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críticas e alguns outros usos não-comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.
Sedrico!
A cidade do pecado está fria e vazia
Não há ninguém por perto para me julgar
Não consigo ver claramente quando você se foi
Estou sozinho há bastante tempo
Talvez você possa me mostrar como amar
Você nem precisa fazer muito
Você pode me excitar apenas com um toque, Mikpó.
CAPÍTULO 01
Hefesto
Luna
Respira fundo... Apenas respira!
Daqui alguns dias será Natal e não poderei dar presentes para Rana,
Will e Lola. Na noite passada, fui ao quarto das crianças, onde todos
dormíamos, e vi minha irmã Lola, de apenas seis anos, agarrada a uma antiga
boneca de pano, feita por farrapos, que eu mesma confeccionei na idade dela.
Chorei baixinho por não poder lhe dar uma boneca linda de verdade. Cadu,
meus irmão caçula de quase três anos, tinha sido tirado de casa enquanto eu
trabalhava, minha mãe se perdeu de vez na bebida e o largava sozinho em
casa quando ia para o bar do outro lado da rua. Minha vizinha chamou o
conselho tutelar, pois o marido dela vivia no bar atrás da minha mãe. Eu
quase morri quando o vi sendo colocado no carro da agente tutelar, por sorte,
as outras crianças, Rana, Will e Lola, estavam nas escolas, assim não foram
levadas também. Chorei desesperada por não ter meu irmão ao meu lado,
éramos muito apegados, dormíamos juntos toda noite. O governo levou o
pequeno, dizendo que não tínhamos estrutura para cuidar de todos. Minha
mãe, como sempre, chorou, disse que largaria esse vício, mas confesso que
não me importava mais com o que ela faria ou não, apenas queria meu irmão
comigo. E foi então que apareceu Zack, ele mora no mesmo prédio que o
nosso, ao fim do corredor. Diziam que ele era cafetão. Nunca dei importância
para a vida dele, pelo menos não até aquele dia de chuva, no qual me sentei
sem rumo na calçada, chorando, por não saber o que seria de mim e dos meus
irmãos.
— Você pode tentar. — Sua voz baixa soa perto quando ele se move
ao meu lado. — É bonita pra caralho, consegue dinheiro rápido.
Direciono meu olhos para o pardieiro onde moro. Meus irmãos não
têm roupa nova, usam apenas o que nos dão. Nunca pude entrar em um
mercado e fazer uma compra de verdade... Minha irmã nunca teve a chance
de ter uma boneca em seus braços e o governo havia retirado meu irmão
caçula. Minha mãe tinha feito uma dívida imensa com um agiota, para pagar
suas bebidas, que batia todo santo dia na minha porta atrás da sua grana,
me dando, por último, apenas quinze dias para lhe pagar antes de tacar fogo
no apartamento com as crianças lá dentro.
— Você não vai se arrepender, Luna. Vai ser super sossegado, você
só tem que sair de um bolo gigante e dançar para o aniversariante de
maneira sexy. Os velhos vão cair por você.
E foi assim que vim parar aqui. De dia trabalho como babá e todo fim
de semana entro dentro desse bolo maldito, tentando erguer a grana do agiota.
Esse já é o oitavo aniversário que eu saio de um bolo, desde que aceitei esse
serviço indecoroso, sempre para vários homens velhos e babões, que me
esperam do lado de fora.
— Essa é a última vez, Luna. — Deixo meu melhor sorriso aos lábios,
ergo meus braços, encosto um ao outro perto da tampa.
— Onde está, meu senhor? — Minha voz sai mansa, quase baixa
demais, e odeio a forma como tenho que me fazer de burra para me encaixar
perfeitamente a esse maldito trabalho extra. Sempre os chamo por senhor,
todos são velhos e nojentos demais para eu conseguir olhar por muito tempo
diretamente nos olhos deles.
Suas íris voltam para minhas pernas quando subo na cadeira, seus
olhos não perdem um único movimento que faço. Deixo minhas mãos
deslizarem sobre meu corpo, como se fossem as suas passando por minha
pele. Me viro lentamente, deixando meus dedos escorregarem sobre minhas
pernas, olho por cima do ombro para ele, dando um leve tapa em minha
bunda. Ele se engasga, apertando seus dedos em suas pernas, esfregando suas
mãos sem parar. Me viro, caindo sentada de pernas abertas na cadeira
enquanto meus dedos acariciam meus seios, que estão duros e latejando de
dor. Nunca tinha ido tão longe em um aniversário, mas quero ir até o último
momento com ele. Minhas pernas preguiçosas deixam seus olhos
percorrerem por cada canto, se fechando em seguida. Escorrego para o chão e
volto engatinhando para ele, meu corpo para apenas depois de estar sentada
em seu colo. Levo sua gravata até meus lábios, mordiscando-a com as pontas
dos dentes. Antes que eu perceba, Sedrico tem suas grandes mãos coladas em
meu quadril, sinto seu toque firme e quente, movimentando meu corpo em
sua perna e posso perceber perfeitamente o tamanho do volume em sua calça,
que vai raspando sobre o tecido da calcinha. Meus dedos traçam caminho por
seus longos braços grossos, até sentir suas mãos. Vou levando-as até o alto de
nossas cabeças, jogando-as para trás e as deixo presas lá.
— Ele era forte, mas também era solitário com tanto poder e ninguém
para dividir. — Fico imaginando o que levaria alguém a ter tanto poder e
ainda assim acabar ficando sozinho. — Achei linda sua estátua. — Me
silencio, sentindo seus olhos me queimando, me fazendo voltar a andar rumo
à saída.
Meus passos me levam rápido para o mais longe dali, andando pelo
corredor encarpetado em vermelho sangue. Olho tudo, me sentindo perdida
naquele lugar. Com meus lábios ainda quentes, posso sentir seu cheiro em
minha pele, seu calor em meus dedos. Vejo Zack, que aparece ao fim do
corredor, caminhando em minha direção. Ele coça seu queixo, me olhando
estranho.
— Nada, não aconteceu nada. Por quê? — Minha voz trêmula me trai
sempre que preciso que ela soe firme.
— Por quê? Você estava quase dando para o cara lá dentro, todos
viram a porra da ereção que ficou quando você saiu e agora demora quarenta
minutos dentro daquela sala!
— Olha, eu não sei muito como funciona essa merda, apenas sei que
esse aí em especial não é o tipo de cara que deseja ter por perto. Fiz uma
pequena lição de casa antes de aceitar esse serviço e a ficha do patrão
emplumado é mais longa do que a do agiota que sua mãe está devendo. A
única diferença entre eles é o terno caro no corpo.
Acho que a única coisa que ouvi em tudo aquilo foi: perigo! O qual
meu cérebro me alertava.
— Você não pode fazer isso! — Zack me olha de cara feia, dentro do
carro.
Vilma não é minha mãe biológica, meu pai se casou depois que minha
mãe morreu e logo trouxe ela para morar com a gente. Então veio Lola, ela
sempre foi minha boneca, amo minha irmã. Era engraçado quando saia com
ela na rua, toda branquinha com seus olhos claros e eu o contraste, negra com
cabelos cacheados. Meu pai era apaixonado por Vilma, ele sempre achou que
ela iria se livrar do vício da bebida. Tínhamos uma vida até que estável, não
era muito, mas nunca tínhamos tanta necessidade como agora, e então, em
um belo dia, veio Will, de dez anos, e Rana, que era quatro anos mais nova
que eu. Meu único tio e tia tinham morrido em um acidente de trem e meu pai
não teve coragem de largar as crianças em um orfanato. Foi onde comecei a
trabalhar como diarista, logo que completei quinze anos, para ajudar em casa.
Por mais que nunca tivéssemos nada de extravagante, sempre amei minha
família, ter a casa cheia, mesmo quando dividíamos o quarto em quatro,
dormindo um colado ao outro.
Tento nunca demonstrar às crianças como está cada dia mais difícil
manter tudo sobre meus ombros, e não irei desistir, irei ter minha família
completa outra vez. É por isso que luto e saio da cama todas as manhãs.
CAPÍTULO 02
Uma chance para pandora
Luna
— Está animada para o último dia de aula? — Seguro os dedos da
minha irmã, atravessando a rua com ela. Lola abaixa sua cabeça, sem me
olhar diretamente. Seu casaco, que já está velho e pequeno, deixa seus pulsos
de fora, me entristecendo mais por saber que preciso comprar roupas novas
para ela, porém estou indo levar para um agiota toda a merda do dinheiro sujo
que consegui.
A única escola que tinha vaga fica do outro lado do centro da cidade e
temos que pegar dois ônibus para chegar lá. Acordo às cinco da manhã para
deixar todos eles prontos. Levo Will primeiro e depois Lola. Rana, que está
indo para o ensino médio, já sabe ir sozinha, então dou dinheiro para ela, que
depois busca os outros para mim, enquanto trabalho.
— Nossas bonecas são de coleção, elas são exclusivas, acho que não
tem condição de pagar por uma. — Antes que possa lhe responder, ela entra
na loja, batendo a porta na minha cara.
Sempre amei meu emprego. Dona Zelda entrou na minha vida no ano
que perdi meu pai. Comecei trabalhando como diarista para ela uma vez na
semana, quando ela era solteira. Me recordo do dia que vi a manchete no
jornal, falando sobre o caso da superfecundação. O rosto da mulher latina
junto com os dois CEOs da Ozborne, Tauro e Bruce, estavam estampados em
várias revistas. Eles a massacraram. Quem lia aquele lixo entendia que dona
Zelda era uma mulher promíscua, que tentou dar o golpe da barriga
participando de um ménage. Mas não era isso, a imprensa tinha distorcido
por completo a história de amor entre os três. Dona Zelda trabalhava já tinha
anos na empresa Ozborne, foi no fim do estágio que se viu apaixonada por
seus dois chefes, e eles por ela. Eu me senti imensamente feliz quando dona
Zelda me ofereceu o serviço de babá, para cuidar das crianças dela.
Oh, merda! Dona Zelda vai me despedir. O que vou fazer? Estou
fodida.
— Sí. — Sua voz é séria, com seus olhos negros brilhantes. Minhas
pernas fraquejam, como se ela tivesse me dado um tiro. Entro em pânico, não
sei o que vou fazer. — Já que minha secretária não pode ser minha babá.
Fico perdida, a olhando, não tenho ideia do que ela está falando.
Ainda aperto meus dedos entre o plástico da sacola e, com a outra mão, coço
minha cabeça, confusa.
— Eu? — Sinto-me perdida, sem ter ideia se dona Zelda está falando
aquilo de verdade. — Mas eu não tenho curso, nem diploma, dona Zelda,
apenas ajudo quando precisa, pois sempre lhe vejo e aprendo rápido.
— Mi madre vai ficar conosco um tempo, ela diz que é curto, mas,
pelo que conheço dela... Já pedi a Tauro para preparar a casa da piscina.
Aceptas[12]? — Seus olhos se prendem aos meus, em busca de respostas.
— Oh, meu Deus, é claro que sim! — digo, chorando de felicidade.
— Juro que a senhora não vai se arrepender, dona Zelda, lhe prometo não a
decepcionar.
— Eu não posso pagar um aluguel caro, dona Zelda, e, por mais que
esteja feliz e muito honrada por me dar tantas chances, não posso aceitar tudo
isso. Não quando já me ajuda tanto.
— Mira, cariño[14], estoy a fazer isso porque sei que um dia será uma
grande mulher, Luna. Amo usted[15] cuidando de me hijos, mas seria muito
egoísmo meu lhe deixar presa aqui quando pode ser muito mais.
— Mas não posso pagar o aluguel que sua casa merece e não poderia
aceitar ir para lá morar de graça. — Encolho meus ombros, a olhando com
toda minha sinceridade.
O grande homem se afasta dela apenas para lhe abraçar por cima do
seu ombro, a deixando colada a ele. Eu sei que seu Bruce, quando trava sua
mandíbula, deixando seus olhos negros semicerrados, coisa boa não é. Ele
apenas faz isso quando dona Zelda briga com ele.
— Não precisa morar de graça, já que isso lhe deixa triste. Podemos
estar fechando o mesmo aluguel que paga em seu apartamento.
— A casa está fechada há anos, Luna, creio que alguém cuidando dela
é melhor do que cobrar caro. — Senhor Bruce me olha, deixando-me saber
que meu irmão, realmente, está a um fio de ir de vez para longe de mim. — E
nós dois sabemos que não vai sair dessa cozinha sem dar a resposta que ela
quer, vai por mim, melhor aceitar.
Sorrio, vendo dona Zelda lhe dar uma cotovelada e lhe xingar em
espanhol. Ele lhe dá um beijo na boca, abraçando seu corpo e a fazendo se
calar, mas logo se afasta. Ela volta seus olhos para mim, sorrindo,
aumentando-o quando balanço minha cabeça em positivo. Tenho fé, tudo vai
dar certo.
— Eu não sei nem como lhe agradecer, dona Zelda. — Ela se move,
parando na minha frente e limpando as lágrimas em meus olhos.
Ela alisa meu rosto, depois vai para junto das crianças. Não sei ainda
como irá funcionar, mas sei que vai ser a melhor ajuda de toda minha vida e,
ao imaginar que posso tirar meus irmãos daquele lugar, é a melhor notícia do
mundo.
— Obrigada por ter vindo hoje, Luna. Sei que era sua folga, mas
acabou que ficou tudo corrido. — Dona Zelda puxa sua bolsa, procurando
por sua carteira.
— Não precisa me pagar agora não, está tudo bem. Já deu esse
vestido e esse tanto de presentes de Natal para meus irmãos. — Ergo as
sacolas em meus dedos.
Sinto seu perfume entrar na cozinha antes que seus passos sejam
ouvidos. Travo meu corpo na mesma hora e abaixo meu olhar para o chão.
— Não diga que já está indo também... — A voz de dona Zelda fala
triste, enquanto ele para ao meu lado, quase me fazendo me sentir um cisco.
— O dever me chama, Zel. — Sua voz soa grossa e sinto, mesmo sem
olhar, que seus olhos queimam meu rosto, olhando para mim.
— Dios, dona não, Luna! — Ela me cala, sorrindo para mim, e se vira
para o relógio da parede. — Vou chamar um táxi para lhe levar, já está tarde.
— Não está tarde não, pode deixar que vou de ônibus. — Ainda tenho
que passar no agiota para quitar a maldita dívida, sei que não vou tão cedo
para casa.
— Não... — Minha voz sai alta demais, com meus dedos atrapalhados
quase jogando os presentes no chão. Balanço a cabeça em negativo, em puro
desespero.
— Dios, Luna, deixe Sedrico lhe dar a carona, assim não me deixa
preocupada. — Dona Zelda nem me dá tempo, já me empurra para fora junto
com ele.
Vejo seus passos se moverem lentos, com seus olhos fixos ao celular
em seus dedos, para perto do grande carro negro, importado.
— Eu posso ir de ônibus, para onde vou é muito longe. — Seu rosto
se ergue apenas uma vez em minha direção e ele guarda seu celular.
Nunca fiquei tão perto dele em tão pouco tempo como nos últimos
dias. Ele se move com uma graça felina, parando ao meu lado e me fazendo
me encolher mais ainda, enquanto aperto as sacolas em meus dedos.
O som do alarme do carro é o único ruído que corta a tensão, além das
batidas do meu coração, que estão descompassadas, como se ele fosse sair a
qualquer momento. O grande braço se estica, raspando perto do meu. Ele me
olha em silêncio, seus dedos vão à porta, abrindo-a lentamente e apontando
para dentro do veículo.
Sedrico
Paro o carro na frente de um prédio que deveria ser interditado pelo
corpo de bombeiros, em uma rua escura, sem nenhum tipo de segurança.
Observo os muros pichados a cada canto, alguns rapazes na esquina fumando
na lata. A menina veio calada desde a casa de Zelda, apenas falando para dar
o seu endereço.
— Bom, valeu pela carona, senhor. — Sua voz baixa, quase como um
suspiro, me faz virar para ela, me chocando com seus lindos olhos negros, de
uma forma quase inocente, me deixando confuso.
— Como? — Ela me olha assustada, levantando suas sobrancelhas.
— Eu disse obrigada! — Suas mãos vão à lateral e retiram seu cinto,
abrindo a porta. Quase por instinto, me movo mais rápido que ela e seguro
em seu fino braço.
Estou louco. Olho a babá de Zelda procurando por um maldito olhar
que me perturba. Ela se assusta, se encolhendo mais, e seu olhar cai para
minha mão. Meus olhos acompanham os seus e observo com mais cautela os
machucados em sua pele fina. Deslizo meus dedos sobre as marcas altas,
feitas para causar dor em sua pele. Estico seu braço, o virando lentamente, e
vejo a continuação dos machucados que se espalham entre arranhões e roxos,
misturados entre antigos e novos. Ouço sua respiração se acelerar e volto a
olhar para a pequena face dela. Ela puxa seu braço na mesma hora, saindo do
carro às pressas. Eu poderia ir embora, eu deveria ligar o carro e sair daqui,
mas a única coisa que faço é abrir a porta do carro e ir atrás dela.
— Como fez isso? — Parando a um passo do seu corpo, que congela,
a olho enquanto ela aperta as bolsas em seus dedos. A grande cabeleira negra
se vira, caindo sobre seus ombros, e o pequeno sorriso estampado em sua
face é tão falso quanto a cocaína que os moleques vendem na esquina.
— Eu sou muito estabanada, senhor. — Sinto meu corpo enrijecer a
cada pequeno “senhor” que sai tão espontâneo dos seus lábios. Estico minha
mão e seguro seus braços, virando-a para mim outra vez. Seus lindos olhos se
abaixam e sua boca nunca me pareceu tão familiar.
Um gato pula na lata de lixo, a tombando e fazendo um grande
barulho. Seu rosto se vira na mesma hora, procurando de onde vem o grande
som. Meus olhos se movem com os seus rapidamente, mas volto minha
atenção para ela. A pequena fragrância de amêndoas que exala dela deixa seu
cheiro quase familiar, me fazendo pensar em como seria enterrar meu nariz
em sua pele e ficar absorvendo sua doce essência. Seu corpo pequeno se
estica, fazendo seus cabelos virarem em um balanço livre e, por um segundo,
posso jurar que vejo uma tatuagem em seu pescoço, próxima à sua orelha.
— Tenho que ir, senhor. Mais uma vez, obrigada. — Seu rosto se vira
rápido para mim, movendo seu olhar no mesmo instante para o chão. Ela
solta seu braço dos meus dedos.
Ainda fico em silêncio, a olhando, sentindo como se me acertassem
um soco no estômago. Só pode ser uma loucura. Vejo ela com sua roupa
juvenil, que em nada se parece com a dançaria exótica. A menina usa um
vestido florido até os joelhos. Olho para minha mão, que tinha deslizado por
sua pele, a ergo lentamente até meu nariz, o cheiro, mesmo que fraco, ainda
está aqui, o mesmo aroma que a dançarina tinha.
Me sinto sendo sugado pelo olhar doce que se esconde por trás
daquela máscara. Meus dedos querem lhe tocar a cada movimento que faz
sobre meu colo, me embriagando com o aroma de amêndoas, que vem da sua
pele brilhante. Ainda tento fazer meu corpo voltar para meu controle, mas
ela o chama na mesma medida que desperta meus demônios. Minha boca
seca se abre como um maldito fraco, desejando passar minha língua pela
pele exposta do seu pescoço, me deixando pegar de relance a pequena
tatuagem de um anjinho agarrado a um coração, escondida atrás de sua
orelha delicada.
Ergo minha cabeça, vendo-a se afastar, entrando no prédio que está
quase desabando. Aperto meus dedos, sentindo minha mandíbula se apertar
junto aos meus dentes. Minha outra mão já puxa o celular, discando para
Devon.
— Boa noite, senhor. — Sua voz me responde no segundo toque, já
em prontidão, como sempre fica.
— Onde achou a menina? — Olho com mais atenção para o lugar,
vendo todo lixo que tem por perto.
— Dom Sedrico, se refere à moça do bolo? — Solto o ar, levando a
mão ao bolso, cerrando meus dentes.
— Sim, onde achou ela?
— Vem da periferia, senhor, perto dos trilhos dos trens ao sul da
cidade. Foi indicação de um dos nossos clientes. Gostaria que achasse ela?
— Obrigado, Devon. — Desligo o celular, apertando mais minha
mandíbula. Ele não precisa a encontrar, algo dentro de mim me dá a certeza
de que já a encontrei.
Luna
Minhas pernas correm o mais rápido que podem, subindo com todas
as sacolas e com meu coração quase saindo pela boca, só de imaginar que
estava a apenas um passo de erguer meus pés para sentir o calor da sua boca
outra vez. O maldito gato me salvou de fazer uma grande besteira. A forma
como seus olhos brilhavam, como se um demônio morasse lá, os deixava tão
vivos como ouro.
Entro no meu apartamento, segurando o fôlego e apertando as bolsas
em meus dedos. Meu rosto assustado se encosta na porta e tento fazer minha
respiração voltar ao normal. Solto-as lentamente ao chão, esfregando meus
dedos em minha face.
Ao me virar, vejo a TV ligada na sala em um canal fora de ar. Minha
mãe está caída no sofá, segurando uma garrafa vazia com seu braço
dependurado. Isso é o suficiente para me trazer de volta à realidade a qual é
minha vida.
— Droga, Vilma! — suspiro, indo até o quarto das crianças para saber
se elas estão bem. Olho os três abraçados na cama, enrolados na coberta,
dormindo sossegados longe disso tudo.
Caminho para o quarto da minha mãe, arrumando sua cama. Volto
para a sala e me aproximo dela, retirando a garrafa vazia e a jogando no
canto. Meus dedos passam por sua face, vendo-a outra vez tão acabada em
seu vício. O cheiro forte que vem do seu corpo é de pura bebida destilada,
fazendo eu desejar trancar o nariz para não inalar seu odor. Tento erguer seu
corpo, passando meus braços pelo seu pescoço. A chamo baixinho.
— Lu... na... — Sua voz embriagada me deixa tão triste, saindo
entrecortada por seus lábios ressecados, deixando o cheiro que vem da sua
boca duas vezes pior. — Papai não chegou ainda, não é?
— Não, mãe, papai não chegou ainda — suspiro baixo, tentando a
erguer. Não tem uma vez em que ela fica bêbada que não o chame.
— Ele me deixou, não foi, Lu? Ele nunca mais vai voltar. — Sinto sua
voz ficando mais nervosa, seus olhos vermelhos e tão afogados em álcool me
olham com dor. — Promete que nunca vai me deixar, Luna? Promete?
Ela se agarra ao meu braço, cravando suas unhas com toda força.
Sinto minha pele sendo rasgada, de tanto que ela aperta, me olhando com dor,
como se eu estivesse lhe deixando.
— Eu prometo, mãe. — Tento tirar sua mão do meu braço, mas ela
apenas força mais o aperto, me fazendo sentir a ardência insuportável,
rasgando minha carne. — Mãe, vamos pro quarto, ok? Não vou lhe deixar. —
Sua boca se aperta com raiva e ela balança sua cabeça em negativa. — Mãe,
precisa soltar meu braço, está me machucando. — É sempre assim. Ela bebe,
fica oscilando entre a raiva, o choro e o medo, e, no fim, eu fico com as
marcas no outro dia.
— Você não pode me deixar... Vou morrer sem você... — Sua voz
embriagada se altera, nervosa. Seus dedos me machucam ainda mais, me
puxando para ela. Tento me soltar e ela me larga de uma única vez,
empurrando meu corpo para trás. Sinto a dor quando bato as costas na quina
da estante, me fazendo apertar minha boca para não chorar de tristeza.
— Mãe, não vou te deixar. — Esfregando minhas costas, me levanto,
olhando para ela, que tenta ficar em pé. Estendo meus dedos para que ela os
segure. — Vamos. — Ela tenta dar um passo em minha direção, mas seus pés
se atrapalham e ela cai no chão. Esfrego meu rosto, levando meu punho
fechado à boca, enquanto o mordo tão forte quanto posso para não gritar em
desespero.
Vilma é uma linda mulher, mas foi se apagando com seu vício, pouco
a pouco. A pior coisa de conviver com uma pessoa alcoólatra é ter que
assistir em primeira mão, com direito a camarote, a pessoa que você ama se
matar um pouco de cada vez, a cada gole, e saber que não pode fazer nada
para salvá-la. Se ela não desejar ser salva, você pode chorar, implorar, lhe
mostrar cada estrago que ela larga pelo caminho quando está embriagada,
mesmo assim, nada será importante para ela, além de seu primeiro gole.
Conviver com minha mãe é morrer pela doença de outra pessoa, que me
contamina em cada degradação que ela me puxa, me fazendo me tornar tão
doente quanto ela.
— Você vai me deixar. Todos me deixam, Lu, você vai embora
também. — Suspiro, soltando o ar do meu peito com tanta dor. Me abaixo,
tentando a erguer do chão, antes que se vomite toda.
— Eu não vou, mãe... — Meus braços passam por seus ombros,
querendo lhe puxar, mas ela tem seu peso mais solto. Meu corpo pequeno não
dá conta de erguê-la, a não ser que a arraste até seu quarto, mas, ainda assim,
faço força para não ter que passar por mais essa humilhação.
— Deixa que eu a pego. — Me assusto assim que ouço a voz próxima
a mim. Antes que possa responder, Sedrico está segurando minha mãe no
colo, a erguendo. Seus olhos me observam em silêncio, tão frios como uma
porta de aço. — Onde é o quarto dela?
— Como... — Meu rosto se move para a porta do apartamento, aberta.
Eu nem o ouvi entrar. — O que está fazendo aqui, senhor? — Ele passa por
mim, se apertando em meu apartamento pequeno, que o engole. Sedrico
carrega minha mãe, parando na frente do quarto das crianças, que ainda
dormem todas agarradas em uma cama de casal de madeira. Sinto vergonha
pelas paredes velhas e quebradas, já mostrando seus tijolos, e pela coberta
velha, que mal as esquenta, a qual já remendei mais vezes do que posso me
lembrar. Ele olha tudo com desgosto e volta-se para a outra porta aberta, onde
tem uma cama de solteiro que possui três cubos de concreto dando lugar a um
dos pés, lhe sustentando. Ele se move lento, deixando minha mãe deitada,
que resmunga embriagada.
Solto o ar que prendia assim que ele deixa o quarto sem dizer nada. É
quase uma blasfêmia o ver em seu lindo terno caro em contraste com meu
apartamento caindo aos pedaços. Ando até a cama e cubro minha mãe com
uma manta. Ela me olha entre seus olhos semifechados, abrindo um pequeno
sorriso.
— Oi, amor. Mamãe já vai fazer café para você e o papai. — Seus
dedos caem antes de tocar minha face. Seguro a lágrima, beijando sua testa.
— Está tudo bem, mãe... Papai não chegou ainda — sussurro, vendo-a
balançar a cabeça. Ela se vira, voltando a dormir. Aliso seus cabelos e me
levanto.
Saio do quarto apagando a luz e ando lentamente até chegar à sala,
onde um sofá gasto pelo tempo tem uma manta de retalhos escondendo os
rasgados, a TV de 14 polegadas, antiga, ainda ligada apenas com seus
chuviscos. O grande homem está parado, com as mãos no bolso, olhando
tudo, e logo se volta para mim, de cara fechada.
Os gritos da vizinha do lado é tudo o que se pode ouvir, aumentando
mais ainda minha vergonha.
— Vá se fuder, seu viado de merda! — Logo a pancada na parede
pode ser ouvida, assim como o bebê chorando. Os gritos dela, com seu
marido, vão aumentando. Coço minha cabeça, tentando desviar meus olhos
dos seus, envergonhada.
— Obrigada, senhor — sussurro baixo, tentando não chorar.
Ele apenas balança sua cabeça em positivo, ficando mais sério ao
olhar para meu braço. O sangue dos arranhões profundos que minha mãe me
fez escorrem pelos meus dedos, coisa que eu nem tinha percebido ainda. Ele
atravessa a sala em passos firmes, tirando um lenço do bolso do seu terno
para limpar o local.
— Você tem álcool? — Sua voz é grossa e gelada a cada palavra que
sai dos seus lábios.
— Está tudo bem, senhor, não precisa. — Me afasto dele, puxando
meu pulso. — Só lavar com água. — Ainda estou perdida e olhando confusa
para ele. Por que ele entrou aqui? A vergonha pela situação da minha mãe me
faz me encolher duas vezes mais.
Esse homem nunca me pareceu tão grande como agora, ocupando um
bom espaço do apartamento, que parece um cubículo menor do que é. É
esmagadora a força da sua presença, que vai me engolindo. Tento passar por
ele, mas sinto suas mãos me rodeando no meio da sala, me surpreendendo
com um rápido bote. Seu corpo me pressiona, me colando à parede,
apertando meus braços atrás das minhas costas. Sinto sua respiração
acelerada por cima da minha cabeça, entrando em choque com o que ele
acabou de fazer.
— Me solta! — Minha voz sai assustada e nervosa. Quero me soltar,
enquanto seu peito bate mais forte colado em minhas costas, quando ele usa
as pernas para me imobilizar no lugar.
Empurro ele com a bunda, mas é como se ele nem sentisse. Sua mão
se ergue, colando minha face na parede, de lado, me empurrando com sua
virilha. Posso sentir seu pau roçando em minha bunda e simplesmente
congelo ao perceber que ele está ereto. Minhas pernas tentam chutar as suas e
tento afastar meu rosto da parede.
— Fique quieta ou vou te machucar. — Sua voz sai em um tom tão
bravo, rosnando contra meu rosto, que automaticamente meu corpo congela.
— Por favor, senhor, me solta. — Meu corpo não se move de tão
presa que ele me deixa à parede, quase nos ligando como se fôssemos um só
corpo. Estou escondida sobre seu grande tamanho.
Seus dedos erguem meus cabelos, os jogando para cima, logo sua
outra mão espalma em minha orelha, tocando minha pele.
— Hija de puta[19]! — Sua mão solta um grande soco na parede,
parando a centímetros do meu rosto. Ele se afasta, me largando com raiva.
Me viro, com minhas pernas tão moles quase desabando no chão se
não tivesse a parede para me sustentar. Ele aperta seus punhos ao lado do
corpo, xingando tão rápido quanto dona Zelda quando está com raiva.
Ele solta o ar, me olhando com fúria, e, em dois passos, sinto seus
dedos esmagando meu pescoço. Ele respira rápido, seus olhos brilham de
ódio, se dilatando mais ainda.
— Diecinueve[20] anos. — Ele deixa seus dentes à mostra, quase os
colando em meu rosto. Meus dedos se erguem, tentando soltar seu pulso da
minha garganta. — Diecinueve anos e dançando que nem uma puta para um
monte de hombres[21].
Foi um soco no meu estômago. Suas palavras... Por mais que ele
misture os idiomas, esmagando seus lábios com rancor, entendo que ele se
refere a mim como uma puta. Ele descobriu.
— Como... Como? — Não tinha como ele saber que sou eu, não tirei
a maldita máscara, nem a peruca, apenas depois de entrar no carro com Zack.
— Você esqueceu a tatuagem, Mikpό! — Ele se aproxima, rosnando.
— Zelda tem ideia de que sua pequena pupila faz um extra como puta?
Não sei o que me dá, se é o medo misturado ao desespero, ou a forma
como aqueles olhos me condenam, apenas solto um tapa forte no seu rosto, o
deixando todo vermelho quando meus dedos estralam em sua face. Ele aperta
mais meu pescoço, rosnando como um animal agressivo.
— Não lhe aconselho a fazer isso novamente, Mikpó. — Meu peito
sobe e desce com minha respiração acelerada, sendo acuada pelo grande leão
nervoso.
— Não sou uma puta! — falo, com minha voz estrangulada pelo
choro que ameaça chegar, o encarando.
— Então me explica o que estava fazendo em meu colo na noite
passada. — Seus dedos soltam minha garganta e ele dá um passo para trás.
Caio ao chão, segurando meu pescoço, tossindo com dor e olhando para ele.
— Eu não lhe devo satisfação, senhor. — Me levanto com meus olhos
vermelhos, esfregando as costas das minhas mãos neles, os limpando.
Ele me olha. Seus olhos ficam semicerrados, me condenando com sua
força implacável e seu olhar autoritário.
— Me dê um bom argumento para não ir direto para Zelda agora e
contar tudo a ela. — Fico em silêncio, com medo. Sinto cada batida do meu
coração como se fosse a última. — Você tem ideia de como pode acabar com
sua vida e perder toda a ajuda que ela lhe deu porque você quer brincar de
Uma linda mulher[22]?
Ele apenas balança a cabeça, indo para a saída. Meus passos correm
atrás dele, o puxo pelo braço em desespero, apertando seu pulso.
— Não faz isso... — Aperto mais meus dedos, o segurando,
implorando com medo para ele. — Por favor... não conta para dona Zelda. Eu
precisei. Por favor, eu precisei fazer aquele serviço.
— Você nem sabe o que fala, chica[23]. Não passa de uma criança
querendo brincar de mulher. — Solto seu braço, ouvindo suas palavras. Me
sinto humilhada. Só eu e Deus sabemos o tanto de coisas que já fiz por minha
família.
— Brincando? — Minha voz quebrada ri em agonia, olho para ele
com pura dor. — Acha que brinco quando deixo meus irmãos sozinhos com
minha mãe bêbada só para ter um monte de velhos nojentos de pau duro para
mim?
Seus passos param antes de atravessar a porta, ele vira seu rosto para
mim.
— Acha que brinco quando olho para os meus irmãos e não tenho
nem dinheiro para comprar uma simples bolacha? Ou quando cortam a luz e
eu tenho que brincar com eles para não terem medo?
Abro meus braços, mostrando tudo ao redor. Aponto cada canto velho e
deteriorado do apartamento esculhambado onde moro.
— Acha que vivo aqui por que brinco? Que tampo os ouvidos deles
quando tem briga de traficante, ou quando a polícia invade cada apartamento,
destruindo tudo atrás de algum flagrante, por que quero? — Meus braços se
abaixam, apertando meus punhos e esmagando meus dedos. — Suponho que
você não pode ver isso, não é? — Olho para ele com uma cólera que trago há
anos dentro de mim, vendo a cada dia uma maldita forma diferente da vida
me foder. — Não pode ver meus irmãos com fome, ou com medo e frio,
porque está ocupado demais em sua cobertura, com seu carro importado,
levando sua vidinha aristocrata, sendo um burguês de merda que não olha
para nada além de si mesmo, em cima de seu pedestal, olhando todos como
se fossem pulgas perto do grandioso deus.
Limpo meus olhos, que já estão nublados pelas lágrimas, soluçando
baixo. Ele me olha em silêncio com seus dedos dentro do bolso, sem desviar
seus olhos uma única vez dos meus.
— Então, sim! Eu estou brincando e o nome da minha brincadeira se
chama sobrevivência! — Meus dedos batem forte em meu peito. — E sim, eu
danço para um bando de homens, danço para matar a fome, o frio, para
poupar meus irmãos da dor, para tentar resgatar meu outro irmão jogado em
um orfanato! Danço no colo deles, danço no seu! — Meus dedos se erguem,
apontando para ele. — É apenas isso que faço! Se fosse puta tinha aceitado a
grana suja que você me ofereceu para me comer!
O olho com raiva, o vendo lá, intocável, nunca propenso a erros ou
falhas. Ele apenas fica em silêncio, sem falar nada.
— Não foi isso que você me ofertou quando deixou seu dinheiro na
sua perna para eu pegar, senhor? Foi por uma trepada com essa puta aqui.
Então não ouse me olhar com nojo e nem me julgar com seu terno caro e seu
Rolex[24] de ouro no pulso, porque, se for assim, você é mais sujo do que eu.
— Vejo seus olhos se estreitarem, desviando sua atenção de mim. — Quer ir
contar para dona Zelda, tudo bem... Faça como você quiser. — Abraço meu
corpo, desejando poder desabar ali mesmo. — É só olhar em volta, pior do
que já estou, não fico.
Ele se vira, saindo do apartamento e fechando a porta. Caio no chão,
tampando meus lábios. Tudo ao meu redor está desmoronando, estou sendo
sugada para cada dor que tenho presa dentro de mim e apenas choro
baixinho, sendo esmagada por tudo outra vez.
CAPÍTULO 04
A curiosidade de Deus
Sedrico
— Eu posso tentar pegar na agenda de Zelda, ela tem uma dentro da
sua bolsa, onde anota tudo, pois se pegar o celular dela, ela vai querer saber
para quê. — Deixo meus olhos perdidos para a grande vidraça do meu
escritório, observando os prédios altos com suas luzes espalhadas pela
cidade.
— Ficaria grato se pudesse fazer isso por mim, meu amigo.
— Sedrico, preciso me preocupar com seu súbito interesse pela babá
dos meus filhos? — A voz baixa do outro lado da linha solta o ar em
nervosismo.
— Não é nada demais, como lhe falei, é apenas para o que Zelda me
pediu. — Viro minha cadeira, deixando meu olhar repousar no dossiê aberto
em cima da minha mesa.
— Eu até poderia acreditar nisso se não tivesse me pedido para não
contar nada à minha esposa. — Sorrio ao ouvir sua baixa risada. — Vou
pedir para Bruce distrair ela e vejo onde ela deixou a bolsa. Assim que achar
o número da garota, já lhe passo.
— Muito obrigado, Tauro.
— Não me agradeça, apenas deixe meu nome fora disso se Zelda lhe
pegar. — Nós dois rimos ao som de medo que ele tem em sua voz. — Feliz
Natal, meu amigo.
— Para você também, dê lembrança a todos.
Desligo o telefone, o deixando sobre a mesa. Ergo a pequena foto em
meus dedos.
— Não pode ver meus irmãos com fome, ou com medo e frio, porque
está ocupado demais em sua cobertura, com seu carro importado, levando
sua vidinha aristocrata, sendo um burguês de merda que não olha para nada
além de si mesmo, em cima de seu pedestal, olhando todos como se fossem
pulgas perto do grandioso deus.
Ergo a foto mais à frente, olhando seu rosto pequeno, distraída,
atravessando a rua. Ela sorri para as três crianças que estão com ela. Ainda
me sinto intrigado com a pequena menina que me desafiou, com um lampejo
de brilho no olhar quebrado, despejando toda sua dor diretamente para mim.
Nesses meus trinta e sete anos nunca tinha me visto calado, apenas
observando alguém. Se fosse qualquer outra pessoa, não teria pensado duas
vezes antes de fazê-la se arrepender por cada palavra que saía da sua boca.
Mas ela me deixa curioso, como se um ímã me puxasse. Talvez a novidade
de ter sido enfrentado por alguém três vezes menor do que eu me fez querer
saber mais sobre ela. E, quanto mais descubro, mais envolvido fico. Me pego
olhando seus documentos, não me lembro quando foi a última vez que fiquei
pensando sobre alguém por tanto tempo.
Acho que nem na juventude fiz algo assim, vivendo entre os subúrbios
com apenas uma coisa em mente: sair daquela maldita vida miserável.
Amadureci rápido trabalhando na rua desde os nove anos para ajudar minha
mãe, uma mulher doente e fraca, porto-riquenha, que saiu de Porto Rico atrás
de uma vida melhor, indo trabalhar desde nova como copeira. Em um desvio
do destino, seu caminho se cruzou com Nico Lycaios, um empresário de um
dos ramos hoteleiros mais promissores da Grécia. O que minha mãe não sabia
era que Nico era casado e a deixaria apenas para ela se descobrir grávida três
dias depois da partida dele. Minha mãe nunca conseguiu ver ele em vida
depois disso, e por mim teria sido um presente se ele não tivesse voltado,
treze anos depois, atrás de mim.
Morei na rua dois anos depois da morte da minha mãe, fugindo de
cada coleta feita pelo juizado. Quando se tem fome, quando se tem frio, você
faz qualquer coisa. Era pequeno e passava por todos os tipos de lugares
estreitos, conseguia fazer um roubo em cinco minutos e ninguém sabia o que
tinha lhe acertado. Não até sentir falta. Nico me achou na detenção da polícia,
quando me pegaram em um assalto a uma joalheria. Lembro ainda hoje de
olhar para aquele homem sério, em seu terno, que me observava do outro
lado das grades.
— Filho meu não rouba, trabalha e ergue seu próprio império! Se lhe
pegar roubando outra vez, corto seus dedos!
Lycaios me levou com ele, de volta para a Grécia, onde fui criado
como o bastardo entre seus filhos. Dormindo afastado, junto com os
empregados, trabalhava para comer e para ele manter o teto sobre minha
cabeça, batendo cargas no porto aos quinze anos. Com dezoito anos, já estava
à frente dos seus negócios. Lycaios não tinha feito seu império apenas com
hotéis, sua rede de tráfico de joias e diamantes se estendia entre a Europa,
Ásia e América, e me mostrava sempre um jeito novo do seu mundo.
Nenhum dos filhos dele se misturava com seus negócios, mas o pequeno
ladrão tinha chamado a atenção dele. Trabalhei até os vinte e um anos junto a
ele, erguendo dinheiro suficiente para voltar para Chicago sem precisar ficar
mais sob os olhos do velho. Nico podia ser um filho da puta desgraçado,
fodendo cada passo da minha vida. Nunca me deixou esquecer que não
passaria de um bastardo e, uma coisa era certa, eu poderia me foder, mas
mostrava para ele que nunca precisaria de um centavo seu. A única coisa que
ele pode ter acertado é que um Lycaios não rouba, ele ergue seu império! E
ergui o meu entre os tráficos de esmeraldas e diamantes. A cada dia que me
erguia, um novo império eu criava, até chegar ao topo, onde todos nunca
acharam que um filho bastardo de uma copeira poderia chegar. Não precisava
mais das joias para me alavancar, tudo que tinha aprendido nesses anos que
passei ao lado de meu pai empenhava em meus hotéis, até me espalhar pelas
Américas. Uma coisa que rico gosta: tudo que é exclusivo para eles, e a cada
gosto maldito e prazer que Nico me ensinava, eu desejava por mais. O
controle, a dominação de cada coisa que tivesse à minha volta, o domínio por
tudo que olhava e desejava.
Abrindo as portas do submundo, onde não importava sua raça, se era
o magnata do petróleo, o maior traficante, um diplomata de uma subpotência,
o arcebispo ou a nova Madre Tereza, todos têm desejos e, se você trabalha
com o prazer dessa pessoa, você a tem na palma da mão. O filho da puta
arrogante que curte se vestir de mulher para ser chicoteado; a mulher que
nutre a vontade de ter mais de dois homens lhe fodendo; se curte ser
amarrado e ter seu cu fodido por uma mulher com consolo, foda-se, ninguém
liga! Cada canto da Odisseia foi feito exclusivamente para libertar e
proporcionar o maior bacanal que existe preso dentro da parte mais suja do
seu ser. Esse é o meu império, o desejo escondido dentro de cada um, lhe
dando a segurança e discrição para ser o que realmente é. Minha alma é tão
podre quanto metade das pessoas que entram aqui dentro. E nunca me calei
diante de ninguém, a não ser para a pequena criatura que me prendeu em seus
olhos negros e que agora me instiga mais, enquanto a olho tão solitária nessa
foto.
— Dom Sedrico. — Meus olhos se erguem para Devon, que entra
silencioso dentro do escritório.
— Como está indo a noite? — Solto a foto, fechando a pasta, e deixo
meu rosto parar na grande janela por onde observo a pista de dança do outro
lado, lotada.
— A casa está cheia, senhor. Nossos clientes gostaram do especial de
Natal que proporcionou para eles.
Movo minha cabeça calmamente, ficando de pé e caminhando para
perto da grande janela. Meus dedos, presos atrás das minhas costas, balançam
sem pressa. Passo meu olhar por cada canto que consigo ver da Odisseia
daqui de cima.
— Dom, consegui resolver o assunto que me pediu hoje cedo a
respeito da informação. — Viro meu rosto para ele, confirmando com a
cabeça. — Vai precisar de alguma ajuda com isso?
Solto meus dedos, trazendo meus braços para a frente, e olho o
pequeno vermelhão em meu punho.
— Creio que a mensagem foi compreendida, Devon. — O som do
bipe do meu celular toca em cima da mesa e caminho para lá, o erguendo.
A mensagem de Tauro mostra um número de celular, o dela, junto
com as pequenas palavras: Não me fode!
Guardo o celular no bolso, olhando a hora em meu pulso. Já são
00h45. Pego as chaves do carro.
— Devon, avise ao chefe Luvie que irei jantar em seu restaurante,
gostaria de exclusividade.
— Sim, Dom. — O som da sua voz fica para trás, enquanto atravesso
a porta, deixando a música me acertar.
Vejo todos que dançam na pista com seus corpos colados ao som de
Dear Enemy, do Night Club. As mulheres nos palcos, que são expostas com
suas roupas de silicone vermelhas coladas ao corpo, deixando seus rostos
tampados, com apenas a boca de fora, se esticam sobre as barras de ferro,
dançando junto com o público, se misturando às fumaças das pistas, que se
dissipam no ar. Meus passos cortam pela boate, passando pelos corredores
acarpetados em negro com luzes vermelhas. Os quartos daqui, com paredes
de vidro, têm cada um a sua lâmpada, com uma luz verde ligada, mostrando
que estão ocupados por clientes. Os que preferem privacidade vão para as
saletas do fundo, com vidros falsos para a pista, deixando quem está do lado
de fora com a ilusão de que é apenas um espelho. Os que desfrutam de um
voyeurismo[25] ficam nesse corredor, observando os casais que gostam de
serem assistidos. Paro diante de uma das janelas, atento ao homem praticando
andromimetofilia[26], sentado no sofá segurando suas pernas para cima
enquanto a mulher o fode como se fosse o macho alfa da relação. Apenas
mais uma noite normal da Odisseia.
A Odisseia abriga qualquer tipo de merda que você pode ter: é um
travestismo[27]? Ótimo, aqui tem uma sala feita só para você com todos os
tipos de roupas de mulheres, ninguém vai te julgar. É chegado em
autonepiofilia[28]? Tenho a melhor babá para trocar sua fralda e cuidar de
você como se fosse um pequeno fodido bebê pervertido. Se seu caso é visual,
tenho o melhor cinema para alimentar sua pictofilia[29], desde fotos a vídeos
mais sacanas e de todos os gostos para se masturbar.
Se prefere o sexo oral em desconhecido, a sala dos somnofilia[30] está
aberta 24h por dia. Mas, se o caso é gerontofilia[31], arrumo um velho em
cinco segundos para você trepar em seu pau murcho. Olfatofilia[32],
coprofilia[33], acrotomofilia[34], sadomasoquismo[35], sádico[36], masoquista[37],
asfixiofilia[38], autoasesinofilia[39] e simforofilia[40] ou qualquer outra porra de
parafelia[41] escrota incubada que tenha, eu posso lhe saciar. A Odisseia lhe
garante a melhor experiência, a qual você sempre volta querendo mais,
liberando toda a depravação que existe dentro de você.
Sorrio, saindo de lá, vendo meus clientes satisfeitos. Caminho para o
estacionamento do subsolo, meus olhos observam a tela do celular quando o
retiro do bolso, parando perto do carro. Adiciono o número à lista de
contatos, busco no aplicativo de mensagens o pequeno rosto risonho sentado
em um balanço, segurando as correntes. Sorri para a foto tão livre e inocente.
Acerta precisamente meu maldito ponto fraco: uma doce e perfeita sugar
baby[42].
Luna
Luna
O problema de fazer um pacto com o diabo é que o arrependimento
não vem na hora que você está na merda e aceita o que ele lhe oferece, mas,
sim, depois, quando ele cobra. E é exatamente assim que me sinto vendo o
intermediário do diabo parado na minha porta, sorrindo para mim, logo pela
manhã.
— Senhorita Delis. — Ele sorri, esticando seus dedos, enquanto me
encolho mais ainda, olhando para seu rosto. — Sou Devon, funcionário de
Dom Lycaios.
— Bom dia. — Ele aperta minha mão levemente, logo soltando-a. —
Quer entrar?
Dou um passo para o lado, esperando que ele passe, porém seu corpo
continua parado na entrada do apartamento.
— Preciso lhe passar algumas informações. Trouxe esses documentos
que precisam ser avaliados e precisam de certa discrição.
Olho para os papéis que ele estica para mim, soltando um baixo
suspiro e entendendo sua mensagem.
— Minha mãe foi comprar cigarro e meus irmãos estão lá embaixo,
brincando. Então temos alguns minutos sozinhos. — Me viro, caminhando
para a cozinha. Olho os papéis e os deixo sobre a mesa, me virando para ele.
— Gostaria de uma xícara de café?
— Ficaria agradecido, senhorita. — Ele entra no apartamento,
fechando a porta. É um homem estranho, de estatura baixa, com seu terno
engomado, quase me lembrando um pinguim gordinho. Pego duas xícaras do
armário, abrindo a garrafa de café e as enchendo. Deposito na mesa e lhe
aponto a cadeira.
Vejo seus olhos passarem por cada canto, que nem perdem muito
tempo em meu pequeno apartamento. Ele se volta educado, puxando a
cadeira que lhe mostrei e se senta.
— Então você é o cara que vem coletar as almas para o demônio? —
Ele se engasga com o café, olhando para mim com seus olhos brilhantes e
segurando a risada. Seus dedos passam por trás da sua orelha, como se
estivesse a tampando, rindo mais para mim.
— De fato, apropriado para essa ocasião. — Sorrio com sua voz de
deboche cochichando para mim, como se não estivéssemos apenas nós dois
ali.
Abaixando meu olhar para os papéis, vejo a grande lista interminável
que só vai aumentando.
— Deus, ele quer que eu faça o quê? Que assine aqui com o meu
sangue para ele ter mais poder ainda?
Afasto para longe de mim aqueles papéis, olhando com desgosto para
o pobre homem que me encara.
— Creio que é mais para lhe deixar a par do que tem em mente. Dom
gosta de deixar seus assuntos de interesse esclarecidos.
— Por que chama ele assim? — O vejo esboçar um pequeno sorriso,
como se estivesse pronto para explicar algo confuso a uma criança.
— Veja, senhorita Delis. Todos nós usamos as regras da cortesia
comum: “senhor” e “senhora”, que são maneiras simplesmente respeitosas de
se dirigir a qualquer pessoa. — Devon é um estranho homem, com sua
maneira formal e fala educada. — Na Odisseia, tratamos nossos senhores
formalmente como Mestre[47] ou Dom. Depende do nível de dominação dele.
— E devo deduzir que senhor Lycaios se enquadra em Dom.
— Exatamente. — Solto o ar, olhando perdida para o peculiar homem
sentado em minha cadeira velha, com sua atenção calma me observando. Não
tenho como não me sentir perdida nesse mundo ao qual Lycaios me prendeu.
— Tomei a liberdade de fazer alguns levantamentos de universidades que lhe
possam interessar e já deixei junto. Alguns compromissos já podem ser
iniciados amanhã.
— Compromissos? — O olho sem entender, puxando os papéis de
volta. O único compromisso que tenho para amanhã é dobrar e guardar toda a
roupa que lavei hoje.
— Sim, às 10h o motorista vem lhe buscar para ir ao salão. Garanto-
lhe que temos os contatos das melhores esteticistas, que ficam à disposição de
Dom Lycaios.
Seguro o riso para a preocupação dele. Eu mesma tiro minha
sobrancelha para não gastar. A única vez que entrei em um salão foi na
esquina de baixo, para fazer faxina. Olho as letras que vão dispondo cada
horário, como se fosse uma obrigação.
Salão às 10h.
Depiladora às 11h20.
Almoço no bistrô às 12h30.
Ateliê Lady Clo às 14h.
Lanche da tarde às 15h30.
E por aí desanda mais ainda minha vida em uma lista longa, onde se
vê dentista, ginecologista, pilates, academia, aula de preparação física, aula
de proteção pessoal, aula de etiqueta e todas as merdas egocêntricas que
saíram apenas de uma única cabeça.
— A hora do cochilo devo presumir que será em intervalos
secundários depois do lanchinho da tarde? — Ergo meu olhar para o homem,
que fica com suas bochechas vermelhas, rindo mais ainda.
— Acho que conseguiremos um encaixe, se for da sua escolha. — Ele
se move, puxando sua maleta e retirando uma caixa lá de dentro.
— Fico aliviada de saber que ainda tenho uma escolha. — Vejo a
caixa, que é marrom, sendo empurrada para mim, ele sorri, mostrando-a.
— Dom Lycaios lhe mandou um presente. Fica a seu critério, se
preferir outro modelo, posso trocar. — Abro a caixa, olhando o celular de
última geração, com a tela brilhando. Ele é tão fino que tenho até medo de
parti-lo por apenas pegá-lo em meus dedos.
— Diga obrigada, mas que não posso ficar. — Empurro a caixa de
volta para o pequeno homem, que apenas empurra para mim outra vez.
— Faz parte do acordo, terá que aceitar, senhorita. — Fechando sua
maleta, ele sorri. Ergue a xícara em seus dedos e toma o café.
Vejo a tela que se acende junto com uma mensagem. Se não tivesse
sentada, cairia no chão com a audácia desse filho da puta.
Sugar Daddy: Bom dia, Mikpó.
— Ele está de brincadeira! — Ergo minha cabeça para o homem que
faz de conta que não vê minha raiva.
— Preciso que me passe o horário que gostaria que o motorista venha
lhe buscar na noite da virada do ano.
Meus lábios se comprimem comigo ainda revoltada, olhando para a
mensagem com o nome que ele cadastrou na merda do celular.
— Diga ao seu papai açucarado que lhe avisei que não passaria o
Ano-Novo com ele, e sim com minha família.
Antes que o homem possa falar alguma coisa, a porta do apartamento
é aberta por minha mãe, que fica olhando-o assustada por um momento. Ela
desvia seu olhar dele para mim e ainda sinto dor ao olhar para ela, mas não
tenho estômago para lhe dizer que sei a verdade.
— Mãe, esse é o senhor Devon, ele é funcionário do amigo dos meus
patrões e está me ajudando com a faculdade.
— Bom dia, senhora. — O pequeno homem se levanta rapidamente,
estendendo o braço para ela, que olha ainda por um tempo para sua mão.
— Mãe. — Minha voz sai baixa, sabendo que ela está a um passo de
não apertar a mão do homem.
— Bom dia. — Ela estica seu braço, ainda com seus olhos presos aos
meus.
Puxo todos os papéis de cima da mesa, pegando a caixa com o
aparelho e vejo seus olhos ficando parados nela.
— O que é isso?
— Um aparelho para ajudá-la com os estudos, senhora. — Devon é
mais rápido do que eu, me dando um olhar compreensivo ao ver meu
nervosismo. — Como hoje em dia tudo é tão tecnológico, será necessário
para sua filha.
— Mas um celular?
— A bolsa lhe garante isso. Todas as necessidades da senhorita Delis
serão supridas. — Olho para Devon falando daquela forma e é quase como se
ele estivesse ditando as palavras de outra pessoa tão arrogante que conheço.
— Quem é ele? — O som das crianças entrando dentro do
apartamento me faz levantar, indo para elas, que já rodeiam o coitado do
homem, como se fosse a maior novidade.
— Olá. — Ele aumenta seu sorriso, olhando a escada que tem à sua
frente. — Devo presumir que são Will, senhorita Lola e lady Rana.
— Ele me chamou de lady. — Rana me olha com um sorriso bobo,
passando as mãos em seu rosto. Sorrio mais ainda com o lindo semblante que
ela fica.
— Você ainda é Rana melequenta... — diz meu irmão. Ela lhe soca o
braço, o fazendo morder a boca.
— Will, respeita sua irmã e, Rana, não bata nele. — Puxo os três,
sorrindo com calma para o pequeno homem que olha as crianças.
— Senhorita Delis, fico ao seu aguardo amanhã com as
documentações necessárias para a faculdade. — Ele me dá um olhar calmo de
compreensão, olhando para minha mãe, que está do outro lado da sala, me
olhando nervosa.
— Claro... Pode deixar, amanhã estarei lá — sussurro, apertando os
papéis, junto a caixa, em meus dedos. — Vão se limpar, crianças, andem.
— Nosso convite para a festa de final de ano ainda estará de pé se
mudar de ideia. — Ele pega sua maleta e se encaminha para a porta.
Solto o ar lentamente, balançando minha cabeça em negativo para ele,
o acompanhando até a porta. Ele sorri com cordialidade, sumindo no corredor
estreito.
— Por que não vai para a festa? — Rana está atrás de mim, me
encarando como se eu estivesse louca.
— Porque não! Agora vá se limpar, preciso de ajuda com o almoço,
ok? — Ela se afasta, bufando e resmungando, como toda adolescente
rabugenta, me deixando sozinha com minha mãe. Seus olhos param na caixa
em meus dedos e depois em mim.
— Por que esse homem lhe deu um celular?
— Por causa da faculdade, mãe, ele lhe explicou. — Meus dedos se
erguem, esfregando minha nuca. Meu coração dói ainda mais toda vez que a
olho nos olhos.
— Luna, essas pessoas não fazem nada de graça. — Ergo meu olhar
para o seu, com ela andando lentamente para mim, parando à minha frente.
— Eles vão querer algo em troca.
Antes de seus dedos se erguerem, dou dois passos para trás, desviando
do seu toque.
— Acho que ninguém faz nada de graça nessa vida, mãe, todos temos
um preço. — Vejo seus olhos se apertando, com ela segurando seus dedos
perto do peito.
— Luna, o que aconteceu?
Você me traiu. É isso que quero gritar, quero lhe dizer que ainda estou
com o coração sangrando com a facada que ela me deu, que provavelmente
ela devia estar tão bêbada que nem se lembra de ter usado sua filha como
moeda de troca para um filho da puta qualquer. E já sei tudo que viria logo
após jogar a verdade na sua cara: o choro quebrado, os pedidos de perdão, as
juras falsas de que nunca mais irá beber, que irá mudar, os olhos das crianças
assustadas com medo, vendo-a outra vez ser fraca... Já conheço de cor aquela
cena que sempre se repete e, toda vez que acho que ela nunca irá fazer uma
merda maior, ela sempre me surpreende, se superando. Estou cansada
demais, magoada demais, vazia demais para ser forte por ela outra vez.
Desvio meu rosto do seu, sentindo meus olhos arderem.
— Eu preciso ver uma coisa lá fora, já volto. — A porta bate atrás de
mim quando as lágrimas começam a descer pela minha face. O mais longe
que vou é a quarta escadaria, me sentando nela, olhando perdida para minhas
mãos tão calejadas, com meus pulsos cheios de cicatrizes.
O papel em meus dedos me deixa saber que tudo mudará.
— Eu serei sua puta?
Ouço o som baixo da respiração pesada, quando seu corpo se vira
para mim ao desligar o carro na frente do meu prédio.
— Esse termo está proibido para você, Luna. — Abraço minhas
pernas, deixando meu queixo descansar em meus joelhos, perdida na luz do
painel.
— Mas não é isso que uma mulher se torna a partir do momento que
um homem paga por ela? — Minha voz abafada sai entre um suspiro, com
meus olhos secos e ardendo, não contendo mais nenhuma lágrima para
chorar.
Me sinto anestesiada, tragada para dentro de tudo aquilo, deixando
apenas as consequências irem me acertando. Eu jamais conseguirei pagar o
valor da quantia que o senhor Lycaios pagou por mim. Se vendesse meus
órgãos, ainda assim ficaria em débito com ele.
— Nossa relação é baseada em um acordo, Mikpó. — Ele tem seus
olhos parados à frente, com seus dedos presos ao volante. — Como seu sugar
daddy, estarei tomando controle de tudo, Luna, de todas as decisões do seu
futuro, lhe proporcionando oportunidades, cuidando da sua saúde, sua
formação, seus sonhos e desejos. Minha prioridade é suprir cada ponto da
sua vida.
— Por que faz isso? — Estou perdida, me sentindo angustiada com
tudo que mudará em minha vida.
— Porque eu tenho dinheiro. — Seu rosto se vira para mim, com seus
olhos brilhantes me queimando como uma brasa quente. — Não paguei por
uma noite, eu paguei pelo seu destino, Mikpó.
— Mais terá um preço, não é? Tudo isso será cobrado. — Desvio
meus olhos dos seus, sentindo-me tão vazia e sem chão.
— Sim! Vou cuidar de você, da sua saúde, lhe comprarei roupas
novas, abrirei uma conta a qual terá acesso a uma quantia disponibilizada a
você, para gastar como achar necessário, pode ser com sua família ou você,
um carro, o que desejar. Estarei lhe bancando. Apenas precisa me dizer o
que deseja além do que eu achar necessário para você e terá.
— Meu irmão? — Viro meu rosto para ele, o vendo no mesmo lugar,
me encarando. Ele solta seus dedos do volante, esticando-os para mim. Os
dedos grandes e frios alisam meu rosto, levando uma mecha para trás da
minha orelha.
— Se é seu desejo, terá, Mikpó. — Solto minha perna, deixando elas
saírem do banco, esticando-as no assoalho.
— Você sabia que o juiz não iria devolver a guardar dele. — Sinto
meu peito ir sangrando mais a cada palavra. — Mesmo com a ajuda da dona
Zelda, o novo serviço, trocando de casa, ainda assim ele pode recusar.
— Sim! Bruce me deixou por dentro. O alcoolismo da sua mãe vai lhe
impedir isso. — Devo odiar ele pela forma tão dura e crua como fala, mas a
verdade é que, de alguma forma, Sedrico tem sido a única coisa verdadeira
que entrou na minha vida, sem rodeios ou mentiras. É a mais pura e crua
verdade, sendo ela amarga ou não.
— Vai poder me ajudar?
— Se você aceitar, vou — ele responde rápido, sem me deixar
quebrar o contato com seus olhos.
— E qual vai ser seu preço, senhor? — Seu peito arfa lentamente,
estufando-o mais para frente. Ele volta seus dedos para o volante. Vejo seus
nervos se apertando em volta deles.
— Sua companhia, Mikpó. — O som da sua voz é tão dominante
quanto seu olhar, me sugando mais ainda para ele. — Nossa relação será
baseada em meu controle total, com todas as decisões do que é melhor para
você. Terei conhecimento de cada passo seu, não pode deixar de me atender
toda vez que te ligar. Sempre que desejar lhe ver, terá que ir. Não será uma
puta, uma sugar baby é mais do que isso, ela é obediente e deve respeito ao
seu sugar daddy.
— Eu nunca vou te chamar por esse nome. — Ouço o som da sua
risada forte se espalhar pelo carro, com ele me olhando em divertimento.
Meus olhos se apertam, soltando o cinto de segurança. Levo meus
dedos à porta do carro.
— Meus irmãos! — Paro meu movimento, virando meu rosto para ele.
— Eles vêm acima de qualquer pessoa na minha vida, senhor. Se um deles
precisar de mim, se eu estiver fazendo algo com eles, não os renuncio.
Ele balança a cabeça em positivo, erguendo seus dedos outra vez
para meu rosto. Sinto o poder que emana dele com o pequeno toque. Estou
presa na grande armadilha que o esperto leão me deixou. Sei que, sem ele,
Cadu nunca voltará para casa. Passei tanto tempo sendo forte o tempo todo,
segurando tudo em meus ombros, apenas desejando fechar meus olhos para
nunca mais acordar. Não compreendo ainda o porquê, por que eu, o que ele
vê que eu não vejo? O que poderia o levar a querer ter uma relação
distorcida com uma pessoa tão fodida quanto eu?
— Não disse sobre os outros termos, senhor. — Sinto meu rosto
queimando em vergonha. Movo meus dedos entre eu e ele, sem coragem para
lhe dizer as palavras, mas sei que isso estará no acordo.
— Quero sua companhia, Luna, esses são os termos. Apenas uma
regra! — Espalma sua grande mão em meu rosto com mais força, com suas
íris dilatadas. — Não divido nada que tomo como meu. — Seus dentes se
cerram, deixando apenas o vislumbre do verdadeiro homem que se esconde
por trás de todos seus egocentrismos. — Independente se te quero apenas
para conversar ou passar o tempo em silêncio. Temos um acordo, Mikpó?
— Não é como se tivesse muita escolha, senhor — sussurro baixo,
abrindo a porta do carro.
— Gostaria que passasse a entrada do ano comigo. — Olho-o por
alguns segundos, perdendo minha respiração.
— Isso é um pedido ou uma ordem do homem que me comprou? —
Vejo-o esmagando seus lábios, balançando a cabeça em negativo.
— É um convite, Mikpó.
— Obrigada pelo convite, senhor Lycaios, mas o recuso. Sempre
passo as festas com meus irmãos.
Não fico, não consigo mais estar aqui, preciso me afastar da
intensidade que tem em seu olhar e descobrir como será de agora em diante.
E, antes mesmo de atravessar a rua, eu sei que não tem como voltar atrás...
Sedrico
Luna
— Você não vai? — Rana olha para a grande caixa que o motorista de
Sedrico deixou na minha porta.
— Eu vou ficar com vocês! — A fecho outra vez, levando para
debaixo da cama. — Todo ano fico com vocês, esse ano não será diferente.
— Qual é, Lu? — Ela volta, caminhando atrás de mim, assim que saio
do quarto. Não vou sair de casa em pleno Ano-Novo para adoçar o ego de
Lycaios.
Já tem quatro dias que não o vejo, e isso me deixa feliz e angustiada, é
um misto de sentimentos que não sei explicar. O problema de pessoas como
ele é nunca saberem lidar com um não, ainda posso ouvir o som do motor do
seu carro saindo da frente do prédio quando lhe falei, pela terceira vez, que
não vou. Ela anda para a janela, olhando o carro preto parado do outro lado
da rua há mais de quatro horas. Vira seu rosto esperançoso para mim.
— Já é quase 23h, ainda dá tempo.
— Rana, eu não vou. — Me sento ao sofá, ligando a pequena TV.
Tento dar um ponto final nessa conversa, com a qual ela vem me enchendo
desde o momento que aquela caixa chegou.
— Lu, pelo amor de Deus! Olha aquela roupa lá dentro, eu nunca vi
algo tão lindo, e o coitado do rapaz está lá fora até agora. Se fosse eu, já
estava lá faz tempo.
Viro meu rosto para ela, com raiva, balançando minha cabeça.
Arrancaria seus cabelos antes dela entrar no clube de Sedrico.
— Com toda certeza você não iria estar lá. Vou passar o Ano-Novo
em casa, eu disse que não ia! E não vou, Rana!
Ela tenta abrir sua boca, mas ergo meu dedo, lhe calando. Tento
prestar atenção em alguma coisa que aparece na TV, mas outra vez não tem
nada de bom.
— Quer saber? Quer ficar aí sentada com essa roupa rasgada
passando todo seu Ano-Novo como sempre passa, tudo bem! A mãe está lá
dentro, apagada com as garrafas que virou. As crianças tão dormindo e eu
estou indo me deitar também. — Meu rosto se vira, olhando para ela, que está
magoada. — Me disse que nosso ano ia ser diferente, mas você vai continuar
a mesma. Sentada no sofá, comendo pipoca e engordando a bunda, em vez de
estar vestindo aquela roupa e saindo para fora desse lugar.
Vejo-a sumir pelo corredor, me deixando lá, olhando com amargura
para o pote de pipoca. Meus dedos puxam o celular do bolso do agasalho,
olhando a tela escura sem entender que o fato dele não ter me mandado uma
mensagem sequer nesses três dias está me deixando incomodada. Solto ele
outra vez, levando-o ao bolso, caminho para a janela, o carro preto ainda está
no mesmo lugar. Sinto meus braços apertados em volta do meu corpo,
deixando meu rosto encostar na janela. Eu queria poder matar aquele homem.
— Droga de boca grande, Rana!
Saio de lá entrando no quarto outra vez, retiro a caixa debaixo da cama,
cutuco as costas de Rana, virada, sabendo que ela não dormiu ainda, ninguém
dorme tão rápido assim.
— Anda, vem me ajudar, sei que não está dormindo!
Ela se vira na mesma hora, rindo para mim e pulando da cama. Pega
seu pequeno estojo de maquiagem, que eu tinha lhe dado. Caminho para fora
do quarto, voltando para a sala e deixando a caixa sobre o sofá.
— Eu só vou lá e volto assim que der meia-noite. — Viro meu rosto
para ela, quando para ao meu lado.
— Meu Deus, nem foi ainda e já está pensando na hora que vai voltar!
— Ela abre a caixa, olhando com um sorriso, e, quanto mais eu a olho, mais
eu sei que não devia sair. — Toma um banho rápido enquanto tento ver como
é isso aqui. — Seus dedos puxam a delicada sandália, que está ao canto,
olhando-a com seus olhos brilhando de alegria.
Coço minha cabeça, ainda mirando perdida aquela roupa totalmente
branca.
Sedrico
Luna
— Mais uma vez, Luna! — Sinto o suor escorrendo pelo meu rosto.
Olho para o treinador, que me força a continuar cada golpe que ele já
me passou.
— A gente não pode parar por hoje? — Meu corpo reclama a cada
movimento que faço para me endireitar.
— Mais uma vez. Está desligada hoje, preciso que tenha foco. — Ele
avança para mim, me pegando de surpresa e passando a mão pelo meu
ombro. Engancha seu braço em meu pescoço, como se estivesse investindo
em um beijo. Meu braço se ergue por trás, girando minha mão, parando em
seu queixo e empurrando para retaguarda dele. Forço mais, tirando seu
equilíbrio. Apenas levanto meu outro braço, com meus dedos colados
batendo na lateral da sua garganta, o fazendo me soltar. Mas me perco
quando ele engancha em minha perna, me arrastando para o tatame.
— Droga! — Solto minhas mãos, batendo ao lado do meu corpo, me
sentindo frustrada. Logo a cabeça de Hugo paira sobre mim, com um sorriso
de deboche.
— Acho que na próxima aula você vai estar melhor! — Ele estica seu
braço, oferecendo sua mão para mim e sorrindo com calma. Aperto seus
dedos, o deixando me puxar.
— Eu não vou poder vir amanhã. — Atravesso o tatame, parando
perto da bolsa, de onde puxo uma toalha. — Vou me mudar, na verdade, não
sei como vão ficar nossos horários.
— Apenas não se esqueça de treinar a sequência, até conseguir
remanejar seus horários.
Eu queria poder dizer para ele que não sou mais dona dos meus
horários, mas guardo meus pensamentos para mim. Solto todo o peso dos
meus ombros, ainda sonolenta por ter tido que acordar tão cedo.
— Seu gancho está bom e, para uma pessoa como você, seu preparo
não está ruim. Não desanima.
— Está querendo dizer sedentária, não é? — Ele ri, balançando a
cabeça.
Conheci Hugo três dias depois do réveillon, ele foi escolhido por
Sedrico para ser meu professor de defesa pessoal.
O novo motorista que Devon me apresentou, foi o responsável por me
trazer para a minha primeira aula de defesa pessoal. Não sei o que aconteceu
com o antigo, Devon apenas disse que ele foi despedido, mas não entrou em
detalhes. Confesso que não me senti terrivelmente triste pelo fato de acordar
cedo, mas sim chegar até o carro e ver apenas Devon lá dentro. Pelos vinte
dias que se seguiram após a festa, o motorista ia todo santo dia na porta
daquele prédio decadente, às 6h30 da manhã, chamando mais e mais atenção
de todos os vizinhos. O veículo sempre estava quase vazio. Apenas eu, ele e a
mochila de roupa que ele trazia, pois todas as peças de roupas que o senhor
Lycaios tinha comprado foram levadas para a sua residência, foi melhor
assim, pois não iria precisar dar satisfação para minha mãe quando chegasse
com elas em nosso apartamento. Não vi Dom desde a madrugada do dia um,
quando ele me deixou na entrada de casa sem olhar para mim, e eu ainda não
entendia o que tinha feito de errado, mas o senhor Lycaios apenas se excluía,
mandando poucas mensagens, com palavras rápidas e diretas.
Meus dedos se erguem, apertando mais o rabo de cavalo, que segura
meus cabelos. Olho para o lado de fora e vejo a Mercedes preta que me
aguarda para me levar para casa.
— Luna. — Viro meu rosto para Hugo, que me passa uma garrafa de
água, com seus olhos ainda fixos em meu rosto. — Quer conversar? — Ele
aponta para o meu rosto, me fazendo balançar a cabeça em negativo,
encolhendo meus ombros.
O pequeno corte que tentei disfarçar sobre meu supercílio funcionou
com o capuz do agasalho, passando despercebido pelo motorista, mas Hugo
notou logo de cara, assim que entrei no tatame.
— Eu sou muito desastrada e acabei caindo. — Pego o agasalho,
abrindo seu zíper e passando pelos meus braços.
Ele sabe que minto, mas acho que, por educação, prefere acreditar.
— Esse lugar é sempre tão vazio assim? — Tento puxar outro
assunto, quebrando o silêncio assustador que está começando. — Toda vez
que venho nunca tem mais alunos.
— Na verdade, eu só abro a academia depois das suas aulas.
Balanço a cabeça, compreendendo o que ele está querendo dizer. Ergo
a mochila, levando-a para meus ombros.
— Exclusividade. — No fundo, eu já sabia que era isso, apenas
preferia ser tola em acreditar que era apenas por causa do começo do ano.
— Sabe como é, ele consegue ser bem convincente.
— É, eu sei... — Me sento no banco, arrumando o cadarço do tênis.
Olho perdida para o calçado. — Você o conhece há muito tempo?
— Acho que já tem uns dez anos que treino com Sedrico. — Me
levanto, olhando para fora, ainda odiando aquele carro por estar lá. Minha
cabeça tomba para a direção dos corredores dos banheiros, onde sei que tem
uma porta que dá para outra rua.
— Se incomoda se eu usar o banheiro antes de ir? — Seu corpo, que
está de costas arrumando os aparelhos de musculação, deixa apenas a cabeça
se virar, rindo para mim.
— Claro que pode.
— Obrigada, Hugo. — Sorrio para ele, desviando meu caminho da
porta da frente para os corredores.
Ainda dou uma olhada por cima do ombro, para ver se ele ainda está
de costas, e, assim que confirmo, acelero meus passos para a porta da saída
de emergência.
Sentindo o vento gelado me acertar, fazendo meu peito se estufar a
cada lufada de ar que inalo, ando entre o beco de trás da academia, vendo o
carro na frente dela, com o motorista ainda lá dentro. Ergo o capuz, o jogando
sobre minha cabeça, e atravesso a rua, indo para a direção oposta dele.
Apenas corro, deixando meus pés me levarem para o mais longe que posso de
qualquer coisa ligada a Lycaios. Sinto a respiração ir aumentando, a legging
que se estica em meu corpo, as lágrimas que começam a arder, meu pulmão
que entra em chamas, como se estivesse cheio de gasolina. Sinto tudo me
tomando. Desvio das pessoas à minha frente, sem conseguir parar os meus
pés, sentindo cada vez mais o vento ir batendo forte em minha face, como a
vadia da minha vida, que me fode sempre que pode. E apenas paro, soltando
todo o peso do meu mundo, dez quadras à frente, diante das grades negras do
prédio sem vida, com suas cores escuras, apertando meus dedos entre as
barras, olhando, como se em algum momento aquelas portas fossem se abrir e
me deixariam pelo menos ver seu pequeno rosto.
Meu irmão está sob a custódia do Estado, o que diz que ele entrará
para adoção. Passei a noite toda chorando, abraçada às suas roupas, as quais
não sei se um dia voltarei a vê-lo usando. Não sei se um dia eles me deixarão
vê-lo novamente. Minha cabeça se encosta nas barras, esmagando meus
dedos mais ainda nelas, olhando para cada canto do orfanato, esperando que
ele possa aparecer.
— Droga, droga... Droga! — Meus dedos se soltam, batendo com
força na grade, deixando toda a dor ir saindo a cada lembrança que
compartilhamos juntos. Seus olhos brilhosos e risonhos, que apenas vejo nas
fotos sobre a estante da sala... Os carrinhos que tinha juntado dinheiro para
lhe dar de presente, deixados de lado, tão solitários quanto eu, sem seu dono.
— Droga... DROGA!!!
Sinto as primeiras gostas de chuva acertando meu rosto, enquanto se
misturam com minhas lágrimas, e vou desabando mais e mais. Quero rasgar
meu peito, tirar essa maldita dor que vai me consumindo. Eu tinha lutado,
abdicado cada segundo da minha vida por eles, e o tinha perdido. Deixo o
esgotamento ir me puxando para o colapso que abre seus braços para mim,
dobrando meus joelhos, definhando a cada passo antes deles se encostarem
ao chão. O soluço corta minha garganta, como um grito de ajuda, para me
tirar dessa dor. Ainda posso ouvir a voz do senhor Bruce ao telefone, quando
dona Zelda me ligou, avisando que tinha chegado de viagem, para confirmar
a mudança.
— O juiz recusou o pedido, Luna. O advogado está tentando entrar
com uma nova petição, para segurar a guarda. — Vou sentindo todo meu
mundo ir desmoronando, enquanto me sento na escadaria suja do meu
prédio.
Minha mão aperta meu rosto, abafando o grito de dor que sinto, com
as lágrimas escorrendo entre meus dedos. Volto para o apartamento apenas
depois de ter certeza de que conseguirei esconder das crianças.
Vejo Rana sentada no sofá, brincando com Lola e Will, de caça-
palavras. Ainda bem que já dei a janta para eles antes da ligação da dona
Zelda. Passo reto por eles, indo para o banheiro, lavar meu rosto. Ao sair,
vejo o quarto vazio da minha mãe e volto para a sala. Estico meus olhos
para a cozinha, vazia também.
— Cadê a mãe? — Rana olha para mim, sem entender.
— Ela saiu, não passou por você?
— Não, eu estava lá na escada, teria visto ela passar.
— Ela estava lá nos quartos, daí passou rápido dizendo que ia
comprar cigarro. Deve ter saído pela outra escadaria, a de trás.
Fico em silêncio por um tempo. Minha mãe não tem dinheiro. Não dei
grana nenhuma para ela, e sei que o dono do bar não irá lhe vender nada até
ela pagar o que deve para ele.
— A mãe estava em qual quarto, Rana?
— No nosso. Por quê? — Corro para lá, sentindo as batidas do meu
coração se acelerando. Não... Não... Você não fez isso!!!
Meus dedos batem na parede, procurando pelo tijolo oco, o puxando
assim que o encontro. O reviro, sem nada cair dele. Minhas economias, que
estavam lá dentro, foram levadas. Solto o tijolo com raiva, apertando meus
braços em volta do meu corpo. Viro meus calcanhares para a saída, sentindo
tanta dor pela forma que ela age.
— Eu já venho, Rana. Tranca a porta!
Puxo meu casaco, passando pelos meus braços, correndo pelo
corredor. Olho a segunda escadaria que ela deve ter passado para desviar
de mim, a descendo o mais rápido que posso. Eu conheço o caminho que ela
faz tão bem como a palma da minha mão. Quantas vezes tive que ir buscá-la
na porcaria do bar, toda vomitada e desmaiada no chão de tão bêbada que
estava? Ando pela rua escura, apertando os braços em volta do meu corpo,
tentando segurar as lágrimas que descem. É tão impossível assim, pelo
menos uma vez na vida dela, ela ver todas as merdas que está me fazendo
engolir? E, antes de virar a esquina, já posso ouvir sua risada, alta e
escandalosa, fazendo meus dentes travarem em ódio. Ao entrar no bar tão
decadente quanto ela está, a vejo com seus olhos já avermelhados, se
escorando no balcão com um homem de tipo pior que o dela, falando algo
em seu ouvido. Puxo sua bolsa do balcão, fazendo-a se assustar, olhando
para mim. Ela prende seus dedos na bolsa, pegando-a de volta com raiva.
— Lu... O que... — Ela tenta dar um passo, se atrapalhando e se
escorando no cara ao seu lado.
— Me dá sua bolsa, mãe! — Minha mão se estica com raiva, tentando
puxar a alça outra vez.
— O que pensa que está fazendo, Luna?
— Me dá a merda da bolsa. Devolva o que pegou! — Seu rosto vai
ficando mais vermelho, com ela olhando para os lados.
— Não peguei nada de você e está me fazendo passar vergonha.
— Vergonha, mãe? — Minha boca se aperta com raiva. — Qual
vergonha você ainda tem?! Não vou brigar com você aqui dentro, eu tenho
nojo de estar aqui, agora devolve o dinheiro que a senhora me roubou!
Puxo a alça da bolsa com mais força, com ela me xingando entre seus
gritos. Vejo sua careta de ódio, antes dela erguer sua mão, soltando-a na
lateral da minha face. Meu corpo, trêmulo pela raiva, se desequilibra, assim
que ela solta a bolsa, fazendo eu cair com o rosto na quina da mesa de
bilhar. A dor forte que me corta me deixa zonza. Tento voltar a ficar de pé,
com sua bolsa presa em meus dedos, abrindo cada canto dela com raiva,
achando meu dinheiro lá dentro, ao fundo. O pego, levando ao bolso da
minha calça. Sinto o líquido escorrendo pelos meus olhos, fazendo minha
vista se embaçar. Ergo meus dedos em direção à minha sobrancelha,
olhando para eles quando os abaixo, o sangue viscoso e quente ainda está
fresco, saindo sem parar. Viro meu rosto para ela, com raiva, tacando sua
bolsa no chão.
— Lu... Lu, eu não quis te machucar... — Seus olhos tristes vão se
dilatando junto com seu choro, como ela sempre faz. Olho o copo em cima
do balcão, o qual, com toda certeza, não deve mais ser o primeiro.
— Você nunca quer, mãe, você apenas destrói tudo à sua volta! —
Limpo as lágrimas que descem, se misturando ao sangue, sentindo que
cheguei ao meu limite.
— Você... Você não pode falar assim... Lu.
Eu não quero falar mais, eu nem quero mais estar ali. Quero que ela
suma da minha vida, que ela esteja pelo menos com dor pelo que fez ao meu
irmão. Mas ela sempre está tão fodidamente bêbada, que nem tempo para se
arrepender tem.
— Luna... Luna, espera!
Não olho para trás, nem paro de andar, apenas vou me afastando
mais e mais, com meus braços apertados em volta do meu corpo.
— Está brava por que peguei seu dinheiro sujo?
— Sujo? — Me viro, a olhando parar no meio da rua. — Quer falar
de sujeira, mãe?! — Dou mais um passo à frente, sentindo meu corpo tremer
de raiva. — Por que não começamos pelo fato de você ser tão fodida que
deixou seu próprio filho sozinho para ir para o bar? Seu filho que agora tá a
um passo de ser adotado por qualquer outra família... Ou talvez me conte
como pôde ser tão ingrata comigo a ponto de me usar como moeda de troca
em suas dívidas?
Ela tampa sua face, chorando mais alto, gritando com raiva.
— Eu não ia deixar nada acontecer, eu precisava de tempo!
— Tempo! Oh, meu Deus! Como pode ser tão mentirosa? Viu todos
os dias eles indo à nossa casa nos cobrar e não moveu um dedo! — Ergo
meu dedo para ela, apontando com raiva. — Mas sabia que tive que me
misturar com Zack para erguer sua maldita grana e ainda vai lá e rouba ela
de mim, rouba dos seus filhos, mãe! Para quê? Para continuar se matando
dentro de um bar nojento e dividindo copo com um homem mais sujo que
outro! Então não ouse me falar de sujeira!
— Se seu pai tivesse aqui você nunca falaria assim comigo! Não
estaria se trocando por passeios em carros caros. Ou acha que não vejo você
saindo? Que todos não comentam?
Minha cabeça tomba, grito com raiva, chutando a pedra à minha
frente.
— Eu quero que todos se fodam! Meu pai está morto! — Meus dedos
tampam meu rosto, esmagando minha pele em dor. Choro, gritando de
desespero. — E a única coisa que me restou dele foram meus irmãos, que
graças a você, um deles se foi! A única coisa que você sabe fazer é estragar
tudo, simplesmente tudo à sua volta! Porque é egoísta! E é por isso que eu
estou indo, porque vou dar uma vida melhor para eles, e juro, mãe, nem que
seja a última coisa que eu faça na minha vida, vou trazer meu irmão de
volta! E não vou pensar duas vezes antes de enxotar você para fora se não
tomar um rumo!
Vejo-a ainda parada, olhando para mim, quando me viro, a largando
lá. Meus passos vão nos distanciando entre aquela rua escura. Esfrego meu
rosto, tirando o sangue que escorre, ainda sentindo meus olhos ardendo de
choro.
Saio para fora do prédio, levando uma caixa para a van que aluguei
para fazer a mudança. Estou tão concentrada nisso, que me assusto quando
sinto meu braço sendo puxado.
— Então é verdade? — Meus olhos se erguem da mão nojenta que me
aperta. Zack está com sua face fechada, focando com aversão a van. — Você
está indo embora!
— Solta meu braço, Zack! — O puxo, fazendo ele se desvencilhar de
mim, mas a caixa em minha mão vai ao chão. Me abaixo, a pegando e
arrumando dentro da van. Ouço sua respiração acelerada e o vejo batendo o
pé no chão, ao meu lado.
— Você nem me deu uma chance. Eu preciso de você, Luna! — Vejo
sua pupila dilatada, vermelha, com sua voz alterada. — Não pode
simplesmente me deixar!
— Zack, não temos nada, foi só um trabalho. — Volto a andar, o
deixando para trás. — Esquece, nunca mais eu volto a dançar, sabia disso!
— Você não entende, Luna! — ele grita com mais raiva. — Eles não
querem outra, querem você! Tem ideia do tanto de dinheiro que perdi? O
tanto de conta que fiz?
— Isso não é problema meu. — Ele avança, batendo meu corpo na
parede, furioso, com suas duas mãos apertando meus ombros. Tento me
lembrar de Hugo e todas as aulas que ele me deu.
— Não vou perder dinheiro por causa de uma vagabunda! — Zack me
empurra com mais força, batendo minha cabeça no concreto duro. Sinto a dor
explodindo em meu cérebro. No automático, meus braços se erguem entre os
seus, com rapidez, empurrando-o para trás.
— Nunca mais vou dançar por seu dinheiro, sabia por que precisava e
não tem o direito de me chamar de vagabunda! — Ele volta outra vez, mas
desvio dos seus braços, que estouram com raiva a parede.
— Você é uma grande cadela, Luna! Agora que tá sendo bancada por
um patrão, meu dinheiro não é mais limpo para você! — ele grita mais alto,
fazendo todos pararem para olhar. — Todo mundo sabe que tem um grã-fino
vindo na sua casa. — Suas palavras são cuspidas como uma cobra nojenta
venenosa, sinto meu rosto queimando a cada olhar dos vizinhos. — E depois
dizia não ser puta! — Meus dedos espalmam em seu peito, o empurrando
com força pela ira que me toma.
— Você nunca mais vai ganhar um centavo em cima de mim, seu
cafetão de merda! — Seu punho se fecha, se erguendo, pronto para me dar
um soco, e meus braços apenas sobem para proteger meu rosto.
O som alto de uma respiração pesada vem antes de qualquer coisa,
com um baixo rosnado. Abro meus olhos, vendo Zack ir ao chão com um
soco que estoura seu nariz. Meu olhar desvia do lixo para o grande homem
parado à minha frente, arrumando seu terno azul marinho ao corpo. Ele retira
seus óculos lentamente, deixando-me ver seus olhos queimando, com um
sorriso frio aos lábios.
— Como patrão, não lido bem com alguém mexendo com o que me
pertence. — Ele leva os óculos ao bolso, se virando para o outro, caído.
Zack se levanta, cuspindo sangue no chão, apertando seu punho e
indo para cima de Lycaios. Ele nem vê quando vem outro soco, direto na sua
cara. Sedrico se abaixa próximo a Zack, puxando-o pela camiseta e sussurra
algo em seu ouvido, lançando para ele o mais pavoroso olhar. Zack se
levanta, segurando o nariz sangrando, e corre para longe do apartamento,
empurrando todos que estão à sua frente, sumindo entre a rua.
Minha atenção volta para Sedrico endireitando seu corpo, que toma
grande espaço do lugar com sua forma prepotente, dando apenas dois passos
até estar a um palmo de distância de mim. Sinto meu coração batendo
acelerado, feito um coelho diante do grande leão, e uma felicidade de merda
vai me inundando por me perder em seu olhar intenso. Mas ele o quebra,
esticando sua mão, rápido, jogando meus cabelos para trás, com sua outra
mão em meu queixo, como um velho ranzinza que olha seu carro preferido
com um risco. Sua boca se aperta, semicerrando seus olhos ao ver o corte em
meu supercílio. Soltando o ar mais alto ainda, ele ergue seu olhar para o
prédio, deixando seu aperto maior em meus cabelos.
— O que falou para ele? — sussurro, tentando não deixar minha voz
fraquejar, me perdendo em seu cheiro, que me acerta forte como um tiro. Sua
atenção volta para mim, com seus olhos brilhando de raiva.
— Para que está fazendo aulas de defesa, Mikpó, se não se defende?
— Seu dedo, preso em meu queixo, desliza sem pressa, pressionando com
raiva ao voltar seus olhos para o machucado. — Quando ela fez isso? E não
ouse me insultar contando mentiras de como é desastrada!
Sinto raiva da boca grande de Hugo. Retraio meu rosto, virando-o
para outro lado que não seja a face do grande leão rosnando a centímetros do
meu rosto.
— Não vou usar defesa pessoal contra minha mãe, senhor. — Puxo
meu rosto, conseguindo me soltar dele. Aperto minhas mãos em volta do meu
corpo.
Viro-me, deixando-o sozinho. Sei que não vai demorar para ele
começar a fazer suas perguntas descaradas, logo ouço seus passos atrás de
mim, com sua respiração pesada. Olho por cima do meu ombro, vejo-o me
seguir pela entrada do prédio.
— A que devo a honra de ter o poderoso deus saindo do seu Olimpo
para vir aqui com uma reles mortal?
— Mikpó. — O som bravo de sua voz sai baixa, em aviso. — Pensei
que precisaria de ajuda. — Paro no lugar, apertando meus dedos ao lado do
meu corpo. Me viro para ele, ainda não entendo o que ele quer. Tinha
simplesmente me deixado, sem eu nem saber o que tinha feito de errado.
Entendi o que ele tinha me proposto, não temos nada. É só uma porcaria de
acordo para saciar seu ego.
— Obrigada pela intenção, mas eu me viro, senhor. — Ele apenas
balança a cabeça em negativo, dando mais um passo à minha frente. Ele me
analisa por um pequeno segundo, relaxando seus ombros.
— Por que está agressiva? — Sua voz me pega feito tiro, cortando
meus pensamentos, me deixando sem saber o que responder quando ele faz
essas perguntas na lata.
Olho meus pés em um chinelo, me sentindo perdida e pequena. A
verdade é que nem eu sei, tinha sentido sua falta, mas cortaria minha língua
antes de dizer isso a ele.
— Luna, Will não me deixa levar as caixas também. — Me viro,
olhando para Lola, que vem correndo. Ela estanca no lugar, olhando entre
mim e Sedrico.
— Você é muito pequena, amor. — Meus dedos se erguem,
acariciando sua cabeça. Ao me voltar, vejo os olhos de Sedrico presos entre
nós duas. — Senhor, essa é minha irmã, Lola. — Passo meus braços pelo
ombro dela, a deixando à minha frente, alisando seus cabelos. — E Lola, esse
é o senhor Lycaios.
Vejo aquele homem gigante se abaixar, ficando na altura dos olhos
pequenos e curiosos dela. Sua grande mão se estica, ficando parada entre
eles.
— Prazer, Lola. — Minha pequena irmã ergue sua cabeça para mim, e
depois se volta para ele, olhando seus dedos, deixando sua miúda mãozinha
sumir entre a grande mão de Sedrico.
— O senhor faz xixi na calcinha também? — Sedrico olha para ela e
para mim sem entender, sorrindo com o que ela fala. E, automaticamente,
meu cérebro processa o que ela está pensando.
— Lola! — Ergo minha mão, tampando sua boca, quase morrendo de
vergonha.
— Não uso calcinha, Lola, e não faço xixi nas calças também — ele a
responde, puxando meus dedos da boca dela.
— Luna falou que você é um molhador de... — Já estou virando seu
corpinho e dando um tapa de leve em sua bunda, a empurrando para o
corredor do prédio.
— Vai ajudar Rana a guardar as coisas, ou ela vai deixar sua boneca
para trás. — Ela me olha emburrada, batendo seus pés enquanto sobe as
escadas.
— Mas você falou, Luna!
— Lola! — grito mais alto, sentindo meu rosto queimar. Ela sai
correndo, sumindo da minha vista. Ao me virar, sou pega pelo seu rosto
próximo demais, analisando a minha expressão, me deixando mais nervosa a
cada movimento seu, que vai se aproximando. Coço minha cabeça, dando um
sorriso amarelo, encolhendo meus ombros. — Crianças... têm imaginação
fértil. — Já estou fugindo dele antes que dê uma de avestruz e jogue minha
cabeça na terra.
E, como Lycaios faz apenas o que Lycaios quer, mesmo a base de eu
quase chorar, implorando para ele ir embora, ele fica ajudando na mudança,
fazendo todas as janelas e portas se abrirem nesse lugar esquecido por Deus,
para verem o grande leão de juba dourada erguendo caixas velhas de
supermercado, levando para fora. Me odeio por sempre me pegar olhando
para ele a cada bobeada, não tem como não ver cada músculo do seu corpo se
flexionando, se apertando mais ao terno.
— Luna, a baba tá escorrendo por sua boca. — Rana para ao meu
lado, segurando uma bolsa e cutucando meu ombro.
— Cala a boca, garota — falo baixo, vendo-o se virar para nós duas, e
sinto uma fisgada a cada lembrança que meu cérebro faz o favor de relembrar
como um slide, deixando meu rosto em chamas.
Ela sai dando risada e vai para a van. Olho Will, o rodeando como se
fosse um acontecimento ver um homem perto de nós. Subo as escadas, indo
atrás de mais caixas, para me afastar deles e saber onde minha mãe se meteu.
Vejo suas coisas todas em cima da cama ainda. Por pura teimosia, ela
simplesmente prefere fazer de conta que não tem acontecido nada. Solto o ar,
indo para meu quarto, e tento pegar uma bolsa em cima do guarda-roupa para
guardar as roupas dela. Ficando na ponta dos pés, me estico ao máximo,
puxando apenas a pontinha.
— Deixa que eu te ajudo. — Antes mesmo de me virar, estou sendo
encoxada. Sinto seu corpo me cobrindo por completo e seu cheiro masculino
misturado com seu suor amadeirado. Raspa seu peito de propósito em minhas
costas, sua respiração em cima da minha cabeça sai baixa, alavancando seu
corpo como se estivesse realmente tendo que sofrer para pegar a bolsa, a qual
está na altura dos seus braços. Meu corpo traíra me faz soltar um pequeno
gemido. Sedrico estaca no lugar, fica imóvel e me prende mais a ele. Sou
uma pulga perto desse homem. Sua respiração calma me faz o odiar ainda
mais, visto que a minha é totalmente o oposto da sua, como se tivesse
subindo um penhasco. Seu corpo se mexe mais, abaixando pausadamente
quando suas pernas se encaixam perto das minhas, deixando seu quadril na
mesma altura do meu. Ele move seu corpo calmamente, de propósito, só para
que eu possa sentir mais dele. Consigo sentir minha calcinha se molhando
com sua provocação.
— Mikpó, sua bolsa — ele sussurra no meu ouvido, raspando seu
dente propositalmente na minha orelha. Me viro com dificuldade quando ele
dá um passo para trás, mas me arrependo ao me deparar com seu peito que
sobe e desce, os botões entreabertos da camisa deixam ver os pelos dourados
que há em seu peito, me fazendo hiperventilar com o aroma do seu suor.
Seu sorriso cínico molda seu rosto quadrado e é uma covardia que lhe
deixa mais sexy. Meus olhos, ainda abaixados para seus botões, me fazem
morder o canto da boca, apreensiva, imaginando se teria mais, se são tão
sedosos como os seus cabelos. Minha pele se aquece, percebendo que nunca
tive esses pensamentos com outros homens, e como ele me faz desejar ser má
de todas as formas possíveis, me deixando mais assustada comigo mesma.
— Obrigada, senhor. — Retiro a bolsa das suas mãos, passando por
debaixo do seu braço, com minhas pernas virando uma gelatina ambulante.
Ele abaixa sua cabeça, sorrindo, me deixando sem graça, como se
soubesse cada pensamento que já tive. Ando até minha gaveta, guardando na
bolsa o pouco que sobrou, antes de ir pegar as coisas da minha mãe. Ele fica
parado do outro lado, mexendo nas minhas coisas que guardei na bolsa,
olhando com curiosidade e, antes que perceba, Sedrico está segurando uma
calcinha minha entre seus dedos, um fio dental. Ele a olha e depois volta seu
olhar para mim, com um ponto de interrogação em pura promiscuidade.
— Mikpó, já deixei essa aqui molhada? — Ele tenta a levar para o
bolso do seu terno, mas arranco minha calcinha dos seus dedos, empurrando-
a na bolsa. — Acho que podemos batizar o meu pau como “o molhador de
calcinhas”. — Ele solta uma risada, me fazendo olhá-lo de cara feia, mas me
perco, deixando minha atenção presa em seu rosto. É mágico ouvir ele rindo
tão naturalmente, mostrando mais uma face escondida nesse homem
egocêntrico.
— Nunca vai ouvir essas palavras da minha boca, senhor. — Sorrio
para ele, sabendo que estou derretendo mais e mais com seu sorriso. — Devia
sorrir mais, senhor — sussurro, conseguindo desviar meus olhos da sua boca.
Estou indo para o caminho errado. O que sobrará quando acabar, se ele já me
fez sofrer em poucos dias com sua ausência? O que sobrará quando ele partir
de vez?
Sedrico para, soltando o ar. Ergue seus dedos em meu queixo, me
fazendo olhá-lo.
— Por que realmente está aqui, senhor? — O olho perdida. Sei que é
loucura, mas desejo essa loucura toda em meu íntimo.
— Eu esqueci algo. — Sua voz é tão covarde, saindo mansa, que me
deixa exposta a ele.
— O que esqueceu, senhor? — Aperto firme a bolsa em meus dedos,
como se ela fosse a âncora que me salva dessa tempestade chamada Sedrico.
Desvio meus olhos dos seus, com as batidas descompassadas que meu
coração está tendo.
Mas Sedrico já me ergue, me virando para ele com suas mãos de
ferro, sem pedir licença, apenas tomando o que ele quer.
— Meu controle, Mikpó. — Estou sendo levada à parede por um
trator de músculos, que me prende mais a si com seus braços de aços.
Sedrico choca sua boca na minha em uma forma tão bruta e crua,
dominante, me fazendo perder qualquer chance que tenho de escapar do seu
poder. Meu corpo covarde se rende, se moldando a ele, com pura ânsia. Sua
língua me explora sem pedir licença, apenas tomando tudo o que é seu, tudo
que lhe dou. Com seu peito colado ao meu, meus dedos param em seus
ombros, sentindo a firmeza que me sustenta. Me perco, anulando qualquer
dor, medo ou insegurança, porque ter suas mãos em mim é como ser
resgatada do fundo que estava caindo. Vibro com sua boca me rasgando,
tomando todo meu ar em uma fúria digna de um deus. Me perco, sentindo seu
gosto, champanhe, o qual eu nem gosto, mas misturado com o seu próprio
gosto poderia ser a melhor coisa que já provei. Minhas mãos, curiosas, se
movem por vontade própria sempre que lhe toco, subindo por seu rosto,
amando mais os sons baixos que ele solta ao deixar as unhas irem subindo até
se emaranharem em sua juba dourada. Seu corpo me prende mais, nos
batendo com mais força na parede, apenas para roçar seu corpo ao meu.
Sinto-me sendo queimada pela trilha das suas mãos, que descem por minhas
costas, espalmando em minha bunda, me erguendo a ele. Minhas coxas
circulam sua cintura, arfo quando sinto o volume de suas calças pressionando
minha virilha, o jeans do short rasgado acerta com precisão em cima do meu
clitóris, a cada movimento lento que ele faz, me fazendo choramingar em
seus lábios. Garanto minha alma presa a ele para sempre. Ele me aperta com
força, esmagando minha bunda em suas grandes mãos, movendo sua cabeça
sobre meu pescoço, esfregando seu nariz em meus cabelos.
— O que fez comigo, Mikpó? — Sua voz está nervosa quando sua
boca volta para a minha.
Mordendo meus lábios entre o beijo, ele esmaga minha boca, como se
me castigasse, me fazendo gemer mais. Seu beijo é selvagem, me deixando à
sua mercê, pressionando mais forte nossos corpos, trazendo a dor e a loucura,
me consumindo por dentro com vontade de tê-lo por completo. Me perco
completamente. É desejo, paixão, ou a mais pura insanidade o que me
consome como a necessidade de respirar. Posso sentir seu coração batendo na
palma da minha mão quando deslizo meus dedos para seu peito. Ele se afasta
dos meus lábios, deixando sua testa descansar na minha, e ouço sua
respiração pesada se mesclando à minha.
— O que vocês estão fazendo? — Fecho meus olhos ao ouvir a voz
de Lola, que vem da entrada do quarto.
— Acho que ele engravidou ela, sabia?! — Sua boca se comprime,
prendendo o riso quando Will solta o disparate.
— Larga de ser besta, Will, ninguém engravida por um beijo — Rana
fala, cheia de deboche.
— Preciso que me deixe ir ao chão, antes que eles piorem. — Seus
olhos ficam presos aos meus quando sussurro em sua direção. Solta o ar
lentamente, junto comigo, e desvencilho minhas pernas de sua cintura.
— Quem vê pensa que já beijou muito, Rana!
Sedrico tira as mãos da minha bunda e, com certeza, vou me lembrar
depois dessa pegada forte nela. Sorrio ao ver seus lábios grossos mais
inchados que os meus, a juba dourada bagunçada, nem parecendo mais o leão
pomposo que chegou aqui. Solto o ar, desviando meus olhos dos seus,
virando para os monstrinhos parados na porta do quarto, nos olhando.
— Eu nunca vou beijar uma menina. — Will nos olha com nojo,
fazendo cara feia.
— Daqui alguns anos te levo à Odisseia e garanto que vai mudar de
ideia. — Dou uma cotovelada na lateral de Sedrico, o fazendo se calar,
soltando um rosnado. Ele leva seus dedos para trás de mim, beliscando forte
minha bunda.
— Vocês estão grávidos agora? — Lola me pergunta perdida,
abraçada com a velha boneca.
— Não, amor. — Sorrio para ela, movendo a mão para que eles
saiam. — Agora vão terminar de fazer as coisas de vocês, antes que mostre
como se fazem os bebês.
— Aiii, que nojo, Luna!!! — Will puxa Lola, saindo correndo com
Rana atrás deles.
Viro-me, dando um sorriso para Sedrico, vendo-o todo amassado,
perdido no quarto velho.
— Achou o que esqueceu, senhor? — pergunto com vergonha,
sentindo meu rosto ainda quente com seus beijos.
Ele alisa seus cabelos, os arrumando para trás, e endireita seu terno.
Volta para sua postura tirana, com seus olhos brilhantes me prendendo em
suas íris.
— Suponho que ainda não! — Ele sai do quarto, levando uma caixa
que estava no chão.
Meus dedos vão aos meus lábios, posso senti-los doloridos e inchados
pela forma dominante dos seus beijos e, antes que segure, um sorriso bobo
estampa minha boca.
O som baixo do suspiro triste de Rana me deixa saber que ela ouviu o que
minha mãe falou. Sinto suas mãos pequenas em minha perna, pressionando
seus dedos junto aos meus. Dou um leve apertão, soltando o ar lentamente.
Fico parada na entrada da casa, olhando ainda sem acreditar no que
vejo. Está repleta de móveis e nenhum deles são meus ou da dona Zelda, são
todos novos, como se tivessem sido colocados há pouco tempo. As paredes
pintadas, tão vivas e lindas, deixam a casa clara, entrando mais luz a cada
canto. Não tem mofo ou aquela escuridão do apartamento descascado. Vejo
as crianças correndo de um lado para outro. Rana corre para mim, me
puxando pelo braço.
— Luna, olha isso! — Ela pula, me arrastando com ela. Rana abre a
porta de um quarto, onde existem beliches com duas camas arrumadas em
cores rosas e, do outro lado, duas com lençóis azuis. — Olha, se puxar
embaixo tem mais uma cama. — Ela se vira toda feliz, parando perto dos
grandes guarda-roupas. — Vamos ter nossa própria cama, LUNA!!! Uma
cama só para mim.
Ela grita em felicidade, com seu rosto todo vermelho. Vejo seus olhos
ficando cheios de lágrimas com seus dedos trêmulos passando sobre o
colchão. Tampo minha boca, querendo gritar de felicidade por ver toda sua
alegria e como algo tão comum e que é o mínimo de dignidade para alguém,
agora faz parte da vida dela.
— Oh, meu Deus... Oh, meu Deus! — Rio sem parar, olhando cada
detalhe arrumado para as meninas, com almofadas de corações sobre a cama.
A parede da cama dos meninos tem um armário repleto de carrinhos
brilhantes. — Não acredito que dona Zelda fez isso!
— Luna, tem uma TV na sala... Uma TV daquelas que tem nas lojas,
ela é fina e enorme. — A voz em crise de histeria de Will rompe o quarto, me
arrastando até a sala, todo alegre.
Choro por toda uma vida ao ver isso tudo, nunca sonhei em ter nada
disso, apenas imaginava uma vida digna para meus irmãos. Queria não ter
mais medo das brigas dos vizinhos, ou ver eles se misturando com pessoas
erradas, queria que eles tivessem orgulho de trazer seus amiguinhos em casa,
sem se sentirem envergonhados. A pequena pessoinha que entra na sala me
faz me virar para ela. Lola para ao meu lado, comendo uma bolacha recheada
e me oferece, com sua boca cheia.
— Onde arrumou isso, Lola? — Ela aponta seus dedos para a
cozinha, ainda mastigando.
Vou para lá, me assustando com um jogo inteiro completo de
armários e todos os eletrônicos de inox, me lembrando a casa da dona Zelda.
São bonitos, mas não exagerados. Ela ainda tem móveis que pertenciam a avó
dela. Meus dedos se esticam, abrindo os armários, os vendo lotados de tudo
que meus irmãos um dia me pediram e eu não tinha para lhes dar. É tanta
coisa, das mais simples até as que eles nunca experimentaram. Meus dedos se
erguem, tampando minha boca, segurando o choro. Deixo minhas pernas se
dobrarem em meus joelhos, enquanto agradeço a Deus, caindo ao chão,
olhando tudo aquilo que tanto pedi em minhas orações para um dia poder
oferecer a eles. Meus olhos estão nublados de lágrimas quando todos eles se
jogam à minha volta, me abraçando. Aperto meus irmãos com força, rindo e
chorando ao mesmo tempo, esfregando meu rosto em seus cabelos. Sinto os
beijos de Lola em minha bochecha e as lágrimas quentes de Rana, apertando
mais seus braços a mim. Will, sentado em meus joelhos, ainda olha em
choque para o armário cheio de comida. Meu rosto se ergue entre suas
cabecinhas, parando na sombra grande que entra. O vejo lá, encostando seu
corpo no batente da porta da cozinha, nos olhando com suas mãos nos bolsos.
CAPÍTULO 08
O inferno de Deus
Sedrico
— Estava como solicitado, senhor? — Meu corpo roda na cadeira, me
virando para Devon, parado ao centro do escritório. Apenas movo minha
cabeça para ele, em confirmação.
Estava tudo como solicitado, cada canto, cada móvel e o mais largo
sorriso nos lábios dela. Terei que encaminhar uma caixa de champanhe para
Bruce, em forma de agradecimento por ter conseguido as cópias da chave da
casa antes da mudança dela.
— Dom, gostaria de um levantamento sobre o bairro?
— Não será necessário, Bruce já me mandou por e-mail, ele mesmo
fez isso quando sua esposa morava lá. O bairro não é um dos melhores, mas
está acima da média de onde ela estava. — Olho os papéis sobre minha mesa,
sabendo que todos esperam pela minha aprovação. — Como ela estava hoje,
quando a levou para o serviço?
— Enérgica, devo lhe dizer. — Ele sorri para mim, caminhando perto
da janela. — Um pouco nervosa por conta do motorista, mas consegui lhe
induzir a entrar no carro. — Sabia que ela estaria em agonia. Mesmo ainda
escondendo sua tristeza pela notícia do irmão, ainda tem uma esperança
dentro dela.
— A faculdade, como está?
— Ela está confiante com os estudos, já lhe avisei que suas aulas se
iniciarão semana que vem. — Meus dedos se apertam sobre a mesa, olhando
a tela do computador. Isso será bom para ela, lhe dará mais força. Luna é
inteligente, estar de volta à sala de aula será uma injeção em suas veias.
— Estou negociando a compra da casa com Bruce, ele ainda está
tentando achar uma maneira de abordar Zelda, mas sei que terei que ter uma
conversa com ela. Luna se sente triste por estar fazendo as coisas por suas
costas.
Zelda se tornou uma imagem de referência, pela qual Luna sente
carinho e respeito. Terei que ter uma conversa com ela antes que pressione a
pequena menina. A inteligente mulher latina é esperta e precisaria de apenas
duas palavras com Luna para saber de quem é o motorista que a leva.
— Talvez essa semana já resolva esse assunto.
— Creio que talvez possa fazer isso antes desse tempo, Dom. — Ergo
meu olhar para Devon, que observa o salão da Odisseia. — A senhora
Ozborne acabou de passar pela porta com seus respectivos maridos.
Ainda raciocino o que Devon me fala, quando o pequeno furacão
entra em minha sala com seu rosto fechado. Seus olhos latinos brilham,
apertando sua bolsa na mão. Tauro é o segundo a passar, olhando para mim e
balançando sua cabeça devagar, como um aviso, seguido de um Bruce
nervoso, que fica atrás dela como uma sombra. Ela caminha lentamente pela
sala, deixando a bolsa no sofá. Para a frente da minha mesa, com os dois
armários de cara fechada, como se tivessem ganhado uma bronca.
— Olá, Zelda. — Deixo minhas costas irem para trás, arrumando meu
corpo na cadeira. Soltando o botão do meu paletó, ajeito minha coluna no
estofado.
Devon cumprimenta a todos, se retirando polidamente e fechando a
porta atrás de si, não antes de deixar seu olhar parar em mim, dando uma
piscada em deboche. O pequeno corpo se move, olhando em volta da sala e
balançando a cabeça sem pressa, com seus lábios comprimidos.
— Mira, presente do traidor do meu marido! — Ela ergue seu pé
apenas um pouco, mostrando seu sapato de salto alto, e vira seu rosto para
Tauro, o olhando de cara fechada. Aponta o sofá para ele, que solta um
grunhido baixo em resposta, indo se sentar. A cabeleira negra volta sua
atenção para mim, fuzilando minha face com seus olhos também negros. —
Necesito una razón[56] para não bater em tú cabeça com ele, cabrón[57]?
Solto o ar, desviando meus olhos dos seus, buscando algum tipo de
auxílio em Tauro e Bruce, que apenas me olham em resposta, balançando
seus ombros, como quem diz: está sozinho nessa, cara!
— Imagina meu semblante quando Luna chega para mim, toda alegre
como um raio de sol, agradecendo os móveis novos que tinha dado para ela!
— Sua boca se aperta, esmagando seus punhos ao lado do corpo. — E
precisei apenas fazer as contas para saber quem tinha sido o generoso a fazer
tal arte. Com ajuda daqueles ratones traicioneros[58]!
— Docinho, eu já te expliquei... — Tauro se cala com um olhar que
ela dá para ele, erguendo seu dedo do meio e o fazendo soltar um palavrão
baixo.
Sua face se volta para mim. Apertando os seus dedos em minha mesa,
abaixa seu corpo ao me encarar.
— Contou que não foi você? — Ela esfrega seu rosto, apreensiva,
movendo sua cabeça em negativo, e sinto um alívio com isso. Sabia que Luna
não aceitaria.
— Dime qué está pasando[59] para ter feito uma loucura dessas,
Sedrico! Luna não é as lolitas que correm atrás de ti aqui dentro. E muito
menos una puta!
Meus dedos se esmagam. Erguendo meu olhar para ela, aperto-os com
raiva. Sei que qualquer outra pessoa já estaria saindo pela minha sala porta
afora, mas Zelda apenas fica lá, sem mover um centímetro sequer do seu
pequeno corpo. Solto o ar, com inquietação, erguendo meus dedos para a
gravata e deixando-a frouxa, sei que ela não sairá dessa sala. Aponto a
cadeira para ela, a qual Bruce move, ficando de pé ao seu lado quando ela se
senta.
— Luna não é uma puta e minha relação com ela não é sobre lolitas,
Zel. — Meus dedos batem lentos na mesa, olhando para a tela do
computador, para desviar da sua mira.
— Está loco. Que pensa que vai ser quando isso acabar? Tauro me
falou sobre essa história sua, mas Luna não é essas meninas de cabeça fraca
que querem um velho para ficar lhe bancando. — Seu olhar nervoso vai se
apagando, deixando apenas um semblante preocupado estampar sua face. —
Onde está seu juízo, Sedrico?
Eu não sei, para falar a verdade. Ele escorrega por meus dedos, assim
como meu controle, desde o momento que coloquei meus olhos em Luna.
— Não é assim que funciona, Zel, estamos falando de cuidar, foi essa
a minha proposta a ela. Serei um bom sugar daddy, e não caia na besteira de
acreditar que funciona assim, como essas meninas pensam.
— Explique-se!
— Não sou um velho em busca de meninas novas como todos acham.
Muitos relacionamentos assim não se tratam de sexo, se quisesse isso, pagaria
uma puta, não confunda uma baby com uma garota de programa. — Viro
minha cabeça para ela, vendo-a calada, me observando. — Oferecemos uma
experiência a qual elas nunca vão poder ter e, em troca, temos sua
companhia. Tenho tanto dinheiro que posso falar com qualquer um, mas
prefiro ter algo real ao meu lado. Ver os rostos delas se expandindo a cada
coisa nova que elas veem me faz me sentir bem, como se fosse minha
primeira vez naquilo também. Torna-se uma experiência boa para ambas as
partes.
— Mas aí que está, Luna não é como elas. Ela não busca viagens,
roupas ou presentes, ela já lida com tudo que a vida lhe soca garganta abaixo.
O que menos precisa é de um homem a levando para cima e lhe largando em
queda livre depois.
— Nunca disse que ela era assim. — Aperto meu maxilar, a olhando
sério, com meu peito inflamado por dentro.
— Não, mas é isso que está fazendo.
— Estou dando a ela o que precisa, isso que eu faço. Luna nunca foi
como as outras. Ela não precisa de mim, no momento, como homem. —
Aperto com força a caneta que seguro, ouvindo a baixa respiração de Bruce.
— Está cuidando? — A voz baixa dele me pergunta, fazendo eu me
sentir mais miserável.
Ergo meu olhar para ele, apenas movendo minha cabeça em positivo.
Bruce sabe que há uma diferença entre cuidar e meter.
— Não entendo. — Zelda olha entre nós dois, buscando por respostas.
Bruce puxa a cadeira ao seu lado, se sentando, olhando para mim.
— O que Sedrico está querendo dizer, cariño, é que a situação de
Luna vai além de ser apenas a sugar baby dele. — Seus dedos caem sobre a
mesa, batendo lentamente. Vira seu rosto para ela. — Um sugar daddy
realiza os sonhos delas, eles fazem com que elas sejam felizes, desde roupas,
carro, joias, o que elas precisam e, em troca, elas lhe dão sua companhia,
passam algum tempo com eles, e, sim, em muitos casos, se tiver
compatibilidade, pode ter relação sexual, é um relacionamento normal como
qualquer outro.
Zelda vira seu rosto, olhando séria para o meu, sinto que ela lê cada
expressão da minha face.
— Mas? — Sua boca ligeira já saca que não é apenas isso.
— Como Dominador, Sedrico se sente impulsionado a dar o que ela
precisa e não o que ela quer — Bruce finaliza, com seus olhos se voltando
para mim. — A responsabilidade de um dominante sobre o seu parceiro, o
submisso, é essa, ou seja, uma posse completa.
— Está olhando para ela como posse? — Zelda me olha triste,
esfregando suas têmporas.
— Na verdade, quando possuímos algo, seja lá o que for, precisamos
ter consciência das necessidades que cada coisa tem, para se manter em bom
estado ao longo do tempo. — Tauro, que está sentado no sofá, se levanta e a
faz se virar para ele. Os olhos do meu amigo param sobre mim, em silêncio,
encolhendo seus ombros e já compreendendo o caos que cai sobre mim. —
Se isso é válido para objetos inanimados, é algo muito mais sério quando o
objeto é um ser humano. Luna acaba sendo a baby perfeita para um daddy,
mas, para um Dom, ela é seu céu e inferno.
— No entiendo[60] essa loucura que estão me dizendo.
— Luna está carente afetivamente. — Deixo as palavras saírem,
apenas olhando meus dedos, que batem na mesa. Não quero ter que ver o
olhar de Tauro e Bruce.
— Docinho, o que Sedrico está explicando é que... — Tauro se abaixa
próximo a ela, segurando seus dedos. — Ao contrário de você, que perdeu
seu pai e teve uma boa estrutura com sua mãe, se tornou uma criatura
pequena e forte com a criação que teve... — Ele ergue a mão, alisando a face
dela com carinho. Beija seus dedos. — E nos entrega sua confiança, deixando
tanto eu quanto Bruce cuidarmos de você...
— Já Luna, cariño, no momento, está buscando uma imagem que não
teve. Ela deve estar desmoronando e isso vai lhe deixar à mercê de alguma
relação extremamente tóxica. — Bruce apenas solta aquelas palavras, me
fazendo erguer meu olhar para ele. — Sedrico entra lhe ajudando a ter mais
confiança.
— Luna não precisa de mim como homem agora. E teria que ser
muito baixo para aceitar, já que ela está confusa.
Zelda apenas me observa em silêncio, digerindo tudo que Bruce e
Tauro vão falando para ela.
— Sedrico será o que Luna precisar: um amigo, o professor que puxa
sua orelha, a presença paterna que ela busca para se sentir protegida. O
homem, se assim for da escolha dela. Mas, pelo que entendi, não é isso que
ela precisa no momento. Estou correto, meu amigo? — Balanço a cabeça para
Bruce, em confirmação, ainda preso nos olhos negros da mulher latina.
Meus dedos soltam a caneta, batendo em nervosismo sobre a mesa.
— Uma submissa é um brinquedo especial e o seu valor real é medido
de forma diretamente proporcional à sua entrega e confiança. — Deixo-a
entender o que sai da minha boca, soltando meus ombros junto com minha
respiração cansada. — Não as compramos... nós as conquistamos e somos
responsáveis por aquilo que conquistamos.
Zelda, em um movimento lento, estica seu braço sobre a mesa,
deixando seus dedos sobre minha mão. Sinto o pequeno aperto, me fazendo
erguer minha cabeça para ela, que tem seu olhar vidrado em mim.
— Está enamorado de la chica[61] — sussurra, me fazendo ficar em
choque com o que ela diz. Sinto meu peito acelerado, enquanto arfo com
mais rapidez. Puxo meus dedos, me afastando e balançando minha cabeça em
negativo.
— Claro que não, isso tem a ver com cuidar, apenas isso. — Empurro
minha cadeira para trás, ficando de pé. Não estou apaixonado por ninguém.
Zelda está confundido as coisas, estou apenas cuidando de Luna. Sim,
eu sei que tenho uma atração sexual gigante por ela, mas é apenas desejo
puro. Meu lado dominador quer proteger ela, lhe mostrar que pode ser mais,
deixá-la ver o mundo por seus olhos. Apenas isso.
Caminho pensativo, parando perto da grande janela, olho perdido para
lá. Talvez um dia Luna tenha mais confiança nela mesma, irá achar alguém
que será mais compatível com ela. Empurro o desconforto que sinto com esse
pensamento, mesmo sabendo que é verdade. Luna vai achar alguém em
algum momento da sua vida.
— Está mentindo para você mesmo. — Ouço o som da cadeira sendo
afastada, o salto, que vai batendo ao chão, e a baixa respiração. — E será
muito burro de achar que aquela chica não vai ganhar o mundo quando tiver
a percepção do grande potencial que tem guardado dentro dela.
Viro-me, vendo-a parada perto de Tauro e Bruce, que estão cada um
de um lado seu.
— Não lhe dou dois meses antes de Luna estar sendo meu braço
direito lá dentro. É jovem e cheia de vida, com uma inteligência trancafiada
dentro dela, gritando para sair. — Ela abre um sorriso, erguendo seus dedos
para mim. — Y mi amigo, estava preocupada com ela, mas agora vejo que é
tú que não vai conseguir nem ver o que foi que te atropelou quando ela
passar.
Bruce e Tauro seguram o riso, olhando para mim em deboche e
balançando as cabeças em confirmação.
Luna
Havia passado o resto da noite olhando para cada canto da casa, sem
acreditar em tudo que tem aqui. As crianças dormem felizes em suas novas
camas. Tento conversar com minha mãe, perguntando se ela gostou do quarto
dela, mas ela apenas dá de ombros. Minha preocupação com minha mãe se
desfaz assim que entro no meu quarto, no segundo andar, e quase morro
olhando para tudo: a cama de casal toda arrumada, como se tivesse sido
tirada da vitrine de uma loja cara e trazida direto para o quarto, um guarda-
roupa branco combinando com a cama, ao canto, com uma delicada
penteadeira espelhada que nunca em minha vida pensei em ter. Mas não
consigo me sentir feliz em tudo, já que me peguei me sentindo estranha
quando Sedrico foi embora sem nem ao menos se despedir. Eu não o vi partir
e fiquei com aquela sensação de vazio outra vez. Apenas para, hoje, no dia
seguinte, me pegar eufórica com a mensagem que chega no celular, sorrindo
ao reconhecer aquele nome besta na tela.
Sugar Daddy: Tenha um bom dia, Mikpó.
Acho que sabemos que estamos fodidas quando olhamos para a tela
fria e acabamos sorrindo, como se isso fosse a coisa mais quente.
Sugar Baby: Obrigada, senhor ��
Dessa vez, não posso usar a desculpa do celular velho para a carinha
feliz, apenas mordo meus dedos, o vendo visualizar na mesma hora, me
deixando agoniada.
Digitando...
Tampo meu rosto, não sabendo se olho, se saio do aplicativo ou se
continuo online, com meu coração batendo rápido no peito.
Sugar Daddy: Está feliz?
Sim, eu estou. Não só pela casa, pelas coisas novas, mas estou feliz
por tudo. Por ele. Mesmo assim, me pego soltando o aparelho, que deixo
escorregar dos meus dedos, sem coragem de lhe dizer. Tento me concentrar
pela manhã, usando toda minha energia em ser produtiva e aproveitar a
chance que dona Zelda está me dando.
E é o que faço com meu dia, empurrando para longe qualquer
pensamento que vem em relação a ele, me pegando desprevenida. Antes do
almoço, dona Zelda me deixa saber exatamente o que ela quer de mim.
Organizar sua agenda, que está ficando um caos com o qual ela não consegue
cuidar, agendar suas reuniões, manejar alguns compromissos que são mais
urgentes, cuidar para as secretárias não passarem ligações de clientes que ela
não deseja falar, ficar como sua sombra aonde ela for e aprender o máximo
que ela me ensinar. No horário de almoço, quando ela me leva com ela, me
pego feliz e agradecendo por tudo que ela fez. Até poderia ter acreditado em
sua face tão expressiva, se não fosse um palavrão que ela soltou, assim que
seus olhos pousaram em seu esposo, indo atrás dele. Então eu soube que não
tinha sido dona Zelda que fez tudo aquilo para meus irmãos. Não
compreendo o que Sedrico quer, vai e volta e faz tudo o oposto do que tinha
me falado. Ao sair da empresa segurando minha bolsa, deixo meus passos
irem decididos na direção do carro preto que me espera lá fora. Sei aonde
desejo ir.
— Boa tarde, senhorita. — Antony, o motorista, sorri para mim,
abrindo a porta do carro, segurando-a e esperando-me entrar.
— Antony, pode me levar a qualquer lugar que eu pedir, correto? —
O vejo assentir com a cabeça, em positivo, olhando confuso para mim.
— Não deseja ir para casa?
— Eu quero passar em um lugar primeiro. — Entro no carro, me
sentando no banco de trás, e vejo alguns funcionários que olham de longe,
com curiosidade, para a Mercedes preta.
Sei que essa história de motorista não vai dar certo, é questão de
tempo para começar a espalhar rumores por aí. Assim que o motorista entra
no carro, fechando a porta dele, seu corpo se vira para mim.
— Para onde, senhorita? — Minha atenção se volta para ele, deixando
meu ar sair mais pesado que o normal.
— Odisseia!
Sedrico
Minha força vem da felicidade dos meus irmãos. De ver Will todo
feliz porque um dos amigos novos do colégio lhe convidou para ir à sua casa
e, depois, veio até a nossa brincar com ele. Lola, que agora pode assistir
todos os canais de desenho que ela consegue ver quando volta da aula. Rana,
que tinha ficado radiante com o banho de loja que dei nela com o cartão que
Sedrico me liberou. Nem tudo é perfeito, ainda tenho que tentar fazer minha
mãe preencher o vazio que lhe consome dia após dia. Ela, às vezes, some no
domingo, voltando ao fim dele, com a noite. E eu, por não querer que as
crianças ouçam todas as brigas outra vez, acabo preferindo não falar nada.
Mas choro no banho toda vez que o juiz nega meu pedido de visita. Uma
assistente social foi até a nova casa fazer uma visita, ou o que vi como
vistoria. Ela não disse nada, apenas saiu de lá. Ainda tenho esperança do juiz
pelo menos tirar Cadu da lista de adoção, mas ele não o fez, e olhar para
aquela linda cama vazia, sem saber se meu irmão chegará a vê-la é o mesmo
que ter um revólver apontado diretamente para minha cabeça. Luto a cada
saída da cama, não me permitindo desistir, me empenhando em aprender
mais, tanto no serviço, como na faculdade, porque não sou tola, sei que em
algum momento Sedrico partirá de vez, e, por mais que me sinta incompleta,
ainda assim ficarei de pé com minha força, caminhando com minhas próprias
pernas, sendo o pilar dos meus irmãos.
Meu coração erra sempre uma batida quando o vejo e não tem como
não sentir isso agora, o vendo ao longe, de costas, falando no celular, tão
perfeito naquele terno sob medida. A cor cinza escuro destaca mais sua juba
dourada, com seus ombros largos se movendo a cada respiração. Solto o ar,
tentando relaxar e não pensar em qual será sua reação ao ver meus cabelos
quatro dedos menores do que estavam. Já tem duas semanas que não o vejo, o
que, para mim, pareceram anos. Meus dedos alisam o casaco negro, que faz
par com a saia justa, sendo incrementado pela camisa de seda rosa claro.
Estufando meu peito a cada respirada, caminho com meu queixo levemente
erguido, como a professora de etiquetas me ensinou. Traço o caminho em sua
direção. Levo uma mecha do cabelo para trás da orelha, segurando a bolsa em
meu antebraço e ficando parada atrás dele, em silêncio. Posso ver suas costas
se arquearem quando ele respira fundo, se virando para mim. Seus olhos me
acertam como balas se dissipando por cada parte minha, onde suas esferas
vão percorrendo. Meu corpo é um maldito traidor, que o odeia por horas
quando está longe, mas é apenas estar a uma distância de um braço que toda
musculatura fica gelatinosa. Olho seus cabelos dourados tão alinhados,
penteados para trás, com a barba por fazer.
— Depois nos falamos! — Deixo a bolsa correr por meu braço,
parando em meus dedos, quando ouço a voz fria que sai da sua boca. Ele
desliga o aparelho, o levando ao bolso. Naqueles segundos, sinto ser atraída
pela força que Lycaios emana. — Está atrasada!
— Senhorita. — O maître se aproxima de mim, sorrindo, e me viro
para ele, o deixando tirar meu casaco.
— Eu não esperava que fosse querer me ver hoje. — Posso sentir
cada pelinho das minhas costas se arrepiando quando o ar toca minha pele. A
delicada camisa de seda frente única se prende em meu corpo apenas por
duas correntes, que descem douradas, fazendo um X nas costas.
— Tinha outros planos? — Ouço o som baixo do rangido dos seus
dentes, que vão se trincando a cada palavra.
— Talvez... — Não foi o olhar do maître ao chão que me fez saber
que ele está a poucos centímetros de mim, mas sim a respiração pesada
soprando em cima da minha cabeça.
Para um homem tão grande, seus passos são silenciosos demais
quando ele está bravo. Sorrio para o rapaz, sussurrando um “obrigada”. Tomo
coragem para me virar. E é com as esferas mais dilatadas e verdes que me
deparo. Talvez ter ouvido dona Zelda em relação a essa roupa não tenha sido
tão boa ideia assim, já que agora sou eu quem estou diante do leão, que aperta
seu maxilar, me encarando. Seus olhos vão para meus cabelos, que estão
repicados, caindo um palmo abaixo dos meus ombros; descem para a camisa,
estufo mais meu peito sob seu olhar de reprovação ao ver que estou sem
sutiã, e, mesmo com o salto, me sinto uma nanica perto dele. Ele se move,
puxando a cadeira lentamente, apontando para mim. Me sento com toda
coragem que tenho, que já não é lá essas coisas, o deixando empurrar um
pouco a cadeira. Seus dedos passam por meus cabelos, os tirando do meu
rosto, deslizando sobre eles, com um leve puxão ao final. Tenho meus olhos
presos na taça sobre a mesa e mordo a lateral da minha boca quando suas
duas mãos apertam meus ombros como um pequeno aviso.
— Muy bien[63], Mikpó. — Sua voz rouca sai entrecortada atrás de
mim, deixando seus dedos esmagarem mais meus ombros. Uma coisa que
aprendi com Sedrico é que apenas a raiva o faz trazer seu lado latino para
fora.
Ele retira suas mãos de mim, caminhando para sua cadeira à minha
frente, deixando seu olhar varrer o salão até mirar em mim. Suas grandes
pernas se cruzam, deixando umas das mãos ir ao terno, o soltando
lentamente, ainda me deixando a sensação de que ele vai me estrangular com
a tolha da mesa. Viro meu rosto, não suportando mais a intensidade do seu
olhar, me perdendo na decoração tão delicada do lugar. Os grandes lustres do
teto caem como uma cascata, deixando a luz em tom ambiente. Alguns casais
estão sentados, conversando entre eles.
— O que é isso na sua boca? — Meu rosto se vira para ele e
automaticamente me dou um tapa mental, não havia retirado o batom que
ganhei de uma das meninas da faculdade.
— Acho que se chama batom, senhor — sussurro covardemente,
mordendo minha boca.
— Não se atreva! — Meu salvamento chega junto com o garçom, que
segura a bandeja, entregando uma taça de champanhe para ele e uma de suco
para mim. — Traga a garrafa! — ele rosna ainda com seus olhos congelados
em minha boca.
O rapaz sai da mesma forma que chegou e quase quero que ele possa
me levar com ele, me deixando fugir pelas portas do fundo. Solto o ar,
olhando com desânimo para o senhor Lycaios.
— Eu ganhei de presente de uma amiga. — Meus dedos alisam a
toalha da mesa, soltando meus ombros. — Ela achou que combinou comigo.
Sedrico estica seu braço, pegando a taça de champanhe e levando aos
lábios. Tomando de uma só vez, ele a abaixa sobre a mesa com força, virando
seu rosto para o outro lado. Não entendo o que tem de errado com o batom,
eu gostei de como ficou.
— Quando cortou seu cabelo? E devo presumir que a roupa é nova
também? — Sinto minha boca seca ir tomando conta da minha garganta.
— Cortei no começo da semana, não foi tanto assim, foi só as pontas.
— O suco desce como fel por minha garganta, não aliviando a pressão que
sinto com o interrogatório. — Eu precisava de algo mais executivo para
participar de uma reunião hoje.
Os pratos vão chegando, sendo trazidos pelos garçons, que os deixam
à nossa frente. Vejo um pernil de cordeiro, que não me deixa parar de me
sentir como ele, amarrado e sendo servido para um predador que não tem
nenhum remorso de rasgar sua pele.
— O que tem de errado com as suas roupas? — Solto o ar, revirando
meus olhos, os fechando para ele não ver meu deboche. Não tem nada de
errado com as roupas se eu tiver setenta e cinco anos.
— Não tem nada de errado, apenas essa aqui condiz mais comigo,
senhor. — Ao abrir meus olhos, o pego dilacerando o coitado do cordeiro,
rasgando o pobre com os dentes.
— Estou percebendo, Mikpó. — Corto o pedaço do cordeiro
lentamente, levando à minha boca. O vejo na outra ponta, sobre as taças, com
sua carranca grande, enquanto mastiga.
— E o que tem feito? — Troco de assunto, me sentindo miserável por
querer realmente saber o que ele faz quando me deixa tanto tempo sem saber
se é para sempre ou não.
— Tive que resolver uns assuntos fora da cidade. — Seu corpo se
arruma, usando o guardanapo para limpar sua boca. — E você?
Nem sabia que ele não estava na cidade e me vejo me sentindo
frustrada por ele me fazer uma pergunta tão cínica, quando ele sabe de cada
passo que dou e eu não sei nada dele. Mas o que lhe diria?! O que realmente
quero gritar é: POR QUE NÃO ME MANDOU UMA MENSAGEM, SEU
EGOCÊNTRICO DE MERDA?
— Nada de importante... — sussurro, enfiando outro pedaço de carne
na minha boca. O celular dispara em apito de mensagens, chamando sua
atenção.
Ele olha para minha bolsa descansando na outra cadeira, arqueando a
sobrancelha para mim.
— Não vai olhar? — Termino de mastigar a carne, pegando a taça de
suco e movendo minha cabeça em negativo.
— Deve ser do grupo da sala de aula, estamos fazendo um trabalho
para apresentar.
Ele fica em silêncio, voltando sua atenção para sua comida e me
fazendo querer tacar a bolsa no chão, pisando nela para o telefone poder ficar
quieto. Nunca mexo nele, por isso não o deixo no silencioso. Sempre esqueço
onde ele está e tenho que ficar ligando para ele, para encontrá-lo. Seus dedos
travam no ar, segurando o talher e olhando para mim. Puxo a bolsa
rapidamente, vendo as enxurradas de mensagens das meninas histéricas por
um nude que vazou de um dos meninos da faculdade.
— É apenas sobre trabalho mesmo — sussurro, deixando o aparelho
no silencioso. Sentindo seu olhar me queimar, ele balança a cabeça em
positivo. Meus dedos deixam o celular na mesa, voltando à nossa tortuosa
janta.
— Como está na faculdade, já tem amigas... amigos? — Meu garfo,
que estava indo em direção à minha boca, para no lugar, e olho para ele, com
sua mandíbula apertada.
— Na verdade, tenho poucas amigas e foi mais por causa dos
trabalhos em grupo. Não dialogo muito com os rapazes. — Deixo o garfo
traçar seu caminho para minha boca, voltando a mastigar minha comida.
— Deve ter bastante assunto com elas, pelo visto. — Rio, cortando o
pedaço de cordeiro.
— Sabe como é. Rapazes, sexo, drogas, rola bastante coisa... —
Ainda estou rindo quando ergo meu olhar em sua direção. O vejo apertar a
taça em seus dedos e segurar o garfo como se fosse costurar minha boca com
ele. — Foi uma piada, senhor.
Ele solta o ar pesadamente, soltando também o garfo e puxando a
garrafa do garçom assim que ele chega com a bandeja.
Dou graças a Deus quando consigo fugir por cinco segundos para o
toalete, depois da sobremesa. Quando volto, Sedrico já está de pé, segurando
minha bolsa com uma mão e esticando-a com meu celular para mim e, na
outra, meu casaco.
— Já vamos? — Pego a bolsa com o celular e sinto uma tristeza ir me
pegando. Por mais que tivesse ficado me infernizando por cada segundo,
desejo poder ficar mais um tempo ao seu lado.
— Tenho assuntos para resolver na Odisseia. Antes de ir viajar
amanhã. — Ele apenas se vira, me deixando para trás e me fazendo caminhar
rápido atrás dele. — Já chamei o motorista, ele está lá fora lhe esperando.
Ele está partindo mais uma vez e nem vai me levar para casa. Eu
quero me chutar por ser tão idiota a ponto de ficar aqui, esperando por mais
um pouco da atenção do poderoso deus. Eu sou uma grande idiota mesmo!
Sei que um homem como esse pode querer minha companhia por ser um
egocêntrico, mas o tipo de mulher que ele quer é outro.
— Venha. — Ele se vira. — Deixe lhe acompanhar até o carro. —
Sua grande mão se estica para mim, deixo meus dedos apertarem a bolsa,
com raiva. Eu não darei esse gosto para meu corpo traidor. Ergo meu rosto
com o orgulho que ainda tenho e puxo o casaco dos seus dedos.
— Eu me recordo de onde fica a saída, senhor. — Deixo meus passos
me levarem, sendo alimentandos pela dignidade que arrumei na cara depois
dele ter me rejeitado naquele escritório, me proibindo de fazer papel de
trouxa outra vez.
— Mikpó. — Não me viro, nem quando sua voz sai como um
rosnado.
— Lhe desejo uma boa madrugada, senhor. — Mordo minha boca
com raiva, indo para a saída.
Antony me espera do lado de fora com a porta do carro aberta, com
um sorriso aos lábios, o qual, dessa vez, não consigo retribuir, pois já tenho
meus olhos ardendo. O que tinha aprendido a apreciar no pobre motorista é
sua grande discrição. Ele não olha para mim pelo retrovisor, me deixando me
encolher ao canto do carro, esmagando a maldita bolsa. Limpo meus olhos,
tirando as lágrimas, e pego o celular. Ao acender a tela, vejo as mensagens
pela barra de notificações. Várias do grupo e uma do rapaz da faculdade que
me entregou seu material do ano passado para estudar.
Stive: Espero que tenha lhe ajudado, lindinha.
Apenas desligo o celular, sem querer atender ninguém, o jogando
dentro da bolsa. Deixo meu rosto se encostar na janela, olhando perdida para
a cidade que vai passando do lado de fora. Sou uma burra, isso sim! Senhor
Lycaios me vê apenas como uma menina que sempre precisará da sua ajuda.
Pesquisei a respeito do que Zack tinha se referido dele naquele elevador,
realmente ele nunca olharia para mim. Pode até ter me tocado, mas não como
ele realmente gosta de tocar suas parceiras. Eu vi alguns vídeos pornôs de
BDSM[64] e tinha me sentido uma boba ao me pegar observando aquilo com
mais desejo do que só curiosidade. E acabei fazendo o que raramente fazia.
Me perdi nas vezes que me toquei pensando que era ele, apenas para
conseguir dormir em paz. Ao chegar em casa, me despeço de Antony,
arrastando minha bunda triste para fora daquele carro. Solto todo o ar preso
em meus pulmões e deixo um sorriso falso no rosto, para caso minha mãe
esteja acordada no sofá, me esperando.
Mas é o oposto que presencio. A garrafa, a qual só Deus sabe onde ela
arrumou, está vazia e caída ao seu lado. Seu rosto apagado, deitada no sofá.
Deixo a bolsa ao canto, retirando meus sapatos e olhando a hora em meu
pulso. Ela deve ter chapado depois que as crianças foram dormir, porque,
quando liguei, antes de sair da faculdade, Rana me avisou que ela estava
bem. Ando até ela, parando à sua frente e tirando os cabelos da sua face,
vendo-a sorrir entre sua embriaguez. Meus ombros se soltam em desânimo.
Ergo sua face um pouco, deixando meu corpo se sentar perto dela. Deposito
sua cabeça sobre minhas pernas e acaricio os seus cabelos, como meu pai
fazia. Sinto a tristeza me puxando, junto com a dor por nunca conseguir
tampar esse vazio que ela tem, por meu amor não ser o suficiente para ela
deixar esse maldito vício. Meu rosto tomba para o braço do sofá, escondendo
minhas lágrimas nele, e, entre o baixo soluço, apenas o som do ronco forte do
carro lá fora me faz erguer minha cabeça, olhando para a janela. Mas não tem
nada lá, a não ser meus delírios, que estão me afogando lentamente dentro de
mim. Como minha mãe com aquela garrafa. Talvez eu seja mais parecida
com ela do que quero. Me viciei em Sedrico a ponto de o desejar tanto, que
me sinto perdida em abstinência quando ele não está perto. Os braços
pequenos dela se movem, se arrumando sobre minha perna. Deixo meu olhar
pousar em sua face cansada, onde ela esconde sua dor por estar tão distante
da bebida, até chegar ao ponto de precisar beber de volta.
— O que mais lhe falta, mãe?
Sedrico
Luna
— Relaxa, Luna, é só uma reunião!
Não, isso não é uma reunião. Vejo a maioria da turma da minha sala
se misturando com outras tantas pessoas espalhadas pela grande casa. Uma
das meninas me passa um copo, o qual rejeito assim que sinto o cheiro de
álcool.
— Eu não bebo, obrigada. — Ela revira os olhos para mim, levando-o
para a boca dela.
— Qual é, Luna? Se solta um pouco. — Não quero me soltar, não
devia nem estar aqui.
Elas me disseram que seria apenas uma reunião da turma, assim como
Stive, quando me convidou ontem depois da aula. Tinha até comentado com
dona Zelda a respeito, rapidamente, porém, com tanta coisa, nem lembrei
disso. Estava quase entrando no carro para ir embora quando elas
apareceram, me convidando novamente para ir. Estava tão sem rumo, que
achei que seria bom me distrair conversando sobre a matéria. Ainda me
lembro do rosto desesperado de Antony quando eu disse que iria com elas.
— Por favor, senhorita, entre no carro. — Movo minha cabeça,
puxando apenas minha bolsa, que está caída no banco de trás.
— Antony, está tudo bem, é só uma reunião. Não estou fugindo por aí.
Abandonei-o sem nem pensar duas vezes. Sedrico está viajando
mesmo, Rana e Lola foram em uma festa do pijama na casa da vizinha da
frente, junto com Will. Minha mãe provavelmente nem estaria em casa. Eu
poderia distrair minha cabeça por um segundo. Mas estava errada, agora me
vejo aqui, com o maior arrependimento da minha vida, mais perdida que um
peixe fora d’água. Olho todos eles já alcoolizados, com alguns se pegando
pelos cantos. A menina que me chamou simplesmente sumiu quando recusei
a bebida, me dizendo que eu era uma velha, mas sou apenas uma pessoa que
já vi de perto o efeito do álcool. Não quero isso para mim, provavelmente
minha mãe deve ter começado assim, até não conseguir se livrar mais. Meu
olhar cai sobre uma menina que vai descendo as escadas, se escorando na
parede para não cair, me fazendo sentir meu peito se apertar. A música
aumenta quando Tove Lo – Habits começa a tocar, os fazendo sair correndo
pela grande porta aberta, pulando na piscina do lado de fora. Ando olhando
para eles, que apenas aproveitam o momento. Um rapaz passa por mim, me
assustando quando se aproxima, o cheiro da cerveja saindo da sua boca me
faz me encolher, desviando dele.
Sinto meu peito batendo acelerado, com agonia, me sentindo estranha.
Passo pela cozinha, procurando pela minha amiga. Vejo algumas meninas
virando vários copos, um atrás do outro, e algumas delas já vomitam
enquanto os rapazes empurram mais bebidas para elas. Saio de lá abraçando
meu corpo, me encolhendo mais, olhando porta por porta. Ao abrir uma, dois
meninos levantam seus rostos, olhando para mim com seus narizes brancos,
os limpando rapidamente.
— Tá a fim de dar um raio? — Balanço minha cabeça, olhando para a
carreira de cocaína em cima da pia com os cartões sujos ao lado. Um deles
ergue uma nota enrolada como canudo, empurrando para mim.
Fecho a porta, nervosa, sinto minha respiração acelerar, enquanto
tudo vai se tornando tão frio e triste. Passo o que parece uma eternidade lá
dentro, procurando pela minha amiga, sem chance alguma de encontrá-la no
meio daquele pessoal. Meu desespero aumenta quando abro minha bolsa e
não encontro meu celular. Sinto meu coração batendo em agonia, procurando
por cada canto da bolsa, sem sucesso algum. Olho assustada para aquele
ambiente desconhecido, sem nem saber onde estou, se tem um ponto de
ônibus por perto, ou alguma chance de pedir um táxi. Meus pés já me levam
para fora, onde sinto o ar batendo em minha face, e dou graças por conseguir
respirar outra vez. Meus dedos trêmulos passam por meu rosto, jogando meus
cabelos para trás e sinto meu peito acelerado. Olho em volta, vendo mais
gente chegando. Vários carros estacionam, alguns corpos estão deitados na
grama. É um bairro aonde nunca tinha vindo, em uma rua sem direção,
afastada de qualquer comércio.
— Luna? — Dou um pulo com o susto que tenho ao ouvir a voz de
Stive atrás de mim, segurando meu ombro. — Que bom que veio, eu não
tinha te visto.
Afasto-me, o vendo já mole, me usando para se apoiar. Dou um
sorriso nervoso.
— Na verdade, já estou indo. — Olho em volta, decidindo para qual
lado vou.
— Mas está cedo... — Ele tropeça, com sua voz mole, já voltando a
erguer seus braços para me puxar.
— Stive, eu... Eu tenho que ir. — Me viro, indo para fora do gramado,
ainda ouvindo ele falar entrecortado.
— Mas não bebeu nada...
— Eu não bebo. Na verdade, nem tinha que estar aqui, Stive. — Viro
meu rosto para ele, o vendo perto demais. Seus dedos seguram meus braços,
me puxando para ele. — Stive, você está bêbado... — Meus dedos se erguem,
empurrando seu peito.
— Não bebi tanto assim... Qual é, Lu? Me deixa te trazer uma
cerveja. — Forço meu rosto para trás. Tento sair dos seus braços, mas ele se
joga para frente, me abraçando mais forte. — Lu, você é tão linda...
— Stive, você está bêbado. Preciso que me solte... — Meu rosto vira
ao som do motor potente italiano, que vai rugindo como um trovão. —
Lycaios!
Sinto meu peito bater mais rápido, não só de desespero, na verdade,
mas de pavor puro, a cada acelerada que ele dá. O farol alto acerta-nos forte,
assim que o carro vira cantando pneu no asfalto, deixando sua cor vermelha
brilhar tão chamativa. Meu corpo se afasta de Stive, que olha assustado, junto
com os outros que estão na frente da casa, nos observando. A Ferrari para,
subindo em cima da calçada, a poucos centímetros de nós, me fazendo
congelar mais ainda no lugar. A porta do motorista é aberta pelo gigante
homem, que espuma pela boca, olhando diretamente para um Stive
embriagado, fazendo Lycaios arfar de raiva com seu punho fechado e
estufando seu peito com ódio. Meu corpo se move rápido, correndo para ele,
deixando meus braços se apertarem em sua cintura e escondendo meu rosto
em seu peito.
— EU SINTO MUITO... EU SINTO MUITO... Senhor... Por favor,
por favor, Sedrico. — Aperto mais seu corpo, com seu peito subindo e
descendo rápido, com meu rosto colado nele, soluçando entre minhas
lágrimas que descem rápidas, molhando sua roupa.
Sinto o aperto forte dele sobre meu corpo, me trazendo mais para si.
Meu rosto, molhado pelas lágrimas, se ergue, olhando com medo para ele, me
fazendo me encolher mais. Sua face ainda está fechada, encarando Stive com
tanto ódio e raiva, com seus dentes à mostra como um animal pronto para
atacar. Solto seu corpo apenas para levantar meus braços, indo para seu rosto,
segurando-o em minhas mãos e o fazendo olhar para mim.
— Eu sinto muito... Me desculpa. — Sua mandíbula travada se aperta
mais quando suas mãos se erguem, segurando meu rosto. Vejo a luz do poste
que ilumina sua face, tão dura e fechada, mostrando toda selvageria que ele
solta, fazendo-me sentir tão pequena diante da sua fúria.
Ele comprime mais sua boca, apertando sua mão em meu rosto,
escorregando por meus lábios trêmulos.
— Me perdoa... — Seguro mais seu rosto em meus dedos, apertando
sua face, chorando mais ainda. — Eu sinto muito, eu não achei que era uma
festa... Por favor, ele tá bêbado, ele não fez nada. — Choro mais, sentindo
medo do que está por vir.
— Entra! — Sua voz é baixa, mas sai rosnando. Soltando meu rosto,
me puxa pelo braço.
O deixo me levar para o carro e ele bate a porta com raiva, assim que
entro. Ele passa pela frente do carro, ainda encarando Stive, me fazendo me
encolher mais ainda quando ele entra dentro do veículo, o ligando com raiva
e acelerando ao dar a ré.
— Vá devagar, por favor... — Seguro forte o assento quando ele
ultrapassa os 220km/h e acelera mais ainda, disparando o carro pelo asfalto.
— Lhe dei uma regra, Luna, uma maldita regra simples! — Ele range
os dentes, apertando o volante e acelerando mais, soltando seu corpo com
raiva no assento.
— Por Deus! Eu não achei que era uma festa! — Estou apavorada,
esse não é o senhor que conheço, sempre controlador, inalcançável e
implacável.
— Não ouse me fazer de idiota, Luna! — Sua voz grita com mais
raiva, fora de si. Ele vira o carro, entrando em uma rodovia vazia, o fazendo
correr mais. — Nunca deixe de atender a porra do celular! Nunca deixe outro
tocar em você!
— Senhor, por favor, vá devagar. — O medo me engole a cada rugido
do motor e ele apenas grita mais, apertando seus dedos ao volante.
— Hijo de puta bastardo! Tocó lo que es mío.[65] — Sua mão estoura
com raiva, socando o volante.
— Eu sinto muito... Ele deve ter caído, eu não o deixei... Não o deixei.
— Estava querendo saber como é foder com um puto de merda como
aquele, Luna? — Ele se vira, me olhando com nojo, apertando mais sua boca.
— Se é para ser fodida sem respeito algum, eu a teria comido!
— Eu não estava atrás de sexo. — Minha voz treme entre o choro,
apertando mais meus dedos ao painel. — Para esse maldito carro agora e me
deixa ir embora!
Olho para o painel do carro e Sedrico já ultrapassa todos os limites de
velocidade. Meus dedos tremem, é como se minha vida fosse acabar ali.
— Por favor... Por favor... — Me viro para ele, segurando seu braço
com os olhos nublados pelas lágrimas, e suas esferas são uma forma fria e
cruel, me fazendo ter mais medo do que nunca tive. Não conheço esse
homem à minha frente.
Solto dos seus braços, apertando o cinto à minha volta, me encolho
trazendo meus joelhos ao meu peito e escondo minha cabeça, chorando
compulsivamente enquanto abraço minhas pernas.
Se não fosse pelo cinto, teria voado para fora do carro quando ele
freia com tudo em uma rua abandonada e sem saída, deixando-me ver o
grande penhasco à nossa frente.
— Oh, meu Deus! — grito em pânico, chorando desesperada, me
abraçando mais forte. Posso ouvir sua respiração acelerada e o motor do
carro, que vai desligando. Os sons dos meus soluços invadem o carro.
Estou tendo uma crise tão grande de choro, que não percebo quando
meu corpo é liberto do cinto, me puxando para ele. Escondo meu rosto no
grande peito que sobe e desce sem parar, me apertando mais à sua quentura.
Sua mão passa por minhas pernas, me carregando para seu colo. Sedrico beija
meus cabelos, alisando minhas costas, o que me faz chorar o dobro, e ali
deixo tudo para fora, exponho cada ferida aberta que trago, chorando por essa
loucura toda.
— Perdóname[66]... Perdóname, Mikpó. — Sua voz sai baixa entre
meus cabelos, enterrando seu rosto neles. Os braços de ferro me apertam
mais a ele e deixo meus dedos segurarem em seu ombro, como se ele fosse
minha tábua de salvação.
— Eu não sabia, eu juro que não sabia, não estava atrás de sexo. —
Meus dedos se cravam mais em seu terno. Soluçando entre o choro, escondo
mais meu rosto em seu peito.
— Eu sei... Eu... — Ele me aperta tão forte, soltando o ar com dor. —
Eu perdi a cabeça quando lhe vi com aquele menino a tendo tão perto. —
Sinto dor com seu aperto forte, me trazendo mais para ele. O rosnado grosso
sai da sua boca, escorregando seus lábios por meus cabelos, suspirando
rápido. — O que fez de mim, Mikpó? Como me fez perder todo o controle
em tão pouco tempo? Fazendo-me sentir ódio daquele menino, sentindo a
necessidade de matá-lo só por segurar você nos braços.
— Foi só um abraço, senhor, só isso, não aconteceu nada. — Ergo
meus olhos molhados para ele, me deixando ver sua face tão perto da minha.
— Eu senti ódio, senti raiva! — As grandes esferas do leão, tão
expressivas, estão extremamente perdidas, com seus olhos cheios de dor. —
Eu senti ciúme, Luna! — Sua mão solta meus cabelos, alisando minha face e
retirando as lágrimas que caem por ela. — Um homem feito, na minha idade,
sentiu ciúmes de uma criança!
— Mas, eu... — Fico sem entender por que ele teria... Esse homem
me pôs para fora de seu escritório com apenas um olhar, me deixando saber
que nunca iria querer nada de mim. — Por quê?
Ele solta sua respiração, como se estivesse com dor, soltando seu ar
lentamente. Sua mão se espalma mais em meu rosto, alisando, retirando
mechas dos meus cabelos, não lembrando em nada o homem que acabou de
agir como um leão selvagem. Seus olhos se prendem em meus lábios, me
deixando sentir todo o medo e vontade que vem antes do pulo ao abismo.
Sinto meu coração apertado, o mundo lá fora parou, minha vida congelou por
um tempo em volta dos seus braços.
— Nosso acordo mudou, Luna! E lhe garanto que, fodidamente, cada
pedaço do seu corpo saberá quem é seu senhor! — Sinto a pressão dos seus
dedos em meu rosto, me apertando em posse, com seu peito arfando a cada
respirada.
Fico em silêncio, entendendo o que ele acaba de me falar. Não penso,
nem ao menos consigo me ajustar à intensidade como ele me olha. É o
colapso de toda a destruição do meu mundo e me atiro no abismo que ele me
puxa. Abaixo meus lábios, colando-os aos seus e o caos que tenho dentro de
mim se silencia, me prendendo àquele único momento.
Seus dedos se apertam com propriedade em meus cabelos, me
puxando mais forte para ele, deixando seu peito estufado se colar ao meu.
Minhas mãos espalmam em cada lado do seu rosto, as apertando em sua pele.
Quero segurá-lo para ter certeza de que nada disso é um sonho, que não vou
acordar pelo despertador e me ver longe dele, como sempre acontece nos
meus sonhos. Quero a realidade, estou farta de tê-lo apenas em minhas
fantasias.
Ele é cruel e dominante, me beijando com força, me marcando a cada
canto que sua boca explora a minha, deixando sua língua ir deslizando sobre
a minha, que se entrega em dependência. Suas mãos vão para meu quadril, as
apertando mais em minha cintura e movendo-me contra ele, me forçando a
senti-lo duro e forte, pulsando com tanta agonia quanto eu. É como se
fôssemos a combustão do fogo de cada um. Meu corpo se incendeia assim
que sua língua desliza pela minha garganta e seus dedos invadem minha
camisa, puxando os botões com força. É uma necessidade que me dói a alma,
me fazendo vibrar em antecipação, e eu quero me queimar, quero virar pó em
seus braços, até não sobrar mais nada além do meu coração batendo colado
ao seu. Meus dedos, em nervosismo, puxam seu terno, conseguindo o tirar
dos seus braços, jogando-o pela janela aberta. Me derreto com sua boca, que
deixa seus beijos se alastrarem como fogo pelo meu corpo, me incendiando.
Sinto felicidade quando meus dedos tocam seu peito livre da camisa, que abri
com luxúria. Ele se arrepia ao toque dos meus dedos, sinto a maciez dos seus
pelos. Sinto as fortes mãos espalmadas em minha bunda, erguendo minha
saia, me deixando esparramada em suas pernas. Seu movimento de pressão
faz a calcinha encharcar mais ainda, assim que seu pau a roça por baixo de
sua roupa. Aperto minhas pernas em volta dele, pressionando mais minhas
coxas ao lado de suas pernas, para poder sentir seu volume outra vez,
deixando meus dedos trêmulos tentarem arrancar seu cinto, quando escorrega
por seu peito. Seu pênis vibra forte, assim que o liberto, deixando meus dedos
curiosos conhecerem cada canto dele, deslizando sobre a cabeça larga e
grossa. Sinto meus dedos escorregarem pelas veias que vão o enchendo mais,
ouvindo o baixo rugido que escapa da sua boca.
Sua cabeça se move junto à juba dourada. Exponho meus seios para
ele, que me faz arquear mais, em pura ansiedade, querendo mais, querendo
tudo que vem dele. Minhas mãos têm toda atenção ao seu eixo sob elas, que o
apertam, subindo e descendo lentamente. Ele solta um gemido com meu seio
em sua boca, o mordendo na ponta do bico, deixando o pico de dor se
misturar com o prazer. Deixo minhas mãos deslizarem, percorrendo seu pau
inteiro por cada canto. Sua boca solta meu seio, erguendo seu olhar para
mim, em um aviso silencioso de que não teremos volta, e, sem pedir licença,
seus dedos se abaixam entre nós, esfregando o tecido da calcinha, sentindo-a
molhada. Vejo seus olhos brilhando mais e logo um sorriso perverso se faz
em seus lábios carnudos.
— Molhador de calcinha, Mikpó. — Sua voz sai baixa, perto dos
meus lábios, trazendo sua boca para a minha e me beijando com todo poder
que lhe dou. Seus dedos escorregam pelo tecido fino e molhado, em um
tortuoso vai e vem. Sua outra mão puxa meus cabelos com força, me fazendo
arfar, gemendo entre nossos beijos. Ganho uma mordida como resposta. Ele
se afasta, me olhando com posse, com desejo.
— Se... nhor... — Seus dedos empurram a calcinha para a lateral,
apenas os esfregando entre os lábios da minha vagina, escorregando para meu
clitóris, que vibra quando sente seu toque outra vez. Minhas unhas se cravam
como resposta do meu corpo, se forçando mais a ele.
— O que deseja, minha Lua? — Sua boca se move, mordiscando meu
queixo, sussurrando entre seus lábios. — Diga o que precisa!
Nesse momento, meu mundo já é seu, me entregando em desespero.
Lhe diria que os temores mais obscuros da minha alma se ele quisesse saber.
— Você... Você... — Meus lábios entreabertos soltam minha
sentença, então ele me traz para ele, apertando seus dedos em meus cabelos e
me beijando com loucura.
Sua mão puxa com força a lateral da calcinha, rasgando-a como um
fino trapo em seus dedos. Me erguendo, com uma mão se fechando em minha
cintura, com seus dedos esmagando minha pele, ele me aperta com força e
meu corpo ganha mais vida. Fico em euforia quando a cabeça grossa do seu
pau estaca na entrada da minha vagina. Soltando meu peso, vai me
abaixando, me deixando o sentir firme abaixo de mim. Meu corpo reclama
com uma pontada de dor, resistindo ao seu tamanho, mas não me importo, o
quero dentro de mim, em cada parte do meu ser. Aperto minhas pernas ao
lado das suas e vou descendo, o tomando, me sentindo sendo atravessada ao
meio a cada passo que ele vai me penetrando mais. Seus dedos em minha
cintura apertam mais a carne, escorregando, espalmando as duas mãos de
cada lado da minha bunda.
— Ohh!!! — Deixo minha cabeça cair para trás, libertando meus
gemidos, que são tudo que se ouve dentro do carro, junto com sua respiração.
Solto mais meu peso, até sentir minha bunda colada em suas pernas, o
deixando me preencher toda por dentro, tomando cada nervo, cada canto, me
apertando mais a ele dentro de mim. Seus dedos me prendem, me segurando
no lugar com força, me fazendo erguer meus olhos para ele. Sedrico está se
esforçando, se segurando para não perder o controle, mas eu quero isso,
quero que ele se perca em meus braços, como estou perdida por ele. Colo
meu peito ao seu peitoral, beijando seu pescoço, fazendo o mesmo que ele
tinha feito em mim, o lambendo até sua boca, mordiscando seu queixo.
— Mikpó. — Sua voz grossa de luxúria me faz querer o que ele me
nega, sabendo que ele está tão perdido quanto eu. — Te desejo tanto que não
vou me controlar por muito tempo... Dios, como é bom sentir você assim tão
quente.
Meu quadril se move de mansinho, em um vaivém lento, sentindo seu
aperto ir se afrouxando. Sua boca busca a minha, me beijando com pura
paixão. Respira forte e traz suas mãos em minhas costas, me abraçando em
seu aperto de leão, me cercando para ele. Solto meu quadril e acelero meus
movimentos, mordendo sua boca, deixando meu corpo ir soltando tudo que
implora.
— Me tenha, meu senhor. — Beijo seus lábios, o atiçando a sair da
sua zona de conforto, deixando meus dentes rasparem por sua orelha. Quero
seu amor por completo.
A estocada forte que ele me dá sem aviso, me faz jogar minha cabeça
para trás, me fazendo gemer duas vezes mais com a corrente elétrica que
percorre meu corpo quando ele sai por completo, voltando a entrar com força
total.
— Oh, Deus, sim... Sim!!! — grito em felicidade ao ter ele todo
dentro de mim. Sedrico me segura firme em seus braços, erguendo meu
corpo, e logo o sinto me bombardeando outra vez.
Ele me invade, tomando-me com força, libertando o que ele segurava.
Acelera cada vez mais, nos levando a gemer selvagens, nos perdendo em
beijos. Minhas mãos escorregam por suas costas, percorrendo minhas unhas
por cada canto, a cada pressão que o sinto, me atrelando a ele ao se enterrar
por completo.
— Mikpó. — Ele morde meu pescoço, deixando seus dentes
perfurarem a pele, pressionando com mais força.
Entra e sai, me fodendo com tanta pressão que sinto meu corpo ir se
desmoronando com ele, o deixando me levar aos céus com seu ritmo bruto.
Suas mãos apertam forte minha bunda, enquanto seu pau me penetra
avassaladoramente com tanto desespero quanto eu o recebo. Meu cérebro está
explodindo em partículas de prazer, sentindo ele todo ir se chocando de uma
forma que nunca tinha sentido. O orgasmo vem forte, inesperado, como se há
muito tempo meu corpo esperasse por ele, apenas ele. Nunca tinha me jogado
de uma forma tão violenta quanto agora, quando o nirvana me puxa.
Sedrico me toma com mais força, tocando cada terminal entre as
paredes do meu corpo quente, que o recebe, me deixando inútil para outro
homem, pois sei que nunca, em nenhum momento, poderei deixar outro
homem me tocar, a não ser ele. O aperto com toda energia que tenho
correndo por meu corpo. Meus olhos se fecham e é uma dor misturada com
êxtase que me rouba o fôlego, e me sinto perdida quando ele se retira de mim.
Sua mão me ergue, tirando meu corpo de cima dele, me jogando no banco do
carona, sobre meus joelhos, de costas para ele. Nessa hora, não tem
matemática que explique como um homem daquele tamanho conseguiu se
contorcer tanto dentro daquele carro. Não se trata de física, é pura química
que nos toma em nossos corpos suados e quentes, gritando por libertação.
Suas mãos esmagam meu traseiro, o erguendo para ele. Sinto minha cabeça
parar próxima ao vidro, colando meu rosto nele. Meus dedos seguram a porta,
não me deixando desabar, e grito logo quando ele me invade com toda fúria,
o recebendo duro e forte em diversas estocadas contínuas, me deixando mais
molhada e quente do que já estou. Sinto como se minha mente explodisse em
outras dimensões, ativando nervos que nem eu mesma conheço dentro do
meu corpo, se ligando outra vez, ao tê-lo me bombardeando, como se fosse
atravessar meu corpo, botando para fora tudo de mim. Ele segura forte minha
coluna, jogando todo seu peso sobre minha bunda. Sua mão vai aos meus
cabelos, os puxando com força e prendendo em seus dedos, puxando-os para
trás. Sua outra mão, que está em minha cintura, desce, pressionando mais
forte meu clitóris, o esfregando com o mesmo ritmo forte que me toma.
— Ohh, meu Deus... Ohhhh... — O segundo orgasmo vem com o
dobro de força do primeiro, a cada batida frenética dele dentro de mim.
Posso sentir suas coxas se colando às minhas a cada batida forte que
ele me invade. Grito em êxtase, mordendo meus lábios. Sinto meus olhos
lacrimejando, com tanta intensidade. Seu pau sai e volta estocando mais
fundo, mais rápido. Mesmo com meu corpo tremendo, ele se move mais uma
vez, acertando o pico que me rasga, soltando um rugido como o verdadeiro
leão que é. Seu corpo sai do meu, que treme mais forte com o gozo que me
aplaca. Ouço seu urro forte dentro do carro, apertando meu quadril com uma
das suas mãos e logo sinto os jatos quentes caírem sobre minha bunda,
esfregando seu pau por minha pele, como se quisesse me marcar com sua
porra. Solto meus dedos da porta do carro, caindo sobre meus braços,
largada, miserável, mas com uma felicidade desgraçada me consumindo em
puro esgotamento de prazer. Não tenho certeza do que acabou de acontecer,
apenas tenho clareza que vai para bem longe de uma simples troca de luxúria.
— Eu machuquei você? — Ouço sua voz atrás de mim, entrecortada,
com sua respiração que tenta voltar ao normal. Meus lábios se perdem em um
sorriso e, foda-se, eu poderia estar toda dolorida e ainda assim me sentiria
feliz, desejando mais.
Sei que tenho que ter vergonha por estar com a bunda erguida em sua
direção, mas, nessa hora, pouco me importa. Ele acabou de foder com meu
cérebro junto com meu corpo, me deixando tão mole quanto uma massa de
bolo, e nem sinto quando suas mãos grandes seguram minha cintura, me
fazendo quase chorar quando minha vagina sensível se retrai, deixando os
tremores passarem por mim como pequenos choques.
— Ohhh, meu Deus... — Mordo o estofado, abafando meus gemidos
que saem, sentindo suas mãos alisando minha bunda.
Ele me ergue de vez, me sentando em seu colo e me deixando ficar lá.
Me aninhando a ele, passo meus braços por seu pescoço. Nossos corpos,
úmidos e colados, se chocam com os batimentos descompassados. Escondo
meu rosto em seu pescoço, sentindo os pequenos tremores me percorrerem,
nem sabia que uma coisa dessas podia acontecer. Ele alisa minhas costas,
mordiscando meus ombros, posso ouvir uma risada baixa saindo de seus
lábios.
— Mikpó. — Sinto seu beijo molhado e quente em meu ombro, onde
ele mordeu, em seguida, joga meus cabelos para trás, voltando a enterrar seus
dentes com mais pressão. — El mío, sólo mi![67]
Ergo minha cabeça, tentando me focar em seu lindo rosto. Seus olhos
brilham como a calmaria de um rio, me fazendo erguer minha mão, deixando
meus dedos traçarem por seu queixo dourado, sentindo sua barba rala fazer
cosquinhas neles. Estou perdida, jamais poderei afastá-lo e, se ele fizer isso,
eu morrerei na mais completa solidão, e isso nunca me trouxe tanta dor e
alegria ao mesmo tempo.
— O que fez de mim, Mikpó?! — Seus olhos se fecham, colo minha
testa a dele, que deixa sua respiração sair baixa.
Poderia ter lhe dito que não fiz nada mais do que entregar meu
coração em uma bandeja de ouro, como um tributo ao poderoso deus que
cruzou o meu caminho, e rezar para ele ser benevolente, não o destruindo em
suas mãos.
CAPÍTULO 11
O despertar de Afrodite
Sedrico
Andei por tanto tempo entre as noites, sendo o deus do pecado para
cada um que cruzou meu caminho, alimentando todos os desejos que
poderiam existir dentro de almas presas, soltando seus instintos mais
promíscuos e devassos, e me vejo agora entre a euforia carnal, sentado no
meio da cama com minha pequena Afrodite, devidamente fodida, com meu
pau enterrado em sua boceta, com suas pernas trêmulas sobre as minhas. O
pequeno corpo se contorce agarrada aos meus braços, cravando mais suas
unhas em minha pele. Eu não me lembro a última vez que trouxe alguém para
minha casa, mas sei que, assim que meu pau se afundou naquele corpo, nem a
noite mais longa me saciaria.
Os cabelos sedosos estão espalhados em meu peito, com suas costas
bem presa a mim, me deixando sentir cada novo arfar que ela solta. Luna é
meu pecado luxuoso, que se liberta através da minha mão, deslizando pela
lateral do seu corpo, conhecendo cada parte sua, mapeando cada reação que
ela tem entre meus toques. Meus dedos escorregam lentamente próximos aos
seus seios, fazendo-a arqueá-los mais em minha direção, com seus bicos
rígidos e inchados, nos quais passei um longo tempo mamando com puro
tesão. Um dos meus dedos contorna a parte debaixo deles, ouvindo o som
maravilhado dos seus lábios, com sua pele se arrepiando a cada deslize que
meus dedos dão sobre eles, segurando o bico sensível, os apertando com
força e soltando, intercalando entre um e outro. Meu outro braço, preso por
sua cintura, a segura quando ela se aproxima outra vez do abismo, puxando-a
para mim. Minha mão afasta seus cabelos, beijando seus ombros, raspando os
dentes pela pele desnuda.
Suas pernas sobre as minhas se prendem mais, deixando os espasmos
pulsarem em seus músculos. Sinto seu cheiro, que invade o quarto, me
deixando embriagado, com a força como ela vem em puro desespero. E,
mesmo com seus olhos me implorando para parar, seu corpo ainda responde,
com mais urgência. Ela tomba sua cabeça em meu peito, respirando rápido,
prendendo mais suas mãos em meus braços, levantando o pequeno rosto para
mim. Olho com pura posse para a face, que me consome, alimentando meus
demônios. Meu peito vibra quando minha cabeça se move para ela, sugando
seus lábios inchados, os abrindo para mim. Beijo-a com mais fome, meu pau
se move, empurrando dentro dela, fazendo-a choramingar. Empurro sua
cabeça para frente, meu nariz se enterra em seu pescoço, retirando seus
cabelos, tocando sua nuca com a ponta da minha língua. Ela respira mais
rápido, contorcendo seu corpo, levando suas mãos para minhas coxas, como
se pudesse se segurar. Deixo minha mão se erguer até seus ombros,
escorregando com as pontas dos dedos por eles, vendo-a tremer quando meus
dedos tocam a parte baixa do seu antebraço, deslizando por seus cotovelos.
Seu pequeno corpo é um mapa de prazer, me induzindo a desbravar cada
parte das suas zonas erógenas. Minha mão em volta da sua cintura afaga sua
barriga, se movendo para baixo e testando seu limite quando escorrego os
dedos indicador e médio entre sua boceta quente, preenchendo-a. Meu
indicador circula o pequeno broto que já está duro outra vez, a fazendo se
apertar em volta do meu pau, se agarrando mais a mim.
— Deus... Não... — Sua voz é tão manhosa. Perdida entre seu limite,
olha para mim com seus olhos dilatados, balançando sua cabeça em negativo.
Meu pau a responde, se movendo mais uma vez dentro dela. Sinto-a
vibrar, contorcendo mais seu corpo, dos dedos das mãos cravados em minha
coxa até os dedos dos pés, que se prendem ao colchão, contraindo mais suas
pernas. Sei que Luna está chegando ao máximo da sua intensidade, está na
borda, perto de alcançar o clímax do prazer.
— Mikpó... — sussurro baixo, próximo ao seu ouvido, com a ponta da
minha língua escorregando atrás da sua orelha. Meus dedos se viram,
pressionando o polegar, apertando mais seu broto inchado e massageando ele
em círculos lentos. — Deixe vir... — Beijo sua nuca, respirando entre sua
pele, fazendo-a gemer mais com seu corpo todo em combustão. Minha mão
livre se ergue ao seu seio, prendendo seu bico entre meus dedos, aumentando
a pressão do meu polegar em sua boceta.
— Muito... Muito... Oh, meu Deus! — Sua voz manhosa quebra o
quarto, em um grito de luxúria.
Seu cheiro de pura feminilidade exala através do suor que seu corpo
vai liberando. Ela se prende mais a mim, a cada movimento preciso que meu
polegar faz, a empurrando de vez. Luna liberta seu corpo, a cada espasmo
que lhe consome forte. Sinto os jatos quentes que vão lavando meu pau, com
ela voando mais alto. Suas pernas trêmulas se arrastando em euforia pelo
colchão. Prendo seu quadril com meu braço, com seu pequeno corpo trêmulo
se contorcendo de puro prazer. Ela respira extasiada, esfregando suas mãos
aos meus braços, se perdendo no abismo que cai. Meus lábios vão para seu
outro ombro, apertando meus dentes sobre ele, espalmando minha mão por
completo em sua boceta, acelerando o contato das peles, aumentando os jatos
quentes do seu squirt[68]. E, com pura luxúria ao lhe ter em seu auge do
prazer, apenas me movo, levando minhas mãos por debaixo das suas pernas e
erguendo sua bunda, tendo-a tão presa em meus dedos, que se cola à carne
macia. Viramos-nos sobre o colchão. Assim que seu corpo cai de bruços,
meus pés tocam o chão, puxando sua cintura junto comigo, a vendo morder o
lençol. O arrasta com ela, com suas mãos esmagando-o. Quero-a tão
fodidamente ligada a mim, que meu corpo sai e volta com pressão, apenas
para ter minhas bolas batendo em sua pele. Minha mão escorrega por sua
bunda, pressionando meu polegar na entrada apertada a qual eu, com toda
certeza, me enfiarei. Massageio seu cu conforme a fodo duro, voltando e
saindo. Sinto sua boceta apertada e tão quente, como um vulcão a me engolir
por completo. Meu pau estoura em mais uma sequência de seis batidas antes
de sair dela, os nervos das minhas coxas estão duros, tremendo, com a
libertação da minha porra, me deixando em puro prazer por cada jato que
escorre por suas pernas. Sinto-me um maldito deus com meu peito vibrando
em rápidas batidas aceleradas do meu coração. O corpo mole abaixo do meu
escorrega, deslizando na cama e ficando completamente mole. Me arrasto
sobre ela, com meu corpo a enjaulando, ouvindo os sons baixos da sua
respiração. E, sim, fodidamente essa boceta é minha.
Luna
— Onde estava? — A voz da minha mãe é a primeira coisa a me
acertar, assim que atravesso a porta da entrada. Ao erguer meu olhar, ela está
com seus braços cruzados diante do seu corpo, parada na cozinha.
— Eu saí com as meninas da faculdade, sinto muito por não ter
avisado, acabei esquecendo. Não foi por maldade. — Ela apenas move seu
olhar do meu rosto, me fazendo me calar, olhando para meu corpo. Eu tinha
encontrado minha saia dentro do carro de Sedrico, já a pobre camisa não teve
o mesmo fim.
— Que camisa é essa? — Aperto meus braços na gigante camisa que
Lycaios me fez vestir. Tinha rido com seu olhar, me sentindo bem ao vestir a
roupa dele, mas agora, diante da minha mãe, sinto como se a camisa estivesse
me salvando da tempestade negra que ela traz.
— Eu... Hum... Bom, sujei minha camisa. — Olho para as escadas,
me apertando mais àquela roupa, sentindo o cheiro dele, que me deixa mais
segura. Tento passar reto, sem mirar muito em sua face, abaixando a cabeça.
— Eu só vou trocar de roupa e já desço para faxinar a casa.
— Lu. — O som baixo da sua voz faz eu parar no caminho, me
apertando mais ao meu corpo. — Não minta para mim! Conheço o olhar de
uma mulher apaixonada.
— Mãe... — Me viro para ela, vendo-a olhar para a porta de entrada
com desgosto.
— É aquele homem, não é? Finalmente ele cobrou seu preço. — Ela
ergue seu tom de voz e, na mesma hora, olho para a sala, vendo as crianças
distraídas com a TV.
— A senhora está entendendo errado — sussurro para ela, me virando
e subindo as escadas. Não vou falar com ela sobre Sedrico, é a única coisa
que tenho que ela não destruiu.
— Você não vê, Luna. — O som dos seus passos atrás de mim me
fazem acelerar mais, entrando no quarto.
Nem tenho tempo de fechar a porta, pois ela já está passando.
— Mãe, deixa eu me trocar! — Sua mão já está em meu rosto, o
empurrando para o lado e olhando meu pescoço marcado.
— Foi esse preço que pagou! — Tento me afastar dos seus dedos, que
continuam esmagando minha pele.
— Mãe, me solta! — Retiro sua mão de mim, sentindo meu peito
queimar diante do seu olhar. Jogo a bolsa sobre a cama, retirando meus
sapatos, olhando-a me encarar, soltando seus ombros.
— Você é só um passatempo para ele, é isso que homens como ele
fazem com garotas como você.
— Como eu? — Meu corpo se endireita, segurando o outro sapato em
meus dedos, me sentindo perdida. — Explique, como são garotas como eu,
mãe?
Seu corpo se move, parando à minha frente. Segura meu braço, me
fazendo a encarar.
— Ingênuas, bobas, que vivem no mundo das fantasias. — Ouço
aquilo sem acreditar que ela tem coragem de me dizer que eu vivo no mundo
das fantasias. Qual é a fantasia que tenho na minha vida de merda?
— Para!
— Olha para você, Lu! Você é linda, nova, é a fantasia ambulante de
todo homem com essa sua cor...
— Minha cor? — Minha cabeça tomba para o lado, observando-a
entre minha dor. Sinto ela enfiar uma faca em meu coração e a torcer
lentamente. Meu corpo se move para trás, me livrando dos seus dedos. — O
que tem minha cor, mãe? Me fala! — Comprimo meus lábios com raiva,
jogando o maldito sapato no chão.
— Não ouse me olhar com essa cara, Luna Delis. — Seus dedos
esfregam sua face, soltando o ar lentamente. — Nunca me importei com sua
cor e não sou racista, sabe muito bem disso. Mesmo quando seu pai apareceu
com você na porta da minha casa, mesmo tendo puxado a cor de sua mãe, eu
a amei no primeiro momento que vi você e lhe amaria da mesma forma se
fosse roxa!
— Então, por que acha que ele não me amaria? — Sinto meus olhos
ardendo, enquanto ela vai destruindo a única coisa boa que me aconteceu.
Quero chorar, mas me nego cair à sua frente e segurarei até o fim. — Minha
mãe se casou com um homem branco também, por que acha que um homem
branco não pode me amar?
— Sua mãe se casou com um homem branco, pobre e trabalhador,
que lutava para garantir seu sustento. — Ela solta suas palavras como um
tapa frio em meu rosto, deixando as verdades cruéis me acertarem. — Luna,
meu amor, ele pode lhe amar, como todo homem lhe amaria.
Ela se move lenta, erguendo seus dedos para meu rosto, o alisando,
enquanto esmaga meu coração.
— Mas apenas entre quatro paredes. Ele nunca sairá gritando para o
mundo que tem uma mulher de cor ao seu lado. A vida dele é outra, seu
mundo é outro, e você, no momento, é só uma decoração bonita. — Tento me
afastar dela, mas ela me segura com força. — Você acha que não sei? Que
não vi várias e várias amigas negras, lindas, exóticas, se acabando de amores
por homens perfeitos em seus ternos de grife, que enchiam elas de joias,
presentes de luxo e luxúria, mas nunca andavam de mãos dadas com elas em
um salão da alta sociedade? Você pode ir, como ele sempre te leva, mas
sempre será atrás, nunca ao lado, e vai acabar como elas. Apenas será útil
para aquecer a cama dele, Luna.
— Não é assim, mãe... — Abaixo minha cabeça, escondendo-a em
minhas mãos, sentindo meu coração se partir com meu corpo desabando na
beirada da cama.
É como estar em um dia lindo de sol e, como se por mágica, uma
grande nuvem escura surgisse à sua frente, deixando tudo tão escuro, vazio e
cheio de dor, lhe sufocando até sentir sua alma sair do corpo.
— Luna, só não quero lhe ver com o coração partido em vários
pedaços. — Ela se abaixa, segurando meus joelhos. Balanço minha cabeça
lentamente para ela.
— Mãe, já sou grande. — Deixo as mãos caírem em meu colo,
olhando para ela com dor. — Se meu coração se quebrar, não se preocupe,
irei catar pedaço por pedaço e ficar firme, como sempre fui obrigada a ficar.
— Vejo seus olhos escurecendo quando ela se levanta, olhando para mim
com nojo.
— Quando isso acontecer, porque vai acontecer, Luna — ela fecha
sua face, engolindo seu ar —, eu vou estar aqui para te dizer que lhe avisei.
— Por que tem que ser tão cruel, mãe? — Sinto meu peito sangrando
quando ela tira a faca que me corta, perdendo meu olhar em meus dedos, sem
desejar olhar para sua face.
— Porque a verdade é cruel!
Permito-me chorar apenas depois dela ter saído do quarto, batendo a
porta atrás de si. Me levanto, caminhando entre as lágrimas que jorram dos
meus olhos, e giro a chave da porta, com meu corpo escorrendo entre a
madeira, até meus joelhos tocarem o chão. Abraço a roupa, como se fosse ele
a estar ali, me dando um pouco de acalento. Não é verdade o que ela me
disse, não vou deixar aquele veneno se alastrar.
— Conte-me o que esconde por trás desses olhos, Mikpó. — Seus
dedos se erguem, alisando meus cabelos. Esfrego mais meu rosto ao seu
peito, com seus braços me prendendo a ele. Estamos deitados na cama.
Quero morrer nesse momento, pois assim sei que alguma coisa valeu a pena
na minha vida.
— Estou sentindo medo — sussurro, erguendo minha face para ele
quando seus dedos prendem meu queixo, segurando-o. Meus olhos aos seus
se perdem na intensidade que há lá. A grande mão solta meu queixo,
alisando meu rosto.
— Por quê?
— Porque não vejo futuro nisso, senhor — digo toda a verdade que
sinto em meu peito. — E não sou uma menina tola. Tenho a nítida
consciência que tem uma grande diferença entre nós.
— Você fala por minha idade, Luna? — Seus olhos se escurecem
mais, deixando seu peito arfar, soltando o ar pesadamente.
— Não... Claro que não! — Fecho meus olhos, encostando meu rosto
ao seu, sentindo sua respiração. — Eu cometeria a mesma loucura se você
tivesse o triplo da minha idade. Mas não sou ingênua, seu mundo é muito
diferente do meu, senhor.
Ele me puxa, colando meus lábios aos seus, me beijando docemente e
deixando suas mãos passarem por minhas costas.
— Então construirei um mundo apenas nosso, Mikpó... — Sua voz
grossa me sussurra isso em uma promessa tão perfeita, deixando-me me
perder mais. O abraço mais forte, prometendo a mim que chorarei apenas
em meu quarto escondida e que, por esse segundo, irei acreditar nessa doce
ilusão que ele nos promete.
Sedrico
— OH, PORRA, Luna! Isso não é brinquedo. — Meus dentes se
apertam, sentindo o suor em minha testa. — Dios, segura certo!
Fecho meus olhos, soltando a cabeça para trás e arfando meu peito
com ela, agitada e eufórica.
— Mierda que isso não é de borracha, Mikpó! — reclamo alto,
rangendo meus dentes.
— Você não está ajudando, senhor, só está me deixando mais
nervosa! — ela grita mais alto. Meus dedos se apertam à lateral do meu
corpo, deixando cada músculo das minhas pernas se contraírem. — Apenas
relaxa, está legal?! Devon disse que estou pegando o jeito.
— O jeito de nos matar. — Abro os olhos, vendo o poste que passa
colado ao meu lado e o som do motor que ruge quando os pequenos pés se
afundam mais no acelerador.
— OHHH, MEU DEUS! — Ela vira seu rosto para mim, em pura
alegria. Mas a olho apreensivo, empurrando seu rosto para a frente.
— Não tira o olho da pista, Mikpó!
Ranjo meus dentes, me amaldiçoando por tê-la deixado pegar meu
carro e quero saber onde estava com a cabeça para concordar com isso, mas é
ela virar seu rosto de volta para mim, sorrindo com o vento balançando seus
cabelos na pista do autódromo, que me lembro dos pequenos lábios sugando
meu pau com tanta vontade que, se ela me pedisse meu rim, eu lhe daria.
— Oh, meu Deus! — Ela ri mais, fechando a curva quando seus
braços giram o volante, levando seu miúdo corpo junto.
Aperto o banco, vendo meu fim que se aproxima ao som do motor,
que estoura como um puto amante ao seu toque. Ela o puxa para a esquerda,
com a Ferrari cantando pneus na derrapagem. E, quando o carro para, sinto
meu peito todo estourando com as batidas do meu coração e a mais pura
adrenalina que consome minha cabeça.
— Viu, não foi tão ruim! — Retiro os óculos, os jogando no painel e
soltando a porcaria do cinto. Ao me virar, vejo seu rosto risonho com suas
bochechas quentes, os cabelos emaranhados pelo vento, faceira com um largo
sorriso de orelha a orelha.
Ela sorri, soltando seu cinto, enquanto tento não apertar seu fino
pescoço. Eu devia saber que, quando disse que poderia ir até a garagem e
escolher o carro que desejava dirigir, seus dedos atrevidos apontariam para a
Ferrari Conversi bordô. Devon está a ensinando há dias. O filho da puta me
disse que ela estava indo bem, não que é uma assassina em série.
— Nunca mais vai dirigir minha Ferrari!
— Disse que queria com emoção. — Seu rosto se vira. Ela estende
seus dedos depois de livres, ligando o som do carro. A pista livre, que deixei
exclusivamente para ela, tem o final da tarde acertando sobre nossas cabeças
ao longe, entre o asfalto e os pneus, com as arquibancadas distantes. — Teve
emoção. — Ela se vira para mim, com seus olhos brilhantes.
Eu me referi a ter ela chupando meu pau enquanto estava dirigindo,
não ela me deixando quase ter um infarto no banco do carona. Seu corpo
pequeno já está subindo em minhas pernas, com seus dedos em meu peito.
— Não foi ruim... — A ponta dos dedos arteiros sobe por meu
pescoço, escorregando lentamente para meu peito. — Foi excitante!
— Foi terrível! Nunca mais vou conseguir me sentar em um banco do
carona. — Solto o ar, me perdendo em seus movimentos lentos, com suas
coxas se apertando mais ao redor das minhas pernas.
— Banco do carona é bom, senhor... — A voz mansa e baixa se
alastra em minha orelha, com as pontas dos seus dentes raspando sobre ela.
Ela solta mais seu quadril sobre os meus e, por instinto, minha mão se
espalma em sua bunda por baixo da saia. Seu corpo nu está livre, como se
esperasse por mim, me deixando mais alto e com meu peito arfando.
— Está sem calcinha. — Sorrio, olhando por cima do seu ombro para
sua bunda desnuda.
Aperto mais forte, soltando um tapa com a outra mão. Sinto seus
dentes pequenos cravando na lateral da minha garganta, sendo cortado pela
onda de prazer que vai se espalhando pelo meu corpo. Sinto a adrenalina alta
em meu corpo, fazendo meu pau latejar em meio ao passeio radical de Luna e
seu corpo quente, que se esfrega em mim.
Ela move seus dedos entre nós dois, abrindo minha calça e já sabendo
que meu pau deseja se afundar perdidamente entre sua boceta quente. Seus
olhos se abaixam, observando-o, que, em resposta, pulsa forte, fazendo-a
sorrir. Meus dedos cravam mais na pele, movendo meu peito para frente, para
buscar sua boca.
Luna é doce e cheia de vida, como um vulcão fértil que nutre tudo em
volta. Ela me afasta com uma mão no meu peito e a outra segurando meu
pau. Arqueando um pouco seu corpo para cima, o som baixo da música que
vai se alastrando pelo carro a faz sorrir, me tomando mais, movendo seu
quadril para baixo, me engolindo.
— Porra! — Minha cabeça tomba, com ela travando na metade,
requebrando seu quadril como se estivesse dançando com meu pau.
A música TaKillYa solta o ritmo em batidas lentas e rápidas,
intercalando entre os mambos[75], e ela se diverte, me torturando ao compasso
da música. Aperto mais sua polpa, erguendo meu quadril para cima de uma
vez só. Ela solta o ar, prendendo seus dedos em meus ombros. Ao abrir meus
olhos, vejo-a com sua cabeça caída para trás, seu peito arqueado à minha
frente, me deixando com a boca seca.
Ela solta suas mãos de mim, deixando-as para trás, em meus joelhos,
rebolando em cima de mim, movendo-se de um lado ao outro. A cada parada,
ela volta a rebolar, o sugando mais, se apertando até o final e deixando sua
bunda colar em minhas coxas. Estou sendo sugado pela dança diabólica que
ela faz, me fodendo por cada canto, com meu pau pulsando forte, a sentindo
escorregadia e quente a cada jogada de quadril.
Meus dentes se apertam, com minha mandíbula travada e minha
cabeça caindo para trás, perdido demais para lhe tirar o controle. É uma
pequena deusa sádica quando joga seu quadril para o lado, voltando lento e
circulando sua bunda em minha perna. Minha mão solta sua bunda,
abaixando sua camisa e me deixando ver seus seios eretos, que saltam para
fora.
— Mikpó... — rosno com mais raiva, segurando sua cintura e sentindo
meu pau traidor se encantar rápido demais pelo que ela faz. — Caralho!
Arfo, sentindo meu corpo ir se enrijecendo com desespero pelo que a
pequena nefasta faz. Meu corpo se move para frente, empurrando suas costas
para o painel, e nem a porra da música que aumenta o volume quando ela
esbarra nos botões me faz tirar a boca do seu seio, o chupando com mais
força!
— TaKillYa — sussurro, esfregando meu rosto em seus peitos, junto
com a música, levando a mão para sua traseira e apertando suas coxas. Ela
solta um grito, gemendo entre as mamadas, sugando meu pau dentro dela,
que deixa seu líquido escorrer sobre ele.
Ergo-a o suficiente para me alavancar, estocando mais fundo e rápido,
levando nós dois para onde quero. O som da sua risada, misturada aos seus
gemidos de prazer, seus braços quentes circulando meu pescoço, gritando
mais alto...
— Ohh... — Solto seus seios, erguendo minhas mãos e apertando suas
costas, deixando-a livre quando ela aumenta as batidas, me montando rápido,
subindo e descendo com agilidade.
Seus dedos, presos em meus cabelos, colam sua face acima do meu
rosto, me esmagando mais, me deixando entre suas tetas. Sinto seu corpo ir
subindo no momento que sua boceta se aperta em volta do meu pau, o
engolindo cada vez mais, se derramando sobre ele com pura luxúria, soltando
sua libertação. Seu corpo pequeno treme e volta a gemer quando libero minha
porra, inundando-a por dentro, com sua boceta quente me ordenhando.
Ouço o riso safado em alegria que ela solta, se afrouxando sobre mim,
escorregando seus braços para os lados, e sinto seu rosto se colar em meu
pescoço, ficando largado ali junto com seus suspiros.
— Banco do carona é bom — ela sussurra, soltando uma risadinha.
Esfrega seu rosto.
Fodidamente, o banco do carona é bom. Abraço ela com mais força,
cheirando seus cabelos. A luz em vermelho que pisca alta no poste e me faz
olhar para lá com mais atenção.
— Mierda! — rezingo com raiva, tendo-a ainda acoplada ao meu pau.
Seu corpo se move, me olhando perdida.
— O que foi? Ainda está bravo? — Beijo a ponta do seu nariz,
sentindo ódio por dentro por ter sido tão descuidado.
— Estou pensando sobre um assunto — sussurro, deixando-a
despercebida da invasora atrás de nós.
Meus dedos vão à frente dos seus seios, abaixando a camisa e os
deixando devidamente tampados. Abaixo sua saia, lhe dando um leve tapa
para que saia do meu colo. Ainda sinto meu pau pulsar quando ela se ergue,
me deixando o ver ensopado com minha porra e a dela escorrendo da sua
boceta.
Seu pequeno corpo cai no banco do motorista, sorrindo para mim com
moleza. Deixo minha atenção focada no poste, guardando meu pau dentro das
calças e puxando os óculos do painel.
— Venha, quero chegar vivo em casa. — Abro a porta do carro,
retirando meu celular. Digito para Devon, que nos espera na cabine.
Dom: Câmera na curva sete. Pegue as filmagens!
A mensagem é visualizada na mesma hora, me fazendo me sentir puto
em pensar que algum bastardo a estava assistindo tão solta.
Devon: Já estou buscando, senhor.
Guardo o celular, indo para a porta do motorista, com seus olhos
moles brilhando para mim. Ela pula para o outro banco, me deixando entrar,
e sorri para mim.
— No fim, até que foi legal. — Me viro para seu rosto arteiro, que
arruma seus cabelos para trás das orelhas, os erguendo em um coque. Meus
dedos se esticam, abaixando o volume do rádio.
— Quer voltar e dizer isso para o gambá que atropelou? — Ela olha
para trás, com seu peito arfando.
— Eu atropelei? — Os olhos que brilhavam em felicidade vão se
apagando, os deixando marejados. — Eu achei que era uma pedra.
— Claro que não era. — Ergo meus dedos, arrumando o retrovisor,
vendo as marcas dos pneus no asfalto. — Você o atravessou no meio com o
pneu! — Solto o banco, o empurrando para trás. Como alguém pode dirigir
colada no volante?
Rio com o tapa que ela me dá no braço, fazendo erguer meus dedos e
apertar seu pulso, o levando à boca, enquanto o mordo.
— Dios, Devon devia ter me avisado que estava tentando tirar seu
porte de arma e não a carteira.
— Eu poderia estar muito melhor se tivesse me deixado ir para uma
autoescola, como todas as pessoas normais fazem. — Levo a ponta dos seus
dedos à minha boca, os mordendo sob seu olhar bravo. — Para seu governo,
ele me falou que estou dirigindo muito bem com o New Beetle.
Solto uma gargalhada sobre seu olhar orgulhoso, ganhando outro tapa
dela.
— Dios, Mikpó, uma coisa é dirigir um fusca, outra uma Ferrari. —
Puxo-a para mim, quando ela tenta se afastar, querendo se livrar do meu
aperto. O vento quente da tarde bate entre seus cabelos, os movendo
lentamente, ainda com sua face fechada, mas ainda assim tão bela. —
Venha...
Ela escorrega para meu colo, ficando de lado, com suas pernas
encolhidas sobre minhas coxas. Seu rosto encosta no meu peito. Puxo o cinto
sobre nós dois, protegendo a pequena vênus. Ela ergue suas mãos para meu
rosto, roubando meus óculos com um sorriso arteiro.
— Com emoção ou sem? — Rio com sua pequena audácia, levando a
armação negra para sua face, que fica imensa em seu rosto. Beijo sua testa,
deixando-a circular meu pescoço.
O som vibra, como uma longa trovoada quando giro a chave, o
acelerando. Ela sorri mais, se encolhendo em minhas pernas, já com o vento
nos acertando quando dirijo para longe dali.
— Senhor! — Meus olhos se erguem para Devon, que entra na sala
com seu semblante formal, esticando o pen drive e o deixando sobre a mesa.
— Alguém viu? — Ele move sua cabeça em negativo. Deixo meus
dedos soltarem a caneta que esmagava com tanta pressão.
— Os seguranças estavam em troca de turno, Dom. Providenciei para
que fosse apagada do sistema e dos monitores. A única filmagem existente
está em cima da sua mesa.
Estico minha mão, pegando o pequeno pen drive e o olhando com
atenção, erguendo meus olhos para ele.
— Você viu?
— Não, senhor, a filmagem foi completa desde às 7h da manhã até
vinte minutos depois que me avisou.
Balanço minha cabeça em confirmação, voltando a ficar calmo. Tinha
cometido um descuido grande. Quando tenho Mikpó em meus braços, tudo se
anula à minha volta. Sou enfeitiçado por ela, com seus jeitos mansos e
sorrateiros, que vão me tomando sem ver. Seu sorriso, que me tem na palma
da sua mão, a forma como sinto-me possesso em apenas imaginar alguém
ouvindo os baixos gemidos que ela solta. Isso me faria odiar, cruelmente, se
alguém tivesse a visto tão minha. E tenho a consciência que a palavra minha
vem tão fielmente em meu cérebro, me deixando mais controlador de cada
passo seu, desejando saber cada movimento que ela faz, me consumindo com
apenas a ideia de ela estar longe demais. Ainda sinto a mesma amargura de
quando ela se negou a me acompanhar até Miami me consumir.
— Eu não posso. — O som baixo da sua voz se alastra, com sua face
virada para a janela do carro.
— Eu vou ficar longe por duas semanas, Luna. — Aperto o volante,
escondendo a ira por detrás dos óculos.
— Não posso deixar minha família por duas semanas. Eu tenho
trabalho e a faculdade...
— Zelda lhe deixaria ir.
— Oh, meu Deus! — Ela vira sua face, olhando com calma para mim.
Seus dedos se erguem, esfregando sua face. — Não posso fazer isso e não
quero.
— Por quê? — Meu rosto tomba para o lado, apertando meu maxilar,
vendo ela se encolher, com seus olhos presos em minha mão no volante.
— Esquece — seu sussurro corta o carro e ela se encolhe ao canto.
— Mikpó, me responda — grunho mais alto do que gostaria, mas não
tenho controle por mais nada, apenas me sinto sendo esmagado por saber
que ela estará longe dos meus olhos.
Sua cabeça balança em negativo, levando seus dedos para a porta,
mas já a prendo de volta, segurando seu ombro quando solto o volante.
— Responda quando lhe fizer uma pergunta, Luna. — Ela tenta se
afastar, erguendo suas mãos ao meu rosto. Os óculos caem entre nós,
deixando-a ficar em silêncio com sua atenção em mim.
Eu sei que estou com os olhos queimando entre a ira e a falta de
controle que sinto perto dela, os deixando tão expressivos que sua voz se
cala. As pontas suaves de seus dedos se erguem em minha face, alisando a
lateral do meu queixo.
— É a única coisa da qual eu tenho controle, senhor. É meu trabalho.
Não quero que interfira. — Sinto seus dedos caindo no colo, se encolhendo,
abaixando, me deixando longe das suas esferas negras, que se apagam. —
Uma vez me disse que pagou pelo meu destino e que ele é seu até quando lhe
convir. — Sua voz se quebra, como se fosse uma escultura de gesso delicada.
— Mas lhe digo, não pagou por minha alma, senhor.
Luna
Uma mensagem visualizada e não respondida já é uma resposta, e sei
que seu silêncio é tudo o que terei. Ainda sinto meus olhos cansados pela
noite em claro, na qual fiquei olhando para a tela do celular, pensando em
como ele já estaria longe. O dia passou se arrastando, feito um ponteiro de
relógio congelado, que me estraçalhou a cada tic-tac. E, ainda assim, tentei
dar o meu melhor, não demonstrando como me sinto perdida sem ele. Mesmo
quando dentro de mim algo implora para ter ido, outra parte me diz ter feito a
escolha certa. Eu não sei mais como lidar com toda sua força, seu controle,
que me tem a cada curva, que me perco em seus olhos e me deixo ir. Me
entrego sendo drenada por essa loucura, que cresce tão rápido em meu peito,
enraizada demais para tirar. Respondo educada às perguntas de dona Zelda,
ainda com um sorriso no rosto, mesmo chorando por dentro.
Aproveitando o horário de almoço, e sem um pingo de fome, saio da
empresa no curto intervalo, arrastando mais uma vez meu corpo para a frente
do orfanato, olhando com pura dor para os portões frios e vazios. A rua
silenciosa é quebrada pelos risos que correm pelo pátio traseiro. Escorrego
meus dedos pelas grades, caminhando lentamente e segurando meu coração
na mão, olhando esperançosa entre as crianças que, em um raro momento,
correm brincando. E, após cinco longos meses de pura saudade, o reconheço
entre as cabecinhas que correm, sentado ao longe, com seu corpo encolhido
ao canto. Meu mundo inteiro se parte, como se pudesse ultrapassar as grades.
O olhar tão distraído e tristonho, como sempre faz quando está chateado,
apertando seus braços em volta do seu corpo. Seus cabelos negros lisos caem
sobre seu rosto, com uma baixa franja. É como ver papai em cada linha que
ele traz esculpida em sua face. Aperto com mais força as grades, colando
minha testa nelas e implorando que ele olhe para mim, e, como se sentisse,
seus olhos negros se erguem, focando em minha direção.
Sorrio entre as lágrimas, o vendo se levantar com sua forma pequena
e correr entre todos. Suas pernas curtas vão aumentando seus passos e estico
meus braços entre esses ferros, odiando o fato deles estarem aqui, impedindo-
me de apertar ele em meus braços.
— Lua... — Sinto cada parte minha se aquecer ao ouvir sua voz, meu
nome sendo falado errado como ele sempre fez desde que começou a falar e
só ele me faz amar seu “Lua”. Suas bochechas vermelhas se abrem, risonhas,
colando seu corpo entre as grades e me deixando o abraçar. Beijo seus
cabelos, apertando meu rosto entre o metal.
— Oi... Oh, meu Deus, como eu estava com saudade. — Meu corpo
se abaixa, segurando seu rosto entre meus dedos. Aliso sua face. — Que
saudade, amor... Oh, meu Deus! — Meus dedos trêmulos escorregam por
cada canto seu que posso tocar, querendo tirá-lo dessas malditas grades e o
apertar em meus braços fortemente como sempre fiz.
Seus dedos pequenos tocam meu rosto, espalmando minha bochecha,
apertando com carinho. Deixo meu rosto tombar, aceitando sua carícia, que
tanto amo. Cuidei de Cadu todos os dias, desde o momento que entrou na
nossa casa. Nunca tinha deixado de ficar perto dele por nada, dividindo as
madrugadas de choro, fraldas, febres, risos e o medo de trovão.
— Eu te amo tanto... Me perdoa... Me perdoa, meu amor, por não
estar aqui protegendo você.
Aperto mais meus braços, o trazendo para mim até sentir seu rosto
pequeno colado ao meu.
— Lua, me leva para casa... — Seu choro baixo deixa seu corpinho
mais encolhido, agarrando a minha roupa com seus dedos espremidos. —
Quero ir para casa, Lua.
— Eu vou... Por Deus, eu vou... — Meu choro se mistura ao seu, me
fazendo gritar em dor quando o sinto ser afastado. Aperto suas mãos,
tentando o segurar para mim. — Por favor... Por favor, me deixa, me deixa
pegar ele.
Cadu ergue suas pernas, batendo no chão, se esperneando mais, com
seus gritos entrando em mim como uma faca. Seu rosto sujo entre as lágrimas
e olhos tão tristes se prendem em mim e ele estica sua mão em minha direção.
Isso me faz gritar com ódio, apertando meus dedos nessas grades, as forçando
com tanta dor.
— Eu vou buscar você... Eu JURO! — A garganta arranha com as
lágrimas entrando em minha boca. Chuto com toda força que posso, me
sentindo morrer a cada passo que ele vai sendo levado para longe de mim.
— O juiz vai saber disso, senhorita! — A mulher que o leva, grita
para mim, me olhando com raiva. — Sabe que não pode vir aqui.
Seus braços se erguem, o tirando do chão e o pegando em seus braços,
com ele se jogando para trás, gritando em dor.
— Por favor... Por favor, apenas me deixe acalmá-lo. — Meus braços
se esticam, implorando para ela um pouco de pena. — Por favor, dona —
grito em desespero, com meu coração morrendo entre as batidas desesperadas
que dá. — POR FAVOR!
— Você não percebe o mal que faz a ele? — Ela o passa para outra
menina, que o leva para dentro, e volta seu rosto sério para mim. — Seu
irmão precisa de uma família estruturada e graças a Deus isso está próximo.
— Minha mão solta a barra, limpando meu rosto. Olho perdida para ela, o
vendo sumir entre a porta grande.
— O que... O que você está falando? — Meu rosto tomba, perdida,
balanço a cabeça lentamente.
— Seu irmão foi adotado! — Não sinto mais meu coração quando ela
solta o tiro em meu peito. — Ele vai ter uma família, é apenas questão de
tempo agora. Sei que não vai ser fácil para você, mas é o melhor para ele.
Minha cabeça balança em negativo, não pode ser verdade. O que ela
sabe de melhor? Como ela pode achar que tirar ele de mim é o melhor? O que
eu fiz foi por eles, sempre por eles, e agora me arrancam uma parte do meu
corpo, me dizendo que será o melhor?!
— Não, isso é mentira... — Minha voz quebrada sai tão miserável
quanto a minha vida nesse momento. — NÃO! — grito com raiva. Ela pula
para trás quando estico meus braços entre as grades. Quero matar ela, apertar
seu pescoço até ela negar o que disse.
— Saia daqui antes que eu chame a polícia!
Olho ela se afastando, gritando para as moças levarem as outras
crianças para dentro. Mal sinto minhas pernas. Desabando meu peso, vou
deslizando pelo portão, chorando com tanta raiva e apertando minha cabeça
na grade. Não sei quanto tempo fico aqui, sem nada mais que o meu mundo
destruído.
Luna
— Boa tarde, senhorita Delis, como foi a semana? — Sorrio para
Devon, que me aguarda no estacionamento com seus olhos alegres, em seu
terno sempre bem-arrumado e com sua postura intacta. Os olhos carinhosos
se expandem, movendo sua cabeça lentamente para mim em cumprimento.
— Olá, Devon, como está? — Meus dedos trocam a bolsa para meu
outro braço, estendendo minha mão para ele. — Aconteceu algo com
Antony?
Ele balança a cabeça em negativo, com um aperto rápido em meus
dedos. Abre a porta do carro para que eu entre.
— Está tudo em ordem, apenas cogitei que seria bom vir lhe buscar
hoje. — Ele fecha a porta assim que entro e me deixo descansar por alguns
segundos. — E a semana, como foi?
— Foi boa — sussurro, virando meu rosto para a janela.
Na verdade, tinha sido uma bosta. Acho que não tem uma pessoa que
não tinha conversado no juizado de menores, implorando para alguém me
deixar ver meu irmão. O advogado do senhor Bruce me confirmou que
alguém tinha entrado com o pedido de adoção, meu irmão está com seu
destino traçado, apenas à espera da assinatura do juiz. Minha mãe, que se
mantinha fora de controle, me fez tomar uma atitude: disse a ela que, se não
parasse com a bebida, eu lhe internaria, e, como sempre, fui fraca quando ela
chorou, me prometendo que, dessa vez, pararia de verdade. Sedrico partiu no
sábado. Ele me deixa feliz com suas pequenas mensagens, sempre rápidas ou
em horários tardios demais, quando já estou dormindo, para lhe responder.
Pelo menos minhas notas na faculdade estão boas, me fazendo ter alguma
coisa certa para me apegar. No serviço, não tenho do que reclamar. Dou
graças por ter algo para focar toda minha energia. Apenas me deixo sentir
vazia ao fim da tarde, quando sei que não o verei. É como estar sendo
arrastada por uma enchente que nunca tem fim, que é chamada de saudade.
Tento sorrir para todos à minha volta, mas apenas quando estou só é que me
permito calar e libertar minha dependência dele. Lycaios é meu vício, a droga
a qual meu organismo se viciou e sofre com a abstinência que sua ausência
me faz.
— E a sua semana, como foi, Devon? — Solto o ar lentamente,
esfregando meu rosto cansado, precisando de algum momento de distração
para meu cérebro.
— Angustiante, senhorita. — Sorrio com sua voz baixa, sempre
educada. Imagino que Devon deve estar sofrendo tendo que arcar com as
demandas de Lycaios em Miami, sempre controlador e terrível.
— O demônio está lhe chicoteando mesmo de longe? — Sua rara
risada é espalhada pelo carro, soltando o ar quando para no sinal de trânsito
vermelho.
— Deveras. Dom tem estado difícil esses dias. — Ele se vira, olhando
para mim e me observando em silêncio.
— Você sempre fez isso, Devon? Sempre ficou de babá das babys? —
Ele troca a marcha, fazendo o veículo se movimentar, percorrendo as ruas de
Chicago calmamente. — Está há muito tempo nisso?
Encaro o silêncio como algum assunto que está proibido de falar. Ele
apenas continua com sua atenção no trânsito. Meus olhos se abaixam para
meus dedos, enquanto os esmago entre eles, sentindo cada vez mais a dor que
me pega sem Sedrico aqui.
— Eu me recordo da primeira vez que vi aquele menino magrelo,
lutando por um pedaço de papelão. Seus olhos brilhavam com tanto
desespero, sabendo que era a única coisa importante que ele tinha. — A voz
serena dele se faz, cortando meus pensamentos, me fazendo o olhar mais
atenta pelo reflexo do retrovisor interno.
— Estava há cinco anos morando na rua, depois que fugi do albergue.
Podia ser mais velho, mas era muito menor do que aquele menino brigão. —
Ele solta uma risada, diminuindo a velocidade do carro ao se aproximar do
sinal amarelo. — Não que eu tenha crescido muito.
Ele se vira, olhando para mim, rindo, com um olhar distante,
mergulhado em suas lembranças.
— Por que estavam brigando por um papelão? — Vejo seu olhar ir se
apagando, mas ainda assim fica preso ao meu.
— Eu não estava brigando, eu tinha levado uma surra grande de uns
caras maiores, estava apenas recolhido em minha dor. Na rua, se você tem
um papelão limpo para lhe aquecer, ele vale ouro, você o trata como a coisa
mais cara e valiosa que tem na sua vida, pois é o único a lhe dar um calor nas
noites longas e frias.
Meu sorriso morre lentamente, entendo o que ele está falando.
— Sedrico dormia a duas praças perto da minha. Nunca tínhamos nos
cruzado. Não até o dia que alguns caras roubaram seu papelão, vindo parar
perto do esgoto onde eu estava escondido. Lembrando agora, acho que não
tinha fé alguma que aquele menino magro e sujo iria conseguir pegar seu
papelão de volta. Os três garotos eram duas vezes maior do que ele. Mas,
ainda assim, ele lutou. Apanhou tanto quanto bateu, mas ele pegou seu
papelão, que tão era importante. — Ele se vira quando uma buzina se faz
atrás de nós, voltando a dirigir o carro. — Um dos garotos tinha uma faca e ia
o esfaquear nas costas. Eu não tinha tanta força para desarmar ele, a ponta
velha e suja da faca cortou meu braço quando pulei nele.
Meu corpo se afunda lentamente nesse banco de trás, imaginando
Sedrico brigando por um pedaço de papelão para passar a noite em alguma
praça fria.
— Depois daquele dia, a gente acabou ficando um cuidando do outro.
Na rua é difícil ter lealdade, mas ele ficou. Me ajudava a comer quando
tínhamos fome, sempre fui muito doente e, até hoje, não sei como sobrevivi
àquele ano entre os esgotos. Se não fosse pelo menino sujo e bravo, acho que
nem aqui estaria hoje. — O som pesado da sua respiração sai lentamente. —
Então, um dia ele nunca mais voltou. Eu procurei por ele pela cidade, mas o
menino sujo tinha desaparecido. Os anos se passaram, fiz muitas coisas que
não tenho orgulho, senhorita. — Ele se cala, deixando apenas um silêncio
doloroso entre nós. — Mas lhe digo que foi para minha sobrevivência. Entre
roubos de carteiras dentro do metrô, uns bons anos depois, voltando para uma
casa abandonada que tinha invadido, vi um homem silencioso sair de lá,
parando na porta e esperando por mim. No primeiro momento, eu não sabia o
que um homem como aquele estava fazendo lá, com seu terno caro e
Lamborghini preta. Até ele dar um passo à frente e eu reconhecer aquele
olhar.
O carro estaciona, parando na frente da minha casa, ainda me fazendo
ficar lá, perdida no que Devon me conta. Sedrico me contou sobre sua
família, sobre seu convívio com seu pai. Como ele era um homem duro que
empurrava a borda a cada passo da sua juventude. Mas ele não falou sobre
sua infância, nunca tocou no nome da mãe e nem em como foi sua vida até
encontrar seu pai.
— Dom se lembrou de mim. Mesmo depois de todos aqueles anos, ele
se lembrou de mim. E, naquela noite, me ofereceu uma vida digna, a qual sou
grato a ele até hoje.
Devon desafivela o cinto, desligando o carro e se virando para mim,
em silêncio, com seus braços sobre o banco do motorista.
— E apenas houve uma única vez, depois de tudo, que vi aquele olhar
perdido e desesperado, do magro menino sujo de rua, estampar em sua face.
— Seus dedos batem lentamente no estofado, soltando um baixo suspiro. —
Foi quando ele entrou naquele jato, como se tivesse abandonado seu papelão.
Meus olhos se prendem em meus dedos, enquanto os esmago mais
firme, olhando perdida para a frente da casa. Dentro do carro, meu coração se
aperta em batidas rápidas e agoniadas. Nunca quis tanto me perder na
imensidão daquele olhar intenso.
— E respondendo a sua primeira pergunta. Não! Dom nunca me fez
cuidar da suas babys. Raramente algumas delas cruzava meu caminho, eu
apenas cuido do que é realmente importante para ele. Sempre achei que almas
quebradas apenas se completam quando acham outras almas mais quebradas
do que elas.
A lágrima que escorre por minha face é alcançada antes de rolar por
meu queixo, pelos dedos do calmo homem, que me observa. Fungo baixinho,
tentando sorrir, e solto minha respiração, que segurei a cada palavra que saía
dos seus lábios.
— Creio que já está em casa, senhorita Delis. — Ele vira seu rosto
junto ao meu para a casa e, mesmo sabendo que tenho que descer, não
consigo me mover, sentindo-me tão vazia, o que eu sempre fui. — Se
precisar de alguma coisa, é só me pedir!
Meus dedos se desentrelaçam, limpando meus olhos marejados.
Aperto minha bolsa em meu colo. Sorrio para ele, esticando a mão para a
porta, mas, mesmo depois de aberta e com meus pés na calçada, não consigo
partir. É como se tudo dentro daquele carro me puxasse para Lycaios. Minha
alma é tão quebrada e velha, me fazendo me sentir com mais de noventa
anos, e apenas se completa junto da dele.
— Devon... Se precisasse de algo, poderia me ajudar? — Minha voz
sai baixa, sentindo as batidas fortes que vão aumentando em meu peito.
— O que desejar, qualquer coisa. Se precisar, tenho uma pá no porta-
malas. — Solto o ar, rindo com a forma como ele deixa sua lealdade à
mostra. — Basta pedir.
Sinto cada célula do meu corpo sendo ligada em 220v, me fazendo
ficar com meu rosto quente e meus dedos trêmulos. A porta nunca ficou tão
firme junto à minha decisão.
— Acha que poderia me arrumar uma boa babá para o fim de
semana?
Ele me olha em silêncio por um tempo, balançando sua cabeça em
positivo. Ergue seu dedo para mim, em cumplicidade.
— Creio que devo ter uma ideia melhor.
Sedrico
Arrasto-a para fora do evento, apenas dando tempo de entrar com seu
corpo colado ao meu dentro do carro, seguido pelos fotógrafos. Ela ri mais
encolhida a mim, quando acelero o carro, sussurrando em seu ouvido:
— Com emoção ou sem?
Meu pau já está fundo dentro da sua boceta antes mesmo do elevador
privado da suíte fechar. Seu corpo, colado ao espelho, me recebe, se
acomodando mais a mim, com todo meu corpo a escondendo. Estoco até
sentir minhas bolas batendo em sua polpa.
Luna me deixa embriagado com seu cheiro, à medida que seu corpo
vai se apertando sobre meu pau, o lambuzando com a pressão das paredes
internas da sua boceta quente.
— Vou lhe foder tanto, señorita[79], até seu corpo perverso estar
completamente esgotado. — Mordo seu pescoço, fazendo-a gritar, recebendo
os solavancos a cada empurrada do meu quadril para cima.
— Ohhh... Oh, Deus, sim... — As unhas afiadas cravam em meu
ombro, me engolindo mais dentro de seu vulcão. Esfregando seu rosto ao
meu entre gemidos.
Meus olhos param aos seus, encostando minha testa na sua, apertando
mais meus dedos em seu rabo. Solto minha respiração pesada, garantindo que
ela entenda cada palavra que sai da minha boca.
— E depois disso, Mikpó, meu pau vai estar tão enterrado nesse seu
rabo, que se lembrará a cada andar que não deve me provocar em público.
Ela engole seu gemido, olhando para mim com suas íris dilatadas, se
perdendo mais nos movimentos que meu quadril faz, a penetrando com mais
força e pura fome. Largo seu pequeno corpo uma única vez, para garantir
minha dominação na destruição do vestido. Os olhos dela brilham risonhos
com seus seios livres apontados para mim; a calcinha, rosa bebê, mais sacana
e pervertida que seu vestido, já está deslizando por suas pernas quando ela
tira, a jogando para mim, que a pego no ar, levando ao meu nariz, farejando o
cheiro de luxúria que seu corpo expele. E, como um maldito caçador, já a
prendo comigo, levando para o bolso da calça antes de tirá-la e largá-la ao
chão.
— Seu pervertido! — A voz baixa e provocativa sussurra, com ela se
virando em seu salto, deixando seu rabo virado para mim.
Assim que entramos na suíte, o terno com a camisa voam longe, junto
com o sapato, indo atrás dela a cada batida do meu coração, e é com puro
prazer que enrolo o maldito cabelo promíscuo em meus dedos, o enlaçando, a
puxando de volta para mim.
— Vamos aprimorar essa definição, Mikpó. — Mordo seu ombro,
levando minha outra mão a circular sua cintura, colando suas costas ao meu
peito e a tirando do chão.
A sacada aberta nos chama ante o vento que balança as cortinas. Ela
grita, rindo, tentando fugir, mas empurro seu corpo, prensando-a na sacada de
vidro. Afastando suas pernas com as minhas, solto sua cintura apenas para
segurar meu pau, o levando de volta para sua boceta quente.
— Porra! — Meu corpo treme com o prazer que é se enterrar em seu
corpo.
Ela vibra sobre os saltos e me afasto o suficiente para puxar seu
quadril para mim, martelando dentro dela. Suas costas se curvam para a
frente, prendendo suas mãos na sacada, em busca de apoio. Solto um tapa
forte em sua bunda, a vendo se empinar mais, e puxo seus cabelos para trás
com meus dedos. As penetrações aumentam, entrando sem respeito ou
qualquer porra de controle. Apenas a fodo tão duro e fundo, como se meu
mundo fosse acabar aqui. E, como lhe prometi, meu pau se enterra em sua
boceta até ela estar tão mole, que, quando meus dedos deslizam sobre sua
cintura, pressionando seu clitóris, Luna já grita em euforia, deixando seu
corpo libertar a corrente que lhe pega. Meu pau sai do seu corpo, deixando
seu orgasmo escorrer por ele, tão lambuzado e quente. Me abaixo, a fazendo
se assustar quando beijo sua bunda, raspando meus dentes lentamente. Meus
dedos se prendem mais à carne, espalmando minha mão em cada banda do
seu traseiro, abrindo-a para mim. O corpo suado e quente suspira assim que
minha língua escorrega entre o meio do seu corpo, tocando o pequeno buraco
que pisca em felicidade, recebendo as pinceladas da minha língua. O vento
que vai batendo em seu corpo, a faz se arrepiar mais. Observo-a com suas
pernas trêmulas sobre os saltos, afastada, segurando o beiral da sacada com
seu corpo virado para o mar, e nem toda glória e luzes de Miami me deixa
mais irracional de controle quanto lhe foder aqui, no último andar de South
Beach, até toda minha mente explodir. Minha mão escorrega por sua perna,
alisando seu tornozelo e sentindo poder ao tocar na delicada correntinha, que
tinha lhe presenteado.
— Não vou usar isso. Por que não compra uma coleira e coloca no
meu pescoço?
Meu peito inflama, me fazendo a chupar com mais fome, deslizando
para baixo minha língua, até tocar na boceta inchada. Ainda posso ouvir sua
voz brava quando lhe dei a correntinha, com ela se negando a usar, e agora
me provoca, usando-a descaradamente entre aqueles velhos depravados.
Minha mão se ergue, traçando o caminho que tinha tecido, agora ao contrário,
movendo para dentro do pequeno buraco que desejo que esteja pronto para
mim, e, quando seu rabo suga meu dedo, meu pau pulsa mais forte, com
inveja do miserável.
— Fodidamente, eu vou brincar muito aqui, Mikpó. — Minha voz
grossa sai embargada de luxúria, mordendo sua coxa.
— Seu... egocêntrico... — Ela se engasga, arfando mais rápido,
deixando um leve vacilar percorrer sua perna quando outro dedo a invade. —
Deus, isso queima...
Meus olhos ficam presos à sua boceta, que vai brilhando mais, com as
pequenas gotas escorregando dela, e sei que, por mais que minha
provocadora baby esteja negando com as palavras, seu corpo me responde o
que quer.
— Deus... — Sua cabeça cai para trás, com seu quadril se empurrando
lentamente em meus dedos, o fodendo com o dobro de pressão da sua boceta.
— Não gosto de ver esse rabo rebolando por aí, Mikpó. — Solto o ar,
raspando meus dentes por sua pele.
— Calúnia, pois não rebolo — ela sussurra, tremendo mais sua perna
quando meus dentes se fincam em sua coxa com pressão. E, movendo minha
outra mão para sua boceta, levo dois dedos de uma vez, a fodendo pelos dois
lados. — OHHH, PORRA!
Aumento o ritmo, acelerando fundo as duas mãos, tendo a boceta dela
chorando, com seu líquido escorregando por meus dedos.
— Rebola! — Sorrio olhando seu rabo que, em resposta, se empina
mais, com um leve balançar em meus dedos.
Sem nem um pingo de consideração, a mordo como uma suculenta
melancia, a fazendo gritar mais alto, movendo meus dedos mais rápido até
suas pernas se apertarem em meus braços, esguichando forte com seu corpo
tremendo em explosão. Meus dedos saem do seu corpo, e fico de pé atrás
dela, trazendo-a para mim quando minha mão se fecha na sua garganta,
colando suas costas em meu peito. Movo minha perna esquerda, abrindo as
suas, usando minha outra mão para auxiliar meu pau a achar o caminho que
tanto estou desejando. O movo entre sua boceta molhada, o encharcando mais
com seus fluídos e logo retirando, o deixando pronto na entrada do seu
pequeno buraco. Ela ergue seu olhar para mim, dilatado em prazer, com seus
lábios vermelhos borrados, implorando pela minha boca, e, como um bom
senhor, eu sei o que minha Mikpó me pede calada. Não há pressa nem
brutalidade a cada movimento lento do meu pau, se empurrando em sua
cavidade apertada, que me recebe com agonia, tentando me expulsar a cada
contração. Minha cabeça se abaixa, pegando seus lábios para mim, beijando-a
com calma, lhe domando lentamente, da mesma forma que meu pau vai
abrindo sua passagem pelo canal não desbravado. Sinto meu coração batendo
rápido e, por mais que meus dedos soubessem a quentura que é seu corpo,
ainda assim faz meu pau sentir duas vezes mais. Luna geme baixo entre
nosso beijo, cravando as suas unhas em minha coxa, e eu sorrio fodidamente
feliz, entrando e saindo do seu corpo, sentindo as pequenas queimaduras de
ardência aumentando sobre meu pau dentro do seu rabo quente e apertado.
— Ohhh... Senhor... — Ela morde seus lábios, os tirando de mim com
seus olhos fechados.
Meus dedos esmagam um pouco mais sua garganta, vendo-a arfar e
abrir sua boca em um delicado “O”. Sei que Luna fode mais meu ser inteiro
do que meu pau a ela e nada pode ser mais belo que a visão da sua face
quando me tem tão fundo dentro dela.
— Mikpó, olhe para mim — sussurro perto do seu rosto, colando
nosso corpo na sacada. Seus peitos nus se movem a cada respiração que ela
solta, perdida entre o prazer e a dor que vai nos consumindo.
Seus olhos se abrem lentos, como a cortina de um palco, me
garantindo o melhor espetáculo da minha vida. Minha cabeça se abaixa,
raspando meu nariz ao seu, aumentando apenas um pouco meus movimentos,
com minhas pernas comprimindo os músculos, me avisando que não durarei
mais que duas estocadas em seu corpo quente antes de explodir e chutar toda
a razão para fora do meu cérebro. Minha boca captura a sua, deixando apenas
nós dois sob o barulho distante do mar e do seu coração, que chama pelo
meu. Me esgoto dentro dela a cada jato de porra que vou soltando. Meu
quadril se move mais uma vez, me enterrando dentro dela, e sei que nada
mais será o mesmo na minha vida sem ela.
Ainda estou com meu coração batendo rápido colado em suas costas,
com meu rosto afundado em seu pescoço, retirando minha mão de lá e
apertando sua cintura em um abraço. Ela tem seus dedos caídos na sacada e
respira com a mesma dificuldade que eu.
— Fica comigo? — sussurro, perdido no nevoeiro do êxtase entre
seus cabelos, apertando-a mais forte. Ela solta sua respiração lentamente,
alisando meu braço com carinho.
— Eu não posso, senhor. — Sua voz sai mole, entrecortada, com um
baixo suspiro, quando meu pau escorrega para fora do seu corpo. — Preciso
voltar domingo de tarde, não posso passar a semana aqui.
Meus dentes se cravam em seu ombro, deixando-a presa entre meus
braços, deslizando minha língua sobre sua pele. Não me refiro a uma semana,
isso para mim seria pouco. Quero Luna para vida toda.
— Pare de mexer ou vou arrancar seus cabelos de verdade. — O
corpo pequeno na banheira se encolhe, resmungando brava e afundando nas
espumas, jogando água para cima dos seus ombros de propósito, acertando
meu rosto.
Solto o cabelo falso que está quase saindo da sua cabeça. Afundo
meus dedos na água quente, cheia de espuma, e dou um beliscão na lateral do
seu seio.
— Ai! — Seu corpo pula, assustado, e ela me xinga baixo entre suas
doces risadas.
— Parada! — Minha voz brava rosna para ela, voltando minha
atenção para o penúltimo grampo do aplique em seus cabelos. Ela ergue seus
dedos, brincando na espuma e trazendo sua mão para perto do seu rosto,
soprando as bolhas.
— Poderia ter deixado eles, eu ia fazer uma trança tão bonita para ir
trabalhar. — Sua voz, ainda chateada, sussurra, soltando o ar em desânimo,
perdendo seus olhos na grande janela do banheiro. O sol alto entra, clareando
cada canto, com o abafado ar de maresia de Miami.
Respiro calmo, arrumando minha postura dentro da banheira, colando
minhas costas ao encosto. Minhas pernas, afundadas, se esticam, e as ergo
para a lateral da banheira. Seu pequeno corpo se aconchega, deixando suas
costas ficarem relaxadas em minha barriga. Ainda ouço seus resmungos com
ela erguendo suas mãos e brincando com os pelos das minhas pernas,
passando espuma. Termino de soltar aquilo entre a raiz do seu cabelo, dando
graças por conseguir tirar o último tufo da merda de aplique. Ergo-o à sua
frente, balançando com felicidade e o jogando longe, logo em seguida, perto
da lixeira.
— Pode fazer uma trança com seu cabelo natural. — Ergo a ducha
para cima dos seus cabelos, fazendo-a se encolher com o pequeno
chuveirinho quando os jatos vão em seu rosto, silenciando-a.
O inferno congelaria antes dela estar voltando para Chicago com
aquele cabelo.
— Eu achei que tinha gostado, queria ter ficado mais um pouco com
eles, senhor.
— Podemos raspar sua cabeça, assim poderá usar bastante essas
coisas.
Ela se vira brava, mas apanho seu rosto em minha mão, beijando sua
boca atrevida. O som baixo dos seus suspiros se espalha, me deixando sentir
seu corpo ir relaxando, com suas mãos em minha perna.
— Acho que não quero usar mais! — sussurra com a voz baixa entre
meus lábios, deixando os dela tão tentadores com sua forma inchada e
suculenta. Meus dentes se prendem à beirada, mordendo-a de mansinho.
Absorvo em minha pele suas unhas, que vão se cravando mais em minha
perna. Solto-a, deixando meus olhos se perderem por sua face molhada, que
me presenteia com um pequeno sorriso aos lábios. Seus olhos se abrem, me
prendendo na imensidão das pérolas negras tão dilatadas em puro prazer.
— Muy bien. Agora vire-se e me deixe terminar de lavar seu cabelo,
Mikpó. — Luna é uma fonte interminável de luxúria, que me faz querer estar
dentro do seu corpo a cada instante e, bem aqui, agora, nesse momento, sei
que me receberia se a virasse em meus braços, para se afundar entre sua
cavidade quente, mesmo depois de ter passado grande parte do sábado e essa
manhã de domingo presa a cama junto a mim.
Ela suspira baixo, se virando para a frente, e puxo as sacolas que
solicitei ao gerente do hotel. Pegando o frasco de xampu, coloco uma
quantidade em minha mão, levando aos seus cabelos, que vão voltando aos
seus cachos naturais.
— Como foi a semana? — Ela solta seus ombros, com meus dedos
esmagando seus cabelos lentamente.
— Grande... — Gosto da forma como ela se aninha mais, de uma
forma tão bela em sua entrega. — Trabalho, casa, faculdade, cama...
— Orfanato? — Minha voz sai baixa, observando sua pequena
mudança corporal.
— Aqueles dois são uns fofoqueiros — ela resmunga, fechando seus
olhos e esfregando minha perna com a ponta das suas unhas.
— Não, eles fazem apenas o trabalho deles. — Retiro a espuma dos
seus cabelos, enquanto sinto meus dedos passando por eles, lentamente.
Antony tinha repassado que Luna foi até a porta do orfanato, como
sempre ia. Dessa vez, ela conseguiu o que buscava. Devon pôde apenas me
repassar essa informação no outro dia, quando já estava reembarcando outra
vez no jato.
— Uma família quer adotar ele. — Meus dedos param sobre seus
cabelos. Um som baixo sai junto ao choro preso de sua garganta.
Sim, eu já estou sabendo. Meu advogado tinha tomado a frente dos
assuntos junto ao advogado dos Ozborne. Simons Amister tinha expedido o
pedido do recolhimento das outras três crianças no momento que ele me
informou. Tinha cobrado todas as malditas almas que me deviam em Chicago
e fora de lá, assim consegui que fosse anulado o mandado. Isso destruiria
Luna, ela se perderia se todos fossem tirados dela de uma única vez. Ainda
estou segurando a assinatura de Amister entre minhas mãos, assegurando que
ele não libere a adoção, até conseguir outra forma de trazer o pequeno para
Luna.
— Acha que ele será feliz com outra família? — Meus dedos voltam
para seu cabelo, terminando de retirar as espumas. Vejo-a se encolher com
doçura a cada toque. Solto a ducha, pegando o condicionador e o levando às
suas ondas cacheadas.
— Ele será feliz com você. — Minha voz sai mais ríspida que
gostaria, a fazendo tombar sua cabeça em meu peito, olhando para mim. —
Confia em minha palavra, Mikpó?
Ela sorri lentamente, com seus olhos brilhantes, balançando a cabeça
em positivo. Sua mão se ergue em minha face, alisando com carinho. Beijo
sua testa, voltando minha atenção para seus cabelos. Deixo toda minha
concentração neles e sou tomado por uma grande satisfação por tê-la aqui,
submissa aos meus cuidados, mesmo me sentindo ser rasgado a cada segundo
que o tempo vai passando, me fazendo saber que ela estará partindo.
Luna
Não me aguento com a felicidade o dia todo dentro de mim,
imaginando o sorriso lindo com que Lola me presenteará assim que ver seu
gostoso bolo, que estou planejando para ela. No meu horário de almoço,
aviso dona Zelda que vou demorar um pouco a mais para chegar, pois ainda
tenho que ir comprar algumas coisas que faltam para enfeitar a casa. Ela
apenas sorri, balançando sua cabeça e saindo com seus maridos.
Quando paro perto do carro, vendo Antony sorrir para mim, já sei
exatamente aonde vou primeiro. Sorrio feito uma boba, apertando minha
bolsa em minhas mãos. Consigo comprar os refrigerantes e os balões
coloridos que enfeitarão a sala, para ela e Will brincarem, sabendo que nada
pode ser tão importante em minha vida quanto a felicidade deles. Depois de
comprar tudo que preciso, peço para ele me levar a um último lugar. Logo
que ele estaciona o carro à frente da loja, meu sorriso aumenta ao ver que ela
ainda continua lá, na vitrine. Antony abre o carro para mim, me fazendo
descer alegre, respiro rápido o ar dos meus pulmões e caminho direto para a
loja. Meus olhos vasculham tudo em volta. É tão linda por dentro quanto por
fora. Cada canto perfeito, mostrando uma vasta prateleira com mais peças
perfeitas.
— Olá, bom dia. Em que posso lhe ajudar? — Uma moça baixinha
sorri para mim, com felicidade, retribuo seu sorriso, deixando meus olhos
pararem na segunda vendedora, que reconheço. Vejo a esnobe magrela
saindo de trás do caixa, me olhando.
Ela fica em silêncio por um tempo, me observando, e sei, assim que
ela torce seu nariz, que me reconhece. Ouço o som da porta sendo aberta por
Antony, que caminha segurando seu cap nos dedos enquanto olha em volta,
parando ao meu lado.
— Vai precisar de ajuda com as sacolas, senhorita Delis? — Balanço
minha cabeça em negativo para ele, sorrindo em agradecimento.
— Deseja alguma boneca em especial, senhorita? — A moça
sorridente à minha frente fala, de forma mansa.
— Sabe, eu ia amar ser atendida por você. — Sorrio educada para a
moça à minha frente, voltando meu olhar para a vendedora esnobe. — Mas
quero que ela me atenda! — Aponto em sua direção. Ela engasga assim que a
moça se vira para ela, olhando-a em silêncio.
— Claro! Diane, atenda a senhorita, por favor — a mulher fala baixo,
se virando para mim com seu cordial sorriso.
A mulher magra sai de onde está, sem aquele olhar repugnante que
me deu na primeira vez em que me viu parada na frente da vitrine.
— Então, no que posso ser útil? — Ela ergue suas sobrancelhas, me
olhando de cima a baixo, parando seu olhar nos meus sapatos.
Caminho pela loja, olhando em volta, mesmo sabendo exatamente
qual boneca vou comprar.
— Quero aquela! — Aponto meu dedo na direção da linda e delicada
boneca, a qual Lola tinha namorado por tanto tempo.
Posso ouvir perfeitamente o baixo resmungo que ela solta,
caminhando para lá em passos duros.
— Essa boneca é de coleção. — Ela se move, a pegando com cuidado
e olhando para mim. Realmente não tem nada a ver com a velha boneca de
trapos que tinha feito. — Foram feitas apenas quatro unidades do seu modelo,
toda trabalhada à mão. Seu valor é um pouco mais alto que o das outras —
ela fala com escárnio ao fim, me fazendo desviar meus olhos da boneca,
vendo-a ainda assim se sentir bem em inferiorizar alguém.
Sorrio para ela, endireitando meu corpo, com meus olhos não se
abaixando por vergonha dessa vez.
— Eu vou levar. — Abro minha bolsa, retirando dela a carteira e logo
estendo meu cartão, que contém o valor restante da dívida da minha mãe,
para a qual usei meu corpo para levantar a grana. — Vou pagar à vista.
Viro-me apenas depois de olhar sua cara metida caindo ao chão, ao
sair de lá com o embrulho mais lindo do mundo e de alma lavada. Não vejo a
hora de ver a carinha de Lola quando o abrir.
— Para casa, senhorita?
— Oh, sim. Ainda dá tempo de levar essas coisas para lá e volto
correndo para o serviço — respondo alegre, segurando o delicado embrulho
em meus dedos.
E, entre o caminho de casa, quase me aproximando, me sinto uma tola
por ter esquecido a vela do bolo.
— Antony, me deixa aqui rapidinho. — Toco em seu ombro, o
fazendo parar na frente do supermercado. — Olha, faz assim, como nosso
tempo está curto... — Olho para meu pulso, vendo a hora no relógio. — Vá
indo para casa e deixe essas coisas lá, Rana vai saber que é para guardar na
geladeira.
— Mas não quer que lhe espere?
— Vai ser coisa rápida, cinco minutos e vou chegar em casa antes de
você descarregar as compras.
Sorrio para ele, piscando. Abro a porta do carro. Aperto a bolsa e a
sacola em meus dedos, como se fossem uma só.
— Não quer que leve essa, senhorita? — Olho sorrindo para a sacola
em minhas mãos, parada na calçada.
— Vou levar isso junto, aquelas duas são muito curiosas!
Antony apenas ri, sabendo que é verdade. E, como prometi, não
demoro. Assim que acho a vela rosa de sete anos, passo no caixa, comprando
mais alguns docinhos para cada um deles. Saio do mercado com minhas
sacolas na mão, abrindo minha bolsa para guardar a carteira, mas dou de cara
com minha mãe, que tropeça em mim, apressada.
— Mãe... — A olho confusa. — Achei que estava em casa. — Sorrio,
a vendo ficar vermelha. Não entendo por que está nervosa. — Aonde vai com
tanta pressa?
Ela me olha assustada, olhando em volta. Ergue seus dedos e passa
rapidamente por seu rosto, meus olhos caem no que ela está segurando em
suas mãos. A sacola escura toda fechada se aperta mais a ela.
— Eu fui comprar umas coisas que faltavam. — Olho para ela sem
compreender, pois tenho certeza de que tinha comprado tudo.
— O que estava faltando? Esqueci de comprar alguma coisa? —
Tento olhar a sacola para saber o que minha cabeça tinha esquecido, sei que
ando com ela nas nuvens, pensando a cada segundo em Sedrico, mas ela a
puxa para o lado, negando me deixar ver o que tem.
— É coisa minha, Luna! — Sua voz ríspida me corta, olhando para os
lados em agonia. Eu sinto, é como se eu já soubesse apenas por seu olhar.
Não tinha me esquecido de comprar nada e muito menos devia ser um
presente para sua filha ali dentro. Tento puxar a sacola de suas mãos e ela se
altera, com raiva, a prendendo mais perto de si.
— Mãe, me deixa ver o que tem aí. — Meu peito já se aperta,
sentindo tanta agonia misturada à decepção. Estico meu braço para ela, sua
cabeça balança em negativo, se prendendo mais a sacola.
Depois de muita briga, puxo a sacola de sua mão. E, por Deus, meu
coração chora quando sinto o conhecido peso da garrafa de vodca. Não
preciso abrir para saber o que tem lá. Minha cabeça se ergue, olhando-a com
mágoa. É o aniversário de Lola. Como ela pode ser tão fria a ponto de fazer
isso justo hoje?
— Você está usando o dinheiro que lhe dei para a despesa da casa
para comprar bebida, mãe? — Ela me olha nervosa, com vergonha, passando
mais rápido seus dedos em seu rosto. Vejo o desespero do auge da sua
abstinência estampado em sua face.
— Me devolve, Luna... É meu! — Ela tenta pegar a sacola, mas ergo
meu braço, distanciando-a dela.
— Seu? — Sinto dor em vê-la ali, tão nervosa e agoniada, como se
fosse sua vida que estivesse dentro da sacola. — Oh, meu Deus! Essa merda
é minha, já que foi o dinheiro da casa que você usou para comprar isso. —
Ela fica vermelha, olhando para a maldita sacola, nem ouvindo o que sai da
minha boca. É como se estivesse diante de uma pessoa alienada, tão
desesperada, que a única coisa que lhe importa é seu vício. — Meu Deus!
Você nem está prestando atenção. Está tão agoniada por desejar seu maldito
gole, que nem ouve o que estou dizendo.
Ela desvia seu olhar, coçando seu corpo como se pudesse rasgar sua
pele. Sua respiração, duplamente alterada, solta o ar em dor, apertando mais
forte suas unhas à pele.
— ME DEVOLVA, LUNA!
— Não, você me prometeu! Você jurou que pararia. — Meus olhos
ardem, sentindo as lágrimas que me queimam. — Mãe... Você está me
matando junto com a senhora. O que mais tem que perder para poder largar
disso? — Ergo a garrafa com raiva, me sentindo tão inútil e impotente. — O
que mais eu não lhe dei, mãe, me diz, por favor. O que lhe falta para poder
ver que sou mais importante para você do que essa bebida?
— Me devolve... Por favor, Luna! — Sua voz é tão quebrada quanto
seu olhar.
— Essa doença está lhe custando tudo. Me deixa te internar, mãe, por
favor, me deixa te ajudar... — Minha voz angustiada pelo choro implora para
ela em meio à minha dor.
— Eu paro quando quiser, Luna. Não vou me internar. Eu tenho
controle! — ela fala isso com tanta fé, para poder acreditar em sua própria
mentira.
— Não, você não tem. Meu Deus! Quando vai ver isso?
— Eu preciso disso, Luna. — Seu rosto vermelho fica mais fechado,
com sua voz brava. — Por favor. — Ela tenta puxar a sacola dos meus dedos,
cravando suas unhas em meus braços. — Devolve minha sacola!
— Não! Se quer morrer, banque-se sozinha — grito com ódio, estou
cansada de ver ela se matando. Puxo meu braço das suas unhas, sentindo a
dor com o sangue se alastrarem e, em um impulso, jogo sua sacola no chão,
estourando-a forte no piso. O barulho do vidro se partindo não é tão alto
quanto o grito que ela dá.
— O QUE VOCÊ FEZ? O que fez? — Meu peito bate acelerado,
ouvindo sua voz histérica. — Sua maldita! O que fez, Luna?
Meus olhos se erguem da garrafa quebrada para a mulher transtornada
à minha frente. Nem quando meu pai morreu ou meu irmão foi levado, a vi
assim, perdendo totalmente seu controle. Ela se move, partindo para cima de
mim, me golpeando. Tento me proteger, erguendo as sacolas à minha frente,
deixando meu rosto longe das suas unhas.
Minha mãe puxa a sacola com força, fazendo ela se rasgar dos meus
pulsos. Suas mãos apertam o embrulho com raiva, gritando para mim, e vejo
o rápido momento que o embrulho dourado com sua fita rosa é lançado no
meio da rua. Sinto meu corpo gelar, travando uma batida do meu coração,
com meus olhos em choque. O ônibus, que passa rápido entre os outros
carros, faz eu gritar quando ele arrasta o presente com ele.
— Não... Não... — Meus dedos se erguem, tampando minha boca.
Balanço minha cabeça em negativo, tendo minha vista nublada pelas
lágrimas.
Olho com dor para a rua onde o ônibus passa e corro na direção do
embrulho amassado. Me abaixo, o pegando em meus dedos, vendo as
lágrimas que rolam do meu rosto caírem sobre a caixa destruída da boneca.
Sinto toda dor me consumindo quando tiro a boneca de dentro da caixa
amassada. Ela está intacta, sem nenhum estrago. Abraço ela forte em meu
peito, a colando a mim. Tinha comprando com todo meu amor para minha
irmã. Solto a respiração com força, me sentindo esgotada pela raiva que sobe
em meu corpo, pegando o lugar do pavor que senti quando a boneca foi
lançada longe. Me levanto segurando a boneca ainda em meu peito, como se
fosse meu maior tesouro. Limpo meu rosto.
Não chego a dar o primeiro passo. Meu corpo é arremessado por cima
de um para-brisa, estourando meu rosto no vidro. A dor explode entre minha
cabeça e minhas pernas. Ouço o som seco do meu corpo, que cai em um
baque ao chão, sendo arrastado pelo asfalto. Sinto como se minha pele
estivesse sendo cortada dos meus braços, e, ao fim, entre a agonia, há tanta
dor, tanto sangue que escorre nublando minha vista, que minha cabeça lateja
em batidas fortes, ainda sentindo como se alguém estivesse pisando nela.
Tento abrir meus olhos, focar minha visão, mas é tudo tão vermelho. Apenas
entre pontos, vejo o céu em cima de mim, ouço o barulho ao longe de pessoas
gritando alto. Viro meu rosto mole, que já se deita no asfalto quente e
molhado, para o lado e, um pouco distante, vejo minha mãe, que corre
gritando com seu rosto de choro. Não entendo o que ela fala, meus olhos vão
ficando pesados, vou me distanciando a cada batida lenta do meu coração.
Sinto a garganta seca enquanto tento falar. É como desejar pronunciar seu
nome uma última vez, desejar estar entre o mar verde que suas íris quentes
possuem, mas nada sai quando o abismo me suga.
Zelda
Sedrico
— Olá, Sedrico. Como vai? — A mulher de cabelos grisalhos olha
para mim, com o pequeno rosto triste. — Sou Cheron, a assistente social que
ficou responsável por vir lhe buscar!
Sua mão se ergue, segurando a minha, enquanto ainda estou sentado
no banco frio do hospital. Minha madre tinha dado entrada com dores fortes
no peito. Seu rosto, mesmo em dor, tinha se virado para mim, sussurrando:
— Eu te amo, cariño. — Seguro seus dedos, para ela não me deixar,
não quero ficar sozinho. Eu quero dizer: eu te amo, madre, mas isso ficou
preso em minha garganta, junto ao soluço que seguro.
Ouço os gritos dela, sentado na cadeira de frente para o quarto onde
eles a internaram, enquanto entram e saem empurrando as máquinas. E, de
alguma forma, é como se eu soubesse que minha madre não iria sair de lá, e,
na última vez que a enfermeira sai, deixando a porta aberta, posso ver seu
rosto vazio, com seus olhos congelados. Eu não me levanto, continuo no
mesmo lugar, olhando para ela, sentindo aquele eu te amo sendo afundado
dentro de mim.
— Você tem alguém a quem queira avisar, alguém que possa estar
com você?
Olho para aquela mulher, querendo lhe falar que não tenho mais
ninguém, que a única pessoa que tinha era minha madre, mas apenas
balanço minha cabeça em negativo, sentindo as palavras serem engolidas
dentro de mim. Não tínhamos dinheiro, não tínhamos nem plano de saúde,
ela apenas seria enterrada como indigente pelo Estado. Havia passado doze
horas sentado na mesma cadeira, esperando que ela fosse sair de lá. E ela
saiu! Deitada na maca, com seu corpo coberto pelo lençol, com os
enfermeiros a empurrando. Seu braço balança na virada da maca ao ser
retirada do quarto, caído para fora, e, como se pudesse prender ela ali, meus
dedos se esticam para seus dedos. Retraio-me, sentindo a frieza, sem o calor
que ela tinha antes. Meus olhos assustados ainda estão presos aos meus
dedos em sua mão fria, apertando com dor quando eles a levam para longe.
Meus dedos esmagam o ferro da maca, com a respiração pesada em
meu peito. Meu rosto está tombado em seu pescoço, a cheiro à procura do seu
aroma de amêndoas e apenas recebo o cheiro hospitalar, tão frio e impessoal
quanto esse lugar, me fazendo ranger meus dentes, trincando com minha dor.
Movo meu corpo, arqueando ao lado da maca, olhando para ela.
Se cuida.
Sua voz baixa sussurra em meus ouvidos, me fazendo querer voltar no
tempo para lhe deixar presa em meus braços.
— Por que não se cuidou? — Sinto a voz rasgando minha garganta.
Não é minha Luna, não é a mulher sorridente que entrou no jato há
poucos dias. Seu calor, que me incendiava entre aquele lençol, é apenas uma
chama apagada em sua pele morna. Deixo meus dedos se erguerem, alisando
seus cabelos negros, que tinha lavado cacho por cacho ao som dos seus
resmungos, retirando a mecha teimosa que cai sobre seu rosto. Suas pálpebras
fechadas escondem de mim suas pérolas negras que amo, deixando apenas os
cortes em sua pele. O grande curativo em sua testa já mancha outra vez com
seu sangue.
— Não pode fazer isso comigo, Luna... — Me perco, sinto-me sendo
rasgado e nada pode tampar o buraco que está me consumindo. — Não pode
entrar em minha vida apenas para me largar ao tártaro depois.
Abaixo meu rosto, colando minha face à lateral da sua, sendo pego
outra vez pela perda, pelo arrependimento de não ter lhe abraçado com mais
força naquele quarto tão feminino quanto ela e dizer: EU TE AMO,
MULHER, mais do que já amei algum dia em minha vida.
— Mikpó, não pode fazer isso... — Minha voz quebrada sussurra com
o gosto amargo do desespero. Não me lembro de sentir meus olhos
queimando e nem qual é o gosto de uma lágrima, mas, diante de Luna,
desmorono, deixando-a rolar para minha boca.
Tinha sentido meu mundo todo ruir no momento que Devon me
avisou. A reunião que participava ficara para trás quando passei pela porta,
estourando-a com pressa. Não queria esperar meu jato, queria ela. Queria vê-
la, ouvir sua voz. O jato fretado já me esperava no aeroporto e nunca
amaldiçoei tanto a mim e a todos por não terem cuidado dela. Sinto-me
quebrado em partes. Tinha lhe jurado que lhe protegeria, ela estava sob
minha proteção, mas não a protegi. E, diante dela, que não reage, vou sendo
fragmentado em várias partes, as quais cada uma traz uma lembrança dela.
— Volte para mim, Luna. Me deixa te observar nos olhos e lhe dizer
o quanto eu te amo, niña.
— Então quer dizer que olhava para mim?
— OH, MEU DEUS! — Sua mão se ergue, tampando seu rosto,
batendo seus pés na cama. Rola para longe de mim. — Eu disse que era
atraente, não que ficava olhando para você.
— Inocente, Luna... — Já preparo meu ataque, movendo meu corpo
que se ergue sobre o seu, a enjaulando como minha doce presa. — Para
achar uma pessoa atraente tem que perder um tempo desbravando seu corpo.
— Ela se atrapalha em seus resmungos, quando deixo meus lábios tocarem
sua barriga, deslizando por sua pele.
— Deus, você é insuportavelmente convencido, senhor. — Mordo a
lateral das suas costelas, próximo ao seu seio, apenas para ter o prazer de
ouvir o seu arfar acelerado.
— Confesse, Mikpó! — sussurro entre os beijos, me arrastando para
cima.
— Nunca... — Sua risada tão cheia de vida me tira da zona de
conforto, me jogando em seu mundo tão leve quando ela está perto.
— O que lhe fazia ficar com suas calcinhas molhadas? — As coxas
atrevidas se prendem à minha cintura, arrastando meu quadril para baixo,
perto do seu, em um laço firme.
Deixo meu rosto descansar entre seus seios, esfregando meu nariz
entre eles, amando o cheiro que é só dela.
— Seus olhos. — O som baixo da sua voz, envergonhada, sussurra,
chamando minha atenção para seu rosto descansado no colchão.
Meu corpo se ergue, movendo-me para cima, espalmando minha mão
ao lado da sua cabeça. Deixo toda minha concentração em sua face, caindo
como um náufrago na imensidão de suas esferas negras, brilhantes.
— Eu me sentia sendo sugada por seus olhos, sempre que me permitia
o olhar sem que percebesse, por mais que amasse olhar a frente da sua
calça. — Ela ri, erguendo um pouco sua cabeça e olhando entre nós. Meu
pau pulsa em resposta para ela, cutucando a entrada da sua boceta. Isso a
faz abrir mais seu sorriso, tombando sua cabeça para trás.
Seus dedos se erguem, deixando apenas a ponta deles tocarem minha
face, contornando a lateral do meu rosto.
— Eu pensava em como eram tão intensos como diamantes, com uma
energia esmagadora, me roubando cada pensamento de como seria tê-lo
olhando uma única vez para mim. — Sua boca carnuda solta um baixo
suspiro com seus ombros encolhidos. — Eu sei, era coisa de adolescente,
tola... mas era seu olhar que fazia meu corpo todo queimar.
É minha Afrodite, minha queda do Olimpo, a qual tinha erguido e ia
para ela como uma libélula vai à luz. Não movo meus olhos dos seus,
enquanto meu corpo se funde a ela lentamente, observando cada reação da
sua face. Meus olhos não são diamantes, são apenas bijuterias baratas,
forjadas entre a agonia e o desespero. Mas, para ela, eles brilham com pura
intensidade e posse, pois o verdadeiro diamante é minha doce Lua. Tão
perfeitamente minha quanto cada célula do meu corpo é dela. Serei
eternamente dela, o que ela quiser eu serei, para apenas nunca lhe perder.
Seu mentor, seu carrasco, o amigo, seu companheiro... Seu mais fiel amante.
— Ohh... Lycaios... — Seus dedos escorregam para meus braços, os
apertando mais forte a cada espaço que vou lhe tomando, sentindo seu corpo
quente e molhado me receber com apenas a agonia que ela tem entre sua
luxúria, me levando junto com ela.
— Mikpó. Diga meu nome. — Meu rosto se abaixa, beijando seu
pescoço com as presas abertas, as quais se moldam à sua pele na mesma
precisão que meu pau lhe fode, cravando-me por inteiro em cada ponta do
seu corpo.
— Deus... — Ela solta o ar com mais desejo, me deixando a marcar
como sempre minha, alimentando a besta que sente fome por ela.
— Diga-me... — É luxúria misturada a pura necessidade, a qual
nunca me permiti deixar ir. Nunca desejei tanto ouvir meu nome sendo dito
por aqueles pequenos lábios.
— Sedrico... — O som abafado de sua voz raspando seus lábios por
meu rosto, me queimando com seus beijos, é tudo que preciso para o pulo
final da doce tortura que é minha Afrodite.
Deixo meu corpo se mover, me levantando em meus joelhos, levando
minha mão a escorregar por debaixo dela e, com um rápido puxão, ela já
está colada a mim, me montando como uma pequena amazona. Suas pernas
presas à minha cintura sustentam seu corpo junto com seus braços em meu
pescoço. Seu corpo quente vai se movendo lento, tendo-me prendido em seus
olhos e em seu corpo, a cada vai e vem, como ondas que me puxam para seu
mar.
— Sedrico... — ela sussurra outra vez, jogando seu quadril com
força, me levando até o fundo entre suas paredes quentes, colando sua testa
na minha. A cada balançar, eu morro, sentindo seus dedos que trilham por
minhas costas, subindo por minha nuca, até estarem emaranhados em meus
cabelos.
Na minha vida, tinha aprendido a lutar para sobreviver, a me erguer
entre os esgotos da rua até o topo do mundo. Tomava o que me pertencia,
fodia cada boceta que desejasse, e isso me bastava. Vivia com a certeza de
que morreria feliz por ser dono do império que criei. Mas com Luna sou
apenas um menino, gritando por ela a cada batida rápida do meu coração.
— Senhor, as crianças já estão estabelecidas em sua residência. —
Com meus olhos ainda presos em seu rosto, apenas balanço a cabeça em
confirmação para Devon.
— O menino, como está?
— Ele ficou assustado no primeiro momento quando chegou em sua
casa, mas assim que viu as outras crianças, se soltou. Porém, ele ainda chama
por ela.
Sorrio lento ao pensar em como ela esperava por aquele momento e
agora está distante demais. Seu corpo se recupera lentamente a cada dia, me
levando ao inferno dentro daquele quarto, mas ainda se mantém fechada em
seus sonhos nublados. A médica retirou os aparelhos de oxigênio, para ter
certeza de que ela conseguirá se estabilizar sozinha, depois que a retirou do
coma induzido, mas Luna entrou em choque durante a madrugada, com uma
parada respiratória. A batida tinha deixado sequelas, as quais enfraqueceram
seu pulmão. Olho o braço engessado para corrigir as fraturas e seu corpo,
mesmo sob os cuidados, ainda está frágil, como se implorasse para lhe deixar
ir.
— Se ela não lutar para sobreviver, não há muito o que ser feito,
senhor Lycaios — a médica sussurra, ainda segurando o estetoscópio em
seus dedos. — Retiramos Luna do coma induzido já tem três dias, cada
paciente funciona de uma maneira, ela pode acordar agora ou daqui um
longo tempo, isso irá depender dela.
— Senhor, deseja que traga algo? Não gostaria de ir para casa?
Movo minha cabeça em negativo, não quero nada. Não há nada,
absolutamente nada, nesse mundo inteiro, que possa estacar o que me
consome.
— Eu fracassei com ela, Devon. — Minha voz sai tão fria quanto os
meus dedos, quando os espalmo em meu rosto, o esfregando.
— Suponho que, com seu jeito peculiar, que só a senhorita Delis tem,
ela lhe ajudou mais do que o senhor a ela. — Meus ombros caem junto aos
meus dedos sobre minha perna, olhando para a maca onde ela dorme. —
Levarei os pertences dela para seu quarto, como solicitou, e irei ver as
crianças com a babá.
Não ouço mais sua voz, estou distante demais no tártaro que é minha
vida sem Luna. Apenas me levanto quando já estou sozinho com ela outra
vez. Minha mão escorrega por sua face, contornando a delicada sobrancelha,
me deixando enterrar minha dor ao esconder meu rosto em seus cabelos,
lamentando cada segundo que passo longe de seu brilho.
— Volta para mim, Mikpó! — Meus dedos se prendem entre os seus
dedos, alisando sua mão pequena. Sinto falta do seu calor, dos seus gestos tão
meus. — Eu te amo, Luna. Dios, como te amo, niña. — Minha voz sai baixa,
entre seus cabelos, como se pudesse fazê-la me ouvir, sentindo-me cada vez
mais sem rumo sem seu olhar.
— Com licença, senhor. Preciso dar uma olhada nela. — Não ouço a
enfermeira chegar, e nem quero me afastar dela quando noto sua presença.
Ainda estou com meu rosto escondido em seu pescoço, sentindo um pouco
que seja do seu calor, deixando meus dedos junto aos seus.
— Volta para mim, Mikpó! — falo baixo ao seu ouvido.
— Senhor. — O som baixo da voz da enfermeira me faz endireitar
meu corpo, erguendo meu olhar para ela.
Seus olhos não estão em mim, ela segura o outro braço de Luna,
aferindo sua pressão. Com sua cabeça erguida para a tela, o som que vai
aumentando se espalha pelo quarto, mostrando as ondas de batimentos que
vão se acelerando.
— O que está acontecendo? — Meus olhos vão para Luna, que ainda
continua imóvel. Sinto-me impotente, com apenas a angústia me
consumindo. — Por que o coração dela está acelerado?
— Fale com ela outra vez, senhor! — A enfermeira me olha,
apontando para Luna. Suas mãos se erguem, retirando uma pequena lanterna
e abrindo as pálpebras perdidas. — Ela reage ao som da sua voz, preciso que
fale com ela outra vez.
É como sentir a queda livre, meu coração se acelera sentindo todo o
meu ser vibrar em felicidade. Olho sua face adormecida, alisando seus
cabelos, deixando sua orelha livre. Minha respiração toca sua pele, antes dos
meus lábios, beijando a ponta da sua orelha.
— Eu te amo, Luna Delis. Te amo além desse mundo.
Não é a enfermeira correndo para fora da sala, atrás da médica, que
me faz ficar agitado, mas sim o pequeno aperto que sinto em meus dedos.
Meus olhos se movem para nossas mãos, vendo seus dedos enrolados aos
meus, me apertando com carinho.
— Mikpó... — Sorrio em felicidade, olhando para ela e apenas me
movendo o suficiente para beijar sua testa.
CAPÍTULO 19
O Despertar da lua
Luna
Meu corpo não me obedece. Tento abrir meus olhos por várias vezes,
mas sempre o escuro me puxa, me largando perdida outra vez. Ouço, como se
fosse tão distante, correndo por ruas escuras sem fim, buscando uma forma
de voltar. Então sinto como se me puxasse para ele, a voz distante que chega
até mim, me tirando da escuridão.
Mikpó...
Ao abrir meus olhos, sinto o cheiro de soro. Fico agitada pela dor que
sinto em meu peito, como se tivesse algo sentado em cima de mim. Alguma
coisa em meu nariz aumenta a agonia, me deixando confusa. Tento me
mover, mas meu corpo reclama com uma fisgada de dor. A boca tão
ressecada pede por água, com uma sede que não tem fim.
— Dios mio! Você acordou. — O som da voz conhecida, tão
amorosa, se faz ao mesmo tempo que vejo o rosto de dona Zelda planando
sobre mim. Enxergo com mais clareza, percebendo seus olhos preocupados.
— O... quê? — Sinto minha voz arrastada. Tento erguer minha mão,
mas sinto as agulhas nela, me deixando presa a uma bolsa de soro. — Onde
estou?
Ela alisa meus cabelos, sorrindo triste para mim com seus olhos
marejados. Beija minha testa e sussurra tão rápido que não consigo entender.
— Tú sofreu um acidente pequeno. — Meu coração bate acelerado,
me fazendo lembrar do som alto quando meu corpo foi acertado. Vou me
recordando da briga com minha mãe, a boneca de Lola caída ao chão, seu
lindo embrulho destruído. Sinto como se meu peito fosse rasgar de tão forte
as batidas, aumentando minha respiração. As lágrimas descem quentes por
minha face, trazendo todos aqueles sentimentos outra vez. É aniversário de
Lola, não posso deixá-la sozinha.
— Tenho que voltar para casa, dona Zelda... Cuidar dos meus irmãos.
— Ao tentar me levantar, ela me segura no lugar, me empurrando pelos
ombros. Seus dedos se esticam, apertando o botão perto da cama.
— Tú vai ficar aqui, senhorita Luna. — Sua mão quente alisa minha
testa, tentando me acalmar. — E não se preocupe, as crianças estão bem, elas
estão sendo cuidadas, estão seguras.
— Minha mãe... Onde ela está? Por que não está cuidando das
crianças? — Estou me sentindo zonza, o gosto amargo em minha garganta
sobe por minha boca, me deixando mais agoniada com os tubos em meu
nariz. Olho perdida para o quarto frio, vendo tudo tão branco, tão sem cor,
deixando uma dor esmagadora em minha cabeça a cada piscar das minhas
pálpebras.
— Luna. — Dona Zelda aperta forte meus dedos com sua mão,
voltando a outra para meu rosto, alisando com carinho minha testa. Vejo a
dor que ela esconde em seus olhos, como se quisesse me proteger. — Tu
madre percebeu que ser internada em uma clínica de reabilitação seria a
melhor escolha para vocês. — A olho sem entender, apertando meus dedos
no lençol.
— Mas... como ela se decidiu assim? Eu não tenho como pagar isso
agora, dona Zelda. — Meu cérebro tenta assimilar tudo. Como ela tinha
decidido isso em tão pouco tempo? Não compreendo como tudo pode ter
mudado em questão de horas.
— Luna, assim que você entrou na emergência, o motorista ligou para
mim. Ele foi o primeiro a chegar no local do acidente e, quando entrei aqui,
eu tive que fazê-la me contar a verdade. — Ela me olha triste, erguendo seus
dedos da minha mão para meu braço. — Sedrico virou uma fera, eu nunca vi
aquele homem tão fora de si. — Não entendo, senhor Lycaios está em Miami.
— Talvez ele tenha sido um pouco duro com ela, mas eu já tinha conseguido
a fazer compreender que a reabilitação era a melhor escolha. Tauro e Bruce
cuidariam do internamento, mas Sedrico não deu brecha. Você e sua família
são responsabilidade dele.
Não consigo acreditar nisso tudo. Se o senhor Lycaios está bravo, ele
está vindo para cá. Tinha atrapalhado seus negócios, minha mãe tinha ido
para a clínica e Lola ficará solitária e triste em seu aniversário.
— Eu tenho que voltar, tenho que cuidar dos meus irmãos, dona
Zelda. — Solto um soluço de dor, ao perceber que não consigo mover meu
outro braço, que está engessado. — Que horas são? Tenho que voltar para
fazer o bolo da Lola. — Vejo seus olhos se expandirem mais, me olhando
assustada. — Há quantas horas eu estou aqui?
— Luna... — Ela se afasta, olhando perdida para a porta. — Você
ficou apagada por cinco dias, cariño. — Meu coração para uma batida, me
fazendo respirar mais rápido. — Onde estão as enfermeiras que não chegam?
— Ela aperta o botão outra vez, com mais agonia.
— Não, não foi... — Sinto o medo me pegando, ficando assustada. O
som alto dos bips, espalhado pelo quarto, me faz procurar de onde vem. Tem
tantos fios sobre meu peito sendo ligados aos aparelhos...
— Você nos deu o maior susto. Bruce e Tauro tiveram que segurar
Sedrico todas as vezes que ele perdia o controle. — Ela encolhe os ombros,
com seus olhos perdidos. — Ele queria bater em um enfermeiro, que entrou
no quarto... — Ela sorri, alisando meus cabelos. Ouço o som da porta do
quarto sendo aberta, com os olhos negros dela se voltando para quem entra.
Deve ser a enfermeira que ela chamou. Ela solta o ar lentamente, se
abaixando e beijando meu rosto. — Ele está um pouco nervoso — sussurra
próximo ao meu ouvido, quando me beija na bochecha.
Não entendo o que dona Zelda fala, não até vê-la se afastando e logo
uma grande sombra parar ao lado da maca. Sinto-me como se fosse puxada
do mar que estava me afogando para a intensidade do seu olhar. Lycaios me
olha em silêncio, com sua barba por fazer. Sua mandíbula se trava, o
deixando soltar o ar lentamente. A imensidão dos seus olhos me conta o que
sua boca não diz em palavras, tão profundos e vermelhos, como se tivesse
envelhecido dez anos. Seu rosto magro e abatido me olha quieto e sei que, se
Hefesto pudesse retratar sua expressão quando foi banido do Olimpo, seria a
mesma que se reflete no olhar de Sedrico, tão perdido como o deus caído.
Sua grande mão se move, segurando meus dedos aos seus, me
deixando aquecida com seu aperto quente. Tenho medo de falar algo para ele,
tenho medo do seu olhar, forjado em abandono. Ele se abaixa próximo à
cama, desviando sua atenção de mim, e ouço o som de uma sacola sendo
mexida. Lycaios endireita seu corpo e, ao erguer seu braço, vejo a linda
boneca, que agora se encontra toda suja de sangue, com seu vestido rasgado e
a lateral da sua face delicada trincada. Sinto a dor dele me acertar
precisamente como um tiro e meus olhos se enchem de lágrimas. Ele desvia
seus olhos do meu rosto para a boneca, apertando-a com toda força em sua
grande mão, me mostrando sua ira, que se esconde a cada pulsar de veia em
seus braços, ao esmagar ela mais forte, com raiva, com ódio.
— Eu teria comprado a loja inteira de bonecas se me pedisse, Luna.
— A voz tão grossa, embargada de dor, sai dos seus lábios, apertando mais
forte sua mandíbula. — Você tem ideia de que quase morreu por conta disso?
— Ele a ergue, virando-a, olhando para mim com todo misto de emoções que
o consomem. A dor em seus olhos é muito mais intensa do que sua ira.
— Era um presente para Lola, senhor — sussurro entre o choro, me
sentindo pior por saber que a dor que sinto é tão pequena diante do desespero
do seu olhar. — Eu sinto muito.
— Você acha que sua irmã preferia ter uma boneca ou a irmã viva ao
seu lado? — Ele a solta dos seus dedos, deixando apenas o som seco da
boneca repercutir pelo quarto quando cai ao chão.
Suas grandes mãos se mexem sobre as minhas e eu me sinto acolhida
quando seu corpo se move, deixando seu peitoral sobre o meu, aninhando sua
cabeça em meu pescoço. É como se ali fosse seu lugar e meu corpo sente
falta de tudo que vem dele.
— Eu sinto tanto, senhor, era importante para ela. — Meu rosto
tomba, me fazendo odiar aquelas malditas sondas que me deixam longe do
seu cheiro. A mão, mesmo com a seringa do soro, se ergue, alisando seus
cabelos. — Eu me importo com ela, Lycaios. Não queria lhe deixar bravo.
— E eu, Luna? — Seu rosto se move, parando a centímetros do meu,
segurando meu rosto em suas mãos. Seus olhos desvendam os meus, me
puxando para eles, desnudando cada canto da minha alma. — Eu não sou
importante para você, Mikpó? — Sua pergunta é seca e direta, me deixando
presa em sua íris e morrendo a cada toque da sua respiração agoniada em
minha pele.
— Senhor, eu... — Fecho meus olhos, soltando um baixo soluço.
Quero abraçá-lo e sentir a segurança que só ele me dá.
Seus dedos se espalham, limpando meu rosto, me alisando
lentamente. Sinto o toque da sua testa na minha, buscando o mesmo conforto
que procuro dar a ele.
— Eu morri por cinco malditos longos dias ao ver você nessa cama,
ligada a tubos e aparelhos. Eu morri ao chegar e encontrar uma sacola com
suas roupas cheias de sangue. — Ele aperta mais seus dedos em meu rosto,
esfregando seu nariz lento sobre minha boca. — A roupa a qual passei os
segundos mais tortuosos vendo você provar na loja, peça por peça. E então
observei seu corpo imóvel, o mesmo corpo que se aconchegou a mim dentro
daquela suíte. — Sua boca se move lenta, beijando meus olhos, como se
provasse minhas lágrimas. — Me diga que não sou importante para você,
Mikpó, me diga que o que ouvi você sussurrar naquela madrugada foi apenas
um delírio meu.
Meus olhos se abrem para ele em surpresa, com sua face se
sobrepondo a centímetros da minha. Sedrico tinha ouvido minha declaração
tola, que prendia em meu peito de menina apaixonada.
— Lycaios...
— Me diga, Mikpó. — Ele tomba sua cabeça devagar, olhando para
minha boca, esperando minha confissão e eu não posso mentir. Mesmo que
ele não sentisse nada por mim, jamais mentiria. — Eu apenas sonhei com o
que ouvi, Luna?
— Não — sussurro, perdida em seu olhar. — Eu te amo, Sedrico. —
Solto o ar lentamente, não conseguindo me distanciar das suas esferas que
vão brilhando. — Não precisa ter medo, não vou lhe causar problemas. Meu
amor por você é tanto, que não me importo de ter apenas um pouco da sua
atenção, lhe amaria pela minha vida toda, apenas sobrevivendo com você ao
meu lado.
— Acha que seria capaz de lhe dar tão pouco, ninã? — Ele vaga seus
olhos além de mim, observando cada expressão minha. — Luna, eu passei
grande parte da minha vida construindo um mundo onde eu seria meu único
senhor, por desejar tanto ser um homem livre sem ter a sombra de ninguém,
que fui renunciando a tudo pelo meu caminho. Mas tudo não me levou
apenas para uma vida de luxo ou carros caros, minhas escolhas me levaram
até você...
Sua respiração calma toca minha pele, sinto a pressão dos seus dedos
em minha face. E a cada batida do meu coração, mais vida eu ganho, me
entregando para o que seus olhos me dizem.
— Eu te amo, Mikpó, te idolatro como minha pequena deusa Afrodite,
a qual foi feita apenas para mim. É meu mundo, Luna, meu maior império
está em seus olhos. Eu tinha um milhão de motivos para ficar longe de você,
mas precisei de apenas um para ficar. Um olhar e sabia que seria minha para
sempre.
Sedrico se abaixa, não dando nem tempo para meu cérebro raciocinar.
Apenas meu peito, que bate acelerado, recebe em entrega sua boca quando
toca a minha. Quero tocar nele, quero arrancar todas as agulhas apenas para
sentir mais do seu calor e ter certeza de vez que não é um sonho.
— Deus, como eu te amo, Sedrico — sussurro entre seus lábios, que
esmagam os meus em pura posse, refreando seu toque, esfregando seu rosto
em minha face.
— Em trinta e sete anos da minha vida, tenho apenas duas certezas.
— Seu sorriso aumenta, quando seus dentes mordem meus lábios com
carinho. — Que um dia eu irei morrer e, enquanto estiver vivo, será ao seu
lado que quero trilhar meu caminho, Mikpó!
Engraçado como a vida nos pega de uma forma e nos joga para outro
ponto. Um mês após o acidente, entre resmungos e ordens restritivas que, na
maioria das vezes acho que vinham apenas daquela grande cabeça dourada
egocêntrica, Sedrico não me deixa voltar para minha casa.
E é com um belo sorriso descarado que dona Zelda aparece para uma
visita, com seus pequenos, dos quais matei minha saudade, os beijando,
ouvindo suas risadas. Ela me solicita sua chave, praticamente me despejando.
Eu sei, pelo olhar de vitória de Lycaios, que ele está até a raiz nisso. Os
meninos gostam de ficar perto dele, e Rana, minha doce menina, cada dia que
passa me deixa mais orgulhosa da pequena mulher que está se transformando.
Ela me auxilia com a matéria da faculdade, quando Antony a leva até a
universidade para buscar minhas matérias. Lola, sempre ansiosa, espera
Sedrico, que entra pela porta da frente pontualmente às 17h, para a hora do
chá com suas fabulosas bonecas. Rio, olhando pela janela do quarto, pegando
o grande homem de relance, que se senta na manta estendida na grama,
ensinando regras de etiqueta para a pequena arteira Lola. Cadu dorme no
quarto comigo, junto com Lola, desde o dia que chegou, anulando seus
pesadelos e gritos noturnos, mas, sempre que posso, consigo dar uma
pequena fuga para a cova do leão, da qual sou enxotada, porque ele tem medo
de me machucar com essa porcaria de tipoia, mas a verdade é que vejo medo
em seus olhos quando ele se perde em cada machucado que ainda está
cicatrizando em minha pele. Nem um maldito amasso eu ganho!
No fim de semana, aproveitando o sábado ensolarado, Devon
surpreende a molecada com arminhas aquáticas, suspiro com inveja, os vendo
correr livres entre seus risos. Sentada na cadeira da cozinha, meus olhos, por
mais que estejam atentos nas crianças, não perdem os baixos suspiros que
ouço da senhorita Novaes, a babá que Devon tinha contratado pela agência
para cuidar das crianças, quando fui para Miami fazer uma surpresa para
Sedrico. Como as crianças tinham gostado dela, Devon achou melhor chamar
ela outra vez quando me acidentei. E agora a simpática mulher trabalha em
tempo integral conosco. Eu vejo como ela se agita quando Devon passa por
ela, sorrindo alegremente.
— Creio que esse calor deve ser angustiante para ficar sentada. —
Meu rosto se vira para Devon, que ergue sua mão para mim. Ao olhar, noto
uma arma de brinquedo colorida que está carregada, esperando por mim.
Meus dedos curiosos se esticam em agonia para ela, mas ainda assim
me retraio, olhando para o relógio da parede. Ainda são 15h40 da tarde, se
brincar um pouco agora, estarei no meu quarto antes do meu carcereiro
voltar.
— Como está a Odisseia hoje? — Olho para Devon, que pisca para
mim, sorrindo, entregando a arma em meus dedos.
— Terrivelmente cheia, senhorita! — Sorrio mais ainda, pegando-a
em meus dedos.
— Vou tirar essa roupa! — Meu corpo se ergue, pulando em alegria.
Deixo minha arma na ilha de mármore da cozinha.
Corro para o quarto. Depois do que parece um parto, consigo vestir a
parte de cima de um biquíni, junto a um short de algodão solto. Volto
correndo para a cozinha, pegando minha arma.
— Senhorita Novaes, pode fazer companhia para Devon, enquanto
brinco com as crianças? — grito, passando por ela, que fica vermelha
olhando para ele. — Conversa com ela. — Quando passo por ele, aperto seu
ombro e vejo seu olhar envergonhado.
Cada um está devidamente armado com seu revólver de água, lutando
para proteger seu território. Grito entre os disparos, desviando dos ataques de
Rana e Lola. Corro pela grama, desviando também dos tiros de Will e Cadu,
que tentam me molhar.
— Seus danadinhos! — grito, me atrapalhando e retirando os cabelos
do rosto, rindo para eles, disparando de volta.
Will ergue sua mira, atirando em mim, mas me abaixo na mesma
hora, com o jato d’água passando por cima da minha cabeça. Ao erguer meu
corpo, olho para ele sorrindo, mas é em seu rosto em choque que me
concentro.
— O que foi? — pergunto sem entender sua cara assustada.
— Foi mal. — Meu irmão encolhe seus ombros, abaixando seu braço.
O som da respiração alta me faz ter a mesma reação de Will, sendo pega no
flagra. Encolho meus ombros, ouvindo sua respiração mais forte.
— Merda! — sussurro entre meus dentes, me virando para um
Sedrico molhado com o jato que recebeu no rosto, escorrendo gotas por seu
terno.
Ele retira seus óculos embaçados, passando a mão por seu rosto, e,
Deus, até dessa forma esse homem é belo. Seus olhos vão para mim e para
meu seio, que sobe acelerado a cada batida do meu coração. A tipoia molhada
pinga água por meus pés, mostrando que tinha brincado por muito tempo, até
perder completamente a hora.
— Muy bien, Mikpó. — Sua voz grossa sai baixa, olhando para mim.
— Agora entendo por que não me atendeu. — As crianças, que corriam,
param ao gramado, olhando para ele.
Ele solta o ar lentamente, esticando sua mão para mim, e, com puro
desgosto, entrego a arma em sua mão. Já começo a bater em retirada para
meu quarto, mas sou surpreendida por seu puxão em minha cintura, quando
ele me ergue do chão, disparando diretamente em Will. Rana ergue sua arma,
acertando entre mim e ele, e eu rio, me encolhendo em seus braços, que me
usam descaradamente como escudo.
É em puro prazer que nos apertamos dentro de um banheiro do outro
lado da piscina, no começo da noite, o qual ele toma por completo o espaço
com seu tamanho. Meu braço enrolado em seu pescoço ajuda a me sustentar
em seu colo, odiando ainda mais essa bendita tipoia. Sedrico me cola na
parede, me fazendo gemer em seus lábios quando sua boca busca a minha
com a mesma urgência, esmagando minha bunda em seus dedos. Aperto mais
minhas coxas à sua volta, o trazendo para mim, quase implorando por ele, e
não preciso de muito antes dele estar tão fundo dentro do meu corpo. Ele me
beija forte para aplacar meus gritos, inundando o pequeno banheiro com
nossos gemidos a cada estocada e pressão que seu pau faz, entrando e saindo,
me fodendo cada vez mais forte.
— Porra... — Sua voz grossa sai entre nossos lábios, escorregando
sua boca por meu pescoço.
— Oh, meu Deus! — Jogo minha cabeça para trás, quando ele se
movimenta como uma maldita e frenética britadeira. — Sim... OHHH, Deus!
— Escondo meu rosto em seu ombro. — Eu te amo... Eu... Ooohhh... —
Aperto suas costas, gemendo com as sensações que vão crescendo a cada
investida dele, me perdendo em meu desespero.
Sedrico para de se mover, me prendendo mais forte contra a parede,
esmagando minha bunda em suas mãos, com um baixo rosnado. Sua cabeça
se ergue para meu rosto, o olho sem entender nada, tentando mexer meu
quadril, mas ele não se move, apenas me olha com toda a intensidade que tem
no olhar predador.
— O que foi? — Minha voz afobada pergunta nervosa, em agonia,
sentindo dor por meu corpo, querendo gozar, necessitando dessa urgência em
ser libertada.
— Casa comigo, Mikpó? — Seus olhos me seguram em seu lindo
rosto e, entre a luxúria do meu corpo, meu coração salta, como se tivesse
corrido o mundo. Os olhos do meu leão me avaliam, me prometendo uma
vida ao seu lado, tão belo, com apenas o poder que ele tem. Não penso,
apenas o beijo como se o mundo fosse acabar aqui, me entregando não na
urgência dos corpos, mas sim no amor que sinto por ele.
— Oh, sim! Por Deus, sim! — Sedrico alarga um sorriso perverso,
voltando a entrar fundo e forte outra vez. Seus dentes se prendem em meu
pescoço e sinto-me sendo cortada ao meio, me levando ao tão desejado
orgasmo libertador.
CAPÍTULO 20
O Olimpo particular de Hefesto
Luna
Querida Luna,
Aperto sua carta perto do meu peito, olhando para a grande entrada da
clínica de reabilitação no Texas, quando Sedrico para o carro no
estacionamento. O ar que prendi durante toda a viagem para cá vai me
apertando a alma, com a pura saudade que senti. Por longos e duros três
meses, ela se negou a me ver, me presenteando apenas com essa carta, há um
mês. Eu tento imaginar ela bem e, por mais que tente compreender o que o
psicólogo me repassou sobre ser normal a vergonha que ela sente de olhar
para mim, eu quero lhe ver bem. Mas a culpa que ela tem, a faz precisar do
seu perdão, fazendo-a ficar mais reclusa. Ela está levando todos os passos a
sério, vivendo um dia de cada vez, até estar pronta para me ver.
— Eu estou bem? — Me viro para o grande homem parado ao meu
lado, dentro do carro. Me sinto nervosa. Meu cabelo solto cai sobre meus
ombros, tampando as feridas que ainda cicatrizam na pele.
Eu tinha rezado tanto por esse momento e agora sinto medo de perdê-
lo, de escorregar por meus dedos. Sua grande mão se estica, alisando meu
rosto com carinho, retirando seus óculos escuros.
— Está linda, Luna! — Sedrico sabe que não me refiro a estar bonita
para minha mãe. Me preocupo com todos os pequenos ferimentos que ainda
tenho, então usei bastante maquiagem para escondê-los. Ele ergue meus
dedos em direção à sua boca, beijando-os com posse, com seus olhos presos à
aliança. — Tenho certeza de que ela estará feliz em lhe ver.
Choro antes mesmo de passar pelo gramado, quando a vejo distraída
próxima a um jardim. Vejo seu vestido amarelo tão belo, que ressalta seus
cabelos dourados. Ela está linda, sua face tranquila, como há muito tempo eu
não via. Sinto o toque lento em meu ombro, com Lycaios me incentivando a
ir. E é o que faço. Meus passos me levam para ela a cada batida do meu
coração. Não sinto mágoa ou raiva da minha mãe, é apenas o maior amor do
mundo, sempre desejei vê-la finalmente em paz. Sinto seu cheiro, que tanto
amava na infância, assim que meus passos param atrás dela. Meus dedos, ao
lado do meu corpo, se apertam ao tecido do vestido, o esmagando, junto com
a respiração baixa que solto. E, por um breve segundo, me deixo ficar ali,
admirando minha mãe.
— Oi, mãe... — Seus braços se descruzam, assim que minha voz
baixa chama por ela.
E quando ela se vira para mim, não tem como eu não voltar a me
sentir aquela menina perdida que vinha da escola, correndo em minhas finas
pernas, sorrindo para ela, que me esperava no portão. Seus olhos de mel
brilham felizes para mim, tão limpos e tranquilos. Meu coração salta em
compassos, se entrecortando ao baixo soluço. Ela tomba sua cabeça para o
lado. Suas mãos se erguem para sua face, tampando seu rosto de mim,
deixando apenas sua dor se expressar por seus ombros, que balançam
vagarosamente, acompanhado do choro. Atravesso o curto espaço, sentindo
minha vida voltar quando meus braços a enlaçam. Escondo meu rosto em seu
pescoço, entre seus cabelos.
— Meu Deus... Oh, meu Deus! — Ela chora mais, cortando sua fala
entre os soluços, e eu apenas a abraço mais forte, trazendo-a para mim.
O cheiro calmo de camomila, que vem dos seus cabelos, entra pelo
meu sistema respiratório, e apenas a prendo mais a mim. E, por esse
momento, nada mais me importa do que estar ao seu lado. Eu não tinha
passado muito tempo com minha mãe biológica, tinha poucas lembranças
dentro de mim. Vilma tinha se tornado toda minha vida quando me acolheu,
e, como toda filha, não tenho como não sentir um pedaço me faltando ao ficar
longe de minha mãe. Suas mãos soltam seu rosto, passando por minha
cintura, as erguendo por minhas costas, me dando um longo abraço, que há
muito tempo não sentia, um abraço que há muito tempo minha alma ansiava.
E, por mais que tivesse ensaiado tanto tudo que queria lhe dizer, entre seu
abraço nenhuma palavra se faz necessária.
— Me perdoa... Me perdoa, Luna. — Meu rosto esconde minhas
lágrimas, que escorrem livres por minha face.
Movo minha cabeça lentamente, apenas tentando a fazer entender que
não tem o que lhe perdoar, pois tudo que quero é lhe ver bem. Viver com
uma pessoa alcoólatra é morrer diariamente com a doença dela, que se alastra
por você, como uma nuvem negra em um dia ensolarado. É viver com a mais
pura angústia, em alerta a cada segundo, não podendo abaixar sua guarda.
Você morre aos poucos a cada novo copo que ela ingere. É não dormir
enquanto aquela pessoa não volta para casa, é definhar olhando para o portão
vazio entre as noites intermináveis, com seu coração na mão. É sentir seu
fôlego sendo preso a cada batida na porta, sem saber se será a notícia ruim de
que alguma desgraça aconteceu com ela. Você se culpa, você a culpa, você se
odeia, você a odeia. Mas, ao fim, você a ama, e nada, absolutamente nada,
aplaca sua paz além da dela. Minha mãe não está apenas se curando nesse
lugar, e, entre seus braços e beijos sobre minha testa, me sinto sendo curada
de todo mal que me corroeu por todos esses anos, e, mesmo que buscasse em
minha mente algum momento que teria desistido dela, no auge da maior
degradação, eu jamais a deixaria, porque é por esse momento que tinha
lutado, nesse exato momento que seguro seu rosto em meus dedos, colando
sua testa à minha e deixando dezenove anos de dor saírem livres por meus
olhos. Não é vermelha de álcool que sua vista se encontra, é apenas pelo
amor que ela tem por mim e que sinto por ela.
— Me perdoa, minha filha, me perdoa. — Sorrio entre as lágrimas,
retirando a mecha molhada que se cola à sua face com as lágrimas, beijando
sua testa, com carinho.
— Eu te perdoo, mãe. — Abraço-a forte, ouvindo seu choro junto ao
meu. Balançando seu corpo devagar, dou a ela o que tanto sua alma cansada
deseja para poder seguir mais um dia de cada vez. — Eu te amo, mãe. Eu te
amo tanto... Eu não sinto mágoa pela senhora, sinto orgulho de estar
tentando. — Sim, eu poderia ter dito tudo o que tinha planejado, em como me
senti, em como ela me fez sofrer, mas, não quero magoá-la, pois ela já luta
com seus demônios todos os dias.
Apenas sorrio mais, demonstrando todo meu orgulho por ela.
— Eu nunca te mereci, Luna... — Ela se afasta, alisando meu rosto.
Deixo minha face tombar em seus dedos, sentindo seu carinho tranquilo, com
seus olhos presos aos meus. — E sempre agradeci a Deus por, mesmo sem
merecer, Ele ter lhe posto em minha vida. Minha filha, minha Lua.
Ela solta suas mãos, arrumando meus cabelos como se eu fosse a
pequena Luna risonha, que se sentava à sua cama, que passava horas deitada
na sua perna, com ela alisando meus cachos.
— Eu te amo. Eu amo Lola, Cadu... Meu pequeno Cadu, Will e Rana,
mais que tudo na minha vida e não quero perder vocês por nada. Eu só espero
que não seja tarde para conseguir ter meu menino de volta. — Ela escorrega
as mãos pelos meus ombros, erguendo meus braços, até segurar meus dedos.
— Está tão linda, meu amor, tão linda. Ora, isso... — Vejo seu olhar brilhar,
alargando seu sorriso, ao ver o solitário em meu dedo.
Solto o ar lentamente, encolhendo meus ombros. Meu rosto se vira
para o longe, vendo Sedrico nos observar encostado em uma mureta, com
suas mãos ao bolso.
— Eu lhe disse uma vez que estaria aqui para falar... — A voz dela
sai calma, fazendo minha atenção voltar para sua face. — E como prometi,
estou aqui. — Sinto meu rosto gelar, mas me aqueço outra vez quando ela
alisa meus dedos, apertando-os aos seus. — Mas não para dizer eu lhe avisei,
e sim, eu estava errada, minha filha, e nunca me senti tão bem por estar
errada. — Sorrio quando ela beija minha mão, olhando com carinho para a
aliança.
— Mãe, Cadu está em casa agora. — Seguro seus dedos aos meus,
não a deixando se afastar. — Lycaios adotou ele como filho.
Vejo seu olhar em dor e felicidade misturado a todas as emoções que
ela sente, desde alegria à culpa.
— Ele sempre será seu filho, Sedrico não pensa em afastar ele de
ninguém. Eu sei que vocês dois não se dão bem... mas, quando voltar, vai ser
tão maravilhoso.
Ela deixa seus dedos caírem dos meus, olhando em volta, tão perdida.
Dá um passo para trás.
— Eu não penso em voltar, Lu. — Me sinto perdida com ela me
olhando acanhada, com sua voz baixa. — Eu estou trabalhando e conheci
alguém que...
— Trabalhando? — A olho perdida, sem entender. Meus dedos vão à
minha cabeça, sentindo todas as informações de uma única vez. — Como...
Como assim conheceu alguém?
Eu sei que ela não é uma mulher velha. Minha mãe, por mais que
estivesse caindo de bêbada, ainda é uma mulher bonita, com sua face doce. E
agora, se recuperando, sem mais aquelas olheiras ou semblante abatido, sua
face corada se ilumina mais. Eu desejava que ela encontrasse alguém, mas é
como se tudo estivesse indo muito rápido.
— Victor, dá palestra aqui todos os dias. Conheci ele na reunião do
AA. — Vejo minha mãe, pela primeira vez, envergonhada para falar sobre
amor, sobre o que deseja em sua vida. Seus dedos se apertam uns aos outros e
solta o ar lentamente. — Começou como uma boa amizade, ele me ajudava
nas horas mais difíceis. Ele é enfermeiro em um hospital no Texas.
— Uau! — Solto o ar, ainda sem acreditar, mas vejo seus olhos
brilhando em uma felicidade tão distante, adormecida dentro dela.
— Eu venho ajudando aqui, com as novas mulheres que chegam,
trabalho um pouco em cada canto. Isso me faz me sentir útil e menos vazia,
quando percebo o tanto de dor que há e que são maiores que as minhas.
— Eu... Nossa, mãe, eu estou feliz. — Tento sorrir para ela,
conseguindo assimilar que o que ela me diz é que não quer sair da clínica.
— A verdade é que falhei com vocês, falhei com cada um de vocês,
Luna. Não fui uma boa mãe, você foi mais minha do que eu fui sua.
— Mãe, isso...
— Isso é verdade, e a verdade nunca costuma ser boa para quem tem
que enxergar, mas eu enxerguei. Eu não lhe digo que morro de amores por
esse homem que entrou na sua vida. — Ela vira seus olhos para onde Sedrico
está. Voltando a caminhar para mim, suas mãos espalmam em meus ombros,
os alisando com carinho em leves apertões. — Mas ele é bom para vocês e,
acima de tudo, ele a ama. E isso já me faz gostar dele.
— Mãe, você não vem, não é? — Seu rosto brilha ao fim da tarde,
com a luz do sol se despedindo, pegando sua face. É tão calma e serena,
tendo uma paz só dela.
— Não, meu amor. — Abraço minha mãe, me apertando mais em
seus braços.
Eu não posso escolher o caminho que ela trilhará, apenas continuarei
amando-a cada vez mais, e me sentindo feliz por suas conquistas, mesmo que
pequenas para alguns, mas que são gigantes para ela. Minha mãe me mostra a
clínica e cada lugar que ela passa seu tempo. Conheço seus amigos, os quais
ela fez ali dentro, e seu quarto, tão belo e delicado, com tudo que ela precisa
em um só lugar. Sedrico se aproxima uma única vez dela, na hora da partida,
e sua pequena mão se estica para ele. Me vejo ali, diante de duas pessoas que
amo, que estão se encarando em silêncio. A grande mão de Lycaios sai do
bolso, apertando com gentileza os dedos dela, que lhe retribui com um
sorriso. E, mesmo agarrada a ela, na despedida, ainda desejo levá-la comigo,
mas sorrio com carinho, aceitando sua decisão.
— Você já sabia, não é? — Olho para ele, dentro do carro, esticando
meus dedos para seus óculos escuros, o retirando da sua face. Ele move sua
cabeça lentamente, em positivo, para mim.
— Ela me avisou da sua decisão antes de você vir para cá. Conversei
com o dono da clínica. Achei que seria bom ela ter um trabalho, algo para se
distrair. — Seus dedos soltam o volante do carro, deixando a chave na
ignição, sem ligar o veículo. — Ela está feliz, Mikpó, da forma dela
encontrou paz aqui. O médico me explicou como é normal o medo dela de
não querer voltar para o mundo normal. Algumas pessoas ficam marcadas
para sempre, por medo, vergonha, por raiva de si mesmas e por todo o mal
que causaram.
— Mas esse homem, não que seja contra, nem sei quem ele é... —
Seus dedos se esticam ao meu queixo, o alisando com carinho.
— Victor Smith, um ex-militar veterano. Trabalha com recuperação
de ex-combatentes que voltaram do Afeganistão e sofrem com alcoolismo, é
um bom homem, eu conversei com ele.
Olho sem acreditar para aquele rosto branco, com sua cara de pau, me
contando aquilo só agora.
— Deus, e quando ia me contar? Quando exatamente conversou com
o namorado da minha mãe?
— No mesmo dia que a pessoa que cuida dela aqui dentro me passou
o relatório.
— Relatório? — Minha cabeça cai no estofado, soltando o ar dos
meus pulmões. — O senhor é, definitivamente, inacreditável!
O som da sua risada se espalha. Ele vira meu rosto, me dando um
estralado beijo.
— Gosto de deixar minhas mulheres cuidadas, Mikpó! — Ele pisca
para mim, aumentando seu sorriso, e não tem como não amar até o lado mais
egocêntrico dele.
— É isso que vai dizer à Rana e à Lola quando começarem a
namorar? — Ele solta meu rosto, retirando seus óculos dos meus dedos e
levando aos olhos, com sua face fechada.
— Tauro tem uma coleção de armas! — Caio na gargalhada, ainda
perdida em sua forma controladora.
— Sedrico, eu não posso deixar meus irmãos. — Meus olhos se viram
para a clínica, sinto meu peito se apertando. Esmago meus dedos em meu
colo.
— Luna... — Sua grande mão para sobre a minha, alisando com
carinho, apertando-a junto a sua. — Quando entrou na minha vida, sabia que
não estaria sozinha e eu aceitei todos eles. Aceitei cada um deles junto a
você.
— Eu te amo, sabia? — sussurro baixo, enquanto ele liga o carro,
voltando sua atenção para mim.
— Te amo, Mikpó.
CAPÍTULO 21
A entrega de Zeus e Hera
Sedrico
— Por que fez isso? — Seu rosto se esfrega em meu peito com
carinho, me deixando beijar seus cabelos.
— Você diz sobre o quê? — Mordo seus dedos, os deixando perto de
mim.
— Por que o adotou?
— Porque um dia lhe prometi isso, sou um homem de palavra, Mikpó.
— E porque nada nesse mundo me faria mais feliz que a felicidade dela.
— Não sentiu medo? — Movo meus olhos para os seus, que me
observam perdida. — Medo de pegar uma família inteira, louca e cheia de
problemas?
Não, eu não tive, nunca tinha pensado assim. Luna me deu mais do
que eu a ela, nunca tinha me permitido pensar em uma casa cheia de vida,
não até ter ela junto a mim.
— Eu senti medo uma única vez — sussurro, retirando a mecha
sempre teimosa que cai sobre seu rosto. — Medo de que não voltasse para
mim, de resto, eu tive apenas orgulho.
Luna
Fim!
Epílogo
Luna
Grécia
Ilha Creta, Sul do mar Egeu
Atenas
Ilha de Santorini
— Dios, eles estão amando ficar aqui, Luna. Não precisa se
preocupar. — Sorrio com a voz de dona Zelda no telefone, enquanto
caminho pelas ruas de Santorini, olhando as delicadas lojas com estruturas
coloridas. — E vocês, como estão?
Desvio do casal que está vindo, olhando para trás e vendo os distantes
homens que andam silenciosos, me seguindo. Reviro meus olhos com raiva.
Sabia que ele tinha me deixado sair com muita facilidade. Na certa, apenas
me esperou sair do iate e mandou seus seguranças me seguirem.
— Estamos em Atenas. Deus, dona Zelda, é tão lindo! — Minha voz
alegre sai feliz, por ver tanta beleza. — Agora só estou tentando achar uma
farmácia.
— Está passando mal? — ela pergunta alto do outro lado da linha.
— Não, estou bem. Apenas uns enjoos que vêm aumentando e que
nos últimos dias estão ficando piores. — Eu sei que deve ser apenas enjoos
de alto-mar, bobos, por isso não falei nada para Sedrico.
— Enjoos? Dios, Luna. Há quanto tempo vem tendo? — Fico sem
entender a risada de dona Zelda do outro lado da linha.
— Acho que tem umas três semanas, mas é apenas por conta do mar.
— Entro em uma loja, olhando disfarçadamente para trás, conseguindo um
segundo de distância dos seguranças e me escondendo atrás das araras de
roupas.
— Carinõ, como anda sua menstruação? — ela me pergunta à
queima-roupa.
— Minha menstruação? O que ela tem a ver com meu mal-estar? —
Me encosto na parede, olhando perdida para as roupas, pensando no que ela
fala.
— Dios, Luna! Está tomando seu anticoncepcional? — Como um
chute, sua pergunta me acerta precisamente. Eu tinha parado. A médica ia
trocar o medicamento, porque eu acabava sempre esquecendo, então tinha lhe
pedido uma injeção para tomar uma vez no mês. Ela solicitou então para
parar de tomar e voltar em uma semana, mas, com o casamento e tudo mais
me deixando agitada, eu simplesmente esqueci.
— Meu Deus! — sussurro, perdida, tampando minha boca. — Eu
esqueci.
— Creio que esses enjoos de alto-mar têm grandes chances de darem
positivo em um teste de gravidez. — Ela ri mais ainda. Estou em choque, sem
saber o que falar. — Mira, procura uma farmácia e compre um teste de
gravidez. Depois me conte como foi a reação daquele ogro.
Dona Zelda desliga a chamada entre risadas, me largando lá, sem
rumo. Abro o aplicativo de pesquisa, procurando por sintomas de gravidez.
Estou a um passo de cair de bunda no chão, vendo que tudo que tenho
sentido, está descrito ali: os enjoos matinais, a preguiça que está me pegando
a cada dia, o sono excessivo... E eu que sempre jogo a culpa do sono e os
bocejos em cima de Sedrico, por conta de me deixar exausta. Ergo minha
cabeça, virando para a parede onde o grande espelho está, deixando meus
olhos irem para o meu ventre. Estou tão feliz na viagem que não me dei conta
que minha menstruação não tinha descido. Olho a data no celular, apenas
confirmando que seu atraso é grande. Meus dedos param em meu ventre,
olhando para lá.
Demoro uma hora para achar uma farmácia e mais trinta minutos
tentando fazer o farmacêutico entender o que preciso. Compro a marca que
tinha pesquisado, que me daria a resposta correta que preciso. Dou graças a
Deus por ter conseguido despistar os seguranças na loja de roupas, antes de
sair de lá junto com uma excursão de senhoras que estavam passando na rua.
Meus dedos apertam a sacola, com medo, olhando perdida para o teste de
gravidez. Ergo minha cabeça, olhando o restaurante do outro lado. Atravesso
a rua, correndo, pergunto se posso usar o banheiro. Os copos de suco de
laranja no café da manhã nunca me deixaram tão feliz por estar com a bexiga
cheia. Olho o teste ainda sem saber o que estará ali. Como direi a Sedrico se
der positivo? Não sei se ele deseja ter filhos, nunca falamos sobre isso, já
tinha meus irmãos, a casa estava cheia de crianças. A primeira linha fica
vermelha. Eu sei, pelo que tinha pesquisado no celular, que, para dar positivo,
precisa de duas. Apertando-o em meus dedos, olho-o angustiada. Fecho meus
olhos, respirando rápido. E, quando os abro, lá está a resposta para meus
enjoos.
— Meu Deus! — Arregalo meus olhos, vendo as duas finas riscas
vermelhas brilhando na pequena tela. — Eu vou ser mãe. Oh, meu Deus! Eu
vou ser mãe!
Apenas jogo tudo dentro da sacola, saindo do banheiro, que está me
deixando sufocada com a notícia que acabo de ver. Meus pés não dão um
passo para fora do restaurante, antes de colidir no grande paredão que está me
esperando na entrada. Seu peito bate rápido e acelerado, soltando sua
respiração pesada sobre meus cabelos, como um leão muito bravo. Ergo meu
olhar para Sedrico, o vendo com suas íris dilatadas, seus cabelos dourados
bagunçados, com sua mão esmagando a lateral do corpo, seu rosto suado,
aparentando ter corrido por horas.
— Sedrico? — Olho assustada para ele, que não me diz nada além de
olhar para mim.
Sei que ele está bravo por conta de ter me livrado dos seguranças.
— Eu não queria aqueles seguranças atrás de mim — sussurro,
tentando aplacar sua raiva por ter despistado os homens.
Sua mão se estende, ficando aberta em minha direção, simplesmente
ignorando minhas desculpas esfarrapadas.
— Me entregue. — Sua voz grossa sai baixa, olhando para a sacola
em minha mão. Então compreendo seu olhar intenso, depois que o choque da
pergunta passa.
— O quê? — Meu peito bate rápido, olhando perdida para ele. Aperto
em meus dedos trêmulos a sacola, a levando para trás de mim.
— Mikpó! — ele rosna baixo, balançando seus dedos.
Fecho meus olhos, querendo gritar de raiva. O filho da puta estava
olhando o histórico de pesquisa do meu celular. Solto o ar com angústia,
mordendo meus lábios. Abro meus olhos, trazendo a sacola para a frente e
retirando o teste de gravidez, o segurando com medo em meus dedos.
— Eu... Eu não fiz por mal... Eu esqueci. Foram os preparativos para
o casamento, a faculdade... — Me calo diante do seu olhar implacável, não
sabendo mais o que dizer para retirar aquele olhar rigoroso das suas íris.
Encolho meus ombros, esticando minha mão e depositando o teste em
seus dedos.
— Parabéns, papai. — Fecho meus olhos ao som da respiração alta do
grande leão, que está ficando agitado à minha frente, quase como um rugido.
— Está chateado? — sussurro sem coragem de olhar em seus olhos, me
sentindo temerosa.
Meu corpo sai rápido do chão, me fazendo me assustar. Abro meus
olhos para um Sedrico próximo, quase colando sua face à minha. Me sinto
uma lebre presa nas garras do grande leão, que me olha intensamente, com
seus lábios semicerrados.
— Um hijo! Me deu um hijo de presente de casamento, Luna —
sussurra lentamente. — O que faço com você, Mikpó? — Ele abre um
sorriso, me fazendo me aquecer por dentro e meu coração voltar a bater.
— Não ficou chateado? — Olho sorrindo para ele, deixando meus
dedos em seu ombro.
— Meu maior império será vocês, Mikpó. Minha família, nossa
família... Minha doce Luna.
Eu o beijo e me perco ali, naquele momento, dividindo com ele todo o
amor que bate perdidamente em meu peito. Escondo meu rosto em seu
pescoço, rindo, quando ele nos gira, segurando minha bunda, dando um leve
apertão.
— Minha bela Afrodite — sussurra com a voz rouca próximo ao meu
ouvido, depositando meu corpo lentamente ao chão, e eu me perco no único
lugar ao qual minha vida tomou um rumo, uma direção.
Meu amor, meu senhor, meu perfeito deus caído.
Agradecimentos
O que dizer sobre esses dois, além de ter caído de amores por esse
deus tão humano e cheio de falhas e um amor além do mundo para sua
pequena Luna?! Agradeço à minha Rabiosa Zelda, que me presenteou não só
com sua história linda, mas que também abriu portas para personagens tão
maravilhosos.
Agradeço de coração a todos que fizeram parte dessas histórias,
minhas deusas Halana Oliveira, Janaina Silva e Leyde Leonardo. Agradeço a
todas as colaboradoras que enriqueceram ainda mais esse enredo.
E agradeço sempre, nunca esquecendo, minha doce e maravilhosa
irmã de coração, Valdirene Gonçalves. Te amo, mozãooooo.
Agradeço a vocês, suas lindas leitoras, por se permitirem se apaixonar
por eles, cada um deles: Zelda, Tauro, Bruce, Dylan, Elly, Sedrico e Luna.
ATENÇÃO: contém cenas eróticas e gatilhos que podem gerar desconforto. não indicado para menores
de 18 anos.
Tudo nessa vida tem um preço, e Yara sabia disso quando salvou a vida
do monstro que entrou em seu caminho. Tendo que escolher entre o homem
que amava e os frutos dessa paixão que cresciam em seu ventre, partiu,
deixando-o sem olhar para trás. O que ela não sabia é que sua magia deixou
rastros, e agora algo muito pior vêm atrás dela.
Seu mundo desaba quando suas filhas são levadas por um mal maior, e
o destino brinca com a pequena bruxa, colocando-a frente a frente com o
homem que tanto assombrou suas lembranças por longos anos.
O monstro se perde assim que seus olhos pousam na pequena mulher
solitária que vê em seus sonhos, e que agora está em carne e osso na sua
frente. Algo dentro de Paolo desperta, puxando-o para ela cada vez mais, sem
entender o que os liga.
O Cão e a Bruxa estão de volta em mais uma batalha.
Yara lutará com toda sua força para ter suas filhas de volta. No meio da
sua jornada, precisará mostrar ao monstro o poder e a força da magia do amor,
e encarar a ira de cinco anos longe dos olhos tão sombrios quanto o portão do
inferno.
Poderá o cão de caça perdoar a bruxa que o jogou no limbo por cinco
anos, sem despertar o monstro que habita nele?
Bem-vindo à Arena
Billi tinha traçado seu destino, já não era mais o menino delinquente, tinha se transformado em um
homem, foi atrás do seu sonho e criou seu mundo em cada touro que montou aos 32 anos.
Arena Ranger lhe trazia apenas um desejo, o grande touro Asteroide 8 segundo que valeria sua carreira,
mas o pequeno cometa que cruzou seu caminho. Fez o Cowboy mudar seus planos.
Únicos
ATENÇÃO: CONTÉM CENAS ERÓTICAS E GATILHOS que podem gerar desconforto. NÃO
INDICADO PARA MENORES DE 18 ANOS.
Se me perguntarem se já era amor desde o início, garanto-lhe
com as minhas palavras salgadas pelas lágrimas que sim. Eu já o
amava antes do princípio, assim como no meio e fim. Nosso amor
mórbido e louco nos unia em nossa agonia chamada vida.
Se existia um inferno, eu iria para lá por ele, pois onde mais
dois pecadores poderiam descansar suas almas negras manchadas
pelos pecados da carne? E então, eu fui. Joguei-me de cabeça em seu
mundo. Conforme trazia Ben para mais perto de mim a cada sonho, a
cada parte dele que eu salvava, uma parte minha ficava presa em
seu labirinto. Em meu peito, onde batia um coração de uma menina
apaixonada, não importava em quantos pedaços eu teria que destruir
minha alma para salvá-lo, pois a loucura que o habitava era a mesma
que tinha morada fixa em meu coração.
Lizandra, essa sou eu, ou a sombra de quem eu fui um dia.
Zelda estava preparada para tudo em sua vida: uma híbrida latino Afro-Americana com sangue quente
que desejava apenas ter uma chance para mostrar que não veio ao mundo para brincar. Queria um lugar
ao sol entre as indústrias de construção civil. O que ela não imaginava, no entanto, ao aceitar o estágio
na Indústrias Ozbornes, era que, junto com a porta do seus sonhos ao mundo do negócios, também se
abriria a porta dos desejos e fantasias quente como o inferno: seus dois chefões em ascensão.
Quatro mulheres desesperadas por apenas uma noite de folga e por um segundo de descanso ganham,
misteriosamente, um sorteio relâmpago de rádio, que tem como prêmio uma estadia nas suítes luxuosas
do novo hotel da pacata cidade.
Cada uma tem sua história e seus segredos, mas todas trazem uma coisa em comum: desejos
reprimidos.
O Dia das Bruxas nunca mais será o mesmo para elas.
Não deixem de perder essa deliciosa noite de Halloween, principalmente se for uma menina malvada.
Handrey, junto com seu irmão Jonny, participava ativamente de um grupo de neonazistas
violentos, pregando a supremacia branca. Seu destino mudou ao encontrar o corpo do seu irmão junto a
um homem negro dentro do seu apartamento, ambos sem vida. Ele nutriu apenas ódio e autodestruição
por catorze anos, jogado dentro da penitenciária federal, almejando apenas uma chance de descobrir
quem era o verdadeiro assassino do seu irmão. Sua chance veio acompanhada de um pro bono
misterioso, que lhe deu sua liberdade provisória.
O homem passou a ver as coisas de uma maneira diferente ao se deparar com Eme, uma
stripper negra que o levou a questionar uma doutrina de uma vida inteira. Ele já não se sentia mais à
vontade com o grupo neonazista.
Quando corpos mutilados de mulheres negras e imigrantes começaram a aparecer pelas ruelas
do porto, assombrando todas as garotas de programa ao descobrirem que tinha um assassino em série
que matava por esporte, Handrey percebeu que mais alguma coisa tinha escapado junto com ele do
esgoto imundo que era seu passado.
Dylan Ozborne sabia que a pior época da sua vida era dezembro. Ainda não acreditava que
seu irmão havia o obrigado a ser o Papai Noel para o evento beneficente.
Elly poderia ter sido a boa menina o ano inteiro, mas deixou para ser a menina má justamente três dias
antes do Natal, indignada com o nada bonzinho e muito menos velhinho Noel. Então resolveu se vingar
do tirano e por fim lhe dar uma lição que nenhum deles jamais esqueceria.
[1]
Wallflower, de Kimberly August.
[2]
Pequena.
[3]
Papai.
[4]
No mundo BDSM, Dom é o dominante que assume o papel de uma figura paterna. Embora os Dom
sejam bastante autoritários e dominantes, eles também são bastante protetores, como um pai na vida
real. O Dom pode ou não ser ageplayer, dependendo da relação entre os pares.
[5]
Gíria americana que significa: aquele homem mais velho que usa seu dinheiro para gastar com uma
mulher bem mais nova, em troca de sua companhia e/ou favores sexuais.
[6]
Deus.
[7]
Veja.
[8]
Estou.
[9]
Filhos.
[10]
Falei.
[11]
Seu irmão.
[12]
Aceita.
[13]
São cobras.
[14]
Carinho.
[15]
Você.
[16]
Até tenho medo de pensar o que é, Sedrico.
[17]
Sabe, mulheres, prazer sexual, esse é o meu trabalho.
[18]
Minha casa, sua casa.
[19]
Filha da puta.
[20]
Dezenove.
[21]
Homens.
[22]
Filme de gênero romântico de 1990.
[23]
Menina.
[24]
Rolex S.A. é uma empresa suíça fabricante de relógios de pulso e acessórios, com sede em
Genebra, fundada em 1905 pelo alemão Hans Wilsdorf.
[25]
Desordem sexual que consiste na observação de uma pessoa no ato de se despir, nua ou realizando
atos sexuais e que não sabe que está sendo observada.
[26]
Um homem que gosta de trocar os papéis no ato sexual com a mulher, sendo ele o passivo do ato.
[27]
Homens que sentem prazer em se vestir de mulher.
[28]
Excitação sexual derivada do uso de fraldas.
[29]
Comportamento sexual dependente do fato de ver fotografias ou vídeos de ações sexuais.
[30]
A excitação sexual ou o orgasmo são obtidos ao interagir sexualmente com um indivíduo em
estado de sono.
[31]
É uma parafilia que consiste na atração sexual por pessoas idosas.
[32]
Atração ou excitação sexual causada por odores que emanam do corpo humano.
[33]
Consiste na excitação sexual relativa ao contato com fezes.
[34]
Preferência sexual por pessoas que tenham alguma parte de seus corpos amputada.
[35]
Relação entre tendências opostas, o sadismo e o masoquismo.
[36]
Uma pessoa que busca sentir prazer em impor o sofrimento físico e moral a outra pessoa.
[37]
Uma pessoa que busca sentir prazer em receber o sofrimento físico e moral de outra.
[38]
É o prazer pela redução de oxigênio.
[39]
Prazer relacionado à possibilidade de encenar ou manejar uma morte masoquista de si mesmo por
assassinato.
[40]
Atração sexual ocorre ao observar uma tragédia ou desastre, tanto da natureza como do cotidiano.
Exemplificando: como acidentes de carro ou incêndios. A pessoa sente excitação ao ver ou a praticar o
ato em meio às destruições.
[41]
Comportamento sexual no qual, em geral, a fonte predominante de prazer não se encontra no
padrão, mas em alguma outra atividade fora do normal.
[42]
Termo para definir pessoas jovens, em sua maioria mulheres, que buscam um relacionamento com
pessoas mais velhas e bem-sucedidas, que as possibilitem conhecer o melhor do mundo, através de
viagens, presentes, ajudas…
[43]
Gerente do restaurante. No ramo da hotelaria, é o responsável por agendar as reservas, acomodar os
clientes nos estabelecimentos e organizar as praças, garantindo a eficiência no atendimento e a
satisfação do cliente, lidando com as reclamações.
[44]
Boneca.
[45]
Nunca vai ficar sozinha de novo, deixe-me cuidar de você.
[46]
Pequena, deixe-me cuidar de você.
[47]
No dicionário, o termo Mestre é um sinônimo de catedrático, professor e mentor. No BDSM, pelo
menos em grande parte dos círculos, existem diferenças. Enquanto o Mestre seria aquele que ensina
interagindo de forma física (sem relação de Posse), o Mentor teria simplesmente a função de transmitir
informações.
[48]
Raivosa.
[49]
Victoria's Secret é uma marca de lingerie e produtos de beleza fundada em 1977 por Roy Raymond,
com a sede em Ohio, Estados Unidos.
[50]
Pedofilia é um transtorno psiquiátrico em que um adulto ou adolescente mais velho sente uma
atração sexual primária ou exclusiva por crianças pré-púberes, geralmente abaixo dos 11 anos de idade.
[51]
A zoofilia é o termo utilizado para classificar as pessoas que sentem atração sexual por seres de
outras espécies, chegando inclusive a fazer sexo com animais. Essas pessoas são chamadas de zoófilos.
[52]
A Necrofilia, do grego nekrós (cadáver) e philia (amor), é a excitação e prática sexual com
cadáveres.
[53]
Você gostaria de não estar sozinha de novo, pequena.
[54]
Filho da puta.
[55]
Você é meu céu e inferno, pequena.
[56]
Preciso de uma razão.
[57]
Bastardo.
[58]
Ratos traiçoeiros.
[59]
Diga-me o que está acontecendo.
[60]
Eu não estou entendendo.
[61]
Apaixonado pela garota.
[62]
Dizer.
[63]
Muito bem.
[64]
BDSM significa “Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo”. O termo
refere-se a relações sexuais baseadas no prazer da dor.
[65]
Filho da puta desgraçado! Tocou no que é meu.
[66]
Perdão.
[67]
Minha, só minha.
[68]
Nome dado para ejaculação feminina.
[69]
Bom dia.
[70]
Sexo com força extrema.
[71]
Muito linda.
[72]
Fazendo.
[73]
Não era.
[74]
Eu sabia.
[75]
A história do mambo moderno tem início em 1937, quando os irmãos Cachão escreveram uma
dança (estilo com origens na contradança espanhola e a contradança francesa) chamada "Mambo", com
o uso de ritmos derivados da música africana. A contradança chegou a Cuba no século XVIII, onde se
tornou conhecida como danza.
[76]
Cuidado com as palavras, mulher.
[77]
Você se tornou meu tudo, pequena.
[78]
Tenha um bom dia, senhora.
[79]
Senhorita.
[80]
Apaixonada.
[81]
Me fala, bastardo.
[82]
Eu sei.
[83]
Olhe nos meus olhos e me diga a verdade.
[84]
Destruindo.
[85]
Mãe.
[86]
É só.
[87]
Ouvi ela dizer que me ama.
[88]
Eu fui um grande.
[89]
Ela é meu mundo.
[90]
Gremlins é um filme americano de comédia e terror de 1984.
[91]
Sim, é muito.
[92]
Você é o meu mundo inteiro, senhor.