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Copyright © 2021 por Caroline Andrade

O Deus caído | 1ª Edição


Todos os direitos | Reservados
Livro digital | Brasil

Esta é uma obra de ficção.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos aqui são produtos
da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma
ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros métodos eletrônicos ou mecânicos, sem
a prévia autorização por escrito do escritor, exceto no caso de breves citações incluídas em revisões
críticas e alguns outros usos não-comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.

Capa: Mellody Ryu


Revisão: Gramaticalizando assessoria
Diagramação: Mellody Ryu
O artigo 184 do Código Penal tipificava como crime, apenado com detenção de 3 (três) meses a 1
(hum) ano, ou multa, a violação de direito de autor que não tivesse como intuito a obtenção de lucro
com a reprodução da obra intelectual protegida.
Sumário
SINOPSE
CAPÍTULO 01
Hefesto
Luna
CAPÍTULO 02
Uma chance para pandora
Luna
CAPÍTULO 03
Os olhos do Demônio brilham como ouro
Sedrico
Luna
CAPÍTULO 04
A curiosidade de Deus
Sedrico
Luna
CAPÍTULO 05
O pacto de Hades
Luna
Sedrico
CAPÍTULO 06
Anjo e Demônio
Luna
Sedrico
CAPÍTULO 07
A profecia
Luna
CAPÍTULO 08
O inferno de Deus
Sedrico
Luna
Sedrico
CAPÍTULO 09
O Tártato
Luna
Sedrico
CAPÍTULO 10
O tributo do Deus
Luna
CAPÍTULO 11
O despertar de Afrodite
Sedrico
CAPÍTULO 12
A maldição de Hades e Perséfone
Luna
CAPÍTULO 13
A maldição de Eros
Sedrico
CAPÍTULO 14
O amor de Eros e Psique
Luna
CAPÍTULO 15
O barqueiro de Hades
Luna
Sedrico
CAPÍTULO 16
O coração do Deus Caído
Sedrico
CAPÍTULO 17
Os braços de Morpheu
Luna
Zelda
CAPÍTULO 18
O lamento de Hefesto
Sedrico
CAPÍTULO 19
O Despertar da lua
Luna
CAPÍTULO 20
O Olimpo particular de Hefesto
Luna
CAPÍTULO 21
A entrega de Zeus e Hera
Sedrico
Luna
Epílogo
Luna
Agradecimentos
Outras obras:
Primeira série:
História e conto Irmãos Falcon
Únicos
SINOPSE
Sedrico Lycaios, mais conhecido pelas noites quentes regadas às
promiscuidades de Chicago, como uma divindade do prazer, é proprietário do
clube peculiar, nada ortodoxo e, sim, envolvente e pecaminoso: a Odisseia,
onde proporciona todas as experiências desejadas por seus clientes, para
aplacar seus prazeres mais obscuros. Mas, como todo semideus, Dom
Lycaios tem sua fraqueza, e é entre as paredes do seu templo da perdição que
se vê sendo fisgado pela doce inocência de Luna, a dançarina exótica, tão
silenciosa e misteriosa, que o prende a cada movimento do corpo dela. Uma
perfeita sugar baby, que desperta o interesse do sugar daddy que ele traz
aprisionado no canto mais obscuro do seu ser. Luna não tem chances para
escapar das manobras do implacável homem, que a envolve em suas teias de
aranha. Afinal, o prazer sempre fora o maior império de Sedrico.
Luna!
Eu vejo a lua
Enquanto você vê o sol
Eu vejo em azul
Enquanto você vê tudo em vermelho
Mas quando você se vai, todas as luzes se apagam.

Sedrico!
A cidade do pecado está fria e vazia
Não há ninguém por perto para me julgar
Não consigo ver claramente quando você se foi
Estou sozinho há bastante tempo
Talvez você possa me mostrar como amar
Você nem precisa fazer muito
Você pode me excitar apenas com um toque, Mikpó.
CAPÍTULO 01
Hefesto

Luna
Respira fundo... Apenas respira!

Minha boca repete essas palavras e dizê-las é como um mantra dentro


do meu cérebro. Estou espremida nesse cubículo, sentindo meu ar findando e
com a máscara dourada sobre meu rosto me fazendo suar mais ainda. Sinto
meus dedos trêmulos, que se apertam sobre meu coração, sentindo-o bater tão
acelerado sempre que preciso fazer isso. Não tive muita escolha, as contas
foram se acumulando. O aluguel atrasou, porque minha mãe estava gastando
o dinheiro que eu dava para ela pagar o dono do imóvel. Não tinha como
pedir um empréstimo ao banco e, muito menos, pedir outro aumento de
salário para dona Zelda.

Daqui alguns dias será Natal e não poderei dar presentes para Rana,
Will e Lola. Na noite passada, fui ao quarto das crianças, onde todos
dormíamos, e vi minha irmã Lola, de apenas seis anos, agarrada a uma antiga
boneca de pano, feita por farrapos, que eu mesma confeccionei na idade dela.
Chorei baixinho por não poder lhe dar uma boneca linda de verdade. Cadu,
meus irmão caçula de quase três anos, tinha sido tirado de casa enquanto eu
trabalhava, minha mãe se perdeu de vez na bebida e o largava sozinho em
casa quando ia para o bar do outro lado da rua. Minha vizinha chamou o
conselho tutelar, pois o marido dela vivia no bar atrás da minha mãe. Eu
quase morri quando o vi sendo colocado no carro da agente tutelar, por sorte,
as outras crianças, Rana, Will e Lola, estavam nas escolas, assim não foram
levadas também. Chorei desesperada por não ter meu irmão ao meu lado,
éramos muito apegados, dormíamos juntos toda noite. O governo levou o
pequeno, dizendo que não tínhamos estrutura para cuidar de todos. Minha
mãe, como sempre, chorou, disse que largaria esse vício, mas confesso que
não me importava mais com o que ela faria ou não, apenas queria meu irmão
comigo. E foi então que apareceu Zack, ele mora no mesmo prédio que o
nosso, ao fim do corredor. Diziam que ele era cafetão. Nunca dei importância
para a vida dele, pelo menos não até aquele dia de chuva, no qual me sentei
sem rumo na calçada, chorando, por não saber o que seria de mim e dos meus
irmãos.

— Você pode tentar. — Sua voz baixa soa perto quando ele se move
ao meu lado. — É bonita pra caralho, consegue dinheiro rápido.

— Não sou prostituta! — Limpo minhas lágrimas, olhando-o séria,


sentindo-me extremamente perdida.

— Não estou lhe propondo isso. — Ele sorri de lado, me olhando de


cima a baixo. — Olha, estou tendo dificuldade para achar uma boa
dançarina... Tenho um novo projeto e talvez você se encaixe perfeitamente,
Luna! — Ele me estende seu cartão. — E aí, o que me diz? Eu pago bem.

Direciono meu olhos para o pardieiro onde moro. Meus irmãos não
têm roupa nova, usam apenas o que nos dão. Nunca pude entrar em um
mercado e fazer uma compra de verdade... Minha irmã nunca teve a chance
de ter uma boneca em seus braços e o governo havia retirado meu irmão
caçula. Minha mãe tinha feito uma dívida imensa com um agiota, para pagar
suas bebidas, que batia todo santo dia na minha porta atrás da sua grana,
me dando, por último, apenas quinze dias para lhe pagar antes de tacar fogo
no apartamento com as crianças lá dentro.

— Eu apenas danço — sussurro, apertando esse cartão entre meus


dedos.

— Você não vai se arrepender, Luna. Vai ser super sossegado, você
só tem que sair de um bolo gigante e dançar para o aniversariante de
maneira sexy. Os velhos vão cair por você.

E foi assim que vim parar aqui. De dia trabalho como babá e todo fim
de semana entro dentro desse bolo maldito, tentando erguer a grana do agiota.
Esse já é o oitavo aniversário que eu saio de um bolo, desde que aceitei esse
serviço indecoroso, sempre para vários homens velhos e babões, que me
esperam do lado de fora.

— Apenas respire fundo e relaxe, Luna — sussurro para mim, tentando


não entrar em pânico, odeio ficar aqui dentro, mas não tenho alternativa, vou
fazer mais uma vez. — Já vai acabar... Você sai, você dança e vai embora. É
sua última dança!

Olho as paredes apertadas e escuras que me prendem, com meu corpo


encolhido, a sinto se movimentar, me fazendo querer morrer segurando as
paredes. A música ao fundo toca alta. As vozes masculinas aumentam o tom
e fazem eu me odiar mais ainda. Tento arrumar a parte de cima da minha
lingerie nessa caixinha de fósforo. Respiro fundo e me preparo, ouço a
pequena batida que dão na caixa. A peruca com cabelos lisos vermelhos me
faz ter coceira por toda parte, me deixando agitada e nervosa, mas é a única
forma que encontrei para esconder meus rebeldes cachos. Sei que, quando a
caixa se move mais lenta, é porque a hora se aproxima. E assim ela para seu
balanço e todas as vozes começam a gritar, fazendo tanto barulho quanto em
um espetáculo de circo. Respiro fundo, soltando o ar sem pressa. Meus olhos
vão para cima, observando a tampa, que logo será aberta.

— Essa é a última vez, Luna. — Deixo meu melhor sorriso aos lábios,
ergo meus braços, encosto um ao outro perto da tampa.

Conseguirei pagar cada centavo para aquele maldito homem. Tudo


que vem em minha mente é que finalmente me livrarei daquele agiota. E
assim que a tampa é liberta, vou me levantando aos poucos, como um gato
tentando buscar passagem pelo mais estreito buraco. Ergo meus braços por
completo ao sentir a liberdade, deixo um sorriso largo e petrificado tomar
minha face, miro meus olhos para todos os homens dentro daquele lugar, com
seus ternos caros e sorrisos diabólicos, que me observam. Eles gritam,
batendo palmas. Assobiam mais alto a cada movimento que faço, abrindo o
gigante bolo de aniversário decorado em madeira, deixando assim espaço
para que eu saia. Meus pés descalços tocam o chão frio lentamente. Abaixo
minhas mãos. Estou com uma fina e transparente seda branca da fantasia
grega, que cai sobre meu corpo, um tecido tão leve, que se molda como se
fosse minha segunda pele, mostrando o que contenho, destaca a lingerie em
pedraria dourada, que combina com os braceletes de ouro falso em meus
pulsos e a máscara.
Meus dedos se erguem outra vez, aliso meu pescoço e solto os cabelos
falsos da minha nuca, os jogo delicadamente para o lado. Deixo meus olhos
fazerem uma vistoria pelo local, vejo as grandes vigas de gesso que decoram
o lugar, como um pequeno Olimpo. Olho entre todos eles, que sorriem com
seus copos de bebidas à mão. Procuro onde está o meu cliente. Não vejo
nenhum entre eles que se move ou vem para mim. Normalmente, eles já são
os primeiros a estarem me esperando quando saio daquele lixo de bolo.

— Onde está, meu senhor? — Minha voz sai mansa, quase baixa
demais, e odeio a forma como tenho que me fazer de burra para me encaixar
perfeitamente a esse maldito trabalho extra. Sempre os chamo por senhor,
todos são velhos e nojentos demais para eu conseguir olhar por muito tempo
diretamente nos olhos deles.

Mas, dessa vez é diferente, todos dentro da sala se silenciam quando


as palavras saem da minha boca. Ensaio um segundo sorriso menos tolo,
olhando nervosa para todos os lados, sem saber o que fiz de errado. Meus
dedos, também nervosos, se apertam à pele, me deixando a sensação de que
apenas minha respiração é ouvida naquele salão. Sinto como se alguém me
soltasse em uma cova cheia de leões, até todos começarem a se mover,
abrindo caminho, como um grande mar de terno de grã-finos estranhos com
gostos peculiares.

Confesso que estou curiosa para saber quem é o egocêntrico homem


que desejou ter uma escrava grega saindo do bolo. Normalmente, era odalisca
ou a coelhinha da Playboy. Olho todos, tentando sorrir para cada um que
acho que dará o passo à frente, mas é distante, ao fundo, próximo a uma
janela, que vejo a sombra grande que solta pequena lufadas de ar de um
charuto, deixando apenas seu corpo à vista pela pouca luz. Posso dizer que
isso me pegou de surpresa. É um deslumbrante corpo, com seus ombros
largos, que fazem o terno se destacar por cada linha, o moldando de uma
forma máscula, e, mesmo com seu rosto às escuras, sinto como se minha pele
queimasse com a força que vem de lá. Ao fundo, a música começa lenta, com
batidas suaves e letra sugestiva. Definitivamente, esse não é um dos clientes
estranhos que me aparecem. Ele não se move nenhum centímetro. Continua
usando a sombra como uma amiga, parado e soltando as fumaças no breu.
Solto meu pescoço, deixo minha cabeça cair lentamente para o lado,
prestando atenção na letra de Wallflower[1].

“Eu ouvi dizer que você é um pouco excêntrico


Um pouco estranho, espero que seja verdade”

Ando lentamente, deixo meus dedos se apertarem ao tecido fino da


roupa. Desvio meus olhos de onde ele está, aproximo-me de um grupo de
homens que me olham, estendendo notas. Faço biquinho para eles, ergo meu
dedo e o balanço em negativo. Sabe, o problema é que eles nunca aceitam o
fato de ser apenas uma dança, não sou garota de programa. Minha mão puxa
a cadeira vazia ao lado deles e me afasto, arrastando-a junto comigo até a
deixar no centro aberto próximo ao bolo. Minha mão se espalma sobre ela,
escorregando meus dedos, que alisam o material como se fosse um antigo
amante, sentindo a força da madeira talhada à mão em contraste com o
veludo vermelho. Meus olhos se erguem, à procura do aniversariante, que,
mesmo na sombra, tenho absoluta certeza de que não desvia seus olhos de
cada movimento que faço.

E, lá ao fundo, o grande leão me espreita atrás das sombras, me


observando com atenção. Meu corpo se mexe ao som da música provocante e
então faço o que sempre me obrigo a fazer. Me imagino sozinha dentro da
sala, sem ninguém me olhando, apenas eu e a música. Deixo uma perna sobre
a cadeira e passo minha mão lentamente sobre o tecido gelado, escorregando
meus dedos entre ele. A peruca solta seus fios longos por meus braços, eles
vão caindo como cachoeira sobre mim, me deixando tão distante de onde
estava, servindo como uma cortina que me tampa daquele mundo. Viro a
cadeira em um único movimento, deixando-a na direção do grande leão. E é
ali que meus olhos se concentram aos seus, por mais que tente, não tenho
como não sentir sua presença, é como se ele invadisse esse momento só meu,
entrando sem pedir licença. É esmagador e penetrante o desejo que tenho de
que ele deixe as sombras.

“Eu sou apenas um pouquinho tímida


Mas eu poderia ser muito boa para você”

Meus dedos seguram firme o encosto da cadeira e desço lentamente


meus braços por ela, abrindo minhas pernas enquanto meu corpo desliza para
baixo. Meus olhos, colados a ele, não perdem a reação do seu peito, que sobe
e desce rapidamente. Ele força uma tosse quando a ponta da minha língua
toca o material da madeira, deslizando lentamente. Um pequeno sorriso se faz
em meu rosto quando vejo que o impenetrável senhor não é assim tão
poderoso. Ergo meu corpo de mansinho, levanto meus braços em sua direção,
com meus dedos apontando para ele. Movo-os com preguiça, o chamando,
provocando cada vez mais. Mas, é feito uma gelatina se diluindo sobre um
grande balde de água quente, que desejo poder correr para bem longe quando,
das sombras, emerge um rosto que me assombra desde o dia que entrei na
casa de dona Zelda para trabalhar. Minha primeira reação é querer fugir e,
por sorte, estou segurando a cadeira, se não iria ao chão com a fraca
consistência das minhas pernas covardes.
Senhor Lycaios, com toda sua glória, se movimenta sorrateiramente
com um sorriso cínico nos lábios. Solta o charuto na bandeja de um garçom,
que para ao seu lado com um cinzeiro. Usando seu terno, que ele arruma, e
estufando mais seu peito a cada passada larga, desfila como um grande
predador, sabendo para onde está indo. E, como sempre, me perco na
intensidade dos seus olhos covardemente penetrantes, moldando seu rosto
quadrado com seus cabelos dourados, como um verdadeiro leão. Ele me
observa como se eu fosse sua presa, com a qual ele pode brincar um pouco
antes do bote final.

Lembro de quando comecei a trabalhar na casa da dona Zelda, depois


que ela se casou, e o vi pela primeira vez, chegando com o senhor Bruce e o
senhor Tauro, maridos da minha patroa. Nunca tinha julgado dona Zelda por
sua relação de poliamor, ao contrário, tenho muito orgulho dela, pois
escolheu ser feliz ao invés de se preocupar com os julgamentos. Eu tinha
acabado de completar dezoito anos quando o senhor Lycaios cruzou meu
caminho. Nunca mais consegui parar de pensar em como minha calcinha
ficou totalmente molhada quando meus olhos se prenderam aos seus, o cheiro
que vinha dele era tão forte e embriagante quanto qualquer dose de rum. E ele
sempre me deixava assim nas outras vezes que aparecia e, conforme o tempo
ia passando, a reação do meu corpo só piorava, mas ele praticamente nunca
me notou. Sabia meu nome apenas por educação. Era intocável. Mas nunca
fui tola, nunca me enganei, mulheres como eu não têm chance com homens
como ele.

Ele se movimenta gracioso, como um verdadeiro felino, tão


impiedoso como as figuras dos deuses gregos retratados nos quadros destas
paredes. Me recordo que dona Zelda me contou que o senhor Lycaios é de
linhagem grega por parte de pai. E agora é tão natural o ver ali, em seu mais
poderoso habitat natural. Logo seu cheiro, tão devastador e amadeirado,
chega em minhas narinas, sinto-as sendo dilatadas, como se jogassem
gasolina pura, confundindo meu cérebro com a decisão de ficar ou ir. Minhas
pernas moles quase não sustentam mais meu corpo, que treme por
antecipação com sua aproximação. Os homens assobiam, brincando com ele.
Eu estarei perdida se ele descobrir quem sou. Minha chance de largar de vez
esse trabalho irá por água abaixo. Ele irá contar tudo à dona Zelda, senhor
Tauro e Bruce, que me mandarão embora na mesma hora.

Continuo sorrindo. Abaixo minha cabeça, deixando meus cabelos


esconderem meu rosto, forçando-me a possuir a mesma reação que sempre
tive com os outros clientes, mas sei que não será assim, não com esse grande
homem à minha frente, com seus olhos de fera brilhando e com seu lindo
sorriso de lado de um nato predador. A música vai aumentando suas batidas,
deixando o ritmo sexy tomar conta de toda sala. Ele se senta, lento, na minha
cadeira, me deixando ver seus olhos, que se apertam a cada passo que dou,
fazendo eu abaixar mais ainda minha cabeça e encurvar meu corpo, para me
esconder dele. Giro o meu corpo, fazendo o tecido leve balançar junto
comigo, ficando atrás dele, o deixando confuso quando saio do seu campo de
visão. Antes que sua cabeça se vire, levo meus dedos aos seus ombros. Sinto
meu coração bater em um ritmo acelerado, quase saindo pela boca com tanta
aproximação. Aliso lentamente, deixando meus dedos desbravarem cada
centímetro dele com pequenos choques que cortam meu corpo. Deus, eu não
os tocava, nunca tocava nos meus clientes e eles não tinham permissão para
me tocar. O medo dele me reconhecer, junto com o desejo, me faz quebrar as
regras, o deixando distraído, longe da minha identidade, mas a agonia por
sentir seu corpo ao meu toque foi maior do que tudo. Ele me deixa elétrica,
inquieta, como uma adolescente sendo tentada pelo grande demônio, que me
invade em tantos sonhos. Então acabo por quebrar minhas próprias regras.
Sinto seu coração, que se acelera mais conforme vou deslizando meus dedos,
sentindo a firmeza da sua carne. Ele joga seu pescoço para o lado, soltando
uma respiração pesada e, por trás da máscara, me aproximo, inalando seu
cheiro, o qual antes era apenas uma carícia do vento, mas agora está
tentadoramente perto demais para resistir.

— Isso não estava no contrato. — Ouço as vozes gritando, rindo. E


não, realmente não estava. O meu demônio juvenil não estava no contrato. O
que faz meu cérebro gritar “corra” e meus dedos apertarem mais sua pele,
dizendo “fique”.

O que mais me surpreende é a forma como me sinto liberta por trás da


máscara, diante dele. Tão despudorada. E quem poderia me julgar? É meu
último serviço, nunca mais irei sair de um bolo e nunca mais terei a chance de
me aproximar de um homem como esse. Nunca mais terei o poderoso
Lycaios ao alcance das minhas mãos, fazendo assim um lado promíscuo tão
incubado dentro de mim se libertar e jogar ao chão toda vergonha que me
consome. Dou a volta, parando à sua frente, de costas para ele, com a luz que
vai ficando mais baixa, meus dedos descem por minha cintura. Estico minhas
pernas, deslizo as pontas dos meus dedos por elas, e rebolo preguiçosamente.
Sua respiração se acelera atrás de mim, fazendo com que eu morda meus
lábios, imaginando como seria sentir ela próxima ao meu rosto. Penso em
cada vez que o vi, sem ao menos olhar diretamente para mim e nem sabendo
que era um molhador de calcinhas cretino.
Meu corpo vai lento ao chão. Deslizando meus dedos pelo piso, viro
meu rosto para ele por cima dos meus ombros, pegando sua atenção
completamente focada em mim. Volto meus dedos lentos pelos meus joelhos
e meu corpo vai caindo para trás, até que sinto ele todo inclinado, com minha
cabeça tocando em seus pés. Deixo meus dedos deslizarem sobre meu ventre,
escorregando sobre o tecido, abrindo lentamente a pequena fita. Ele se move
como um grande jaguar, deixando seus cotovelos apoiados em suas pernas, se
abaixando para me olhar mais. O pano desliza por minha pele, ficando apenas
preso sobre meus braços, deixando exposta a lingerie dourada. Volto meus
dedos, acariciando meus seios, os apertando em minhas mãos, e vou me
erguendo lentamente. Fico virada de quatro em sua direção, é como se meu
corpo ganhasse vida própria, não o comando, então me movo lentamente,
virando-me para ele, retirando o resto da fantasia. Meus dedos espalmam o
chão, olho entre meus cabelos.

“Sim, eu sou uma boa menina, é verdade


Mas eu quero ser muito má com você”

Vou selvagem, deixando um desejo reprimido me comandar, meu


corpo faz todos os movimentos por vontade própria. Engatinho até ele,
sabendo que, talvez, por esse momento, isso é uma péssima ideia, e em como
não consigo dar a mínima para isso. O vejo se mover lento, se encostando na
cadeira e levando seus dedos para sua gravata, afrouxando-a. Um pequeno
sorriso diabólico se faz em seu rosto. Paro meus movimentos por um
segundo, olhando para ele, mordendo meus lábios, sabendo que estou indo
longe demais. Onde inferno foi parar a Luna responsável que tem uma
família para se preocupar? E como se soubesse o que se passa em minha
mente, ele desliza sua língua pelo contorno da sua boca, deixando seus
perfeitos lábios grossos à vista. Nesse momento, sei que a Luna quietinha
está sendo trancada em algum canto dentro de mim, sendo substituída pela
versão despudorada, que morre por desejar saber o gosto que ele traz ali.
Com esse gesto, minha curiosidade manda minha autopreservação para o
espaço. Volto a engatinhar, deixando meus dedos em suas pernas, levando-os
lentamente até em cima dos seus joelhos. Ele segura sua respiração quando
paro próximo à sua virilha. Meu corpo se ergue, com minha cabeça
esfregando sobre seu terno, próximo às coxas, o cheirando por cada canto,
como uma gata dócil.

— Está brincando com fogo, Mikpó[2]! — Sua voz grossa sussurra


uma palavra que nunca ouvi antes quando me aproximo do seu rosto
levemente dourado e sento em seu colo, deixando meu queixo raspar em sua
barba rala. O cheiro com aromas amadeirado e cítrico vai me drogando,
embriagando-me, quase como se me chamasse para me afogar... E sim, a
canção está certa, eu sou uma boa menina, mas quero ser muito má com ele.
— Por que se esconde?

Percebo quando seus dedos ágeis se esticam, se aproximando dos


meus cabelos falsos. Jogo meu corpo para trás, saindo do seu colo como uma
gata arisca e rebolando indecentemente meu quadril, o distraindo. Ouço a
arfada de ar que ele solta, com sua respiração acelerada. O grande homem
fica parado com suas mãos ao ar e ergo meu dedo, balançando em negativo
em sua direção. Sua boca se abre, deixando um baixo rosnado sair. Joga suas
costas no encosto da cadeira, olhando sério para mim e esmagando seu
maxilar. Ando em direção a uma cadeira vazia e um dos rapazes com uma
cerveja na mão fica sorrindo, me olhando, pisco para ele e aponto para a
cadeira, para saber se posso pegá-la, seu sorriso aumenta e ele se afasta, me
dando passagem. Sua mão se ergue, tentando me tocar, mas desvio, sorrindo
para ele, erguendo meus dedos para acariciar seu rosto. Ao me virar de volta
para o grande leão, o flagro com sua respiração pesada, sentado na cadeira e
me avaliando nervoso. Noto suas coxas grossas abertas, escancarando um
volume adormecido, guardado na lateral da sua virilha. Vejo suas mãos perto
das suas pernas, esfregando-se lentamente, e volto minha atenção para a face
imaculada de um deus.

— Você... Você quer sair depois comigo? — O rapaz que alisei o


rosto me chama, me fazendo virar para ele.

Balanço minha cabeça em negativo, voltando meu caminho para o


homem de face fechada. Deixo a segunda cadeira à frente de Sedrico, que
tem um olhar predador, quase cruel, ainda com sua expressão perdida para
onde peguei a cadeira. Vejo o movimento lento da sua cabeça ao voltar meu
olhar para trás. Acompanho os dois armários grandes que se encaminham
discretamente para sussurrar ao ouvido do jovem rapaz, que se retira sem
aglomeração, apenas movendo seus olhos para o chão. Não entendo o que
aconteceu ali, mas, ao voltar minha atenção ao grande homem, seus olhos
estão apenas focados nos meus agora.

Suas íris voltam para minhas pernas quando subo na cadeira, seus
olhos não perdem um único movimento que faço. Deixo minhas mãos
deslizarem sobre meu corpo, como se fossem as suas passando por minha
pele. Me viro lentamente, deixando meus dedos escorregarem sobre minhas
pernas, olho por cima do ombro para ele, dando um leve tapa em minha
bunda. Ele se engasga, apertando seus dedos em suas pernas, esfregando suas
mãos sem parar. Me viro, caindo sentada de pernas abertas na cadeira
enquanto meus dedos acariciam meus seios, que estão duros e latejando de
dor. Nunca tinha ido tão longe em um aniversário, mas quero ir até o último
momento com ele. Minhas pernas preguiçosas deixam seus olhos
percorrerem por cada canto, se fechando em seguida. Escorrego para o chão e
volto engatinhando para ele, meu corpo para apenas depois de estar sentada
em seu colo. Levo sua gravata até meus lábios, mordiscando-a com as pontas
dos dentes. Antes que eu perceba, Sedrico tem suas grandes mãos coladas em
meu quadril, sinto seu toque firme e quente, movimentando meu corpo em
sua perna e posso perceber perfeitamente o tamanho do volume em sua calça,
que vai raspando sobre o tecido da calcinha. Meus dedos traçam caminho por
seus longos braços grossos, até sentir suas mãos. Vou levando-as até o alto de
nossas cabeças, jogando-as para trás e as deixo presas lá.

— Μikpó — ele fala quase em um rugido, como se fosse uma ordem.

Deixo meu nariz se afundar em seu pescoço, arrancando dele um


gemido baixo. Balanço nossos quadris. Seus olhos, tão brilhantes, como se
um demônio morasse lá, me observam, com a promessa de uma noite longa e
pecaminosa. Antes que possa controlar a adolescente rebelde incubada,
minha língua desliza por sua pele, me invadindo com o gosto masculino aos
lábios de puro caos. Ele pulsa forte embaixo de mim e sinto seu coração
batendo acelerado, colado ao meu.

— Bem, talvez eu pudesse te chamar de daddy. E você poderia me


ensinar todas as regras. — Meus lábios se movem lentos, cantando baixinho
junto com a música. Requebro uma última vez, movendo meu quadril em
cima do seu, só para sentir seu pau grosso pulsando forte embaixo de mim.
Ele rosna, me fazendo sorrir.
“Veja, você poderia me ter na varanda da frente
Ou me levar para o seu quarto
Sim, eu sou uma boa menina, é verdade”

— Mas eu quero ser muito má com você. — Meus lábios, como se


fossem apenas a extensão desse desejo que vai crescendo, sussurram,
cantando a letra.

Perco-me olhando em seus lábios, que me deixam com a boca seca.


Irei cometer a pior burrada. Realmente estou querendo ser uma menina má.
Meu cérebro, que já não pensa direito, me deixa à beira de um abismo. A luz
da sala é acesa assim que a música para e então me vejo a um dedo de
distância de sua boca, seus olhos presos à minha. Meu coração salta rápido e
acelerado.

— Parabéns, daddy[3]! — sussurro baixinho, sentindo meu corpo


entrando em colapso pelo que acebei de fazer. Saio do seu colo, com minhas
pernas moles, meus olhos avaliam a sala toda em silêncio, com todos aqueles
homens me olhando como se eu fosse um pedaço de carne.

Afasto-me, puxando a fantasia do chão, vou ao bolo aberto e pego


minha pequena bolsa lá dentro. Saio à procura de um banheiro, sem coragem
de olhar em seus olhos outra vez. Estou louca. Onde estava com a cabeça
para fazer uma loucura dessas? Fico quase 30 minutos dentro do banheiro,
entre a cruz e a espada, com a pequena desventura que acabei de cometer.
Jogo o vestido por cima da lingerie, a fantasia dentro da bolsa, e fico com a
peruca bem presa à minha cabeça, porque ainda me dá a segurança do
anonimato. Não tenho coragem de retirar a máscara, não posso sair dali com
meu rosto exposto. Respiro fundo e deixo o banheiro com um sorriso falso
aos lábios. Ao chegar à sala, qual não é a minha grande surpresa ao vê-la
totalmente vazia, não tendo mais nem resquício de todos aqueles homens.
Percebo agora a grande sala com seus quadros mais visíveis, com mulheres
belas se destacando em cada um. A estátua de gesso branco ao fundo chama
minha atenção, me fazendo caminhar lentamente para ela. O grande homem
nu, sentado sobre uma bigorna e apertando um martelo em suas mãos, tem
seus olhos petrificados, com seu rosto tão frio quanto a própria estátua. Com
a barba grande, encara-me como se visse minha alma.

— Hefesto — sussurro, erguendo meus dedos para tocá-lo. Me


lembro de ter estudado sobre ele na época da escola.

— Conhecido como o deus caído. — Me viro, assustada, ao ouvir a


voz grossa ao canto. Sedrico está sentado em uma cadeira, próximo à grande
janela, me observando em silêncio. Ele ergue seus dedos, apontando para a
estátua atrás de mim. — Filho de Zeus e Hera. E de dentro da sua forja sai
Pandora, a primeira mulher mortal.

— Ele era marido de Afrodite... — Olho perdida para a estátua, me


imaginando olhando um deus antigo. — Ele é tão lindo... — sussurro, me
sentindo tão perdida na masculinidade pura retratada naquela estátua.

— Na verdade, ele não era Hefesto, era defeituoso e grotesco,


manchando a linhagem pura dos deuses quando não veio perfeito. Eles o
exilaram, lhe deixando afastado do monte Olimpo. Conhece sobre a
mitologia grega?

— Estudei uma vez sobre ela. — Aperto meus dedos à bolsa, me


recordando de como eu amava estar na sala de aula. Tudo tinha sido tão caro
para mim, me fazendo perder o que mais amava. Volto meus olhos para a
estátua, observando-a, tão perfeita, como se realmente estivesse viva.

— Em suas mãos foram feitas as maiores armas usadas pelos deuses.


O raio de Zeus, o garfo de Hades e o tridente de Poseidon.

— Ele era forte, mas também era solitário com tanto poder e ninguém
para dividir. — Fico imaginando o que levaria alguém a ter tanto poder e
ainda assim acabar ficando sozinho. — Achei linda sua estátua. — Me
silencio, sentindo seus olhos me queimando, me fazendo voltar a andar rumo
à saída.

— Seu dinheiro! — A voz dele, calma de uma forma perigosa, se


alastra, deixando os ecos pela sala vazia.

— Eu não recebo! — Solto meus ombros com agonia, tento ao


máximo mudar minha voz, deixando-a baixa. Me viro, o olhando, com seu
rosto indecifrável.

— Receberá dessa vez. — Ele deixa as notas em sua perna, expostas


em seu joelho.

— Na verdade, provavelmente quem contratou o bolo já deve ter


pagado. — Me viro, indo até a porta e tentando sair dali. Estou deixando tudo
em perigo por tempo demais.

— Tome esse como um extra, então. — Paro no meio do caminho,


meus olhos o observam, tão implacável, segurando um copo em seus dedos.
Seus olhos brilham no escuro. Sei que farei uma burrada assim que solto a
bolsa, apenas segurando sua alça.

Ando, arrastando-a ao chão, sem desviar minha atenção dele, que


estufa seu peito, territorialista como se fosse o grande leão vencedor. Estou
brincando com fogo, sei disso, mas quero me queimar. Quero saber apenas
como é sentir. Meus dedos se erguem, alisando seu rosto, sinto a energia que
passa por todo meu corpo como uma corrente elétrica. Ele segura meu pulso
com uma força demasiadamente grande, mas não sinto dor, apenas mais
desejo, é quase um anseio que nutria sem nem saber. Me abaixo o suficiente
para apenas roçar meus lábios aos seus, sua respiração morna acerta minha
pele como fogo. Deslizo minha língua por seus lábios, deixando uma
distância sobre nossos corpos, sei que, se ele me tocar outra vez, perderei a
cabeça. Sua grande mão solta meu pulso, tentando me segurar. Me afasto
mesmo desejando ficar. Seus lindos olhos se abrem para mim, com luxúria.

— Isso é um extra, senhor. — Me viro e saio dali antes que me


arrependa de vez.

— Seu dinheiro! — Ainda posso ouvir sua voz, gritando nervosa ao


fechar a porta atrás de mim.

Meus passos me levam rápido para o mais longe dali, andando pelo
corredor encarpetado em vermelho sangue. Olho tudo, me sentindo perdida
naquele lugar. Com meus lábios ainda quentes, posso sentir seu cheiro em
minha pele, seu calor em meus dedos. Vejo Zack, que aparece ao fim do
corredor, caminhando em minha direção. Ele coça seu queixo, me olhando
estranho.

— O que aconteceu lá dentro? — Encolho meus ombros, apertando


mais a bolsa em meus dedos.

— Nada, não aconteceu nada. Por quê? — Minha voz trêmula me trai
sempre que preciso que ela soe firme.
— Por quê? Você estava quase dando para o cara lá dentro, todos
viram a porra da ereção que ficou quando você saiu e agora demora quarenta
minutos dentro daquela sala!

— Eu estava no banheiro e não fiz nada disso que está me acusando.


Não é a primeira vez que um cliente fica com pau duro.

— Mas foi a primeira vez que um Dom[4] ficou de olhos fixos em


você. — Ele caminha para o elevador ao fim do corredor, apertando o botão.

— O quê? — Olho para ele, ainda perdida.

— Qual é, Luna? O homem lá dentro... Por que acha que foi


solicitado uma menina nova para ele? Acha mesmo que todo esse lugar se
parece com alguma boate normal que já viu?

Na verdade, eu não tinha visto nada do lugar, tinha entrado pelos


fundos e logo Zack já tinha me feito entrar no bolo. Assim que as portas de
metal à nossa frente se abrem, ele me conduz para dentro. Sinto minha pele
gelando com seu toque em minhas costas. Encolho meu corpo, tentando dar
uma distância entre nós. Ao me virar, deixo minha cabeça se erguer e meu
olhar se perde ao longe, no fim do corredor pelo qual tinha passado. O grande
homem com suas mãos no bolso da calça social me analisa, parando seus
olhos ao meu lado. Zack se aproxima de mim depois de apertar o botão do
elevador, sussurrando:

— Algumas garotas que estavam conversando disseram que ele é um


sugar daddy[5] aqui dentro.

Apenas sinto meu peito batendo mais rápido quando as portas se


fecham, ainda posso sentir minha pele queimando com a intensidade do seu
olhar.

— O que é isso que falou? — Me viro para Zack, que mexe no


celular, arrumando seu relógio falso ao pulso.

— O quê? Sugar daddy ou Dom?

— Sim, os dois. — Sempre vi esse homem entrando na casa dos meus


patrões, mas nunca imaginei que poderia ter algo de estranho com ele, além
de ser covardemente sexy em relação ao resto da população masculina.

— Olha, eu não sei muito como funciona essa merda, apenas sei que
esse aí em especial não é o tipo de cara que deseja ter por perto. Fiz uma
pequena lição de casa antes de aceitar esse serviço e a ficha do patrão
emplumado é mais longa do que a do agiota que sua mãe está devendo. A
única diferença entre eles é o terno caro no corpo.

Acho que a única coisa que ouvi em tudo aquilo foi: perigo! O qual
meu cérebro me alertava.

— Você não pode fazer isso! — Zack me olha de cara feia, dentro do
carro.

— Eu já tinha te falado, Zack. — Retiro a peruca, dando graças por


ter meus cabelos livres. — Não rola mais, eu te avisei que seria o último.

Saio do carro ouvindo-o bater com raiva a porta do automóvel,


andando atrás de mim, me xingando.

— O que vai fazer? — Ele está bravo, me olhando com raiva. —


Como acha que vai sustentar todo esse povo que vive às suas custas? — Me
viro indignada, o encarando séria.

— Esse povo é minha família! — digo, apontando o dedo na sua cara.


— Te falei que não seria para sempre e hoje corri um risco gigante quando
um dos convidados era uma pessoa conhecida do meu meio de trabalho. —
Ele dá um passo atrás. — Sei muito bem que não se preocupa comigo e sim
com o dinheiro que ponho em seu bolso!

— Você não percebe, Luna. Eles adoram você, te idolatram. Com


esse seu jeito, você os tem na palma da mão.

— Eles gostam do meu corpo, Zack... assim como você. — Solto o ar


com desgosto, esfregando meu rosto. — Só isso... — Retiro a fantasia da
bolsa, jogando em sua direção, e saio de perto dele. — Arruma outra garota!

Ando lentamente os próximos quatro quarteirões. Nunca deixo ele me


levar até em casa, a última coisa que quero é meus irmãos passando
vergonha, achando que a irmã virou prostituta, já basta minha mãe que é
taxada de alcoólatra.

Vilma não é minha mãe biológica, meu pai se casou depois que minha
mãe morreu e logo trouxe ela para morar com a gente. Então veio Lola, ela
sempre foi minha boneca, amo minha irmã. Era engraçado quando saia com
ela na rua, toda branquinha com seus olhos claros e eu o contraste, negra com
cabelos cacheados. Meu pai era apaixonado por Vilma, ele sempre achou que
ela iria se livrar do vício da bebida. Tínhamos uma vida até que estável, não
era muito, mas nunca tínhamos tanta necessidade como agora, e então, em
um belo dia, veio Will, de dez anos, e Rana, que era quatro anos mais nova
que eu. Meu único tio e tia tinham morrido em um acidente de trem e meu pai
não teve coragem de largar as crianças em um orfanato. Foi onde comecei a
trabalhar como diarista, logo que completei quinze anos, para ajudar em casa.
Por mais que nunca tivéssemos nada de extravagante, sempre amei minha
família, ter a casa cheia, mesmo quando dividíamos o quarto em quatro,
dormindo um colado ao outro.

Meu pai quase teve um ataque quando Vilma descobriu a segunda


gravidez, e então veio Cadu. Ele era lindo, me apaixonei assim que coloquei
meus olhos nele. Ao completar dezessete anos, ganhei mais esse irmão e
perdi o meu pai, que foi morto a tiros, trabalhando. Ele era guarda noturno
em um banco. E tudo foi se quebrando... Vilma era ligada ao meu pai, que
ajudava ela com seu vício, a controlando, como se fosse seu alicerce e,
quando ela se viu sem ele, desmoronou.

Minha bolsa de estudo, que havia ganhado para um cursinho, mérito


de um prêmio como a melhor em um torneio de matemática que a professora
me inscreveu, me faria ir estudar em outro estado, mas acabei a mandando
para o espaço, pois jamais poderia deixar eles sozinhos. Nos mudamos para a
periferia, ia levando tudo como dava, cuidava das crianças como mãe e de
Vilma quando tinha suas recaídas. Aos poucos, fui desistindo dos meus
sonhos, levando-os para debaixo do tapete. Perdi minha virgindade com um
namorado qualquer, no banco de trás do carro em uma lanchonete,
adiantando mais ainda minha vida adulta precoce, que já me sugava para ela.

Tento nunca demonstrar às crianças como está cada dia mais difícil
manter tudo sobre meus ombros, e não irei desistir, irei ter minha família
completa outra vez. É por isso que luto e saio da cama todas as manhãs.
CAPÍTULO 02
Uma chance para pandora

Luna
— Está animada para o último dia de aula? — Seguro os dedos da
minha irmã, atravessando a rua com ela. Lola abaixa sua cabeça, sem me
olhar diretamente. Seu casaco, que já está velho e pequeno, deixa seus pulsos
de fora, me entristecendo mais por saber que preciso comprar roupas novas
para ela, porém estou indo levar para um agiota toda a merda do dinheiro sujo
que consegui.

— Estou — ela fala baixinho e solto o ar lentamente, vendo-a


cabisbaixa. Ela sente falta de Cadu, assim como todos nós, que sofremos
vendo seus carrinhos velhos largados ao canto, sem seu dono. Cadu tinha
sido tirado de mim no começo de outubro desse ano. Já vai completar três
meses que levaram ele.

A única escola que tinha vaga fica do outro lado do centro da cidade e
temos que pegar dois ônibus para chegar lá. Acordo às cinco da manhã para
deixar todos eles prontos. Levo Will primeiro e depois Lola. Rana, que está
indo para o ensino médio, já sabe ir sozinha, então dou dinheiro para ela, que
depois busca os outros para mim, enquanto trabalho.

Vejo os olhos de Lola, que brilham ao ver uma loja de brinquedos na


frente do ponto de ônibus. Corta meu coração ver seus olhos. Me abaixo e
pego ela ao colo, tento a distrair contando histórias. Minha irmã é tão
pequena e magrinha, que seu rosto também pequeno se enterra em meu
pescoço, enquanto ela aperta seus braços ao meu redor.

Depois de deixá-la na aula, volto e passo na frente da loja de


brinquedos onde minha irmã olhava a delicada boneca. Ela é linda com seus
cabelinhos dourados, em um vestido antigo de gala, segurando uma pequena
sombrinha, que combina com o vestido.

— Não temos vaga, moça. — Olho a garota, que me observa de cima


a baixo, parada na entrada da loja.

— Não quero emprego. — Aperto minha bolsa, sentindo-me pequena


com a forma como ela me olha. — Só estou olhando a boneca. — Aponto
para o brinquedo, ela me devolve um sorriso frio, soltando o ar lentamente.

— Nossas bonecas são de coleção, elas são exclusivas, acho que não
tem condição de pagar por uma. — Antes que possa lhe responder, ela entra
na loja, batendo a porta na minha cara.

— Vaca! — Viro com raiva, indo para o ponto de ônibus, ainda


sentindo ódio pela forma como a mulher me tratou.
Sinto uma tristeza me pegando, porque eu apenas queria ver a boneca,
ela não precisava ter me diminuído assim. Meus dedos se erguem, limpando
uma lágrima que quer escorrer pelo meu rosto. Entro no ônibus assim que ele
para. Me sento, deixando minha cabeça tombar na janela. Olho toda a cidade,
que já está enfeitada para o Natal. Lembro que, quando menina, eu amava
essa época, meu pai sempre dava um jeito de arrumar uma árvore, mesmo
que fosse pequena, ela estava lá presente, simbolizando a data. Sei que não
tem clima nenhum esse ano, Cadu não vai estar lá. Ele sempre me ajudava a
fazer as caixinhas de fósforo, as arrumando com papel vermelho, para pôr na
velha árvore. Apenas o quero de volta. Sinto, a cada dia, como se estivesse
me afogando nesse mar de problemas que me engole. Sinto-me tão perdida e
exausta.

— Luna, você pode vir aqui um momento? — dona Zelda me chama


na sala, logo depois que ela chega em casa. A vejo entrando atolada de
sacolas e, aproveitando que as crianças estão distraídas brincando, vou até ela
e lhe ajudo.
— Dios[6]! Está um inferno sair lá fora. — Ela ri, me deixando pegar
algumas das suas sacolas. — Mira[7] que Tauro quase infartou, quando o
arrastei comigo pelas lojas.

— Nessa época, o pessoal sempre deixa tudo para última hora. —


Sorrio, vendo-a andar até as crianças, lhes dando beijos e abraços. — A
senhora quer que as leve para o quarto?

Sempre amei meu emprego. Dona Zelda entrou na minha vida no ano
que perdi meu pai. Comecei trabalhando como diarista para ela uma vez na
semana, quando ela era solteira. Me recordo do dia que vi a manchete no
jornal, falando sobre o caso da superfecundação. O rosto da mulher latina
junto com os dois CEOs da Ozborne, Tauro e Bruce, estavam estampados em
várias revistas. Eles a massacraram. Quem lia aquele lixo entendia que dona
Zelda era uma mulher promíscua, que tentou dar o golpe da barriga
participando de um ménage. Mas não era isso, a imprensa tinha distorcido
por completo a história de amor entre os três. Dona Zelda trabalhava já tinha
anos na empresa Ozborne, foi no fim do estágio que se viu apaixonada por
seus dois chefes, e eles por ela. Eu me senti imensamente feliz quando dona
Zelda me ofereceu o serviço de babá, para cuidar das crianças dela.

— Não, a maioria já vai para debaixo da árvore. Elly e Dylan vão


chegar daqui a pouco. — Senhor Dylan é o irmão mais velho do senhor
Bruce e primo do senhor Tauro. Elly, a esposa dele, era uma mulher querida,
amiga antiga de dona Zelda, desde a época que as duas eram solteiras. —
Não tem ideia de como sou grata por ter vindo hoje. Mas quero aproveitar
para conversar com você, enquanto estamos sozinhas. — Ela solta Lotte, sua
filha, no chão, voltando seu corpo para mim. — Mira... — Ela caminha lento,
olhando as bolsas enquanto as separa. — Eu estava pensando... — Paro na
mesma hora, sentindo meu coração se apertar.

Oh, merda! Dona Zelda vai me despedir. O que vou fazer? Estou
fodida.

— A senhora vai me despedir? — pergunto quase chorando, a


olhando com medo.

Ela fica em silêncio, me observa, olha as sacolas em seus dedos, volta


sua atenção para mim de novo.

— Sí. — Sua voz é séria, com seus olhos negros brilhantes. Minhas
pernas fraquejam, como se ela tivesse me dado um tiro. Entro em pânico, não
sei o que vou fazer. — Já que minha secretária não pode ser minha babá.

Fico perdida, a olhando, não tenho ideia do que ela está falando.
Ainda aperto meus dedos entre o plástico da sacola e, com a outra mão, coço
minha cabeça, confusa.

— Eu não estou entendendo, dona Zelda. Estou na rua? — Ela ri,


caminhando até mim e esfrega meus braços.
— Luna, é claro que não. — Ela me abraça e fico até agora sem
entender, sendo espremida em seu aperto. — Estoy[8] lhe despedindo de
cuidar de meus hijos[9], porque preciso de alguém nova e inteligente como tú.
Aquelas secretárias que aparecem pela agência estão me deixando louca, e te
vi me ajudar com os números e telefonemas quando estou em casa, preciso de
uma boa assistente.

— Eu? — Sinto-me perdida, sem ter ideia se dona Zelda está falando
aquilo de verdade. — Mas eu não tenho curso, nem diploma, dona Zelda,
apenas ajudo quando precisa, pois sempre lhe vejo e aprendo rápido.

— Você tem vontade de aprender e uma cabeça esperta. — Ela sorri


calma para mim. — Isso me é mais útil que aquelas criaturas magrelas que
nem sabem discar para meus clientes.

— A senhora está falando sério mesmo? — Vejo-a balançar a cabeça


em positivo para mim e tampo minha boca, segurando o choro.

— Nunca hablé[10] tão sério, Luna... Além de ser uma ótima


oportunidade para ter outra profissão, ainda terá mais crédito diante do caso
de su hermano[11]. — Sinto meus olhos ardendo ainda mais, a esperança bate
em meu peito, porém, meu rosto se vira para as crianças na sala, as olhando
com carinho.

— Mas com quem ficarão Matias e Lotte? — Sinto um carinho


grande pelos pequenos, já os amo tanto.

— Mi madre vai ficar conosco um tempo, ela diz que é curto, mas,
pelo que conheço dela... Já pedi a Tauro para preparar a casa da piscina.
Aceptas[12]? — Seus olhos se prendem aos meus, em busca de respostas.
— Oh, meu Deus, é claro que sim! — digo, chorando de felicidade.
— Juro que a senhora não vai se arrepender, dona Zelda, lhe prometo não a
decepcionar.

— Eu sei que não vai, pequena... — Ela me abraça forte, limpando


minha face. — Tenho certeza de que vai se sair bem.

Estou quase explodindo de felicidade, quero morrer de tanto gritar.


Imagino a alegria das crianças quando contar isso para elas.

— Mas terá alguns acordos, Luna. Quero tú dentro de uma sala de


aula, se aperfeiçoando, e, como a empresa está muito longe de sua casa e
mais longe ainda daqui, andei pensando que poderia se mudar para mais
perto.

Me afasto dela, apertando meus dedos um ao outro. Qualquer lugar


fora daquele bairro é caro demais para mim.

— Eu consigo fazer algum cursinho, dona Zelda, mas me mudar


agora não tem como.

— Mira, já está tudo resolvido. — Ela puxa as bolsas outra vez,


separando as coisas que têm lá dentro. — Tenho uma casa que está fechada
há anos, Luna, e fica mais perto do novo serviço. O bairro é calmo, tirando as
vizinhas fofoqueiras, de quem aconselho a ficar longe. Son serpientes[13] de
língua comprida. Tem boas escolas por perto, para su hermanos. — Dona
Zelda solta tanta informação, que me deixa perdida quando começa a
misturar o espanhol com o inglês. Sua fala vai ficando cada vez mais rápida.
— A propósito, já está tudo acertado com Sedrico. — Fico pálida ao ouvir
seu nome. — Ele virá para cá hoje. Tem alguns amigos influentes em uma
universidade, onde podemos lhe garantir uma boa bolsa de estudo, quando eu
voltar de viagem depois do Ano-Novo. Quanto à casa, pode se mudar quando
quiser.

— Mas... Eu... — Meus dedos seguram a cadeira, ainda tento digerir


aquele monte de informação. Ela se cala, olhando preocupada para mim.

— Falei muito rápido, não foi? — Balanço a cabeça em positivo para


ela, olhando-a, perdida.

— Eu não posso pagar um aluguel caro, dona Zelda, e, por mais que
esteja feliz e muito honrada por me dar tantas chances, não posso aceitar tudo
isso. Não quando já me ajuda tanto.

— Mira, cariño[14], estoy a fazer isso porque sei que um dia será uma
grande mulher, Luna. Amo usted[15] cuidando de me hijos, mas seria muito
egoísmo meu lhe deixar presa aqui quando pode ser muito mais.

— Mas não posso pagar o aluguel que sua casa merece e não poderia
aceitar ir para lá morar de graça. — Encolho meus ombros, a olhando com
toda minha sinceridade.

— CARIÑOOOOO... — Seu rosto se vira, gritando sobre seus


ombros. Lhe vejo cruzar os braços, olhando para mim. Seu Bruce, que estava
lá fora conversando com o senhor Tauro, entra pela porta da varanda,
procurando pela pequena mulher.

— Me chamou, cariño? — Ele puxa a cintura dela e beija sua cabeça,


olhando para mim por cima dos cabelos negros de dona Zelda.

— Diga-nos o que está passando. — Ela aponta para mim, erguendo


sua cabeça para olhar para ele.

O grande homem se afasta dela apenas para lhe abraçar por cima do
seu ombro, a deixando colada a ele. Eu sei que seu Bruce, quando trava sua
mandíbula, deixando seus olhos negros semicerrados, coisa boa não é. Ele
apenas faz isso quando dona Zelda briga com ele.

— Luna, essa semana conversei com o advogado, ele está preocupado


que o juiz esteja propenso a deixar seu irmão para adoção. — Sinto meu
mundo ir deslizando pelas minhas mãos, enquanto já olho perdida para ele.
— O lugar que você mora não passa credibilidade e o problema de sua mãe
acaba piorando ainda mais sua situação. Eles precisam ver que você tem mais
condição para cuidar dos meninos, a ideia de Zelda de lhe oferecer a casa é
uma ótima chance de ter um ponto a seu favor diante do juiz.

— Não precisa morar de graça, já que isso lhe deixa triste. Podemos
estar fechando o mesmo aluguel que paga em seu apartamento.

— Mas é muito baixo, dona Zelda.

— A casa está fechada há anos, Luna, creio que alguém cuidando dela
é melhor do que cobrar caro. — Senhor Bruce me olha, deixando-me saber
que meu irmão, realmente, está a um fio de ir de vez para longe de mim. — E
nós dois sabemos que não vai sair dessa cozinha sem dar a resposta que ela
quer, vai por mim, melhor aceitar.

Sorrio, vendo dona Zelda lhe dar uma cotovelada e lhe xingar em
espanhol. Ele lhe dá um beijo na boca, abraçando seu corpo e a fazendo se
calar, mas logo se afasta. Ela volta seus olhos para mim, sorrindo,
aumentando-o quando balanço minha cabeça em positivo. Tenho fé, tudo vai
dar certo.

— Eu não sei nem como lhe agradecer, dona Zelda. — Ela se move,
parando na minha frente e limpando as lágrimas em meus olhos.

— Apenas me chame de Zelda, pelo amor de Dios!

Ela alisa meu rosto, depois vai para junto das crianças. Não sei ainda
como irá funcionar, mas sei que vai ser a melhor ajuda de toda minha vida e,
ao imaginar que posso tirar meus irmãos daquele lugar, é a melhor notícia do
mundo.

Passo o resto dia com um grande sorriso de orelha a orelha, me


imaginando contando isso para Will, Rana e Lola. Quero apertar os três em
meus braços e dizer que vamos ter um ano novo, com chances novas e uma
vida completamente diferente.

Ajudo dona Zelda depois que as crianças dormem, arrumando a mesa


do jantar. Vejo sua cunhada, que chega com um pequeno menino nos braços,
filho dela com o senhor Dylan, rindo para Zelda, abraçando-a com felicidade.
Senhor Dylan entra junto, as puxando para um abraço. Ainda sorrio em
alegria, usando o vestido novo que dona Zelda me deu. No meio daquele
monte de sacolas, ela tinha trazido um presente para mim e me deu mais três
caixas de embrulho, para levar para as crianças. Imagino a felicidade deles
quando eu chegar em casa com esses presentes. Mas é com a voz ao longe
que sinto meu rosto queimar e minhas pernas ficarem fracas. Seu cheiro
chega antes dele, logo depois, seu grande corpo passa pela porta. Consigo
disfarçar minha inquietação, fugindo como uma covarde para o quarto das
crianças e fico lá até a hora que elas acordam. Então voltamos para a sala e
fico no chão, brincando com elas, de costas para o senhor Lycaios. E assim,
passo o resto da noite fugindo pela tangente toda vez que preciso me
aproximar dele, ao ser chamada por dona Zelda. Dou graças quando
finalmente chega a hora de ir embora. Depois que deixo as crianças limpas e
já dormindo em suas camas, procuro dona Zelda, que está na cozinha, com
Elly. Aperto as bolsas com os presentes em meus dedos e sorrio para ela.

— Já estou indo, dona Zelda. — As duas se viram para mim, sorrindo.

— Obrigada por ter vindo hoje, Luna. Sei que era sua folga, mas
acabou que ficou tudo corrido. — Dona Zelda puxa sua bolsa, procurando
por sua carteira.

— Não precisa me pagar agora não, está tudo bem. Já deu esse
vestido e esse tanto de presentes de Natal para meus irmãos. — Ergo as
sacolas em meus dedos.

Sinto seu perfume entrar na cozinha antes que seus passos sejam
ouvidos. Travo meu corpo na mesma hora e abaixo meu olhar para o chão.

— Não diga que já está indo também... — A voz de dona Zelda fala
triste, enquanto ele para ao meu lado, quase me fazendo me sentir um cisco.

— O dever me chama, Zel. — Sua voz soa grossa e sinto, mesmo sem
olhar, que seus olhos queimam meu rosto, olhando para mim.

— Incluso tengo miedo de pensar lo que es, Sedrico[16]. — Dona


Zelda ri mais, se aproximando dele e ainda puxando a carteira.

— Ya sabes, mujeres, el placer sexual, ese es mi trabajo[17]. — Seu


corpo tão grande se move, me fazendo me encolher mais, enquanto arruma o
relógio em seu pulso. — Muito obrigado por ter me recebido em tu casa.
— Mi casa, tu casa[18]. — Dona Zelda se volta para mim, puxando
meus dedos. Dou mais um passo em sua direção, sentindo o dinheiro que ela
entrega encaixar em meus dedos. — Assim que voltar da casa de mi madre,
já quero que se mude com sua família.

Ainda a encaro, sem acreditar. Balanço a cabeça em negativo,


lentamente, a olhando incrédula. Está indo tudo tão rápido...

— Sí, depois vamos conversar sobre isso.

— Dona Zelda, eu nem sei...

— Dios, dona não, Luna! — Ela me cala, sorrindo para mim, e se vira
para o relógio da parede. — Vou chamar um táxi para lhe levar, já está tarde.

— Não está tarde não, pode deixar que vou de ônibus. — Ainda tenho
que passar no agiota para quitar a maldita dívida, sei que não vou tão cedo
para casa.

— Já estou de saída, se quiser a deixo onde precisa. — A voz do


homem, serena, me faz congelar na mesma hora.

— Não... — Minha voz sai alta demais, com meus dedos atrapalhados
quase jogando os presentes no chão. Balanço a cabeça em negativo, em puro
desespero.

— Dios, Luna, deixe Sedrico lhe dar a carona, assim não me deixa
preocupada. — Dona Zelda nem me dá tempo, já me empurra para fora junto
com ele.

Vejo seus passos se moverem lentos, com seus olhos fixos ao celular
em seus dedos, para perto do grande carro negro, importado.
— Eu posso ir de ônibus, para onde vou é muito longe. — Seu rosto
se ergue apenas uma vez em minha direção e ele guarda seu celular.

Nunca fiquei tão perto dele em tão pouco tempo como nos últimos
dias. Ele se move com uma graça felina, parando ao meu lado e me fazendo
me encolher mais ainda, enquanto aperto as sacolas em meus dedos.

O som do alarme do carro é o único ruído que corta a tensão, além das
batidas do meu coração, que estão descompassadas, como se ele fosse sair a
qualquer momento. O grande braço se estica, raspando perto do meu. Ele me
olha em silêncio, seus dedos vão à porta, abrindo-a lentamente e apontando
para dentro do veículo.

É, eu acho que aquilo, com toda certeza, foi um não.


CAPÍTULO 03
Os olhos do Demônio brilham como ouro

Sedrico
Paro o carro na frente de um prédio que deveria ser interditado pelo
corpo de bombeiros, em uma rua escura, sem nenhum tipo de segurança.
Observo os muros pichados a cada canto, alguns rapazes na esquina fumando
na lata. A menina veio calada desde a casa de Zelda, apenas falando para dar
o seu endereço.
— Bom, valeu pela carona, senhor. — Sua voz baixa, quase como um
suspiro, me faz virar para ela, me chocando com seus lindos olhos negros, de
uma forma quase inocente, me deixando confuso.
— Como? — Ela me olha assustada, levantando suas sobrancelhas.
— Eu disse obrigada! — Suas mãos vão à lateral e retiram seu cinto,
abrindo a porta. Quase por instinto, me movo mais rápido que ela e seguro
em seu fino braço.
Estou louco. Olho a babá de Zelda procurando por um maldito olhar
que me perturba. Ela se assusta, se encolhendo mais, e seu olhar cai para
minha mão. Meus olhos acompanham os seus e observo com mais cautela os
machucados em sua pele fina. Deslizo meus dedos sobre as marcas altas,
feitas para causar dor em sua pele. Estico seu braço, o virando lentamente, e
vejo a continuação dos machucados que se espalham entre arranhões e roxos,
misturados entre antigos e novos. Ouço sua respiração se acelerar e volto a
olhar para a pequena face dela. Ela puxa seu braço na mesma hora, saindo do
carro às pressas. Eu poderia ir embora, eu deveria ligar o carro e sair daqui,
mas a única coisa que faço é abrir a porta do carro e ir atrás dela.
— Como fez isso? — Parando a um passo do seu corpo, que congela,
a olho enquanto ela aperta as bolsas em seus dedos. A grande cabeleira negra
se vira, caindo sobre seus ombros, e o pequeno sorriso estampado em sua
face é tão falso quanto a cocaína que os moleques vendem na esquina.
— Eu sou muito estabanada, senhor. — Sinto meu corpo enrijecer a
cada pequeno “senhor” que sai tão espontâneo dos seus lábios. Estico minha
mão e seguro seus braços, virando-a para mim outra vez. Seus lindos olhos se
abaixam e sua boca nunca me pareceu tão familiar.
Um gato pula na lata de lixo, a tombando e fazendo um grande
barulho. Seu rosto se vira na mesma hora, procurando de onde vem o grande
som. Meus olhos se movem com os seus rapidamente, mas volto minha
atenção para ela. A pequena fragrância de amêndoas que exala dela deixa seu
cheiro quase familiar, me fazendo pensar em como seria enterrar meu nariz
em sua pele e ficar absorvendo sua doce essência. Seu corpo pequeno se
estica, fazendo seus cabelos virarem em um balanço livre e, por um segundo,
posso jurar que vejo uma tatuagem em seu pescoço, próxima à sua orelha.
— Tenho que ir, senhor. Mais uma vez, obrigada. — Seu rosto se vira
rápido para mim, movendo seu olhar no mesmo instante para o chão. Ela
solta seu braço dos meus dedos.
Ainda fico em silêncio, a olhando, sentindo como se me acertassem
um soco no estômago. Só pode ser uma loucura. Vejo ela com sua roupa
juvenil, que em nada se parece com a dançaria exótica. A menina usa um
vestido florido até os joelhos. Olho para minha mão, que tinha deslizado por
sua pele, a ergo lentamente até meu nariz, o cheiro, mesmo que fraco, ainda
está aqui, o mesmo aroma que a dançarina tinha.
Me sinto sendo sugado pelo olhar doce que se esconde por trás
daquela máscara. Meus dedos querem lhe tocar a cada movimento que faz
sobre meu colo, me embriagando com o aroma de amêndoas, que vem da sua
pele brilhante. Ainda tento fazer meu corpo voltar para meu controle, mas
ela o chama na mesma medida que desperta meus demônios. Minha boca
seca se abre como um maldito fraco, desejando passar minha língua pela
pele exposta do seu pescoço, me deixando pegar de relance a pequena
tatuagem de um anjinho agarrado a um coração, escondida atrás de sua
orelha delicada.
Ergo minha cabeça, vendo-a se afastar, entrando no prédio que está
quase desabando. Aperto meus dedos, sentindo minha mandíbula se apertar
junto aos meus dentes. Minha outra mão já puxa o celular, discando para
Devon.
— Boa noite, senhor. — Sua voz me responde no segundo toque, já
em prontidão, como sempre fica.
— Onde achou a menina? — Olho com mais atenção para o lugar,
vendo todo lixo que tem por perto.
— Dom Sedrico, se refere à moça do bolo? — Solto o ar, levando a
mão ao bolso, cerrando meus dentes.
— Sim, onde achou ela?
— Vem da periferia, senhor, perto dos trilhos dos trens ao sul da
cidade. Foi indicação de um dos nossos clientes. Gostaria que achasse ela?
— Obrigado, Devon. — Desligo o celular, apertando mais minha
mandíbula. Ele não precisa a encontrar, algo dentro de mim me dá a certeza
de que já a encontrei.

Luna

Minhas pernas correm o mais rápido que podem, subindo com todas
as sacolas e com meu coração quase saindo pela boca, só de imaginar que
estava a apenas um passo de erguer meus pés para sentir o calor da sua boca
outra vez. O maldito gato me salvou de fazer uma grande besteira. A forma
como seus olhos brilhavam, como se um demônio morasse lá, os deixava tão
vivos como ouro.
Entro no meu apartamento, segurando o fôlego e apertando as bolsas
em meus dedos. Meu rosto assustado se encosta na porta e tento fazer minha
respiração voltar ao normal. Solto-as lentamente ao chão, esfregando meus
dedos em minha face.
Ao me virar, vejo a TV ligada na sala em um canal fora de ar. Minha
mãe está caída no sofá, segurando uma garrafa vazia com seu braço
dependurado. Isso é o suficiente para me trazer de volta à realidade a qual é
minha vida.
— Droga, Vilma! — suspiro, indo até o quarto das crianças para saber
se elas estão bem. Olho os três abraçados na cama, enrolados na coberta,
dormindo sossegados longe disso tudo.
Caminho para o quarto da minha mãe, arrumando sua cama. Volto
para a sala e me aproximo dela, retirando a garrafa vazia e a jogando no
canto. Meus dedos passam por sua face, vendo-a outra vez tão acabada em
seu vício. O cheiro forte que vem do seu corpo é de pura bebida destilada,
fazendo eu desejar trancar o nariz para não inalar seu odor. Tento erguer seu
corpo, passando meus braços pelo seu pescoço. A chamo baixinho.
— Lu... na... — Sua voz embriagada me deixa tão triste, saindo
entrecortada por seus lábios ressecados, deixando o cheiro que vem da sua
boca duas vezes pior. — Papai não chegou ainda, não é?
— Não, mãe, papai não chegou ainda — suspiro baixo, tentando a
erguer. Não tem uma vez em que ela fica bêbada que não o chame.
— Ele me deixou, não foi, Lu? Ele nunca mais vai voltar. — Sinto sua
voz ficando mais nervosa, seus olhos vermelhos e tão afogados em álcool me
olham com dor. — Promete que nunca vai me deixar, Luna? Promete?
Ela se agarra ao meu braço, cravando suas unhas com toda força.
Sinto minha pele sendo rasgada, de tanto que ela aperta, me olhando com dor,
como se eu estivesse lhe deixando.
— Eu prometo, mãe. — Tento tirar sua mão do meu braço, mas ela
apenas força mais o aperto, me fazendo sentir a ardência insuportável,
rasgando minha carne. — Mãe, vamos pro quarto, ok? Não vou lhe deixar. —
Sua boca se aperta com raiva e ela balança sua cabeça em negativa. — Mãe,
precisa soltar meu braço, está me machucando. — É sempre assim. Ela bebe,
fica oscilando entre a raiva, o choro e o medo, e, no fim, eu fico com as
marcas no outro dia.
— Você não pode me deixar... Vou morrer sem você... — Sua voz
embriagada se altera, nervosa. Seus dedos me machucam ainda mais, me
puxando para ela. Tento me soltar e ela me larga de uma única vez,
empurrando meu corpo para trás. Sinto a dor quando bato as costas na quina
da estante, me fazendo apertar minha boca para não chorar de tristeza.
— Mãe, não vou te deixar. — Esfregando minhas costas, me levanto,
olhando para ela, que tenta ficar em pé. Estendo meus dedos para que ela os
segure. — Vamos. — Ela tenta dar um passo em minha direção, mas seus pés
se atrapalham e ela cai no chão. Esfrego meu rosto, levando meu punho
fechado à boca, enquanto o mordo tão forte quanto posso para não gritar em
desespero.
Vilma é uma linda mulher, mas foi se apagando com seu vício, pouco
a pouco. A pior coisa de conviver com uma pessoa alcoólatra é ter que
assistir em primeira mão, com direito a camarote, a pessoa que você ama se
matar um pouco de cada vez, a cada gole, e saber que não pode fazer nada
para salvá-la. Se ela não desejar ser salva, você pode chorar, implorar, lhe
mostrar cada estrago que ela larga pelo caminho quando está embriagada,
mesmo assim, nada será importante para ela, além de seu primeiro gole.
Conviver com minha mãe é morrer pela doença de outra pessoa, que me
contamina em cada degradação que ela me puxa, me fazendo me tornar tão
doente quanto ela.
— Você vai me deixar. Todos me deixam, Lu, você vai embora
também. — Suspiro, soltando o ar do meu peito com tanta dor. Me abaixo,
tentando a erguer do chão, antes que se vomite toda.
— Eu não vou, mãe... — Meus braços passam por seus ombros,
querendo lhe puxar, mas ela tem seu peso mais solto. Meu corpo pequeno não
dá conta de erguê-la, a não ser que a arraste até seu quarto, mas, ainda assim,
faço força para não ter que passar por mais essa humilhação.
— Deixa que eu a pego. — Me assusto assim que ouço a voz próxima
a mim. Antes que possa responder, Sedrico está segurando minha mãe no
colo, a erguendo. Seus olhos me observam em silêncio, tão frios como uma
porta de aço. — Onde é o quarto dela?
— Como... — Meu rosto se move para a porta do apartamento, aberta.
Eu nem o ouvi entrar. — O que está fazendo aqui, senhor? — Ele passa por
mim, se apertando em meu apartamento pequeno, que o engole. Sedrico
carrega minha mãe, parando na frente do quarto das crianças, que ainda
dormem todas agarradas em uma cama de casal de madeira. Sinto vergonha
pelas paredes velhas e quebradas, já mostrando seus tijolos, e pela coberta
velha, que mal as esquenta, a qual já remendei mais vezes do que posso me
lembrar. Ele olha tudo com desgosto e volta-se para a outra porta aberta, onde
tem uma cama de solteiro que possui três cubos de concreto dando lugar a um
dos pés, lhe sustentando. Ele se move lento, deixando minha mãe deitada,
que resmunga embriagada.
Solto o ar que prendia assim que ele deixa o quarto sem dizer nada. É
quase uma blasfêmia o ver em seu lindo terno caro em contraste com meu
apartamento caindo aos pedaços. Ando até a cama e cubro minha mãe com
uma manta. Ela me olha entre seus olhos semifechados, abrindo um pequeno
sorriso.
— Oi, amor. Mamãe já vai fazer café para você e o papai. — Seus
dedos caem antes de tocar minha face. Seguro a lágrima, beijando sua testa.
— Está tudo bem, mãe... Papai não chegou ainda — sussurro, vendo-a
balançar a cabeça. Ela se vira, voltando a dormir. Aliso seus cabelos e me
levanto.
Saio do quarto apagando a luz e ando lentamente até chegar à sala,
onde um sofá gasto pelo tempo tem uma manta de retalhos escondendo os
rasgados, a TV de 14 polegadas, antiga, ainda ligada apenas com seus
chuviscos. O grande homem está parado, com as mãos no bolso, olhando
tudo, e logo se volta para mim, de cara fechada.
Os gritos da vizinha do lado é tudo o que se pode ouvir, aumentando
mais ainda minha vergonha.
— Vá se fuder, seu viado de merda! — Logo a pancada na parede
pode ser ouvida, assim como o bebê chorando. Os gritos dela, com seu
marido, vão aumentando. Coço minha cabeça, tentando desviar meus olhos
dos seus, envergonhada.
— Obrigada, senhor — sussurro baixo, tentando não chorar.
Ele apenas balança sua cabeça em positivo, ficando mais sério ao
olhar para meu braço. O sangue dos arranhões profundos que minha mãe me
fez escorrem pelos meus dedos, coisa que eu nem tinha percebido ainda. Ele
atravessa a sala em passos firmes, tirando um lenço do bolso do seu terno
para limpar o local.
— Você tem álcool? — Sua voz é grossa e gelada a cada palavra que
sai dos seus lábios.
— Está tudo bem, senhor, não precisa. — Me afasto dele, puxando
meu pulso. — Só lavar com água. — Ainda estou perdida e olhando confusa
para ele. Por que ele entrou aqui? A vergonha pela situação da minha mãe me
faz me encolher duas vezes mais.
Esse homem nunca me pareceu tão grande como agora, ocupando um
bom espaço do apartamento, que parece um cubículo menor do que é. É
esmagadora a força da sua presença, que vai me engolindo. Tento passar por
ele, mas sinto suas mãos me rodeando no meio da sala, me surpreendendo
com um rápido bote. Seu corpo me pressiona, me colando à parede,
apertando meus braços atrás das minhas costas. Sinto sua respiração
acelerada por cima da minha cabeça, entrando em choque com o que ele
acabou de fazer.
— Me solta! — Minha voz sai assustada e nervosa. Quero me soltar,
enquanto seu peito bate mais forte colado em minhas costas, quando ele usa
as pernas para me imobilizar no lugar.
Empurro ele com a bunda, mas é como se ele nem sentisse. Sua mão
se ergue, colando minha face na parede, de lado, me empurrando com sua
virilha. Posso sentir seu pau roçando em minha bunda e simplesmente
congelo ao perceber que ele está ereto. Minhas pernas tentam chutar as suas e
tento afastar meu rosto da parede.
— Fique quieta ou vou te machucar. — Sua voz sai em um tom tão
bravo, rosnando contra meu rosto, que automaticamente meu corpo congela.
— Por favor, senhor, me solta. — Meu corpo não se move de tão
presa que ele me deixa à parede, quase nos ligando como se fôssemos um só
corpo. Estou escondida sobre seu grande tamanho.
Seus dedos erguem meus cabelos, os jogando para cima, logo sua
outra mão espalma em minha orelha, tocando minha pele.
— Hija de puta[19]! — Sua mão solta um grande soco na parede,
parando a centímetros do meu rosto. Ele se afasta, me largando com raiva.
Me viro, com minhas pernas tão moles quase desabando no chão se
não tivesse a parede para me sustentar. Ele aperta seus punhos ao lado do
corpo, xingando tão rápido quanto dona Zelda quando está com raiva.
Ele solta o ar, me olhando com fúria, e, em dois passos, sinto seus
dedos esmagando meu pescoço. Ele respira rápido, seus olhos brilham de
ódio, se dilatando mais ainda.
— Diecinueve[20] anos. — Ele deixa seus dentes à mostra, quase os
colando em meu rosto. Meus dedos se erguem, tentando soltar seu pulso da
minha garganta. — Diecinueve anos e dançando que nem uma puta para um
monte de hombres[21].
Foi um soco no meu estômago. Suas palavras... Por mais que ele
misture os idiomas, esmagando seus lábios com rancor, entendo que ele se
refere a mim como uma puta. Ele descobriu.
— Como... Como? — Não tinha como ele saber que sou eu, não tirei
a maldita máscara, nem a peruca, apenas depois de entrar no carro com Zack.
— Você esqueceu a tatuagem, Mikpό! — Ele se aproxima, rosnando.
— Zelda tem ideia de que sua pequena pupila faz um extra como puta?
Não sei o que me dá, se é o medo misturado ao desespero, ou a forma
como aqueles olhos me condenam, apenas solto um tapa forte no seu rosto, o
deixando todo vermelho quando meus dedos estralam em sua face. Ele aperta
mais meu pescoço, rosnando como um animal agressivo.
— Não lhe aconselho a fazer isso novamente, Mikpó. — Meu peito
sobe e desce com minha respiração acelerada, sendo acuada pelo grande leão
nervoso.
— Não sou uma puta! — falo, com minha voz estrangulada pelo
choro que ameaça chegar, o encarando.
— Então me explica o que estava fazendo em meu colo na noite
passada. — Seus dedos soltam minha garganta e ele dá um passo para trás.
Caio ao chão, segurando meu pescoço, tossindo com dor e olhando para ele.
— Eu não lhe devo satisfação, senhor. — Me levanto com meus olhos
vermelhos, esfregando as costas das minhas mãos neles, os limpando.
Ele me olha. Seus olhos ficam semicerrados, me condenando com sua
força implacável e seu olhar autoritário.
— Me dê um bom argumento para não ir direto para Zelda agora e
contar tudo a ela. — Fico em silêncio, com medo. Sinto cada batida do meu
coração como se fosse a última. — Você tem ideia de como pode acabar com
sua vida e perder toda a ajuda que ela lhe deu porque você quer brincar de
Uma linda mulher[22]?
Ele apenas balança a cabeça, indo para a saída. Meus passos correm
atrás dele, o puxo pelo braço em desespero, apertando seu pulso.
— Não faz isso... — Aperto mais meus dedos, o segurando,
implorando com medo para ele. — Por favor... não conta para dona Zelda. Eu
precisei. Por favor, eu precisei fazer aquele serviço.
— Você nem sabe o que fala, chica[23]. Não passa de uma criança
querendo brincar de mulher. — Solto seu braço, ouvindo suas palavras. Me
sinto humilhada. Só eu e Deus sabemos o tanto de coisas que já fiz por minha
família.
— Brincando? — Minha voz quebrada ri em agonia, olho para ele
com pura dor. — Acha que brinco quando deixo meus irmãos sozinhos com
minha mãe bêbada só para ter um monte de velhos nojentos de pau duro para
mim?
Seus passos param antes de atravessar a porta, ele vira seu rosto para
mim.
— Acha que brinco quando olho para os meus irmãos e não tenho
nem dinheiro para comprar uma simples bolacha? Ou quando cortam a luz e
eu tenho que brincar com eles para não terem medo?
Abro meus braços, mostrando tudo ao redor. Aponto cada canto velho e
deteriorado do apartamento esculhambado onde moro.
— Acha que vivo aqui por que brinco? Que tampo os ouvidos deles
quando tem briga de traficante, ou quando a polícia invade cada apartamento,
destruindo tudo atrás de algum flagrante, por que quero? — Meus braços se
abaixam, apertando meus punhos e esmagando meus dedos. — Suponho que
você não pode ver isso, não é? — Olho para ele com uma cólera que trago há
anos dentro de mim, vendo a cada dia uma maldita forma diferente da vida
me foder. — Não pode ver meus irmãos com fome, ou com medo e frio,
porque está ocupado demais em sua cobertura, com seu carro importado,
levando sua vidinha aristocrata, sendo um burguês de merda que não olha
para nada além de si mesmo, em cima de seu pedestal, olhando todos como
se fossem pulgas perto do grandioso deus.
Limpo meus olhos, que já estão nublados pelas lágrimas, soluçando
baixo. Ele me olha em silêncio com seus dedos dentro do bolso, sem desviar
seus olhos uma única vez dos meus.
— Então, sim! Eu estou brincando e o nome da minha brincadeira se
chama sobrevivência! — Meus dedos batem forte em meu peito. — E sim, eu
danço para um bando de homens, danço para matar a fome, o frio, para
poupar meus irmãos da dor, para tentar resgatar meu outro irmão jogado em
um orfanato! Danço no colo deles, danço no seu! — Meus dedos se erguem,
apontando para ele. — É apenas isso que faço! Se fosse puta tinha aceitado a
grana suja que você me ofereceu para me comer!
O olho com raiva, o vendo lá, intocável, nunca propenso a erros ou
falhas. Ele apenas fica em silêncio, sem falar nada.
— Não foi isso que você me ofertou quando deixou seu dinheiro na
sua perna para eu pegar, senhor? Foi por uma trepada com essa puta aqui.
Então não ouse me olhar com nojo e nem me julgar com seu terno caro e seu
Rolex[24] de ouro no pulso, porque, se for assim, você é mais sujo do que eu.
— Vejo seus olhos se estreitarem, desviando sua atenção de mim. — Quer ir
contar para dona Zelda, tudo bem... Faça como você quiser. — Abraço meu
corpo, desejando poder desabar ali mesmo. — É só olhar em volta, pior do
que já estou, não fico.
Ele se vira, saindo do apartamento e fechando a porta. Caio no chão,
tampando meus lábios. Tudo ao meu redor está desmoronando, estou sendo
sugada para cada dor que tenho presa dentro de mim e apenas choro
baixinho, sendo esmagada por tudo outra vez.
CAPÍTULO 04
A curiosidade de Deus

Sedrico
— Eu posso tentar pegar na agenda de Zelda, ela tem uma dentro da
sua bolsa, onde anota tudo, pois se pegar o celular dela, ela vai querer saber
para quê. — Deixo meus olhos perdidos para a grande vidraça do meu
escritório, observando os prédios altos com suas luzes espalhadas pela
cidade.
— Ficaria grato se pudesse fazer isso por mim, meu amigo.
— Sedrico, preciso me preocupar com seu súbito interesse pela babá
dos meus filhos? — A voz baixa do outro lado da linha solta o ar em
nervosismo.
— Não é nada demais, como lhe falei, é apenas para o que Zelda me
pediu. — Viro minha cadeira, deixando meu olhar repousar no dossiê aberto
em cima da minha mesa.
— Eu até poderia acreditar nisso se não tivesse me pedido para não
contar nada à minha esposa. — Sorrio ao ouvir sua baixa risada. — Vou
pedir para Bruce distrair ela e vejo onde ela deixou a bolsa. Assim que achar
o número da garota, já lhe passo.
— Muito obrigado, Tauro.
— Não me agradeça, apenas deixe meu nome fora disso se Zelda lhe
pegar. — Nós dois rimos ao som de medo que ele tem em sua voz. — Feliz
Natal, meu amigo.
— Para você também, dê lembrança a todos.
Desligo o telefone, o deixando sobre a mesa. Ergo a pequena foto em
meus dedos.
— Não pode ver meus irmãos com fome, ou com medo e frio, porque
está ocupado demais em sua cobertura, com seu carro importado, levando
sua vidinha aristocrata, sendo um burguês de merda que não olha para nada
além de si mesmo, em cima de seu pedestal, olhando todos como se fossem
pulgas perto do grandioso deus.
Ergo a foto mais à frente, olhando seu rosto pequeno, distraída,
atravessando a rua. Ela sorri para as três crianças que estão com ela. Ainda
me sinto intrigado com a pequena menina que me desafiou, com um lampejo
de brilho no olhar quebrado, despejando toda sua dor diretamente para mim.
Nesses meus trinta e sete anos nunca tinha me visto calado, apenas
observando alguém. Se fosse qualquer outra pessoa, não teria pensado duas
vezes antes de fazê-la se arrepender por cada palavra que saía da sua boca.
Mas ela me deixa curioso, como se um ímã me puxasse. Talvez a novidade
de ter sido enfrentado por alguém três vezes menor do que eu me fez querer
saber mais sobre ela. E, quanto mais descubro, mais envolvido fico. Me pego
olhando seus documentos, não me lembro quando foi a última vez que fiquei
pensando sobre alguém por tanto tempo.
Acho que nem na juventude fiz algo assim, vivendo entre os subúrbios
com apenas uma coisa em mente: sair daquela maldita vida miserável.
Amadureci rápido trabalhando na rua desde os nove anos para ajudar minha
mãe, uma mulher doente e fraca, porto-riquenha, que saiu de Porto Rico atrás
de uma vida melhor, indo trabalhar desde nova como copeira. Em um desvio
do destino, seu caminho se cruzou com Nico Lycaios, um empresário de um
dos ramos hoteleiros mais promissores da Grécia. O que minha mãe não sabia
era que Nico era casado e a deixaria apenas para ela se descobrir grávida três
dias depois da partida dele. Minha mãe nunca conseguiu ver ele em vida
depois disso, e por mim teria sido um presente se ele não tivesse voltado,
treze anos depois, atrás de mim.
Morei na rua dois anos depois da morte da minha mãe, fugindo de
cada coleta feita pelo juizado. Quando se tem fome, quando se tem frio, você
faz qualquer coisa. Era pequeno e passava por todos os tipos de lugares
estreitos, conseguia fazer um roubo em cinco minutos e ninguém sabia o que
tinha lhe acertado. Não até sentir falta. Nico me achou na detenção da polícia,
quando me pegaram em um assalto a uma joalheria. Lembro ainda hoje de
olhar para aquele homem sério, em seu terno, que me observava do outro
lado das grades.
— Filho meu não rouba, trabalha e ergue seu próprio império! Se lhe
pegar roubando outra vez, corto seus dedos!
Lycaios me levou com ele, de volta para a Grécia, onde fui criado
como o bastardo entre seus filhos. Dormindo afastado, junto com os
empregados, trabalhava para comer e para ele manter o teto sobre minha
cabeça, batendo cargas no porto aos quinze anos. Com dezoito anos, já estava
à frente dos seus negócios. Lycaios não tinha feito seu império apenas com
hotéis, sua rede de tráfico de joias e diamantes se estendia entre a Europa,
Ásia e América, e me mostrava sempre um jeito novo do seu mundo.
Nenhum dos filhos dele se misturava com seus negócios, mas o pequeno
ladrão tinha chamado a atenção dele. Trabalhei até os vinte e um anos junto a
ele, erguendo dinheiro suficiente para voltar para Chicago sem precisar ficar
mais sob os olhos do velho. Nico podia ser um filho da puta desgraçado,
fodendo cada passo da minha vida. Nunca me deixou esquecer que não
passaria de um bastardo e, uma coisa era certa, eu poderia me foder, mas
mostrava para ele que nunca precisaria de um centavo seu. A única coisa que
ele pode ter acertado é que um Lycaios não rouba, ele ergue seu império! E
ergui o meu entre os tráficos de esmeraldas e diamantes. A cada dia que me
erguia, um novo império eu criava, até chegar ao topo, onde todos nunca
acharam que um filho bastardo de uma copeira poderia chegar. Não precisava
mais das joias para me alavancar, tudo que tinha aprendido nesses anos que
passei ao lado de meu pai empenhava em meus hotéis, até me espalhar pelas
Américas. Uma coisa que rico gosta: tudo que é exclusivo para eles, e a cada
gosto maldito e prazer que Nico me ensinava, eu desejava por mais. O
controle, a dominação de cada coisa que tivesse à minha volta, o domínio por
tudo que olhava e desejava.
Abrindo as portas do submundo, onde não importava sua raça, se era
o magnata do petróleo, o maior traficante, um diplomata de uma subpotência,
o arcebispo ou a nova Madre Tereza, todos têm desejos e, se você trabalha
com o prazer dessa pessoa, você a tem na palma da mão. O filho da puta
arrogante que curte se vestir de mulher para ser chicoteado; a mulher que
nutre a vontade de ter mais de dois homens lhe fodendo; se curte ser
amarrado e ter seu cu fodido por uma mulher com consolo, foda-se, ninguém
liga! Cada canto da Odisseia foi feito exclusivamente para libertar e
proporcionar o maior bacanal que existe preso dentro da parte mais suja do
seu ser. Esse é o meu império, o desejo escondido dentro de cada um, lhe
dando a segurança e discrição para ser o que realmente é. Minha alma é tão
podre quanto metade das pessoas que entram aqui dentro. E nunca me calei
diante de ninguém, a não ser para a pequena criatura que me prendeu em seus
olhos negros e que agora me instiga mais, enquanto a olho tão solitária nessa
foto.
— Dom Sedrico. — Meus olhos se erguem para Devon, que entra
silencioso dentro do escritório.
— Como está indo a noite? — Solto a foto, fechando a pasta, e deixo
meu rosto parar na grande janela por onde observo a pista de dança do outro
lado, lotada.
— A casa está cheia, senhor. Nossos clientes gostaram do especial de
Natal que proporcionou para eles.
Movo minha cabeça calmamente, ficando de pé e caminhando para
perto da grande janela. Meus dedos, presos atrás das minhas costas, balançam
sem pressa. Passo meu olhar por cada canto que consigo ver da Odisseia
daqui de cima.
— Dom, consegui resolver o assunto que me pediu hoje cedo a
respeito da informação. — Viro meu rosto para ele, confirmando com a
cabeça. — Vai precisar de alguma ajuda com isso?
Solto meus dedos, trazendo meus braços para a frente, e olho o
pequeno vermelhão em meu punho.
— Creio que a mensagem foi compreendida, Devon. — O som do
bipe do meu celular toca em cima da mesa e caminho para lá, o erguendo.
A mensagem de Tauro mostra um número de celular, o dela, junto
com as pequenas palavras: Não me fode!
Guardo o celular no bolso, olhando a hora em meu pulso. Já são
00h45. Pego as chaves do carro.
— Devon, avise ao chefe Luvie que irei jantar em seu restaurante,
gostaria de exclusividade.
— Sim, Dom. — O som da sua voz fica para trás, enquanto atravesso
a porta, deixando a música me acertar.
Vejo todos que dançam na pista com seus corpos colados ao som de
Dear Enemy, do Night Club. As mulheres nos palcos, que são expostas com
suas roupas de silicone vermelhas coladas ao corpo, deixando seus rostos
tampados, com apenas a boca de fora, se esticam sobre as barras de ferro,
dançando junto com o público, se misturando às fumaças das pistas, que se
dissipam no ar. Meus passos cortam pela boate, passando pelos corredores
acarpetados em negro com luzes vermelhas. Os quartos daqui, com paredes
de vidro, têm cada um a sua lâmpada, com uma luz verde ligada, mostrando
que estão ocupados por clientes. Os que preferem privacidade vão para as
saletas do fundo, com vidros falsos para a pista, deixando quem está do lado
de fora com a ilusão de que é apenas um espelho. Os que desfrutam de um
voyeurismo[25] ficam nesse corredor, observando os casais que gostam de
serem assistidos. Paro diante de uma das janelas, atento ao homem praticando
andromimetofilia[26], sentado no sofá segurando suas pernas para cima
enquanto a mulher o fode como se fosse o macho alfa da relação. Apenas
mais uma noite normal da Odisseia.
A Odisseia abriga qualquer tipo de merda que você pode ter: é um
travestismo[27]? Ótimo, aqui tem uma sala feita só para você com todos os
tipos de roupas de mulheres, ninguém vai te julgar. É chegado em
autonepiofilia[28]? Tenho a melhor babá para trocar sua fralda e cuidar de
você como se fosse um pequeno fodido bebê pervertido. Se seu caso é visual,
tenho o melhor cinema para alimentar sua pictofilia[29], desde fotos a vídeos
mais sacanas e de todos os gostos para se masturbar.
Se prefere o sexo oral em desconhecido, a sala dos somnofilia[30] está
aberta 24h por dia. Mas, se o caso é gerontofilia[31], arrumo um velho em
cinco segundos para você trepar em seu pau murcho. Olfatofilia[32],
coprofilia[33], acrotomofilia[34], sadomasoquismo[35], sádico[36], masoquista[37],
asfixiofilia[38], autoasesinofilia[39] e simforofilia[40] ou qualquer outra porra de
parafelia[41] escrota incubada que tenha, eu posso lhe saciar. A Odisseia lhe
garante a melhor experiência, a qual você sempre volta querendo mais,
liberando toda a depravação que existe dentro de você.
Sorrio, saindo de lá, vendo meus clientes satisfeitos. Caminho para o
estacionamento do subsolo, meus olhos observam a tela do celular quando o
retiro do bolso, parando perto do carro. Adiciono o número à lista de
contatos, busco no aplicativo de mensagens o pequeno rosto risonho sentado
em um balanço, segurando as correntes. Sorri para a foto tão livre e inocente.
Acerta precisamente meu maldito ponto fraco: uma doce e perfeita sugar
baby[42].

Luna

— A gente vai poder comprar todo tipo de bolacha agora? — Will me


observa com seus olhos brilhantes.
— Vai! — digo, levando mais uma bolinha de enfeite à nova árvore
de Natal que comprei.
— A gente pode comer pizza também? — Belisco a bochecha de
Lola, que me faz cara feia e sorrio.
— Também vai. — Estou feliz, poderei dar algumas coisas melhores
para eles, poderei deixá-los um pouco mais confortáveis, com pequenos
prazeres que, para alguns, é pouco, mas que, para eles, são gigantes.
— A gente vai poder trazer Cadu para casa, Lu? — Me viro ao olhar
Rana, que se senta triste no sofá, segurando a estrela em seus dedos.
— A gente vai, Rana. — Caminho até ela, a abraçando apertado. —
Eu prometo que vamos trazer ele para casa. — Tento não chorar para eles não
ficarem tristes, porque não quero eles assim em pleno Natal. — EU AMO
TANTO VOCÊS! — grito, abrindo meus braços e ficando em pé. —
Venham, abraço coletivo agora!
Sinto cada mãozinha me apertando e beijo sem parar cada um deles.
Lola se espreme, por ser a menorzinha entre nós. Me jogo no sofá, levando
todos junto comigo. Dessa vez, não me preocupo com o teto cheio de
buracos, com os gritos de briga dos vizinhos e nem com o cheiro de droga
que vem da janela por causa dos moleques lá embaixo, apenas me sinto feliz.
Os vejo correr, voltando para a árvore, rindo com felicidade.
Terminamos de enfeitá-la e ainda não acredito que o agiota me enxotou para
fora daquele lixo que ele chama de escritório, não aparecendo nem para pegar
a grana.
— Eu só quero entregar seu dinheiro. — Bato na porta, gritando e
apertando a bolsa em meus dedos.
O grande armário que aparece me olha de cima a baixo, com seu
rosto machucado. O segurança do agiota está com um grande olho roxo e,
ao que parece, um nariz quebrado.
— Patrão mandou você sair daqui. — Sua voz grotesca fala brava e
fico confusa, olhando para ele, parada naquela porta.
— Mas eu só quero pagar a maldita grana que ele estava me
cobrando. — O cara fecha mais a cara e me empurra para a calçada.
— Ele disse para você ficar com o dinheiro, quer você e sua família
maldita longe dele!
Fico sem entender, mirando o homem que entra batendo a porta com
tudo na minha cara. Ainda estou confusa, olhando para a rua e coçando
minha cabeça, tentando digerir o que acabou de acontecer ali. Meus passos
lentos caminham pela calçada, voltando para trás uma hora ou outra, sem
saber se isso é verdade ou não. Abro minha bolsa, olhando o pequeno malote
marrom, onde o dinheiro que juntei está guardado. Resmungo, voltando
meus passos, ainda não acredito que ele não vai receber. Ele tinha me
ameaçado por vários dias. Meus dedos se erguem, batendo na porta
novamente, com a mesma urgência de antes. O homem volta a abri-la, me
olhando de cara feia, e, com o pouco de coragem que me resta, estufo meu
peito, retirando o maço de dinheiro da bolsa e estendendo o malote para ele.
— Não vão nem receber o dinheiro? — Ele bufa com raiva, olhando
para meus dedos, e volta a me empurrar para fora.
— Não! Faça o que quiser com essa merda, só some daqui, garota! —
Fico ali, olhando para ele, que fecha a porta outra vez, a espancando com
raiva.
Caminho ainda incrédula, sentindo um pequeno sorriso ir se abrindo
em meu rosto. Não é muita grana para alguns, mas é muita para mim. Abro
minha bolsa, levando o malote para dentro e separando uma pequena
quantia. Poderei deixar meus irmãos felizes, pelo menos hoje. Tinha me
humilhado para conseguir esse dinheiro, se ele não quer, meus irmãos vão
querer. Passo em uma loja, compro uma árvore nova, não vou montar a
velha, que Rana achou no lixo da vizinha no ano passado. Não terão caixas
de fósforo, mas sim bolinhas, simples, mas será bonita. Passo a manhã toda
na rua, comprando um presente para cada um. O tênis novo que Will está
precisando, uma jaqueta quente para Lola, até o pequeno estojo de
maquiagens que Rana vive namorando eu compro. Compro um vestido novo
para minha mãe, pois sei que ela está sem roupa decente. Passo no mercado
para pegar uma pequena ave natalina e terá até sobremesa para eles. O
resto da grana, escondo em um tijolo oco dentro do quarto.
A alegria que eles têm montando a pequena árvore me faz rir olhando
com contentamento para eles. E, por este momento, a angústia que sinto
desde o dia que o senhor Sedrico saiu do meu apartamento não me pega.
Dona Zelda não me ligou, então não sei se ele lhe contou ou não. Mas rezo
para Deus que ela não me odeie.

Dou um beijo na face de cada um, os cubro com a coberta e fico


admirando minha irmã e meus primos com seus rostos felizes. Lola dorme
abraçada com o urso que dona Zelda lhe deu de presente. Will, como sempre,
está todo torto de bruços, então o movo, endireitando seu corpo. Rana está
quase caindo encolhida na beirada, aliso sua face, fazendo um cafuné em seus
cabelos bagunçados. Ao passar no outro quarto, vejo minha mãe dormindo,
com seu rosto vermelho. Encosto meu rosto na parede, olhando para ela.
— Feliz Natal, mãe — sussurro para ela, que está adormecida. Ela
ficou tão linda com seu vestido novo, apenas o que doeu foi ela dizer que só
ia ali e já voltava. Esse já voltava dela foi três horas depois, caída na entrada
do prédio, de onde tive que lhe ajudar a voltar para dentro de casa quando um
dos vizinhos bateu na minha porta, me avisando. Limpei seu rosto sujo de
vômito e a deixei deitada na cama.
E, para ser mais deprimente do que estava naquele momento, fechei a
noite sentada na sala, embrulhada em uma manta, com meu pijama velho e
meus olhos vermelhos, soluçando enquanto assisto ao final do filme A Culpa
é das Estrelas. Aperto mais meus dedos, limpando meu rosto molhado, vendo
Hazel Grace segurar a carta junto ao seu peito. O som do meu celular tocando
me faz o pegar entre minhas lágrimas, atendendo ainda prestando atenção no
final do filme.
— Alô. — Minha voz chorosa soa baixa, olhando com dor para a TV.
— Está chorando? — Limpo meu rosto, ainda perdida com o filme.
— Augustus morreu — falo com tanta dor, como se tivesse perdido
ele também. — Ainda não acredito que fiquei até agora para ver ele morrer.
— Quem é Augustus? — A voz grossa do outro lado da linha sai
forte, junto com uma respiração pesada.
— A Culpa é das Estrelas... — Limpo meus olhos, vermelhos de
choro, mas me toco que nem olhei quem está me ligando, quando a voz sai
mais grave.
Olho para o celular com a tela trincada, vendo o número que não sei
de quem é. A única pessoa que poderia me ligar nesse horário seria a senhora
Maier, do bloco cinco, me pedindo ajuda para achar seu gato que fugiu outra
vez. E, com certeza, essa não é a voz da velha.
— Desculpe, mas quem está falando? — O som baixo da respiração
fica pesada, sendo solta lentamente. — Acho que foi engano, moço.
— Não foi engano, senhorita Delis. — Congelo, prestando mais
atenção na voz, e, de alguma forma, sei quem é. Quem me ligaria a uma hora
da manhã de uma madrugada de Natal?
— Senhor Lycaios? — Ouço sua respiração ficando alta, como se ele
estivesse ao meu lado.
— Poderia me dar cinco minutos, Luna? Tenho assuntos para tratar
com você. — Que assuntos, meu Deus? Olho perdida para o aparelho, ainda
sem acreditar que esse homem está me ligando.
— Eu acho que sim — sussurro, apertando meu dedo no canto da
boca. Minha curiosidade sempre foi maior que meu corpo.
— Excelente, estou aqui embaixo lhe esperando. — O som da ligação
cortada é tudo que ouço junto com as batidas do meu coração
descompassado.
— Aqui embaixo? — Olho perdida para o celular, vendo a chamada
encerrada.
O som do apito da mensagem que chega me faz soltar o celular na
mesma hora, caindo entre minhas pernas. Pego e passo meus dedos
lentamente, olhando para ela.
“Desça.”
— Ai, meu pai! — Dou um pulo do sofá, corro para a janela, aperto o
celular em meus dedos, paro e olho desconfiada lá fora, estico meu pescoço.
Ainda não acredito no que vejo. O grande carro italiano vermelho
estacionado do outro lado da rua se destaca como um chamariz de roube-me!
— Que merda esse homem está fazendo aqui? — O som de outra mensagem
chega.
“Prefere que eu suba? Assim nós dois podemos admirar meu carro daí de
cima.”
— Arrogante de merda! — sussurro, saindo de perto da janela.
“Já desço �� ”
Meu celular, que está uma merda, na hora de mandar a mensagem
buga e troca o ponto por uma carinha feliz. Merda, tinha mandado uma
carinha feliz para ele! E, para ajudar, o Wi-Fi, que pego da minha vizinha,
está com o sinal mais baixo que minha autoestima. Já estou a ponto de ter
uma parada cardíaca andando com o celular na sala, à procura de um sinal
mais forte.
Digitando...
— Merda... Merda... Como apaga essa porra? — Meus dedos tremem
enquanto tento apagar, mas a merda do celular congela. Juro por Deus, que
não o taco janela afora, pois não tenho grana para comprar outro, porque
vontade nunca me faltou. — Oh, desgraça!
“Está tão feliz assim em me ver?”
— Claro que não — falo com raiva. Estou preocupada por ter esse
homem, essa hora, na porta desse prédio imundo.
Bato com raiva minha mão no celular, como se fosse uma TV velha,
tentando o destravar, até que consigo.
“Foi errado, senhor.”
Estico meu pescoço para a janela outra vez e olho lá fora. Vejo sua
imagem com o celular fazendo brilho em seus dedos. Como se soubesse que
está sendo observado, sua cabeça se ergue e olha em minha direção. Ele
abaixa seu rosto outra vez e, no mesmo momento que ergue a cabeça, meu
celular apita.
“Desça, senão eu subo.”
Solto o ar e aperto meus dedos ao lado do corpo. Saio da janela, vou
até o quarto das crianças e pego um casaco. Balanço os ombros da minha
prima de quinze anos.
— Rana... Rana... — Ela me olha sonolenta, coçando seu rosto.
— Quem morreu?
— Ninguém, garota. Tenho que ir lá embaixo, leva Lola no banheiro se
ela acordar, ok?
— Por quê? A mãe não chegou do bar ainda? — Sua cabeça se vira na
direção do quarto da mãe, olhando preocupada.
— Sim, ela já chegou, está dormindo. — Aperto meus dedos no
casaco, olhando nervosa para meus irmãos. — Tem alguém querendo falar
comigo — sussurro, voltando meu olhar para ela.
Rana já joga seu corpo para fora, e corre, nas pontas do pé, para o
corredor. Vou atrás dela, a vejo esticada olhando para fora.
— Fez alguma dívida com algum traficante? — Ela vira seus olhos na
mesma hora para mim. — Olha aquele carro!
— Sai daí, Rana! — Puxo seus braços, a tirando de perto da janela. —
Não é nada de traficante, é um amigo dos meus patrões que quer falar
comigo.
Vejo seus olhos ficarem mais abertos. Ela, toda elétrica, tampa a boca
em choque.
— O molhador de calcinha, que esteve aqui em casa esses dias... —
Tampo sua boca assim que sua voz sai alta, virando meu rosto para o
corredor.
Não devia ter contado para ela que ele veio aqui, nem o apelido que
tinha lhe dado. Volto meu olhar para os seus, que brilham em deboche, e levo
meus dedos à frente da boca, pedindo silêncio.
— Eu não vou demorar...
— Quem fez xixi na calcinha? — Nós duas nos viramos na mesma
hora para uma Lola sonolenta, que arrasta seu urso. Dou um cutucão em
Rana, por ela ter uma boca grande.
— Ninguém, amor. Volta para a cama, está bem? — Beijo sua
cabeça, vendo-a caminhar com preguiça para o quarto. — Eu já volto. —
Olho Rana, que me observa em choque.
— Você vai assim?
— Assim como? — Minha atenção vai para meu casaco, que ganhei
de uma ex-patroa, com minhas calças de flanela do pijama, cheia de Piu-Piu
e Frajola.
— Como uma mendiga? — Minha mão se ergue, dando uma tapa leve
em sua testa.
— Está frio, quem está vindo a essa hora é ele, eu estou dentro de
casa. Não vou demorar, vou apenas ver o que ele quer e já subo.
Com pouca coragem e muita curiosidade, caminho, indo para a porta,
mas ela corre em minha direção e pega um chiclete que tinha lhe comprado,
que estava em cima da mesa, dando para mim. Olho para ela, revirando meus
olhos.
— Deus, Rana, só vou conversar com ele! — Ela apenas balança seus
ombros, erguendo seus braços.
— Melhor ter o chiclete. Quer descer lá e saber que está com bafo? —
Cerro meus dentes, erguendo a mão na direção do quarto.
— Vá se deitar, Alice! — Ela revira os olhos quando a chamo pelo
nome da personagem do País das Maravilhas. Rana é uma adolescente como
qualquer outra e amo ela por isso. Às vezes eu queria poder viver sonhando
como ela.
Assim que a vejo sumir pelo corredor, puxo minha pantufa, saio do
apartamento e fecho a porta atrás de mim. Meus dedos vão à frente da minha
boca e solto uma baforada. Não estou com bafo, já tinha escovado meus
dentes, mas a pirralha me fez ficar com aquilo na cabeça e, antes de terminar
de descer as escadas, já estou com o chiclete na minha boca.
Ainda caminho em sua direção, não entendendo o que ele está
fazendo aqui. Vejo o grande homem sair da Ferrari, deixando suas longas
pernas se esticarem do lado de fora com suas calças pretas. Usa um blazer
vermelho, que destaca a camisa da mesma cor da calça, que moldam seu
corpo como se tivessem feito a roupa diretamente nele. Ele arruma a manga
do terno, erguendo a cabeça para mim. Quero entender qual o nível de
egocentrismo para um indivíduo estar de madrugada na casa de alguém
usando óculos escuros. O vejo mover sua cabeça e olhar para minha roupa.
Ele deixa um estranho sorriso estampar sua face, quase como se fosse
um grande predador, tombando sua cabeça para o lado.
— Eu acho que vi um gatinho. — Sua voz sai de uma forma
peculiarmente cínica, me provocando.
— Por que o senhor está aqui? — Paro a uma distância que acho ser
razoavelmente segura para se ter entre nós dois.
Não sei se ele está com raiva, talvez tivesse voltado apenas para me
xingar por ter lhe dito aquelas coisas.
— Por que não entra no carro? Está frio aqui fora.
— Estou agasalhada, senhor. Daqui onde estou, escuto bem. — Ele
sorri mais ainda, retirando seus óculos, me deixando ver seus olhos, que me
puxam com uma maldita força.
— Venha, entra no carro. — A voz baixa dele não deixa despercebido
o tom autoritário. Meus pés batem em nervosismo no chão, deixando meus
braços se apertarem mais em volta do meu corpo. — Entra, Luna.
Me vejo me movendo, como se meu corpo estivesse se dobrando à
sua ordem, mesmo eu me xingando por dentro.
O carro com estofado de couro caramelo é quase novo, de tão brilhoso
que está. Ainda penso se realmente devo entrar quando ele abre a porta do
carona, mas, antes de recusar, seus dedos já estão espalmados em minhas
costas, me empurrando para dentro.
Sento-me com meu corpo rígido, o vendo dar a volta, e já sei que
amanhã o prédio inteiro irá ter fofoca para falar. Ele entra no carro, deixando
seu grande corpo se esparramar, como se fosse uma peça do carro importado,
fechando a porta ao seu lado.
Arrumo meu traseiro no acento do carro, virando e o olhando,
esperando o que ele irá dizer, mas ele apenas liga o carro e arranca dali.
— Deus... Não. — Olho meu apartamento ficar para trás e a
velocidade do carro aumentar, junto com o sonoro ronco. — Disse que
iríamos conversar...
— E iremos, Mikpό. — Seu rosto se vira para mim, com uma maldita
autoridade, me silenciando quando um sorriso no canto dos seus lábios
aparece. — Com emoção ou sem?
— O quê? — Olho para ele sem entender. Seus dedos vão ao som do
carro. Logo a composição alta de The Weeknd - Blinding Lights estoura pelos
alto-falantes. — Oh, meu Deus!
Meu corpo se vira, puxando o cinto, quando ele acelera mais ainda o
carro pelas ruas vazias e solitárias da cidade. Meus dedos se prendem ao
painel, apertando-o com puro pavor. Ele se vira para mim, sorrindo e dando
uma pequena piscada.
— Relaxa, Mikpó. — Eu não compreendo essa palavra que ele usa tão
intimamente para se dirigir a mim. Estou em pura adrenalina com a
velocidade em que ele conduz o carro.
E é com as pernas mais gelatinosas que me vejo saindo do carro,
assim que ele para o mais rápido que pode. Meu coração bate acelerado, com
meus dedos indo aos meus joelhos molengas, tentando estabilizar minha
coordenação motora.
— Você é louco... — sussurro, respirando rápido. Olho seus sapatos
quando ele para à minha frente. Meus olhos se erguem, acompanhando a
calça social negra, me perdendo na imensidão do corpo ambulante. O blazer
vermelho, que destaca mais ainda ele. Nunca tinha percebido que um homem
com um blazer vermelho poderia ser tão lindo.
Ele me olha como se ainda estivesse analisando minha frase,
esticando seus dedos e tocando minha face com as pontas.
— Talvez esteja! — Me endireito, arrumando minha postura e
olhando agora com calma para ver onde estamos.
Olho o grande restaurante de luxo que tem no centro da cidade,
balançando minha cabeça em negativo.
— Eu... Eu não vou entrar aí, senhor. — Dou dois passos para trás,
mas suas grandes mãos já têm meus braços em volta delas e me puxam junto
com ele.
— Vamos, ainda não fiz minha ceia. Vai gostar do camarão daqui.
Eles fazem espetáculos com a comida.
Ele fala como se não tivesse acabado de lhe falar que não quero
entrar. Estou usando um pijama do Piu-Piu e uma pantufa velha de pelúcia.
No meu normal já seria barrada, imagina agora, no auge da minha versão
mendiga, como minha irmã se referiu.
— Senhor... Senhor... — As portas são abertas antes mesmo dele se
aproximar e me calo olhando para tudo lá dentro. — O quê?
O grande restaurante, o mais luxuoso e badalado de Chicago,
frequentado pela nata da nata dos ricaços, está completamente vazio, tirando
o maître[43] que está na porta.
— Senhor Lycaios — o rapaz o cumprimenta e curva seu corpo para
mim.
Assim que entramos, ele nos leva até o centro do lugar, onde a mesa
exposta está pronta. O rapaz para atrás de mim, me olhando como se
esperasse por algo.
— Senhorita. — Ele ergue suas mãos, me assustando, e dou dois
passos para trás. Senhor Lycaios é uma parede quente, com respiração baixa,
que está na minha retaguarda. Deixa suas mãos em meus ombros e ergo
minha cabeça, encostando em seu peito. Ele realmente é grande de todos os
ângulos. Posso ver seu queixo de forma quadrada, tão perfeito, destacando
mais ainda seus dentes brancos quando ele dá um baixo sorriso. A maldita
piscada com seus olhos intensos manda uma mensagem direta para meu
corpo, que se arrepia, ficando ligado.
— Ele quer seu casaco, Μikpó. — Acho que, se não estivesse tão
concentrada na forma como sua boca fala essa palavra, teria percebido ele
deslizar o casaco velho pelo meu corpo.
— O quê? — Tento sair dali, mas ele é mais rápido, retirando o
casaco de vez.
O rosto do rapaz à minha frente fica vermelho na mesma hora quando
olha para mim, cruzo meus braços sobre meus peitos, em choque por não
acreditar que estou pagando um mico gratuitamente. Ele move seu olhar para
o chão na mesma hora e me viro, olhando para o grande homem, em
desespero.
— Meu casaco, devolve o casaco... — Seus olhos vão para a parte de
cima do meu pijama de regata, colado ao meu peito, que sobe e desce com
minha respiração acelerada, quase os saltando para fora. Não sei o que é pior,
estar aqui ou o meu corpo traidor que fica excitado de olhar para ele.
O vejo apertar sua mandíbula com um brilho no olhar, como se
soubesse que os bicos dos meus seios estão eretos. Tento puxar meu casaco
das suas mãos, mas ele vai para trás, segurando meu pulso, e aumenta mais
um pouco seu sorriso ao constatar meus seios soltos, só com a merda da
camiseta do pijama com as letras gritantes estampadas em cima deles: “Eu
acho que vi um gatinho”. Sua sobrancelha se arqueia, erguendo seus olhos
para trás de mim, com sua face como gelo puro.
— Peça para Mía trazer as bebidas, por favor. — O rapaz sai na
mesma hora, ainda olhando para o chão, e quase me sinto repelida a fazer o
mesmo com a intensidade do olhar implacável do senhor Lycaios.
Ele se move, deixando meu casaco longe de mim e caminhando para
uma cadeira. A puxa lentamente, apontando para ela. Me movo, me sentando
como se realmente tivesse visto um grande gato. Seus passos felinos o levam
até a outra ponta, onde se senta à minha frente. Solta o botão do seu blazer,
voltando seus olhos na direção dos meus seios e a porcaria ainda continua
ereta como dois faróis em sua direção, me fazendo querer bater minha cabeça
na mesa até desmaiar de vergonha.
— Por favor, poderia não olhar? Isso já é bem constrangedor sem
você ter que ficar os encarando. — Encolho meus ombros, como se pudesse
esconder meu corpo embaixo da mesa.
Seus dedos batem lentamente sobre a mesa, tamborilando em um
ritmo calmo. Seus olhos se prendem em meu rosto, ficando lá por um tempo,
me fazendo sentir meu rosto queimar com a forma dominante que ele tem.
— Boa noite, senhor. — A mulher, que entra segurando uma garrafa
de champanhe, sorri mais abertamente para ele, enchendo sua taça. Seu rosto
ainda está com seus olhos cravados em mim, então nem retribui o sorriso da
mulher. Quando ela vem para meu lado, levo meus dedos para cima da taça,
balançando minha cabeça.
— Eu não bebo, obrigada. — Ela me olha como se eu tivesse feito
algo ruim.
— Traga suco para ela, Mía!
A voz grossa na outra ponta a faz quebrar seu olhar dos meus,
curvando seu corpo para ele e se retirando lentamente. O silêncio que fica é
tão massacrante que não compreendo por que a menina me olhou daquela
forma. Era como se estivesse rasgando algum prêmio de loteria.
— Como está sua mãe? — Meu corpo se afunda mais na cadeira,
erguendo minha cabeça para ele.
— Ela está bem... Sempre fica bem. — Meus dedos se apertam por
baixo da mesa, me sinto estranha por estar aqui dentro desse lugar. —
Obrigada por aquela noite, senhor.
Vejo seu peito se estufando e ele soltar a respiração com seus dedos
se apertando sobre a mesa. Ainda mastigo a merda de chiclete como se fosse
a coisa mais interessante que tenho para fazer, mesmo não tendo mais gosto
nele.
— Seu suco, senhorita.
— Obrigada...
Ela se afasta, olhando para ele e sorrindo outra vez, segurando a
bandeja.
— O chef já está preparando seu pedido, senhor.
Sua cabeça apenas se move lentamente, erguendo seus dedos para ela
em um sinal de dispensa. Ainda pego o olhar dela para mim e posso jurar que
vejo sua boca sussurrando “sem graça”. Olho para ela, vendo-a sumir entre
as portas duplas. Ao voltar minha atenção para ele, sou surpreendida pela
grande mão aberta a poucos centímetros do meu rosto. Ele tem seus olhos
concentrados em minha boca, que se move, mastigando a goma.
— Me dê! — Semicerro meus olhos, ainda não acreditando que ele
está agindo como um professor autoritário que pega a aluna no flagra.
— Por quê? — Quase em resposta automática do meu corpo, minha
boca se abre, soltando uma bola estralada, que faz um grande som no
restaurante silencioso.
— Entregue a goma, Μikpó. — Ele balança sua mão, me fazendo
sorrir com a forma como ele está ficando agitado.
— O que significa essa palavra? Não é a primeira vez que me chama
assim. — Sei que estou brincando com fogo. Quando a segunda bola estoura,
o vejo ficar com sua face fechada, apertando sua mandíbula.
— É grega. — Sua voz sai como um rosnado, voltando a balançar sua
mão.
— Eu desconfiava que fosse, mas qual o significado dela?
— A goma — ele rosna mais baixo, quase posso ver a agonia em seu
olhar. — Ou vou abrir sua boca e tirar ela daí. A escolha será sua, Mikpó.
Pelo seu tom de voz, sei que ele não está brincando. Sua mão se estica
mais, tocando a ponta dos seus dedos em meu queixo. Minha boca se abre
lentamente, empurrando com a língua a goma para fora, deixando cair na
palma da mão dele. Seu rosto relaxa, sorrindo em vitória ao tirar sua mão de
perto de mim. O vejo jogar a goma de mascar dentro da sua taça com o
champanhe, se afundando ao fim da taça.
— Mikpó é o que você é. — Ele leva a taça à sua boca, bebendo
lentamente, com seus olhos presos aos meus. — Uma pequena teimosa.
Sorrio falso para ele, em ironia, encostando meu corpo no estofado da
cadeira, olhando para o lugar.
— Por que me trouxe aqui, senhor? E por que esse lugar está tão
vazio?
O som dos seus dedos tamborilando na mesa me faz ficar mais
angustiada, voltando minha atenção para ele.
— Minha suposição é de que não viria se ele estivesse cheio — ele
responde sereno, levando a bebida aos lábios. — Então pedi exclusividade.
Ainda estou digerindo suas palavras quando a tal Mía chega com dois
pratos, arrumando-os sobre a mesa. Ela deixa o meu à minha frente e fico em
silêncio, olhando para aquilo. A comida gourmet está arrumada
delicadamente, exposta sobre o prato branco, parecendo que foi feita para
uma tela de exposição de um artista. O peixe assado na brasa com molho
requintado de camarão, o qual nem em sonho eu saberia o gosto, está exposto
à minha frente. Entendo o que ele fez.
— Não vai comer? — O vejo levar uma garfada à boca, mastigando
lentamente, olhando para mim.
— Você fechou o restaurante — sussurro para mim mesma, mais
como uma sentença do que uma pergunta.
— Pedi exclusividade, é diferente. — Seus dedos vão à taça, bebendo
o líquido, e ele olha para mim.
— Mas por que fez isso? Por que quis me trazer aqui?
— Não queria passar minha ceia sozinho, a propósito, Feliz Natal. —
Ele é de uma frieza insuportavelmente cínica, olhando para seu prato como se
o fato dele ter fechado o restaurante inteiro apenas para nós dois não fosse
extravagante, mais que anormal.
Sinto como se meu coração estivesse me alertando antes mesmo dele
abrir a boca egocêntrica outra vez. Algo está errado.
— Por que me trouxe aqui, senhor? — Me sinto agitada, bato meus
pés no chão, ansiosa. — Contou para dona Zelda, foi isso? Por isso quis me
trazer aqui? Ela vai me mandar embora, não é? Não quis nem falar comigo.
— Você faz muitas perguntas, Mikpó. — Ele solta seu talher, pegando
um guardanapo e levando-o aos lábios. — Coma.
— Não, não quero comer. — Olho em desespero para ele. — E, por
favor, pare de ficar me chamando assim, não somos íntimos para me dar um
apelido. E não pode ficar me dando ordens como se fosse meu senhor.
Seu rosto se contrai, cerrando seus dentes, e ele olha para mim. Vejo
um pequeno lampejo passar rápido por seus olhos, antes de escurecer por
completo suas íris verdes.
— Contou para ela que dancei para você? Deus, eu não fiz aquilo
porque era puta, eu precisava daquela grana, minha mãe fez uma dívida que
precisava ser paga...
— O que ofereceram para o agiota foi mais que dinheiro, Luna. —
Ele move sua boca, lenta, parando a taça próximo aos seus lábios, desviando
seus olhos dos meus.
— Como? — Estou confusa. Como ele sabe do agiota?
— O dinheiro era um bônus, o pagamento principal do débito era
você. — Minha cabeça balança lentamente, sinto meu ar faltando. É mentira.
Como ele sabe dessas coisas?
— Não. Era o dinheiro, apenas a grana... Não era eu... — Meus dedos
se esmagam com mais força, sinto meu rosto ardendo. É mentira. Por que ele
está contando essas mentiras?
— Qual era o trato, Luna? Me diga. Quando ele foi a sua casa lhe
cobrar... Era você levar o dinheiro pessoalmente, sozinha?
— Como sabe disso? — Sinto meu coração quase saltando a cada
batida, é como se o senhor Lycaios estivesse lá com o agiota em minha porta.
— Ratos abrem a boca quando esmagamos suas cabeças, Luna. — Ele
cerra seus dentes, apertando seus dedos em punho. — Você era o verdadeiro
pagamento.
Minha cabeça se nega a acreditar naquilo, balanço-a em negativo.
Olho perdida para os meus dedos, sentindo dor. A agonia vai me dilacerando,
meus braços se apertam em volta do meu corpo, como se pudessem me
segurar. Não é verdade, isso não pode ser verdade. Acreditar nisso seria o
mesmo que acreditar que ela tinha me barganhado a troco de sustentar seu
vício.
— Não... Não... Ela não fez isso... — Balanço mais forte meu corpo, o
apertando com dor. Ergo meus olhos para ele, que me observa em silêncio.
— Ela não fez isso... Ela...
— Ela lhe vendeu. Ela lhe deu como pagamento pela dívida que tinha
com o agiota. Essa é a verdade, Luna.
Sinto como se uma faca entrasse dentro de mim, me rasgando
lentamente, abrindo um grande buraco em meu coração a cada batida, o
fazendo sangrar mais. Minha mãe tinha me usado como moeda de troca.
Meus dedos trêmulos se erguem, apertando meu rosto, querendo rasgar cada
maldito pedaço de pele. Quero apenas que essa dor pare, que ele me diga que
é mentira, mesmo eu já sabendo que é verdade. Eu tinha perdido meu irmão
por causa do maldito vício, ela não se importou, o que seria para ela me
deixar como barganha para continuar bebendo, enquanto as crianças passam
fome e frio? Meus olhos se erguem para as íris verdes que me encaram do
outro lado, tão brilhantes. Me lembro agora do segurança do agiota
machucado, me enxotando para fora.
A ficha do patrão emplumado é mais longa do que a do agiota que
sua mãe está devendo. A única diferença entre eles é o terno caro no corpo.
Me recordo da voz de Zack sussurrando aquilo em meu ouvido,
enquanto estava naquele elevador, martelando minha cabeça como uma
bomba que caía no meu colo.
— Foi você. Por isso eles não quiseram a grana. — É como olhar um
tanque blindado à minha frente. Não estou perguntando, mas, ao fim, seu
olhar me dá a resposta.
Meus olhos se enchem mais ainda de lágrimas, balanço a cabeça. Esse
homem estar na minha porta de madrugada... é tudo uma armadilha na qual
ele tinha me prendido. Meu corpo se move rápido da cadeira, a jogando para
trás quando me levanto. Olho-o agoniada, me sentindo sufocada, suja com
tudo que tinha feito, incluindo minha mãe que me apunhalara por trás.
— O que você fez? O que fez? — Meu corpo treme junto à minha
boca, sinto minhas vistas sendo nubladas pelo choro que me queima.
— Eu lhe comprei... Paguei o preço da dívida e o seu.
— Oh, meu Deus... — Meus dedos se erguem, indo para trás da
minha cabeça. O ar entra em meus pulmões, queimando a cada inalação, e a
desolação vai me tomando.
— Eu comprei você de volta e deixei um aviso para ele não se
aproximar de vocês. — Seu corpo se levanta, me assustando. Dou dois passos
para trás.
— Você fica aí... Eu... Eu... — Choro por raiva, por medo, por querer
falar e as palavras se trancarem, me deixando gaga, aumentando mais ainda o
choro, frustrada.
— Mikpó.
— Não... Não me chama assim, eu não sou nada sua, não sou merda
nenhuma, senhor. — Me sinto exposta, me sinto traída e suja, como se não
tivesse valor algum. — Não sou porcaria alguma, não sou mercadoria para
ser comprada e muito menos uma maldita baby-doll[44], uma sugar baby ou
qualquer merda que ache que sou. EU NÃO SOU A PORRA DE UMA
MERCADORIA!!!
Meus passos já me levam para fora do lugar, sinto meu corpo todo
desabando de dentro para fora. Sacrifiquei minha vida, juntei cada centavo
que ganhei, levando para dentro de casa. Me sujeitei a fazer aquela merda de
dança para poder pagar uma porcaria de dívida que não era minha, apenas
para descobrir que eu era o pagamento. Meus dedos abrem a porta, recebendo
o vento gelado em minha face e apenas me movo. É como se fosse morrer se
ficasse parada. Olho entre o choro o estacionamento solitário, tanto quanto eu
e, antes do quinto passo, meus joelhos já estão se dobrando, caindo ao chão.
O grito de dor que sai da minha boca é tão dilacerante quanto a dor que me
consome, me engolindo em toda aquela sujeira. As mentiras... Ela sabia que
eles estavam nos cobrando, ela os via indo à nossa porta e nunca me contou,
nunca disse que tinha me vendido por uma maldita garrafa de bebida. É isso
que sou, é esse o valor da minha vida, da minha dignidade? Uma maldita
dose de bebida a mais para ela foder com todos nós. Meus braços circulam
minha cintura, me abraçando forte, tão apertado, como se fosse alguém ali
para me sustentar. Estou desabando, caindo entre o esgoto da minha vida, e
não tenho nada além de mim mesma para me segurar. Solto dezenove anos de
choro que se prendiam dentro de mim, por cada dor que tinha passado. Quero
arrancar de mim, quero gritar mais alto até minha garganta rasgar, desejo
estourar minha cabeça nesse maldito chão, fazendo assim anestesiar toda essa
dor que me consome, me corroendo por dentro.
Os dedos fortes que me erguem do chão me trazem para perto de si,
me prendendo ali, mesmo sob meu esperneio. Choro com tanta dor, tendo
meu corpo entrando em crise com os soluços. Minhas mãos se fecham,
deixando toda a dor sair através dos socos que desfiro em seu peito e apenas
o sinto me abraçando mais forte, me prendendo a ele. Agarro sua roupa, a
apertando, deixando por esse momento eu não me sentir tão solitária ao
desmoronar por completo à sua frente.
— Nunca estarás solo poco de nuevo, déjame cuidar de ti[45]. — A
voz baixa, tão próxima, vai entrando entre a nuvem de dor que me engole,
sussurrando em meus ouvidos com seu rosto enterrado em meus cabelos, me
aninhando em seus braços como se fosse um filhote ferido. — Mikpó, déjame
cuidar de ti[46].
Meu rosto se enterra mais ao seu corpo, escondendo minha dor em
seu peito, soluçando com tanta exaustão, me deixando ser arrastada pela voz
baixa, que vai me levando com ela, como se estivesse saindo do mar aberto e
achando um porto seguro.
CAPÍTULO 05
O pacto de Hades

Luna
O problema de fazer um pacto com o diabo é que o arrependimento
não vem na hora que você está na merda e aceita o que ele lhe oferece, mas,
sim, depois, quando ele cobra. E é exatamente assim que me sinto vendo o
intermediário do diabo parado na minha porta, sorrindo para mim, logo pela
manhã.
— Senhorita Delis. — Ele sorri, esticando seus dedos, enquanto me
encolho mais ainda, olhando para seu rosto. — Sou Devon, funcionário de
Dom Lycaios.
— Bom dia. — Ele aperta minha mão levemente, logo soltando-a. —
Quer entrar?
Dou um passo para o lado, esperando que ele passe, porém seu corpo
continua parado na entrada do apartamento.
— Preciso lhe passar algumas informações. Trouxe esses documentos
que precisam ser avaliados e precisam de certa discrição.
Olho para os papéis que ele estica para mim, soltando um baixo
suspiro e entendendo sua mensagem.
— Minha mãe foi comprar cigarro e meus irmãos estão lá embaixo,
brincando. Então temos alguns minutos sozinhos. — Me viro, caminhando
para a cozinha. Olho os papéis e os deixo sobre a mesa, me virando para ele.
— Gostaria de uma xícara de café?
— Ficaria agradecido, senhorita. — Ele entra no apartamento,
fechando a porta. É um homem estranho, de estatura baixa, com seu terno
engomado, quase me lembrando um pinguim gordinho. Pego duas xícaras do
armário, abrindo a garrafa de café e as enchendo. Deposito na mesa e lhe
aponto a cadeira.
Vejo seus olhos passarem por cada canto, que nem perdem muito
tempo em meu pequeno apartamento. Ele se volta educado, puxando a
cadeira que lhe mostrei e se senta.
— Então você é o cara que vem coletar as almas para o demônio? —
Ele se engasga com o café, olhando para mim com seus olhos brilhantes e
segurando a risada. Seus dedos passam por trás da sua orelha, como se
estivesse a tampando, rindo mais para mim.
— De fato, apropriado para essa ocasião. — Sorrio com sua voz de
deboche cochichando para mim, como se não estivéssemos apenas nós dois
ali.
Abaixando meu olhar para os papéis, vejo a grande lista interminável
que só vai aumentando.
— Deus, ele quer que eu faça o quê? Que assine aqui com o meu
sangue para ele ter mais poder ainda?
Afasto para longe de mim aqueles papéis, olhando com desgosto para
o pobre homem que me encara.
— Creio que é mais para lhe deixar a par do que tem em mente. Dom
gosta de deixar seus assuntos de interesse esclarecidos.
— Por que chama ele assim? — O vejo esboçar um pequeno sorriso,
como se estivesse pronto para explicar algo confuso a uma criança.
— Veja, senhorita Delis. Todos nós usamos as regras da cortesia
comum: “senhor” e “senhora”, que são maneiras simplesmente respeitosas de
se dirigir a qualquer pessoa. — Devon é um estranho homem, com sua
maneira formal e fala educada. — Na Odisseia, tratamos nossos senhores
formalmente como Mestre[47] ou Dom. Depende do nível de dominação dele.
— E devo deduzir que senhor Lycaios se enquadra em Dom.
— Exatamente. — Solto o ar, olhando perdida para o peculiar homem
sentado em minha cadeira velha, com sua atenção calma me observando. Não
tenho como não me sentir perdida nesse mundo ao qual Lycaios me prendeu.
— Tomei a liberdade de fazer alguns levantamentos de universidades que lhe
possam interessar e já deixei junto. Alguns compromissos já podem ser
iniciados amanhã.
— Compromissos? — O olho sem entender, puxando os papéis de
volta. O único compromisso que tenho para amanhã é dobrar e guardar toda a
roupa que lavei hoje.
— Sim, às 10h o motorista vem lhe buscar para ir ao salão. Garanto-
lhe que temos os contatos das melhores esteticistas, que ficam à disposição de
Dom Lycaios.
Seguro o riso para a preocupação dele. Eu mesma tiro minha
sobrancelha para não gastar. A única vez que entrei em um salão foi na
esquina de baixo, para fazer faxina. Olho as letras que vão dispondo cada
horário, como se fosse uma obrigação.
Salão às 10h.
Depiladora às 11h20.
Almoço no bistrô às 12h30.
Ateliê Lady Clo às 14h.
Lanche da tarde às 15h30.

E por aí desanda mais ainda minha vida em uma lista longa, onde se
vê dentista, ginecologista, pilates, academia, aula de preparação física, aula
de proteção pessoal, aula de etiqueta e todas as merdas egocêntricas que
saíram apenas de uma única cabeça.
— A hora do cochilo devo presumir que será em intervalos
secundários depois do lanchinho da tarde? — Ergo meu olhar para o homem,
que fica com suas bochechas vermelhas, rindo mais ainda.
— Acho que conseguiremos um encaixe, se for da sua escolha. — Ele
se move, puxando sua maleta e retirando uma caixa lá de dentro.
— Fico aliviada de saber que ainda tenho uma escolha. — Vejo a
caixa, que é marrom, sendo empurrada para mim, ele sorri, mostrando-a.
— Dom Lycaios lhe mandou um presente. Fica a seu critério, se
preferir outro modelo, posso trocar. — Abro a caixa, olhando o celular de
última geração, com a tela brilhando. Ele é tão fino que tenho até medo de
parti-lo por apenas pegá-lo em meus dedos.
— Diga obrigada, mas que não posso ficar. — Empurro a caixa de
volta para o pequeno homem, que apenas empurra para mim outra vez.
— Faz parte do acordo, terá que aceitar, senhorita. — Fechando sua
maleta, ele sorri. Ergue a xícara em seus dedos e toma o café.
Vejo a tela que se acende junto com uma mensagem. Se não tivesse
sentada, cairia no chão com a audácia desse filho da puta.
Sugar Daddy: Bom dia, Mikpó.
— Ele está de brincadeira! — Ergo minha cabeça para o homem que
faz de conta que não vê minha raiva.
— Preciso que me passe o horário que gostaria que o motorista venha
lhe buscar na noite da virada do ano.
Meus lábios se comprimem comigo ainda revoltada, olhando para a
mensagem com o nome que ele cadastrou na merda do celular.
— Diga ao seu papai açucarado que lhe avisei que não passaria o
Ano-Novo com ele, e sim com minha família.
Antes que o homem possa falar alguma coisa, a porta do apartamento
é aberta por minha mãe, que fica olhando-o assustada por um momento. Ela
desvia seu olhar dele para mim e ainda sinto dor ao olhar para ela, mas não
tenho estômago para lhe dizer que sei a verdade.
— Mãe, esse é o senhor Devon, ele é funcionário do amigo dos meus
patrões e está me ajudando com a faculdade.
— Bom dia, senhora. — O pequeno homem se levanta rapidamente,
estendendo o braço para ela, que olha ainda por um tempo para sua mão.
— Mãe. — Minha voz sai baixa, sabendo que ela está a um passo de
não apertar a mão do homem.
— Bom dia. — Ela estica seu braço, ainda com seus olhos presos aos
meus.
Puxo todos os papéis de cima da mesa, pegando a caixa com o
aparelho e vejo seus olhos ficando parados nela.
— O que é isso?
— Um aparelho para ajudá-la com os estudos, senhora. — Devon é
mais rápido do que eu, me dando um olhar compreensivo ao ver meu
nervosismo. — Como hoje em dia tudo é tão tecnológico, será necessário
para sua filha.
— Mas um celular?
— A bolsa lhe garante isso. Todas as necessidades da senhorita Delis
serão supridas. — Olho para Devon falando daquela forma e é quase como se
ele estivesse ditando as palavras de outra pessoa tão arrogante que conheço.
— Quem é ele? — O som das crianças entrando dentro do
apartamento me faz levantar, indo para elas, que já rodeiam o coitado do
homem, como se fosse a maior novidade.
— Olá. — Ele aumenta seu sorriso, olhando a escada que tem à sua
frente. — Devo presumir que são Will, senhorita Lola e lady Rana.
— Ele me chamou de lady. — Rana me olha com um sorriso bobo,
passando as mãos em seu rosto. Sorrio mais ainda com o lindo semblante que
ela fica.
— Você ainda é Rana melequenta... — diz meu irmão. Ela lhe soca o
braço, o fazendo morder a boca.
— Will, respeita sua irmã e, Rana, não bata nele. — Puxo os três,
sorrindo com calma para o pequeno homem que olha as crianças.
— Senhorita Delis, fico ao seu aguardo amanhã com as
documentações necessárias para a faculdade. — Ele me dá um olhar calmo de
compreensão, olhando para minha mãe, que está do outro lado da sala, me
olhando nervosa.
— Claro... Pode deixar, amanhã estarei lá — sussurro, apertando os
papéis, junto a caixa, em meus dedos. — Vão se limpar, crianças, andem.
— Nosso convite para a festa de final de ano ainda estará de pé se
mudar de ideia. — Ele pega sua maleta e se encaminha para a porta.
Solto o ar lentamente, balançando minha cabeça em negativo para ele,
o acompanhando até a porta. Ele sorri com cordialidade, sumindo no corredor
estreito.
— Por que não vai para a festa? — Rana está atrás de mim, me
encarando como se eu estivesse louca.
— Porque não! Agora vá se limpar, preciso de ajuda com o almoço,
ok? — Ela se afasta, bufando e resmungando, como toda adolescente
rabugenta, me deixando sozinha com minha mãe. Seus olhos param na caixa
em meus dedos e depois em mim.
— Por que esse homem lhe deu um celular?
— Por causa da faculdade, mãe, ele lhe explicou. — Meus dedos se
erguem, esfregando minha nuca. Meu coração dói ainda mais toda vez que a
olho nos olhos.
— Luna, essas pessoas não fazem nada de graça. — Ergo meu olhar
para o seu, com ela andando lentamente para mim, parando à minha frente.
— Eles vão querer algo em troca.
Antes de seus dedos se erguerem, dou dois passos para trás, desviando
do seu toque.
— Acho que ninguém faz nada de graça nessa vida, mãe, todos temos
um preço. — Vejo seus olhos se apertando, com ela segurando seus dedos
perto do peito.
— Luna, o que aconteceu?
Você me traiu. É isso que quero gritar, quero lhe dizer que ainda estou
com o coração sangrando com a facada que ela me deu, que provavelmente
ela devia estar tão bêbada que nem se lembra de ter usado sua filha como
moeda de troca para um filho da puta qualquer. E já sei tudo que viria logo
após jogar a verdade na sua cara: o choro quebrado, os pedidos de perdão, as
juras falsas de que nunca mais irá beber, que irá mudar, os olhos das crianças
assustadas com medo, vendo-a outra vez ser fraca... Já conheço de cor aquela
cena que sempre se repete e, toda vez que acho que ela nunca irá fazer uma
merda maior, ela sempre me surpreende, se superando. Estou cansada
demais, magoada demais, vazia demais para ser forte por ela outra vez.
Desvio meu rosto do seu, sentindo meus olhos arderem.
— Eu preciso ver uma coisa lá fora, já volto. — A porta bate atrás de
mim quando as lágrimas começam a descer pela minha face. O mais longe
que vou é a quarta escadaria, me sentando nela, olhando perdida para minhas
mãos tão calejadas, com meus pulsos cheios de cicatrizes.
O papel em meus dedos me deixa saber que tudo mudará.
— Eu serei sua puta?
Ouço o som baixo da respiração pesada, quando seu corpo se vira
para mim ao desligar o carro na frente do meu prédio.
— Esse termo está proibido para você, Luna. — Abraço minhas
pernas, deixando meu queixo descansar em meus joelhos, perdida na luz do
painel.
— Mas não é isso que uma mulher se torna a partir do momento que
um homem paga por ela? — Minha voz abafada sai entre um suspiro, com
meus olhos secos e ardendo, não contendo mais nenhuma lágrima para
chorar.
Me sinto anestesiada, tragada para dentro de tudo aquilo, deixando
apenas as consequências irem me acertando. Eu jamais conseguirei pagar o
valor da quantia que o senhor Lycaios pagou por mim. Se vendesse meus
órgãos, ainda assim ficaria em débito com ele.
— Nossa relação é baseada em um acordo, Mikpó. — Ele tem seus
olhos parados à frente, com seus dedos presos ao volante. — Como seu sugar
daddy, estarei tomando controle de tudo, Luna, de todas as decisões do seu
futuro, lhe proporcionando oportunidades, cuidando da sua saúde, sua
formação, seus sonhos e desejos. Minha prioridade é suprir cada ponto da
sua vida.
— Por que faz isso? — Estou perdida, me sentindo angustiada com
tudo que mudará em minha vida.
— Porque eu tenho dinheiro. — Seu rosto se vira para mim, com seus
olhos brilhantes me queimando como uma brasa quente. — Não paguei por
uma noite, eu paguei pelo seu destino, Mikpó.
— Mais terá um preço, não é? Tudo isso será cobrado. — Desvio
meus olhos dos seus, sentindo-me tão vazia e sem chão.
— Sim! Vou cuidar de você, da sua saúde, lhe comprarei roupas
novas, abrirei uma conta a qual terá acesso a uma quantia disponibilizada a
você, para gastar como achar necessário, pode ser com sua família ou você,
um carro, o que desejar. Estarei lhe bancando. Apenas precisa me dizer o
que deseja além do que eu achar necessário para você e terá.
— Meu irmão? — Viro meu rosto para ele, o vendo no mesmo lugar,
me encarando. Ele solta seus dedos do volante, esticando-os para mim. Os
dedos grandes e frios alisam meu rosto, levando uma mecha para trás da
minha orelha.
— Se é seu desejo, terá, Mikpó. — Solto minha perna, deixando elas
saírem do banco, esticando-as no assoalho.
— Você sabia que o juiz não iria devolver a guardar dele. — Sinto
meu peito ir sangrando mais a cada palavra. — Mesmo com a ajuda da dona
Zelda, o novo serviço, trocando de casa, ainda assim ele pode recusar.
— Sim! Bruce me deixou por dentro. O alcoolismo da sua mãe vai lhe
impedir isso. — Devo odiar ele pela forma tão dura e crua como fala, mas a
verdade é que, de alguma forma, Sedrico tem sido a única coisa verdadeira
que entrou na minha vida, sem rodeios ou mentiras. É a mais pura e crua
verdade, sendo ela amarga ou não.
— Vai poder me ajudar?
— Se você aceitar, vou — ele responde rápido, sem me deixar
quebrar o contato com seus olhos.
— E qual vai ser seu preço, senhor? — Seu peito arfa lentamente,
estufando-o mais para frente. Ele volta seus dedos para o volante. Vejo seus
nervos se apertando em volta deles.
— Sua companhia, Mikpó. — O som da sua voz é tão dominante
quanto seu olhar, me sugando mais ainda para ele. — Nossa relação será
baseada em meu controle total, com todas as decisões do que é melhor para
você. Terei conhecimento de cada passo seu, não pode deixar de me atender
toda vez que te ligar. Sempre que desejar lhe ver, terá que ir. Não será uma
puta, uma sugar baby é mais do que isso, ela é obediente e deve respeito ao
seu sugar daddy.
— Eu nunca vou te chamar por esse nome. — Ouço o som da sua
risada forte se espalhar pelo carro, com ele me olhando em divertimento.
Meus olhos se apertam, soltando o cinto de segurança. Levo meus
dedos à porta do carro.
— Meus irmãos! — Paro meu movimento, virando meu rosto para ele.
— Eles vêm acima de qualquer pessoa na minha vida, senhor. Se um deles
precisar de mim, se eu estiver fazendo algo com eles, não os renuncio.
Ele balança a cabeça em positivo, erguendo seus dedos outra vez
para meu rosto. Sinto o poder que emana dele com o pequeno toque. Estou
presa na grande armadilha que o esperto leão me deixou. Sei que, sem ele,
Cadu nunca voltará para casa. Passei tanto tempo sendo forte o tempo todo,
segurando tudo em meus ombros, apenas desejando fechar meus olhos para
nunca mais acordar. Não compreendo ainda o porquê, por que eu, o que ele
vê que eu não vejo? O que poderia o levar a querer ter uma relação
distorcida com uma pessoa tão fodida quanto eu?
— Não disse sobre os outros termos, senhor. — Sinto meu rosto
queimando em vergonha. Movo meus dedos entre eu e ele, sem coragem para
lhe dizer as palavras, mas sei que isso estará no acordo.
— Quero sua companhia, Luna, esses são os termos. Apenas uma
regra! — Espalma sua grande mão em meu rosto com mais força, com suas
íris dilatadas. — Não divido nada que tomo como meu. — Seus dentes se
cerram, deixando apenas o vislumbre do verdadeiro homem que se esconde
por trás de todos seus egocentrismos. — Independente se te quero apenas
para conversar ou passar o tempo em silêncio. Temos um acordo, Mikpó?
— Não é como se tivesse muita escolha, senhor — sussurro baixo,
abrindo a porta do carro.
— Gostaria que passasse a entrada do ano comigo. — Olho-o por
alguns segundos, perdendo minha respiração.
— Isso é um pedido ou uma ordem do homem que me comprou? —
Vejo-o esmagando seus lábios, balançando a cabeça em negativo.
— É um convite, Mikpó.
— Obrigada pelo convite, senhor Lycaios, mas o recuso. Sempre
passo as festas com meus irmãos.
Não fico, não consigo mais estar aqui, preciso me afastar da
intensidade que tem em seu olhar e descobrir como será de agora em diante.
E, antes mesmo de atravessar a rua, eu sei que não tem como voltar atrás...

Esfrego meu rosto, limpando as lágrimas. Abro a caixa lentamente,


olhando o celular. A mensagem aberta ainda brilha.
— O que você foi fazer, Luna? — sussurro para mim, tão perdida e
sem a mínima ideia de como sairei disso.

Sedrico

— Ela tem humor, senhor. — Ouço a voz de Devon pela escuta em


minha orelha. Sorrio ainda ouvindo sua voz brava me usando como seu
demônio particular.
Meus braços se contraem, abaixo a barra de ferro e a prendo ao
suporte. Meu corpo suado se senta e pego a toalha em minha perna para secar
meu rosto.
— Como ela estava? — Me levanto, atravessando a academia. Abro o
frigobar e puxo a garrafa de água gelada, sinto o líquido entrando em minha
garganta, como combustível aliviando a adrenalina que me corre.
— Estava de calça jeans... — Reviro meus olhos, retirando a garrafa
da minha boca.
— Digo a fisionomia do rosto dela, Devon. — Já aperto o botão da
esteira, movendo minhas pernas, enquanto acelero o passo dela, ao correr
junto.
— Abatida, senhor. — Sinto o leve fisgar que me pega. Ainda vejo
seus olhos tristes entre o choro, quando levantei sua face para mim naquele
estacionamento.
Sinto meu oxigênio ser solto rápido, com cada músculo do meu corpo
queimando, liberando endorfina, ao aumento da corrida. Seu cheiro, que
ainda parece estar colado ao meu corpo, me faz fechar meus olhos. A vejo à
minha frente.
— Descreva. — Solto meus ombros, tentando tirar a tensão que tenho
sobre eles. Sei que mandar Devon foi a melhor escolha. Quando se trabalha
com seres humanos, ter alguém especializado em linguagem corporal é saber
que chegarei ao pote de ouro ao final do arco-íris. Luna não seria diferente.
Ainda posso ouvir sua voz conversando com Devon, a qual me faz ficar
agitado por imaginar como ela estava.
— Melancólica de uma forma quase depressiva. Caminhar lento, com
ombros abaixados, seus olhos estavam caídos, perdidos, como se sua mente
estivesse vagando longe. Quando a mãe entrou no recinto, ela ficou mais
fechada, encolhendo os ombros com medo. — Ele solta o ar lentamente. —
Posso dizer que ela tenta esconder sua dor através do sarcasmo, refreando o
que está lhe machucando por dentro.
Eu sabia, ela faz isso quando está se sentindo encurralada ou
assustada. Não conversou com a mãe, provavelmente optou por omitir o que
está sabendo.
— A carga emocional dela está por um fio, seus lábios se estreitam
quando ela os trava, para poder deter os leves tremores. Deixa seus dedos
escondidos sempre ao colo, para poder os apertar, lhe dando a sensação
falsa de apoio.
Eu tinha feito uma avaliação dela. Luna está no auge do seu
esgotamento. Ela desmoronou feito um castelo de cartas e nunca me vi sendo
tão puxado para o abismo como fui pelas suas esferas negras, brilhantes pelas
lágrimas. A dor estranha que bate lá me consome, como se estivesse
partilhando junto à minha. Não compreendo ainda por que me sinto tão
afetado com tudo que é ligado a ela.
— Sua estrutura são as crianças. É o que a mantém ainda sobre um
fio. — Meu corpo vai correndo mais, como se pudesse fazer todos esses
malditos pensamentos pararem. Concentro-me na voz baixa de Devon.
— Defina, por favor.
— Garotas da idade dela, com infância conturbada e criadas sem
uma presença paterna, costumam ser carentes, com alta porcentagem de
auto-ódio e distorção da própria imagem. Buscam nos parceiros mais velhos
uma imagem paterna que lhe acolha e dê a sensação de proteção. Essa busca
começa entre a puberdade até a idade adulta em algumas... — Meus dedos
passam pelo meu rosto, voltando a esmagar o maldito apoio da esteira aos
meus dedos. Luna poderia ter sido assim, buscando em cada escroto de merda
um porto, e eles se aproveitariam da fragilidade dela.
— Acha que ela se sente atraída por alguém?
— Ela se trancou. Esse tipo de comportamento deve ter aparecido
entre os dezessete ou dezoito anos. Alguma imagem masculina que chamou
sua atenção. — Meus olhos se apertam, pensando em algum homem que
teria se aproveitado desse momento dela.
— O filha da puta que estava aliciando-a? — Queria que o pescoço
dele fosse a maldita proteção de ferro da esteira que meus dedos apertam
mais forte, até ver seu maldito rosto estourando seus olhos para fora, sem
vida.
— Creio que não, senhor. — Ela tinha parado, eu tinha dado um jeito
de checar quando fiz outro pedido exigindo a mesma garota. A voz nojenta
do escroto me disse que ela não trabalhava mais com eles. — Ela se
conforma com a vida que está levando, acho que a imagem que criou dela
mesma a faz pensar que ninguém a notaria, que não seria digna de ser
notada. A relação tóxica com a mãe a faz se empurrar mais ainda para o
fundo, brecando apenas o sentimento que deve ter sentido.
— Tauro ou Bruce? — Sinto meu corpo enrijecer. Luna é uma
menina carente, poderia ter se sentido repelida a nutrir sentimentos pelos
dois, já que os dois homens passavam segurança para Zelda. Mas o amor e
respeito que ela tem pela rabiosa[48] deles me faz descartar essa ideia na
mesma hora. Seu primeiro medo quando foi confrontada não era nem o medo
em si de Zelda saber, mas sim a vergonha que tinha ao lhe contar sobre isso,
de perder o carinho de Zelda. — Não são eles.
Chego à conclusão lógica, respondendo minha própria pergunta,
sentindo meu corpo relaxar por ter certeza de que não são os dois primos
Ozborne.
— Senhor, posso lhe fazer uma pergunta? — Devon me corta, me
tirando da minha linha de raciocínio.
— Faça.
— Há quanto tempo frequenta a casa dos Ozborne? — Minha
respiração corta a cada passo das minhas pernas, disparando sobre a esteira.
— Desde que se casaram. Acho que a primeira vez que fui lá foi
quando as crianças nasceram.
— Ela já estava lá?
— Eu não sei, acho que sim. — Me recordo de ir visitar Zelda, que,
em uma das vezes, saiu do quarto segurando um de seus filhos ao colo, rindo
para mim. Logo atrás dela, a pequena menina saiu, ninando Lotte.
— Suas pupilas dilatam mesmo quando é para se referir ao senhor
com sarcasmo, e um leve sorriso se faz ao canto da boca, que ela disfarça
com uma carranca. Naquela noite na Odisseia, ela teve ajuda da máscara a
escondendo, e como agiu foi algo oposto do que foi me falado sobre a
dançarina. — Meus dedos se soltam, passando a mão pelo meu rosto. Não
tem como não sentir certa gana em acertar cada puto que lhe viu. — Confesso
que fiquei surpreso quando a moça subiu no seu colo, sendo que o maior
destaque dela era o fato de ninguém poder lhe tocar. O senhor foi o único.
— Ela pode ter feito aquilo pela aproximação, sabia que, se estivesse
tão perto, meus olhos estariam distraídos com outras partes do seu corpo além
do rosto.
— Ou poderia estar apenas libertando algo que já reprimia há tempo
demais. Estava mascarada, sua identidade intacta. Algo lhe instigou a se
soltar.
Meus passos diluem, acompanhando a linha de raciocínio de Devon.
Lembro de olhar rapidamente para seu rosto delicado na primeira vez que a
vi, ela estava quieta, cantarolando baixinho para a menina. Sei que meu corpo
reagiu a ela. Teria que ser um filho da puta para não admitir meu distúrbio
doentio por me sentir atraído por inocência. Naquele dia, ainda fiquei em
silêncio um tempo, sendo engolido pela imensidão que tinha em suas esferas
negras, mas logo desviei, assim que Bruce deu uma pigarreada, movendo sua
cabeça na direção de Zelda, e depois para as outras visitas. Evitei ao máximo
olhar na direção dela.
— Porra! — A ficha cai feito uma bomba em meu colo, me fazendo,
pela primeira vez, me atrapalhar na maldita esteira. Pulo para trás antes de
cair, solto todo meu peso no piso, ainda olhando para a esteira correndo sem
parar. — Ela tinha acabado de completar dezoito anos quando começou a
trabalhar com Zelda. — Meus dentes se travam, esmagando meu punho,
ainda sinto meu coração batendo acelerado.
— Acho que o Dom já descobriu sua resposta.
— Droga! — rosno com raiva, desligando a esteira. Olho perdido para
fora. Se Luna está passando por uma crise de carência paternal, a última coisa
que ela precisa é de um pervertido como eu.
— Suponho que o Dom saiba que algumas ações terão quer ser
lidadas com um pouco mais de delicadeza.
— Sim... eu sei. — Retiro o grampo do meu ouvido, cortando nosso
contato.
A primeira regra do sugar daddy não é apenas bancar ou encher de
luxo, como a mentira conturbada que se cria para velhos que apreciam
garotas mais novas, lhes dando joias e viagens caras. Um verdadeiro daddy
prioriza as verdadeiras necessidades que sua baby precisa, descobrindo antes
mesmo dela, aplacando cada ponto que possa estar lhe machucando. Para ter
a lealdade dela, você tem que merecer. Não é sobre foder ou bancar, é sobre
cuidar, proteger, mesmo quando tem que proteger ela de si mesma.

— Creio que não, hoje estou resolvendo outros assuntos. — O


contador ao celular toma meu tempo, me fazendo olhar para a sala cheia de
roupas espalhadas.
Luna ainda está com a cara fechada desde a hora da depiladora, sem
olhar para mim. Passou o almoço todo mastigando com raiva, me olhando em
puro ódio, o que me fez sorrir mais ainda, com suas esferas negras de gata
raivosa. Seus cabelos, com as pontas arrumadas, brilham soltos, emoldurando
seu rosto conforme ela entra e sai desse provador. E a cada vez que a vejo,
percebo seu olhar preocupado, deixando um pequeno sorriso quando lhe dou
minha aprovação.
— Senhor. — A vendedora entra na saleta privada, com a bandeja,
estendendo duas taças de champanhe.
— Suco, por favor. — Puxo a minha taça, vendo-a sair. As outras
mulheres vão separando as pilhas de roupas, sapatos, cintos, bolsas e tudo
mais que vai ficando tão belo perto dela. Entregam tudo aos meus homens,
que levam para fora, já arrumando nas sacolas e levando ao carro.
— Podemos fechar com a diretoria do hotel de Miami, senhor. —
Balanço minha cabeça em negativo, apertando a taça em meus dedos.
— Não pagamos tão bem assim para eles fazerem um serviço de
porco... — Me calo ao olhar na direção da grande cortina de veludo bordô. O
pequeno balançar dela, deixando uma fresta, reflete a imagem do grande
espelho que tem lá dentro. — Depois nos falamos.
Desligo meu celular, o jogando no bolso. Caminho para lá a passos
lentos e pesados, sem conseguir desviar meus olhos, esperando-a se mover
outra vez para ter certeza do que vi. Seu corpo volta a passar na frente,
esticando suas pernas como se estivesse admirando em silêncio. Tenho
certeza do que vi quando miro a renda branca que sobe por sua perna.
— Quem deu uma renda para ela? — rosno baixo para a vendedora
que volta com o suco, me olhando assustada.
— Eu... Eu achei que precisaria também, eu não... — Empurro a taça
para ela, com meus dedos se apertando ao lado do meu corpo.
— Saia... — brado alto o suficiente para ela bater em retirada com seu
rosto vermelho. Viro minha face para as demais, que param o que estão
fazendo, me olhando da mesma forma que a outra vendedora.
Meu corpo se move, ficando de costas para a grande cortina,
tampando a fresta que está aberta. Movo minha cabeça para um dos meus
homens, que entra para pegar mais roupas, erguendo meu indicador para ele e
girando no ar. Ele balança sua cabeça em confirmação, caminha até as
mulheres e as auxilia a sair do local.
— Senhor. — Ele assente rápido com a cabeça, fechando a porta e me
garantindo que ninguém entrará até segunda ordem.
Solto ao ar lentamente, voltando meus passos para o sofá redondo
carmim que tem ao centro da sala. Sou um maldito masoquista por fazer isso,
mesmo assim me pego ali, olhando para as grandes cortinas, roubando os
pequenos reflexos dela diante do espelho, deslizando seus dedos por sua pele
e sentindo a renda branca que vai adornando perfeitamente seu corpo.
— Elas pararam de falar. — Ouço o som baixo da sua voz soltando
um leve suspiro.
— Sim... — Meus dedos vão à frente do meu paletó, soltando os
botões lentamente.
— Pediu exclusividade, devo presumir.
— Achei mais apropriado. — Estico meus braços por cima do encosto
do sofá, erguendo meu pé sobre meu joelho, o balançando.
— Deseja que eu saia? Ou ainda prefere ficar me admirando pelo
reflexo do espelho?
Solto um baixo pigarro, virando meu rosto para outra direção da
saleta, vendo os grandes espelhos espalhados por ela.
— Creio que não será necessário, Mikpó. — Meu rosto, no reflexo do
espelho, desmente minha voz de merda, com meus olhos brilhando como um
garotinho idiota parado na frente da loja de doces sem um puto no bolso.
— Pensava que tinha me dito que tudo era passado por sua aprovação.
— A fisgada em meu ombro me faz repuxar, sentindo meu corpo todo tenso.
Balanço minha cabeça de um lado ao outro. Bato meus dedos
inquietos sobre o estofado, ainda tendo sua voz baixa como uma merda de
um gatilho que destrava meu pau.
— Mikpó, não precisa... — Minha voz se cala, assim que meu rosto se
volta em direção às grandes cortinas.
Ela está me torturando lentamente, apenas em ter seu olhar tímido
observando o chão. Ela aperta seus dedos ao lado do corpo. Minha atenção é
fisgada para a renda, que lhe destaca com pura luxúria em um branco quase
devasso, o qual deixa minha garganta seca. O corselete com taças aos seios os
erguem mais, dando uma sensação de maciez, pela qual me pego apertando
meus dedos com mais força ao sofá. Ele desce por sua barriga, entrecortando
em rendas desenhadas sobre o pano transparente, que se cola a ela, dando a
impressão de que cada uma foi feita diretamente em seu corpo. A cinta liga
presa ao corselete brinca, na frente da calcinha, de esconde-esconde,
deixando apenas uma pequena visão dela. Meus olhos param no reflexo que
brilha atrás dela, vendo o fino fio deixando sua bunda mais empinada, sendo
aplacada pela meia fina, que traz um desenho de um laço em suas coxas. Ela
se move lenta, para frente e para trás, não tendo mais a promiscuidade que a
pequena dançarina mascarada tinha.
— Eu sempre via os desfiles da Victoria's Secret[49] com dona Zelda,
na TV dela. Nunca achei que um dia na minha vida estaria provando uma
peça assim. — Ela solta um suspiro manso, erguendo seu olhar para mim e
endireitando seu corpo. — Se incomoda se a gente não comprar esse tipo de
coisa? Eu não sei se meu corpo foi feito para elas.
Na verdade, a peça tinha sido feita para ela, destacando cada perfeição
que tem nela, desde suas coxas roliças aos seus peitos fartos. Luna é uma
perdição perfeita, de baby doll, com seu corpo de mulher, que esconde sua
inocência. Sinto meu rosto se apertar mais quando minha mandíbula trava, ao
pensar na pequena hipótese de outro vê-la assim. Ou que já lhe viu, que a
tocou de formas erradas, não sabendo nem um terço de como podia ser belo
ver seu rosto expressivo se contorcendo quando chegasse ao orgasmo.
— Por que está me olhando assim? — Seus olhos se abaixam para seu
corpo, olhando-o assustada. — Está ruim, não é? Por isso que não quero ter
que levar.
— Con cuánto hombres tienes sexo, Mikpó? — Meus dedos se
apertam mais ao estofado, vendo seu olhar confuso, sem compreender minhas
palavras rápidas em espanhol. — Com quantos homens transou?
Ela abre mais suas esferas negras, em surpresa, ficando com seu rosto
tímido e o desviando de mim.
— Uauu... Isso me pegou desprevenida. — Seus ombros encolhem e
ela bate seu pé ao chão. — Quem faz esse tipo de pergunta tão sem nexo
assim, na lata? Seria o mesmo que chegar para você do nada e perguntar com
quantas mulheres já trepou.
— Meu pau já entrou em tantas bocetas quanto pôde. O suficiente
para saber que é o lugar que mais gosto. Agora me diga, quantos paus já
entraram na sua? — Ela move sua cabeça em negativo.
— Não vou lhe responder isso. Se quer saber se sou alguma virgem, a
resposta é não, senhor. — Ela se vira, voltando para dentro do vestiário. —
Eu preciso da vendedora, ela fechou esses botões em minhas costas e eu não
consigo me livrar deles. Acho que o momento de brincar de vestir a boneca já
acabou.
Meu corpo se ergue, atravessando aquele espaço antes mesmo dela
conseguir fechar as cortinas. Seus dedos se esticam em meu peito,
espalmados, tentando me empurrar. Apenas seguro seus ombros, a virando
para o espelho. Sinto sua respiração acelerada, com suas íris negras presas ao
meu reflexo.
— Segure seus cabelos. — Ergo-os como uma cascata ao topo da sua
cabeça, fazendo-a levar seus braços para lá, emaranhando seus dedos neles.
Tento deixar meus olhos presos aos botões, fisgando o pequeno
arrepio que passa por sua pele quando lhe toco. Ergo meu olhar para o
espelho, vendo seu peito que sobe e desce acelerado, com meu corpo atrás
dela.
— Mikpó, responda minha pergunta. — Os pelos pequenos em sua
nuca eriçam, deixando a pele arrepiada, quando minha voz sai próxima ao
seu pescoço. Movo meu dedo para o próximo botão, o libertando com uma
preguiça fodida que apenas um puto como eu poderia ter, a torturando na
mesma medida que sou torturado.
— Não, senhor... — Seus olhos fecham, deixando a carnuda boca
aberta.
Sorrio com seu pequeno ato de bravura, soltando o próximo botão no
mesmo compasso vagaroso que os outros dois. Meus dedos livres brincam
com a pele exposta, que vai se arrepiando mais ainda, até o pequeno gemido
sair da sua boca. Deixo meu rosto se aproximar, soltando uma leve respiração
para acertar sua pele, que brilha junto a cada novo tremor.
— Mikpó, ainda tem trinta e sete botões presos. Sabe que vou fazer
você falar.
— Por que quer saber tanto assim, senhor?
Porque sou um doente de merda, que precisa saber quantos já tinham
a visto gozar. Meus dedos vão para o outro botão, deixo um pequeno beijo
em seu ombro.
— Responda. — Minha voz em comando sai baixa perto do seu
ouvido. Raspo meus dentes em sua orelha. Meus dedos congelam no botão,
deixando minha atenção sobre sua face, com seus olhos morosos abrindo.
Ela morde o canto da boca, deixando seus olhos felinos presos aos
meus.
— Um. — Sinto o ar entrando pelo meu pulmão a cada respiração que
inalo, sentindo seu cheiro. E um prazer doentio cresce mais ainda sobre mim.
— Quantas vezes? — Ela morde mais seus lábios, sei que ensaia
alguma coisa irritante na sua boca atrevida.
Meu rosto se vira, mordendo seu ombro e deixando meus dentes
cravarem em sua pele, ouvindo seu grito baixinho.
— Duas... Apenas duas. — Ela se contorce, tentando sair de perto de
mim. Meu braço se move rápido, prendendo sua barriga.
Minha boca apenas a solta quando sinto o prazer de ver a pequena
marca em sua pele, como uma pequena satisfação pessoal realizada. Beijo-a
sobre ela, voltando meu corpo, logo em seguida, para trás dela, libertando
essa maldita tortura de botões o mais rápido que posso. Já estou perto do fim
quando volto meu olhar para seu reflexo. Ela está brava e com sua face
fechada.
— Você gozou? — O som baixo do seu grito de fúria sai dos seus
lábios, com ela se virando e me empurrando com toda força para fora.
— Saia! — Ela fecha a cortina, enraivecida, na minha cara, ainda me
xingando lá dentro. — Você é a pessoa mais sem filtro e egocêntrica que
conheci na minha vida, senhor! E nunca vou te responder uma pergunta
dessas!
Meus braços se esticam, arrumando meu paletó e fechando os botões.
Ouço seus movimentos lá dentro, com indignação, jogando as peças ao chão.
— Tome! — ela fala brava, abrindo apenas um pedaço da cortina e
jogando as peças em meu peito. — Já que tirou as vendedoras daqui!
Deixo meu olhar pegar o reflexo do espelho, do seu corpo nu pela
fresta aberta da cortina antes dela fechá-la com raiva outra vez.
— Mikpó — a chamo baixo, segurando suas peças em meus braços.
Olho a meia fina dependurada em meu ombro.
— O que é agora? — Ela puxa a cortina, apenas deixando sua cabeça
para fora e me olha zangada. Ergo a meia, olhando para ela e voltando meus
olhos aos seus.
— Você já me respondeu. — Sorrio descaradamente com a pequena
felicidade que sinto em ver sua reação. Levo a meia fina para perto do meu
nariz, a inalando, ela abre a boca, mas fecha outra vez, apertando mais seus
dedos na cortina, com ódio.
— Seu egocêntrico de merda!
Meus olhos observam o rosto pequeno, que mastiga com gana o
pedaço de bolo. Ela deixa sua face escondida entre o emaranhado de cabelos,
levando uma garfada atrás da outra dentro da pequena boca.
— Mastigue devagar, Mikpó. — Desligo o celular, levando-o ao
bolso.
Solto o ar vagarosamente, retirando meus óculos. Levo a taça de
champanhe aos lábios, vendo-a congelar com o garfo em seus dedos, no ar.
— Estou comendo devagar. — O baixo rosnar em sua voz deixa sua
alma indômita aparecer. Morde o pedaço do bolo, forte, e quase sinto um leve
desconforto entre minhas pernas, as cruzando por instinto.
— Tanto quanto um pequeno pedreiro em seu horário de almoço. —
Solto a taça, olhando seu rosto ir se aquecendo à medida que seus olhos
semicerram. Leva o copo de chá gelado à boca. — Ainda está brava porque
lhe perguntei sobre sua experiência sexual frustrada?
O som da sua tosse aumenta, com ela olhando para os lados e
voltando seu olhar em seguida para mim.
— Achei que não iria tocar mais nesse assunto, senhor! — Seus dedos
pegam o guardanapo, limpando sua boca. Deixo meus dedos tamborilarem na
mesa. Desvio meus olhos dos seus, envergonhados. Não entendo por que ela
tem uma estranha influência sobre mim.
— Não vejo qual o problema, as pessoas conversam sobre isso. —
Observo o rosto do casal à esquerda, que fica em silêncio olhando para nós.
Arqueio as sobrancelhas, os encarando rapidamente e, imediatamente, eles
voltam a atenção para sua mesa.
— Pessoas normais não conversam sobre as experiências sexuais dos
outros, senhor.
— Então me conte como foi na depilação, por que voltou brava? —
Volto meu olhar para ela, que está com sua boca apertada, com seus dedos
sobre a mesa, esmagando o garfo. — O que foi?
— Alguma vez já fez depilação cavada, senhor? — Balanço minha
cabeça em negativo, sem entender sua pergunta. — Então nunca, nunca
vamos falar sobre isso!
Solto o ar com desgosto, batendo meus dedos na mesa.
— Mulheres são criaturas extremamente peculiares. Não quer falar
sobre seu rompante juvenil, nem sobre depilação, sobre o que quer conversar,
então?
— O que exatamente é a Odisseia? — Ela encolhe seus ombros,
olhando curiosa para mim.
— Depende do que deseja. — Meus cotovelos se fixam em cima da
mesa. Cruzo meus dedos para sustentar meu queixo, quando me movo mais à
frente, olhando atentamente para sua expressão. — Um restaurante de luxo,
para poder passar uma noite agradável. Uma pista de dança, para poder se
divertir. Ou algumas saletas especificamente criadas para suprir seus desejos.
Não julgamos, a Odisseia realiza qualquer prazer.
— Um lugar para os ricos fazerem suas putarias — ela fala com
tamanha inocência, o que me faz rir da forma perdida dela.
— Dios! Gasto milhões com um império de prazer para ser
comparado com um lugar de putaria. — Me vejo olhando-a com mais atenção
a cada sorriso novo que ela me deixa conhecer. Agora é o sorriso de lateral,
envergonhado, que deixa seus olhos quase se fechando.
— Eu não quis ofender, senhor Lycaios. — Os dedos inquietos vão à
lateral do rosto, levando suas mechas para trás. — Então, as pessoas fazem de
tudo dentro da Odisseia.
Balanço minha cabeça em negativo. Solto meus dedos, me arrumando
ao acento.
— Nem tudo. Não possuo nenhuma tolerância para alguns casos.
Trabalho com prazer, não com doentes. — Ergo a taça para o garçom,
pedindo mais champanhe. Ao retornar meus olhos para ela, ainda vejo-a
confusa. — Veja, temos desejos obscuros, os quais muitos têm vergonha de
demonstrar o que lhes dá prazer, por tabus ou preconceitos. Isso,
independentemente do que deseja, a Odisseia descobre e supre. Mas há
doenças as quais não misturamos em meu estabelecimento. Por exemplo,
praticantes de pedofilia[50], zoofilia[51] ou necrofilia[52] não entram, nem saem
vivos, caso cheguem a passar pelas minhas portas.
Ela balança sua cabeça para mim, desviando seus olhos dos meus
quando o garçom se aproxima. Ainda estou preso ao pequeno sorriso de
canto, o qual se esboça na lateral dos seus lábios. O rapaz enche minha taça,
nos deixando a sós logo em seguida.
— Tem mais alguma pergunta? — Eu sei que tem. Ela esconde seu
medo de mim. Deixa seus olhos se perderem em meus dedos, observando a
taça.
— Você bebe com muita frequência? — Ela encolhe seu corpo,
levando seus dedos para seu colo, onde, provavelmente, está os apertando e
escondendo seu nervosismo.
— Não tanto como devia, mas não bebo frequentemente, Luna. —
Ergo meu braço para o garçom, solicitando a conta. — Conversou com sua
mãe?
Sua cabeça balança em negativo e ela afunda mais seu corpo na
cadeira.
— Por quê?
— Eu não sei, talvez uma parte minha não queira acreditar que ela fez
o que fez.
— Conte-me, como era seu pai? — Ela abre um pequeno sorriso,
tombando sua cabeça em seu ombro.
— Meu pai era alegre, ele sempre estava sorrindo com suas
brincadeiras e piadas tão sem graças e antigas, mas que lhe faziam sorrir. —
Seus olhos se abaixam, ficando perdidos entre o copo pela metade. — Vocês
dois teriam se dado bem... Ele amava fazer perguntas bobas, me deixando
sem graça.
Seu rosto pequeno vai se apagando lentamente, enquanto ela vira sua
face. Assim que o garçom chega, abro a carteira, deixando a nota sobre a
mesa, junto com a caderneta. Estendo minha mão para ela.
— Vamos, Mikpó. — Seus dedos pequenos somem entre os meus.
Levanto-a e a deixo andar ao meu lado. — Ainda temos tempo para uma
última parada. Tem um lugar aqui perto que quero ir.
Seus olhos brilham observando o pequeno lago, enquanto
caminhamos devagar. Recordo-me das vezes que vim até aqui com minha
mãe, ela sempre gostava de jogar farelos para os patos. E, de alguma forma, é
como se fosse o único lugar onde consigo sentir um pouco de paz.
— Aqui é tão calmo... — ela suspira, me fazendo voltar-me para ela.
— Eu sempre passava aqui na frente de ônibus, mas nunca tinha parado.
— Gosto do silêncio que tem aqui. — Ela me olha intrigada,
mordendo o canto da boca, não dizendo o que quer falar. — Fale!
— Por que usa óculos às 18h? — Retiro minha mão do bolso da calça,
rindo com sua pergunta tão inocente.
— Devon diz que costumo intimidar as pessoas com meu olhar, isso
diminui a primeira impressão. — Seus lábios se abrem, deixando sua face
mais alegre, me fazendo prestar atenção em sua risada espontânea, a qual é a
primeira vez que ouço.
— Devon mentiu, senhor. Acho que, com ou sem óculos, qualquer
pessoa se sente intimidada com um homem de quase dois metros de altura. —
Ela chuta uma pedra, me fazendo me sentir cada vez mais protetivo sobre
cada ação dela.
— Ficou intimidada a primeira vez que me viu, Mikpó? — Seus olhos
apenas se erguem de relance, escondendo um pequeno sorriso lateral. Deixa
os cabelos caírem sobre sua face, quando se vira e se esconde de mim.
— Acho que fiquei amedrontada e em choque, nunca tinha visto olhos
tão expressivos de uma forma tão esmagadora. — Sua voz baixa sai ao vento,
com seus olhos perdidos no pôr do sol.
Meu corpo para ao seu lado, olhando o dia que nos deixa, e sabemos
que a hora dela ir está chegando. Ela abraça seu corpo, o movendo pouco a
pouco em um ritmo tão solitário.
— Foi no banco de trás de um carro velho. — Ela corta o silêncio sem
virar seu rosto para mim, ainda perdida no pôr do sol. — Nós dois éramos
apenas dois idiotas querendo saber como a coisa funcionava na teoria. Não
teve grandes emoções ou algo memorável, acho que só queria me livrar de
mais aquele fardo que tinha que carregar. — Meus dedos se apertam dentro
do bolso, formando um grande punho. Ouço seu pequeno relato, triste.
— Por que foi apenas duas vezes? — Ela solta seu corpo, tampando
sua face, vejo seus ombros balançarem. Meu corpo se enrijece na mesma
hora, em alerta, mas sou surpreendido pela pequena risada que vai
aumentando.
— Ele era horrível! — Solto o ar que tinha prendido pela agonia de
achar que ela estava chorando. Admiro sua face quando ela se vira em minha
direção, tão risonha, limpando seus olhos lacrimejados.
— Isso eu já sabia, Mikpó. — Ela passa por mim, balançando sua
cabeça em deboche.
— O senhor é insuportavelmente convencido. — Meu corpo vira,
indo atrás dela e puxando seu braço, a trazendo de volta para mim.
— O quê? Não preciso ser um profeta para saber que o rapaz deve ter
gozado antes da hora. Não me culpe por reconhecer um rosto de uma mulher
frustrada. Trabalho com desejos, Mikpó! Sei exatamente o que cada um quer.
Meu império é o prazer.
— Então, senhor sabe tudo, diga qual é o meu? — Seu corpo dá mais
um passo, parando perto de mim, me deixando me levar pelas íris mais
negras que uma noite estrelada. — Qual é meu maior desejo?
Ergo meus dedos, parando em sua face. Aliso demoradamente, vendo
o pequeno tremor quando lhe toco. Seus braços tímidos se erguem devagar,
ela fica na ponta dos pés e retira meus óculos. Abaixo minha face, me
perdendo mais em cada linha e expressão que ela me demonstra. Não tem
mais medo, raiva, nem a tristeza, é apenas a coisa mais pura que eu desejo:
sua inocência, que ela me entrega em uma bandeja. Vejo-me como Hefesto
diante de Pandora. Sua criação moldada e forjada para ele, a qual ele
desejava, mas não podia tocar.
— Desearías no estar solo otra vez, Mikpó[53]. — Ela deixa seus olhos
brilharem, negando com a cabeça.
— Não vale falar se não entendo, senhor. — Meus dedos se erguem,
apertando a ponta do seu nariz, e me afasto dela, retirando os óculos dos seus
dedos.
— Terás que fazer aula de espanhol, isso pode ser útil para os ataques
de raiva da sua patroa. — Ela ri, voltando a andar comigo. Aproveito seu
momento de distração para repuxar meu autocontrole, que escapa por meus
dedos a cada segundo perto dela.
— Acho que isso realmente vou ter que fazer, ela me disse que
preciso estar na sala de aula para poder me aperfeiçoar.
— Achou algo do seu agrado entre os panfletos de Devon?
— Ele trouxe muitos, mas li cada um. Sempre gostei de aprender com
dona Zelda. Talvez possa me arriscar em gestão empresarial, se ainda tiver a
cabeça boa.
— Você é nova, Mikpó, tem toda uma vida ainda pela frente.
— Fala como se fosse um velho. — Ela tomba seu rosto em seu
ombro. Talvez eu seja. Sou velho demais para ter sua juventude ao meu lado,
mas, ainda assim, sou doente demais para não desejar tê-la ao meu lado.
— Tenho trinta e sete anos, Luna, não sou mais um garoto. — Ela
encolhe seus braços, balançando a cabeça, enquanto olha o lago.
— Acho que nunca temos um padrão de verdade. Tenho dezenove
com uma alma de cem anos. — Sua voz se abaixa e ela vira seu corpo para
mim, com seus olhos confusos. — O senhor não me disse por quanto tempo.
— Seus dedos, à frente do seu corpo, se apertam entre eles, me deixando ver
seu nervosismo voltar.
— O quê?
— Quanto tempo costuma ficar cuidando das suas sugar baby? —
Levo os óculos ao rosto, arrumando meu terno.
— Contratos com o diabo costumam ser longos, Mikpó, não terá sua
alma por um longo tempo. — Passo por ela, voltando a caminhar e ouço seu
resmungo.
— Não acredito que Devon te contou!
CAPÍTULO 06
Anjo e Demônio

Luna

— Você não vai? — Rana olha para a grande caixa que o motorista de
Sedrico deixou na minha porta.
— Eu vou ficar com vocês! — A fecho outra vez, levando para
debaixo da cama. — Todo ano fico com vocês, esse ano não será diferente.
— Qual é, Lu? — Ela volta, caminhando atrás de mim, assim que saio
do quarto. Não vou sair de casa em pleno Ano-Novo para adoçar o ego de
Lycaios.
Já tem quatro dias que não o vejo, e isso me deixa feliz e angustiada, é
um misto de sentimentos que não sei explicar. O problema de pessoas como
ele é nunca saberem lidar com um não, ainda posso ouvir o som do motor do
seu carro saindo da frente do prédio quando lhe falei, pela terceira vez, que
não vou. Ela anda para a janela, olhando o carro preto parado do outro lado
da rua há mais de quatro horas. Vira seu rosto esperançoso para mim.
— Já é quase 23h, ainda dá tempo.
— Rana, eu não vou. — Me sento ao sofá, ligando a pequena TV.
Tento dar um ponto final nessa conversa, com a qual ela vem me enchendo
desde o momento que aquela caixa chegou.
— Lu, pelo amor de Deus! Olha aquela roupa lá dentro, eu nunca vi
algo tão lindo, e o coitado do rapaz está lá fora até agora. Se fosse eu, já
estava lá faz tempo.
Viro meu rosto para ela, com raiva, balançando minha cabeça.
Arrancaria seus cabelos antes dela entrar no clube de Sedrico.
— Com toda certeza você não iria estar lá. Vou passar o Ano-Novo
em casa, eu disse que não ia! E não vou, Rana!
Ela tenta abrir sua boca, mas ergo meu dedo, lhe calando. Tento
prestar atenção em alguma coisa que aparece na TV, mas outra vez não tem
nada de bom.
— Quer saber? Quer ficar aí sentada com essa roupa rasgada
passando todo seu Ano-Novo como sempre passa, tudo bem! A mãe está lá
dentro, apagada com as garrafas que virou. As crianças tão dormindo e eu
estou indo me deitar também. — Meu rosto se vira, olhando para ela, que está
magoada. — Me disse que nosso ano ia ser diferente, mas você vai continuar
a mesma. Sentada no sofá, comendo pipoca e engordando a bunda, em vez de
estar vestindo aquela roupa e saindo para fora desse lugar.
Vejo-a sumir pelo corredor, me deixando lá, olhando com amargura
para o pote de pipoca. Meus dedos puxam o celular do bolso do agasalho,
olhando a tela escura sem entender que o fato dele não ter me mandado uma
mensagem sequer nesses três dias está me deixando incomodada. Solto ele
outra vez, levando-o ao bolso, caminho para a janela, o carro preto ainda está
no mesmo lugar. Sinto meus braços apertados em volta do meu corpo,
deixando meu rosto encostar na janela. Eu queria poder matar aquele homem.
— Droga de boca grande, Rana!
Saio de lá entrando no quarto outra vez, retiro a caixa debaixo da cama,
cutuco as costas de Rana, virada, sabendo que ela não dormiu ainda, ninguém
dorme tão rápido assim.
— Anda, vem me ajudar, sei que não está dormindo!
Ela se vira na mesma hora, rindo para mim e pulando da cama. Pega
seu pequeno estojo de maquiagem, que eu tinha lhe dado. Caminho para fora
do quarto, voltando para a sala e deixando a caixa sobre o sofá.
— Eu só vou lá e volto assim que der meia-noite. — Viro meu rosto
para ela, quando para ao meu lado.
— Meu Deus, nem foi ainda e já está pensando na hora que vai voltar!
— Ela abre a caixa, olhando com um sorriso, e, quanto mais eu a olho, mais
eu sei que não devia sair. — Toma um banho rápido enquanto tento ver como
é isso aqui. — Seus dedos puxam a delicada sandália, que está ao canto,
olhando-a com seus olhos brilhando de alegria.
Coço minha cabeça, ainda mirando perdida aquela roupa totalmente
branca.

Eu sinto meus dedos se apertando, enquanto paro diante das grandes


portas negras que são abertas. O homem na entrada olha para mim por um
longo tempo, mirando minha roupa. Tento não me concentrar nessa coisa nas
minhas costas, que está me deixando mais desconfortável ainda com o olhar
dele. Ergo o cartão dourado que o motorista me entregou, o vendo ter sua
atenção voltada para as letras em vermelho: D.L., em relevo.
— Senhorita. — Ele se curva para mim, apontando as grandes portas.
— Bem-vinda para a noite infernal da Odisseia.
Não preciso de muito para entender o porquê do nome, assim que
passo pelas portas, vejo todo o lugar borbulhando de pessoas fantasiadas de
demônios.
— Oh, merda! O que vim fazer aqui? — Meus dedos se apertam mais
ainda ao pedaço de pano que está encaixado entre eles por um anel.
Sinto-me perdida com o vestido todo branco, de renda e apertado na
cintura, descendo até minhas coxas, com suas asas nas minhas costas. Mas
nada se compara à tiara com uma auréola de pluma na minha cabeça. Vejo os
rostos curiosos se virando para mim, enquanto ando tentando não focar em
algumas pessoas à minha volta, com seus trajes de silicone colados aos
corpos e coleiras no pescoço. A mulher que passa à minha frente para,
sorrindo, apertando a corrente em suas mãos. Sua fantasia de demônio tampa
apenas o que realmente tem que ser tampado, porque, de resto, se vê tudo e
um pouco mais. O casal do outro lado se beija livre, segurando o copo de
bebidas para o alto e seria algo muito normal se a mulher não estivesse com
algum tipo de coleira facial vermelha, um adorno de tiras de couro, que
tampa partes do rosto e se fecha com uma coleira no pescoço. Ando mais
perdida, evitando parar perto de qualquer pessoa que mostre algum brilho
gosmento muito suspeito no rosto. O grande homem gordinho que passa na
minha frente me deixa quase feliz, vestido como uma pessoa normal, mas,
antes de abrir minha boca, ele se vira, deixando eu ver que sua bunda está
toda de fora.
Sinto cada vez mais meu coração bater rápido. Ok, realmente não sou
um anjo, mas não sou um demônio como eles. Acho que sei, agora, como um
anjo fica ao ter que entrar no inferno. É ter todos os demônios lhe encarando
com a mais pura fome e curiosidade.
Olho o caminho de carpete negro, que tem uma luz piscando, e entro
por ele. Passo pelos corredores, com iluminação vermelha, vendo um
aglomerado de gente diante de uma vitrine. Ao parar perto dela, estico meu
pescoço, olhando para lá.
— Oh, meu Deus! — grito, em pânico, esfregando meus olhos. Saio
de lá na mesma hora quando vejo um homem sendo comido por uma mulher
com um consolo gigante.
Descubro que, a cada janela, há coisa pior. Meus dedos se erguem,
tampando a lateral do meu rosto, me fazendo andar mais rápido ainda e, ao
mesmo tempo que não quero olhar — Olhe para a frente, apenas... —, me
pego bisbilhotando mesmo assim, com a pequena curiosidade que vai
crescendo mais e mais.
Os quartos são despudorados, alguns completamente vazios de
mobília, tendo apenas as pessoas lá dentro, trepando em pura selvageria. Uma
mulher com um chicote aperta seus saltos nas costas de uma segunda, que
está de joelhos, lambendo o que parece leite em um pote. A dona do chicote
de couro ergue sua cabeça, me olhando pela janela e manda um beijo para
mim. Saio correndo dela.
— Eu, hein... — Viro meu rosto para a outra janela, à direita, não
percebendo nada de estranho.
O homem que está na outra sala, de costas, parece estar recebendo
sexo oral e fico aqui, como uma telespectadora, olhando para a única coisa
que parece normal naquele momento.
— OH, CARALHO! — Minha curiosidade, que sempre foi maior que
eu, olha chocada o grande homem, que se vira, erguendo uma anã no seu
colo. Algumas pessoas param ao meu lado, observando junto a coitada, que
tem sua boceta esticada o máximo possível, o recebendo alegremente.
— Que tal uma ajuda, anjinho? — Olho com desgosto para o lado,
vendo um homem que se masturba diante da cena. Ele olha para mim,
sorrindo mais ainda.
Afasto-me, batendo em retirada, com minhas pernas já correndo para
fora desse corredor pervertido. Imagino que, com toda certeza, se eu tinha
alguma expectativa de ir para o céu, Deus cancelou com sucesso por estar
nesse lugar vestida de anjo. Olho com alegria o fim do corredor, retirando
meus cabelos, que voaram no meu rosto, mas uma porta se abre à frente e
meu corpo esbarra na mulher que sai dela.
— Eu sinto muito... — Paro de falar quando ela se vira, tentando
sorrir para mim, com uma mordaça na boca, tendo uma bola presa entre os
lábios.
Meus passos vão para trás e pulo assim que sinto algo duro roçar
perto da minha bunda. O homem parado atrás de mim, com seu peito de fora,
me olha curioso, me fazendo olhar para sua calça de couro vermelha, que tem
um buraco bem grande na frente do seu pau, o deixando todo livre, como
veio ao mundo, entre uma floresta de pelos negros. Ele o esfrega entre seus
dedos, me fazendo quase me torcer para trás quando sua mão se ergue para
acariciar meu rosto.
— Está querendo brincar, anjinha?
— Eu nem tinha que estar aqui, moço! — Meu corpo se curva mais
ainda para trás, deixando sua mão longe de mim. Tento não olhar para seu
pênis feio, não que tivesse visto muitos, mas aquele com certeza estaria em
uma lista de estranhos. Ele se aproxima de mim a cada passo que dá.
A mulher me assusta assim que desliza sua mão em meu ombro,
cheirando meus cabelos.
— Olha, eu achei... Achei... — Meus dedos se batem, tentando achar
uma merda de palavra que defina esse momento, sem nada descente aparecer
no meu cérebro. Apenas continuo balançando meu braço, com minhas mãos
coladas, colocando uma distância entre nós. — Muito linda sua fantasia,
muito... — Me desvio da mulher, batendo em seus dedos quando ela tenta
descer mais, para o meu seio. Corro, colando meu corpo na parede e o
arrastando sem descolar de lá, para o lado, como se fosse uma lagartixa. —
Amei a fantasia!
Acho que já estou correndo com tanta agonia que posso sentir meu
coração quase sair pela boca, mas o som que estoura na boate, com batidas
sonoras que explodem em luzes piscando e vários corpos se esfregando um
ao outro, é como olhar um mar vermelho de pessoas fantasiadas. Meu corpo
vai sendo empurrado entre eles pelos outros que entram na pista, e não sei se
deixo a mão na frente ou atrás, tampando minha bunda. Na dúvida, deixo
uma cuidando de cada lado. Eles sorriem mais para mim, alisando meu rosto.
— Oi — sussurro, passando por eles, que vão me apertando mais, me
levando para o meio.
Minha cabeça cai para trás assim que sinto um toque lento em cima
dos meus cabelos. Meus olhos se arregalam vendo a mulher que balança em
cima de todos, sentada em um grande arco de ferro, como se fosse seu
balanço.
— Oi, dona. — Me encolho ao perceber que seu corpo está apenas
pintado de vermelho, ela está completamente nua, rindo mais ainda, enquanto
abaixa seu corpo, que vai descendo, quando seus dedos apertam um botão.
E ter um arco elevador dentro de uma boate, com uma mulher nua
pintada de vermelho como um demônio, me faz saber que existe apenas uma
pessoa no mundo que poderia ser tão egocêntrica ao ponto de fazer uma festa
de Ano-Novo assim.
Ela estica seus dedos, alisando minha face e escorregando para meu
queixo. Me afasto, dando um leve tapa em seu dedo, a fazendo me olhar mais
intrigada.
— O que você está fazendo aqui, criança?
— Estou procurando pelo senhor Lycaios. — Ela vira seu corpo,
rápido como uma acrobata, ficando dependurada por suas pernas, me olhando
de ponta-cabeça.
— Não acredito que aquele diabo trouxe um anjo para essa festa. —
Ela aperta o botão, subindo aquele treco, rindo para mim. — Fica aqui!
— Moça... Moça, fala onde é a saída... — Ergo meus dedos da mão,
ficando na ponta do pé para tentar tocar em sua mão, mas ela já está longe.
Como é horrível ser baixa!
— Fica!
Desisto, vendo-a chegar acima de todos e aquilo começar a se
movimentar, a levando para longe. Abaixo meus pés outra vez, voltando a
deixar minhas mãos protegendo minhas partes. Calvin Harris & Disciples -
How Deep Is Your Love começa a tocar mais alto ainda e todos começam a se
esfregar mais.
— Está sozinha, anjinho? — Meu rosto vira para um homem alto, que
já tem o cheiro forte de álcool e se aproxima de mim. Balanço minha cabeça
em negativo, dando um passo para trás.
— Tô não, moço! — Estou só eu e a fé de Deus, mas nunca lhe diria
isso.

Sedrico

Desligo o celular, deixando-o sobre minha mesa, e me viro para as


grandes janelas do meu escritório, arrumando minha roupa: a fantasia com
camisa vermelha e mangas pretas, dentro da calça social escura. Tenho
evitado descer o máximo que posso, mas sei que eles estão me esperando.
Meus dedos se erguem, alisando meus cabelos para trás e deixando os chifres
em minha testa à vista, que são quase perfeitos, de tão realistas que a
maquiadora profissional deixou. Puxo a capa vermelha, que está em cima da
minha cadeira, jogando sobre meus ombros e fechando o laço. O Réveillon
Infernal aguçou muitos dos clientes que iriam ficar em casa sozinhos. Eles se
soltaram, deixando seus demônios libertos, sabendo que, por essa noite, a
casa está liberada para todos os pecados.
— Dom! — Devon entra na minha sala, com sua roupa social, me
olhando com seu rosto preocupado. — Creio ser portador de uma boa e má
notícia. — Olho-o, levando as mãos ao bolso da calça, imaginando o que os
convidados fizeram.
— Não me diga que quebraram o quarto de Pandora mais uma vez! —
Ele balança rápido sua cabeça.
— O quarto está intacto, senhor. — Solto o ar, dando graças, pois
gastei uma fortuna para fazer aquele quarto especial com todos os novos
brinquedos do mundo sexual.
— Desenvolva, Devon! Ainda tenho que descer para socializar com
os convidados e fechar o caixa hoje. — Meu corpo se vira, procurando por
onde deixei aquela merda de garfo.
— Dom, senhorita Delis está aqui. — Sinto meu rosto congelar,
ficando inquieto com o que ele acaba de falar.
— Onde ela está? — Olho para ele, ansioso. Ela se negou até o último
segundo, quero vê-la. Sei que ela não desejava vir, mas me peguei mandando
a fantasia para ela quando estava comprando a minha. — Ela está no
restaurante? Onde ela está? — Já caminho para a porta, quando ele solta o ar,
me fazendo olhar para ele.
— Essa é a notícia ruim, senhor. O motorista não a trouxe para o
restaurante, ele a deixou entrar sozinha. — Meu maxilar se trava com ódio,
ao saber que o filho da puta a largou sozinha dentro da Odisseia, e que não
me avisou de sua vinda.
— Qual porta, Devon? — Meu rosnado sai baixo, esmago meu punho
com fúria.
— A negra, senhor!
— HIJO DE PUTA[54]! — Meus dedos puxam meu celular, discando
para a segurança. Sinto a palma da minha mão suada a cada toque do celular.
Assim que o chefe dos seguranças atende, já grito com ódio, lhe dando
ordens para procurar por ela. — Arrebente cada porta, estoure qualquer
quarto, foda-se se o papa estiver nele, quero cada canto da Odisseia revistado
atrás de um anjo. AGORA!
— Dom? — Me viro com ódio para a porta que foi aberta, Dior está
parada, segurando a maçaneta e olhando para mim.
— O QUE FOI? — Ela se encolhe quando minha voz alta sai raivosa.
— Acho bom o senhor ir lá na pista, tem um anjo começando a
chamar atenção de alguns Mestres iniciantes.
Corro para a grande vidraça, que me deixa ver a pista da Odisseia.
Meu corpo se curva, olhando com mais atenção, buscando por ela entre todos
que dançam. Devon bate no vidro, apontando para uma direção. Volto meu
rosto para lá e reconheço seu rosto pequeno. Ela olha assustada para um
homem que fala algo em seu ouvido.
— Chame a segurança, AGORA! — Meus dedos socam o vidro com
raiva, com a aproximação forçada que o maldito faz em cima dela, com mais
outros caras juntos.
— Por que tem um anjo em uma festa infernal?
— Era para o motorista ter entrado com ela pela porta vermelha. Ele a
deixou sozinha na entrada — Devon fala para Dior.
Já estouro porta afora, descendo as escadas e indo em sua direção.
Empurro as pessoas à minha frente, com toda fúria que sinto, quero apenas
chegar até ela e quebrar o dente do puto que está praticamente a engolindo.
Olho em sua direção, vendo-a se espremer mais, sumindo da minha vista com
seu corpo pequeno. Dior passa com o arco da perdição sobre mim, grita
enquanto estica seus dedos, mostrando o meio. A multidão vai apenas
piorando, me fazendo ficar mais lento, sem conseguir chegar a tempo. Estico
meus braços, pegando em seu pé.
— Desce essa porra! — grito agressivo, esticando minha cabeça e
procurando por Luna.
Apenas vejo as plumagens brancas da auréola, que balança se
misturando mais ainda entre todos.
— Ela está sendo empurrada para o centro, na direção do palco —
Dior fala perto de mim, ao chão, segurando o arco.
— Preciso do seu arco. — Já estou subindo nele, apertando o botão do
elevador de corda. Olho para onde aquela auréola vai. Viro meu rosto para
Dior. — Manda o DJ parar a música. — Ela assente com a cabeça.
A música aumenta, fazendo todos dançarem mais colados uns aos
outros. Aperto o botão, o travando assim que consigo uma boa visão, olhando
em volta por cima de todos. É ao meio, entre o emaranhado de corpos, que a
encontro. Ela ergue seus dedos, tentando afastar o cara que se aproxima por
trás.
— Dior, como faço para ir para lá? — grito mais alto, rezando para
que ela esteja me ouvindo.
— O amarelo, aperta o amarelo — ela grita, já correndo para as
escadas da sala do DJ. Olho os botões, apertando a merda, e logo o arco se
move indo para a direção deles.
Sinto minha mandíbula se apertar a cada passo, meus dedos
espremem o maldito arco de ferro com puro ódio por ela estar sendo
esmagada entre eles. O cara, ainda perto dela, tenta alisar sua face, mesmo ela
se esquivando para trás. Aperto o botão vermelho para descer, ficando em
cima deles. Vejo seu corpo se encolher quando ele tenta pôr as mãos em seus
seios. A pouca distância que já estou é o suficiente para aproveitar a brecha
entre o espaço que se abre quando a música para. Jogando meu peso em
minhas pernas, acerto o chão com toda raiva. Meu corpo se levanta rápido,
ficando de pé atrás dele, enquanto uma mão puxa seu braço, a outra já volta
para cima do meu ombro, soltando meu punho como um tiro quando ele se
vira. O filho da puta cambaleia para trás, com seu nariz sangrando. Ele
demora para entender, seguro o colarinho da sua roupa, levando minha
cabeça para trás e a deixando voltar com força, acertando seu rosto. O solto
no chão, desmaiado, deixando todos à nossa volta se afastarem, olhando a
briga.
— Sai! — rosno com raiva para os outros atrás dela, que vão se
distanciando.
Vejo seu rosto se erguendo para mim, com seus cabelos colados à
bochecha. Ela tem seus olhos vermelhos e arregalados. Olha para mim com
medo.
— Mikpó. — Minha voz sai mais grave do que gostaria, ainda com
meus olhos presos nos outros caras. Como se reconhecesse minha voz, com
um rápido movimento, ela pula sobre o filho da puta desmaiado ao chão, se
colando a mim, com seus braços abertos apertando minha cintura. Sinto seu
rosto se escondendo em meu peito, com seu corpo pequeno se tremendo mais
ao meu. Ela está assustada, seus braços se apertam mais em volta da minha
cintura. Sinto tanta ira e ódio em meu peito a cada respirada, estou
espumando de raiva pela boca, encarando cada rosto que nos olha. Os
grandes seguranças, que já se aproximam, param ao ver o pequeno anjo
colado ao meu corpo. Quero machucar cada um deles que a encurralaram,
mas o corpo pequeno preso a mim não me deixa sair do seu aperto.
— Tirem esses lixos de dentro da minha casa! — Aponto para eles e o
outro no chão. Meu segurança olha para Luna, entendendo o que aconteceu.
É a regra mais absoluta: ninguém desrespeita minha casa pegando qualquer
pessoa à força.
— Vamos cuidar deles, senhor!
Eles já arrastam os caras para fora, junto com o desmaiado, pelos
braços. Abaixo minha cabeça, erguendo meus dedos, que passam por suas
costas, trazendo-a mais para mim. Retiro ela do chão, apertando-a em meus
braços como um pássaro de asas machucadas, me movendo quando a ergo ao
colo. Sei que não tem um único rosto dentro da Odisseia que não se vira em
minha direção quando o grande diabo atravessa a pista com um anjo
encolhido em seus braços.
— Senhor... precisa que chame o médico? — Balanço a cabeça para
Devon, entrando em meu escritório com ela ainda presa a mim.
— Ninguém entra na minha sala — sussurro, caminhando com ela
para minha cadeira. Ouço seus passos saindo de lá, trancando a porta atrás
dele.
Seu corpo pequeno se arruma em meu colo, quando movo suas
pernas, as deixando uma de cada lado, se apertando às minhas coxas. Meus
dedos se emaranham em seus cabelos, acariciando lentamente, com ela tão
presa a mim. Seus braços agora contornam minha nuca, enquanto enterra seu
rosto em meu pescoço.
— Eu sinto muito. — Seu lamento baixinho entra em meu ouvido, me
fazendo fechar meus olhos. O maldito erro de deixarem ela sozinha poderia
ter sido mais caro. Todos que entram pela porta negra sabem o que está
acontecendo, é onde os demônios libertam seus pecados.
— Não sinta, Mikpó, o erro foi meu! — Devia ter ido pessoalmente
lhe buscar, mas estava tão estressado com o fato dela se negar a vir, que tinha
certeza de que ela não passaria o réveillon comigo.
Aliso seus cabelos, observando a auréola branca adornada em sua
cabeça. As asas amassadas em suas costas, deixando meus olhos pararem no
reflexo que brilha na grande janela. Sou um grande demônio filho da puta,
que está se afundando nos encantos do pequeno anjo, que se prende com um
encaixe quase tortuoso em meus braços.
— Eres mi cielo y el infierno, Mikpó.[55] — Meu nariz se enterra em
seus cabelos, inalando seu cheiro doce que vem como cocaína, fodendo cada
canto do meu cérebro. Ela suspira baixo, em meu pescoço, esfregando seu
rosto.
— Não sei por que fala as coisas sabendo que não entendo, senhor. —
E, de certa forma, isso me dá certo alívio, por ela não ter a dimensão do poder
que está tendo sobre mim. — Está bravo?
— Estou! Com a incompetência! Não era para terem lhe deixado na
portaria negra. — Aliso seus cabelos, deixando minha mão descansar em sua
cintura. — Eles machucaram você? Tocaram-na?
— Eles acharam que era alguma brincadeira, mas não chegaram a
fazer nada. — Seu rosto se afasta, deixando suas mãos em meus ombros.
Agora vejo perfeitamente sua face pequena olhando para mim. — Acho que
nunca mais vou querer passar por aquele lado. — Seu sorriso pequeno
aumenta, deixando um pequeno brilho em suas esferas negras.
Ela tomba sua cabeça, deixando sua atenção voltar para minha testa,
mordendo a lateral dos seus lábios. Seus dedos se erguem de mansinho,
tocando a ponta dos chifres, aumentando o leve sorriso. O som dos fogos lá
atrás a faz se distrair, virando sua face para a janela. Sinto meu corpo
queimando, tendo a visão dos seus seios apertados na roupa branca, deixando
em primeira mão a imagem viva do vale das suas mamas, que sobem e
descem com sua respiração lenta. Meus dedos esmagam um pouco mais sua
cintura, sei que tenho que tirar ela do meu colo, mas ainda assim sou
congelado pela forma acolhedora que ela relaxa sobre minhas pernas, me
deixando ficar mais dominado, sabendo que foder sua boceta será minha
perdição.
Ela volta seu rosto para mim, malditamente angelical, de uma forma
sexy e distraída que apenas ela consegue ser. Seus olhos, ainda curiosos,
deixam seus dedos brincarem com os chifres. Descendo por minha face, eles
vão conhecendo cada canto do meu rosto, com sua curiosidade. Ela recai seu
olhar quando seus dedos tocam minha boca e eu tento não perder o maldito
controle, que já está escorregando por minha mão. E nada poderia ser mais
tentador que suas esferas negras expressivas, deixando à mostra cada
pensamento que ela tem.
— Mikpó... — Minha garganta range, deixando minha voz sair baixa,
como um alerta de que ela está indo longe demais. Mas ainda fico lá, parado,
vendo seu rosto se mover vagarosamente, trazendo seus lábios para perto dos
meus.
É um leve toque casto, da sua boca tão macia se colando à minha,
com um baixo suspiro, tendo seus dedos espalmados em meu rosto.
— Feliz Ano-Novo, senhor. — Ela se move devagar para trás, com
seus olhos baixos, deixando-os presos em meu peito. Seus dedos voltam ao
meu ombro, ficando inquietos lá, apertando minha pele.
E, nesse momento, sei que é a minha morte. A única coisa que não
posso ter o controle total é o maldito desejo por Luna. Minha mão se ergue,
apertando seus cabelos em meus dedos, elevando seu rosto para cima. Vejo
seus olhos brilhosos, mesmo que assustados, desejando o que virá. Meu rosto
vai a ela, trazendo sua cabeça para perto de mim, e não há um pingo de
castidade no momento que minha boca toma a sua para mim. Aperto mais
seus cabelos, a fazendo abrir seus lábios quando minha boca a força a se
abrir. Os dedos inquietos agora esmagam meus ombros, se entregando com
uma perdição que me consome a cada amolecer do seu corpo sobre minhas
pernas. Meus dedos, presos em seu quadril, descem por suas coxas,
espalmando sua bunda e a fazendo dar um pequeno pulo, ao apertar com mais
força. Ouço seus suspiros, que vão me invadindo junto com seu gosto doce.
Ela é uma maldita maçã do paraíso, desengatilhando cada maldito pecado que
habita em mim. Suas pernas se aconchegam mais à minha coxa, se apertando
lentamente, meus dedos puxam sua cabeça, beijando-a com mais fome, e sei
que, se não a tirar de cima de mim, lhe foderei forte e duro, sem um pingo de
piedade, apenas tomando cada suspiro e gemido que me pertencem.
Minhas pernas sustentam nossos pesos quando nos levanto, apertando
mais sua bunda. Ela suspira, deixando minha língua dominar a dela,
enlaçando suas coxas em minha cintura. Movo-nos para a mesa, depositando
sua bunda sobre ela. Meus dedos sobem por seu corpo, deslizando por seus
braços, os retirando do meu pescoço. Movo-a para trás, fazendo-a se deitar
sobre tudo e não dando a mínima para os papéis que vão se espalhando.
Aperto sua coxa com mais pressão, a fazendo me libertar. Seu suspiro vai me
deixando mais ligado quando me inclino sobre seu corpo, beijando sua
garganta. Seus dedos se prendem aos meus cabelos, se enterrando entre eles.
E aí, nos torturando, mordisco cada canto desnudado de sua pele. Sua
respiração se acelera quando minha língua raspa por cima do seu seio
escondido no tecido. Ela arqueia mais seu corpo, se entregando a cada carícia
que vou lhe mostrando, me deixando ver cada reação que seu corpo tem, se
arrepiando. Meus dentes raspam em sua coxa quando me movo para lá,
deixando-a sobre meu ombro, esfregando meu rosto na sua pele quente.
— Ohhh! — ela geme baixo, puxando mais forte meus cabelos.
Sinto seu cheiro antes mesmo de deixar meu rosto se enterrar no meio
de suas pernas. Meu corpo todo responde a ela como se fosse um maldito
animal ligado aos feromônios. Meu nariz raspa por cima da sua calcinha,
fazendo meu peito vibrar assim que a sinto molhada. Meu rosto se afunda
sobre seu montículo, cheirando-a com mais fome, e eu sou apenas um cão
sedento por tudo que vem dela. Suas pernas se tremem mais, assim que meus
dedos vão à devassa calcinha, puxando-a para baixo, deslizando por sua
perna. Meu corpo se ergue, olhando para seu rosto tão perfeito e, porra, eu
tenho razão. Nada pode ser tão fodidamente belo quanto seus olhos cheios de
luxúria. É uma maldita feiticeira que me suga para sua magia.
Ergo sua calcinha, levando à frente do meu rosto, sem desviar meus
olhos dos seus, pescando a pequena mordida que ela dá na lateral da sua
boca. E, caralho, eu gosto de me sentir um deus, com a forma como seu corpo
responde a mim, tão inocente sobre a mesa, como se fosse um tributo
angelical. Meus dedos deslizam sobre sua boceta lisa, abrindo-a para mim,
escorregando entre seus lábios e a sentindo tão molhada. Ainda olhando para
sua face, vejo seus olhos se fecharem, arqueando mais seu peito para cima. A
pequena boca carnuda esmaga um lábio ao outro, a cada canto novo que eu
vou desbravando entre o meio das suas pernas. Levo a calcinha ao bolso,
sabendo que, nem por um decreto, ela iria ser devolvida. O som dos seus
lábios vai aumentando, assim que minha respiração para em cima da sua pele,
quente. Deixo minha língua raspar, tocando sua boceta e ir deslizando sobre
ela, ouvindo sua respiração que vai aumentando. Meu cérebro para de
raciocinar assim que o gosto de Luna entra em meu sistema, me invadindo
como um vírus, se espalhando por cada terminação nervosa. Sinto meu pau
explodindo dentro da minha calça, odiando minha língua por estar onde ele
quer. Ela vai se desfazendo em desejo a cada pincelada da minha língua em
sua boceta, lambendo-a lenta e voltando com mais fome até parar sobre o
pequeno broto, o sugando como uma pequena tâmara, mais cara, que pagaria
o quanto fosse para ter.
— Senhor... — A voz entrecortada, tão submissa, desencadeia cada
poder que meu corpo almeja pela dominação dela. E Luna me entrega sua
essência com seu prazer.
Minha língua se move em círculos sobre seu clitóris, raspando os
dentes de leve. A cada intercalada entre o sugar e voltar a chupar sua boceta,
tudo vai se anulando à nossa volta. Com seus gemidos cortando cada canto da
sala, minha língua desce entre seus lábios, voltando para cima e contornando
seu broto rígido e sensível. Os tremores em suas coxas, que vão se apertando,
me deixam saber que ela está caindo no abismo que a empurro. E é com o
mais doce néctar que ela me presenteia, gozando em minha boca e, por nada
nesse mundo, minha língua abandonaria nenhuma gota. E é apenas depois de
ter sugado tudo, que ergo meu rosto, depositando um beijo no seu clitóris
sensível. Observo sua forma tão perfeita, mole sobre a mesa, deslizando suas
pernas para baixo, com seu peito acelerado. Meu pau me condena, latejando
tão forte e duro dentro das minhas calças, com as bolas inchadas, sabendo
que nem o céu faria diminuir meu tesão. Mas, é com seu olhar dilatado e tão
perfeito, que vou caindo ao inferno. Sou um puto, sabendo que ela tem todo o
poder sobre mim.
— Feliz Ano-Novo, Mikpó — sussurro, olhando sua face delicada,
que sorri como um anjo para mim.
CAPÍTULO 07
A profecia

Luna
— Mais uma vez, Luna! — Sinto o suor escorrendo pelo meu rosto.
Olho para o treinador, que me força a continuar cada golpe que ele já
me passou.
— A gente não pode parar por hoje? — Meu corpo reclama a cada
movimento que faço para me endireitar.
— Mais uma vez. Está desligada hoje, preciso que tenha foco. — Ele
avança para mim, me pegando de surpresa e passando a mão pelo meu
ombro. Engancha seu braço em meu pescoço, como se estivesse investindo
em um beijo. Meu braço se ergue por trás, girando minha mão, parando em
seu queixo e empurrando para retaguarda dele. Forço mais, tirando seu
equilíbrio. Apenas levanto meu outro braço, com meus dedos colados
batendo na lateral da sua garganta, o fazendo me soltar. Mas me perco
quando ele engancha em minha perna, me arrastando para o tatame.
— Droga! — Solto minhas mãos, batendo ao lado do meu corpo, me
sentindo frustrada. Logo a cabeça de Hugo paira sobre mim, com um sorriso
de deboche.
— Acho que na próxima aula você vai estar melhor! — Ele estica seu
braço, oferecendo sua mão para mim e sorrindo com calma. Aperto seus
dedos, o deixando me puxar.
— Eu não vou poder vir amanhã. — Atravesso o tatame, parando
perto da bolsa, de onde puxo uma toalha. — Vou me mudar, na verdade, não
sei como vão ficar nossos horários.
— Apenas não se esqueça de treinar a sequência, até conseguir
remanejar seus horários.
Eu queria poder dizer para ele que não sou mais dona dos meus
horários, mas guardo meus pensamentos para mim. Solto todo o peso dos
meus ombros, ainda sonolenta por ter tido que acordar tão cedo.
— Seu gancho está bom e, para uma pessoa como você, seu preparo
não está ruim. Não desanima.
— Está querendo dizer sedentária, não é? — Ele ri, balançando a
cabeça.
Conheci Hugo três dias depois do réveillon, ele foi escolhido por
Sedrico para ser meu professor de defesa pessoal.
O novo motorista que Devon me apresentou, foi o responsável por me
trazer para a minha primeira aula de defesa pessoal. Não sei o que aconteceu
com o antigo, Devon apenas disse que ele foi despedido, mas não entrou em
detalhes. Confesso que não me senti terrivelmente triste pelo fato de acordar
cedo, mas sim chegar até o carro e ver apenas Devon lá dentro. Pelos vinte
dias que se seguiram após a festa, o motorista ia todo santo dia na porta
daquele prédio decadente, às 6h30 da manhã, chamando mais e mais atenção
de todos os vizinhos. O veículo sempre estava quase vazio. Apenas eu, ele e a
mochila de roupa que ele trazia, pois todas as peças de roupas que o senhor
Lycaios tinha comprado foram levadas para a sua residência, foi melhor
assim, pois não iria precisar dar satisfação para minha mãe quando chegasse
com elas em nosso apartamento. Não vi Dom desde a madrugada do dia um,
quando ele me deixou na entrada de casa sem olhar para mim, e eu ainda não
entendia o que tinha feito de errado, mas o senhor Lycaios apenas se excluía,
mandando poucas mensagens, com palavras rápidas e diretas.
Meus dedos se erguem, apertando mais o rabo de cavalo, que segura
meus cabelos. Olho para o lado de fora e vejo a Mercedes preta que me
aguarda para me levar para casa.
— Luna. — Viro meu rosto para Hugo, que me passa uma garrafa de
água, com seus olhos ainda fixos em meu rosto. — Quer conversar? — Ele
aponta para o meu rosto, me fazendo balançar a cabeça em negativo,
encolhendo meus ombros.
O pequeno corte que tentei disfarçar sobre meu supercílio funcionou
com o capuz do agasalho, passando despercebido pelo motorista, mas Hugo
notou logo de cara, assim que entrei no tatame.
— Eu sou muito desastrada e acabei caindo. — Pego o agasalho,
abrindo seu zíper e passando pelos meus braços.
Ele sabe que minto, mas acho que, por educação, prefere acreditar.
— Esse lugar é sempre tão vazio assim? — Tento puxar outro
assunto, quebrando o silêncio assustador que está começando. — Toda vez
que venho nunca tem mais alunos.
— Na verdade, eu só abro a academia depois das suas aulas.
Balanço a cabeça, compreendendo o que ele está querendo dizer. Ergo
a mochila, levando-a para meus ombros.
— Exclusividade. — No fundo, eu já sabia que era isso, apenas
preferia ser tola em acreditar que era apenas por causa do começo do ano.
— Sabe como é, ele consegue ser bem convincente.
— É, eu sei... — Me sento no banco, arrumando o cadarço do tênis.
Olho perdida para o calçado. — Você o conhece há muito tempo?
— Acho que já tem uns dez anos que treino com Sedrico. — Me
levanto, olhando para fora, ainda odiando aquele carro por estar lá. Minha
cabeça tomba para a direção dos corredores dos banheiros, onde sei que tem
uma porta que dá para outra rua.
— Se incomoda se eu usar o banheiro antes de ir? — Seu corpo, que
está de costas arrumando os aparelhos de musculação, deixa apenas a cabeça
se virar, rindo para mim.
— Claro que pode.
— Obrigada, Hugo. — Sorrio para ele, desviando meu caminho da
porta da frente para os corredores.
Ainda dou uma olhada por cima do ombro, para ver se ele ainda está
de costas, e, assim que confirmo, acelero meus passos para a porta da saída
de emergência.
Sentindo o vento gelado me acertar, fazendo meu peito se estufar a
cada lufada de ar que inalo, ando entre o beco de trás da academia, vendo o
carro na frente dela, com o motorista ainda lá dentro. Ergo o capuz, o jogando
sobre minha cabeça, e atravesso a rua, indo para a direção oposta dele.
Apenas corro, deixando meus pés me levarem para o mais longe que posso de
qualquer coisa ligada a Lycaios. Sinto a respiração ir aumentando, a legging
que se estica em meu corpo, as lágrimas que começam a arder, meu pulmão
que entra em chamas, como se estivesse cheio de gasolina. Sinto tudo me
tomando. Desvio das pessoas à minha frente, sem conseguir parar os meus
pés, sentindo cada vez mais o vento ir batendo forte em minha face, como a
vadia da minha vida, que me fode sempre que pode. E apenas paro, soltando
todo o peso do meu mundo, dez quadras à frente, diante das grades negras do
prédio sem vida, com suas cores escuras, apertando meus dedos entre as
barras, olhando, como se em algum momento aquelas portas fossem se abrir e
me deixariam pelo menos ver seu pequeno rosto.
Meu irmão está sob a custódia do Estado, o que diz que ele entrará
para adoção. Passei a noite toda chorando, abraçada às suas roupas, as quais
não sei se um dia voltarei a vê-lo usando. Não sei se um dia eles me deixarão
vê-lo novamente. Minha cabeça se encosta nas barras, esmagando meus
dedos mais ainda nelas, olhando para cada canto do orfanato, esperando que
ele possa aparecer.
— Droga, droga... Droga! — Meus dedos se soltam, batendo com
força na grade, deixando toda a dor ir saindo a cada lembrança que
compartilhamos juntos. Seus olhos brilhosos e risonhos, que apenas vejo nas
fotos sobre a estante da sala... Os carrinhos que tinha juntado dinheiro para
lhe dar de presente, deixados de lado, tão solitários quanto eu, sem seu dono.
— Droga... DROGA!!!
Sinto as primeiras gostas de chuva acertando meu rosto, enquanto se
misturam com minhas lágrimas, e vou desabando mais e mais. Quero rasgar
meu peito, tirar essa maldita dor que vai me consumindo. Eu tinha lutado,
abdicado cada segundo da minha vida por eles, e o tinha perdido. Deixo o
esgotamento ir me puxando para o colapso que abre seus braços para mim,
dobrando meus joelhos, definhando a cada passo antes deles se encostarem
ao chão. O soluço corta minha garganta, como um grito de ajuda, para me
tirar dessa dor. Ainda posso ouvir a voz do senhor Bruce ao telefone, quando
dona Zelda me ligou, avisando que tinha chegado de viagem, para confirmar
a mudança.
— O juiz recusou o pedido, Luna. O advogado está tentando entrar
com uma nova petição, para segurar a guarda. — Vou sentindo todo meu
mundo ir desmoronando, enquanto me sento na escadaria suja do meu
prédio.
Minha mão aperta meu rosto, abafando o grito de dor que sinto, com
as lágrimas escorrendo entre meus dedos. Volto para o apartamento apenas
depois de ter certeza de que conseguirei esconder das crianças.
Vejo Rana sentada no sofá, brincando com Lola e Will, de caça-
palavras. Ainda bem que já dei a janta para eles antes da ligação da dona
Zelda. Passo reto por eles, indo para o banheiro, lavar meu rosto. Ao sair,
vejo o quarto vazio da minha mãe e volto para a sala. Estico meus olhos
para a cozinha, vazia também.
— Cadê a mãe? — Rana olha para mim, sem entender.
— Ela saiu, não passou por você?
— Não, eu estava lá na escada, teria visto ela passar.
— Ela estava lá nos quartos, daí passou rápido dizendo que ia
comprar cigarro. Deve ter saído pela outra escadaria, a de trás.
Fico em silêncio por um tempo. Minha mãe não tem dinheiro. Não dei
grana nenhuma para ela, e sei que o dono do bar não irá lhe vender nada até
ela pagar o que deve para ele.
— A mãe estava em qual quarto, Rana?
— No nosso. Por quê? — Corro para lá, sentindo as batidas do meu
coração se acelerando. Não... Não... Você não fez isso!!!
Meus dedos batem na parede, procurando pelo tijolo oco, o puxando
assim que o encontro. O reviro, sem nada cair dele. Minhas economias, que
estavam lá dentro, foram levadas. Solto o tijolo com raiva, apertando meus
braços em volta do meu corpo. Viro meus calcanhares para a saída, sentindo
tanta dor pela forma que ela age.
— Eu já venho, Rana. Tranca a porta!
Puxo meu casaco, passando pelos meus braços, correndo pelo
corredor. Olho a segunda escadaria que ela deve ter passado para desviar
de mim, a descendo o mais rápido que posso. Eu conheço o caminho que ela
faz tão bem como a palma da minha mão. Quantas vezes tive que ir buscá-la
na porcaria do bar, toda vomitada e desmaiada no chão de tão bêbada que
estava? Ando pela rua escura, apertando os braços em volta do meu corpo,
tentando segurar as lágrimas que descem. É tão impossível assim, pelo
menos uma vez na vida dela, ela ver todas as merdas que está me fazendo
engolir? E, antes de virar a esquina, já posso ouvir sua risada, alta e
escandalosa, fazendo meus dentes travarem em ódio. Ao entrar no bar tão
decadente quanto ela está, a vejo com seus olhos já avermelhados, se
escorando no balcão com um homem de tipo pior que o dela, falando algo
em seu ouvido. Puxo sua bolsa do balcão, fazendo-a se assustar, olhando
para mim. Ela prende seus dedos na bolsa, pegando-a de volta com raiva.
— Lu... O que... — Ela tenta dar um passo, se atrapalhando e se
escorando no cara ao seu lado.
— Me dá sua bolsa, mãe! — Minha mão se estica com raiva, tentando
puxar a alça outra vez.
— O que pensa que está fazendo, Luna?
— Me dá a merda da bolsa. Devolva o que pegou! — Seu rosto vai
ficando mais vermelho, com ela olhando para os lados.
— Não peguei nada de você e está me fazendo passar vergonha.
— Vergonha, mãe? — Minha boca se aperta com raiva. — Qual
vergonha você ainda tem?! Não vou brigar com você aqui dentro, eu tenho
nojo de estar aqui, agora devolve o dinheiro que a senhora me roubou!
Puxo a alça da bolsa com mais força, com ela me xingando entre seus
gritos. Vejo sua careta de ódio, antes dela erguer sua mão, soltando-a na
lateral da minha face. Meu corpo, trêmulo pela raiva, se desequilibra, assim
que ela solta a bolsa, fazendo eu cair com o rosto na quina da mesa de
bilhar. A dor forte que me corta me deixa zonza. Tento voltar a ficar de pé,
com sua bolsa presa em meus dedos, abrindo cada canto dela com raiva,
achando meu dinheiro lá dentro, ao fundo. O pego, levando ao bolso da
minha calça. Sinto o líquido escorrendo pelos meus olhos, fazendo minha
vista se embaçar. Ergo meus dedos em direção à minha sobrancelha,
olhando para eles quando os abaixo, o sangue viscoso e quente ainda está
fresco, saindo sem parar. Viro meu rosto para ela, com raiva, tacando sua
bolsa no chão.
— Lu... Lu, eu não quis te machucar... — Seus olhos tristes vão se
dilatando junto com seu choro, como ela sempre faz. Olho o copo em cima
do balcão, o qual, com toda certeza, não deve mais ser o primeiro.
— Você nunca quer, mãe, você apenas destrói tudo à sua volta! —
Limpo as lágrimas que descem, se misturando ao sangue, sentindo que
cheguei ao meu limite.
— Você... Você não pode falar assim... Lu.
Eu não quero falar mais, eu nem quero mais estar ali. Quero que ela
suma da minha vida, que ela esteja pelo menos com dor pelo que fez ao meu
irmão. Mas ela sempre está tão fodidamente bêbada, que nem tempo para se
arrepender tem.
— Luna... Luna, espera!
Não olho para trás, nem paro de andar, apenas vou me afastando
mais e mais, com meus braços apertados em volta do meu corpo.
— Está brava por que peguei seu dinheiro sujo?
— Sujo? — Me viro, a olhando parar no meio da rua. — Quer falar
de sujeira, mãe?! — Dou mais um passo à frente, sentindo meu corpo tremer
de raiva. — Por que não começamos pelo fato de você ser tão fodida que
deixou seu próprio filho sozinho para ir para o bar? Seu filho que agora tá a
um passo de ser adotado por qualquer outra família... Ou talvez me conte
como pôde ser tão ingrata comigo a ponto de me usar como moeda de troca
em suas dívidas?
Ela tampa sua face, chorando mais alto, gritando com raiva.
— Eu não ia deixar nada acontecer, eu precisava de tempo!
— Tempo! Oh, meu Deus! Como pode ser tão mentirosa? Viu todos
os dias eles indo à nossa casa nos cobrar e não moveu um dedo! — Ergo
meu dedo para ela, apontando com raiva. — Mas sabia que tive que me
misturar com Zack para erguer sua maldita grana e ainda vai lá e rouba ela
de mim, rouba dos seus filhos, mãe! Para quê? Para continuar se matando
dentro de um bar nojento e dividindo copo com um homem mais sujo que
outro! Então não ouse me falar de sujeira!
— Se seu pai tivesse aqui você nunca falaria assim comigo! Não
estaria se trocando por passeios em carros caros. Ou acha que não vejo você
saindo? Que todos não comentam?
Minha cabeça tomba, grito com raiva, chutando a pedra à minha
frente.
— Eu quero que todos se fodam! Meu pai está morto! — Meus dedos
tampam meu rosto, esmagando minha pele em dor. Choro, gritando de
desespero. — E a única coisa que me restou dele foram meus irmãos, que
graças a você, um deles se foi! A única coisa que você sabe fazer é estragar
tudo, simplesmente tudo à sua volta! Porque é egoísta! E é por isso que eu
estou indo, porque vou dar uma vida melhor para eles, e juro, mãe, nem que
seja a última coisa que eu faça na minha vida, vou trazer meu irmão de
volta! E não vou pensar duas vezes antes de enxotar você para fora se não
tomar um rumo!
Vejo-a ainda parada, olhando para mim, quando me viro, a largando
lá. Meus passos vão nos distanciando entre aquela rua escura. Esfrego meu
rosto, tirando o sangue que escorre, ainda sentindo meus olhos ardendo de
choro.

Meu corpo está encolhido na calçada, com as costas coladas à grade.


Aperto mais forte meus braços em volta das minhas pernas, quando ouço o
som do motor sendo desligado, sobre o barulho da chuva. Ainda fico
encolhida mais um tempo, antes da minha cabeça se erguer dos meus joelhos,
olhando para o grande SUV prata estacionado à minha frente. A porta do
passageiro é aberta, deixando um rosto triste me observar. Choro mais ainda,
escondendo meu rosto. Devon sai do carro, abrindo o guarda-chuva e parando
ao meu lado, o deixando sobre minha cabeça. Seus dedos se abaixam,
pegando a mochila e levando-a ao seu ombro, voltando sua mão para mim.
— Creio que seria melhor ficar aquecida dentro do carro, senhorita
Delis.
Estou tão anestesiada que o deixo me levar, me erguendo da calçada
com meus olhos presos ao orfanato. Devon me ajuda a entrar no carro e logo
se senta ao meu lado. O motorista entrega uma manta para ele, que a abre,
colocando-a sobre mim. Apenas deixo meu rosto se colar ao vidro, vendo a
chuva ir aumentando, enquanto meu coração está em tempestade também.
— Gostaria de tomar algo quente, senhorita Delis? — Balanço minha
cabeça em negativo, sem olhar para ele, me encolhendo mais.
Fechando meus olhos, posso sentir seu cheiro aqui dentro a cada
inalação que minhas narinas fazem, como se ele estivesse ao meu lado. Mas
ele não está.
— Ele pôs um rastreador no celular, não foi? — sussurro, com meus
olhos tão cansados, fechados, e nem preciso me virar para Devon para saber a
verdade.
Sedrico, de alguma forma, é a pior e a melhor coisa que cruzou minha
vida, mas sei que pagarei alto por tudo que ele me oferece.

Saio para fora do prédio, levando uma caixa para a van que aluguei
para fazer a mudança. Estou tão concentrada nisso, que me assusto quando
sinto meu braço sendo puxado.
— Então é verdade? — Meus olhos se erguem da mão nojenta que me
aperta. Zack está com sua face fechada, focando com aversão a van. — Você
está indo embora!
— Solta meu braço, Zack! — O puxo, fazendo ele se desvencilhar de
mim, mas a caixa em minha mão vai ao chão. Me abaixo, a pegando e
arrumando dentro da van. Ouço sua respiração acelerada e o vejo batendo o
pé no chão, ao meu lado.
— Você nem me deu uma chance. Eu preciso de você, Luna! — Vejo
sua pupila dilatada, vermelha, com sua voz alterada. — Não pode
simplesmente me deixar!
— Zack, não temos nada, foi só um trabalho. — Volto a andar, o
deixando para trás. — Esquece, nunca mais eu volto a dançar, sabia disso!
— Você não entende, Luna! — ele grita com mais raiva. — Eles não
querem outra, querem você! Tem ideia do tanto de dinheiro que perdi? O
tanto de conta que fiz?
— Isso não é problema meu. — Ele avança, batendo meu corpo na
parede, furioso, com suas duas mãos apertando meus ombros. Tento me
lembrar de Hugo e todas as aulas que ele me deu.
— Não vou perder dinheiro por causa de uma vagabunda! — Zack me
empurra com mais força, batendo minha cabeça no concreto duro. Sinto a dor
explodindo em meu cérebro. No automático, meus braços se erguem entre os
seus, com rapidez, empurrando-o para trás.
— Nunca mais vou dançar por seu dinheiro, sabia por que precisava e
não tem o direito de me chamar de vagabunda! — Ele volta outra vez, mas
desvio dos seus braços, que estouram com raiva a parede.
— Você é uma grande cadela, Luna! Agora que tá sendo bancada por
um patrão, meu dinheiro não é mais limpo para você! — ele grita mais alto,
fazendo todos pararem para olhar. — Todo mundo sabe que tem um grã-fino
vindo na sua casa. — Suas palavras são cuspidas como uma cobra nojenta
venenosa, sinto meu rosto queimando a cada olhar dos vizinhos. — E depois
dizia não ser puta! — Meus dedos espalmam em seu peito, o empurrando
com força pela ira que me toma.
— Você nunca mais vai ganhar um centavo em cima de mim, seu
cafetão de merda! — Seu punho se fecha, se erguendo, pronto para me dar
um soco, e meus braços apenas sobem para proteger meu rosto.
O som alto de uma respiração pesada vem antes de qualquer coisa,
com um baixo rosnado. Abro meus olhos, vendo Zack ir ao chão com um
soco que estoura seu nariz. Meu olhar desvia do lixo para o grande homem
parado à minha frente, arrumando seu terno azul marinho ao corpo. Ele retira
seus óculos lentamente, deixando-me ver seus olhos queimando, com um
sorriso frio aos lábios.
— Como patrão, não lido bem com alguém mexendo com o que me
pertence. — Ele leva os óculos ao bolso, se virando para o outro, caído.
Zack se levanta, cuspindo sangue no chão, apertando seu punho e
indo para cima de Lycaios. Ele nem vê quando vem outro soco, direto na sua
cara. Sedrico se abaixa próximo a Zack, puxando-o pela camiseta e sussurra
algo em seu ouvido, lançando para ele o mais pavoroso olhar. Zack se
levanta, segurando o nariz sangrando, e corre para longe do apartamento,
empurrando todos que estão à sua frente, sumindo entre a rua.
Minha atenção volta para Sedrico endireitando seu corpo, que toma
grande espaço do lugar com sua forma prepotente, dando apenas dois passos
até estar a um palmo de distância de mim. Sinto meu coração batendo
acelerado, feito um coelho diante do grande leão, e uma felicidade de merda
vai me inundando por me perder em seu olhar intenso. Mas ele o quebra,
esticando sua mão, rápido, jogando meus cabelos para trás, com sua outra
mão em meu queixo, como um velho ranzinza que olha seu carro preferido
com um risco. Sua boca se aperta, semicerrando seus olhos ao ver o corte em
meu supercílio. Soltando o ar mais alto ainda, ele ergue seu olhar para o
prédio, deixando seu aperto maior em meus cabelos.
— O que falou para ele? — sussurro, tentando não deixar minha voz
fraquejar, me perdendo em seu cheiro, que me acerta forte como um tiro. Sua
atenção volta para mim, com seus olhos brilhando de raiva.
— Para que está fazendo aulas de defesa, Mikpó, se não se defende?
— Seu dedo, preso em meu queixo, desliza sem pressa, pressionando com
raiva ao voltar seus olhos para o machucado. — Quando ela fez isso? E não
ouse me insultar contando mentiras de como é desastrada!
Sinto raiva da boca grande de Hugo. Retraio meu rosto, virando-o
para outro lado que não seja a face do grande leão rosnando a centímetros do
meu rosto.
— Não vou usar defesa pessoal contra minha mãe, senhor. — Puxo
meu rosto, conseguindo me soltar dele. Aperto minhas mãos em volta do meu
corpo.
Viro-me, deixando-o sozinho. Sei que não vai demorar para ele
começar a fazer suas perguntas descaradas, logo ouço seus passos atrás de
mim, com sua respiração pesada. Olho por cima do meu ombro, vejo-o me
seguir pela entrada do prédio.
— A que devo a honra de ter o poderoso deus saindo do seu Olimpo
para vir aqui com uma reles mortal?
— Mikpó. — O som bravo de sua voz sai baixa, em aviso. — Pensei
que precisaria de ajuda. — Paro no lugar, apertando meus dedos ao lado do
meu corpo. Me viro para ele, ainda não entendo o que ele quer. Tinha
simplesmente me deixado, sem eu nem saber o que tinha feito de errado.
Entendi o que ele tinha me proposto, não temos nada. É só uma porcaria de
acordo para saciar seu ego.
— Obrigada pela intenção, mas eu me viro, senhor. — Ele apenas
balança a cabeça em negativo, dando mais um passo à minha frente. Ele me
analisa por um pequeno segundo, relaxando seus ombros.
— Por que está agressiva? — Sua voz me pega feito tiro, cortando
meus pensamentos, me deixando sem saber o que responder quando ele faz
essas perguntas na lata.
Olho meus pés em um chinelo, me sentindo perdida e pequena. A
verdade é que nem eu sei, tinha sentido sua falta, mas cortaria minha língua
antes de dizer isso a ele.
— Luna, Will não me deixa levar as caixas também. — Me viro,
olhando para Lola, que vem correndo. Ela estanca no lugar, olhando entre
mim e Sedrico.
— Você é muito pequena, amor. — Meus dedos se erguem,
acariciando sua cabeça. Ao me voltar, vejo os olhos de Sedrico presos entre
nós duas. — Senhor, essa é minha irmã, Lola. — Passo meus braços pelo
ombro dela, a deixando à minha frente, alisando seus cabelos. — E Lola, esse
é o senhor Lycaios.
Vejo aquele homem gigante se abaixar, ficando na altura dos olhos
pequenos e curiosos dela. Sua grande mão se estica, ficando parada entre
eles.
— Prazer, Lola. — Minha pequena irmã ergue sua cabeça para mim, e
depois se volta para ele, olhando seus dedos, deixando sua miúda mãozinha
sumir entre a grande mão de Sedrico.
— O senhor faz xixi na calcinha também? — Sedrico olha para ela e
para mim sem entender, sorrindo com o que ela fala. E, automaticamente,
meu cérebro processa o que ela está pensando.
— Lola! — Ergo minha mão, tampando sua boca, quase morrendo de
vergonha.
— Não uso calcinha, Lola, e não faço xixi nas calças também — ele a
responde, puxando meus dedos da boca dela.
— Luna falou que você é um molhador de... — Já estou virando seu
corpinho e dando um tapa de leve em sua bunda, a empurrando para o
corredor do prédio.
— Vai ajudar Rana a guardar as coisas, ou ela vai deixar sua boneca
para trás. — Ela me olha emburrada, batendo seus pés enquanto sobe as
escadas.
— Mas você falou, Luna!
— Lola! — grito mais alto, sentindo meu rosto queimar. Ela sai
correndo, sumindo da minha vista. Ao me virar, sou pega pelo seu rosto
próximo demais, analisando a minha expressão, me deixando mais nervosa a
cada movimento seu, que vai se aproximando. Coço minha cabeça, dando um
sorriso amarelo, encolhendo meus ombros. — Crianças... têm imaginação
fértil. — Já estou fugindo dele antes que dê uma de avestruz e jogue minha
cabeça na terra.
E, como Lycaios faz apenas o que Lycaios quer, mesmo a base de eu
quase chorar, implorando para ele ir embora, ele fica ajudando na mudança,
fazendo todas as janelas e portas se abrirem nesse lugar esquecido por Deus,
para verem o grande leão de juba dourada erguendo caixas velhas de
supermercado, levando para fora. Me odeio por sempre me pegar olhando
para ele a cada bobeada, não tem como não ver cada músculo do seu corpo se
flexionando, se apertando mais ao terno.
— Luna, a baba tá escorrendo por sua boca. — Rana para ao meu
lado, segurando uma bolsa e cutucando meu ombro.
— Cala a boca, garota — falo baixo, vendo-o se virar para nós duas, e
sinto uma fisgada a cada lembrança que meu cérebro faz o favor de relembrar
como um slide, deixando meu rosto em chamas.
Ela sai dando risada e vai para a van. Olho Will, o rodeando como se
fosse um acontecimento ver um homem perto de nós. Subo as escadas, indo
atrás de mais caixas, para me afastar deles e saber onde minha mãe se meteu.
Vejo suas coisas todas em cima da cama ainda. Por pura teimosia, ela
simplesmente prefere fazer de conta que não tem acontecido nada. Solto o ar,
indo para meu quarto, e tento pegar uma bolsa em cima do guarda-roupa para
guardar as roupas dela. Ficando na ponta dos pés, me estico ao máximo,
puxando apenas a pontinha.
— Deixa que eu te ajudo. — Antes mesmo de me virar, estou sendo
encoxada. Sinto seu corpo me cobrindo por completo e seu cheiro masculino
misturado com seu suor amadeirado. Raspa seu peito de propósito em minhas
costas, sua respiração em cima da minha cabeça sai baixa, alavancando seu
corpo como se estivesse realmente tendo que sofrer para pegar a bolsa, a qual
está na altura dos seus braços. Meu corpo traíra me faz soltar um pequeno
gemido. Sedrico estaca no lugar, fica imóvel e me prende mais a ele. Sou
uma pulga perto desse homem. Sua respiração calma me faz o odiar ainda
mais, visto que a minha é totalmente o oposto da sua, como se tivesse
subindo um penhasco. Seu corpo se mexe mais, abaixando pausadamente
quando suas pernas se encaixam perto das minhas, deixando seu quadril na
mesma altura do meu. Ele move seu corpo calmamente, de propósito, só para
que eu possa sentir mais dele. Consigo sentir minha calcinha se molhando
com sua provocação.
— Mikpó, sua bolsa — ele sussurra no meu ouvido, raspando seu
dente propositalmente na minha orelha. Me viro com dificuldade quando ele
dá um passo para trás, mas me arrependo ao me deparar com seu peito que
sobe e desce, os botões entreabertos da camisa deixam ver os pelos dourados
que há em seu peito, me fazendo hiperventilar com o aroma do seu suor.
Seu sorriso cínico molda seu rosto quadrado e é uma covardia que lhe
deixa mais sexy. Meus olhos, ainda abaixados para seus botões, me fazem
morder o canto da boca, apreensiva, imaginando se teria mais, se são tão
sedosos como os seus cabelos. Minha pele se aquece, percebendo que nunca
tive esses pensamentos com outros homens, e como ele me faz desejar ser má
de todas as formas possíveis, me deixando mais assustada comigo mesma.
— Obrigada, senhor. — Retiro a bolsa das suas mãos, passando por
debaixo do seu braço, com minhas pernas virando uma gelatina ambulante.
Ele abaixa sua cabeça, sorrindo, me deixando sem graça, como se
soubesse cada pensamento que já tive. Ando até minha gaveta, guardando na
bolsa o pouco que sobrou, antes de ir pegar as coisas da minha mãe. Ele fica
parado do outro lado, mexendo nas minhas coisas que guardei na bolsa,
olhando com curiosidade e, antes que perceba, Sedrico está segurando uma
calcinha minha entre seus dedos, um fio dental. Ele a olha e depois volta seu
olhar para mim, com um ponto de interrogação em pura promiscuidade.
— Mikpó, já deixei essa aqui molhada? — Ele tenta a levar para o
bolso do seu terno, mas arranco minha calcinha dos seus dedos, empurrando-
a na bolsa. — Acho que podemos batizar o meu pau como “o molhador de
calcinhas”. — Ele solta uma risada, me fazendo olhá-lo de cara feia, mas me
perco, deixando minha atenção presa em seu rosto. É mágico ouvir ele rindo
tão naturalmente, mostrando mais uma face escondida nesse homem
egocêntrico.
— Nunca vai ouvir essas palavras da minha boca, senhor. — Sorrio
para ele, sabendo que estou derretendo mais e mais com seu sorriso. — Devia
sorrir mais, senhor — sussurro, conseguindo desviar meus olhos da sua boca.
Estou indo para o caminho errado. O que sobrará quando acabar, se ele já me
fez sofrer em poucos dias com sua ausência? O que sobrará quando ele partir
de vez?
Sedrico para, soltando o ar. Ergue seus dedos em meu queixo, me
fazendo olhá-lo.
— Por que realmente está aqui, senhor? — O olho perdida. Sei que é
loucura, mas desejo essa loucura toda em meu íntimo.
— Eu esqueci algo. — Sua voz é tão covarde, saindo mansa, que me
deixa exposta a ele.
— O que esqueceu, senhor? — Aperto firme a bolsa em meus dedos,
como se ela fosse a âncora que me salva dessa tempestade chamada Sedrico.
Desvio meus olhos dos seus, com as batidas descompassadas que meu
coração está tendo.
Mas Sedrico já me ergue, me virando para ele com suas mãos de
ferro, sem pedir licença, apenas tomando o que ele quer.
— Meu controle, Mikpó. — Estou sendo levada à parede por um
trator de músculos, que me prende mais a si com seus braços de aços.
Sedrico choca sua boca na minha em uma forma tão bruta e crua,
dominante, me fazendo perder qualquer chance que tenho de escapar do seu
poder. Meu corpo covarde se rende, se moldando a ele, com pura ânsia. Sua
língua me explora sem pedir licença, apenas tomando tudo o que é seu, tudo
que lhe dou. Com seu peito colado ao meu, meus dedos param em seus
ombros, sentindo a firmeza que me sustenta. Me perco, anulando qualquer
dor, medo ou insegurança, porque ter suas mãos em mim é como ser
resgatada do fundo que estava caindo. Vibro com sua boca me rasgando,
tomando todo meu ar em uma fúria digna de um deus. Me perco, sentindo seu
gosto, champanhe, o qual eu nem gosto, mas misturado com o seu próprio
gosto poderia ser a melhor coisa que já provei. Minhas mãos, curiosas, se
movem por vontade própria sempre que lhe toco, subindo por seu rosto,
amando mais os sons baixos que ele solta ao deixar as unhas irem subindo até
se emaranharem em sua juba dourada. Seu corpo me prende mais, nos
batendo com mais força na parede, apenas para roçar seu corpo ao meu.
Sinto-me sendo queimada pela trilha das suas mãos, que descem por minhas
costas, espalmando em minha bunda, me erguendo a ele. Minhas coxas
circulam sua cintura, arfo quando sinto o volume de suas calças pressionando
minha virilha, o jeans do short rasgado acerta com precisão em cima do meu
clitóris, a cada movimento lento que ele faz, me fazendo choramingar em
seus lábios. Garanto minha alma presa a ele para sempre. Ele me aperta com
força, esmagando minha bunda em suas grandes mãos, movendo sua cabeça
sobre meu pescoço, esfregando seu nariz em meus cabelos.
— O que fez comigo, Mikpó? — Sua voz está nervosa quando sua
boca volta para a minha.
Mordendo meus lábios entre o beijo, ele esmaga minha boca, como se
me castigasse, me fazendo gemer mais. Seu beijo é selvagem, me deixando à
sua mercê, pressionando mais forte nossos corpos, trazendo a dor e a loucura,
me consumindo por dentro com vontade de tê-lo por completo. Me perco
completamente. É desejo, paixão, ou a mais pura insanidade o que me
consome como a necessidade de respirar. Posso sentir seu coração batendo na
palma da minha mão quando deslizo meus dedos para seu peito. Ele se afasta
dos meus lábios, deixando sua testa descansar na minha, e ouço sua
respiração pesada se mesclando à minha.
— O que vocês estão fazendo? — Fecho meus olhos ao ouvir a voz
de Lola, que vem da entrada do quarto.
— Acho que ele engravidou ela, sabia?! — Sua boca se comprime,
prendendo o riso quando Will solta o disparate.
— Larga de ser besta, Will, ninguém engravida por um beijo — Rana
fala, cheia de deboche.
— Preciso que me deixe ir ao chão, antes que eles piorem. — Seus
olhos ficam presos aos meus quando sussurro em sua direção. Solta o ar
lentamente, junto comigo, e desvencilho minhas pernas de sua cintura.
— Quem vê pensa que já beijou muito, Rana!
Sedrico tira as mãos da minha bunda e, com certeza, vou me lembrar
depois dessa pegada forte nela. Sorrio ao ver seus lábios grossos mais
inchados que os meus, a juba dourada bagunçada, nem parecendo mais o leão
pomposo que chegou aqui. Solto o ar, desviando meus olhos dos seus,
virando para os monstrinhos parados na porta do quarto, nos olhando.
— Eu nunca vou beijar uma menina. — Will nos olha com nojo,
fazendo cara feia.
— Daqui alguns anos te levo à Odisseia e garanto que vai mudar de
ideia. — Dou uma cotovelada na lateral de Sedrico, o fazendo se calar,
soltando um rosnado. Ele leva seus dedos para trás de mim, beliscando forte
minha bunda.
— Vocês estão grávidos agora? — Lola me pergunta perdida,
abraçada com a velha boneca.
— Não, amor. — Sorrio para ela, movendo a mão para que eles
saiam. — Agora vão terminar de fazer as coisas de vocês, antes que mostre
como se fazem os bebês.
— Aiii, que nojo, Luna!!! — Will puxa Lola, saindo correndo com
Rana atrás deles.
Viro-me, dando um sorriso para Sedrico, vendo-o todo amassado,
perdido no quarto velho.
— Achou o que esqueceu, senhor? — pergunto com vergonha,
sentindo meu rosto ainda quente com seus beijos.
Ele alisa seus cabelos, os arrumando para trás, e endireita seu terno.
Volta para sua postura tirana, com seus olhos brilhantes me prendendo em
suas íris.
— Suponho que ainda não! — Ele sai do quarto, levando uma caixa
que estava no chão.
Meus dedos vão aos meus lábios, posso senti-los doloridos e inchados
pela forma dominante dos seus beijos e, antes que segure, um sorriso bobo
estampa minha boca.

O riso de Will, junto com a alegria de Lola, quando entram na Ferrari


vermelha, olhando para tudo com seus olhos brilhando em felicidade, assim
que Sedrico abre a porta, dizendo que levará eles, é algo que nunca poderei
retribuir. Nunca vi Will tão feliz em toda minha vida. Rana está na van, com
a minha mãe, me esperando para ir com elas. Me abaixo próximo a janela do
carro importado, olhando os rostinhos animados com a pequena aventura.
— Não mexam em nada, ok? — Sorrio para os dois, que arrumam
seus cintos no banco de trás. — Obrigada, senhor — sussurro para ele, o
olhando arrumar seus óculos ao rosto. Sua cabeça tomba para o lado,
deixando-a em minha direção, escondendo seus olhos atrás dos óculos
escuros.
— Vocês querem com emoção ou sem? — diz, abrindo um sorriso na
lateral.
— Sem! — Sorrio, batendo meus dedos na porta, afastando meu
corpo quando ele liga o carro.
— O que é com emoção? — Ouço a conversa dos três sendo cortada
pelo ronco do motor, já se distanciando de mim.
O sorriso que tenho no rosto vai se apagando ao olhar minha mãe
emburrada dentro da van, com seus braços cruzados. Atravesso a rua, indo
salvar Rana do mau humor dela.
— Onde estava, mãe? — pergunto para ela, enquanto o motorista liga
a van. Ela continua olhando para a frente, me ignorando.
— Seu pai teria vergonha pelo que está fazendo. — Aperto meus
dedos em minhas pernas, virando meu rosto para a janela, com suas palavras
amargas.

O som baixo do suspiro triste de Rana me deixa saber que ela ouviu o que
minha mãe falou. Sinto suas mãos pequenas em minha perna, pressionando
seus dedos junto aos meus. Dou um leve apertão, soltando o ar lentamente.
Fico parada na entrada da casa, olhando ainda sem acreditar no que
vejo. Está repleta de móveis e nenhum deles são meus ou da dona Zelda, são
todos novos, como se tivessem sido colocados há pouco tempo. As paredes
pintadas, tão vivas e lindas, deixam a casa clara, entrando mais luz a cada
canto. Não tem mofo ou aquela escuridão do apartamento descascado. Vejo
as crianças correndo de um lado para outro. Rana corre para mim, me
puxando pelo braço.
— Luna, olha isso! — Ela pula, me arrastando com ela. Rana abre a
porta de um quarto, onde existem beliches com duas camas arrumadas em
cores rosas e, do outro lado, duas com lençóis azuis. — Olha, se puxar
embaixo tem mais uma cama. — Ela se vira toda feliz, parando perto dos
grandes guarda-roupas. — Vamos ter nossa própria cama, LUNA!!! Uma
cama só para mim.
Ela grita em felicidade, com seu rosto todo vermelho. Vejo seus olhos
ficando cheios de lágrimas com seus dedos trêmulos passando sobre o
colchão. Tampo minha boca, querendo gritar de felicidade por ver toda sua
alegria e como algo tão comum e que é o mínimo de dignidade para alguém,
agora faz parte da vida dela.
— Oh, meu Deus... Oh, meu Deus! — Rio sem parar, olhando cada
detalhe arrumado para as meninas, com almofadas de corações sobre a cama.
A parede da cama dos meninos tem um armário repleto de carrinhos
brilhantes. — Não acredito que dona Zelda fez isso!
— Luna, tem uma TV na sala... Uma TV daquelas que tem nas lojas,
ela é fina e enorme. — A voz em crise de histeria de Will rompe o quarto, me
arrastando até a sala, todo alegre.
Choro por toda uma vida ao ver isso tudo, nunca sonhei em ter nada
disso, apenas imaginava uma vida digna para meus irmãos. Queria não ter
mais medo das brigas dos vizinhos, ou ver eles se misturando com pessoas
erradas, queria que eles tivessem orgulho de trazer seus amiguinhos em casa,
sem se sentirem envergonhados. A pequena pessoinha que entra na sala me
faz me virar para ela. Lola para ao meu lado, comendo uma bolacha recheada
e me oferece, com sua boca cheia.
— Onde arrumou isso, Lola? — Ela aponta seus dedos para a
cozinha, ainda mastigando.
Vou para lá, me assustando com um jogo inteiro completo de
armários e todos os eletrônicos de inox, me lembrando a casa da dona Zelda.
São bonitos, mas não exagerados. Ela ainda tem móveis que pertenciam a avó
dela. Meus dedos se esticam, abrindo os armários, os vendo lotados de tudo
que meus irmãos um dia me pediram e eu não tinha para lhes dar. É tanta
coisa, das mais simples até as que eles nunca experimentaram. Meus dedos se
erguem, tampando minha boca, segurando o choro. Deixo minhas pernas se
dobrarem em meus joelhos, enquanto agradeço a Deus, caindo ao chão,
olhando tudo aquilo que tanto pedi em minhas orações para um dia poder
oferecer a eles. Meus olhos estão nublados de lágrimas quando todos eles se
jogam à minha volta, me abraçando. Aperto meus irmãos com força, rindo e
chorando ao mesmo tempo, esfregando meu rosto em seus cabelos. Sinto os
beijos de Lola em minha bochecha e as lágrimas quentes de Rana, apertando
mais seus braços a mim. Will, sentado em meus joelhos, ainda olha em
choque para o armário cheio de comida. Meu rosto se ergue entre suas
cabecinhas, parando na sombra grande que entra. O vejo lá, encostando seu
corpo no batente da porta da cozinha, nos olhando com suas mãos nos bolsos.
CAPÍTULO 08
O inferno de Deus

Sedrico
— Estava como solicitado, senhor? — Meu corpo roda na cadeira, me
virando para Devon, parado ao centro do escritório. Apenas movo minha
cabeça para ele, em confirmação.
Estava tudo como solicitado, cada canto, cada móvel e o mais largo
sorriso nos lábios dela. Terei que encaminhar uma caixa de champanhe para
Bruce, em forma de agradecimento por ter conseguido as cópias da chave da
casa antes da mudança dela.
— Dom, gostaria de um levantamento sobre o bairro?
— Não será necessário, Bruce já me mandou por e-mail, ele mesmo
fez isso quando sua esposa morava lá. O bairro não é um dos melhores, mas
está acima da média de onde ela estava. — Olho os papéis sobre minha mesa,
sabendo que todos esperam pela minha aprovação. — Como ela estava hoje,
quando a levou para o serviço?
— Enérgica, devo lhe dizer. — Ele sorri para mim, caminhando perto
da janela. — Um pouco nervosa por conta do motorista, mas consegui lhe
induzir a entrar no carro. — Sabia que ela estaria em agonia. Mesmo ainda
escondendo sua tristeza pela notícia do irmão, ainda tem uma esperança
dentro dela.
— A faculdade, como está?
— Ela está confiante com os estudos, já lhe avisei que suas aulas se
iniciarão semana que vem. — Meus dedos se apertam sobre a mesa, olhando
a tela do computador. Isso será bom para ela, lhe dará mais força. Luna é
inteligente, estar de volta à sala de aula será uma injeção em suas veias.
— Estou negociando a compra da casa com Bruce, ele ainda está
tentando achar uma maneira de abordar Zelda, mas sei que terei que ter uma
conversa com ela. Luna se sente triste por estar fazendo as coisas por suas
costas.
Zelda se tornou uma imagem de referência, pela qual Luna sente
carinho e respeito. Terei que ter uma conversa com ela antes que pressione a
pequena menina. A inteligente mulher latina é esperta e precisaria de apenas
duas palavras com Luna para saber de quem é o motorista que a leva.
— Talvez essa semana já resolva esse assunto.
— Creio que talvez possa fazer isso antes desse tempo, Dom. — Ergo
meu olhar para Devon, que observa o salão da Odisseia. — A senhora
Ozborne acabou de passar pela porta com seus respectivos maridos.
Ainda raciocino o que Devon me fala, quando o pequeno furacão
entra em minha sala com seu rosto fechado. Seus olhos latinos brilham,
apertando sua bolsa na mão. Tauro é o segundo a passar, olhando para mim e
balançando sua cabeça devagar, como um aviso, seguido de um Bruce
nervoso, que fica atrás dela como uma sombra. Ela caminha lentamente pela
sala, deixando a bolsa no sofá. Para a frente da minha mesa, com os dois
armários de cara fechada, como se tivessem ganhado uma bronca.
— Olá, Zelda. — Deixo minhas costas irem para trás, arrumando meu
corpo na cadeira. Soltando o botão do meu paletó, ajeito minha coluna no
estofado.
Devon cumprimenta a todos, se retirando polidamente e fechando a
porta atrás de si, não antes de deixar seu olhar parar em mim, dando uma
piscada em deboche. O pequeno corpo se move, olhando em volta da sala e
balançando a cabeça sem pressa, com seus lábios comprimidos.
— Mira, presente do traidor do meu marido! — Ela ergue seu pé
apenas um pouco, mostrando seu sapato de salto alto, e vira seu rosto para
Tauro, o olhando de cara fechada. Aponta o sofá para ele, que solta um
grunhido baixo em resposta, indo se sentar. A cabeleira negra volta sua
atenção para mim, fuzilando minha face com seus olhos também negros. —
Necesito una razón[56] para não bater em tú cabeça com ele, cabrón[57]?
Solto o ar, desviando meus olhos dos seus, buscando algum tipo de
auxílio em Tauro e Bruce, que apenas me olham em resposta, balançando
seus ombros, como quem diz: está sozinho nessa, cara!
— Imagina meu semblante quando Luna chega para mim, toda alegre
como um raio de sol, agradecendo os móveis novos que tinha dado para ela!
— Sua boca se aperta, esmagando seus punhos ao lado do corpo. — E
precisei apenas fazer as contas para saber quem tinha sido o generoso a fazer
tal arte. Com ajuda daqueles ratones traicioneros[58]!
— Docinho, eu já te expliquei... — Tauro se cala com um olhar que
ela dá para ele, erguendo seu dedo do meio e o fazendo soltar um palavrão
baixo.
Sua face se volta para mim. Apertando os seus dedos em minha mesa,
abaixa seu corpo ao me encarar.
— Contou que não foi você? — Ela esfrega seu rosto, apreensiva,
movendo sua cabeça em negativo, e sinto um alívio com isso. Sabia que Luna
não aceitaria.
— Dime qué está pasando[59] para ter feito uma loucura dessas,
Sedrico! Luna não é as lolitas que correm atrás de ti aqui dentro. E muito
menos una puta!
Meus dedos se esmagam. Erguendo meu olhar para ela, aperto-os com
raiva. Sei que qualquer outra pessoa já estaria saindo pela minha sala porta
afora, mas Zelda apenas fica lá, sem mover um centímetro sequer do seu
pequeno corpo. Solto o ar, com inquietação, erguendo meus dedos para a
gravata e deixando-a frouxa, sei que ela não sairá dessa sala. Aponto a
cadeira para ela, a qual Bruce move, ficando de pé ao seu lado quando ela se
senta.
— Luna não é uma puta e minha relação com ela não é sobre lolitas,
Zel. — Meus dedos batem lentos na mesa, olhando para a tela do
computador, para desviar da sua mira.
— Está loco. Que pensa que vai ser quando isso acabar? Tauro me
falou sobre essa história sua, mas Luna não é essas meninas de cabeça fraca
que querem um velho para ficar lhe bancando. — Seu olhar nervoso vai se
apagando, deixando apenas um semblante preocupado estampar sua face. —
Onde está seu juízo, Sedrico?
Eu não sei, para falar a verdade. Ele escorrega por meus dedos, assim
como meu controle, desde o momento que coloquei meus olhos em Luna.
— Não é assim que funciona, Zel, estamos falando de cuidar, foi essa
a minha proposta a ela. Serei um bom sugar daddy, e não caia na besteira de
acreditar que funciona assim, como essas meninas pensam.
— Explique-se!
— Não sou um velho em busca de meninas novas como todos acham.
Muitos relacionamentos assim não se tratam de sexo, se quisesse isso, pagaria
uma puta, não confunda uma baby com uma garota de programa. — Viro
minha cabeça para ela, vendo-a calada, me observando. — Oferecemos uma
experiência a qual elas nunca vão poder ter e, em troca, temos sua
companhia. Tenho tanto dinheiro que posso falar com qualquer um, mas
prefiro ter algo real ao meu lado. Ver os rostos delas se expandindo a cada
coisa nova que elas veem me faz me sentir bem, como se fosse minha
primeira vez naquilo também. Torna-se uma experiência boa para ambas as
partes.
— Mas aí que está, Luna não é como elas. Ela não busca viagens,
roupas ou presentes, ela já lida com tudo que a vida lhe soca garganta abaixo.
O que menos precisa é de um homem a levando para cima e lhe largando em
queda livre depois.
— Nunca disse que ela era assim. — Aperto meu maxilar, a olhando
sério, com meu peito inflamado por dentro.
— Não, mas é isso que está fazendo.
— Estou dando a ela o que precisa, isso que eu faço. Luna nunca foi
como as outras. Ela não precisa de mim, no momento, como homem. —
Aperto com força a caneta que seguro, ouvindo a baixa respiração de Bruce.
— Está cuidando? — A voz baixa dele me pergunta, fazendo eu me
sentir mais miserável.
Ergo meu olhar para ele, apenas movendo minha cabeça em positivo.
Bruce sabe que há uma diferença entre cuidar e meter.
— Não entendo. — Zelda olha entre nós dois, buscando por respostas.
Bruce puxa a cadeira ao seu lado, se sentando, olhando para mim.
— O que Sedrico está querendo dizer, cariño, é que a situação de
Luna vai além de ser apenas a sugar baby dele. — Seus dedos caem sobre a
mesa, batendo lentamente. Vira seu rosto para ela. — Um sugar daddy
realiza os sonhos delas, eles fazem com que elas sejam felizes, desde roupas,
carro, joias, o que elas precisam e, em troca, elas lhe dão sua companhia,
passam algum tempo com eles, e, sim, em muitos casos, se tiver
compatibilidade, pode ter relação sexual, é um relacionamento normal como
qualquer outro.
Zelda vira seu rosto, olhando séria para o meu, sinto que ela lê cada
expressão da minha face.
— Mas? — Sua boca ligeira já saca que não é apenas isso.
— Como Dominador, Sedrico se sente impulsionado a dar o que ela
precisa e não o que ela quer — Bruce finaliza, com seus olhos se voltando
para mim. — A responsabilidade de um dominante sobre o seu parceiro, o
submisso, é essa, ou seja, uma posse completa.
— Está olhando para ela como posse? — Zelda me olha triste,
esfregando suas têmporas.
— Na verdade, quando possuímos algo, seja lá o que for, precisamos
ter consciência das necessidades que cada coisa tem, para se manter em bom
estado ao longo do tempo. — Tauro, que está sentado no sofá, se levanta e a
faz se virar para ele. Os olhos do meu amigo param sobre mim, em silêncio,
encolhendo seus ombros e já compreendendo o caos que cai sobre mim. —
Se isso é válido para objetos inanimados, é algo muito mais sério quando o
objeto é um ser humano. Luna acaba sendo a baby perfeita para um daddy,
mas, para um Dom, ela é seu céu e inferno.
— No entiendo[60] essa loucura que estão me dizendo.
— Luna está carente afetivamente. — Deixo as palavras saírem,
apenas olhando meus dedos, que batem na mesa. Não quero ter que ver o
olhar de Tauro e Bruce.
— Docinho, o que Sedrico está explicando é que... — Tauro se abaixa
próximo a ela, segurando seus dedos. — Ao contrário de você, que perdeu
seu pai e teve uma boa estrutura com sua mãe, se tornou uma criatura
pequena e forte com a criação que teve... — Ele ergue a mão, alisando a face
dela com carinho. Beija seus dedos. — E nos entrega sua confiança, deixando
tanto eu quanto Bruce cuidarmos de você...
— Já Luna, cariño, no momento, está buscando uma imagem que não
teve. Ela deve estar desmoronando e isso vai lhe deixar à mercê de alguma
relação extremamente tóxica. — Bruce apenas solta aquelas palavras, me
fazendo erguer meu olhar para ele. — Sedrico entra lhe ajudando a ter mais
confiança.
— Luna não precisa de mim como homem agora. E teria que ser
muito baixo para aceitar, já que ela está confusa.
Zelda apenas me observa em silêncio, digerindo tudo que Bruce e
Tauro vão falando para ela.
— Sedrico será o que Luna precisar: um amigo, o professor que puxa
sua orelha, a presença paterna que ela busca para se sentir protegida. O
homem, se assim for da escolha dela. Mas, pelo que entendi, não é isso que
ela precisa no momento. Estou correto, meu amigo? — Balanço a cabeça para
Bruce, em confirmação, ainda preso nos olhos negros da mulher latina.
Meus dedos soltam a caneta, batendo em nervosismo sobre a mesa.
— Uma submissa é um brinquedo especial e o seu valor real é medido
de forma diretamente proporcional à sua entrega e confiança. — Deixo-a
entender o que sai da minha boca, soltando meus ombros junto com minha
respiração cansada. — Não as compramos... nós as conquistamos e somos
responsáveis por aquilo que conquistamos.
Zelda, em um movimento lento, estica seu braço sobre a mesa,
deixando seus dedos sobre minha mão. Sinto o pequeno aperto, me fazendo
erguer minha cabeça para ela, que tem seu olhar vidrado em mim.
— Está enamorado de la chica[61] — sussurra, me fazendo ficar em
choque com o que ela diz. Sinto meu peito acelerado, enquanto arfo com
mais rapidez. Puxo meus dedos, me afastando e balançando minha cabeça em
negativo.
— Claro que não, isso tem a ver com cuidar, apenas isso. — Empurro
minha cadeira para trás, ficando de pé. Não estou apaixonado por ninguém.
Zelda está confundido as coisas, estou apenas cuidando de Luna. Sim,
eu sei que tenho uma atração sexual gigante por ela, mas é apenas desejo
puro. Meu lado dominador quer proteger ela, lhe mostrar que pode ser mais,
deixá-la ver o mundo por seus olhos. Apenas isso.
Caminho pensativo, parando perto da grande janela, olho perdido para
lá. Talvez um dia Luna tenha mais confiança nela mesma, irá achar alguém
que será mais compatível com ela. Empurro o desconforto que sinto com esse
pensamento, mesmo sabendo que é verdade. Luna vai achar alguém em
algum momento da sua vida.
— Está mentindo para você mesmo. — Ouço o som da cadeira sendo
afastada, o salto, que vai batendo ao chão, e a baixa respiração. — E será
muito burro de achar que aquela chica não vai ganhar o mundo quando tiver
a percepção do grande potencial que tem guardado dentro dela.
Viro-me, vendo-a parada perto de Tauro e Bruce, que estão cada um
de um lado seu.
— Não lhe dou dois meses antes de Luna estar sendo meu braço
direito lá dentro. É jovem e cheia de vida, com uma inteligência trancafiada
dentro dela, gritando para sair. — Ela abre um sorriso, erguendo seus dedos
para mim. — Y mi amigo, estava preocupada com ela, mas agora vejo que é
tú que não vai conseguir nem ver o que foi que te atropelou quando ela
passar.
Bruce e Tauro seguram o riso, olhando para mim em deboche e
balançando as cabeças em confirmação.

Luna

Havia passado o resto da noite olhando para cada canto da casa, sem
acreditar em tudo que tem aqui. As crianças dormem felizes em suas novas
camas. Tento conversar com minha mãe, perguntando se ela gostou do quarto
dela, mas ela apenas dá de ombros. Minha preocupação com minha mãe se
desfaz assim que entro no meu quarto, no segundo andar, e quase morro
olhando para tudo: a cama de casal toda arrumada, como se tivesse sido
tirada da vitrine de uma loja cara e trazida direto para o quarto, um guarda-
roupa branco combinando com a cama, ao canto, com uma delicada
penteadeira espelhada que nunca em minha vida pensei em ter. Mas não
consigo me sentir feliz em tudo, já que me peguei me sentindo estranha
quando Sedrico foi embora sem nem ao menos se despedir. Eu não o vi partir
e fiquei com aquela sensação de vazio outra vez. Apenas para, hoje, no dia
seguinte, me pegar eufórica com a mensagem que chega no celular, sorrindo
ao reconhecer aquele nome besta na tela.
Sugar Daddy: Tenha um bom dia, Mikpó.
Acho que sabemos que estamos fodidas quando olhamos para a tela
fria e acabamos sorrindo, como se isso fosse a coisa mais quente.
Sugar Baby: Obrigada, senhor ��
Dessa vez, não posso usar a desculpa do celular velho para a carinha
feliz, apenas mordo meus dedos, o vendo visualizar na mesma hora, me
deixando agoniada.
Digitando...
Tampo meu rosto, não sabendo se olho, se saio do aplicativo ou se
continuo online, com meu coração batendo rápido no peito.
Sugar Daddy: Está feliz?
Sim, eu estou. Não só pela casa, pelas coisas novas, mas estou feliz
por tudo. Por ele. Mesmo assim, me pego soltando o aparelho, que deixo
escorregar dos meus dedos, sem coragem de lhe dizer. Tento me concentrar
pela manhã, usando toda minha energia em ser produtiva e aproveitar a
chance que dona Zelda está me dando.
E é o que faço com meu dia, empurrando para longe qualquer
pensamento que vem em relação a ele, me pegando desprevenida. Antes do
almoço, dona Zelda me deixa saber exatamente o que ela quer de mim.
Organizar sua agenda, que está ficando um caos com o qual ela não consegue
cuidar, agendar suas reuniões, manejar alguns compromissos que são mais
urgentes, cuidar para as secretárias não passarem ligações de clientes que ela
não deseja falar, ficar como sua sombra aonde ela for e aprender o máximo
que ela me ensinar. No horário de almoço, quando ela me leva com ela, me
pego feliz e agradecendo por tudo que ela fez. Até poderia ter acreditado em
sua face tão expressiva, se não fosse um palavrão que ela soltou, assim que
seus olhos pousaram em seu esposo, indo atrás dele. Então eu soube que não
tinha sido dona Zelda que fez tudo aquilo para meus irmãos. Não
compreendo o que Sedrico quer, vai e volta e faz tudo o oposto do que tinha
me falado. Ao sair da empresa segurando minha bolsa, deixo meus passos
irem decididos na direção do carro preto que me espera lá fora. Sei aonde
desejo ir.
— Boa tarde, senhorita. — Antony, o motorista, sorri para mim,
abrindo a porta do carro, segurando-a e esperando-me entrar.
— Antony, pode me levar a qualquer lugar que eu pedir, correto? —
O vejo assentir com a cabeça, em positivo, olhando confuso para mim.
— Não deseja ir para casa?
— Eu quero passar em um lugar primeiro. — Entro no carro, me
sentando no banco de trás, e vejo alguns funcionários que olham de longe,
com curiosidade, para a Mercedes preta.
Sei que essa história de motorista não vai dar certo, é questão de
tempo para começar a espalhar rumores por aí. Assim que o motorista entra
no carro, fechando a porta dele, seu corpo se vira para mim.
— Para onde, senhorita? — Minha atenção se volta para ele, deixando
meu ar sair mais pesado que o normal.
— Odisseia!

Respiro fundo enquanto passo pelas grandes portas de vidro. O lado


oposto, completamente sofisticado, mostra outra face da Odisseia, que parece
uma caixa de surpresas, assim como seu dono. Um restaurante impecável
com alguns clientes conversando ao fim da tarde, e os garçons com seus
ternos também impecáveis, transitando entre todos. Caminho, procurando por
Devon, tentando não chamar atenção. Sinto meu coração batendo forte a cada
passo que dou. Sei que só posso vir quando ele me chama e não tenho ideia
do que vim atrás, mas preciso de respostas. Caminho para um grande
elevador, entrando nele e apertando para subir para o último andar, pois, de
alguma forma, sei que será lá que encontrarei o deus caído.
— Senhor Lycaios, por favor! — Uma mulher em estatura mediana
olha para mim, atrás de uma mesa que fica de frente assim que se sai dos
elevadores. Me medindo de cima a baixo, ergue suas sobrancelhas, com
curiosidade.
— Tem horário marcado, senhorita? — Ela me olha intrigada,
observando minha reação.
Meus dedos passam por meus cabelos, os arrumando atrás da orelha, e
bato meus pés ao chão, com nervosismo.
— Eu não tenho, mas preciso falar com ele. — Deixo minha mão cair,
torcendo a bolsa em meus dedos, os sentindo suados. Como posso dizer para
ela o que eu sou dele se nem eu mesma entendo direito? Não tenho ideia do
que falar, apenas sei que, se não o confrontar, nunca mais terei coragem.
— Eu realmente lamento, senhor Lycaios só atende com horário
marcado. — Meu corpo se encolhe com a forma como ela olha para mim. —
Você pode marcar um horário, se quiser.
Olho para a grande porta de vidro atrás dela e meu coração bate tão
rápido, como se fosse pular da minha boca. Movo minha cabeça devagar para
ela, me virando e andando passo a passo até o elevador. Aperto o botão, me
sentindo perdida, como se algo não estivesse certo. Mas não entendo o que é.
Puxo o celular de dentro da bolsa, esperando as portas se abrirem, olhando
para a última mensagem dele que deixei sem resposta. Por que tem que ser
um homem tão estranho, que vai e volta, apenas me movendo como uma peça
do seu xadrez? Ao entrar no elevador, minha cabeça se ergue e vejo a grande
sombra distante passando pelos corredores da porta de vidro, despercebido
em relação à minha presença.
— Você é uma covarde, Luna! — Aperto o celular em meus dedos,
com meu coração gritando dentro de mim, e meu cérebro apenas fica em
silêncio.

Sedrico

Miro os papéis em minhas mãos, ouvindo tudo que os assessores


falam à minha frente, tentando ter um pingo de concentração nessa reunião
maçante. Solto o ar, olhando o relógio em meu pulso. Já são 18h30 e, a essa
hora, ela já deve ter chegado em casa. O que estará fazendo? Depois que
Zelda saiu do meu escritório profetizando um futuro que só pode vir da sua
cabeça, fiquei agitado, pensando que o dia nunca iria ter fim. Olho o gráfico à
minha frente, a respeito do crescimento dos hotéis, então, a porta da sala de
reuniões é aberta, me fazendo olhar por cima dos papéis, para a pequena
confusão que invade esse fim de tarde. Seus cabelos negros arrumados,
emoldurando seu rosto medroso, com suas esferas negras olhando tudo
assustada. Todos se viram, observando Luna com seu rosto expressivo, com
suas curvas distribuídas em uma calça jeans de adolescente, colada ao corpo,
a camisa social a adornando e com as baixas sapatilhas.
— Senhor, eu sinto muito... Ela... Ela simplesmente entrou correndo.
— A recepcionista me olha nervosa, se virando para Luna, que torce seus
dedos na alça da bolsa.
— Saiam! — Minha voz sai alta, ainda tendo minha atenção puxada
para ela. Suas íris me fitam perdidas, com uma confusão lá dentro, algo que
brilha em seus olhos, que nunca me chamou a atenção nos olhos de outras
mulheres. Luna traz um brilho a mais, uma inocência, que me faz ser um
filho da mãe por estar tão predisposto a aceitar.
Viro meu rosto para os demais, que ainda estão lá, os encaro e movo
minha mão para a porta.
— Saiam todos! — Ergo meus dedos para ela, chamando-a. — Você
não ouse se mexer! — Sua linda cabeça balança, me olhando assustada,
esmagando mais sua bolsa, assim que minha voz sai mais alta. — Dei uma
ordem!
Todos da sala se movem, batendo em retirada, com a recepcionista
fechando a porta atrás de si. Meu corpo se levanta, arrumando meu terno e
esticando meus braços. Ela se encolhe mais ainda, batendo lentamente seus
pés no chão, com seus olhos presos lá. Passo por ela, ouvindo sua respiração
se acelerar, caminho até a porta, passando a chave, nos deixando privados
aqui dentro. Ao me virar, vejo-a tão perdida com seus braços cruzados em
seu corpo, como se ela se segurasse.
— Luna — a chamo, fazendo seu corpo se virar para mim. — Por que
veio?
Ela troca seu peso de perna, soltando seus braços e voltando a
amassar a bolsa.
— Por que... Por que mandou mobiliar a casa, senhor? — Seus olhos
se erguem, me deixando me perder em sua inocência.
— Porque posso — falo calmo, vendo-a virar sua face para longe de
mim. — Porque tenho dinheiro. — Mas a verdade é porque queria vê-la feliz,
porque, desde o dia que entrei naquele apartamento sujo, vendo-a tão perdida
e assustada, ela virou minha vida de pernas pro ar. — Você não gostou?
— Senhor... — O canto da sua boca esmaga a lateral do seu lábio
inferior, voltando seus olhos para mim. Vejo seu queixo trêmulo se apertar.
Ela se cala, me olhando com medo, soltando sua respiração. — Tem pena de
mim? Foi por isso que fez tudo aquilo? Por isso entrou na minha vida? Sou
algum projeto de caridade?
Caminho, vendo-a ir andando lentamente para trás, ficando acuada
com seus olhos perdidos.
— Por favor, preciso saber, é pena que tem? — Meus dedos se esticam,
prendendo sua face neles. Estou caindo rápido demais, não quis admitir isso
para Zelda, mas, dentro de cada célula do meu corpo, já sei.
— Pena é a última coisa que sinto quando te vejo, Mikpó. — Eu podia
abrir a porta e mandá-la embora, seria o mais sensato, o mais certo, porém
não a quero longe.
Quero-a perto.
Minha mão se move para seus cabelos, os segurando em meus dedos,
apertando seu corpo ao meu, e tudo explode assim que seus lábios se chocam
com os meus. Ela se entrega de forma doce, me fazendo me sentir um animal
por desejá-la tanto, por cobiçar não só seu corpo, mas por querer sua alma,
sua inocência, sua alegria. Quero tudo que meu poder pode alcançar. Ela se
aperta em mim, segurando meus ombros com suas mãos trêmulas. É tão bom
sentir seu toque, seu cheiro, seu doce sabor, que vai derretendo em minha
boca. Ela suspira, me deixando aos seus pés assim que me pressiono a ela,
arfando mais meu peito, pressionando seu corpo junto a mim. Meus dedos se
emaranham em seus cabelos, dando um leve puxão, apenas para ouvir mais
dos seus gemidos. Sei que se tiver Luna da forma que quero, crua e dura,
estarei empurrando para fora todo maldito autocontrole, a fodendo como um
animal sobre a mesa dessa sala. Sua atrevida língua me faz querer tudo dela.
Luna me tira o controle, é um pequeno furacão que entrou em minha vida, me
abalando de forma platônica. Zelda tinha razão, eu realmente nem vi, até que
Luna passou.
— Senhor... — Sua boca solta um ronronado, quando desço meus
lábios pelo seu fino pescoço, lambendo-a por cada pedacinho exposto. É um
desejo que nunca me sacia, uma fome que vai me destruindo.
Sinto seus seios rígidos sobre a fina blusa, colando mais ao meu peito,
implorando por atenção. Ela morde seus lábios assim que minha outra mão se
ergue, os deixando livres quando ergo o tecido da camisa. Ela estar sem sutiã
é o fim do último fio de raciocínio que tenho. Minhas duas mãos estão à
disposição deles, os sentindo tão macios e cheios, os fazendo arrepiar, os
massageando entre leves apertões em seus bicos. Perco-me em seu rosto, que
se contorce com suaves gemidos. Não penso, apenas abaixo minha cabeça, os
sugando, sentindo mais deles em minha boca a cada sugada. Seu corpo se
arqueia, me deixando tomar mais dela. Os chupo com força, raspando meus
dentes, os marcando a cada mordida. Suas mãos agarram forte minhas costas,
posso sentir suas unhas cravando-se em meu terno. Meu pau duro pulsa com
força, querendo se enterrar fundo dentro dela. Nunca perdi a cabeça dessa
forma. Quando toco em seu corpo, quero fodê-la como uma fera, jogá-la em
cima da minha mesa de costas e abaixar suas calças apertadas só para entrar
fundo em várias estocadas brutas, ouvindo seus gemidos intercalados com os
soluços, deixando meus dedos estalarem forte em seu rabo.
Uso o pouco que ainda tenho de sanidade, me afastando dela na
mesma hora. Passo minhas mãos pelos cabelos, tentando voltar a mim. Seus
olhos de desejo confusos me olham, com sua respiração acelerada. Estou com
raiva, com desejo, com uma puta ereção no meio das pernas e com a única
boceta que desejo me enterrar à minha frente. Mas, quando me enterrar
dentro dela, a única coisa que quero é ter certeza de que ela não me vê apenas
com gratidão. Quero sua entrega total.
— Eu fiz algo errado? — Ela me olha perdida, tão linda em seu
embaraço, com seus lábios inchados e abaixando sua camisa com seus dedos
trêmulos.
— Preciso que vá para casa, Mikpó. — Aperto meus dedos em um
punho fechado, tentando não voltar a pôr minhas mãos nela.
— Eu... Eu não entendo. — Ela pega sua bolsa, que caiu ao chão.
Seus cabelos todos bagunçados, tão perdida, tão linda, minha perfeita
Pandora.
— Você foder comigo não está incluso no acordo que fizemos.
Ela se engasga, posso ver seus olhos marejados. Já vi vários rostos
femininos magoados e nunca me importei, mas o dela me queima, fazendo-
me me sentir um monstro em saber que fui eu o causador de suas lágrimas.
— Eu... Eu... — Sua voz magoada sai trêmula, ficando em silêncio
por um segundo, soltando sua respiração. — Obrigada pelo seu tempo,
senhor. — Ela sai da sala, mas não sem me deixar ver o medo e as lágrimas
que brilham lá.
— Inferno! — Chuto a lixeira, fazendo-a voar e se quebrar na parede.
CAPÍTULO 09
O Tártato

Três meses depois...


Luna
— Obrigada, Antony. — Meus dedos soltam a porta do carro, depois
de conseguir me equilibrar arrumando o scarpin de salto alto nos meus pés.
— Não tem de quê, senhorita Delis. — Puxo minha bolsa, o vendo
bater a porta do veículo e se apressando na frente do porteiro do restaurante,
abrindo a porta para mim. — Boa noite, senhorita.
Sorrio para ele com carinho, passando pelas grandes portas antigas.
Meu estômago se aperta olhando para o luxuoso salão do restaurante francês,
com mesas vitorianas do século XVII.
— Senhorita. — A recepcionista sorri cordialmente, olhando para
mim com sua caderneta entre os dedos.
— Senhor Lycaios me espera — respondo para ela, me sentindo
angustiada assim que olho em meu pulso. O relógio já me deixa saber que ele
estará com um mau humor terrível.
Estou duas horas atrasada, o dia tinha sido um caos entre correria e
documentos. Fiquei presa na reunião que acompanhei dona Zelda, lhe
auxiliando com as novas obras que estão vindo da América Latina. Quando
saí da Ozborne, já era noite, dando tempo apenas de ir direito para a
faculdade. No meio da aula, fui chamada atenção pelo professor, quando o
meu aparelho bipou.
Poderia dizer que é estranho alguém lhe convidar para jantar depois
das 23h, mas nada que vem de Lycaios me estranha mais. E, não podendo me
dar ao luxo de um grande digitado “NÃO” em negrito, apenas me vi
escrevendo “sim”. Às 22h40 não estava no carro depois da faculdade, e sim
correndo atrás do professor que será meu coordenador e que me encheu de
mais trabalhos, para estar pronta para uma banca, para a qual irei apresentar
um artigo de congresso. Peguei matéria do ano letivo passado com os amigos,
busquei livros na biblioteca, ri com as meninas no corredor e corri na direção
da Mercedes preta parada no portão da faculdade. E tudo isso na mesma
noite. Ao fim, Antony sorria, o mais possível sorriso amarelo de quem
avisava: ele está puto!
Meus passos caminham lentamente, com a recepcionista à minha
frente, apontando para um ala particular do restaurante. Há algumas mesas
exclusivas com poucos casais. Tento não vacilar com minha perna no salto
alto, no qual já estou há mais de doze horas seguidas, me comendo até a
alma. Acho que nunca compreendi qual é a nossa real situação, apenas que
prendo dentro de mim tudo que vibra quando o vejo. Depois do episódio do
seu escritório, Sedrico não me viu com tanta frequência, ele se tornou o mais
formal possível em nossos encontros, intercalando entre suas mensagens
automáticas:
Sugar Daddy: Bom dia!
Daddy panaca: Boa tarde!
Panaca Sugar: Como está na faculdade?
Panaca: O serviço, indo bem?

É, eu confesso que me senti bem melhor quando, enfim, achei um


nome apropriado para ele, deixando meu celular longe dos seus olhos,
quando ele me chama. E, por mais que morra em admitir, eu vou apenas para
me sentir bem quando seus olhos me sugam com tanta intensidade, por
poucos segundos antes de voltar a ser um egocêntrico, tirano, cruel e filho da
puta. Como ele sempre é. E vai bem, o trato silencioso que fiz comigo
mesma, de não ficar mais me humilhando para ele, mesmo sendo a maior
mendiga de afeto quando o vejo sorrir. Seus passeios são nada convencionais.
Ele me leva a óperas, cinema cult, onde descobri que durmo
maravilhosamente bem quando começam os filmes, recebendo uma bronca
dele quando as luzes se acendem e ele me vê toda babada, sem ter prestado
um segundo de atenção na trama.
As aulas de etiqueta, que pratico toda quinta, me dão mais segurança
quando ele decide ir a algum dos seus eventos exóticos e egocêntricos, com
aristocratas piores que ele. Seguro o riso a cada mulher que passa perto de
mim com seus rostos tão puxados de pura plástica, recebendo um chute dele
por debaixo da mesa. Volto para Odisseia apenas nos sábados, ao fim da
tarde, depois de ter ajudado as crianças com seus deveres da semana da
escola, ficando deitada no sofá do escritório, estudando e respondendo às
perguntas que ele me faz. Poderia muito bem fazer isso no meu próprio sofá,
mas ele ainda assim me obriga a estudar lá, perto dele. Me surpreendi em
como me sinto tão viva e feliz em voltar para uma sala de aula, é como se
minha vida toda ganhasse uma cor nova. As meninas da minha turma, com
quem já fiz amizade, me fazem conversar sobre assuntos tão leves, os quais
nunca tinha tido oportunidade de ficar parada para pensar, e rio com a forma
como elas me fazem me sentir ou quando apareço com alguma roupa
extremamente cafona que Sedrico separou para mim, espremendo minha
garganta com aquelas golas altas e calças sociais.
Descobri com dona Zelda que comprar sapatos é viciante, assim como
saias até o joelho não ficam vulgares se comprar a certa para seu corpo. Ela ri
cada vez que vai comprar roupa e me leva com ela, sempre achando algum
modelo que fica bom em mim e, como uma mulher semidescoberta entre os
tecidos, eu gosto de me olhar no espelho, me sentindo confiante. A cada dia
que se passa, tem sido uma situação estranha quando ela me pergunta sobre
Sedrico, com seu olhar compreensivo. Dona Zelda não me julgou, como eu
achei que faria.
— Luna, sabe que tenho um carinho por tú. — Os olhos negros me
observam, sentada à minha frente, segurando meus dedos. — E não estou
aqui para lhe dizer o que tem que fazer. Mas se não tiver feliz com isso... —
Ela se atrapalha, olhando para mim.
Não posso julgar, nem eu entendo direito o senhor Lycaios.
— Acordo — sussurro para ela, ainda sentindo vergonha por ela
saber como fui parar nesse rolo.
— Isso... — Ela solta o ar, esfregando seu rosto. — Cariño, apenas
preciso que me peça e chuto aquele cabrón para bem longe de tú. Junto com
esse acordo.
Olho mais perdida ainda para ela, porque, por mais que uma parte
minha ainda relute para aceitar, outra gosta de tê-lo por perto.
— Eu... Eu gosto da presença dele, dona Zelda. — Sinto meus dedos
se esmagando um ao outro. Como posso lhe dizer que me sinto segura e feliz
ao lado daquele homem egocêntrico?
Dona Zelda fica em silêncio, me observando pelo que parece uma
grande eternidade.
— Entiendo. — A voz dela é calma, quando leva seus dedos aos meus,
os apertando. — Não vou lhe decir[62] que não fico preocupada com isso. E
no. No tem nada ver com a idade, ou qualquer diferença entre vocês. Mas sí
pelo fato de ser Sedrico.
— Eu não entendi, dona Zelda. — Ela bate em meus dedos com sua
mão, erguendo a outra para meu ombro e olhando diretamente para mim.
— Luna, tú não conhece muito de hombres e, principalmente,
hombres com sangue latino, como aquele cabrón. Mira, Sedrico é dono de
um coração que não é dele, que se esconde dentro daquela carapaça dura
grega, mas ainda assim é um hombre quente, com emoções fortes e pouco
controladas. O tipo de hombre que, quando está enamorado, pode ser muito
possessivo. Consegue compreender o que estou lhe dizendo?
Tento compreender, ainda mais quando ela fala rápido, misturando
seu espanhol, me deixando mais confusa.
— Senhor Lycaios não está apaixonado por mim, dona Zelda! — Não
entendo por que me pego desconfortável com aquela afirmação.
Ela solta o ar, balançando a cabeça lentamente, alisando meu rosto.
— Apenas tenha cuidado, sí?

Minha força vem da felicidade dos meus irmãos. De ver Will todo
feliz porque um dos amigos novos do colégio lhe convidou para ir à sua casa
e, depois, veio até a nossa brincar com ele. Lola, que agora pode assistir
todos os canais de desenho que ela consegue ver quando volta da aula. Rana,
que tinha ficado radiante com o banho de loja que dei nela com o cartão que
Sedrico me liberou. Nem tudo é perfeito, ainda tenho que tentar fazer minha
mãe preencher o vazio que lhe consome dia após dia. Ela, às vezes, some no
domingo, voltando ao fim dele, com a noite. E eu, por não querer que as
crianças ouçam todas as brigas outra vez, acabo preferindo não falar nada.
Mas choro no banho toda vez que o juiz nega meu pedido de visita. Uma
assistente social foi até a nova casa fazer uma visita, ou o que vi como
vistoria. Ela não disse nada, apenas saiu de lá. Ainda tenho esperança do juiz
pelo menos tirar Cadu da lista de adoção, mas ele não o fez, e olhar para
aquela linda cama vazia, sem saber se meu irmão chegará a vê-la é o mesmo
que ter um revólver apontado diretamente para minha cabeça. Luto a cada
saída da cama, não me permitindo desistir, me empenhando em aprender
mais, tanto no serviço, como na faculdade, porque não sou tola, sei que em
algum momento Sedrico partirá de vez, e, por mais que me sinta incompleta,
ainda assim ficarei de pé com minha força, caminhando com minhas próprias
pernas, sendo o pilar dos meus irmãos.
Meu coração erra sempre uma batida quando o vejo e não tem como
não sentir isso agora, o vendo ao longe, de costas, falando no celular, tão
perfeito naquele terno sob medida. A cor cinza escuro destaca mais sua juba
dourada, com seus ombros largos se movendo a cada respiração. Solto o ar,
tentando relaxar e não pensar em qual será sua reação ao ver meus cabelos
quatro dedos menores do que estavam. Já tem duas semanas que não o vejo, o
que, para mim, pareceram anos. Meus dedos alisam o casaco negro, que faz
par com a saia justa, sendo incrementado pela camisa de seda rosa claro.
Estufando meu peito a cada respirada, caminho com meu queixo levemente
erguido, como a professora de etiquetas me ensinou. Traço o caminho em sua
direção. Levo uma mecha do cabelo para trás da orelha, segurando a bolsa em
meu antebraço e ficando parada atrás dele, em silêncio. Posso ver suas costas
se arquearem quando ele respira fundo, se virando para mim. Seus olhos me
acertam como balas se dissipando por cada parte minha, onde suas esferas
vão percorrendo. Meu corpo é um maldito traidor, que o odeia por horas
quando está longe, mas é apenas estar a uma distância de um braço que toda
musculatura fica gelatinosa. Olho seus cabelos dourados tão alinhados,
penteados para trás, com a barba por fazer.
— Depois nos falamos! — Deixo a bolsa correr por meu braço,
parando em meus dedos, quando ouço a voz fria que sai da sua boca. Ele
desliga o aparelho, o levando ao bolso. Naqueles segundos, sinto ser atraída
pela força que Lycaios emana. — Está atrasada!
— Senhorita. — O maître se aproxima de mim, sorrindo, e me viro
para ele, o deixando tirar meu casaco.
— Eu não esperava que fosse querer me ver hoje. — Posso sentir
cada pelinho das minhas costas se arrepiando quando o ar toca minha pele. A
delicada camisa de seda frente única se prende em meu corpo apenas por
duas correntes, que descem douradas, fazendo um X nas costas.
— Tinha outros planos? — Ouço o som baixo do rangido dos seus
dentes, que vão se trincando a cada palavra.
— Talvez... — Não foi o olhar do maître ao chão que me fez saber
que ele está a poucos centímetros de mim, mas sim a respiração pesada
soprando em cima da minha cabeça.
Para um homem tão grande, seus passos são silenciosos demais
quando ele está bravo. Sorrio para o rapaz, sussurrando um “obrigada”. Tomo
coragem para me virar. E é com as esferas mais dilatadas e verdes que me
deparo. Talvez ter ouvido dona Zelda em relação a essa roupa não tenha sido
tão boa ideia assim, já que agora sou eu quem estou diante do leão, que aperta
seu maxilar, me encarando. Seus olhos vão para meus cabelos, que estão
repicados, caindo um palmo abaixo dos meus ombros; descem para a camisa,
estufo mais meu peito sob seu olhar de reprovação ao ver que estou sem
sutiã, e, mesmo com o salto, me sinto uma nanica perto dele. Ele se move,
puxando a cadeira lentamente, apontando para mim. Me sento com toda
coragem que tenho, que já não é lá essas coisas, o deixando empurrar um
pouco a cadeira. Seus dedos passam por meus cabelos, os tirando do meu
rosto, deslizando sobre eles, com um leve puxão ao final. Tenho meus olhos
presos na taça sobre a mesa e mordo a lateral da minha boca quando suas
duas mãos apertam meus ombros como um pequeno aviso.
— Muy bien[63], Mikpó. — Sua voz rouca sai entrecortada atrás de
mim, deixando seus dedos esmagarem mais meus ombros. Uma coisa que
aprendi com Sedrico é que apenas a raiva o faz trazer seu lado latino para
fora.
Ele retira suas mãos de mim, caminhando para sua cadeira à minha
frente, deixando seu olhar varrer o salão até mirar em mim. Suas grandes
pernas se cruzam, deixando umas das mãos ir ao terno, o soltando
lentamente, ainda me deixando a sensação de que ele vai me estrangular com
a tolha da mesa. Viro meu rosto, não suportando mais a intensidade do seu
olhar, me perdendo na decoração tão delicada do lugar. Os grandes lustres do
teto caem como uma cascata, deixando a luz em tom ambiente. Alguns casais
estão sentados, conversando entre eles.
— O que é isso na sua boca? — Meu rosto se vira para ele e
automaticamente me dou um tapa mental, não havia retirado o batom que
ganhei de uma das meninas da faculdade.
— Acho que se chama batom, senhor — sussurro covardemente,
mordendo minha boca.
— Não se atreva! — Meu salvamento chega junto com o garçom, que
segura a bandeja, entregando uma taça de champanhe para ele e uma de suco
para mim. — Traga a garrafa! — ele rosna ainda com seus olhos congelados
em minha boca.
O rapaz sai da mesma forma que chegou e quase quero que ele possa
me levar com ele, me deixando fugir pelas portas do fundo. Solto o ar,
olhando com desânimo para o senhor Lycaios.
— Eu ganhei de presente de uma amiga. — Meus dedos alisam a
toalha da mesa, soltando meus ombros. — Ela achou que combinou comigo.
Sedrico estica seu braço, pegando a taça de champanhe e levando aos
lábios. Tomando de uma só vez, ele a abaixa sobre a mesa com força, virando
seu rosto para o outro lado. Não entendo o que tem de errado com o batom,
eu gostei de como ficou.
— Quando cortou seu cabelo? E devo presumir que a roupa é nova
também? — Sinto minha boca seca ir tomando conta da minha garganta.
— Cortei no começo da semana, não foi tanto assim, foi só as pontas.
— O suco desce como fel por minha garganta, não aliviando a pressão que
sinto com o interrogatório. — Eu precisava de algo mais executivo para
participar de uma reunião hoje.
Os pratos vão chegando, sendo trazidos pelos garçons, que os deixam
à nossa frente. Vejo um pernil de cordeiro, que não me deixa parar de me
sentir como ele, amarrado e sendo servido para um predador que não tem
nenhum remorso de rasgar sua pele.
— O que tem de errado com as suas roupas? — Solto o ar, revirando
meus olhos, os fechando para ele não ver meu deboche. Não tem nada de
errado com as roupas se eu tiver setenta e cinco anos.
— Não tem nada de errado, apenas essa aqui condiz mais comigo,
senhor. — Ao abrir meus olhos, o pego dilacerando o coitado do cordeiro,
rasgando o pobre com os dentes.
— Estou percebendo, Mikpó. — Corto o pedaço do cordeiro
lentamente, levando à minha boca. O vejo na outra ponta, sobre as taças, com
sua carranca grande, enquanto mastiga.
— E o que tem feito? — Troco de assunto, me sentindo miserável por
querer realmente saber o que ele faz quando me deixa tanto tempo sem saber
se é para sempre ou não.
— Tive que resolver uns assuntos fora da cidade. — Seu corpo se
arruma, usando o guardanapo para limpar sua boca. — E você?
Nem sabia que ele não estava na cidade e me vejo me sentindo
frustrada por ele me fazer uma pergunta tão cínica, quando ele sabe de cada
passo que dou e eu não sei nada dele. Mas o que lhe diria?! O que realmente
quero gritar é: POR QUE NÃO ME MANDOU UMA MENSAGEM, SEU
EGOCÊNTRICO DE MERDA?
— Nada de importante... — sussurro, enfiando outro pedaço de carne
na minha boca. O celular dispara em apito de mensagens, chamando sua
atenção.
Ele olha para minha bolsa descansando na outra cadeira, arqueando a
sobrancelha para mim.
— Não vai olhar? — Termino de mastigar a carne, pegando a taça de
suco e movendo minha cabeça em negativo.
— Deve ser do grupo da sala de aula, estamos fazendo um trabalho
para apresentar.
Ele fica em silêncio, voltando sua atenção para sua comida e me
fazendo querer tacar a bolsa no chão, pisando nela para o telefone poder ficar
quieto. Nunca mexo nele, por isso não o deixo no silencioso. Sempre esqueço
onde ele está e tenho que ficar ligando para ele, para encontrá-lo. Seus dedos
travam no ar, segurando o talher e olhando para mim. Puxo a bolsa
rapidamente, vendo as enxurradas de mensagens das meninas histéricas por
um nude que vazou de um dos meninos da faculdade.
— É apenas sobre trabalho mesmo — sussurro, deixando o aparelho
no silencioso. Sentindo seu olhar me queimar, ele balança a cabeça em
positivo. Meus dedos deixam o celular na mesa, voltando à nossa tortuosa
janta.
— Como está na faculdade, já tem amigas... amigos? — Meu garfo,
que estava indo em direção à minha boca, para no lugar, e olho para ele, com
sua mandíbula apertada.
— Na verdade, tenho poucas amigas e foi mais por causa dos
trabalhos em grupo. Não dialogo muito com os rapazes. — Deixo o garfo
traçar seu caminho para minha boca, voltando a mastigar minha comida.
— Deve ter bastante assunto com elas, pelo visto. — Rio, cortando o
pedaço de cordeiro.
— Sabe como é. Rapazes, sexo, drogas, rola bastante coisa... —
Ainda estou rindo quando ergo meu olhar em sua direção. O vejo apertar a
taça em seus dedos e segurar o garfo como se fosse costurar minha boca com
ele. — Foi uma piada, senhor.
Ele solta o ar pesadamente, soltando também o garfo e puxando a
garrafa do garçom assim que ele chega com a bandeja.

Dou graças a Deus quando consigo fugir por cinco segundos para o
toalete, depois da sobremesa. Quando volto, Sedrico já está de pé, segurando
minha bolsa com uma mão e esticando-a com meu celular para mim e, na
outra, meu casaco.
— Já vamos? — Pego a bolsa com o celular e sinto uma tristeza ir me
pegando. Por mais que tivesse ficado me infernizando por cada segundo,
desejo poder ficar mais um tempo ao seu lado.
— Tenho assuntos para resolver na Odisseia. Antes de ir viajar
amanhã. — Ele apenas se vira, me deixando para trás e me fazendo caminhar
rápido atrás dele. — Já chamei o motorista, ele está lá fora lhe esperando.
Ele está partindo mais uma vez e nem vai me levar para casa. Eu
quero me chutar por ser tão idiota a ponto de ficar aqui, esperando por mais
um pouco da atenção do poderoso deus. Eu sou uma grande idiota mesmo!
Sei que um homem como esse pode querer minha companhia por ser um
egocêntrico, mas o tipo de mulher que ele quer é outro.
— Venha. — Ele se vira. — Deixe lhe acompanhar até o carro. —
Sua grande mão se estica para mim, deixo meus dedos apertarem a bolsa,
com raiva. Eu não darei esse gosto para meu corpo traidor. Ergo meu rosto
com o orgulho que ainda tenho e puxo o casaco dos seus dedos.
— Eu me recordo de onde fica a saída, senhor. — Deixo meus passos
me levarem, sendo alimentandos pela dignidade que arrumei na cara depois
dele ter me rejeitado naquele escritório, me proibindo de fazer papel de
trouxa outra vez.
— Mikpó. — Não me viro, nem quando sua voz sai como um
rosnado.
— Lhe desejo uma boa madrugada, senhor. — Mordo minha boca
com raiva, indo para a saída.
Antony me espera do lado de fora com a porta do carro aberta, com
um sorriso aos lábios, o qual, dessa vez, não consigo retribuir, pois já tenho
meus olhos ardendo. O que tinha aprendido a apreciar no pobre motorista é
sua grande discrição. Ele não olha para mim pelo retrovisor, me deixando me
encolher ao canto do carro, esmagando a maldita bolsa. Limpo meus olhos,
tirando as lágrimas, e pego o celular. Ao acender a tela, vejo as mensagens
pela barra de notificações. Várias do grupo e uma do rapaz da faculdade que
me entregou seu material do ano passado para estudar.
Stive: Espero que tenha lhe ajudado, lindinha.
Apenas desligo o celular, sem querer atender ninguém, o jogando
dentro da bolsa. Deixo meu rosto se encostar na janela, olhando perdida para
a cidade que vai passando do lado de fora. Sou uma burra, isso sim! Senhor
Lycaios me vê apenas como uma menina que sempre precisará da sua ajuda.
Pesquisei a respeito do que Zack tinha se referido dele naquele elevador,
realmente ele nunca olharia para mim. Pode até ter me tocado, mas não como
ele realmente gosta de tocar suas parceiras. Eu vi alguns vídeos pornôs de
BDSM[64] e tinha me sentido uma boba ao me pegar observando aquilo com
mais desejo do que só curiosidade. E acabei fazendo o que raramente fazia.
Me perdi nas vezes que me toquei pensando que era ele, apenas para
conseguir dormir em paz. Ao chegar em casa, me despeço de Antony,
arrastando minha bunda triste para fora daquele carro. Solto todo o ar preso
em meus pulmões e deixo um sorriso falso no rosto, para caso minha mãe
esteja acordada no sofá, me esperando.
Mas é o oposto que presencio. A garrafa, a qual só Deus sabe onde ela
arrumou, está vazia e caída ao seu lado. Seu rosto apagado, deitada no sofá.
Deixo a bolsa ao canto, retirando meus sapatos e olhando a hora em meu
pulso. Ela deve ter chapado depois que as crianças foram dormir, porque,
quando liguei, antes de sair da faculdade, Rana me avisou que ela estava
bem. Ando até ela, parando à sua frente e tirando os cabelos da sua face,
vendo-a sorrir entre sua embriaguez. Meus ombros se soltam em desânimo.
Ergo sua face um pouco, deixando meu corpo se sentar perto dela. Deposito
sua cabeça sobre minhas pernas e acaricio os seus cabelos, como meu pai
fazia. Sinto a tristeza me puxando, junto com a dor por nunca conseguir
tampar esse vazio que ela tem, por meu amor não ser o suficiente para ela
deixar esse maldito vício. Meu rosto tomba para o braço do sofá, escondendo
minhas lágrimas nele, e, entre o baixo soluço, apenas o som do ronco forte do
carro lá fora me faz erguer minha cabeça, olhando para a janela. Mas não tem
nada lá, a não ser meus delírios, que estão me afogando lentamente dentro de
mim. Como minha mãe com aquela garrafa. Talvez eu seja mais parecida
com ela do que quero. Me viciei em Sedrico a ponto de o desejar tanto, que
me sinto perdida em abstinência quando ele não está perto. Os braços
pequenos dela se movem, se arrumando sobre minha perna. Deixo meu olhar
pousar em sua face cansada, onde ela esconde sua dor por estar tão distante
da bebida, até chegar ao ponto de precisar beber de volta.
— O que mais lhe falta, mãe?

Sedrico

Sinto o ápice da loucura me tomando. Sentado sem rumo no bar do


meu clube, passei a noite toda em claro, esmurrando um saco de boxe. Achei
que me sentiria melhor depois de vê-la, tinha ficado me corroendo por duas
malditas semanas na Califórnia, atolado em toda burocracia, arrumando as
papeladas para uma filial da Odisseia que abrirá lá, olhando cada rosto que
passou por mim como se fosse o dela à minha frente. E, quando achei que
sentiria pelo menos um pouco de paz, dou de cara com um projeto perfeito de
mulher sedutora, no qual posso apostar minhas vísceras que tem um dedo
daquela criatura latina. Luna tinha seu rosto moldado por um corte de cabelo
que lhe deixou tão cheia de vida, com um aspecto de mulher, mas ainda
destacando sua juventude, que se misturou àquela menina-mulher. O aroma
que tanto sinto falta entrou como um soco por minhas narinas, assim que
senti seu perfume se aproximando de mim. Estou passando nesses últimos
meses por todas as etapas do tártaro, apodrecendo minha alma um pouco
mais. A cada dia me sinto mais necessitado dela. É como se nada mais fosse
tão bom assim e todos os pecados de antes são nada perto do que realmente
desejo.
Quando lhe dei o celular, cometi o primeiro erro, que foi ter deixado o
aparelho dela conectado ao meu e-mail; o segundo foi começar a olhar os
históricos de pesquisa e ver cada página que ela anda frequentado; o terceiro,
puxar o telefone da mesa quando ela foi ao banheiro e a luz dele brilhou,
avisando que tinha chegado uma mensagem. Quem é a porra de Stive?! Senti
meu rosto arder com vontade de quebrar aquele aparelho inteiro e caçar o
filho da puta como um cão raivoso. Não tive nem controle para ficar perto
dela, pois senti-me a um passo de estourar. E não demorou muito para
descobrir quem era esse bastardo, que teve coragem de mandar mensagem
para Luna. Garoto magrelo, com estrutura fraca, sorrindo para a foto da rede
social. É um pirralho de merda que está rodeando ela. Passei o resto do dia
me arrastando entre gritos de ódio, rugindo para cada funcionário que passou
na minha frente ou olhando para a foto desse bosta, ainda querendo socar a
cara dele por ter lhe chamado de lindinha. Lindinha será minha mão
arrancando sangue e todos os dentes da boca dele.
— Ele realmente está deprimente. — Fecho meu olhar, esmagando
mais o copo em meus dedos, depois o levando à boca em um gole só, assim
que a voz maldita fala em deboche, se aproximando de mim.
— Quase dá para sentir pena... Eu disse quase.
O som da cadeira ao meu lado sendo puxada me deixa saber que os
filhos da puta Ozborne ficarão mais um tempo aqui.
— Vocês dois não têm uma mulher para infernizar? — Ergo meu
copo para o barman, pedindo outra dose.
— A irmã de Zel chegou de viagem, ela aproveitou para levá-la ao
shopping com as crianças — Tauro responde, pedindo uma dose de bebida
para o barman, virando seu rosto para mim e sorrindo. — Então aproveitamos
para trazer o projeto da nova Odisseia.
Bruce estica o papel, entregando para mim, com um sorriso mais
sacana que o do seu primo.
— Você veio por quê?
— Na verdade, vim apenas para lhe ver tão miserável quanto eu e
Tauro ficamos. Naquele fim de ano.
Aperto minha mandíbula, com raiva, virando para frente e esmagando
o projeto em minhas mãos. Tinha rido tanto da cara dos dois, que ficaram
perdidos que nem filhotes sem sua dona, choramingando no bar da Odisseia,
que, para eles, nesse momento, eu sou um prato cheio. O suspiro de quem
está me fodendo, sentado ao meu lado, me faz olhar para Tauro, que sorri,
mais debochado.
— E aí? O que achou do novo visual da Luna? — Ele pega o copo de
bebida que o barman lhe serve, levando à boca, com um sorriso de merda ao
canto dos lábios.
— Sua mulher é um demônio! — Ranjo meus dentes, ao som da
risada de Bruce.
— Não culpe ela, Luna sempre esteve ali, apenas precisava de uma
ajudinha. E ela até ganhou alguns elogios na empresa. — Bruce estica suas
pernas, cruzando seus braços e soltando o ar do seu peito, me infernizando
mais com seu olhar de puto. — Acho que foi dos engenheiros, não foi,
Tauro?
Meu rosto se vira para Tauro, que coça seu queixo, como se estivesse
pensando, me deixando com vontade de socar sua cara.
— Não, foi dos meninos do departamento de análise, eles gostaram do
corte de cabelo dela.
— Seus escrotos de merda! — Aperto mais o copo, soltando meus
ombros. Se existe o anjo e o demônio que sussurram em cada lado dos
ombros, os meus estão em forma dos primos Ozborne, a diferença é que os
dois são os demônios.
— O legal é que já fez sua parte, agora ela está pronta para uma
relação. — A voz de Tauro sai prendida com um riso. Bate em meu ombro,
como se isso me consolasse. Afasto meu braço de perto dele, rosnando com
ódio. — Acho que ela já está, não acha, Bruce?
— Ela só está agindo como uma garota da idade dela. — Solto o
papel sobre o balcão, esfregando meu rosto.
— Não sei não, meu caro. Zelda sempre fala que mulher se arruma
para ela mesma, mas eu sei que, quando aquele rabo redondo desfila na
minha frente com uma saia apertada, é para me deixar avisado que, se não
olhar, outro olha.
Meus dedos saem do meu rosto, me deixando ver o olhar folgado de
Bruce com seus dentes à mostra, sorrindo para mim.
— Estão aqui só para me infernizar?
— Na verdade, a gente aprecia chutar cachorro morto! — A voz de
Tauro sai junto com uma risada, trocando uma olhada com Bruce.
Sinto raiva, quero arrancar a língua dos filhos da puta que estão
elogiando-a. Luna aprendeu tudo rápido demais, ela absorveu tudo que podia
e, cada vez mais, me vejo me perdendo nela.
— O negócio é o seguinte, Sedrico. A gente veio como bons amigos,
mostrando que não temos ressentimento por ter feito pouco do nosso
sofrimento aquela vez. — Bruce descruza seus braços, puxando a cadeira.
Ouço o som da outra fazer o mesmo movimento, com Tauro se aproximando
mais.
— Você está na merda e, vamos ser bem sinceros com você, já deve
ter passado da fase de procurar bocetas que o fazem saciar a vontade que tem,
e todas elas se parecem com a Luna. — Bruce me olha sério, erguendo seus
dedos para o barman e pedindo uma dose.
— Agora está na fase que seu pau não sobe nem com uma irmã
gêmea, se ela tivesse uma. — Viro para o demônio do outro lado, que fala
perto do meu ombro, olhando sério para mim com seus olhos azuis
brilhantes. — Bruce e eu passamos por isso. Se não for agora, Luna vai sair
da sua vida desfilando por aí com algum garoto com os hormônios à flor da
pele. E você vai ser a mera lembrança do daddy legal que ela teve.
— Agora a escolha é sua. Quer ser para sempre o daddy ou o homem
da vida dela?
Sinto meu peito ir se enchendo de gasolina, como se tivesse tacando
fogo dentro dele. Fecho minhas mãos com mais ódio.
— Dom. — Me viro para Devon, que está atrás de nós, com suas
mãos nas costas, olhando com receio para mim.
— Sim?
— Ao que parece, a senhorita Delis recusou o motorista hoje.
Já me levanto esmagando meu punho com raiva, olhando para ele,
que vai dando dois passos para trás.
— Como ele a perdeu?
— Ela o dispensou, senhor. — Ele traz uma de suas mãos à frente,
mostrando o celular dela.
— Mikpó... — brado, enraivecido, desejando que ela estivesse na
minha frente. Irei pôr aquele corpo em meus joelhos até sentir meus dedos
arderem junto com sua bunda. As risadas atrás de mim só aumentam, me
deixando mais colérico.
— Eu acho que ouvimos alguma coisa de reunião hoje, não foi,
Bruce? — Me viro, encarando os dois de braços cruzados, que erguem o copo
para mim.
— Talvez uma conversa entre ela e Zelda. Será que era uma festa?
Acho que sim, o que mais esses jovens cheios de hormônios fazem em uma
sexta à noite?
— Onde? — Meu peito arfa junto com minha respiração, que vai
saindo acelerada.
— Onde não sabemos, acho que foi um tal de Vice que a convidou.
— Stive — grunho, espumando de ódio por minha boca, já virando
meu corpo e retirando as chaves do meu bolso. — Cancele minha viagem,
Devon. — Arranco o celular dela da mão dele, passando reto pelo salão.
CAPÍTULO 10
O tributo do Deus

Luna
— Relaxa, Luna, é só uma reunião!
Não, isso não é uma reunião. Vejo a maioria da turma da minha sala
se misturando com outras tantas pessoas espalhadas pela grande casa. Uma
das meninas me passa um copo, o qual rejeito assim que sinto o cheiro de
álcool.
— Eu não bebo, obrigada. — Ela revira os olhos para mim, levando-o
para a boca dela.
— Qual é, Luna? Se solta um pouco. — Não quero me soltar, não
devia nem estar aqui.
Elas me disseram que seria apenas uma reunião da turma, assim como
Stive, quando me convidou ontem depois da aula. Tinha até comentado com
dona Zelda a respeito, rapidamente, porém, com tanta coisa, nem lembrei
disso. Estava quase entrando no carro para ir embora quando elas
apareceram, me convidando novamente para ir. Estava tão sem rumo, que
achei que seria bom me distrair conversando sobre a matéria. Ainda me
lembro do rosto desesperado de Antony quando eu disse que iria com elas.
— Por favor, senhorita, entre no carro. — Movo minha cabeça,
puxando apenas minha bolsa, que está caída no banco de trás.
— Antony, está tudo bem, é só uma reunião. Não estou fugindo por aí.
Abandonei-o sem nem pensar duas vezes. Sedrico está viajando
mesmo, Rana e Lola foram em uma festa do pijama na casa da vizinha da
frente, junto com Will. Minha mãe provavelmente nem estaria em casa. Eu
poderia distrair minha cabeça por um segundo. Mas estava errada, agora me
vejo aqui, com o maior arrependimento da minha vida, mais perdida que um
peixe fora d’água. Olho todos eles já alcoolizados, com alguns se pegando
pelos cantos. A menina que me chamou simplesmente sumiu quando recusei
a bebida, me dizendo que eu era uma velha, mas sou apenas uma pessoa que
já vi de perto o efeito do álcool. Não quero isso para mim, provavelmente
minha mãe deve ter começado assim, até não conseguir se livrar mais. Meu
olhar cai sobre uma menina que vai descendo as escadas, se escorando na
parede para não cair, me fazendo sentir meu peito se apertar. A música
aumenta quando Tove Lo – Habits começa a tocar, os fazendo sair correndo
pela grande porta aberta, pulando na piscina do lado de fora. Ando olhando
para eles, que apenas aproveitam o momento. Um rapaz passa por mim, me
assustando quando se aproxima, o cheiro da cerveja saindo da sua boca me
faz me encolher, desviando dele.
Sinto meu peito batendo acelerado, com agonia, me sentindo estranha.
Passo pela cozinha, procurando pela minha amiga. Vejo algumas meninas
virando vários copos, um atrás do outro, e algumas delas já vomitam
enquanto os rapazes empurram mais bebidas para elas. Saio de lá abraçando
meu corpo, me encolhendo mais, olhando porta por porta. Ao abrir uma, dois
meninos levantam seus rostos, olhando para mim com seus narizes brancos,
os limpando rapidamente.
— Tá a fim de dar um raio? — Balanço minha cabeça, olhando para a
carreira de cocaína em cima da pia com os cartões sujos ao lado. Um deles
ergue uma nota enrolada como canudo, empurrando para mim.
Fecho a porta, nervosa, sinto minha respiração acelerar, enquanto
tudo vai se tornando tão frio e triste. Passo o que parece uma eternidade lá
dentro, procurando pela minha amiga, sem chance alguma de encontrá-la no
meio daquele pessoal. Meu desespero aumenta quando abro minha bolsa e
não encontro meu celular. Sinto meu coração batendo em agonia, procurando
por cada canto da bolsa, sem sucesso algum. Olho assustada para aquele
ambiente desconhecido, sem nem saber onde estou, se tem um ponto de
ônibus por perto, ou alguma chance de pedir um táxi. Meus pés já me levam
para fora, onde sinto o ar batendo em minha face, e dou graças por conseguir
respirar outra vez. Meus dedos trêmulos passam por meu rosto, jogando meus
cabelos para trás e sinto meu peito acelerado. Olho em volta, vendo mais
gente chegando. Vários carros estacionam, alguns corpos estão deitados na
grama. É um bairro aonde nunca tinha vindo, em uma rua sem direção,
afastada de qualquer comércio.
— Luna? — Dou um pulo com o susto que tenho ao ouvir a voz de
Stive atrás de mim, segurando meu ombro. — Que bom que veio, eu não
tinha te visto.
Afasto-me, o vendo já mole, me usando para se apoiar. Dou um
sorriso nervoso.
— Na verdade, já estou indo. — Olho em volta, decidindo para qual
lado vou.
— Mas está cedo... — Ele tropeça, com sua voz mole, já voltando a
erguer seus braços para me puxar.
— Stive, eu... Eu tenho que ir. — Me viro, indo para fora do gramado,
ainda ouvindo ele falar entrecortado.
— Mas não bebeu nada...
— Eu não bebo. Na verdade, nem tinha que estar aqui, Stive. — Viro
meu rosto para ele, o vendo perto demais. Seus dedos seguram meus braços,
me puxando para ele. — Stive, você está bêbado... — Meus dedos se erguem,
empurrando seu peito.
— Não bebi tanto assim... Qual é, Lu? Me deixa te trazer uma
cerveja. — Forço meu rosto para trás. Tento sair dos seus braços, mas ele se
joga para frente, me abraçando mais forte. — Lu, você é tão linda...
— Stive, você está bêbado. Preciso que me solte... — Meu rosto vira
ao som do motor potente italiano, que vai rugindo como um trovão. —
Lycaios!
Sinto meu peito bater mais rápido, não só de desespero, na verdade,
mas de pavor puro, a cada acelerada que ele dá. O farol alto acerta-nos forte,
assim que o carro vira cantando pneu no asfalto, deixando sua cor vermelha
brilhar tão chamativa. Meu corpo se afasta de Stive, que olha assustado, junto
com os outros que estão na frente da casa, nos observando. A Ferrari para,
subindo em cima da calçada, a poucos centímetros de nós, me fazendo
congelar mais ainda no lugar. A porta do motorista é aberta pelo gigante
homem, que espuma pela boca, olhando diretamente para um Stive
embriagado, fazendo Lycaios arfar de raiva com seu punho fechado e
estufando seu peito com ódio. Meu corpo se move rápido, correndo para ele,
deixando meus braços se apertarem em sua cintura e escondendo meu rosto
em seu peito.
— EU SINTO MUITO... EU SINTO MUITO... Senhor... Por favor,
por favor, Sedrico. — Aperto mais seu corpo, com seu peito subindo e
descendo rápido, com meu rosto colado nele, soluçando entre minhas
lágrimas que descem rápidas, molhando sua roupa.
Sinto o aperto forte dele sobre meu corpo, me trazendo mais para si.
Meu rosto, molhado pelas lágrimas, se ergue, olhando com medo para ele, me
fazendo me encolher mais. Sua face ainda está fechada, encarando Stive com
tanto ódio e raiva, com seus dentes à mostra como um animal pronto para
atacar. Solto seu corpo apenas para levantar meus braços, indo para seu rosto,
segurando-o em minhas mãos e o fazendo olhar para mim.
— Eu sinto muito... Me desculpa. — Sua mandíbula travada se aperta
mais quando suas mãos se erguem, segurando meu rosto. Vejo a luz do poste
que ilumina sua face, tão dura e fechada, mostrando toda selvageria que ele
solta, fazendo-me sentir tão pequena diante da sua fúria.
Ele comprime mais sua boca, apertando sua mão em meu rosto,
escorregando por meus lábios trêmulos.
— Me perdoa... — Seguro mais seu rosto em meus dedos, apertando
sua face, chorando mais ainda. — Eu sinto muito, eu não achei que era uma
festa... Por favor, ele tá bêbado, ele não fez nada. — Choro mais, sentindo
medo do que está por vir.
— Entra! — Sua voz é baixa, mas sai rosnando. Soltando meu rosto,
me puxa pelo braço.
O deixo me levar para o carro e ele bate a porta com raiva, assim que
entro. Ele passa pela frente do carro, ainda encarando Stive, me fazendo me
encolher mais ainda quando ele entra dentro do veículo, o ligando com raiva
e acelerando ao dar a ré.
— Vá devagar, por favor... — Seguro forte o assento quando ele
ultrapassa os 220km/h e acelera mais ainda, disparando o carro pelo asfalto.
— Lhe dei uma regra, Luna, uma maldita regra simples! — Ele range
os dentes, apertando o volante e acelerando mais, soltando seu corpo com
raiva no assento.
— Por Deus! Eu não achei que era uma festa! — Estou apavorada,
esse não é o senhor que conheço, sempre controlador, inalcançável e
implacável.
— Não ouse me fazer de idiota, Luna! — Sua voz grita com mais
raiva, fora de si. Ele vira o carro, entrando em uma rodovia vazia, o fazendo
correr mais. — Nunca deixe de atender a porra do celular! Nunca deixe outro
tocar em você!
— Senhor, por favor, vá devagar. — O medo me engole a cada rugido
do motor e ele apenas grita mais, apertando seus dedos ao volante.
— Hijo de puta bastardo! Tocó lo que es mío.[65] — Sua mão estoura
com raiva, socando o volante.
— Eu sinto muito... Ele deve ter caído, eu não o deixei... Não o deixei.
— Estava querendo saber como é foder com um puto de merda como
aquele, Luna? — Ele se vira, me olhando com nojo, apertando mais sua boca.
— Se é para ser fodida sem respeito algum, eu a teria comido!
— Eu não estava atrás de sexo. — Minha voz treme entre o choro,
apertando mais meus dedos ao painel. — Para esse maldito carro agora e me
deixa ir embora!
Olho para o painel do carro e Sedrico já ultrapassa todos os limites de
velocidade. Meus dedos tremem, é como se minha vida fosse acabar ali.
— Por favor... Por favor... — Me viro para ele, segurando seu braço
com os olhos nublados pelas lágrimas, e suas esferas são uma forma fria e
cruel, me fazendo ter mais medo do que nunca tive. Não conheço esse
homem à minha frente.
Solto dos seus braços, apertando o cinto à minha volta, me encolho
trazendo meus joelhos ao meu peito e escondo minha cabeça, chorando
compulsivamente enquanto abraço minhas pernas.
Se não fosse pelo cinto, teria voado para fora do carro quando ele
freia com tudo em uma rua abandonada e sem saída, deixando-me ver o
grande penhasco à nossa frente.
— Oh, meu Deus! — grito em pânico, chorando desesperada, me
abraçando mais forte. Posso ouvir sua respiração acelerada e o motor do
carro, que vai desligando. Os sons dos meus soluços invadem o carro.
Estou tendo uma crise tão grande de choro, que não percebo quando
meu corpo é liberto do cinto, me puxando para ele. Escondo meu rosto no
grande peito que sobe e desce sem parar, me apertando mais à sua quentura.
Sua mão passa por minhas pernas, me carregando para seu colo. Sedrico beija
meus cabelos, alisando minhas costas, o que me faz chorar o dobro, e ali
deixo tudo para fora, exponho cada ferida aberta que trago, chorando por essa
loucura toda.
— Perdóname[66]... Perdóname, Mikpó. — Sua voz sai baixa entre
meus cabelos, enterrando seu rosto neles. Os braços de ferro me apertam
mais a ele e deixo meus dedos segurarem em seu ombro, como se ele fosse
minha tábua de salvação.
— Eu não sabia, eu juro que não sabia, não estava atrás de sexo. —
Meus dedos se cravam mais em seu terno. Soluçando entre o choro, escondo
mais meu rosto em seu peito.
— Eu sei... Eu... — Ele me aperta tão forte, soltando o ar com dor. —
Eu perdi a cabeça quando lhe vi com aquele menino a tendo tão perto. —
Sinto dor com seu aperto forte, me trazendo mais para ele. O rosnado grosso
sai da sua boca, escorregando seus lábios por meus cabelos, suspirando
rápido. — O que fez de mim, Mikpó? Como me fez perder todo o controle
em tão pouco tempo? Fazendo-me sentir ódio daquele menino, sentindo a
necessidade de matá-lo só por segurar você nos braços.
— Foi só um abraço, senhor, só isso, não aconteceu nada. — Ergo
meus olhos molhados para ele, me deixando ver sua face tão perto da minha.
— Eu senti ódio, senti raiva! — As grandes esferas do leão, tão
expressivas, estão extremamente perdidas, com seus olhos cheios de dor. —
Eu senti ciúme, Luna! — Sua mão solta meus cabelos, alisando minha face e
retirando as lágrimas que caem por ela. — Um homem feito, na minha idade,
sentiu ciúmes de uma criança!
— Mas, eu... — Fico sem entender por que ele teria... Esse homem
me pôs para fora de seu escritório com apenas um olhar, me deixando saber
que nunca iria querer nada de mim. — Por quê?
Ele solta sua respiração, como se estivesse com dor, soltando seu ar
lentamente. Sua mão se espalma mais em meu rosto, alisando, retirando
mechas dos meus cabelos, não lembrando em nada o homem que acabou de
agir como um leão selvagem. Seus olhos se prendem em meus lábios, me
deixando sentir todo o medo e vontade que vem antes do pulo ao abismo.
Sinto meu coração apertado, o mundo lá fora parou, minha vida congelou por
um tempo em volta dos seus braços.
— Nosso acordo mudou, Luna! E lhe garanto que, fodidamente, cada
pedaço do seu corpo saberá quem é seu senhor! — Sinto a pressão dos seus
dedos em meu rosto, me apertando em posse, com seu peito arfando a cada
respirada.
Fico em silêncio, entendendo o que ele acaba de me falar. Não penso,
nem ao menos consigo me ajustar à intensidade como ele me olha. É o
colapso de toda a destruição do meu mundo e me atiro no abismo que ele me
puxa. Abaixo meus lábios, colando-os aos seus e o caos que tenho dentro de
mim se silencia, me prendendo àquele único momento.
Seus dedos se apertam com propriedade em meus cabelos, me
puxando mais forte para ele, deixando seu peito estufado se colar ao meu.
Minhas mãos espalmam em cada lado do seu rosto, as apertando em sua pele.
Quero segurá-lo para ter certeza de que nada disso é um sonho, que não vou
acordar pelo despertador e me ver longe dele, como sempre acontece nos
meus sonhos. Quero a realidade, estou farta de tê-lo apenas em minhas
fantasias.
Ele é cruel e dominante, me beijando com força, me marcando a cada
canto que sua boca explora a minha, deixando sua língua ir deslizando sobre
a minha, que se entrega em dependência. Suas mãos vão para meu quadril, as
apertando mais em minha cintura e movendo-me contra ele, me forçando a
senti-lo duro e forte, pulsando com tanta agonia quanto eu. É como se
fôssemos a combustão do fogo de cada um. Meu corpo se incendeia assim
que sua língua desliza pela minha garganta e seus dedos invadem minha
camisa, puxando os botões com força. É uma necessidade que me dói a alma,
me fazendo vibrar em antecipação, e eu quero me queimar, quero virar pó em
seus braços, até não sobrar mais nada além do meu coração batendo colado
ao seu. Meus dedos, em nervosismo, puxam seu terno, conseguindo o tirar
dos seus braços, jogando-o pela janela aberta. Me derreto com sua boca, que
deixa seus beijos se alastrarem como fogo pelo meu corpo, me incendiando.
Sinto felicidade quando meus dedos tocam seu peito livre da camisa, que abri
com luxúria. Ele se arrepia ao toque dos meus dedos, sinto a maciez dos seus
pelos. Sinto as fortes mãos espalmadas em minha bunda, erguendo minha
saia, me deixando esparramada em suas pernas. Seu movimento de pressão
faz a calcinha encharcar mais ainda, assim que seu pau a roça por baixo de
sua roupa. Aperto minhas pernas em volta dele, pressionando mais minhas
coxas ao lado de suas pernas, para poder sentir seu volume outra vez,
deixando meus dedos trêmulos tentarem arrancar seu cinto, quando escorrega
por seu peito. Seu pênis vibra forte, assim que o liberto, deixando meus dedos
curiosos conhecerem cada canto dele, deslizando sobre a cabeça larga e
grossa. Sinto meus dedos escorregarem pelas veias que vão o enchendo mais,
ouvindo o baixo rugido que escapa da sua boca.
Sua cabeça se move junto à juba dourada. Exponho meus seios para
ele, que me faz arquear mais, em pura ansiedade, querendo mais, querendo
tudo que vem dele. Minhas mãos têm toda atenção ao seu eixo sob elas, que o
apertam, subindo e descendo lentamente. Ele solta um gemido com meu seio
em sua boca, o mordendo na ponta do bico, deixando o pico de dor se
misturar com o prazer. Deixo minhas mãos deslizarem, percorrendo seu pau
inteiro por cada canto. Sua boca solta meu seio, erguendo seu olhar para
mim, em um aviso silencioso de que não teremos volta, e, sem pedir licença,
seus dedos se abaixam entre nós, esfregando o tecido da calcinha, sentindo-a
molhada. Vejo seus olhos brilhando mais e logo um sorriso perverso se faz
em seus lábios carnudos.
— Molhador de calcinha, Mikpó. — Sua voz sai baixa, perto dos
meus lábios, trazendo sua boca para a minha e me beijando com todo poder
que lhe dou. Seus dedos escorregam pelo tecido fino e molhado, em um
tortuoso vai e vem. Sua outra mão puxa meus cabelos com força, me fazendo
arfar, gemendo entre nossos beijos. Ganho uma mordida como resposta. Ele
se afasta, me olhando com posse, com desejo.
— Se... nhor... — Seus dedos empurram a calcinha para a lateral,
apenas os esfregando entre os lábios da minha vagina, escorregando para meu
clitóris, que vibra quando sente seu toque outra vez. Minhas unhas se cravam
como resposta do meu corpo, se forçando mais a ele.
— O que deseja, minha Lua? — Sua boca se move, mordiscando meu
queixo, sussurrando entre seus lábios. — Diga o que precisa!
Nesse momento, meu mundo já é seu, me entregando em desespero.
Lhe diria que os temores mais obscuros da minha alma se ele quisesse saber.
— Você... Você... — Meus lábios entreabertos soltam minha
sentença, então ele me traz para ele, apertando seus dedos em meus cabelos e
me beijando com loucura.
Sua mão puxa com força a lateral da calcinha, rasgando-a como um
fino trapo em seus dedos. Me erguendo, com uma mão se fechando em minha
cintura, com seus dedos esmagando minha pele, ele me aperta com força e
meu corpo ganha mais vida. Fico em euforia quando a cabeça grossa do seu
pau estaca na entrada da minha vagina. Soltando meu peso, vai me
abaixando, me deixando o sentir firme abaixo de mim. Meu corpo reclama
com uma pontada de dor, resistindo ao seu tamanho, mas não me importo, o
quero dentro de mim, em cada parte do meu ser. Aperto minhas pernas ao
lado das suas e vou descendo, o tomando, me sentindo sendo atravessada ao
meio a cada passo que ele vai me penetrando mais. Seus dedos em minha
cintura apertam mais a carne, escorregando, espalmando as duas mãos de
cada lado da minha bunda.
— Ohh!!! — Deixo minha cabeça cair para trás, libertando meus
gemidos, que são tudo que se ouve dentro do carro, junto com sua respiração.
Solto mais meu peso, até sentir minha bunda colada em suas pernas, o
deixando me preencher toda por dentro, tomando cada nervo, cada canto, me
apertando mais a ele dentro de mim. Seus dedos me prendem, me segurando
no lugar com força, me fazendo erguer meus olhos para ele. Sedrico está se
esforçando, se segurando para não perder o controle, mas eu quero isso,
quero que ele se perca em meus braços, como estou perdida por ele. Colo
meu peito ao seu peitoral, beijando seu pescoço, fazendo o mesmo que ele
tinha feito em mim, o lambendo até sua boca, mordiscando seu queixo.
— Mikpó. — Sua voz grossa de luxúria me faz querer o que ele me
nega, sabendo que ele está tão perdido quanto eu. — Te desejo tanto que não
vou me controlar por muito tempo... Dios, como é bom sentir você assim tão
quente.
Meu quadril se move de mansinho, em um vaivém lento, sentindo seu
aperto ir se afrouxando. Sua boca busca a minha, me beijando com pura
paixão. Respira forte e traz suas mãos em minhas costas, me abraçando em
seu aperto de leão, me cercando para ele. Solto meu quadril e acelero meus
movimentos, mordendo sua boca, deixando meu corpo ir soltando tudo que
implora.
— Me tenha, meu senhor. — Beijo seus lábios, o atiçando a sair da
sua zona de conforto, deixando meus dentes rasparem por sua orelha. Quero
seu amor por completo.
A estocada forte que ele me dá sem aviso, me faz jogar minha cabeça
para trás, me fazendo gemer duas vezes mais com a corrente elétrica que
percorre meu corpo quando ele sai por completo, voltando a entrar com força
total.
— Oh, Deus, sim... Sim!!! — grito em felicidade ao ter ele todo
dentro de mim. Sedrico me segura firme em seus braços, erguendo meu
corpo, e logo o sinto me bombardeando outra vez.
Ele me invade, tomando-me com força, libertando o que ele segurava.
Acelera cada vez mais, nos levando a gemer selvagens, nos perdendo em
beijos. Minhas mãos escorregam por suas costas, percorrendo minhas unhas
por cada canto, a cada pressão que o sinto, me atrelando a ele ao se enterrar
por completo.
— Mikpó. — Ele morde meu pescoço, deixando seus dentes
perfurarem a pele, pressionando com mais força.
Entra e sai, me fodendo com tanta pressão que sinto meu corpo ir se
desmoronando com ele, o deixando me levar aos céus com seu ritmo bruto.
Suas mãos apertam forte minha bunda, enquanto seu pau me penetra
avassaladoramente com tanto desespero quanto eu o recebo. Meu cérebro está
explodindo em partículas de prazer, sentindo ele todo ir se chocando de uma
forma que nunca tinha sentido. O orgasmo vem forte, inesperado, como se há
muito tempo meu corpo esperasse por ele, apenas ele. Nunca tinha me jogado
de uma forma tão violenta quanto agora, quando o nirvana me puxa.
Sedrico me toma com mais força, tocando cada terminal entre as
paredes do meu corpo quente, que o recebe, me deixando inútil para outro
homem, pois sei que nunca, em nenhum momento, poderei deixar outro
homem me tocar, a não ser ele. O aperto com toda energia que tenho
correndo por meu corpo. Meus olhos se fecham e é uma dor misturada com
êxtase que me rouba o fôlego, e me sinto perdida quando ele se retira de mim.
Sua mão me ergue, tirando meu corpo de cima dele, me jogando no banco do
carona, sobre meus joelhos, de costas para ele. Nessa hora, não tem
matemática que explique como um homem daquele tamanho conseguiu se
contorcer tanto dentro daquele carro. Não se trata de física, é pura química
que nos toma em nossos corpos suados e quentes, gritando por libertação.
Suas mãos esmagam meu traseiro, o erguendo para ele. Sinto minha cabeça
parar próxima ao vidro, colando meu rosto nele. Meus dedos seguram a porta,
não me deixando desabar, e grito logo quando ele me invade com toda fúria,
o recebendo duro e forte em diversas estocadas contínuas, me deixando mais
molhada e quente do que já estou. Sinto como se minha mente explodisse em
outras dimensões, ativando nervos que nem eu mesma conheço dentro do
meu corpo, se ligando outra vez, ao tê-lo me bombardeando, como se fosse
atravessar meu corpo, botando para fora tudo de mim. Ele segura forte minha
coluna, jogando todo seu peso sobre minha bunda. Sua mão vai aos meus
cabelos, os puxando com força e prendendo em seus dedos, puxando-os para
trás. Sua outra mão, que está em minha cintura, desce, pressionando mais
forte meu clitóris, o esfregando com o mesmo ritmo forte que me toma.
— Ohh, meu Deus... Ohhhh... — O segundo orgasmo vem com o
dobro de força do primeiro, a cada batida frenética dele dentro de mim.
Posso sentir suas coxas se colando às minhas a cada batida forte que
ele me invade. Grito em êxtase, mordendo meus lábios. Sinto meus olhos
lacrimejando, com tanta intensidade. Seu pau sai e volta estocando mais
fundo, mais rápido. Mesmo com meu corpo tremendo, ele se move mais uma
vez, acertando o pico que me rasga, soltando um rugido como o verdadeiro
leão que é. Seu corpo sai do meu, que treme mais forte com o gozo que me
aplaca. Ouço seu urro forte dentro do carro, apertando meu quadril com uma
das suas mãos e logo sinto os jatos quentes caírem sobre minha bunda,
esfregando seu pau por minha pele, como se quisesse me marcar com sua
porra. Solto meus dedos da porta do carro, caindo sobre meus braços,
largada, miserável, mas com uma felicidade desgraçada me consumindo em
puro esgotamento de prazer. Não tenho certeza do que acabou de acontecer,
apenas tenho clareza que vai para bem longe de uma simples troca de luxúria.
— Eu machuquei você? — Ouço sua voz atrás de mim, entrecortada,
com sua respiração que tenta voltar ao normal. Meus lábios se perdem em um
sorriso e, foda-se, eu poderia estar toda dolorida e ainda assim me sentiria
feliz, desejando mais.
Sei que tenho que ter vergonha por estar com a bunda erguida em sua
direção, mas, nessa hora, pouco me importa. Ele acabou de foder com meu
cérebro junto com meu corpo, me deixando tão mole quanto uma massa de
bolo, e nem sinto quando suas mãos grandes seguram minha cintura, me
fazendo quase chorar quando minha vagina sensível se retrai, deixando os
tremores passarem por mim como pequenos choques.
— Ohhh, meu Deus... — Mordo o estofado, abafando meus gemidos
que saem, sentindo suas mãos alisando minha bunda.
Ele me ergue de vez, me sentando em seu colo e me deixando ficar lá.
Me aninhando a ele, passo meus braços por seu pescoço. Nossos corpos,
úmidos e colados, se chocam com os batimentos descompassados. Escondo
meu rosto em seu pescoço, sentindo os pequenos tremores me percorrerem,
nem sabia que uma coisa dessas podia acontecer. Ele alisa minhas costas,
mordiscando meus ombros, posso ouvir uma risada baixa saindo de seus
lábios.
— Mikpó. — Sinto seu beijo molhado e quente em meu ombro, onde
ele mordeu, em seguida, joga meus cabelos para trás, voltando a enterrar seus
dentes com mais pressão. — El mío, sólo mi![67]
Ergo minha cabeça, tentando me focar em seu lindo rosto. Seus olhos
brilham como a calmaria de um rio, me fazendo erguer minha mão, deixando
meus dedos traçarem por seu queixo dourado, sentindo sua barba rala fazer
cosquinhas neles. Estou perdida, jamais poderei afastá-lo e, se ele fizer isso,
eu morrerei na mais completa solidão, e isso nunca me trouxe tanta dor e
alegria ao mesmo tempo.
— O que fez de mim, Mikpó?! — Seus olhos se fecham, colo minha
testa a dele, que deixa sua respiração sair baixa.
Poderia ter lhe dito que não fiz nada mais do que entregar meu
coração em uma bandeja de ouro, como um tributo ao poderoso deus que
cruzou o meu caminho, e rezar para ele ser benevolente, não o destruindo em
suas mãos.
CAPÍTULO 11
O despertar de Afrodite

Sedrico
Andei por tanto tempo entre as noites, sendo o deus do pecado para
cada um que cruzou meu caminho, alimentando todos os desejos que
poderiam existir dentro de almas presas, soltando seus instintos mais
promíscuos e devassos, e me vejo agora entre a euforia carnal, sentado no
meio da cama com minha pequena Afrodite, devidamente fodida, com meu
pau enterrado em sua boceta, com suas pernas trêmulas sobre as minhas. O
pequeno corpo se contorce agarrada aos meus braços, cravando mais suas
unhas em minha pele. Eu não me lembro a última vez que trouxe alguém para
minha casa, mas sei que, assim que meu pau se afundou naquele corpo, nem a
noite mais longa me saciaria.
Os cabelos sedosos estão espalhados em meu peito, com suas costas
bem presa a mim, me deixando sentir cada novo arfar que ela solta. Luna é
meu pecado luxuoso, que se liberta através da minha mão, deslizando pela
lateral do seu corpo, conhecendo cada parte sua, mapeando cada reação que
ela tem entre meus toques. Meus dedos escorregam lentamente próximos aos
seus seios, fazendo-a arqueá-los mais em minha direção, com seus bicos
rígidos e inchados, nos quais passei um longo tempo mamando com puro
tesão. Um dos meus dedos contorna a parte debaixo deles, ouvindo o som
maravilhado dos seus lábios, com sua pele se arrepiando a cada deslize que
meus dedos dão sobre eles, segurando o bico sensível, os apertando com
força e soltando, intercalando entre um e outro. Meu outro braço, preso por
sua cintura, a segura quando ela se aproxima outra vez do abismo, puxando-a
para mim. Minha mão afasta seus cabelos, beijando seus ombros, raspando os
dentes pela pele desnuda.
Suas pernas sobre as minhas se prendem mais, deixando os espasmos
pulsarem em seus músculos. Sinto seu cheiro, que invade o quarto, me
deixando embriagado, com a força como ela vem em puro desespero. E,
mesmo com seus olhos me implorando para parar, seu corpo ainda responde,
com mais urgência. Ela tomba sua cabeça em meu peito, respirando rápido,
prendendo mais suas mãos em meus braços, levantando o pequeno rosto para
mim. Olho com pura posse para a face, que me consome, alimentando meus
demônios. Meu peito vibra quando minha cabeça se move para ela, sugando
seus lábios inchados, os abrindo para mim. Beijo-a com mais fome, meu pau
se move, empurrando dentro dela, fazendo-a choramingar. Empurro sua
cabeça para frente, meu nariz se enterra em seu pescoço, retirando seus
cabelos, tocando sua nuca com a ponta da minha língua. Ela respira mais
rápido, contorcendo seu corpo, levando suas mãos para minhas coxas, como
se pudesse se segurar. Deixo minha mão se erguer até seus ombros,
escorregando com as pontas dos dedos por eles, vendo-a tremer quando meus
dedos tocam a parte baixa do seu antebraço, deslizando por seus cotovelos.
Seu pequeno corpo é um mapa de prazer, me induzindo a desbravar cada
parte das suas zonas erógenas. Minha mão em volta da sua cintura afaga sua
barriga, se movendo para baixo e testando seu limite quando escorrego os
dedos indicador e médio entre sua boceta quente, preenchendo-a. Meu
indicador circula o pequeno broto que já está duro outra vez, a fazendo se
apertar em volta do meu pau, se agarrando mais a mim.
— Deus... Não... — Sua voz é tão manhosa. Perdida entre seu limite,
olha para mim com seus olhos dilatados, balançando sua cabeça em negativo.
Meu pau a responde, se movendo mais uma vez dentro dela. Sinto-a
vibrar, contorcendo mais seu corpo, dos dedos das mãos cravados em minha
coxa até os dedos dos pés, que se prendem ao colchão, contraindo mais suas
pernas. Sei que Luna está chegando ao máximo da sua intensidade, está na
borda, perto de alcançar o clímax do prazer.
— Mikpó... — sussurro baixo, próximo ao seu ouvido, com a ponta da
minha língua escorregando atrás da sua orelha. Meus dedos se viram,
pressionando o polegar, apertando mais seu broto inchado e massageando ele
em círculos lentos. — Deixe vir... — Beijo sua nuca, respirando entre sua
pele, fazendo-a gemer mais com seu corpo todo em combustão. Minha mão
livre se ergue ao seu seio, prendendo seu bico entre meus dedos, aumentando
a pressão do meu polegar em sua boceta.
— Muito... Muito... Oh, meu Deus! — Sua voz manhosa quebra o
quarto, em um grito de luxúria.
Seu cheiro de pura feminilidade exala através do suor que seu corpo
vai liberando. Ela se prende mais a mim, a cada movimento preciso que meu
polegar faz, a empurrando de vez. Luna liberta seu corpo, a cada espasmo
que lhe consome forte. Sinto os jatos quentes que vão lavando meu pau, com
ela voando mais alto. Suas pernas trêmulas se arrastando em euforia pelo
colchão. Prendo seu quadril com meu braço, com seu pequeno corpo trêmulo
se contorcendo de puro prazer. Ela respira extasiada, esfregando suas mãos
aos meus braços, se perdendo no abismo que cai. Meus lábios vão para seu
outro ombro, apertando meus dentes sobre ele, espalmando minha mão por
completo em sua boceta, acelerando o contato das peles, aumentando os jatos
quentes do seu squirt[68]. E, com pura luxúria ao lhe ter em seu auge do
prazer, apenas me movo, levando minhas mãos por debaixo das suas pernas e
erguendo sua bunda, tendo-a tão presa em meus dedos, que se cola à carne
macia. Viramos-nos sobre o colchão. Assim que seu corpo cai de bruços,
meus pés tocam o chão, puxando sua cintura junto comigo, a vendo morder o
lençol. O arrasta com ela, com suas mãos esmagando-o. Quero-a tão
fodidamente ligada a mim, que meu corpo sai e volta com pressão, apenas
para ter minhas bolas batendo em sua pele. Minha mão escorrega por sua
bunda, pressionando meu polegar na entrada apertada a qual eu, com toda
certeza, me enfiarei. Massageio seu cu conforme a fodo duro, voltando e
saindo. Sinto sua boceta apertada e tão quente, como um vulcão a me engolir
por completo. Meu pau estoura em mais uma sequência de seis batidas antes
de sair dela, os nervos das minhas coxas estão duros, tremendo, com a
libertação da minha porra, me deixando em puro prazer por cada jato que
escorre por suas pernas. Sinto-me um maldito deus com meu peito vibrando
em rápidas batidas aceleradas do meu coração. O corpo mole abaixo do meu
escorrega, deslizando na cama e ficando completamente mole. Me arrasto
sobre ela, com meu corpo a enjaulando, ouvindo os sons baixos da sua
respiração. E, sim, fodidamente essa boceta é minha.

Meus olhos se erguem da folha de economia para a pequena criatura


que entra perdida na cozinha, com uma camisa minha sobre seu corpo. Suas
mangas dobradas por várias voltas vão até seu pulso, caindo sobre suas
coxas. Seus cabelos molhados contêm pequenas gotas que escorrem pelo
tecido. Ela aperta os dedos na frente do corpo. Ergue seu rosto para mim,
com um pequeno sorriso ao canto da boca, o escondendo quando vira sua
face por cima do ombro, olhando em volta. Fecho o jornal, o deixando ao
lado da mesa e erguendo minha xícara de café.
— Buenos días[69], Mikpó. — Bebo o líquido quente, percorrendo seu
corpo. A vejo travada na entrada da cozinha com seu rosto baixo, olhando o
chão.
— Bom dia, senhor!
— Se sente, Luna, Devon mandou nosso café. — Aponto a cadeira,
esperando que ela caminhe. Ela apenas bate seus pés ao chão lentamente,
comprimindo mais seus lábios.
— Você vai rir... — Sua voz baixa sai estrangulada. Erguendo seus
dedos, tampa sua face.
Deixo a xícara sobre a mesa, apertando meus lábios e balançando a
cabeça em negativo. Eu poderia ir até ela e lhe pegar no colo, trazendo-a para
mim, como gostaria, mas apenas deixo meu lado sádico se vangloriar a cada
troca de peso que ela faz em suas pernas fracas. Afasto minha cadeira,
batendo em minha perna, fazendo-a olhar para mim.
— Mikpó, venha. Se sente aqui. — Seus lábios se apertam, quase me
implorando com seu olhar.
Mas, em um leve balançar de cabeça, lhe deixo saber que falo sério.
Seu pequeno corpo se move, lento, retraindo sua face. Deixo-a tão
envergonhada, enquanto apenas me sinto fodidamente feliz de saber que sou
o causador de suas pernas moles e andar desajeitado.
— Eu odeio você nesse momento. — Minha boca se retrai em um
sorriso, com meu olhar se inundando com minha pequena perfeição de
Afrodite.
— Terá alguns dias ainda para me odiar toda vez que andar — rosno
baixo para ela, que tenta caminhar normalmente, mas alimento meu ego
quando ela falha.
Suas pernas quase vacilam ao se aproximar de mim, mas meus braços
já estão se esticando, tirando ela do chão e a erguendo em minha perna.
Afasto os cabelos de sua face, vendo-a olhar para mim em silêncio.
— Perfecto! — sussurro, a deixando sair de minha perna e se sentar
ao meu lado. Seus olhos passam pelo meu peito, desvendando meus braços.
Volta a olhar para mim.
— Não sabia que tinha tatuagens. — Pego a xícara vazia, enchendo
de café e empurrando para ela.
— Um egocêntrico não pode ter tatuagens? — Ela sorri, bebendo seu
café e olhando para meus braços esculpidos com os deuses antigos.
— Lycaios pode tudo. — Sinto a pontada de deboche em sua voz, me
fazendo segurar a torrada no ar e a encarar, mas sei que ela está se
escondendo através das suas piadas.
— Como foi ontem? — Seus dedos puxam o morango do cesto,
olhando para mim com seus olhos arregalados.
— Creio que vai demorar para meus ossos voltarem à consistência de
antes. — Sorrio, balançando minha cabeça. Limpo minha mão.
— Por mais feliz que fique com essa resposta, me refiro à festa.
Ela encolhe seus ombros, desviando seu rosto para a grande porta da
cozinha, aberta.
— Enchi gratuitamente seu gigante ego. — Meus dedos se esticam,
puxando uma mecha de cabelo, fazendo-a olhar para mim.
— Responda à pergunta, Mikpó. — Sinto toda agonia ir me pegando,
preciso de sua resposta.
— Eu... Eu me senti perdida. — Meus dedos soltam seus cabelos, me
encosto na cadeira e analiso sua resposta.
— O que houve lá?
— Nada, eu apenas acho que não me encaixo... — Observo seus olhos
perdidos, olhando os morangos em seus dedos. — Antony não teve culpa, eu
lamento por tê-lo deixado lá.
Ela se cala, virando sua face para mim. Posso ver toda a atenção
sendo absorvida por seus olhos negros expressivos. Eu quero chutar aquele
garoto ainda, como se fosse uma bola de merda, o jogando para longe. Não
tenho ideia de como lidar com a juventude de Luna. Retiro o celular dela do
meu bolso, o deixando sobre a mesa, empurrando-o para perto do seu
cotovelo.
— Acho que esqueceu isso no carro ontem. — Ela o pega, apertando
seus lábios e me deixando ver sua face arrependida. Luna é um livro aberto,
que me mostra tudo o que sua boca não fala através dos seus olhos.
Ela o deixa parado do outro lado, perto dela, voltando a tomar seu
café.
— Onde estamos? — Seus olhos correm pela cozinha, voltando sua
atenção para a porta aberta que dá para o jardim.
— Esta é minha casa. Gosta? — Ela sorri mais ainda, mastigando um
pedaço de pão.
— Achei que morava na Odisseia. — Balanço a cabeça em negativo
para ela, mas a verdade é que passo mais tempo em qualquer lugar do que
aqui. E é a primeira vez que esse lugar não me parece tão solitário.
— E eu achava que poderia ser mais criativa. — Solto o ar, a vendo
me olhar sem entender. — Creio que o panaca deva ser eu em seus contatos.
— Oh, meu Deus! Você mexeu no meu celular? — Sua mão se ergue,
jogando um morango em minha direção, mas o pego no ar. Encaro-a com a
mesma fome de ontem, que nunca acaba.
— Não vejo qual é o pudor de ver seu celular. Você encharcou meu
colchão e não fiquei horrorizado. — Ela se engasga com o pedaço de pão,
envergonhada. — Verdade! Acho até que vou ter que trocar ele. — Admiro o
pequeno morango em meus dedos, fazendo-a ficar arfando com sua
respiração acelerada e seu pequeno rosto demonstrando ódio, entretanto,
cortaria meus pulsos antes de tirar o cheiro dela daquele lugar.
— É a criatura mais sem filtro, senhor!
— Troque meu nome e o deixe correto, Mikpó! — Mordo o morango,
me voltando para ela, que tem seus olhos presos à minha boca.
— E se eu não trocar... O que acontece se eu for desobediente?
Meu corpo se arruma na cadeira, cruzando meus braços sobre o peito,
olhando com atenção para sua face arteira. Balanço minha cabeça lentamente
para ela. Sinto minha respiração entrar quente, inflamando meu peito. Sorrio,
deixando minha cabeça cair, olhando para ela ter certeza de que não tem nem
chance.
— Sempre curiosa, minha doce Mikpó. — Ela não tem oportunidade,
nem me vê quando me levanto, já a puxando junto, deixando seu corpo sobre
a ilha da cozinha. Seus dedos, que se espalmam em meu peito, vão sendo
puxados por cima da sua cabeça, quando os prendo lá. — Eu vou gostar disso
tanto quanto você!
— Senhor... Senhor... — Ela entra em alerta quando meu corpo se
estica, soltando a mangueira da torneira da pia.
— Vai trocar aquele nome! — exclamo baixo, dando voltas em seu
pulso, encaixando a torneira no lugar e tendo a felicidade de ver Luna presa.
— Não! — fala, em um momento de coragem, sua voz tão trêmula
quanto ela.
Deixo meus dedos deslizarem pela grande camisa, para cima. Sua
pele nua brilha, deixando minha alma cínica liberta com minha menina má.
Ela torce seu corpo com raiva, quando a camisa para por cima do seu rosto,
sendo presa por seus braços erguidos.
— Merda! — Sorrio ao som da sua voz brava, xingando com ódio.
Solto um pequeno tapa no bico do seu seio, que se empina quando ela arqueia
para cima. — Não, isso dói, eu estava brincando... Eu... — A corto, puxando
sua perna, pegando o pano de prato e amarrando seus tornozelos juntos.
— Nem começamos, baby. — Meu corpo se vira na direção da mesa,
dando uma rápida mapeada e sorrio ao olhar a jarra de iogurte. — Diga-me,
Mikpó! Quantos sites pornô visitou?
— O quê? — Sua cabeça balança, se virando na direção da minha
voz. — Como... Oh, meu Deus!
Ela estica seu corpo quando viro a jarra lentamente, escorregando o
líquido gelado por seu corpo e me deixando ver sua pele se arrepiar. Vejo a
cor rosada se misturar com sua pele de chocolate, me fazendo saber que
nunca terei um café da manhã tão apetitoso.
— Se tocava enquanto assistia? — Seguro a jarra, cessando o líquido
de cair em sua pele.
— Não vamos falar sobre isso, e, por Deus, eu nunca mais mexo
naquele cel...
Ela se engasga assim que aperto o bico do seu seio em meus dedos.
Olho a forma como ela arqueia mais seu peito para mim entre seu choro, me
xingando.
— Não ouvi sua resposta. — Meus dedos vão para o outro seio,
repetindo a mesma sequência, apertando com mais pressão.
— OOOH, MEU DEUS... SIMM!!! — Ela tenta puxar seus dedos,
gritando em agonia.
— Em quem pensava? — Ergo meu olhar para seu rosto tampado, o
vendo parar de se mexer. Seus dedos se apertam mais sobre a mangueira.
Solta o ar.
— Não, não lhe darei esse gosto! — Meu sorriso aumenta em
satisfação.
— A ideia é bem essa, Mikpó. — Viro o iogurte outra vez por seu
bico sensível, com seu corpo se tremendo mais forte, esparramando-o pelo
resto do corpo dela.
Ergo a jarra outra vez, deixando minha boca cair, sugando seu seio
para dentro. Ela vibra com inquietação quando raspo os dentes, torturando-a
com mamadas fortes. Eu vou para o inferno, mas, por Deus, serei a alma
condenada mais feliz por ter tanto prazer por esse pequeno corpo.
— Senhor... Oh, meu Deus! — Solto seu seio, apenas indo para o
outro, o mamando com tanto gosto como o primeiro. Meu rosto se lambuza
em sua pele cremosa e fresca.
— Em quem? — pergunto outra vez, me afastando dos seus seios, os
apertando em minhas mãos.
— Isso é crueldade...
— Não! Isso é prazer, Mikpó! — Solto o ar, sendo engolido pela
luxúria, a qual é a visão dela ali para mim, me dando tudo que posso tomar.
— Acho que precisamos de mais.
— Mais?
Afasto-me dela, ouvindo sua voz de choro, e olho para a mesa do café
da manhã.
— Acho que morango combina com iogurte, não acha? — Olho por
cima do meu ombro, vendo-a tentar se puxar. — Está na ilha de mármore,
Mikpó, se rolar daí de cima vai cair e, além de assada, vai ficar manca.
— Seu egocêntrico de merda! — Ela para de se mexer, gritando com
raiva.
— Prefiro criativo. — Volto minha atenção para a mesa, decidindo
pelos morangos, puxando a cesta em minhas mãos. — Prefiro morango, a não
ser que queira banana...
Ela vira sua cabeça na direção da minha voz, colando suas coxas uma
à outra, voltando a puxar seus braços.
— Não ouse chegar perto de mim com uma banana. — Meus olhos
caem para baixo, vendo meu pau duro se esticar na bermuda. Ergo um
morango à boca, mastigando-o e me aproximando dela.
Levo outro morango à sua barriga, o esfregando no iogurte que
escorre, o trazendo para minha boca. Ela para de se mover, respirando mais
rápido.
— Você passou a fruta em mim? — Sua voz se engasga, abafada,
assim que sugo seu seio, provando o sabor do morango com iogurte e ela em
minha boca.
— Talvez. — Meus lábios sorriem, mastigando o morango. Pego
outro no cesto. — Ainda não disse. Com quem?
Movo-me, ficando entre suas pernas. Ergo-as para cima, deixando
descansarem em meu ombro.
— Eu... Eu... — Deixo o morango tocar perto da sua boceta, o
lambuzando perto do iogurte que escorre.
— Fondue de morango nunca me pareceu tão bom! — Esfrego mais
entre sua boceta, o levando para dentro com meus dedos.
— Deus... Eu vou para o inferno! — Ouço seu gemido se misturar
com seu prazer a cada leve movimento que faço com o morango, esfregando
e saindo por sua pele. Ela, eu não sei se vai, mas, com toda certeza, eu tenho
uma passagem de luxo direto para lá, pelo que desejo fazer em cada
centímetro do seu corpo.
— Com quem? — sibilo baixo, puxando seu corpo para mais perto do
meu, com suas pernas esticadas para cima.
Ela apenas balança sua cabeça em negativo, me fazendo apertar
minha mandíbula pela dor que já sinto em meu pau, que lateja pedindo para
sair. Esfrego o morango por seu clitóris, que está avermelhado, sensível
ainda, o deixando vibrar com apenas a passada leve por cima dele.
— Mikpó! — exclamo entre meus dentes, erguendo minha outra mão
e introduzindo dois dedos dentro dela, sentindo-a quente e inchada com suas
paredes molhadas.
Ela arqueia mais seu peito, respirando rápido. Entro e saio movendo
meus dedos dentro dela, alisando com a outra mão o seu clitóris com o
morango. Ela solta um gemido baixo, me deixando ver o iogurte escorrer
mais por cima da sua boceta, se derramando na beirada do mármore.
— Se excita vendo aqueles vídeos hardcore[70]? — Deixo mais um
dedo entrar, imaginando como seria lhe foder fundo com meu punho dentro
dela. Sinto meu corpo se enrijecer, tendo cada molécula do meu ser
concentrada em meus dedos sendo sugados para sua boceta. — Imagina seu
corpo submisso sendo entregue ao prazer do seu dono?
— Oh... — Minha boca desliza por sua perna, apoiada em seu ombro,
vendo-a se arrepiar, gemendo baixo.
— Mikpó, responda! — Mordo seu tornozelo, enfiando mais fundo
meus dedos.
— OHHH... — Ela se engasga, se contorcendo, voltando a testar
meus limites.
— Mikpó, vou lhe foder com meu punho inteiro se não me responder.
— Deixo meu rosto esfregar por sua perna, inalando seu cheiro, que vai me
devorando mais e mais.
Forço meus dedos a entrarem com mais pressão, sentindo seu corpo
se contrair e os empurrando para fora com suas paredes se apertando mais
forte.
— Sim. Oh, Deus! Sim, era você... Era você, só você! — Sua voz
trêmula sai entre um choro baixo de prazer e dor.
Fecho meus olhos, apertando minha mandíbula. Tento puxar algum
amaldiçoado fio do meu autocontrole. Suas pernas quentes estão ao lado do
meu rosto, onde esfrego minha face como um cão sentindo o cheiro da sua
cadela no cio, querendo montar nela, marcando-a por inteira. Porém, sinto
sua boceta sensível por dentro, se a foder como eu quero agora, não estarei
lhe deixando apenas dolorida, e sim machucada. Um bom dominador não
quebra seu precioso brinquedo. Retiro meus dedos, puxando o morango dela,
levando à minha boca e o mastigando lentamente, como se fosse ela própria
que estivesse se desfazendo em meus lábios. Meu corpo se abaixa, usando
minhas mãos para deixar suas pernas erguidas, empurrando para perto dela,
que fica completamente exposta para mim. Ainda tenho o resto do morango
na boca quando deslizo a língua por sua boceta, escorregando entre a pele
fina do seu cu. Ela geme mais alto quando sugo o iogurte que escorre por lá,
voltando minha língua com pinceladas por cada canto. Preciso de apenas
alguns círculos em cima do clitóris pulsante antes do próprio creme dela se
misturar à coalhada. Ela respira rápido, subindo como um foguete,
estourando sobre minha boca. Lambo cada canto dela, dando uma mordida na
sua coxa erguida. Meu corpo se arruma, endireitando minhas costas e
soltando meu pau, apertando-o entre meus dedos. O esfrego com força e
rapidez, da mesma forma que gostaria de estar fodendo seu corpo. Meu rosto
se ergue enquanto me perco, me masturbando, olhando seu peito que sobe e
desce acelerado, me deixando à beira do precipício. Aperto mais forte sua
coxa em meus dedos, trazendo suas pernas para meu peito outra vez. Sinto a
corrente que me corta. Minha cabeça se vira, cravando meus dentes em sua
perna, até sentir eles apertando a carne, rosnando junto com minha porra que
jorra do meu pau. Sinto meu peito batendo acelerado, sendo consumido pela
minha doce Mikpó. E é entre o nirvana que me afasto dela, soltando meu pau,
olhando a porra escorrer por sua coxa.
Meu peito arfa junto ao dela, que vai desacelerando, me afogando
como uma noite intérmina de luxúria. Estico meu braço, pegando um
morango do cesto, o esfrego em sua perna, onde minha porra está, até o
deixar completo com puro glacê. Olho a marca perfeita da minha mordida,
gravada em sua perna, dando um beijo antes de lhe soltar. Ela tem seu rosto
suado, com seus cabelos bagunçados, quando liberto sua face do pano da
camisa. Meus olhos ficam presos aos seus, me deixando me perder no único
vício ao qual não tenho mais nenhum controle.
— Está tomando os anticoncepcionais que a ginecologista lhe passou?
— Me movo, ficando a centímetros da sua face. Sinto o ar quente que sai dos
seus lábios, com sua respiração agitada. Ela balança sua cabeça em negativo,
olhando para mim extremamente perdida. — Por quê?
— Eu não tinha vida sexual, nunca achei que iria me querer. — As
esferas negras brilham a cada respiração que puxa, com sua voz arrastada.
Ergo minha mão, retirando as mechas caídas sobre seu rosto, vendo-a
tão perfeita com seus olhos expressivos. Levo o morango em meus dedos
para sua boca, fechando seus lábios em volta dele. Seus olhos se fecham com
um baixo suspiro, voltando a se abrir, mordendo-o ao meio.
— Comece a tomar. Na próxima vez, minha porra vai estar dentro da
sua boceta!
CAPÍTULO 12
A maldição de Hades e Perséfone

Luna
— Onde estava? — A voz da minha mãe é a primeira coisa a me
acertar, assim que atravesso a porta da entrada. Ao erguer meu olhar, ela está
com seus braços cruzados diante do seu corpo, parada na cozinha.
— Eu saí com as meninas da faculdade, sinto muito por não ter
avisado, acabei esquecendo. Não foi por maldade. — Ela apenas move seu
olhar do meu rosto, me fazendo me calar, olhando para meu corpo. Eu tinha
encontrado minha saia dentro do carro de Sedrico, já a pobre camisa não teve
o mesmo fim.
— Que camisa é essa? — Aperto meus braços na gigante camisa que
Lycaios me fez vestir. Tinha rido com seu olhar, me sentindo bem ao vestir a
roupa dele, mas agora, diante da minha mãe, sinto como se a camisa estivesse
me salvando da tempestade negra que ela traz.
— Eu... Hum... Bom, sujei minha camisa. — Olho para as escadas,
me apertando mais àquela roupa, sentindo o cheiro dele, que me deixa mais
segura. Tento passar reto, sem mirar muito em sua face, abaixando a cabeça.
— Eu só vou trocar de roupa e já desço para faxinar a casa.
— Lu. — O som baixo da sua voz faz eu parar no caminho, me
apertando mais ao meu corpo. — Não minta para mim! Conheço o olhar de
uma mulher apaixonada.
— Mãe... — Me viro para ela, vendo-a olhar para a porta de entrada
com desgosto.
— É aquele homem, não é? Finalmente ele cobrou seu preço. — Ela
ergue seu tom de voz e, na mesma hora, olho para a sala, vendo as crianças
distraídas com a TV.
— A senhora está entendendo errado — sussurro para ela, me virando
e subindo as escadas. Não vou falar com ela sobre Sedrico, é a única coisa
que tenho que ela não destruiu.
— Você não vê, Luna. — O som dos seus passos atrás de mim me
fazem acelerar mais, entrando no quarto.
Nem tenho tempo de fechar a porta, pois ela já está passando.
— Mãe, deixa eu me trocar! — Sua mão já está em meu rosto, o
empurrando para o lado e olhando meu pescoço marcado.
— Foi esse preço que pagou! — Tento me afastar dos seus dedos, que
continuam esmagando minha pele.
— Mãe, me solta! — Retiro sua mão de mim, sentindo meu peito
queimar diante do seu olhar. Jogo a bolsa sobre a cama, retirando meus
sapatos, olhando-a me encarar, soltando seus ombros.
— Você é só um passatempo para ele, é isso que homens como ele
fazem com garotas como você.
— Como eu? — Meu corpo se endireita, segurando o outro sapato em
meus dedos, me sentindo perdida. — Explique, como são garotas como eu,
mãe?
Seu corpo se move, parando à minha frente. Segura meu braço, me
fazendo a encarar.
— Ingênuas, bobas, que vivem no mundo das fantasias. — Ouço
aquilo sem acreditar que ela tem coragem de me dizer que eu vivo no mundo
das fantasias. Qual é a fantasia que tenho na minha vida de merda?
— Para!
— Olha para você, Lu! Você é linda, nova, é a fantasia ambulante de
todo homem com essa sua cor...
— Minha cor? — Minha cabeça tomba para o lado, observando-a
entre minha dor. Sinto ela enfiar uma faca em meu coração e a torcer
lentamente. Meu corpo se move para trás, me livrando dos seus dedos. — O
que tem minha cor, mãe? Me fala! — Comprimo meus lábios com raiva,
jogando o maldito sapato no chão.
— Não ouse me olhar com essa cara, Luna Delis. — Seus dedos
esfregam sua face, soltando o ar lentamente. — Nunca me importei com sua
cor e não sou racista, sabe muito bem disso. Mesmo quando seu pai apareceu
com você na porta da minha casa, mesmo tendo puxado a cor de sua mãe, eu
a amei no primeiro momento que vi você e lhe amaria da mesma forma se
fosse roxa!
— Então, por que acha que ele não me amaria? — Sinto meus olhos
ardendo, enquanto ela vai destruindo a única coisa boa que me aconteceu.
Quero chorar, mas me nego cair à sua frente e segurarei até o fim. — Minha
mãe se casou com um homem branco também, por que acha que um homem
branco não pode me amar?
— Sua mãe se casou com um homem branco, pobre e trabalhador,
que lutava para garantir seu sustento. — Ela solta suas palavras como um
tapa frio em meu rosto, deixando as verdades cruéis me acertarem. — Luna,
meu amor, ele pode lhe amar, como todo homem lhe amaria.
Ela se move lenta, erguendo seus dedos para meu rosto, o alisando,
enquanto esmaga meu coração.
— Mas apenas entre quatro paredes. Ele nunca sairá gritando para o
mundo que tem uma mulher de cor ao seu lado. A vida dele é outra, seu
mundo é outro, e você, no momento, é só uma decoração bonita. — Tento me
afastar dela, mas ela me segura com força. — Você acha que não sei? Que
não vi várias e várias amigas negras, lindas, exóticas, se acabando de amores
por homens perfeitos em seus ternos de grife, que enchiam elas de joias,
presentes de luxo e luxúria, mas nunca andavam de mãos dadas com elas em
um salão da alta sociedade? Você pode ir, como ele sempre te leva, mas
sempre será atrás, nunca ao lado, e vai acabar como elas. Apenas será útil
para aquecer a cama dele, Luna.
— Não é assim, mãe... — Abaixo minha cabeça, escondendo-a em
minhas mãos, sentindo meu coração se partir com meu corpo desabando na
beirada da cama.
É como estar em um dia lindo de sol e, como se por mágica, uma
grande nuvem escura surgisse à sua frente, deixando tudo tão escuro, vazio e
cheio de dor, lhe sufocando até sentir sua alma sair do corpo.
— Luna, só não quero lhe ver com o coração partido em vários
pedaços. — Ela se abaixa, segurando meus joelhos. Balanço minha cabeça
lentamente para ela.
— Mãe, já sou grande. — Deixo as mãos caírem em meu colo,
olhando para ela com dor. — Se meu coração se quebrar, não se preocupe,
irei catar pedaço por pedaço e ficar firme, como sempre fui obrigada a ficar.
— Vejo seus olhos escurecendo quando ela se levanta, olhando para mim
com nojo.
— Quando isso acontecer, porque vai acontecer, Luna — ela fecha
sua face, engolindo seu ar —, eu vou estar aqui para te dizer que lhe avisei.
— Por que tem que ser tão cruel, mãe? — Sinto meu peito sangrando
quando ela tira a faca que me corta, perdendo meu olhar em meus dedos, sem
desejar olhar para sua face.
— Porque a verdade é cruel!
Permito-me chorar apenas depois dela ter saído do quarto, batendo a
porta atrás de si. Me levanto, caminhando entre as lágrimas que jorram dos
meus olhos, e giro a chave da porta, com meu corpo escorrendo entre a
madeira, até meus joelhos tocarem o chão. Abraço a roupa, como se fosse ele
a estar ali, me dando um pouco de acalento. Não é verdade o que ela me
disse, não vou deixar aquele veneno se alastrar.
— Conte-me o que esconde por trás desses olhos, Mikpó. — Seus
dedos se erguem, alisando meus cabelos. Esfrego mais meu rosto ao seu
peito, com seus braços me prendendo a ele. Estamos deitados na cama.
Quero morrer nesse momento, pois assim sei que alguma coisa valeu a pena
na minha vida.
— Estou sentindo medo — sussurro, erguendo minha face para ele
quando seus dedos prendem meu queixo, segurando-o. Meus olhos aos seus
se perdem na intensidade que há lá. A grande mão solta meu queixo,
alisando meu rosto.
— Por quê?
— Porque não vejo futuro nisso, senhor — digo toda a verdade que
sinto em meu peito. — E não sou uma menina tola. Tenho a nítida
consciência que tem uma grande diferença entre nós.
— Você fala por minha idade, Luna? — Seus olhos se escurecem
mais, deixando seu peito arfar, soltando o ar pesadamente.
— Não... Claro que não! — Fecho meus olhos, encostando meu rosto
ao seu, sentindo sua respiração. — Eu cometeria a mesma loucura se você
tivesse o triplo da minha idade. Mas não sou ingênua, seu mundo é muito
diferente do meu, senhor.
Ele me puxa, colando meus lábios aos seus, me beijando docemente e
deixando suas mãos passarem por minhas costas.
— Então construirei um mundo apenas nosso, Mikpó... — Sua voz
grossa me sussurra isso em uma promessa tão perfeita, deixando-me me
perder mais. O abraço mais forte, prometendo a mim que chorarei apenas
em meu quarto escondida e que, por esse segundo, irei acreditar nessa doce
ilusão que ele nos promete.

No domingo de manhã, depois de terminar de estender a roupa,


empurro meu corpo à base da obrigação, com os olhos abatidos de chorar e
passar a noite em claro. Entro com o cesto vazio, vou para a cozinha fazer o
almoço das crianças, mas sou pega por minha mãe, que está me esperando
sentada na mesa.
— Eu quero ir embora daqui, Luna! — minha mãe solta, me fazendo
ficar em silêncio, olhando confusa para ela.
— Como? — Caminho para o corredor, os vendo sentados na sala,
brincando entre eles. Solto o cesto lentamente, voltando minha atenção para
ela.
— Quero voltar para onde é nosso lugar. — Suas mãos estão
nervosas, se mexendo sobre a mesa, tamborilando em agonia. — Para nossa
casa.
— Mãe, aqui é nossa casa! — Seguro o pano de prato perto da pia, o
esmagando em meus dedos.
— Não. Não é nossa casa, não é nosso mundo. — Sua voz fala
trêmula, me deixando ver seu rosto aflito. — Nada disso é parecido com a
gente.
— Não vamos voltar. — Minha voz sai firme. Me viro para a pia,
espalmando minha mão nela. Me recuso a ouvir o que ela está dizendo.
— Não precisamos ir para lá, podemos achar outro lugar, com nossos
móveis antigos... Olhe isso tudo, Luna, isso não é para a gente!
— Mãe, por favor... — Ergo meus dedos, esfregando minhas
têmporas, que latejam de dor.
— Quero ir embora daqui, vamos ser felizes juntas outra vez. Aqui
não temos mais nosso tempo, você fica pouco tempo comigo. Essa casa, essas
coisas caras... Tudo não é nosso. — Me viro quando ela ergue seu tom de
voz, encarando-a. Sinto-me tão destruída com sua ingratidão.
— Mãe, não vamos embora. Nunca mais vou voltar a passar fome,
nunca mais vou deixar meus irmãos serem olhados com indiferença. Você
não entende, mãe... Você não percebe que tudo isso aqui é para vocês? Para
que eu possa trazer Cadu para casa? — Sinto minha boca tremendo quando
minha voz se ergue para ela. — Não vou voltar para aquela vida miserável!
— Você mudou... Você não é mais a mesma. Está pensando apenas
em você, em tudo que esse homem está lhe bancando. — Seus dedos se
erguem e apontam para o meu rosto. Suas palavras são o fim para mim.
Sinto-me transbordando por tudo que ela me falou ontem.
— Pensando em mim? — Minha boca se esmaga de raiva quando
meus dedos batem em meu peito. — Deus! Eu abri mão de tudo por você,
deixei de viver minha vida para cuidar de todos, para cuidar de você, que se
mata todo dia, e você diz que estou pensando em mim, mãe? — A respiração
me queima com cada lembrança que vem dela em minha cabeça, de todas as
vezes que fui buscá-la na rua, caída, ou quando vomitava pela casa toda. —
Acha que pensei em mim quando meus irmãos dormiam em uma cama
segurada por tijolos, com uma coberta velha e rasgada? Que vejo Lola olhar
as outras crianças com uma boneca linda, enquanto a dela é de retalhos? Que
fui trabalhar como dançarina com aquele asqueroso do Zack para pagar sua
maldita dívida, a qual você me deu como pagamento?
— Não tem o direito de me dizer isso! — Sua voz sai mais alta que a
minha, me chutando para fora com sua cara de pau.
— Acha que penso em mim, mãe, quando aceito tudo o que Sedrico
me oferece para ter meu irmão de volta e lhe resgatar de um orfanato, porque
você — grito com raiva, apontando para ela —, você não pôde controlar esse
seu maldito vício? Então me diga, quem pensou só em quem aqui, mãe?
— Eu tenho uma doença, Luna! — ela grita, pálida, ficando de pé
com seu rosto fechado de raiva.
— Uma maldita doença que custou minha vida, que custou eu ter que
ser mãe dos meus irmãos, já que você não tinha condições de arcar com suas
responsabilidades! Uma doença que levou meu irmão para longe de mim!
Quando termino de falar, estou com o coração na boca. Meus dedos
tremem, minhas vistas estão borradas por lágrimas. Minha mãe, pálida, em
silêncio, me olha vazia, com seus olhos cheios de lágrimas.
— Mãe... Eu... Eu sinto muito — sussurro para ela, deixando meu
olhar se perder ao chão.
— Esse homem é um demônio, ele vai lhe arrastar para o inferno
junto com ele. — Minha mãe sai de lá sem nem olhar para meu rosto.
Meu corpo se escora na parede, tampo minha face com meus dedos.
Eu quero que ela seja feliz. Tudo em minha vida mudou, mas, a cada passo,
eu luto por eles, por ela.
— Lu... — Meu rosto se ergue para a minha Rana, que me observa
com sofrimento, com seus braços apertados em volta do seu corpo.
— Ei, está tudo bem. — Estico meus braços, puxando-a pelo ombro.
Posso ver seus olhos assustados. — A mãe só está nervosa.
— A gente vai voltar para aquele lugar? — Sua voz baixa sai trêmula,
me fazendo erguer meus dedos, limpando seu rosto.
— Não! — Balanço minha cabeça em negativo, tentando sorrir para
ela. Rana é uma alegria que tenho, sempre tão perdida em seu mundo, que
apenas ela consegue entrar. E isso é o maior orgulho que sinto, poder
proteger ela de tudo que vai nos corroendo à nossa volta. Não suporto ver
seus olhos marejados. — A gente nunca vai voltar para aquele lugar, Rana,
eu lhe prometo!
— A mãe está com medo. — Ela me olha perdida, virando seu rosto
para as escadas.
— Eu sei, meu amor. — Empurro as mechas dos seus cabelos para
trás, beijando sua testa.
Eu sei que minha mãe sente medo por tudo. Medo de ficar sozinha.
Compreendo que a dependência dela em mim é tão culpa minha quanto dela.
Eu deixei Vilma, por muito tempo, jogar toda a carga do meu pai sobre meus
ombros, abraçando tudo que poderia alcançar: ser o homem da casa, ser a
mãe dos meus irmãos, ser a própria mãe da minha mãe, a deixando livre das
responsabilidades, se afogando mais em seu vício, e, por amar demais ela e
meus irmãos, me calava, nutrindo um desejo que um dia ela fosse mudar, que
ela voltasse a ser pelo menos um pouco como aquela mulher que amou meu
pai. Sentia pena por ela e foi a pena que nutri que nos fez chegar até aqui. Seu
medo do abandono. Se achasse que realmente a deixaria, largando tudo em
cima do seu colo, ela entraria em colapso antes mesmo de começar. Eu fiz
por eles. Não tenho como explicar para ela que o que me liga a Sedrico é a
posse que ele tem por mim, e que eu me deixo ser acalentada por ele, pois por
uma vez na minha vida, não tenho que ser a estrutura de tudo. É como ter um
grande forte que me abrigará na tempestade mais forte e, mesmo sabendo que
uma hora ele partirá, eu me deixo ficar. Deixo-me ficar para poder continuar
sobrevivendo aqui.
— A mãe disse que está saindo com aquele homem. — Fecho meus
olhos, me sentindo triste por ela ter falado coisas que nem eu mesmo entendo
para Rana.
Afasto-me de Rana, soltando o ar lentamente. Já sinto minhas pernas
cansadas e moles. Apenas arrasto a cadeira, me deixando usá-la como auxílio
para não desmoronar. Meus olhos se perdem nas xícaras risonhas da toalha de
mesa, contornando com meus dedos. Ouço a cadeira à minha frente ser
arrastada, com ela se sentando de mansinho. Ao erguer meu rosto para ela,
vejo suas covinhas escondidas em sua bochecha, com seus olhos negros tão
expressivos, brilhando com seus cílios longos. Eu sei que ela espera uma
negação, pois sempre agi para ser um bom exemplo para ela e os outros, mas
agora me sinto sendo engolida pela culpa de não estar fazendo mais o que lhe
prometi.
— Quando a gente fica adulto... fazemos escolhas, e algumas delas
não são de se orgulhar. — Seus dedos finos, com as pequenas unhas pintadas
em rosa-choque, se prendem em minha mão, acariciando-a lentamente. — Eu
faria tudo por vocês, Rana, eu prometi que cuidaria de vocês. O senhor
Lycaios entrou na minha vida de uma forma que eu não esperava. Mas eu não
quero que sinta vergonha de mim, apenas que saiba que...
Calo-me, mordendo meus lábios, deixando meus olhos correrem pela
cozinha, que antigamente eu entrava apenas para faxinar para a dona Zelda, e
agora é a mesma que entro para fazer as refeições para meus irmãos. Os
armários novos, com seus mármores brancos, destacam cada eletrodoméstico
de inox. Lembro da porta do armário do antigo apartamento, que sempre
estava caindo, no qual trocava os parafusos, rezando para ele segurar e ser
forte mais um pouco. A geladeira descascada, com suas ferrugens correndo
dos pés até a porta, sempre tão vazia e tendo apenas o necessário. Meus olhos
ardem, prendendo a respiração em meu peito. O velho fogão, o qual tinha
ganhado de uma patroa, era antigo e velhinho, mas eu sentia orgulho de ariar
cada tampinha, com sua cor amarelada tão antiga. Como odiava quando o gás
acabava apenas nos dias que conseguia deixar algum dinheiro guardado. E a
dor que sentia por nunca poder fazer mais do que o necessário para saciar a
fome deles. Agora, cada traço da grande cozinha branca é iluminado, com as
cortinas de cenouras brilhando junto a janela. Eu não tenho apenas uma
janela. Naquele apartamento, era sempre tão escuro e vazio... Eu não sei para
onde estou indo, mas sei para onde jamais voltarei.
— Apenas saiba que faria as mesmas escolhas, um milhão de vezes,
para ter a segurança de vocês. — Meu rosto se move, voltando para os
grandes olhos expressivos.
Rana suspira, compreendendo que não posso desmentir o que minha
mãe lhe falou e, por mais que queira não acreditar nas palavras duras da
minha mãe, compreendo que a verdade é cruel. Eu me vendi, eu paguei o
preço pelo conforto dos meus irmãos, pela volta de Cadu, e terei que ser forte
quando o momento da partida dele chegar, porque, independente da minha
mãe desejar isso ou não, ela está certa. Uma hora, esse momento irá chegar.
— Eu sempre vou estar com você. — Sorrio, erguendo meus dedos e
afagando seu rosto. O amor expressado em seus olhos faz tudo valer a pena.
— Eu sempre vou estar com você! — sussurro, erguendo meu corpo
sobre a mesa, colando minha testa a dela.
Ao contrário dos pensamentos da minha mãe, eu não posso mais
voltar atrás e nem quero. Sedrico faz parte de mim como o oxigênio que entra
em meus pulmões, o que apenas vai aumentando a cada nova descoberta que
ele me proporciona. Me viciei nele, tão rapidamente a ponto de sempre
buscar mais. A cada saída do trabalho que o vejo me esperando do lado de
fora da empresa, corro em sua direção, me entregando em seus braços quando
ele me tira do chão. Tudo à minha volta já não tem a mesma importância.
Não importa mais o que temos ou como acabará, se é apenas por sexo, ou a
vida inteira. Eu ficarei. Enquanto ele me permitir, eu serei o que ele quiser de
mim. E sim, ele teve sua raiva aplacada quando marcou meu pescoço, o
deixando roxo por uma semana com as marcas dos seus dentes, comigo tendo
que ir para a faculdade com ele exposto até as marcas se apagarem. Alimentei
seu animal interior, que estufa seu peito, como um macho alfa, fazendo todos
os olhos do campus repousarem na Ferrari Omologata vermelha estacionada
na portaria. E o que antes me faria gritar de raiva com sua forma egocêntrica,
apenas me pega fazendo meu coração acelerar, batendo mais rápido, indo
para ele como Ícaro com suas asas de cera voando a caminho do sol, sem me
preocupar com a queda, pois apenas estar ali já é o que me basta.
Os sábados já não são tão enfadonhos, largada no sofá dentro do seu
escritório, escondida atrás dos meus livros. Agora são completamente
tortuosos, aumentando sua coleção particular das minhas calcinhas, que faz
questão de tirar uma a uma, antes de me enxotar para longe dele, se negando
a me tocar até ter terminado de estudar. E sim, ele consegue ser mais
egocêntrico do que sempre foi, sentando-se em sua grande cadeira de couro,
imponente como um deus promíscuo, me olhando de longe, me torturando a
cada batimento que meu coração salta ao vê-lo tão belo e cruel com sua juba
dourada, jogando meus limites ao chão. Foi certo orgulho que senti ao ver sua
face se apertar em um desses sábados, quando me levantei do sofá,
espreguiçando meu corpo e jogando o livro ao chão. Sua atenção, disfarçada
entre a tela do computador, ficou se revezando a cada movimento que eu
fazia. Meus joelhos se abaixaram ao carpete, me deixando de costas para ele,
espalmando meus dedos ao chão e deslizando lentamente.
— Mikpó... — Sua voz rosna baixa, com sua respiração acelerada.
Aumento meu sorriso, esticando mais minha traseira para cima, como um
pequeno gato preguiçoso.
Deito-me ao chão, deixando meus cotovelos perto do livro,
sustentando a parte superior do meu corpo, de frente para a porta. E, para
meu senhor, apenas a visão da saia levemente levantada com um pedaço da
polpa da minha bunda de fora, batendo meus pés e erguendo lentamente,
enquanto a mexo. O segundo arfar da respiração vem maior, ouvindo o som
rouco que escapa por sua garganta.
— O que está fazendo? — Viro meu rosto sobre meus ombros,
observando o grande homem com seu rosto focado em minha bunda. Levanta
seus olhos aos meus e trava sua mandíbula, espremendo a caneta nos dedos.
— Estou estudando, senhor! — Um pequeno sorriso se abre em meus
lábios, vendo sua carranca aumentar quando ergo o livro para ele. —
Minhas costas estavam doendo no sofá, queria esticar meu corpo um pouco.
Esse carpete está me parecendo tão convidativo. — Meus dedos passam por
ele, o alisando com calma, olhando sua cor, como se realmente estivesse
interessada. Aperto meus joelhos, flexionando meu corpo e curvando a
coluna para a frente, movendo o quadril para cima. — Dá uma vontade de
ficar aqui, não dá?
Volto meu rosto para ele, que está vermelho, a um passo de estourar
a caneta, decidindo se cai em minha provocação ou não. Mas a porta se
abre, o interrompendo. Deito meu corpo, esticando minhas pernas, erguendo
o livro para frente do meu rosto. O segurança desavisado que entra, sai em
meia-volta com o rugido do leão, que grita, já se levantando e passando a
passos duros do meu lado.
O problema de fazer brincadeiras com homens com o biotipo de
Lycaios é que eles têm memória de elefante, nunca esquecem. E o retorno é
alto. No sábado seguinte, ele me faz me arrepender amargamente por atiçá-lo,
quando entro no seu escritório ao fim da tarde. Sedrico me espera, sentado na
beirada da sua mesa, segurando uma pequena caixa dourada. Eu devia ter
desconfiado daquele sorriso demoníaco em seus lábios antes de ir toda
saltitante como uma gazela feliz para o leão traiçoeiro.
— Não! — Balanço minha cabeça para ele, olhando aquele objeto
pequeno de metal.
— Sí, Mikpó! — Sedrico sorri, o retirando da caixa. — Exclusivo,
feito apenas para você. Tem 6,5cm de comprimento por 2,5cm de largura.
Vai lhe servir como uma bela joia.
— Não vai pôr isso em meu corpo. — Ele apenas leva o plugue
cromado aos lábios, o sugando com uma grande chupada. Suas mãos se
viram, o prendendo entre seus dedos e mostrando a parte de trás, em formato
de coração vermelho, com D.L. gravado em dourado.
Seu grande corpo sai da mesa, apontando para mim, na ponta dela,
aumentando seu sorriso infernal.
— Tire a calcinha, Mikpó! — Minha cabeça balança em negativo, já
virando meu corpo para sair da sua sala.
Mas nem chego até a porta, sou erguida do chão. Sua gargalhada
deixa seu peito vibrar. Esticando uma das suas mãos, chaveia a porta e leva
a chave ao bolso do terno.
— Senhor... Senhor, acho que meu corpo não quer isso. — Aperto
seus braços, soltando meu peso, o deixando me arrastar.
— Quer sim, caso contrário não ficaria pesquisando por plugue anal.
— Grito de raiva, querendo matar esse homem.
— Me disse que não faria mais isso, senhor! — Mordo seu braço com
raiva, recebendo um tapa forte em minha bunda, deixando-a ardida.
— Disse que não mexeria mais no seu celular se não estivesse perto,
não que não olharia seu histórico de pesquisa. — Ele ri mais, mordendo
minha orelha e me prensando à mesa. Seu nariz se enterra em meus cabelos,
fazendo meu corpo ordinário suspirar em luxúria quando sua língua desliza
em minha nuca, raspando seus dentes. — Ainda estou pensando se gosto de
Leãozinho, não me decidi ainda. — Fecho meus olhos com sofreguidão,
sentindo a calcinha ser molhada a cada toque dos seus dedos sobre ela,
quando sua mão escorrega... Filho da mãe, egocêntrico, controlador, sabia
que iria mexer e descobrir o apelido novo que dei a ele nos contatos!
— Seu doente, nunca mais pesquiso nada naquele celular! — suspiro
baixo, com seu pau imprensando meu quadril, levando as mãos para a saia,
a levantando apenas para poder esmagar minha pele em seus dedos.
Minha cabeça tomba em seu peito, sentindo a quentura da sua
respiração sobre minha cabeça quando ele deixa seu queixo descansar sobre
ela. Sinto meus dedos esmagando os papéis sobre a mesa e, institivamente,
meu quadril masoquista se empina mais para ele, alegremente, sem saber
que logo estará se arrependendo.
— Pense em como meu pau vai latejar forte dentro da sua boceta,
com seu corpo se apertando em volta do plugue cromado, vibrando tão
quente e pronta para mim, sentindo o contraste do frio com o quente a cada
batida forte. — Sua voz é lenta, sussurrando tão traiçoeiramente quanto seus
dedos que vão escorregando a calcinha por minha pele.
Minha perna se arrepia quando ele encosta a ponta de metal,
arrastando para cima. Ele estica seu braço, deixando-a de frente para mim,
com a ponta de cone oval pequena sob meu olhar.
— Vai me deixar afundar dentro do seu corpo quente, quando ele já
estiver tão pronto para mim, esguichando sobre meu pau lhe fodendo duro
ao fim do dia, com essa joia estacada dentro do seu corpo. — A mordida no
meu ombro é uma covardia sem limites, deixando sua outra mão brincar em
meus cabelos, os movendo lentos.
Lycaios me faz me sentir uma doente por estar com meu corpo
queimando apenas com o toque da sua mão em meus cabelos, sentindo sua
respiração calma em meu pescoço. Sua mão se aproxima lentamente do meu
rosto, deixando a ponta fria do plugue cromado tocar meus lábios, o
enfiando lentamente em minha boca, enquanto o sugo de forma descarada,
imaginando tudo que ele me descreve. Oh, inferno! Sim, eu quero, quero ser
uma menina má com ele, sentindo todo prazer misturado a dor que ele vai me
viciando. E vou ao céu quando seu corpo se abaixa, apertando minha polpa,
me abrindo por completo para ele, e é nesses momentos que odeio menos
aquela depiladora masoquista. Meus dedos se apertam mais, tendo o plugue
em minha boca, sentindo sua língua deslizar pelo pequeno buraco apertado,
que pisca mais feliz pela inspeção minuciosa da língua sacana.
— Ohh... — gemo, apertando mais minha boca em volta do plugue, o
sugando na mesma medida que ele desliza sua boca por meu corpo.
É perdida entre a luxúria carnal, com meu corpo empinado para ele,
que ouço sua respiração de pura posse e prazer. Lycaios retira o plugue anal
da minha boca e o introduz em meu ânus, que já tinha o aceitado antes
mesmo que meu cérebro.
— Oh, meu Deus... — Aperto meus lábios, sentindo o material gelado
sendo empurrado para dentro de mim, me tocando em lugares que nunca
tinham sido tocados, me deixando perdida. A ardência que vai me
consumindo e o prazer deixam meus músculos internos se apertarem mais a
ele.
Lycaios retira ele lentamente, em seguida o faz voltar a entrar.
Ajoelhado atrás de mim, olha para seu feito como se fosse digno de ganhar o
prêmio Nobel.
— Muy hermoso[71], Mikpó. — Meu corpo treme com o tapa forte em
minha bunda, quando ele se levanta abaixando minha saia.
Meu corpo se vira, sentindo o metal intruso ir se movendo com ele,
me deixando me apertar mais e causando pequenos choques pelo meu corpo.
Sedrico caminha para o sofá, pegando minha bolsa e tirando meus livros de
lá. Ele se move para o centro do escritório, ficando de frente para sua mesa,
os deixando devidamente empilhados no chão, com meu estojo e caderno do
lado. Seu rosto se ergue maquiavélico, observando sua cadeira, sorrindo
com prazer ao olhar para mim.
— Agora, pode começar seus estudos! — Seus braços se soltam,
arrumando o terno em seu corpo. Sei que está me castigando pela
brincadeira passada.
— Você não tem coração. — Meus lábios se esmagam, caminhando
para lá, sentindo minha bunda invadida e bem presa a cada passo que dou.
Meus joelhos tocam o chão. Me arrumo com meus olhos fechados,
sentindo minha vagina ficar mais quente com a pressão que o corpo estranho
faz perto dela. Ouço o som da risada que ele solta, enquanto se abaixa ao
meu lado, erguendo a saia para minhas costas e olhando para mim, sorrindo
com uma piscada sacana.
— Na verdade, eu tenho, Mikpó, ele está batendo forte e duro dentro
da minha calça! — Ele solta um tapa na minha bunda, me fazendo virar meu
rosto para ele, que vai se levantando.
É um grande filho da mãe, mas ainda assim é o grande filho da mãe
que faz meu coração disparar, enquanto o admiro em seu terno negro com
seu peito estufado se esticando por cima de mim. Ele sorri, voltando para sua
mesa, tendo a melhor vista da minha polpa aberta por um coração com as
iniciais do nome que ele gosta de ser chamado. Dom Lycaios, um deus
devasso que me enche de prazer. E se esse não é o homem mais egocêntrico
que existe, eu não sei mais quem é. Minha mãe tem razão, Sedrico é meu
demônio, meu implacável Hades, pelo qual, como todo poderoso deus, me
encanto mais, me levando para seu submundo. E sua boca é minha romã, me
prendendo mais a ele, e, como Perséfone, fico cada vez mais dividida entre
meu mundo e o dele.
Estou feliz e, por incrível que pareça, minha mãe, depois daquele dia,
não falou mais nada, mesmo eu lendo seu olhar, onde ela deseja estar certa.
E, entre todos os medos e dúvidas que me cercam e toda a confusão que está
se tornando dentro de mim, tomo coragem para poder conversar com a única
pessoa que me ouvirá sem me julgar.
— Dona Zelda, poderia conversar sobre algo que não é relacionado à
empresa?
A pequena mulher latina, sentada em sua cadeira, ergue seu olhar para
mim, segurando seus papéis. Observa meu rosto e logo sua sobrancelha se
arqueia e ela aperta sua boca.
— O que aquele cabrón lhe fez? — Meus dedos alisam minha saia,
balanço a cabeça em negativo.
Sinto carinho por dona Zelda e, de alguma forma, um conforto
acolhedor quando ela me olha sem nenhum julgamento. E, aproveitando o
fim da tarde, quando já estamos no final do expediente em sua sala, quero
conversar.
— Houve uma mudança naquele acordo. — Aperto meus dedos,
olhando para ela, que fica em silêncio.
— Dios! — Ela solta os papéis sobre a mesa e fica de pé.
Caminhando pela sala, tranca a porta.
Eu não sei se isso é bom ou ruim. Apenas quando ela se vira, com sua
face mais relaxada e tirando o semblante que estava antes, fico menos
apreensiva.
— Estão haciendo[72] sexo?! — Ela me olha de uma forma estranha,
como se estivesse mais confirmando para ela do que me perguntando.
— Sim, a gente... — Me engasgo, fazendo gestos nervosos com
minha mão. — A senhora sabe...
— Dios, se tivesse apostado, Sedrico tinha perdido de lavada. — Ela
sorri, caminhando para mim, mostrando a cadeira.
— Como? — Não entendo a que ela está se referindo. Ela sorri mais
ainda, se encostando em sua mesa.
— No fue[73] nada! — Ela balança sua mão para mim, parecendo
ansiosa. — Conte-me, que passa? Não gostou? Ou ele lhe machucou? Dios,
mato aquele homem estranho se tiver feito algo ruim!
— Oh, não... — Ergo minha mão, tentando fazê-la parar, enquanto ela
desanda a fazer várias perguntas. — Não me machucou e... — Sinto meu
rosto queimar, vendo-a compreender o que me deixa com vergonha.
— Dios, nem precisa me falar que seus olhos me responderam,
cariño! — Quero gritar e enterrar minha cabeça com ela me olhando e
sorrindo de forma zombeteira. — O que lhe aflige, então?
— Acha que é errado o que faço? — Solto um suspiro, deixando
meus olhos se perderem na janela grande do escritório, vendo o sol que vai
nos deixando. — Eu sei que não é a coisa certa e que, do mesmo jeito que
veio, um dia irá embora...
— Luna, está com medo do que os outros pensam? — Seu tom de voz
é baixo e compreensivo, movendo a cadeira do outro lado e a deixando perto
de mim. — Diga-me, é isso que está lhe ferindo?
— Acho que é mais como meus irmãos irão me ver, como minha mãe
me vê. — Ergo meu olhar em direção ao seu, que não tem traço de
julgamento, diferente de como minha mãe me presenteia todos os dias. — Eu
gosto de como me sinto com o senhor Lycaios e sinto tristeza quando penso
que isso vai acabar.
— Mi Dios, cariño, está enamorada por aquele ogro! — Rio, a vendo
tombar seu rosto para o lado. Ergue sua mão, alisando minha bochecha. — Lo
sabía![74]
— Eu acho que sim. Dói ao pensar que é tão estranho o que temos,
mas me faz me sentir bem. — Não sei se ela está conseguindo entender os
medos dos quais não consigo nem falar direito.
— Mira. — Ela segura meus dedos, batendo em minhas mãos
lentamente. — Quando vi aqueles dois hombres entrarem em minha vida, eu
falei: Zelda, está fodida se for por esse caminho! — Ela ergue o queixo,
virando seu rosto para o porta-retratos em cima da sua mesa. — Mas eu
precisei de apenas una dança presa entre aqueles braços para saber que minha
vida estava ligada a eles para sempre. E, por mais que fôssemos julgados,
estava cagando para todos.
Seu sorriso aumenta vendo a foto. Seus olhos brilhantes segurando
um buquê entre o senhor Tauro e o senhor Bruce, com a noite caída sobre a
areia da praia, com as ondas quebrando lá longe. Os dois homens, que tinham
as mãos espalmadas em sua barriga redonda, sorriam, deixando a foto de
casamento tão perfeita.
— Vou lhe dizer o mesmo que um dia mi amigo me disse. — Sua
mão se ergue, espalmando em meu rosto. Me olha com amor. — Quem nós
escolhemos amar não é o que nos rotula, e sim o caráter que eles nos ensinam
a ter. Amar os outros é uma dádiva, isso sua madre uma hora irá perceber. Tú
é forte e tem um discernimento que é apenas seu. — Sua mão se solta,
gesticulando com o dedo e apontando em meu coração. — E não tenha medo
de ser julgada e nem se importe com isso. Deve apenas abaixar sua cabeça
nessa vida lá na frente, diante de Dios, quando Ele lhe perguntar algo. Até lá,
use o livre-arbítrio que Ele lhe deu.
Sorrio para ela, com meus olhos ardendo e me sentindo feliz pela
forma como ela me compreende. Seu sorriso aumenta e limpo meus olhos.
— Obrigada, dona Zelda. Obrigada mesmo, por tudo. — Sou
surpreendida por ela, que me abraça apertado, fazendo-me me sentir feliz
com seu abraço.
Ela solta uma risada baixa, beijando meus cabelos e se afastando de
mim. Dá uns tapinhas em minha perna.
— E quanto tú com medo daquele ogro. — Ela se afasta, levantando-
se e arrumando sua saia, rindo com sua cabeça balançando. — Lhe garanto
que é mais fácil pedir um unicórnio para Sedrico do que fazê-lo sair da sua
vida, chica.
Rio ainda mais com a forma que ela fala. Seu corpo se move para a
porta, abrindo-a. E, antes que possa me levantar, vejo o senhor Tauro parado
à frente, com o braço erguido como se fosse bater.
— Oi, docinho. Por que estava com a porta trancada? — Ele olha para
ela e para mim, voltando a mirar em seu rosto. Dona Zelda olha atrás dele,
soltando o ar e esfregando seu rosto.
— Desde quando faz reunião com porta trancada, cariño?
— Dios mio, cabrón, vocês dois não têm trabalho para fazer?
— Na verdade, estamos trabalhando, acabamos de sair de uma
reunião e viemos apenas dizer “olá”. — Senhor Tauro entra na sala, seguido
do senhor Bruce.
— Mira. — Ela olha para fora da sala, ainda batendo seu pé no chão.
Dona Zelda balança a cabeça para mim, ainda segurando a porta aberta.
Aponta com sua mão para a entrada, que é invadida por um grande homem
alto em seu terno azul marinho, que aplaca a sala da dona Zelda com seu
rosto quadrado relaxado, tendo suas jubas douradas. — Unicórnio!
Ainda tenho a minha atenção parada em Sedrico, que está nos
olhando perdido, junto com o senhor Bruce e o senhor Tauro. O que, em
nome de Deus, esse homem está fazendo aqui?
CAPÍTULO 13
A maldição de Eros

Sedrico
— OH, PORRA, Luna! Isso não é brinquedo. — Meus dentes se
apertam, sentindo o suor em minha testa. — Dios, segura certo!
Fecho meus olhos, soltando a cabeça para trás e arfando meu peito
com ela, agitada e eufórica.
— Mierda que isso não é de borracha, Mikpó! — reclamo alto,
rangendo meus dentes.
— Você não está ajudando, senhor, só está me deixando mais
nervosa! — ela grita mais alto. Meus dedos se apertam à lateral do meu
corpo, deixando cada músculo das minhas pernas se contraírem. — Apenas
relaxa, está legal?! Devon disse que estou pegando o jeito.
— O jeito de nos matar. — Abro os olhos, vendo o poste que passa
colado ao meu lado e o som do motor que ruge quando os pequenos pés se
afundam mais no acelerador.
— OHHH, MEU DEUS! — Ela vira seu rosto para mim, em pura
alegria. Mas a olho apreensivo, empurrando seu rosto para a frente.
— Não tira o olho da pista, Mikpó!
Ranjo meus dentes, me amaldiçoando por tê-la deixado pegar meu
carro e quero saber onde estava com a cabeça para concordar com isso, mas é
ela virar seu rosto de volta para mim, sorrindo com o vento balançando seus
cabelos na pista do autódromo, que me lembro dos pequenos lábios sugando
meu pau com tanta vontade que, se ela me pedisse meu rim, eu lhe daria.
— Oh, meu Deus! — Ela ri mais, fechando a curva quando seus
braços giram o volante, levando seu miúdo corpo junto.
Aperto o banco, vendo meu fim que se aproxima ao som do motor,
que estoura como um puto amante ao seu toque. Ela o puxa para a esquerda,
com a Ferrari cantando pneus na derrapagem. E, quando o carro para, sinto
meu peito todo estourando com as batidas do meu coração e a mais pura
adrenalina que consome minha cabeça.
— Viu, não foi tão ruim! — Retiro os óculos, os jogando no painel e
soltando a porcaria do cinto. Ao me virar, vejo seu rosto risonho com suas
bochechas quentes, os cabelos emaranhados pelo vento, faceira com um largo
sorriso de orelha a orelha.
Ela sorri, soltando seu cinto, enquanto tento não apertar seu fino
pescoço. Eu devia saber que, quando disse que poderia ir até a garagem e
escolher o carro que desejava dirigir, seus dedos atrevidos apontariam para a
Ferrari Conversi bordô. Devon está a ensinando há dias. O filho da puta me
disse que ela estava indo bem, não que é uma assassina em série.
— Nunca mais vai dirigir minha Ferrari!
— Disse que queria com emoção. — Seu rosto se vira. Ela estende
seus dedos depois de livres, ligando o som do carro. A pista livre, que deixei
exclusivamente para ela, tem o final da tarde acertando sobre nossas cabeças
ao longe, entre o asfalto e os pneus, com as arquibancadas distantes. — Teve
emoção. — Ela se vira para mim, com seus olhos brilhantes.
Eu me referi a ter ela chupando meu pau enquanto estava dirigindo,
não ela me deixando quase ter um infarto no banco do carona. Seu corpo
pequeno já está subindo em minhas pernas, com seus dedos em meu peito.
— Não foi ruim... — A ponta dos dedos arteiros sobe por meu
pescoço, escorregando lentamente para meu peito. — Foi excitante!
— Foi terrível! Nunca mais vou conseguir me sentar em um banco do
carona. — Solto o ar, me perdendo em seus movimentos lentos, com suas
coxas se apertando mais ao redor das minhas pernas.
— Banco do carona é bom, senhor... — A voz mansa e baixa se
alastra em minha orelha, com as pontas dos seus dentes raspando sobre ela.
Ela solta mais seu quadril sobre os meus e, por instinto, minha mão se
espalma em sua bunda por baixo da saia. Seu corpo nu está livre, como se
esperasse por mim, me deixando mais alto e com meu peito arfando.
— Está sem calcinha. — Sorrio, olhando por cima do seu ombro para
sua bunda desnuda.
Aperto mais forte, soltando um tapa com a outra mão. Sinto seus
dentes pequenos cravando na lateral da minha garganta, sendo cortado pela
onda de prazer que vai se espalhando pelo meu corpo. Sinto a adrenalina alta
em meu corpo, fazendo meu pau latejar em meio ao passeio radical de Luna e
seu corpo quente, que se esfrega em mim.
Ela move seus dedos entre nós dois, abrindo minha calça e já sabendo
que meu pau deseja se afundar perdidamente entre sua boceta quente. Seus
olhos se abaixam, observando-o, que, em resposta, pulsa forte, fazendo-a
sorrir. Meus dedos cravam mais na pele, movendo meu peito para frente, para
buscar sua boca.
Luna é doce e cheia de vida, como um vulcão fértil que nutre tudo em
volta. Ela me afasta com uma mão no meu peito e a outra segurando meu
pau. Arqueando um pouco seu corpo para cima, o som baixo da música que
vai se alastrando pelo carro a faz sorrir, me tomando mais, movendo seu
quadril para baixo, me engolindo.
— Porra! — Minha cabeça tomba, com ela travando na metade,
requebrando seu quadril como se estivesse dançando com meu pau.
A música TaKillYa solta o ritmo em batidas lentas e rápidas,
intercalando entre os mambos[75], e ela se diverte, me torturando ao compasso
da música. Aperto mais sua polpa, erguendo meu quadril para cima de uma
vez só. Ela solta o ar, prendendo seus dedos em meus ombros. Ao abrir meus
olhos, vejo-a com sua cabeça caída para trás, seu peito arqueado à minha
frente, me deixando com a boca seca.
Ela solta suas mãos de mim, deixando-as para trás, em meus joelhos,
rebolando em cima de mim, movendo-se de um lado ao outro. A cada parada,
ela volta a rebolar, o sugando mais, se apertando até o final e deixando sua
bunda colar em minhas coxas. Estou sendo sugado pela dança diabólica que
ela faz, me fodendo por cada canto, com meu pau pulsando forte, a sentindo
escorregadia e quente a cada jogada de quadril.
Meus dentes se apertam, com minha mandíbula travada e minha
cabeça caindo para trás, perdido demais para lhe tirar o controle. É uma
pequena deusa sádica quando joga seu quadril para o lado, voltando lento e
circulando sua bunda em minha perna. Minha mão solta sua bunda,
abaixando sua camisa e me deixando ver seus seios eretos, que saltam para
fora.
— Mikpó... — rosno com mais raiva, segurando sua cintura e sentindo
meu pau traidor se encantar rápido demais pelo que ela faz. — Caralho!
Arfo, sentindo meu corpo ir se enrijecendo com desespero pelo que a
pequena nefasta faz. Meu corpo se move para frente, empurrando suas costas
para o painel, e nem a porra da música que aumenta o volume quando ela
esbarra nos botões me faz tirar a boca do seu seio, o chupando com mais
força!
— TaKillYa — sussurro, esfregando meu rosto em seus peitos, junto
com a música, levando a mão para sua traseira e apertando suas coxas. Ela
solta um grito, gemendo entre as mamadas, sugando meu pau dentro dela,
que deixa seu líquido escorrer sobre ele.
Ergo-a o suficiente para me alavancar, estocando mais fundo e rápido,
levando nós dois para onde quero. O som da sua risada, misturada aos seus
gemidos de prazer, seus braços quentes circulando meu pescoço, gritando
mais alto...
— Ohh... — Solto seus seios, erguendo minhas mãos e apertando suas
costas, deixando-a livre quando ela aumenta as batidas, me montando rápido,
subindo e descendo com agilidade.
Seus dedos, presos em meus cabelos, colam sua face acima do meu
rosto, me esmagando mais, me deixando entre suas tetas. Sinto seu corpo ir
subindo no momento que sua boceta se aperta em volta do meu pau, o
engolindo cada vez mais, se derramando sobre ele com pura luxúria, soltando
sua libertação. Seu corpo pequeno treme e volta a gemer quando libero minha
porra, inundando-a por dentro, com sua boceta quente me ordenhando.
Ouço o riso safado em alegria que ela solta, se afrouxando sobre mim,
escorregando seus braços para os lados, e sinto seu rosto se colar em meu
pescoço, ficando largado ali junto com seus suspiros.
— Banco do carona é bom — ela sussurra, soltando uma risadinha.
Esfrega seu rosto.
Fodidamente, o banco do carona é bom. Abraço ela com mais força,
cheirando seus cabelos. A luz em vermelho que pisca alta no poste e me faz
olhar para lá com mais atenção.
— Mierda! — rezingo com raiva, tendo-a ainda acoplada ao meu pau.
Seu corpo se move, me olhando perdida.
— O que foi? Ainda está bravo? — Beijo a ponta do seu nariz,
sentindo ódio por dentro por ter sido tão descuidado.
— Estou pensando sobre um assunto — sussurro, deixando-a
despercebida da invasora atrás de nós.
Meus dedos vão à frente dos seus seios, abaixando a camisa e os
deixando devidamente tampados. Abaixo sua saia, lhe dando um leve tapa
para que saia do meu colo. Ainda sinto meu pau pulsar quando ela se ergue,
me deixando o ver ensopado com minha porra e a dela escorrendo da sua
boceta.
Seu pequeno corpo cai no banco do motorista, sorrindo para mim com
moleza. Deixo minha atenção focada no poste, guardando meu pau dentro das
calças e puxando os óculos do painel.
— Venha, quero chegar vivo em casa. — Abro a porta do carro,
retirando meu celular. Digito para Devon, que nos espera na cabine.
Dom: Câmera na curva sete. Pegue as filmagens!
A mensagem é visualizada na mesma hora, me fazendo me sentir puto
em pensar que algum bastardo a estava assistindo tão solta.
Devon: Já estou buscando, senhor.
Guardo o celular, indo para a porta do motorista, com seus olhos
moles brilhando para mim. Ela pula para o outro banco, me deixando entrar,
e sorri para mim.
— No fim, até que foi legal. — Me viro para seu rosto arteiro, que
arruma seus cabelos para trás das orelhas, os erguendo em um coque. Meus
dedos se esticam, abaixando o volume do rádio.
— Quer voltar e dizer isso para o gambá que atropelou? — Ela olha
para trás, com seu peito arfando.
— Eu atropelei? — Os olhos que brilhavam em felicidade vão se
apagando, os deixando marejados. — Eu achei que era uma pedra.
— Claro que não era. — Ergo meus dedos, arrumando o retrovisor,
vendo as marcas dos pneus no asfalto. — Você o atravessou no meio com o
pneu! — Solto o banco, o empurrando para trás. Como alguém pode dirigir
colada no volante?
Rio com o tapa que ela me dá no braço, fazendo erguer meus dedos e
apertar seu pulso, o levando à boca, enquanto o mordo.
— Dios, Devon devia ter me avisado que estava tentando tirar seu
porte de arma e não a carteira.
— Eu poderia estar muito melhor se tivesse me deixado ir para uma
autoescola, como todas as pessoas normais fazem. — Levo a ponta dos seus
dedos à minha boca, os mordendo sob seu olhar bravo. — Para seu governo,
ele me falou que estou dirigindo muito bem com o New Beetle.
Solto uma gargalhada sobre seu olhar orgulhoso, ganhando outro tapa
dela.
— Dios, Mikpó, uma coisa é dirigir um fusca, outra uma Ferrari. —
Puxo-a para mim, quando ela tenta se afastar, querendo se livrar do meu
aperto. O vento quente da tarde bate entre seus cabelos, os movendo
lentamente, ainda com sua face fechada, mas ainda assim tão bela. —
Venha...
Ela escorrega para meu colo, ficando de lado, com suas pernas
encolhidas sobre minhas coxas. Seu rosto encosta no meu peito. Puxo o cinto
sobre nós dois, protegendo a pequena vênus. Ela ergue suas mãos para meu
rosto, roubando meus óculos com um sorriso arteiro.
— Com emoção ou sem? — Rio com sua pequena audácia, levando a
armação negra para sua face, que fica imensa em seu rosto. Beijo sua testa,
deixando-a circular meu pescoço.
O som vibra, como uma longa trovoada quando giro a chave, o
acelerando. Ela sorri mais, se encolhendo em minhas pernas, já com o vento
nos acertando quando dirijo para longe dali.
— Senhor! — Meus olhos se erguem para Devon, que entra na sala
com seu semblante formal, esticando o pen drive e o deixando sobre a mesa.
— Alguém viu? — Ele move sua cabeça em negativo. Deixo meus
dedos soltarem a caneta que esmagava com tanta pressão.
— Os seguranças estavam em troca de turno, Dom. Providenciei para
que fosse apagada do sistema e dos monitores. A única filmagem existente
está em cima da sua mesa.
Estico minha mão, pegando o pequeno pen drive e o olhando com
atenção, erguendo meus olhos para ele.
— Você viu?
— Não, senhor, a filmagem foi completa desde às 7h da manhã até
vinte minutos depois que me avisou.
Balanço minha cabeça em confirmação, voltando a ficar calmo. Tinha
cometido um descuido grande. Quando tenho Mikpó em meus braços, tudo se
anula à minha volta. Sou enfeitiçado por ela, com seus jeitos mansos e
sorrateiros, que vão me tomando sem ver. Seu sorriso, que me tem na palma
da sua mão, a forma como sinto-me possesso em apenas imaginar alguém
ouvindo os baixos gemidos que ela solta. Isso me faria odiar, cruelmente, se
alguém tivesse a visto tão minha. E tenho a consciência que a palavra minha
vem tão fielmente em meu cérebro, me deixando mais controlador de cada
passo seu, desejando saber cada movimento que ela faz, me consumindo com
apenas a ideia de ela estar longe demais. Ainda sinto a mesma amargura de
quando ela se negou a me acompanhar até Miami me consumir.
— Eu não posso. — O som baixo da sua voz se alastra, com sua face
virada para a janela do carro.
— Eu vou ficar longe por duas semanas, Luna. — Aperto o volante,
escondendo a ira por detrás dos óculos.
— Não posso deixar minha família por duas semanas. Eu tenho
trabalho e a faculdade...
— Zelda lhe deixaria ir.
— Oh, meu Deus! — Ela vira sua face, olhando com calma para mim.
Seus dedos se erguem, esfregando sua face. — Não posso fazer isso e não
quero.
— Por quê? — Meu rosto tomba para o lado, apertando meu maxilar,
vendo ela se encolher, com seus olhos presos em minha mão no volante.
— Esquece — seu sussurro corta o carro e ela se encolhe ao canto.
— Mikpó, me responda — grunho mais alto do que gostaria, mas não
tenho controle por mais nada, apenas me sinto sendo esmagado por saber
que ela estará longe dos meus olhos.
Sua cabeça balança em negativo, levando seus dedos para a porta,
mas já a prendo de volta, segurando seu ombro quando solto o volante.
— Responda quando lhe fizer uma pergunta, Luna. — Ela tenta se
afastar, erguendo suas mãos ao meu rosto. Os óculos caem entre nós,
deixando-a ficar em silêncio com sua atenção em mim.
Eu sei que estou com os olhos queimando entre a ira e a falta de
controle que sinto perto dela, os deixando tão expressivos que sua voz se
cala. As pontas suaves de seus dedos se erguem em minha face, alisando a
lateral do meu queixo.
— É a única coisa da qual eu tenho controle, senhor. É meu trabalho.
Não quero que interfira. — Sinto seus dedos caindo no colo, se encolhendo,
abaixando, me deixando longe das suas esferas negras, que se apagam. —
Uma vez me disse que pagou pelo meu destino e que ele é seu até quando lhe
convir. — Sua voz se quebra, como se fosse uma escultura de gesso delicada.
— Mas lhe digo, não pagou por minha alma, senhor.

— Senhor, estamos prontos! — O piloto abre a sala de comando e


balanço a cabeça em positivo para ele.
Olho os gráficos à minha frente, na tela do notebook. Movo a página
para cima, ouço o som das turbinas sendo ligadas, prontas para decolar.
Tombo meu rosto, olhando a pequena janela oval, vendo o jato ir se
movimentando, pronto para a decolagem. Ainda sinto a estranha sensação de
estar deixando algo para trás. Estava tão acostumado com essa vida, sem
nunca parar, sobre a noite estrelada, intercalando entre o luxo e o vício, e
agora me parece tudo tão vazio, sem cor, como um cigarro que terminou,
largado em um cinzeiro inundado de bitucas apagadas.
— Senhor Lycaios — a aeromoça me chama, com um sorriso largo e
sua face brilhante, estendendo um copo para mim.
Observo a mulher atraente na qual, em outro momento, meu pau
estaria se afundando antes mesmo da decolagem, e agora tudo é tão baixo, tão
sem emoção, tão frio quanto os silicones em seus seios. Retiro o copo dos
seus dedos, balançando minha cabeça em positivo para ela, que se afasta
rapidamente. Volto meu rosto para a janela, acompanhando a decolagem. O
pequeno solavanco que dá me faz segurar mais o copo, o virando de uma
única vez, assim que aeronave se estabiliza no ar. Deposito o copo no
suporte, me perdendo na vista de fora. Vejo a grande lua que vai se erguendo
entre as nuvens, me deixando perto e longe ao mesmo tempo. Tão bela e
perfeita, me hipnotizando, como se me mostrasse Luna através dela.
— Como era? — Meu rosto se vira para sua face sonolenta, alisando
seus cabelos lentamente e vendo o arfar do seu seio nu. Suas unhas deslizam
por minhas tatuagens, contornando cada uma, esfregando suas pernas nas
minhas.
— Vazio — respondo baixo, beijando seus cabelos, apenas para ouvir
seu suspiro.
— Deve ter sido estranho ser criado com alguém assim. — Luna se
vira, cruzando seus braços sobre meu peito, deitando seu rosto em cima de
mim. Sinto seus seios macios se esmagando em minha pele, as janelas
abertas deixam a cortina se balançar, com a lua alta que se ergue atrás dela
me deixando saber que ela partirá em breve.
Meus braços se esticam, correndo por sua coluna, traçando seu
caminho por suas costas. Ela move sua cabeça, deixando seus olhos presos
aos meus.
— Você perde muita coisa, Luna. Seu caráter, seu ceticismo. Sua
alma fica tão vazia e cínica, movendo cada peça, cada pessoa que possa
entrar na sua frente. Meu pai me mostrou como usar isso ao meu favor e
aprendi não só para sobreviver, mas porque já estava dentro de mim.
Seus olhos caídos me observam entre seus pensamentos. Ela beija
meu peito.
— Acho que não é como ele. — Sorrio, olhando o teto, com ela
alisando os pelos do meu peito.
Eu sempre soube que sou mais parecido com Lycaios do que gostaria.
A cada ato genioso, a cada perda de caráter que vai alimentando minha
alma tão escura quanto a dele.
— Está enganada, Mikpó, posso ser tão pior quanto ele. — Ela move
seus braços, se espreguiçando sobre mim, me deixando sentir sua boceta
quente em cima da minha barriga.
— Ou pode ser melhor? — Meu rosto se ergue no travesseiro, me
perdendo em sua face pequena. Os cabelos bagunçados caídos por suas
costas e lábios inchados sendo completados por seus olhos dengosos. — Eu
sempre acreditei que somos responsáveis por nossas escolhas. — Seu dedo
brinca com os pelos do meu peito, se enrolando neles lentamente. — Eu sei
que escolher ficar e não abandonar meus irmãos foi escolha minha, assim
como acabar por acostumar minha mãe a jogar tudo em meus ombros. Sei
que não é só um erro dela, é meu também. Porque era mais cômodo para
mim ir atrás do que ficar pensando se ela conseguiria. E errei ao fazer isso,
porque ela se habituou a ter tudo ao seu redor, sem esforço algum, já que
tem a mim para correr atrás. Foi escolha minha, não culpo ela.
Perco-me em seu olhar tão quebrado com sua voz baixa, abraçando-a
mais forte em meus braços, como se pudesse lhe prender para sempre. A luz
da lua, que reflete em sua face, me faz desejar ter um pouco de dignidade
para não ler o que há em seus olhos.
— Você escolheu ser diferente, senhor, escolheu seguir seus passos,
não os dele. Sou grata por isso, porque o trouxeram para mim.
Sim, eu sou um filho da puta. E sim, eu teria feito as mesmas escolhas
para estar precisamente nesse momento, com Mikpó tão perto de mim, se
tornando mais do que meu império poderá ser. Se tornando meu maior
pecado, meu maior desejo, meu céu e inferno.
Ela vira sua face para fora, escondendo de mim o que traz em seu
olhar.
— Eu tenho que ir, senhor. — Ela volta sua face com um pequeno
sorriso e, mesmo sabendo que tenho que libertá-la do meu aperto, não
consigo, não tenho forças para soltar seu corpo.
O som baixo das turbinas do jato invade meus pensamentos, me
trazendo para a realidade, que está longe das lembranças do seu corpo. Olho
o terceiro copo de uísque, tendo a certeza de que, se Eros existisse, o maldito
deus tinha me amaldiçoado com a pequena cópia de Afrodite que tinha posto
em meu caminho. Solto o ar, com o celular em meus dedos, relendo pela
quinta vez sua mensagem solitária.
Mikpó: Se cuida ��
CAPÍTULO 14
O amor de Eros e Psique

Luna
Uma mensagem visualizada e não respondida já é uma resposta, e sei
que seu silêncio é tudo o que terei. Ainda sinto meus olhos cansados pela
noite em claro, na qual fiquei olhando para a tela do celular, pensando em
como ele já estaria longe. O dia passou se arrastando, feito um ponteiro de
relógio congelado, que me estraçalhou a cada tic-tac. E, ainda assim, tentei
dar o meu melhor, não demonstrando como me sinto perdida sem ele. Mesmo
quando dentro de mim algo implora para ter ido, outra parte me diz ter feito a
escolha certa. Eu não sei mais como lidar com toda sua força, seu controle,
que me tem a cada curva, que me perco em seus olhos e me deixo ir. Me
entrego sendo drenada por essa loucura, que cresce tão rápido em meu peito,
enraizada demais para tirar. Respondo educada às perguntas de dona Zelda,
ainda com um sorriso no rosto, mesmo chorando por dentro.
Aproveitando o horário de almoço, e sem um pingo de fome, saio da
empresa no curto intervalo, arrastando mais uma vez meu corpo para a frente
do orfanato, olhando com pura dor para os portões frios e vazios. A rua
silenciosa é quebrada pelos risos que correm pelo pátio traseiro. Escorrego
meus dedos pelas grades, caminhando lentamente e segurando meu coração
na mão, olhando esperançosa entre as crianças que, em um raro momento,
correm brincando. E, após cinco longos meses de pura saudade, o reconheço
entre as cabecinhas que correm, sentado ao longe, com seu corpo encolhido
ao canto. Meu mundo inteiro se parte, como se pudesse ultrapassar as grades.
O olhar tão distraído e tristonho, como sempre faz quando está chateado,
apertando seus braços em volta do seu corpo. Seus cabelos negros lisos caem
sobre seu rosto, com uma baixa franja. É como ver papai em cada linha que
ele traz esculpida em sua face. Aperto com mais força as grades, colando
minha testa nelas e implorando que ele olhe para mim, e, como se sentisse,
seus olhos negros se erguem, focando em minha direção.
Sorrio entre as lágrimas, o vendo se levantar com sua forma pequena
e correr entre todos. Suas pernas curtas vão aumentando seus passos e estico
meus braços entre esses ferros, odiando o fato deles estarem aqui, impedindo-
me de apertar ele em meus braços.
— Lua... — Sinto cada parte minha se aquecer ao ouvir sua voz, meu
nome sendo falado errado como ele sempre fez desde que começou a falar e
só ele me faz amar seu “Lua”. Suas bochechas vermelhas se abrem, risonhas,
colando seu corpo entre as grades e me deixando o abraçar. Beijo seus
cabelos, apertando meu rosto entre o metal.
— Oi... Oh, meu Deus, como eu estava com saudade. — Meu corpo
se abaixa, segurando seu rosto entre meus dedos. Aliso sua face. — Que
saudade, amor... Oh, meu Deus! — Meus dedos trêmulos escorregam por
cada canto seu que posso tocar, querendo tirá-lo dessas malditas grades e o
apertar em meus braços fortemente como sempre fiz.
Seus dedos pequenos tocam meu rosto, espalmando minha bochecha,
apertando com carinho. Deixo meu rosto tombar, aceitando sua carícia, que
tanto amo. Cuidei de Cadu todos os dias, desde o momento que entrou na
nossa casa. Nunca tinha deixado de ficar perto dele por nada, dividindo as
madrugadas de choro, fraldas, febres, risos e o medo de trovão.
— Eu te amo tanto... Me perdoa... Me perdoa, meu amor, por não
estar aqui protegendo você.
Aperto mais meus braços, o trazendo para mim até sentir seu rosto
pequeno colado ao meu.
— Lua, me leva para casa... — Seu choro baixo deixa seu corpinho
mais encolhido, agarrando a minha roupa com seus dedos espremidos. —
Quero ir para casa, Lua.
— Eu vou... Por Deus, eu vou... — Meu choro se mistura ao seu, me
fazendo gritar em dor quando o sinto ser afastado. Aperto suas mãos,
tentando o segurar para mim. — Por favor... Por favor, me deixa, me deixa
pegar ele.
Cadu ergue suas pernas, batendo no chão, se esperneando mais, com
seus gritos entrando em mim como uma faca. Seu rosto sujo entre as lágrimas
e olhos tão tristes se prendem em mim e ele estica sua mão em minha direção.
Isso me faz gritar com ódio, apertando meus dedos nessas grades, as forçando
com tanta dor.
— Eu vou buscar você... Eu JURO! — A garganta arranha com as
lágrimas entrando em minha boca. Chuto com toda força que posso, me
sentindo morrer a cada passo que ele vai sendo levado para longe de mim.
— O juiz vai saber disso, senhorita! — A mulher que o leva, grita
para mim, me olhando com raiva. — Sabe que não pode vir aqui.
Seus braços se erguem, o tirando do chão e o pegando em seus braços,
com ele se jogando para trás, gritando em dor.
— Por favor... Por favor, apenas me deixe acalmá-lo. — Meus braços
se esticam, implorando para ela um pouco de pena. — Por favor, dona —
grito em desespero, com meu coração morrendo entre as batidas desesperadas
que dá. — POR FAVOR!
— Você não percebe o mal que faz a ele? — Ela o passa para outra
menina, que o leva para dentro, e volta seu rosto sério para mim. — Seu
irmão precisa de uma família estruturada e graças a Deus isso está próximo.
— Minha mão solta a barra, limpando meu rosto. Olho perdida para ela, o
vendo sumir entre a porta grande.
— O que... O que você está falando? — Meu rosto tomba, perdida,
balanço a cabeça lentamente.
— Seu irmão foi adotado! — Não sinto mais meu coração quando ela
solta o tiro em meu peito. — Ele vai ter uma família, é apenas questão de
tempo agora. Sei que não vai ser fácil para você, mas é o melhor para ele.
Minha cabeça balança em negativo, não pode ser verdade. O que ela
sabe de melhor? Como ela pode achar que tirar ele de mim é o melhor? O que
eu fiz foi por eles, sempre por eles, e agora me arrancam uma parte do meu
corpo, me dizendo que será o melhor?!
— Não, isso é mentira... — Minha voz quebrada sai tão miserável
quanto a minha vida nesse momento. — NÃO! — grito com raiva. Ela pula
para trás quando estico meus braços entre as grades. Quero matar ela, apertar
seu pescoço até ela negar o que disse.
— Saia daqui antes que eu chame a polícia!
Olho ela se afastando, gritando para as moças levarem as outras
crianças para dentro. Mal sinto minhas pernas. Desabando meu peso, vou
deslizando pelo portão, chorando com tanta raiva e apertando minha cabeça
na grade. Não sei quanto tempo fico aqui, sem nada mais que o meu mundo
destruído.

O resto da tarde é tão cruel como o começo do dia, me fazendo ficar


tão automática e apática, sem expressar nada, a não ser um olhar sem
esperança. Olho tudo tão vazia e perdida. A boca do professor que se mexe,
as meninas que falam, tudo é tão frio, preto e branco, como meu coração por
dentro. Me arrasto até o último segundo, mesmo quando Antony vem me
buscar e todo o carro tem o cheiro de Sedrico.
— Boa noite, senhorita! — Ouço o som baixo da sua voz quando ele
estaciona na frente de casa. Se vira para mim, acho que devo não estar tão
expressiva, pois vejo seus olhos de pena me observarem, sempre tão calado.
— Obrigada, Antony. — Forço um sorriso, que sai tão falho como
meus dedos quando abro a porta do carro, fechando-a atrás de mim. Meus
olhos focam na casa com as luzes todas acesas, eu o vejo correndo ali. Me
recordo que, a primeira coisa que pensei assim que aquela van estacionou
aqui no dia da nossa mudança, foi vê-lo correndo pelo gramado, rindo com
Lola e brincando com Will. Meus dedos apertam a bolsa, caminhando sem
coragem para dentro da residência. O som do carro indo embora é ouvido
assim que fecho a porta atrás de mim. Me viro, me deparando com a grande
bagunça da casa, mais que o normal. O som da TV ligada no canal de
desenho me faz olhar em meu pulso, verificando que já são 22h. Já passa da
hora deles estarem dormindo. Caminho até a sala, vejo os três embolados, um
próximo ao outro, com seus olhos fechados, suspirando. Sinto meus ombros
encolhendo e solto a bolsa sobre a mesinha de canto. Lola é a primeira que
pego, levando-a para sua cama, lhe dando um beijo na testa. Logo depois já
volto com Will, resmungando por ter lhe feito acordar. Ele se joga na cama
com sua forma torta que só ele consegue dormir. Olho entre a casa,
procurando por minha mãe, mas ela não está lá.
Ao voltar na sala, meus dedos se esticam, alisando a face de Rana,
vendo-a abrir seus olhos sonolentos.
— Cadê a mãe, amor? — Seu corpo magrelo se senta, esfregando
seus dedos no rosto e olhando perdida em volta. Pego o controle da TV, a
desligando e voltando minha atenção para ela.
— A mãe saiu... — Seguro seus ombros, puxando sua coberta e a
ajudando a ir para o quarto.
— Que horas foi isso? — Olho para a casa bagunçada, já sabendo que
eles ficaram sozinhos por um bom tempo.
— Acho que era umas sete horas, foi logo depois do jantar. — Ergo
meus dedos, alisando seus cabelos, sentindo tanto o desânimo e a tristeza
irem me consumindo mais do que já estou.
— Devia ter me ligado, Rana. — Abro a porta do quarto, apontando a
cama para ela. — Vá deitar-se, vou dar um jeito na casa. Ok?
— Não foi ruim, eu posso te ajudar, Luna. — Sorrio para ela, que me
olha tão calma. Não é responsabilidade dela ficar cuidando dos meninos, sei
que, se deixasse, minha mãe estaria jogando mais carga sobre ela. — Posso
ajudar você.
— Você já me ajuda mais do que imagina. — Beijo sua testa, lhe
dando um abraço. Minha irmã é minha ponte, que me faz ser firme para não
desabar quando tudo que meu corpo pede é pela queda.
— Eu te amo, Lu. Se me deixar, eu posso ajudar mais. — A abraço
mais forte, deixando meu queixo ficar em cima da sua cabeça.
— Só esse eu te amo já me ajuda muito, meu amor. — Seus braços se
apertam mais em minha cintura, com meu corpo a embalando com carinho.
Solto ela, a deixando ir se deitar e cobrindo seu corpo, lhe dando um
beijo no rosto. Meus olhos passam pelos três, que dormem quentes, parando
na cama vazia, me deixando mais quebrada. Saio de lá, apagando as luzes e
fechando a porta com cuidado para não os acordar. Vou pegando toda a roupa
suja da casa que encontro e levo para a máquina, já separando as coloridas
das pretas. Deixo dentro do aparelho, o ligando para fazer seu serviço. Meus
dedos esticam as almofadas no sofá, arrumando a bagunça que eles deixaram
por lá. Na cozinha, olho com desgosto para as panelas abertas. Ela deve ter
saído com tanta pressa que nem se preocupou em guardar na geladeira.
Depois de lavar a louça e limpar o fogão sujo, varro a casa e passo um pano
no chão. Já são 23h40 da noite quando procuro por um tapete limpo para pôr
no banheiro, que acabei de lavar. Ao me abaixar no armário da lavanderia,
puxo um tapete em meus dedos. O som tão conhecido se faz, me fazendo
soltar um baixo suspiro. Esfrego meu rosto no meu braço esticado. Solto o ar
lentamente, erguendo meu olhar para lá e puxando as pilhas de tapete e, ao
fundo, está uma garrafa de bebida escondida.
Aperto-a com tanta irritação em meus dedos quando a puxo para fora,
que solto com ódio o tapete que tinha pegado, indo para a cozinha e a
esvaziando na pia. Sinto dor, esgotamento por tanta coisa dolorosa que recebi
em um único dia. Fico com meus olhos presos nela até ter certeza de que caiu
até a última gota. Sinto o vento gelado que entra pela janela, acertando em
cheio as lágrimas que escorrem por minha face. Solto o ar com dor, jogando a
garrafa vazia ao lixo, fechando o saco preto com um aperto forte, como se
fosse minha alma que estivesse sendo jogada ali com ela. Apenas aproveito,
segurando o saco de lixo do banheiro e levando os dois para fora. Caminho
para a rua, para jogar na lixeira. Não é o vento gelado, junto com a fina garoa
que está caindo, que faz meu corpo se encolher de dor, mais sim ver minha
mãe caída ao chão, escorada no muro, com uma garrafa pela metade em seus
dedos. A alça do vestido escorrega por seus ombros, com a sandália torta ao
pé. Quero odiar ela, quero gritar, mas o que sinto é a mais pura pena, é
tristeza por saber que, no fundo, nesse tempo todo, mesmo ela me falando
que estava se controlando e estava sem ingerir álcool, ela nunca realmente
havia parado de beber. Nem sequer deve ter tentado de verdade.
— Oh, mãe! — Solto as sacolas na lixeira, caminhando para ela. Um
soluço com dor escapa dos meus lábios, sinto o gosto salgado das lágrimas
que se derramam. Me abaixo perto dela, meus dedos espalmam seu rosto frio,
aliso seus cabelos suados e sujos, jogando-os para trás da sua orelha.
Seu rosto embriagado, tão vermelho, traz marcas em sua testa, pelas
quais eu sei que ela deve ter caído. Aliso seus olhos, tentando retirar sua
maquiagem borrada. O cheiro de vodca exala do seu corpo, tão forte que
parece impregnar cada canto dela. Suas pálpebras moles abrem para mim e
vejo ela me fitando com eles tão vermelhos, me dando um leve sorriso.
— Oi, Lu... — Ela tenta erguer sua mão e faz a garrafa cair, rolando
pela calçada. Estica seus dedos para meu rosto. — Já chegou da aula, amor...
Papai vai chegar daqui a pouco também, sabia? Eu já vou fazer o almoço...
— Não, mãe... — Minha mão se abaixa da sua face, segurando seus
dedos e escondendo meu rosto entre eles. — Papai não vai chegar, ele não vai
voltar. — Choro com mais agonia, com meus joelhos tocando o chão. Quero
poder tirar essa dor dela, mas sei que, se ela não deixar, nunca poderei lhe
ajudar.
— Papai está vindo, Lu. Ele chega do trabalho daqui a pouco. — Me
afasto dos seus dedos, com o som baixo da sua voz arrastada pela
embriaguez.
Minha mão espalma em meu rosto, o limpando. Respiro com o
máximo de força que consigo.
— O pai morreu, mãe, e a senhora está se matando a cada novo gole.
— Me ajoelho perto dela, tampando meu rosto em seu pescoço. Estou tão
cansada, tão esgotada de tudo isso, que só quero chorar. Ela dorme encostada
na parede fria, toda largada com seus dedos sobre minhas costas. Lembro dos
olhos tristes do meu irmão no orfanato e isso me quebra ainda mais, me
fazendo me apertar a ela, chorando baixinho, segurando sua mão gelada na
minha.
— Luna? — Ergo minha cabeça assim que a voz grossa fala atrás de
mim. A sombra grande e alta para ao meu lado, com sua respiração pesada.
Meu rosto se move de perto da minha mãe e vejo os sapatos de Sedrico,
parados a poucos centímetros dos meus joelhos. Me encolho mais, abraçando
meu corpo, sem coragem de erguer meus olhos para ele.
O grande corpo se move, se abaixando, com suas mãos presas ao meu
ombro, me erguendo com ele. Sinto o toque dos seus dedos em meu queixo,
me fazendo olhar para sua face. Ao mirar em seu rosto, vejo tanta raiva lá,
sendo refletida por suas íris, que brilham forte, que sinto medo dele outra vez.
Me encolho sem saber o que fazer. Olho confusa para o lado, vendo o SUV
prata, tão perdida em minha tristeza que não lhe ouvi chegar.
— O que... O que faz aqui? — Tento limpar minhas lágrimas, mas ele
segura minha mão, a prendendo em seus dedos e usando a outra mão para
limpar meu rosto, me observando quieto. — Não estava a caminho de
Miami?
— Ouve um problema com o jato no meio do caminho. — Sua voz
tão fria se quebra, assim que ele se vira, olhando para minha mãe no chão. —
Até quando vai deixar isso acontecer, Mikpó? — Tento me separar dele, mas
ele não me solta, me segurando mais firme, com sua mandíbula apertada,
mostrando cada traço do seu rosto duro.
— É minha mãe, senhor, não posso abandonar ela... Ela... Ela é
doente, as pessoas não acreditam que alcoolismo é uma doença, mas é —
digo baixinho, desviando meus olhos dos seus, parando em minha mãe. —
Ela não tem culpa...
— A doença dela está lhe consumindo, está destruindo você, Luna...
Destruindo sua família. — Ele me olha tão frio, me fazendo me sentir
pequena ao seu lado.
— Senhor... — Não sei o que falar, apenas choro, desabo de tantas
lágrimas que caem. Eu sei de tudo, sempre soube, apenas nunca poderei virar
as costas para minha mãe, eu a amo. Me mata dia após dia a ver se acabando
com sua bebida. — Eu tenho que cuidar dela, senhor.
Ele alisa meu rosto com sua grande mão, retirando minhas lágrimas.
Sua respiração pesada acerta o topo da minha cabeça, soltando seus braços
para o lado do corpo. Lycaios se afasta de mim, se abaixando com seu terno
impecável, não ligando para o cheiro da minha mãe. Ele apenas a pega no
colo, a arrumando em seus braços, ela dorme como uma pedra. Levantando,
se vira para mim. Ele não diz nada, apenas balança sua cabeça em direção à
casa.
Sedrico entra com ela em silêncio na casa e se encaminha para o
quarto que aponto, no primeiro andar. Ajudo ele abrindo a porta e puxando a
colcha, ele se move, a deitando na cama, se afastando logo em seguida. Já
estou ao lado da minha mãe, arrumando seu vestido e retirando seus sapatos
tortos. Meus olhos param nos ralados dos seus joelhos, vermelhos, soltando o
ar em dor. Puxo a manta, a cobrindo, dando um beijo em sua testa. E é com
Lycaios parado perto da porta de saída, olhando para o chão em silêncio, que
me deparo quando saio do quarto. Ele ergue seus olhos, me avaliando calado,
levando suas mãos ao bolso. Meus ombros caem, enlaçando meu corpo com
meus braços, apertando a ponta dos meus pés ao chão.
— Obrigada — sussurro amargurada, me sentindo queimar por seu
olhar. Ele apenas me observa, balançando a cabeça em positivo.
— Não precisa agradecer, Luna. — Uma de suas mãos sai do bolso,
soltando o ar com seu peito estufado. Vejo seus olhos agora, caídos, com o
rosto tão cansado e abatido. Ele passa sua mão pelos cabelos.
— Por que voltou, senhor? — Sinto meu peito triste, recebendo uma
falsa batida, olhando atrás de respostas que nem eu sei se existem.
— Precisava te ver. — A voz grossa soa distante, com seu corpo se
virando. Segura o trinco da porta, já abrindo, me avisando da sua partida.
É como um pequeno arco-íris depois de uma grande chuva e, por mais
que seja apenas por um momento, quero viver essa ilusão, mesmo que todas
as fichas apostem contra, eu preciso dele nesse momento mais do que em
qualquer outro.
— Lycaios, fica comigo... — Solto meu corpo, o vendo esmagar com
força a maçaneta da porta e olhar o chão. Meu coração bate rápido e em uma
bateria de fogos. Sei que nada me importará, não se o tiver aqui. — Me disse
que o que lhe pedisse me daria. Não quero ficar sozinha e aceito tudo que me
dá, mesmo se for só sexo, que seja apenas por algumas horas, pela noite
inteira... Apenas fica comigo!
Seus olhos se erguem aos meus e não me importo com a lágrima
solitária que rola sobre meu rosto. Não me importo de me humilhar ou
implorar a ele se for preciso, apenas quero esquecer toda essa dor em seus
braços, quero me sentir segura e viva, enquanto ele me toca. Ele solta sua
respiração lentamente, me olhando com tanta intensidade, soltando o peso
dos seus ombros, e eu me encolho em dor diante do seu silêncio. Porém, me
perco quando ele solta a maçaneta, caminhando em minha direção. E, com
um rápido movimento, seus braços passam por minha cintura, me colocando
em seu corpo, erguendo o meu do chão. O abraço forte, escondendo meu
rosto em seus ombros. Minhas pernas se movem para cima, circulando sua
cintura, me deixando tão junta dele.
Os passos lentos pela casa se movem, me carregando como uma
criança machucada para o quarto. Me naufrago em seu aroma, que tanto amo
e me dá segurança. Não preciso falar ou mostrar, ele já sabe aonde vai. Ele
tranca a porta atrás de nós assim que entra no quarto, passando pela cama e
nos levando direto para o banheiro, afagando minhas costas. Lycaios só me
põe ao chão depois de ligar o chuveiro. Seus dedos ágeis retiram sua roupa
enquanto seus olhos me observam e não temos palavras, é como se o silêncio
fosse tudo que precisamos. Quando tento tirar a minha roupa, sinto seus
dedos me ajudarem, ele move minhas mãos para o lado do meu corpo e volta
retirando minha camisa. Vai se baixando, arrastando minha saia para o chão
junto com a calcinha. Ele segura meus dedos, nos levando para o box do
chuveiro quente, com o vapor à nossa volta. Me deixo ser cuidada por ele
com suas mãos se erguendo, alisando meu rosto, e, entre a água quente, as
lágrimas se misturam, fazendo eu deixar minha alma mais nua do que posso à
sua frente. Sinto a delicadeza que suas grandes mãos tentam ter ao passar o
sabonete pelo meu corpo lentamente. Meu rosto tomba, deixando minha testa
em seu peito. Soluço a cada toque seu. Eu não sei o que é ser cuidada por
alguém há muito tempo. Ele fica em silêncio, apenas com o som baixo da sua
respiração, ouvindo o lamento da minha alma cansada. É tanta dor que
guardo dentro de mim, estou tão cansada de sempre ser forte, de sempre
sorrir quando nada está bem, que desabo, me deixando me apoiar diante de
toda sua força, com seus braços sendo minha estrutura, me apoiando. É o
momento mais liberto da minha vida, o ato da queda, do deixar me cuidar,
sem barreiras, sem vergonha, apenas a mais pura entrega diante da dor. Seus
dedos lavam meus cabelos, esfregando o creme sobre eles com sua atenção
tão presa a mim, como se fosse a coisa mais importante que ele tem. Seus
dedos acariciam meu rosto e, ao abrir meus olhos e mirar entre o seus, é
como morrer ao ver tanta ternura. Eu não me importo se é só um corpo que
ele quer, eu darei tudo a esse homem, apenas para nunca o perder.
Lycaios desliga o chuveiro, me enrolando em uma toalha e puxando
outra para ele. Vejo seu corpo nu esculpido à mão de Deus sendo apenas
acariciado pela toalha, o fazendo ficar tão perdido dentro do banheiro
feminino. Ele se seca rápido e, antes que caminhe para fora do banheiro,
Sedrico me ergue no colo como um bebê, me levando para a cama e
depositando meu corpo na beirada. Seus olhos se concentram em cada parte
minha, fazendo-me me sentir importante pela primeira vez. Com carinho e
sem pressa, seus dedos trilham cada parte do meu corpo, me secando,
apagando cada dor. Ele fica um longo tempo esfregando a toalha com calma
em minha cabeça. Assim que me seca, me move, me deitando ao centro da
cama. Eu não tenho forças para negar e nem quero. Meu rosto tomba no
travesseiro, admirando ele preencher todo o quarto com sua presença
masculina.
Ele apaga a luz do quarto e deixa apenas a luz do banheiro acesa. Seu
peso faz o colchão se mover, enquanto ele engatinha pelos pés. Sinto o
choque quando sua boca cola em meu tornozelo, arrastando-a lentamente,
causando eletricidade pura. Meu corpo ganha vida, se aquecendo, com seus
lábios que não tem pressa, se alastrando por minha perna. Seus dentes raspam
minha virilha, mordiscando-a entre as coxas internas, pulando de uma para
outra. Ao sentir sua respiração quente em cima do meu clitóris, arfo baixo,
mordendo meus lábios, meu corpo derrete como um cubo de gelo. Na
primeira passada de língua nos grandes lábios, ele beija minha vagina, que
pulsa para ele, sentindo saudade do seu toque. A força da sua mão aperta
minhas coxas, abrindo mais elas e deixando sua língua me invadir com
tortura. Levo minhas mãos ao seu ombro, arrastando meus dedos por sua
pele. Sinto seus cabelos molhados, que vão pingando, arrepiando meu corpo,
enquanto sua boca me suga, me chupando. Me queima com suas mãos
espalmando cada parte do meu corpo, alisando minha barriga. Seguro meus
gemidos, aguentando cada carícia dele em silêncio. Sua língua desliza,
lambendo diversas vezes meu clitóris, que está rígido, implorando por sua
libertação e, como resposta ao meu corpo que se move em agonia para ele,
seus dedos me invadem, entrando e saindo lentamente, em um ritmo contrário
à sua língua, que circula em cima do meu nervo pulsante. Viro meu rosto,
mordendo o travesseiro, quando sinto o formigamento que me atinge. Ele
abaixa sua boca, me sugando com mais pressão, aumentando a velocidade
dos seus dedos e da sua língua felina, tomando todo líquido que meu corpo
deixa para ele quando o orgasmo me atinge.
Mesmo com meu raciocínio lento e perdido, por conta do orgasmo,
sinto quando o colchão se move e suas mãos espalmam de cada lado do meu
corpo. Ele vem lento, me cobrindo com todo seu tamanho, como um predador
que sabe que me tem. Meus olhos se apegam aos seus quando ele força a
cabeça do seu pau dentro de mim, sinto a tortura e o alívio que é ser
preenchida por ele, abrindo minha boca em agonia, arqueando meu corpo
para cima. Antes que perca o controle e solte um gemido, Sedrico me beija,
me fazendo me contorcer embaixo dele, que vai me invadindo por inteira, me
empurrando para o abismo o qual apenas a ele pertence. Minhas mãos
seguram em seus braços, apertando-os com força. Tenho medo de me perder
para sempre em seu abismo se não me segurar a ele. Seu corpo se movimenta
lento. Demonstro meu amor em cada toque da sua língua com a minha. Seu
pau entra e sai, me esticando, me tomando, e nunca me senti tão completa em
toda minha vida. Suas estocadas fundas e fortes vão me levando para o nada
que existe depois que meu cérebro explode quando ele me faz gozar,
gemendo entre seus lábios. A gente fodia, trepava, dava uma rapidinha, mas
nunca, nunca, tínhamos feito amor, e me perco caindo mais fundo, deixando
meus olhos abertos, perdidos entre o nevoeiro que me toma. E é entre os
picos que me pego sendo sugada por seus olhos, que me observam com tanta
intensidade.
Ele entra com força, empurrando seu quadril lentamente, e continua
me rasgando a alma. Meu corpo o engole, se apertando em volta do seu pau,
o sugando para dentro de mim quando meu corpo se treme com a energia que
ele me toma. Conforme me perco em loucura, vou sendo preenchida pelos
seus jatos, por meu grande leão. Meus dedos ser erguem, acariciando sua
face, e sinto a mordida que ele dá em meu pulso, cravando seus dentes para
prender seu rugido. Seus olhos se fecham, com seu corpo trêmulo, e percebo
que nada se compara ao ver seu abandono sem controle algum, é lindo, é
selvagem.
Sedrico cai na cama ao meu lado, me puxando para seus braços. Sinto
o peso das suas pernas sobre as minhas, com seus dedos fortes espalmados
em minhas costas. Estou tão exausta, meu corpo já está no fim da luta contra
o sono e vou me perdendo, caindo, sentindo seus carinhos lentos, junto à sua
respiração tão próxima.
Acordo no meio da noite, com um braço forte me enrolando como um
leão, meu rosto colado ao seu peito. Estou deitada praticamente em cima
dele, com minhas pernas coladas às suas, e uma de suas mãos me segura para
não rolar. Deixo meu olhar repousar em sua face, seu lindo rosto descansa
sobre meu travesseiro, tão relaxado. Meus dedos teimosos não me obedecem,
tendo vontade própria ao tocar suas grossas sobrancelhas, alisando-as com
puro carinho. Não tenho ideia do que sobrará de mim no que essa fantasia de
adolescente havia me levado, só sei que meu coração bate mais forte ao seu
lado. Movo minha cabeça apenas um pouco, me aproximando dos seus
lábios.
— Eu te amo... — sussurro baixinho, lhe dando um selinho e
esfregando meu nariz ao seu.
Aninho-me em seu peito, me sentindo grata pelo pequeno momento
roubado, me aconchegando a ele e sorrindo com minhas bochechas. Sinto o
leve sobe e desce do seu peito em um ritmo lento e caio ao sono outra vez.

— Buenos días, Mikpó.


Sentada na cama, espreguiçando meus braços, olho meio perdida para
Sedrico, que afivela seu cinto em sua calça. Sua camisa jogada por seu corpo
me deixa ver seu abdômen duro se contrair a cada lufada de ar em seu peito,
com seus cabelos molhados e com o cheiro do meu sabote espalhando pelo
quarto. Me perco em sua face, relaxada, que me olha em silêncio.
— Bom dia, senhor. — Seguro o lençol sobre meu corpo, o apertando
mais forte acima dos seios, sentindo vergonha por não conseguir desviar
minha atenção dele. Engulo em seco, tento respirar normalmente e não como
uma ninfomaníaca perdida em seu desejo sexual nunca saciado.
Obrigo meu corpo a se mover, saindo da cama lentamente, e tento ir
ao banheiro, desviando dele, mas, em um movimento rápido, suas mãos
soltam dos botões da camisa, segurando meus braços e me deixando como
uma boneca para ele, trazendo-me junto ao seu corpo. Minha mão espalma
em seu peito com alegria, alisando seus pelos sedosos, sentindo-os ainda
úmidos. Seus dedos acariciam a bagunça que está meus cabelos, me
observando com um olhar perdido.
— Preciso voltar para meu voo, o jato está me esperando. — Ele
ergue meu queixo para não desviar dele, alisando minha boca, e eu me sinto
mais sua do que nunca fui. — Tenho assuntos para resolver que não podem
ser mais prolongados, por isso vou adiar nossa conversa. — Seus dedos
alisam meus lábios com mais pressão. Deixa sua voz rouca e me derreto em
seu toque quente.
Ele me puxa em seu peito, me segurando com força, e me sinto sendo
sugada para uma dor que me pega. Ele está partindo e é como se algo meu
fosse com ele. Me separo dele para que ele não veja minha tristeza e corro
para o banheiro, trancando a porta. Depois de juntar muita coragem e estar
decente com meu vestido ao corpo, consigo sair de lá com o velho sorriso de
sempre aos lábios. Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo, terminando de
colocar meu sapato. Sinto seus olhos me queimando, com ele em silêncio,
sentado na cama, me observando. Aumento o velho sorriso, o qual esconde
que sofro por ele estar partindo outra vez.
— Venha. — Estico meus dedos, tendo em segundos o aperto forte de
sua mão. — Não posso deixar você ir sem ao menos lhe dar um café.
É 6h da manhã, ainda temos um pouco de tempo antes da casa toda
acordar. Passo no quarto, vendo as crianças dormindo, seguida pelo grande
homem silencioso, que olha tudo em volta. É uma sensação tão familiar, ficar
aqui, na cozinha, preparando um café enquanto ele está sentado na cadeira,
me observando com suas pernas cruzadas.
— Não é como os cafés da manhã que Devon lhe manda, mas creio
que vai lhe deixar feliz.
O som da sua risada é baixo, me fazendo o olhar por cima do ombro,
segurando uma fatia de pão. Desligo o leite que estava esquentando, o
levando e deixando junto com as outras coisas.
— Não tem iogurte? — Rio, jogando o pano de prato nele, que o
segura no ar, mordendo o pedaço de pão.
— Não, e, mesmo se tivesse, não lhe daria. — Abro a geladeira,
procurando pelos frios com a mão na cintura, tentando descobrir onde Rana
escondeu o pote. — O que houve com o seu jato, afinal?
— Ele teve um problema técnico. — Sua voz sai baixa, com o som da
sua garganta limpando.
— Mas agora resolveu? Não vai ter perigo? — Sinto uma agonia
imensa ao pensar que pode lhe acontecer alguma coisa.
— Na verdade, não foi apenas isso. — Puxo o pote de queijo e
presunto quando o encontro, fechando a geladeira ao som da sua voz rouca.
— O que foi? — Deixo o pote sobre a mesa, o abrindo, o vendo ainda
preso em mim, mastigando seu pão.
Volto-me para fechar a garrafa de café que passei, com apenas seu
silêncio, quando o som da cadeira sendo arrastada e seu passo firme se faz
ouvir. Ele para atrás de mim, me viro para ele e, antes mesmo de arrumar
minhas pernas, sua mão já está em meu rosto, o segurando e abaixando o seu.
Seus lábios se colam à minha boca de uma forma firme, mais forte e com
tanta agonia, me dando um beijo que me deixa arfando, sem ar.
— Eu não lhe dei um beijo de despedida. — Ele segura meu rosto em
suas mãos grandes e macias, encostando sua testa na minha. Dou graças a
Deus por estar segurando meu rosto, se não já estaria deslizando pelo chão.
— Mikpó...
— O que esse homem faz aqui? — Nós nos viramos ao som da voz
nervosa e vejo minha mãe me olhando com raiva.
— Mãe...
— Ele não tem que estar aqui — ela me corta, apertando seus punhos
e olhando para nós dois, me julgando com seu olhar frio.
— Sedrico tem todo o direito de estar aqui, mãe. — Me distancio
dele, sabendo que é uma das raras vezes que uso seu nome. Ele se afasta,
parando na pia ao meu lado, o som alto da sua respiração fica mais rápida
com seus olhos observando minha mãe.
— Você passou a noite com ele, Luna? — Ela me olha de cima a
baixo, voltando sua face para Sedrico. — Dormiu com ele dentro da casa com
seus irmãos, como uma vagabunda?
— Cuidado con las palabras, mujer[76]. — O som grosso que sai da
sua boca se parece mais com um rosnado baixo. Ele tenta dar um passo à
frente, mas o bloqueio com meu braço. Vejo minha mãe me olhar incrédula.
— Se vendeu como puta e o traz para comê-la dentro de casa?
— Chega, mãe! — Olho séria para ela, cerrando meus dentes.
— Que tipo de exemplo você pensa em dar para suas irmãs? Que vão
poder dar como vadias para quem pagar mais caro, dentro da própria casa? —
Me engasgo na hora que ouço isso sair da sua boca. Minha mão espalma em
Sedrico, o sentindo tremer em meus dedos.
— Penso em dar um exemplo melhor do que a mãe que abandona os
filhos sozinhos e volta de madrugada caindo de bêbada, largada ao chão com
uma garrafa de bebida. — Minha voz treme, sinto meu peito bater acelerado.
Sinto o toque das suas mãos em meu ombro e tenho vontade de gritar por ele
ter que ver a ingratidão que ela tem. — Sedrico vai entrar e sair a hora que ele
quiser dessa casa, ele tem todo o direito!
— Mikpó... — Ele afaga meu ombro, sussurrando atrás de mim. —
Está tudo bem...
— Não... Não está! — Olho para ele com desespero por cima do
ombro, balançando a cabeça e voltando meu olhar para ela. — Estou cansada
de ingratidão. Você sabe que tudo que tem aqui foi ele que nos deu? A cama
quente que dorme? A comida que enche sua barriga e você larga para trás
para poder ir para o bar? Que, por duas vezes, mãe! — Ergo meus dedos para
ela. — Duas vezes! ELE teve que carregar você no colo, bêbada! Ele merece
seu respeito!
Ela olha chocada para ele, com sua face vermelha, voltando seus
olhos de condenação para mim.
— Faça como quiser, Luna! Só não diga depois que não avisei,
quando ele aparecer apenas para lhe comer! — Ela cospe seu veneno, nos
olhando com raiva. — Pois é só para isso que você vai servir para ele!
— Que seja! — Minha voz trêmula sai mais alta, com raiva, me
distanciando dele. Meus olhos se voltam para seu rosto, deixando ele ver tudo
que minha alma grita. — Que seja isso, então... — Minha voz sai quebrada,
mas nunca foi tão decidida. Viro meus olhos para minha mãe e digo: — Se
for só por uma noite, por um segundo, que ele vai me querer, não vou desistir
disso, não vou renunciar a mais nada na minha vida, mãe! — Meu rosto se
volta para a imensidão do seu olhar, que me suga para ele. — Serei o que ele
quiser que eu seja, é isso que nós teremos... E não me importo.
Ele segura meu rosto em seus dedos, soltando sua respiração pesada, e
me dá um beijo forte e apaixonado, que me faria segui-lo até quando ele me
deixar. Seus braços me circulam, me segurando em seu peito, com seu rosto
enterrado em meu pescoço, o cheirando com uma força que só ele tem.
— Te has convertido en mi todo, Mikpó[77]. — Ele solta o ar, beijando
meu pescoço. — Preciso ir... — Ele se vira para minha mãe, olhando-a com
raiva. — Tener un buen día, señora.[78]
A casa fica em silêncio quando o grande corpo dele se move para a
saída. Ainda estou com meus olhos perdidos, sem saber se entendi certo ou
não o que ele me falou. Eu já tinha ouvido tanto essas palavras da boca de
dona Zelda para seus maridos, quando ela ria para eles, que sinto um choque
misturado ao nervosismo. Movo meus olhos para ela, que apenas me
sentencia, ainda com seu olhar condenador. Ela se vira com ódio, saindo da
cozinha. Ainda olho para a porta, com meus dedos apertados em volta de
mim.
— Que seja... — sussurro para uma cozinha vazia, respirando rápido.
CAPÍTULO 15
O barqueiro de Hades

Luna
— Boa tarde, senhorita Delis, como foi a semana? — Sorrio para
Devon, que me aguarda no estacionamento com seus olhos alegres, em seu
terno sempre bem-arrumado e com sua postura intacta. Os olhos carinhosos
se expandem, movendo sua cabeça lentamente para mim em cumprimento.
— Olá, Devon, como está? — Meus dedos trocam a bolsa para meu
outro braço, estendendo minha mão para ele. — Aconteceu algo com
Antony?
Ele balança a cabeça em negativo, com um aperto rápido em meus
dedos. Abre a porta do carro para que eu entre.
— Está tudo em ordem, apenas cogitei que seria bom vir lhe buscar
hoje. — Ele fecha a porta assim que entro e me deixo descansar por alguns
segundos. — E a semana, como foi?
— Foi boa — sussurro, virando meu rosto para a janela.
Na verdade, tinha sido uma bosta. Acho que não tem uma pessoa que
não tinha conversado no juizado de menores, implorando para alguém me
deixar ver meu irmão. O advogado do senhor Bruce me confirmou que
alguém tinha entrado com o pedido de adoção, meu irmão está com seu
destino traçado, apenas à espera da assinatura do juiz. Minha mãe, que se
mantinha fora de controle, me fez tomar uma atitude: disse a ela que, se não
parasse com a bebida, eu lhe internaria, e, como sempre, fui fraca quando ela
chorou, me prometendo que, dessa vez, pararia de verdade. Sedrico partiu no
sábado. Ele me deixa feliz com suas pequenas mensagens, sempre rápidas ou
em horários tardios demais, quando já estou dormindo, para lhe responder.
Pelo menos minhas notas na faculdade estão boas, me fazendo ter alguma
coisa certa para me apegar. No serviço, não tenho do que reclamar. Dou
graças por ter algo para focar toda minha energia. Apenas me deixo sentir
vazia ao fim da tarde, quando sei que não o verei. É como estar sendo
arrastada por uma enchente que nunca tem fim, que é chamada de saudade.
Tento sorrir para todos à minha volta, mas apenas quando estou só é que me
permito calar e libertar minha dependência dele. Lycaios é meu vício, a droga
a qual meu organismo se viciou e sofre com a abstinência que sua ausência
me faz.
— E a sua semana, como foi, Devon? — Solto o ar lentamente,
esfregando meu rosto cansado, precisando de algum momento de distração
para meu cérebro.
— Angustiante, senhorita. — Sorrio com sua voz baixa, sempre
educada. Imagino que Devon deve estar sofrendo tendo que arcar com as
demandas de Lycaios em Miami, sempre controlador e terrível.
— O demônio está lhe chicoteando mesmo de longe? — Sua rara
risada é espalhada pelo carro, soltando o ar quando para no sinal de trânsito
vermelho.
— Deveras. Dom tem estado difícil esses dias. — Ele se vira, olhando
para mim e me observando em silêncio.
— Você sempre fez isso, Devon? Sempre ficou de babá das babys? —
Ele troca a marcha, fazendo o veículo se movimentar, percorrendo as ruas de
Chicago calmamente. — Está há muito tempo nisso?
Encaro o silêncio como algum assunto que está proibido de falar. Ele
apenas continua com sua atenção no trânsito. Meus olhos se abaixam para
meus dedos, enquanto os esmago entre eles, sentindo cada vez mais a dor que
me pega sem Sedrico aqui.
— Eu me recordo da primeira vez que vi aquele menino magrelo,
lutando por um pedaço de papelão. Seus olhos brilhavam com tanto
desespero, sabendo que era a única coisa importante que ele tinha. — A voz
serena dele se faz, cortando meus pensamentos, me fazendo o olhar mais
atenta pelo reflexo do retrovisor interno.
— Estava há cinco anos morando na rua, depois que fugi do albergue.
Podia ser mais velho, mas era muito menor do que aquele menino brigão. —
Ele solta uma risada, diminuindo a velocidade do carro ao se aproximar do
sinal amarelo. — Não que eu tenha crescido muito.
Ele se vira, olhando para mim, rindo, com um olhar distante,
mergulhado em suas lembranças.
— Por que estavam brigando por um papelão? — Vejo seu olhar ir se
apagando, mas ainda assim fica preso ao meu.
— Eu não estava brigando, eu tinha levado uma surra grande de uns
caras maiores, estava apenas recolhido em minha dor. Na rua, se você tem
um papelão limpo para lhe aquecer, ele vale ouro, você o trata como a coisa
mais cara e valiosa que tem na sua vida, pois é o único a lhe dar um calor nas
noites longas e frias.
Meu sorriso morre lentamente, entendo o que ele está falando.
— Sedrico dormia a duas praças perto da minha. Nunca tínhamos nos
cruzado. Não até o dia que alguns caras roubaram seu papelão, vindo parar
perto do esgoto onde eu estava escondido. Lembrando agora, acho que não
tinha fé alguma que aquele menino magro e sujo iria conseguir pegar seu
papelão de volta. Os três garotos eram duas vezes maior do que ele. Mas,
ainda assim, ele lutou. Apanhou tanto quanto bateu, mas ele pegou seu
papelão, que tão era importante. — Ele se vira quando uma buzina se faz
atrás de nós, voltando a dirigir o carro. — Um dos garotos tinha uma faca e ia
o esfaquear nas costas. Eu não tinha tanta força para desarmar ele, a ponta
velha e suja da faca cortou meu braço quando pulei nele.
Meu corpo se afunda lentamente nesse banco de trás, imaginando
Sedrico brigando por um pedaço de papelão para passar a noite em alguma
praça fria.
— Depois daquele dia, a gente acabou ficando um cuidando do outro.
Na rua é difícil ter lealdade, mas ele ficou. Me ajudava a comer quando
tínhamos fome, sempre fui muito doente e, até hoje, não sei como sobrevivi
àquele ano entre os esgotos. Se não fosse pelo menino sujo e bravo, acho que
nem aqui estaria hoje. — O som pesado da sua respiração sai lentamente. —
Então, um dia ele nunca mais voltou. Eu procurei por ele pela cidade, mas o
menino sujo tinha desaparecido. Os anos se passaram, fiz muitas coisas que
não tenho orgulho, senhorita. — Ele se cala, deixando apenas um silêncio
doloroso entre nós. — Mas lhe digo que foi para minha sobrevivência. Entre
roubos de carteiras dentro do metrô, uns bons anos depois, voltando para uma
casa abandonada que tinha invadido, vi um homem silencioso sair de lá,
parando na porta e esperando por mim. No primeiro momento, eu não sabia o
que um homem como aquele estava fazendo lá, com seu terno caro e
Lamborghini preta. Até ele dar um passo à frente e eu reconhecer aquele
olhar.
O carro estaciona, parando na frente da minha casa, ainda me fazendo
ficar lá, perdida no que Devon me conta. Sedrico me contou sobre sua
família, sobre seu convívio com seu pai. Como ele era um homem duro que
empurrava a borda a cada passo da sua juventude. Mas ele não falou sobre
sua infância, nunca tocou no nome da mãe e nem em como foi sua vida até
encontrar seu pai.
— Dom se lembrou de mim. Mesmo depois de todos aqueles anos, ele
se lembrou de mim. E, naquela noite, me ofereceu uma vida digna, a qual sou
grato a ele até hoje.
Devon desafivela o cinto, desligando o carro e se virando para mim,
em silêncio, com seus braços sobre o banco do motorista.
— E apenas houve uma única vez, depois de tudo, que vi aquele olhar
perdido e desesperado, do magro menino sujo de rua, estampar em sua face.
— Seus dedos batem lentamente no estofado, soltando um baixo suspiro. —
Foi quando ele entrou naquele jato, como se tivesse abandonado seu papelão.
Meus olhos se prendem em meus dedos, enquanto os esmago mais
firme, olhando perdida para a frente da casa. Dentro do carro, meu coração se
aperta em batidas rápidas e agoniadas. Nunca quis tanto me perder na
imensidão daquele olhar intenso.
— E respondendo a sua primeira pergunta. Não! Dom nunca me fez
cuidar da suas babys. Raramente algumas delas cruzava meu caminho, eu
apenas cuido do que é realmente importante para ele. Sempre achei que almas
quebradas apenas se completam quando acham outras almas mais quebradas
do que elas.
A lágrima que escorre por minha face é alcançada antes de rolar por
meu queixo, pelos dedos do calmo homem, que me observa. Fungo baixinho,
tentando sorrir, e solto minha respiração, que segurei a cada palavra que saía
dos seus lábios.
— Creio que já está em casa, senhorita Delis. — Ele vira seu rosto
junto ao meu para a casa e, mesmo sabendo que tenho que descer, não
consigo me mover, sentindo-me tão vazia, o que eu sempre fui. — Se
precisar de alguma coisa, é só me pedir!
Meus dedos se desentrelaçam, limpando meus olhos marejados.
Aperto minha bolsa em meu colo. Sorrio para ele, esticando a mão para a
porta, mas, mesmo depois de aberta e com meus pés na calçada, não consigo
partir. É como se tudo dentro daquele carro me puxasse para Lycaios. Minha
alma é tão quebrada e velha, me fazendo me sentir com mais de noventa
anos, e apenas se completa junto da dele.
— Devon... Se precisasse de algo, poderia me ajudar? — Minha voz
sai baixa, sentindo as batidas fortes que vão aumentando em meu peito.
— O que desejar, qualquer coisa. Se precisar, tenho uma pá no porta-
malas. — Solto o ar, rindo com a forma como ele deixa sua lealdade à
mostra. — Basta pedir.
Sinto cada célula do meu corpo sendo ligada em 220v, me fazendo
ficar com meu rosto quente e meus dedos trêmulos. A porta nunca ficou tão
firme junto à minha decisão.
— Acha que poderia me arrumar uma boa babá para o fim de
semana?
Ele me olha em silêncio por um tempo, balançando sua cabeça em
positivo. Ergue seu dedo para mim, em cumplicidade.
— Creio que devo ter uma ideia melhor.

— Quero que aproveitem bem o fim de semana, e obedeçam a


senhorita Novaes. — Pisco para Lola, que está eufórica sentada na Mercedes
ao lado de Will, rindo para a bela mulher calma que os observa com carinho.
— Não precisa se preocupar, senhorita, lhe garanto que eles vão se
divertir e aproveitar cada segundo. — Sorrio para ela, que me passa
segurança com seu olhar calmo.
Não sei como Devon consegue fazer essas coisas, mas, em pouco
menos de uma hora, a mulher que veio pela melhor agência, a qual ele
mesmo escolheu a dedo, chegou junto com Antony.
— Eu ainda não acredito que vamos para um resort! — Rana sai
correndo da casa, me fazendo virar para ela. Ela está radiante com seu vestido
de girassol, apertando sua mochila nos dedos. — Você não vai mesmo com a
gente? Eu pesquisei o nome do hotel pelo seu celular. Luna, tem piscina para
todos os lados!
Rio mais alto com ela apertando meus braços e nos balançando com
seus pulinhos.
— Eu quero que aproveite cada segundo na beira daquelas piscinas,
gatinha. — Beijo sua testa e puxo sua mochila, dando um tapa em sua bunda,
a fazendo entrar no carro, junto com a babá e as crianças. — Não esquece o
protetor, nada de ficar olhando para os meninos mimados e não vai para o
fundo. — Arrumando seu cinto, ela revira seus olhos, como toda adolescente.
Viro-me para a porta da casa, observando minha mãe, que caminha
com a face fechada, olhando para o carro. Antony pega a mochila de Rana
dos meus dedos, erguendo sua mão para pegar a bolsa da minha mãe. Ela a
entrega, ainda com seus olhos presos aos meus. Espero o motorista se afastar,
indo guardar as bolsas no porta-malas, junto com as de Will e Lola.
— Tenta aproveitar, vai ser legal — sussurro para ela, abraçando seu
corpo. Ela ainda está retraída, com sua face fechada, mas não me nega o
abraço quando lhe dou.
— Por que ele vai pagar um hotel de grã-fino para nós junto com uma
babá se podemos ficar em casa? — Ela se afasta de mim, olhando para o
carro e parando seus olhos na babá.
— Mãe, vai ser bom para eles saírem um pouco de casa, e o senhor
Lycaios não está pagando, o resort é dele. As crianças vão ter um fim de
semana diferente e divertido. A senhorita Novaes está acompanhando para
lhe ajudar. — Ergo meus dedos, alisando sua face. — Fiquei sabendo que
tem SPA lá, sabia? Poderia ficar horas e horas sendo massageada.
Com muito custo, vejo um pequeno sorriso se abrir em sua face. Ela
olha para mim, erguendo suas mãos em meu rosto, alisando-o com carinho.
— Não vou beber, se esse é seu medo. Eu lhe prometi, lembra? —
Deixo minha testa colar à sua, abraçando seu corpo mais forte.
— Eu te amo, mãe, te amo como sempre amei. E não vou deixar
vocês. — Meu rosto se enterra em seus cabelos, me deixando ficar ali com o
baixo suspiro que ela solta. — Apenas quero que esteja feliz.
Ela se afasta de mim, me olhando com seus olhos de dor. Sei que ela
está se segurando para não falar algo e sei que ela iria me magoar com as
palavras que soltasse. Apenas aperto meu coração por dentro, e, por mais
cruel que seja, não estou mudando meu caminho.
— Senhorita Delis. — A voz baixa de Devon ao meu lado me faz
suspirar em alívio, sorrindo para ele.
— Mãe, eu tenho que ir. — Ergo seus dedos, depositando um beijo
em sua mão e a soltando lentamente.
Ela solta seu ar para mim, se encaminhando para a porta do carona na
frente, que Antony segura aberta para ela.
— Ela está em boas mãos, senhorita. — Devon fica parado ao meu
lado, observando-os se preparando para a partida. — Solicitei que deixassem
a suíte preparada para eles, não haverá nenhuma gota de álcool dentro do
frigobar ou fora dele que esteja ao alcance de sua mãe.
Sorrio, virando meu rosto para ele. Gostaria de poder pensar que
realmente ela vai tentar ficar longe, mas sei que, se ela decidir beber mesmo,
nem Buda a deixaria longe do álcool. Apenas tento ter fé que ela vai cumprir
sua promessa.
— Obrigada, Devon. — Ergo meus dedos, deixando em seu ombro,
dando um pequeno aperto. — Não tem ideia de como deixou aqueles três
radiantes.
— Bom, ainda falta uma quarta pessoa ficar radiante. — Ele gesticula
para o carro e aponta para mim.
— Não contou para ele? — Me viro para a porta de casa, puxando
minha mochila e a trancando.
Devon pega minha mochila, com um pequeno brilho no olhar.
— Cogitei que o humor de Dom poderá ser melhorado com uma
pequena surpresa.
Meus dedos tampam minha face, abafando um grito.
— Deus, reze para ele ficar radiante mesmo e não soltando fogos
pelos olhos.
Seu sorriso se aumenta, deixando sua gargalhada se expandir ao abrir
a porta do carro para mim.
— A quarta pessoa radiante não era referida a ele, senhorita!
Ele apenas pisca para mim, entrando no carro e dando a partida. Sinto
meu coração quase pulando pela boca, estou indo para Miami não sabendo o
que me espera lá, a não ser a certeza de que é o mais correto que minha alma
já desejou. Pelo trajeto, Devon me acalma, já me deixando a par que, ao
chegar, um carro estará me esperando, me levando direto para o clube onde
ele está hospedado. As reuniões com os empresários hoteleiros estão
divididas entre conferências e documentações para liberação da filial que ele
deseja abrir na Califórnia. É apenas o tempo de me trocar no jato e
desembarcar, indo direto para lá.
E é em choque que vejo o grande jato dourado, que me aguarda na
pista, quando o carro estaciona a poucos metros. Meus dedos se apertam mais
à bolsa, sentindo meu peito arfar. Nunca tinha nem sequer saído de Chicago,
quanto mais entrado em um troço desses. E entre o pavor de sair do chão e
ver Sedrico, Lycaios ganhou de lavada!
O que me faz deixar meus olhos arregalados, olhando nervosa, não é
todo o luxo extravagante que apenas um egocêntrico como Lycaios poderia
ter, e sim a pequena mulher rechonchuda risonha que segura um secador e
uma prancha em seus dedos, sorrindo para mim.
— DEVON! — Minha voz alta grita, ainda presa à face da mulher.
Me viro tarde demais para sair de lá, me deparando com uma porta lacrada há
poucos segundos depois que entro. Volto meu rosto para ela, respirando
rápido, ainda sem acreditar no que ele tinha aprontado.
Ela aumenta seu sorriso, o expandindo ainda mais. A cada segundo,
sinto meus dedos se apertando mais àquela bolsa.
— Vamos lhe deixar radiante!
Sedrico

— E como anda seu pai? — A voz arrastada de Petrovic é mansa ao


meu lado, com sua amante dependurada em seus braços. — Há tempo não
vejo aquela lontra do mar. — Ele bate sua mão em meu ombro, me fazendo
ver pelas lentes dos óculos escuros sua mão nojenta sobre meu terno.
— Até a última vez que soube, Nico ainda estava vivo. — Viro o
copo de uísque, apertando o cristal entre meus dedos. Retiro a mão dele do
meu braço.
Meus olhos varrem o salão, onde mais um saturado coquetel acontece.
Sinto meus ombros se enrijecerem, olhando lentamente para todas as raposas
velhas com as quais tenho que lidar. Havia passado a semana toda tentando
me concentrar em cada reunião, me torturando a cada olhada no celular, me
negando a vontade de ligar para ouvir sua voz. Tento dar seu espaço, sei que
sou um puto por falhar cruelmente, monitorando-a pelo menos de longe,
sobrevivendo entre as migalhas do rastreador do seu celular e os relatórios
diários de Devon. Meu pau, que me cobra o preço da sua distância, faz me
prender em cada segundo daquela filmagem do autódromo, a qual conheço
tão bem quanto as curvas do seu corpo. Dava para ser praticamente meu
protetor de tela, pelas vezes que automaticamente o abri. Sinto a respiração
ficar pesada. Tento me distanciar entre as conversas vazias, as quais já não
me prendem mais a atenção.
Homens poderosos sempre nutrem seus egos infláveis, com seus
carros caros e mulheres tão esculpidas quanto o design do motor. Nico tinha
me ensinado bem o poder que tem um bom terno ao corpo, diante de um
homem de negócios que sabe o que quer. Chega um ponto tão grande de
nossas vidas que não precisamos mais absorver o que a sociedade pensa de
nós. Se tem Aston Martin entre sua coleção de carros, isso significa que você
caga e anda para o que outros estão dizendo sobre sua conduta. É isso que
vejo a cada canto entre as velhas raposas, com suas amantes dependuradas ao
pescoço, com suas joias caras ao corpo, ninguém liga. Ninguém dá a mínima.
São todos tubarões da velha guarda que navegam nesse mar e, se você não
tem sangue frio, eles te devoram. Havia passado todos os dias dessa semana
nadando entre as águas infestadas dos mais putos e cruéis, e eu amo, sempre
gostei de mostrar a eles como subestimavam o bastardo de Nico Lycaios,
saindo da sombra do velho e erguendo meu próprio nome. Mas estanco
minhas feridas para eles nãos sentirem o cheiro de sangue. Estou perdendo
metade da minha concentração por conta das belas curvas que me chamam
em sonhos.
— Serei o que ele quiser que eu seja, é isso que nós teremos... E não
me importo. — Solto o ar lentamente, com sua voz martelando minha cabeça.
Não há nada mais perigoso para um homem do que a entrega total, e
ainda ouço sua voz inflamando meu corpo a cada vez que a procuro em
algum sorriso feminino que é aberto para mim, mas apenas minha mandíbula
se trava de raiva em resposta. Porque não é ela, nenhuma dessas bonecas de
luxo é minha sugar baby, que me tem a ela com a sensação pura do poder que
me consome diante das suas palavras. E a cada segundo a desejo mais e mais.
Talvez, a essa hora, ela esteja deitada na cama, seus cabelos negros
esparramados naquela fronha de arco-íris que me faz me sentir perdido entre
seu quarto. Ainda posso sentir a maciez do seu corpo colado ao meu, seus
olhos moles caindo no sono, quando se aconchegou ao meu corpo, me
fazendo me sentir bem, assim que a rolei para cima de mim. Sua respiração
baixa, esfregando seu rosto em meu peito. E, como um frágil filhote de gato,
adormeceu sobre meu corpo.
Meus passos me levam entre o salão, procurando pelo bar, ao avistar,
deixo meu corpo cair pesado sobre uma banqueta. Soltando o copo vazio em
meus dedos, aponto para o rapaz do outro lado do balcão.
Retiro o celular do meu bolso, apertando-o em meus dedos, nem me
dando ao trabalho de disfarçar em procurar outra coisa. Sua foto risonha do
aplicativo, segurando seu rosto com um sorriso belo ao canto dos lábios,
olhando para sua irmã que bateu a foto. Lembro de ficar em silêncio a
primeira vez que vi essa imagem, olhando perdido para o brilho dos olhos
negros.
— Senhor, sua bebida. — Balanço minha cabeça em positivo para o
barman do outro lado do balcão, que me passa a dose de uísque puro, e
guardo o celular no bolso.
Deixo meus olhos se perderem na bebida dourada escura, a qual é a
única que me ajuda a passar as noites.
— Aquilo ali sim faz uma noite valer a pena. — Meu movimento
para, observando o barman, que está parado com suas mãos espalmadas ao
balcão, com seus olhos vidrados atrás de mim, sussurrando para o outro ao
seu lado.
Rio com a forma que eles se perdem. A única coisa que poderia
deixar um homem perdido em seu horário de trabalho é muito dinheiro
envolvido ou um belo par de pernas.
— Pode apostar que grande parte que deve ter nessas curvas foi paga
à vista, em dinheiro vivo... — Viro meu copo, os vendo rir, negando com a
cabeça.
— Eu venderia minha mãe, se ela estivesse viva, para saber qual a
sensação daqueles lábios. — O garçom magro, que pega as bebidas, ri,
estufando mais seu peito.
— Me dê outra, por favor. — Ergo o copo para o garoto, soltando
meus cotovelos sobre o balcão. — Me diga como ela é e posso lhe dizer
exatamente o preço que deve ter custado.
— Acho que não conseguiria descrever nem se quisesse. — O rapaz
deixa o meu copo sobre o balcão, voltando a perder seu olhar para lá. — É
delicada de uma forma sexy e provocativa.
Pego meu uísque, me virando para ver o que os prende, sabendo que
tudo que está lá é tão frio quanto o silicone em suas tetas.
A mulher ruiva, de curvas exuberantes, mostra o andar vulgar em seu
vestido vermelho, a pele tão clara que marcaria no primeiro tapa, tão brilhosa
como um Camaro recém-comprado.
— Aquilo nos peitos dela não é de verdade — respondo, observando
os peitos duros apontados entre o vestido. — E, com toda certeza, ela não é
ruiva de verdade.
— Não. Não é essa — o garçom fala baixo, passando por mim. — É
ela!
Meu rosto se vira na direção para onde ele está olhando, me perdendo
nas pernas negras que se destacam com o salto fino prata. A delicada
correntinha brilhante ao tornozelo esquerdo, a qual me parece tão familiar,
me fazendo ficar com a garganta seca ao ver as pequenas iniciais D.L.
balançando. Percorro meu olhar por suas pernas tão cremosas e firmes; o
vestido turquesa, colado ao corpo, de mangas compridas com pedraria
brilhante, a deixa mais viva que o oceano em uma noite estrelada, balançando
lentamente o tecido ao seu andar provocativo.
Meu corpo se endireita na cadeira. Olho com mais atenção para as
curvas mais perigosas que a de Tamburello, onde facilmente um homem
poderia se perder. Ela move seu quadril com tranquilidade, chamando
atenção para a frente aberta do vestido, que destaca o vale dos seus seios
abertos até seu umbigo, deixando apenas a fraca visão do paraíso que tem lá.
O que me faz enrijecer na merda de banco, apertando com força o copo em
meus dedos até sentir ele quase se trincando. Não foi meu pau acordando em
desejo, mas sim ele reconhecendo cada pedaço que já marcou com minha
porra.
Seus dedos finos se erguem, jogando seus cabelos negros para trás,
que caem como uma cascata de seda lisa. Travo minha mandíbula ao ver que
está com os cabelos lisos e, com a falta dos cachos, ele está duas vezes maior,
deslizando por ela. O pequeno sorriso, que aparece ao canto dos seus lábios
vermelhos, chama atenção de todos, como uma maçã proibida, que qualquer
filho da puta aqui dentro daria seus órgãos para experimentar. Já estou
tirando meus óculos com meu peito arfando em puro ar quente, cravando
meus olhos aos seus, que brilham iguais aos de uma gata selvagem,
delineados e tão expressivos diante da sua travessura. Os pequenos passos
decididos param no meio do salão, em um ato de bravura, e não sei se desejo
que seja apenas uma miragem para um náufrago, ou que seja o mais real
possível. Seu rosto pequeno tomba lentamente, batendo seus pés inquietos ao
piso. Levo o copo à boca, virando de uma vez. O som seco do cristal bate ao
balcão, com meu corpo se levantando, apenas virando uma única vez meu
olhar para o barman, que compreende o recado silencioso que dou para ele,
quase espumando de raiva pela boca, quando movo minha cabeça para que
ele se retire. Meus passos vão para ela, anulando tudo que tem à nossa volta.
Sou uma maldita vespa que vai feliz para a luz, meu pequeno sol brilhante,
que me enfeitiça como Ícaro, que, mesmo sabendo que suas asas se
derreteriam, faria tudo de novo apenas para viver esse momento. Precisei de
quatro passos antes do seu cheiro me acertar em cheio, fazendo meu peito se
arfar mais, esmagando os óculos em meus dedos. Ela sorri, deixando sua
boca mais linda com os dentes brancos à mostra, e apenas me presenteando
com a visão da sua bunda apertada naquela porra de pano, quando ela se vira,
caminhando para a pista, fugindo de mim.
Meus dentes travam, soltando um baixo rosnado e indo atrás dela
como um cão farejando minha presa abusada. Seu rosto se move, olhando
para mim por cima do ombro, e meu peito expande, com a forma que suas íris
brilham, tão inocentes e sexys. A mão se prende em punho fechado ao lado
do meu corpo. Nunca quis tanto soltar o homem da caverna dentro de mim,
arrastando-a pelo grande cabelo que quase bate em seu rabo. Seu quadril se
move, lento, me provocando a cada rebolada, passando entre os convidados.
Meus olhos mudam de direção do seu corpo apenas para fuzilar qualquer
filho da puta que a estiver secando. Toda falta de concentração que me pegou
nesses dias volta tão firme como um trem desgovernado. E sim, eu sou um
maldito tubarão, que aniquilaria qualquer outro que tente chegar perto da
deliciosa foca.
Tenho consciência que estou feito uma sentinela, cercando cada
movimento seu, até seu corpo parar na pista. Ela move seu pé, lento, batendo
ao chão, com sua mão apertando a pequena bolsa. A outra livre vai para sua
cintura, arrastando-a para cima, deixando sua cabeça tombar. Antes que meu
braço se erga, ela se vira, sorrindo para mim, dando dois passos para trás,
requebrando seu quadril lentamente e escorregando seus dedos por seu corpo.
Rujo, apertando minha boca com a distância dela, que se afasta a cada passo
que me aproximo. Levo meus dedos ao lado do meu corpo, e eles se apertam
mais fundo, deixando os nervos irem pulsando com força.
— Ooh, baby, baby, I’m dancing with a stranger ... — Sua boca se
move lenta, junto à música que vai tocando, com seus olhos presos aos meus.
Os dedos quentes se erguem, tocando meu ombro, deixando fogo por onde
encosta, esfregando seu rosto lentamente perto do meu pescoço. Como uma
gata manhosa, ronrona baixinho.
Com seu corpo tão perto do meu, sinto o leve raspar dos seus seios,
com sua cabeça próxima ao meu queixo. A pequena diaba está me
provocando entre todos, na pista, sentindo a falsa sensação de segurança, sem
nem saber que está me controlando diante da vontade de fodê-la bem aqui,
marcando meu cheiro em seu corpo, para que esses putos saibam que o que é
de Lycaios não é dividido.
Meu rosto cai para o lado, vendo o cidadão que tem seus olhos presos
à sua bunda, que se requebra demoradamente. Minha boca se abre como um
cão raivoso que poderia facilmente pular em sua garganta, o encarando com
ódio. Os dedos macios mudam de direção, parando em meu rosto. Enquanto
ela vira, encostando seu corpo ao meu, sinto seu leve deslizar com suas costas
coladas ao meu peito, fazendo minha atenção voltar para ela. Meu pau recebe
o leve toque do seu traseiro, como uma ligação direta. Sorrio com a forma
despudorada que Luna está me provocando. Suas mãos ficam espalmadas em
minha face, escorregando-as por meu rosto, assim como seu corpo colado ao
meu, e, por puro instinto, minha boca captura seu dedo, mordendo
lentamente.
— Mikpó... — resmungo. Com seus dedos em minha boca, enlaço sua
cintura e a aperto em meu corpo. O pequeno arfar do seu peito sai,
expandindo seus seios mais para frente.
Sua mão, com a bolsa, se ergue, colando a minha em sua cintura,
movendo seu corpo no balançar. Ela me embriaga a cada batida com sua voz
cantarolando baixinho, em sua estranha dança que me tortura. Solto seus
dedos, deixando-a levar sua mão para minha cintura, me puxando de leve, e,
fodidamente, meu pau lateja por ela, da mesma forma que ficou na primeira
vez que ela dançou para mim. Não sei se mato Devon ou se dou um aumento
a ele. Ainda penso sobre essa questão quando sua mão se perde entre nós
dois, escorregando entre sua bunda e massageando meu pau. Com toda
certeza eu o matarei.
— Luna! — Minha voz sai mais grossa e cruel quando enterro meu
rosto em seu pescoço, sentindo seu cheiro. Ela move seu quadril para os lados
lentamente, me fazendo me movimentar com ela.
— Senti saudade... — sussurra de forma dengosa, como se pudesse
aplacar o que me queima por dentro.
Eu morri de saudade. Voltei a sentir meu mundo girar quando a vi,
caminhando tão perfeita como uma mulher fatal embalada nesse maldito
vestido que rasgarei parte por parte, para garantir que ela nunca mais o use.
— Sentiu a minha, senhor? — Ela se vira em meus braços, com sua
mão espalmada em meu peito, subindo-a vagarosamente para o meu pescoço.
É uma feiticeira que me engole em sua magia, escondida por trás dos seus
olhos negros.
— Onde estão seus cachos? — Abaixo minha boca, recebendo apenas
a lateral da sua bochecha quando ela se vira, rindo.
— Em algum lugar entre a escova e os apliques. — Ela sorri baixinho,
deixando seu rosto colar ao meu peito. — Gostou?
Ela se aproxima mais, raspando seu peito ao meu, me deixando sentir
as pontas dos seus seios eretos. Rujo mais baixo, apertando com força seu
traseiro, até ela se encolher em dor, soltando um leve gemido. Seus dentes se
prendem ao meu terno, o mordendo, junto ao riso. É com o puro olhar arteiro
que esconde seu medo, atrás da traquinagem que ela me apresenta quando
olha para mim.
— Não me disse ainda se sentiu minha falta, senhor. — A voz baixa,
que sai da boca carnuda, é uma arma letal diante da pequena menina mulher
em meus braços. — Mas se não sentiu minha falta, suponho que deva ir?
Seguro seu corpo, o trazendo mais para mim, fazendo-a ficar na ponta
dos pés com seus saltos. Meus olhos se perdem na boca macia e vermelha,
que será para sempre minha maior tentação, me tirando o controle que apenas
a ela cabe. Seus olhos perdidos vão me engolindo entre a espera que ela
deseja, e Luna não tem consciência que me tem feito um garoto à sua frente.
— O que faço com você, Mikpó? — Meus dedos já apertam mais
forte sua bunda, abaixo minha cabeça e tomo seus lábios.
Meu inferno pessoal, que se divide entre a luxúria e a loucura, me
deixando morrer em seus lábios macios, com sua entrega silenciosa a cada
suspiro baixo que solta. Beijo-a com posse, forçando seus lábios a me
receberem, com sua cabeça tombando vagarosamente para o lado. Meu corpo
a implora, assim como minha língua já marca cada canto que é meu. Sinto
sua língua traquina duelar com a minha, mas, em rendição, me dá o poder,
que apenas a mim pertence. Luna é minha ruína, meu império de desejo.
Quando minha boca a solta, mordendo seu lábio lentamente, o sugando, sinto
meu peito arfar junto com o seu e estou perdido em meu pequeno frasco
afrodisíaco chamado Luna.
— Acho que isso foi um sim — ela sussurra, com seus olhos
fechados.
Mas os abre na mesma hora que minhas mãos a forçam para cima,
tirando-a do chão, com um pequeno grito saindo da sua boca. Seus braços se
prendem mais aos meus ombros, os segurando com medo.
— Senhor... Senhor, me põe no chão. — Desvio minha cabeça para
seu ombro e aperto mais o tecido do vestido em seu rabo redondo, para ter
certeza de que ninguém olhará mais para aquela bunda perversa rebolando
pelo salão. — Senhor... Oh, meu Deus...
Ela esconde seu rosto assim que começo a me movimentar, deixando
a porra da ereção do meu pau raspar em sua calcinha. Suas pernas se apertam
mais em minha cintura, sentindo a pressão que a cutuca a cada passo das
minhas pernas.
— Senhor, estão nos olhando... — Seu rosto se ergue, me fazendo
observar à nossa volta, junto com ela.
Estou me lixando se eles olham para mim, carregando-a pelo salão
como um neandertal, apenas preciso de um maldito lugar para esconder seu
corpo atrevido, marcando-o tão fundo quanto eu posso.
— Senhor, as pessoas...
— Quero que eles se fodam, Luna! — grunho perto do seu ombro,
cravando meus dentes. Aperto mais sua bunda.
O flash que nos pega, dos paparazzi, de certo, apenas me faz prender
ela mais junto a mim, a tendo como o maior prêmio entre meus braços,
saindo daquele salão.
CAPÍTULO 16
O coração do Deus Caído

Sedrico
Arrasto-a para fora do evento, apenas dando tempo de entrar com seu
corpo colado ao meu dentro do carro, seguido pelos fotógrafos. Ela ri mais
encolhida a mim, quando acelero o carro, sussurrando em seu ouvido:
— Com emoção ou sem?

Meu pau já está fundo dentro da sua boceta antes mesmo do elevador
privado da suíte fechar. Seu corpo, colado ao espelho, me recebe, se
acomodando mais a mim, com todo meu corpo a escondendo. Estoco até
sentir minhas bolas batendo em sua polpa.
Luna me deixa embriagado com seu cheiro, à medida que seu corpo
vai se apertando sobre meu pau, o lambuzando com a pressão das paredes
internas da sua boceta quente.
— Vou lhe foder tanto, señorita[79], até seu corpo perverso estar
completamente esgotado. — Mordo seu pescoço, fazendo-a gritar, recebendo
os solavancos a cada empurrada do meu quadril para cima.
— Ohhh... Oh, Deus, sim... — As unhas afiadas cravam em meu
ombro, me engolindo mais dentro de seu vulcão. Esfregando seu rosto ao
meu entre gemidos.
Meus olhos param aos seus, encostando minha testa na sua, apertando
mais meus dedos em seu rabo. Solto minha respiração pesada, garantindo que
ela entenda cada palavra que sai da minha boca.
— E depois disso, Mikpó, meu pau vai estar tão enterrado nesse seu
rabo, que se lembrará a cada andar que não deve me provocar em público.
Ela engole seu gemido, olhando para mim com suas íris dilatadas, se
perdendo mais nos movimentos que meu quadril faz, a penetrando com mais
força e pura fome. Largo seu pequeno corpo uma única vez, para garantir
minha dominação na destruição do vestido. Os olhos dela brilham risonhos
com seus seios livres apontados para mim; a calcinha, rosa bebê, mais sacana
e pervertida que seu vestido, já está deslizando por suas pernas quando ela
tira, a jogando para mim, que a pego no ar, levando ao meu nariz, farejando o
cheiro de luxúria que seu corpo expele. E, como um maldito caçador, já a
prendo comigo, levando para o bolso da calça antes de tirá-la e largá-la ao
chão.
— Seu pervertido! — A voz baixa e provocativa sussurra, com ela se
virando em seu salto, deixando seu rabo virado para mim.
Assim que entramos na suíte, o terno com a camisa voam longe, junto
com o sapato, indo atrás dela a cada batida do meu coração, e é com puro
prazer que enrolo o maldito cabelo promíscuo em meus dedos, o enlaçando, a
puxando de volta para mim.
— Vamos aprimorar essa definição, Mikpó. — Mordo seu ombro,
levando minha outra mão a circular sua cintura, colando suas costas ao meu
peito e a tirando do chão.
A sacada aberta nos chama ante o vento que balança as cortinas. Ela
grita, rindo, tentando fugir, mas empurro seu corpo, prensando-a na sacada de
vidro. Afastando suas pernas com as minhas, solto sua cintura apenas para
segurar meu pau, o levando de volta para sua boceta quente.
— Porra! — Meu corpo treme com o prazer que é se enterrar em seu
corpo.
Ela vibra sobre os saltos e me afasto o suficiente para puxar seu
quadril para mim, martelando dentro dela. Suas costas se curvam para a
frente, prendendo suas mãos na sacada, em busca de apoio. Solto um tapa
forte em sua bunda, a vendo se empinar mais, e puxo seus cabelos para trás
com meus dedos. As penetrações aumentam, entrando sem respeito ou
qualquer porra de controle. Apenas a fodo tão duro e fundo, como se meu
mundo fosse acabar aqui. E, como lhe prometi, meu pau se enterra em sua
boceta até ela estar tão mole, que, quando meus dedos deslizam sobre sua
cintura, pressionando seu clitóris, Luna já grita em euforia, deixando seu
corpo libertar a corrente que lhe pega. Meu pau sai do seu corpo, deixando
seu orgasmo escorrer por ele, tão lambuzado e quente. Me abaixo, a fazendo
se assustar quando beijo sua bunda, raspando meus dentes lentamente. Meus
dedos se prendem mais à carne, espalmando minha mão em cada banda do
seu traseiro, abrindo-a para mim. O corpo suado e quente suspira assim que
minha língua escorrega entre o meio do seu corpo, tocando o pequeno buraco
que pisca em felicidade, recebendo as pinceladas da minha língua. O vento
que vai batendo em seu corpo, a faz se arrepiar mais. Observo-a com suas
pernas trêmulas sobre os saltos, afastada, segurando o beiral da sacada com
seu corpo virado para o mar, e nem toda glória e luzes de Miami me deixa
mais irracional de controle quanto lhe foder aqui, no último andar de South
Beach, até toda minha mente explodir. Minha mão escorrega por sua perna,
alisando seu tornozelo e sentindo poder ao tocar na delicada correntinha, que
tinha lhe presenteado.
— Não vou usar isso. Por que não compra uma coleira e coloca no
meu pescoço?
Meu peito inflama, me fazendo a chupar com mais fome, deslizando
para baixo minha língua, até tocar na boceta inchada. Ainda posso ouvir sua
voz brava quando lhe dei a correntinha, com ela se negando a usar, e agora
me provoca, usando-a descaradamente entre aqueles velhos depravados.
Minha mão se ergue, traçando o caminho que tinha tecido, agora ao contrário,
movendo para dentro do pequeno buraco que desejo que esteja pronto para
mim, e, quando seu rabo suga meu dedo, meu pau pulsa mais forte, com
inveja do miserável.
— Fodidamente, eu vou brincar muito aqui, Mikpó. — Minha voz
grossa sai embargada de luxúria, mordendo sua coxa.
— Seu... egocêntrico... — Ela se engasga, arfando mais rápido,
deixando um leve vacilar percorrer sua perna quando outro dedo a invade. —
Deus, isso queima...
Meus olhos ficam presos à sua boceta, que vai brilhando mais, com as
pequenas gotas escorregando dela, e sei que, por mais que minha
provocadora baby esteja negando com as palavras, seu corpo me responde o
que quer.
— Deus... — Sua cabeça cai para trás, com seu quadril se empurrando
lentamente em meus dedos, o fodendo com o dobro de pressão da sua boceta.
— Não gosto de ver esse rabo rebolando por aí, Mikpó. — Solto o ar,
raspando meus dentes por sua pele.
— Calúnia, pois não rebolo — ela sussurra, tremendo mais sua perna
quando meus dentes se fincam em sua coxa com pressão. E, movendo minha
outra mão para sua boceta, levo dois dedos de uma vez, a fodendo pelos dois
lados. — OHHH, PORRA!
Aumento o ritmo, acelerando fundo as duas mãos, tendo a boceta dela
chorando, com seu líquido escorregando por meus dedos.
— Rebola! — Sorrio olhando seu rabo que, em resposta, se empina
mais, com um leve balançar em meus dedos.
Sem nem um pingo de consideração, a mordo como uma suculenta
melancia, a fazendo gritar mais alto, movendo meus dedos mais rápido até
suas pernas se apertarem em meus braços, esguichando forte com seu corpo
tremendo em explosão. Meus dedos saem do seu corpo, e fico de pé atrás
dela, trazendo-a para mim quando minha mão se fecha na sua garganta,
colando suas costas em meu peito. Movo minha perna esquerda, abrindo as
suas, usando minha outra mão para auxiliar meu pau a achar o caminho que
tanto estou desejando. O movo entre sua boceta molhada, o encharcando mais
com seus fluídos e logo retirando, o deixando pronto na entrada do seu
pequeno buraco. Ela ergue seu olhar para mim, dilatado em prazer, com seus
lábios vermelhos borrados, implorando pela minha boca, e, como um bom
senhor, eu sei o que minha Mikpó me pede calada. Não há pressa nem
brutalidade a cada movimento lento do meu pau, se empurrando em sua
cavidade apertada, que me recebe com agonia, tentando me expulsar a cada
contração. Minha cabeça se abaixa, pegando seus lábios para mim, beijando-a
com calma, lhe domando lentamente, da mesma forma que meu pau vai
abrindo sua passagem pelo canal não desbravado. Sinto meu coração batendo
rápido e, por mais que meus dedos soubessem a quentura que é seu corpo,
ainda assim faz meu pau sentir duas vezes mais. Luna geme baixo entre
nosso beijo, cravando as suas unhas em minha coxa, e eu sorrio fodidamente
feliz, entrando e saindo do seu corpo, sentindo as pequenas queimaduras de
ardência aumentando sobre meu pau dentro do seu rabo quente e apertado.
— Ohhh... Senhor... — Ela morde seus lábios, os tirando de mim com
seus olhos fechados.
Meus dedos esmagam um pouco mais sua garganta, vendo-a arfar e
abrir sua boca em um delicado “O”. Sei que Luna fode mais meu ser inteiro
do que meu pau a ela e nada pode ser mais belo que a visão da sua face
quando me tem tão fundo dentro dela.
— Mikpó, olhe para mim — sussurro perto do seu rosto, colando
nosso corpo na sacada. Seus peitos nus se movem a cada respiração que ela
solta, perdida entre o prazer e a dor que vai nos consumindo.
Seus olhos se abrem lentos, como a cortina de um palco, me
garantindo o melhor espetáculo da minha vida. Minha cabeça se abaixa,
raspando meu nariz ao seu, aumentando apenas um pouco meus movimentos,
com minhas pernas comprimindo os músculos, me avisando que não durarei
mais que duas estocadas em seu corpo quente antes de explodir e chutar toda
a razão para fora do meu cérebro. Minha boca captura a sua, deixando apenas
nós dois sob o barulho distante do mar e do seu coração, que chama pelo
meu. Me esgoto dentro dela a cada jato de porra que vou soltando. Meu
quadril se move mais uma vez, me enterrando dentro dela, e sei que nada
mais será o mesmo na minha vida sem ela.
Ainda estou com meu coração batendo rápido colado em suas costas,
com meu rosto afundado em seu pescoço, retirando minha mão de lá e
apertando sua cintura em um abraço. Ela tem seus dedos caídos na sacada e
respira com a mesma dificuldade que eu.
— Fica comigo? — sussurro, perdido no nevoeiro do êxtase entre
seus cabelos, apertando-a mais forte. Ela solta sua respiração lentamente,
alisando meu braço com carinho.
— Eu não posso, senhor. — Sua voz sai mole, entrecortada, com um
baixo suspiro, quando meu pau escorrega para fora do seu corpo. — Preciso
voltar domingo de tarde, não posso passar a semana aqui.
Meus dentes se cravam em seu ombro, deixando-a presa entre meus
braços, deslizando minha língua sobre sua pele. Não me refiro a uma semana,
isso para mim seria pouco. Quero Luna para vida toda.
— Pare de mexer ou vou arrancar seus cabelos de verdade. — O
corpo pequeno na banheira se encolhe, resmungando brava e afundando nas
espumas, jogando água para cima dos seus ombros de propósito, acertando
meu rosto.
Solto o cabelo falso que está quase saindo da sua cabeça. Afundo
meus dedos na água quente, cheia de espuma, e dou um beliscão na lateral do
seu seio.
— Ai! — Seu corpo pula, assustado, e ela me xinga baixo entre suas
doces risadas.
— Parada! — Minha voz brava rosna para ela, voltando minha
atenção para o penúltimo grampo do aplique em seus cabelos. Ela ergue seus
dedos, brincando na espuma e trazendo sua mão para perto do seu rosto,
soprando as bolhas.
— Poderia ter deixado eles, eu ia fazer uma trança tão bonita para ir
trabalhar. — Sua voz, ainda chateada, sussurra, soltando o ar em desânimo,
perdendo seus olhos na grande janela do banheiro. O sol alto entra, clareando
cada canto, com o abafado ar de maresia de Miami.
Respiro calmo, arrumando minha postura dentro da banheira, colando
minhas costas ao encosto. Minhas pernas, afundadas, se esticam, e as ergo
para a lateral da banheira. Seu pequeno corpo se aconchega, deixando suas
costas ficarem relaxadas em minha barriga. Ainda ouço seus resmungos com
ela erguendo suas mãos e brincando com os pelos das minhas pernas,
passando espuma. Termino de soltar aquilo entre a raiz do seu cabelo, dando
graças por conseguir tirar o último tufo da merda de aplique. Ergo-o à sua
frente, balançando com felicidade e o jogando longe, logo em seguida, perto
da lixeira.
— Pode fazer uma trança com seu cabelo natural. — Ergo a ducha
para cima dos seus cabelos, fazendo-a se encolher com o pequeno
chuveirinho quando os jatos vão em seu rosto, silenciando-a.
O inferno congelaria antes dela estar voltando para Chicago com
aquele cabelo.
— Eu achei que tinha gostado, queria ter ficado mais um pouco com
eles, senhor.
— Podemos raspar sua cabeça, assim poderá usar bastante essas
coisas.
Ela se vira brava, mas apanho seu rosto em minha mão, beijando sua
boca atrevida. O som baixo dos seus suspiros se espalha, me deixando sentir
seu corpo ir relaxando, com suas mãos em minha perna.
— Acho que não quero usar mais! — sussurra com a voz baixa entre
meus lábios, deixando os dela tão tentadores com sua forma inchada e
suculenta. Meus dentes se prendem à beirada, mordendo-a de mansinho.
Absorvo em minha pele suas unhas, que vão se cravando mais em minha
perna. Solto-a, deixando meus olhos se perderem por sua face molhada, que
me presenteia com um pequeno sorriso aos lábios. Seus olhos se abrem, me
prendendo na imensidão das pérolas negras tão dilatadas em puro prazer.
— Muy bien. Agora vire-se e me deixe terminar de lavar seu cabelo,
Mikpó. — Luna é uma fonte interminável de luxúria, que me faz querer estar
dentro do seu corpo a cada instante e, bem aqui, agora, nesse momento, sei
que me receberia se a virasse em meus braços, para se afundar entre sua
cavidade quente, mesmo depois de ter passado grande parte do sábado e essa
manhã de domingo presa a cama junto a mim.
Ela suspira baixo, se virando para a frente, e puxo as sacolas que
solicitei ao gerente do hotel. Pegando o frasco de xampu, coloco uma
quantidade em minha mão, levando aos seus cabelos, que vão voltando aos
seus cachos naturais.
— Como foi a semana? — Ela solta seus ombros, com meus dedos
esmagando seus cabelos lentamente.
— Grande... — Gosto da forma como ela se aninha mais, de uma
forma tão bela em sua entrega. — Trabalho, casa, faculdade, cama...
— Orfanato? — Minha voz sai baixa, observando sua pequena
mudança corporal.
— Aqueles dois são uns fofoqueiros — ela resmunga, fechando seus
olhos e esfregando minha perna com a ponta das suas unhas.
— Não, eles fazem apenas o trabalho deles. — Retiro a espuma dos
seus cabelos, enquanto sinto meus dedos passando por eles, lentamente.
Antony tinha repassado que Luna foi até a porta do orfanato, como
sempre ia. Dessa vez, ela conseguiu o que buscava. Devon pôde apenas me
repassar essa informação no outro dia, quando já estava reembarcando outra
vez no jato.
— Uma família quer adotar ele. — Meus dedos param sobre seus
cabelos. Um som baixo sai junto ao choro preso de sua garganta.
Sim, eu já estou sabendo. Meu advogado tinha tomado a frente dos
assuntos junto ao advogado dos Ozborne. Simons Amister tinha expedido o
pedido do recolhimento das outras três crianças no momento que ele me
informou. Tinha cobrado todas as malditas almas que me deviam em Chicago
e fora de lá, assim consegui que fosse anulado o mandado. Isso destruiria
Luna, ela se perderia se todos fossem tirados dela de uma única vez. Ainda
estou segurando a assinatura de Amister entre minhas mãos, assegurando que
ele não libere a adoção, até conseguir outra forma de trazer o pequeno para
Luna.
— Acha que ele será feliz com outra família? — Meus dedos voltam
para seu cabelo, terminando de retirar as espumas. Vejo-a se encolher com
doçura a cada toque. Solto a ducha, pegando o condicionador e o levando às
suas ondas cacheadas.
— Ele será feliz com você. — Minha voz sai mais ríspida que
gostaria, a fazendo tombar sua cabeça em meu peito, olhando para mim. —
Confia em minha palavra, Mikpó?
Ela sorri lentamente, com seus olhos brilhantes, balançando a cabeça
em positivo. Sua mão se ergue em minha face, alisando com carinho. Beijo
sua testa, voltando minha atenção para seus cabelos. Deixo toda minha
concentração neles e sou tomado por uma grande satisfação por tê-la aqui,
submissa aos meus cuidados, mesmo me sentindo ser rasgado a cada segundo
que o tempo vai passando, me fazendo saber que ela estará partindo.

Diante do jato que a espera, me perco em seu sorriso calmo quando


fica nas pontas dos pés, me dando um pequeno beijo. Meus braços
escorregam por suas costas, trazendo-a para mim e desejando a prender ali
comigo. Meu rosto se esfrega por seu pescoço, cheirando seu aroma doce de
amêndoas, o qual é apenas dela e que me faz sentir-me em paz.
— Apenas confie em mim — sussurro próximo ao seu ouvido, com
seus braços se apertando mais ao meu pescoço.
Ela beija meu rosto, esfregando seu nariz por minha pele com um
baixo suspiro.
— Vou sentir sua falta... — Meu coração para após uma batida longa,
com sua voz tão envergonhada falando baixinho. Deixo meus braços se
prenderem mais a ela, com minha mão escorregando pelo vestido solto
florido, que a deixa tão inocente, assim como suas sapatilhas baixas.
Meu rosto se afasta do seu pescoço, procurando por seus lábios, que
capturo, aplacando cada palavra que não sai por minha boca. A língua, que
escorrega entre a sua, se perde na entrega inocente a qual ela me presenteia,
fazendo meu peito bater três vezes mais. Desejo voltar ao tempo apenas para
deixar para sempre ela naquele hotel, junto a mim.
— Senhor, estamos prontos. — O piloto atrás de nós me avisa, com
sua voz calma, me fazendo soltá-la a contragosto, abaixando seu corpo
lentamente.
— Se cuida, senhor! — Sua mão escorrega por meu terno, como se
arrumasse ele do jeito que gosta, sorrindo para mim. Gosto dos óculos
escuros mais que qualquer coisa nessa hora, pois deixam meu olhar
escondido do seu, no qual está estampado que estou aqui, caído de joelhos à
sua frente.
Quero entrar naquele jato, levando-a para longe, mostrá-la tudo que
ela merece. As noites quentes e belas de Marrocos, onde lhe banharia com as
melhores sedas e ouro, a tornando minha pequena concubina eterna.
Desbravaria outra vez a mesopotâmia com ela ao meu lado, nos trancafiando
entre palácios de marfim, vendo o mais glorioso pôr do sol do Golfo Pérsico
sentir inveja da pequena Sherazade que estaria em meus braços. Mostraria-
lhe sua casa entre a Grécia, diante de Corinto, no templo de Afrodite, a qual
se reencarna em seus olhos negros, que me fascinam.
— Pode deixar! — respondo rápido, ainda com meus dedos presos à
sua cintura, não tendo forças para libertá-la. Deixo meus olhos perdidos em
seus lábios.
— Vai ser aniversário de Lola na quarta-feira. — Seu sorriso
aumenta, deixando sua face cair para o lado. — Acho que vou fazer um bolo
para ela.
Sorrio com a forma que ela brilha, se iluminando mais com o amor
que nutre pelos irmãos.
— Devon pode lhe levar até Artur, é um dos melhores confeiteiros
que existe. — Ela ri mais ainda, soltando os dedos do meu peito. Ergue a
minha face.
— E qual graça teria, se posso passar o tempo com ela, na cozinha,
rindo enquanto preparamos o bolo?
Posso lhe ver tão leve e solta como fica perto deles, com seu rosto
sujo de trigo e as mãos delicadas, distraída na cozinha. Sinto-me mais
propenso a querer o que dentro de mim implora para se afirmar.
— Preciso ir, fiz uma promessa a Will que estaria em casa quando
eles chegassem.
Ela pisca para mim, soltando seus dedos e dando um passo para trás.
Ainda a vejo parada uma última vez, antes de embarcar no jato, olhando para
mim, com seu rosto caído para o lado. Sua boca pequena se aperta,
prendendo o que ia falar, se calando e entrando no jato. Encosto meu corpo
no carro, olhando de longe o jato, que já vai se perdendo entre o ar, levando-a
para longe de mim. Estou perdido, sem volta, sem um eixo que me prende.
Luna faz-me sentir tão solitário e miserável sem ela ao meu lado, deixando
toda glória que já tive em cada coisa que possuí ser insignificante se ela não
estiver junto para dividir.
— Está caído por ela, Sedrico, por que é tão difícil assim de aceitar?
Meu sorriso tenta desmentir cada palavra de Tauro, dentro do seu
escritório, mesmo sabendo que fui ali com a desculpa do novo projeto, mas é
ela que desejo ver.
— Vocês dois passam muito tempo com a Zelda. — Solto meus
ombros, virando minha face para Bruce, em silêncio, que me observa.
— Lembra daquele desmoronamento há dois anos? — Ele solta o
botão do seu terno, se arrumando na cadeira. E como não me lembrar?
Tinha sido um inferno entre os Ozborne. Estava em uma viagem para a
África quando fui informado.
Bruce bate as pontas dos seus dedos lentamente na mesa, olhando
para Tauro. Nunca tinha compreendido como eles funcionavam com essa
ligação, até Zelda aparecer, unificando suas mentes como uma colmeia,
deixando a pequena mulher latina ser sua abelha rainha.
— Eu ainda me recordo de estar preso entre aqueles malditos
destroços e a única coisa que pensava... — Ele balança sua cabeça, voltando
seu olhar para mim. — Era em como eu a queria desde o momento que
coloquei meus olhos nela, em como desejava voltar no tempo e ter feito ela
ser nossa pelos quatros anos de estágio que ela nos torturou.
— Em como fomos burros por ficarmos apenas de longe, desejando-a
e jogando para fora cada batida acelerada que nossos peitos davam quando
ela passava por nós pelo escritório. — Tauro solta o ar, complementando o
pensamento de Bruce. — Era um ano mais velho que você na época e odiava
tanto a mim quanto a ela por estar me sentindo desmoronar por uma
pirralha atrevida de boca ligeira.
— E precisamos nos torturar por quatro anos antes de descobrir o
paraíso que era quando ela sorria mostrando suas covinhas. — A voz do
homem de terno negro que se levanta está embargada, e caminha pela sala.
Olhando em volta, ele se perde em cada detalhe que tem no escritório. — E,
naquele momento, Sedrico, entre a escuridão e achar que não sairíamos de
lá, me xinguei por cada segundo que deixei passar sem nunca ter lhe dito
como eu e Tauro nos sentíamos.
Ainda estou em silêncio, olhando para o porta-retratos de sua mesa.
Os dois riem, segurando seus filhos recém-nascidos com a pequena mulher
ao meio, risonha, na maternidade. Sempre soube que isso não é para mim,
mas me pego desejando esse momento ao lado de Luna, ter mais do que uma
grande casa vazia que me espera nos raros momentos que vou para lá.
— Venha, quero lhe mostrar algo. — Tauro se levanta, caminhando
para a porta e a abrindo, seguido por Bruce.
Ao fim do corredor, parando na terceira porta, os dois se viram para
mim e me olham de cima a baixo.
— Se não sentir um segundo sequer que seu coração vai sair pela
boca, como se estivesse pulando em queda livre, sem nada lhe prendendo,
então nunca mais lhe falaremos nada — Bruce fala rápido, deixando seus
olhos negros estreitos, levando seus dedos ao bolso da calça.
— E estaremos chutando seu rabo para bem longe de Luna, como
prometemos para Zelda — Tauro finaliza, não me deixando responder ao
erguer sua mão para bater na porta.
— E pode apostar, nunca quebramos nossa promessa com a Rabiosa
— Bruce encerra, calando-se em seguida. Ouvimos o som da chave que é
virada à nossa frente.
A porta que é aberta mostra a pequena mulher, que olha para eles, os
deixando entrar. Ainda fico um tempo em silêncio, os vendo passar e
conversar com ela antes de eu dar um passo à frente e é como se um ímã me
puxasse, vou diretamente para o pequeno corpo sentado perto da mesa do
escritório. Meu coração não erra uma batida, ele simplesmente dispara
dentro do meu peito, como se fosse rasgar para fora.

— Como anda seu filho? — Minha voz sai implacável, apertando o


celular em meus dedos, enquanto entro no elevador.
— Eu já esperava por sua ligação. Como vai, Sedrico? — Sorrio, me
virando para o espelho, arrumando minha gravata torta e percebendo a
pequena marca rosada de batom no meu colarinho.
— Por que ainda não anulou o pedido de adoção, Simons?
— Sabe que não posso anular, eu já fiz tudo que estava ao meu
alcance para lhe ajudar com as outras crianças, mas, infelizmente, todos os
protocolos o prendem, sem poder deixá-lo voltar para casa.
A mãe de Luna tinha fodido tudo. O menino largado sozinho dentro
do apartamento estava chorando assustado e amedrontado quando a polícia e
a conselheira tutelar chegaram no apartamento de Luna. Vilma apareceu,
alcoolizada, trinta minutos depois, e os policiais sentiram na hora o cheiro de
bebida que exalava do corpo da mãe de Luna. Luna não tinha estrutura
suficiente para arcar com a guarda do irmão, ainda mais com a mãe, que foi
considerada incapaz de ficar perto das crianças. Não tenho como dizer para
ela que terá que escolher entre a mãe ou o irmão, então apenas me resta puxar
cada carta que tenho na manga.
— Lembra quando seu filho foi encontrado dentro de uma das minhas
boates com quase cinco quilos de cocaína e liguei para você em vez da
polícia? — Meus dentes rangem, com minha voz nervosa. — Lhe avisei que,
um dia, cobraria esse favor, Simons.
Sabia que Simons estava concorrendo para a promotoria do estado na
época, ele perderia o cargo pelo deslize do filho.
— Sou grato por ter feito aquilo, Lycaios, mas realmente não posso
devolver o menino. A única forma dele sair daquele orfanato é se for
adotado.
Meus olhos ficam presos à marca do batom, ainda sentindo seu cheiro
em meu terno. Solto ao ar lentamente, a vendo à minha frente com seu rosto
delicado e olhos tão quebrados.
— Sim! Vou cuidar de você, da sua saúde, lhe comprarei roupas
novas, abrirei uma conta a qual terá acesso a uma quantia disponibilizada a
você, para gastar como achar necessário, pode ser com sua família ou você,
um carro, o que desejar. Estarei lhe bancando. Apenas precisa me dizer o
que deseja além do que eu achar necessário para você e terá.
— Meu irmão? — Observo seu rosto pequeno escondido entre o
emaranhado de cabelos, deixando seus olhos inchados e vermelhos tão
expressivos. Sinto as pontas dos meus dedos coçando em agonia, e nunca
quis tocar algo com tanta urgência como ela.
Deslizo minha mão por sua face, sentindo a agonia em que ela vai se
quebrando, como se nunca tivesse sentido um pouco de acalento. Movo a
mecha teimosa para trás, e de alguma forma estranha sei que darei o que ela
me pedir.
Meus olhos se abrem, virando meu corpo quando o elevador abre suas
portas.
— Amanhã, meu advogado encaminhará meu pedido, faça a liberação
antes de quarta-feira, Simons.
— Está me dizendo que vai adotar o menino? — Sua voz assustada
responde baixo do outro lado.
— Estou lhe dizendo que o quero antes de quarta-feira! Cancele o
primeiro pedido de adoção! Cadu Delis passará a ser um Lycaios!
CAPÍTULO 17
Os braços de Morpheu

Luna
Não me aguento com a felicidade o dia todo dentro de mim,
imaginando o sorriso lindo com que Lola me presenteará assim que ver seu
gostoso bolo, que estou planejando para ela. No meu horário de almoço,
aviso dona Zelda que vou demorar um pouco a mais para chegar, pois ainda
tenho que ir comprar algumas coisas que faltam para enfeitar a casa. Ela
apenas sorri, balançando sua cabeça e saindo com seus maridos.
Quando paro perto do carro, vendo Antony sorrir para mim, já sei
exatamente aonde vou primeiro. Sorrio feito uma boba, apertando minha
bolsa em minhas mãos. Consigo comprar os refrigerantes e os balões
coloridos que enfeitarão a sala, para ela e Will brincarem, sabendo que nada
pode ser tão importante em minha vida quanto a felicidade deles. Depois de
comprar tudo que preciso, peço para ele me levar a um último lugar. Logo
que ele estaciona o carro à frente da loja, meu sorriso aumenta ao ver que ela
ainda continua lá, na vitrine. Antony abre o carro para mim, me fazendo
descer alegre, respiro rápido o ar dos meus pulmões e caminho direto para a
loja. Meus olhos vasculham tudo em volta. É tão linda por dentro quanto por
fora. Cada canto perfeito, mostrando uma vasta prateleira com mais peças
perfeitas.
— Olá, bom dia. Em que posso lhe ajudar? — Uma moça baixinha
sorri para mim, com felicidade, retribuo seu sorriso, deixando meus olhos
pararem na segunda vendedora, que reconheço. Vejo a esnobe magrela
saindo de trás do caixa, me olhando.
Ela fica em silêncio por um tempo, me observando, e sei, assim que
ela torce seu nariz, que me reconhece. Ouço o som da porta sendo aberta por
Antony, que caminha segurando seu cap nos dedos enquanto olha em volta,
parando ao meu lado.
— Vai precisar de ajuda com as sacolas, senhorita Delis? — Balanço
minha cabeça em negativo para ele, sorrindo em agradecimento.
— Deseja alguma boneca em especial, senhorita? — A moça
sorridente à minha frente fala, de forma mansa.
— Sabe, eu ia amar ser atendida por você. — Sorrio educada para a
moça à minha frente, voltando meu olhar para a vendedora esnobe. — Mas
quero que ela me atenda! — Aponto em sua direção. Ela engasga assim que a
moça se vira para ela, olhando-a em silêncio.
— Claro! Diane, atenda a senhorita, por favor — a mulher fala baixo,
se virando para mim com seu cordial sorriso.
A mulher magra sai de onde está, sem aquele olhar repugnante que
me deu na primeira vez em que me viu parada na frente da vitrine.
— Então, no que posso ser útil? — Ela ergue suas sobrancelhas, me
olhando de cima a baixo, parando seu olhar nos meus sapatos.
Caminho pela loja, olhando em volta, mesmo sabendo exatamente
qual boneca vou comprar.
— Quero aquela! — Aponto meu dedo na direção da linda e delicada
boneca, a qual Lola tinha namorado por tanto tempo.
Posso ouvir perfeitamente o baixo resmungo que ela solta,
caminhando para lá em passos duros.
— Essa boneca é de coleção. — Ela se move, a pegando com cuidado
e olhando para mim. Realmente não tem nada a ver com a velha boneca de
trapos que tinha feito. — Foram feitas apenas quatro unidades do seu modelo,
toda trabalhada à mão. Seu valor é um pouco mais alto que o das outras —
ela fala com escárnio ao fim, me fazendo desviar meus olhos da boneca,
vendo-a ainda assim se sentir bem em inferiorizar alguém.
Sorrio para ela, endireitando meu corpo, com meus olhos não se
abaixando por vergonha dessa vez.
— Eu vou levar. — Abro minha bolsa, retirando dela a carteira e logo
estendo meu cartão, que contém o valor restante da dívida da minha mãe,
para a qual usei meu corpo para levantar a grana. — Vou pagar à vista.
Viro-me apenas depois de olhar sua cara metida caindo ao chão, ao
sair de lá com o embrulho mais lindo do mundo e de alma lavada. Não vejo a
hora de ver a carinha de Lola quando o abrir.
— Para casa, senhorita?
— Oh, sim. Ainda dá tempo de levar essas coisas para lá e volto
correndo para o serviço — respondo alegre, segurando o delicado embrulho
em meus dedos.
E, entre o caminho de casa, quase me aproximando, me sinto uma tola
por ter esquecido a vela do bolo.
— Antony, me deixa aqui rapidinho. — Toco em seu ombro, o
fazendo parar na frente do supermercado. — Olha, faz assim, como nosso
tempo está curto... — Olho para meu pulso, vendo a hora no relógio. — Vá
indo para casa e deixe essas coisas lá, Rana vai saber que é para guardar na
geladeira.
— Mas não quer que lhe espere?
— Vai ser coisa rápida, cinco minutos e vou chegar em casa antes de
você descarregar as compras.
Sorrio para ele, piscando. Abro a porta do carro. Aperto a bolsa e a
sacola em meus dedos, como se fossem uma só.
— Não quer que leve essa, senhorita? — Olho sorrindo para a sacola
em minhas mãos, parada na calçada.
— Vou levar isso junto, aquelas duas são muito curiosas!
Antony apenas ri, sabendo que é verdade. E, como prometi, não
demoro. Assim que acho a vela rosa de sete anos, passo no caixa, comprando
mais alguns docinhos para cada um deles. Saio do mercado com minhas
sacolas na mão, abrindo minha bolsa para guardar a carteira, mas dou de cara
com minha mãe, que tropeça em mim, apressada.
— Mãe... — A olho confusa. — Achei que estava em casa. — Sorrio,
a vendo ficar vermelha. Não entendo por que está nervosa. — Aonde vai com
tanta pressa?
Ela me olha assustada, olhando em volta. Ergue seus dedos e passa
rapidamente por seu rosto, meus olhos caem no que ela está segurando em
suas mãos. A sacola escura toda fechada se aperta mais a ela.
— Eu fui comprar umas coisas que faltavam. — Olho para ela sem
compreender, pois tenho certeza de que tinha comprado tudo.
— O que estava faltando? Esqueci de comprar alguma coisa? —
Tento olhar a sacola para saber o que minha cabeça tinha esquecido, sei que
ando com ela nas nuvens, pensando a cada segundo em Sedrico, mas ela a
puxa para o lado, negando me deixar ver o que tem.
— É coisa minha, Luna! — Sua voz ríspida me corta, olhando para os
lados em agonia. Eu sinto, é como se eu já soubesse apenas por seu olhar.
Não tinha me esquecido de comprar nada e muito menos devia ser um
presente para sua filha ali dentro. Tento puxar a sacola de suas mãos e ela se
altera, com raiva, a prendendo mais perto de si.
— Mãe, me deixa ver o que tem aí. — Meu peito já se aperta,
sentindo tanta agonia misturada à decepção. Estico meu braço para ela, sua
cabeça balança em negativo, se prendendo mais a sacola.
Depois de muita briga, puxo a sacola de sua mão. E, por Deus, meu
coração chora quando sinto o conhecido peso da garrafa de vodca. Não
preciso abrir para saber o que tem lá. Minha cabeça se ergue, olhando-a com
mágoa. É o aniversário de Lola. Como ela pode ser tão fria a ponto de fazer
isso justo hoje?
— Você está usando o dinheiro que lhe dei para a despesa da casa
para comprar bebida, mãe? — Ela me olha nervosa, com vergonha, passando
mais rápido seus dedos em seu rosto. Vejo o desespero do auge da sua
abstinência estampado em sua face.
— Me devolve, Luna... É meu! — Ela tenta pegar a sacola, mas ergo
meu braço, distanciando-a dela.
— Seu? — Sinto dor em vê-la ali, tão nervosa e agoniada, como se
fosse sua vida que estivesse dentro da sacola. — Oh, meu Deus! Essa merda
é minha, já que foi o dinheiro da casa que você usou para comprar isso. —
Ela fica vermelha, olhando para a maldita sacola, nem ouvindo o que sai da
minha boca. É como se estivesse diante de uma pessoa alienada, tão
desesperada, que a única coisa que lhe importa é seu vício. — Meu Deus!
Você nem está prestando atenção. Está tão agoniada por desejar seu maldito
gole, que nem ouve o que estou dizendo.
Ela desvia seu olhar, coçando seu corpo como se pudesse rasgar sua
pele. Sua respiração, duplamente alterada, solta o ar em dor, apertando mais
forte suas unhas à pele.
— ME DEVOLVA, LUNA!
— Não, você me prometeu! Você jurou que pararia. — Meus olhos
ardem, sentindo as lágrimas que me queimam. — Mãe... Você está me
matando junto com a senhora. O que mais tem que perder para poder largar
disso? — Ergo a garrafa com raiva, me sentindo tão inútil e impotente. — O
que mais eu não lhe dei, mãe, me diz, por favor. O que lhe falta para poder
ver que sou mais importante para você do que essa bebida?
— Me devolve... Por favor, Luna! — Sua voz é tão quebrada quanto
seu olhar.
— Essa doença está lhe custando tudo. Me deixa te internar, mãe, por
favor, me deixa te ajudar... — Minha voz angustiada pelo choro implora para
ela em meio à minha dor.
— Eu paro quando quiser, Luna. Não vou me internar. Eu tenho
controle! — ela fala isso com tanta fé, para poder acreditar em sua própria
mentira.
— Não, você não tem. Meu Deus! Quando vai ver isso?
— Eu preciso disso, Luna. — Seu rosto vermelho fica mais fechado,
com sua voz brava. — Por favor. — Ela tenta puxar a sacola dos meus dedos,
cravando suas unhas em meus braços. — Devolve minha sacola!
— Não! Se quer morrer, banque-se sozinha — grito com ódio, estou
cansada de ver ela se matando. Puxo meu braço das suas unhas, sentindo a
dor com o sangue se alastrarem e, em um impulso, jogo sua sacola no chão,
estourando-a forte no piso. O barulho do vidro se partindo não é tão alto
quanto o grito que ela dá.
— O QUE VOCÊ FEZ? O que fez? — Meu peito bate acelerado,
ouvindo sua voz histérica. — Sua maldita! O que fez, Luna?
Meus olhos se erguem da garrafa quebrada para a mulher transtornada
à minha frente. Nem quando meu pai morreu ou meu irmão foi levado, a vi
assim, perdendo totalmente seu controle. Ela se move, partindo para cima de
mim, me golpeando. Tento me proteger, erguendo as sacolas à minha frente,
deixando meu rosto longe das suas unhas.
Minha mãe puxa a sacola com força, fazendo ela se rasgar dos meus
pulsos. Suas mãos apertam o embrulho com raiva, gritando para mim, e vejo
o rápido momento que o embrulho dourado com sua fita rosa é lançado no
meio da rua. Sinto meu corpo gelar, travando uma batida do meu coração,
com meus olhos em choque. O ônibus, que passa rápido entre os outros
carros, faz eu gritar quando ele arrasta o presente com ele.
— Não... Não... — Meus dedos se erguem, tampando minha boca.
Balanço minha cabeça em negativo, tendo minha vista nublada pelas
lágrimas.
Olho com dor para a rua onde o ônibus passa e corro na direção do
embrulho amassado. Me abaixo, o pegando em meus dedos, vendo as
lágrimas que rolam do meu rosto caírem sobre a caixa destruída da boneca.
Sinto toda dor me consumindo quando tiro a boneca de dentro da caixa
amassada. Ela está intacta, sem nenhum estrago. Abraço ela forte em meu
peito, a colando a mim. Tinha comprando com todo meu amor para minha
irmã. Solto a respiração com força, me sentindo esgotada pela raiva que sobe
em meu corpo, pegando o lugar do pavor que senti quando a boneca foi
lançada longe. Me levanto segurando a boneca ainda em meu peito, como se
fosse meu maior tesouro. Limpo meu rosto.
Não chego a dar o primeiro passo. Meu corpo é arremessado por cima
de um para-brisa, estourando meu rosto no vidro. A dor explode entre minha
cabeça e minhas pernas. Ouço o som seco do meu corpo, que cai em um
baque ao chão, sendo arrastado pelo asfalto. Sinto como se minha pele
estivesse sendo cortada dos meus braços, e, ao fim, entre a agonia, há tanta
dor, tanto sangue que escorre nublando minha vista, que minha cabeça lateja
em batidas fortes, ainda sentindo como se alguém estivesse pisando nela.
Tento abrir meus olhos, focar minha visão, mas é tudo tão vermelho. Apenas
entre pontos, vejo o céu em cima de mim, ouço o barulho ao longe de pessoas
gritando alto. Viro meu rosto mole, que já se deita no asfalto quente e
molhado, para o lado e, um pouco distante, vejo minha mãe, que corre
gritando com seu rosto de choro. Não entendo o que ela fala, meus olhos vão
ficando pesados, vou me distanciando a cada batida lenta do meu coração.
Sinto a garganta seca enquanto tento falar. É como desejar pronunciar seu
nome uma última vez, desejar estar entre o mar verde que suas íris quentes
possuem, mas nada sai quando o abismo me suga.

Zelda

— Zelda... Cariño, olha para mim.


Não ouço a voz de Bruce, muito menos faço minhas pernas pararem
de andar pelo corredor do hospital, sentindo meu corpo queimar entre a dor e
a raiva.
— Docinho, não pode bater naquela mulher, está nervosa, depois
vocês conversam! — Tauro entra na minha frente, mas meu corpo já está se
abaixando, me livrando dos seus braços.
Esmago os meus dedos com raiva, o empurrando quando tenta puxar
meus braços.
— Não entra em meu caminho, cabrón!
Meus dedos se erguem em direção à minha face, tirando a lágrima que
escorre, me deixando com mais ódio. Ela estava feliz diante de mim, com o
sorriso mais bobo e alegre de una mulher apaixonada. Tinha me contado
como jogou para o alto seu medo e foi atrás de Sedrico no fim de semana.
— Cariño, me escuta. — Me viro, com raiva entre minha dor, para
Bruce, erguendo minha mão para ele.
— Não! Não vou me calar, señor! — Aperto minhas unhas na palma
da minha mão, sentindo-as cravando entre a dor e a ira. — Ela ia se declarar,
Bruce. Ela ia contar para aquele ogro como estava apasionada[80]. Dios, ela
estava rindo, tú a viu, agora volte para aquele quarto.
Meus dedos se erguem, apontando para o quarto frio, com apenas o
som dos aparelhos, onde uma chica machucada está debilitada, tendo o ar
sendo liberto por tubos em sua boca. Sua testa cheia de pontos, junto aos
machucados do seu rosto, com seus braços em carne viva. A pele foi
dilacerada ao ser arrastada pelo asfalto.
— Dímelo a mí, cabrón[81]! — Minha boca se aperta com mais raiva,
tranco o choro que vem. — Diga-me se é a mesma Luna!
— Docinho, não sabemos o que aconteceu — Tauro sussurra com
dor, erguendo seus dedos em minha face.
— Lo sé[82] o que aconteceu, Tauro! Luna não tinha aquelas marcas
nos braços hoje de manhã! — O olho com raiva, virando meu corpo e já
voltando meus passos para a sala de espera. — E quero que aquela mujer olhe
no fundo dos meus olhos e se atreva a querer me contar una mentira! Que um
raio me parta se não esfolar a cara dela!
Meus olhos param no motorista de Sedrico, que tinha me avisado
sobre o acidente, pegando um café fora da sala de espera. Ele ergue seus
olhos para mim e o vejo abatido. Balanço minha cabeça para ele. Devon, que
estava ao telefone, desliga o aparelho, olhando para mim quando paro à sua
frente.
— Onde estão os niños? — Vejo seu olhar triste, enquanto esfrega sua
face.
— Eu chamei uma babá, senhora. — Nós dois nos viramos para a sala
transparente de espera, vendo a mulher encolhida ao canto.
— Mira, acredita no que ela contou? — O som baixo de sua
respiração pesada o faz arfar, olhando para trás de mim.
— Creio que uma boneca não sai voando por aí sem ser lançada,
senhora. — Sim, eu sei disso. Assim como Devon não tinha acreditado que
Luna atravessou a rua sem olhar.
— Preciso de cinco minutos!
Sua cabeça balança em positivo para mim, se encaminhando para
Tauro e Bruce.
E, antes que os dois interfiram outra vez, entro na sala de espera,
batendo a porta atrás de mim e a trancando. Os dois homens bravos do lado
de fora gritam, esmurrando a porta. Meus olhos se apertam enquanto me viro,
focando na mulher sentada ao canto. Sua cabeça se move, olhando para mim
assustada e soltando um baixo choro.
— Não gaste suas lágrimas comigo, mujer — falo com raiva,
apertando mais forte a bolsa em meus dedos. — Mírame a los ojos y dime la
verdad[83]! — Meus dedos se erguem, apontando para ela. — Agora!
Quero gritar. Seguro a bolsa para não soltar meus dedos em sua face a
cada palavra que sai da sua boca. E, entre choros e arrependimento, ela vai
vomitando toda a desgraça que traz em suas mãos.
— Eu não queria isso, por Deus, eu... Eu... — Meus olhos se fecham
em desgosto. Recordo-me da primeira vez que vi Luna, tão miúda, mas com
uma força grande, fazendo o serviço pesado de faxina para levar sustento
para casa.
O amor pela madre e pelos seus hermanos... Em como sempre
preferia se calar, nunca contando o que se passava, mesmo eu já sabendo de
tudo...
— Tú não a merece! Não merece ser madre de Luna! — Minha vista
ardendo se abre, soltando um baixo suspiro.
Sinto ainda o choque de vê-la naquela cama de hospital. Eu senti,
sabia que algo tinha acontecido quando ela não voltou, Luna não é uma
menina irresponsável. E, quando liguei para seu celular e ela não me atendeu,
senti a mão que prendia em meu coração o esmagar. Se Tauro não estivesse
comigo no escritório quando o motorista ligou, ao fim da tarde, eu teria
desabado.
— Não chore para mim, chore por sua hija, por seu hijo! Chore por ti e
por todo mal que carrega, destruyendo[84] tudo em sua volta!
— Eu tentei ser forte, eu juro. Mas eu... Deus, eu não queria isso. —
Não consigo ter empatia por ela. Dios que me condenasse, mas sinto ódio por
essa mujer!
Compreendo que o alcoolismo é uma doença, mas, quando estamos
doentes, queremos nos curar, apenas desejamos ficar fortes. Porém, esta
mujer se prende a essa maldita doença, ela se alimenta do seu vício, o
fazendo ser mais forte que tudo que ama à sua volta. Ela manipula Luna com
seus choros de arrependimento. E, mesmo agora, diante dela, ainda quero
segurar seus ombros e a chacoalhar com tanta força, para que ela entenda que
terminou.
— Não tengo pena de tú. — Vejo seu olhar se erguer para mim,
enquanto limpa seu rosto vermelho. — Tengo ódio e isso me deixa com mais
dor no peito, porque nunca senti tanta raiva de alguém como tenho de tú.
— A senhora não pode falar assim...
— Cállate! — grunho com raiva, sentindo meu rosto queimar por
minha pele, levanto minha mão e a esmago com raiva, dando um passo em
sua direção. — Tú que não pode fazer o que faz e continuar achando que não
terá consequências. E dê graças a Dios pelo amor que tenho por Luna e por
não lhe meter a mão na cara, como tenho vontade.
Vejo-a se calar, arregalando mais seus olhos, com seu peito subindo e
descendo rápido. Não quero saber dos rosnados do lado de fora, que me
chamam a cada passo que dou para mais perto dela, e não me viro um minuto
sequer para olhar para eles. Ela se encolhe mais ao banco assim que fico a um
braço de distância.
— Vou levar aquelas crianças para mi casa, até Luna estar bem. —
Solto o ar com mais raiva, a vendo desesperada quando me abaixo, olhando
dentro dos seus olhos. — Não é de mim que deve ter medo, mujer.
Ela se cala, segurando sua respiração sem desviar seus olhos dos
meus.
— Nem o inferno irá lhe poupar da raiva de Sedrico, quando souber
que foi por tú causa que a chica dele está entubada. E lhe aconselho a aceitar
o que vou lhe propor. Vai aceitar o internamento, tem que ter um pouco de
amor dentro de você pelos seus hijos, que lhe façam ver que eles sim valem a
pena em sua vida, ou juro que eu mesma tiro cada um de você, começando
por Luna!
— Eles são o que mais tenho de valor... — sussurra com a voz
quebrada, com seus olhos se abaixando para sua mão. Vejo o sangue de
Luna, seco, em seus dedos. Ela chora baixinho, com sua voz embargada de
dor. — O que foi que eu fiz?
E, por mais que tentasse, não teve como meu coração não se apertar,
pois nada pode ser tão cruel quanto sua própria consciência.
— O que importa agora é o que vai fazer — sussurro, deixando meu
corpo desabar na cadeira ao lado, tampando meu rosto em meus dedos.

Minha cabeça despenca para o lado, sem o apoio de Bruce, o qual


tinha me confortado a madrugada toda. Porém não é isso que me faz abrir os
olhos, assustada, dentro daquela sala de espera, mas sim o grito de Tauro, que
segura um homem furioso com seus olhos vermelhos de ira.
— Calma! — A voz de Tauro, nervosa, repercute, segurando mais
firme seu peito, tentando o fazer olhar para ele. — Olha para mim, Sedrico!
Sei o que está sentindo, homem, mas precisa manter a cabeça no lugar.
Tauro o prende mais forte, o imobilizado tempo suficiente para uma
sombra passar rápido, se escondendo no canto da sala.
— Por que não avisou que ele tinha chegado, Devon? — Bruce grita
nervoso, tentando puxar Sedrico para fora da sala de espera. Seus olhos
negros vão em minha direção, me deixando ver seu rosto preocupado.
— Cariño, está bem? — Olho confusa para Bruce, ainda sem
entender. Me levanto nervosa, sentindo minhas pernas trêmulas.
Vejo Bruce junto a Tauro, tentando bloquear um devastado Sedrico,
que nem de longe parece ser o homem controlador que conheço, sempre
imparcial, com sua face cordial e olhar intenso. Sua roupa desalinhada faz par
com seu rosto cansado e triste, junto aos cabelos bagunçados, o deixando
com sua forma mais selvagem. Ele está completamente transtornado, com seu
peito arfando, soltando altos rugidos. A sala, que é pequena, está sendo
esmagada pela fúria do grande titã.
— Maldita mujer! Hija de puta ingrata! — Sua voz quebrada espuma
pela boca, rosnando como um animal ferido, respirando rápido.
Bruce ergue seus braços, conseguindo o prender pelo pescoço, com
Tauro servindo como muro de proteção sobre o foco da sua raiva. É tanta dor
em seus olhos verdes, perdidos em seu desespero, que chega a ser cruel. Sua
cabeça tomba em negação, fechando os olhos para se perder em seu
sofrimento. Mas, ao abrir, é apenas um grande vazio que tem lá. Olho para o
ponto da sua raiva, vendo a madre de Luna encolhida no canto da parede,
aterrorizada. Os rosnados de Sedrico aumentam, junto com suas maldições.
Não compreendo em meio ao susto, parece que acabei de fechar meus olhos.
Tinha passado a madrugada toda esperando pela estabilidade de Luna. A
médica que a atendeu na emergência tinha nos acalmado sobre o risco da
lesão cerebral, pois ela bateu a cabeça. Graças a Dios não tinha sofrido
nenhum traumatismo craniano. Eles estavam fazendo de tudo para conseguir
fazê-la estabilizar entre os tubos de oxigênio, sua parada cardíaca dentro da
ambulância tinha custado quatro minutos da sua vida, a qual, sob pressão e
ajuda dos aparelhos, conseguiram trazê-la de volta, mas a pequena não tinha
acordado um segundo sequer. É quase como se o corpo dela desejasse a
deixar partir. O sol lá fora, que brilha pela janela, mostra que a manhã já
chegou e, com ela, traz um homem desnorteado.
Mas é ao olhar em seus dedos que meu coração sente sua dor em
dobro. Ele luta, tentando se soltar da chave de pescoço de Bruce, o
empurrando para trás junto com ele, o espremendo na parede. Sua mão se
ergue, apertando o objeto, apontando para Vilma.
— Mira o sangue de tú hija. — A voz se faz em pedaços, com sua
mágoa, gritando e balançando a boneca.
— Madre[85] de Dios! — Meus dedos se erguem para a boca, abafando
um grito de dor. Olho com sofrimento para a suja boneca, que traz o sangue
seco de Luna.
Não tive coragem de pegá-la em meus dedos quando a enfermeira me
entregou os pertences dela, Tauro que me ajudou, pegando-a e a escondendo
rapidamente na sacola, deixando com as roupas sujas da Luna, dentro do seu
leito. E, mais do que nunca, compreendo o motivo da desolação de Sedrico.
Ele já tinha ido vê-la. Ele a viu com todos aqueles tubos e fios de eletro no
coração, com seu rosto ferido e braços machucados, cheios de curativos. Não
é a visão que deveria ter tido dela, tão frágil com seu corpo com baixo calor.
Eu não tinha mais condições de ficar dentro do seu quarto, preferindo ficar
com os meninos, esperando pela chegada dele. Tauro já pressentia, por isso
optou por ficar comigo esperando Sedrico. Não tem como não se desesperar
ao vê-la sendo mantida viva por todas aquelas máquinas em coma induzido.
— Homem, tem que manter a calma! — Tauro segura seu rosto,
colando sua testa na dele e tentando trazê-lo do meio da sua agonia. É
dilacerante seus olhos perdidos em puro caos.
— Mi amor, a boneca! — Minha voz, em choro, avisa Tauro, o
fazendo compreender.
Meu marido olha para ela, apertando mais seus dedos no peito de
Sedrico, quando o mesmo solta seu peso para trás, mais forte, pressionando
Bruce, que, mesmo sendo esmagado, não solta seu pescoço.
— Porraaa, Devon!!! — Tauro grita com mais raiva. — Desde que
horas ele está aqui? — Tauro rosna para o homem, puxando mais forte
Sedrico, libertando Bruce da parede.
— Eu não sei, senhor — Devon o responde perdido, gritando do lado
de fora da sala, sem conseguir entrar, tendo sua passagem bloqueada pelos
três armários. — Fui levar as crianças para casa de vocês, como solicitado
pela senhora Zelda, quando estava voltando, senhor Lycaios estava saindo do
quarto de senhorita Delis.
A voz de Devon é abafada pela grande fúria que rasga a alma de
Sedrico. Ele chegou sem ninguém ver, sabíamos que estava a caminho, mas
não que chegaria tão cedo.
— Maldita seja, es solo[86] uma maldita rata! — Ele solta uma
cotovelada em Bruce, o fazendo soltar o ar em seu pulmão com dor,
libertando seu pescoço.
O grande rompante é tão rápido, como um ataque selvagem. Sedrico
empurra Tauro junto com ele, como se fosse um trator desgovernado,
movendo suas pernas, que não param por nada. Ele ergue sua mão, pegando
Tauro desprevenido e o empurrando para longe.
— Mira... Mira o sangue de sua hija! Mira o sangue de mi Lua!
Minhas pernas se movem antes do meu cérebro raciocinar o que irá
fazer. Correndo à sua frente, meus braços se abrem, sendo a última barreira
entre ele e Vilma, com meu coração quase saltando pela boca. E é diante do
seu olhar, queimando com sua respiração acelerada a um passo de mim, que
me sinto dentro de uma arena, sendo que nunca na minha vida tinha visto
uma tourada, mas agora é como ter um grande touro dourado bufando a
centímetros dos meus cabelos.
— Hombre, terá que passar por mim para chegar até ela — rezingo
entre meu grito de desespero, o fazendo continuar com seus olhos fixos aos
meus. — Mira, me dê essa boneca! — Estendo meus dedos trêmulos para ele,
sentindo cada parte do meu corpo endurecido pelo nervosismo. — Por favor,
mi amigo.
Seus olhos caem sobre a frágil boneca, com seu rosto trincado. Ele a
observa em silêncio, tão perdido, me deixando ver a verdadeira face que se
esconde por trás do poderoso Dom. Seu peito bate forte, se estufa a cada
respiração de ar. Vejo-o deixar seus ombros caírem, esfregando seu rosto em
agonia.
— Eu sei o que está sentindo. — Minha mão se ergue ao ar, fazendo
Bruce e Tauro ficarem onde estão, quando pego o flash dos dois se
aproximando. — É como se nada nesse mundo pudesse aplacar essa dor,
além de ter ela em seus braços.
Vejo a cabeça caída balançando lentamente, erguendo seus olhos para
mim, os fechando em sua dor. Meu rosto se move, tendo minha atenção nos
enfermeiros, que entram com os seguranças do hospital. Minha mão se move
para seus ombros, tentando lhe dar um pouco que seja de conforto, alisando
seus braços e sentindo cada parte dele rígido como pedra. Movo minha
cabeça em resposta para Tauro, na direção deles. E, me compreendendo,
caminha para os enfermeiros, conversando baixo. Volto minha atenção para
Sedrico, sussurrando com calma:
— Ela ficará bem! Preciso que tenha fé, hombre. — Bruce e Devon se
aproximam lentos, com a intenção de proteger a saída de Vilma, que ainda
está colada à parede atrás de mim. — Às vezes precisamos chegar ao limite
para vermos o que realmente importa, Sedrico. E ela está sofrendo como
você.
Suas narinas dilatadas se alargam, respirando com força. Abre seus
olhos, que agora estão tão apagados, sem nada além do grande abismo.
— Vamos internar ela em uma clínica de reabilitação. Tauro e Bruce
já estão resolvendo esse assunto, Luna ficará feliz. Era o que ela estava
lutando para sua madre fazer. E assim que acordar, verá seu desejo se
realizando.
Os expressivos olhos caem para trás de mim, olhando para Vilma em
silêncio, movendo sua cabeça lentamente em negativo, quando seu corpo se
endireita, travando sua mandíbula.
— Não! Sairá daqui agora! — A voz fria como aço solta de uma
única vez, a olhando sem nenhum sinal de piedade. — Não ficará aqui. Não
dividirá a recuperação dela. — Suas palavras são como uma chibata do
carrasco, sendo solta como fel. — Não tem mais esse direito. Não chegará
perto de Luna ou daquelas outras crianças até estar realmente habilitada.
— Não... eu preciso ficar. — O som baixo do soluço, cortado pelo
choro, se faz ouvir atrás de mim. Olho em busca de apoio para Bruce, mas
sua cabeça se move lenta, anulando qualquer esperança.
— Sedrico... — Meus dedos se prendem aos seus, mas sei que não
terei argumento diante do seu olhar de aço.
— Devon!
— Sim, Dom. — Devon já está de prontidão, ao seu lado, esperando
por suas ordens.
Sedrico não olha para nada mais além da madre de Luna, que chora
baixo.
— Acompanhe a senhora Delis até sua residência e a ajude a fazer as
malas. Creio que, se ela sair agora, amanhã de manhã já será internada em
Austin!
— Mas... Mas isso é no Texas. — Meu rosto se vira para a mulher,
que fala em desespero. — Não pode me mandar para lá...
— E não irei. Será uma escolha sua aceitar a chance que lhe dou. Não
é digna, mas sua família é.
— Sedrico... Por favor, Luna irá sofrer... — Sinto o toque em meu
ombro, me fazendo olhar para Bruce, que apenas balança sua cabeça.
— Cariño, deixe eles decidirem. Luna já sofre com ela aqui. — Ouço
as palavras baixas de Bruce perto do meu rosto. Beija minha cabeça. E,
mesmo sendo verdade suas palavras, ainda assim não tem como não sofrer
com o ponto a que tinha chegado a situação.
— E será apenas por eles que não lhe jogo no inferno que me colocou,
mujer! — Sedrico dá um passo para trás, deixando o caminho livre para ela.
— Não irá mais arrastar eles para seu inferno, deve isso à Luna.
Antes mesmo de poder aclamar por sua consciência, sinto o toque em
meu ombro, me fazendo me virar para ela. Seu rosto pálido, tão triste, olha
para mim, balançando sua cabeça em negativo.
— Diga para ela que ela é minha Lua e que a amo mais que a mim
mesma, senhora.
Ela não pede seu perdão e nem diz adeus. Seus passos apenas se
movem lentos, com seu olhar quebrado, aceitando o braço que Devon lhe
oferece como apoio. Caminha lenta para fora da saída da sala de espera da
emergência. Meu rosto se vira para o homem silencioso, que observa a
pequena boneca em sua mão.
— Eu a ouvi... — Sua voz não é mais aço quando sussurra, perdido
em sua dor, como se estivesse me contando seu maior pecado.
— Sedrico... — Meus dedos se esticam para ele, tocando seu ombro.
Sou engolida pelas íris verdes, que brilham com seus olhos vermelhos pelo
choro reprimido.
— La oí decir que me ama[87]. — Sua voz baixa vai desacelerando a
cada batida que meu coração erra ao ouvir sua confissão. — Eu não tive
reação, porque foi tão espontâneo da parte dela.
— Dios, não... Estava acordado? — Luna tinha me contado que iria se
declarar para ele, que tinha tomado coragem para lhe dizer sem ele estar
dormindo.
— O que foi? O que ele disse? — Tauro se move lento, parando perto
de Bruce, que olha com compaixão para Sedrico.
— Luna se declarou para Sedrico, achando que ele estava dormindo,
mas, pelo que entendi, ele estava acordado. — Bruce é quem traduz para
Tauro, me deixando ouvir um baixo xingamento da sua boca.
— Yo era un gran[88] idiota, Zelda. Ella es mi mundo[89] e eu não disse
isso para ela.
Quero gritar, quero bater tão forte na cabeça desse homem, apenas
para abri-la no chão. Mas quem me olha agora não é o egocêntrico Lycaios, o
Dom da Odisseia, o todo pomposo, e sim Sedrico, um menino perdido em
seus traumas.
CAPÍTULO 18
O lamento de Hefesto

Sedrico
— Olá, Sedrico. Como vai? — A mulher de cabelos grisalhos olha
para mim, com o pequeno rosto triste. — Sou Cheron, a assistente social que
ficou responsável por vir lhe buscar!
Sua mão se ergue, segurando a minha, enquanto ainda estou sentado
no banco frio do hospital. Minha madre tinha dado entrada com dores fortes
no peito. Seu rosto, mesmo em dor, tinha se virado para mim, sussurrando:
— Eu te amo, cariño. — Seguro seus dedos, para ela não me deixar,
não quero ficar sozinho. Eu quero dizer: eu te amo, madre, mas isso ficou
preso em minha garganta, junto ao soluço que seguro.
Ouço os gritos dela, sentado na cadeira de frente para o quarto onde
eles a internaram, enquanto entram e saem empurrando as máquinas. E, de
alguma forma, é como se eu soubesse que minha madre não iria sair de lá, e,
na última vez que a enfermeira sai, deixando a porta aberta, posso ver seu
rosto vazio, com seus olhos congelados. Eu não me levanto, continuo no
mesmo lugar, olhando para ela, sentindo aquele eu te amo sendo afundado
dentro de mim.
— Você tem alguém a quem queira avisar, alguém que possa estar
com você?
Olho para aquela mulher, querendo lhe falar que não tenho mais
ninguém, que a única pessoa que tinha era minha madre, mas apenas
balanço minha cabeça em negativo, sentindo as palavras serem engolidas
dentro de mim. Não tínhamos dinheiro, não tínhamos nem plano de saúde,
ela apenas seria enterrada como indigente pelo Estado. Havia passado doze
horas sentado na mesma cadeira, esperando que ela fosse sair de lá. E ela
saiu! Deitada na maca, com seu corpo coberto pelo lençol, com os
enfermeiros a empurrando. Seu braço balança na virada da maca ao ser
retirada do quarto, caído para fora, e, como se pudesse prender ela ali, meus
dedos se esticam para seus dedos. Retraio-me, sentindo a frieza, sem o calor
que ela tinha antes. Meus olhos assustados ainda estão presos aos meus
dedos em sua mão fria, apertando com dor quando eles a levam para longe.
Meus dedos esmagam o ferro da maca, com a respiração pesada em
meu peito. Meu rosto está tombado em seu pescoço, a cheiro à procura do seu
aroma de amêndoas e apenas recebo o cheiro hospitalar, tão frio e impessoal
quanto esse lugar, me fazendo ranger meus dentes, trincando com minha dor.
Movo meu corpo, arqueando ao lado da maca, olhando para ela.
Se cuida.
Sua voz baixa sussurra em meus ouvidos, me fazendo querer voltar no
tempo para lhe deixar presa em meus braços.
— Por que não se cuidou? — Sinto a voz rasgando minha garganta.
Não é minha Luna, não é a mulher sorridente que entrou no jato há
poucos dias. Seu calor, que me incendiava entre aquele lençol, é apenas uma
chama apagada em sua pele morna. Deixo meus dedos se erguerem, alisando
seus cabelos negros, que tinha lavado cacho por cacho ao som dos seus
resmungos, retirando a mecha teimosa que cai sobre seu rosto. Suas pálpebras
fechadas escondem de mim suas pérolas negras que amo, deixando apenas os
cortes em sua pele. O grande curativo em sua testa já mancha outra vez com
seu sangue.
— Não pode fazer isso comigo, Luna... — Me perco, sinto-me sendo
rasgado e nada pode tampar o buraco que está me consumindo. — Não pode
entrar em minha vida apenas para me largar ao tártaro depois.
Abaixo meu rosto, colando minha face à lateral da sua, sendo pego
outra vez pela perda, pelo arrependimento de não ter lhe abraçado com mais
força naquele quarto tão feminino quanto ela e dizer: EU TE AMO,
MULHER, mais do que já amei algum dia em minha vida.
— Mikpó, não pode fazer isso... — Minha voz quebrada sussurra com
o gosto amargo do desespero. Não me lembro de sentir meus olhos
queimando e nem qual é o gosto de uma lágrima, mas, diante de Luna,
desmorono, deixando-a rolar para minha boca.
Tinha sentido meu mundo todo ruir no momento que Devon me
avisou. A reunião que participava ficara para trás quando passei pela porta,
estourando-a com pressa. Não queria esperar meu jato, queria ela. Queria vê-
la, ouvir sua voz. O jato fretado já me esperava no aeroporto e nunca
amaldiçoei tanto a mim e a todos por não terem cuidado dela. Sinto-me
quebrado em partes. Tinha lhe jurado que lhe protegeria, ela estava sob
minha proteção, mas não a protegi. E, diante dela, que não reage, vou sendo
fragmentado em várias partes, as quais cada uma traz uma lembrança dela.
— Volte para mim, Luna. Me deixa te observar nos olhos e lhe dizer
o quanto eu te amo, niña.
— Então quer dizer que olhava para mim?
— OH, MEU DEUS! — Sua mão se ergue, tampando seu rosto,
batendo seus pés na cama. Rola para longe de mim. — Eu disse que era
atraente, não que ficava olhando para você.
— Inocente, Luna... — Já preparo meu ataque, movendo meu corpo
que se ergue sobre o seu, a enjaulando como minha doce presa. — Para
achar uma pessoa atraente tem que perder um tempo desbravando seu corpo.
— Ela se atrapalha em seus resmungos, quando deixo meus lábios tocarem
sua barriga, deslizando por sua pele.
— Deus, você é insuportavelmente convencido, senhor. — Mordo a
lateral das suas costelas, próximo ao seu seio, apenas para ter o prazer de
ouvir o seu arfar acelerado.
— Confesse, Mikpó! — sussurro entre os beijos, me arrastando para
cima.
— Nunca... — Sua risada tão cheia de vida me tira da zona de
conforto, me jogando em seu mundo tão leve quando ela está perto.
— O que lhe fazia ficar com suas calcinhas molhadas? — As coxas
atrevidas se prendem à minha cintura, arrastando meu quadril para baixo,
perto do seu, em um laço firme.
Deixo meu rosto descansar entre seus seios, esfregando meu nariz
entre eles, amando o cheiro que é só dela.
— Seus olhos. — O som baixo da sua voz, envergonhada, sussurra,
chamando minha atenção para seu rosto descansado no colchão.
Meu corpo se ergue, movendo-me para cima, espalmando minha mão
ao lado da sua cabeça. Deixo toda minha concentração em sua face, caindo
como um náufrago na imensidão de suas esferas negras, brilhantes.
— Eu me sentia sendo sugada por seus olhos, sempre que me permitia
o olhar sem que percebesse, por mais que amasse olhar a frente da sua
calça. — Ela ri, erguendo um pouco sua cabeça e olhando entre nós. Meu
pau pulsa em resposta para ela, cutucando a entrada da sua boceta. Isso a
faz abrir mais seu sorriso, tombando sua cabeça para trás.
Seus dedos se erguem, deixando apenas a ponta deles tocarem minha
face, contornando a lateral do meu rosto.
— Eu pensava em como eram tão intensos como diamantes, com uma
energia esmagadora, me roubando cada pensamento de como seria tê-lo
olhando uma única vez para mim. — Sua boca carnuda solta um baixo
suspiro com seus ombros encolhidos. — Eu sei, era coisa de adolescente,
tola... mas era seu olhar que fazia meu corpo todo queimar.
É minha Afrodite, minha queda do Olimpo, a qual tinha erguido e ia
para ela como uma libélula vai à luz. Não movo meus olhos dos seus,
enquanto meu corpo se funde a ela lentamente, observando cada reação da
sua face. Meus olhos não são diamantes, são apenas bijuterias baratas,
forjadas entre a agonia e o desespero. Mas, para ela, eles brilham com pura
intensidade e posse, pois o verdadeiro diamante é minha doce Lua. Tão
perfeitamente minha quanto cada célula do meu corpo é dela. Serei
eternamente dela, o que ela quiser eu serei, para apenas nunca lhe perder.
Seu mentor, seu carrasco, o amigo, seu companheiro... Seu mais fiel amante.
— Ohh... Lycaios... — Seus dedos escorregam para meus braços, os
apertando mais forte a cada espaço que vou lhe tomando, sentindo seu corpo
quente e molhado me receber com apenas a agonia que ela tem entre sua
luxúria, me levando junto com ela.
— Mikpó. Diga meu nome. — Meu rosto se abaixa, beijando seu
pescoço com as presas abertas, as quais se moldam à sua pele na mesma
precisão que meu pau lhe fode, cravando-me por inteiro em cada ponta do
seu corpo.
— Deus... — Ela solta o ar com mais desejo, me deixando a marcar
como sempre minha, alimentando a besta que sente fome por ela.
— Diga-me... — É luxúria misturada a pura necessidade, a qual
nunca me permiti deixar ir. Nunca desejei tanto ouvir meu nome sendo dito
por aqueles pequenos lábios.
— Sedrico... — O som abafado de sua voz raspando seus lábios por
meu rosto, me queimando com seus beijos, é tudo que preciso para o pulo
final da doce tortura que é minha Afrodite.
Deixo meu corpo se mover, me levantando em meus joelhos, levando
minha mão a escorregar por debaixo dela e, com um rápido puxão, ela já
está colada a mim, me montando como uma pequena amazona. Suas pernas
presas à minha cintura sustentam seu corpo junto com seus braços em meu
pescoço. Seu corpo quente vai se movendo lento, tendo-me prendido em seus
olhos e em seu corpo, a cada vai e vem, como ondas que me puxam para seu
mar.
— Sedrico... — ela sussurra outra vez, jogando seu quadril com
força, me levando até o fundo entre suas paredes quentes, colando sua testa
na minha. A cada balançar, eu morro, sentindo seus dedos que trilham por
minhas costas, subindo por minha nuca, até estarem emaranhados em meus
cabelos.
Na minha vida, tinha aprendido a lutar para sobreviver, a me erguer
entre os esgotos da rua até o topo do mundo. Tomava o que me pertencia,
fodia cada boceta que desejasse, e isso me bastava. Vivia com a certeza de
que morreria feliz por ser dono do império que criei. Mas com Luna sou
apenas um menino, gritando por ela a cada batida rápida do meu coração.
— Senhor, as crianças já estão estabelecidas em sua residência. —
Com meus olhos ainda presos em seu rosto, apenas balanço a cabeça em
confirmação para Devon.
— O menino, como está?
— Ele ficou assustado no primeiro momento quando chegou em sua
casa, mas assim que viu as outras crianças, se soltou. Porém, ele ainda chama
por ela.
Sorrio lento ao pensar em como ela esperava por aquele momento e
agora está distante demais. Seu corpo se recupera lentamente a cada dia, me
levando ao inferno dentro daquele quarto, mas ainda se mantém fechada em
seus sonhos nublados. A médica retirou os aparelhos de oxigênio, para ter
certeza de que ela conseguirá se estabilizar sozinha, depois que a retirou do
coma induzido, mas Luna entrou em choque durante a madrugada, com uma
parada respiratória. A batida tinha deixado sequelas, as quais enfraqueceram
seu pulmão. Olho o braço engessado para corrigir as fraturas e seu corpo,
mesmo sob os cuidados, ainda está frágil, como se implorasse para lhe deixar
ir.
— Se ela não lutar para sobreviver, não há muito o que ser feito,
senhor Lycaios — a médica sussurra, ainda segurando o estetoscópio em
seus dedos. — Retiramos Luna do coma induzido já tem três dias, cada
paciente funciona de uma maneira, ela pode acordar agora ou daqui um
longo tempo, isso irá depender dela.
— Senhor, deseja que traga algo? Não gostaria de ir para casa?
Movo minha cabeça em negativo, não quero nada. Não há nada,
absolutamente nada, nesse mundo inteiro, que possa estacar o que me
consome.
— Eu fracassei com ela, Devon. — Minha voz sai tão fria quanto os
meus dedos, quando os espalmo em meu rosto, o esfregando.
— Suponho que, com seu jeito peculiar, que só a senhorita Delis tem,
ela lhe ajudou mais do que o senhor a ela. — Meus ombros caem junto aos
meus dedos sobre minha perna, olhando para a maca onde ela dorme. —
Levarei os pertences dela para seu quarto, como solicitou, e irei ver as
crianças com a babá.
Não ouço mais sua voz, estou distante demais no tártaro que é minha
vida sem Luna. Apenas me levanto quando já estou sozinho com ela outra
vez. Minha mão escorrega por sua face, contornando a delicada sobrancelha,
me deixando enterrar minha dor ao esconder meu rosto em seus cabelos,
lamentando cada segundo que passo longe de seu brilho.
— Volta para mim, Mikpó! — Meus dedos se prendem entre os seus
dedos, alisando sua mão pequena. Sinto falta do seu calor, dos seus gestos tão
meus. — Eu te amo, Luna. Dios, como te amo, niña. — Minha voz sai baixa,
entre seus cabelos, como se pudesse fazê-la me ouvir, sentindo-me cada vez
mais sem rumo sem seu olhar.
— Com licença, senhor. Preciso dar uma olhada nela. — Não ouço a
enfermeira chegar, e nem quero me afastar dela quando noto sua presença.
Ainda estou com meu rosto escondido em seu pescoço, sentindo um pouco
que seja do seu calor, deixando meus dedos junto aos seus.
— Volta para mim, Mikpó! — falo baixo ao seu ouvido.
— Senhor. — O som baixo da voz da enfermeira me faz endireitar
meu corpo, erguendo meu olhar para ela.
Seus olhos não estão em mim, ela segura o outro braço de Luna,
aferindo sua pressão. Com sua cabeça erguida para a tela, o som que vai
aumentando se espalha pelo quarto, mostrando as ondas de batimentos que
vão se acelerando.
— O que está acontecendo? — Meus olhos vão para Luna, que ainda
continua imóvel. Sinto-me impotente, com apenas a angústia me
consumindo. — Por que o coração dela está acelerado?
— Fale com ela outra vez, senhor! — A enfermeira me olha,
apontando para Luna. Suas mãos se erguem, retirando uma pequena lanterna
e abrindo as pálpebras perdidas. — Ela reage ao som da sua voz, preciso que
fale com ela outra vez.
É como sentir a queda livre, meu coração se acelera sentindo todo o
meu ser vibrar em felicidade. Olho sua face adormecida, alisando seus
cabelos, deixando sua orelha livre. Minha respiração toca sua pele, antes dos
meus lábios, beijando a ponta da sua orelha.
— Eu te amo, Luna Delis. Te amo além desse mundo.
Não é a enfermeira correndo para fora da sala, atrás da médica, que
me faz ficar agitado, mas sim o pequeno aperto que sinto em meus dedos.
Meus olhos se movem para nossas mãos, vendo seus dedos enrolados aos
meus, me apertando com carinho.
— Mikpó... — Sorrio em felicidade, olhando para ela e apenas me
movendo o suficiente para beijar sua testa.
CAPÍTULO 19
O Despertar da lua

Luna
Meu corpo não me obedece. Tento abrir meus olhos por várias vezes,
mas sempre o escuro me puxa, me largando perdida outra vez. Ouço, como se
fosse tão distante, correndo por ruas escuras sem fim, buscando uma forma
de voltar. Então sinto como se me puxasse para ele, a voz distante que chega
até mim, me tirando da escuridão.
Mikpó...
Ao abrir meus olhos, sinto o cheiro de soro. Fico agitada pela dor que
sinto em meu peito, como se tivesse algo sentado em cima de mim. Alguma
coisa em meu nariz aumenta a agonia, me deixando confusa. Tento me
mover, mas meu corpo reclama com uma fisgada de dor. A boca tão
ressecada pede por água, com uma sede que não tem fim.
— Dios mio! Você acordou. — O som da voz conhecida, tão
amorosa, se faz ao mesmo tempo que vejo o rosto de dona Zelda planando
sobre mim. Enxergo com mais clareza, percebendo seus olhos preocupados.
— O... quê? — Sinto minha voz arrastada. Tento erguer minha mão,
mas sinto as agulhas nela, me deixando presa a uma bolsa de soro. — Onde
estou?
Ela alisa meus cabelos, sorrindo triste para mim com seus olhos
marejados. Beija minha testa e sussurra tão rápido que não consigo entender.
— Tú sofreu um acidente pequeno. — Meu coração bate acelerado,
me fazendo lembrar do som alto quando meu corpo foi acertado. Vou me
recordando da briga com minha mãe, a boneca de Lola caída ao chão, seu
lindo embrulho destruído. Sinto como se meu peito fosse rasgar de tão forte
as batidas, aumentando minha respiração. As lágrimas descem quentes por
minha face, trazendo todos aqueles sentimentos outra vez. É aniversário de
Lola, não posso deixá-la sozinha.
— Tenho que voltar para casa, dona Zelda... Cuidar dos meus irmãos.
— Ao tentar me levantar, ela me segura no lugar, me empurrando pelos
ombros. Seus dedos se esticam, apertando o botão perto da cama.
— Tú vai ficar aqui, senhorita Luna. — Sua mão quente alisa minha
testa, tentando me acalmar. — E não se preocupe, as crianças estão bem, elas
estão sendo cuidadas, estão seguras.
— Minha mãe... Onde ela está? Por que não está cuidando das
crianças? — Estou me sentindo zonza, o gosto amargo em minha garganta
sobe por minha boca, me deixando mais agoniada com os tubos em meu
nariz. Olho perdida para o quarto frio, vendo tudo tão branco, tão sem cor,
deixando uma dor esmagadora em minha cabeça a cada piscar das minhas
pálpebras.
— Luna. — Dona Zelda aperta forte meus dedos com sua mão,
voltando a outra para meu rosto, alisando com carinho minha testa. Vejo a
dor que ela esconde em seus olhos, como se quisesse me proteger. — Tu
madre percebeu que ser internada em uma clínica de reabilitação seria a
melhor escolha para vocês. — A olho sem entender, apertando meus dedos
no lençol.
— Mas... como ela se decidiu assim? Eu não tenho como pagar isso
agora, dona Zelda. — Meu cérebro tenta assimilar tudo. Como ela tinha
decidido isso em tão pouco tempo? Não compreendo como tudo pode ter
mudado em questão de horas.
— Luna, assim que você entrou na emergência, o motorista ligou para
mim. Ele foi o primeiro a chegar no local do acidente e, quando entrei aqui,
eu tive que fazê-la me contar a verdade. — Ela me olha triste, erguendo seus
dedos da minha mão para meu braço. — Sedrico virou uma fera, eu nunca vi
aquele homem tão fora de si. — Não entendo, senhor Lycaios está em Miami.
— Talvez ele tenha sido um pouco duro com ela, mas eu já tinha conseguido
a fazer compreender que a reabilitação era a melhor escolha. Tauro e Bruce
cuidariam do internamento, mas Sedrico não deu brecha. Você e sua família
são responsabilidade dele.
Não consigo acreditar nisso tudo. Se o senhor Lycaios está bravo, ele
está vindo para cá. Tinha atrapalhado seus negócios, minha mãe tinha ido
para a clínica e Lola ficará solitária e triste em seu aniversário.
— Eu tenho que voltar, tenho que cuidar dos meus irmãos, dona
Zelda. — Solto um soluço de dor, ao perceber que não consigo mover meu
outro braço, que está engessado. — Que horas são? Tenho que voltar para
fazer o bolo da Lola. — Vejo seus olhos se expandirem mais, me olhando
assustada. — Há quantas horas eu estou aqui?
— Luna... — Ela se afasta, olhando perdida para a porta. — Você
ficou apagada por cinco dias, cariño. — Meu coração para uma batida, me
fazendo respirar mais rápido. — Onde estão as enfermeiras que não chegam?
— Ela aperta o botão outra vez, com mais agonia.
— Não, não foi... — Sinto o medo me pegando, ficando assustada. O
som alto dos bips, espalhado pelo quarto, me faz procurar de onde vem. Tem
tantos fios sobre meu peito sendo ligados aos aparelhos...
— Você nos deu o maior susto. Bruce e Tauro tiveram que segurar
Sedrico todas as vezes que ele perdia o controle. — Ela encolhe os ombros,
com seus olhos perdidos. — Ele queria bater em um enfermeiro, que entrou
no quarto... — Ela sorri, alisando meus cabelos. Ouço o som da porta do
quarto sendo aberta, com os olhos negros dela se voltando para quem entra.
Deve ser a enfermeira que ela chamou. Ela solta o ar lentamente, se
abaixando e beijando meu rosto. — Ele está um pouco nervoso — sussurra
próximo ao meu ouvido, quando me beija na bochecha.
Não entendo o que dona Zelda fala, não até vê-la se afastando e logo
uma grande sombra parar ao lado da maca. Sinto-me como se fosse puxada
do mar que estava me afogando para a intensidade do seu olhar. Lycaios me
olha em silêncio, com sua barba por fazer. Sua mandíbula se trava, o
deixando soltar o ar lentamente. A imensidão dos seus olhos me conta o que
sua boca não diz em palavras, tão profundos e vermelhos, como se tivesse
envelhecido dez anos. Seu rosto magro e abatido me olha quieto e sei que, se
Hefesto pudesse retratar sua expressão quando foi banido do Olimpo, seria a
mesma que se reflete no olhar de Sedrico, tão perdido como o deus caído.
Sua grande mão se move, segurando meus dedos aos seus, me
deixando aquecida com seu aperto quente. Tenho medo de falar algo para ele,
tenho medo do seu olhar, forjado em abandono. Ele se abaixa próximo à
cama, desviando sua atenção de mim, e ouço o som de uma sacola sendo
mexida. Lycaios endireita seu corpo e, ao erguer seu braço, vejo a linda
boneca, que agora se encontra toda suja de sangue, com seu vestido rasgado e
a lateral da sua face delicada trincada. Sinto a dor dele me acertar
precisamente como um tiro e meus olhos se enchem de lágrimas. Ele desvia
seus olhos do meu rosto para a boneca, apertando-a com toda força em sua
grande mão, me mostrando sua ira, que se esconde a cada pulsar de veia em
seus braços, ao esmagar ela mais forte, com raiva, com ódio.
— Eu teria comprado a loja inteira de bonecas se me pedisse, Luna.
— A voz tão grossa, embargada de dor, sai dos seus lábios, apertando mais
forte sua mandíbula. — Você tem ideia de que quase morreu por conta disso?
— Ele a ergue, virando-a, olhando para mim com todo misto de emoções que
o consomem. A dor em seus olhos é muito mais intensa do que sua ira.
— Era um presente para Lola, senhor — sussurro entre o choro, me
sentindo pior por saber que a dor que sinto é tão pequena diante do desespero
do seu olhar. — Eu sinto muito.
— Você acha que sua irmã preferia ter uma boneca ou a irmã viva ao
seu lado? — Ele a solta dos seus dedos, deixando apenas o som seco da
boneca repercutir pelo quarto quando cai ao chão.
Suas grandes mãos se mexem sobre as minhas e eu me sinto acolhida
quando seu corpo se move, deixando seu peitoral sobre o meu, aninhando sua
cabeça em meu pescoço. É como se ali fosse seu lugar e meu corpo sente
falta de tudo que vem dele.
— Eu sinto tanto, senhor, era importante para ela. — Meu rosto
tomba, me fazendo odiar aquelas malditas sondas que me deixam longe do
seu cheiro. A mão, mesmo com a seringa do soro, se ergue, alisando seus
cabelos. — Eu me importo com ela, Lycaios. Não queria lhe deixar bravo.
— E eu, Luna? — Seu rosto se move, parando a centímetros do meu,
segurando meu rosto em suas mãos. Seus olhos desvendam os meus, me
puxando para eles, desnudando cada canto da minha alma. — Eu não sou
importante para você, Mikpó? — Sua pergunta é seca e direta, me deixando
presa em sua íris e morrendo a cada toque da sua respiração agoniada em
minha pele.
— Senhor, eu... — Fecho meus olhos, soltando um baixo soluço.
Quero abraçá-lo e sentir a segurança que só ele me dá.
Seus dedos se espalham, limpando meu rosto, me alisando
lentamente. Sinto o toque da sua testa na minha, buscando o mesmo conforto
que procuro dar a ele.
— Eu morri por cinco malditos longos dias ao ver você nessa cama,
ligada a tubos e aparelhos. Eu morri ao chegar e encontrar uma sacola com
suas roupas cheias de sangue. — Ele aperta mais seus dedos em meu rosto,
esfregando seu nariz lento sobre minha boca. — A roupa a qual passei os
segundos mais tortuosos vendo você provar na loja, peça por peça. E então
observei seu corpo imóvel, o mesmo corpo que se aconchegou a mim dentro
daquela suíte. — Sua boca se move lenta, beijando meus olhos, como se
provasse minhas lágrimas. — Me diga que não sou importante para você,
Mikpó, me diga que o que ouvi você sussurrar naquela madrugada foi apenas
um delírio meu.
Meus olhos se abrem para ele em surpresa, com sua face se
sobrepondo a centímetros da minha. Sedrico tinha ouvido minha declaração
tola, que prendia em meu peito de menina apaixonada.
— Lycaios...
— Me diga, Mikpó. — Ele tomba sua cabeça devagar, olhando para
minha boca, esperando minha confissão e eu não posso mentir. Mesmo que
ele não sentisse nada por mim, jamais mentiria. — Eu apenas sonhei com o
que ouvi, Luna?
— Não — sussurro, perdida em seu olhar. — Eu te amo, Sedrico. —
Solto o ar lentamente, não conseguindo me distanciar das suas esferas que
vão brilhando. — Não precisa ter medo, não vou lhe causar problemas. Meu
amor por você é tanto, que não me importo de ter apenas um pouco da sua
atenção, lhe amaria pela minha vida toda, apenas sobrevivendo com você ao
meu lado.
— Acha que seria capaz de lhe dar tão pouco, ninã? — Ele vaga seus
olhos além de mim, observando cada expressão minha. — Luna, eu passei
grande parte da minha vida construindo um mundo onde eu seria meu único
senhor, por desejar tanto ser um homem livre sem ter a sombra de ninguém,
que fui renunciando a tudo pelo meu caminho. Mas tudo não me levou
apenas para uma vida de luxo ou carros caros, minhas escolhas me levaram
até você...
Sua respiração calma toca minha pele, sinto a pressão dos seus dedos
em minha face. E a cada batida do meu coração, mais vida eu ganho, me
entregando para o que seus olhos me dizem.
— Eu te amo, Mikpó, te idolatro como minha pequena deusa Afrodite,
a qual foi feita apenas para mim. É meu mundo, Luna, meu maior império
está em seus olhos. Eu tinha um milhão de motivos para ficar longe de você,
mas precisei de apenas um para ficar. Um olhar e sabia que seria minha para
sempre.
Sedrico se abaixa, não dando nem tempo para meu cérebro raciocinar.
Apenas meu peito, que bate acelerado, recebe em entrega sua boca quando
toca a minha. Quero tocar nele, quero arrancar todas as agulhas apenas para
sentir mais do seu calor e ter certeza de vez que não é um sonho.
— Deus, como eu te amo, Sedrico — sussurro entre seus lábios, que
esmagam os meus em pura posse, refreando seu toque, esfregando seu rosto
em minha face.
— Em trinta e sete anos da minha vida, tenho apenas duas certezas.
— Seu sorriso aumenta, quando seus dentes mordem meus lábios com
carinho. — Que um dia eu irei morrer e, enquanto estiver vivo, será ao seu
lado que quero trilhar meu caminho, Mikpó!

— Eu consigo andar, senhor — sussurro para a grande parede, que me


ergue do acento do carro. Ele me aperta, me segurando com força. — Estou
com o braço engessado, não as pernas — resmungo baixo diante da sua cara
feia. Não sei se sou eu ou ele que está mais feliz com a alta que recebi, depois
de longas semanas. Já não suportava mais comer tanta gelatina.
Minha mão se ergue, passando por seu pescoço e aninho minha
cabeça em seu peito, sentindo a tipoia que repuxa quando me arrumo a ele,
mas, por Deus, posso morrer de dor e não sairei daqui, pois estou amando
poder sentir seu cheiro perto do meu.
— Eu cuido de você — ele solta em sua voz grossa, estufando seu
peito com sua forma controladora o dominando.
— Meu senhor é tão mandão. — Mordisco seu queixo de leve,
trazendo meus dedos para frente e retirando seus óculos escuros. Amo seu
olhar intenso, o qual vai me aquecendo. Ele para no lugar, abaixando sua
cabeça para mim. — O que foi?
— Não me provoque, Mikpó. — Sua voz baixa e dura sai como um
traiçoeiro rugido.
— Sobre o quê? — Arqueio minhas sobrancelhas para ele, sorrindo
em travessura. — Isso? — Minha cabeça se move, mordiscando outra vez seu
queixo. A língua já está para fora dos meus lábios, passando lentamente sobre
sua pele. Sedrico aperta forte minha bunda, com suas mãos gigantes,
respirando mais rápido.
— Sabe que não vai ficar de restrição por muito tempo, não é? — Sua
ameaça velada me faz rir, me perdendo em seu olhar.
— Está ameaçando uma inválida, senhor? — Sorrio travessa para ele,
sendo presenteada por seus dentes brancos se abrindo em um largo sorriso.
— Não, isso é um fato, Luna. — Ele beija meu pescoço, me fazendo
suspirar em emoção, com tanta saudade de cada toque seu. — Vou fodê-la
forte e, assim que tiver melhor, você vai gritar meu nome quando tiver
enterrado bem fundo em sua boceta.
— Já te falei que acho super sexy um homem de terno falando
palavras obscenas? — Ele solta uma risada alta, que balança seu peito, me
trazendo mais para ele.
Sua perna volta a caminhar, abrindo a porta da sua casa e ainda não
entendo por que ele trouxe todos para cá, apenas me deixando saber que,
quando tivesse alta, estaria vindo ficar com ele em sua residência, junto com
meus irmãos. Sedrico abre a porta e, apenas depois de estar na grande sala,
ele me deposita lentamente ao chão. O lugar está cheio de bexigas e um
grande mural com letras tortas e lindas, onde reconheço a caligrafia de Will e
Lola, está colado à parede.
Bem-vinda, Luna!
Meu rosto vira para os gritos que vêm do jardim, entrando pelas
portas da varanda, correndo em minha direção. Lycaios me sustenta quando
seus corpos pulam em mim, sentindo cada abraço miúdo que vai me
apertando. Sorrio, beijando-os em alegria e, por Deus, como morri de
saudades. Meu braço se ergue e beijo seus rostos molhados, já se misturando
com o meu.
— Oh, meus amores, que saudade! — Beijo-os com mais carinho,
alisando suas cabeças. Eles gritam mais, falando todos juntos sobre como
estavam com saudades, se revezando para me abraçar.
— Vamos, seus terroristas. Deixem-me levar sua irmã para o sofá. —
Sedrico me ergue, tentando levar toda essa turma colada a nós para o grande
sofá negro junto comigo.
Lola segura forte meus dedos, me olhando com meiguice. Em seus
braços, vejo uma linda boneca, mais bela que a primeira que não cheguei a
dar para ela.
— Amor, como? — Seguro ela em meus dedos, fazendo Sedrico parar
no caminho, e tento não chorar ao ver ela toda feliz com seu brinquedo.
— O tio deu Lady para Lola. — Ela me mostra, sorrindo. — Gostou
do nome do meu neném, Lu? Dei esse nome porque ela é uma preciosa e
delicada lady.
— Eu achei lindo, amor. — Me viro para Sedrico, que apenas balança
seus ombros, sem nem me dar um pingo de atenção, voltando a caminhar.
— Lady tem mais três irmãs — ela fala sorrindo, pulando ao redor
dele e rodando a boneca. — Quer ver elas, Lu?
— Três irmãs? — Ele disfarça, pigarreando. Quando volto minha
atenção para ele, Sedrico vira seu rosto para Lola, lhe dando uma piscada em
cumplicidade.
A pequena sai correndo para o gramado e logo volta trazendo em seus
braços quatro bonecas.
— Lycaios do céu! — Me viro, olhando séria para seu rosto, ainda
não acreditando que ele a tinha enchido de bonecas.
— Eu não podia trazer uma e largar suas irmãs lá, seria nada honroso
com a Lady. — Ele se vira para Lola, que sorri para ele.
— Elas ficariam tristes — minha irmãzinha responde baixinho,
sorrindo para mim.
— Ela o fez tomar chá com as bonecas, Luna. — Rana ri, se sentando
do outro lado, se acabando em uma risada ao me contar que ele se sentou no
gramado, brincando com Lola.
Seu grande corpo se estica, arrumando seu terno e desviando seus
olhos dos meus, levando suas mãos aos bolsos.
— Ladies tomam chá da tarde. Não tinha como recusar o convite. —
Vejo Will parado ao seu lado, parecendo uma pequena cópia de Sedrico, ao
trazer em seu rosto uns óculos de sol do mesmo modelo que Lycaios usa.
— Meu Deus, o que fez com esses monstrinhos? — Admiro o corte
de cabelo de Will, que está com o mesmo penteado da juba dourada.
Antes que possa dizer algo, Devon sai da cozinha, sorrindo para mim
com cordialidade.
— Fico muito feliz em lhe ver, senhorita Delis. — Sua mão se estica
para a minha, depositando um beijo rápido sobre minha pele.
— Obrigada por cuidar dos meus monstrinhos, Devon. — Sorrio com
alegria, me virando para Rana e depositando um beijo em sua testa.
— Devo dizer que foi revigorante. — Ele sorri, olhando para eles.
Meu rosto se vira para o som que vem da cozinha, ouvindo algo que
cai ao chão. Olho, fazendo uma contagem mentalmente, para confirmar que
todas as crianças estão aqui. Eles param de falar e ficam me olhando em
silêncio.
— Tem mais alguém aqui? — Volto a olhar para lá e ouço o baixo
risinho que vem de lá. Me levanto na mesma hora, sentindo meu peito
acelerar.
Olho para Sedrico, que apenas dá um passo para trás, movendo sua
cabeça para aquela direção. Rana se levanta, parando ao meu lado, seguro em
seus ombros e ela me dá um sorriso iluminado, me levando a passos lentos
para lá. Olho a grande cozinha de Lycaios, com a mesa posta. O prato de
bolo, que mostra que alguém estava comendo há segundos. Me agacho,
pegando o talher que está ao chão, e ouço a risada outra vez, me fazendo me
endireitar na mesma hora. Por cima da grande ilha de mármore, vejo, do
outro lado, o topo de uma cabecinha, que passa rapidinho. Minha cabeça se
move para trás e vejo que todos continuam em silêncio. Sinto meu coração
acelerando, fazendo-me me soltar de Rana e dar à volta na ilha. Sinto um
vazio quando chego lá e está vazia, apenas as cadeiras, olho sem entender,
apertando a colher em meus dedos.
— BUUUU!!! — A voz risonha atrás de mim grita, me fazendo virar.
— Eu te dei um susto, Lua! — Meus olhos já estão nublados, vendo Cadu à
minha frente com sua boca suja de bolo, rindo tão feliz.
Não me importo com nada que a médica disse. Caindo em meus
joelhos, puxo ele de uma única vez para meu peito, chorando por sentir seu
calor. Suas mãozinhas se enrolam em meu pescoço, seu coração bate rápido
para mim.
— Oh, meu Deus... — Beijo seu rosto, não acreditando que ele está
aqui.
— Está triste, Lua? — Cadu me olha perdido, com seu rostinho lindo.
Eu o troquei, cuidei todas as noites dele, é como se uma parte do meu corpo
que estava faltando estivesse sendo posta no lugar outra vez.
— Não, amor. Lua está feliz, está muito feliz. — Suas mãozinhas
gordinhas alisam meu rosto, limpando as lágrimas, e o puxo para outro beijo.
— Como? Como isso aconteceu?
Viro-me para a porta, abraçada a Cadu. As crianças riem de felicidade
junto a Devon, mas os olhos intensos de Lycaios apenas observam em
silêncio.
— O que fez, senhor? — Ele troca seu peso de perna, apenas
balançando sua cabeça para mim.
Meu corpo se levanta lento, com Cadu agarrado à minha perna. Abro
meu braço bom para as crianças, chamando por elas.
— Abraço coletivo, agora! — Lola, Will e Rana correm para mim, me
abraçando forte. Beijo suas cabeças, recebendo aperto e beijos deles. Ao
levantar meu rosto, meus olhos vão aos seus, estendo minha mão para ele. —
Eu preciso de todas as pessoas que amo nesse abraço, senhor.
Sedrico fica parado pelo que parece uma eternidade antes de se
mover, caminhando para nós. Seus grandes braços nos rodeiam, fazendo
todos ficarem colados, espremidos sob sua proteção. Ergo minha cabeça,
ficando na ponta dos pés, e beijo sua boca com carinho. Me sinto segura por
todos que estão junto a mim.
— Eu te amo, senhor Lycaios — sussurro, com minha boca colada à
sua. O som baixo da sua respiração aumenta, com sua língua deslizando para
dentro dos meus lábios.
— Eca! — Will resmunga, tentando fugir, e aperto mais meus dedos
em suas costas, o prendendo no lugar.
— Lua vai ter bebês? — Sedrico me beija mais forte, ao som da voz
curiosa de Cadu.
— Não! Ele faz xixi na roupa ainda. — Rio, quebrando o beijo com a
voz fuxiqueira de Lola. Minha cabeça se encosta no peito de Sedrico,
sentindo seu peito, que expande em uma lufada de ar.
— Dios mio! Não faço xixi na calça, Lola. — Ele cai seu olhar para
ela, tendo a explosão de gargalhada de Rana e Devon.
— Tá tudo bem, eu faço xixi na cama quando fico com medo. — Me
afasto de Sedrico, o vendo deixar seu olhar repousar no pequeno homenzinho
que parece um grão entre nós. Cadu olha para ele com cumplicidade,
erguendo seus dedos para sua calça.
Não tem como não rir vendo a expressão mais em choque no rosto do
grande homem, por Cadu acreditar que ele faz xixi na cama também. Ergo
meu olhar para Sedrico, que balança sua cabeça em negativo e fecha seus
olhos, bloqueando-os quando os fecha.
— Devon, me lembre de fazer um quarto do pânico dentro de algum
lugar dessa casa, com apenas liberação da porta de aço por fora!
Rio mais ainda, batendo em seu ombro e negando com a cabeça. As
crianças correm para fora, se perdendo no grande jardim.
— Creio que isso é crime, senhor. — Sedrico segura minha mão,
levando a boca a ela, mordendo a ponta dos meus dedos, rosnando baixo.
— Depende do ponto de vista, Mikpó!

— Pensei que meu banho seria um pouco mais demorado. — Olho


sorrindo para o egocêntrico homem, que seca meticulosamente meu corpo,
tendo cuidado redobrado ao se aproximar dos meus ferimentos.
— Tomou seu banho, está limpa e é isso que importa. — Seus olhos
verdes se erguem aos meus, afirmando suas palavras.
— Aquilo que chama de banho, no meu ponto de vista... — Lycaios
corta minha fala, me ajudando a vestir uma de suas camisas.
Seus olhos vagam por meu corpo rapidamente, voltando
completamente sua atenção para os botões que ele começa a fechar ligeiro.
— Aquilo foi um banho. — Com movimentos rápidos, me surpreende
quando um dos seus braços passa por trás dos meus joelhos e, com a outra
mão, espalmada em minhas costas, me tira do chão.
— Um banho de gato, senhor Lycaios. — Tombo meu rosto em seu
peito, me aninhando em seu colo. — E sem língua, ainda por cima.
Ele caminha para a cama, respirando fundo, não caindo na minha
provocação. Pouco a pouco deposita meu corpo sobre o colchão, ficando por
algum tempo com seu olhar perdido em minhas pernas desnudas. Tento
brincar com ele, para dissipar a nuvem cinza que brilha entre seus olhos
verdes. Ele volta suas íris para mim, focando em minha face.
— Quando estiver recuperada, prometo lhe amarrar amordaçada na
cama e lhe dar um longo banho com minha língua. — Rio, sentindo minhas
bochechas esquentarem com seu olhar penetrante, que me observa com uma
promessa digna de inundar uma calcinha, se eu estivesse com uma.
Lycaios se arruma ao meu lado na cama, me deixando me encaixar na
lateral do seu corpo. Encosto meu rosto em seu peito, apenas para sentir a
quentura da sua pele. Seu braço circula minha cintura, alisando a lateral da
minha perna.
— Precisa dormir um pouco. — Apenas suspiro. Aconteceu tanta
coisa... Ainda não acredito que Cadu voltou para mim. Sem perceber, esmago
meus dedos na camisa, com força. A grande mão se fecha sobre mim,
prendendo meus dedos entre os seus. — Fale.
Respiro fundo, sabendo que preciso compreender por que ele tomou
uma grande decisão como a adoção. Por mais egocêntrico e completamente
obcecado por controle que seja, não é o tipo de decisão que se toma apenas
para agradar uma sugar baby, vai além disso, se trata da minha vida, da vida
dele e da vida do meu irmão. Como será depois que isso tudo terminar?
Embora tente não pensar no fim, é algo que me assombra.
— Por que fez isso? — Meu rosto se esfrega em seu peito com
carinho e recebo um beijo em meus cabelos.
— Você diz sobre o quê? — Lycaios ergue meus dedos, presos aos
seus, levando para perto da sua boca, dando pequenas mordidas.
— Por que o adotou?
— Porque um dia lhe prometi isso, sou um homem de palavra, Mikpó.
— Mas foi apenas por isso, por uma promessa?
Não passou pela cabeça dele que adotar uma criança vai além de
promessas? É uma carga familiar completa que está invadindo seu mundo
controlado.
— Não sentiu medo? — Ergo minha cabeça, desencostando do seu
peito, o observando. — Medo de pegar uma família inteira, louca e cheia de
problemas?
Irei sofrer se ele sair da minha vida, meus irmãos também, pois
Lycaios é uma visão masculina protetora junto a nós, o que nunca tivemos
depois da morte do papai. E como ficará Cadu? Ele agora é um Lycaios.
— Eu senti medo uma única vez. — Sua voz grossa sussurra,
retirando uma mecha de cabelo que caiu sobre seu rosto. — Medo de que não
voltasse para mim, de resto, eu tive apenas orgulho.
— Mas e depois, como vai ser? Como Cadu ficará quando esse
acordo acabar? Como eu ficarei, Sedrico?
O grande homem solta meus dedos, espalmando suas grandes mãos ao
lado do meu rosto, segurando meu olhar junto ao seu.
— Você ficará ao meu lado, Mikpó. Isso nunca será renegociável. —
Suas palavras são rápidas e decididas. — Assim como sua família. Não penso
nem por um segundo em destruí-la. Eu apenas desejo protegê-la. Não vou
retirar você, seus irmãos ou sua mãe da vida de Cadu.
Ele alisa meus cabelos, aproximando seu rosto para perto do meu.
Sinto meu corpo se aquecer com amor, da mesma forma que meu coração
está transbordando por esse egocêntrico leão que entrou em minha vida.
Sedrico se afasta, segurando meu queixo em seus dedos.
— E não esqueça, contratos com o diabo costumam ser longos. Por
toda vida, Mikpó. — Ele sorri, piscando para mim.
— Sim, para toda vida, daddy. — O lampejo brilha em seus olhos
verdes, deixando o dominador despertar dentro dele. — Eu te amo, Sedrico.

Engraçado como a vida nos pega de uma forma e nos joga para outro
ponto. Um mês após o acidente, entre resmungos e ordens restritivas que, na
maioria das vezes acho que vinham apenas daquela grande cabeça dourada
egocêntrica, Sedrico não me deixa voltar para minha casa.
E é com um belo sorriso descarado que dona Zelda aparece para uma
visita, com seus pequenos, dos quais matei minha saudade, os beijando,
ouvindo suas risadas. Ela me solicita sua chave, praticamente me despejando.
Eu sei, pelo olhar de vitória de Lycaios, que ele está até a raiz nisso. Os
meninos gostam de ficar perto dele, e Rana, minha doce menina, cada dia que
passa me deixa mais orgulhosa da pequena mulher que está se transformando.
Ela me auxilia com a matéria da faculdade, quando Antony a leva até a
universidade para buscar minhas matérias. Lola, sempre ansiosa, espera
Sedrico, que entra pela porta da frente pontualmente às 17h, para a hora do
chá com suas fabulosas bonecas. Rio, olhando pela janela do quarto, pegando
o grande homem de relance, que se senta na manta estendida na grama,
ensinando regras de etiqueta para a pequena arteira Lola. Cadu dorme no
quarto comigo, junto com Lola, desde o dia que chegou, anulando seus
pesadelos e gritos noturnos, mas, sempre que posso, consigo dar uma
pequena fuga para a cova do leão, da qual sou enxotada, porque ele tem medo
de me machucar com essa porcaria de tipoia, mas a verdade é que vejo medo
em seus olhos quando ele se perde em cada machucado que ainda está
cicatrizando em minha pele. Nem um maldito amasso eu ganho!
No fim de semana, aproveitando o sábado ensolarado, Devon
surpreende a molecada com arminhas aquáticas, suspiro com inveja, os vendo
correr livres entre seus risos. Sentada na cadeira da cozinha, meus olhos, por
mais que estejam atentos nas crianças, não perdem os baixos suspiros que
ouço da senhorita Novaes, a babá que Devon tinha contratado pela agência
para cuidar das crianças, quando fui para Miami fazer uma surpresa para
Sedrico. Como as crianças tinham gostado dela, Devon achou melhor chamar
ela outra vez quando me acidentei. E agora a simpática mulher trabalha em
tempo integral conosco. Eu vejo como ela se agita quando Devon passa por
ela, sorrindo alegremente.
— Creio que esse calor deve ser angustiante para ficar sentada. —
Meu rosto se vira para Devon, que ergue sua mão para mim. Ao olhar, noto
uma arma de brinquedo colorida que está carregada, esperando por mim.
Meus dedos curiosos se esticam em agonia para ela, mas ainda assim
me retraio, olhando para o relógio da parede. Ainda são 15h40 da tarde, se
brincar um pouco agora, estarei no meu quarto antes do meu carcereiro
voltar.
— Como está a Odisseia hoje? — Olho para Devon, que pisca para
mim, sorrindo, entregando a arma em meus dedos.
— Terrivelmente cheia, senhorita! — Sorrio mais ainda, pegando-a
em meus dedos.
— Vou tirar essa roupa! — Meu corpo se ergue, pulando em alegria.
Deixo minha arma na ilha de mármore da cozinha.
Corro para o quarto. Depois do que parece um parto, consigo vestir a
parte de cima de um biquíni, junto a um short de algodão solto. Volto
correndo para a cozinha, pegando minha arma.
— Senhorita Novaes, pode fazer companhia para Devon, enquanto
brinco com as crianças? — grito, passando por ela, que fica vermelha
olhando para ele. — Conversa com ela. — Quando passo por ele, aperto seu
ombro e vejo seu olhar envergonhado.
Cada um está devidamente armado com seu revólver de água, lutando
para proteger seu território. Grito entre os disparos, desviando dos ataques de
Rana e Lola. Corro pela grama, desviando também dos tiros de Will e Cadu,
que tentam me molhar.
— Seus danadinhos! — grito, me atrapalhando e retirando os cabelos
do rosto, rindo para eles, disparando de volta.
Will ergue sua mira, atirando em mim, mas me abaixo na mesma
hora, com o jato d’água passando por cima da minha cabeça. Ao erguer meu
corpo, olho para ele sorrindo, mas é em seu rosto em choque que me
concentro.
— O que foi? — pergunto sem entender sua cara assustada.
— Foi mal. — Meu irmão encolhe seus ombros, abaixando seu braço.
O som da respiração alta me faz ter a mesma reação de Will, sendo pega no
flagra. Encolho meus ombros, ouvindo sua respiração mais forte.
— Merda! — sussurro entre meus dentes, me virando para um
Sedrico molhado com o jato que recebeu no rosto, escorrendo gotas por seu
terno.
Ele retira seus óculos embaçados, passando a mão por seu rosto, e,
Deus, até dessa forma esse homem é belo. Seus olhos vão para mim e para
meu seio, que sobe acelerado a cada batida do meu coração. A tipoia molhada
pinga água por meus pés, mostrando que tinha brincado por muito tempo, até
perder completamente a hora.
— Muy bien, Mikpó. — Sua voz grossa sai baixa, olhando para mim.
— Agora entendo por que não me atendeu. — As crianças, que corriam,
param ao gramado, olhando para ele.
Ele solta o ar lentamente, esticando sua mão para mim, e, com puro
desgosto, entrego a arma em sua mão. Já começo a bater em retirada para
meu quarto, mas sou surpreendida por seu puxão em minha cintura, quando
ele me ergue do chão, disparando diretamente em Will. Rana ergue sua arma,
acertando entre mim e ele, e eu rio, me encolhendo em seus braços, que me
usam descaradamente como escudo.
É em puro prazer que nos apertamos dentro de um banheiro do outro
lado da piscina, no começo da noite, o qual ele toma por completo o espaço
com seu tamanho. Meu braço enrolado em seu pescoço ajuda a me sustentar
em seu colo, odiando ainda mais essa bendita tipoia. Sedrico me cola na
parede, me fazendo gemer em seus lábios quando sua boca busca a minha
com a mesma urgência, esmagando minha bunda em seus dedos. Aperto mais
minhas coxas à sua volta, o trazendo para mim, quase implorando por ele, e
não preciso de muito antes dele estar tão fundo dentro do meu corpo. Ele me
beija forte para aplacar meus gritos, inundando o pequeno banheiro com
nossos gemidos a cada estocada e pressão que seu pau faz, entrando e saindo,
me fodendo cada vez mais forte.
— Porra... — Sua voz grossa sai entre nossos lábios, escorregando
sua boca por meu pescoço.
— Oh, meu Deus! — Jogo minha cabeça para trás, quando ele se
movimenta como uma maldita e frenética britadeira. — Sim... OHHH, Deus!
— Escondo meu rosto em seu ombro. — Eu te amo... Eu... Ooohhh... —
Aperto suas costas, gemendo com as sensações que vão crescendo a cada
investida dele, me perdendo em meu desespero.
Sedrico para de se mover, me prendendo mais forte contra a parede,
esmagando minha bunda em suas mãos, com um baixo rosnado. Sua cabeça
se ergue para meu rosto, o olho sem entender nada, tentando mexer meu
quadril, mas ele não se move, apenas me olha com toda a intensidade que tem
no olhar predador.
— O que foi? — Minha voz afobada pergunta nervosa, em agonia,
sentindo dor por meu corpo, querendo gozar, necessitando dessa urgência em
ser libertada.
— Casa comigo, Mikpó? — Seus olhos me seguram em seu lindo
rosto e, entre a luxúria do meu corpo, meu coração salta, como se tivesse
corrido o mundo. Os olhos do meu leão me avaliam, me prometendo uma
vida ao seu lado, tão belo, com apenas o poder que ele tem. Não penso,
apenas o beijo como se o mundo fosse acabar aqui, me entregando não na
urgência dos corpos, mas sim no amor que sinto por ele.
— Oh, sim! Por Deus, sim! — Sedrico alarga um sorriso perverso,
voltando a entrar fundo e forte outra vez. Seus dentes se prendem em meu
pescoço e sinto-me sendo cortada ao meio, me levando ao tão desejado
orgasmo libertador.
CAPÍTULO 20
O Olimpo particular de Hefesto

Luna
Querida Luna,

Fico imensamente feliz em poder escrever para você e, mesmo ainda


não estando pronta para olhar em seus olhos, desejo lhe dizer o que foi o
álcool em minha vida.
Nunca sabemos quem será um dependente, muitas são as causas do
uso frequente e indiscriminado do álcool: por carência, por falta de
autoestima, por decepções, por falta de coragem para enfrentar o duvidoso;
o que pode levar ao vício, à dependência. No meu caso, o que me levou a
beber cada vez mais e mais, provavelmente, foi a carga genética. Sempre tive
o álcool na minha família, desde criança presenciei cenas de violência,
desamor, dissabores, falta de autoestima, falta de dignidade e coragem, em
meu querido pai, que também foi um doente do álcool. Por essa razão, ele
veio a falecer. Meu pai não era uma má pessoa, muito pelo contrário, mas se
tornava uma pessoa decadente quando estava fora de si e sob o efeito do
álcool, pois quando ingerimos qualquer tipo de droga, deixamos de ter uma
alma autêntica, passamos a ter uma que não existe quando estamos sãos ou
sóbrios. Me dói a alma saber que você conheceu tão bem o meu lado mais
deprimente. Eu deveria ter me tornado justamente o inverso de meu pai, ter
observado mais o que acontecia com ele, ter mais audácia, mais amor e ser
uma pessoa sempre alegre, amorosa, que deixasse meus familiares satisfeitos
em ter minha companhia por perto, mas não, não tive maturidade para
separar as coisas e, aos dezoito anos, comecei no caminho do álcool
também.
Pensava que tinha controle sobre a bebida, a usava porque ela dava
prazer, alegria, trazia conquistas. Com o passar dos anos, eu precisava de
mais e mais álcool, pois o organismo se torna tolerante à bebida e, cada vez
mais, precisa de uma quantidade maior para ter as mesmas sensações
daquela única cervejinha que tomava quando comecei a beber. Então as
doses foram aumentando e os tipos de bebida também. Meu amor-próprio e
minha vontade foram se dissipando, foram indo embora quando perdi seu
pai, aumentando minha dependência mais ainda, pois era só com a bebida
que conseguia uma anestesia para sarar minha dor. Isso afetou de forma
intensa nossa família, a qual é tudo para mim. A perda de Cadu, a criação e
responsabilidade sobre os outros, você que sofria em ver-me caída nas ruas
ou causando problemas, confusão e quase sua morte. E a dor, a culpa, foram
me consumindo ainda mais em dobro e só Deus sabe, Luna, como morreria
em saber que lhe perdi.
Hoje estou completando dois meses sem ingerir nenhum tipo de
álcool. Dizem que, na vida das pessoas dependentes, existem 2 c’s: caixão e
cama. E quase vivenciei os dois, mas, graças a Deus, a você e a mim, que me
dei essa chance, me perdoando, pois sei que, antes de estar pronta para
pedir seu perdão, tive que aprender a me perdoar, tive que reaprender a me
olhar no espelho todos os dias que sofria com abstinência, e sofrer sozinha
meu inferno, ao qual não poderia arrastar ninguém mais além de mim.
Obrigada por ser uma das pessoas mais importantes da minha vida, minha
linda e guerreira Luna. Acho que, em breve, conseguirei juntar todas minhas
forças e poderei olhar em seus olhos e lhe dizer pessoalmente como eu te
amo.
Com amor, mamãe!

Aperto sua carta perto do meu peito, olhando para a grande entrada da
clínica de reabilitação no Texas, quando Sedrico para o carro no
estacionamento. O ar que prendi durante toda a viagem para cá vai me
apertando a alma, com a pura saudade que senti. Por longos e duros três
meses, ela se negou a me ver, me presenteando apenas com essa carta, há um
mês. Eu tento imaginar ela bem e, por mais que tente compreender o que o
psicólogo me repassou sobre ser normal a vergonha que ela sente de olhar
para mim, eu quero lhe ver bem. Mas a culpa que ela tem, a faz precisar do
seu perdão, fazendo-a ficar mais reclusa. Ela está levando todos os passos a
sério, vivendo um dia de cada vez, até estar pronta para me ver.
— Eu estou bem? — Me viro para o grande homem parado ao meu
lado, dentro do carro. Me sinto nervosa. Meu cabelo solto cai sobre meus
ombros, tampando as feridas que ainda cicatrizam na pele.
Eu tinha rezado tanto por esse momento e agora sinto medo de perdê-
lo, de escorregar por meus dedos. Sua grande mão se estica, alisando meu
rosto com carinho, retirando seus óculos escuros.
— Está linda, Luna! — Sedrico sabe que não me refiro a estar bonita
para minha mãe. Me preocupo com todos os pequenos ferimentos que ainda
tenho, então usei bastante maquiagem para escondê-los. Ele ergue meus
dedos em direção à sua boca, beijando-os com posse, com seus olhos presos à
aliança. — Tenho certeza de que ela estará feliz em lhe ver.
Choro antes mesmo de passar pelo gramado, quando a vejo distraída
próxima a um jardim. Vejo seu vestido amarelo tão belo, que ressalta seus
cabelos dourados. Ela está linda, sua face tranquila, como há muito tempo eu
não via. Sinto o toque lento em meu ombro, com Lycaios me incentivando a
ir. E é o que faço. Meus passos me levam para ela a cada batida do meu
coração. Não sinto mágoa ou raiva da minha mãe, é apenas o maior amor do
mundo, sempre desejei vê-la finalmente em paz. Sinto seu cheiro, que tanto
amava na infância, assim que meus passos param atrás dela. Meus dedos, ao
lado do meu corpo, se apertam ao tecido do vestido, o esmagando, junto com
a respiração baixa que solto. E, por um breve segundo, me deixo ficar ali,
admirando minha mãe.
— Oi, mãe... — Seus braços se descruzam, assim que minha voz
baixa chama por ela.
E quando ela se vira para mim, não tem como eu não voltar a me
sentir aquela menina perdida que vinha da escola, correndo em minhas finas
pernas, sorrindo para ela, que me esperava no portão. Seus olhos de mel
brilham felizes para mim, tão limpos e tranquilos. Meu coração salta em
compassos, se entrecortando ao baixo soluço. Ela tomba sua cabeça para o
lado. Suas mãos se erguem para sua face, tampando seu rosto de mim,
deixando apenas sua dor se expressar por seus ombros, que balançam
vagarosamente, acompanhado do choro. Atravesso o curto espaço, sentindo
minha vida voltar quando meus braços a enlaçam. Escondo meu rosto em seu
pescoço, entre seus cabelos.
— Meu Deus... Oh, meu Deus! — Ela chora mais, cortando sua fala
entre os soluços, e eu apenas a abraço mais forte, trazendo-a para mim.
O cheiro calmo de camomila, que vem dos seus cabelos, entra pelo
meu sistema respiratório, e apenas a prendo mais a mim. E, por esse
momento, nada mais me importa do que estar ao seu lado. Eu não tinha
passado muito tempo com minha mãe biológica, tinha poucas lembranças
dentro de mim. Vilma tinha se tornado toda minha vida quando me acolheu,
e, como toda filha, não tenho como não sentir um pedaço me faltando ao ficar
longe de minha mãe. Suas mãos soltam seu rosto, passando por minha
cintura, as erguendo por minhas costas, me dando um longo abraço, que há
muito tempo não sentia, um abraço que há muito tempo minha alma ansiava.
E, por mais que tivesse ensaiado tanto tudo que queria lhe dizer, entre seu
abraço nenhuma palavra se faz necessária.
— Me perdoa... Me perdoa, Luna. — Meu rosto esconde minhas
lágrimas, que escorrem livres por minha face.
Movo minha cabeça lentamente, apenas tentando a fazer entender que
não tem o que lhe perdoar, pois tudo que quero é lhe ver bem. Viver com
uma pessoa alcoólatra é morrer diariamente com a doença dela, que se alastra
por você, como uma nuvem negra em um dia ensolarado. É viver com a mais
pura angústia, em alerta a cada segundo, não podendo abaixar sua guarda.
Você morre aos poucos a cada novo copo que ela ingere. É não dormir
enquanto aquela pessoa não volta para casa, é definhar olhando para o portão
vazio entre as noites intermináveis, com seu coração na mão. É sentir seu
fôlego sendo preso a cada batida na porta, sem saber se será a notícia ruim de
que alguma desgraça aconteceu com ela. Você se culpa, você a culpa, você se
odeia, você a odeia. Mas, ao fim, você a ama, e nada, absolutamente nada,
aplaca sua paz além da dela. Minha mãe não está apenas se curando nesse
lugar, e, entre seus braços e beijos sobre minha testa, me sinto sendo curada
de todo mal que me corroeu por todos esses anos, e, mesmo que buscasse em
minha mente algum momento que teria desistido dela, no auge da maior
degradação, eu jamais a deixaria, porque é por esse momento que tinha
lutado, nesse exato momento que seguro seu rosto em meus dedos, colando
sua testa à minha e deixando dezenove anos de dor saírem livres por meus
olhos. Não é vermelha de álcool que sua vista se encontra, é apenas pelo
amor que ela tem por mim e que sinto por ela.
— Me perdoa, minha filha, me perdoa. — Sorrio entre as lágrimas,
retirando a mecha molhada que se cola à sua face com as lágrimas, beijando
sua testa, com carinho.
— Eu te perdoo, mãe. — Abraço-a forte, ouvindo seu choro junto ao
meu. Balançando seu corpo devagar, dou a ela o que tanto sua alma cansada
deseja para poder seguir mais um dia de cada vez. — Eu te amo, mãe. Eu te
amo tanto... Eu não sinto mágoa pela senhora, sinto orgulho de estar
tentando. — Sim, eu poderia ter dito tudo o que tinha planejado, em como me
senti, em como ela me fez sofrer, mas, não quero magoá-la, pois ela já luta
com seus demônios todos os dias.
Apenas sorrio mais, demonstrando todo meu orgulho por ela.
— Eu nunca te mereci, Luna... — Ela se afasta, alisando meu rosto.
Deixo minha face tombar em seus dedos, sentindo seu carinho tranquilo, com
seus olhos presos aos meus. — E sempre agradeci a Deus por, mesmo sem
merecer, Ele ter lhe posto em minha vida. Minha filha, minha Lua.
Ela solta suas mãos, arrumando meus cabelos como se eu fosse a
pequena Luna risonha, que se sentava à sua cama, que passava horas deitada
na sua perna, com ela alisando meus cachos.
— Eu te amo. Eu amo Lola, Cadu... Meu pequeno Cadu, Will e Rana,
mais que tudo na minha vida e não quero perder vocês por nada. Eu só espero
que não seja tarde para conseguir ter meu menino de volta. — Ela escorrega
as mãos pelos meus ombros, erguendo meus braços, até segurar meus dedos.
— Está tão linda, meu amor, tão linda. Ora, isso... — Vejo seu olhar brilhar,
alargando seu sorriso, ao ver o solitário em meu dedo.
Solto o ar lentamente, encolhendo meus ombros. Meu rosto se vira
para o longe, vendo Sedrico nos observar encostado em uma mureta, com
suas mãos ao bolso.
— Eu lhe disse uma vez que estaria aqui para falar... — A voz dela
sai calma, fazendo minha atenção voltar para sua face. — E como prometi,
estou aqui. — Sinto meu rosto gelar, mas me aqueço outra vez quando ela
alisa meus dedos, apertando-os aos seus. — Mas não para dizer eu lhe avisei,
e sim, eu estava errada, minha filha, e nunca me senti tão bem por estar
errada. — Sorrio quando ela beija minha mão, olhando com carinho para a
aliança.
— Mãe, Cadu está em casa agora. — Seguro seus dedos aos meus,
não a deixando se afastar. — Lycaios adotou ele como filho.
Vejo seu olhar em dor e felicidade misturado a todas as emoções que
ela sente, desde alegria à culpa.
— Ele sempre será seu filho, Sedrico não pensa em afastar ele de
ninguém. Eu sei que vocês dois não se dão bem... mas, quando voltar, vai ser
tão maravilhoso.
Ela deixa seus dedos caírem dos meus, olhando em volta, tão perdida.
Dá um passo para trás.
— Eu não penso em voltar, Lu. — Me sinto perdida com ela me
olhando acanhada, com sua voz baixa. — Eu estou trabalhando e conheci
alguém que...
— Trabalhando? — A olho perdida, sem entender. Meus dedos vão à
minha cabeça, sentindo todas as informações de uma única vez. — Como...
Como assim conheceu alguém?
Eu sei que ela não é uma mulher velha. Minha mãe, por mais que
estivesse caindo de bêbada, ainda é uma mulher bonita, com sua face doce. E
agora, se recuperando, sem mais aquelas olheiras ou semblante abatido, sua
face corada se ilumina mais. Eu desejava que ela encontrasse alguém, mas é
como se tudo estivesse indo muito rápido.
— Victor, dá palestra aqui todos os dias. Conheci ele na reunião do
AA. — Vejo minha mãe, pela primeira vez, envergonhada para falar sobre
amor, sobre o que deseja em sua vida. Seus dedos se apertam uns aos outros e
solta o ar lentamente. — Começou como uma boa amizade, ele me ajudava
nas horas mais difíceis. Ele é enfermeiro em um hospital no Texas.
— Uau! — Solto o ar, ainda sem acreditar, mas vejo seus olhos
brilhando em uma felicidade tão distante, adormecida dentro dela.
— Eu venho ajudando aqui, com as novas mulheres que chegam,
trabalho um pouco em cada canto. Isso me faz me sentir útil e menos vazia,
quando percebo o tanto de dor que há e que são maiores que as minhas.
— Eu... Nossa, mãe, eu estou feliz. — Tento sorrir para ela,
conseguindo assimilar que o que ela me diz é que não quer sair da clínica.
— A verdade é que falhei com vocês, falhei com cada um de vocês,
Luna. Não fui uma boa mãe, você foi mais minha do que eu fui sua.
— Mãe, isso...
— Isso é verdade, e a verdade nunca costuma ser boa para quem tem
que enxergar, mas eu enxerguei. Eu não lhe digo que morro de amores por
esse homem que entrou na sua vida. — Ela vira seus olhos para onde Sedrico
está. Voltando a caminhar para mim, suas mãos espalmam em meus ombros,
os alisando com carinho em leves apertões. — Mas ele é bom para vocês e,
acima de tudo, ele a ama. E isso já me faz gostar dele.
— Mãe, você não vem, não é? — Seu rosto brilha ao fim da tarde,
com a luz do sol se despedindo, pegando sua face. É tão calma e serena,
tendo uma paz só dela.
— Não, meu amor. — Abraço minha mãe, me apertando mais em
seus braços.
Eu não posso escolher o caminho que ela trilhará, apenas continuarei
amando-a cada vez mais, e me sentindo feliz por suas conquistas, mesmo que
pequenas para alguns, mas que são gigantes para ela. Minha mãe me mostra a
clínica e cada lugar que ela passa seu tempo. Conheço seus amigos, os quais
ela fez ali dentro, e seu quarto, tão belo e delicado, com tudo que ela precisa
em um só lugar. Sedrico se aproxima uma única vez dela, na hora da partida,
e sua pequena mão se estica para ele. Me vejo ali, diante de duas pessoas que
amo, que estão se encarando em silêncio. A grande mão de Lycaios sai do
bolso, apertando com gentileza os dedos dela, que lhe retribui com um
sorriso. E, mesmo agarrada a ela, na despedida, ainda desejo levá-la comigo,
mas sorrio com carinho, aceitando sua decisão.
— Você já sabia, não é? — Olho para ele, dentro do carro, esticando
meus dedos para seus óculos escuros, o retirando da sua face. Ele move sua
cabeça lentamente, em positivo, para mim.
— Ela me avisou da sua decisão antes de você vir para cá. Conversei
com o dono da clínica. Achei que seria bom ela ter um trabalho, algo para se
distrair. — Seus dedos soltam o volante do carro, deixando a chave na
ignição, sem ligar o veículo. — Ela está feliz, Mikpó, da forma dela
encontrou paz aqui. O médico me explicou como é normal o medo dela de
não querer voltar para o mundo normal. Algumas pessoas ficam marcadas
para sempre, por medo, vergonha, por raiva de si mesmas e por todo o mal
que causaram.
— Mas esse homem, não que seja contra, nem sei quem ele é... —
Seus dedos se esticam ao meu queixo, o alisando com carinho.
— Victor Smith, um ex-militar veterano. Trabalha com recuperação
de ex-combatentes que voltaram do Afeganistão e sofrem com alcoolismo, é
um bom homem, eu conversei com ele.
Olho sem acreditar para aquele rosto branco, com sua cara de pau, me
contando aquilo só agora.
— Deus, e quando ia me contar? Quando exatamente conversou com
o namorado da minha mãe?
— No mesmo dia que a pessoa que cuida dela aqui dentro me passou
o relatório.
— Relatório? — Minha cabeça cai no estofado, soltando o ar dos
meus pulmões. — O senhor é, definitivamente, inacreditável!
O som da sua risada se espalha. Ele vira meu rosto, me dando um
estralado beijo.
— Gosto de deixar minhas mulheres cuidadas, Mikpó! — Ele pisca
para mim, aumentando seu sorriso, e não tem como não amar até o lado mais
egocêntrico dele.
— É isso que vai dizer à Rana e à Lola quando começarem a
namorar? — Ele solta meu rosto, retirando seus óculos dos meus dedos e
levando aos olhos, com sua face fechada.
— Tauro tem uma coleção de armas! — Caio na gargalhada, ainda
perdida em sua forma controladora.
— Sedrico, eu não posso deixar meus irmãos. — Meus olhos se viram
para a clínica, sinto meu peito se apertando. Esmago meus dedos em meu
colo.
— Luna... — Sua grande mão para sobre a minha, alisando com
carinho, apertando-a junto a sua. — Quando entrou na minha vida, sabia que
não estaria sozinha e eu aceitei todos eles. Aceitei cada um deles junto a
você.
— Eu te amo, sabia? — sussurro baixo, enquanto ele liga o carro,
voltando sua atenção para mim.
— Te amo, Mikpó.
CAPÍTULO 21
A entrega de Zeus e Hera

Sedrico

— Sabe aquela sensação de dar a última palavra? — Arrumo minha


gravata, observando pelo reflexo do espelho os putos dos Ozborne, sentados
no meu sofá do escritório, com suas pernas cruzadas.
— Esqueça! Se quer viver em paz, vai ter que saber que sempre está
errado! — Tauro estufa seu peito, soltando o botão do seu terno. — Ou ela
vai fazer você se arrepender até seu último fio de cabelo.
— Luna não é assim. — Me viro para eles, sentindo o nó da gravata
me estrangulando.
— Elas nunca são. — Dylan sorri, apertando seu filho no colo. — Até
você falar algo que elas não gostem e dormirem do seu lado com o rabo
virado, sem deixar você tocar.
— E quando ela lhe perguntar algo, conte a verdade na hora. — Bruce
se levanta, indo para seu irmão, esticando os braços para o sobrinho e
beijando o pescoço do menino.
— É. Isso é verdade, quando ela perguntar... — Dylan pega o copo de
uísque em cima da mesa, levando aos lábios. — Não será apenas uma
pergunta.
— Ela já sabe a resposta, está apenas testando sua lealdade. — Viro
meu rosto para Tauro, que apenas confirma a frase do outro. — E, meu
amigo, se der a resposta errada, de uma linda gata manhosa, você terá um
pinscher raivoso mordendo sua canela.
Balanço minha cabeça em negativo, sentindo o suor que brota em
minha testa. Meus olhos vão para o relógio no meu pulso, é como se o
maldito tempo tivesse congelado.
— Vocês não tinham que estar me acalmando? — Passo a mão pelos
cabelos, olhando para os três maiores filhos da puta.
— E estamos, isso é conselho matrimonial, meu caro. — Bruce passa
por mim, batendo em meu ombro.
— Garante uma vida longa para você e seu casamento! — Tauro dá
de ombros, como se aquilo fosse ser uma grande ajuda.
— Luna não é assim, ela é a Luna.
— Vai por nós, ela é como toda mulher. E, nesse exato momento, está
se sentindo vitoriosa por ter pescado um tubarão velho e ardiloso. A
propósito, deixou seguranças na porta? Zelda provavelmente deixou um carro
pronto, caso ela mude de ideia. Ela fez isso com a Elly. — Bruce ri,
apontando para Dylan.
— Velho? — Meus dedos vão ao meu pau, o arrumando na calça,
ainda me sentindo agoniado com essa palavra. — Como assim mudar de
ideia?
Viro-me para Bruce, que ri, olhando para seu irmão.
— Minha própria cunhada deixou um carro na frente da galeria para
Elly fugir se mudasse de ideia. — A voz de Dylan sai em desgosto, rindo
junto com Bruce.
Eu já estou com meu celular em meus dedos, mandando uma
mensagem para os seguranças da Odisseia. Peço para redobrarem a vigilância
de Luna.
— Luna não vai fugir e eu não sou velho!
— Mas será! Tem o quê? Quarenta? — Sinto meus dentes se
apertarem, travando um ao outro, olhando para o fodido do Tauro.
— Sou mais novo que você, Tauro! E sabe disso! Se Zelda não lhe fez
ter um infarto, não será Luna que vai me fazer ter um. — Ele cai na risada,
descaradamente, debochando de mim. — Por que convidei vocês para serem
meus padrinhos?
Caminho até a janela, olhando a pista decorada. Luna não desejava
um casamento egocêntrico, como ela chamou, queria apenas poucas pessoas,
de forma bonita e prática. Senti falta de olhar para ela quando acordei pela
manhã, seu corpo pequeno não estava mais do meu lado. Ao procurar por ela,
a babá das crianças me repassou que ela tinha saído antes do sol nascer, junto
com Zelda e a esposa de Dylan, levando Rana e a irmã e a madre de Zelda.
Sinto a agonia me pegando, enquanto ouço as risadas dos abutres atrás de
mim.
— Elas são gremlins[90], todas fofinhas e lindinhas com seus olhos
expressivos, que arrancam até nossa alma, mas, se jogar água, viram uns
monstrinhos assustadores.
Viro-me, olhando para eles, que riem mais ainda.
— Por que exatamente vocês se casaram?
— Porque somos doentes por elas — Tauro responde na mesma hora.
— Nós as veneramos, meu caro. — Bruce pisca para Dim, seu
sobrinho, o embalando no colo.
— É a única coisa que faz sua vida valer a pena, e deve deixá-la saber
disso. — Dylan sorri olhando sua aliança. — Porque, ao fim do dia mais
carrasco, é o sorriso dela que te espera ao chegar em casa.
Ouço o som da porta sendo aberta por Devon, que sorri olhando para
nós e nos cumprimenta, parando seu olhar em mim.
— Dom, já está tudo pronto. — Balanço a cabeça em positivo para
ele, desejando apenas pegar Luna o mais rápido que posso e tirá-la dali.

— Por que fez isso? — Seu rosto se esfrega em meu peito com
carinho, me deixando beijar seus cabelos.
— Você diz sobre o quê? — Mordo seus dedos, os deixando perto de
mim.
— Por que o adotou?
— Porque um dia lhe prometi isso, sou um homem de palavra, Mikpó.
— E porque nada nesse mundo me faria mais feliz que a felicidade dela.
— Não sentiu medo? — Movo meus olhos para os seus, que me
observam perdida. — Medo de pegar uma família inteira, louca e cheia de
problemas?
Não, eu não tive, nunca tinha pensado assim. Luna me deu mais do
que eu a ela, nunca tinha me permitido pensar em uma casa cheia de vida,
não até ter ela junto a mim.
— Eu senti medo uma única vez — sussurro, retirando a mecha
sempre teimosa que cai sobre seu rosto. — Medo de que não voltasse para
mim, de resto, eu tive apenas orgulho.

Luna

— É como ter uma criança grande dentro de casa. — Meu rosto se


vira para Elly, que fala baixinho, balançando seu bebê ao colo.
A pequena Suze é tão delicada e perfeita, com seus três meses,
parecendo uma princesa em seu vestido lindo.
— Un hijo dengoso que quer atenção constante — dona Zelda solta,
arrumando a barra do meu vestido.
Ela sorri mais ainda para mim, enquanto nós duas olhamos cada canto
do vestido de corte grego que escolhi. A delicada cinta que prende minha
cintura, em dourado, deixa seu balanço livre, caindo sobre minhas pernas.
— Lycaios não é assim — sussurro baixo, passando meus dedos por
ele.
— Oh, sim, meu amor, ele é, todos são. Espere até ele ficar gripado,
parece que está morrendo. — Sorrio, me virando para a cunhada de dona
Zelda, que balança sua cabeça em confirmação.
Rana, sentada ao chão atrás de nós, brinca com os pequenos de dona
Zelda, conversando com Dolores, a irmã caçula de dona Zelda.
— E, quando ficar esquecido, vai gritar pela casa e deixar a toalha
molhada em cima da cama. — Dona Zelda ri, batendo em meu ombro. —
Dios, está tão linda, Luna!
— Tampa de pasta de dente aberta. Os roncos em seu ouvido — dona
Elly fala baixo, rindo.
— Eu acho bonitinho o ronco dele — sussurro, encolhendo meus
ombros ao me lembrar dos barulhos que Sedrico faz, parecendo um leão
adormecido.
— Sí, é mucho[91] lindo. — Dona Zelda me vira, olhando a
maquiagem que fizeram em mim, sorrindo mais ainda, mas ela me corta,
dando um tapa em meu ombro. — Até acordar as três da manhã com uma
bomba nuclear explodindo ao seu lado e querer asfixiar eles com o
travesseiro.
— Por que vocês duas se casaram? — Ouço a voz de Dolores rindo,
cutucando Rana, que ri mais ainda.
— Não quero nunca me casar — minha irmã fala, balançando sua
cabeça.
— Porque os amamos — dona Zelda responde rápido, se virando para
sua irmã.
— Porque eles são nosso farol. Amar alguém vai mais além do que
apenas as coisas bonitas, somos companheiros, amigos... — dona Elly
responde, carinhosa, sorrindo para sua aliança. — Se ama as perfeições,
também ama os defeitos.
Sinto meu peito batendo acelerado, porque sei que tinha esperado por
esse momento. Sedrico tinha concordado esperar pelo fim do ano, para
podermos nos casar, e agora o que era apenas planejamento está a um passo
de se tornar real.
— Está linda, cariño, perfeita demais! — Sorrio para dona Zelda,
recebendo seu abraço. — Se mudar de ideia, é só me falar.
Rio com sua voz baixa, perto do meu ouvido. Ela se afasta, me dando
uma piscada.
— Não, eu não vou mudar de ideia. — Seguro a barra do vestido, me
virando, mas somos interrompidas por uma batida na porta.
Um dos seguranças de Sedrico nos observa, envergonhado, com seus
olhos baixos.
— Senhora Ozborne? — Dona Zelda e dona Elly respondem juntas
quando ele chama, mas seu olhar para na pequena mulher latina, levando os
dedos ao ouvido. — Senhor Lycaios solicitou a chave do seu veículo.
Ele solta os dedos de sua orelha, erguendo seu olhar para ela. Todas
nós ficamos em silêncio, antes de estourar a maior gargalhada.
— Muy bien, cabrón. — Dona Zelda ri mais, olhando para mim,
dando uma piscada. — Pois diga ao senhor Lycaios que Zelda Ozborne lhe
mandou ir a mierda!
Vejo o rosto do segurança ficar pálido, enquanto ele leva o dedo ao
seu ouvido outra vez. Já sei que, quem está do outro lado, está o deixando
mais nervoso.
— Por favor? — Caminho para ele, esticando meus dedos, ainda
sobre as risadas das mulheres.
Ele dá um passo para trás, negando com a cabeça, mas estico meus
dedos, pegando o comunicador e levando-o ao meu ouvido. Ele retira o outro
que tem em seu peito, que é como um pequeno microfone, mostrando para
mim.
— Foram bloqueadas todas as saídas? — Rio mais ainda quando a
voz grossa de Sedrico soa em meu ouvido. Sua voz se cala, quando ouve
minha risada, soltando o ar lentamente. — Mikpó?
Sorrio, me virando para elas, que estão em silêncio, olhando para mim
com seus olhos brilhantes. Solto o ar lentamente, rezando para pronunciar
corretamente, como dona Zelda tinha me ensinado.
— Eres todo mi mundo, señor[92]! — sussurro para ele, sentindo meu
coração bater mais rápido com sua respiração acelerada do outro lado.
— Você é meu mundo todo, Mikpó. Te amo.
— Até daqui alguns segundos, senhor. — Sorrio, entregando o
pequeno aparelho outra vez para o segurança.
As meninas riem e sou presenteada pelos braços finos de Rana,
quando ela se levanta, vindo para mim. Minha irmã beija meu rosto,
arrumando seu braço junto ao meu. E, soltando o ar, já estamos todas
caminhando para fora da sala.
E é com meu coração explodindo em batidas que o vejo, me
esperando perto do altar. Sinto meus dedos suados, minhas pernas fracas e
sempre gelatinosas na sua presença, nunca estiveram tão firmes. Olho os
convidados espalhados pela Odisseia, toda decorada como um grande monte
Olimpo. Devon sorri para mim, ao lado da querida babá. Minha mãe, tão
linda, sorri para mim segurando Cadu no colo. Fico feliz ao vê-la aqui,
mesmo tendo optado em participar apenas da cerimônia, sem se envolver em
mais nada. Ela está sendo abraçada pelo senhor grisalho, do qual eu tinha
aprendido a gostar, quando veio pedir permissão para se casar com ela, para
mim e Sedrico. Dona Zelda está parada no altar junto com seus maridos,
sendo a mais perfeita fada madrinha, como eu sempre a vi. A música começa
a tocar lenta, enquanto todos vão se levantando e se virando em minha
direção. A mãe de dona Zelda tem seus olhos marejados, segurando Lotte no
colo, que ergue seus dedinhos para mim. Dolores e Rana sorriem mais ainda,
apertando Matias entre elas. Olho com carinho para dona Elly e seu esposo,
que estão abraçados com seus filhos no colo, olhando para mim.
Lola, tão bela, fica sorrindo com Will, percorrendo o caminho do
grande tapete vermelho. Sinto meu peito se acelerar quando, ao fim, perto do
altar, vislumbro o mais lindo deus, em seu terno branco, destacando a juba
dourada que tanto amo. Sua face ainda indecifrável tem seus olhos presos aos
meus, anulando por completo tudo à nossa volta. Meus olhos caem sobre o
buquê de flores, olhando para meu lado vazio. E, por um segundo, é como
ver ele ali outra vez, com seus olhos negros, sorrindo para mim.

— A moça então experimentou o sapatinho, mas, antes mesmo que ele


servisse em seus pés, o príncipe já tinha dentro do seu coração a certeza de
que havia reencontrado o amor de sua vida. Cinderela e o príncipe se
casaram em uma linda cerimônia. Ela e o príncipe foram felizes para todo o
sempre. — Meus olhos observam sua face alegre, enquanto ele fecha o livro,
alisando meus cabelos.
— Pai, acha que um dia vou achar um príncipe também? — Meu
corpo se estica na cama, puxando as cobertas para mim.
— Sinceramente, espero que seja apenas quando tiver quarenta e dois
anos, Lu. — Sua grande mão esfrega meus cabelos, os bagunçando. — Mas
eu tenho certeza de que um dia será tão amada quanto merece, meu amor.
— Eu te amo, papai. — Meus dedos se erguem, alisando seu bigode
que tanto amo. Sussurro para ele, sabendo que logo ele partirá para o
trabalho: — Se cuida, está bem? — Sua mão se fecha sobre a minha,
beijando meus dedos.
— Eu te amo, pequena, dorme com Deus. — Seu rosto carinhoso se
expande, beijando o topo da minha cabeça. — Eu sempre vou estar aqui.

Solto o ar em meu peito, piscando meus olhos para retirar as lágrimas


que desejam vir, e, de alguma forma, sorrio, pois sei que meu pai está aqui
comigo nesse momento. Aperto o buquê em meus dedos, voltando meu olhar
para o altar, e é com o grande homem atravessando o tapete vermelho que me
deparo. Sedrico caminha a passos firmes, não parando por nada, apenas
desviando de Lola e Will, que riem para ele. Sinto meu peito ir se aquecendo,
as batidas aumentando e nada além daquele olhar intenso me segura mais do
que qualquer âncora.
— O que está fazendo? — sussurro assim que ele para à minha frente,
seus dedos se erguem ao meu rosto, alisando com carinho.
Vejo os convidados nos olhando, mas, como Lycaios faz apenas o que
Lycaios quer, ele não dá a mínima para as regras cerimoniais.
— Estou levando minha noiva para o altar. — Sua voz sai firme e,
antes mesmo de responder, eu já estou sendo erguida em seus braços. O som
dos gritos dos convidados, junto aos assobios, repercute por toda Odisseia.
Ele sorri, virando seu corpo, com seus braços presos em meu corpo.
E sim, meu pai tinha razão, eu encontrei meu príncipe. Meu caminho
cruzou com o bravo e grande leão, que se escondia na face de um deus caído.

Fim!
Epílogo

Luna

Grécia
Ilha Creta, Sul do mar Egeu

— Eu estou completamente sem palavras. — Aperto o lençol em


meus dedos, protegendo meu corpo nu, sentindo a brisa da maresia. O
silêncio prazeroso do oceano nos abriga aqui, entre o paraíso azul tropical.
Meus olhos se perdem no grande mar, tão vasto e intenso à nossa
frente, na ponta do luxuoso iate de cento e setenta metros de comprimento,
com tantas cabines que me perco dentro dele. Lycaios tinha me feito quase ter
um ataque do coração quando entramos no helicóptero, sobrevoando por
algumas horas, depois de sair da festa de casamento, para pousar no heliporto
que nos esperava no grandioso iate branco que se destaca entre as águas
azuis, ancorado em alto-mar. O nome Mí Luna, gravado na dianteira, em sua
lateral, brilha em letras negras, me fazendo segurar o fôlego. E, como Lycaios
faz apenas o que Lycaios quer, não tive como argumentar contra o
pretencioso presente de casamento. Já estamos a mais de vinte dias em alto-
mar, me perdendo não só nas maravilhas que ele me mostra, mas no homem
implacável que tem meu coração apenas para ele. De todos os lugares que ele
me apresentou, nada foi tão magnífico como as ilhas gregas, entre todas
Creta, que me fez ficar com os olhos marejados, pois nunca em toda minha
vida tinha sequer tido o pequeno sonho que a veria além das fotos dos livros
escolares.
— Eu nunca pensei no depois — sussurro perdida para ele, que está
atrás de mim, com suas mãos no bolso. — Nunca imaginei que iríamos ficar
juntos, eu apenas vivia cada segundo rezando que fosse eterno enquanto me
desejasse. Não no agora... — Ergo minha mão, observando a aliança de ouro
que brilha em meu dedo.
Ouço o som dos passos pesados atrás de mim, que traz o calor do seu
corpo quando seus braços passam por minha cintura, me aninhando a ele. Eu
amo estar aqui, em seu abrigo feito de músculos e calor.
— Vou lhe dizer o que vem agora, Mikpó! — Seus lábios se fecham
na ponta da minha orelha, trazendo arrepios que me acalmam e me torturam.
— Vou lhe erguer em meus braços, arrastar esse seu pequeno corpo para
nossa cabine, sentir cada parte macia da sua pele e terei seu sabor inundando
minha boca. E apenas depois que estiver exausta e rouca de tanto gritar meu
nome, me enterrarei bem fundo dentro da sua boceta.
Sedrico me vira vagarosamente em seus braços, me deixando de
frente para seus olhos penetrantes, que me sugam. Não é um pedido, é a
afirmação do meu senhor, que me incendeia.
— Minha doce senhora Lycaios... — Seus dedos se erguem, alisando
minha face, me deixando ficar ali para sempre, morando em seu olhar. —
Não sou nada sem você, Luna. A verdade é que nunca pensei no depois,
porque nunca imaginei que era merecedor de alguém, até ter seus olhos
cruzando com os meus.
— Eu te amo, te amo loucamente, meu deus perverso. — Sedrico
tinha entrado em minha vida e me deixado sem recurso ou contrapartida,
apenas me fazendo ser dele.
Sua mão alisa meus cabelos bagunçados, deixando minha memória
registrar cada gesto seu, desejando-o para a eternidade.
— Te amo, Mikpó!
E, com essas palavras, que me inflam a alma e enchem meu coração,
Sedrico me tem em suas mãos. Minha mão, que prende o lençol, se solta, me
deixando despida sob seu olhar. Sinto o tecido que escorre pelo meu corpo,
indo ao chão. Sedrico abaixa sua cabeça, abrindo um preguiçoso sorriso no
canto da boca, tão predador como o leão que é.
— Amo a exclusividade. — Suas íris brilham, parando sobre meu
seio, abrindo por completo seu sorriso.
É um grande egocêntrico por fazer a tripulação parecer fantasmas
dentro do iate, aparecendo apenas quando ele chama, mas, dessa vez, eu
também amo a exclusividade de ter apenas o mar da Grécia como
testemunha. Sua cabeça se abaixa, capturando meus lábios para ele, em um
beijo lento, que mexe com todo meu ser. Minhas mãos espalmam em seu
peito, enquanto seu cheiro de oceano, que me embriaga, preenche meus
sentidos.
— Fala de volta. — Sua voz rouca sussurra entre nossos beijos,
escorregando sua mão por minhas costas, apertando com força minha bunda.
Ele se afasta, deixando suas mãos em minha cintura, seus olhos se
prendem aos meus, e, mesmo sabendo que ele deseja apenas ter sua
possessividade aplacada, me olhando como um menino perdido e prendendo
meu fôlego, eu me declararia para sempre.
— Eu te amo, loucamente, senhor Lycaios! — Seu peito estufa, como
um grande leão abrindo suas presas para mim.
Solto um grito, entre risadas, quando Sedrico me ergue nos braços,
nos rodando e marchando como um verdadeiro homem das cavernas de volta
para nossa cabine. Meus dedos seguram com força em seu ombro, me
aninhando mais ao seu ataque.
Apenas sinto nossos corpos se colando na cama. Um tempo depois,
estou me afogando no olhar que ele me dá. É tão mágico que tenho medo de
ser um sonho. Sedrico beija meu pescoço, descendo seus lábios lentamente
por mim. Seus beijos molhados causam arrepios pelo meu corpo todo, me
incendiando por completo. Meu corpo se arqueia quando sinto sua língua
passar lentamente sobre o bico do meu seio, raspando seus dentes, me
induzindo entre o desejo e a dor. Minhas mãos param em sua dourada juba,
me abrindo mais para ele e, dessa forma, tortuosamente, ele vai seguindo seu
caminho, mapeando cada parte minha que lhe pertence.
Antes que possa dar conta, sinto seus dedos separando minhas pernas,
me expondo para seu banquete. Sua língua sobre meu clitóris desliza com
pura preguiça, me trazendo choques em cada parte do meu corpo, com a
sensação da sua língua que pincela, voltando em círculos, me fazendo me
contorcer na cama, apertando minhas coxas na lateral da sua cabeça.
— Sedrico... — Meus dedos, em seus ombros, vão deixando-o todo
marcado, cravando mais em sua pele.
Sedrico vai me invadindo com sua língua curiosa, sua grande mão se
ergue, se encaixando sobre meu seio, o massageando, me fazendo soltar um
grito. Minha mente já está estourando em fogos de artifício, com cada
lambida que ele me chicoteia.
— Oh, meu Deus! Não vou aguentar muito, Sedrico — digo para ele,
arfando entre as respirações entrecortadas.
Sedrico, com seu poder sobre meu corpo, vai me invadindo com um
dedo, enquanto sua língua castiga cruelmente meu clitóris, que pulsa com a
aproximação do orgasmo.
— Mikpó, deixe vir. — Ouço sua voz através da nuvem que vai me
pegando, e meu corpo responde à sua ordem.
Vou deixando a energia estourar por todo o meu corpo, com a força
do clímax que me invade, gritando seu nome, gozando forte.
— Lycaios!
Sedrico retira seu dedo da minha boceta, sua boca me suga com mais
força, me tomando cada vez mais até meu corpo se esparramar molengo e
fraco sobre o colchão, com minhas pernas coladas a cada lado do seu rosto,
deslizando para os lados. Ainda estou em êxtase quando sinto seu corpo se
levantando. Sedrico fica de joelhos entre minhas pernas e puxa meu quadril
para ele. Meus olhos se abrem na primeira invasão que seu pau faz dentro do
meu corpo, entrando em estocadas fundas e brutas, com tanta força que, em
cada vai e vem, é uma onda nova que me atinge, fazendo vários pontos de luz
brilharem em meus olhos. Entre a maré de orgasmo e luxúria, tento me focar
nele, que está tão lindo e concentrado em sua libertação. É meu marido, meu
senhor, meu vício, meu deus caído.
— Sedrico. — Seu nome sai da minha boca, livre, com posse,
fazendo-o erguer seus olhos aos meus. Sorrio com amor para ele. — Eu te
amo, meu senhor.
Sedrico fica com seus olhos focados em mim por um segundo, antes
de se abaixar, colando seu peito ao meu, deixando nossos corações unidos.
Da sua boca, que me beija com luxúria, sinto meu gosto através dos seus
lábios, nos unindo com força a cada investida. Ele vai aumentando seu ritmo,
sua força e logo sinto-o se libertando dentro de mim, me deixando
trasnbordar com toda sua porra quente, que estoura em grandes jatos fortes.
Sedrico desaba sobre mim, me prendendo embaixo dele. O abraço com força,
recebendo seu amor e dando todo o meu que há em meu coração. Seu corpo
rola para o lado, me puxando para ele. Minha cabeça, que descansa sobre seu
peito, me permite ficar ouvindo seu coração, que bate acelerado.
— Fala de novo, Mikpó. — Sua voz rouca, com sua respiração
acelerada, sussurra, depositando um beijo sobre minha cabeça, enquanto suas
mãos alisam meus cabelos. — Me deixa ouvir sua voz outra vez.
Esfrego meu nariz nele, alisando seu peito com carinho. Ergo minha
cabeça, olhando em seus olhos, que brilham para mim.
— Eu te amo loucamente, senhor Lycaios — digo em um sorriso de
paz que me pega, por estar em seus braços. — Eu sempre amei você e sempre
vou te amar.
Sedrico me puxa, me apertando mais em seus braços, até meu corpo
parar sobre o seu, me apertando pela cintura. Então seus lábios me prendem
em um beijo apaixonante.
— Espero que esse seu para sempre seja o mesmo que o meu — ele
fala rindo, apertando minha bunda. — Porque nunca vou abandonar você,
Luna. Você é minha por toda a eternidade.

Atenas
Ilha de Santorini
— Dios, eles estão amando ficar aqui, Luna. Não precisa se
preocupar. — Sorrio com a voz de dona Zelda no telefone, enquanto
caminho pelas ruas de Santorini, olhando as delicadas lojas com estruturas
coloridas. — E vocês, como estão?
Desvio do casal que está vindo, olhando para trás e vendo os distantes
homens que andam silenciosos, me seguindo. Reviro meus olhos com raiva.
Sabia que ele tinha me deixado sair com muita facilidade. Na certa, apenas
me esperou sair do iate e mandou seus seguranças me seguirem.
— Estamos em Atenas. Deus, dona Zelda, é tão lindo! — Minha voz
alegre sai feliz, por ver tanta beleza. — Agora só estou tentando achar uma
farmácia.
— Está passando mal? — ela pergunta alto do outro lado da linha.
— Não, estou bem. Apenas uns enjoos que vêm aumentando e que
nos últimos dias estão ficando piores. — Eu sei que deve ser apenas enjoos
de alto-mar, bobos, por isso não falei nada para Sedrico.
— Enjoos? Dios, Luna. Há quanto tempo vem tendo? — Fico sem
entender a risada de dona Zelda do outro lado da linha.
— Acho que tem umas três semanas, mas é apenas por conta do mar.
— Entro em uma loja, olhando disfarçadamente para trás, conseguindo um
segundo de distância dos seguranças e me escondendo atrás das araras de
roupas.
— Carinõ, como anda sua menstruação? — ela me pergunta à
queima-roupa.
— Minha menstruação? O que ela tem a ver com meu mal-estar? —
Me encosto na parede, olhando perdida para as roupas, pensando no que ela
fala.
— Dios, Luna! Está tomando seu anticoncepcional? — Como um
chute, sua pergunta me acerta precisamente. Eu tinha parado. A médica ia
trocar o medicamento, porque eu acabava sempre esquecendo, então tinha lhe
pedido uma injeção para tomar uma vez no mês. Ela solicitou então para
parar de tomar e voltar em uma semana, mas, com o casamento e tudo mais
me deixando agitada, eu simplesmente esqueci.
— Meu Deus! — sussurro, perdida, tampando minha boca. — Eu
esqueci.
— Creio que esses enjoos de alto-mar têm grandes chances de darem
positivo em um teste de gravidez. — Ela ri mais ainda. Estou em choque, sem
saber o que falar. — Mira, procura uma farmácia e compre um teste de
gravidez. Depois me conte como foi a reação daquele ogro.
Dona Zelda desliga a chamada entre risadas, me largando lá, sem
rumo. Abro o aplicativo de pesquisa, procurando por sintomas de gravidez.
Estou a um passo de cair de bunda no chão, vendo que tudo que tenho
sentido, está descrito ali: os enjoos matinais, a preguiça que está me pegando
a cada dia, o sono excessivo... E eu que sempre jogo a culpa do sono e os
bocejos em cima de Sedrico, por conta de me deixar exausta. Ergo minha
cabeça, virando para a parede onde o grande espelho está, deixando meus
olhos irem para o meu ventre. Estou tão feliz na viagem que não me dei conta
que minha menstruação não tinha descido. Olho a data no celular, apenas
confirmando que seu atraso é grande. Meus dedos param em meu ventre,
olhando para lá.
Demoro uma hora para achar uma farmácia e mais trinta minutos
tentando fazer o farmacêutico entender o que preciso. Compro a marca que
tinha pesquisado, que me daria a resposta correta que preciso. Dou graças a
Deus por ter conseguido despistar os seguranças na loja de roupas, antes de
sair de lá junto com uma excursão de senhoras que estavam passando na rua.
Meus dedos apertam a sacola, com medo, olhando perdida para o teste de
gravidez. Ergo minha cabeça, olhando o restaurante do outro lado. Atravesso
a rua, correndo, pergunto se posso usar o banheiro. Os copos de suco de
laranja no café da manhã nunca me deixaram tão feliz por estar com a bexiga
cheia. Olho o teste ainda sem saber o que estará ali. Como direi a Sedrico se
der positivo? Não sei se ele deseja ter filhos, nunca falamos sobre isso, já
tinha meus irmãos, a casa estava cheia de crianças. A primeira linha fica
vermelha. Eu sei, pelo que tinha pesquisado no celular, que, para dar positivo,
precisa de duas. Apertando-o em meus dedos, olho-o angustiada. Fecho meus
olhos, respirando rápido. E, quando os abro, lá está a resposta para meus
enjoos.
— Meu Deus! — Arregalo meus olhos, vendo as duas finas riscas
vermelhas brilhando na pequena tela. — Eu vou ser mãe. Oh, meu Deus! Eu
vou ser mãe!
Apenas jogo tudo dentro da sacola, saindo do banheiro, que está me
deixando sufocada com a notícia que acabo de ver. Meus pés não dão um
passo para fora do restaurante, antes de colidir no grande paredão que está me
esperando na entrada. Seu peito bate rápido e acelerado, soltando sua
respiração pesada sobre meus cabelos, como um leão muito bravo. Ergo meu
olhar para Sedrico, o vendo com suas íris dilatadas, seus cabelos dourados
bagunçados, com sua mão esmagando a lateral do corpo, seu rosto suado,
aparentando ter corrido por horas.
— Sedrico? — Olho assustada para ele, que não me diz nada além de
olhar para mim.
Sei que ele está bravo por conta de ter me livrado dos seguranças.
— Eu não queria aqueles seguranças atrás de mim — sussurro,
tentando aplacar sua raiva por ter despistado os homens.
Sua mão se estende, ficando aberta em minha direção, simplesmente
ignorando minhas desculpas esfarrapadas.
— Me entregue. — Sua voz grossa sai baixa, olhando para a sacola
em minha mão. Então compreendo seu olhar intenso, depois que o choque da
pergunta passa.
— O quê? — Meu peito bate rápido, olhando perdida para ele. Aperto
em meus dedos trêmulos a sacola, a levando para trás de mim.
— Mikpó! — ele rosna baixo, balançando seus dedos.
Fecho meus olhos, querendo gritar de raiva. O filho da puta estava
olhando o histórico de pesquisa do meu celular. Solto o ar com angústia,
mordendo meus lábios. Abro meus olhos, trazendo a sacola para a frente e
retirando o teste de gravidez, o segurando com medo em meus dedos.
— Eu... Eu não fiz por mal... Eu esqueci. Foram os preparativos para
o casamento, a faculdade... — Me calo diante do seu olhar implacável, não
sabendo mais o que dizer para retirar aquele olhar rigoroso das suas íris.
Encolho meus ombros, esticando minha mão e depositando o teste em
seus dedos.
— Parabéns, papai. — Fecho meus olhos ao som da respiração alta do
grande leão, que está ficando agitado à minha frente, quase como um rugido.
— Está chateado? — sussurro sem coragem de olhar em seus olhos, me
sentindo temerosa.
Meu corpo sai rápido do chão, me fazendo me assustar. Abro meus
olhos para um Sedrico próximo, quase colando sua face à minha. Me sinto
uma lebre presa nas garras do grande leão, que me olha intensamente, com
seus lábios semicerrados.
— Um hijo! Me deu um hijo de presente de casamento, Luna —
sussurra lentamente. — O que faço com você, Mikpó? — Ele abre um
sorriso, me fazendo me aquecer por dentro e meu coração voltar a bater.
— Não ficou chateado? — Olho sorrindo para ele, deixando meus
dedos em seu ombro.
— Meu maior império será vocês, Mikpó. Minha família, nossa
família... Minha doce Luna.
Eu o beijo e me perco ali, naquele momento, dividindo com ele todo o
amor que bate perdidamente em meu peito. Escondo meu rosto em seu
pescoço, rindo, quando ele nos gira, segurando minha bunda, dando um leve
apertão.
— Minha bela Afrodite — sussurra com a voz rouca próximo ao meu
ouvido, depositando meu corpo lentamente ao chão, e eu me perco no único
lugar ao qual minha vida tomou um rumo, uma direção.
Meu amor, meu senhor, meu perfeito deus caído.
Agradecimentos

O que dizer sobre esses dois, além de ter caído de amores por esse
deus tão humano e cheio de falhas e um amor além do mundo para sua
pequena Luna?! Agradeço à minha Rabiosa Zelda, que me presenteou não só
com sua história linda, mas que também abriu portas para personagens tão
maravilhosos.
Agradeço de coração a todos que fizeram parte dessas histórias,
minhas deusas Halana Oliveira, Janaina Silva e Leyde Leonardo. Agradeço a
todas as colaboradoras que enriqueceram ainda mais esse enredo.
E agradeço sempre, nunca esquecendo, minha doce e maravilhosa
irmã de coração, Valdirene Gonçalves. Te amo, mozãooooo.
Agradeço a vocês, suas lindas leitoras, por se permitirem se apaixonar
por eles, cada um deles: Zelda, Tauro, Bruce, Dylan, Elly, Sedrico e Luna.

Gratidão por finalizar esse mundo maravilhoso de várias faces de amar,


porque: toda forma de amor é válida!
Outras obras:
Primeira série:
KATORZE - LIVRO 1
PAOLO A RENDIÇÃO DO MONSTRO - LIVRO 2
PAOLO O DESPERTAR DO MONSTRO - LIVRO 3

ATENÇÃO: contém cenas eróticas e gatilhos que podem gerar desconforto. não indicado para menores
de 18 anos.

Quando um pesadelo deixa marcas. Quando em um dos piores momentos,


nasce uma luz para guia-la. Quando ela se apaixona por seu algoz e finalmente
tudo está na mesa, o desejo carnal e selvagem se revelam. Mas a ferida agora,
está aberta.
Vocês irão odiá-lo, cobiçá-lo e até mesmo deseja-lo. Conheçam Daario Ávila e
embarquem em uma aventura na Espanha, regada de erotismo e reviravoltas
de tirar o fôlego. Será que o príncipe encantado, pode se tornar um pesadelo?

Criado como um animal de estimação desde criança, entre a sarjeta e os


abatedouros da fazenda Ávila, Paolo se tornou o cão de ataque perfeito de
Joaquim Ávila, um animal feroz, sem remorso, sem empatia. Moldado pela dor
e degradação, é uma alma condenada e vazia, que sente gosto de liberdade
quando sua coleira invisível é quebrada. O destino, contudo, o leva, entre a
vida e a morte, pelas as águas turbulentas do rio, até os cuidados da pequena
Yara.
Em um ímpeto de desespero pela morte que o chama em seu leito, Yara
faz de tudo para salvá-lo, até o que não deve. A pequena boneca solitária só
não sabia que quem ela salvava não era apenas um forasteiro com faces
tristes, mas sim um monstro que traz em seus olhos tanta morte quanto o cano
do seu .38.
Yara entende de monstros. Teve seu caminho cruzado por um, que a
deixou marcada para sempre. Mas ali, diante da face do mal encarnada entre
os olhos marrons daquele forasteiro, que traz uma dor tão antiga, não é medo
que sente, mas sim sua luz, que se liga à escuridão dele.

Tudo nessa vida tem um preço, e Yara sabia disso quando salvou a vida
do monstro que entrou em seu caminho. Tendo que escolher entre o homem
que amava e os frutos dessa paixão que cresciam em seu ventre, partiu,
deixando-o sem olhar para trás. O que ela não sabia é que sua magia deixou
rastros, e agora algo muito pior vêm atrás dela.
Seu mundo desaba quando suas filhas são levadas por um mal maior, e
o destino brinca com a pequena bruxa, colocando-a frente a frente com o
homem que tanto assombrou suas lembranças por longos anos.
O monstro se perde assim que seus olhos pousam na pequena mulher
solitária que vê em seus sonhos, e que agora está em carne e osso na sua
frente. Algo dentro de Paolo desperta, puxando-o para ela cada vez mais, sem
entender o que os liga.
O Cão e a Bruxa estão de volta em mais uma batalha.
Yara lutará com toda sua força para ter suas filhas de volta. No meio da
sua jornada, precisará mostrar ao monstro o poder e a força da magia do amor,
e encarar a ira de cinco anos longe dos olhos tão sombrios quanto o portão do
inferno.
Poderá o cão de caça perdoar a bruxa que o jogou no limbo por cinco
anos, sem despertar o monstro que habita nele?

História e conto Irmãos Falcon


Recomendando para maiores de 18 anos
Este livro contém descrição de sexo explícito e palavrões
Doty só queria uma coisa: achar o miserável que engravidou Tifany e chutar seu rabo até Dallas.
A única coisa que Joe queria era dobrar o demônio de olhos negros que o tirou do sério, fazê-la pagar
por sua língua afiada e boca suja.
Uma proposta!
Sete dias!
E tudo foi para os ares!

Bem-vindo à Arena
Billi tinha traçado seu destino, já não era mais o menino delinquente, tinha se transformado em um
homem, foi atrás do seu sonho e criou seu mundo em cada touro que montou aos 32 anos.
Arena Ranger lhe trazia apenas um desejo, o grande touro Asteroide 8 segundo que valeria sua carreira,
mas o pequeno cometa que cruzou seu caminho. Fez o Cowboy mudar seus planos.

Únicos

ATENÇÃO: CONTÉM CENAS ERÓTICAS E GATILHOS que podem gerar desconforto. NÃO
INDICADO PARA MENORES DE 18 ANOS.
Se me perguntarem se já era amor desde o início, garanto-lhe
com as minhas palavras salgadas pelas lágrimas que sim. Eu já o
amava antes do princípio, assim como no meio e fim. Nosso amor
mórbido e louco nos unia em nossa agonia chamada vida.
Se existia um inferno, eu iria para lá por ele, pois onde mais
dois pecadores poderiam descansar suas almas negras manchadas
pelos pecados da carne? E então, eu fui. Joguei-me de cabeça em seu
mundo. Conforme trazia Ben para mais perto de mim a cada sonho, a
cada parte dele que eu salvava, uma parte minha ficava presa em
seu labirinto. Em meu peito, onde batia um coração de uma menina
apaixonada, não importava em quantos pedaços eu teria que destruir
minha alma para salvá-lo, pois a loucura que o habitava era a mesma
que tinha morada fixa em meu coração.
Lizandra, essa sou eu, ou a sombra de quem eu fui um dia.

ATENÇÃO: CONTÉM CENAS DE SEXO E LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA MENORES


DE 18 ANOS

Zelda estava preparada para tudo em sua vida: uma híbrida latino Afro-Americana com sangue quente
que desejava apenas ter uma chance para mostrar que não veio ao mundo para brincar. Queria um lugar
ao sol entre as indústrias de construção civil. O que ela não imaginava, no entanto, ao aceitar o estágio
na Indústrias Ozbornes, era que, junto com a porta do seus sonhos ao mundo do negócios, também se
abriria a porta dos desejos e fantasias quente como o inferno: seus dois chefões em ascensão.

Quatro mulheres desesperadas por apenas uma noite de folga e por um segundo de descanso ganham,
misteriosamente, um sorteio relâmpago de rádio, que tem como prêmio uma estadia nas suítes luxuosas
do novo hotel da pacata cidade.
Cada uma tem sua história e seus segredos, mas todas trazem uma coisa em comum: desejos
reprimidos.
O Dia das Bruxas nunca mais será o mesmo para elas.
Não deixem de perder essa deliciosa noite de Halloween, principalmente se for uma menina malvada.
Handrey, junto com seu irmão Jonny, participava ativamente de um grupo de neonazistas
violentos, pregando a supremacia branca. Seu destino mudou ao encontrar o corpo do seu irmão junto a
um homem negro dentro do seu apartamento, ambos sem vida. Ele nutriu apenas ódio e autodestruição
por catorze anos, jogado dentro da penitenciária federal, almejando apenas uma chance de descobrir
quem era o verdadeiro assassino do seu irmão. Sua chance veio acompanhada de um pro bono
misterioso, que lhe deu sua liberdade provisória.
O homem passou a ver as coisas de uma maneira diferente ao se deparar com Eme, uma
stripper negra que o levou a questionar uma doutrina de uma vida inteira. Ele já não se sentia mais à
vontade com o grupo neonazista.
Quando corpos mutilados de mulheres negras e imigrantes começaram a aparecer pelas ruelas
do porto, assombrando todas as garotas de programa ao descobrirem que tinha um assassino em série
que matava por esporte, Handrey percebeu que mais alguma coisa tinha escapado junto com ele do
esgoto imundo que era seu passado.

Dylan Ozborne sabia que a pior época da sua vida era dezembro. Ainda não acreditava que
seu irmão havia o obrigado a ser o Papai Noel para o evento beneficente.
Elly poderia ter sido a boa menina o ano inteiro, mas deixou para ser a menina má justamente três dias
antes do Natal, indignada com o nada bonzinho e muito menos velhinho Noel. Então resolveu se vingar
do tirano e por fim lhe dar uma lição que nenhum deles jamais esqueceria.

[1]
Wallflower, de Kimberly August.
[2]
Pequena.
[3]
Papai.
[4]
No mundo BDSM, Dom é o dominante que assume o papel de uma figura paterna. Embora os Dom
sejam bastante autoritários e dominantes, eles também são bastante protetores, como um pai na vida
real. O Dom pode ou não ser ageplayer, dependendo da relação entre os pares.
[5]
Gíria americana que significa: aquele homem mais velho que usa seu dinheiro para gastar com uma
mulher bem mais nova, em troca de sua companhia e/ou favores sexuais.

[6]
Deus.
[7]
Veja.
[8]
Estou.
[9]
Filhos.
[10]
Falei.
[11]
Seu irmão.
[12]
Aceita.
[13]
São cobras.
[14]
Carinho.
[15]
Você.
[16]
Até tenho medo de pensar o que é, Sedrico.
[17]
Sabe, mulheres, prazer sexual, esse é o meu trabalho.
[18]
Minha casa, sua casa.
[19]
Filha da puta.
[20]
Dezenove.
[21]
Homens.
[22]
Filme de gênero romântico de 1990.
[23]
Menina.
[24]
Rolex S.A. é uma empresa suíça fabricante de relógios de pulso e acessórios, com sede em
Genebra, fundada em 1905 pelo alemão Hans Wilsdorf.
[25]
Desordem sexual que consiste na observação de uma pessoa no ato de se despir, nua ou realizando
atos sexuais e que não sabe que está sendo observada.
[26]
Um homem que gosta de trocar os papéis no ato sexual com a mulher, sendo ele o passivo do ato.
[27]
Homens que sentem prazer em se vestir de mulher.
[28]
Excitação sexual derivada do uso de fraldas.
[29]
Comportamento sexual dependente do fato de ver fotografias ou vídeos de ações sexuais.
[30]
A excitação sexual ou o orgasmo são obtidos ao interagir sexualmente com um indivíduo em
estado de sono.
[31]
É uma parafilia que consiste na atração sexual por pessoas idosas.
[32]
Atração ou excitação sexual causada por odores que emanam do corpo humano.
[33]
Consiste na excitação sexual relativa ao contato com fezes.
[34]
Preferência sexual por pessoas que tenham alguma parte de seus corpos amputada.
[35]
Relação entre tendências opostas, o sadismo e o masoquismo.
[36]
Uma pessoa que busca sentir prazer em impor o sofrimento físico e moral a outra pessoa.
[37]
Uma pessoa que busca sentir prazer em receber o sofrimento físico e moral de outra.
[38]
É o prazer pela redução de oxigênio.
[39]
Prazer relacionado à possibilidade de encenar ou manejar uma morte masoquista de si mesmo por
assassinato.
[40]
Atração sexual ocorre ao observar uma tragédia ou desastre, tanto da natureza como do cotidiano.
Exemplificando: como acidentes de carro ou incêndios. A pessoa sente excitação ao ver ou a praticar o
ato em meio às destruições.
[41]
Comportamento sexual no qual, em geral, a fonte predominante de prazer não se encontra no
padrão, mas em alguma outra atividade fora do normal.
[42]
Termo para definir pessoas jovens, em sua maioria mulheres, que buscam um relacionamento com
pessoas mais velhas e bem-sucedidas, que as possibilitem conhecer o melhor do mundo, através de
viagens, presentes, ajudas…
[43]
Gerente do restaurante. No ramo da hotelaria, é o responsável por agendar as reservas, acomodar os
clientes nos estabelecimentos e organizar as praças, garantindo a eficiência no atendimento e a
satisfação do cliente, lidando com as reclamações.
[44]
Boneca.
[45]
Nunca vai ficar sozinha de novo, deixe-me cuidar de você.
[46]
Pequena, deixe-me cuidar de você.
[47]
No dicionário, o termo Mestre é um sinônimo de catedrático, professor e mentor. No BDSM, pelo
menos em grande parte dos círculos, existem diferenças. Enquanto o Mestre seria aquele que ensina
interagindo de forma física (sem relação de Posse), o Mentor teria simplesmente a função de transmitir
informações.
[48]
Raivosa.
[49]
Victoria's Secret é uma marca de lingerie e produtos de beleza fundada em 1977 por Roy Raymond,
com a sede em Ohio, Estados Unidos.
[50]
Pedofilia é um transtorno psiquiátrico em que um adulto ou adolescente mais velho sente uma
atração sexual primária ou exclusiva por crianças pré-púberes, geralmente abaixo dos 11 anos de idade.
[51]
A zoofilia é o termo utilizado para classificar as pessoas que sentem atração sexual por seres de
outras espécies, chegando inclusive a fazer sexo com animais. Essas pessoas são chamadas de zoófilos.
[52]
A Necrofilia, do grego nekrós (cadáver) e philia (amor), é a excitação e prática sexual com
cadáveres.
[53]
Você gostaria de não estar sozinha de novo, pequena.
[54]
Filho da puta.
[55]
Você é meu céu e inferno, pequena.
[56]
Preciso de uma razão.
[57]
Bastardo.
[58]
Ratos traiçoeiros.
[59]
Diga-me o que está acontecendo.
[60]
Eu não estou entendendo.
[61]
Apaixonado pela garota.
[62]
Dizer.
[63]
Muito bem.
[64]
BDSM significa “Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo”. O termo
refere-se a relações sexuais baseadas no prazer da dor.
[65]
Filho da puta desgraçado! Tocou no que é meu.
[66]
Perdão.
[67]
Minha, só minha.
[68]
Nome dado para ejaculação feminina.
[69]
Bom dia.
[70]
Sexo com força extrema.
[71]
Muito linda.
[72]
Fazendo.
[73]
Não era.
[74]
Eu sabia.
[75]
A história do mambo moderno tem início em 1937, quando os irmãos Cachão escreveram uma
dança (estilo com origens na contradança espanhola e a contradança francesa) chamada "Mambo", com
o uso de ritmos derivados da música africana. A contradança chegou a Cuba no século XVIII, onde se
tornou conhecida como danza.
[76]
Cuidado com as palavras, mulher.
[77]
Você se tornou meu tudo, pequena.
[78]
Tenha um bom dia, senhora.
[79]
Senhorita.
[80]
Apaixonada.
[81]
Me fala, bastardo.
[82]
Eu sei.
[83]
Olhe nos meus olhos e me diga a verdade.
[84]
Destruindo.
[85]
Mãe.
[86]
É só.
[87]
Ouvi ela dizer que me ama.
[88]
Eu fui um grande.
[89]
Ela é meu mundo.
[90]
Gremlins é um filme americano de comédia e terror de 1984.
[91]
Sim, é muito.
[92]
Você é o meu mundo inteiro, senhor.

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