Você está na página 1de 569

2021

Nome da obra: O DESEJO DO MAGNATA

Revisão: Dani Smith Books

Diagramação: AMARa Literária


Capa: AMARa Literária

Nome do autor: M.C Mari Cardoso


ISBN 978-65-00-33525-5

www.mcmaricardoso.com.br

Copyright © 2021 por Mariana Cardoso

INFO RMAÇÕ ES

Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem

autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida ou

fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico e


mecânicos sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos de

citações, resenhas e alguns outros usos não comerciais permitidos na lei de

direitos autorais.

Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens, alguns

lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da imaginação da


autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais

é apenas espelho da realidade ou mera coincidência.


A autora não autoriza a cópia em pdf e se reserva no
direito em agir legalmente contra o compartilhamento
ilegal.
Sumário
Sinopse:
Comece aqui:
Prólogo - Levi
Prólogo - Ava
Capítulo 1 | Ava.
Capítulo 2 | Ava.
Capítulo 3 | Ava.
Capítulo 4 | Levi
Capítulo 5 | Ava.
Capítulo 6 | Ava.
Capítulo 7 | Levi.
Capítulo 8 | Ava.
Capítulo 09 | Ava.
Capítulo 10 | Levi.
Capítulo 11 | Ava.
Capítulo 12 | Ava.
Capítulo 13 | Levi.
Capítulo 14 | Ava.
Capítulo 15 | Ava.
Capítulo 16 | Levi.
Capítulo 17 | Ava.
Capítulo 18 | Ava.
Capítulo 19 | Levi.
Capítulo 20 | Ava.
Capítulo 21 | Ava.
Capítulo 22 | Levi.
Capítulo 23 | Ava.
Capítulo 24 | Ava.
Capítulo 25 | Levi.
Capítulo 26 | Ava.
Capítulo 27 | Ava.
Capítulo 28 | Levi.
Capítulo 29 | Levi.
Capítulo 30 | Ava.
Capítulo 31 | Ava.
Capítulo 32 | Levi.
Capítulo 33 | Ava.
Capítulo 34 | Ava.
Capítulo 35 | Levi.
Capítulo 36 | Ava.
Capítulo 37 | Ava.
Capítulo 38 | Ava.
Capítulo 39 | Ava.
Capítulo 40 | Levi.
Capítulo 41 | Ava.
Capítulo 42 | Ava.
Epílogo | Levi.
SOB REAUTORA
AGRADECIM ENTO S
Cena Extra
Sinopse:
O passado da Elite de Nova Iorque será desvendado.

O DESEJO DO MAGNATA

Ava Moore tinha tudo para ser uma garota comum.

Praticava esportes, saía quase todas as tardes com sua melhor amiga,

frequentava festas badaladas e fazia compras. Ela sabia que seu pai, dono de

várias boates, tinha negócios ilícitos, como venda de drogas e prostituição.

Em uma noite, sua vida mudou completamente.

Ouvindo sons de passos suaves, assustou-se com o primeiro disparo


e correu para um armário, se escondendo. A porta foi lentamente aberta…

um homem completamente ensanguentado a puxou pelo pé.

Ela desapareceu no silêncio daqueles que preferiram fingir que ela

não existia mais.

Você viu Ava Moore?

Levi Blackwood era um homem perigoso que vivia à margem da

sociedade, sustentando as guerras da rua com os melhores equipamentos. Era


conhecido como o magnata das armas, não só pelo que vendia, como pela

fortuna incalculável e sua verdadeira identidade pouco conhecida.


Ele tinha três lados: um que todos temiam, outro que era o pai

amoroso e o terceiro, de homem dominante que não tinha relacionamentos

comuns. Sua vida estava indo tão bem quanto possível até que o destino

cruzou seu caminho com uma jovem desaparecida que precisava da sua

proteção.

Ava estava quebrada. Levi se reconstruiu nas ruínas.

Duas pessoas que tinham mais problemas emocionais que uma

população, se apaixonaram perdidamente.

Contudo, precisavam lutar contra aqueles que não queriam que eles

ficassem vivos.
Comece aqui:
Em primeiro lugar, obrigada por você ter acompanhado minhas

histórias até aqui e para quem está chegando, seja bem-vindo! O Desejo do
Magnata faz parte da série Elite de Nova Iorque, mas assim como os outros

livros, pode ser lido independente dos demais livros. Esse livro conta a
história de como Ava, uma jovem garota quase comum, encontrou um homem

perigoso como Levi.

E claro que não ficaria de fora um pouco das minhas conspirações e


ligações entre os universos do meu jeitinho especial. Esse é o começo da

Elite, se você não leu os outros livros, não tem problema. A história se passa
anos antes de Perigoso Amor, que é o livro 3 e pouco depois de Curvas do

Destino, que é o livro 1.

Abaixo segue uma imagem ilustrativa da linha do tempo e outra, da

ordem de lançamento dos livros. Você pode ler como quiser.

Ava e Levi falam de um romance intenso, com uma pegada de bdsm e

contendo algumas cenas que podem causar angústia, mas tudo moderado.

Pode conter gatilhos? Sim! Apesar da temática da presente obra poder

ser considerada um conteúdo sensível, esse NÃO é um romance dark.


Ainda assim, é necessário que seja reforçado que por se tratar de uma
história que contém sequestro, cenas de violência, palavras impróprias e

certas passagens podem ser desconfortáveis em algum nível.

Espero que aproveitem cada minuto dessa leitura.

Com carinho,

Mari Cardoso
Prólogo - Levi
Nova Iorque

Ele estava batendo nela de novo.

Os sons dos socos ecoavam pelo corredor.

Mamãe gemia baixinho, ocultando a vontade de gritar para não me


assustar. Ela sempre queria me proteger, alegando que eu ainda era um

menino.

Papai era odioso.

Um monstro.

Ele pensava que eu o temia… sem saber que um dia, morreria pelas

minhas próprias mãos.


Prólogo - Ava

Na minha frente, havia um gazebo pegando fogo. Eu não sabia o que

estava fazendo ali, parada, no meio de uma noite fria, olhando o fogo

consumir a madeira. Abraçada comigo mesma, ouvi o choro de uma

criança e senti uma pontada em meu coração. Era um chamado. Aquele


bebê precisava de mim. Sem pensar duas vezes, virei na direção oposta,

deixando as chamas altas para trás e corri pela grama molhada de sereno,

erguendo um longo vestido branco.

Dentro de um casarão, o corredor nunca parecia ter fim enquanto o

choro ficava cada vez mais alto. Uma urgência crescia em meu peito, me

fazendo correr cada vez mais até chegar à última porta. Havia um bebê

dentro de um berço branco de ferro. O quarto estava vazio. Uma luz

branca caía sobre ele, como se fosse um anjo.

Necessitada, peguei-o em meus braços e beijei sua cabecinha,

acalentando seu choro. Sentindo um toque no meu ombro, virei, me

deparando com um homem que não conseguia ver o rosto. Por algum

motivo, sorri. Eu o amava muito. Ele me puxou para seus braços, era

familiar, agradável, me fazendo sentir segura.


Quando sua boca se aproximava da minha, senti um puxão nos meus

pés e despenquei dentro do fogo novamente.

Acordei assustada, suada, com muito calor. Acendi a luz do abajur ao

lado da cama, pegando minha garrafa de água e esfreguei meu rosto. Era a

décima noite que sonhava com o bebê e o homem misterioso que era dono do

meu coração. Eu tinha aula cedo na manhã seguinte e estava começando a

bocejar, cochilando na escola, por não conseguir dormir direito.

Eu não conseguia ignorar a sensação de que o sonho era um aviso.

Voltei a deitar, olhando para o teto e me perguntei.

O que iria acontecer com a minha vida?


Capítulo 1 | Ava.
Nova Iorque.

Agarrei a barra de ferro para me alongar, acenando para minha melhor

amiga sentada na arquibancada. Melissa sorriu e ergueu os polegares de


volta. Ela era a única que prestava naquele lugar e que me dava o trabalho

de interagir. A maioria se aproximava para pedir entrada nas boates do meu

pai e pelas costas, me chamavam de "Ava, a estranha" ou "Ava, a noiva


cadáver", devido à minha pele excessivamente pálida, os cabelos muito
escuros e os grandes olhos.

Eu realmente parecia a noiva cadáver naquela semana, principalmente

porque a maquiagem não estava ajudando muito a esconder minhas olheiras.

Meu rosto tinha as maçãs um pouco proeminentes, o que disfarçava o


tamanho dos meus lábios. A governanta da minha casa dizia que ele ainda

passaria por mudanças, que eu parecia uma boneca e era por isso que

pegavam no meu pé. Talvez porque demonstrei chateação com toda

brincadeira e aí virou perseguição.

A maioria das garotas estavam interessadas em festas e compras,

apesar de gostar das duas coisas, eu podia ficar apenas com bebida
alcoólica. Eu sabia o que drogas faziam a longo prazo com uma pessoa e não

queria aquilo para minha vida. Meu pai sempre ficava violento quando
cheirava cocaína e meus irmãos quase quebravam a casa quando usavam

balas batizadas em suas festas. Normalmente eu era o alvo e aprendi a

desaparecer quando eles começavam.

Me tornei careta na escola porque recusei a usar drogas em uma festa.

Uma das meninas mais populares disse que eu era esnobe e me sentia melhor

que todos eles. Foi aí que o inferno piorou e eu me tornei a excluída do

grupo. Melissa foi a única que ficou. Ela era muito leal, nos conhecíamos

desde novas, nossas casas eram lado a lado. Nossos pais eram amigos, o que
facilitava a convivência.

— Boa sorte! — Melissa gritou quando o professor pediu que todos os

participantes do treino fossem para a linha de partida.

Eu praticava corrida desde o ano anterior, quando foi oferecida uma

atividade esportiva extra e era mais tempo fora de casa. Treinava quase

todos os dias e eu amava. Antes, era natação, tive que escolher entre as duas

modalidades e não me arrependi. Minha equipe participaria de uma

olimpíada entre as escolas da cidade.

Queria levar a medalha para casa.

O disparo foi dado para começar a corrida e mesmo que meu treinador

particular não estivesse presente, podia ouvir sua voz sobre minha postura, a

respiração e para não prestar atenção em quem corria na minha frente ou


quem estaria se aproximando. Era silenciar meus medos para alcançar meus

objetivos. Ele me ensinou a mascarar minha ansiedade, colocando uma

expressão neutra no rosto e me refugiando dentro da minha mente.

Ele dizia “uma mente forte, inquebrável, é a verdadeira mente de um

vencedor”. Meu pai me dava uma gorda mesada só para fingir que se

importava comigo, ele nunca verificava com o que estava gastando. Comprei

um carro e ele não falou nada. Assinou os papéis necessários e deu as

costas. Pagava o treinador e meu pai provavelmente nem sabia que praticava

corrida.

Os treinos me ajudavam muito a não me importar com a minha vida de

modo geral. Eu estava prestes a me formar, a me mudar para França e

construir minha vida bem longe da minha família. Minha mãe morreu no meu

parto e segundo histórias, ela era o pilar da nossa casa. Eu acreditava que a
morte dela, por causa do meu nascimento, fazia com que meu pai e irmãos

me odiassem. Se eu estava viva ou morta não fazia a mínima diferença para

eles.

Fui a segunda a passar pela linha de chegada, me inclinei para frente,

tomando fôlego e logo recuperei a postura.

— Você foi muito bem, Ava. Está melhorando a cada novo treino,
daqui a pouco irei te indicar para uma equipe profissional. — O professor
ergueu a mão para dar um cumprimento e eu bati, com um sorriso. Passei por

ele até a mesa com garrafas de água.

Melissa desceu os degraus.

— Você pode não ganhar a corrida, mas está ficando uma grande

gostosa! — Ela bateu na minha coxa, me fazendo rir. — Brincadeira. Foi

muito bem!

— Tenho que focar mais, ainda fico muito distraída.

— Você vai conseguir. Vai treinar na piscina hoje?

— Em casa. Tenho muito dever de química para fazer. — Olhei para o

vestiário e as vacas estavam na porta, decidi que tomaria banho em casa.

Agarrei minha mochila. — Vamos?

Melissa olhou para o mesmo lugar e sorriu para mim.

— Topa um sorvete no caminho?

— Com toda certeza.

O pai dela, apesar de ser um senador figurão, não deu a ela um carro

por causa de suas notas. Meu pai nunca olhava meu boletim para me castigar,

mas eu tinha o interesse em ser a melhor aluna possível para ter boas

aplicações e estudar fora do país. Não havia decidido que curso fazer, qual

carreira seguir, eu queria algo voltado para educação, porque eu gostava ou

talvez, desse aulas de literatura em uma faculdade pomposa, usando vestidos


floridos e mocassins, sempre com um copo de café e um olhar afiado para os

meus alunos.

Ri sozinha dos meus pensamentos bobos e parei em uma rede de fast


food. Melissa pediu sorvete e eu um milk-shake de morango, fomos cantando

as músicas animadas de sua lista de reprodução até chegarmos em casa.

Parei em frente ao chafariz, acenando para sua mãe que estava na porta,

esperando-a chegar. Engoli o sentimento de inveja. Eu nunca soube o que era

um abraço maternal ou tive qualquer pessoa me aguardando.

Se eu desaparecesse, ninguém iria notar.

Entrei em casa e vi que meu irmão mais velho estava ali. Johnny
morava fora, tinha uma namorada nojenta, uma patricinha intragável que se

achava a mulher mais gostosa do mundo. Leela era um nojo. Peguei minhas

coisas ao perceber que ele estava com ela e entrei pelos fundos, sem falar

nada. Dei um beijo na governanta, sorri para a cozinheira e agarrei uma

banana.

— Oi, pai. — Acenei, indo direto para a escada. Ele acenou de volta,

sem desviar o olhar do computador em seu escritório. Certo.

Jimmy, o segundo irmão mais velho, estava em seu quarto, jogando

videogame. Ele gritou que pegou meu xampu e revirei os olhos. Ele nunca

fazia as próprias compras. Quase trinta anos e ainda agia como um idiota
adolescente dentro de casa. Ele já havia morado sozinho e depois, com uma

namorada, mas ela o pegou na cama com sua melhor amiga. Quebrou tudo

dentro do apartamento deles e quase o jogou pela sacada. Ele voltou para

casa e nunca mais saiu.

Depois dele, tinha o Carter. Ele tinha vinte e dois anos e trabalhava

com nosso pai também. Todos eles viviam dos negócios, agiam como um

bando de homens sem responsabilidade, ameaçando a todos, arrumando

brigas e colocando suas armas no rosto de garotos menores de idade apenas

porque eles podiam agir como reis da noite. Não tinham controle.

Bati a porta do meu quarto, liguei a música em um volume bom o

suficiente para ouvir apenas ali dentro. Peguei outro vidro de xampu e fui

para o chuveiro, tomei um banho caprichado, cantarolando, me sequei e vesti

uma roupa confortável, espalhando meus cadernos para estudar. Eu

raramente saía do meu quarto, fui acostumada a ficar ali dentro quando mais

nova para que não atrapalhasse meu pai e depois, aquilo se tornou o meu

mundinho.

Eu adorava tudo ali dentro.

Fiquei concentrada nos meus exercícios até terminar porque eu não

tinha mais prazo para entregar meus trabalhos e nem desculpas para enrolar

meus professores. Química era a pior matéria possível. O professor parecia


falar grego, não fazia nenhum sentido e tinha que me esforçar três vezes mais

que meus colegas. Minha dupla era que me salvava nas notas gerais, as

individuais demandavam bastante concentração.

À noite, desci para pegar meu jantar. Minha família não tinha o hábito

de compartilhar refeições. Era cada um por si. A governanta preparava e

deixava na cozinha.

Me servi com salada, um pedaço pequeno de filé e purê de batata.


Comi sozinha na varanda, olhando para a noite escura. Minha casa ficava em

um bairro luxuoso. Não havia cerca entre os limites da propriedade, era


assim que Melissa e eu crescemos brincando e criando universos incríveis,

cheios de aventura e diversão.

Fiquei um tempo olhando para o céu, pensando que havia muito no

mundo que eu queria conhecer. Todo verão, eu viajava com a família da


Melissa. Eles costumavam passar uma semana em algum lugar de praia e em

abril, no mês do aniversário dela, um país diferente. Sempre era divertido.


Nós duas tínhamos planos de fazer longas viagens quando nos tornássemos

adultas. Dinheiro não era necessariamente nosso problema e meu pai pouco
se importava se eu estava em casa ou não.

Algumas semanas atrás, viajei com a escola e ele nem percebeu.

Apenas quando voltei que questionou onde eu estava e porque carregava uma
mala. Ele nunca foi em uma competição ou apresentação para os pais. Antes,
ainda convidava, me dava o trabalho de avisar, depois, ficou mais fácil não

dizer nada, assim eu não gerava a expectativa de que ele iria aparecer.

— Olá, garota esquisita. — Leela apareceu na cozinha com uma taça


de vinho.

— Olá, vadia — retruquei com um sorriso doce. Johnny apareceu e me


deu um olhar irritado por xingar sua namorada, mas ele não falou nada,

sinalizando para que ela saísse da cozinha e não ficasse me antagonizando,


como costumava fazer.

Lavei a louça e fugi para o meu quarto novamente.

Melissa estava me ligando assim que entrei, agarrei meu telefone e


tranquei a porta. Ela queria fofocar. Me joguei na cama, ouvindo-a contar

sobre sua ida ao cinema com o seu novo ficante. Ela estava louca para
perder a virgindade, não querendo ir para a faculdade sem ter a experiência

do sexo. Eu entendia. Nenhuma garota se mudava para o campus ainda


virgem.

Meu último quase namorado quase me fez chegar até o sexo, mas a

coisa esfriou um pouco quando ele se mudou para Nova Jérsei, treinando
muito no time de sua nova escola e como era natural, fez novos amigos por lá

e por consequência, uma nova namorada. Eu não fiquei magoada, talvez


porque não estava apaixonada. Depois dele, beijei alguns garotos nas festas
que ia com Melissa, mas era difícil me sentir conectada com algum deles

diante da perseguição que as garotas da escola tinham comigo.

Encerramos a chamada quase meia noite. Apaguei a luz e me cobri,

pensando se teria o pesadelo novamente, já meio com medo de dormir.


Cansada, logo peguei no sono e não levou muito tempo para estar no meio do

fogo, sentindo o calor das chamas me consumindo enquanto o choro da


criança implorava por mim. Eu precisava segurá-lo.

Era meu dever salvá-lo.


Capítulo 2 | Ava.
Nova Iorque.

Terminei meu trajeto de corrida e me joguei na grama dos fundos da

minha casa, morrendo de calor, com o peito doendo por ter respirado errado
nos últimos minutos. Meu treinador, Scott, gritou que eu fiz em menos tempo,

porém, me forcei além do que deveria. Meu coração estava retumbando no

peito. Ele se aproximou e se inclinou, me olhando com diversão. Ele


acreditava que eu estava preparada para a maratona enquanto eu pensava que
seria a última a chegar.

— Hoje você vai refletir sobre o que te levou a errar no final e amanhã

vamos debater sobre isso e em como controlar durante a corrida.

— Tudo bem. — Ofeguei.

Ele acenou e foi andando em direção ao carro. Depois que me


recuperei, fui andando devagar, entrei pelos fundos, tomei banho e fiz um

lanche sozinha em casa. Os funcionários estavam em folga coletiva e eu não

sabia onde meu pai e irmãos estavam. Eu nunca sabia mesmo.

Melissa me ligou, querendo saber se eu queria aproveitar uma tarde no

shopping. Aceitei na mesma hora, desejando ter algumas roupas novas e

novo material de treino. Peguei minha bolsa, enfiando um chiclete na boca e


saí em alta velocidade. Precisei desviar de uma SUV que passava

lentamente, com os vidros escuros e dei o dedo médio porque ele estava na

faixa errada.

Parei em frente à casa da Melissa e ela já estava pronta, saindo

rapidamente pelos degraus.

— O que vai querer comprar? — Dei a partida.

— Muita coisa. Quero simplesmente gastar o dinheiro do meu pai

porque estou com muita raiva dele. Simplesmente não entendo como meus

pais continuam casados, ele trai minha mãe descaradamente.

— Você sabe que é pela política. São raros os políticos recém-

divorciados por escândalo de traição que chegam perto de ganhar qualquer

corrida.

O pai da Melissa era um senador muito famoso que adorava provocar


seus oponentes. Ele estava certo que venceria o favorito para a corrida à

governador, Sebastian Vaughn[1]. Eu acompanhava muito por alto,


principalmente porque o pai da namorada do meu irmão também era um e

por ter negócios com meu pai, eu podia jurar que não era boa pessoa. Até o

pai da Melissa eu não colocava minha mão no fogo sobre ser honesto…

Eu só não me interessava porque quanto menos soubesse, menos iria

me preocupar com a vida que minha família levava. Eu tinha o direito de


escolher o meu próprio caminho e contava os dias para isso. Construir minha

vida bem longe dali e sem me sentir a garota que matou a mulher que todos

amavam. Era horrível o sentimento que minha mãe morreu por dar à luz a

mim.

Minha governanta dizia que os médicos avisaram a ela que não deveria

engravidar novamente, que já tinha passado dos quarenta e sua vida estava

em risco. Ela insistiu em seguir com a gestação, mesmo que meu pai tivesse

implorado para que não. Ela aguentou até o oitavo mês, tendo eclâmpsia e

faleceu por uma hemorragia severa, em decorrência de todo seu quadro de

saúde.

— Você ficou muito quieta. Como foi seu treino? — Melissa estalou os

dedos.

— Eu me distraí com meus pensamentos. Foi tudo bem, me perdi um

pouco no final e o treinador quer que eu pense sobre isso.

— O que aconteceu?

— Não consigo superar o sonho, toda noite, a criança precisando de

mim está tomando uma proporção tão grande que está me distraindo na vida

real. Eu simplesmente não sei o que é, já pesquisei sobre todo tipo de

interpretação e o que pode significar. Nada faz sentido. — Parei no sinal e

virei meu rosto. — Estou sem dormir há dias.


— Já pensou em pegar algum tipo de calmante?

— Já sim, tentei comprar sem receita e não consegui. Para pedir ao

meu pai ou irmãos, teria que contar o que está acontecendo e eles vão achar

que é palhaçada.

— Vou pegar um da minha mãe, ela não vai sentir falta, tem aos

montes.

Os pais de Melissa tentavam manter as aparências, mas estava um

pouco óbvio o quanto eles fingiam por causa da carreira dele. Ela ficava

furiosa, porque sabia que a mãe sofria e se enchia de remédios antes de

dormir (e em algumas viagens, reparei que tomava durante o café também).

Melissa amava a mãe, elas tinham uma amizade linda, se ajudavam em tudo e

ela queria ver a mãe solteira, feliz e tendo um amor que merecia.

No shopping, a primeira compra dela foi uma bolsa exclusiva da


Gucci. Eu comprei uma mochila da Prada e um sapato maravilhoso que eu

não sabia quando iria usar. Andamos por todo lugar com os braços cheios de

bolsas, torrando o dinheiro dos nossos pais sem culpa e encerramos o dia

jantando em um restaurante italiano de luxo que vivia lotado.

— Já reparou que aquele homem não para de nos olhar? — Melissa

apontou discretamente sobre seus ombros.


— Ele é mais velho e é gostoso. — Dei um gole do meu vinho.

Ninguém nos pediu identidades para servir bebidas.

— Será que acredita que somos maiores de idade?

— Eu não sei, não aparentamos ser mais velhas do que somos, mas

talvez ele goste de novinhas. — Soltei uma risada, o que fez com que ele

olhasse ainda mais. — Disfarça, que está olhando ainda mais.

— Puta merda! Ele deve ter mais de trinta, isso é certo — Melissa

falou apressadamente.

O garçom se aproximou com dois drinques e um bilhete, enviado pelo

homem do bar. Eu não bebi. Cansei de ouvir meu irmão se gabando por

batizar bebida de garotas na boate e levá-las bêbadas para casa, fazendo

sexo sem que elas estivessem lúcidas. Eu que nunca seria uma mulher

desprovida na cama de um homem sem escrúpulos.

Melissa bebeu, sorridente e ainda flertou com o homem. Eu a proibi de

sair com ele dali, porque não seria responsável por seu desaparecimento.

Era quase meia noite quando chegamos em casa, bem pertinho da hora

de dormir dela. Sua mãe meio que brigou, mas não muito. Entrei em casa, fui

recebida pela escuridão e inicialmente, não havia ninguém. Havia mensagens

do meu pai, querendo saber se eu já estava em casa, perguntando se eu podia

dormir na casa da Melissa e não me dei o trabalho de responder.


Certamente queria fazer uma festinha com seus amiguinhos desonestos.

Como se eu não soubesse quem eles eram…

Tranquei a porta do meu quarto e tomei banho, deitando para dormir.

Meu telefone estava sem bateria, coloquei para carregar e deitei. Todo vinho

me fez mergulhar em um sono gostoso pelo qual eu estava desesperada nas

últimas semanas. Meio letárgica, acordei com um som esquisito, saltei na

cama e parecia como passos pesados no corredor. Confusa, com tanto sono,

fui até a porta e colei meu ouvido na madeira.

Abri a porta e espiei o corredor, andando com calma e parei

abruptamente ao ver o corpo do meu irmão no meio do caminho. Ele estava

morto. Johnny começou a se arrastar para fora do quarto, sangrando, e eu

estava congelada no lugar, horrorizada. Era muito sangue. Meu corpo

começou a tremer e eu queria vomitar, as lágrimas escorrendo pelo meu

rosto enquanto me sentia sem ar.

Johnny vomitou sangue, olhou para o alto e apontou na direção oposta.

— Corre e se esconde, Ava — falou baixinho, gorgolejando sangue. —

Vá agora, Ava.

Meus pés pareciam presos no chão, ouvi o som de passos na escada e

virei, correndo até os fundos. Por um momento, eu me senti dentro do sonho.

Sem fôlego, com o pânico dominando meus movimentos, entrei em um


armário de roupas de cama. Empurrei alguns edredons de lado e me fechei

ali. Cobri minha boca ao ouvir sons de disparo e fechei os olhos, chorando.

Espiei pela fresta, nervosa com um homem passando e arrastando um

corpo com cigarro na boca. O que estava acontecendo? Só podia ser um

pesadelo. Eu devo ter bebido algo batizado no restaurante e estava tendo

alguma alucinação maluca que minha família estava sendo assassinada.

Agarrei meus joelhos, tremendo tanto que meus dentes batiam uns nos

outros.

Por um tempo, houve apenas um silêncio que era assustador.

Pensei em correr até meu quarto e chamar a polícia, mas eu não tinha

certeza se não seria pega. Fiquei com medo de abrir a porta.

De repente, senti cheiro de cigarro. Me encolhi no canto, com as costas


coladas nos fundos e vi dois pés pela fresta. Lentamente, a maçaneta girou e

eu engoli seco. Quando a porta foi aberta, me mantive parada, como se ele
não pudesse me ver na escuridão. Ele agachou e a ponta do cigarro brilhou,

seu olhar intenso encontrou o meu. Senti uma urgência de sair correndo.

— Olá, menina.

Não respondi.

Ele esticou a mão e agarrou meu tornozelo, me puxando bruscamente,


conseguindo controlar meus chutes. Ele me imobilizou com facilidade.
— Não precisa gritar — ele falou baixinho comigo. Quase desmaiei de
tanto medo. Outro homem se aproximou silenciosamente na escuridão,

elevando meu desespero a um nível incontrolável. — Coloque um casaco


nela e a leve para o carro. Irei em seguida.

O outro homem me segurou firme, cobrindo minha boca e arrastou-me

pela casa. Usei toda minha força para lutar contra ele, enfiando minhas unhas
onde conseguia, arranhando para machucar. Sua mão estava firme contra

minha boca e dei uma mordida, ele soltou, me xingando e jogou-me contra o
carro. Gritei a plenos pulmões, pedindo socorro, me debatendo. O

grandalhão parecia novo demais para ser um bandido.

Irritado comigo, abriu a porta e me jogou dentro como se fosse uma

boneca. Fiquei chutando a porta, batendo no vidro, pedindo socorro com


tudo que tinha.

O homem assustador que me pegou, entrou no lado do motorista e me

ignorou completamente. Ele me fez ficar quieta com um olhar e a arma em


suas mãos. Era meu fim? Eu ia morrer antes de realizar todos os meus

sonhos? Por que não estava me matando na minha casa, junto com a minha
família?

— Seu nome é Ava e tem dezessete anos — ele falou enquanto dirigia.
— Sei que está assustada. Entendo que os eventos dessa noite vão te marcar
para sempre, mas, seu pai cometeu um erro ao permitir que seus irmãos
acreditassem que podiam me roubar. Seu pai foi estúpido ao dar o dinheiro

que me devia para meus inimigos.

— O que vai fazer comigo? — Minha voz saiu baixa.

— Você será entregue ao seu padrinho. Ele cuidará de você.

Meu padrinho? Eu não o via há meses, desde que ele e meu pai
tiveram um desentendimento feio. Nunca fui próxima a ele de qualquer jeito.

— Cuidar de mim?

— Se quiser ficar viva e ter uma chance de ter uma vida, será nesses
termos.

— Não vai me matar?

— Não. A não ser que você faça por onde. Quer que eu te mate, Ava?

— Não.

— Isso significa que vai ser uma boa garota para mim?

— Eu não fiz nada. Você pode me deixar ir, eu não vi nada. — Voltei a
chorar.

— Você é uma garota, não pode ficar sozinha. Além do mais, seu

padrinho me garantiu que te manteria segura e na linha. Ou mais pessoas que


ama saberão as consequências de entrar no meu caminho. — Seu olhar
encontrou o meu novamente. — Não hesitarei em me divertir com sua

amiguinha. Ela é linda, faz meu tipo…

— Por favor, não.

Ele dirigiu até a casa do meu padrinho e parou na frente. Não resisti

quando fui puxada para fora. Queria desmoronar. A sensação era que meu
corpo inteiro iria se quebrar em milhares de pedaços.

Meus irmãos foram mortos.

Meu pai foi morto.

Eu não tinha mais ninguém.

Meu padrinho abriu a porta e me olhou, sem demonstrar nenhuma

reação. Eu era testemunha de um horror e ainda assim, estava viva. Havia


chance de continuar vivendo. Por um breve segundo, senti esperança que em

algum momento, tudo ficaria bem. Queria me beliscar para ter certeza de que
tudo que aconteceu era real e não uma ilusão da minha cabeça.

— Eu irei cuidar dela.

— É só uma menina, ela deve ser cuidada independente de tudo que


aconteceu e eu quero a sua palavra que a manterá segura e de boca fechada.

— Claro que Ava terá uma boa vida e saberá que deve ficar quieta. —
Meu padrinho garantiu. Fui empurrada para frente e tropecei ao seu lado.
O homem que me trouxe ali foi embora, ele matou meu pai e me

despejou nos pés de outra pessoa como se eu não fosse nada. Destruiu minha
vida e ainda parecia ter poder de controlá-la para sempre. Minha existência

dependia do meu silêncio. Meu padrinho agarrou meu braço, me levando


para dentro de sua luxuosa sala e pela primeira vez, reparei que meus pés

estavam sujos de sangue. Devo ter pisado no sangue do meu irmão e marquei
meu caminho até onde estava escondida.

Foi assim que fui encontrada.

Sem falar muito, ele serviu um copo de água de costas para mim e
girou lentamente, esticando a mão. Minha garganta parecia que tinha um nó.

O gosto da água estava um pouco estranho, talvez tivesse machucado minha


língua de tanto que trinquei os dentes. Bebi a maior parte e devolvi o copo.

O que iria acontecer comigo?

— Ava, eu não sei como te explicar tudo — ele falou baixo.

— Meu pai está morto?

— Ele mantinha negócios com esse homem que te trouxe, mas há algum
tempo, ele e outra pessoa, decidiram que poderiam investir na concorrência.

— Ele estava mudando as palavras para que pudesse compreender e, ao


mesmo tempo, sem dizer nomes. — Esse homem é perigoso. Ele não tolera

traições, principalmente quando se trata do dinheiro e território dele.


— Foi por isso que brigaram?

— Eu dou valor à minha vida, querida.

— O que vai acontecer comigo? — Meus olhos se encheram de

lágrimas.

— Eu vou te tirar do país amanhã. Irei levá-la para a casa da minha


irmã, vai ficar segura e poderá começar sua vida.

— Eles podem ir atrás de mim?

— Dei a minha palavra que iria te proteger e garantir que nunca falaria

sobre isso. Entenda, estar viva é uma benevolência, porque ele não gosta de
matar mulheres. O que não significa que ele não fará se precisar proteger seu

segredo. — Ele tocou meus ombros. — Mandei que preparassem um quarto.


Vai poder se lavar. Vamos sair em duas horas, já vai amanhecer.

Eu não tinha outra alternativa a não ser aceitar. Eu mal conseguia

pensar.
LEVI

Fogo.

As chamas lambiam o galpão onde testamos novos explosivos.

Era lindo.

Minha nova criação era capaz de devastar um quarteirão inteiro em um


piscar de olhos.

O olhar do meu braço direito era preocupado.

Por quanto poderíamos vender aquilo?

Quem compraria?

Eu não me importava.

Desde novo aprendi que os fortes vencem e quem brinca com fogo, ficará

queimado.
Cedo ou tarde.
Capítulo 3 | Ava.
Nova Iorque…

Ou o lugar dos piores pesadelos.

Todos estavam mortos.

Johnny se arrastando pelo chão me causava calafrios.

Não havia absolutamente mais ninguém.

A água quente do chuveiro caía firme nas minhas costas enquanto


estava com a testa encostada no azulejo frio do banheiro. Aos meus pés, uma

água rosa se acumulava, lavando o sangue da minha família. Todos eles


foram assassinados. Traíram um homem perigoso que muitos temiam e

entregaram o dinheiro dele para os inimigos. Meu padrinho, Cesar, não sabia
explicar nada além de que meu pai estava com planos muito ambiciosos e

irritado que os italianos estavam dominando muitos territórios.

Eu não entendi nada. Tinha a ver com o homem que me trouxe até aqui
ter derrubado o próprio pai do comando e com isso, ele não estava tolerando

traições e ao mesmo tempo, invadindo novos bairros, controlando as vendas

de drogas e estabelecimentos com sua proteção. Meu pai fazia parte desse

jogo. Eu sabia que ele não era santo e fazia coisas ilícitas, mas ele colocou
todos nós em risco… todos os filhos.
O soluço escapou dos meus lábios e a dor no peito era dilacerante.

Eram muitas perguntas sem respostas e talvez, eu não quisesse saber os

detalhes de nada. Era um horror grande demais para processar.

Desliguei a água e me sequei, vestindo uma calça de moletom e

camiseta que foram deixados ali. Eu não tinha nada. Tudo ficou para trás.

Meu celular, documentos, computador… Meu padrinho disse que as coisas

importantes seriam entregues antes de sairmos do país, que eu jamais

poderia voltar à minha casa. Deveria me esconder por um tempo, até tudo se
acalmar. Eu lembrava muito pouco da irmã dele, devo ter encontrado em uma

festa quando pequena.

Queria tanto falar com Melissa.

Será que ela viu ou ouviu alguma coisa? Será que aqueles homens

pouparam sua família? Sua mãe tomava remédios para dormir, não acordaria

mesmo se acontecesse um apocalipse. Era difícil saber se o pai dela estava

em casa. Às vezes, ele dormia fora. As opções variavam entre estar com

alguma prostituta, se divertindo com os amigos ou dormindo na casa de sua

amante fixa.

Rezava que Melissa estivesse bem.

Desejava um abraço apertado.


Estava com medo, me sentindo sozinha e sem esperanças do futuro. Eu

queria chorar pela minha família, mesmo que eles mal se importassem

comigo, eram tudo que eu tinha.

— Sim, eu sei. Foi a droga de uma tragédia anunciada! Eu avisei para

ele não desafiar Enzo Rafaelli, não nesse momento, mas ele pensou apenas

na merda do dinheiro! — Ouvi meu padrinho esbravejar na sala. — Ela está

comigo. Irei tirá-la do país o mais rápido possível. Devo isso à mãe dela,

que sempre foi uma sobrinha amável, que nunca permitiria que o marido

fosse tão ambicioso. Ele condenou a vida dos filhos por ser um egoísta.

Encostei na parede, com as lágrimas escorrendo no rosto. Ele encerrou

a chamada seja lá com quem estava falando e me chamou. Passei a mão nas

minhas bochechas e, no canto da sala, reconheci minha mochila e uma mala.

Ali tinha meus documentos pessoais, até os que ficavam no escritório do meu
pai e roupas.

— Eu te darei um novo computador e celular quando chegarmos em

Amsterdã. É muito importante que não procure sua melhor amiga, Ava. Se
qualquer um pensar que você contou a ela o que aconteceu essa noite, a vida

dela estará em risco. Infelizmente, sua amiga precisará pensar que você foi

embora sem dar adeus.

— Entendi.
Não significava que parecia fácil de aceitar. Como eu ficaria sem falar

com a única pessoa que realmente se importava comigo?

Encontrei um par de tênis e calcei, prendendo meu cabelo. Meu

padrinho olhou para seu relógio, enfiando o telefone no bolso, parecendo

que era o momento certo de sair.

— Vamos. O avião estará pronto em breve. — Ele pegou minhas

coisas.

Entramos em uma SUV dentro da garagem, coloquei o cinto e ele saiu

por outro lado, um portão discreto que deveria ser entrada e saída de

funcionários. Tensa como estava, fiquei olhando de um lado ao outro. Estava

muito cedo para ter engarrafamento e estávamos indo no sentido contrário de

qualquer confusão. Não era o caminho do aeroporto que conhecia e me

perguntei se iríamos para alguma cidade vizinha.

Meu padrinho estava tenso. Ele era o único parente vivo por parte de

mãe e ainda assim, não éramos próximos. Eu nunca me senti bem-vinda em

qualquer lugar além da casa de Melissa para procurar qualquer um e buscar

uma ligação. Todos sempre me olharam como o resultado da teimosia da

minha mãe, me fazendo sentir culpada pela morte dela.

— Estamos chegando. O voo é longo, mas ao sair de Nova Iorque

estaremos seguros. — Meu padrinho soou seguro. — Em Amsterdã poderá


ter uma nova identidade, uma nova vida. Vai levar um tempo para se

acostumar, minha irmã mora em um bom lugar.

Eu só falava francês fluente além da minha língua natal. Como iria me


adaptar? Eu nem sabia qual era a língua oficial em Amsterdã! Estudei na

escola, mas no estado de pânico que me encontrava, nenhuma informação

fazia sentido.

Balancei a cabeça, ainda querendo chorar, com meu estômago doendo

tanto que sentia o gosto ácido na boca.

— Para onde estamos indo? — tomei coragem de perguntar.

— Um aeroporto privado fora da cidade. É onde meu avião fica…

Engoli seco antes de fazer a próxima pergunta.

— Os corpos deles… eu não vou poder enterrar?

— Não. Não haverá rastros do que aconteceu na noite anterior… Seu

pai me ligou ontem à noite, já ciente que havia sido descoberto, ele até disse

que te faria dormir na casa de uma amiga e se reuniria com seus irmãos em

casa.

E eu ignorei a mensagem.

— Papai sabia que ia morrer?


— Seu pai estava se preparando para atacar com o que tinha. Ele não

ia recuar, o que, no meu ponto de vista, foi uma tremenda besteira. Deveria

ter pego tudo e desaparecido com vocês.

Por que meu pai se envolveu com pessoas tão perigosas? Eu sabia que

ele vivia em risco, até porque, ninguém faz coisas ilícitas e sai ileso. Nunca

considerei assassinato, apenas uma prisão. Na minha inocência, me

preocupava com o dia que o FBI descobrisse sobre as drogas e lavagem de

dinheiro. Novas lágrimas caíram dos meus olhos e funguei.

Todos eles morreram. Eles nem sabiam onde eu estava e o que fazia,

nunca me ligavam, esqueciam dos meus aniversários, não me davam

presentes e mal percebiam se estava em casa ou não. Cada um tinha sua

própria vida, seus amigos, não éramos unidos ou tínhamos qualquer afeto,

mas porra, estava doendo muito por tudo. Pelo que vi e pelo que descobri

que faziam.

Meus irmãos mataram pessoas! Eles levaram a dor que sentia em meu

peito para várias famílias.

— Foi como uma limpeza? — A pergunta soou sem sentido, mas ele

entendeu.

Meu padrinho me deu um olhar pesaroso.


— Os italianos precisavam dar um fim em tudo que seus irmãos

fizeram. Chamaram atenção das autoridades, da mídia e é assim que

funciona, eles eliminam qualquer um que ofereça riscos. Eu sei que está

triste e é uma situação fodida, Ava. Você sempre foi uma boa menina, muito

parecida com sua mãe, tudo que te peço é que não busque vingança. Quando

você se envolve com pessoas como os Rafaelli, tem consequências se não

andar na linha.

Como iria me vingar? Eu sequer podia cuidar de mim mesma.

Eu estava prestes a negar e dizer que não iria me vingar, que só queria
me sentir segura novamente quando o carro sofreu um solavanco e gritei.

Agarrei o cinto, sendo jogada por todo lado sem sair do lugar e de repente, o
carro girou várias vezes com vidros voando por todo lado. Fechei meus

olhos, batendo bem forte com a cabeça em algo duro e tudo parou.

Os sons ao meu redor estavam confusos. Um zumbido no meu ouvido

me trouxe náuseas. Abri os olhos e vi o cano de uma arma apontando para o


peito do meu padrinho desacordado. Me encolhi, toda torta, a porta ao meu

lado foi aberta e a luz forte do sol, somada com minha tontura, me impediu
de ver o rosto de quem estava ali.

— Leve-a — ele falou e tentei bater em suas mãos.


Fui bruscamente puxada e soltei um arquejo, com dor. Um homem
grande com um sotaque diferente me jogou sobre seus ombros. Ficar de

cabeça para baixo me fez vomitar. Ele xingou e me sacudiu, jogando-me na


mala de um carro.

— Não, por favor! — Bati com fraqueza no teto. — Por favor. Me

tirem daqui! Socorro!

Fiquei gritando e chutando com toda força que tinha, o carro estava se

movimentando em alta velocidade, os solavancos me faziam gemer de dor e


bati com a cabeça em um estepe. A dor me fez parar de me debater, aos

poucos, era como se minha mente fosse lentamente escorregando para a


escuridão. Eu me apegava a um fio de luz que minha consciência ainda

tinha.

Lutei para ficar sã e não me entregar com facilidade, mas falhei ao


fechar os olhos. Não consegui abrir novamente. Fui engolida por uma

miríade de dor, me senti abraçada pelo frio e minha cabeça pressionada,


como se estivesse no fundo do oceano.

Talvez naquele momento eu estivesse morrendo.

E se fosse verdade, eu estava feliz pela primeira vez em horas.


VOCÊ VIU AVA MOORE?

Cartazes sobre o misterioso desaparecimento da jovem Ava Moore são

espalhados pela cidade através da iniciativa de sua amiga, Melissa Banks,


que é filha do Senador Reinald Banks. Apesar das autoridades informarem

que a família Moore saiu repentinamente do país depois de descobrir


informações de uma força-tarefa do FBI investigando o patriarca da família,

Melissa alega que Ava jamais seguiria sua família e não iria embora no meio
da noite sem se despedir.

O movimento ganhou muita potência nas redes sociais porque todos querem

saber onde Ava Moore foi parar. Testemunhas alegam que viram uma garota
com as características dela sendo levada à força no quintal de sua casa. Uma

funcionária, que retornou mais cedo da folga coletiva, ligou para a polícia

dizendo ter sido presa no porão e que a “menina" havia sido levada. No

entanto, em seu depoimento, ela alega que foi um engano e nada aconteceu,

que não viu Ava ou qualquer pessoa na casa.

Melissa pede por respostas.

Afinal, onde está Ava?


Capítulo 4 | Levi
Nova Iorque

Alguns meses depois que a Ava foi sequestrada.

— Bom, muito bom. — Alex Bennigton[2], meu cliente, analisou o rifle


à sua frente. — Deu uma modificada na lente, certo? Eu gostei disso. Vou

ficar com todas. — Devolveu a arma para a caixa e sinalizei para meus
homens começarem o carregamento. — Obrigado por atender a esse pedido

bem rápido.

— Sempre a favor dos meus sócios.

Alex deu um aceno e foi conferir as novas cargas. Sem precisar fazer

mais nada ali, junto com Lucas, meu primo e irmão da vida, retornei para o

carro. Ele me deu um olhar, preocupado com meu humor, ciente que estar em
Nova Iorque deixava meus nervos à flor da pele e me conhecendo como

ninguém conhecia, sabia que era melhor não me encher com suas perguntas
inúteis. Eu estava ali a negócios diversos e infelizmente, para encontrar com

meu pai.

O velho sádico estava na merda, se equilibrando em uma corda bamba

depois de fazer uma estupidez e eu estava deliciosamente assistindo a sua

queda para dar meu golpe final. Esperei por muitos anos e adorava ver a sua
ruína… que significava muito para mim. Moralmente, ele pensava que eu

estava ao seu lado, que suportei toda desgraça apenas pelo prazer de sua

intragável companhia. Ele não confiava em mim totalmente.

Seria burrice confiar, mas eu era seu único filho e por consequência,

herdeiro de tudo. Há alguns anos, ele me passou o controle das empresas e

ainda assim, tinha poder de executar algumas ações que fodiam com a minha

paciência e quase revelavam minhas verdadeiras intenções.

— Vamos direto para o escritório?

— Sim. Sem paradas.

Tirei meu isqueiro do bolso, abrindo e fechando a tampa, assistindo a

chama nascer e morrer. Lucas soltou um estalo, ele odiava o fogo e metade

de seu corpo com marcas de queimadura do pescoço para baixo eram a


prova disso. Nós dois queimamos e sobrevivemos ao cheiro das nossas

carnes fritando enquanto tudo ao nosso redor era apenas calor e medo.

Ele odiava o fogo.

E eu gostava dele.

Essa era a nossa principal diferença.

No entanto, a lealdade e confiança entre nós era forte o suficiente para

que entrássemos no fogo um pelo outro novamente.

Um dia, teríamos a nossa vingança.


O escritório da empresa em Nova Iorque ficava no prédio que

representava comercialmente todos os interesses que restavam da General

Beauchamp empresa de defesa e segurança da minha família há duas

gerações.

Meu avô paterno foi um general de guerra e especialista em armas de

fogo, uniu-se ao meu avô materno, que atuava como especialista em defesas

internacionais. Juntos, fundaram uma empresa que com o passar dos anos,

acumulava bilhões por investir em aviões de caça, boeings modernos, armas

tecnológicas e, atualmente, segurança cibernética.

Recentemente, adquirimos o software de bloqueio que irritou algumas

pessoas no meu caminho, mas eu sabia até onde queria ir no jogo confuso de

poder. Eu tinha um objetivo e esse, não era me afundar sem ter como sair.

Era ambicioso, mas tinha controle. Dominar tudo e todos ao meu redor
facilitava não cair em armadilhas.

Elas eram muitas.

Uma delas, estava sorrindo na minha direção, do lado de fora do meu

escritório.

Jackson Bernard[3]. Esse homem era inteligente o suficiente para saber

que se insistisse mais em me arrastar para sua teia de manipulações, eu

queimaria tudo que ele conhecia. O que ofereci a ele era tudo que daria:
armas e munições. Ele balançava seu negócio como se fosse um oásis no

meio do deserto e a verdade, era que ele controlava sua existência.

Eu nunca daria a qualquer pessoa o poder de me controlar.

— Eu já entreguei o que pediu. — Passei por ele.

— Estou aqui por outro motivo. Um de nós gostaria de te conhecer. —

Ele parou na porta. — Rafaelli.[4]

Virei ao ouvir o nome.

— A famiglia está interessada nos meus equipamentos?

— Sim e eles pagam bem. Dessa vez, por ter atendido a um pedido

inesperado tão em cima da hora, não vou cobrar nenhuma porcentagem por

fazer essa apresentação.

— Não sou um dos seus associados, Jackson. Eu recebo pagamentos

dos Bennigton e não seus. Quem quer me conhecer é o Rafaelli e não o

contrário. Se tiver que cobrar de alguém, cobre dele. — Apontei para a

porta. — Não tenho mais nada para falar com você.

Jackson sorriu, sacana, provavelmente prometendo a si mesmo que um

dia me derrubaria. Eu o respeitava. Dentro de sua comunidade, ser quem ele

era exigia muita astúcia, inteligência e um dom nato para manipulação, mas
ele não era um monstro. Faltavam escrúpulos e talvez um pouco de caráter,
mas não havia escuridão em sua vida. Era apenas um moleque rico que

gostava da vida errada e fez sucesso com isso.

Eu não podia julgá-lo. Chegando ao final dos vinte e poucos anos, eu


tive que renascer das cinzas da morte e aprender a sobreviver. Se eu queria

vencer, eu tinha que permitir que a parte ruim do meu DNA falasse mais alto.

Daria tudo para ser apenas um irresponsável com dinheiro no bolso tocando

as empresas da família ou um estudante sonhando com o futuro.

Não era isso que eu era.

Nasci em uma família moralmente distorcida.

Me conheciam como filho do diabo. Se eu não agisse como um anjo

caído, me comeriam vivo, como já tentaram no passado e eu aprendi que a

escuridão na minha essência precisava de voz. Eu passei a gostar dela.

Aprendemos a conviver, no ódio e na tortura, pouco a pouco, nos tornamos

um só.

— Acha mesmo que os italianos querem negócios ou é Jackson

tentando te manipular? — Lucas enfiou as mãos no bolso, me encarando com


as sobrancelhas unidas. Ele não gostava de Jackson. Meu primo era quieto a

maior parte do tempo, mas não hesitava quando se tratava de nos proteger de

qualquer um que ativasse a sua desconfiança.


— Ouvi dizer que Enzo Rafaelli não manda recados. Jackson está

tentando me mostrar que pode me trazer conexões, já que não estou

interessado em fazer parte de sua cúpula. — Fui até o bar e me servi com

uísque. — Se o italiano quer me conhecer, ele dará um jeito de aparecer.

— E você vai ouvir?

— Estou um pouquinho curioso em como ele pensa que posso ajudá-lo.


— Bebi tudo de uma vez só.

Lucas não falou mais nada, foi para o outro lado, mexendo em seu

telefone. Em pouco tempo, precisaríamos sair e tínhamos trabalho a fazer. Eu

estava exausto. Nunca conseguia dormir muito fora de casa e trabalhando a

maior parte do tempo dentro da minha casa, os serviços externos e viagens

eram cansativos.

Meu pai chegou uma hora depois do combinado, usando preto e com

uma expressão austera. Ele sentou à minha frente, cruzando os braços e me

encarando como se eu fosse seu inimigo. E eu era. Ele me fez ser assim e

não podia reclamar.

— Você cortou meus gastos, Levi?

— Você me colocou no seu lugar para fazer o melhor e eu fiz.

— Eu tenho compromissos com pessoas além do que sabe, eu ainda

não te passei o controle dessas coisas e talvez nunca passe. Um homem como
eu jamais abandona o jogo por uma aposentadoria…

— Sei que tem seu acordo com os ucranianos, pai. Acha que não
rastreio meus equipamentos?

Ele soltou uma risada seca.

— Seus equipamentos?

— Sim. Se eu criei e sou dono da empresa, eles são meus. Em todo

caso, não vim até Nova Iorque para discutir sobre quem está alimentando.
Estou aqui para controlar os danos. Seus gastos exorbitantes com um certo

líder da máfia ucraniana em casas de prostituição estavam chamando atenção


das autoridades. Decidi intervir da maneira que pude antes de ter que vir

aqui tirá-lo da cadeia. — Me reclinei na cadeira, observando seu olhar


surpreso. — Está ficando descuidado, meu velho.

— Te ensinei esse jogo, garoto.

E como…

— Devo te agradecer por cuidar de mim, filho?

— Não. Deve tomar cuidado. — Porque ainda não está na hora de

morrer.

— E o que mais?

— Quero que pare de ter negócios com eles.


Ele riu.

— Por que eu faria isso?

— Família Moore. Se você não parar, trarei à luz o seu envolvimento

na morte deles. A execução de todos, inclusive, da jovem Ava que todos


ainda procuram. Sei que manipulou toda a situação para que parecesse que

eles estavam traindo os Rafaelli.

— Eles estavam. — Ele deu de ombros, um gesto muito infantil para


um homem da idade dele.

— Estavam e não eram os únicos. Talvez eu deva contar a verdade?

— E arruinar o nome dos Beauchamp?

— Arruinar? Eu simplesmente serei um filho muito envergonhado e

humilhado com as atitudes do pai. — Coloquei a mão no meu peito para


compor minha cena e voltei a ficar sério. — Não estou brincando. Terá seu

dinheiro de volta quando parar de negociar com eles.

— Por que isso tudo? — Ele começou a se estressar.

— Acredite ou não, estou protegendo meu sobrenome, mas não

hesitarei em te deixar queimar se isso significar me salvar. Sou um homem


de negócios, papai.

Sua expressão contrariada me revelou que ele faria o que pedi por um
tempo, exatamente como previ. Ele saiu sem falar nada, batendo a porta.
Enviei uma mensagem em meu telefone, assim conseguiria o que planejava.
Estava me saindo muito mais fácil do que havia imaginado, porém, parecia

cedo para comemorar.

Troquei um olhar com Lucas e demos um tempo antes de retornarmos

para a casa que estávamos. Eu ainda tinha trabalho a fazer, mas evitaria ficar
exposto.

— Estamos sendo seguidos — Lucas avisou.

— Eu sei.

Um minuto depois, debaixo de uma ponte, fomos encurralados. Os

homens saíram dos carros, estavam armados, mas não apontando para nós.
Seu líder saiu de dentro deles e abri minha porta.

— Ouvi dizer que gostaria de me conhecer. — Inclinei a cabeça para o

lado.

— Ouviu certo. Pena que o fofoqueiro do Jackson chegou na frente.

— Eu não preciso de intermediário para fazer negócios. O que você

quer?

— A cabeça do seu pai na minha mesa. — Arqueou a sobrancelha. —

Está disposto?

— Bom… vai ter que entrar na fila. Não posso te ajudar. — Ninguém
além de mim o mataria. Virei para voltar para o carro. — Mas posso te
entregar outra cabeça que tanto deseja.

Enzo me analisou com calma.

— Acho que podemos fazer negócios.

— Talvez. Me siga e descubra.

Lucas entrou no lado do motorista. Eu não esperei para ver se ele ia

me seguir ou não. Ter os italianos do meu lado ajudaria, caso contrário,


também não me atrapalharia. Até porque, minha busca era uma vingança e

não uma sede por territórios e controle de pontos de drogas. Aquilo não era
para mim. Eu os alimentaria com armas e munições, mas ficaria fora dessa

disputa.

Se ele quisesse, esses eram os meus termos.


LEVI

— Eu reconheço um filho problemático de longe — Enzo Rafaelli

brincou, sentado do outro lado da mesa, me analisando. — O que quer em


troca dessa informação?

— Ainda nada.

— Não gosto de negócios em aberto. Não tive uma boa experiência

com um Blackwood antes, por que teria agora?

— Em primeiro lugar, foi o merda do seu pai que fez negócios com o

meu.

— Touché. — Ele sorriu.

— E em segundo lugar…

— Só um minuto. Pode aumentar a televisão? — Ergueu o dedo,


olhando para a tela atrás de mim. Lucas estava igualmente confuso, mas

pegou o controle e aumentou o volume.

Um telejornal apresentava uma matéria sobre a garota que acreditavam

estar desaparecida, mas eu sabia o que havia acontecido.

— Ela está morta. Isso é uma perda total de tempo e dinheiro —


murmurei, irritado. Se ele gostava de ser sádico a esse ponto, que fosse em
seu próprio lugar.

— Não, não está morta — Enzo retrucou. — Estou procurando por ela.

— Não está? — questionei, sem esconder minha surpresa. — Você

sabe que os matou com um golpe armado pelo meu pai. Ele também deveria

morrer naquela noite.

— Eu sei, mas como você vai matar o seu pai, gastarei meu tempo

procurando por ela.

Não consegui responder mais nada quando um vídeo dela começou.


Seu rosto preencheu a tela e senti algo dentro de mim quebrar em milhares

de pedaços. De repente, foi como se eu tivesse perdido aquela garota na

minha vida, uma dor começou a incendiar minhas veias com uma saudade

por alguém nunca visto antes.

Em meu íntimo, eu a conhecia.

Verdadeiramente, nunca a vi antes.

Sugado com a intensidade do olhar e a beleza de seu rosto, eu soube

que seria mais um procurando por ela.

E iria encontrá-la.
Capítulo 5 | Ava.
Nova Iorque

Ou ela assim pensava que estava.

Quanto tempo havia se passado?

Deitada, olhando para o teto, eu já sabia quantos pontos de poeira


tinham ali. Era noite ou dia, eu não fazia ideia. Às vezes, eles me soltavam

de dia, permitiam que passeasse pelo jardim, pegasse sol e fizesse uma
refeição completa na varanda. Outras, eles me pegavam à noite e me

colocavam sentada em um banco, mandando que ficasse imóvel para que o


velho nojento pudesse tocar piano e me olhar.

Quanto tempo havia passado desde o acidente e a morte do meu

padrinho?

Eu não sabia.

Não havia ninguém para procurar por mim. Melissa deveria pensar que

estava morta ou fui embora sem me despedir. E ali… eu ficaria para sempre.
Presa em um quarto pequeno, todo escuro, com móveis de madeira como

uma casa de boneca. Ele me vestia como uma.


Laços no cabelo, vestidos longos e ornamentados, colares de pérolas e

queria que ficasse parada. Meus pés ficavam presos com correntes para que

eu não pudesse correr como tentei nas primeiras semanas. Eles, seja lá quem

fossem, nunca bateram em mim porque uma boneca não tinha hematomas.

Nunca fui violada fisicamente.

Não podia dizer o mesmo da minha cabeça, que fodida, já não era mais

a mesma. Todos os dias repetia o mantra que não importasse o que fosse

acontecer, eles não podiam me quebrar. Eu estava viva, um dia após o outro,
tentava me apegar ao fio de esperança de que haveria uma vida além do

cativeiro. Além do quarto que parecia uma caixa de brinquedo.

Além de ser um objeto na estante de um imbecil.

Eu fui pega e acordei ali, não sabia quanto tempo fiquei desacordada,

apenas me vi com curativos e pontos, com fios que me conectavam a soro e

medicação de tempos em tempos. Uma mulher cuidava de mim, mas ela

nunca respondia minhas perguntas, mesmo com toque gentil e fala suave, ela

ignorava meus apelos sem se importar.

Nos primeiros dias, eu achei que eles me matariam a qualquer

momento, depois, que me venderiam e por fim, que seria estuprada. Eles

brincaram com minha mente colocando músicas infantis e me dizendo como

me vestir, me portar e nunca falar. Ignoraram meus gritos. Apenas correram


atrás de mim todas as vezes que tentei fugir e não me seguraram quando

quebrei o que consegui em uma sala chique no andar de cima.

Eram bons em agir como se eu não existisse.

Eu estava na escuridão e pouco a pouco ela tomava um pouco de mim.

Presa e refém, a Ava que sonhava em ganhar uma competição de

corrida não existia mais.

Movi meu braço e o barulho das correntes, minha punição por não ter

ficado quieta durante as horas intermináveis que o meu captor tocava piano,

me fez arrepiar. Além dos pés, estava com os braços presos. Sempre que
desagradava, o castigo era silencioso. Nenhuma dor física era imposta.

Apenas minha alma, ego e orgulho estavam feridos.

Nenhum ser humano nasceu para ficar preso.

Meu estômago roncou de fome e fiquei me perguntando quando

comeria novamente. As refeições eram confusas. Só podia deduzir que era

conforme o humor de quem mandava na casa. Tinha dias que era um mingau

com aveia sem gosto e dias que era um filé mais macio que manteiga. Talvez
tivesse a ver com meu comportamento durante o momento que precisava

ficar sentada, como se estivesse dentro de uma redoma de vidro.

Eu não entendia. O que ele queria comigo?


Tinha dias que me sentia anestesiada. Era um vazio dentro do meu

peito. Sem esperanças, sem nada. Eu não existia mais.

Ouvi os sons da chave na porta e ergui meu rosto, fechando meus olhos

com a claridade do corredor e virei, me encolhendo no canto. A bandeja foi

deixada na mesa, com comida e minhas mãos foram soltas. Ele também

destrancou a porta do banheiro, deixando um novo grupo de toalhas com

roupas, saindo novamente sem falar nada. A luz ficou meio acesa, eu sabia

que apagariam com tempo o suficiente para me lavar e comer.

Eu não perdi tempo. Era impossível fazer qualquer coisa na

escuridão.

Tomei banho, o cheiro do sabonete era ruim, como se quisesse imitar o

perfume de boneca nova. Me dava vontade de vomitar. Eu não me depilava

há séculos. Era um horror. Meu cabelo estava longo demais, minhas

sobrancelhas sem nenhum formato e eles, obviamente, não permitiram

qualquer navalha perto de mim, não que eu fosse me matar e sim, atacá-los.

Certamente eu iria.

A comida era espaguete com almôndegas, estava cheiroso e muito

gostoso. Não lembrava quando havia comido antes. O tempo no ócio era

completamente confuso. Terminei tudo, lavei minha boca e voltei para o

canto, porque eles buscariam o prato antes de me deixar no escuro


novamente. Deixei a tiara de lado, iria colocar apenas quando ou se eles

abrissem a porta.

Todas as vezes que eu vi na televisão sobre tráfico de mulheres, eu


nunca dei muita bola, achando que nunca seria a garota que teria minha

liberdade tomada.

Toda minha vida foi roubada.

O silêncio chegava a doer meus ouvidos.

Fiquei batendo meu pé contra a parede, tentando fazer algum barulho

além da agonia que me sucumbia. Bati até começar a doer. Minha cabeça

girava.

Fechei meus olhos, caindo no sono novamente e me senti nadando. A

água estava fria. Meu vestido foi substituído por um maiô rosa escuro e eu

emergi, esticando os braços, sorrindo, fazendo sinal para alguém vir até mim

e então, ouvi a risadinha do bebê. Era tão feliz e amoroso. Tão cheio de

amor que me fez acordar chorando.

Abracei o travesseiro com meu coração doendo. Aquilo era pior que

qualquer tipo de tortura.

Era dor para todo lado que me fazia querer gritar.

E do que adiantava?

Ninguém iria me ouvir.


A porta foi aberta horas depois, coloquei a tiara e ajeitei meu cabelo,

seguindo o homem alto sem questionar. Estava dia, era manhã, aquele

friozinho matinal que fazia com que os pássaros visitassem o jardim.

Ele me deixou sozinha ali sem falar nada. Meu café foi servido na

mesa do lado de fora, torrada, ovos e café preto puro, sem açúcar. Caminhei

sem pressa pelos arbustos, olhando as flores, sentindo meus pés na grama

ainda fria e as correntes chegavam a me prender em algumas raízes. Sentei

em uma ponta, mordiscando meu pão e olhei além das árvores.

Podia sentir o cheiro do mar e às vezes, pensava que ouvia o som das

ondas. Tentava me localizar. Estava perto da praia? Eu não fazia ideia se

estava fora de Nova Iorque. Eu não lembrava de nada entre o acidente e

acordar à noite.

— Quando será que irei sair daqui? — questionei para o nada. Olhei

para o alto, chorando. Eu nunca pensei em Deus. Não fui criada para

acreditar em nada, fora de qualquer religião. — Se tiver alguém aí em cima,

por favor, me tire daqui.

Ouvi sons de carros se aproximando e era tão raro que virei

rapidamente, ficando de pé. Ergui meu vestido e corri o mais rápido que

consegui para a parte da frente da casa. Virei a esquina da varanda e antes


que pudesse ver completamente o grupo de homens que saíam dos carros, fui

pega por trás e minha boca foi coberta.

— Fique quieta! — ele ordenou. — Não solte um pio.

Ele apertava minha boca tão forte que estava doendo meu maxilar e fui

arrastada contra minha vontade para um quarto que não era o que costumava

ficar. Ele me jogou dentro e fechou a porta. Bati meu punho, frustrada e me

pendurei na janela, querendo olhar para baixo.

Um homem saiu do carro depois que os outros pareciam olhar ao

redor, assegurando a segurança. Ele ajeitou o terno, era bonito, com o cabelo
grisalho cuidadosamente arrumado. Parecia letal e a vontade de pedir ajuda,

socorro, morreu com o medo que borbulhou no meu estômago. Ele olhou
para cima, como se sentisse que estava sendo observado. Me escondi,

encolhida contra a parede e escorreguei para o chão.

E se ele estava ali para me levar?

E se algo pior fosse acontecer?

Eu não queria ser vendida. Queria liberdade. Ter minha vida ou que
restou dela de volta.

Abracei minhas pernas, escondendo o rosto entre meus joelhos.

Quanto tempo mais eu iria aguentar?

Eu não tinha mais forças para ter fé e esperança.


Depois de quase uma hora, ouvi vozes alteradas. Eu não entendia o
idioma de quem estava comigo, eles falavam pouco em inglês, com um

sotaque muito carregado. Tentei entender através dos ruídos e não consegui
muito além de “irei levá-la agora”. Palavras como presente, procurada e

revogado chegaram aos meus ouvidos e sem fazer nenhum sentido, eu sabia
que era sobre mim.

Um tempo depois, a porta foi aberta novamente e outro homem, que

não conhecia, entrou e caminhou decidido na minha direção. Eu não sabia se


implorava para ficar, se gritava socorro ou simplesmente aceitava meu

destino. Com os pés pesados e o coração retumbando no peito, fui arrastada


pelos corredores, tropeçando nas correntes e quando vi a porta da frente,

quase desmaiei.

Estava sendo levada.

Para onde?

De relance, vi a mala e mochila que estavam no carro do meu padrinho


sendo jogadas em um dos carros. Eles estavam com meus documentos e

pertences pessoais o tempo todo? Eu me senti um animal de estimação,


sendo repassada a um novo dono. Com as mãos amarradas, fui empurrada

para o carro e dentro, só havia dois homens e eu. Um dirigia e o outro,


armado, sentado ao meu lado, com uma expressão de desconforto.
Para minha sobrevivência, fiquei quieta. Eles não cobriram meu rosto,
me permitiram ver todo o caminho e em uma das placas, pude perceber que

estava em Nova Iorque ainda, mas longe da cidade. Perto da praia. A viagem
seguiu por quase uma hora, fazia tanto tempo que eu não via carros ou

pessoas que me senti retornando de uma viagem de outro planeta.

O carro entrou em uma mansão luxuosa e parou na frente. Eles me

tiraram bruscamente, me puxando pelas escadas sem se importar com meus


pés presos no vestido, embolados nas correntes. Fui levada para uma sala e

jogada no sofá. Eles saíram sem falar nada. Corri até um telefone, tentei
pegar como pude e estava mudo. Fui até a televisão, buscando o controle e
fui contemplada com uma tela azul.

A janela estava fechada. Não tinha como sair.

— Bem que me avisaram que você tentaria correr na primeira

oportunidade que tivesse. — O homem que vi pela janela entrou na sala e


seu rosto era extremamente familiar. — Olá, Ava. Quanto tempo, querida.

— Sr. Beauchamp. — sussurrei. Ele era um dos sócios do meu pai.

— Que bom que lembra de mim. — Foi até o bar. — Gostou da sua
estadia com meu velho amigo?

— Vai se foder seu bastardo sádico! — gritei, furiosa. — Você era

amigo do meu pai!


— Falou as palavras erradas. Éramos sócios e a partir do momento

que entramos em desacordo, eu fiz o que achei melhor. — Sorriu de lado. —


Pode gritar o quanto quiser, aqui não será ouvida e até que eu encontre onde

seu pai escondeu meu dinheiro, você vai ficar bem aqui. Acredite em mim,
amorzinho. O velho já estava de saco cheio de você, precisando de outra

inspiração para brincar de boneca, ele ia te eliminar como fez com as


outras.

— Eu não sou a porra de uma boneca!

— Era. Agora, vai ser como meu animalzinho de estimação, se


mantiver um bom comportamento, ganhará coisas, se for má, precisará ser

adestrada de um jeito bem dolorosamente eficaz. A escolha é sua, Ava. Eu


adoro ver uma mulher sofrendo de dor, mas para seu interesse, eu não gosto
de meninas novas. Posso abrir uma exceção se me provocar. — Bebeu seu

bourbon lentamente, saboreando e a porta abriu mais uma vez. — Será


levada ao seu novo aposento. Bem-vinda ao meu lar.

Recuei contra a parede, não querendo ficar presa em uma cela e


mesmo que tenha forçado meu corpo no lugar, foi inútil diante da força que

foi usada contra mim. Não era uma cela e sim um quarto normal, cama, mesa,
banheiro e armário, mas eu estava igualmente trancada. Fui até a janela,

havia uma grade. Eu podia sentir o frescor da vida lá fora e continuava


presa.
Refém.
Capítulo 6 | Ava.
Nova Iorque

Entre a passagem de tempo…

Fiquei horas no quarto ainda com as roupas de boneca até que dois

homens entraram. Eles soltaram minhas mãos, deixaram água, biscoito, frutas
e um conjunto de roupas que parecia que foram aleatoriamente escolhidas em

lojas de departamentos. Um deles hesitou um pouco antes de deixar um livro


em cima da mesa e sair, me trancando novamente. Com fome, avancei nas

frutas, bebendo água como se tivesse saído de uma temporada na seca.

Meu estômago chegou a doer. Respirei um pouco, mordendo com mais


calma, dei uns bons goles e sentei novamente, me acalmando. Mexi em todas

as bolsas, encontrando uma escova de dentes infantil, produtos de higiene


dos básicos e eu odiei que já estava me acostumando a me virar com as

correntes que prendiam meus pés. Tomei banho e na frente do espelho, mal

reconheci a garota ali. Mais magra, pálida, abatida e com o cabelo


parecendo fios de vassoura.

O vestido evidenciava meus ossos.

No pacote, havia calcinhas e absorventes, meu ciclo estava irregular,

provavelmente por estar subnutrida e abaixo do peso, mesmo assim, foi um


alívio ver que não precisaria me virar com papel higiênico. Voltei a sentar,

pensando que se eu conseguisse sair, se eu corresse o mais rápido que

pudesse, poderia encontrar alguém para pedir ajuda. Alguém com um

telefone celular que me conectasse com a emergência.

E se eu encontrasse meus documentos…

Ele provavelmente guardaria em um escritório de difícil acesso na


casa. Se era como meu pai, tinha um cofre com todas as informações que

ninguém deveria saber. O que ele quis dizer sobre encontrar o dinheiro que

meu pai escondeu? E melhor… o que eu tinha a ver com isso? O que

aconteceria comigo depois que ele encontrasse?

Não conseguia entender qual era a ligação entre as duas coisas.

Tentei forçar minha mente e lembrar qual era o negócio que


Beauchamp lidava. Não vinha nada na memória. Eu o via nas festas, nas

raras que podia participar e em uma delas, fui apresentada. Não sabia o que

todos os sócios do meu pai faziam, mas sabia que não eram todos que

lidavam com casas noturnas.

Peguei o livro e fui para a cama. Era um romance de fantasia, já bem

surrado. Eu não queria chorar, não queria lamentar e muito menos me

quebrar. Eu queria ficar forte, pelo menos dentro de mim mesma. Seria uma
boa menina, como ele pediu. Ele poderia não ser como o velho, que me

queria sentada e bonita como uma boneca para que pudesse tocar.

Esse podia me ferir de muitas formas que eu não estava disposta a

arriscar. Por mais que houvesse momentos que eu quisesse desistir, eu tinha

que aprender a ser fria para lutar por mim mesma quando fosse o momento

certo. Eu tinha que tirar forças do meu interior. Sempre fui uma menina forte,

estava me tornando uma mulher no meio do caos e me recusava a acreditar

que minha passagem nessa terra era para sofrer.

Eu teria mais nessa vida.

O pesadelo recorrente que tinha se tornou um sonho. Correr para os

braços do bebê era tudo que me mantinha sã. Um dia eu o seguraria,

acalentaria seu choro. Um dia, eu olharia o fogo e não sentiria medo.

O tempo… era o meu principal inimigo.

Dentro daquele quarto, eu não sabia quanto tempo havia passado. Dias

iam e vinham, a comida entrava e saía, novos livros eram entregues e eu

ficava apenas ali. Sem voltas no jardim, sem sentir a grama entre meus

dedos. As correntes eram trocadas a cada semana. Às vezes elas ficavam

mais apertadas, outras nem tanto.

Tentei contar as luas, as noites, as refeições e eu sempre me perdia

dentro da minha própria mente, confusa com minhas memórias e perdida, não
tinha onde anotar. Podiam ser apenas semanas… mas podiam ser meses ao

ponto de somar anos.

Beauchamp aparecia de vez em quando, me fazia perguntas sobre

reconhecer tal lugar, se eu já tinha visto tal pessoa em casa ou se em algum

momento, meu pai me levou em um banco ou para qualquer país. Ele parecia

ter dificuldade em compreender que eu não sabia porra nenhuma da vida do

meu pai e irmãos. Eu vivia na mesma casa, convivia pouco e não era

próxima de nenhum deles.

Ele me aterrorizava e machucava para ter respostas.

Eu não tinha nenhuma para dar.

Cada dia que passava, me sentia mais nervosa sobre o que ele poderia

fazer por não dar a ele uma resposta satisfatória e ao mesmo tempo, enquanto

ele acreditasse que poderia ajudá-lo, que tinha algo a dar, eu ficaria viva.
Sem conseguir escapar do quarto e sem quaisquer vislumbres da vida lá

fora, eu estava me sentindo um pouco maluca.

Todos os dias, eu falava sozinha, para manter meus pensamentos em

ordem. Eu tentava me manter sã, me apegando a fios de realidade sempre

que me via escorregando demais para dentro do mundo dos sonhos. Era

infinitamente mais fácil criar um universo feliz em que a minha vida era

perfeita, que eu podia correr por aí e sentir o vento no rosto com gosto de
liberdade. Era delicioso fechar meus olhos e me ver tendo uma vida normal,

faculdade, um namorado, viagens com amigos…

E era muito necessário abrir meus olhos e ver que estava presa.

Sem um relógio, sem calendário e qualquer coisa que pudesse me

ajudar a calcular o tempo, eu percebia que ele estava passando a cada nova

noite, mesmo que houvesse dias que eu dormisse o tempo todo. Eu nunca

sabia se tinha dormido poucas ou muitas horas.

— Arrume-se. Você irá comer lá embaixo. — Um dos homens que

estava acostumada a ver entrou no quarto com um vestido lilás, um laço e

produtos para me arrumar. — Sr. Beauchamp terá convidados essa noite,


portanto, se comporte.

— Acabei o livro. Pode trazer outro?

Ele me olhou por um tempo e assentiu, saindo.

Para quem ele queria me exibir? Meu estômago doeu.

Tomei banho e me vesti. Escovei meu cabelo e fiz um coque para

esconder as pontas feias. Não havia muito que fazer com a minha aparência.

Pronta, esperei o momento que viessem me buscar e foi estranho calçar um

sapato depois de tanto tempo. Estava largo, saindo do meu pé e

provavelmente o roçar no calcanhar me traria bolhas.


A porta foi aberta e eu segui o homem, olhando pela primeira vez as

portas, o corredor e tentei absorver tudo que vi. Desci a escada, procurando

onde poderia ser a porta da frente, o caminho para uma saída e fui levada

para a sala de jantar. Beauchamp ficou de pé quando entrei e eu não

reconheci os rostos dos homens que estavam ali.

— Não é ela — o homem disse friamente.

— Ela é Ava Moore — Beauchamp afirmou.

— Ela pode ser sim, mas estou dizendo que ela não é a menina

desenhada nas barras de ouro. Ouvi dizer que era uma criança loira. Essa aí

tem cabelos negros como a noite. — Ele bebeu seu uísque. — No entanto,

não nego que tem um tesouro em mãos. Soube que Moore tem muito dinheiro

espalhado por aí.

— Eu tenho certeza que é ela. — Beauchamp sorriu friamente. —

Basta encontrarmos o ouro. E quanto ao dinheiro, estou dando um jeito

nisso.

— Que vença o melhor. — Um deles ergueu o copo.

Que ouro? Ele queria me exibir para quê? Meu pai tinha dinheiro por

aí?

Beauchamp sinalizou para que eu me sentasse na cadeira ao seu lado.

Meu prato era igual ao deles, sofisticado, bonito e eu estava com fome. Comi
devagar, me sentindo um animal sendo observado. A maneira que um deles

me olhou me fez sentir nojo. Ele queria que as pessoas de seu meio

soubessem que estava comigo. Eu vi o modelo de celular que um deles tirou

do bolso. Era muito moderno e tentei de tudo espiar a data, mas ele logo

apagou a tela.

Depois da sobremesa, fui levada de volta ao quarto. No caminho, a

porta da frente foi bruscamente aberta e três homens entraram na casa. O que

me escoltava, tentou me esconder, mas caí no chão. Fiquei de pé rapidamente


e virei, me deparando com um homem que meu corpo inteiro parecia

reconhecer, mesmo que nunca tivesse visto em minha vida.

Olhando em seus olhos azuis impressionantes, senti um turbilhão tão


grande que fiquei tonta.

Maligno.

Tentador.

— Não fui informado da sua presença essa noite, senhor. — O que me

segurava limpou a garganta. — Seu pai tem visitas.

Aquele era o filho do diabo. Lindo como um anjo.

Havia algo sombrio em seu olhar que o fazia parecer um anjo do mal.

— Eu não preciso informar minha presença na casa de meu pai — ele


vociferou e me olhou novamente. — Quem é ela?
— Pergunte ao seu pai, senhor.

Meu olhar atraiu para a porta da frente. Não era uma rua movimentada
ou pelo menos não parecia. Fui puxada para a escada e não vi mais os novos

chegados, mas ouvi vozes alteradas. Coisas foram quebradas, me


assustando.

— Venha logo. — Ele me puxou para o quarto.

— O que está acontecendo?

— Entre e fique quieta. — Ele me empurrou para dentro e bateu a

porta, trancando.

Droga, droga, droga e droga!

Não consegui ouvir nada no andar inferior. Colei meu ouvido na porta

e só recebi ruídos. Escorreguei para o chão, me abraçando e olhei para a


janela. Fechei ao sentir frio de tarde, decidi abrir novamente. Ao empurrar

as cortinas para o lado, na escuridão do jardim, eu vi a ponta de um fogo.


Parecia ser isqueiro. A pessoa abria e fechava, fazendo um barulho que

ecoava até mim.

Ele não se moveu. Vi o brilho de um telefone celular, até o sussurro de

sua voz, mas não vi seu rosto ou quem era.

Ouvi um barulho na porta e me virei, não era quem sempre entrava.


Havia cicatrizes em seu pescoço visíveis pela blusa. Grudei minhas costas
na parede e engoli seco. Ele levou o indicador à boca, fazendo sinal de
silêncio e deixou dois livros em cima da mesa. Inclinou a cabeça e peguei

um, abrindo. Havia uma nota perguntando se eu era Ava Moore.

Assenti. Ele recuou e fechou a porta.

Nervosa, comecei a folhear as páginas e não encontrei mais nada.

Fui para a cama com os livros, querendo chorar, oprimida com minhas
emoções e um bom tempo depois a porta foi aberta. O de sempre entrou com

uma bandeja.

— Sr. Beauchamp mandou um chá noturno e mais livros. — Deixou e

saiu.

Chá? Ele nunca fazia isso.

Senti o cheiro… ah, caramba. Era chá de framboesa. Eu amava

framboesas. Inalei, sentindo saudades da minha vida e da liberdade.


Saudades das tardes que fazia vitamina de framboesa bem gelada para beber

com Melissa na varanda dos fundos da minha casa. Nós duas sugávamos até
sentir dor na testa e ríamos como duas bobas.

Como era bom ser inocente.

Dei um gole e estava docinho, gostoso.

Peguei o livro e logo caiu uma flor fresca, amassada e na mesma


página, havia um bilhete.
“Aguente mais um pouco, Ava. Voltarei para te buscar. Melissa ainda

procura por você”.

Meu coração pulou no peito e comecei a tremer. A assinatura era um


simples L. Melissa ainda procurava por mim!

— Por favor, por favor… que não seja uma brincadeira — falei
baixinho, segurando o bilhete contra meu peito. — Por favor, que seja real.

Fechei meus olhos e pedi muito que fosse verdade. Implorei que a

minha tormenta estivesse no fim. Alguém estava vindo me salvar.


Capítulo 7 | Levi.
Nova Iorque

Dois anos depois do sequestro.

Algumas horas antes de encontrar a Ava.

— E como ele dormiu essa noite? — questionei ao telefone.

— Pouco. Acredito que devemos mudar o leite — minha governanta


respondeu.

— Não irei demorar. Devo retornar em dois dias, no máximo, mas

ligue para o pediatra. Ele tem dois meses, precisa se alimentar bem. Como
está Daisy?

— Brincando no jardim, sabe como ela é, ama perseguir as

borboletas com a cadela.

— Ligarei mais tarde para falar com ela.

— Ela irá adorar. Bom trabalho, Sr. Blackwood.

— Obrigado. — Encerrei a chamada.

Enfiei meu telefone no bolso, sentindo minha cabeça doer por estar
com uma rotina muito agitada em minha curta viagem para Nova Iorque e ter

alguns negócios. Verificar meu pai era um dos motivos, ele andava muito
quieto, o que não era do seu feitio. Depois que Enzo Rafaelli eliminou os

chefes dos ucranianos que estava relacionado, ele se encolheu, ciente que

estava por um fio.

Eu entreguei a localização dos inimigos do meu novo associado, em

troca de ele não matar meu pai. Esse prazer não podia ser roubado.

Começamos a negociar juntos depois desse episódio. Enzo queria


armas e munições, ele pagava bem e pagava muito. Também lhe vendi um

novo e equipado avião repleto de segurança para suas viagens. Ao longo dos

anos, foi uma parceria muito lucrativa. Eu era o tipo de parceiro silencioso,

mesmo quando ele agia como uma besta por aí, e nosso acordo era nunca

revelar nossa ligação. Ele sabia que eu não participaria do interesse público
de sua vida.

Abri minha carteira e sem querer, a foto de Ava caiu. Lucas estava

distraído e não percebeu, rapidamente coloquei no lugar. Minha esposa, em

nosso curto relacionamento, odiava que eu levasse comigo a foto de uma

garota desaparecida, mas tudo começou na mesma viagem que conheci

Rafaelli. Foi em uma reunião que ele pediu para aumentar a televisão e ver a
reportagem sobre o desaparecimento de Ava Moore.

Eu achava que ela estava morta até que Enzo disse que não a matou.

Ele a levou para seu padrinho, que havia desaparecido no dia seguinte. Seus
homens encontraram o corpo e nenhum sinal de Ava. Dias depois, ele achou

imagens que ele supunha ser de homens que a levaram, mas nunca chegou a

um reconhecimento.

Enzo procurava por ela.

— Não machuco crianças. Falhei com a minha palavra de que ela

ficaria segura, independente das ações do pai e irmãos. César deveria ter

saído do país, o avião estava abastecido e eu dei dinheiro o suficiente

para que Ava vivesse bem até que a corrida em relação ao dinheiro de sua

família encerrasse — ele falou e então, a imagem dela apareceu na tela. Foi

a coisa mais louca e monstruosa que senti na minha vida.

Era como se eu a conhecesse e tivesse perdido. Ava estava na minha

mente antes de conhecê-la. Foi ali que começou a porra da obsessão doentia

ao ponto de manter uma foto dela comigo por todo lugar. Esperava que ela

estivesse viva e que fosse encontrada, tanto que passei a financiar a

campanha “Me ajude a encontrar Ava Moore”, que a melhor amiga dela

fundou, mesmo que todos continuassem dizendo que deveria desistir.

Eu me casei com Ava em minha mente. Meu casamento não foi por

amor e sim porque eu a engravidei, minha esposa nunca ocupou o lugar que

Ava tomou para si. Me perguntava como era possível sentir uma pessoa sem
nunca a ter visto. Era irreal no meu mundo e acreditava que no de qualquer

um, porque essa porra me fazia pensar que me tornei um homem doente.

Doente por uma garota que desapareceu e se estivesse viva,

provavelmente foi transformada com os horrores que homens causaram a ela.

— Aquele ali não é o irmão adolescente do Rafaelli? — Lucas

apontou para a calçada.

— Pare. — Sinalizei para Lucas. — O que ele está fazendo? — Me

inclinei, querendo ver o que Emerson fazia, de uniforme escolar, fora da

escola. — Encoste o carro porque o merdinha vai arrumar confusão.

Lucas parou o carro com uma freada brusca e isso atraiu atenção do

grupo de adolescentes que parecia prestes a brigar. Um deles agarrou um

saquinho e saiu correndo pelo beco, os demais fugiram para o outro lado.

Emerson me deu um olhar alterado, erguendo os punhos. Ele era grande para
sua idade, forte, provavelmente Enzo o colocou para treinar desde as

fraldas, mas eu era maior e tinha mais habilidades.

Agarrei-o pela nuca e o joguei no banco de trás, desarmando-o com um

piscar de olhos. Ele estava muito chapado.

— Vamos levá-lo para casa.

Lucas assentiu, voltando a dirigir. Ele me olhou com um sorrisinho e

ignorei. Sua teoria que estava me tornando um coração mole desde que as
crianças chegaram em minha vida era besteira. Eu me tornei um marido, em

um virar de uma noite, viúvo e pai. Duas crianças sob minha

responsabilidade.

Conheci Vivianne em uma casa noturna, em uma encenação sexual, nós

levamos o sexo para fora dali e ela engravidou. Eu não sabia nada sobre ela

ou sua vida, era foda dura e pervertida até que um bebê estourou a bolha do

mistério. Ela tinha uma filha de dois anos de um relacionamento que havia

acabado quando o homem soube que ela engravidou, e sumiu no mundo.

Vivianne se sustentava, tinha renda, trabalho fixo, mas a gravidez

inesperada foi um baque para nós dois, principalmente porque aos quatro

meses, ela precisou estar de repouso absoluto. A gestação se tornou de risco

aos cinco meses, levando-a a tomar injeções diárias e medicações que a

mantinham na cama para não perder o bebê e não morrer. Ela me pediu para

cuidar de sua filha se algo acontecesse e eu não neguei.

Nós nos casamos. Não havia amor, isso era impossível para alguém

tão dominante como eu, não nos conhecíamos, mas por Daisy e o bebê, eu

deixava minha vida perigosa para fora dos muros da minha casa e dava a

eles o meu melhor. Eu nunca permiti que meu pai soubesse da existência

deles. Ninguém além dos meus funcionários mais íntimos sabiam da minha

esposa e filhos.
Vivianne não resistiu ao parto do nosso filho. Ela morreu duas horas

depois que Milo Zachary Blackwood nasceu e assim, eu tinha duas crianças

dependendo de mim. Daisy Joan era uma menininha alegre, carregando toda

inocência do mundo e uma tagarelice sem fim. Ela cheirava a talco e tinha o

sorriso mais bobo do mundo. Milo era parecido comigo. Cabelos escuros,

grandes olhos claros e uma boca fina.

Ele tinha dois meses e Daisy, três anos.

Talvez, antes deles dois, eu jamais pegaria o irmão de um mafioso no

meio da rua e levaria de volta para casa. Talvez, antes de me sentir ligado a

Ava, eu ignorasse um adolescente chapado no meio da rua fora da escola. Eu

não tinha como saber se as mudanças na minha vida estavam atribuídas a

elas, porque eu continuava como um leão faminto, sedento por sangue.

Eu ainda sentia ódio e ainda me vingaria.

Estava tão perto. Eu já dominava praticamente todos os negócios. Eu

fiz o meu nome além do dele. Pessoas me temiam por ser quem eu era e não

por ser o filho do Blackwood. Quando esse sobrenome era dito, o medo era

por mim e não por meu pai. A existência dele estava cada dia menos

necessária e seu desespero em conseguir dinheiro e novos sócios estava

levando-o à ruína, até que simplesmente parou de procurar apoio.

Seu silêncio nunca foi uma coisa boa.


A última vez que ele parou, Lucas e eu quase morremos em um

incêndio.

Dessa vez, eu não era jovem, inexperiente e de cabeça quente. Eu era

um homem que ele temia.

Puxei Emerson em frente ao prédio que sabia que seu irmão estava e

me aguardava para uma reunião. Ele me seguiu extremamente contrariado e

correu do irmão, se escondendo em uma sala.

— Porra, eu não sou seu pai, caralho! — Enzo passou por mim,

empurrando a porta aberta. — Se eu tiver que te matar para não te encontrar


chapado em um beco, eu vou! — gritou e bateu a porta novamente. — Está

atrasado. — Bufou para mim.

— De nada.

Ele ergueu o dedo médio conforme ia andando.

Lucas pegou a maleta e colocou em cima da mesa, mostrando a


novidade que tínhamos. Enzo chutou a porta, gritando para que o restante

fosse cuidar de suas vidas e prestou atenção na apresentação dos novos


brinquedos que estava oferecendo a ele com exclusividade. Decidimos sair

para testar, da última vez, sem querer, incendiamos um galpão.

— Tive problemas em explicar o fogo, então, se controle — ele


ironizou.
— Não sou eu que tenho o apelido de besta. — Continuei concentrado
em meu telefone.

— Você é o único ao meu redor que eu não me importo em saber porra

nenhuma da sua vida, mas que é um lunático por fogo, você é. — Ele brincou
com a corrente da maleta.

— Tocante.

Lucas sempre ficava quieto. Ele nunca dizia mais que o necessário na
presença de qualquer um porque era o jeito dele. Enquanto eu gostava (e

precisava) dominar tudo ao meu redor, ele seguia o ritmo da vida sem
reclamações. Se nós dois fossemos controladores, já teríamos nos matado há

muito tempo.

Horas depois, Enzo estava sorrindo com seus brinquedos.

— Cliente satisfeito? — provoquei ao fim dos testes.

— Você já aprendeu sobre o que gosto. — Ele guardou os novos


equipamentos.

Meu telefone vibrou com uma mensagem de Jackson Bernard.

“Jantar na casa do seu pai e é melhor vir aqui agora”.

— Tenho que ir — avisei a Enzo.


Lucas me seguiu, apenas mostrei a tela do meu telefone e ligamos para
Rick, que trabalhava comigo na segurança, para nos encontrar perto da

residência do velho. Morando longe da cidade, levamos meia hora para


chegarmos lá, mesmo em alta velocidade. No quintal da frente, seus

seguranças ficaram tensos com a minha presença, mas não fizeram nada.

Havia mais carros ali, o que significava que Jackson não era o único

convidado da noite.

Abri a porta sem pedir licença e a cena à minha frente se desenrolou


como se eu estivesse sendo puxado para o centro da terra. A garota usando

um infantil vestido lilás, na verdade, era a mulher que estava na minha mente
há anos. Ela levantou, mesmo assustada, com os olhos arregalados, e me

encarou com desafio. Não importava o que fosse acontecer, ela lutaria.

Foi difícil manter minha compostura.

Ava estava bem ali. O tempo todo debaixo da porra do meu nariz.

Por um tempo, só ouvi as batidas do meu coração. Era ela. Real. Carne
e osso. Não como meu sonho, apenas… ela. Viva.

Refém e sequestrada pelo meu pai.

Eu sabia o que ele era capaz de fazer, torturar e machucar seu próprio
filho era seu hobby favorito quando eu era criança. Ela não aparentava estar
ferida, apenas assustada e as correntes em seus pés mostravam que não era

uma convidada.

Ava não ficaria ali por muito mais tempo.

Olhei para Lucas e ele soube o que eu queria. Indo para um lado da

casa, Rick e eu fomos para outro, entrando na sala de jantar e surpreendendo


meu pai com seus convidados. Ele ficou furioso com a minha intromissão,

nervoso que descobrisse seus planos e começou a gritar, querendo se impor


na frente de todos, como se eu ainda fosse a criança que tinha medo dele.

Levou tudo de mim para não atirar no meio de sua testa.

Se não fosse por Ava no andar de cima e os motivos pelos quais ela
estava ali, ele estaria morto, com o rosto afundado em seu prato de

sobremesa na frente dos amigos desprezíveis.

— Pode ficar calmo, pai. Eu não vim brigar. — Sorri e puxei uma
cadeira.

Não ainda.

— Eu apenas vim ver meu velho enquanto estou na cidade.

Ele se sentou novamente, irritado.

— Deveria ter avisado, Levi. Essa não é sua casa e estou ocupado.

— Sem problemas, eu espero você terminar. Estarei no jardim.


Minha presença deixou os outros homens desconfortáveis, porque eles

sabiam que eu não jogava o mesmo jogo que meu pai. Eles já ouviram o que
era capaz de fazer com quem entrava no meu caminho. Para vencer um

monstro, muitas vezes, você precisa se tornar um. Para derrubar meu pai nos
negócios, eu soube exatamente quem trazer para o meu lado e como. Não era

um mafioso, nem um bandido, eu não roubava e muito menos vendia drogas.

Eu alimentava quem tinha esse tipo de negócio.

Eu dava munição para a guerra nas ruas.

Foi assim que me tornei conhecido como o magnata das armas.


Capítulo 8 | Ava.
Nova Iorque

Eu me dei o luxo de esperar.

Dia após dia, eu tive esperança de que o misterioso homem cumprisse

a sua promessa.

Eu aguentei firme cada segundo, com força renovada e lutei para me


manter inteira.

Cada fim do dia, com medo dominando meu coração, eu relia o bilhete
que escondi nas coisas do quarto para não ser pega. Sonhei com Melissa me

esperando, em ver o mundo lá fora, misturado com o sonho que já me


acompanhava há anos. Eu sabia que poderia ser muita tolice ficar presa a

isso, mas era o que me dava forças para levantar.

Alguns dias depois, um dos homens que me buscou e que raramente

aparecia, entrou no quarto com um saco de roupas. Foi ele quem me deu o

primeiro livro surrado. Era o único que trazia livros bons. Os demais
ficavam irritados e pegavam qualquer um. Teve um imbecil que trouxe um

livro de medicina.

— Você ainda lembra como correr, menina? — ele questionou, falando


comigo pela primeira vez. Balancei a cabeça. Lembrar? Sim. Conseguir?
Talvez. — Esconda os tênis embaixo da cama. — orientou, me entregando o

par e empurrei para baixo rapidamente. — Haverá um baile de máscaras

essa noite. Fique atenta aos sinais.

— O que está acontecendo?

— Alguém disse que viria te buscar.

— Você trabalha para o outro. Por que confiaria na sua palavra?

Ele me encarou.

— Não mais — falou baixo e mudou a postura. Alguém se

aproximava.

— Aqui está o vestido dela. — Outro entregou uma capa. — Vamos,

temos mais o que fazer.

Eles saíram, me trancando, olhei as roupas e abri a capa do vestido.

Parecia de noiva ou debutante. Era branco, bufante, mas pelo menos

esconderia os tênis. Por que eu precisaria correr? Minha máscara era de

borboleta, uma ironia, considerando que praticamente era o símbolo da

liberdade e eu estava presa dentro daquele quarto sem saber há quanto

tempo.

Eu me arrumei sem saber que horas deveria estar pronta e aguardei.

Cada minuto era como um tic-tac de um relógio na minha mente. Fiquei

sentada olhando fixamente para a janela, sons começaram a chegar até mim,
luzes no jardim que vivia escuro, música clássica e vozes. Pessoas

mascaradas segurando copos de bebidas passeavam por todo lado. Coloquei

a máscara e ouvi o barulho das fechaduras. Mesmo mascarado, eu sabia que

era o homem que me entregou o par de tênis mais cedo.

— Guarde isso. — Ele me entregou um par de chaves. — É muito

importante que siga o plano, entendeu? Não tente sair antes do horário, a

vida de todos nós estará em risco essa noite.

— Entendi. O que está acontecendo?

— Beauchamp decidiu te negociar para ter apoio de um homem

perigoso. Eles querem o ouro a todo custo e acreditam que você é a chave

para ter acesso a isso — ele falou baixo.

— Eu não sei de nada.

— Não temos tempo, eu te falei isso para seguir o plano ou tudo dará
errado.

O filho da puta queria me vender em uma negociação?

Balancei a cabeça e o segui, de cabeça baixa, com as chaves

escondidas no meu sutiã. Ele estava um pouco frouxo e esperava que não

caíssem. Podia senti-las enquanto estavam geladas. Parei um pouco ao ver a

sala lotada de pessoas mascaradas, a maioria eram homens e as mulheres,


pelas roupas e maneiras que agiam, não eram damas que aqueles bastardos
andariam ao lado na luz do dia. Eu era a única de branco, como se fosse um

prêmio.

Era tão doentio que queria vomitar.

Beauchamp estava no final da escada e me segurou pelo cotovelo,

levando pela festa, me exibindo e parou em um grupo de homens, no qual eu

sabia quem era o líder. Ele estava sentado no meio, relaxado como se fosse

um rei.

— Acho que acabei de encontrar minha nova esposa. Você nunca

mencionou que ela era bonita, Beauchamp. — ele falou com um sotaque

muito estranho. Ucraniano, talvez. Quem estava ao lado dele, riu. Porra, ele

tinha idade para ser meu avô.

— Se me der o que eu quero, pode fazer com ela o que quiser. —

Beauchamp sorriu. O homem estrangeiro esticou a mão para me tocar e fui


empurrada para trás. — Ainda não é sua.

Sinalizando para o segurança atrás de mim, fui levada para longe, mas

eu sabia que eles estavam me observando o tempo todo. A festa foi passando

e ficando quente ou era meu sangue acelerado, me deixando cada segundo

mais nervosa. Quanto mais o tempo passava, mais bêbados e drogados a

maioria ficava.
Beauchamp e o estrangeiro falavam o tempo todo, bebiam e pareciam

negociar. Eu olhei ao redor e parei ao reconhecer um belo par de olhos. Ele

não estava olhando para mim e sim para o segurança ao meu lado. Com um

sutil aceno, meu braço foi agarrado e com horror, vi a festa ser invadida. As

mulheres começaram a gritar e correr.

Quando o primeiro corpo caiu no chão, eu fui puxada para a cozinha.

O segurança começou a lutar corpo a corpo com o outro que sempre

estava com ele, naquele momento, sua traição foi descoberta. Fui jogada no

chão, peguei as chaves e com dificuldade, soltei meus pés. Ele estava

lutando, mas eu precisava dele para fugir. Agarrei um facão na cozinha e

joguei na sua direção, ele pegou e cravou nas costas do outro.

— Vamos, agora! — Sacou sua arma e me pegou, arrastando-nos para

o jardim.

Havia pessoas correndo do lado de fora, feridas, não dava para ouvir

disparos, talvez porque usavam algum equipamento. Ergui meu vestido o

máximo que consegui, seguindo-o pela escuridão das árvores.

— Vá na frente! — Ele percebeu que um dos homens do Beauchamp

estava nos perseguindo. — Corra até a estrada! Vai! — Me empurrou e eu

fui.
Havia outra pessoa correndo, porque eu podia ouvir seus passos

pesados massacrando os galhos além dos meus. Ele estava cada vez mais

perto, fazendo meu pânico aumentar e minha respiração falhar. Sem preparo,

fraca, eu não ia muito longe, mesmo com toda adrenalina.

Fui derrubada e virada, chutei a perna dele.

— Meu chefe não vai ficar sem sua prometida. — Ele soou ofegante
com o sotaque forte.

— Me solta! — Mordi seu braço, ele gritou e bateu no meu rosto. A

dor explodiu de tal maneira que o mundo inteiro girou. Senti meus dentes

moles.

Sem aviso, ele caiu para o lado. O homem do pescoço com cicatrizes

de queimadura me ergueu. Foi ele quem perguntou se eu era Ava e deixou o


bilhete.

— Marcel, vem! — ele gritou.

Nós voltamos a correr e havia carros na estrada, todos escuros, com as

luzes apagadas. Fui levada para dentro de um, o tempo todo rezando que não

fosse outra armadilha. Meu corpo inteiro tremia pelo esforço repentino

depois de muito tempo parada. Meus braços estavam arranhados e o vestido


rasgado.
— Conseguiu recuperar todas as coisas dela? — O da cicatriz

questionou a Marcel, o que me ajudou a fugir.

— Sim, eu enviei antes. Não daria para sair com tudo, com sorte, ele

não deu falta.

O carro estava seguindo por uma estrada escura, em altíssima

velocidade e com mais atrás de nós. Tirei a máscara do meu rosto, com o

cabelo cheio de folhas e passei a mão em um corte em meu braço. Estava


sangrando. Entramos em uma casa toda escura e parecia proposital. Todos

saíram ao mesmo tempo, portas bateram e os carros seguiram para os fundos,


saindo da visão de quem pudesse estar se aproximando.

Ao entrar, eu o vi. Ele tirava a máscara branca do rosto e passava a


mão no cabelo, com o cenho franzido. Sua postura era de intensa

dominância, ao ponto que os homens ao meu redor, fortes e aparentemente


letais, aprumaram suas posturas. Com um estalar de dedos, eles saíram.

Fiquei em pé ali, sozinha, diante dele, me sentindo pequena e intimidada.

— Meu nome é Levi Blackwood.

Ele não era um Beauchamp?

Sua voz era rouca, carregando uma intensidade feroz, mesmo com a
fala calma.

— Você é filho dele.


— Sim, eu sou, mas não sou como ele.

Poderia ser pior.

— Por que me tirou de lá? Serei sua prisioneira também?

— Não.

— Por quê?

Levi não me respondeu.

— Eu sou um jogo? Estou entrando em outra armadilha que vai me


deixar presa em um quarto? Quanto tempo se passou? Eu nem sei mais
quantos anos eu tenho!

Levi jogou a máscara na mesinha.

— Passaram-se quase três anos, Ava. Se você foi sequestrada perto de

completar dezoito, no verão, você está perto de completar vinte e um.


Estamos em maio.

— Quase três anos? — Ofeguei, me encolhendo. — Roubaram três

anos da minha vida?

— Controle-se, Ava. Não temos tempo para isso!

— Me controlar? Quem você pensa que é? — Agarrei um vaso e ia

jogar em sua direção, mas a porta lateral foi aberta e o culpado por tudo que
estava acontecendo na minha vida passou por ela. Joguei o vaso nele! —
Você! Maldito, miserável, infeliz, filho da puta! — Avancei nele, batendo
com meus punhos em seu peito, rosto, arranhando o pescoço. Ele tentou me

conter, me pedindo para parar até me subjugar contra parede.

— Solte-a agora — Levi falou friamente atrás.

— Não se ela for me atacar de novo. Parece uma maldita gata, porra

— ele respondeu com a voz carregada. Sotaque italiano, cheiro de cigarro.


As memórias da noite que a minha família morreu me sobrecarregaram. —

Ela está desmaiando!

— Merda! — Levi me agarrou, batendo no meu rosto. — Respire

fundo, Ava.

Senti meu peito livre da pressão que o vestido causava e olhei para
baixo.

— Que diabos, Enzo? — Levi vociferou.

— Mantenha seus punhos recolhidos. Ela precisava respirar.

Me abracei, protegendo meu peito e me encolhi no canto da parede.

— Você acabou com a minha vida — falei baixinho.

— Sim, eu acabei. Mas se não fosse eu naquela noite, você estaria


morta.
— Quer um agradecimento? Vai tomar no cu! — Ergui meu rosto e

olhei em seus olhos. Enzo sorriu de lado, deliciado com as minhas reações.
Eu queria enfiar meus dedos em seus olhos e arrancá-los fora. — Fui levada

para uma cela! Vestida feito boneca todos os malditos dias! Eu fiquei com
fome e no escuro por sua causa!

— Por causa do seu pai e dos seus irmãos. Entendo que não queira me

agradecer por isso, minha intenção era que seu padrinho a levasse para fora
e assim pudesse continuar viva. Eu não tenho culpa que ele confiou no

Beauchamp, que te entregou para o velho bizarro para te manter escondida.

— Já chega. Não temos tempo para isso, temos que sair. — Levi olhou

em seu relógio.

Enzo me deu um sorriso distorcido.

— Irei verificar se está tudo limpo. O helicóptero está pronto. — Saiu

da sala, sem se abalar comigo ou que havia feito. Ele não se importava.

— Por que eu tenho que ir com você?

— Não tem. — Levi foi frio. — Fiz a minha parte em tirá-la de lá. Ir

comigo significa ficar segura enquanto descobrimos o que o ouro tem a ver
com você e seu pai. Ficar, significa que estará à própria sorte, dependendo

da não honesta polícia de Nova Iorque e colocando a vida de sua amiga em


risco junto com a sua.
— Ainda não entendo que ouro é esse.

— Poucos entendem. Iremos descobrir. — Levi esticou a mão. —


Temos que sair daqui. Eu não sei que acordo meu pai fez com o ucraniano.

Se já teve algum pagamento, estamos muito fodidos até que consiga te


comprar de volta.

— Me comprar? Eu nunca vou ficar livre? Eu não sou uma

mercadoria! — Voltei a chorar.

— É assim que as coisas funcionam.

Agarrei sua mão, com medo, tão confusa que apenas o segui. O que eu

iria fazer? Nos fundos, os homens estavam reunidos, mas havia um heliporto
e ali, as pás do helicóptero começaram a girar. Marcel e o da cicatriz

estavam perto, mas apenas o da cicatriz e um outro, alto, assustador,


entraram conosco. Enzo e os demais ficaram fora, mas eu vi o momento que

cercaram Marcel.

— Ele me ajudou!

— Por um preço que já foi pago. — Levi colocou os fones na minha

cabeça.

— Será morto?

— Interrogado. Nada é de graça, Ava.


A maneira como Levi falava era quase sem emoção. Eu conseguia ver
que ele era o líder, dominando todos ao redor apenas com um olhar. Ele era

a figura de poder naquele meio e sobrevoando a cidade de Nova Iorque, sem


saber para onde estava indo, eu me perguntei se estava presa ainda.

Qual seria o preço da minha liberdade?


Capítulo 09 | Ava.
Nova Iorque

O helicóptero pousou em um aeroporto privado fora da cidade. Todos

saíram e eu estava odiando meu vestido porque ele só me atrapalhava. Havia


um avião pronto.

— Ela está aqui?

Meu corpo inteiro ficou arrepiado quando ouvi a voz de Melissa.

— Ava! — ela gritou e eu virei. Melissa saiu correndo de um hangar.


Eu entrei em colapso, caindo no chão. Melissa me abraçou apertado. Estava

sem óculos, o cabelo maior, mais liso e ela parecia mais alta. Adulta. —
Meu Deus, é você! Eu te procurei tanto! — Ela me abraçou e eu só chorava,

com gritos agudos escapando da minha boca. — É você! É real!

— Eu vivi um pesadelo, estou com tanto medo!

— Eu sei, eu não sabia, mas eu sentia que não estava morta. Eu lutei
contra todos! Não sabe o quanto te procurei, Ava! — Ela segurou meu rosto.

— Estou tão feliz! Eu sinto muito por tudo que passou! — Chorou junto

comigo e ficamos abraçadas por um longo tempo.

— Como chegou até aqui?


— Há alguns dias, o Sr. Blackwood me procurou, dizendo que havia te

encontrado e contando o que sabia. — Ela secou meu rosto. — Eu não posso

ir com você porque tenho que continuar fingindo que você está desaparecida.

Você ficou em cativeiro por anos e essas pessoas precisam pagar por isso.

Todos eles, incluindo meu pai.

Soltei um ofego, completamente surpresa.

— Seu pai?

— Ele sabia de tudo, Ava. Esse tempo todo!

— Não entendo.

— A morte da sua família foi encomendada, meu pai estava no meio.

Ele fez parecer que seu pai traiu o italiano, mas foi um jogo. Eu só descobri

isso esses dias, através do Sr. Blackwood, que me trouxe provas. Áudios,

vídeos e caramba, é uma teia suja. Meus pais se divorciaram há dois anos e
esse tempo todo mamãe estava dizendo que ele sabia do seu paradeiro, ela

chegou a acusá-lo publicamente e ele fez com que ela fosse internada! Minha

mãe está presa em um hospício e desde então, estou desconfiada de tudo e

todos — Melissa falou rápido. — Sr. Blackwood cedeu recursos e homens

para nos proteger, em troca, eu vou pegar o máximo de informação que puder

para que todos paguem por tudo que passamos.

— Você sabe sobre esse ouro?


— Não. Ninguém sabe direito, mas ele existe e a possibilidade de

você ser a chave para esse ouro, não sei se é para abrir um cofre ou se tem

algo em você que possa levar até isso que faz com que queiram esse ouro

desesperadamente. A única coisa que eu consegui pegar no cofre da casa do

meu pai foram as contas no banco do seu pai, com dinheiro que deveria te

pertencer. Então, se o dinheiro existe, o ouro também pode existir. Entendeu?

Não entendi, mas por algum motivo balancei a cabeça que sim.

— Irei te ver assim que puder. Minha vida tem que ficar normal para

que ninguém desconfie que sei do seu paradeiro. Vamos nos falar, ok? Todo

dia! — Ela ficou de pé e me puxou para cima. — Sei que parece egoísmo

agora pedir para ficar forte, mas fique.

— Obrigada por nunca desistir de mim.

— Melhores amigas para sempre, lembra? — Ela sorriu com lágrimas

nos olhos.

— Um dia, nós vamos fazer uma nova viagem como sonhamos antes de

tudo.

Faculdade, viagens, casamento e filhos, eram os meus sonhos antes de

tudo acontecer e agora, parecia bobo pensar que um dia fui tão… inocente.

— Paris.

— Paris — prometi e trocamos um abraço.


— Vá. Eu sei o nome dele e não importa o quão poderoso e perigoso

ele possa ser, ele me deu a palavra que cuidaria de você, mas irei caçá-lo

até o inferno se você sumir novamente.

— Você mudou tanto. — Acariciei seu rosto.

— Acho que tivemos que crescer da pior maneira possível.

Foi da maneira mais horrível e dolorosa que a vida tinha de exemplo.

Me despedi de Melissa, louca para vê-la novamente. Levi me olhou e

seu olhar era como uma ordem para entrar no avião, eu tive vontade de

responder, não era um cachorro para obedecer a um comando silencioso

como se fosse bem treinada. Irritante. Mas eu estava cansada. A sobrecarga

emocional me fazia sentir pesada, como se minhas pernas fossem de

concreto.

— Assim que o avião decolar poderá trocar de roupa — Levi me

informou, sentado na poltrona à minha frente.

— Eu terei direito de saber para onde está me levando?

— Claro. Moro no Canadá e estou te levando para minha casa.

— Canadá?

Tão perto e ao mesmo tempo, longe. Era um passo de Nova Iorque,

mas eu não sabia onde ele morava para dizer que estávamos realmente

perto.
Nunca estive no Canadá antes. Fiquei quieta no lugar e quando o piloto

informou que estava permitido circular, soltei o cinto e agarrei a pequena

mala que foi colocada ao meu lado. Fui ao banheiro, apertado como de

qualquer avião e fiz o melhor em me lavar usando uma toalha pequena,

tirando o vestido. Eu estava com um pouco de nojo de olhar para mim

mesma, sem me sentir feminina ou limpa.

Vesti a calça de moletom, feliz por ter algo cobrindo minhas pernas,

sem correntes. Meus tornozelos estavam marcados e se eu já era pálida

antes, estava quase transparente. Havia vários pequenos ferimentos da

corrida, alguns maiores, todos secos. Eu precisava de um banho. Passei

desodorante e os pelos nas axilas estavam enormes, eu me sentia tão

horrível. Machucada em um nível profundo, impossível de calcular.

Vesti o casaco, me escondendo ao máximo, escovei os dentes e usei o

enxaguante mais de uma vez.

Voltei para a poltrona me sentindo melhor, mas não muito. As lágrimas

ainda escorriam sobre o quanto eu não me enxergava mais. Não era a Ava

que sempre vi refletida no espelho. Se meus antigos colegas de escola me

vissem naquele momento, teriam um prato cheio de novos apelidos.

Prendi o cinto e olhei para minhas unhas.

Levi não falou nada o voo inteiro. Os outros dois muito menos.
Chegamos ao Canadá e havia dois carros esperando, que seguiram

viagem por estradas por um bom tempo, eu já não tinha noção de nada que

estava acontecendo. Quase peguei no sono, meu estômago vazio e o medo

não me deixaram dormir. Meus olhos arregalaram com os portões de ferro

enormes que foram abrindo lentamente para a passagem do carro.

Era uma mansão enorme. Se eu achava a minha grande, aquilo era um

palácio como da realeza, gigante, com alas, pontas e ao passarmos por um

portal paramos no meio, em frente a um chafariz. Eu saí do carro, olhando ao

redor, abismada com tamanha beleza.

Levi esperou que olhasse tudo e eu o segui para dentro. Uma senhora

nos aguardava.

— Essa é minha governanta. — Ele parou próximo a ela. — Ava é

minha convidada. Ela está cansada e com fome, leve-a até seu quarto.

— Eu tenho sopa quente e pão fresco, você quer? Se desejar qualquer

outra coisa, eu posso preparar ou mandar que algum dos meninos busque na

cidade. — Ela soou carinhosa. Parecia uma avó que dava vontade de

abraçar.

— Sopa e pão está ótimo, obrigada. — Enfiei minhas mãos nos bolsos.

— Amanhã você irá ao médico, precisa saber como está sua saúde e

poderá fazer compras necessárias em tudo que precisa. — Levi pegou o


telefone. — Se precisar falar comigo, avise a qualquer funcionário que eles

saberão onde me encontrar.

Ele saiu antes que eu pudesse falar qualquer coisa.

— Meu nome é Davina. Você pode me chamar a hora que precisar, tem

interfone em toda casa, só apertar um e eu vou dar um jeito de aparecer.

Agora vem, vamos para seu quarto. Eu escolhi o que tem uma linda entrada

de luz solar, dá para ver a piscina e tem uma varanda onde eu vou te servir
seu café. — Ela segurou meu braço e me levou confortavelmente para uma

escada diferente da que Levi desapareceu. — Depois de comer, nós vamos à


rua. Agendei um médico de confiança, faremos compras que toda mulher

precisa e no final do dia, poderá se conectar com sua amiga e fazer o que
quiser.

Ela foi falando até me levar para um quarto de princesa. A cama era de
dossel, branca, com um véu bege claro ao redor, arrumada com móveis

antigos em tons claros. Mostrou onde era o banheiro, que tinha uma banheira
de pontas redondas e um espaço para o chuveiro com mármore branco.

Havia uma parede inteira de espelho perto da pia.

— Amanhã iremos encher esses armários. Minhas ajudantes já estão


dormindo, irei buscar seu jantar. Tem um pijama limpo e toalhas aquecidas,

enquanto isso, pode ficar à vontade.


Ainda fiquei parada, olhando ao redor e a banheira estava tentadora
demais para ignorar. Fui contemplada com água quente e no armário, sais de

banho. Afundei na água, fechando os olhos e fiquei ali, descansando. Era


bom, cheiroso. Meu estômago roncou e saí, me secando. O pijama era de

calça e blusa, ficou um pouco largo em mim, me cobrindo por completo.

Davina estava cortando os pães em uma bandeja elegante junto com a


sopa. Comi com calma, para não passar mal e estava muito bom. Raspei a

tigela com um pedaço de pão e suspirei, satisfeita. Caramba. Eu me sentia


outra.

— Hora de dormir. — Ela fechou as cortinas pesadas, acendeu a luz


do abajur e apagou as principais. — Eu venho te acordar amanhã.

— Você vai trancar a porta?

— Eu? Não! Se você sentir medo, não tem problema trancar, mas
nenhum homem é permitido no segundo andar da casa. Apenas Lucas e Levi

circulam aqui dentro e eu sei que eles jamais te machucariam.

Lucas devia ser o da cicatriz no pescoço.

— Eu perguntei se você me deixaria presa aqui dentro.

— Oh, doce criança. — Ela colocou meu cabelo atrás da orelha. —


Ninguém irá te trancar em lugar algum nessa casa.
Aquela mulher nunca me viu na vida e ainda assim, sorriu e beijou
minha testa como ninguém havia feito em toda minha existência. Me cobriu

melhor, sorriu e saiu do quarto. Fiquei com medo de dormir completamente


na escuridão. Por um bom tempo, fiquei encarando a porta, mas o sono me

venceu e lentamente fui me entregando, precisando descansar.


Capítulo 10 | Levi.
Em algum lugar em Quebec.

Canadá

Ava não saía de seu quarto. Ela foi levada a médicos, fez exames,

compras e Davina se preocupou em levá-la para salões de beleza, eu já


podia notar algumas diferenças em sua aparência. Seu cabelo estava mais

curto. Quando a encontrei, estava no quadril, depois, ela cortou abaixo dos
ombros. Sempre que estava em casa, ela nunca colocava o pé fora do

quarto.

Toda noite, a luz do abajur ficava acesa.

Toda noite, ela conferia se a porta do quarto não estava trancada e

ainda assim, ela nunca saía do quarto para nada. Davina levava as refeições

quando ela não aparecia para comer e sempre pedia livros. Ela lia um por
noite, normalmente, ação, mistério, suspense e raramente, romances. Eu

mandei comprar novos livros do estilo que gostasse para que sempre tivesse

algo para ler.

No entanto, o fato de ela não sair do quarto me preocupava. Eu odiava

me preocupar com ela. Já tinha muito em mãos sem conseguir tirá-la de

minha mente.
Meu escritório ficava virado para a varanda de seu quarto e parado

ali, eu a observei espiar o jardim pela cortina, se escondendo novamente.

Estava sol, um dia lindo para explorar nas áreas que estavam liberadas para

ela. Eu deixei o jardim e o outro parquinho para minha filha continuar

brincando livremente. Não tinha certeza se deveria apresentar minhas


crianças para Ava. Ela não parecia ser do tipo assassina, mas, eles eram

minha prioridade em absolutamente tudo.

— Por que trazê-la para cá se vai ficar olhando de longe? — Lucas


questionou atrás de mim.

— Ela não saiu do quarto desde que chegou.

— Ela precisa de um convite para sair. Apenas Davina tem falado com

ela e não é a dona da casa. Talvez precise que vá até lá. — Ele se jogou no

sofá e colocou as pernas em cima da mesa. Virei meu rosto e ele tirou

rapidamente, com um sorriso.

— Ela foi aprisionada por homens e eu não quero deixá-la

desconfortável.

— Não vai saber se não tentar falar… eu não irei. Não conte comigo

para essa missão, eu não vou chegar perto dela além do que já fiz. — Cruzou

os braços.
Lucas sabia que não adiantava nada me impedir de fazer o que eu

queria. Ele podia dar sua opinião porque éramos irmãos, parceiros, mas eu

ainda era dono da minha própria vida e de todos ao meu redor. Entendia sua

completa desconfiança com qualquer pessoa desconhecida ao nosso redor e

eu sequer podia explicar o que Ava significava para mim sem parecer um

louco.

Eu não sonhei com ela ou já a tinha visto antes. Senti que a conhecia

em toda minha vida quando bati meus olhos nela na televisão. Era uma

emoção nova. Eu odiava não entender minhas emoções, porque eu não era

um homem do tipo emotivo, sentimental, eu sequer me envolvia


profundamente com qualquer pessoa. Não fui capaz de me conectar com a

mãe dos meus filhos.

— Papai? — Daisy socou a porta do escritório. — Papai! Abre a


porta pra mim! É Daisy!

Lucas sorriu e foi correndo abrir a porta. Minha pequena garota

apareceu usando um vestido azul escuro e pés descalços, sujos, os cabelos


castanhos claros em pé e a boca marcada de copo com suco de uva que

adorava.

— Papai! Eu quero sôvete! — Esticou os braços para ser pega no


colo.
— Você está cheirando a grama e lama. Estava brincando lá fora? —

Beijei sua bochecha.

— Sim. — Sorriu, traquina.

— E já almoçou? — Passei o polegar em seu buço, para limpar sua

boca.

— Comi todo meu macarrão. Dadá disse que para ter sôvete tinha que

pedir.

— Uma bola e depois, escovar os dentes e soneca.

— Não estou com sono — resmungou, coçando os olhos.

— Estará mais tarde e vai dormir fora do seu horário. Eu não preciso

de você pulando na cama no meio da madrugada. — Dei-lhe um beijo e

coloquei no chão novamente, ela saiu correndo e avisei à babá que ela podia

ter a sobremesa se tivesse comido tudo como havia dito.

Lucas saiu do meu escritório e pensei sobre o que disse, sem debruçar

nos meus pensamentos, fui em direção à ala onde Ava estava hospedada.

Destravei as portas e desci um lance de escadas, seguindo pelo corredor até

a porta do seu quarto. Parei em frente e dei duas batidas bem firmes, não

havia nenhum som dela. Duvidava que ela ligasse a televisão. Fora as

chamadas com a amiga, Ava seguia como se estivesse presa e essa não era

minha intenção.
— Pode entrar. — Ouvi sua voz baixa.

Coloquei a mão na maçaneta e tomei uma respiração profunda antes de

entrar.

Ava estava sentada no chão, escovando os cabelos e ergueu o olhar,

surpresa, rapidamente ficando de pé e jogando a escova na cama. Ela usava

uma blusa larga e short jeans. Em suas antigas fotos, ela era uma garota com

o corpo torneado de maneira suave, com curvas e mesmo jovem, era

atraente. Ela estava visivelmente mais magra e seu rosto também aparentava

que os anos haviam passado.

Davina estava dedicada em fazê-la ganhar peso, além da dieta


equilibrada passada pelo médico. Ela estava repondo vitaminas através de

suplementos.

— Aconteceu alguma coisa?

Sua voz era linda.

— Não. Eu achei que você precisava de um incentivo para sair desse

quarto.

Mudando o peso de um lado ao outro, mordeu o lábio.

— Não tenho muito que fazer.

— Pode acessar a internet, ver filmes, falar com sua amiga…


— Eu sei, mas eu perdi o interesse por essas coisas, eu simplesmente

não me sinto mais a mesma e não sei mais o que gosto. Apesar de falar com

Melissa regularmente, estamos seguindo as regras para não sermos pegas. —

Enfiou as mãos nos bolsos. — Eu estava navegando em um site de notícias

quando me deparei com matérias sobre mim. Eu não quero ver nada sobre

isso.

— Você pode ir ao jardim, usar a piscina e explorar ao redor. A

propriedade é enorme, tenho cavalos também e… — Parei de falar. — Calce

seus sapatos e venha comigo — comandei.

Ava franziu o cenho para meu tom, não acostumada, mas pegou seus

chinelos. Decidi dar a ela um tour adequado pelos lugares que ela poderia

circular tranquilamente.

— Aqui é um cinema, basta informar a Davina o que quer assistir que

ela dará um jeito. — Mostrei a ampla sala com sofás confortáveis, uma

pipoqueira e uma parede inteira que era uma tela.

— Parece melhor que os cinemas que frequentava. — Ela se abraçou.

— Você gosta de filmes?

— Eu gostava de romance e filmes de fantasia, mas eu não sei se irei


conseguir prestar atenção. Farei uma tentativa outro dia.
Dei um aceno e segui adiante, abrindo as portas duplas da biblioteca.

Ava parou no meio, olhando para o alto e rodopiando. Ela abriu os braços

para a quantidade de livros e sorriu pela primeira vez desde que nos

encontramos. Ela foi correndo até as prateleiras, olhando os títulos e

passando os dedos nas lombadas.

— As escadas são firmes, pode subir nelas, mas aconselho a não ficar

subindo. Poderá cair e se machucar.

— Tudo bem, eu tomarei cuidado. — Ela sorriu e eu fiquei parado,

encantado. — Obrigada por me apresentar a esses lugares. É muita gentileza


de sua parte me fazer sentir à vontade em sua casa.

— Ainda não terminamos. — Me recompus.

Controle-se Levi.

Ava assentiu e me seguiu para o primeiro piso.

— Soube que você ia participar de uma olimpíada…

— Eu não posso correr. O médico disse que tenho que engordar, pelo
menos, uns seis quilos antes de voltar a fazer atividades físicas no ritmo de

antes.

— E nadar? — Empurrei a porta da piscina olímpica. — Ela é

aquecida em qualquer época do ano. Lá fora, é apenas recreativa, embora


você possa praticar o que quiser.
— Eu nadava até… começar a correr, depois, era só treinos. Não sei
se lembro como, algumas coisas são bem confusas na minha mente agora e

me pergunto se ainda sei fazer coisas simples.

— Estou aqui nadando todos os dias. Oito da manhã. — Me vi falando


antes de pensar o que realmente significava me oferecer para nadar com ela

toda manhã. — Podemos treinar juntos, no seu ritmo, não sou um instrutor,
mas sei como…

— Acho que aceito. Não quero atrapalhar mais do que já estou


atrapalhando.

— Aprenda uma coisa sobre mim, Ava. Se estou oferecendo, é porque

eu quero.

— Entendi.

Levei-a até o jardim, mostrei as rosas e apontei a direção dos


estábulos. Meu telefone tocou, informando meu próximo compromisso.

— Você vai ficar aqui?

— Vou sentar e pegar um pouco do sol. Gosto da sensação da grama


nos meus pés.

— Tudo bem. — Enfiei meu aparelho no bolso. — Até amanhã, Ava.

— Até. — Ela sorriu e sentou em uma ponta de cimento, inclinando-se


para trás, recostando na estátua e fechando os olhos, para apreciar o sol. Eu
podia passar horas apenas olhando-a, mas era errado. Ava estava confusa e
ferida, era melhor para nós dois manter a distância.

Saí do jardim silenciosamente e fui para minha reunião enquanto Daisy


e Milo estavam no cochilo da tarde. Milo dormia de dia mais vezes que

Daisy, ele ainda vivia no ciclo de mamar, cagar e dormir. Me acordava mais
vezes durante a noite do que um dia achei possível. Ele era bem determinado

em seu choro e eu não podia negar a semelhança entre nossas


personalidades.

Havia um novo carregamento a ser entregue e eu gostava de saber

todos os detalhes. Assim que a reunião encerrou, Lucas entrou na minha sala.

— Algo novo?

— Não. Seu pai, no entanto, está encurralado como um rato. — Ele

sorriu.

— Eu gosto de vê-lo assim. Sem recursos e com mais pessoas

querendo matá-lo. Ele estava com sorte quando o único querendo dar um tiro
no meio de sua testa era eu. — Sorri de lado.

— Ele não vai durar muito tempo.

— Eu sei.

— Achei que seria mais satisfatório matá-lo, assisti-lo queimar vivo

como ele assistiu meu pai morrer, mas isso? É muito melhor. A ruína de um
homem orgulhoso e poderoso. Ver seus pedaços se desfalecendo perante a

sociedade que ele trocou a própria família por dinheiro e status é ainda
melhor que…

— Nada é melhor que o fogo. Ele ainda vai queimar, sentir o cheiro de

sua carne fritando e lutar por ar. Mas talvez, só precisamos assistir. Ava está
conosco e os ucranianos não têm nada. O ouro pode ser apenas uma fantasia

delirante que ele se manteve entre os seus e agora, não tem nada. — Girei
minha cadeira para a janela. — Quero descobrir a fundo essa história, por

Ava e, porque dei a minha palavra à Melissa.

— Não sobrará nada para queimar, Levi.

— É isso que você não entende, Lucas. — Girei a cadeira, olhando-o

de volta. — O fogo já começou. Ele não precisa ser visível aos nossos
olhos. Sua ruína é o incêndio mais doloroso que poderia causar em sua vida.

Eu sempre quis que ele morresse sentindo a dor que me causou e finalmente
estou conseguindo.

Segurei sua mão e em nossos pulsos, havia um pouco de pele enrugada


da corrente que nos prendia no chão do porão naquela noite.

— Pelo seu pai, pela minha mãe e por nós… chegamos até aqui.

Lucas olhou em meus olhos. Eu prometi a ele que teria vingança. Por
um segundo, ele teve medo que eu desistisse de tudo, principalmente depois
que as crianças chegaram em nossas vidas e muitas das nossas atitudes

precisaram mudar. Depois deles, precisava estar vivo. Voltar para casa e
segurá-los para sentir que havia mais na minha vida.

Eu os amava incondicionalmente. Amava como nunca fui amado por


meus pais. Por eles, pelo preenchimento que Daisy e Milo trouxeram para

minha vida, pontos de luz na escuridão sombria do meu peito, tentava não me
deixar sucumbir. Foi depois deles, que eu entendi que não era um homem

dominante apenas no sexo e sim, um controlador na vida real. Eu era um


dominante em tudo e tinha obrigação de colocar todos os meus impulsos,
bons e ruins, em seus devidos lugares.

— Tenho que dar uma volta. — Lucas falou à beira de sua confusão
mental. Ele ainda era conflituoso sobre a morte, que, diferente de mim, nem

sempre sentia pesar.

— Não suma.

Ele parou na porta, pensando sobre e assentiu. Ele não iria muito

longe.

Precisando sair daquela névoa, levantei e fui até a ala que ficava os

meus quartos privados. Daisy ainda estava dormindo, atravessada na cama e


com vários brinquedos ao redor. Eu não era louco em acordá-la antes do
tempo, o único a pagar por isso seria eu. Ao invés, fui para o quarto ao lado,
decorado com o tema do Pequeno Príncipe, como Davina escolheu.

Vivianne estava tão depressiva durante a gravidez que ela sequer

pensou em um tema ou não se importava. Nós não chegamos a falar sobre


isso. Daisy tinha um quarto de princesa, com todas elas, milhares de bonecas

e uma cama de castelo conforme ela escolheu há algumas semanas. Depois


de ter o irmão com quarto decorado, ela quis ter um também.

Milo estava no berço, acordado, chupando a mão. A babá estava


dobrando suas roupas e saiu quando entrei. Me inclinei sobre o berço,

tocando a barriguinha dele, que sorriu, esticando as pernas. Seu cabelo


estava todo arrepiado e o queixo molhado, passei meu dedo em sua
bochecha e sorri. Aquelas crianças completaram uma parte da minha vida

que eu não sabia que precisava ser preenchida e depois deles, o sentimento
de que necessitava de mais não parava de crescer em meu peito.
Capítulo 11 | Ava.
Em algum lugar em Quebec.

Canadá

Diante do espelho do banheiro, me analisei usando um maiô azul

escuro. Era simples, bonito, não revelava muito do meu corpo além do
comum. Minhas pernas estavam felizmente depiladas, brilhantes de tanto

hidratante e os cuidados que estava tomando comigo mesma desde que tive
oportunidade. Ainda estava abaixo do peso, o que me incomodava. Eu estava

magra de maneira que não ajudava minha autoestima voltar a existir.

Ganhei três quilos e ainda faltavam seis. Esperava que fosse em breve
para poder me exercitar, me sentir eu mesma o máximo possível. A ideia de

nadar com Levi era péssima. Eu não podia ter outro colapso nervoso na sua
frente, me debater feito um pato dentro da água porque havia algo errado na

minha mente.

Ficar dentro do quarto era onde me sentia segura, por mais que Davina

e as outras funcionárias fossem incríveis, eu ainda sentia medo de acordar e


estar acorrentada novamente. Eu tinha pavor só de pensar em sair do quarto

e ser capturada, arrastada para a mala de um carro e acabar presa em uma


cela escura, sem poder ver a luz do dia por mais tempo que pensei ser

possível.

Quase três anos da minha vida… e contando. Eu ainda não estava livre
apesar de não ser mais uma prisioneira.

Peguei uma toalha, coloquei na bolsa e me envolvi no roupão,

prendendo meu cabelo e desci as escadas até a piscina aquecida. Eram oito
em ponto. Levi já estava lá dentro. Ele usava um calção de banho e uma

camiseta, apenas seus braços musculosos e as coxas torneadas, bem

masculinas, estavam de fora. Por mais que não devesse, eu não conseguia

não olhar e não achar que era um homem muito bonito.

— Bom dia, senhor. — Parei apenas no senhor porque eu me recusava

a falar seu sobrenome.

— Senhor? — Sua voz carregava um peso de comando que me deixou

arrepiada.

— Eu não quis ser ofensiva, sei que é jovem, mas também não quero

que pense que estou faltando com respeito.

— Você não deve me chamar de senhor. Levi está bom. — Ele ficou
esquisito.

— Tudo bem. — Minhas bochechas estavam um pouco vermelhas.

— Bom dia para você também, Ava. Preparada?


— Não. Estou nervosa — confessei.

— Eu vou entrar primeiro e você pode se apoiar em mim ou nas

bordas. — Ele foi entrando sem tirar a camisa, provavelmente para não me

deixar constrangida. Tirei meu roupão e evitei olhar em seus olhos, era um

maiô comportado, mesmo assim, ele era um homem e eu uma garota que não

estava sentindo-se nada bonita na sua frente.

Aos poucos, desci a escada, a água estava quentinha e parecia funda,

me deixando assustada. Não soltei as grades da escada, travada de medo no

lugar e senti o movimento da água. Levi tocou minhas mãos, soltando meus

dedos sutilmente e passou o braço na minha cintura. Eu ofeguei, nervosa,

mas permiti que me puxasse sem me debater.

— Vamos tentar boiar aqui até que sinta segurança de ficar sozinha,

não tenha pressa, nós podemos avançar um pouco a cada dia — ele falou

baixinho. Balancei a cabeça e fui me inclinando para trás, esticando as

pernas e batendo aos poucos. Levi continuou me segurando, permitindo que

eu ficasse boiando.

Me assustei achando que ia afundar, me debati um pouco e ele me

segurou.

— Não vou te soltar, meus braços estão logo abaixo, você chegou a

boiar sozinha — explicou e fechei meus olhos, um pouco humilhada por


estar chorando e ao mesmo tempo, feliz demais por estar livre na água.

Levi me levou mais fundo, me deixando bater as pernas e balançar os

braços com calma. Ele nunca se afastou, o que me dava extrema confiança

para continuar explorando a água com liberdade.

Puta merda… liberdade. Fizemos a volta duas vezes e ao voltar para a

borda, eu estava me sentindo leve. Era esquisito ter medo de algo que eu

fazia muito, tinha confiança e até competia. Era como se estivesse colando
meus pedacinhos que foram quebrados e espalhados por todo lado. Sentei na

escada e ele afundou, tirou a camisa e foi nadar. Eu deveria ir, mas não

consegui parar de assistir ao seu treino.

Levi tinha muitas cicatrizes nas costas e não tirava a beleza dos seus

músculos muito bem trabalhados.

Com um pouco de frio, me enrolei na toalha e continuei quieta,


tranquila com o barulho dele indo de um lado ao outro. Ele era preciso, sem

pausas e quando parou, saiu pela borda, ignorando a escada. Engoli seco

com as gotas escorrendo por seu corpo e com as mãos tremendo, eu peguei

uma toalha enrolada que estava na cadeira e estiquei. Ele aceitou, secando o

rosto e me permiti olhar tudo antes de focar no chão.

— Você está bem?

— Sim. Obrigada por isso.


Peguei minhas coisas e fui para a porta.

— Amanhã no mesmo horário — ele falou atrás de mim. Assenti e saí

correndo.

No meu quarto, tomei banho e hidratei meu cabelo por causa do cloro.

Ao sair, vestida para o dia, Davina estava servindo meu café na varanda. Eu

peguei as receitas das vitaminas e remédios que estava tomando, ainda sem

ter memorizado a ordem e quais deveria tomar por dia.

Precisava retornar no próximo mês para fazer novos exames, o médico

era de confiança, trabalhava para Levi por fora. Meus exames eram todos

marcados como paciente X, para que meu nome não fosse revelado a
absolutamente ninguém.

Comi as panquecas deliciosas com morango, cobertura e primeiro o

café, preto, quentinho, uma delícia. Recostei na cadeira, satisfeita. Fiquei

olhando para o jardim, admirando a beleza do campo além das flores. Eu

queria ter coragem de explorar ao redor, parecia ter trilhas para correr e eu

desejava conseguir treinar ali.

Melissa me incentivava muito a melhorar, a superar, eu precisava

vencer minha própria mente e tudo que havia acontecido, porque eu tinha o

direito de viver minha vida.


Estava dormindo melhor, com ajuda de remédios, relaxava, mas não

ficava dopada, o que era bom, assim eu raramente tinha sonhos.

Principalmente aquele que eu nunca esqueci. Um pouco animada, decidi ficar

no jardim com alguns livros, para matar o tempo. Tentei me empolgar com

filmes e séries, Melissa fez uma lista com tudo que era novidade e que eu

poderia gostar… mas eu não conseguia passar mais de cinco minutos com os

olhos na tela.

Usando uma bolsa para carregar tudo, forrei um cobertor perto de uma

árvore e comecei a ler. Davina trouxe uma cesta de frutas e água, sentando

comigo por um tempo.

— Suas bochechas estão mais coradas e já tem carne para apertar.

— Você está disposta a me fazer ganhar peso.

— Quero te ver lindona e robusta, saudável, para poder fazer o que

quiser sem preocupações. — Deu um tapinha na minha mão. — Vou te deixar

lendo porque tenho muito que fazer ainda. Se precisar me chamar ou se tiver

coragem, se aventure até a cozinha.

Ela foi andando devagar e voltei minha atenção para a leitura, me

distraindo por um bom tempo. Pensei ter ouvido risadas infantis, com a voz

de uma mulher falando para a menina não correr tão longe, mas eu não
conseguia ver. Me estiquei, procurando entre as árvores e fui contemplada

com o ruído do vento entre as folhas.

— Devo estar maluca. Além de sonhar com uma criança, agora estou

ouvindo. — Bufei para mim mesma. Melissa acreditava que me apeguei

tanto ao sonho que estava tornando-o real. Ela estudava psicologia, seria

falta de ética tentar me analisar ou fazer qualquer tipo de sessão, mas era

inegável que seu conhecimento estava nos ajudando muito.

A leitura me deu um pouco de sono e deitei, com a cabeça apoiada em

um casaco e refleti sobre o nado de manhã. Eu estava ansiosa para encontrá-


lo novamente no dia seguinte. Tirei um cochilo renovador e voltei para

dentro quando o vento ficou incômodo. Eu estava subindo a escada quando


ouvi o choro de um bebê.

Estava longe, parei no meio dos degraus, olhando para trás. Parecia
dentro da casa, ecoando pelos corredores vazios como o vento, que fazia um

sussurro baixo. Saltei de susto quando uma porta bateu e decidi voltar para a
segurança do meu quarto. Deixei os livros na biblioteca rapidamente e fiquei

com o que estava lendo.

Conectei a chamada com Melissa.

— Alguma novidade?
— Ainda não, só a mesma coisa de ontem. — Ela suspirou, parecendo
exausta.

— É difícil acreditar que seu pai sabia que eu fui sequestrada e não fez

nada. Ele também deveria saber de todas as ameaças que sofreu…

— Ele não se importa, porra. Depois de tudo que fez, ele tem que

pagar. Não quero que morra, quero que seja preso, exposto e passe por
toda humilhação — ela vociferou e eu comecei a chorar. — Não, Ava. Não

se culpe. Nós duas éramos crianças inocentes. Nossos pais têm culpa. Eu
sei que sofre pela sua família…

— É culpa deles. Meu pai nunca se preocupou em me proteger — falei

baixinho. — Nunca fui importante para eles.

— Sempre foi para mim, é isso que importa. Como está indo aí? Sua

aparência está melhor… aos poucos, está voltando a ser a Ava linda com
quem eu cresci.

— Hoje eu consegui entrar na piscina. Levi esteve comigo, foi

assustador e ao mesmo tempo, libertador. Não sei descrever as emoções que


afloraram só de estar na piscina novamente, ainda estou com medo de nadar

e correr, tudo que consigo é ler. Acho que vai demorar para me encontrar
dentro da minha cabeça. — Me apoiei na escrivaninha.
— Não tem problema ser outra pessoa, ter novos sonhos e novos
gostos. Você pode ter a tela em branco e pintar tudo novo do jeito que

quiser. Não seja derrubada pelo medo, ok? Nosso tempo está acabando…
não podemos ser pegas. Eu te amo!

— Também te amo! Até amanhã! — Acenei antes de encerrar a


chamada em um aplicativo privado que a empresa de Levi usava para se

comunicar internamente sem ter o áudio ou vídeo rastreado, mas havia um


tempo limite para cada chamada.

Abaixei a tela, fechando o notebook e contemplei o silêncio.

Aquele era bom. Passarinhos cantando do lado de fora, as folhas das


árvores dançando com o vento e de repente, senti vontade de ouvir música.

Liguei a televisão e procurei o aplicativo, selecionando o estilo musical que


eu ouvia no passado. Gostava de R&B e Pop, sempre em uma vibe dançante,

nunca fui de músicas para chorar ou cantar no chuveiro.

Esperei que o ritmo me contagiasse para tentar dançar. Foi como se a


energia da música fosse penetrando pela minha pele, consumindo minha

corrente sanguínea e aos poucos, meus ombros começaram a se mover.


Estalei os dedos, me sacudindo e na terceira música eu já estava dançando

pelo quarto, rindo sozinha, lembrando de todas as vezes que pulei na minha
cama de calcinha, camiseta e fones de ouvido.
Agarrei o dossel, tomando impulso e pulei no meio da cama.

Não era mais uma menina de dezessete anos inocente, era uma mulher

chegando à maioridade, embora minha vida tivesse um eco de tempo não


preenchido, eu não podia me retardar e sim, avançar. Abraçar o novo tempo

e aceitar as mudanças que perdi, as que ainda viriam e sem perder o quanto
eu era sonhadora e gostava de me divertir. Eu podia ter mais do que um dia

tive.

Eu devia a mim mesma fazer tudo diferente. Parar de lamentar que

minha família não me amava, deixar de lado que eles buscaram o que
levaram e focar em mim. Eu não permitiria que ninguém mais roubasse meio

segundo da minha vida.

Mesmo com a música alta, ouvi uma batida na porta. Eu parei de pular
e peguei o controle, me sentindo cansada. Desliguei a música e desci,

correndo para atender quem me chamava.

Levi estava do outro lado, sua expressão era um pouco diferente da

usual, que era fechada e enigmática. Eu podia dizer que aquilo era o mais
perto de um olhar divertido que ele poderia dar.

— Estava fazendo uma festinha?

— Dançando — retruquei, sem fôlego. — O que foi?

— Jante comigo essa noite.


Não era uma pergunta.

— Você é sempre assim? Determinando o que as pessoas têm que fazer


ao seu redor?

Levi franziu o cenho.

— Não foi uma pergunta, foi como uma ordem.

— Você tem problemas em obedecer ordens?

Inclinei minha cabeça para o lado, não disposta a entrar naquele

assunto.

— Se o jantar for um convite, eu aceito.

— Te vejo às oito na sala de jantar — ele resmungou e saiu, andando

com passos firmes, sua postura impecável e eu observei até desaparecer.

Definitivamente, um homem do tipo bem mandão.


Capítulo 12 | Ava.
Me arrumei para o jantar com um vestido azul escuro bonito que

parecia o céu à noite. Era simples, apenas longo, com um lascado até o
joelho e ficaria um pouco justo quando ganhasse um pouco mais de peso.

Deixei meu cabelo solto e penteei minhas sobrancelhas, ignorando as

maquiagens novas ainda lacradas que Davina fez questão de comprar em


uma das nossas viagens para a cidade.

Os corredores estavam silenciosos, conforme passava, só o sussurro


do vestido arrastando nos tapetes. No topo da escada, vi Levi dentro de sua

adega, que estava com a porta aberta e era lindo lá dentro. Admirada com o

que via, parei na porta.

— Você gosta muito de vinho.

— Não tanto ou não ficaria tão cheio. — Ele colocou uma garrafa de

volta ao lugar. — A cozinheira preparou cordeiro.

— Ela cozinha muito melhor que muito chef.

— Eu a roubei de um restaurante. — Ele pegou outra garrafa,

analisando. — Ela queria uma vida tranquila com os filhos sem deixar a

cozinha.
— Imagino que você invadiu a cozinha do lugar e ditou o que ela tinha

que fazer. — Cruzei meus braços e encostei na soleira. Levi ergueu o olhar

do rótulo que lia e sorriu brevemente. — Algo como isso, certo?

— Ela fez cordeiro. — Voltou ao tópico principal. — Você gosta de

uma harmonização mais suave para o jantar ou prefere para sobremesa?

— Não entendo nada. Sempre que saía para jantar, pedia que o garçom
ou o sommelier fizessem a combinação para mim. Eu acho que prefiro mais

suave.

Levi selecionou uma garrafa e eu saí da porta para que pudesse passar.
Ele foi até a mesa, colocando a garrafa no aparador e gentilmente puxou uma

cadeira para mim. Seria apenas nós dois. Eu não sabia se o da cicatriz ficava

por perto sempre ou era apenas um funcionário. Fazia tempo que eu não

compartilhava o jantar com outra pessoa e estava curiosa sobre o motivo que

havia me convidado. Seria porque desejava que saísse mais do quarto?

— Melissa tem falado com você? — Peguei um pãozinho e enfiei no

molho, provando. Uma delícia. Ele fez o mesmo, com mais sutileza e modos

que eu.

— Eu não sou o contato dela.

— Por que me convidou para jantar?


— Você é minha hóspede e percebi que não foi muito educado da

minha parte simplesmente desaparecer. Acredito que sentiu timidez em sair

do quarto.

— Nunca fui muito tímida. Não era meu estilo ser a garota que se

esconde, eu apenas fiquei intimidada com as mudanças. Eu estava presa em

uma cela, depois em um quarto e então, aqui. É enorme, eu nunca tinha

certeza se a porta não estava trancada.

— Você precisava de um tempo ou de um convite?

— Acho que as duas coisas. Eu me sinto um pouco mais confortável

em sair agora, porém, em alguns momentos, quero correr para o quarto.

Levi ficou em silêncio, pegou sua água e bebeu.

— Todos eles irão pagar por isso — falou baixo, com raiva. — Todos.

— Inclusive Enzo Rafaelli?

— Ele procurou por você.

A informação me deixou surpresa.

— Era ele quem financiava e assegurava que Melissa pudesse fazer


barulho sobre o seu desaparecimento. Entenda que o Rafaelli não se

arrepende sobre seu pai e irmãos, mas ele nunca planejou que você ficasse

ferida. Ele nunca quis que pagasse por erros que não cometeu.
— Ele é um homem cruel. — Voltei a olhar para o meu prato.

— É sim, todos somos, mas a diferença é que sabemos quem tem que

pagar pelo que deve e quem não. Se você fosse como seus irmãos, estaria

morta naquela noite. Seu padrinho foi tolo em confiar em quem Enzo já havia

avisado para não fazer. O pai da Melissa, segundo nossas desconfianças, foi

quem te entregou para o velho.

— Meu padrinho falou com uma pessoa minutos antes de sairmos. Ele
culpou meu pai pela ambição e disse que estava me tirando do país. Fomos

atacados no caminho e… eu não sei quem era. — Parei de falar, apertando

minhas unhas na palma, meu punho estava tão firme que chegou doer.

— Não precisamos falar sobre isso agora. Se você não tem como

reconhecer quem estava na linha, não temos porque voltar a isso. — Ele

aproximou a mão, como se fosse tocar meu braço e recuou. Desviei meu

olhar para as flores lindas que decoravam a mesa.

As funcionárias da cozinha estavam devidamente arrumadas quando

entraram carregando bandejas com nossas entradas e o jantar. Tudo estava

incrivelmente cheiroso. Levi sinalizou para que saíssem e nos servimos

sozinhos, comecei pela salada, depois provaria o arroz com cordeiro e o

molho, que parecia incrível.

— Há quanto tempo mora aqui? — Fiz conversa.


— Dez anos.

— E tem alguma história por trás dessa construção?

— Era de um membro da família real. — Levi pegou a garrafa de

vinho. — Ele quis vender depois de um incêndio em um gazebo, alastrou

pela mata seca, porque não cuidava do jardim e pegou na ala leste,

destruindo alguns dos quartos. Eu reformei tudo.

Fogo em um gazebo?

— Gazebo?!

Ele não percebeu minha completa confusão.

— Sim. Fica atrás da propriedade, um pouco distante, no alto de uma


pequena colina que dá para ver quase toda região dali. É agradável no

verão.

— Eu posso ir lá?

— Claro. Eu te levo lá amanhã à tarde. Gostaria de fazer uma

caminhada ao redor da propriedade?

— Você está perguntando?

— Prefere quando eu determino? Eu prefiro. — Sorriu de lado, com

sua taça próximo à boca. Foi inevitável não sorrir de volta. Furei meu
tomate, espalhando no molho e comi. — Amanhã iremos lá. — Ele

determinou. — Use tênis e roupas de ginástica.

— É o senhor quem manda — provoquei, ainda concentrada na minha

comida e ouvi que soltou um “porra” bem baixo, comendo em seguida.

A companhia dele para o jantar foi extremamente agradável. Ele sabia

como conversar, manter um assunto sem me interromper ou me fazer sentir


estúpida pelo que estava falando. Perdi um pouco da vida de modo geral,

acontecimentos que marcaram o mundo e ele me atualizou com as

informações importantes. Durante a sobremesa, um pudim com coco

queimado, ouvi o choro de um bebê. Virei na cadeira, olhando na direção da

escada.

— Você ouviu isso?

— Não. O que está ouvindo?

Caramba. Eu estava mesmo ficando maluca.

— Nada. Eu acho que preciso deitar. — Coloquei meu guardanapo na

mesa. — Muito obrigada.

— Você está bem?

— Apenas cansada. Preciso dormir. — Dei-lhe um sorriso e saí da

sala.
Entrei em meu quarto, tomei meu remédio para dormir e troquei de

roupa para deitar. Puxei as colchas, me acomodando e apertei o botão para

apagar as luzes, deixando o abajur aceso. Já era o jeitinho que estava

conseguindo dormir. O vinho com o remédio me fez apagar. Ainda ouvi o

choro mais duas vezes, me causando um pouco de agonia e medo de estar

pirando, cobri minha cabeça e apaguei ao ponto de me levantar atrasada na

manhã seguinte.

Vesti meu maiô e me preparei para a natação. De roupão, fui


prendendo o cabelo. Levi já estava na piscina, nadando de um lado ao outro,

dando boas braçadas. Ele era do tipo pontual e começou sem mim, afinal,
quem se atrasou fui eu.

Deixei minhas coisas em cima da mesa e agarrei a escada, descendo

devagar, estava quente, agradável e eu não soltei a barra porque era fundo e
eu não me sentia segura. Levi voltou, emergiu e passou a mão no rosto.

Dessa vez, ele estava sem camisa, apenas com seu calção que eu podia ver
meio borrado através da água.

— Você se atrasou.

— Eu dormi mais que a cama. — Continuei no mesmo lugar. — Eu


tomei remédio e com o vinho… — Soltei um bocejo e cobri minha boca. —

Desculpe.
— Não pode tomar a medicação quando beber. É por isso que está
letárgica. — Ele se aproximou. — Vou tocar nos seus braços e cintura para

irmos mais fundo, ok?

— Ok. — Minha voz era só um sussurro.

— Não vou te machucar.

— Eu sei, quer dizer, não sei. É a água. Ela me dá a sensação de que


ficarei no escuro novamente…

Ou dentro do sonho que no meio do fogo eu ia parar no fundo de uma

piscina. Eu não conseguia saber se era normal ou se minha cabeça estava tão
bagunçada que não sabia do que realmente tinha medo.

— Não é escuro aqui, só focar que tem uma claraboia enorme acima
de nós e apesar da piscina oferecer riscos, porque sim, pode se afogar, estou

aqui e vamos te ajudar a lembrar como nadar novamente. — Ele me segurou


pela cintura e puxou. Fiquei contra seu peito com o coração acelerado. —
Viu? Quer tentar mergulhar sozinha? Pode impulsionar que estarei logo ao

lado.

— Eu vou tentar.

Virei de frente para ele, segurando seus braços e prendi a respiração,


afundando e dali, dei impulso para fazer um mergulho. Foi curto porque eu

não tinha muito fôlego. Emergi desesperada e me debati um pouco, ele me


segurou e puxou para cima. Puxei o ar, secando meus olhos e percebi que
estava completamente agarrada a ele.

— Me desculpe. — Me afastei um pouco.

— Está tudo bem, você pode segurar em mim. — Ele me levou para a
escada. — Foi assustador?

— Não muito. Abri os olhos, ainda assim, fiquei sem fôlego.

— Falta de hábito. É um treinamento, todo dia você vai avançar um

pouco mais e vai conseguir voltar a nadar como antes. E depois, corrida.

— Ainda vai me levar para ver o gazebo?

— Sim. Será a sua primeira caminhada, então, não vamos pegar

pesado hoje.

Parei para analisar seu rosto e mordi o lábio. Ele era bonito demais
para não admirar. Eu podia passar o dia inteiro apenas decorando cada traço

de seu rosto. Dei mais alguns mergulhos, voltei para a escada e esperei que
ele terminasse de fazer seu treino. Combinamos de nos encontrarmos no final

da tarde e ele foi para um lado, eu para o outro.

Tomei banho mais demorado, cuidando de mim mesma e encontrei com

Davina. Eu me pesei, como fazia todo dia. Ansiosa para chegar logo no peso
ideal. Faltava pouco.
Decidi passar o dia na biblioteca, olhando os livros e filmes que tinha

ali dentro. Separei um monte para ler e alguns filmes deixei no cinema, para
assistir mais tarde. Davina me ensinou a como fazer pipoca e eu comi

enquanto aprendia a colocar os filmes no player moderno, muito confuso e


cheio de botões sensíveis.

No final do dia, coloquei uma calça de ginástica, tênis e uma camiseta

com um casaco leve. Desci as escadas e o encontrei do lado de fora. Ele não
estava usando roupas formais, apenas uma calça de moletom, tênis e casaco.

Parei ao seu lado e esperei que terminasse de digitar sua mensagem, olhei
para o alto ao ouvir uma risadinha infantil e ele ignorou, seguindo em frente.

— Alguma notícia de Nova Iorque?

— Você quer todos os detalhes cruéis ou apenas as informações


simples? — Continuou caminhando com firmeza.

— Eu quero saber o que importa.

— Estamos acompanhando a busca por esse ouro. Por enquanto, a


notícia de que você é a garota que liga essa história parece cada vez menos

verdadeira. Logo meus associados farão com que esteja livre do interesse.
— Enfiou o telefone no bolso. — E então, meu pai poderá ser morto.

— Você odeia seu pai?

— Sim.
— E está tudo bem com a possível morte dele?

— Com toda certeza. Até pouco tempo atrás, eu decidi que iria matá-
lo. Eu mesmo, com as minhas próprias mãos e cheguei bem perto de fazer

isso várias vezes. — Levi não parava de andar e eu estava tentando


acompanhar seu ritmo. Como era o coração de um homem com desejo de

matar o próprio pai? — Há alguns meses eu decidi que era mais satisfatório
assistir sua ruína, matando-o em vida.

Caramba… era tão intenso e verdadeiro. Eu odiava o pai dele. Mas

por que ele odiava?

— Ele te machucou? As cicatrizes nas suas costas foram ele quem fez?

— Sim, todas elas — retrucou, sem olhar para mim.

— Você ia mesmo matá-lo? Teria coragem?

— Sim. Mas eu percebi que não seria o suficiente. O ódio continuaria

aqui porque a morte não o faria sentir tudo que eu senti conforme crescia.
Horas de tortura também não seria o suficiente. Ele sentiria dor física e não
se importaria com o passar do tempo. — Esticou a mão e me ajudou a passar

por algumas pedras. Nós andamos por uma trilha até chegarmos em um
gazebo.

Era lindo.
Havia folhas que se entrelaçavam nas madeiras, com flores e canteiros
ao redor e um balanço bem no meio. Era ali. O fogo consumia tudo em meu

sonho. Eu observava bem ali, onde estava, mas a realidade era que aquele
lugar lindo foi construído para ser um pedacinho de um conto de fadas.
Deixei Levi parado na grama e subi no gazebo, sentando no balanço. Eu

fiquei me impulsionando, olhando a paisagem linda de árvores, montanhas e


caramba, até um rio à uma longa distância. Era simplesmente perfeito.

Levi subiu as escadas e segurou o balanço, me empurrando um pouco.

— Você quer chorar sozinha?

— Eu quero ficar aqui todo dia! — gritei, ecoando na imensidão.

O vento em meu rosto e toda beleza me fez sentir livre como não me
sentia há anos.
Capítulo 13 | Levi.
Ava estava andando na minha frente, usando um galho como bengala,

olhando absolutamente tudo ao redor e parou perto de uma árvore. Ela


estava vermelha, suada e sem fôlego. Eu podia ouvir Lucas me questionando

que diabos estava fazendo passando tanto tempo com ela, se eu havia dito

que era apenas para cuidar dela enquanto sua vida estava em perigo por
causa do meu pai. Era uma desculpa plausível para tê-la por perto, mas eu

não conseguia ficar longe.

Eu não planejei a natação. Acordava cedo querendo nadar com ela. Eu

queria compartilhar mais noites de jantar e ajudá-la a lembrar do que

gostava. Aos poucos, bem lentamente, estava se abrindo, aventurando e se


divertindo. Eu podia ouvir sua risada ao passar muito tempo dentro do

cinema ou pendurada nas escadas atrás de livros de comédia.

Eu tinha que estar trabalhando nos meus negócios ao invés de andar ao

redor da propriedade sanando a curiosidade de Ava, mas não conseguia ficar

longe.

— Estamos perto? — Ela encostou em uma árvore.

— Estamos quase. — Passei por ela e segui adiante na trilha. — Você

queria ver o rio.


— Lá de cima não parecia tão longe.

— Você está sem condicionamento físico, porque não é longe.

— Estou cansada. Não quero mais ver nada — resmungou, quase se

jogando no chão.

— Ava, vem. — Soltei um estalo.

Ela parou e arremessou um galho nas minhas costas.

— Eu não sou um cachorro para você estalar meu nome assim! —

reclamou, contrariada. Estava ainda mais vermelha e descabelada. — Sei

que é mandão por natureza, mas não me chame assim!

— Vem. — Apontei para o caminho.

A irritação lhe deu forças para passar direto por mim, batendo o pé e
com calor, tirou a camisa, ficando só com um top branco curto. Ela enrolou o

cabelo no alto, jogando um pouco da sua água na nuca e eu acompanhei as

gotas descendo por suas costas, se perdendo na calça justa. Ela estava muito

magra quando nos encontramos e aos poucos, podia ver seu corpo ganhando

forma novamente. Ela não parecia ser uma mulher de curvas sutis.

— Você não disse que era abafado entre as árvores.

— Não é tanto, você está suando porque está cansada e respirando

errado. Segure na minha mochila, eu vou suportar seu peso. Molenga.


— Quando eu não estiver cansada, terei espírito para te responder.

— Eu disse para Davina que levaria peixe para o jantar. — Fui

andando com rapidez. Ela tentou me puxar de volta, para andar com mais

calma e não tinha forças.

Ainda resmungando, só parou quando encontrei um lugar bom o

suficiente para começar a pescar. Esticou sua camisa, tirou os sapatos e

ficou deitada.

— Não quer aprender a pescar?

— Não sinto meus braços, como poderei pescar qualquer coisa?

— O que seus braços têm a ver com a caminhada até aqui?

— Eu não sei! — gritou e sorri. Era uma reação, pelo menos. Nada de

timidez e apatia.

— Vem aqui, Ava! — Estalei meus dedos. Ela ergueu o rosto.

— Quantas vezes terei que dizer…

— Quieta! — Ergui meu dedo. Abrindo a boca de um jeito ultrajado,

se arrastou até onde estava sentado e parou. Mostrei os peixes e vi o sorriso


crescer em seu rosto. Sem perceber, segurou em meu braço e foi se

inclinando para frente. Agarrei sua cintura para não perder o equilíbrio e

cair no rio.
— Vamos levá-los para o jantar?

— Você quer levá-los para um aquário? — rebati secamente.

— Não, quer dizer, eles parecem felizes ali. — Me deu um olhar sobre

seu ombro.

— Ficarão ainda melhor com o molho de maracujá que a cozinheira

prepara junto com batatas assadas e aspargos. É uma completa delícia! —

Puxei-a de volta para seu lugar e ensinei como colocar as iscas na vara. Ela

torceu o nariz, sentindo nojo e rapidamente quis limpar os dedos na minha

camisa.

— Acho que entendo porque quis trocar Nova Iorque por isso aqui. —

Ela olhou ao redor, respirando fundo. — É mais belo que muitos sonhos. É

pacífico.

— Não gosto de Nova Iorque.

— Simples assim? — Ava me encarou, querendo saber e eu iria

decepcioná-la porque não havia como falar mais do que eu já falava.

— Você é como uma muralha. — Me cutucou com o pé. — Até hoje eu

não sei porque me tirou de lá. Quer dizer… eu entendo que seja algo moral,

ver uma garota presa e salvá-la, ou espero que seja. Ainda assim, você me

trouxe aqui e está cuidando de mim sem ser sua obrigação.


— Pegamos um peixe — avisei, sem querer entrar no assunto. Ela

gritou com o peixe se debatendo e rapidamente colocou no isopor, soltando

gritinhos tão agudos que seria difícil pegar mais.

— Não vai me responder, não é?

— Não. Não vou. — Fui sincero.

Ava me encarou com intensidade, provavelmente pensando se deveria

insistir ou não. Desistindo, ficou brincando com a caixa de iscas sem falar

comigo. Eu poderia dizer a ela todos os motivos pelos quais ela estava em

minha casa, mas isso poderia assustá-la e fazê-la sentir-se refém novamente.

Eu sequer entendia os motivos para poder explicar.

Havia uma diferença entre nós que nunca poderia ser suprida. Falar

tudo só causaria confusão, medo, poderia machucá-la ainda mais depois de

tudo.

— Seja quais forem seus motivos, eu sou grata. Não queria ficar em

Nova Iorque agora, por mais que eu ame Melissa. Eu não sei se um dia vou

conseguir voltar lá. — Abraçou as próprias pernas. — O lugar que nasci e


cresci se tornou o lugar dos meus pesadelos. Saber que estou longe me faz

sentir segura.

— Você estará livre em breve.


— Eu sou a garota que liga ao ouro? Meu pai era rico o suficiente para

ter fortunas em ouro?

— Não. Definitivamente, não. Mas ele pode ter roubado, porque a

origem de tudo isso é que esse ouro foi roubado na Inglaterra e quem o

roubou, marcou com o desenho de uma menina. Sua filha. Até meu pai

delirar com essa merda, eu achava que era uma lenda. Acho que todos

pensavam que era um mito que corria nas ruas. — Puxei a vara com mais um

peixe. — No entanto, o que não é mentira, é que seu pai desapareceu com

muito dinheiro que deveria ser do meu pai e do pai de Melissa. Ele decidiu

que se saiu ileso traindo os italianos, por que não sairia livre ao roubar os

dois?

— Foi assim que seu pai achou que poderia negociar com os

ucranianos?

— Depois de tudo, sim. Ele ficou enfraquecido, sem dinheiro, sem

acesso às empresas e ciente que eu estava encurralando-o em um canto,

mesmo andando ao lado dele. Depois que descobriu que eu estava tendo

negócios com os italianos, ele sabia que foi descoberto.

— Enquanto isso, eu estava sendo jogada de um lado ao outro como

uma bolinha. Por que o mundo de vocês é assim?

— Não sei. Não lido com mulheres e me envolvo até certo ponto.
— Você nunca vai me contar o que realmente faz?

— Nunca é muito definitivo.

Ava me deu a língua e se assustou com o barulho de passos nos galhos

atrás de nós. Ela se moveu tão bruscamente que quase caiu no rio,

derrubando a vasilha de iscas nele. Agarrei seu braço e vi o olhar de pânico

crescer.

— É Lucas.

— Ele não podia avisar? — ela gritou, se recompondo.

— Deve estar sem telefone. Saiu para acampar há alguns dias. —

Olhei para trás e Lucas saiu da mata. — Senti seu cheiro de longe. Não
tomou banho?

— Cheiro? — Ava soou confusa porque no fim, Lucas não estava


fedendo.

— Vai se foder — ele murmurou com a voz rouca. — Atrapalho?

— Sim. Sua presença fez com que ela jogasse as iscas na água e agora
não tem peixes o suficiente.

Ava mordeu o lábio sentindo-se culpada e olhou para a vasilha


boiando longe.
— Isso não é um problema, estou com meu isopor cheio, mas preciso
voltar logo.

— Temos gelo no isopor. — Apontei. Lucas ajoelhou ao meu lado,

transferindo o que havia pescado não muito tempo e pelo tamanho, ele estava
mais acima no rio, na parte perigosa. Quis ficar sozinho e saiu por vários

dias. Ele gostava de ficar sozinho no mato.

Lucas não falou com Ava e isso fez com que ela se retraísse

completamente, vestindo sua camisa e calçando os tênis. O olhar alterado


sempre focando no caminho de volta para casa me mostrou o quanto ela

ficava confortável comigo. Apenas comigo. Lucas lembrava a ela que


homens eram perigosos.

Ava não foi uma vítima sexual por sorte, meu pai tinha muitos defeitos,

mas ele não sentia prazer em machucar suas vítimas sexualmente e o velho,
que a prendeu em uma cela, queria uma boneca viva para ter inspiração e

não como amante.

Poderia ter sido pior. Muito pior. Eu imaginava que ela tivesse sido

vendida em qualquer leilão clandestino e ido parar em mãos que adorariam


destruí-la como mulher intimamente.

— Ava, esse é Lucas. Ele é meu primo — apresentei.

— Oi, Lucas — ela falou baixo.


— Olá, Ava — ele respondeu com um aceno.

— Ele é quieto. Um homem de poucas palavras e alguém que eu

confio, então, você não precisa ter medo que ele irá te trancar em qualquer
lugar.

— Não gosto de chaves tanto quanto você — Lucas falou baixo. Ele

apontou para seu pescoço. — Foi assim que eu ganhei isso.

— Eu sinto muito. — Ava ofereceu, um pouco emocionada.

Lucas deu a ela um raro sorriso com o único intento de fazê-la relaxar.
Ele não se aproximava de mulheres há anos. Ao contrário de mim, não

encontrou no sexo um escape, mesmo que tivesse tentado. Ele escondia seu
corpo marcado por cicatrizes. Eu busquei novas. Nós reagimos de maneiras
diferentes aos nossos traumas…

E encontramos mais uma pessoa traumatizada para andar junto.

— Vamos voltar. Davina deve querer os peixes. — Fechei o isopor.

Ava me ajudou a recolher tudo. Lucas ergueu o isopor que trouxe

amarrado na mochila com facilidade, mas um peixe caiu e bateu no braço de


Ava. Ela estava distraída recolhendo as garrafas de água, não viu e começou

a gritar. Sua reação foi muito engraçada. Eu não cheguei a rir, embora tenha
achado divertido, Lucas gargalhou, o que valeu a pena. Fazia anos que eu

não ouvia sua risada e trouxe um conforto ao meu peito.


— Sim, eu sou histérica. Me processem! — Ela empurrou as garrafas

no meu peito e foi andando. Abaixei e peguei o peixe, assobiei, ela virou,
pronta para brigar sobre ter feito um barulho para chamar um cachorro.

Joguei o peixe. Ela gritou e saiu correndo.

— Isso foi perverso. Ela vai descobrir que você é um vilão em


histórias que garotas como ela gostam. — Lucas começou a andar.

— Ela já sabe que não sou um mocinho.

Em casa, Davina fez um show sobre os peixes, entregando-os à minha


chef particular. Ela sabia como eu gostava. Ava foi para o quarto, tomar

banho e depois, ficar dentro de seu próprio mundinho. Lucas desapareceu


para seu quarto e eu fui para o meu, assim que terminei meu banho, ouvi a

risadinha da minha filha. Ela estava brincando com suas bonecas, falando
sem parar enquanto a babá olhava Milo acordado no carrinho.

Peguei-o e beijei a cabecinha do meu filho.

— Hora do chá! — Daisy agarrou minha mão e levou-nos para a mesa.

Sempre que eu estava com eles, eu me sentia um homem de sorte. Me

fazia esquecer da dor dilacerante e diminuía o ruído de morte que gritava em


meu ouvido a cada instante. Daisy era doce, e gentil, uma menininha

apaixonante que o destino quis que fosse minha para criar. Um presente que
eu negaria se não fosse Vivianne grávida de Milo e a paternidade chutando a

minha porta.

Meu pai deveria agradecer a eles. Daisy e Milo me fizeram ver que

matá-lo não mudaria nada, só me faria ser um pai que eu não queria ser para
os dois.

— Diga à sua irmã que esse chá está muito doce — falei com Milo,

que acordado, segurava meu dedo. Ele estava babando, tentando chupar a
cabeça do meu dedão a todo custo.

— Eu gosto de coisas doces, papai. — Daisy sorriu.

— Vou te devorar todinha! — Fingi morder seu braço gordinho, ela riu
e gritou, querendo escapar. Sua farra fez com que Milo gritasse também.

Dei o jantar dela, conversando suas histórias confusas e as músicas


que inventava. Dei um bom banho para tirar as manchas de canetinha. Ela

sempre se comportava quando Milo estava junto, sozinha, era uma bagunça
bem molhada. Coloquei-a em sua cama e a cobri enquanto a babá terminava

com Milo. Daisy dormia depois da leitura, enquanto estivesse falando, ela
raramente relaxava logo. Esperei que entrasse no sono profundo para

devolver o livro para o lugar e ir de encontro ao pequeno.

Milo mamou tudo, ele dormiu ainda com o bico na boca e por
necessidade, fiquei com ele em meus braços. Ele era perfeito. Beijei sua
cabecinha e coloquei no berço, apagando a luz e deixando a do abajur aceso.
Encostei a porta e fui para o meu quarto, me preparar para o jantar. Eu mal

trabalhei durante o dia, não respondi meus e-mails e nenhuma mensagem. De


vez em quando, fazia isso, porque eu podia e me fazia bem.

Na frente do espelho, fechando os botões da minha camisa, percebi

que eu queria estar atraente para encontrar com Ava.


Capítulo 14 | Ava.

Deitada no centro da minha cama, eu percebi que estava com um

sorriso no rosto. Era bobo. Causado por borboletas estúpidas que assumiram
uma paixonite sem noção por Levi, que não me olhava como mulher, apenas

como… uma pessoa. Eu mal me identificava como uma mulher, para começo

de conversa. Foi como se ainda estivesse com dezessete anos, ficando


apaixonada por qualquer homem bonito que me desse atenção.

Era mais que uma simples atenção. Quando ele olhava para mim, era
como se o mundo inteiro parasse e só existissem nós dois. Era tão idiota que

sentia vergonha, desviando o olhar, ficando com as bochechas vermelhas e

ansiando pelo momento que ficaríamos sozinhos na piscina, nadando lado a


lado e depois, no jantar. Nem sempre Lucas se juntava a nós. Ele tinha seus

momentos e eu estava aprendendo a respeitar o jeito dele.

Quando era apenas Levi e eu, falávamos sobre tudo, qualquer coisa,
ainda assim, éramos completos desconhecidos. Ter qualquer vislumbre

sobre quem Levi era de verdade demandava esforço. Ele não se abria e eu

sequer sabia quem era. Como Melissa uma vez me disse, minha vida era uma
tela em branco e eu estava colorindo novamente. Me descobrir era um

processo.
Nem sempre era bom.

Naquela noite, ele tocou minha mão antes de acender as velas da

mesa.

Tocou minha mão e eu fiquei toda arrepiada.

Caramba… era só a droga de um toque bobo e foi o suficiente para me


fazer deitar e sorrir sozinha daquela maneira. Agarrei o travesseiro,

pensando no quão estúpido e de mente vazia era fantasiar uma paixãozinha

por causa de um toque. Culpava a solidão e ele ser o único homem com

quem estava convivendo.

Nunca fui a garota que ficava apaixonada, como Melissa. Ela via

qualquer um e se encantava. Eu sempre fui fechada. Depois de tudo que

passei, me encantar com Levi era burrice. Meu cérebro precisava ser
estudado. Eu estava encantada com o quê? Beleza? Sim, ele tinha. Proteção?

Com toda certeza. Gentileza? Nem sempre. Era uma incógnita.

Quando estávamos sozinhos, parecia que nos conhecíamos desde

sempre e ao mesmo tempo, existia uma vontade crescente de saber

absolutamente tudo um do outro. A natação estava avançando. Eu ainda

precisava de um pouco mais de fôlego, me cansava rápido e quando fechava

os olhos, acabava me assustando com a escuridão, achando que iria afundar.

Ouvi o som do choro e ergui meu rosto imediatamente.


Parecia mais alto. Não podia ser coisa da minha cabeça. Eu tinha que

encontrar essa criança o mais rápido possível.

Saí da cama com a minha camisola e abri a porta do quarto, espiando

pelo corredor. Fui andando em direção à escada, descendo e parei no saguão

principal, me orientando. Subi as outras escadas, que levavam para o outro

lado, empurrando as portas abertas até encontrar um corredor longo.

O choro estava perto. Fui andando, olhando as portas abertas, seguindo

o som e parei abruptamente ao ver Levi trocando as fraldas de um bebê. Ele

virou o rosto, me analisou e segurou as pernas do bebê, que balançava.

— O que está fazendo aqui?

— Ouvi a criança chorar.

— Ele chora toda noite — retrucou como se não fosse nada demais,

enquanto fechava as roupas com habilidade. A criança continuava


resmungando, irritada, provavelmente com fome.

— Eu te perguntei sobre ouvir um choro e você disse que não ouviu.

— Eu? Você me perguntou se eu estava ouvindo algo e quando

questionei o quê, disse que nada. — Pegou o bebê e aninhou no peito.

— Cinismo é uma atitude muito feia.

— Sou cínico por natureza… e já me disseram que sou uma pessoa

horrível. Acho que combina. — Passou por mim para o corredor e eu não
conseguia desviar os olhos do bebê. Era um menininho lindo, cabeludo, com

a expressão irritada, parecida com a do pai.

— Quem é ela, papai? — uma garotinha falou atrás de mim e pulei de

susto.

— Daisy, não é educado falar como se a pessoa não estivesse aqui —

ele a repreendeu. Cruzei meus braços e arqueei a sobrancelha. — Não repita

as atitudes feias do papai.

— Quem é você? — Ela virou para mim, usando um pijama roxo, com

os cachinhos bagunçados. Seu olhar era intenso, curioso.

— Eu sou Ava.

— Eu sou Daisy.

— Muito prazer em te conhecer, Daisy. — Abaixei na sua frente,

esticando minha mão e ela só agarrou alguns dedos, balançando.

— Quer brincar? — Ela sorriu marota.

— Daisy Joan, vá para sua cama. Está na hora de dormir ainda — Levi

falou de dentro de outro cômodo. Ela foi atrás dele e eu também. Ele estava

fazendo mamadeira em uma pequena cozinha. — O sol não nasceu.

— Estou com fome também. — Ela subiu em cima de uma cadeira,

parando ao lado dele, que com uma só mão fazia a mamadeira para o

pequeno, que resmungava.


— Vá para sua cama esperar seu leite.

— Quero ficar com vocês. — Ela soou manhosa com um beicinho.

Levi colocou o bebê deitado em um moisés.

— Segure a mamadeira do seu irmão por um instante. Se ele cuspir, é

só puxar — ele orientou e ela, como uma boa irmã, ficou inclinada,

segurando a mamadeira para o garoto sugar. Levi voltou a fazer outra

mamadeira, rosa, um pouco maior e com um tipo diferente de leite. —

Pronto. Vamos para a cama.

Daisy desceu na frente e foi correndo para seu quarto. Ela subiu na

cama e se acomodou. Levi colocou o moisés com o filho no chão e olhou

para mim.

— Pode segurar? — Ele me entregou a mamadeira. O garoto

resmungou, querendo voltar a mamar e sentei ao lado, levando o bico à sua

boca.

Fiquei surpresa que Daisy ainda usasse fraldas, ela parecia grandinha

para isso. Levi tirou a fralda e olhou para ela.

— Vamos tentar dormir sem?

— E se eu não conseguir segurar? — Ela soltou o bico.

— Eu vou deixar a luz do banheiro acesa, seu assento e o banquinho.

Se acordar com vontade e quiser ir lá, estará pronto ou você pode me


chamar — ele falou suave com ela. Daisy parecia pensativa. — Uma

tentativa.

— Tudo bem. — Voltou a mamar.

O garotinho dormiu, deixando dois dedinhos da mamadeira, mas eu

não quis me afastar. Levi vestiu a filha novamente, cobrindo e apagou a luz

principal. Ele esperou que ela terminasse, pegou a mamadeira, limpou a


boca dela com um lenço e ficou de pé. Eu observei um lado dele que parecia

completamente surreal. Levi era pai. O homem obscuro e quieto tinha um

lado que absolutamente ninguém conhecia.

Levando o bebê para o berço, também deixou tudo escurinho e

encostou ambas as portas. Com as mamadeiras, foi para pequena copa e

lavou tudo.

— O que foi, Ava? — perguntou sem me encarar.

— Eu ia viver aqui sabe-se lá quanto tempo sem nunca saber que tem

filhos?

— Era uma possibilidade. — Secou ambas e esterilizou os bicos,

colocando em potes.

Ele virou e encostou na pia, pela primeira vez, descendo o olhar do

meu rosto, passando lentamente para o pescoço e um pequeno sorriso


cresceu em seus lábios com a minha camisola. Cruzei meus braços e limpei a

garganta. Eu estava brava com ele, não queria seus olhares apreciativos.

— Eu pensaria que o choro era coisa da minha cabeça até implorar por

uma camisa de força.

— Isso já não era uma possibilidade. — Cruzou os braços também.

— Nunca machucaria seus filhos.

— Você foi sequestrada e teve quase três anos da vida roubados, ainda
não está totalmente livre para viver do jeito que quer e por mais que

soubesse que não os machucaria intencionalmente, essas crianças são a


minha vida e tudo que eu faço desde que eles chegaram é protegê-los. — Ele

inclinou a cabeça para o lado, me analisando.

— É isso que todo pai tem que fazer. — Relaxei minha postura e
encostei na porta. — Nossos pais não fizeram isso.

— Não.

— Por que ela ainda usa fraldas?

— Só para dormir. Nem sempre ela acorda antes de fazer xixi… —

Levi se aproximou. — Ela perdeu a mãe quando estava desfraldando.

— A mãe deles morreu? — Arregalei os olhos, horrorizada.

— Sim. No parto do Milo.


Senti meu coração quebrar. Fiquei triste, lembrando da minha própria
mãe, que nunca conheci e toda culpa que carreguei por ela ter morrido no

meu nascimento. Decidi mudar de assunto, desconfortável com o tópico


sobre a morte da mãe dos filhos dele, o que deduzia ser sua esposa. Ele era

um viúvo recente e eu fantasiando sobre seus olhares.

— Você não tem uma babá?

— Tenho. Ela não estava sentindo-se bem hoje e eu a dispensei. — Ele

saiu andando e o segui, descemos a escada e havia um notebook aberto, com


algumas folhas espalhadas e canetas. Era uma sala diferente da que fui

apresentada, como se aquele lado da casa fosse apenas dele. — Gostaria de


um chá? Eu gosto de tomar chá antes de dormir.

Ora, ora. Uma informação gratuita!

Havia um carrinho da cozinha com bule em um pequeno suporte de


fogo, que estava aceso, uma caixa com vários saquinhos e xícaras. Era coisa

de Davina, ela sempre me oferecia chá em um carrinho como aquele antes de


dormir.

— Sim, por favor. — Peguei uma colcha e me enrolei, sentando no

sofá. — Você foi casado por quanto tempo?

— Está bastante curiosa essa noite, Ava. — Ele pegou a água quente e

preparou dois chás. — É de framboesa. Mandei comprar depois que soube


que gostava.

— É muita gentileza da sua parte. — Aceitei a xícara e assoprei antes

de dar um gole. — Eu estou curiosa porque é muito misterioso em


absolutamente tudo.

— Não sou um livro aberto e se, por algum acaso, conseguir folhear

minhas páginas, não será fácil de interpretar. — Levi sentou na mesinha de


café, na minha frente. — Por que quer saber sobre mim, Ava? O que tem aqui

que possa ser interessante para os seus ouvidos?

Me movi sutilmente, para não entornar meu chá e fiquei bem à sua

frente, olhando em seus olhos. Eu mal conseguia pensar quando ele


sustentava meu olhar, mas eu tinha que ser sincera. Não havia nada para

perder. Minha vida se tornou um jogo sobre dar tudo ou nada.

— Eu quero te conhecer.

— Você não vai gostar de tudo que tem aqui. Eu não sou como os

garotos da escola que estava acostumada. — Ele deu um gole do chá. — Já


deixei de ser um menino há muito tempo. Sou um homem que trabalha com

coisas perigosas, que não é fácil de lidar e eu gosto de dominar tudo e todos
ao meu redor. É assim que eu funciono.

— E o que tudo isso tem a ver com o fato de que quero te conhecer?

— Você pode se assustar com o que irá encontrar aqui.


— Pode me dar a chance de decidir isso?

— Tudo bem. — Encolheu os ombros, ainda parecendo incerto.

— Quanto tempo foi casado?

— Quatro meses e quinze dias — respondeu sem desviar os olhos dos

meus. Franzi o cenho, fazendo as contas. Então, Daisy era filha dele com
outra mulher que também havia morrido? — Daisy não é minha filha
biológica.

— Apenas de sua esposa?

— Sim. Vivianne e eu nos conhecemos, tivemos um caso, ela

engravidou e era de risco, então nos casamos para que Daisy pudesse ficar
comigo se algo acontecesse durante o nascimento do Milo. Infelizmente,

aconteceu. — Ele terminou o chá e colocou a xícara ao lado.

— Foi bonito vê-lo com eles. Não estou acostumada com homens
sendo amorosos com seus filhos e é por isso que fiquei tão surpresa.

Lamento pela morte de sua esposa. — Toquei seus dedos e recuei, me


sentindo abusada por tocá-lo, mas não foi por maldade.

— Eu não a conhecia completamente, foi um acaso que gerou uma


criança e prometi a ela que cuidaria de Daisy por toda sua vida. — Ele
pegou minha mão e colocou entre as dele. — Ava. Olhe para mim — pediu

em um tom solene que não era comum.


— O que vai dizer agora?

— Não quero que tenha medo de mim apenas porque não sou fácil de
lidar. Se você quiser me conhecer, precisará de paciência porque eu não sei

chegar e desvendar tudo. Sou complexo até para mim mesmo. — Seu polegar
arrastou pelo meu pulso, ele se inclinou e beijou.

— Quando estiver perdendo minha paciência, darei um jeito para que

saiba.

Levi sorriu brevemente e eu dei um rápido beijo em sua bochecha,

saindo do meu lugar e indo para o meu quarto, ter minha noite de sono. Ele
falou que me esperava na piscina no dia seguinte cedo e bufei, estava quase

no meio da madrugada, o que significava que dormiria pouco e teria um


péssimo momento no treino. Andei rapidamente, me joguei na cama e por

mais que tentasse me controlar, eu sorri contra o travesseiro e suspirei, toda


boba.
Capítulo 15 | Ava.

— Por que vamos treinar aqui fora? — questionei ao encontrar Levi na

piscina externa. Deixei minhas coisas na espreguiçadeira e prendi meu


cabelo, enrolando-o bem no topo da minha cabeça. Ele tirou a camisa e sem

querer, fiquei apenas inclinando a cabeça acompanhando o movimento. Levi

percebeu minha olhada e sorriu. Limpei minha garganta. — Então?

— A piscina interna está em manutenção hoje. Está calor, podemos

treinar aqui e ver como vai se sair em um ambiente comum. — Apontou para
meu roupão. — Tire.

— Você tem que mandar até mesmo em uma coisa que eu já irei fazer?

— resmunguei, soltando o nó e revelei o maiô que não era de treino. Eu


ganhei mais peso que o esperado, o que estava tudo bem para mim, mas o

que passou a significar que meu maiô comum estava fazendo com que meus

peitos pulassem para fora. Tive que escolher outro enquanto não saía para
comprar um novo.

— Escolha interessante. — Ele coçou o queixo. Era um maiô mais

cavado, com a parte de trás menor e com um decote. — Vermelho fica bem

em você.
— Em você também, quer dizer, você está de azul e tanto faz —

gaguejei, indo para água.

Estava mais fria que a de dentro, mas não totalmente desagradável.


Levi parou atrás de mim e eu respirei fundo, ele colocou as mãos em meus

ombros. Fiquei arrepiada ao sentir seu calor e sua respiração na minha

nuca.

— Eu vou te assustar agora, vou te prender e levar ao fundo. Eu quero

te ensinar a sair de situações que te assustam, ok?

— Levi.

— Nós treinamos, Ava.

— Eu sei. — Engoli seco, querendo chorar. — Não vou conseguir.

— Tem certeza?

Eu tinha que conseguir vencer meus medos. Precisava. Não podia mais

ficar refém da minha própria mente sem dormir, tendo um ataque de pânico a

cada vez que o quarto ficava escuro ou se por um acaso, ouvisse sons de

correntes. Não entendia porque relacionava o fundo da piscina com a cela

escura.

Levi dizia que o velho me torturou psicologicamente ao fingir que eu

era uma boneca, me prendendo em um quarto como se fosse uma caixa meio

casinha e me vestindo.
O idiota do pai dele só foi a cereja do bolo da humilhação.

Acorrentada e olhando o mundo através de uma janela. Eu tive uma crise de

pânico quando a porta do banheiro bateu e eu estava na banheira, quase me

afoguei, escorregando para abri-la novamente e com as mãos molhadas, a

maçaneta escorregava.

Comecei a gritar, desesperada, tanto Levi quanto Davina se assustaram

e eu fiquei envergonhada do quanto pareci idiota.

— Não. Eu acho que sim. — Minhas mãos estavam tremendo e

coloquei em cima das dele. — Vamos tentar.

Ele passou os braços ao redor do meu corpo e me puxou para baixo,

afundando. Eu sabia o que fazer porque ele me ensinou como sair daquele

aperto. O fundo da piscina me fez sentir novamente dentro da cela, no

escuro, com frio, sentindo fome. O aperto de Levi era como as correntes. Eu

me debati, lutando contra as imagens na minha mente, com o medo me

sufocando e as mãos dele.

O ar estava ficando escasso, se eu não reagisse logo, desmaiaria.

Sucumbiria à escuridão de novo. Voltaria para a cela. Levi me apertou, como

se implorasse que reagisse logo e com rapidez, me livrei de seu aperto,

nadando para longe e emergi na outra ponta da piscina. Puxei o ar um pouco


desesperada, me apoiando na borda e virei.
Levi nadou até mim, passou o polegar em meu rosto, secando meus

olhos e por impulso, o abracei. O choro brotou em meu peito. Ele esfregou

minhas costas, me acalmando.

— Você foi muito bem para a primeira vez. Muito bem.

— Não estou mais na cela escura — sussurrei, olhando em seu rosto.

— Não tem frio e fome. Estou aqui.

— Não. Conseguiu sair… e nadou para longe.

Todo dia, Levi me instruía a vencer a mim mesma. Eu não percebi

inicialmente que era mais que um treino para voltar a nadar. Ele queria me

ensinar a como não temer minha própria mente. Um dia fui uma garota forte.

Eu voltaria a ser ainda mais.

— Está melhor agora? — Ele acariciou minha nuca e me afastei um

pouco, olhando em seus olhos e assenti. Estava totalmente grudada nele.

— Desculpe por isso. — Coloquei minhas pernas para baixo e ele

puxou de volta, envolvendo em torno da sua cintura novamente.

— Não peça desculpas por ficar assim. Definitivamente não é um

problema. — Me deu um sorriso atraente, que não ajudou em nada com as

borboletas no meu estômago. — Vamos afundar juntos agora e testar o tempo

lá embaixo. Não feche os olhos. Não pense em nada, deixe sua mente

tranquila e se concentre. — Determinou de seu jeito mandão. — Agora!


Nós afundamos e sentamos no chão da piscina, minhas pernas

engatadas na cintura dele e suas mãos nas minhas costas, me segurando. Era

difícil silenciar minha mente, mas olhando nos olhos dele, eu consegui. Tudo

que pensava era nele. Seus cabelos flutuando de um jeito engraçado, a boca

delineada. Eu comecei a ficar sem ar, sem perceber e ele segurou meu rosto,

colando a boca na minha e assoprando.

Subindo lentamente, emergimos sem desespero e eu finalmente puxei o

ar que precisava.

— Foi um beijo ou uma respiração boca a boca?

— Foi o que você quiser. — Ele sorriu.

— PAPAI! Eu quero!

Levi virou para ver Daisy sair correndo de maiô roxo e boias,

sorrindo com uma expressão adorável. Ajeitei minha própria roupa, tentando

esconder meus mamilos atiçados. A babá saiu mais devagar com Milo no

colo, carregando algumas bolsas.

— Sinto muito, Sr. Blackwood. Eu não sabia que estavam usando a

piscina aqui fora.

— Não tem problema, Allie. Eu vou ficar com eles aqui — ele

retrucou e sinalizou para Daisy pular na água. Eu me assustei inicialmente,


me movendo, mas ela nadou ao redor dele como um peixinho. — Muito bem,

sereia!

— Eu sou Ariel, papai!

— A mais linda de todas! — Levi comemorou.

— Oi Ava! — Ela sorriu lindamente ao me ver e fiquei feliz que

lembrou de mim, considerando que me viu uma vez no meio da noite. —

Papai está te ensinando a nadar também?

— Entre outras coisas — Lucas falou e me assustou. Dei a língua a ele.

— Muito maduro.

— Você vem nadar, titio? — Daisy se pendurou nas costas do pai.

— Alguém tem que trabalhar — Lucas resmungou secamente e deu um

aceno, voltando para dentro de casa. Reparei a cadela já idosa, seguindo-o

com tranquilidade. Eu nunca ouvi um latido e talvez porque ela já estivesse

velha demais para latir por ali.

Levi pegou Milo e ficou na borda, apenas brincando com ele, sem

entrar na piscina. Ele resmungou um pouco de estar no sol, mas riu para as

bobeiras do pai, interessado na brincadeira com os olhos arregalados. Ele

era muito expressivo, do tipo conversador. Eu fiquei brincando com Daisy,

quando ela cansou de brincar na água, corremos pelo jardim, brincando de

pega-pega.
Entre os arbustos, ela gritava de alegria, tentando se esconder de mim.

Eu a peguei e ergui no alto, ela gargalhou e pensei que nunca me senti tão

feliz. Era algo diferente explodindo no meu coração. Beijei sua bochecha e a

coloquei no chão, ouvindo o chamado para almoçar. Levi estava na sombra,

com Milo em seu peito nu e com o telefone no ouvido.

Ele percebeu meu olhar, porque porra, era sexy demais vê-lo todo

forte com um bebê nos braços. Meus ovários faziam danças malucas dentro

de mim.

— Por que está me olhando assim, Ava? Já me viu sem camisa antes…

— Não estou olhando. — Me envolvi com o roupão e puxei uma

cadeira.

Davina se aproximou com a comida de Daisy e uma mamadeira para


Milo. Ela trouxe sanduíches e uma salada elaborada para os adultos, com

suco e, pela cerveja no balde, Lucas ia se juntar a nós.

— Você vai comer tudo? — Entreguei a Daisy uma colher.

— Talvez.

— Ela vai sim. Vou colocar seu irmão no carrinho e irei te dar a
comida. — Ele foi firme com ela, que fez um biquinho adorável.

— Eu posso ajudar, se não tiver problema.


Levi parou o movimento de colocar o menino no carrinho e assentiu,
voltando a pegar seu telefone. Lucas saiu da casa com a cadela, sentou ao

meu lado e pegou seu prato. Daisy fez uma dancinha em sua cadeira alta
quando ganhou a primeira colherada na boca. Ela mastigou, animada e logo

voltou a falar. Ignorei a conversa entre códigos que os homens trocaram,


deveria ser coisa do trabalho e eu foquei em alimentar a menina.

Quando ela acabou, comi meu sanduíche e toda a salada. Levi colocou

Milo adormecido no carrinho, comendo também e o tempo todo digitando em


seu telefone celular. Ele limpou a boca de Daisy, administrando a confusão

dela com a sobremesa e seu trabalho. Ao terminarmos, uma funcionária se


aproximou com as bandejas para recolher tudo. Eu precisava tirar o cloro do

corpo, mas segui Daisy até seu quarto, porque ela queria me mostrar suas
bonecas.

— Você gosta dessa? — Ela me entregou uma gordinha que parecia um


bebê de verdade.

— Qual é a sua favorita?

— Todas elas. — Sorriu e eu quis apertá-la. — Papai me deu todas!

— E o papai vai mandar a garotinha para o banho agora mesmo. —


Levi entrou no quarto. — Allie está te esperando no banheiro do quarto do

seu irmão enquanto ele ainda está cagando.


— Papai, cagar é feio — Daisy reclamou.

— Quem está cagando é seu irmão — Levi brincou e ela foi para o

quarto ao lado, emburrada. Ergui meu olhar, ainda admirando o quão


delicioso era vê-lo com um bebê. — Está me dando aquele olhar de novo.

— Ava, me espera! — Daisy gritou do banheiro.

— Tudo bem! — gritei de volta. — Eu não estou olhando de maneira


nenhuma.

— Certo. — Ele deitou Milo na cama e ficou movendo as pernas dele.

— O que está fazendo?

— Estou ajudando-o. De vez em quando, trava tudo, não é? — Beijou

a barriga do Milo, que agarrou as orelhas dele. — Significa que vai vir uma
bomba de deixar a casa inteira fedendo.

— Ele tem prisão de ventre.

— Esse é o melhor leite nesse quesito, os outros eram ainda piores.


Estamos ajustando a fórmula, logo ele vai começar a introdução alimentar e

isso vai passar.

Milo sorriu para o pai e eu pensei que iria derreter ali mesmo.
Ajoelhei ao lado, me aproximando e acariciei a cabecinha dele. Milo me

olhou. Foi como um encontro de almas. Eu sorri, um pouco emocionada e ele


só se encolheu, rindo, mostrando a língua de um jeito fofo. De repente, ele

soltou um punzinho e Levi riu.

— Lá vem a bomba.

Definitivamente, uma bem fedida.

Vê-lo com as crianças era um contraste enorme com o homem mandão


de olhar sombrio que andava pela casa. Ele deu banho em Milo, trocou a
roupa, deixou limpo e bem confortável para uma soneca da tarde. Daisy quis

brincar até cair no sono no meio de um monte de bonecas e xícaras de chá.


Eu a peguei com cuidado e coloquei na cama, cobrindo.

A babá entrou e me deu um sorriso, eu saí, encostando a porta e bati de


frente com Levi.

— Opa, desculpa. Ela terminou de brincar agora. — Tirei minhas


mãos de seu peito.

— Ele dormiu.

— Ela também. — Engoli seco, ainda pertinho dele.

— Quero saber por que estava me olhando diferente, Ava. Não seja
covarde, querida.

— Covarde? — Ergui meu olhar lentamente. — Não sou covarde.

— Estou esperando.
— É sexy te ver segurando as crianças… agindo como pai. Muito

atraente — falei baixo, um pouco tímida. Ele sorriu, segurando minha cintura
e me puxou para si.

— É atraente? Sexy? — Abaixou o rosto e ficou bem pertinho do meu.

— Muito. É a coisa do homem grande, musculoso, segurando um bebê


que faz com que eu queira fazer bebês mesmo sem ter nenhuma vontade de

ter bebês tão cedo — confessei sem pensar.

— Gosto muito da parte de fazer bebês, não necessariamente de tê-los,

mas acho que você entende bem o que está sentindo. — Ele agarrou meu
cabelo, beijando meu pescoço e agarrei seu braço, deliciada. Soltei um

gemido baixinho. — Hoje à noite, vamos jantar juntos. Apenas eu e você.

— É um convite?

— Não. É uma ordem. — Dominando meu rosto, deu um beijo firme

em meus lábios, mas sem línguas. Excitante o suficiente. — Até mais tarde.

Ele saiu andando e me deixou parada com o cérebro feito uma gosma,
no meio do corredor. Me abanei, completamente desorientada. Fui para o

meu quarto, fechando a porta atrás de mim e sentei na cama, quase em


choque do quão excitada eu estava. Eu me senti viva.

Eu estava viva.
Capítulo 16 | Levi.

Ava não saía da minha mente há muito tempo e eu já estava

acostumado, mas depois daquele dia, dela abertamente confessar que me


achava sexy, atraente e deixar bem óbvio que me via como um homem, eu

não conseguia frear as fantasias dela nua de joelhos na minha frente,

amarrada na minha cama, com a bunda empinada usando uma bela joia
decorando entre suas nádegas e implorando pelo meu pau.

Depois de sentir seu corpo tão perto, de afundar e ter toda sua
confiança e ser seu porto seguro, porra, tudo que pensava era em mil formas

de deflorá-la. Eu podia tê-la pendurada na minha parede ou apenas no sofá.

Eu queria tudo. Queria ter sua pele marcada com meus dedos, estapeá-la até
juntar as mãos e pedir que a comesse até passar a vontade que provocaria

em sua boceta.

Ava seria minha, cacete.

Toda minha.

Meu pau ficou incrivelmente duro o dia inteiro, eu trabalhei com um

desconforto do caralho, necessitado por subjugá-la.


— Ela já sabe que é um bastardo pervertido? — Lucas me provocou

quando precisou repetir sua pergunta, percebendo minha distração.

Obviamente sabia que era Ava.

— Cale a porra da sua boca, monge.

— Ela sabe que você gosta de usar um chicote?

— Vai se foder.

Eu não usava chicote, usaria se ela pedisse.

— Certo, certo. — Lucas jogou uma caneta em mim. — Não destrua

quem já está quebrado.

— Seremos uma junção de ruínas. — Virei para olhar em sua direção.

— Saia da minha sala. Já enchi o saco de olhar para sua cara feia hoje.

— Sei. — Lucas saiu e voltou para a porta. — Ela já sabe que carrega

uma foto dela há anos?

Arremessei um livro que estava na minha mesa e caiu no corredor,

porque ele desapareceu antes que conseguisse acertá-lo, como queria muito.

Encostei na cadeira, fechando meus olhos, lembrando da noite em que ela

finalmente encontrou meus filhos e usava uma camisola justa, sem sutiã, que

puta que pariu. Eu não queria olhar, mas precisei de um banho frio para

dormir.

Ava era o meu desejo irrefreável.


Irresistível.

Porra. Trabalhei o que restou no dia com um tanto de distração e logo

que chegou a hora do jantar das crianças, eu avisei à babá que eles deveriam

dormir cedo. Daisy fez uma zona, agitada, queria brincar comigo e com Ava,

espalhar bonecas, mas ela já estava caindo de sono. Milo resolveu

colaborar, ele entendia que o pai estava tendo um encontro pela primeira vez

em meses. Assim que eles dormiram, eu fui me arrumar. Era ridículo estar

ansioso por um encontro em minha própria casa, com alguém que certamente

não se importava com o que eu estava vestindo.

Ela provavelmente preferia que eu ficasse sem camisa.

Escolhi jeans, camiseta e não coloquei sapatos, para ficar à vontade.

Desci as escadas e ela já estava na minha sala privada, parada contra a

janela. De longe, podia sentir seu perfume e seus cabelos estavam soltos,

fluídos nas costas. Ela usava um vestido rosa longo, delineando seu corpo e

eu parei meu olhar no quadril que acomodava uma bela bunda redonda. Seu

corpo estava ganhando peso, em forma, era lindo.

Estava ficando saudável.

— Você está atrasado, Sr. Blackwood — ela falou antes de virar. — O

jantar já foi servido.

— Não lembro de ter afirmado um horário.


Ava virou e se apoiou no parapeito da janela, fazendo uma expressão

falsamente ofendida.

— Tudo tem horário nessa casa. — Cruzou os braços e não disfarcei o

olhar para seus seios. — Inclusive o jantar do dono da casa.

— Está me repreendendo, Srta. Moore?

Ela encolheu os ombros, mordendo o lábio. Atrevida. Porra, muito

atrevida. Eu ia colocá-la sobre meus joelhos e deixar sua bunda da cor do

vestido.

— Você sabe o que acontece quando sou provocado? — Segurei seu

quadril e puxei-a contra mim. — Antes de começarmos qualquer coisa,

preciso te contar algo importante sobre mim.

— Gratuitamente? Isso seria uma novidade! — Arregalou os olhos,

divertida.

— Eu gosto de coisas diferentes. — Comecei com calma. — Algo

como… algemas, cordas, espancamento, brinquedos sexuais e…

— Você é um dominante?

— Não só sexual. Eu não tenho submissas, eu apenas sou um

dominante em tudo. Eu gosto e fantasio em espancar sua bunda e te fazer

gritar de prazer. — Empurrei seu cabelo do ombro.


— Talvez eu deva dizer que nunca fiz nada além de… trabalhos orais

— confessou baixinho. Apertei sua cintura. Fiquei arrepiado com o ciúme

que me corroeu em pensar nela com um idiota tocando seu corpo. — Está

tudo bem?

— Sou um babaca e não escondo, portanto, eu prefiro fingir que

ninguém te tocou.

— Isso é meio machista. — Ela fez uma pequena careta.

— Eu não me importo, porra.

A possessividade estava correndo nas minhas veias feito brasas

vivas.

— Nunca fiz nada disso, eu não sei se gosto, parece interessante… —

gaguejou e desceu as mãos para os meus braços, me tocando, sentindo, me

tateando e passou a mão pela minha barriga. Eu gostava que ela não fosse

tímida sobre o que queria. — Eu sei que não sou uma mulher submissa.

— Será que não? — Juntei seu cabelo e segurei bem firme. — Será

que você não vai ficar toda arrepiada quando eu der uma ordem? Será que

seu corpo não vai ficar implorando por mim quando ouvir meu tom de

comando?

Expus seu pescoço e beijei, a pulsação estava acelerada. Ela me

segurou, gemendo baixinho e vi seus mamilos arrepiados. Minha boca


salivou, querendo chupar. Eu precisava ir com muito mais calma do que

meus impulsos realmente queriam. Nunca precisei ir devagar com ninguém,

mas eu sabia que por ela, eu seria capaz de qualquer coisa. Até ir bem

devagar.

Com os olhos fechados, seu rosto levava uma expressão de prazer.

Beijei seu queixo, provocando e cheguei bem perto dos lábios carnudos. Ela

lambeu o lábio, peguei sua língua e chupei. Ava agarrou meu rosto, me

beijando com vontade, quase me escalando, sua inexperiência fazia com que

seu corpo reagisse tão intensamente que era lindo de ver.

Erguendo um pouco a perna, querendo passar a coxa na minha, subi o

vestido e acariciei sua pele macia. Agarrei sua bunda, levando-a para a

mesa e a coloquei sentada ali. Ava me segurou pela cintura, com o vestido

embolado no quadril eu olhei para sua calcinha branca, encostando a testa na

dela.

— É muito melhor sentir assim do que só na piscina — falou contra a

minha boca.

— Ficou tentando me sentir na água e eu todo inocente querendo te

ensinar a nadar novamente?

— Inocente, senhor?
— Ava, eu vou te colocar de joelhos… ou vou esquentar sua bunda

com minha mão. — Agarrei suas nádegas rudemente. Eu ia devagar, mas

também mostraria que não estava de brincadeira.

— Como seria ficar de joelhos? — Seus olhos inocentes encontraram

os meus. — É o que estou pensando? — As bochechas ficaram vermelhas.

— Também. Vamos chegar lá no seu tempo. — Beijei sua boca

novamente. — Vamos comer. — Me afastei e ajudei a descer da mesa.

Ou eu iria comê-la.

Servi nossos pratos e o vinho nas taças, Ava não tinha um apetite
excepcional, o que me deixava maluco. Ela comia mais vezes ao dia do que

realmente fazia as refeições completas, principalmente à noite.

— Seu médico falou sobre o ganho de peso?

— Eu passei um pouco do que deveria e está tudo bem, até porque, não

segui a dieta à risca. Comi muita besteira.

— Tem que comer comida. — Fui inflexível.

— Aham. — Ela bebeu o vinho, me desafiando.

— Ava…

— O que tem de sobremesa? — ela mudou de assunto.


— Eu vou ocupar a sua boca com algo não tão doce se continuar me
desafiando.

— Hum… vou pensar sobre isso. — Ergueu a tampa do pudim de

chocolate.

Ava serviu as sobremesas e fomos para o sofá. Ela comeu e bebeu o

restante de sua taça. Com as pernas em cima das minhas, nós conversamos
sobre o que ela gostava de fazer antes do sequestro. Ela ainda estava confusa

sobre quem era e o que queria fazer da vida, acreditava que era normal,
considerando que foram três anos em um completo hiato.

Percebi que seus olhos estavam pesando. Ela não tinha tomado mais

que duas taças para estar com sono e deixei que fosse dormir, apoiando sua
cabeça na almofada. Cobri com a colcha e fui até seu quarto, olhando os

remédios no banheiro e encontrei as pílulas para dormir. Foram prescritas


pelo médico, mas, na minha experiência, não era uma boa ideia.

Voltei para minha sala, irritado que ela bebeu depois de se medicar.
Era uma condição terrível. Peguei-a no colo, levando para minha cama.

Poderia colocar em um quarto de hóspedes e deixá-la dormir lá, isso se eu


fosse um homem decente e santo. Tirei suas sandálias, deixei o vestido, que

não parecia ser desconfortável e a cobri.


Daisy fugia para minha cama pela manhã, dessa vez, ela encontraria a
porta fechada. A babá estava dormindo com eles naquela noite. Não eram

todas que Allie ficava para dormir porque eu não gostava muito, mas eu
precisava dormir uma noite completa de vez em quando.

Tirei minhas roupas e deitei ao seu lado, com o quarto todo escuro. Me
perguntei se ela acordaria para perceber que não havia nenhuma luz e que a

porta estava trancada. Ava parecia ter um sono profundo demais para
acordar de madrugada. Peguei no sono tranquilamente, estranhando estar

com outra pessoa em minha cama e acordei ao senti-la chegar mais perto.

O dia amanheceu rápido demais.

Ava se moveu, abrindo os olhos e ergueu o rosto.

— Esse não é meu quarto — resmungou, sonolenta.

— É o que acontece com mocinhas que tomam remédio para dormir


com vinho.

Ela fez uma careta.

— Já é de manhã cedo?

— Não quero que continue tomando o remédio — falei em tom

definitivo.

— Quando foi que se formou em medicina? — Esfregou o rosto,


voltando a deitar.
— Eu não precisei me formar em medicina para saber que pílulas para

dormir são viciantes. Elas vão te condicionar a só dormir depois que tomá-
las, causam dependência de verdade. — Toquei sua cintura e a puxei para

perto. Não ia adiantar porra nenhuma ficar com raiva. Ela foi avisada como
eu era.

— Tenho pesadelos, é por isso que o médico passou.

— Que tipo de pesadelo? Algo com o escuro… ou com ficar presa?

— Aconteceu antes de tudo, com o tempo, eu não sabia se era pesadelo


ou algo que deveria me apegar. Eu sonho com um gazebo pegando fogo, eu

estou olhando para ele e de repente, tem um bebê chorando e no sonho,


existe uma urgência enorme de segurá-lo. Acalentar seu choro. É

desesperador para mim ver o quanto ele grita precisando dos meus braços.
Quando consigo alcançá-lo, ele está no berço como se fosse um anjo e é

perfeito. — Ela ficou emocionada. — E aí, eu viro para o lado, vejo um


homem que me faz feliz. Não sei quem é ou como é seu rosto. Apenas sei que

ele me faz bem, então, eu caio novamente no meio do fogo ou no fundo da


piscina. Às vezes, do fundo, eu emerjo e seguro o bebê que está feliz,

esperando por mim.

Levi arregalou os olhos ligeiramente e disfarçou, colocando uma


expressão indiferente. Ele não acreditava em sonhos? Seríamos dois, apesar
de não poder ignorar o que sonhava toda noite e toda conexão com aquela

casa e Milo.

— Não parece ser o pior tipo de pesadelo.

— A parte do fogo é assustadora.

— O fogo não é tão assustador se você souber como lidar com ele. No
entanto, entendo porque é estressante. Podemos conversar com o médico e

ver alternativas que não envolvam pílulas.

— Tudo bem. Falar assim… não é mais fácil do que simplesmente


mandar?

— Porra nenhuma. Você não vai tomar remédio algum a partir de hoje.

Ava revirou os olhos e minhas mãos coçaram para bater em sua bunda.

Eu não resisti e dei um tapa e nem foi tão forte quanto queria. A safada riu e
eu não prestava, não soltei mais a carne macia bem gostosa. Coloquei sua

perna em cima da minha, estava prestes a beijá-la quando ouvi sons de


pequenos punhos na minha porta.

— Papai! Eu já acordei! — Daisy chamou, como toda manhã.

— Ela é tão fofa! — Ava suspirou. — Ela não pode me ver aqui. Por
que você não vai até lá e eu vou escapar para meu quarto?

— Nos encontramos para tomar café?


Ava assentiu e eu peguei minha calça e camisa do pijama, vestindo
rapidamente.

Eu não gostei muito da sensação de estar fazendo coisas escondidas

dentro da minha própria casa, mas as crianças não precisavam ficar


confusas, principalmente Daisy, que já entendia um pouco. Allie estaria de

folga o restante do dia, era domingo, o que significava que as crianças


estariam comigo o dia inteiro.

Daisy estava sorrindo como uma sapeca assim que abri a porta e
esticou os braços, querendo colo e o beijo de bom dia. Levei-a para seu

quarto, para trocar de roupa, prepará-la para o dia e aproveitei que Milo
ainda dormia. Ela escolheu sua própria roupa e quis ficar de cabelo solto,
com uma tiara vermelha e tênis.

— O que faremos hoje? — Ela me olhou com interesse, feliz como


todos os dias e eu sentia muito orgulho que aquela criança tinha aquele

brilho no olhar. Eu não fui uma criança como ela. Não tive a inocência de
simplesmente perguntar com alegria o que meu pai me proporcionaria de

diversão no dia.

— Não sei ainda, mas sei que iremos nos divertir o dia inteiro. Vamos
acordar seu irmão.
— Tudo bem, papai. — Ela sorriu e foi correndo na frente, fazendo
uma dancinha engraçada e entrou no quarto do irmão, cantarolando. — Bom

dia, bebê Milo! Vamos nos divertir.

Lucas parou na porta e me deu um sorriso também. Prometemos um ao

outro que as crianças teriam a vida mais incrível do mundo. Muito diferente
da nossa. Era uma promessa que pretendia cumprir por todos os dias da

minha vida.
Capítulo 17 | Ava.

— Um piquenique? — questionei a Davina na cozinha. Eu havia

acabado de comer, separada do Levi e das crianças, porque peguei no sono


novamente depois que fui para meu quarto e acordei com Melissa me ligando

pelo computador — ele disse especificamente piquenique?

— Sim, menina. — Ela sorriu e olhei para o tempo lá fora. — Daisy


quer brincar de chá no jardim e ele faz tudo que a menina quer.

— Tudo bem. Quer ajuda?

— Tenho tudo sob controle. — Davina pegou umas frutas e levou para
a cesta. — Tem certeza que está satisfeita? Comeu pouco.

— Estou com dor de cabeça. Bebi vinho no jantar…

— Estou sabendo. — Ela me deu um olhar bravo e me acertou com um

pano. — Nada de misturar bebida com seu remédio para dormir. O que
estava pensando?

— Em dormir.

— Ainda com pesadelos?

— Precisarei não tomar remédio para saber. — Encolhi os ombros. —


Só o tempo vai dizer agora. Não sei se quero parar, talvez eu deva não tomar
vinho no jantar e tudo ficará bem.

— Você já é bem grandinha, já pode decidir o que quer. — Ela parou

de se mover, como se lembrasse de algo. — O que quer para seu


aniversário? É em alguns dias e posso fazer um bolo bem gostoso.

— Eu não sei se quero comemorar… é estranho pensar sobre isso.

— Tire uns dias para pensar. Se me permitir dizer, deve comemorar

sim. Está viva.

— Vou pensar, prometo.

Davina terminou a cesta e como estava pesada, disse que era para

deixar que Lucas ou Levi carregassem. Depois que passei a andar mais

livremente pela propriedade, eu sabia que havia centenas de funcionários,

incluindo seguranças, apesar das câmeras e do sistema moderno, todos eram

bem discretos e trabalhavam sem fazer muito alarde.

Dentro da casa, poucos realmente circulavam.

Subi para trocar de roupa, o vestido que usava não era muito adequado

para ficar no meio do mato, principalmente se Daisy quisesse brincar. Vesti

um short confortável, uma camiseta justa sem sutiã porque ainda não havia

me acostumado a ter a peça de novo e incomodava bastante. A blusa não

deixava meus seios balançando, segurava bem firme, então, só peguei um

casaco cashmere de tricô para jogar por cima.


Encontrei Lucas na entrada com a cesta, Daisy estava tão empolgada

que teria todo mundo no piquenique que não parava de pular no lugar.

Abaixei para amarrar seu tênis e ajeitar o laço no cabelo. Virei para ver

Levi descer a escada com o moisés e Milo em seu peito. Ele carregava uma

mochila com brinquedos e outras coisas que as crianças poderiam precisar.

— Tem tudo? — Lucas conferiu.

— Não faço a mínima ideia, sempre esqueço algo incrivelmente óbvio

que eles precisam. — Levi bufou. Daisy saiu pulando na frente, serelepe.

Segurei sua mão, para impedi-la de sair correndo e ir para o lado

contrário. Decidimos descer a colina ao invés de ficarmos perto do gazebo.

Poderia começar a ventar e ficar desconfortável para as crianças. Lucas

indicou uma campina que ele gostava de ficar.

— Se eu encontrar algum de vocês aqui, irei causar uma confusão.

— Pensei que a propriedade fosse nossa — Levi reclamou atrás de

nós.

— Você pode ficar com todo o restante. Eu quero só a campina. —


Lucas deu-lhe um sorriso atrevido.

Quando chegamos, entendi porque ele queria só para ele. Era lindo.

— O jardineiro gasta bastante tempo aqui — comentei, admirada com

as flores.
— O jardineiro daqui é Deus. — Lucas pegou a colcha grande e

começou a desdobrar, para forrar. Daisy agarrou uma flor e colocou em seu

cabelo, rodopiando ao redor, cantando uma música que, pelo ritmo, sabia
que era de um desenho de princesa… a letra, no entanto, era coisa da cabeça

dela.

— É tão lindo… é tipo um pedacinho do paraíso. — Toquei uma

árvore. — Me lembra o filme O Jardim Secreto.

— E é meu. — Lucas sorriu ironicamente.

— Alguém já te disse que é muito grandinho para ser egoísta? —

Coloquei minhas mãos na cintura. Lucas me ignorou.

— Boa sorte em vencer essa discussão. — Levi colocou o moisés com

Milo no cobertor. — Por que não olhou na minha direção até agora? — ele

falou bem baixinho no meu ouvido, com sua mão na base das minhas costas.

— Seus filhos estão aqui. — Minhas bochechas ficaram vermelhas.

— O que tem? Se me olhar vai pular em mim?

— Algo como isso — retruquei e me afastei, ajoelhando ao lado da

menina que abria a mochila, empurrando as fraldas do irmão para o lado e

caçando suas coisas.

Daisy começou a espalhar seus brinquedos. Encontrei uma bola e ela

quis brincar com aquilo de primeira, me fazendo correr ao redor. Só uma


criança pequena para insistir ao ponto de a pessoa esquecer a palavra não,

porque ela conseguia tudo que queria deixando qualquer um ao redor maluco

com seu falatório. Lucas jogou conosco um pouco e depois, trocou com Levi.

Cada um fez um pouco e ela não parecia cansada.

Eu nunca tive um piquenique na sombra com a minha família. Meu pai

nunca se preocupou em fazer nada divertido para me mimar e aquele

momento me fez admirar Levi como pai. Ele não media esforços em deixar

Daisy feliz. Pensei no quão triste era para ela, que perdeu a mãe cedo.

O quão doloroso foi para a esposa do Levi, que implorou para que

ele cuidasse da filha como se fosse dele, independente de ele ser apenas pai

do Milo. Imaginei os meses de angústia que ela viveu ao saber que poderia

não resistir ao parto do filho com a mesma doença que levou minha mãe

dessa vida.

Tão triste que doía na minha alma.

Lucas começou a cortar os queijos e Levi ajudava Daisy a comer seu

almoço. Milo soltou um resmungo, irritado por estar no moisés, sacudindo as

pernas, querendo colo. Ele mudou para o choro em questão de segundos.

Olhei para Levi, ele sustentou meu olhar antes de assentir, me inclinei e

peguei o bebê.

Meu coração chegou a acelerar por tê-lo em meus braços.


Milo me encarou com a mesma expressão emburrada do pai. Curioso,

pensei que fosse chorar mais ainda porque eu era desconhecida. Ao

contrário disso, ele sorriu, fazendo charme. Ah, que lindinho! Agarrou meu

cabelo, soltando seus sons fofos.

— Você gosta de uma garota bonita, moleque? — Lucas brincou. —

Ficou quieto na hora.

— Ele puxou o pai. — Levi sorriu.

— A diferença é que você não fica quieto na frente de uma mulher

bonita — retruquei, sem desviar o olhar do Milo e de fazer gracinha para

ganhar seus sorrisos gostosos.

— Só fico ainda mais charmoso. — Levi rebateu e revirei os olhos.

Ele me deu um olhar bravo e ignorei, arqueando a sobrancelha, dando


atenção para o bebê.

Milo tinha o cheiro mais agradável de todos. Levi me ensinou a como

posicioná-lo corretamente para mamar e foi um movimento meio natural da

minha parte. Ele ficou sugando o bico, me olhando e de vez em quando,

soprava um beijo e ele sorria, o que fazia com que um pouco de leite

escorresse por seu queixo perfeito. Agarrado ao meu cabelo, foi pegando no

sono.
Lucas levou Daisy para ver os ninhos de passarinhos, me deixando

sozinha com Levi e o bebê. Olhei para o lado, encontrando um olhar intenso

em mim.

— Ele sempre dorme quando mama — Levi falou baixinho e se

inclinou, beijando meu ombro. Soltei a mamadeira e coloquei Milo deitado

em meu peito, com a cabeça no meu outro lado. Virei meu rosto e

automaticamente me inclinei, mas recuei, porque não era certo querer beijá-

lo com Daisy por perto. Levi olhou ao redor, segurou meu rosto e roubou um
beijo rápido, voltando para seu lugar a tempo de sua filha voltar correndo

com uma flor.

O clima começou a mudar e decidimos voltar. A babá estava de folga,


o que significava que as crianças estavam sob a supervisão dos adultos da

casa. Davina nos recebeu cheia de alarde, dizendo que já ia mandar alguém
nos buscar porque ia chover a qualquer momento.

— Eu não te vi saindo de casaco. Você e as crianças não podem ficar


doentes! — ela ralhou comigo e sorri, apontando para meu casaco em Daisy.

Ela estava fingindo que era um vestido de princesa, arrastando no chão. —


Não é o suficiente.

— Vocês dois foram premiados! — Lucas deixou a cesta na mesa. —

Vão brincar de casinha porque eu vou sair. Tchau! — Ele acenou e


desapareceu.

— Filho da mãe. — Levi bufou.

Daisy me chamou para tomar banho e, inocente, aceitei ajudá-la. Levi

poderia ter me avisado que ela não parava nem mesmo dentro da banheira.
Jogando água por todo lado, fiquei ensopada. Meu cabelo ficou todo

grudado, minha blusa transparente e meu short molhado. Eu a sequei sentindo


como se tivesse água nos ouvidos.

Coloquei a roupa nela, rindo de sua tagarelice, mas os olhos pesados

denunciavam o sono. Liguei a televisão e coloquei um desenho, ela deitou


nas almofadas no chão, peguei a colcha e fiquei ao seu lado até que vi que

estava quase dormindo. Saí do quarto de fininho e topei com Levi, também
encostando a porta do quarto do Milo. Ele parou e desceu o olhar sobre

mim.

— Foi uma festa divertida. — Arqueou a sobrancelha.

— Você podia ter me avisado.

— E perder essa blusinha molhada com esses mamilos aí? — falou


baixo. Seu tom de voz me deixou completamente arrepiada. — Ah sim… que

delícia! Eu sabia que seu corpo ia responder a mim. — Lambeu o lábio


inferior e meu ventre simplesmente pulsava de desejo.
— Não sei do que está falando. — Cruzei meus braços. — Estou toda
molhada e preciso trocar de roupa.

— Tem roupa no meu quarto e terei o imenso prazer em tirar essa aí…
posso? — Me puxou pela cintura e ofeguei, agarrando seus braços. Ele

segurou meu cabelo, dominando minha boca e me beijando de um jeito


avassalador, que os dedinhos dos meus pés dobraram.

— Você vai cuidar de mim? — choraminguei contra seus lábios.

— Do jeito que quiser. Como quer? Ou quer ser surpreendida?

Eu queria tudo. Até aquilo que nunca fiz. Minha mente correu para todo

lado, pensando ainda como uma adolescente, que deveria frear meus desejos
pensando em um romance, em não ficar mal falada na escola, com medo do
garoto espalhar tudo que fez ou deixou de fazer. Parei minha própria cabeça.

Não era mais uma criança. Meu corpo não era mais de uma
adolescente. Eu tinha vontades de uma mulher. Por mais que tivessem

roubado anos da minha vida, não me roubariam mais o direito de aproveitar


tudo que podia.

Me permiti ser levada para seu quarto, ele fechou a porta e me

encostou contra ela. Olhando em meus olhos, segurou a barra da minha


camisa e puxou para cima. Minha pele estava gelada e eu fiquei ainda mais
arrepiada com o vento nos meus seios. Meus mamilos estavam muito duros.

Levi jogou minha blusa no chão e me olhou como um homem faminto.

— Meu short também está molhado, senhor. — Apontei para baixo,


olhando-o com desafio.

— Srta. Moore, está me provocando?

— Talvez. Depende do que irá fazer, senhor. — Encolhi os ombros


bem suave.

— Eu vou tirar seu short e dar umas palmadas na sua bunda. —


Agarrou o cós do meu jeans e abriu zíper e botão. Ele puxou bruscamente

para baixo, me levando para cama e sentou no banquinho estofado. — Não


temos uma palavra segura ainda, portanto, basta dizer pare se ficar demais.

— Eu quero tentar. — Soltei com uma risada.

— Você pode não gostar.

— Eu sei e acho que não irei. — Mordi o lábio. Ele não estava

achando divertido.

Seu olhar estava feroz e me colocou em seu colo, ordenando que


segurasse na madeira. O primeiro tapa veio sem aviso, eu fiquei em choque

por alguns segundos, segurando na ponta da cama. Eu achei que o pare fosse
sair da minha boca no terceiro tapa, mas foi diferente. Ardia, doía, mas ele
segurava minha nádega e dava um aperto fazendo com que seu dedo

encostasse na borda da minha calcinha.

Cada novo tapa, eu queria que seu dedo escorregasse um pouco mais e

esfregasse minhas dobras porque eu estava necessitada. Ele bateu de novo e


soltei um gemido, empurrando meu rosto para baixo e empinando minha

bunda. Levi parecia muito satisfeito, agarrando ambas as minhas nádegas e


me puxou sentada em seu colo. Passei meu braço em seus ombros, beijando-

o desesperada.

— Você quer mais tapas? — Mordeu meu lábio inferior, me segurando


e me fez rebolar contra ele. — Olhe para o espelho… que bela visão.

Olhei sobre meu ombro e me vi montada nele, minha calcinha bem


enfiada entre as nádegas, que estavam rosadas pelos tapas e as duas mãos

dele me segurando possessivamente. Era sexy e com toda certeza, muito


belo. Virei novamente e nossas bocas se encontraram, ele me segurou firme e

jogou-me no meio da cama. Tirou a camisa, jogando no chão e abriu a calça,


ficando só de cueca.

Apreciei seu corpo, musculoso, acariciei seus braços e olhei em seu

rosto.

Queria sentir sua boca em mim em todo lugar.

— O que foi?
— Pare de se segurar. Não estou chateada ou assustada com os tapas…

— Não quero que acorde amanhã e sinta-se pressionada ou acuada


com a velocidade que as coisas estão fluindo entre nós. — Agarrou meu

rosto e me beijou.

— Eu não vou acordar acuada e pressionada. — Olhei em seus olhos.

— Eu vou acordar livre, como tenho acordado todos os dias desde que você
foi me tirar do cativeiro. Me tornei dona de mim mesma de novo e eu quero

você. Eu desejo você.

— Porra, Ava. — Ele me beijou, descendo beijos quentes pelo meu


pescoço e finalmente, segurando meus seios, chupando meus mamilos e

minhas costas chegaram a sair do colchão. Agarrei o lençol, fechando


minhas pernas em sua cintura e buscando atrito.

Eu queria mais daquilo. Queria sentir prazer o tempo todo.


Capítulo 18 | Ava.

Milo acordou primeiro. Ele soltou um resmungo baixo que soou quase

como um ruído na babá eletrônica. Levi estava dormindo, seminu e eu


também. Fui até o armário dele, pegando uma camisa e calça de pijama, que

ficaram enormes em mim. Saí do quarto de fininho e entrei no quarto do

bebê, sentindo a coisa maluca no meu peito em querer ficar com ele.

— Olá, menininho. Você tirou um bom cochilo? — Me inclinei sobre

ele. — Seu papai vai acordar sua irmã em dez minutos.

Foi por isso que precisamos diminuir nosso fogo. As crianças só


podiam dormir por quarenta minutos a tarde ou eles não dormiam muito à

noite. Não que Milo fosse passar por mais tempo, porém, Daisy não podia
dormir muito. Toquei a barriguinha dele, ganhei um sorriso de volta e soltou

um espirro, fazendo uma expressão muito fofa.

Ouvi o barulho na porta e Levi tocou minha cintura, beijando minha

bochecha e com habilidade, abriu a roupa do Milo para ver a fralda. Estava
com xixi.

— Me ensina a trocar a fralda dele?

— Ensino. Só tome cuidado, ele adora batizar nosso rosto.


Peguei Milo e levei para o trocador. Levi deixava tudo organizado, me

ensinando a abrir a fralda antes de tirar a suja, posicionando a criança de

modo que ele não conseguisse fazer xixi em nós. Milo não sossegava as

pernas. Tornava tudo difícil. Me atrapalhei um pouco, rindo dele, que

parecia fazer de propósito. Segurei suas pernas e agarrei firme, mas sem
machucá-lo.

— Eu sou mais esperta que você, bebê. — Soprei-lhe um beijo.

— Ele tem prazer em dificultar o processo. — Levi me entregou uma

nova roupinha.

— Não tinha uma menos complicada?

— Todas as roupas de bebês são complicadas quando não tem

experiência.

Milo ficou agradavelmente lindo com um macacão de marinheiro. Levi


colocou apenas meias nele e nós fomos acordar Daisy. Ela resmungou um

pouco, mas saiu da cama com a promessa de lanchar bolo com um copo de

chocolate quente. Estava ventando, fazendo com que a temperatura esfriasse

um pouco.

Fui até meu quarto para trocar de roupa, sem querer que ninguém me

visse com as roupas de Levi. Escolhi uma calça de moletom e casaco,

prendendo meu cabelo.


— Sem fazer tanta bagunça, Daisy. — Levi instruiu ao servir bolo.

Davina estava cortando mais pedaços quando cheguei na cozinha. — Eu fiz

chá para você. — Ele tocou minhas costas e percebi que Davina nos olhou

antes de voltar para o bolo. — Quer bolo ou vai comer biscoitos?

— Irei comer as duas coisas. — Sorri e escapei de seu toque, indo

para a cadeira. Daisy estava comendo bolo sozinha, me deu um sorriso e

pegou seu copo de bico.

— Deixa que eu fico com esse menininho para que possam comer. —

Davina agarrou Milo e lhe deu um beijo no cabelo. — Você vai mamar agora

ou mais tarde, rapaz?

Levi pegou seu café, sentando na ponta da mesa e mexeu no telefone.

Ele ficou sério, digitando com um pouco mais de força. Daisy causou uma

pequena zona, ela ainda bagunçava um pouco na hora da comida. Era cedo e

ela estava cheia de energia, com o tempo ruim, seria preciso ter criatividade

para entretê-la dentro de casa.

Em um piscar de olhos, a sala parecia que havia explodido em

brinquedos e uma criança que parecia ter engolido uma bateria de caminhão.

Levi estava com Milo em seu colo, enquanto digitava em seu computador,

sério e o deixei quieto. Lucas apareceu e sumiu de novo, talvez tenha visto o
caos e não quis fazer parte.
A televisão estava com um desenho infantil com uma música muito

irritante.

Sentada no chão, fiquei brincando com algumas bonecas e tentando

fazê-la parar de subir no encosto do sofá e querer se jogar. Quem foi que

disse que meninas eram mais calmas? Era uma completa mentira. Daisy era

uma pequena terrorista. Ela só sossegou a correria quando Milo ficou

deitado no tapete de brincadeiras ao meu lado para que Levi pudesse

trabalhar usando as duas mãos. Ele saiu depois de alguns minutos.

— Por que não deita aqui comigo para assistirmos a um filme?

— Que filme? — Ela parou de jogar as bonecas para o alto.

— Qualquer filme que te coloque deitada. — Apertei seu nariz.

— Eu já tirei a soneca.

— E com isso tem o direito de causar esse pandemônio?

Daisy sorriu, toda marota.

— Sim! Quer brincar comigo? — Apertou minhas bochechas e

esfreguei meu nariz no dela.

— Já estou brincando, porém, temos que cuidar do seu irmão também.

Milo reclamou de ficar deitado, mesmo com o mobile balançando na

sua frente e eu o peguei, aninhando no meu peito. Davina entrou na sala e


parou, ela me olhou bem e de repente, abriu um sorriso como se me ver com

as crianças a fizesse muito feliz. Devolvi o sorriso, meio sem entender e

voltei minha atenção para o bebê.

Levi levou uma eternidade para retornar. Ele ainda estava sério, com

uma expressão que me lembrava os primeiros dias. A distância emocional,

as falas curtas e só disfarçava um pouco quando Daisy brincava com ele.

Jantamos todos juntos, Davina e Lucas pareciam não se importar com o

humor dele, então, segui o ritmo.

— Você vem me colocar na cama, Ava? — Daisy agarrou minha mão.

— É claro que sim, docinho. Se despeça de todo mundo, diga boa


noite. — Apontei para a mesa. Ela foi correndo dar um beijo em Lucas,

subiu em cima de Davina e apertou, voltando correndo. Levi me seguiu com

Milo e eu silenciei o pensamento de que parecíamos uma família.

Daisy escolheu o pijama, a história, ajudei com a escovação dos seus

dentinhos e fomos para cama. Eu não tinha experiência com crianças. Ela

sabia a rotina da noite e foi me orientando. Li a historinha, ela pegou no

sono, mas ainda podia ouvir o choro do Milo no quarto ao lado. Levi estava

andando de um lado ao outro, tentando acalmá-lo e a agonia no meu peito só

crescia em não o segurar.

— O que ele tem?


— Eu não sei. — Levi bufou, acariciando as costas dele.

— Posso? Por favor? — Me aproximei, hesitante.

— Sério? Ele está muito exigente!

— Acho que posso lidar com um pequeno Levi exigente — brinquei

para aliviar o clima.

Em meus braços, Milo continuou reclamando, não era fome, sua fralda

estava limpa e talvez ele estivesse com prisão de ventre. Levi saberia se

fosse, porque conhecia o filho, mas eu queria segurá-lo. Na verdade,

precisava. A urgência no meu coração se acalmou com ele aninhado em meu

peito. Não sabia o que fazer e segui meu instinto.

Comecei a conversar baixinho com ele. Milo agarrou meu cabelo, me

encarando desconfiado e ainda emburrado, como se estivesse na dúvida

sobre continuar chorando ou me ouvir. Lembrei de uma canção de ninar que

minha babá cantava quando era pequena sempre que eu tinha dificuldade de

dormir.

Ele fez um pequeno beicinho, tocando meu pescoço, segurei sua

mãozinha e beijei os dedinhos. Milo era difícil de dobrar como o pai, apesar

de quieto, levou quase quarenta minutos, dezoito voltas no corredor e minha


garganta seca de tanto cantar. Levi ficou o tempo todo encostado na parede,
observando, sem fazer um pio para não agitar Milo. Coloquei o bebê no

berço, com uma satisfação enorme que ele dormiu em meus braços.

De fininho, saímos e encostamos a porta. Meus braços tremiam por

ficar muito tempo com a criança no colo.

Levi me pressionou contra a parede, me beijando. Sua boca se movia

com calma contra minha, a língua gostosa, fiquei na ponta dos pés,

acompanhando seu ritmo e ele só encostou a testa na minha, parecendo tão


emocionalmente perturbado que partiu meu coração. Nós não nos

conhecíamos ainda, íamos chegar a algum lugar, mas naquele momento eu


realmente quis tirar toda sua confusão e jogar longe.

De mãos dadas, retornamos para a sala, catando os brinquedos que


Daisy deixou. Ela recolhia só uma parte. Levi disse que era importante que

ela soubesse que era sua função recolher a bagunça.

— Está tudo bem? — Sentei no sofá, segurando algumas almofadas.

— Vinho?

— Não. Eu vou tomar o remédio para dormir.

— O quê? — Ele virou, segurando a garrafa. Seu olhar era puro gelo.
— Eu entendi direito?

— Sim. Vou tomar minha medicação e não vou misturar com bebida.
— Abracei minhas pernas, olhando-o atentamente.
— Eu não falei que não queria que tomasse mais o remédio?

— Sim.

— Ava? Você está de brincadeira? — ele quase explodiu. Como já

estava irritado antes, aquilo foi só a cereja do bolo. Ele virou e encheu seu
copo de bourbon.

— Não estou brincando, Levi. Compreendo que seja um homem


dominante, mas haverá muitas coisas na minha própria vida que eu irei
resolver sozinha — falei com calma. Não queria brigar. Ele só me deu um

olhar furioso e não falou nada. — Entendi seu ponto de vista. Sei que o
remédio causa dependência a longo prazo. Não pretendo tomar para sempre,

mas por enquanto, eu preciso e na próxima consulta irei conversar com o


médico sobre trocar para outro método. Vem aqui, por favor.

Ele ficou parado.

— Levi, vem aqui — pedi mais firme.

— Você…

— Levi! Vem aqui! — Cortei, falando mais alto. — Senta aqui do meu
lado.

— Ava não você leve ao limite… porra.

— Está indo sozinho porque estou tentando conversar, mas se não


quiser, eu vou pegar um chá na cozinha e volto quando tirar a cabeça da
bunda. — Abri um sorriso e saí do sofá. Ele deu umas passadas largas e me
pegou pela cintura. — Saiu bem rápido ou é apenas a ideia machista de

qualquer coisa perto da bunda que te fez reagir?

Ele só grunhiu, tentando não rir. Eu estava certa que Milo era apenas

uma pequena versão irritada do pai. No sofá, montei em seu colo e segurei
seu rosto.

— Nós vamos entrar em desacordos. Eu não vou fazer o que quer o

tempo todo, não sei o que espera de mim, mas não sou o tipo que vai aceitar
tudo quieta. Não vou me importar que tome uma série de decisões, que cuide

de mim, mas… — Parei de falar, percebendo que estava me abrindo demais.

— Continue.

— Tive minha vida roubada e eu preciso sentir que tenho controle das

minhas decisões.

Ele ficou quieto.

— Você está certa — falou baixo.

— Como é dizer essas palavras? — provoquei, sem me importar com


sua reação.

— Vamos ao médico juntos.

Só porque ele precisava dar a palavra final. Beijei seus lábios.


— Durma comigo — pediu todo manhoso.

— E Daisy?

— Eu não quero agir como um fugitivo na minha própria casa.

— Ela pode ficar confusa, Levi. Perdeu a mãe e eu surgi do nada…

— A não ser que esteja pretendendo ir embora, ela não vai ficar

confusa. — Seu tom parecia de uma criança enfezada. Oh, pobre homem que
nunca foi contrariado…

— Não estamos nos atropelando muito? Talvez eu não seja o suficiente


para você e seu estilo de vida. Talvez sejamos incompatíveis com um monte

de coisas no dia a dia. Não quero que ela fique magoada. — Ele me abraçou
apertado, beijando meu pescoço e ficamos agarradinhos.

— Eu vou levantar se ela chamar e amanhã é dia comum, iremos

levantar mais cedo. Aos poucos, ela vai se acostumar conosco juntos e
nós… vamos lidar com o que for. — Beijou minha boca. — Sabia que estou

louco por esses lábios carnudos?

— Sempre foi algo que eu odiei. É muita boca para o meu rosto…

— É simplesmente incrível beijar, morder e dar uma boa chupada. —

Ele mordeu, me deixando arrepiada. — Imaginar essa boca gostosa ao redor


do meu pau tem me tirado o sono.

— Estou te deixando com insônia?


— Muito. Fecho meus olhos e quero ver seu cabelo espalhado na

minha cintura tanto quanto quero enterrar meu rosto na sua boceta. Talvez as
duas coisas ao mesmo tempo? Ou… eu acho que vou ficar muito tempo te

lambendo.

— Levi…

— Então, vamos para a cama?

— Essa é sua maneira de me convencer a dormir com você?

— Dormir? Talvez não agora.

— Tudo bem e por mais excitante que seja querer pular na sua cama,

eu vou no meu quarto buscar minhas coisas e te encontro no seu.

— Se você demorar, eu vou te buscar.

— Eu sei disso. — Soltei uma risada.

Tomei um necessário banho, me perfumando e vestindo a melhor


camisola que tinha. Não comprei nada exatamente sexy porque um encontro

com um homem era a última coisa que passava na minha mente. Eu estava me
sentindo mulher, desejável, sexy e pronta para explorar ainda mais minha

sexualidade.
Capítulo 19 | Levi.
— Posso entrar? — Ava bateu na porta, me fazendo rir.

— É claro que pode entrar — falei da cama, sentado na beirada. Ela

entrou, usando um roupão, com as pernas cobertas por uma calça. — Estava
quase indo te buscar.

— Fiquei com medo de encontrar alguém no caminho. — Tirou a peça

ofensiva que cobria suas pernas e jogou na poltrona, abrindo o roupão. Eu ia


dizer que absolutamente ninguém deveria circular pelos corredores do

quarto essa hora, porém, a camisola que ela usava fez com que minha língua
enrolasse dentro da boca. — O que foi?

Não era cheia de rendas ou detalhes criados exclusivamente para

sedução, era simples, clara e curta, mas nela, ficou sexy. Talvez tudo ficasse
incrivelmente sexy naquele corpo tentador. Sinalizei para se aproximar com

meu indicador.

— O que sente sobre ficar vendada? — Segurei sua cintura, dando um

beijo entre seus seios.

— Se a luz do quarto ficar acesa, eu acho que tudo bem. — Ela uniu as

mãos na minha frente, parecendo um pouco nervosa. — Vai me vendar

agora?
— Vá para o meio da cama e vou te instruir como deve sentar sempre

que pedir, ok?

Assentindo, ela engatinhou para o meio, me dando uma belíssima visão


de seu traseiro perfeito. Minha palma coçou para dar um tapa seguido de um

aperto. Estar confortável ao redor dela parecia uma realidade que nunca

faria sentido no passado, quando a vi pela primeira vez na televisão. Eu não

sabia como contar a ela tudo que senti, porque parecia idiota, irreal e mesmo

quando contou seu sonho, ainda não fazia o mínimo sentido para mim.

Ensinei como deveria se posicionar e ela fez rapidamente, sem

precisar explicar outra vez.

Com uma expressão ansiosa, mostrei a ela duas faixas de roupão.

— Não são correntes. É macio e mesmo que eu aperte, não irá te


machucar. Usando a força certa, conseguirá tirar os pulsos.

Ava mordeu o lábio, incerta.

— Basta dizer não. Você tem todo direito de dizer o que não quer

fazer, mesmo aquilo que aguce sua curiosidade. Temos tempo para descobrir

o que irá funcionar para nós dois.

— Eu quero. Só me dá um pouco de ansiedade. Não são correntes…

eu não quero nunca correntes. Elas me dão pânico.


— Tudo bem, em outro momento vamos conversar sobre isso. Agora…

estique suas mãos à frente — pedi e ela fez, me olhando atentamente a todo

momento. Levei a ponta da faixa para frente, prendendo na ponta da cama.

Mostrei a venda, ela sorriu e assentiu, fechando os olhos. Coloquei em seu

rosto e me inclinei. — Você é toda minha agora. Quero te ver se contorcendo

de prazer.

Ava separou os lábios, com um lindo corar do pescoço para baixo.

Peguei o frasco do óleo e pinguei algumas gotas em seu decote. Ela saltou,

sentindo o líquido e sossegou conforme abaixava as alças o suficiente para

explorar a área. Beijei de seu pulso ao ombro, bem lentamente, saboreando


sua pele e memorizando ainda mais seu cheiro.

— Quero seu beijo…

— Quieta.

Ela franziu o cenho com um bico contrariado que me fez ter vontade de

beijar sua boca e não o fiz apenas porque queria naquele momento. Repeti o

mesmo processo do outro lado, só para aumentar sua agonia e desejo por

mim. Parei em seu pescoço, ela jogou a cabeça para trás, me dando espaço

para explorar a área e empinando ainda mais os seios. Pinguei mais óleo,

apenas para começar a massagem neles


Seus mamilos estavam duros. Ela reagia tão lindamente a qualquer

toque nos seios que eu sabia que seria uma experiência diferente de tudo que

havia experimentado a dois. Com minhas duas mãos, mostrei o quanto era
prazeroso o toque, levando-a a se contorcer e buscar atrito.

— Não saia da posição — ordenei. Ava não poderia ir longe, estando

amarrada, mas o alívio ao seu desespero não viria de um esfregar nos

lençóis. — Você quer gozar? Me responda!

— Sim, eu quero!

Tomei seu mamilo com minha boca. Ela gemeu alto, puxando um pouco

as faixas, querendo me tocar, se mover. Silenciei seus movimentos com uma

ordem, chupando o outro peito em seguida. Ava estava perdida nas emoções

que agarrei seu cabelo e a marquei em diversos lugares.

Desci minha mão por sua barriga e segurei sua boceta com toda minha
mão, apertando suavemente. Ela tremeu, querendo mais.

— Você me quer aqui? — Aproximei meu rosto do dela, que buscou

minha boca para me beijar. Provoquei seu lábio com minha língua, dando um

doce gosto do beijo que necessitava dar a ela.

— Sim, por favor — gemeu baixinho de um jeito diferente, que me

deixou arrepiado. Não foi um gemido tímido ou de descoberta, foi um

gemido de mulher sentindo prazer. — Eu preciso muito, senhor.


Minha atrevida. Ela me chamava de senhor única e exclusivamente

para provocar.

— Eu vou foder essa sua boca atrevida. — Segurei seu rosto.

— Mal posso esperar.

Maldita.

Arrastei meus dedos lentamente por cima de sua calcinha, que já

estava úmida e observei o arrepio que se alastrou por seu corpo. Beijei seu

ombro, empurrando o tecido para o lado. Ela estava tão molhada e quente

que gemi, pensando na delícia que seria empurrar meu pau naquelas dobras.

Eu estava tão duro que pulsava na cueca, implorando para ser liberto e

tocado. Ava gemeu, se entregando ao estímulo em seu clitóris. Movendo os

quadris, querendo mais, explorei sua entrada, pressionando ali, provocando

seus nervos bem sensíveis.

Seu orgasmo explodiu como uma obra de arte.

Perfeita pra caralho.

Seu corpo inteiro tremeu, ela se perdeu, caindo um pouco sobre mim e

eu só parei de tocá-la quando se acalmou minimamente. Levei meus dedos à

boca, beijando-a e tirei a venda de seus olhos.

Ganhei o olhar mais sexy e avassalador de toda minha vida.


Soltei seus pulsos, ela tirou a camisola e montou em mim, me beijando.

Caímos na cama, incapazes de manter as mãos longe um do outro.

— Tire minha roupa. Toda ela — ordenei pausadamente em seu

ouvido.

Se afastando um pouco, tirou minha camisa e jogou ao lado na cama,

indo para o laço da minha calça. Ava poupou tempo puxando junto com a
cueca, o que me fez rir. Em muitos momentos, ela agia timidamente,

preocupada, em outros, era como uma fera. Meu pau saltou livre, a cabeça

brilhando, veias salientes, eu estava tão excitado que chegava a doer. Ela

sentou nas minhas coxas, a visão mais linda do mundo, me encarando com

satisfação e prazer.

Curiosa, me tocou e suspirei. Só sua mão me deixou arrepiado.

— Acumule saliva e cuspa, toque-o — falei, olhando para seu rosto.

Ela corou um pouco, inclinando-se para frente e fez. Sua punheta era tímida,

mas com o aperto certo. Eu não ia apressá-la, deixando que se

familiarizasse, afinal, eles precisavam se dar muito bem. — Chupe. Eu quero

meu pau na sua boca. — Ela abriu um pouco a boca com a aspereza,

percebendo que eu estava no limite. — Agora, Ava!

Sorrindo para meu estado, levou meu pau à boca, dando uma deliciosa

chupada. Agarrei seus cabelos para não perder a beleza na minha frente. Eu
a deixei saber que estava gostando muito, trinquei meus dentes, querendo

segurar o gozo porque me sentia à beira de um orgasmo. As duas coisas

aconteceriam ao mesmo tempo.

— Quero gozar na sua boca… — Saiu quase como uma súplica.

Ava me encarou com ele quase todo na boca. Eu ia infartar ali mesmo.

Ela soltou com um estalo.

Puta que pariu!

— Pode vir — falou com a voz rouca, sensual.

Mil vezes puta que pariu!

Me deixei levar, gozando com tudo dentro de sua boca quente, ela
segurou tudo sem desviar o olhar do meu e engoliu.

— Acho que encontrei seu calcanhar de Aquiles — ela brincou,

pegando a garrafa de água na mesa ao lado. Eu sempre tinha água no meu


quarto para não ter que descer e se tornou útil.

Era a primeira vez que tinha uma mulher na minha cama, naquele
quarto. Vivianne passou a maior parte do nosso casamento no hospital ou no

quarto no primeiro andar porque não podia subir as escadas. Antes disso, ela
nunca pisou na minha casa porque era sexo casual. Com Ava, já era muito

mais que qualquer casualidade que tive em toda minha vida.


Eu sempre respeitaria a memória de Vivianne, por ser quem era, uma
pessoa boa e uma mãe excepcional, mas eu estava pronto para preencher o

vazio que sentia. Nunca soube o que era. Com Ava, eu descobri. Era ela.
Uma companheira. Deveria ter pensado nisso quando a vi e nunca soube

como esquecer. Deveria ter deduzido quando não pensei duas vezes antes de
trazê-la para o lugar onde ninguém pisava.

Ava era o que eu estava procurando.

Era a peça que faltava.

— Você está bem? Seus pulsos estão ardendo?

— Estou ótima e você?

— Estou perfeito.

— O que estava pensando?

— Se eu te falar, vou te assustar.

Estava indo muito além do que deveria.

Ava franziu o cenho e mesmo nua, cruzou os braços.

— Sabe de uma coisa? Você pode ser o mandão que for, eu vou lidar

com isso da maneira que achar melhor, mas uma coisa que precisa mudar é
achar que vou sair correndo apenas porque sua mente é confusa. Eu já

entendi que tem sérios problemas, nenhum homem que ganhou cicatrizes
quando criança é normal. Não se esqueça que seu pai me sequestrou e pelo
pouco que já disse, sua infância não foi uma viagem para a Disney. — Ela

respirou fundo, tentando se acalmar. — Não vou entrar nessa para me sentir
como as crianças. Quero parceria, Levi. Quero me sentir fazendo parte, isso

é importante. Eu fui rejeitada e deixada de lado a minha vida toda.

— Quero ser seu parceiro e eu acho… que estou indo além ao me

sentir apaixonado. Fazendo planos que nunca fiz, sentindo coisas diferentes
que fazem meu peito queimar. Antes das crianças, eu nunca senti o amor e a

alegria que eles me proporcionam. Você me odiaria no passado, porque só


havia ódio e raiva dentro de mim. Eu exalava isso… depois deles, foi como
se eu pudesse respirar, ainda sinto tudo de ruim e eu aceitei que mesmo

amando meus filhos, não sou um homem bom. — Desfiz o cruzar dos seus
braços e a puxei para meu colo. — Eu tenho desejo de morte e destruição

desde novo, porque eu fui criado no fogo, mas quando estou com você, eu
sinto o que eu só senti com meus filhos. É como se eu pudesse fechar meus

olhos e ter paz. As batidas do meu coração não aceleram porque minha
mente está planejando algo ruim. Elas aceleram porque estou vendo você.

— O que aconteceu com você, Levi? O que seu pai fez?

— Não. Não vamos falar sobre isso. — Encostei minha testa na dela.
— Quero que saiba, você estará segura comigo, eu nunca vou te machucar ou
te prender. Você é um pássaro livre que espero que voe alto nos seus sonhos,

mas sempre escolha ficar comigo.

Ava fechou os olhos e deixou que as lágrimas caíssem. Por um


momento, tudo dentro de mim torceu em desespero. Medo de ser deixado.

Pavor que ela escolhesse, enfim, ir embora quando estivesse livre de


verdade.

— É bom saber que eu não sou a única me sentindo uma adolescente


emocionada com os sentimentos que borbulham no meu coração — sussurrou

em meio ao choro. — Eu achei que era coisa da minha cabeça e que por tudo
que passei, eu estava carente e me apegando a você. Acho que somos

intensos.

— Eu definitivamente sou muito intenso. — Beijei sua boca. — Seja


minha, Ava.

— Eu já sou sua, Levi Blackwood.

— Que bom, porque eu sou todo seu.

Ela se inclinou para trás e esticou o braço, apagando as luzes. Apenas

as do banheiro estavam acesas, com a porta meio encostada, o quarto ficou


com um brilho suave amarelado. Seus mamilos arrepiados atraíram minha

atenção. Na posição em que estávamos, podia sentir o calor de sua boceta no


meu pau, aninhado entre nós.
— Você sabe o que eu quero…

— Eu sei, baby.

— E vai me dar? — Moveu os quadris sensualmente. Ela podia me


pedir a lua que eu daria se fizesse aquilo de novo. Meu pau encaixou na

entrada e fechei meus olhos, respirando fundo. Ava me fazia crer que era
impossível controlar meu desejo por ela quando estávamos daquela maneira

na cama.

— Abra a primeira gaveta.

Obedecendo, ela pegou as camisinhas.

Inclinei seu corpo para trás, esticando suas pernas e me mantive entre
elas, sem jogar meu peso em cima. Ela soltou uma risadinha com meus

beijos em suas costelas, agarrando meu cabelo enquanto chupava seus peitos
e espalhava sua umidade. Ainda lubrificada, ansiando, necessitou de pouco

de estímulo para estar tão pronta quanto eu estava.

— Sabe como abrir? — Entreguei a ela um pacote.

— Com todo cuidado do mundo. — Deu um sorrisinho, abrindo o lacre

e me encarou, mordendo o lábio. Instruí como colocar a camisinha em mim.


— Assim?

Com uma das minhas mãos, uni seus pulsos acima de sua cabeça e com
a outra, pressionei meu pau em sua entrada. Ela abriu mais as pernas,
relaxando e me aceitando, me engolindo mesmo com a barreira. A maneira
como era apertada quase estrangulava. Sentindo um pouco de dor, ficou

tensa, me olhando.

— Demais?

— Não. Desconfortável — sussurrou e segurou minha nuca. — Eu

quero tanto isso. Continue — falou com confiança.

Foi torturante ir até o fundo, usei suas expressões para ditar o ritmo e
descobrir de que maneira ficava confortável o suficiente, já que não havia

jeito de passar por aquilo sem desconforto. Cruzando as pernas na minha


cintura, me incentivou por mais, correspondendo meu beijo no ritmo calmo,

contraste com nossos corações tão acelerados que dava para sentir. Em dado
momento, parecia que estavam batendo juntos, ao mesmo tempo, como se

fôssemos um só.

Ava chorou, me abraçando e senti dentro de mim tudo quebrar. Foi

como se ela tivesse jogado uma pedra em uma parede de vidro, tudo ruiu e
só havia nós. Eu, ela e as batidas dos nossos corações. Seria assim para

sempre. Eu faria de tudo para que fosse para sempre.


Capítulo 20 | Ava.
Levi estava me ouvindo falar como se as besteiras da minha boca

fossem a coisa mais importante que ele ouvia na vida. Estávamos nus, de
frente ao outro, não parecia que estive amarrada, besuntada em óleo, com a

boca cheia de esperma e ainda tive meu selo rompido com direito à minha

bunda ardendo pelos tapas e meu outro buraco sendo estimulado porque eu
era maluca e queria tudo.

Não parecia que em algum momento, precisaríamos dormir. Eu


adorava o jeito que ele me ouvia, mesmo quando me dava olhares de alerta

que estava cruzando seus limites imaginários (afinal, eu não era adivinha).

Ganhei tapas na bunda por ser insolente, mas bem… eu não podia controlar
minha boca. Ele podia tentar controlar a palma da mão nervosinha de vez em

quando.

— Isso é estúpido — ele resmungou sobre meus argumentos em fazer

compras no dia seguinte sem quinhentos seguranças me fazendo sentir parte

da comitiva do presidente dos Estados Unidos. — Minha resposta definitiva


é não. Pode sair e comprar o que quiser, sozinha, nunca.

— Besteira. — Revirei os olhos com um dar de ombros. Três coisas


que o enlouqueciam.
— Você resmungou, deu de ombros e revirou os olhos para mim de

novo? Sua bunda não está ardendo o suficiente…

— Está sim! — Comecei a rir.

— E ainda está rindo de mim?

— Não. — Tentei ficar séria. — Talvez um pouco?

— Ava… — Ele suspirou e puxou a faixa. — Vire-se agora.

— O quê? Eu vou obedecer a regra estúpida de ir em um centro

comercial francês minúsculo mais próximo daqui, que tem uma galeria

pequena que as pessoas chamam de shopping. — Ergui minhas mãos. Levi

inclinou a cabeça para o lado. Foda-se, ele não ia desistir.

Virei e sendo má, empinei minha bunda.

— Lindeza… — Ele acariciou minhas nádegas, pensei que havia se

distraído o suficiente, mas eu era inocente e ele o mestre do jogo. Segurando

meus pulsos, amarrou para trás e fiquei meio sem jeito de me apoiar.

Afastando minhas pernas, estabilizou meu equilíbrio e suspirou. —

Impressionante… você está inchada e brilhando. — Circulou o dedo no meu

clitóris e soltei um gemido. — Provavelmente dolorida e sensível aqui. —

Traçou o dedo na minha entrada. Talvez. Estava esquisito. — A bunda segue

rosada, linda. — Beijou cada uma. — E mesmo assim, não aprendeu a porra

da lição. — Deu um tapão que me fez saltar e gemer. — Você é tão safada
que fica excitada com uma punição leve, mas ainda não está pronta para uma

moderada. Seu castigo será outro.

Levi começou a me estimular, aquilo não parecia um castigo, estava

bom. Soltei um gemido alto e me calei, preocupada em ser ouvida além do

quarto e ele simplesmente parou. Eu estava tão perto…

— Vá tomar banho e vamos dormir. — Beijou minhas costas e me

soltou.

— O quê? Você vai me deixar assim? — questionei, completamente

atordoada. Ele parecia imperturbável. — Nós fizemos sexo.

— Eu sei, e foi uma delícia.

— Sabe que corre o sério o risco de ter sido a única vez? — Trinquei

meus dentes.

— Passei muito tempo me divertindo com a minha própria mão e

usando a mente.

Filho da mãe! Levei minha mão para entre minhas pernas, ele tirou e

deu um tapinha na minha boceta.

— Nada de alívio. Vá tomar banho. — Apontou para o banheiro. —

Quando voltar, coloque o pijama e deite para dormir.

— Eu vou dormir no meu quarto — resmunguei, me sentindo sedenta.

Eu precisava gozar.
— Não vai, não. — Levi pontuou com sua voz rouca.

Irritada, fui para o chuveiro. Ele andou despreocupadamente, excitado,

invadiu meu espaço e cruel como era, me fez assisti-lo tocar a si mesmo e

gozar. Cretino. Me vesti com raiva e deitei na cama mais irritada ainda,

seriam horas cruéis de sono e ainda havia esquecido minhas pílulas no outro

quarto. Levi deitou vestido, apagando as luzes e para não me deixar

assustada, deixou a do espelho do banheiro acesa com a porta entreaberta.

Foi difícil pegar no sono. Meu centro latejava. Virei de lado, ele

também, se encaixando em mim e acariciando meu quadril.

Ele dormiu e me deixei relaxar. Eu estava quase no sono gostoso

quando a porta do quarto foi aberta. Levi deve ter destrancado quando fomos

tomar banho. Ouvi sons de passinhos até perto da cama e gelei. Daisy.

— Papai! Eu quero fazer xixi! — ela cochichou, cutucando-o no


ombro.

— Oi, filha! Vamos lá! — Ele saiu da cama rapidamente com ela e

correram para o banheiro. Sentei na cama e não resisti, indo atrás.

— Eu acordei, Ava! Eu acordei!

— É isso aí, menina! — comemorei e ela se concentrou no xixi. Levi

estava ajoelhado na frente dela, com a mesma expressão de orgulho.

— Acabei, papai! — ela falou baixinho, sorrindo toda boba.


Levi explicou a importância de se limpar depois do xixi. Ele era tão

carinhoso e didático com ela que me deixava maluca. Vestindo a roupa

novamente, ela bocejou e pediu colo. Ele sinalizou que a faria dormir e

voltei para cama, me cobrindo, por mais que a interrupção de Daisy tenha

tirado meu sono, não tirou minha libido. Ele voltou e deitou, voltando a

dormir, como se meu ventre não estivesse piscando mais que pisca-pisca em

uma árvore de natal.

Milo acordou para mamar, ficando no meu colo até pegar no sono

novamente. Ele era tão gostoso que eu não queria colocar no berço.

Eventualmente, peguei no sono e o dia amanheceu tão rápido que meus olhos

estavam doendo.

— Bom dia, baby — ele falou baixinho no meu ouvido. — Dormiu

bem?

— Claro que não. Não sentiu a terceira pessoa na cama?

— Terceira pessoa? — Ele ergueu o rosto, achando que Daisy estava

ali.

— A frustração! Enorme! Gigantesca! — Gesticulei e para minha

surpresa, caiu na gargalhada. — Foi um castigo filho da puta porque eu não

consigo pensar em nada a não ser gozar.


— Ainda doendo? — Ele passeou com a mão pela minha barriga. —

Você me quer?

— Quero gozar. Você, tanto faz. — Bufei, mal-humorada.

— Estamos rebeldes? — Abriu minha calça e deslizou a mão para

entre minhas pernas. — Você só quer alívio, meus dedos ou meu pau?

— Quero tudo. Já fui castigada o suficiente, não acha? — Virei meu

rosto e beijei sua boca, desesperada. Soltei um gemido com seus dedos me

explorando, terminei de abaixar minha calça completamente e ele pegou a

camisinha, colocando rapidamente. — Assim?

— Assim, de ladinho, devagar.

Eu estava sensível, mas aquilo foi muito bom. Melhor maneira de

começar o dia.

— Deixei minha mulher com um sorriso no rosto? — Ele gemeu,

saindo de dentro de mim e eu estava delirando ainda.

— Deixou sim. Bom dia. — Virei e o abracei apertado, beijando sua

boca repetidas vezes.

— Quem diria que sexo seria a maneira de acalmar sua fúria?

— Quem diria que foi você quem provocou isso? — rebati, rindo.

— Muito dolorida?
— Não muito, mas acho que quero um remedinho.

E uma caneca enorme de café bem forte. Nós nos arrumamos para sair
do quarto, eu tirei o lençol, morrendo que qualquer funcionária visse as

marcas interessantes de fluidos, além do desalinho e suor de uma noite bem

agitada. Ele me ajudou a trocar rapidamente, deixamos tudo arrumado,

troquei de roupa para sair no meu quarto, escovei os dentes e ao descer,

Daisy trombou em mim.

— Não quero pentear o cabelo, Allie! — Ela deu a volta no sofá, se

escondendo.

— Vem, Daisy — a babá falou com calma.

— Não, Allie!

— Daisy Joan! Vá com a sua babá! — Levi desceu a escada


impecavelmente vestido em roupa social. Gostoso. Ele estava com Milo

todo arrumadinho. — Temos consulta no pediatra, tem que estar arrumada e


depois, faremos compras com Ava. Vai, garotinha.

— Tem consulta no pediatra? — Coloquei minha mão na cintura. Ele


parou na minha frente com um sorrisinho.

— Eu ia te falar, mas fiquei distraído. — Me deu um beijo nos lábios.

— Vamos comer para sair. Daisy ainda vai dificultar porque ela acordou
com energia de sobra.
— Vou ver se Allie precisa de ajuda, vai na frente.

Daisy estava emburrada, mas aceitou que eu escolhesse sua roupa e


terminasse de pentear seu cabelo. Allie me ajudou porque eu não era

totalmente experiente, pelo menos, conseguimos controlar sua irritação.


Arrumada, segurou minha mão e fomos para a sala de jantar. Coloquei-a em

sua cadeira alta, onde seu café estava servido e fui para o meu lugar.

— Bom dia, família. — Lucas entrou com sua cadela. — Sem dar

pedaços da sua comida para ela, Daisy — ele avisou a pequena, que apenas
sorriu.

— Não vou dar nada, titio. Estou com fome — ela respondeu com um

sorriso sapeca.

— Como se eu não te conhecesse, pimentinha. — Ele apertou o nariz

dela.

Daisy enfiou um pedaço de biscoito na boca, cantarolando. Me servi


com torrada francesa que Davina preparava divinamente. Lucas olhou entre

Levi e eu, abriu um sorriso e começou a comer com cara de quem ia falar
alguma besteira.

— Seja o que for, cale a sua boca — avisei antes de dar uma mordida
na minha torrada.
— Eu não ia falar nada. — Ele ergueu as mãos em rendição. —
Apenas elogiar que a pele de vocês está brilhando…

Davina soltou uma risada e disfarçou com uma tosse, saindo da sala de
jantar para a cozinha. Chutei Lucas por baixo da mesa, ele se encolheu,

rindo, querendo implicar comigo. Levi estava balançando Milo no carrinho


com o pé, digitando em seu telefone. Não podia dizer que ele nunca parava

de trabalhar, porque havia momentos que ele sequer tocava seu aparelho,
mas quando estava no modo trabalho, era apenas aquilo e nada mais.

O pediatra das crianças ficava em um prédio luxuoso um pouco longe,

mais de duas horas de carro, em Montreal. Daisy dormiu a maior parte do


trajeto, então, foi tudo tranquilo. Milo dormiu a metade do caminho, a outra,

ficou interagindo comigo. Levi estava no banco da frente com Lucas, eu entre
as duas cadeirinhas, mas o carro era extremamente espaçoso.

— Você quer colo, safadinho? Não pode…

— Ele está te enchendo de charme? — Lucas me perguntou pelo


retrovisor. Levi virou e riu. Milo ficava fazendo gracinha para mim o tempo

todo porque eu babava nele.

— Cheio de amorzinho para dar. Meu menino favorito. — Esfreguei

meu nariz na barriguinha dele. Ele agarrou minhas orelhas, balançando as


pernas e mordeu meu queixo, cheio de aflição com a brincadeira.
— E eu? — Levi perguntou antes de colocar o telefone no ouvido.

— Depois dele, vem você — esclareci só para implicar.

Era estranho estar na cidade precisando me esconder. Eu estava com o


cabelo preso, óculos escuros e bem-vestida com jeans, botas, uma camisa

longa branca, de botões, sofisticada o suficiente para o ambiente requintado


e andar ao lado de Levi. Lucas ficou perto do elevador, eu entrei no

consultório com as crianças.

Daisy foi correndo para a caixa de brinquedos, já familiarizada com o


ambiente e Milo foi atendido primeiro. Fui apresentada ao médico, que já

era um senhor e conhecia Levi, fiquei pasma, desde o nascimento. Ele foi
residente no parto da mãe de Levi e desde então, eles eram próximos. Todo

local foi esvaziado para que Levi pudesse trazer as crianças.

— Essa é minha namorada, Ava.

Na-mo-ra-da. Repeti lentamente na minha mente, fazendo dancinhas

internas e por fora, sorri educadamente. Prestei atenção na consulta enquanto


mantinha um olhar em Daisy quase dentro da caixa, com as pernas para o

alto. Ela estava procurando alguma coisa.

— Doutô! Cadê os legos? — Daisy colocou as mãozinhas na cintura.

— Daisy! — Levi chamou baixo.


— Um menininho ficou muito apaixonado por ele e precisou levá-lo.

Em breve teremos outros. Que tal ver os blocos de montar enquanto termino
com seu irmão? — o médico explicou com a maior paciência.

— Tá bom! — Ela foi para o outro lado.

As crianças estavam ótimas e os exames delas mais ainda. Tanto Milo


quanto Daisy ganharam parabéns pelo crescimento e eu me senti tão… feliz

por estar com eles. Incluída. Era como se eles fossem minha família e isso se
intensificou ao sair do consultório, segurando Milo em meus braços, com a

outra mão segurando Daisy e ela segurando o pai. Lucas parou e nos
encarou, sério e de repente, ele abriu um sorriso, abrindo a porta para mim.

— O que foi?

— Nada, garota. Apenas gostei do que vi.

— Vocês adoram um mistério. — Entrei no carro.

— É coisa de família. — Ele me ajudou a colocar Milo na cadeirinha.


— Em falar nisso, bem-vinda. — Piscou e saiu, fechando a porta.

Nós paramos para fazer compras, almoçar e tive a minha primeira

aventura com Daisy em um banheiro feminino e trocando Milo, porque não


havia trocadores nos banheiros masculinos. Depois da maratona, cheguei em

casa suada e a gravata de Levi estava no pescoço de Daisy.


— Vocês parecem que foram atropelados. — Davina nos recebeu
assim que saímos do carro.

— Foi um dia muuuuuuito divertido. — Daisy cantarolou, rodopiando

até Allie, que ria no canto, esperando-a para levar para cima e dar um
banho.

— Ela dormiu na ida e na volta, explodindo energia pelo ouvido —


Levi avisou à babá. Milo estava bem acordado no meu colo. — Quer correr?

— Só se for na direção de vocês. — Beijei seus lábios.

— Levi. — Lucas chamou e ergueu seu telefone.

— Até mais tarde. — Levi me deu um beijo e foi para seu escritório.

Olhei para o bebê no meu colo.

— Somos eu e você agora. O que vamos fazer?

— E o seu bolo? — Davina colocou as mãos na cintura. — Já pensou


no quanto Daisy vai enlouquecer com uma festinha de aniversário? Levi

comemorou o aniversário dela na escola esse ano, mandou tudo para a


professora brincar com os outros alunos e agora, ela pode ter uma festa com

bolo em casa!

— Está tentando me manipular?

— Estou — ela assumiu sem nenhuma vergonha.


— Tudo bem. Sem muito alarde, eu ainda me sinto estranha em
comemorar qualquer coisa.

Apesar de me sentir feliz como nunca me senti, ainda havia um risco


sob a minha vida, ainda tinha algo faltando para me sentir totalmente livre.

Eu não soube quando foi meu aniversário nos últimos anos. Perdi vários
momentos incríveis da minha vida sem nem perceber o tempo passando e

agora… eu tinha a chance de assoprar velas. Fazer um pedido. Tentar tudo


novamente.

Eu podia, certo? Eu tinha o direito de receber parabéns por mais um

ano de vida.

Então, o que estava me segurando?


Capítulo 21 | Ava.
Levi me chamou em seu escritório. Ele interfonou para a cozinha e

pediu que eu fosse informada que estava sendo aguardada. Nunca pisei em
seu local de trabalho, ficava em um lado da casa que eu pouco acessava,

principalmente porque dava para a ala de moradia de Lucas e eu não iria

entrar sem ser convidada. Me orientei nos corredores e identifiquei a porta,


batendo em seguida.

Eu usava uma saia plissada e camisa, com o cabelo preso. Quando


vesti, vi que parecia uma colegial safadinha. Não quis trocar de roupa

porque gostei da combinação e não havia sido proposital para arrancar

qualquer reação dele. No entanto, assim que abriu a porta com o telefone no
ouvido, ele desceu o olhar pelo meu corpo lentamente e deu um sorriso

safado.

— Pode entrar, baby. — Sinalizou para que passasse por ele, enquanto

ouvia a pessoa falando em francês do outro lado. Ele deu um tapa na minha

bunda, como já estava me acostumando e ri, puxando uma cadeira para


sentar. Levi encerrou a chamada. — Bom dia…

— Outro bom dia?

Ele se inclinou e me deu um beijo.


— Daisy não me deixou te dar um bom dia adequado.

A pequena brotou na lateral da cama tão silenciosamente que nós

tomamos um susto. Ela riu e disse que era ninja, mas já estava de dia e
deveríamos sair da cama. Foi a primeira vez que ela, acordada e lúcida, me

viu na cama do pai e não fez nenhum alarde sobre. Simplesmente subiu em

cima de mim e perguntou se eu comeria panquecas de aveia com ela,

pedindo para tirar o pijama e queria que prendesse o cabelo dela em duas

partes.

Mal vi Levi depois disso. Allie e eu demos o café da manhã das

crianças e ajudei Davina na cozinha, uma das funcionárias estava com o neto

doente e até fui lá, levar uma sopa para que pudessem almoçar e ver se eles
precisavam de algo. Ao retornar, fui chamada e ali estava, encarando o

homem que tomou minha mente para si.

— O que precisa? Ou me chamou aqui para dar bom dia?

— Infelizmente, não só para isso. — Ele foi para o outro lado da mesa.

— Amanhã é seu aniversário e eu decidi contar umas coisas como presente

de aniversário. Não é bonito, mas necessário. Eu sei que você não quer

comemorar.

— Não vejo… eu não… — Esfreguei meu rosto. — Temos que falar

sobre isso?
— Sim. — Era seu tom definitivo. — Aqui. — Me entregou um

envelope.

— O que é isso? — questionei antes de abrir e ao ver a foto, senti um

arrepio subindo pelas minhas pernas, com vontade de vomitar. Joguei a pasta

na mesa como se estivesse me queimando. Meus olhos se encheram de

lágrimas. — Por que você fez isso?

Me senti ferida e magoada.

— O nome dele é Aleksei Apostolov. Ele era um famoso músico

ucraniano que veio para os Estados Unidos para trabalhar na Broadway e

assim o fez, até se aposentar. Ele se apresentou em diversas orquestras em

concertos pelo mundo e ganhou prêmios como compositor.

— CALE A BOCA! — gritei, cobrindo meus ouvidos.

— Você não foi a única. Havia outras garotas vestidas de bonecas


como você e segundo relatórios, três delas ao mesmo tempo. Ele revezava

— Levi continuou falando e eu escorreguei para o chão, não querendo ouvir.

Ele deu a volta e ajoelhou à minha frente. —No quintal da casa que ficou

presa, foram encontrados corpos e ossadas de outras garotas jovens como

você. Quando cansava, ele mandava eliminar para que ninguém soubesse da

maneira que ele se inspirava para criar músicas. Segundo minhas fontes,

Aleksei mantinha esse terrível hábito há anos. — Levi me puxou para seu
colo. — Ele foi morto há algumas semanas junto com toda sua equipe que

trabalhava arduamente para manter as meninas em cativeiro.

Ergui meu rosto com as lágrimas escorrendo.

— Você o matou?

— Não com as minhas próprias mãos, mas sim, garanti que nenhuma

garota passasse pelo que você passou lá. — Segurou meu queixo. — Ainda

não sei como ou quando você foi parar lá, imaginamos que realmente tenha

sido logo após o acidente, considerando o envolvimento do meu pai com os

ucranianos, eu imagino que ele estava te escondendo lá e deixando que o

velho brincasse com você. Agora, ele não irá brincar com mais ninguém.

— Ele está morto? Ele não vai pegar nenhuma jovem garota e roubar a

vida dela? — Segurei a camisa dele. — Nunca mais vai chegar perto de

mim?

— Ele está morto — Levi falou pausadamente.

Escondi meu rosto em seu pescoço. Eu não deveria ficar aliviada com

a morte de um ser humano, mas aquele homem era um monstro e eu não

conseguia sentir pena.

— Eu te vi na televisão.

— Você me viu na campanha de desaparecidos?


— Eu estava em uma reunião com o italiano e ele pediu para ouvir a

matéria. E aí, eu disse que era besteira, porque você provavelmente estava

morta. Foi quando descobri que ele não te matou, mas entregou para seu

padrinho com dinheiro o suficiente para sair do país. Havia outras pessoas

que duvidavam da sua morte porque sabiam que ele não executa mulheres

inocentes. — Ele acariciou meu cabelo. — Desde esse dia, nunca consegui

te esquecer. No momento em que te vi, senti que te conhecia a vida toda e

sofri pelo seu desaparecimento como se nós… fizéssemos parte da vida um

do outro.

— Você me reconheceu na casa do seu pai, não foi? — Me afastei

bruscamente. — Sabia que estava lá?

— Claro que não! Eu passei a procurar por você, inclusive, financiei

buscas em outros países, principalmente aqueles que tem leilões de garotas.

— Levi engoliu seco. — Trouxe você aqui porque… eu não conseguia te

esquecer. Eu queria ficar com você.

— Você mentiu sobre precisar me proteger? Eu não estaria em perigo

em Nova Iorque?

— Não! Eu não menti sobre essa parte, mas eu tenho recursos e

poderia te colocar em qualquer lugar do mundo com a melhor equipe de

segurança. Não precisava te trazer para minha casa… eu simplesmente agi


no impulso, na necessidade de finalmente te ter ao alcance dos meus olhos.

— Ele estava pálido, com medo da minha reação e eu me sentia confusa.

— Planejou nosso envolvimento?

— Não. Eu não vou negar que sim, a atração surgiu porque havia um

desejo, mas se você não se mostrasse interessada eu não faria nada. Já

estava satisfeito em te ver se curando, engordando novamente e iria me


dedicar para que ganhasse sua vida de volta. — Ele colocou as palmas das

mãos nas minhas. — Eu sinto muito se parece que manipulei nosso

relacionamento.

— Você me fez pensar que eu era uma peça de um jogo de vingança. —

Bati em seu braço. — Você me deixou confusa sobre me apaixonar por

alguém que queria me usar para se vingar do pai! — Bati nele de novo. —

Teria sido muito menos confuso para mim saber que existia uma ligação

entre nós!

— Calma… — Ele me segurou, sem saber o que fazer comigo. — Não

esperava que ficasse agressiva.

— Adivinha só, Levi Blackwood? Você não pode controlar a reação

de outra pessoa diante das suas atitudes! Sim, estou furiosa que, no fundo,

você mentiu para mim! Com boa ou má intenção, mentiu! Você financiava a

Melissa para me procurar! — Ergui as mãos para o alto, frustrada.


— Não só eu…

Respirei fundo, sabendo de quem ele estava falando.

— Eu já entendi todos os motivos que levaram o italiano a matar

minha família. Ele é o chefe de uma organização e tem que fazer o que

precisa para proteger os dele, mas ele… — Fechei meus olhos, tentando me

acalmar. — Eu não entendo o que deu errado entre ele e o meu padrinho,

sabe? Eu lembro que meu padrinho falou com alguém no telefone, mesmo
que Rafaelli tenha dito para me tirar do país o mais rápido possível. Levi…

minha vida simplesmente sumiu. É por isso que estou com medo de
comemorar.

— Você está aqui.

— Eu sei. Os últimos dias foram como um sonho de tão perfeitos. Seus


filhos, você, as brincadeiras do Lucas, o amor e carinho da Davina… é tudo

que eu nunca tive. É uma família. — Sequei meu rosto, ele limpou meu nariz,
o que nos fez rir. — Tenho medo de fechar os olhos para assoprar as velas e

cair novamente na cela escura com meus pés presos em correntes. Agora que
ele está morto, é um peso diferente.

Levi chegou um pouco para frente e tocou meu rosto.

— Feche os olhos — pediu baixinho e obedeci. Ele se afastou e parei


de senti-lo. — Ainda estou aqui. — Beijou um lado da minha bochecha. —
Sigo aqui com você. — Beijou o outro lado. — Consegue me sentir sem que
eu te toque?

Parei para pensar, silenciando minha mente e me concentrando no

ambiente. Eu conseguia sentir seu calor.

— Sim.

— Mesmo quando tudo ficar escuro, sempre estarei com você. — Ele
entrelaçou nossos dedos e abri os olhos. — Você será para sempre minha.
Feliz aniversário, minha doce Ava.

Me joguei em seus braços, ainda sem conseguir controlar meus soluços


e o apertei o mais forte que consegui. Levi ficou quieto, esfregando minhas

costas e depois, me levantou do chão. Sem falar nada, fui ao banheiro lavar
meu rosto e voltei para o escritório, sentando em seu colo. Ele mostrou a

foto que carregava em sua carteira e eu lembrava do dia que foi tirada. Foi
um dia feliz com Melissa.

A maior parte dos meus dias felizes foram com ela.

Seu telefone vibrou e na tela, vi que era uma mensagem de Lucas.

— Tenho mais um presente para você. — Levi beijou minha bochecha.

— Chicote e algemas?

— Mais tarde, baby. — Tirou meu cabelo do rosto. — Quem sabe não
te dê um pouco de spanking mais tarde. — Abri um sorriso, arrepiada. —
Eu simplesmente amo o quanto você gosta de tudo.

— Exceto das punições.

— Só não aprontar. — Deu um tapa na minha coxa. Fiz beicinho só


para ganhar um beijo. — Vem, tenho que te levar até seu presente!

Curiosa, saí de seu colo e de mãos dadas, caminhamos sem pressa

para o lado principal da casa. Descemos a escada e vi Lucas contra a


parede, com as mãos no bolso e os tornozelos cruzados, olhando para frente

com um sorrisinho divertido. Conforme descia a escada que tinha uma


espiral suave entre as colunas, vi a figura de uma mulher parada no meio do

saguão.

— MELISSA! — gritei, soltando a mão de Levi e desci as escadas


correndo.

Ela abriu os braços e correu na minha direção. Nós nos trombamos e


com o impacto, caímos no chão, rindo, emocionadas de estarmos juntas.

— Feliz aniversário! — Ela beijou minha bochecha. — Surpresa!

— Estou realmente surpresa! Eu falei com você ontem e não disse


nada!

— Já estava aqui no Canadá, mas queríamos ter certeza que não fomos
seguidos — ela respondeu, ainda grudada em mim e olhei para Lucas,

preocupada.
— Tudo limpo — ele garantiu com um sorriso. — Vamos começar as

comemorações desse aniversário!

Levei Melissa para um ótimo quarto de hóspedes e começou a chover,


apesar de estarmos fora do inverno. Ela deixou suas malas e pegou um

casaco para andarmos no lado externo. Mostrei onde ficavam as áreas


principais e segui para a ala que eu passava a maior parte do tempo e estava

quase me mudando oficialmente.

— Isso aqui é quase do tamanho de uma cidade.

— Quase. Levi criou seu próprio mundo. — Sorri e empurrei a porta.

Daisy estava jogando suas peças de blocos para o alto, cantando e dançando
uma música alta que explodia nos altos falantes do som. Allie estava

agachada, recolhendo alguns brinquedos.

— Que porra é essa?

— Filha do Levi. — Entrei na sala e abaixei o volume. Daisy fez um

beicinho. — Você vai acordar seu irmão, a hora da soneca dele começou
depois e ainda precisa descansar. Vem aqui, quero que conheça minha amiga.

— Estiquei a mão.

Daisy me agarrou e olhou para Melissa.

— Oi, menina! Eu sou Melissa. E você? — Minha amiga se agachou à

frente dela.
— Sou Daisy Joan Blackwood, meu papai é Levi e minha mamãe é

uma estrela no céu — Daisy respondeu com um sorrisinho fofo. — Eu


também sou amiga da Ava!

— Sabia que amanhã é o aniversário dela?

Daisy ofegou como se fosse a notícia mais surpreendente e incrível de


toda a sua curta vida. Ela levou a mãozinha gordinha que eu era loucamente

apaixonada à boca, arregalando os olhos e pulou no lugar. Virando na minha


direção, esticou os braços e a aninhei em meu quadril. Trocamos nosso

arrastar de nariz favorito, o famoso beijinho de esquimó e sorrimos.

— Vai ter bolo, Ava?

— Davina disse que iria fazer.

— E balões? Tem que ter balões, é uma festa!

— Eu não sei.

— Vou falar com meu pai, ele resolve tudo. — Ela suspirou, me

fazendo rir.

— O que o papai vai resolver? — Levi entrou na sala e nos abraçou.

— Balões, papai. Muitos balões! — Daisy esfregou o nariz no dele. —

É aniversário da Ava!
Daisy voltou a brincar e Levi me avisou que precisava sair por um
instante e logo voltaria. Eu não perguntei o que faria na rua porque,

normalmente, ele contava à noite e nunca me senti na necessidade de ficar


questionando suas saídas como se precisasse de uma fiscalização.

— Eu não acredito que ele tem filhos! — Melissa estava em choque.

— Eu fiquei arrepiada de medo quando passei pelos portões, nós tivemos


que fazer um trajeto complicado porque precisávamos ter certeza de que não

fui seguida. Eu sabia, em parte, que estava segura aqui, mas sentia medo que
ele te afundasse. — Ela segurou minha mão. — É a casa que nunca teve. Ele

tem uma filha com brinquedos coloridos que diz que o papai resolve tudo.

— Estou tão apaixonada, Mel. Tenho muito a te contar, vamos fofocar


enquanto Milo dorme e Levi não está em casa.

— Tem um bebê.

— Tem e eu quero te mostrar um lugar e talvez, não precise falar muito

mais.

Segurando sua mão, levei-a para fora novamente e fiz o caminho até o
gazebo.
Capítulo 22 | Levi.

Melissa desceu a escada com um sorriso e ergueu os polegares para

cima. Eu estava parado na sala para o “baile das princesas”, como Daisy
nomeou o aniversário de Ava. Tecnicamente, seria no dia seguinte, mas nós

queríamos começar a comemorar logo. Esperei minha linda mulher aparecer

no topo das escadas e fiquei sem fôlego ao vê-la completamente.

Seu cabelo estava solto, escovado, fluido com cachos nas pontas,

usando maquiagem que evidenciava seus olhos e a boca estava livre, o que
era ótimo: eu queria beijá-la muito. Segurando o corrimão, começou a

descer e reparei no vestido preto de cetim delineando seu corpo até os

joelhos, com um lascado até o meio da coxa e sandálias de salto alto de


tiras.

Chegando no último degrau, lembrei de fechar minha boca e me

aproximar. Eu segurei a mão dela, fascinado. Porra, eu idolatrava o respirar


dela.

— Eu estou sem palavras. Você está linda, baby. — Beijei sua mão,

ela se inclinou e beijou minha boca, me abraçando e cochichando no meu

ouvido.
— Espere só até ver a calcinha que estou usando.

De mãos dadas, fomos até onde Daisy pulava no lugar com seu vestido

roxo bufante, uma tiara na cabeça, querendo desejar feliz aniversário para
Ava.

— Eu quero o beijo da minha menina favorita! — Ava abriu os braços

e ajoelhou. Daisy se jogou nela com tudo, feliz e gritou parabéns tão
estridente que se fosse um pouco mais alto, quebraria os cristais do lustre.

— Obrigada, meu amor.

Milo estava agitando os braços no colo de Allie, interessado na


confusão, sacudindo as mãos com o queixo todo babado. Eu o peguei,

beijando sua cabeça, agarrando minha orelha e ele gritou de prazer ao ter

atenção de Ava.

— Posso comer um bolinho agora? — Daisy pediu a Ava.

— Um. Vamos jantar — Ava autorizou com tranquilidade. — Davina

fez um jantar delicioso e depois tem bolo.

— Adoro bolo!

Minha filha foi para o chão e correu até a mesa. Allie foi atrás dela

para administrar a bagunça. Aquela noite, era sobre comemorar. Ava queria

Davina e Allie em seu jantar de aniversário, porque era com quem ela
passava a maior parte do tempo quando eu estava trabalhando e acabou

estreitando laços.

Ava agarrou Milo, fazendo gracinha e meu filho parecia no céu com um

sorriso desdentado que me enchia de felicidade.

— Já reparou que ele não pode ouvir a voz dela? — Lucas parou ao

meu lado. — Seus filhos estão tão loucos por Ava quanto você. Ainda não

acredita no destino?

— Não.

— Besteira, Levi. — Ele bufou, batendo o ombro no meu.

— Por que o destino quis que passássemos por tudo que passamos? —

rebati, meio irritado.

— Sério? Teremos essa conversa hoje?

— Que tal não termos essa conversa nunca? — Bufei e me afastei até o

bar, preparando uma bebida. Eu não queria saber se o destino se achava bom

o suficiente para ditar minha vida, porque ele me fodeu muito antes que eu

pudesse me sentir humano com qualquer tipo de felicidade.

Ava estava dançando com Milo no colo, junto com Daisy e Melissa. A

música, provavelmente, era alguma boyband dos anos noventa que ela

gostava. Vê-la feliz era o meu presente. Ela ainda não se sentia no direito de
comemorar a vida, ainda existia medo e algo extremamente sombrio em seu

peito que a oprimia ao ponto de paralisar.

Eu queria vê-la livre e feliz.

O jantar foi servido e toda comida foi escolha dela, afinal, era sua

noite.

— Hora dos parabéns! — Davina empurrou um carrinho com um bolo

azul escuro com várias estrelas, uma vela de sol e outras pequenas velas

brancas. Lucas pegou com cuidado e colocou na frente de Ava, que com as

bochechas vermelhas, ficou com os olhos brilhando.

— Não deixe de fazer um pedido. — Melissa segurou a mão dela.

Tirei meu inseparável isqueiro do bolso. Ava me encarou. Ela odiava

o fogo. Detestava que eu andasse com isqueiro sempre e escondia na gaveta

quando deitava para dormir. Eu queria que ela levasse suas coisas para o

meu quarto, para ser o nosso quarto, para começarmos a compartilhar

absolutamente tudo.

Lucas apagou as luzes, apenas as luzes das velas iluminavam a sala.

Daisy subiu em Ava, querendo cantar parabéns e ter a chance de assoprar as

velas. Foi o que manteve Ava sã no escuro. Ela chegou a agarrar minha mão,

mas soltou para segurar Daisy e bater palmas. Milo estava em pé no colo de

Davina, gritando e babando.


— Faça um pedido — Melissa insistiu.

— Assopre comigo — Ava falou com Daisy.

As duas assopraram as velas e, rapidamente, Lucas acendeu a luz.

— Feliz aniversário! — Daisy gritou. Ela entendia que todo mundo

tinha um dia feliz e desde que expliquei isso a ela, volta e meia me

perguntava quando seria o dia feliz de outras pessoas que conviviam

conosco.

— Quero uma foto com eles. — Ava segurou Milo e teve Daisy do

outro lado. Tirei em meu telefone e ficou tão bonita que coloquei como plano

de fundo. Eu nunca usava nada no meu aparelho, era completamente vazio,

mas deixaria àquela noite. — E agora, uma com você também.

Não neguei nenhum dos pedidos de fotografia, mesmo que eu odiasse

tirar fotos. Eu registrava o crescimento das crianças e não ia muito além.

Meia noite, já estávamos no quarto. Milo foi o último a dormir, quanto mais

crescia, mais tempo brincando e interagindo, ele ficava.

— Ele vai acordar em três horas. — Ava parou na frente do espelho,

tirando os brincos.

— Eu sei. — Parei atrás dela. — Tempo o suficiente para mostrar meu

presente.
Ela sabia que não era algo que aproveitaria sozinha. Seria para meu

bel prazer também.

— Estou curiosa. O que é?

— Tire o seu vestido — comandei e com um assentir, ela reuniu o

tecido e puxou pela cabeça. Ainda de frente para o espelho, admirei seu

corpo, voltando a olhar em seus olhos. — Comprei três joias essa noite.
Uma quero que use agora, outra quando estiver pronta e a última, quando nós

dois estivermos prontos.

Enfiei a mão em meu bolso e peguei o saquinho do colar. Era uma

corrente delicada que segurava um diamante lapidado em forma de pássaro

com as asas abertas. Coloquei em seu pescoço, adorando o quanto ficou belo

contra sua pele. Ava tocou a pedra e me encarou, emocionada. Ela virou

lentamente e me puxou pela camisa, beijando minha boca.

— É lindo, muito obrigada.

— Meu pássaro.

— Qual é a outra joia? — Seu olhar encontrou o meu. Enfiei minha

mão no outro bolso e tirei a caixinha, abrindo. Revelei um plug anal. —

Hum… por que ainda não estou pronta?

— Não é tão simples assim e você precisa estar pronta para ficar

completamente amarrada na cama. Mãos e pés. Eu vou te levar a muitos


limites que vai reagir de maneira brusca. Precisa estar contida, para não se

machucar e bem… não me machucar. — Sorri contra sua boca. — Vamos

chegando lá aos poucos…

— Tudo bem. Eu ainda não…

Calei sua boca com um beijo. Ela suspirou contra mim.

— Lembra do que já conversamos?

— Todo controle é meu — repetiu baixinho. — Eu decido nosso


ritmo.

— Você decide e controla o ritmo. Nunca irei te machucar. — Segurei

seu rosto. Ela sorriu apaixonada, esfreguei suas costas e desci minhas mãos
para sua bunda, dando um belo aperto. — Quero você. Te quero muito.

Ela fez um beicinho com um encolher de ombros.

— Acho que entende como me sinto a maior parte do tempo. Fiquei


completamente animada com essa joia, estou louca para usar. — Ergueu a

perna, prendendo sua coxa na minha.

— E eu louco para… — Levei minha boca para seu ouvido. — Foder

sua bunda.

Ava queria e merecia um presente de aniversário adequado. Levei-a


para cama mais que pronto para dar tudo que queria. Sexo de aniversário era

uma novidade para mim também. Estar em um relacionamento era assustador


e me mantinha acordado em algumas noites, porque eu sabia que em algum
momento, a escuridão que vivia em mim iria sair e foder as coisas.

Eu estava me envolvendo com alguém que tinha medo do escuro,

porra. Ela se assustaria quando visse o pior.

Ainda acordado, observei-a dormir com a perna em cima da minha, o

rosto próximo ao meu braço e a mão no meu peito. Até seus dedos eram
bonitos. Como isso era possível?

Meu telefone vibrou e era uma mensagem de Lucas, solicitando minha

presença. Me desvencilhei dela com cuidado, vesti meu pijama e saí do


quarto em silêncio. Atravessei a casa até o escritório dele, no subsolo. Ele

sabia que eu odiava descer para qualquer nível abaixo do solo, mesmo que a
casa inteira fosse equipada com um porão enorme.

— Todos reunidos em uma jogatina. — Ele colocou as mãos na


cabeça.

— Interessante. Quem é a mulher?

— Michelle Rodriguez. Ela é líder de um cartel muito sanguinário que


está crescendo no país. Ao ado dela, o marido, um bastardo.

— Estão fechando negócios?

— Parece ser apenas uma festa. Nada relevante além da presença dela,
que não estava com o nome na lista.
— Jackson se apresentou? Ele não perderia a oportunidade.

— Antes de ir embora, sim. — Lucas esticou a perna. — Está ficando

cansativo essa porra. Por que não matamos todo mundo e seguimos em
frente?

— Se não fosse a vida de Ava em risco, obviamente eu faria isso, mas

eu não posso arriscar que exista mais nenhum segredo que venha nos colocar
em problemas no futuro. Não sabemos com quem o pai dela mexeu no

passado e onde ele enfiou o dinheiro.

— Levi. — Lucas soou quase desesperado. — Se Rafaelli estiver

certo na última informação que obteve, Ava é a chave que abre a porra do
cofre. Você tem noção quanto dinheiro pode estar lá dentro?

— Tem algo mais que dinheiro para que todas essas pessoas estejam

desesperadas.

— Informações sigilosas?

— Se o pai dela ainda tinha neurônios não comidos pela cocaína, ele
fez sua cama de uma maneira que pode foder todas as pessoas com quem se
relacionou. Se são informações, provas ou apenas um dossiê, é o suficiente

para causar esse desespero. — Encostei na parede, pensativo. —


Convenhamos. Eu ficaria preocupado de ser exposto mesmo com todo
cuidado que tomo em não ser visto, imagine esse bando de político que

pensa que não existe punição para o que fazem?

— Melissa se arriscou demais colocando essas câmeras.

— Eu sei. Vou pedir para Ava conversar com ela. — Enfiei minhas

mãos no bolso. — Rolando algum interesse?

— Não.

— Sendo honesto ou evasivo?

— Não, idiota. Não vivemos em um romance em que o melhor amigo


se apaixona pela melhor amiga. Eu apenas não quero que a garota se

machuque. Ela parece como nós dois no passado, cega de ódio, sedenta por
vingança e sabe o que aconteceu?

— Sei. Ficamos presos em um lugar como esse com a casa pegando

fogo.

— Fomos machucados além do que um dia imaginamos. Acha que ela

aguentaria? Acha que Ava aguentaria?

Só de pensar nela minimamente machucada era como um chute na boca


do estômago.

— Ava será capaz de fazer qualquer estupidez pela Melissa, ao


contrário disso. Elas precisam parar antes que tudo que estamos fazendo seja

em vão. — Lucas voltou a olhar para a tela.


— Eu sei.

— Converse com elas.

Fiquei em silêncio, ele olhando para tela e eu para ele.

— Um dia uma mulher vai te amar sem se importar com suas marcas.

Lucas me ignorou como sempre ignorava quando falava sobre o


assunto. Eu o deixei sozinho, voltando devagar para o meu lado da casa.

Entre nós dois, ele era quem merecia ter uma mulher na cama e filhos
dormindo ao lado. Ele era quem tinha um lar feliz, pai e mãe amorosos,
amigos na escola e um futuro brilhante. Foi a minha família que destruiu a

dele.

Eu não era digno de nada que tinha.

Parei em uma janela e fiz uma ligação.

— O que você quer? — Rafaelli falou rouco do outro lado da linha.

— Quero duas coisas. — Encostei a testa no vidro gelado.

— Diga. Se eu puder…

— Quero que foda Leela Rollins e se aproxime do pai dela. Ele tem
informações importantes sobre o pai da Melissa e pode te ajudar a cobrir

algumas bases se sentir que faz parte do jogo. Ela foi namorada do irmão da
Ava e pode saber algo sobre o dinheiro.
— Eu sei quem são. O que te faz pensar que sou seu prostituto
particular?

— Como se foder uma boceta fácil para conseguir o que quer fosse um

sacrifício para você. — Rebati, rindo.

— Tenho que me fazer de difícil. E a outra coisa?

— Esse vai ser um favor que eu irei retribuir com um novo produto.

— Gosto de ouvir isso. O que precisa?

— Quero que use suas conexões para tirar uma mulher de uma clínica

psiquiátrica. Enviarei as informações necessárias por mensagem. Depois que


ela sair, será comigo.

— Só? Jackson pode fazer isso enquanto escova os dentes.

— Eu não vou pedir a ele porque não negocio com Jackson Bernard,
você sim.

— É melhor que seja uma granada que eu possa explodir um país

inteiro — Rafaelli resmungou e encerrou a chamada.

Voltei em direção ao meu quarto. Daisy estava voltando para a cama

depois de ter ido ao banheiro. Ela ergueu os polegares, feliz por ter
acordado e eu já podia imaginar que daríamos adeus às fraldas da

madrugada. Ava segurava Milo em um braço e com a outra mão livre,


orientava a menina a deitar na cama.
— Papai fujão. — Ela me deu um olhar. — Pode ir adiantando a
mamadeira dele? Alguém acordou meio exigente.

Milo dormiu sem dar a última mamada e sabíamos que ele acordaria
com fome. Preparei o leite ouvindo Ava conversar com Daisy e se despedir,

encostando a porta. Ela era natural com as crianças como se elas fizessem
parte de sua vida desde sempre. Milo ficava confortável nos braços dela,

apaixonado, sempre querendo um chamego. Daisy dizia para todo mundo que
Ava era sua melhor amiga.

— Aqui está. Vamos levá-lo para o quarto, quando ele dormir eu

coloco no berço.

Meu filho não parecia muito disposto a dormir. Depois de mamar, ele

ficou zoneando na cama, fazendo gracinha, me chutando repetidamente para


que eu fingisse morder seu pé e assim, ele podia gargalhar. Ava estava com

ele em seu colo, sorrindo. Ela não estava reclamando ou fugindo. Eles
faziam parte de sua felicidade.

Ela era a nossa felicidade agora.


Capítulo 23 | Ava.

Senti Levi sair da cama e abri os olhos, sonolenta, com a cabeça

doendo um pouco por não ter dormido muito, com Milo fazendo a festa da
madrugada e por não ter tomado pílulas para dormir. Ele dormiu mais cedo e

sem mamar, o que fez com que acordasse no meio da madrugada, com fome e

com muita energia para brincar. Nós nos divertimos com suas gracinhas.

Cada dia que passava, notava seu crescimento, seu jeitinho fofo de

conquistar cada um com seu sorrisinho banguela. Ele estava ágil, subindo em
cima de mim, indo para o pai, gritando e querendo que a gente fizesse coisas

para que ele pudesse gargalhar. Virei de lado e olhei para seu rostinho

adormecido, passei o dedo em sua bochecha e beijei sua cabeça.

Milo ainda dormiria por longas horas e eu também, ou pelo menos,

tentaria. Optei por não me medicar para poder beber no jantar e a

consequência era quase dolorosa. Levi voltou do banheiro e pegou o


telefone, dando uma olhada. Era engraçado como eu não sentia vontade de

ter um aparelho. O computador que me cedeu para falar com Melissa, usei

para me atualizar do mundo e logo perdi o interesse.

— Vai trabalhar? — Toquei seu peito.


— Não. — Ele sorriu, pegou minha mão e beijou. — Hoje é o dia

oficial do seu aniversário.

— E vai tirar folga?

— Sim. Sou todo seu. — Brincou com meus dedos.

Voltamos a olhar para Milo dormindo, ele soltou um suspiro satisfeito,


adormecido e sorri. Ergui meu olhar e percebi que Levi me olhava

intensamente.

— O que foi?

— Qualquer garota na sua idade correria de um relacionamento com

filhos.

— Garotas da minha idade estão na faculdade, indo a festas, beijando

milhares de garotos e vivendo aventuras, mas elas não passaram por tudo

que eu passei. — Me inclinei sobre ele e beijei sua boca, para falar bem

baixinho. — Ou aceitariam receber ordens, palmadas e ser amarradas na

cama. — Levi sorriu, convencido e segurou meu rosto, olhando em meus

olhos. — Depois de tudo que eu vivi, eu quero exatamente isso. Não trocaria

nada disso por ter uma vida normal agora, porque essa é a vida que eu quero
ter.

— Que bom, porque eu não vou te deixar.


— É bom mesmo que nunca me deixe. — Dei-lhe mais um selinho e

voltei para meu lugar.

Tentei dormir mais um pouco, consegui tirar um longo cochilo depois

que Daisy deitou conosco. Ela ficou falando baixinho com o pai, pediu leite

na mamadeira e dormiu. Levi ficou na cama, o que era um evento bizarro.

Ele nunca deitava apenas no intuito de descansar sem fazer nada. Assim que

acordei de verdade, tomei banho e fiquei com preguiça de ir até meu quarto

buscar novas roupas.

— Esse problema seria facilmente resolvido se você trouxesse suas

coisas para meu armário. — Levi parou atrás de mim e brincou com a minha

toalha.

— Eu vou trazer. Algum problema se Melissa me ajudar? — perguntei

meio sem jeito. Levi tinha uma pistola que ficava ao lado da cama e outra

abaixo do travesseiro. Eu sabia que ele não vendia terços e muito menos,

bíblias. Não sabia a complexidade dos seus negócios, apenas tinha noção

que não era inocente.

— Não tem nada demais aqui no quarto. Ela pode circular

tranquilamente. — Beijou minha bochecha. A porta do banheiro foi

bruscamente aberta, nós nos assustamos e era ninguém menos que o pequeno
furacão de cabelos em pé. Fiquei tensa, porque eu estava enrolada em uma
toalha longa, com o roupão aberto e os cabelos molhados. O pai dela sem

camisa e com a calça do pijama.

Daisy me viu dormindo com Levi e até trocamos um beijo ou outro

tranquilo na frente dela, mas nunca fomos pegos em nenhuma situação tão

íntima.

— Ava! Faz cabelo em dois? — Ela subiu no sanitário, passando para

a pia com uma velocidade impressionante. Olhei para Levi com horror.

— Temos que deixar a porta do banheiro trancada. De todos os

banheiros — ele murmurou. Não era por sermos pegos. Ela simplesmente

conseguia subir em tudo e podia cair sem que víssemos. — Daisy, não quero

que suba no sanitário e na pia! Você me entendeu?

— O que eu fiz, papai? — Ela me olhou com um beicinho.

— Você pode cair da pia e se machucar. Isso pode até acontecer sem

um adulto por perto. — Ele se inclinou e olhou nos olhos dela. — Entendeu?

Não quero que suba nos móveis.

Quase bufei. Ela tinha o dom da aranha, capaz de subir em todo lugar.

— Tá bom, papai. — Ela sorriu, marota. — Ava! Cabelo de dois? —

Voltou a me encarar, dentro da pia, com as pernas cruzadas.

— Banho primeiro! Você está cheirando a leite com suor. Isso não é

nada agradável. — Apontei para o chuveiro. Levi a pegou no colo e colocou


no chão.

Daisy tinha o dom de dominar o ambiente com sua alegria e falatório.

Dei um banho nela, prático e eficiente, já tinha aprendido com Allie em


como cuidar das áreas importantes e usando meu próprio instinto. Enrolada

na toalha, coloquei de volta na pia e comecei a pentear seu cabelo, dividi no

meio e prendi com dois laços rosa.

Ela se encarou no espelho e me deu um olhar, erguendo os polegares.

— Estou linda, não estou? Você é minha melhor amiga.

— Está linda, sim. — Beijei sua bochecha. — Eu amo ser sua melhor

amiga.

Eu queria ter tido momentos com minha mãe, que ela penteasse meu

cabelo e me desse bons beijos. Daisy perdeu a mãe como eu perdi. Talvez eu

nunca pudesse ser para ela o que a mãe seria se estivesse viva, porém, me

esforçaria. Vivianne queria desesperadamente que Daisy fosse amada e

tivesse uma boa vida, implorou para que Levi a amasse como se fosse dele.

Eu também a amaria. Por toda minha existência quis ser amada e ninguém se
importou.

Daisy saberia que por mais que sua mãe tivesse morrido no parto do

irmão, tanto ela quanto Milo eram muito amados.


Depois que as crianças estavam prontas e alimentadas, eu fiquei com

Milo no colo e Daisy correndo na frente. Encontramos com Melissa na mesa

da varanda, tomando chá. Não estava chovendo e deixei que a menina

corresse no gramado.

— Dormiu bem? — Sentei ao lado da minha amiga.

— Como não dormia em anos. — Melissa suspirou. — Entendo


porque não quer voltar para Nova Iorque. — Ela encolheu as pernas. — Mal

vejo a hora de sair de lá. Estou em pânico só de pensar em voltar.

— Eu sinto muito que tudo que aconteceu comigo tenha te aprisionado.

— Estiquei minha mão e peguei a dela, apertando. — Me perdoa.

— Não, Ava. Tudo aconteceu por um motivo e sabe que acredito no

destino… talvez, nós duas até poderíamos ter seguido nossos planos, mas, o
que teria acontecido com minha mãe? Estaria morta ou ainda completamente

drogada para ficar em silêncio ao lado do meu pai? — Melissa me encarou,

chateada. Ela abaixou a voz olhando para Milo, que mordiscava um

brinquedo próprio para morder. — Quantas garotas desapareceriam por que

ele está financiando sequestros?

— Eu não quero que fique chateada comigo. — Ajeitei Milo e ele

gritou, irritado. Entreguei um novo brinquedo. — Acho que é hora de viver a


sua vida. Está na hora de fazer coisas de garotas da sua idade porque, estou

bem, estou viva e eu quero que você seja feliz.

— Não posso ir embora sem minha mãe. Eu não posso sair de Nova

Iorque e deixá-la internada em uma clínica psiquiátrica. Como seguir em

frente sem me vingar de tudo e de todos?

— Nós não somos como eles. — Apontei para a casa, para que

entendesse que estava falando de Levi e Lucas. — Não adianta falar o


contrário, porque eu conheço seu coração e por mais abalada que tenha

ficado com meu sequestro, você é doce, bondosa e sonhadora. Admiro sua
força, seu comprometimento em tudo e como sua amiga, a pessoa que te ama

muito, te prometo que vamos lutar para libertar sua mãe. — Entrelaçamos
nossos dedos. — Vamos conseguir e você vai terminar sua faculdade e vai

construir sua vida longe de tudo.

Melissa ficou emocionada com minha firmeza e ênfase. Trocamos um

abraço apertado. Milo agarrou o cabelo dela, puxando com força, irritado e
nós rimos. Ela secou seu rosto e voltou a beber o chá. Não havia melhor

presente de aniversário que ter um dia de paz e calmaria com minha melhor
amiga, apreciando a boa paisagem, comendo coisas gostosas e tendo a
alegria das crianças ao redor.
No final do dia, decidimos jogar pôquer. Lucas era muito competitivo
para ser amistoso. Melissa não entendia porcaria nenhuma e eu estava ali

apenas pela bebida.

— Vocês dois lembram que tem duas crianças na casa, certo? — Lucas
brincou ao me ver ficar um pouco alterada com o vinho rosé delicioso.

— Estou sóbrio. Ela vai desmaiar assim que tombar na cama. — Levi
juntou as cartas e me deu um olhar. — É melhor que não passe mal.

Merda.

— Não vou passar mal.

— Ah, merda. Sem essa coisa de vocês aqui na frente das crianças! —

Lucas empurrou as fichas, me fazendo rir e Melissa parecia perdida. Ela


sabia que Levi e eu estávamos juntos, mas não sabia alguns termos.

— O que tem? E se ela passar mal? — Melissa cruzou os braços.

Lucas começou a rir, eu não desviei o olhar da mesa, sentindo o olhar


gelado de Levi em mim. Ele era muito crítico sobre limites e eu tinha

tendência a cruzar todos os meus (e me arrepender amargamente no dia


seguinte).

— Tão mandão — ela murmurou, me fazendo rir.

— Está rindo, Srta. Moore? — Levi tocou minha coxa e apertou.


— Engasguei com o vinho — murmurei e coloquei minha taça em cima
da mesa.

Mais tarde, depois de colocar as crianças na cama, Levi avisou que


iria para o escritório por um tempo e Lucas desapareceu, deixando sua

cadela conosco. Ela deitou a cabeça no meu pé, querendo ficar por perto.

— O que tem entre você e o senhor pedra de gelo? Eu não quero me


meter na sua vida, mas sério… ele vai mandar até se vai ficar bêbada ou

não? — Ela parecia um pouco irritada. Peguei meu chá e tentei não rir. — O
que foi?

— Ele é dominante — confessei baixinho. — Estou entrando nesse


relacionamento sabendo que ele é um dominante e em parte, descobrindo que

sou mais submissa do que imaginava. Não é só sexual, é em tudo, em todas


as coisas. — Contei e coloquei o queixo dela no lugar. — É por isso que às

vezes ele me olha daquele jeito. E às vezes, eu tomo atitudes erradas em


relação a mim mesma que o enlouquecem.

— Tais como?

— Misturar bebida com remédio. Não tomar as pílulas


regularmente…

— Você é doida? Minha mãe não foi um exemplo bom o suficiente? —

Melissa falou mais alto e a silenciei, sem querer que Levi ouvisse nossa
conversa. Só ia dar mais combustível para o seu falatório.

— Foi estupidez e eu tento não repetir, mas dormir é muito difícil.

Nem mesmo se estiver exausta. Essa noite não vou tomar e não vou relaxar
completamente porque os pensamentos vêm na minha cabeça, me

enlouquecendo e me deixando nervosa.

Melissa chegou mais perto e segurou minha mão, me dando forças.

— O sonho com o bebê parou depois que conheceu o Milo?

— Sim e principalmente depois que eu passei a segurá-lo, acalentar


seu choro e tê-lo juntinho de mim de noite. Eu me sinto bem.

— Eu tirei fotos do seu olhar quando está com eles. Estava com medo
que a sua felicidade fosse toda focada em Levi e sim, está bem óbvio que

está apaixonada, mas, você está se reerguendo porque encontrou os pedaços


que faltavam. As crianças te completam.

Nossa conversa foi interrompida com a aproximação de Levi. Ele não

sorriu. Não era de seu feitio chegar sorrindo, todo simpático e acenando.
Sentou na mesinha de café na nossa frente, com um olhar sério e virei,

preocupada. Eu não gostava daquela expressão.

— Tenho que falar uma coisa para vocês. — Ele virou para Melissa.
— Amanhã, a polícia de Nova Iorque irá anunciar que Ava foi encontrada.

Sairá uma nota oficial que foi resgatada de um cativeiro como se ainda
estivesse no primeiro local que ficou aprisionada. Farão um apanhado de

todas as vítimas e propositalmente, o assunto será enterrado. Eu preciso que


cancele todas as páginas de busca e retire os anúncios com Lucas essa noite.

Melissa saiu de seu lugar com um salto. Segurei a mão de Levi,


querendo entender seus planos, porque eu confiava nele e sabia que tinha um

motivo.

— Por que isso? Combinamos que Ava seria encontrada quando meu
pai fosse pego! Quando houvesse provas de que ele estava por trás e minha

mãe não estava mentindo! — Ela levou a mão para o cabelo. — Não faça
isso comigo!

— Acalme-se agora mesmo. — Levi foi firme com ela e apertei seus
dedos.

— Não me peça para ficar calma! — ela gritou.

— Nada vai mudar em relação a isso. Seu pai continua muito bem no
centro da minha mira, mas o que vai mudar é que você vai sair desse jogo.

— Ele foi bem firme. — Acabou para você, Melissa. Se continuar, sua vida
vai mudar de uma maneira que não será boa.

— Eu não posso sair… tenho que ficar pela minha mãe. Ava está

salva, mas ela não. Não terminei. — Melissa começou a chorar. — Por
favor, Levi. Você prometeu que iria me ajudar.
— Eu irei. Não disse que estava deixando minha promessa de lado.

— Não posso ir embora — ela sussurrou.

— Se o problema é sua mãe, está resolvido. Ela está a caminho de um

lugar seguro nesse exato momento e estará te esperando chegar. Essa tarde,
consegui que ela fosse liberada da clínica através de uma alta médica para

acompanhamento domiciliar, junto com a autorização de um juiz para se


mudar — Levi falou com calma. Eu estava completamente em choque.

Melissa deu um salto no lugar, pensei que fosse cair e levantamos


rapidamente, segurando-a.

— Você a tirou da clínica?

— Foi simples e não foi. Saiba que seu pai está furioso, ele já
começou a movimentar seus contatos para interná-la novamente... ou matá-

la… — Levi foi enfático. — Vocês duas precisam sair do radar.


Desaparecer. Expor que Ava foi encontrada foi como jogar sal na ferida.

Meu jogo será muito perigoso agora.

— Significa que elas podem ser feridas? — questionei, segurando o


braço dele.

— Sim.

— Não há o que discutir, Melissa. — Virei para minha melhor amiga.


— Nós vamos derrotar seu pai e todos eles, mas você vai pegar suas coisas
e sumir com sua mãe. Quando tudo acabar, vamos ficar juntas.

Levi não nos deu muitas explicações e saiu logo que as lágrimas dela

ficaram incontroláveis. Ajudei a arrumar suas coisas, organizando tudo para


que fosse viajar ao encontro da mãe.

— Parece que uma de nós estará em Paris antes do esperado. —

Fechei sua bolsa de mão.

— Ele é louco. Tirar minha mãe assim… causou uma rachadura. Eu

não sei quem ele usou ou quais meios, mas sei que não vai ficar no
anonimato. Em todo esse tempo que esteve fora, eu descobri que existe um

mundo de corrupção tão grande que é como um organismo vivo, que


comanda Nova Iorque silenciosamente. A maneira como minha mãe foi

internada em um piscar de olhos e depois, como Levi a tirou… — Ela parou,


respirando fundo. — Espero que ele realmente saiba o que está fazendo.

Mexer com o poder dessas pessoas é muito perigoso.

— É por isso que ele quer vocês duas bem longe.

Melissa deu a volta na cama e me abraçou.

— Nós vamos ficar bem.

— Claro que sim. — Esfreguei suas costas.

Levi bateu na porta e estava com Lucas. Era hora dela ir. Mesmo
sabendo que não perderíamos o contato, que continuaríamos nos vendo por
vídeo, eu estava preocupada. Lucas pegou a mala e saiu rapidamente, para
levar ao carro. Melissa e eu andamos de mãos dadas até a porta da frente e

nos despedimos mais uma vez. Eles saíram rapidamente para a escuridão da
noite.

— Estou com medo — falei baixinho, olhando o carro sumir na longa


estrada estreita que ficava em frente à propriedade. Levi me abraçou por trás
e beijou meu ombro.

— É hora do mundo saber que você está viva e para quem importa,
saberão que está comigo e que estou pronto para dar fim nessa história.

— Obrigada por tirar a mãe da Melissa de lá. Não sei o quanto isso te
custou…

— Provavelmente custará caro, mas eu sei o que estou fazendo.

Eu confiava nele e meu coração continuava apertado. O que estava se

aproximando silenciosamente era completamente assustador.


Capítulo 24 | Ava.

Levi estava em pé contra a janela, abrindo e fechando seu isqueiro, me

irritando profundamente enquanto eu tentava me concentrar no livro. A


televisão continuava ligada, sem volume, passando uma matéria sobre mim.

Causou bastante burburinho o fato de eu ter sido encontrada e supostamente,

fui enviada para viver com minha família que saiu do país há muitos anos.
Nada era dito sobre meu pai e irmãos, como se eles não existissem ou não se
importassem.

Melissa deletou todas as páginas de busca, para que não continuasse

circulando absolutamente nada em meu nome e a partir dali, Lucas deletaria

o que estivesse na internet com meu nome para não causar mais interesse em
qualquer um que pudesse querer saber mais. As informações que o público

receberia seriam limitadas devido às circunstâncias.

Minha melhor amiga e a mãe estavam bem. Foi emocionante vê-las


juntas e por enquanto, ficariam em outro país, escondidas, tentando

reconstruir a vida no tempo que tinham. Estavam tristes que tiveram que

fugir, sair do lugar que nasceram e foram criadas, longe de pessoas que
gostavam delas e que estavam acostumadas a conviver, justamente por causa
de um único homem. Não podia mensurar a sensação de não poder voltar

enquanto ele estivesse vivo.

Soltei um suspiro, indicando que estava no limite com a porcaria do


barulho e nada do Levi parar. Fechei meu livro e coloquei na mesinha, indo

até ele. Toquei suas costas e segurei seu punho.

— Pare com isso, por favor. Sabe que não gosto.

Ele enfiou no bolso e não disse nada. Me apoiei para sentar na janela e

encostei minhas costas no vidro. Eu odiava quando ele se fechava. Era um

muro denso difícil de atravessar.

— Não quer falar comigo sobre o que está acontecendo?

— Terei que ir a Nova Iorque nos próximos dias. — Ele finalmente me

olhou nos olhos. Fiquei arrepiada com a escuridão ali, engoli seco, sentindo

a boca do meu estômago torcer. — Vou matar meu pai. Ele acaba de se tornar
uma peça inútil no jogo.

Puta merda.

— Eu não sei o que te dizer porque…

Não podia dizer sinto muito porque as marcas no corpo de Levi eram a

prova que o pai dele não merecia qualquer sentimentalismo, ele me

aprisionou por muito tempo apenas porque tinha interesse e ao mesmo

tempo, não tinha coração para simplesmente incentivar. Também não iria
impedir. Nada o impediria. Antes de me conhecer, Levi já havia começado o

plano em matar o pai dele em vida e aquilo era só o capítulo final entre os

dois.

— Pensei que não o mataria de fato, não depois das crianças… e elas

vão saber um dia?

— Não sei se eu serei aquele a puxar o gatilho, ele já está exatamente

como quis, do jeito que planejei. Fraco, fodido, sem orgulho, torturado,

maltratado… sem apoio e sem recursos. Talvez eu deixe que Lucas faça isso,

já que foi meu pai que matou o dele. Talvez eu o entregue para o Rafaelli

fazer o que tanto quer. — Levi me segurou. — Eu não serei como ele para

meus filhos. Nunca.

— Eu sei disso, só… — Puxei-o pela nuca, encostando nossas testas

uma na outra. — Tome cuidado. Há muita gente em Nova Iorque querendo

sua cabeça.

— Eu vou tomar. Poucas pessoas sabem quem sou, quem estava no

jantar na noite que te encontrei e viu meu rosto, apenas dois estão vivos. O

restante encontrou o caminho da vala porque Enzo Rafaelli quis assim. —

Ele encolheu os ombros.

— Não entendo exatamente o que ele quer ou faz.


— Isso é dominação, Ava. Ele está mostrando a todos que o território

é dele. É como as guerras no passado, para dominar e comandar um local,

países não invadiam e devastavam tudo? É assim para a máfia italiana,


principalmente para alguém ambicioso como ele.

— Então, ninguém sabe quem é você?

— Não compareço em nenhuma reunião das empresas. Tenho pessoas

no meu lugar, que administram, negociam dentro dos termos que estabeleço e
nos outros negócios, a mesma coisa. São poucos clientes que realmente me

têm presente, que conhecem meu rosto. Um deles é o italiano, porque temos

negócios além da compra e venda e outro, basicamente não existe. — Ele

esfregou meus braços arrepiados. — Te deixei nervosa. Me desculpe.

— Quero saber tudo. E o homem que informou minha presença no

jantar? Ele é de confiança?

— Não. Seria tolo da minha parte confiar em Jackson Bernard. Ele não

é o vilão, mas é aquele tipo de homem que faz aquilo que é pago. Não

importa se é certo ou errado, para o tipo de negócio que equilibra em sua

cartela, moralidade é questão de interpretação.

— Por que não tem negócios com ele?

— Porque eu não quero existir no mundo dele. Eu dito o que faço ou

deixo de fazer, escolho quem vou pedir favor e irei favorecer. Ninguém vai
agir de intermediário porque não preciso.

Dominante demais para permitir que qualquer pessoa, seja quem fosse

na vida, tivesse um mísero controle sobre suas ações. Aquilo resumia bem o
meu Levi. Ele percebeu que estava apenas parada, encarando-o e parou de

falar. Segurou meu rosto e me deu um beijo suave.

— Antes de ir, quero te apresentar lugares da casa que ainda não

conhece e ensinar a usar algumas coisas. É a primeira vez que vou te deixar

depois desse tempo e preciso ter certeza que terá controle de tudo. —

Segurou minhas mãos e nos afastamos da janela. — Essa casa foi construída

no século passado e ela tem muitos corredores, escadas e cômodos que

foram criados para que os patrões nunca encontrassem com os empregados.

O antigo dono manteve a construção original, eu apenas fiz modificações

para que esses espaços fossem funcionais.

Ele empurrou uma porta e passamos para um corredor que eu nunca

percebi que existia. Ali era possível chegar ao quarto do pânico, que tinha

uma escada para o porão. Travei com um pouco de medo, pensando que era

escuro, mas na verdade, era enorme, como um estacionamento de shopping

iluminado com várias coisas, incluindo três carros equipados para fuga

rápida que ia diretamente para a saída no lado leste da propriedade.

Uma das escadas de funcionários levava para seu escritório.


— Tenho duas coisas importantes aqui dentro. Dinheiro e armas.

— Tudo bem. Eu até sei usar muito bem o dinheiro, mas nunca segurei

uma arma. Você vai me ensinar? — Me aproximei da porta. — Quero

aprender.

— Vou te ensinar o básico. Quando retornar, podemos ir mais além em

alguns treinos importantes para preparar seu físico. — Ele digitou o código e
me pediu para memorizar. Fiquei repetindo na minha mente sem parar.

Dentro, era espaçoso e fresco, com dinheiro empilhado de um lado e uma

parede inteira com armas e facas. — Você não tem preparo e nenhum tipo de

treinamento, atire, eu vou lidar com qualquer coisa que vier depois. Apenas

salve as crianças e a si mesma, ok? Vou te encontrar onde for e limpar

qualquer bagunça que fizer no caminho.

— Alguma coisa vai acontecer?

— Não quero te assustar, não acho que vá, apenas quero que esteja

preparada porque não estarei em casa. Rick e os demais seguranças vão

ficar com vocês.

— Entendi. Precaução nunca é demais.

Estávamos falando em manter Daisy e Milo seguros, nada nunca seria


demais. Levamos mais de duas horas no tour pela casa e terminamos na

academia. Raramente pisava ali, era onde ele e Lucas treinavam e não
gostava de invadir o espaço deles. Lucas nunca ficava sem camisa ou sem

camisa de manga longa na minha frente, porque não se sentia confortável que

visse suas marcas e eu respeitava sua necessidade de manter certa distância.

— Deveria fazer uso da esteira enquanto estou fora. Pode começar

com uma caminhada simples e ir aumentando…

Olhei para o aparelho e não falei nada, não faria nenhuma promessa

que não tinha intenção de cumprir. Levi percebeu meu silêncio e por um
tempo, considerou se iria me empurrar à beira do limite, mas decidiu não

acrescentar mais nada, mesmo que estivesse claramente insatisfeito. No


fundo, ele sabia que iríamos apenas ter uma briga antes que ele viajasse por

vários dias.

A tensão irradiava dele de tal maneira que me vi tensa também, com o

maxilar trincado. Decidi relaxar, preparei um chá e peguei meu livro


novamente. Daisy retornou da colônia de férias da escola, que estava prestes

a retornar com o ano letivo e enquanto ela contava tudo que fez no colo do
pai, tentei ler e impedir Milo de agarrar as páginas e rasgar.

— Você está um polvo. Mãos em todo lugar. — Joguei meu livro longe

e ele protestou, querendo que pegasse de volta. — Se vai rasgar qualquer


coisa, serão os seus livros. — Agarrei um dele, de ler no banho e ri das

tentativas desesperadas de puxar as páginas emborrachadas para a boca.


Apertei sua bochecha, brincando, e ganhei um sorriso desdentado quando ele
agarrou meu nariz.

Levi não quis ficar longe dos filhos e Davina me disse que era normal

antes de viajar. Deixei que ficasse bastante tempo agarrado às crianças e que
fizesse a rotina deles sozinho. Fui deitar mais cedo, com meu livro. Ele

entrou mais tarde, tirou a camisa e ficou com a calça do pijama caída nos
quadris. Sem falar nada, se aproximou e esticou a mão. Fechei meu livro e

aceitei ser tirada da cama.

Parada em frente a ele, colocou as mãos em meus ombros e foi

descendo para os braços. Desceu mais um pouco, segurando a barra da


minha camisola e puxou, tirando. Eu estava sem sutiã, de calcinha e meus

mamilos ficaram arrepiados. Seu olhar esquadrinhou meu corpo como se


fosse a primeira vez que ele me via nua à sua frente, foi deixando um rastro

de fogo e criando em mim uma necessidade sem me tocar.

— Você já tomou sua pílula? — Ele olhou em meus olhos.

— Não. Eu estava te esperando vir deitar. — Toquei seu rosto e passei

meu polegar em seu lábio, fiquei na ponta dos pés e o beijei. Levi me
abraçou, segurando minha cintura e com um aperto delicioso na minha bunda,

levou a boca para o meu ouvido.

— De joelhos. Hoje eu quero começar fodendo sua boca.


Porra. Meu corpo inteiro tremeu.

Caí na posição que ele me ensinou e mantive meus olhos treinados no

lugar certo, afinal, ele não havia dito que podia erguer meus olhos ou falar
qualquer coisa. Eu sabia bem quando a dinâmica do nosso relacionamento

mudava para o comando completo de sua parte. Ele abaixou a calça, tirando
completamente e seu pau estava na reta do meu rosto. Mordi o lábio,

ansiando, com a boca enchendo de água. Era impressionante o quanto eu o


desejava ardentemente.

Excitado, segurou seu pênis e pressionou em meus lábios.

— Abra a boca e leve tudo que puder — comandou e olhando em seus


olhos, eu o provoquei com minha língua. Levi agarrou meu cabelo,

segurando minha cabeça no lugar. — Eu não mandei que fizesse isso,


maldosa. Chupe tudo agora!

Obedecendo, comecei a chupá-lo, permitindo que fodesse minha boca

como gostava. Era simplesmente delicioso ver o quanto ele sentia prazer.
Seus gemidos me enchiam de tesão. Gozando era melhor ainda. Fiz um show

ao engolir e lamber meus lábios só porque ele gostava. Sorrindo para mim,
entregou minha garrafa de água e bebi rapidamente.

— Vá para cama, baby — falou baixo e apoiei no colchão, me


arrastando até o meio e deitei. — Hoje não tem vendas. Quero apenas você e
quero muito, porque eu não sei como é estar longe. Você não pode se mover

ou falar até que eu permita. Vai ser mais forte que antes… você entendeu?

— Entendi, senhor — falei baixo e ele apenas me encarou, eu não


estava brincando daquela vez. Ele ia sair por vários dias e tudo que

desejava era estar completamente ligada a ele.

Segurando meu pulso, ele me prendeu com uma corda na ponta da

cama e repetiu o processo para o outro lado. Não era uma faixa de roupão,
assim como também não eram correntes. Cordas não me assustavam tanto e

eu confiava que ele não iria me machucar intencionalmente. Abrindo a


gaveta, pegou o vibrador e foi arrastando pela minha coxa, me deixando

sentir a intensidade da vibração até entre minhas coxas.

— Não feche as pernas — ordenou e engoli seco, ansiando pelo que


viria. Ele circulou o vibrador pelo meu clitóris, pressionando e fechei os

olhos, soltando um gemido para extravasar tudo que sentia. — Você gosta
disso, safada?

— Sim!

— Quer mais? — Soltei um resmungo e ele deu um tapa na minha


coxa. — Responda!

— Sim, eu quero!
Colocando o vibrador na minha entrada sem penetrar, era difícil não

me mover, sentir tudo aquilo e ficar parada. Levi sorriu perversamente para
meu estado caótico e sem aviso prévio, chupou meu clitóris, me olhando

intensamente. Sua boca em mim era sinônimo de pecado. A cama rangia com
o aperto do meu punho, eu não sabia qual seria a punição se me movesse,

mas estava quase perdendo a batalha.

Segurei o orgasmo que estava quase explodindo, mordendo meu lábio

com força. Levi desligou o vibrador, dando um beijo estrelar na minha


boceta.

— Não sabe o quão lindo é te ver obedecendo assim, suada,

vermelha… e deliciosamente aberta para mim. — Ele lambeu a boca, que


brilhava com minha umidade. — Vou te foder tão forte agora que vai me

sentir enquanto estiver fora. — Agarrou minhas coxas e puxou. — Cruze as


pernas na minha cintura!

Com um golpe, ele meteu firme, começando estocadas que foi


impossível manter minha boca fechada ou gemidos baixos. Meu orgasmo foi
tão forte que lágrimas escorreram dos meus olhos. Levi puxou fora e voltou a

me chupar enquanto ainda tremia. Ele empurrou dois dedos dentro de mim,
curvando e tocando um ponto que fez tudo aumentar. Por um segundo, minha

mente era apenas um nada gigantesco e meu corpo, uma convulsão de


emoções deliciosas.
Ele me soltou, mandando virar e empinar a bunda.

— Eu adoro sua bunda. — Deu dois tapas fortes nas bochechas. — Eu


amo ainda mais esse buraco perfeito que em breve, farei muitas visitas. Você

é toda minha, Ava?

— Completamente sua — prometi, chorosa com seus dedos

explorando minhas dobras. Ele mordeu uma nádega.

Levi nunca prometia algo que não iria cumprir, porque foi intenso e
muito mais forte que qualquer outra vez. Nós fazíamos sexo sempre que

possível, rapidinhas, no meio da noite, depois que as crianças estavam na


cama ou ele aleatoriamente me prendia em algum lugar e me comia com

ferocidade. Eu acabava saindo de um cômodo meio bagunçada e com um


sorriso de orelha a orelha.

Ele gozou entre minhas nádegas depois que cheguei ao orgasmo


novamente. Tombei na cama, e fui puxada para seus braços com rapidez.

— Você está bem? — Levi buscou meu rosto. Eu adorava o quanto se

preocupava e cuidava de mim sempre que achava que ia além. Sua paciência
em seguir meu ritmo era admirável.

— Estou perfeita e já sofrendo com sua ausência. — Beijei seu peito e


por último, seus lábios. Ficamos apenas juntos, como gostávamos. Era eu e

ele, o ritmo gostoso de seu coração, o calor de seu corpo, nossas pernas
entrelaçadas... podia ficar daquela maneira para sempre. Não existia nada
mais que me completasse além de Levi. Ele estava colando meus pedacinhos

quebrados e me tornando uma mulher inteira novamente. A mulher dele. —


Promete não demorar?

— Eu prometo. Por que está me olhando assim? — Franziu o cenho,


mudando de posição para me analisar melhor.

— Estou me sentindo ansiosa. Já tem uns dias que não estou tomando

os remédios direito, porque quero ficar acordada com as crianças, passar um


tempo lúcida com você e ao mesmo tempo, tudo dentro de mim parece um

pouco bagunçado agora que você está indo. É confuso a maior parte do
tempo porque me sinto bem, sinto felicidade e eu sei que é tolice sentir

medo… — Eu parei de falar e mordi o lábio. — Tudo que sinto dentro de


mim é que não quero ficar sem você.

Levi entrelaçou nossos dedos e beijou minha mão.

— Você terá muito tempo para me amar, Ava. Eu voltarei para casa,
para você e para meus filhos. Não tenho nenhuma pretensão em não viver
com vocês.

— Teremos muito tempo para amar um ao outro.


Capítulo 25 | Levi.

Nova Iorque.

Ava estava me seguindo como um cachorrinho. Seria engraçado se eu

não estivesse tão irritado por ter que sair e deixar minha família em um
momento que eu não queria. Com pijama e enrolada em um roupão, ela me

observou beijar Daisy e ajeitar a coberta novamente, fui para o quarto do


Milo e ele estava atravessado no berço, com a chupeta caída de lado e

descoberto.

Eu nunca levava malas porque havia um armário equipado no lugar que

ficávamos em Nova Iorque. Desci as escadas e peguei o telefone de Ava.

— Atenda sempre que ligar e responda minhas mensagens. —

Entreguei a ela, que assentiu com um beicinho, enfiando no bolso do roupão.

— Aqui estão umas tarefas que quero que faça todos os dias enquanto estiver
fora. Acredite em mim, irei saber se não fizer. Lembra todas as senhas?

— Lembro de tudo.

— E a caderneta com os detalhes das crianças?


— Na gaveta do escritório junto com o número do pediatra. — Ela se

aproximou. — Vamos ficar bem. Vá e volte logo.

— Volte para a cama. Milo vai acordar…

Lucas se aproximou silenciosamente com sua cadela. Ele estava pronto

para ir. Ava chamou Gwen para ficar ao seu lado, ela passou por mim,

fungando na minha mão e cocei atrás de sua orelha, me despedindo. Dei mais
um beijo na minha mulher e fui para o carro. Se ouvisse Milo chorar, talvez

não saísse mais. Eu não me sentia assim antes.

A confusão no meu peito e a ansiedade em sair era algo novo.

Lucas me deu um olhar no carro.

— Você quer falar sobre isso antes de começar a me atentar com seu

isqueiro?

— Não.

— Sabe, eu fico feliz pra caralho que tenha uma família agora, mas

porra, temos coisas a fazer e preciso da sua cabeça lá.

— Esse é o problema. Minha cabeça está lá e talvez, por ter uma

família agora, pessoas que amo incondicionalmente e quero proteger, sinto

que estou sem limites novamente. Tal como foi na época da minha mãe.

Ele voltou a olhar para a estrada, apertando o volante, não gostando de

lembrar do passado e começou a acelerar. Chegamos ao aeroporto e a


equipe que trabalhava conosco estava nos aguardando. Lucas saiu primeiro,

porque ele gostava de fazer uma verificação e eu fiquei com meu telefone,

atualizando a tela repetidamente porque eu mal havia saído e queria mandar

mensagens para Ava e saber como estava. Esse era o problema sempre que

ficava muito tempo em casa.

Decolamos em seguida, chegando em Nova Iorque quase quatro horas

depois, pousando em um aeroporto clandestino que costumava usar sempre

que entrava e saía sem ser detectado. Meu voo era registrado, a equipe

também, mas nem sempre informava os passageiros. Do lado de fora, meu

primeiro compromisso já me aguardava, fumando e sentado no capô do


carro.

Ele usava um casaco aberto, mostrando o peito tatuado e um curativo.

— A noite foi intensa? — Abri a porta e coloquei minha mala no

banco de trás.

— Quando não é? — ele reclamou, com o sotaque italiano carregado.

Eu não sabia completamente a história de Rafaelli para querer dar o golpe

no pai, mas se o dele foi um bastardo como o meu, eu o aplaudia de pé. — A

negociação será no sul da cidade.

— Vamos seguir para lá sem paradas. — Entrei no carro e Lucas

assumiu a direção.
Enzo adiantou os termos do encontro, usando um paspalho para fingir

que trabalhava comigo para encontrar com o ucraniano que negou renunciar a

Ava. Quem ele pensava que era? Eu estava indo pessoalmente apenas para
estar por perto e ouvir a conversa com clareza. Lucas entrou no prédio

comercial e subiu as rampas, parando no lado mais escuro da garagem. Os

homens de Enzo já estavam ali e saímos, olhando para o outro lado.

— Nico — Enzo chamou um deles. — Nicola Biancchi[5]. Vocês já se

falaram por telefone. Levi Blackwood. — Sinalizou entre nós. Nicola era um

dos homens de confiança do Rafaelli. — Trouxe?

— Sim. Aqui está tudo. — Ele me entregou uma pasta. — O cofre foi

encomendado pelo pai de Ava mais ou menos dois anos antes, é israelense e

ele pediu algumas alterações. Ele matou quem prestou o serviço logo em

seguida, portanto, apenas quando encontrar que será possível saber quais. O

modelo é esse.

— Acha que seu dinheiro está lá dentro? — Olhei para Enzo, que

acendia um cigarro.

— A essa altura do campeonato, já estou pouco me fodendo para o

dinheiro. Eu quero saber o que ele tinha de tão importante que achou que

tinha o direito de me trair. — Encostou no capô, fumando. — Ou que tinha

costas quentes o suficiente para fazer qualquer merda pela cidade. Duvido
muito que estivesse se assegurando apenas no relacionamento com seu pai ou

a associação com o Senador Reinald. — Assoprou a fumaça.

— Não quero ser o advogado do diabo, mas ele manteve muito contato
com Jackson Bernard — Lucas falou atrás de nós. — Sabe-se lá o que ele

vendeu.

— Eu sei. Nicola encontrou o registro das ligações. Ele também falou

com uma pessoa que eu não gosto muito e não posso matar por causa da

merda do acordo. — Tragou mais um pouco e olhou para o alto. — Oliver

King[6].

Enzo não fez perguntas diretas ao associado porque nós dois sabíamos

que seria como anunciar a Jackson que estávamos de olho. Era melhor ele

pensar que não estava na mira. Já Oliver King, mudava tudo. Ele era o líder

de uma organização de colarinho branco que comandava uma cadeia de

empresas financeiras, que lidavam com transações altíssimas. Há alguns

anos, ele começou a investir em casas noturnas e vender o tipo de cocaína

mais pura já conhecida.

Depois que passou a fazer negócios com os italianos, eles dividiram o

tipo de venda: os italianos vendiam a droga deles, em troca, os King

asseguravam que toda lavagem de dinheiro fosse perfeita. Esse era o negócio
que Jackson Bernard administrava: juntava ações diversas e fazia com que

trabalhassem juntos para ganhar mais dinheiro.

Enzo não concordava muito, ele continuou o acordo que o pai dele fez,

porque tinha planos maiores e ambiciosos, que demandavam paciência. Ele

era um manipulador nato, tinha calma para esperar coisas acontecerem em

anos. Era por isso que a nossa sociedade dava certo. Ele agia como um

louco, fazendo com que as pessoas se assustassem e distraíssem, sem saber o

que de fato ele planejava em silêncio.

A informação caiu em mim como uma junção de peças. Olhei para

Lucas e ele foi para o computador, dentro do carro. Nicola se aproximou

dele, curioso e pelo olhar, reconheceu a mesma coisa que eu. A intenção

daquele encontro era fingir que negociei com eles apenas para livrar Ava e

depois, eles apareceriam misteriosamente mortos por ordem do Senador

Reinald.

Para Enzo, aquilo seria bom, porque iria favorecer um associado dele.

— Você está manipulando a porra toda — Enzo falou calmamente.

— Não estou nessa pelo dinheiro — retruquei, olhando para o grupo

de homens do outro lado, aguardando a negociação, vigiando tudo ao redor.

Nós estávamos longe e no escuro.


— Sei disso. Antes, eu achava mesmo que era pelo seu pai, agora, eu

sei que é mais. Não me importo, isso é honrado pra caralho. — Ele apagou a

ponta do cigarro e guardou em um saco, enfiando no bolso. — No entanto, se

Oliver está no meio, significa que ele pode estar traindo o acordo e essa

oportunidade, eu não vou perder.

— O pai de Ava pode ter te traído acreditando que Oliver o manteria

se você caísse.

Não era nada difícil. Sempre soubemos que havia alguém grande por

trás de todas as ações dúbias e eu não duvidava que Oliver tinha manipulado
a situação, aproveitando o jeito explosivo de Enzo. Ele usou a todos como se

fossem bonecos de corda. A única pessoa que se fodeu nessa história toda
foi Ava, que não tinha nada a ver com os negócios.

— Esse é o ponto. Foi a conspiração mais porca da história, é por isso


que eu digo que nunca podemos consumir o que vendemos. Olha a bagunça

que o cheirado do Moore fez. Negociando com Senador Reinald, ele


alimentou os ucranianos, que por consequência, fez com que Cesar se

afastasse e seu pai se aproximasse. — Enzo ia pegar outro cigarro e Nicola


chamou sua atenção. — Minha esposa veio comigo.

— Vai tomar no cu. — Nicola sorriu perversamente. — Quero que

olhe isso aqui. — Ele arremessou seu telefone e Enzo pegou, me mostrando a
imagem. O negociador estava entrando no prédio com a maleta de dinheiro.

Enzo e eu nos concentramos na negociação à frente, o ucraniano estava


dizendo que aceitava o dobro pelo que pagou por Ava, já que meu pai estava

mentindo e ele não estava interessado em um problema maior. Até que não
era tão burro. Rafaelli riu ao meu lado ao ouvi-lo dizer que queria entrar no

território, aceitando a proposta falsa do negociador. A longo prazo, dominar


o território certamente lhe traria muito mais lucro.

— Tem alguém se aproximando. — Virei meu binóculo para baixo. —


Sua amiga veio atrás do ucraniano.

— Piranha russa do caralho! — Enzo grunhiu. — Ela deve ter seguido

o grupo. Está atrás deles já tem uns dias.

— Ela vai foder com os planos. — Passei a mão no cabelo, frustrado.

— Peça para o negociador pegar o dinheiro e sair antes que os russos


cheguem até o andar. Avise que ele não está sozinho — Enzo ordenou a
Nicola, que rapidamente falou no telefone. Os russos estavam se armando

para atacar os ucranianos. Porra. — Não vão ficar com o dinheiro.

Nosso negociador era esperto, ele agarrou a maleta e correu segundos

antes que os russos saíssem do elevador. Tirei os fones de ouvido quando os


tiros começaram do outro lado. Nós arrumamos nossas coisas e saímos dali.
No final, os russos limparam os ucranianos sem que precisássemos gastar
uma bala.

— Mika! — Enzo chamou seu homem. — Pegue o dinheiro com o


negociador e faça o pagamento final dele. Nos encontramos no galpão.

Lucas ficou no banco do carona enquanto Enzo dirigia feito um louco

pela cidade, nos levando para o mais longe possível do caos. Nicola estava
atento, fazendo a segurança, enquanto eu analisava as informações que me

entregou do cofre. Entramos no galpão e havia alguns homens ali, espalhados


pelo local.

— Ucranianos mortos. — Enzo recebeu a confirmação em seu telefone.


— Kátia Rostov invadiu os outros lugares dele quase ao mesmo tempo e está

assumindo o que tem.

— Isso não é um problema imediato. — Espalhei as folhas na mesa.


Enzo me deu um olhar irritado. — Não é só dinheiro no cofre. Ele não

dificultaria tanto. Em uma fuga rápida, o próprio teria problemas em pegar o


necessário para sair. Ele tem outra coisa.

— Só me falta ser a porra do ouro e o lunático do seu pai estar certo.


— Nicola bufou.

— A conexão está em Michele, que é prima da mãe de Ava e sócia de

Oliver. — Lucas sentou em uma mesa e virou o computador. — Quando


vocês informaram que Cesar falou com Oliver antes de morrer, na verdade,

Ava nos disse que ele estava com alguém no telefone. Segundo os registros,
a ligação de Oliver não foi a que Ava ouviu, foi muito curta. Havia outro

número que acabei de encontrar nos registros de chamadas de Oliver naquele


dia. Esse mesmo número estava triangulado em Los Angeles no bairro que

Michele Rodriguez possui uma residência.

— Ela era sobrinha do Cesar também. Não tem nada incomum nisso.
— Enzo voltou a fumar. Ele se transformava em uma chaminé quando seu

humor alterava.

— Sim. O ponto é que depois de encerrar a chamada com ele… ela

ligou para meu tio. — Lucas mostrou o horário das ligações.

Porra. Ela entregou Ava de bandeja.

— Foi ela que contou ao meu pai que Ava estava saindo do país e ele

a pegou, escondendo com o velho sádico, assim ninguém a encontraria e ele


poderia tirá-la de lá quando achasse necessário. — Apoiei minhas mãos.

Melissa estava certa. O pai dela sabia o tempo todo porque ele e meu pai
seguiram trabalhando juntos. — Michele pode ter feito meu pai acreditar que

Ava é a garota do ouro para proteger a própria filha. Ela sabia que a notícia
do roubo havia se espalhado, que era uma mulher, que marcou o rosto da
filha para dominar as barras.
— Faz sentido, se já havia a informação de que o cofre só abriria com

a própria filha. — Nicola pegou as folhas e mostrou o desenho do cofre


alterado. — O Moore matou a única pessoa que poderia dizer quem era a

criança. Ela se aproveitou disso.

Me afastei deles, precisando pensar. Não precisávamos de mais

nenhum deles vivos. Ava não era a garota do ouro, o que Michele iria fazer
para seguir protegendo a própria filha não era um problema meu. Eu tinha

que proteger minha mulher e livrá-la de vez disso tudo. Era hora de matar
quem causou a confusão, limpar a bagunça e seguir procurando a porra do
cofre.

— Matem todos que trabalharam com Beauchamp — falei sobre meus


ombros. Eu não ia matar ninguém. Raramente precisava sujar minhas mãos

com sangue. Era mais fácil fazer com que outros executassem o serviço sujo.
— Você vai precisar preparar seus homens para invadir as antigas boates do

pai de Ava. Assim que o senador cair, Oliver vai recuar. Ele vai saber que
foi descoberto e vai querer negociar.

Enzo parou ao meu lado.

— Não o mate ainda. — Tragou e soltou a fumaça.

— Pelo acordo? Se ele traiu, você tem todo direito de fazer as honras.

— Não. Tenho outras coisas em mente. — Ele sorriu perversamente.


— Aceitarei a negociação dele… dependendo do que for.

— Dependendo do que for, eu mesmo desisto dos meus planos e meto


uma bala no meio da testa. — Jogou o cigarro no chão e pisou. — Em falar

nisso, vai querer fazer as honras ali? — Apontou para trás com o polegar.

— Quero que mande embora todos os excedentes. Vamos ficar por

último. — Enfiei minhas mãos no bolso e esperei. Enzo fez a gentileza de


acomodar meu pai nas melhores instalações que tinha disponível dentro de

um galpão velho bem afastado da cidade, dando a ele o mesmo tratamento


aterrorizante que deu para Ava. Pernas sempre amarradas, comida escassa e

livros.

Ninguém sentiu falta dele pelo tempo que ficou preso. Eu fiz com que
sua existência fosse inútil. Ninguém lembrava que ele existia. Levou anos

para chegar ali, minando seu poder e conhecimento, tomando seu dinheiro,
dominando seus sócios. Ele sempre pensou que eu queria a empresa que

meus avós fundaram e eu deixei que fosse assim, aceitando comandá-las,


vendendo parte por parte para mim mesmo, tirando tudo dele. Absolutamente

tudo.

Ele não me percebeu silenciosamente corroendo suas coisas como


ácido. Eu tinha sete anos quando decidi que iria matá-lo. Esperei a maior

parte da minha vida para sua morte. Acovardei e tive medo em vários
momentos, afinal, era uma criança que apanhava diariamente porque ele era
ruim. Não havia nenhum motivo além disso.

Ele foi mais forte que eu, até mesmo quando reagi e custou a vida dos
pais do Lucas, que eram os únicos que nos amavam e se importavam

conosco. Não fomos suas únicas vítimas. Além da minha mãe, teve as
amantes e pessoas aleatórias que escolhia para machucar. Várias vezes ele

disse que fazia parte de sua natureza causar dor.

Até determinada idade eu queria saber o motivo. Na minha mente,


tinha que ter uma explicação. Busquei informações de seu passado, soube

que meu avô abusou sexualmente de todos os filhos. Era doloroso, mas não
justificava. Meu tio não era um pai como ele. Eu nunca seria um pai como

ele. Não fazia sentido para mim buscar uma compreensão por ele ser quem
era.

Ele me espancou diversas vezes, uma delas, até quebrar meu braço,
para voltar e pedir desculpas. Ele fez novamente e novamente até que eu
parei de sentir dor. Parei de me importar. Eu tinha a obrigação de me vingar,
pelos meus tios, por minha mãe, por Lucas e por mim.

Era apenas o seu fim.


Capítulo 26 | Ava.

Levi não havia saído por uma hora e eu já estava me sentindo solitária.

Era muito estranho ficar sem ele. Não tive oportunidade de abrir o envelope,
Milo acordou, ficou tossindo e eu dei a atenção que precisava, ajudei Daisy

em sua ida ao banheiro da madrugada e fiquei deitada com os dois. Ela até

dormiu novamente, Milo ficou deitado em meu braço, brincando sozinho e de


vez em quando, me chamando.

— Papai foi trabalhar, Ava? — Daisy questionou de manhã cedo.

— Sim e ele volta logo.

— Tudo bem. Vamos brincar? — Ela subiu em cima de mim e deitou

do outro lado, que estava livre. Eu amava ficar aconchegada com os dois.

— Antes de brincar, precisamos fazer o que? — Cutuquei sua

barriguinha, ela riu alto, agitando o irmão. Ele resmungou. Um pequeno

ranzinza como o pai.

— Trocar de roupa, escovar os dentes e tomar café — pontuou com um

sorrisinho. Apertei sua bochecha, dando um beijo barulhento e já

acostumada, fui para o quarto dele, ela ficou na pia escovando os dentes
enquanto eu trocava Milo.
Nós três descemos para a cozinha. Rick estava dentro, a casa fechada

com funcionários reduzidos, era protocolo quando Levi não estava. Ele me

deu um aceno de bom dia e ficou quieto em seu canto, monitorando as

câmeras de toda propriedade pelo computador. Davina estava meio agitada,

no preparo da comida e a cadela esperando alguma coisa cair para se


deliciar.

Daisy esticou um pedaço de sua panqueca para ela.

— Não dê sua comida para Gwen. Seu tio vai brigar conosco se ela

passar mal. — Segurei sua mãozinha, que estava prestes a dar mais um

pedaço.

— Ela que pede. Olha! — Daisy apontou para a pata de Gwen em seu

joelho.

— Não sei o que faço com essas duas. — Davina colocou a mão na

cintura.

— Só um pedacinho, Dadá — Daisy se defendeu e nós rimos.

— Está tudo bem ficar no jardim com eles? — questionei a Rick.

— Tudo tranquilo na região, senhora — ele respondeu do canto.

Levei as crianças para brincar do lado de fora, pegando um pouco de

sol matinal e deixei que Daisy corresse ao redor, ficando suada, suja e

descabelada. Ela voltaria às aulas em poucos dias e precisava aproveitar o


tempo de férias. Milo estava cada dia mais atento a tudo, querendo pegar

coisas e se frustrando por não conseguir. Ele puxou meu cabelo com tanta

força que levei vários minutos para conseguir desembaraçar seus dedos dos

meus fios.

Allie precisou de um dia para resolver questões médicas pessoais que

já estavam agendadas antes da viagem de Levi. Garanti a ele que Davina e

eu conseguiríamos ficar com as crianças sem precisar de uma babá

substituta.

Horas depois, finalmente tive tempo para ler as instruções de Levi e

soltei uma risada. Estava atrasada em um monte de tarefa e incrivelmente,

ele sabia que não havia passado do item número dois quando me ligou na

hora do almoço. Sua voz estava sombriamente carregada, me deixando em

alerta, mas ele apenas queria me ouvir, falar sobre as crianças e que eu
continuasse falando aleatoriamente tudo que tinha vontade porque precisava

estar conectado comigo.

Não tive coragem de perguntar se ele havia feito ou não, apenas sentia
as ondas de ódio e escuridão através do telefone. Era violência crua. Ele me

disse que me arrastaria para seu incêndio.

Ouvi-lo daquela maneira me fazia sentir queimação. Meu coração


sangrava. No fundo, era como se ele implorasse para segurar sua cabeça
para fora do caos, assim ele podia respirar.

Levi informou que voltaria mais cedo que o previsto, parte porque

alguns dos seus compromissos haviam dado certo, parte porque ele deveria

precisar voltar a Nova Iorque. Ele preferia quebrar a viagem ao meio a se

ausentar por mais de uma semana. Encerrei a chamada me sentindo esgotada

e muito preocupada com ele. Quem retornaria para casa? O homem que me

apaixonei ou apenas o seu lado tenebroso?

Olhei para as crianças brincando em um tapete e meu coração apertou

ainda mais. Não queria que absolutamente nada mudasse.

Eu tinha a opção de ignorar todas as tarefas selecionadas por ele e

aguentar as consequências em seu retorno ou, tentar executar a maior parte.

Pedi a Davina para ficar com as crianças, troquei de roupa e fui para a

academia. Parei em frente à esteira, odiando perceber que, no passado, eu

tinha extrema afinidade com o aparelho e depois, minhas pernas tremiam só

de pensar em começar a correr. Levi acreditava que eu me sentiria mais

confortável treinando dentro de casa do que fora.

Voltar a correr parecia algo impossível.

Liguei a esteira e comecei uma caminhada, para me aquecer e aumentar

para um ritmo tranquilo. Estava sem preparo físico para simplesmente voltar

para o nível de maratonista que eu tinha três anos antes. Segurei as laterais,
quase trincando os dentes com minha mente me pregando peças. Lentamente,

fui voltando para todas as vezes que eu corri no jardim cheio de rosas para

fugir da casa de bonecas, dos meus pés se enroscando nas correntes, de cair

de rosto no chão e ser arrastada pelas pernas novamente para dentro da casa

e ser trancada no escuro.

Soltei um grito angustiado e caí na esteira, rolando para o chão e

vomitando a bile que me sufocava. Toquei meu pescoço, angustiada. Limpei

minha boca, secando as lágrimas e sentei, ofegante, olhando para a esteira

ainda ligada. Desliguei e puxei uma toalha no banheiro, limpando o chão.

Fiquei andando de um lado ao outro, lutando contra mim mesma e parei em

frente a ela novamente.

Não sabia ao certo quanto tempo fiquei concentrada no aparelho até

ser interrompida.

— Está com medo, Ava? — Daisy perguntou, sentada no tatame, com

Gwen ao seu lado.

— O que está fazendo aqui, amor?

— Eu fugi da Dadá. — Ela sorriu, inclinando a cabecinha para o lado.

— Quero ficar com você. — Sua voz soou tão fofa que eu me derreti

completamente. — Tá com medo?

— Um pouco. — Fui mais ou menos honesta.


— Papai diz que sou uma menina corajosa. — Ela segurou os pés na

posição de borboleta que se encontrava. — Você é minha melhor amiga, sei

que é corajosa também. Papai nunca tá errado.

— Meu doce anjinho. — Sorri, emocionada com seu discurso.

Daisy estava ali para me lembrar que não estava correndo para fugir.

Eu podia correr na direção que eu quisesse, porque estava livre. Munida


com uma nova coragem e a necessidade de ser um exemplo para uma

pequena garotinha, voltei para a esteira, caminhando e aumentando o ritmo.

Ela começou a dançar pelo tatame, cantando uma música animada de um

desenho infantil que assistiu mais cedo.

Comecei a rir e cantar com ela, nós fizemos um coro bem alto, que

ecoava por todo espaço. Ela ergueu os braços, fazendo suas dancinhas

alegres e pelo espelho à minha frente, nossos olhos se encontraram. Minha

fonte inesgotável de alegria. Eu não tive fôlego para continuar, mas fiquei

extremamente feliz com o que consegui. Pulei da esteira e corri na direção

dela, que riu e abriu os braços.

— Te amo muito, menininha!

— Eu também te amo! — Ela me abraçou e se afastou. — Eca, Ava.

Está suada!
— Vem! Vamos voltar! — Coloquei-a no chão e segurei sua mão. —

Eu vou te colocar na cama para a soneca que fugiu e eu vou tomar banho

sozinha.

— Não podemos ter uma festa no chuveiro?

— Vá dormir.

— Papai não tá.

— Quer dizer que quando o papai não está, a rotina pode ser
quebrada?

Ela tinha quantos anos para perceber que o pai dela era o rei da rotina

perfeita e regras? Senti vontade de rir, mas não podia deixar que acreditasse
que estava tudo bem desobedecer ao papai quando ele estivesse viajando.

Coloquei-a na cama e para quem não queria dormir, mal levou três minutos
de conversa baixinho para cair no sono.

Meu telefone estava cheio de mensagens dele, verificando se eu estava


cumprindo as tarefas. O dia estava terminando e risquei o item 3. Quantas

palmadas levaria?

Para não responder sua mensagem, parei em frente ao espelho do


banheiro completamente nua e tirei uma foto, cortei meu rosto e enviei.

Certamente ele levaria o spanking a outro nível depois da minha


ousadia.
Uma das minhas tarefas era me apreciar sozinha. Levi tinha o cuidado
e a preocupação que não conseguisse me enxergar como mulher sem ele me

estimulando sexualmente. Em parte, tinha razão, porque eu perdi toda


vontade de me ver no espelho quando fui resgatada, odiando completamente

minha imagem. Passou quando voltei a me sentir humana, cabelos feitos,


sobrancelha delineada e com a minha vaidade delicadamente alimentada.

Ganhar peso também ajudou a superar o estranhamento, mesmo que

tenha ganhado estrias na bunda e na lateral, celulite nas pernas, mas não era
exatamente um problema que me tirava o sono. Antes, eu era firme e

malhada, poderia ser novamente se me dedicasse. Fiquei um tempão me


encarando, voltando a gostar de pequenos detalhes e ainda odiando outros, o

que era normal. Gostaria de ter menos boca e um pouco mais de bochecha.

A próxima parte da tarefa era vestir algo confortável. Meus olhos

arregalaram ao ler o que ele queria que fizesse. O telefone tocou e atendi.

— O que você quer com essa foto, Ava? — ele soou rouco, sedutor.

— Te provocar.

— Conseguiu. Está na tarefa número quatro?

— Sim.

— Essa hora? Está atrasada.


Revirei os olhos. Ele e a porra da mania de tudo ter um horário e o
pior: estava me contaminando. Estava começando a querer tudo dentro de

uma hora estabelecida porque no final, fazia sentido. A casa inteira parecia
funcionar melhor.

— A soneca aconteceu um pouco mais tarde hoje.

— Resolveremos sobre a foto e a rotina quando eu voltar. Vá para a


cama fazer o que mandei e eu quero um relatório detalhado mais tarde. —

Levi parou antes de encerrar. — Você nunca vai esquecer o quanto


significa para mim, certo?

— Nunca irei esquecer — prometi, mesmo com a garganta apertada.


— Você vai voltar e me fazer lembrar todos os dias. Temos a vida inteira

para amar um ao outro.

— Temos sim — ele falou baixo e encerrou a chamada.

Droga. Meu tesão entrou dentro de um freezer e se trancou lá. Só

conseguia pensar em tudo que estava acontecendo em Nova Iorque. Em suas


mensagens, dizia que não havia mais preocupação com os ucranianos e que

estavam em busca do cofre. Não sabia o que havia sido decidido sobre o pai
de Melissa e esperava ter notícias sobre em breve.

Toda vez que me sentia desolada quando pequena, deitava na cama e

abraçava um travesseiro porque eu não tinha ninguém para abraçar. Sem


Levi por perto para me dar um colo inesperado no meio do dia, entrei de

fininho no quarto de Daisy, puxei sua colcha e com muito cuidado, deitei
atrás dela em sua cama de princesas.

Pelos dias seguintes, Levi estava no limite e falando cada vez menos.

Suas mensagens eram curtas e secas, eu tentei não levar para o lado pessoal,
porque sabia que em Nova Iorque estavam acontecendo coisas maiores que

tomavam toda sua concentração.

Foquei minha atenção em quem realmente precisava de mim. No

segundo dia, Allie retornou ao trabalho e ficar com as crianças se tornou


mais leve. Não me importava em cuidar delas, eu amava, mesmo assim, seria

estupidez da minha parte não assumir que davam um trabalho danado. Milo
queria ficar no colo ou perto de mim o tempo todo.

Sem Levi, era muito difícil não deixar que eles dormissem comigo. Eu

me sentia a pior pessoa do mundo ao negar os beicinhos de Daisy e sua crise


de choro em querer ficar na minha cama.

Sem tomar a pílula para dormir, mesmo contra a orientação do meu


médico, meu sono estava uma bagunça. Chá antes de dormir era nada. Parei

de tomar para não ficar muito sonolenta ou apagar, precisando estar em


alerta. E se acontecesse alguma coisa de madrugada e eu fosse levada sem
perceber por que estava chapada?
A pistola ficava carregada debaixo do travesseiro e na primeira

gaveta, um canivete. Ao pé da cama, um spray de pimenta e eu sempre


deixava o telefone por perto.

Foi em uma madrugada insone que ouvi passos no corredor. Levantei


de fininho, confirmando que de fato havia alguém se aproximando. Peguei a

arma, destravando e fui para a porta, olhando a sombra se aproximar. Abri a


porta bruscamente e Levi deu um passo para trás ao me ver armada. Ele me

encarou, sem falar nada e segurou meu pulso, abaixando.

— Você está de volta. — Soltei a respiração, aliviada.

— Estou de volta. — Ele apenas me abraçou, escondendo o rosto no

meu pescoço, me apertando e tateando. — Como é bom estar em casa…

— Você está bem? — Empurrei-o para olhar em seus olhos. A barba


para fazer e os olhos fundos eram apenas os reflexos físicos de sua exaustão.

Seu olhar era tão devastador que eu paralisei sem saber o que dizer.

— Estou muito bem. Preciso de um banho, ver meus filhos e cama.

— Seja bem-vindo de volta. — Acariciei seu queixo.

— Obrigado, baby. — Ele me deu um beijo suave e pegou a pistola da


minha mão. — Eu vou colocar isso no lugar. — Com mais um beijo na testa,

foi para o quarto.


Lucas apareceu no corredor chamando por Gwen. A cadela saiu do
quarto de Daisy diretamente para seu dono. Ele estava com a aparência tão

ruim quanto a de Levi. Me deu um aceno e foi embora, conversando baixinho


com a cachorra.

Levi estava no chuveiro, olhando para a parede. Encostei na pia, aflita.

— Te ver assim está me consumindo. O que posso fazer para ajudar?

— Nada. Não estou em um estado de espírito para encostar em você,


Ava.

— Você quer jogar?

— Deus, não. — Ele riu sombriamente e virou, me encarando. — Se

eu entrar nesse modo, eu vou te machucar, porque eu quero machucar alguém.


Prefiro cortar minhas mãos do que tocar em você com a fúria que estou
sentindo.

Foi inevitável não engolir em seco e ficar arrepiada. Ele pegou a


toalha e se secou, indo para o closet. Olhando para o modo que estava

agindo, dei as costas e fui para o quarto de Milo. Para minha sorte, ele
estava acordando, o relógio dele nunca mudava. Tão filho do pai…

— Oi, amor. — Me debrucei sobre o berço e ele sorriu. — Sabe quem

chegou em casa? O papai! Não sou louca de acordar sua irmã, mas você vai
dar um oi para ele.
Peguei-o, quentinho e com cheirinho de talco e cama. Ele agarrou
minha blusa, com sono, e deitou a cabeça no meu ombro. Voltei para o quarto

que dividia com Levi, encontrando-o sentado na ponta da cama de cabeça


baixa. Milo reconheceu o pai, levantando o rostinho e soltou um gritinho

feliz.

Levi ergueu o rosto e olhou para o filho, que sorria.

— Papai chegou em casa! — cantarolei, fazendo com que Milo ficasse

ainda mais alegre.

Eu vi o olhar de Levi mudar e ganhar um brilho de lágrimas. Ele

balançou a cabeça e passou o braço por minha cintura, me puxando para seu
colo. Milo agarrou o nariz do pai, se sacudindo. Sua alegria era linda. Levi o

beijou, abraçando, dando um cheiro e nos apertou. Naquele momento, não


era um jogo, uma briga, uma bebida ou sexo que ele precisava.

Era amor para sentir quem era de verdade. Um homem que tinha meu
coração e dos filhos.

— Sei que tem que fazer o que deve para manter os negócios, mas
saiba que aqui dentro, você sempre terá espaço para felicidade em sua

história — falei baixinho em seu ouvido.

Levi segurou meu queixo e me beijou. Milo gritou, batendo em seu


rosto e nós sorrimos.
Capítulo 27 | Ava.

Depois que Milo dormiu, Levi e eu fomos para a cama e ficamos

deitados frente a frente. Ele me olhou e, por um tempo fiquei quieta, depois,
comecei a rir de seus olhos indo de um lado ao outro, como se estivesse

memorizando cada detalhe do meu rosto. Meu riso fez com que seu olhar

ficasse divertido, aproveitei e me aproximei, colocando minha perna em


cima da coxa dele. Segurando minha cintura, seguiu me encarando e tomei a
iniciativa de beijá-lo.

Devagar, saboreei seus lábios, provocando-o com minha língua. Ele

exalou, apertando os dedos na curva do meu quadril. Sem um pingo de

vergonha, rebolei contra sua coxa, que estava entre minhas pernas. Lambi
sua boca, ele gemeu, fechando os olhos e enfiou a mão dentro da calça do

meu pijama, apertando minha nádega de forma rude.

Confiante, me aproximei mais, segurando sua nuca e aprofundei o


beijo. Amasso gostoso como aquele normalmente acontecia no sofá de seu

escritório, uma fugidinha das crianças e do trabalho, acabava rolando uma

rapidinha gostosa bem aleatória no meio do dia. Rolei para cima dele,
montando na sua cintura.
Levi me deu um olhar apreciativo, erguendo minha blusa para olhar

meus peitos. Segurei cada um deles, beliscando meus mamilos e rebolei

contra a ereção que sentia.

— Me dê eles — pediu rouco e aproximei meu seio de seus lábios.

Soltei um gemido com a língua no meu mamilo. Ele chupou com desejo

e saudade, pelo menos, eu não era a única ardendo. Levi saboreou o outro
seio, cheio de tesão e levou as mãos para minha bunda. Ele estava me

deixando comandar, o que era bem raro. Eu só queria uma coisa. Tirei minha

camiseta e mudei de posição rapidamente para me livrar da calça, ele só

observou minha nudez com um morder de lábio sexy.

— Quero sua boca bem aqui… — Apontei para baixo. Levi sorriu.

— Senta no meu rosto. — Acariciou minhas coxas. — Estou louco


para sentir seu gosto.

Não havia um osso tímido no meu corpo quando se tratava de sexo

com Levi. Eu perdi toda minha vergonha. Virei e empinei minha bunda para

seu deleite. Sentir as mãos do meu homem era a primeira maravilha do

universo, ele provocou minha entrada, acariciando meu bumbum antes de me

puxar e me dar o beijo que me fez arquejar.

Mordi sua barriga, empurrando a calça do meu caminho, liberando seu

pau. Aquela posição era simplesmente deliciosa e um pouco injusta, ele


tinha mais controle e concentração do que eu. Ainda muito ciente do que

queria, na verdade, precisava, escapei de sua boca e engatinhei sobre ele,

ignorando seu protesto. Talvez, mesmo dando uma ordem, era possível que

não parasse até atingir meu objetivo.

Segurando seu pau, foi a primeira vez que encaixei sozinha e com

autonomia conquistada pela confiança que tinha em nós na cama, desci e

rebolei.

— Ava, porra! — Ele se perdeu, gemendo. De costas, passei meu

cabelo para o lado, olhando por cima do ombro. Sua expressão crua de

prazer me fez provocá-lo ainda mais com movimentos precisos do quadril.

Fechei meus olhos, jogando a cabeça para trás, buscando meu prazer. Levi

intensificou tudo, segurando minha cintura, metendo de encontro a cada

rebolada, me levando cada vez mais perto do orgasmo que tanto


necessitava.

Arranhei sua coxa, gozando. Ele não perdeu tempo em mudar nossas

posições.

Com a boca no meu ouvido, ele murmurou.

— Minha vez.

Oh, porra!
Estocando com ambas as mãos agarrando minhas nádegas, ele

revezava com os tapas precisos que me deixavam maluca. Minha bunda não

ficaria tão vermelha quanto ficava depois de uma sessão de palmadas, mas
seria o suficiente para ficar bem pertinho, do jeito que ele gostava.

Pressionando meu outro buraco, revezando em estimular meu clitóris, voltei

a apertar contra seu pau. Nós gozamos juntos, matando a saudade de todos os

dias que ficamos longe um do outro.

Caímos na cama, olhando para o teto, ofegantes e me arrastei para

cima dele.

— Viajar me fez pensar que sou o tipo de homem egoísta que quer a

mulher do lado a cada maldito segundo. — Ele me abraçou, beijando minha

testa suada.

— Quando tudo passar, não vou me importar de te acompanhar no que

for possível, mas… — Apoiei meu queixo em seu peito.

— Eu sei. A prioridade sempre será eles.

— É estranho para você? Quer dizer, eu os conheci agora e não são

meus filhos…

— Não posso dizer que é estranho o amor que dá aos meus filhos. É

uma benção. — Ele passou o polegar no meu lábio. — Sei que nunca pediria

para escolher entre eles e você, assim como eu jamais teria o direito de fazer
o mesmo. Mesmo que eu possa simplesmente mandar você e essa sua bunda

bonita me seguir para onde quiser.

— Você pode mandar em mim? — Fiz um pequeno beicinho.

— Não pense nem por um segundo que esqueci da foto que me enviou

e muito menos que não executou suas tarefas. Nem metade delas. — Agarrou

minha coxa e com um movimento rápido me puxou para cima. Soltei um grito

e cobri minha boca.

— Serei castigada? — Continuei fazendo charme. — Pensei que

depois dessa reconexão…

— Claro que será castigada.

— Ainda bem que dessa vez não foi com frustração sexual. — Me

movi sugestivamente.

— Brincaremos com fogo a partir de agora? Mais um filho não será um

problema para mim. Em qualquer outro relacionamento, eu jamais deixaria

de usar, não só por mim, que nunca fiquei só com uma mulher. E você

também, mas no nosso, a exclusividade é mais que um requisito. É regra. —

Segurou minha nuca e me beijou.

— Não estou buscando filhos — falei contra seus lábios. — Tomei a

injeção e segui todos os passos, meu ciclo veio normalmente, então… se a

preocupação é essa, só gozar na boca. — Dei-lhe um sorriso.


— Você está implorando por um castigo, não é?

— Estou quase implorando pelo seu pau novamente.

— Ava… baby. — Nos rolou na cama, ficando por cima, levando

minhas mãos para cima da minha cabeça, metendo com uma estocada dura.

Eu pedi tanto que ganhei com tudo. Levi não poupou, a cama era fixa na

parede ou ela estaria batendo. Os travesseiros voaram da cama assim como


a colcha e o lençol.

Perto de gozar, ele parou e saiu de dentro de mim com um sorriso. Não

precisava dizer o que queria. Tocando a si mesmo, gozou entre meus seios e

na minha boca de propósito.

— Que bagunça, Levi!

— Você pediu por isso! — Ele sorriu sem nenhuma vergonha. — Vem,

eu vou te limpar.

Com um pouco mais de safadeza no chuveiro, trocamos os lençóis e

voltamos para a cama. Estava perto de amanhecer e era inútil tentar dormir,

com Daisy podendo acordar a qualquer momento. Levi não queria ficar

longe, me mantendo em seus braços, aproveitei para fazer uma pergunta que

estava me corroendo por dentro de tanta curiosidade.

— Vivianne era uma submissa completa?

— Sim, ela era — ele respondeu sem hesitação.


— Era isso que esperava dela como esposa? Te acompanhar em todo

lugar?

— Para falar a verdade, eu não pensei muito no futuro com tanta

preocupação com ela e Milo. Eu não sabia o que esperar do casamento

porque foi pensado nas crianças. Vivianne me irritou muito porque ela só

queria garantir que Milo nascesse, não lutou por si, era jovem e eu odiei o

fato de que ela morreu com vinte e seis anos. — Ele balançou a cabeça,

frustrado. Eu sabia que não era porque ele a amava, mas porque queria que
seus filhos tivessem a mãe.

— Acho que isso afeta algumas mães, elas pensam no bem-estar do

filho ao ponto de se dar como sacrifício.

— Ela nunca quis fazer um aborto, mesmo sabendo que não podia ter

filhos. A gravidez de Daisy já havia sido difícil.

— Levi, ela amava o bebê. Você queria que ela tivesse abortado?

— Amando Milo como eu amo, não. Claro que não, mas antes… não

era assim. Me sinto culpado em chegar a falar sobre isso, para Vivianne
nunca foi uma opção. Ela estava disposta a enfrentar o que fosse para ter o

bebê. — Ele me abraçou ainda mais apertado. — Amo meu filho e o assumi
desde o primeiro segundo que ela me contou. Estávamos sendo exclusivos
em jogos fora do clube, porque queria alguém fixo e ela estava sem um
dominante.

— Sinto tanto por ela.

— Foi difícil. Você não sente ciúme?

— Se você a amasse, talvez nem estivesse aqui, porque nunca faria

sentido na minha cabeça seguir em frente tão rápido. Quer dizer, estando no
lugar da esposa amada, eu voltaria para infernizar sua vida. Que desse um
ano de distância… — confessei e ele riu alto. — Entendi as razões do seu

casamento e admiro muito porque tem homem que foge da responsabilidade


de ser pai e você abraçou uma criança que não era sua. E ela… só queria

que os filhos ficassem seguros e amados. É isso que toda mãe quer.

— Eu vou te matar se passarmos por isso, Ava. Juro por Deus, eu não

vou suportar. — ele falou sério. — Eu vou te escolher.

— Não vai. Está falando isso porque ainda ressente o que aconteceu
com Vivianne, mas, me amando como sei que ama, sabendo tudo que passei,

você vai escolher o nosso futuro filho e vai cuidar dele.

— Qual a porra do problema de vocês?

— É amor de mãe, Levi. Você daria a sua vida pelas crianças…

Estalando a língua, insatisfeito com o rumo da conversa, ele nunca


entenderia o que Vivianne sentiu. O desespero dela em não saber se seus
filhos teriam um pai que cuidaria deles pelo resto da vida. Eu não era mãe,
mas era mulher e fruto de um sacrifício parecido. Eu também sabia que se

algo acontecesse comigo, ele faria a mesma escolha.

— Vivianne não queria que eles tivessem uma madrasta e sim, uma

mãe. — Levi entrelaçou nossos dedos. — Não estou jogando essa


responsabilidade em cima de você, mas você… está pegando para si. Nunca

falamos sobre isso e acho que deveríamos.

— Quer que eu me afaste das crianças?

— Não. Você tem certeza que é essa vida que quer?

— Ser sua e ser deles, já se tornou minha vida — falei e ouvi sons de
pés pequenos correndo no corredor. — Lá vem um pequeno furacão de
cabelos em pé e pijama rosa — avisei e o cobri rapidamente. A porta foi

aberta. Daisy estava segurando a maçaneta na pontinha dos pés e olhou para
o quarto sonolenta, porém, já com a expressão sapeca.

— Ava, acordei!

— Bom dia! Por que não vem até aqui?

— Quem tá aí? — Se aproximou curiosa. Levi se descobriu, ela

arregalou os olhos e gritou. Nós nos encolhemos, rindo e com um salto, subiu
na cama em cima dele. — Papaizinho, você voltou!
— Oi, princesa! — Ele a abraçou apertado. — Senti sua falta! Você

ficou bem?

— Me comportei e fui corajosa.

Fofa. Ela pentelhou até me deixar maluca! Apertei as bochechas dela e

ganhei um sorriso, soltou seu papai amado para me dar o beijo e o abraço de
bom dia mais incrível do mundo inteiro. A farra na cama ficou ainda pior

quando Milo acordou cheio de energia. Nós só saímos porque a fome


apareceu e o senhor das regras estava em casa novamente.

— Se não é minha família que pensei que me deixaria comendo

sozinho. — Lucas abriu os braços para Daisy subir nele. Ela era a única que
ele permitia toques. — Oi, gatinha do titio! Você cuidou bem da Gwen?

— Dei panquecas! — Daisy gritou.

— Bom dia, Lucas. — Puxei uma cadeira. — Eu tentei impedir.

A energia ruim que eles chegaram em casa parecia ter se dissipado.

Lucas ficou implicando com Daisy, fazendo-a gritar e reagindo sem querer,
ela jogou um pedaço de seu pão com geleia bem no rosto dele. Ficamos

surpresos, normalmente ela não era violenta, provavelmente ele encontrou


algum ponto de ruptura. Levi conversou baixinho com ela, ele nunca gritava

ou era grosseiro com nenhum dos dois. Tudo era resolvido no diálogo.
Meu pai apenas gritava quando percebia minha presença. Se ele

estivesse drogado, sempre arremessava coisas na parede e ficava delirando.


Um pai compreensivo e amoroso era como um sonho. Milo começou a fazer

um barulhinho com a boca, chamando atenção e ganhei um sorriso, sequei


sua baba, colocando-o sentado na mesa, na minha frente.

Percebi a troca de olhar entre Lucas e Levi. Eles faziam muito aquilo,
conversar silenciosamente, lembrar um ao outro coisas, faziam sinais e se

entendiam. Houve algo intenso, como se ambos pedissem desculpas. Talvez


brigaram, o que não era nada difícil. Eles se respeitavam muito e se
conheciam, porém, de vez em quando rolava estresse. Cada um ia para um

lado sem falar com o outro por dias. Davina quase pegava os dois pela
orelha para juntar novamente e até me vi obrigando-os a fazer as pazes.

Não importava o que fosse acontecer na vida, eles sempre ficariam


juntos e me acolheram no meio, protegendo-me como se eu pertencesse

àquela família a vida toda.


Capítulo 28 | Levi.

Ava estava se alongando na minha frente, inclinando de um lado ao

outro, empinando a bunda e eu não disfarcei o olhar. Lucas jogou um saco de


areia nas minhas costas, rindo e dei-lhe o dedo médio. Ajeitando a postura,

tirei a pomada do meu bolso e peguei seus pulsos, passando para aliviar as

marcas das cordas. Ela estava puta, porém, sem discutir comigo. Eu avisei
que iria castigá-la e não era uma brincadeira.

Ela me provocava a maior parte do tempo, tinha muita dificuldade de


executar qualquer tarefa até o fim. Ava só tinha atenção e era cuidadosa

quando se tratava de outras pessoas. Era excelente com as crianças, comigo,

com os funcionários. Nunca precisei ensiná-la duas vezes sobre qualquer


coisa referente à rotina do Milo. Preparava a mamadeira de olhos fechados,

trocava a fralda dele melhor do que eu e já tinha pleno controle, pulso firme

e carinho com Daisy.

Pedir que ela fizesse qualquer coisa além disso era um sacrilégio. Ava

não conseguia parar para cuidar de si mesma, fazer qualquer coisa sozinha e

enquanto não ser independente não era um problema para mim, porque eu
podia cuidar dela em todos os aspectos de sua vida, para o nosso

relacionamento dar certo, ela precisava se descobrir.


Quando acuada, levantava sua opinião e defendia seu ponto de vista

com fervor. Fora disso, se deixava levar pelo vento. E aí, do nada, ficava

chateada comigo se tomasse qualquer atitude sem consultá-la. Essa confusão

só nos fazia brigar porque eu não tinha uma bola de cristal no meu bolso

para saber o que ela queria opinar e o que não.

Mesmo que nosso relacionamento não fosse claramente com submissão

completa dela, Ava era submissa em muitas coisas. Era dela. Também era

novo para nós dois estar em um relacionamento com convivência diária.


Dormir e acordar junto. Não era fácil. Às vezes, eu sabia que ela queria me

matar só pelo olhar irado que me dava, outras, chorava sem saber porque

estava chorando. Ela me irritava profundamente, além de qualquer coisa e

pessoa, ao mesmo tempo, eu sabia que conseguia atingir esse nível porque
tínhamos um elo.

Para dar certo, era preciso tentar. Ava não tinha culpa que perdeu três

anos importantes de sua vida para se desenvolver em um monte de áreas.

Amadureceu de uma maneira dolorosa.

Terminei de esfregar a pomada e percebi seu olhar em mim. Como


qualquer pessoa, ela odiou ser castigada, mas ao contrário de qualquer um,

não reclamou. Não soltou um pio. Nenhum resmungo. Ficou quieta, com o

olhar treinado para baixo, a postura ereta e as mãos unidas, ouvindo muito

atentamente tudo que tinha a dizer.


Perfeita. Tive vontade de beijá-la e parabenizar pelo comportamento.

Mostrar o quanto fiquei satisfeito por ser uma boa menina. Eu adorava

quando era atrevida e me provocava, trazia algo novo para nosso

relacionamento. Ela saber o momento certo de fazer isso sempre me

surpreendia.

Beijei ambas as marcas com carinho. As cordas ficaram apertadas e

me preocupei que ela surtasse com isso.

— Estou bem.

— Bem o suficiente para usar correntes?

— Prefiro o chicote primeiro. — Desconversou.

— Tudo bem. Vamos usar o chicote primeiro.

Nada de amarrar seus pés ainda. Não havia necessariamente nenhum

motivo além de jogar para amarrá-la, mas eu queria que ela superasse o

medo, que se sentisse livre.

— Tudo pronto! — Lucas chamou do outro lado da academia.

Ava olhou para o esquema de treinamento que criei e prendeu o cabelo

novamente, se preparando. Ela me pediu para criar treinamentos diferentes

que ajudassem a voltar com a corrida, com seu condicionamento. Sugeri que

fôssemos além, explorando suas habilidades, reflexos, preparando-a física e


mentalmente para qualquer situação, principalmente aquelas que ainda

estava presa.

— Não precisava de tantos obstáculos. — Ela mudou o peso de um

lado para o outro. — Pensei que seria um treino com aparelhos. Reclamei

que minha bunda estava mole, não que queria entrar para o exército.

Não falei nada, dei apenas um olhar. Mesmo com beicinho, deu um

passo à frente e prestou atenção em Lucas. A primeira vez dela no circuito


foi um desastre. Ela caiu, derrubou os cones, tirou as cordas do lugar e de

alguma maneira conseguiu rasgar alguns sacos de areia que delimitavam o

caminho. Fiquei parado com as mãos na cintura, olhando o caos.

— Você deu uma arma carregada na mão dela? — Lucas riu atrás de

mim.

— Cale a boca.

— Fui horrível. — Ava voltou quase chorando.

Sinalizei para Lucas sair. Ela não iria chorar na frente dele e ficaria

com vergonha de falhar novamente. Parei atrás dela, prendendo seu cabelo

novamente um pouco mais apertado, tirando os fios de seu pescoço e testa.

Deixei que desse alguns poucos goles de água, só para matar a sede, mas não

para encher seu estômago porque eu não ia deixá-la desistir.


— Sei que está nervosa e agitada, mas quero que preste atenção em

mim. Vamos treinar todos os dias com a mesma calma e concentração que

fizemos na piscina. — Segurei seus ombros. — Você vai conseguir.

— Isso é parte da minha punição?

— Não. Você já entendeu que errou. Nunca irei estender qualquer

coisa entre nós, Ava.

— Pensei que ainda ficaria chateado. Realmente não me esforcei em

fazer as tarefas, eu não percebi que era sobre mim, sobre melhorar e me

libertar do que me mantém acordada à noite. Fiquei tão focada no medo que

ignorei a porta aberta. — Ela deixou algumas lágrimas caírem. — Odeio o


quanto me tornei fraca.

— Nunca mais diga isso. Você se manteve sã… por três anos, você

venceu seu pior inimigo. Sua mente não sucumbiu no momento mais crítico,

por que sucumbiria agora? Nenhuma habilidade é conquistada sem treino. Na

escola, quando começou a correr, não foi progressivo? — questionei ainda

atrás dela, não permitindo que se curvasse para frente, querendo se encolher

e chorar no chão.

— Você tem razão.

— Vamos começar de novo. Posso deixar Lucas entrar?


— Sim, claro. Estou bem, quero tentar de novo até me sair melhor —

retrucou e beijei sua bochecha. — Terei alguma recompensa mais tarde?

— Atrevida, atrevida… — Balancei a cabeça e fui até a porta,

chamando Lucas novamente.

A segunda vez foi melhor que a primeira. Ainda teve cones derrubados

e ela se perdeu no caminho, porém, a terceira, mesmo cansada, estava mais


atenta e cuidadosa. Ava queria fazer rápido ao invés de fazer direito,

acostumada a correr e não na qualidade de seus movimentos. Parei-a

diversas vezes, mostrando como pular. Eu era maior e mais pesado, se

conseguia, ela poderia ir mais além.

No final do treino, se jogou no chão de braços abertos.

— Boa sorte agora. — Lucas riu e agachou do lado. — Quer ser


carregada?

— Eu não existo — ela gemeu, pedindo para ficar deitada mais um

pouco.

— Você não disse que sua bunda estava mole? — Cutuquei seu pé com

o meu. — Vem, vamos tomar banho.

— Chegou a hora da minha recompensa? — Ava ergueu o rosto.

— Ah, eu vou embora. — Lucas saiu rapidamente.


— Você está com disposição para uma trepada sacana agora? —

Arqueei minha sobrancelha para deixar claro que se ela fosse provocar, ia

ter que brincar.

— Só se aproveitar meu corpo quente.

— Está vermelha de um jeito que eu sou louco para te deixar na cama.

Te fodendo tão forte que vai ficar exatamente assim…

— Por que ainda não fizemos?

— Vamos chegar lá, baby. Com calma e paciência. Agora, levante-se.

Quero tomar banho e você vai comigo — ordenei. Gostei da maneira que ela
engatinhou até encontrar um lugar para levantar. É claro que olhei para sua

bunda todo caminho até nosso quarto.

Fechei a porta com a chave, sem tirar os olhos da minha mulher


ficando nua. Ela se inclinou, sem dar muita atenção à maneira que eu quase

babava atrás dela. Acionou o chuveiro, soltando o cabelo e rapidamente tirei


minha roupa, ocupando o mesmo espaço e sem perder a oportunidade de ter

minhas mãos em seu corpo delicioso.

Ava não tinha vergonha de sua nudez, era bem desinibida, mas no

banho, com intimidade, ela já havia confessado o quanto odiava sentir-se


suja. Tinha tudo a ver com o período que ficou no cativeiro e não pôde
cuidar de si mesma. Odiando sentir o cheiro de suor, mesmo que não tivesse
odor, começou a se lavar. Eu tive cenas de dominação com um monte de
mulheres e fodas aleatórias com as que conhecia especificamente para sexo,

mas eu nunca tive intimidade com ninguém antes de Ava. Banho se tornou
nosso momento, seja para conversar, transar ou só provocar um ao outro.

Peguei o sabonete, fazendo bastante espuma e esfregando em sua pele.

— Se isso não é uma recompensa, eu não sei mais o que pode ser. —
Suspirou, relaxando contra mim. Belisquei seus mamilos só para ouvir o

gemidinho gostoso que sempre soltava. — Foi pesado hoje.

— Amanhã será melhor.

— Duvido muito que conseguirei me mover — resmungou e beijei seu

pescoço, mordendo o lóbulo de sua orelha. — Para de me fazer querer


você.

— Você me quer agora ou está querendo me deixar de pau duro para


me provocar?

— Nunca quero te provocar, senhor — falou baixo e empinou a bunda,

aninhando meu pau entre suas bochechas. Era uma deliciosa visão. Caí de
joelhos, colocando a mão no meio de suas costas, inclinando-a para frente e

beijei sua bunda. — Levi…

Explorei minha língua em suas dobras, dando atenção especial para

seu clitóris, alimentado por seus gemidos. Eu amava sentir seu gosto, vê-la
explodindo de prazer e batendo a palma contra a parede, rebolando contra
meu rosto. Preparada para me receber, pedi que segurasse nas barras de

ferro que foram instaladas para apoio no box.

— Está pronta para ser fodida? — questionei baixo em seu ouvido.

Ela ficou toda arrepiada.

— Estou pronta.

Nós dois gememos gostoso quando meti devagar. Era tão bom estar

dentro dela, sentindo seu calor que me engolia, que estava se tornando a
porra de um vício. O chuveiro exalava os sons da minha pélvis batendo

contra sua bunda, nossos gemidos altos, a água caindo atrás de nós e agarrei
seu cabelo molhado, puxando para arquear ainda mais suas costas e ter sua

bunda empinada me recebendo mais fundo.

Ava gozou, me apertando e naquela posição, foi impossível segurar. Só


porque gostava, marquei suas costas.

— Você é um adolescente?

— Quando se trata de você? Sim!

Do que adiantava negar?

Terminamos nosso banho e nos vestimos juntos, conversando. Sequei


seu cabelo e ela deu um corte no meu. Meu telefone vibrou repetidamente na
pia, peguei para ler a tela e o número bloqueado só podia ser de quem eu

aguardava respostas ansiosamente há dias. Atendi a chamada.

— Alguma notícia?

— Encontrei. Leela abriu a porra da boca.

— Não quero saber o que fez para conseguir isso. — Sequei meu
cabelo. Ava estava passando seus cremes e prestando atenção na minha
conversa.

— Custou menos do que imaginei e não foi tão ruim. — Ele soou
arrogante como sempre.

— Porco. Já abriu? — Minha curiosidade sobre o que estava dentro


do cofre era além de tudo. Ele já deveria estar vomitando o que tinha dentro

logo.

— Não dá para abrir essa porra sem ela — Enzo falou baixo,
irritado. — Estou olhando para ele nesse minuto. Nicola trouxe uma

pessoa para olhar e sim, foi modificado ao ponto que não dá para abrir
sem Ava.

— O quê?

— Não dá para abrir e transportar esta merda sem ela. Tem uma
merda de uma explicação que não estou a fim de repetir, caralho.

— Te ligo de volta em breve — avisei e encerrei a chamada.


Ava colocou o vidro do perfume para baixo e me encarou pelo

espelho.

— O que não dá para abrir sem mim?

— Deu para ouvir tudo?

— Não. Partes e porque reconheço a voz dele de olhos fechados.

— O cofre foi encontrado, ainda não tenho todos os detalhes, mas

parece que não dá para abri-lo sem você. Leela finalmente contou aonde seu
irmão ia. — Deixei meu telefone no balcão e a puxei para meus braços. —
Sei que você não quer voltar à Nova Iorque.

— Precisamos ir. — Ela brincou com a gola da minha camisa. —


Podemos passar e dar um soco na cara dessa vaca?

— Não podemos porque não quero que ela te veja. Pessoas como ela,
cedo ou tarde, irão pagar por tudo que fazem porque são estúpidas. —

Segurei seu rosto e obriguei que olhasse em meus olhos. — Tudo bem se eu
organizar tudo para irmos?

— E as crianças?

— Vão ficar bem. — Beijei sua testa. Ava não me soltou. — Ei, nós
iremos até Nova Iorque e vamos voltar para casa. Nada vai acontecer com

você, Ava. Não irei permitir.

— Tudo bem… tudo bem. — Seus olhos se encheram de lágrimas.


— Quer vir comigo para o escritório?

Assentindo, segurou minha mão e me seguiu. Eu não sabia o que nos


esperava na cidade, mas era necessário. Ava ficaria segura. Daria meu

sangue para que ela retornasse para casa sem um fio de cabelo fora do lugar
e em paz novamente para seguirmos nossas vidas.
Capítulo 29 | Levi.

Nova Iorque.

O prédio comercial que paramos em frente não era dos melhores e não

parecia ser bem frequentado. O típico lugar que alguém com a fama do pai
de Ava teria e ninguém desconfiaria, porque não fazia o mínimo sentido. Ele

morava do outro lado da cidade, tinha negócios na outra ponta e não


aparecia muito por ali. Cada filho aparecia por vez, segundo o relato do

zelador.

Ava nunca tinha pisado ali. Ela analisou ao redor pela janela,

desconfortável por estar em Nova Iorque e nervosa por ter que abrir o cofre.

Lucas saiu do carro, abriu a porta para ela e saí em seguida. Rick estava
perto do elevador, entrou primeiro para fazer uma verificação e entramos

todos juntos. Ela estava abraçada consigo mesma, mastigando o lábio. No

andar, a porta da sala estava fechada, mesmo que o corredor estivesse com
os homens de Enzo vigiando a rua.

A parede estava quebrada, pedaços de papel de parede no chão e os

móveis empurrados para o canto. Ava olhou ao redor, cumprimentou Nicola


apenas para evidenciar que estava ignorando Rafaelli. Ela sabia o que o

levou a fazer o que fez naquela noite. Ela não se ressentia pela morte de sua

família, apenas sobre tudo que aconteceu com ela.

— Olá, Ava — Enzo provocou. Dei a ele um olhar e ele apenas piscou

para mim, se divertindo.

— Vá se foder — Ava rebateu baixo, olhando para o cofre. — O que


preciso fazer? — Me olhou e eu a conhecia o suficiente para saber que

estava lutando com tudo que tinha para não demonstrar o quanto estava

assustada.

— Colocar seu dedo indicador no leitor. — Toquei a base de suas

costas e a empurrei para frente, parando próximo ao cofre, que era grande o

suficiente para que ela entrasse.

— E se não abrir?

— Então, seu pai tem outra filha — Enzo resmungou atrás de nós. Ela

ergueu o dedo médio para ele sem virar.

— Ela sabe atirar — Lucas brincou, cruzando os braços.

— Vou calar a minha boca. — Enzo fez sinal de zíper nos lábios.

— É um favor à humanidade — Ava ironizou, fazendo com que todos

rissem, mas ela não estava brincando e não tinha medo de enfrentá-lo.
Respirando fundo, colocou o indicador e ouvimos um apito soar, assim como

a porta destravar. — Simples assim?

— Qualquer outra digital ou tentativa de abrir o cofre, o vidro de

proteção e as outras travas iriam se romper e não seria possível abri-lo.

Nunca. Nem mesmo com marretas ou maçaricos — expliquei e ela me

encarou. — Seu pai encomendou exclusivamente em Israel e pediu algumas

alterações.

— Ainda não entendo porque me vincular a isso.

— Quem pensaria em você? Qualquer filho dele seria um alvo fácil.

Você não era…

— Eu não fazia parte da vida deles — ela concluiu por mim e segurou

a maçaneta, abrindo a porta e sim, havia muito dinheiro ali dentro, assim

como outras coisas. Ava entrou devagar, uma pequena luz acendeu acima de

sua cabeça. — Pequenas barras de ouro. Deve ser por isso que pensaram

que eu era a garota do ouro. Tem muito dinheiro aqui dentro, não sei nem

contar isso.

— O filha da puta roubou todo mundo.

— E o que mais? — Nicola questionou.

— Tem duas caixas e essas pastas aqui. — Ava foi passando os itens
para mim. Ela segurou uma pequena barra de ouro, não havia marcas nele,
nada que indicasse a origem. — Ele estava transformando o dinheiro que

roubou em ouro.

Ela virou e olhou para um ponto atrás de mim, depois em meus olhos e

mostrou um conjunto de pendrives na mão, enfiando no bolso de seu casaco.

Dei um curto aceno, mostrando que entendi e ela esticou a mão, pedindo

ajuda para sair. Ordenei que o cofre fosse esvaziado. Lucas e Rick pegaram

as malas com Nicola, pegando o ouro e o dinheiro. Não podíamos levar mais

tempo ali.

— Senhor. Há atividade suspeita. — Mika entrou na sala.

— Vamos sair.

Ava ficou entre Lucas e eu, puxei seu capuz para a cabeça e seu cabelo

ficou preso dentro do casaco. Mal dava para ver seu queixo. Entramos no

carro e saímos dali bem rápido. O dinheiro e o ouro estavam conosco, assim
como as caixas e pastas. Ela abriu a tampa de uma, encontrando fotos de sua

mãe grávida com os irmãos dela ao redor. Outras fotos de sua família sem

que ela tivesse nascido.

— Ela era muito bonita. — Passou o dedo na imagem. — Todos

diziam que era maravilhosa. Meu pai não queria a gravidez e era por isso

que, por ele, não fazia diferença se eu estava viva ou morta. Ele não

conseguiu superar a morte dela.


Passando para outra caixa, as fotos eram diversas.

— Não entendi. São fotos dos pais de Melissa, dela comigo, festas que

eles frequentaram lá em casa e tem mais fotos de pessoas que não conheço.

— Seu pai guardou provas de que ele e o Senador Reinald tinham um

relacionamento próximo. Com a vida que ele levava e a imagem pública do

senador, uma foto colocaria em dúvida toda campanha política — expliquei

e peguei o restante. — Meu pai está bem aqui.

— Isso tudo por fotos?

— Não. Tem mais. Pode apostar que tem mais. — Puxei as pastas e

comecei a ler. Ava esperou pacientemente enquanto Lucas dirigia pela

cidade e tinha certeza que não estávamos sendo seguidos por ninguém além

de quem deveria. — Ele registrou todas as transações financeiras que o

ligam a muita gente. Essas folhas na mão do FBI causariam um verdadeiro

estrago. São provas de lavagem de dinheiro e esquemas de pirâmide feitas

por empresários ligados a ele, que sustentavam a venda de drogas que

acontecia na boate. Sendo que ele não podia vender qualquer outro tipo de

droga no território que não o pertencia.

— Assim começou a traição com o italiano?

— Sim. Ele viu que com a transição das cadeiras dos italianos, não

estava sendo muito observado e achou meios de dar a volta em todos. No


fundo, seu pai estava levando uma fatia maior nos acordos que tinha

justamente por estar traindo a todos. — Passei as páginas. Ava se inclinou

para ler as datas marcadas no papel. — Poder e ambição sem o controle de

um planejamento podem levar homens ricos diretamente para o buraco.

Rafaelli enviou uma mensagem que viria me encontrar à noite, ele tinha

outros compromissos. Ava e eu estávamos em minha residência,

supostamente oficial, em Nova Iorque. Era apenas uma casa que eu mantinha

na cidade. Lucas achou arriscado ficarmos em um hotel, mas o esconderijo

que usávamos no local não era adequado para damas e eu não queria ficar

andando com ela de um lado ao outro.

Em casa, Lucas foi direto para seu computador. Enfiei a mão no bolso

de Ava e peguei os pendrives.

— Ava encontrou isso. — Coloquei ao lado dele. — Dá uma olhada.

— Eu poderei ficar com as fotos da minha mãe? — Ela ainda segurava

a caixa. — Só quero as dela sozinha e grávida de mim, as outras, eu não

tenho interesse.

— São suas, pode fazer o que quiser.

Lucas ficou quieto, encaixando os dispositivos nas entradas,


concentrado. Aos poucos, uma ruga foi se formando entre suas sobrancelhas.

Ele foi clicando sem parar em tudo e seus olhos corriam para todo lado, a
boca cerrada. Ava largou a caixa e parou ao meu lado, segurando meu braço

e me dando um olhar preocupado.

— O que tem aí dentro?

— Dossiê completo sobre o Senador Reinald. Absolutamente tudo…

que ele tem de envolvimento ilegal está listado aqui como uma denúncia. —

Lucas clicou em algo e saiu o som de vozes baixas e disparos. Mudei de

posição para assistir. — Nessa pasta tem um vídeo do próprio matando


alguém. Dá para ver o rosto dele perfeitamente, um homem amarrado em uma

cadeira e ele atirando.

— É tudo que Melissa precisa. — Ava me encarou, emocionada. —

Elas estarão livres de fugir dele!

Lucas abriu um pequeno sorriso satisfeito.

— Ele será morto de qualquer maneira, Ava. Só precisávamos saber

primeiro o que tinha no cofre. A sentença dele foi dada há muito tempo. —
Toquei suas costas, precisando lembrá-la que no nosso jogo, não havia a

história de entregar para a polícia e deixar que a justiça fosse feita.

— Eu sei, mas não adianta nada matá-lo assim. É questão de honra e

orgulho, entende? Elas foram dadas como loucas, rejeitadas em todo lugar,
renunciaram à própria vida porque estavam procurando por mim e sofreram
consequências porque ele é um bastardo mentiroso. — Ela apontou para a
tela. — E assassino! Enzo Rafaelli matou minha família porque esse maldito
ali e seu pai fizeram parecer que a traição era uma via de mão única. Foi

uma conspiração que me fez ser sequestrada por três malditos anos! Tudo
porque eles sabiam que existia algo que os afundaria e eu era a chave. Seu

pai delirando com o ouro, confundindo aquelas barras do tamanho de um


bombom com uma fortuna roubada e o pai da Melissa com o cu na mão de ter

sua vida secreta exposta. Eu quero que ele tenha a vida perfeita destruída
antes de morrer! Quero que toda Nova Iorque saiba o rato que ele é para que
minha melhor amiga e a mãe possam voltar para casa!

— Muito bonito seu discurso, porém, tem mais coisa nas pastas. —
Lucas nos chamou atenção. — Vídeos de entrega de drogas, os pontos de

vendas dos italianos, troca de dinheiro… era como se alguém estivesse se


esgueirando por lugares escuros para filmar essas transações como prova.

Tem muita coisa, vou levar horas assistindo e ouvindo tudo.

— Por que meu pai teria isso? É como colocar um alvo na própria
testa.

— Só vou saber depois de olhar tudo. — Lucas pegou um fone de


ouvido e aquilo significava que estávamos dispensados. Segurei a mão de

Ava, ela me seguiu meio relutante, curiosa com o conteúdo, mas teria que
esperar.
Lucas não mentiu quando disse que levaria horas para nos dar
respostas. Ele ficou quieto, mal comeu. Ava ficou andando atrás de mim

como uma sombra, ela cozinhou a maior parte do dia, usando quase toda
comida que tinha disponível. Sua boca ansiosa estava sempre ocupada.

Mastigar na mente dela fazia parecer que o tempo passava mais rápido.

— Mais café, rapazes? — Ela apareceu na sala com um bule.

— Você quase não bebe café. — Peguei minha caneca. Ela encheu.

Lucas ergueu a dele, precisando de mais. Ele era o único viciado em cafeína
na nossa casa. Particularmente, preferia um bourbon, combinava com

qualquer horário do dia, mas eu não podia ficar minimamente alterado ali.

— Estou tentando não beber todo o refrigerante. — Devolveu o bule

para a máquina e sentou ao meu lado. — Ainda vai levar muito tempo? Está
anoitecendo e daqui a pouco aquele imbecil estará aqui.

— Você vai antagonizá-lo para sempre? — Sorri e dei um gole, estava

quente e forte.

— Com toda certeza.

— Ele nunca irá pedir perdão.

— Sei que não, mas se não precisasse do meu perdão, não teria
procurado por mim e ainda não estaria aqui desvendando todo esse mistério.

Meu sequestro é uma pedra de culpa na cabeça dele. — Ela colocou as


pernas no meu colo, empurrando meu computador e as pastas para o lado. —

Faz aquela massagem?

Meu olhar foi gelado. Costumava fazer massagens nela depois dos
jogos, para aliviar qualquer tensão de ficar presa, algumas vezes

amordaçada e quando pegava pesado, dolorida.

Ava fez um pequeno beicinho, balançando o pé na minha frente,

suspirando, tirei sua meia e comecei a massagear o peito de seu pé,


apertando os pontos certos.

— Ele tem uma irmã mais nova e pelo pouco que sei, parece ser o

único responsável por seus irmãos. Assim como eu, é um homem de


negócios. No lugar dele, também não te machucaria e buscaria uma maneira

de te manter segura. — Puxei seu dedão.

— E sentiria remorso se falhasse, porque é pai. Em algum lugar dentro

daquele homem, tem um coração.

— Não é coração, é honra. Existe um abismo entre as duas coisas.

— Então, a honra de vocês significa que meninas inocentes são

protegidas? E o que acontece com as más?

— Posso te levar lá em cima e mostrar?

Lucas limpou a garganta.


— Deixa essa merda para depois. — Ele jogou uma bola em mim. —

Acabei a varredura.

— Então? O que tem? — Ava sentou rapidamente, quase derrubando

nossas canecas de café. — Descobriu mais coisas?

— Você seria demitida no primeiro dia em um trabalho de investigação


— ele brincou e se esticou na cadeira. — Tem muita coisa incriminatória.

Diversos vídeos de transações financeiras clandestinas, negociações, alguns


filmados à distância e outros, mais próximos, no entanto esse material todo

não era do seu pai. Ele pegou de alguém. Pode ter comprado como
garantia…

— Como um meio de se proteger de tudo? — Ava sugeriu.

— Não. Garantia de vender essas informações pela maior quantia no


mercado.

— Inclusive a família Beauchamp — Lucas falou, como se não fosse


nada demais. Ava sabia que aquele era meu sobrenome paterno. — Não nós,

a primeira geração.

— Por que não vocês? — Ava me encarou, cruzando os braços.

— Lucas foi dado como morto no incêndio e até onde todos sabem, eu

vivo uma vidinha medíocre como contador. Meu pai morreu sozinho em sua
casa há uma semana e não sobrou mais ninguém. — Enfiei minhas mãos no
bolso. — A empresa que o mundo conhecia, eu dissolvi lentamente e fui
vendendo partes para várias outras empresas que também me pertenciam.

Poucos dias antes de te buscar, a General Beauchamp não existia mais e não
tinha mais nenhum contrato com o governo americano. Assim eu dei fim a
qualquer interesse no sobrenome dessa minha família.

— Você desapareceu do mundo. É por isso que usa o Blackwood, da


sua mãe?

Ainda bem que ela não perguntou como eu ainda continuava


produzindo minhas mercadorias. Ela não se interessava muito por todos os

detalhes ainda.

— Sim. Nós criamos um registro de nascimento para Lucas e para


todos os efeitos, é como se ela tivesse tido um segundo filho. Originalmente

somos primos, oficialmente, somos irmãos.

— Me ensina? Eu quero saber como desaparecer também!

— O quê?

— Quero deixar de ser uma Moore. — Ela apontou para o computador.


— Depois de libertar Melissa, eu quero sumir. Não quero ter vínculo com

nenhum deles assim como você cortou qualquer ligação com seu pai.

— Se vai rolar proposta de casamento, estou informalmente vestido —


Lucas se intrometeu.
Ele sabia que já existia uma aliança, mas Ava não estava pronta para
ser uma esposa.

— Querem que eu saia? — Continuou se intrometendo e ganhou um


chute.

— Não preciso ser uma Blackwood agora, eu só não quero não ser

uma Moore.

— Vamos fazer isso acontecer — prometi segurando suas mãos. Ela se

aproximou e me beijou, passando os braços por meu pescoço, ficando bem


pertinho.

— Um dia, não muito longe, serei uma Blackwood — falou contra

meus lábios.

— Eu vou vomitar. — Lucas tombou a cabeça na mesa.

— E ele será nosso padrinho. — Ela continuou falando, querendo


provocá-lo. — Daisy será a menina das flores e Milo o melhor mini homem.

Na lua de mel… usarei algo cheio de tiras para poder ser amarrada em
qualquer lugar.

— Ah, porra! Parem! — ele gemeu, cobrindo os ouvidos, me fazendo


rir.

— Lucas, eu oro para o dia que seu coração será tomado por uma bela
mulher. — Ava o cutucou com a ponta da unha. Ele saltou para longe, rindo,
fazendo o sinal da cruz.

— Sai daqui, bruxa!

Ava riu e voltou a me olhar.

— O que faremos com essas informações?

— Guardarei algumas e as outras… vou deixar meu amigo soltar a


besta e fazer a limpa.

— E o pai de Melissa?

— Incluindo ele. — Beijei seus lábios.

Ava não era do tipo má, ela não carregava maldade em seu coração,

mas ela podia ser fria e vingativa quando se tratava das pessoas que amava.
Era protetora, com instinto de sobrevivência e um sexto sentido muito
aguçado. Sua habilidade em perceber absolutamente tudo ao redor era
intrinsecamente ligado aos sonhos, porque era sensitiva. Treinada e refinada,

ela finalmente descobriria sua força.


Capítulo 30 | Ava.

Nova Iorque.

Os homens estavam reunidos na sala. Eles assistiram aos vídeos e

ouviram as conversas telefônicas gravadas. Eu não tive estômago para ver


tudo. Era muita informação e nomes que não conhecia. Da cozinha, estava

ouvindo as conversas deles. Rafaelli relatava que a batalha com os russos


estava tomando seu tempo e paciência, eles falaram sobre negócios que

tinham em comum, acordando pagamentos e depois, voltaram para o


conteúdo do pendrive.

— Esse conteúdo tem os dez dedos do Jackson — Enzo falou enquanto

fumava. Ele tinha sorte que aquela casa não era oficial, ou eu o mataria por
impregnar cheiro de cigarro nas minhas coisas. — Principalmente a parte do

cartel. Foi daí que Beauchamp achou que Ava era a garota do ouro, porque o

pai dela sabia quem era o verdadeiro dono.

— Por que Jackson daria isso a ele?

— Não deu. Isso foi parte do acordo que Jackson fez com Oliver. Ele
o alimenta de informações de determinadas pessoas que a família King tem o
interesse de passar por cima. Alguma empresa que queiram comprar. É como

informação suja privilegiada. — Deu de ombros, como se não fosse nada

demais. Huum, Levi não confiava em Jackson e não queria fazer negócios

com ele. — Ele faz o mesmo serviço para mim e é louco em te ter na carteira

dele.

— Não posso julgar um homem por sonhar — Levi falou baixo,

bebendo uísque. — Estávamos certos. Oliver estava envolvido de algum

modo.

— Não como imaginava. Oliver está tentando dar um golpe em seu

sócio e isso não é problema meu e nem seu. É entre ele e a Michelle. —

Enzo bateu com o cigarro em um prato e olhou diretamente em meus olhos.


— Já espalhei que Ava não tem nada a ver com o ouro e com os ucranianos

fora da jogada, ela está oficialmente livre para viver a vida da maneira que
desejar. O cofre foi encontrado e não havia nada além de dinheiro e ouro

dentro dele. Quanto ao senador de merda… há um certo defensor público

que pode aceitar essas informações e fazer um show. Ele é alguém nosso que

está do outro lado para fazer determinados serviços.

— Contanto que ele seja morto no final, faça como desejar.

— Ele será morto antes do que esperam. — Enzo amassou a ponta do

cigarro no prato, esticando as pernas. — Essas informações deixarão de ter


validade um dia, mas por enquanto, valem alguma coisa. Alguém por aí,

além do Reinald Banks que tem óbvio interesse nisso, sabe que elas existem

e vão querer. A própria Michelle já demonstrou que é capaz de entregar a

filha da prima para proteger a dela. Acha que vai desistir de manter seu

segredo a salvo?

— Que segredo? O que tem aí que eu não vi? — Me intrometi no

assunto. Levi me olhou sobre os ombros. — Já ouvi tudo! Me conta!

— A filha que ela está tentando proteger não é a que todos sabem e

sim outra, fora do casamento, que eu ainda não sei quem é ou onde está. Não

me interessa também, mas aguçou a curiosidade de alguém que não vai parar

até encontrar. Estamos falando de ouro e de um segredinho sujo de uma

mulher que comanda um cartel e é sócia de uma pirâmide de empresas que

lavam dinheiro. Isso tudo chega a não ter um preço — Enzo me respondeu.
Fazia sentido, só era terrível. Essa menina estava em perigo por existir. Ela

não pediu para nascer. Estava fadada a ser uma peça de um jogo contra a

própria mãe.

Deixei que eles fizessem uma negociação de novos produtos sem

minha interrupção e fui para o quarto. Levi disse que nós voltaríamos para

casa antes do amanhecer, para estar no café da manhã das crianças. Mal via

a hora de voltar para casa, ficar com meus pequenos, dormir na minha cama
e mesmo que Levi tivesse todo suporte de segurança, eu me sentia exposta

fora da propriedade.

Terminei de arrumar minha pequena bagagem e Lucas me chamou,

avisando que estava tudo pronto para ir embora. Vesti meu casaco, me

cobrindo e calcei minhas botas. Para me sentir segura, Levi me deu uma

pequena pistola, coloquei na parte de trás da minha calça e disfarcei.

— Não vai se despedir de mim, querida? — Enzo estava encostado na


parede.

Levi riu e me puxou para frente antes que eu mandasse um mafioso

italiano se foder.

Enzo Rafaelli era uma incógnita sentimental para mim. Ainda não sabia

definir meus sentimentos em relação a ele, mesmo que tenha tentado se

redimir à sua maneira. Não o culpava por matar minha família. Talvez
sentisse raiva se fosse minimamente ligada a qualquer um deles, mas

sabendo como era uma família de verdade depois que passei a viver com

Levi, Lucas e as crianças, eu apenas cresci como uma planta mal regada na

minha casa.

Melissa me deu mais amor e carinho que meus irmãos. A mãe dela se

importava mais que meu pai. Minha raiva e ressentimento era porque paguei

por pecados que não cometi e estava cansada de me debruçar sobre isso.
Não era possível deletar os últimos três anos, ainda estava no processo de

superação, mas tive sorte: fui abençoada em me envolver com alguém que,

para muitos, era uma maldição.

Lucas e Levi ficaram conversando o voo inteiro. Era bonita a maneira

como eles se entendiam e eram amigos, me fez sentir saudades de Melissa.

No próximo verão, eu e ela nos sentaríamos em uma varanda com um

milkshake bem gelado de doer a testa, falando sobre qualquer besteira que

tínhamos interesse, porque voltaríamos a ser livres, sem o peso de uma

conspiração, um jogo perigoso que fomos colocadas como peças sem

querermos.

Aqueles dois homens literalmente passaram pelo fogo para estarem

juntos, fizeram a escolha de sempre apoiar um ao outro. Queria ter tido um

irmão assim, que seria capaz de passar por tudo ao meu lado, inclusive,

atravessar o fogo para me salvar. Pelas cicatrizes em ambos, era Lucas que

estava no fogo e Levi entrou nele. Eu não tinha coragem de perguntar, aos

pouquinhos eles deixavam uma coisa ou outra escapar e ia juntando as peças.

Pousamos em um aeroporto particular perto de Quebec e fizemos a

viagem para casa com tranquilidade.

Vi a casa se aproximando no final da estrada arborizada, bela com sua

arquitetura que refletia bem a região. Tinha muito do barroco francês com o
toque das torres como dos palácios britânicos, misturando alguns detalhes

góticos… eu adorava as estátuas de anjos de um lado e gárgulas do outro.

Era coisa de Levi, ele quem mandou colocar, assim como o leão em uma

fonte, porque achava bonito. O gosto dele era um problema.

Rick parou na frente da casa para que pudéssemos sair e seguiu para a

garagem. Tirei o casaco, pendurando na entrada e entreguei a pistola para

Lucas guardar. Levi e eu ouvimos o choro de Milo ecoando pelos

corredores, seguimos para a sala dos fundos e nosso bebê estava

inconsolável no colo da babá. Daisy gritou, pulando no sofá que chegamos e

abriu os braços querendo colo.

Milo me viu, parando de chorar, o rosto vermelho, os olhos

debulhados de lágrimas e um beicinho. Ele esticou o braço, jogando o corpo

na minha direção e o peguei. Beijei sua cabeça, cheia de saudade.

Ressentido com alguma coisa, ficou agarradinho, segurando minha blusa e

fungando.

— Oi, Ava! — Daisy me deu um beijo na bochecha ainda no colo do

pai. — Senti saudade!

— Eu também senti sua falta.

Levi esfregou as costas do Milo, falando com ele baixinho, que mal-

humorado, não queria nem se mover. Allie explicou que ele estava ranzinza,
chorando por tudo e parecia que não havia nada de errado. Comemos com

eles, matando a saudade. Meu dia não era o mesmo se não tivesse a loucura

da rotina das crianças, o falatório da Daisy e os gritinhos felizes que Milo

gostava de dar no meio de uma conversa, como se estivesse fazendo parte.

Como esperado, os dois quiseram ficar conosco o tempo todo.

Com o corpinho mais durinho e cheio de nova desenvoltura, Milo

estava se movendo com rapidez e eu achava que ele iria engatinhar rápido.

— E agora? Vamos brincar de quê? — Daisy pulou na minha barriga.

— Seu pai é o único que gasta um tempo na academia malhando a


barriga. Faça isso com ele! — Apontei para o lado. Levi estava com Milo

sentado ali, encostado em suas coxas e eles brincavam de lutinha. Milo ria
com queixo molhado de tanto babar. — Essa gengiva pelada dele é
simplesmente fofa!

— Tem tanta bochecha que dá para vender. — Levi apertou, fazendo


com que Milo fizesse um beicinho engraçado. Ele não gostou muito,

reclamando com o pai.

Fiquei quieta, observando-os brincar. O sorriso de Levi era tão bonito

com os filhos que enchia meu coração de amor. Ele era um pai exemplar.
Quando teve medo de que corresse ao descobrir as partes obscuras de seu
coração, estava certo. Era assustador. As coisas que ele era capaz de fazer
com frieza era de deixar qualquer um arrepiado de medo e um tanto receoso,
porém, esqueceu de dizer que suas partes boas eram simplesmente incríveis.

Mais tarde, Allie levou os dois para a sala e nós ficamos sozinhos no

quarto.

Levi continuou deitado e sentei na ponta, curiosa pelo motivo que

ainda estava descansando.

— Não vai trabalhar?

— Se alguma coisa urgente precisar da minha atenção, sim. Por que?

Quer me ocupar?

— É estranho te ver sem fazer nada. Acho que só tirou folga no meu

aniversário, no mais, está sempre trabalhando!

— Hoje eu quero ficar assim.

— O que acontece agora? — questionei e ele me encarou meio

confuso. Seu olhar intenso sempre me tiraria o fôlego. — Com a nossa vida?
Comigo? Quer dizer, supostamente, estou livre.

— Nós vamos viajar. Sair a dois, sair com as crianças, namorar muito,

fazer sexo em algum lugar paradisíaco e construir nossa vida. — Ele me


puxou para deitar ao seu lado e decidi que também merecia um pouco de

colo, montando nele. Ele sorriu e subiu as mãos pela minha cintura, parando
nos meus seios e ergueu a blusa. — Vamos praticar vários tipos de trepada
sacana, foder com putaria e eu vou bater nessa bunda antes de te comer. Já
parou para pensar o que quer fazer?

— Na verdade, sim. Eu quero voltar a estudar. — Acariciei seu


peitoral. Ele seguia me olhando com expectativa. — Quero ter meu

diploma… eu fui levada antes de concluir o ano. Ainda não sei se quero
fazer alguma faculdade porque eu perdi meus interesses de antes e quero me

dar um tempo para descobrir isso. Eu quero viver aqui com você e com as
crianças… ter noites de encontros, namorar, conhecer o que puder do mundo

ao seu lado e fazer cada plano conforme surgir a necessidade.

— Isso são planos a curto prazo. E a longo prazo?

— Quero receber um pedido de casamento, vestir branco e depois de

alguns anos, ficar com a minha barriga bem grande e parir um bebê. E você?

— Temos planos em comum, que maravilha. E a curtíssimo prazo, meu


plano principal é te beijar. Aproxime essa boca, baby.

Me inclinei sobre ele, beijando-o e suas mãos automaticamente foram


para minha bunda, apertando com diversão.

— Era isso que queria antes de mim?

— Ser marido de outro alguém? Não. Eu pensei que com o tempo,


procuraria uma mulher submissa o suficiente para ter alguns jogos bem longe

de casa e criaria meus filhos. Seguiria te procurando, porque jamais te


esqueceria, mas a vida foi… surpreendente. — Acariciou meu rosto com o

olhar que me fazia sentir todo amor. — Você chegou para melhorar tudo e
completar minha família. Eu te amo, Ava.

— Eu te amo.

Ficamos na cama namorando e dando um amasso que sabíamos que


não daria para avançar muito. Milo voltou a chorar e eu fui dar a atenção que

ele queria, brincando de casinha com Daisy e Lucas chamou Levi para
treinar. Anoiteceu em um piscar de olhos, as crianças dormiram e eu me dei

ao luxo de repetir a sobremesa na frente da televisão, procurando alguma


coisa só para me distrair.

Levi se aproximou de banho tomado e mudou o canal para um de

noticiário americano, mostrando uma coletiva de imprensa com cobertura


emergencial da mídia para que um defensor público pudesse falar sobre as

acusações feitas contra o pai de Melissa.

— Ele não perdeu tempo! — Sentei no sofá, quase engasgando com

meu doce. — Esse é um pedido de desculpas que posso aceitar! Ele já foi
preso?

— Detido para averiguação, mas depois do vídeo dele assassinando

aquele homem, não será solto e a partir daí, não verá mais nenhum tipo de
luz. — Levi abaixou o volume e virou-se para mim. — Melissa já pode

comemorar.

— Agora todos sabem que o cofre foi encontrado e podem ficar

desconfortáveis que outras informações também apareçam.

— Um dia de cada vez. O que ensinei sobre paciência esse tempo todo
entrou por um ouvido e saiu pelo outro?

— Acho que estou precisando de ajuda para lembrar.

— Vá para o quarto, Ava!

Escondi meu sorriso e coloquei minha expressão de boa moça,

seguindo para nosso quarto, pronta para adorar o que ele tinha em mente
para nós.
Capítulo 31 | Ava.

Alguns meses depois…

Acordei sentindo a mão de Levi no meu seio e sorri. Ele estava

dormindo profundamente, roncando baixinho no meu ouvido, mas a mão


sempre acordada. Me movi e ele acordou no mesmo instante, abrindo os

olhos, em alerta e sorriu ao perceber que era apenas eu tentando me encaixar


melhor em seu corpo. Me abraçando, beijou meu ombro e soltou um gemido

apreciativo com minha bunda em sua virilha. Nossa posição favorita de


amanhecer.

Eu queria sexo, nada melhor para acordar, mas Levi olhou a hora e me

expulsou da cama para vestir minha roupa de treino.

Me arrastei dos lençóis quentinhos, para longe do meu namorado

gostoso só de cueca e fui para o closet, tirei meu pijama e me olhei no


espelho. Estava congelando lá fora e ele não iria me aliviar, mas o efeito no

meu corpo de todo exercício diário era incrível. Vesti uma calça, tênis, uma

blusa térmica, outro casaco por cima e prendi meu cabelo em um rabo bem

apertado.
Aprendi a minha lição em não pedir ajuda para Levi. Desejei que

criasse um treino para mim e ele queria me transformar em um soldado. Por

mais que reclamasse, entendi seu ponto de vista. Eu era submissa em muitas

coisas, aprendi a não ver isso como algo ruim, mas, ele estava me ensinando

que ser submissa e ter autonomia eram coisas completamente diferentes.

Treinar me ajudava a enxergar meu próprio corpo, me dava noção de

tempo, espaço, a me defender e a saber que eu podia falar o que me

incomodava, me impor sem esperar sentir raiva para me levantar e brigar.


Ou me calar porque ficava furiosa demais para dizer qualquer coisa,

engolindo até explodir e perder minha razão no meio de uma briga.

Levi levantou depois, se vestiu e deu um tapão estalado na minha


bunda quando resmunguei que estava ventando muito do lado de fora. Daisy

e Milo ainda dormiam como dois anjinhos que não eram quando acordados.
Quanto mais ele crescia, mais aprontava, dando sinais que o bebê que

conheci estava se tornando um pequeno atrevido. Já Daisy, mesmo com sua

rotina escolar e o ballet, tinha energia de sobra para derrubar um exército.

Tomei uma vitamina antes de sair, me alonguei e preparei para


começar o trajeto de corrida antes dele. Depois que consegui correr na

esteira, eu fui gradativamente para o lado de fora, explorando as trilhas e

com o treinamento avançado na academia, com obstáculos e a luta, eu fui

perdendo o medo. Minha mente não estava me dominando.


Ainda não havia esquecido tudo que passei, mas sempre que corria, eu

me libertava. Aos poucos, foi como sentir as correntes dos meus pés

quebrando. O medo era algo opressor. Os pesadelos me deixavam sem chão.

Foram muitas noites que Levi passou acordado quando eu parei totalmente

com as pílulas. Ele sentava horas segurando minha mão, esfregando minhas

costas ou segurando meu cabelo de tanto vomitar.

O estresse pós-traumático quase me levou, eu pensei em desistir

mesmo amando-o muito e não sabendo como viver sem as crianças. Eu tinha

sorte em tê-lo, sem nunca desistir de estar ao meu lado. Minha melhor amiga

ficava ao telefone, em silêncio, apenas me ouvindo e me dando abraços à


distância. Foram meses que depois de estar com o mundo pesando nos

ombros, depois que o pai dela morreu e elas puderam transitar livremente,

eu me senti oprimida novamente.

Achei que acordaria leve, feliz, dançando por aí, mas a verdade é que

vítimas possuem um tempo diferente para reagir e por mais que eu odiasse a

palavra, eu fui uma vítima e não era mais uma. Era nisso que me apegava

sempre que corria, no exemplo de mulher forte e corajosa que Daisy tinha

em mim, no sorriso de Milo sempre que me via pela manhã, no amor que

Levi me dava de bandeja todos os dias, na amizade que crescia com Lucas a

cada dia e na força que Melissa compartilhava comigo.


Depois da colina, comecei a ouvir passos atrás de mim. Por mais que

soubesse que fazia parte do treinamento, sempre ficava arrepiada ao ser

perseguida. Pulei alguns troncos, me concentrando, ninguém, nunca mais, me


pegaria desprevenida. Ele estava se aproximando, por ser mais rápido e

mais treinado, iria me pegar. Eu estava preparada para isso.

Levi me pegou pela cintura, naquele momento, não era o homem que eu

amava e sim um captor no meio da floresta. Ele me derrubou, me segurando

firme e com tudo que aprendi nos últimos meses, no chão molhado da geada

e muito gelado, as folhas eram como pedra de gelo no meu rosto. Entorpecer

a dor e silenciar o medo gritando na minha cabeça eram o meu foco.

Consegui soltar meu braço e girar o corpo, dobrei meu joelho e chutei

sua coxa. Ele tentou me colocar com mais força pressionada no chão, liberei

meu outro braço, puxando sua orelha e mordi seu ombro. Agarrando seu

cabelo, empurrei-o para longe e consegui sair, ficando de pé, equilibrada e

em posição de ataque, esperando por mais.

Levi sentou no chão, me olhando e só depois que percebi seu sorriso

que me dei conta que eu havia conseguido. Levei minha mão ao rosto,

tirando as folhas e comecei a tremer. A adrenalina foi tão forte que comecei

a gritar. Ele riu ainda mais, ficando de pé e me abraçou apertado. As

primeiras vezes que ele me derrubou, eu chorei, tive crise de ansiedade e


fiquei sem ar.
Outras, eu não conseguia sair e ele me arrastava de volta. Foi árduo

treinar minha mente e corpo para conseguir. Não havia nada prendendo meus

pés.

Chorei contra seu peito, ele segurou meu rosto e beijou meus lábios.

— Você me enche de orgulho. — Encostou a testa na minha. — Eu te

amo.

— Obrigada. Muito obrigada. — Agarrei seu casaco e ele me beijou

novamente. — Te amo incondicionalmente mais.

Voltamos para casa de mãos dadas, devagar, eu já nem sentia o frio.

No quarto, pensei que o homem iria me atacar, mas ele tomou banho

plenamente ignorando que estava quase em combustão. Através do espelho,

trocamos um olhar e eu soube que a noite seria longa. Meu ventre quase

dançou por antecipação.

— Mais tarde, gostosa — ele cochichou ao beliscar meu mamilo.

Sequei meu cabelo e me vesti, era hora de levantar os dois terroristas.

Era dia de montar a árvore de natal e decorar a casa. Daisy não iria à escola

só para participar do nosso evento de família. No ano anterior, Vivianne já

estava muito doente e eles não tiveram uma ceia, sem clima para comemorar.

Fiquei sem graça por insistir em ter um natal até que lembrei que tudo que
ela mais queria era que seus filhos tivessem todas as experiências felizes de

uma família.

Levi e Lucas foram em um local permitido cortar um pinheiro, já

preparado para ser colocado em um grande vaso e estava cru na sala.

Comprei milhares de enfeites para a casa inteira. Sempre foi meu

sonho ter um natal como nos filmes e nas casas de qualquer família normal.
Melissa e a mãe estariam conosco. Elas ainda viviam na Europa, estavam

recomeçando a vida e depois de todo escândalo feito em cima do Senador

Reinald antes de ele morrer, elas optaram por ficarem distantes. Elas não

sabiam como e quando as informações foram encontradas, muito menos que

havia mais guardadas no cofre da minha casa.

Levi decidiu que seria assim e eu concordei plenamente. A mídia fez

muita especulação, meu nome voltou a circular em todo lugar, foi um pouco

difícil, mesmo sabendo que fazia parte do plano. Quando soubemos que ele

havia morrido foi o alívio que tudo aquilo estava no fim. Para o mundo,

suicidou-se na prisão e para nós, a verdade é que foi eliminado. Aos poucos,

parou de ser falado e propositalmente, fomos caindo no esquecimento.

— O que está pensando? — Levi chamou minha atenção, já vestido.

— Nada demais, estou bem.


Daisy já estava acordada quando entramos no quarto. Ela andava

acordando sem fazer alarde, indo brincar diretamente. Levei para o

banheiro, arrumando o cabelo enquanto o pai dela separava as roupas

quentes para passar o dia. De meias, calça e um casaquinho, deixei sua

galocha separada caso fôssemos para o quintal.

— Bom dia, meu amor. — Agachei à sua frente.

— Bom dia, amor. — Ela me deu um beijo na bochecha.

Milo não foi diferente, ficou no dengo matinal, de ficar no colo

mamando até deixar que o pai trocasse a fralda e a roupa. Durante o dia,
minha vida era voltada para eles. Tomamos café e começamos a arrumar a

árvore. Entre impedir que Milo comesse os enfeites, Gwen roubasse as


meias e Daisy colasse as coisas aleatoriamente pela casa, nós conseguimos

ter uma árvore linda e várias decorações brilhantes espalhadas pela casa.

— É o primeiro natal nesta casa. — Lucas se aproximou com uma


caneca. — Legal! Vem, Gwen! — chamou sua cadela.

Levi me deu um beijo, agradeceu baixinho pela decoração e foi


trabalhar. Seu olhar antes de sair foi lindo. Ele não era um homem

extremamente expressivo, ficava quieto, normalmente, quando abria a boca,


era para dar uma ordem. Ele era afetivo à sua maneira e para mim, era

perfeito. Ele não disse que não queria o natal, mas também não pareceu fazer
esforço das coisas além que pedi, mas percebi que, na verdade, ele apenas
não sabia como se expressar.

Sozinha com as crianças, criei um obstáculo para Milo não fugir. Ele

estava indo até as escadas, mexia em tudo. Transformar a casa inteira à


prova dele, já que Daisy não era de mexer nas coisas e tirar nada além de

seus brinquedos do lugar, estava sendo um desafio. Milo era ativo. Brincava
muito e gostava de conversar em sua língua de bebê. Era um menino feliz e

genioso, tudo tinha que ser do jeito dele, e brigava por isso.

Eu estava destinada a lidar com homens difíceis.

O dia inteiro com eles era mais que uma maratona. No final da tarde,

Levi apareceu com um sorrisinho, com nossos casacos.

— Está pronta? Davina vai ficar com eles.

— Falta pegar minhas botas.

Davina apareceu e pegou Milo no colo, levando Daisy para a cozinha.


Me preparei para sair sozinha com Levi. Nós fomos andando, era dentro da

propriedade, mas não era perto. Ele abriu o galpão, acendendo as luzes e
fechou a porta pesada atrás dele. Tirei meu casaco para ter mobilidade nos

braços, ele ligou as máquinas e colou um novo alvo.

Sozinha, carreguei as armas, colocando todas elas na posição.


Levi começou a me ensinar a atirar e mostrar suas criações quando
percebeu que eu não correria por ele ter se tornado um fornecedor. Nas ruas,

seu nome era conhecido como Magnata das Armas. Financeiramente falando,
ele era um magnata sim, porque sua fortuna era quase incalculável.

Parando atrás de mim, me pressionou contra o balcão.

— Eu amo quando usa essa calça, principalmente quando sei que está
com uma calcinha linda enterrada na bunda. — Segurou minha cintura e

colocou uma pistola à minha frente. Ele se moveu contra mim. — Será que
conseguirá se sair tão bem estando distraída?

— Vai ficar fazendo isso?

— Eu quero que fique quieta — Levi falou baixo, abrindo minha blusa.
Eu ia gritar e dizer que não mandava em mim, só no sexo, mas ele tinha um

estranho e intenso poder sobre meu corpo. Louca para gemer em troca de
seus dedos provocando delícias no meu mamilo, eu fiquei quieta. Caladinha.

— Se acertar o alvo e for uma boa menina, hoje à noite, terá uma surpresa.

Quem eu queria enganar? Ele mandava em mim em tudo!

— Comece, Ava. — Colocou os óculos no meu rosto, eu não usava os

fones de ouvido, para não me assustar com os sons do disparo. — Agora,


amor. — Beijou meu pescoço, dando uma suave mordida junto com o

disparo. Ele mordeu no lugar. Meu corpo estava em chamas, mas eu queria
mesmo que a noite fosse incrível, portanto, coloquei o desejo e seus toques

em segundo plano. Foquei no alvo, atirando como se estivesse matando


qualquer possibilidade de não transar naquela noite.

Parecia até que não fazia sexo há dias. Transamos antes de dormir,

como quase todos os dias, mas com Milo meio doente, nós não mergulhamos
em outras atividades. Eu sentia tanta necessidade dos jogos quanto ele. Sexo

comum era sempre bem-vindo, éramos criativos quando as crianças ficavam


agitadas, tínhamos encontros picantes no meio do dia quando elas dormiam

entre nós. Parar? Nunca. Mas jogar… era diferente.

E eu precisava.

— Vamos ver seu desempenho. — Mordeu o lóbulo da minha orelha e

aproximou o alvo. — Os primeiros sequer passaram perto, porém, parece


que minha mulher é muito focada. — Analisou os buracos na massa central e

na cabeça. Levi me olhou com intensidade. — Acho que vou te pendurar na


parede hoje e lamber essa boceta até gritar. Ou… será que está pronta para

ser completamente subjugada?

— Quero as duas coisas.

Ele segurou meu queixo, dominando meu rosto e chupou meu lábio de

forma rude.

— O que te disse sobre ser gulosa, querida?


— Você diz sempre para tomar mais se for o seu pau.

— Suja. Muito suja, pervertida. — Deferiu um tapão na minha bunda.

— Sou sua. Por que não seria pervertida? Gosto de ser sua safada.

Levi agarrou meu cabelo e mordeu meu pescoço mais forte. Ele estava

duro contra minha bunda, movendo um pouco desesperado, mas era dono de
um controle do próprio tesão que me deixava maluca. Em muitas vezes,

chegava perto de fazê-lo perder as estribeiras na cama, principalmente


quando estava sendo castigada. Levi sempre vencia. Podia andar de pau

duro, mas resistia como um valente.

A única que ficava implorando era eu mesmo. Não tinha vergonha de


admitir o quanto sempre o queria muito. Eu era assumidamente dele para

todo sempre.
Capítulo 32 | Levi.

Ava estava andando serelepe, pulando nas poças, soltando risada cada

vez que os espirros de água suja iam longe. Eu ia reclamar, porque era uma
bobeira, mas ela estava feliz e eu deixei que se divertisse no caminho de

casa. Estávamos voltando depois de treinar no meu galpão e um pouco no

alto da colina, praticando tiro à distância. No começo, era só para ela não
ter medo e domínio de armas, que tinha espalhado pela casa inteira e para
saber como se defender.

Depois, se tornou uma paixão para nós dois. Era sexy pra cacete vê-la

deitada no chão, imóvel, concentrada para acertar o alvo do outro lado da

colina ou, lutando, suada, puxando a arma da cintura sempre que conseguia
me derrubar no chão.

Eu tinha que admitir que Ava era dona de tudo em mim porque ela

fazia coisas que antes, me faria ter um ataque e com ela, eu apenas esperava
o momento certo de conversar. Se ela me encarasse e sorrisse, minha mente

entrava em pausa e esquecia minha fúria. Era bom, porque me dava tempo

para pensar em um castigo adequado. Agir de sangue quente nem sempre era
certo. Ava aprendia com frieza.
Ela me ensinava a ser diferente todos os dias. Lucas e Davina

brincavam sobre o quanto a nossa casa e a vida de modo geral mudou depois

que Ava chegou. Ela foi transformando nossos dias lentamente conforme

desabrochava na vida.

Pouco antes de passarmos pelo gazebo, ela parou e esperou, segurei

sua mão, beijei e com calma, voltamos para casa. Já estava bem escuro, com

o frio, o ritmo da casa ficava mais tranquilo, com menos funcionários

circulando na propriedade.

Ava tirou a roupa de chuva, que estava suja de lama, ficou com calça

de ginástica, meias e a camiseta que usava por baixo de tudo. Deixamos na

lavanderia. Fui para o escritório, ainda precisando trabalhar um pouco e ela


para as crianças. Milo estava chorando em algum lugar. Não era nenhum

evento diferente. O garoto estava um chorão de primeira porque era teimoso.


Educá-lo seria um desafio enorme.

Enviei uma mensagem para que ela dormisse um pouco. Precisaria

estar descansada para mais tarde. Pouco tempo depois, reinou o silêncio.

Consegui trabalhar um pouco melhor. Mudei meu escritório para mais perto
do lado que as crianças ficavam, assim eu poderia estar inserido na rotina

deles o tempo todo. Minha filha toda hora entrava e quando Milo começou a

mexer em tudo, Ava ficou surtada com a possibilidade de que eles

encontrassem uma das minhas armas.


Lucas e eu mudamos tudo de lugar. Já era seguro antes, porque eu

nunca colocaria a vida dos meus filhos em risco, mas isso não era o

suficiente para calar a paranoia de Ava. Depois que viu que era difícil Daisy

encontrar qualquer coisa, sossegou e me deu um pouco de paz.

— O carregamento do Bennigton foi entregue. — Lucas entrou na

minha sala. — King parece ter sossegado em relação a nós. Você deu um

grande susto nele.

— Só dei um recado. Não tenho interesse nele, então, que me esqueça.

— Acho que a mulher segue preocupada. Ela tem medo que

entregaremos a localização da filha dela?

— Ela não me conhece, portanto, é natural ter medo, principalmente

depois que entregou Ava para meu pai. Mas eu não sou ela. Se tiver que

fodê-la, farei isso sem envolver a filha. Por mim, a garota estará sempre

segura. O que tem acontecido?

— Nada demais. Ela andou perguntando por aí sobre quem era você de

verdade.

— Se ela pagar o preço certo, saberá quem sou com facilidade, mas eu

não estou no caminho. Deveria se preocupar com quem realmente está

interessado no ouro. Seu próprio sócio é um deles.

— Oliver vai nos usar.


— Talvez sim, vamos nos preparar.

Lucas deu um aceno e saiu da minha sala. O estresse que o assunto me

causou me fez largar o trabalho mais cedo. Sem a babá, era foda gerenciar as

necessidades diferentes de duas crianças pequenas. Milo já comia comida, o

que facilitava a história de preparar mamadeira toda hora, mas alimentar os

dois era um caos. Ava ficava com ele, porque o garoto achava que ela tinha

pendurado a lua e se comportava. Toda vez que lhe dava comida, nós dois

terminávamos sujos.

Daisy estava tentando comer sozinha, mas ainda era preciso alguém

supervisionando-a. Nos livramos de vez das fraldas da madrugada, ela ia

sozinha no banheiro de noite ou não ia, porque havia parado de tomar leite

antes de dormir. Minha menina estava crescendo, com amiguinhas na escola,

no ballet, cheia de compromissos, que Ava levava com prazer. Fomos à duas

apresentações, que ela brilhou como a estrela linda que era.

Como pai, eu queria fazer parte de tudo na vida deles. Festinhas,

trabalhos, danças, eu estava em tudo. Ava era o tipo que conversava com a

professora no final da aula, ajudava nos trabalhos, aprendia a fazer muffins e

cookies para que Daisy pudesse levar no dia do piquenique. As crianças

teriam tudo que não tivemos. Não estava falando de dinheiro e sim de amor,

afeto, participação e nosso apoio em cada fase.


Um dos momentos favoritos do meu dia era ficar deitado na sala com

meus filhos. Eles me faziam de tapete, passavam por cima, puxavam meu

cabelo e Daisy pintava minhas unhas.

— Hora de dormir! — Ava anunciou depois de terminar de recolher os

brinquedos. — Daisy, guarde suas bonecas que seu pai irá te colocar na

cama e eu vou fazer seu irmão dormir. Vou te dar um beijo depois.

Daisy foi dançando na minha frente. Ela era alegre a todo minuto. Não

precisamos ler história para nenhum dos dois, essa era a parte boa de deixá-

los correr pela casa sem restrição. Cansavam fácil. Milo já havia dormido,

Ava ainda balançava o berço.

Saímos do quarto e ela parou na minha frente, aguardando.

— Vá para o quarto — ordenei em seu ouvido. — Te quero nua e

ajoelhada, irei em breve.

Para dar-lhe um tempo, fui até meu bar, servi um copo de bourbon só

para saborear e me acalmar. Aquela noite seria mais que especial. Ava

estava pronta para ser completamente amarrada. Nós avançamos muito nos
jogos, eu a tive presa na parede, sempre parcialmente amarrada. Apenas nas

últimas vezes foi que começamos a introduzir amarras em sua panturrilha,

descendo gradativamente para os pés. Depois do treino daquele dia, eu sabia

que havia chegado o momento.


Amarrá-la e pendurá-la tinha tudo a ver com sua liberdade e não com

meus desejos. Apesar dos meus impulsos, eu era capaz de controlar meus

anseios pelo bem-estar dela. Deixar de pensar no conforto da minha parceira

durante os jogos seria a maior estupidez da minha vida. Ava não era uma

submissa fazendo uma cena em uma única noite, uma troca consensual em

clubes específicos para isso. Ela era minha futura esposa, a mulher disposta

a ser minha companheira e mãe dos meus filhos.

Aquela noite era sobre ela e seus avanços, o orgulho que sentia de sua

coragem de enfrentar a mente, vencer e se entregar a nós dois com tudo.

Abri a porta do nosso quarto, um pouco adaptado para as nossas

necessidades atuais e ela estava em cima do banco, de joelhos, nua, com os

cabelos presos e olhando para baixo. Suas mãos descansavam

tranquilamente nas coxas. Tão linda e perfeita. Ela me dominava. Eu

passaria dias sentado apenas olhando-a tão querida, submetendo-se a mim.

Acendi as velas no canto e deixei queimando.

— Muito bem, Ava. — Fui até ela, passando meu indicador em seus

mamilos e subi pelo colo dos seios, passando pelo pescoço e parando no

queixo para erguer seu rosto. — Enrole seu cabelo e prenda-o ainda mais

firme no topo.
Obedecendo sem soar afobada, subiu as mãos lentamente, consciente

de seus movimentos e pegou a massa de cabelo negro. Com habilidade,

prendeu tudo e voltou com as mãos para o lugar. Tirei a venda do meu bolso,

amarrando firme em seus olhos e beijei sua boca. Pedi por sua língua,

aprofundando o beijo e parei de repente, quando estava empolgada.

Peguei o chicote de couro no armário, liguei o som e voltei até ela,

rodeando-a devagar, olhando tudo. Nunca me cansaria de seu corpo, do

formato dos seios e os bicos empinados, a barriga com pintas adoráveis, a


entrada da cintura formando a curva do quadril que abrigava a bunda mais

gostosa do mundo. Passei a ponta do chicote pelo meio de suas costas,


amando o quanto ficou arrepiada.

Seus lábios separaram e sem aviso, bati em sua nádega. Ela não saltou,

apenas sentiu o ardor, aceitando mais uma sem falar nada. Sua expressão era
quase de alívio depois de vários dias sem conseguirmos jogar. Parei à sua

frente, provocando seu corpo com a ponta do chicote até entre suas pernas.
Ela lutou para não abrir mais os joelhos, necessitada por mim.

As preliminares para esse momento começaram na noite anterior, antes


de dormir, fazendo sexo calmamente entre as cobertas, mas sem uma segunda
rodada. Dormir agarradinho, estimular sua adrenalina, fazer com que tivesse

um dia feliz, beijos quentes e surpreendentes e o principal que aprendi às


duras penas depois de começar um relacionamento com ela: não brigar. Uma
discussão no meio do dia era como um balde de água fria no sexo.

Ava era uma mulher que gostava de ser mimada, ter seu prato favorito,

ganhar flores, presentes fora de uma data especial e bilhetes sem motivo. Ela
amava ser beijada, ouvir frases picantes no pé do ouvido e ser pega de

surpresa, arrastada para dentro de qualquer cômodo e ser fodida contra a


parede. Ela ficava maluca se chamasse no meu escritório por qualquer

motivo estúpido, botava sentada na mesa e chupava.

Nunca acreditei na história que existia o seu par perfeito no mundo.

Até ela.

Meu encaixe preciso.

Com toda calma do mundo e atento às suas reações, passei a corda por

corpo. Ava ficou quieta, apenas sentindo e ela soube exatamente o momento
em que iria subi-la. Suas sobrancelhas franziram um pouco e foi tudo.
Parecia uma obra de arte. Tão linda que me senti emocionado. Quando

começamos a namorar, a ideia de estar amarrada além das mãos era


assustadora e lhe dava pesadelos. Ela sabia que eu sempre a libertaria.

Era ela quem controlava tudo.

Rodopiando na minha frente, acariciei seus mamilos antes de prendê-

los com pequenos grampos. Eles não causavam muita pressão porque ela não
tolerava dor ali. Decidimos o nível e a intensidade, escolhendo juntos o que
sempre seria usado. Ela ofegou com a pressão. Beijei sua boca. Minha

língua brincou com a dela, eu estava levando-a ao limite da provocação para


ficar atenta a tudo que queria que sentisse.

Acariciei sua barriga, as coxas, apertando a bunda e ela queria que eu


tocasse entre as pernas. Sua boceta linda estava exposta para nosso prazer.

Bati com o chicote nela, seus lábios e clitóris quase gritavam. Ava gemeu
baixo, deliciada e caprichei nas batidas em suas nádegas. Ela apertou a

barra, gemendo. Completamente vendada, sua única opção era sentir tudo.

Peguei o vibrador, ligando em seu clitóris. Ava gemeu tão


deliciosamente que meu pau implorou para sair do aperto da calça.

Pressionei sua entrada, querendo que ficasse tão lubrificada que


pingasse. Mordi sua coxa, lambendo até as dobras. Ava reagiu de forma

brusca, querendo mais, gemendo e dei-lhe um tapa para se controlar. Ela


miou, apertando a barra e voltei para meu lugar favorito. Seria demais para

ela ter estímulo anal, nós dois adorávamos usar o plug junto com sexo,
porém, eu a conhecia como a palma da minha mão e sabia todos os seus
limites.

Empurrei-a até chegar perto do orgasmo. Parei e apreciei seu corpo


vermelho, o suor e a boca entreaberta pedindo por mais. Soltei as cordas
com todo cuidado, analisando cada centímetro de pele, ela ficou de pé à

minha frente, com as mãos apoiadas em meus ombros. Soltei sua venda e
seus lindos olhos azuis encontraram os meus, cheios de tesão.

Segurei seus pulsos, amarrando-os novamente de outra maneira,

deixando um bom pedaço de corda livre. Beijando sua boca, puxei um


grampo, ela gemeu, mordendo meu lábio e respirou fundo. Desci meu rosto,

chupando o biquinho vermelho, acalmando sua pele e dando prazer no lugar.


Voltei a beijar sua boca, repetindo o processo do outro lado.

— Você está bem? — Mantive meu olhar no dela para não perder
nada.

— Sim. — Ofegou, muito excitada e querendo gritar comigo por

postergar seu orgasmo.

— Ótimo. Vá para a cama — comandei pontualmente.

Ava deitou no centro da cama e esperou que prendesse a corda para

cima. Ela ficou com os braços esticados, os mamilos atiçados e tentando não
pressionar as coxas juntas para ter um pouco de fricção. Peguei a

tornozeleira ajustável e o som das correntes fez com que me encarasse.

— Você vai ter seus tornozelos presos com essas faixas de couro, as

correntes permitirão que dobre os joelhos e não muito mais. Suas pernas
ficarão afastadas e bem abertas para mim. Você quer isso? Responda.
— Sim, eu quero. — Ela soou firme. Orgulho, porra.

— Lembre-se sempre, nós nos amamos, não precisamos de palavra


segura. Diga pare e ficará tudo bem. Se for demais, me avise. Não oprima

seus sentimentos, temos tempo para fazer o que quisermos.

— Estou pronta. — Ergueu um pouco o rosto e abriu um pequeno


sorriso apaixonado. — Eu te amo.

Com seu consentimento, prendi cada uma das pernas. Ela estava com
os braços esticados acima e as pernas torneadas abertas. Depois de estar

pendurada com seus sentidos no limite, não conseguiria segurar o gozo. Tirar
sua venda foi para que ficasse um pouco mais dispersa. Antes, até poderia

esfriá-la um pouco, atualmente, sabia que seu foco havia evoluído muito e
ela estava concentrada em mim.

Peguei um dos vidros da vela, entornando o óleo em sua pele e

espalhei lentamente por suas pernas. Passei pelo seu quadril, levando a
massagem até os seios, pressionando minha ereção em sua boceta. Ava

gemeu, puxando as cordas, querendo minha boca e lhe dei um beijo porque
ela era a mulher mais incrível do mundo inteiro.

— Quer gozar como, amor? — Arrastei minha boca até seu ouvido.

— Sim, por favor! — Soltou um gemido alto.


— Você foi tão perfeita hoje que lhe darei permissão para escolher. —
Beijei sua boca repetidamente. Amava seus lábios macios.

— Quero na sua boca… e depois no seu pau.

— Muito gulosa, minha safada.

Voltei para baixo, dobrando seus joelhos e dei o que ela queria. A
chupada que a fazia gozar, explorando cada nervo sensível, principalmente

seu clitóris. Eu era apaixonado em assisti-la explodir em um orgasmo, seu


corpo tremia, ficava vermelho e os peitos endurecidos imploravam pela

minha boca. Empurrei meu dedo suavemente por suas dobras, curvando, e
ela tremeu ainda mais.

As lágrimas escorreram por seu rosto tamanha intensidade do prazer.


Tirei minha calça, meti e ela me engoliu com tudo, me apertando. Passei

meus braços por baixo de seus joelhos, estocando sem fazer amor. Era sexo,
bruto, cru. Era eu e ela, juntos.

— Porra, porra, porra! — gritei, sentindo seu gozo. — Isso, caralho!

Gozei dentro dela, ainda metendo, porque era impossível parar. Puxei
fora para ver meu esperma e a soltei rapidamente. Ava me abraçou apertado,

com a cabeça no meu peito, ouvindo as batidas do meu coração.

— Eu consegui — falou baixinho.

— Sim, você conseguiu. — Beijei sua testa. — E ainda não acabamos.


Ava ergueu o rosto e sorriu… ah sim, definitivamente, ainda não havia
acabado.
Capítulo 33 | Ava.

Sonolenta, me movi entre os braços de Levi e senti seus lábios se

movendo contra meu ouvido, querendo me acordar com carinho. Ele beijou
atrás da minha orelha, pressionando contra mim e suspirei, soltando um

bocejo. Abri meus olhos e fechei novamente, eles arderam e eu queria

continuar dormindo. O quarto estava com um friozinho gostoso, bom para


seguir debaixo das cobertas agarrada a ele.

Meu estômago tinha outros planos. Ele roncou alto. Levi começou a rir
e me cutucou, me estiquei e virei de lado, abraçando-o.

— Hora de acordar, baby.

— Não. Quero ficar aqui com você.

— Já volto. — Ele conseguiu escapar de mim.

Abracei seu travesseiro no lugar e voltei a fechar os olhos, irritada que


estava com sono e ao mesmo tempo, com fome. Queria dormir mais e não

sair da cama. Peguei no sono novamente, aquele tipo de cochilo gostoso que

renova as energias. Acordei com o barulho da porta e imaginei que fosse

Daisy, fugindo para o aconchego matinal.


Era Levi equilibrando uma bandeja, tentando não bater a porta e foi

rápido no reflexo a tempo de não virar o copo de suco. Tirei os travesseiros

do caminho, ele depositou a bandeja e encostou a porta. Fiquei maravilhada

com o café surpresa na cama com direito a flores e meu chocolate favorito.

Eu tinha certeza que ele mantinha vários bombons escondidos em algum


lugar para me entregar um quando queria me mimar ou me acalmar depois de

uma briga.

— Matando sua fome sem precisar sair da cama. — Ajeitou a comida


entre nós.

— Você é perfeito. — Me inclinei e beijei sua boca. — É por isso que

quero passar o resto da minha vida ao seu lado.

— Toda vida? Para sempre?

— Sempre e sempre — confirmei e ele segurou meu rosto, colocando

meu cabelo atrás da orelha. — O que foi?

— Isso significa que está pronta para fazer com que Ava Moore

desapareça?

— Prontíssima.

Levi mordeu o lábio e sorriu.

— Quer ser minha esposa?


— Quero e com um pedido mais romântico que esse. — Roubei um

beijinho e voltei para meu lugar. Ele riu e me ofereceu um pote com frutas,

que peguei e comecei a comer.

Levi não conseguiu parar de me olhar com um ar divertido. Ele ia

pedir e eu ia dizer sim, mas depois de tudo, merecia o pedido mais incrível

do mundo inteiro. Antes do sequestro, talvez não pensasse em me casar com

vinte e um, mas a vida não era previsível. Podíamos planejar e lutar pelos

nossos sonhos, correr atrás daquilo que desejávamos, porém, o destino era

quem controlava tudo. Meu destino era ser uma Blackwood. Aos dezessete

anos comecei a sonhar com Milo e com a casa.

Existia uma lenda antiga que dizia que nossa alma vive momentos antes

de nós, que quando eles acontecem, temos a sensação de já ter vivido aquilo.

Muitos conheciam como déjà-vu. Seja lá o nome e a maneira, sendo possível


ou não, eu sabia o que tinha sonhado por muitos anos e todos os dias, meu

coração se acalentava por segurar meu menininho e ter seu olhar de amor em

mim. Daisy era como poder reescrever minha história. Um quadro em

branco.

Eles eram a minha família.

— Deixe-me ver seus pulsos — ele pediu quando terminamos nosso


café. — Agora os tornozelos.
— Meu homem sabe como me pendurar. — Coloquei minhas pernas

em seu colo. Ele passou o dedo por minha panturrilha e beijou meu joelho.

— Ficou com medo da corrente?

— Quando ouvi o barulho, me deu um pouco de ânsia e no mesmo

segundo, lembrei que era você, nosso quarto e nossa cama, não havia motivo

para ter medo porque você me ama. Não senti nada além de tesão depois

disso.

— Gostosa. — Nos beijamos. Ouvimos batidas de pequenos punhos

contra a porta.

— Papai! Eu acordei! — Daisy chamou.

Levi foi abrir a porta e ela entrou correndo, subindo na cama.

Percebendo a bandeja ainda com algumas panquecas e frutas, não teve

problemas em se acomodar no meu colo e atacar. Prendi seu cabelo,

cheirando seu pescocinho e beijei a bochecha. Ela me desejou bom dia,

enfiando um pedaço de morango na cobertura e sorriu. Como eu a amava…

Regularmente, Levi mostrava fotos da mãe dela e há uma semana,

visitamos o túmulo de Vivianne, para levar flores e manter a memória dela

viva em Daisy. Milo ainda era muito pequeno, ele ficou de chupeta e

chorando porque queria estar no chão e mexendo nas flores ao invés de ouvir

sua irmã relatar sua vida para sua mãe, que ela chamava de estrela no céu.
A escola sinalizou que Daisy enxergava muito bem a nova dinâmica da

casa. Ela fazia desenhos reconhecendo os lugares de papai, mamãe, dela e

do irmão. Por mais que eu não fosse sua mãe, ela me via como a figura

materna e não apresentava nenhum problema em relação a isso. Em todos os

relatórios, era apresentada como uma menina gentil, muito educada e que

exalava alegria.

Daisy chorava de birra, o dia que chorasse de tristeza, Levi iria

arrancar o coração do peito e entregar para ela. Aos pouquinhos, tentava

mostrar a ele que era impossível protegê-la de todas as dores da vida. Essas

tristezas faziam parte do amadurecimento dela. Como pai, ele se recusava a

acreditar que não podia impedir que seu coraçãozinho fosse partido um dia.

Eu queria que meu pai tivesse se preocupado daquela forma comigo.

Esse era um dos muitos motivos que Levi era o homem da minha vida.

Milo acordou e a nossa rotina começou com tudo. Eles me ocupavam e

mantinham minha mente longe. Com o passar do tempo, os pensamentos ruins

foram se dissipando e eu me percebia como uma Ava melhor que antes do

sequestro. Alguém com sonhos mais claros, objetivos mais lindos e com

expectativa de um futuro ainda mais bonito que antes.

Seria mentira se eu dissesse que passaria por tudo de novo para estar

ali. Doeu muito e era uma dor difícil de superar, porém, eu estava bem por
ter vencido e feliz com a família que tinha. Eles eram mais que qualquer

conto de fadas.

No final do dia, reparei que Levi parecia um pouco tenso. Ele estava

falando muito ao telefone, andando de um lado ao outro, bem distante para

que não pudesse ouvir. Lucas entrou e saiu diversas vezes, aguçando minha

curiosidade e preocupação. Esperava que estivesse tudo bem, porque eu não

queria mais saber de mais conspiração. Queria seguir com a nossa vida em

paz.

Melissa não me atendeu e ficou quieta pelos dias seguintes, somando

com a estranheza de Levi sempre que estava longe e a agitação de Lucas.

Eles disfarçavam quando questionava. Quando Davina ficou esquisita e

sorridente, perdi minha paciência.

— Sabe o que está havendo? — Cruzei meus braços, encurralando-a

entre a dispensa e a geladeira. — Não fuja de mim!

— Pode, por gentileza, aproveitar o momento? — Ela apertou meu

nariz.

— Só me diz se é ruim.

— Não é ruim. — Davina me deu um beijo barulhento e me enxotou da


cozinha.
Se não era ruim, eu podia esperar mais um pouco antes de torcer o

pescoço de Levi por ser tão misterioso.

— Você vai passar a noite pescando? — questionei meio ultrajada.

Estava frio, quase nevando, mal dava para passar cinco minutos do lado de

fora.

— Eu vou acampar com Lucas. Nós fazemos isso todo ano nessa

mesma época, ajuda a melhorar nossas habilidades até na época fria.

Olhei para a janela. O tempo lá fora parecia horrível.

— Ava, sério? Você vai ficar puta por que eu vou sair?

— Ah, me desculpa! — Bufei com uma revirada de olhos, bem


chateada. Ele parou de guardar as coisas na mochila e me deu um olhar

gelado. Opa. — Poderia ter falado comigo antes.

— Poderia? Deveria? Será mesmo?

Miserável. Irritada, dei as costas.

— Ava! Venha aqui! — ele comandou. Levou tudo de mim para não
voltar. Eu não sabia exatamente porque fiquei irritada, talvez porque ele

havia passado os últimos dias sendo misterioso com coisas estúpidas. —


Ava!

Droga. Parei, virei e cruzei os braços.


— Ser petulante não ajuda em nada. — Ele me agarrou pela cintura,
me fazendo abraçá-lo. — Me beije, amor. Não faz assim porque terei que te

dobrar no banco e te fazer lembrar quem manda nessa casa e em você.

Quase bufei, mas ainda não estava pronta para receber um castigo
como frustração sexual quando o clima implorava para rolar na cama. Ou

algo pior. Levi era muito criativo quando se tratava de me "punir" por ser
insolente ou dar-lhe respostas ácidas que o deixava sem reação na hora.

— Vai ficar bem? Vocês não vão aprontar para provar que são super
machos e dominantes, certo? — Olhei em seus olhos, querendo ter certeza

que seria apenas um acampamento simples e não uma aventura na selva à


beira do rio. — Sou jovem para ficar sozinha e criar duas crianças. Promete

se cuidar?

— Isso tudo por que está com medo que me machuque?

— Claro que sim! Está frio e o tempo está esquisito! — Apontei para a

janela.

— Ficarei muito bem e o tempo vai abrir amanhã. — Segurou meu


rosto e me beijou. — Faça uma festinha com as crianças, aproveite para

comer besteira e amanhã cedo eu volto.

— Se cuida. Te amo.
— Eu também te amo muito, hoje e sempre. — Esfregou o nariz no meu
e pegou sua mochila. Ele deu um tapa na minha bunda e foi embora.

Observei os dois subirem a colina e fiquei tensa. Tranquei a porta e


acionei os alarmes, já estava tarde e Allie estava quase indo embora. Ela

morava na propriedade, mas estudava muito para passar em medicina. Levi


pagava seus estudos e permitia que tivesse um horário flexível para se

dedicar. Ela se despediu e eu peguei Milo, que imediatamente agarrou meu


cabelo. Segurei seu pulso a tempo e beijei a mãozinha safada.

— Até você parar com isso, vou ficar careca.

— Sabe que dia é hoje? — Daisy subiu no sofá.

— Não, querida. Que dia é hoje?

— Ano novo! — Abriu os braços, empolgada.

— Ainda não é a virada do ano, faltam duas semanas e nós vamos


comemorar!

— Papai disse que é hoje. — Ela deu de ombros, contrariada.

— Quando ele disse isso?

— Antes de sair, oras! — Arregalou os olhos, me fazendo rir.

Davina se aproximou com chá quentinho e cookies. Daisy parou com

sua tagarelice sobre ser ano novo. Levi já deveria estar conversando com ela
sobre as festas de fim de ano, principalmente porque estaríamos com mais

duas pessoas, que apesar de conhecer Melissa, viu apenas em meu


aniversário. Toda vez que falei com Sky, mãe de Melissa, ela parecia bem,

se recuperando de tudo que havia passado ao lado da filha. Eu não insistiria


que elas ficassem conosco se acreditasse que poderia ser algum risco para

as crianças.

— Quer tomar seu banho? Eu vou ficar com eles para você — Davina
ofereceu.

— Vou aproveitar, obrigada.

Tomar um bom banho quentinho fazia qualquer mulher feliz. Levei um


tempo no chuveiro, lavei meu cabelo, escovei e passei a pomada em um

hematoma na minha perna. Durante os jogos, raramente ficava marcada,


mesmo com chicote ou a própria mão dele. No treino, eu ficava toda roxa e

cheia de pequenas marcas da roupa. Era uma incógnita a ser decifrada.

Enrolada na toalha, reparei um conjunto de roupa quentinha separada

em cima da cama com um bilhete de Levi para vestir. O que o maluco estava
aprontando? Vesti a roupa, me agasalhando e ao sair do quarto, topei com

Davina terminando de colocar gorros nas crianças. Ela apenas sorriu, me


entregando Milo e sinalizou para segui-la.
Daisy agarrou a mão dela e seguimos para o terraço. Eu ia questionar,

até que reparei nas luzes entre as árvores, iluminando quase todas elas ao
redor da casa e uma frase formada no gramado. Parecia velas ou pequenas

caixas quadradas com luzes amarelas dentro. Parei, levando minha mão à
boca, completamente chocada.

— Caramba! Quantas luzes! — Daisy gritou, puxando minha calça. —


Muitas! O que é, Ava?

— Papai está perguntando se eu quero casar com ele! — sussurrei,

com meu coração batendo forte no peito e meus olhos transbordando em


lágrimas.

— Como nos livros das princesas?

— É, amor. É os “felizes para sempre". — Segurei sua mão e agachei


à sua frente. — Tudo bem para você se eu aceitar?

Daisy abriu um sorriso enorme.

— É claro que sim! — gritou, pulando no lugar e me abraçou, junto


com o irmão. Milo gritou, puxando o cabelo dela e rapidamente separei os

dois.

— Será que poderei ter minha resposta? — Levi falou atrás de mim.

Fiquei de pé e virei. Lucas sorriu, esticando os braços para pegar Milo


e segurou a mão de Daisy, parando ao lado de Davina. Levi tirou a caixinha
do bolso e abriu, ajoelhando à minha frente. Aquele homem dominante que
não se curvava para ninguém, me tinha de joelhos quase diariamente, estava

curvado à minha frente e da nossa família, por amor e por desejar passar o
resto da vida dele ao meu lado.

— Primeiro você chegou nos meus sonhos e depois, o destino deu um

jeito de nos unir. Você é a mulher mais incrível, generosa, apaixonada e


minha companheira perfeita. Ava, você me daria a honra de ser minha

esposa?

— É claro que sim! Mil vezes sim! — Me joguei nele. Levi me

abraçou apertado.

— Aqui está sua aliança e ela vai ficar no seu dedo para todo sempre.
— Deslizou o lindo anel no meu dedo. — Combinou. Acho que tenho um

bom gosto.

— Ele me lembra algo…

— É, bem por aí. — Sorriu, segurando meu queixo e me beijou.

Sem aviso, fogos de artifícios explodiram no céu e gritei de susto, ao


mesmo tempo, maravilhada com as cores. Daisy começou a pular dizendo

que era ano novo. Milo apontou para o céu, sorrindo. Eu amei o quanto Levi
preparou um espetáculo para nosso noivado e tornou ainda mais memorável.
Abraçados, assistimos tudo, junto com as pessoas que faziam parte da vida
dele e que se abriram completamente para mim.

A garota assustada e desconhecida, que chegou temendo ser trancada.


Cada um deles ajudou a quebrar minhas correntes.

— Você não vai parar de chorar? — Levi sorriu tranquilamente,

passando o polegar no meu rosto. — Acalme-se, amor.

— Não consigo. É simplesmente o momento mais incrível da minha

vida.

— É um dos muitos da nossa vida.

O amor dele me libertou. Nosso destino foi traçado muito antes que

nossas almas se encontrassem nos sonhos. Destinada a ser dele, eu estava


mais que pronta para viver essa paixão.
Capítulo 34 | Ava.

— É hora do felizes para sempre! — Daisy invadiu meu quarto

gritando em seu pijama azul claro. Ela pulou na cama, atropelando o pai e
saltou em cima de mim. — Vamos ser felizes para sempre!

— Bom dia, amor! — Abracei-a apertado. — Somos felizes todos os

dias porque nos amamos, lembra?

— O amor é o mais importante de tudo! — ela falou com sua voz fofa
e algumas palavras enroladas, mas já entendia seu vocabulário por inteiro.

— Bom dia, papai.

Levi apenas bufou com um sorriso. A garota parecia um furacão. Ela

teve dificuldade para dormir depois do noivado, pulando no lugar que seria

a menina da flor. Não tinha certeza se ela sabia o que realmente era, pareceu
atraente aos seus ouvidos, como no dia que disse que precisava ir ao dentista

e ela achou o máximo.

Tanto eu quanto Levi não faríamos uma festa, não só porque não havia

pessoas para convidar. Vivíamos no nosso mundinho e éramos felizes

daquela forma. Assim como também não queríamos esperar um noivado

longo, portanto, decidimos que o casamento aconteceria na noite de ano


novo. Seríamos legitimamente casados, ele tinha um advogado que faria toda

papelada e eu sairia para buscar um vestido com Davina nas próximas

horas.

— Você quer vir comigo escolher seu vestido?

— Eu quero!

— Vá para seu quarto, já irei te trocar. — Dei uns tapinhas em seu

bumbum, ela riu e me apertou.

— Allie está com Milo.

Daisy saiu dançando e o pai dela limpou a garganta, chamando

atenção, mas ela nem deu confiança. Levi foi atrás, querendo ganhar seu

beijo de bom dia e ri, indo para o banheiro.

— Antes eu era tudo na vida dela, aí você chegou e eu… — Ele voltou

e me abraçou por trás. — Bom dia, noiva.

— Bom dia, noivo. — Acariciei seu braço.

— Dolorida?

— Não muito, mas… — Comemorar o noivado foi intenso. Sem jogos,


sem nada. Apenas eu e ele na cama depois que as crianças dormiram. Foi

nossa festinha particular. Jantamos juntos, dançamos, trocamos beijos

intensos no sofá, amasso bruto contra a parede e minha calcinha rasgada.


Noivar deixou o homem quase fora de controle, algo inédito e muito bem-

vindo.

— Vamos dar uma pausa para recuperação. Acho que deveríamos nos

abster até o casamento. — Beijou meu ombro e passou o dedo em minha

aliança.

— É uma boa ideia. Será uma ótima lua de mel. — Ele fez uma

expressão surpresa por concordar. — Ei, eu posso me controlar! Fico

furiosa quando você faz disso um castigo.

— Se fosse bom, não seria um castigo. — Rindo, agarrou meus seios e

desceu as mãos pela minha barriga, enfiando-as dentro de minha calça. —

Sem punições até o casamento. Só não esqueça que…

— PAPAI! — Daisy gritou, certamente cansada em esperar para ser

arrumada.

— Vai lá! Eu tenho que me vestir!

Ansiosa para escolher meu vestido de noiva, troquei de roupa

rapidamente e ajeitei minha aparência, com o cabelo preso e sem


maquiagem. Enviei uma mensagem para Melissa e ela não respondeu. A

única coisa que seguia estranha em tudo. Enfiei meu telefone na bolsa,

verifiquei minha carteira. Assim que apareci na sala, Milo esticou os braços,

me chamando e agarrei meu menino, dando um beijo em sua bochecha.


Allie avisou que ele ainda não havia mamado.

— Está fazendo greve de fome ou quer comer suas frutinhas?

Milo respondeu algo em sua língua, com um sorriso, sempre fazendo

charme. Meu pequenininho estava ficando esperto.

— Você tem os homens dessa casa na palma da mão — Allie brincou

do sofá. — Ele estava brigando comigo.

— Não pode brigar com a Allie, garoto.

Levi se aproximou com Daisy vestida e pronta para sair comigo.

— Não está com seu colar? — ele questionou ao ver meu pescoço nu.

— Estou com o anel. O importante é sempre ter uma joia. — Ergui

minha mão, orgulhosa da aliança brilhando em meu dedo. — Aqui. Seu filho

precisa comer. — Entreguei Milo e beijei sua boca. — Te amo.

— Coloque seu colar ao retornar — falou baixinho em meu ouvido.

— Você não pode me castigar. — Cantarolei, pegando minha bolsa e

segurei a mão de Daisy. — Adivinha quem vai dirigir?

— Rick? — Levi questionou atrás de mim e ri. Eu ia me fazer

completamente no período em que ele não podia me punir por não obedecer

às suas regras. Olhei-o sobre meus ombros. — Ava… não.

— O que foi? Só estou saindo com Daisy.


— Não me olhe com esse ar de inocente. Rick vai dirigindo ou eu irei,

de quebra, vou escolher seu vestido. — Ameaçou e colocou as mãos na

cintura.

— Se eu for dirigindo, o que irá fazer?

Com a presença de Allie e das crianças, ele apenas parecia que ia sair

fumaça das orelhas. Tentei não rir e falhei miseravelmente. Daisy reclamou

que não estávamos saindo e fui para a garagem, onde Rick já me aguardava.

Ela foi correndo na frente para ser colocada na cadeirinha e eu fui para o

lado do motorista. Não era a primeira vez que dirigia por ali, até saí com

Levi, ele queria ver minhas habilidades e como fiquei anos sem prática,

demos várias voltas ao redor.

Levei e busquei Daisy na escola mais de uma vez, com Allie no banco

de trás, com Milo e Rick ao lado. Meu futuro marido tinha medo porque eu

não tinha reflexo de direção defensiva como os demais eram treinados. Se

alguém, por acaso, surgisse nos seguindo, ele achava que não saberia como

fugir. Um homem nunca entendia o sexto sentido de uma mulher ativado no

modo fuga. Ainda mais com filhos no banco de trás.

— Ei, esperem por mim! — Lucas entrou na cozinha.

— O que você quer?

— Preciso ir à cidade — falou simplesmente.


— Têm outros carros à sua disposição.

— Para que fazer isso se eu posso usar o mesmo que você,

cunhadinha? — Ele pegou a chave da minha mão. — Vá sentar com sua

filha.

Levi parecia satisfeito segurando Milo, que esmagava uma banana nos

dedos, enfiando na boca. Dei a ele um olhar irado e fui para o banco de trás.
Daisy me entregou uma boneca para me deixar feliz. Lucas nos levou para a

cidade, o tempo todo verificando seu telefone, me deixou na loja com Daisy

e Rick e saiu. A cidade mais próxima era pequena, bucólica, linda e com

lojas o suficiente para fazer compras necessárias.

Era um centro comercial sustentado por Levi. Ele era dono da maior

parte das lojas e prédios, ajudava muitas pessoas, em troca, elas nunca

deveriam falar sobre ele. Suas empresas comandavam a região com o único

propósito de assegurar sua inexistência. Sua mãe havia nascido ali, ele tinha

parentes que não era próximo, mas que trabalhavam para ele.

A boutique que entrei estava toda em francês, já havia comprado

roupas ali e Daisy ficou reconhecendo as palavras. Ela tinha duas línguas na

escola, inglês, que falávamos em casa e francês, como boa parte da região.

Eu tinha em mente mais ou menos o que queria. Nada muito bufante,

espalhafatoso ou com brilho. Queria um simples vestido de mangas, longo,


com um tecido específico que não sabia o nome. A gerente me atendeu

pessoalmente e separou alguns modelos para mim, fui para o provador com

Daisy enquanto ela buscava vestidos de princesa para minha menininha.

— Fique aqui dentro, ok? — Coloquei-a sentada em um banco.

— Não vou sair — ela prometeu.

O primeiro não era bem o que eu queria.

— Está linda como uma rainha! — Daisy cruzou as pernas.

— Senhora, por gentileza. Poderia vir aqui fora? — a gerente me


chamou.

Estranhei, mas fui, acreditando serem os vestidos de Daisy e parei


abruptamente ao ver Melissa no meio da loja. Ela sorriu e colocou as mãos

na cintura.

— Achou mesmo que iria experimentar esses vestidos sem mim?

Gritei e fui correndo para seus braços.

— O que fez com seu cabelo?

— Cortei e pintei para mudar um pouco o visual, estar plena e bela


para o casamento da minha melhor amiga!

— Eu te liguei e mandei mensagens, sua vaca! Me deixou preocupada!

— Oi, vaca! — Daisy acenou ao meu lado.


— Oh, não! Querida, não! — Abaixei para explicar que estava errada
e ela não podia chamar ninguém de vaca. Daisy ficou confusa, mas aceitou.

— Soube quando Levi ia te pedir em casamento, eu preparei tudo para

vir e pedi que Lucas me ajudasse. Ele levou minha mãe para casa, ela ficou
exausta com o voo longo.

— Estou tão feliz que estão aqui! — Abracei-a novamente. — Vem,


vamos experimentar nossos vestidos!

Ter Melissa no preparativo do meu casamento colou um pouco do

buraco que ficou ao perdermos momentos importantes da vida uma da outra.


Na primeira semana de janeiro seria o aniversário de vinte e dois dela e

comemoraríamos juntas, como deveria ter sido nos últimos anos.

Nós passamos a maior parte do dia fora de casa. Não foi só

comprando roupas, nós nos resolvemos rapidamente. Depois fomos ao salão,


fizemos as unhas, cabelos e tive com Daisy um dia de menina que nunca pude

ter com minha própria mãe. Levi estava quase indo atrás, ele não gostava de
compromissos não controlados, mas ao chegarmos, assim que nos viu

felizes, apenas sorriu.

Daisy não parou de falar sobre o quanto nos divertimos.

— Estou curioso sobre seu vestido. — Ele me abraçou.

— É lindo e sexy.
— Então, ele combina com você. — Me beijou apaixonadamente. —
Senti sua falta. Parecia que nunca iria voltar.

— Saudade, é?

— Muita. Você me desafia e aí, eu fico louco, quero te agarrar e te


levar para a cama. — Desceu as mãos pelas minhas costas e foi me

empurrando gentilmente para a parede.

— Nada de sexo. Se formos para cama, será para dormir.

— Vamos casar agora, já tem o vestido, por que esperar a noite de ano
novo?

— Nada disso! Se controla, homem. Não consegue tolerar sua

frustração quando não sou eu implorando por sexo? — Dei um sorrisinho e


fugi de seus braços, indo para a sala de jantar. — Sky!

— Ava, minha querida! Como é bom te ver e te abraçar! — Ela me


abraçou. Melissa me avisou que a mãe estava falando mais devagar, um

pouco letárgica e sempre um pouco emocionada. — Que sonho realizado


estar aqui.

— Obrigada por ter lutado e me defendido, mesmo com sua vida em

risco. Nunca poderei agradecer o suficiente.

— Eu deveria ter saído antes, sempre tive medo em não poder dar à

Melissa a vida que o pai dela podia bancar. No final, era um dinheiro sujo.
Lamento muito. Se tivesse rompido com ele, talvez não conseguisse sustentar

aquele circo de vida perfeita e não teria machucado tantas pessoas… — ela
lamentou.

— Ou ele teria te matado e encontrado outra esposa. — Melissa

adicionou secamente atrás de nós. — Vocês precisam parar de carregar a


culpa. Nunca foi nossa, sempre dele.

— Se eu digo algo assim, você brigaria comigo por ser tão bruto. —
Lucas passou por mim e puxou a cadeira para Sky sentar.

— Vocês andam se falando? — questionei, curiosa.

— Não. — Os dois responderam juntos.

Troquei um olhar com Levi, rindo. Certo. Melissa não me encarou,

ficou brincando com Milo como se Lucas não tivesse deixado escapar que
eles se falavam. Ela não me contou nada. Só não xinguei novamente porque
Daisy iria repetir e era complicado explicar para ela sobre não chamar as

pessoas com nomes duvidosos. Ela poderia fazer na escola e me colocar em


problemas.

Melissa fugiu para seu quarto antes que pudesse perguntar. Lucas ainda
estava dando comida para Gwen depois que coloquei as crianças na cama.

Aproveitando que Levi foi tomar banho, sentei na ponta da escada que dava
para a ala que Lucas ficava. Ele ergueu o rosto, me olhando com a

sobrancelha arqueada.

— Eu sei que você vai dizer sim para sempre e será uma Blackwood,

mas eu ainda sou o cara irritado e recluso. Saia daqui. — Bufou e voltou a
acariciar sua cadela.

— Não me deixe no escuro sobre suas conversas com Melissa.

— Está com medo de quê?

— Medo? Por que eu teria medo?

— Não está preocupada que eu machuque sua melhor amiga?

— Claro que não! Nós moramos na mesma casa e eu posso


simplesmente jogar água quente no seu ouvido enquanto está dormindo. —

Dei de ombros. Ele riu sem me encarar. — Eu sei que você não se envolve
com ninguém e por mais que a ame muito, Melissa é do tipo que não desiste

de alguém.

— Eu sei. São apenas conversas. — Ele sentou no chão, bem longe de


mim. — Ela é uma garota bonita, está machucada e quis conversar com

alguém que sabia sobre tudo. Eu não sou o tipo de homem que faz parte da
vida de alguém como ela.

— Lucas…

— Vai dizer o quê, Ava?


— Vou dizer que se você se menosprezar na minha frente novamente,
eu vou te dar um soco. Não vou pressionar nada entre vocês, deixar que

façam tudo da maneira que acharem melhor, mas eu acho que deveria se
olhar como um homem que tem todo direito de amar e ser amado. — Fiquei
de pé e ajeitei meu vestido. — Não seja o tipo de pessoa que deixa a

felicidade escapar entre seus dedos por medo. Você é forte e corajoso. Você
é… um Blackwood.

Me afastei tranquilamente para meu quarto, até que o ouvi me chamar.


Virei para trás e ele estava no meio da escada.

— Obrigado, Ava.

— Não esqueça da água quente no ouvido — murmurei e fui embora,


ouvindo sua risada.

Levi já estava na cama, deitado por cima das cobertas, com uma calça
de pijama e seu torso incrível todo exposto para meu prazer. Fui me preparar

para dormir, ao invés do pijama quentinho que estava usando, escolhi uma
das camisolas de renda que havia comprado semanas antes, para usar em

noites especiais. Normalmente ele tirava logo, mesmo adorando coisas


pequenas e de renda, Levi preferia nudez completa.

Mordi os lábios e belisquei as bochechas, saindo do closet como se

nada tivesse acontecido. Ele me acompanhou com o olhar. Apaguei as luzes


principais, tirando as cobertas e almofadas do meu lado, deitei e ele me
puxou. Comecei a rir.

— Isso é maldade em um nível cruel. — Puxou a renda do meu decote


com o dente.

— Abstinência até o casamento — falei baixinho.

— Sem nenhuma brincadeirinha?

Cruzei minhas pernas em sua cintura, movendo meu quadril contra ele.

— Nenhuma.

Levi riu, me beijou e foi para seu lugar. Debaixo das cobertas,
trocamos carícias apimentadas, os dois loucos para ceder, mas sem querer

dar o braço a torcer um para o outro. Eu amava ficar agarradinha com ele e
para não ser a louca tirando a calcinha, montando nele, me forcei a dormir.

Com minha cabeça em seu peito, peguei no sono com as batidas de seu
coração.

Lentamente, a escuridão da minha mente se tornou fogo. Era quente,


sufocante e se alastrando pelas laterais do gazebo.

Abri os olhos, assustada e ele me apertou.

— Está tudo bem?

— Está tudo bem. Foi um sonho ruim.


Fazia muito tempo que eu não tinha pesadelos e não precisava da ajuda
de nenhum medicamento para ter uma noite completa de sono. Levi beijou

minha testa, me acalmando e olhando fixamente para frente, meu coração


apertou. Algo iria acontecer e dessa vez, pegaria fogo de verdade.
Capítulo 35 | Levi.

Ava entrou na academia usando um top, calça de ginástica e prendeu os

cabelos. Ela me deu um sorriso, soprando um beijo e foi se alongar na frente


do espelho.

— Por que demorou tanto? — Lucas questionou ao pendurar o saco de

areia.

— Fui tentar tirar Melissa da cama e ela me agrediu, dizendo que é


véspera de natal e não dia de treinar. Como se ela treinasse em qualquer

outro dia, só queria a companhia dela.

Na dica, Melissa entrou na academia enrolada em um cobertor, com o

cabelo em pé e pantufas. Ela se jogou em um conjunto de colchões, se

acomodando e nos deu um olhar irritado. Ava terminou de se alongar e foi


para o saco, treinar com Lucas e eu continuei na minha sequência de

abdominais.

— Acorda, Melissa! — Ava gritou entre um chute e outro.

— Estou tentando não acordar. Por que estão tão animados? É natal,

está nevando, deveríamos comer biscoitos, tomar chocolate quente e comer


bala de goma na frente da televisão assistindo a uns filmes natalinos

mentirosos — Melissa resmungou com sono. — São sete horas da manhã!

— E daí? — Ava riu e socou o saco, ouvindo a instrução de Lucas.

— Querida, ela não tem filhos — eu disse do meu lugar.

Ava continuou rindo. Milo acordou três e meia, ficou em pé no berço,


chamando, fazendo ruídos e como ele fazia isso de vez em quando, fingimos

que nada estava acontecendo até que ele deixou claro que não iria dormir

novamente. Fui buscá-lo e o peguei roendo o berço. Estava criando um

pequeno cachorro, deixando marcas de suas mordidas. Troquei a fralda e o


levei para cama, deixando-o entre nós dois.

Eu fiz de propósito. Milos se comportava com Ava. Ele era o

garotinho dela, fazia charme, ouvia o que ela dizia e sempre dormia se ela o
fizesse dormir. Eu me tornei o pai que faz bagunça. Adorava bagunçar com

meus filhos. Eu ia ensiná-lo a jogar, brincar de tudo lá fora.

Daisy ainda me respeitava. Ava dizia que era questão de tempo porque

eu era um pai bobo. Eu podia ser o que fosse para o restante do mundo, para

meus filhos, seria o melhor. Diante de todas as minhas dificuldades em me

relacionar, com toda dominância que me ajudou a ter controle de todos os

meus impulsos, estava me dedicando em aprender a diferenciar ser marido e


dominante, assim como Ava estava aprendendo a ser submissa e esposa, com

sua autonomia de mulher e amor por mim.

Depois do treino, Ava e eu fomos tomar banho e acordar as crianças.

Era natal e dia de ficar com a família.

— Eu vou passar o dia na cozinha com Davina, Melissa e Sky. Você e

Lucas vão precisar dominar os dois, tem muita coisa para cozinhar e eu

quero estar presente quando formos inaugurar a brinquedoteca. — Ela

esfregou as mãos em um creme.

— A senhora está cheia de ordens.

— Opa, me desculpe, senhor. — Ela virou e parou na minha frente. —

Devo pedir que cuide dos seus filhos, por favor?

— Muito engraçado. Está sentindo falta que bata na sua bunda?

— Talvez. — Ava sorriu, atraente. — Meu atrevimento te deixa

nervoso?

— Com a palma da mão muito nervosa para buscar aquele chicote com

franjas que adora dar pancadas na sua boceta. — Segurei sua cintura,

puxando-a muito bruscamente para frente. Ela ofegou e me agarrou, rindo.

Ainda no modo atrevida, subiu a coxa para minha cintura, exibindo sua perna

linda.

— Sem punições, lembra? — Moveu-se sugestivamente.


— Hum… cuidado, Ava. Sua noite de núpcias pode ser muito longa.

— Agarrei seu cabelo e deixei um chupão em seu pescoço. — Comporte-se.

Sorrindo do jeito que gostaria de aprontar para ser punida, ela saiu do

nosso quarto para mergulhar nos preparativos da nossa primeira ceia em

família. Daisy e Milo estavam na sala com Lucas, no tapete, com vários

brinquedos e Gwen deitada. O chão estava branco, coberto de neve, apenas

quando eles fossem maiores que apresentaria a brincadeira na neve.

Vê-los brincando com roupas natalinas já era um passo de

normalidade que podia proporcionar.

Lucas e eu não tínhamos um natal desde que éramos crianças. O pai

dele nos levava para um pub não muito longe de casa, ele bebia cerveja

mesmo no frio e nós, qualquer drinque sem álcool disponível no cardápio.

Depois, minha mãe e minha tia nos esperavam com o jantar pronto, era minha

função colocar a mesa. Eu esperava pelo dia seguinte, para ter meus

presentes. Eram os dias favoritos do ano porque nós nunca passávamos o

natal perto do meu pai.

Com o passar do tempo, o significado e carinho simplesmente se

perdeu porque não havia nenhum motivo para comemorar. Era apenas Lucas

e eu. Feridos e fodidos demais para apreciar o espírito natalino.

No final do dia, Ava se aproximou cheirando a doce.


— Daisy, seu pai e eu temos o primeiro presente de natal — ela

anunciou, animada. Parecia que era uma sala para ela e não para os dois.

— O que é? — Daisy deixou sua boneca. — Vem, Milo.

— Ele não pode ir engatinhando até lá. — Eu ri e o peguei do chão.

Nós quatro atravessamos o corredor até a nova sala. Ava deu a ideia

de criarmos um quarto para ser uma brinquedoteca, para que as crianças

pudessem brincar dentro de casa nos meses frios ou nos dias de chuva. Ela

encomendou os brinquedos e fez com que Lucas e eu prendêssemos a maior

parte para que ficasse seguro. Ela decorou e transformou o lugar em um

mundo mágico.

Ver o olhar da minha filha quando abrimos a porta quase me derrubou

no chão. Ela arregalou os olhos, cobriu a boquinha e parou no centro,

começando a dar pulinhos no lugar. Ava colocou Milo no chão e deixou que

ele começasse a explorar os brinquedos nos cestos.

— Tem um escorrega grandão! Um balanço! Ai papai, que lugar lindo!

— Daisy correu para me abraçar. Peguei-a no colo. A filha que não escolhi,
que a vida me deu e tornou tudo melhor.

— Presente de natal meu e da Ava.

— Eu amei.

— E o que a gente diz?


— Muito obrigada!

Ava sentou no chão para brincar com eles. Milo engatinhou até ela,

usando seu braço para ficar sentado e Daisy agarrou um cesto de blocos,

espalhando. Ela era uma boa irmã, sempre atenciosa. Isso não duraria

quando ele começasse a persegui-la e encher o saco.

Quando Vivianne morreu, me preocupei sobre o futuro das crianças se


algo acontecesse comigo. Lucas cuidaria deles, se esforçaria em dar o

melhor, mas não seria um pai ou uma mãe. Vivianne se preocupava e ela

queria que seus filhos tivessem uma mãe. Ava pegou esse papel para si sem

nem sequer um pedido. Ela amava e cuidava deles mais do que de si mesma.

Se entregava com todo coração para que Daisy tivesse tudo que não teve,

educava, era firme, não dormia quando ficavam doentes e não comia até que

eles estivessem alimentados.

Ela era mãe sem nunca ter tido uma. Jovem, traumatizada, era forte

como uma muralha quando se tratava dos filhos. Nossos filhos.

— O que o papai está olhando? Vem brincar! — Ava me chamou.

Nenhum homem que me conhecia fora de casa imaginaria que na

véspera de natal, meu cabelo estava cheio de prendedores coloridos, unhas

pintadas pela minha filha e minha camisa babada com marcas de dedos do
meu filho. Felicidade tinha nomes e sobrenomes. Minha felicidade era

completamente deles.

Os dias seguintes foram tranquilos como todo final de ano. Estava

muito frio e nevando, ainda bem que havia espaço de sobra para que cada

um ficasse em seu próprio canto quando a companhia excessiva enjoava.

Ava e eu éramos muito conscientes que as crianças podiam dar nos nervos

de quem não tinha filhos e não estava acostumado. Colocamos Melissa e a

mãe em uma ala tranquila, a primeira que Ava ficou quando chegou. Lucas
tinha seu próprio canto, assim como Davina.

Na manhã da véspera de ano novo, acordei primeiro e não consegui

sair da cama. Fiquei deitado de lado, observando Ava dormir. Seu cabelo
estava por todo, a boca inchada e os cílios descansando nas bochechas. Ela

fez um pequeno beicinho, virando e se aproximou, inconsciente, deitando em


cima de mim. Beijei sua testa, abraçando-a e poder tocar cada parte perfeita

de seu corpo era meu prazer matinal.

Entrar em um relacionamento com ela, considerando a maneira como

entrou na minha vida e tudo que passou, foi o passo desconhecido mais
assustador de toda minha existência. Eu poderia machucá-la ainda mais com
meu jeito de ser, a dominação podia afundá-la em sua própria mente e seus

traumas. Somado com meu passado, poderia nos transformar em ruína.


Foi diferente. Ava lutava para sobreviver. Sempre. Ela usou seus
destroços para se reconstruir e me fez acertar minhas falhas para ser o

melhor homem possível.

— Hora de acordar para se tornar minha esposa — falei baixinho. Ava


se espreguiçou, colocando a perna em cima da minha. — Você está pronta

para dizer sim?

— Diria sim agora mesmo se meu vestido não fosse lindo e se não

quisesse caminhar até você, ter sua aliança no meu dedo e fotos para nosso
álbum de família — retrucou com a voz rouca. — Uma coisa que nunca

poderá duvidar é o quanto direi sim para você todos os dias da minha vida.
Esse lugar aqui é seguro porque você é o homem que nos mantém. Te amo

por me proteger, por ser meu par, meu companheiro e por me fazer sentir a
mulher mais incrível do mundo inteiro.

— Porra, Ava. — Segurei seu queixo e beijei sua boca. — Te amo.

Quero teu sim e entrego o meu, porque você era o que me faltava.

Uma batida na porta interrompeu nosso chamego. A voz de Melissa

soou baixa, ela estava dizendo que Ava tinha mais cabelo que Rapunzel e
levaria o dia inteiro para conseguir acertar um penteado. Eu podia entender

porque as duas eram amigas. Deboche, implicância e trocas ácidas eram bem
comuns, mas não havia nada que rompesse a força que as unia.
Ava saiu da cama para se arrumar e eu ainda fiquei. Daisy entrou no
quarto para dar seu beijo de bom dia e enquanto ela não tinha que ir com as

mulheres, ficamos deitados juntos.

— Você está bem com Ava fazendo parte da nossa vida?

— Hoje é o dia do felizes para sempre. — Ela sorriu, com o rostinho

bochechudo no meu peito. — Ela é minha melhor amiga, papai. É a mamãe


da casa!

— Nunca se esqueça que por mais que Ava te ame como mãe, nós
nunca queremos que esqueça sua mamãe Vivianne.

— Eu sei. Ela é uma estrela e Ava é a mamãe que está aqui —


concluiu com esperteza.

Daisy nunca entendeu o conceito de anjo da guarda. Tentei explicar

dessa maneira, para sempre sentir sua mãe por perto, mas por algum motivo,
estrela era o que fazia sentido em sua mente e deixei assim. Lucas acreditava

que estrela era uma coisa que podia ver, já anjo, não. A psicóloga da escola
sempre elogiava o quanto eu conversava com minha filha sobre tudo.

Desejava que Daisy crescesse em um lar que pudesse me procurar para falar
tudo.

— Você pode chamá-la de mamãe, se quiser. — Acariciei seu rosto.

Em vários desenhos, Daisy colocou Ava no lugar da mamãe e até se referiu


como. — Ela vai te amar mesmo que a chame de Ava por toda vida.

— Daisy, amor! Vamos? — Ava apareceu no quarto. — Seu café está

pronto. Dadá fez muffins! Seu irmão já está comendo com Melissa.

Minha filha escapou da cama e agarrou a mão de Ava. Fui atrás, um

pouco mais devagar, só observando as duas conversarem a caminho da


cozinha.

— Ei, noivo. Temos que falar antes do seu dia de beleza. — Lucas

apareceu no final do outro corredor, perto do meu escritório. Entrei e olhei


para a tela. — Alguns dos carregamentos foram entregues. Rafaelli fez uma

nova encomenda especial e pediu para entregar especificamente com o


Biancchi em D.C. Ele já fez o pagamento e pediu para colocar um laço em

cima. Ele é um idiota.

— Pode aceitar. Ele gosta de te irritar porque já percebeu que dá

certo. O que mais?

— Tudo tranquilo. Ninguém está procurando ou pesquisando sobre


nós.

— Espero que continue assim…

Lucas me deu um sorriso.

— Eu também espero. Agora, vamos comer. Eu tenho minha missão de

padrinho de casamento, que é cortar o seu cabelo e fazer sua barba. Além de
te ajudar a tomar conta do pestinha.

— Cortar meu cabelo?

— Ordens da noiva. Está com muitas exigências.

— É assim com mulheres, eu acredito. Ava é cheia de muitas delas.

— Está se tornando um marido de verdade. Entendi e aceitei seus


motivos com Vivianne, foi nobre, mas ela não era sua esposa. Uma coisa é

ter uma mulher mesmo…

— É foda. Tem dias que eu não entendo o que ela quer, mas não troco
nenhum segundo ao lado dela por nada. É assim que tem que ser, quando

estiver pronto, vai sentir isso com Melissa.

Lucas ergueu o rosto e me deu um olhar irado.

— Vai se foder. — Saiu do escritório e fui atrás, rindo.

— Essa reação adolescente torna tudo ainda mais legal. — Eu não ia


deixar de provocar.

— Você tem sorte que hoje é seu casamento, porque eu ia te dar um


soco.

— Lucas e Melissa se beijando…

— Foda-se! — Ele voltou com tudo para cima de mim, tentando me

derrubar no chão, virei e o imobilizei, pressionando-o contra a parede. —


Não faça essa brincadeira na frente dela.

— Claro que não, idiota. Só quero ver as suas bochechas vermelhas.

Bufando, deu um tranco e me jogou do outro lado. Ava apareceu com

um pano de prato na mão e arqueou a sobrancelha. Lucas e eu nos separamos


e fomos comer.
Capítulo 36 | Ava.

— A noiva está pronta! — Sky anunciou para Melissa e Davina, que

estavam do lado de fora do closet, vestindo as crianças. — Você está tão


linda, Ava.

— Obrigada por estar aqui comigo hoje — falei baixo, com a garganta

fechada de emoção.

— Eu não perderia por nada no mundo. — Ela tocou meus ombros.

Voltei a me encarar no espelho e não podia acreditar na minha beleza.

Melissa fez meu cabelo e maquiagem, eu dei um retoque e outro, mas, não
imaginava que ficaria tão bonita. Meu vestido era off-white, de mangas,

acinturado e bem longo. A saia era leve e fluída, em um estilo jovem e

romântico que eu usava normalmente e não seria diferente no meu casamento.


Nos pés, escolhi uma sapatilha clara, porque não havia motivos para usar

saltos em casa.

O andar inferior estava decorado com as flores que encomendei, as

luzes e balões prata, porque Daisy acreditava que toda festa precisava ter

balões.
Ajeitei minha saia e subi um pouco para conseguir andar. Milo ainda

estava só de fralda, com o cabelinho molhado, já Daisy, pronta com o cabelo

cheio de cachos fixados para durar a noite inteira. Ela estava se sentindo

uma princesa com seu vestido azul claro bufante, com um laço rosa na

cintura. Parando de tentar pentear o cabelo do irmão, ela me olhou com os


olhos bem arregalados e sorriu.

— Você está linda, mamãe!

Senti que meu mundo deu um giro completo tão rápido que precisei me

apoiar na mesinha ao lado da cama.

Daisy me chamou de mamãe. Eu nunca exigiria que ela ou Milo me

chamassem assim, não mudaria meu amor e dedicação, mas ouvir era

simplesmente perfeito. Era lindo. Abri meus braços para que ela pudesse me

abraçar e consegui controlar minha emoção. Até o casamento acontecer,

ficaria completamente bagunçada se chorasse a cada momento.

Vesti Milo e entreguei à Davina, que usando um lindíssimo vestido

magenta, avisou que organizaria tudo para que eu pudesse descer e

finalmente dizer sim para Levi diante de todas as nossas testemunhas. Sky foi

com ela. Melissa e Daisy aguardaram comigo, com o sinal, peguei o buquê

de rosas brancas e desci as escadas até a sala.


Levi me aguardava na ponta, para andarmos juntos pelo tapete. Seu

olhar em mim foi mágico. Ele engoliu em seco, com os olhos brilhando e

esticou as mãos. Daisy estava com sua cesta e perguntou quando poderia

jogar as flores, autorizamos, ela foi na frente espalhando as pétalas enquanto

a música tocava. Escolhemos Endless Love acústica, sem qualquer som

instrumental ou de piano porque não gostávamos.

Sky ficou no lugar para conduzir a cerimônia que seria relativamente

rápida, sem uma mensagem. Lucas entregou a Levi minha aliança.

— Não sou o homem mais romântico do mundo e muito menos o mais

doce, sei que sou determinado e nessa minha vida louca, amar alguém como

eu amo você nunca pareceu possível. — Ele segurou minhas mãos. As

lágrimas escorriam pelo meu rosto sem pausa. — No dia em que te vi, não

imaginei que você seria minha esposa, que formaríamos uma linda família.
Eu quero passar todos os dias da minha vida ao seu lado, sendo seu melhor

amigo, seu homem, seu companheiro e pai dos seus filhos. Prometo te amar

mesmo quando tudo parecer difícil. Serei seu na alegria e na tristeza, na

saúde e na doença, na riqueza e na pobreza até que a morte nos separe.

Entrego essa aliança como a marca da minha promessa e do meu amor. —

Ele deslizou em meu dedo e entregou um lenço. Parei um pouco, soluçando e

eles riram. Levi me abraçou apertado.


Sequei meu rosto e me recompus. Melissa me entregou a aliança e Levi

sorriu. Nós escolhemos juntos, porém, mandamos gravar frases

separadamente.

Beijei seu dedo antes de deslizar o anel. Ficou perfeito ali. Sua

primeira aliança. Tirando os relógios caros, Levi não não usava nenhum tipo

de joia.

— Nosso primeiro encontro foi nos sonhos e eu nunca iria imaginar


que o homem que acreditava que fazia parte de um pesadelo, se tornou o

amor da minha vida. Você me resgatou, me ajudou a reconstruir minha

confiança, a me libertar dos meus medos, quebrar as correntes e me fazer

sentir uma mulher inteira novamente. — Parei um pouco para respirar fundo.

— Você me deu a família que nunca tive e sempre sonhei. Desejo

ardentemente passar todos os dias da minha vida ao seu lado, com mais

filhos, mais amor e mais de tudo de bom que a vida tem para nós. Prometo te

amar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza

até que a morte nos separe.

— Agora, eu acho que vocês podem se beijar! — Sky bateu palmas.

Levi segurou minha cintura e abaixou o rosto, beijando minha boca

pela primeira vez como meu marido. Foi mágico. Ele encostou a testa na

minha e acariciei sua nuca, apaixonada.


— Com vocês, Levi e Ava Blackwood! — Sky anunciou com orgulho.

Nós viramos e sorrimos para as fotos que Lucas tirava.

Milo começou a chorar, ele me chamou diversas vezes durante a


cerimônia e eu fingi que não ouvi. Esticando os braços para mim, peguei-o e

Levi pegou Daisy, paramos para a fotografia de família que eu faria questão

de colocar em um quadro na parede da sala. Aquela mansão enorme e

centenária era uma casa repleta de amor. Fiz questão de tirar fotos com todo

mundo, seria meu único casamento, eu tinha que aproveitar.

O jantar estava uma delícia, o bolo de casamento que eu fiz com

Davina pegando receitas na internet ainda melhor. Nós poderíamos

encomendar tudo fora, porém, estava frio, não era para muita gente e

decidimos nos arriscar. Se ficasse uma completa merda, poderíamos

recorrer a uma confeitaria que encomendávamos os pães semanalmente.

— Vem dançar comigo. — Levi levantou e esticou a mão.

— Até a nossa dança de casamento é uma ordem? — brinquei,

aceitando e ele me conduziu para o meio da sala.

— Se você não gostasse, não ficaria arrepiada. — Olhou diretamente

para meu braço e bati nele, rindo. — Todas as suas danças serão minhas a

partir de agora.

— Eu sou integralmente sua, não há motivos para lutar quanto a isso.


— Foram longos dias longe de você — falou baixinho.

— Tenho um presente de núpcias.

— Sério? — Ele soou feliz. — Eu também tenho.

— Devo parar de beber?

— Não, hoje é o nosso dia, quero comemorar. Em outro momento,

faremos a preparação correta para jogar. — Abaixou o rosto e me beijou.

Deitei minha cabeça em seu peito, balançando de um lado ao outro, ouvindo

as batidas suaves de seu coração e amando suas mãos esfregando minhas

costas.

— Você está feliz?

— Muito. Não há como descrever o quanto meu peito está quase

explodindo de felicidade.

Estar casada com Levi era mais uma curva do destino, que provava a

cada dia que não tínhamos controle do que iria acontecer em nossas vidas.

Eu ia completar vinte e dois e tinha muito para aprender, muitos sonhos a

serem realizados e como mulher, realizações pessoais que me foram tomadas

por causa do sequestro. Aceitar o que a minha família fez e o que fizeram

comigo por causa disso ainda levaria tempo.

Levi pegou Daisy para dançar. Ele era gentil e o perfeito cavalheiro.

Aquela menina nunca aceitaria menos que o pai dava e tinha que ser assim.
Dancei com Milo, rodopiando com ele pela sala, ganhando sorrisos e

olhares brilhantes de volta. Nervoso, com os dentes coçando, agarrou meu

queixo. A pressão de sua boca no desespero era dolorosa.

— Milo quer devorar a mamãe. — Daisy riu do colo do pai dela. —

Por que ele morde, papai?

Cada vez que ela me chamava de mãe, meu coração explodia no peito

e sentia que iria derreter. Minha vontade era de agarrá-la e beijá-la até que
explodisse.

— Os dentes estão crescendo, coça e ele sente um pouco de nervoso.


Logo vai passar. —Levi a tranquilizou. — Ele está febril?

— Não. Está bem, só nervoso mesmo — garanti. Milo começou a ficar


extremamente ranzinza a partir daquele momento. Estava tarde e ele não quis
ir no colo de mais ninguém, nem mesmo de Davina, que ficaria com eles

depois da virada.

Quando aceitei fazer parte da vida de Levi, ciente dos filhos e

assumindo parte dessa responsabilidade, eu sabia que não seríamos como


um casal de namorados despreocupados sem filhos. Eles eram minha

responsabilidade também e mesmo com os abraços e beijos da meia noite,


Milo seguiu chorando e irritado em meus braços.
— Acho que a nossa noite de núpcias ficará para amanhã — falei com
pesar para Levi.

— Eu sou orgulhosamente seu marido e sei que poderei estar com você

o tempo todo. — Ele beijou minha testa. — Vamos dar atenção a ele. Daisy
já deve estar no décimo sono.

Milo era um garotinho de horários como o pai e Daisy mais


aventureira, no entanto, perto das dez horas, ela estava com sono e pediu

para subir. Ele dormiu pouco, chorando a cada duas horas, enfiando os
dedinhos na boca e fez com que Levi ficasse sentado segurando um

mordedor em sua boca. Era uma fase terrível.

Cedo, senti fome e saí da cama. Levi estava dormindo com Milo, não
fiz muito barulho, pretendia voltar logo que meu estômago parasse de roncar.

A cozinha estava vazia, fria e silenciosa. Esfreguei meus braços antes de


colocar água na chaleira e ouvi passos suaves se aproximando. Melissa

entrou na cozinha e agarrou um bolinho, dando uma boa mordida.

— Faça para mim também — pediu, puxando uma cadeira para sentar.

— Isso que dá só beber. Eu deveria ter comido ou não estaria faminta.

— Você estava linda e radiante — ela comentou com um sorriso. —


De todos os casamentos que fui em minha vida, vocês dois estavam exalando

amor. Até mesmo Levi, que é todo quieto na dele, mas não tem problema
nenhum em demonstrar com aqueles olhos o quanto te ama. Eu fotografei
vários sorrisos que trocaram, apaixonados e até me deu vontade de casar

também! Te ver assim me enche de felicidade.

— Deveria encher de esperança também, sabe?

— É mesmo?

— Você não quer falar comigo sobre o Lucas. — Coloquei duas


canecas na mesa com os sachês de chá. — Está com vergonha?

— Não é que não quero, é que não tem o que dizer… — Deu de
ombros.

Peguei alguns muffins prontos, me aproximei dela e preparei os chás.

— Não tem?

— É complicado, Ava. Lucas não é quente e frio, uma hora, penso que
ele está se aproximando e na outra, parece que um iceberg com quilômetros

de distância emocional. — Encolheu as pernas na cadeira. — Eu sei que ele


tem muitos problemas emocionais, fiz uma brincadeira sobre alguma coisa

relacionada a pele e ao corpo, foi sem querer e soou sem noção, mas não foi
para chateá-lo. E cara, ele é super gostoso!

— As cicatrizes fazem com que ele se sinta menos homem e menos


atraente. Levi também tem um pouco de vergonha, mas na verdade, ele

encontrou a superação de tudo que aconteceu com a dominação. Ele foi até
um clube uma noite, arrumou uma briga e havia um dominante lá. Não sei

detalhes de como funciona, mas esse homem o treinou e ajudou a ter a mente
no lugar. — Mexi as pedrinhas de açúcar no fundo da minha caneca para

dissolver.

— Levi foi submisso de alguém? — Melissa arregalou os olhos.

— Não. Ele foi um aprendiz, mas não um submisso. Levi teria que

nascer de novo para se submeter a outra pessoa. Sem contar, que a natureza
dele, controladora e um tanto focada ajudou bastante, mas Lucas não tinha a

mesma história que Levi. — Olhei nos olhos de Melissa. Ela precisava
compreender a profundidade da escuridão de Lucas. — Ele tinha um pai que

o amava e uma mãe que lhe dava colo. Ele tinha um lar, escola, amigos…
uma vida inteira que perdeu por causa do pai do Levi. Ele era normal. Levi
cresceu na dor, se tornando uma pessoa tortuosa e acostumado com o ódio.

Lucas foi moldado no fogo, não estou diminuindo as dores de Levi, elas
foram a longo prazo, de Lucas foi de supetão. Estou te falando isso porque se

você quer estar com ele, se realmente gosta, terá que ter paciência porque
tudo que Lucas espera é que saia correndo.

— Sabe da história toda?

— Não. — Fui enfática para não pensar que estava escondendo


qualquer coisa dela. — Levi não consegue contar tudo de uma vez, ele é
como uma cebola, cada camada traz um pouco de lágrimas. Nós

conversamos sobre como ele chegou a ser um dominante, a gostar disso no


quesito sexual, mas com o tempo, para ele ficou um pouco diferente. Ele fica

satisfeito com qualquer tipo de relação sexual, contanto que seja a figura
dominante, mas fazer tudo torna as coisas… melhores. — Dei-lhe um

sorrisinho. — Na verdade, ele precisa estar no controle e eu não me


importo, me poupa de um monte de coisa. Levei um tempo para entender que

isso não significava que eu não tenha direito a ter autonomia e opinião.

— É muito interessante esse tipo de relacionamento, mas não é para


mim. Na primeira ordem dada, um vai tomar no cu iria sair no mesmo

segundo — ela resmungou e soltei uma risada.

— Dá um pouco de nervoso sim, no começo eu achava que ele estava

me tratando como um cachorro. Estalando ordens a todo tempo. — Sorri ao


lembrar do quanto me estressava. — Depois que compreendi e aceitei,

passou a ser natural. Sou atrevida e respondo de vez em quando. É mais forte
que eu. A punição vem e nem sempre é ruim. — Balancei as sobrancelhas.

— Deus, Ava! Que pervertida! Você nem queria beijar os garotos na

escola e se aventurar em festas! — Ela riu e me empurrou um pouco.

— Acho que já sabia que quando me entregasse, seria algo

completamente insano e intenso. Eu não me arrependo e amo cada segundo


com Levi.

— Um brinde! — Ela ergueu sua caneca e batemos. — Obrigada por


me falar sobre Lucas. Estou morando longe e ainda não sei o que será da

nossa vida esse ano, mas sei que irei mostrar a ele que não sou de correr.

Daisy apareceu na cozinha, de pijama, meias e colocou as mãos na

cintura, ultrajada que estávamos comendo sem ela. Subindo no meu colo sem
pedir licença, agarrou um bolinho e começou a conversar com Melissa. Por

um segundo, imaginei-a adolescente, falando animadamente com sua melhor


amiga, vivendo momentos incríveis e felizmente, eu estaria ali para ver tudo

de perto.
Capítulo 37 | Ava.

Davina pegou Milo e levou para a brinquedoteca junto com Daisy.

Melissa e Sky também se comprometeram em ajudar a olhar meus pestinhas.


Levi estava fora do quarto quando entrei, me preparei para termos um

interlúdio necessário de núpcias usando a roupinha complicada que comprei

para surpreendê-lo. Eram tantas tiras que cansei na metade do caminho,


desejando que ele não entrasse me procurando e estragasse tudo.

Na frente do espelho, terminei de me vestir com o conjunto de calcinha


e sutiã de renda, bem sexy com várias tiras que se ligavam, fazendo parecer

que estava amarrada. Ele iria adorar. Prendi meu cabelo em um coque

elegante e passei um pouco de maquiagem. Me enrolei em um chique roupão


de cetim, usando o colar que ele me deu no meu aniversário e fui para o

banco.

Enviei uma mensagem, solicitando a presença do meu marido no


quarto com um emoji provocante em seguida. Fiquei na posição correta, em

cima do banco, ajoelhada, com as mãos nos joelhos e meu olhar treinado

para baixo.
Ouvi o barulho da porta abrindo e pelo canto do olho, seus pés. Ele

fechou e trancou.

— Fui intimado a comparecer neste quarto como marido?

Fiquei quieta. Ele não havia me dado autorização para falar. Levi foi

até seu armário e eu sabia que pegaria um dos chicotes que mantínhamos

escondidos ali. Retornando, colocou a ponta no meu queixo e ergueu meu


rosto.

— Por que não está nua como deveria? Me responda!

— Faz parte do meu presente de núpcias.

— Devo desembrulhar?

— Se é o seu desejo, marido — falei baixo, com um olhar

propositalmente tímido.

Ainda usando a ponta do chicote, ele puxou o laço do meu roupão e

deixou frouxo. Tomando cuidado, foi tirando o tecido de seu caminho até que

fiquei completamente parada para que pudesse me observar. Levi abaixou o

rosto e me beijou, intensa e profundamente, agarrando meu cabelo e me

conter para não agarrá-lo de volta era difícil.

— Fique de pé — ordenou com seu tom brusco, mas ofereceu a mão,

para que eu pudesse levantar tranquilamente. — Vá para a ponta da cama.


Passei por ele e ganhei um estalo do chicote na bunda, dei um pulinho

e parei onde queria. Virei de frente e esperei que pegasse uma corda de

tecido suave para dominar meus pulsos. Levi tinha cuidado com o material

que usávamos, para o bondage, ele escolhia cordas que não me

machucariam, embora já tivéssemos usado algemas. Para o shibari, era mais

sério, um ritual entre nós dois, era mágico e demandava tempo e preparo.

Eu podia confiar que meu marido nunca seria leviano com os jogos.

— Estique suas mãos à frente, baby — pediu. Rapidamente obedeci.

Ele amarrou meus pulsos, levando minha mão para cima e prendeu a ponta

da corda ali. Transpassou de modo que pudesse virar de costas para ele se

fosse necessário. — Agora irei apreciar meu presente. — Arrastou o nariz

por minha bochecha e foi passeando com os lábios pelo meu pescoço, dando

uma mordida em uma tira próximo ao meu seio, abaixando um pouco mais e
capturando meu mamilo com um beliscar suave da sua boca. — Você é

minha, baby?

— Toda sua.

— É uma delícia saber que tudo isso é meu. — Agarrou minha cintura,

descendo as mãos para meu quadril e soltou um dos lados da calcinha,

levando a mão para entre minhas pernas. — Como senti falta de estar aqui…
— Esfregou meu clitóris e me fez gemer, ficando arrepiada. — Sabe quando
ficaremos tanto tempo sem sexo novamente? Nunca. Nem mesmo em uma

renovação de votos.

— E sem punições?

— Estou com uma longa lista de punições por seus atrevimentos. Sou

um homem paciente, posso aplicar uma a uma com muita calma. — Segurou

meu queixo e me beijou, pressionando-me contra a madeira atrás de mim. O

dossel foi propositalmente reforçado e preso na parede para aguentar meu


peso. Segurei na barra, com as pernas falhando, tomada de desejo e louca

por ele.

Levi tirou a camisa de forma brusca, jogando longe e abaixou a calça,

liberando seu pau.

— Segure-se firme e coloque as pernas na minha cintura — ele

ordenou, me ajudando a dar o impulso. Sorrindo contra minha boca, brincou


com a cabeça de seu pau nas minhas dobras e empurrou fundo. Exalamos

juntos e joguei minha cabeça para trás, me sentindo cheia. — Está pronta

para ser fodida?

Não precisava responder. Segurando meu pescoço, fazendo uma leve

pressão, grunhiu estocando cada vez mais forte e mais fundo. Mordi meu

lábio com o orgasmo que explodiu, me rasgando na intensidade do meu

desejo. Meu corpo ardia por mais.


— Desce, vira e empina essa bunda! Agora! — Ele torceu a corda e

fui virada bruscamente, me inclinando para frente e fui me empinando.

Rebolei para tê-lo de volta, dentro e ele só observou, mordendo o lábio. —

Quer tudo de novo?

— Quero tudo… sempre — gemi com seu dedo pressionado em meu

outro buraco.

Dando bons tapas na minha bunda, ele voltou a estocar forte até me

fazer gozar novamente e se liberar, me preenchendo e me apertando com seus

braços. Deixei minha testa descansar na madeira fria e ele me soltou,

abraçando e levando-nos para a cama.

— Minhas cordas não são tão complicadas de tirar como essa coisa

aqui. — Ele foi puxando as fitas, confuso, perdeu a paciência e pegou a

tesoura em sua gaveta, cortando tudo fora. — Não fique chateada, o presente

era meu. — Arqueou a sobrancelha, me desafiando a reclamar e fiquei

quieta. Não queria aumentar a lista de punições.

Nós passamos tanto quanto possível aproveitando nosso dia de

núpcias, foi um presente muito atencioso por parte da nossa família. Depois

do jantar, eu já estava prontinha para dormir devido a todo exercício no

quarto. Milo ficou entre nós mais uma vez, reclamando do dente, me
chamando e pedindo alívio. Com um pouco de febre na madrugada, senti dor

no coração por não perder tirar a aflição dele.

— Toda vez que ele ficar doente, você não vai dormir? — Levi

brincou com meu olhar atento em Milo.

— Dói em mim vê-lo assim. Sei que são apenas dentes, mas é

simplesmente… — Acariciei o rostinho dele. — É normal?

— Acho que sim. Quando ele teve a primeira cólica, me senti o pai

mais inútil do mundo que não conseguia fazer a dor do meu filho passar e

pior… sem Vivianne, eu estava perdido. Sorte que Davina decidiu voltar a

viver comigo quando soube que me tornei pai.

— Ela não morava aqui?

— Antes de Vivianne ela quis se aposentar e viver com a irmã dela. Eu

não encontrei outra pessoa como ela, a nova governanta era apenas na dela,

fazia seu trabalho, não era como Davina…

— Como uma avó que acolhe todo mundo e resolve todos os

problemas.

— Exatamente. Davina entrou pela porta e riu da minha cara, disse que

tinha coisas na vida que eu não podia mandar parar ou controlar. Filhos me

ensinaram isso…
— É mesmo? — ironizei. Ele deu um tapinha em mim e voltamos a

olhar o bebê dormindo entre nós. — Não existe absolutamente nada nessa

vida que eu não farei por eles. Eu amo os dois com a minha vida.

— Isso é ser mãe. — Se inclinou sobre Milo e beijou meus lábios. —

Agora durma, descanse o máximo. Ele pode acordar de novo. A próxima

rodada será comigo. Eu te amo.

— Eu te amo.

Me aconcheguei na minha posição favorita e peguei no sono.

O tempo passou de maneira deliciosa depois do começo do ano. Com


Milo agitando tudo dentro de casa, prestes a completar um aninho, vimos a

neve ir embora e os primeiros raios de sol brilharem na grama verde, no


jardim bem cuidado com as flores lindas que voltaram a brotar. Em março,
comemoramos o primeiro aniversário do meu menininho.

Daisy exigiu uma festa. Ela adorava bolos e balões. Parecia que a festa
era dela, sempre o centro das atenções, naturalmente atraía todo brilho para

si. Correndo no gramado, descalça, ela me chamou quando a nossa nova


cadela pegou um de seus chinelos e começou a mastigar. Gwen nos deixou

poucos dias depois do ano novo, procurando um canto para se esconder na


casa, descansou para sempre nos braços de Lucas quando a encontramos.
Minha filha não entendeu e tivemos várias noites de puro sofrimento.
Gwen já tinha dezoito anos, era amada e bem cuidada, a paixão de Daisy

desde que chegou à casa. Ela chorou muito, sempre associando Gwen à mãe,
que estava no céu. Foi doloroso para mim e ainda mais para Levi. Apesar da

terapeuta da escola nos aconselhar a não ter outro cachorro porque Daisy
poderia pensar que teria tudo que queria na vida, nós decidimos que ela

precisava de uma nova companhia.

Lucas e eu fomos até um abrigo em Montreal e adotamos duas cadelas.


A intenção era uma ficar com ele e outra conosco, mas Daisy queria as duas

o tempo todo e a divisão deixou de existir. Uma se chamava Bella, como a


princesa e a outra, se chamava Primm porque Lucas aceitou a sugestão de

nome que Melissa nos deu.

— Será que ele vai dar os primeiros passinhos? — Apoiei Milo com

meus dedos.

— Quando deixar de querer correr ao invés de andar, talvez — Levi


falou atrás de mim, sentado no sofá e observando Milo dançar com o ritmo

da música. Ele tinha grama no cabelo e estava sujo até os joelhos de terra.
— Sempre com pressa.

— Puxou ao tio, que gosta de correr — brinquei e dei um olhar para


Lucas.
— Sou eu que gosto de correr, Ava? — ele rebateu.

— Não sei do que está falando. — Virei para Milo, que sorria subindo

e descendo com o bumbum de fralda. — Mamãe é pilota de fuga.

— Mamãe tem que aprender a pisar no freio. — Levi me cutucou. —


Eu não te ensinei a dirigir defensivamente para usar da maneira que quiser.

— Sigo sem saber do que estão falando, eu vou dar banho nas crianças
e colocá-las para dormir. — Peguei Milo e chamei por Daisy. Ela e a cadela

vieram correndo. Primm seguia plena dormindo na sombra. Já Bella…


aprontava todas. — Acho que terei que dar banho nos três. Essa coisa peluda

tem mais grama que o próprio jardim e não vai subir no meu sofá assim.

Levi estava com uma viagem marcada e como sempre, ficava grudado
nas crianças antes de sair. Dessa vez, ele Lucas iriam para lugares

diferentes. Me sentia insegura quando saíam separados, porque eles eram o


equilíbrio perfeito um do outro. Com o passar do tempo, eu tinha mais

controle de tudo, da casa, até de algumas empresas, ciente de todos os


passos e treinando com eles. Mas nunca deixaria de me preocupar.

Era mais fácil dar banho nas crianças separadamente. Juntos, eles
causavam um pandemônio e era como ser lavada por uma onda de sabão e

brinquedos.
— Vou sair quando eles dormirem. Não quero que Daisy fique chorosa

como da última vez. — Levi entrou no quarto de Milo com a cadela já seca.
— Deixei-a assistindo a um filme para dormir. Melissa deve chegar cedo?

— Ela só vem quando Lucas voltar. — Vesti uma camisetinha no

menino e o deixaria só de fralda. Minha amiga estava em Toronto para voltar


a estudar. Sky decidiu continuar na Europa por mais um tempo. — Davina e

eu ficaremos bem. Allie avisou que chegará hoje.

— Lucas e Melissa seguem negando que está acontecendo alguma

coisa? — Levi pegou a toalha molhada e levou para o cesto de roupa suja.

— Não tem nada acontecendo. Estão apenas… seguindo um ritmo


diferente.

— Se você diz…

Ele pegou Milo para fazer dormir e apenas observei, empurrando a


cadela para o lado sempre que começava a mordiscar o meu dedão do pé. O

sentimento de ansiedade da ausência de Levi começou a bater quando ele


pegou a mala e foi para a saída. Lucas já estava no carro, me deu um aceno

tranquilo e eu parei na entrada.

— Sem essa expressão, é claro que vou voltar para casa. — Levi me

abraçou. — Rick e os demais estão na propriedade. Eu volto na segunda ou


terça-feira. — Segurou meu rosto e me beijou. — Se comporte.
— Irei me comportar. Te amo. As crianças e eu ficaremos bem. —

Beijei-o novamente. — Volta logo, já sinto saudades.

— Tem um novo brinquedinho na sua gaveta ao lado da cama. Se

divirta enquanto estiver fora. — Deu uma suave mordida no meu lábio.

— Devo filmar?

— Filme e vamos assistir juntos. — Ele apertou minha bunda. —

Talvez deva assistir enquanto te chupo toda. Que tal?

— É melhor você ir ou não sairá mais.

Levi sorriu, soprou um beijo e foi para o carro. Encostada na soleira

da porta, fiquei observando-os até não conseguir ver mais o carro. Tranquei
a porta da frente, falando com Rick sobre acionar os alarmes da propriedade

e matei o tempo da soneca das crianças conversando com Davina, dividindo


uma garrafa de vinho rosé.

Daisy acordou sozinha, serelepe, desceu as escadas pedindo comida.

— É um poço sem fundo? Ou comer é bom, muito bom?

— Comer é muito bom! — Ela riu e subiu em cima de mim. — Quero

esse queijo.

Meu tempo de folga havia terminado. Ficar com as crianças era tão
louco que eu mal tinha tempo para pensar em qualquer coisa. Estava

planejando voltar a estudar, para concluir o que faltava e ingressar em uma


faculdade, mas sempre me perguntava como iria conseguir. Levi pensou em
entrevistar mais uma babá, para trabalhar junto com Allie, mas era um

processo de verificação longo antes de começar todas as entrevistas.

Eu ainda não tinha certeza se queria mais uma pessoa circulando pela
casa todos os dias, sabendo da nossa rotina, fazendo parte da vida e que as

crianças, de certo modo, criariam um vínculo. Era complicado. Eu também


tinha a opção de esperar Milo ir para a escola no próximo ano e estudar no

período que eles estivessem fora. A parte boa era que não havia motivos
para me preocupar. A decisão que tomasse, Levi faria acontecer. Ele

cuidaria de tudo.

No final do dia seguinte, Daisy pediu para brincar com tintas. Espalhei
um plástico no chão, deixei-a com uma roupa bem antiga e entreguei os potes

de tinta para lambuzar os papeis e a si mesma. Ela adorava essa arte. A


cadela passou correndo, deixando marcas de suas patinhas em todo piso, no

tapete e eu a impedi de subir no sofá.

Allie tentou controlar os danos, quanto mais tentávamos segurar as

crianças no plástico, mais as cadelas surgiam do nada para bagunçar tudo.


Eu jurei para mim mesma que nunca mais brincariam de tinta, principalmente

quando fiquei um bom tempo no chuveiro precisando lavar marcas de dedo


azul de várias partes do meu corpo.
Levi me ligou no momento que peguei Milo recém banhado no colo.

— Oi, baby. Como você está?

— Ava, preciso que preste atenção com muito cuidado — ele falou

sério. Ouvindo atentamente, senti que o mundo inteiro ficou em silêncio e só


havia o bebê em meus braços e as batidas do meu coração. Enquanto ele

falava, firme e dando instruções precisas, eu vi um conjunto de pássaros


voando ao leste.

O tempo não estava ruim. Não iria chover. Só podia significar que
havia pessoas na floresta.

— Você me ouviu?

— Atentamente. — Minha garganta estava fechada.

— Nunca esqueça o quanto te amo — ele falou mais baixo e as

lágrimas caíram dos meus olhos quando desligou. Eu queria chorar e cair no
chão como minhas pernas pediam, mas eu precisava agir. Era a vida dos

meus filhos que estava em risco.


Levi

Los Angeles

Parado no carro no meio do nada, observei os homens em outro carro.

Eles estavam em maior número, armados e mataram meu acompanhante, que


fazia minha segurança. Me jogaram diretamente para uma emboscada porque

sabiam que não havia outra maneira de me pegar. No volante, fiquei olhando,
tirando um telefone do bolso e fazendo uma ligação necessária.

— Oi, baby. Como você está?

— Ava, preciso que preste atenção com muito cuidado — comecei a

falar, sentindo uma queimação no peito. — Serei sequestrado. Eu não


consigo identificar quem eles são, mas são homens comuns, mistos, não há

qualquer identificação de gangue ou algum país específico. Eles estão


armados e o carro está sem placa. Estou em Los Angeles, caí em uma

armadilha. Eu acredito que saibam onde estou agora, preciso que pegue as

crianças e saia daí o mais rápido possível. Você sabe o que fazer para
desaparecer e não importa o que aconteça, irei te encontrar. Se existir

alguma ameaça aí, sem ataque, apenas defesa e fuga. Você me ouviu?

— Atentamente. — Ela soou nervosa. Ao fundo, podia ouvir Milo.

Fechei meus olhos, com medo de nunca mais ver ou segurar minha família
em meus braços novamente. Eu faria de tudo para voltar.

— Nunca esqueça o quanto te amo.

Abri a porta e joguei meu telefone no chão, pisei em cima e ergui

minhas mãos, me rendendo ao desconhecido. Por enquanto, era melhor me

entregar para depois saber como lutar. Um inimigo desconhecido poderia ter

surpresas que eu não saberia como enfrentar se não agisse friamente e


estudasse bem quem estava me captando.

Com um soco no estômago e um saco na cabeça, fui jogado na parte de

trás de um carro. A partir dali, era só aguardar.


Capítulo 38 | Ava.

Ainda com o telefone no ouvido, continuei olhando para os pássaros

levantando voo assustados com algum movimento na floresta. Raramente


havia voo em conjunto, a não ser que fosse chover e não iria. Com Milo em

meus braços, subi a escada correndo e o coloquei nos braços de Davina sem

explicações. Agarrei um interfone, chamando Rick com urgência e fui para o


escritório de Levi.

Ele tinha um binóculo e precisei subir até o terraço, ficando escondida


entre duas pilastras para olhar entre as árvores.

— Tem alguém na floresta. Levi acabou de me ligar e disse que foi

pego, levado por alguma emboscada — expliquei, nervosa. Rick avançou


para dentro, com o cenho franzido e agarrou o binóculo.

— Mandarei um dos homens para verificar de perto. Pode ser um

caçador ou alguém das redondezas. — Rick deixou o binóculo em cima da

mesa. Ele trabalhava com Levi há muitos anos e eu pude ver a preocupação
em seu olhar, mesmo mantendo o profissionalismo. — Consegue repetir tudo

que o chefe disse no telefone? — pediu e repeti as mesmas palavras. —


Senhora, estou pronto para seguir com as ordens deixadas pelo senhor, mas

se tiver algo a dizer…

— Comece todos os protocolos de segurança — ordenei e ele assentiu.


— Mande vir a equipe de Montreal. Meus filhos estão aqui, Rick. Não há

outro lugar mais seguro que esse, mas se tivermos que sair, precisaremos de

proteção. Ao anoitecer, quero os refletores do jardim virados para a floresta

e… — Minha garganta apertou. — Deixe o gazebo preparado. Se houver

uma invasão, vamos incendiá-lo e tocar o sino.

Quando a propriedade pegou fogo, foi instalado um sino em todas as

propriedades ao redor. Havia quilômetros de distância entre elas, mas o som

se propagava até a cidade mais próxima, assim o corpo de bombeiro era


acionado se houvesse algum problema com os telefones. Minha intenção era

chamar atenção.

— Estamos preparados para qualquer eventualidade, senhora. Seguirei

suas ordens. — Rick deu um aceno e saiu, já falando com os homens.

Abri o cofre, tirei três tipos de armas e suas munições, deixando

prontas para uso e espalhei em lugares estratégicos da casa, além dos que

Levi já deixava, mas nem todos eu conseguia abrir sozinha. Voltei para seu

escritório, sentei em sua cadeira e tateei a mesa por baixo para abrir o
compartimento secreto. Levi fazia aquilo com um toque, eu precisei bater

com meu punho para a gaveta pular fora.

Ali dentro tinha meu passaporte, os das crianças, seus documentos

mais importantes, senhas de contas bancárias que havia dinheiro reserva e o

código de entrada da residência em Londres. Recolhi tudo e coloquei em

uma mochila, levando para o quarto das crianças. Davina não fez perguntas,

logo que me viu recolhendo algumas roupas e organizando as bolsas deles,

me ajudou rapidamente.

Não pretendia sair, mas se fosse inevitável, eu tinha que deixar tudo

pronto. Os carros na garagem estavam abastecidos e os que ficavam no

porão também. Levi nunca deixava nada incompleto.

— Fique aqui com eles, é mais perto de correr para o quarto do

pânico. — Segurei as mãos de Davina. — Vou atrás do Rick.

— Estaremos bem aqui, menina. — Ela olhou para o esconderijo no

corredor.

— Sabe como usar?

— Estou com Levi desde as fraldas, eu sei como usar várias coisas. —

Piscou e assenti, esquecendo que ela estava na vida dele e sabia de tudo que

havia acontecido. Davina foi embora pouco antes do incêndio e voltou para

cuidar deles ainda feridos.


— Mamãe? — Daisy me chamou sonolenta. — Vem deitar comigo.

— Já volto, amor.

Ela assentiu, voltando a olhar para a televisão. Milo estava

mordiscando um brinquedo, com os olhos vibrados na tela. Ele virou o

rostinho e sorriu para mim, aqueles dois me enchiam de força. Faria tudo por

eles. Nós ficaríamos bem. Meu coração estava esmigalhado de preocupação

com Levi, mas não podia deixar o medo me paralisar.

Desci as escadas para o primeiro pavimento. Os seguranças estavam

fechando os enormes e pesados portões de ferro. Os carros estavam

propositalmente posicionados para a saída da garagem, que ficava escondida

entre as grades, sem parecer necessariamente que era um. Alguns seguranças

entraram pelas portas da cozinha, para se posicionarem no terraço.

Rick estava com seu computador ligado, com a imagem da região no


modo térmico e analisava os movimentos. Não queria dizer que não havia

alguém na floresta porque as árvores eram muitos densas e fácil de alguém

conseguir se esconder nelas. Estava quase escurecendo, peguei as garrafas

de fluidos e levei até o gazebo.

Senti arrepios ao perceber que usava um longo vestido branco,

podendo ouvir o choro do meu filho à distância, com o mesmo sentimento de

medo que tive em meu sonho. Coloquei as garrafas no lugar e voltei para
casa. Seria diferente. Nada queimaria. Ninguém se machucaria. No caminho,

ouvi estalos entre as árvores e a figura de Lucas sair dentre elas.

— O que está fazendo aqui fora? — Ele soou irritado.

— Lucas! — Corri até ele e me joguei em seus braços. — Você está

bem? Levi… ele…

— Eu sei. Foi uma emboscada, tive a última localização dele e fugi

logo que perdi o sinal, com medo de que alguém me seguisse até aqui.

Deixei meu carro longe e fiz a caminhada pela floresta o mais rápido que

consegui.

— Era você?

— Sim. Jeremy me encontrou e disse que você percebeu a

movimentação dos pássaros. Mandei que continuasse a varredura por

precaução.

— Nossa localização foi revelada?

— Não por mim. Levi teve seu telefone quebrado, conhecendo-o, sei

que ele mesmo deve ter quebrado. Qualquer um aproveitaria a chance de ter

informações. — Lucas passou o braço por meu ombro e me levou para

dentro, fechando a porta atrás de nós. — Você já ativou as defesas?

— Tudo. O que vai fazer?

— Levi te treinou bem.


— O que vai fazer, Lucas? — Parei-o, porque percebi que não estava

me respondendo propositalmente.

— Irei atrás do meu irmão. Sei o que eles querem e darei. — Lucas

saiu andando. Agarrei um livro e arremessei em sua cabeça, ele esfregou

onde bateu. — Porra, Ava!

— O que eles querem? Quem são eles? Pare de ser misterioso e de me


tratar como alguém que deve proteger!

— Claro que você é alguém a ser protegida, está maluca? Se acontecer

qualquer coisa com você, Levi vai quebrar o que resta de inteiro nele! O que

você reconstruiu! Eu vou sair e trazer meu irmão para casa! — ele gritou

comigo. Seus olhos castanhos pareciam fogo de tanta fúria. — E você vai

ficar aqui com as crianças, sendo protegida.

— Quem está com ele?

— É sobre Michelle. Eu ainda não sei se é ela ou alguém que sabe que

Levi tem as informações completas sobre ela, o dinheiro e suas filhas.

— Eu vou com você! — determinei e subi meu vestido para correr

pela escada.

— Não. — Lucas me parou, segurando meu braço. — Você tem filhos,

tá maluca?
— Tenho filhos e um marido, minha família não vai ficar incompleta.

Essa coisa toda começou por minha causa, se não quer que vá com você, eu

vou sozinha!

— Ava… não é hora para culpa.

— Você não terá contato ou apoio nos Estados Unidos, ninguém sabe

quem é e sozinho não vai conseguir nada! — Segurei sua mão. — Todos que

confiamos precisam ficar aqui com meus filhos. Precisa de ajuda e sei como
conseguir!

— O que vai fazer?

— Vamos para Nova Iorque primeiro e de lá, para Los Angeles, não há

tempo para discutir. Levi ficará por muitas horas nas mãos de quem quer
machucá-lo e nós dois sabemos, que por mais odiosa que Michele seja, a
não ser que seja pelas crianças, ele nunca entregará a localização da filha

dela. — Voltei a subir a escada. — Falou com Melissa?

Me preocupei com minha melhor amiga viajando sozinha e chegando

no meio do caos.

— Ela está vindo. Sairá de Toronto ainda hoje. Cinco minutos, Ava! É

tudo que temos para sair!

Corri para meu quarto, trocando de roupa, arrumando minhas coisas e


entrei no quarto das crianças. Davina estava sentada com eles no chão.
— Melissa chegará a qualquer momento, ela virá para ajudar — avisei
à Davina. — Volto com Levi para casa — falei mais baixo. Ela colocou

minhas mãos entre as dela. — Eles são o meu coração fora do corpo. Estou
devastada e dividida, mas eu sei que posso trazer meu marido de volta.

— Cuidarei deles e estaremos seguros aqui. — Ela me puxou para um

abraço.

— Daisy, vem aqui — pedi e ela subiu no meu colo. — Mamãe vai

sair com titio e você precisa ser uma boa menina para Dadá.

— Vai voltar logo, mamãe?

— O mais rápido que puder e quando chegar, quero um super abraço

apertado.

— Eu te darei. — Ela me abraçou e beijou minha bochecha.

— Te amo, meu amor.

— Também te amo, amor. — Sorriu, me deixando encantada.

Milo estava quase dormindo e me deu sorrisos sonolentos, cheio de


chamego. Devolvê-lo para Davina foi tão doloroso que me fez chorar. Não

querendo que me vissem fragilizada, saí rapidamente e desci as escadas.


Lucas estava com uma bolsa de dinheiro, armas e outras coisas necessárias

para nossa viagem. Ele não questionou porque eu precisava ir para Nova
Iorque primeiro, sendo que Levi desapareceu em Los Angeles, mas havia
uma pessoa que poderia nos ajudar e iria.

Era o dever dele.

Lucas conseguiu arquitetar um rápido plano, solicitando uma


autorização de voo para nosso avião horas depois que partimos de Quebec,

usando um avião que pertencia à empresa que ninguém sabia que era deles
também. Estava no nome de uma pessoa não relacionada a nós. Se alguém

estava nos observando, não conseguiriam saber onde estávamos de verdade.

Durante o voo, segurei meu colar, pressionando o pássaro entre meus

dedos para me sentir ligada a Levi. Eu não pensei nos piores cenários. Não
permiti que o desespero dominasse meu coração e me fizesse acreditar que

seria o fim da nossa vida. Eu ia encontrá-lo e iria levá-lo de volta para casa.
Eu estava disposta a fazer o que fosse preciso para isso.

Pousamos em Nova Iorque, com a equipe reduzida, Lucas foi até o

carro parado em um hangar. Ele pegou a chave com um homem que já estava
ali e parecia trabalhar no local.

— Me leve até Enzo Rafaelli.

— Tem certeza do que está fazendo?

— Para de discutir comigo e simplesmente me leve até lá.


Lucas ligou o carro e saiu do pequeno aeroporto longe da cidade,

dirigindo em alta velocidade até o centro, onde ele sabia que poderia
encontrar Rafaelli ou qualquer um que pudesse localizá-lo e dizer que

precisávamos falar com ele com urgência.

O prédio comercial era luxuoso e cheio de seguranças, mas um deles,


alto e moreno, conhecia Lucas e depois de uma conversa baixa e conversas

no telefone, fomos autorizados a subir. A sala do italiano era no último


andar, provavelmente a maior, para ocupar seu ego enorme e humor irritante.

Nunca me ressenti de Levi manter negócios com o homem que matou minha
família, sabia separar bem o que havia acontecido, principalmente, porque

eles buscaram isso para si.

Enzo estava em sua sala, me esperando. Parado em frente à janela, ele


fumava. Lucas ia entrar e eu fechei a porta, trancando.

— Em que posso te ajudar, Sra. Blackwood? Querendo ficar sozinha


comigo? — Sentou-se como se eu fosse uma mosca insignificante, ainda

olhando para a janela.

— Engula o deboche e vire-se para falar comigo. Eu não sou as

mulheres que está acostumado. — Ergui meu queixo e impus respeito. Ele
apagou o cigarro e sorriu. — Levi foi sequestrado.
— E o que tenho com isso? Seu marido é meu parceiro de negócios,

não meu amigo.

— É mesmo? Você tem tudo a ver com isso porque foi a pessoa que

começou esse caos. Levi não estava envolvido nessa história.

— Tomou a responsabilidade para si porque quis. — Ele deu de


ombros. Maldito.

— Sei que ser um cuzão é da sua personalidade, mas é do meu marido


que estamos falando e eu exijo que me ajude!

— Exige? — Ele virou, rindo, apoiando as mãos na mesa. — Quem

pensa que é? Você? Uma mulher me dando ordens?

— Eu sou a garota que você destruiu a vida e agora, eu exijo que

repare seu erro porque me deve! Não teve controle de si mesmo e matou
minha família quando deveria ter eliminado todos que te traíram naquela

noite! — falei para provocar. — Segue o jogo do Bernard porque tem


interesse. Você não ficou irritado de verdade, usou minha família para

mandar um recado e deixou que me usassem por anos! Você me deve!

Enzo levantou bruscamente de sua cadeira e quase derrubou a mesa em


seu caminho. Fiquei assustada, com medo de que me machucasse, mas ergui

meu queixo em desafio com meu peito subindo e descendo. Minha respiração
acelerada e as mãos tremendo provavelmente me faziam parecer um ratinho
prestes a ser devorado por um leão, mas ele não ia me derrubar.

— Está pensando que pode me dizer o que fazer, Ava?

— Estou te dizendo o que fazer! Você me deve! — Ia repetir até que


ele fizesse o que queria. Não sairia dali sem ajuda.

Enzo agarrou meu queixo, não para machucar, mas forte o suficiente

para me manter parada. Ele arrastou o nariz pela minha bochecha.

— Não pense que eu ainda não posso te matar por sua insolência.

Soltei uma risada.

— O único homem que pode mandar em mim é meu marido, todos os


outros, que se curvem à minha frente. Eu sou uma Blackwood, tenho dinheiro

e muitas coisas que precisa. Além do mais, não esqueça que você me deve.
— Sorri friamente, olhando em seus olhos.

— Eu não devo nada a mulheres — retrucou entredentes.

— Um dia, uma mulher vai te fazer ficar de joelhos e eu vou assistir


com prazer.

— Essa mulher está para nascer. — Ele riu e me soltou. — O que vai
me dar em troca de te ajudar? Eu não vou arriscar minha vida de graça.
Eu não podia dizer que Levi arriscaria a vida dele por Enzo porque
seria uma mentira tão ruim que não surtiria o efeito necessário no momento.

— Terá o meu perdão.

Ele riu alto, batendo palmas, agarrei um vaso de vidro e joguei em sua
direção. Ele desviou e pulou para longe dos vidros que voaram para todo

lado.

— Já pedi que engolisse o deboche. Sua mãe não te educou não,

idiota?

— Seu perdão? Dispenso. Posso viver com a sua raiva e ressentimento


por toda minha vida, já consegui o que queria: está viva, casada e protegida.

Minha dívida com você acabou. — Ele foi até o bar e limpei minha garganta.
— Meu Deus, Ava! Levi foi pego por pessoas das quais eu não posso

arriscar minha família!

— E daí? Eu não pedi um exército, pedi você e alguns que sejam leais
a você. E ah, Jackson Bernard também, mas ele eu posso pagar. Sei que vai
aceitar dinheiro — expliquei rapidamente. Ele me encarou. — Se me ajudar,
terá a lealdade da família Blackwood enquanto viver. Seus filhos também

poderão contar comigo e minha família, irei protegê-los como se fossem


meus se me ajudar a salvar meu marido. O nome Rafaelli terá honra na minha
casa.
— Gostei. Vou te ajudar.

— Deus me ajude a não te matar. — Bufei e abri a porta para Lucas,


que parecia ter úlceras do lado de fora. Ele estava armado, o outro também,

como se fossem trocar tiros. — Acalmem-se. Não temos tempo para brigas,
estamos do mesmo lado.

— Mika! Ligue para Nicola, ele está na cidade e eu preciso dele o


mais rápido possível! — Enzo ordenou ao homem moreno que estava com

Lucas. — Mande que Stefanio arrume nossas coisas! Iremos sair em trinta
minutos!

— O que você sabe? — Enzo questionou a Lucas.

Eles começaram a traçar rotas com suposições. Enzo ligou para


Jackson Bernard e pediu um preço para que ele fosse o negociador. Eu sabia

que o homem trabalhava com isso especificamente e ao que parecia, era um


dos interessados em saber os segredos que tínhamos de Michelle. Encostei
na parede, segurando meu colar, rezando baixinho que Levi aguentasse mais
um pouco. Só mais um pouco.
Capítulo 39 | Ava.

Los Angeles.

Eu era a única mulher entre seis homens. Era como um pingo no meio deles, andando pelo

hangar de um aeroporto em Los Angeles. Lucas colocou a mão na cintura quando nos aproximamos de
dois homens próximos a um carro. Um era alto, forte, com músculos bem aparentes em sua camisa

preta, calça cargo no estilo militar e botas. Ele tinha o cabelo preto, pele clara e olhos muito escuros.
Pareciam negros. O outro, era malhado, do tipo playboy engomadinho.

— Devo dizer que é coincidência que esteja na cidade com o recente acontecimento? — Enzo

foi à frente. — Que porra você arrumou, Jackson?

— Eu estava na cidade a negócios quando Alex me ligou e avisou que Dominic estava com

Michelle. — Jackson enfiou as mãos no bolso e deduzi que o outro se chamava Alex. Lucas sussurrou
que Dominic era filho de Oliver King, um nome conhecido que me ajudou a juntar peças.

— Andaram seguindo a mulher? — Lucas questionou.

Jackson sorriu.

— Eu nunca disse que iria parar.

— Talvez tenha sido isso que a levou a acreditar que Levi estava atrás dela. — Dei um passo à
frente, enfrentando-o. Ele me olhou de cima para baixo, com um pouco de desdém.

— Não foi ela que o pegou — Alex respondeu friamente. — Foi o marido. Robert descobriu

sobre a criança fora do casamento. Oliver contou a ele.

— Por que nesse mundo Oliver trairia Michelle dessa maneira? — Enzo se alterou. Era como

se a notícia significasse que seu parceiro de negócios pudesse traí-lo também. Eu não colocaria minha
mão no fogo. Ele me encarou. — Isso muda muitas coisas, Ava. Talvez eles não queiram dinheiro em

troca do Levi.

— Como descobriram isso? — questionei a Alex. Ele me encarou com mais respeito que os

outros, que me faziam sentir uma merda por ser mulher no meio deles.

— Oliver perdeu a cabeça e contou a Robert, Dominic ouviu e tentou avisar Michele, e veio

sozinho para Los Angeles. Ele avisou que o pai dele havia dado a entender que se Michelle

desaparecesse, havia outra pessoa que poderia contar tudo.

Puxei meu cabelo, pensando no que fazer.

— Tudo bem. Se eles não querem dinheiro, apenas a informação, vamos entregar quem pode

dar. Eles são casados, que se virem. — Olhei para Enzo. — Vamos pegar Michelle e entregar para o

marido. Não serei eu ou Levi que carregaremos o fardo de entregar uma criança, mas essa guerra não

é nossa. Só quero Levi de volta.

— Você tem razão, essa guerra não é e nunca foi nossa — Enzo falou comigo, mas olhou para

Jackson. — Conserte essa porra.

Jackson ficou para trás. Alex nos acompanhou e eu não sabia exatamente o motivo, esperava
que não fosse para atrapalhar meus planos. Lucas chamou minha atenção com cuidado e sem que os

outros percebessem, enfiou duas facas nas minhas botas e mais uma arma na minha cintura. Ele passou
os braços por trás, como se fosse um contato íntimo e foi andando comigo, mas na verdade, estava
colocando coisas em mim.

Assenti e engoli em seco. Treinei com eles, aprendi a lutar e a atirar, mas era completamente

diferente quando se tratava de algo real. Não era o tatame da nossa academia em casa. Não era Levi
me perseguindo na floresta. Era o pesadelo que fui resgatada quase me sugando novamente, eu estava
lutando muito para não sucumbir. Meu alicerce estava em duas crianças que precisavam do pai e da

mãe em casa.

Era por minha família. Daquela vez, eu tinha por quem cuidar.
— Robert está recusando o contato — Nicola informou de seu computador. — Ele não quer
negociar. Disse que entregará Levi vivo se ele falar o que quer.

— Eu odeio esses americanos engomadinhos de merda — Enzo murmurou.

— Tenho permissão para matar? — Nicola sorriu. A cumplicidade assustadora entre eles era
como a de Levi e Lucas, desviei o olhar quando Nicola me percebeu observando e encarei a parede.

Ele era bonito, sombrio, olhos brilhantes que atraíam como pedras preciosas.

— Vamos resgatar Levi e sair. A famiglia não tem nada com o restante e os Blackwood

também, caímos nessa porque, como sempre, querem nos foder. — Enzo pegou um cigarro. Lucas me
olhou de seu computador. Ele estava tentando rastrear Michelle, que havia fugido. — Dominic é só um

garoto, não é?

— Enzo… — Nicola falou baixo, em alerta.

— Eu gosto de pessoas que têm problemas com os pais. Assim eu não me sinto tão sozinho…
— Enzo cantarolou. Tive a impressão de que ele estava formulando um plano. — Como poderemos

rastrear uma ligação daqui?

— O que vai fazer? — Lucas estalou os dedos, se preparando para digitar.

— Enrolar um adolescente. — Enzo pegou o telefone. — Dominic não está acostumado com o

jogo. Seus motivos de se envolver com Michelle são puramente emocionais. Ele cresceu com ela como
uma tia, sem saber a guerra perigosa que ela e seu pai brincavam o tempo todo.

— Faça o que tiver que fazer. Lidaremos com as consequências depois — falei do meu lugar.

— Por que essa mulher gosta de dar a última palavra?

— Ela sabe que te irrita. — Lucas bufou em seu lugar e eu sorri, retribuindo um aceno.

— Cuidado, Enzo. Quem cospe para o alto, cai na testa. Ficarei feliz em saber sobre seu

casamento em um futuro não muito distante. — Abracei minhas pernas, ele olhou para mim como se
fosse louca e se afastou. Nicola e Lucas ficaram rindo.

— Não venha com uma profecia dessas, eu já sou casado. — Nicola ergueu as mãos, mas ele
não usava uma aliança.
— Infelizmente casado — Enzo falou da porta e olhou para Alex, que entrava com uma mala
de coisas. Ele estava usando produtos que Levi vendia e espalhou entre nós. Sem questionar ou me

tratar como uma boneca, me entregou uma semiautomática.

A agonia de esperar me causou dor no estômago. Eu não consegui comer, Lucas me obrigou a
beber uma vitamina para não ficar fraca, porque não sabíamos quanto tempo ainda levaríamos ali.

Melissa avisou que estava tudo bem em casa, mandou fotos e eu fiquei um bom tempo apenas olhando

para meus filhos dormindo na mesma cama, um de frente para o outro. Os cílios molhados de Milo
mostravam que ele chorou até pegar no sono.

— Encontrei eles e adivinha quem chegou na frente? — Lucas ficou de pé.

— Jackson está negociando com ela? — Enzo voltou, jogando seu cigarro no chão. Ele olhou o

aparelho do Lucas.

Nós saímos não muito tempo depois e chegamos a uma residência vazia no sul da cidade.

Michelle estava lá e eu não estava preparada sobre o quanto ela parecia com minha mãe. Comigo.

Cabelos negros, olhos azuis, sua pele era mais parda, puxando o lado latino da família. Foi tão chocante
que ficamos paradas, olhando uma para a outra. Ela me entregou para salvar as filhas e o que havia

adiantado?

Lucas parou ao meu lado, pronto para me defender do que fosse preciso.

— Você ficou tão bonita quanto sua mãe, Ava.

— Aquela que você era amiga e não hesitou em entregar a filha no lugar das suas?

— Sou mãe e é tudo que posso dizer em minha defesa — ela retrucou. Michelle era fria. Suas
vibrações me causavam arrepios. O tipo de mulher que não tinha escrúpulos, mas se dizia mãe e capaz

de proteger suas filhas passando por quem tivesse que passar. Trocando um olhar com Jackson, usado

como nosso negociador, ela limpou a garganta. — Eu vou me entregar a Robert, mas ele não deixará

seu marido sair sem dar algo.

— Não gosto disso — Lucas falou bem baixinho. Enzo limpou a garganta atrás de mim.
— Entregue-se e o restante é conosco. — Ergui meu queixo. — Reviste e desarme-a — falei

com Lucas. Michelle fez uma expressão contrariada, erguendo os braços. Enzo me puxou para trás, ele

e Nicola ficaram à minha frente como uma barreira.

Jackson saiu da sala, ficando do lado de fora com o adolescente que era maior que eu, que

parecia nervoso com as armas e um tanto protetor com ela. Alex disse algo a ele que o fez ficar parado

no lugar.

Lucas levou Michelle para um carro diferente do que Enzo me levou. Saímos separados, era o

combinado, mas eu estava tão nervosa que meu coração apenas martelava no peito forte, me fazendo
sentir que iria cair. Enjoada, me agarrei ao banco e prestei atenção no caminho mantendo uma

expressão de corajosa, a pleno controle de toda situação.

Estava confrontando todos os meus medos de uma vez só. Eles pareciam um caminhão que

poderia me estraçalhar se eu deixasse a máscara cair.

Enzo parou o carro perto de um prédio comercial abandonado. Dois andares, ou três, se o
estacionamento contasse.

— É ali que ele está?

— Em algum lugar ali dentro, sim. — Enzo sinalizou para que saísse do carro. — Lucas está

com Michelle, mas eu não confio nela e muito menos em todos os outros.

— Nem mesmo em Jackson?

— Confiar seria uma palavra muito forte, podemos deixar que eu sei que ele irá para onde

pagar mais. Não estava presente na conversa dele com ela e o que foi acordado. Estou aqui porque

você pediu para pegar Levi e é isso que faremos, independente deles. Vamos entrar com esse objetivo.

— Ele olhou em meus olhos e assenti. Enzo virou para Stefanio. — Vá olhar o mais perto que
conseguir.

De longe, vi Lucas entrar com Michelle. Ela estava na frente, com uma arma apontada para
suas costas, que Alex agradavelmente mirava. Dominic não estava com eles. Apenas Jackson, ainda

agindo como negociador da troca.


— Robert segue negando dinheiro. — Nicola olhou em seu telefone.

— Encontrei onde o Sr. Blackwood está. — O mais jovem dos homens de Enzo voltou. — Está

em uma sala, sozinho, pela maneira que apresenta ferimentos, ele reagiu. Tem dois dos homens de

Robert bem arrebentados recebendo cuidados em outra.

— Sabia que Levi não ia apanhar sem bater de volta — Enzo murmurou. — Espero que ele

consiga andar. Não sei como tirar ele de lá carregado.

— Me diz onde está. Eu sou pequena e posso passar pelas janelas, eu conseguirei soltá-lo.

— Pode dizer a ela, Stefanio — Enzo ordenou. — Você não terá muito tempo. Quando eu

entrar, será para acabar com a festa.

— Consigo fazer isso — falei com certeza.

Enzo não parecia certo e Lucas teria um ataque cardíaco se soubesse que eu estava entrando

no prédio sozinha, mas não havia tempo para discutir. Ficou escuro muito rápido, aproveitei as sombras
da rua sem luz para correr, mas estar no escuro me causou pânico. Eu não parei, mesmo com o tremor

que fazia com que meus braços batessem em meu tronco, pensando em todas as vezes que estive no

escuro. Dessa vez, era meu marido preso em correntes.

Stefanio me explicou como escalar o muro. O local não tinha nenhum tipo de defesa, apenas

estavam concentrados na parte da frente. Tinha dois vigiando os fundos, sem alarmes e sensores. Como

eu não era um homem ou pesada, meus passos não davam para ser ouvidos. Passei pelo
estacionamento, com a arma em punho e com a brecha da porta, escorreguei para dentro.

Entrei em uma sala para conseguir me ambientar. Levi estava abaixo. Analisando, parecia que
tinha que pular para um pátio, se estava me orientando corretamente. Encostei em uma parede, com o

coração batendo forte e sem fôlego. A crise de pânico estava subindo pelas minhas pernas. Escuro,

muito escuro.

— Você consegue, você sabe como sair da escuridão… — sussurrei para mim mesma, puxei

uma respiração profunda e segui adiante, descendo com muito cuidado para não fazer qualquer barulho.
Quase caí dentro da sala que eles estavam. Pelo vidro, observei Lucas atrás de Michelle enquanto ela

falava.

Enzo iria entrar a qualquer momento. Arregalei os olhos quando o vi entrar com Dominic

desacordado, jogar no chão e apontar uma arma. O que ele estava fazendo? Seu homem que ficou para

trás deve ter pego o menino. O imbecil arquitetou um plano acima do plano. Sempre manipulando a
porra toda.

Significava que eu tinha menos tempo ainda.

Corri pelo corredor, olhando as portas e o encontrei. A porta estava destrancada, porque ele

estava desacordado e amarrado. Bati em seu rosto diversas vezes, dando tapinhas para fazê-lo

acordar.

— Vai, baby. Acorda, anda! — sussurrei, desesperada.

Levi abriu os olhos assustado e reagiu bruscamente, desviei de sua cabeçada e segurei seu

rosto. Ele olhou em meus olhos, me reconhecendo, caindo em si e entrou em pânico.

— Vamos brigar quando chegar em casa! Você consegue correr?

— Porra, sim! Me solte! — Agarrei a faca, cortando o que segurava seu pulso e abaixei à sua

frente. Consegui tirar da cadeira, mas não soltar as correntes. Ao lado, havia uns blocos. Entreguei uma

das armas para Levi, ele virou para a porta e com força, bati na corrente até quebrar. Ela se desfez em

vários pedaços, por fim, consegui tirar tudo.

Qualquer um que tenha nos ouvido, se distraiu com os sons dos disparos do lado de fora. Ele me

puxou do chão e passamos pela janela. Corremos para frente, encontrando Lucas e os dois fizeram uma
barreira. Enzo passou por nós, gritando para irmos para o carro. Cometi o erro de olhar para dentro e vi

os corpos caindo, a ânsia cresceu e virei o rosto.

Entramos no carro às pressas. Lucas foi para o lado do motorista. Nicola entrou atrás conosco.

No outro carro, Jackson corria arrastando alguém com Alex. Eu não sabia se era Dominic ou se era

outra pessoa. Voltei minha atenção para meu marido, tocando seu rosto e beijei seus lábios. Ele me
abraçou, beijando meu cabelo e me mantendo perto.
Desejei deitar nele, me fundir em seus braços e nunca mais soltá-lo.

— Mika e Stefanio vão ficar para cuidar de tudo — Enzo avisou e parou, olhando para Levi. —
Você sempre dá trabalho assim ou é de vez em quando?

— De vez em quando — Levi respondeu, colocando a mão na barriga. — Precisam me levar

para o hospital. Estou ferido. — Ele apontou para a área do abdômen.

Me afastei para olhar o ferimento a bala.

— Não se desespere, vou ficar bem. — Ele segurou minhas mãos.

Minhas mãos ficaram sujas de sangue, olhei para elas, tremendo e senti a calça dele ficando

cada vez mais molhada. Levi foi ficando pálido. Nicola passou por cima de mim e pressionou a ferida.

Ele gritava com Lucas para que fosse mais rápido. Me perdi na confusão, eram sons desconexos, fixei

meus olhos em Levi. Ele sorriu, ferido, perdendo a consciência, mas ainda no controle o suficiente para
tentar me acalmar.

Nós não chegamos até ali à toa. Não lutamos em vão.

— É uma pequena clínica, vai servir. Entre com ele que irei resolver a parte burocrática da

minha maneira. — Enzo saiu do carro rapidamente.

Lucas e Nicola carregaram Levi para dentro. De imediato, foi atendido sem questionamentos,

mas era óbvio que um ferimento à bala chamaria atenção, principalmente que nenhum dos homens

pareciam pessoas comuns que poderiam morar em um subúrbio cheio de crianças. Enzo estava

cuidando disso, fui ao banheiro lavar minhas mãos, reparei que estava pálida e com um olhar assustado.

— Ava? — Lucas entrou no banheiro. — Você está bem?

— Acho que quero chorar.

— Ele vai ficar bem, o médico acabou de dizer que parece que não tem nenhuma hemorragia

interna e ele vai fazer a extração da bala para nos dar mais notícias. — Ele segurou meus ombros. —
Você é louca, mas conseguiu.

— Quem estava ferido no outro carro?


— Michelle. Ela tentou atirar contra Robert antes de ele sair com as informações que Jackson

deu a ele em troca do Levi. Eu não sei o que vai acontecer com eles e não me importo. Levi está

conosco, vivo e já não é mais a única pessoa que sabe sobre as informações. — Lucas olhou bem

dentro dos meus olhos. Se estivessem sendo ouvidos, aquilo seria uma verdade, mas havia muito além

do que dados sobre Michelle, o dinheiro e suas filhas ali. Tinha podre de muita gente.

— Ela vai sobreviver?

— Não faço a mínima ideia. Vamos voltar. — Ele me puxou.

Esperamos no corredor por muito tempo. Eu não quis sentar ou comer nada. Enzo e Nicola
ficaram distantes, apenas aguardando, até que finalmente tivemos notícias. Levi estava bem e precisava

descansar. Ele não apresentou nada que o colocasse em risco.

— Não podemos ficar aqui, agora que ele está fora de perigo, vamos sair e ir para um local

seguro. — Lucas passou por mim. Nicola o ajudou a levar Levi para o carro.

Enzo arrumou uma casa segura para passarmos a noite. Eu não queria saber absolutamente
mais nada além de ficar na cama ao lado do meu marido. Enquanto dormia, acariciei seu cabelo.

Melissa me enviou mensagens querendo saber desesperadamente se estávamos bem. Para aliviar um

pouco meu estresse, encaminhou fotografias das crianças e seria a primeira coisa que mostraria a Levi

quando acordasse.

Não havia mais escuridão, correntes e fogo. Apenas um futuro em paz com a nossa família.
Capítulo 40 | Levi.

Los Angeles

A queimação no meu abdômen me fez acordar e sair da letargia.

Estiquei minha mão e senti a pistola automática que Lucas colocou ao meu
lado no momento que acordei antes. O quarto que estava deitado era simples,

estava muito claro e ao meu lado, Ava dormia toda encolhida, coberta com
um casaco, completamente vestida e mesmo de olhos fechados, aparentava

cansaço.

Olhar para ela me fazia sentir raiva. Não mudava meu amor e o quanto

era louco, mas Ava estar ali apenas me causava ódio. Chegava borbulhar no

meu peito. Com dificuldade, me inclinei e beijei sua testa. Ficando acordada
a maior parte da noite para me vigiar, estava exausta, mas deveríamos sair

em breve.

Ela abriu os olhos e cobriu a boca, bocejando.

— Está na hora de irmos embora — falei baixo. Sentindo minha frieza,

ela assentiu, ciente que eu estava muito chateado.


Antes que pudesse falar algo, ouvimos uma batida na porta. Lucas

enfiou a cabeça dentro.

— Nosso avião está pronto para nos levar. Daremos carona à trupe de
mafiosos, mas temos que ir, Enzo está querendo fazer merda — ele falou

rápido e assenti, me movendo com cuidado. O curativo estava bom, doía,

mas eu já tive machucados piores. Ava vestiu o casaco e colocou a arma na

cintura. A cena me trouxe arrepios.

— Vamos sair daqui. — Segurei a mão dela bem firme. — Cadê o seu

colar?

— A corrente arrebentou na correria ontem e o pingente caiu dentro do

meu sutiã. Guardei, fiquei com medo de perder, assim que chegarmos irei

encontrar outro — ela explicou rapidamente e colocou a mão no meu braço.

— Vamos para casa.

Enzo e Nicola estavam na sala. Eu não fazia ideia o que levou aqueles

dois a estarem ali se não faziam parte da conversa. Nem eu fazia, para falar

a verdade, mas sabia demais e tinha o que o homem queria. Estar entre ele e

sua mulher foi a minha condenação. Robert foi astuto, movido pela raiva de

Oliver, que era insignificante para mim até aquele momento. Sua cabeça

estava na minha mira e eu estava com paciência.

— Tudo certo?
— Parece que Michelle não resistiu — Enzo afirmou. Lucas e eu

trocamos um olhar.

— É o que parece. Se ela está morta, quem irá atrás de suas filhas? —

Dei de ombros. Era assim que tinha que ser. — E sobre o escândalo do

resort?

— Enfiado debaixo do tapete. Robert não tem mais nada.

— Vamos embora.

Eu estava louco para chegar na minha casa e abraçar meus filhos,

dormir agarrado com minha esposa e sair das sombras. Minha mente estava
um caos de raiva. Eram muitos sentimentos avassaladores cheios de fúria a

cada novo pensamento e eu sabia que precisava voltar para meu ponto de

paz ou iria agir de cabeça quente.

Ao ser capturado, eu sabia que não era sobre dinheiro.

Quando vi quem estava me aguardando, sabia que precisava saber

negociar com muita cautela, porque não era um homem pensando com

clareza. Era um marido que foi traído e roubado, que foi envenenado por
outro que também estava com dor de cotovelo. Era a vida de duas meninas,

uma, que já estava escondida porque nem o próprio pai sabia de sua

existência.
Michelle estava cansada porque deixou rastros que nunca deixou antes.

Ela queria fugir com as filhas, roubar a organização e transformar o dinheiro

em mais ouro para ter um pé de meia bem gordo. Robert quis provas do
resort, um assassinato que ocorreu há alguns anos, envolvendo o cartel que

Michelle liderava, a família Vaughn e outra família rica de Chicago. Eram

donos de construtoras e trabalhavam com arquitetura.

O homem estava aceitando qualquer coisa que pudesse foder a mulher,

mas ele queria mesmo era a localização do dinheiro e da bastarda. Eu nunca

contaria onde estava a criança, se é que ela ainda permanecia no mesmo

lugar. O fato de Jackson Bernard continuar seguindo Michelle, fez com que

ela pensasse que eu era quem estava acompanhando-a para saber sobre o

ouro.

Ficar em silêncio provavelmente causou ainda mais histeria e eu não

apanhei sem revidar.

Jackson conseguiu fazer com que Robert acreditasse que Ava era a

menina do ouro e praticamente sobrinha de Michelle, que não existia outra

criança e entregou informações falsas sobre o resort. Ter a própria mulher

confirmando a história e lhe prometendo devolver o dinheiro, o deixou

desconfiado, porém, não mais agressivo. Com Enzo dominando Dominic à

sua frente, Robert sabia que se o garoto morresse por seus atos, Oliver o
mataria.
Ele decidiu recuar. Dominic estava fingindo um desmaio para que os

demais pudessem entrar e causar a confusão de balas e sangue por todo lado.

Era distração para Ava conseguir fugir comigo. Ela… minha esposa,

delicada e calma, não ficou em casa com nossos filhos e saiu para me salvar.

Eu deveria saber que sua determinação não a deixaria ficar parada. Ela

pensava rápido e era teimosa.

Eu a treinei para saber como cuidar de si mesma e não para sair pelo

mundo querendo bancar a rainha vingativa.

Não consegui falar muito porque estava com raiva. Durante o voo,

fiquei quieto. Enzo estava com seu humor suicida e apenas Nicola tinha

paciência, talvez porque fosse igual. Lucas e Ava estavam na minha frente,

na deles, ela me olhava de vez em quando, preocupada com minha reação e

com razão. A ideia dela ferida ou morta… porra, me rasgava o peito. Se

fosse ela baleada no lugar de Michelle, eu entraria em colapso.

Se fossem minhas mãos segurando seu sangue, a loucura iria me

dominar. Ava deveria estar segura e eu queria matar Lucas por permitir que

ela estivesse ali.

Pousamos em Nova Iorque e descemos para nos despedir.

— Eu não tenho palavras para agradecer. — Ava esticou a mão.

— Agora eu tenho?
— Você tem o meu perdão e a minha lealdade, sua honra em salvar

meu marido… — Ela sorriu e empurrou a unha no peito dele. — Mesmo que

tenha feito seus próprios planos, eu agradeço por ir e se arriscar.

— Vai deixar de me odiar agora?

— Aí você quer demais. — Ela deu as costas, acenou para Nicola e

voltou para o avião.

Enzo a observou ir e me encarou, sério. Ele enfiou as mãos no bolso.

— Sua esposa é muito corajosa, Blackwood. Ela é foda de dobrar,

difícil de ser enrolada e não desiste nem com a performance mais

assustadora. Decidiu que iria te buscar não importando o preço. Só voltaria

para casa com você, para um homem que vive no lado obscuro do mundo,

você tirou a sorte grande. Felicidades pelo casamento. — Ele sorriu torto e
foi embora para o carro.

— Sei que quer me matar, mas podemos fazer isso em casa?

— Eu não quero falar agora.

Havia muito que dizer, mas não era o momento. Eu fui pego, porra.

Anos trabalhando nisso e caí em uma armadilha. Onde estava o caralho da

minha cabeça que caí em uma emboscada de um homem como Robert

Hudson? Eu não sabia como aquietar toda minha raiva. Ficar mudo era tudo
que podia fazer para não machucar quem havia arriscado a vida para me

salvar. Eu estava furioso, mas os amava muito.

Aterrizamos no aeroporto costumeiro e Rick estava nos aguardando.

Ava sentou ao meu lado e eu entrelacei nossos dedos, incapaz de ficar longe.

Me movi desconfortável, com minha barriga doendo. Ela acariciou meu

abdômen, preocupada e me abraçou. Beijei seus cabelos e passamos o

trajeto inteiro daquela maneira.

Os portões da propriedade estavam fechados e foram abrindo

lentamente conforme nos aproximávamos. Rick parou em frente às portas


principais, dando a volta no chafariz. Ele saiu e abriu a porta para mim.

— Está tudo conforme suas ordens, senhora — ele falou com a Ava.
Olhei para ela e sorri. Alguém havia dominado bem toda situação. — Estou

aguardando o senhor.

— Hoje não, Rick. Amanhã conversamos. — Apertei seu ombro.

— Sim, senhor. Estou feliz que esteja de volta — ele falou baixo,

limpou a garganta e saiu rapidamente.

Lucas abriu a porta da frente e nós subimos para a sala onde meus

filhos estavam. Daisy nos viu e gritou, largando a boneca e correndo em


nossa direção. Ava ajoelhou e abriu os braços. O impacto fez com que ela
caísse de bunda no chão, tentei segurar as duas e acabei caindo também. Nós
rimos do ataque de beijos que Daisy deu em nós, feliz e cheia de saudades.
Abracei minha filha apertado, com meu coração grato de poder estar com

ela.

— Mamã! — Milo chamou por Ava. Ele sorriu para mim, fazendo
charme e fez um beicinho, assoprando um monte de bola de cuspe. — Papa!

— Oi, amor! Vem na mamãe, vem. — Ava incentivou. — Vem dar um


beijo no papai.

Melissa estava apoiando Milo e ele soltou a mão dela, dando alguns

passinhos incertos e caiu de bunda. Ele fez esforço para levantar sozinho,
apoiando no sofá. Ava continuou incentivando-o e meus olhos não podiam

acreditar que não perdi os primeiros passos do meu filho. Milo estava
sorrindo como um sapeca, de braços abertos, ele deu impulso e chegou até

nós rapidamente. Se jogou em Ava, agarrando-a e comemoramos.

— Ele andou! — Daisy bateu palmas.

— Parabéns, menininho! — Ava me encarou, chorando. Puxei-a pela

nuca, beijando seus lábios e ela o colocou em meu colo. Segurando meus
filhos, eu era o homem mais feliz do mundo inteiro. Milo quis fugir para

andar. Ele ficou indo de um lado ao outro se divertindo muito.

Melissa lembrou de gravar o momento. Ava deitou a cabeça no meu

ombro, ela estava tão cansada que não percebeu que bocejou. As crianças
estavam com muita saudade de nós e aproveitamos para ficar com eles tanto
tempo quanto possível. Quando dormiram entre nós na cama, Ava ergueu o

rosto e esticou a mão, eu peguei e beijei.

— Ainda com raiva de mim ou não quer falar sobre isso agora?

— Eu não quero falar sobre nada, apenas ficar deitado aqui com vocês

e dormir.

— Tudo bem. — Ela sorriu timidamente. — Eu vou tomar banho e

depois vamos comer?

— Sim. Estou com fome e preciso trocar o curativo.

Ava tirou a roupa no banheiro e ficou lá um bom tempo. Depois que

ouvi o chuveiro ser acionado, ela ainda demorou a sair. Preocupado, fui
atrás. Coloquei travesseiros para impedir que as crianças rolassem e entrei,

encostando a porta. Ela estava chorando com a testa encostada na parede de


azulejo. Tirei minha roupa rapidamente e invadi o espaço, puxando-a para

meus braços.

— Ei, ei. Estou aqui. — Acariciei suas costas, beijando seu ombro.

— Tive tanto medo! — Ela me agarrou apertado, soluçando. — Fiquei

desesperada e não podia nem extravasar ou eu iria cair! Deus, Levi! Eu


nunca mais quero sentir que vou te perder!
— Sinto muito, baby. — Passei meu polegar em seu rosto. — Estou

aqui com você e ficaremos juntos para sempre. Tudo que pensava era voltar
para casa para vocês. — Beijei sua testa, abraçando-a apertado. Ela subiu as

mãos pelo meu peito e segurou meu rosto, querendo que olhasse em seus
olhos.

— Sei que está com raiva de mim, mas por favor, entenda que eu

jamais poderia ficar parada. Lucas não tinha apoio, ele não é conhecido
porque não existe. Enzo iria ignorá-lo, porque a relação de vocês é de

negócios e não emocional. Eu não conseguiria ficar enquanto poderia fazer


algo… — ela implorou, olhando para mim. — Eu fiquei segura. Eles

estavam seguros…

— Ava… — Encostei minha testa na dela. — Se alguma coisa


acontecesse com você…

— Aconteceu com você, Levi! — Ela bateu no meu peito. — Entende


o que senti? Entende o medo de te perder? Você consegue ver o quão

assustada fiquei?

— Está tudo bem, baby. — Acalmei seu choro. — Estou aqui, sempre

estarei e eu te amo infinitamente mais.

Ava levou um tempo para deixar de soluçar. Ela ainda permaneceu


chorosa, sequei seu cabelo e refizemos meu curativo. Trocamos de roupa e
não nos desgrudamos. Eu tinha que parar, analisar onde errei, reunir com

Lucas e em seguida com meus funcionários. Precisava estudar o fracasso,


verificar como ficariam minhas parcerias de negócios em Nova Iorque e

depois, me concentrar em me vingar corretamente de cada um que fodeu


minha semana.

Primeiro, eu tinha que dar atenção à minha esposa. Eu lidaria com a


minha raiva e pelo meu controle perdido depois. Ela apenas me amava, agiu

por impulso. Sendo louca ou não, era simplesmente a mulher que me amava
ao ponto de enfrentar seus medos de frente por amor. Se enfiar no meio de
homens perigosos com uma arma na cintura para me trazer para casa. Me

deixava confuso o quanto isso me enfurecia e ao mesmo tempo me enchia de


orgulho.

Lucas estava na cozinha quando chegamos. Melissa esquentava alguma


sopa e Davina cortava pães. Ela soltou a faca e me puxou para um abraço.

— Estou feliz que está de volta, meu menino. — Apertou minha


bochecha.

— Fez sopa de frango?

— Com baguete de queijo. — Ela sorriu.

— Melhor maneira de me sentir bem-vindo. Obrigado por cuidar de


tudo. — Beijei sua testa. Ela se preocupou com meu ferimento. — Estou
bem.

Ava e Melissa sentaram juntas, falando baixo e eu fui até Lucas, que
estava de pé contra a janela com Primm deitada em seu pé. A outra cadela

deveria estar em algum lugar, roendo algo que me faria odiar ter um cachorro
dentro de casa. Parei ao seu lado, ele me deu um olhar de esguelha e voltou

para frente.

— Ela viu os pássaros. — Começou a falar baixo. — Ava percebeu

movimentação na floresta porque observou pássaros. Quem pensaria assim?

— Alguém que estava pensando em enfiar os filhos no carro e fugir.

— Ela não correu. Engraçado, não é? Preparou o gazebo para a porra

de um incêndio, iria tocar a sineta e virou os refletores do jardim para a


floresta, cegando qualquer um que estivesse escondido na escuridão,

esperando para atacar. — Lucas deu um gole de seu chá. — Nós nunca mais
vamos sair separados.

— Vai grudar em mim? — Tentei brincar.

— Vou. Porra, como vou. — Ele colocou a caneca no parapeito da


janela. — Eu sabia que tinha algo errado. Fugi antes que alguém me pegasse

e me seguisse, preocupado que a localização da casa fosse exposta. Assim


que deu, precisei me enfiar na floresta para não ser visto. Assustei uns
pássaros quando pulei o rio e foi assim que Ava pensou que havia alguém se
aproximando.

— Eu sequer consigo pensar como caí em uma emboscada. —


Encostei minha testa no vidro da janela, querendo bater minha cabeça ali

repetidamente.

— Vamos analisar os erros com calma e refazer nosso plano de jogo,


temos tempo, você está em casa, vivo e bem.

— Pensou que ia me perder, é?

— Vai se foder. — Ele pegou a caneca e saiu, bufando.

Puxei uma cadeira ao lado de Ava, ela acariciou minha coxa e me deu

um beijo na bochecha. Lucas sentou ao lado de Melissa, eles trocaram um


olhar com um sorrisinho, dançavam ao redor um do outro e nunca assumiam

nada. Voltei a olhar para minha esposa e a encontrei com a cabeça apoiada

no queixo, me encarando fixamente, como se quisesse ter certeza de que eu


era real.

Seu pescoço nu me fez lembrar tudo que passamos, que ela esteve em
um fogo cruzado depois de tudo que passou e lutou arduamente para superar.
Me inclinei e beijei acima de sua pulsação, guardando aquelas batidas

dentro de mim, como a melhor prova de que estava viva e ao meu lado pelo
resto da nossa vida.
Capítulo 41 | Ava.

Algumas semanas depois.

Melissa jogou uma bolinha, as duas cadelas saíram correndo e

brigaram entre si para pegar o brinquedo. A risada da minha melhor amiga


me fez sorrir. Vê-la feliz era como colocar um tijolo no nosso castelo

desmoronado, que estava sendo reerguido a cada dia. Sua vida estava quase
voltando ao normal, em breve retornaria aos estudos, com um apartamento

montado em Toronto… não tão perto de mim quanto gostaria, pelo menos,
era no mesmo país.

Ela e Lucas ainda seguiam caminhando em um ritmo de lesma, mas eu

sabia que cada um tinha um tempo para curar suas feridas separadamente
para que pudessem ser um casal. Era lindo vê-los como amigos, porque

estavam aprendendo a respeitar o outro, em um conhecimento mais íntimo.

Não me arrependia da intensidade e velocidade do meu casamento, me


relacionar com Levi foi a escolha mais certa da minha vida, mas às vezes, eu

queria dar uns gritos e arremessar coisas na direção dele.


Nunca conseguia adivinhar suas reações. Em alguns momentos ele era

impassível, em outros, a verdadeira loucura de intensidade.

— Você está bem? — Melissa voltou para o meu lado.

— Estou incrivelmente bem que os dois furacões que eu crio estão

com o pai. — Sorri com uma piscadinha. Ela riu, batendo o ombro no meu.

— Você é louca por essas crianças, boba.

— Obrigada por ser uma tia incrível para eles.

— Eu também acabei ficando louca por eles. — Deu de ombros. —

Como seria diferente? São seus filhos.

— Mal vejo a hora de te ver grávida…

— Eu acho que é bem provável que você engravide primeiro, isso se


eu tiver filhos, é o tipo de plano bem abstrato na minha vida. — Ela olhou

para frente. — Sei que é impossível recuperar o que perdemos, mas eu meio

que desejo recomeçar.

— Nunca poderemos recuperar, mas temos a vida inteira pela frente.

— Passei meu braço em seu ombro. — E todas as oportunidades de sermos

felizes.

Melissa me deu um beijo na bochecha e ficamos unidas. Lucas

apareceu próximo da piscina, eles só trocaram um olhar e ela foi na direção

dele. Juntos, caminharam devagar pelo caminho até o gazebo, que estava
felizmente intacto e não pegou fogo como nos meus sonhos. A realidade foi

diferente, melhor, porque ficamos bem.

Melhor dizendo… bem o suficiente.

Deitei na grama olhando para o alto, eu só queria ter um pouco de paz.

Levi me avisou que ele tinha mais problemas que eu jamais poderia

computar, que sua escuridão nos traria problemas a longo prazo e não

mentiu. Apesar de saber que ele me amava profundamente e era grato por ter

ido em busca dele, sua necessidade por controle e dominação entrou em

colapso por não prever o sequestro, por eu ter me colocado em risco para

salvá-lo e deixando as crianças em casa.

Mesmo sem querer, eu me senti culpada, mas com o tempo, meu

coração me tranquilizou. Eu sabia que as crianças estavam seguras, que a

nossa casa permanecia fora do conhecimento geral e não fui leviana e menos

mãe por deixá-los para ir atrás dele. Não era como se eu tivesse abandonado

meus filhos para correr atrás de um marido com uma amante. Ele foi

sequestrado, droga.

Aguentar Levi tão irritante por estar segurando sua irritação me

deixou cansada. Eu queria bater nele e ao mesmo tempo não podia falar

nada, porque não foi falta de aviso, ele não estava sendo grosseiro comigo e
muito menos me tratando mal, só não estava bem e isso me machucava
também. Tentei atraí-lo para brigas para fazê-lo explodir e jogar a raiva para

fora, lavar a roupa suja e ele tinha um controle invejável, porque não caiu na

minha armadilha.

Nossa rotina doméstica se ajustou novamente. Como casal, tivemos

altos e baixos. Havia dias que mal queríamos sair da cama, outros dias que

parecíamos que tínhamos espinhos e não ficávamos perto um do outro.

Levi trabalhou sem ser visto ou reconhecido por anos. Ter uma falha
em sua rotina cuidadosamente verificada foi como abrir um buraco na sua

mente, proliferando paranoias. Chegou a cogitar se mudar para outra

residência afastada, me enviando fotografias de novas casas ou Londres,

onde ele já tinha uma casa.

Perdi as contas de quantas vezes eles repassaram o que deu errado

naquele dia, como Robert conseguiu chegar até o verdadeiro Levi em uma

negociação que foi verificada mais de uma vez. Ele e Lucas discutiram,

brigaram, ficaram sem se falar e depois voltaram às boas, batendo de frente

novamente porque tinha que haver um culpado pelo erro. Eu estava muito

bem em deixar tudo para trás e seguir em frente.

— Oi, mamãe! — Daisy saiu correndo de casa e sentou na minha

barriga. — Papai pediu para te chamar. O almoço do Milo está pronto e meu

irmão jogou a colher longe.


— Vamos acalmar nossos meninos geniosos. — Ela ficou de pé para

que eu pudesse levantar. — Tentou dar comida para seu irmão?

— Eu quis dar umazinha, papai deixou, mas Milo arremessou a batata


em mim.

Milo comia tudo… e brincava com a comida também. Era um

pouquinho difícil fazê-lo comer sem que tudo ao redor ficasse

completamente uma bagunça. Entrei na cozinha e ri da cena à minha frente.

Levi estava tentando limpar o rosto de Milo, que bateu no pote de comida e

virou, entornando o macarrão em todo cadeirão.

— Como você conseguiu fazer isso? — Levi reclamou, frustrado.

— Mãos de polvo ataca novamente — brinquei, me aproximando.

— Ele não para!

— Tem que cantar e dançar para conseguir enfiar a colher na boca

dele. Tudo é uma eterna festa com Milo.

Levi me deu um olhar desanimado. Ele cantava ou dançava, as duas

coisas eram muito para sua coordenação motora de pai. Juntos, conseguimos

dar a comida dele e ao mesmo tempo, auxiliamos Daisy com sua comida.

Eles foram para a brinquedoteca com Davina e Allie, estranhei, porque não

precisava de duas para ficar com eles se eu estava em casa e livre.

Levi me segurou pela mão, me impedindo de ir atrás.


— O que foi?

— Pode me acompanhar por um instante?

— Depende. Vamos finalmente tirar o elefante da sala ou ainda vamos

fingir que está tudo bem?

— Vamos tirar o elefante da sala, eu espero.

— E o atraso também?

— Deus, Ava. Você me mata!

Não ficamos sem sexo, porque a saudade e o amor sempre falavam

mais alto, mas era sexo por necessidade do corpo, vontade de ficar junto,

tesão e até mesmo para relaxar e dormir. Não era porque estávamos bem um

com o outro e eu estava sentindo uma falta enorme de jogar. Eu não usei o

colar por um mês. Era apenas um símbolo, um deles, eu tinha aliança e

sobrenome, mas o colar era especial para mim por muitos motivos

emocionais.

O colar era algo totalmente nosso. Representava o que tínhamos.

Cheguei a pensar que ele nunca mais me daria novamente, como uma punição

eterna, mas ele não era assim.

Ainda segurando minha mão, levou para uma das salas e parou no meio

do tapete. Reparei que estava faltando as fotos, meus vasos novos e os


demais itens de decoração que comprei para decorar ali. Levi tirou a venda

do seu bolso.

— Olá, querida. Senti sua falta.

Ele balançou a cabeça.

— Ajoelhe-se, amor.

Caí na posição certa à sua frente e ele cobriu meus olhos, amarrando a

venda e pedindo para esperar. Fiquei tentando entender o que estava


fazendo, ouvindo sons dos seus passos suaves, alguns barulhos que parecia

vidro na madeira, mas era baixo e o cheiro do ambiente começou a ficar


floral meio adocicado. Evitei mover meu rosto para captar qualquer som,

principalmente porque ele havia pedido para ficar quieta.

Levou uma eternidade até que o sentisse próximo novamente.

Meus joelhos estavam doendo.

Senti suas mãos na venda e ele soltou, pisquei um pouco, ele estava de

joelhos na minha frente, na mesma posição que eu. Olhei ao redor, abrindo
minha boca em choque. Fechei rapidamente, fazendo-o rir. Era simplesmente

lindo. Fiquei extasiada. Levi preencheu a sala com vasos de flores, eram
rosas brancas, vermelhas e algumas com um rosadinho nas pontas, bem

cheias de pétalas. Eu não conseguia acreditar que era real. Ele acendeu
velas, apagou as luzes e fechou as cortinas. O cenário perfeitamente
romântico.

— É tão lindo…

— Foi difícil esconder. — Ele sorriu e virou as mãos para cima,


querendo as minhas. — Ava Blackwood. Você é a mulher mais incrível e

corajosa que já conheci. Sei que as últimas semanas não foram fáceis
enquanto eu precisava colocar minha cabeça no lugar e aceitar minhas

falhas, principalmente aquela que eu nunca poderei te segurar quando se trata


de nos amar e proteger. Perdoe-me por ser complicado, eu quero ser o

melhor para você, como marido e como amigo, para que a nossa jornada
juntos seja incrível.

— Eu te amo, Levi. Amar não é sobre as partes boas, é sobre os dias

ruins e os defeitos. Eu também sei que não sou a mais fácil de lidar e sempre
que tenho crise, você nunca me abandona. Por que eu te deixaria?

Ele sorriu e engoliu seco, emocionado. Enfiou a mão no bolso e tirou


um saquinho de veludo. Virou na palma da mão um colar e só depois que

abriu os dedos completamente, vi que era meu pingente de pássaro.

— Mandei fazer outra corrente. — Ele abriu o fecho. — A outra era


fina porque eu queria que combinasse com você, com seu estilo, mas no

fundo, não fazia sentido. Nosso elo é forte e entrelaçado sem fim, exatamente
como essa aqui. — Colocou no meu pescoço e beijou minha boca. Eu o
abracei, tomada pela emoção e me segurei para não chorar. — Nunca irá

arrebentar.

— Nunca, meu amor. Nunca. Você finalmente entendeu?

— Aceitar foi mais difícil que entender, mas agora, sei que estamos

bem e continuaremos bem. Eu… não sei se um dia vou sentir que será fácil
lidar com a ideia de que poderia perder você.

— Vamos lidar com esse sentimento todos os dias. — Me inclinei e


beijei seus lábios. Ele me segurou por mais tempo no lugar.

— Tenho outra coisa para te dar. — Pegou um envelope no sofá. —


Estou aqui ajoelhado na sua frente, de igual para igual, porque quero te
entregar toda minha vida.

— O que quer dizer?

Levi tirou as folhas e virou, mostrando o que era. Soltei um ofego,

cobrindo minha boca.

— Você está compartilhando a guarda das crianças comigo?

— Recebi os documentos hoje pela manhã, basta assinar e eles terão

seu nome também. Você é a mãe amorosa e protetora, aquela que os olhos
deles brilham quando entra no ambiente, a melhor amiga da Daisy e a

adoração do Milo.
— Pensei que não quisesse tirar o nome de Vivianne…

— Ela desejava que eles fossem amados e pensando nos meios legais,

se alguma coisa acontecer comigo, você nunca terá dificuldade em lidar com
as questões burocráticas. Serão sempre uma família. Você vai assinar?

— Claro que sim! Eu me sinto honrada, obrigada. — Abracei-o e


montei em seu colo. Levi ajeitou sua posição, me mantendo bem perto e

olhamos nos olhos um do outro, o sorriso bobo em seus lábios era reflexo do
meu. — Nossa família é tudo para mim. Obrigada por essa surpresa e pelas

flores, por criar esse lugarzinho mágico para nós dois.

Peguei os papéis e coloquei no assento do sofá para que não ficassem


amassados. Ainda sentada em seu colo, ele me deu um aperto na bunda com

um sorriso sugestivo.

— Sexo de reconciliação? — Balancei minhas sobrancelhas.

— Não, baby. Vamos jogar mais tarde. — Enrolou meu cabelo em seu

punho e puxou para trás, colocando a boca no meu pescoço e chupando para
deixar marca. — Estou pronto para deixar essa bunda marcada. Você quer

isso?

— Quero muito! — falei com um gemido.

— Essa noite… será longa. — Agarrou meu peito, beliscando meu

mamilo e puxou. Rebolei contra ele, involuntariamente desejosa. O homem


sabia como me preparar e me deixar explodindo de tesão horas antes. —

Essa madrugada, enquanto lambia essa boceta gostosa, você pediu baixinho
para te foder com força, lembra?

— E você fodeu.

— Hoje será ainda mais intenso. Está bem para isso?

— Querido, estou quase montando em você agora — brinquei, mas eu

sabia que ele estava me preparando mentalmente e dando indícios que


deveria me equilibrar fisicamente para não passar mal. Estar hidratada e

jantar algo leve era essencial, alguns jogos podiam causar vertigem ou ele
poderia me empurrar a um limite de dor que sem estar no ponto certo, me

faria sentir mal.

Passando o dedo suavemente na linda corrente em meu pescoço, ele


sorriu e beijou o pingente. Éramos dois pássaros livres, que decidiram viver

juntos. Ele sempre seria a figura dominante da nossa relação e eu, sua
companheira mais ou menos submissa. Eu sabia a hora de ser e de não ser,

ele nunca tiraria minha essência porque me amava exatamente como era.

Nunca me dei o trabalho de sonhar com um homem como ele. Levi não

era o príncipe que as histórias contavam nos livros, ele vendia armas,
fabricava bombas, negociava com o pior tipo de gente e fazia ainda mais

dinheiro do que sua família deixou e que ele tomou de seu pai. Para muitos,
ele era um vilão, para mim, um marido sem igual, um pai incrível e o homem
que me salvou da escuridão, mesmo que viver nela fosse seu local de

conforto.

Levi me protegeu, me desejou, me amou e me fez dele.

E eu seria para sempre.


Capítulo 42 | Ava.

Nova Iorque.

— Acha que ele já está nos observando? — questionei a Levi. Ele riu
e continuou mexendo em seu telefone.

— Anda assistindo muitos filmes de espionagem.

— Nossa vida é um filme de espionagem — retruquei quase que


imediatamente. — Aquele homem, o Alex, ele é casado?

— Por que quer saber? — Ele me deu um olhar ciumento.

— Sério, Blackwood? Imaturo a esse ponto?

— Sempre um adolescente hormonal quando se trata de você. —

Sorriu sem nenhuma vergonha. — Sim, ele é casado. Por quê?

— De todos os homens, ele foi o único que olhou para mim como um
ser humano, mesmo que agindo friamente e distante, não me tratou feito a

pedra irritante no sapato.

— A maioria dos homens não estão acostumados a lidar com mulheres

que mandam. Enzo só te deu ouvidos porque você o pressionou e é minha

esposa, por mais que odeie admitir, vocês dois tem uma espécie de ligação
pelo que aconteceu no passado. Se fosse qualquer outra mulher, ele passaria

por cima sem olhar para a sujeira que deixaria. — Levi segurou minha mão e

apertou. — A esposa de Alex faz parte do meio. Ela é minha cliente

também.

— Enzo conhece eles?

— Sim, conhece. Eles meio que trabalham juntos.

Franzi meu cenho, confusa.

— Se trabalha com o casal, com Enzo, por que não trabalha com
Jackson?

— Não é exatamente pessoal. Ele soube quem eu sou em uma

negociação, mas isso não significa que confie nele, porque a sua função é

fazer aquilo que é pago. Ele tem total direito de aceitar um pagamento maior

para executar algo contra mim, não somos amigos e não temos nenhum laço
de lealdade. Eu não quero ter nada com ele. — Olhou para frente por um

momento e observou os carros se aproximando. — Se um dia Jackson se

rebelar contra qualquer um de seus associados, eles poderão me procurar e

eu terei um preço. Nem tudo no nosso meio é sobre mover as peças certas no

tabuleiro, mas sim sobre prever que algumas peças poderão cair.

— Por que Jackson pode cair?


— Ele não é como nós. É um empresário ambicioso, que trocou o

vício de drogas por negócios ilícitos. Homens como ele podem ignorar

facilmente o poder que a lealdade e honra têm nas ruas, porque só visam a si

mesmo e o dinheiro. Quem nasce no meio tortuoso, como eu nasci e até o

próprio Rafaelli, sabe que em determinadas situações, apenas a honra salva.

Não é o dinheiro — explicou e assenti, observando os homens saírem dos


carros. Era a primeira vez que Levi me levava em uma reunião.

Nós estávamos em Nova Iorque para resolver as burocracias da casa

da minha família, que ficou assegurada pelo banco até meu retorno, as

propriedades espalhadas pela cidade e boates, que foram usadas sem meu
consentimento por outras pessoas até que resolvi tomar tudo. As casas

seriam vendidas, eu não tinha interesse nelas, os galpões foram comprados

pelas empresas de Levi e coloquei o dinheiro em um fundo de rendimentos.

Melissa e Sky não tinham mais renda, elas aceitaram que Levi cuidasse

delas enquanto não pudessem caminhar sozinhas, mas o que era meu, sempre

seria delas. Minha melhor amiga teria tudo que eu tinha por igual e a mãe, a

vida tranquila que sempre sonhou. Vivendo em Paris, em um apartamento

lindo, fez amizade com outras vizinhas e criou elos mais fortes do que tinha

em Nova Iorque.

Quanto às boates, eu ia oferecer para uma das pessoas que salivavam

por elas.
Não seria Oliver King. Ele usou meu espaço, lucrou e não pagou por

isso. Pagaria um dia. Levi era muito paciente para cobrar aqueles que

entravam no nosso caminho. Eu também não tinha pressa, aprendi que era
mais divertido derrubar um homem arrogante degrau por degrau.

— Se não é a minha garota favorita. — Enzo sorriu, encostando no

carro.

— Espero que não esteja falando da minha esposa, Rafaelli. — Levi


saiu e deu a volta. Eu continuei sentada no banco do carona, com o vidro

aberto.

— Não vou retirar minhas palavras, talvez ainda acrescente que será

pai de menina. — brinquei, fazendo Levi rir e o italiano soltou um bufo

engraçado.

— Faltam muitos anos para que o matrimônio me pegue. Vou deixar


que vocês brinquem de casinha primeiro. — Ele pegou um cigarro e

acendeu. — Trouxe coisas novas para mim?

— Trouxe o que pediu. Está pretendendo começar uma guerra?

— Não ainda. Nunca se sabe.

Eles foram para a mala do carro. Mika e Stefanio estavam do outro

lado, olhando ao redor. Lucas estava nos observando à distância, com mais

dois seguranças que vieram conosco. Rick ficou em casa, com nossos filhos
e todo esquema tático de viagens mudou completamente. Mal tinha

memorizado os protocolos antigos e ainda estava me habituando aos novos.

No estacionamento escuro, a troca foi executada. Produto de um lado,


dinheiro do outro. Levi só fazia entregas pessoalmente para clientes que

pagavam muito como Rafaelli. Os outros, ganhavam uma cópia malfeita do

meu marido no lugar, como Lucas costumava dizer. Saí do carro e peguei a

pasta, entregando a Enzo.

— Legal! Isso não nos deixa quites, ok?

— Foda-se — murmurei, voltando para meu lugar.

— Sua mãe não te educou não? — Enzo resmungou, me fazendo rir.

— Péssima piada, cara. — Levi encostou no carro. — E sobre King?

— Foda, homem. Está quieto, comendo pelas beiradas e muito

preocupado. Ele vai enlouquecer quando me ver ocupando o lugar das

boates. Já vou chegar com tudo.

Na linguagem italiana: causando o caos.

— Acha que Dominic contou alguma coisa a ele?

— Sobre Michelle? Não da maneira que pensamos. Achei melhor o

garoto não saber de tudo, não pelo pai dele, mas por ele mesmo, quer ser um

jogador e não fazer parte dessa vida.


— Melhor assim.

— Você não vai gostar do que tenho para te contar. — Enzo tragou o

cigarro e olhou para Levi com uma pitada de diversão, como se quisesse ver

meu marido explodir. — Sabe como Jackson conseguiu que Michelle

concordasse em se entregar a Robert?

— O que ele fez?

— Nada ilegal, talvez imoral. — Enzo encolheu os ombros. — Ele

pegou a menina em troca do ouro. Não sei para quem ou para onde mandou,

mas sei que para manipular a todos nós, ele ficou com o ouro e escondeu.

— Ela deu para ele?

— Ficou meio ambíguo. Conhecendo-o, tenho certeza de que de graça

não foi. Não faço a mínima se ela deu ou se ele pegou. O resumo é que

basicamente usou uma criança para chegar até onde queria… não é nenhuma

novidade.

— Não, não é. — Levi ficou sério. — Mexer com o futuro de uma

criança é uma das coisas mais baixas que alguém pode fazer, sendo ele ou

nós.

— Não discordo.

— Jackson é seu associado, não meu. Ele sabe demais. O dia que a

ambição dele o fizer cair, serei o primeiro a calar sua boca.


— É seu direito. Não vou te recriminar por isso, não parece, mas ele

sabe ser leal.

— Ela é só uma menina, Enzo. Ele não fez isso para protegê-la, por

mais que diga o contrário, nunca irei acreditar. Se o nosso mundo fosse

assim, Ava nunca teria passado pelo que passou. A noite que ele me contou

que ela estava lá, foi porque queria me provar que podíamos trabalhar

juntos.

— Jackson queimou as pontes com você e eu entendo, mas…

— É, ficaremos, por enquanto, com esse assunto em aberto.

Enzo esticou a mão e Levi apertou. Ele sorriu para mim, debochado e

ergui meu dedo médio. Nós nunca seríamos amigos e nem próximos. Eram
negócios, daria a ele minha lealdade como prometi e seu nome nunca seria
amaldiçoado em minha casa, porque me ajudou a salvar meu marido. Na

balança real dos meus sentimentos, eu não era hipócrita em dizer que havia
superado que as ações dele com meu pai e irmãos me levaram a um

pesadelo, mas, ele pagou a dívida.

Minha família de nascimento nunca me amou como Levi e seus filhos

me amavam.

— E agora? O que faremos?


— Vamos voltar para casa e para os nossos pequenos. Feliz que não
tem mais vínculos em Nova Iorque?

— Nossa, sim. Pode ser que um dia supere minha aversão a tudo que

vivi aqui, mas eu sempre acho que se eu der mole, serei pega novamente e
ficarei presa, sem poder ver o mundo. A sensação de liberdade que eu tenho

na nossa casa, em explorar ao redor, ir à cidade, voltar e fazer o que eu bem


entender é maravilhosa. Lá eu não sinto medo.

— Espero que um dia você supere, não por precisar ficar aqui ou
coisa do tipo, apenas para o seu bem. — Ele se inclinou e me deu um beijo.

Nós ficamos nos beijando sem preocupações até que o telefone tocou. Levi
riu ao ler a mensagem. Lucas escreveu “ECA, PAREM”.

Levi ligou o carro e nos tirou dali, dirigindo diretamente para o

aeroporto. Nós esperamos Lucas aparecer com o restante da equipe, o avião


ficar pronto e todo procedimento de decolagem. Tirei minha roupa, trocando

a calca jeans e camisa pesada por um vestido mais leve, longo, lascado e
meias. Na poltrona, fiquei de frente para Levi. Ele estava mexendo em seu

telefone, aproveitei que os outros estavam distraídos e coloquei minhas


pernas no colo dele.

Seu olhar encontrou o meu e mordi o lábio, subindo meu vestido e


acariciando suas coxas com meus pés. Coloquei meu pé em um lugar
estratégico, subindo e descendo com movimentos suaves. Levi suspirou,
largando o telefone e agarrou meu tornozelo. Pressionei sua ereção

crescente, movendo meus dedos sugestivamente.

— Atrevida provocante. — Acariciou minha panturrilha. — Devemos

sair em lua de mel.

— Eu acho que é uma ideia perfeita. Que tal semana que vem? —
Balancei as sobrancelhas. — Um local de praia… biquínis pequenos,

bebidas geladas, massagens exóticas…

— Massagens exóticas? — ele repetiu. — Quem vai fazer massagens

exóticas em você?

— Algum funcionário experiente de um spa?

— Ava Blackwood… — Ele suspirou de forma severa. — Você quer

mesmo sair na próxima semana? Tenho que começar a organizar tudo.

— Claro que sim. — Mordi o lábio, meio sem jeito. — E nossos

pequenos?

— Sabe que o conceito lua de mel se perde se os filhos forem juntos…

— Nós nunca fizemos uma viagem em família e na primeira vez,

vamos sair só nós dois? Me sinto egoísta… — Encolhi os ombros e ele


suspirou. — Desculpa.
— Agora está me fazendo sentir egoísta também — resmungou e eu

sorri, saindo da minha poltrona e subindo em seu colo. — Vamos fazer essa
viagem com eles, tenho certeza que irão amar ir à praia e depois, não terá

culpa quando sairmos a dois.

— Para nós dois, talvez possamos ir para um lugar… mais romântico


— falei baixo, distribuindo beijos por seu resto e parei minha boca próxima

ao seu ouvido. — Já pensou em me ter de joelhos na sua frente e ao fundo, a


Torre Eiffel?

— Porra. Eu te quero de joelhos em todos os monumentos conhecidos


do mundo. — Procurou minha boca e trocamos um beijo gostoso. — Preciso

comprar um avião maior.

— Por quê? Tem espaço o suficiente para todo mundo aqui! — Olhei-o
confusa. Ele puxou meu rosto para poder cochichar a resposta.

— Eu quero um que tenha um quarto para poder te arrastar para dentro


e te foder no ar.

Soltei uma risadinha, sem graça, mesmo que ninguém tenha ouvido.

Abracei-o e ficamos namorando como dois adolescentes até precisar ir para


meu lugar para o pouso. Lucas ficou brincando que a casa iria incendiar

quando ficássemos sozinhos. Rick, que foi nos buscar, acabou rindo e
disfarçou a risada com a tosse. Levi estava sério. Ele nunca relaxava muito

quando estávamos em trânsito.

As crianças estavam brincando na parte de trás da casa, correndo no

quintal com roupas de banho. Milo caía e levantava, tentando ter o mesmo
ritmo da irmã, que dava a volta na mangueira que Allie ligou ao contrário

para que a água caísse como uma chuva neles. A farra estava tão bonita que
precisei filmar. Registrar cada fase deles se tornou importante quando

percebi que nem eu, muito menos Levi, tínhamos momentos da nossa infância
para compartilhar com eles.

Meus filhos teriam suas histórias devidamente registradas para que

pudessem mostrar a quem quisessem no futuro.

Eles já eram diferentes de nós. Felizes e despreocupados.

Troquei de roupa rapidamente, colocando um biquíni para brincar com

eles. Milo logo pediu colo, como o pai dizia, meu pequeno filhote de
canguru. Corri com eles e parei ao ver Levi, sem camisa, usando um calção

de banho e carregando uma lona. Era difícil não o chamar de DILF[7]. Ele
instalou na grama em um declive, mudando a direção da mangueira e nós

usamos para escorregar.

Fizemos separadamente com cada um deles. Daisy perdeu o medo e


começou a fazer sozinha, apenas Milo que nós seguramos ou o menino se
jogaria de cabeça. Ele adorava uma boa aventura perigosa e esperava que
fosse somente enquanto era pequenininho. Eu teria cabelos brancos bem

precoces com um adolescente com tendência a esportes radicais.

— Vem aqui. — Levi me agarrou pelo quadril e me colocou sentada


em seu colo. — Esse biquíni é muito pequeno.

— Treinando para nossa viagem. Não tenha um ataque, eu ainda não


sugeri irmos para uma praia de nudismo.

— Só se for deserta, porque absolutamente ninguém te verá nua.

— Como irei me bronzear sem marcas?

— Se continuar me provocando, irá para a praia usando um maiô de

senhora e estarei sendo bonzinho. — Me ajeitou em seu colo e me preparei


para escorregar, do meio ao final, rolamos e acabei batendo com a cabeça na
grama, rindo. — Desastrada.

— Não sei como nossas pernas se embolaram daquela maneira. —


Sequei meu rosto e ele se apoiou nos cotovelos, me encarando. — Eu quero

um beijo.

— Só um? Eu posso te dar dois! — Ele arrastou os lábios nos meus.


— E muito mais.

— A única coisa que sei é que não posso ficar sem eles.
Levi me beijou, me pressionando deliciosamente contra o chão e de
repente, sentimos o impacto. Daisy se jogou em nós, gritando histericamente

que uma grama grudou em seu pé e Milo, como sempre, deu sua crise de
ciúme ao ver o pai comigo. Ele enfiava a mão entre nossas bocas toda vez

que nos beijávamos e era bem engraçado, por mais que não incentivássemos
o comportamento.

As crianças deitaram em cima de nós, cada uma falando sem parar à


sua maneira, brincando com o outro e querendo atenção. Era o verdadeiro
significado de perfeição.

Eu nunca pensei que fosse possível ser feliz daquela maneira.


Epílogo | Levi.
Dois anos e alguns meses depois…

— Olá, bonitão! — Ava entrou no escritório, desfilando com um lindo


vestido. Percebendo minha atenção, ela deu uma voltinha e parou com as

mãos na cintura. — Gostou?

— Você está sempre linda, mas neste momento, completamente


excepcional. — Afastei minha cadeira, ela sentou em meu colo e me

abraçou. — Alguma ocasião especial?

— Além de ser aniversário do meu marido?

— Isso tudo é para o dia que estou ficando mais velho? Pensei que

fôssemos comemorar apenas mais tarde.

— Daisy está na cozinha ajudando no preparo do seu bolo, Milo está

colando adesivos nos seus presentes e eu estou lindamente vestida para te

convidar para um lanche. Nossa reserva é às oito, portanto, não trabalhe

demais. Eu tenho planos… muito ambiciosos com meu maridinho hoje. —

Esfregou o nariz no meu e em seguida, beijou minha boca. — Você vem?

— Me dá cinco minutos?
— Apenas cinco — retrucou, severa e sorri. Ela levantou e bati em sua

bunda.

Sorrindo, reafirmou que só tinha cinco minutos e saiu. Ava estava cada

dia mais bonita, mas ultimamente, ela estava mais. Seu corpo parecia

diferente aos meus olhos, não fazia ideia o motivo que eu me sentia ainda

mais louco por ela. Passamos por diversas fases nos últimos anos. Era

comum em um casamento ter brigas, mas nós não tínhamos em excesso, muito

menos desejávamos viver longe um do outro.

Ser seu marido era uma das melhores partes da minha vida. Mesmo

quando ela era atrevida e me desafiava, ao ponto de me fazer sentir que

estava ficando maluco. Era o dia do meu aniversário de trinta e quatro anos,

eu nunca fui de comemorar, depois dela, com a força das crianças, o dia do

meu nascimento se tornou um evento. Todo ano havia algo diferente.

Dessa vez, Ava não quis jogar na noite anterior, dizendo que estava

cansada e eu reparei que seu ânimo no final do dia já não era mais o mesmo.

Terminei meu trabalho, encerrando as análises de contrato e desliguei

o computador. Tranquei a porta, acionando o alarme e segui para a cozinha.

O cheiro de bolo me pegou e fez meu estômago roncar. O caos era Milo

subindo na mesa, querendo um prato, Ava administrando as mãos ansiosas e


Davina colocando o bolo no centro.
Alguns homens na minha idade, com dinheiro, estariam viajando o

mundo e aproveitando com mulheres, ficariam entediados e achariam que

aquela rotina familiar era a pior coisa da vida. Para mim, era a melhor.
Minha casa nunca era silenciosa, exceto se as crianças estivessem dormindo.

Ava e eu tínhamos liberdade para fazermos o que bem entendíamos.

Viajamos juntos e vivemos aventuras, esquiando, fazendo trilhas,

acampando e conhecendo países que ela escolhia. Minha vida não tinha

mudado, tomava todo cuidado para manter as pessoas que amava em uma

bolha fora do conhecimento público, poucos sabiam quem eu era de verdade

e cada vez menos comparecia em qualquer negociação e entrega, sem

precisar fazer meu nome ou dar votos de confiança.

No passado, ficar isolado foi a maneira que encontrei para sobreviver

e depois da minha família, se tornou confortável e nós não tínhamos interesse

em chamar atenção. Fama não fazia parte do nosso estilo de vida, ao ponto

de que sequer acessávamos as redes sociais que não paravam de crescer na

internet. Talvez um dia, meus filhos se interessassem e eu lidaria com isso no

momento certo. Eles saberiam que ter qualquer coisa online era como abrir

uma janela para suas vidas e permitindo que informações que deveriam ser

privadas fossem parar nas mãos de quem não deveria.

— Vem, papai! Seu bolo está pronto! — Daisy me chamou. Minha


linda garotinha de quase seis anos, era esperta, brilhante e tinha todos da
família enrolados em seu dedo mindinho.

— O bolo está feio! — Milo, com três anos, sabia como pegar no pé

da irmã mais velha.

— Não está não! — Daisy avançou nele.

— Ei, chega! O bolo é do papai e não está feio! — Ava separou os

dois pela testa, empurrando-os sentados e o olhar severo completou a

bronca. — Sem brigas.

— Eu devo assoprar as velas agora ou deixo para depois?

— Agora! Não pode fazer o pedido com o bolo cortado! — Ava me

puxou para a ponta da mesa. Meus filhos eram as pessoas mais alegres do

mundo ao cantar parabéns para mim. Eles pulavam, gritavam e batiam

palmas. Minha esposa me cutucou e fechei meus olhos, assoprando logo

depois que desejei que a felicidade nunca nos faltasse.

— O que desejou, papai? — Milo me questionou.

— Não pode falar ou não se realiza. — Ava retrucou no mesmo

instante.

— E você já fez um pedido, guardou segredo e deu certo? — Daisy

questionou genuinamente curiosa.

Ava sorriu.
— Meu primeiro aniversário com vocês eu fiz um pedido muito

especial e ele se realizou. É por isso que não pode falar, combinado?

— Legal! Vou pedir um carro no meu! — Milo soltou e nós rimos alto.

Ele ficou com as bochechas vermelhas, escondendo o rosto na barriga de

Ava.

— Tudo bem, garotinho da mamãe. Você vai aprender. — Baguncei seu


cabelo. Ele era tão parecido comigo que olhar em seus olhos parecia que

estava olhando em um espelho. — Hora do primeiro pedaço!

— É da mamãe! — eles gritaram.

O primeiro pedaço sempre era para a mulher que fazia de tudo por nós,

com todo amor e dedicação, como mãe e mulher. Ava era a adoração deles e

tinha que ser assim. Nossos filhos tinham o melhor de nós como pais e como
marido e mulher, a entrega era completa, intensa. Eu não tinha segredos com

a minha esposa. Levou um tempo, brigas, noites de choro e preocupações,

mas para nós, intimidade e amizade era o que funcionava.

Por mais que ela fosse a figura determinante dentro da nossa casa, com

o passar dos anos, eu ainda era um homem extremamente controlador e

aceitava minha natureza dominante. Nunca tivemos qualquer divergência

sobre isso. Ava aceitava minha palavra e eu aprendi a ouvir seus conselhos.
Ela nunca tentava me induzir a nada. Não era de sua natureza, que sempre

respeitosa, dava espaço para todos com seu apoio e sorrisos apaixonantes.

Entreguei a ela um pedaço do bolo. Ava sentou no meu colo depois de

distribuir para as crianças, que em minutos, ficaram com as bochechas azuis

do glacê e brigando pelas bolinhas de chocolate que Davina jogou por cima.

— Quer um pedaço? — Ela ofereceu com seu garfo.

— Quero um beijo.

— Com minha boca suja de chocolate?

— Eu não me importo nem um pouco. — Segurei seu rosto e a beijei.

As crianças soltaram um coro engraçado. Elas estavam mais que


acostumadas em nos ver trocando carícias. Nós não planejávamos criar

filhos com o tabu de que pai e mãe não se amam. Pelo contrário, eles sempre
saberiam que Ava era tudo para mim e nós éramos adultos, com desejo um

pelo outro. Soltamos nossas bocas e rimos.

A bagunça no lanche rendeu uma briga no banho, outra briga para qual
desenho e mais uma briga entre os irmãos para assistir a televisão.

Deixamos os dois com a babá e nos arrumamos para sair. Havia um bistrô na
cidade que Ava andava dizendo que estava com desejo de comer o filé com

queijo, que era especialidade da casa.


Ela saiu do closet com um vestido vermelho, justo, decotado e porra…
belo par de peitos.

— Outro vestido sexy? — Segurei seus seios e olhei para eles quase

salivando.

— Gostou?

— Seus peitos estão uma delícia. — Dei um beijo em cada um. Ela
ficou arrepiada e seus mamilos marcaram na roupa. — Tem certeza que
precisamos sair? Quero tirar essa roupa e ficar com eles na boca.

— Acho que se ver a calcinha que estou usando, vai deixar a reserva
de lado. — Ela ergueu o vestido e pelo espelho, mostrou a bunda com uma

pequena peça branca. Eu tinha que bater e eu bati, ela tremeu contra mim,
soltando um arquejo. Ergui sua perna, apoiando o pé na cadeira do quarto

atrás de mim e explorei meus dedos entre suas nádegas.

— Ainda quer sair?

— Eu quero você e o filé — choramingou contra meus lábios, me

fazendo rir.

— Você me quer como? Quer jogar?

Ava ficou quieta.

— Talvez hoje possa ser algo mais leve? — sugeriu baixinho e parei,
procurando seu rosto para olhar. — Eu não quero que fique chateado, sei que
é seu aniversário, mas pensei que poderíamos fazer algo… — Ela ficou sem
palavras.

— O que está acontecendo?

— Nada — desconversou rapidamente e ajeitou o vestido. — Vamos?

— Ava Blackwood, eu te conheço. Me fale o que está acontecendo

agora!

— Ah, droga! — reclamou e começou a chorar com lágrimas grossas

caindo de seu rosto. — Eu queria fazer uma surpresa!

— Por que está chorando?

— Porque eu não consigo esconder nada de você e estou com fome,

quero comer o filé com queijo e comemorar seu aniversário! — Fungou e


ignorei minha vontade de rir, puxando-a para meus braços, secando seu

rosto.

— Qual é a surpresa, baby? Me mostra, estou curioso… — Beijei sua


boca macia. — Sem chorar, ainda podemos comemorar e fazer o que quiser.

O aniversário é meu, mas aparentemente, é você quem manda.

— Poxa vida! — Ela bateu no meu braço de leve. — Eu preparei tudo

em uma sala, vem comigo.

Saímos do quarto e descemos a escada para o segundo pavimento. Ava


ficou nervosa, senti seus dedos tremendo contra mim e não entendi o porque
ela ficaria estressada com uma surpresa. Seja o que fosse, eu iria gostar.

Abrindo a porta, sinalizou para entrar e a sala estava escura. Fechou a porta
atrás de nós e acendeu a luz.

Na minha frente, vários balões rosas e azuis decoravam a sala ao redor

de uma caixa branca grande com um laço em cima. Meu coração acelerou
com o que imaginava que tinha ali dentro. Fui até o presente, puxando o laço

e sorri.

— Seremos pais novamente? — Virei para ela, que chorava baixinho

contra a porta. Ava assentiu, sem controle das emoções. — Ah, meu amor.
Vem aqui, baby.

— Você está feliz?

Peguei sua mão e coloquei no meu peito, acima do meu coração, que
batia forte.

— Melhor presente que poderia ganhar. Como soube?

— As últimas vezes que jogamos, eu me senti mal, fiquei tonta. Isso é


bem incomum, depois, quando usou os grampos nos mamilos, foi bom na

hora e simplesmente não parou mais de doer — explicou e senti meu


estômago doer. — Comprei o teste e fiz, deu positivo. Quando fui ao médico,

foi para ter certeza antes de te contar. Tenho uma consulta agendada na
próxima semana. É o compromisso misterioso que marquei na sua agenda.
— Ava! Você deveria ter me falado no mesmo instante! Como passou

mal em uma das nossas sessões e não me sinalizou?

— E aí, chegaríamos à conclusão da gravidez e eu não poderia fazer

uma surpresa. — Revirou os olhos com um bufo. — Eu sempre sonhei em te


surpreender assim!

— Vou deixar passar apenas porque é um motivo especial, mas não

faça novamente. — Passei meu braço por sua cintura. — Eu adorei.

Na caixa, ela colocou uma foto de sua barriga ainda plana, o teste

marcando positivo, um pequeno chocalho, remédio para dor de cabeça para


os dias de choro, um pacote de café para os dias que o bebê não dormisse e

uma cartela de remédio para enjoo. A primeira vez que soube que seria pai,
eu aceitei com responsabilidade, mas fiquei muito assustado e só senti

felicidade quando segurei Milo pela primeira vez.

A paternidade já estava no meu peito, porque Daisy fez com que esse
lado aflorasse com rapidez. Aquela vez estava sendo diferente. Não havia

medo ou preocupações, nem mesmo aquela pontada de tristeza de que uma


criança mudaria nossas vidas. Não planejamos, mas só havia felicidade.

Abaixei à sua frente e ergui seu vestido, beijando seu ventre.

— Oi, bebê. Papai está muito feliz e louco para te conhecer.

Ava me olhou emocionada, acariciando meu cabelo.


— Sua irmã mais velha fala mais do que qualquer pessoa no mundo,
ela é gentil e alegre. Está sempre dançando pela casa. Seu irmão do meio,

Milo, ele tem muita energia e gosta de escalar coisas. Seja bem-vindo, meu
pequeno ou pequena.

— Eu te amo tanto! — Ava chorou e dessa vez, me permitir rir. Ela

estava tomada por hormônios, alguns de seus rompantes nas últimas semanas
começaram a fazer sentido. — Obrigada por ter a reação mais linda e doce

do mundo! Desculpa por não ter falado no momento que me senti mal, mas
talvez, precisaremos ajustar nossas atividades agora.

— Não se preocupe com isso. — Abracei-a apertado.

— Isso não quer dizer que vai me colocar em uma bolha, não é? — Ela
me cutucou, me fazendo rir. Com nossos narizes pertinho um do outro, ela só

me beijou.

— Tente me impedir.

Quando eu era pequeno, depois de espancar minha mãe, meu pai disse

que ter uma família foi a ruína de sua vida. Eu memorizei aquilo porque me
machucou. Tendo a família que eu tinha, eu podia dizer o quanto ele estava

errado e era tão doente que nunca soube apreciar o que tinha. Minha esposa
e meus filhos eram a minha maior benção e paixão. Sem eles, eu era apenas
um homem machucado, infeliz, sozinho e dominado por uma escuridão
furiosa.

O incêndio foi um marco. Semanas antes dele, minha mãe finalmente


havia decidido que se separaria do meu pai. Ela me ligou e pediu que fosse

buscá-la. Como estava com Lucas, nós dois fomos para Nova Iorque e a
levamos para Montreal, onde meus tios viviam e a receberam de braços

abertos.

Apesar do meu tio ser irmão do meu pai, ele não compartilhava mais
que o DNA dos Beauchamp. Ele superou a infância e construiu uma família,

vivendo honestamente, sempre tentando trazer o melhor de mim para a


superfície.

Minha mãe estava se ajustando à ideia de viver sozinha ou comigo, que


poderia cuidar dela. Uma noite, meu pai chegou e deu um único aviso: era

melhor que ela voltasse para casa com ele ou a faria sair em desespero.
Enfrentei-o e brigamos, foi um horror ao ponto que chamaram a polícia.

No dia seguinte, eu acordei com a fumaça. O quarto estava quente e era


difícil respirar. Chamei por Lucas e tontos, conseguimos quebrar o vidro da

janela. Saí primeiro, ele ajudou minha mãe e deveria sair em seguida. O fogo
era alto no primeiro andar, com labaredas assustadoras através das janelas.
Lucas não saiu. Ele correu para dentro, buscando sua cadela, tirou-a
pela janela e gritou que buscaria os pais.

Nunca deixaria meu primo no fogo sozinho. Ordenei para minha mãe

ficar e esperar. Os vizinhos chamaram os bombeiros, tentando me impedir,


mas consegui escapar e voltar para a casa em chamas. Meus tios não
estavam no quarto e Lucas desceu, lembrando que eles sempre ficavam no
porão, que era uma equipada sala de televisão, assistindo filmes até tarde.

Nós descemos e eles já estavam sem vida. Morreram asfixiados.

A porta do porão fechou e nós não conseguimos sair. Apesar da


tentativa dos vizinhos em quebrar as janelas e nos puxar, era muito alto e o
fogo estava consumindo tudo ao redor. Sem fôlego, nós fomos nos
encolhendo no chão. Um pedaço do teto caiu sobre nós.

Quente como inferno, era um pesadelo nunca esquecer o cheiro da


minha carne queimando e os gritos de Lucas sentindo dor ao ter sua pele
devorada.

Não lembro como fomos salvos. Acordei no hospital, nervoso,


desesperado para saber da minha família. Lucas estava entre a vida e a

morte na unidade intensiva e minha mãe… voltou para me salvar. Entrou no


fogo novamente dizendo que não me perderia. Os bombeiros a encontraram
com queimaduras severas em um corredor.
Passei dias na incerteza se eles sobreviveriam. Lucas mal reagia e
minha mãe muito menos. Ela ainda acordou, cega, desorientada e sem

lembrar de absolutamente nada de toda sua vida. Os médicos disseram que


não havia muitas chances de que sobrevivesse e se acontecesse, era difícil
recuperar a memória.

Sentei ao lado dela e menti. Contei uma história de vida que nunca
existiu. Eu disse que ela era feliz e amada, desejando que pudesse descansar

em paz. Que fosse embora dessa vida sem toda dor. Ela faleceu em uma noite
fria. Tudo que senti foi o pesar e a mágoa de que a minha vida estava
destinada ao caos.

Passei semanas sentado ao lado da cama de Lucas. Eu nunca saí de seu

lado e jamais sairia. Foi no hospital que eu ressurgi e decidi que não
importasse o tempo que fosse, eu ia me vingar por todas as pessoas que eu
amava e meu pai matou naquela noite. Deixei que o ódio me consumisse, me
transformei ao ponto de alimentar horrores para que nunca esquecesse meu

propósito.

Eu ainda tinha muita raiva no meu peito, parte dela aplacou com a
morte dele e mais uma parte, com a luz que Daisy, Milo e Ava trouxeram
para meu coração. Eles me acalmaram e me fizeram enxergar o que
realmente importava no fim do dia. Nunca colocaria dinheiro, poder e
qualquer ambição acima deles, porque na realidade, eram eles que

significavam absolutamente tudo para mim.

E eu os protegeria de tudo e de todos com a minha própria vida.

FIM
SOBREAUTORA

Mari Cardoso nasceu no início da década de noventa, na região


dos lagos do Rio de Janeiro. Incentivada pela mãe, que lia histórias

bíblicas e entre outras, sempre teve aguçado o amor pelos livros.

Em 2008, passou a se aventurar no mundo das fanfics da Saga


Crepúsculo até que, anos mais tarde, resolveu começar escrever

originais. Em 2019 iniciou sua carreira como autora profissional e


hoje possui duas séries em destaque: Elite de Nova Iorque e Poder e

Honra, dezessete livros publicados e alguns milhares de leituras


acumulados.

Tornou-se autora best seller no ano de 2020 com o romance

Perigoso Amor – Poder & Honra.

Ela possui

Suas redes sociais:

www.instagram.com/autoramaricardoso
www.twitter.com/eumariautora

www.mcmaricardoso.com.br

Grupo do Facebook.
AGRADECIM ENTOS

Este trabalho não seria possível com a incomparável ajuda profissional da


revisora Dani Smith, da betagem sensível da Paula Guizi. Agradeço

imensamente o apoio destas mulheres no período de construção dessa


história assim como a força e incentivo da minha parceira de trabalho, D.A

Lemoyne. Não poderia deixar de fora a torcida das minhas leitoras em


nossos grupos de contato e o carinho excepcional (e paciência) da minha

amada mãe nos dias de muito trabalho.

Gratidão eterna.
Cena Extra
Nova Iorque

Por volta de vinte e cinco anos depois…

ENZO

— Você vai ficar na porta a noite inteira? — Juliana riu de seu lugar
no sofá.

— Como você pode estar folheando uma revista quando a nossa


filhinha está na rua até essa hora? — resmunguei. Meu estômago estava

doendo.

— Você quer mesmo que eu responda?

— Não sei porque ainda aguento suas ironias. — Bufei, vigiando a


entrada da nossa casa.

— Nossas filhas cresceram, Enzo. Quando vai aceitar isso?

— Nunca, amore. — Bati com minha testa no vidro. — Amália está

estudando. Por que Anna não é tão concentrada como a irmã?

Juliana apenas soltou uma risada. Virei e franzi o cenho. Sentei ao seu

lado e puxei a revista de sua mão, jogando longe, ela acertou uma almofada

em mim e me mordeu. Agarrei sua cintura e a coloquei sentada no meu colo.


— O que sabe que eu não sei?

Minha esposa riu como se eu fosse idiota.

— Amália está na faculdade. Tem festas, fraternidade, vários garotos

lindos exibindo seus corpos bonitos e sarados.

— Não. Dante nunca deixaria.

— Ele não está com ela vinte e quatro horas por dia. — Neguei. Dante

nunca permitiria que minha filha desviasse do propósito de estudar.

— Ele sabe que irei matá-lo se alguma coisa acontecer com minha

filha em Nova Iorque! — Alterei minha voz, sentindo que a veia da minha

testa iria explodir a qualquer momento.

— Até parece que não sabe como é ser jovem na cidade! — Juliana

gritou de volta.

— Não! Nãooo!

— Você é tão bobo! — Ela me beijou, montada em meu colo. Abracei

minha esposa, com a cabeça doendo e escondi meu rosto em seu pescoço.

Seu cheiro ainda era e sempre seria meu perfume favorito. — Se acalme,

querido. É só um encontro…

— Tem um macho tocando minha filhinha.


— Gosta de se torturar, né? — Puxou meu cabelo e me fez olhar em

seus olhos. — Quer se distrair?

— Estou adorando para onde esse assunto está indo…

— Não estou falando de sexo. — Ela bufou.

Ouvimos passos e Aria apareceu com um prato vazio. Ela nos deu um

olhar e fez uma careta, passando direto para cozinha. Era foda ver o quanto a
minha menininha havia crescido. Sentia saudade do tempo que ela era

pequena, baixinha, gordinha e usava os cabelos cacheados, sempre exibindo

um sorriso lindo. Cresceu, seu cabelo era longo, não havia mais traços da

garotinha que corria para o meu colo.

— Sério que vão fazer isso aqui? — Aria cruzou os braços.

— Sério que está rabugenta de novo? — Juliana retrucou, rindo. — O

que aconteceu, filha?

— Nada, mãe. Estou entediada.

— Quer ver um filme comigo? Algo bem romântico? — Minha esposa

saiu do meu colo e foi para nossa menina caçula.

— Você odeia filme romântico.

— Eu te amo e assistirei com você! — Juliana beijou a bochecha dela.

— Vem, vamos para o cinema. Seu pai vai levar pipoca e refrigerante em

breve.
Sim, certo. Capado, castrado e garçom.

Juliana deitou com Aria no cinema, com cobertas e ficaram me

pedindo coisas por quase uma hora até que desisti de ficar acampado na

janela, assistindo ao terrível filme. Juliana e eu rimos da nossa filha

chorando com o final, soluçando como se algo na tela fosse minimamente

real. Beijei minha esposa, porque nós dois tínhamos um casamento sólido

que não encantaria nada em um filme. Aconteceram tantas coisas na nossa

vida que a mulher ao meu lado era de aço.

Aria foi dormir depois do segundo filme e nada do guarda-costas filho

da puta me passar qualquer localização. Eu tinha prometido a Anna que ela

teria um encontro sem que eu ficasse em cima, mas porra, o idiota era pago

por mim. Juliana deve ter ameaçado a alma dele. Era foda ter soldados que

mijavam de medo da minha mulher. Eu a conhecia o suficiente para saber

que estava manipulando toda situação e acobertando Anna.

Voltei para a janela e do outro lado da rua havia um carro parado. Me

inclinei para frente, querendo enxergar melhor.

Carro de luxo, preto, algo que eu usaria quando jovem para

impressionar uma garota em um encontro. O movimento dentro dele me

deixou nada feliz. Minha filha não, caralho! Agarrei minha pistola em cima

da mesa e voei escada abaixo, ignorando os gritos de Juliana. De tão


nervoso, me atrapalhei com o código da entrada, minha esposa tentou me

segurar e corri pelo quintal.

Dei um murro no vidro do motorista.

— PAI! O que você está fazendo? — Anna gritou, abrindo a porta.

— Você está no colo dele? — gritei de volta, perdendo minha cabeça.

— Saia desse carro agora mesmo, Anna Maria Rafaelli!

— Meu Deus! Que vergonha! — ela gemeu, ajeitando a blusa.

Assim que ela saiu, agarrei o imbecil no banco do motorista e joguei

no chão, apontando minha arma para sua cabeça e pronto para estourar os

miolos de quem ousou agarrar minha menina na frente da minha casa.

— Enzo! Pare com isso! — Juliana me empurrou e olhei bem para o

rosto do idiota.

E o maldito rosto era conhecido.

— Milo?

— Oi, tio. — Ele ergueu as mãos, mas as pernas estavam

estrategicamente posicionadas para me jogar no chão com um rápido

movimento.

— Milo, levanta! — Anna ajoelhou ao seu lado, agarrando seu braço.

Juliana aproveitou meu choque e me jogou ainda mais para trás.


— MILO ZACHARY BLACKWOOD! QUE DIABOS ESTÁ FAZENDO

COM MINHA FILHA? — Meu berro ecoou por toda rua.


VOCÊ PODERÁ GOSTAR DE...

PERIGOSO AMOR
Em algum momento no passado...
Toscana, Itália

A porta de madeira pesada foi aberta por um homem alto, que andava
puxando a perna e tinha uma cicatriz no rosto. Não era o mais temido do seu
meio, só era o único corajoso o suficiente para estar diante de alguém como
Lorenzo Rafaelli após uma traição.
— Sempre o destemido. — O chefe de uma das maiores famílias
mafiosas retumbou no ambiente escuro e silencioso. Rafaelli analisou o
homem à sua frente e foi inevitável não sentir certo pesar. Foi seu amigo de
infância, mesmo atualmente assumindo a posição de inimigo, havia algo em
seu coração por ele. Ambos foram criados para serem assassinos temidos e
poderosos em sua sociedade.
— É uma reunião entre antigos amigos de infância, não de inimigos. —
A voz rouca comprovava que os rumores sobre a doença não eram
infundados. A dinastia dos Valentinni estava terminando e isso agradava
Rafaelli além do saudável.
— E o que tem a dizer, meu caro? — Rafaelli bateu seu charuto no
cinzeiro, em seguida, pegou o copo de uísque.
— Quero fazer um acordo entre as nossas famílias. — Valentinni
falava baixo, sem desviar o olhar daquele com quem dividiu muitos jogos de
futebol e de quem recebeu o filho primogênito para apadrinhar.
— Não temos acordos! Desde que seu pai traiu a nossa família, nossa
irmandade, nosso elo familiar! — Rafaelli foi explosivo, como sempre era
quando se tratava daquele assunto tão delicado entre as duas famílias
poderosas.
— Eu sei e é por isso que trago uma oferta irrecusável. — Contrapôs
Valentinni. — Estou com problemas terríveis e não sei como resolvê-los
agora. Todas as possibilidades culminam no meu fim, devo fazer um acordo
de paz o quanto antes.
— Não existe paz após tamanha traição! — Rafaelli gritou tão alto que
seus homens se agitaram.
— Tenho uma única filha que não pode herdar a minha cadeira nos
negócios e então, tudo que tenho será do meu irmão. Não posso concordar
com os planos e desejos dele, portanto, preciso que a minha Juliana se case
com o seu filho mais velho. Espero que eles tenham a união mais forte e mais
poderosa da nossa sociedade. — Rafaelli o olhou com surpresa. Jamais
imaginaria que Valentinni renunciaria ao seu poder pela sua bambina. —
Quero que o meu afilhado seja meu herdeiro. Enzo precisa proteger Juliana
quando eu partir...
Aquela não era uma súplica de um chefe e sim... de um pai. Um pai
doente que estava com seus dias contados e se preocupava com o futuro da
sua princesa.
— Juliana é doce, mas ainda é uma bambina! — Rafaelli não podia
imaginar o seu explosivo Enzo concordando com um casamento arranjado,
porém, a proposta era tentadora. Dominar tantos territórios? Isso o
agradava muito, assim como agradaria aos seus associados.
— Não agora. O noivado deverá acontecer quando ela completar
dezoito anos ou antes, caso eu não sobreviva ao que está acontecendo, e o
casamento aos vinte um. Quero mostrar ao mundo que minha filha não está
sozinha e muito menos desamparada. Peço pela amizade que tivemos, acima
das escolhas ruins das nossas famílias, que a minha menina seja protegida.
Lorenzo Rafaelli amava seus três filhos, apesar de ter plena ciência
que não era um bom pai e muito menos presente. Sabia que seus herdeiros o
toleravam presencialmente e odiavam-no em segredo, mas ele tinha em
mente um plano. Tudo que fez Enzo passar para ser um chefe, jamais seria
perdoado, embora fosse para que ele se tornasse forte e imbatível.
O menino ainda era uma besta sem controle, muito maldoso e sem
educação. Esperava que chegasse a algum lugar antes que morresse.
Casando-se com Juliana, ele teria ainda mais poder, dominaria muitas
famílias e poderia garantir que a menina fosse protegida.
Rafaelli olhou para o homem na sua frente e sorriu.
— Considere feito.
PRÓLOGO | Enzo
Ouvi o barulho da porta de metal pesada da sala de treinamento e
mantive minha respiração presa. Já não sentia meu rosto, anestesiado pela
água gelada e a mão pesada que me mantinha ali dentro, empurrava a minha
cabeça cada vez mais fundo. Quis lembrá-lo que aquela porra era uma
diversão no parque para mim.
— Algum problema? — Ouvi a voz do meu treinador. O Ghost.
— Está na hora de encerrar. Tempo demais. — Dessa vez era Alex
Bennington, o meu próximo compromisso. — Alonzo Rafaelli. — Meu
treinador disse e não entendi bem porque, afinal, meu rosto estava afundado
em uma estúpida água congelante. Minha cabeça foi erguida e evitei puxar o
ar bruscamente, tateando pela toalha para me secar. — Kyra Bennington[i]. —
Uma mulher se apresentou e ah sim, ele trouxe a sua esposa.
A famosa e perigosa Kyra.
— Sei quem você é. — Alonzo respondeu secamente.
— Não fui agraciada com o mesmo prazer. — Kyra o olhou de cima a
baixo com indiferença. Ela provavelmente não gostou dele... Ninguém
gostava.
— Sou um dos agentes enviados pela família Rafaelli. — Alonzo
inclinou a cabeça para trás, como se ela soubesse quem era o homem atrás
dele. Detestava o termo agente. Ele não era um agente. Era o meu soldado.
— Um pouco antissocial. — Alex completou e ela olhou para mim,
diretamente nos olhos, de um jeito intenso. Seu olhar era profundo, muito
avaliador.
Alonzo saiu sem dizer nada. O casal trocou olhares e então, Kyra
concentrou a sua atenção em mim, que ainda secava o rosto para em seguida,
tirar minha camisa. Meu corpo era coberto por músculos e tatuagens, isso
agradava a maioria das senhoras. Seu olhar desceu do meu pescoço aos pés.
Sabia que era um material excelente, corpo tonificado, moreno e tatuado.
— Acho que a sua esposa grávida está gostando do que vê, ragazzo
— provoquei Alex. Ele me deu um olhar indiferente.
— Ela está te analisando, babaca. — Alex retrucou. — Kyra,
conheça Enzo Rafaelli. Chefe da família italiana de Nova Iorque.
— Chefe de todos os chefes. — Corrigi por puro prazer de explicar
que sim, eu era o chefe de todos os chefes. O que significava que eu
mandava em todos na máfia e nas famílias associadas. Os Rafaelli eram
maiores do que um dia a Cosa Nostra foi, e, nosso território de dominação
era vasto. Nos tornamos conhecidos pela riqueza, crueldade e frieza. Nossa
palavra definitivamente era a lei.
— Graças ao trabalho da agência. — Alex não deixou passar.
Abri um sorriso afiado. Nem tanto, merdinha.
— Tenebroso. — Kyra murmurou, um pouco alto demais.
Sorri ainda mais.
— Diga o que você quer conosco. Foi você quem pediu esse
encontro. — Alex puxou uma cadeira para a sua esposa. Grunhi, meio
irritado e joguei a toalha que secava o cabelo longe. Lembrar do motivo que
me levou àquela reunião me deixava puto pra caralho.
— Meu pai me arranjou um casamento. Un matrimonio! — Balancei
as mãos juntas, exasperado. — Com uma garota magricela que mora na
Itália! Nunca veio aos Estados Unidos.
— E daí, Enzo? Você vive indo lá... — Alex respondeu impaciente.
— Meus negócios estão aqui, obrigado. Nem sei se sabe falar inglês,
coitadinha — reclamei, com o meu sotaque cada vez mais forte e falando
mais alto, mas não estava gritando. Era o meu jeito muito italiano de estar
puto.
— Um casamento arranjado em pleno século vinte e um? Uau. —
Kyra abriu um sorrisinho debochado.
— Olha quem fala! — Grunhi, encarando os dois. — Meu papa fez
um acordo com uma família napolitana. Eles são pequenos, porém ricos e
influentes. O homem não teve filhos homens, apenas essa menina e tem um
sobrinho que não sei porque não pode assumir a chefia da família. Fica
ainda pior, esse homem me batizou na igreja quando nossas famílias eram
associadas.
— Então você se casará com a garota? Quantos anos ela tem? —
Alex puxou seu celular no bolso. — Como ela se chama?
— Juliana Valentinni.
Me estiquei para olhar o resultado da pesquisa sobre a garota.
Juliana era bonita, um pouco jovem, sempre viveu na Itália e parecia até
inocente nas suas fotografias. Era bem mais velho do que ela. A família
Valentini era mais famosa que a família Rafaelli. Não mais ricos,
definitivamente, mas muito famosos.
Eles possuíam um vinhedo e eram extremamente tradicionais, isso
atraía a atenção da mídia italiana. Para melhorar, a garota estava fazendo
trabalhos como modelo e se associando a um estilista em ascensão.
— A mídia tem um interesse muito grande neles. — Kyra comentou,
olhando na minha direção com a mesma intensidade de antes.
— São donos de um vinhedo que usam como lavagem, apenas para os
negócios da família, o que explica a renda surrealmente extra. Nós temos
boates, cruzeiros, coisas para divertimento. Eles são leais a nós desde que o
acordo foi feito. Eu era novo, meu pai não me falou nada. Vivem conforme
nossas regras e os chefes nunca nos desafiaram, quase pacíficos, entediantes.
— Bocejei, pensando no tédio que deveria ser fazer parte da família
Valentinni. — Um casamento com uma garota como ela vai atrair atenção da
mídia de forma assustadora. Já é um saco do caralho ter que lidar com eles
em Nova Iorque. Imagina me casando com a princesinha de um vinhedo?
— Não há outra? — Kyra conferiu.
— Temos poucas mulheres solteiras e na minha família, só nos
casamos com italianas. Exceto o babaca do meu pai, mas é por isso que ele
não foi um chefe memorável. — Puxei o meu cabelo. — Preciso fazer
alguma coisa. Oliver é um pau no cú, mas ele sabe lidar com a mídia. Disse
que preciso de um banho de loja.
Kyra esticou a mão até o meu rosto e puxou meus lábios para baixo.
Ergueu meu cabelo e analisou as pontas.
— Definitivamente se casar com Juliana é uma boa ideia. Vai
expandir nosso território e é isso que queremos. Então você deve fazer e é
claro, criar uma imagem positiva da família Rafaelli. A mídia, querendo ou
não, é quem controla o que o mundo pensa sobre nós. Quanto tempo até o
casamento? — Pegou o telefone de Alex para anotar as informações.
— O pai dela não quer que ela case com menos de vinte e um,
portanto, temos dois anos... — Dei de ombros. Nós deveríamos ter noivado
quando a menina completou dezoito, mas meu pai disse que ela parecia
muito jovem e seria ruim para nossa imagem. Ele decidiu esperar sem me
consultar. Não sabia dessa porra até semanas atrás, quando o velho resolveu
abrir a boca. — Porra, me casar. — Puxei os meus cabelos e ri, sem
esperanças de fugir daquilo.
— Casamento não é um bicho de sete cabeças. — Kyra claramente
mentiu, tentando ser legal. Alex e eu olhamos para ela com ceticismo. —
Está bem, é meio difícil, mas ela é italiana e provavelmente sabe a vida que
vocês levam e o que esperam dela como esposa. Seja gentil, educado, fiel e
cuide da felicidade de vocês dois.
Ou seja, seja um castrado.
— Prefiro cortar a garganta de alguém — murmurei e ela riu alto.
Alex bufou, tentando segurar a risada. — Ria o quanto quiser.
— Dominic[ii] já sabe? — ele perguntou.
— Não. Só falei sobre isso na reunião dessa semana, ele não estava.
Jack[iii] disse que vocês poderiam me ajudar a pensar em algo. — Me inclinei
para frente. — Dominic está em Los Angeles de novo, não sei o que está
havendo.
Alex não falou mais nada e encerramos nossa improvisada reunião,
decidindo que eu passaria por uma transformação completa. Como o meu
rosto era conhecido, não poderíamos circular juntos, não por enquanto. Kyra
iria comandar de longe a missão de transformar o ogro Enzo Rafaelli, em
um príncipe para se casar com a princesa Juliana Valentinni.
[1]
Político relacionado a famiglia, que é pai de um personagem, Vince Vaughn de Realeza Selvagem.
[2]
Alex Bennigton é personagem da série que ainda terá seu próprio livro.
[3]
Jackson Bernard é um empresário e inventor tecnológico, personagem principal do livro Curvas do
Destino.
[4]
Enzo Rafaelli é o chefe da máfia italiana e personagem principal do livro Perigoso Amor.
[5]
Nicola Biancchi é personagem da série Poder e Honra, originada de Perigoso Amor. Ele é
diretamente relacionado ao personagem principal do livro Coração Perigoso.
[6]
Personagem recorrente da série Elite de Nova Iorque.
[7]
Dad I'd Like to Fuck (pai que gostava de levar para a cama)

[i]
Kyra é filha do Comandante Bryant, que aparece em Curvas do Destino. Ela terá seu próprio livro
com o Alex.
[ii]
Dominic terá seu próprio livro, fazendo parte da série Elite de Nova Iorque
[iii]
Personagem de Curvas do Destino, livro 1 série Elite de Nova Iorque

Você também pode gostar