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Já é o dia seguinte e agora estamos todos no galpão que eu aluguei para ser
a nossa base. Acordei cedo hoje, chamando Isadora junto comigo, porque
tínhamos que estar aqui para que ela pudesse saber exatamente qual é o
trabalho dela.
Minha equipe e eu precisamos que ela invada as câmeras dos locais
próximos onde, possivelmente, a filha do senador Bennett está. Necessito ter
uma visão mais detalhada de todo o perímetro, para assim poder fazer a
minha abordagem.
Eu já havia visto entre as minhas investigações o quanto a minha menina
desajeitada é boa na arte da programação, mas o que eu a vejo fazendo me
deixa muito surpreendido. E não só a mim, Craig, Russel e Earl também
ficam bastantes surpresos.
O homem que fazia isso para nós como a porra de um freelancer demorava
horas para completar o serviço. Porém, a Isadora me deu o que eu pedi em
fodidos minutos. Porra! Eu não achava que fosse possível querer foder a
porra da sua vida para fora do seu corpo através do meu pau, mas eu estava
fodidamente enganado. Se havia dúvidas que ela foi feita para mim de um
modo muito fodido, agora não há mais nenhuma. Ela é só minha e nunca irá
deixar de ser.
— Sua menina ganhou Russel e Earl. Nunca vi eles assim com ninguém —
Craig diz, apontando em direção a Isadora e os idiotas. Paro de fazer o que
estou fazendo com o meu fuzil AR-16 e olho em direção a ela.
Ela está magnífica usando sua nova armação de óculos, que foi enviado
ontem mesmo para o hotel. Esses a deixam mais jovem, e combinam com seu
rosto. Seus cabelos cacheados estão presos para cima, a deixando
incrivelmente atraente, ainda mais usando o meu blusão, calça jeans escura e
o seu coturno sexy.
Isadora está sentada à mesa improvisada para ela, rodeada por monitores e
notebooks. Ela está no seu ambiente e isso é tão fodidamente prazeroso de se
ver.
Merda, minha menina!
— Você ainda está chateado comigo, Earl. Eu já me desculpei com você
por ontem. O Craig já me desculpou. — Isadora faz aquele bico novamente e
isso me deixa irritado.
— Eu não disse isso! — meu irmão resmunga sem força.
— Nossa, Craig! — Isadora fala com tristeza.
— Não se preocupe, que eu estou tranquilo. Para falar a verdade, estava
rezando que você fizesse uma merda, eu odeio aqueles irlandeses — Russel
diz como quem não quer nada, quando arruma suas munições e adagas.
— Tomou o seu remédio hoje? Não quero você enlouquecendo perto de
mim, Russel. O negócio é sério — Earl fala, fazendo Russel apontar na sua
direção com a adaga.
— Esse remédio de merda me deixa lento, gosto de estar bem para matar
— Russel diz e daqui eu posso ver Isadora ficar encarando-o fixamente.
Eu não gosto disso.
— Isadora! — chamo, fazendo-a olhar na minha direção. — Venha aqui!
— exclamo e ela vem sem questionar.
Sinto os olhos de Craig em mim, mas eu não olho para ele, porque posso
ser capaz de atirar nele se fizer isso.
— Oi, Ax? — ela pergunta assim que vem a mim.
— Ax? — Craig pergunta. Olho em sua direção com os olhos cerrados e o
vejo cerrar os lábios para não rir.
Fodido de merda!
— Atenção! — falo alto e todo mundo se vira para mim, até mesmo os
homens que vão fazer a segurança de Isadora aqui no galpão. — Vamos fazer
um trabalho sem chamar muita atenção, a polícia está desesperada para
encontrar essa criança, mas é o nosso trabalho resgatá-la e levá-la em
segurança para casa. Não quero explosão sem sentido. — Olho para Russel,
que faz uma careta, mas assente. — Será tudo o mais silencioso possível —
alerto a todos. — Earl, você fica responsável por pegar a criança e avaliar o
seu estado de saúde. Eu, Craig e Russel matamos cada um dos fodidos
sequestradores, não deverá sobrar ninguém para contar história. Estamos
entendidos?
— Sim, senhor! — Craig, Russel e Earl respondem juntos.
— E eu? — Isadora pergunta, ajeitando seus óculos de forma nervosa.
— Dê o seu melhor em ser os nossos olhos e ouvidos. Você guiará cada
um de nós, consegue fazer isso? — Percebo que Isadora quase abaixa a
cabeça, como sempre faz, mas dessa vez é diferente. Ela ergue o queixo e me
olha o mais confiante que consegue.
— Sim, eu consigo fazer isso! — Mesmo tentando ser confiante, posso
ouvir o nervosismo em sua voz.
É tudo o que eu preciso saber, porque agora não há mais volta. Temos um
trabalho a fazer e vamos dar o nosso melhor nisso. Sempre!
— Aqui Isadora, fique com isso! — Axel fala, estendendo uma arma
pequena na minha direção.
— Não, Axel! — digo com os olhos arregalados, dando um passo para
trás. — Eu nunca peguei em uma arma — falo nervosa, negando com a
cabeça.
— Há sempre uma primeira vez para tudo — rosnando, ele me puxa pela
gola do blusão.
— Para que eu vou precisar disso? — questiono. — Você não vai colocar
aqueles armários para ficar aqui comigo. — Aponto com a cabeça para os três
homens que estão armados até os dentes.
— Sim, mesmo assim, se esse lugar for invadido, eu quero que você tenha
algo para se defender — Axel diz, pegando a minha mão e colocando a arma
nela.
— Uma invasão? — Olho em volta e me pergunto como alguém
conseguiria entrar aqui. Esse galpão é uma fortaleza.
— Lembre-se que eu matei um dos homens da máfia irlandesa. — Axel
relembra entredentes e eu assinto, pensando em uma outra solução.
— Não seria melhor correr? — pergunto, tentando aliviar o clima.
— Seria melhor então que você recebesse um tiro nas costas, certo? —
Axel diz sem esconder sua irritação.
— Cruzes, Jesus! — exclamo em português e ele me olha de forma mais
intensa. — Tudo bem, tudo bem, mas eu não sei usar isso — falo a
contragosto.
— Você destrava aqui. — Olho atentamente para as suas mãos. — Aponta
e atira! — Franzo as sobrancelhas ao vê-lo apontar a arma para Russel.
— Chefe, eu fico agitado com uma arma apontada na minha direção —
Russel diz de forma sarcástica.
— Ainda mais quando você está sem os seus remédios, não é, seu merda?
— Craig diz e Russel dá de ombros.
— Foco, Isadora! — Axel diz com raiva, me fazendo pular.
— Sim Axel, você me deu uma boa lição de como possivelmente eu vou
me matar — lamento em voz baixa e ele me surpreende ao me segurar pelo
os ombros.
— Preste a atenção, porra! — A sua voz aumenta um pouco mais e eu me
assusto com a intensidade nos seus olhos.
— Si… sim! — respondo, com os olhos arregalados.
— Você ainda terá o seu treinamento, mas preciso saber que se algo
acontecer, vai saber como não morrer sem que tenha levado alguém contigo
— Axel fala de forma sombria.
— É só destravar, mirar e atirar, certo? — pergunto, engolindo em seco.
— Sim, Isadora! — diz de forma fria. — E pelo fodido Deus, não feche os
seus olhos — eu não contenho o sorriso que teima em aparecer no meu rosto.
— Eu aprendi essa lição, Ax! — digo, pressionando os meus lábios para
me conter.
— Você é uma tola, menina! — reclama sem calor e eu posso ver o seu
sorriso fantasma.
— Eu prometo que vou guiar você e os outros da melhor forma que
conseguir — tomo coragem e digo o que exatamente quero.
— Eu sei que vai! — Axel fala, mordendo sua mandíbula com força.
Sem que eu esteja totalmente preparada, Axel solta os meus ombros. Ele
me olha por um tempo e passa de forma leve a parte de trás de seus dedos no
meu rosto. O seu carinho faz com que, de modo inconsciente, o meu corpo
busque por mais disso. Mas logo o seu toque se afasta, fazendo com que eu
me sinta estranha por causa disso, eu o quero aqui.
Quero que ele e os meninos não saiam daqui. Eu sei que parece egoísta da
minha parte, porque eles estão indo resgatar uma criança das garras de
sujeitos horríveis, que só pensam no quanto podem lucrar com a vida de um
ser inocente. Então, não, eu não posso ser egoísta em querer que Axel fique.
Eles já estão nisso há um tempo e sabem se cuidar. É isso que eu fico
repetindo na minha cabeça, mesmo assim, ainda não consigo parar de ficar
preocupada.
Eu deveria estar assim?
Não, eu não deveria, ainda mais se pensar pelo lado de que eles me
raptaram da minha casa e do meu país para vir aqui para New Jersey. E agora
eu estou me sentindo… diferente. Me sentindo como se eu pudesse realmente
fazer algo útil para alguém, mesmo que esses "alguéns" sejam um bando de
mercenários sanguinários, que não pensariam duas vezes antes de enfiar uma
bala na minha cabeça.
Isso foi muito mórbido, Isadora. Se controle!
Não posso mais negar que eu estou me apegando a esses homens,
principalmente um em especial. Eles são todos uns broncos, grosseiros e
sinceros até os ossos, mas que de qualquer forma, me querem juntos a eles.
Esses homens brutalmente armados estão confiando em mim para serem
seus olhos e ouvidos. Isso é uma puta responsabilidade, tão grande, que está
me dando cólicas só de pensar. Sempre fui muito boa em códigos, sistemas e
redes, mas com pessoas, nada mais que uma negação sem tamanho. Porém,
eles me acolheram, de forma muito errada e distorcida, só que me acolheram.
Encaro esses quatro homens distintos, todos prontos para fazer o que eles
fazem de melhor. Vestidos com roupas táticas todas pretas, malas de
primeiros socorros, rádios transmissores e todo tipo de arma que eu jamais
poderia imaginar.
Depois de tudo, eu não consigo acreditar que estou fazendo parte disso,
chega até ser engraçado, mas não deixa de ser verdade. Sempre imaginei que
essa coisa de mercenários só existia no cinema, entretanto, olhando o modo
que eles estão checando suas armas e terminando de passar o plano elaborado
hoje cedo, eu posso dizer que não.
Essa coisa não só acontece nos cinemas, porque eu estou de frente para
essas caras, aqui e agora.
— Chefe, posso dar um beliscão na Dora? — Ouço a voz do Russel e isso
me faz acordar dos pensamentos.
— Mas por que você quer me dar um beliscão? — pergunto confusa.
— Sei lá, você está olhando para a gente como se não fosse mais nos ver
— Russel diz, dando de ombros. Suas palavras sinceras fazem minhas
bochechas esquentarem.
— Nós não vamos morrer, Dora. Você vai nos guiar — Earl diz
tranquilamente, me deixando mais nervosa do que nunca.
— Se sua intenção era acalmar a garota, sinto dizer, mas você não
conseguiu — Craig resmunga ferozmente, negando com a cabeça.
— O quê? Eu só queria ajudar — Earl fala sorrindo.
— Você! — Axel fala apontando para Earl. — Ajude menos, para o seu
próprio bem. E você! — Aponta para Russel. — Se tocar na minha mulher,
eu atiro em sua perna — Axel diz entredentes e Russel bate continência.
Oh, meu senhor, ele acabou de me chamar de sua mulher?
— Como quiser, capitão! — Russel diz de forma sarcástica.
— Você, com certeza, deveria ter tomado o remédio, seu fodido — Earl
diz, batendo no ombro de Russel.
— Chega disso, é hora de sairmos — Axel avisa, fazendo seus ombros
assumirem uma nova postura. — Isadora, acione as câmeras espiãs de cada
um assim que deixarmos o galpão e fique atenta, porque isso sim vai ser o
seu maior teste. — As palavras de Axel fazem os meus ouvidos começarem a
zumbir.
— Tudo bem! — Minha voz saí tudo, menos, confiante.
— Você estará conectada a cada um de nós, estaremos na mesma
frequência — Axel diz e assinto sem falar nada. Eu não sei se conseguiria.
— Você consegue, Dora! — Earl diz, tentando me passar confiança, e eu
respiro fundo.
— É isso aí! — Russel levanta o punho, mas o olhar de Axel o faz recuar
no mesmo momento.
— Não vá lá, cara! — Earl diz rindo e Russel o acompanha.
— Podem ir para o carro, já encontro vocês — Axel fala aos outros sem
desviar os olhos de mim.
— Sim, senhor! — Russel e Earl respondem, enquanto Craig só se vira e
segue para fora.
— Deixe a arma perto, só por precaução, entendeu? — Axel diz com a sua
forma sombria de sempre e eu dou um sorriso amarelo.
— Sim, senhor! — respondo prontamente, mas Axel não se vira para sair,
como eu imaginei. Ele simplesmente solta um som desgostoso entre os lábios
e me puxa pelo seu blusão. — Você vai se sair bem, minha menina. Não
pensei que fosse tão boa, mas me enganei — ao terminar de falar, Axel
invade minha boca.
— Fique seguro! — digo com as nossas bocas ainda unidas.
Acho que minhas palavras causam algo em Axel, porque ele se afasta de
mim de um modo muito brusco.
— Eu não preciso de sua preocupação, foque no que tem que fazer — fala
de modo raivoso, se virando em direção a saída e me deixando sem entender
o que eu falei para deixá-lo desse modo.
Fico um bom tempo parada, olhando para o nada sem piscar, após a saída
de Axel. Mas logo caio em mim, ele é um homem muito estranho e eu já
deveria estar acostumada com os "de repentes" dele.
Não é hora para ficar parada aqui, no meio desse galpão, eu tenho que
fazer o meu trabalho.
Trabalho esse que se resume a cuidar desses homens violentos.
Balanço a minha cabeça para me livrar de qualquer sentimento que possa
vir a me distrair e vou direto para minha mesa improvisada. Aqui contém
tudo o que eu vou precisar e confesso que me surpreendi fortemente quando
entrei nesse lugar com Axel pela manhã e encontrei tudo já organizado para
mim.
Depois que toda a surpresa passou, algo em mim mudou e quando dei por
mim, percebi que estava no meu ambiente. É nisso aqui que eu sou boa e é
justamente agora que vou mostrar a cada um deles o quanto eu realmente
posso ajudar.
No momento que eu me sento na minha cadeira, alongo o meu pescoço,
tiro os fios de cabelo cacheados que caem na minha testa, estalo os dedos e
começo a trabalhar. Em dois monitores do lado esquerdo, eu conecto as
imagens do local onde é possível a criança estar. Em mais dois monitores do
lado direito, deixo as imagens das câmeras espiãs de cada um deles.
No notebook em minha frente eu olho a planta do pequeno edifício que
eles vão invadir, mas são os GPS’S deles que mais tem a minha atenção. Só
quando me sinto satisfeita, me conecto com eles.
Faço um pequeno teste para saber se estão me ouvindo adequadamente e
fico feliz quando vejo que tudo está indo bem até agora. Axel me informa
quando finalmente chegam no destino, então olho para baixo e vejo que
minhas mãos estão tremendo demais. Sacudo-as, abrindo e fechando os meus
dedos para me livrar de todo nervosismo e tensão que estou sentindo.
— Não vamos chamar muita atenção, nossa prioridade é ter a criança em
nosso poder — Axel fala de modo firme.
— E depois? — é a vez de Craig falar.
— Vamos matar cada um deles, não podemos deixar nenhum deles viver
— a resposta de Axel acende algo em cada um dele.
— Era isso que eu estava querendo. — Russel está agitado, eu posso ouvir
isso.
— Se controle! — Axel fala friamente e Russel solta um som de confiança,
mas não foi tão firme como eu queria que fosse. — Craig, você dá cobertura
ao Earl para ele pegar a menina. Russel, você vem comigo.
— Tudo bem — Earl fala com seriedade.
— Agora é com você, Isadora! — Axel comanda e eu respiro fundo.
— Não detecto nenhuma movimentação no perímetro do prédio, então é
seguro ir. — Bato meus dedos com rapidez no teclado. — A planta do lugar é
antiga, mas pelo estado precário do lugar, posso supor que não mudaram a
estrutura.
Não estou com os olhos nas câmeras, mas pelo barulho de porta abrindo e
fechando, passos pesados de botas e raspar de roupas, posso ter uma noção
que eles já estão se movimentando. Viro a cabeça para os monitores da
direita, somente para ter certeza de que eu estava certa. E sim, eles estão se
movimentando para o antigo prédio.
— Quantos quartos? — Craig pergunta.
— Três no térreo e quatro no primeiro andar — digo rapidamente.
— Tem algum sótão ou algo parecido, onde poderiam prender uma
criança? — Earl pergunta dessa vez.
— Não vejo nada assim na planta, mas não é nada garantido. — Reviro a
planta com atenção. — Tem uma escada de incêndio, acha que pode ajudar?
— Sim, pode! — Axel responde e eu assinto com a cabeça, mesmo
sabendo que ele não vai ver.
Pelas câmeras, eu vejo quando Earl e Craig invadem o lugar pela frente,
para que Axel e Russel entrem por cima, usando as escadas de incêndio que
acabei de mencionar.
Observo de forma concentrada todas as câmeras e para minha surpresa,
não me sinto nervosa ou com medo, estou tranquila e muito, muito atenta a
qualquer movimento.
Pela câmera de Craig, vejo quando ele atira de forma rápida e precisa em
um homem que está perto da porta, ele olha para trás e faz algum sinal que eu
não entendo para Earl.
Earl assente e vira o seu corpo para o lado contrário, apontando sua arma
de forma firme.
Ao perceber que Earl e Craig estão indo bem, eu olho para Axel e Russel,
que agora estão vindo do terraço. Eles entram no prédio de forma silenciosa
assim que descem às escadas e ao chegarem no primeiro andar, dão de cara
com dois homens.
Antes que eu possa abrir a minha boca, eles viram seus corpos nas direções
contrárias e atiram nos homens. Um deles solta um grito de dor e isso faz
com que Axel atire na sua cabeça. Ouço-o praguejar de forma rouca, mas eles
não param. Algo chama a minha atenção, viro minha cabeça em direção os
monitores do perímetro e vejo uma movimentação estranha do lado de fora
do prédio.
— Estão chegando mais uns cinco homens pela entrada — falo nervosa. —
Craig e Earl, sugiro que vocês fiquem atentos.
— Quantos tempo temos? — Craig pergunta.
— Menos de três minutos — respondo, ajeitando o fone no meu ouvido.
Da câmera de Russel, vejo algo estranho. — Russel, duas pessoas indo na sua
direção.
— Certo, Dora! — ele diz, se virando para eliminar os oponentes.
— Onde será que está a criança? — Earl fala entredentes.
— O próximo manteremos vivo para perguntar — Axel diz sem emoção.
— Axel, a porta de um dos quartos abriu e fechou — digo rápido e ele se
põe a andar.
— Qual quarto? — pergunta entredentes.
— A segunda porta à sua frente — alerto e ele corre até ela.
E sem perder tempo, ele atira na fechadura, fazendo-a ceder no mesmo
momento. Axel chuta a porta com força, fazendo-a abrir. Pela sua câmera,
vejo que tem três pessoas ali dentro, dois homens e uma mulher.
A mulher grita de forma histérica, mas Axel é muito ágil, fazendo-a calar
com um tiro no peito e outro na cabeça. Um dos homens se vira para pegar
sua arma, mas Russel o elimina.
O próximo homem tenta correr, mas Axel não permite ir muito longe.
Girando o cabo da arma que disse ser um fuzil, ele bate no rosto do homem, o
derrubando no chão.
— Onde está a criança? — Axel pergunta com frieza ao homem, que agora
está com o nariz sangrando.
— Você quebrou o meu nariz, seu filho da puta! — o homem grita de
forma abafada.
— Responda a minha pergunta! — Axel ordena, mas o homem continua a
lamentar pelo nariz.
— Eu não vou dizer, vocês nunca vão… ah..., porra! — O tiro na sua perna
me faz pular na cadeira.
— Eu não vou perguntar de novo, a próxima será no seu pau. — A voz de
Axel é tão fria, que me causa arrepio. Tiro os meus olhos de tudo isso e vou
para Earl e Craig.
— Craig, tem homens indo até vocês, agora mesmo — falo alarmada.
— Estamos indo, Dora! — Craig responde e começa a agir.
— Merda! — esbravejo. — Russel, homens até vocês! — o alerto.
— Eu não vou mais me segurar, chefe. Vou cair para cima! — Russel fala
de modo tão agitado que faz a sua câmera treme.
— Vai, Russel! — O comando de Axel é o suficiente para libertar o
inferno em Russel.
E ao não ter mais o controle, ele avança de forma enlouquecida para os
seus inimigos.
— Tem mais homens que eu pensei. Temos que ser rápidos — Earl diz
sem fôlego.
— Porra! — Craig pragueja com raiva.
— Onde está a criança? — Axel pergunta entredentes, fazendo o homem
gritar a cada vez que atira nele, mas em lugares onde não o levam a morte tão
facilmente.
—Você é a porra de um filho da puta doente! — o homem grita com terror
e dor.
— Eu sei! — Axel diz tranquilamente, atirando no outro ombro do
homem.
— Ah, porra! Desgraçado! — grita novamente.
Fecho os meus olhos brevemente e engulo em seco, tentando controlar o
meu estômago embrulhado. Fico rígida quando abro os meus olhos e vejo que
Russel receberá o ataque por trás.
— Russel, atrás de você! — grito, mas é tarde demais.
— Argh, merda! — Russel solta um grunhido feroz. — Você realmente me
fez sangrar? Isso foi um erro grave, amigo. — A forma enlouquecida de
Russel me deixa preocupada e quando ele avança no homem, sem se importar
com a sua segurança, o meu temor piora.
— Russel, se acalme! — peço em tom leve, mas ele não me ouve de forma
nenhuma.
— Há um pequeno calabouço subterrâneo no prédio. A criança está lá, vá
Earl. É com você! — Axel ordena como o bom comandante que é. — Craig,
o dê cobertura!
— Nem precisava falar! — Craig diz e corre com Earl, dando o máximo de
cobertura possível.
— Não, Russel! — grito nervosa, enquanto o observo sem controle algum.
Ele vai se matar assim. — Axel, faz alguma coisa — peço nervosa.
— Impossível agora. Merda! — Axel solta um som de dor.
— Você está ferido? Oh Deus! — grito nervosa, mas Axel solta um
rosnado.
— Foco, Isadora! — comanda, me fazendo ficar rígida no lugar. —
Quantos você consegue ver? — pergunta e eu solto uma respiração tensa,
olhando atrás das câmeras.
— Não muitos, há tempo ainda. Uns 10 minutos — digo e ele faz um som
de confirmação.
— Se Russel continuar assim, eu terei que me livrar dele. — As palavras
sem emoção de Axel me fazem arregalar os olhos.
— Não, não faz isso, ele é da equipe! — falo com medo.
— Ele não serve para a equipe se ficar descontrolado assim — Axel diz
com ódio, mas eu não vou desistir de Russel tão fácil assim. Ele me aceitou,
não vou deixá-lo assim.
— Me deixe tentar, por favor, não atire nele, Axel. — Eu não estou
acreditando que ninguém está intercedendo pelo Russel.
— Isadora! — Axel alerta com ódio, enquanto se livra dos homens que
avançam em direção a eles.
— Deixe-me tentar, merda! — solto com irritação, trêmula.
— Tente! — Axel autoriza a contragosto.
Eu sei que essa minha defesa com relação ao Russel vai fazer com em que
a fúria de Axel caia sobre mim, mas eu não me importo agora. Tenho que
ajudar o membro da equipe e se eu estou aqui para ser os olhos e ouvidos
deles, é isso que eu vou ser.
Vou ensinar a esses homens que eles não são descartáveis, a vida de cada
um deles vale muito a pena ser vivida. E se eles precisam de mim para
enxergar isso, então eu farei e não vou falhar.
Ninguém dos nossos vai morrer aqui!
Começo a pensar rapidamente no que fazer, não posso demorar demais,
porque isso o levará a morte certa. E se não for pelos inimigos, será pelo
Axel.
— Russel, ouça a minha voz, eu vou… eu vou cantar para você. — Minha
voz sai baixa e tranquila. — Ouça a minha voz, Russel! — dito isso, eu
começo a cantar Breathe - Lee Hi, é uma música em coreano. Ela me acalma,
então acho que pode acalmar o Russel também.
Sumeul keuge swieobwayo
(Inspire profundamente)
Dangsinui gaseum yangjjogi jeorige
(Até que o seu peito comece a ficar)
Jogeumeun apaol ttaekkaji
(Dormente)
Consigo ouvir que a sua respiração está mais tranquila e isso me faz ter a
certeza de que devo continuar.
Sumeul deo baeteobwayo
(Expire até que comece a doer um pouco)
Dangsinui ane nameun ge eopsdago
(Até você sentir como)
Neukkyeojil ttaekkaji
(Se não houvesse mais nada dentro de você)
— Achamos a criança! — A voz de Craig chama a minha atenção, e eu
encerro a música.
Olho pela câmera de Craig e o que vejo trás lágrimas aos meus olhos. A
filha do senador estava sendo mantida em uma gaiola como se fosse um
animal e isso é tão desumano.
Através da lanterna de Earl, eu posso ver que ela me parece ser uma
menina muito fofa, mesmo que esteja toda suja e com uma expressão
aterrorizada no rosto. Ela tem os cabelos crespos, pele escura e os olhos
verdes.
— Olá, pequena, viemos para te levar para o seu papai — Earl fala de um
modo que eu nunca vi, ele é doce e carinhoso com a pequena criança
traumatizada.
— Earl, avalie a situação da garota — Axel comanda, enquanto corre para
o térreo. — Craig, tire uma foto para registro e checagem de vida. E Russel,
agradeça a Isadora por continuar vivo — meu coração acelera no peito
quando Axel diz essas palavras.
Eu sinto que ele está furioso pelo o que fiz, mesmo assim, fico feliz.
— Eu já ia fazer isso, chefe! — Russel diz com firmeza e mais tranquilo
que antes. — Obrigado, Dora! — Russel diz em voz baixa, após soltar um
pigarro.
Sinto todo o meu corpo vibrar de alegria.
— De nada, Russel — respondo com tom leve. — Estejam prontos para
sair daí, rapazes. Vocês têm de dez a quinze minutos até que a polícia apareça
— conto a eles assim que vejo algo no sistema da polícia local.
— Vocês ouviram, vamos sair daqui! — Axel chama a todos. — Isadora,
esteja pronta para entrar em contato com o senador — comanda ele e eu
ajeito meus óculos como um gesto nervoso.
— Vou fazer isso agora mesmo! — digo em prontidão.
Não consigo conter a satisfação que se apodera do meu coração, eu não
sabia que me sentiria tão feliz por ter conseguido ajudar a Axel e outros.
E seja o que for, eu posso dizer livremente que vou querer mais disso, mais
dessa emoção.
Não consigo dizer em palavras o quanto estou feliz que toda a missão de
resgate saiu bem como o planejado. Teve alguns contratempos, alguns
ferimentos superficiais, mesmo assim, ferimentos. Mas fora isso, tudo saiu
em perfeito estado e agora todos já estão prontos para fazer a última parte do
trabalho.
Para mim, é a parte mais emocionante do mundo, que é levar a pobre
garotinha assustada de volta para as pessoas que a amam. Sinto uma dor no
peito a cada vez que eu lembro do olhar assustado dela. Ela estava sendo
tratada como uma mercadoria por pessoas detestáveis, ou como um animal
preso naquela gaiola.
E só por pensar em algo assim, eu cerro os punhos de modo involuntário.
Eu não acredito que vou dizer isso, mas eu fico muito feliz que todos esses
homens desprezíveis foram mortos por Axel e os outros.
Me sinto mal por ter esses pensamentos tão ruins, essa pessoa não sou eu,
mas é impossível isso não acontecer quando você começa a olhar o mundo
com outros olhos. Os olhos da pura e desagradável realidade sinistra que
assombra cada canto desse planeta.
Porém, agora não é hora para isso, o meu foco é entrar em contato com o
senador Silas Bennett. Vejo a foto que eu recebi de Craig mais uma vez e
sinto novamente aquele aperto no peito pela garotinha.
Mas não, eu não tenho que ir por esse caminho novamente. Balanço a
cabeça para me livrar desses sentimentos melancólicos, respiro fundo e me
concentro para fazer aquilo que a equipe precisa que eu faça.
— Senador Bennett? — pergunto assim que a ligação é atendida, no
terceiro toque.
— Quem fala? — pergunta o homem. — É sobre minha filha? — Pela voz
do senador, eu posso notar que ele está muito ansioso por qualquer notícia
que seja.
— Sim, senhor senador, nós… — começo a falar, mas ele me interrompe
no mesmo momento.
— Onde ela está? — questiona. — Por que ela ainda não está aqui? — A
voz do senador sai dura e exigente.
— Senador, nós… — ele novamente me interrompe.
— Eu exijo que tragam a minha filha, ou… — dessa vez eu que não o
deixo falar, isso já está passando dos limites.
— Senador Bennett, se o senhor me interromper novamente, serei obrigada
a atrasar seu encontro com a sua garotinha — ameaço. — Creio que não é
isso que o senhor deseja, eu estou correta? — Uso a voz marcante e
humanamente seria que Axel sempre usa quando está sem paciência.
Acho que isso faz o senador ponderar o modo que está falando comigo.
— Eu... eu sinto muito — diz, me fazendo soltar um suspiro longo.
— Entendo a sua ansiedade, senhor senador, mas precisamos terminar a
nossa transação — falo exatamente o que Axel havia mandado fazer.
— Minha Emily está bem? — Sua voz sai rouca, como quem está prestes a
chorar.
— Eu estou enviando agora a prova de vida da sua filha, está chegando…
— Acabo de enviar a foto para o seu celular. — Agora — digo, ouvindo o
som estrangulado saindo do homem.
— Minha Emily, ela... está viva! — o senador fala choroso.
— Sim, senhor senador — respondo, mesmo sabendo que ele não havia
feito uma pergunta. — A saúde dela está sendo avaliada por um membro da
equipe, eles chegarão em poucos minutos.
— Isso…, isso é bom! — o senador fala e eu fecho os olhos por um tempo.
— A transação, senhor, é necessário efetuar a transferência — lembro-o,
tentando soar mais firme do que eu posso ser.
— Isso não está certo, vocês não podem fazer os trabalhos dessa maneira.
— O senador assume novamente uma voz imponente.
— O senhor sabia que as coisas seriam dessa maneira quando nos chamou.
O carro trazendo a sua filha chega em… — Olho o GPS do carro e volto para
o Senador. — Dez minutos, senador.
— Minha Emily… — o senador sussurra.
— Sim, sua Emily está a caminho — respondo em tom leve, sentindo meu
coração bater forte. Ouço o farfalhar de algo do outro lado da linha.
— Smith, faça a transferência agora mesmo — o senador diz com a voz de
pura autoridade.
— Tem certeza, senhor? — A voz do tal Smith se faz presente.
— Você está indo contra as minhas ordens? — o senador fala entredentes.
— Jamais, o senhor é a autoridade aqui e não o contrário — Smith
gagueja. com medo.
“Oh Smith, eu entendo o que é trabalhar para um homem exigente.”
— Então faça o que eu mandei! — ordena o senador em tom profundo.
— Começando a transferência — Smith fala, para logo depois eu ouvir o
barulho típico dos dedos batendo no teclado.
Eu sei que nunca vou poder saber exatamente o que o senador Silas
Bennett está passando, mas tenho empatia o suficiente para ter uma pequena
noção do quanto deve estar sendo terrível para ele e sua esposa.
Posso não ser mãe, mas eu sou filha, e se tem uma coisa que eu entendo, é
do amor que os meus pais têm por mim. Então, sim, eu fico sentida por tudo
o que essa família está passando, tendo sua filha sendo tirada dos seus braços
por pessoas desagradáveis.
É de cortar o coração que as coisas não possam ser tão fáceis, mas é assim
que Axel e os outros trabalham. Entendi desde o momento que o meu
caminho tropeçou com o deles que nada seria fácil e agora eu tenho a
verdadeira noção disso.
— Transferência feita com sucesso. — A voz de Smith me faz voltar a
realidade.
Confirmo se foi exatamente isso que aconteceu e quando vejo o enorme
valor na conta, meus olhos se arregalam. Pisco algumas vezes e agilizo para
fazer exatamente como Axel havia me orientado.
Que para resumir tudo, ele mandou com que eu transferisse o dinheiro para
outra conta assim que a transação fosse completada. Como eu sou uma
mulher extremamente curiosa, não me contive em perguntar o porquê ele
estava me mandando fazer aquilo, mas sua resposta foi tão simples como as
demais que ele me dá: “Não quero ninguém rastreando o nosso dinheiro,
menina tola”.
Sim, Axel Cox é exatamente esse tipo de homem, sem um osso paciente no
seu corpo.
— Espere um breve momento, senador — digo, deixando a chamada em
espera para me conectar novamente com os outros.
— Tudo certo, Isadora? — A voz fria de Axel faz os pelos do meu corpo
se arrepiarem.
— O dinheiro foi transferido e eu já enviei para onde você me mandou —
eu explico e ele faz um som de confirmação.
— Bom, muito bom. — Sua voz sai dura. — Estamos já no lugar do
senador, continue na linha.
— Certo, Axel! — respondo prontamente e volto para o senador. —
Senhor, sugiro que vá encontrar sua garotinha — é impossível não abrir um
sorriso ao dizer essas palavras ao homem.
— Obri… obrigado, senhorita… — o senador questiona, mas eu fico rígida
no mesmo momento.
— Martins! — falo após soltar um pigarro.
— Muito obrigado, senhorita Martins — diz e no mesmo momento, me
desconecto com o senador, ficando somente com os membros da equipe.
— Vai querer que eu leve a garotinha, chefe? — Ouço Earl perguntar.
— Não, pode deixar que eu a levo — Axel diz duramente. — Vamos! —
Axel chama a menina, mas ela começa a chorar.
— Não! — ouço a voz chorosa da pequena.
— Vá, querida, ele vai te levar para o seu papai — o tom gentil de Earl faz
a menina parar um pouco de chorar.
— Promete! — A voz da pequena menina está cheia de desconfiança e
medo.
— Sim, eu vou te levar para seu pai. — Me surpreendo pelo modo leve de
Axel. — Eu prometo! — Ele continua fazendo meu coração acelerar na
batida.
Eu sei como é Axel e suas promessas, ele tem isso de que se promete, não
há como retroceder.
Então, eu sei, mesmo antes dele fazer a sua promessa, que ele entregaria a
pequena criança a sua família. Fico quieta quando vejo, pelas câmeras espiãs,
Axel se movimentar. Ouço Craig dizer que vai com ele e espero-o negar, mas
não é isso que acontece. Os dois saem do carro, mas Axel é o único a
carregar a pequena menina, que agora está enrolada em um grosso cobertor
escuro. Eu não consigo ver muito e a única coisa que indica que eles
finalmente encontram com o senador Bennett, é quando Emily grita pelo pai.
— Papai! — ela grita através do choro.
— Minha menina, você está bem! Está viva! — o senador fala com a voz
embargada.
— Confesso que pensei que iria encontrar a SWAT à minha espera —
Axel fala em tom obscuro.
— Eu nunca faria isso, não com a minha Emily em perigo — o Senador
diz, emocionado.
— Bom! — Axel diz com indiferença. — Senador, cuide da sua criança,
ela vai precisar. — Meu queixo vai ao chão ao ouvir as palavras de Axel. —
Temos que ir!
— Cox! — chama o senador.
— Senador? — pergunta Axel, sem emoção.
— Obrigado! — O senador me surpreende com o seu agradecimento.
— Eu só estava fazendo meu trabalho. — E com isso ele se põe a andar
novamente. — Até mais, quando você ou esse governo hipócrita precisarem
dos meus serviços.
No momento em que Axel e Craig voltam para o carro, eu percebo que
realmente todo o trabalho está finalizado. E somente com a certeza de que
tudo realmente ocorreu da melhor forma possível, eu sinto que preciso me
afastar.
Empurro a minha cadeira com força e impulsiono o meu corpo para que ele
se levante o mais rápido possível. Sinto a minha respiração ficar mais rápida
e sem qualquer controle, minhas mãos começam a tremer e a junção disso
tudo me leva a crer que eu estou tendo algum tipo de ataque de ansiedade, ou
de pânico. Seja lá qual for, a única coisa que sei com certeza, é que eu não
estou bem.
Eu consegui!
Eu consegui fazer tudo direito, não induzi ninguém a morte certa e
finalmente alguém quis me ajudar de verdade. Sei que pode parecer louco e
totalmente absurdo, mas a sensação de ser útil para algo ou para alguém me
traz um sentimento avassalador. Coloco a mão no peito, na tentativa falha de
parar o meu coração acelerado, e curvo o meu corpo para frente.
Eu tenho que chegar a algum controle de mim mesma e das minhas
emoções. Ouço alguém chamar por mim, e ao virar a minha cabeça para o
lado, vejo um dos seguranças designados por Axel se aproximar.
O homem alto, e totalmente ameaçador, me pergunta se eu preciso de algo.
Mas como eu não sei o que dizer em palavras, somente nego com a cabeça e
dou um sorriso amarelo. Tudo o que menos quero agora é ter o segurança
sobre mim, porque se tem uma coisa que tenho certeza, é que Axel não vai
gostar nenhum pouco.
E tenho certeza mais ainda que do jeito que aquele homem é cruel e meio
enlouquecido, ele fará algo com o pobre coitado. Então, não, eu aceno para o
segurança dizendo que está tudo bem.
Assim que acabo de responder o homem, vejo as portas do galpão se
abrirem para que os quatro membros intimidadores da equipe adentrem o
local.
— Vocês estão bem? — questiono em alerta quando vejo Earl apoiando
Russel com o seu ombro.
— Ei Dora, eu estou meio fodido, mas logo o príncipe das trevas vai me
deixar novinho em folha — Russel diz com um divertimento doentio e eu
fico sem saber o que dizer com relação a isso.
— Eu ainda vou chutar esse seu traseiro aloucado e suicida — Earl
reclama com Russel e acena para mim. — Você foi incrível, pequena Dora —
o elogio de Earl faz minhas bochechas esquentarem.
— Não diga essas coisas bobas, homem, eu não fiz nada demais. Vá cuidar
do Russel! — peço, virando o meu rosto para o lado e fazendo um aceno
frouxo com a mão.
— Você foi realmente muito bem — a voz grossa de Craig me faz dar um
pulo no lugar. E quando dou por mim, ele para do meu lado e ergue sua
enorme mão.
— É… não foi nada! — digo rapidamente, levando a minha mão de forma
tímida para que concluíssemos o cumprimento.
— Acho que é assim que fazem, certo? — Craig pergunta de forma meio
rude e meio confusa.
— É bem isso mesmo, eu acho — não consigo conter o meu sorriso ao
responder a isso.
— Certo! — ele resmunga sem calor e vira abruptamente para sair de perto
de mim.
Sinto a presença no momento que os pelos da minha nuca se arrepiam.
Nem preciso me virar para saber que Axel está vindo na minha direção.
Nunca consigo entender como o meu corpo responde a esse homem,
mesmo quando nem o próprio está exigindo por alguma resposta. Mesmo
sabendo que eu não preciso me virar, faço isso sem nem ao mesmo pensar. E
lá estão eles, aqueles olhos escuros como uma noite sem estrela, frio como
pedaços de gelo e intensos de um modo que me sinto despida somente com
eles.
— Ax… — eu começo a falar, mas paro quando sua mão alcança meu
braço com força.
— Não fala nada! — ele manda e eu fico quieta no mesmo momento. —
Vem! — Me puxa pelo braço.
— Certo! — Me deixo ser guiada por ele.
Axel me leva para um canto do galpão, longe dos olhos e ouvidos dos
outros. Não tenho tempo para qualquer tipo de reação, porque ele me carrega
em seu colo, pressionando as minhas costas nas paredes do galpão d fechando
minhas pernas ao redor da sua cintura. Para que logo em seguida, a sua boca
saquear a minha com fome, desejo e loucura, muita loucura.
Eu amo esses beijos devastadores de Axel, é como se ele me marcasse
como sua e confesso que eu adoro tudo isso. Adoro o fato de ser marcada por
ele, de saber que eu sou tão louca pelo seu toque quanto ele é pelo meu.
— Eu odeio isso! — Axel rosna, enquanto lambe meu pescoço.
— Ah, Deus! O quê? — digo de forma desconexa.
— A forma como você protegeu aquele fodido louco de mim — Axel
rosna contra a minha boca dessa vez.
— Axel! — gemo seu nome baixinho quando o raspar de sua barba faz os
pelos do meu corpo se arrepiarem.
— Eu não gosto disso, você é minha! — Eu sei que não deveria, mas sua
possessividade comigo me deixa muito louca de excitação.
— Então eu deveria ter deixado você matar o Russel? — pergunto,
perdendo um pouco do estilo de antes.
— Sim, porra! — Axel diz entredentes e eu, sem saber o que estou
fazendo, o empurro para longe de mim.
— Não! — falo, arrumando minha roupa.
— Não? — Axel pergunta de modo perigoso e confuso, como se não
acreditasse no que acabou de ouvir.
— Si... sim! Eu não podia deixar você fazer aquilo, Russel e os outros
fazem parte da equipe — digo, agradecendo aos céus por não continuar a
gaguejar.
— Cada um deles, inclusive você, começou esse trabalho sabendo que
seria descartável se caso comprometesse o meu trabalho — Axel diz
friamente e não posso negar que as suas palavras cortantes me magoam de
um jeito bem ruim.
— Eu fui forçada! — vômito a minha confirmação e não me arrependo.
— Sim, você vai fazer algo com relação a isso? — Axel pergunta com
raiva.
Fico pensando no que falar a Axel e apesar de saber que eu sou
terrivelmente submissa a ele, não posso deixar com que continue a tratar todo
mundo, inclusive a si mesmo, como algo descartável e sem valor. Para mim,
agora eles são essenciais para salvar garotinhas, como Emily Bennett, das
garras de homens ruins. Por mais que esses próprios homens ruins sejam eles
mesmos.
Não quero mais ser somente a Isadora cientista tecnológica, quero também
fazer algo por mim e pelo os outros. Mesmo que sejam pessoas obscuras e
perigosas como esses homens, que agora estou convivendo.
Levanto minha cabeça, tentando passar confiança, do mesmo modo que o
próprio Axel exige que eu faça, e encaro esses olhos profundos que eu
aprendi a me entregar por inteira.
— Não, porque eu descobri que além de não ter sido a minha escolha fazer
isso, eu gostei de estar ajudando e ser útil de algum modo — solto uma
respiração forte. —. E se for possível impedir que vocês quatro se matem em
algum momento, então eu serei essa pessoa. E eu não vou embora! — Minha
voz sai em um tom mais firme e isso faz Axel dar um passo na minha
direção. Faço de tudo para não me encolher sob o seu olhar.
— Se quer transformar quatro pessoas fodidas em algum tipo de família de
merda, então você é mais tola do que eu imaginei — Axel diz de forma baixa
e raivosa.
— Se eu puder evitar que vocês se matem, para mim está de bom tamanho
— digo sem desviar o meu olhar o dele.
— Ah, minha menina! — Se afasta. — Você continua sendo
surpreendente. — Pisco algumas vezes com as suas palavras.
— O quê? — indago confusa ao ver o seu sorriso fantasma.
— Você realmente achou que eu fosse matar aquele merda? — Axel
pergunta sem calor e eu olho para os lados, confusa.
— Você não ia? — questiono e Axel nega com a cabeça, enquanto começa
a tirar o seu colete. — Então, estava me testando novamente? — Minha voz
saí estrangulada.
— Sim, Isadora — Axel diz tranquilamente, me fazendo arregalar os
olhos.
Estou tão perplexa, que sinto minhas pernas ficarem fracas.
— Você queria que eu o impedisse? — pergunto, fazendo-o assentir.
— É bem normal para nós ver Russel perder o controle, Craig soca sua
cara, Earl o faz tomar algum calmante e eu, bem, eu atiro algo nele. — Axel
para e olha para mim. — Mas você, você simplesmente cantou para aquele
porra louca — dessa vez, quando Axel fala, ele volta a sua raiva habitual.
— Eu fiz aquilo sem pensar, eu só queria... — Nego com a cabeça.
— Você queria ajudar, certo? — pergunta e eu assinto, envergonhada. —
Acho que é boa demais para esse mundo — reclama, erguendo minha cabeça.
— Fico feliz que tudo saiu bem — falo em tom baixo.
— Você foi muito bem, Isadora — dou um sorriso de lado ao ouvir o seu
elogio.
— Obrigada, Ax! — agradeço, fazendo-o franzir o cenho, mas não diz
nada. Ao encará-lo fixamente, me lembro de algo muito importante. — Axel,
você está ferido! Onde está ferido? Você deveria deixar Earl… — Sou
interrompida abruptamente quando a boca de Axel avança na minha.
— Porra, para de se preocupar comigo! — Dessa vez a sua raiva não é sem
calor, ele é intenso.
— Mas você está… — Tento dizer algo, mas ele me impede.
— Foda-se! — diz entredentes, me deixando sem entender.
Cada vez que eu mostro algum tipo de preocupação, não sei por que, mas
ele sempre fica irritado e se fecha de modo tão rápido, que eu não consigo
explicar. Existe algo a mais nisso, mas ainda não sei dizer o que é.
Sou despertada da minha confusão com relação a Axel quando o meu
celular começa a tocar no bolso traseiro do meu jeans. Fico confusa por essa
chamada repentina, até mesmo Axel olha para mim em questionamento. E
quando olho para o visor do celular, sou surpreendida ao ver que é a minha
mãe que me chama.
Sem perder tempo, atendo a ligação o mais rápido possível.
— Dorinha! — a voz baixa e chorosa de minha mãe me faz entrar em
alerta.
— Mamãe, a senhora está chorando? — indago. — Aconteceu alguma
coisa? — acrescento de forma apressada e nervosa.
— É o seu pai, Dorinha — mamãe funga do outro lado da linha e me faz
ter mais certeza de que está chorando.
— Paizinho? O que houve? — Minha garganta começa a ficar embargada.
— Ele está no hospital, filha, os médicos dizem que é grave. — Oh meu
Deus! Não, não pode ser.
— Mamãe, não! — digo, sentido o meu corpo amolecer por completo, e
quando penso que posso chegar a cair no chão, sou amparada por Axel.
— Desculpe, Dorinha, mas… nós precisamos de você — eu não posso
dizer não a um pedido tão importante como esse.
— Meu pai, eu preciso ir para o Brasil. É urgente! — peço, voltando a
falar em inglês com Axel, de modo suplicante, sem me importar com nada,
eu só preciso chegar até os meus pais.
— Amanhã, você chegará lá, amanhã — responde e eu começo a chorar de
puro alívio e agradecimento.
— Obrigada! — Agradeço e ele vira a cabeça para o lado. — Mamãe,
amanhã chegarei. Fica bem, eu vou até vocês! — conto a minha mãe, que não
fala nada e só chora do outro lado da linha.
— Te amo, minha filhinha! — declara minha mãe e eu aperto o celular
com força.
— Te amo mais, mamãe! — encerro a ligação sem saber o que falar, ou
como devo reagir nesse momento.
Nada mais importa, tudo o que eu sei é que eu tenho que chegar até os
meus pais. São eles que precisam de mim agora e é para eles que eu quero ir.
Após encerrar a ligação com a minha mãe, eu não me lembro muito bem o
que aconteceu depois. O meu corpo e a minha mente entraram em modo
automático e agora tudo o que sei é que eu estou dentro de um jatinho com
Axel, tendo como destino o Brasil.
Ainda não sei o que exatamente aconteceu com o meu paizinho, mas seja
lá o que tenha sido, é impossível não ficar com medo por ele. Papai já tem
muita idade e teve problemas cardíacos e renais, vive tomando seus remédios
regularmente, mas seja como for, somente a sua idade avançada já é um fator
explícito para aumentar a minha preocupação.
E quando eu ouvi por minha mãe que ele estava hospitalizado, foi como se
um buraco escuro e gelado me engolisse por inteira.
Sim, eu estou com medo, para falar a verdade, estou aterrorizada com o
simples pensamento de perder o meu paizinho. A ideia de isso acontecer me
mata por dentro, porque é graças ao seu Gene e dona Maria José que eu sou o
que sou e faço o que faço.
Não me importo se as pessoas pensam que coloco o bem-estar deles acima
do meu, eles fizeram isso por mim a vida toda, me adotaram em uma idade
avançada, coisa que poderiam simplesmente não fazer para que pudesse
aproveitar a velhice juntos, já que nunca tiveram os seus próprios filhos e,
com certeza, não teriam porque se envolver com uma recém-nascida que foi
abandonada na porta de sua casa.
Mas não, eles ficaram comigo, enfrentaram a vida para poder me dar uma
boa educação e fazer de mim uma boa menina, uma boa mulher. Quando eu
era pequena, lembro das conversas maldosas com relação a minha adoção.
Pessoas apontavam para nós três, dizendo que eles eram muito velhos para
lidar com uma criança, que eles tinham idade para serem meus avós e não
meus pais. E você acha que minha mãezinha e o meu paizinho se abateram
por isso?
Não, eles não fizeram de modo algum e estamos bem até hoje, sem nos
importar com palavras soltas, repletas de maldade. Mesmo com todas as
provações de vida, eu posso dizer abertamente que tive uma boa infância e
adolescência ao lado dos meus pais. Agora me sinto culpada por não ter ido
para eles antes, como haviam esperado há algumas semanas.
Se eu tivesse ido ver os meus pais, poderia ter notado algo que minha mãe
e até mesmo o meu pai deixaram passar. Eu… poderia estar, sei lá, deixando-
os mais felizes. Isso pode ter sido minha culpa, eles podem estar preocupados
comigo com essa viajem de última hora e…
Oh Deus, o que eu estou dizendo!
Eu não posso ficar pensando em culpa ou qualquer outra coisa, na verdade,
eu tenho que rezar pelo meu paizinho. Isso mesmo, eu deveria estar rezando
por ele e não procurando alguma culpa ou explicação. Junto minhas mãos,
solto uma respiração e…
— Isadora? — Axel chama, me fazendo dar um pulo.
— Sim? — pergunto com um fio de voz, virando o meu rosto para encará-
lo.
— O que você está fazendo? — Axel me pergunta e eu pisco algumas
vezes, deixando cair as lágrimas que estavam acumuladas nos meus olhos.
— Como? — pergunto confusa, ele olha para as minhas mãos unidas e
depois para mim. — Você está falando das minhas mãos juntas? — Minha
confusão vai fazer minha cabeça estourar.
— Isso mesmo — diz com toda a sua seriedade de sempre. E é justamente
por ele estar tão fechado e sem usar nenhum tom sarcástico, que eu tenho
noção de que ele está falando sério.
— Eu vou rezar para que o meu pai fique bem — respondo, olhando de
soslaio para ele. Axel ainda olha para as minhas mãos de cenho franzido,
então eu resolvo perguntar. — Você já rezou alguma vez, Axel? — questiono
calmamente.
— Isso é besteira! — Axel diz, soltando um bufo raivoso.
— Não é besteira, pelo menos, não para Deus — digo com firmeza,
fazendo-o olhar diretamente para os meus olhos. — Você acredita em Deus,
Axel? — pergunto e posso ver novamente a escuridão no seu olhar.
— Não, eu não me iludo com algo que não vejo. — Suas palavras duras
são como um soco no meu estômago.
Eu não deveria estar tão surpresa com isso, não é?
Era bem possível que alguém como Axel, que respira violência e morte,
não acreditasse que existe um ser maior, capaz de nos proteger e proteger
aqueles que mais amamos.
Às vezes, fico me perguntando como deve ter sido a vida para Axel
durante a sua infância, aposto que não deve ter tido ninguém que o ensinou o
quanto acreditar em algo, mesmo que a gente não possa ver ou tocar, possa
ser benéfico quando estamos diante de situações tão complicadas e dolorosas.
Pode ser ilusão minha?
Pode ser que Deus não exista, que o mundo é somente ruim por si só e que
não há salvação?
Sim, pode ser, mas eu prefiro acreditar e não me sentir tão solitária.
— Deve ser solitário — deixo as palavras escaparem, sem que eu possa
segurar.
— Eu sou um homem solitário, minha menina — Axel diz friamente. —
Sempre fui e isso nunca me incomodou — Sinto um pesar com o que ele fala.
— Entendo — digo, tentando esconder a minha tristeza pelo pequeno
Axel, por ser tão solitário na sua infância.
— Quem te ensinou essas coisas? — Arregalo os olhos para o seu
questionamento.
— Quando você diz essas coisas, você quer dizer sobre Deus e orações? —
pergunto, engolindo em seco, pois eu realmente não esperava por isso.
— E seria mais o quê? — Axel pergunta sem paciência e eu faço de tudo
para não revirar os olhos.
— Bem, meus pais sempre foram pessoas religiosas. Desde muito nova,
eles me levavam para as missas de domingos e minha mãe… — Sou
interrompida quando Axel solta um som furioso entre os lábios.
— Seus pais te obrigavam a… — dessa vez sou eu que não o deixo
terminar de falar.
— Não! Absolutamente não, não é assim! — falo, acenando com as
minhas mãos na frente do seu rosto. Axel agarra minhas mãos com firmeza,
me fazendo parar de sacudi-las no mesmo momento.
— Entendi, Isadora! — ele fala me olhando nos olhos e eu solto um
suspiro. Odiaria que ele pensasse que os meus paizinhos não foram bons para
mim. — Eles foram bons para você, então — diz e eu fico pensando se foi
uma pergunta ou não.
— Meus pais foram muito bons para mim, eles me adotaram ainda
bebezinha — falo a ele. — Me ensinaram o certo e errado, me fizeram ter
uma boa educação. Eu sou uma garota de muita sorte por tê-los em minha
vida — digo e sinto aquela pontada de dor novamente, mas tento esquecer e
foco minha atenção em Axel. — E os seus pais, Axel? — pergunto, fazendo a
expressão dele endurecer.
— O que tem eles? — pergunta em tom perigoso.
— Seus pais foram bons para você e Craig? — indago com o fio de voz e
me preparo para que Axel enlouqueça de alguma maneira.
— Eu não sei nada da minha mãe, acho que deve ter sido morta pelo meu
pai. A mãe de Craig enlouqueceu depois de tanta surra do marido, que no
caso é o fodido do meu pai, e se matou no quintal de casa — Axel fala sem
um pingo de emoção na voz, olhando para mim como se esperasse alguma
reação minha.
Fico parada, esperando que ele me diga que é mentira o que me falou, que
os seus pais estão bem em algum lugar, mas não é isso que acontece.
— Você está dizendo a verdade, não é? — Engulo em seco.
— Eu disse que eu não minto para você, Isadora — Axel fala e olha para
frente.
— Mas poderia escolher não me contar, não é? — pergunto nervosa e ele
assente tranquilamente. — E por que me contou?
— Para falar a verdade, nem eu mesmo sei — Axel diz tranquilamente. Já
que é assim, eu aproveito que ele está receptivo para conhecê-lo um pouco
mais.
— O seu pai, onde ele está? — O modo que Axel olha na minha direção e
a escuridão que toma os seus olhos novamente, me faz ver que eu não deveria
perguntar sobre isso.
— Morto — Axel fala entredentes, fazendo os pelos da minha nuca se
arrepiarem.
— Eu sinto muito, Axel, eu não… — paro de falar quando ele se levanta
da poltrona de forma brusca.
— Não sinta, Isadora! — diz de forma gélida. — Aquele homem de merda
foi morto — vira os olhos negros sem vida para mim —, morto por mim! —
e com isso, ele se vai, me deixando em choque com o que acaba de me
contar.
Vejo Axel fechando a porta da cabine do piloto com força e me encolho
com o barulho alto. As palavras que acabou de dizer ainda rondam a minha
cabeça e nada no mundo me faz parar de pensar nele matando o seu pai.
Não posso nem me dar ao luxo de não acreditar, porque esse homem não é
do tipo que inventaria algo assim para me assustar. Não mesmo, se tem uma
coisa que Axel faz sem precisar de muito esforço, é me dar medo, tenho que
admitir que isso não acontece como antes, mas de qualquer forma, os seus
atos me amedrontam.
Parando para pensar mais um pouco, acho que posso chegar à conclusão de
que, se ele matou o seu pai, é porque boa coisa esse homem não deve ter
sido.
Espera!
Acho que me lembro dele falando há pouco que o pai pode ter matado sua
mãe e influenciado na morte de sua madrasta, certo?
Argh!
Nada fica bom, nada fica esclarecido ou menos assustador. Solto um som
frustrado com a boca e procuro algo para que possa me distrair. É nessas
horas que eu queria muito que Craig, Russel e o Earl estivessem aqui.
Eles, pelo menos, poderiam me fazer companhia e, quem sabe, eu poderia
até me aventurar em tentar descobrir algo através do Craig.
Não, não, não melhor não, porque se Axel já ficou furioso com a
lembrança, imagina só como Craig ficaria.
Seja como for, eu queria que eles estivessem aqui. Acho que me acostumei
a tê-los por perto o tempo todo e parece que agora, quando eu pude ajudá-los
durante o resgate, as coisas entre nós ficaram um pouco mais… como posso
dizer, leves?
Sim, acho que essa é a melhor palavra a ser dita.
Mas eu tinha pressa de ficar com os meus pais, Russel ainda está sendo
costurado por Earl e Craig tinha que se desfazer das coisas por Axel, que não
me deixou voltar para o Brasil sem ele. Então, agora estou aqui, olhando para
toda extremidade vazia do jatinho, enquanto o meu..., quer dizer, Axel
contém sua irritação.
Isadora foi levada pelos médicos da clínica por um tempo e estou sozinho
no corredor. Desde então, não consigo pensar em nada que não seja em
torturar, mutilar e matar o desgraçado que causou isso a ela. Olho para as
minhas mãos manchadas com o seu sangue e uma onda de raiva líquida
tomam conta de mim, fazendo com que eu cerre os punhos com força, pronto
para socar a primeira parede que aparecer na minha frente.
Porra! Porra! Porra!
Por que estou sentindo essa inquietação constante desde o momento que vi
a Isadora cair no chão depois que foi atingida?
Eu não sou homem de sentir essas coisas, já vi muita gente morrendo e
posso dizer que muitas dessas vidas ceifadas foram por minha causa. Mas
somente a possibilidade de não poder mais ver aqueles olhos inocentes cheio
de vida e curiosidade para mim, é como um inferno na terra.
E eu sei que mereço todo o inferno e todas as coisas ruins que me
acontecem, mas Isadora não. Eu a coloquei em toda essa merda, não me
arrependo, porque assim eu pude tê-la para mim e somente para mim. Só que
ela não merece isso, não merece sangrar em um chão sujo.
E tudo isso é por culpa daquele Santino fodido de merda.
Desgraçado!
Ele pagará por isso, ele pagará por fazer a minha menina passar por isso.
Merda, porque isso me dói tanto, porra?
Eu sou um monstro, não tenho esses sentimentos assim por garotinhas que
passam por isso. Mas com a Isadora é diferente, com essa menina tola tudo
sempre foi tão diferente. E acho que me questiono por que eu já havia
percebido isso, eu sabia que ela estava mexendo mais comigo do que eu
gostaria de admitir. E justamente, desde o momento que eu soube quem era o
meu atacante, eu tinha medo por ela.
Tentei treiná-la, tentei esquecer que ela poderia ser abatida, mas não
consegui. Inferno, eu simplesmente não consegui e isso estava me tirando a
concentração. Nunca em toda a minha vida de mercenário isso me aconteceu.
Nunca me importei tanto, nunca senti tanto, nunca quis tanto algo como eu
queria proteger essa menina.
E agora?
Agora ela está sangrando em uma maca de hospital e tudo isso por minha
culpa. Porra!
— Cox! — Levanto a minha cabeça e vejo Ângelo Gutierrez parado na
minha frente.
— O que quer? — pergunto com punhos cerrados.
— Sozinho? — pergunta e eu não me dou ao trabalho de responder.
Mandei Earl ir atrás dos outros, nossa prioridade agora é ter Santino em nossa
posse. — Como a Isadora está? — Ângelo pergunta, me fazendo cerrar os
olhos na sua direção.
— Por que esse interesse repentino na minha menina? — pergunto, me
erguendo para caminhar na sua direção.
— O meu interesse na Isadora não lhe diz respeito Cox. Não esqueça que
posso ser tão ruim e tão perverso quanto você, então me diga o que quero
saber — a voz de Ângelo me diz que ele não está brincando, mas o que ele
não sabe é que eu também não.
— Oh sim, mostre o seu perigo então, Braganza — o chamo pelo
sobrenome do pai e Ângelo dá um passo para frente.
— Não me chame assim, seu filho da puta! — diz entredentes.
— Diga o que você quer com a Isadora — ordeno e ele continua a me
encarar como se estivesse pronto para me atacar.
— Isso é um assunto meu e dela, então fique fora disso — Ângelo fala
como uma pantera, esperando seu inimigo.
— Isadora é minha, então todos os seus assuntos são meus assuntos —
digo e ele nega com a cabeça.
— Diz o filho da puta que a deixou ser atingida, que não a protegeu
quando deveria — Ângelo fala, dando um sorriso de escarnio.
— Cala a boca, seu merda! — ordeno, trincando a mandíbula com força.
— Fique longe de Isadora, Axel. Eu irei protegê-la agora, mesmo que para
isso tenha que me livrar de você — Ângelo ameaça e eu coloco a mão atrás
das costas para puxar minha arma, se esse for o caso.
— Você seria um fodido se tentasse, Ângelo — ameaço, vendo-o fazer o
mesmo que eu. Ele pode atirar em mim, mas eu o mato antes.
— Você sabe que eu posso, Axel — responde friamente e eu rosno em
fúria.
— Senhores, por favor, estamos em uma clínica — a voz firme de um
homem fala ao nosso lado, nos fazendo virar a cabeça em direção ao som.
— Fique fora disso, porra! — Ângelo e eu falamos em uníssono.
— Dificilmente, por tanto, abaixem suas armas. Eu vim dar notícia sobre a
senhorita Martins — o que o médico diz faz com que eu e Ângelo deixemos
nossa possível luta de lado para focar no que ele tem a dizer.
— Como ela está, Otávio? — Ângelo pergunta ao médico.
— Ela está bem, a cirurgia foi breve. Contemos o sangramento, tiramos
todos os resquícios para não causar as infecções. — Não sei explicar a porra
do alívio que estou sentindo agora. — O ferimento na perna foi de raspão,
demos alguns pontos. O do ombro esquerdo foi limpo, então, sem muitas
preocupações. Também tem o… — Otávio para e franze o cenho para nós
dois.
— O quê? — pergunto duramente.
— Não, nada! Ela está bem, só ficará sedada por um tempo — Otávio fala
e eu assinto.
— ¡Gracias por ese Dios! — Ângelo murmura em espanhol, me deixando
extremamente irritado.
— Onde ela está? — pergunto friamente. — Se tentarem me impedir, vai
ser pior. — Otávio olha para Ângelo, que somente assente, fazendo-o respirar
fundo.
Para sorte de toda a clínica clandestina de Ângelo, Otávio me diz onde
exatamente a minha menina está. Odeio admitir, mas esse lugar é uma
fortaleza e foi justamente aqui que eu vim quando fui ferido. Ferido pelo
desgraçado do Santino e agora para a minha irritação é justamente a menina
gentil, que me salvou, está aqui.
O quão fodido é isso tudo?
Solto um som frustrado e respiro fundo ao abrir o quarto onde está minha
Isadora.
A primeira coisa que vejo é a enfermeira ao lado da sua cama, que quando
me vê entrar, arregala os olhos e saí correndo do lugar. Não me importo com
ela e sim com a minha menina, que parece mais frágil e pequena nessa cama
hospitalar.
Eu odeio isso, eu odeio todos esses tubos e curativos que colocaram nela.
Odeio mais ainda o fato de que ela está aqui por minha culpa.
Com o meu corpo rígido, me aproximo dela, passo a minha mão
delicadamente no seu rosto adormecido e nos seus cabelos.
— Merda, minha menina, pela primeira vez eu estou me sentindo culpado
por algo. Muito culpado mesmo, sinto muito. Porra! — falo em um sussurro
rouco. — Eu vou te vingar, eu vou fazê-lo sentir sua dor, para depois tirar sua
vida. Eu prometo a você, minha doce menina.
Deixo um beijo firme na sua testa, cheiro os seus cabelos e olho para ela,
desejando fervorosamente que fique bem. Estou decidido a ficar aqui até o
momento que ela desperte, mas uma breve mensagem de Craig faz o meu
interior ferver.
Na mensagem diz que eles têm Santino Salvatore em suas mãos. Ler isso
me faz apertar o celular com força, na expectativa de uma vingança
sangrenta. E é com isso em mente que dou uma última olhada na minha
menina adormecida, saindo do quarto sem olhar para trás.
Porque eu tenho uma breve intuição que se olhar novamente para ela, não
sairia do lugar.
Ao sair do quarto, encontro com Ângelo, e somente o seu olhar na minha
direção é o suficiente para que ele saiba o que preciso. E para minha surpresa,
ele estende uma chave na minha frente.
— Minha moto está estacionada na frente, vá e se vingue por mim
também. — Pego as chaves na mão de Gutierrez sem dizer uma palavra.
— Volto em breve — digo, olhando-o com firmeza.
— Não sairei daqui — responde tranquilamente.
Mesmo achando estranha essa atitude de Ângelo, eu não posso perder
tempo em tentar descobrir. Contanto que ele esteja realmente aqui na
intenção de cuidar de Isadora, eu não me importo com a sua insignificante
existência.
Corro para fora da clínica clandestina avistando a moto estacionada
exatamente onde o idiota disse que estava.
Já na moto, eu sigo para o local onde eu sei que Santino estará a minha
espera. Quando chego, a primeira coisa que vejo é Craig à minha espera. Não
perco tempo e desligo a moto, a deixando em qualquer lugar, e vou na sua
direção.
— Onde ele está? — pergunto calmamente.
— Está à sua espera, ele reclamou um pouco, mas demos um jeito de
mantê-lo calado. — Eu sabia que Craig e os outros iriam tirar um pouco da
vingança deles.
— Tudo bem, vamos! — digo, fazendo Craig me acompanhar para dentro.
É difícil admitir, mas esses homens estão tão apegados a Isadora quanto
eu. Ela soube exatamente como quebrar esses seres sangrentos, é muito
fodido admitir realmente, mas eles fodidamente a acolheram como parte da
equipe.
Ignoro todos os pensamentos que não sejam em quebrar Santino e entro
nos fundos da casa. Em um local que Isadora nunca entrou, mas que
mantenho para esse tipo de coisa extremamente importante.
Nesse quartinho nos fundos da pequena academia, é onde Santino se
encontra.
Amarrado de cabeça para baixo, somente de cueca, com as mãos atrás das
suas costas, como um porco, pronto para o abate.
Ele está bem sangrento, acho que os meus rapazes tiraram dele um pouco
mais do que pensei. Ver isso me causa uma satisfação tremenda, não vejo a
hora de ver a vida saindo dos seus olhos. Mas agora não é o momento,
preciso de informações primeiro.
— Salvatore! — Marco a minha presença chamando-o com firmeza.
Estendo a minha mão e Earl, que está no canto da parede, vem e coloca uma
arma na minha mão.
— Cox, portami fuori di qui… (Cox, me tire daqui seu…) — Não espero
que ele termine de falar, destravo a arma e atiro no seu ombro esquerdo e em
uma das suas coxas. — Cazzo! Maledetto! — grita Santino seus xingamentos,
mas eu não me importo.
— Senti lo stesso dolore che hai causato a una ragazza innocente che hai
sparato (Sinta a mesma dor que você causou em uma garota inocente, na qual
você atirou) — falo em italiano, com uma calma fria.
— Eu só estava fazendo a porra do meu trabalho, era o meu trabalho, seu
bastardo maledetto! — Santino grita, fazendo seu sangue pingar no chão em
abundância.
— Se eu fosse você, parava de se mexer, quanto mais sangue perder, mais
seu coração vai falhar. Mas não se importe, eu vou te reviver quantas vezes
forem necessárias — Earl diz de modo que assusta o inferno em Santino.
— Ora, seus desgraçados! — ameaça ele.
— Não nos ameace, você merece isso e muito mais por ter ferido Dorinha
— Russel responde de forma animalesca, mesmo daqui eu noto sua agitação.
— Controle seus ânimos, Sanchez! — Craig ordena, fazendo Russel se
afundar mais no canto da parede.
— Só comecem a fazer esse pedaço de merda sangrar — resmunga Russel,
se afastando sob o meu olhar de aviso.
Volto minha atenção a Santino, pois eu preciso da minha informação.
— Quem te contratou para foder minhas transações e me matar? —
pergunto, sem fazer rodeios.
— Fottiti bastardo! (Foda-se bastardo!) — grunhe Santino, me fazendo
sorrir internamente de puro contentamento.
— Não era essa resposta que eu queria, mas é a necessária para que eu
mate minha sede de sangue em você. Mas sugiro que não demore a quebrar,
pois tenho um lugar para ir — falo com Santino enquanto tiro a minha
camisa, não quero sujá-la de sangue.
— Bem que dizem que vocês são um bando de doentes de merda! —
Santino grita seu ódio.
— E é por isso que deveria ter me respondido logo quando perguntei.
Grazie! — agradeço de forma sarcástica — Faca? — peço e Craig me dá a
dele.
— Espera, Cox! Espera, podemos negociar. — Santino tenta, mas eu faço
o primeiro corte na coxa que já atirei.
— Ahhhhhhhh… Cazzo! — grita Santino, mas eu não paro por aí.
A cada vez que eu corto calmamente a carne, eu faço a mesma pergunta. E
mesmo assim, o fodido de merda não me revela quem foi o seu contratante.
Eu preciso saber disso, eu tenho necessidade de saber quem foi, mas o
desgraçado é bem difícil de quebrar. São precisos vários cortes, duas paradas
cardíacas acompanhadas sempre de reanimação.
Quando Santino está quase tendo a sua terceira parada cardíaca, ele
finalmente resolve me contar o que tanto eu quero saber.
— Para! Para! Para! Eu não aguento mais! Para, por favor, para! —
Santino pede, sem força.
— Nome Santino, é isso que eu preciso. Nome! — informo, me agachando
a sua frente.
— Os irlandeses, foram os irlandeses! — Ele para e começa a tossir. —
Killian Dunphy e sua esposa me contrataram para interceptar as informações
que você tinha que dar. Não me pergunte o porquê, isso eu não sei, mas eles
não o queriam morto, aquilo foi um erro de percurso. E eu não sabia que você
iria viver, é um desgraçado e nem o diabo te quer — Santino diz com a voz
fraca, terminando sua frase com um riso frouxo, mas para, porque começa a
tossir. — E agora? Por que voltou quando eu não estava atrás de você? —
pergunta e espero um tempo.
— Deveria ter vindo antes, mas eu tinha coisas mais importantes do que
caçar sua bunda de merda — digo a ele.
— Eles me contrataram novamente, me oferecendo mais dinheiro para que
eu o matasse e… — Santino para de falar e eu franzo o cenho.
— E o quê? Responda! — digo com firmeza, mas não grito. Não há
necessidade disso.
— A ragazza que está sempre com vocês. — Seus olhos azuis cruzam com
os meus. — A sua mesma, eles sabem que você faria tudo e que sua morte
iria deixar você vulnerável. — Não faço nenhuma reação, mas por dentro
todo o meu corpo treme de ódio.
Era isso, esses desgraçados queriam matar a Isadora.
Como eu não vi isso?
— Desgraçados! — Ouço Craig praguejar, mas não me viro na sua
direção.
— Você deve entender, eu sou profissional e você também é, Cox. —
Santino tenta barganhar comigo.
— Não, eu não entendo, e sabe por quê? — pergunto e nem espero por
resposta. — Porque isso se tornou pessoal para mim, vocês quase mataram a
minha mulher e isso eu não posso perdoar — eu explico, sentindo a minha
mão tremular pela raiva mal contida.
— Então é isso, o grande mercenário tem alguém com quem se importe —
Santino ri debilmente, me fazendo apertar o cabo da faca com mais força. —
Outros virão e eles vão saber que você…
Não o deixo terminar, pois a minha raiva simplesmente explode para fora
de mim. E com toda facilidade eu enterro a faca, o mais fundo que eu
consigo, no peito do desgraçado. Mas eu ainda não estou satisfeito, então
arranco com força e apunhalo mais uma vez.
Uma onda de satisfação toma todo o meu corpo quando o vejo se engasgar
com o seu próprio sangue, para que logo em seguida sua vida saia lentamente
dos seus olhos.
— Em breve mandarei Killian e Enya para dividir o espaço com você aí…
no inferno. Adeus, Santino Salvatore — revelo como se fosse uma fodida
oração, me levantando para que possa me afastar.
— Chefe, o que faremos agora? — Earl é o primeiro a perguntar.
— Vamos atrás dos irlandeses e vamos matar cada um que tentar me
impedir de chegar até Killian Dunphy e sua mulher vadia — digo com fervor
e posso ouvir os sons de confirmação atrás de mim.
— Era disso que eu precisava! — Russel diz com animação.
— Agora só basta Dora ser liberada da clínica — Earl diz, me fazendo
parar no mesmo momento.
— Isadora não faz mais parte da equipe, seremos só nós novamente —
aviso calmamente, soltando uma forte respiração.
— O que disse, chefe? — Russel pergunta em confusão.
— Livrem-se do corpo de Salvatore e preparem tudo, estamos saindo daqui
algumas horas — falo entredentes e saio apressadamente do lugar.
— Axel! — Craig me alcança quando estou fora do lugar. Paro sem
precisar me virar na sua direção.
— Você está certo disso? — questiona e eu assinto com a cabeça. —
Então, o que fará agora?
— Eu tenho que dizer adeus! — digo com a voz rouca e como Craig não
ousa falar mais nada, eu sigo o meu caminho para tirar toda a sujeira do
sangue de Santino do meu corpo.
Isso é o certo a se fazer, assim ela ficará segura. Isso é o certo, eu sei, mas
por que será que está doendo?
Que merda você fez comigo, Isadora?
Desperto e tento abrir os meus olhos, mas os sinto pesados. Ainda com os
olhos fechados, eu consigo me sentir estranha, como se o meu corpo não
estivesse me respondendo corretamente.
Será que fiquei acordada até tarde e agora o meu corpo preguiçoso não
quer sair da cama?
Não, isso é bem pouco provável. Respiro devagar quando um sentimento
de inquietude toma conta de mim e vou tentando mais algumas vezes abrir os
meus olhos. Quando finalmente consigo, a luz do quarto está muito forte,
fazendo com que agrida a minha pupila.
— Que bom que está acordada, senhorita Martins. — Ouço uma voz
masculina totalmente desconhecida para mim e franzo o cenho.
— Pronto, desliguei as luzes, tente abrir os olhos novamente. — Dessa vez
é a voz de uma mulher.
Forço novamente as minhas pálpebras a se abrirem, dessa vez não existe
uma luz forte para agredir as minhas pupilas. A primeira coisa que percebo é
que não estou no meu quarto.
Um hospital?
O que eu estou fazendo em…
E é nesse momento que as lembranças voltam para mim como uma maldita
vingança, me fazendo recordar do ataque em frente ao restaurante. Onde Axel
tentou de todas as formas me proteger, mas eu fui atingida.
Oh Deus, eu fui atingida!
Essa realidade me faz começar a hiperventilar, eu tento me mexer, mas o
meu corpo machucado me impede.
— Senhorita Martins! Isadora! — Vejo uma sombra grande cobrir a minha
visão. — Você está bem, está segura. — Suas palavras são tranquilizantes,
mas ele não é o Axel.
Onde ele está?
— Cadê o Axel? Onde ele está? — pergunto, com um pouco de
dificuldade pela minha boca estar muito ressecada.
— Está falando sobre um dos homens que a trouxeram? — o médico
pergunta, acenando brevemente para a enfermeira. Que vejo agora que está
ao meu outro lado.
— S... sim! — respondo com os olhos arregalados, olhando para os lados.
— Se acalme, porque se a senhorita não se acalmar, eu terei de sedá-la —
o médico ameaça e eu nego com a cabeça, mas paro quando sinto dor no
ombro.
— Tudo bem! — respondo, respirando fundo. A enfermeira aparece, me
dando um pouco de água. — Obrigada! — agradeço, me sentindo um pouco
melhor.
— De nada. — A mulher de cabelos loiros presos em um coque apertado e
olhos castanhos gentis sorri para mim.
— Vejo que se acalmou — o médico diz, olhando para o monitor com os
meus sinais vitais.
— O que aconteceu? Onde estou? Onde está Axel e os outros? —
pergunto, fazendo de tudo para não me exasperar, mas minha preocupação
com eles é inevitável.
— Vou responder suas perguntas, mas, por favor, não se exalte. A
senhorita perdeu sangue considerável, por isso esse cansaço exagerado — o
médico fala com um rosto amigável e eu concordo com a cabeça, devagar.
— Entendo — digo em concordância.
— Como relação aos homens que te trouxeram, eles ficaram tempo o
suficiente até serem informados que a senhorita estava fora de perigo — o
médico fala como se estivesse confuso, mas logo volta a expressão que todo
médico tem quando está com seu paciente.
Ouvir que Axel ficou aqui esperando até que eu estivesse fora de perigo
me deixa aliviada, isso mostra que ele se importa. Um pouco, mas se importa.
Só que… mesmo eu sentindo esse prazer, ele logo é substituído por mais dois
sentimentos.
O primeiro é a preocupação, porque tenho certeza de que Axel está a caça
do homem que nos atacou. Ele fará de tudo até colocar suas mãos em Santino
Salvatore e pelo pouco que conheço dele, tenho certeza de que fará isso, isso
se já não estiver fazendo nesse exato momento.
Somente esse pensamento já me faz sentir um arrepio temeroso atravessar
a minha espinha. Fecho os olhos brevemente quando sou tomada pelo
segundo sentimento, a tristeza. Sim, eu tento não sentir a tristeza por não o
encontrar aqui.
Mas eu não deveria estar assim, não é?
Porque isso não é característica de um homem como Axel, ele não seria o
tipo que ficaria aqui segurando a minha mão. E ao constatar esse fato, o meu
coração se entristece, mas tudo bem. As coisas são como são.
— Senhorita Martins! — o médico me chama e eu olho na sua direção.
— Por favor, me chame de Isadora — peço, ele olha para a enfermeira e
depois assente.
— Me chamo Otávio Munhoz, eu sou o médico responsável pelo seu
tratamento — o Dr. Munhoz fala e eu assinto com a cabeça. O doutor é um
homem negro, careca, que tem olhos e sorriso gentis.
— Muito obrigada por isso, doutor, mas o senhor pode me explicar o que
aconteceu? — peço e ele assente em confirmação.
— A senhorita deu entrada com dois ferimentos de projéteis, isso você se
lembra? — a pergunta do doutor me causa desconforto.
— Sim, eu me lembro! — Inconscientemente, eu me remexo, e isso me
causa dor.
— Não faça muitos movimentos bruscos, a senhorita passou por uma
cirurgia e… — interrompo o médico, alarmada.
— Cirurgia? — exclamo nervosa.
— Ei se acalme, no seu estado não é bom isso. Já passou estresse o
suficiente — o médico me repreende.
— Estado? Que estado? — questiono confusa e ele faz aquela jogada de
olhos com a enfermeira novamente.
— Você não sabe? — indaga calmamente e eu olho para a enfermeira.
— Não sei o quê? — pergunto, franzindo meu cenho e olhando para a
enfermeira como ele fez, mas ela não faz nada a não ser dar um sorriso
amarelo.
— Senhorita Martins — o médico chama e eu o encaro. — Como eu estava
dizendo, a senhora passou por uma cirurgia para conter o sangramento e a
limpeza de todo os resquícios que um projétil pode causar. Mas para a sorte,
o ferimento foi limpo, com entrada e saída. A minha preocupação realmente
foi com a hemorragia, por conta do seu estado, felizmente conseguimos
contê-la — o médico explica de um modo que fica fácil o entendimento, mas
a cada vez que ele fala "seu estado," eu me preocupo.
Será que estou gravemente doente?
— Eu estou doente? É isso? Eu vou morrer? — pergunto, sentindo meus
olhos se encherem de lágrimas.
— O quê? Morrer? Acho que não expliquei bem o suficiente para a
senhorita — o Dr. Munhoz fala e eu nego.
— Eu entendi sobre a cirurgia, a hemorragia e tudo, mas o doutor está
falando sobre meu estado. E sempre quando um médico fala isso, é sobre
uma doença grave — começo a divagar e o médico me olha como se eu
estivesse perdendo a cabeça.
— Não é nada disso, senhorita Martins — fala calmamente e eu fico
confusa.
— Então eu não estou doente? — pergunto, acalmando o meu coração
desesperado.
— Não, fora o ferimento no ombro esquerdo e na coxa direita, que por
sinal, o projétil passou de raspão e só foram necessários alguns pontos, a
senhora está bem — o doutor explica e eu relaxo um pouco.
— Graças a Deus por isso! — Fecho os olhos por um momento, mas abro
quando o médico solta um pigarro com a garganta.
— Durante seus exames constamos que teríamos que ter um cuidado maior
com a senhorita... — ele começa a explicar e eu o interrompo.
— Por quê? — pergunto curiosa.
— Como eu estava dizendo, o nosso cuidado foi maior quando em um dos
exames foi constatado que a senhorita está grávida — o médico diz e eu fico
paralisada. — Suspeito que seja uma gestação de pelo menos sete semanas,
ainda vamos confirmar com os exames que faremos.
— Grávida? O Dr. disse grávida? — pergunto em choque.
— Sim, e de pelo menos umas sete semanas, como já disse. Aconselho que
procure um ginecologista para que comece o pré-natal, pois como perdeu
sangue considerável… — o médico fala, mas eu não consigo mais ouvir.
Minha mente está totalmente paralisada com a palavra grávida piscando
em letras de neon, como em um letreiro de algum lugar badalado, onde a
claridade incomoda demais se ficarmos olhando por muito tempo.
Oh Deus, eu estou grávida!
Tem um bebezinho crescendo dentro de mim, um bebê inocente e que não
pediu para vir a esse mundo. O quão irresponsável eu fui em fazer isso assim,
dessa maneira tão… tão… eu não sei.
Eu estou grávida!
E quando essa informação enfim entra em minha mente, eu não consigo
controlar o choro.
Como eu contarei isso para Axel?
Ah não, o Axel! Ao pensar nele, no pai do bebê que estou carregando, eu
choro mais ainda, e eu não tenho mais o controle.
Como contarei a ele que estou grávida, logo Axel, que sempre falou sobre
gravidez indesejada. Não, eu não sei se consigo.
Oh Deus, por que fui tão irresponsável?
Como eu farei isso, como contarei que estou grávida ao pai do meu bebê?
Meu bebê, tem um bebezinho dentro de mim. Eu poderia ter morrido hoje,
nós dois poderíamos ter morrido hoje. Eu estou grávida, o que faço agora?
— Isadora, se você não se acalmar, teremos que lhe dar um calmante — o
médico diz, chamando minha atenção.
— Alguém sabe? O senhor contou isso para alguém? — Minha visão está
embaçada pelo acúmulo de lágrimas.
— Não, isso é um assunto particular e como você iria acordar brevemente,
achei melhor tratar pessoalmente — o médico diz e eu confirmo.
— Obrigada! — agradeço, arrastando inconscientemente minha mão
direita até o meu ventre. Grávida! — O senhor pode manter isso entre nós?
— Claro, sigilo médico! — exclama confuso e eu confirmo sem olhar na
direção de ninguém.
— Obrigada, Dr. Munhoz! — murmuro meu agradecimento.
Eu não posso deixar ninguém contar para Axel sobre a gravidez, ele deve
saber sobre isso de mim. Não sei como criarei coragem para contar, mas terei
que fazer eu mesma.
Não sei como será a reação de Axel, ele provavelmente vai agir como de
costume. Com toda a sua escuridão, mas se tem uma coisa que eu aprendi a
lidar, é com isso.
Eu vou proteger meu bebê, mesmo que seja do seu pai. Um pai que
possivelmente pode não o aceitar, mas que se assim for, será só nós dois no
futuro.
Eu já tive pais que me abandonaram, mas também tive pais que me
amaram e me amam até hoje. Não deixarei que isso aconteça a esse bebê, eu
o protegerei, mesmo que seja do homem que estou perdidamente e
loucamente apaixonada.
Eu amo Axel, todo ele, com escuridão e tudo. E é justamente por isso que
eu mesma contarei a novidade, o direito é meu e somente meu.
Oh meu Deus, um bebê!
— Deixaremos você descansar, qualquer coisa que precisar, nos chame por
esse botão aqui — o Dr. Munhoz diz, fazendo a enfermeira se aproximar para
mostrar onde está o botão.
— C… certo! — respondo chorosa. — Obrigada por cuidar de mim e do
meu… — Não consigo falar a palavra em voz alta.
— Não precisa agradecer, fico feliz que está bem — o doutor fala e com
isso ele saí do meu quarto com a enfermeira, me deixando sozinha.
Volto a chorar de puro medo do que pode vir a acontecer no futuro e
quando dou por mim, estou adormecendo novamente.
A próxima vez que eu desperto, eu sinto o clima do quarto um pouco
diferente. A primeira coisa que noto é que tem um peso na minha mão direita,
tento mexer meus dedos, mas sou impedida. Olho em direção a minha mão e
a vejo entrelaçada a outra mão. Uma mão que eu conheço muito bem, pois
ela já esteve me tocando de várias maneiras.
Olho para o lado e lá está ele…
Axel. Ele está me segurando, ele está aqui comigo, esperando-me acordar.
Ele está bem, está vivo e está aqui por mim. Quando a realidade vai em mim,
eu começo a chorar, eu não consigo conter a alegria do meu coração bobo e
apaixonado.
Ao ouvir o meu soluço, Axel abre os olhos e o alívio que eu vejo ali é tão
sincero, que eu só quero que ele me pegue nós seus braços e não me deixe
mais ir. Eu o amo tanto, Deus, como eu o amo.
— Axel! — chamo entre o choro e ele se levanta da cadeira
desconfortável.
— Minha menina, você está viva realmente. — E com isso, Axel cola a sua
testa na minha, para logo em seguida colar seus lábios ao meu com força, a
ponto de machucar meus lábios. — Foda-se, porra! — pragueja entredentes.
— Eu estou bem, estou bem! — Tento erguer meu braço esquerdo para
alcançá-lo, mas a dor me impede.
— Porra Isadora, cuidado! O que aconteceu? Eu vou chamar aquele fodido
médico para olhar isso e vou matá-lo se não fizer — não resisto a sua raiva
sem sentido e sorrio.
— Para com isso, eu estou bem — falo e ele me encara com seus olhos
frios.
— Você sentiu dor, porra — ele reclama furioso e eu, com a mão direita,
seguro seu rosto áspero de barba por fazer.
— Estou bem, Ax, prometo! — revelo e ele relaxa um pouco, não muito,
mas relaxa.
— Certo! — diz entredentes. E com isso, eu me lembro de algo
importante, muito importante.
— Tenho que contar algo para você — começo a falar, mas acho que as
minhas palavras fazem algo em Axel estalar e ele dá um passo para trás, me
deixando sem seu toque. — Axel, o que houve? — pergunto confusa.
— Isadora, me deixe falar primeiro — Axel diz com palavras cortantes.
Pronto, ele sabe que estou grávida. E agora?
— O que foi? — pergunto temerosa.
— Estou indo embora por um tempo, mas não se preocupe, deixarei você
em segurança e… — interrompo Axel, confusa.
— Nós vamos para onde? Eu posso pedir a liberação do médico e Earl
pode cuidar dos meus ferimentos. Eu só… — começo a falar rapidamente,
mas Axel me para.
— Não, Isadora, eu disse que eu estou indo embora. Você vai ficar aqui.
— Suas palavras são frias e sem emoção.
— É por que eu me machuquei? Você não me quer ao seu lado por que eu
me machuquei? — pergunto rapidamente, sem entender.
— Não seja idiota! — Axel reclama, irritado.
— Então por quê? O que está acontecendo? — sinto minha respiração ficar
descompassada.
— É para a sua segurança, então não me questione, menina — Axel diz,
cerrando os punhos, mas eu não me importo.
— É o Santino Salvatore, não é? Você conseguiu pegá-lo, não foi? —
questiono e ele assente. — O que ele te disse?
— Não, Isadora! — Axel fala em sinal de aviso.
— Você quer me deixar aqui, quer nos… quer me deixar, então vou
questionar — falo com firmeza e com um passo, Axel está em cima de mim.
Pensei que ele fosse me pegar com sua brutalidade, mas não, ele toca
levemente meu rosto.
— Oh, minha menina, minha inocente menina. — E nos seus olhos, eu
vejo que ele tomou sua decisão e que não tem nada que eu fale que o fará
ficar.
— Axel, por favor, não… eu tenho que te falar algo — imploro, sentindo
as lágrimas caírem livremente no meu rosto.
— Tenho que ir, eu tenho que… Que merda fodida! — E com isso, ele me
beija, um beijo totalmente diferente de todos que ele já deu.
Eu nunca pensei que isso aconteceria entre mim e Axel, mas aqui está o
beijo calmo, doce e tão gostoso que me faz flutuar sem sair do lugar. Ele tem
que saber que o amo, que vamos ter um bebê e que ele prometeu nunca me
deixar ir.
Axel disse que eu sou sua e eu tenho de que lembrá-lo. Nos afastamos do
nosso beijo e ele me surpreende com um beijo doce na ponta do nariz.
— Axel, eu te amo! — revelo em forma de sussurro.
— Não, Isadora! — As minhas palavras são como se eu estivesse jogando
ácido nele. Axel se afasta de mim como se eu tivesse uma doença contagiosa.
— Você não me ama!
— Eu amo! — rebato, sentindo meu peito doer pela rejeição.
— Não, minha menina, não pode me amar. Eu sou um fodido assassino,
um monstro e você não pode me amar. Não era para ser assim — Axel fala,
tentando conter sua raiva. — Não pode me amar, Isadora.
— Axel! — chamo, erguendo minha mão. — Por favor, Axel!
— Tenho que ir! — diz entredentes, andando até a porta. — Alguém
cuidará da sua segurança, mas eu tenho que ir — Axel diz abrindo a porta,
mas continua parado lá.
— Eu não quero ninguém, seu idiota, quero você, porra — xingo chorosa,
tremendo muito de raiva e, principalmente, de medo.
— Se cuida, minha menina. — E com isso, Axel saí. Simplesmente saí, me
deixando aqui, sofrendo com esse amor que sinto por ele.
— Axel, deixa eu te contar sobre o nosso bebê. Axel, não me deixa aqui —
murmuro as palavras, que são dolorosas demais para serem faladas em voz
alta.
A dor é tão grande, que eu nem sei como explicar, eu sinto por mim, pelo
meu bebê e, principalmente, pelo Axel. Não é possível que eu seja tão burra,
eu não deveria ter contado que o amo.
Isso não era para ser assim, eu deveria ter ficado quieta, mas seja como for,
ele iria me deixar de qualquer jeito. Mas…, mas isso dói, meu Deus me
ajude, como isso dói.
Não sei quanto tempo fico chorando e esperando que Axel retorne, mas
tudo que sei é que quando desperto pela terceira vez, é que vejo que tem
outra pessoa no meu quarto.
— Ângelo? — pergunto sonolenta ao vê-lo sentado na cadeira ao meu
lado.
— Oi, Isadora! — ele diz com um sorriso amável no rosto.
— Onde está o Axel? — pergunto, olhando para os lados. Vejo a pena no
olhar de Ângelo e eu afundo na minha realidade. — Eles se foram, não é? —
pergunto e o meu lábio inferior começa a tremer.
— Me desculpe te dar a notícia, mas sim, eles se foram — Ângelo fala e
um soluço escapa entre meus lábios.
— Oh Deus! — choro com a minha mão sobre o peito, que está dolorido
de tristeza.
— Isadora, eu sinto muito! — Ângelo fala, colocando sua mão sobre a
minha.
— Por que você está aqui? — pergunto, soando meio ríspida.
Eu não quero que ninguém me veja desse jeito, quero sofrer minha dor
sozinha.
— Eu vou cuidar de você agora, Isa — Ângelo diz simplesmente, dando
um sorriso de lado, sem se importar com a minha rispidez.
— E por que você faria isso? — Franzo o cenho. — Não nos conhecemos
direito e nem somos amigos — falo, estranhando essa aproximação repentina.
— Mas eu espero que possamos ser aquilo que a vida nos impediu de ser
— Ângelo diz de forma enigmática.
— E o que poderia ser? — pergunto confusa.
— Uma família — ao falar isso, eu arregalo os olhos. — Você é a minha
irmãzinha, que há muitos anos pensei que estivesse morta — Ângelo diz, me
deixando totalmente estática.
— Irmã? Eu sou sua irmã? Mas como você… — tento perguntar, mas
Ângelo me impede.
— Não, nós teremos muito tempo para conversar. Tenho muita coisa para
te falar, você não sabe o quanto estou feliz em saber que está viva — Ângelo
diz, apertando minha mão na sua.
Irmão?
Eu tenho um irmão?
Ainda não sei o que pensar sobre isso.
— Eu não sei o que… — Paro de falar quando viro minha cabeça para o
lado e vejo algo descansando em cima de um pequeno armário ao lado da
cama. — O que é aquilo? — pergunto curiosa.
— O quê? — Ângelo se ergue e olha exatamente para onde estou olhando.
— Acho que é um pedaço de papel e tem outra coisa. — Ângelo rodeia a
cama e pega o bilhete dobrado em suas mãos. — Um pedaço de papel
dobrado e uma peça de xadrez. O rei, para ser mais exato — diz e meu
coração acelera.
— Me dê aqui! — Estendo a mão direita e ele me passa.
Abraço o bilhete juntamente com a peça de xadrez de madeira, com um
belo acabamento.
Voltarei, é uma promessa.
Você ficará segura!
A.
Ao ler essas palavras escritas com suas letras, o meu coração dolorido se
acalma, porque eu sei como Axel é com as suas promessas.
Ele vai voltar, eu sei disso e se não acontecer, o trarei de volta para mim,
para nós.
Por que ele é meu, assim como eu sou dele.
Eu não sou um mulher que gosta de ficar falando palavras floridas, coisas
doces e blá blá blá. Mas como eu tenho pessoas queridas e muito importantes
que me ajudaram nessa nova caminhada da minha vida, então eu tenho a
necessidade de agradecer. Primeiramente, eu queria agradecer ao meu
parceiro de vida, por que sem ele eu não estaria me dando nem ao luxo de
tentar. Agradeço as minhas betas, amigas e editoras Bianca Bonoto e K.M
Stephen, pois elas surtaram comigo do início ao fim. Agora agradeço aos
meus preciosos, Mariana Santana, Caio Inácio, Tatiana Carvalho, Gabriela
Servo, Mila Yang e Katy Branco. Vocês são maravilhosos, muito obrigada
por tudo. E se por algum acaso eu esqueci de alguém, me desculpem.
(Kekeke..)
Amo vocês até o céu!
Olívia Arpen
Table of Contents
Sinopse
Playlist
Dedicatória
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Possessivo
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Obscuro
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Terrível
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Feroz
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Namorado
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Intenso
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Assassino
Capítulo 23
Agradecimentos