Você está na página 1de 283

Copyright © 2020 Olivia Arpen

Todos os direitos reservados.


Criado no Brasil.
Capa: E.S Designer
Revisão: Bianca Bonoto
Diagramação digital: K.M Stephen
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,
personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a
reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios —
tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na
lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sinopse
Playlist
Dedicatória
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Possessivo
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Obscuro
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Terrível
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Feroz
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Namorado
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Intenso
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Assassino
Capítulo 23
Agradecimentos
Nunca imaginei que ajudar um homem caído no beco pudesse ser uma das
piores coisas que eu já fiz na vida. Estava tudo tranquilo, minha vida era
calma e esquisita até eu me deparar com aquele par de olhos negros, como as
águas mais profundas. Olhos esses que me mostraram o que era a escuridão
de verdade, um tipo que é difícil não mergulhar e ficar perdida. E agora ele
diz que eu sou dele, mas não entendo o que viu em mim, afinal, não sou
nada… convencional. Não sou aquilo que alguém iria realmente querer,
mesmo assim, ele me quer.
E tudo o que sei agora, é que estou presa a ele. Não há nada que eu possa
fazer, pois, tenho certeza de que se eu fugir, ele vai me encontrar. Porque
além de possessivo, ele é obscuro, terrível e cruel. Assim é Axel Cox.
Para ouvir a playlist do livro no Spotify, pesquise pelo nome: Trilogia
Darkness, ou abra o app no seu celular, selecione “buscar”, clique na câmera
e posicione sobre o code abaixo.
Dedico esse livro a vocês que estão cansados e precisam de uma mudança.

Sejam bem-vindos, ao meu mundo Darkness!


— Droga, eu estou atrasada! — falo nervosa, olhando o celular.
Tenho prova hoje do professor que me odeia, o Sr. Cerqueira, ele está
sempre me olhando como se fosse uma bactéria ou um chiclete nojento
grudado em seu sapato. E ele só é assim comigo, acho que é porque eu sou
feia.
Eu não estou brincando, sou feia mesmo, porque com Kimberly ele está
longe de ser assim. E quem é a Kimberly?
Isso é fácil de responder, ela só é a menina mais linda de toda a faculdade e
se duvidar, também da cidade. Com seus lindos olhos azuis, cabelos loiros
com grossos cachos até a altura dos seus ombros, corpo definido, sorriso
bonito e uma maldade para os menos favorecidos, que atrai os outros iguais a
ela. Sei que eu nunca vou me comparar com Kimberly e nem tento quando o
assunto é beleza, mas posso fazer isso quando se trata de inteligência.
É a única coisa que eu tenho e uso isso para terminar minha faculdade com
honras, valorizando o esforço que os meus pais idosos fazem por mim. Eles
trabalham de sol a sol para que eu tenha uma boa educação e não permito que
isso seja em vão.
Assim que terminei o ensino médio, consegui uma bolsa em uma das
melhores faculdades de Santa Catarina. Dona Maria José e senhor Genival
são pessoas simples, que aceitaram o desafio de criar uma menina que foi
abandonada na porta da sua casa bem humilde. Mas eu não me importo com
isso, eu amo muito os meus pais e faço de tudo para no futuro poder retribuir
o que eles fazem por mim.
Aliso os fios rebeldes do meu cabelo, que escapam do meu coque bem
apertado, e aliso o vestido feito por mamãe. Ele é grande demais em mim,
mas é muito confortável e eu gosto muito disso. Mamãe faz roupas que não
marcam muito o meu corpo, pois, diz que isso é muito vulgar para uma moça
de família e eu acredito fielmente no que ela fala.
Com isso, eu termino de me arrumar, alcanço os meus óculos de grau
estupidamente alto e saio da minha quitinete. Corro para chegar ao ponto de
ônibus, abraço a minha sacola e espero o nervosamente. Assim que chega, eu
solto uma respiração de puro alívio.
Ao adentrar a faculdade, corro para não chegar atrasada na aula de Sr.
Cerqueira. Mas quando estou perto de passar pela entrada, tropeço nos meus
próprios pés e caio no chão com tudo, espalhando todos os meus livros,
justamente com o trabalho de pesquisa que o professor havia passado na
semana passada.
Ouço algumas risadas a minha volta e fecho os olhos para poder dispersar
a vergonha e humilhação que se apodera de mim. Sinto meu rosto esquentar e
não faço questão de levantar a cabeça.
“Oh Deus, por que essas coisas têm que acontecer comigo?”
— A baranga levou uma grande queda! Espero que não tenha quebrado o
chão. — Ouço a voz da Jonas, meu colega de curso.
Levanto a cabeça para dar de cara com ele, Kimberly, Vanessa, Juliano,
Dafne e Gabriel. O grupo favorito de toda a faculdade por serem belos na
aparência e com as almas podres.
— Nossa Isadora, você está atrapalhando a passagem — Kimberly fala, me
olhando com a maior cara enojada.
— Des… desculpe! — falo nervosamente, enquanto abaixo a cabeça para
pegava minhas coisas.
— Seu animal feioso — seu insulto traz lágrimas aos meus olhos.
— Vem cá Isadora, onde você arranjou esse vestido? — dessa vez é
Vanessa que pergunta.
— Acho que ela pegou emprestado da avó — Dafne diz e as duas riem de
mim.
— Meu Deus, ela é tão feia que faz os meus olhos sangrarem! — Juliano
grita, chamando atenção dos outros estudantes.
— Vamos gente, a aula já vai começar! — Kimberly chama.
— Sim, vamos, porque eu não quero ficar nenhum minuto a mais perto
dessa criatura horrenda. — As lágrimas estão bem perto de caírem.
— Me empresta o álcool em gel, Daf. Eu posso ter pegado alguma doença
desse ser desprezível — Jonas diz, rindo alto.
— Com todo prazer, gato — Dafne responde, também rindo.
Quando o grupo do terror se afasta, eu posso chorar. Deixo as lágrimas
grossas escaparem dos meus olhos e caírem no chão. Cato o restante de
minhas coisas, limpo o meu rosto com mais força que é necessário e me
levanto.
Eu já deveria ter me acostumado, são três anos de humilhações e eles
nunca mudam. Não consigo imaginar o porquê eles são assim comigo. Logo
eu, que nunca fiz nada contra alguém, tento manter a minha cabeça baixa e
não falar nada.
Não comento nada de ninguém, faço a maioria dos meus trabalhos e
pesquisa sozinha e quando não é possível fazê-los individualmente, eu
procuro fazer tudo e entregar pelo responsável da equipe.
Admito que eu sou uma covarde por não me defender das ofensas feitas a
mim, mas eu tenho muito medo do que essas pessoas podem fazer comigo.
Eu nunca fui de muitas amizades, no ensino médio eu achava que era
sortuda por Janaína, a filha do dono de um famoso bar na minha cidade, ter se
aproximado de mim. Porém, para minha decepção, o que ela queria era me
usar para que o seu pai não descobrisse que estava de caso com Ricardinho, o
filho do açougueiro. Ela dizia aos seus pais que estava na minha casa, só que,
na verdade, estava com o seu namoradinho em algum canto escuro, fazendo
sabe lá Deus o que. Eu fiquei tão mal com isso, porque o pai de Janaína veio
confrontar o meu pai para descobrir o porquê eu estava acobertando a
imoralidade da filha. Só que nem eu e nem papai sabia o que estava
acontecendo de fato. Uma vergonha, muita vergonha isso sim.
A partir desse dia eu jurei a mim mesma que não deixaria que isso
acontecesse. Eu preferia ficar sozinha do que ter amigos que pudessem fazer
meus paizinhos tristes e decepcionados comigo.
O meu maior medo é que o problema do coração de minha mãe se agrave
ao saber que as pessoas são más comigo. Então eu prefiro mentir para eles ao
dizer que está tudo bem e que eu tenho muitos amigos legais, que não me
deixam sozinha e que estão sempre por perto, caso eu precise deles e vice-
versa.
Após me recompor, eu corro para sala de aula e assim que passo pela
porta, o Sr. Cerqueira me chama.
— Sim, professor? — respondo em tom baixo, apertando a minha sacola
entre meu peito.
— Isso são horas, senhorita Barros? — ele pergunta entredentes.
— Não senhor! — Nego com a cabeça rapidamente. — Eu sofri um
acidente e… — tento explicar e ele levanta mão para me parar.
— Poupe-me de suas desculpas esfarrapadas. Vá procurar um lugar para se
sentar! — Sr. Cerqueira manda e eu vou correndo. Posso ouvir alguns
colegas de sala rindo da minha situação.
Quando me sento no meu lugar, posso sentir que as minhas mãos estão
tremendo muito. Solto uma respiração pesada e tento me acalmar me
concentrando na aula. Esqueço todos os meus problemas e tenho o meu foco
principal na matéria que está sendo aplicada.
Então, o professor faz uma pergunta e eu levanto a minha mão para
responder, mas ele me olha com uma cara tão feia que me faz abaixar o braço
no mesmo momento e em seguida, dá a oportunidade para Kimberly
responder. Ao ver isso eu fico triste e abaixo minha cabeça, deixando os
meus olhos somente para as minhas anotações.
Em determinado momento da aula, eu preciso ir ao banheiro, então não
perco tempo e vou logo, pois estou muito apertada. Ando depressa porque eu
não quero perder muito do conteúdo, ele será importante para que eu possa
saber exatamente como montar e finalizar os meus trabalhos de conclusão de
curso, mesmo que o Sr. Cerqueira não goste muito de mim, ele é o meu
professor e devo respeitar seu trabalho.
Quando finalmente estou saindo do banheiro, sinto o meu braço ser puxado
de forma brusca. Arregalo os olhos sem entender o que está acontecendo, até
que as minhas costas batem contra a parede e Jonas aparece no meu campo
de visão.
— O que… é isso? — pergunto nervosa e com medo.
— Cala a boca, sua horrenda — diz ele. — Eu vim aqui te pedir algo. —
Olho fixamente para seus olhos verdes, tentando entender o que ele quer. —
Não olha para mim porra, ou terei pesadelos à noite. — Ao ouvir isso, eu
abaixo minha cabeça no mesmo momento.
— O… que... você quer? — pergunto de forma trêmula.
— Eu quero que você faça o meu trabalho de conclusão. Quero tanto o
trabalho escrito, quanto a apresentação — ele responde e não acredito que
esteja realmente dizendo isso a mim.
— Você quer que eu faça seu TCC? Por quê? — indago, fazendo-o bater
com força na parede ao meu lado.
— Porque sim, porque eu quero — ele diz como se fosse a coisa mais
normal do mundo. — Eu poderia até te dar um beijinho, claro que depois eu
iria ter que passar por um processo de desinfecção. Mas eu posso fazer essa
caridade a você. — Sinto o meu estômago embrulhar só de pensar na
possibilidade.
— Eu não posso fazer isso — falo em forma de sussurro.
— O que disse, sua coisa feia? — Jonas perguntou ofendido.
— Eu… eu não posso fazer… — não termino de falar porque Jonas
começa a rir.
— Você, Isadora, não passa de uma pobre coitada. Uma pessoa que nunca
terá nada, sabe por quê? Porque você é uma coisinha triste com aparência de
um morcego. Quem vai querer um morceguinho ao seu lado? Quem iria
querer beijar uma baranga? — Jonas diz cada palavra com rancor e desprezo,
logo eu posso sentir a típica queimação nos olhos. Não quero chorar, não na
frente dele.
— Me solta! — falo, puxado meus braços do seu poder.
— Isadora! — Jonas me chama, mas eu não olho na sua direção.
Eu posso sentir o desconforto por todo o meu corpo. Eu odeio essas
pessoas!
Não sei por que fazem isso comigo, logo eu, que faço de tudo para ficar
fora do radar deles. Mas eles sempre encontram um jeito de me atormentar.
Em troca de quê?
Não sei, eu simplesmente não sei!
Ninguém deveria dizer o que Jonas me disse, tudo bem que eu sei que
nenhum homem vai se interessar por mim, eles não vão querer uma pessoa
como eu ao seu lado.
Sou feia, esquisita, sem jeito, não sei me arrumar, uso as roupas feitas pela
minha mãe, então eu entendo perfeitamente que é muito ruim para alguém ter
que olhar para mim, mas mesmo eu sendo feia assim, uma coisa que não sou
é uma pessoa ruim.
Eu poderia sim ajudar o Jonas se ele não me rebaixasse desse jeito. Sempre
gostei de ajudar os outros e nunca vou mudar isso em mim, mas não posso
deixar que ele e os outros da sua turma façam isso comigo.
Quando chego na sala, me sento no meu lugar e faço questão de não olhar
na direção de ninguém. Eu sei que se fizer isso irei cair no choro e é tudo que
menos quero.
Aguentando todo mal-estar que estou sentindo, permaneço até a aula ser
finalizada para que eu corra para fora da sala. Graças a Deus que meu ônibus
não demora a chegar, porque quando me afundo no banco, não consigo mais
segurar as lágrimas. Choro por tudo, deixando sair do meu peito toda a
tristeza que as pessoas causam em mim. E choro também pela saudade que
estou sentindo dos meus paizinhos.
Quando chego em casa, a primeira coisa que faço é me desfazer das
minhas roupas, solto os meus cabelos selvagens do coque e vou tomar um
banho. Antes, ligo o meu pequeno aparelho de som e coloco para tocar How
can i love The heartbreack, you're The one i love you, de AKMU. Ao ouvir as
primeiras notas dessa música coreana linda, eu começo a sentir meus olhos
ardendo novamente, mas faço questão de balançar a cabeça para dispersar
esse sentimento chato de solidão.
Vou tomar banho e quando acabo de me vestir com uma blusa larga e
branca de mangas, colocando uma calça de moletom também larga. Deixo
meus cabelos negros soltos, porque estão molhados e eu não quero pegar uma
gripe.
— Eu acho que vou adotar um gato — falo pensativa, enquanto vou até a
minha geladeira, mas logo dou uma risada estranha ao lembrar que sou muito
alérgica e tenho uma asma que me acompanha desde muito novinha. Então,
nada de gatinho! — Nossa, estou sem nada para fazer meu jantar! — digo
assustada ao ver a geladeira quase vazia.
Ao notar que não tenho alternativa além de ir ao mercadinho do seu Chico,
eu decido calçar meus chinelos, pegar minha carteira com alguns trocados,
minha chave e ir até lá. Eu começo a sentir a minha barriga querendo
reclamar de fome.
Se tem alguma coisa que eu não passo de forma nenhuma, essa coisa é
fome. Com isso em mente, eu saio de casa deixando o meu celular, porque eu
sei que ninguém além dos meus pais irá ligar para mim. Ajeito meus óculos
no meu rosto e sigo rua à fora. Não demoro muito para chegar no
mercadinho, aceno para Tadeu, o menino que trabalha aqui, e vou pegar tudo
que preciso.
— Dora, como vai? — Tadeu pergunta sorrindo e eu dou um sorriso
também.
— Oi Tadeu, eu vou bem e você? — pergunto, colocando minhas compras
para passar no caixa.
— Vou bem também, graças a Deus! Quem não anda muito bem a mulher
de seu Chico — Tadeu solta, negando com a cabeça com uma expressão
triste.
— O que houve com a senhora Hortência? — pergunto, espantada.
— Parece que a pobrezinha sofreu um AVC. — É impossível não soltar
um som de surpresa.
— Oh, coitadinha de dona Hortência! — exclamo entristecida.
— Ela vai se recuperar, essa mulher é bem forte — ele fala e não tenho
como não concordar.
Dona Hortência é uma senhorinha muito fofa e é super legal comigo. Não
merece estar passando por isso de forma alguma.
— Eu tenho certeza disso! — exclamo e confirmo com a cabeça, enquanto
ele passa o último item.
— Só isso, Dora? — ele pergunta dando outro sorriso largo. E eu concordo
novamente com a cabeça.
— Por enquanto sim, lá em casa estava sem nada e isso vai dar — falo com
tristeza. — Tenho que ir, tchau Tadeu! — Aceno um adeus.
— Até mais, Dora! — Tadeu acena para mim e dá uma piscadela, me
deixando envergonhada.
Balanço a cabeça confusa. Por que o Tadeu piscou para mim?
Confesso que fiquei muito sem graça com tudo isso agora, mas resolvo
deixar para lá, naturalmente ele deve estar com algum tique nervoso.
Carregando as minhas sacolas, eu sigo em direção a minha casa, mas paro
quando algo chama minha atenção. Olho para trás para ver se tem alguma
coisa, mas não vejo nada, permaneço parada e espero para ver se é algo da
minha cabeça. Então eu ouço de novo, parece que é algum gemido de dor,
porém, eu não tenho certeza.
Viro a cabeça para o lado esquerdo, pois, parece que o lamento está vindo
daquele beco. Decido ir até lá para ter certeza, mas começo a me questionar
se é a coisa certa a se fazer.
Opto por ir, vai que tem alguém precisando de ajuda. Minha mãezinha me
ensinou a nunca ignorar um pedido de socorro, porque nunca se sabe quando
será você o próximo a precisar, não é mesmo?
Então é com essa nova onda de confiança que caminho em direção ao
beco. Sou totalmente surpreendida quando vejo no chão uma figura
masculina trajando roupas pretas. Dou um pulo assustada e deixo as sacolas
escaparem das minhas mãos.
O que é isso? Será que esse homem está mor… morto?
Minha pergunta interna é respondida quando ele solta outro gemido, então
eu não perco tempo em ir correr em sua direção.
— Senhor, pode me ouvir? — falo, me ajoelhando ao seu lado. Não
consigo ver direto o seu rosto, está escuro aqui.
— Fucking shit! What the hell! (Merda fodida! Que diabos!) — Agradeço
a Deus por ser autodidata e ter aprendido inglês. Então resolvo falar em
inglês com ele.
— Senhor, será que eu… Oh meu Deus isso é sangue? — grito nervosa ao
notar que esse homem está sangrando. Sem pensar duas vezes, eu coloco
minhas mãos no seu corpo para procurar o ferimento e estancar o sangue. —
Eu não sei se sou boa nisso, mas eu vi na TV que é bom fazer isso. Sabe
moço, eu sei lidar com tecnologia e não com um homem sangrando perto da
minha casa. — Afasto o seu casaco preto grosso e lá encontro três furos
sangrando muito. — Aí, meu Senhor! — exclamo apavorada.
— Celular! — ele sussurra e eu não sei se entendi direito.
— Eu deixei meu celular em casa, moço. Eu vou gritar por ajuda, viu. Vou
pedir para chamarem a ambulância — falo nervosa, sentindo minhas mãos
tremerem.
O cheiro metálico do sangue faz o meu estômago embrulhar, mas eu não
posso virar as costas para isso.
Tudo acontece muito rápido e quando viro para chamar por ajuda, sinto
meu corpo ser puxado de forma violenta. Uma mão grande aperta o meu
pescoço com muita força, cortando o ar para os meus pulmões. Começo a me
debater, mas logo eu paro quando sou surpreendida por um par de olhos
negro como um lago profundo e obscuro.
Eu estou sendo sufocada, me sentindo totalmente paralisada pelo estranho
de olhos negros. Mesmo assim, eu posso ver que ele é lindo e perceber que se
iguala ao perigo que emana de si.
— Não vai chamar ninguém, ouviu bem? — ele brada. — Você vai fazer
exatamente o que eu lhe disser e se fizer alguma gracinha, vou te levar junto
comigo para o inferno, entendeu? — Sua voz sai baixa, profunda e totalmente
aterrorizante.
— S… sim! — consigo dizer, enquanto meu corpo é tomado por um mar
de terror.
— Bom, bom, muito bom. — O dono dos olhos sem vida afrouxa o aperto,
permitindo que eu recupere o ar, mas não tira seu domínio de mim.
Eu não sei o que está acontecendo, mas seja como for, acho que acabei me
metendo em uma armadilha mortal.
Eu estou presa!
Eu estou totalmente dominada pela escuridão existente nesses olhos. Ainda
presa pelo domínio de suas mãos grandes, eu venho tentando a todo custo
recuperar a minha respiração, que há pouco tempo foi cortada abruptamente
pelo homem ferido.
Homem esse que encontrei jogado no chão no beco perto da minha casa e
eu, com minha burrice sem tamanho, resolvi ajudar. Não sei onde eu estava
com a cabeça para fazer uma coisa dessas, eu posso morrer aqui e agora,
ninguém irá realmente vir ao meu socorro.
Como eu posso me enfiar em algo tão perigoso assim?
Sinto uma vontade enorme de gritar pela minha vida, mas algo nesse olhar
me diz que se eu fizer isso, vou morrer. Assim como ele havia feito a
promessa e eu acreditei sem nem piscar.
Sua voz é baixa, com uma rouquidão, que se eu não estivesse passando por
uma ameaça de morte, poderia apreciar sem dúvida alguma. A sua pele pálida
dá um bom contraste com a sua barba escura e os cabelos da mesma cor.
Não posso parar de pensar que o homem em minha frente é muito bonito,
tão bonito que chega a me distrair do fato que ele pode voltar a me privar de
ar em um estalar de dedos.
E pode ser coisa da minha cabeça, mas eu acho que de alguma forma, ele
sentirá prazer nisso. Não sei como eu cheguei a ter esse pensamento, mas é
uma coisa que consigo ver através dos seus olhos de ônix.
Só com esse pensamento, um arrepio gelado sobe na minha espinha. Por
favor, Deus, não me deixe morrer por querer ajudar uma pessoa ferida.
— Como é o seu nome? — ele pergunta em inglês, sem tirar seus olhos
dos meus.
— Eu… eu… — gaguejo, fazendo-o soltar um grunhido de irritação.
— Vou perguntar novamente, não gagueje, isso é muito irritante. — Ele
aproxima seu rosto do meu. — Qual é a porra do seu nome? — Seu tom de
voz é baixo e perigoso.
— Meu nome é Isadora Martins, mas todo mundo me chama de Dora —
falo rápido demais.
— Certo Isadora, se eu te soltar agora você não irá gritar, não é mesmo? —
ele pergunta e eu sou rápida em confirmar com a cabeça.
— Não, não! — exclamo, arregalando os olhos.
— Certo, faz bem! — ele fala, me soltando no mesmo momento para que
se deitar no chão, fazendo uma careta irritada de dor. — Merda, essa porra
dói! — fala entredentes e nesse momento eu vejo sua roupa molhada com
mais sangue.
— Oh, meu Deus! O que… o que eu faço para te ajudar?! — questiono. —
Você não quer me deixar chamar ajudar, o que eu posso fazer, moço? — Me
aproximo com o meu corpo tremendo muito, pelo medo e a adrenalina.
Ver isso me preocupa, porque eu não posso simplesmente me levantar e
sair correndo, deixando um homem morrer sozinho, sem ninguém para
segurar sua mão e dizer que vai ficar bem. Eu estou com medo, morrendo de
medo, para dizer a verdade, mas eu irei ajudar mesmo assim. E é isso que eu
estou fazendo, estou procurando pelos seus ferimentos, quando acho, percebo
que ele está perdendo sangue demais.
É tanto sangue que eu estou começando a pensar que se eu realmente não
fizer nada, o homem deitado em minha frente não vai conseguir sobreviver.
Criando uma coragem que eu não sabia que existia em mim, eu tiro a minha
blusa grossa de manga comprida, ficando só com a camiseta sem mangas que
gosto de colocar.
— Eu vou tapar esse ferimento aqui moço, não sei o que estou fazendo,
mas vou te ajudar — falo, desnorteada.
— Pobre criatura, se soubesse quem eu sou e ou que eu sou, não estaria
perdendo o seu tempo — o homem murmura e eu tenho que chegar muito
perto para saber o que ele está falando.
— Não! Não é perca de tempo, eu só… — Nessa hora vejo que ele está
fechando os olhos. — Não moço, fique comigo! Você não pode fechar os
olhos! — falo, tocando no seu rosto. Observo-o abrir um sorriso lento e nesse
momento eu me vejo encantada.
“Não, Dora, esse homem parece não ser uma pessoa por quem você deva
ficar encantada.”
— Sua mão é quente…, tão macia e quente — o homem murmura de
forma desconexa.
— Como eu posso fazer para ajudar. Me diga, o que devo fazer — falo,
sentindo meus olhos lacrimejarem.
— Isso é por mim? — pergunta em forma de um sussurro cansado. Fico
confusa.
— O quê?! — pergunto, franzindo o cenho. — Me diga o que fazer?! —
Agito-o pelos ombros.
“E é dessa vez que ele compreende o que eu estou querendo dizer.”
— Aqui! — ele fala, colocando uma das mãos no bolso interno do paletó e
me entregando um celular. Eu posso ver que os seus dedos estão sujos de
sangue seco. Sem perder tempo, eu retiro o aparelho de suas mãos.
— O que eu vou fazer com isso? — pergunto arregalando os olhos, depois
eu quis me chutar por dizer uma coisa tão idiota. Olho para o celular que
descansa entre os meus dedos trêmulos. — Licença aqui moço, mas tenho
que desbloquear, viu — falo e com todo pavor que habita em mim, pego o
seu dedão para desbloquear a tela.
— Vá até os contatos, ligue para o Craig e fale exatamente a nossa
localização, ouviu bem? — ele manda, me lançando um olhar firme. Meu
corpo fica rígido no mesmo momento, mas ainda consigo confirmar.
— Si… sim senhor! — falo e ele fecha os olhos com uma expressão de
satisfação.
Eu não entendo o porquê dessa expressão repentina, mas eu não quero
pensar muito nisso. O que eu tenho que fazer é correr para falar com quem
ele mandou, assim, quem sabe a sua vida pode ser salva.
Nunca me deparei com uma pessoa morta, não é agora que vou querer
mudar isso. Engulo o restante da minha saliva, puxo uma profunda respiração
e abro a agenda. Eu quase gritando de alívio quando vejo o contato desse tal
de Craig, mas me controlo o máximo possível e efetuo a bendita chamada.
— Olá! — falo rapidamente, fazendo um agradecimento a minha santinha
por não gaguejar.
— Quem é você e onde conseguiu esse celular? — O homem do outro lado
praticamente rosna.
— Eu sou a Dora e estou com um homem ferido no beco perto de minha
casa. Ele… me mandou ligar — falo de um jeito apressado.
— Onde? — o homem pergunta de modo monossilábico. Imediatamente
passo o endereço para ele.
— Tem muito sangue! — Tento não soar histérica, mas é impossível.
— Cinco minutos! — ele responde novamente de modo sucinto, e eu quero
gritar com raiva, mas eu sou muito medrosa e covarde.
— Tudo… tudo bem! — Confirmo e imediatamente a linha é cortada.
Olho para o celular com o cenho franzido, mas resolvo não pensar demais. —
Estão vindo para você, moço. — Tento dar um sorriso, mas ele sai trêmulo.
Toda a minha atenção é novamente para o homem jogado no chão. Com
certeza, depois que vierem buscá-lo eu nunca mais colocarei meus olhos
sobre ele. E devo me sentir agradecida a Deus por isso. Entretanto, um
sentimento de pesar vem com tudo para mim, não sei de onde ele surge, ou o
porquê, mas seja o que for, eu não deveria estar sentindo isso.
Esse homem aqui é muito perigoso, somente pelo fato dele ter me
enforcado e ter me ameaçado. Isso já é uma prova do quão mais distante eu
ficar, melhor para mim. A frieza que vi em seus olhos cor de ônix não é uma
coisa que deve ser ignorada.
E só de lembrar desse fato, que foi esquecido por mim no passar desses
longos e intermináveis minutos, eu começo a temer pela minha vida
insignificante.
Aí, Senhor Jesus do céu, eu posso muito bem morrer aqui nesse beco
quando o homem que eu liguei aparecer e ninguém irá saber.
E se isso vir a acontecer, o que será dos meus paizinhos?
Eles vão ficar tão tristes e desolados, eu não vou poder me formar, nunca
vou saber como é ser beijada por um homem gentil. O que…
Meus pensamentos são interrompidos quando um carro grande freia bem
na frente do beco. Meus olhos se ampliam pela surpresa e quando vejo as
portas serem abertas para que três homens saiam de lá, meu coração dispara.
Pisco algumas vezes e quase tiro os meus óculos para ter certeza de que
estou enxergando corretamente, ou não. Porque os três homens que correm na
minha direção são os mais assustadoramente bonitos que já vi na vida. É
como se eu estivesse presa a um filme ruim de ação e aventura, porque além
de tudo, estou vendo em câmera lenta.
O primeiro que me alcança tem a cabeça raspada e mesmo vestido com
jeans e jaqueta, eu posso ver as tatuagens. O segundo é menor que o primeiro
e tem cabelos loiros. O terceiro é tão grande quanto o primeiro e possui
cabelos castanhos. Três homens lindos, mas que exalam perigo.
— Te pegaram de jeito, chefe! — o loiro lamenta em inglês.
— Pare de lamentações, isso só vai atrapalhar, merda — o moreno diz com
irritação.
— O pulso dele está fraco! Porra! — o tatuado fala e é dessa vez que eu
nitidamente percebo que ele é o homem que falei poucos minutos atrás. —
Chefe! — Craig tenta chamar a atenção do homem ferido.
— Quem… quem são vocês? — encontro voz para falar pela primeira vez
depois que eles apareceram. Imediatamente, três pares de olhos distintos e
ferozes olham na minha direção.
— Foi você que ligou? — o Craig pergunta e eu assinto terrivelmente
assustada.
— Foi sim! — Meu corpo inteiro treme.
— Vocês dois, carreguem o chefe para o carro. Temos que chegar logo ao
nosso destino — Craig diz e imediatamente o loiro e o de cabelos castanhos
fazem o que foi ordenado.
— O que vamos fazer com ela? — O loiro aponta enquanto se ajeita.
— Se quiser, eu posso acabar com isso rápido — o de cabelos castanhos
diz e ao entender o que isso significa, eu arregalo os olhos.
— Não… não, não, eu não vou dizer uma palavra sobre isso. Eu só queria
ajudar! — Dessa vez eu deixo o meu desespero bem aparente.
— Isso é uma chateação! — Craig resmunga irritado. — Eu vou fazer isso!
— assim que ele termina de falar, o vejo tirar de trás do cós da calça uma
arma prata. Oh Deus, eu vou morrer!
— Por favor, não me mate! Por favor, por favor, por favor… — Eu me
levanto do chão de forma rápida, tropeçando nos meus próprios pés.
— Fique quieta! — cospe Craig entre os dentes cerrados. Nesse momento,
o homem ferido, que está sendo carregado pelos outros dois, abre os olhos
rapidamente.
— Não, Craig! — Mesmo ferido eu posso ouvir a dureza na sua voz.
— Tem certeza disso? — ele pergunta sem emoção aparente, desviando os
olhos de mim.
— Sim! — ele diz, simplesmente me dando um outro olhar intenso e
obscuro, antes de pender a sua cabeça para o lado e fechar os olhos de novo.
— Levem ele! — Craig grita alarmado, já virando para sair, mas minha
voz tropeçada o faz parar.
— Ele… ele vai ficar bem? — falo temerosa, mas o homem na minha
frente não faz questão de responder. Somente olha para mim e se vira para
seguir seu caminho.
— Vamos! — ele grita e segue correndo em direção ao carro logo em
seguida.
Fico vendo-os indo para o carro, sem ter qualquer reação. E quando eles
entram no veículo e fecham as portas, me encolho com o impacto. Eu ainda
estou de olhos fechados quando ouço as rodas cantarem e o carro partir em
disparada.
Eles foram embora, simplesmente foram embora, e eu me encontro agora
sem saber o que fazer. Olho para as minhas mãos e posso ver que elas estão
sujas de sangue seco. E é olhando para elas que o primeiro soluço vem, a
partir dele, muitos outros chegam sem pedir licença.
Não sei quanto tempo fico desse jeito, mas me toco que estou parada,
sozinha em um beco e com as roupas sujas de sangue.
Tenho que sair daqui! Tenho que ir para casa!
Minha mente canta as palavras e quando dou por mim, estou pegando as
minhas sacolas abandonadas e correndo em direção à minha quitinete. Assim
que fecho a porta atrás de mim, eu jogo as compras em qualquer lugar da
casa e corro para o banheiro. Pego a bucha mais grossa que tenho, aplico
bastante sabão e começo a esfregar o sangue de mim.
Debaixo do meu chuveiro eu deixo a água levar o sangue juntamente com
as lágrimas que teimam em cair.
“Eu poderia estar morta agora!”
Quando noto que minha pele está devidamente livre do sangue do homem
lindo dos olhos de ônix…, mas Deus, o que eu estou pensando!
Balanço a cabeça para me livrar desses pensamentos e saio do banheiro
com a toalha enrolada no corpo. Debato mentalmente se eu devo ou não jogar
fora a minha camiseta e calça. Mas opto por não fazer isso, pois eu não tenho
condições de ficar jogando roupas fora, a minha vida financeira é precária.
Na lavanderia, enquanto lavo a roupa, fico me deixando levar por um
medo de que ele possa não sobreviver aos ferimentos. Pensar nisso faz meu
coração ficar acelerado e eu não entendo por que fico desse jeito.
Chega Dora, isso tudo já acabou!
Eu fiz o que uma boa cidadã faria, eu ajudei o homem perigoso, que nem
agradeceu, e quase fui executada no processo. Mas tudo bem, isso não
aconteceu e eu não tenho nada com o que me preocupar. Isso, é bem assim,
pois eu nunca mais o verei na minha vida. Está tudo acabado, como tem que
ser, eu não devo e não vou pensar nisso.
Acabou, viu, mente traiçoeira, acabou!
Respiro fundo e após deixar tudo limpo, eu vou colocar uma roupa. Já
vestida, recolho as sacolas com as coisas que comprei para o jantar.
— É, parece que depois de ver tanto sangue, eu perdi a fome — lamento
pela minha falta de apetite.
Solto um gritinho agudo de medo quando sou surpreendida pelo toque do
meu celular. Coloco a mão no coração para tentar me acalmar e caminho
lentamente até meu celular. Quando vejo que o meu paizinho está chamado,
eu relaxo no mesmo momento e atendo a ligação:
— Oi, papai! — exclamo.
— Dora, que voz é essa? Aconteceu alguma coisa, minha filha? — papai
pergunta preocupado e eu tento dar uma risada, mas ela não sai.
— É a Dorinha? — Ouço a voz de minha mãezinha.
— Sim, minha velha, é a nossa menina! — papai concorda.
— Coloca no viva-voz, papai! — sugiro e posso ouvir uma pequena
discussão dos meus pais do outro lado da linha.
— É nesse botãozinho aqui, meu velho — mamãe fala e é impossível não
sorrir.
— Eu estou vendo, estou vendo, mulher — papai reclama.
— Mas por que não apertou logo, Gene? — indaga mamãe.
— Aqui, pronto agora pare de me pressionar — é impossível não sorrir
com esses dois.
— Mãezinha e paizinho, não briguem por besteira — imploro com a voz
de cansaço.
— Tudo bem, meu amor — diz minha mãe. — Como vai minha menina?
— solto um suspiro para a sua pergunta.
— Estou bem, mãezinha. Só estava dizendo a papai que estava cansada —
minto, para evitar qualquer tipo de preocupação.
— Ah sim, eu tinha notado sua voz estranha, Dorinha. Tem certeza de que
não é nada? — papai torna a perguntar.
— Sim senhor, eu tenho certeza — confirmo, apertando minha mão com
força para evitar o tremor.
— Você está se alimentando direitinho, Dorinha? — a pergunta de mamãe
me faz olhar para os meus sacos na cozinha.
— Sim, eu estou pronta para fazer o meu jantar agora mesmo — respondo
tentando passar certeza.
— Isso é bom, meu amor — ela fala. — Se cuide bastante, você estuda
muito e tem que estar bem — mamãe diz e eu concordo.
— Quando você vai poder vir nos ver? Estamos com saudades — papai
pergunta com tristeza na voz.
Ao ouvir isso, meu coração se aperta, faz bastante tempo que eu não visito
meus pais. Eles estão a muitos quilômetros de distância de mim, pois eu estou
aqui em Florianópolis e eles estão no interior de Porto Alegre. Não há um dia
que eu não sinta saudades, mas a vida é difícil e o dinheiro que eu recebo da
bolsa de pesquisa é muito curto.
Mal dá para eu me manter aqui nessa cidade, onde até respirar custa muito
caro. E eu nunca os chamaria para vir aqui, eles são realmente muito idosos.
Meu pai vai fazer 80 anos e minha mãe acabou de completar 74, por isso eu
tenho quase certeza de que o desgaste de pegar ônibus e vir aqui será bem
ruim para eles.
— Eu vou ver se quando o dinheiro da minha bolsa sair eu consigo ir para
casa. Mas não é nada certo, portanto, não façam planos — comunico,
tentando fazer algumas contas na minha cabeça.
— Que maravilha, não é mesmo, meu velho? — minha mãe pergunta ao
meu pai.
— É sim, nós podemos mandar algum… — papai começa a falar, mas logo
corto sua fala.
— Nem pense nisso, paizinho! Sei que estão gastando muito com
remédios, pode deixar que eu vou dar um jeito — falo com um pouco mais de
força na voz.
— Você tem certeza disso, Dorinha? — ele pergunta sentido.
— Sim papai, pode ficar tranquilo. Agora tenho que desligar para poder
fazer o jantar e comer um pouco — aviso, sentindo uma dor de cabeça
querendo me dominar.
— Então vá, minha menina, cuide! — diz minha mãe. — E não se esqueça
que te amo! — acrescenta e eu sinto meus olhos começarem a arder.
— Eu amo muito, muito vocês! — declaro, sentindo um bolo na minha
garganta.
— Nós sabemos, Dorinha. Te amo, garotinha — papai diz e eu sorrio.
Após mais algumas recomendações de meus pais, eu encerro a ligação. E
ao ficar novamente em silêncio na minha quitinete, eu não consigo me livrar
dos sentimentos de tristeza e medo pela vida do homem dos olhos de ônix. Só
que a tristeza eu não sei de onde vem.
Se passaram duas semanas desde aquela noite terrivelmente confusa que eu
vivi. Daquele dia em diante, eu resolvi não pensar mais sobre o assunto e
continuar a levar minha vida como se aquela noite nunca tivesse existido.
Foi muito difícil chegar a esse denominador comum, principalmente na
primeira semana, onde eu sonhava com aquele homem todas as noites. O
mais louco e absurdo disso tudo, era que eu não tinha pesadelos por ter sido
ameaçada, ou pelo simples fato de quase ser executada no beco escuro. Não,
nada disso.
Eu sonhava com aqueles olhos, com a lembrança daquela voz bonita.
Foram sonhos tão intensos, que eu acordava no meio da noite com um calor
que não sei explicar até agora.
Fiquei tão distraída com as lembranças de tudo isso que até às ofensas
cotidianas de Kimberly e sua equipe de sem almas passaram totalmente
despercebidas por mim. Por um lado, foi bom, porque eu estava tão
apreensiva que aqueles homens perigosos iam aparecer e simplesmente
terminar o serviço, que eu nem liguei para mais nada.
E quando eu digo nada, é nada mesmo. Porque até as aulas obrigatórias eu
não estava prestando muita atenção. Mas tudo isso mudou quando eu percebi
que não poderia continuar do jeito que estava. Já havia passado dias e eu
ainda continuava viva, então eu não teria por que ficar olhando por cima dos
ombros, não é mesmo?
Pela menos era isso que eu acreditava no final da primeira semana. As
coisas começaram a mudar quando eu simplesmente comecei a sentir que
havia olhos sobre mim.
Sabe aquela sensação estranha de quando você sabe exatamente quando
tem alguém te encarando?
Pois bem, é assim mesmo que comecei a me sentir. E tenho que confessar
que ainda sinto isso, mas eu comecei a colocar na minha cabeça que isso é
bobeira.
Aproveitei que o meu projeto de pesquisa está se desenvolvendo muito
bem para focar nisso. Porque de todas as coisas que acontecem na minha
vida, não muito importante ou muito agitada, isso aqui é o que realmente
importa.
— Isadora! — Ouço alguém me chamar e dou um pulo de surto.
— O quê? — pergunto, desnorteada.
— Você estava dormindo acordada aí — afirma Lara e eu nego com a
cabeça várias vezes.
— Não é nada disso! — falo rapidamente, ajeitando os meus óculos tortos.
— Eu só estava meio pensativa — respondo, dando de ombros
— Você estava pensando o quê? — Lara questiona com ar de riso.
— Nada demais, era só na aula que vou ter hoje à tarde. — Tento passar
verdade nas minhas palavras.
— Vamos lá, Dora! Quem é ele? — Lara me encara, balançando de forma
muito tosca as sobrancelhas.
— O quê? Na… não tem nenhum ele! — gaguejo, fazendo-a rir alto.
— Ah rá! É algum homem sim, não é? — Lara aponta e imediatamente o
homem perigoso invade minha mente.
— Não, claro que não, tenho muitas coisas para pensar — falo sem olhar
na sua direção.
— Você tem um namorado, Dora? — ela questiona e de cabeça baixa eu
nego. — Já teve um namorado em algum momento? — ela pergunta e eu
mordo os lábios inferiores.
— Eu não me encaixo em ser namorada de alguém — falo, olhando na sua
direção.
— Por que você diz isso? — Seu franzir de cenho me faz questionar se ela
está ou não tirando uma com a minha cara.
Lara é uma pessoa legal, não sei se posso ou não considerar ela como
amiga. Mas posso dizer que ela nunca foi ruim comigo durante o tempo que
estou fazendo esse trabalho voluntário aqui na biblioteca da faculdade. Ela é
muito bonita, com seus cabelos tingidos de ruivos, cachos leves e arrumados,
bem longe dos fios secos e selvagens que eu tenho na minha cabeça. Seus
olhos são da cor de avelã, quase verdes, e os lábios são bem grossos. Ela é
uma mulher grande, com curvas e quadris avantajados. Muito, muito bonita
mesmo.
Então, Lara não sabe o que eu estou querendo dizer, nunca deve ter
passado despercebida para os homens. Pensando bem, eu não sei dizer se é
bom ou ruim, mas isso somente ela pode dizer.
— Porque é a verdade — falo rapidamente, tentando fugir dessa conversa,
mas Lara tem outras ideias.
— Como você pode dizer isso de si mesma, Dora? Você é uma pessoa
legal e… — ela começa a dizer e eu dou um sorriso.
— Viu só! — Aponto e ela me olha confusa.
— O quê? — ela pergunta, ainda em confusão.
— Você disse que eu sou uma pessoa legal, mas não uma garota bonita —
deixo escapar uma risada.
— Mas não tem… — ela começa a falar, mas para rapidamente.
— Não se preocupe em se retratar, já sei como eu sou — solto e vou ajeitar
um livro na prateleira.
— Dora, você poderia sair comigo, eu iria te levar a uma lojinha legal. E
você poderia mudar seu guarda roupa, o que acha? — Lara diz, me seguindo.
— Seria bom, se eu não tivesse que me preocupar em me manter
mensalmente. — Minha voz sai com um pouco de amargura.
— Sinto muito! — fala baixinho, olhando na minha direção. Dá para ver
que ela está bem sentida.
— Não sinta, Lara, você só quer ser legal — falo em tom baixo, dando um
pequeno sorriso envergonhado.
— Dora, se eu te convidasse para sair, se divertir e dançar um pouco, você
iria? — Lara diz, abrindo um novo sorriso.
— Você iria querer sair comigo? — pergunto espantada.
— Por que não? — Ela dá de ombros. — O que tem demais duas amigas
saírem para um pub? — Lara questiona, me deixando de olhos arregalados.
— Nós não somos amigas — digo o óbvio e ela debocha.
— Não seja por isso — ela sorri de modo conspiratório. — Dora, você
aceita ser minha amiga? — ela pergunta, estendendo a mão direita.
— Eu… — tento falar, mas as palavras simplesmente não saem.
— Sim, você aceita! — Lara se apressa e segura a minha mão, apertando
firme para selar uma amizade.
— Por que você está fazendo isso? — pergunto com um certo desconforto
e vejo seus ombros caírem.
— Dora, eu vejo você muito sozinha e de uma certa forma, acho que
podemos ajudar uma a outra — responde. — Também sou uma pessoa só e
gosto de ser assim, sabe. As pessoas podem ser muito ruins, mas eu já vi que
você não é uma delas — Lara fala com muita sinceridade.
— Por quê? — minha voz falha e solto um pigarro. — Por que você acha
que sou uma boa pessoa? — pergunto, vendo-a cruzar os braços.
— Porque eu já vi como as pessoas são contigo e você nunca devolveu na
mesma moeda — Lara fala e eu reviro os olhos.
— Isso não me fez boa pessoa, me faz uma trouxa — resmungo e Lara
nega com a cabeça.
— Não diga isso, você não estará mais sozinha a partir agora — ela fala,
erguendo a mão fechada em punho.
— Tudo bem — murmuro e mesmo sem jeito, bato meu punho no seu.
— Isso mesmo, agora somos amiga, parceiras — Lara diz, dando um largo
sorriso, e eu sorrio sem graça.
Não sei como essa coisa de amizade com a Lara vai ser. Mas, no fundo,
bem lá no fundo mesmo, eu acho que pode ser legal. Vai ser bom ter outra
pessoa na minha vida, pelo menos, eu acho, e espero que dê certo.
Já foram muitas decepções relacionadas a amizades e eu não estou disposta
para essas coisas.
Fico por um tempo ainda não biblioteca e quando olho o horário, percebo
que tenho que ir para aula. Me despeço brevemente de Lara e quando estou
virando para sair, ela me chama pedindo para que a gente troque número.
Fico confusa por um tempo, mas logo a minha ficha cai e eu dou o meu
número.
É isso que amigas fazem, pelo menos, parece que é, não?
Deixo Lara onde está e saio da biblioteca para ir em direção a sala de aula.
Dessa vez é da senhora Gomes, ela é uma mulher muito séria, que não aceita
menos que o melhor dos seus alunos. E eu gosto muito dela por isso.
Para a senhora Gomes o importante é ir além do seu conforto quando o
assunto é aprender tudo o que ela ensina. E foi assim que eu nem vi o tempo
passar, quando dou por mim, já estou no final da aula. Arrumo minhas coisas
para ir embora, mas no momento que estou pronta para me levantar da minha
cadeira, sou surpreendida por uma mão masculina.
Franzo o cenho e olho para cima, dando de cara com Jonas me encarando,
como se eu fosse um inseto morto no seu para-brisa. Abraço a minha bolsa
com força e espero para saber o que é que ele quer comigo dessa vez.
— E aí, feiosa, você já começou a fazer o que te mandei? — sua pergunta
é o suficiente para chegar à conclusão que ele não tem salvação.
— Eu já te disse que não posso fazer isso — minha resposta sai calma e
controlada.
Não posso ficar nervosa por causa disso, Jonas, Kimberly e o restante nem
se compara aos homens perigosos que eu cruzei dias atrás.
Não, Dora, você não pode pensar nisso.
— Você só pode estar de brincadeira comigo, não é? — Jonas pergunta
com irritação e eu engulo em seco.
— Não gosto disso, se eu fizer o seu TCC e alguém descobrir, eu posso me
dar mal. E eu não posso… — falo sem olhar na sua direção. Dou um pulo
quando Jonas dá um tapa na minha mesa com força.
— Não fode comigo, sua feiosa! — Jonas fala entredentes. — Eu preciso
disso! — ele para e respira fundo. — O que você quer para fazer essa porra?
— sua pergunta me faz juntar a sobrancelha.
— Nada! — Nego com cabeça e me levanto da cadeira.
— Já sei o que você… — Jonas tenta falar algo, mas uma voz conhecida
por mim o impede.
— Dora! — Arregalo os olhos e me esquivo de Jonas para olhar para a
porta da sala. E lá está Lara com todos seus cabelos ruivos. — Passei para te
buscar para irmos juntas — ela fala alto para todos os presentes ouvirem.
— O que está acontecendo aqui? — Kimberly aparece olhando para Lara e
depois para Jonas.
Oh, meu Senhor, que confusão!
— Nada meu amor, eu estava aqui, falando com a Isadora — Jonas sorri
brilhantemente para Kimberly, que o chama com a mão.
— Venha, meu amor — diz ela. — Saia de perto disso aí. — Ouço
Kimberly e entorto o nariz.
— Seja mais original, sua loira falsificada! — Lara grita, me pegando
totalmente desprovida.
— O que disse, sua obesa desgraçada? — Kimberly berra em revolta.
— Isso mesmo que você ouviu! — Lara retruca, eu tenho que me mover
rápido para tirá-la daqui.
Isso vai ficar feio, mas feio que eu.
— Estou saindo, Lara, vamos, vamos! — Ando em passos rápidos em
direção a saída. — Já estou aqui, vamos embora! — Empurro Lara para que
ela ande.
— Isso não acabou, sua gorda! — Kimberly diz furiosa.
— Estou te esperando quando quiser, vadia! — cospe Lara, fazendo o sinal
de "estou de olho em você" para Kimberly.
Saio rapidamente da faculdade com Lara ao meu encalço. Ainda não posso
acreditar na sua coragem para enfrentar Kimberly desse jeito.
Kimberly é praticamente intocável, ninguém em toda faculdade chegou
falar algum tipo de afronta para ela. Mas me parece que a Lara não é uma
covarde como eu, ou um daqueles que quer ter a Kimberly e o restante do seu
grupo como amigos.
Nego com a cabeça, ainda não sabendo lidar com essa coragem de Lara.
Não consigo evitar o sorriso ao perceber que pela primeira vez, desde que eu
vim estudar aqui, alguém se posiciona para me defender.
— Isso sempre acontece? — a voz indignada de Lara me faz fechar o
sorriso.
— Isso o quê? — pergunto confusa.
— Esses babacas, querendo fazer você de gato e sapato — Lara resmunga.
— Ah sim, não me lembro quando isso não aconteceu. — Sou sincera com
ela.
— Você tem que se importar, Dora! — ela fala e eu dou de ombros.
— Gosto de evitar confronto — falo e olho de solavanco na sua direção. —
Por que você fez isso?
— Fiz o quê? — Ela dá de ombros. — Falei umas verdades pouco tempo
atrás? — Lara sorri brilhantemente e eu nego com a cabeça.
— Não! — digo. — Por que você me defendeu? — questiono, fazendo seu
sorriso fechar.
— Porque eu sei o que é ser humilhada e massacrada pelas pessoas. E que
quando você não se impõe, isso vai te comendo aos poucos até não restar
nada — enquanto Lara vai falando, eu vejo a luz se apagar dos seus olhos.
— Eu sinto muito — lamento com tristeza e Lara logo muda a expressão.
— Não foi nada, foi há muito tempo — ela volta a sorrir, mas eu vejo que
não é um sorriso de verdade. — Bem, eu tenho que ir.
— Sim, eu também vou! — respondo, confirmando com a cabeça.
— Você quer uma carona? — Lara aponta para uma moto, que eu nem
reparei que estava em nossa frente.
— Não mesmo, eu tenho medo dessas coisas. — Nego rapidamente. Lara
joga a cabeça para trás e dá uma gargalhada.
— Minha amiga, você não sabe a liberdade que está perdendo — Lara diz,
cutucando seu ombro no meu. — Já que você não quer, eu vou seguir meu
caminho.
— Certo, tchau! — Dou um leve aceno.
— Tchau, minha nova amiga! — ela sorri alegre.
Vejo quando ela tira um capacete do suporte, prende os cabelos e o coloca.
Depois de protegida, ela sobre em sua grande moto vermelha, acena
novamente e dá a partida.
Fico olhando Lara sair com a sua moto e não posso impedir uma onda
admiração que surge ao vê-la tão poderosa. Um dia eu quero ser tão confiante
quando ela.
Às vezes, acredito que nasci para ser sempre do jeito que sou e que não
posso ser diferente. Acho que para ser confiante você tem que nascer assim,
porque de todas as vezes que eu tentei, morri na praia. Solto um suspiro e
decido seguir o meu caminho, tenho que maratonar a série que eu deixei
acumular.
Eu já ia começar a andar, mas paro imediatamente ao ter aquela sensação
de que estou sendo observada. Olho para todos os lados e não consigo ver
nada, acho que deve ser coisa da minha cabeça. De qualquer forma, ando
apressadamente até o ponto de ônibus e assim que chega, entro rápido, como
se estivesse fugindo da polícia.
Quando chego em minha quitinete, coloco a bolsa na minha pequena mesa
e solto o meu cabelo. Estou distraída, massageando levemente o meu couro
cabeludo, quando noto pela primeira vez que o cheiro do meu lugar está
diferente. Parece que… eu não sei, mas parece um perfume masculino. Será
que estou enganada?
— Olá, Isadora! — uma voz fala em um inglês perfeito, fazendo o meu
coração bater de forma incontrolável.
Meu corpo se transforma em uma pedra no mesmo momento que eu ouço
essa voz atrás de mim. Me viro rapidamente, quase caindo sobre a mesa, e
arregalo os olhos ao me deparar com a figura masculina que me observa.
Parado a poucos metros de distância, está o mesmo homem que estava
ferido no beco. O mesmo homem que me aterrorizou, mas que, mesmo assim,
está sendo presente em minha memória, seja em forma de sonhos os
pesadelos.
Começo a hiperventilar, com medo de que ele tenha mudado de ideia e
vindo aqui para poder me matar. É isso, eu vou agora mesmo e não tem mais
volta.
— Oh, meu Deus! — solto temerosa, vendo as minhas mãos começarem a
suar.
— Você está me olhando como se eu fosse matá-la — ele fala seriamente
com a sua voz rouca.
— E não vai? — pergunto com a voz trêmula.
— Não, eu não vim te matar, Isadora — ele nega juntando as suas mãos na
frente.
— Você está vivo, eu pensei que… — começo a balbuciar.
— Você pensou que não ia dar tempo e que eu ia acabar morrendo, certo?
— ele pergunta e eu confirmo com a cabeça, sem saber o que dizer.
— Eu… eu… — Ele me dá olhar e eu não tenho como falar.
— Eu pensei que você iria chamar a polícia e contar tudo o que viu. —
Engulo em seco tentando me concentrar nas palavras.
— Mas eu não fiz…, eu juro que não fiz. — Nego com a cabeça de modo
rápido.
— Você deveria ter feito isso, foi muito irresponsável — sua repreensão
faz minha espinha gelar.
— S... sim? — pergunto desnorteada e me surpreendo quando o vejo
caminhar em minha direção.
É como se eu estivesse vendo um grande felino vindo a caça de uma presa
e não posso tirar os meus olhos de cima dele. No fundo do meu ser, eu sei
que ele é muito perigoso e que pode levar minha vida insignificante a
qualquer momento, mas de todo jeito, eu não posso desviar meu olhar, não
consigo fazer isso.
Ele está diferente daquela noite, não em sua escuridão, claro. Ela está ali e
acho que mais intensa que dá última vez. Falo de sua beleza, pois, é
impossível não ver o quanto esse homem obscuro é bonito e agora, longe
daquelas roupas pretas e de todo aquele sangue, posso ver notar isso com
ainda mais nitidez.
Seus olhos negros são hipnotizantes, cada vez que os encaro, é como se eu
fosse sugada para dentro dessa escuridão, e por mais que eu queira gritar para
sair, não consigo.
— Por que você está na minha casa? — Enquanto estou presa em seus
olhos cor de ônix, consigo encontrar minha voz.
— É uma pergunta interessante, você quer realmente saber? — Fecho os
olhos aos sentir o toque dos seus dedos no meu rosto. Sinto o meu corpo
querendo mais desse simples toque. — Tão boa menina!
— Quero! — sussurro, abrindo os meus olhos lentamente. Sua mão se
fecha no meu pescoço e eu espero que ele aperte, mas não o faz.
— Porque vim buscar algo que eu, de forma muito irresponsável, deixei
aqui. — Sua voz sai bem próxima do meu ouvido, fazendo todos os pelos do
meu corpo se arrepiarem.
— E o que seria isso? — me ouço perguntar de forma calma.
— Você, Isadora, eu vim buscar você! — ele responde. — A partir de hoje
eu sou o seu dono, para fazer de ti o que eu bem entender. Eu irei quebrá-la,
para depois a montar e treinar para ser aquilo que eu quero que seja — ele
diz, apertando meu pescoço, mas sem cortar o meu ar.
—Por quê? — pergunto, sentindo o terror tomar conta de mim novamente.
— Porque quero a sua inocência e pureza, para que eu possa corrompê-la.
Quero que você seja minha e saiba que a partir de hoje, se alguém te tocar, irá
morrer sem ter oportunidade para diálogo. — Meu sangue gela dentro das
veias ao ouvir suas palavras possessivas.
— Mas…, mas eu nem sei seu nome — falo e ele olha bem no fundo dos
meus olhos.
— Axel, eu sou Axel Cox, minha menina! — Testo seu nome na minha
mente. — Agora durma bem, pequena! — Axel diz e antes que eu tenha a
oportunidade de falar alguma coisa, sinto uma picada no meu pescoço.
— O que… — Minha voz sai embolada, enquanto o meu corpo pende para
frente.
Mas antes que eu caia no chão, sou amparada pelos braços de Axel, para
que logo eu possa ver a escuridão de um sono forçado.
A seguro como se fosse a coisa mais delicada de todo o meu mundo
terrivelmente obscuro e fodido, porque ela, de fato, é. Antes de carregá-la nos
meus braços, tiro esses óculos horrorosos que está usando e coloco no meu
bolso. Eu vou ter que dar um jeito nisso, mas por agora, tenho que levá-la
comigo. Carrego minha nova adição, ignorando totalmente as dores dos meus
ferimentos.
Sabia que não deveria ter vindo eu mesmo para pegá-la, porque estou em
recuperação, mas eu não poderia simplesmente mandar algum dos meus
homens fazer isso, eu não posso permitir que mais alguém toque nela de
qualquer modo que seja.
Só com esse pensamento já sinto a minha cabeça latejar. Eu não sei como
tudo isso veio a acontecer, mas quando abri meus olhos na primeira vez que
acordei, após a cirurgia que tiveram que fazer para salvar a porra da minha
vida, estava pensando na jovem mulher que me ajudou.
Sem saber, ela estava cometendo um grande erro ao salvar um homem
como eu, porque a sua bondade comigo fez com que eu quisesse corrompê-la
de um jeito muito fodido. Eu vi em seus olhos, nas expressões preocupada em
seu rosto, que ela queria que eu ficasse vivo. Assim fiz e agora não vou mais
deixá-la longe de mim.
Tudo isso é louco, eu sei, mas quando você passa por coisas ruins durante
os anos da sua vida e encontra algo que te causa qualquer fagulha, faz
questão de ter para você, nem que tenha que pegá-la a força. Eu não sou um
bom homem, admito que seria melhor se essa pobre menina desajeitada
ficasse longe de mim, mas agora eu não darei essa oportunidade a ela.
Senti o calor que emanava da palma da sua mão e gostei, mais ainda em
vê-la preocupada com um ser como eu. Aquilo me tocou, fez quebrar a
corrente do animal que havia sido trancafiado por mim, ela mesmo liberou o
monstro e cabe a si ter que lidar com ele agora.
Aperto seu corpo contra o meu, encosto o meu nariz nos seus cabelos
selvagens e inalo profundamente. Ela cheira a frutas cítricas misturada com o
seu cheiro natural e esse aroma foi a primeira coisa que eu queria sentir
novamente quando acordei.
Antes de sair desse cubículo em que Isadora mora, eu olho para todo o
lugar. Não sei o que poderia tirar daqui, mas por mim, tudo vai para o lixo,
pois as coisas que estão aqui não condiz com a vida que ela vai levar de agora
em diante. E é com esse pensamento que nos coloco para fora.
A primeira pessoa que vejo é Craig.
— Você está pronto para ir? — ele pergunta sem emoção.
— Estou — falo friamente, caminhando em direção ao carro.
— Você sabe que está cometendo um erro ao colocar essa menina na vida
que levamos — Craig me alerta, então eu paro e olho em sua direção.
— Em algum momento eu te pedi uma opinião? — pergunto, cerrando o
meu maxilar com força.
— Não, mas eu não preciso pedir permissão para dizer o que penso —
Craig diz e eu volto a caminhar até o carro.
— Só trate de descobrir quem me traiu e deixe que eu cuido dela. Ela não é
e nunca será um problema seu — alerto para que ele saiba.
— Tudo bem, eu não falo mais nada, só queria que alguém te dissesse isso
— Craig fala em tom mais calmo.
— Você é o único que pode falar assim, porque se fosse os outros, já
estariam mortos. Mas lembre-se, Craig, não abuse da sorte — minha voz sai
calma e controlada.
— Sim, Axel — responde, me deixando mais satisfeito.
— Ela vai ser uma boa adição a equipe futuramente — solto, fazendo
Craig concordar.
— Sim, eu vi nos relatórios o que ela pode fazer. Uma mulher dos sistemas
é algo muito bom — a forma calma e com um pouco de admiração como
Craig fala me irrita.
— Sim, mas ela é minha. Esteja ciente! — minha voz sai fria.
— Não vou esquecer, fique tranquilo — Craig diz e eu me acalmo.
— A casa já está pronta? — pergunto quando ele chega ao meu lado.
— Eu mesmo fiz os últimos ajustes — diz, abrindo a porta traseira do carro
para mim. — Você tem certeza de que não quer voltar para Boston? — sua
pergunta atiça o inferno em mim.
— Não vou sair antes que eu descubra como uma simples transação
terminou comigo levando a porra de três tiros e lutando por minha vida em
uma fodida cama de um hospital clandestino. — Eu posso sentir o meu
sangue ferver nas minhas veias ao me lembrar disso.
— Estou contigo, você sabe disso. — Confirmo com a cabeça.
Entro no carro com a minha menina, olho para o seu rosto adormecido e
tiro uma mexa de cabelo do seu rosto. Preciso fazer isso, porque de uma
forma ou outra, me acalma. E eu tenho que controlar a minha fúria, ou senão,
eu poderia descontar isso em quem não merece e ela pode ser uma delas.
Isso é o que menos quero no momento, eu quero que ela confie em mim,
quero que me tenha como alguém que possa contar nessa vida.
Doente isso?
Pode ser, mas não me importo com o modo que isso soa.
Minha mente não consegue para de se perguntar como um simples trabalho
quase resultou em minha morte. Nada me faz parar de pensar que Ângelo
Gutierrez tem alguma coisa a ver com isso. Esse traficantezinho de merda é o
único fora da minha equipe que sabia que essa transação iria acontecer, mas
eu não posso levantar questionamentos sem ter certeza. Ângelo é o meu único
contato aqui, por isso eu tenho que fazer tudo com calma e sem levantar
qualquer suspeita.
Enquanto isso não acontece, eu vou moldando minha menina para mim, eu
não sei o porquê, mas eu acho que vai dar absurdamente certo. Basta ela se
acostumar e ver que não tem outra vida se não for comigo ao seu lado.
Chegamos à casa que vamos ficar até que tudo tenha se esclarecido. Olho
para o lugar e fico satisfeito, tenho certeza de que Russel e Craig ajeitaram
toda a segurança do lugar. Eu não posso correr riscos aqui, já que eu tenho
uma pessoa sem o mínimo de treinamento e preparo com a gente.
Solto uma respiração pesada e saio do carro levando Isadora comigo, Craig
se prontifica para levá-la, mas quando vê meu olhar desiste no mesmo
momento. Entramos no lugar e logo de cara posso ver Earl e Russel
conversando sobre algo. Não dou uma segunda olhada em direção a eles e
sigo para o meu quarto, que fica no segundo andar, escolhido
proporcionalmente do outro lado da casa.
Deixei a porta aberta quando fui para buscar Isadora, então não tenho
trabalho com relação a isso. Já dentro do cômodo amplo, acomodo-a na
cama, olho para ela por um momento e franzo as sobrancelhas ao notar as
roupas largas e estranhas que está usando.
Sem pensar duas vezes, caminho até a porta e fecho, preciso de
privacidade para poder tirar cada peça do seu corpo e faço de tudo para não
olhar demais.
Eu a quero, mas isso não significa que tenha que violar o seu corpo
adormecido. Só esse pensamento já basta para me deixar enojado, posso ser
um homem cruel, porém, essa linha eu não ultrapasso. Após ter tirado toda
sua roupa, eu a cubro.
— Quando você acordar, eu estarei aqui. Durma bem, minha menina. —
Passo delicadamente as costas das mãos na sua bochecha, mas tiro
rapidamente.
Retiro seus óculos do meu bolso e coloco no criado mudo, para que
quando ela acorde possa vê-lo assim que possível. Após uma luta interna, eu
saio do quarto, trancando logo em seguida, e vou em direção às escadas.
Assim que chego na sala, vejo que estão os três me esperando. Bom, isso é
bom!
— Posso perguntar algo? — Russel é o primeiro a se pronunciar.
— É sobre a Isadora? — pergunto friamente e ele assente.
— Bem, é sim! — responde e meu corpo fica rígido.
— Não, esse assunto não diz respeito a vocês — minha voz soa dura e ele
entende o recado ao não falar mais nada. — Já que não existem mais
questionamentos desnecessários, vamos falar de algo que nos interessa. —
Olho para os três com firmeza.
— A transação que deu errado — Earl fala.
— Exatamente — eu confirmo. — Não sairemos daqui sem saber quem foi
que fodeu com o nosso trabalho e quis me levar muito cedo para o inferno —
quando eu falo isso, eles mudam as suas expressões rapidamente.
Eu sei que estão tão putos com tudo isso quanto eu e nem que tenhamos
que virar o Brasil de cabeça para baixo, não saio daqui sem respostas, ou uma
morte bem significativa para mim.
Sinto o meu corpo despertando de um sono pesado, forço os meus olhos a
se abrirem, mas eles ainda não querem aceitar o meu comando. Solto um
longo e interminável bocejo, espreguiço para poder me livrar dessa
sonolência.
Não estou conseguindo me lembrar o que fiz na noite passada para que eu
esteja tão cansada desse jeito. Acho que eu devo ter ficado assistindo série até
tarde, mas seja como for, eu não me lembro muito.
Tenho que me levantar para poder começar a estudar, há tanta coisa para
fazer e tenho muito medo de olhar para o relógio na parede do meu quarto e
chorar por ser uma besta irresponsável.
Chega, Dora, está na hora de se levantar e acordar para a vida, lembre-se
que você é pobre e precisa de futuro!
Esqueço os meus pensamentos de lado quando algo chama minha atenção.
O colchão onde eu estou está muito macio, consegui me espreguiçar
perfeitamente sem que eu esteja caída no chão.
O que está acontecendo?
Finalmente abro os olhos e a visão que tenho faz com que eles se
arregalem. O lugar em que eu me encontro é grande, tão grande, que me dá a
certeza que caberia muito bem a minha quitinete inteira aqui dentro.
Mesmo com as grossas cortinas, eu posso nitidamente notar as grandes
janelas, na parede a minha frente está uma enorme TV de LED, do jeito que o
meu paizinho sonha em ter para poder assistir os jogos de futebol.
Droga, o que eu estou pensando?
“Esse aqui definitivamente não é o meu quarto!”
E é então que a realidade cai com tudo em cima de mim. Todas as minhas
últimas lembranças voltam como uma vingança.
Lembro perfeitamente de chegar em casa da faculdade, deixar minhas
coisas em cima da minha mesinha, soltar os meus cabelos e então…, eu ouvi,
eu ouvi a sua voz chamar meu nome.
Não, não pode ser!
Ele estava na minha casa, parado na minha minúscula sala de estar,
olhando para mim como como o grande predador que eu sei que é. Ele me
disse seu nome, mas eu não consigo me lembrar, minha mente turbulenta não
me deixa pensar direito.
Ah, já sei! Axel, ele disse que seu nome é Axel Cox.
Depois disso eu não lembro de muita coisa, agora eu estou nesse quarto
grande, espaçoso e bonito. Deitada na cama de um estranho, sem roupas…,
espera aí!
Olho para baixo e posso ver os meus seios expostos para quem quiser ver.
Minha nossa senhora, protetora das mulheres feias, me ajude! Sem pensar
duas vezes, eu me deito novamente na cama e jogo o lençol por todo o meu
corpo desnudo.
O que será que aconteceu aqui?
Meu corpo foi…, não, não pode ser, eu sou virgem!
Um desespero começa a se apoderar de mim quando a ideia de ter sido
abusada por aquele homem passa pela minha cabeça. Meu corpo inteiro
treme de pavor e sinto uma vontade de vomitar, mas nada sai de meu
estômago.
Começo a chorar com o coração cheio de medo.
Por que eu estou aqui?
O que esse homem quer comigo?
Por que ele me drogou e me arrastou para cá?
Porque me…, não, eu não posso perder tempo com desespero, eu tenho
que descobrir um jeito de sair daqui.
Isso!
Eu vou fugir, fazer o que deveria ter feito e não fiz, com medo deles
voltarem para me matar. Vou a polícia pedir por ajuda, sair de Florianópolis e
voltar para casa dos meu país. Ou melhor, eu posso ir para qualquer lugar
sem destino e peço para os meus pais ficarem um tempo na casa de tia
Celina.
Com uma coragem renovada pela vontade de continuar viva, eu me levanto
da cama, levando os lençóis comigo. Enrolo o meu corpo no grosso edredom
e caminho até a porta, coloco o meu ouvido esquerdo na porta para ver se
consigo ouvir alguma coisa, mas graças a Deus eu não consigo ouvir nada.
Solto uma respiração trêmula, levo minha mão até a maçaneta, mas vejo que
está trancada quando a giro.
Trancada! Eu estou trancada!
Oh Deus, eu vou morrer aqui. Por favor, Senhor, permita que esse homem
me deixe ir.
Em certo momento eu consigo ouvir o som específico de passos, então eu
coloco a mão na boca para conter o meu grito e corro para um canto do
quarto.
Em desespero, eu procuro alguma coisa para me defender, olho de um lado
para o outro e vejo duas luminárias, parece o bastante e será de grande ajuda
para o meu maior objetivo. Corro para pegá-las, puxando desesperadamente a
tomada da parede. Nesse momento, eu ouço o barulho de chaves na
fechadura, reúno todo o restante da minha coragem e me posiciono atrás da
porta, porque assim eu tenho uma boa visão para acertar o meu sequestrador
bem na cabeça.
— Isadora! — ele chama o meu nome, fazendo todos os pelos da minha
nuca se arrepiarem.
A porta é aberta e quando ele aparece, eu fecho os olhos e avanço. Solto
um grito de guerra, esperando que a luminária bata no seu corpo, mas não é
bem isso que acontece. Os meus braços estão presos no ar e a luminária é
retirada abruptamente das minhas mãos, a rapidez que tudo isso acontece é
tão impressionante.
Quando dou por mim, o meu corpo está sendo pressionando, com as
minhas mãos atrás das minhas costas em um aperto da morte.
— Primeira regra quando for atacar alguém, não avise que você está
atacando. — Sinto o seu hálito bem próximo do meu rosto. — Segunda regra,
você tem que manter os olhos abertos. — É então que eu percebo que ainda
estou de olhos fechados.
— O quê? — Abro os olhos devagar, me deparando com esses olhos
negros brilhantes.
— Tenho que lhe dar um aviso, entenda bem o que vou lhe dizer — ele diz
com firmeza na voz.
— S... sim! — Minha voz sai baixa e amedrontada.
— A próxima vez que você tentar algo contra alguém maior e mais letal
que você, pense duas vezes. Eu poderia te matar e isso ia ser sem querer, eu
só segurei o meu instinto — seu tom de alerta me faz tremer de medo.
— Você vai me matar, não vai, moço? Eu não quero morrer. — Eu sei que
estou fazendo bico, pois o meu lábio inferior está tremendo.
— Fale em inglês, eu não entendo muita coisa do português — seu
comando irritado me faz fechar os olhos.
— Você vai me matar? — pergunto, sentindo minha cabeça martelar.
— Eu não vou te matar, Isadora! — sua confirmação ainda não me deixa
tranquila.
— Então, o que você quer comigo? — essa minha pergunta o faz dar um
sorriso fantasma.
— Eu quero muita coisa com você, tantas, que não faz ideia — sua voz sai
em forma de um sussurro forte.
As palavras saem de sua boca e eu fico histérica, começo a gritar por
socorro. Tento me soltar de todas as formas possíveis, mas ele é muito mais
forte que eu. Grito mais alto para que chamem a polícia, digo que eu não
quero morrer, que eu sou muito nova para isso. Mas nada adianta, minhas
súplicas são todas em vão e então, desisto de gritar.
Volto a encarar o meu sequestrador e ele está me olhando como se
perguntasse se eu estou realmente fazendo isso.
— Acabou? — sua pergunta sai entredentes.
— Sim! — As lágrimas caem livremente dos meus olhos.
— Você não é minha prisioneira, Isadora! — Franzo o cenho com isso.
— Não? — questiono. — Então, por que eu estou presa e sem roupa? —
Não posso esconder a minha confusão.
— Eu tirei suas roupas porque eu quis, elas não mostram quem você é de
verdade. — Franzo o cenho sem entender.
— Então você não… — começo e ele cerra os olhos na minha direção.
— Então o quê? — indaga com seu inglês perfeito. — Você tem que falar
comigo, Isadora, eu não gosto de que use meias palavras — sua repreensão
me faz assentir em confirmação sem querer.
— Então você não me tocou? — falo rapidamente, sentindo minhas
bochechas ficarem quentes.
— Não! — Relaxo imediatamente. — Mas eu vou fazer pior que isso, eu
quero isso, e não vejo hora disso acontecer. — Ele solta as minhas mãos e
passa o dedo de forma lenta no meu rosto.
— Por quê? — pergunto, tentando encontrar o sentido lógico nisso tudo.
— Por que o que, Isadora? — seu rosto me mostra que ele está me
estudando.
— Por que está me querendo assim? — pergunto. — O que eu tenho de
atrativo? — acrescento. — Só quer saber como é brincar com uma menina
feia e virgem? — faço mais uma pergunta. — Você quer me deixar com
medo? — falo cada palavra de modo tão rápido, que eu tenho que puxar a
respiração. Antes que eu possa me recuperar, estou presa novamente, dessa
vez suas mãos grandes estão nos meus ombros.
— Não diga isso, novamente! — Eu posso ver a escuridão nos seus olhos.
— Que eu sou feia? — digo e ele solta um rosnado baixo.
— Essa porra aí mesmo, eu não vou permitir que você diga algo assim de
si mesma. — Não posso fazer nada além de concordar.
— Então, por que eu, moço? — eu estou me controlando para não chorar.
— Axel, me chame de Axel! — ele manda.
— Axel! — murmuro envergonhada.
— Bom, muito bom! — Seu rosto está endurecido. — Isadora, se cubra,
por favor. Eu já aguentei demais vê-la nua e não poder tocá-la — ele diz e eu
viro a cabeça, confusa. Até que eu olho para baixo e vejo que o edredom que
antes estava enrolando no meu corpo agora está no chão, como uma poça aos
meus pés.
— Oh, meu Deus! — grito estarrecida e abaixo para pegá-lo, a fim de
enrolar meu corpo novamente.
— Assim está bom! Agora vá tomar um banho que eu vou pedir para
trazerem o seu jantar — Axel fala com sua mandíbula menos tensa. Nesse
momento eu sinto o meu estômago roncar alto, me deixando sem jeito. — O
banheiro fica por ali, quando você voltar, seu jantar estará aqui e assim
vamos poder ter uma conversa.
— Tudo bem. — Aperto o edredom entre meus dedos. — Eu estou
apagada há quanto tempo? — pergunto espantada.
— Há algum tempo — ele diz de forma evasiva, pegando o celular no
bolso.
Sem saber mais o que fazer, eu me viro para ir ao banheiro, então noto o
quanto as minhas pernas estão bambas quando dou o primeiro passo. Tropeço
entre o lençol, sei que vou cair e que além de tudo, a queda vai ser feia, mas
antes que o meu corpo bata no chão, sou amparada novamente pelos braços
de Axel, o meu captor.
Com o coração estupidamente acelerado, eu olho na sua direção e noto
pela sua mandíbula firme que ele vai me repreender por ser um desastre
ambulante, mas isso não acontece. Os nossos olhos se cruzaram e eu me vejo
apertando com força o seu antebraço.
Pela primeira vez na vida, eu me vejo muito querendo ser beijada de
verdade, não o beijo que o Marcelo havia me dado no fundamental e que logo
em seguida foi correndo lavar a boca, porque foi nojento beijar a menina feia
da escola. Quero um beijo de verdade.
Sim, é uma coisa absurda de se pensar, por justamente estar de frente ao
homem que me drogou, me raptou e quer fazer sabe lá Deus o que comigo.
Mas quero sentir algo pelo menos uma vez na vida, mesmo que seja por um
homem que possivelmente pode vir a me matar.
— Tome cuidado para não cair, Isadora. — Sua voz rouca me faz acordar
dos pensamentos.
— Oh, tudo bem! — respondo, assentindo com a cabeça.
— Vá, minha menina! — Seu dedo passa pelos meus lábios, me fazendo
fechar os olhos. — Você não faz ideia das coisas que lhe esperam no futuro.
— Ele se aproxima e eu penso que vai me beijar nos lábios, mas não é isso o
que acontece. Axel cheira a minha cabeça e eu não posso impedir meu
coração de bater forte.
— Eu…, eu vou banho tomar! Não! Eu vou…, vou tomar banho. — Me
atrapalho com as palavras.
E ainda desnorteada, com os meus pensamentos loucos e totalmente sem
sentido, eu sigo até o banheiro. Ao adentrá-lo, encosto-me na porta e fico
assim por um determinado tempo, pensando em tudo o que está acontecendo.
Eu nunca fiquei tão perto de um homem, nunca prestei tanta atenção nos
seus traços, no seu cheiro e, principalmente, nunca pensei como seria se ele
quisesse me beijar. Sempre tive medo de olhar demais e ser humilhada,
porque é isso que alguns homens bonitos fazem quando me veem lhe dar um
segundo olhar. Um exemplo atual é o Jonas, ele foi o único de toda aquela
turma que dei uma segunda olhada.
Mas em minha defesa, o idiota do Jonas é bem bonito, com aqueles cabelos
castanhos, olhos azuis, e o corpo de quem perde tempo na academia ao invés
de se preocupar com seu trabalho de conclusão. Então, sim, eu confesso que
percebi o quão Jonas é lindo, porém, ele não se compra a Axel.
Tem algo nesse homem que me deixa paralisada, algo que faz o meu corpo
inteiro ansiar por uma coisa que eu não sei direito o que é. É como se…
existisse algo que só ele pode me mostrar, que se caso ele quiser, eu vou, vou
de bom grado.
Aí Deus, Isadora Martins, o que é que você está pensando?
Eu deveria pensar em me livrar dessa situação e não o contrário.
— Eu só posso estar ficando com a glicose baixa! — murmuro, negando
com a cabeça.
Ergo o olhar e pela primeira vez desde que eu entrei nesse banheiro, eu
posso notar o quanto é bonito. Mãezinha ficaria encantada com essa grande
pia e essa banheira. Eu adoraria explorar cada canto, mas eu não acho que
seja o momento apropriado.
Lá fora tem um homem muito, muito perigoso, que está esperando por
mim. E eu odiaria deixá-lo irritado. Sabe-se lá Deus o que ele seria capaz de
fazer, então, não, eu não quero ser o motivo de sua fúria. Tenho certeza de
que não saberia lidar com isso, eu nunca soube, não vai ser agora que irei
começar.
Soltando um suspiro frustrado, eu largo o edredom no chão e vou tomar
uma chuveirada rápida. Mas é só eu deixar a água cair no meu corpo que a
ideia de rápido some da minha cabeça.
Oh delícia, senhor!
— Isadora, se você demorar nesse banheiro, eu terei que entrar para tirá-la.
— A voz firme de Axel me assusta tanto, que quase escorrego.
— Ah! — grito ao me segurar no box, mas é uma péssima ideia, porque
está molhado e escorregadio.
— Isadora! — Ele tenta abrir a porta, mas não consegue porque eu a
tranquei. — Abra essa maldita porta, Isadora! — Me encolho com seu tom de
voz.
— Eu estou saindo! — grito nervosa.
— Isadora! — dessa vez meu nome sai em forma de aviso.
— Eu não caí, juro! — falo a primeira coisa que me vem na cabeça.
— Saia, ou eu vou quebrar a porta! — dessa vez ele fala com menos
irritação.
Quando consigo entender suas palavras, eu saio do chuveiro, para
encontrar um roupão pendurado. O pego, me visto rapidamente e assim que
alcanço a porta, eu a destravo.
Axel nem espera que eu abra à porta para estar em cima de mim,
averiguando se está tudo bem comigo. Acho estranha essa preocupação, mas
não tenho tempo de raciocinar direito, porque sou surpreendida com seus
lábios firmes se juntando aos meus.
De início, é um simples selinho, mas logo tudo muda. A sua mão grande
segura com firmeza atrás da minha nuca e ele força sua língua dentro da
minha boca.
Eu não sei o que fazer e me sinto perdida, mas quando eu provo seu sabor,
o meu corpo inteiro se derrete. Sou amparada pela dominância de seu braço
na minha cintura e me vejo correspondendo o beijo da maneira que Axel
quer.
Ele me beija com loucura, provando cada parte de mim, fazendo a minha
cabeça girar. Eu consigo sentir cada nervo do meu corpo, meu coração bate
de forma incontrolável e eu me vejo amando isso.
Amando o seu beijo, amando a forma que ele está me pegando com se eu
fosse a coisa mais preciosa do mundo. Isso traz lágrimas aos meus olhos, eu
posso sentir tudo, é algo terrivelmente impressionante.
Axel afasta os nossos lábios e dá uma simples puxada no canto da minha
boca, logo voltando a sua seriedade.
— Nunca mais tranque à porta para mim, ouviu bem? — Pisco algumas
vezes até entender o que ele está falando.
— Sim, Axel! — respondo em forma de sussurro.
— Estamos entendidos, minha menina? — Axel pergunta e eu assinto.
— Você me beijou? — pergunto e é a vez de ele concordar.
— Beijei sim, mas eu tive que parar para não fazer algo que você ainda
não está pronta — ele diz e eu fico confusa.
— Porque você me beijou, ninguém nunca… nunca havia me beijado
assim — deixo escapar e sua mandíbula fecha com força.
— Ainda bem, porque eu iria atrás do infeliz. — Arregalo os olhos. — E
eu te beijei porque eu quis, porque você me pertence, Isadora. Vou beijar
você sempre e vou te mostrar o quanto isso é prazeroso. — Olho nos seus
olhos cor de ônix para saber se ele está mentindo para mim.
— Você está falando a verdade, não está? — pergunto, tentando diminuir a
confusão em minha cabeça.
— Eu não minto e não falo meias verdades, não sou feito disso — a frieza
com que ele fala me faz entender bem.
— Eu tenho medo de você — falo a verdade, o fazendo dar outro sorriso
fantasma.
— Eu ficaria chateado com você se não tivesse medo de mim. — Se eu o
conhecesse, poderia dizer que ele acabou de me zoar. — Isadora, eu não sou
um bom homem, eu mato pessoas, faço coisas que gente de bem não faria,
mas nunca vou te machucar e não deixarei que ninguém o faça, porque se
fizer, eu acabarei com a vida do desgraçado. — Ele me abraça com força.
— Eu não deveria estar estática ao descobrir que você comete
assassinatos? — pergunto confusa, aproveitando o abraço.
— Deveria, mas não vai! — Sua segurança é impressionante.
— É, eu acho que não vou, pelo menos, não agora. — Meus braços
entrelaçam a sua cintura involuntariamente.
— Bom, muito bom! — Axel fala com firmeza e eu posso sentir o cheiro
maravilhoso que o meu raptor tem.
Eu sei que não devo gostar tanto de estar em seus braços, muito
provavelmente eu irei entrar em um surto, porém, não agora.
Nesse momento eu só quero aproveitar que existe alguém que olhou para
mim, mesmo que ele seja de um modo tão oposto ao meu e de qualquer
pessoa que não possua uma ficha criminal.
Ainda estou abraçada ao Axel e eu não sei o que sentir, muito menos, o
que pensar. Toda essa situação é tão estranha e, ao mesmo tempo,
ridiculamente reconfortante.
Não que eu queira dizer que o meu captor é reconfortante, pelo menos, não
tanto. Acho que pelo fato de nunca ter vivido tal coisa, nunca ter sentido esse
turbilhão de sentimentos loucos e tão inapropriados, faz de mim uma maluca
por estar sentindo algum conforto nisso tudo.
Mas eu não sei, tudo é tão errado na minha cabeça, só que todo meu corpo
se sente bem ao ter esse homem perigoso preocupado comigo de algum
modo.
Ele me beijou, beijou a menina que todos afirmam que é estranha e feia.
Acabei de ser tocada intimamente por um homem que parece não enxergar
em mim o que todos os outros enxergam, o que eu mesma vejo.
Será que ele é cego, ou louco?
Não, Dora, você não pode pensar essas coisas, não pode gostar dos beijos
desse homem.
Sabe-se lá Deus que coisa perversas ele pode fazer comigo. Sei que Axel
disse que não vai me matar, mas eu não posso confiar, não é?
As pessoas estão propícias a se decepcionar e eu sei bem o que é isso, pois
já vivi por diversas vezes. E mesmo pensando que já estou calejada pelas
dores da vida, nunca vou deixar de sentir os efeitos causados por uma
decepção.
— Vem, vou te alimentar! — Axel fala com firmeza. Ele pega minha mão
e já está pronto para me puxar, mas eu empaco no lugar.
— Eu não tenho nada para vestir, estou de roupão — falo, olhando para ele
com o cenho franzido.
— Você não precisa de roupas agora! — sua voz soa firme e decisiva.
— Por quê? Eu vou ficar de roupão para sempre? — Minha voz sai alta e
ele me encara com a sobrancelha erguida.
Ao notar o que eu fiz, abaixo a cabeça, me sentindo envergonhada.
— Levante a cabeça, Isadora — ordena. — Não precisa ficar
envergonhada, só não grite, tudo bem? — Sinto que ele está me observando.
— Fale o que você quiser comigo, mas não precisa gritar — Axel diz,
levantando o meu queixo, e eu encaro seus olhos negros, que brilham como
uma noite sem estrelas. — Agora, com relação as suas roupas, não se
preocupe, amanhã vamos juntos comprar tudo. — Pisco várias vezes para me
orientar do que eu acabei de ouvir.
— Eu não preciso de roupas novas, eu tenho… — começo a falar, mas ele
coloca o dedo indicador na frente dos meus lábios.
— Você começará com uma nova vida agora, Isadora — avisa. —
Portanto, não me retruque. Eu odeio que se colocam contra ao que digo! —
enfatiza, fazendo um arrepio subir na minha espinha.
— E como eu vou dormir? — pergunto confusa e seu olhar intenso me faz
engolir em seco.
— Nua, é claro! Na intimidade do nosso quarto você não precisa se vestir
— fala tranquilamente e eu dou um passo para trás.
— Eu não vou fazer isso! — exclamo. — Não vou dormir pelada com
você! — tento falar com o máximo de firmeza na voz.
Ele não responde nada e anda até o criado mudo para pegar algo que eu
não consigo enxergar o que é.
— Não é hora de discutir, você está com fome. Venha! — Axel aponta
para mesa pequena perto das grandes janelas. — Aqui, use isso! — Ele se
aproxima e coloca meus óculos no meu rosto.
— Oh, eu não tinha visto — falo, espantada e agradecida.
— Eu percebi, coloquei ele estrategicamente perto de você, mas estava
mais preocupada em me atacar com a luminária do que pegar seus óculos —
acrescenta.
Se eu fico constrangida com o que ele acabou de falar?
É óbvio que fico!
— Joga na cara! — murmuro em português, com as bochechas vermelhas.
Axel cerra os olhos na minha direção, mas não fala nada.
— Venha comer, eu não gosto de saber que você está com fome e ainda
não se alimentou ainda. — Sua expressão está séria e eu vou até a mesa.
Olho para o chão pela primeira vez e vejo que não tem nenhum resquício
da luminária que havia quebrado. Está na ponta da minha língua para
perguntar, mas logo eu mordo os lábios para não fazer isso.
Eu tenho muitas coisas mais importantes para me preocupar por exemplo,
como será a minha vida de agora em diante. Porque Axel me mostra a cada
minuto que está perto de mim, que ele é um homem dominante e que não
gosta de ser contrariado.
Não sei ainda o que pensar disso tudo, só sei que eu não quero ficar com
medo, mas o homem em torno de mim é uma figura que é impossível não
temer.
Engulo em seco e olho de relance para Axel, minha mente só grita para
mim que ele é lindo demais e que foi com ele que dei o meu primeiro beijo de
verdade.
Dora de Deus, pare com isso!
Nego com a cabeça e me encolho na cadeira quando Axel coloca o prato
na minha frente. Cerro os punhos para que a minha mão traiçoeira não vá de
encontro a sua barba. Eu quero tocar o seu rosto, sentir na palma da minha
mão se ela é tão áspera como se mostrou no meu rosto quando ele me beijou
daquela maneira tão… profunda.
Meus pensamentos conturbados cessam na mesma hora que o delicioso
aroma da comida chega até mim.
Minha boca começa a salivar ao ver o farto filé acompanhado de alguns
legumes. Isso aqui está com a aparência tão boa, que eu quero chorar.
Esqueço Axel, seu perigo, o fato que ele é assassino, o meu raptor e muitas
outras coisas que agora não tem relevância.
Ataco a comida como se fosse o meu último dia na terra e quando dou a
primeira mordida no filé, a maravilha desmancha na minha boca de tão macia
que é a carne. O molho que foi feito é de agradecer aos céus, solto um
gemido ao mastigar os legumes e sentir como estão crocantes.
Em determinado momento, sinto o olhar de Axel sobre mim, então paro de
mastigar e olho para cima. Aqui estão eles, esses olhos negros profundos, que
me encaram maravilhado.
— O que foi? — pergunto de boca cheia e ele dá um sorriso fantasma.
— Nada, continue a comer, eu só estou gostando disso. — Engulo a
comida me sentindo sem jeito. — Está bom? — a pergunta dele me faz
assentir rapidamente.
— Sim, está tudo muito bom! E esse molho? Deus, como é maravilhoso —
dou um largo sorriso, me empolgando ao falar da comida.
— Merda! — Axel solta entredentes, mudando sua expressão de leve para
irritado.
— O que foi? — pergunto espantada.
— Eu não sei se fico agradecido ou furioso com Craig por cozinhar tão
bem — Axel diz de forma calma e isso me faz rir, mas eu paro ao lembrar no
nome.
— Craig? O homem que veio ao seu socorro? — pergunto rígida e Axel
assente. — O mesmo homem que tentou me matar? — questiono só para tirar
a dúvida e ele assente novamente.
— Ele mesmo! — confirma. — Craig é um ótimo cozinheiro e ele diz que
isso o acalma — Axel fala tranquilamente e ao notar que eu ainda estou
rígida, ele respira fundo. — Não se preocupe, minha menina, ele só estava
fazendo o trabalho dele, não foi nada pessoal — Axel diz, se aproximando.
— Nada pessoal, você diz? Eu não vejo desse jeito. — Estremeço quando
sinto sua mão encostar na minha bochecha.
— Não se preocupe, tudo bem? — Ele está tão perto que eu engulo em
seco, mesmo assim, consigo concordar.
— Aqui está sujo de molho, tão desastrada — o sussurro na sua voz me
deixa hipnotizada. E antes que eu possa ter qualquer tipo de reação, Axel me
beija. Me derreto novamente nos seus braços e eu não posso deixar de sentir
o meu coração bater de forma rápida. — Pronto, agora está limpa! Já
terminou sua refeição? — ouço sua pergunta e eu assinto.
— Sim! — falo desnorteada.
— Certo, vou levar as coisas lá embaixo. Por que você não vai escovar
seus dentes para dormimos? — Quando ele se afasta de mim, eu posso puxar
a respiração que não fazia ideia que estava segurando.
“Esse homem tem algum poder sobre mim, não é possível!”
— Axel, posso te perguntar uma coisa? — indago como a mulher corajosa
que sou. Só que não!
— Claro, Isadora! O que quer saber? — Axel responde calmamente.
— Onde está meu celular? — questiono, brincando com o cordão do
roupão.
— Joguei fora — ele diz e fico boquiaberta.
— Como assim, jogou fora? — pergunto sem entender.
— Ele estava muito velho e em péssimo estado, não poderia deixar você
usar aquilo. Mas não se preocupe, que amanhã vamos repor ele por um
melhor — Axel diz como se não fosse nada, saindo do quarto logo em
seguida e levando o meu prato sujo com ele.
Fico paralisada, sem saber muito o que pensar depois do que eu ouvi.
Cadê o sentido desse homem?
Será que ele não tem nenhum?
Já não bastou me tirar do conforto do meu lar, me tirar as roupas, me
deixar trancada em um quarto desconhecido, me fazer comer a comida
deliciosa do homem que puxou uma arma para mim e nem teve pena da
pobre coitada que sou?
Não bastou!
Porque, além disso tudo, ele ainda teve a audácia de jogar o meu celular
fora. Tudo bem que ele era daqueles antigos, mas o que isso tem demais?
Meu celular funcionava muito bem, ele não me dava dor de cabeça. Então,
por que ele tem quer mudar tudo na minha vida assim?
Por quê?
Argh!
Tento encontrar alguma resposta para minha pergunta, mas não consigo. E
é por isso que saio pisando duro e vou novamente para o banheiro. Fecho a
porta e tranco a fechadura, mas eu paro ao lembrar no quão louco Axel ficou
da última vez que fiz isso. Então corro para destrancar, porque tudo que
menos quero nessa vida é aquele homem derrubando portas por minha causa.
Soltando uma respiração frustrada e vou procurar uma escova de dentes
nova. Lembrando que estou fazendo isso por mim e não porque Axel
mandou, eu uso aparelho odontológico e tenho que higienizar. Escovo meus
dentes, jogo uma água no meu rosto para ter certeza de que estou acordada e
saio do banheiro antes que eu resolva me encolher no chão em posição fetal.
Minha intenção é esperar por ele, mas me surpreendo ao vê-lo já no quarto.
Meu queixo vai ao chão ao ver Axel sem camisa, seus ombros são largos,
mas não é isso que chama minha atenção. O que me deixa mortificada e
encantada ao mesmo tempo é a enorme tatuagem que ele tem nas costas.
Vou me aproximando devagar para que a tinta negra comece a fazer
sentido e consigo decifrar perfeitamente um incrível anjo da morte. Minha
mão coça para tocar e quando a ergo para sentir o desenho sombrio, sou
surpreendida por Axel girando e segurando minha mão.
— Gostou da minha tatuagem? — ele pergunta, me deixando sem reação,
pois, não é isso que eu esperava.
— Pensei que você iria brigar por querer tocar — solto, assustada.
— Por quê? Eu não ligo que você me toque, mas eu queria deixar essa
expressão no seu rosto — Axel diz calmamente, me deixando mais confusa
ainda.
— Expressão? Que expressão é essa? — Franzo o cenho.
— Como se eu fosse um grande lobo mau e fosse te devorar — ele diz com
seu rosto próximo ao meu, mas logo vai se afastando. E é aí que eu vejo os
curativos no seu tórax.
— Oh Axel, esqueci que você está ferido! — falo nervosa, me soltando
dele para ver suas bandagens. — Está doendo? — pergunto ao ver um pouco
de sangue.
— Não, minha menina, eu estou bem. — Posso sentir a leveza nas suas
palavras.
— Mas você está sangrando! Como pode estar bem? Você deveria estar de
pé? — disparo a perguntar.
—Você realmente é uma coisa de outro mundo, Isadora Martins. Vamos
dormir, amanhã será um dia cheio para você. — Axel ergue sua mão e eu a
seguro, desconfiada.
— Suas feridas estão bem mesmo? — pergunto em tom baixo.
— Estão sim, minha menina, isso aqui não me incomoda. — Ainda fico na
dúvida, mas o sigo.
Observo-o atentamente tirar o restante de sua roupa e queria muito tirar os
olhos dele, mas não consigo. Axel é uma figura masculina que chama
atenção.
Seu corpo não é tão inchado de músculos como alguns homens que
existem por aí, porém, pelos seus movimentos dá para ver que é rígido em
todos os lugares.
Quando ele se livra da sua calça, deixando exposta sua cueca preta e muito
justa, eu sinto que vou começar a babar.
Quero me bater por estar dessa maneira, mas eu não consigo achar um
controle de mim mesma. Me assusto repentinamente quando vejo um certo
volume marcar a frente da sua cueca.
E para não ficar como a virgem sem salvação que sou, eu coloco a minhas
duas mãos no rosto.
Tento não ver, tento não demostrar o quanto estou hipnotizada com tudo o
que estou vendo, mas não dá, simplesmente não dá.
Não é como se eu nunca tivesse visto um homem nu, sabe. Filmes, séries e
internet está aí para isso, posso nunca ter tido nenhuma experiência carnal,
mas eu não sou nenhuma besta completa. Contudo, Axel vai além de tudo.
Ele está terminando de tirar as meias quando, de repente, levanta a cabeça
e encontra o meu olhar. É um olhar tão pesado e intenso, que é impossível
não sentir os pelos da nunca se arrepiarem.
“Que homem é esse? Como ele consegue me deixar despida só com esse
olhar?”
— Tire o roupão, Isadora— ele manda e eu dou um pulo.
— Como é? — pergunto nervosa.
— Tire o roupão, que vamos dormir — diz novamente e eu começo a
negar com a cabeça.
— Eu não vou fazer isso! — falo com altivez, negando furiosamente.
— Você vai sim! — ele me retruca. — Ou será que quer que eu vá até aí
para tirar? — eu não posso acreditar no que ele está falando.
— Você não pode forçar uma mulher a ficar nua na sua frente. — Eu posso
ouvir a minha exasperação.
— Posso sim, principalmente quando essa mulher é a minha mulher. — As
suas palavras chegam como um soco bem dado na mandíbula.
Oh, minha Nossa Senhora Protetora das Mulheres Feias!
— Eu não sou sua mulher! Eu sou mulher de mim mesma! — Meus nervos
já estão à flor da pele.
— Fale em inglês, por favor! — Axel diz entredentes.
— Eu disse que não sou sua mulher! — bufo com indignação. E com um
rosnado e dois passos, Axel está sobre mim, me beijando loucamente.
Ele enfia a língua na minha boca, me deixando novamente sentir o seu
sabor, e é impossível não soltar um gemido de apreciação.
— Você sente isso, não sente? — pergunta de forma perigosa, me fazendo
assentir de forma assustada. — Eu também sinto e é por isso que não vou
deixá-la ir. Você é minha, Isadora! — Ele não está irritado e é exatamente
isso que mais me assusta.
— Eu não gosto disso — falo com tremor.
— Eu sei, mas eu vou fazer você gostar. Da melhor forma possível, você
vai ver só. — Axel deixa um beijo casto nos meus lábios e vai apagar as
luzes.
Aproveito que ele se afastou e com toda rapidez do mundo, eu tiro o
roupão, jogo em qualquer lugar, afasto os lençóis e me jogo na cama para me
cobrir dos pés à cabeça.
Tudo o que eu mais quero agora é chorar de vergonha e medo, só que eu
sei se eu fizer isso não vai mudar a minha situação. Então, eu espero que seja
lá que for acontecer, aconteça da forma mais rápida. Quando percebo que o
outro lado da cama afunda com o peso de Axel, meu corpo inteiro fica
endurecido.
Sou totalmente surpreendida quando ele me puxa contra o seu corpo, mas
não faz nada além de me abraçar. Minhas costas estão pressionadas no seu
peitoral, seu membro endurecido e preso no tecido da cueca está contra o
meu quadril e seu rosto afundado entre os meus cabelos.
— Seu medo é como um fio grosso, minha menina, eu só quero dormir ao
seu lado e sentir o toque da sua pele na minha — Axel fala em tom baixo e
rouco.
— Por quê? — minha pergunta sai em forma de sussurro.
— Por que o quê? Por que eu quero sentir sua pele? — Confirmo,
acenando com a cabeça. — Porque tocar você me acalma e eu descobri isso
quando estava sangrando naquele beco.
— Oh! — solto o som sem saber o que falar.
— Se ficar pensando que eu quero matá-la ou abusar de você sexualmente,
eu vou surrar essa sua bunda bonita — ele fala entredentes e me mexo de
forma desconfortável. Mas o braço forte de Axel aperta com força, me
fazendo parar. — Não provoque o meu monstro controlado, Isadora.
— Axel? — chamo com cautela.
— Oi, minha menina? — pergunta, cheirando meu cabelo.
— Eu não conheço nada de você — falo o óbvio.
— Você vai ter tempo, mas para isso eu preciso da sua confiança, porque
eu odiaria mostrar quem eu sou e vê-la fugindo de mim. — Pela sua voz, eu
noto o quão chateado ele fica com a possibilidade.
— E seu eu fugisse, o que você faria? — eu não estou vendo, mas eu posso
jurar que ele está com o seu sorriso fantasma no rosto.
— Eu sou um ótimo rastreador, minha menina, eu te traria de volta para
mim. Pode apostar que sim! — Eu sei reconhecer uma promessa velada
quando ouço uma.
Meu coração acelera a batida ao ouvir as palavras de Axel.
Eu estou tão confusa com esse homem, porque minha cabeça diz que é
errado, mas o meu coração grita que de um jeito ou outro ele precisa de mim.
Não sei de onde isso vem, mas seja o que for, eu tenho que descobrir.
E é assim que eu adormeço, nos braços do meu raptor. E por mais incrível
que possa parecer, ele me traz um certo conforto.
No dia seguinte, acordo sozinha na enorme cama de Axel. Ainda
sonolenta, eu olho para todos os lados a procura dele, mas não o vejo em
lugar algum.
Ao perceber que estou realmente sozinha, me deito novamente na cama,
olhando fixamente para o teto de gesso branco bonito. Começo a reunir na
minha cabeça toda a confusão na qual me encontro e estou me sentindo em
um filme de romance ruim, ou será que é terror?
Seja como for, tudo ainda parece estranhamente louco na minha cabeça,
porque tenho certeza de que está tudo muito errado. Eu dormi ao lado do
homem que ao mesmo tempo que me apavora, também me faz sentir coisas.
Coisas essas que para mim são desconhecidas e assustadoras.
Eu não deveria ter gostado de estar na mesma cama que ele, não deveria
gostar do calor que emana, não deveria achar que o corpo grande e duro de
Axel traz algum conforto e me dá a incrível sensação de estar protegida.
Proteção essa que eu não sinto desde que tinha idade suficiente para
entender que o mundo é um lugar ruim, que os meus pais são velhos demais
para lidar com certas coisas e que o tempo que tenho com eles não será o
suficiente.
Mamãe sempre fala que ela e papai estão velhos, que eu devo me casar
para não ficar sozinha quando eles forem para o outro lado.
Besteira!
Eu nunca gostei de ouvir essas palavras de mamãe, porque eu sei que a
idade avançada dos dois é um fator para ter certeza de que elas são reais.
Mas o que mamãe não sabe é que tudo que eu conto a ela sobre ter vários
amigos e que eu saio alguns finais de semana para me divertir, é mentira.
É tudo mentira, acho que tudo que eu falei para os meus pais desde a
minha adolescência até agora foram mentiras. E eu não sei descrever a
vergonha que sinto ao pensar sobre isso, não tem como não me sentir uma
péssima filha.
Sempre fala que tinha muita companhia na escola, que estava chorando
porque que assisti um filme muito bonito na aula de história, que iria para
festa de aniversário de uma amiga, mas na verdade eu estava debaixo da
árvore lendo um livro. E a pior de todas, cheguei a dizer aos meus pais que eu
tinha um namorado, porém, não o via muito, porque ele estava trabalhando
fora.
Deus, só agora me dou conta de quantas mentiras contei e ainda conto!
Eu me odeio por isso, mas todas elas tiveram e ainda têm um motivo,
evitar preocupá-los.
Meus pais já me deram tudo, me deram um nome, um lar amoroso e
compreensivo, uma infância feliz, onde corria por todos lugares aos arredores
da pequena casa. Me deram uma família, que por mais que eles não sejam tão
próximos a mim, continuam sendo uma família, certo?
Eu aprendi desde muito nova a dar valor as coisas que tenho, mesmo que
sejam mínimas e de pouco valor para muitos.
E tudo isso, todos esses ensinamentos simples e muito valorosos, devo a
eles. Meus humildes e gentis paizinhos, eles são umas bençãos na minha vida
insignificante e é por causa deles que eu tenho que sair dessa situação.
Eu não posso ficar ao lado de um homem como Axel, não posso sentir
prazer em ser notada, tocada. E o meu maior medo de todos é ser conquistada
por ele e a sua escuridão. Algo nesse homem me faz temer e sentir segura ao
mesmo tempo, o seu beijo…, nossa o seu beijo foi tudo!
Tudo o que eu nunca sonhei apreciar e seja como for, eu não devo mais ter
isso. Vou ver um jeito de escapar das garras quentes e confortáveis de Axel
Cox, devo isso aos meus pais.
Com isso em mente, me levanto da cama e coloco o roupão que estava
descansando aos pés da cama. Noto que ao lado estão algumas peças de
roupas dobradas. Me sinto estranhamente feliz ao ver que é uma calça jeans,
uma blusa lisa e sem muitos detalhes, na cor preta, e um conjunto de calcinha
e sutiã da mesma cor, com rendas muito delicadas ao toque.
Ver a lingerie faz o meu rosto esquentar, porque nunca sequer
experimentei algo assim. E para terminar de completar, tem um tênis branco,
muito bonito.
Nitidamente, Axel quer que eu vista essas peças e isso causa uma luta
interna, me faz pensar se deveria ou não aceitar. Mas a indecisão acaba
quando noto que se não vestir essas roupas, eu vou acabar ficando somente
de roupão. E isso é tudo o que menos quero.
Carrego a roupa junto comigo e vou ao banheiro. Chegando lá, eu escovo
os meus dentes e vejo que os meus cabelos estão com a aparência de
vassoura. E como não tenho nenhum mísero prendedor comigo, resolvo
passar a mão por cima de qualquer jeito. Minha tentativa de arrumar os fios
com os dedos resulta em uma bagunça maior ainda, solto um bufo
descontente e decido tomar um banho, deixando esse problema capilar de
lado.
Acabo o banho e me visto com a roupa que Axel deixou, fico
impressionada quando todas as peças cabem em mim como uma luva e
quando me olho no espelho, arregalo os olhos ao notar como fiquei diferente.
— Oh, meu Deus! — murmuro, olhando meu reflexo.
Eu nunca tive a oportunidade de me ver em uma calça jeans e eu sempre
sonhei em ter uma, mas como a minha mãe sempre costurou os meus
vestidos, nunca questionei.
Aliás, todo o meu guarda-roupa é composto por vestidos e saias longas
feitas por dona Maria José, eu só tenho uma calça larga de moletom, que uso
mais como pijama, às vezes, coloco para ir ao mercadinho na esquina, não
mais que isso.
Ela é larga e bastante confortável, fora isso, não tenho outras. Agora é
diferente, estou usando uma calça jeans que abraça minha perna de forma tão
perfeita e ainda me faz ter um bumbum. Pensar nisso me faz rir, não posso
me conter.
Após ficar alguns minutos me admirando como uma retardada, saio do
banheiro e vou testar a porta para ver se Axel me trancou aqui novamente.
Giro a maçaneta e ela abre, me deixando tão feliz que sou capaz de dar um
soco no ar, mas não faço, para evitar constrangimentos.
Sem pensar duas vezes, eu saio do quarto e olho para os dois lados, vendo
como esse corredor é gigantesco. Antes que eu possa pensar em me perder
nesse lugar, consigo ouvir vozes irritadas.
Sigo as vozes e chego em frente a uma escada, que só se vê em novelas das
nove. Começo a descer os degraus, mas paro quando ouço meu nome sendo
falado.
— Eu não posso levar a Isadora agora com a gente, ela não está
acostumada comigo ainda. — Essa voz é de Axel e ouvir isso me faz franzir
o cenho.
— Você pode muito bem deixar essa menina aqui — outra voz fala e eu
não reconheço de quem possa ser.
— Eu não vou deixá-la longe de mim, porra! — Axel diz e posso notar a
sua irritação.
— Não será muito tempo, só o necessário para fazer o serviço — alguém
comenta, fazendo meu coração bater rápido.
— É um bom dinheiro, você não pode negar. — Fico quieta para que não
saibam que eu estou ouvindo.
— Eu ainda não sei quem fodeu o meu trabalho aqui no Brasil. — O tom
de Axel é baixo e perigoso.
— Isso é pelo dinheiro? Isso não foi nada! — A confusão da outra voz é
nítida.
— Você sabe muito bem que eu estou me fodendo pela perda do dinheiro.
Eu quero esfolar vivo quem me fodeu, ele me fez sangrar e eu vou fazer
muito além do que isso quando eu descobrir quem foi. — Meu estômago
embrulha com as palavras letais de Axel.
— Eu não posso tirar isso de você, mas podemos fazer o trabalho e voltar.
Temos homens que podem vigiar sua menina. — Tapo minha boca com uma
mão trêmula.
— Não me force, Russel! — seu aviso é claro.
— Chefe! — ouço o outro homem chamar e o meu coração bate acelerado.
Deus, eles sabem que eu estou aqui.
“Aja naturalmente Dora, você não fez nada, só estava descendo as
escadas.”
Tentando parecer a rainha da naturalidade, eu desço as escadas. Vou
rezando mentalmente para que minha cara não demostre que eu ouvi a
conversa e que ela me assustou tanto, que estou pensando em fugir para o
mais longe possível. Engulo em seco ao levantar a cabeça e dar de cara com
quatro homens com posições rígidas e olhares duros.
O primeiro que fixo o olhar é Craig e é impossível parar o frio que toma
conta da minha espinha quando lembro dele puxando uma arma prata e
apontando na minha direção. Só que mesmo com medo, eu não posso negar
que ele é um homem de aparência bonita e exótica, com todas essas
tatuagens, olhos acinzentados e estrutura larga.
Aperto as minhas mãos juntas com força e desvio o olhar para o próximo
homem. Eu não sei o seu nome, mas ele tem cabelos castanhos claros, seu
corpo tem estrutura larga como o de Craig, porém, tem uma aparência mais
normal, não vejo tatuagens ou coisa parecida. Seus olhos são um mistério
para mim, pois não consigo decifrar a cor exata deles.
O terceiro é totalmente diferente dos outros dois, ele é menor, mas consigo
ver que tem um corpo forte. Sua pele é branca, fazendo um contraste com
seus cabelos loiros e olhos azuis. Esse homem pode passar uma aparência de
inofensivo, entretanto, eu não tenho como deixar de lado o olhar firme que
está me dando.
— Isadora! — A voz irada de Axel tira minha atenção dos outros três para
que eu olhe na sua direção.
Meu coração fica acelerado ao ver a cara de poucos amigos que ele está
fazendo. É como se quisesse arrancar a minha cabeça fora do lugar, mas eu
não entendo o porquê da sua ira.
Será que é porque ele sabe que ouvi as coisas que eles estavam
conversando?
Ou será que e porque eu saí do quarto e não deveria ter saído, é isso?
Mas ele deixou a porta aberta, então eu achei que estava livre para sair.
Axel mesmo disse que eu não era uma prisioneira, então, por que isso?
Ele vem andando na minha direção, eu abro a boca para falar alguma coisa,
mas nada sai.
— Viu alguma coisa que achou interessante? — Axel pergunta em voz
baixa e furiosa, olhando nos meus olhos.
— N… não! — gaguejo, fitando-o com medo.
— Eu não gostei disso! — ele fala entredentes. — Você não deve ficar
encarando outros homens assim — diz com fúria e minha cabeça entra em
um bugue.
— O quê? Eu não estava olhando… — Vou falando meio bugada.
— Estava sim, eu vi! — Dessa vez eu consigo perceber o que o Axel quer
dizer.
— Você acha que estou olhando para eles com interesse? — pergunto, me
curvando para olhar novamente para os homens, mas Axel é mais rápido e
tapa a minha visão.
— Isadora! — ele fala meu nome de um jeito que eu poderia ter medo se
não estivesse querendo gargalhar.
— Esses homens tentaram me matar, Axel, não acho eles nem tão bonitos
assim — falo, me controlando para não rir, mas eu não aguento por muito
tempo e caio na gargalhada.
— Ei, me ofendeu! — um deles grita, mas eu não consigo identificar qual,
porque Axel está na minha frente.
— Acho bom! — Axel resmunga, me puxando para os seus braços,
fazendo minha risada enfraquecer. — Você está magnífica nesse jeans! — ele
diz com a boca próxima ao meu ouvido.
Como esse homem é cheiroso!
— Obrigada! — agradeço, totalmente constrangida.
Eu fui elogiada! Não xingada e esculachada, mas elogiada!
— Dormiu bem? — Axel pergunta, passando os braços na minha cintura e
me puxando para si. Sem saber o que dizer, eu somente concordo. — Bom
dia, minha menina! — diz, deixando um beijo forte contra os meus lábios.
Se eu fosse outra pessoa, poderia jurar que o Axel está com ciúmes de
mim, mas logo descarto essa ideia ilusória da minha cabeça. Sem me dar
alguma chance para pensar, ele fica ao meu lado, com os braços possessivos
ao meu redor, e resolve apresentar os homens em minha frente. Esquecendo
totalmente a cena que ele fez poucos minutos atrás.
— Aquele ali é o Craig Cox, mas acho que você lembra o nome dele —
Axel fala friamente, apontando para o homem, percebo que disse Cox
também, como ele.
— Espera aí, ele também é Cox. — Olho para Craig, que só faz um
pequeno gesto com a cabeça.
— Sim, ele é o meu irmão mais novo — Axel explica e eu não posso
conter a minha surpresa.
— Irmãos? Vocês nem se parecem! — solto, me arrependo no mesmo
momento.
Você e sua boca falastrona, Dora!
— Mães diferentes! — A voz grossa e raivosa de Craig me faz saltar no
lugar.
Sem dizer mais nenhuma palavra, ele se vira e segue em direção ao outro
lado.
— Aqueles são Earl Kampmann e Russel Sanchez! — Axel aponta para o
loiro, que me dá um sorriso completo, e depois para o homem de cabelos
castanhos, que faz um simples gesto com a mão.
— Bom dia! — Earl é educado em desejar e eu dou um sorriso sem graça.
— Bom dia! — Desejo ainda sem graça.
— Tenho certeza de que você está faminta, vamos tomar café! — Axel fala
e começa me arrastar com ele.
Não faço ideia de onde Axel está me levando, mas seja como for, se é para
tomar café da manhã, eu vou de bom grado. Estou com fome!
Nessa vida tem que acontecer algo muito grave para poder tirar o meu
apetite e por mais que esteja morrendo de medo em estar no mesmo ambiente
que esses homens, não vou deixar de comer.
Chegamos à sala de jantar e de cara eu posso ver a mesa posta com
maestria. Fico me perguntando onde estão os ajudantes do lugar, mas eu não
preciso esperar muito tempo para perceber que não foram ajudantes que
fizeram esse banquete e sim o Craig. Isso porque ele aparece com uma
bandeja com alguma coisa e descansa na mesa, sem olhar na direção de
ninguém.
Russel e Earl se sentam em seus lugares, enquanto Axel me faz sentar ao
seu lado. Quando Craig se acomoda também, após trazer um suco que parece
ser de laranja, todos começam a atacar a comida na mesa. Sem dizer uma
palavra, Axel vai colocando um pouco de cada coisa no meu prato, só não
vou reclamar porque vou comer de um jeito ou de outro.
Tomo um pouco do suco e quando mastigo o primeiro pedaço de waffle,
quase morro. Esqueço que estou à mesa com um bando de homens que
podem me matar somente com um soco e começo a atacar a comida. Devo
estar parecendo uma louca faminta, mamãe estaria me repreendendo se me
visse assim, mas em minha defesa, ela não está provando essa maravilha que
é a comida de Craig.
— Craig, isso aqui está uma delícia! Você é muito bom nisso! — falo,
após engolir um bocado. Olho em direção a ele e posso vê-lo surpreso com o
meu elogio repentino. — O que foi? Eu não deveria… — Fico sem graça ao
ver sua reação e olho para Axel.
— Não, está tudo bem. É porque Craig não sabe receber elogios — É Earl
que explica e eu franzo cenho.
— Mas…, mas a comida é muito boa — falo nervosa.
— Obrigado! — Craig agradece em forma de resmungo, voltando a comer.
— Onde você aprendeu a cozinhar assim? — pergunto, tentando ser
amigável.
— Foi na prisão! — Russel conta e eu paraliso.
Certo, prisão!
Oh Deus, prisão!
Uma prisão de verdade, não é?
O que estou fazendo aqui, meu senhor?
— Calma, Isadora, você parece que vai desmaiar a qualquer momento —
Axel fala calmamente, olhando na minha direção e colocando a sua xícara
com café na mesa.
— Não, não é nada disso! — nego com a cabeça, dando um sorriso
amarelo. — Pode me dizer que horas são? — pergunto, mudando de assunto.
— Por que você quer saber? — Axel indaga, me analisando. Estou presa
ao seu olhar e isso me faz engolir em seco.
— Porque eu tenho que fazer uma coisa, sabe — falo, sem demonstrar que
estou pensando em correr dele como o diabo corre da cruz.
— Que coisa? — Mais que homem curioso, gente!
— Se eu não estou louca, hoje é sexta-feira, não é? — pergunto
apressadamente e ele confirma com a cabeça. — Então, eu tenho um projeto
científico, não posso faltar! É muito importante. — Axel me encara, tentando
encontrar uma brecha, mas eu sustento seu olhar avaliativo.
— Entendo — Axel fala friamente.
— Você disse que eu não era a sua prisioneira. — Minha coragem
repentina vai me matar uma hora dessas.
— E você realmente não é, mas eu posso confiar em você, Isadora? —
Axel pergunta firmemente.
Fico pensando no que dizer, ele me parece um homem que odeia ser
passado para trás, mas eu não posso ficar nessa situação, não sem lutar, ao
menos, não é?
— Sim, Axel! — confirmo com um fio na voz.
— Então tudo bem, termine seu café que eu vou te levar para a faculdade.
— Paraliso ao ouvir isso.
— Você vai me levar? — pergunto e ele assente, voltando a bebericar seu
café. — Não precisa, eu posso ir de… — Engulo minhas palavras ao ver o
olhar gélido de Axel.
— Eu te levo e fim de conversa. — Sua voz sai dura, demonstrando que
não aceita menos que isso.
Acabo meu café da manhã, me controlando para não parecer uma pessoa
que está planejando fugir. Quando nós dois terminamos, Axel me faz subir
para escovar os dentes.
Já pronta, eu sou levada para fora, onde um carro grande e muito luxuoso
espera por nós dois. Me sento no banco do passageiro, observando Axel
colocar os óculos escuros antes de dar partida. A viagem até a faculdade é
feita em um silêncio desconfortável, faço de tudo para não olhar o seu perfil
lindo, mas falho miseravelmente.
— Chegamos! — Axel fala, me assustando. Olho pela janela e posso ver a
entrada da faculdade.
— Obrigada por me trazer! — Minha voz sai baixa e quando me viro para
abrir a porta do carro, sou parada pela mão de Axel. — Oi… — Sou puxada
contra o seu corpo, para que sua boca possa tomar a minha com uma avidez
enlouquecida.
— Tenho algo para você — ele fala após separar nossos lábios, estou tão
absorta por causa do beijo, que não digo nada e só confirmo. — Aqui está a
sua bolsa, eu estava pensando em lhe comprar uma nova hoje, como as outras
coisas que irei te dar também. Mas você tem projeto científico, não é mesmo?
— Concordo, ainda sem usar as palavras. — Dentro tem o celular novo que
havia lhe prometido porque joguei aquele seu velho fora.
— Tudo bem! — falo assim que encontro minha voz.
— Tenha uma boa aula, minha menina — ele diz. — Vejo você quando a
aula acabar. — Engulo em seco com o tom de voz que ele usa.
Saio do carro com a certeza de que eu posso sentir os olhos de Axel em
mim. Fico tentada a tirar o celular da bolsa, mas não faço, pois, não é hora
para isso.
Eu tenho que correr se quiser ficar longe de todo esse perigo que ele e os
seus comparsas podem me causar. Sem me importar com os olhares estranhos
que estou recebendo pelos corredores, vou em direção a biblioteca. Assim
que entro no local desejado, começo a procurar pela única pessoa que eu acho
que pode me auxiliar com essa bagunça. Ainda é cedo, eu sei, mas pode ser
que… achei!
— Lara! — chamo alto, recebendo olhares de repreensão. Abaixo minha
cabeça e caminho rapidamente até minha nova e única amiga.
— Dora, o que faz cedo aqui? — Lara abre um lindo sorriso ao ver.
— Você disse que queria ser minha amiga, não é? — pergunto
envergonhada e ela assente rapidamente. — Será que eu posso pedir um favor
para você?
— Claro Dora, o que você precisa? — Lara pergunta de forma prestativa.
— Será que quando a aula acabar, eu posso ficar essa noite na sua casa? —
pergunto e no mesmo momento Lara sorri largamente, confirmando com a
cabeça várias vezes.
— Ah Dora, vai ser muito legal! Eu vou adorar poder te conhecer melhor!
— ela fala e eu dou um pequeno sorriso.
— Sim, vai ser legal! — concordo sem jeito.
Se tudo der certo, amanhã mesmo eu vou para casa dos meus pais. Assim,
ficarei bem longe de tudo isso e, principalmente, de Axel.
Mas por que será que eu não estou pulando de alegria e alívio?

Observo Isadora caminhar a passos largo em direção a entrada da


universidade e aperto o volante com força, até os nós dos meus dedos ficarem
brancos. Uma onda de raiva toma todo o meu corpo ao ter a certeza de que
ela faltará com sua palavra e tentará fugir de mim.
Ela fará algo, não preciso de muito para ver isso, minha pobre menina não
sabe esconder suas emoções.
Tão desajeitada, tão inocente e totalmente despreparada. E é por causa
disso que vai fazer alguma tolice. Notei isso assim que ela desceu as escadas,
Isadora tinha ouvido a minha conversa com os outros e ficou mais assustada
do que já estava. Sua palidez a entregou no mesmo momento e eu tive
vontade de rir da sua transparência.
Observo pelo retrovisor um dos carros se aproximando, não preciso me
preocupar com um ataque ou coisa do tipo, porque reconheço imediatamente
o veículo.
São os meus homens. Eu mesmo poderia fazer a vigilância de Isadora,
seria um prazer inenarrável vê-la errar comigo dessa forma, mas eu tenho
negócios para fazer e planos para mudar. Sem perder tempo, eu pego o meu
celular e dou início a uma ligação.
— Sim, senhor! — um dos meus homens atende rapidamente.
— Fiquem de olho na garota, qualquer movimentação deve ser
comunicada para mim de imediato. — Minha voz soa firme.
— Sim, senhor Cox! — sua resposta soa com confiança.
— Qualquer erro custará a sua vida e de todos os homens que trabalham
para você, estamos entendidos? — pergunto entredentes.
— Entendido! — confirma.
Sem esperar por mais alguma palavra, eu desconecto a ligação. A ameaça
que eu fiz aos homens que estão trabalhando para mim foi a mais leve que eu
poderia fazer.
Não preciso ficar detalhando tudo que sou capaz de fazer a eles, já estão
comigo há algum tempo para saber que cada palavra dita por mim é como
promessa.
Promessa que cumprirei na primeira oportunidade que eles falharem.
Odeio palavras vazia, palavras soltas, que o vento pode levar e nunca mais
serem cumpridas. Sigo desse jeito em qualquer âmbito da minha vida, porque
se eu jurei te matar, pode esperar que a sua vida miserável será levada por
mim a qualquer momento.
Foi assim com o filho de uma cadela que foi o doador de esperma da
vagabunda da minha mãe. Eu jurei que iria tomar a sua vida se por algum
acaso sua mão maldita tocasse novamente no meu irmão. Ele achou que eu
estava brincando, riu da minha cara, disse olhando no fundo dos meus olhos,
apontando para o meu rosto com a sua garrafa de cerveja barata.
Aquele dia alguma chave virou na minha cabeça, meu corpo ansiava para
vê-lo fazer alguma coisa errada. Não que a ideia de ver Craig ferido me
deixasse bem, muito pelo contrário, esse fato me enojava de todas as formas.
Mas só pelo simples prazer de nos livrarmos de uma vez por todas das surras
diárias e sem sentido, já era um fodido alívio.
Ainda consigo me lembrar desse dia como se fosse ontem. O meu velho
fodido chegou na nossa casa, velha e caindo aos pedaços, no final da tarde.
Craig estava brincando com o bonequinho fajuto de madeira que eu havia
feito para ele. Eu sempre fui bom nisso, não sei como eu aprendi tal
habilidade, mas eu era muito bom, mesmo com doze anos.
Porém, o meu pai não gostava, ele dizia que eu estava perdendo tempo,
que deveria estar trabalhando para trazer dinheiro para ele. Desgraçado!
Eu mostrei a ele naquela tarde que entalhar bonequinhos para o meu
irmãozinho me ajudou a saber como cortar muito bem. Porque na sua
primeira descida de mão ao encontro de Craig, eu estava lá, com a minha faca
de entalhar.
Daquela vez eu protegi meu irmão, como sempre, mas o meu velho não
estava esperando que a minha faca iria de encontro a sua garganta. Foi
repentino, foi limpo e sem volta, porque após a surpresa, seu corpo caiu no
chão no mesmo momento. Aos doze anos, eu observei com satisfação o meu
pai se engasgar com o próprio sangue e foi tão pacífico. Depois, tudo o que
veio a seguir foi história, nada mais que uma distorcida terrível história.
Me livrando dessas lembranças inúteis, noto que cheguei até a casa que
estamos alojados. Eu pego a arma que havia guardado no porta-luvas e saio
do carro, andando em direção à porta. Assim que entro, vejo Craig me
esperando.
Ele está me olhando com uma das sobrancelhas arqueadas, então levanto a
mão e faço sinal para que me siga, indo até os outros. Encontro Russel
sentado com um notebook, enquanto Earl está no chão descascando uma
maçã.
— Mudanças de planos! — minha voz chama a atenção dos dois.
— O que foi? — Earl pergunta, surpreso.
— Vamos aceitar esse trabalho em Nova Jersey — comunico firmemente e
eles não falam nada por um tempo.
— Por que decidiu isso em tão pouco tempo? — Russel é o primeiro a
falar.
— Porque eu pensei melhor e você tem razão — falo e Russel parece
surpreso ao me ver concordar com ele.
— Sim? — ele indaga, com desconfiança.
— Sim, faremos esse trabalho e depois podemos voltar para resolver esse
problema aqui — digo e eles se entreolham.
— Então você não vai deixar isso para lá? — Earl parece confuso.
— Não, vocês sabem que eu odeio ser passado para trás. — Pressiono a
mandíbula com força.
— Então, tudo certo — Earl fala e se levanta do chão.
— Posso então começar com os preparativos da nossa viagem? — Russel
fecha a tampa do notebook e olha na minha direção.
— Pode sim, mande preparar o avião para amanhã, bem cedo — ordeno
com firmeza e ele assente.
— A Isadora ficará ou vai com a gente? — Earl pergunta, curioso.
— Ela irá também! — respondo furioso.
— Você sabe que ela irá tentar fugir de você, certo? — Craig fala ao meu
lado e eu viro a cabeça para fitá-lo.
— Eu estou esperando por isso — dou um sorriso de puro escárnio.
— O que você fará se isso acontecer? — Craig me observa atentamente.
— Vou mostrar a ela que eu odeio que faltem com a palavra comigo —
falo e Craig concorda.
— Estamos com você! — Meu irmãozinho me dá um olhar duro.
Concordo com a cabeça, porque não há necessidade de palavras.
— Vou ligar para o empregador e dizer que aceitamos o serviço —
comunico e os três concordam.
Deixo-os começarem com todos os preparativos e saio para poder fazer a
ligação. Eu realmente não iria aceitar esse trabalho, queria ficar um tempo no
Brasil para resolver essa pendência e com isso, fazer com que Isadora se
acostume comigo, iniciar aqui mesmo o seu treinamento para fazer parte da
equipe e mostrar a ela que consigo ver nela coisas que a própria nunca viu.
Vou fazer a minha menina florescer, moldá-la, castigá-la e foder a sua doce
buceta virgem até que entenda de uma vez por todas que ela é minha para
fazer o que eu achar melhor.
Merda, só o simples fato de pensar em foder minha doce menina eu fico
duro.
Tento acalmar a porra da minha excitação acendendo um cigarro. Dou
alguma tragadas antes de deixá-lo descansando entre meus lábios, enquanto
abro a mensagem com o número do meu futuro empregador.
Sem perder tempo, ligo para o número e não fico surpreso quando ele
atende no primeiro toque.
— Silas Bennett falando! — o homem praticamente grita do outro lado.
— Cox, senhor Bennett — me identifico. — Recebi o seu chamado, o que
deseja? — pergunto, mesmo sabendo o que ele quer.
— Minha filha, Cox! — eu posso ouvir o seu desespero. — Minha filha foi
raptada ontem na minha propriedade e eu não sei mais a quem recorrer. A
polícia pede para esperar, mas eu sei que minha filha corre risco de vida —
fala rápido, de modo nervoso.
— Se eu não me engano, o senhor é senador de Nova Jersey, certo? —
pergunto calmamente, antes de sugar a nicotina para os meus pulmões.
— Sim, eu sou, mas o que isso tem a ver? — Seu tom de voz endurece.
— Nada realmente, eu só quero deixar claro que se a polícia se encontrar
de algum modo comigo ou com a minha equipe, coisas ruins podem
acontecer. — Uso toda a minha frieza na voz.
— Está achando que eu poderia armar contra você? É minha filha que
estamos falando, senhor Cox! — o senador Bennett fala e eu noto o seu
nervosismo.
— Eu não sei, nessa vida temos que andar precavidos, não é mesmo? Por
isso estou dizendo o que eu vou fazer se você foder comigo e minha equipe
— aviso duramente para não restar dúvidas.
— Certo, certo, eu entendo! Só traga a minha garotinha para casa — o
senador diz com tristeza.
— Eu prometo levar sua filha para casa… — ele não me deixa terminar e
vai logo falando.
— Graças a Deus, eu vou… — corto-o de modo furioso.
— Mas se você me foder, não garanto que ficará vivo para abraçar sua
filha resgatada. Estamos entendidos? — minha pergunta soa sem emoção.
— S… sim, estamos! — o senador Bennett gagueja sua resposta.
— Quero 50% do pagamento adiantado na conta que você receberá agora.
A outra parte quando sua filha estiver em nosso poder — eu explico ao
senador e antes que ele possa falar, prossigo. — Estamos chegando em Jersey
amanhã! — encerro a ligação sem falar mais nada.
Não posso negar que a mudança de planos me deixa puto da raiva, mas
será bom estar na ativa. Esses ferimentos no meu corpo não me impedirão de
fazer o meu trabalho, mas eu não gosto de não estar na minha melhor
condição física.
Contudo, tenho que confiar na minha equipe, trabalhos como resgates são
simples. Apesar de que seja como for, temos que ficar preparados para
qualquer eventualidade que venha acontecer. E eu não gosto de fodidas
eventualidades!
Sinto alguém se aproximar e não preciso me virar para saber que é Craig.
— Você vai estar bem para fazer esse serviço? — ao ouvir sua pergunta,
viro minha cabeça rapidamente na sua direção.
— Desde quando você se preocupa com isso, Craig? — indago duramente
e ele rouba o cigarro da minha mão para sugar a fumaça para si.
— Nunca, mas agora você está diferente — meu irmão fala sem olhar na
minha direção.
— Que porra é essa, Craig? — Minha raiva cresce ao ouvir isso.
— Me diga, irmão mais velho, se fosse uma garota qualquer que tentasse
fugir de você, o que faria? — Craig vira seus olhos cinzas para mim.
— Você está falando merda, Craig! — esbravejo. — Está querendo dizer
que eu amoleci por causa de uma garota? — Posso sentir minhas mãos
tremerem para machucar alguma coisa e não quero que seja o bastardo do
meu irmãozinho.
— Você amolecer, Axel? — franzo o cenho ao ver seu sorriso desdenhoso.
— Meu medo é que fique mais letal do que já é, mas agora não será só por
causa do trabalho. — Solto um gesto de zombaria.
— E por que será então? — Meu sarcasmo é evidente.
— Com o tempo você vai descobrir, mas agora temos que nos preparar
para sair amanhã. — Craig termina o meu cigarro roubado, joga no chão e
pisa com a ponta da sua bota de combate.
Ele se vai em seguida, me deixando com as suas palavras, mas não tenho
muito tempo de pensar na sua besteira, porque eu ouço uma notificação no
meu celular. A transferência de um milhão de dólares caiu na conta.
Bom, uma parte já foi, agora só falta recuperar a futura desertora da minha
equipe e da minha cama.
— Bem, minha menina, é hora de te mostrar o meu eu real de uma vez por
todas — falo comigo mesmo, enquanto coloco as mãos no bolso.
Sem pensar em mais nada, saio para encontrar o restante do pessoal.
— Uau Dora, eu nunca te vi vestida assim! — Lara fala, soltando um
assobio. — Essa calça fica ótima em você! — Sinto minhas bochechas
esquentarem ao notar que é o segundo elogio que ouço no dia. O primeiro
foi…
Não Dora, não vá aí!
Não pense em Axel e nas coisas que ele disse!
— Obrigada! — agradeço sem graça e Lara me encara.
— Você está diferente! — ela solta de repente e dou um salto, assustada.
— Eu, diferente? — pergunto e Lara confirma. — Eu sou a mesma Dora
de sempre!
— Não é não, essa calça diz isso! — Ela aponta para a calça e me encolho.
— Fo... foi um amigo que me emprestou, mas eu vou devolver — digo
rápido e na mesma hora que solto as palavras, me arrependo.
— Não me diga que… — Lara para de falar e me olha de modo sugestivo.
— Dizer o quê? — Minha voz soa mais alta do que eu pretendia.
— Não me diga que você arranjou um namorado? — Lara solta,
arregalando os olhos.
— Não! — exclamo. — Eu não tenho namorado, já disse isso a você. —
Nego com cabeça tão rápido, que eu acho que posso ficar tonta.
— É, você disse mesmo! — Lara diz, me analisando.
— Verdade, eu não tenho por que mentir — falo, porque é a mais pura
verdade.
Axel não é meu namorado!
Ele nunca seria o namorado de alguém como eu, esse homem só quer algo
de mim e ainda não sei o que pode ser, porque não é possível que alguém tão
bonito e aparentemente rico possa me querer.
Não sou ninguém de valor, não tenho nada de interessante e ainda sou feia
de doer. Então, como poderia pensar em algo assim, não é mesmo?
Fico muito surpresa que os homens que trabalham com ele não riram da
cara de Axel por ter me levado, eles poderiam ter feito, todos fazem. Todos
riem de mim, pode ser pelo modo que me visto, o modo como sou desastrada,
ou pelo simples fato de existir. Todos riem de mim!
Mas pensando melhor, não há possibilidade de alguém rir da cara de Axel.
Ele é um homem muito sério, somente o seu olhar já me faz temer no mesmo
momento.
Um homem que impõe as suas decisões, sem se importar com o que os
outros querem ou deixam de querer. Esse é o Axel, o ser que me amedronta,
que me fez sentir coisas e que me fez promessas.
Promessas essas que eu não posso dizer que são reais, já que as pessoas
mentem, eu, por exemplo, minto muito. Então não posso julgar os outros por
mentirem para mim, certo?
Eu sei que tenho que correr dele, dos seus abraços quentes e dos seus
beijos que me deixam sem poder pensar direito, que roubam todo o ar dos
meus pulmões, me deixando louca por ansiar por algo desconhecido.
Não, eu não posso pensar nisso, não posso pensar que eu já estou querendo
que Axel me mostre o que ele tanto deseja. Não posso querer isso, não posso
fazer isso.
Porque sei que depois, quando toda essa loucura passar, a única machucada
serei eu e ninguém mais. Ficar naquela casa junto com Craig, Earl, Russel e o
Axel é algo arriscado para qualquer um, porque eles são homens perigosos.
Mesmo que Craig cozinhe como o céu, Earl tenha um sorriso simpático,
Russel seja sincero até o osso e Axel… bem, Axel seja o homem que domina
os meus pensamentos.
Não posso ficar ali, minha intenção é correr o mais longe que eu for capaz
e vou fazer isso.
— Dora! — ouço Lara gritar e eu tomo um susto.
— Por que está me gritando? — pergunto espantada, olhando para os
lados.
— Eu estava chamando por você, mas estava com a cabeça longe — Lara
diz com desconfiança.
— Desculpe, eu não tinha percebido que estava tão distraída. — Abaixo a
cabeça e começo a limpar um livro.
— Se eu te perguntar algo, você irá se chatear? — Lara usa um tom de voz
calmo e eu solto um suspiro.
— Eu não vou me chatear, pode falar — incentivo.
— Eu notei que você está agitada, sei que não somos amigas há muito
tempo e que não nos conhecemos bem. Mas estou falando sério sobre sermos
parceiras, uma coisa que não sou é desleal, Dora — Lara para e respiro
fundo. — Alguém está te assustando? — pergunta. — Alguém está te
machucando de alguma maneira? — as suas perguntas fazem meu corpo ficar
rígido.
— Por que você acha isso? — Minha voz soa quase inaudível.
— Porque eu vi o povo da sua sala mexendo com você e não gostei
daquilo, se eles podem estar te machucando de algum jeito e posso ajudar de
alguma maneira, então quero fazer isso — Lara diz com irritação e eu relaxo
imediatamente.
Somente a ideia de que alguém possa descobrir sobre Axel e os outros me
assusta demais. Eu não deveria estar aliviada desse jeito, mas eu não sei
explicar de onde veio isso.
Contudo, a verdade é que eu odiaria se isso acontecesse. Acho que estou
ficando louca, só pode!
Porque me apegar a Axel e o outros em tão pouco tempo, não é coisa de
uma pessoa sã. Como foi que isso aconteceu?
Eu quero fugir deles, mas isso não quer dizer que eu desejo mal algum.
Não sou assim, não desejo que nada de ruim aconteça aos outros. Mesmo que
eu tenha ouvido Axel dizer que irá atrás de vingança da pessoa que o feriu,
que Craig seja um ex-presidiário. E que eu tenha a certeza de que, seja lá,
qual for o passado de Earl e Russel, posso até imaginar que não deve ter sido
bonito também.
— Não, não é! — Nego com a cabeça, me recuperando dos pensamentos.
— Porque estou te dizendo, eu posso te ajudar com isso — Lara diz com
determinação e eu sorrio.
— Eu sei, eu vi você enfrentando a Kimberly — falo ainda rindo e Lara
pisca um olho na minha direção.
— Aquela loira está se achando a rainha da faculdade, por isso precisa
levar uns tapas — diz, cruzando os braços.
— Aí, Lara! — balanço a cabeça, colocando a mão na boca para tocar o
sorriso.
— Eu estou falando a real, você sabe disso — Lara comenta e eu não
posso deixar de sorrir.
— Às vezes, eu queria ter essa sua personalidade — falo e ela chega ao
meu lado, passando o braço em volta dos meus ombros.
— Não precisa ser igual a mim, você só precisa se encontrar — diz,
piscando um olho na minha direção.
— Acho difícil, eu sempre fui covarde. Minha sina é ser assim. — A
minha fuga de Axel é uma prova, penso comigo mesma.
— Você deve ter passado por coisas ruins, não é? — Lara sugere e eu solto
um suspiro.
— Não digo isso, tenho bons pais e eles me ajudam a perceber que minha
vida não foi tão ruim, sabe. — Lara me olha com atenção e nega.
— Infelizmente, eu não tive essa sorte, mas a minha irmã do meio é legal,
mesmo com as merdas dela — Lara fala com uma careta e se afasta de mim.
— Ninguém é perfeito, não é? — falo, tentando aliviar o clima, e ela sorri.
— Você está certíssima, nada é perfeito. Mas sabe, eu aprendi a amar as
imperfeições da vida, Dora — Lara fala calmamente.
— Isso é porque você é uma boa pessoa — falo e ela dá um sorriso de
lado.
— Eu tento! — Lara diz e paramos de falar para continuarmos com os
nossos serviços.
Sigo trabalhando com a Lara na biblioteca e nós duas ficamos falando um
pouco sobre as nossas vidas.
Descubro que ela tem a minha idade, 22 anos, mas enquanto estou
terminando meu curso de Ciências da computação, ela está terminando o
curso de Arquitetura.
Conto um pouco sobre os meus paizinhos, ela dá risada quando digo que
eles brigam demais, porque papai quer que eu preserve a minha pureza,
enquanto mamãe fica me incentivando a me casar e ter uma penca de filhos.
Espero-a me contar sobre seus pais, mas só diz que eles e o seu irmão mais
velho são muito rígidos, repete que só a do meio é legal. Que mesmo ela
tendo se casado com um babaca, é uma boa pessoa.
Fico confusa com isso que Lara comenta, mas não quero insistir na
conversa, já que eu notei que ela não se sente muito confortável.
O tempo passa rápido e quando dou por mim, já está na hora do almoço.
Lara sugere um restaurante perto da faculdade e fico sem graça com a sua
sugestão, porque eu não tenho dinheiro comigo. Mas ela faz uma cara feia e
fala que não perguntou se eu tinha trazido dinheiro ou não, que está me
convidando.
Nossa!
Chego à conclusão de que eu só atraio pessoas grossas, porque a Lara,
Axel e os rapazes da equipe estão de parabéns nesse quesito.
Lara e eu saímos da faculdade e quando aponta para a sua moto, eu nego
rapidamente, mostrando o meu medo. Ela ri da minha cara e diz que eu tenho
que mudar isso, já que eu vou para sua casa hoje e não tem como irmos se
não for com a moto.
Fico rígida ao ouvir isso dela, mas a minha rigidez só faz a minha nova
amiga rir ainda mais. Esquecendo o meu medo pelo desconhecido, vamos em
direção ao restaurante. Arregalo os meus olhos ao ver o luxo do lugar, me
sinto esquisita entrando aqui e tento evitar, mas Lara me faz entrar de
qualquer maneira.
Quando nos sentamos à mesa, fico sabendo que esse lugar é de seu tio, que
está tudo bem e que eu não devo ter vergonha.
— Tudo bem! — exclamo, totalmente sem graça e desconfortável.
— Não se preocupe, Dora, meu tio é um homem gentil. Às vezes, acho que
ele e meu pai não são irmãos, pela grande diferença de um para o outro —
Lara diz, pensativa.
— Senhorita Álvarez! — um senhor simpático aparece, sorrindo
largamente para Lara.
— Tio César! — Lara se levanta rápido e abraça o homem. — Eu pensei
que o senhor não estaria aqui hoje — ela fala, saindo do abraço.
— Eu realmente não iria, mas tive que resolver um pequeno problema aqui
— o tio de Lara diz e olha na minha direção. — Quem é a jovenzinha? —
pergunta e Lara dá um salto.
— Essa aqui é minha amiga, Isadora! — Seu tio não esconde a surpresa
com suas palavras.
— Isso é uma grande novidade, a pequena Lara com uma amiga — diz,
estendendo a mão para mim. — César Álvarez, querida! — Ele é educado.
— Isadora Martins, senhor Álvarez! — aceito o cumprimento sem jeito.
— Espero que você fique à vontade, Isadora — diz e eu confirmo com a
cabeça.
— Muito obrigada! — agradeço desconcertada e ele sorri de modo
educado.
— O almoço de vocês é por conta da casa! — diz, se virando para a
sobrinha com um sorriso. — Espero que as duas fiquem à vontade. — Lara
sorri e abraça o tio.
— Obrigada tio, o senhor é muito incrível! — Lara agradece a ele, que
sorri ao receber beijo na bochecha.
— Pare de puxar meu saco e vá se sentar. Pedirei para trazerem o especial
de hoje para vocês — o tio de Lara diz, fazendo-a jogar a cabeça para trás e
rir forte, com isso eu não posso deixar de dar um sorriso também.
— O senhor é o meu melhor titio! — ela fala e o tio nega com a cabeça,
sorrindo.
— Tenho que ir, garotas! Foi um prazer, Isadora — ele diz a mim. —
Coloque um pouco de juízo na cabeça desmiolada dessa menina. — Fico
espantada com suas palavras e Lara empurra o tio.
— Eu sou ajuizada, que blasfêmia! — Lara diz e o tio ri com força.
— Se você está dizendo, sobrinha! — desdenha o tio. — Até mais garotas,
tenham um bom almoço! — Aceno um adeus junto com Lara para o seu tio,
que vai se afastando.
— Seu tio parece ser uma boa pessoa mesmo! — comento e Lara assente.
— Ele é, muito diferente do meu pai. Às vezes, eu queria ser filha dele, nós
nos damos tão bem — ela solta um suspiro triste.
— Eu percebi, uma bonita relação de tio e sobrinha — falo calmamente e
Lara assente com tristeza.
O prato especial do restaurante é pirão de peixe. Eu não sou muito chegada
a peixe e acho que Lara vê a minha cara de desconfiança, porque ela me
garante que eu irei adorar.
E minha nova amiga está muito certa, a comida está maravilhosa e toda a
minha desconfiança vai para o espaço. Me delicio da maravilha e quando
acaba, estou me sentindo empanturrada.
Nós estamos comentando sobre o quanto a comida daqui é boa quando eu
sinto alguém entrar no restaurante. A primeira coisa que vejo é o rosto de
Lara, ela está com a cara de poucos amigos e não entendo o porquê.
É aí que minha curiosidade vence, me fazendo virar para olhar para um
homem alto, de cabelos pretos com alguns cachos soltos no alto da cabeça.
— Você não gosta desse homem? — pergunto curiosa.
— Não, esse homem é parceiro de negócios do meu irmão. Um idiota
completo! — Lara fala entredentes.
— Ele já te fez alguma coisa? — Fico apreensiva com a possibilidade.
— Não, ele não é louco! Mas eu nunca fui com a cara dele, acho ele um
idiota arrogante — Lara resmunga e o tal homem, ao notar que está sendo
encarado, se vira em nossa direção.
— Ele nos viu! Oh merda, ele está vindo até aqui — falo sem abrir a minha
boca, tentando soar discreta.
O homem sorri para Lara, que revira os olhos, mas seu olhar logo se
direciona a mim.
Ele franze o cenho, olha para o lado rapidamente, mas volta os olhos para
mim de forma confusa. Fico tão surpresa com sua reação ao me encarar, que
me sento de forma dura na minha cadeira.
Estranho!
— Pequena Lara, como vai? — ele cumprimenta.
— Pare de me chamar de pequena Lara, seu idiota! — Lara fala com
irritação.
— Quem é essa sua amiga? — ele diz e eu olho em sua direção. Ele me
analisa como se perguntasse se já me viu em algum lugar.
— Eu sou Isadora — me apresento de forma educada.
— Sou Ângelo, prazer em te conhecer — diz ele. — Desculpe estar te
encarando desse jeito, mas você me lembra uma pessoa muito especial para
mim. — É a minha vez de juntar as sobrancelhas.
— Deve ser alguma mulher que você iludiu e quebrou o coração — Lara
diz com asco e ele olha para ela com uma expressão fechada.
— Não é nada disso, pequena Lara! Ela me lembra a minha mãe. —
Ângelo olha para mim novamente. — Você me lembra a minha mãe, por isso
que te encarei. Sinto muito pela indelicadeza — ele diz e eu dou um sorriso.
— Não se preocupe, senhor — falo para acalmá-lo.
— Por favor, me chame de Ângelo, você deve ser amiga da pequena Lara
— ele pergunta e eu confirmo.
— Não me chame assim, idiota! — Lara se levanta da sua cadeira. —
Vamos Dora, temos que ir para aula! — Lara passa por Ângelo e estende a
mão para me ajudar a me levantar.
— Muito mal educada, pequena Lara! — Ângelo diz e Lara bufa.
— Vá se foder, Gutierrez! — Lara esbraveja, me puxando com ela,
mostrando para o homem o seu dedo do meio.
— Ah, pequena Lara! — lamenta o homem, deixando Lara mais irritada.
Enquanto voltamos para a faculdade, Lara vai dizendo o quanto Ângelo
Gutierrez não presta. E que se um dia eu cruzar com ele, é para não lhe dar
muita confiança.
Tento perguntar a ela o porquê, mas como eu vejo que esse Ângelo
consegue deixar minha amiga bastante nervosa, evito fazer qualquer
questionamento.
Chegamos à faculdade e Lara se despede de mim, afirmando que passará
mais tarde na minha sala para irmos para a sua casa. Como não tenho o que
dizer, confirmo com a cabeça, observando-a sair para ir em direção ao seu
pavilhão. Solto um longo suspiro e me pergunto se eu estou fazendo a coisa
certa em fugir de Axel.
Dou o primeiro passo para ir em direção a minha sala, mas sou impedida
quando sinto o meu corpo sendo tombado.
— Saia da minha frente, seu espantalho horroroso! — Kimberly grita ao
passar por mim.
— Olha Kim, a feiosa está de roupas novas — Dafne fala, me olhando dos
pés à cabeça.
— Primeira vez que vejo essa horrenda de calça jeans, parece ser de marca
— Vanessa comenta e eu abaixo a cabeça. — Onde você roubou, feiosa? —
Vanessa pergunta, mas eu não digo nada, somente aperto a alça da minha
bolsa.
Olho para os lados, mas não consigo ver ninguém. Todo já devem ter
entrado na faculdade para ir para suas respectivas salas.
— Responda à pergunta, Isadora! — Kimberly dá um passo ameaçador na
minha direção, mas eu não recuo.
— Não! — falo, levantando minha cabeça para lhe encarar.
— O que disse, sua insignificante? — Kimberly diz furiosa e vem para me
atacar, mas Juliano toma frente.
— Você não quer brigar aqui na frente da faculdade, Kimberly — Juliano
diz e Joanas interfere.
— Tira as mãos da minha namorada, cara! — Jonas fala, puxando
Kimberly para ele.
— Jonas, o Juliano só está tentando evitar que a Kim se dê mal, fica calmo
— Gabriel explica e eu já estou de saco cheio de ficar perto desses idiotas.
Por isso eu tento passar para entrar na faculdade.
— Tenho que ir! — falo ao tentar entrar, mas sou parada quando alguém
segura minha bolsa e puxa com força, fazendo a alça partir e derrubar todas
minhas coisas no chão.
— Você não vai! — Kimberly fala de maneira odiosa. — Agora que está
de amizade com aquela obesa está achando que é gente, Isadora. Mas deixa
eu te falar uma coisa, você não é ninguém! — ela grita. — É uma criatura
medonha, que só serve nessa vida para nos entreter com sua feiura —
Kimberly diz, fazendo meus olhos começarem a arder.
— Eu não, eu não… — tento soar firme, mas falho miseravelmente.
— Você sim, seu projeto de assombração! — Dafne diz, fazendo Vanessa
rir.
— Olha só o que temos aqui! Como uma feiosa tem um celular de última
geração assim? — ouço Gabriel dizer isso e arregalo os olhos ao notar que
celular que ele está falando.
Meu Deus, o celular que Axel me deu!
— Não! Me dê isso! — Tento avançar para pegar, mas Gabriel desvia.
— Deixa eu ver isso aí? — Juliano pede e Gabriel joga para ele.
— Por favor, não faz isso! — grito nervosa, vendo o celular ir para Juliano.
— É um iPhone de última geração! — Juliano diz, olhando o celular
branco em sua mão.
— Como é que essa feia tem um celular desses? — Vanessa fala com
desconfiança.
Como desgraça para gente como eu é pouca, o celular que está nas mãos de
Juliano começa a tocar nesse mesmo momento. Não, não, não! Não pode ser,
Deus, não deixe que seja…
— Axel? Quem é esse? — Jonas pergunta, agora com o meu celular nas
mãos.
— Para! Me devolve isso, Jonas! — grito nervosa.
— Porque está nervosa de repente, Isadora. Será que esse tal Axel é algum
namoradinho? — Gabriel zomba de mim e eu posso sentir o meu ar faltar.
— Deve ser algum feioso como essa desgraçada — Dafne responde rindo.
— Atende, amor! — Kimberly fala para Jonas, que dá um sorriso
endemoniado.
— Alô, celular da feia! — Jonas diz de forma debochada.
— Não Jonas, me dê isso! Por favor, não! — Meu rosto já está molhado
em lágrimas de desespero.
Acho que os meus gritos atraem a atenção das pessoas, porque do nada
aparecem alguns alunos.
Merda, merda!
— Ele é gringo! — Jonas ri, fazendo seus amigos olharem na minha
direção.
— Não sabe o que está fazendo, se não me devolver o celular nesse
momento, as coisas podem ficar ruins — começo a falar rápido e todo mundo
me olha como se fosse louca. — Me dê, Jonas! — grito desesperada e
ninguém presente vem me ajudar.
— Você não grita comigo, sua feiosa! — Jonas se aproxima e grita suas
palavras bem na minha cara.
— Me dê o… — eu começo a falar em forma de soluço, mas não consigo
terminar, porque o meu corpo é jogado para trás de forma brusca.
Fico sem entender o que está acontecendo, porque tudo se desenrola de
forma rápida. Em um momento eu estou com Jonas em cima de mim,
gritando, no outro eu estou presa nos braços fortes de alguém.
Pisco alguma vezes para tentar me situar e quando consigo me organizar
mentalmente, vejo uma cena que me faz gelar no mesmo momento.
Axel está golpeando socos fortes e sangrentos no rosto de Jonas, enquanto
Earl está em cima de Gabriel e Russel do Juliano. Assustadas com a cena
violenta, as meninas começam a gritar por ajuda, mas ninguém se mexe. Olho
para o braço tatuado e noto desesperadamente que é Craig quem está me
segurando.
— Craig! Craig! Faça alguma coisa, o Axel vai matá-lo! — peço em
desespero, virando a cabeça para olhar para ele, que está com expressão
tranquila no rosto.
— Eu não consigo parar o Axel quando ele está assim — Craig diz, dando
de ombros.
— A polícia vai chegar, tem gente filmando! Craig, por favor! — imploro
chorando, com medo por Axel.
— Você gosta desse homem? — Craig pergunta e eu olho em tempo de ver
Axel colocar o cano da sua arma na boca de Jonas.
— Do Jonas? — pergunto de forma trêmula e Craig confirma. —- NÃO,
EU O ODEIO! Ele me inferniza há três anos, mas eu estou preocupada com o
Axel, por favor, Craig! — suplico a ele.
— Se você acha que pode parar o meu irmão, então vá. Mas eu acho que
tenho que te avisar que a raiva dele vai ser toda direcionada a você. Então,
prepare-se! — Craig termina de falar e me solta.
Não consigo pensar direito nas palavras de Craig, porque eu já estou indo
em direção a Axel. Ele continua ameaçando Jonas com a arma na boca e
quando me aproximo, sinto um forte cheiro de urina.
Não preciso analisar a situação para saber que a urina é de Jonas, que está
com o rosto sangrando.
— Eu vou arrancar cada um dos seus braços, para depois arrancar a sua
língua por gritar com ela. Você vai morrer! — as palavras gélidas de Axel
são como a lâmina de uma navalha.
— A… Axel! — chamo, estendendo a mão para alcançar suas costas, mas
desisto. — Vamos embora, por favor, Axel. Você pode ser preso, por favor,
vamos sair daqui — falo de forma trêmula e amedrontada.
— Eu vou matá-lo! — a voz de Axel sai como uma promessa.
— Não! Nós temos que ir, vamos Axel, por favor! Vamos embora! —
Dessa vez eu coloco minhas mãos nele, os músculos de suas costas estão
rígidos. — Por favor, Axel! — Eu já não consigo ouvir nada a minha volta.
— Você sabe que eu vou matá-lo, não é? — Axel pergunta e eu me
encolho.
— Eu… eu sei, mas vamos sair daqui! Vamos para casa! — chamo,
cravando minhas unhas em suas costas.
Não sei por que faço isso, mas acho que ajuda a chamar sua atenção,
porque Axel se vira na minha direção como um furacão. Soltando assim um
Jonas muito massacrado e ferido, para poder me carregar em seu colo.
Eu não tenho nenhuma reação, somente aceito ser carregada por esse
homem desumanamente descontrolado. Suas mãos me apertam com força,
mas eu não ligo e me aninho a ele, escondendo o meu rosto na curva de seu
pescoço.
— Russel, Earl e Craig, vamos embora! — Axel diz com fúria.
— O que fazemos com eles? — Ouço a voz de Russel.
— Vamos deixá-los viver por enquanto! — Axel diz e sinto que ele
começa a andar, então, não ligo para mais nada.
Enquanto sou levada novamente por Axel, percebo nitidamente que não
adianta tentar fugir dele. Porque ele, além de ser o meu herói, também é o
meu melhor vilão.
Axel não dirigiu uma palavra a mim enquanto entramos no carro, mas os
seus abraços continuam me apertando com firmeza.
Eu não sei onde eu estava com a cabeça ao pensar que eu poderia fugir
dele, esse homem não é como qualquer outro e agora eu tenho certeza disso.
Uma certeza visual e totalmente inesquecível, porque o modo que Axel
estava em cima de Jonas, nunca irá sair da minha cabeça.
Eu não suporto Jonas, Kimberly e o restante dos seus amigos, mas o
massacre que Axel fez com eles eu não desejaria para ninguém. Confesso que
tive que aguentar muitas coisas daqueles idiotas, foram muitas ofensas sem
sentido, muitos momentos em que eles adoravam me deixar desconfortável.
Eu fui aguentando isso do melhor jeito possível, não consegui retribuir
com a mesma moeda e nem sabia me defender, porque eu sou uma covarde.
Mas hoje, hoje foi muito pior e eu não tinha ninguém para interceder por
mim.
Quando vi Jonas atender a ligação de Axel, eu sabia que coisa boa não
estava por vir. Meu Deus, como eu tentei evitar o pior, eu tentei fazê-los me
ouvir, mas bem lá no fundo, eu sabia o que podia acontecer e então, eles
chegaram!
Como vieram tão rápido?
Eu não consigo encontrar essa resposta, mas eles estavam ali para me
defender, para atacar os meus piores abusadores.
Eu estava em pânico, porque tudo o que eu conseguia pensar era que Axel
e os outros se prejudicariam por minha culpa. Ele veio para matar, eu não sei
por que ou como, mas eu senti que veio trazendo consigo toda a sua
escuridão. Porque os seus golpes precisos não eram de um homem que só
estava querendo dar uma lição em pessoas inconvenientes. Eram assassinos,
eram golpes feitos por mim.
Sinto um tremor tomar conta do meu corpo quando eu chego a essa
conclusão. Axel, ao notar isso, me aperta mais contra seu peito, mas continua
calado e nem olha na minha direção.
O carro freia bruscamente e eu tenho a noção de que chegamos na casa. A
porta é aberta e quando faço menção de sair do colo de Axel, ele faz um som
de irritação e não me deixa ir. Não estou preparada para enfrentar esse
homem, então eu me deixo ser carregada por ele.
Somente quando chegamos no quarto é que Axel me coloca no chão, eu
não tenho coragem para levantar a cabeça e olhar para ele, então eu encaro os
meus pés. Me encolho quando sinto sua mão prender meu queixo com força,
me fazendo olhar em seus olhos negros arrepiantes.
— Eu quero que você tire suas roupas, tome um banho e me espere sentada
na cama, nua. — Sua voz saí fria, demonstrando que está tentando conter o
seu temperamento.
— Axel, eu… — tento falar, mas o seu aperto no meu queixo se
intensifica.
— Eu não quero falar, Isadora! — me interrompe. — Quero que você faça
exatamente o que mandar — ele diz e eu assinto.
— S... sim! — gaguejo minha confirmação.
— Mas antes de ir tomar o seu banho, quero que me responda três coisas
— Axel fala e eu engulo em seco.
— Quais? — Minha voz soa baixa e assustada.
— O que você estava fazendo com Ângelo Gutierrez? — Começo a pensar
no nome que ele fala, não me parece estranho.
Onde eu o ouvi? Ah, já sei!
— Você o conhece? — pergunto espantada e Axel morde a mandíbula com
força.
— Me responda! — diz entredentes e eu fecho os olhos brevemente.
— Eu conheci um homem hoje, seu nome era Ângelo. Lara, minha amiga,
me levou para almoçar no restaurante do seu tio e esse homem estava lá. Ele
foi falar com ela, mas me encarou de forma estranha e disse que eu lembrava
a mãe dele— não sei se estou falando as coisas com coerência. Eu só não
quero estar sob a influência do olhar frio de Axel. Eu não quero isso!
— Então você não o conhecia antes de me conhecer, não é? — Sua mão
desce do meu maxilar e vai para o meu pescoço.
— Não Axel, eu nunca vi aquele homem. Eu nem sei quem ele é, eu juro!
Eu não sei, eu não sei! — Eu estou morrendo de medo, algo me diz que se
Axel não acreditar em minhas palavras, irei morrer. Aqui e agora!
— Você está falando a verdade! Boa menina! — Axel diz, passando o seu
polegar levemente ao lado do meu pescoço. Eu relaxo, mas não totalmente.
— Agora, a próxima pergunta — fala e eu concordo com os olhos
arregalados.
— Por que não me deixou matar o seu amigo? — Pisco várias vezes sem
entender.
— O quê? — questiono com confusão. — Amigo? — acrescento. — Eu
não… — O olhar intenso de Axel me faz parar.
— Responda a minha pergunta, Isadora! — sua repreensão me faz morder
a língua.
— Aquelas pessoas não são minhas amigas, elas nunca foram. São três
anos que eu estou na faculdade e eles atormentam a minha vida desde então,
me chamando de feiosa, mostrenga, baranga e muitas outras coisas. Eles não
são meus amigos! — Só percebo que estou chorando quando paro de falar.
— Então, por que não me deixou matá-los? — ele indaga entredentes.
— Porque eu não queria que você fosse preso. A família deles são pessoas
influentes, não queria que tivesse problemas por minha culpa. Eu não queria!
— A expressão horrenda de Axel suaviza um pouco.
— Você estava preocupada comigo, minha menina? — Axel pergunta com
a voz rouca.
— Sim, Axel! — respondo sem gaguejar.
— Você sabe que eu não sou uma boa pessoa e mesmo assim queria me
proteger — isso não é uma pergunta, mesmo assim, me vejo concordando.
— Sim! — falo rapidamente.
Ele fica me encarando por um tempo antes de perguntar.
— Você ia fugir de mim, minha menina? — Meu coração bate com força,
porque a pergunta me pega desprevenida. Eu abro a boca para falar, mas Axel
não deixa. — Pense bem na sua resposta, porque dependendo do que disser,
vou decidir como será o seu castigo, Isadora.
— Castigo? — pergunto e ele concorda lentamente.
— Sim, Isadora! Dependendo da sua resposta, vou escolher como vai ser,
mas uma coisa eu posso te afirmar, hoje vai saber o quanto me pertence. —
Eu sei que ele está sendo sincero, eu posso sentir nos meus ossos.
— Axel, mas… — tento falar, mas seus dedos amassam meus lábios.
— Me responda! — ordena com raiva. — Você está pensando em fugir de
mim?
Eu posso ver em seus olhos negros que ele sabe a verdade, esse homem em
minha frente me lê muito bem e sou muito idiota por pensar ao contrário.
Só me resta falar a verdade, mas estou com medo de dizer as palavras. Eu
não sei muito bem como será esse castigo, Axel disse quando me raptou que
nunca iria me machucar. Por que agora ele mudou de ideia?
Por que ele quer me castigar?
O que ele quer fazer comigo?
Eu não posso ficar aqui, quero me livrar, livrar o meu coração de cair nos
encantos de um homem que foge das características de um cidadão normal.
Eu tenho medo de gostar de tudo, de amar cada coisa que Axel quer me
dar. Então será que é errado fugir pela própria segurança, como eu tentei
fazer?
— Eu não vou perguntar de novo, Isadora — dessa vez Axel fala
aproximando seus lábios dos meus. — Se eu o fizer, vai ser pior para você.
Pode apostar, minha menina, vai ser muito pior — suas palavras sussurradas
misturadas com o roçar de seus lábios nos meus me faz sentir um prazer
imensurável.
— Sim, Axel, eu ia fugir de você! — minha voz soa baixa. Ao ouvir minha
confirmação Axel se afasta de mim, fixando seus olhos tempestuosos nos
meus amedrontados.
— Oh minha menina, que tola foi você. — Axel nega com a cabeça,
tirando suas mãos de mim. — Vá tomar banho e faça exatamente o que eu
disse. Voltarei em breve — diz de forma dura, para depois virar e sair do
quarto no mesmo instante.
Fico parada, sentindo falta do toque de Axel em mim. Por mais que ele me
deixe em alerta, confusa e desejosa, tê-lo por perto sempre me dá uma
sensação de proteção que eu não sei explicar. Me abraço com força,
esfregando minhas mãos nos braços e tentado parar esse sentimento de vazio.
De repente, eu me lembro do que Axel me mandou fazer e a lembrança me
deixa rígida no mesmo momento. Sem querer ficar pensando ou procurando
respostas, que eu sei que não vou encontrar, forço minhas pernas a andarem
em direção ao banheiro.
Me livro das minhas roupas e vou correndo tomar um banho. Mas é
justamente quando o primeiro jato de água bate na minha pele, que fleches
das cenas de Axel agredindo Jonas preenchem a minha mente.
Não!
Eu não posso pensar nisso agora, não posso deixar a minha mente me
sugar para isso. Minha concentração tem que estar no que o Axel fará
comigo, quero me encolher no chão úmido e gelado do banheiro. Quero sair
gritando para que Axel venha e termine de fazer o que quer que seja.
Argh! Eu estou enlouquecendo!
Acabo o meu banho e alcanço a toalha para enxugar o meu corpo
lentamente, o pavor que estou sentindo me faz procrastinar para sair do
banheiro. Mas não dura muito, porque eu esfrego as minhas mãos com força
no rosto na intenção de me encorajar.
Quando volto para o quarto, agora de banho tomado e nua, eu me sento na
cama como o Axel ordenou. Sem saber o que vai acontecer a seguir, posso
sentir minhas mãos começarem a suar e o meu coração bater tão forte, que
está começando a me deixar desconfortável.
No momento que a porta é aberta, vejo Axel vestindo somente uma cueca
preta, com os cabelos pretos brilhando pela umidade de um banho recém-
tomado, penso que vou desmaiar.
Abaixo minha cabeça rápido, sem ter coragem de olhar para o seu corpo
magro marcado por músculos duros.
— Isadora, venha aqui! — Axel me chama com firmeza e eu quero chorar
nesse momento, mas ao invés disso, eu caminho para ele. — Você fez o que
eu pedi, minha menina! Não sabe como isso me deixa satisfeito — Axel diz e
levanto minha cabeça para olhar para ele.
— Satisfeito ao ponto de não me castigar? — minha boca medrosa
simplesmente vomita a pergunta.
— Não, isso é algo que eu anseio fazer desde o primeiro dia que eu te vi.
— Seus dedos longos acariciam levemente a pele do meu ombro, sinto os
pelos dos meu corpo se arrepiarem e o bico dos meus seios ficarem rígidos.
— Você ainda não sabe, mas é tão fodidamente receptiva a mim. — Dessa
vez Axel aperta o bico do meu seio direito, me causando uma sensação
desconhecida.
— Oh! — exclamo surpresa, tentando me afastar, mas Axel é mais rápido
e não me deixa ir muito longe.
— Não, você não vai! — Axel diz perigosamente, girando o meu corpo nu
para que minhas costas fiquem coladas no seu peitoral. — Eu quero te
mostrar uma parte de mim, uma parte que eu gosto muito e que pode ser
prazerosa para nós dois. — Observo quando sua mão grande desliza pela
minha barriga até chegar em frente à minha vagina.
— O… o que você vai fazer, Axel? — Espero-o invadir minha intimidade,
mas não faz isso, ele só fica com a mão parada.
— Eu quero tudo de ti, Isadora. Quero te ensinar a gostar das mesmas
coisas que eu. — O calor das suas palavras sedutoras deixa minhas pernas
bambas. — Quero surrar você por achar que te deixaria fugir, quero foder sua
buceta tão ferozmente que não será capaz de se lembrar nem da porra do seu
nome, ou do meu. — Pressiono minhas pernas juntas com força e mordo meu
lábio inferior. — Você sente isso, não sente? — As mãos experientes de Axel
alcançaram os bicos dos meus seios. — Seus seios são lindos, amarronzados
e tão meus. Foda-se!
— A... Axel! — tento parar o gemido, mas eu não consigo, pois ele
massageia os meus seios sensíveis e isso me faz sentir um enorme prazer.
— Você consegue sentir o seu clitóris endurecido latejar, seu canal virgem
umedecer como se implorasse para que eu, seu homem, seu carrasco, lhe dê
prazer. Consegue sentir? — Axel pergunta entredentes.
— Eu não sei… não sei, Axel, eu nunca… nunca senti isso — falo alto,
assustada com a sensibilidade do meu corpo.
— E você quer, não quer, minha menina? — pergunta e eu só consigo
curvar o meu pescoço para o lado, para que Axel passe a sua língua quente e
molhada pela minha pele.
— Eu… eu não sei! Eu acho que… que quero! — solto palavras
desconexas, fazendo Axel rosnar baixo de puro contentamento.
— Só de pensar que eu sou o único a fazer isso com você, me sinto por um
fio com a porra do meu controle — diz entredentes. — Venha! — Sou
surpreendida quando Axel para as suas investidas prazerosas e dominantes
em mim para me puxar de forma brusca com ele.
Solto um grito surpresa quando Axel, agora sentado em uma cadeira do
quarto, me puxa de costas para o seu colo e deitando-me, como se fosse uma
criança prestes a levar umas palmadas. Tento me erguer no mesmo momento,
mas ele agarra minha nuca, me forçando a continuar onde eu estou.
Estou muito desesperada com a possibilidade de estar em uma posição tão
vergonhosa. Tento falar, mas a minha cabeça está tão embaralhada, que não
consigo encontrar palavras.
— Eu vou te propor um doce desafio, minha menina — Axel fala,
passando delicadamente sua mão por toda extensão das minhas costas até a
minha bunda empinada.
— O… quê? — pergunto, notando que o meu corpo arqueia por vontade
própria de encontro ao seu toque.
— Eu vou bater te bater, bem aqui. — A mão de Axel dá um aperto forte
na minha bunda e meu corpo fica rígida, mas eu não tenho tempo de pensar
na minha reação, porque ele continua a falar. — E eu quero que conte
mentalmente quando golpes vai levar. Se não souber responder corretamente
quando te perguntar, vou começar tudo de novo, até você acertar. Conseguiu,
entender? — Axel pergunta e eu só consigo tremer.
— Você vai me bater, esse é o meu castigo? — pergunto, confusa e
temerosa.
— Em partes sim, mas eu acho que é mais para te mostrar que agora eu
tenho poder sobre você. Seus desejos mais escuros, seu prazer mais
abundante e a porra do seu coração puro e inocente. Tudo isso e muito mais,
pertencem a mim — ele para de falar, como se tentasse se controlar. —
Vamos começar, minha menina? — eu já estou chorando, sem saber direito o
que vai acontecer comigo.
— Axel, eu… — O que eu quero falar é cortado quando sinto a palma da
mão de Axel encontrar a minha pele com força. Grito de surpresa pelo ardor
forte que seu tapa me causa.
— Conte, Isadora! — Axel diz com fervor e eu percebo que não é só o
meu corpo que está tremendo, o seu também.
Um outro forte tapa desce contra a minha outra nádega, eu pulo no seu
colo de surpresa e começo a contagem mentalmente. Dói, dói muito a cada
vez que a mão grande de Axel vem de encontro à minha bunda, mas além da
dor, há algo a mais.
Além do ardor, eu começo a sentir também que os bicos dos meus seios
estão mais duros e mais sensíveis. Porque a cada golpe que me faz sacudir,
eles raspam delicadamente nas coxas nuas de Axel, provocando um choque
de prazer por todo o meu corpo.
Como isso é possível?
— Quantos golpes foram, minha doce menina? — a pergunta de Axel
chega a mim como uma tonelada e eu me vejo estupidamente perdida, sem
saber qual é a resposta certa.
Oh merda!
— Eu não sei, mas Axel… — falo em choque, fazendo meu carrasco alisar
minha pele castigada.
— Então, vamos começar de novo, sim? — Axel diz satisfeito e eu começo
a negar ferozmente.
— Não, eu não gosto disso, não quero isso! Você disse que não ia me
machucar, mentiu para mim! — exclamo de modo rápido, me sentindo muito
nervosa.
— E você disse que não ia fugir de mim, mas olha só, parece que somos
dois fodidos mentirosos — Axel diz entredentes e paraliso. — Não minta em
dizer que não gosta disso, minha menina, eu consigo sentir o cheiro do seu
desejo. — Meu corpo endurece no mesmo momento que sinto os dedos de
Axel alcançar a abertura da minha vagina. Seus dedos deslizam facilmente
entre os meus lábios vaginas, até encontrar o meu clitóris endurecido.
— Oh..., Axel! — solto um gemido, esquecendo totalmente de qualquer
constrangimento.
— Se chamar o meu fodido nome desse jeito, eu vou ter que esquecer o
seu castigo por hora e foder você. — Seus dedos fazem movimentos
circulares no meu clitóris. — Tão molhada, porra, tão deliciosamente
molhada! — ele exclama. — Você é uma pervertida, minha menina, e eu sou
um sortudo por sentir isso antes de até mesmo saber o seu nome. — Me
contorço no seu colo.
— Faça algo, Axel, por favor! — peço, sem ter a noção do que eu
realmente estou dizendo.
— Foda-se, porra! — Axel diz com fúria e necessidade.
Eu não sei se é o meu pedido desconexo, ou se simplesmente o controle de
Axel é rompido, mas tudo o que eu sei é que ele me puxa pelo cabelo para
que eu levante do seu colo, fico de pé, para que logo em seguida ele me
carregue. Passo minhas pernas em volta do seu quadril, trazendo a boca de
Axel para se encontrar com a minha.
Não faço ideia de onde vem toda essa minha iniciativa, mas eu não estou
ligando para isso, quero esse homem cruel para mim. Eu o quero e se eu
estou louca por querer isso, não me importo mais.
Acho que a minha iniciativa causa algo no Axel, porque quando as minhas
costas batem no colchão macio, ele para o nosso beijo feroz para sugar a
minha vagina como um homem faminto.
Oh Deus!
— Porra, como você é saborosa, minha menina! — Axel diz e eu arqueio
minhas costas.
— Axel! — grito seu nome, sentindo seus dedos cravarem com força nas
minhas coxas. Eu posso sentir a sua língua lamber, girar, e invadir o meu
canal.
— Sua buceta doce é minha, minha, só minha! Você é minha, porra! —
Axel diz de forma abafada, enquanto continua a sua tortura em mim.
— Eu quero… eu não sei o que quero, Axel! Faça parar! — Minhas
palavras não fazem nenhum sentido.
— Goze, Isadora! Goze agora! — Sua voz de comando causa algum efeito
em mim.
Logo, eu estou sentindo as minhas pernas ficarem rígidas, para que uma
onda de prazer enorme tome conta de todo meu corpo. E quando essa onda
passa, relaxo por completo no mesmo instante.
— Oh, meu Deus! — falo, sentindo o meu coração bater forte no peito,
enquanto meu corpo se acalma dos espasmos involuntários.
Fecho os olhos para aproveitar um pouco de tudo isso, mas um tapa forte
na minha coxa me fez abri-los na mesma hora.
— Se você acha que acabou, está muito enganada, minha menina —
promete Axel, de uma forma que causa um arrepio na minha espinha.
Observo-o se afastar para pegar algo na gaveta da mesa de cabeceira,
quando vejo que é uma camisinha, eu aperto os lençóis da cama com força. É
hoje que eu vou perder a minha virgindade.
Eu espero o pavor tomar conta de mim, mas não é isso que acontece. Para
falar a verdade, estou ansiosa, eu estou desejando isso demais.
Meu Deus, estou a poucos minutos de perder a minha virgindade com um
homem que não esconde o quão terrível pode ser e ao invés de tentar correr
disso, eu, na verdade, estou esperando que aconteça.
Quero isso, quero pertencer por inteira a Axel Cox.
— Você está pronta para isso? — Axel indaga quando empurra sua cueca
para baixo, fazendo seu pau grosso pular para fora. — Não olhe assim, meu
pau foi feito para comer a sua buceta virgem, minha menina — ele diz,
enquanto veste a camisinha por toda a sua extensão.
— Isso não vai ser possível! — Nego ferozmente, enquanto observo seu
sorriso de lado.
— Tudo é possível, minha menina tola! — Axel sobe na cama, vindo para
mim como um predador, pronto para atacar sua presa.
— Oh meu… — gemo quando sinto a sua boca alcançar o meu seio
esquerdo com avidez.
Enquanto a boca de Axel está sugando e lambendo cada um dos meus
seios, a minhas mãos apertam cada lado dos seus ombros com força. Tudo
está tão maravilhoso, eu não sabia que poderia sentir isso, eu nunca pensei
que fosse desse jeito.
Meu desejo é reacendido por Axel, ele sabe o que está fazendo e pode me
fazer sentir essas coisas desconhecidas com uma maestria feroz.
Ele abandona os meus seios para invadir a minha boca, seu beijo gostoso
me deixa tão perdida, que só agora noto que seu pau está se aninhado a
abertura da minha vagina. Quando me dou conta disso, paro o beijo no
mesmo momento, mas Axel me distrai novamente quando lambe e mordisca
meu pescoço.
— Axel, eu estou com medo! — Minha voz soa baixa. Axel ouve as
minhas palavras e ao invés de ignorar, brigar ou debochar de mim, ele une as
nossas testas.
— Eu não vou te machucar, minha menina! — ele diz como uma promessa
velada e eu fico encarando-o por um tempo até confirmar com a cabeça.
No momento em que o pau de Axel está invadindo o meu canal, eu sinto
uma dor e um ardor terrível. Eu abro a boca para pedir para que ele pare, mas
não posso falar nada, porque sua língua invade a minha boca em um beijo
que me faz esquecer a dor.
Axel me distrai de tal forma, que quando dou por mim, ele já rompeu as
barreiras. O sentimento de estar preenchida e completa por esse homem estala
algo em mim, porque todo o medo que estava sentindo não existe mais, não
posso negar que é algo incômodo e doloroso, mas eu queria isso bem desse
jeito.
— Sinto muito, mas eu preciso te foder, minha menina — Axel diz e eu
posso ver as gotículas de suor se formarem em sua testa.
— Tudo bem! — Eu não reconheço a minha voz de tão rouca que ela está.
As minhas palavras para Axel soam como se eu estivesse quebrando a
corrente de animal enjaulado por muito tempo, porque ele possui o meu
corpo de um jeito que é impossível não esboçar qualquer reação. Com uma
de suas mãos presas fortemente aos cabelos da minha nuca, sua boca na curva
do meu pescoço, os movimentos de vai e vem e o suor entre nossos corpos
unidos, eu não tenho mais nada o que pensar, a não ser em como eu pude
demorar tanto para deixar que isso acontecesse.
Apesar de que algo me diz que se eu tivesse essa experiência com outra
pessoa, jamais iria sentir tudo que estou sentindo agora. Toda essa
intensidade, toda essa paixão e loucura carnal.
— Diga, Isadora, diga que você é minha! Diga que só eu tenho o prazer de
possuir a sua buceta e a sua alma. Diga, porra! — ao invés de responder, eu
só consigo gemer. — Diga! — Minhas unhas cravam suas costas de um
modo que tenho certeza de que chega a ferir.
— Sua! Sim, sim, sim, eu sou sua! — grito minha confirmação com a voz
chorosa.
— Minha! — Axel diz de modo que me faz entender que não tem como
voltar atrás.
Meu corpo reage com suas palavras possessivas e percebo que um novo
orgasmo está querendo me levar. Mas quando isso vai acontecer, Axel é mais
rápido ao sair de dentro de mim, para girar o meu corpo com uma agilidade
impressionante.
Fico confusa, porque eu estou de quatro para ele, mas as minhas dúvidas
são devidamente esclarecidas assim que me penetra. Arqueio minhas costas
para trás, absorvendo a intensidade em que nossos corpos se chocam. Seu
peitoral forte vai de encontro as minhas costas sem parar os seus
movimentos, mas é quando sua mão alcança meu clitóris que eu chego a
outro orgasmo forte, algo que me deixa sem ar.
Ainda sob efeito do prazer, ouço o grunhido de Axel, me confirmando que
chegou ao ápice também.
Minha virgindade, meu coração e todas minhas escolhas foram entregues a
ele. Agora, a ideia de fugir não faz mais nenhum sentido, porque eu percebo
que quero isso tanto quanto ele.
E é com esse pensamento em mente que deixo a escuridão me levar,
sentindo o meu corpo flutuar por ondas leves e prazerosas.
Desperto com a gostosa sensação de beijos na minha nuca, tento ignorar,
porque eu ainda penso em dormir mais um pouco, mas um aperto no meu
quadril me faz abrir os olhos.
Solto um gemido apreciativo quando Axel roça sua barba no meu ombro,
para logo em seguida girar o meu corpo para que eu fique de frente para ele.
Ele beija a minha boca de forma louca e carnal, me fazendo retribuir da
melhor forma, mesmo sonolenta do jeito que eu estou.
Axel encaixa os nossos corpos da forma que o seu pau endurecido se
aninhe a abertura dos meus lábios vaginas e não consigo ter qualquer outra
reação que não seja gemer, é tudo tão gostoso, que faz minha cabeça girar.
— Eu preciso ter você de novo, minha menina! — Axel fala entre beijos.
— Estou aqui — respondo com a voz rouca de sono e prazer.
Ao ouvir as minhas palavras, Axel solta um rosnado baixo, levanta a
minha perna para que logo em seguida seu pau grosso entre em mim de uma
só vez.
Jogo a cabeça para trás, soltando um suspiro de surpresa e ardor pela
intimidade machucada recentemente. Aproveitando o meu pescoço exposto,
Axel passa a sua língua e os seus dentes ali mesmo, me deixando zonza de
prazer com tudo isso.
Eu arfo, gemo e lamento de desejo, enquanto o meu corpo balança com a
força dos seus movimentos repetitivos e feroz de vai e vem. Estou tão absorta
por tudo isso, que sou a primeira a entrar em colapso e chegar ao orgasmo.
— Sua buceta vai ser a porra do meu vício! — Axel fala, enquanto eu
ainda estou sob efeito do orgasmo. — Porra! — diz, gemendo de modo
rouco e gozando logo em seguida.
Não dizemos uma única palavra, minha boca está seca, a respiração ainda
está descontrolada e o meu coração está acelerado demais. Depois que a onda
prazerosa vai deixando o meu corpo, sinto os meus olhos querendo fechar
novamente.
Axel tira toda a minha energia, preciso urgentemente beber água e dormir,
mas tenho certeza de que o sono vai vencer qualquer outra coisa, porque o
meu corpo está parecendo uma gelatina de tão amolecido que está.
Quando estou quase caindo no sono, abro os olhos no mesmo instante,
sentindo uma dor absurda com o pau amolecido de Axel saindo de dentro de
mim.
— Te machuquei, minha menina? — Axel pergunta com um tom satisfeito.
Sinto minhas bochechas esquentarem de puro constrangimento. Não posso
dizer a ele que a minha bunda está ardida pelos seus tapas e que a minha
intimidade lateja por ele ter a disposição de um animal necessitado. Não
tenho coragem para falar coisas como essas, apesar de ser tudo verdade.
— Por que eu tenho a sensação de que você gostou disso? — indago sem
jeito, vendo o seu sorriso fantasma.
— Porque eu gostei, você tem uma buceta muito gostosa, fica impossível
não querer te foder toda hora. — Desvio o meu olhar, porque eu estou
realmente chocada com o que ele acabou de dizer. — Não precisa ficar com
vergonha, minha menina, você terá que se acostumar com isso — Axel diz e
eu respiro fundo.
— É, eu acho que é verdade — falo com resignação.
— Venha, vamos tomar um banho! — diz, levantando da cama e
estendendo a mão para mim.
— Eu não posso dormir mais um pouquinho? — pergunto com esperança e
ele nega com a cabeça, fechando a expressão.
— Não, não pode! Temos que nos adiantar, porque viajaremos daqui a
pouco. — Axel comunica, fazendo meus olhos arregalarem.
— Viajar? — pergunto e ele assente. — Mas viajar para onde?
— Vamos para Nova Jersey, temos que estar lá amanhã — diz com a voz
firme.
— Eu não posso ir, Axel, eu tenho faculdade e nem estamos perto das
férias. — Tento fazê-lo entender que eu não posso me ausentar.
— Você tem certeza de que quer ir para a faculdade agora? — questiona.
— Depois de não ter me deixado matar aqueles filhos da puta? — Axel
resmunga.
— Se você tivesse matado eles, eu estaria presa por ser cúmplice —
retruco, fazendo Axel arquear a sobrancelha.
— Oh, minha menina, você é muito esperta — Axel diz e eu desvio os
olhos. Eu estava me sentindo mais à vontade para falar com ele sem sentir
aquele medo assustador de antes, mas agora o sinto de novo. — Pode falar
comigo livremente, minha menina, eu gosto disso — Axel confidencia, me
deixando surpresa.
— Isso é sério? — pergunto e ele confirma.
— Eu já falei antes e você tende a não entender — ele solta uma respiração
frustrada. — Eu quero a Isadora real, a mesma que não teve vergonha de
gemer meu nome enquanto eu possuía o seu corpo gostoso. Eu quero essa
menina para mim, estamos entendidos?
— Por que fala essas coisas assim? — Me sento na cama e esfrego as mãos
no meu rosto cansado.
— Porque eu não uso máscaras e você deveria experimentar, minha
menina — Axel diz e eu o encaro.
— Então, posso falar o que eu quiser? — indago e ele cerra os olhos.
— Não abuse da sorte, Isadora — fala e eu prendo o meu sorriso.
— Sim, senhor! — Estendo minha mão para alcançar a sua. — Axel! —
grito assustada quando me puxa com tudo para ele, quase me fazendo
desequilibrar e cair.
— Eu te peguei, minha menina! — Axel diz com os nossos rostos
próximos. Meu coração acelera ao me ver encantada com seus olhos fixos
nos meus. — Banho? — pergunta e eu confirmo sem falar nada.
Axel me coloca no chão para irmos ao banheiro juntos, eu já estou pronta
para andar, mas é só olhar em direção a cama que eu paralisei na hora.
Observo com bastante vergonha os lençóis bagunçados e as manchas de
sangue causadas pelo rompimento do meu hímen.
Ali está a prova que tudo foi real, que eu me entreguei para Axel com tudo
de mim. Que agora esse homem está marcado em mim, mesmo que eu não
esteja marcada nele, para mim, ele é muito mais do que eu poderia sonhar.
Eu nunca vivi isso, nunca senti tal necessidade de pertencer a algo ou
alguém tão fortemente, mas agora eu sei como é e quero tê-lo pelo tempo que
ele me quiser.
Sou acordada dos meus devaneios quando Axel me chama. Dou um sorriso
sem graça por me deixar levar por tais pensamentos e o sigo.
Já no banheiro, Axel me pega totalmente desprevenida quando ele, sem
falar nada, começa a lavar o meu cabelo e todas as partes do meu corpo.
Todas as palavras morrem na minha boca, eu realmente não sei o que pensar
ao ter esse homem tão frio e dominador me limpando. Quando os dedos de
Axel esfregam o meu couro cabeludo, eu não controlo o gemido apreciativo.
Meus Deus, que coisa relaxante!
— Se você ficar gemendo desse jeito, eu vou ter que te curvar nesse box e
te foder — Axel diz entredentes, pressionando seu pau, agora rígido, nas
minhas costas.
— Eu não sei se eu consigo! — solto rapidamente, sentindo a minha
intimidade latejar por causa do nosso sexo de antes.
— Então se controle! — ele ordena, novamente entredentes.
— Sim, sim! — falo, ficando parada como uma estátua.
— Isadora, o que eu farei com você? — Axel resmunga sem calor e eu me
controlo para não sorrir do seu jeito irritadiço.
— Axel — chamo e ele faz um simples "hum", me fazendo acreditar que
eu posso falar. — Eu vou mesmo com você para Nova Jersey? — pergunto
como quem não quer nada.
— Vai sim, eu já disse isso e não gosto de repetir — diz de forma séria.
—Tão ignorante, meu Deus! — murmuro e Axel solta um som de raiva.
— Em inglês, Isadora, odeio não saber o que você falou — Axel fala com
irritação.
Concordo com a cabeça, sem traduzir, e mudo de assunto.
— Eu só estou preocupada com a faculdade, com os meus pais e a Lara.
Aí, meu senhor, a Lara! — exclamo ao me lembrar que havia marcado um
compromisso com ela.
— O que foi? O que tem essa Lara? — Axel pergunta, juntando as
sobrancelhas.
— Quando eu estava pensando em fugir de você, havia pedido a ela para
dormir na sua casa — falo com cautela, observando Axel não ter nenhuma
reação. — Ela agora deve estar preocupada comigo, tenho que ligar para ela
— solto nervosa.
— Isso é realmente importante? — Axel diz, ainda impassível.
— Sim, Axel, eu tenho que fazer isso — eu explico e ele solta uma
respiração forte.
—Tudo bem, quando descermos para comer algo, você liga para essa sua
amiga. — Não consigo segurar o meu sorriso, Axel olha para mim por um
tempo, até que volta a limpar o meu corpo.
— Posso ligar para o meus pais também e falar que eu vou ter que viajar?
— aproveito que ele não reclamou sobre Lara e peço também.
— Certo, mas você não pode dizer para onde vai. — É minha vez de
franzir as sobrancelhas. — É para nossa segurança, minha menina. Estamos
indo a trabalho — ele explica.
— Ah, entendo! — exclamo com surpresa. — Vamos ficar quanto tempo
lá? — pergunto e Axel nega com a cabeça.
— Não sei ao certo, ficaremos o tempo necessário para fazer todo o
trabalho — sua voz soa dura e eu confirmo.
— Então vou inventar alguma coisa para os meus pais, para não os deixar
preocupados — digo pensativa.
— Quando voltarmos podemos fazer uma visita a eles. — Fico confusa
com o que acabo de ouvir.
— Vamos? — Arqueio a sobrancelha. — Como assim? — acrescento. —
Você também vai ver os meus pais? — pergunto espantada e Axel começa a
lavar minha intimidade, mas eu dou um passo para trás. — Eu lavo aí! —
grito nervosa, porque está tudo tão dolorido e inchado que prefiro eu mesma
fazer.
— Sim, vamos juntos! — ele exclama. — Não vou mais deixar você sair
das minhas vistas — Axel fala seriamente, me deixando com suas palavras.
— Isso é para eu não fugir? — pergunto, distraidamente enquanto observo
Axel se lavar.
— Eu acho que você já aprendeu a lição sobre isso, não estou certo? — Ele
para o que está fazendo para me fitar de soslaio.
— Já sim, não vou tentar de novo! — digo, confirmando rapidamente com
a cabeça.
— Boa menina, minha Dora! — ele me chama pelo apelido e o meu queixo
vai ao chão.
— Você acabou de me chamar de Dora? — pergunto e ele fecha a cara na
mesma hora.
—Sim! — ele diz e eu tenho que morder meu lábio inferior para não sorrir
como uma demente. — Vamos, temos que comer alguma coisa — Axel fala,
desligando o chuveiro e abrindo o box para ir pegar duas toalhas.
— Certo! — Aceito a toalha que ele me dá e me enrolo nela. — Axel! —
chamo, antes que ele saia do banheiro.
— O que foi? — Ele vira a cabeça na minha direção e ao ficar presa pelo
seu olhar, perco toda a coragem de falar o que eu queria.
— Nada, não é nada. — Engulo em seco e nego com a cabeça.
Sinto os olhos de Axel ainda em mim, mas eu não tenho coragem de
continuar a encará-lo.
— Tudo bem, vou pegar uma roupa para nós dois — Axel diz, saindo do
banheiro logo em seguida.
Nesse momento eu quero me chutar por pensar em dizer a ele o quanto
gostei de tudo o que fizemos juntos. Oh, minha santinha, onde estou com a
cabeça?
Eu não posso dizer isso a ele, seria muito vergonhoso. Nego com a cabeça
e sigo para frente do espelho, ao levantar a minha cabeça para encarar o meu
reflexo, sou arrebatada pela visão das marcas avermelhadas nos meus ombros
e pescoço. Crio coragem e tiro a toalha para fazer uma breve averiguação do
estado atual do meu corpo.
Olho espantada para algumas marcas de dedos, irritações e muitas outras
coisas. Me viro de costas, vendo como a minha bunda tem a marca exata da
palma da mão de Axel. Imediatamente, a lembrança pervertida dos seus tapas
vem em mim, mordo a parte interna na minha bochecha para conter qualquer
som que venha sair da minha boca.
Tudo o que eu menos quero agora é que Axel apareça no banheiro e veja
que eu sinto prazer ao lembrar do que ele me fez. Na minha cabeça eu sei que
isso é errado, que eu não deveria gostar dessa perversão, mas eu não posso
conter a umidade entre minhas pernas.
Axel está me transformando em uma depravada, não tem outra coisa que
eu possa pensar além disso.
Droga, eu acho que… posso gostar disso!
Me surpreendo totalmente com os meus pensamentos e tento esquecer isso.
Penteio os meus cabelos da melhor forma possível, usando um gel que acabei
de encontrar aqui nos armários, ao procurar por um pente
Será que Axel usa gel para deixar os cabelos daquele jeito intocável?
Deixo escapar uma risada com a possibilidade e arrumo o meu cabelo de
forma mais apresentável. Ao sair do banheiro, encontro Axel arrumado, com
uma camisa de manga azul escura, calça jeans e sapatos sociais pretos.
— Aqui está a sua roupa, vista e quando terminar, desça para me encontrar
— Axel diz e eu concordo.
— Tudo bem — falo em confirmação. — Onde estão os meus óculos? —
pergunto ao notar que eu não sei onde estão.
— Eles quebraram! Você deixou cair e Craig pegou, mas eles estavam
quebrados — Axel conta e eu solto um lamento.
— Droga, eu não enxergo muita coisa sem eles — resmungo. — E agora?
— lamento com tristeza.
— Não se preocupe, minha menina, quando estivermos em Nova Jersey
vamos ver tudo o que você precisa — Axel diz e eu solto um suspiro.
— Eu não vou poder falar nada, certo? — pergunto e ele dá aquele seu
sorriso fantasma.
— Acho que você está pegando o espírito da coisa, minha menina — Axel
diz e começa a se aproximar. — Aqui está! — Ele estendeu o mesmo celular
branco de antes.
— Oh, ele não quebrou! — exclamo admirada.
— Não, o que foi bom, já que ele está com tudo que é seu programado —
eu pego o celular da sua mão e dou um pequeno sorriso.
— Você está sempre preparado para tudo, não é? — comento e ele avança
para deixar um beijo forte em meus lábios.
— Se tem uma coisa que eu odeio nessa vida, é perder tempo. Se tenho que
fazer algo, eu faço, se quero algo, eu tomo. Simples assim! — Ele me beija
novamente. — Faça suas ligações e venha comer, estamos saindo em
quarenta minutos — Axel diz e não consigo falar nada a não ser assentir,
enquanto o vejo se afastar.
Espero Axel sair para vestir as roupas que ele havia separado para mim.
Fico encantada ao ver que essas peças se assemelham as que usei mais
cedo. Visto o conjunto de lingerie vermelho escuro, me encolhendo um
pouco quando o tecido roça sobre minha pele maltratada. Sem perder tempo,
coloco a calça e a camisa de manga cinza escura. Me sento na cama com um
pouco de desconforto para calçar os tênis pretos.
Quando estou completamente vestida, pego o celular e desbloqueio pela
primeira vez.
Esse é realmente um aparelho maravilhoso, eu não poderia dizer o
contrário, mas não é hora disso, eu tenho que começar com as ligações. Vou
na agenda ver se realmente o número de Lara está aqui e como Axel disse,
todos os meus poucos contatos e mais alguns outros estão realmente salvos.
Clico no número de Lara e solto uma respiração para me preparar
mentalmente para esse furacão de mulher.
— Alô, quem fala? — Lara atende no terceiro toque.
— Oi Lara, aqui é… — começo a falar, mas o seu grito me faz parar.
— Dora! — ela exclama. — Onde você está? — questiona. —Eu fiquei te
procurando! — Lara diz com um toque de repreensão e curiosidade.
— Eu sinto muito por ter saído sem te falar, mas eu tive que ir — falo
rápido e tento fazê-la entender.
— Isso foi pelo o que aconteceu na frente da faculdade? — ela indaga. —
Você está bem? — Lara acrescenta com um pouco mais de calma.
— Eu estou bem, não se preocupe, eu estou com… — me interrompo, sem
saber dizer o que Axel é meu. — Estou com um amigo! — conto e ela faz um
som de confirmação.
— O que foi que houve? — questiona. — Ninguém soube me explicar, a
não ser que os seus colegas babacas estavam te agredindo verbalmente, até
que homens apareceram e os comeram na pancada — Lara diz e eu dou um
sorriso sem humor.
— Parece que te deram um bom resumo de tudo, não é? — eu murmuro.
— Mas foi exatamente isso que aconteceu — falo, ainda sem graça.
— Eu achei foi pouco, esses filhos de uma vaca mal parida mereciam essa
surra — Lara diz com raiva e dessa vez eu dou um sorriso genuíno.
— Vaca mal parida? — pergunto, ainda rindo.
— Sim, é o que eles são — confirma ela. — Dora, eu me sinto uma
péssima nova amiga por não poder estar presente para te ajudar quando tudo
aconteceu — Lara diz com a voz sentida e eu nego com cabeça.
— Não diga isso, você não sabia que ia acontecer. Nem eu, para ser
sincera! — digo a Lara, que solta um suspiro.
— Onde você está? — questiona. — Nós podemos nos ver amanhã, o que
acha? — sugere Lara e eu arregalo os olhos.
— Eu vou ter que me ausentar por uns dias, mas quando estiver de volta,
vou te avisar — falo da forma mais sincera possível.
— Se ausentar? — pergunta e faço um som de confirmação. — Tudo bem,
mas vai poder falar nesses dias fora, não é?
— Claro que sim, pode me ligar quando quiser — eu explico calmamente.
— Fica bem viu, qualquer coisa é só chamar — Lara diz e eu sorrio.
— Pode deixar, até mais, Lara! — me despeço da minha nova amiga.
— Me liga! — Lara diz e eu sorrio, desligando logo em seguida.
Após a ligação de Lara, eu vou logo procurar o número de papai para
poder ligar. Acho melhor ligar para ele, porque eu sei que não larga o seu
celular por causa dos joguinhos que é totalmente viciado.
— Paizinho, sou eu! — falo assim que ele atende.
— Dorinha, que saudades, minha garotinha. Por que não ligou esses dias?
— meu pai fala com um toque de repreensão e carinho.
— É a nossa filha, Gene? — Ouço a voz de minha mãe de longe e é
impossível não sorrir.
—É sim, mulher! — papai fala e eu aproveito que eles começaram a brigar
por algo aleatório e me levanto para sair do quarto.
— Não briguem, por favor, eu tenho que falar com os dois — os repreendo
assim que começo a andar pelo corredor.
— Dorinha, minha filha, você está bem? Está se alimentando direito? —
mamãe pergunta, preocupada com a minha saúde.
— Sim, mãezinha, eu estou bem e comendo direitinho — sorrio com a sua
preocupação.
— E, minha filha, aconteceu alguma coisa? — papai fala com a voz
preocupada.
— Não paizinho, nada aconteceu! — minto, para evitar as suas
preocupações. — Eu só liguei para avisar que a minha ida para casa vai ter
que demorar um pouco — solto de forma rápida.
— Oh Dorinha, sério mesmo, minha filha? — papai lamenta e eu me sinto
mau por isso.
— Sinto muito mesmo, papai, mas eu vou precisar fazer uma viagem —
comunico uma meia verdade.
— É por conta da faculdade, minha filha? — mamãe indaga, curiosa.
— Em partes, sim, mãezinha. — Coço a minha testa, sem jeito.
— Não vai me dizer que o seu namorado vai te levar em uma viagem, é
isso? — mamãe fala feliz, me fazendo arregalar os olhos.
— Mamãe! — minha voz sai alta.
— O que é isso, Maria? — papai reclama. — A nossa filha é menina de
família e não viaja com desconhecido assim — paizinho fala com irritação.
— Você tem que parar de besteira, Isadora já é uma mulher e precisa se
casar — mamãe fala e eu gemo ao ouvir suas palavras.
— Eu não tenho um… — Levanto a cabeça para dar de cara com Axel, me
olhando como se questionasse com quem eu estou falando.
— Filha? — meu pai chama e eu pisco algumas vezes.
— Oi! — respondo. — Eu estou aqui — falo rapidamente, observando
Axel se aproximar. — Eu tenho que ir, paizinhos, logo eu vou ligar. Amo
vocês! — declaro, ouvindo eles falarem que me amam também. E antes de
desligar, ouço minha mãe gritando para eu não esquecer de levar agasalho e a
minha bombinha de asma.
Meu Deus, minha bombinha de asma!
— Tudo bem? — Axel pergunta assim que eu encerro a ligação.
— Sim, eu só estava falando com meus pais — respondo e ele me encara.
— Certo, então vamos comer, porque tenho que ir — Axel diz com
firmeza, estendendo a mão para que eu alcance.
— Axel! — chamo e ele olha na minha direção, acenando para que eu
continue. — O que nós somos? — solto a pergunta repentinamente.
— Por que essa pergunta? — ele indaga e eu dou de ombros. —
Respondendo sua pergunta, nós somos aquilo que você quiser. Mas é
importante que saiba que você é o meu tudo e que agora não há mais como
mudar isso.
— Seu tudo? — pergunto, engolindo em seco.
— Sim, Isadora! — ele exclama. — Você é como a minha maior droga,
agora que provei, fiquei totalmente viciado — Axel diz sem receio, me
deixando totalmente sem palavras.
Repasso as palavras na minha cabeça, sem acreditar que elas são
verdadeiras. Mas um homem como Axel não diz meia palavras ou palavras
vazias, então, cabe a mim ter que lidar com isso. De uma forma ou de outra.
Caminho em direção a sala de jantar levando Isadora junto comigo. Temos
pouco tempo para ela se alimentar e irmos para a localização do jatinho.
Nós temos que chegar em Nova Jersey o mais rápido possível, todo tempo
é importante quando se trata de um resgate. Ainda tem a porra do senador,
que decidiu ter um encontro comigo de última hora. Acho que esse filho da
puta não entendeu como é o seguimento dos nossos serviços, mas assim que
estiver cara a cara com ele, vou ter que fazê-lo entender.
Aperto minha mão na cintura de Isadora, ela dá um pequeno tremor com o
meu aperto e gira a cabeça na minha direção. Não preciso olhar para ela para
saber que se assustou com o meu aperto repentino.
Mas também não preciso dizer a ela que a tocar, seja do jeito que for, me
acalma. Que esse é justamente o motivo para que eu a tomei para mim, para
nunca mais deixá-la ir.
Trinco os meus dentes com força quando eu lembro que Isadora estava
cheia de planejamentos de correr para longe de mim. Pensar nisso me causa
uma raiva fora do comum e fico me perguntando o porquê disso me
incomodar tanto.
Eu nunca fui assim, não tenho esses desejos possessivos por pessoas e,
principalmente, por mulheres. Pela minha experiência do passado, elas são
criaturas feitas para te seduzir e quando você estiver distraído, cravar uma
faca bem funda no seu pescoço.
Foda de experiência de merda!
Isadora é a primeira mulher por quem assumo essa forma possessiva, mas
isso não quer dizer que eu nunca tenha tido ninguém na minha vida. Sou um
homem de 34 anos, carregando nas costas uma mala pesada de merdas.
Contudo, não me importo com isso, eu adoro quando as merdas acontecem
para que eu possa destroçar aqueles que causaram isso. Não me considero um
homem quebrado, até acho isso tudo um monte de idiotice, para falar a
verdade, Eu nasci assim e só fui amadurecendo com o tempo, gosto de deixar
a minha escuridão sair, sou bom nisso e é por essa razão que trabalho de um
modo que poucos fariam.
Deixo esses pensamentos aleatórios de lado assim que chegamos à sala.
Craig já separou o jantar para Isadora do jeito que eu havia pedido e vejo os
olhos da minha menina comilona brilharem quando nota o farto pedaço de
lasanha. Sem esperar que ela sente em uma das cadeiras, eu me sento na
minha e a arrasto para o meu colo.
Eu não quero me afastar ainda, ela vai ter que aguentar a minha obsessão
descontrolada. Desde que eu tive o gosto da minha menina, me sinto cada vez
mais querendo tê-la daquele jeito, gemendo o meu nome enquanto eu fodo a
sua buceta apertada. Porra, estou ficando duro novamente!
— Axel, como eu vou comer sentada no seu colo? — Isadora pergunta e
vejo suas bochechas ficarem vermelhas.
— Você vai dar seu jeito — respondo seriamente.
— Mas, Axel… — ela tenta dizer algo, mas eu me inclino para alcançar
seus lábios.
— Eu quero você bem aí, porque é por culpa sua que eu estou nesse exato
momento de pau duro — minha confissão faz o corpo de Isadora ficar rígido.
— Oh! — ela solta surpresa e eu a pressiono no meu colo, para que sinta a
rigidez do meu pau.
— Sim, oh! — falo irritado, a segurando pela nuca para que eu possa beijá-
la novamente.
— Deixe a menina comer, Axel. Temos que sair logo! — Ouço a voz de
Craig e solto minha menina para olhar em sua direção de modo irritado.
— Você não me diz o que faço ou deixo de fazer, porra — digo e Isadora
dá um pulo de forma assustada no meu colo.
— Foda-se você! — meu irmão diz, revirando os olhos.
— Oi, Craig — Isadora cumprimenta o meu irmão meio sem jeito e ele
acena para ela.
— Oi, Isadora — Craig responde, fazendo-a dar um sorriso tímido.
Eu não gosto de vê-la sorrindo para outro, mesmo que seja para o idiota do
meu irmãozinho.
— Coma, Isadora! — ordeno e ela assente, sorrindo para mim.
— Pode deixar, isso está com uma cara boa! — ela fala de forma baixa, o
que me faz duvidar se está falando comigo ou somente falou em voz alta.
— Chefe, já está tudo pronto — Earl fala, entrando junto com Russel na
sala.
— Certo, vamos assim que acabarmos aqui — respondo e eles concordam.
— Oi, meninos! — Isadora fala com a boca cheia e eu mordo o gemido
idiota, por achá-la adorável suja de molho de tomate.
— Ei Dora, gostou da comida do nosso cozinheiro particular? — Earl
pergunta com a sua forma amigável, surpreendendo totalmente Isadora, já
que ele nunca agiu dessa forma com ela.
— Eu não sou a porra do cozinheiro particular de vocês — Craig diz em
forma de um rosnado raivoso.
— É sim, sem você nós estaríamos morrendo de fome — Russel diz,
puxando uma cadeira para se sentar.
— Diga por você, por que eu sei fazer um ótimo sanduíche — Earl fala e
meu irmão revira os olhos.
— Bando de fodidos! — Craig resmunga, se virando para sair.
— Craig ficou irritado? — Isadora pergunta com cautela.
— É mais fácil perguntar quando é que os irmãos Cox não estão irritados
— Russel diz sorrindo e eu olho friamente em sua direção.
— Fale isso mais uma vez e você ficará aqui no Brasil, Sanchez — dou
uma pausa, fixando meu olhar em Russel —, só que em uma cama hospitalar
— falo, fazendo-o levantar as mãos em sinal de rendição.
— Não está mais aqui quem falou, chefe! — Russel diz e Earl dá uma
risada.
— Isso que dá ter a boca grande — Earl comenta, mas eu estou mais
interessado em focar na minha menina.
Observo-a sorrir de modo contido ao ver Russel empurrar Earl e esse
sorriso me faz trincar os dentes com força, porque percebo que não gosto de
vê-la à vontade com as outras pessoas.
Já tinha notado isso desde o dia em que a peguei olhando de modo
avaliativo para os homens da minha equipe. Na minha mente perturbada e
doentia, ela deve olhar para mim e para mais ninguém. Eu quero ser a porra
do centro da sua atenção, ser aquele único a possuir o seu corpo, como fiz
poucas horas atrás, enquanto eu rompia a sua virgindade. Tirando dela um
pouco da sua inocência e corrompendo sua luz com a minha obscuridade.
Agora que provei o doce sabor de sua entrega a mim, eu me tornei um
bastardo ganancioso, que não quer compartilhar nada que venha da Isadora
com qualquer outra pessoa.
Acho que a minha mão apertando o seu quadril chama a sua atenção,
porque Isadora vira a cabeça na minha direção e dá um sorriso completo,
mostrando assim o seu aparelho dentário. Somente isso faz com que os meus
nervos agitados se acalmem no mesmo momento.
Isadora consegue fazer com que a minha raiva recue somente com um
fodido sorriso metálico, isso é algo surpreendente. Tão surpreendente, que só
deixa mais evidente o fato de que ela deve ficar ao meu lado e não ao
contrário.
No momento que Isadora termina de se alimentar, eu a levo comigo para
fora, pois, há um carro esperando por nós. Chegamos na pista clandestina e o
nosso jatinho está à espera, eu tenho que fazer esse trabalho em Nova Jersey
e voltar para o Brasil para resolver o meu problema.
Odeio fortemente esse lugar e o quanto os brasileiros adoram tirar
vantagem de qualquer fagulha que seja. Um desses merdas e Ângelo, já que
essa pista é dele e ele faz questão de tentar me extorquir por isso.
Filho de uma puta do caralho!
Mesmo sendo o meu único contato aqui no Brasil, ele não é o meu único
na América de Sul.
A viagem me causa grande irritação, pois eu tenho que mudar os meus
planos de pilotar o jatinho para ter que cuidar da Isadora, que desmaia assim
que percebe que não vamos viajar como qualquer passageiro. E quando ela
acorda, algumas horas depois, eu não posso me controlar em não foder com
ela no pequeno e apertado banheiro.
Estou irritado, ela está muito adorável com medo de altura e envergonhada
por ter desmaiado nos meus braços. A nossa transa é forte, dura e
fodidamente prazerosa, porque além de foder sua apertada buceta. Eu tenho
que pressionar a minha mão na sua boca, a impedindo de gritar o seu
orgasmo.
— Você irá ficar no hotel com o Earl — digo assim que entramos no carro,
ela está distraída olhando as ruas de Nova Jersey.
— Você não vai vir comigo? — ela pergunta desnorteada e eu nego com a
cabeça.
— Não, te encontrarei mais tarde — revelo friamente e ela se encolhe.
— Tudo bem — ela diz, tentando esconder a sua tristeza, mas é sem
sucesso.
Cerro os punhos com força quando vejo que o seu desconforto me atinge.
— Isadora! — chamo e ela continua a olhar para a janela. — Isadora, olhe
para mim agora! — ordeno com raiva e ela o faz rapidamente, com os olhos
arregalados.
— Oi…, Axel! — fala temerosa, sem esconder a sua surpresa com o meu
comando.
— Estou indo a trabalho, você não poderá vir comigo, mas assim que eu
chegar no hotel, nós vamos jantar — digo a ela, que confirma com a cabeça.
— Sim, eu te espero — ela diz e eu solto um suspiro irritado.
— Venha aqui — chamo, me inclinando para livrá-la do cinto de
segurança. Ela se assusta um pouco, mas de qualquer jeito, vem para mim.
— Sim? — questiona e eu passo a mão em seus cabelos selvagens.
— Não vou demorar, mas enquanto eu estiver fora, não saia do hotel de
forma alguma. E se acontecer qualquer coisa, me ligue. — Isadora, que está
tensa, quando ouve as minhas palavras, relaxa e dá um sorriso completo.
— Para onde eu iria? — indaga. — É meu primeiro sequestro
internacional, se você não sabe — sua voz soa baixa e divertida. Sem
conseguir resistir, eu a beijo.
Não sei o que há com essa menina, que eu não consigo me conter.
— Não seja uma espertinha, minha menina, isso pode te render um castigo
— falo, notando que minha voz saí rouca de excitação, por imaginá-la
amarrada enquanto eu fodo sua boca.
— Oh! — Isadora exclama, enquanto suas bochechas coram.
Porra de menina!
— Chegamos ao hotel — falo ao notar que o carro para, Isadora olha para
a janela e depois para mim. Sem espera por qualquer outra reação, eu beijo
seus lábios com força, segurando os cabelos da sua nuca com firmeza. — Vá,
Earl está a sua espera! — digo, separando nossos lábios.
— S… sim, sim, eu vou! — ela fala desnorteada, enquanto vai abrir a
porta. — Axel! — Isadora chama quando está fora do carro e eu viro a
cabeça para encará-la.
— Sim, minha menina? — indago seriamente.
— Você não vai se machucar, não é? — Eu não posso conter o sorriso de
escárnio.
— Hoje não! — respondo, observando-a piscar várias vezes, confusa. —
Vá, Isadora! — ordeno e ela assente, fechando a porta do carro.
Não olho para ter certeza se Earl a guiará para o hotel, porque eu sei que
ele nunca irá contra as minhas ordens.
Solto uma respiração firme com a intenção de focar no que eu realmente
vim fazer aqui. Tudo o que menos preciso agora é ficar pensando em coisas
aleatórias e sem sentido algum.
Isadora está comigo com um único objetivo, se adaptar a equipe. Porque
quando toda essa onda obsessiva que eu sinto com relação a ela passar, a
única coisa na qual me será útil, é na sua capacidade tecnológica.
Fico satisfeito quando vejo que chegamos no local marcado pelo senador.
Saio do carro sendo acompanhado por Craig, que está silenciosamente sendo
o motorista da vez.
Russel e alguns dos meus homens estão de guarda, caso dê alguma merda
com o senador. Entro no restaurante vazio, onde fica nítido que foi reservado
para essa conversa, e logo de cara posso ver um homem negro sentado
sozinho em uma das mesas.
O senador Silas Bennett é um homem robusto, no auge dos seus 45 anos,
que foi eleito como governador no ano passado.
— Senador! — falo friamente, fazendo o homem se assustar e pular da
cadeira.
— Cox? Axel Cox? — o senador pergunta e eu confirmo. O homem, que
está com uma expressão aflita, relaxa assim que me vê. — Você realmente
veio! — A dúvida dele com a minha palavra me causa irritação.
— O que deseja, senador? — questiono. — Não me diga que me chamou
aqui para perder a porra do meu tempo. Tempo esse que eu já poderia estar
procurando pela localização da sua filha — digo, sem esconder a minha
irritação.
— Não, não é nada disso — diz ele. — Eu só tenho uma informação que
pode… — o senador Bennett começa a falar, mas eu levanto a mão, o
fazendo parar.
— Se tem uma coisa que eu não gosto, é que me façam perder tempo. Diga
logo o que exatamente você quer, senador! — ordeno entredentes e dessa vez
seu olhar demonstra uma dureza, me fazendo acreditar que ele está
encerrando com a merda.
— Eu dou mais um milhão de dólares se você e sua equipe matar cada uma
das pessoas que sequestraram a minha garotinha — o senador diz e eu
permaneço impassível.
— Qual o nome da criança? — pergunto de repente.
— Emily, ela tem oito anos — ao dizer o nome da sua filha, a expressão do
senador amolece no mesmo momento.
Sem perder mais tempo com toda essa besteira, me viro em direção a saída
e sigo o meu caminho para fora. Mas antes de passar pela porta, falo alto o
suficiente para que o Senador Silas possa me ouvir.
— Não há necessidade de adicional, senador, porque os sequestradores da
sua Emily nunca sairiam vivos após cruzar os nossos caminhos — encerro a
conversa e saio do restaurante sem olhar para trás, sabendo que Craig está em
meu encalço.
Eu sei que sou um homem ruim, mas se há uma coisa que eu odeio, são
fodidos que usam a fragilidade de uma criança para conseguir o que querem.
E quando algo assim acontece, esses filhos da puta só tem um destino. A
morte.
Estou sentada em um enorme e luxuoso quarto de hotel, localizado no
coração de New Jersey.
Eu poderia estar curiosa para estar andando por todo perímetro da suíte, já
que eu sou uma mulher curiosa, que adora tudo que é feito com bom gosto e
dedicação. Mas eu não estou me sentindo curiosa agora, para falar a verdade,
estou nervosa e com receio em estar aqui.
Ainda não sei o porquê Axel me trouxe, claro que eu sei que eles estão
aqui para fazer um trabalho. Só que ele não me disse que tipo de trabalho é
esse e o porquê eu tenho que estar aqui.
Já cheguei a imaginar que é porque Axel não quer tirar os seus olhos de
mim, pois, desde a última vez que soube que eu tentei fugir, não me deixa um
minuto sozinha. A cada momento, ele está com os olhos negros intensos em
mim, mas…, mas eu não acho que seja isso.
Há algo a mais nisso e Axel ainda não chegou a me dizer. Já cheguei até a
questionar se o fato de eu estar aqui é porque ele gosta de ficar ao meu lado.
Mas só que no mesmo momento que eu pensei nessa possibilidade, dei uma
gargalhada interna, zombando de mim mesma por ser tão estúpida.
Eu não posso ficar com esses pensamentos românticos com relação ao
Axel, tenho que dizer ao meu coração para ele não se apaixonar. Porque se
isso acontecer, não será bonito, pelo menos para mim, eu sei que não.
Me iludo muito fácil, sempre fui assim e agora não será diferente. Ainda
mais com Axel fazendo essas… coisas comigo. Só de pensar da possibilidade
de me apaixonar pelo meu vilão, um arrepio sobe minha espinha e eu tenho
que esfregar as minhas mãos nos meus braços para conter os calafrios.
— Está com frio, Dora? — a voz de Earl chama a minha atenção e eu olho
em sua direção.
— O quê? — pergunto confusa e ele dá um sorriso de lado.
— Você está esfregando as mãos nos braços. — Ele aponta e eu olho para
as minhas mãos.
— Oh sim, parece que estou! — dou um sorriso sem graça e ele nega com
a cabeça.
— Aqui, use isso! — Earl fala e começa a tirar o seu casaco.
— Não, Earl, eu tenho duas camisas aqui — digo ao loiro
— Estamos em Nova Jersey, Dora, o clima é bem diferente do Brasil. Eu
estou acostumado, mas você não — Earl diz, apontando o seu casaco azul
marinho na minha direção.
Eu estava tão distraída com o pensamento em Axel, que nem me dei conta
que realmente a temperatura daqui é mil vez mais baixa que lá no Brasil. E
bastou Earl falar para que o meu corpo começar a acordar para tudo a minha
volta.
Meu pobre organismo já está sentindo o efeito do clima gelado e é por isso
que eu aceito o casado de Earl, mas só irei ficar com ele até eu me aquecer
um pouco e nada mais.
— Por que você está sendo gentil comigo? — pergunto a ele após colocar
o seu casaco.
— Como? — ele indaga, com as sobrancelhas unidas.
— Por que você está sendo gentil comigo? — torno a questionar. — Será
que foi por que Axel mandou? — Earl fica parado e me encarando por um
tempo, até que começa a rir.
— De onde você tirou isso? — Earl pergunta e eu dou de ombros. — Você
realmente acha que eu estou sendo gentil com você por que o chefe mandou?
— ele interrompe as risadas.
— Eu nunca tive muitas pessoas gentis na minha vida. — Dou de ombros
novamente.
— Olha Dora, eu não sou o melhor homem do mundo, mas não tem por
que ser hostil com você — Earl fala e eu caminho para o sofá que tem na sala
adjacente ao quarto.
— Você se surpreenderia com a quantidade de pessoas que já foram hostis
comigo por nada — minha voz soa leve, enquanto encaro minhas unhas.
— Você está falando dos filhos da puta que estavam lhe causando merda?
— Earl comenta e eu não falo nada.
— Você e os outros tentaram me matar, se lembra? — questiono, fazendo
Earl dar uma risada.
— Isso são ossos do ofício, sinto muito! — ele se desculpa e eu faço um
gesto de desdém.
— São águas passadas, sabe disso — falo calmamente e ele assente. —
Como você conheceu o Axel? — questiono subitamente.
— É mais fácil você perguntar como foi que o Axel me conheceu — Earl
fala distraidamente.
— Por quê? — Não escondo a minha confusão.
— Porque, na verdade, ele me convocou para equipe e eu não tive chance
de recusar — diz Earl. — Bem, acho que você já viu mais ou menos como é
o Axel — ele diz e a imagem dos olhos ônix vem para a minha mente como
vingança.
— Acho que posso ter uma noção — digo, tentando não fixar a minha
mente em Axel. — O que você fazia antes? — Nesse momento, a expressão
amigável de Earl endurece.
— Eu era paramédico — Earl diz e meus olhos se arregalaram ao ouvir
isso.
— Paramédico? — questiono com surpresa. — Como um paramédico vai
parar no meio de… — me interrompo. — O que vocês são mesmo? — Viro a
cabeça para o lado.
— Muita gente nos chama de mercenários, não sei bem, eu não me importo
com a nomenclatura da coisa — Earl comenta e eu confirmo.
— Certo, eu entendo! — digo. — Então, como um paramédico veio parar
em uma equipe de mercenários?
— Não gosto de falar sobre isso, mas posso te dizer que eu precisava de
uma mudança e quando Axel e Craig apareceram com essa oportunidade, não
neguei. — É a vez de Earl dar de ombros, pode parecer um gesto normal, mas
eu consigo ver a tensão no seu corpo.
— Acho que você pode estar certo — digo, tentando não o deixar mais
tenso. —Você sabe me dizer algo sobre Axel e os outros? — a minha
pergunta faz Earl olhar na minha direção com as sobrancelhas erguidas.
— Sério que você vai ter isso comigo, Dora? — Earl pergunta rindo e eu
dou uma risada sem graça.
— Você é o mais receptivo de todos, não custa tentar — Earl, nega ainda
com um sorriso.
— Eu não sei muito sobre os irmãos Cox, eles são um mistério para mim
também, mas uma coisa eu sei. — Earl para, deixando um suspense no ar.
— O quê? — pergunto apreensiva.
— Que eles não são pessoas com que alguém deva mexer. Até mesmo o
Russel, que veio de uma clínica psiquiátrica, é menos perigoso do que
aqueles dois — Earl confidencia e eu não posso conter o som de surpresa que
escapa dos meus lábios.
— Clínica? Russel? — pergunto, soando meio idiota.
— Sim! — Earl ri baixinho. — Aquele homem é uma foda de louco. —
Absorvo as palavras, piscando várias vezes.
— Você deveria ter me contado isso? — questiono nervosa.
— Não há problema, já que você agora ficará por um bom tempo com a
gente — Earl sorri, me fazendo forçar um sorriso também.
Eu estou pronta para perguntar mais algumas coisas para Earl, mas a porta
é aberta repentinamente. E antes que eu possa ter qualquer tipo de reação,
Axel entra com toda sua altivez, firmeza e sedução escura.
Ele passa os olhos por todo o lugar, como se estivesse analisando que está
tudo sob controle. Depois foca os olhos duros em Earl e como se tivesse dito
algo secreto somente com o olhar, Earl caminha em direção a saída. Mas não
antes de se virar para mim e dar um sorriso curto de despedida.
Correspondo a sua saudação também com um aceno, mas eu não posso vê-
lo sair do quarto, porque logo em seguida Axel está em cima de mim.
— O que é isso? — Axel pergunta, me deixando sem saber o porquê da
sua pergunta e, principalmente, da sua careta irritada.
— Isso o quê? — retorno a pergunta, vendo que só o deixo mais irritado.
— De quem é isso que está vestida? — O olhar de Axel fica mais intenso e
eu olho para baixo, lembrando que estou usando a jaqueta de Earl.
— Oh, isso? — pergunto e Axel me olha impassível. — Eu não havia
percebido que estava com frio, até que Earl me ofereceu sua jaqueta — eu
explico de modo tranquilo.
—Você está usando uma roupa do Earl? — Eu não estou entendendo sua
irritação.
— Não foi isso que eu disse? — Reviro os olhos, para que no mesmo
instante, a mão grande de Axel prenda as minhas bochechas com força.
— Eu não gosto disso! — Seu tom é sombrio.
— Maix elê só foix xentil — falo de modo estranho por ter as minhas
bochechas em um aperto de morte.
— Então, se eu der um tiro na perna dele, eu serei gentil? — Axel enfatiza
a palavra gentil e eu me controlo para não revirar os olhos novamente. —
Tire isso do seu corpo e vá tomar um banho! — manda Axel, livrando minhas
bochechas.
— Nossa Axel, isso doeu! — falo, massageando minhas bochechas.
— Faça o que eu mandei, Isadora! — seu tom de voz sai mais elevado e eu
dou um pulo.
— Estou indo! — exclamo nervosa. — Esse homem deve ter algum fetiche
por banho, não é possível! Ele está sempre me mandando tomar banho —
resmungo, enquanto me livro da jaqueta.
O som profundo e irritado que saí de Axel me fez perceber que eu estou
falando em voz alta e em português.
— Isadora! — ele chama o meu nome como se estivesse me prometendo
algo que eu deveria ter medo.
E não é que eu fico?
Minha nossa!
Passo a jaqueta para Axel, que a toma de mim com um jeito que eu até que
fico com pena da pobre. Sem falar nada, eu vou para o banheiro, sendo
arrebatada com a elegância e bom gosto que esse lugar possui.
As torneiras douradas me encantam de tal forma, que eu tenho que tocar
para ter certeza de que é de verdade. Esquecendo a torneira, eu vou tomar
banho, mas quando estou pronta para girar o registro para deixar a água cair,
dou um grito alto, sentindo que está quente como as lavas flamejantes do
inferno.
Ao ouvir o meu grito, Axel entra no banheiro em dois tempos, e quando
percebe o motivo do meu desespero, sem falar uma palavra, ele vai me
mostrando como regular a temperatura da água.
Tento agradecer ao homem pela sua gentileza, mas ele já está saindo do
banheiro pisando duro. Fico tentando passar na minha cabeça tudo o que
aconteceu para que Axel esteja tão puto, porém, não chego à conclusão
nenhuma, acho que ele pode já ter chegado irritado com o que quer que seja
quando estava na rua. Só pode ser isso!
Negando com a cabeça, eu acabo de tomar meu banho, vestindo o roupão
macio e gostoso colocado estrategicamente para os hóspedes.
Quando saio do banheiro, vejo que Axel está a minha espera, me aproximo
dele a passos lentos e ao chegar perto o suficiente, ele se vira na minha
direção, apontando para a cama enorme de casal.
No primeiro momento eu não percebo o que ele quer que eu veja, mas caio
em mim quando noto uma calcinha vermelha rendada e um enorme blusão
preto de moletom ao lado.
— Vista isso! — Axel manda, me deixando surpreendida.
— De quem é esse blusão? — pergunto curiosa, mas ele ignora a minha
pergunta.
— Vista-se, que eu vou pedir nosso jantar — Axel manda e eu resolvo não
insistir.
— Certo! — murmuro minha resposta.
Visto a calcinha vermelha que ele me deu e quando estou pronta para vestir
o blusão, sinto Axel se aproximar. Ele pega o blusão da minha mão e decide
que irá me vestir.
Engulo em seco e deixo Axel satisfazer o seu desejo de colocar a roupa em
meu corpo. Assim que termina de fazer o que bem quer, ele enfia sua mão
grande por dentro do blusão quentinho. Solto um som de surpresa quando
seus dedos castigam levemente o bico do meu seio esquerdo.
Tento me esquivar do seu toque, mas Axel me prende no seu aperto de aço.
Com uma das suas mãos no meu peito, a outra descendo preguiçosamente até
a minha intimidade e sua barba roçando atrás da minha orelha, ele consegue,
mais uma vez, me dominar por completo.
— A próxima vez que eu te ver usando roupas de outro homem que não
seja eu, vou fazer algo que fará você ter mais medo de mim. Me ouviu bem,
minha menina? — o sussurro rouco no meu ouvido, misturado com o seu
toque, faz meu corpo esquentar.
— S... sim, Axel! — falo, excitada com o seu toque em mim.
— Boa menina! — Axel diz satisfeito, me livrando do seu toque, de uma
maneira que eu fico sentido falta logo em seguida.
— Minha nossa! — falo com a respiração cortada.
— Vou pedir nosso jantar! — Axel fala friamente, como se nada tivesse
acontecido poucos segundos atrás.
Como é que Axel pode parecer tão tranquilo, enquanto eu estou aqui,
quente de pura excitação?
Eu sei que ele está…, eu senti o seu pau duro nas minhas costas, já estava
pensando que nós terminaríamos na cama, como das outras vezes. Mas não,
agora eu estou aqui, com o coração acelerado, o rosto quente e a umidade
entre minha coxa, enquanto Axel está como se nada tivesse acontecido.
Tenho que me acalmar, respiro fundo algumas vezes, passo as mãos no
meu rosto para tirar os cabelos da testa e vou me distrair com algo. Consigo
fazer isso quando olho meu celular e vejo uma mensagem de Lara.
"E aí garota, você está podendo falar?"
"Aconteceu alguma coisa?"
"Nada demais, somente a Kimberly e suas amigas que vieram perguntar de
você."
Fico rígida no mesmo momento ao ver essa mensagem. Eu sabia que isso
era uma possibilidade, mas não esperava que fosse tão cedo.
"Acredito que não foi de forma amigável, não?"
"Não, com certeza não foi. Kkkkk..."
"E o que você disse a elas?"
"Nada demais, disse que se elas não saíssem da minha frente, quem iria
ter que ir para o hospital eram elas dessa vez. "
"Você não falou isso, falou?"
"O que você acha?"
"Sim, você falou. Oh Deus, Lara!"
"Eu já disse a você que eu não gosto daquela loira falsificada.”
— Isadora! — Ouço Axel me chamar e tiro os olhos da tela do celular. —
O jantar chegou, venha! — diz e eu assinto com a cabeça.
"Tenho que ir, amanhã falamos!"
"Até amanhã, Dora!"
"Até, Lara!"
Enquanto eu e Axel estamos jantando, eu fico tentada a falar com ele sobre
o que Earl me contou, mas opto por não fazer. Se tem uma coisa que eu já
percebi, é que ele não é homem de ficar de conversa fiada.
Então, é justamente por isso que eu apenas me delicio do incrível jantar,
mas que mesmo sendo muito bom, não se compara a comida do Craig.
O silêncio no quarto está começando a me dar urticária e eu estou pronta
para começar a falar. Mas quando ergo o olhar para Axel, percebo que ele
está me encarando.
— Você está querendo me perguntar alguma coisa, Isadora? — Axel
pergunta após limpar sua boca com o guardanapo.
Jesus, como o homem pode ser charmoso somente limpando a boca?
Cruzes!
— Não, eu não! — Nego com a cabeça, mas o olhar firme de Axel me faz
parar de negar. — Bem, eu posso querer perguntar uma coisinha a você —
comunico, dando uma risada sem graça.
— Então diga e pare de besteira! — diz grosseiramente e eu me controlo
para não fazer uma careta.
— Eu só estou curiosa, Axel — falo de forma rápida e me sento de forma
confortável na sua cadeira.
— Uma coisinha curiosa você, não é? — A voz de Axel é mais leve e eu
sorrio, assentindo.
— Parece que sim — concordo, após beber um pouco de água.
— Pergunte, Isadora! — Axel autoriza e eu me vejo ficando empolgada
para fazer perguntas a ele.
— Qual é realmente o trabalho que você e os meninos fazem? — pergunto,
focando minha atenção total nele.
Vejo exatamente quando o sorriso fantasma aparece nos seus lábios.
— Nós fazemos de tudo, Isadora — Axel diz e quando percebe a minha
confusão, ele trata de explicar. — Nós fazemos todos os trabalhos que as
pessoas estão dispostas a pagar o valor que for necessário para que sejam
executados — Axel fala e eu começo a organizar as suas palavras na minha
cabeça.
— Trabalhos como matar pessoas? — pergunto e me arrependo logo em
seguida.
— Sim, Isadora, mesmo que seja para matar pessoas — O modo que ele
diz isso causa um frio na minha espinha.
— O Earl também mata pessoas? — Acho que Axel não esperava pela
minha pergunta, porque a sua expressão muda de impassível para irritada.
— Por que você pergunta isso e por que está falando do Earl? Qual o seu
interesse na porra do Earl? — Axel está furioso e eu arregalo os olhos,
assustada.
— Nenhum, Axel! Eu não tenho interesse nenhum nele! — Balanço as
mãos na frente do meu rosto. — É porque ele me falou que foi paramédico
antes de entrar na equipe e eu só queria… — paro de falar quando começo a
sentir o meu corpo ficar estranho.
— Isadora? — Axel chama, mas eu começo a sentir uma pressão forte
tomar conta do meu peito. — Isadora? — chama de novo. — Dora, o que
você tem? — Arregalo os olhos e coloco a mão na minha garganta.
— A… — eu tento falar, mas os meus pulmões ardem e uma crise de tosse
começa.
Oh Deus não, não pode ser!
Por que isso tem que acontecer agora?
Eu pensei que isso já estava controlado e que eu não ia passar por situações
como essa. Eu começo a me desesperar ainda mais quando não consigo
respirar, todas as minhas vias respiratórias estão fechadas.
Começo a sentir a ansiedade tomando conta do meu corpo, meu coração
bate de forma descompassada e eu começo a chorar. Eu sei que Axel está
chamando por mim, mas eu já não consigo reunir as palavras.
Não consigo respirar!
— Isadora! — Axel tenta me segurar, mas eu bato os punhos no seu
peitoral. Eu estou nervosa, dói, dói muito! — Porra Isadora, você tem asma!
— Consigo ouvir a surpresa de Axel e ele puxa o celular do bolso de modo
rápido. — Craig, mande Earl correr até aqui agora, porra! — ele grita e
aperto sua roupa nos meus pulsos.
— Mi… minha bol… sa! — Consigo dizer para Axel, que entende o que
eu quero falar.
Nesse momento, a porta do quarto é aberta para que Earl, Craig e Russel
entrem.
— O que a Isadora tem? — Craig é o primeiro a perguntar.
— Crise de asma — Earl fala. — Chefe, a coloque na cama! — Earl pede e
Axel me carrega a o colo.
— Porra! — diz entredentes. — Craig, pegue a bolsa de Isadora dentro das
minhas coisas — Axel ordena e eu sinto a maciez do colchão nas minhas
costas.
— Ei Dora, você vai ficar bem, ok? — Earl aparece no meu campo de
visão e imediatamente noto o seu olho roxo, mas não consigo reunir meus
pensamentos.
Eu bato minha mão ao lado do colchão a procura de Axel. Onde ele está?
— Aqui, Axel! — Craig fala, enquanto eu continuo procurando por ar.
— Ela deve ter alguma bombinha aí dentro, todo asmático deve ter uma
bombinha — Russel fala dessa vez e ouço som de objetos caindo no chão.
— Bol… so inter… — Eu não consigo terminar de falar, mas Earl parece
que entende e assente com a cabeça.
— Eu acho que a Isadora tentou falar "bolso interno". Olha se tem algum
bolso interno aí — Earl diz e mesmo em agonia, posso ver que ele prepara
algum medicamento. — Calma, calma, é só um calmante, nada demais. —
Earl tenta me acalmar, mas eu preciso do Axel aqui.
— Aqui! — Axel fala e em poucos minutos o meu corpo é puxado
novamente. — Aqui, minha menina, use isso! — Axel me coloca sentada
para colocar a bombinha contra os meus lábios.
Inalo o medicamento duas vezes e na segunda eu já começo a sentir que
consigo respirar novamente. Ainda não estou da forma normal, mas pelo
menos, a pressão no meu peito vai melhorando.
Axel me aninha no seu corpo, para que Earl aplique o calmante em mim.
Eu não consigo pensar em mais nada, a não ser que estou nos braços dele,
sendo cuidada e protegida.
— Pronto, minha menina, passou! Você ficará bem, acabou! — Axel diz,
me apertando com força entre o seu peito, e eu tenho que confessar que adoro
ser cuidada por ele.
"Oh Deus, não deixe com que eu me apaixonei por Axel. Por favor, Deus,
não!"
É tudo o que eu penso até o meu corpo começar a ficar pesado e o sono me
levar de bom grado.
Quando eu acordo na manhã seguinte, estou me sentindo relativamente
melhor, mas eu sei que todas as vezes que eu tenho uma crise dessas, o meu
corpo sempre pode demorar um pouco para voltar ao normal.
A única coisa que eu me lembro antes de apagar, é que eu estava sendo
acalentada por Axel. Depois disso, eu não sei mais o que aconteceu, mas a
primeira coisa que eu percebo é que ele está sentado em uma cadeira,
vigiando o meu sono.
Confesso que é bastante assustador ter os seus olhos escuros e intensos
fixos em mim, assim que desperto, mas isso passa rapidamente quando ele
pergunta de forma preocupada se eu estou bem.
Ver a sua preocupação com o meu bem estar faz o meu coração cantar
como um abestalhado sem rumo, pronto para cair de amor por esse homem.
Apesar de toda a sua preocupação, Axel não deixa de brigar comigo por
não ter dito a ele antes sobre a minha asma. Ele é duro com suas palavras,
mas o que eu posso fazer com relação a isso?
Eu iria chegar para ele e falar assim: "Olha Axel, eu sei que você me
raptou, mas tenha cuidado comigo porque eu vim com um pequeno defeito de
fábrica. Além, é claro, da atrativa e doce feiura."
Não, não, isso não ia funcionar.
Porém, esqueço toda essa questão, o importante é que eu já passei a minha
vergonha do dia, quer dizer, da noite. Agora todos os quatro homens mal
encarados sabem que eu sou uma asmática e que ser trazida para um país tão
frio pode não ter sido a melhor ideia a se ter.
Para falar a verdade, eu sempre fui uma criança fragilizada. Meus pais,
coitadinhos, cortaram um dobrado para cuidar de mim quando eu estava com
esses problemas respiratórios. Eles sempre estavam lá quando eu estava tendo
essas crises e pensavam que quando eu ficasse adulta, isso fosse melhorar.
Grande engano!
O que aconteceu é que minha asma é crônica e a única coisa que posso
fazer, é controlar.
Sou tirada dos pensamentos quando Axel entra no quarto, ele havia saído
para fazer uma ligação enquanto eu fiquei aqui, me arrumando. Parece que
vamos sair hoje, não sei todo o nosso itinerário, mas assim que despertei e
levei uma bronca, vi que tinha uma roupa me esperando. Agora estou aqui
vestida, terminando o café e esperando esse homem autoritário dizer onde
vamos.
— Você já está pronta, Isadora? — ele pergunta, me fazendo assentir.
— Falto só escovar os dentes — respondo com a voz rouca, por conta da
garganta irritada.
— Então vá! — fala e eu tento não revirar os olhos.
— Onde vamos, Axel? — pergunto, terminando o último gole do meu
café.
— Você vai ao médico — Axel diz e eu caio em mim.
— No oftalmologista, não é? — indago e ele me olha com firmeza.
— Também, mas vamos ver também um médico para essa sua asma e uma
ginecologista. — Franzo o cenho para o que acabo de ouvir.
— Mas por quê? — questiono confusa.
— Pelo simples fato que quero você saudável, não quero ficar preocupado
se vai ter uma crise a qualquer momento — Axel diz e eu concordo com a
cabeça devagar.
— E a ginecologista? — pergunto e Axel morde o maxilar com força.
— Eu não vi você usar nenhum modo contraceptivo e eu não quero ter que
me preocupar com uma criança indesejada. — A frieza de Axel ao falar de
uma possível criança faz a minha espinha endurecer.
— Entendo — respondo, tentando não demostrar como fico estranha ao
ouvir o que ele diz, e me viro para ir em direção ao banheiro.
— Isadora — Axel chama, me fazendo parar.
— Sim? — respondo, sem me virar para encará-lo.
— Não demore, temos muitas coisas para fazer hoje. — O tom mandão
dele me faz ficar rígida.
— Vai ser rápido — falo ainda sem me virar e volto a andar.
Quando chego ao banheiro, eu apoio as minhas duas mãos no mármore da
pia. Corro para jogar uma água no rosto para me livrar do sentimento
estranho que eu não faço ideia do porquê estou sentindo.
Eu sou a criatura mais idiota que existe nesse mundo, só posso ser. Acho
que de tanto minha mãe colocar na minha cabeça que quando eu encontrasse
o homem que fizesse o meu coração bater forte e minhas bochechas ficarem
vermelhas de vergonha, ele seria a pessoa com quem eu deveria me casar e
ter filhos, acabei me iludindo. Mas vejo que não é bem assim.
Sinto todas essas coisas e muitas outras com o Axel, só que tenho certeza
de que ele não é o homem que minha mãe havia pensado para mim.
Não, eu tenho certeza de que não é e não posso almejar um futuro com um
homem obscuro como ele, isso é a coisa mais idiota que alguém poderia
querer.
As fantasias infantis que a minha mãe disse para mim, são só realmente
isso, fantasias. Iludida, feia e louca, é justamente isso que sou. Deus, por que
eu estou pensando nessas coisas?
Eu deveria estar preocupada em continuar aqui e não pensando em algo
sem sentido. Logo toda essa loucura vai passar e Axel vai perceber que eu
sou aquela pessoa totalmente descartável, que não vale mais a pena ficar me
tendo por perto. E com isso eu vou poder seguir a minha vida tranquila, a
qual eu sempre soube que iria ter. É isso, isso e nada mais!
Após escovar os meus dentes, eu saio do banheiro para encontrar Axel,
mas sou surpreendida quando vejo Earl e Russel no quarto e não ele, como
pensei.
É impossível não ficar confusa em vê-los aqui, por isso resolvo perguntar.
— Earl, Russel o que fazem aqui? — pergunto, e os dois viram na minha
direção.
— Oi, Dora, como se sente? — Earl pergunta, se aproximando. Vejo o seu
olho roxo bem destacado e fico muito instigada em perguntar.
— Oi, Earl, eu estou bem, obrigada por perguntar — respondo, encarando
seu machucado. — Onde você conseguiu um desses? — pergunto e Earl olha
em direção de Russel, que coloca a mão no rosto para não rir.
— Isso é uma pergunta interessante, Dora! — Russel me chama de Dora
pela primeira vez e eu me sinto estupidamente contente por isso.
— Por quê? — questiono. — Eu lembro bem de conversar com Earl ontem
e não ver esse olho roxo — falo calmamente e isso faz Russel rir mais.
— Bem, esse olho roxo quem me deu foi o chefe — Earl diz como se não
fosse nada e eu não contenho o meu espanto.
— Mas por quê? — questiono. — Meu Deus! — exclamo com espanto,
colocando a mão na boca.
— Vamos dizer que o chefe não gosta quando se envolvem com o
brinque… — Russel é impedido de falar quando Earl dá um tapa forte em sua
barriga, o fazendo se curvar. — Filho da puta! — Russel diz sem ar.
— Russel, você está bem? — pergunto ao vê-lo ainda sem ar.
— Tranquilo, estou tranquilo, não foi nada — Russel responde, levantando
o polegar.
Mas que homens estranhos!
— Vamos, Dora? — Earl indaga e eu junto as sobrancelhas.
— Vamos — concordo. — Mas cadê o Axel — questiono. — Eu pensei
que ele fosse comigo — falo sem entender.
— O chefe teve que resolver um pequeno contratempo com Craig e
ficamos encarregados de… — Earl para de falar quando Russel o atropela.
— De sermos suas babás! — Russel fala e Earl revira os olhos.
— Du bist ein sehr beschissener Typ! (Você é um cara muito fodido!) —
Earl fala em uma língua que não consigo identificar direito.
— Das gefällt mir! (Eu gosto disso!) — Russel responde, dando um sorriso
perverso.
— Que língua é essa que vocês estão falando? — pergunto curiosa.
— Alemão, Dora. Eu sou da Alemanha! — Earl diz e eu sorrio.
— Oh, isso é legal! — digo satisfeita. — E você, Russel? — pergunto e ele
fecha a sua expressão sarcástica.
— De um lugar fodido chamado México! — Sua voz saí com fúria e com
isso ele caminha até a porta, saindo do quarto e batendo-a com força.
— O que foi isso? — pergunto espantada para Earl.
— Nada demais, Russel não gosta de se lembrar de seu país. — Earl faz
um gesto de desdém.
— Parece que não — falo em tom baixo. — Coisas ruins aconteceram com
ele lá? — questiono com tristeza e ouço Earl soltar um suspiro.
— Deixa eu te contar uma coisa, Dora. — Earl assume uma postura mais
firme. — Cada um de nós está aqui porque merdas aconteceram nas nossas
vidas — ele diz e eu absorvo suas palavras.
— E qual foi a minha merda? — pergunto impactada.
— Nos conhecer! — ele me responde. — Essa foi a merda que aconteceu
em sua vida — Earl fala e abre a porta do quarto. — Vamos? — indaga. — O
pessoal da clínica já está te esperando, o chefe resolveu tudo — comenta e eu
começo a andar no automático.
As palavras de Earl ainda estão martelando na minha cabeça quando
entramos no carro. Não consigo parar de pensar nisso, que o fato de estar
com Axel e com eles é uma merda para mim. Talvez, realmente seja.
Talvez, ele esteja totalmente certo em dizer isso, porque se eu for analisar
toda a minha situação, vou ver que é realmente uma merda.
Ou será que não?
Axel me mantém sob seu controle, como se fosse algo que realmente
precisa fazer. Ele me assusta, mas ao mesmo tempo, me seduz e me mostra
um prazer que nunca imaginei que pudesse existir.
Todos os dias eu sinto que posso estar em perigo perto desses homens,
porém, para a minha loucura total, sinto também que posso me acostumar
com tudo e com qualquer coisa.
Noto que estou divagando há muito tempo quando Earl diz que chegamos
ao nosso destino. Saio do carro para dar de cara com uma enorme clínica,
olho para Earl e Russel sem saber o que fazer.
— Não se preocupe, eles já sabem o que fazer, você vai ser consultada
pelos melhores — Earl diz de modo simpático.
— Sim, não se preocupe, qualquer coisa você grita e explodimos o lugar
— Russel fala como quem não quer nada e eu arregalo os olhos.
— Explodir o lugar? — repito. — Você faria algo assim? — pergunto
nervosa e ele dá de ombros.
— Faria sim, é um trabalho simples — Russel fala, dando de ombros de
novo.
— A… acho que não precisa! — Dou um passo e percebo que eles não
estão vindo. — Vocês vêm? — pergunto e eles olham para mim com esses
olhos sem emoção.
— Claro, por que não? — Earl solta e assim, nós três entramos na clínica.
A primeira coisa que eu noto é que uma linda mulher loira vem nos
atender. Ela vai diretamente para os meninos, sorrindo de forma educada, e
quando Russel fala o nome de Axel, para logo depois apontar diretamente
para mim, a menina fica pálida no mesmo momento, dando um sorriso
branco na minha direção.
Ela se apresenta como Molly e diz que o doutor Richards já está a minha
espera. Quero muito perguntar quem é esse doutor, mas estou tão
constrangida, que não me atrevo.
Sou guiada pela Molly para o consultório e só quando cruzo a porta,
percebo que se trata de um oftalmologista.
A consulta e os exames são rápidos, já que eu não abro muito a boca para
falar ou questionar o que quer que seja. É tudo muito estranhamente eficiente,
o médico é extremamente rápido e contido. Quando dou por mim, já estou
saindo do consultório, com a promessa que hoje mesmo vai ser enviado os
meus novos óculos e um par de lentes de contato.
Depois do oftalmologista, eu sou encaminhada para o pneumologista, um
especialista para cuidar da minha asma. Faço alguns exames, ele ouve o meu
histórico e é bastante educado, muito diferente do médico anterior, que foi
frio e distante. Depois de ter passado pelo pneumologista, chega a vez de ir
para a ginecologista.
A médica em minha frente é impecável de linda, com os seus cabelos
ruivos cheios e um tom mais escuros do que os de Lara, minha amiga. Seus
olhos são verdes, mostrando uma simpatia doce e acalentadora, seu sorriso é
brilhante e as sardas preenchendo seu nariz e bochechas é um charme a parte.
Não sei se eu estou acostumada com a obscuridade e sinceridade de Axel e
os outros, mas a sua simpatia meio que me incomoda um pouco. Eu acho
meio… forçada?
Sim, acho que essa é a palavra certa.
— Isadora Martins, não é? — pergunta e eu concordo com a cabeça. —
Meu nome é Jenna Taylor, prazer! — A médica estende a mão e eu aperto
educadamente.
— O prazer é todo meu, doutora Taylor! — digo, envergonhada e sem
jeito.
— Venha, sente-se aqui e assim poderemos começar a consulta o mais
breve possível. — A médica indica a cadeira que fica em frente sua mesa e eu
me sento. — Ah, fico feliz por conhecer a jovem do senhor Cox — ela diz e
eu tento não franzir o cenho.
— Você conhece o Axel? — eu quero me socar por deixar a pergunta
escorregar de repente.
A médica me surpreende, dando uma risada amarela.
— Não é bem conhecer, mas vamos dizer que eu tenho uma dívida com o
senhor Cox — ela fala sem dar muitos detalhes, fazendo a minha curiosidade
explodir.
— Ah! — falo, assumindo uma postura mais rígida.
Não sei por que, mas a possibilidade de pensar que Axel e a doutora Taylor
possam ter algum tipo de relacionamento íntimo, faz meu estômago
embrulhar.
Todo esse pensamento me deixa bastante desconfortável, porque olho para
a Jenna e não consigo imaginar qual homem não iria querer ficar com ela.
Ela é uma mulher linda, médica, simpática e, mesmo com roupas formais,
eu posso ver que tem um corpo bonito. Por isso não faz sentido se Axel tinha
um relacionamento íntimo com ela e agora não tem mais.
Para Dora!
Você está parecendo uma retardada ciumenta e isso é absurdo. Eu não
tenho por que estar com ciúmes do Axel, ele não é nada meu.
Nada!
Esquecendo todas as besteiras da minha mente perturbada, eu presto
atenção na minha consulta com a ginecologista. Ela faz perguntas
constrangedoras, faz alguns exames mais constrangedores ainda e no final de
tudo, escolhemos um método contraceptivo.
Meu Deus, isso é bastante constrangedor de modo geral!
Mas o importante é que a doutora comenta que eu estou saudável e bem
apta para tomar a injeção contraceptiva. Gosto disso, porque quando a médica
diz que eu não posso esquecer de tomar o remédio no horário certo, eu fico
apreensiva. Pois, se existe no mundo alguém esquecido, esse alguém sou eu.
— Então é isso, lembre-se de continuar usando o preservativo por sete dias
após tomar a injeção. Como a que você vai tomar é de baixa dosagem, ela
pode demorar um pouco. Tudo bem? — a médica diz e eu concordo com a
cabeça.
— Obrigada, doutora! — agradeço e caminho até a porta.
— Foi muito bom conhecer você, senhorita Martins — ela fala, sorrindo
educadamente.
— Digo o mesmo, tenho que ir! — comento e ela ergue a mão para se
despedir.
Saio do consultório para dar de cara com a Molly, que vem me entregar a
lente de contato, que já ficou pronta. Em seguida, ela me induz para uma
salinha e lá me auxilia a colocar esse troço. Depois de algumas tentativas
frustradas e olhos ardidos para caramba, eu finalmente volto a enxergar
melhor.
Agradeço a Molly todo auxílio e saio da clínica cansada, morrendo de
fome. Russel e Earl falam que vão me levar para o shopping para
almoçarmos. Amo a ideia, porque se tem uma coisa que detesto na vida, é
ficar de estômago vazio.
E é justamente no momento do almoço que eu começo a me preocupar
com Axel. Já tem um tempo que eu não sei nada sobre ao seu respeito, será
que ele e Craig estão bem?
Fico sem graça de perguntar a Earl e Russel, não quero que eles pensem
que eu sou…
Argh!
Droga, eu nem sei o que pensar, imagine saber o que os outros vão pensar.
Terminamos de comer nossos hambúrgueres e os meninos me guiam para
um salão de beleza. Fico sem entender o que eu estou fazendo nesse lugar e
parece que Russel entende o meu sofrimento, porque ele começa a rir de
mim.
— Ordens do chefe, Dora! — Russel diz com ar de zombaria.
— Não zombe de mim, ainda lembro que você queria me matar. — Sim,
eu jogo na cara dele.
— Nossa, você é rancorosa, garota! Águas passadas! — Russel diz a
contragosto, fazendo Earl rir.
— Só disse a verdade! — Dou de ombros e olho para o salão de beleza.
— Coragem Dora, vamos nos encontrar mais tarde — Earl diz e eu faço
uma careta.
— Eu não sei voltar para o hotel sozinha — falo o óbvio e ele nega.
— Não se preocupe, o chefe virá te buscar, ele já terminou o que tinha que
fazer — Earl conta e eu solto um suspiro.
— Tudo bem, é só chegar e falar o meu nome lá dentro? — pergunto e eles
assentem. — Obrigada por estarem comigo hoje! — agradeço envergonhada.
— O chefe… — Russel começa a falar, mas Earl não deixa terminar.
— De nada, Dora! — Earl diz dando um sorriso de lado e eu aceno.
Resolvo andar logo em direção ao salão de beleza, porque quanto mais
cedo eu fizer tudo o que tenho que fazer, mais cedo isso vai acabar.
Assim que entro no lugar, sou recebida pelo Nate, um homem com uma
personalidade agitada e que já vai de cara dizendo que trará a melhor versão
de mim. Gosto dele, não sei por que, mas adoro seu astral.
Nunca tive uma boa relação quando se trata de estética, meus pais são
pessoas simples e nunca tiveram condições de fazer essas coisas por mim. E
para falar a verdade, eu também nunca me importei. Agora estou fazendo
tudo isso porque o meu raptor, quer dizer, o Axel, adora me controlar.
Nate faz de mim o seu projeto pessoal, ele comenta que eu não sairei daqui
menos que maravilhosa. Não sei se devo confiar nele, mas me deixo ser
massageada e depilada em todos os lugares. Meus cabelos são lavados,
hidratados, secados, cortados e alongados. Minhas unhas são feitas pela
primeira vez na minha vida e eu acho isso dolorido, porém, quando acaba,
meus pés e mãos parecem mais leves e bonitos.
Enquanto Nate está me maquiando, ele vai me passando dicas e mais dicas
de que tipo de maquiagem usar. Assim que toda maquiagem termina Nate
olha para mim com os olhos brilhando de satisfação.
— Você está magnífica! — ele diz, sorrindo largamente.
— É… é mesmo? — pergunto envergonhada e ele estende a mão.
— Venha ver você mesma! — Nate fala e eu aceito sua mão. Ele me guia
para um grande espelho. — Olhe e me diga! — Viro a minha cabeça em
direção ao espelho e assim que vejo o meu reflexo, não posso conter a
surpresa.
— Oh Deus! — exclamo, com um misto de emoção e descrença.
— Eu não te disse que você iria ficar maravilhosa? — Nate aparece ao meu
lado e eu concordo sem conseguir dizer uma palavra. — Não chore, mocinha!
— diz ele. — Se você estragar a minha obra de arte, eu ficarei chateado.
Eu ouço as palavras de Nate, mas eu não consigo me conter.
Eu estou… realmente bonita!
Olho para o meu reflexo e não consigo acreditar, passei tanto tempo sendo
chamada de coisas ruins, que é terrivelmente estranho estar me olhando
assim, tão… tão linda.
Meus cabelos não têm mais os aspectos selvagens de antes, seus cachos
estão mais escuros, mais grossos, mais longos e cheios. A maquiagem no
meu rosto é leve, nada muito carregado, mas me deixou com a pele bonita.
Eu estou tão distraída com a minha nova aparência, que só noto a
aproximação de Axel quando os pelos do meu corpo se arrepiam e seu
perfume incrível chega até mim. Ergo o meu olhar para ficar hipnotizada
pelos mesmos olhos ônix que faz o meu coração cantar de medo e prazer. Ele
está atrás de mim, me encarando como se eu fosse sua, sua para fazer o que
bem entender.
— Eu sabia que não estava enganado, essa é a minha menina de verdade
— Axel fala e assim que sua mão toca o meu ombro, posso sentir a minha
boca ficar seca.
— Axel! — murmuro, sem esconder o quanto estou contente em vê-lo.
— Você está perfeita! — ele diz seriamente, fazendo meu coração quase
pular para fora do peito.
— Obrigada! — agradeço, abaixando a cabeça. Axel chega mais perto,
colando seu corpo no meu e me deixando nervosa quando a sua mão toca o
meu queixo para levantar a minha cabeça.
— Você nunca mais vai abaixar a cabeça para ninguém, só para mim, e
isso só quando eu quiser a sua submissão e nada mais. Está me entendendo,
minha menina? — a pergunta de Axel saí de modo perigoso e eu concordo
rapidamente.
— Sim! — falo, erguendo a minha cabeça e assumindo uma postura que
nunca tive.
— Bom, bom, é assim que tem que ser. É assim que você vai ser de agora
em diante. Confiante, linda e minha. Só minha! — Fico excitada somente
com a suas palavras possessivas. — Agora vamos, pois temos uma reunião
importante hoje. — Pisco algumas vezes, me livrando da onda de excitação.
— Reunião? — questiono curiosa.
— Sim, hoje vou iniciar o seu primeiro teste, Isadora — Axel fala com
firmeza e eu fico parada, sem saber o que dizer.
Eu realmente estou perdida com as palavras de Axel e lá no fundo, sei que
algo perigoso vai acontecer hoje.
Não sei se estou preparada para isso, eu não sei, realmente.
Estou no carro agora e não sei por que, mas o clima aqui dentro está tenso.
Depois de um tempo encarando o vidro escuro, crio coragem para olhar para
Axel. Ele está com a sua postura rígida, digitando furiosamente na tela do seu
celular, que é igual ao que me deu, mas na cor preta.
Passeio os meus olhos por todo o seu corpo vestido com um terno escuro,
que apesar da minha falta de senso de moda, dá para ver que se encaixa
perfeitamente nele, moldando toda sua musculatura rígida e magra,
musculatura essa que tive o prazer de sentir de muitas maneiras.
Meu senhor, para onde os meus pensamentos me trouxeram. Agora estou
imaginando Axel transando comigo.
— O que quer, Isadora? — Axel pergunta, girando a cabeça na minha
direção. Eu paraliso, pois não estava esperando por isso.
— E… eu? — gaguejo e ele assente seriamente. — Nada! Eu realmente
não quero nada — respondo, negando com a cabeça.
— Não minta para mim, minha menina. — A voz de Axel saí dura. — O
que você quer? — ele pergunta, como se já soubesse a resposta.
— Eu não… er… — Aperto minhas mãos no meu colo. — Ah! — Solto
um som alto quando sou surpreendida por Axel.
Ele me puxa de forma abrupta e sem saber o que fazer, eu arregalo os
olhos e me deixo ser puxada por esse homem sem paciência.
Usando toda sua força, ele me carrega com agilidade impressionante para
que eu sente em seu colo. Meus joelhos dobrados ficam pressionados contra o
banco do carro, para que meu quadril fique encaixando no dele. Ainda sob
efeito do susto, sinto a mão de Axel segurar com força os cabelos da minha
nuca. O seu aperto forte me faz soltar um gemido, mas é logo preenchido
quando a boca de Axel toma a minha com posse, sede e pura necessidade.
— Você quer isso, não é, minha menina? — Axel fala de forma abafada
pelo nosso beijo.
— Sim! — respondo também de forma abafada.
— Você tem noção que estamos no carro, minha menina. E que eu fico
muito irritado em saber que os meus homens podem ouvir o quanto você é
sensível ao meu toque. — As palavras de Axel me fazem voltar a realidade e
meu corpo fica rígido.
— Eu… eu esqueci disso — digo a verdade e tento sair do colo dele, mas o
aperto no meu cabelo se intensifica.
— Você não vai sair! — Axel diz de forma perigosa.
— Mas, Axel… — tento dizer algo, mas ele volta a me beijar.
Deus, como eu amo o sabor desse homem terrível.
— Eu posso te fazer gozar aqui mesmo. É isso que você quer, minha
menina? — Axel pergunta, mas eu não sei o que responder.
— Eu quero você, mas não aqui — respondo rapidamente e ele solta um
rosnado baixo.
— Ótima resposta, minha menina! — diz ele de forma sombria. — Sabe o
que eu queria que acontecesse quando chegássemos ao hotel? — Axel
pergunta e eu nego com a cabeça. — Diga em palavras!
— Não, Axel — respondo como ele ordena.
— Fazer você se ajoelhar diante de mim, para que eu pudesse foder essa
sua boca bonita — Axel diz e eu consigo sentir o meu clitóris latejar, somente
com o pensamento de ser dominada por ele de tal maneira.
— E por que não vai acontecer? — A minha coragem não me surpreende,
pois toda vez que estou excitada com esse homem, sou a mais sincera e
descarada possível. E eu realmente acho que gosto disso.
— Oh, minha doce menina inocente! — Axel fala, virando minha cabeça
para cheirar os meus cabelos de forma intensa. — Cheirosa! — exclama
satisfeito. —Vamos, minha menina, chegamos! — diz, me tirando do seu
colo. Fico tão surpresa, que nem sei realmente como reagir.
— Axel! — chamo quando ele abre a porta do carro.
— Vamos Isadora, temos um lugar para ir! — ele fala enquanto saí do
carro e estende sua mão para me ajudar a sair também.
— Certo — falo confusa e posso ver o sorriso fantasma tomar conta dos
lábios de Axel.
— Não se preocupe, ainda hoje você será minha para fazer o que eu bem
entender — ele comenta como se não fosse nada, deixando o meu corpo
ávido por isso.
Axel e eu subimos até o nosso quarto e logo de cara eu posso ver sacolas e
mais sacolas espalhadas na cama. Ele, ao ver isso, solta um palavrão irritado,
me deixando sem entender o porquê da sua irritação.
Mas apesar do humor dele, eu não consigo parar de me perguntar de quem
são essas compras. Criando um pouco de coragem, eu pergunto a Axel e ele
me olha como se eu fosse louca, diz na maior naturalidade que tudo isso é
meu.
Pisco algumas vezes para ver se eu entendi realmente o que ele acabou de
dizer, talvez, eu deva estar ficando surda e não ouvi direito.
— Você acabou de dizer que isso tudo aqui é meu? — questiono atônita.
— Claro que sim, mandei trazer para você porque amanhã não vamos
poder sair — Axel fala e eu fico na dúvida se olho o conteúdo das sacolas ou
não.
— Tudo isso? — pergunto espantada e ele cerra os punhos.
— Que pergunta mais sem sentido, claro que eu comprei roupas para você,
eu disse que iria — sua confirmação em tom impaciente me deixa ainda mais
aturdida.
— Axel, isso é loucura! — exclamo. — É muita coisa, eu não preciso
disso. — Aponto para as sacolas e ele dá um passo na minha direção.
— Precisa, sim! — ele retruca. — Lembre-se que joguei fora cada peça de
roupa sua e prometi repor da melhor maneira. — Sua mão paira no meu
pescoço, mas não chega a dar qualquer aperto. — Eu não faço promessas
vazias, pensei que já soubesse disso. — Seu tom é obscuro e eu engulo em
seco.
— Sim, eu lembro — respondo rapidamente. — Eu só sinto que estou te
dando trabalho e gasto — a minha justificativa o faz dar uma risada curta,
rouca e sem um pingo de humor.
— Vá por mim, minha menina, isso não é nada. — Seu dedo passa
levemente pela minha bochecha. — Você é minha, Isadora. Eu gosto de te
prover isso, gosto do poder de posse que isso me proporciona, gosto de saber
que me pertence, então não me contradiga. — A sua frieza gela o meu
interior.
— Sim, Axel! — respondo prontamente e sua expressão fica mais leve.
— Vamos sair daqui alguns minutos, não teremos tempo para o jantar, mas
quero que você coma algo. Entende? — pergunta e eu concordo.
— Onde vamos? — Minha curiosidade ainda vai me matar qualquer dia
desses.
— Vamos em um clube que pertence a pessoas que podem me dar algo que
preciso. — Axel me surpreende ao falar isso.
— E o que seria? — indago, virando a cabeça para o lado.
— Informações, minha menina. Isso vai nos ajudar um pouco a fazer nosso
trabalho — Axel conta e dessa vez eu posso afirmar que estou no auge da
minha curiosidade.
— Que tipo de trabalho você vai fazer aqui? — Axel me olha por um
tempo, me fazendo acreditar que não vai me dizer nada, mas ele me
surpreende.
— Um resgate de uma menina de oito anos, filha de um senador. —
Arregalo os olhos com a informação.
— Uma criança? — questiono com espanto. — Como podem fazer isso
com uma criança? — solto com ar de indignação.
— Oh, minha menina, as pessoas fazem muitas coisas por dinheiro —
Axel diz, se afastando para se livrar do seu grosso casaco.
— Você está fazendo isso por dinheiro também? — minha pergunta faz
Axel me encarar. — Quer dizer, resgatar a criança? — eu explico.
— E pelo o que mais poderia ser, Isadora? — questiona e eu não posso
fazer nada além de assentir com a cabeça de modo lento.
— Por que eu vou, já que você vai a trabalho? — pergunto, tentando me
livrar do meu desconforto.
— Primeiro, porque eu quero. E segundo, que esse trabalho vai ser para
testar você, minha menina. — Ele ainda continua com essa coisa de teste e eu
não compreendo.
— Como assim? — Franzo o cenho e ele nega com a cabeça.
— Chega de conversa, nós temos que nos arrumar. — Axel volta ao seu
modo sério, me deixando nervosa e confusa.
Eu não pergunto mais nada a Axel, porque sou esperta o suficiente para
não querer mexer com a pouca paciência que ele tem. Pego uma das sacolas
para tentar arrumar, mas ele diz para que eu me preocupe em ficar pronta e
nada mais.
Nossa, mas que homem bruto!
E com isso ele estende em minha direção quatro sacolas de compras, junto
as sobrancelhas quando tiro de uma delas uma lingerie preta linda e altamente
sensual. Olho em direção de Axel, mas ele nem sequer me dá um segundo
olhar. Soltando uma respiração frustrada e caminho em direção ao banheiro
para olhar o que tem dentro do restante das sacolas.
Eu detesto o fato de não poder ter uma escolha, detesto o fato de gostar de
não ter uma escolha.
Droga!
Eu estou uma merda ambulante, porque só de pensar que gosto do modo
dominante que Axel tem comigo, o meu corpo fica quente e me vejo
querendo agradá-lo.
Tudo bem, tudo bem, eu sei que isso não é uma coisa normal, e que eu vou
precisar de um bom psiquiatra quando tudo isso acabar. Claro né, eu não sou
uma idiota por completo, eu sei que isso é doentio. Mas…, mas é tão bom
pertencer a ele, porque faz com que eu me sinta diferente e isso não é só em
relação a aparência. Não, isso vai muito além.
Respiro fundo e tento tirar tudo isso da minha cabeça. Tiro as coisas das
sacolas e observo, na primeira tem uma calça de couro preta, um top da
mesma cor e uma jaqueta também de couro e no mesmo tom. Na segunda tem
um coturno preto com um salto grosso, na terceira a lingerie provocante e na
quarta e última, que é a menor de todas, tem alguns acessórios, como um
perfume delicioso, brincos, pulseiras e algo em especial que me deixa
confusa. É uma gargantilha, estilo coleira, também na cor preta, simples e
sem nenhum detalhe para enfeitar.
Somente uma simples gargantilha preta, mas que me lembra nitidamente
uma coleira. O que Axel está pensando ao me fazer usar algo como isso?
Nego com a cabeça para me livrar de questionamentos mentais que não
vão me levar a nada. Tiro a minha roupa e vou tomar um banho rápido,
evitando molhar os meus cabelos e meu rosto. Não quero estragar o trabalho
feito por Nate, que realmente foi incrível comigo.
Após terminar o banho, me visto com a lingerie, a calça de couro e quando
vou vestir o top, percebo que terei que tirar o sutiã, pois ele não será
necessário. Calço o coturno com medo de cair assim que eu ficar de pé e é
exatamente o que quase acontece. Mas depois de um treinamento rápido, me
vejo conseguindo ficar de pé de forma correta, sem parecer uma corcunda de
Notre Dame.
Quando me vejo pronta, solto um suspiro trêmulo e saio do banheiro. Ao
notar a minha presença, Axel se vira na minha direção e me encara com esses
olhos negros analíticos. Minhas bochechas ficam quentes por estar sob seu
olhar, mas é quando ele se aproxima que eu me vejo ficando com as pernas
enfraquecidas.
— Você está magnífica, minha menina! — ele murmura, tirando um fio de
cabelo do meu rosto.
Ouço seu elogio, mas tudo que eu consigo imaginar é no quanto ele está
perfeito, usando seus trajes pretos. Mas ao invés de usar um terno, como
sempre faz, está com uma jaqueta de couro, como eu. Lindo demais para ser
de verdade.
— Obrigada! — agradeço, abaixando a cabeça para olhar para os pés, mas
ele ergue meu rosto em seguida.
— Confiança, lembre-se disso! Não se sinta envergonhada por estar
perfeita. — E com isso, ele alcança meus lábios, me beijando de modo tão
gostoso, que faz o meu corpo relaxar. — Vamos, os outros nos esperam —
ele fala, me levando para fora do quarto.
Quando encontramos com os outros rapazes, sou surpreendida quando três
pares de olhos me encaram com surpresa. Eles não escondem as suas reações
quando me veem de aparência nova, mas somente Russel tenta dizer algo. Só
que ele é interrompido pelo olhar de Axel, que me puxa para si e me faz
entrar no carro.
Durante o percurso, eu começo a me sentir estupidamente nervosa, pois eu
não sei para onde vamos e o que exatamente iremos fazer. Mas quando o
carro para em frente a um lugar com aspecto de casa de show, Axel resolve
me dizer algo.
— Estamos em território irlandês, não causem nenhum problema até
conseguimos as informações que necessitamos — Axel diz e isso chama a
atenção dos meninos.
— Eu estou usando uma calça de couro que está grudando na minha
bunda, chefe. Não sei se eu estou com humor para as merdas problemáticas
que são esses irlandeses — Russel diz com ar de irritação.
— Mas vai ter que aguentar, Sanchez — Craig replica com sua voz rouca.
— Pode deixar que eu fico de olho nele, não é, meu amigo? — Earl diz e
Russel saca uma arma, me fazendo ficar rígida no lugar.
— Calma Dora, só estou checando a munição. Se aguente aí! — Russel
brinca comigo e eu dou uma risada frouxa.
— Eu não estou com medo, você que me assustou — digo, tentando
parecer confiante.
— Até parece! — Craig resmunga e eu faço uma careta.
— Você se acostuma, Dora! — Earl diz, levantando o punho fechado para
que eu bata, mas quando vou devolver o gesto, Axel abaixa minha mão. — É
só um lance de amigos, chefe — Earl esclarece, prendendo o riso, e eu olho
para Axel em confusão.
— Lembre-se o que eu disse, Earl, não abuse da sorte — a voz cortante de
Axel me deixa em alerta.
— Depois o suicida da equipe sou eu, mas o príncipe das trevas está
pedindo. Viu isso, Craig? — Russel pergunta, mas Craig somente o ignora.
— Sim, um bando de fodidos — Craig resmunga e vai logo saindo do
carro.
— Isadora — Axel chama depois que os três homens saem do carro.
— O que foi? — pergunto, sentindo sua mão apertar a minha coxa com
força.
— Se eu precisar me ausentar, você fica com Craig e os outros — diz e eu
concordo rapidamente. — Estamos em território perigoso, vamos ver como
se comporta. Lembre-se, se alguém tocar em ti sem a minha permissão, será
castigada. — Engulo em seco quando compreendo o que ele quer dizer.
— Castigada? — indago a ele, me perguntando o porquê saber disso me
deixou com uma expectativa louca.
— Sim, minha menina! — Ele aproxima seu rosto no meu. — Acho que
você gostou de saber disso, mas não provoque, porque pode ser pior — avisa
e eu não deixo de concordar.
Os guardas da frente parecem reconhecer o Axel e os outros, com isso, nos
deixam passar livremente e sem questionamentos. A primeira coisa que
percebo ao entrar no lugar é que essa não é uma boate normal.
A iluminação escura, as poltronas de couro escuro no canto das paredes,
mulheres e homens vestindo couro, assim como nós, alguns usando menos
roupas do que o normal.
O palco é o único lugar iluminado e lá está uma mulher incrivelmente bela,
dançando de forma sensual, deixando alguns homens ao delírio de excitação.
Minhas mãos começam a suar de puro nervoso, pois nunca estive em um
lugar como esse. Isso aqui está muito, muito distante da minha realidade de
vida.
— Axel, você veio! — o grito satisfeito de uma mulher chama a nossa
atenção.
— Enya! — O nome da mulher sai tão baixo e entredentes, que se eu não
estivesse ao lado de Axel, poderia não ter ouvido.
— Porra! — Os outros três ao meu lado xingam ao mesmo tempo.
— Eu pensei que a minha reunião fosse com o Killian — Axel diz,
apertando a sua mão na minha cintura com força. E esse aperto forte me faz
dar um pequeno salto, chamando assim uma atenção indesejada para mim.
A mulher a minha frente está vestida de couro como todos os presentes,
mas diferente de mim, ela usa um vestido vermelho. O que faz seus cabelos
loiros platinados, seus olhos azuis e seus lábios pintados de vermelho intenso,
chamarem mais atenção ainda.
Ela tem o olhar de uma mulher que mataria para conseguir o que quer e
pela sua mandíbula cerrada ao me ver ao lado de Axel, posso imaginar que o
que ela quer essa noite é o meu homem obscuro.
Meu homem?
De onde isso saiu?
Puta merda, Isadora, para de ser idiota!
— Killian estará também, mas eu quis vir recebê-lo — a mulher fala, sem
tirar os olhos azuis cheio de intensidade louca de mim. — Quem é essa? —
ela pergunta com irritação.
Eu estou quase abaixando a minha cabeça em constrangimento, mas eu me
lembro do que Axel disse, então permaneço segurando o olhar da mulher.
“Eu estou aprendendo com o melhor, sua vaca!”
— Onde está Killian? — Axel pergunta e a mulher dá um sorriso
malicioso.
— Vai ignorar a minha pergunta, Axel? — indaga. — Bem, se você quer
assim, então, tudo bem — ela ri e me olha de cima. — O Killian está te
esperando.
— Bom, é para isso que vim aqui e não para dizer o que quer que seja a
você — Axel diz, olhando ao redor.
— Você deveria ser mais gentil com a mulher do homem que pode
oferecer a ajuda que precisa — Enya fala de forma sarcástica.
— Eu não preciso da ajuda do seu marido, Enya. — Axel a contradiz. —
Ele é que precisa de mim, mais precisamente, precisa dos meus serviços e o
dinheiro que eu posso estar disposto a pagar. Não se esqueça com quem está
falando — ele diz em um tom gélido, fazendo a mulher soltar um gemido.
— Adoro isso em você, Axel Cox! — Não posso conter a careta que se
forma no meu rosto.
Que mulher mais sem noção!
— Russel, você vem comigo! — Axel fala, ignorando a mulher em nossa
frente. — Craig e Earl, fiquem com a Isadora. — Olho para o Craig, que está
do meu outro lado, e ele assente sem tirar seus olhos sérios da Enya.
— Pode deixar! — Craig fala, ainda encarando a Enya, mas ela revira os
olhos para ele.
— Leve-me ao Killian, Enya — exige Axel, saindo do meu lado.
— Com todo prazer, querido — a mulher fala, mas antes de começar a
andar, ela olha na minha direção e dá uma piscadela provocativa.
— Meu Deus que… bruxa! — falo, cerrando meus punhos, irritada.
Sinto olhos sobre mim e viro a cabeça para ver Earl e Craig me encarando
como se eu não fosse desse mundo.
— Sério mesmo? Tantos xingamentos que podemos classificar aquela
mulher e você a chama de bruxa? — Earl pergunta rindo e eu cruzo os braços
no peito.
— Eu não gostei dela! — digo e Craig revira os olhos.
— Você e todos nós — Craig diz. — Vamos nos sentar e beber algo — ele
chama e se vira para começar a andar entres as mesas.
— Eu poderia beber! — Earl fala atrás de mim, mas não me viro para olhar
para ele, pois não quero me perder de Craig.
Sou guiada por eles para a área vip do lugar e Earl se prontifica para ir
pegar as bebidas. Quando digo que eu não quero bebida alcoólica porque eu
não tenho costume de beber, ele fala que vai pegar algo leve para mim.
Sorrio em agradecimento e quando eu estou com Craig, não contenho a
minha curiosidade e pergunto a ele quem é aquela mulher. Fico surpreendida
quando ele não me ignora e esclarece minha dúvida.
Craig conta que a mulher que nos recebeu se chama Enya Dunphy, esposa
de Killian Dunphy, chefe da máfia irlandesa aqui em New Jersey.
— Máfia? — digo, perplexa. — Você acabou de dizer máfia irlandesa? —
pergunto, ainda atônita.
— Se eu fosse você, falaria isso mais baixo — Craig diz com raiva e eu me
assusto.
— Sinto muito, eu não sei como reagir — confidencio.
— Que seja, acostume-se, esse agora será o seu mundo — Craig diz e eu
engulo em seco.
— Aqui nossas bebidas! — Earl diz de modo simpático, colocando uma
bebida na minha frente. — É uma gin tônica, Dora. Você vai gostar! — Earl
fala e eu concordo
— Obrigada! — agradeço nervosa. — Onde fica o banheiro? — pergunto e
Earl aponta para trás dele com o indicador.
— Fica logo ali, eu posso… — ele começa a dizer, mas eu levanto e aceno
para ele.
— Não se preocupe, é logo ali. Estarei de volta em breve — digo, tentando
não soar desesperada.
Sem dar uma segunda olhada para os dois, eu ando em direção onde Earl
me indicou. Não olho para nenhuma das pessoas que estão a minha volta,
pois, estou com medo depois do que Craig falou e tudo o que eu quero agora
é encontrar um banheiro para respirar.
Mas quando eu estou caminhando em direção ao corredor que dá para o
banheiro, eu paro quando passo por uma porta e ouço a voz de Axel. Sim, eu
reconheço a voz dele em qualquer lugar, mesmo que esteja na merda de uma
boate de mafiosos.
— Sabe que eu não me importo em dividir a minha esposa se ela quiser
que você a foda, não sabe, Cox — uma voz masculina que eu não conheço
fala.
— Eu não estou interessado, Killian — Axel fala friamente, fazendo uma
mulher rir.
— Deve ser por causa daquela menina que você estava pouco tempo atrás.
Quem diria que o assassino mercenário Axel Cox teria uma fraqueza. —
Tenho certeza de que essa voz é da tal Enya, vaca.
— Eu não tenho fraquezas, Enya. Não se engane, aquela menina nada mais
é que mais um membro da minha equipe — Axel fala e é como se eu
acabasse de receber uma pesada do peito.
— Ela então é o seu novo brinquedo, certo? — o homem diz rindo, como
se fosse uma ótima piada.
Eu não posso evitar que as lágrimas se acumulem nós meus olhos.
— Ela não é ninguém, somente uma ferramenta, nada mais. — Axel pausa
por um breve tempo. — Então, como eu estava dizendo… — Fecho os meus
olhos e ignoro o restante da conversa.
Eu sou somente sua ferramenta e nada mais, foi isso… que eu acabei de
ouvir. E por mais que eu não esteja surpresa em saber disso, não posso evitar
que o meu coração esteja reclamando de dor.
Porque dói, dói e eu não sei o que fazer.
Não consigo controlar a dor crescente no meu peito, não deveria estar
sentindo isso, porque não faz sentido. Sempre soube que um homem como
Axel não ficaria com alguém como eu. Lá no fundo, eu tinha uma noção que
tudo o que ele queria de mim era me usar.
Naturalmente, ele deve saber sobre a minha formação e de todas as
pesquisas científicas que eu estive desenvolvendo ao longo da minha
formação acadêmica. E por mais que me doa admitir, eu estava fantasiando
tudo isso. Os seus toques carregados de possessividade, sua voz firme e as
mudanças que ele mesmo fez em mim. Tudo isso era para que eu estivesse
em suas mãos, para estar disposta a fazer o que eu faço de melhor e sem
questionar.
Mas a quem eu estou querendo enganar, eu sabia disso. Eu sempre soube,
estava bem estampado na minha frente, porém, minha cabeça estava criando
algo que não existe. Axel não é homem de palavras bonitas, fazer amor ou
beijar com carinho. Não, ele está longe de ser assim.
Contudo, por que será que estou sentindo como se alguém acabasse de
atirar contra o meu peito?
Talvez, porque eu achei que iria ter um relacionamento com o meu raptor e
no meio do caminho, entre a perda da virgindade e cuidados excessivos, me
deixei sentir algo que jamais iria vir a existir. Eu sou uma ferramenta, nada
mais e nada menos.
Mas por que fazer tudo isso comigo, se ele só queria que eu fizesse parte
da sua equipe?
Por que me fazer dormir ao seu lado?
Por que me acalentar quando eu estava fragilizada após o meu ataque de
asma?
Por que ficar tão furioso a ponto de quase matar os meus colegas de
faculdade, se ele não quer nada comigo, somente ser o meu chefe?
Axel é um tipo de homem que pode muito bem mandar, ameaçar e fazer
tudo o que ele quiser, que as pessoas vão acatar as suas palavras. Porque é
nítido que é um homem que cumpre o que diz e consegue o que quer.
Então..., então por que fazer isso comigo?
"Ela não é ninguém, somente uma ferramenta, nada mais."
Começo a hiperventilar quando as palavras ditas por Axel poucos minutos
atrás rondam a minha cabeça. Nego com a cabeça e deixo as lágrimas caírem
livremente, sem saber o que pensar ou para onde ir, eu desisto de ir ao
banheiro.
Viro a cabeça em direção onde Earl e Craig estão sentados e mesmo daqui
eu posso ver a cabeça loira de Earl me procurar. Sem pensar duas vezes, eu
ando até às escadas, preciso encontrar a saída desse lugar. Tenho que ficar
longe, nem que seja para pensar, respirar fundo e colocar todos esses
sentimentos conflitantes do meu peito em ordem.
Tento não olhar para o lugar onde estão Craig e Earl, pois, não posso
deixar com que eles saibam que eu estou meio que… fugindo?
Sim, acho que é isso!
Mas não fugindo para longe, eu não posso fazer isso e para falar a verdade,
eu nem quero. Eu só preciso respirar, quero ficar um pouco sozinha para
pensar. Somente isso e nada mais. Pode ser que quando eu voltar, Axel tenha
terminado de fazer o que ele quiser fazer com a tal Enya.
Quem sabe assim, possa esquecer de mexer com minha cabeça e meu
coração.
Argh! Mas que merda! Eu quero gritar, quero chutar alguma coisa para
que…
— Porra, olha por onde anda, vadia! — uma mulher com cabelos azuis
grita depois que os nossos corpos se chocam.
— Des… desculpe! — digo assustada.
— Foda-se suas desculpas, vagabunda, você não olha para onde anda não?
— A mulher começa a vir em minha direção.
— Eu não estava prestando atenção para onde ia, sinto… — minha fala é
interrompida quando a mulher me dá o primeiro empurrão, fazendo o meu
corpo cambalear.
— Para com isso, Ashley, a menina pediu desculpas, porra! — Uma outra
mulher toma a minha frente, impedindo assim que a Ashley me empurre.
— Sai da frente, Jeannie! — A Ashley tenta passar novamente, mas é
impedida.
— Se você não sair, eu juro que vou descer a mão na sua cara, cadela. —
Ao ouvir a ameaça, Ashley arregala os olhos. — Vá trabalhar, daqui a pouco
Bob aparece — Jeannie diz e acho que isso faz a outra cair em si.
— Você é uma puta, Jeannie! — cospe Ashley e me encara com raiva.
— Todas nós somos, Ash! — ela diz, dando um passo para o lado para
cortar o olhar de ódio na minha direção.
— Obrigada! — agradeço alto o suficiente para fazer a Jeannie se virar na
minha direção.
— Você é brasileira? — ela pergunta e mesmo surpresa, eu concordo com
a cabeça.
— Como sabe? — pergunto agora em português.
— Porque somente uma brasileira para reconhecer outra. — Arregalo os
olhos com o que ela diz.
— Oh, você é de onde? — pergunto rapidamente.
— Vem, deixa eu te levar daqui antes que a Ash apareça novamente. —
Jeannie segura o meu pulso e começa a me arrastar com ela.
Abro a boca algumas vezes para falar algo que possa impedir que essa
mulher me leve com ela, mas daí as palavras de Axel veem novamente na
minha mente, fazendo uma raiva crescer em mim, e eu me deixo ser guiada
por ela.
Jeannie me traz um lugar que parece ser um camarim, ou qualquer coisa do
tipo. E agora, longe das luzes baixas e música alta, eu consigo ver
nitidamente a mulher em minha frente. Ela é alta, seus cabelos são crespos e
cheios, com as pontas pintadas de loiro. Sua pele negra, seu corpo magro e
tonificado, cobertos somente por um short de couro preto e um top da mesma
cor, deve chamar bastante atenção por onde passar.
Ela se vira para mim sorrindo e aponta para uma cadeira vazia. Sem pensar
duas vezes, eu me sento no lugar indicado, pois meus pés estão me matando
nesse salto.
Solto uma respiração pesada e fico me perguntando se vir até aqui foi a
coisa certa a se fazer. Não quero imaginar o que Axel e os outros vão fazer
quando não me encontrarem.
Nego com a cabeça novamente para me livrar desses pensamentos e
aproveito esse tempo que estou tendo para respirar.
— Então, como é o seu nome? — Jeannie pergunta, passando para mim
uma garrafa de água.
— Isadora. — Olho para a garrafa e penso se é seguro fazer isso ou não.
— Pode beber, não está drogada. Aqui! — fala como se soubesse o que eu
estava pensando. Jeannie abre a garrafa que acabou de me dar e bebe um
pouco. — Viu? Sem drogas! — ela sorri para mim e eu bebo o líquido frio.
— Desculpe! — digo envergonhada e ela faz um gesto de desdém com as
mãos.
— Não se preocupe, você faz bem em desconfiar. Esse lugar aqui não é
seguro — diz, fechando a expressão.
— Eu sou de Santa Catarina e você? — pergunto e posso ver uma tristeza
cruzar seu rosto.
— Rio de janeiro — fala e eu posso ver o pesar nos seus olhos castanhos.
— O que uma menina como você faz em um lugar como esse? — questiona e
meu corpo fica rígido no mesmo momento.
— Eu… — começo a dizer e ela cerra os olhos na minha direção.
— Se sinta livre para não falar, garota. Eu só percebi que você não faz
parte disso aqui. — Ela dá de ombros e pega um cigarro dentro do seu decote.
— Quer dividir? — pergunta e eu nego rapidamente.
— Eu não uso essas coisas — falo, franzindo o cenho e ela dá um sorriso
completo.
— Deveria, porque se você for fazer parte do submundo de alguma
maneira, tem que ter algo para te distrair dos monstros. — É como se eu
estivesse ouvindo uma confissão nesse exato momento.
— Há quanto tempo você é… — A palavra trava na minha garganta.
— Você quer saber há quanto tempo eu sou prostituta? — ela completa e
eu confirmo. — Saí do Brasil há seis anos, jovem e iludida achando que ia
conseguir algo bom da vida. Mas olha só onde vim parar, não é mesmo? —
fico na dúvida se ela está perguntando ou não.
— Sinto muito! — digo e ela dá uma risada sem graça, soltando sua
fumaça para cima.
— Não sinta, não preciso de pena de ninguém. Eu sou boa em me adaptar
— diz de forma séria. — E você — questiona. — Não tem cara de prostituta,
para falar a verdade, parece um cervo no meio de um bando de predadores —
ela ri do que acabou de falar.
— Talvez, eu seja um cervo, mas agora eu não quero mais ser — respondo
entredentes e ela me encara.
— Se veio procurar algum trabalho, tenho que dizer que aqui não é o
melhor lugar — Jeannie diz e eu nego com a cabeça.
— Não, não é nada disso. Eu só acabei de descobrir que sou uma idiota —
solto com irritação e ela assente.
— Mas isso todas nós somos, você vai aprender com o tempo. Vá por
mim! —comenta e eu solto uma respiração frustrada.
— Por que você me ajudou? — indago curiosa e ela foca seus grandes
olhos castanhos claros em mim.
— Não sei, não sei mesmo — responde, voltando a fumar seu cigarro.
— Eu fico agradecida, mas eu tenho que voltar. Acho que já estou com
muitos problemas por ficar sumida tanto tempo — digo, me levantando. Eu
estou perto de sair, mas bato a mão no meu bolso e pego meu celular. —
Toma, me passa seu contato — peço e ela olha para mim com desconfiança.
— Não garota, você não deve ter contato comigo — abro minha boca para
falar, mas seu corpo ficou rígido. — Saia, eu só te ajudei por ser brasileira.
Não precisa ter contato comigo.
— Mas eu quero, acho que vou… — começo a falar, mas ela solta um som
de raiva.
— Vá embora daqui! — ordena com firmeza, me fazendo dar um salto no
lugar.
— Tudo bem, obrigada de qualquer jeito — falo de modo rápido e
confuso.
Eu já estou andando em direção a saída quando a Jeannie chama meu
nome, me fazendo parar.
— Tome cuidado lá fora, as pessoas daqui não são gentis — seu aviso me
faz entrar em alerta e ter a certeza de que eu deveria voltar para perto dos
meninos.
— Obrigada e se cuide você também! — Acho importante dizer isso, mas
como eu não ouço nenhuma resposta dela, saio o mais rápido que posso.
Apesar de Jeannie ser uma mulher esquisita e extremamente bipolar, eu
fico com um sentimento de que ela é uma mulher dura pelas coisas que já
deve ter passado. Dá para ver no seu olhar a tristeza, a saudade de casa, do
seu país, porque quando ela viu alguém do Brasil, soube acolher e proteger da
melhor forma que conseguiu.
Queria manter o contato com ela, eu sinto, de alguma maneira, que nós
vamos cruzar os nossos caminhos no futuro. Não deve ser fácil trabalhar
nesse ramo, fico me perguntando se ela ficará bem.
Não. Dora, não é da sua conta, ela te enxotou. Você tem que voltar para
os outros, antes que Axel enlouqueça.
— Ei, gatinha! — Sinto uma mão grande e forte segurar o meu braço.
Olho para trás e vejo um homem alto, com uma barba grande e olhar cheio
malícia.
— Me solta! — peço, tentando soltar o meu braço do seu aperto.
— Você é nova na casa? — questiona. — Eu não sabia que Killian tinha
pegado meninas novas. — O homem asqueroso puxa o meu corpo ao seu
encontro.
— Eu não sou prostituta, me solta! — Tento me soltar novamente, mas ele
ri do meu desespero.
— Você não faz ideia de como eu gosto quando vocês lutam assim. —
Seus braços rodearam a minha cintura. — Me dê um beijo aqui, gostosa. —
O homem tenta alcançar a minha boca, mas eu começo a me debater.
— Me deixe ir! Deixe-me agora! — grito em desespero, sentindo o cheiro
azedo do seu hálito de bebida fazer o meu estômago embrulhar.
— Fica quieta, sua puta! — O homem perde a paciência e acerta um tapa
forte no meu rosto. A dor forte do me deixa estática por um tempo.
—Não, não, não! Para! — começo a chorar de desespero.
Grito mais ainda quando a mão nojenta do homem aperta a minha bunda.
Tudo o que penso é em como eu não deveria ter saído de perto dos meninos e
do Axel.
Axel, me ajude!
Fecho os olhos com força quando percebo que não tenho força o suficiente
para fazer esse homem nojento me soltar. Quando ele está quase conseguindo
encostar sua boca podre em mim, seu corpo é abruptamente afastado do meu.
Caio no chão, batendo a cabeça, mas logo alguém aparece e me segura.
— Dora, Dora, você está bem? — É o Russel, ele me pega e me levanta do
chão.
— Sim, eu estou! — falo desnorteada e algo ilumina a minha cabeça. —
Axel, onde ele está? — pergunto, segurando Russel com força.
— Ali! — Russel aponta e eu franzo o cenho, ainda tentando reunir os
meus pensamentos.
— Oh, merda! — exclamo, colocando a mão na boca quando vejo Axel
segurar o homem que me interceptou como se não fosse nada. — Ele vai
matar o homem! — digo e Russel rodeia seus braços em mim.
— Sim, ele vai, mas eu acho pouco — Russel diz entredentes.
Observo com os olhos arregalados e mãos trêmulas quando Earl e Craig
apontam as suas armas para que as pessoas da boate se afastem. Enquanto
Axel faz o homem se ajoelhar em frente a ele.
Não sei como acontece, mas eu vejo sangue no rosto do meu agressor.
Ainda não tinha visto Axel desse jeito, ele está mais letal que aquela vez que
massacrou Jonas. Ali eu o vi com raiva, socando o rosto do meu colega como
se dependesse daquilo para ficar bem. Mas dessa vez é diferente, ele está
calmo, sereno e irradiando terror somente com a forma que está se portanto.
Eu não posso ver o seu olhar e fico feliz por isso, porque não sei dizer o que
posso encontrar ali.
— Cox, você não pode fazer isso com um dos meus homens. — Um
homem ruivo alto aparece, tendo a Enya ao seu lado. Eles não podem se
aproximar, porque Earl e Craig continuam ameaçando a todos com suas
armas em punho.
— Eu posso fazer o que eu quiser — Axel diz de forma psicótica, sem tirar
os olhos do homem.
— Ela é uma prostituta, cara — o homem diz com medo, recebendo o soco
do Axel.
— Você tocou, abusou e bateu na minha menina. Vai pagar por isso com
sua vida — jura Axel e eu tento ir até ele, ou dizer algo, mas Russel não
deixa.
— Você não vai, esses irlandeses devem saber que ninguém mexe com um
dos nossos — Russel diz as palavras com ódio, me deixando com medo da
intensidade delas.
— Isso servirá para vocês pensarem antes de se meterem nos meus
assuntos — Axel fala, indo para trás do homem ajoelhado, tendo em suas
mãos uma faca pequena.
Onde aquela faca estava?
—Não, por favor! Chefe! — o homem grita por ajuda, mas Axel segura
sua testa, puxando a sua cabeça para trás e expondo assim sua garganta.
— Não! — sussurro de modo horrorizado, querendo fechar os olhos, mas
não consigo.
Como se estivesse ouvindo o meu sussurro, Axel se vira na minha direção.
Seu rosto está impassível, mandíbula firme, mas não demonstrando raiva ou
algo do tipo. E é justamente dessa maneira que ele passa a faca na garganta
do homem que me atacou.
A lâmina rasga a garganta do homem em um ritmo único, de uma ponta a
outra, deixando o sangue surgir abundantemente. Observo paralisada o
homem segurar a sua garganta degolada com pavor, mas não dura muito, pois
logo sua luta acaba e seu corpo morto vai de encontro ao chão.
Olho para a cena bárbara em minha frente em choque, mas não dura muito
também, porque eu sinto a aproximação de Axel. O grito de pavor das
pessoas presentes, os xingamentos e promessas são desligados da minha
mente a partir do momento que ele chega a mim.
Suas mãos molhadas de sangue, do homem que ele mesmo acabou de tirar
a vida, vem em direção ao meu rosto, ainda sinto o líquido pegajoso, mas eu
não ligo para isso, ou pelo fato do odor metálico estar forte no meu nariz.
Não, eu não ligo para nada, porque tudo que importa é a forma doentia e
possessiva que Axel está tomando os meus lábios.
Sinto dor, porém, é exatamente assim que eu quero. Eu preciso disso, eu
necessito de Axel agora!
— Axel! — falo de forma trêmula e dolorida.
— Você está bem, está ferida em algum lugar? — pergunta de forma
intensa e sombria, o que me resta é negar. — Não minta para mim, porra! —
esbraveja. — Eu vi o filho da puta te batendo! — Ele me sacode e eu arregalo
os olhos.
— Oh, isso? — pergunto espantada, lembrando do ardor na minha
bochecha. — Eu estou bem, sinto muito, Axel — digo com pesar. — Eu não
deveria ter saído — falo de modo rápido e desesperado, fazendo Axel apertar
meus ombros com força.
— Eu quero muito te matar por isso, mas não agora — ele fala entredentes,
me puxando para seus braços. — Vamos! — ele grita, chamando os outros.
— Axel! — A voz de Enya se faz presente. Abraçada a Axel, sinto o seu
corpo ficar rígido.
— Não! — Axel fala em tom profundo, sem se virar para encarar a mulher.
— Você não pode matar um dos meus homens e sair impune, Cox —
Killian fala com raiva e ouço o som de armas serem destravadas.
— Se eu fosse você, não pararia um homem que está com as mãos sujas de
sangue fresco. — Dessa vez Axel se vira, colocando a mão atrás das costas
para logo em seguida erguer uma arma. — Não tente nos parar, Dunphy, sabe
que nós quatro conseguiríamos massacrar todas as pessoas dentro desse
lugarzinho inútil. — O tom sombrio de Axel faz meu coração acelerar.
— Você ainda precisa de mim, não faria isso. — Killian tenta esconder
suas emoções, mas a Enya não tem tanta sorte.
— Eu já peguei o que precisava, nada me impede de matar você e a sua
senhora agora mesmo. — Axel para e olha em volta, me fazendo olhar
também.
Posso ver que Earl, Russel e Craig estão ansiando por colocar tudo isso
aqui no chão.
— Teriam uma retaliação! — Killian diz e Axel solta um som com a boca.
— Eu sou um bom negociador, todo mundo em algum lugar quer algo ou
alguma coisa — Axel diz seriamente.
— E você quer essa aí, não é? — pergunta a vadia da Enya. — Foi até
capaz de matar por causa dela — ela cospe as palavras.
— Me perguntou se ela era o meu ponto fraco mais cedo. — Ele para um
tempo e aponta com o queixo para o homem degolado no meio do salão. —
Você chama isso de fraqueza? — Mesmo daqui, eu vejo quando Enya fica
desconfortável. — Agora que sabem disso, vão realmente querer me encarar?
— Axel pergunta friamente, mas não obtém resposta. — Foi o que eu pensei.
Vamos embora! — chama Axel virando novamente em direção a saída.
Saímos do lugar dos irlandeses de forma rápida e quando estamos todos
dentro do carro, ninguém ousa dizer uma palavra. A tensão daqui é tão
tangível, que eu posso sentir na ponta da minha língua.
Não olho na direção de ninguém, estou muito chocada com o que
aconteceu e tudo porque fui muito idiota em ter saído por alguns minutos. Eu
não deveria ter feito isso, se aquele homem morreu daquela maneira tão
brutal, a culpa é toda minha. Por mais que as coisas tenham saído do controle,
nunca imaginei que algo como aquilo pudesse acontecer. Agora eu sei, eu sei
quão perigoso esse homem ao meu lado é e jamais poderei pensar diferente.
Assim que chegamos no hotel que estamos hospedados, Axel me coloca
por cima dos ombros como um saco de batatas e me leva para o nosso quarto.
A partir do momento que a porta é fechada com força atrás de mim, ele
começa a tirar toda a minha roupa de forma brutal.
No momento que estou usando somente a calcinha e o coturno, sou puxada
para ficar de frente para a parede. Eu sinto uma corrente elétrica passar por
todo o meu corpo, estou tão excitada e necessitada por esse homem cruel, que
estou molhada, muito molhada e pronta para receber o que ele quiser me dar,
da forma mais intensa que for.
— Se segure, Isadora, porque eu não vou ser legal com você nesse
momento — Axel diz e consigo ouvir que ele está se livrando das suas
roupas.
— Sim, Axel! — Minha voz saí rouca e necessitada.
— Você quer isso, não é? — ele diz. — Você quer que eu coma essa sua
buceta como um animal sangrento que sou, não é? — Axel pergunta e eu
estremeço.
— Quero, eu quero isso! — falo sem qualquer pudor. Esse homem me
deixa assim e eu preciso senti-lo, preciso ter Axel com tudo de mim.
— Porra, você está pingando! — diz entredentes, enquanto mete a mão
dentro da minha calcinha. Axel pressiona seu pau endurecido entre as minhas
nádegas e enfia dois dedos dentro de mim. — Eu não vou ser delicado,
consegue lidar com isso, certo?
— Ah... sim, sim! Eu consigo! — digo, louca com a sensação dos seus
dedos em mim.
— Não gema assim, porra, porque eu perco a porra do meu controle. —
Ele aperta os meus cabelos com força, curvando mais ainda o meu corpo para
que minha bochecha fique pressionada contra a parede.
— Axel! — chamo por seu nome, o fazendo soltar um rosnado baixo e
rasgar minha calcinha.
— Porra! — xinga de forma furiosa, enquanto aninha a cabeça do seu pau
na minha entrada molhada.
Meu corpo arqueia quando Axel me penetra de forma dura. Sem conseguir
me conter, eu solto um grito de dor e prazer. Acho que isso o incentiva mais
ainda, porque ele começa a me massacrar a cada estocada.
É tudo tão profundo, gostoso e alucinante, com uma das mãos, Axel prende
fortemente o meu cabelo, e a outra aperta a minha cintura de modo assassino.
Eu sei que ficarei dolorida com tudo isso, mas eu não me importo, eu quero
tudo. Quero a dor, quero esse homem para mim e além de tudo, eu quero
gozar.
Porra, eu quero gozar.
— Eu vou te encher com a minha porra, vou marcar você para que saiba
que é minha e se qualquer filho da puta te tocar, vai sangrar como um pouco
imundo.
— Me faça gozar, por favor, Axel. — Cravo minhas unhas na parede. Ele
aumenta seu movimento, seus quadris batem em mim com força.
— Goze, Isadora! — Axel solta a sua mão do meu cabelo para que ela vá
direto massagear o meu clitóris.
— Ah…, eu vou… — Não consigo terminar de falar, é tudo muito
alucinante.
Fecho os olhos com força, porque ter seus dedos massageando meus
clitóris é tudo o que eu preciso para gozar. Axel solta um urro rouco e muito
delicioso de se ouvir quando alcança o seu orgasmo.
Como prometido por ele, eu sinto-o me preencher com o seu gozo, que é
tão abundante, que escorre entre minhas pernas. Antes que minha mente fique
menos turva por conta do orgasmo intenso, Axel me surpreende ao segurar a
minha garganta com força.
— Após o banho eu vou querer saber exatamente o porquê você havia
sumido, Isadora. Me deixou muito, muito puto por causa disso — Axel diz no
meu ouvido, enquanto corta o meu ar.
— S... sim — falo com dificuldade.
— Bom, bom! — diz, folgando um pouco seu aperto da morte. — Você
passou no teste, minha menina — Axel diz entredentes.
— O quê? Que teste? Como assim? — pergunto, desnorteada.
— Me viu matar alguém e não surtou, esse era o seu teste. Percebi em você
que sua questão é mais emocional do que física e nós vamos trabalhar isso
em ti. Mas antes, temos trabalho a fazer. Bem-vinda a equipe, Isadora
Martins — Axel fala seriamente e eu engulo em seco, sem saber o que dizer a
isso.
Mesmo sem entender muita coisa, eu acho que a partir de agora tudo será
mais complicado que antes.
Fico olhando para Isadora comendo o seu jantar, que chegou após o nosso
banho, e com os olhos fixos nela, eu penso na possibilidade de enforcá-la
novamente. Essa menina ainda vai conseguir com que eu cometa uma loucura
maior do que as que eu já fiz.
Cerro os meus punhos com força quando a lembrança de vê-la sendo
atacada no território dos irlandeses volta para mim como uma fodida
vingança. Admito que já estava puto somente com o fato de sair daquela
reunião, onde Killian e a puta da sua esposa queriam mais do que eu estava
disposto a dar. E que não encontrar Isadora com meu irmão e Earl só
terminou de explodir com todo o inferno. Tudo o que veio em minha mente
era que essa menina tola havia fugido novamente. Inferno!
Não sei por que eu me importo tanto com isso, ou o porquê sinto essa raiva
fora da porra fora do comum a cada vez que penso nessa menina em perigo.
Para falar a verdade, eu não sei o porquê a quero aqui na minha equipe, eu
poderia muito bem ter encontrado um outro para colocar no lugar dela. Mas
não, eu continuo insistindo em tê-la aqui. Isadora deixa que as emoções a
domine, só que isso não pode acontecer, pessoas assim morrem com tanta
facilidade que chega a ser ridículo. Eu sou um tipo de homem que não sente
pena de gente idiota, não sinto pena de ninguém, porque isso é a porra de um
sentimento inútil.
Qualquer sentimento é inútil, essa foi a minha primeira lição de vida. E há
muito tempo que eu não sentia qualquer fagulha de alguma coisa, mas foi só
essa menina desajeitada e estúpida aparecer para que eu sentisse algo.
Já que isso aconteceu sem que eu controlasse, então cabe a mim tê-la por
perto. Mas não será fácil para ela, vou treiná-la pessoalmente, vou
transformar a minha menina tola em algo útil para mim e para si mesma. Isso
é tudo que eu posso dar, porque corações, romance e casinha com cercas
brancas está muito longe da realidade. O único que deve dominar as
emoções, o corpo e alma de Isadora, sou eu. Somente eu e mais ninguém.
— Por que você está me olhando dessa maneira? — Isadora pergunta,
enquanto ergue o seu corpo d'água.
— Por que você fugiu novamente? — pergunto sem fazer rodeio e ela
amplia seus grandes olhos castanhos escuros.
— É… bem… — começa a gaguejar e isso me irrita.
— Diga! — ordeno com irritação.
— Eu ouvi você falar que não sou ninguém, que não passo de uma
ferramenta e que estou aqui só para ser parte da sua equipe — Isadora fala de
modo rápido, como se evitasse pensar no que está falando.
— Então foi por causa de algo tão banal que você se colocou em perigo,
andando sozinha em um lugar desconhecido, para quase ser estuprada e,
quem sabe, morta? — Controlo o meu temperamento o máximo possível, mas
tudo o que eu quero agora é colocar essa menina sobre os meus joelhos.
— Eu sei que fui muito idiota, sinto muito. — Isadora se encolher no lugar
e olha para o seu prato.
— Erga a cabeça, eu já disse que só quero a sua submissão quando o meu
pau estiver fundo em você. Fora isso, não, erga a sua fodida cabeça. —
Minhas palavras duras a fazem adquirir uma postura melhor.
— Você vai me castigar por isso? — pergunta, mordendo os lábios, e eu
solto uma forte respiração.
— Não, temos coisa mais importante para resolver — falo com firmeza,
fazendo-a me olhar com a sua típica careta curiosa.
— E o que seria? — pergunta, arqueando sua sobrancelha.
— Temos um resgate a fazer — lembro-a e ela confirma com a cabeça.
— Então você vai precisar de mim para encontrar a garotinha? —
pergunta, mas antes que eu possa dizer alguma coisa, ela se adianta a falar. —
Mas tenho que dizer que isso pode demorar um pouco, e… — Levanto a
minha mão, fazendo-a parar de falar no mesmo momento.
— Eu já tenho toda a informação que preciso — paro por um tempo —, e
essa merda me custou caro — comento entredentes.
— Então, em que vocês precisam de mim? — Isadora pergunta, me
olhando com expectativa. Eu sabia que não estava enganado sobre ela.
— Sabe por que eu fiz o teste com você, minha menina? — pergunto e ela
nega com a cabeça. — Porque eu queria que visse o quão frio eu posso ser ao
tirar a vida de um inimigo meu — conto de forma calma.
— Então quer dizer que sabia que eu poderia fugir e que alguém ia me
atacar para que você matasse? — questiona e eu posso sentir um pouco de
desafio no tom de sua voz.
— Não, minha menina, foi uma surpresa você ouvir a minha conversa com
os fodidos Dunphy — sou sincero com as minhas palavras, porque eu não
tenho razão para mentir. — Para falar a verdade, pensei que fosse matar o
próprio Killian, ou a Enya.
— Você achou que fosse matar a Enya? — Isadora arregala os olhos e eu
assinto tranquilamente. — Mas por quê? Vocês dois não já… quer dizer,
você e a Enya não… — Isadora tenta falar, mas suas bochechas ficam
vermelhas.
— Se eu já fodi a Enya? — pergunto, fazendo suas bochechas ficarem em
um tom mais vermelho. — Sim, minha menina, eu já fodi a Enya — falo,
controlando o prazer que sinto em vê-la envergonhada.
— Oh, mas por que matá-la? — Sempre curiosa, porra.
— Porque há um preço na cabeça daqueles dois, mas eu não estou disposto
a executar. — Os olhos de Isadora se arregalam.
— Mas se quisesse, você faria? — Puxo o canto dos meus lábios.
— O que você acha, minha menina? — Ela morde o lábio inferior e
assente.
— Sim, você faria — confirma, me deixando satisfeito.
— Entende onde você está entrando, minha menina? — pergunto e ela, de
forma petulante, dá de ombros.
— Entendo sim, mas não é como se eu tivesse alguma escapatória, não é?
— Isadora fala e eu encosto minhas costas na cadeira, cruzando os braços.
— Não, você não tem escapatória desde o momento que os nossos
caminhos se cruzaram — digo calmamente e ela me olha com aqueles olhos-
grandes grandes expressivos.
— Eu percebi isso, Axel — sua resposta sai de forma murmurada. — Eu
só…, eu só não sei se estou realmente pronta.
— Ninguém nasce pronto para nada, minha menina — comento, me
levantando do meu lugar. — Vou pedir ao serviço de quarto para tirar isso,
faça o que tem que fazer e vá dormir — ordeno, olhando para ela seriamente.
— Vou tirar a lente de contato e escovar os dentes — Isadora fala
distraidamente.
Observo a pequena menina tola correr para ir ao banheiro e fico me
perguntando o porquê a acho sexy somente ao fazer o que mando sem nem
piscar.
Às vezes, tenho um pensando fodido em achar que essa pequena criatura
inocente foi feita exatamente para mim. É um pensamento de merda, mas é
algo que começo a pensar, porque se fosse outra pessoa qual eu não chegasse
a sentir nada, tenho certeza de que não estaria viva para pensar no amanhã.
Tiraria sua vida sem pensar duas vezes, porém, com ela é diferente, só
fodidamente com ela, as coisas são estranhamente diferentes.
O toque na porta do quarto me traz a realidade. Deixo com que tirem as
coisas do jantar e somente quando tudo é levando, é que Isadora sai do
banheiro. Ela está sexy usando um blusão meu, cabelos cacheados soltos e
atraentes.
Sinto o meu pau tremer dentro da cueca ao vê-la dessa maneira, não posso
negar que estou obcecado pela sua buceta deliciosa, mas não posso pensar em
tê-la novamente, pelo menos, não agora. Ela precisa descansar, porque
amanhã irá mostrar realmente para mim e aos outros tudo aquilo que é capaz
de fazer.
Preciso que Isadora esteja focada na missão que darei a ela e mesmo que
eu queria passar a noite dentro dela, nós temos um trabalho a executar.
— Vou sair, espero que você durma. Amanhã será um dia longo — falo e
ela me encara com esses olhos assustados.
— Você vai sair? — pergunta o óbvio.
— Foi isso o que acabei de dizer — digo sem paciência.
— Axel, você pode… — Isadora fala, virando a cabeça para o lado para
poder esconder que está com vergonha de pedir algo.
— O que foi, minha menina? — pergunto, a observando atentamente.
— Você pode, por favor, ficar comigo — ela pede. — É só o tempo até eu
pegar no sono. — Minha menina se atrapalha com as suas palavras e a
observo de forma impassível. — Olha, se não puder, vou entender, sabe. —
Isadora faz bico e eu fico com muita vontade de mordê-lo até tirar sangue.
Fodidamente linda, porra!
— Tudo bem! — digo com firmeza e ela arregala os olhos.
— Tudo bem, assim? Tipo, tudo bem? Mesmo? — Intensifico o meu olhar
e ela tenta fechar o sorriso de satisfação, mas falha miseravelmente.
— Vá se deitar, eu vou mandar uma mensagem e estou indo — falo,
fazendo-a abrir um largo sorriso.
— Sim, sim, Axel. Não demore, por favor! — Aperto a ponta do nariz para
me controlar. Tiro o meu celular do bolso e envio uma mensagem para Craig.
"Mudança de planos, iremos pela manhã ao galpão e lá montaremos toda
nossa estratégia."
Quando penso em guardar o celular novamente, Craig logo responde.
"Sua menina está bem com você rasgando gargantas?"
"Não que isso seja da sua conta, mas ela não precisa ficar bem. Isadora só
tem que saber que não deve fugir de mim."
"Sim, sim, Axel. Continue a se enganar e fingir que você não está louco
pela Isadora."
"Foda-se, Craig!"
"Foda-se, também amo você, irmão!"
Franzo as sobrancelhas ao ver a última mensagem de Craig e bloqueio a
tela do celular. Não entendo o porquê ele disse isso para mim, não somos
esses tipos de irmãos que ficam demonstrando afeto.
Nós aprendemos da forma mais dura que emoções levam a situações
desagradáveis. É óbvio que ele só quer me irritar, como sempre faz, porque
nós, os Cox, somos um bando de bastardos fodidos.
Deixo o pensamento sobre Craig de lado e caminho até a cama para
encontrar Isadora me esperando. Ela sente a minha aproximação e me olha
com uma expectativa quase infantil. Solto uma respiração forte e raivosa,
enquanto tiro a minha roupa e me deito ao seu lado, fazendo questão de puxá-
la para perto, como sempre faço.
— Axel, posso te perguntar algo? — Isadora indaga após eu me virar para
desligar as luzes e prender seu corpo novamente ao meu.
— Quando você não tem uma pergunta para fazer, não é, minha menina?
— digo, sem fazer questão de abrir os meus olhos.
— Bem, acho que sim — diz e permanece quieta por um breve tempo. —
Você teve algum relacionamento com a doutora Taylor? — a pergunta de
Isadora quase me faz rir.
Oh minha menina, ciumenta você, não é?
— Relacionamento? — dou risada. — Eu não namoro, ou tenho
relacionamentos, Isadora — alerto a ela de forma leve e seu corpo fica rígido.
— Eu só fiz um trabalho para a doutora e agora eu usei isso para que você
tivesse o melhor atendimento — conto porque é a pura e cristalina verdade.
— Que tipo de serviço? — Ah Isadora, como você é curiosa.
— Matei o marido dela, que estuprou a sua filha de doze anos, e como ele
era um delegado muito respeitado, ninguém seguiu com as investigações —
eu explico. — Então, coube a mim e minha equipe fazer o serviço, que foi tão
bem feito que ninguém suspeitou de sua esposa e sim de uma gangue
qualquer do subúrbio. — Minha voz sai sem emoção e o corpo de Isadora
relaxa no mesmo momento.
— Oh, isso foi bom! — ela exclama. — Você o matou! — Isadora diz
como se estivesse aliviada de alguma forma. — Mas, Axel, se você não tem
relacionamentos, então, o que somos? — Mordo a mandíbula com força,
porque eu não sei o que diabos dizer.
— Durma, Isadora, agora! — ordeno, fazendo-a se aconchegar mais a
mim.
— Boa noite, Ax! — Isadora fala bocejando e eu fico me perguntando do
porquê diabos ela me chamou de "Ax."
Isadora acabou de me chamar de machado?
Que porra é essa?

Já é o dia seguinte e agora estamos todos no galpão que eu aluguei para ser
a nossa base. Acordei cedo hoje, chamando Isadora junto comigo, porque
tínhamos que estar aqui para que ela pudesse saber exatamente qual é o
trabalho dela.
Minha equipe e eu precisamos que ela invada as câmeras dos locais
próximos onde, possivelmente, a filha do senador Bennett está. Necessito ter
uma visão mais detalhada de todo o perímetro, para assim poder fazer a
minha abordagem.
Eu já havia visto entre as minhas investigações o quanto a minha menina
desajeitada é boa na arte da programação, mas o que eu a vejo fazendo me
deixa muito surpreendido. E não só a mim, Craig, Russel e Earl também
ficam bastantes surpresos.
O homem que fazia isso para nós como a porra de um freelancer demorava
horas para completar o serviço. Porém, a Isadora me deu o que eu pedi em
fodidos minutos. Porra! Eu não achava que fosse possível querer foder a
porra da sua vida para fora do seu corpo através do meu pau, mas eu estava
fodidamente enganado. Se havia dúvidas que ela foi feita para mim de um
modo muito fodido, agora não há mais nenhuma. Ela é só minha e nunca irá
deixar de ser.
— Sua menina ganhou Russel e Earl. Nunca vi eles assim com ninguém —
Craig diz, apontando em direção a Isadora e os idiotas. Paro de fazer o que
estou fazendo com o meu fuzil AR-16 e olho em direção a ela.
Ela está magnífica usando sua nova armação de óculos, que foi enviado
ontem mesmo para o hotel. Esses a deixam mais jovem, e combinam com seu
rosto. Seus cabelos cacheados estão presos para cima, a deixando
incrivelmente atraente, ainda mais usando o meu blusão, calça jeans escura e
o seu coturno sexy.
Isadora está sentada à mesa improvisada para ela, rodeada por monitores e
notebooks. Ela está no seu ambiente e isso é tão fodidamente prazeroso de se
ver.
Merda, minha menina!
— Você ainda está chateado comigo, Earl. Eu já me desculpei com você
por ontem. O Craig já me desculpou. — Isadora faz aquele bico novamente e
isso me deixa irritado.
— Eu não disse isso! — meu irmão resmunga sem força.
— Nossa, Craig! — Isadora fala com tristeza.
— Não se preocupe, que eu estou tranquilo. Para falar a verdade, estava
rezando que você fizesse uma merda, eu odeio aqueles irlandeses — Russel
diz como quem não quer nada, quando arruma suas munições e adagas.
— Tomou o seu remédio hoje? Não quero você enlouquecendo perto de
mim, Russel. O negócio é sério — Earl fala, fazendo Russel apontar na sua
direção com a adaga.
— Esse remédio de merda me deixa lento, gosto de estar bem para matar
— Russel diz e daqui eu posso ver Isadora ficar encarando-o fixamente.
Eu não gosto disso.
— Isadora! — chamo, fazendo-a olhar na minha direção. — Venha aqui!
— exclamo e ela vem sem questionar.
Sinto os olhos de Craig em mim, mas eu não olho para ele, porque posso
ser capaz de atirar nele se fizer isso.
— Oi, Ax? — ela pergunta assim que vem a mim.
— Ax? — Craig pergunta. Olho em sua direção com os olhos cerrados e o
vejo cerrar os lábios para não rir.
Fodido de merda!
— Atenção! — falo alto e todo mundo se vira para mim, até mesmo os
homens que vão fazer a segurança de Isadora aqui no galpão. — Vamos fazer
um trabalho sem chamar muita atenção, a polícia está desesperada para
encontrar essa criança, mas é o nosso trabalho resgatá-la e levá-la em
segurança para casa. Não quero explosão sem sentido. — Olho para Russel,
que faz uma careta, mas assente. — Será tudo o mais silencioso possível —
alerto a todos. — Earl, você fica responsável por pegar a criança e avaliar o
seu estado de saúde. Eu, Craig e Russel matamos cada um dos fodidos
sequestradores, não deverá sobrar ninguém para contar história. Estamos
entendidos?
— Sim, senhor! — Craig, Russel e Earl respondem juntos.
— E eu? — Isadora pergunta, ajeitando seus óculos de forma nervosa.
— Dê o seu melhor em ser os nossos olhos e ouvidos. Você guiará cada
um de nós, consegue fazer isso? — Percebo que Isadora quase abaixa a
cabeça, como sempre faz, mas dessa vez é diferente. Ela ergue o queixo e me
olha o mais confiante que consegue.
— Sim, eu consigo fazer isso! — Mesmo tentando ser confiante, posso
ouvir o nervosismo em sua voz.
É tudo o que eu preciso saber, porque agora não há mais volta. Temos um
trabalho a fazer e vamos dar o nosso melhor nisso. Sempre!
— Aqui Isadora, fique com isso! — Axel fala, estendendo uma arma
pequena na minha direção.
— Não, Axel! — digo com os olhos arregalados, dando um passo para
trás. — Eu nunca peguei em uma arma — falo nervosa, negando com a
cabeça.
— Há sempre uma primeira vez para tudo — rosnando, ele me puxa pela
gola do blusão.
— Para que eu vou precisar disso? — questiono. — Você não vai colocar
aqueles armários para ficar aqui comigo. — Aponto com a cabeça para os três
homens que estão armados até os dentes.
— Sim, mesmo assim, se esse lugar for invadido, eu quero que você tenha
algo para se defender — Axel diz, pegando a minha mão e colocando a arma
nela.
— Uma invasão? — Olho em volta e me pergunto como alguém
conseguiria entrar aqui. Esse galpão é uma fortaleza.
— Lembre-se que eu matei um dos homens da máfia irlandesa. — Axel
relembra entredentes e eu assinto, pensando em uma outra solução.
— Não seria melhor correr? — pergunto, tentando aliviar o clima.
— Seria melhor então que você recebesse um tiro nas costas, certo? —
Axel diz sem esconder sua irritação.
— Cruzes, Jesus! — exclamo em português e ele me olha de forma mais
intensa. — Tudo bem, tudo bem, mas eu não sei usar isso — falo a
contragosto.
— Você destrava aqui. — Olho atentamente para as suas mãos. — Aponta
e atira! — Franzo as sobrancelhas ao vê-lo apontar a arma para Russel.
— Chefe, eu fico agitado com uma arma apontada na minha direção —
Russel diz de forma sarcástica.
— Ainda mais quando você está sem os seus remédios, não é, seu merda?
— Craig diz e Russel dá de ombros.
— Foco, Isadora! — Axel diz com raiva, me fazendo pular.
— Sim Axel, você me deu uma boa lição de como possivelmente eu vou
me matar — lamento em voz baixa e ele me surpreende ao me segurar pelo
os ombros.
— Preste a atenção, porra! — A sua voz aumenta um pouco mais e eu me
assusto com a intensidade nos seus olhos.
— Si… sim! — respondo, com os olhos arregalados.
— Você ainda terá o seu treinamento, mas preciso saber que se algo
acontecer, vai saber como não morrer sem que tenha levado alguém contigo
— Axel fala de forma sombria.
— É só destravar, mirar e atirar, certo? — pergunto, engolindo em seco.
— Sim, Isadora! — diz de forma fria. — E pelo fodido Deus, não feche os
seus olhos — eu não contenho o sorriso que teima em aparecer no meu rosto.
— Eu aprendi essa lição, Ax! — digo, pressionando os meus lábios para
me conter.
— Você é uma tola, menina! — reclama sem calor e eu posso ver o seu
sorriso fantasma.
— Eu prometo que vou guiar você e os outros da melhor forma que
conseguir — tomo coragem e digo o que exatamente quero.
— Eu sei que vai! — Axel fala, mordendo sua mandíbula com força.
Sem que eu esteja totalmente preparada, Axel solta os meus ombros. Ele
me olha por um tempo e passa de forma leve a parte de trás de seus dedos no
meu rosto. O seu carinho faz com que, de modo inconsciente, o meu corpo
busque por mais disso. Mas logo o seu toque se afasta, fazendo com que eu
me sinta estranha por causa disso, eu o quero aqui.
Quero que ele e os meninos não saiam daqui. Eu sei que parece egoísta da
minha parte, porque eles estão indo resgatar uma criança das garras de
sujeitos horríveis, que só pensam no quanto podem lucrar com a vida de um
ser inocente. Então, não, eu não posso ser egoísta em querer que Axel fique.
Eles já estão nisso há um tempo e sabem se cuidar. É isso que eu fico
repetindo na minha cabeça, mesmo assim, ainda não consigo parar de ficar
preocupada.
Eu deveria estar assim?
Não, eu não deveria, ainda mais se pensar pelo lado de que eles me
raptaram da minha casa e do meu país para vir aqui para New Jersey. E agora
eu estou me sentindo… diferente. Me sentindo como se eu pudesse realmente
fazer algo útil para alguém, mesmo que esses "alguéns" sejam um bando de
mercenários sanguinários, que não pensariam duas vezes antes de enfiar uma
bala na minha cabeça.
Isso foi muito mórbido, Isadora. Se controle!
Não posso mais negar que eu estou me apegando a esses homens,
principalmente um em especial. Eles são todos uns broncos, grosseiros e
sinceros até os ossos, mas que de qualquer forma, me querem juntos a eles.
Esses homens brutalmente armados estão confiando em mim para serem
seus olhos e ouvidos. Isso é uma puta responsabilidade, tão grande, que está
me dando cólicas só de pensar. Sempre fui muito boa em códigos, sistemas e
redes, mas com pessoas, nada mais que uma negação sem tamanho. Porém,
eles me acolheram, de forma muito errada e distorcida, só que me acolheram.
Encaro esses quatro homens distintos, todos prontos para fazer o que eles
fazem de melhor. Vestidos com roupas táticas todas pretas, malas de
primeiros socorros, rádios transmissores e todo tipo de arma que eu jamais
poderia imaginar.
Depois de tudo, eu não consigo acreditar que estou fazendo parte disso,
chega até ser engraçado, mas não deixa de ser verdade. Sempre imaginei que
essa coisa de mercenários só existia no cinema, entretanto, olhando o modo
que eles estão checando suas armas e terminando de passar o plano elaborado
hoje cedo, eu posso dizer que não.
Essa coisa não só acontece nos cinemas, porque eu estou de frente para
essas caras, aqui e agora.
— Chefe, posso dar um beliscão na Dora? — Ouço a voz do Russel e isso
me faz acordar dos pensamentos.
— Mas por que você quer me dar um beliscão? — pergunto confusa.
— Sei lá, você está olhando para a gente como se não fosse mais nos ver
— Russel diz, dando de ombros. Suas palavras sinceras fazem minhas
bochechas esquentarem.
— Nós não vamos morrer, Dora. Você vai nos guiar — Earl diz
tranquilamente, me deixando mais nervosa do que nunca.
— Se sua intenção era acalmar a garota, sinto dizer, mas você não
conseguiu — Craig resmunga ferozmente, negando com a cabeça.
— O quê? Eu só queria ajudar — Earl fala sorrindo.
— Você! — Axel fala apontando para Earl. — Ajude menos, para o seu
próprio bem. E você! — Aponta para Russel. — Se tocar na minha mulher,
eu atiro em sua perna — Axel diz entredentes e Russel bate continência.
Oh, meu senhor, ele acabou de me chamar de sua mulher?
— Como quiser, capitão! — Russel diz de forma sarcástica.
— Você, com certeza, deveria ter tomado o remédio, seu fodido — Earl
diz, batendo no ombro de Russel.
— Chega disso, é hora de sairmos — Axel avisa, fazendo seus ombros
assumirem uma nova postura. — Isadora, acione as câmeras espiãs de cada
um assim que deixarmos o galpão e fique atenta, porque isso sim vai ser o
seu maior teste. — As palavras de Axel fazem os meus ouvidos começarem a
zumbir.
— Tudo bem! — Minha voz saí tudo, menos, confiante.
— Você estará conectada a cada um de nós, estaremos na mesma
frequência — Axel diz e assinto sem falar nada. Eu não sei se conseguiria.
— Você consegue, Dora! — Earl diz, tentando me passar confiança, e eu
respiro fundo.
— É isso aí! — Russel levanta o punho, mas o olhar de Axel o faz recuar
no mesmo momento.
— Não vá lá, cara! — Earl diz rindo e Russel o acompanha.
— Podem ir para o carro, já encontro vocês — Axel fala aos outros sem
desviar os olhos de mim.
— Sim, senhor! — Russel e Earl respondem, enquanto Craig só se vira e
segue para fora.
— Deixe a arma perto, só por precaução, entendeu? — Axel diz com a sua
forma sombria de sempre e eu dou um sorriso amarelo.
— Sim, senhor! — respondo prontamente, mas Axel não se vira para sair,
como eu imaginei. Ele simplesmente solta um som desgostoso entre os lábios
e me puxa pelo seu blusão. — Você vai se sair bem, minha menina. Não
pensei que fosse tão boa, mas me enganei — ao terminar de falar, Axel
invade minha boca.
— Fique seguro! — digo com as nossas bocas ainda unidas.
Acho que minhas palavras causam algo em Axel, porque ele se afasta de
mim de um modo muito brusco.
— Eu não preciso de sua preocupação, foque no que tem que fazer — fala
de modo raivoso, se virando em direção a saída e me deixando sem entender
o que eu falei para deixá-lo desse modo.
Fico um bom tempo parada, olhando para o nada sem piscar, após a saída
de Axel. Mas logo caio em mim, ele é um homem muito estranho e eu já
deveria estar acostumada com os "de repentes" dele.
Não é hora para ficar parada aqui, no meio desse galpão, eu tenho que
fazer o meu trabalho.
Trabalho esse que se resume a cuidar desses homens violentos.
Balanço a minha cabeça para me livrar de qualquer sentimento que possa
vir a me distrair e vou direto para minha mesa improvisada. Aqui contém
tudo o que eu vou precisar e confesso que me surpreendi fortemente quando
entrei nesse lugar com Axel pela manhã e encontrei tudo já organizado para
mim.
Depois que toda a surpresa passou, algo em mim mudou e quando dei por
mim, percebi que estava no meu ambiente. É nisso aqui que eu sou boa e é
justamente agora que vou mostrar a cada um deles o quanto eu realmente
posso ajudar.
No momento que eu me sento na minha cadeira, alongo o meu pescoço,
tiro os fios de cabelo cacheados que caem na minha testa, estalo os dedos e
começo a trabalhar. Em dois monitores do lado esquerdo, eu conecto as
imagens do local onde é possível a criança estar. Em mais dois monitores do
lado direito, deixo as imagens das câmeras espiãs de cada um deles.
No notebook em minha frente eu olho a planta do pequeno edifício que
eles vão invadir, mas são os GPS’S deles que mais tem a minha atenção. Só
quando me sinto satisfeita, me conecto com eles.
Faço um pequeno teste para saber se estão me ouvindo adequadamente e
fico feliz quando vejo que tudo está indo bem até agora. Axel me informa
quando finalmente chegam no destino, então olho para baixo e vejo que
minhas mãos estão tremendo demais. Sacudo-as, abrindo e fechando os meus
dedos para me livrar de todo nervosismo e tensão que estou sentindo.
— Não vamos chamar muita atenção, nossa prioridade é ter a criança em
nosso poder — Axel fala de modo firme.
— E depois? — é a vez de Craig falar.
— Vamos matar cada um deles, não podemos deixar nenhum deles viver
— a resposta de Axel acende algo em cada um dele.
— Era isso que eu estava querendo. — Russel está agitado, eu posso ouvir
isso.
— Se controle! — Axel fala friamente e Russel solta um som de confiança,
mas não foi tão firme como eu queria que fosse. — Craig, você dá cobertura
ao Earl para ele pegar a menina. Russel, você vem comigo.
— Tudo bem — Earl fala com seriedade.
— Agora é com você, Isadora! — Axel comanda e eu respiro fundo.
— Não detecto nenhuma movimentação no perímetro do prédio, então é
seguro ir. — Bato meus dedos com rapidez no teclado. — A planta do lugar é
antiga, mas pelo estado precário do lugar, posso supor que não mudaram a
estrutura.
Não estou com os olhos nas câmeras, mas pelo barulho de porta abrindo e
fechando, passos pesados de botas e raspar de roupas, posso ter uma noção
que eles já estão se movimentando. Viro a cabeça para os monitores da
direita, somente para ter certeza de que eu estava certa. E sim, eles estão se
movimentando para o antigo prédio.
— Quantos quartos? — Craig pergunta.
— Três no térreo e quatro no primeiro andar — digo rapidamente.
— Tem algum sótão ou algo parecido, onde poderiam prender uma
criança? — Earl pergunta dessa vez.
— Não vejo nada assim na planta, mas não é nada garantido. — Reviro a
planta com atenção. — Tem uma escada de incêndio, acha que pode ajudar?
— Sim, pode! — Axel responde e eu assinto com a cabeça, mesmo
sabendo que ele não vai ver.
Pelas câmeras, eu vejo quando Earl e Craig invadem o lugar pela frente,
para que Axel e Russel entrem por cima, usando as escadas de incêndio que
acabei de mencionar.
Observo de forma concentrada todas as câmeras e para minha surpresa,
não me sinto nervosa ou com medo, estou tranquila e muito, muito atenta a
qualquer movimento.
Pela câmera de Craig, vejo quando ele atira de forma rápida e precisa em
um homem que está perto da porta, ele olha para trás e faz algum sinal que eu
não entendo para Earl.
Earl assente e vira o seu corpo para o lado contrário, apontando sua arma
de forma firme.
Ao perceber que Earl e Craig estão indo bem, eu olho para Axel e Russel,
que agora estão vindo do terraço. Eles entram no prédio de forma silenciosa
assim que descem às escadas e ao chegarem no primeiro andar, dão de cara
com dois homens.
Antes que eu possa abrir a minha boca, eles viram seus corpos nas direções
contrárias e atiram nos homens. Um deles solta um grito de dor e isso faz
com que Axel atire na sua cabeça. Ouço-o praguejar de forma rouca, mas eles
não param. Algo chama a minha atenção, viro minha cabeça em direção os
monitores do perímetro e vejo uma movimentação estranha do lado de fora
do prédio.
— Estão chegando mais uns cinco homens pela entrada — falo nervosa. —
Craig e Earl, sugiro que vocês fiquem atentos.
— Quantos tempo temos? — Craig pergunta.
— Menos de três minutos — respondo, ajeitando o fone no meu ouvido.
Da câmera de Russel, vejo algo estranho. — Russel, duas pessoas indo na sua
direção.
— Certo, Dora! — ele diz, se virando para eliminar os oponentes.
— Onde será que está a criança? — Earl fala entredentes.
— O próximo manteremos vivo para perguntar — Axel diz sem emoção.
— Axel, a porta de um dos quartos abriu e fechou — digo rápido e ele se
põe a andar.
— Qual quarto? — pergunta entredentes.
— A segunda porta à sua frente — alerto e ele corre até ela.
E sem perder tempo, ele atira na fechadura, fazendo-a ceder no mesmo
momento. Axel chuta a porta com força, fazendo-a abrir. Pela sua câmera,
vejo que tem três pessoas ali dentro, dois homens e uma mulher.
A mulher grita de forma histérica, mas Axel é muito ágil, fazendo-a calar
com um tiro no peito e outro na cabeça. Um dos homens se vira para pegar
sua arma, mas Russel o elimina.
O próximo homem tenta correr, mas Axel não permite ir muito longe.
Girando o cabo da arma que disse ser um fuzil, ele bate no rosto do homem, o
derrubando no chão.
— Onde está a criança? — Axel pergunta com frieza ao homem, que agora
está com o nariz sangrando.
— Você quebrou o meu nariz, seu filho da puta! — o homem grita de
forma abafada.
— Responda a minha pergunta! — Axel ordena, mas o homem continua a
lamentar pelo nariz.
— Eu não vou dizer, vocês nunca vão… ah..., porra! — O tiro na sua perna
me faz pular na cadeira.
— Eu não vou perguntar de novo, a próxima será no seu pau. — A voz de
Axel é tão fria, que me causa arrepio. Tiro os meus olhos de tudo isso e vou
para Earl e Craig.
— Craig, tem homens indo até vocês, agora mesmo — falo alarmada.
— Estamos indo, Dora! — Craig responde e começa a agir.
— Merda! — esbravejo. — Russel, homens até vocês! — o alerto.
— Eu não vou mais me segurar, chefe. Vou cair para cima! — Russel fala
de modo tão agitado que faz a sua câmera treme.
— Vai, Russel! — O comando de Axel é o suficiente para libertar o
inferno em Russel.
E ao não ter mais o controle, ele avança de forma enlouquecida para os
seus inimigos.
— Tem mais homens que eu pensei. Temos que ser rápidos — Earl diz
sem fôlego.
— Porra! — Craig pragueja com raiva.
— Onde está a criança? — Axel pergunta entredentes, fazendo o homem
gritar a cada vez que atira nele, mas em lugares onde não o levam a morte tão
facilmente.
—Você é a porra de um filho da puta doente! — o homem grita com terror
e dor.
— Eu sei! — Axel diz tranquilamente, atirando no outro ombro do
homem.
— Ah, porra! Desgraçado! — grita novamente.
Fecho os meus olhos brevemente e engulo em seco, tentando controlar o
meu estômago embrulhado. Fico rígida quando abro os meus olhos e vejo que
Russel receberá o ataque por trás.
— Russel, atrás de você! — grito, mas é tarde demais.
— Argh, merda! — Russel solta um grunhido feroz. — Você realmente me
fez sangrar? Isso foi um erro grave, amigo. — A forma enlouquecida de
Russel me deixa preocupada e quando ele avança no homem, sem se importar
com a sua segurança, o meu temor piora.
— Russel, se acalme! — peço em tom leve, mas ele não me ouve de forma
nenhuma.
— Há um pequeno calabouço subterrâneo no prédio. A criança está lá, vá
Earl. É com você! — Axel ordena como o bom comandante que é. — Craig,
o dê cobertura!
— Nem precisava falar! — Craig diz e corre com Earl, dando o máximo de
cobertura possível.
— Não, Russel! — grito nervosa, enquanto o observo sem controle algum.
Ele vai se matar assim. — Axel, faz alguma coisa — peço nervosa.
— Impossível agora. Merda! — Axel solta um som de dor.
— Você está ferido? Oh Deus! — grito nervosa, mas Axel solta um
rosnado.
— Foco, Isadora! — comanda, me fazendo ficar rígida no lugar. —
Quantos você consegue ver? — pergunta e eu solto uma respiração tensa,
olhando atrás das câmeras.
— Não muitos, há tempo ainda. Uns 10 minutos — digo e ele faz um som
de confirmação.
— Se Russel continuar assim, eu terei que me livrar dele. — As palavras
sem emoção de Axel me fazem arregalar os olhos.
— Não, não faz isso, ele é da equipe! — falo com medo.
— Ele não serve para a equipe se ficar descontrolado assim — Axel diz
com ódio, mas eu não vou desistir de Russel tão fácil assim. Ele me aceitou,
não vou deixá-lo assim.
— Me deixe tentar, por favor, não atire nele, Axel. — Eu não estou
acreditando que ninguém está intercedendo pelo Russel.
— Isadora! — Axel alerta com ódio, enquanto se livra dos homens que
avançam em direção a eles.
— Deixe-me tentar, merda! — solto com irritação, trêmula.
— Tente! — Axel autoriza a contragosto.
Eu sei que essa minha defesa com relação ao Russel vai fazer com em que
a fúria de Axel caia sobre mim, mas eu não me importo agora. Tenho que
ajudar o membro da equipe e se eu estou aqui para ser os olhos e ouvidos
deles, é isso que eu vou ser.
Vou ensinar a esses homens que eles não são descartáveis, a vida de cada
um deles vale muito a pena ser vivida. E se eles precisam de mim para
enxergar isso, então eu farei e não vou falhar.
Ninguém dos nossos vai morrer aqui!
Começo a pensar rapidamente no que fazer, não posso demorar demais,
porque isso o levará a morte certa. E se não for pelos inimigos, será pelo
Axel.
— Russel, ouça a minha voz, eu vou… eu vou cantar para você. — Minha
voz sai baixa e tranquila. — Ouça a minha voz, Russel! — dito isso, eu
começo a cantar Breathe - Lee Hi, é uma música em coreano. Ela me acalma,
então acho que pode acalmar o Russel também.
Sumeul keuge swieobwayo
(Inspire profundamente)
Dangsinui gaseum yangjjogi jeorige
(Até que o seu peito comece a ficar)
Jogeumeun apaol ttaekkaji
(Dormente)
Consigo ouvir que a sua respiração está mais tranquila e isso me faz ter a
certeza de que devo continuar.
Sumeul deo baeteobwayo
(Expire até que comece a doer um pouco)
Dangsinui ane nameun ge eopsdago
(Até você sentir como)
Neukkyeojil ttaekkaji
(Se não houvesse mais nada dentro de você)
— Achamos a criança! — A voz de Craig chama a minha atenção, e eu
encerro a música.
Olho pela câmera de Craig e o que vejo trás lágrimas aos meus olhos. A
filha do senador estava sendo mantida em uma gaiola como se fosse um
animal e isso é tão desumano.
Através da lanterna de Earl, eu posso ver que ela me parece ser uma
menina muito fofa, mesmo que esteja toda suja e com uma expressão
aterrorizada no rosto. Ela tem os cabelos crespos, pele escura e os olhos
verdes.
— Olá, pequena, viemos para te levar para o seu papai — Earl fala de um
modo que eu nunca vi, ele é doce e carinhoso com a pequena criança
traumatizada.
— Earl, avalie a situação da garota — Axel comanda, enquanto corre para
o térreo. — Craig, tire uma foto para registro e checagem de vida. E Russel,
agradeça a Isadora por continuar vivo — meu coração acelera no peito
quando Axel diz essas palavras.
Eu sinto que ele está furioso pelo o que fiz, mesmo assim, fico feliz.
— Eu já ia fazer isso, chefe! — Russel diz com firmeza e mais tranquilo
que antes. — Obrigado, Dora! — Russel diz em voz baixa, após soltar um
pigarro.
Sinto todo o meu corpo vibrar de alegria.
— De nada, Russel — respondo com tom leve. — Estejam prontos para
sair daí, rapazes. Vocês têm de dez a quinze minutos até que a polícia apareça
— conto a eles assim que vejo algo no sistema da polícia local.
— Vocês ouviram, vamos sair daqui! — Axel chama a todos. — Isadora,
esteja pronta para entrar em contato com o senador — comanda ele e eu
ajeito meus óculos como um gesto nervoso.
— Vou fazer isso agora mesmo! — digo em prontidão.
Não consigo conter a satisfação que se apodera do meu coração, eu não
sabia que me sentiria tão feliz por ter conseguido ajudar a Axel e outros.
E seja o que for, eu posso dizer livremente que vou querer mais disso, mais
dessa emoção.
Não consigo dizer em palavras o quanto estou feliz que toda a missão de
resgate saiu bem como o planejado. Teve alguns contratempos, alguns
ferimentos superficiais, mesmo assim, ferimentos. Mas fora isso, tudo saiu
em perfeito estado e agora todos já estão prontos para fazer a última parte do
trabalho.
Para mim, é a parte mais emocionante do mundo, que é levar a pobre
garotinha assustada de volta para as pessoas que a amam. Sinto uma dor no
peito a cada vez que eu lembro do olhar assustado dela. Ela estava sendo
tratada como uma mercadoria por pessoas detestáveis, ou como um animal
preso naquela gaiola.
E só por pensar em algo assim, eu cerro os punhos de modo involuntário.
Eu não acredito que vou dizer isso, mas eu fico muito feliz que todos esses
homens desprezíveis foram mortos por Axel e os outros.
Me sinto mal por ter esses pensamentos tão ruins, essa pessoa não sou eu,
mas é impossível isso não acontecer quando você começa a olhar o mundo
com outros olhos. Os olhos da pura e desagradável realidade sinistra que
assombra cada canto desse planeta.
Porém, agora não é hora para isso, o meu foco é entrar em contato com o
senador Silas Bennett. Vejo a foto que eu recebi de Craig mais uma vez e
sinto novamente aquele aperto no peito pela garotinha.
Mas não, eu não tenho que ir por esse caminho novamente. Balanço a
cabeça para me livrar desses sentimentos melancólicos, respiro fundo e me
concentro para fazer aquilo que a equipe precisa que eu faça.
— Senador Bennett? — pergunto assim que a ligação é atendida, no
terceiro toque.
— Quem fala? — pergunta o homem. — É sobre minha filha? — Pela voz
do senador, eu posso notar que ele está muito ansioso por qualquer notícia
que seja.
— Sim, senhor senador, nós… — começo a falar, mas ele me interrompe
no mesmo momento.
— Onde ela está? — questiona. — Por que ela ainda não está aqui? — A
voz do senador sai dura e exigente.
— Senador, nós… — ele novamente me interrompe.
— Eu exijo que tragam a minha filha, ou… — dessa vez eu que não o
deixo falar, isso já está passando dos limites.
— Senador Bennett, se o senhor me interromper novamente, serei obrigada
a atrasar seu encontro com a sua garotinha — ameaço. — Creio que não é
isso que o senhor deseja, eu estou correta? — Uso a voz marcante e
humanamente seria que Axel sempre usa quando está sem paciência.
Acho que isso faz o senador ponderar o modo que está falando comigo.
— Eu... eu sinto muito — diz, me fazendo soltar um suspiro longo.
— Entendo a sua ansiedade, senhor senador, mas precisamos terminar a
nossa transação — falo exatamente o que Axel havia mandado fazer.
— Minha Emily está bem? — Sua voz sai rouca, como quem está prestes a
chorar.
— Eu estou enviando agora a prova de vida da sua filha, está chegando…
— Acabo de enviar a foto para o seu celular. — Agora — digo, ouvindo o
som estrangulado saindo do homem.
— Minha Emily, ela... está viva! — o senador fala choroso.
— Sim, senhor senador — respondo, mesmo sabendo que ele não havia
feito uma pergunta. — A saúde dela está sendo avaliada por um membro da
equipe, eles chegarão em poucos minutos.
— Isso…, isso é bom! — o senador fala e eu fecho os olhos por um tempo.
— A transação, senhor, é necessário efetuar a transferência — lembro-o,
tentando soar mais firme do que eu posso ser.
— Isso não está certo, vocês não podem fazer os trabalhos dessa maneira.
— O senador assume novamente uma voz imponente.
— O senhor sabia que as coisas seriam dessa maneira quando nos chamou.
O carro trazendo a sua filha chega em… — Olho o GPS do carro e volto para
o Senador. — Dez minutos, senador.
— Minha Emily… — o senador sussurra.
— Sim, sua Emily está a caminho — respondo em tom leve, sentindo meu
coração bater forte. Ouço o farfalhar de algo do outro lado da linha.
— Smith, faça a transferência agora mesmo — o senador diz com a voz de
pura autoridade.
— Tem certeza, senhor? — A voz do tal Smith se faz presente.
— Você está indo contra as minhas ordens? — o senador fala entredentes.
— Jamais, o senhor é a autoridade aqui e não o contrário — Smith
gagueja. com medo.
“Oh Smith, eu entendo o que é trabalhar para um homem exigente.”
— Então faça o que eu mandei! — ordena o senador em tom profundo.
— Começando a transferência — Smith fala, para logo depois eu ouvir o
barulho típico dos dedos batendo no teclado.
Eu sei que nunca vou poder saber exatamente o que o senador Silas
Bennett está passando, mas tenho empatia o suficiente para ter uma pequena
noção do quanto deve estar sendo terrível para ele e sua esposa.
Posso não ser mãe, mas eu sou filha, e se tem uma coisa que eu entendo, é
do amor que os meus pais têm por mim. Então, sim, eu fico sentida por tudo
o que essa família está passando, tendo sua filha sendo tirada dos seus braços
por pessoas desagradáveis.
É de cortar o coração que as coisas não possam ser tão fáceis, mas é assim
que Axel e os outros trabalham. Entendi desde o momento que o meu
caminho tropeçou com o deles que nada seria fácil e agora eu tenho a
verdadeira noção disso.
— Transferência feita com sucesso. — A voz de Smith me faz voltar a
realidade.
Confirmo se foi exatamente isso que aconteceu e quando vejo o enorme
valor na conta, meus olhos se arregalam. Pisco algumas vezes e agilizo para
fazer exatamente como Axel havia me orientado.
Que para resumir tudo, ele mandou com que eu transferisse o dinheiro para
outra conta assim que a transação fosse completada. Como eu sou uma
mulher extremamente curiosa, não me contive em perguntar o porquê ele
estava me mandando fazer aquilo, mas sua resposta foi tão simples como as
demais que ele me dá: “Não quero ninguém rastreando o nosso dinheiro,
menina tola”.
Sim, Axel Cox é exatamente esse tipo de homem, sem um osso paciente no
seu corpo.
— Espere um breve momento, senador — digo, deixando a chamada em
espera para me conectar novamente com os outros.
— Tudo certo, Isadora? — A voz fria de Axel faz os pelos do meu corpo
se arrepiarem.
— O dinheiro foi transferido e eu já enviei para onde você me mandou —
eu explico e ele faz um som de confirmação.
— Bom, muito bom. — Sua voz sai dura. — Estamos já no lugar do
senador, continue na linha.
— Certo, Axel! — respondo prontamente e volto para o senador. —
Senhor, sugiro que vá encontrar sua garotinha — é impossível não abrir um
sorriso ao dizer essas palavras ao homem.
— Obri… obrigado, senhorita… — o senador questiona, mas eu fico rígida
no mesmo momento.
— Martins! — falo após soltar um pigarro.
— Muito obrigado, senhorita Martins — diz e no mesmo momento, me
desconecto com o senador, ficando somente com os membros da equipe.
— Vai querer que eu leve a garotinha, chefe? — Ouço Earl perguntar.
— Não, pode deixar que eu a levo — Axel diz duramente. — Vamos! —
Axel chama a menina, mas ela começa a chorar.
— Não! — ouço a voz chorosa da pequena.
— Vá, querida, ele vai te levar para o seu papai — o tom gentil de Earl faz
a menina parar um pouco de chorar.
— Promete! — A voz da pequena menina está cheia de desconfiança e
medo.
— Sim, eu vou te levar para seu pai. — Me surpreendo pelo modo leve de
Axel. — Eu prometo! — Ele continua fazendo meu coração acelerar na
batida.
Eu sei como é Axel e suas promessas, ele tem isso de que se promete, não
há como retroceder.
Então, eu sei, mesmo antes dele fazer a sua promessa, que ele entregaria a
pequena criança a sua família. Fico quieta quando vejo, pelas câmeras espiãs,
Axel se movimentar. Ouço Craig dizer que vai com ele e espero-o negar, mas
não é isso que acontece. Os dois saem do carro, mas Axel é o único a
carregar a pequena menina, que agora está enrolada em um grosso cobertor
escuro. Eu não consigo ver muito e a única coisa que indica que eles
finalmente encontram com o senador Bennett, é quando Emily grita pelo pai.
— Papai! — ela grita através do choro.
— Minha menina, você está bem! Está viva! — o senador fala com a voz
embargada.
— Confesso que pensei que iria encontrar a SWAT à minha espera —
Axel fala em tom obscuro.
— Eu nunca faria isso, não com a minha Emily em perigo — o Senador
diz, emocionado.
— Bom! — Axel diz com indiferença. — Senador, cuide da sua criança,
ela vai precisar. — Meu queixo vai ao chão ao ouvir as palavras de Axel. —
Temos que ir!
— Cox! — chama o senador.
— Senador? — pergunta Axel, sem emoção.
— Obrigado! — O senador me surpreende com o seu agradecimento.
— Eu só estava fazendo meu trabalho. — E com isso ele se põe a andar
novamente. — Até mais, quando você ou esse governo hipócrita precisarem
dos meus serviços.
No momento em que Axel e Craig voltam para o carro, eu percebo que
realmente todo o trabalho está finalizado. E somente com a certeza de que
tudo realmente ocorreu da melhor forma possível, eu sinto que preciso me
afastar.
Empurro a minha cadeira com força e impulsiono o meu corpo para que ele
se levante o mais rápido possível. Sinto a minha respiração ficar mais rápida
e sem qualquer controle, minhas mãos começam a tremer e a junção disso
tudo me leva a crer que eu estou tendo algum tipo de ataque de ansiedade, ou
de pânico. Seja lá qual for, a única coisa que sei com certeza, é que eu não
estou bem.
Eu consegui!
Eu consegui fazer tudo direito, não induzi ninguém a morte certa e
finalmente alguém quis me ajudar de verdade. Sei que pode parecer louco e
totalmente absurdo, mas a sensação de ser útil para algo ou para alguém me
traz um sentimento avassalador. Coloco a mão no peito, na tentativa falha de
parar o meu coração acelerado, e curvo o meu corpo para frente.
Eu tenho que chegar a algum controle de mim mesma e das minhas
emoções. Ouço alguém chamar por mim, e ao virar a minha cabeça para o
lado, vejo um dos seguranças designados por Axel se aproximar.
O homem alto, e totalmente ameaçador, me pergunta se eu preciso de algo.
Mas como eu não sei o que dizer em palavras, somente nego com a cabeça e
dou um sorriso amarelo. Tudo o que menos quero agora é ter o segurança
sobre mim, porque se tem uma coisa que tenho certeza, é que Axel não vai
gostar nenhum pouco.
E tenho certeza mais ainda que do jeito que aquele homem é cruel e meio
enlouquecido, ele fará algo com o pobre coitado. Então, não, eu aceno para o
segurança dizendo que está tudo bem.
Assim que acabo de responder o homem, vejo as portas do galpão se
abrirem para que os quatro membros intimidadores da equipe adentrem o
local.
— Vocês estão bem? — questiono em alerta quando vejo Earl apoiando
Russel com o seu ombro.
— Ei Dora, eu estou meio fodido, mas logo o príncipe das trevas vai me
deixar novinho em folha — Russel diz com um divertimento doentio e eu
fico sem saber o que dizer com relação a isso.
— Eu ainda vou chutar esse seu traseiro aloucado e suicida — Earl
reclama com Russel e acena para mim. — Você foi incrível, pequena Dora —
o elogio de Earl faz minhas bochechas esquentarem.
— Não diga essas coisas bobas, homem, eu não fiz nada demais. Vá cuidar
do Russel! — peço, virando o meu rosto para o lado e fazendo um aceno
frouxo com a mão.
— Você foi realmente muito bem — a voz grossa de Craig me faz dar um
pulo no lugar. E quando dou por mim, ele para do meu lado e ergue sua
enorme mão.
— É… não foi nada! — digo rapidamente, levando a minha mão de forma
tímida para que concluíssemos o cumprimento.
— Acho que é assim que fazem, certo? — Craig pergunta de forma meio
rude e meio confusa.
— É bem isso mesmo, eu acho — não consigo conter o meu sorriso ao
responder a isso.
— Certo! — ele resmunga sem calor e vira abruptamente para sair de perto
de mim.
Sinto a presença no momento que os pelos da minha nuca se arrepiam.
Nem preciso me virar para saber que Axel está vindo na minha direção.
Nunca consigo entender como o meu corpo responde a esse homem,
mesmo quando nem o próprio está exigindo por alguma resposta. Mesmo
sabendo que eu não preciso me virar, faço isso sem nem ao mesmo pensar. E
lá estão eles, aqueles olhos escuros como uma noite sem estrela, frio como
pedaços de gelo e intensos de um modo que me sinto despida somente com
eles.
— Ax… — eu começo a falar, mas paro quando sua mão alcança meu
braço com força.
— Não fala nada! — ele manda e eu fico quieta no mesmo momento. —
Vem! — Me puxa pelo braço.
— Certo! — Me deixo ser guiada por ele.
Axel me leva para um canto do galpão, longe dos olhos e ouvidos dos
outros. Não tenho tempo para qualquer tipo de reação, porque ele me carrega
em seu colo, pressionando as minhas costas nas paredes do galpão d fechando
minhas pernas ao redor da sua cintura. Para que logo em seguida, a sua boca
saquear a minha com fome, desejo e loucura, muita loucura.
Eu amo esses beijos devastadores de Axel, é como se ele me marcasse
como sua e confesso que eu adoro tudo isso. Adoro o fato de ser marcada por
ele, de saber que eu sou tão louca pelo seu toque quanto ele é pelo meu.
— Eu odeio isso! — Axel rosna, enquanto lambe meu pescoço.
— Ah, Deus! O quê? — digo de forma desconexa.
— A forma como você protegeu aquele fodido louco de mim — Axel
rosna contra a minha boca dessa vez.
— Axel! — gemo seu nome baixinho quando o raspar de sua barba faz os
pelos do meu corpo se arrepiarem.
— Eu não gosto disso, você é minha! — Eu sei que não deveria, mas sua
possessividade comigo me deixa muito louca de excitação.
— Então eu deveria ter deixado você matar o Russel? — pergunto,
perdendo um pouco do estilo de antes.
— Sim, porra! — Axel diz entredentes e eu, sem saber o que estou
fazendo, o empurro para longe de mim.
— Não! — falo, arrumando minha roupa.
— Não? — Axel pergunta de modo perigoso e confuso, como se não
acreditasse no que acabou de ouvir.
— Si... sim! Eu não podia deixar você fazer aquilo, Russel e os outros
fazem parte da equipe — digo, agradecendo aos céus por não continuar a
gaguejar.
— Cada um deles, inclusive você, começou esse trabalho sabendo que
seria descartável se caso comprometesse o meu trabalho — Axel diz
friamente e não posso negar que as suas palavras cortantes me magoam de
um jeito bem ruim.
— Eu fui forçada! — vômito a minha confirmação e não me arrependo.
— Sim, você vai fazer algo com relação a isso? — Axel pergunta com
raiva.
Fico pensando no que falar a Axel e apesar de saber que eu sou
terrivelmente submissa a ele, não posso deixar com que continue a tratar todo
mundo, inclusive a si mesmo, como algo descartável e sem valor. Para mim,
agora eles são essenciais para salvar garotinhas, como Emily Bennett, das
garras de homens ruins. Por mais que esses próprios homens ruins sejam eles
mesmos.
Não quero mais ser somente a Isadora cientista tecnológica, quero também
fazer algo por mim e pelo os outros. Mesmo que sejam pessoas obscuras e
perigosas como esses homens, que agora estou convivendo.
Levanto minha cabeça, tentando passar confiança, do mesmo modo que o
próprio Axel exige que eu faça, e encaro esses olhos profundos que eu
aprendi a me entregar por inteira.
— Não, porque eu descobri que além de não ter sido a minha escolha fazer
isso, eu gostei de estar ajudando e ser útil de algum modo — solto uma
respiração forte. —. E se for possível impedir que vocês quatro se matem em
algum momento, então eu serei essa pessoa. E eu não vou embora! — Minha
voz sai em um tom mais firme e isso faz Axel dar um passo na minha
direção. Faço de tudo para não me encolher sob o seu olhar.
— Se quer transformar quatro pessoas fodidas em algum tipo de família de
merda, então você é mais tola do que eu imaginei — Axel diz de forma baixa
e raivosa.
— Se eu puder evitar que vocês se matem, para mim está de bom tamanho
— digo sem desviar o meu olhar o dele.
— Ah, minha menina! — Se afasta. — Você continua sendo
surpreendente. — Pisco algumas vezes com as suas palavras.
— O quê? — indago confusa ao ver o seu sorriso fantasma.
— Você realmente achou que eu fosse matar aquele merda? — Axel
pergunta sem calor e eu olho para os lados, confusa.
— Você não ia? — questiono e Axel nega com a cabeça, enquanto começa
a tirar o seu colete. — Então, estava me testando novamente? — Minha voz
saí estrangulada.
— Sim, Isadora — Axel diz tranquilamente, me fazendo arregalar os
olhos.
Estou tão perplexa, que sinto minhas pernas ficarem fracas.
— Você queria que eu o impedisse? — pergunto, fazendo-o assentir.
— É bem normal para nós ver Russel perder o controle, Craig soca sua
cara, Earl o faz tomar algum calmante e eu, bem, eu atiro algo nele. — Axel
para e olha para mim. — Mas você, você simplesmente cantou para aquele
porra louca — dessa vez, quando Axel fala, ele volta a sua raiva habitual.
— Eu fiz aquilo sem pensar, eu só queria... — Nego com a cabeça.
— Você queria ajudar, certo? — pergunta e eu assinto, envergonhada. —
Acho que é boa demais para esse mundo — reclama, erguendo minha cabeça.
— Fico feliz que tudo saiu bem — falo em tom baixo.
— Você foi muito bem, Isadora — dou um sorriso de lado ao ouvir o seu
elogio.
— Obrigada, Ax! — agradeço, fazendo-o franzir o cenho, mas não diz
nada. Ao encará-lo fixamente, me lembro de algo muito importante. — Axel,
você está ferido! Onde está ferido? Você deveria deixar Earl… — Sou
interrompida abruptamente quando a boca de Axel avança na minha.
— Porra, para de se preocupar comigo! — Dessa vez a sua raiva não é sem
calor, ele é intenso.
— Mas você está… — Tento dizer algo, mas ele me impede.
— Foda-se! — diz entredentes, me deixando sem entender.
Cada vez que eu mostro algum tipo de preocupação, não sei por que, mas
ele sempre fica irritado e se fecha de modo tão rápido, que eu não consigo
explicar. Existe algo a mais nisso, mas ainda não sei dizer o que é.
Sou despertada da minha confusão com relação a Axel quando o meu
celular começa a tocar no bolso traseiro do meu jeans. Fico confusa por essa
chamada repentina, até mesmo Axel olha para mim em questionamento. E
quando olho para o visor do celular, sou surpreendida ao ver que é a minha
mãe que me chama.
Sem perder tempo, atendo a ligação o mais rápido possível.
— Dorinha! — a voz baixa e chorosa de minha mãe me faz entrar em
alerta.
— Mamãe, a senhora está chorando? — indago. — Aconteceu alguma
coisa? — acrescento de forma apressada e nervosa.
— É o seu pai, Dorinha — mamãe funga do outro lado da linha e me faz
ter mais certeza de que está chorando.
— Paizinho? O que houve? — Minha garganta começa a ficar embargada.
— Ele está no hospital, filha, os médicos dizem que é grave. — Oh meu
Deus! Não, não pode ser.
— Mamãe, não! — digo, sentido o meu corpo amolecer por completo, e
quando penso que posso chegar a cair no chão, sou amparada por Axel.
— Desculpe, Dorinha, mas… nós precisamos de você — eu não posso
dizer não a um pedido tão importante como esse.
— Meu pai, eu preciso ir para o Brasil. É urgente! — peço, voltando a
falar em inglês com Axel, de modo suplicante, sem me importar com nada,
eu só preciso chegar até os meus pais.
— Amanhã, você chegará lá, amanhã — responde e eu começo a chorar de
puro alívio e agradecimento.
— Obrigada! — Agradeço e ele vira a cabeça para o lado. — Mamãe,
amanhã chegarei. Fica bem, eu vou até vocês! — conto a minha mãe, que não
fala nada e só chora do outro lado da linha.
— Te amo, minha filhinha! — declara minha mãe e eu aperto o celular
com força.
— Te amo mais, mamãe! — encerro a ligação sem saber o que falar, ou
como devo reagir nesse momento.
Nada mais importa, tudo o que eu sei é que eu tenho que chegar até os
meus pais. São eles que precisam de mim agora e é para eles que eu quero ir.
Após encerrar a ligação com a minha mãe, eu não me lembro muito bem o
que aconteceu depois. O meu corpo e a minha mente entraram em modo
automático e agora tudo o que sei é que eu estou dentro de um jatinho com
Axel, tendo como destino o Brasil.
Ainda não sei o que exatamente aconteceu com o meu paizinho, mas seja
lá o que tenha sido, é impossível não ficar com medo por ele. Papai já tem
muita idade e teve problemas cardíacos e renais, vive tomando seus remédios
regularmente, mas seja como for, somente a sua idade avançada já é um fator
explícito para aumentar a minha preocupação.
E quando eu ouvi por minha mãe que ele estava hospitalizado, foi como se
um buraco escuro e gelado me engolisse por inteira.
Sim, eu estou com medo, para falar a verdade, estou aterrorizada com o
simples pensamento de perder o meu paizinho. A ideia de isso acontecer me
mata por dentro, porque é graças ao seu Gene e dona Maria José que eu sou o
que sou e faço o que faço.
Não me importo se as pessoas pensam que coloco o bem-estar deles acima
do meu, eles fizeram isso por mim a vida toda, me adotaram em uma idade
avançada, coisa que poderiam simplesmente não fazer para que pudesse
aproveitar a velhice juntos, já que nunca tiveram os seus próprios filhos e,
com certeza, não teriam porque se envolver com uma recém-nascida que foi
abandonada na porta de sua casa.
Mas não, eles ficaram comigo, enfrentaram a vida para poder me dar uma
boa educação e fazer de mim uma boa menina, uma boa mulher. Quando eu
era pequena, lembro das conversas maldosas com relação a minha adoção.
Pessoas apontavam para nós três, dizendo que eles eram muito velhos para
lidar com uma criança, que eles tinham idade para serem meus avós e não
meus pais. E você acha que minha mãezinha e o meu paizinho se abateram
por isso?
Não, eles não fizeram de modo algum e estamos bem até hoje, sem nos
importar com palavras soltas, repletas de maldade. Mesmo com todas as
provações de vida, eu posso dizer abertamente que tive uma boa infância e
adolescência ao lado dos meus pais. Agora me sinto culpada por não ter ido
para eles antes, como haviam esperado há algumas semanas.
Se eu tivesse ido ver os meus pais, poderia ter notado algo que minha mãe
e até mesmo o meu pai deixaram passar. Eu… poderia estar, sei lá, deixando-
os mais felizes. Isso pode ter sido minha culpa, eles podem estar preocupados
comigo com essa viajem de última hora e…
Oh Deus, o que eu estou dizendo!
Eu não posso ficar pensando em culpa ou qualquer outra coisa, na verdade,
eu tenho que rezar pelo meu paizinho. Isso mesmo, eu deveria estar rezando
por ele e não procurando alguma culpa ou explicação. Junto minhas mãos,
solto uma respiração e…
— Isadora? — Axel chama, me fazendo dar um pulo.
— Sim? — pergunto com um fio de voz, virando o meu rosto para encará-
lo.
— O que você está fazendo? — Axel me pergunta e eu pisco algumas
vezes, deixando cair as lágrimas que estavam acumuladas nos meus olhos.
— Como? — pergunto confusa, ele olha para as minhas mãos unidas e
depois para mim. — Você está falando das minhas mãos juntas? — Minha
confusão vai fazer minha cabeça estourar.
— Isso mesmo — diz com toda a sua seriedade de sempre. E é justamente
por ele estar tão fechado e sem usar nenhum tom sarcástico, que eu tenho
noção de que ele está falando sério.
— Eu vou rezar para que o meu pai fique bem — respondo, olhando de
soslaio para ele. Axel ainda olha para as minhas mãos de cenho franzido,
então eu resolvo perguntar. — Você já rezou alguma vez, Axel? — questiono
calmamente.
— Isso é besteira! — Axel diz, soltando um bufo raivoso.
— Não é besteira, pelo menos, não para Deus — digo com firmeza,
fazendo-o olhar diretamente para os meus olhos. — Você acredita em Deus,
Axel? — pergunto e posso ver novamente a escuridão no seu olhar.
— Não, eu não me iludo com algo que não vejo. — Suas palavras duras
são como um soco no meu estômago.
Eu não deveria estar tão surpresa com isso, não é?
Era bem possível que alguém como Axel, que respira violência e morte,
não acreditasse que existe um ser maior, capaz de nos proteger e proteger
aqueles que mais amamos.
Às vezes, fico me perguntando como deve ter sido a vida para Axel
durante a sua infância, aposto que não deve ter tido ninguém que o ensinou o
quanto acreditar em algo, mesmo que a gente não possa ver ou tocar, possa
ser benéfico quando estamos diante de situações tão complicadas e dolorosas.
Pode ser ilusão minha?
Pode ser que Deus não exista, que o mundo é somente ruim por si só e que
não há salvação?
Sim, pode ser, mas eu prefiro acreditar e não me sentir tão solitária.
— Deve ser solitário — deixo as palavras escaparem, sem que eu possa
segurar.
— Eu sou um homem solitário, minha menina — Axel diz friamente. —
Sempre fui e isso nunca me incomodou — Sinto um pesar com o que ele fala.
— Entendo — digo, tentando esconder a minha tristeza pelo pequeno
Axel, por ser tão solitário na sua infância.
— Quem te ensinou essas coisas? — Arregalo os olhos para o seu
questionamento.
— Quando você diz essas coisas, você quer dizer sobre Deus e orações? —
pergunto, engolindo em seco, pois eu realmente não esperava por isso.
— E seria mais o quê? — Axel pergunta sem paciência e eu faço de tudo
para não revirar os olhos.
— Bem, meus pais sempre foram pessoas religiosas. Desde muito nova,
eles me levavam para as missas de domingos e minha mãe… — Sou
interrompida quando Axel solta um som furioso entre os lábios.
— Seus pais te obrigavam a… — dessa vez sou eu que não o deixo
terminar de falar.
— Não! Absolutamente não, não é assim! — falo, acenando com as
minhas mãos na frente do seu rosto. Axel agarra minhas mãos com firmeza,
me fazendo parar de sacudi-las no mesmo momento.
— Entendi, Isadora! — ele fala me olhando nos olhos e eu solto um
suspiro. Odiaria que ele pensasse que os meus paizinhos não foram bons para
mim. — Eles foram bons para você, então — diz e eu fico pensando se foi
uma pergunta ou não.
— Meus pais foram muito bons para mim, eles me adotaram ainda
bebezinha — falo a ele. — Me ensinaram o certo e errado, me fizeram ter
uma boa educação. Eu sou uma garota de muita sorte por tê-los em minha
vida — digo e sinto aquela pontada de dor novamente, mas tento esquecer e
foco minha atenção em Axel. — E os seus pais, Axel? — pergunto, fazendo a
expressão dele endurecer.
— O que tem eles? — pergunta em tom perigoso.
— Seus pais foram bons para você e Craig? — indago com o fio de voz e
me preparo para que Axel enlouqueça de alguma maneira.
— Eu não sei nada da minha mãe, acho que deve ter sido morta pelo meu
pai. A mãe de Craig enlouqueceu depois de tanta surra do marido, que no
caso é o fodido do meu pai, e se matou no quintal de casa — Axel fala sem
um pingo de emoção na voz, olhando para mim como se esperasse alguma
reação minha.
Fico parada, esperando que ele me diga que é mentira o que me falou, que
os seus pais estão bem em algum lugar, mas não é isso que acontece.
— Você está dizendo a verdade, não é? — Engulo em seco.
— Eu disse que eu não minto para você, Isadora — Axel fala e olha para
frente.
— Mas poderia escolher não me contar, não é? — pergunto nervosa e ele
assente tranquilamente. — E por que me contou?
— Para falar a verdade, nem eu mesmo sei — Axel diz tranquilamente. Já
que é assim, eu aproveito que ele está receptivo para conhecê-lo um pouco
mais.
— O seu pai, onde ele está? — O modo que Axel olha na minha direção e
a escuridão que toma os seus olhos novamente, me faz ver que eu não deveria
perguntar sobre isso.
— Morto — Axel fala entredentes, fazendo os pelos da minha nuca se
arrepiarem.
— Eu sinto muito, Axel, eu não… — paro de falar quando ele se levanta
da poltrona de forma brusca.
— Não sinta, Isadora! — diz de forma gélida. — Aquele homem de merda
foi morto — vira os olhos negros sem vida para mim —, morto por mim! —
e com isso, ele se vai, me deixando em choque com o que acaba de me
contar.
Vejo Axel fechando a porta da cabine do piloto com força e me encolho
com o barulho alto. As palavras que acabou de dizer ainda rondam a minha
cabeça e nada no mundo me faz parar de pensar nele matando o seu pai.
Não posso nem me dar ao luxo de não acreditar, porque esse homem não é
do tipo que inventaria algo assim para me assustar. Não mesmo, se tem uma
coisa que Axel faz sem precisar de muito esforço, é me dar medo, tenho que
admitir que isso não acontece como antes, mas de qualquer forma, os seus
atos me amedrontam.
Parando para pensar mais um pouco, acho que posso chegar à conclusão de
que, se ele matou o seu pai, é porque boa coisa esse homem não deve ter
sido.
Espera!
Acho que me lembro dele falando há pouco que o pai pode ter matado sua
mãe e influenciado na morte de sua madrasta, certo?
Argh!
Nada fica bom, nada fica esclarecido ou menos assustador. Solto um som
frustrado com a boca e procuro algo para que possa me distrair. É nessas
horas que eu queria muito que Craig, Russel e o Earl estivessem aqui.
Eles, pelo menos, poderiam me fazer companhia e, quem sabe, eu poderia
até me aventurar em tentar descobrir algo através do Craig.
Não, não, não melhor não, porque se Axel já ficou furioso com a
lembrança, imagina só como Craig ficaria.
Seja como for, eu queria que eles estivessem aqui. Acho que me acostumei
a tê-los por perto o tempo todo e parece que agora, quando eu pude ajudá-los
durante o resgate, as coisas entre nós ficaram um pouco mais… como posso
dizer, leves?
Sim, acho que essa é a melhor palavra a ser dita.
Mas eu tinha pressa de ficar com os meus pais, Russel ainda está sendo
costurado por Earl e Craig tinha que se desfazer das coisas por Axel, que não
me deixou voltar para o Brasil sem ele. Então, agora estou aqui, olhando para
toda extremidade vazia do jatinho, enquanto o meu..., quer dizer, Axel
contém sua irritação.

— Isadora, acorde! — ouço a voz de Axel me chamar e eu abro os meus


olhos vagarosamente.
— Eu dormi? — pergunto de forma sonolenta.
— Como uma pedra! — Axel diz e eu me sinto envergonhada com o seu
olhar intenso.
— Já estamos em Porto Alegre? — Tento olhar pela janela do jatinho, mas
lembro que estou sem meus óculos e sem as lentes de contato.
— Sim, como você havia pedido — Axel fala seriamente e eu assinto com
a cabeça.
— Axel! — Percebo que ele irá se afastar, então, em uma jogada ousada,
eu o seguro pelo braço.
— O quê? — indaga, olhando de mim para a minha mão, que está o
segurando.
— Obrigada por me deixar vir até aqui, você não sabe como isso é
importante para mim — digo logo todas as palavras que estavam entaladas
em mim desde o momento que entramos no jatinho.
— Porra, minha menina! — Axel fala entredentes para logo em seguida se
sentar novamente na poltrona ao meu lado. — Eu não me importo com a
urgência, mas não suporto a ideia tê-la longe de mim. — A sua sinceridade
não me surpreende.
— Mesmo assim, obrigada por isso — minha voz saí em forma de
sussurro.
— Não me olhe assim, porra! — Axel diz entredentes e em um movimento
rápido, ele me solta do cinto de segurança e puxa o meu corpo para que eu
sente no seu colo.
— Axel! — grito assustada, mas quando seus dedos se emaranham nos
cabelos da minha nuca, eu paro no mesmo momento.
— Eu ainda não sei o porquê, mas eu tenho essa necessidade de você,
Isadora — Axel diz raivoso, levando minha boca a dele.
— Ah, Axel! — chamo de modo abafado, o fazendo soltar um rosnado.
— Vou deixar que veja os seus pais, mas não esqueça que você é minha —
diz, me deixando zonza com seus beijos devastadores.
— Eu não vou esquecer! — respondo em tom sofrido.
— Acho bom que isso seja verdade, minha menina. — Seu gosto me deixa
alucinada. Lembro que eu estava agradecendo a ele, mas fui interrompida
com toda essa sua onda de intensidade.
— Espera um momento, Axel — digo e me afasto um pouco do seu toque
carnal, porque eu preciso respirar. — Você está tentando me distrair para que
eu não agradeça? — pergunto, colocando minhas duas mãos no seu ombro.
— Merda, Isadora! — xinga sem desviar os seus olhos escuros dos meus.
— É isso mesmo? — questiono novamente e tento conter o meu sorriso,
mas não consigo. — Você é um homem muito esquisito, Ax! — falo sem
conseguir me conter.
— Você quer ou não ver seus pais, porra? — indaga sem calor e eu assinto,
sorrindo.
— Claro, meu senhor! — digo rindo e sem me importar com mais nada, eu
o abraço.
— Você está muito confiante para o meu gosto, minha menina — Axel diz
seriamente ao me tirar do seu colo.
— Você acha? — pergunto docilmente, enquanto ajeito minha roupa. —
Isso é motivo para ser castigada? —
Meu Deus, o que há com a minha boca falastrona?
— Bem que você queria, minha menina, bem que você queria — diz em
forma de rosnado e me beija novamente. — Agora vamos, tem um carro
esperando por nós.
— Tudo bem. — Minha voz saí fraca e eu quero me chutar por ser tão
facilmente tomada por Axel dessa maneira.
Confesso que eu não consigo entendê-lo muito bem, uma hora ele se fecha
e me deixa falando sozinha. Em outra, ele me beija e mostra toda essa
possessividade que só ele tem. Às vezes, eu queria que ele fosse um pouco
mais "normal."
Será que essa é a palavra certa?
Não sei, mas seja como for, eu estou ficando cada dia mais apegada a ele,
fico com medo disso, de tudo isso. Principalmente pelo fato dele ser do jeito
que é, frio, distante, fechado, obscuro e muito, muito intenso.
Ainda não sei o que nós somos um do outro e que mundo de Axel não se
encaixa no meu isso é certo, mas eu, como a boba que sou, adoraria dar um
nome real ao que seja lá o que nós somos.
Balanço a cabeça para me livrar dos pensamentos loucos e me deixo ser
guiada por Axel para fora do jatinho.
Há realmente um carro a nossa espera e é nele mesmo que entramos para
seguir viagem para o hospital geral da cidade. No veículo, eu coloco meus
óculos, bebo um pouco de água e coloco um chiclete na boca.
Sinto os olhos de Axel sobre mim e espero que fale algo para mim, mas
não ele diz nada, só fica com sua carranca cheia de seriedade. Quando desvia
sua atenção de mim e olho para o celular, algo surge em minha mente.
“Como eu vou apresentar Axel aos meus pais?”
Arregalo os olhos ao me fazer essa pergunta que não sei como responder.
Só de imaginar chegar até minha mãe com Axel ao meu encalço, com essa
expressão intimidadora que somente ele é capaz de ter, estremeço no mesmo
momento.
E minhas tias?
Não! Isso não pode acontecer. Como vou dizer a Axel para não ir comigo?
Ele vai achar que estou querendo esconder algo dele, eu estou perdida.
Perdida não, eu estou na ponta de um abismo.
Vamos lá Deus, me ajude aí, por favor!
— Isadora! — A voz firme de Axel ao me lado me faz pular de susto.
— Oi, o que foi? — grito nervosa, com os olhos amplos de medo.
— Chegamos ao hospital — Axel diz e eu olho para fora. — Sabe para
onde tem que ir? — pergunta duramente e eu concordo com a cabeça.
— Eu cresci aqui, sei onde é — eu explico e ele solta uma forte
respiração.
— Então vá! — Pisco várias vezes, sem entender. — Fique com o celular
em mãos, eu terei que resolver umas coisas.
— Você não vai vir comigo? — pergunto confusa e ele nega.
— Não, vou te dar um momento — Axel diz, mordendo a mandíbula com
força.
Não posso negar que isso me deixa totalmente surpresa.
— Mas… — começo a falar, mas ele me lança aquele olhar intenso que me
faz calar no mesmo momento.
— Vai! — Axel ordena e eu olho para ele, espantada.
— Tudo bem! — respondo ao abrir a porta, mas antes de sair, dou mais
uma olhada em direção a ele.
Respiro fundo e saio do carro, não posso negar que ainda estou surpresa
por Axel me deixar vir sozinha. Pensei que ele estaria na minha cola e eu
teria que me virar para poder explicar quem ele é para minha mãe.
Porque, sim, eu tenho certeza de que a primeira coisa que ela ia fazer ao
ver esse homem lindo e perigoso era perguntar se ele era alguma coisa minha.
Estremeço só de pensar nessa hipótese e sigo caminho até onde minha mãe
me disse que estaria.
Existe uma confusão de sentimentos dentro de mim, o medo pelo meu pai,
a saudade que sinto por eles e principalmente, o amor que nutro pelos dois.
— Dorinha? — Ouço uma voz tão conhecida por mim assim que paro em
um dos corredores do hospital.
— Mamãe! — exclamo, virando a minha cabeça para dar de cara com ela,
que está me olhando com surpresa e felicidade.
Sem pensar em mais nada, corro na sua direção. Quando estou perto o
suficiente, a puxo para os meus braços e sinto lágrimas se acumularem nos
meus olhos no momento que o corpo de minha mãezinha se junta ao meu.
Me sinto como se eu estivesse perdida há muito tempo e finalmente tenha
encontrado o caminho de casa.
Casa, eu estou em casa!
— Oh minha filha, minha garotinha linda! — mamãe lamenta de forma
abafada. — É você realmente? — pergunta de modo choroso.
— Sim, mãezinha, sou eu! Eu estou em casa! — digo, abraçada a minha
mãe, uma criatura pequenina e roliça, que está sempre com cheirinho de
lavanda.
— Deixe-me te ver, meu amor! — Mamãe se solta do meu abraço e me
olha dos pés à cabeça. — Você está linda, minha filha, parece uma modelo de
tão perfeita. Olha só isso! — mamãe diz, limpando as lágrimas da bochecha.
— Mãezinha, eu, uma modelo? Por favor, não? — debocho, sentindo
minhas bochechas ficarem vermelhas.
— Você é linda, minha filhinha, sempre foi — ela diz. — E agora só está
muito mais — minha mãe fala de forma doce e maternal. — Seu pai e eu
sentimos muito sua falta. — Sinto a mão dela tocar o meu rosto, me fazendo
fechar os olhos.
Mas a lembrança de algo muito importante me faz abri-los de novo.
— O paizinho, mamãe, como ele está? — questiono. — Foi algo muito
grave, nós podemos perdê-lo? — acrescento nervosa ao lembrar que estamos
no hospital.
— Fique tranquila, Dorinha, o seu pai está bem e fora de perigo, mas… —
Mamãe está me tranquilizando, mas para e levanta o olhar para algo atrás de
mim.
— Mãezinha, o que foi? — questiono curiosa e sem esperar por uma
resposta, eu olho para trás. — Axel? — Fico rígida ao dizer seu nome.
— Oi, minha menina! — ele responde em um português estranho, me
pegando totalmente desprevenida para isso.
— Dorinha, você conhece esse homem? — mamãe pergunta, apertando
minha mão na intenção de chamar minha atenção.
— Sim, mamãe! — respondo, encarando toda a estrutura de homem
perigoso que observa tanto a mim quanto a minha mãe de forma impassível.
— Quem é esse, minha filha? — olho para minha mãe, pronta para
responder que é um amigo, mas infelizmente, eu não sou tão rápida.
— Eu sou o namorado da Isadora, senhora Martins — o português de Axel
é estranho, mas pela cara surpresa de minha mãe, é possível que ela tenha
entendido o que ele acabou de dizer.
Merda!
Aí, meu Deus, agora eu faço o que, diante de toda essa situação?

Não sei o porquê me apresentei como namorado da Isadora, mas quando


dei por mim, já estava vomitando a maldita palavra. Também não sei se foi
porque a mulher, que naturalmente deve ser a mãe dela, estava me encarando
com olhos avaliadores. Ou se foi pelo simples motivo que Isadora estava com
uma expressão de assustada e com uma súplica clara nos olhos.
Foda-se!
Eu não me importo com essas coisas, não me importo com nada disso, para
falar a verdade. Eu não iria entrar, estava claro para mim que Isadora não
estaria em perigo aqui com essas pessoas.
Ela me parece gostar muito dos pais, eles não são fodidos e cheios de
merda como os meus, então estava bom para ela ficar sem mim. Mas quando
a vi sumir do meu campo de visão, sem ter a certeza de quando estaria a
tocando, algo estalou dentro de mim e tive que mudar os meus planos para
conhecer as pessoas que a minha Isadora tanto ama.
Amor, um sentimento idiota, que deixa as pessoas emotivas e vulneráveis
demais. Não que eu saiba o que é isso, pois eu nunca consegui sentir nada
como isso e nem tenho interesse.
A única pessoa que conseguiu me fazer sentir algo, além dessa violência
exacerbada que existe dentro do meu ser, foi ela, a minha menina. Mas isso
não é amor, com certeza, não é amor. Porque um homem como eu, com tanta
escuridão e tanta merda fodida, desconhece esses sentimentos tolos.
Não nego a proteção que tenho com Craig, apesar de ser feito do mesmo
molde de merda que o meu, ele é o meu irmãozinho. E eu passei a minha vida
inteira protegendo sua bunda tatuada, acho que agora posso dizer que
coloquei Isadora nesse mesmo lugar de proteção.
Mas me coloquei em um patamar na vida dela, bem aqui, diante da sua
mãe. Mãe essa que me parece ser de idade avançada e com uma expressão,
que antes era de avaliação, de contentamento.
Ela olha de mim para filha com um largo sorriso, é como se tivesse
recebido a melhor notícia da vida. E foda-se se eu entendo isso. A única coisa
que posso pensar é que eu não sou alguém com que os pais sonham para suas
garotinhas inocentes. Inocente e iluminadas, como a minha doce menina tola.
— Isso é verdade, Dorinha? — a mãe de Isadora pergunta e eu fico meio
confuso com suas palavras em português.
Porra, língua chata do caralho!
— O quê? — Isadora pisca várias vezes, pálida como um fodido papel.
— Esse homem bonitão é o seu namorado? — a mãe de Isadora pergunta e
ela olha na minha direção.
— Você fala em português? — ela ignora a pergunta da mãe e fala comigo
em inglês.
Oh, minha menina tola.
— Eu nunca tinha dito que não falo em português — respondo também em
inglês.
— Pensando por esse lado — confirma confusa. — Mas por que não me
deixa falar em português com você? — Isadora faz uma careta e eu tento não
olhar para ela com fúria.
— Porque eu quero que comigo você fale em inglês — esclareço de forma
leve, mas por dentro estou louco para puxá-la para mim e fazê-la calar essa
boquinha gostosa.
— Axel, você…, aí mamãe! — Isadora dá um pulo e segura a cintura.
— Vocês dois estão me ignorando, eu sou a mãe aqui, mocinhos —
senhora Martins fala com severidade, apontando com o dedo entre mim e
Isadora.
— Desculpa, mãezinha! — Isadora fala em tom baixo e se inclina para
beijar o rosto da mãe.
— Muito bem, querida, está desculpada — sorri e alisa o rosto da filha
com os dedos enrugados pela idade. — E você, mocinho? — Me encara e eu
retorno a encarada.
— Axel! — Isadora fala entredentes.
— O que foi? — pergunto em inglês.
Isadora aponta com a cabeça para a mãe dela e eu franzo o cenho, sem
entender o que ela quer de mim. Enquanto isso, a senhora Martins cruza os
braços e bate os pés no chão, em um ritmo constante e totalmente chato.
Olho novamente para Isadora, que continua a apontar para mãe com a
cabeça. Ainda fico sem entender o que diabos ela quer, mas só até ela falar a
palavra "sorry" sem emitir som, então eu finalmente entendo.
— Então? — indaga a senhora Martins e eu mordo a mandíbula com força.
— Me desculpe pela grosseria, senhora Martins — digo, tentando
transparecer uma calma que eu não tenho.
— Oh, que doce é você, querido. — E com isso ela vem na minha direção.
Estou tentado dar um passo para trás, mas ela me alcança antes que isso
aconteça. — Meu nome é Maria José, mas pode me chamar de Jô ou de
mamãe. — Sem que eu espere, ela me abraça.
Porra!
Sou pego desprevenido e isso não é uma coisa que acontece comigo. Olho
para baixo e vejo a pequenina mãe de Isadora abraçar a minha cintura. Olho
para Isadora em questionamento e ela dá de ombros, me encara como se
quisesse se desculpar.
Fico sem saber o que fazer, porque eu não posso agir do modo de sempre
com uma senhorinha de idade. Fora que ela me lembra…, não Axel, não vá
lá.
Aperto o pulso com força, relaxo o meu corpo rígido e retorno o abraço a
senhora. Mesmo que esse abraço tenha sido uma merda de desajeitado.
Queria saber se ela iria me abraçar de soubesse que eu já matei tantas pessoas
que eu não sei dizer o número exato.
— Obrigado, senhora — digo e isso é o suficiente para que ela finalmente
se afaste de mim.
— Você é um moço muito simpático, um pouco duro nas bordas, mas isso
a comida da mamãe aqui vai te amolecer o coração — fala sorrindo, enquanto
dá umas tapinhas no meu peitoral, sobre o meu suéter preto.
— Mamãe! — Isadora diz alarmada e a mãe se vira para encará-la.
— Ele é seu namorado, vai ter que conviver comigo e seu pai. Estou certa,
meu genro? — questiona sorrindo e confirmo com a cabeça.
— Mamãe, o Axel é um homem… como posso dizer, calado — Isadora
fala e vem até a mãe, que franze o cenho.
— Isso eu já consegui ver — a senhora Martins se cala por um tempo e
depois sorri novamente. — Vocês dois irão fazer lindos netinhos para mim —
Isadora se engasga com a saliva e começa a tossir.
— Isadora! — chamo, e sem pensar duas vezes eu a puxo para mim.
— Eu estou bem, Ax! — Isadora diz respirando fundo, mesmo assim, eu
não a solto. — Mamãe, por favor, não diga essas coisas — ainda nos meus
braços, ela fala com a mãe, que dá de ombros.
— Mas por quê? — questiona a senhora. — Vocês são lindos juntos, eu
estava esperando por isso. — Estala a língua no céu da boca e nos olha de
forma avaliativa. — Sabe, minha filha, sua mãe e o seu pai já estão velhos
demais, queremos tanto um netinho. — A senhora funga e Isadora saí dos
meus braços e corre até a mãe.
— Mãezinha, não chore. — Ela olha para mim novamente como se pedisse
desculpas e volta a dar atenção a mãe. — Axel e eu estamos nos conhecendo
ainda, é tudo muito novo, sabe. — O carinho na voz da minha menina é
nítido.
— Oh sim, Dorinha, desculpe a mamãe por ser uma apressada — responde
com carinho e olha para mim. — Você está cuidando da minha filhinha, não
é, meu rapaz? — pergunta, dessa vez de forma séria.
— Com a minha vida, senhora Martins — respondo prontamente, porque é
a mais pura verdade.
— Então, para mim está de bom tamanho, eu posso esperar vocês se
resolverem para me dar um neto. — A senhora espirituosa sorri novamente.
Essa mulher está falando sério?
Não, minha senhora, isso não vai acontecer!
— Mamãe, agora me conte, como está o papai. Eu estou morrendo de
preocupação por ele, não sabe o que eu pedi a Deus pela sua saúde — Isadora
diz e observo como a mãe dá um sorriso leve para a filha.
— Desculpe preocupar vocês dois, eu não sabia que iria correr da sua
viagem para ir para cá. — As palavras da mãe fazem Isadora arregalar os
olhos e quando ela faz menção de dizer algo para a mãe, ela a impede. — Seu
pai está bem, meu amor, o médico disse que teve um princípio de infarto, mas
que nós chegamos em tempo para que ele fosse cuidado.
— Oh Deus, isso é bom, mamãe — exclama com alívio.
— Sim, sim isso é bom — mostra o mesmo alívio da filha —, amanhã ele
já pode ir para casa e eu não vou largar o pé desse velho reclamão.
— Ah, mamãe! — Isadora sorri feliz e abraça a mãe.
Olho para mãe e filha interagindo dessa forma e chego à conclusão de que,
sim, Isadora teve bons pais. E eu não sei o porquê, mas isso me deixa muito
aliviado.
Eu odiaria que ela tivesse passados pelas mesmas merdas que eu e o Craig
passamos. Para falar da forma mais sincera, não me importo tanto comigo,
acho que fui feito de modo diferente, já que eu nunca senti tanto. Mas o Craig
não, ele é o oposto de mim em muitas coisas, ele amava o nosso pai
desgraçado. Mesmo com todas as porcarias que passamos, ele o amava, e isso
é o que mais me deixa puto.
Porque aquele desgraçado nunca retribuiu o amor do meu irmãozinho da
mesma maneira. Ou ele demonstrava os seus sentimentos através dos chutes,
tapas, cortes e queimaduras?
Não, isso não é amor, isso é monstruosidade. E foi isso que o meu pai de
merda me ensinou a ser, um monstro. É por isso que eu não deveria estar
aqui, deveria ficar longe da Isadora. Esse pensamento vem e eu olho para ela
e para a senhora, que usa um vestido simples, uma sapatilha mais simples
ainda, seus cabelos grisalhos mais puxados para o branco, caucasiana e olhos
verdes.
Essa senhora me lembra a única pessoa que foi gentil comigo na minha
infância e isso é tão sem sentido, que chega a ser cômico. Meu corpo fica
rígido quando a lembrança nítida da sua imagem vem em minha mente e
cerro os punhos com raiva por isso estar acontecendo.
Porra! Não, não vá lá, porra!
— Isadora e senhora Martins — chamo e as duas se viram na minha
direção.
— O que foi, querido? — apesar da careta curiosa de Isadora, é a mãe dela
quem faz a pergunta.
— Terei que me retirar, tenho que ver algo de trabalho — falo de forma
impassível.
— Sério? — lamenta a senhora. — Eu já ia te chamar para te apresentar ao
meu Gene. Não era, Dorinha? — olha para filha, que não responde nada e só
me encara em confusão.
— Acho que sim — Isadora fala de forma distraída.
— Me ligue se precisar de algo — digo para Isadora, que concorda com a
cabeça. — Até mais! — Me viro e começo a andar para fora do hospital, mas
sou interceptado por alguém. Nem preciso me virar para saber que é Isadora
quem está aqui.
— Você vai precisar que eu vá com você, Ax? — pergunta com urgência,
eu não consigo me conter mais e a puxo para mim.
— Fique com seus pais, mais tarde vou te buscar e poderei fazer o que
quero com você — digo em inglês, em tom baixo e raivoso no seu ouvido.
— Tu... tudo bem — fala, tentando se conter.
— Lembre-se de chamar se precisar de algo. Se não fizer isso, ficarei
muito, muito chateado — falo, olhando nos seus olhos castanhos expressivos.
— Você não me quer chateado, não é? — pergunto e ela nega com a cabeça.
— Por que você se apresentou como meu namorado? — Isadora pergunta e
eu passo as costas do dedo na sua bochecha.
— Nem eu sei, minha menina. Nem eu sei — respondo a verdade,
demonstrando toda a minha intensidade. — Vá, sua mãe te espera — ordeno
e ela engole em seco.
— Tudo bem, eu vou… — Antes que ela possa terminar de falar, eu a
beijo.
Eu não posso resistir, sempre necessito sentir o gosto delicioso que só a
minha menina é capaz de ter. Ela é a minha cocaína e como um louco
viciado, preciso satisfazer o meu desejo.
Encerro o meu beijo com Isadora, olho para ela por um breve momento e
viro para encontrar a saída. Se eu ficar mais um minuto, poderei desistir de
deixá-la sem mim.
No momento que saio do hospital, sinto o meu celular vibrar no bolso.
Praguejo ao ver o nome de quem está me ligando e resolvo atender.
— O que você quer, Gutierrez? — atendo sem esconder o meu desagrado.
— É assim que você atende a um amigo querido? — Ângelo usa o seu tom
sarcástico de sempre.
— Você está mais para um fodido e não um amigo. Diga logo o que quer!
— ordeno sem paciência.
— Sempre grosseiro, Cox — Ângelo ri do outro lado da linha. — Soube
que está no Brasil, ficará muito tempo?
— Não é da sua conta — digo, sem surpresa por ele saber que eu
desembarquei aqui no Brasil. — O que quer?
— Tenho a informação que você tanto quer, Cox. Eu sei quem foi o cara
que atirou em você. — Saber disso me faz apertar o celular com força, a
ponto de estalar.
— Quanto? — pergunto logo. — Quanto você quer pela informação? —
acrescento entredentes.
— Nada ainda, mas posso querer no futuro — fala e eu trinco o maxilar.
— Eu vou me arrepender disso — falo e o desgraçado ri do outro lado.
— Isso aí já é com você, Cox — responde, me deixando mais irritado
ainda.
Eu não sou idiota em confiar em Ângelo Gutierrez, mas a minha sede de
sangue é maior do que esse pretensioso de merda.
É hora de um acerto de contas.
Ainda fico parada no corredor do hospital, confesso que estou muito, muito
confusa mesmo. E eu não deveria estar tão surpresa com isso, pois se tem
uma coisa que Axel é muito bom em fazer, é me deixar confusa.
Não entendo o porquê ele entrou no hospital, já que quando chegamos
aqui, simplesmente me enxotou do carro. E depois… depois ele
simplesmente veio até mim, para logo em seguida se apresentar a minha mãe
como meu namorado.
Oh, meu Deus!
Namorada, Axel disse que eu sou a namorada dele. E ainda não consigo
acreditar que ele usou especialmente essa palavra para identificar o que é para
mim.
Confesso que o meu coração bateu forte com isso, não deveria e eu bem
sei, mas não pude me conter. No fundo, eu sabia que ele só queria me marcar
como sua para minha mãe sem parecer que é o meu…
Argh!
Não sei, mas seja como for, eu sou o que ele quiser que eu seja. Oh não,
esses pensamentos são de uma tola apaixonada e você é tudo, mesmo isso.
Não, não nada de se apaixonar.
Apesar da palavra "namorado" ainda estar passando pela minha cabeça
repetidamente, o que mais me deixou esquisita foi a forma que minha mãe
ficou feliz por eu finalmente estar apresentando algum namorado para ela.
Sempre soube que minha mãe sonhava que um dia eu fosse encontrar
alguém legal, que seja bondoso e esteja interessado em formar uma família.
Oh, pobre mãezinha!
Imagine se ela soubesse que Axel está longe de ser isso que ela sonhou
para mim. Se minha mãe soubesse que conheci Axel quando ele foi baleado e
que estava sangrando como um porco abatido no beco da minha rua, tenho
quase certeza que desmaiaria.
Então, não, eu não posso contar a verdade para ela, mais uma vez, eu já
tenho um pai na cama de hospital por causa de um problema cardíaco. E pode
ter certeza de que tudo o que menos quero na vida, é que minha mãe esteja
em outro leito aqui.
— Filhinha! — mamãe me chama e eu me viro para encontrá-la me
encarando.
— Sim, mãezinha? — pergunto após soltar um pigarro.
— Aconteceu alguma coisa? — sua pergunta me faz negar com a cabeça.
— Não, mamãe, está tudo bem! — afirmo. — Por que a pergunta? —
Tento disfarçar, mas ela continua a me encarar.
— Será que o seu namorado está com problema? — indaga, me olhando
fixamente.
— Não, ele disse que está tudo bem. — Dou um sorriso amarelo e minha
mãe continua me encarando.
— Ele trabalha em que, minha filhinha? — a sua pergunta me fez parar um
tempo.
Oh Deus, eu não posso chegar para minha mãe e dizer: "Ah mamãe, Axel
tem uma equipe de mercenários, onde ele pode fazer de tudo para quem
pagar melhor. Sim, e tem outra coisa, ele me colocou na equipe e me testa
sempre que possível."
Não, com certeza, eu não posso falar algo como isso para a minha mãe. Por
que tudo tem que ser tão complicado?
Argh!
Tudo culpa daquele… daquele…, merda, Axel!
Ele me deixou aqui em uma situação muito, muito complicada de lidar.
Respirando fundo, volto a sorrir de modo tranquilo para minha mãe.
— Axel trabalha com segurança, mamãe — respondo e ela franze o cenho.
— Como assim, eu não entendi. — Nega com a cabeça e eu seguro sua
mão enrugada.
— Sabe, ele trabalha fazendo segurança para pessoa de alto nível. — Não é
bem uma mentira, se for pensar no resgate da filha do senador.
— Como um guarda-costas? — A expressão da minha mãe se ilumina e eu
quero muito me chutar por ser uma mentirosa.
— Praticamente isso mesmo, mamãe — sorrio em concordância. — Ele
está querendo que eu entre para a sua equipe — digo e me arrependo no
mesmo momento.
— Oh, é para fazer aquelas coisas tecnológicas que você faz? — sua
pergunta é tão inocente que chega a ser fofa demais.
— Isso mesmo, mãezinha! — sorrio, assentindo com a cabeça.
— Oh, meu Deus, isso é maravilhoso, não é? — pergunta feliz da vida e eu
confirmo novamente.
— Sim, isso é muito maravilhoso — respondo de modo tranquilo.
Eu jurei que não mentiria mais para os meus pais, mas parece que quando a
mentira surge, é como se fosse uma enorme avalanche.
Avalanche essa que é impossível controlar e quando damos conta disso, já
estamos totalmente soterrados. Me sinto tão mal por isso, que não sei
explicar. Mas pensando pelo outro lado, o lado mais importante, que é o da
segurança, é bom que mamãe e papai não saibam exatamente quem é Axel e
o que ele faz para viver. Essa profissão é muito perigosa e eu odiaria trazer
algum perigo para as pessoas que mais amo na vida.
É tudo muito complicado, tão complicado, que chega a ser estranho. E o
pior de tudo, é que eu estou gostando de tudo isso, de toda essa adrenalina.
Do fato de fazer algo por alguém e saber que eu sou responsável por alguma
coisa.
Apesar dos segredos, de toda escuridão e do modo distorcido de que tudo
se iniciou, eu me sinto viva pela primeira vez em toda a minha existência. E
de uma coisa eu sei, não quero parar de me sentir desse jeito.
— Me conte um pouco sobre o seu trabalho, meu amor — mamãe pede,
animada.
— Claro que sim, mamãe, mas acho que temos que ir ver o papai. Eu
quero muito saber se ele está bem, através dos meus próprios olhos — digo
aflita e minha mãe sorri de modo maternal.
— Você está certa, mas é uma pena que o velho não vai poder conhecer
seu namorado. — Ela me olhou de forma traquina.
— Mamãe, nem brinca com isso — a repreendo e ela fez um gesto de
desdém.
— Gene tem que entender que um hora você vai se casar, meu amor. —
Arregalo os olhos, nervosa.
— Não é para tanto, mamãe! Jesus! — digo alarmada, mas ela só ri da
minha cara.
— Vamos, querida, mas ver o nosso velho teimoso. — Mamãe engancha o
seu braço no meu e seguimos pelo corredor do hospital.
Durante a minha ida com mamãe até o quarto do meu paizinho, ela começa
a fazer muitas perguntas constrangedoras.
E todas essas perguntas constrangedoras são sobre quem mesmo?
Sim, sobre o Axel!
Ela me pergunta se eu já o vi nu, porque mesmo com toda roupa, pode
dizer que ele tem uma boa, muito boa estrutura corporal. Essa e muitas outras
questões me fazem querem que o chão se abra para que eu possa enterrar a
minha cara ali mesmo e ficar para sempre. Mas não é isso que acontece e eu
me vejo ficando tão vermelha, que meu rosto pega fogo de constrangimento.
As perguntas indiscretas da minha mãezinha curiosa só param quando
chegamos ao local onde papai está em observação. Quando cruzo a entrada
do lugar e o vejo deitado no seu leito, usando uma roupa hospitalar, seus
óculos em cima do nariz, enquanto aperta seu dedo indicador na tela do
celular, faz o meu coração cantar de alívio, amor e saúde.
Meu velho paizinho, para mim, sempre foi um lindão, com sua cabeça
careca alva pela idade, sua pele branca desgastada do sol de tanto ficar
trabalhando no sítio, seus olhos castanhos claros calorosos e o seu abraço
seguro, que só um pai incrível, como o meu, pode ter.
— Paizinho! — chamo sem poder conter o embargo na minha voz.
— Dorinha, minha filha! — papai fala assim que me vê parada. — Venha,
minha andorinha, venha ver o seu velho pai — diz, abrindo os braços, e eu
corro até ele.
Como eu senti falta de abraçar os meus paizinhos. Eles são pessoas tão
maravilhosas, os abraços deles são tão acolhedores, que é como se eu pudesse
respirar de novo.
Deixo tudo ou qualquer coisa que possa estar me atormentando de lado,
para que eu possa me recarregar. Nada melhor do que está em casa, não é
verdade?
— Paizinho, como o senhor está? — pergunto após me separar do seu
abraço.
— Eu estou bem, Dorinha, não chore — diz em tom mais sério e eu
enxugo o meu rosto molhado.
— Pode deixar, eu não estou mais chorando. Olha só! — Mostro a ele o
meu rosto, agora seco.
— Assim é bem melhor, você é muito linda para ficar chorando por um
velho como eu — ele dá um sorriso de lado e eu não me aguento, dou um
beijo na sua bochecha.
— Sempre um gatão! — brinco e ele sorri de modo malicioso.
— Sabe como é, não é, filha, eu sempre fiz sucesso com a mulherada —
papai brinca e mamãe solta um som de desdém.
— Em seus sonhos, não é, meu velho — ela zomba. — Aí você acordou e
caiu da cama — mamãe diz de modo malicioso.
— Nossa, Jô, você é tão venenosa quando quer — paizinho implica.
— E você é tão sem noção quando quer — mamãe rebate e eu reviro os
olhos.
— Vocês dois vão começar? — pergunto, olhando de mamãe para papai.
— Não! — respondem em uníssono.
— Que bom, que bom! — respiro fundo e olho para papai. — Eu estou
muito feliz que o senhor está bem, paizinho. Tive muito medo, de verdade.
— Eu não queria deixar você e sua mãe preocupadas — paizinho diz e
mamãe anda para ficar do seu lado.
— Você não teve culpa, meu velho, essas coisas acontecem — mamãe
responde e meu pai toca sua mão.
— Prometo me cuidar mais, querida — paizinho diz, me deixando feliz.
— Não faça promessas que você não pode cumprir, velho — mamãe solta
um resmungo sem calor.
— Eu estou falando a verdade, minha velha — papai fala com firmeza,
chamando nossa atenção. — Tenho que estar vivo por um grande motivo. —
Eu olho para minha mãe e franzo o cenho, ela dá de ombros
— Que grande motivo é esse, papai? — pergunto curiosa e ele olha para
mim, dando um sorriso de lado.
— Sua formatura, Dorinha, o que mais poderia ser? — engulo em seco no
mesmo momento.
Todo o meu desconforto volta para mim como uma bomba de gás, porque
a lembrança de tudo o que aconteceu alguns dias atrás retornam como uma
vingança.
Merda, meus pais não sabem que eu estou meio que fugida da faculdade. E
agora, o que digo?
— Oh paizinho, ainda faltam alguns meses, sabe — falo, tentando não
demonstrar o meu nervosismo ao comentar sobre isso.
— Eu sei, filha, mesmo assim, quero estar bem para ver a minha Dorinha
recebendo seu diploma — papai responde feliz da vida e mamãe concorda.
— Eu e suas tias estamos querendo montar um belo almoço para
comemorar sua formatura. Vai ser tão bom! — mamãezinha diz com
expectativa.
— Mãezinha, eu disse que não queria festa, a senhora sabe que eu não
gosto — alerto sem jeito e ela faz um gesto de desdém.
— Mas não é festa, é só um almoço em família — responde de modo
rápido.
— A velha churrascada da nossa família, vai ser bom demais — papai diz
e eu solto um suspiro cansado.
— Eu nunca consigo ganhar de vocês dois — falo amuada e os dois
sorriem de modo conspiratório.
— Vai ser bom planejar agora, assim o seu namorado vai poder vir
também. — Mamãe solta a bomba sem querer e o silêncio se faz presente de
repente.
Olho para minha mãe alarmada e ela me olha de modo sapeca, como se
tivesse soltado a informação de proposito e não sem querer.
— Que história é essa de namorado, Isadora? — pronto, me chamou de
Isadora é porque coisa boa não vem depois.
— Paizinho, sabe o que é… — começo a falar, mas minha mãe passa
minha frente.
— Deixe de ser um tonto, seu velho chato. Isadora já é uma moça feita, ela
tem um namorado muito bonito, educado e trabalhador. — Ah mamãe, Axel
é tudo, menos isso o que a senhora disse. Penso nervosa.
— Como você sabe de tudo isso, Jô? — paizinho pergunta, cerrando os
olhos.
— Porque eu o conheci, ele veio trazer nossa Dorinha para a gente. — Ela
dá de ombros e papai fica vermelho.
— Papai, não fique nervoso — alerto, mas ele não me ouve.
— E porque esse tal namorado não veio me conhecer. Ele, por algum
acaso, pediu a mim para namorar a minha filhinha? — papai diz, erguendo os
punhos fechado.
— Ora velho, com um sopro você cai de bunda no chão. Então não venha
dizer que quer confrontar nosso genro — mamãe diz rindo.
Eles dois começam a sua infinita discussão sobre o meu "namorado" e eu
não vejo opção, a não ser sair de perto deles. Com um murmuro quase
inaudível, digo ao dois que preciso ir ao banheiro e beber água, mas eles
estão tão entretidos em discordar, que não me ouvem.
Eu sabia que papai não ia gostar de saber que havia um outro homem, além
dele, na minha vida. Imagina se eles soubessem que além do "namorado",
existem mais três, totalmente e incrivelmente intimidadores. E que agora
passo mais tempo com eles, do que com qualquer outra pessoa.
Apesar de toda essa história de que Axel é meu namorado para a minha
mãe e agora para o meu pai. Não é isso o que está me incomodando, para
falar a verdade, o que está deixando inquieta é o fato de que meus pais
sonham muito com a minha formatura. E tudo isso que aconteceu com Jonas
e os outros, está fazendo com que eu possa me prejudicar de modo muito,
muito feio com a faculdade.
Serão anos de curso, estudos científicos, estágios e projetos que irão ser
jogados pelos ares. Meus pais esperam estar lá na minha formatura, mas
saber que isso pode não acontecer, me assusta.
Não, eu não posso deixar que Jonas, Kimberly, ou qualquer outra pessoa
acabe com tudo o que eu construí durante todo esse tempo. Eu vou me
formar, seja como for, eu vou me formar. E é com essa força renovada que eu
resolvo ligar para a única pessoa que pode me dar alguma notícia de toda essa
situação.
Pego meu celular, procuro o número nos contatos e faço a ligação.
— Alô! — A voz de Lara se faz presente assim que a ligação é atendida.
— Lara, sou eu, Dora — respondo prontamente.
— Oh amiga, por onde andou? Mandei uma mensagem e você não
respondeu, achei que tinha acontecido algo — Lara diz e eu aperto os olhos
com força.
— Sim, meio que aconteceu. Meu pai está no hospital — digo uma parte
da verdade.
— Nossa Dora, ele está bem? — Lara pergunta e eu respiro fundo.
— Sim, aparentemente, ele e minha mãe estão em uma acalorada discussão
— falo, deixando um pequeno sorriso sair dos meus lábios.
— Odeio pais que brigam — resmunga Lara e eu nego com a cabeça,
mesmo sabe que ela não irá ver.
— Não é dessa forma, mamãe e papai estão sempre alfinetando um ao
outro, mas o carinho entre os dois é palpável, sabe — eu explico, porque
realmente é algo que só quem os conhece entende.
— Estranho, mas compreensível, eu acho — Lara para de falar por um
tempo. — Você já chegou de viagem então?
— Acho que devo estar voltando para Santa Catarina em breve. E é por
isso mesmo que liguei — digo sem jeito.
— O que foi? Precisa de algo? Um lugar para ficar, talvez? — Lara
pergunta e eu me lembro que ela estava disponível em me aceitar na casa
dela.
— Não, não é isso, para falar a verdade, eu quero saber de você se as
pessoas ainda estão comentando sobre… o que aconteceu com Jonas — falo
nervosa.
— Bem, eu não seria sua amiga se disse que não — a resposta direta de
Lara me deixa para baixo. — Quando passo pelo corredor, ainda ouço as
besteiras de Kimberly e suas galinhas.
— Eu não me importo mais com elas, quero saber do restante das pessoas
na faculdade — digo, me lembrando que até hoje eu não abri o meu e-mail
com medo de que tenha alguma notificação desagradável.
— Nossa, isso é realmente incrível. — A voz de Lara mostra a sua
surpresa.
— Passei muito tempo me importando com a perseguição sem sentido de
Kimberly e os outros, não quero mais — falo com firmeza, porque não será
por causa dessas pessoas que eu não irei me formar.
— Então, o seu caso é mais com a reitoria, estou certa? — Lara indaga
tranquilamente.
— Isso mesmo, será que você pode sondar por alto por mim? — peço e ela
fica quieta por um tempo. — Olha, se você acha que não… — começo a
falar, mas Lara solta uma risada divertida.
— É claro que vejo isso para você, garota. Eu só fiquei surpresa por você
me pedir ajuda. — Reviro os olhos para o que ela acabou de dizer.
— Você falando assim, parece que eu sou uma pessoa estranha — dou um
pequeno sorriso e bato as pontas do tênis no chão.
— Olha, não sei se estranha é a palavra certa, mas que foi uma luta para
que você me deixasse ser sua amiga, isso foi — Lara conta e eu dou uma
risada curta.
— Tudo bem, acho que você pode estar um pouco certa — respondo, a
fazendo rir.
— Quando você estiver aqui, vamos sair. Eu não quero nem saber, está
ouvindo bem? — Lara pergunta em tom mandão.
— Oh sim, você pedindo com carinho assim, é difícil recusar — falo sem
esconder meu tom debochado.
— Oh Dora, minha amiga, eu não sei o que aconteceu com você. Mas seja
o que for, saiba que eu estou adorando esse jeito novo — Lara diz e eu sinto
minhas bochechas esquentarem.
— Obrigada! — digo rapidamente. — Tenho que ir, Lara, os meus pais me
esperam.
— Até mais, garota! — Se despede.
—Até mais! — respondo a sua despedida e encerro a ligação.
Fico feliz por ter entrado em contato com Lara, eu vou ter que dar o braço
a torcer com relação a ela. Admito que quando a conheci, achei
extremamente estranho a sua atitude, mas com o passar do tempo, eu vi que
estava preocupada sem motivo.
Não era uma atitude estranha, para falar a verdade, a Lara é tão solitária
quanto eu e viu em mim uma oportunidade para ter alguém com quem
conversar. E isso está indo bem, eu gosto do seu jeito livre de ser. Mas eu sei
que essa amizade ainda tem muito chão, até que eu possa contar tudo a ela e
ela a mim.
Mas seja como for, eu sou paciente e espero que tudo dê certo no futuro.
Gosto de sua amizade, gosto de verdade. É com esse pensamento que eu
volto para o local onde estão meus pais.
Assim que eles notam a minha chegada, papai retorna ao assunto
namorado. Então, como eu sei que não posso correr mais disso, eu conto um
pouco sobre o Axel. Bem, não a verdade, mas pelo menos, nós conversamos
sobre o meu suposto namorado, que a minha mãe está colocando em cima de
um pedestal.
Ao cair da noite, tento fazer com que a minha mãe me deixe ficar com
papai, mas ela é irredutível ao dizer que está acostumada e que eu devo
descansar da viagem. Como eu não posso vencer essa batalha contra essa
senhora cheia de determinação, deixo para lá e envio uma mensagem para
Axel, perguntando se ele pode vir me buscar.
Sua resposta é um “ok” seco e bem típico dele, dou de ombros e olho para
meus pais
— Já que é assim, eu vou indo. — Avanço para deixar um beijo caloroso
no rosto de meu pai.
— Eu não gosto de saber que você ficará sozinha com um homem — papai
resmunga com desgosto.
— Nossa filha é adulta e sabe o que faz, velho chato — mamãe fala e papai
continua a resmungar. — Amanhã iremos para casa, filha. Vá lá almoçar com
seu namorado — mamãe sugere e eu fico rígida.
—Oh, mamãe, eu não sei. — Olho para papai, que me encara com
desconfiança.
— Vocês devem ir, tenho que saber a intenção desse rapaz com a minha
garotinha. — Oh meus Deus, isso não dará certo.
— Vamos matar um pouco a saudade de você antes que vá para Santa
Catarina de novo — mamãe pede docemente e assim eu não posso recusar.
— Está bem, eu vou. Não garanto que Axel poderá ir, por causa do
trabalho, mas eu vou. Se quiser, eu posso voltar para o sítio com vocês —
sugiro e ela nega.
— Seu tio está vindo nós buscar amanhã bem cedo, então não se preocupe
— mamãe conta e eu assinto.
— Se é assim... — Uma notificação chega no meu celular e vejo que é
Axel dizendo que me espera. — Tenho que ir, amanhã estarei com vocês.
— Durma bem, meu amor. Diga ao meu genro que eu o aguardo amanhã
—mamãe diz feliz e eu assinto sem jeito.
— Ainda não gosto disso, mas te amo, filha — papai fala e eu sorrio.
— Eu amo vocês, até! — Aceno para os dois e saio porta à fora.
Não sei como isso vai funcionar amanhã, mas seja como for, é hora de
avisar a fera, que no caso, é o senhor escuridão.
Assim que cruzo a saída do hospital, vejo um carro preto parado em minha
frente. Não preciso ser um gênio para saber que é o Axel quem está à minha
espera. Quando chego perto o suficiente, a porta do passageiro se abre, me
curvo para ter certeza de que é ele mesmo, mas sou arrebatada pela sua
beleza de perfil.
Como um homem pode ser tão bonito dessa forma?
Não sei, eu realmente não sei. Balanço a cabeça para me livrar dessa
nuvem de hipnose e entro no carro. Ele não olha na minha direção, mas posso
ver suas grandes mãos apertarem o volante com tanta força, que faz os nós
dos seus dedos ficarem brancos.
— Aconteceu alguma coisa, Axel? — pergunto ao notar o quão tenso ele
está.
— Por que a pergunta? — rebate de modo grosseiro, fazendo com que eu
me encolha no lugar.
— Você está mais… — olho novamente para ele, que ainda não olha na
minha direção —, tenso, está mais tenso, é isso — digo sem nenhuma
restrição.
— Está muito observadora, Isadora — seu tom é firme, mas eu não vou
desistir.
— Conte-me o que aconteceu, é alguma missão? — Reúno toda a minha
firmeza recém-construída.
— Você quer realmente saber o que está acontecendo? — Axel pergunta
em tom sombrio.
— Sim, claro! — respondo rapidamente.
— Você está com fome? — questiona e eu franzo o cenho.
— Não, eu jantei brevemente com os meus pais — digo sem entender e
dessa vez ele olha na minha direção.
— Coloque o cinto, Isadora. — Seu olhar está vazio e eu me assusto com
isso.
— Axel… — tento falar, mas ele solta um som baixo e rouco.
— Aqui não, Isadora. Deixe para fazer as perguntas quando estivermos
longe do hospital onde seus pais estão — Axel fala como se precisasse se
conter de todas as formas.
— Tudo bem então — respondo após engolir em seco.
— Bom, muito bom — diz, enquanto eu coloco o cinto de segurança. —
Odiaria que seus pais soubessem que a filha dele estava sendo fodida em
frente ao hospital. — Arregalo os olhos com o que ele acabou de falar.
— N... não! Eu… eu não... — gaguejo, sentindo um arrepio prazeroso
passar pela minha espinha.
— Você sente, não é? — Axel questiona de modo que eu tenho que juntar
as minhas pernas. — Você sente o mesmo desejo absurdo que eu sinto por ti,
não é, minha menina? — Olho para fora da janela, apertando as minhas unhas
na palma da mão.
— Sinto — esclareço rápido, impedindo que ele veja quão vermelha
estou.
— Olhe para mim, minha menina! — faço o que ele pede.
— Você me quer? — Abro a boca para responder, mas fecho rapidamente.
— Diga! — ordena e eu sinto minha boca secar.
— Axel, acho que não sou capaz de negar a você — deixo escapar e por
incrível que pareça, não me sinto envergonhada por esclarecer isso a ele.
— Bom, então acho melhor sairmos daqui — Axel diz, dando partida e
saindo logo em seguida.
Eu não sou idiota, sei que Axel está tentando me distrair para que eu não
faça perguntas. Odeio admitir isso, mas esse homem ao meu lado me conhece
bem, ele sabe que eu não iria parar de fazer perguntas até que me dissesse o
que realmente está o atormentando.
Deve ser algo muito sério para que ele esteja tentando se controlar tão
fortemente. Eu não vou me ousar dizer que conheço Axel, ele ainda é uma
enorme incógnita para mim. Mas se tem uma coisa que eu sei, é que eu posso
ser o alívio e o refúgio que ele tanto precisa.
Pode parecer louco e fora da realidade para as pessoas normais, mas sinto
que Axel precisa extravasar. O quê?
Eu ainda não sei, realmente não sei. E seja o que for, eu estou disposta a
dar aquilo que ele precisa. Ainda não sei se estou ficando louca ou realmente
ele me transformou em algo especial somente para si. Mas só… o fato de ter
o Axel sem controle inteiro para mim, mesmo que por um pequeno espaço de
tempo, me deixa tão excitada, que não sei explicar.
Vergonhoso, isso é tudo vergonhoso e doentio, só que foi o próprio que me
disse para ter mais confiança e acho que querer tudo desse homem sombrio é
confiança o suficiente.
O ar ao redor do carro fechado está pesado, sinto o meu coração bater forte
no meu peito. Evito de todas as formas olhar em direção ao meu…, digo, a
esse homem intensamente perigoso. Mas quando chegamos a um hotel,
escolhido e reservado pelo próprio, toda a minha coisa de não olhar vai para o
inferno. E então, a minha respiração começa a falhar dentro do elevador, não
é preciso que Axel me toque intimamente para saber que estou úmida.
Não consigo olhar em volta para saber os detalhes do lugar para onde estou
sendo levada, porque para mim não importa, eu só quero senti-lo.
Quando passamos pela porta, nada mais importa, principalmente quando
Axel me prende contra a parede e me beija. Esse beijo não é como os outros
que ele me deu, por incrível que pareça, tudo com esse homem é
estupidamente diferente. Solto um gemido quando sua língua invade a minha
boca, para que no mesmo momento, ele desça sua enorme mão pela minha
coxa.
— Ah, minha menina, você não sabe o que eu quero fazer com você —
Axel promete, erguendo minha perna para que o seu pau, agora rígido,
esfregue contra a minha intimidade.
— Oh..., Axel! — gemo, me perdendo na intensidade feroz desse homem.
— Se você me chamar desse jeito novamente, eu não vou poder segurar o
monstro que habita em mim, Isadora — rosna Axel, atacando minha
garganta, enquanto aperta o meu seio direito.
— Axel…, por favor... — imploro e ele para de lamber o meu pescoço
para me olhar nos olhos.
— Porra! — pragueja com raiva, levando sua mão a segurar o meu
pescoço. — Você sabe que merda está pedindo a mim, porra? — pergunta
entredentes e mesmo agora, posso ver o seu controle nas bordas.
— Me mostre! — peço, sem saber de onde vem isso.
— O quê? — sinto que sua pergunta sai como se não acreditasse.
— Me dê o seu monstro, eu posso aguentá-lo. Me mostra, Axel, mostre
quão intenso ele pode ser. — Eu não tenho mais controle das palavras que
saem da minha boca, estou cega, cega de desejo obscuro.
— Isadora, você não… — Axel tenta avisar de forma perigosa.
— Não, me mostre! — Meu clitóris lateja, sei exatamente o que eu preciso
e eu preciso dele, de todo ele.
— Foda-se tudo! — E com isso, Axel começa cortar todo o meu ar. —
Isadora, você está se tornando em uma fodida doente, assim como eu — Axel
devolve o meu ar e eu tusso um pouco.
Enquanto eu seguro a minha garganta, para me ajudar a voltar a respirar
melhor, Axel se afasta de mim. Ele me encara com os olhos negros brilhantes
de excitação, antes que eu saiba o que vem a seguir, tira as suas calças e
cueca para que o seu pau pule para fora.
Minha boca saliva com a visão em minha frente e eu não sei o porquê, mas
me vejo o querendo tanto, que não sei dizer em palavras. Ergo novamente
meu olhar e lá está aquele sorriso fantasma, o único sorriso cruel em que sou
vidrada. Sem saber o que estou fazendo realmente, me ajoelho em frente de
Axel.
— Eu quero a sua boquinha gostosa sugando o meu pau, chupe ele como
se dependesse disso para viver. E pode ser que realmente sua vida dependa
disso, o que acha? — Axel diz e eu engulo em seco.
— Acho amedrontador e muito estimulante — digo sinceramente e ele
morde a mandíbula com força. — Eu nunca fiz isso — falo, pegando o seu
pau pesado e grosso entre minhas mãos.
— Acho bom, porque se tivesse feito, eu iria matar o pobre desgraçado. —
Ao ouvir suas palavras doentias, um fio estranho de excitação passa pela
minha espinha.
— O que devo não fazer? — pergunto, olhando vidrada para o seu pau na
minha mão.
— Só me deixe foder a sua boca falastrona e garanto que ficarei bastante
satisfeito — Axel diz e antes que eu possa responder por algo, ele está
fazendo exatamente o que havia dito.
Com suas mãos presas no topo da minha cabeça, em um aperto forte entre
os meus cabelos, Axel enfia o seu pau na minha boca. De início, me engasgo,
tusso e salivo bastante, mas ao ouvir seu gemido rouco de excitação, algo
estala em mim.
Não sei dizer o que exatamente acontece, mas quando dou por mim, já
estou entregue a sensação de ter o pau de Axel escorrendo entre os meus
lábios e alcançando a minha garganta. Se tem uma coisa que eu já percebi
nele, é que ele gosta de brincar com a experiência de quase morte.
E acho que, acho não, tenho certeza de que isso me deixa excitada demais.
Cada vez que sou impedida de respirar, me vejo com mais e mais tesão.
Ainda vestida, sinto a minha calcinha ficar estupidamente molhada e preciso
de mais.
Não consigo tirar os olhos de Axel entregue ao prazer, essa é a visão mais
incrível de se ver. Os sons que escapam da sua garganta enquanto fode a
minha boca, é demais para mim. E quando ele goza… nossa, é tão… não sei.
— Ah..., porra! — diz, após despejar a última gota de esperma entre os
meus lábios. Sinto o líquido de cheiro forte escorrer e isso é… sujo! — Você
foi feita para mim, Isadora! E isso é muito fodido! — Axel diz, após se
recuperar da sua nuvem pós orgasmo.
— Sim, eu fui! — digo e arregalo os olhos ao ver Axel se ajoelhar diante
de mim.
— Deliciosa, você é a porra da mulher mais gostosa da vida com a minha
porra escorrendo no seu corpo. Foda-se! — E com isso, ele me beija
ferozmente.
— Oh..., nossa! — exclamo surpresa quando ele me deita no chão para que
possa me livrar das minhas roupas.
Axel tem um propósito e é um homem enlouquecido por ele, que é me
fazer senti-lo. E quando me chupa, lambe e mordisca os meus mamilos, eu
esqueço tudo ou qualquer coisa que possa estar a minha volta.
Ele começa a lamentar por não ter as suas cordas, pois adoraria me manter
amarrada. Mas nada disso faz sentido, porque eu não consigo assimilar suas
palavras, só o quero dentro de mim, aqui e agora.
É justamente no chão do quarto de hotel que Axel me faz sua novamente.
É tudo tão promíscuo, perturbado e sujo, que me vejo entrar em colapso antes
mesmo que eu pense em outra coisa. Mas não para por aí, ele precisa de mais
e eu também.
Axel me coloca de costas para ele, me deixando de quatro e me expondo
de maneira perversa. Castigando os meus joelhos no chão e me possuindo
como se quisesse me aniquilar da melhor forma, que só um monstro como ele
é capaz de fazer.
Eu sou capaz de sentir cada fagulha de tudo e me vejo tendo a certeza mais
uma vez que sou somente dele.
— Me mostra o quanto é minha, minha menina, e goze para mim. Goze
agora! — Axel diz, enquanto me fode com força.
— Eu não sei se aguento — falo de modo tropeçado. — Ah…, Axel! —
solto um gemido sofrido quando ele traz os seus dedos até o meu clitóris em
movimento circulares.
— Goze, menina! — Quando o segundo comando vem, eu me vejo
chegando a um orgasmo devastador.
— Isso mesmo, porra! — Axel diz furiosamente, gozando dentro de mim
logo em seguida.
Após toda impetuosidade que é esse momento, meu corpo escorrega do
domínio de Axel e eu me vejo deitada de bruços no chão. Para a minha
surpresa total, ele se junta a mim, e para terminar de me matar, me puxa para
que eu possa me deitar em seu peito.
Fico tensa por um momento, até que sua mão faz uma carícia leve nas
minhas costas. Meu corpo inteiro relaxa e me vejo querendo enterrar a minha
cara em seu corpo, para que eu possa assim absorver todo o seu cheiro
incrível.
— Ax! — chamo e ele solta uma respiração forte.
— Você realmente vai começar a fazer perguntas agora? — diz em tom
profundo.
— Acho que sim, daqui a pouco eu estou ficando sonolenta — falo com
sinceridade, mas a curiosidade está me matando.
— Pergunte, Isadora! — Ele olha para mim com toda a sua seriedade.
— O que foi que aconteceu? — Axel fica parado por um tempo, me
encarando, até que desvia o olhar e encara o teto.
— Recebi informações sobre o filho da puta que atirou em mim. — Nesse
momento eu não contenho a minha reação e me sento rapidamente,
assustada.
— Você já sabe quem foi? O que vai fazer agora? — pergunto espantada.
Antes de responder as minhas perguntas, Axel me puxa novamente para os
seus braços.
— Que pergunta é essa, Isadora, é claro que eu vou caçar, mutilar e matar
o desgraçado — Axel fala entredentes e posso sentir o seu corpo vibrar de
raiva.
— Mas ele tentou te matar uma vez, é perigoso — eu não posso deixar de
falar isso. Ainda me lembro dele sangrando no beco se eu fechar os meus
olhos.
— Eu posso até morrer, mas eu o levo junto comigo — sua resposta faz
meu corpo se encolher.
— Onde ele está? — Axel aperta sua mão com força na minha bunda.
— No Brasil, ele está aqui no Brasil — Axel conta e eu fico parada por um
tempo, tentando assimilar o que ele acabou de me dizer.
Sem pensar duas vezes, eu me levanto novamente, mas dessa vez eu me
curvo na sua direção, para ele me olhar diretamente nos olhos.
— Eu vou te ajudar — digo a ele sem receio. Axel não diz nada, somente
me puxa para que possa me beijar.
— Não! — responde entredentes. — Vamos tomar banho, minha menina
— chama e eu pisco algumas vezes, sem saber o que falar, porque eu
realmente não espero por isso.
— Axel… — começo a falar, mas ele me cala somente com o seu olhar
duro.
— Não, Isadora! — fala novamente, me deixando sem entender o porquê
disso.
Mas seja como for agora, eu não sei se é o momento certo para tentar fazer
com que Axel me explique o porquê dessa sua negação.
—Tudo bem — respondo em tom baixo.
Isso é muito frustrante, porém, eu não vou deixar Axel fazer isso sem mim.
Esse homem quase conseguiu tirar a vida dele uma vez e eu não posso
permitir que isso aconteça de novo.
Como vou fazer isso?
Não faço a menor ideia.
No dia seguinte, Axel e eu vamos de carro até o sítio da minha família.
Antes de sairmos, ele me alerta que nós não podemos ficar por muito tempo
aqui em Porto Alegre, pois temos que ir para Santa Catarina. E eu não preciso
fazer as minhas perguntas de sempre para saber que isso é por causa do
homem que tentou matá-lo.
Toda essa história está mexendo muito com a minha cabeça, mas eu
resolvo parar com todo o meu nervosismo, já que muito antes de Axel e os
outros rapazes da equipe entrarem na minha vida, eles já viviam de forma
perigosa. E se até hoje estão vivos, então isso quer dizer alguma coisa.
Agora acabamos de chegar no meu lar, o único lugar no mundo que me
sinto segura. E assim que entro em casa, minha mãe é a primeira que nos
recebe, muito animada com a nossa presença. Com o meu pai a história é um
pouco complicada, porque ele está sentado na sua velha poltrona, tendo em
mãos o seu chimarrão, enquanto olha Axel com uma cara nada boa.
Ele, por outro lado, está impassível, de pé na pequena e simples sala de
estar. Isso está tão estranho, que chega a ser cômico.
— Paizinho, esse aqui é o Axel… — dou um sorriso sem graça, me
virando rapidamente para o observar. — Meu namorado — digo, engolindo
em seco ao ver a cara de meu pai.
— Então você é o famoso rapaz que anda seduzindo a minha filhinha, não
é verdade? — papai pergunta, tentando se levantar, mas é impedido por
minha mãe.
— Não se levante daí, seu velho teimoso, ou mando nosso genro levá-lo
para o nosso quarto — mamãe o repreende e antes que ele possa reclamar, ela
torna a dizer. — E não o trate como se estivesse sequestrando a nossa filha,
velho rabugento — me engasgo com a saliva no mesmo momento.
— Isadora! Dorinha! — Axel e meus pais dizem ao mesmo tempo.
— Não foi nada, eu estou bem, estou bem! — Confirmo balançando
minhas mãos.
Oh Deus, que complicado!
— Então, meu rapaz… — papai fala após soltar um pigarro. — Quais são
suas intenções com a minha filhinha? O que você faz da vida e quais os seus
planos para o futuro? Está pensando em noivar com a minha Dora? —
Arregalo os olhos, espantada com as perguntas desembestadas do meu pai.
— Papai! — exclamo envergonhada, olhando para Axel com um pedido de
desculpas.
"Não, papai, nós não vamos noivar, por Deus."
— Deixe seu pai conhecer o A… — Mamãe não consegue falar o nome de
Axel.
— Axel, senhora Martins — Axel responde de modo cortês e mamãe sorri
como uma besta, confirmando a cabeça para ele. — É um prazer conhecê-lo,
senhor Martins. Isadora fala dos senhores com muito carinho. — Ainda não
consigo assimilar que Axel fale o português tão bem.
Jesus, esse homem só me surpreende.
— Você fala bem para um estrangeiro — papai diz impressionado. — De
onde é?
— Eu sou de Boston, senhor. Mas viajo muito a trabalho e antes que o
senhor pergunte, eu tenho a minha própria empresa e vamos bem — Axel
responde de forma estranha pelo seu sotaque.
Boston, hein? Hum!
— Eu posso ver — papai resmunga, olhando para Axel de forma analítica.
Ele, como um bom jogar que é, sustenta o olhar de meu pai como um
campeão.
— Vocês ficarão para almoçar com a gente, não é? Algumas tias estão
vindo e elas estão muito loucas para ver você e seu namorado, filha —
mamãe diz feliz, tentando quebrar o clima entre papai e o meu… namorado?
Ah céus!
— Era justamente isso que queríamos dizer, mamãe. — Olho para os meus
pais com tristeza, uma tristeza real e dolorida.
— O que há? — paizinho pergunta preocupado.
— Infelizmente não poderemos ficar aqui para o almoço, estamos voltando
hoje para Santa Catarina. — Mamãe não esconde sua tristeza com as minhas
palavras. — Eu prometo que em breve voltaremos, eu voltarei para ficar um
tempo com vocês.
— Oh, Dorinha! — A tristeza de minha mãe me faz querer chorar.
Sinto muito, mamãe, é para sua segurança e de papai.
— Eu sinto muito, sua filha é muito inteligente e nós precisamos dela na
empresa — Axel fala seriamente.
— Dorinha está trabalhando com você? — papai indaga curioso.
— Por enquanto é só um estágio, estou esperando-a terminar a faculdade
— Axel explica com uma paciência que ele não tem.
— Oh sim, minha filha é muito inteligente — papai me elogia e eu solto
um beijo para ele em agradecimento.
— Ela é surpreendente — Axel fala, olhando para mim com seu olhar
intenso de sempre.
— Então vocês dois têm que ir realmente? — mamãe diz em forma de
lamento.
— Oh, mãezinha! — lamento e vou abraçá-la. — Eu sinto muito mesmo,
prometo que quando estiver mais folgada, venho passar uns dias com vocês.
— Tudo bem, meu amor, eu entendo! — Mamãe passa a mão no meu rosto
com carinho.
— Se você ligar todos os dias, já vamos ficar satisfeitos — papai comenta,
me fazendo sorrir enquanto concordo.
— Pode deixar que eu farei isso. — Dessa vez eu vou até ele, o beijo e o
abraço com carinho.
— Jô, vá pegar a minha espingarda para eu ter uma breve conversa com
esse rapaz aqui. — Arregalo os olhos ao ouvir papai falando isso.
— Papai — falo alarmada.
— Relaxe Dorinha, seu pai só vai ameaçar esse rapaz para que ele te trate
com muito respeito. Você é nossa filhinha e não queremos que ele quebre seu
coração, só por precaução — papai se explica, mas fico na dúvida se sinto
amor ou medo por ele.
Papai não sabe quem é o Axel e não quero que ele descubra, não mesmo.
— Você não está se aguentando, imagina se vai aguentar a sua espingarda
— mamãe fala, negando com a cabeça.
— Senhores Martins, não há necessidade de ameaças — Axel fala,
chamando nossa atenção. — Isadora está sob minha proteção, nada de ruim
irá acontecer a ela. Estarei com ela a cada passo — diz, me encarando.
— Isso soou mais como um perseguidor — meu pai resmunga e eu começo
a me perguntar se ele sempre foi tão… observador.
— Paizinho, fique bem e se precisar de alguma coisa, por favor, me ligue
que eu venho correndo — digo, me abaixando para abraçá-lo com força.
— Não tem nada que eu precise mais que te ver feliz — papai diz e eu
começo a sentir os meus olhos arderem.
— Te amo, eu amo vocês dois — falo, me levantando para me despedir de
minha mãezinha também. Eles retornam a minha declaração e eu me vejo
relaxada com isso.
— Vamos, Dora? — Axel chama e eu concordo com a cabeça, limpando o
meu rosto molhado pelas lágrimas.
— Façam uma boa viagem! — mamãe deseja e eu sorrio para ela.
— Obrigada, mãezinha — falo. — Por favor, me liguem se precisar —
digo novamente e Axel vai me conduzindo para fora da minha antiga casa.
Quando estou acomodada no carro alugado por ele, aceno de volta para
minha mãe, que está na soleira da porta dizendo um adeus para nós.
Agora não é hora de lamentos, eu tenho que enfrentar novamente a
bagunça que eu deixei de lado. É hora de ver se realmente eu estou pronta
para viver nesse mundo sombrio de Axel.
— Está pronta, minha menina? — Axel pergunta após colocar seus óculos
escuros e entregar outro para mim.
— Como nunca estive! — falo, tentando passar confiança, e ele assente,
colocando o carro para andar.
É hora de enfrentar os meus demônios de uma vez por todas.
Estou me olhando no espelho por tanto tempo, que acho que daqui a pouco
a minha imagem refletida vai derreter. Tenho que admitir que agora caiu a
ficha de que estou voltando para a faculdade, depois de alguns dias afastada.
E tenho que confessar que a ansiedade está me corroendo por dentro.
Desde o momento que Axel e eu chegamos aqui em Santa Catarina, eu não
tive tempo disponível para pensar em mais nada. E isso tudo porque assim
que entramos na linda casa aluga por ele, eu dei de cara com os meninos.
Craig, Russel e Earl estavam na sala quando eu entrei. E foi impossível não
sorrir com a visão de Earl repreendendo o Russel, enquanto o Craig estava
sentado em uma das poltronas revirando os olhos. Eu não poderia acreditar
que eu estava realmente sentindo falta daqueles homens violentos. Mas
enfim, eu realmente estava e não posso negar isso.
Após tudo isso, eles entraram em uma reunião de grande importância e eu?
Eu fui convidada a ir junto. De início, eu não sabia se estava ouvindo
errado ou qualquer outra coisa, mas quando Axel me puxou com ele, não tive
mais dúvidas.
Naquele momento eu me senti novamente dentro da equipe e foi algo
muito significativo. Apesar de Axel não me tirar do seu lado e lançar aqueles
olhares intensos a cada vez que Russel ou Earl chamava a minha atenção com
alguma brincadeira.
Seja como for, eu pude dar alguma opinião, mesmo que pouca e cheia de
vergonha. Eu ainda não estava pronta para dar alguma opinião que vá além
da vigilância e segurança deles. Mas para mim, o que mais me deixou feliz
foi estar lá, fazendo parte de algo e não sendo deixada de lado.
Depois da reunião, mais precisamente no período da noite, Axel iniciou o
meu treinamento. Ele começou me levando para um estande de tiros, foi bem
assustador, devo confessar. Mas eu não poderia sair correndo, então eu tive
que ouvir tudo aquilo que ele queria me passar.
Percebi logo de cara que estava infeliz por não poder estar com seus
equipamentos. Tentei perguntar a ele de quem era o lugar, só que não obtive
resposta e tentei absorver o máximo de ensinamentos possíveis. No final de
tudo, eu me vi toda dolorida, mas consegui acertar um alvo.
Nessa manhã eu fui acordada bem cedo para iniciar o meu treinamento
físico. E como estava muito sonolenta para fazer qualquer questionamento,
me deixei ser vestida e guiada pelo meu homem obscuro, quer dizer, por
Axel.
Eu não sabia que nos fundos da casa havia uma academia. Então, imagina
a minha surpresa quando eu entrei no lugar e vi três homens fortes sem
camisa, cheios de cicatrizes, e o outro com curativos em lugares específicos.
Mas o que me deixou muito espantada é que os três tinham a mesma
tatuagem nas costas, tatuagem essa que vi em Axel na nossa primeira noite
juntos.
— Minha menina! — ouço a voz de Axel atrás de mim e pulo de susto.
— Nossa Axel, que susto! — exclamo, encontrando seu olhar pelo reflexo
do espelho e saindo das minhas lembranças.
— Vejo que já está pronta — fala, me olhando com intensidade.
Olho novamente para o meu reflexo e vejo que a maquiagem simples, em
contraste com a calça jeans preta cintura alta, uma camiseta simples
vermelha, as botas, que eu realmente amei bastante, meus cabelos com
cachos arrumados e volumoso e os assessórios lindos e delicados que Axel
também escolheu, me deixaram estupidamente bonita, mas também, muito
visível.
Ser invisível sempre foi a minha melhor escolha de vida e não sei se estou
preparada para isso.
— Você não acha que está demais? — pergunto, sem esconder meu
desconforto.
— Não, você está exatamente como deve ser — Axel responde no seu tom
brusco.
— Eu não quero que as pessoas pensem que eu… — Não termino de falar,
pois Axel logo se adianta.
— Que você é confiante, inteligente e bonita? — sua pergunta saí tão
friamente, que me estremece.
— Acho que é isso também, mas não é só isso — revelo e nossos olhos se
encontram pelo espelho.
— Explique-se! — ordena e eu solto um suspiro.
— Eu acho que me acostumei ao antigo tratamento, mesmo que fosse
terrível para mim, era fácil lidar com aquilo. Por que era o meu cotidiano,
sabe? — respondo e para a minha surpresa, Axel aproxima mais o seu corpo
do meu e passa as suas mãos de forma leve nos meus braços.
— Nunca conheci uma pessoa que se adaptou tão fácil as coisas e você
sempre foi uma fodida surpresa — Axel revela, fazendo o meu coração idiota
acelerar.
— Mesmo? — O meu espanto é tanto, que falo em português, fazendo-o
me apertar.
— Sim, eu já disse que não minto para você — relembra e eu me controlo
para não revirar os olhos pelo seu modo de falar.
— Será que vai ser diferente? — pergunto, soltando um suspiro.
— Você sabe a resposta para isso, mas lembre-se que se algo acontecer,
deve me contactar com urgência. E dessa vez, eu não deixarei ninguém sair
vivo. — Tenho vontade de sorrir com a sua proteção, mas não faço.
Não se deve sorrir quando alguém diz que vai matar os outros.
— Eu sei, mas vai correr tudo bem — falo com confiança e Axel me
encara com seriedade antes de assentir.
— Vamos almoçar, os outros nos aguardam — Axel se afasta de mim,
assumindo uma posição rígida.
— Certo, me deixa só pegar a minha bolsa — digo, indo até o closet.
Coloco as coisas que estavam espalhadas dentro da bolsa, lembro também
de colocar a minha bombinha. Antes de sair, pego minha escova de dentes,
para não precisar subir para escovar meus dentes antes de sair.
Ao sair do closet, encontro Axel à minha espera, e isso nem me faz sentir
estranha, porque se tem uma coisa que ele faz sem nem ao menos perceber, é
andar ao meu lado em toda ou qualquer oportunidade.
Poderia até achar fofo se não soubesse da sua característica controladora e,
algumas vezes, irracional. Mas quer saber, eu gosto dele assim.
Nossa Dora, que estranha você.
Chego no andar principal e vou direto até a sala de jantar, logo de cara sou
surpreendida com o cheiro maravilhoso do almoço feito por Craig. Não vejo
nenhum dos outros à nossa espera, como é de costume, dou de ombros e me
sento. Quando Axel vai se sentar também, o seu celular toca.
— Volto em um segundo — diz e saí sem olhar na minha direção.
— Onde está o chefe? — Earl fala comigo, entrando na sala.
— Foi atender uma ligação — respondo e ele assente, se sentando à mesa.
— Estou com tanta fome, que bom que não começaram sem mim. —
Russel aparece e antes de se sentar, coloca sua arma à mesa.
— Por que você está com sua arma em casa? — pergunto confusa e ele me
olha como se fosse louca.
— Dorinha, eu sem a minha arma é o mesmo que estar sem cueca —
Russel conta e eu tento ver sentido nisso.
— Você não usa cueca, seu desgraçado — Craig fala, entrando na sala.
Sinto minhas bochechas ficarem tão quentes, que chega a ser vergonhoso.
— Temos uma menina à mesa, caras — Earl fala apontando para mim,
chamando a atenção de Craig e Russel.
— Dora é da equipe — Russel fala como se fosse a coisa mais óbvia do
mundo.
— Que seja — Craig resmunga com seu vozeirão.
— Apesar de estar constrangida com isso, eu não me importo. — Assim
que fecho a minha boca, Axel entra na sala.
Oh merda!
— Não se importa com o que, Isadora? — Axel pergunta curioso.
— Nada, Axel é que... — abro e fecho a minha boca, sem saber o que
falar.
— Dora não se importa se eu uso ou não cueca — quando as palavras de
Russel chegam até Axel, ele fixa seus olhos em mim e depois nele.
— Um verdadeiro porra louca — Earl murmura, negando com a cabeça.
— Sanchez, tire a sua fodida arma de cima da porra da mesa, ou eu serei
obrigado a atirar em você com ela — Axel fala em forma lenta e muito, muito
gélida.
— Nossa, chefe! — Russel fala em tom sarcástico, mas tira a sua arma de
cima da mesa.
— YA ne znal, chto ty takoy revnivyy, brat (Eu não sabia que você era tão
ciumento, irmão) — Craig fala em outra língua com Axel, que me faz pensar
se é Russo.
"Por que eu tenho a chata impressão que deveria saber o significado
disso?
Argh!"
— Trakhni tebya (Vai se foder!) — Axel responde — Coma Isadora, vou
te levar para a faculdade — ordena Axel e eu reviro os olhos de modo
totalmente involuntário.
— Geuneun neomu isanghae (Ele é tão estranho.) — murmuro em
coreano, porque se ele e Craig podem falar em outra língua, eu também
posso.
— O que disse, Isadora? — pergunta Axel e eu nego sem hesitação.
— Nada! — respondo sem olhar na sua direção.
Minha intenção é dizer uma resposta bem ousada, mas essa coragem eu
ainda não tenho.
Começo a me servir do almoço e pelo canto do olho posso ver que Earl,
Russel e até mesmo o Craig, tentam esconder um riso. Não sei o porquê essa
reação deles, mas eu também não estou a fim de tentar saber.
Esses homens são tão estranhos. Às vezes, não, às vezes não, muitas vezes,
eles me deixam louca. Sim, sim, e essas são as cruzes que vou ter que
carregar, eu já sei. Para falar a verdade, eu não sei por que fiquei chateada
com isso.
Talvez, sim, eu deva ser tão estranha quanto eles. Vai entender!
Terminado o almoço, eu vou escovar os meus dentes e colocar um gloss
nos lábios, assim como o Nate me instruiu. Fico espantada assim que noto
que não é só o Axel que vai me levar até a faculdade, mas os outros três
também vão.
Durante o trajeto de carro, eu ainda fico pensando que eles vão para em
algum outro lugar. Mas vejo a realidade da coisa assim que chego na
faculdade.
Tento dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas quando dou por mim, estão
todos saindo de dentro do carro.
Eu me sinto como uma criança no jardim de infância, onde seus irmãos
valentões tinham que marcar território. Tão vergonhoso!
— Vocês não precisavam vir — falo constrangida, observando todas as
pessoas olharem na nossa direção. Algumas com espanto e outras em
confusão, mesmo assim, olham.
— Vai lá, garota! — Russel diz, levantando o polegar.
— Boa sorte, Dorinha! — Earl comenta, erguendo o punho, e eu bato com
o meu rapidamente.
— Você já sabe! — Craig resmunga sem olhar na minha direção.
— Vocês podem ir, vou ficar bem — respondo sem graça e eles me
ignoram. Tão adultos!
— Qualquer coisa, me avise, Isadora. Não gosto de surpresas
desagradáveis — Axel diz e eu assinto.
— Tudo bem, Axel, você já me disse. Eu vou… — Me viro para começar
a caminhar em direção a entrada da faculdade, mas Axel me puxa e gruda
seus lábios nos meus. Não estava esperando pelo gesto, mas ele é bem-vindo.
— Tenha uma boa aula, minha menina — sussurra no meu ouvido, após
terminar o nosso beijo.
— O… obrigada! — agradeço, ainda sob efeito do seu toque, e me viro
abruptamente para me afastar.
Faço de tudo para não olhar para trás enquanto estou me afastando, mas eu
não sou tão forte assim. E ao olhar, vejo aqueles quatro homens distintos,
intimidadores e que estão ali, parados, como se me incentivassem a
continuar.
Mesmo isso tudo sendo demais, eu não posso resistir ao sorriso que brinca
nos meus lábios. Minha vida agora tem um louco, um príncipe das trevas, um
ex-presidiário e um… homem que balança todo o meu mundo com a sua
escuridão. Então, sim, eu entendo o porquê as pessoas os encaram desse jeito,
porque eles são únicos.
— Dora? — A voz alta e clara de Lara chega aos meus ouvidos. Viro a
cabeça para procurá-la e a encontro rapidamente.
— Lara! — respondo e no mesmo momento vejo os seus olhos se
ampliarem.
— Aí, meu Deus, garota, é você mesma? — questiona espantada, me
olhando dos pés à cabeça. Eu, mesmo envergonhada, confirmo.
— Cadê os óculos e os vestidos longos? — Lara comenta e eu dou um
sorriso tímido.
— Não mais! — digo e abro os braços. — Você acha que…, acha que está
legal? — pergunto totalmente sem jeito. Lara fica um tempo estática, até que
joga a cabeça para trás e dá uma gargalhada estridente.
— Isadora, minha amiga, você está estupidamente sexy. — Ela fica na
minha frente e se afasta para olhar meus pés. — Eu quero essa bota incrível
emprestada algum dia desses — dessa vez sou eu que não aguento e dou uma
risada.
— Eu poderia fazer isso por você! — respondo feliz e sem que eu possa
esperar, ela me abraça com força.
— Você está muito linda, Dora, eu amei isso — comenta, ainda abraçada a
mim.
— Eu também amei, sabe — falo sem qualquer amarra.
— Essa confiança, com certeza, vem dessa bota, ou é de algo a mais? —
Lara indaga de modo malicioso.
— Nós precisamos… — começo a falar com a minha amiga, mas sou
impedida quando alguém tomba em mim. E se não fosse pela Lara, eu
poderia ter caído no chão facilmente.
— Mas olha só se não é… — Ouço a voz da Kimberly atrás de mim. —
Isadora? Isadora, é você? — Meu corpo fica rígido no mesmo momento.
Levanto o meu olhar para Lara, que está com uma expressão de quem
acabou de encontrar uma briga. Mas dessa vez eu não posso deixá-la me
defender, eu tenho que, não, eu devo parar isso de uma vez por todas.
Me viro em direção a Kimberly e logo de cara eu noto que ela está com
suas fiéis amigas. Amigas essas que são tão ordinárias quanto ela e que
adoram me infernizar, assim como a sua líder. Vejo o modo que as três me
olham, é como se não acreditassem que a Isadora em sua frente é a mesma
Isadora de alguns dias atrás.
É agora, Dora!
— Olá Kimberly, Vanessa e Dafne! — respondo, tentando passar toda a
confiança.
Faço a melhor cara de impassível, a mesma cara que eu aprendi com Axel.
Observo de modo analítico a forma em que Kimberly e suas amigas dão um
passo para trás, arregalando os olhos de surpresa.
Seus olhos espantados sobem e descem por todo o comprimento do meu
corpo. Isso me incomoda muito, estar sob o olhar dessas meninas tão tóxicas
e maldosas sempre me deixa agitada e coagida.
Mas dessa vez é diferente, eu não vou mais correr, vou lutar. E o melhor,
vou mostrar a elas que sou uma boa aluna, que o meu professor é o melhor de
todos na arte de esmagar seus inimigos.
— Vocês têm algo para falar comigo? — pergunto quando percebo que
elas não se prontificam em falar nada ainda.
— Mas o… o quê? — Kimberly gagueja.
— Quem você acha que… — Não deixo Vanessa terminar de falar.
— Não vamos continuar de onde paramos, não é verdade? — Tento passar
a mesma indiferença que vejo em Craig. — O que querem comigo? —
pergunto friamente.
— Ora, sua feiosa, quem você… — Kimberly tenta me atacar, mas eu
começo a rir sem humor.
— Ela enlouqueceu? — dessa vez é a Dafne quem fala e eu paro de rir no
mesmo momento.
— Chega! Acabou! — aviso, cerrando os meus punhos.
— Como? — Kimberly indaga, assustada com a minha agressividade
repentina.
— É isso mesmo que você ouviu, ou será que além de ser uma vadia
tóxica, também é surda? — pergunto e mesmo sem me virar para olhar, eu
posso sentir que muitas pessoas estão olhando nosso confronto. — Enquanto
eu estive fora por esses dias, percebi algo que nunca tinha notado e sabe o
que é? — pergunto e não espero por resposta. — Você sempre teve medo de
mim e sabe por quê?
— Mas o que você está falando? Eu, com medo de você? — Kimberly
pergunta, tentando rir de forma debochada, mas não conseguindo.
— Sim, medo! E sabe o porquê, Kimberly — paro de falar e dou um
sorriso de lado. — Porque sempre soube e sempre vai saber que eu sou mais
capacitada que você. Eu sou muito mais inteligente do que você, eu que vim
de uma família humilde e só queria paz para estudar. E você nunca conseguia
me entender, mas ao invés de focar no que era importante, ficou mais focada
em mim e em como poderia me desestabilizar. Pobre garotinha adolescente é
você! — falo, negando com a cabeça.
— Kim, olha o que... — Dafne tenta falar, mas Lara dá um passo para
frente.
— Fica caladinha, seu projeto de puta, e deixe a minha amiga pisar mais na
sua amiga. Beleza? — Lara confronta e eu me controlo para não rir do que
ela acabou de falar.
Meu foco é outro, com certeza!
— Kimberly, eu não estou mais disponível para os seus joguinhos
maldosos de ensino médio. Aprenda de uma vez por todas que nós, aqui na
faculdade, somos concorrentes. E eu, como uma boa concorrente que sou…
— paro por um breve tempo para dar um passo para frente e ficar cara a cara
com a vaca —, vou te destruir, vou pisar tanto em você com a minha
competência, que farei você chorar lágrimas de sangue a cada vitória que eu
conquistar. Então, eu sugiro que você e seus amigos não me atrapalhem, ou
da próxima vez, não será um aviso ou uma surra, da próxima vez, será um
verdadeiro massacre — acabo de falar, me sentindo totalmente trêmula por
dentro, e olho para Lara.
— Garota, você realmente mudou. Acabou aí? — Lara pergunta, sorrindo
com satisfação.
— Eu estou apenas começando, vamos para aula? — pergunto,
caminhando até ela.
— Sim! — responde sorrindo. — Depois vamos tomar umas bebidas?
— Com certeza! — respondo e ela me puxa. Andamos lado a lado, nos
distanciando de Kimberly e as suas amiguinhas.
Não gosto de ser assim. Porém, às vezes, é necessário para que as pessoas
saibam seu lugar. E agora espero que Kimberly e os outros entendam isso de
uma vez por todas.

A minha volta à aula foi extremamente confusa, mas totalmente


satisfatória. Eu tive aula com o senhor Serqueira e para a minha surpresa, o
homem não agiu de modo rude comigo. E ainda teve o fato de que Jonas,
Juliano e Gabriel, não olharam uma vez sequer na minha direção. Pude ver
que eles ainda tinham machucados da surra que levaram de Axel e os outros,
mas não demonstraram querer retaliação.
Seja como for, eu não me importo com isso, com nada disso realmente.
Tudo o que eu quero é terminar esse curso e o amanhã será o amanhã.
Apesar de estar muito satisfeita de não ser mais importunada por pessoas tão
baixas, me sinto mais leve por ter descarregado todo aqueles anos de
angústia.
E isso, com certeza, não tem preço. Agora é o momento de deixar tudo no
passado e focar no presente momento. Que é mais precisamente em estar
sentada na garupa da moto de Lara.
Meu Deus, isso é louco!
— Eu vou cair, Lara! — grito para que ela me ouça, já que estou usando
capacete.
— Relaxe, Dora, estamos chegando! — Lara grita de volta.
— Eu não queria subir nisso aqui — grito assustada quando passamos
entre os carros.
— Tão corajosa com a loira falsificada, mas tão covarde em uma moto —
Lara debocha e eu aperto mais meus braços a sua volta.
— Eu sou mesmo! — exclamo nervosa.
— Pronto, pronto, chegamos! — Lara diz, parando sua moto em frente a
um lugar com uma fachada bonita.
— Onde estamos? — pergunto após descer da garupa, tirar o capacete e
bagunçar meus cabelos para soltar os cachos amassados.
— No pub do meu irmão idiota — Lara fala com desdém. — Vem, vamos
entrar e tomar alguma coisa.
— Nunca vim a esse lugar, na verdade, eu nunca vim por essas bandas —
digo ao caminhar com Lara até a entrada.
— Sempre tem uma primeira vez, minha amiga. Agora vamos! — Lara
chama e eu dou de ombro, a seguindo.
De cara, quando entramos no lugar, sou surpreendida com a temática
inglesa do lugar. Toda estrutura é feita com madeira escura, muito linda e
bem acabada. Há algumas pessoas sentadas conversando, bebendo chopp ou
qualquer outra coisa. Lara me puxa em direção ao balcão e lá está uma
mulher com cabelos pintados de rosa e piercings. Seu nome é Zaida, pelo o
que ouvi de Lara, e ela me parece ser uma mulher gentil.
— Olá, Larinha, olá, o que vão querer? — Zaida sorri feliz para Lara e
acena a cabeça na minha direção.
— Zah, eu vou quer um chopp, e você, Dora? — pergunta minha amiga e
antes que eu possa responder, ouço meu celular tocar na bolsa.
— Só um momento! — respondo, abrindo a bolsa para pegar o celular.
Quando vejo o nome de Axel piscando na tela, algo vem em minha mente.
"Oh Deus, eu esqueci de dizer a ele que sairia com Lara!"
— Alô! — digo rapidamente.
— Por que não me avisou que iria sair, Isadora? — Axel diz friamente e eu
reconheço a minha gafe. — Ainda mais no lugar de Álvarez. — Como ele
sabe onde eu estou? Sinto um arrepio atravessar a minha nuca e de modo
involuntário, eu procuro por Axel no lugar.
Não, não deve ser possível!
— Onde você… — começo a dizer, mas alguém tomba em mim, fazendo o
meu celular caí no chão.
A trombada é tão grande, que eu penso que meu corpo vai bater com tudo
no chão também, mas felizmente, braços fortes me seguram. Dou um grito
agudo e dolorido quando sinto alguns fios dos meus cabelos serem puxados
da minha cabeça. Não sei como, mas a pessoa que me impediu de cair no
chão acabou, acho que sem querer, me deixando careca.
— Sinto muito, sinto muito mesmo, eu tropecei aqui no tapete. Eu te
machuquei? — Franzo o cenho ao reconhecer a voz, levanto a cabeça e vejo
o mesmo homem que encontrei outro dia no restaurante.
— Ângelo, seu imbecil, quer matar a minha amiga! — esbraveja Lara. —
Você está bem, Dora?
— Sim, sim, estou bem! — confirmo, passando a mão na minha cabeça.
Olho pela primeira vez para o rosto bonito e gentil do homem em minha
frente. O mesmo homem que disse que eu parecia sua mãe. — Não foi nada
senhor, eu estou bem. — Tento aliviar a situação, mas o Ângelo me encara
muito fixamente.
— Nossa! — diz e soa de modo saudoso. Sem que eu possa esperar, ele
toca levemente o meu rosto, me fazendo jogar a cabeça para trás de pura
estranheza. — Así como ella — murmura, negando com a cabeça.
O que está acontecendo aqui?
— Se eu fosse você, Gutierrez, eu tiraria sua mão da minha mulher no
mesmo momento. Ou eu vou colocar fogo nesse lugar. — A voz furiosa de
Axel se faz presente.
— Sua mulher? — Lara e Ângelo perguntam ao mesmo tempo e eu não
consigo olhar para ninguém além de Axel.
Por que essas coisas têm que acontecer assim?
E agora, como sairei dessa situação tão constrangedora?
O dia de hoje foi repleto de situações desagradáveis, a primeira dela foi ter
que deixar a minha menina na universidade sozinha, tendo que lidar com as
merdas que deixou de lado, mas pelo menos, ela não teria que lutar pela sua
vaga como estudante. Já que, antes, eu havia entrado em contato com a
reitoria do lugar, dado uma quantia considerável para que eles deixassem a
Isadora dar continuidade a sua formação.
Ela quer isso e como faz parte de nós agora, eu tinha que fazer algo.
Não, na verdade, eu não tinha que fazer nada, mas eu fiz. Não sei o porquê,
mas fiz de qualquer modo.
Acho que conhecer os pais dela me fez perceber uma coisa, que eu deixei
de lado de qualquer jeito. Isadora não pertence a esse mundo, tudo na vida
dela foi agradável de certa forma. Bons pais, uma boa casa, objetivos de vida,
sonhos e desejos a serem alcançados.
E mesmo que eu a queira para mim e tenha lhe marcado como minha,
sabendo que, de fato, eu não poderia deixá-la longe de mim por muito tempo,
eu quero tudo para aquela menina tola.
Foda-se!
Fico puto com esses pensamentos idiotas e totalmente insignificantes, mas
eu não sou homem de fugir. Nunca fui e não será agora que farei isso.
A cada dia que passa, Isadora está mais e mais dentro da equipe. Os outros
fodidos estão acostumados a tê-la por perto e eles estão próximos até demais,
para o meu desagrado. Seu treinamento será um pouco mais longo, pois é
nítido desde o momento que coloquei uma arma na sua mão que ela não sabe
lidar com isso.
Se eu estivesse em outro momento, poderia até rir com as lembranças dos
olhos assustados da minha menina tola no treinamento dessa manhã e...
Mas que porra!
Por que eu estou pensando nisso logo agora?
Ainda mais quando estou de frente para Rodrigo Álvarez, um homem
desprezível que é associado de Ângelo Gutierrez. Essa reunião foi marcada
pelo filho da puta pretensioso do Ângelo, mas ele acabou saindo sem mais
nem menos. Me deixando muito puto, para dizer o mínimo.
— Onde foi o Gutierrez? — Russel pergunta, franzindo o cenho.
— Não sei, aquele lá faz o que quer e quando quer — Rodrigo Álvarez
responde de forma arrogante, bebendo seu scotch.
— Eu só preciso do nome! — falo irritado e me levanto, na intenção de
preocupar o filho da puta no térreo do pub.
— Isso eu não posso te dar, pois ele não me contou. — Não viro em
direção a Rodrigo.
— Você não é associado a ele nos negócios? — Earl questiona com
firmeza.
— Sim, mas essa é uma barganha pessoal de Ângelo. — A dureza da voz
de Rodrigo deixa Earl irritado.
— Então saia daqui! — ordena Earl, com raiva.
— Você não me diz a onde ir, principalmente no meu lugar, porra —
Rodrigo responde entredentes, mas eu não faço questão de olhar, pois algo
me chama a atenção lá embaixo.
— Earl! — Craig chama em tom de aviso.
— Foda-se, porra, o que ela faz aqui? — pergunto entredentes, cerrando a
porra dos meus punhos.
— Chefe, o que houve? — Russel pergunta, se vindo na minha direção.
— Axel? — ouço Craig me chamar, mas eu não consigo desviar os olhos
dela.
— Isadora! — confirmo irritado.
— Dora? O que houve? — Earl pergunta, confuso.
— Ali! — Aponto com o dedo na direção dela, acompanhada de uma
mulher ruiva.
— Oh, merda! — Russel e Earl gemem em uníssono.
— Aqueles filhos da puta não a levaram para casa? — Craig pergunta,
falando dos seguranças que ficaram de levar Isadora.
— Pelo visto, não! — respondo, trincando os dentes, e sem pensar duas
vezes, eu pego o meu celular.
— Alô! — Isadora atende rapidamente.
— Por que não me avisou que iria sair, Isadora? — questiono friamente. —
Ainda mais no lugar de Álvarez. — Esse é o lugar que jamais a traria, pois eu
não confio nos Álvarez e, muito menos, no Gutierrez.
Mesmo daqui, eu posso ver que Isadora ergue a cabeça para me procurar.
Ela sabe que eu estou a encarando, ela sente a minha presença e somente esse
fato me deixa extremamente satisfeito.
Eu posso até mesmo esquecer que estou puto da vida, somente porque a
minha menina consegue saber exatamente que estou perto. Ah Isadora, você
será a porra da minha morte. Sem pensar em mais nada, eu vou em direção a
ela, nem se eu quisesse, poderia deixá-la sem mim.
— Onde você… — Isadora começa a perguntar, mas é interrompida por
algo que faz o seu celular ficar mudo após um barulho alto.
— Isadora! — chamo, mas não obtenho resposta.
Apresso o meu passo e vou na direção do balcão. Quando chego ao meu
destino, sou surpreendido ao ver que a minha menina está nos braços de
Ângelo. Seu pequeno e magro corpo está sendo acolhido pelo desgraçado,
que a olha de modo fixo, quase como se estivesse perdido em pensamentos.
Mesmo a poucos metros de distância, eu a vejo tentando sair do seu
alcance, mas o filho da puta ainda não a deixa ir. Somente isso faz o meu
sangue ferver e meus olhos serem nublados por uma nuvem vermelha de
ódio.
Ninguém toca na minha mulher, ninguém além de mim.
— Se eu fosse você, Gutierrez, eu tiraria a mão da minha mulher no
mesmo momento. Ou eu vou colocar fogo nesse lugar. — Tento esconder a
minha fúria, mas é em vão. Foda-se!
— Sua mulher? — Ângelo e a mulher ruiva que está com Isadora
questionam em uníssono. Mas eu não tenho intenção de explicar, tudo o que
quero é tirar as mãos desse idiota pretencioso da minha Isadora.
— Sim! — respondo sem olhar para ninguém além de Isadora.
— Meio louco, né amigo? — a ruiva reclama, cruzando os braços, mas eu
não lhe dou um segundo olhar.
— Axel! — Isadora chama com os olhos amplos. — O que faz aqui? —
pergunta curiosa e eu encaro com irritação os braços de Ângelo ao seu redor.
— Oh! Pode me soltar agora senhor, eu estou bem. Muito obrigada por
impedir que eu caísse de cara no chão — fala, saindo dos braços de Gutierrez
para o bem-estar e saúde física dele.
— Eu é que sinto muito por quase derrubá-la — Ângelo dá um de seus
sorrisos completos e quero socar sua cara.
Mas antes que eu possa dar um passo para frente, Isadora para diante de
mim e sorri do modo inocente que somente ela pode fazer.
Mas que diabos, menina!
— Oi, Ax! — diz e passa os braços em minha cintura. Toda a minha raiva
evapora rapidamente, assim que eu a tenho em segurança ao meu lado. Não
tento encontrar explicação para isso, porque eu sei que não vou conseguir
nenhuma.
— Porque não me avisou, sabe que não é seguro — a repreendo, puxando-
a para mim.
— Desculpe, eu só vim conversar com a minha amiga. — Isadora se vira e
aponta para a menina ruiva, que acena mesmo que seu cenho esteja franzido.
— Essa é a Lara, lembra que eu já te falei sobre ela? — Isadora pergunta e eu
confirmo.
— Engraçado como você falou de mim, mas não me falou sobre ele, né,
amiga? — a tal Lara solta de forma sarcástica, mas eu não me importo.
Ela é insignificante para mim.
— Pequena Lara, sempre venenosa. — Ouço a voz de Ângelo.
— Vá a merda, seu retardado! — resmunga furiosa. Nesse momento,
aparece Rodrigo e encara a ruiva de modo autoritário.
— Lara, o que faz aqui? — Rodrigo questiona.
— Vim beber como uma amiga, não pode mais não, irmão mais velho? —
Lara fala e dessa vez eu passo meus olhos dela para o Rodrigo.
Agora, olhando com mais atenção, eu posso ver alguns traços semelhantes
entre eles. Mas isso não quer dizer nada, já que eu e Craig não temos nada a
ver fisicamente um com o outro. E se eles são irmãos ou não, isso não é da
minha conta.
O que me interessa é em como a minha Isadora é amiga de um Álvarez e
eu não fiquei sabendo. Porra, odeio ser pego desprevenido.
— Irmão? — Isadora pergunta para a amiga, que faz um gesto desleixado
em direção a Rodrigo.
— Sim, esse aqui é o Rodrigo, meu irmão idiota que te falei. — Lara
aponta e Isadora desvia o olhar, desconfortável com a agressividade da
amiga.
— Lara! — Isadora repreende a amiga e se vira para o Álvarez. — Prazer
conhecê-lo! — cumprimenta e ele acena com a cabeça.
— Creio que a minha irmãzinha falou muito mal de mim — Rodrigo diz,
olhando para irmã de soslaio.
— Não precisa responder ao idiota pomposo aqui, Dora — Lara diz e
Isadora nega com a cabeça, soltando um suspiro.
— Lara, por favor, não me deixe desconfortável — Isadora súplica e a
amiga dá um sorriso de lado, olhando na minha direção.
— E esse aí, como assim, você é mulher dele? — a amiga pergunta e
mesmo sem me prestar a olhar para outro lugar que não seja para Isadora, eu
posso sentir os olhares na minha direção.
— Bem, é que…. — Isadora olha para cima, na intenção de encontrar meu
olhar. — Lara, esse é Axel Cox, meu… namorado — Isadora fala e sua
amiga arregala os olhos.
— Cox? Axel Cox? — Lara questiona alarmada e o seu irmão a segura
pelo braço.
— Algum problema? — Isadora pergunta e eu sinto meu corpo ficar
rígido.
— Bem, não sei, depende se você souber o que esse homem faz para viver
— Lara comenta, apontando para mim em desafio, e dessa vez é a Isadora
que fica rígida.
— Sim, eu sei — responde a amiga, encarando como se quisesse pedi-la
por algo. Não sei como, mas sua amiga entende e assente com a cabeça, não
falando mais nada.
— Chefe, está acontecendo alguma coisa aqui? — Earl aparece com
Russel.
— Não, Earl! — respondo friamente, querendo somente sair daqui. Mas
não antes de ter o nome do filho da puta.
— Dorinha, mulher, você é uma fugitiva. Por isso que gosto de você —
Russel fala, fazendo Isadora relaxar no mesmo momento.
— Por que sou fugitiva? Eu não sabia que alguém ia me buscar —
responde sorrindo para Russel. — Onde está o Craig? — pergunta e Earl
aponta para onde estávamos.
— Ele achou melhor ficar bebendo — Earl fala rindo.
— Nós queríamos saber por que o chefe ainda não está atirando em alguém
— Russel diz e eu me controlo para não socar sua cara.
— Eu tenho que admitir que estou surpreso em saber que a amiga da
pequena Lara é namorada do famoso Axel Cox — Ângelo se pronúncia,
chamando a atenção de todos.
— Sim, então fique longe dela — não me controlo e falo entredentes,
fazendo o idiota pretensioso levantar as duas mãos em sinal de rendição.
— E não há necessidades de brigas aqui no meu pub — Rodrigo avisa
seriamente e sua irmã revira os olhos.
— Foi um acidente, Ax — Isadora fala em tom baixo e eu aperto mais
meus braços a sua volta.
— Por que não subimos e conversamos? — Ângelo sugere e eu cerro os
olhos na sua direção.
— Você me deve, Gutierrez! — reclamo e ele olha de Isadora para mim
antes de assentir.
— Sim, eu vou dar a informação que precisa — diz sem mais nenhum
traço de sarcasmos ou qualquer outra emoção idiota.
— Vamos com vocês, não é, Dora? — Lara se levanta e estende o celular
de Isadora para ela. — Aqui, eu recuperei quando você deixou cair.
— Obrigada! — Isadora agradece aliviada.
— Lara! — Rodrigo chama, mas ela já está puxando a minha menina com
ela.
— Licença, rapazes, enquanto tratam de suas coisas, minha amiga e eu
vamos conversar e falar mal de vocês — a ruiva fala e Isadora olha na minha
direção com um olhar de desculpas.
— Noite de garotas! — fala como se isso me explicasse alguma coisa.
Que diabos é isso?
— Nossa garota está crescendo, não é, chefe?! — Russel exclama,
soltando um suspiro, enquanto vejo Dora se afastar com sua amiga muito
confiante para o meu gosto.
— De onde diabos você tirou que ela é “nossa”, Sanchez? — cuspo as
palavras cerrando os punhos, para evitar que eu faça uma merda.
Chega dessa merda!
Eu vim aqui para ter as informações que eu preciso e por mais que eu
queira mais explicações da minha menina sobre sua amizade com uma
Álvarez, não é o momento certo, mais tarde eu vejo isso.
Deixo com que a Lara me leve para o andar de cima do pub, não falo nada
durante o caminho. E não posso deixar de pensar no quanto a minha cabeça
está explodindo de tamanha curiosidade.
Não esperava que o Axel e os meninos estivessem aqui, ou que fosse
conhecer o irmão de Lara. Que por sinal, é um homem muito bem apanhado,
e posso dizer abertamente que esses dois irmãos têm aparências semelhante.
Não tanto, mas existem lembranças que dão um indício de que eles têm
parentescos.
Mas não é isso que está me deixando tão pensativa, o que quero saber é o
que Axel faz aqui.
O que o irmão de Lara e o Ângelo Gutierrez tem a ver com Axel e os
outros?
Tudo bem que naquele dia em que eu conheci o Ângelo, no restaurante do
tio de Lara, Axel ficou furioso somente com a possibilidade de estar
conhecendo o homem. Agora percebo que isso vai além de um simples
encontro em restaurantes, avisos sobre índoles duvidosas e muitas outras
coisas. Para falar a verdade, até mesmo a família de Lara está envolvida com
Axel e a equipe.
Inacreditável isso, muito inacreditável!
É como mamãe sempre fala, o mundo é muito pequeno e quando você
menos espera, alguma surpresa cai no seu colo.
— Dora! — Ouço a voz de Lara me chamar e balanço a cabeça para me
livrar dos pensamentos.
— Sim? — pergunto e ela aponta com o dedo para uma garçonete trazendo
nossas bebidas. — Pensei em pegar um chopp para você também. — Lara dá
de ombros e agradece a garçonete.
— Oh sim, obrigada! — agradeço, pegando minha bebida.
— Vai, começa a me contar sobre seu namoro — Lara pede e eu bebo um
gole do chopp antes de voltar minha atenção a ela.
— Eu vou, na verdade, eu quero te contar tudo. Mas antes você tem que
me dizer quem é você — falo diretamente, fazendo Lara ampliar os olhos
brevemente.
— O que você quer dizer? — Lara tenta desconversar, mas eu não a deixo
ir para esse caminho.
— Você sabe o que eu quero dizer, Lara. — Paro brevemente, soltando um
suspiro. — Eu preciso saber se posso confiar em você. Porque eu sei, eu sinto
que por mais que desejamos ser amiga uma da outra, é preciso que haja
confiança — esclareço, fazendo Lara desviar os olhos de mim por um tempo.
— Confiança, não é? — Lara fala de um modo sério, qual nunca ouvi
dela.
— Sim, você me fala a verdade e eu vou te retribuir. — Encolho meus
olhos ao terminar de falar.
Se eu for falar com outra pessoa sobre as condições que Axel e eu nos
conhecemos, é preciso de mais do que juras de amizade eterna. Eu necessito
saber de algo também, porque Lara sempre foi uma incógnita para mim,
assim como eu fui para ela.
Também não é para menos, já que a minha vida sempre foi muito sem
graça até a invasão repentina de uma equipe de mercenários sanguinários.
Não posso ser hipócrita em dizer que isso não vai ser bom para mim, porque
se tem uma coisa que Axel me ensinou, é que na vida é preciso ser o
predador, por mais que você seja somente uma presa na maior do tempo.
Lara Álvarez é minha amiga, a única que já tive durante todo esse tempo.
Mas apesar de termos essa recente amizade, eu não posso colocar tudo em
risco. Porque o trabalho que estou fazendo com Axel vai além de perigoso,
ele pode ser mortal, então será bom poder compartilhar coisas com alguém
que aparentemente vai poder entender a dificuldade da coisa. E essa mulher
espirituosa em minha frente, sinto que vai poder ser o elo de confiança que
tanto almejo.
— Por onde será que devo começar? — Lara pergunta, dando um sorriso
cheio de sarcasmo.
— Não sei, acho que do começo. — Reviro os olhos, bebendo mais da
minha bebida.
— Aí Dora, essa doeu! — ela diz, colocando a mão no peito.
— Não, não doeu! — digo, apontando na sua direção. Inconscientemente,
eu viro minha cabeça na intenção de saber a localização de Axel, mas não
consigo encontrá-lo em lugar nenhum.
— Procurando seu namorado? — Lara questiona, me fazendo fica rígida.
— Bem, eu não… — tento dizer algo por ser pega no flagra, mas Lara ri
de mim.
— Dora, garota, não precisa ficar tão assustada — Lara fala, ainda rindo
do meu nervosismo.
— Eu não estou assustada — reclamo sem calor.
— Se você está dizendo, eu vou acreditar — Lara diz, me olhando por
baixo dos cílios.
— Você disse que ia começar a dizer, certo? — comento, me sentando de
forma mais confortável.
— É, eu disse! — diz e todo divertimento de antes se evapora da sua
expressão. — Eu não gosto muito de falar sobre a minha família, porque
todas as coisas ruins que me aconteceram é sempre por causa dela — Lara
revela e eu franzo o cenho.
— O que você quer dizer, os integrantes de sua família são pessoas ruins?
— questiono, nervosa com a possibilidade deles a maltratarem.
— De certa forma, sim, mas não como você pode estar imaginando — ela
dá um sorriso de lado e eu relaxo na hora.
— Certo, então o que você quer dizer? — questiono novamente.
— Minha família é considerada uma das mais ricas do Sul do Brasil, para a
sociedade de Santa Catarina, eles são executivos como qualquer outro, mas
não é bem assim. — Lara faz uma pausa, olhando em volta. — Esse lugar
aqui não é só um pub qualquer para se tomar um chopp com uma amiga, aqui
também é onde acontece o maior esquema de lavagem de dinheiro. — As
palavras de Lara fazem meus olhos se arregalaram.
— Você quer dizer que… — começo a falar, mas sou interrompida por
ela.
— Todos integrantes da minha família não passam de criminosos. — Seu
tom é amargo e desprovido de emoção.
— Eu não imaginava isso — solto ainda surpresa.
— Meu pai é um dos associados a um cartel colombiano antigo, eles são
amigos de longa data e posso ousar a dizer que ele é o homem que esse
narcotraficante mais confia. E foi justamente pela confiança que a minha
família é responsável por toda lavagem de dinheiro do Cartel de Ângelis —
ela vai dizendo e me deixando pasma. — Tudo isso sempre foi muito
perigoso, um passo em falso e as coisas podem ficar tão ruins que metade
desse estado pode cair como em uma porra de um castelo de cartas — Lara
para de falar e posso ver que o seu punho está fechado com força.
— Você também está nisso? — pergunto curiosa e ela balança a cabeça de
um lado para o outro.
— De certa forma, sim, e isso porque eu sou a merda de uma Álvarez. Eu
já nasci com um alvo nas costas, minha amiga. — Posso ver a tristeza na sua
voz.
— Posso entender o que você está falando — digo com pesar e ela nega
com a cabeça.
— Não Dora, você pode se sensibilizar com isso, mas entender é realmente
impossível. Porque até eu, que nasci dessa merda toda, não consigo entender,
às vezes — Lara comenta e eu abaixo a cabeça para encarar a minha caneca
de chopp quase vazia.
— Você teve uma vida difícil, não foi? — indago e ela faz um gesto de
desdém.
— Quando você cresce no meio de tiroteios sem sentido, acaba se
blindando. Eu sempre soube como me defender, como sempre fazer algo por
mim sem esperar pelos outros. Fui adulta muito cedo Dora, não vivi a
infância e a adolescência de uma garota normal, meus pais são frios como
todo o continente do Alasca — ela desabafa. — Meu irmão é aquele idiota
autoritário que você viu ali, minha irmã é gentil, mas sem opinião própria, e
eu… bem, eu sou eu — ela para de falar, dando um sorriso cheio de mistério.
— Você é muito forte! — falo em tom orgulhoso e ela nega, rindo.
— Não é bem assim, porque se eu fosse forte como você diz aí, eu teria me
livrado do meu maior martírio — Lara fala com desgosto, sorvendo todo o
conteúdo da sua caneca.
— E o que é isso? — pergunto, vendo-a levantar a mão para chamar a
garçonete.
— Me livrar do meu casamento arranjado com Ângelo Gutierrez — Lara
solta a bomba e minha boca se arreganha em surpresa.
Fico parada por um tempo, sem saber o que realmente falar para tentar
aliviar a raiva de Lara. Eu fui pega totalmente de surpresa agora, porque isso
é uma coisa que nunca iria passar pela minha cabeça.
Não fazia ideia de que essa coisa de casamento arranjado ainda acontecia
nos tempos em que vivemos, mas agora, com a minha amiga falando isso de
modo tão raivoso, acho que é bem possível sim.
O mais trágico disso tudo é que eu já estive junto deles dois por duas vezes
e todas essas duas vezes pude notar o clima ruim no ar.
Agora eu sei exatamente o porquê de todo o climão.
— Você não gosta do Ângelo, não é? — questiono confusa e ela me olha
horrorizada.
— Claro que não! Aquele homem é um idiota, um verdadeiro imbecil —
Lara responde enfurecida e eu levanto as minhas mãos em rendição.
— Tudo bem, tudo bem eu já entendi — falo rapidamente e ela relaxa no
seu lugar.
— Odeio não conseguir me livrar disso, odeio o fato de não ter escolhas e
odeio mais ainda a ideia de subir na porra do altar com aquele desgraçado —
Lara diz e eu mudo de lugar para me sentar ao seu lado.
— Ele é tão ruim assim? — minha pergunta saí baixa e ela me encara por
um tempo.
— Ângelo é o melhor amigo do meu irmão, mas isso não é o pior — Lara
para de falar e desvia o olhar. — Ele é filho de Jerónimo de Braganza, chefe
do Cartel de Ângelis — absorvo as palavras de Lara sem saber o que falar.
— Herdeiro de um cartel — digo e Lara solta um som enojado de
confirmação. — Então, o que ele faz aqui? — questiono e ela me responde
dando de ombros.
— Não sei te dizer, tentei descobrir sobre isso, mas nunca tive resposta.
Tenho uma leve suspeita de que ele e o pai tem laços cortados, até porque
Ângelo não usa o seu sobrenome. E nesse mundo, um nome, uma ligação
com alguém, é muito importante — Lara conta e eu concordo com a cabeça
de modo lento.
— Eu não entendo nada sobre isso, mas se você diz, eu acredito —
confirmo e ela olha para mim com um sorriso.
— Você é uma coisinha muito incrível, Isadora — Lara fala com
admiração e eu não posso fazer nada além de ficar muito constrangida.
— Eu? Mas porque você… — Não termino de falar e Lara dá uma risada
divertida.
— Dora, você tem noção que eu te contei tudo isso e você não duvidou de
mim em nenhum momento — Lara comenta, ainda rindo de forma leve.
— Por que iria duvidar de você, se estamos aqui, pedindo confiança uma a
outra? — Dou de ombros, me sentindo mais leve pelo efeito que o álcool está
fazendo em mim.
— Agora você sabe o quanto a minha família é podre, sorte sua que seus
pais não são assim — ela fala, erguendo sua nova caneca de chopp.
— Nisso realmente tenho sorte, meus pais são incríveis e tenho certeza de
que eles adorariam te conhecer — dou um sorriso singelo. — Eles
conheceram Axel e eu ainda dou risada ao lembrar disso, porque… — Paro
de falar ao sentir os olhos de Lara sobre mim. — O que foi? — pergunto
confusa.
— Como Axel Cox, um mercenário conhecido mundialmente, se envolveu
com a minha amiga doce, gentil e tão… humana? — a sua pergunta não me
surpreende.
— Eu não sabia que ele era tão conhecido assim — digo sem graça.
— Amiga, é aquele homem que você apresentou como seu namorado que
as pessoas do submundo chamam para resolver um problema que é
impossível de ser resolvido — Lara conta e eu engulo em seco.
— Axel não é bem meu namorado, para falar a verdade, eu não sei bem o
que somos. Ele se apresentou para os meus pais assim, mas eu não sei se
podemos nos classificar dessa forma. — Involuntariamente, começo a
procurar por ele pelo lugar.
— Eu não entendo, explique, por favor — Lara pede calmamente e eu
solto um suspiro.
— Tudo começou quando o encontrei ferido gravemente no beco perto da
minha antiga quitinete — começo a falar e depois disso eu não paro mais.
Conto para Lara tudo, desde o momento em que eu, muito sem amor a
minha segurança, fiquei ao lado de Axel no beco enquanto esperamos pelo
seu resgate. Falo o modo em que eu ansiei pela sua vida, de como eu desejava
que ele não morresse e como fiquei assustada ao ver aqueles três homens
intimidadores aparecerem.
Lara fica muito irritada quando conto que se não fosse por Axel, os
meninos teriam me matado. E sorrio ao pensar na evolução que nós já
tivemos daquela época para agora.
Me lembro como esse homem me intimidava até o último fio de cabelo,
mas que no fim, apesar dos pesares, descobri nele um protetor muito feroz e
capaz de qualquer coisa para me manter bem.
É a minha vez de surpreendê-la ao dizer que agora sou um membro da
equipe de Axel, uma coisa da qual eu ainda estou me acostumando. Mas que
para ser sincera com ela e comigo mesma, estar fazendo parte disso me deixa
muito satisfeita. Que apesar de me assustar com a possibilidade de ver tudo
de ruim que as pessoas podem ser, eu sigo pensando em fazer algo útil para o
meu crescimento pessoal.
Axel está me ajudando com isso, eu realmente sei que as coisas entre nós
não são as mais convencionais possíveis, mas eu… eu sou muito mais agora
do que antes.
O momento que mais me deixa constrangida, é quando ela me pergunta se
Axel foi o meu primeiro homem. O meu rosto esquenta muito com a
lembrança de nós dois juntos em nossos momentos íntimos.
É claro que isso rende uma boa dose de risada da minha amiga, ela sempre
se diverte quando estou assim. E de qualquer modo, tudo o que posso dizer a
ela é que a minha primeira vez e todas as vezes em que entrego o meu corpo
a Axel, ele sabe exatamente como mexer com cada parte de mim, incluindo
meu coração também.
— Aí Dora, você está perdidamente apaixonada por ele! — Lara grita e eu
pulo em cima dela para tapar sua boca.
— Lara de Deus, por favor, não grite algo como isso — peço em um
sussurro sofrido.
— O quê? — ela se faz de desentendida. — Que você está apaixonada? —
indaga de forma travessa e eu solto um som sofrido.
— Eu não posso estar apaixonada por ele, eu te contei como as coisas
aconteceram. Ninguém se apaixona pelo seu raptor, isso é meio louco, não?
— falo exasperada e Lara me encara com desdém.
— Amiga, esse homem deixou de ser seu raptor há muito tempo. E sim, se
apaixonam sim, síndrome de Estocolmo é o nome de uma doença que vítimas
desse tipo de situação desenvolvem em alguns casos. — Lara coça a cabeça
de forma confusa.
— Axel é tudo aquilo que eu nunca sonhei na minha vida. Esse homem é
um mistério para mim e acabei descobrindo que sou viciada nisso, mas não
creio que seja essa doença aí que você disse. — Bebo o meu chopp novo e
solto um suspiro.
— Dora, mulher, que profundo — Lara diz e eu olho para ela meio zonza.
— E, não é? Tudo o que sei é que estando apaixonada por Axel ou não, eu
ainda sei que ele vai se cansar de mim. De algum modo, eu sei disso, e esse
pensamento me apavora — confesso o meu segredo mais profundo de modo
tão simples com Lara, que chega me surpreender.
— O que você quer dizer? — Lara pergunta e eu encosto minha cabeça na
cadeira acolchoada, fechando os olhos.
— Acho que estou trabalhando ainda com essa questão de confiança que
Axel tenta me passar. — Dou de ombros, sentindo meu corpo afundar mais.
— Não sei, eu não vivo um romance de conto de fadas. Meu príncipe está
mais para o dragão negro assassino, mas gosto disso. — Olho fixamente para
Lara. — Gosto do fato de Axel não ser um príncipe encantado.
— Quem sou eu para julgar você e o seu dragão negro assassino, não é?
Vamos brindar a isso então! — sorrio e seguro minha caneca de chopp no
alto para que Lara bata a dela na minha.
— Viva! Viva ao seu noivado arranjado com um traficante e eu ao meu
vilão — sorrio meio zonza e Lara me acompanha.
— Viva porra! — Lara grita, me fazendo cair na risada.
Oh Deus, eu estou zonza de verdade!
— Isadora, Lara! — Duas vozes fortes se fazem presentes, fazendo o meu
riso com o de Lara cessar no mesmo momento.
Bem diante de nós duas está Axel e o irmão mais velho de Lara, os dois
estão com uma expressão nada boa. Atrás deles estão Earl e Russel, que
nitidamente estão tentando não rir, Craig com a expressão fechada de sempre
e Ângelo olhando fixamente para Lara, sem esconder a surpresa.
— Olha quem chegou, os homens sem lei — Lara solta de forma leve e eu
não consigo tirar os olhos de Axel furioso.
— Venha Lara, vou te levar para casa. — Seu irmão é o primeiro a avançar
e a puxa pelo braço.
— Me leve para sua casa Rô, papai está um saco — Lara fala enquanto
fica de pé, mas antes que se deixe ser guiada pelo irmão, ela se vira para
Axel. — Cox, eu espero que você nunca seja um cuzão com a minha amiga,
ou eu serei capaz de matá-lo — minha amiga ameaça, me fazendo arregalar
os olhos.
— Fica quieta, Lara! — Rodrigo fala entredentes.
— Me deixe ameaçar o dragão negro assassino — Lara fala e dessa vez,
Ângelo vai até eles.
— Se quiser, eu cuido da bebum, Rodrigo — Ângelo sugere e Rodrigo
nega com firmeza.
— Ela é minha responsabilidade, você fica aqui e eu vou. — E com isso,
ele começa a andar com a irmã.
— Me liga amanhã, Dorinha! — Lara grita enquanto é arrastada, mas eu
não encontro minha voz para falar, já que estou presa ainda ao olhar feroz de
Axel.
— Nossa, Dorinha, você só se supera. Por que não me esperou para
ficamos bêbados juntos? — Russel é o primeiro a quebrar o silêncio.
— Russel, se você abrir a boca mais uma vez, eu vou atirar em sua bunda
louca — Craig promete e eu engulo em seco.
— Vamos para casa, Isadora — Axel fala, estendendo a sua mão para
mim, e eu aceito.
— Ax, nunca tomei chopp, acho que gostei — solto sem sentido e ele me
encara, impassível.
— Em casa, Isadora — diz friamente e eu confirmo, tropeçando um pouco
antes de me firmar.
— Ax, eu não pedi para Lara te chamar de dragão negro assassino, viu. Só
foi um comentário — solto novamente sem segurar a língua e dessa vez eu
escuto a gargalhada de Earl e Russel.
— Uma bêbada sincera, quem imaginava — Earl diz e eu olho para ele,
dando um sorriso.
— Por Deus, só vamos embora — Craig reclama.
— Alguém mordeu sua bunda, Craig? — Earl pergunta com sacarmos.
— Foda-se! — o rosnado raivoso de Craig me faz negar com a cabeça. Eu
gosto desses rapazes!
Tudo começa a ser como um borrão para mim quando começamos a andar
para fora do pub. Eu não imaginei que tinha bebido tanto chopp com Lara e
apesar de saber que amanhã eu posso acordar doente do estômago, eu gostei
disso.
Gostei da noite, de como Lara e eu conversamos sobre nossa vida. Gostei
realmente disso, foi uma boa experiência essa noite de meninas.
No carro, eu me encosto em Axel, mas depois disso, eu só me lembro de
ser chamada por ele.
— Vem comigo, minha menina. — Axel me carrega com ele para fora do
carro quando chegamos em casa.
— Você vai brigar comigo por que estou bêbada? — pergunto em forma
de sussurro, com o meu rosto enterrado no seu pescoço.
— Não, minha menina, só espero que amanhã você tenha uma fodida
ressaca de merda — Axel diz seriamente e isso me faz rir baixinho.
— Você é realmente um vilão, Ax — declaro e sinto um beijo na minha
cabeça.
— Eu nunca disse que não era, minha menina — Axel fala e eu fecho os
olhos para absorver suas palavras.
Sim, Axel, eu sei disso, eu realmente sei e gosto. Se tem uma coisa que eu
descobri hoje com Lara, é que eu gosto mais de você do que eu quero admitir.
Duas semanas e meia se passaram após a minha saída com Lara, onde eu
fiquei bêbada pela primeira vez na minha vida, e posso dizer de coração e
com todas as letras, que eu nunca mais farei isso.
Sim, isso mesmo, e não é da boca para fora!
Beber chopp com a minha amiga enquanto compartilhamos coisas da nossa
vida foi muito legal, devo admitir. Mas o depois?
Não, o depois não foi nada agradável. Primeiro, porque eu me lembro de
ficar murmurando para Axel o quanto ele era um vilão malvado, isso
enquanto ele estava me limpando para ir dormir.
Oh Deus, que vergonha de mim!
Segundo, por ter acordado tão mal, com dor de cabeça, boca com o gosto
tão ruim e enjoada até dizer chega.
Terceiro e o pior de tudo, foi o sermão caloroso que tomei de Axel por ter
sido negligente. Tive que ficar aquele dia inteiro tendo que lidar com a
irritação dele comigo e falando sobre o assunto a cada vez que sentia
vontade.
É tão terrível a lembrança, que sinto calafrio só de pensar. E fora todo o
sermão do meu carrasco/chefe/namorado, eu também tive que aguentar Earl e
Russel rindo e me parabenizando pela coragem a cada vez que os nossos
caminhos se cruzavam. E é justamente por isso que cheguei à conclusão de
que eu os odeio, mentira, eu acho que tenho mais carinho por eles a cada dia
que passa.
— Isadora, você já descansou o suficiente! — Axel chama e eu olho para
mim.
— Só mais um minuto, por favor — peço, ainda deitada no chão, enquanto
tento respirar.
— Quando alguém decidir estourar seus miolos, ele te dará tempo? —
Axel grunhe irritado.
— Não! — respondo, tentando não fazer uma careta.
— Você ainda não conseguiu me golpear. Então levante-se! — exige Axel
e eu forço meu corpo a levantar.
— Impossível, isso é impossível! — reclamo, querendo chorar de cansaço.
— Eu estou te treinamento para ser possível, então deixe de ser sensível e
venha — Axel diz de forma brutal, me fazendo encolher por um tempo.
— Me deixe fazer o que sei, que é invadir sistemas — peço pela milésima
vez.
— Não! — Axel fala friamente e eu começo a me perguntar o porquê ele
não quer que eu ajude dessa vez.
— Por quê? — pergunto, enquanto começo a sequência que ele me passou
antes.
— Você trabalha para mim e não o contrário, por isso eu não te devo
explicação, Isadora. — A voz do meu carrasco é tão sem emoção, que tenho
medo por um curto período.
—Sim, Axel! — murmuro minha resposta.
Desde o momento que Axel descobriu o nome do homem que atentou
contra a sua vida, ele não permite que eu ajude. Pelo o que ouvi durante as
suas reuniões com os outros, esse homem se encontra aqui no Brasil. Tenho
um pressentimento muito ruim de que ele está mais perto do que Axel quer
me dizer.
Quando o perguntei sobre esse homem, Axel me disse que o seu nome é
Santino Salvatore. Um assassino europeu que foi contratado para foder a
transação de sua equipe, palavras dele, não minhas. E quando perguntei o que
eu deveria fazer, ele foi taxativo em dizer que nada.
De início, eu fiquei ainda tentada a fazer algo, mesmo que uma simples
pesquisa, ou qualquer outra coisa, mas Axel me pegou fazendo isso e eu tive
um castigo que só aquele homem cruel é capaz de fazer.
Ainda não entendo essa relutância dele de não me deixar estar com eles. Eu
acho que fiz um bom trabalho lá em New Jersey, então com certeza, não deve
ser por causa da minha incompetência. Eu poderia ajudar, do jeito que fosse,
mas pelo menos, estaria perto se precisassem de mim.
Confesso que tenho medo de que eles se machuquem e é por conta disso
que vejo o quanto estou apegada a eles. Também, não tem como não se
apegar, porque quando você começa a morar com esses homens brutalmente
capazes de qualquer coisa, enxerga o quanto cada um é diferente do outro, se
divertindo com suas sinceridades além da imaginação, ouvindo histórias de
algumas missões impossíveis e sendo necessária de alguma maneira.
E quando você fica perto disso tudo, acaba se acostumando a uma vida
estranha, mas que mesmo assim, é emocionante de ser vivida.
— Isadora! — Axel chama e eu paro o que estou fazendo para olhar na sua
direção.
— O quê? — pergunto confusa.
— Onde está com a cabeça? — Axel pergunta sem esconder seu
desagrado.
— Desculpe, eu só estou cansada — digo rapidamente e ele solta um bufo
irritado.
— Você ainda está com essa merda na cabeça, não é? — Axel questiona e
eu, sem querer mentir, confirmo.
— Sim, você disse que sou da equipe e não me deixa ajudar — falo sem
medo de retaliação.
— Porra, Isadora! — Axel esbraveja e com dois passos, está segurando os
meus ombros com força. — Você é uma fodida suicida por algum acaso? —
Axel cospe as palavras, apertando suas mãos fortes nos meus ombros a ponto
de doer.
— N… não! — respondo amedrontada.
— Não queira pensar que porque você fez um trabalho, pode lidar com um
fodido assassino de aluguel. Não pode! — Axel fala de modo perigoso e
posso sentir meus olhos começarem a arder.
— E… eu não… não acho que posso — respondo com a voz embargada.
— Não, você não pode! — Os olhos negros sem vida de Axel estão fixos
nos meus. — Sim, menina tola, você não pode — ele reafirma com raiva.
— Axel, você está me machucando — digo chorosa e ao ouvir minhas
palavras, ele me solta.
— Caralho! — Axel pragueja, se virando para ir em direção a saída.
— Axel! — chamo, mas ele não para.
— Amanhã continuaremos. — E com isso ele saí da improvisada
academia, me deixando paralisada.
Fico sem entender essa reação de Axel, ele está mais raivoso do que de
costume. É como se… estivesse com medo de algo, eu não sei, pode ser coisa
da minha mente cansada de tantos exercícios. Mas eu tive esse sentimento
repentino enquanto encarava os seus olhos cor de ônix.
É impossível que um homem perigoso como Axel possa estar com algum
receio desse assassino. Tenho certeza de que ele é muito mais letal, muito
mais cruel e, com certeza, muito mais frio.
Pode até sair de modo errado o que vou dizer, mas tenho uma fé sem igual
nele. Fora que ele prometeu levar a vida do homem que tentou levar a dele. E
se tem uma coisa que acredito sem nem pestanejar, é nas promessas de Axel.
Um movimento atrás de mim faz os meus pensamentos se encerrarem.
Olho e vejo Craig caminhando até mim com a sua típica cara fechada.
— E Axel? — Craig pergunta e eu dou de ombros.
— Saiu! — Aponto com o queixo para a saída. Olho para Craig novamente
e solto um suspiro.
— O que foi? — Craig pergunta repentinamente e eu dou um salto no
lugar, negando com a cabeça.
— Nada, não foi nada — digo rapidamente e ele me olha com cenho
franzido.
— Sério? Não parece! — fala e faz um gesto com a mão para que eu fale.
—Vamos, diga logo.
— Você e seu irmão são sempre assim? — pergunto descontente e ele dá
de ombros.
— Não sei o que quer dizer com isso, mas eu sei que você é curiosa, então
pergunte logo — Craig diz, me surpreendendo totalmente.
— Eu só não entendo — solto sem dar qualquer explicação.
— O quê? — questiona, parando ao meu lado, mas sem se virar para me
encarar.
— Eu faço parte da equipe, não faço? — pergunto e ele solta um som de
confirmação.
— Pensei que já soubesse — responde curto e grosso.
— Então é isso! Eu faço parte da equipe, mas Axel não vai me deixar
ajudar com o assassino. Eu não entendo — falo em desagrado e para minha
surpresa, Craig nega com a cabeça.
— Eu pensei que você fosse mais inteligente, Isadora — Craig diz e eu o
encaro espantada.
— Por quê? — questiono debilmente.
— Porque você realmente não viu o que meu irmão está fazendo a cada
vez que ele diz que não há necessidade do seu envolvimento — Craig diz
como se estivesse desapontado.
— Eu não… — começo a falar, mas calo.
— Isadora, o meu irmão está tentando proteger você. Axel não é do tipo
que se importa, mas parece que está mudando isso nele — Craig conta e solta
um suspiro forte. — Só o vi assim com uma única pessoa na vida.
— Quem? — pergunto em forma de sussurro assim que consigo assimilar
as palavras de Craig.
— Comigo, Axel sempre foi protetor comigo e apesar da sua frieza e saber
que eu não necessito da sua proteção, mesmo assim, ele faz. — Engulo em
seco com a intensidade no seu olhar acinzentado. — E agora faz isso contigo,
está te protegendo porque sabe que você pode morrer.
— Oh, entendo! — É a única palavra que sai da minha boca.
— Santino é um assassino treinado e para perceber que você é o elo fraco
da equipe é muito fácil. Então, sugiro que não fique no caminho de Axel,
deixe-o proteger sua bunda inexperiente. E nós vamos fazer o melhor para
proteger vocês dois — Craig diz com a mandíbula apertada e eu assinto
devagar.
— Eu não estava vendo por esse lado, eu só queria ajudar — falo
envergonhada.
— Eu sei, mas agora você sabe — Craig fala e eu concordo com a cabeça.
— Vocês não vão se machucar, não é? — pergunto nervosa.
— Está com medo por nós? — Craig pergunta, dando o mesmo sorriso
fantasma que o seu irmão usa.
— Sim, vocês são meus amigos — respondo rapidamente e dessa vez
Craig coloca o dedo indicador na frente da boca para impedir o riso
completo.
— Somente você, Dora, para achar em três mercenários sanguinários
alguma amizade — Craig diz e é a minha vez de dar se ombros.
— É o que é! — Dou de ombros novamente e ele começa a andar.
— O jantar saí daqui a pouco — diz e eu faço uma pequena careta.
— Não estou com fome! — digo, lembrando que mais cedo o meu
estômago não estava tão bem.
— Que seja! — Craig responde com seu vozeirão e some de minha vista.
Fico repassando o que Craig acabou de me falar na minha cabeça. Se fosse
outra pessoa que viesse me dizer algo como isso, eu poderia duvidar, mas
sendo ele, fica muito difícil de qualquer negativa. E é justamente por isso que
eu estou surtando ao chegar à conclusão de que Axel pode ter algum
sentimento por mim.
Não digo amor, não, eu não sou tão iludida, mas algo que pode fazer com
que ele queira me preservar de um confronto com a morte. Apesar de que
viver sobre o mesmo teto que ele e os outros já é uma prova de fogo
constante.
Nada disso importa, tudo o que sei é que tenho que ficar quieta no meu
canto e focar no que é mais importante. Que é na minha conclusão da
faculdade, o resto eu posso deixar nas mãos das pessoas mais experientes e
capacitadas.
Tenho fé que logo essa pressão vai passar e Axel vai conseguir o que tanto
quer. Vou tirar o meu time de campo e estar aqui, caso eles precisem de mim.
E é com isso em mente que eu decido subir para o quarto, pois preciso tomar
um banho e começar a fazer algumas pesquisas. Amanhã tenho uma prévia
para mostrar a professora e somente isso já é o suficiente para manter minha
mente ocupada.
Não vejo Axel em lugar nenhum quando vou para o quarto e fico feliz por
isso, porque sei que ele poderia me obrigar a jantar. E só de pensar em comer
algo agora, sinto o meu estômago reclamar novamente. Eu estou assim já tem
uns dias, até cólica eu comecei a sentir e tenho certeza de que se isso
continuar, terei que ir ao médico.
Negando com a cabeça, eu tiro toda a minha roupa e entro no chuveiro, tiro
toda a sujeira do treino pesado, deixando o meu corpo leve.
Assim que encerro meu banho, coloco minha roupa de dormir e vou para a
cama com o notebook, levando também meu caderno de anotações. É hora de
focar no que realmente importa.
Não sei quando eu adormeci, mas desperto quando sinto um corpo forte e
muito quente abraçar o meu.
— Axel? — sussurro sonolenta.
— Sim, minha menina, sou eu — diz e eu me aninho mais no seu calor.
— Que bom, me desculpa por insistir. Craig me explicou as coisas — digo
de olhos fechados.
— Craig é um fodido! — Sua boca está perto na minha orelha e isso me
faz rir.
— Ele é legal — murmuro a minha resposta.
— Se eu fosse você, não diria que um outro homem é legal enquanto estou
te abraçando — sua voz saí entredentes e eu não posso deixar de dar um
pequeno sorriso na escuridão do quarto.
— Pode deixar! Boa noite, Ax! — desejo, deixando o sono me levar, mas
não antes de ouvi-lo.
— Boa noite, minha pequena menina teimosa — Axel resmunga e eu
acalmo o meu corpo, entrando em um sono cansado novamente.

No dia seguinte eu acordo tarde para ir à faculdade, o meu despertador não


tocou e quando dei por mim, já estava atrasada para a orientação do TCC.
Hoje eu tenho aula o dia inteiro e possivelmente não vou poder encontrar
com Lara na biblioteca, como é o costume. Eu corro para tomar banho, comer
alguma coisa e implorar para que alguém me leve o mais rápido possível.
Depois de toda a correria, eu finalmente chego, com uns quinze minutos de
atraso, mas, mesmo assim, eu chego. Me assusto ao ver que Jonas, o mesmo
idiota que fazia minha vida um inferno, está sendo orientado pela mesma
professora que eu. Mas isso para mim não faz diferença nenhuma, contanto
que ele mantenha distância, eu estou bem.
Uso esse tempo para poder solidificar as ideias do que eu desejo
apresentar. Quando a pausa vem, eu aproveito para ver o meu celular e me
surpreendo ao ver uma chamada perdida de minha mãezinha. Sem perder
tempo, vou para fora da sala e retorno.
— Alô! — mamãe diz assim que atende à ligação.
— Mamãe, a senhora me ligou. Aconteceu alguma coisa? — pergunto
apreensiva.
— Dorinha, eu liguei sim, minha filha, mas não se preocupe, nada
aconteceu — solto a respiração, que eu não fazia ideia de que estava
segurando.
— Oh, mamãe, que bom! — digo sem esconder meu alívio. — Você e
papai estão bem? — pergunto, procurando um banco para me sentar.
— Sim, estamos bem. Eu liguei para falar que o seu pai acabou de sair da
avaliação com o médico. Você pediu para te avisar, então aqui estamos —
mamãe fala e eu dou um sorriso de lado.
— Verdade, eu pedi. E fico muito feliz que ele esteja bem, aquele dia foi
um grande susto. — Meu corpo estremece ao me lembrar do meu medo de
perder meus pais.
— É, foi realmente um grande susto — mamãe murmura em confirmação.
— O dinheiro que você mandou está ajudando muito também, contratamos
uma pessoa para lidar com o pasto, assim seu pai não vai ter de fazer por si só
— mamãe diz e meu coração canta de felicidade.
— Oh mamãe, que bom que vocês resolveram usar o dinheiro — digo feliz
e ela solta um som de confirmação.
— Você é uma filha muito maravilhosa, seu pai e eu temos sorte — diz
carinhosamente e eu posso ouvir sua voz embargar.
— Oh, mamãezinha, eu é que sou a sortuda aqui. Tudo o que eu puder
fazer para deixá-los mais tempo comigo, eu vou fazer. Eu os amo muito! —
declaro com fervor e mamãe funga do outro lado da linha.
Poucos dias atrás, eu caí na graça de abrir a minha conta bancária, pois
como eu não estou tendo gastos ao viver com Axel, tinha tempo que não
olhava o saldo. O que eu não sabia era que ao fazer isso, iria cair dura de
susto. Eu abri e fechei o aplicativo várias vezes, desliguei e liguei o celular e
ainda pisquei tantas vezes, que fiquei tonta, somente para saber se eu não
estava alucinando. Foram tantos zeros existentes ali, que eu não sabia o que
fazer, a não ser procurar por Axel e exigir explicações.
Bem, exigir não é bem uma palavra que se deve usar com um homem do
tipo dele. E bem, a explicação que eu recebi foi bem rasa, porque Axel
somente se virou para mim e disse: "Você só recebeu o que trabalhou,
menina tola."
Isso não foi bem uma explicação, mas eu entendi que esse dinheiro veio do
resgate da filha do senador. Fiquei alguns dias ainda em choque e como não
poderia devolver ao senhor escuridão, eu fiz algo útil dele.
Com esse dinheiro, pedi um plano de saúde melhor para meus pais e
mandei parte para mamãe, para que ela pudesse fazer o que era preciso. E
depois de muita relutância, ela fez. Eu não tenho muito o que fazer para mim,
então, por que não ajudar os meus pais com o que tenho, não é mesmo?
— E o meu genro, como ele está? — Toda vez que mamãe pergunta sobre
Axel o chamando de genro, eu sinto meu rosto esquentar.
— Axel está bem, mamãe — digo sem graça. Um movimento ao meu lado
chama a minha atenção, olho e vejo Jonas vindo na minha direção. —
Mamãe, posso te ligar depois? — pergunto. — É que eu tenho que ir para
aula novamente — eu explico rapidamente.
— Claro, meu amor, vá estudar. Um beijo e eu te amo! — mamãe deseja e
eu dou um suspiro.
— Te amo também, mamãezinha — declaro e encerro a ligação em
seguida.
— Isadora — chama Jonas assim que tiro o celular do ouvido.
Ele para na minha frente e começo a sentir o desconforto tomar conta do
meu corpo.
— Jonas, se você me der licença, eu tenho que voltar para sala. — Tento
desviar, mas o infeliz me impede.
— Isadora, por favor, eu só queria falar com você por um momento —
Jonas fala e eu dou um passo para trás quando ele ergue a mão para me
alcançar.
— Eu não tenho nada para falar com você, achei que já tinha deixado isso
claro quando falei com sua namorada — minha voz saí ríspida.
— Olha, eu não quero brigar, para ser sincero, eu só quero te pedir
desculpas — Jonas fala e eu paraliso no mesmo momento.
Por essa eu realmente não estava esperando, um pedido de desculpas é algo
que realmente nunca imaginei que Jonas poderia estar disposto a fazer.
E agora, o que faço?
Encaro Jonas como se ele tivesse duas cabeças, não consigo acreditar que
está aqui para me pedir desculpas. Acho muito difícil que esteja sendo
sincero, não consigo sentir verdade nele.
Para falar a verdade, não conseguiria enxergar verdade nele mesmo se eu
quisesse. Isso é muito difícil para mim, foram muitos anos sendo humilhada
por ele e seus amigos. Eles me desprezavam sem que eu tivesse feito ou
falado algo e é justamente esse ódio gratuito que eu não consigo entender.
Como uma pessoa pode odiar o outro sem que aquela pessoa tenha lhe
feito nada?
O que leva as pessoas a serem tão desprezíveis com os outros por qualquer
coisa?
Será que fazendo isso, eles conseguem se sentir superiores?
Não sei, eu realmente não sei dizer isso. Quando olho para Jonas,
esperando por algum tipo de resposta, eu sinto um calafrio tomar conta do
meu intestino. E isso acontece porque vem em mente todas as vezes que fui
encurralada por ele nos corredores. Onde eu era coagida, humilhada e
subjugada, e olhe que não foram poucas vezes que isso aconteceu. Para falar
a verdade, perdi as contas, realmente perdi as contas.
— Então, Isadora, não vai falar nada? — Jonas pergunta e eu olho para o
seu rosto, que agora não há mais nenhum resquício da surra que levou de
Axel.
— Eu não tenho o que falar — digo com sinceridade.
— Como não? Eu vim aqui para me desculpar com você e diz que não tem
o que falar? — Jonas fala como se não estivesse conseguindo me entender.
— Sim, é isso mesmo. Olha só para você, realmente quer se desculpar
comigo, Jonas? — pergunto calmamente.
— É justamente isso que eu quero — diz, dando um passo para frente, e eu
dou dois para trás.
— Olha Jonas, não sei o motivo que você que falar comigo, mas se
desculpar eu sei que não é — respondo com firmeza, tentando me virar para
seguir meu caminho, mas sou impedida por ele.
— Não, espera. — Ele toma a frente para que eu não vá e eu, como a força
do hábito, recolho todo o meu corpo.
— Não me toque! — exclamo nervosa, fazendo Jonas erguer as mãos,
alarmado.
— Desculpe, não quis ser invasivo — se desculpa e eu nego com a cabeça.
— Você sempre foi invasivo, violento, um legítimo cretino comigo e por
quê? — questiono. — Eu nunca soube, para falar a verdade — falo com
tristeza e ele solta um som frustrado.
— Olha Isadora, eu sinto muito, está bem. Depois que eu levei aquela surra
e eu me senti... — Jonas não termina a frase.
— Vulnerável? Inútil? Uma grande merda? — sugiro com sarcasmo e ele
franze o cenho, mas concorda.
— Sim, acho que isso mesmo. — Coça a nuca de modo nervoso. —
Depois disso, eu soube mais ou menos o que você sentiu — Jonas explica e
eu nego com a cabeça.
— O que Axel e os outros fizeram com você e seus amigos não chega os
pés dos anos que passei sofrendo nas mãos de vocês. Você sentiu o gosto do
terror por uns dias, mas eu senti por anos e isso não se justifica — desabafo
meu rancor.
— Eu não imaginei — Jonas fala e eu solto um som descontente.
— Claro que não sabia, vocês que têm a vida em uma bandeja de prata
nunca vão saber o que é ter que lutar para viver de verdade — derramo a
minha tristeza e ele ergue a mão para mim.
— Olha, eu estou te oferecendo todo o meu arrependimento, você é capaz
de aceitar? — pergunta, ainda com a mão estendida.
— Abaixe sua mão, porque eu não vou apertá-la — ordeno e ele faz o que
digo.
— Eu só estou tentando fazer com que comecemos de novo — Jonas fala e
eu respiro fundo, passando os meus braços ao meu redor.
— Meio tarde para isso, não acha? — indago curiosa e ele me olha com
exasperação.
— Nossa Isadora, eu imaginei que você só tivesse mudado seu visual, mas
acho que me enganei — diz em tom arrogante, me fazendo rir.
— Olha ele aí, o Jonas que eu conheço — aponto, fazendo-o ampliar os
olhos.
— Não eu… — Jonas tenta se justificar, mas eu o impeço, erguendo minha
mão.
— Olha Jonas, vou ser sincera com você — respiro fundo e encaro os seus
olhos claros —, eu não me importo mais contigo ou com seus amigos. Tudo
bem que deixaram minha vida acadêmica um pouco mais difícil do que deve
ser. Mas por causa de vocês, eu consegui me superar e saiba que eu não sofro
mais com isso — digo calmamente, começando a me sentir meio fora do
eixo.
— Então quer dizer que vai me perdoar? — Jonas pergunta e eu nego com
a cabeça.
— Não, perdoar é algo que deve vir de coração e eu não sou tão evoluída
assim. Eu ainda não consigo fazer isso, quem sabe um dia, mas agora eu não
sinto nada por você — digo a realidade e vejo a sua expressão espantada.
— Nossa, eu não esperava — diz surpreso.
— Por quê? Você achou que eu fosse realmente tão idiota quanto pensava?
— pergunto curiosa e ele nega com a cabeça.
— Não, na verdade, eu pensei que você fosse apaixonada por mim —
Jonas revela e uma forte onda de enjoo toma conta de mim, mas eu respiro
fundo para me recompor.
— Nem em meus pesadelos mais sórdidos. — Não escondo a careta ao
falar isso. — Olha Jonas, vamos acabar logo com essa conversa. Eu já te
disse a realidade e espero que você não me dirija mais a palavra, porque eu
irei fazer o mesmo.
— Se é assim que você quer, tudo bem — fala e eu rezo para que ele me
deixe passar logo para ir correndo ao banheiro, antes que eu vomite em cima
dele.
— É assim que quero e, por favor, respeite. — Minhas mãos começam a
suar e a ficarem geladas.
Oh Deus!
— Tudo bem por mim — Jonas fala e eu concordo com a cabeça, passando
por ele, sem nem mais olhar na sua direção. Mas quando estou seguindo o
meu caminho, ouço a sua voz me chamar. — Isadora, você deveria me
agradecer por não ter dado queixa do seu amante por tentativa de assassinato
— o desgraçado fala, me fazendo esquecer que estou louca para ir ao
banheiro.
— Jonas! — seu nome sai entredentes e eu nem me presto a olhar na sua
direção novamente. — Tente fazer algo contra os meus meninos e dessa vez
não serão eles que irão querer te exterminar da face da Terra. Isso eu mesma
irei fazer, fique atento. — Minha voz saí rouca e tão furiosa, que nem eu
mesma me reconheço.
Não fico para ouvir a resposta de Jonas e corro em direção ao banheiro
feminino da faculdade. Eu estou suando frio, minha boca está salivando
tanto, que eu não sei se conseguirei chegar em tempo, mas felizmente, eu
chego. E assim que vejo o vaso sanitário na minha frente, não me faço de
rogada. Coloco para fora todo o conteúdo do meu estômago como se não
houvesse amanhã.
Não entendo o que eu comi para me fazer tão mal assim.
— Oh jesus Cristo, será que vou ficar doente? — falo comigo mesma após
terminar de vomitar.
Após terminar de colocar a alma para fora, eu vou escovar os meus dentes
e jogar uma água na minha cara. Estou me sentindo um pouco melhor depois
que coloquei tudo para fora, mesmo assim, o mal-estar por ter feito o esforço
ainda continua.
Jogo novamente um pouco de água fria no meu rosto, com a mão úmida eu
passo brevemente pela minha nuca e respiro fundo algumas vezes, para
ajudar a melhorar o mal-estar.
Quando estou bem o suficiente, saio do banheiro porque preciso voltar
para a orientação. Faço de tudo para não olhar em direção a Jonas, porque
estou com medo de que se fizer isso, o meu mal-estar pode voltar.
Não estou conseguindo focar no que é necessário e no momento que meu
celular notifica uma mensagem, não perco tempo e vou ver, meu coração
acelera ao ver que é de Axel.
"Vou te buscar para almoçarmos juntos.”
Fico sem saber o que responder a Axel, então decido não responder nada.
E a partir daí, eu estou contando os minutos para que eu possa ir embora para
ter um almoço em um restaurante, a sós, com ele.
Assim que o meu horário chega, pego minhas coisas e saio sem olhar para
trás. Chego na frente da faculdade e lá está ele, parado firmemente, com os
braços cruzado no peitoral. Usando uma calça jeans escura, uma camisa de
manga escura puxadas até os cotovelos, botas pretas de combate e os cabelos
penteados para trás com esmero.
Deus, como ele pode ser tão perigosamente lindo?
— Oi, Ax! — digo assim que estou perto o suficiente.
— Venha aqui, minha menina! — Axel me chama com a sua expressão
séria de sempre.
Não espero que ele chame de novo e vou, assim que estou perto o
suficiente, Axel me beija de modo possessivo, de forma que só ele é capaz de
fazer. Eu amo ser beijada por esse homem, amo o fato de me sentir tão…
protegida nos seus braços.
— Vamos almoçar só eu e você? — pergunto desnorteada, assim que ele
para nosso beijo.
— Sim! — responde curto e grosso.
— Por quê? — questiono curiosa e ele me encara sem paciência.
— Por que você é sempre tão curiosa? — pergunta e eu dou de ombros.
— Por que você é sempre tão grosso? — rebato de forma corajosa e para
minha surpresa, aquele sorriso fantasma que amo surge no canto dos seus
lábios.
— Quando eu castigar essa sua bunda bonita e foder sua buceta até que
você não consiga andar, vai parar de tentar ser espertinha comigo — Axel diz
essas palavras com a boca colada no meu ouvido e um arrepio prazeroso sobe
na minha espinha.
— Eu acho que… gostaria — respondo com um fio de voz.
— Tenho certeza disso, minha menina pervertida — Axel diz de modo
rouco, mas logo sua expressão escurece. Fico sem saber o que está
acontecendo, mas ao olhar para trás, noto que Jonas está nos encarando.
— Deixa para lá Ax, vamos almoçar — chamo a atenção de Axel para
mim.
— Eu ainda anseio por matá-lo! — Axel diz furioso e eu engulo em seco.
— Eu sei, mas não vale a pena. Jonas é passado na minha vida. Um
passado que eu não quero e nem penso em reviver, vamos almoçar, por favor,
porque eu ainda tenho que voltar para cá — digo rapidamente, mas com toda
a sinceridade do mundo.
— Sim, vamos — Axel diz friamente e abre a porta do carro para mim.
No momento que Axel entra no carro, eu posso respirar com tranquilidade,
já que não aconteceu nenhuma morte até o presente momento. Acho que não
contarei a ele sobre a tentativa de desculpas de Jonas hoje.
Não sei se vale a pena falar sobre algo tão insignificante e sei que Axel só
está esperando um deslize de Jonas para poder terminar o que começou. Não
quero colocar lenha na fogueira, odiaria que toda essa merda voltasse a
acontecer. Meu único desejo é que eu possa me formar e que Axel se livre
dessa nuvem que está nos rondando.
Sugiro a Axel que almocemos no restaurante do tio de Lara assim que
passamos pela fachada do lugar. Pensei que ele fosse negar ou sugerir outro,
mas não, ele simplesmente aceita a minha sugestão.
No momento em que o carro estaciona e descemos, eu me arrependo de ter
feito a sugestão. Isso porque quem está saindo do estabelecimento é ninguém
menos que Ângelo Gutierrez.
Meu Deus!
Eu nem conhecia o homem, mas parece que agora eu o encontro em todos
os lugares que vou.
— Isadora — O homem se ilumina ao me ver, mas antes que eu possa
responder, Axel está ao meu lado.
— Gutierrez — Axel o cumprimenta friamente, fazendo Ângelo olhar na
sua direção.
— Vieram almoçar? — Ângelo pergunta, olhando de mim para Axel, e eu
resolvo falar alguma coisa, já que o clima está pesado de tanta testosterona.
— Olá, senhor Gutierrez, nós viemos sim — respondo, dando um sorriso, e
ele franze o cenho.
— Por favor, Isadora, não me chame de senhor. Você é… — Ângelo
começa a falar, mas um barulho alto de algo o faz parar. — Porra!
— Abaixem! — Axel grita alarmado, me puxando para que juntos
fossemos para o chão.
— O que é isso? — pergunto assim que meu corpo bate no chão.
E antes que possa vir a ter alguma resposta o inferno começa a acontecer.
Um barulho ensurdecedor de tiros começa a ser escutado e todos os disparos
são para a nossa direção. Eu não consigo entender o que está acontecendo.
Minha cabeça está tão confusa, que eu ouço os gritos de Axel falando
comigo, a voz de Ângelo dizendo algo, mas eu não consigo assimilar nada do
que está sendo falado. Tudo o que eu posso sentir é medo, medo pela minha
vida e, principalmente, pela vida do Axel.
— Filho da puta! — Axel xinga com raiva.
— A luz do dia, ele resolveu fazer isso a luz do dia. Ele vai acabar
matando todo mundo! — Ângelo diz de forma abafada e os braços de Axel se
apertam mais a minha volta.
— Eu preciso chegar até o meu carro, minhas armas estão lá e eu vou
acionar o sinal de perigo — Axel diz calmamente e o medo se apodera de
mim.
— Tenho uma arma comigo. — Ângelo mostra uma arma preta. — Posso
te dar cobertura. — Axel fica parado por um tempo até que assente
duramente.
— Certo! — Axel se levanta agilmente e eu arregalo os olhos.
— Axel, não! Ele veio te matar! — grito alarmada.
— Não se eu o matar antes! — diz raivoso. — Fique no chão e não se
levante até eu mandar — comanda e eu começo a entrar mais ainda em
desespero.
— Eu protejo você, Isadora, eu daria minha vida por você se for necessário
— Ângelo fala e eu fico confusa.
— Mas por quê? Eu não… — começo a falar, mas paro imediatamente
quando ele se levanta, apontado a sua arma para onde vem os tiros.
— Em breve você saberá! — Ângelo diz e começa a atirar, fazendo com
que Axel aproveite a distração para ir até o carro.
Eu não consigo ver nitidamente o que está acontecendo, mas os barulhos
de tiros ferem os meus ouvidos. Sinto uma mão no meu ombro, grito
alarmada com medo, mas quando ouço a voz de Axel mandando eu ficar de
pé, porém, parcialmente abaixada, eu relaxo um pouco.
Ele diz que precisamos sair daqui e que se continuarmos encurralados, nós
iremos morrer. Axel troca alguns sinais com Ângelo e ele grita que os
homens dele estão chegando.
Merda, cadê os meninos?
— Craig, Russel e Earl também estão vindo, mas preciso tirar Isadora do
fogo cruzado! — Axel diz furioso.
— Axel! — chamo, mas ele não me ouve.
— Te colocar em segurança é minha prioridade, Isadora — Axel diz
entredentes, se virando para atirar em resposta.
— Tire ela daqui, Cox. Santino não vai desistir até acabar com você —
Ângelo grita e Axel rosna em resposta.
— Eu sei, porra! — Axel diz e segura firme na minha mão.
— Me deixe aqui e saí, Axel. — Minhas palavras chamam a atenção. Ele
vira a cabeça na minha direção e me encara com tanta fúria, que eu me
arrependo de ter falado no mesmo momento.
— Isso não vai acontecer! — Axel fala com a voz pingando ódio. — Nós
vamos voltar para a porra daquele carro e eu vou te levar em segurança.
— Sim — respondo em tom baixo e trêmulo.
Todo o meu corpo está tremendo muito e eu não tenho o controle para
poder parar com isso. O medo é tão forte dentro do meu peito, que eu não sei
o que fazer.
Todo o treinamento que vim fazendo com Axel simplesmente evaporou da
minha cabeça, porque tudo o que eu penso é que Santino Salvatore veio para
tirá-lo de vez da minha vida. Nego com cabeça para me livrar desses
pensamentos, porque isso não vai acontecer, e faço de tudo para me
recompor.
Quando Axel decide que temos que correr, eu não sei como, mas as nossas
mãos se soltam e o meu corpo se ergue no susto. E antes que eu possa me
abaixar novamente, sou atingida pelas balas duas vezes.
A primeira atinge a minha perna, a segunda o meu ombro. Tudo acontece
muito rápido e antes que eu possa me dar conta do que está acontecendo, eu
sinto uma das feridas recém-feitas doer como a morte e o meu corpo vai ao
chão logo em seguida.
— Isadora, não! — ouço alguém gritar pelo meu nome, mas fecho os olhos
ao sentir muita dor.
— Isadora, abra os olhos, porra! — Axel grita, me fazendo abrir os olhos
novamente.
— Ela está sangrando muito! — Uma voz fala e eu acho que é Ângelo.
— Eu sei, porra, eu sei! Aqui, minha menina, segure isso aqui. Com força,
Isadora! — Axel manda, mas eu estou tão perdida. Uma pressão forte me faz
gritar de dor
— Axel, dói! — choramingo, piscando de forma desconexa.
— Meus homens já chegaram, fique cuidando da Isadora — Ângelo fala,
fazendo Axel rosnar.
— Foda-se, seu merda! Eu não estaria em outro lugar, porra — Axel
responde de forma animalesca — Onde está o fodido do Earl? — murmura e
eu tento levantar a mão, mas sou impedida.
— A… Ax, eu vou ficar bem — falo e ele bufa irritado.
— Claro que vai, minha menina. Eu serei um fodido se deixar que a morte
me leve você. — Mesmo estando do jeito que estou, eu consigo dar um
pequeno sorriso.
— Chefe, Isadora! — Alguém chama por nós e eu consigo reconhecer a
voz. Earl.
— Earl, Isadora foi ferida. Cuide dela, porra! — Axel grita e Earl entra no
meu campo de visão.
— Continue pressionando a ferida, os outros estão em perseguição agora.
Vamos pegar o filho da puta! — Earl avisa com fervor. — Ei, Dorinha, que
merda, hein — Earl fala carinhosamente.
— Olá, príncipe das trevas! — digo com um pouco de dificuldade.
— Fique quieta, tudo bem? — Ele dá um sorriso pequeno e olha para Axel.
— Temos que levá-la, chefe. Ela está perdendo sangue e seus batimentos
estão mais fracos.
— Sim, vamos! Vamos, porra! — Axel diz e com a orientação de Earl, ele
me carrega no colo.
Assim que meu corpo é erguido, eu choro de dor, mas quando Axel
sussurra palavras reconfortantes no meu ouvido, me acalmo.
— Estou com você, minha menina, estou com você. — Sua voz é um
bálsamo para mim.
Minha consciência fica oscilando o tempo todo, mas eu percebo quando
entramos no carro. Axel e Earl me pedem sempre para continuar acordada e
eu tento, juro que tento, só que estou vendo pontinhos pretos nos meus olhos.
Acho que a qualquer momento eu vou desmaiar.
Em algum momento, sinto o carro parar, Axel me leva para fora do veículo
e começa a gritar por uma "maldita maca."
— Senhor, o que houve? — Alguém aparece e pergunta apressadamente.
— Ela foi baleada, ajudem-na! Ajude-a, porra! — Axel fala entredentes.
— Aqui senhor, deite-a aqui! — outra pessoa diz e Axel solta um som
furioso.
— Eu não vou deixá-la! — Ele me aperta em seus braços.
— Chefe, por favor, deixe que cuidem de Dora. Ela ficará bem, chefe,
solte-a — Earl diz e Axel solta um novo som raivoso.
—Foda-se, merda! — Axel diz, me deixando na maca.
— Axel… — chamo de modo fraco.
— Você vai ficar bem, minha menina. É uma fodida promessa — Axel diz
com fervor e sinto os seus lábios nos meus.
— Ax, eu… eu am… — tento falar.
Não consigo dizer que o amo, que o amo com tudo de mim, porque a
escuridão me leva. E me leva em uma péssima hora.

Isadora foi levada pelos médicos da clínica por um tempo e estou sozinho
no corredor. Desde então, não consigo pensar em nada que não seja em
torturar, mutilar e matar o desgraçado que causou isso a ela. Olho para as
minhas mãos manchadas com o seu sangue e uma onda de raiva líquida
tomam conta de mim, fazendo com que eu cerre os punhos com força, pronto
para socar a primeira parede que aparecer na minha frente.
Porra! Porra! Porra!
Por que estou sentindo essa inquietação constante desde o momento que vi
a Isadora cair no chão depois que foi atingida?
Eu não sou homem de sentir essas coisas, já vi muita gente morrendo e
posso dizer que muitas dessas vidas ceifadas foram por minha causa. Mas
somente a possibilidade de não poder mais ver aqueles olhos inocentes cheio
de vida e curiosidade para mim, é como um inferno na terra.
E eu sei que mereço todo o inferno e todas as coisas ruins que me
acontecem, mas Isadora não. Eu a coloquei em toda essa merda, não me
arrependo, porque assim eu pude tê-la para mim e somente para mim. Só que
ela não merece isso, não merece sangrar em um chão sujo.
E tudo isso é por culpa daquele Santino fodido de merda.
Desgraçado!
Ele pagará por isso, ele pagará por fazer a minha menina passar por isso.
Merda, porque isso me dói tanto, porra?
Eu sou um monstro, não tenho esses sentimentos assim por garotinhas que
passam por isso. Mas com a Isadora é diferente, com essa menina tola tudo
sempre foi tão diferente. E acho que me questiono por que eu já havia
percebido isso, eu sabia que ela estava mexendo mais comigo do que eu
gostaria de admitir. E justamente, desde o momento que eu soube quem era o
meu atacante, eu tinha medo por ela.
Tentei treiná-la, tentei esquecer que ela poderia ser abatida, mas não
consegui. Inferno, eu simplesmente não consegui e isso estava me tirando a
concentração. Nunca em toda a minha vida de mercenário isso me aconteceu.
Nunca me importei tanto, nunca senti tanto, nunca quis tanto algo como eu
queria proteger essa menina.
E agora?
Agora ela está sangrando em uma maca de hospital e tudo isso por minha
culpa. Porra!
— Cox! — Levanto a minha cabeça e vejo Ângelo Gutierrez parado na
minha frente.
— O que quer? — pergunto com punhos cerrados.
— Sozinho? — pergunta e eu não me dou ao trabalho de responder.
Mandei Earl ir atrás dos outros, nossa prioridade agora é ter Santino em nossa
posse. — Como a Isadora está? — Ângelo pergunta, me fazendo cerrar os
olhos na sua direção.
— Por que esse interesse repentino na minha menina? — pergunto, me
erguendo para caminhar na sua direção.
— O meu interesse na Isadora não lhe diz respeito Cox. Não esqueça que
posso ser tão ruim e tão perverso quanto você, então me diga o que quero
saber — a voz de Ângelo me diz que ele não está brincando, mas o que ele
não sabe é que eu também não.
— Oh sim, mostre o seu perigo então, Braganza — o chamo pelo
sobrenome do pai e Ângelo dá um passo para frente.
— Não me chame assim, seu filho da puta! — diz entredentes.
— Diga o que você quer com a Isadora — ordeno e ele continua a me
encarar como se estivesse pronto para me atacar.
— Isso é um assunto meu e dela, então fique fora disso — Ângelo fala
como uma pantera, esperando seu inimigo.
— Isadora é minha, então todos os seus assuntos são meus assuntos —
digo e ele nega com a cabeça.
— Diz o filho da puta que a deixou ser atingida, que não a protegeu
quando deveria — Ângelo fala, dando um sorriso de escarnio.
— Cala a boca, seu merda! — ordeno, trincando a mandíbula com força.
— Fique longe de Isadora, Axel. Eu irei protegê-la agora, mesmo que para
isso tenha que me livrar de você — Ângelo ameaça e eu coloco a mão atrás
das costas para puxar minha arma, se esse for o caso.
— Você seria um fodido se tentasse, Ângelo — ameaço, vendo-o fazer o
mesmo que eu. Ele pode atirar em mim, mas eu o mato antes.
— Você sabe que eu posso, Axel — responde friamente e eu rosno em
fúria.
— Senhores, por favor, estamos em uma clínica — a voz firme de um
homem fala ao nosso lado, nos fazendo virar a cabeça em direção ao som.
— Fique fora disso, porra! — Ângelo e eu falamos em uníssono.
— Dificilmente, por tanto, abaixem suas armas. Eu vim dar notícia sobre a
senhorita Martins — o que o médico diz faz com que eu e Ângelo deixemos
nossa possível luta de lado para focar no que ele tem a dizer.
— Como ela está, Otávio? — Ângelo pergunta ao médico.
— Ela está bem, a cirurgia foi breve. Contemos o sangramento, tiramos
todos os resquícios para não causar as infecções. — Não sei explicar a porra
do alívio que estou sentindo agora. — O ferimento na perna foi de raspão,
demos alguns pontos. O do ombro esquerdo foi limpo, então, sem muitas
preocupações. Também tem o… — Otávio para e franze o cenho para nós
dois.
— O quê? — pergunto duramente.
— Não, nada! Ela está bem, só ficará sedada por um tempo — Otávio fala
e eu assinto.
— ¡Gracias por ese Dios! — Ângelo murmura em espanhol, me deixando
extremamente irritado.
— Onde ela está? — pergunto friamente. — Se tentarem me impedir, vai
ser pior. — Otávio olha para Ângelo, que somente assente, fazendo-o respirar
fundo.
Para sorte de toda a clínica clandestina de Ângelo, Otávio me diz onde
exatamente a minha menina está. Odeio admitir, mas esse lugar é uma
fortaleza e foi justamente aqui que eu vim quando fui ferido. Ferido pelo
desgraçado do Santino e agora para a minha irritação é justamente a menina
gentil, que me salvou, está aqui.
O quão fodido é isso tudo?
Solto um som frustrado e respiro fundo ao abrir o quarto onde está minha
Isadora.
A primeira coisa que vejo é a enfermeira ao lado da sua cama, que quando
me vê entrar, arregala os olhos e saí correndo do lugar. Não me importo com
ela e sim com a minha menina, que parece mais frágil e pequena nessa cama
hospitalar.
Eu odeio isso, eu odeio todos esses tubos e curativos que colocaram nela.
Odeio mais ainda o fato de que ela está aqui por minha culpa.
Com o meu corpo rígido, me aproximo dela, passo a minha mão
delicadamente no seu rosto adormecido e nos seus cabelos.
— Merda, minha menina, pela primeira vez eu estou me sentindo culpado
por algo. Muito culpado mesmo, sinto muito. Porra! — falo em um sussurro
rouco. — Eu vou te vingar, eu vou fazê-lo sentir sua dor, para depois tirar sua
vida. Eu prometo a você, minha doce menina.
Deixo um beijo firme na sua testa, cheiro os seus cabelos e olho para ela,
desejando fervorosamente que fique bem. Estou decidido a ficar aqui até o
momento que ela desperte, mas uma breve mensagem de Craig faz o meu
interior ferver.
Na mensagem diz que eles têm Santino Salvatore em suas mãos. Ler isso
me faz apertar o celular com força, na expectativa de uma vingança
sangrenta. E é com isso em mente que dou uma última olhada na minha
menina adormecida, saindo do quarto sem olhar para trás.
Porque eu tenho uma breve intuição que se olhar novamente para ela, não
sairia do lugar.
Ao sair do quarto, encontro com Ângelo, e somente o seu olhar na minha
direção é o suficiente para que ele saiba o que preciso. E para minha surpresa,
ele estende uma chave na minha frente.
— Minha moto está estacionada na frente, vá e se vingue por mim
também. — Pego as chaves na mão de Gutierrez sem dizer uma palavra.
— Volto em breve — digo, olhando-o com firmeza.
— Não sairei daqui — responde tranquilamente.
Mesmo achando estranha essa atitude de Ângelo, eu não posso perder
tempo em tentar descobrir. Contanto que ele esteja realmente aqui na
intenção de cuidar de Isadora, eu não me importo com a sua insignificante
existência.
Corro para fora da clínica clandestina avistando a moto estacionada
exatamente onde o idiota disse que estava.
Já na moto, eu sigo para o local onde eu sei que Santino estará a minha
espera. Quando chego, a primeira coisa que vejo é Craig à minha espera. Não
perco tempo e desligo a moto, a deixando em qualquer lugar, e vou na sua
direção.
— Onde ele está? — pergunto calmamente.
— Está à sua espera, ele reclamou um pouco, mas demos um jeito de
mantê-lo calado. — Eu sabia que Craig e os outros iriam tirar um pouco da
vingança deles.
— Tudo bem, vamos! — digo, fazendo Craig me acompanhar para dentro.
É difícil admitir, mas esses homens estão tão apegados a Isadora quanto
eu. Ela soube exatamente como quebrar esses seres sangrentos, é muito
fodido admitir realmente, mas eles fodidamente a acolheram como parte da
equipe.
Ignoro todos os pensamentos que não sejam em quebrar Santino e entro
nos fundos da casa. Em um local que Isadora nunca entrou, mas que
mantenho para esse tipo de coisa extremamente importante.
Nesse quartinho nos fundos da pequena academia, é onde Santino se
encontra.
Amarrado de cabeça para baixo, somente de cueca, com as mãos atrás das
suas costas, como um porco, pronto para o abate.
Ele está bem sangrento, acho que os meus rapazes tiraram dele um pouco
mais do que pensei. Ver isso me causa uma satisfação tremenda, não vejo a
hora de ver a vida saindo dos seus olhos. Mas agora não é o momento,
preciso de informações primeiro.
— Salvatore! — Marco a minha presença chamando-o com firmeza.
Estendo a minha mão e Earl, que está no canto da parede, vem e coloca uma
arma na minha mão.
— Cox, portami fuori di qui… (Cox, me tire daqui seu…) — Não espero
que ele termine de falar, destravo a arma e atiro no seu ombro esquerdo e em
uma das suas coxas. — Cazzo! Maledetto! — grita Santino seus xingamentos,
mas eu não me importo.
— Senti lo stesso dolore che hai causato a una ragazza innocente che hai
sparato (Sinta a mesma dor que você causou em uma garota inocente, na qual
você atirou) — falo em italiano, com uma calma fria.
— Eu só estava fazendo a porra do meu trabalho, era o meu trabalho, seu
bastardo maledetto! — Santino grita, fazendo seu sangue pingar no chão em
abundância.
— Se eu fosse você, parava de se mexer, quanto mais sangue perder, mais
seu coração vai falhar. Mas não se importe, eu vou te reviver quantas vezes
forem necessárias — Earl diz de modo que assusta o inferno em Santino.
— Ora, seus desgraçados! — ameaça ele.
— Não nos ameace, você merece isso e muito mais por ter ferido Dorinha
— Russel responde de forma animalesca, mesmo daqui eu noto sua agitação.
— Controle seus ânimos, Sanchez! — Craig ordena, fazendo Russel se
afundar mais no canto da parede.
— Só comecem a fazer esse pedaço de merda sangrar — resmunga Russel,
se afastando sob o meu olhar de aviso.
Volto minha atenção a Santino, pois eu preciso da minha informação.
— Quem te contratou para foder minhas transações e me matar? —
pergunto, sem fazer rodeios.
— Fottiti bastardo! (Foda-se bastardo!) — grunhe Santino, me fazendo
sorrir internamente de puro contentamento.
— Não era essa resposta que eu queria, mas é a necessária para que eu
mate minha sede de sangue em você. Mas sugiro que não demore a quebrar,
pois tenho um lugar para ir — falo com Santino enquanto tiro a minha
camisa, não quero sujá-la de sangue.
— Bem que dizem que vocês são um bando de doentes de merda! —
Santino grita seu ódio.
— E é por isso que deveria ter me respondido logo quando perguntei.
Grazie! — agradeço de forma sarcástica — Faca? — peço e Craig me dá a
dele.
— Espera, Cox! Espera, podemos negociar. — Santino tenta, mas eu faço
o primeiro corte na coxa que já atirei.
— Ahhhhhhhh… Cazzo! — grita Santino, mas eu não paro por aí.
A cada vez que eu corto calmamente a carne, eu faço a mesma pergunta. E
mesmo assim, o fodido de merda não me revela quem foi o seu contratante.
Eu preciso saber disso, eu tenho necessidade de saber quem foi, mas o
desgraçado é bem difícil de quebrar. São precisos vários cortes, duas paradas
cardíacas acompanhadas sempre de reanimação.
Quando Santino está quase tendo a sua terceira parada cardíaca, ele
finalmente resolve me contar o que tanto eu quero saber.
— Para! Para! Para! Eu não aguento mais! Para, por favor, para! —
Santino pede, sem força.
— Nome Santino, é isso que eu preciso. Nome! — informo, me agachando
a sua frente.
— Os irlandeses, foram os irlandeses! — Ele para e começa a tossir. —
Killian Dunphy e sua esposa me contrataram para interceptar as informações
que você tinha que dar. Não me pergunte o porquê, isso eu não sei, mas eles
não o queriam morto, aquilo foi um erro de percurso. E eu não sabia que você
iria viver, é um desgraçado e nem o diabo te quer — Santino diz com a voz
fraca, terminando sua frase com um riso frouxo, mas para, porque começa a
tossir. — E agora? Por que voltou quando eu não estava atrás de você? —
pergunta e espero um tempo.
— Deveria ter vindo antes, mas eu tinha coisas mais importantes do que
caçar sua bunda de merda — digo a ele.
— Eles me contrataram novamente, me oferecendo mais dinheiro para que
eu o matasse e… — Santino para de falar e eu franzo o cenho.
— E o quê? Responda! — digo com firmeza, mas não grito. Não há
necessidade disso.
— A ragazza que está sempre com vocês. — Seus olhos azuis cruzam com
os meus. — A sua mesma, eles sabem que você faria tudo e que sua morte
iria deixar você vulnerável. — Não faço nenhuma reação, mas por dentro
todo o meu corpo treme de ódio.
Era isso, esses desgraçados queriam matar a Isadora.
Como eu não vi isso?
— Desgraçados! — Ouço Craig praguejar, mas não me viro na sua
direção.
— Você deve entender, eu sou profissional e você também é, Cox. —
Santino tenta barganhar comigo.
— Não, eu não entendo, e sabe por quê? — pergunto e nem espero por
resposta. — Porque isso se tornou pessoal para mim, vocês quase mataram a
minha mulher e isso eu não posso perdoar — eu explico, sentindo a minha
mão tremular pela raiva mal contida.
— Então é isso, o grande mercenário tem alguém com quem se importe —
Santino ri debilmente, me fazendo apertar o cabo da faca com mais força. —
Outros virão e eles vão saber que você…
Não o deixo terminar, pois a minha raiva simplesmente explode para fora
de mim. E com toda facilidade eu enterro a faca, o mais fundo que eu
consigo, no peito do desgraçado. Mas eu ainda não estou satisfeito, então
arranco com força e apunhalo mais uma vez.
Uma onda de satisfação toma todo o meu corpo quando o vejo se engasgar
com o seu próprio sangue, para que logo em seguida sua vida saia lentamente
dos seus olhos.
— Em breve mandarei Killian e Enya para dividir o espaço com você aí…
no inferno. Adeus, Santino Salvatore — revelo como se fosse uma fodida
oração, me levantando para que possa me afastar.
— Chefe, o que faremos agora? — Earl é o primeiro a perguntar.
— Vamos atrás dos irlandeses e vamos matar cada um que tentar me
impedir de chegar até Killian Dunphy e sua mulher vadia — digo com fervor
e posso ouvir os sons de confirmação atrás de mim.
— Era disso que eu precisava! — Russel diz com animação.
— Agora só basta Dora ser liberada da clínica — Earl diz, me fazendo
parar no mesmo momento.
— Isadora não faz mais parte da equipe, seremos só nós novamente —
aviso calmamente, soltando uma forte respiração.
— O que disse, chefe? — Russel pergunta em confusão.
— Livrem-se do corpo de Salvatore e preparem tudo, estamos saindo daqui
algumas horas — falo entredentes e saio apressadamente do lugar.
— Axel! — Craig me alcança quando estou fora do lugar. Paro sem
precisar me virar na sua direção.
— Você está certo disso? — questiona e eu assinto com a cabeça. —
Então, o que fará agora?
— Eu tenho que dizer adeus! — digo com a voz rouca e como Craig não
ousa falar mais nada, eu sigo o meu caminho para tirar toda a sujeira do
sangue de Santino do meu corpo.
Isso é o certo a se fazer, assim ela ficará segura. Isso é o certo, eu sei, mas
por que será que está doendo?
Que merda você fez comigo, Isadora?
Desperto e tento abrir os meus olhos, mas os sinto pesados. Ainda com os
olhos fechados, eu consigo me sentir estranha, como se o meu corpo não
estivesse me respondendo corretamente.
Será que fiquei acordada até tarde e agora o meu corpo preguiçoso não
quer sair da cama?
Não, isso é bem pouco provável. Respiro devagar quando um sentimento
de inquietude toma conta de mim e vou tentando mais algumas vezes abrir os
meus olhos. Quando finalmente consigo, a luz do quarto está muito forte,
fazendo com que agrida a minha pupila.
— Que bom que está acordada, senhorita Martins. — Ouço uma voz
masculina totalmente desconhecida para mim e franzo o cenho.
— Pronto, desliguei as luzes, tente abrir os olhos novamente. — Dessa vez
é a voz de uma mulher.
Forço novamente as minhas pálpebras a se abrirem, dessa vez não existe
uma luz forte para agredir as minhas pupilas. A primeira coisa que percebo é
que não estou no meu quarto.
Um hospital?
O que eu estou fazendo em…
E é nesse momento que as lembranças voltam para mim como uma maldita
vingança, me fazendo recordar do ataque em frente ao restaurante. Onde Axel
tentou de todas as formas me proteger, mas eu fui atingida.
Oh Deus, eu fui atingida!
Essa realidade me faz começar a hiperventilar, eu tento me mexer, mas o
meu corpo machucado me impede.
— Senhorita Martins! Isadora! — Vejo uma sombra grande cobrir a minha
visão. — Você está bem, está segura. — Suas palavras são tranquilizantes,
mas ele não é o Axel.
Onde ele está?
— Cadê o Axel? Onde ele está? — pergunto, com um pouco de
dificuldade pela minha boca estar muito ressecada.
— Está falando sobre um dos homens que a trouxeram? — o médico
pergunta, acenando brevemente para a enfermeira. Que vejo agora que está
ao meu outro lado.
— S... sim! — respondo com os olhos arregalados, olhando para os lados.
— Se acalme, porque se a senhorita não se acalmar, eu terei de sedá-la —
o médico ameaça e eu nego com a cabeça, mas paro quando sinto dor no
ombro.
— Tudo bem! — respondo, respirando fundo. A enfermeira aparece, me
dando um pouco de água. — Obrigada! — agradeço, me sentindo um pouco
melhor.
— De nada. — A mulher de cabelos loiros presos em um coque apertado e
olhos castanhos gentis sorri para mim.
— Vejo que se acalmou — o médico diz, olhando para o monitor com os
meus sinais vitais.
— O que aconteceu? Onde estou? Onde está Axel e os outros? —
pergunto, fazendo de tudo para não me exasperar, mas minha preocupação
com eles é inevitável.
— Vou responder suas perguntas, mas, por favor, não se exalte. A
senhorita perdeu sangue considerável, por isso esse cansaço exagerado — o
médico fala com um rosto amigável e eu concordo com a cabeça, devagar.
— Entendo — digo em concordância.
— Como relação aos homens que te trouxeram, eles ficaram tempo o
suficiente até serem informados que a senhorita estava fora de perigo — o
médico fala como se estivesse confuso, mas logo volta a expressão que todo
médico tem quando está com seu paciente.
Ouvir que Axel ficou aqui esperando até que eu estivesse fora de perigo
me deixa aliviada, isso mostra que ele se importa. Um pouco, mas se importa.
Só que… mesmo eu sentindo esse prazer, ele logo é substituído por mais dois
sentimentos.
O primeiro é a preocupação, porque tenho certeza de que Axel está a caça
do homem que nos atacou. Ele fará de tudo até colocar suas mãos em Santino
Salvatore e pelo pouco que conheço dele, tenho certeza de que fará isso, isso
se já não estiver fazendo nesse exato momento.
Somente esse pensamento já me faz sentir um arrepio temeroso atravessar
a minha espinha. Fecho os olhos brevemente quando sou tomada pelo
segundo sentimento, a tristeza. Sim, eu tento não sentir a tristeza por não o
encontrar aqui.
Mas eu não deveria estar assim, não é?
Porque isso não é característica de um homem como Axel, ele não seria o
tipo que ficaria aqui segurando a minha mão. E ao constatar esse fato, o meu
coração se entristece, mas tudo bem. As coisas são como são.
— Senhorita Martins! — o médico me chama e eu olho na sua direção.
— Por favor, me chame de Isadora — peço, ele olha para a enfermeira e
depois assente.
— Me chamo Otávio Munhoz, eu sou o médico responsável pelo seu
tratamento — o Dr. Munhoz fala e eu assinto com a cabeça. O doutor é um
homem negro, careca, que tem olhos e sorriso gentis.
— Muito obrigada por isso, doutor, mas o senhor pode me explicar o que
aconteceu? — peço e ele assente em confirmação.
— A senhorita deu entrada com dois ferimentos de projéteis, isso você se
lembra? — a pergunta do doutor me causa desconforto.
— Sim, eu me lembro! — Inconscientemente, eu me remexo, e isso me
causa dor.
— Não faça muitos movimentos bruscos, a senhorita passou por uma
cirurgia e… — interrompo o médico, alarmada.
— Cirurgia? — exclamo nervosa.
— Ei se acalme, no seu estado não é bom isso. Já passou estresse o
suficiente — o médico me repreende.
— Estado? Que estado? — questiono confusa e ele faz aquela jogada de
olhos com a enfermeira novamente.
— Você não sabe? — indaga calmamente e eu olho para a enfermeira.
— Não sei o quê? — pergunto, franzindo meu cenho e olhando para a
enfermeira como ele fez, mas ela não faz nada a não ser dar um sorriso
amarelo.
— Senhorita Martins — o médico chama e eu o encaro. — Como eu estava
dizendo, a senhora passou por uma cirurgia para conter o sangramento e a
limpeza de todo os resquícios que um projétil pode causar. Mas para a sorte,
o ferimento foi limpo, com entrada e saída. A minha preocupação realmente
foi com a hemorragia, por conta do seu estado, felizmente conseguimos
contê-la — o médico explica de um modo que fica fácil o entendimento, mas
a cada vez que ele fala "seu estado," eu me preocupo.
Será que estou gravemente doente?
— Eu estou doente? É isso? Eu vou morrer? — pergunto, sentindo meus
olhos se encherem de lágrimas.
— O quê? Morrer? Acho que não expliquei bem o suficiente para a
senhorita — o Dr. Munhoz fala e eu nego.
— Eu entendi sobre a cirurgia, a hemorragia e tudo, mas o doutor está
falando sobre meu estado. E sempre quando um médico fala isso, é sobre
uma doença grave — começo a divagar e o médico me olha como se eu
estivesse perdendo a cabeça.
— Não é nada disso, senhorita Martins — fala calmamente e eu fico
confusa.
— Então eu não estou doente? — pergunto, acalmando o meu coração
desesperado.
— Não, fora o ferimento no ombro esquerdo e na coxa direita, que por
sinal, o projétil passou de raspão e só foram necessários alguns pontos, a
senhora está bem — o doutor explica e eu relaxo um pouco.
— Graças a Deus por isso! — Fecho os olhos por um momento, mas abro
quando o médico solta um pigarro com a garganta.
— Durante seus exames constamos que teríamos que ter um cuidado maior
com a senhorita... — ele começa a explicar e eu o interrompo.
— Por quê? — pergunto curiosa.
— Como eu estava dizendo, o nosso cuidado foi maior quando em um dos
exames foi constatado que a senhorita está grávida — o médico diz e eu fico
paralisada. — Suspeito que seja uma gestação de pelo menos sete semanas,
ainda vamos confirmar com os exames que faremos.
— Grávida? O Dr. disse grávida? — pergunto em choque.
— Sim, e de pelo menos umas sete semanas, como já disse. Aconselho que
procure um ginecologista para que comece o pré-natal, pois como perdeu
sangue considerável… — o médico fala, mas eu não consigo mais ouvir.
Minha mente está totalmente paralisada com a palavra grávida piscando
em letras de neon, como em um letreiro de algum lugar badalado, onde a
claridade incomoda demais se ficarmos olhando por muito tempo.
Oh Deus, eu estou grávida!
Tem um bebezinho crescendo dentro de mim, um bebê inocente e que não
pediu para vir a esse mundo. O quão irresponsável eu fui em fazer isso assim,
dessa maneira tão… tão… eu não sei.
Eu estou grávida!
E quando essa informação enfim entra em minha mente, eu não consigo
controlar o choro.
Como eu contarei isso para Axel?
Ah não, o Axel! Ao pensar nele, no pai do bebê que estou carregando, eu
choro mais ainda, e eu não tenho mais o controle.
Como contarei a ele que estou grávida, logo Axel, que sempre falou sobre
gravidez indesejada. Não, eu não sei se consigo.
Oh Deus, por que fui tão irresponsável?
Como eu farei isso, como contarei que estou grávida ao pai do meu bebê?
Meu bebê, tem um bebezinho dentro de mim. Eu poderia ter morrido hoje,
nós dois poderíamos ter morrido hoje. Eu estou grávida, o que faço agora?
— Isadora, se você não se acalmar, teremos que lhe dar um calmante — o
médico diz, chamando minha atenção.
— Alguém sabe? O senhor contou isso para alguém? — Minha visão está
embaçada pelo acúmulo de lágrimas.
— Não, isso é um assunto particular e como você iria acordar brevemente,
achei melhor tratar pessoalmente — o médico diz e eu confirmo.
— Obrigada! — agradeço, arrastando inconscientemente minha mão
direita até o meu ventre. Grávida! — O senhor pode manter isso entre nós?
— Claro, sigilo médico! — exclama confuso e eu confirmo sem olhar na
direção de ninguém.
— Obrigada, Dr. Munhoz! — murmuro meu agradecimento.
Eu não posso deixar ninguém contar para Axel sobre a gravidez, ele deve
saber sobre isso de mim. Não sei como criarei coragem para contar, mas terei
que fazer eu mesma.
Não sei como será a reação de Axel, ele provavelmente vai agir como de
costume. Com toda a sua escuridão, mas se tem uma coisa que eu aprendi a
lidar, é com isso.
Eu vou proteger meu bebê, mesmo que seja do seu pai. Um pai que
possivelmente pode não o aceitar, mas que se assim for, será só nós dois no
futuro.
Eu já tive pais que me abandonaram, mas também tive pais que me
amaram e me amam até hoje. Não deixarei que isso aconteça a esse bebê, eu
o protegerei, mesmo que seja do homem que estou perdidamente e
loucamente apaixonada.
Eu amo Axel, todo ele, com escuridão e tudo. E é justamente por isso que
eu mesma contarei a novidade, o direito é meu e somente meu.
Oh meu Deus, um bebê!
— Deixaremos você descansar, qualquer coisa que precisar, nos chame por
esse botão aqui — o Dr. Munhoz diz, fazendo a enfermeira se aproximar para
mostrar onde está o botão.
— C… certo! — respondo chorosa. — Obrigada por cuidar de mim e do
meu… — Não consigo falar a palavra em voz alta.
— Não precisa agradecer, fico feliz que está bem — o doutor fala e com
isso ele saí do meu quarto com a enfermeira, me deixando sozinha.
Volto a chorar de puro medo do que pode vir a acontecer no futuro e
quando dou por mim, estou adormecendo novamente.
A próxima vez que eu desperto, eu sinto o clima do quarto um pouco
diferente. A primeira coisa que noto é que tem um peso na minha mão direita,
tento mexer meus dedos, mas sou impedida. Olho em direção a minha mão e
a vejo entrelaçada a outra mão. Uma mão que eu conheço muito bem, pois
ela já esteve me tocando de várias maneiras.
Olho para o lado e lá está ele…
Axel. Ele está me segurando, ele está aqui comigo, esperando-me acordar.
Ele está bem, está vivo e está aqui por mim. Quando a realidade vai em mim,
eu começo a chorar, eu não consigo conter a alegria do meu coração bobo e
apaixonado.
Ao ouvir o meu soluço, Axel abre os olhos e o alívio que eu vejo ali é tão
sincero, que eu só quero que ele me pegue nós seus braços e não me deixe
mais ir. Eu o amo tanto, Deus, como eu o amo.
— Axel! — chamo entre o choro e ele se levanta da cadeira
desconfortável.
— Minha menina, você está viva realmente. — E com isso, Axel cola a sua
testa na minha, para logo em seguida colar seus lábios ao meu com força, a
ponto de machucar meus lábios. — Foda-se, porra! — pragueja entredentes.
— Eu estou bem, estou bem! — Tento erguer meu braço esquerdo para
alcançá-lo, mas a dor me impede.
— Porra Isadora, cuidado! O que aconteceu? Eu vou chamar aquele fodido
médico para olhar isso e vou matá-lo se não fizer — não resisto a sua raiva
sem sentido e sorrio.
— Para com isso, eu estou bem — falo e ele me encara com seus olhos
frios.
— Você sentiu dor, porra — ele reclama furioso e eu, com a mão direita,
seguro seu rosto áspero de barba por fazer.
— Estou bem, Ax, prometo! — revelo e ele relaxa um pouco, não muito,
mas relaxa.
— Certo! — diz entredentes. E com isso, eu me lembro de algo
importante, muito importante.
— Tenho que contar algo para você — começo a falar, mas acho que as
minhas palavras fazem algo em Axel estalar e ele dá um passo para trás, me
deixando sem seu toque. — Axel, o que houve? — pergunto confusa.
— Isadora, me deixe falar primeiro — Axel diz com palavras cortantes.
Pronto, ele sabe que estou grávida. E agora?
— O que foi? — pergunto temerosa.
— Estou indo embora por um tempo, mas não se preocupe, deixarei você
em segurança e… — interrompo Axel, confusa.
— Nós vamos para onde? Eu posso pedir a liberação do médico e Earl
pode cuidar dos meus ferimentos. Eu só… — começo a falar rapidamente,
mas Axel me para.
— Não, Isadora, eu disse que eu estou indo embora. Você vai ficar aqui.
— Suas palavras são frias e sem emoção.
— É por que eu me machuquei? Você não me quer ao seu lado por que eu
me machuquei? — pergunto rapidamente, sem entender.
— Não seja idiota! — Axel reclama, irritado.
— Então por quê? O que está acontecendo? — sinto minha respiração ficar
descompassada.
— É para a sua segurança, então não me questione, menina — Axel diz,
cerrando os punhos, mas eu não me importo.
— É o Santino Salvatore, não é? Você conseguiu pegá-lo, não foi? —
questiono e ele assente. — O que ele te disse?
— Não, Isadora! — Axel fala em sinal de aviso.
— Você quer me deixar aqui, quer nos… quer me deixar, então vou
questionar — falo com firmeza e com um passo, Axel está em cima de mim.
Pensei que ele fosse me pegar com sua brutalidade, mas não, ele toca
levemente meu rosto.
— Oh, minha menina, minha inocente menina. — E nos seus olhos, eu
vejo que ele tomou sua decisão e que não tem nada que eu fale que o fará
ficar.
— Axel, por favor, não… eu tenho que te falar algo — imploro, sentindo
as lágrimas caírem livremente no meu rosto.
— Tenho que ir, eu tenho que… Que merda fodida! — E com isso, ele me
beija, um beijo totalmente diferente de todos que ele já deu.
Eu nunca pensei que isso aconteceria entre mim e Axel, mas aqui está o
beijo calmo, doce e tão gostoso que me faz flutuar sem sair do lugar. Ele tem
que saber que o amo, que vamos ter um bebê e que ele prometeu nunca me
deixar ir.
Axel disse que eu sou sua e eu tenho de que lembrá-lo. Nos afastamos do
nosso beijo e ele me surpreende com um beijo doce na ponta do nariz.
— Axel, eu te amo! — revelo em forma de sussurro.
— Não, Isadora! — As minhas palavras são como se eu estivesse jogando
ácido nele. Axel se afasta de mim como se eu tivesse uma doença contagiosa.
— Você não me ama!
— Eu amo! — rebato, sentindo meu peito doer pela rejeição.
— Não, minha menina, não pode me amar. Eu sou um fodido assassino,
um monstro e você não pode me amar. Não era para ser assim — Axel fala,
tentando conter sua raiva. — Não pode me amar, Isadora.
— Axel! — chamo, erguendo minha mão. — Por favor, Axel!
— Tenho que ir! — diz entredentes, andando até a porta. — Alguém
cuidará da sua segurança, mas eu tenho que ir — Axel diz abrindo a porta,
mas continua parado lá.
— Eu não quero ninguém, seu idiota, quero você, porra — xingo chorosa,
tremendo muito de raiva e, principalmente, de medo.
— Se cuida, minha menina. — E com isso, Axel saí. Simplesmente saí, me
deixando aqui, sofrendo com esse amor que sinto por ele.
— Axel, deixa eu te contar sobre o nosso bebê. Axel, não me deixa aqui —
murmuro as palavras, que são dolorosas demais para serem faladas em voz
alta.
A dor é tão grande, que eu nem sei como explicar, eu sinto por mim, pelo
meu bebê e, principalmente, pelo Axel. Não é possível que eu seja tão burra,
eu não deveria ter contado que o amo.
Isso não era para ser assim, eu deveria ter ficado quieta, mas seja como for,
ele iria me deixar de qualquer jeito. Mas…, mas isso dói, meu Deus me
ajude, como isso dói.
Não sei quanto tempo fico chorando e esperando que Axel retorne, mas
tudo que sei é que quando desperto pela terceira vez, é que vejo que tem
outra pessoa no meu quarto.
— Ângelo? — pergunto sonolenta ao vê-lo sentado na cadeira ao meu
lado.
— Oi, Isadora! — ele diz com um sorriso amável no rosto.
— Onde está o Axel? — pergunto, olhando para os lados. Vejo a pena no
olhar de Ângelo e eu afundo na minha realidade. — Eles se foram, não é? —
pergunto e o meu lábio inferior começa a tremer.
— Me desculpe te dar a notícia, mas sim, eles se foram — Ângelo fala e
um soluço escapa entre meus lábios.
— Oh Deus! — choro com a minha mão sobre o peito, que está dolorido
de tristeza.
— Isadora, eu sinto muito! — Ângelo fala, colocando sua mão sobre a
minha.
— Por que você está aqui? — pergunto, soando meio ríspida.
Eu não quero que ninguém me veja desse jeito, quero sofrer minha dor
sozinha.
— Eu vou cuidar de você agora, Isa — Ângelo diz simplesmente, dando
um sorriso de lado, sem se importar com a minha rispidez.
— E por que você faria isso? — Franzo o cenho. — Não nos conhecemos
direito e nem somos amigos — falo, estranhando essa aproximação repentina.
— Mas eu espero que possamos ser aquilo que a vida nos impediu de ser
— Ângelo diz de forma enigmática.
— E o que poderia ser? — pergunto confusa.
— Uma família — ao falar isso, eu arregalo os olhos. — Você é a minha
irmãzinha, que há muitos anos pensei que estivesse morta — Ângelo diz, me
deixando totalmente estática.
— Irmã? Eu sou sua irmã? Mas como você… — tento perguntar, mas
Ângelo me impede.
— Não, nós teremos muito tempo para conversar. Tenho muita coisa para
te falar, você não sabe o quanto estou feliz em saber que está viva — Ângelo
diz, apertando minha mão na sua.
Irmão?
Eu tenho um irmão?
Ainda não sei o que pensar sobre isso.
— Eu não sei o que… — Paro de falar quando viro minha cabeça para o
lado e vejo algo descansando em cima de um pequeno armário ao lado da
cama. — O que é aquilo? — pergunto curiosa.
— O quê? — Ângelo se ergue e olha exatamente para onde estou olhando.
— Acho que é um pedaço de papel e tem outra coisa. — Ângelo rodeia a
cama e pega o bilhete dobrado em suas mãos. — Um pedaço de papel
dobrado e uma peça de xadrez. O rei, para ser mais exato — diz e meu
coração acelera.
— Me dê aqui! — Estendo a mão direita e ele me passa.
Abraço o bilhete juntamente com a peça de xadrez de madeira, com um
belo acabamento.
Voltarei, é uma promessa.
Você ficará segura!
A.
Ao ler essas palavras escritas com suas letras, o meu coração dolorido se
acalma, porque eu sei como Axel é com as suas promessas.
Ele vai voltar, eu sei disso e se não acontecer, o trarei de volta para mim,
para nós.
Por que ele é meu, assim como eu sou dele.
Eu não sou um mulher que gosta de ficar falando palavras floridas, coisas
doces e blá blá blá. Mas como eu tenho pessoas queridas e muito importantes
que me ajudaram nessa nova caminhada da minha vida, então eu tenho a
necessidade de agradecer. Primeiramente, eu queria agradecer ao meu
parceiro de vida, por que sem ele eu não estaria me dando nem ao luxo de
tentar. Agradeço as minhas betas, amigas e editoras Bianca Bonoto e K.M
Stephen, pois elas surtaram comigo do início ao fim. Agora agradeço aos
meus preciosos, Mariana Santana, Caio Inácio, Tatiana Carvalho, Gabriela
Servo, Mila Yang e Katy Branco. Vocês são maravilhosos, muito obrigada
por tudo. E se por algum acaso eu esqueci de alguém, me desculpem.
(Kekeke..)
Amo vocês até o céu!
Olívia Arpen
Table of Contents
Sinopse
Playlist
Dedicatória
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Possessivo
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Obscuro
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Terrível
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Feroz
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Namorado
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Intenso
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Assassino
Capítulo 23
Agradecimentos

Você também pode gostar