para
escondê-lo, se ela olhar para baixo, vai notar que estou
excitado. Como posso esconder isso? Já que não posso
resolver como quero, dentro dela.
— Ele também disse que você é um bebê chorão, que
sempre te vence e o faz beijar seus pés e que você tem
fama de ser broxa no clube. — Olho seu rosto para ter
certeza de que não vai olhar para baixo e ela me encara
atentamente, me avaliando. — Mas tenho a impressão de
que você não está ouvindo nada do que estou dizendo,
porque sua cabeça está em outro lugar.
Ela ainda estava falando? O que foi que ela disse
mesmo?
— No que é que você está pensando, Colin?
Sorrio.
— Em como resolver um problema.
— Que proble...
Pulo sobre ela de repente e mordo seu lábio inferior,
bem devagar, apertando com o máximo de delicadeza que
consigo para não feri-la. Não quero machucá-la, e este
deve ser o maior teste de autocontrole que já fiz na vida.
Ela fica totalmente imóvel, seus olhos arregalados sem
saber como agir. Solto seu lábio devagar e passeio minha
língua por ele, bem de leve, só para acariciar onde acabei
de morder. Ela fecha os olhos e tudo o que quero é sugar
sua boca e entrar dentro dela, mas deposito um beijo leve
em seus lábios e me afasto.
Ela parece assustada e não é assim que vou fazer as
coisas em sua primeira vez.
— Foi a única maneira de calar sua boca, você fala
demais, Caitlin. Por que não dorme? Boa noite, baby.
Apago a luz do abajur e me viro de costas para ela,
para que não perceba minha ereção. Finjo dormir, mas a
vejo se virar desconfortável na cama, não sei se por estar
tão excitada quanto eu, ou por não estar mais à vontade em
uma cama comigo. A verdade é que as coisas entre a gente
nunca mais serão as mesmas. Só peço para que mudem
para melhor e que minhas bolas não fiquem roxas e
traumatizadas depois de uma ereção não saciada.
Quando acordo ela está dormindo encolhida o mais
próximo possível da parede. Alguém não queria encostar
em mim à noite. Puxo vagarosamente sua blusa, com medo
de acordá-la, apenas para tirar uma dúvida.
— Isso!
Vermelha. A calcinha dela é mesmo vermelha. Vou
para meu banho resolver a ereção matinal e salvar minhas
bolas enquanto penso nessa calcinha.

Caitlin falou comigo normalmente pela manhã, como


se nada tivesse acontecido. Levantou tarde como sempre
faz quando dormimos juntos, mas, como está de folga do
trabalho, toma vagarosamente seu café da manhã.
— Sua boca está roxa — zomba.
E quase o meu pau fica também.
Sorrio e aceno para não responder e ela abre um
enorme sorriso.
— Tenho uma teoria. Sempre que digo algo e você dá
esse sorrisinho falso ao invés de responder, quer dizer
que me respondeu mentalmente.
Rio alto, essa garota realmente me conhece.
— Está certa, baby. E se eu não respondo em voz alta
é porque você é inocente demais para ouvir a resposta.
Ela pisca seus olhos grandes de gata e engole em
seco.
— Não acredito que você se sentiria à vontade para
falar comigo como fala com suas acompanhantes diárias.
Me sentiria à vontade até mesmo para fazer com
você tudo o que faço com elas.
— Tem razão. Falarei com você como falo com uma
garotinha virgem.
— Você não conhece nenhuma outra virgem, se
conhecesse, saberia reagir a isso. Você lida tão bem com a
minha virgindade como eu lido com sua personalidade
devassa.
— Eu sou devasso? — pergunto provocando-a,
aproximando-me dela que se encolhe na cadeira. Mas
logo levanta a cabeça e me responde. É difícil intimidá-la.
— Você sabe a conta de com quantas mulheres já
transou?
— Provavelmente não. Mas se soubesse não diria
isso a uma garota virgem, posso traumatizar você.
— Acho que não — diz levantando-se e indo até a
pia para lavar sua xícara. — Se você precisa de outra
mulher para te satisfazer quer dizer que a anterior não o
fez. E amanhã vai precisar de outra porque a atual não vai
fazer, e assim vai seguir sua vida em busca de algo que
não encontrará em nenhuma delas.
— Está parecendo a doutora casamenteira falando,
você devia trocar seu curso na faculdade. Sua teoria é que
vou sossegar quando encontrar a púbis certa?
Ela atira o pano de prato em mim. Caitlin tem
dificuldades em falar palavrão. Embora sua mãe fale mais
palavrões do que palavras comuns, ela é o total oposto, e
até mesmo boceta, uma coisa tão natural que ela tem, não
consegue dizer, sempre se referindo a isso com a palavra
púbis. Aliás, qualquer palavrão que ela queira xingar o
substitui por púbis. Sempre achei engraçadinho, mas
agora que sei que ela é virgem, percebo que é pura
inocência.
— Não. Estou dizendo que vai sossegar quando
pegar uma DST e seu pau cair.
— Uau! Caitlin do mal ativada.
Ela sai rindo e fico me perguntando se não a
incomoda falar tão abertamente sobre o número de
mulheres com quem transei, será que isso não a irrita nem
um pouco?

— O Stephen está bem puto com você, cara. Acha


que fez aquilo na última luta para provocá-lo, como
chamar a garota dele para ser sua Sorte — Luke faz uma
careta ao dizer “garota dele”.
— Ela não é propriedade dele. E eu não fiz nada de
propósito. Estava desconcentrado e perdendo a luta, me
concentrei e tive que virar o jogo em pouco tempo, não
dava para ser técnico, precisei ser mortal. Se ele se sente
ameaçado por isso a culpa não é minha.
— Você arrasou ontem e ele não sabe como engolir
isso, essa é a verdade. Eu queria esclarecer uma coisa
com você, sobre a Caitlin, e aquele beijo de língua.
Aquilo não foi um beijo entre irmãos. Que merda você
está fazendo?
Solto o supino e encaro meu grande amigo, malhando
ao meu lado na academia do meu prédio. De jeito nenhum
posso dizer a ele que quero ser o primeiro da garota com
quem ele sempre sonhou.
— O quanto você gosta dela, Luke? Falando sério, é
um desejo porque ela é linda, é uma vontade de ficar com
ela, é seu coração ou seu pau que está tão apaixonado por
ela?
Espero seu riso fácil e uma provocação, mas ele fica
sério, claramente ofendido com a pergunta. Luke não é de
sair com muitas mulheres, mas sai com algumas, o que
quer dizer que o que sente pela Caitlin não é tão profundo
quanto ele pensa que é.
— Eu sou apaixonado por ela desde a primeira vez
que a vi e você sabe bem disso. Não penso nela com a
cabeça de baixo mais do que penso com a de cima. E nem
vou começar a pensar no porque está me perguntando isso
depois de fazer o que fez, porque certas coisas, cara, não
tem amizade que perdoe.
Ele se levanta e pega sua bolsa, abandonando o
treino e indo embora.
— É, se tudo der errado com você, Caitlin, vou
perder meus dois melhores amigos — constato para mim
mesmo.
Luke esbarra nela quando está saindo e a
cumprimenta, lançando-me um último olhar mortal antes
de bater a porta. Caitlin aproxima-se desconfiada e aponta
para a porta que milagrosamente não estilhaçou vidro para
todos os lados.
— Está tudo bem entre vocês?
Assinto e mudo logo de assunto. Não gosto de mentir
para ela e não poderia dizer o porquê de termos nos
estranhado.
— Resolveu fazer exercícios, senhora virgem?
Ela faz uma careta tão engraçada que começo a rir, a
tensão do momento com Luke se esvaindo um pouco.
— Este é o meu novo rótulo? Quer dizer que você
não enxerga mais minha inteligência, beleza e bom senso?
Agora só vê minha virgindade?
— Nada disso, vejo coisas até demais em você.
— Tipo o quê?
Merda! Nunca precisei segurar a língua com ela
antes.
— Tipo o quanto você fica gostosa com as minhas
camisetas.
Ela pisca atônita e gagueja, então corrijo antes que
fique um clima errado entre a gente.
— Uma menina gostosa. Isso não tira sua carinha de
garotinha.
Ela sorri sem graça, desviando seus olhos dos meus.
Parece que este será um novo costume agora, falar sem
olhar para mim.
— Eu poderia dizer que estava com saudade desses
seus apelidos, se gostasse deles.
— Como assim? Por que sentiria saudade de coisas
que digo todos os dias e que sei que no fundo você adora.
— Na verdade você não me chama por esses
apelidos há dias. Babygirl, preciosa, garotinha. Daqui a
pouco vai dizer que sou uma mulher e aí vou poder
atualizar meu status no face: finalmente uma mulher.
Eu não a estava chamando pelos apelidos? Do que a
estava chamando? Droga! Isso está saindo de controle.
— Caitlin, — chamo quando ela anda em direção a
um aparelho distante do que estou — por que quis fazer
isso agora? Por que com ele?
Ela olha para os lados para se certificar que estamos
sozinhos e dá de ombros.
— Porque ele é legal. Porque é lindo, sexy, forte...
Seu olhar parece perdido e ela cora levemente ao
falar dele. E tenho vontade de sacudi-la até que ela se dê
conta da asneira que está falando. Quer se entregar a um
cara só porque ele é forte? Acaso não sou forte o
suficiente para ela?
Vou em sua direção como um predador e a vejo dar
um passo vacilante para trás. Tiro minha camisa e me
aproximo.
— Por que ele? Não me acha bonito? Não sou sexy?
Ela gagueja e tenta se afastar, mas seguro seus
ombros, da maneira mais leve que consigo para não forçá-
la a ficar ali, apenas incentivá-la.
— Você é lindo Colin, e é sexy, sabe disso. Quer me
soltar agora?
— Então o que é? Não sou forte o bastante para
você? Acha que não sentiria tesão por mim, Caitlin?
Pego sua mão e a pressiono em meu peito, estou
suado dos exercícios e isso facilita para que sua mão
deslize por meu abdome e barriga. Ela toca cada gomo,
mesmo depois que deixo sua mão livre, continua sua
inspeção por meu corpo, seus olhos vidrados em cada
ponto que seus dedos tocam e posso ouvi-la arfar.
— Acha que não sou melhor do que ele? — pergunto
baixinho e aproximo minha boca da sua.
Não acredito que a primeira vez dela será na
academia do prédio, mas não importa o lugar, importa que
seja comigo. Mal toco meus lábios nos seus ela se afasta
em um pulo, sua respiração acelerada e seu rosto
totalmente tingido de vermelho. Dá um sorriso nervoso,
mas controlado, e diz:
— Pode até ser, mas eu não vou perder a minha
virgindade com você.
— Nem com ele. Porque isso não faria sentido se tem
tudo o que vê nele bem aqui. Não é mesmo, Caitlin Ross?
— Vou fingir que você não insinuou que eu deveria
transar com você e manter a nossa amizade. Acho que não
preciso de mais exercícios. Bom treino, Colin.
Ela sai quase fugida e sinto que fiz uma merda
enorme. Decido ir treinar no clube, usar minha raiva para
algo realmente útil.

O treino no clube rende muito melhor. Hoje não quis


lutar com ninguém, fiquei no meu canto com o saco de
pancada e consegui distrair a mente de qualquer coisa que
não seja o campeonato. Os caras estão combinando de
sair à noite para mostrar a cidade a alguns lutadores de
outros clubes, mas não tenho ânimo para ficar de
conversinha fiada hoje, quero dormir cedo, acordar cedo
e me concentrar no campeonato.
Duas mulheres sentam bem perto de onde estou,
isolado do resto do pessoal e conversam alto demais,
rindo e gesticulando exageradamente. Se queriam minha
atenção, elas conseguiram. Uma delas é loira e tem os
seios turbinados desde o mês passado, eu tinha ouvido
falar, mas ainda não a tinha reencontrado. Será que ela já
inaugurou os seios novos? Sorrio para cumprimentar
Amber e avalio sua amiga. A ruiva magrinha e pequena
também tem um belo par de seios, mas pelo formato sei
que não foram feitos numa clínica. Acho que já a vi aqui
antes, embora não a conheça. E posso contar nos dedos
quantas mulheres que frequentam o clube eu não conheço
intimamente.
Treino por mais meia hora, mais para me exibir para
elas do que para treinar. Thor bate em meu ombro
avisando que irá fechar o clube mais cedo esta noite,
então avalia as meninas me dando mole no banco mais
próximo.
— Achei que seu lance fosse sua amiguinha virgem.
— Até você está sabendo disso? — questiono com
uma careta.
— Você sabe que uma virgem por essas bandas é
como um bilhete premiado.
— Caitlin não pertence a esse mundo.
— Não pertencia, você quer dizer. — Ele olha
novamente as meninas dos pés à cabeça e diz, seu rosto
sério, mas sua voz num tom mais leve. — Mantenha o
foco, filho. Distrações você encontra em toda esquina,
mas você tem que saber priorizar o que realmente
importa.
— Não se preocupe, estou focado no campeonato,
nada vai me distrair disso.
— Eu não estava falando do campeonato. — Ele vira
as costas e se afasta e não entendo do que então ele estava
falando.
Tomo um banho rápido no vestiário e dou de cara
com as meninas me esperando ali dentro. Elas fingem
surpresa ao me verem sair do banheiro e aproveito para
vestir a roupa na frente delas. Quase posso ouvi-las
salivar.
— Achei que o banheiro feminino fosse do outro
lado, meninas. Estão perdidas?
— De jeito nenhum. Acabamos de encontrar o que
procurávamos — diz Amber aproximando-se e me
beijando.
Pego minha mochila e passo um braço em volta de
cada uma delas. Acho que preciso mesmo relaxar hoje,
relaxar e tirar certa calcinha vermelha da cabeça. Seduzir
a Caitlin não está me ajudando, na verdade tem feito o
efeito contrário, afastando-a de mim.
Passo com as garotas pelos caras reunidos bebendo
cerveja e rindo alto. Procuro Luke para resolver de uma
vez por todas essa história da Caitlin antes que perca meu
amigo, mas ele não está na turma. Ao me aproximar para
perguntar por ele, escuto um nome que me faz parar
imediatamente para ouvir a conversa: Caitlin.
— E a briga agora é pessoal, vamos ver se o Hanson
vai perder para o Ryan fora dos ringues também.
— Do que caralho vocês estão falando? —
Interrompo e Bryan, o palhaço que disse o nome da minha
menina se levanta na defensiva. As mãos estendidas como
que me pedindo calma.
— Relaxa, Hanson. Só estava comentando sobre as
novas apostas. Você sabe, a rixa entre você e o Ryan, dos
ringues para a vida real.
Patrick então se levanta e me explica, fala tão
pausadamente que acredito que teme que eu vá ficar
irritado e descontar nele.
— É o que estão dizendo, Colin, não fomos nós que
começamos.
— O que estão dizendo?
— Que a briga entre você e o Stephen agora é
pessoal. Agora é pela virgindade da sua amiguinha
engraçada.
— É isso o que estão dizendo?
Ouço um riso debochado atrás de mim e me seguro
para não socar a cara do imbecil Ryan, se for ele quem
está espalhando essas coisas sobre a Caitlin eu juro que
acabo com ele, mesmo que seja expulso do campeonato.
— Neste caso, nosso querido Hanson perdeu antes
mesmo de lutar, Caitlin está comigo, não com ele. E não
quero vocês falando dela.
Ele está me pedindo um dente a menos na boca ou
quem sabe uma nova tatuagem em volta dos olhos. Dou um
passo em sua direção, mas Luke entra na minha frente, me
impedindo.
— Não caia nessa, cara. O campeonato, você não
quer arranjar briga aqui dentro.
— Vocês, — aponto para o bando de idiotas sentados
com suas cervejas achando que têm o direito de falar o
nome dela — vocês não têm qualquer moral para falar
sequer o nome dela, Caitlin é uma garota incrível,
inteligente, doce e divertida, como alguns de vocês viram
naquela noite! Se ela é virgem ou deixa de ser, isso não é
da porra da conta de nenhum de vocês! E o próximo que
eu pegar falando sobre ela de novo, vai ficar sem as
merdas dos dentes. Não pensem que o campeonato vai me
parar porque sei exatamente onde cada um de vocês mora,
e vocês sabem do que sou capaz de fazer.
Nunca pensei que usaria o que fiz à minha madrasta
como uma ameaça. Mas deixo para refletir sobre isso
depois.
— E você, — aponto para o idiota que acha que vai
ser o primeiro dela, mas não presta nem mesmo para
defendê-la — devia ter vergonha de não ser o homem que
ela acha que você é, de ficar se gabando por aí por algo
que ainda nem conseguiu fazer e ao invés de se vangloriar
por estar com ela, deveria ensinar pra esses bostas que
ela não é como as mulheres vagabundas que eles estão
acostumados, e que não deveriam nem mesmo falar o
nome dela.
— Você não tem que me ensinar como defender a
minha garota, Hanson. Eu não sou você.
— Com certeza não, porque se estivesse comigo ela
jamais seria o assunto da rodinha de bebida deles.
— Mas ela não está.
— Merda, Colin, vamos embora. Você só está
confirmando para eles essa merda de rivalidade pessoal,
deixa isso pra lá — Luke intervém quase me arrastando.
Nem preciso olhar para saber que as meninas da
noite foram embora. Se não foram quando me viram
defender outra mulher, o fizeram quando usei a palavra
vagabunda. Palavra essa, que repudio ser usada para se
referir a qualquer mulher, só o fiz para deixar claro para
esses brutamontes idiotas a diferença entre elas e a
Caitlin.

Luke fica calado o caminho todo até meu


apartamento, mas quando vira o carro na minha rua, abre a
boca, como eu sabia que ele faria.
— Não vá cair nas armadilhas do Stephen à essa
altura, cara. Você sabe que ele só quer tirar você do
páreo.
Concordo com a cabeça.
— Estão mesmo falando isso? Que estamos brigando
pela virgindade dela?
— Eu não tinha escutado nada sobre isso ou teria
quebrado algumas caras. Você sabe, eu não preciso me
preocupar em ser desclassificado de nada.
— Precisa se preocupar em perder o emprego.
— Tanto faz. Manutenção não é algo que vou fazer
por muito tempo, além do que, o Dustin está me
descolando um desses lances de modelo dele.
Sorrio.
— Vai se exibir feito mulherzinha que nem o babaca
do Dustin?
— Ele nada na grana com esse trabalho de
mulherzinha. E pense pelo lado de que a minha cara linda
nunca terá um hematoma, como a sua. Sinceramente, me
pergunto como você será quando se aposentar das lutas.
Onde estarão seus olhos e nariz e quantos dentes ainda vai
ter na boca.
— Cara, eu ainda vou ser mais bonito do que você —
afirmo.
— Seu gay.
Rimos e me dou conta de que preciso mesmo
esclarecer as coisas, principalmente porque não quero
magoar mais ninguém com essa minha obsessão maluca.
— Você sabe que não há nada entre ela e eu.
Ele para o carro em frente ao meu prédio e mexe em
algo no celular. Está desviando o assunto porque não quer
encará-lo.
— Você acha que estou mentindo. Mas não estou —
garanto.
— Então está me dizendo que não está travando essa
guerra contra o Stephen fora do clube porque sente algo
pela Caitlin? Porque cara, é o que está parecendo.
— Eu jamais faria isso com você e independente
disso, ela é minha irmã. Estou apenas tentando protegê-la.
Há uma diferença enorme entre não permitir que ela
durma com ele e querer que ela durma comigo.
— Então, você, Colin Hanson, está dando sua
palavra de que não está interessado na Caitlin? Não sente
nada diferente por ela?
— Não, eu não sinto. A minha melhor amiga não vai
perder a virgindade com meu pior inimigo. Stephen pode
me vencer nos ringues, mas não vai vencer essa. Vou fazer
o que for preciso para impedir que ela cometa esse erro, e
isso pode parecer sentimental às vezes, mas é apenas isso.
Estou fazendo meu papel de amigo, nada mais.
Ele concorda com a cabeça e saio do carro mais leve
por termos esclarecido isso. Agora só falta enfiar tudo o
que disse na minha cabeça para que seja verdade. Ainda
bem que não é tarde demais.
No elevador me dou conta de duas coisas:
Uma – preciso fazer com que a Caitlin veja quem é o
verdadeiro Stephen Ryan e se afaste dele, mas não posso
seduzi-la no percurso. Por mais que o Luke não a ame de
verdade, ele ainda não percebeu isso, e não quero ser o
canalha que mente para o grande amigo.
Duas – merda! Eu consigo seduzir a Caitlin. Agora
que percebo a reação dela mais cedo, na academia, a
maneira como me tocou e ficou nervosa. Eu posso fazer
com que ela me deseje e se eu conseguir seduzi-la ao
ponto de fazê-la desejar apenas a mim, então ela não dará
passo nenhum com o Stephen.

O dia mal nasceu e já estou dentro de um ônibus.


Desço em frente ao prédio que odeio realmente ter que
entrar e me dirijo à recepcionista bonitinha que apesar de
achar que sou doido, me dá o maior mole. Ela entra no
consultório e volta pouco depois, dizendo que posso
entrar.
Encontro a doutora Katy com seus óculos de idosa na
metade do nariz e uma expressão amedrontada.
— O que houve, Colin? Por que está aqui?
Ela acha que fiz alguma coisa errada. E eu fiz.
— Não temos sessão hoje, você se confundiu?
— Não. Eu preciso de ajuda.
— O que aconteceu?
— Eu acabei de mentir para o meu melhor amigo. E
fiz isso para poder seduzir e desvirginar minha melhor
amiga. Preciso que a senhora me interne.
CAPÍTULO SETE
— Então, você pode olhar bem dentro de você e
dizer com absoluta certeza que não sente nada especial
pela Caitlin? — A doutora me pergunta pela décima vez.
— Eu não sinto. A amo como a uma irmã, só estou
confuso porque demorei a perceber que ela não é mais
uma menina, acho que fiquei em choque ao me dar conta
da linda mulher que ela é. Acredite doutora, eu não sou
apto a esse tipo de sentimento. Só estou agindo como ajo
sempre que vejo uma mulher bonita. Quero levá-la para a
cama.
Ela se levanta e serve-se de uma dose de whisky, mas
não a divide comigo, nem mesmo diante do meu olhar de
súplica por um pouco de álcool.
— Você não é uma má pessoa, Colin. Pincipalmente
quando se trata da Caitlin. Estou me perguntando se em
nenhum momento você parou para pensar no que estará
causando a ela. Você não pensou que suas atitudes podem
ter consequências?
Do que ela está falando? Filhos? Porque eu sei usar
camisinha.
— Não estou dizendo que estou agindo de maneira
correta, por isso quero que a senhora me interne, que me
afaste dela de algum jeito. Mas se eu não precisasse
seduzi-la, se ela apenas me escolhesse para ser o seu
primeiro então eu o faria, sem qualquer culpa, porque eu
sei que faria dessa a melhor experiência da vida dela.
Não querendo me gabar.
— Ah, não se preocupe, seus dotes no sexo não me
impressionam.
Ela se senta pesadamente e fecha o caderninho.
Estranhamente, hoje não anotou quase nada e tenho certeza
de que rabiscou o pouco que anotou. Sua expressão
parece cansada, mesmo sendo seu primeiro horário na
manhã.
Duas batidas leves na porta a fazem voltar a si, e a
linda recepcionista entra dizendo que seu primeiro
paciente já chegou.
— Preciso que você vá, Colin. Só quero que pense
em uma coisa, e não vou dizer isso como sua psicóloga,
mas como uma mulher mais velha que sabe bem do que
está falando.
Sinto que lá vem um belo tapa na cara, e estou mais
do que disposto a recebê-lo.
— Se ela te pedisse para tirar sua virgindade e você
aceitasse, como acha que seria para ela depois? Não
quero que pense na melhor experiência da vida dela, mas
no depois dessa experiência. Você acha que ela voltaria a
ser a sua melhor amiga no dia seguinte e aceitaria te ver
com outra mulher na mesma noite? Acha que ela não iria
esperar que você a visse com outros olhos e que não
precisasse mais de uma outra mulher?
O papinho da Caitlin de que vou seguir com mulheres
diferentes porque não encontro a certa me vem à mente,
mas sei que se tem uma coisa que ela não é, é iludida. Ela
é a pessoa mais pé no chão que conheço.
— Acho que eu poderia deixar isso claro para ela
antes de darmos qualquer passo, não a estaria enganando.
— Sério? Você acha que ela guardou a virgindade até
conhecer alguém especial por quê? Para transar com ele e
ser solteira na manhã seguinte sem se preocupar se ele
está comendo outra enquanto ela lava os lençóis da cama?
Não se engane, nem mesmo você pode ser tão paspalho.
Ela está se guardando para aquele cara que vai ficar com
ela, se ela quisesse um devasso, já teria se entregado a
você há muito tempo, você não acha?
— Está dizendo que se eu transar com ela, ela vai
esperar um buquê de flores na manhã seguinte?
— Ah não, de jeito nenhum! — Quase respiro
aliviado, mas ela termina de enfiar a faca. — Ela deve
saber que você não é do tipo que manda flores, mas com
certeza esperará um compromisso. Você estará pronto
caso ela queira isso?
Não. Não estarei. Eu não sou desses caras, nunca
serei. Fui moldado para acreditar em outras coisas.
— Se você nem sabe a resposta, ponha a cabeça no
lugar, guarde seu pênis dentro da calça e não vá fazer nada
que vá te tirar a única família que você tem. O que você
mais me diz aqui é que não saberia viver sem ela, acha
mesmo que uma noite de sexo vale em troca de perdê-la?
— Não, não vale. A senhora está coberta de razão.
Eu não vou fazer isso. Não vou nem tentar seduzir a
Caitlin.
— Não estou levando muita fé nisso. — Ela se
levanta e vai em direção a porta, um convite educado para
que eu me retire. — Ela ainda estará lá quando você
voltar, a mesma mulher doce e linda, com o mesmo corpo
com que você tem sonhado e o mesmo inimigo pendurado
no braço.
Levanto-me e a sigo.
— Eu não vou. A senhora pode apostar comigo se
quiser.
— Isso vai ser divertido, vou querer de você uma
hora inteira como seu diário humano, e você não vai
poder me esconder nada.
— Não conte com isso. Mas prepare-se para me dar
aquela garrafa doze anos que por nada no mundo você
toca. — Aponto a garrafa e ela faz uma careta, mas logo
seu rosto se suaviza e ela me estende a mão fechando um
acordo.
— Meu doze anos, seu olho grande! Ainda bem que
não há a menor chance de você ganhar.
Nós veremos, doutora casamenteira. Nós veremos.

Caitlin, para variar, está com a cara quase enfiada na


tela do notebook, com seus óculos de professorinha e seu
charmoso nó no cabelo. Passo por ela e o desfaço com um
tapa, o que sempre a irrita. Ela apenas resmunga algo e
não tira os olhos da tela. Eu só preciso olhar para ela e
ver a minha melhor amiga de novo. Mesmo que não seja a
menininha que conheci, que seja minha linda e adulta
amiga, mas apenas amiga. Intocável. Inalcançável.
Totalmente proibida para mim.
Ela para um momento e tenta identificar o que tem em
meu copo, ao fazê-lo, levanta-se e o toma da minha mão,
terminando de beber meu suco.
— Acabou de estudar?
— Não. Só preciso comer algo porque não poderei
fazer a prova se estiver morta.
Ela mexe na geladeira e pega os ingredientes para um
sanduiche. Sem que eu diga nada começa a montar dois,
sei que um deles é para mim.
— Cait, preciso de pedir uma coisa, vai parecer
estranho, mas é para o seu bem.
Ela me olha desconfiada e levanta o pão do meu
sanduiche.
— Estou fazendo sua comida, não me irrite, Colin.
— Não tem a ver com seu cabaço.
— Que horror! Saudade do tempo em que você fingia
que tinha algo de decente e não falava comigo desse jeito.
— Não está, não. Você estava louca para me
conhecer de verdade. Sem segredos, lembra?
— Diga logo o que você quer antes que eu te entregue
seu lanche porque aí não terei mais nada para usar contra
você.
Sento-me de frente para ela e observo bem seus olhos
de amêndoa.
— Quero pedir que você não volte mais ao clube.
Ela me observa em silêncio e senta-se, deixando os
sanduiches de lado.
— Por que isso agora?
— Porque você é o que tenho de mais precioso. E
está saindo com meu maior inimigo. Andam comentando
muito sobre isso no clube, e não quero que nada disso
chegue até você e te machuque.
Ela abre aquele sorriso doce e sinto vontade de
beijá-la, só um pouco, só para matar esse sorriso com
minha boca. Pega minha mão sobre a mesa e a acaricia, do
jeitinho carinhoso dela.
— Obrigada, Colin, por sempre me proteger. Você é
o melhor amigo que eu poderia ter. Eu imaginei que esse
tipo de coisa estivesse acontecendo, principalmente
depois que revelei ser virgem para metade daqueles
caras. Isso não me atinge. Eu não me importaria de
prometer isso a você, mas não posso. Estou com o
Stephen, lá é quase o segundo lar dele, não posso
prometer que não pisarei mais lá, entende?
Tiro minha mão grande de sua pequenina e seguro
suas duas entre as minhas.
— Então quero te pedir outra coisa, sinta-se à
vontade para dizer não. Se você vai voltar ao clube, então
eu quero que seja minha Sorte durante o campeonato.
Ela arqueia as sobrancelhas com uma expressão
desconfiada que me faz rir.
— Você não está fazendo isso só para ficar me
beijando e provocando o Stephen cada vez que vencer,
não é?
— Juro que não! Eu nem a beijo se você não se sentir
confortável com isso. Só quero você ao meu lado, já que
vai fazer parte desse mundo de qualquer jeito, quero me
certificar que continue sendo team Colin, e quero que me
dê sorte no caminho.
— Tudo bem. Eu vou ser a sua Sorte. Mas mesmo
que eu não fosse, ainda assim estaria torcendo por você, e
por mais ninguém.
— Você é uma mulher linda, Caitlin. Linda,
inteligente e divertida. Todos aqueles caras já sacaram
isso, esse é meu jeito de proteger você deles. Porque o
imbecil não vai fazer isso. Ele não é bom com essas
coisas de proteção.
Ela parece atônita e não faço ideia do que falei de
errado. Depois de um tempo me olhando como se eu fosse
um ET ela volta a si e se afasta de mim, pegando os
sanduiches. Me estende um e volta para a frente do seu
notebook, não me diz nada, mas sei que alguma coisa que
eu falei atingiu algo nela. Só não consigo imaginar o quê.

Ela sai do banho cantarolando e vai direto para seu


quarto. Com certeza vai sair com ele. Ok, vamos ser
claros aqui, uma coisa é que eu tenha aceitado que não
posso ser o primeiro dela, mas outra muito diferente é
aceitar que ele seja. Isso não vai acontecer. Ele sequer a
defende de boatos maldosos, não serve para cuidar dela.
E se ele for um Colin na vida dela? Se fizer com ela o que
já fiz tantas vezes, inclusive com a irmã dele? Transar
com ela e sumir na semana seguinte, para depois ela vê-lo
com outra, e isso vai acabar com ela. Não posso permitir
que ela corra esse risco.
É para o bem dela, não tem a ver com ele ser meu
maior oponente, mas com ele ser o Stephen, o cara que
fica se gabando por ter sido escolhido para tirar a
virgindade dela. Caitlin merece mais do que isso.
— Colin, você pode me ajudar? — ela grita do
quarto e vou depressa ver o que aconteceu.
Eu não estava psicologicamente e menos ainda
fisicamente preparado para o que encontro ao abrir a
porta. Ela está apenas de calcinha e sutiã. Desvio meu
olhar o mais rápido que posso, não sem antes dar uma
bela conferida na lingerie vinho, que ficou perfeita em sua
pele. Esse sutiã abraçou os seios dela tão bem! Merda!
— O que você acha? — pergunta animada.
— Do quê? — Ainda olho para o chão me
esforçando ao máximo para não olhar para ela. Não sei se
conseguirei me segurar se olhar para ela seminua de novo.
— Da lingerie, Colin. Eu sou nova nessas coisas.
Não quero que ele me veja como uma menina, Mackenzie
me ajudou a escolher esta, o que você acha? Ficou boa em
mim?
— Ficou ótima!
Mais perfeita só se me deixar tirá-la com a boca.
— Eu preciso que você me olhe para saber se está ou
não sexy, como pode saber isso olhando para o chão?
Acredite, decorei para sempre essa lingerie em
você.
Olho para ela incrédulo com sua atitude. Ela sorri
docemente e dá uma voltinha, passa a mão pela lateral do
corpo quando para e me olha em expectativa. Ela não
precisava ter dado essa voltinha, eu não precisava da
imagem de sua bunda na cabeça, meu pau está totalmente
alerta e preciso sair desse quarto agora mesmo.
— Então? Está sexy o suficiente...
— Muito! Você está deliciosa. Eu poderia... — vou
em sua direção e ela não se afasta, seus olhos fixos nos
meus.
Não é possível que ela confie tanto que eu não vou
agarrá-la agora mesmo e rasgar essa maldita lingerie
vinho com os dentes.
— Você poderia... — ela ainda me provoca.
— A inocência é uma arma muito perigosa, Caitlin.
— O quê?
A puxo de uma vez de encontro ao meu corpo tempo
o suficiente para sentir o calor de sua pele, a maciez de
sua cintura e o volume dos seus seios pressionando minha
blusa. Então a solto ainda mais rápido, antes que ela sinta
a minha ereção pressionando a barriga dela e nunca mais
me chame para aprovar suas lingeries novas porque
pareço um adolescente incapaz de me controlar perto
dela. Saio correndo do quarto direto para o banheiro.
Tranco a porta e ligo o som bem alto.
— Que ela não tenha comprado mais de uma lingerie,
meu Deus!

Quando saio do banheiro ela está sentada na sala, usa


um vestido curto, mas decente, mas só consigo ver suas
curvas angelicais quando olho para ele. Por que tinha que
ser tão colado ao seu corpo?
— Ei, tudo bem? — pergunta receosa aproximando-
se de mim. — Me desculpe por aquela coisa no quarto. Eu
não queria te colocar em uma situação ruim.
Não foi ruim, princesa. Foi boa até demais.
— O que você queria, Caitlin? Saber se um homem
pode vê-la em roupas íntimas e não ficar excitado?
Ela cora violentamente e gagueja. Quando volta a
olhar para mim, tem aquele olhar doce de quem está
tentando me entender.
— Eu queria confirmar algo que você me disse mais
cedo. Você disse que sou uma mulher linda, inteligente e
divertida.
— Porque você é.
— Você não percebeu? Você se referiu a mim com a
palavra mulher ao invés de menina. Achei que pudesse ter
sido sem querer, por isso quis tirar a prova se você
realmente me enxerga como uma mulher.
O quanto será que estou fodido?
— A minha ereção foi resposta suficiente para você?
— pergunto quase como um rosando.
— Eu não percebi... eu não vi... — ela fica
desconcertada, mas logo se recompõe. — A sua reação
foi. Você sair correndo, então, foi hilário — diz dando
ênfase à palavra reação ao invés de ereção.
Mas já que ela não está assustada por saber que me
deixou duro, não vai ficar assustada se souber de mais
coisas que faz comigo, não é?
— Pois é, eu a vejo como uma mulher e a mais linda
delas. Graças a você agora tenho consciência do quanto
seus seios são grandes e sua bunda é perfeitamente
moldada. Eu quase posso imaginá-la nua. Parece que você
cresceu de uma hora para outra.
— Eu acho que você andou com os olhos fechados
tempo demais — diz bem baixinho, mas sou capaz de
escutar perfeitamente o que disse.
Sem graça, ela praticamente abraça a si mesma, como
uma menina, e não entendo o que quis dizer. Mas não
tenho tempo de perguntar, o som da campainha a faz pegar
a bolsa em um salto, então ela sorri para mim e toca meu
rosto gentilmente antes de sair.
— Até mais tarde, Colin.
Stephen quase deixa escorrer sua baba ao reparar
cada centímetro do corpo dela, e não acredito que vou
ficar para sempre com a imagem de um anjo moreno
seminu, enquanto esse idiota o terá por essa noite.
Parece que tem algo errado no mundo, algo com
certeza está muito errado nesse apartamento.

O vento frio perto do lago me faz pensar onde será


que o idiota levou a Caitlin. Não a vi pegar um casaco, se
estiverem perto de água, ela deve estar com frio. Será que
ele vai se dar conta que deve dar seu casaco a ela? Claro
que vai! Ela não estaria tão na dele se ele não fosse um
perfeito cavalheiro, pelo menos na frente dela.
Lembrar a linda lingerie que ela está usando me faz
sentir raiva. Do que adiantou meu autocontrole e a
comprovação de que a vejo como uma mulher, uma
deliciosa mulher, se no final da noite tudo aquilo foi para
ele? Por que será que de certa forma ele sempre me
vence? Não que eu ache que ela vai dar esse passo com
ele esta noite, ela não estava nervosa e nem mesmo
ansiosa antes de sair com ele, e ela estaria se estivesse
pretendendo perder a virgindade, não estaria?
“Colin, meu querido, você vai perceber que minha
filha cresceu quando for tarde demais! ”
As palavras que Lorna disse uma vez me voltam à
mente. Acho que ela me jogou uma praga.

Paro no meio da Bow Bridge[3] e observo o calmo


The Lake, deixando que o frio trazido pelo lago me
acalme um pouco. Nessas noites raras, em que parece que
algo no mundo não está certo para mim, costumo receber a
visita de fantasmas.
Começo a pensar no campeonato, no meu
treinamento, em como seria justo se eu finalmente
derrotasse o imbecil e o fizesse no campeonato. Penso em
muita coisa ao mesmo tempo na tentativa desesperada de
afastar os fantasmas. Apesar do meu passado, e do que fiz,
eu não sou um cara desses que culpa as tragédias e má
sorte da vida por seus erros. Não acho que tenho uma vida
ruim, sei que ela deveria ser bem diferente se as coisas
tivessem seguido seu curso natural, mas não posso
reclamar de como vivo e do que tenho.
Por isso odeio esses dias em que permito que esses
fantasmas tragam esse passado de volta. De repente, não
estou mais no Central Park, estou em Madison, posso ver
meu pai sentado na sala lendo um jornal, enquanto no
andar de cima, Hannah Thompson, sua nova esposa jovem
e linda está desviando todo o dinheiro deixado pela
mamãe para uma conta própria.
Como em um flash a vejo entrando pela primeira vez
na minha vida, a nova amiga da mamãe, a garota que meu
pai chama de louca, que ele diz que está induzindo mamãe
a agir como uma adolescente sem juízo. Lembro como
mamãe se sentiu tão mais jovem ao começar a sair com
ela! As lembranças boas são poucas, logo me lembro da
polícia na porta da minha casa, de segurar a mão da
Caitlin e arrastá-la comigo para dentro, eu já sabia o que
ia ver. De alguma forma, eu sabia.
Disseram que foi um assalto, Hannah estava lá e viu
tudo, mas ela não estava ferida, enquanto minha mãe,
estava morta. A casa não foi arrombada. Eu sempre soube
que essa maldita havia aberto a porta para os ladrões, mas
ninguém nunca acreditou em mim. Menos de um ano
depois da morte da mamãe, Hannah se mudou para minha
casa, a nova esposa do meu pai. Alguma coisa nela nunca
me convenceu, era como se eu olhasse a linda mulher
loira e sorridente que todos viam e enxergasse a morte,
com sua face assustadora prestes a destruir meu lar.
Seguro firme as lágrimas que insistem em rolar ao
pensar no destino do meu pai, no que eu não fui capaz de
fazer para ajudá-lo. E então eu vejo o fogo, a casa toda
queimando, eu não sabia que ela estava lá dentro quando o
iniciei. Eu tinha certeza que ela havia saído, eu a tinha
visto, junto com a Caitlin, quando entrou no carro de seu
amante e saiu. Caitlin me pediu para não fazer aquilo, mas
se era pelo dinheiro que meu pai estava pagando tão caro,
eu queria dar um fim a ele. Eu planejei tudo tão
meticulosamente, mesmo para uma mente de um garoto de
quinze anos, eu sabia exatamente o que estava fazendo até
que ouvi seu grito. A maldita morte estava lá dentro.
Quase me tornei um assassino. Mas fui tratado por
todos a partir daquele momento, como um.

Já nem sei que horas são quando volto para a casa.


Mantenho a cabeça baixa ao perceber que Caitlin está ali,
verifico se Stephen está com ela, mas como ela usa apenas
um blusão meu, sei que ele não está. Ela diz algo
sorridente e espera uma reposta, mas eu não consigo ouvi-
la. Não até que a compreensão tome seu rosto e ela corre
até mim. Segura meu rosto em suas mãos pequenas, seus
olhos já cheios de água por mim. Posso ler em seus lábios
que ela me pede para escutá-la. E eu escuto.
— Ei, onde você estava? Essa casa é um tédio sem
você.
Tento me focar em seus olhos grandes de gata e em
seu sorriso doce.
— Se isso pode te animar pelo menos um pouco, eu
não perdi minha virgindade hoje.
— É, isso me anima um pouco — consigo responder
e ela sorri em meio as lágrimas.
— Nem estou surpresa. Vem aqui, deite-se aqui
comigo.
Deixo que ela me leve até o sofá e caio pesadamente
ao seu lado. Logo, meu rosto está em seus braços e a puxo
para meu colo.
— Esta é uma daquelas noites em que os malditos
fantasmas estão enchendo você? — pergunta docemente
enquanto acaricia meu cabelo, como se eu fosse um
garotinho assustado com medo de assombração. E
curiosamente, este sou eu.
Assinto apertando-a ainda mais junto a mim.
— Sabe o que me animaria? — consigo falar lutando
para segurar as lágrimas.
— O quê? Faço qualquer coisa que você pedir.
— Se você disser um palavrão.
Sinto seu sorriso aliviado.
— Ok, eu posso tentar por você, mas não se
acostume.
Ela respira fundo, acho que procurando algo que
possa falar, então solta:
— Púbis! Desculpe, estou nervosa. Merda! Merda é
um palavrão. Eu disse merda.
Sorrio e deixo que a porteira se abra, ela se prende a
mim chorando comigo.
— Não foi culpa sua, Colin. Você não fez nada
demais, era só um menino fazendo justiça, a culpa não foi
sua.
— O- obr- obriga... — tento agradecer, mas nada sai
em meio às lagrimas que me tomam.
— Eu sei quem você é de verdade, eu conheço a
pessoa maravilhosa que você realmente é. E eu sempre
vou estar aqui com você, sempre. Eu amo você, Colin,
você nunca vai estar sozinho.
Suas palavras me confortam, e deixo que ela divida
comigo essa dor para que passe mais rápido. Acabamos
dormindo embolados no sofá, acabados como sempre
ficamos quando esses malditos fantasmas aparecem e dão
uma tremenda surra em nós dois.
CAPÍTULO OITO
O cheiro de bacon me desperta aos poucos e o
barulho do meu estômago me diz que estou faminto. Avisto
Caitlin rebolando pela cozinha com fones no ouvido
enquanto cozinha algo que definitivamente está dando
errado, pelo mais novo cheiro que toma o apartamento:
queimado.
Desligo a frigideira com o bacon e ela faz uma careta
engraçada ao ver que queimou.
— Justo os bacons?
— Eu já te disse, Cait, queime a cozinha se for
preciso, mas nunca queime o bacon — repreendo-a.
— Eu só queria deixar daquele jeito torrado nas
bordas e macio no meio, como você faz. — Ela faz um
biquinho tentador e desvio meu olhar de sua boca para
salvar nosso almoço, ou jantar, não sei que horas são se
ela está em casa.
— Não foi trabalhar hoje?
— Fui e voltei. Eu tinha hora na casa e o movimento
estava fraco, então o Adam me liberou. Aí resolvi fazer
nosso almoço já que você parecia que não ia acordar
nunca.
— Não deu muito certo — brinco jogando o bacon
queimado na lixeira.
— Querido, a cozinha é toda sua!
Ela tira o chapéu de chef que havia colocado e o
avental e dá a volta na bancada sentando-se de frente para
mim. Pega uns picles e fica me observando de um jeito
estranho enquanto mastiga.
— Algum problema, Cait? — pergunto enquanto
preparo algo decente que possamos comer. Em defesa
dela, o bolo de carne está realmente bom.
— Não. Você está bem hoje, certo? Sem fantasmas.
— Sem fantasmas.
— Hum.... Você sabe que é meu melhor amigo, não
sabe Colin?
Assinto e analiso sua expressão amedrontada, como
se tivesse aprontado algo. Estico a mão para pegar o
molho e esbarro na mão dela, algo como um choque corre
por toda extensão da minha mão, e ela sente o mesmo,
pois sorri e leva o dedo à boca.
— Você sabe que eu faria qualquer coisa para
acalmar você, não é? Você também faria por mim. Nessas
horas a gente fala o que é preciso para que o outro fique
bem — continua tentando explicar algo que ainda não faço
ideia do que seja.
— O que está havendo, Caitlin?
— Nada. Só queria deixar isso bem claro.
— Ok. Mas não me lembro de alguma vez em que
tenha me ajudado com algo e tenha dito uma mentira para
me acalmar — tento me lembrar de suas palavras na noite
anterior, mas ela disse o que diz sempre, o que sei que é
verdade porque a conheço bem. — A não ser que seja
mentira aquele papo de estar sempre aqui por mim.
— Um dia vou me cansar de você — ela brinca e tiro
um picles de sua mão, comendo-o todo de uma vez.
— O que foi? — Paro de cozinhar e a encaro,
querendo saber logo do que ela está falando.
— O que foi o quê?
— Que mentira disse ontem para me ver bem? Não
me lembro de nada.
— Porque eu não disse nenhuma. Você não se lembra
exatamente do que eu falei ontem, não é? — Ao ver meu
esforço para recordar, parece se desesperar. — Não
precisa ficar tentando se lembrar. Vamos terminar logo
com isso, não comi na lanchonete e estou para desmaiar
de fome.
Ela se levanta e passa atrás de mim para pegar os
pratos, eu me viro na mesma hora e batemos de frente. A
seguro antes que ela se desequilibre e ela ri. Não é como
se nunca tivéssemos nos encostado antes, ou nos
esbarrado nessa cozinha tão pequena, mas há algo
diferente. Cada vez que a toco, levo um pequeno choque,
mas não é algo que me incomoda, é algo curioso.
Enquanto ela monta a mesa, finjo que vou ajudá-la e
esbarro novamente nela, só para tirar a prova. E ali está, o
mesmo choque, não importa em que parte de seu corpo eu
encoste.
Me sinto meio bobo e até mesmo infantil, mas passo
todo nosso almoço encontrando desculpas para tocá-la. E
não entendo como algo tão bobo pode parecer de repente
tão gostoso!

— Você lava as vasilhas, enquanto eu assisto séries


— ela diz escapando da tarefa.
— Não é justo, eu fiz a comida.
— Eu fiz a comida! Você só fez o bacon, e
incrementou o que já estava pronto, não conta. Além do
mais, eu trabalhei hoje enquanto você, bebê chorão,
estava desmaiado no sofá. E olha que servi mesas com um
braço só porque sua cabeça grande deixou dormente meu
outro braço pela manhã toda. Tenho crédito.
— Engraçadinha.
— Você me ama, chorão.
Ela me lança um beijo no ar e entra para seu quarto e
só quando processo suas palavras é que me dou conta do
que ela estava falando com aquele papo estranho de
mentir para me fazer sentir melhor. Ela disse uma coisa
que não costuma dizer quando estamos juntos, aliás, ela
nunca me disse algo do tipo. Ela disse que me ama.

Passamos uma tarde deliciosa e agradável, tranquila


como eu me lembrava, embolados na cama dela,
assistindo séries bobas. Achei que sentia falta de ter a
vida como era antes, em que podíamos nos embolar como
se fôssemos um ser só, e isso não era nada demais. Mas
dessa vez, foi algo demais, e foi melhor do que eu poderia
ter imaginado. Cada toque sem perceber dela, cada risada
alta demais, cada vez que ela se apertava a mim por
medo, tudo o que ela sempre fez quando assistíamos algo
juntos, mas dessa vez, eu vi tudo, senti tudo, desejei tudo.
Eu nunca estive com uma mulher assim, de deitar em uma
cama para trocar uma ideia e assistir algo. Cama e mulher
comigo sempre termina em sexo. E com a Caitlin sempre
era um lance fraternal. Agora sei como é ter uma linda
mulher ao seu lado numa cama, e ficar pensando em mil
maneiras de comê-la naquele momento, mas não fazer
realmente isso porque esse climinha bobo de fazer coisas
inocentes até que é bom.
Eu deveria ligar para a doutora casamenteira e dizer
que sou mais forte do que ela imaginava e que pode ir se
despedindo de seu doze anos, se eu não tentei nem mesmo
beijá-la após tantos toques em uma cama, sou totalmente
capaz de resistir a ela.
Me sinto um garoto bobo, orgulhoso de si mesmo,
mas isso dura poucos minutos, pois, ainda estou largado
na cama da Caitlin enquanto ela se arruma no banheiro, e
seu celular está no meu pé quando vibra e acende. É uma
mensagem do Stephen:

“Princesa, infelizmente não poderei buscá-la, vc


poderia chamar um táxi e me encontrar na porta do
Craft? Eu pago o táxi lá. Talvez poderíamos pegar um
cineminha depois, o que acha? ”
O que eu acho? Que ele está tentando comprá-la,
pagando seu táxi e levando-a a um restaurante caro.
Poderia levá-la a um mais caro então, não está fazendo
seu esforço máximo por ela. Tudo bem, talvez ele só
esteja sendo cavalheiro, mas não acho certo que depois da
noite de ontem, onde ela foi mais uma vez meu porto
seguro, e da tarde tão deliciosa que passamos juntos, ela
vá terminar a noite jantando e assistindo um filminho com
esse babaca.
O que estou dizendo? Não cabe a mim decidir. Solto
seu celular e me levanto para sair do quarto, mas algo me
faz voltar atrás e pegá-lo de novo. Stephen imbecil Ryan
está esperando uma resposta, qual poderia ser ela?
Ouço um barulho vindo do banheiro seguido de um
gritinho da Caitlin, largo o celular e corro.
— Cait, está tudo bem aí? Você caiu no banheiro de
novo?
Ela põe apenas a cabeça para fora do banheiro com
uma careta de dor.
— Minha bunda com certeza está roxa.
— Posso examiná-la para você. Nem te cobraria a
consulta — provoco.
— Obrigada, doutor. Mas eu não brinco mais dessas
coisas com você — diz batendo a porta.
— Que pena! Justo quando você estava começando a
ficar divertida!
Ouço sua risada gostosa e não posso permitir que
todo meu trabalho para deixá-la de tão bom humor vá
servir para benefício de outro. Pego novamente seu
celular e penso no que poderia responder. Mas a porta do
seu quarto se abre de repente e ela aparece, enrolada em
uma toalha, mas com uma maquiagem leve no rosto. Está
linda!
— O que está fazendo com meu celular, Colin?
Não há acusação na sua voz, apenas um leve medo.
— Ia levar para você, seu amiguinho te mandou
mensagem.
Me dói mais do que poderia prever entregar o celular
a ela. Ela sorri como uma garotinha ao ler a mensagem e
digita rapidamente uma resposta. Joga o celular na cama e
pega uma calça que seu sei que vai ficar colada demais
nela, uma blusa de manga e volta para o banheiro. Nada
de se trocar na minha frente hoje. Não quero mais essa
Caitlin recatada, gosto daquela que fica me testando para
saber se a enxergo como mulher.
— Ei, pode trocar de roupa aqui, acho que estou em
dúvida se você é mesmo uma mulher feita ou apenas uma
menina.
Ela ri alto e grita antes de bater a porta do banheiro:
— Que pena, querido, mas não é você que quero
impressionar essa noite.
O caralho que ela vai impressionar outro essa noite.
Pego seu celular e vejo sua mensagem em resposta:

“Parece perfeito, te vejo lá. ”

Então rapidamente digito outra resposta:

“Querido, infelizmente não poderei ir. O Colin não


está bem e não posso deixá-lo sozinho. Não venha aqui
hoje, não quero que ele fique ainda pior. Podemos nos
ver amanhã? ”

Não consigo imaginar como ela o chama, se tem


algum apelido, então resolvo colocar querido, algo que
qualquer pessoa poderia chamar por qualquer pessoa.

“Sempre ele. Mas o que posso fazer? Vou sentir


sua falta, princesa. Nos vemos amanhã e qualquer coisa
me liga. Boa noite. ”

Apago rapidamente as duas últimas mensagens e


deixo o celular dela sobre a cama.
Ela se despede de mim e sai contente após chamar
um táxi, e reviro minha carteira em busca de dinheiro. Se
ele pode levá-la a um lugar legal, eu também posso. Tenho
mais do que suficiente para pagar um belo jantar no Craft
para ela e levá-la ao cinema que fica quase ao lado.
Espero por meia hora para dar tempo de ela perceber que
levou um bolo. Rezo para que ele tenha sido previsível
esta noite, e após ser dispensado por ela, tenha ido treinar
de forma que não vai ver o celular caso ela ligue.
Então decido tentar a sorte e pego minha moto, que
voltou do conserto, para ir buscá-la. Levo um capacete
reserva porque me sinto esperançoso essa noite.
E lá está ela. Sentada sozinha no Craft, remexendo os
dedos das mãos nervosa. Penso em entrar, mas seria muito
óbvio, será melhor se ela me vir na rua. Que se foda! Vai
ser muito óbvio de qualquer jeito! Me preparo para entrar
quando ela chama o garçom e se levanta. Dou meia volta e
fico na sombra. A vejo sair do restaurante, olhar de um
lado ao outro e pegar o celular. Antes que ela possa ligar
para ele, esbarro nela, fingindo surpresa ao vê-la.
— Colin, o que faz aqui?
— Caitlin? Que coincidência! — Será que estou
exagerando demais? — Eu estava indo ao cinema.
— Legal! E que filme ia ver?
— Eu... hum... aquele que... — Merda! Eu deveria ter
planejado isso direito. — O que você está fazendo aqui?
Achei que estaria com o imbecil.
— É, eu também. Mas ele não apareceu e não atende
o telefone. Não sei o que houve.
— Deve ter tido algum problema para não ter
aparecido, — ela levanta a sobrancelha estranhando que
eu o defenda e corrijo — ou você deveria aceitar que ele
é mesmo um idiota.
Ela olha de novo para dentro do restaurante e para os
dois lados da rua, ainda procurando por ele e parece bem
chateada.
— Você comeu algo? Quer entrar e comer? —
pergunto.
— Acho que esse restaurante é demais para nosso
bolso, podíamos ir comer um hot dog.
Demais para o nosso bolso? Eu não posso pagar por
algo, mas ele pode? Cruzo os braços e a encaro irritado e
ela sorri, tentando conter seus cabelos que voam com o
vento para o seu rosto.
— Não quis dizer que você não possa pagar, sei que
ganha dinheiro com essa coisa de luta, só que eu prefiro
comer algo menos formal.
Tiro minha touca e coloco sobre sua cabeça,
contendo seu cabelo esvoaçante e ela sorri em
agradecimento.
— Mesmo porque, acho que se eu entrar aí de novo,
o garçom vai me expulsar — brinca e sinto uma pontada
de culpa por tê-la feito fazer papel de boba diante dos
garçons.
Foi por uma boa causa. Digo a mim mesmo e decido
salvar sua noite para compensar.
— Bom, já que estamos aqui que tal uma noite
divertida? Uma que com certeza você não teria com
aquele imbecil.
— Sempre tão humilde, Colin Hanson. O que quer
fazer? Ir ver o tal filme que você nem sabe o nome?
— Não. Podíamos comer algo e fazer algo diferente
depois, o que acha?
— Acho que tenho medo do que você pode
considerar diferente. Mas tudo bem, sou toda sua! — Ela
arregala os olhos ao perceber meu olhar malicioso por
sua promessa e tenta corrigir. — Quero dizer, sua
companhia, para coisas diferentes, em que estejamos
vestidos, você entendeu!
— Apenas Caitlin sendo Caitlin.
— Cale a boca e me surpreenda.
— Tudo bem, baby. Mas lembre-se que foi você que
pediu.
Pego a moto e rio de sua careta por ter que andar
nela, ela não gosta muito, mas sempre cede. Vamos bem
perto, ao Central Park e comemos o tal hot dog que ela
queria. E o tempo passa tão rápido enquanto comemos e
falamos sobre a vida e planos impossíveis para o futuro,
que quando me dou conta já é quase meia-noite e ainda
estamos ali, no banco do Pak, rindo como dois bobos e
fazendo planos idiotas. Seu telefone toca, mas ela o
ignora, o que me dá um sabor de vitória delicioso.
Tiramos fotos como turistas pela noite, as melhores selfies
das nossas vidas. É tão fácil falar com ela, estar com ela,
é diferente estando aqui, fora de casa, fora da minha zona
de conforto, dando um passo que não sei ao certo em que
direção. Conhecendo-a como a conheceria se nunca
fôssemos amigos, se fôssemos apenas um jovem casal em
seu primeiro encontro. E pela primeira vez entendo a
graça de realmente sair com uma pessoa sem que seja
para um motel ou uma cama em qualquer que seja o lugar.
Sinto como é diferente conhecer alguém através de seus
planos malucos e perguntas intimas demais e ao mesmo
tempo nada maliciosas. Se os casais pudessem manter
essa magia do primeiro encontro em todos os outros
encontros, então nenhum casamento chegaria ao fim.
Em um rápido momento, acho que efeito de tantos hot
dogs e milhares de flashes na minha cara, me pergunto
como seria namorá-la, caso ela quisesse mesmo aquele
compromisso sério que a doutora casamenteira disse após
uma noite nossa. Será que seria assim? Que eu teria essa
Caitlin divertida e leve, que fala alto demais e ri mais alto
ainda e me olha como se não existisse nada além de nós
no mundo? Mas logo volto a mim e tiro essa ideia da
cabeça, não vou procurar subterfúgios para fazer algo que
prometi não fazer. Não vou para a cama com ela e ponto
final!
Quando ela boceja pela primeira vez, ainda não estou
preparado para encerrar nossa noite e tenho uma ideia
absurda que sei que vai fazê-la enlouquecer antes de
aceitar que é uma boa ideia. Subimos na moto e a levo
devagar até o local planejado. Assim que descemos da
moto, vejo seus olhos se arregalarem quando vê os barcos
à remo.
— O que viemos fazer aqui, exatamente?
— Eu tenho um amigo, que trabalha aqui nos alugueis
de barcos.
— E que com certeza não está aqui agora.
— Você não me deixou terminar, querida. Ele faz
guarda noturna, então tenho certeza — aceno para Chase
que responde o aceno e volta sua atenção para seu celular
— que não vai se importar de pegarmos um barco.
Ela dá um passo atrás enquanto entro na água.
— Primeiro moto e agora isso? Já entendi, você é
desses “vida louca” e tal, muito legal da sua parte, mas eu
sou só uma menina medrosa e você está extrapolando meu
limite de risco para uma noite.
— Já passa da meia-noite, tecnicamente é manhã
agora. Então você pode encontrar mais um pouco da sua
coragem e vir comigo. Prometo que faço valer a pena.
Ela parece em dúvida, mas como eu sabia que faria,
acaba sorrindo e me seguindo para dentro do barco. O
primeiro contato com a água gelada a faz gritar, mas sobe
no barco comigo rindo como uma menina fazendo arte. Eu
remo longe o bastante para estarmos quase no meio do
lago e deito no barco, a cabeça apoiada no banco onde ela
está sentada, observo as estrelas e a lua. Logo, ela faz o
mesmo. Ficamos um tempo em silêncio absorvendo a
beleza do céu acima de nós. Mas cometo o erro de olhar
para o lado, por um segundo apenas, mas é o bastante para
vislumbrar a beleza de seu rosto com o reflexo da luz da
lua, e como seus olhos brilham olhando as estrelas.
— Se estivéssemos em um encontro, este seria o
momento perfeito para que eu a beijasse — lanço como
quem não quer nada.
— Jura que você esperaria tanto tempo para me
beijar? Nota-se que você não é um cara de encontros.
Sorrio.
— Acho que é você que tem saído com os caras
errados. Veja bem, a essa altura você já estaria alimentada
e cansada, então não haveria qualquer tentativa de
impedimento. Além do que, você teria passado toda a
noite desde quando nos encontramos pensando em que
momento eu daria esse passo, e estaria tão ansiosa por
isso, que qualquer leve toque meu, seria algo muito mais
intenso, quase uma preliminar.
Ela ri alto da maneira como acabei com algo que
quase soou romântico.
— Mas quando eu a beijasse, Caitlin, você saberia
que nunca mais precisaria sair com outros caras.
Ela me olha de um jeito que não sei identificar, mas
há algo em seus olhos, algo quase palpável, e eu queria ter
mais experiência com essa coisa de sentimentos para
poder identificar isso e não permitir que ela esconda antes
mesmo de expressar. Como não tenho a menor noção do
que fazer, logo ela desvia seu olhar com um sorriso fraco,
e quando volta a falar comigo, aquele sentimento se
perdeu.

— Você pode admitir que jamais teria se divertido


assim se o imbecil Ryan tivesse aparecido — provoco
enquanto a ajudo a descer do barco.
— Tudo bem, você venceu essa. Com ele o lance é
sempre restaurante, cinema e clube de luta. Não me
queixando, mas para um primeiro encontro você se saiu
muito bem.
Sinto meu ego inflado e aquela coisa de que alcancei
meu objetivo quando ela assassina cruelmente minha
pequena vitória com uma frase.
— Seja assim quando encontrar uma mulher especial
e a terá para sempre.
— O quê? Mas que merda! — sussurro para suas
costas sentindo-me extremamente derrubado.

Quase preciso carregá-la para o nosso andar quando


chegamos ao prédio. Mas, quando entramos no elevador,
ela se recosta no espelho com seus olhos pequenos de
sono e não resisto, a pego no colo fazendo-a gritar e rir,
mas se aconchega a mim e embora já a tenha carregado
muito, não o fiz depois que ela foi embora de Wisconsin e
nos reencontramos aqui. Definitivamente, ela cresceu.
— Diga que foi o melhor encontro da sua vida —
sussurro em seu ouvido e ela abre um sorriso doce, mas
nega com a cabeça.
— Não admitiria isso em voz alta jamais, senhor ego.
— Vamos, você sabe que eu mereço. Nunca a vi
sorrir tanto.
— O que posso fazer? Sou uma garota feliz.
— Eu a fiz feliz essa noite.
E poderia fazer em muitas outras.
— Não vou admitir nada — diz rindo.
— Vamos, diga ou jogo você no chão e a deixo no
elevador assim que ele parar.
— Se fizer isso vou dormir e ficar subindo e
descendo nele o resto da madrugada.
Descemos do elevador e paro diante da porta, sei que
quando entrarmos voltaremos a ser apenas os melhores
amigos com uma tensão sexual no ar. Do que estou
falando? Durante toda a noite fomos apenas melhores
amigos com uma tensão sexual no ar, se tivéssemos
deixado de ser amigos por um segundo que fosse nessa
noite, eu a teria beijado sem pensar duas vezes.
A desço dos meus braços, mas a seguro bem perto de
mim. Ela sorri em agradecimento e impeço que tente abrir
a porta, seguro seu rosto focado no meu e tento de novo:
— Preciso que diga agora, antes que a noite tenha seu
final previsível.
— Que final previsível?
Solto seu rosto, mas ela não desvia seu olhar curioso
do meu. Acho que neste momento, antes mesmo de
entrarmos no apartamento, vou quebrar todo o encanto
dessa noite tão boa. Olho seu rosto cansado e lindo, eu
poderia apenas beijá-la e levá-la para a cama, algo em
mim sabe que ela não resistiria se eu o fizesse, não depois
da noite de hoje e desse clima gostoso que está entre a
gente agora. Mas, não vou ser aquele que tem uma noite
tão perfeita para despedaçá-la na manhã seguinte quando
ela descobrir o que fiz. Não gosto de mentir para ela, não
tenho esse costume e não vou começar agora.
— Aquele em que você chega em casa e descobre
que eu fiz de novo. Desmarquei seu encontro com o
Stephen usando seu celular só para poder passar esse
tempo com você.
Ela se afasta e vejo a confusão e a decepção
passarem por seus olhos.
— Colin, por que você fez isso? Eu só quero
entender, se você queria ficar comigo, bastava ter me dito.
Sabe que eu cancelaria qualquer coisa por você, por que
agir assim?
— Eu não sei.
Ela entra no apartamento e segue em direção ao seu
quarto, mas a seguro pela mão, preciso explicar alguma
coisa, qualquer coisa, só preciso que essa noite não acabe
com esse olhar de decepção em seus olhos.
— Se eu tivesse pedido para que cancelasse com ele
e ficasse comigo, seria assim, Caitlin? Você iria comigo
para um quase encontro e teríamos passado tantas horas
realmente juntos? Porque quando estamos aqui e somos os
melhores amigos não é assim. Nós nunca nos ligamos
assim. Só me diz que seria a mesma coisa e vou deixar
que fique com a raiva que for de mim, mas porra! Olha
para mim e diz!
— Isso não justifica...
— Isso justifica! Eu estava certo, ele não é o cara
certo para você, se seu melhor encontro foi com seu
melhor amigo, então toda essa merda se justifica. Eu
posso não saber mostrar meu ponto da maneira mais
correta ou justa, mas eu mostrei. Você está procurando
amor no lugar errado.
Seus olhos se enchem e espero por sua resposta, ou
que ela surte, mas ao invés disso, ela parece prestes a
chorar. Fica olhando para mim sem dizer nada, mas seus
olhos quase transbordam de tantas emoções confusas.
— Cait, se tivéssemos ficado aqui como em todas as
outras noites, seria a mesma coisa?
Ela nega com a cabeça.
— Então você não está com raiva pelo que fiz, está?
— Não, Colin.
Ela me entendeu, finalmente entendeu. Se eu soubesse
que para fazê-la desistir dessa ideia precisaria apenas
mostrar a ela o que é um encontro de verdade e como é
estar com alguém certo para ela, o teria feito há muito
tempo. Seguro seu rosto pequeno em minhas mãos e
aproximo minha boca da sua. Não vou tentar ir para a
cama com ela, só quero provar um ponto, provar mais um.
Ela dá um passo vacilante para trás, não se afastando
totalmente de mim, apenas impedindo o beijo, e pergunta,
a boca ainda muito próxima a minha, me dando a chance
de terminar o que comecei:
— Você quer mesmo transformar nossa amizade em
algo estranho e incerto?
Olho seus olhos marejados e sua boca tão perto da
minha. Quase posso sentir seu sabor, a maciez de seus
lábios carnudos, eu quero tanto beijá-la..., mas ela está
certa. E de alguma forma isso parece mais difícil do que
dormir ao seu lado e não saciar minha ereção dentro dela.
Eu tiro minha mão de seu rosto, e deixo que ela entre para
o seu quarto e feche a porta.
BÔNUS CAITLIN
Há dois dias parece que estou desligada do mundo,
mais desligada do que o meu normal. Não presto atenção
no que me dizem, não durmo direito, e a fome... essa eu
sinto em triplo. Acho que estou em um estado constante de
ansiedade e confusão que só melhora quando como.
Há dois dias não falo direito com o Colin, sinto falta
de falar com ele, mas não sei o que dizer. O que poderia
dizer?
Ei, Colin, poxa eu sempre amei você e agora que
você parece ter me enxergado queria saber se vamos
mesmo ficar juntos.
Talvez eu pudesse tentar algo mais incerto, como tudo
na vida dele.
Ei, Colin, já que você não quer que eu dê esse passo
com ele, o que acha de fazer isso comigo? Afinal de
contas, eu tenho guardado esse momento para você a
vida toda.
Não existe uma saída que me permita não sair
machucada disso. Esse risco por si só não me impediria
de aproveitar cada novo toque e o jeito como ele tem me
olhado, é algo inacreditável para mim. Mas, o fato de que
eu o perderia depois é o que me impede. Porque para ele
será mais uma transa e para mim, uma recaída.
Violenta.
Sem volta.
E depois eu teria que me rebaixar a vê-lo com outras
e fingir que não me importo como tenho feito desde
sempre, mas aí eu teria lembranças, eu teria sensações
com ele e tudo se tornaria mil vezes pior.
— Eu não posso fazer isso — admito para mim
mesma.
O conheço a vida toda e sei que isso é um desejo, ele
normalmente tem o que quer de qualquer mulher e comigo
não agiria de forma diferente, mas mesmo que não queira
me magoar depois, ele vai, porque este é ele, o cara que
deseja intensamente, não o cara que se apaixona. Seu
ciúme bobo e o jeito malicioso como olha para mim agora
não significam nem de longe um sentimento maior, um
compromisso. Ele não acredita nisso, e uma virgindade
não vai mudar isso.
Vou me contentar com o fato de que ao menos uma
vez desde que nos conhecemos, ele me desejou. Eu fui o
objeto de seus desejos. E vou guardar isso para sempre.
Stephen sorri para mim ao me ver sentada em nossa
cafeteria preferida e aproxima-se com uma rosa. Também
não posso fazer isso. Ele é legal, é sincero, atencioso e
quase perfeito demais para ser real. E alguém que aprecie
isso mais do que eu, precisa descobrir esse seu lado,
alguém que não vá fazê-lo perder tempo. Eu tinha certeza
que havia encontrado a pessoa certa para perder minha
virgindade, uma vez que aceitei que isso jamais vai
acontecer com o Colin. Ele me faz sentir segura e
desejada, e eu o desejo também, ele é lindo! Mas depois
daquela noite, do não encontro com o Colin, depois das
coisas que ele disse e da forma como ele disse, me dei
conta de que ele estava certo esse tempo todo. Stephen
não é o cara certo. O Colin é. Infelizmente, não é certo o
bastante, mas quem sabe um dia eu vá me apaixonar de
novo, só que por alguém que seja certo na medida certa e
vou fazer isso sem medo.
Ele deposita um beijo leve em meus lábios e senta-se
ao meu lado. Pego a rosa de sua mão e agradeço, e me
preparo para essa conversa difícil.
— Stephen, precisamos conversar.
Seu sorriso some e ele me pede um tempo com um
gesto.
— Podemos falar mais tarde? Tem alguém chegando
que quero que conheça.
— Boa tarde, meninos! — Uma voz forte e alegre diz
próxima a nós e Stephen se levanta e cumprimenta o
homem ali parado.
Ele é mais velho, muito bonito e é a cara do Stephen.
— Pai, esta é a garota de quem tenho falado, Caitlin.
Cait, princesa, este é Donald Ryan, meu pai.
— Púbis! — sussurro baixinho e me levanto
depressa, para cumprimentar o gentil homem que passa a
tarde conosco. A tarde toda dizendo o quanto está feliz e
parece até aliviado de conhecer a namorada do filho.
Terei que adiar essa conversa por hoje, mas de
amanhã não passa. Tomara que Stephen e eu possamos ser
amigos, porque ele é mesmo uma pessoa maravilhosa. E
pode até parecer engraçado, mas ele e Colin, se não fosse
a rixa do ringue, se dariam muito bem. Quase posso vê-los
sendo amigos e dividindo a total atenção feminina se
entrassem juntos em um único lugar... não, Colin não é do
tipo que divide atenção. Realmente esses dois nunca
seriam amigos.
No dia seguinte ele me busca na faculdade. Acho que
teremos o momento perfeito ao entrarmos em um
restaurante caro e reservado no centro, mas ele nos guia
até uma mesa onde uma mulher linda e elegante está
sentada.
— Caitlin, esta é Megan Ryan, minha mãe. Mãe,
conheça a Caitlin.
Isso é sério? Sério mesmo? Ele vai me apresentar a
família toda só para dificultar essa conversa?
— Stephen, quantos parentes você tem? — pergunto
baixinho enquanto nos sentamos à mesa.
— Muitos, eu jamais conseguiria contar, por quê?
— Quantos você quer que eu conheça?
— Algum problema em te apresentar para os meus
pais?
— Não, gostaria que tivesse me avisado antes, mas
será que não dá para fazer isso de uma vez? Você convoca
todos eles, num mesmo lugar, num único dia e me
apresenta a todos num dia só?
Ele me olha como se eu fosse louca e a mãe dele
começa a tir.
— Ah querido, como é engraçada sua namorada!
Fale-me mais sobre você, Caitlin, estamos mesmo muito
felizes em finalmente conhecê-la.
— Então, eu não sou bem a namorada dele... a
senhora conhece o termo ficar?
É, talvez em um ano eu consiga ter essa conversa com
ele.
COLIN
Há dias ela mal fala comigo. Há dias ela passa mais
tempo na rua, ou em seu quarto do que aqui. E quando está
na rua, não tenho como saber se está com ele, ou com as
amigas da faculdade. Às vezes penso em segui-la, mas que
espécie de desesperado eu seria, não é mesmo?
Amanhã é a minha primeira luta do campeonato, por
pura merda do destino também é a primeira do Stephen,
mas pelo menos, sei que ela será minha Sorte. Quer dizer,
espero que ainda seja. Ela chega e como tem feito a
semana toda, me dá boa noite, pega uma fruta e entra para
seu quarto. Mas sei que ela ainda vai tomar um banho
antes de dormir, então vou ficar de plantão para falar com
ela. Quero minha amiga de volta. Vou exigir isso.
Resolvo tomar banho antes dela e quando a escuto
bater a porta de seu guarda-roupa tenho a ideia. Apago a
luz do banheiro e deixo a porta entreaberta. Acendo
apenas a luz fraca do box e começo meu banho como se
tudo fosse a maior das coincidências.
Ela vem distraída e abre a porta do banheiro, acende
a luz e me vê ali. Nu, tomando banho tranquilamente,
ensaboando meu pau. Foco meus olhos nos dela e continuo
o movimento, como se não fosse nada demais ela estar ali
parada, olhando para mim como se eu fosse comestível.
— Co-colin o que...
Seus olhos estão fixos em mim, passeiam por todo
meu corpo. Penso em uma explicação ao menos razoável
para dar, algo como relaxar sem tanta luz na minha cara,
mas antes que possa convidá-la a se juntar a mim, ela sai
correndo.
— Nem pense nisso, Caitlin!
Passo uma toalha rapidamente pela cintura e corro
atrás dela antes que ela tranque a porta de seu quarto,
senão terei que arrombá-la. Ela me deseja, acabei de ter a
prova e essa noite, ela vai ser minha. Foda-se minha
promessa, foda-se a aposta, eu faço um diário se for
preciso para a doutora casamenteira, mas essa noite,
preciso estar dentro dela de uma vez por todas.
CAPÍTULO NOVE
— Caitlin!
Consigo segurá-la antes que entre em seu quarto e a
viro para mim, prendendo-a em meus braços, colada ao
meu corpo molhado. Há tanto desejo em seus olhos que
quase me desmancho neles. Ela abre a boca em desespero
para me pedir que pare, vai me pedir que a deixe ir, mas
eu não posso. Preciso que ela peça que eu tire sua roupa.
Ainda a mantendo presa a mim, a guio até encostar
suas costas à parede ao lado da porta do seu quarto, sua
boca tão perto da minha que posso ouvir sua respiração
acelerada. Ela mexe as pernas desconfortável e tiro uma
mão de seus braços, afrouxando a prisão em que a prendi
apenas para segurar seu rosto. Passeio meus dedos por
ele, seus olhos não se desviam dos meus, toco seu cabelo
e o puxo de leve, levantando ainda mais sua boca para
mim, para que eu possa ir ainda mais fundo com a língua.
Para que possa mostrar a ela o que queria fazer dentro
dela com meu pau.
Mordo seu lábio inferior tão devagar que chega a ser
doloroso o efeito que causa em mim, ela geme, mas ainda
está tensa em meus braços.
— Relaxe, apenas sinta — sussurro em sua boca e a
beijo.
Mas o beijo dura dois segundos, pois no momento em
que meus lábios tomam os seus, o som ensurdecedor da
campainha nos faz dar um salto. E ela aproveita isso para
se soltar do meu braço e correr, trancando rapidamente a
porta de seu quarto. Dou um murro na parede, o desejo
quase me fazendo agir como um louco.
Abro a porta tentando conter a frustração e como não
podia deixar de ser, ali está ele, o imbecil. Ele avalia com
uma expressão irritada a maneira como não estou vestido
e me empurra passando por mim como um furacão. Bate
com força na porta do quarto dela.
— Caitlin, está tudo bem? — Lança-me um olhar
ameaçador e quase range os dentes ao falar comigo — O
que você fez com ela?
— Infelizmente nada do que eu gostaria de ter feito.
— Você anda assim pela casa? Sem roupa?
— Está com medo da concorrência, Stephen? Não foi
você quem disse que não havia competição?
Ela abre a porta do quarto e, sem olhar em minha
direção, pega a mão dele e praticamente o arrasta para
fora dali.
Assim que a porta da frente bate, um balde de água
gelada parece cair sobre meu corpo quente, pois começo a
pensar que a deixei excitada e com raiva, uma
combinação muito perigosa para alguém que já está
disposta a perder a virgindade com um cara, e vai passar
o resto da noite com ele.
Volto a esmurrar a parede rezando para que eu não
tenha sido babaca o suficiente para jogá-la direto na cama
dele.
Rolei na cama a noite toda, mas não consegui pregar
os olhos. Só depois que ela chegou em casa, o que fiz
questão de conferir no relógio e eram três e meia da
manhã, foi que me permiti dormir. Mas ainda consegui
sonhar com ela me dizendo que tinha feito sexo com ele.
Minha primeira luta é hoje, e espero que essa raiva me
ajude a vencer, ao invés de tirar meu foco. Hoje é sábado,
e como em todos os sábados é dia do trabalho voluntário
no orfanato. Isso faz parte da minha sentença, mas eu o
faria mesmo que não fosse uma punição. Realmente tomei
gosto por estar lá com aquelas crianças, é como se elas
me entendessem e eu sei exatamente pelo que elas estão
passando.
A campainha toca e um buquê de flores é entregue, o
cartão escrito com uma letra muito bonita e arrumadinha é
impresso. É do Stephen, agradecendo pelo presente. Que
presente? Esse cara não presta nem para escrever a
próprio punho o cartão, não acredito que a Caitlin deu a
virgindade dela para ele.
O buquê tem aparência de caro, com flores que nem
sei o nome, mas que admito, são muito bonitas, então
claro que a Caitlin não precisa de um gesto romântico
desse imbecil. Não vai adiantar jogá-las no lixo, porque
são muito grandes, tento enfiar na geladeira, mas não
cabem, olho em três portas dos armários, nada. Coloco
embaixo da bancada, dificilmente a Caitlin cozinha, nunca
irá achá-las, mas me dou conta de que vai sentir o cheiro
forte de flores e vai achá-las. Onde mais eu poderia
escondê-las? Fico na dúvida entre meu quarto e o
elevador, e quando decido colocá-las no elevador e
mandá-las para o térreo, a porta do quarto da Caitlin abre
e ela aparece já pronta para irmos.
— Bom di... que flores são essas? — Me
cumprimenta com um sorriso e age como se nada na noite
anterior tivesse acontecido.
— Ah, foi engano — minto, mas ela puxa o cartão no
exato momento em que eu ia deixá-las no corredor.
— Oh! Ele é mesmo encantador!
Ela toma as flores da minha mão e ignora
deliberadamente o fato de eu estar tentando sumir com o
buquê e de eu ter mentido para isso. Cantarola enquanto
coloca as flores num vaso e guarda o cartão na bolsa.
— Ele não sabe escrever? Porque mandar um cartão
com uma mensagem impressa é ridículo.
— Não acho que a caligrafia dele seja muito boa,
mas o que conta são os sentimentos expressos na
mensagem, não a letra — me responde calmamente, como
se a noite anterior não tivesse ocorrido, como se não
tivesse significado nada demais.
Também não conversa comigo normalmente, apenas
não me ignora mais. Ah, isso e cantarola. Parece tão feliz
e relaxada!
— Merda! Merda, Caitlin, está tudo bem?
Ela parece confusa com minha pergunta repleta de
palavrões, mas assente e pega sua bolsa.
— Vamos?
— Vamos de moto, tudo bem?
— Tudo bem, só vou prender o meu cabelo. Não
quero assustar os menores.
Ela nunca aceitou tão facilmente subir na minha moto.
Ou ela está em uma viagem alucinada na terra da
felicidade ou, e não quero nem pensar nessa segunda
opção, e não vou pensar. Ela não fez isso.
Ela se segura firme em mim na viagem até o orfanato
e temo que este será o máximo de contato que terei dela
daqui para a frente. Vamos para alas diferentes quando
chegamos, mas logo nos reunimos por conta do nosso
órfão preferido: Carter.
Carter Henderson tem seis anos, mas às vezes parece
ter dezoito, diz coisas que deixam os adultos aqui sem
chão e dificilmente perde uma batalha verbal. É tão
inteligente e vivo, como se não se lembrasse do que lhe
ocorreu no ano passado, como se não fosse nada demais.
Mesmo sendo tão novo, ele entendeu tudo o que aconteceu
na sua frente, entendeu a crueldade e tragédia do que
presenciou, ele ficou seis meses sem falar, e escolheu a
mim para ter o privilégio de ouvi-lo falar após todo esse
tempo. Lembro-me como se fosse hoje, suas palavras
exatas:
— Quando eu crescer, posso me casar com ela? —
perguntou puxando minha blusa e apontando seu pequeno
dedo para Caitlin.
Os psicólogos brincam que agora fala por cada dia
em que não o fez, já que tem dificuldade em calar a boca.
O que mais me liga a ele é o fato de sermos tão parecidos,
ele tem algumas das minhas manias, fala como eu, gosta
de se vestir como eu, e a mulher que mais adora no mundo
é a Caitlin. Ele também não é uma criança que se lamenta
pelo passado ou por estar ali, nunca reclama de nada, e
quase não pede ajuda. E há sua história. O pai bebia muito
e batia em sua mãe, em uma noite bebeu tanto, que a jogou
contra uma mesa de vidro, na frente dele. A mãe não
resistiu aos ferimentos, o pai foi preso e condenado, e ele
veio parar aqui. Com a lembrança da morte da mãe e
confuso sobre o que sentir por seu pai. Essa sensação de
não saber como se sentir, não saber se deve amá-lo ou
odiá-lo, eu conheço bem, por muito tempo depois do que
fiz me condenei por ser um vilão, me uni a pessoas que eu
julgava tão ruins quanto eu e fiquei perdido. Às vezes,
ainda me pergunto de que lado estou.
Se pudesse eu o levaria embora e daria a ele a vida
perfeita que ele realmente merece.
— Tio Colin, o senhor perdeu a nossa namorada para
outro? — pergunta após a décima vez em que prendo meus
olhos na Caitlin, tentando achar aquela diferença no jeito
de andar.
— Como?
— O senhor estava tentando me roubar ela, eu
percebi, só que não ligo de dividir com o senhor. Só até
eu crescer. Mas agora ela não olhou para o senhor desde
que chegou aqui, o senhor a perdeu para outro?
— Vamos comer, amor? — Caitlin o chama antes que
eu tenha a chance de responder.
Ele segura sua mão e senta-se entre mim e ela na
pequena mesa da cantina.
— Tia Cait, o tio Colin deixou você namorar outro?
Caitlin engasga com o aspargo e olha para ele de
olhos arregalados.
— Ele disse que aceita que eu roube você dele, mas
não aceita se outro roubá-la de mim — explico.
Caitlin sorri e bagunça o cabelo dele, respondendo
docemente:
— Ah querido, o tio Colin não é capaz de manter uma
mulher feliz por tempo suficiente para roubá-la de você.
Não se preocupe.
Faço uma careta e imito seu gesto bagunçando seu
pequeno cabelo liso antes de retrucar:
— Sabe, Carter, a tia Caitlin é uma ingrata, porque o
tio Colin deu a ela o melhor encontro de sua vida e ela
ainda reclama.
Rapidamente ele olha para Caitlin, esperando por sua
resposta.
— Acho que o tio Colin precisa sair mais, com mais
pessoas, para superar isso.
Deixo Carter fora do jogo e olho diretamente para
ela, que me olha de volta contendo um sorriso.
— Acho que eu preciso refrescar sua memória bem
de onde paramos ontem à noite.
Seu rosto cora violentamente e ela pigarreia,
apontando para ele diz sem voz, mas posso ler seus lábios
algo como “criança esperta ouvindo”.
Após uma tarde agradabilíssima com as crianças
vamos nos despedir de Carter. Enquanto esperamos que
ele saia do banho, resolvo puxar assunto, aproveitar que
ela está falante e feliz, cantarolando de novo. Tento chegar
nela de maneira sutil, apenas como um amigo preocupado
para não irritá-la, mas o que sai da minha boca, assim que
a puxo pelo braço de forma brusca, é:
— Por que caralho está cantarolando assim? Ele a
fez gozar? Você gozou, Caitlin, por isso está feliz assim?
Com esse brilho diferente nos olhos.
Ela olha para todos os lados alarmada e parece
prestes a me matar.
— Colin! Alguma criança pode te ouvir, seu babaca!
Se solta do meu aperto e toda aquela felicidade
sumiu. Não posso dizer que estou triste com isso.
— Vai me responder ou não?
— Não há nada de errado em acordar de bom humor!
— Você não está de bom humor, está cantarolando
como meninas de séries românticas bobas. Como se
tivesse visto o passarinho verde. Você viu o passarinho
verde? Viu algum passarinho?
Faço ideia do quanto devo estar ridículo, porque ela
segura mesmo uma risada e respira fundo antes de me
responder.
— Isso não é da sua conta, mas não, não é nada
disso. Eu só estou apaixonada, não posso? — ela diz a
palavra apaixonada quase separada em sílabas, cada
facada doendo mais do que a anterior.
— Apaixonada? — grito. — Por ele?
— Psiu! Quer parar de gritar?
— Pelo amor de Deus, Caitlin, não me diga isso nem
de brincadeira. — De repente parece que estou sem força,
e quase sem ar. Eu nunca fico doente, não entendo o que
está acontecendo.
— Ei, você está bem? — ela pergunta preocupada
aproximando-se de mim e me amparando.
— Passar um tempo que já me enlouquece com ele eu
estou sendo obrigado a suportar, mas ver você amar um
cara como ele? Caitlin! Nem brinca com isso!
— Colin, às vezes as pessoas que menos esperamos,
são as mais dignas de serem amadas.
— Ai! Pare! Você está tentando me matar! — Coloco
a mão no peito e me sinto ainda mais fraco, mas ela
começa a rir.
Ela apaixonada, ele mandando flores agradecendo
pelo presente e essa cantoria de quem finalmente
conheceu um orgasmo, não é possível! Preciso ter certeza
antes de morrer por causa disso, é do Stephen que estou
falando, ele não seria capaz de dar um orgasmo que
deixasse uma mulher tão feliz assim. Se bem que a Caitlin
não teria como comparar porque nunca teve um orgasmo
na vida. Aí me sinto um amigo egoísta por deixar que
minha melhor amiga chegue aos dezenove anos sem saber
o que é um orgasmo. Em minha defesa ela era uma menina
até alguns dias atrás, e desde que descobri que ela é uma
mulher, o que mais quero na vida é dar um orgasmo a ela.
Um risinho conhecido me faz ficar de pé e sair de
cima da Caitlin para encontrar Carter, seus olhos negros
nos avaliando e um sorrisinho inocente no rosto.
— Vocês fizeram as pazes. Caitlin, já que não vai ser
minha namorada, vocês podiam se casar e serem meus
papais, não é?
Engulo em seco e Caitlin aproxima-se dele, beijando
sua cabeça e pegando-o no colo.
— Ah, meu amor! Tenho certeza que Papai do céu
tem os melhores papais do mundo para dar a você, só
precisa esperar um pouquinho.
Ele a abraça de volta e não escuto mais o que dizem
porque estou ocupado sentindo raiva da vida e das
injustiças que crianças tão inocentes, como ele, têm que
viver.

Caitlin volta calada e não tem mais aquela felicidade


radiante de mais cedo. Pergunta se vou fazer o jantar ou
pedir algo, e decido pedir alguma coisa, então ela vai
tomar banho. E eu fico remoendo e remoendo. Se ela deu
esse passo com ele, se ele vai ficar se gabando disso no
clube com aqueles retardados que o seguem como
cachorrinhos. Se ele deu o valor que isso merecia, se fez
direito. Parece que estou entrando em curto. Um mundo de
emoções confusas passando pela minha mente e aí me
lembro de ela estar apaixonada por ele. Ela quase
derreteu nos meus lábios ontem à noite como pode estar
apaixonada por ele? Ele teria que ser muito pica para
apagar da mente dela o que sente quando a toco. Será que
ele a faz sentir-se melhor do que sou capaz de fazer?
Sem me dar conta do que estou fazendo, acho a chave
reserva do banheiro e abro a porta com tudo. Caitlin se
assusta e grita:
— O que está fazendo aqui? Colin, saia daqui.
Mas não a estou ouvindo, abro o box e entro nele, a
água molhando minha roupa imediatamente, e ela está nua.
Avisto com clareza a perfeição de seu corpo pequeno e
curvilíneo. Seus seios cheios, com os mamilos rosados
apontam em minha direção, sua cintura fina, as coxas mais
grossas e sua boceta como eu imaginei que seria.
Branquinha, lisinha, e ela tenta escondê-la com as mãos.
Ela continua gritando, mas não escuto, estou perdido nela.
É tão perfeita, que quase não consigo me controlar. A água
escorre por seu corpo e tudo o que quero agora é
ajoelhar-me diante dela e beber essa água com seu gosto.
— Sai daqui Colin! Você está louco?
— Você transou com ele Caitlin? — pergunto ainda
desnorteado, mas me lembrando que toda essa perfeição
pode ter sido dele na noite passada, e isso me faz sentir
uma raiva incontrolável.
— Eu não vou discutir isso com você....
— Você transou com ele? — grito e a encosto à
parede, prendendo seus braços acima de sua cabeça. Olho
bem em seus olhos e ela se cala, fixando seu olhar no meu.
— Ele tocou você?
— Eu já disse que não!
— Se eu tocá-la, Caitlin, se eu enfiar o dedo em você
agora, vou encontrar alguma resistência?
Ela parece pensar na pergunta por tempo demais e
quando responde, quase me tira o chão.
— Não. Vai encontrar a resistência que está pensando
que perdi, mais nenhuma outra.
Ela vai me deixar tocá-la, vai me deixar comê-la
aqui mesmo, agora.
— Mas vai querer isso sabendo que vou me sentir
culpada amanhã? — pergunta baixinho.
Merda! Encosto minha testa na dela, tentando colocar
ordem nos meus pensamentos, tentando controlar meu
corpo que só quer tê-la agora.
— Você não o ama, Caitlin, não está apaixonada.
Caso vá se esquecer disso daqui a pouco quando estiver
com ele, só quero que se lembre disso.
Solto sua mão e a puxo para mim, beijando sua boca
com todo o desejo acumulado que estou suportando. A
beijo com força, quero deixá-la sem ar, quero dominá-la.
Quero que ela nunca mais queira beijar outro homem,
porque nenhum vai possui-la desse jeito. Sugo sua língua
enquanto a aperto ao meu corpo, à minha ereção que quase
rasga a calça, domo sua boca até que a escuto gemendo, se
desmanchando em meus braços. Então, com muita
dificuldade, a deixo. Bem devagar vou diminuindo o ritmo
e a força dos meus lábios sobre os dela, afasto meu rosto
e continuo a segurá-la. Beijo seu pescoço molhado de
leve, e sinto seus seios pressionados em meu peito. Sinto
seu coração acelerado como o meu.
—- Lembre-se disso, Caitlin. E se ele não a fizer se
sentir desse jeito com um beijo, não serve para você.
Então a deixo ali e saio de casa. Com a roupa
molhada, uma ereção pulsante e os pensamentos mais
desgovernados do que já me lembro de terem estado
algum dia. Ela teria sido minha, teria se entregado a mim.
E essa agora é a minha meta de vida, não vou sossegar até
que ela peça que eu seja o seu primeiro.

Não vejo a Caitlin desde a hora do banho, no final da


tarde. Vim direto para o clube, tomei banho e me arrumei
aqui, e tive que fazer algo que não fazia há anos para
saciar a ereção que insistia em não ceder sem ela. Mas foi
pensando nela que gozei com força, pensando estar dentro
dela, ela vai me deixar louco! Minha luta é a primeira da
noite, serão três lutas hoje, a seguinte é a do Stephen, mas
não pretendo ficar para vê-lo. Só quero sair daqui e
beber. Por isso, pretendo acabar com meu adversário bem
rápido, para sumir daqui direto para um bar.
Vejo o clube lotado e não me sinto animado com o
espírito da competição. Hoje nada vai me animar. Como
será que ela vai reagir quando eu vencer a luta e beijá-la
no ringue? Será que vai me pedir para não fazer isso? Eu
disse a ela que não faria se ela pedisse, espero que este
não seja o caso, porque eu preciso beijá-la. Devagar e
com cuidado para que ela veja que a maneira como se
sente quando a beijo, não é apenas quando a seduzo, não é
só quando o faço com tanta força que ela não tem como
escapar. Quero que ela sinta meu beijo em cada segundo
para entender o que é ser realmente beijada.
O locutor inicia a noite arrancando gritos
ensandecidos da plateia, olho por todos os lados, mas não
a vejo. Ela está atrasada. Não presto atenção no que ele
diz, e apenas quando a luz me ilumina me dou conta de
que já fui chamado. O exterminador, essa merda vai
acabar pegando. Subo no ringue e meu adversário já se
encontra lá, sequer ouvi o nome dele. Olho de novo a
multidão procurando a Caitlin. Talvez eu não precise
derrotá-lo tão depressa, para dar tempo a ela de chegar.
Enrolo o máximo que posso e só quando me dou conta de
que ela não vem, decido acabar de vez com isso. Derroto
o adversário em poucos minutos e quando o locutor
levanta meu braço, vejo a plateia gritando e o dinheiro
rolando pelas mãos, ele me pergunta pela minha Sorte.
Apenas nego com a cabeça e desço do ringue com o lenço
da vitória. Passo pela multidão feminina que tenta chegar
até mim, hoje não estou com paciência para conversar
com ninguém.
Estou indo em direção ao vestiário, mas ouço o
locutor anunciar o Stephen e volto para ter certeza de que
ela não está ali, mas ela está. A vejo procurando por mim
na multidão, o rosto vermelho e a respiração acelerada.
Seu olhar encontra o meu, mas saio dali, vou direito para
o vestiário. Então ela me castigou por conta do que fiz no
banheiro. Ótimo! Eu não precisei dela para vencer. Não
preciso dela para nada!
Tomo um banho demorado e consigo não pensar em
nada. E fácil desligar minha mente quando realmente me
empenho nisso. Não respondi ninguém, não comemorei
com Thor minha vitória e ele não insistiu. Decido não
permitir que minha vitória tenha um gosto amargo por
causa dela, mas é aí que vejo que não sou eu quem
escolho isso, e sim o destino.
No momento em que saio do vestiário, Stephen está
sendo anunciado vencedor. O juiz levanta seu braço, as
vozes ao meu redor parecem uma única voz embolada,
falando sem dizer nada, mas entendo bem o que foi dito
quando ele aponta o dedo para Caitlin. Sem graça, e
andando como se não soubesse onde pisar, ela vai até ele.
Até o maldito ringue. E ele a nomeia como sua Sorte.
— Filho da puta! Filho de uma puta!
Agora que foi apresentada como a Sorte dele, Caitlin
não poderá ser a Sorte de mais ninguém no campeonato.
CAPÍTULO DEZ
Quero subir no ringue e quebrar a cara dele, mas
alguém entra em minha frente, quase sendo atropelada por
mim. É Serena, a irmã dele. Ela pega minha mão e pede
que eu a siga, vamos para fora do clube, e estou prestes a
gritar com ela por ter me tirado dali quando ela diz:
— Está assim por amor, Colin?
Respiro fundo, contenho a ira que sinto e aceito que o
mínimo que devo a ela depois de tudo o que lhe fiz, é uma
conversa educada.
— Não. Não é por amor, está mais para ódio.
— Achei que fosse pela Caitlin, a namorada do meu
irmão. Ela conheceu meus pais na semana passada.
Eu não sabia que as coisas entre eles estavam tão
sérias, eu não fazia ideia. Mas, depois do que ela fez
agora à noite, não é de se estranhar. Não quero parar pra
pensar nisso agora, não quero pensar em nada agora.
— Que bom para eles, mas não tenho nada com isso,
Serena. Desde que seu irmão não a machuque, não tenho
nada a ver com eles.
— Desde que ele não seja com ela como você foi
comigo, você quer dizer?
Olho seus olhos negros e não sei o que posso dizer.
Sinto muito? Foi mal? Sim eu posso ter sido um babaca,
pois é, esse sou eu, mas ela me conhecia bem o bastante
para saber que seria assim. Não tenho culpa se às vezes as
pessoas querem se iludir e fazem coisas que sabem que
vai dar errado esperando que dessa vez dê certo. Ela não
foi minha exceção à regra. Então apenas dou de ombros. E
ela continua, a voz calma, mais constatando algo do que
desejando que aconteça.
— Um dia você vai se apaixonar assim, não pense
que está tão acima de nós mortais, que vai se livrar de
sentir. E quando você se apaixonar, será tão inseguro, tão
medroso por se lembrar de tudo o que fez, que vai ficar se
perguntando o tempo todo se ela sente o mesmo, se ela te
ama apesar do que você é, ou se ela está usando você,
como você fez com quem te amou. E você nunca vai ter
certeza de que é digno do amor dela.
De repente me lembro da Caitlin, de como me sinto
tão desesperado e confuso sobre ela, de como me fere os
sentimentos dela por outro. Tirando a parte de estar
apaixonado, tudo se encaixa tão perfeitamente no que a
Serena acabou de dizer, e percebo que não é preciso estar
apaixonado para se perder por alguém.
— Neste caso, — digo a ela, deixando-a surpresa
por eu responder, quando nem eu mesmo achei que
responderia a algo assim. — Acho que vai gostar de saber
que estou passando por tudo isso. Não que eu esteja
apaixonado. Mas eu sei que não mereço ser o escolhido
dela, sei que nunca vou ser melhor para ela do que o cara
que está ao seu lado agora, mas nem essa certeza e nem
esse medo ridículo de perdê-la são fortes o bastante para
me impedir de tentar.
Ela arregala os olhos em surpresa e parece sentir
pena de mim. Mas não posso me irritar por isso esta noite,
eu também estou sentindo pena de mim nesse momento.
— Talvez a gente precise ir contra quem somos às
vezes, para podermos ser alguém melhor — concluo
fazendo-a abrir um sorriso acolhedor.
— Para onde está indo, Colin?
— Beber alguma coisa, não pensar em nada, algo
assim.
— Você deveria ir para a casa. A noite é uma
armadilha perigosa para alguém que não quer pensar em
nada.
— Não tenho medo do perigo.
Afago seu cabelo em sinal de agradecimento, e subo
na moto, decidido a beber até que nem me lembre mais
dessa noite. Talvez acabe a noite com uma mulher que me
faça esquecer a visão da Caitlin nua. Mas, quando me dou
conta, estou na porta do meu prédio. Vim mesmo para a
casa.

No grupo do clube já tem as fotos das lutas da noite,


duas vitórias para o Luck, uma para um clube adversário,
Patrick está fora da competição e isso é péssimo, ele é o
maior brutamontes que temos na equipe. E entre tantas
fotos postadas, uma única fica por mais tempo na tela do
meu celular, a da Caitlin beijando o Stephen. Esse beijo
era para ter sido meu, ela deveria ser minha! Procuro no
freezer e encontro algo para beber, é um whisky barato e
ruim, mas vai servir. Jogo-me no sofá e nem me dou ao
trabalho de pegar um copo. Por que ela fez isso? Está
certo que fui um babaca ao invadir o banheiro daquela
maneira, não estava controlando meus atos, acho que
ultimamente não tenho controlado quase nada na minha
vida. Mas eu sei que ela não me odiou por isso, porra! Ela
ia se entregar a mim! Naquela hora, naquele banheiro ela
quis ser minha! Então por que caralho não a tive? Por que
não deixei essa baboseira de sentimentalismo de lado e fiz
o que teria feito se fosse qualquer outra mulher ali?
— Vai, idiota, se importar com os sentimentos dela.
Vai tomar cuidado se ela pensa que ama outro, faz isso e
se foda! — grito para mim mesmo e sinto tanta raiva que
arremesso a garrafa por menos da metade na parede.
Há um estrondo e vidro se estilhaça por todo lado.
— Seu babaca! Você é um idiota Colin Hanson, um
otário! Você pegou ela e a jogou nas mãos dele, na cama
dele, babaca!
A raiva ainda me toma e jogo as almofadas do sofá,
mas são leves demais para aplacar minha ira, são inúteis.
— Eu devia ter quebrado a cara dele quando tive
chance, e agora essa merda está doendo mais do que uma
surra, porque sou um idiota!
Nem vejo mais o que pego pela frente, apenas sinto a
adrenalina de arremessar algo e ouvi-lo quebrar, então
preciso de algo maior, e depois maior. E algo em meu
peito parece apertado, não me sinto assim há anos, não
tenho tanto medo há anos e odeio ser tão pequeno e
impotente. Odeio ser o cara que a seduz, mas não o que
ela escolhe, nunca o que ela escolhe. Odeio ter ficado
naquela merda de ringue procurando por ela enquanto ela
estava com ele!
— Você me prometeu, Caitlin! — Arremesso uma
jarra com água na porta de entrada e no segundo seguinte
ao estrondo, ela se abre e Caitlin aparece alarmada.
Fica em choque ao ver o estado do apartamento, e
mais ainda ao ver o meu estado.
— Colin... — tenta aproximar-se de mim, mas não a
quero perto de mim, eu sinto raiva. A última vez em que
me senti assim acabei na prisão. Quando eu resolvi
crescer e me mudar de lá, jurei a mim mesmo que nunca
mais me sentiria desse jeito.
Fecho meus olhos e tento me concentrar no som de
sua voz angustiada, ela parece cada vez mais perto.
— Ei, me dê isso. Me fala o que está acontecendo,
estou aqui com você. São aqueles fantasmas?
Quase sorrio, abro os olhos e a encaro ali, parecendo
tão preocupada e perdida! Querendo ser meu ponto de
equilíbrio. Mas essa noite, Caitlin, a culpa é toda sua!
Olho a jarra de louça na minha mão, era a próxima a ser
arremessada. Ela continua falando, perguntando o que
aconteceu e eu não quero machucá-la, não vou fazer isso.
— Sai daqui Caitlin! — digo tentando controlar
minha raiva.
— Não, não vou deixar você, eu sei que você não vai
me machucar.
Olho para ela ali, tão perto de mim quando estou
descontrolado desse jeito. O quão idiota e inconsequente
ela é?
— Você está com raiva de mim, Caitlin? Está com
raiva pelo que fiz no banheiro?
Ela parece surpresa, mas nega rapidamente com a
cabeça.
— Você sabe que não. O que aconteceu para você
ficar assim? Você venceu hoje, se lembra? Todo mundo
estava falando de como você derrotou seu adversário tão
rápido! O que houve depois?
— Você não apareceu na minha luta.
Deposito a jarra sobre a bancada e me afasto de
Caitlin, analisando o estrago que causei na nossa sala. Ela
fica lá alguns segundos, totalmente parada, como que
processando o que acabei de dizer.
— Você prometeu, Caitlin.
Ela finalmente vem até mim, me pega pela mão e
senta-se comigo, de frente para mim como se eu fosse uma
criança descontrolada.
— Eu tentei. Algo deu errado no carro do Stephen,
ficamos presos a poucas quadras do clube, quando vi que
não daria tempo, eu corri, mas quando cheguei você já
tinha descido do ringue e eu não te achava. Eu sinto muito,
Colin. Eu sei que as coisas estão tão estranhas quanto
poderiam estar entre a gente, mas eu nunca quebraria uma
promessa a você. Você sabe disso.
Uma lágrima corre por seu rosto e ela a limpa
imediatamente, mas não passa despercebida por mim.
Seguro sua mão de volta, sei que ela está sendo sincera.
Sei que ele fez isso de propósito.
— Eu juro para você que serei sua Sorte, em todas as
lutas que você quiser a partir de agora. Eu posso ser até
sua ring girl se você me pedir.
— Você tropeçaria nos próprios pés e deixaria as
placas caírem na sua cabeça.
— Provavelmente, mas você me salvaria.
— Você tentou mesmo ir, não é?
— Eu fiz tudo o que pude, sinto muito não ter sido
suficiente.
Solto sua mão e seguro seu rosto pequeno entre as
minhas mãos, vejo seus olhos molhados, a maneira como
parece culpada, e o mais importante, ela não me julga
pelo ataque que tive. Não está com medo, não está me
acusando, está se desculpando comigo. Então olho bem
em seus olhos porque quero ver sua reação com o que vou
dizer agora, quero ver aquela decepção que sempre é
direcionada a mim, ao menos uma vez, ser direcionada ao
homem perfeito dela.
— Você não vai mais ser minha Sorte nesse
campeonato, Caitlin. Também não vai cumprir essa
promessa. Porque se você é a Sorte de um competidor no
campeonato, não pode ser a Sorte de outro pelo resto
dele. Essa é a regra.
Solto seu rosto e ela parece em choque, faz um gesto
negativo com a cabeça e se levanta, repete baixinho que
não pode ser, olha para mim em busca de um conforto, que
eu diga que estou brincando, ou pelo menos que não vou
ficar chateado, mas eu vou. A cada luta que a vir com ele,
a cada maldita luta que estiver sozinho naquele ringue
pensando que deveria estar beijando ela, eu vou ficar com
raiva!
— Pois é, ele fez de propósito! E você caiu! — digo
levantando-me e indo em direção ao meu quarto, só não
quero mais ficar perto dela. — Eu disse que a usaria para
se vingar de mim.
— Ei, — ela corre e segura minha mão, parece tão
sem chão quanto eu — o que aconteceu? Por que você
ficou tão mal?
Olho seus olhos claros marejados, a preocupação em
seu lindo rosto e eu poderia beijá-la e dizer que é por ela.
E pedir a ajuda dela para entender porque essa merda
doeu tanto, mas não quero entender isso, eu apenas não
quero mais sentir isso. Então pela primeira vez em anos,
escolho mentir para minha melhor amiga.
— Foram os fantasmas.
Solto minha mão da sua e vou para meu quarto,
tranco a porta para deixar claro que não quero suas visitas
noturnas de desculpas. Quero deixar claro para mim
mesmo que não preciso de mais nada dela.

— Bom dia, Leigh Ann, preciso que você ligue... —


a doutora Katy para de falar ao me ver sentado ali, uma
ruga se forma em sua testa e deixa sua recepcionista,
fazendo um gesto para que eu entre em seu consultório.
— Sabe, Colin, eu atendo dois pacientes do governo
por semana, e tenho certeza que hoje é o dia do maníaco
da navalha, então vou começar a cobrar suas consultas.
— Não vai não, se eu parar de vir aqui a senhora não
vai mais poder beber em serviço.
— Tudo bem, você me comprou. Devo começar a
beber desde já? Porque sua cara está mais assustadora
que as navalhas do Conrad.
— Eu só preciso conversar. É uma coisa rápida, não
é nada demais, mas achei que a senhora precisava saber.
Ela se senta, não coloca seu jaleco, nem pega seu
caderno e gravador como geralmente faria, é uma mulher
mais velha ouvindo um jovem perdido.
— O que houve?
— Eu tive um daqueles ataques ontem.
— Defina “um daqueles ataques”.
— De raiva.
Ela tenta esconder seu nervosismo, mas falha, eu
percebo mesmo com ela falando comigo tão calmamente
em seguida.
— Achei que tivesse controlado isso com a luta.
— Não tem sido o suficiente.
Ela me encara e não diz nada. Fico esperando que me
repreenda, que diga que terá que suspender as sessões ou
que me receite um calmante tarja preta, mas ela apenas me
observa. Esse silêncio me incomoda e começo a falar.
— Foi só uma vez, mas foi a mesma raiva que senti
nas vezes em que me meti em encrenca. E eu quase não
consegui controlar dessa vez, eu quebrei um monte de
coisas.
— Ufa! — Ela faz um gesto exagerado com a mão,
me interrompendo. — Achei que você terminaria a frase
como eu quebrei um monte de caras. Meu Deus, Colin,
não me assuste assim.
Sorrio, sentindo-me um pouco mais leve.
— Ninguém se machucou — garanto. — Além de
mim.
— Eu quero que você pense bem na primeira coisa
que vier à sua mente quando eu te fizer essa pergunta, e
me diga qual foi a primeira coisa. Sem floreios e sem
maquiar a resposta. Por que você ficou com raiva?
— Porque ela não apareceu! Ela prometeu que seria
minha Sorte, prometeu que estaria lá, e depois foi a Sorte
dele e agora será dele pelo resto do campeonato.
— Sorte é aquele lance das ring girls com privilégio
do seu clube de luta?
— Não é bem isso, mas é isso.
— E imagino que quando diz ela, estamos falando da
Caitlin?
Assinto.
— Ela já deixou de fazer coisas com você antes, por
que exatamente isso te irritou tanto?
— Porque pela primeira vez, doeu. Não venha me
perguntar o que doeu ou porque doeu, eu não sei. Não
entendi e nem quero entender, só que doeu, foi angustiante
e apavorante e eu não sei lidar com a dor.
— Mas você é um lutador. Olha esse roxo na sua
cara, você está sempre sentindo dor.
— Não desse tipo. Prefiro levar uma surra do que
sentir isso de novo. Há anos eu não sentia essa dor.
— Essa dor pode ser medo?
— Pode ser qualquer coisa, não tentei entendê-la.
— E quando você voltou a si? Quando parou de
quebrar as coisas?
— Quando a Caitlin apareceu.
— E aí a dor passou?
— Não, ela aumentou. Mas eu não queria feri-la. A
raiva foi que passou quando eu vi que não era culpa dela,
mas a dor? Essa merda está escondida aqui dentro e uma
hora dessas vai aparecer de novo. Então a senhora pode
me mandar para a cadeia de novo. Ou pode me dar um
desses seus remédios que vai me deixar dopado, porque
não sei o que quebrarei na próxima vez que essa coisa
aparecer.
— Como você sabe que ela ainda está aí?
— Porque eu a sinto. Não está doendo agora, mas
está aqui. Eu sei que está só se preparando para foder com
a minha cabeça de novo. Vamos, faça seu trabalho e me dê
um remédio.
Ela parece emocionada com meu sofrimento, segura
minhas mãos com os olhos brilhando e diz com um sorrio
tão grande, que tenho uma leve vontade de quebrar seus
dentes.
— Ah, meu menino! Quando é que você vai abrir os
olhos? Para certas dores não existe remédio, Colin. Mas
essa aí, escondida aí dentro, pode se tornar a melhor coisa
da sua vida se você souber como tratá-la.
— Como caralho uma dor pode ser algo bom?
— Não a dor, mas sua cura. Só que essa cura não
vem com uma receita prescrita numa tarja preta.
— Não me venha com esses papinhos de amor, não
quero seu trabalho de casamenteira, quero a merda da
minha psicóloga!
— Não estou sendo nem uma das duas agora, meu
bem. Estou falando a você o que diria ao meu filho, se
tivesse um. Isso não é uma consulta, é uma conversa. E o
que estou dizendo não é uma ordem, mas um conselho.
Você está começando agora, mas se ficar engatinhando por
tempo demais, quando aprender a andar será muito tarde.
Pense menos, Colin, sinta mais.
Solto minhas mãos das suas e me levanto irritado.
— A sua sorte é que eu nunca, nunca mesmo, bateria
em uma mulher.
Ela ri alto e se levanta também, ainda parecendo
emocionada mesmo após uma ameaça que ela poderia
considerar um retrocesso meu.
— Eu realmente gostaria de vê-lo tentar.
Saio de sua sala na mesma em que entrei. Sendo ela
casamenteira, psicóloga ou mãe, a doutora Katy Mansfield
não sabe o que está fazendo.
BÔNUS CAITLIN
Nunca fui uma pessoa que faz barraco em público, eu
sequer falo alto em público, quando comecei a estudar, no
primário, as professoras achavam que eu era muda, de tão
baixo que falava. Sempre fui tão calma e reservada, e é
mesmo difícil algo me irritar ao ponto de eu perder o
controle, como acontece no segundo que ponho meus pés
para fora da faculdade, e avisto Stephen Ryan encostado
ao seu carro, me esperando.
Se fumaça pudesse sair da cabeça das pessoas
quando elas estão com raiva, a minha seria uma chaminé
agora. Chego até ele tão rápido, que ele dá um passo para
trás ao invés de seu habitual abraço apertado.
— Boa noite? — pergunta ao invés de desejar.
— Como você foi capaz, Stephen?
A altura da minha voz o alarma, e ele pega minha
mão praticamente me enfiando dentro do carro. Depois dá
a volta correndo e o tira dali.
— Não precisava ter feito isso, eu não ligo de gritar
para você me escutar por cima de todo barulho do mundo!
— Estou vendo, mas estamos sozinhos aqui e vou
parar onde quase não há barulho, não vai precisar gritar.
— Você não merece que eu fale baixo!
Ele para o carro em frente ao meu prédio, onde há
menos barulho para conversarmos. Permaneço dentro do
carro, pois não sei se o Colin está em casa e não quero
que essa minha conversa com o Stephen termine em uma
briga entre os dois
— No que estava pensando? Eu não acredito que
você me fez...
Abaixo a cabeça com raiva e respiro fundo, e ele
tenta me acalmar, com tapinhas desajeitados no ombro.
— O que eu te fiz, Caitlin?
— Me fez perder a luta do Colin, não pude ser a
Sorte dele e aí você me fez ser a sua Sorte. E agora não
posso mais ser a dele, eu tinha prometido, Stephen.
Sua expressão é a de quem levou um belo tapa na
cara.
— Sempre o Colin. Bom, se serve de consolo eu não
fazia a mínima ideia que a garota que está saindo comigo
seria a Sorte dele!
— Não venha com essa para cima de mim. Você sabe
que eu não queria machucar ninguém, menos ainda você.
Eu fui sincera com você, Stephen, eu te disse que não
podíamos mais fazer isso. Você até me mandou flores,
agradeceu pela sinceridade, achei que tivesse entendido.
Que estivéssemos saindo como amigos.
Ele se vira para mim, meio apertado no banco do
carro por conta de seu tamanho. Ele não é tão forte quanto
o Colin, mas é bastante musculoso e alto. De forma que
fica desconfortável e espremido na posição em que está
dentro do carro.
— E estamos. A minha opinião a respeito disso não
mudou, Caitlin. Em uma noite você parecia estar se
apaixonando por mim, e na noite seguinte, você
desmarcou um encontro, aí apareceu mais perdida do que
já te vi com esse papo de que não podia fazer isso
comigo. E eu te entendi. Eu entendo que você não possa
mudar o que sente por ele, mas a minha posição não
mudou.
— Isso não te dá o direito de me fazer perder a luta
dele de propósito.
— E não fiz! Eu juro que não fazia ideia que você
seria a Sorte dele, achei que seria a minha. Achei que
você não estivesse caindo no papo furado dele à essa
altura.
— Não se trata de nada disso, ele é meu melhor
amigo e eu lhe fiz uma promessa, que você me fez
quebrar!
— Sinto muito.
— Você não sente, não.
— Quer saber? Não sinto mesmo! Você deveria me
agradecer por não ter sido a ring girl dele, por não ter
que ficar beijando-o a cada luta porque isso te machuca!
Olho bem em seus olhos e sei que está mentindo, eu
sinto isso.
— Eu achei que você fosse uma das melhores
pessoas do mundo. Achei mesmo que o Colin estivesse
errado sobre você, que essa rixa idiota de vocês não o
deixava ver a verdadeira pessoa que você é, mas você
jogou baixo, Stephen. Você não tinha o direito de decidir
isso por mim. Eu fui sincera com você, eu disse que
devíamos nos afastar e você prometeu que seríamos
amigos!
— Eu não prometi que concordava com isso! Tudo
bem, eu fiz de propósito, achei que se ele a visse a
chamaria para ser a Sorte dele e você então não poderia
mais ser a minha. Não havia problema nenhum no carro.
— Bom, eu não vou mais ser a sua Sorte, Stephen. —
Destravo a porta do carro e a abro, mas digo antes de sair
— e tomara que você perca.
Não desejo realmente que ele se dê mal no
campeonato. Mas me pareceu o certo a dizer após uma
confissão de maldade dele. Entro no prédio e no elevador,
e ele aparece aqui dentro comigo.
— Não me siga, Stephen.
— Caitlin, será que você não percebe que a estou
protegendo? Quando você me disse que estava confusa, eu
percebi o que não foi capaz de dizer em voz alta, Caitlin.
Você quis se afastar de mim porque está apaixonada por
ele.
— Não estou. Já estive um dia, muitos dias, na
verdade. Mas o conheci o suficiente para acabar com isso.
Eu quis me afastar de você porque fiquei confusa com ele.
E quis ser justa. Não acho certo começar um
relacionamento com você, quando uma noite boba na
cidade com ele me faz ficar tão confusa. Eu não o vejo
apenas como um amigo, foi isso que quis te explicar.
Ele nega com a cabeça e segura meu rosto, olha em
meus olhos, tentando me convencer:
— Você o ama. Mesmo sabendo que ele nunca vai te
dar isso de volta, mesmo sabendo que se ele descobrir
sobre esse sentimento, vai se afastar de você. E eu sei que
você tenta não amar e tenta manter sua tão prezada
amizade, mas isso está te matando aos poucos. Então você
se afasta de mim e na semana seguinte está na cama dele.
Pode ser bom no começo, mas como vai se sentir quando
ele aparecer com outra na noite seguinte? Você realmente
serve para ser mais uma dessas mulheres que ele leva
para a cama, Caitlin? Porque eu acho que você não é
assim. E ele sabe disso, por isso ainda não tocou em você,
mas vê-la comigo o está levando ao limite.
Penso sobre a reação de Colin ao fato de eu não ter
chegado a tempo da sua luta. Ele ficou tão chateado, que
se lembrou do passado, deixou que os fantasmas
entrassem. Então penso sobre sua reação a tudo que
envolve o Stephen, o ataque no orfanato quando eu disse
que estava apaixonada. O que ele fez no banheiro..., mas,
quando eu cedi, ele se afastou. Talvez Stephen esteja
certo, eu sei que ele está.
— Caitlin ele vai enlouquecer você até levá-la para a
cama, mas e depois? Como você vai ficar depois? Vai
perder seu tempo, seu coração e seu tão querido amigo.
— Isso não te dá o direito de armar para mim,
Stephen. As coisas entre mim e o Colin e o que quer que
eu sinta por ele, têm que ser resolvidas por mim, não por
você.
— Só que eu estou apaixonado por você, nunca te
escondi isso e sinto muito, mas não posso vê-la caminhar
em direção a um precipício e deixar que você salte de
olhos fechados sem fazer todo o possível primeiro para
impedir. Eu sei que não joguei limpo, eu realmente sinto
muito por ter me rebaixado ao nível dele com você, eu
peço desculpas a ele se você quiser, mas eu preciso
protegê-la. Caitlin, eu não me importo de passar um tempo
com você como amigos. Eu te disse aquela noite e repito,
eu me apaixonei de verdade por você. E se você me
deixar provar que posso te fazer esquecê-lo, eu vou fazer
isso, Caitlin. Você não tem que me prometer nada, não
precisa nem ao menos se esforçar, só me deixa tentar.
Descemos do elevador e o impeço de entrar no
apartamento. Apenas para evitar o confronto entre ele e
Colin. Ele entende meu gesto e se despede beijando
minhas mãos. Dá um passo em direção ao elevador, mas
para e me olha, um sorriso em seu rosto, como se não
tivéssemos acabado de ter mais uma discussão difícil. Às
vezes eu o admiro tanto, que me pergunto se não estou
jogando fora o cara certo para mim por um sentimento tão
louco como o que tenho pelo cara errado.
— Eu vou convencê-la, Caitlin. Você será minha.
Então entra no elevador e vai embora, e eu fico me
perguntando em que momento a minha vida se tornou uma
série adolescente dramática onde eu fico na dúvida entre
o cara perfeito e o cara impossível. Claro que se fosse
uma série, o impossível também estaria apaixonado por
mim. E claro que se fosse esse o caso, não teria drama
algum porque eu ficaria com ele.
Enquanto entro no apartamento, não sei se prefiro que
o Colin esteja no modo com raiva, ou no modo tentando
me seduzir. Não sei com qual dos dois é mais difícil lidar.
Porque no final das contas eu convivo com ele há tempo
suficiente para saber que preciso tomar todo cuidado do
mundo para não ceder. Pelo menos não enquanto eu sentir
qualquer coisa diferente por ele. Porque depois que me
tiver, ele vai me destroçar.
Mas, fico contente com uma nova meta de vida: não
amar mais o Colin, para poder finalmente ficar com ele.
Eu deveria procurar a psicóloga dele, há algo errado
com meu cérebro.
CAPÍTULO ONZE
— Eu vou convencê-la, Caitlin. Você será minha.
Ouço o imbecil falar para ela quando está se
despedindo. Isso significa duas coisas, uma: ela ainda não
perdeu a virgindade com ele. E duas: ainda tenho tempo
de impedir.
Ela se assusta ao dar de cara comigo perto da porta,
leva a mão ao coração e sorri para mim. Então tenta
defendê-lo, mas o faz sem convicção:
— Ele não sabia que eu seria a sua Sorte.
— É, ele preferiu não correr o risco — respondo e
vou para a cozinha.
— Você ainda está bravo comigo?
Nem me dou ao trabalho de responder. Culpada ou
não por não ter sido a minha Sorte, eu tentei alertá-la
sobre ele e ela não quis me ouvir.
— Você já se convenceu de que ele não serve para
você?
— Colin, você só faz o que sabe que é o certo a se
fazer?
Olho para seu rosto risonho e contenho a vontade de
rir também.
— Você está querendo me zombar? — pergunto para
entrar em seu jogo, sei bem onde ela quis chegar.
— Pois é, não me julgue.
— Recado recebido, senhorita Ross. E ignorado.
Ela deixa as coisas sobre a bancada e dá a volta,
aproximando-se de mim. Para ao meu lado e me estende
os braços.
— Vamos fazer as pazes? — pede.
— Está me oferecendo seu corpo como pedido de
desculpas? Caitlin, você é a melhor amiga do mundo.
Largo o pimentão e a abraço, levantando-a com
facilidade, rodopio com ela que ri como uma menina e
aquela coisa escondida no meu peito, esperando para dar
as caras, parece diminuir um pouco.
— Na verdade, só te ofereci um abraço — ela diz, e
a coloco no chão imediatamente.
A dor esperando para foder com a minha cabeça
diminuiu um pouco. Só porque abracei a Caitlin e a ouvi
sorrir.
— Merda! Merda! Merda!
Vou para o meu quarto como um imenso bundão e a
deixo ali sem explicação. Eu teria que mentir de novo e
isso não vai se tornar um costume. Melhor não falar nada
do que não falar a verdade. E nesse momento estou
considerando sacudir a doutora casamenteira até que ela
desfaça a maldita praga que rogou em mim. Ligo para ela
que me atende no terceiro toque. Nem dou tempo de ela
me dizer nada, já a ameaço:
— Não é a dor, é a cura — imito sua vozinha fina de
mulherzinha. — Papinho furado de merda, desfaça essa
porra agora mesmo!
Ela fica em completo silêncio e acho que não me
ouviu, ou está chamando a polícia. Mas então ela ri, dá
gargalhadas e me diz que ganhou sua noite antes de
desligar o telefone na minha cara.

Durante esses dias tenho evitado muito contato com a


Caitlin. Ela entrou em semana de prova e isso facilitou
para que não nos víssemos tanto, mas nos momentos em
que estamos juntos em casa, a trato com educação e me
afasto. Vejo que isso a machuca, mas até que essa dor
escondida aqui suma totalmente, terei que afastá-la.
Preciso ser eu mesmo a sumir com essa coisa, não ela. Sei
que durante essa semana ele não vai convencê-la a fazer
nada, pois ela fica pilhada e entra no modo Caitlin zumbi
quando é semana de provas. E as bolas negras em volta de
seus olhos deixam isso bem claro. Acho que prefiro
impedi-la de perder a virgindade com o babaca do Ryan
sem que ela acabe na cama comigo no percurso.
Abro a porta do meu quarto para me preparar para
minha segunda luta no campeonato e a vejo na cozinha,
com fones no ouvido e tomando sorvete direto do pote.
Este é seu ritual para quando as provas acabam, e como
hoje é sexta, foi seu último dia de martírio. Ela sempre fez
isso, mas eu nunca tinha reparado em como ela fecha os
olhos e geme enquanto enfia a colher na boca, e a imagino
fazendo isso no meu pau, enquanto o enfio bem devagar na
boca carnuda dela, meu pau logo dá sinal de vida e
aproximo-me dela devagar. Paro atrás dela e respiro o
cheiro de seu cabelo, ela geme mais uma vez e encosto
meu corpo ao dela. Ela se assusta, mas está cercada por
meus braços enquanto tiro a colher de sua mão, mergulho
no pote de sorvete e a levo até minha boca, minha cabeça
pouco acima de seu ombro. Um pouco do sorvete cai em
seu ombro no percurso e o lambo imediatamente.
— Hum, chocolate — comento como se não fosse
nada demais tê-la lambido e levo a colher à boca ao
mesmo tempo em que me recosto mais nela, deixando que
ela sinta minha ereção pressionada em suas costas, logo
acima de sua bunda.
Ela se mexe desconfortável e se vira nos meus
braços, ficando de frente para mim. Seus olhos de gata
estão assustados e ela está vermelha como um tomate.
— Você acabou de me lamber — diz num fiapo de
voz.
Sorrio como se fosse uma coisa qualquer.
— Caiu sorvete no seu ombro. Imagina se você
estivesse de frente para mim, como está agora? Teria
caído no seu seio, e eu começaria a lambê-la daí.
Viro a colher vagarosamente para deixar que caia
sorvete em seu seio, mas ela empurra meu braço e corre
para seu quarto. E eu fico aqui, sentindo falta do calor do
corpo dela, imaginando por que caralho não joguei o
sorvete em seu seio e o lambi ao invés de falar isso para
ela.
— Caitlin, Caitlin. Não é proposital, você apenas
tem que ser minha. Eu juro que tento, pequena, eu queria te
deixar em paz, mas o destino não colabora. Ele quer me
ver de qualquer jeito dentro de você. O que eu posso
fazer? — falo baixinho esperando que ela tenha ouvido
pelo menos um pouco do que disse.
Eu sei, sou um fracote quando se trata dela, decido e
sei que é melhor não fazermos isso, pelo bem da nossa
amizade, mas há algo em meu corpo, na minha cabeça e
até mesmo no ar à nossa volta que não me deixa ser um
cara bom. Então terei que enfiar essa dorzinha escondida
o mais fundo possível, porque eu vou ser o primeiro dessa
mulher. Se tenho que ser um cara mau para isso, então
serei. Estranhamente, me sinto um pouco mais feliz ao
aceitar isso. Essa coisa de manter as mãos longe dela
estava me pesando a alma.
Guardo o sorvete na geladeira mais leve e disposto,
ciente que mesmo não a tendo em cima do rinque comigo
essa noite, eu vou vencer.

Chego ao clube pouco antes do horário da luta, mas


tenho dado tão duro nos treinos durante a semana, que
decidi deixar a tarde de hoje livre para descanso. Porém,
me sinto mais ativo do que nunca. O clube já está
enchendo, e os caras estão reunidos nos fundos, fazendo
as apostas. Stephen lutou ontem e venceu, vou usar isso
como um incentivo para que eu vença também, e não vou
pensar no fato de que deve ter dado o maior beijão na
Caitlin após sua vitória de merda.
Não cumprimento os caras enquanto troco de roupa,
acho que eles nem veem que cheguei, fechados em sua
rodinha de aposta. Enquanto me visto, escuto o teor da
conversa da noite. Quero saber se estão apostando em
mim, mas claro que estão. É incomum que façamos
apostas no vestiário ao invés de lá fora, mas às vezes,
fazemos essas apostas internas, fora das que fazemos com
a plateia.
— Eu aposto no Colin — um deles diz e sorrio, como
eu disse, apostando em mim.
— Fala sério, cara, lógico que vai ser o Stephen,
estão juntos há semanas!
Stephen? Mas ele não luta hoje, e não luta comigo.
— Mas ela deu um bolo nele ontem, você não viu?
Ele ficou lá procurando por ela e ela não apareceu. Não
quis vir nem para assistir a luta.
— Mas ela também não viu a luta do Colin, então
para mim ainda vai perder a virgindade com o Stephen.
— De que merda vocês estão falando? — Me
intrometo já puto com a merda de aposta que estão
fazendo. Mesmo assim pergunto, porque quero ter plena
certeza antes de quebrar a cara de todos eles aqui dentro.
Eles estão assustados e tentam desconversar, mas já
parto para cima, sendo segurado por Thor e Luke, que nem
vi de onde saíram.
— Seus malditos! Eu disse para não falarem mais o
nome dela! Que merda de aposta é essa? Não toquem no
nome dela!
Sinto tanta raiva que continuo gritando enquanto sou
levado dali. Está na hora da luta, e toda minha
concentração se foi, eu só sinto raiva.
— Acalme-se filho, ponha a cabeça no lugar! Vença
esse campeonato e pode quebrar a cara de cada um deles
depois, mas agora, concentre-se! — Thor tenta enquanto
me leva para perto do ringue, onde o locutor já está se
preparando para iniciar a noite.
Mas não consigo me acalmar. A culpa disso é minha,
maldita hora em que a trouxe a essa merda de clube, nunca
deveria ter feito isso. Encaro Luke que está vermelho e se
segurando e acuso:
— A culpa disso é sua! Que ideia de merda foi
aquela de trazê-la para cá?
— A culpa é nossa, seu bosta! Mas eu vou dar um
jeito nisso!
— Luke, dê um passo para dentro daquele vestiário e
será demitido! — Thor alerta. — Vocês não vão brigar no
meu clube essa noite. Há outros clubes e um campeonato
acontecendo aqui. Vocês são homens feitos então ajam
como tal! Resolvam essa criancice depois! Eu vou
advertir os lutadores que fizeram essa aposta, eles
perderão suas porcentagens nas próximas lutas. Não
façam mais nada por ora.
Me preparo para responder, mas então a vejo.
Caitlin. Ela parece perdida e deslocada sozinha ali,
procurando entre a multidão. Até que seu olhar encontra o
meu, ela sorri para mim e procura um lugar para se sentar.
Mesmo não sendo minha Sorte, ela veio assistir minha
luta. Senta-se e estende um cartaz que fez, onde está
escrito com sua caligrafia perfeita: Team Colin.
— Cara, ela está aqui! Sem o Ryan — Luke diz.
— Vá, fique ao lado dela, não deixe que nenhum
daqueles idiotas diga qualquer besteira a ela.
Luke assente e corre para sentar-se ao seu lado e
Thor ainda me olha, com sua melhor expressão de homem
experiente.
— Você acha que há o menor risco de eles mexerem
com ela? Ela é a garota dos meus dois lutadores mais
mortais, acredite, se alguém aqui dentro está protegida, é
Caitlin Ross.
— Ela não é... — Tento defendê-la, mas sou chamado
ao ringue e preciso me concentrar. Tenho que vencer essa
luta. Para poder ganhar essa merda de campeonato e
quebrar a cara de todos aqueles babacas do vestiário, e
claro, para impressionar minha mais linda expectadora.
Caitlin, você pode não ser minha Sorte nesse ringue
essa noite, mas a minha vitória e todas as outras depois
dela serão para você.

A luta foi páreo duro, o adversário da noite era bem


mais difícil do que o anterior. Apanhei mais do que
planejava para impressionar minha expectadora, mas no
final, deu tudo certo e eu venci. Fiz questão de manter
meus olhos fixos nela enquanto o juiz levantou meu braço,
e ela sorriu em resposta, entendendo o recado. Em
compensação, a cara de Luke não foi das melhores, acho
que ele também entendeu o recado. Preciso muito ter uma
conversa com meu amigo.
Desço do ringue recebendo os cumprimentos de
alguns lutadores e de Thor, que está mais feliz do que o vi
o dia todo.
— Este era um dos mais preocupantes lutadores,
Hanson. Você acabou com ele!
A plateia grita meu novo nome “exterminador”, e
vejo o dinheiro rolando solto, quem apostou em mim, vai
voltar para casa de bolsos cheios. Procuro então minha
menina e ela está em uma conversa com Luke, a cara de
socorro de sempre, enquanto ele segura sua mão. Vou em
sua direção, quando esbarro em Serena. A irmã do meu
maior inimigo está com algumas ring girls, então me dou
conta de que raramente a vejo com algum lutador ou
qualquer homem daqui. Aliás, não a vejo com ninguém do
sexo masculino desde que...
— Serena — grito por cima da multidão.
— Colin, parabéns!
Pego sua mão e a levo até um lugar menos barulhento,
de onde ainda posso ver Caitlin, que procura por mim. Só
quero ser o cara que ela acredita que eu seja.
— Eu quero me desculpar com você, por tudo o que
te fiz. Eu fui um canalha e extremamente idiota e agradeço
por você não me odiar. Eu não tinha a intenção de ferir
você, e realmente sinto muito.
Ela fica tão surpresa que demora um pouco a sorrir e
dizer que está tudo bem.
— Colin, eu nunca pensei que você seria...
Deixo de ouvi-la no segundo em que olho novamente
para Caitlin e ela está de pé, de mãos dadas com Stephen.
Despede-se de Luke enquanto varre mais uma vez o local
com os olhos, provavelmente procurando por mim, me vê
num canto com a Serena e vira-se rápido o bastante para
que eu não veja a decepção em seus olhos. Merda! Isso é
que dar tentar bancar o bonzinho.
Quero ir atrás dela, mas não o faço. Não posso dar
ainda mais motivos para que ela seja o alvo das apostas
idiotas desse lugar. Não posso alimentar ainda mais essa
história de rivalidade fora dos ringues ou luta pela
virgindade dela. Ok que isso realmente existe, mas eles
não precisam de uma confirmação. Desanimado, olho para
Serena olhando de mim, para o local onde Caitlin estava e
uma compreensão toma seu rosto.
— Você sabe que está apaixonado por ela, não sabe?
— Ei, Serena, quer ser a minha Sorte no
campeonato? Seria a Caitlin, mas você também é minha
amiga, não é? Acho que vai me ajudar a vencer.
Seus olhos brilham e especifico meu convite antes
que más interpretações acabem em confusões
desnecessárias.
— Como amigos, claro. Sem benefícios. Apenas
amigos.
— Eu entendi, Colin. Mesmo porque você ama a
namorada do meu irmão, o que nem vou comentar o quão
fodido você está. A vida é mesmo imprevisível. Mas sim,
aceito ser a sua Sorte, podemos ser amigos, eu gosto de
você. Ficarei muito feliz em ajudá-lo a vencer. E meu
irmão vai ficar doido com a gente.
— Que bom! Preciso ir!
Despeço-me dela quando uma ideia começa a surgir
em minha mente. Eu, mais uma vez, excitando a Caitlin
antes de ela ir passar a noite com o imbecil. Preciso
melhorar meus métodos de sedução se quiser colher os
frutos da minha plantação. Essa coisa de deixá-la
molhada, para depois ela sair com ele ainda vai acabar
com a pouca sanidade que me resta.
Avisto Luke na saída, e eu deveria ir falar com ele,
dizer que as coisas mudaram. Não que eu esteja
apaixonado pela Caitlin, não, isso é outra coisa. Mas é
uma outra coisa maior do que eu disse a ele que realmente
era. Então, preciso corrigir. Procuro por eles e encontro
Stephen se despedindo de seus amigos babacas, em
seguida, abre a porta do carro para Caitlin.
Ridículo! Fingindo ser o cavalheiro.
— Caitlin, meu bem, prefira caras que saibam abrir
suas pernas, não portas.
Espero eles saírem com o carro, e mantendo o
máximo de distância possível para que não me vejam, eu
os sigo. Só quero ver se irão a um motel, nada demais. Ele
a leva a um pub, um badalado que eu sempre quis
conhecer, mas não o fiz por falta de coragem de trair meu
pub de sempre. Eu já posso ir embora tranquilo e calmo
ciente de que não foram a um motel, mas a Caitlin me viu
com a Serena naquele canto, deve estar pensando um
monte de baboseiras e está indo beber. Quando bebeu a
primeira vez, dançou em uma mesa de bar, o que poderá
fazer com ele juntando bebida + calcinha molhada + raiva
de mim?
Estaciono a moto escondida por uma árvore e desço.
Fico no vidro, do lado de fora, observando-os conversar.
Ela não parece muito animada com a conversa e ele faz
carinhos demais no rosto dela. Por isso ele não pega
mulheres no clube, lento demais. Mulheres não querem
viver de carinhos, querem viver de orgasmos. No canto
em que estão, se fosse eu com ela, meus dedos
acariciariam sua boceta, não seu rosto. Se ele não fosse
tão babaca eu poderia dar umas aulas para ele de como
tratar uma mulher.
Um casal senta-se na mesa ao lado da deles cobrindo
minha visão. Vejo a mão dele descer de seu rosto e quase
desfaleço por um segundo, porque no outro, entro no pub,
tentando me esconder atrás do garçom e sento em uma
mesa no segundo andar, que me permite vê-los. Tomara
que eles não olhem para cima. Ele fala sem parar e ela faz
sua perfeita cara de paisagem. Será que ele não a conhece
o suficiente para saber que a está entediando? Ela mexe na
pulseira em seu pulso várias vezes seguidas, sinal claro
de que quer ir embora, ele sai tanto com ela e ainda não
percebeu isso? Caitlin é como um livro aberto e ele é tão
babaca que não consegue lê-lo.
— Estou salvando você, meu bem — digo baixinho.
— Falando sozinho? — Uma mulher na casa dos
quarenta anos, usando uma blusa bem decotada e um short
curto demais por cima de uma meia calça suspeita senta-
se à mesa comigo.
— Não. Estou aqui apenas como espião.
— Trabalha para o governo? — pergunta
esperançosa.
— Ah não, não mesmo! Neste caso em particular, é
um trabalho em benefício do meu pau. Está vendo aquele
casal ali? — Aponto os dois e ela observa por um
momento antes de constatar.
— O homem lindo e a garota entediada?
— Desnecessário colocar adjetivos nele, mas sim,
ela está entediada. Ela é minha melhor amiga e quer
perder a virgindade com esse babaca, dá para acreditar?
— Na verdade, dá. Ele é maravilhoso!
Mulheres. Por que tão focadas em aparências?
— Ele é ruim de cama — afirmo para acabar com
seu fascínio por ele.
O garçom entrega minha cerveja e ela pede algo,
voltando a falar comigo em seguida:
— Como você pode saber disso?
— Olhe a quanto tempo ele está acariciando a mão
dela. Antes disso, ficou a vida no rosto.
Ela parece desanimada e seu olhar se foca totalmente
em mim, avaliando-me dos pés à cabeça.
— É verdade, bem lento da parte dele. Já você,
parece esperto demais — levanta seu decote tentando me
impressionar e teria dado certo, se não fosse o casal lá
embaixo e minha missão da noite.
— Querida, você não faz ideia do quanto.
— Quer ir para um lugar onde possa se concentrar
em uma mulher que não seja uma menina entediada?
— Agradeço, mas a garota entediada ali, é a próxima
mulher que vou levar a algum lugar.
— É uma pena! Mas só para que você saiba, você
está ridículo sentado aí espionando de longe a menina.
Fala que ele é lento, mas há quanto tempo está aqui ao
invés de ir lá e pegá-la para você?
— É por isso que não gosto de mulheres mais velhas.
Eles se levantam e mais do que depressa levanto-me
também.
— Ei, pague a cerveja por favor, obrigado e boa
sorte — digo já saindo correndo escada abaixo.
Pego a moto, que por algum motivo deixei longe
demais da entrada e até que consiga ligá-la, eles já
sumiram. Dou uma volta pelas proximidades, mas não os
vejo mais. Bom, de qualquer forma, eles não iriam a um
motel, ele acabou com todo meu trabalho de mais cedo
molhando a calcinha dela, entediando-a.
— Valeu, Stephen. Está aí uma frase que nunca pensei
que iria dizer.
Volto para o apartamento, mas assim que desço do
elevador escuto a voz da Caitlin. Mais uma vez, por algum
motivo, ela não o deixou entrar. Acho que isso tem a ver
comigo e o quanto fiquei mal por ele ter sabotado minha
operação Sorte. Escondo-me atrás de um vaso de plantas,
ele não esconde quase nada, mas Caitlin e Stephen não
podem me ver de onde estão, porque estou pouco antes da
virada no corredor que dá na nossa porta.
— Caitlin, você pensou no que te pedi? Princesa, eu
sou louco por você, se me der essa chance, se for a minha
namorada, prometo que vou fazê-la feliz. Eu nunca quebro
uma promessa, Caitlin. E nunca perco uma luta. Eu juro
que você vai ser feliz comigo, só preciso que diga sim.
Há o silêncio como resposta e temo não estar
escutando a voz baixa dela, inclino a cabeça um pouco e
uma mão toca meu ombro, quase me fazendo mijar nas
calças.
— Colin, que bela noite para se espionar, não é
mesmo?
— Lorna. Você não poderia ser mais inoportuna.
Ela abre um sorriso enorme e me aperta em seus
braços.
— Olha sua cara, filho, você parece uma colcha
remendada, vamos tratar isso.
Pega minha mão e vira o corredor, ficando à vista de
Caitlin, que abraça a mãe parecendo aliviada.
O que será que ela respondeu?
— Colin, não te esperava aqui tão cedo — diz
olhando-me rapidamente.
— E onde mais eu estaria?
Ela me lança aquele olhar de “queria te matar só um
pouquinho” e apresenta seu namoradinho para a mãe.
— Mãe, este é o Stephen, Stephen, esta é Lorna,
minha mãe.
Ele beija a mão de Lorna e puxa seu saco elogiando
sua beleza e maneira de se vestir. Lorna é uma mulher
linda, mas se veste horrendamente.
— Lorna, já viu que ele é mentiroso, não viu? Sua
roupa está estranha — digo para provocá-lo e ela começa
a rir, pega a mão dele e entra no apartamento.
Caitlin a segue, mas seguro seu braço, puxando-a
para mim.
— Como foi o beijo? — pergunto olhando em seus
olhos.
— Que beijo?
— Que ele deu em você. Passou no teste? Fez você
se sentir como eu fiz?
Ela cora e tenta se livrar do meu aperto.
— Colin, eu não acredito que você...
— Você nem deu um beijo nele, não é? Está com
medo porque sabe que nunca será a mesma coisa. Mas
sabe, você deveria testar, deveria beijá-lo, e comparar. A
porta do meu quarto estará aberta quando você voltar
correndo para casa, e meu rosto estará limpo desses
machucados, pra eu poder beijar você. Do jeito que você
gosta.
Solto seu braço e entro em casa, vamos ver como o
Stephen se sai ao conhecer a irreverente sogrinha dele.

— Filha, você demorou a eternidade para achar


alguém, mas valeu a pena! — Lorna avalia Stephen,
passeando a mão por seus músculos e dando uma apertada
em seu traseiro, o que o deixa claramente desconfortável.
— Mamãe, por favor. Não vá traumatizá-lo.
— Ah, uns apertos ele aguenta. Não é, querido?
Ela anda até Caitlin e segura suas mãos.
— Querida, eu aprovo o seu namorado. Ele é lindo e
fofo. E claro, ele sabe que você não é uma menina. Você
não fica cheio de dedos com ela, não é? Sabe que ela
precisa transar.
— Mãe! — Caitlin repreende corando como um
tomate.
— Estou tentando, senhora Ross, estou tentando —
ele diz e Lorna pisca para mim.
Essa velha trapaceira! Insinuando que eu vejo Caitlin
como uma menina. Ela fica tanto tempo elogiando Stephen
e circulando em volta dele, que isso me incomoda. Ela
realmente gostou muito dele, ainda mais quando ele
começa a contar sobre seus planos na empresa de seu pai.
Ao contrário de mim, ele é alguém, tem uma família, uma
casa, carro e um futuro. Tem muito mais a oferecer a
Caitlin do que eu. Encaro minha menina sentada ao lado
dele, ela sorri das gracinhas da mãe, mas eu a conheço o
suficiente para saber que está cansada e só quer que isso
acabe logo para ela ir dormir.
Como ele pode nem perceber isso? Ele pode ter tudo
para dar a ela, pode dar a casa perfeita, a vida perfeita, o
cachorro perfeito. Mas ele nunca a fará feliz como eu
poderia fazer. Ele nunca vai conhecê-la e entendê-la como
eu.
Levanto-me confuso e cansado demais de repente e
toco no ombro de Lorna, meus olhos fixos em Caitlin.
— Acho que nossa menina está cansada, Lorna. Ela
estudou duro a semana toda, está tarde, ela precisa dormir.
Caitlin sorri para mim em agradecimento e Stephen
finalmente se toca que deve ir. Ele se despede de Lorna
como o puxa saco babaca que é e passa direto por mim.
Caitlin vai levá-lo até a porta.
— Muito bonito, sua velha assanhada! Aprova o
namoradinho dela? Que palhaçada, sua traíra!
Ela abre um sorriso enorme e passeia a mão por meu
peitoral.
— Ah querido, você é mais gostoso do que ele! Você
sabe, você só é meio cego. Apesar que, você os estava
espionando e agora está com ciúmes.
— Isso não é ciúmes. É outra coisa.
— Ainda cego, Colin, meu bem. — Ela pega sua
bolsa e segura minha mão em seguida, com seus olhos de
mulher sábia, o que sabemos que ela não é. — A garota
dorme na porta de frente para a sua, você precisa ser
muito idiota para perdê-la para ele.
Então, ela solta minha mão e aperta meu saco, de
leve, mas é o bastante para me assustar e me fazer dar um
pulo para trás constrangido.
— Você é maior do que ele. Use isso que tem no
meio das calças.
— A senhora apalpou o pau dele?
— Ah, ela apalpou — Caitlin responde voltando a
sala. — Mãe, guarde essa bolsa, precisamos conversar.
— Bom, eu vou tomar um banho — digo afastando-
me para deixá-las no momento delas.
Quando saio do banheiro, Lorna já se foi e Caitlin
está indo dormir também. Dou boa noite a ela, que
responde com um sorriso, e a recordo da minha oferta.
— A porta do quarto está aberta.
Ela cora levemente e me retiro ao meu quarto,
esperançoso que ela apareça. Afinal de contas, ficou
horas com ele entediada e sem dar sequer um beijo.
Quando saí com ela em nosso encontro, eu queria beijá-la
o tempo inteiro, com ele não pode ser diferente. Mas ela
não quis beijá-lo, e estava entediada, o que claro, é um
ponto a meu favor.
Merda! Eu realmente os segui como um adolescente
maluco apaixonado quando disse a mim mesmo que
jamais faria isso?
— Amarrem minhas bolas, eu sou um desesperado!
CAPÍTULO DOZE
Os dias passaram sem maiores novidades e minha
terceira luta é hoje. Logo após a do imbecil Ryan. O que
quer dizer que terei que vê-la no ringue ao lado dele,
quando deveria estar comigo. Tenho feito de tudo para que
ela perceba que deseja a mim e não a ele. Eu ando seminu
pela casa, toco nela mais do que o normal e nossas
conversas estão sempre cobertas de segundas intenções da
minha parte. Tirando agarrá-la e fazê-la gozar com minha
mão, não sei mais como fazê-la entender que seu prazer
pertence a mim. Estou ficando sem ideias.
Avisto Luke logo quando chego, conversamos sobre
várias coisas, menos sobre o que eu deveria realmente
falar com ele. Não sei se meu amigo vai entender e não
quero correr o risco de perdê-lo. A vida podia colaborar
comigo só um pouquinho e fazê-lo se interessar de
maneira especial por outra mulher, para perceber que não
ama a Caitlin como acha que ama, ele apenas a deseja.
Coisa que poderia acontecer com qualquer homem que
olha para ela.
Mais uma vez, fico esperando uma mãozinha da vida
e deixo essa conversa para depois, pois Stephen vai
começar a lutar. O locutor anuncia os lutadores da noite,
dando início ao barulho ensurdecedor da plateia.
— Boa noite, senhoras e senhores. Nessa noite o
chão desse clube vai tremer. A competição está ficando
menor e consequentemente, apenas os melhores estão
sobrevivendo. Quem vai cair hoje? Quem ficará mais
perto do cinturão de campeão? Só posso garantir uma
coisa, o clube Luck vai guardar esse troféu este ano.
Uma parte da plateia aplaude e outra vaia, e ele
continua:
— Sem mais delongas, vamos a primeira luta da
noite. Tirem a mão dos bolsos, porque a briga é boa. Ele,
o maior campeão de Nova York, o mestre do Luck, com
vocês, o invencível Stephen Ryan.
A plateia grita e o dinheiro rola solto quando o
imbecil sobe ao ringue, meus olhos estão correndo toda a
plateia em busca dela, mas não a vejo em lugar nenhum.
— Ele escapou de uma prisão no Alabama para estar
aqui essa noite, senhoras e senhores. Mortal, preciso,
indestrutível! Ele é Jeff Dowson, o martelador.
Mais gritos e o dinheiro continua rolando de mão em
mão em apostas. Os tesoureiros mal dão conta de colher
tudo. O locutor convida as Sortes a subirem no ringue, e
uma garota sobe por Jeff, ela está grávida e beija-o na
boca, deve ser a esposa dele. Stephen olha para um ponto
na plateia fixamente, e percebo que está olhando Caitlin,
ela está aqui, na plateia, não no ringue com ele. Ele
suplica a ela com os olhos que suba no ringue, mas ela
não o faz, e ele diz ao locutor que não tem uma Sorte. Sei
que isso vai gerar mais apostas idiotas e ainda mais
conversas com o nome dela, mas sinto-me absurdamente
feliz por ela se recusar a subir lá.
A plateia está cheia e claro que não há lugar ao lado
dela, mas preciso saber porque ela não quis ser a Sorte
dele. Ando pela multidão, me esquivando de mãos mais
assanhadas e paro de frente para o cara sentado ao seu
lado.
— E aí, cara? Vaza!
Ele sai rapidamente e recebo um olhar de reprimenda
de Caitlin, mas não me importo, sento-me ao lado dela
com o maior sorriso do mundo na cara.
— Por que está sorrindo assim? Colin, você feliz
desse jeito me assusta — grita.
— Minha melhor amiga não é a Sorte do meu
inimigo, não posso comemorar?
Ela parece desconfiada, mas por fim dá de ombros e
presta atenção na luta de Stephen. E eu fico como um
cachorrinho pedindo atenção ao seu dono, grito por sobre
o som da plateia, a toco, tento manter uma conversa na
medida do possível, mas seus olhos não se fixam em mim
por mais de três segundos e voltam para a merda do
ringue, para ele.
Essa deve ter sido a luta mais difícil do campeonato
até agora, o martelador além de força tem muita técnica e
Stephen apanhou bastante antes de vencê-lo, coisa que
raramente acontece. Ele pega o lenço da sorte e Caitlin
vira-se para mim imediatamente, deixando claro para ele
que não irá subir naquele ringue.
— Ufa! Achei que essa coisa de sorte funcionasse e
fiquei com medo dele perder a luta porque eu não subi lá
— comenta aliviada.
— Funciona. Mas a vida é extremamente generosa
com esse babaca, ele sempre vence. Além do que, depois
do que fez ele merecia perder. Agora que está me vendo
aqui, por que não subiu lá com seu namoradinho?
— Era para eu ter sido a sua Sorte e não fui por
causa dele, só não achei justo ser a dele, sabe?
Sinto um orgulho enorme dessa minha menina e do
carinho e amor que ela sempre tem por mim. Ela não vai
mais ser a Sorte desse babaca o campeonato todo por
minha causa. Isso me deixa quase tão feliz quanto se ela
fosse a minha Sorte no campeonato. Se eu puder beijá-la
mais vezes, então me sentirei tão feliz quanto.
Despeço-me dela para a minha luta. Em poucos
minutos meu nome será chamado, mas estou confiante e
calmo, esta noite minha técnica vai vencer a luta.
Bebo uma água e na saída do vestiário, encontro
Stephen, também saindo.
— Então, parece que você ficou sem sorte para o
campeonato não é mesmo? — provoco.
— Não pense que você venceu essa, Hanson. Ela
pode não ter subido ao ringue comigo hoje, mas está indo
embora comigo agora. Quem ganhou?
— Eu já disse que ela não é um objeto para que você
fique disputando e exibindo! Uma hora ela vai perceber o
grande babaca que você é.
Ele dá um passo em minha direção, mas se controla.
E eu torço que ele me acerte, foco meu olhar nele,
incitando-o a me atingir, só preciso de um toque para que
ele seja desclassificado.
— Sabe qual é o seu problema, Hanson? Você nunca
a olhou como uma irmã! Você a teve nas suas mãos a vida
toda, e achou que poderia curtir a vida e depois ela
estaria ali quando você resolvesse sossegar. Só que não é
assim que as coisas funcionam. Você teve sua chance com
ela, para sermos justos, teve mais chances do que
qualquer outro homem terá um dia com ela, e você jogou
isso fora. Devia ser homem ao menos para assumir isso e
deixá-la ser feliz.
As palavras dele me machucam mais do que qualquer
golpe que ele poderia ter me dado. Porque sei que ele está
certo em grande parte do que disse. Exceto que meu amor
por ela realmente era algo fraternal e apenas recentemente
mudou. E claro, que ela não poderia ser feliz longe de
mim, porque eu fui moldado em torno dela, para conhecê-
la por inteiro, para adivinhar os pensamentos dela. Eu
posso ter tido mais chances do que qualquer outro homem
na vida dela, mas isso porque nenhum outro homem
poderia fazê-la feliz como eu.
Ela dá um passo à frente, e percebo que estava
ouvindo a conversa. Seus olhos de amêndoa estão focados
em mim, e parecem tristes. Eu não vou deixar que esse
imbecil saia com a última palavra essa noite, mas
respondo mais para ela, para que ela entenda, do que para
ele.
— Você está errado, eu a via como uma irmã, sim. A
amava como se fosse sangue do meu sangue. Eu percebi
tarde demais que ela não é minha irmã, e não é mais uma
menina, eu admito isso. Estive de olhos fechados por
tempo demais. Mas eu acredito, eu realmente espero, que
não exista tarde demais para alguém aprender a fazer a
pessoa mais importante da sua vida feliz.
Os olhos dela enchem, ainda focados em mim.
Stephen pega sua mão e a chama para ir embora, mas pego
a outra, impedindo-a de ir com ele.
— Você não vai assistir minha luta?
— Não, nós já estamos de saída — Stephen
responde, mas ela olha para ele e aperta sua mão,
tranquilizando-o.
— Claro que vou. Eu prometi que não perderia uma
luta sua, não prometi?
— Obrigado — digo quase sem voz e ela solta a mão
de Stephen e me abraça.
— Boa sorte, Colin. O grito mais descoordenado e
fora do tom, será o meu.
Sorrio e ela vai com ele. Não importa se estará de
mãos dadas com ele, é para mim que estará torcendo.
Venci a luta com mais facilidade do que achei que
teria, mas ela se foi logo que venci. Também não pareceu
muito contente ao ver Serena subir ao ringue como a
minha Sorte, mas foi a reação de Stephen que me divertiu
mais. Ele ficou sem cor e juro que se pudesse me matar o
teria feito naquele momento. Bom, se ela que é da família
não se importa em irritar o irmão, eu é que não vou
poupá-lo.
Infelizmente, não consegui sair do clube a tempo de
segui-los. Não que eu fosse fazer isso essa noite, só
queria mesmo saber para onde ele a estava levando. Thor
me prendeu lá para uma comemoração porque mais uma
vez, dois lutadores do Luck passaram. A competição se
torna cada vez mais difícil, mas a equipe dele está indo
muito bem.
Chego em casa e vou direto para o banheiro, analisar
o estrago na minha cara, Luke veio comigo, já me
enchendo a paciência por conta de um corte abaixo do
olho direito que não para de sangrar. Geralmente quando o
campeonato acaba, preciso de alguns meses para ter a
cara limpa de novo.
Caitlin chega quando estou limpando o sangue, já o
lavei, o que estancou por algum tempo, mas, após um
banho, voltou a sangrar. Luke se ajeita imediatamente no
sofá e muda o canal da televisão de um reality show bobo
que estava assistindo, colocando no canal de
documentário.
— Babaca.
— Fica na sua, Hanson.
Ela o cumprimenta e olha minha luta em frente ao
espelho.
— Voltou rápido, Caitlin. Ficou entediada?
— Tenho que ir à faculdade amanhã cedo ajudar uma
amiga com um trabalho. Preciso dormir.
Ela para no batente da porta e espero, sei que ela vai
tirar esse algodão da minha mão e fazer ela mesma o
curativo.
— Isso está feio, você não deveria ir ao médico?
— Baby, quando você me viu ir a um médico?
— Tirando a doutora casamenteira?
— Tirando essa peste.
Ela pega o algodão da minha mão e o molha, em
seguida, segura meu rosto imenso em suas mãos pequenas
e concentra-se em limpar a ferida. Seus lábios carnudos
ficando perigosamente ao alcance dos meus.
— Nunca entendi porque você a chama de
casamenteira.
— Ela repete com certa frequência que já casou
vários de seus pacientes.
— Ela tenta fazer isso com você? — pergunta
curiosa, olhando-me com um sorriso divertido no rosto.
— Em todas as sessões. Ela acha que eu devo me
casar com você, e está certa que até o final do tratamento
terá conseguido isso.
Ela parece sem graça e seu sorriso some, então volta
a se concentrar no meu machucado.
— É difícil colocar um curativo aqui, vou colocar
apenas um micro poro, tudo bem? Você troca sempre que
tomar banho.
— Sim, doutora.
Ela se aproxima ainda mais e seu cheiro doce me faz
ter vontade de abraçá-la bem apertado e levá-la para
dormir comigo. Estou tão cansado que seria apenas
dormir mesmo, mas com ela.
— Obrigado — digo quando ela termina e beijo sua
mão. — Ela acha que você é a cura da minha loucura.
Mas, eu já disse a ela que é você quem me deixa louco,
não o contrário.
Ela pisca os olhos perdida em meus lábios e quero
tanto beijá-la que chega a doer. Mas, olho para o lado e
vejo Luke ali, nos observando, com uma expressão
confusa e quase ferida. Então me afasto e bagunço o
cabelo dela, indo até a geladeira. Tentando ao máximo
agir como se não fosse nada demais. Como posso saber
que estou agindo errado com ele e mesmo assim querer
tanto continuar fazendo isso? Entendo então que muitos
erros que cometemos, o fazemos sabendo que estamos
errados, mas simplesmente não conseguimos não fazer. É
algo maior do que nós.
Ele puxa conversa com ela por mais algum tempo, e
quando ela diz que está cansada e vai dormir, ele resolve
ir embora. Mal se despede de mim e Caitlin percebe, pois
se oferece para levá-lo até a porta, coisa que nunca faria.
— Cait, já que me trouxe até a porta, que tal um beijo
de boa noite? — ele tenta aproximando o rosto do dela.
Ela impede o beijo dele colocando a palma da mão
em sua boca, de uma maneira engraçada, e o empurra
porta afora.
— Vai sonhando, Evans — diz antes de bater a porta
na cara dele.
Assim que fecha a porta e se vira, a cerco com meus
braços, colando seu corpo à porta e não dando a ela
chance de sair de perto de mim.
— E aí? Você o beijou?
— Colin, me solta!
— Só quero uma resposta, Caitlin. Você o beijou?
Foi a mesma coisa? Ficou molhada com o beijo dele?
Ela gagueja um pouco e parece realmente irritada,
mas está corando e sei que quer tanto quanto eu um beijo.
— Me diz, há algo da boca dele na sua hoje?
— Eu não tenho que te dar satisfações do que faço.
— Não tem, mas você vai. — Aproximo minha boca
de seu rosto e passeio os lábios levemente por seu
pescoço. — Ele a beijou, Caitlin? Você deixou que ele a
beijasse depois daquele beijo? Você gostou do beijo dele?
Me diz, ele a beijou?
Só de senti-la tão perto de mim, meu pau já está
acordando, e eu quero tanto pegá-la no colo e levá-la para
minha cama, mas tanto! Tenho que me controlar ao
máximo para não levar meus lábios até seus seios e sugá-
los por cima da blusa fina que ela usa. Para não descer
minha não por seu corpo e tocá-la com força por sobre a
calça, para fazê-la gozar com a pressão dos meus dedos
em seu clitóris, mesmo estando vestida. Seria tão fácil dar
prazer a ela!
— Caitlin... — insisto e ela cede num ataque de
raiva, socando meu peito descontrolada.
— Não! Não beijei e não sou obrigada a ficar me...
Calo sua boca com a minha. Sugo seus lábios com
força, e quando ela geme ao primeiro contato de nossos
lábios, a possuo com minha língua, mostrando toda a fome
que tenho dela. Eu a quero mais do que é possível
suportar com sanidade. A aperto em meu corpo,
levantando o seu para que possa ampará-la com o joelho.
Ela geme descontroladamente enquanto sugo sua boca
e pressiono meu joelho em seu centro, levantando-a e
abaixando-a rapidamente, cuidando para que tenha a
pressão certa ali, levando o beijo a outro nível para ela.
Quando sinto que ela está prestes a gozar, deixo seus
lábios, aumentando a pressão em seu centro e falo em seu
ouvido:
— O seu prazer é meu.
— Não — ela sussurra, então faço a coisa mais
difícil da minha vida. Me afasto dela.
Deixo que seus pés toquem o chão e assim que ela
recupera o equilíbrio, me afasto, absorto em seus olhos
anuviados e no desejo evidente em seu rosto.
— Qual é o tamanho do seu vibrador mesmo? Esse?
— Imito com a mão o gesto que ela fez na noite de
bebedeira no pub. Então toco meu pau duro por sobre o
short, e seu olhar cai no meu movimento, no volume
concentrado ali. — Não seria a mesma coisa, mesmo que
você realmente tivesse um. Boa noite, Caitlin, durma bem.
Vou para o meu quarto mais uma vez matar meu
desejo por ela com a mão, mas sei que ela não vai dormir
essa noite pensando em mim. Pensando no que teria
acontecido se eu não tivesse interrompido. Pode ser
difícil agora para nós dois, é uma manobra que atinge a
mim tanto quanto a ela, mas ela precisa perceber que sim,
seu prazer pertence a mim.

Não vejo Caitlin há dias, mas a maneira dela se


esconder de mim só me prova que estou certo. E mais
cedo do que pensa ela terá que admitir isso. Hoje Stephen
está lutando, e embora ela não seja mais sua Sorte, sei que
virá assistir sua luta, porque essa é Caitlin. Ela espera dar
sorte a ele do banco da plateia, do que achar que ele
perdeu por causa dela. Então fico do lado de fora,
torcendo que ele perca, só pra vida variar um pouco, e
esperando que eles saiam. Não vou segui-los, só quero
ver um pouco de como está a interação deles depois de
provar mais um ponto a ela.
Faço um gesto para que Luke venha até mim quando o
vejo, ele tem me evitado na faculdade, mas ele vai na
direção oposta, também me evitando aqui. Eu poderia
dizer a ele que a cena que viu no banheiro não foi nada
demais, nada comparada a que se desenrolou na porta
assim que ele saiu, mas não sou tão filho da puta assim.
Eu realmente não sei o que dizer a ele, não sei como
explicar a merda que estou fazendo, nem o fato de que
apenas não consigo evitar. E eu tentei, juro que tentei.
Então deixo que ele vá até que eu possa encontrar um
ponto de compreensão nisso tudo e aí finalmente explicar
para ele porque estou sendo o maior dos babacas com ele.

Avisto Stephen e Caitlin saindo, ele com certeza


venceu, porque carrega o lenço da vitória e em um sorriso
enorme no rosto, além dos hematomas habituais. Caitlin
sorri ao lado dele, mas não parece confortável ali, entre
os caras do clube. Fico me perguntando se ela ouviu algo
sobre essa aposta idiota, ou qualquer falatório por parte
deles. Mas não quero pensar que esse imbecil a deixaria
perto deles se fosse esse o caso, seria humilhante demais
para ela.
Ele a leva rapidamente para o carro, a expressão em
seu olhar eu conheço muito bem, é uma que nunca vi em
seu rosto antes. É a mesma que faço toda noite que saio
com uma mulher do clube: ele quer comê-la. Subo na moto
mais do que depressa e os sigo. Não é uma coisa de
adolescente bobo de bolas presas, é uma operação de
resgate.
Ele a leva a uma boate reservada, dessas que tem
aqueles cantos mais afastados e escuros. Estaciono a moto
e desço rapidamente. Sei que estou bagunçado para entrar
nela, eles podem me barrar, mas, se não o fizeram com o
Stephen que está com a cara quebrada, não vão fazer
comigo. Aproximo-me do segurança que me olha dos pés
à cabeça e antes que eu diga qualquer coisa, abre um
sorriso.
— Colin Hanson! É uma honra recebê-lo em nossa
boate.
— Você me conhece?
— Ganhei um bom dinheiro apostando em você na
semana passada. Eu tripliquei minha aposta e você
venceu. Amanhã com certeza estarei lá e vou apostar
cinco vezes mais.
— Pode apostar, te garanto que vou vencer.
Ele me dá passagem e consigo localizar os dois
sendo guiados, como eu imaginei até uma das mesas
escondidas. Esse sem vergonha! Os sigo o mais
discretamente possível e sento-me na mesa atrás, na
lateral deles. Eles podem me ver aqui, mas não acredito
que ele vá tirar os olhos dela para isso, e ela está de
costas. Não consigo ouvir o que dizem, apesar de aqui a
música ser mais baixa do que no primeiro ambiente da
boate, a distância em que estou não me permite escutá-los,
principalmente porque ele fala bem baixo.
Chega um momento em que ele se levanta e enfio
minha cabeça no cardápio achando que ele me viu, mas
ele senta-se ao lado dela, pegando sua mão e falando com
ela ao pé do ouvido.
Esse imbecil! Se ela não o deixava beijá-la antes,
por que o faria agora?
Porque mais uma vez, você a deixou molhada,
excitada e frustrada. E eu estou aqui justamente para
saber como ela tem agido com ele depois disso. E se ela
resolveu dar logo a virgindade para ele para se livrar de
mim?
Levanto-me um pouco para tentar ouvi-lo, mas não
consigo, e saio da mesa só um pouquinho, para ouvi-lo.
Ainda não dá para entender então dou um passo bem
devagar parando bem atrás dele, mas ainda não o escuto.
Então coloco a cabeça por cima da dele e vejo suas mãos
indo em direção aos seios dela. Eu não sei se ela ia ou
não deixá-lo tocá-la ali, porque não dou tempo de ele
descobrir. Quase pulo sobre a mesa, segurando seu braço
ainda no ar.
— Algum problema aqui?
— Colin!? — Caitlin fica muito surpresa, confusa,
mas Stephen saca de cara o que está acontecendo.
— Você nos seguiu?
Ele se levanta e Caitlin rapidamente se levanta com
ele.
— Colin isso é verdade? Você nos seguiu?
— É claro que seguiu, esse idiota, o que pensa que
está fazendo?
Ele parte para cima de mim e Caitlin grita, então
rapidamente dois seguranças aparecem para nos separar.
Eu poderia facilmente passar por eles e socar a cara desse
imbecil, mas Caitlin me olha daquele jeito decepcionado
e tudo o que faço é me acalmar e dizer a ela, antes de sair:
— Você sabe como se sente, Caitlin. Não adianta ir
contra isso.
Então saio dali ostentando uma dignidade que
claramente não tenho após segui-los, mas mereço algum
crédito por não ter acertado a cara dele no ápice da minha
ira.

Já se passaram duas horas e ela ainda não chegou.


Estou começando a sentir aquela merda de dor escondida,
ela quer zombar de mim, eu sei. Tento mantê-la presa,
cerro os punhos tentando mostrar que sou mais forte do
que ela, mas ela consegue passar por minhas barreiras, e
fica ali, me rodeando e rindo da minha cara. Sou mesmo
um babaca!
Caitlin finalmente aparece e permaneço onde estou,
no sofá, olhando para ela. Ela deixa a bolsa na mesa e
aproxima-se, olha para o chão e não posso ver a
expressão em seu rosto, não posso saber como ela se
sente.
— Então, você tem mesmo seguido a gente? Ou essa
foi a primeira vez?
— Não foi. Tenho agido como um adolescente de
bolas presas.
Ela fica um tempo em silêncio, então senta-se à
minha frente e posso ver claramente seus olhos. Ela está
confusa.
— Por quê? Por que você faria isso? Por que ficaria
tentando me seduzir? Por que me levaria a um encontro?
Eu juro que estou há semanas tentando entender você, mas
eu não consigo! Por que, Colin, por que tudo isso?
— Porque eu quero ser o seu primeiro, Caitlin! Eu
quero tirar a sua virgindade. Eu não entendo como você
pode ter pensado em fazer isso com outro homem, mas não
posso permitir. O seu prazer me pertence. Isso que você
tem guardado por tanto tempo, o fez para mim. Você só
precisa enxergar que eu sou o cara certo para fazer isso
com você.
Ela fica em choque. Levanta-se desnorteada e fica
dando voltas na sala. Quero confortá-la de algum jeito,
mas não posso, eu mal posso me controlar nesse momento.
— Por quê? Por que eu deveria fazer isso com você?
— pergunta um tom mais baixo do que sua voz normal.
— Porque ninguém te conhece como eu, eu sei
exatamente onde você precisa ser tocada, onde precisa ser
beijada, eu sei dar a você todo o prazer que merece como
ninguém mais poderia e você sabe disso!
Levanto-me e pego sua mão, seus olhos se focam nos
meus, sei que ela está me ouvindo, só não sei como fazê-
la entender.
— Desde que você revelou ser virgem, tudo o que
consigo pensar é em como você merece ser amada. Só
consigo pensar em tudo o que você tem que sentir na sua
primeira vez. Em como tem que ser tocada e beijada, em
como tem que gemer com prazer genuíno ao meu toque.
Em como vai reagir a minha boca em você, e como ficará
satisfeita quando eu a preencher com meu pau, da maneira
exata que você merece! Eu sei que qualquer outro homem
poderia te dar prazer, Caitlin, não estou negando isso.
Mas você sabe, e eu também, que ninguém mais vai amar
você da maneira como eu vou. Ninguém vai conhecer
você como eu conheço, nem vai cuidar de você, nem
deixá-la louca, como eu faço, porque sou eu que tenho que
fazer isso.
Ela fica tanto tempo me olhando, pensando no que
acabei de dizer, vejo tantas emoções diferentes em seus
olhos de gata e não consigo decifrar o que se passa em sua
mente. Permaneço ali, quase enlouquecendo, esperando
por sua resposta, esperando que surte e grite, ou que se
jogue em meus braços, e Deus! Se ela fizer isso irei amá-
la agora mesmo, aqui nesse sofá, porque quase não posso
suportar não estar dentro dela. Quando seus olhos tomam
um foco, ela solta as mãos das minhas e finalmente me
responde. Sua voz baixa, mas convicta.
— Não.
— O quê?
— Eu disse que não. Não vou dar esse passo com
você. Eu jamais faria isso.
Sinto-me renegado e abandonado. É um sentimento
parecido com isso, que não sei bem explicar que me toma
nesse momento. Estou confuso, com raiva e magoado,
aquela dor idiota me venceu de novo e não consigo
entender porque não posso ser o que ela precisa.
— Por que não? Eu sei que não tenho nada para te
oferecer, eu não tenho um futuro certo para te dar, mas
Caitlin, você acha mesmo que vai se sentir à vontade com
qualquer outro homem como se sentiria comigo? Me diz!
— Estou quase suplicando e sei que pareço ridículo e
fraco, eu nunca fiz isso, mas estou desesperado.
— Não se trata disso, não se trata de nada do que
você disse. É só que Colin, você já parou para pensar em
como seria depois? Eu vou transar com você, vou te
entregar minha virgindade e na noite seguinte terei que vê-
lo com outra. Por mais que eu não espere um
compromisso de você, você acha que eu vou suportar
isso? Eu sei que não vou. Por mais que você não me
prometa nada, você terá sido meu primeiro, você terá sido
o dono do meu prazer, como você diz. E não quero ficar
no meu quarto imaginando você fazendo com outra tudo o
que fez comigo. Eu não posso.
— Caitlin...
— Colin, não! Eu admito que você seria o cara certo,
acha que não sei disso? Mas isso custaria nossa amizade,
e me perguntei nesses últimos dias em que você tem
tentado me enlouquecer mais de mil vezes se valia a pena,
mas não vale. Não posso perder você. E isso seria o fim
de tudo porque nunca mais nos veremos como amigos de
novo.
— Eu não vejo você como amiga há muito tempo,
Caitlin. Desde quando você fez aquela maldita confissão,
tudo o que vejo quando olho você é a mulher que eu
preciso ter.
— Então temos que corrigir isso. Então tenho que
fazer logo isso com qualquer outro cara para que você
pare de me ver assim! Eu não quero ser mais uma mulher
na sua cama, eu sou sua melhor amiga!
— Mas você não seria! Você ficou louca? Nunca
seria mais uma em minha cama, você é especial, Caitlin.
Ela sorri debochada e magoada. Como se eu a tivesse
apunhalado.
— Você diz isso para todas. Foi o que disse para a
irmã do Stephen, não foi?
Merda! Merda! Foi exatamente o que eu disse, mas
dessa vez, é verdade. Claro que ela não vai acreditar em
mim.
— E se você não tiver que me ver com nenhuma outra
mulher? Caitlin, se você me deixar ser o seu primeiro, eu
não vou dormir com nenhuma outra mulher até que você
tenha certeza de que pode confiar em mim.
— Você? Vai negar sexo por um ano se eu resolver
esperar esse tempo?
— Eu não vou ficar com mulher nenhuma até ter
você, Caitlin. Eu não desejo mulher nenhuma além de
você, todo o meu tempo e todos os meus esforços, cada
pensamento e ideia que tenho tido, tudo isso tem sido
exclusivamente para você há muitos dias. Eu te prometo,
não toco mais em nenhuma mulher e você se entrega para
mim.
— E depois?
Merda! Eu queria tanto dizer a ela o monte de coisas
que vem à minha mente com sua pergunta, mas não quero
iludi-la com algo que não entendo. Não quebro as
promessas que faço a ela, não posso prometer algo que
não sei se depois que a tiver, vou cumprir. Eu não posso
perdê-la apesar de tudo. Não posso sequer correr esse
risco. Então decido ser sincero, e torço que isso não seja
uma coisa tão ruim para ela quanto parece na minha
mente.
— Não posso prometer como será depois. Eu nem sei
como me sinto agora, tirando o fato de que preciso ter
você, então não posso saber como será depois. Mas eu sei
o que posso fazer agora, e eu te juro que não tocarei em
outra mulher até que você seja minha!
— Eu não acredito em você — diz baixinho, tentando
convencer a si mesma.
— Nesse caso, prepare-se para se surpreender,
Caitlin. Porque eu vou ser digno de tocar você, custe o
que custar.
Vou para meu quarto deixar que essa dor idiota
tripudie em cima de mim e a deixo ali com seus
pensamentos. Então rezo, que mesmo não acreditando na
minha promessa absurda ela ainda me dê o voto de
confiança que sempre dá e espere. Que me dê uma chance
de mostrar a ela que está errada. Eu só preciso que ela
entenda que eu nunca, jamais irei machucá-la, estou
disposto a ser qualquer coisa que ela precisar que eu seja
depois que fizermos amor.
CAPÍTULO TREZE
Hoje é minha quarta luta, e a tensão sexual no
apartamento está tão forte, que não conseguia me
concentrar para treinar lá. Então estou desde bem cedo
aqui no clube. Não falei com ninguém, usei o método de
me desligar do mundo da Caitlin, fones no ouvido e
música muito alta. Então treinei sem parar por horas a fio.
Quando paro para comer algo percebo que ainda é cedo,
eu teria tempo de ir para a casa e descansar um pouco,
mas não vou fazer isso. Ainda me sinto pilhado e tenso,
mas sei que isso nada tem a ver com a luta da noite, e sim
com a minha luta interna que não consigo saber se vou
vencer.
Tomo um banho demorado e assim que saio, encontro
uma mulher nua em frente ao meu armário. Paro onde
estou, a loira nua diante de mim é uma das mulheres mais
lindas que já vi na vida, e com certeza não é daqui, ou eu
me lembraria dela. Deve ser de algum dos clubes
competidores que estão na cidade e essa seria minha
chance de fazer um “intercâmbio” e relaxar antes da luta.
Mas claro, não posso fazer isso porque prometi a
Caitlin que não faria, e por mais que exista a chance de
ela estar com o imbecil, nesse momento, eu não vou
quebrar minha promessa.
— Maldita promessa! — reclamo baixinho para mim
mesmo.
Aproximo-me da loira imaginando o quanto será
difícil dar o fora nela e dispensar tudo isso tão disponível
para mim. Mas aí penso na Caitlin, nos lábios dela, na
maneira como geme quando a toco e como se derrete
quando a beijo e de repente, parece fácil demais
dispensar a loira boasuda. O faço sem nenhum pesar,
como se fizesse isso todos os dias.
Que merda está acontecendo comigo?

Almoço em um restaurante na esquina do clube, cuja


dona é uma senhora que abomina violência, mas
ironicamente é mãe de dois dos lutadores do clube, então
acaba tratando a todos nós como se fôssemos seus filhos
também, nos servindo as melhores refeições caseiras e
ainda cuidando do que comemos antes das lutas.
— Vai vencer hoje, filho? — pergunta bagunçando
meu cabelo.
— Claro! Não sou bundão como seu filho! — brinco
e Patrick, um dos filhos dela que já foi eliminado, me
arremessa um aipo, mas Candice entra em nossa frente
impedindo nossa costumeira guerra de comida.
— Onde estão seus modos, meninos? Temos
lutadores de outros clubes aqui, hoje.
Encaro Patrick e localizamos lutadores de um clube
do Texas, nos preparamos juntos e arremessamos o aipo
neles. A guerra começa e Candice desiste e fica no seu
canto contabilizando tudo o que estamos desperdiçando e
fingindo estar brava.
— Vocês são crianças grandes que gostam de bater,
tantos músculos em vocês é um perigo! — Ouço-a
resmungar.
Volto para o clube para treinar um pouco mais, mas
Thor me chama assim que entro, em sua face uma
expressão de pesar me alerta de que algo não está certo.
— Colin, tem alguém procurando por você. Pedi que
ela a esperasse na minha sala.
Penso ser Caitlin e não entendo porque ele pediria a
ela para aguardar onde ele não deixa absolutamente
ninguém pisar. Vou em direção a sua sala, mas ele me
impede, falando comigo de maneira suave, porém
decisiva, deixando claro que se trata de uma ordem mais
do que de um conselho.
— Você está a três passos de vencer esse
campeonato, não jogue todo seu trabalho no lixo. E se isso
não for o suficiente para te impedir de perder a cabeça,
pense na Caitlin. Você está em condicional, Colin, se
voltar para a cadeia vai deixá-la arrasada.
Votar para a cadeia? Por que eu voltaria para lá?
Então me dou conta de quem está me esperando na
maldita sala, e não acredito que ela teve a cara de pau de
aparecer aqui. Entro como um furacão e o cabelo loiro de
Hannah se mexe quando ela se levanta, avaliando-me dos
pés à cabeça com uma expressão zombeteira na face da
morte.
— O que você quer aqui? — Cerro os punhos e não
me atrevo a aproximar-me mais dela, tomo o cuidado de
ficar perto da porta para uma saída rápida, caso sinta que
vou perder o controle.
— Olá, Colin, como você está? Você não atendia
minhas ligações nem respondia meus e-mails. Tive que vir
pessoalmente.
— Que merda você quer aqui?
— Eu não vim aqui confrontar você, vim por
questões legais.
— Podia ter mandado a merda do seu advogado, eu
não quero ver sua cara nunca mais, você entendeu?
— Ou o quê? Está me ameaçando, Colin? Porque se
for esse o caso acho que seu agente da condicional vai
amar saber disso.
— Fale logo o que você quer.
Respiro fundo o máximo que consigo, sinto minhas
mãos tremerem e a raiva me dominar como quando era
mais novo. Todo meu controle parece ir embora quando
vejo essa mulher, até meu apreço por liberdade é testado
em minha mente, comparado ao que posso fazer com ela
caso não me importe de voltar para a cadeia.
— Preciso que você assine esses papéis.
Ela me estende uns papéis, mas não pretendo me
aproximar mais dela. Para a própria segurança dessa
maldita que acabou com a minha vida.
— Do que se trata?
— Do justo. Você disse que não queria nada, apenas
que eu não o procurasse mais e eu não fiz a justiça
reverter sua pena e mandá-lo de volta para a prisão, que
era onde você deveria estar. Vejo que está indo bem aqui.
Deve ganhar um bom dinheiro com essa vida clandestina.
— Do que se trata? — grito e ela dá um passo
vacilante para trás, mas logo se recompõe e diz, com a
cara mais lavada do mundo:
— São os papéis que dizem que você concorda em
abrir mão de sua parte na herança dos seus pais e doá-la a
mim.
Abro um sorriso tentando conter a raiva. Ela só pode
estar de brincadeira.
— Você precisa que eu assine umas merdas de papéis
ou não pode pegar o dinheiro? É isso?
— Nem você poderá.
— Eu não ligo. Não quero esse dinheiro que causou a
morte deles, mas ver você na rua da amargura seria uma
ótima recompensa da vida. — Cruzo os braços fingindo
uma calma que não estou sentindo. — Tá aí, nunca achei
que ficaria tai feliz em vê-la, Hannah. Agora suma da
minha frente e não me procure nunca mais!
Saio pela porta, mas ela diz algo que me faz congelar
e voltar para trás para estrangulá-la:
— Foi um acidente a morte da sua mãe, não era esse
o acordo, eles só tinham que levar o dinheiro, mas ela
tentou bancar a heroína, achando que o filhinho precioso
estava em casa, acabou levando um tiro.
Não enxergo mais nada na minha frente quando vou
em sua direção com toda a minha raiva, pronto para matá-
la se for preciso, quando uma pequena criatura toca meu
peito, e sua voz me alcança, tirando-me dos meus mais
profundos desejos.
— Colin, não faça isso, não vale a pena! Colin, me
escute! Sou eu, Colin!
Consigo ver Caitlin pouco antes de quase acertá-la,
porque ela entrou na minha frente.
— Caitlin?! Você ficou louca? Por que entrou na
minha frente?
— Você não pode encostar nela, vai voltar para a
cadeia e dar tudo o que ela quer, controle-se. Venha
comigo.
Ouço a risada de Hannah, em contraste com a voz
doce e desesperada da Caitlin.
— Colin, olhe para mim, me ouça. Vamos sair daqui
agora, você vem comigo, deixa ela para lá, não vale a
pena. Ei! Olhe para mim! — Ela está na ponta dos pés e
suas mãos estão em volta do meu rosto, ela parece tão
desesperada quanto eu, e consigo me acalmar um pouco, o
suficiente para não ser um monstro na frente dela.
— Ah, Colin, você não muda. Será sempre o louco
que se esconde atrás de uma menina, porque não sabe se
defender sozinho sem que acabe em tragédia, não é
mesmo? Pode não ser agora, pode nem ser pelas minhas
mãos, mas você vai acabar a sua vida preso numa cela, e
vai ter o mesmo fim do seu querido papai. — Hannah
provoca mostrando todo seu ódio por mim.
— Cale a boca sua maldita! — Caitlin grita e parte
para cima dela, e a seguro antes que encoste em Hannah,
ela é a pessoa mais calma e centrada que conheço, mas
permanecer são diante dessa megera é algo impossível e
sei bem o que minha pequena está sentindo.
— Deixa, Caitlin, como você disse, não vale a pena.
No final das contas, eu tenho sempre alguém que me ama o
bastante para me defender e ela está sempre sozinha. Pode
até conseguir pegar o dinheiro dos meus pais, mas vai
continuar sozinha.
Levanto uma Caitlin assassina do chão e a arrasto
para longe dessa maldita e toda sua energia negativa de
ódio. Deposito Caitlin no chão dentro do vestiário, e ela
parece bufar, tamanho o seu nervosismo.
— Eu não acredito que essa filha da mãe veio mesmo
até aqui! — reclama.
— Como você sabia que ela viria aqui?
— Ela foi lá em casa, não sei como conseguiu nosso
endereço, eu não disse a ela onde você estava, mas achei
que ela ia descobrir e viria te atormentar.
Deixo de ouvi-la porque estou me lembrando do
passado, de ver meu pai sendo preso, de achar ser a maior
injustiça que além de perder minha mãe, meu pai fosse
preso injustamente, mas aí me lembro de quando eu fui me
despedir dele, jurando em toda minha dor que o tiraria da
cadeia. Ele me disse para não fazê-lo, porque era o que
ele merecia. Só então reconheci a expressão de culpa em
seu rosto e soube que ele era mesmo culpado. Era como
ela, os dois mereciam morrer atrás das grades. Eu jurei
nunca mais acreditar em ninguém depois daquilo, mas
Lorna me mostrou que eu não podia deixar que eles
tirassem mais nada de mim. Como ela costuma me dizer, a
cada pessoa má e cruel no mundo, há dez boas. E só
preciso acreditar que no meu caminho encontrarei mais a
segunda opção.
— Ei, não deixe esses fantasmas entrarem. Você tem
uma luta daqui a pouco, lembra? Colin, concentre-se.
Quer que eu ligue para a doutora Mansfield?
Nego com a cabeça e aperto a mão da Caitlin até
sentir me acalmar. Mas a merda da minha mente parece
não saber pensar em outra coisa que não seja o passado, e
toda a merda envolta nele. Por tanto tempo me puni por
achar ser como meu pai, o filho perfeito dele, com uma
grande disposição a fazer o que é errado e destruir tudo à
minha volta. Eu escolhi fazer o meu caminho, mas,
olhando Caitlin tão desesperada ajoelhada ao meu lado,
Luke que nem olha mais na minha cara e tudo o que tenho
feito, me pergunto se no final das contas não estou mesmo
destruindo tudo à minha volta. O que vai sobrar para mim
depois? A mesma solidão que desejei à maldita que
acabou com a minha família. E mais nada.
Afasto Caitlin e agradeço seu cuidado, subo na moto
e saio sem direção, prometendo estar de volta a tempo da
luta. Eu só preciso rodar.

Olhando o lago gelado e as pessoas felizes à minha


frente, luto para esconder os fantasmas de volta no fundo
da minha mente perturbada e voltar a ser apenas o babaca
que sempre fui. Não é irônico que eu, um lutador
acostumado a vencer as mais difíceis lutas, não consiga
vencer de mim mesmo em uma batalha interna? Os
fantasmas não me obedecem e ficam ali, enchendo-me de
lembranças e todo aquele medo e fúria que senti nos anos
que se seguiram à morte deles. E se isso já não fosse o
bastante para foder com a minha mente, ainda há aquela
maldita dor, escondidinha, aparecendo para me dizer que
não importa o quanto eu tente, nunca serei bom o bastante.
Nem para um amigo, nem para a Caitlin, nem para honrar
a memória da minha mãe, para absolutamente nada!
Porque a maldita da Hannah está certa, ela me tirou tudo
uma vez e saiu impune a isso, e agora vai tirar tudo de
novo e eu vou simplesmente deixar, mais uma vez, para
não decepcionar alguém a quem decepciono todos os dias.
Que diferença vai fazer? Se eu for bom ou mau, que merda
de diferença vai fazer para ela?
Me vem à mente todos aqueles momentos em que eu
quis fechar os olhos e sumir, e ela estava ali por mim,
sendo meu ponto de equilibro, minha luz. E eu jurei a ela
que seria digno de tocá-la. Mesmo que depois nossa
amizade se perca por causa disso, eu apenas não sou forte
o bastante para deixá-la ficar com outro.
Olho para meu reflexo no vidro de uma loja, mas não
sei o que vejo ali.
— Isso é ser bom, Colin? Ser egoísta e babaca com
ela é ser bom? Você acha que é bom para ela? Acha que
vai ser digno de tocá-la um dia? — A raiva me toma e
acerto o vidro, estilhaçando-o em milhões de pedacinhos,
assustando as pessoas ali presentes, confirmando que eu
nunca serei estável. Olho o sangue na minha mão e
consigo me acalmar, eu só preciso achar um jeito de
deixá-la livre. Procuro o dono da loja para resolver a
merda que acabei de fazer no vidro dele.
Está quase na hora da luta e eu deveria ter pego o
caminho mais curto até o clube, mas, por algum motivo
decidi passar por aqui, e quando a vejo sentada ali,
parecendo angustiada vejo que fiz a escolha certa. Paro a
moto em frente ao ponto de ônibus e buzino, estendendo a
ela o capacete.
— Ei, você está bem? — Caitlin pergunta segurando
minha mão o mais apertado que consegue.
— Quer uma carona para o clube?
— Eu estava indo para lá — ela diz tirando o
capacete da minha mão e subindo na moto.
— Você gosta de se arriscar por mim, não é Caitlin?
Você nem sabe se estou bem, se estou descontrolado, se
estou bem o bastante para pilotar. Como você sobe assim
na minha moto?
Ela passa seus braços pela minha cintura agarrando
os dedos na minha blusa e encosta-se a mim.
— Estou com você, Colin. Onde eu poderia estar
mais segura?
Aquela dorzinha insuportável e entrona leva um
imenso chute e se encolhe dentro de mim. É por isso que
não consigo deixá-la ir. Ela é tudo o que tenho.

O locutor cumprimenta o clube lotado e os gritos se


misturam em sons desconexos e ensurdecedores. Caitlin
está sentada ao lado de Luke, que apesar de tudo, vai
torcer por mim, e me olha com seu jeitinho de súplica que
eu vença essa. Eu deveria estar analisando o adversário
do outro lado, deveria ao menos prestar atenção no nome
dele, mas não consigo. Minha cabeça está longe e não há
nada que eu faça que a faça sossegar no lugar.
Quando todos ficam me encarando percebo que está
na minha hora de subir ao ringue, nem olho na direção da
Caitlin porque se ela me pedir para não lutar, eu não vou
lutar, e não quero desistir sem tentar. Mas não ouço
quando o juiz inicia a luta e sou atingido de surpresa. Meu
adversário, seja ele quem for, tem uma excelente técnica,
quase pau a pau com a minha, quando estou em um dia
bom. Porque no dia de hoje, qualquer um dessa plateia
poderia me vencer. Eu tento acertá-lo, mas mal o vejo.
Estou sendo pisoteado sem nem me dar conta de que caí
no chão. Chega um momento em que fecho os olhos,
deitado ali, e decido deixá-lo vencer, não há mais nada
que eu possa fazer para impedir. Mas, sinto um toque
quente em minha mão que está para fora do ringue e abro
os olhos para encontrar Caitlin, com lágrimas nos olhos e
apertando minha mão com suas duas mãos pequenas.
— Levante-se, eu apostei todo meu salário! Você tem
que vencer! — Ela grita e sorrio para ela, que parece se
desesperar mais ainda. — Púbis! Colin, você está dando
outra vitória a Hannah e aos fantasmas dela, não deixe que
isso aconteça. Levante-se agora mesmo e vença essa luta!
Eu tento me levantar, mas não tenho força, logo, sou
atingido em cheio com um chute na orelha e caio de novo.
— Colin Hanson, deixa de ser bundão! Você vai
mesmo me decepcionar assim?
Eu disse que todas as minhas vitórias seriam para
ela. A minha derrota não pode ser. Ela está aqui,
apostando em mim e me pedindo que vença.
— Ah Caitlin, você sempre me faz fazer o
impossível, não é?
Consigo desviar do próximo chute e agarro os pés
dele, derrubando-o. Sinto-me dolorido em todo o corpo,
nem sei que golpes levei hoje, mas preciso reagir.
Levanto-me com dificuldade e aplico um Elbow drop[4],
levando a plateia aos gritos. Eu não vou conseguir bater
nele, não tenho forças e algo parece doer demais na minha
costela, deve estar quebrada. Eu só preciso de técnica,
penas fazê-lo desmaiar sem mais esforços. Com
dificuldade, subo nas cordas a tempo de impedir seu
próximo ataque e então pulo sobre ele, não sei como
consigo ter forças para subir nas cordas e aplicar um
Springboard clothesline[5], mas ele bate com tudo a
cabeça no chão e sei que não vai levantar mais. O juiz
levanta meu braço anunciando o vencedor, eu me levanto,
pego o lenço da vitória nas mãos e entrego a Serena, que
parece em pânico ao ver minha cara. Procuro Caitlin na
multidão, e a encontro onde estava na última vez que a vi,
ao lado do ringue, sorrindo para mim com toda sua
admiração.
— Foi por você, baby — digo apontando para ela
pouco antes de tudo escurecer e eu não vejo mais nada.

Um zumbido no meu ouvido me desperta, mas me


sinto dolorido em todos os lugares possíveis. Há uma
agulha enfiada em minha mão, e a arranco. Odeio essas
coisinhas enfiadas em mim. Minha visão se ajusta à luz na
minha cara e começo a perceber onde estou.
— Passando a mão na bunda das enfermeiras,
Hanson? Você não está em condições de comer nenhuma
delas, não deveria assanhá-las — Luke provoca sentando-
se ao lado da minha cama.
— Que merda! O filho da puta me mandou para o
hospital?
— Se serve de consolo, você devia ver o outro cara.
Você acabou com ele. Foi tipo ver um zumbi atacar um
gigante vivo, mas no final das contas deu tudo certo. Você
levou uma surra e tanto, está se sentindo bem?
— Acho que meu traseiro está em contato direto com
esse lençol de hospital, tirando isso, me sinto vivo, o que
já é um bom começo.
— Caitlin estava aqui. Foi tomar um banho, mas com
certeza volta. A mãe dela também. Elas não saem daqui,
você tem novos cães de guarda.
— Não fale assim delas, são minha família.
Tento me sentar, mas sinto uma dor terrível na costela
e gemo, me encolhendo na cama.
— Você fraturou a costela. Acho melhor ficar
quietinho.
— Quando é a próxima luta?
— Em uma semana. Você não vai poder lutar, cara.
— Claro que vou.
— Vamos ver isso depois que você sair daqui.
Noto que Luke parece tenso e procura um jeito de me
dizer alguma coisa. Me ajeito na cama e espero, mal
acordei e lá vem alguma notícia ruim.
— Desembucha, Luke. Odeio quando você faz isso.
— Há um boato correndo no clube. Sobre você ter
rejeitado a ring girl russa. Ela disse que estava nua na sua
frente e você a mandou embora. Eu disse a eles que isso é
impossível... — ele se cala e me encara, esperando que eu
concorde com ele.
Mas, temo que vá levar outra surra nesse momento,
porque não vou mentir para ele de novo.
— Isso é verdade.
— Eu penso, penso e não consigo entender porque
você a dispensaria. Que eu saiba, você não está pegando
ninguém.
— E não estou. Na verdade, não foi tão difícil assim
dispensá-la. Achei que seria pior. Mas não transei com
ela e não vou transar com nenhuma outra mulher por um
motivo.
Ele se levanta e tento sentar-me de novo, sem
sucesso.
— Luke, eu preciso que você me escute até o final.
Preciso que você entenda.
— Esse seu motivo é a Caitlin, não é? Porque quando
eu disse para ela que você rejeitou uma mulher linda, ela
pareceu estar emocionada. Cara, eu realmente não quero
acreditar nisso, eu sei que você não colocaria as mãos
nela.
— E não coloquei. Não como está pensando. Eu
prometi a ela que não dormiria com mulher nenhuma mais.
— E por que você prometeu isso?
— Luke, você não a ama. Eu sei que vai me achar um
idiota, mas pense bem. Você sai com outras mulheres, se
interessa por outras. Você não teria rejeitado a russa.
— Isso não tem nada a ver! Eu não sairia se estivesse
com ela!
— Você não sairia se a amasse, porque eu não tive
que fazer esforço algum para não sair com outra mulher
por ela.
Ele anda de um lado ao outro e me encara, a fúria em
seus olhos mostrando que não está entendendo, e tento de
novo.
— Luke, eu prometi a Caitlin que não dormiria com
mulher nenhuma até que ela seja minha. Mas eu preciso...
— Você é um idiota! Eu não acredito que você fez
isso comigo que está fazendo isso com ela! Você vai
acabar com ela, seu babaca, ela não é como as putas que
você pega!
— Acalme-se, pare de gritar, me deixa explicar.
— Não tem merda de explicação nenhuma! A menos
que você pretenda ficar com ela para sempre, nada disso
aqui se justifica! Você vai? Vai ficar só com ela para
sempre? É por amor que está apunhalando seu melhor
amigo?
— Não é isso, é outra coisa. Mas é maior do que
parece, eu...
— Você é um idiota, um cafajeste e o pior amigo do
mundo! Não precisa mais falar comigo, e tomara que a
Caitlin seja esperta o bastante para não cair na sua, eu vou
dar uns bons conselhos para ela.
— Luke, espera...
Ele bate a porta ao sair e sinto que perdi uma parte
minha hoje. Eu sei que procurei por isso, sei que minhas
desculpas foram péssimas, eu só estava tentando dizer a
verdade, mas a verdade mesmo é que isso que me faz
querer tanto tê-la, não tem explicação.
Há três dias estou estirado nesse sofá vendo a vida
passar em séries na televisão e dando trabalho a Lorna e
Caitlin. Hoje, Lorna teve que ir embora, depois de
garantir que já consigo me mover. A verdade é que
consigo andar desde o primeiro dia, mas elas não me
deixaram fazer isso, trazendo tudo nas minhas mãos. A
pior parte foi a Lorna querendo me dar banho. Ainda bem
que ela teve uma filha e não um filho, senão iria
traumatizá-lo.
Nesses dias em que ficou comigo, Caitlin não saiu
com o Stephen, mas, não foram poucas as vezes em que
ele ligou para ela, chamando-a para fazerem algo. O pior
de tudo é que percebo que ela gosta dele, realmente gosta,
pelo jeito como sorri quando fala com ele, e como cora
quando fala dele. Às vezes, muito de vez em quando,
penso que deveria deixá-la ficar com ele, deixá-la ser
feliz com alguém que vai querer passar mais do que uma
noite com ela, mas há algo em mim que não permite. Eu
não sabia que era tão egoísta até ver minha melhor amiga
apaixonada por outro. E por mais que ela responda aos
meus toques e beijos, de nada adianta eu conseguir seduzi-
la, se é ele quem a faz sorrir desse jeito tímido e corar
com facilidade.
Será que eu seria capaz de fazê-la feliz fora da cama?
Será que eu saberia ser romântico como ele? Eu seria um
namorado melhor do que sou um amigo? Ela se senta ao
meu lado e a observo fazer as unhas dos pés. Fica numa
posição engraçada no sofá e tenho vontade de pegá-la no
colo só para irritá-la e atrasar seu serviço. Não seria nada
sexual, pelo menos não no começo. Talvez seja esse tipo
de coisa que eu poderia fazer como namorado, tocá-la
sempre, beijá-la mais ainda, mimá-la com tudo o que ela
gosta todos os dias, tatuá-la ainda mais em meu corpo. Se
são essas as coisas que um namorado tem que fazer, então
eu poderia ser um namorado bom para ela, porque eu faria
isso por ela sem qualquer dificuldade.
— Caitlin, o que você espera de um namorado?
Ela fica tão chocada com a minha pergunta que vira o
vidrinho de esmalte no tapete, e grita um púbis
desesperado, tenta se levantar para ir pegar um pano, mas
está com um separador de dedos nos pés e quase cai.
Levanto-me em um pulo do sofá e a seguro, o que a faz
gargalhar.
— Ah, meu Deus, isso sou eu sendo sua enfermeira?
Você está bem?
— Está tudo bem, doutora. Eu já volto, não saia daí,
não precisamos de dois machucados nessa casa.
Procuro por algo para limpar a bagunça e volto para
perto dela com um pouco de água e um pano, que ela toma
da minha mão e abaixa-se com facilidade para limpar a
mancha rosa no tapete.
— Você parece bem — comenta. — Então por que
está me fazendo perguntas estranhas?
— Não é estranha. Você e o Stephen, a coisa está
séria entre vocês?
Ela me encara como se fosse delicado falar disso, a
expressão em seu rosto é tão confusa, que por um
momento penso que vai me dizer que a relação deles é
séria o bastante para ela ter perdido a virgindade com ele
em algum momento nesses últimos dias. Faço um gesto
com a mão impedindo-a de falar, parece que estou sem ar.
— Você, e ele... não me diga que vocês...
— Por que você está vermelho? Colin, você está
respirando? Colin, pare com isso!
Estou mesmo ficando sem ar, vou morrer asfixiado
porque ela deu aquele passo com outro. Em um segundo
ela está sobre mim, me mandando respirar, meio
assustada.
— O que foi isso? — pergunta confusa quando volto
a respirar.
— Responda minha pergunta, Caitlin. Não importa o
quanto isso vá doer.
— Toda essa cena era por causa da minha resposta?
— Ela começa a rir alto e vai para a poltrona, longe de
mim. — Ah, Colin, você chega a ser fofo de tão bobo.
— Você está se tornando uma pequena bruxa.
— Não estamos namorando, se é o que quer saber.
— Por que não? Ele a pediu em namoro, você disse
não?
— Como você sabe disso? — Dou de ombros e ela
continua — Eu não estava pronta ainda, mas não quero
entrar em detalhes, isso é tudo o que você precisa saber.
— Então, você está esperando para me dar uma
chance de provar a você que posso ser digno de tocá-la
— constato.
— Não foi o que eu disse, e não estou. Nós não
vamos fazer isso, Colin. Por mais comportado que você
esteja.
— Você me viu dispensar pelo menos dez mulheres
nesses últimos dias — defendo-me.
— Não acho que você poderia fazer qualquer coisa
com elas, de qualquer maneira, você está meio que
quebrado no momento.
— Ah Caitlin, como você é inocente! Se eu não
estivesse conseguindo andar, ainda teria minha boca e
minhas mãos, e claro, meu pau não sofreu ferimento
algum. Ela só teria que abrir suas pernas e sentar-se sobre
mim, bem em cima do meu...
— Eu entendi! — ela me corta, seu rosto atingindo
uma cor adorável.
— E mesmo assim não mereço um voto de confiança?
— Pelo seu enorme sacrifício?
— Não foi nenhum sacrifício. Não tenho problema
algum em dispensar uma mulher que não seja você. Mas,
deixar você em paz para ficar com outro, está aí uma
coisa que eu não consigo fazer. E eu te juro que tentei.
Seus olhos se fixam nos meus e quero beijá-la,
abraçá-la. Quero tocá-la de algum jeito para que ela
entenda o que quero dizer, mas assim que me levanto em
sua direção, ela se levanta também, afastando-se de mim
como se eu a estivesse machucando.
— Você pode fazer o que quiser, Colin, eu tenho
certeza da minha posição. Não precisa vir com essa fala
melosa, isso aí não é você. E eu não vou fazer isso, se
está tudo bem para você jogar nossa amizade fora, eu
sinto muito, não está para mim.
— Não vamos jogar nada fora. Estou tentando te
dizer de um jeito que você entenda que eu quero você.
— É você que precisa entender que isso não vai
acontecer. Nós somos amigos, melhores amigos. Nunca
seremos mais do que isso, eu já aceitei isso Colin, está na
sua vez de aceitar.
Não entendo o que ela quis dizer sobre já ter
aceitado isso, como se tivesse sido algo difícil, sendo que
ela parece ter aceitado isso fácil demais.
— Eu não vou desistir, Caitlin.
— Então nós vamos ter sérios problemas.
— Ótimo! Eu adoro problemas!
Ela bufa irritada e vai para seu quarto e eu começo a
planejar o que poderei fazer depois da nossa primeira
noite para mostrar a ela que posso ser um bom namorado,
se for mesmo isso o que ela vai esperar de mim. Não tem
problema, posso ser qualquer coisa que ela precise.

Após nossa conversa Caitlin saiu, não disse com


quem e só posso torcer que não tenha ido com o imbecil.
Não a ouvi ao telefone com ele hoje, não a vi sequer com
o telefone na mão, então tenho uma esperança vaga de que
ela esteja com alguma amiga, ou comprando algo. Ficar
preso nesse apartamento está me deixando louco! A
próxima luta é em poucos dias e eu deveria estar
treinando, não preciso estar cem por centro para vencer
uma luta, mesmo que seja a semifinal do campeonato. Isso
significa que meu adversário passou por vários outros
lutadores, assim como eu, então ele será ainda mais difícil
do que todos os outros que enfrentei. Mas eu não vou
desistir sem tentar.
Assim como não vou desistir da Caitlin sem antes
tentar de tudo para convencê-la.
Interfono ao porteiro e peço que ele me avise quando
a Caitlin chegar, procuro um bom filminho animado na
televisão, e acho que por conta do meu recorde de dias
sem transar, meu pau rapidamente está disposto. O
porteiro me interfona e finalmente posso dar um alívio
para meu querido pau. Começo a tocá-lo, bem de leve,
devagar, esperando por ela. Ouço a porta abrir e ela entra
com umas sacolas, tinha mesmo ido ao mercado, não
saído com alguém. Ela chama por mim e fica calada de
repente, a passos leves, aproxima-se de mim, seus olhos
arregalados e a boca aberta em choque.
O filme pornô continua na televisão, mas ela olha
para ele por dois segundos antes de seu olhar cair sobre
mim, ela tenta falar algo, mas acelero um pouco o
movimento, fingindo que ainda não a vi ali, e vejo pelo
canto do olho seu olhar se fixar no meu pau, e ela desiste
do que quer que ia dizer. Então olho para ela, fixo meus
olhos nos seus.
Seguro meu pau firmemente, exibindo-o para que ela
o veja. Quero aquele olhar delicioso de desejo em seus
olhos de novo, quero saber que ele é direcionado a mim,
não a nenhum outro homem. Que seu corpo deseja o meu.
Olho em seus olhos, preso em sua reação, totalmente
enfeitiçado pela forma como seu rosto cora, como ela
engole em seco e lambe os lábios, como parece com medo
e ao mesmo tempo, maravilhada com o que vê. Quero
oferecê-lo a ela, pedir que ela o toque, pedir que me deixe
tirar sua roupa e acabar com isso de uma vez por todas
antes que nós dois percamos completamente nossa
sanidade, mas não consigo dizer nada. Não consigo fazer
qualquer outro movimento além deste que estou fazendo
para ela. Ela não se aproxima de mim, mas também não se
afasta, seus olhos estão fixos em mim e no que estou
fazendo.
— Caitlin... — chamo seu nome baixinho pouco antes
de um orgasmo me atingir com força, fecho os olhos um
segundo, em êxtase, e quando os abro, ela não está mais
ali. Correu para seu quarto.
Tomo um banho rápido, porque não quero permitir
que ela saia sem falar comigo, mas ela não sai do quarto.
Eu espero por horas, e como ela não está disposta a me
encarar, sou eu quem vai falar com ela.
— Fingir que nada aconteceu não vai fazer o desejo
sumir — grito para sua porta, nem sei se ela está ouvindo.
— Eu sei que você está me odiando agora, e
provavelmente eu mereço isso. Sei que você me conhece
o suficiente para achar que isso é desejo, Caitlin. Que é
apenas isso. Mas não é. Porra, estamos falando de você!
Você é a pessoa que mais amo no mundo, talvez a única
pessoa que eu ame, e eu nunca, nunca mesmo, faria
qualquer coisa que a machucasse. Eu sei que você não é
uma dessas mulheres que transa com um cara e não quer
vê-lo mais na manhã seguinte.
Ela não responde e não há qualquer barulho vindo do
seu quarto. Penso que pode estar dormindo, mas continuo,
para o caso de ela estar ouvindo.
— E eu não sou um desses caras com quem você
sonhou perder a virgindade, sendo sincero, eu não me
acho mesmo digno de você. E eu tentei colocar a cabeça
no lugar, porque desejos, a gente controla, Caitlin, mas o
que eu sinto por você, não consigo controlar! Eu tentei, eu
juro! Eu queria não querer ser o seu primeiro, eu queria
não vê-la como a mulher que eu mais desejei na vida, mas
não posso mudar isso! Por favor, abra essa porta e diz que
não me odeia, diz que vai pensar, pelo menos isso...
Caitlin, por favor!
Não tenho qualquer resposta e abro a porta do seu
quarto, ela está quietinha em sua cama, sua respiração
leve e seu corpo pequeno descoberto. A cubro com
cuidado para não acordá-la e saio dali atordoado.

Chego ao clube e sou recebido como um herói, o que


mais ouço dos caras é “cara, você sobreviveu”, meu
humor melhora rapidamente estando entre a bagunça
deles. Claro, os que não foram babacas o suficiente para
fazer apostas evolvendo minha Caitlin. Thor me
cumprimenta, examinando meu estado e ainda brinca:
— E aí, Hanson? Consegue dar um soco?
— Consigo até mesmo derrotar meu próximo
adversário. Vim confirmar data e horário da luta.
Ele parece confuso e olha para os lados, antes de
falar comigo.
— Colin, não acho uma boa ideia você lutar agora.
Você mal se recuperou de um ferimento grave, você fez
tudo o que pôde, filho, fez mais do que podia, não precisa
mais lutar.
— E abrir mão do campeonato? De jeito nenhum! Eu
sei o que você vai dizer, mas eu sei os meus limites e
estou disposto a ultrapassá-los, acredite Thor, vai me
fazer menos mal lutar assim, todo quebrado, do que não
lutar.
Posso ver a admiração em seus olhos, mas, por algum
motivo que desconheço, ele continua tentando me
convencer a mudar de ideia.
— Não seria prudente você lutar agora, Colin, pense
bem. Graças a Deus não foi nada que deixasse uma
sequela dessa última vez, mas abusar da sorte para quê?
Você não está cem por cento, melhor não arriscarmos que
algo mais grave aconteça.
— Eu estava muito mais ferido quando me levantei
naquele ringue e o derrubei. Você sabe que posso lutar
assim e que posso vencer. Por que não quer que eu lute?
Ele não responde, derrotado, aponta para o quadro
com os cronogramas das lutas.
— Só restaram dois clubes na semifinal, dois
lutadores de cada clube. Então, por decisão unânime dos
patrocinadores, a final não pode ser entre dois lutadores
de um mesmo clube, de forma que nessa semifinal...
Ele para de falar, mas não é necessário que continue,
porque encontro ali no quadro pendurado na parede. A
próxima luta é em três dias, e meu adversário é nada mais
nada menos, do que Stephen Ryan.
— Não lute, filho. Todo mundo vai entender que você
não está em condições
— Eu vou lutar!
— Colin, — Garrick, um dos lutadores que mais
gosto, intervém — ele sempre vence você quando está nos
seus melhores dias, imagina lutando quebrado? Você não
terá a menor chance.
— Não importa, eu não vou desistir sem tentar.
Thor começa a falar de novo, mas o corto, quero
deixar claro que não há um assunto a ser discutido aqui, a
minha decisão está tomada.
— Eu vou lutar! Vocês não têm permissão para me
tirar do campeonato, eu não quebrei nenhuma regra! Então
sugiro que não tentem, isso é pessoal e eu vou lutar com
ele, e vou vencer!
Eles desistem de tentar me persuadir e volto para
casa me perguntando como caralho vou vencê-lo se mal
consigo me virar, mas eu vou. Dessa vez, pela primeira
vez, vou vencer Stephen Ryan.
CAPÍTULO
QUATORZE
Quando chego em casa, Caitlin está jantando, sentada
à mesa com cara de poucos amigos. Abre um sorriso curto
quando me vê e volta sua atenção ao prato diante dela.
— Seu prato está no forno — diz.
Sento-me diante dela e a observo.
— Você não estava dormindo. Se não tivesse
escutado o que eu disse, não estaria aqui falando comigo e
conseguindo olhar para minha cara, mesmo que por
poucos segundos.
— Eu ouvi o que você disse — é tudo o que diz, e
sem olhar para mim. — Eu não odeio você, se é o que
quer saber.
— E a outra parte?
— Não força, Colin.
— Tudo bem.
Pego o prato de macarronada que ela deixou no forno
e sento-me de frente para ela. Noto que seu olhar pousa
em mim algumas vezes, mas logo ela desvia. Até que por
fim, ela decide parar de me evitar.
— Está tudo bem? Você parece tenso.
— Por que acha isso?
— Porque está balançando a perna sem parar e
mordendo o garfo ao invés da comida.
Sorrio. Ela vai me pedir para não lutar e eu preciso
realmente fazer isso.
— Eu fui ao clube. A semifinal é em três dias e meu
adversário é Stephen Ryan.
Ela para o movimento de levar o garfo até a boca no
ar, e me encara em choque.
— Que púbis!
— Pois é.
— E o que você vai fazer?
— Vencê-lo, é claro.
Ela larga o garfo e cruza os braços, sorrindo
divertida e sei que vou levar tamancadas a partir de
agora.
— É claro, porque você sempre faz isso, certo? Ah
não, espera, Stephen não é aquele cara que sempre vence
você?
— Bom, nessa luta irei enxergá-lo como aquele cara
que quer entrar na sua calcinha, acho que isso vai me
ajudar a vencer.
Ela sorri e pega minha mão por cima da mesa.
— Você não tem que fazer isso, você sabe. Mas, acho
que vai fazer assim mesmo.
— Você me conhece bem, baby.
— Não adianta você enfrentá-lo com raiva ou
rivalidade apenas. Você sempre fez isso e nunca
funcionou. Você está machucado, sentir raiva não vai fazê-
lo se curar de repente.
— Caitlin, não estou conseguindo entender onde você
quer chegar. Está dizendo que tenho que vencer ou me
convencendo a não lutar?
— Não enche, não sou boa com essas coisas de luta.
Estou dizendo que você pode vencê-lo, use a cabeça ao
invés da raiva. Você derrotou um brutamontes quando
achei que ele te mataria, então pode derrotá-lo se der os
golpes certos.
Sinto uma pontada em meu peito e meus olhos
parecem querer encher. Como se eu estivesse
emocionado, e feliz e... não entendo o que é essa outra
coisa, mas eu daria tudo para puxar essa mulher para o
meu colo agora mesmo e cobri-la de beijos.
— Você acha mesmo que tenho alguma chance?
— Eu acredito em você, Colin. Só não me faça ter
que implorar de novo para que você vença, faça isso de
maneira bonita.
— Eu farei isso de um jeito que irá encher você de
orgulho, minha pequena.
— Até que eu estava com saudade desses seus
apelidos fofos — ela diz soltando minha mão, mas durante
o jantar, não consigo deixar de olhar para ela, com essa
conexão nova que não entendo, mas gosto.

Sou obrigado a desligar meu telefone porque a


maldita da Hannah não para de ligar. Ela só pode estar
louca se acha que vou assinar aqueles papéis e dar a ela
tudo o que a levou a destruir minha família. Sei que
preciso evitar outro confronto frente a frente, porque a
Caitlin pode não estar por perto para me impedir de
perder a cabeça e eu realmente preciso estar com ela,
ficar livre por ela.
Vejo-a andando pela cozinha cantarolando, seu
perfume preenche o ambiente e ela usa um vestido de
renda que abraça seu corpo perfeitamente e uma
maquiagem leve que realça seus olhos de gata e a deixa
ainda mais linda.
— Uau! Quer dividir essa felicidade, toda? — brinco
e sinto que ela fica tensa.
— Eu vou sair um pouquinho — diz como uma
criança confessando uma arte aos pais.
Seus grandes olhos estão focados em mim e apenas
abaixo a cabeça. Depois da merda de conexão que
tivemos no jantar ela vai sair com outro. Do que estou
falando? Eu tive essa conexão, não ela. Tento impedir que
a raiva me tome, porque não preciso mesmo ser mais
idiota com ela do que tenho sido, mas porra! Ela ainda
precisa sair com ele? Que merda mais tenho que falar e
fazer para ela entender de uma vez por todas que é minha?
Levanto-me em sua direção e ela estende as mãos,
andando para trás com os olhos arregalados.
— Colin Hanson, saia do modo maluco e não faça
nenhuma besteira.
— Por que você vai sair com ele?
— Porque eu gosto da companhia dele. Colin, você
precisa parar de agir assim. Você não pode surtar cada
vez que me vir saindo com alguém, seja o Stephen ou
qualquer outro, é a minha vida!
— Eu não vou surtar. Por que acha isso?
— Porque está com aquele olhar assassino,
assustador de quem vai surtar.
— Eu nunca machucaria você — garanto a ela,
olhando em seus olhos e a vejo vacilar um pouco.
— Existem muitas maneiras de se machucar uma
pessoa.
— Eu sei bem, você está fazendo isso comigo agora.
— É esse tipo de conversa que não quero ter com
você. Prefiro que você surte, pode surtar, quebre as
coisas, grite, sei lá mais o que você pode fazer.
— Ele está vindo te pegar?
— Não, eu irei encontrá-lo em um local onde você
não vai aparecer para espionar, ok?
— Não vou. E não vou surtar também. — Dou um
passo em sua direção e ela dá outro para trás. — Eu só
quero adverti-la de que está perdendo seu tempo saindo
com ele. Você me pertence, Caitlin.
— Só porque você quer transar comigo, isso não faz
de mim, sua.
Dou mais dois passos quase a alcançando e seus
olhos enormes estão em pânico, seu rosto corado, porque
ela sabe o que vou fazer.
— Você é minha porque sou eu que controlo o seu
prazer, Caitlin. Você pode sair com ele, eu não vou
impedi-la, nem gritar ou nada assim.
— Que bom que você é adulto e entende que não é
dono de ninguém.
Sorrio.
— Acho que preciso te provar um ponto.
— Eu acho que não — ela diz e tenta correr, mas a
seguro e a puxo para mim, guiando-a até o sofá.
— Isso é para que você se lembre quando estiver
com o seu namoradinho. Porque se você não vai ficar com
ele, não faz sentido ficar saindo com ele vestida assim.
— Isso não é um encontro, nós vamos apenas...
A calo com minha boca e deixo que meu corpo caia
sobre o dela. Sua resistência logo deixa de existir e ela
corresponde, daquele jeito doce e apaixonado que me faz
perder o controle. Toco seus seios por cima do vestido
delicado e ela geme, então desço minhas mãos, passeando
por todo seu corpo delicioso, até tocar suas coxas. As
subo bem devagar, sentindo o calor de cada centímetro de
sua pele quente. Ela trava debaixo de mim, seus lábios
não correspondendo mais ao meu beijo e tento tranquilizá-
la.
— Eu não vou fazer nada demais, Caitlin. Você estará
com seu namoradinho na hora marcada. E você sempre
pode me pedir para parar.
— Parar o quê?
Afasto sua calcinha delicada e toco sua boceta,
pequena e molhada. Ela geme e se contorce embaixo de
mim, quase me fazendo perder o controle. Então pressiono
seu clitóris, bem devagar, brincando com ele, fazendo-a
morder os lábios para não gritar. Suas mãos que
apertavam meus braços relaxam e ela está totalmente
entregue a mim.
— O seu namorado faz isso, Caitlin? Ele a faz sentir-
se assim?
Ela apenas geme e nem tenta me responder, enquanto
vou aumentando a pressão em seu clitóris.
— Responda, Caitlin! — Pressiono mais forte e
abaixo a taça de seu vestido, ela não usa sutiã e seu
mamilo rosado, intumescido, se aquece dentro da minha
boca. Sugo com força e ela grita. Tenho tanta fome dela
que me sinto um selvagem, quero rasgar essa roupa e fazê-
la minha, e é difícil me controlar.
— Responda! — exijo pouco antes de passear os
dentes pelo seu mamilo e pressionar um dedo em seu
centro, bem de leve, apenas testando sua resistência. —
Responda!
Ela grunhe a resposta pouco antes de gritar em
êxtase.
— Não! Ele não é ... — ela se desmancha nos meus
dedos, e espero até que esteja parada e sem forças para
tirar meu dedo dela, seu rosto rosado e sua boca aberta
enquanto se recupera. Eu nunca a vi tão linda, eu poderia
tirar uma foto dela assim e ficar olhando para ela todos os
dias, sem me cansar. Ela é maravilhosa! Levanto-me antes
que eu perca de vez o controle.
— Isso, Caitlin, se chama prazer. Mas aquele seu
namoradinho de merda, não sabe o que é isso! Você pode
sair com ele quantas vezes quiser, mas você está perdendo
seu tempo. Eu estou bem aqui!
A deixo sem reação, seus olhos cravados em mim,
mas não consegue dizer nada. Levo meus dedos à boca
para sentir seu gosto. Divino, perfeito. Como eu sempre
soube que seria. E ela joga a cabeça pesadamente no sofá,
seu cabelo volumoso em volta de seu rosto corado pós
orgasmo.
Então a deixo ali ciente que isso precisa ser mais
rápido, preciso mais do que depressa tê-la inteira só para
mim.

Passo a manhã seguinte na academia do prédio


testando o quanto posso me mover sem sentir dor. Consigo
levantar alguns pesos e fazer exercícios que achei que não
suportaria. A dor diminui quando você a enfrenta. Ou
quando se acostuma com ela. Quando subo, estou
quebrado, só posso imaginar como ficarei amanhã.
Stephen pode me quebrar, mas sairei morto como o
vencedor. Brincadeira. Não pretendo mesmo apanhar
nessa luta. Agora tenho algo que nunca tive antes nas
vezes em que o enfrentava: um lindo e apaixonante
incentivo.
Abro a porta do apartamento e vejo uma mala no
meio da sala. Aproximo-me pensando quem poderia estar
de mudança para cá, e Caitlin aparece com uma bolsa
pendurada nos ombros, olhando-me com tristeza e segura
a mala.
A minha ficha não quer cair.
— O que está acontecendo? — pergunto, mas antes
de qualquer resposta, a maldita dor já está saindo de seu
esconderijo.
— Estou indo passar um tempo fora. Não podemos
continuar nessa situação, Colin.
Faço um gesto negativo com a cabeça e deixo a
garrafinha de água cair no chão. Aproximo-me dela
olhando em seus olhos, e seguro a mala, não vou permitir
que ela saia de jeito nenhum!
— Por que está indo embora? Para onde você acha
que vai? Não pode me deixar aqui, por que quer fazer
isso?
— Por que você acha? — ela grita e seus olhos estão
cheios, ela está tentando se controlar. — Você está me
enlouquecendo, Colin! Está me deixando maluca! Você é o
senhor do sexo, conseguiu provar isso, mas eu não aguento
mais! Cada vez que você me toca eu quase cedo e depois
eu fico me odiando por isso.
— Não, Caitlin, por favor não faz isso comigo.
Minha intenção não é fazer você se sentir mal, eu não teria
que apelar tanto se você cedesse, se entendesse que você
é minha!
— Mas eu não sou! Colin eu não sou sua e não sou
um objeto que você deseja e pode fazer o que quiser para
comprá-lo, não funciona assim.
— Eu não estava tentando comprar você. Caitlin, não
me deixa, eu não saberia viver sem você, eu não sei nem
começar a pensar como seria isso, por favor.
— Não dificulte as coisas. Precisamos nos afastar
por uns dias, esfriar a cabeça, esperar as coisas voltarem
a ser como antes.
— Não vão voltar! Não serão como antes nunca,
porque eu sei seu gosto, eu conheço seus beijos eu sei
como tocá-la agora e não vou esquecer isso. Eu não vou
esquecer como você é linda quando goza, ou como se
perde quando eu a beijo, você poderia ir para o outro lado
do mundo, eu ainda continuaria pensando em você,
desejando você e ainda seria o mesmo maluco
descontrolado sem você por perto.
Ela fecha os olhos e as lágrimas caem.
— Eu não sei o que é pior, Colin. Quando você me
toca ou quando diz essas coisas, não sei mesmo o que me
machuca mais.
— Caitlin, não vá. Eu juro que nunca mais vou
machucá-la, eu não vou mais tentar tocá-la, eu... não, eu
não posso jurar isso porque sei que não vou cumprir, mas
eu prometo que se você disser pare eu paro e não tento de
novo por horas, eu só preciso que você esteja aqui todos
os dias. Caitlin, eu sou louco, é você que me mantém um
pouco são, se eu perder você não vai sobrar nada.
— Não é verdade. Você é esquentado e
inconsequente, mas tem um coração de ouro e é tão
inteligente, Colin! Você não precisa de ninguém para ficar
bem.
— Preciso de você. Não vou ficar bem sem você.
Ela tira minha mão da mala e a arrasta até a porta,
mas a seguro. Não posso deixar que ela saia, não posso!
— Caitlin, vamos fazer um acordo. Venha aqui
comigo, me deixe apenas beijar você e se eu a fizer gozar
sem tocá-la com as mãos, então você fica. Mas se eu não
for capaz de entender o seu corpo e suas necessidades
então a deixarei ir. Não é sedução! Não vou tocá-la, eu só
preciso beijar você. Você vai entender!
Não sei como dizer que não sei dizer o que sinto e
talvez se eu beijá-la sem que isso envolva meu toque
descontrolado sobre ela, ela sinta também, talvez ela
entenda e fique, porque vai saber que não a quero por uma
noite apenas.
— Eu sei que você é capaz. Colin, eu te conheço tão
bem! E ainda assim nesses últimos dias você conseguiu
me surpreender sendo fofo e desesperado com seu ciúme,
mas isso é pior para mim do que quando você me seduz e
me toca.
— Caitlin...
— Eu não vou fazer acordo nenhum com você. Eu
não estou me sentindo bem aqui com você e se você
realmente gosta de mim como diz, precisa me deixar ir.
— Não! Não! Eu não posso! Eu vou perdê-la para
sempre, eu não posso!
— Você quer que eu fique aqui com você mesmo que
isso me faça infeliz?
— Não — respondo derrotado e fico de costas para
ela. Não quero que ela me veja chorando. — Para onde
você vai?
— Para a casa de uma amiga da faculdade, a
Mackenzie.
— Qualquer coisa que você precisar, me liga tá?
Assim que deixar de me odiar e puder falar comigo, me
avisa, pra eu ir ver você.
— Colin, eu não te odeio. — Ela toca meu ombro,
mas não me viro. Não quero que ela me veja assim. — Eu
vou ligar assim que as coisas se acalmarem. Não se
preocupe comigo. E você sabe que qualquer coisa que
você precisar eu estou aqui.
— Não está, não. Mas pode ir em paz. Se cuida,
Caitlin.
— Você também.
Ouço seus passos no chão e o som das rodinhas da
mala, então a porta bate e eu desmorono. Nunca imaginei
como seria viver sem ela, embora soubesse bem que não
conseguiria. Mas em cada plano idiota que fiz do meu
futuro, mesmo os mais bobos a incluíam. E eu nunca
pensei que chegaria o dia em que eu precisaria descobrir
como viver sem ela. Cada canto desse apartamento tem
ela, com seu sorriso doce, suas piadas ácidas e sua paixão
por essas séries bobas de heróis. Tem ela na cozinha
queimando a comida e tomando sorvete da maneira mais
sensual do mundo. Tem ela na minha cama, jogando
conversa fora, enquanto tenta se desculpar por algo pelo
qual já nem estou mais bravo. Tem ela no chuveiro se
derretendo na minha boca, dizendo que iria se entregar a
mim. Em cada canto dessa casa tem ela, e cada lembrança
dela me fere mais do que a anterior, não posso ficar aqui!
Visto uma roupa e pego a moto, isso não funciona
bem, quando preciso não pensar e saio sem rumo
dificilmente volto melhor, mas ficar aqui dentro está me
enlouquecendo e para quem mais eu poderia contar o que
estou sentindo? Eu a perdi. Realmente consegui perdê-la.
Vou até o consultório da doutora Mansfield, mas ela
já foi embora e não consigo contatá-la pelo celular.
Maldita casamenteira que não está quando mais preciso
dela! O que eu vou fazer sem a Caitlin? O que vou fazer
sem saber do seu dia, dos seus planos? Sem vê-la se
atrasando para as coisas ou enfiando a cara em livros com
aqueles óculos de professorinha e a expressão de estresse
adorável?
Aquela dorzinha maldita está cantando a plenos
pulmões que no final das contas, eu tentei tanto correr
daquilo que poderia acabar com ela, achando que eu
poderia ser homem o bastante para sumir com ela sozinho,
quando na verdade, estava sendo um grande covarde
negando algo que sempre esteve na minha cara, e eu não
queria ver. Se eu tivesse deixado que a Caitlin mandasse
essa maldita dor para o inferno, estaria com ela agora, e
eu podia até ser esse babaca inconstante e imprevisível,
mas estaria com ela. E muitas das merdas que tenho feito
para estar com ela sem realmente estar, eu teria evitado.
A dor parece rir mais ainda de mim quando vou me
dando conta do que mais está errado na minha vida agora,
ela aponta o dedo para mim cantarolando bem alto que
não adianta achar a cura depois de corrompê-la. Caitlin
nunca acreditaria em mim se depois do meu discurso
quero comê-la e nada mais, eu simplesmente dissesse que
todo esse meu desespero e idiotice é culpa de algo com o
qual não sei lidar. Jamais acreditaria em mim se eu
confessasse que apenas agora entendi que eu...
— Merda! Merda! Malditas rogadoras de pragas! —
xingo a plenos pulmões a doutora casamenteira e Serena,
com aquele papo idiota de amar.
Meu coração salta no peito, minha cabeça dói como
se eu tivesse levado um soco em cheio na cara, e me falta
ar por um breve momento.
Tenho feito as coisas erradas, mesmo sabendo que
estão erradas e machucado pessoas que nunca tive a
intenção de machucar, e eu achei mesmo que estava
fazendo tudo isso por ser um otário com um pau que
comanda a cabeça e não consegue se controlar, quando na
verdade há um motivo para eu ter me perdido tanto. Há um
único e complicado motivo para eu estar disposto a ser
um grande babaca, contando que a Caitlin seja minha.
Não posso acreditar que era isso o tempo todo e eu
não percebi. Como caralho eu não percebi? Ela esteve ali
o tempo todo diante de mim, como posso ter sido tão
cego? E tão burro?
Tremendo um pouco pelo choque, pego meu celular e
vejo uma foto dela, de anos atrás, rindo para a câmera
enquanto a carrego como seu cavalinho. E vejo meu olhar
para a câmera. Merda! Quando foi que isso começou?
Desde quando sou apaixonado por ela sem perceber isso?
Olho várias fotos em que estamos juntos e em cada uma
delas a maneira como a olho ou como reajo estando com
ela é muito clara. Até um cego veria isso. Todo mundo
viu, a doutora Katy, a Lorna, até mesmo a Serena, menos
eu.
— É Colin, você estava errado. Realmente é preciso
estar apaixonado para se perder por alguém.

Após horas rodando sem rumo, volto para a casa


vazia, minha cara no espelho está assustadora, não me
lembro quando foi a última vez que chorei. Sim, eu me
lembro. Só não me lembrava que doía tanto. Aquela dor
chata de amar alguém e perdê-la não me abandona, mas
sei que ela nunca irá embora, então preciso entrar em um
acordo com ela.
— Vá, sua maldita! Faça seu estrago agora, depois
você me dá um sossego para que eu consiga dormir, tudo
bem?
Acho que a doutora Katy vai ter que me internar.
O som da campainha parece atingir em cheio lá
dentro da minha cabeça. Abro a porta e quase consigo
ficar feliz, pelo menos animado, mas não consigo.
— Quem é vivo sempre aparece. Você está ridículo,
seu babaca! — cumprimento Dustin que parece radiante
de tão feliz.
— Cala a boca, seu merda! Eu passei no clube e o
Thor me disse que você estava quebrado, mas não achei
que estivesse tão quebrado.
— É, eu estou. Fui bem quebrado hoje.
— E mesmo assim vai enfrentar Stephen Ryan depois
de amanhã?
— É, eu vou.
— Cara, você é mesmo maluco. Mas se não quer
morrer é melhor me encontrar amanhã cedo para a gente
treinar.
— Voltando às suas origens, modelinho? Quem sabe
assim seu pau não volta a subir como o homem que você
deveria ser?
— A minha esposa não está reclamando do meu
desempenho, então cale a sua boca!
Só então percebo a presença feminina atrás dele. De
cabelos negros e um sorriso lindo, a garota estende a mão
para mim parecendo sentir pena. Pego sua mão e me
apresento, e ela faz o mesmo.
— Sou Carolina, mas pode me chamar de Carol.
— Ela é brasileira — Dustin diz.
— Eu sei. Todo mundo sabe sobre a sua Carol, você
só fez chorar por ela nos últimos meses.
— Onde está a Caitlin? — pergunta procurando por
ela no apartamento.
Agora vem a parte mais difícil.
— Foi embora. Essa tarde.
— Que merda! Como você está com isso?
— Como você acha?
Ando até o banheiro e volto de lá com uma caixinha
de lenços, tiro um e estendo para a linda esposa do meu
amigo e pergunto:
— Você gosta de drama e de idiotas apaixonados?
Ela me avalia com o lenço na mão, provavelmente
achando que sou louco.
— Adoro — responde finalmente piscando para
Dustin que sorri em resposta.
— Ótimo, então você vai precisar disso — entrego o
lenço a ela, e tiro um para Dustin.
— Cara, para que eu vou precisar disso?
Tiro meu próprio lenço e como uma adolescente
abandonada dessas séries dramáticas, começo a chorar.
— Sabe quando você demora demais a perceber que
ama alguém?
Conto toda a história a eles, e me surpreendo por
Dustin ter passado pela mesma coisa com a Carol. Mas,
ele corrigiu seu erro e foi buscá-la assumindo o que sentia
e se redimindo. Eu estou pronto para fazer isso, estou
pronto para dizer a Caitlin como me sinto e trazê-la de
volta, eu só não sei como fazer isso. Mas acho que a
Carolina aqui vai me ajudar.

Eu mal dormi à noite, minha cara parece péssima e


me sinto um zumbi. Mas meu corpo não dói o que é um
grande consolo. Pego o celular o tempo todo enquanto
treino com Dustin, mas não tenho coragem de ligar em
nenhuma das vezes, eu só queria perguntar a ela se ela vai
assistir minha luta, mas ela precisa de um tempo. E não
posso mais uma vez colocar as minhas necessidades
acima das dela. De qualquer forma, a manterei comigo na
luta, em pensamento. Dustin me disse claramente que eu
tinha que dormir essa noite, como se fosse minha, essa
escolha. Não preguei os olhos, foram tantas lembranças
me preenchendo e eu não sei como caralho eu não percebi
antes o que sentia. Não é possível ter sido tão burro!
Consigo dormir um pouco depois que o sol nasce,
depois que vou me deitar na cama dela, sentindo seu
cheiro gostoso, foi como se ela estivesse aqui.

Assim que chego ao clube, procuro Serena e a libero


de ser minha Sorte esta noite. Não seria legal, já que o
adversário é seu irmão. Recebo um tapa na cabeça de
Dustin quando conto a ele o que fiz, seguido de uma
zoeira.
— Oh, o bebê chorão está crescendo! Alguém liga
para a Caitlin e avisa!
— Seu babaca! — reclamo.
O clube está cada vez mais cheio e eu deveria estar
nervoso, ou pelo menos ansioso, mas só espero que ela
venha e que torça por mim. A plateia está se direcionando
a um lado específico da torcida. Noto que uma parte dela
é de quem está apostando no Stephen e outra de quem está
apostando em mim. Engraçado, em questão de torcida
estamos pau a pau. Mas ela ainda não chegou. É provável
que não venha, ela tem esse direito. Ela não costuma
quebrar suas promessas, mas dessa vez, eu não
consideraria como uma quebra, porque fui quem a
provocou ao ponto de ela não se sentir mais bem ao meu
lado.
— Pronto para perder, Hanson? Me dá até peninha
enfrentar você quando está claramente incapaz, mas já que
você insiste...
Nem me dou ao trabalho de olhar para ele para
respondê-lo. Hoje realmente não estou no clima para
essas batalhas verbais idiotas.
— Se você precisa parar aqui e ficar me dizendo
isso, é porque não está tão certo assim que vai vencer.
— Eu não preciso te provar nada, a gente se entende
no ringue. Se está procurando a Caitlin, ela não vem. Não
sei o que fez com ela e nem quero imaginar que você a
tenha tocado, mas se você queria acabar com ela,
parabéns! Você conseguiu!
Olho para ele quase suplicando por notícias dela, e
ele parece confuso ao ver minha cara.
— Ela está tão mal assim?
— Ela não vai aparecer aqui hoje.
— Você a viu? Ela fez alguma piada sarcástica com
você ou parecia triste?
— Não a vi, ela não quis me ver, não quer ver
ninguém pelo que entendi. Mas por sua voz ao telefone eu
diria que está bem triste. Não sei como ajudá-la.
— Merda! — Levo as mãos à cabeça com a culpa me
corroendo ainda mais. O que foi que eu fiz com ela?
O locutor cumprimenta a plateia e chega a hora de
irmos. Stephen vai primeiro, eu ainda procuro por ela
mais uma vez, então memorizo seu rosto ao gozar para ter
forças de vencer essa luta. O locutor faz uma piada sobre
meu estado de saúde que leva a plateia aos risos, mas não
consegui ouvir direito o que disse. Há um zumbido em
meus ouvidos, não é nada parecido com os malditos
fantasmas, é apenas algo que me deixa fora do ar. E não
posso sair do ar agora. Aperto a mão de Stephen, uma
cordialidade apenas, já que somos da mesma equipe.
— Quero deixar claro uma coisa, não estamos
lutando pela Caitlin aqui. Essa batalha não é por ela —
ele diz, como se eu estivesse pensando algo assim.
Sorrio em resposta e respondo seu aperto de mão
com a mesma força que ele está colocando na minha.
— Você deve estar se doendo, não é? Porque mesmo
eu sendo um grande babaca ela ainda assim não quis ficar
com você. E eu sei o quanto você tentou!
— Também não a estou vendo ao seu lado.
— Ela está aqui onde mais importa. — Bato a mão
no peito para que ele entenda.
— Aproveite enquanto pode, porque eu vou arrancá-
la daí! — ele ameaça e eu preciso mesmo quebrar a cara
desse idiota!
O juiz dá início à luta. Ataco primeiro, acertando-o
com um chute, seguido de um soco que o pega em cheio.
Mas, logo ele revida com uma sequência de socos na
minha barriga e costela, perco o ar por alguns segundos, a
dor dilacerante quase me fazendo cair. Então ele não vai
lutar limpo, eu realmente esperava que ele fosse melhor
do que isso. Me esquivo de seus próximos golpes tentando
encontrar uma brecha para acertá-lo, quando me lembro
do que a Caitlin disse na primeira vez que veio ao clube:
as poucas vezes em que ele foi atingido, foi por baixo,
porque ele não se defende ali. Ele vem em minha direção
com o punho e retruco chutando-o, e derrubando-o em
seguida. Porém, ele é rápido e me derruba na sequência, e
mais uma vez, a dor me atrapalha de reagir com a rapidez
com que teria feito em um dia normal.
Merda! Por que não pedi que adiassem essa luta até
que eu me recuperasse por completo?
Olho para a plateia e algo chama minha atenção,
desviando meu foco da luta o suficiente para ser atingido
em cheio de novo, na costela.
Caitlin está aqui. Sentada do meu lado da torcida,
com seu cartaz na mão. Ela teve o cuidado de levá-lo
quando foi embora porque pretendia estar aqui hoje.
Sorrio para ela que acena e se junta ao coro da plateia
gritando meu nome e pedindo que eu reaja. Stephen
também a vê, parece decepcionado por ela estar ali.
Como não jogo baixo como ele, espero que sua atenção
esteja de volta na luta para acertá-lo. Caitlin está vendo,
então não vou perder essa luta de jeito nenhum!
Ignoro o máximo que posso a dor na lateral do meu
corpo e o ataco de novo por baixo, usar os pés na verdade
dói menos do que usar as mãos nesse momento. Consigo
derrubá-lo e apesar de saber que isso vai me matar de
dor, aplico nele um knee drop[6], acertando em cheio seu
braço com o joelho. Ele grita de dor e sei que no mínimo
desloquei seu braço, o que me dá uma imensa vantagem. O
problema é que tenho muita dificuldade em me levantar,
assim como ele, e ficamos de pé ao mesmo tempo. Porém,
seu forte são seus socos, e ele não pode fazer isso agora
com o braço inutilizado. Então ele me ataca com chutes,
me acerta o primeiro na barriga, mas, no segundo, seguro
seu pé e o giro, jogando-o mais uma vez ao chão. Agora
que fiquei de pé, posso usar isso a meu favor, pois ele vai
demorar de novo a levantar-se. Pulo sobre ele usando seu
braço machucado para aplicar o Crucifixo, prendendo-o
ao chão de forma que ele não consegue escapar. O juiz faz
a contagem, e sou declarado o campeão.
Eu venci o Stephen babaca.
Caitlin me aplaude de pé. Pego o lenço da vitória e o
beijo, em seguida o levanto e a plateia vai à loucura.
Sorrio para minha expectadora mais importante, que sorri
de volta, o orgulho estampado em sua cara. Eu estou na
final do campeonato. Vou ajudar Stephen a se levantar,
mas ele recusa minha ajuda e logo, Thor aparece para
levar nós dois ao hospital. É possível que eu tenha
fraturado outra costela hoje.

Na tarde seguinte já estou em casa e com um plano


em mente. Percebi que não tenho que seduzir a Caitlin
para que ela queira ficar comigo, eu preciso conquistá-la.
Preciso mostrar a ela que a quero para muito mais do que
fazer amor.
Encontro Carolina na porta do meu prédio e subimos
juntos, eu sei cozinhar muito bem, mas não sei decorar o
ambiente para o que tenho em mente e ela vai me ajudar.
Me concentro na comida e o resto deixo por conta dela,
que resmunga, me mandando fazer várias coisas ao mesmo
tempo.
— Ei, paciência, eu estou todo machucado.
— Ah, por favor! Não venha bancar o bebê chorão
comigo! Eu vi você lutar ontem, poderia levantar essa
mesa no estado em que está, pare de moleza e carregue
isso agora mesmo! Eu não vou pegar peso para você.
— Agora entendo como você domou o Dustin, você é
mandona, hein!
— Estou ouvindo você reclamar? Porque se estiver
eu vou embora!
— Meu Deus! O Dustin vai direto para o céu —
brinco e ela responde com olhos apaixonados.
— Você diz isso porque não faz ideia do que passei
até conseguir domá-lo. Ele merece a Carol mandona e
você, se não andar logo com essa mesa, vai conhecê-la
também!
— Está me dizendo que isso aí ainda não é ela?
Ela me arremessa uma almofada e trato de carregar
logo a mesa para onde ela quer deixá-la.
Devo confessar que esse lance romântico e fofo está
legal pra caralho! Quando terminamos, olho o ambiente e
não acredito no que fizemos em tão pouco tempo. Caitlin
vai amar. Posso até imaginar sua cara quando vir isso.
— Você tem certeza que ela vem? — Carol pergunta
pela terceira vez e a encaro com uma careta.
— Você é extremamente irritante, garota. Ela vem,
não estoure meus sonhos.
— Foi mal, estou só perguntando.
— Ela vem. Agora você pode ir.
— Claro, me usa e depois joga fora. Só para você
saber eu iria de qualquer jeito porque o meu marido já
chegou. Boa sorte com seu jantar e sua garota.
— Obrigado, Carol. E agradeça ao Dustin por ter me
emprestado você.
Ela faz uma careta e desce resmungando que não
tinha que pedir permissão a ele porque não é um
brinquedo dele. Essas nossas mulheres...
Tomo um banho e visto minha melhor roupa: uma
camisa surrada que sei que a Caitlin adora. Coloco tudo à
mesa e espero. Espero mesmo que ela venha. Dustin teve
muito trabalho dizendo a ela que eu estava quase
morrendo de dor e me recusava a ir ao hospital. Será que
ela vai ficar mais brava ou feliz com a mentira? Espero
que feliz.
Logo, a porta é aberta e ela entra, já chamando meu
nome irritada. Então, estaca quando vê a mesa, as velas,
os balões e almofadas.
— Uau! O que aconteceu aqui?
— Um jantar. Para você.
Ela abre um imenso sorriso.
— Então, você não está morrendo de dor.
— Depende do ponto de vista. E depende se você vai
aceitar jantar comigo. Se você disser não eu posso mesmo
morrer.
— Colin você sempre julgou meus dramas, mas você
está me saindo melhor do que a encomenda — ela brinca
desconcertada observando tudo com atenção.
— Você não fez tudo isso sozinho.
— Não. Tive ajuda de uma amiga. Casada. Com meu
amigo — explico antes que ela imagine se tratar daquele
tipo de amiga, já que minha única amiga de verdade é ela.
— Mas a ideia foi minha. Caitlin Ross, você aceita jantar
comigo? Para que fique claro isso é um encontro.
— Por que você está fazendo isso? — pergunta com
seu jeito doce, tentando muito não ficar emocionada, mas
seus lindos olhos de gata já brilham.
— Eu só quero fazer as pazes. Eu preciso que você
volte.
— Colin... — Seguro seu rosto tentando esconder
meu desespero, não quero assustá-la.
— Por favor, Caitlin, não me deixe. Eu posso superar
qualquer outra perda na vida, menos essa. Eu sou péssimo
com palavras e essas coisas e não sei dizer a você o que
sinto, então me deixa mostrar. É tudo o que te peço. Se
depois de hoje você ainda quiser ir embora, então não
pedirei mais. Não é verdade, eu tentarei de novo, mas te
darei mais alguns dias.
Ela ri e me abraça, devagar, tomando cuidado com
meus machucados.
— Senti fala desse seu jeito louco. Parece que faz
dias que nos afastamos.
— Eu sei.
— Você não vai tentar me seduzir nem nada assim,
não é?
— Não, meu bem. Essa noite não se trata disso. — A
aperto em meus braços e como senti falta dela! Do cheiro
do seu cabelo, de ter que me curvar para ficar do seu
tamanho, do calor que seu corpo pequeno emana e que
consegue incendiar todo meu corpo.
— E se trata de quê então?
— Há um lado inteiro meu que você não conhece.
Mas ele existe por você, então preciso que me deixe
mostrá-la.
Ela assente e puxo a cadeira para ela, servindo-a seu
prato preferido, o que a deixa claramente feliz. Sento-me
ao seu lado e começamos a conversar. Como sempre
fizemos, porém, com mais intimidade do que pensei ser
possível. Ela ri tão facilmente ao meu lado, como se os
últimos dias não tivessem acontecido. Quando terminamos
de comer a levo até as almofadas, onde nos deitamos.
Esse seria o lugar e o momento perfeito para fazermos
amor, mas eu disse que essa noite não se trata disso, e não
se trata.
Pairo meu corpo sobre o dela que arregala os olhos
na defensiva, acaricio seu rosto e a tranquilizo:
— Não vou fazer nada. Só quero beijá-la, tudo bem?
Ela assente e finalmente tomo sua boca. Ciente do
que sinto por ela, tentando mostrar isso a ela porque tenho
medo de dizer. E ela corresponde, toda sua doçura
direcionada a mim, eu me derreto por ela. Eu seria capaz
de qualquer coisa por ela, não sei como fui tão cego e não
percebi isso antes, mas agora, parece que sinto em dobro
por cada dia em que não assumi para mim mesmo o que
sentia. Ficamos horas assim, juntos, ela deitada nos meus
braços, relaxada. Coloco um de seus filmes de amor
bobos para vermos, mas não a deixo realmente assisti-lo
porque não consigo parar de beijá-la.
Eu sei que tenho tanto a me desculpar com ela, e vou
começar a fazer isso agora, e estenderei essas desculpas
por todos os outros dias se for preciso. Sirvo duas taças
de um vinho barato, porque esqueci de comprar um bom, e
levo em sua direção. Ela está com o celular numa mão,
pega a taça da minha mão com a outra e diz:
— É o Luke.
— Está tudo bem?
— Não sei.
Ela dá play em algum áudio que ele mandou para ela
e sinto meu mundo ruir conforme escuto a minha voz
conversando com ele:

— Você acha que estou mentindo. Mas não estou.


— Então está me dizendo que não está travando
essa guerra contra o Stephen fora do clube porque sente
algo pela Caitlin? Porque cara, é o que está parecendo.
— Eu jamais faria isso com você e independente
disso, ela é minha irmã. Estou apenas tentando protegê-
la. Há uma diferença enorme entre não permitir que ela
durma com ele e querer que ela durma comigo.
— Então, você, Colin Hanson, está dando sua
palavra de que não está interessado na Caitlin? Não
sente nada diferente por ela?
— Não, eu não sinto. A minha melhor amiga não vai
perder a virgindade com meu pior inimigo. Stephen pode
me vencer nos ringues, mas não vai vencer essa. Vou
fazer o que for preciso para impedir que ela cometa esse
erro, e isso pode parecer sentimental às vezes, mas é
apenas isso. Estou fazendo meu papel de amigo, nada
mais.
Não acredito que ele gravou isso.
— Caitlin, não é o que parece, eu posso explicar!
Ela se levanta e pega sua bolsa e corro atrás dela.
— Caitlin, por favor. Eu não sabia, eu só disse isso
para acalmá-lo, não estava sendo sincero. Eu estava
tentando me convencer do que falei, eu não sabia ainda o
que sentia por você. Caitlin!
Mas ela não quer me ouvir. Entra no elevador e
consegue fechá-lo antes que eu a alcance, porque não
consigo andar rápido o suficiente com essa tala de merda
na costela. Volto ao apartamento, pego o celular e peço
socorro. Eu não vou conseguir pilotar assim e preciso
achá-la.
Assim que chego à rua, não a vejo em lugar nenhum,
e uma voz atrás de mim me faz querer matá-lo.
— Ela entrou em um táxi.
Luke está parado ali, olhando-me como se tivesse
vencido, como se eu fosse o culpado por perdê-la mais
uma vez. E eu fui, mas não vou parar para admitir isso
agora.
— Seu filho da mãe! — O seguro pela camisa e bato
seu corpo na parede. — Que merda achou que estava
fazendo gravando aquela conversa? Você tem ideia do que
fez?
— Você não ia levá-la para a cama fingindo sentir
algo por ela. Acha que não vi o que fez na luta? A maneira
como olhou para ela. Você a está iludindo, Colin!
Fingindo que a ama para conseguir tê-la.
— Eu não estava fingindo porra nenhuma! Estava
fingindo quando falei aquelas merdas para você! Eu amo a
Caitlin, amo mais do que posso explicar e por sua causa
eu não sei onde ela está agora!
Ele parece em choque e o solto. Bater nele agora não
vai adiantar. Onde está o imbecil do Dustin? Eu preciso
achá-la. Conheço os lugares onde ela pode ter ido.
— Eu só fiz isso porque achei mesmo que você a
estava usando, Colin. E não achei justo que você fizesse
isso com ela.
— Mas eu não estava! — respondo sem me dar ao
trabalho de olhar para ele.
— Se você tivesse me dito que a amava, nada disso
teria acontecido. Eu nem teria ficado chateado se
soubesse.
Por que é tão difícil entender que eu era cego e não
percebia que a amava? E que mesmo quando descobri não
sei lidar com essa merda. Por que é tão difícil que as
pessoas parem de esperar que eu aja como elas quando
não sou como elas? Não sou como ninguém! Sou só uma
merda de um louco apaixonado!
— Você sabia disso, Luke. Todo mundo sabia disso!
Só eu que não!
Ele não responde mais, não há o que ser dito.
Dustin buzina em seu carro, Carol está ao seu lado,
desce rapidamente quando me vê e me abraça.
— O que houve? O que deu errado?
— Ele deu errado — digo apontando para o idiota do
meu ex melhor amigo. — Vamos, precisamos achá-la.
Entro no carro com eles e dou o primeiro endereço
que acho que ela pode estar, tomara que eu consiga
impedir que ela cometa alguma besteira e que ela me
deixe explicar, porque juro que vou perder o medo e dizer
a ela de uma vez por todas que eu a amo!
CAPÍTULO QUINZE
Não sei há quanto tempo estamos rodando, mas já
olhei em todos os lugares que sei que a Caitlin costuma ir
quando está triste, e ela não estava em nenhum deles.
Estou ficando sem ideias de onde procurá-la, e esse medo
de perdê-la de vez parece que vai me sufocar a qualquer
momento.
— Não sei mais onde procurar. Olhamos em todos os
lugares onde ela costuma ir — admito desesperado.
— Ela deve estar em um lugar onde você não pode
encontrá-la, Colin — Carol diz com a mão em meu ombro,
tentando me consolar. — Mas ela vai aparecer, assim que
essa raiva passar.
— E se não passar?
— Cara, vocês são amigos desde que me lembro,
aquela garota realmente te adora, ela vai te dar uma
chance de contar sua versão da história.
Estou sentindo que não.
Quero liberar Dustin e Carol para que possam ir
dormir, enquanto eu continuo rodando à procura dela, mas
eles não aceitam ir para a casa. Perdi a conta de quantas
vezes liguei para seu celular e o de Lorna, mas Lorna não
sabe dela e ela não me atende. Até que meu celular toca, e
é Caitlin.
— Cait, onde você está? Você está bem?
Há um barulho enorme ao fundo e mal consigo ouvir
a voz do outro lado da linha, mas sei que não é Caitlin.
— Oi, é o Colin? Meu nome é Mackenzie, sou amiga
da Caitlin. Não aconteceu nada grave, ela só bebeu um
pouco e não parece muito bem. Eu não sei mais o que
fazer com ela.
— Onde vocês estão?
Sei onde fica o pub onde ela foi, e sei o que acontece
quando ela bebe. Temo chegar lá e encontrá-la nua em
cima de uma mesa, mas a encontro chorando em um canto,
uma garrafa quase vazia em sua mão e duas amigas
cansadas ao lado dela.
— Mackenzie?
A loira a direita de Caitlin levanta-se e me
cumprimenta.
— Estávamos aqui quando ela ligou, ela nunca veio
com a gente antes, começou a beber sem parar e chorava.
Depois, ela queria beijar um cara qualquer que estava
passando. A namorada dele estava na mesa ao lado, foi
uma confusão. Ela misturou um monte de coisas.
Aproximo-me de Caitlin, que está com a cabeça
sobre a mesa e a chamo:
— Ei, baby, vamos embora. Vim buscar você.
Ela levanta a cabeça vagarosamente e vejo a raiva
em seus olhos, ela olha Mackenzie e fala de maneira
arrastada.
— Não deixa ele me levar.
— Eu juro que não vou machucá-la — digo a
Mackenzie. — Não mais do que já fiz.
— Você pode levá-la porque sei que só você vai
poder ajudá-la agora. Mas fique sabendo que vou ligar de
hora em hora e vou querer falar com ela.
— Tudo bem. Obrigado, Mackenzie.
Pego Caitlin com todo cuidado, o ambiente pouco
iluminado por luzes coloridas, a arrasto dali enquanto ela
pede a amiga que não me deixe levá-la. A abraço forte no
carro, ela tenta me afastar, mas cede e acaba
adormecendo.
— Obrigado a vocês dois pela ajuda — digo ao
descer do carro.
— Tem certeza que não quer que eu a leve lá para
cima? — Dustin oferece por causa da minha cara de dor.
— Não precisa. Não vou sair de perto dessa pequena
de qualquer maneira.
— Se cuida, cara. Qualquer coisa liga.

Levo-a direto para o banheiro, ela resmunga coisas


desconexas enquanto tiro sua roupa.
— Brigando em um bar por um homem
comprometido? Eu queria ter visto isso, Cait. Você vira
outra quando bebe, é quase como se tivesse dupla
personalidade.
— Ele nem era tão bonito — ela resmunga de olhos
fechados tentando me afastar.
Só então percebo que há uma marca roxa em seu
queixo, no lado esquerdo.
— O que é isso?
Ela não responde e me pergunto se a tal namorada do
cara bateu nela. Se essas amigas incompetentes dela
deixaram que ela apanhasse. Termino de despi-la e a levo
para a água quente. Ela resmunga quando a água escorre
por seu corpo e fecha os olhos. Fico ali debaixo com ela,
amparando-a, sentindo-a tão perto de mim, e eu tive
mesmo medo de nunca mais poder tocá-la de novo.
Depois de uns minutos ela abre os olhos, sua cara
está péssima, mas consegue ficar em pé sozinha, mesmo
ainda um pouco zonza.
— Você não precisa ficar — diz baixinho.
— Não vou a lugar nenhum, Caitlin.
— Eu não quero você aqui.
— Vai ter que se acostumar, porque eu não vou a
lugar nenhum!
— Por que você não me entende? — ela grita e tenta
me acertar, mas se desequilibra e a seguro, prendendo-a
em meus braços.
Ela me bate, ainda mais fraco do que bateria se
estivesse sóbria, mas sinto sua raiva pelo jeito como grita
enquanto me soca lentamente, se esforçando para me
acertar.
— Eu te odeio! — diz e começa a chorar.
— Caitlin, não. Não chora, quando você dormir e
acordar, vamos conversar e vou te explicar tudo. Só me
deixa cuidar de você agora, tudo bem?
Ela continua chorando e deita a cabeça em meu peito,
parecendo fraca e perdida. Questionando por que eu fiz
isso. A abraço apertado, e a embalo, movendo-a
levemente embaixo da água quente, tentando niná-la.
Acalmá-la.
Porque eu sou um babaca que te ama demais e não
faz nada certo.
Porque eu não queria mesmo amar alguém desse
jeito e correr o risco de perder tudo, perdendo essa
pessoa.
Porque agora eu sei que aquela dorzinha que vem
me acompanhando, que cessa quando estou com você e
quase me mata quando você está longe, nada mais é do
que amor.
— Eu não fazia ideia que amar podia doer tanto —
falo baixinho.
— Pode. É o que mais pode doer — ela responde
com a voz sonolenta e desligo a água. A seco, tendo que
ampará-la porque ela não parece capaz de ficar de pé
sozinha e a levo para minha cama. Visto-a com um blusão
meu e me seco rapidamente, entrando debaixo da coberta
com ela. Ela se aconchega a mim, passando o braço à
minha volta e deitando a cabeça em meu peito, e assim
que vejo que ela dormiu, começo a rezar.

Não preguei os olhos a noite toda, com medo de


apagar e não vê-la acordar. E aí ela poderia ir embora
sem que eu explicasse para ela o que realmente aconteceu.
O sol nasceu há algumas horas, e sua respiração é tão
suave em meu peito, que por um momento quero que ela
demore bastante a acordar, para tê-la assim mais tempo.
Mas por outro lado, quero que ela acorde e que a gente
converse, para ver se essa angústia que estou sentindo
diminui um pouco.
Pouco depois, ela se mexe e resmunga, e acorda. Fica
um tempo quietinha, acho que se lembrando de onde está e
como veio parar aqui. Então, levanta a coberta e vê que
está vestida, sai do meu peito e geme de dor ao deitar a
cabeça no travesseiro.
— Vou te preparar um café — aviso.
— Não precisa. Estou bem.
— Você está com uma cara péssima.
Ela abre os olhos e me encara.
— Sua cara não está melhor do que a minha, tenho
certeza.
— Eu não dormi. Fiquei com medo de você acordar e
eu não perceber, e você ir embora sem que a gente
converse.
— Eu não quero conversar, Colin. Eu quero ir
embora.
— Não acho que a sua amiga queira te ver hoje —
digo levantando-me. — Há um hematoma no seu rosto,
que provavelmente está em mais partes do corpo dela. Já
que você se envolveu numa briga e ela era a única sóbria
o bastante para te defender. Ela me disse que apanhou um
bocado até conseguir contê-la.
Ela arregala os olhos e faz aquela careta de quem
passou vergonha.
— Ah meu Deus, eu fiz mesmo isso? Achei que
pudesse ter sido um sonho.
— Amor, você já deveria saber à essa altura, que
esse tipo de coisa quando se bebeu demais, nunca é um
sonho.
A deixo ali e vou fazer um café e providenciar um
remédio para ela. Junto tudo e levo para ela na cama, ela
não parece tão mal quanto na primeira vez que bebeu, mas
sua cara não está nada boa.
— Coma isso e depois tome um banho, vai melhorar.
Ela come em silêncio enquanto a observo. Depois,
recusa minha ajuda e vai para o banheiro. Veste outra
roupa minha, já que levou quase todas as suas roupas
embora e deita-se em sua cama. Entro em seu quarto e
sento-me ao seu lado.
— Sei que você não quer conversar, então vou
conversar sozinho.
Como imaginei, ela não diz nada.
— O Luke desde que a viu pela primeira vez, achou
que estava apaixonado por você. E eu digo que ele acha
que está, porque ele sai com outras mulheres, ele se
interessa por outras, e quando se ama alguém de verdade,
esse tipo de coisa não acontece.
Ela me olha com uma expressão surpresa e incrédula,
e com um sorriso irônico, afunda a cabeça no travesseiro,
fechando os olhos, deixando claro que não quer nem
mesmo me ouvir. Mas bem, eu nunca fui aquele que segue
suas vontades, não é?
— Quando você disse que era virgem, meu mundo
virou de cabeça para baixo. Parece que retrocedi dez anos
com as atitudes que tive e eu tentei justificá-las. Tentei
justificar que fosse tão egoísta por não conseguir deixá-la
ser feliz com outro. Tentei justificar que fosse tão babaca
que magoasse desse jeito um grande amigo, e a conversa
que você ouviu, ele estava puto comigo, eu não sabia que
ele estava gravando, e tive que inventar qualquer coisa
que pudesse justificar minhas atitudes em relação a você.
E eu mesmo tentei acreditar naquilo que disse para ele,
porque eu não conseguia entender porque eu não podia te
deixar pertencer a outro. Eu só não podia. Ainda não
posso.
Ela não responde e nem se mexe, e temo que tenha
dormido, mas continuo, talvez não vá falar essas coisas
nunca mais.
— Eu sei que a magoei muito, Caitlin. Magoei todo
mundo, inclusive a mim mesmo, mas só porque fui lento
demais em perceber e aceitar o óbvio. Você precisa saber
que minha intenção nunca foi feri-la, precisa saber que eu
daria minha vida sem pensar duas vezes para você ficar
bem. Eu morreria e mataria por você.
Ela ainda não me responde, acho que depois de tudo,
amá-la não vai remediar tudo o que causei a ela.
— Eu vou embora, assim que você estiver bem, se
for melhor para você. Não é justo que você saia, aqui já
era sua casa quando eu vim para cá. Eu vou deixar que
você viva em paz, e irei vigiá-la à distância, se você
preferir. Eu só preciso que você saiba que eu te amo,
Caitlin. Eu sou apaixonado por você, eu sempre fui.
Desde a primeira vez que a vi. Só que eu não percebia
isso. Uma vez você me disse que eu buscava algo em
várias mulheres e continuaria buscando porque não
encontraria em nenhuma delas e você estava certa. Eu
buscava você em cada uma delas, e nunca era o bastante.
Estar com você sempre me completou mais do que
qualquer uma delas, e eu não queria admitir isso. Eu sei
que dizer que te amo agora não vai consertar as merdas
que fiz, mas você precisa me ensinar a fazer isso.
Toco seu cabelo macio, acho que ela está mesmo
dormindo, a viro bem devagar e seus olhos descansam,
sua respiração leve, ela está dormindo. Não deve ter
ouvido nada do que eu disse. Beijo sua testa, a cubro e a
deixo ali. Minha cabeça está pesada, eu preciso dormir,
preciso tirar essa coisa apertando o meu peito,
cumprimento a dor que sei que estará ali para sempre e
não sei mais o que fazer. Junto minhas coisas em uma
mochila. Não tenho muitas roupas, nunca fui muito ligado
a isso. Ainda não sei para onde posso ir, talvez ficar uns
dias no clube até a final do campeonato e depois eu
poderia sumir, ir para outro país, quem sabe.
A quem estou enganando? Jamais iria tão longe dela.
Só preciso de uns dias no clube, até achar um lugar. Mas
antes, há uma coisa que preciso fazer.

— Você está atrasado — a doutora Katy me


repreende logo que entro em seu consultório
Me dirijo ao divã e aponto para seu whisky caro.
— O que houve? — pergunta preocupada. — Parece
que você não dorme há dias. Você apanhou feio nessas
últimas lutas, não é?
— Vim cumprir nosso acordo. Acho que você pode
tomar do seu whisky doze anos enquanto eu falo.
— Fala o quê?
— O que aconteceu. Tudo o que aconteceu. Aquele
lance de diário humano, lembra?
Ela serve duas dozes desse whisky intocável e me
serve uma. Senta-se ao meu lado, mas não pega seu
caderninho, nem um gravador, nem nada assim.
— Estou te ouvindo, filho.
— Eu tinha treze anos, quando minha mãe conheceu
uma mulher mais jovem na academia. O nome dela é
Hannah Thompson. As duas ficaram muito amigas, e essa
mulher virou a cabeça da minha mãe, ela começou a sair
muito, chegava tarde, dormia até tarde, então se arrumava
e saía de novo. Meu pai começou a surtar, dizia que ela
não estava agindo como uma mãe de família, eles
começaram a brigar muito. Eu nunca gostei dessa Hannah,
ela era linda e doce, como todos diziam, mas quando eu
olhava para ela, via algo ruim. Tentei alertar a mamãe,
mas ela dizia que era cisma minha, coisa de adolescente
bobo.
Respiro fundo e continuo.
— Aí aconteceu o assalto. Eu estava chegando da
escola, vi os carros de polícia, senti que alguma coisa
estava errada. A versão da Hannah foi de que a minha mãe
tentou reagir e foi baleada, mas eu sabia que tinha uma
coisa errada, que não batia. Eu disse isso aos policiais,
eles disseram que iriam investigar e por um bom tempo,
foi tudo o que tive deles. Tentei falar com o meu pai, mas
ele só bebia e não me escutava. Um ano depois da morte
dela, Hannah veio morar conosco, estava noiva do meu
pai. Eu nem sabia que eles estavam se vendo, só então fui
descobrir que ela o consolou da morte da mamãe.
Comecei a reparar mais nela, em suas atitudes, e no
quanto meu pai parecia estranho, mesmo estando cum uma
mulher mais jovem e tão bela. Ele estava sempre nervoso,
e parecia enfeitiçado por ela, mas não feliz. Uma tarde a
flagrei com os cartões da mamãe do banco. Os tirei dela,
nós brigamos, mas quando o meu pai chegou me mandou
devolver a ela, disse que ela tinha direito às coisas da
mamãe. Eu me lembro que fiquei revoltado. Comecei a
andar com as pessoas erradas, a fazer coisas erradas. A
única pessoa em quem confiava e a quem respeitava, era a
Caitlin. Longe dela, eu era o pior que podia ser. Mesmo
assim meu pai nunca me corrigia, nunca reclamava das
coisas que ouvia, ele não queria mais ser pai.
Viro o pequeno copo e ela se apressa a enchê-lo de
novo. Então continuo.
— Eu tinha quinze anos quando as coisas pioraram.
Um dia, Hannah caiu da escada, eu estava no meu quarto
com a Caitlin, não vi o que aconteceu. Eles gritaram e ela
caiu em seguida. Mas, ela disse à polícia que ele a
empurrou. Eu sabia que meu pai jamais faria aquilo!
Poucos dias depois ela retirou a queixa porque ele pediu
perdão a ela, e prometeu que se casariam em breve. E eles
se casaram no papel, ela passou a usar o nosso
sobrenome. E gastava todo o dinheiro dele e o da mamãe,
e ele não fazia nada para impedir. Ela começou a roubar
da conta da mamãe, da minha poupança da faculdade e da
conta dele. Eu consegui juntar provas para ele uma vez,
mas ele disse que não se importava. E que eu não devia
me preocupar com isso. Foi aí que uma noite, a polícia
invadiu a nossa casa e levaram meu pai preso. Acusado
de ter facilitado a entrada dos assaltantes que mataram
minha mãe. Eu tive tanta raiva por ver essa injustiça, tanta
raiva! Principalmente, quando ele disse que eu não
deveria tentar tirá-lo da cadeia, que ele merecia estar lá.
Um policial veio falar comigo e me explicou que
investigaram por todo esse tempo, pegaram um dos
assaltantes, o que atirou na minha mãe, e ele confirmou o
envolvimento do meu pai. Ele armou para que parecesse
um assalto. Eu demorei a entender que ele fez isso porque
ia pegar todo o dinheiro e fugir com a Hannah. Mas ela fez
questão de me explicar isso poucos dias depois da prisão
do meu pai. Eles não tinham prova alguma contra ela e
meu pai, idiota, não a entregou. Ela ficou lá na minha
casa, recebendo seus amantes, gastando o dinheiro da
minha família, enquanto eu não tinha mais ninguém.
Fecho os olhos tentando conter as lágrimas. Hoje
não, fantasmas, hoje não.
— Um dia, a ouvi ao telefone com um cara que
dormia lá em casa de vez em quando. Ela havia retirado
do banco uma quantia enorme de dinheiro e eles fugiriam
na tarde seguinte, porque ela achava que meu pai ia
entregá-la. Eles combinaram de ele buscá-la para
comprarem as passagens e algumas coisas que ela
precisaria. Depois voltariam para a minha casa,
dormiriam e partiriam na manhã seguinte. Eu vi a chance
perfeita. Arquitetei tudo, e tinha tanta certeza que daria
certo! Que tiraria dela aquilo que a levou a tirar a vida da
minha mãe! Esperei ela sair com esse cara, sabia que eu
tinha pouco tempo até ela voltar, espalhei gasolina pela
casa inteira. Eu achava que era o plano perfeito, mas na
verdade, nem estava pensando. Eu só sentia raiva, uma
fúria que não sabia como controlar e eu tinha que
machucar alguém para que melhorasse. Tinha que
machucá-la! Coloquei fogo na casa. Confesso que doeu
bem menos do que achei que doeria, desfazer-me assim do
lugar onde cresci. Ele havia se tornado o lugar onde minha
mãe morreu, não mais o meu lar. Estava pronto para ir
embora e deixar a casa queimando, quando ouvi gritos. Os
vizinhos vieram desesperados, ligaram para os
bombeiros, havia uma pessoa lá dentro. Hannah estava lá.
Não sei porque ela voltou antes da hora, eu juro que não a
vi entrar. Os bombeiros chegaram a tempo de salvá-la,
mas a senhora sabe, boa parte do seu corpo ficou
queimado, ela ficou irreconhecível. Eu fugi, mas fui pego
e a senhora sabe o resto. Fui preso, indiciado, e
condicionado à minha punição. Pouco depois que fui
preso, meu pai morreu na cadeia e assim que saí da
prisão, eu vim para cá, conversar com a senhora toda
semana.
Katherine fica em silêncio, coisa muito rara nela.
Viro a segunda dose do whisky e enquanto me serve a
terceira, ela fala.
— Você não é um monstro, Colin. Só estava sozinho e
confuso, e era jovem demais. Mas você é uma das pessoas
mais sensacionais que conheço. Você é capaz de amar de
uma maneira que quase ninguém é. Só precisa se
descobrir.
Você está atrasada, doutora.
— A Caitlin não está mais falando comigo.
— Bom, quando você deitou aí e começou a contar
sua história, achei que você quebrou seu trato no acordo e
a seduziu, não foi?
— Eu tentei, tive orgulho de mim mesmo por poucas
horas. Mas não fui capaz de resistir. Eu não consigo
resistir a ela.
— E conseguiu o que queria?
— Não mesmo. Nada do que queria. Estou saindo do
apartamento para deixá-la em paz. Ela nem quer falar
comigo depois de tudo o que fiz para impedi-la de dormir
com ele.
Então conto a ela tudo o que fiz, sobre a gravação do
Luke, e sobre eu ter vencido finalmente uma luta contra
Stephen Ryan.
— Meus parabéns, Colin! Sabia que esse dia
chegaria! Na verdade, quando você me disse que a Caitlin
estava saindo com o Stephen, eu tive certeza que você
venceria a próxima luta contra ele.
— Muito espeta, doutora.
— Então você está desistindo da Caitlin? Não vai
mais tentar seduzi-la?
— Não estou desistindo, quando eu disse isso? De
jeito nenhum! Mas não vou mais tentar seduzi-la eu
preciso conquistá-la.
Ela arqueia as sobrancelhas tentando entender, acho
que pensando erroneamente que pretendo fingir-me de
apaixonado para tê-la, então trato de corrigir.
— Eu a amo. Muito mesmo. Sou perdidamente
apaixonado por ela, e só percebi isso depois de quase
perdê-la pela primeira vez. Agora a perdi pela segunda. E
não sei mais o quanto posso suportar isso, então preciso
aprender a dizer a ela como me sinto, para poder
convencê-la de que posso fazê-la imensamente feliz.
Os olhos da doutora Katy se enchem e ela parece tão
orgulhosa, que me faz rir.
— Ah Colin, finalmente, meu Deus! Eu estava a
ponto de bater sua cabeça na parede até que você
entendesse o que sentia, porque isso ficou óbvio para mim
desde a primeira vez em que você falou dela.
— Acho que só eu não via isso.
— E ela. Ela não faz ideia do que você sente, então
você precisa dizer. Meu menino, que orgulho de você!
Ela me abraça como se eu fosse um filho e fico ali
mais alguns minutos bebendo de seu whisky caro, e
ouvindo um monte de conselhos de como conquistar o
amor da minha vida.

Quando chego em casa, Caitlin está deitada no sofá.


O rosto corado, mas com uma expressão cansada.
Pergunto se ela está bem e ela assente. Olhando assim
para ela, não sei se consigo me afastar, por mais que
entenda que ela precisa desse momento agora, eu acho que
ficarei louco longe dela. Mal tenho tempo de decidir,
quando ela desliga a televisão e senta-se no sofá. Seus
olhos cansados pousam em mim e ela fala, a voz baixa e
receosa:
— Por que todas as suas roupas estão em uma
mochila?
— Você andou mexendo nas minhas coisas —
respondo sentando-me na poltrona, longe dela.
— Não é como se você nunca tivesse mexido nas
minhas.
— Você não ouviu o que eu disse a você no quarto,
não é?
— Você disse que ia embora?
Assinto e ela se mexe desconfortável.
— E é isso o que quer fazer? Quer ir embora?
— Caitlin, você ouviu o que eu disse a você no
quarto, mais cedo?
— Não, só até um pouco depois da parte em que
você disse como é amar alguém, eu tentei ficar acordada,
mas não consegui.
Ela não ouviu nada do que eu disse. Talvez essa não
seja a hora de falar. Talvez eu me saia melhor mostrando
do que falando.
— Eu não quero ir embora, eu nunca vou preferir me
afastar a estar com você. Mas você precisa de um tempo,
e não é justo que você saia da sua casa.
— É nossa casa, não é só minha.
— Eu vou ficar uns dias fora. Não estarei longe, se
você precisar de mim, é só me chamar que volto
rapidinho.
— Por que você está me machucando de novo? Você
diz que não tem a intensão e está sempre fazendo isso, por
quê?
— Não. Estou fazendo isso para que você fique bem.
— Não vou ficar bem se você for embora — uma
lágrima corre por seu rosto e quase pulo no sofá,
puxando-a para meus braços.
— Achei que não quisesse me ver agora.
— E não quero. Mas eu não fico bem sem você.
— Ah, Caitlin! — A aperto mais forte, sentindo uma
emoção que mal sei como conter.
— Você disse que eu posso chamá-lo se precisar, não
é?
— Claro que pode, sempre pode.
— Estou precisando agora. Preciso que meu melhor
amigo não vá embora.
— Então eu não vou. Vou ficar aqui com você. E vou
tentar mesmo não feri-la mais, tudo bem?
Ela assente e fica ali, presa em meus braços e já
começo a pensar em mil maneiras de mostrar a ela que a
amo.

Uma semana se passou desde que ela voltou para


casa, e as coisas estão tão calmas quanto poderiam estar.
Não nos vemos muito, porque estou treinando mais pesado
agora para a final. Thor adiou o máximo possível para que
eu me recuperasse e a luta pudesse ser justa e não posso
decepcioná-lo. Chego do treino e Caitlin está com seus
fones no ouvido, cantarolando e rebolando enquanto assa
um bolo.
A parte mais difícil de conviver com ela tem sido
não tocá-la e não beijá-la como quero fazer cada vez que
a vejo. Especialmente, agora que ela usa uma camiseta
minha e está abaixada olhando o bolo e me dando uma
visão deliciosa de sua bunda. Friendzone é uma meda! E
controlar meu pau a cada façanha dela, é uma merda maior
ainda. Eu poderia chegar por trás dela e talvez, só talvez,
brincar com ela como antes, para ver aqueles olhos
desejosos de novo.
Mas não posso. Estou tentando provar que a amo e
não que quero tê-la em minha cama. Mesmo que eu queira,
muito mesmo.
Ela se vira e leva um susto ao me ver ali.
— Ou! Que susto! Como foi o treino?
— Suado.
— É, está dando para notar.
— Acho que devo tomar um banho.
Ela sorri de um jeito tímido, que não é característico
dela.
Merda, Caitlin, não faça isso comigo. Não comece
esse jogo porque meu pau não trabalha há semanas e
não vou conseguir controlá-lo.
Passo por ela e abro a geladeira, pego uma garrafa de
água e jogo na boca, deixando cair um pouco na blusa
grudada ao meu corpo. Quando me viro, esbarro em sua
mão, e ela vira a calda quente de chocolate em seu peito.
— Ah meu Deus, Caitlin! Você vai se queimar!
A arrasto até a pia, mas ela está rindo.
— Não está quente, seu tonto! Eu te mataria se
estivesse. Fiz essa há um bom tempo, mas o primeiro bolo
que assei queimou, então a calda esfriou até eu fazer esse
segundo.
Sorrio.
— Por que você ainda tenta cozinhar?
Ela dá de ombros e está ali, tão pequena perto de
mim, tão linda com minha blusa e coberta de chocolate.
Sem me dar conta do que estou fazendo, abaixo minha
cabeça e lambo uma parte do chocolate sobre seu seio,
por cima da blusa, mas sinto o peso dele na língua. Então
percebo o que fiz e me afasto, esperando que ela surte.
Mas ela está me olhando daquele jeito, meio perdido, com
aqueles olhos de amêndoa desejando algo. Abaixo a
cabeça mais uma vez e lambo o chocolate acima do seu
seio, ela fecha os olhos e não surta, então subo com a
língua por seu pescoço, seu queixo até alcançar seus
lábios.
E quando chego ali, perco o controle. Sugo seu lábio
com força puxando-a para mim, devorando sua boca,
matando a saudade de beijá-la desse jeito. Ela se prende a
mim correspondendo com o mesmo desespero. Nos
tornamos uma mistura quente de suor e chocolate. Quase
sem fôlego, afasto minha boca da dela louco para carregá-
la para o banheiro comigo.
— Acho que você também precisa de um banho —
comento em seus lábios.
Por favor, Caitlin, não me peça para parar.
— Eu também acho.
Era tudo o que eu queria. A carrego até o banheiro,
minha boca de volta na sua, nossas línguas se
entrelaçando enquanto quero ainda mais dela. Tiro sua
roupa como um desesperado e arranco a minha em
seguida, seus olhos estão arregalados e ela está com
medo. Então pego suas mãos nas minhas, para tranquilizá-
la.
— Vamos só tomar banho, tudo bem? E eu vou beijar
você. Muito. Mas não vai passar disso se você não quiser.
Ela assente e quase a arrasto para debaixo da água.
Sei que tenho que me controlar, não quero assustá-la, mas
eu a quero tanto, é quase como uma força que está sobre
mim e que me move em direção a ela e me faz querer
tomá-la agora mesmo e penetrá-la antes que eu
enlouqueça.
Seguro seus seios em minhas mãos enquanto os lavo
e ela geme, aperto-os de leve, massageando-os, então
sugo com força um mamilo, ela treme levemente e a
amparo, sugando com ainda mais força.
— Você disse que ia apenas me beijar — diz com
uma voz rouca deliciosa.
— Estou só beijando.
Sugo novamente seu mamilo, e volto para sua boca.
Pressionando-a a mim, deixando que minha ereção sinta
sua pele quente. Ela toca meu pau enquanto nos beijamos,
sua mão pequena subindo e descendo, quase me fazendo
perder a cabeça. Desço meus lábios por seu pescoço, e
antes que goze antes mesmo de penetrá-la, a levanto,
encostando-a à parede. Ela passa as pernas por minha
cintura para se apoiar, e tê-la ali, aberta diante de mim, é
melhor do que ganhar o maior banquete de ação de graças.
Beijo sua boca e todo seu corpo onde minha boca alcança.
Sinto o gosto de sua pele molhada, e quente, mas minha
boca não alcança onde quero chegar. Então a subo um
pouco mais na parede. Passo suas pernas por meu ombro e
ela se agarra em meu cabelo.
Sua boceta branquinha e pequena está na altura do
meu peito agora, ao alcance da minha boca.
— Como eu queria beijá-la! — murmuro antes de
tocá-la com a língua, sentindo seu gosto, explorando o
lugar onde mais quero estar.
Passeio minha língua por sua boceta e ela geme,
então sugo seu clitóris com força, quero ouvir seus gritos,
e ela grita imediatamente, fazendo-me sugar com ainda
mais força. Incontáveis vezes. Fecho os olhos e me perco
nela, presa a mim, aberta para mim, sugando-a com toda a
fome que tenho dela. Quando sinto que ela está prestes a
perder o controle, a penetro com a língua, raspando os
dentes em seu clitóris e ela goza, grita alto, se agarra ao
meu cabelo e preciso ampará-la. A desço devagar pela
parede, passando seu corpo pelo meu, ela geme alto
quando sua boceta passa pela extensão do meu pau, e
espero que ela firme os pés no chão. E a beijo. Ela se
prende a mim, totalmente entregue.
— Isso é o que eu chamo de beijo! — brinco.
— Eu acho que gosto do seu beijo — diz baixinho.
— Acha? Então não fiz isso direito. Embora, não foi
o que pareceu enquanto você quase arrancava meus
cabelos.
Ela sorri e seu rosto atinge aquela tonalidade
vermelha deliciosa.
Desligo o chuveiro e ela parece confusa. Pego as
tolhas e a seco minunciosamente, fazendo uma pressão
maior em seu clitóris sensível, e ela quase perde o
equilíbrio, apoiando-se em mim.
— Você quer fazer isso? — pergunto acariciando seu
rosto.
— Quero, quero muito, mas não sei se devemos. Já
fomos longe demais para uma noite, não sei se tenho
coragem.
Sei do que ela está falando. Daquele papo de sermos
amigos e de como será depois. Mas não vou dizer nada,
não vou fazer qualquer promessa. Eu vou mostrá-la.
Amanhã, quando ela acordar nua na minha cama, presa
nos meus braços e eu fizer amor com ela de novo, ela vai
saber que não a quero só por uma noite, vai saber que é
minha, e que nunca mais irei deixá-la.
— Já passa da meia-noite, tecnicamente é manhã
agora. Então você pode encontrar mais um pouco da sua
coragem e vir comigo. Prometo que faço valer a pena —
repito as palavras que disse em nosso primeiro encontro e
ela sorri. Deposita suas mãos em meus braços e me beija.
É toda resposta que preciso. A pego no colo e a levo
para meu quarto. Minha boca já tomando a sua antes
mesmo de depositá-la em minha cama. Deito sobre ela
beijando-a com fome, desesperado para tê-la. Minhas
mãos passeiam por todo seu corpo, acariciando,
memorizando sua pele. Desço meus beijos para seu
pescoço enquanto toco seu clitóris, de leve, para deixá-la
molhada de novo. Quando ela começa a se contorcer,
enfio um dedo nela, que grita. O giro dentro dela, até que
consigo enfiar o segundo dedo e ela parece prestes a
explodir de novo. Então sugo seu seio, em perfeita
sintonia com os movimentos dos meus dedos dentro dela e
ela grita, chegando ao orgasmo e cravando as unhas nas
minhas costas.
Mais linda impossível.
— Agora sim, está bem molhadinha.
Ela apenas me encara, parecendo perdida em outro
mundo. Pego uma camisinha no criado e a coloco
depressa, seus olhos fixos nos meus movimentos, um
pouco assustados. Queria poder dizer que não irei
machucá-la, mas não posso. Me encaixo no meio de suas
pernas, a visão de sua boceta linda apenas pela luz acesa
da cozinha, que entra pela porta aberta do quarto, mas o
pouco que vejo já me deixa com água na boca.
Deito sobre ela, sentindo seus seios sobre meu peito,
e a beijo suavemente enquanto a penetro devagar. Até que
encontro a resistência. Eu nunca transei com uma virgem,
e nunca fiz amor antes dessa noite.
— Lembra que eu disse que não a machucaria nunca
mais? — sussurro.
— Faça logo!
E eu a penetro. Ela grita de dor, e seguro suas mãos,
deixando que aperte meus dedos, porque não consigo
parar. Ela se contorce embaixo de mim, seus gritos uma
mistura perfeita entre dor e prazer, e isso faz com que eu
me descontrole, saber que ela está sentindo dor e gostando
me faz meter com ainda mais força, bombear ainda mais
rápido. Beijo sua boca, recebendo seus gritos dentro de
mim, ela solta minhas mãos e passa os braços por meu
pescoço, me prendendo mais a ela. Eu posso senti-la em
cada centímetro do meu corpo. Acelero os movimentos,
meu pau sendo apertado por sua boceta pequena, quase me
deixando louco! Ela prende suas pernas na minha cintura e
alcanço ainda mais fundo nela, que grita, ainda mais alto
que antes, suas unhas se cravando em mim, e vou junto
com ela. Sinto meu mundo todo cair, perdido em puro
prazer, preso a ela de uma maneira que me completa.
Gozo gritando seu nome, e sentindo-a em mim por inteiro.
Valeria a pena esperar uma vida por ela.
Caio pesado sobre seu corpo pequeno, quase sem
forças para me livrar da camisinha, mas o faço e a puxo
para debaixo da coberta comigo, para meus braços,
porque não consigo tirar as mãos dela.
Ela me olha de um jeito como nunca a vi olhar antes,
e parece feliz e saciada. Acaricio seu rosto de boneca e a
beijo, prendendo-a em meus braços.
— Você está bem? — pergunto baixinho em seu
ouvido e ela assente.
— Mais do que bem. — Entrelaça sua mão na minha,
prendendo-as em seus seios, onde sinto seu coração
acelerado. — Eu não fazia ideia que seria assim. De tudo
o que já imaginei, eu não fazia ideia...
Suas palavras morrem, mas sei exatamente o que ela
quer dizer.
— Então somos dois, porque nunca foi assim para
mim também.
Ela espera uma explicação, mas não sei explicar. Eu
a amo, e isso muda tudo. Logo, ela adormece nos meus
braços e não me lembro de já ter me sentido tão feliz
assim.
Continua em MEU MELHOR AMIGO, devasso...
PROMOÇÃO!!!
Você que chegou até aqui com esse livro, e gostou da
primeira parte da história de Caitlin e Colin, quer ganhar
bottons e marcadores para se lembrar do nosso intenso
lutador e sua amiga atrapalhada?
É muito simples!
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dele, (isso me ajuda muito a ter o seu feedback e
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contendo bottons e marcadores do livro!
Espero que goste e um grande beijo!
Uma espiada em

MEU MELHOR AMIGO,


devasso...
Lançamento em setembro!

Caitlin Ross está encrencada. Apaixonada desde


sempre por seu melhor amigo, Colin Hanson, luta
durante anos para esconder esse sentimento tão fundo,
de forma que nem o sinta mais. Porém, ele a deseja, e
após uma noite mágica de sexo, ela não sabe o que fazer
para garantir que ele nunca mais precise tocar em outra
mulher.
Ela sabe que ele não é do tipo que se apaixona, e
menos ainda, do tipo que tem apenas uma mulher. Mas,
ele é o amor de sua vida e ela não pode mais negar isso
a si mesma.
Disposta a tudo para fazê-lo se apaixonar por ela,
Caitlin faz o impossível para seduzi-lo todos os dias. O
que ela não contava é que a redenção de um devasso
pudesse metê-la em tantas confusões. Pois, cada plano
perfeito que cria, acaba dando errado por seu jeito
atrapalhado, e o jeito imprevisível de Colin, que sabe
enlouquecê-la como ninguém.
Será que a doce menina conseguirá conquistar o
maior devasso que já conheceu?
Dedicatória
Este livro é dedicado à uma pessoinha especial, que
com sua alegria e jeitinho únicos, conseguiu transformar
cada gesto de carinho, em um imenso presente.
A Edilãine Cardoso (Ellah), obrigada por tudo!
Agradecimentos
Terminar este livro, até pouco tempo, estava acima
de qualquer possibilidade disponível para mim. No
entanto, graças a pessoas que estiveram ao meu lado
incondicionalmente, que me alegraram e empurraram para
a frente, e que não desistiram de mim após um grande
afastamento do mundo literário, aqui está ele!
Então eu quero agradecer primeiramente a Deus. Por
cada segundo. Por cada dia, mesmo àqueles em que achei
que não conseguiria, pois foi através deles, que me tornei
mais forte. Obrigada por mais um sonho realizado.
Obrigada por mais uma vez, ser o Senhor a guiar meus
passos, e fazê-lo na direção dos meus sonhos. Obrigada
por seu amor e misericórdia sempre! Sem Ti, eu não seria
nada, meu Pai.
Obrigada a minha família, vocês são o maior
presente que eu poderia ter recebido. Minha maior
dádiva.
E obrigada, de todo coração e alma, a você.
Você que me mandou um e-mail me dando forças,
uma mensagem, um comentário, uma avaliação. Você que
continuou me acompanhando, esperando, acreditando que
eu voltaria. Você que betou este livro e me fez acreditar
que eu podia terminá-lo. Você que me cobrou coisas
novas, e disse estar feliz com a minha volta. Você que
orou por mim, e com suas energias positivas, me fez ficar
de pé. Obrigada a cada leitora, a cada gesto, a todo
carinho que jamais agradecerei o suficiente.
Hoje, não vou citar nomes aqui, mas você sabe que
estou falando de você, de cada um de vocês, que se
tornaram minha segunda família.
Amo vocês!
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-

[1] É um movimento no qual o lutador acerta os dois lados do pescoço


do adversário usando suas duas mãos na diagonal ao mesmo tempo.
[2] Jogar o oponente de cara no chão.
[3] É uma ponte de ferro fundido localizada no Central Park, em Nova
York, cruzando sobre o lago chamado The Lake e usada como passarela de
pedestres.
[4]
O movimento é realizado com o lutador caindo ou pulando sobre
qualquer parte do corpo de seu oponente com seu cotovelo flexionando.
[5] O lutador executa um salto do lado de fora do ringue, da apron, onde
logo após estar com os ambos pés em cima da corda superior executa um
salto para frente na direção do oponente que está dentro do ringue e o aplica o
golpe.
[6] Joelhada.

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