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Copyright ©2023 Jéssica Macedo

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autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Capa e Diagramação
Jéssica Macedo
Revisão
Margareth Antequera

Esta é uma obra de ficção. Nomes de pessoas, acontecimentos, e locais que existam ou
que tenham verdadeiramente existido em algum período da história foram usados para ambientar
o enredo. Qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência.
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https://www.autorajessicamacedo.com.br/
Sumário
Sumário
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Outras obras
Sinopse

Ela tentou fugir do casamento e vai pagar com o coração.

Miguel Velásquez falhou ao tentar matar o líder do Cartel de Medellín, diante de um


possível banho de sangue, o mafioso viu que a melhor alternativa era uma aliança forjada através
de um casamento arranjado. Enquanto ele sabia que o preço a se pagar era necessário, sua noiva
não pensava da mesma forma.

Mirelle Ruíz abominava a ideia de se casar com o responsável por deixar seu irmão numa
cadeira de rodas e matar sua cunhada. Ela jurava jamais conseguir amar alguém capaz de tal
crueldade, mas sua opinião não parecia ser o suficiente para quebrar o acordo.

Pensar em fugir seria apenas o início do seu maior pesadelo, quando Mirelle perceber que
havia confiado na pessoa errada e o monstro com quem iria se casar era o único poderoso o
bastante para salvá-la e mantê-la segura.
Capítulo 1

Acordei de madrugada com o som furioso dos motores rugindo como bestas furiosas. Em
meio ao susto, passei a mão no meu robe sobre a poltrona felpuda do meu quarto e me enrolei
nele antes de descer correndo.

Deveria ser o meio da madrugada, mas as luzes da sala estavam acesas e minha mãe
parecia uma barata tonta andando de um lado para o outro do cômodo. Descabelada, com a
camisola amassada e uma expressão de terror que mantinha seus olhos arregalados, foi o
suficiente para me provocar um calafrio.

Ainda não haviam me dito nada, mas eu pressentia que algo terrível tinha acontecido.

— Mamãe!

— O Adrián... — Ela me encarou pálida como se houvesse visto um fantasma.

— O que aconteceu com meu irmão?

Ela negou com a cabeça e começou a tremer.

Dei passos largos, acabando com a distância entre nós e amparei com os braços antes que
ela desmoronasse. Fiz com que chegasse para trás e se acomodasse no sofá.
— Mamacita...

— Seu irmão... — Ela voltou a tremer.

— O que aconteceu com o Adrián? — Apertei suas mãos entre as minhas, tentando
passar o mínimo de conforto, apesar de saber que provavelmente não conseguiria consolar nem a
mim mesma.

— Ele foi atacado.

— Como? Por quem?

Ela balançou a cabeça em negativo, sinalizando que ainda não sabia.

— Onde ele está?

Negou de novo.

— Mãe!

Ela apertou minha mão com ainda mais força, sinalizando sua aflição.

— Eu não sei... — suspirou. — Os homens foram atrás dele.

Meu coração ficou ainda mais apertado e eu cerrei os lábios, prendendo a respiração por
alguns instantes. Na minha mente passaram coisas terríveis que só me deixaram ainda mais
apavorada.

Já havia perdido meu pai há cinco anos e temi que o mesmo houvesse acontecido com
meu irmão mais velho.
Capítulo 2

Estava fitando o teto daquele quarto de motel no meio do nada. Completamente em


silêncio, com a mão sobre o meu peito, conseguia sentir minha respiração e ouvi-la, bem como
escutar o ronco baixo das duas prostitutas deitadas comigo.

Impaciente, eu aguardava por notícias, sobre a frente de batalha da guerra que


travávamos pelas ruas do México. O meu Cartel era o mais poderoso do país, entretanto, para
nos manter assim, havia um custo alto de terror, sangue e medo constantemente espalhado.

Quando meu pai me criou para aquela posição, ensinou-me que eu precisava ser um
caçador e cortar algumas cabeças, por mais que famílias fossem como hidras, com outras
crescendo no lugar.

Após a união da minha irmã com Ramón Hernandes, o Cartel de Tijuana havia deixado
de ser um problema, porém, ainda havia outros e minha atenção tinha se voltado para os Ruíz,
que chefiavam o Cartel de Medellín, nossos principais rivais no momento.

No mundo em que vivíamos, eu preferia dar o primeiro passo e me tornar o caçador do


que esperar e acabar me tornando a caça. Ramón havia me ensinado que os inimigos poderiam
estar mais próximos do que se imaginava e eu não permitiria que minha família corresse riscos
novamente.

Eu tinha feito um movimento agressivo mandando meus homens atrás dos Ruíz, só
esperava que esse fosse o xeque-mate, pois um passo em falso colocaria tudo a perder.

Assim que o meu celular começou a tocar, virei-me rapidamente e o puxei do móvel de
cabeceira, atendendo em tom firme:

— Pronto.

— Chefe... — começou Javier do outro lado da linha.

— Pegou ele? — exigi que meu homem fosse direto ao ponto.

— Sim, pegamos.

— Maravilha!

Um inimigo a menos para nos preocupar.


Capítulo 3

Lágrimas se acumularam nos meus olhos quando os homens voltaram e disseram que o
carro do meu irmão havia sido emboscado. Adrián só queria agradar à esposa, dar a Virginia o
momento romântico de casal que ela tanto desejava, mas eles acabaram pagando um preço alto.

O choro ainda estava entalado na minha garganta quando o carro finalmente parou na
porta do hospital para onde ele fora levado às pressas. Abri a porta num rompante e saí correndo
antes que a minha mãe conseguisse me impedir.

— Adrián!

Aflita, olhei de um lado para o outro da enorme recepção do hospital como se meu irmão
fosse capaz de me responder, guiando-me até ele. Entretanto, quando percebi que não sabia para
onde ir, minhas lágrimas voltaram a rolar.

Era uma coleção de notícias terríveis para um único dia. Ainda não conseguia acreditar
que minha cunhada estava morta e meu irmão poderia não sobreviver.

Quando a minha mãe chegou atrás de mim e envolveu meus ombros, puxando-me para
mais perto, meu choro se tornou ainda mais intenso. Adrián não era apenas meu irmão mais
velho, mas nosso protetor, o chefe da nossa família e guardião. Eu nem conseguia imaginar como
nós duas sobreviveríamos sem ele e imaginava que a minha mãe se sentisse da mesma forma.
Senti outra mão tocar meu ombro e olhei para frente, encontrando os olhos castanhos e
firmes de Santiago, um dos homens do Adrián e um dos responsáveis por trazê-lo ao hospital
antes que fosse tarde demais.

— Seu irmão vai ficar bem — prometeu apesar de não ser médico e não ter qualquer
propriedade para prometer isso.

— Tomara...

— Adrián é o homem mais forte que eu conheço.

Esforcei-me para sorrir.

Santiago estava certo, nunca conheci ninguém mais determinado e forte do que meu
irmão e se havia alguém capaz de se levantar diante da pior perspectiva, era ele.

Uma mulher com uniforme azul se aproximou de nós, eu não sabia se ela era médica ou
enfermeira, entretanto, a única coisa que importava no momento era que ela nos conduziu a UTI,
onde meu irmão estava recebendo cuidados intensivos.

Tudo que eu pude foi observar o Adrián através do vidro, com as mãos naquela superfície
rígida sem poder tocar as dele.

O desespero que crescia em mim era enlouquecedor, não estava pronta para passar por
aquilo, talvez nunca estivesse. Não era certo, não era justo.

— Eu posso ir até lá? — chorando, virei-me para a mulher parada atrás de nós, apenas
observando meu desespero e da minha mãe.

Ela balançou a cabeça fazendo que não e eu chorei ainda mais.

— Seu irmão está passando por um momento muito delicado e precisamos evitar
qualquer risco de infecção, ele está lutando para sobreviver e temos que dar a ele todas as
chances possíveis. Depois de tomar cinco tiros, só o fato de ele ainda estar respirando já é um
verdadeiro milagre.

Mordi o lábio inferior, abraçando meu próprio corpo e voltei a chorar. Minha mãe me
acolheu em seus braços e nós duas derramamos um rio de lágrimas, enquanto eu via vários
homens se posicionando ao longo do corredor, como se estivessem vigiando a porta do Adrián.

Movi a cabeça, procurando pelo Santiago, que estava em silêncio e de braços cruzados
logo atrás de nós.

— O que eles estão fazendo aqui?


— Vão vigiar o Adrián dia e noite para garantir que ele possa se recuperar.

— Acha que podem tentar atacá-lo de novo? — Voltei a entrar em desespero.

— Infelizmente é uma possibilidade.

— Ah, minha Virgem de Guadalupe, por favor, proteja meu filho — suplicou minha mãe
em tom baixo.

— Lamento interromper — disse a moça —, mas o corpo da mulher do seu irmão está no
necrotério e preciso que alguém da família vá fazer o reconhecimento.

Minha mãe poderia estar mais silenciosa, porém, parecia mais fragilizada e abalada do
que eu. Por mais que eu não quisesse ver o corpo da Virginia, ela era mais do que só minha
cunhada, desde que havia se casado com meu irmão no ano passado, acabou se tornando minha
melhor amiga.

Lembrar que eu havia a perdido me desolou.

— Eu vou... — murmurei sentindo uma pressão ainda mais sufocante no meu peito.

Minha mãe me encarou com pesar, porém, foi o Santiago quem disse algo:

— Acompanharei você.

— Obrigada.

Ele colocou a mão no centro das minhas costas, mais próximo do que nunca e me guiou
até o elevador atrás da mulher, que pareceu apertar um botão para o subsolo.

Fiquei em silêncio por todo percurso, que pareceu levar uma eternidade até chegarmos a
um corredor longo e escuro, que parecia mais frio à medida que avançávamos na direção de duas
enormes portas de metal. A sensação de entrarmos em uma geladeira se tornou real, quando
passamos pelas portas. Nem quando o ar-condicionado estava em sua menor temperatura eu
sentia tanto frio.

Abracei-me quando comecei a tremer e cerrei os lábios. A sensação de aperto no peito se


tornou ainda mais intensa enquanto eu avançava atrás da mulher que parou diante de uma mesa
de metal.

Nela, havia um corpo coberto por um lençol branco. Ainda não estava acreditando que a
Virginia pudesse estar ali até que o lençol foi baixado e minhas pernas falharam. O choro
descontrolado voltou, mas antes que eu caísse no chão, Santiago me segurou.
— É a Virginia — eu disse em voz alta sem coragem de analisar o estado do corpo dela.
Apenas a pele que costumava ser bronzeada e brilhar como ouro, estava pálida e arroxeada de
uma forma que eu jamais imaginei vê-la.

— Pode cobrir novamente — falou Santiago para a mulher, enquanto eu precisaria de um


bom tempo para me recuperar do choque.

— Isso não é justo... — solucei.

— Não, não é... — concordou ele.

Eu estava tão arrasada que não conseguia parar de chorar, nem sabia se algum dia
conseguiria.
Capítulo 4

Eu estava sentado em uma mesa redonda, às margens da piscina, bebericando uma


garrafa de tequila em pequenos shots e vendo o Sandro, que brincava com o filho, enquanto as
mulheres se divertiam dentro d’água. A garotinha, Dulce, com pouco mais de um ano, batia as
perninhas de dentro de uma boia que a fazia flutuar.

O dia parecia perfeito, com um sol alto e brilhante, tocando nossas peles em uma carícia
agradável. Minha família estava feliz, inclusive a Paola, que pela manhã tinha me enviado uma
foto do filho. Apesar de eu nunca confiar no Ramón, minha irmã parecia bem e enquanto
permanecesse assim, eu era capaz de suportá-lo e manter aquela delicada paz. Se nosso cunhado
vacilasse. Bastava soltar a coleira do Sandro que o estriparia com as próprias mãos. Meu irmão
mais novo sempre foi mais impulsivo e motivos parar querer matar o Ramón não faltavam.

Quando o Javier surgiu na minha frente, como uma nuvem encobrindo o sol, soube que
as notícias não seriam boas e o momento de paz havia acabado.

— O que aconteceu? — Ajeitei meu corpo na cadeira, inclinando-me na direção dele.

— Tenho uma notícia ruim...

— Fale logo!

— Adrián Ruíz sobreviveu.


— Quê? Você mesmo não havia me dito que ele estava morto?

— Foram cinco tiros, chefe. Não era para ninguém sobreviver a isso...

— Então como ele sobreviveu?

— Eu... Eu não sei.

— Você não checou?

— Os homens dele chegaram...

— E vocês fugiram? — interrompi, irritado.

— O trabalho já estava feito.

— Malfeito, por sinal.

— Vamos resolver isso.

— É o mínimo que eu espero.

Javier engoliu em seco.

Irritado, fiz um gesto para que ele saísse da minha frente e servi mais uma dose de
tequila, virando na boca de uma vez só e sentindo o líquido descer queimando.

Sandro entregou o filho para a mãe e se aproximou de mim, percebendo que havia algo
de errado pela minha expressão cerrada.

— O que foi?

— Imaginando que vamos ter problemas em breve.

— Por quê?

— O Ruíz está vivo.

— Não é possível...

— Parece que é.

— Então vamos matá-lo de verdade dessa vez.


— Há um verdadeiro exército no hospital onde ele está — informou Javier.

— Então vamos arrumar outro ainda maior para entrar lá...

— Não! — interrompi meu irmão antes que ele começasse a colocar aquele plano em
prática.

Confuso, ele me encarou tentando entender.

— Como não?

— Existem muitos civis no hospital: doentes, profissionais, familiares. Se


transformarmos o local em nosso campo de batalha, os efeitos colaterais serão incontáveis.
Enquanto a guerra está apenas entre nós, a polícia não se mete, mas se matarmos inocentes no
processo teremos uma dor de cabeça muito grande.

— Então quer ficar de braços cruzados?

— Por enquanto.

— Mas...

— Voltamos a atacar quando ele estiver num local mais seguro para nós.

Sandro balançou a cabeça em negativa, como se não concordasse, no entanto, não falou
mais nada. Meu irmão sabia que aquela decisão era minha e precisava respeitá-la.

Uma das maiores dificuldades da minha posição era saber quando deveríamos atacar e
quando era necessário recuar. Mantinha uma delicada relação de amizade com a polícia, que
seria colocada de lado caso eu matasse inocentes. Eles poderiam fazer vista grossa a muitas das
minhas operações, desde que eu não fizesse nada que causasse pressão e comoção pública. A
revolta da população era algo que ninguém queria enfrentar. Enquanto fossem apenas bandidos
matando bandidos, eles não se importavam.

Ao sobreviver, Adrián ganhou um tempo e me deixou de mãos atadas, porém sabia que
essa história estava longe de terminar. Toda ação sempre gerava uma reação e eu deveria estar
pronto para enfrentá-la.
Capítulo 5

Dois meses depois...

Houve um misto de emoção e alívio quando o Adrián finalmente foi liberado para voltar
para casa. Ele havia ficado tão perto da morte que, a notícia de sua possível recuperação era
música para os meus ouvidos.

Entretanto, naquela manhã, quando eu acordei antes que Santiago e os outros homens o
trouxessem do hospital, pressenti que os dias difíceis estavam bem longe de terminar.

A porta do quarto foi aberta e os homens o ajudaram a sentar em uma cadeira de rodas.
Adrián, que costumava ser simpático e sorridente, estava com uma expressão terrível, mal-
humorada e rígida. Meu irmão estava bem longe de ser o homem com o qual eu estava
acostumada.

— Adrián! — Joguei os braços ao redor dele, apertando e esperei que ele me


correspondesse o que não aconteceu.

Ele não havia ficado paraplégico nem nada parecido, felizmente, nenhuma das balas
passou perto da sua coluna, mas ele ainda estava fraco e teria que fazer algumas sessões de
fisioterapia, para recuperar a força dos movimentos. Dois meses deitado tinham o prejudicado
muito, mas foram necessários para que seus órgãos internos se recuperassem.
Adrián havia passado por três cirurgias e ficado muito tempo em observação, mas eu
finalmente estava convencida de que ele sairia dessa.

— Mirelle, chega!

— Me desculpa... — sem jeito, afastei-me dele.

— Vamos para o escritório — disse firme para os homens dele e seguiu até sair da minha
frente.

— Seu irmão vai ficar bem — quando minha mãe falou, percebi que ela estava atrás de
mim.

Eu não disse nada, apenas assenti com um movimento de cabeça.

Adrián poderia ficar bem fisicamente, mas meu irmão parecia quebrado por dentro de um
jeito que eu pressentia ser irreparável.

Achava que apenas a Virginia não voltaria para casa, mas o Adrián também tinha se
perdido.
Capítulo 6

Eu percebi o carro que estava nos seguindo há quase cinco minutos. Era um veículo
grande, com janelas escuras e a lataria preta. Por só, ele já chamava muita atenção, mas agia
como se não houvéssemos o visto.

Sentado no banco de trás, remexi meu corpo e peguei minha arma dentro do coldre
escondido por debaixo do meu blazer, conferi o cartucho e os outros dois que eu tinha nos
bolsos.

Apesar do meu carro ser blindado, eu sabia que poderia precisar daquelas balas logo,
logo. Havia chutado um vespeiro e tinha me preparado para levar algumas ferroadas. Era só uma
questão de tempo para que os Ruíz viessem atrás de mim.

Minha família estava proibida de sair de casa e, até segunda ordem, nem eu e nem o
Sandro, andávamos sem nossos homens.

— Chefe... — começou Javier.

— Já vi.

— O que eu faço?

— Despiste eles.
— Certo.

Javier mexeu no câmbio, mudando do automático para o manual e acelerou, girando o


volante rapidamente para desviar de um caminhão que estava na nossa frente.

Por reflexo, segurei no banco do motorista devido a inércia que jogou meu corpo,
sacudindo-me.

Javier acelerou, tentando ir mais rápido, porém, o veículo que nos seguia atingiu a mesma
velocidade, esforçando-se para não nos perder de vista.

Eu estava com a cabeça virada para trás, observando-os quando um dos sujeitos no
interior do veículo colocou o corpo para fora e apontou uma submetralhadora em minha direção.
A sequência de disparos atingiu o vidro e fez com que ele começasse a trincar, mas graças a
blindagem, não estilhaçou, nem permitiu que qualquer bala passasse, porém, era evidente que
não suportaria por muito tempo.

— Mais rápido! — gritei para o Javier.

— Já estou indo mais rápido que posso, senhor.

Eu rugi, cerrando os dentes.

— Chefe, vamos contra-atacar? — questionou um dos meus homens no banco do carona.

— Não abram os vidros por enquanto.

A blindagem era nosso escudo, se abaixássemos os vidros, uma das balas atiradas contra
nós poderia nos atingir no interior do veículo. Não gostava de ficar sem revidar, porém, a maior
de todas as habilidades era saber quando atacar e quando não.

— Chefe...

— Mais rápido, Javier!

Os pneus cantaram e meu corpo foi jogado para trás quando o meu motorista moveu o
carro, ziguezagueando entre os outros veículos da pista, até virar de uma vez em uma rua e
seguir por ela. No final, havia uma linha de trem onde a cancela estava se fechando, anunciando
a aproximação de uma locomotiva.

— Segurem firme! — gritou Javier antes de acelerar ainda mais.

O carro se chocou contra a cancela, quebrando-a e eu ouvi uma buzina da locomotiva,


perto demais.
Tudo levou apenas alguns segundos, mas eu perdi o fôlego enquanto atravessamos a linha
poucos segundos antes do trem. Se o carro estivesse em uma velocidade menor, certamente
haveria uma batida que poderia nos matar.

Olhei para trás e vi o trem passando e o carro dos nossos perseguidores ficar preso do
outro lado. Poderia não ser o que queríamos, mas tínhamos nos livrado dele.

— Está tudo bem, chefe? — perguntou Javier.

— Sim, vamos sair daqui.

— É claro.

Ele dirigiu de volta para a minha casa enquanto eu guardava a arma no coldre.

Assim que paramos na garagem com o carro cheio de sinais da nossa perseguição, Sandro
foi o primeiro a aparecer, abrindo a porta do meu lado antes que eu mesmo fizesse isso.

— Foi o Ruíz? — quis saber, lançando-me um olhar firme que me exigia uma resposta.

— Eu não sei.

— Como não sabe?

— Tudo o que posso afirmar é que um carro nos perseguiu, mas os Ruíz não são os
únicos inimigos que nós temos.

— Vamos jogar uma bomba na casa deles.

— E atrair a atenção do mundo inteiro?

— Mas...

— Sabe que os americanos adoram se meter em brigas que não são deles e não
precisamos disso agora.

— Então quer sentar e esperar que nos matem?

— Vamos nos sentar e esperar para terminar o serviço. Nossos homens falharam em
matar o Adrián, a esposa dele morreu e agora o Ruíz quer vingança. Isso era algo que deveria
esperar e estar pronto para lidar.

Sandro balançou a cabeça em negativa e passou a mão pelos cabelos curtos, empurrando-
os para trás.
— Não sei como consegue manter o sangue tão frio.

— É por isso que eu sou o líder e que somos tão fortes.

— Que seja! — Sandro deu de ombros.

— Mande o carro para o conserto — falei para o Javier antes de passar por ele e meu
irmão e seguir para o interior da casa.

Aconteça o que acontecer, mantenha a cabeça no lugar. Aquela era uma das lições mais
valiosas que o meu pai havia me dado antes de ser preso.
Capítulo 7

— Ah!!! — Ouvi meu irmão gritar furioso quando Santiago entrou no seu escritório
dando uma notícia que provavelmente não o agradou.

Desde que ele havia voltado para casa, o clima não havia ficado melhor, muito pelo
contrário, eu o via sempre irritado, furioso, agressivo e mandão. Nem conseguia imaginar pelo
que ele estava passando, depois de ter perdido a esposa e ficado meses no hospital, porém, não
poder fazer nada para ajudar me deixava ainda mais angustiada.

Sabia pouco sobre os negócios da minha família, apenas o suficiente para compreender
que lidávamos com situações de risco onde os homens acabavam presos ou mortos. Já tinham
feito até filmes sobre a morte do meu pai, como se ele fosse o maior vilão que o mundo já tinha
visto.

Para mim ele era só meu pai...

Minha família já havia passado por situações muito difíceis, por escolhas que eu não
tinha controle. Gostaria de dizer que iria parar, mas seria muito ingenuidade minha pensar assim.

Dei mais alguns passos na direção da porta do escritório do Adrián e arrisquei-me a bater
na porta, chamando a atenção dele, afundado na cadeira de rodas atrás da mesa de madeira
escura.
— O que foi, Mirelle? — questionou num tom ríspido que não costumava dirigir a mim,
antes de tudo aquilo acontecer.

— Você está bem?

Ele cerrou os dentes e saiu de trás da mesa, indicando o próprio corpo.

— Acho que eu estou bem? — questionou ainda mais ríspido.

— Me desculpa... — Encolhi-me cruzando os braços na frente do corpo em uma postura


defensiva. — Os médicos disseram que você vai ficar bem.

— Duvido que isso aconteça.

— Só ter um pouco mais de paciência com a fisioterapia.

— Isso vai trazer a Virginia de volta?

Engoli em seco, balançando a cabeça fazendo que não.

— Então não vou ficar bem.

— Eu... Eu sinto muito...

— Todos sentem. — Deu de ombros.

— Queria poder fazer alguma...

— Você não pode fazer nada, Mirelle — cortou-me, ríspido.

— É...

Um silêncio incomodo se apoderou do cômodo até que eu criei coragem de falar.

— As coisas vão ficar melhores.

Ele apenas balançou a cabeça em negativa e eu não sabia mais o que fazer a não ser dar
as costas e ir embora.

Meu irmão poderia não estar morto, mas eu sentia que havia o perdido.
Capítulo 8

Nos dias que se sucederam, percebi que meu movimento agressivo acabou se tornando
algo quase incontrolável. Havia sido um movimento pensado, controlado e antecipado, mas eu
dependia de homens que não estavam isentos de falhas.

A verdade era que Adrián tinha escapado daquela por um verdadeiro milagre.
Intervenção divina ou não, aquele zumbi estava vindo atrás de mim com toda a fúria. Enquanto
eu pensava em cada movimento, ele agia como uma besta.

— Eu disse que deveríamos ter explodido a casa deles! — rugiu Sandro ao bater as mãos
na mesa quando ouvimos a notícia que uma das nossas plantações de maconha havia sido
queimada.

— Controle-se! — lancei um olhar firme e impositivo para o meu irmão.

— Mas...

— Eu vou dar um jeito nisso.

— Quando?!

— Às vezes reviravoltas exigem tempo.


— Até lá a Agda pode ser sequestrada de novo, a Alma, meus filhos... Você matou a
esposa do cara e ele está numa cadeira de rodas.

— É por isso que devemos cuidar da proteção da nossa família.

— A Paola está na Espanha!

— Segura.

— Acha que o cuzão do Ramón consegue protegê-la sozinho?

— Claro que não.

— Então por que está tão calmo?

— A Espanha é território da família Sanchez, ninguém entra lá sem que a Liziane e seus
homens saibam. Felizmente, somos bons aliados.

— Está confiando a segurança da nossa irmã a uma desconhecida.

— Sem aliados não somos nada, Sandro.

— Que seja!

A rebeldia e imprudência dele às vezes me dava dor de cabeça.

— Cuide do seu trabalho e deixe esses assuntos comigo.

— Como acha que eu posso ficar tranquilo quando minha família está em risco?

— Já te dei algum motivo para duvidar de mim? — Direcionei um olhar firme para o
meu irmão e a sua falta de resposta já foi o bastante. — Só mantenha a cabeça fria e não faça
nada que possa nos prejudicar.

— Okay! — bufou. — Precisa matar logo aquele desgraçado.

— Paciência, Sandro... Paciência.

Nos últimos dias eu estava começando a pensar, que continuar aquele derramamento de
sangue já não era a melhor alternativa. Havia tomado uma decisão muito arriscada, apesar de ter
estudado o melhor momento para agir. Diante dos últimos acontecimentos precisava reconhecer
o momento de recuar.

Uma oferta de paz poderia ser tão benéfica quanto o extermino de uma família. Pensei no
casamento da minha irmã com o Ramón e, o fato de nossas famílias terem parado de tentar se
matar.

Se não havia conseguido acabar com o Adrián, talvez devesse mudar de estratégia...
Capítulo 9

Eu sentia muita falta da Virginia. Ter outra mulher naquela casa com uma idade próxima
a minha ajudava a preencher meus dias e fazer com que eu me sentisse menos prisioneira.

Não podia dar um passo para fora daquela casa sem a companhia dos homens do meu
irmão, mas Virginia e eu tínhamos nossos momentos, nossos segredos e isso me ajudava a não
enlouquecer. Sem ela, minha vida parecia mais terrível do que nunca.

Com um Adrián rude, minha cunhada morta e minha mãe se esforçando para manter o
mínimo de controle sobre a casa, sentia que estava enlouquecendo.

Prendi o fôlego, com a respiração acelerada, quando escutei uma batida na minha porta.
Puxei meu travesseiro para cima da cabeça e tentei me esconder, decidida a ignorar. Quem sabe
assim o mundo não desaparecia e eu me sentiria um pouco melhor.

— Mi! — a pessoa do outro lado insistiu.

Permaneci ignorando.

— Mirelle! — o grito da minha mãe foi ensurdecedor, mesmo com a porta entre nós e eu
sabia que se não me levantasse para abrir a porta, ela daria um jeito de derrubar.

Escorreguei para fora da cama e abri minha porta como se fosse um zumbi.
— Oi, mãe.

— Já passou do meio-dia! — encarou-me seriamente, com as mãos na cintura, os dentes


cerrados e ameaçadores.

— E daí!

— E daí? — Levantou as sobrancelhas, piorando a expressão de fúria.

— Para quê?

— Para viver.

— Viver não parece algo que queiramos fazer ultimamente.

— Não diga isso! — Deu um grito tão alto que me assustou. — Seu irmão quase morreu
e você fica de drama.

— Perdi minha melhor amiga e todos os dias parece que também perdi o Adrián. O
sujeito que voltou do hospital não parece em nada com meu irmão.

— Não diga isso!

— É verdade.

— Temos que dar graças a Deus pelo seu irmão ter voltado para casa.

— Acha mesmo que ele voltou? — Eu poderia estar sendo uma idiota, mas externei o que
estava sentindo nos últimos dias.

— Está sendo difícil para o seu irmão, você precisa ser mais compreensiva. Ele era forte
e saudável, agora precisa de uma cadeira de rodas para se locomover.

— Os médicos disseram que ele vai ficar bem.

— Ainda assim, não é tão simples.

— Eu sei, mãe...

— Mas está parecendo que não.

— Só quero que ele volte a ser ele.

— Seu irmão precisa de um tempo, todos nós precisamos.


— Quanto tempo será, mãe?

— Só vamos saber se esperarmos.

Soltei um profundo e penoso suspiro.

— Agora vamos! — Ela deu uns tapinhas no meu ombro. — Não pode exigir nada dele
se ficar assim abatida.

— Está bem... — Fui obrigada a concordar pois ela tinha um ótimo argumento.
Capítulo 10

Após um mês de negociação, tomei o avião para Medellín, uma cidade colombiana
controlada pelos Ruíz. Após finalmente ter acabado com os Hernandes e todos aqueles que os
seguiam, eu tinha conseguido o controle total do México, mas o controle das operações e do
tráfico, principalmente para os Estados Unidos estava bem longe de ser inteiramente meu.

Os colombianos haviam se tornado meus principais rivais na disputa territorial por


distribuição e, eu estava determinado a acabar com a concorrência, porém, percebi que tentar
matar o Adrián acabou sendo um erro.

Eu tinha detonado uma bomba na nossa relação que poderia acabar ferindo a minha
família e eu precisava consertar as coisas. Fiquei pensando em como fazer isso até que a ideia de
aliança mais simples surgiu na minha mente. Famílias se uniam em matrimônios arranjados há
séculos e costumava funcionar, deveria dar certo para mim também.

Mandei uma bela mala de dinheiro para o Adrián, um milhão de dólares americanos
como um presente para uma possível reconciliação. O dinheiro foi suficiente para chamar a
atenção dele e fazer com que aceitasse se encontrar comigo.

Era arriscado, porém, eu corria bem mais perigo mantendo a situação da forma que estava
e atraindo atenção da polícia mexicana e do restante do mundo. Não queria que, por um
descuido, minha mãe, irmãos ou sobrinhos acabassem mortos.
Eu estava sentado numa poltrona do avião, encarando as nuvens, através da janela
quando meu celular vibrou.

Sandro:

Já chegou?

Miguel:

Ainda não.

Sandro:

Isso é estupidez.

Miguel:

Sei o que estou fazendo.

Sandro:

Esse idiota vai matar você.

Miguel:

Ele ganha mais comigo vivo.

Sandro:

Duvido que vá pensar assim.

Miguel:

Nem todos são como você, irmão.

Sandro:

Confia demais na sua racionalidade.

Miguel:

Por isso mesmo.


Sandro:

Matou a mulher dele, porra!

Miguel:

Estamos num mundo onde não há inocentes nem vítimas.

Se ele for esperto vai saber disso.

Sandro:

E se não for?

Miguel:

Vou estar perto o bastante para atirar na cabeça dele e garantir que o serviço seja feito.

Sandro:

Espero que sim.

Miguel:

Darei notícias quando o assunto for resolvido.

Sandro:

Vou esperar.

Não demorou muito para que o piloto iniciasse as manobras de aterrissagem e, o avião
pousasse em uma pista particular da cidade colombiana.

Eu estava acompanhado de cerca de vinte homens e o pequeno exército era mais como
uma segurança para uma batalha que eu esperava que não fosse acontecer. O colete à prova de
balas também era apenas por precaução. Não havia ido até ali atrás da minha cova, ao contrário
do que o Sandro pensava.

Na pista de pouso havia carros esperando por nós que foram previamente reservados em
uma empresa de aluguel. Os SUVS pretos eram blindados e grandes, cabendo sete pessoas por
carro.

O nosso encontro fora marcado em um hotel de luxo, em uma das melhores regiões da
cidade.

Eu só queria fechar aquele acordo e ir embora o mais rápido possível, porém não poderia
demonstrar qualquer inquietação ou ansiedade. O controle e uma boa expressão eram sempre
cruciais naquele jogo. De forma alguma o Adrián poderia cogitar que eu estivesse acanhado ou
me sentisse com medo em algum momento.

Eu já tinha quase o matado e ele precisava lembrar de que eu poderia terminar o serviço a
qualquer instante.

Ao invés de matar o monstro e deixar que outro nascesse no lugar, iria apenas colocar
uma coleira nele.

Através da janela do carro, observei as ruas da cidade, coloridas e movimentadas à


medida que nos aproximávamos do hotel. Havia muitas diferenças, mas também consegui
encontrar algumas semelhanças com o México e tudo que eu estava tão acostumado.

Descemos do carro na recepção e segui até o balcão na companhia dos meus homens que
analisavam cada pessoa do local, averiguando uma possível ameaça. Eles estavam ali para isso e
faziam um bom trabalho.

A recepção misturava cor ao luxo, com muitas decorações em vermelho, azul e verde,
além de um lustre de cristal com pelo menos um metro de diâmetro que pendia do teto, pintado
com figuras de anjos.

Assim que me aproximei do balcão, a recepcionista que estava entretida com algo na tela
do computador, levantou a cabeça e me deu um sorriso ao mexer no cabelo.

— Senhor...

— Velásquez.

— Ah, sim! Tem alguma reserva?

— Pedi para separarem um andar para mim e meus amigos.

— Um andar inteiro? — ficou boquiaberta.

— Não fizeram a reserva? — meu tom ficou mais grosso e mal-humorado.

— Eu vou verificar. — Abaixou os olhos para a tela do computador. — Ah, sim, senhor
Velásquez. O último andar está todo reservado para o senhor, é uma suíte presidencial e outra é
premium.
— Certo.

— Só um instante que vou fazer o seu check-in e providenciar os cartões-chave.

— Está bem. — Escorei o braço no balcão, durante a espera.

Enquanto a recepcionista não tirava os olhos de mim, os meus percorreram o ambiente,


analisando do carregador de malas na entrada à família sentada em um dos bancos da recepção.
Eu estava tentando uma estratégia diferente, mas, ao contrário do que o que o Sandro pensava, eu
não havia abaixado minha guarda e continuava analisando os movimentos e estudando possíveis
ameaças a cada instante.

Eu tinha mandado matar o cara e seria um completo idiota se ignorasse a possibilidade de


uma severa retaliação.

Alguém fez um movimento brusco e meus homens se remexeram, porém, o sujeito


apenas tirou o celular do bolso e fez uma ligação para alguém.

Sim, eu estava tenso, no entanto, parecia impossível não ficar diante das possíveis
consequências do passo que eu havia decidido dar.

Ser chefe é fazer escolhas difíceis que nem sempre vão agradar aqueles à sua volta.
Lembrava muito bem daquela fala do meu pai, ele tinha feito um bom trabalho ao me ensinar
tudo o que eu precisava para seguir com o seu legado, todavia, não tinha o que ele pudesse ter
feito para tornar tudo aquilo mais fácil.

Era estranho saber que ele estava vivo em algum lugar e ao mesmo tempo tão distante
quanto era possível. Eu tinha tentado visitá-lo ao longo do primeiro ano da sua sentença de
prisão perpétua, por mais que a prisão de segurança máxima não facilitasse, entretanto, ele
mesmo não queria que eu continuasse indo. Sabia que nossas conversas poderiam ser
monitoradas e já não poderia me ajudar. Apesar de não estar morto, muitas vezes parecia como
se estivesse. Pensar nisso me trazia de volta para realidade e me levava a perceber que era eu o
responsável pelos negócios e o bem-estar da minha família.

Sandro era um bom irmão, mas agia muito antes de pensar e tinha uma grande tendência
a fazer merda. Com frequência, eu precisava controlá-lo. Já as mulheres, eram joias que
precisavam ser protegidas, mas acabavam escapando entre meus dedos.

O que havia acontecido com a Paola me mostrou que os lobos podiam se aproximar da
minha família de uma forma que eu não imaginava. Protegê-los se tornou ainda mais difícil...

— Senhor... — A recepcionista tocou meu braço, chamando a minha atenção.

— Sim.
— Aqui estão as chaves. — Estendeu-me um envelope com os cartões. — A vermelha é
para a suíte presidencial.

— Obrigado. Que bom que você já sabe o número. — Pisquei para ela e suas bochechas
enrubesceram.

Eu não tinha ido até ali para flertar, porém, tinha minhas necessidades e a garota poderia
ser uma boa distração durante à noite.

— Sim, eu sei... — Mexeu no cabelo, colocando-o atrás da orelha e desviou o olhar.

— Nos vemos por aí.

— Sim, senhor.

Afastei-me do balcão e fui até meus homens, distribuindo as chaves dos quartos entre
eles.

— Mantenham a atenção e analisem as ameaças. Qualquer um pode ser um perigo.

Eles assentiram.
Capítulo 11

Estava descendo a escada, deslizando meus dedos pelo corrimão, quando vi o Adrián
passar com sua cadeira de rodas sendo empurrada pelo Santiago. Meu irmão estava bonito como
não lembrava de vê-lo desde o acidente. Usava um terno preto, impecável e o cabelo estava
perfeitamente penteado, sem nenhum fio fora do lugar.

Quis questionar sobre onde ele iria daquele jeito, porém, a expressão que lançou para
mim fez com que eu recuasse. O sorriso e simpatia do meu irmão havia desaparecido
completamente por consequência daquela terrível emboscada que sofrera.

Engoli em seco e fiquei parada no degrau da escada, com medo de que se pisasse na sala
seria queimada, como se ele houvesse transformado o chão do lugar em lava fumegante.

Toda aquela situação estava me enlouquecendo, o pior de tudo era que eu não sabia o que
fazer para a ajudá-lo.

Adrián virou a cabeça para mim, notando-me parada ali, mas não disse uma única
palavra, apenas fez um gesto para que os seus homens seguissem.

Minha mãe poderia ficar brava comigo quando eu dizia que o meu irmão havia morrido
naquele dia, mas não é a verdade?

Pensar nisso fazia o meu estômago revirar com uma ânsia difícil de controlar. Tínhamos
passado por vários momentos difíceis, principalmente a morte do meu pai, porém, aquele parecia
ainda pior, pois o Adrián estava ali.

— Está com fome? — minha mãe apareceu, saindo do corredor que levava até a cozinha
e me encontrou encarando o nada.

Apenas balancei a cabeça fazendo que sim.

Eu não estava exatamente com fome, porém, considerando o horário, era algo que eu
deveria fazer.

— Vou pedir que sirvam o jantar.

— O Adrián saiu — murmurei.

— Eu vi. Seremos apenas nós duas.

Como se isso fosse uma novidade...


Capítulo 12

Ajeitei minha gravata vermelha, que parecia estar me sufocando, enquanto eu esperava
sentado junto a uma das mesas redondas daquele restaurante.

Eu não estava sozinho, meus homens, distribuídos em mesas e no balcão do bar,


observavam-me com atenção, mas parecia impossível não ficar tenso. Aquela minha jogada era
muito arriscada e eu precisava ter em mente todos os riscos que corria.

Eu não estava no meu território, dentro das minhas regras e, apesar de toda a segurança
do mundo, isso ainda me colocava em severa desvantagem.

Ouvi um som e então virei a cabeça, avistando Adrián adentrar o ambiente na companhia
de seus homens. Ele também trazia consigo um pequeno exército, isso era de se esperar, mas a
certeza não me dava mais tranquilidade.

De cadeira de rodas, ele passou por entre as mesas até se aproximar daquela onde eu
estava. Antes que eu me levantasse, buscando ser gentil, um dos seus homens tirou a cadeira
diante de mim para que o chefe pudesse se acomodar no espaço vazio.

— Você parece ótimo, Adrián — falei em meio a um sorriso divertido, tentando


descontrair, porém, definitivamente, ele não estava no mesmo clima.

— É um homem muito corajoso por aparecer aqui depois do que você fez. — Encarou-
me com fúria, lançando um olhar ameaçador e eu soube que não seria uma conversa fácil.

— Sabe muito bem que essas são apenas estratégias de negócios, meu caro. — Estalei
meus dedos ao me ajeitar na cadeira ao manter os olhos nos dele.

Poderia estar em desvantagem, no entanto, de forma alguma, podia me arriscar a deixar


que ele percebesse isso me afetando de alguma forma. As relações no mundo da máfia às vezes
não precisavam de tiros, mas sim, de grandes habilidades políticas e estratégias bem pensadas.
Quem latia primeiro e mais alto.

— Negócios? — cerrou os dentes como um cão furioso. — Você matou minha esposa,
desgraçado!

— Lamento que ela tenha sido um efeito colateral no meio de tudo isso.

— Lamenta? Quero ver lamentar quando eu fizer o mesmo com a sua família —
ameaçou, bufando de fúria.

Eu sabia ter colocado um alvo naqueles que mais amava e estava ali para consertar as
coisas.

— Você é um homem inteligente, Adrián e sabe que eu e a minha família representamos


o Cartel mais poderoso do México.

— Acha que suas ameaças vão me assustar.

— Você sabe que posso ir além das ameaças, mas acredito que como homens de negócios
que somos, possamos entrar em um acordo.

— Acordo? — Afunilou ainda mais os olhos, confuso. — O único acordo que eu posso
querer é vê-lo morto.

— Sabe que pode acabar morto primeiro.

— Talvez valha a pena — bufou.

— Pensei que não precisamos disso, o derramamento de sangue pode ser cessado se
negociarmos um acordo.

— E que tipo de acordo eu possa querer com um homem como você, além de um que
inclua sua cabeça em uma bandeja?

— Você perdeu a sua esposa e eu posso lhe dar outra.


Ele colocou as duas mãos sobre a lateral da mesa e começou a gargalhar como se eu
houvesse contado uma grande piada.

— Acha que qualquer prostituta barata pode substituir a minha Virginia?

— Qualquer prostituta não, mas eu tenho uma irmã mais nova, virgem e muito bonita que
pode ser uma esposa perfeita para você, além disso, nos tornaria cunhados. Ao invés de inimigos,
podemos criar uma aliança de benefício mútuo para a distribuição da droga para os Estados
Unidos, Europa e Ásia, quem sabe até tirando os bolivianos da jogada.

— Matou minha esposa e agora quer me oferecer sua irmã?

— É um grande acordo com uma janela de validade muito pequena.

— Só pode ter ficado maluco.

— Não, eu sou um homem inteligente que sabe reconhecer a melhor alternativa para os
meus negócios — respondi, mantendo a calma. — Você terá minha irmã como uma bela esposa
e eu o terei ao meu lado, como aliado. Juntos, podemos dominar o mercado e eliminar qualquer
concorrência, ou invés de acabar eliminando um ao outro. Não é uma oferta tentadora? —
inclinei-me na sua direção, como uma cobra prestes a dar o bote.

— É uma oferta ridícula! — Ele cuspiu, balançando a cabeça. — Você acha que eu vou
me casar com uma mulher que eu nem conheço, que é irmã do homem que matou a minha
esposa, que pode estar me enganando ou me traindo a qualquer momento? Você acha que eu vou
confiar em você depois de tudo o que você fez? Você acha que eu vou cair nessa? Está muito
enganado!

— Você sabe o quão poderoso eu sou. Da próxima vez pode não sobreviver — insisti,
tentando persuadi-lo. — Estou oferecendo uma chance de aliança, um acordo que vai garantir
que não nos ataquemos mais. Minha irmã é a garantia de que você não será atacado novamente.

— Chance? — Ele riu, sarcástico. — A única chance que eu desejo é para matar você e
vingar a minha Virginia. Não me oferece nada que eu queira, ou que eu precise.

— Você está sendo tolo, Adrián — falei, perdendo a paciência. — Você está recusando
uma proposta que pode garantir a sua segurança e da sua família, além de assegurar seus
negócios.

— Por que me faria esse tipo de oferta?

— Como eu disse — meus lábios se abriram em um sorriso malicioso. — Sou um


homem esperto. Por enquanto, tê-lo ao meu lado parece mais vantajoso.

— E quando não for mais?


— Espero que esteja tão envolvido com a minha irmã e tenhamos estabelecido uma
parceria lucrativa para ambos que isso não seja uma alternativa — disse com um tom de falsa
sinceridade. — Ou então, que você já tenha se tornado tão dependente dos meus recursos que
não possa me enfrentar. — Acrescentei, com uma pitada de ameaça. — De qualquer forma, eu
estarei sempre um passo à frente de você, Adrián. Você pode aceitar a minha oferta ou recusá-la,
mas saiba que essa é a sua única chance de sair vivo. — Olhei em seus olhos com firmeza. — E
então, o que decide?

— Sair vivo... Acha que eu estou vivo? — Apontou para a cadeira de rodas em que eu
havia o colocado como consequência da minha armadilha.

— Sei muito bem que essa é uma situação temporária. Você vai voltar a andar. — Fiz
uma pausa, deixando as minhas palavras ecoarem na sua mente. — A decisão é sua, Adrián. Mas
lembre-se: essa é a sua última chance. Se você recusar a minha oferta, eu não terei piedade de
você. Eu vou acabar com tudo o que você ama. Eu vou fazer você se arrepender milhares de
vezes antes de me implorar pela morte. — Com um olhar de desafio, lancei minha última
cartada, ciente que estava disposto a cumprir cada uma daquelas ameaças. — Aceita meu
acordo?

Ele ponderou por alguns instantes, desviando olhar para o quadro que havia na parede
atrás de mim, antes de voltar a me encarar. Sua fala demorou uma eternidade, mas tentei
esconder qualquer tensão. Era o leão ali e não recuaria.

— Tenho uma contraproposta para você. Se case com a minha irmã primeiro.

— Se casar com a sua irmã? — Repeti, surpreso. — Por que eu faria isso?

— Porque assim eu teria certeza de que você não vai me trair ou me emboscar
novamente. Se quer minha confiança, primeiro terá que cuidar bem dela. — Ele virou o jogo ao
seu favor e me colocou para pensar. — Você também teria uma garantia de que eu não vou
atacar a sua família. Seríamos duplamente cunhados, ligados pelo sangue e pelos negócios. Seria
uma aliança perfeita.

Eu tinha acabado de completar trinta e sete anos e permanecia sem vontade de me casar
ou ter uma mulher próxima o bastante para expor minhas fraquezas e compartilhar minha cama
quando eu estava com as defesas baixas. Sabia que em um momento ou em outro isso teria que
acontecer. Tinha chegado ali disposto a negociar e talvez só assim chegássemos no acordo que
eu desejava.

— E como é a sua irmã? — perguntei, curioso. — Ela é bonita? Ela é inteligente? Ela é
virgem? — Umedeci os lábios com imagens que formaram na minha cabeça, as quais
provavelmente o Adrián não gostaria de saber.

— Ela é a minha joia mais preciosa, a minha única irmã e uma pessoa que eu confio.
— Então você está disposto a entregá-la para mim? — confrontei-o, querendo saber se
estava falando sério ou apenas me testando. — Você não tem medo de que eu a machuque, a use,
a descarte?

— Só serei capaz de confiar em você se tratá-la da forma como merece — disse, com
convicção. — Se você for um homem de honra, assim como eu, respeita as mulheres. Acredito
que valorize a sua família e tome minha irmã como parte dela. Você sabe que se quebrar a nossa
aliança, eu quebrarei você. Se a machucar, eu o matarei.

Eu estava conversando com outro líder igualmente preparado e sua fala me impressionou.
Adrián conseguiu me provar que eu não era o único a dar as cartas e aliança pareceu ainda mais
necessária para evitar uma destruição mútua.

— Você é muito persuasivo, Adrián — admiti. — Quase me convenceu a aceitar a sua


contraproposta.

— Quase? — Franziu o cenho, surpreso. — O que falta para você aceitar?

— Falta eu ver a sua irmã. — Abri um sorriso malicioso. — Você vai me mostrar uma
foto dela. — Estendi a mão, esperando que ele me entregasse o seu celular. — Vamos, Adrián.
Mostre-me a sua irmã. Quero ver a minha futura esposa.

Ele hesitou por um momento, puxou o celular do bolso, olhando para ele com uma
expressão de dúvida. Adrián parecia relutante em me mostrar a sua irmã, como se temesse que se
eu visse seria tarde demais.

— Vamos, Adrián — insisti, com um tom de provocação. — Você disse que ela é a sua
joia mais preciosa. Então me mostre. — Aumentei a pressão, estendendo a mão ainda mais. —
Mostre-me a minha futura esposa.

Ele respirou fundo, como se estivesse tomando uma decisão difícil. Pegou o seu celular e
desbloqueou a tela, abriu a galeria de fotos e procurou por uma imagem. Depois do que pareceu
uma eternidade, selecionou uma foto e me mostrou.

Ela era jovem e linda. Tentei me conter para não exibir um sorriso de satisfação que
mostraria para ele o quanto eu tinha gostado do que vi. Adrián não poderia pensar, nem por um
instante que tinha qualquer tipo de vantagem sobre mim. A jovem tinha longos cabelos negros,
que caíam sobre os seus ombros como uma cascata de seda. Seus grandes olhos castanhos
brilhavam como uma noite sem estrelas. Ela tinha um nariz delicado, que combinava com os
seus lábios carnudos e vermelhos. O rosto angelical contrastava com as suas curvas sensuais.
Para completar, tinha um sorriso radiante, que iluminava a sua expressão.

A mulher me atraiu, o que facilitava as coisas, já que eu teria que tomá-la como minha
muito em breve.
— Ela é agradável. — Devolvi o celular para ele. — Eu aceito a sua contraproposta,
Adrián. Eu me casarei com a sua irmã e você se casará com a minha. Nós seremos cunhados e
aliados. — Estendi a mão para ele, esperando que ele a apertasse. — Temos um acordo?

Ele olhou para a minha mão, ainda hesitante. Parecia não acreditar que eu tinha aceitado a
sua contraproposta tão facilmente. Talvez cogitasse que eu tinha alguma intenção oculta por trás
da minha decisão, duvidando que eu fosse cumprir a minha parte do acordo.

Depois do que eu havia feito a ele fazia sentido temer que eu fosse um lobo em pele de
cordeiro.

— Temos um acordo? — repeti, com um tom de impaciência. — Ou você vai mudar de


ideia?

— Não, não vou mudar de ideia. — disse, finalmente. — Eu aceito o seu acordo. Eu me
casarei com a sua irmã e você se casará com a minha. Nós seremos cunhados e aliados. — Ele
apertou a minha mão, selando o nosso pacto. — Mas saiba que eu estarei de olho em você. Se
você fizer algo contra a minha irmã, eu não hesitarei em matá-lo. Caso quebre a nossa aliança, eu
não terei piedade de você. Ouse me trair e eu farei você se arrepender. — Ele me alertou,
apertando minha mão com mais força.

— Não se preocupe, Adrián — garanti, com um sorriso confiante. — Eu não farei nada
disso. Serei um bom marido para a sua irmã — tranquilizei-o, com uma voz de promessa.

Não estava ali se a paz não fosse benéfica para mim.

— Espero que sim — ele disse, com um suspiro de alívio.


Capítulo 13

Eu estava me preparando para dormir, escovando meus dentes e prendendo meus cabelos
quando escutei uma batida na porta. Fechei a torneira e fui até a porta do quarto, deparando-me
com Santiago, o homem de confiança do meu irmão.

— O que foi? — resmunguei.

— Adrián mandou chamá-la.

— O que o meu irmão quer comigo? — Franzi o cenho, num misto de sono e confusão.

— Ele pretende mostrá-la para alguém.

— Quê? Quem?

— É melhor vir logo e vestir algo decente — indicou minha camisola e fez minhas
bochechas corarem.

Peguei um roupão e o vesti por cima da camisola, sem entender o que estava
acontecendo. Segui Santiago pelo corredor escuro até a sala de estar, onde meu irmão me
esperava. Ele estava sentado em nosso sofá de cor creme, ao lado de um homem que eu não
reconhecia. O sujeito era alto, moreno e tinha olhos grandes, castanhos e ameaçadores. Ele me
encarou com um sorriso malicioso, que me fez sentir um arrepio de medo.
— Esta é a minha irmã, Mirelle — disse Adrián, com um tom de orgulho. — Ela é linda,
não é?

— Sim, muito — concordou o homem, sem tirar os olhos de mim. — Você tem sorte de
ter uma irmã tão bonita, Adrián. E eu tenho sorte de tê-la como minha noiva.

— Noiva? — repeti, chocada. — Do que esse cara está falando, Adrián?

— Sim, vocês vão se casar — anunciou meu irmão como se fosse algo trivial e não uma
bomba catastrófica que poderia mudar minha vida para sempre.

— Eu não vou me casar com esse homem! — Recuei alguns passos no sentido da escada,
como se pudesse sair correndo e me trancar no meu quarto.

— Você não tem escolha, Mirelle — falou meu irmão, com uma voz fria. — Miguel e eu
temos um acordo que será selado com o casamento.

— Velásquez. — Tremi de medo ao ouvir esse nome. — Esse não é o homem que o
colocou nessa cadeira de rodas e matou minha cunhada?

Não era possível, aquilo só poderia ser um pesadelo. O Adrián que eu costumava
conhecer jamais concordaria com algo assim, mas desde aquela tragédia, meu irmão não parecia
mais o mesmo homem.

— Sim, ele é o responsável pelo que aconteceu com a Virginia — confirmou Adrián,
com uma expressão amarga. — Mas ele também pode se tornar um importante aliado e garantir a
segurança da nossa família. Para isso irá se casar com ele.

— Eu não me importo com o poder dele, eu não quero me casar com um assassino! —
gritei, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. — Você não pode me obrigar a fazer
isso, Adrián. Você é meu irmão, você deveria cuidar de mim, não me vender como uma
mercadoria!

— Eu estou cuidando de você, Mirelle — garantiu meu irmão, levantando-se da cadeira


de rodas com dificuldade. — Eu estou fazendo isso pelo seu bem, pelo bem da nossa família.
Você não entende, mas esse casamento é a única forma de garantir a nossa segurança e a nossa
paz. Você vai se acostumar com ele, pode aprender a amá-lo. Ele é um bom homem, no fundo.

— Um bom homem? — repetiu Miguel, com uma risada sarcástica.

Adrián não conseguia me enganar, aquele sujeito sentado ao lado dele não era um bom
homem, ele era um monstro, capaz de ferir, enganar e matar para atingir seus propósitos. Como
meu irmão poderia desejar que eu passasse o resto da minha vida ao lado de alguém assim?

Miguel se levantou, caminhando na minha direção e eu recuei alguns passos, sentindo o


pavor ferver minhas veias e me fazer tremer.

Minhas costas se colidiram contra a parede, deixando-me sem espaço para fugir quando
suas duas mãos tocaram a minha face, segurando-me. Meus olhos se arregalaram e fui obrigada a
encará-lo.

Meu peito doeu e eu me senti sem fôlego. Ele parecia terrivelmente forte e monstruoso,
enquanto eu nunca havia me sentido tão fraca antes, sem forças para me esquivar e sair correndo.

— Você vai ser minha, Mirelle — anunciou Miguel em um tom autoritário. — Vai se
tornar minha mulher, minha rainha e me dar filhos.

O rosto dele estava tão próximo ao meu que podia sentir nossas respirações se
mesclarem, aumentando ainda mais a minha aflição. Era como se aquele homem fosse um lobo
prestes a me devorar.

— Não, Miguel, não — eu protestei, tentando me soltar de seu aperto. — Você não pode
fazer isso, você não pode me obrigar a nada. Você não me ama, nem me conhece. Não podemos
nos casar assim.

— Você está enganada, Mirelle — ele insistiu, aproximando seu rosto ainda mais do
meu. — Eu sou tudo o que você pode desejar. Não há ninguém que seria um melhor marido do
que eu.

Ele roçou seus lábios nos meus, fazendo meu coração saltar ainda mais de desespero.

O sujeito me puxou para si, abraçando-me com força. Eu senti meu coração bater
acelerado, meu corpo tremer e sua voz embriagar. Por fim, sussurrou no meu ouvido, com uma
autoridade que me congelou.

— É tolice sua pensar que tem escolha.

Seus lábios tocaram os meus, surpreendentemente macios para um homem tão áspero.

Estava sem fôlego, consumida por um desespero terrível quando meu irmão finalmente
fez algo.

— Chega! — ordenou num tom firme. — Afaste-se dela!

Miguel deu um sorriso e recuou, como se a atitude do meu irmão não houvesse o
incomodado.

— Vamos discutir os detalhes do casamento, futuro cunhado. — Virou-se para o meu


irmão com um sorriso.
Adrián não poderia estar falando sério sobre me casar com aquele homem.

— O casamento será aqui na Colômbia.

— Concordo, desde que o seu com a minha irmã aconteça no México.

— Vocês se casam seis meses antes...

— Isso é um absurdo! — exclamei, indignada, interrompendo meu irmão. — Vocês não


podem decidir o meu destino assim, sem me consultar, sem me respeitar. Eu não quero me casar,
nem fazer parte dessa guerra insana. Tenho direito de ser livre e feliz!

— Cale-se, Mirelle — ordenou Adrián, com raiva. — Você não sabe o que está dizendo,
nem o que está em jogo. Se pensa que tem escolha, está enganada, tem que obedecer. Você vai se
casar com Miguel e ser parte da nossa aliança.

— Não, Adrián, não... — implorei, com lágrimas nos olhos. — Você não pode fazer isso!
Por favor, não me sacrifica assim. Você é o meu irmão, deveria me proteger, me amar, me
apoiar. Você não pode me entregar a um homem que odeia e foi responsável por todo o nosso
sofrimento.

— Eu sinto muito, Mirelle — disse com pesar. — Mas essa é a única opção.

— Não... Por favor...

Meu irmão continuou com o olhar firme e inabalável, deixando evidente que não mudaria
de ideia, não importava o quanto eu suplicasse.

Desolada, tudo o que consegui foi voltar correndo para o meu quarto, batendo a porta
com força. Como se ela fosse capaz de me proteger daqueles homens que se achavam no direito
de decidir meu destino por mim.
Capítulo 14

— Mirelle, volta aqui! — gritou Adrián quando a irmã saiu correndo.

— Deixe-a ir — murmurei ao me acomodar no sofá novamente.

— Minha irmã será uma boa esposa — garantiu ele. — Ela só precisa absorver a notícia
do casamento.

— Para o bem de nós dois, eu espero que sim.

— Está me dizendo que sua irmã será mais gentil comigo? — girou o corpo na cadeira de
rodas para me afrontar.

Aquela aliança ainda estava bem longe de se transformar em um mar calmo.

— Eu posso controlá-la melhor.

— Espero que sim.

— O que acha de uma grande festa de noivado duplo? — Mudei de assunto para voltar a
estabelecer uma conversa amigável com meu futuro cunhado. Havia ido até a Colômbia para
criar uma aliança com ele e precisava me esforçar para isso.
— Festa? — Afunilou os olhos, demonstrando que eu havia atraído sua atenção.

— Sim — afirmei. — Tenho alguns resorts em Cancun para lavagem de dinheiro e


acredito que possam ser o local perfeito para celebrarmos nossas futuras uniões. O que acha do
próximo final de semana? Pode ser divertido.

Ele ponderou por alguns instantes, pensando a respeito e me fazendo odiar aquelas suas
pausas dramáticas. Pareceu levar uma eternidade até que ele finalmente dissesse:

— Será ótimo conhecer sua irmã pessoalmente.

— Então está combinado. — Levantei-me do sofá. — Voltarei para casa para tratar dos
detalhes.

Adrián balançou a cabeça assentindo e demonstrou que não me acompanharia até a porta.

Sabia que não iria ser fácil, ao menos havia conseguido o que queria e deveria me dar por
satisfeito.

Era uma vitória apesar de ter sacrificado a mim mesmo no processo.

Ao menos Mirelle era jovem e bonita, só esperava que ela fosse esperta o bastante para
compreender que às vezes não podia lutar.
Capítulo 15

Afundada na minha cama, molhando o travesseiro com minhas lágrimas, não conseguia
parar de pensar sobre o que havia acontecido e duvidava ser capaz de dormir naquela noite.

Como meu irmão era capaz de me prometer em casamento ao homem que havia matado a
minha cunhada e o machucado? Adrián só poderia estar louco.

— Eu não quero me casar com ele — eu disse, soluçando. — Ele é um monstro, um


assassino...

Tinha certeza de que aquele homem me faria sofrer, me machucaria e até mesmo mataria.
Pensar nisso me deixava cada vez mais desesperada e aflita. Havia chegado a pensar que nada
poderia ser pior do que a morte da Virginia, mas eu estava enganada.

Ouvi uma batida na porta que me fez virar para ela e ver uma sombra se mover em meio
a penumbra do ambiente.

— Adrián... — murmurei o nome do meu irmão com lágrimas rolando ainda mais
intensamente.

— Não. — Outra voz, severa e grave me abalou, porém, ela também não pertencia ao
Miguel. — É o Santiago.
— O que está fazendo aqui? Por que entrou no meu quarto? — Sentei-me na cama às
pressas, confrontando o homem do meu irmão que sugira sem aviso.

— Desculpa, Mirelle, mas eu escutei tudo.

— Tudo?

— O que o seu irmão pretende fazer. Não é justo casá-la com aquele homem.

— Não. — Meu choro se intensificou ainda mais. — Não é! Eu não quero me casar com
aquele monstro. Por favor, Santiago, precisa convencer o Adrián que isso é uma loucura.

— Não se preocupe. — Ele chegou mais perto ao ponto de se sentar na beirada da cama e
tocar meu cabelo. — Farei de tudo para convencer o seu irmão.

— Por favor... Como você vai fazer isso? — eu perguntei, esperançosa. — Você sabe que
o Adrián é teimoso e orgulhoso. Ele parece muito pior do que antes, não vai voltar atrás na sua
decisão.

— Eu sei, mas eu também sei que ele é seu irmão, se importa com você e com o seu bem-
estar.

— Talvez se importasse antes, mas não agora...

— Adrián ainda é um bom irmão.

— Um bom irmão não me sacrificaria — rosnei, furiosa. Eu não sou uma moeda de troca,
sou uma pessoa, tenho sentimentos, sonhos, desejos. Eu não quero me casar com um homem que
odeio, que temo e eu desprezo. Eu quero me casar por amor, por escolha própria...

— Queria poder proporcionar isso a você — disse, aproximando-se mais de mim. —


Você merece ser feliz, Mirelle, ao lado de um homem que a ame de verdade.

— Eu... eu acho que isso nunca vai acontecer — eu sussurrei, voltando a chorar.

— Acalme-se. — Ele estendeu a mão para afagar o meu cabelo. — Prometo que ficará
tudo bem.

— Como assim? Você não pode prometer isso, Santiago.

— Eu vou te ajudar a escapar desse casamento, eu vou te levar para longe daqui, um
lugar seguro.

— Como você vai fazer isso, Santiago? — eu perguntei, surpresa. — Você sabe que o
Miguel é poderoso e cruel. Ele não vai me deixar ir, ele vai me perseguir, ele vai me matar.

— Não se ele não souber para onde você fugiu — ele disse, sorrindo. — Eu tenho um
plano, Mirelle.

— Que plano? — eu perguntei, curiosa.

— Você confia em mim, Mirelle?

Estremeci com a sua pergunta e não me senti tão segura para respondê-la.

— Vou levá-la para um lugar seguro — repetiu depois que eu não disse mais nada.

Antes que discutíssemos detalhes daquele plano maluco, a porta foi aberta novamente e
minha mãe entrou.

— O que está fazendo aqui, Santiago?

— Senhora... — Ele engoliu em seco. — Bom...

— Ele já está de saída — eu falei, interrompendo os dois e lançando um olhar para o


Santiago que era melhor ele obedecer.

— Sim, eu estou.

Assim que o homem se esgueirou para fora do quarto, encontrei o olhar fulminante da
minha mãe.

— O que ele estava fazendo aqui? — questionou ela com um olhar severo que me fez
tremer.

Sabia que não era apropriado ser vista com um dos homens do meu irmão sozinha
daquele jeito, porém, depois daquela sequência de tragédias na minha vida, não estava
preocupada com o que era ou não de bom-tom.

— Não importa. — Dei de ombros.

— Seu irmão não vai gostar de saber disso.

— Meu irmão deveria ter morrido — rugi, furiosa.

— Mirelle!

— Ele só pode ter ficado maluco se pensa que me casar com o Miguel pode nos garantir
algo.

— Adrián disse isso?

— Ele fez! Tenho certeza de que viu aquele monstro na nossa sala.

— Ah, querida! — suspirou, sentando-se na cama no local há pouco ocupado pelo


Santiago. — No nosso mundo, nem sempre casamentos são fáceis.

— Isso não é justo!

— Não, não é.

— Como escaparei disso?

— Você não pode. Lamento.

— Mas, mãe...

— Vai ficar tudo bem, querida. — Aquela me pareceu a maior mentira que já havia me
contado.

A ideia do Santiago parecia terrível, ainda assim, pareceu minha única escolha.
Capítulo 16

Mirelle não era a única que precisava ser convencida a concordar com o casamento.
Apesar de garantir ao Adrián que estava tudo sob controle, ainda não havia compartilhado com a
minha irmã caçula os meus planos sobre o futuro dela.

Voltar para casa com esse desafio nas mãos era algo que exigiria de mim, porém, Alma
teria que acatar minha ordem. Todos nós tínhamos que fazer sacrifícios por aquela família.

Quando entrei em casa, já era manhã do dia seguinte. Minha cunhada, Agda, estava na
sala, sentada sobre o sofá com seus filhos gêmeos, brincando com grandes blocos de montar que
eles pegavam e colocavam na boca, mais babando as peças do que tudo.

Não havia mais ninguém ali, muito menos qualquer um dos meus irmãos. Por mais que
Sandro fosse o mais próximo a mim por sermos homens, não era ele quem eu estava buscando
naquela manhã.

Aquele não era um assunto que eu poderia evitar, havia prometido ao Adrián uma festa
de noivado e até lá, minha irmãzinha deveria ser uma noiva disposta e agradável.

Eu subi as escadas e fui até o quarto dela. Bati na porta, mas não obtive resposta. Então,
abri-a devagar e entrei, encontrando a Alma deitada de barriga para cima, ouvindo músicas com
fones de ouvido e um olhar distraído.
— Miguelito! — Abriu um largo sorriso ao me ver, mas duvidava que a sua felicidade
durasse por muito tempo depois que ouvisse o que eu tinha para lhe dizer.

— Alma! — Limpei a garganta, atraindo sua atenção.

Ela tirou os fones e os colocou juntamente com o celular sobre o móvel de cabeceira,
antes de jogar as pernas para fora do colchão e se sentar na cama para me encarar melhor.

Eu permaneci de pé, com braços cruzados e postura firme.

— O que foi, irmão? — Seu olhar me indicou que ela havia percebido que tinha algo de
errado.

— Precisamos conversar.

— Conversar sobre o quê? — Levantou uma das sobrancelhas com ar confuso.

— Sobre o seu casamento — anunciei, deixando-a com uma expressão de surpresa ainda
maior.

— Meu casamento? Que casamento? — ela estava perdida.

— O casamento que eu arranjei para você.

— Como assim você arranjou um casamento para mim, Miguel? — De repente, o sorriso
simpático ao me ver havia se transformado em uma carranca, como nuvens de tempestade
encobrindo o sol. Com quem?

— Com o Adrián.

— O Adrián? Quem é Adrián?

— O chefe do Cartel da Colômbia.

— Você está louco, Miguel?! — rugiu, saltando da cama como se houvesse tomado um
choque na bunda. — Você quer que eu me case com um assassino? Um traficante?

— Não é um homem muito diferente do Sandro e de mim — confessei.

— Mas é alguém que eu nem conheço.

— Eu sei que parece loucura, Alma. Mas é a única saída. É a única forma de manter a
nossa família a salvo.
— Do quê?

— Da ameaça que ele pode se tornar.

— Por que ele se tornaria uma ameaça? — começou a gritar. — O que você fez?!

— Tomei uma decisão que saiu como eu previa e precisei remediar as coisas para que
ninguém da nossa família sofresse com as consequências.

— Como você pôde colocar a nossa família em risco? — Seus olhos lacrimejaram e
indignação se espalhou pelo seu rosto.

— Desde que o papai começou esse negócio, nós sempre estamos em risco e eu faço meu
melhor para nos proteger — garanti, como se fosse algum tipo de herói naquela história, o que
estava um pouco longe de ser a verdade.

— E você acha que me casar com esse homem é a solução? — por um instante ela se
permitiu ouvir meus argumentos.

— Você se casa com ele e eu com a irmã dele. Assim vamos garantir uma aliança
duradoura.

— Sacrificando a mim e a essa outra mulher no processo? — bufou.

— Precisamos fazer sacrifícios em nome da família.

— Para você é fácil falar. — Cruzou os braços. — E você não pensou em mim? Em
como me sinto? Em como vou viver com esse homem?

— Eu pensei, Alma. Eu pensei muito. Mas eu não achei outra saída. Vamos fazer esse
sacrifício por todos nós.

— Não, Miguel. Você não fez isso por nós. Fez por você! Só quer se livrar do seu
problema e para isso me jogou no fogo.

— Não é verdade, Alma. Eu te amo. Você é a minha irmãzinha...

— Então, como você pôde me fazer isso? Como você pôde me entregar para esse
homem? — Lágrimas começaram a brotar do seu rosto. — Deixou que a Paola, nossa irmã, se
mudasse para a Espanha e vivesse com o homem que ela ama, mas vai fazer isso comigo? Me
condenar a uma vida com um homem que eu nem conheço?

— Não é bem assim, Alma.


— Como não?

— O casamento da Paola também trouxe proteção para a nossa família — argumentei,


tentando convencê-la. — Ramón nos colocou em risco várias vezes. Ele quase matou a Agda e
os gêmeos. O casamento com a Paola garantiu nossa segurança e o manteve controlado. Ela só
teve sorte de se apaixonar por ele. — Tentei argumentar, mesmo soando ridículo.

— Sorte? Você chama isso de sorte? Ela teve que abandonar tudo o que ela tinha aqui.
Ela teve que se adaptar a uma cultura diferente. Ela teve que viver longe de nós! — ela cuspiu as
palavras com desprezo.

— Mas ela está feliz, Alma. Paola gosta da vida que tem ao lado do marido e do filho —
insisti, tentando lhe dar alguma esperança.

— E você acha que eu vou ser feliz com esse Adrián? — Ela me olhou com
incredulidade.

— Eu não sei, Alma. Mas eu espero que sim. Eu espero que você encontre a felicidade
com ele. Que o Adrián a ame e faça de tudo para você se sentir a melhor mulher do mundo —
falei com sinceridade, mas também com tristeza ao perceber que essa realidade poderia nunca ser
possível para a minha irmãzinha.

— Você não espera nada disso, Miguel! Você só espera que ele te deixe em paz —
acusou-me, com razão.

— Não é verdade, Alma. Eu me preocupo com você, com a sua felicidade e bem-estar. —
Tentei convencê-la, mas também a mim mesmo.

— Não, Miguel. Não. Você não se preocupa com nada disso. — Suas lágrimas se
tornaram ainda mais intensas, cortando meu coração.

Por mais que odiasse ver minha irmã sofrendo daquela forma, não poderia voltar atrás no
acordo que havia feito.

— Alma, eu lamento, mas seu casamento precisa acontecer — disse com firmeza.

— Meus sentimentos não importam, não é?

— Vou garantir que você fique bem — prometi.

— Sabe que não pode fazer isso.

— Darei um jeito.
— Que tal um em que eu não precise me casar com ele?

— Alma, por favor...

— Sai daqui, Miguel! — Deu um forte grito. — Me deixa em paz!

Decidi não protestar, deixando-a sozinha em seu quarto. Minha irmã precisava de um
tempo para absorver aquela notícia e eu também.
Capítulo 17

Todas as lágrimas que derramei nos dias seguintes não convenceram o Adrián a mudar de
ideia, sobre o meu casamento com o assassino da Virginia.

Se não fosse o Santiago a me dar uma ponta de esperança, sabia que teria enlouquecido.
Ele poderia ser apenas um dos homens do meu irmão, mas era o mais perto que eu tinha de um
amigo.

Santiago me garantiu que tudo ficaria bem e escolhi acreditar nisso, ou enlouqueceria
pensando nos meus dias casada com um monstro. Não poderia negar que meu irmão também era
da corja do Miguel e talvez por isso houvesse conseguido aceitar tal tipo de acordo, mas eu era
uma inocente e não deveria ser metida nessa confusão.

Adrián não me escutou, não me ouviu e estar sentada naquele jato particular com ele após
muita discussão era a prova de que minha opinião não valia nada. Ele era o juiz, o júri e o
executor na minha vida, agindo como bem entendesse. Seria tolice fingir que em algum
momento meu irmão não teve todo esse poder sobre mim, porém, nunca pensei que ele pudesse
ir tão baixo ao ponto de usá-lo contra mim.

— Por que não abre a saída de emergência e me joga no meio do oceano? — provoquei-o
após muitos minutos de silêncio.

— Mirelle, não seja exagerada — rugiu Adrián.


— É melhor do que me casar com aquele homem.

— Não é a única que vai se casar — lembrou-me.

— O corpo da Virginia ainda nem esfriou e já vai colocar outra no lugar dela? Como tem
coragem? — A indignação tomava conta de mim com cada vez mais fúria, como um vento
violento que arrancava tudo pelo caminho.

— Hoje ou daqui a dois anos ela vai continuar morta — disse com uma frieza que
arrepiou meus ossos.

Meu estômago estava revirando com um mal-estar que deixava minha cabeça latejando.
Eu só queria sair correndo, mas era impossível fazer isso em um avião há mais de dez mil pés de
altura.

Adrián costumava ser o melhor irmão do mundo, meu herói, a pessoa que eu mais amava
e em quem me espelhava. Minha mãe poderia discordar de mim, mas ainda sentia que ele havia
morrido naquele dia e seu corpo não passava de uma casca vazia.

O problema era que eu estava pressentindo que ele me arrastaria para aquela cova com
ele.

Um silêncio sepulcral se estabeleceu em todo o voo até pararmos no aeroporto no México


onde presumi que nos encontraríamos com o meu noivo. Meu irmão não havia me falado muito
sobre o encontro, apenas que seria uma festa de noivado.

Pensar em passar o restante da minha vida ao lado do monstro responsável pelo


assassinato daquela que costumava ser minha melhor amiga me deixava cada vez mais em
pânico.

Ah, Deus...

Mamãe era muito religiosa e havia me ensinado a ser também, entretanto, eu já não sabia
mais se apenas rezar me ajudaria.

Entramos em um carro que nos levou até um belo resort à beira-mar com paredes
brancas, mas decorações muito coloridas, com flores, pinturas e objetos como vasos e almofadas.
Assim que descemos na estrada eu observei um casal de turistas sair rindo enquanto ela segurava
o chapéu para que ele não voasse com a brisa que varreu meu cabelo e encheu meu nariz com o
aroma da maresia.

O céu muito azul e o mar transparente, que chegava a brilhar com a luz do sol pareciam
compor um pedaço do paraíso. Eu nunca tinha saído da Colômbia antes e deveria estar muito
encantada, porém, não conseguia deixar de sentir medo.
Adrián parecia muito tranquilo, pacífico até demais para quem havia feito um acordo com
o diabo.

— Senhor Ruíz! — Um homem que eu não conhecia e meu irmão também pareceu não
reconhecer, aproximou-se de nós com um sorriso largo e um ar hospitaleiro. Estamos muito
contentes em recebê-lo em nosso hotel. Se puder me acompanhar, eu vou levá-los até os quartos.

— Certo. — Meu irmão assentiu e fez um gesto para que Santiago empurrasse a cadeira
dele.

Atravessamos o belo e iluminado saguão até o elevador metálico que nos levou até o
décimo andar.

— Senhorita? — O homem que nos recepcionou se dirigiu a mim.

— Sim.

— Esse é o seu quarto. — Passou um cartão em uma das portas e a abriu, entregando o
cartão-chave para mim logo em seguida. — Um dos carregadores virá trazer a sua bagagem.

— Obrigada.

Puxei o cartão magnético da mão dele e me tranquei no quarto, fechando a porta atrás de
mim o mais rápido possível e sentindo um enorme alívio por ficar sozinha.

Queria desaparecer naquela colcha macia da cama, mesclar-me aos fios e nunca mais
precisar me levantar.
Capítulo 18

Alma estava me odiando, Sandro ficou furioso com a minha ideia de casar nossa
irmãzinha com um desconhecido, felizmente Paola não estava por perto para me julgar por ser o
vilão.

O que eles não compreendiam era que alma não era a única a pagar um preço.
Casamentos arranjados eram muito comuns no mundo que vivíamos e a ideia de escolher por
amor era um luxo ao qual não deveríamos nos permitir. Além disso, pessoas com quem nos
preocupávamos acabavam se tornando um dos nossos pontos fracos. Ramón Hernandes havia me
ensinado essa lição muito valiosa. Estávamos todos bem agora, mas se ele não houvesse se
apaixonado pela minha irmã, a situação poderia ser outra.

Matar o Adrián parecia perfeito, porém, a falha dos meus homens havia me custado
muito caro. Certamente eu não teria outra chance, então precisava repensar tudo. O casamento
acabou se mostrando a melhor estratégia, ainda que não agradasse a ninguém.

— Ele é um homem decrépito em uma cadeira de rodas — resmungou Alma, recordando-


me do quanto ela estava irritada com aquele casamento. — Isso não é justo, Miguel!

— Ele vai se recuperar.

— Será? — Cruzou os braços no banco de trás do carro onde ela se sentava ao meu lado.
— Achei que seria feliz, pensei muitas vezes na minha família, em ter filhos. Como vou ter
filhos com um homem que nem anda?

— Aposto que ele ainda pode fazer filhos com você — respondi em um tom ríspido. —
Eu não me preocuparia com isso.

Alma engoliu em seco e Sandro deu uma gargalhada, sentado no banco do carona.

— Isso não é justo — murmurou ela.

Não era, ela tinha razão, mas nem tudo no mundo era feito apenas de justiça e minha
irmãzinha precisava aprender isso quanto antes. Aquela falácia de que iríamos encontrar nossa
alma gêmea, que nos completaria para o restante de nossas vidas era uma grande mentira. A
realidade era bem diferente. Romances assim só aconteciam em histórias de ficção. Apesar dos
casamentos de Sandro e Paola não terem sido arranjados, também não aconteceram pelo
encontro de almas que se completavam. Meu irmão fez merda, engravidou uma brasileira e teve
que cuidar dela. Já a ingênua da Paola, foi enganada e manipulada, por pouco não acabou morta,
ainda por cima, engravidou no meio disso tudo e, ao escolher ficar com o pai da criança, precisou
renunciar à convivência conosco.

Poderiam estar felizes apesar das circunstâncias, mas poderia afirmar que em nenhum dos
casos fora fácil, assim como não seria para mim e nem para Alma.

Gostava de pensar que ao me casar com a Mirelle, estava bem ciente das consequências
que me esperavam, mas tinha experiência o suficiente para não ser ingênuo e me esquecer de
como tudo poderia facilmente sair do controle.

Paraíso Azul era um dos hotéis da minha família que usávamos para lavagem de dinheiro,
mas o local funcionava a beira da legalidade, com hóspedes reais e uma estrutura digna de
palácio europeu, mas com as belezas de um país tropical, fazendo jus ao valor cobrado por
diária. Era um local que eu gostava de usar para encontros especiais, ou quando eu simplesmente
queria fugir de Sinaloa e respirar um pouco da maresia.

Desci do carro, ajeitando o blazer branco e peguei os óculos de sol no bolso, ajeitando-o
no rosto ao ser recepcionado pelo gerente do hotel.

— Velásquez! Sejam muito bem-vindos.

Assenti com a cabeça.

— Meus convidados já chegaram? — Fui direto ao ponto.

— Sim, já foram acomodados.

— Ótimo! E os detalhes para a festa?


— A decoração está sendo montada na praia e os funcionários do restaurante estão
preparando o buffet. Tudo estará pronto à noite.

— É minha festa de noivado. Tem que estar perfeita em cada detalhe.

— Estou cuidando disso, senhor — garantiu ao estufar o peito, confiante.

— É bom mesmo. — Meu olhar fez com que ele se encolhesse e engolisse em seco.

— Onde está a chave do meu quarto? — questionou alma. — Preciso de um banho e de


um analgésico, minha cabeça parece que vai explodir. Espero que a mamãe chegue logo com
meu vestido, seria péssimo se uma das noivas não aparecesse por falta de roupa — murmurou e
eu conseguia perceber o tom irônico da sua voz. No fundo, ela parecia torcer por uma desculpa
para não se comprometer com Adrián Ruíz, mas eu não iria permitir que algo fugisse dos meus
planos naquela noite.

Unindo-me ao Cartel de Medellín, não haveria nenhum inimigo à altura que pudesse ser
uma ameaça a temer.

Havia tentado vencê-los e não consegui, então a melhor alternativa era me juntar a eles e
esmagar outras possíveis ameaças. Eu mesmo garantiria que não houvesse falhas no plano dessa
vez.
Capítulo 19

Sentada em posição fetal, eu abraçava meus joelhos, escondendo o meu rosto nas pernas,
na esperança de me proteger da maior tragédia da minha vida, por mais que no fundo soubesse o
quanto era inútil.

Queria que meu pai estivesse ali e eu pudesse recorrer a ele para impedir que a terrível
decisão tomada pelo Adrián fosse concretizada. Como ele pode me sacrificar dessa forma?

Eu não queria me casar, não poderia me casar com um homem que me despertava apenas
desprezo.

Se Virginia estivesse ali, jamais aceitaria isso.

Não sei quanto tempo se passou naquele quarto até que eu ouvisse uma batida. Não
queria me levantar, nem ousei fazer isso, mas foi ingenuidade minha pensar que seria o bastante
para ficar sozinha, pois, assim que eu não respondi, nem me mexi, a maçaneta girou e minha mãe
passou pela porta, parando ao lado do colchão e me encarando enquanto segurava alguma roupa
em um saco preto de lavanderia.

— Já tomou banho?

— Não — resmunguei.
— E não vai?

— Não.

— Mirelle...

Senti lágrimas se acumularem nos meus olhos quando levantei a cabeça para encará-la.

— Não é possível que você está do lado do Adrián. Meu irmão ficou louco! Não vou me
casar com aquele assassino, mãe.

Ela soltou um suspiro e se afastou, pendurando o cabide do saco preto em um suporte


atrás da porta e depois voltou para perto de mim, sentando-se do meu lado ao ponto de me forçar
a me afastar um pouco para que ela tivesse espaço.

— Vamos ser honestas uma com a outra, está bem?

Balancei a cabeça, concordando.

— Não é como se qualquer uma de nós tivesse escolhas.

— Mas, mamacita...

— Oh, minha menina. — Ela limpou minha lágrima com o polegar antes que ela
escorresse pela minha bochecha e acomodou meu cabelo atrás da orelha. — Talvez se você
tivesse nascido em outra família, com outro pai e irmão, suas escolhas fossem melhores, mas não
há muito que eu possa fazer.

— Por que se casou com o meu pai?

— Ele me escolheu.

— E você aceitou?

— Minha família pagaria um preço muito alto se eu o rejeitasse.

Engoli em seco com a revelação dela.

— Vou rezar muito para que Miguel Velásquez seja um bom marido para você.

— Espero que suas orações sejam o bastante — disse com uma esperança verdadeira ao
perceber que não importava o que eu queria, não tinha escolha.

— Vamos, querida! — Minha mãe se levantou. — Vou ajudá-la a se arrumar.


Arrastei-me para fora do colchão como um zumbi, derrotada.
Capítulo 20

Debrucei-me sobre o balcão do bar enquanto esperava o mixologista terminar o meu


drinque, finalizando-o com um guarda-chuva de papel laranja na borda do copo largo. Puxei-o
para mim e beberiquei, sugando lentamente o canudo enquanto meus olhos vasculhavam a praia,
observando cada detalhe da decoração montada para meu noivado.

Havia tochas de madeira fincadas na areia, pétalas de rosas vermelhas e brancas pelo
chão, que talvez houvessem sido arrancadas dos belos arranjos dispostos estrategicamente pelo
ambiente. Havia também alguns sofás para convidados e uma ilha de DJ onde o homem estava
ligando os aparelhos para que a música começasse.

Sandro ainda não havia descido, estava ajudando a Agda com os gêmeos, mas minha mãe
e Alma já estavam na praia, elas estavam em silêncio apenas observando o ambiente quando me
aproximei bebericando o meu drinque.

— Deveria tentar sorrir um pouco — murmurei para minha irmã caçula.

— Como se eu tivesse algum motivo para sorrir — irritada, cruzou os braços.

— É a noiva mais bonita que eu já vi.

— Mais do que a sua noiva? — Virou-se para mim com um ar de provocação.


— Eu ainda não a vi, então sim.

Alma balançou a cabeça em negativa e mostrou a língua para mim.

Ignorei a minha irmã e bebi um pouco mais do meu drinque que já estava acabando.

O DJ já havia começado a tocar uma música dançante quando eu a vi se aproximar.


Talvez Alma houvesse previsto o fato de minha noiva superá-la, pois Mirelle atraiu meus olhos
de imediato e me deixou fixado nela.

Nossa!

Ela usava um vestido de renda branco na altura dos joelhos, que realçava suas curvas e
deixava seus ombros à mostra. Seus cabelos castanhos estavam presos em um coque alto, com
alguns fios soltos emoldurando seu rosto delicado. Seus olhos castanhos brilhavam sob a luz da
lua, e seus lábios vermelhos estavam pressionados, provocando uma leve tensão que a deixava
mais sexy.

Não poderia negar que a beleza angelical dela representava uma chance de tornar aquele
casamento mais agradável para mim. Precisava admitir que, como um lobo, estava ansioso para
devorá-la.
Capítulo 21

Meu coração deu um salto quando eu percebi os olhos castanhos do cruel Velásquez na
minha direção. Ainda desejava sair correndo, mas era como se a areia fosse como cimento,
solidificando-se em meus pés e impedindo meus movimentos. Adrián estava ao meu lado e a
minha mãe também, mas me senti como se estivesse sozinha e nua diante do olhar faminto que
aquele predador lançou para mim. A forma que ele me esquadrinhou com o olhar fez como eu
me imaginasse como um pedaço de carne e ele, um leão em jejum por um longo período.

Será que é assim que o rei da floresta se comporta antes de atacar sua presa? Poderia
até não ser, mas foi como me senti.

Ele deu um passo na minha direção e meu peito ficou ainda mais apertado.

Corre!, gritava minha mente, mas ao observá-lo, me senti congelado, como se houvesse
encarado uma górgona que me transformou em uma estátua.

Foi a minha vez de esquadrinhá-lo com o olhar. Miguel estava estranhamente vestido
com uma roupa casual e leve, camisa branca e bermuda do mesmo tom. Um relógio caro e
grande, provavelmente feito de ouro, destacava-se em seu pulso, com um par de chinelos pretos.
O homem com quase quarenta anos tinha quase o dobro da minha idade, mas era bonito ao ponto
de me provocar ainda mais calafrios.

Bonito? Mirelle!
— Minha noiva. — Ele parou na minha frente e eu prendi a respiração.

Miguel estendeu a mão, esperando a minha e levou uma eternidade para que eu movesse
o meu braço e pousasse meus dedos sobre sua palma. Assim que ele segurou minha mão, Miguel
usou a sua outra para pegar uma caixa de veludo no bolso e tirar de dentro um anel de noivado
com um diamante enorme e pesado. Quando eu o senti deslizar a joia pelo meu dedo, sem antes
perguntar se poderia, foi como se estivesse colocando uma coleira ao redor do meu pescoço e
dificultando ainda mais minha respiração.

Ele puxou a minha mão, beijando com uma estranha delicadeza o dorso provocando um
calafrio que eu não havia previsto.

— Minha noiva... — Sua voz grossa pareceu rimar com o som do mar quebrando na
areia.

Se ele não fosse um monstro...

O DJ mudou a música e eu percebi um estranho brilho nos olhos do Miguel antes que ele
me puxasse para longe da minha família e mais perto da cabine que havia sido montada na areia.

— Vamos dançar.

— Eu não sei dançar.

— Não se preocupe, posso conduzi-la.

— Mas...

Parei de falar quando senti seus dedos descerem pela lateral do meu corpo. Seus dedos
seguraram firme a minha cintura e ele era tão forte que eu me senti feita de borracha quando ele
conseguiu me movimentar, fazendo com que eu rebolasse, esfregando meu corpo no seu.

Elevei os olhos, encontrando o seu ar malicioso e estava disposta a xingá-lo, quando em


um movimento rápido, segurou um dos meus pulsos e me fez girar, fazendo com que eu
rodopiasse 360 graus até parar com a mão aberta sobre o peito dele, sentindo o seu coração
pulsar.

Seu rosto se aproximou do meu, movendo-se de um lado para o outro, roçando o nariz
macio na minha pele ao ponto de fazer meu coração acelerar e me deixar paralisada. As pontas
dos seus dedos contornaram minha face enquanto eu não conseguia fazer nada além de encará-lo.

Ele deslizou a mão direita pelo meu braço, parando no meu cotovelo e levantou-o,
colocando sobre o seu ombro e lentamente repetiu o processo até que eu percebesse estar
abraçando-o. Senti um calor, como se suas mãos fossem feitas de lava enquanto ele voltava a
deslizá-las pelas minhas curvas, agarrando minha cintura outra vez, pondo-me para rebolar
contra o seu corpo.

Meu coração acelerou mais do que eu julgava ser possível e tentei justificar que
provavelmente era por causa do ritmo da música.

Ele me puxou com força, fazendo com que o meu corpo colidisse com o seu e eu
cambaleei alguns passos para trás, reagindo ao movimento, mas antes que caísse, Miguel me
puxou de volta.

O que ele está fazendo?

Não deveria ser apenas uma dança?

Suas mãos voltaram para a minha cintura e, involuntariamente, rebolei contra ele,
elevando ainda mais a temperatura do meu corpo enquanto meus olhos buscavam os seus.
Minhas mãos escorregaram sobre seus ombros largos e ele curvou a cabeça na minha direção.
Seus lábios estavam a milímetros dos meus, sugando ainda mais o pouco ar que parecia haver ao
nosso redor enquanto eu involuntariamente, rebolava e me esfregava no seu corpo.

Em meio àquela dança sensual e atrevida que beirava o inapropriado, esqueci-me


completamente que havia uma plateia nos observando.

— Você é linda... — Sua voz grossa fez meu peito saltar.

Virei meu rosto, tentando escapar do seu olhar, mas ele puxou minha face e me trouxe de
volta, obrigando-me a manter minha atenção presa a dele.

Abaixei minha cabeça e ele tocou meu nariz com o seu, mostrando que também estava
ofegante enquanto a suas mãos conduziam ainda mais a minha cintura.

Eu nunca tinha ficado tão perto de um homem e sido conduzida daquela forma, enquanto
ele, sabia muito bem o que estava fazendo.

Seus movimentos me jogaram para trás e eu senti o coque pender para o chão, mas
quando eu subi novamente e o encarei, nossos lábios estavam tão próximos que facilmente
Miguel acabou com a distância entre nossas bocas e sua língua forçou passagem, fazendo com
que eu afastasse meus dentes para que ela se aproximasse da minha.

Ao mesmo tempo em que não desejava ser beijada por ele, era como se tudo o que eu
meu corpo esperasse depois daquela dança.

Um grito agudo fez com que nos afastássemos e foi como se uma pedra houvesse se
chocado contra aquele estranho telhado de vidro que nos envolvia.
Quando me virei para trás, percebi que um dos sofás brancos estava pegando fogo. Uma
das tochas havia caído sobre ele e eu não sabia como, mas causou um verdadeiro pandemônio e
um dos funcionários do resort veio correndo para apagar o princípio de incêndio o mais rápido
possível antes que alguém se machucasse.

— Mirelle... — Miguel tentou me segurar novamente, mas eu me esquivei.

Estava com um misto estranho de excitação e assombro diante do que havia acontecido e
preferia que ele permanecesse longe de mim.

— Estou com fome. — Praticamente corri para longe.


Capítulo 22

Cerrei os dentes, irritado depois que a Mirelle havia se afastado de mim. Estávamos no
meio de um momento ótimo até que um dos homens do Adrián acidentalmente derrubou uma
das tochas no sofá, botando fogo nele.

O gosto da minha noiva ainda estava nos meus lábios e meu corpo queria muito mais do
que um sarro em forma de dança.

Se havia algo que me consolava era o fato de que o casamento aconteceria logo e
ninguém me impediria de colocá-la na minha cama e fazer tudo o que eu tive vontade, enquanto
passava minhas mãos pelo corpo dela.

— O que foi aquilo? — Encontrei Adrián com uma expressão furiosa quando ousei me
aproximar dele.

— Aquilo? O fogo?

— Você e a minha irmã.

— Ah, estávamos dançando.

— Aquilo não foi só uma dança.


— Não? — Fingi-me de desentendido e ele cerrou os dentes. — Deveria aprender a
dançar também. — Havia um tom de deboche na minha voz enquanto o encarei ainda sentado
naquela cadeira de rodas.

Acompanhei a Mirelle com o olhar enquanto ela estava perto da mesa do buffet e jogava
alguns petiscos na boca. Parecia desestabilizada e envergonhada e eu gostava de ser o causador
desse efeito.

— O anel que comprou para ela é... apropriado.

Apropriado?

Eu tinha pagado quase duzentos mil dólares naquela joia assinada por uma marca famosa
e com um diamante solitário enorme. Era bem mais do que apropriado, uma joia digna de uma
rainha. O que ela seria quando nos casássemos.

— Não trouxe um para a minha irmã?

Ele ponderou por alguns instantes até que assentiu, tirando a caixa com a joia do bolso e
mostrando o anel para mim.

— Pertenceu à minha falecida esposa.

Cerrei os dentes, aquela era uma nítida provocação, mas eu não iria ceder e esperava que
a Alma conseguisse lidar com isso.

Por um instante, avaliei minhas chances de puxar minha arma escondida na cintura e
terminar o trabalho, dando um tiro entre seus olhos, porém, além de transformar aquela praia
numa chacina, tive certeza de que qualquer aproximação da Mirelle se tornaria impossível.

Por enquanto, Adrián valia mais para mim vivo e eu teria que lidar com as possíveis
dores de cabeça que ele poderia me causar.

— Alma! — chamei a minha irmã para que se aproximasse do noivo.

Ela, que estava perto dos nossos sobrinhos, dirigiu um sorriso amarelo para mim e se
aproximou a passos lentos, como se torcesse para que eu mudasse de ideia enquanto ela
demorava.

Quando finalmente parou ao meu lado, envolvi-a com os braços e a coloquei diante do
Adrián.

Ele estendeu a mão, esperando a dela, minha irmã olhou para mim com um ar de súplica,
mas eu apenas assenti. Desinteressada, Alma estendeu a mão para o Adrián que puxou com mais
força, trazendo para perto.

Tentei não engolir em seco enquanto ele deslizava o anel da falecida pelo dedo delicado e
fino da minha irmã.

— Ficou largo — comentou Alma ao observar a joia.

— Vamos mandar ajustar — falei como se fosse algo simples, de fato era,
desconsiderando a conotação emocional da peça.

Alma lançou um olhar irritado para mim, mas eu apenas sorri de volta. Nem poderia
fingir que estaria sendo mais fácil para minha irmã do que realmente era e Adrián parecia
determinado a não pegar leve com ela.

Apesar de toda a relação delicada daquele acordo e a importância dele, voltaria atrás daria
um jeito de acabar com aquele desgraçado se ele machucasse a Alma.

Eu não disse nada, mantive a postura. Era para ser uma festa e eu não queria ser o
culpado por estragar tudo.
Capítulo 23

Beberiquei o drinque, sentindo o gosto amargo da tequila enquanto observava as ondas


que quebrava na praia e sentia a brisa fresca que vinha do oceano soprar meu rosto e empurrar
para trás os fios que pendiam do meu coque.

Sentia que meu coração estava finalmente começando a desacelerar depois da dança
desconcertante na qual o Miguel havia me conduzido.

Não conseguia parar de pensar no quanto eu havia me sentido estranhamente atraída por
ele ao mesmo tempo em que me culpava por isso.

Miguel Velásquez é um monstro!

Ele é o responsável pela morte da Virginia e tudo de terrível e catastrófico que havia
acontecido com a minha família.

Segurei o canudo com força e a mistura alcoólica desceu queimando a minha garganta.
Eu não era boa para beber, nem tinha o costume, mas naquele momento pensei que ela pudesse
ser algum conforto diante da tragédia da minha vida.

— Se eu pudesse teria o matado.

Surpreendi-me ao escutar a voz do Santiago atrás de mim. Ele manteve a distância de


alguns passos para que ninguém o visse perto demais, porém, estava perto o bastante para que eu
conseguisse escutá-lo.

— Foi você que colocou fogo no sofá?

— A única forma que consegui pensar para que ele se afastasse de você.

Quem disse que eu queria que ele se afastasse?

Surpreendi-me com o questionamento que surgiu na minha mente.

Não, Mirelle!

Não!

Seja lá qual fosse aquele impulso idiota e indecoroso, o melhor parecia ser mantê-lo bem
longe da minha mente. Miguel não era o tipo de homem que eu deveria desejar.

Senti o peso do anel no meu dedo e levantei-o, vendo o brilho da lua ser refletido no
diamante enorme e pesado.

— Vou me casar com aquele homem — soltei, num misto estranho de sensações que me
deixaram ainda mais incomodada.

— Não se eu puder impedir.

— Ele é muito poderoso, Santiago. — Tentei conter o impulso de me virar para fitar o
homem.

— Mas ainda pode sangrar.

Engoli em seco.

Tinha medo de descobrir quem sangraria primeiro.


Capítulo 24

Um mês depois...

Me orgulhava por ser um homem capaz de analisar cada situação e tomar a melhor
decisão possível, porém, aquele casamento ainda me deixava com a sensação de estar pulando
em direção a um abismo.

Apesar de ter certeza de que aquela decisão era importante, eu ainda estaria trazendo uma
mulher para a minha cama e para a minha vida sem conhecê-la o suficiente para isso.

De fato, era tarde demais para mudar de ideia e tomar outra decisão.

Tinha que ir até o fim com aquilo.

Peguei a abotoadura com uma pérola em uma moldura de ouro e ajeitei-a na minha
camisa branca, antes de pegar o paletó cinza. Encarei-me diante do espelho, minha barba estava
baixa, perfeitamente desenhada e meu cabelo também tinha sido cortado no dia anterior. Tinha
me preparado minimamente par aquele dia e esperava que tudo corresse bem.

Assim que saí do quarto, deparei-me com meu irmão, que me encarou com um ar
debochado.

— Pronto para se prender para o resto da vida.


Dei de ombros, sem respondê-lo, não era um momento para deboche.

— Achei que você nunca iria se casar — continuou ele.

— Planos mudam.

— Pois é! — Riu.

— Logo os gêmeos terão um primo para brincar.

— Espero que sim.

Para ser honesto, o motivo do meu casamento era tão prático que eu ainda não havia
pensado em realmente construir uma família com a Mirelle. Desde que a minha estivesse a salvo
e meus negócios prosperassem, acreditava que poderia lidar com o restante.

— Vamos logo — falei por fim, acabando com qualquer outro assunto que o Sandro
pudesse puxar.

Acreditava que quanto mais rápido tudo aquilo se resolvesse, menos eu teria que me
preocupar. Era uma ilusão idiota, mas ainda tentava me consolar com isso. Pensar que eu ainda
poderia ter dor de cabeça me colocaria a questionar toda a proposta que havia feito ao Adrián e a
entrega da minha irmã caçula a ele.

Questionamentos não eram bons no meu ramo de negócios. Em um momento de


hesitação poderíamos pagar com a vida. Já tinha me decidido e não havia brecha para voltar
atrás. Acordos como aquele precisavam ser cumpridos ou alguém pagaria um preço muito alto.

Estávamos em um hotel em Medellín, tínhamos chegado na noite do dia anterior e eu


esperava não passar muito tempo a mais naquela cidade. Assim que tomasse minha esposa,
voltaria para casa.

Fui até a entrada do hotel, deparando-me com um sedan preto na porta e Javier me
esperando para entrar no banco de trás. Fui para a igreja com meu braço direito e outros dos
meus homens. Sandro e o restante da minha família seguiriam em outro carro.

Era uma catedral católica no centro da cidade que estava muito bem decorada para o
evento, com arranjos de rosas brancas, flores do campo e lírios.

Na porta, havia muitos homens do Adrián, mas tentei não ficar tenso com isso. Se ele
tentasse qualquer coisa contra mim ou minha família, pagaria um preço muito alto por isso. Ele
também era um líder com um negócio para cuidar, além disso, ao contrário dele, eu tinha um
irmão mais jovem para assumir os negócios e sangue nos olhos para garantir que a vingança
fosse feita.
Ajeitei meu paletó ao descer do carro e fechei os olhos por uma fração de instante quando
um raio forte do sol de fim da tarde atingiu meu rosto. Dei um passo para frente até sair da
direção dele e cumprimentei os homens na entrada com um aceno de cabeça.

Uma mulher se aproximou de mim, ela segurava um rádio e usava um vestido preto,
formal, mas não para uma festa, parecia mais roupa de escritório.

— Senhor Miguel? — chamou-me.

— Sim.

— Já está tudo pronto e os convidados estão chegando e sendo acomodados no interior da


igreja.

— Ótimo! E quanto a minha noiva? — Tentei não demonstrar alguma ansiedade, mas
posso ter falhado miseravelmente.

— Ela ainda não chegou, mas é normal, a noiva é sempre a última a chegar.

— Certo.

— Sua mãe...

— Já está chegando.

— Vou posicioná-lo na entrada com ela e organizar tudo para o início da cerimônia.

Assenti com um movimento de cabeça, certo de que não havia motivos para ficar
nervoso. Não pensava que algo de errado pudesse acontecer.
Capítulo 25

O vestido era lindo, longo, com muitas camadas de renda, pérolas e brilho, digno de uma
princesa. Meu irmão havia me deixado escolher o que eu queria e, estando dentro dele, imaginei
que pudesse ficar feliz, mas meu estômago embrulhado dizia outra coisa.

Tensa, sentia o suor frio das palmas das minhas mãos fazer o cabo do buquê escorregar
por entre meus dedos.

A pressão no meu peito parecia tão intensa que eu nem conseguia respirar quando minha
mãe me ajudou a descer os degraus do andar superior da nossa casa e caminhar até a sala, onde
meu irmão, já vestido com um terno, estava conversando com um dos seus homens.

Ao perceber minha aproximação, ele se virou para mim e abriu um sorriso.

— Você está linda.

— Obrigada. — Forcei um sorriso que parecia mais com uma carranca.

Aquele deveria ser o dia mais feliz da minha vida. Todas as mulheres sonhavam com seu
casamento, mas eu só queria que não acontecesse, ao menos não daquela forma.

— Vamos, mãe — disse Adrián em um tom firme de ordem.


— E a Mirelle?

— Vai em outro carro.

— Está bem.

Minha mãe se virou para mim e me deu um largo sorriso ao afagar o meu rosto e ficar na
ponta dos pés para dar um beijo na minha testa.

— Que a Virgem de Guadalupe proteja você.

— Amém...

Eu realmente achava que precisaria de muito mais do que apenas proteção divina para
lidar com tudo aquilo. Saber que nunca mais voltaria para casa e me mudaria para outro país era
um dos motivos que me deixava em pânico. Sem contar com todos os relacionados com o meu
noivo.

Miguel Velásquez...

Já havia desistido da esperança de acordar daquele terrível pesadelo, porque eu tinha


inúmeras provas de que era bem real. Ainda ficava me perguntando sobre a Virginia, onde ela
estaria e o que pensava sobre a sentença que havia caído sobre mim.

Tinha certeza de que a minha cunhada estava fazendo muita falta, pois ela nunca
permitiria que o meu irmão fizesse algo assim comigo.

Eles seguiram para outro carro e eu vi o Santiago na frente de um carro branco e grande.
Nunca tinha o visto em nossa garagem, mas certamente fora alugado para aquela ocasião.

Não era apenas o Santiago, tinha outro homem, que abriu a porta de trás para mim e fez
um gesto para que eu entrasse. Precisei de um tempo para acomodar todo aquele vestido enorme
no banco de trás, apesar de estar sozinha.

Assim que eu consegui, o cara, cujo nome eu ainda estava me esforçando para lembrar,
abriu a porta do carona e se acomodou no banco.

— Podemos ir, Santiago — disse ao outro capacho do meu irmão. — O chefe não vai
gostar se atrasarmos demais.

Santiago se virou para frente, mas ao invés de dar a partida no carro como todos
esperávamos, ele sacou uma arma e atirou entre os olhos do outro sujeito. Sangue voou em todas
as direções e algumas gotas caíram na saia impecavelmente branca do meu vestido.
Não consegui conter o espanto e comecei a gritar.

— O que você fez?! — Meu coração parecia perto de sair pela boca. — Ficou maluco!

— Estou garantindo que você não chegue naquela igreja — respondeu Santiago ao dar
partida no carro.

Deixei o buquê cair, enquanto minhas mãos tremiam de pânico.

— Você o matou!

— Era o único jeito.

— Não poderia ser o único jeito...

— Hector só iria pensar em cumprir as ordens do seu irmão, mas eu vou tirá-la daqui há
qualquer custo.

— Ma... mas...

Estava tão consumida por pavor, medo e desespero que nem conseguia pensar direito.

Santiago saiu da garagem acelerando enquanto o corpo do Hector ainda estava no banco
do carona. Com o sangue do seu ferimento na cabeça escorrendo para o couro do encosto.

Espalmei a janela pensando em como iria sair correndo do carro, mas, ainda que
conseguisse abrir a porta, estava em alta velocidade e provavelmente me arrebentaria toda.

Talvez o plano do Santiago não fosse a melhor solução do mundo.


Capítulo 26

Mirelle estava demorando, entretanto, eu pensava que poderia ser um atraso comum de
noiva, mas quando percebi a impaciência no rosto dos convidados, me dei conta de que o atraso
já estava passando do tolerável.

Desci da pequena elevação do altar e caminhei na direção do Adrián, parado em sua


cadeira de rodas diante da primeira fileira de bancos. Não me importei em assustá-lo ao agir
como uma fera raivosa.

— Onde a Mirelle está? — rugi.

— A caminho.

— Não vejo nenhum sinal dela.

— Ela já estava pronta quando saímos.

— Então cadê ela?!

— Seja paciente, Velásquez — encarou-me de um jeito que me deixou ainda mais


irritado, porém, eu tentei controlar minha expressão para não perder a compostura na frente de
todos.
Eu não queria parecer ansioso demais com o casamento, estava longe de ser a verdade,
porém, uma noiva demorando demais deixava qualquer um impaciente.

Acatei o que Adrián disse, minha noiva iria chegar logo. Eu só precisava de um pouco de
paciência, então esperei.

Com o passar do tempo, eu não era o único olhando no relógio e os murmurinhos


começaram a tomar conta da igreja, sinalizando que todos estavam impacientes.

Ao perceber que a situação já havia se tornado insustentável, Adrián puxou o celular do


bolso e fez uma ligação. Pensei que estava tentando falar com a irmã e eu imaginava que
resolvesse aquela situação dele, mas sua expressão não me animou.

— Onde ela está? — De dentes cerrados, exigi uma resposta.

— Estou tentando falar com meus homens.

— Tentando?!

— Nenhum deles atende.

— Como assim? — Cerrei ainda mais os dentes e comecei a bufar. — Não deveriam
estar tomando conta dela?

— Deveriam... Estão...

— Adrián! — Agarrei-o pelo colarinho da camisa e o levantei no ar.

Seus homens se movimentaram para defendê-lo e os meus sacaram suas armas. Se ele
queria evitar que eu terminasse o serviço de matá-lo estava fazendo um péssimo trabalho.

Ele rosnou de volta para mim enquanto ainda segurava o celular na orelha e eu consegui
ouvir do outro lado a chamada caindo na caixa postal.

— Acalmem-se! — A mãe dele se aproximou de nós. — Deve haver alguma explicação


para a Mirelle ainda não ter chegado.

— É bom que vocês tenham.

— Solte meu filho, por favor.

— Mãe! — Olhou para ela com raiva, não queria que a mulher se metesse.

— É melhor esfriarmos a cabeça e resolvermos isso de outro jeito. — Fez um gesto


esperando que os homens abaixassem as armas.

Admito que a achei muito corajosa para se arriscar daquele jeito na frente de tantos
homens armados.

Soltei o filho dela, que caiu como um saco de batatas sobre a cadeira de rodas e recuei
um passo.

— Só quero saber onde está a minha noiva.

— Ela vai aparecer — garantiu a mãe.

Já estava começando a discordar disso.


Capítulo 27

— Santiago, acho melhor voltarmos...

— Para você se casar com aquele homem? Eu não vou permitir. — O tom dele me
causou um profundo calafrio que me deixou ainda mais espantada.

Quando Santiago disse que tinha um plano para me ajudar a escapar, não pensei que
pudesse ser algo tão louco, muito menos que envolvesse o assassinato de um dos homens do meu
irmão. Ele havia atirado no outro cara sem nem hesitar, como se não houvesse um pingo de
remorso, mesmo parecendo a atitude mais cruel do mundo.

Adrián estava certo, eu não tinha ideia de como aquele mundo funcionava, nem quanto as
pessoas poderiam ser cruéis.

— Santiago! — inclinei-me para frente, puxando o ombro dele.

Ele se virou para mim com um rugido feroz que me arremessou de volta contra o banco
de trás como se houvesse tomado um coice.

— Fique quieta!

— Ma... Mas...
Engoli em seco e fiquei muda, enquanto via sangue e mais sangue esvair do cara sem
vida no banco da frente. Fiquei com medo de ter um destino semelhante ao dele.

Talvez Santiago não fosse o cara legal que eu imaginei e, eu poderia acabar pagando um
preço muito alto por ter cogitado a ajuda dele para escapar do meu casamento.

Estava tão assustada que perdi a noção do tempo, não faço ideia de pôr quantos minutos,
ou horas, ele dirigiu até parar o carro no que me pareceu um enorme estacionamento.
Poderíamos estar no aeroporto ou mesmo em um shopping center, era difícil ter certeza com a
visão muito embaçada pelo tanto que eu havia chorado. Conseguia ver manchas pretas no meu
campo de visão, provavelmente por causa da maquiagem que fora derretida pelas lágrimas.

Santiago saiu do carro, dando a volta e abrindo a porta onde eu estava, arrancando-me de
dentro do veículo puxando meu braço com um agarre que chegava a me machucar.

— Ai! Me solta!

— Fica quieta!

— Você está me machucando. — Tentava libertar o meu braço, mas ele era muito mais
forte do que eu.

— Estou te fazendo um favor.

— Favor? Chega! Isso foi um erro.

— Cala a boca! — rugiu para mim, me sacudindo de um jeito que achei que partiria em
milhares de fragmentos como se fosse uma boneca de vidro.

Santiago me arrastou até outro carro, parado não muito longe daquele. Eu não sabia se ele
já havia planejado isso, pois tinha a chave do veículo e o abriu com facilidade, sem precisar
arrombá-lo.

Jogou-me no banco do carona e bateu com a porta do carro, quase prendendo parte
daquela saia volumosa de noiva do lado de fora. Foi quando reparei que a barra estava toda
manchada de vermelho.

Sangue...

O pavor voltou a me corroer e percebi que estava tremendo.

Imaginava que nada pior fosse me acontecer do que o casamento com Miguel Velásquez,
porém, poderia acabar descobrindo que estava errada.
Capítulo 28

Naquela altura, a igreja já havia se transformado em um pandemônio. Os convidados


estavam em pé e inquietos, discutindo entre si e fazendo teorias sobre onde estava a minha noiva
e por qual motivo ela havia me abandonado.

A minha vergonha pela humilhação pública só não era maior do que a fúria crescente que
se retorcia em meu âmago e me fazia bufar. Se eu fosse um dragão, estaria cuspindo fogo em
todos naquele momento.

Estava prestes a avançar para cima do Adrián novamente quando um dos seus homens
chegou perto dele e se curvou para falar no ouvido do chefe. A expressão que tomou conta do
meu futuro cunhado não me agradou nem um pouco e eu tive certeza de que teria ainda mais
motivos para ficar furioso.

— Onde ela está?! — Avancei na direção dele novamente.

Tanto os meus homens como os dele se movimentaram, preparando-se, caso uma guerra
começasse bem ali.

— Fez um pequeno desvio.

— Que porra de desvio?! — Lati como um cão raivoso.


— Ainda estou tentando entender.

— Então é melhor que entenda logo.

Sandro foi o primeiro a sair do banco onde estava a minha família e se aproximar de
mim.

— A noiva fugiu? — disse em tom de deboche, mas ele logo iria perceber que aquele era
o pior momento para me provocar.

— Espero que não seja isso. — Voltei a encarar o Adrián com a voz carregada por um
tom de ameaça.

Se ele sabia ou estava por trás daquilo, eu iria garantir que ele iria se arrepender por
planejar me humilhar. Eu iria para cima daquele desgraçado com tudo e, quando terminasse, não
sobrariam nem seus ossos.

— Minha irmã não fugiria — disse Adrián, mas era evidente que ele não tinha qualquer
propriedade para afirmar aquilo.

— É melhor que não. — Sandro deu uma risadinha que só pesou ainda mais o clima ao
nosso redor.

Não demoraria para que eu perdesse completamente a paciência e começasse a tomar


atitudes mais severas.

Se Mirelle achava que podia me fazer de idiota, alguém pagaria muito caro pela
brincadeira de mau gosto dela.

De uma coisa eu tinha certeza, não sairia de Medellín humilhado. Faria com que o irmão
e ela pagassem um preço alto por me desafiar.

Adrián se arrependeria eternamente de não ser um bom cunhado e fazer jus a minha
proposta de aliança.

Logo o restante da minha família estava reunida ao meu redor, inclusive meu cunhado
Ramón Hernandes. Como condição para que eu aceitasse seu casamento com a minha irmã. Eu
tinha o proibido de pisar no México, mas estávamos na Colômbia.

— O que aconteceu com a noiva? — perguntou minha mãe.

— Ela está muito atrasada — comentou Alma.

Agarrei o Sandro pelo braço e o puxei para mais perto, lançando um olhar autoritário.
— Encontre-a.

Sabendo não haver uma alternativa, meu irmão apenas balançou com um movimento de
cabeça.

— Deixa que da minha irmã cuido eu — Adrián se meteu.

— Se cuidasse o suficiente, ela estaria aqui.

— Já estou resolvendo isso.

— Então resolva rápido — voltei a rugir.

— Vamos abaixar os ânimos, por favor — suplicou a mãe dele novamente.

— É melhor que a sua filha apareça logo, senhora, ou não terá quem lide com o meu
humor — ameacei.

Os Ruíz não iriam querer descobrir as consequências de me provocar. Eu já tinha


mandado matar o Adrián por muito menos e nada me impediria de terminar o serviço.
Capítulo 29

— Por favor, Santiago... — Soluçava, cada vez mais em pânico enquanto me sentia em
perigo evidente.

Não sabia para onde estávamos indo, só que ele estava acelerando muito, o mais rápido
que a via permitia, costurando entre outros carros e buzinando para que abrissem passagem.

— Assim vamos acabar batendo.

— Acha que eu não sei dirigir? — Virou-se para mim com uma expressão tão dura que
me provocou mais um calafrio.

— Si... Sim, você sabe. Mas...

— Então cala a boca — interrompeu-me com outro grito.

Socorro! Implorei em silêncio.

Se eu soubesse que o Santiago fosse reagir assim, jamais teria cogitado a ajuda dele para
fugir.

— Seu irmão é fraco. — Surpreendi-me quando ele começou a falar do Adrián. — Ele já
não era um exemplo a ser seguido e naquela cadeira de rodas não vale mais nada. Ainda por
cima, decidiu abaixar a cabeça para o Miguel Velásquez. O Cartel de Medellín precisa de um
líder melhor.

— Do que você está falando?

— Que você vai me ajudar a tomar o poder do seu irmão.

— Qu... Quê?

— Me deve isso.

— Eu não te devo nada.

— Ah, deve e vai pagar.

Ah, Virgem de Guadalupe! Onde foi que eu me meti?

Não fazia a menor ideia de que Santiago tinha planos para derrubar meu irmão. Na
tentativa de escapar de um casamento que não queria, acabei caindo em uma armadilha ainda
pior.

Se antes eu ia ser esposa de um assassino, já não sabia agora, o que aconteceria comigo.
Não parecia ser algo melhor.

— Santiago, para o carro! — gritei em desespero.

— Cala a porra da boca. — Ele sacou a arma e apontou para a minha cabeça, fazendo
com que eu me encolhesse.

Cruzei os braços na frente do corpo, enquanto tentava parar de tremer, mas parecia
impossível. Eu estava muito em pânico e esse pavor só crescia.

Socorro...
Capítulo 30

Trabalhando com os homens do Adrián, Sandro conseguiu localizar facilmente o carro no


qual Mirelle havia deixado a casa. Tínhamos o endereço de um estacionamento movimentado no
leste da cidade e eu segui para lá.

Não aguentava mais ficar na igreja esperando, com todos olhando na minha direção e
fazendo julgamentos pelo fato da minha noiva não estar ali.

Sentia uma fúria difícil de controlar e estava mais inconformado do que nunca. Admito
que não havia cogitado a possibilidade de que algo assim acontecesse e não calcular todas as
variáveis me deixava ainda mais irritado, porque na posição que eu ocupava, precisava estar
pronto para tudo e ter sempre um plano de contingência.

Os pneus do carro cantaram ao parar de uma vez, reduzindo drasticamente a velocidade


ao entrar no estacionamento.

Eu fui o primeiro a descer do veículo. A fúria estava me deixando fora de mim e fazendo
o meu sangue ferver.

Cerrei os punhos enquanto caminhava a passos largos na direção do carro branco alugado
que deveria ter levado minha futura esposa para a igreja, mas ele apenas serviu para que ela
fugisse de mim.
— Chefe! — Javier atravessou na minha frente e segurou o meu braço antes que eu
tocasse o veículo.

— O que foi? — rugi.

— Cuidado!

— O que acha que pode ter lá dentro?

— Uma bomba.

Fui obrigado a assentir. Ele poderia estar certo e eu não queria correr o risco de acabar
morto sem antes me vingar.

Outro dos meus homens se aproximou com cuidado do veículo enquanto Sandro e Adrián
se colocavam ao meu lado para observar. Entretanto, ao invés de uma bomba, assim que a porta
do carona foi aberta, um corpo caiu no chão. Nem precisávamos nos dar ao trabalho de checar os
batimentos, o tiro entre os olhos me dizia que ele havia morrido antes de tombar para trás. Fora
um disparo certeiro e à queima-roupa contra o qual o sujeito nem teria chances.

— Alguém levou a minha irmã — disse Adrián como uma desculpa para a ausência da
minha noiva na igreja.

— Você a mandou para a igreja com apenas um homem? — Girei-me nos calcanhares
para encará-lo com incredulidade.

— Dois.

— Então onde está o outro?

— Só tem um corpo aqui, chefe — disse meu soldado ao abrir o porta-malas para ter
certeza.

Segui encarando o Adrián até que ele me respondesse.

— Eu não sei.

— Então é melhor que descubra rápido.

— Quero minha irmã aqui tanto quanto você.

— Isso é o que espero — irritado, cruzei os braços enquanto ainda encarava o corpo
caído no chão e pensava no que de fato poderia ter acontecido.
Eu poderia estar errado sobre isso, mas Mirelle não me parecia ter sido treinada para
atirar, assim como Alma não fora, ela não teria habilidade para dar um tiro certeiro como aquele.
Mas se ela não havia matado o soldado, quem foi?

Adrián estaria certo sobre a irmã ter sido levada ou ela só estava recebendo ajuda?

Não encontrar uma resposta de imediato só me irritou ainda mais.

Seja lá qual fosse a resposta correta, era melhor para o Adrián que a irmã aparecesse logo
e o casamento acontecesse.
Capítulo 31

Meus olhos estavam ardendo muito, tinha chorado tanto, que a maquiagem borrada
entrou em contato com minhas córneas e deixou-as muito irritadas. O impulso de esfregá-los
com as costas das mãos só piorava tudo.

Mas como parar de chorar se estava tão desesperada?

Sabia que os homens que trabalhavam para o meu irmão eram capazes de matar e morrer,
mas só naquele dia que o Santiago me mostrou o quanto eles podiam ser cruéis.

— Eu... Eu... Eu achei que fosse meu amigo — solucei ainda tremendo.

— Você é ingênua demais ao pensar que no mundo em que vivemos existem amigos. Só
me rebaixei diante do seu irmão por anos porque sabia que o meu momento iria chegar.

— Esperava traí-lo? — Fiquei boquiaberta.

— Todos temos objetivos.

— E o que eu tenho a ver com tudo isso? Sou só uma garota.

— É uma Ruíz e com você ao meu lado, os homens irão me seguir depois que o seu
irmão morrer.
— Não vou ficar ao seu lado!

— Sim, você vai. Porque eu estou te salvando do Miguel Velásquez e vou garantir que
esteja protegida dele.

— Belo protetor você — falei com sarcasmo.

— Ainda vai me agradecer.

Eu não tinha tanta certeza disso.

Inclinei a cabeça para fora reparando na estrada cada vez mais castigada que entrávamos.
Árvores altas se destacavam no horizonte, com copas cada vez mais espessas. Pressenti que o
Santiago estava dirigindo para o meio do nada e eu tinha cada vez mais certeza de que seria
impossível eu ser resgatada.

Estava com muito medo, o choro continuava, apesar das minhas lágrimas começarem a
secar quando senti sede. Não demoraria para que a fome começasse a me incomodar, porém, já
não confiava mais no Santiago para pedir alimento.

Bela forma de fugir, Mirelle, parabéns!

Teria sido cômico se não fosse tão trágico. Queria fugir do casamento com um assassino,
mas acabei caindo nos braços de outro.

Santiago entrou em uma estrada de terra ainda mais sinuosa, cheia de buracos e desníveis
que faziam o carro pular. Já estava escuro e era difícil enxergar em volta, tudo o que eu
conseguia distinguir com dificuldade era os troncos e galhos de algumas árvores. A paisagem
parecia tão densa que eu tinha certeza de que havíamos adentrado a floresta.

Comecei a ver a lua quando nos aproximamos de uma clareira com casas feitas de
madeira. Poderia ser um vilarejo, mas o calafrio que me assustou me fez pensar que estava mais
para um esconderijo.

Santiago parou o carro no centro, próximo a dois jipes e alguns holofotes foram virados
em nossa direção, com luzes fortes que me fizeram fechar os olhos. Eu precisei piscar algumas
vezes e me concentrar para ver algumas silhuetas caminhando em nossa direção. Eram homens
altos, usando aquelas roupas de camuflagem e com armas que pareciam ser maiores do que eles e
me fizeram engolir em seco.

— Chefe! — Um dos sujeitos bateu na janela antes de se afastar quando Santiago abriu a
porta.

Ao que parecia, eles seguiam o homem no qual erroneamente decidi confiar.


— Eu trouxe a princesa. — Santiago abriu um largo sorriso como se estivesse
comemorando. — Ela é nosso bilhete dourado para assumir o controle do Cartel de Medellín.

Naquele momento eu percebi que ele tinha um plano e eu caí como um patinho. Fugir do
casamento não significava a minha liberdade, mas sim um destino muito pior.

— Não acha que os Velásquez sejam um problema? — alguém questionou e Adrián riu.

— Se tivermos sorte, Miguel e Adrián vão se matar e nós podemos ressurgir das cinzas
deles. Seria muito bom expandirmos nossos negócios pelo México e assumir os corredores de
distribuição para os Estados Unidos e Europa.

Eles riam como alguém que havia ganhado um presente de Natal, enquanto eu,
continuava no carro, encolhida e em pânico. O medo era tão grande que eu nem conseguia me
mexer. Adrián vivia dizendo que a nossa família tinha muitos inimigos, mas nunca cogitei que
eles pudessem estar tão perto.

— Vamos! — Santiago abriu a porta do carro e me arrancou para fora, apertando meu
braço de um jeito doloroso.

— Me solta! — Esperneei tentando me soltar.

— Não seja rebelde.

— Você está me machucando!

— Para de reclamar.

— Eu quero voltar para casa.

Santiago me virou de frente para ele, segurando-me pelos dois braços e me encarou com
uma expressão tão severa que voltei a me arrepiar.

— Não percebeu que não vai voltar para casa?

— Mas eu quero!

— Não queria fugir do casamento?

— Sim, mas... — Ele não me deixou continuar.

— Conseguiu.

— Não era assim que eu imaginava.


— Pois bem, princesa. Está na hora de aceitar que as coisas não saem como você deseja.
É uma mulher, já deveria ter aprendido a obedecer.

Engoli em seco e não falei mais nada.

Santiago continuou me arrastando até me levar a uma daquelas velhas casas de madeira
com o piso rangendo e um forte cheiro de mofo. Provavelmente a construção não era a mais
adequada para a umidade da floresta, mas eu duvidava que estivessem preocupados com isso no
momento.

Ele abriu a porta do quarto e me soltou lá dentro, felizmente, o volume da saia do meu
vestido de noiva amorteceu minha queda quando caí no chão. Havia um pequeno lampião a óleo
no fundo do cômodo que era a única iluminação. Ali, no meio do nada, não me surpreendia a
falta de luz elétrica. Contudo, duvidava que estivessem dispostos a melhorar as condições ou
atender qualquer capricho meu.

Santiago não era meu amigo, não estava ao meu lado, agia apenas como os outros
homens ao meu redor, usando-me como uma peça a seu benefício. Pensar nisso me fez voltar a
chorar e me colocou para pensar se ali não era pior do que meu casamento com Miguel.
Capítulo 32

Eu ainda estava me perguntando se Adrián não era o responsável por aquilo. A


humilhação parecia parte do plano dele para se vingar de mim, entretanto, quando encontramos o
carro com seu homem morto no interior, o chefe do Cartel de Medellín demonstrou uma
preocupação verdadeira.

Ou ele não sabia onde a irmã estava, ou era um excelente ator. Para o bem dele, a
primeira alternativa parecia a melhor.

Ele não deixou que o casamento fosse cancelado, apenas o considerou suspenso e
mandou os convidados para hotéis, onde seriam acomodados para a nova data da cerimônia.

Eu estava tão furioso que não sabia mais se queria que o casamento acontecesse, mas
estava ansioso para encontrar a Mirelle e descobrir a verdade sobre seu desaparecimento. Deixar-
me no altar era uma escolha terrível da qual eu faria com que ela se arrependesse, nem que para
isso eu precisasse fazer sangue escorrer por toda Colômbia.

Talvez tentar apaziguar uma possível guerra fora um erro meu e a melhor alternativa teria
sido ir com tudo para cima deles, porém, ainda havia tempo de reparar meu erro e acabar com
Adrián e sua família.

— Virgem, onde está minha filha! — Carmem andava de um lado para o outro na sala da
mansão, empurrando o cabelo para trás e a minha vontade era dar um tiro na sua cabeça para
fazê-la parar.

O som inquietante dos seus passos não estava ajudando em nada e só fazia minha cabeça
doer ainda mais.

Para ser honesto, ficar parado ali naquela estranha reunião não apaziguava meus ânimos.

Queria caçar a Mirelle, mas para isso precisava saber para onde ir.

Impaciente, bufei ao me levantar do sofá e ir até um dos técnicos do Adrián, que estava
vasculhando as câmeras e procurando pela placa do carro com o qual Mirelle e o outro soldado
do irmão haviam fugido.

— Onde ela está? — rugi ao levantar o homem magro e franzino, com os olhos
escondidos atrás de óculos redondos.

— Eu... Eu estou procurando.

— Procure melhor! — Soltei-o no chão com ainda mais fúria.

— Estou fazendo o melhor que eu posso.

— Vai ver eles são amantes e fugiram juntos — teorizou Sandro piorando ainda mais as
coisas.

Cerrei os pulsos e os dentes quando a imagem de outro homem a tocando preencheu


minha mente.

— Encontre-a! — gritei com ainda mais fúria e tive a sensação de que o cômodo tremeu.

— Mais rápido, Guillermo — exigiu Adrián.

— O programa precisa de um tempo, senhor.

— Não vai querer que encontremos minha irmã morta.

— Claro que não, chefe.

— Então ache-a logo!

Com uma fúria tão grande que me atrapalhava respirar, eu saí de perto deles, deixando a
sala e parando diante da piscina, encarando o meu reflexo, que se mesclava com o da lua sobre a
superfície da água.
Definitivamente eu não planejava acabar daquele jeito. Essa falta de controle não me
deixava bem e servia para alimentar minha fúria.

Ouvi o som das rodas da cadeira do Adrián e me virei para reparar nele antes que o
colombiano parasse ao meu lado.

— Pode não acreditar, mas há uma boa explicação para o que está acontecendo — disse
ele ao confrontar minha expressão de poucos amigos.

— Espero que esteja certo — bufei.

— Não há ninguém que quer encontrar mais a minha irmã do que eu.

— Nem deveria tê-la deixado escapar.

— Santiago era um homem de minha extrema confiança e eu quero ser o primeiro a


torturá-lo para saber o que aconteceu.

— Deveria escolher melhor os seus homens — resmunguei, cruzando os braços.

— É, talvez você tenha razão...

— Se a sua irmã fugiu com ele — comecei.

— Ela não fugiu!

— É melhor que esteja falando a verdade. Prometeu-me uma boa esposa, mas tudo o que
estou vendo é uma rebelde que fugiu com um soldado. Aposto que de virgem ela não tem nada.

— Não ofenda a integridade da minha irmã! — foi a vez de ele gritar furioso.

— Deveria ter garantido que ela não ofendesse a minha.

— Vamos ter uma boa explicação para o que aconteceu e o casamento será realizado.

— Você já está testando a minha paciência, é melhor que ela dure até lá — ameacei.

— Não se esqueça de que está no meu território, Miguel. Estou o recebendo


amigavelmente na minha casa, mas não é o único com homens e recursos — devolveu na mesma
altura, evidenciando que também sabia as regras daquele jogo.

— Encontrar a sua irmã logo, é a prioridade.

— Sim.
Eu estava tão irritado que parecia difícil de raciocinar. Apesar de Adrián estar certo sobre
a minha desvantagem estando na Colômbia, era melhor que ele não testasse a dimensão da minha
ira por ser abandonado no altar.

Se Mirelle não retornasse, seria impossível contornar as consequências.


Capítulo 33

Eu estava com fome, sede, frio e medo...

Muito medo...

Só me lembrava de ter ficado tão apavorada quando meu irmão ficou dias no hospital,
recuperando-se dos tiros que levara.

Sentia-me tão estúpida por ter acreditado no Santiago. Nem por um instante cogitei que
ele estava contra o meu irmão, contra mim. Apesar de talvez merecer o que estava me
acontecendo, eu queria muito conseguir escapar dali.

Com sorte Adrián e Miguel vão se matar...

Recordei-me do que o Santiago havia dito aos seus homens e voltei a chorar.

Ah, meu Deus! O que eu fiz?

Meu noivo poderia tentar matar meu irmão de novo e a culpa era minha. Apesar de estar
furiosa por causa das decisões que o Adrián havia tomado sobre mim, eu não queria que meu
irmão morresse, nem que minha mãe se machucasse.

De repente, percebi que cogitar uma fuga foi a pior ideia que eu já tive e as
consequências poderiam ser terríveis.

E se ninguém da minha família sobreviver?

Parecia ser exatamente o que o Santiago desejava e me deixou ainda mais em choque.

Ouvi o som da porta ranger e minha consciência voltou para o cômodo precário onde eu
estava. Escutei os passos de alguém se aproximar e levantei a cabeça, vendo uma silhueta
masculina se revelar através da luz que vinha de fora.

Eu não sabia se estava clareando ou se era a iluminação forte de lanternas que eles
usavam. Seja lá o que fosse, não me trouxe nenhum alento e não ajudou para que eu visse o
sujeito com detalhes, porém, as poucas características visíveis indicavam que não era o Santiago.

— Está com fome? — A voz grossa reverberou no ambiente.

— Sim — sussurrei.

Um prato metálico bateu no chão com uma caneca d’água. Meu estômago estava
corroendo tanto que eu me apressei para pegar sem pensar muito.

O pão duro e o líquido com gosto barrento pareciam um verdadeiro manjar dos deuses
para quem estava há muito tempo sem nada.

— Você é tão linda...

Tomei um susto, recuando ao perceber que o sujeito havia tocado meu rosto. Suas mãos
pareciam sujas, com as unhas cheias de terra. Se meu estômago estivesse cheio, eu teria
vomitado.

— Não me toca! — Tentei recuar, mas o volume do vestido atrapalhava.

— Acha que tem escolhas? — Riu. — O chefe não precisa ser o único a te usar.

Me usar?

— Não chegue perto de mim! — voltei a gritar, mas tomei um tapa no rosto que me
tonteou por alguns instantes.

Enquanto eu me recuperava do golpe, ele me agarrou pelos tornozelos e puxou para


frente, fazendo-me perder o equilíbrio, caindo para trás e batendo com a cabeça em uma das
ripas de madeira do chão. A dor se irradiou pelo meu crânio enquanto o homem tentava levantar
as camadas da saia do meu vestido.
— Socor... — tentei gritar por ajuda, mas ele colocou sua mão enorme e suja sobre a
minha boca.

O pânico cresceu de forma incontrolável enquanto eu me debatia. Apesar de ele ser muito
mais forte do que eu, não queria desistir. Ter um estranho em cima de mim, tentando puxar a
meia calça e a minha calcinha me causava um misto de asco e pavor tão intenso que gerava
revolta.

Eu unhava seu braço, fazendo o possível para afastar sua mão e poder gritar, enquanto
esperneava, tentando chutá-lo. Por sorte, ele precisava de mais do que duas mãos para me conter
por completo. Eu não deixaria que ele fizesse algo comigo sem lutar.

Ouvi sons de estalos, pareciam foguetes, mas não eram. Talvez fossem fruto da minha
mente, porque o cara em cima de mim ignorou o barulho por completo, apesar de parecer cada
vez mais próximo.

Quando ele finalmente se mexeu para reparar no que poderia ser, eu mordi sua mão,
fazendo com que ele a tirasse de cima da minha boca e gritei.

— Socorro!

— Calada! — rugiu em tom ameaçador, mas eu ignorei.

— Alguém me ajuda!

— Fica quieta! — Cobriu a minha boca de novo e senti seu volume asqueroso roçar em
mim.

Meu estômago voltou a embrulhar, mas antes que ele fizesse algo que me traumatizaria
para o resto da minha vida. A porta foi aberta novamente e eu ouvi outro som, tão alto que me
ensurdeceu.

Sangue espirrou no meu rosto como um jato, forçando-me a fechar os olhos e eu fiquei
paralisada enquanto aquele homem caía em cima de mim, sem vida.

Eu queria gritar com o pânico, mas foi como se ele ainda estivesse cobrindo a minha
boca, porque eu não consegui.

Pareceu levar uma eternidade antes que aquele corpo pesado fosse puxado de cima de
mim e jogado para o lado.

— Você está bem?

— Miguel? — Pisquei, e esfreguei os olhos, tirando o sangue dos olhos que me


atrapalhava de enxergar.

Aquele homem inclinado na minha direção, com a mão estendida para me ajudar a
levantar, brilhava contra a luz como se ele tivesse asas que faziam jus ao seu nome.

Nunca imaginei que ficaria tão feliz em vê-lo.

Segurei a sua mão e ele me puxou para perto, envolvendo-me em seus braços e meu
coração começou a desacelerar.

— Ele machucou você?

Só consegui balançar a cabeça fazendo que não.

— Vamos sair daqui.

— Por favor... — solucei, deixando que o Miguel me guiasse para fora daquela cabana.

Quando ele me acomodou no banco de trás de uma caminhonete 4x4, percebi que os
disparos haviam cessado.

Eu me encolhi, abraçando os joelhos e percebendo o vestido sujo, cheio de folhas, galhos


e manchas marrons e as vermelhas de sangue. Podia ver as gotas nos meus braços e imaginava
que no meu rosto estivesse ainda pior.

Do lado de fora, eu conseguia ver o Miguel e os outros homens que pareciam estar com
ele. Vieram atrás de mim e tudo o que conseguia sentir era gratidão.
Capítulo 34

Depois de um tempo que testou minha paciência, conseguiram pistas que nos levaram à
floresta Amazônica Colombiana. Sandro achava que pudesse ser uma armadilha ou uma pista
errada para nos levar para bem longe, porém, era uma questão de honra confrontar minha noiva
fujona e descobrir o que havia acontecido.

O que eu não esperava era encontrá-la assustada, suja e prestes a ser estuprada. A minha
raiva cresceu, mas dessa vez não estava mais direcionada a ela, e sim ao responsável por tudo
aquilo.

Ainda segurando firme a minha arma, fechei a porta do carro onde havia colocado a
Mirelle e olhei para fora, determinado a atingir outras cabeças.

Entretanto, os disparos haviam parado e não demorou para que o Sandro e os outros se
aproximassem de mim.

— Onde o tal Santiago está?

Queria arrancar a cabeça dele para aplacar toda a fúria que havia me feito sentir.

— Fugiu.

— Como fugiu?
— Ele e alguns dos homens correram para a floresta e não conseguimos acompanhar —
respondeu meu irmão.

— E não vão atrás dele?

— Não dá, cara. Eles conhecem essa floresta melhor do que nós, se não nos matarem, um
bicho mata.

— Certo. — Fui obrigado a recuar.

— Pegamos a sua noiva, vamos dar o fora daqui.

Geralmente Sandro era o impulsivo sanguinário, mas ele tinha razão, nos embrenhar no
meio da noite naquela mata fechada sem conhecer bem o local acabaria nos matando antes que
chegássemos ao Santiago.

Duvidava que a tecnologia que havia nos levado até ali poderia garantir nossa segurança
no meio da mata, entretanto, sabia bem o custo de deixar um inimigo vivo. De uma coisa eu
tinha certeza, veria o Santiago novamente.

Entrei na caminhonete, sentando-me no banco de trás ao lado da Mirelle, que estava


encolhida em posição fetal e tremendo.

— Você está bem? — Diante da expressão de espanto dela parecia uma pergunta idiota,
porém, saiu mais rápido do que eu conseguia controlar.

— Sim... — Sua cabeça se movendo de um lado para o outro dizia o contrário.

— O que aconteceu? — exigi uma resposta em tom firme, apesar de não ser o melhor
momento para isso.

Eu tinha ido até lá para resgatá-la só para ter certeza.

— Eu... Eu...

Estendi a mão para segurar a dela e a encarei.

— Calma, respira, você está segura agora.

Ela engoliu em seco e me dirigiu um sorriso desconfiado.

Mirelle precisou de um tempo para retomar o fôlego antes de me responder.

— Eu entrei no carro com o Santiago e o outro, achei que iríamos para a igreja, mas o
Santiago atirou no cara, e me trouxe para cá.

Foi um resumo rápido, mas pareceu o bastante para me convencer de que o Adrián não
estava armando contra mim, afinal, imaginava que não fosse capaz de deixar a irmã tão assustada
e a colocasse em uma posição em que pudessem abusar dela.

Para todos, era melhor assim...

— Meu irmão? — Ela virou a cabeça, olhando de um lado para o outro quando se
recordou dele.

— Ele está em casa.

— Bem?

Fiz que sim.

— Vamos voltar para lá?

— Sim.

— Obrigada.

O vestido dela estava um nojo, sujo de sangue, restos da floresta e poeira, porém, mesmo
com a maquiagem borrada, os olhos inchados e vestida como a noiva cadáver, Mirelle ainda
parecia uma mulher muito bonita.

O importante era que eu havia a recuperado e nosso casamento poderia seguir como
planejado.
Capítulo 35

Já havia amanhecido quando a caminhonete onde eu estava entrou na garagem da mansão


da minha família. Um dos homens do meu irmão abriu a porta para mim e me ofereceu a mão,
que eu recusei.

Depois do Santiago, seria difícil confiar em qualquer um deles novamente.

Desci cambaleando para fora do veículo, e teria caído se o Miguel não houvesse segurado
o meu braço. O que me fez olhar para ele novamente, algo que eu havia evitado fazer durante o
caminho de volta, por me sentir muito estranha.

— Cuidado — alertou ele.

— Obrigada.

— Mirelle! — ouvi a minha mãe chamar ao surgir no meu raio de visão.

— Mamacita! — Voltei a chorar quando pude finalmente correr para os braços dela.

Afundar a cabeça no peito da minha mãe me trouxe um consolo incomparável e eu


finalmente senti que tudo ficaria bem, desde que o Miguel havia me resgatado.

Nunca pensei que seria grata ao meu noivo por algo, mas se eu podia abraçar minha mãe
novamente era porque ele tinha ido atrás de mim. Independente de seus motivos, Miguel tinha
me livrado da armadilha do Santiago para me usar contra o meu irmão e tirar os poderes dele.

— Ah, minha menina. — Mamãe afagou meu cabelo bagunçado e amassado.

Eu tinha saído de casa como uma noiva linda, mas naquele momento estava parecendo o
fantasma do Natal passado, um assombro. Eu me sentia suja, melando, e só de lembrar daquele
sujeito em cima de mim, a sensação piorava. Precisava desesperadamente de um banho para
poder esfregar até minha alma.

— Me leva para o meu quarto — supliquei a ela. — Eu preciso de um banho.

— Sim, querida. — Ela envolveu meus ombros e me guiou para o interior da casa e eu
deixei Miguel e os outros para trás, certa de que não era a última vez que eu veria o homem do
qual eu havia fugido.

Minha definição de monstro havia mudado depois daquela noite infernal e ainda estava
tentando absorver tudo isso.

— Você está machucada? — O pavor tomou conta do rosto da minha mãe quando ela
notou todo aquele sangue em cima de mim.

Balancei a cabeça fazendo que não.

— Esse sangue não é meu.

— Ah, graças à Virgem! Rezei tanto para que você voltasse ilesa.

Eu poderia não estar ferida, mas isso não significava que eu não tinha me machucado,
mas achei melhor não falar sobre isso. De certa forma, a culpa era minha por ter cogitado escapar
daquele casamento sem pensar nas consequências que minha família teria que enfrentar.

Entramos no meu quarto e minha mãe me ajudou a tirar aquele volumoso vestido. Senti
algumas dores e percebi que havia roxos, principalmente nos meus braços onde o Santiago havia
me apertado.

Ao se certificar de que estávamos sozinhas, minha mãe me encarou com uma expressão
séria e eu temi o que ela diria em seguida.

— Mirelle, me diga que você não tem nada a ver com o que aconteceu.

— Mãe...

— Sei que não queria esse casamento, mas fugir é uma loucura e você andava muito
próxima do Santiago ultimamente.

Meus olhos voltaram a se encher de lágrimas e ela me puxou para mais perto, afagando
meu cabelo desgrenhado.

— Shi, está tudo bem agora — sussurrou como fazia quando eu era muito pequena e me
assustava.

— Eu não imaginava...

— Não imaginava o quê? — insistiu para que eu contasse.

— Que o Santiago queria prejudicar meu irmão para tomar o lugar dele.

— Prejudicar?

— Ele quer o controle do Cartel.

— Ah, minha virgem. E você fugiu com esse homem?

— Eu queria escapar, mas depois que ele entrou no carro e matou o outro, tive certeza de
que não era mais uma boa ideia.

— Ah, filha...

— Mamãe... — Voltei a abraçá-la e chorar.

— O casamento é o melhor para nós. Nossa família tem muito a perder com Miguel
Velásquez contra nós.

— Mas ele matou a Virginia.

— Quem mais ele mataria se você sumisse?

Não respondi ao invés disso, engoli em seco, mas não precisava pronunciar em voz alta
algo que nós duas já sabíamos.

— Eu cometi um erro...

— Sim, cometeu, mas vai ficar tudo bem.

— Como a senhora sabe disso?

— Miguel foi atrás de você e ainda aceita se casar.


— E o Santiago?

— Não está morto? — Minha mãe pareceu surpresa.

Fiz que não. Apesar de não ter perguntado, escutei os homens conversarem na volta sobre
o fato de Santiago e outros terem fugido para a floresta.

— Bom, deixe que o seu irmão e seu futuro marido lidem com ele. Você só precisa se
preocupar com a sua família e em se manter segura.

— Mas eu vou ficar segura?

— Depois de hoje o que você acha?

Sua pergunta me deixou refletindo e eu acabei balançando a cabeça em afirmativa.

Quando Miguel apareceu senti que ninguém mais poderia me machucar e eu esperava
que sempre fosse assim.
Capítulo 36

Quando a Mirelle subiu com a mãe, eu segui para a sala e encontrei o Adrián na cadeira
de rodas encarando-me com uma expressão de alívio.

— Ela está bem?

— Vai ficar — garanti ao cruzar os braços em uma expressão firme.

— E o Santiago?

— Escapou.

— Eu não acredito que estava mantendo uma cobra ao meu lado.

— Como eu disse, deve escolher melhor seus homens.

— Farei isso a partir de agora.

— Ótimo.

Ficamos nos encarando com firmeza por longos instantes, até que ele desviou o olhar e
mudou de assunto.
— Você tem razão, Miguel. Somos melhores como aliados do que inimigos.

Agora você reconhece, pensei comigo.

— Minha irmã merece tê-lo como marido e o casamento vai acontecer.

— Se ela não desaparecer de novo.

— Vamos garantir que não.

— Deveria ter feito isso da primeira vez.

— Acho melhor todos deixarmos o passado onde está.

Pensei que ele pudesse estar se referindo à minha tentativa de matá-lo, mas preferi não
render o assunto e fiquei em silêncio.

No meu sangue ainda estava a adrenalina do resgaste da Mirelle, mas eu estava aliviado
por saber que ela não havia me abandonado no altar. Apesar de não admitir para ninguém, ficar
sozinho naquele altar feriu meu ego e me incomodou muito.

Apesar de nossa brutal diferença de idade, era um homem vaidoso o bastante para me
achar um bom partido e que ninguém recusaria. Entretanto, precisava admitir que já havia
espalhado muito terror sob a família dela para que ela me temesse.

Casamento parecia uma relação muito complicada, mesmo quando começava com juras
de amor eterno, nas nossas circunstâncias era ainda pior. Tentei afastar tal compromisso dos
meus planos por todo tempo que consegui, porém, já não era mais possível e teria que lidar com
essa realidade.

Primeiro tenho que me casar com ela...

Aquela era uma frase que não parava de circular na minha mente.

— O casamento acontecerá amanhã — anunciei para o Adrián, sem me importar com a


expressão de espanto que tomou conta do rosto dele.

— Mas você viu o estado do vestido dela. O estilista precisa de tempo para fazer um
novo.

— Dane-se o vestido. Ela pode se casar com uma camisola. Não me importo. — Mantive
o tom firme e irredutível.

— Verei o que posso fazer.


— Sei que pode garantir isso. Não teste minha paciência, Adrián. — Girei nos
calcanhares para encará-lo e lancei um olhar ameaçador. — Já passamos por um dia muito
desgastante, e é melhor que você não me teste mais.

Ele engoliu em seco, contudo, tentou disfarçar com um sorriso.

— Vou para o hotel me encontrar com a minha família — anunciei. — Nos encontramos
amanhã na igreja no mesmo horário, e é melhor que tudo corra como esperado dessa vez.

— Será um belo casamento.

— É o que esperamos.

Meti as mãos nos bolsos e segui pela orla da piscina, caminhando até a entrada da
mansão onde se reuniam Javier e meus outros homens.

— Do que precisa, senhor? — perguntou ele.

— Vamos sair daqui por enquanto.

Ele assentiu com a cabeça e fez um gesto para que os outros caminhassem conosco para o
carro.

Os primeiros raios do sol já apareciam no horizonte e eu estava exausto, mas duvidava


que conseguiria dormir em meio a tudo o que estava acontecendo.
Capítulo 37

Virei de um lado para o outro da cama. Peguei um dos travesseiros e coloquei sobre a
cabeça, depois, outro entre as pernas, como se fosse algum tipo de proteção.

No fim, nada resolveu.

Girei, retorci, urrei.

Estava cansada e queria dormir, mas a minha mente não desligava por nada no mundo.

Como conseguir dormir?

Pensei que Santiago me ajudaria a ficar segura, me livraria do terrível casamento com o
Miguel Velásquez, mas no fim, ele me traiu e me deixou ainda mais desprotegida, ao ponto de
tentarem abusar de mim.

Mamãe vivia me alertando sobre a crueldade dos homens no mundo em que eu havia
nascido, mas nunca pensei que fosse ser tanto.

O pavor ainda deixava o meu coração agitado e as veias fervendo, tornando impossível
que eu conseguisse manter os olhos fechados.

Quando escutei o som da porta se abrindo, sentei-me na cama por reflexo, quase como se
houvesse tomado um choque. Então, vi a sombra da cadeira de rodas do meu irmão avançar
sobre o brilho da luz do lado de fora que entrava pela janela e desenhava os contornos do vidro
no chão. Saber que era o Adrián não me deixou mais calma, nem escutar o som da sua voz:

— Mirelle, ainda está acordada?

— Como acha que eu conseguiria dormir?

— Sinto muito pelo que aconteceu, não esperava que o Santiago fosse me trair assim. Ele
costumava ser um bom soldado.

Meu irmão também não imaginava que eu quisesse fugir do casamento e havia
confabulado com o Santiago, mas diante de toda a situação, por mais que eu parecesse uma
covarde, o melhor para mim era que ele continuasse sem saber.

— Ele acha você fraco — soltei. — Quer assumir o Cartel no seu lugar.

— Fraco? — Meu irmão bufou. — Quero ver continuar me achando fraco depois que eu
estourar os miolos dele — ameaçou.

Na minha mente surgiu um flash do homem em cima de mim e o disparo do Miguel


acertando a sua cabeça e fazendo sangue voar em todas as direções, principalmente por cima de
mim. Relembrar aquela terrível situação fez com que eu começasse a tremer. Não desejava
passar por nada parecido novamente.

Meu irmão empurrou a cadeira de rodas para mais perto e parou ao lado da cama,
tocando a minha mão e me fazendo levantar a cabeça para encará-lo sob a penumbra. A luz
externa que entrava pela janela não era o bastante para me permitir distinguir suas feições.

— Não precisa mais se preocupar, eu cuidarei do Santiago.

Não sabia se sua promessa era o suficiente para me deixar mais tranquila, porém, preferi
não dizer nada.

— Só precisa ser uma boa noiva amanhã.

— Amanhã?! — Dei um berro.

— Sim.

— Mas o meu vestido, a decoração...

— Vamos providenciar outro vestido. Deve haver algum pronto em uma loja que agrade
você.
— Mas...

— Temos um acordo com o Miguel, irmãzinha. Depois de hoje, precisamos honrá-lo


mais do que nunca.

Meu irmão não falou sobre isso comigo, porém, o fato de Santiago tê-lo traído o deixou
alarmado e fez com que recuasse. Provavelmente estava se questionando se poderia confiar
naqueles à sua volta.

Para ser honesta, nem sabia se ele poderia confiar em mim. Havia confabulado com o
Santiago para escapar do casamento sem cogitar as consequências que meu irmão sofreria.

Quem cuidaria da minha mãe?

Estava me sentindo a pessoa mais idiota, ingrata e irresponsável do mundo por nem ter
pensado neles.

Por fim, acabei percebendo que meu irmão estava certo. Eu tinha que me casar com
Miguel Velásquez ou Virginia não seria a última pessoa da minha família a morrer. Nossa união
protegeria os meus e era responsabilidade minha garantir isso.

— Vou me casar amanhã — afirmei para o meu irmão que me dirigiu um sorriso
fraternal.
Capítulo 38

— Será que agora vai? — Sandro deu uma risadinha quando paramos novamente na porta
da igreja.

Lancei um olhar feroz para ele e minha mãe o acertou com uma cotovelada.

— Ai! — resmungou.

— Não perturbe seu irmão.

Sandro deu de ombros.

— Papa! — Diego estendeu os bracinhos para que meu irmão o pegasse.

— Vou entrar com Agda e as crianças — avisou para mim e eu apenas assenti com a
cabeça.

Meu irmão segurou o filho com um braço e colocou a outra mão no centro das costas da
esposa, guiando-a para o interior da igreja, enquanto a babá, com a outra criança, e minha irmã
caçula o seguiam.

Fiquei com a minha mãe, que se aproximou de mim e afagou o meu ombro.
— Vai dar tudo certo agora.

Apenas balancei a cabeça fazendo que sim ao colocar minhas mãos dentro dos bolsos da
calça social.

Havia prometido a mim mesmo que se a situação se repetisse eu não seria tão tolerante.
Entretanto, isso não era o suficiente para evitar minhas palpitações e o suor frio que deixava
meus dedos molhados.

Desejava que o casamento acontecesse o mais rápido possível para que aquelas sensações
tão incômodas fossem embora.

Mal via a hora de deixar a Colômbia e voltar para casa. A segurança do meu lar e meus
pés num terreno que eu conhecia eram a melhor ideia na minha cabeça. Como se a cada minuto
ali me colocasse mais em risco.

Paola passou por mim com o filho nos braços e seguiu com o marido para o interior da
igreja. Naquele momento, todos os convidados já estavam ali, mas continuava faltando a pessoa
mais importante: a noiva.

A cada instante que eu passava sem ver a Mirelle sentia minha impaciência aumentar.
Talvez não precisasse de tudo isso, mas o dia anterior tinha feito todo o possível para me testar.

— Vamos começar — disse uma das responsáveis pela organização da cerimônia ao se


aproximar de mim.

Fui para a porta da igreja, de braços dados com a minha mãe e segui para o altar ao som
de uma música instrumental.

Foi inevitável não reparar nos convidados sentados nos bancos de madeira decorados
com flores brancas e fitas de cetim. Pelas suas expressões eu poderia facilmente deduzir a
pergunta que passava por suas mentes e era a mesma que eu me fazia: Será que a noiva vai
aparecer dessa vez?

As palavras do Adrián não eram a garantia suficiente para que eu pudesse relaxar e curtir
o momento.

As provocações do meu irmão mais jovem também não contribuíram com a minha
tranquilidade. Se dependesse dele, eu explodiria aquela igreja.

Inspirei profundamente ao colocar meus dois pés no altar e minha mãe soltar o meu braço
ao ser conduzida para um espaço vazio no banco da frente.

Troquei olhares com o padre, mas nenhum de nós disse uma única palavra.
Ainda estava de costas para a entrada da igreja quando escutei o som da marcha nupcial.
Virei-me num giro rápido a tempo de ver os convidados se levantando e as portas duplas de
madeira serem abertas novamente para a entrada da noiva.

Uma menina veio jogando pétalas de rosas vermelhas que forraram o chão para a
passagem da Mirelle, mas foi minha futura esposa que chamou minha atenção. Ela estava
sozinha, segurando um pequeno buquê de rosas e flores do campo delicadas. Não estava dentro
do majestoso vestido que fora destruído, mas eu imaginava que ela poderia ficar bonita de
qualquer jeito. Estava dentro de um vestido simples, com mangas de renda e uma saia curta na
altura do joelho que parecia ter sido comprado em qualquer loja de departamento, mas era
perfeito para ela.

Fiquei parado, vendo-a se aproximar e a cada passo que Mirelle dava em minha direção
era como se os nós da minha tensão fossem se dissolvendo e me deixando mais aliviado.

— Oi... — murmurou ao parar diante de mim.

— Olá. — Curvei meus lábios em um leve sorriso ao estender a mão para ela.

Mirelle olhou para a minha palma por alguns instantes, antes de entregar o buquê para a
organizadora e pousar seus dedos sobre os meus e me permitir guiá-la pelos dois degraus que nos
colocavam frente a frente do padre.

A mão dela estava fria, ou talvez fosse a minha, mas naquele momento não importava,
pois ela estava ali.

Eu ainda estava olhando para ela quando o padre começou a falar, recordando-me de que
estávamos na igreja e havia muitos convidados nos observando.

— Sejam bem-vindos! Depois de tantos preparativos e contratempos, enfim estamos aqui


para celebrar um dos mais importantes Sacramentos, o Matrimônio. A união de um homem e
uma mulher perante a Deus para formarem uma família. Miguel e Mirelle se apresentam diante
da Santíssima Trindade e de seus amigos e familiares para receber a benção mais importante... —
ele continuou falando enquanto eu encarava a Mirelle e os seus olhos se prendiam nos meus.

Havia um certo ar de curiosidade, diferente do medo que eu havia visto em tantos outros
momentos.

— Com sua mulher serão os dois uma só carne. De modo que já não são dois, mas uma
só carne... — continuava a ouvir o padre ao fundo enquanto ele citava um versículo da bíblia.

Nunca fui um homem muito religioso, apesar da minha mãe ser muito apegada à igreja e
ter nos ensinado, mas casamento sempre foi um rito muito importante. O sacramento que
deveríamos respeitar até o fim das nossas vidas. Por isso, a escolha de fazê-lo acabava sendo tão
difícil.
O padre finalizou o discurso baseado em versículos da bíblia antes de se virar para nós
novamente. Ele alternou o olhar entre mim e a Mirelle, fazendo com que eu voltasse a ficar
nervoso.

— Miguel, é de livre e espontânea vontade que você aceita Mirelle como sua legítima
esposa?

Eu encarei profundamente os olhos castanhos dela antes de responder.

— Sim — falei baixo, mas foi como se minha voz ecoasse por toda a igreja.

O padre sorriu para mim antes de se virar para a minha esposa.

— Mirelle, é de livre e espontânea vontade que você aceita Miguel como seu legítimo
marido?

Ela me encarou de volta e eu prendi a respiração durante o tempo que ela levou para
responder. Acho que no fundo, tanto eu quanto os convidados que aguardavam tensos,
esperavam que ela dissesse não.

— Si... — ponderou por alguns instantes aumentando a tensão. — Sim.

— Tem certeza? — questionou o padre ao perceber a hesitação dela.

— Tenho. — Ela forçou um sorriso.

Ouvi um suspiro de alívio ecoar pela igreja, mas não era meu.

O que eu estava esperando, afinal?

Não éramos amantes apaixonados, apenas duas pessoas forçadas a conviver pelo bem das
nossas famílias.

— Sendo assim — prosseguiu o padre — existe al...

Lancei um olhar tão feroz para ele que foi mais persuasivo do que uma ameaça falada. Se
ele fizesse aquela pergunta, eu iria matá-lo.

Ele limpou a garganta e sorriu.

— Vamos pular essa parte e ir para os votos. — Gesticulou com a cabeça para mim e me
fez pegar a mão da Mirelle novamente.

Inspirei profundamente antes de começar a dizer, certo de que se quisesse fazer aquele
casamento funcionar, os votos não poderiam ser da boca para fora e eu precisava me
comprometer em cumpri-los.

— Eu, Miguel, aceito você, Mirelle, como minha legítima esposa e prometo amar-te e
respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os
dias da minha vida, até que a morte nos separe.

Ela também tomou fôlego antes de repetir.

— Eu, Mirelle, aceito você, Miguel, como meu legítimo esposo e prometo amar-te e
respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os
dias da minha vida, até que a morte nos separe.

Com o canto de olho, vi outra criança entrar, uma menina usando um vestido branco
carregou uma cesta de palha com uma almofada de veludo contendo as duas alianças e as
entregou para o padre.

— Sendo de livre espontânea vontade que se entregam ao matrimônio, que estas alianças
sejam um lembrete visível de seus sentimentos um pelo outro. Ao olhar para elas, lembre-se de
que vocês se encontraram um ao outro e um no outro, e de que nunca mais andarão sozinhos. —
Ele abençoou as alianças com orações e um tipo de água benta, antes de nos instruir para trocá-
las.

— Mirelle, receba esta aliança como sinal do meu amor e da minha fidelidade — falei ao
deslizar o anel até o fim do dedo anelar de sua mão esquerda.

Apesar de não ter qualquer amor por ela, sentia o peso daquelas palavras caírem sobre os
meus ombros.

— Miguel, receba esta aliança como sinal do meu amor e da minha fidelidade. —
Colocou a aliança em mim.

Apesar daquelas frases serem comuns, repetidas por casais cristãos do mundo inteiro,
pareciam significar muito, até mesmo para aqueles que não eram tão fiéis.
Capítulo 39

Quando senti o peso daquele aro dourado na minha mão, soube que o casamento era real.
Estava comprometida com Miguel Velásquez para o restante da minha vida, pois divórcio não
parecia uma opção.

Já tinha cogitado fugir e o resultado foi muito pior do que eu imaginava, então o melhor
era ficar e encarar aquele casamento da melhor forma.

— Pode beijar a noiva.

Assim que ouvi as palavras do padre, minhas pernas tremeram e meu coração voltou a
acelerar. Miguel se inclinou na minha direção e envolveu a minha cintura, puxando-me para
perto. Fui ingênua ao pensar que por haver tantas pessoas assistindo, ele só me daria um simples
selinho, mas seus dedos pressionaram minha nuca e sua língua forçou passagem por entre meus
lábios fazendo meu sangue ferver.

Tinha muitos motivos para temer aquele homem, porém, não tinha como negar que os
beijos dele deixavam a minha boca seca e meu sangue fervendo. Não foi bom lembrar da dança
na praia, pois o calor se tornou ainda maior...

Quando ele se afastou, eu estava ofegante e senti minhas bochechas corarem enquanto as
outras pessoas aplaudiam.
— O que Deus uniu, o homem não separa — falou o padre, finalizando a cerimônia ao
selar o meu destino.

Miguel envolveu meus dedos com os seus e segurou minha mão com a sua pesada,
puxando-me para fora da igreja e saímos sob uma chuva de pétalas brancas e arroz, que
encheram o meu cabelo e grudaram no pequeno véu improvisado.

Qualquer vestido de noiva mais elaborado precisaria de ajustes, então eu me contentei


com um branco que encontramos em uma loja de roupas qualquer. Era tarde para lamentar que o
outro fora destruído.

Na porta da igreja, havia uma limusine esperando por nós e o motorista manteve a porta
aberta até que eu e Miguel nos sentássemos no banco de trás. O carro era espaçoso, mas daquela
vez eu nem tinha uma saia gigantesca para atrapalhar tudo.

Assim que ouvi o som da porta sendo fechada e Miguel se virou para mim, tomei
consciência de que estávamos sozinhos e estremeci.

— Finalmente — murmurou ele num tom que me deixou ainda mais em pânico.

O que acontece comigo agora?

Tinha muito medo da resposta para aquela pergunta.

— Vamos para o aeroporto — ordenou para o motorista.

— Aeroporto?! — Dei um pulo de espanto.

— Sim — afirmou Miguel.

— Mas e a festa?

— Já fiquei por tempo demais nesse país. Vamos para a nossa lua de mel.

LUA DE MEL?!

Fiquei paralisada, num misto de choque e espanto. Pensei que teria mais tempo antes de
ser obrigada a ficar sozinha com ele.

— E a sua família? — Tentei pensar em alguma desculpa e não parecer em pânico, mas
provavelmente não me saí tão bem.

— Eles vão para casa.


— Nós não?

— Imagino que tenha gostado do resort onde aconteceu nossa festa de noivado. Pensei
em voltarmos para lá.

— Ah! — Minha boca se abriu, entretanto, tudo o que saiu por ela foram alguns sons
desconexos.

Tinha medo de ficar sozinha com o Miguel, medo principalmente de não o odiar como
deveria. Enquanto uma parte de mim sabia que a aproximação tornaria aquele casamento mais
fácil, outra pensava que ceder a ele era como trair a Virginia.
Capítulo 40

O avião já estava nos esperando para partir quando chegamos ao aeroporto. Cabia ao
Sandro a responsabilidade de cuidar do restante da família e garantir a segurança deles, enquanto
eu iria aproveitar a melhor parte daquele casamento arranjado: minha esposa.

Mirelle estava tensa, nervosa, desviando o olhar o tempo todo e não tinha qualquer
habilidade em esconder esses sentimentos, mas dado ao que havia acontecido a ela, era bem
compreensível. Acreditava que ela se sentisse melhor quando percebesse que estava segura.
Santiago poderia ter aproveitado da situação quando estavam sozinhos e Adrián confiou a vida
da irmã a ele, mas o traidor teria que ser bem mais astuto ou burro para tentar me enfrentar. Ao
contrário da Mirelle, eu estava muito longe de ser uma donzela indefesa. Se ele ousasse vir até
nós novamente, pagaria com a vida.

— Eu não tenho nada! — Surpreendi-me com a fala da Mirelle quase saltando do assento
do avião depois de um bom tempo em silêncio.

— Como assim? — Franzi o cenho ao me virar para ela.

— Eu não trouxe uma mala, minhas coisas, minhas roupas...

— Seu irmão vai enviar para a minha casa.

— Mas eu não tenho nada para me trocar agora.


Um sorriso malicioso tomou conta dos meus lábios e a fez se encolher. Foi inevitável não
formar a imagem de Mirelle nua na minha mente e eu gostei do que vi, provavelmente seria
ainda melhor quando deixasse de ser minha imaginação e se tornasse real.

— Miguel... — murmurou meu nome, receosa.

— Existem lojas por lá, minha esposa.

Minha esposa... Apreciei a forma como aquelas duas palavras saíram da minha boca. Se o
casamento tinha alguns benefícios, acreditava que estava prestes a descobrir.

— Eu também não trouxe dinheiro.

— Tenho muito e agora também é seu.

As bochechas dela coraram ainda mais e Mirelle deixou escapar um sorriso sutil,
indicando que ela poderia estar um pouco mais tranquila em relação a tudo.

— Está bem... — soltou muito depois, quase como um suspiro de alívio.

Minha esposa não disse mais nada, apenas se virou para o lado de fora reparando nas
nuvens enquanto sobrevoávamos alguma parte da América Central.

Peguei meu celular enquanto ela estava distraída e mandei uma mensagem para o meu
irmão, a fim de saber como o restante da família estava. Por mais que confiasse nele,
principalmente se fosse necessário matar alguém, não poderia evitar alguma preocupação por tê-
los deixado em outro país.

Miguel:

Como está tudo por aí?

Sandro:

Acabamos de sair de uma festa sem os noivos.

Miguel:

Não precisam da minha ajuda para comer e beber.

Sandro:

Nesse ponto você tem razão, mas ainda é estranho. Nossa mãe não parava de reclamar
por você ter saído sem comparecer. “Quanta indelicadeza com os funcionários”. Mas eu sei que
queria ir logo para sobremesa rsrsrs.

Miguel:

Ainda estou no avião.

Sandro:

Quem precisa de uma cama?

Agda gosta de transar na poltrona.

Miguel:

Vou começar com calma.

Sandro:

Coitada, vai se iludir achando que você é delicado.

Miguel:

Você é afoito demais, tanto que engravidou uma mulher com quem nem queria se
comprometer.

Sandro:

Acidentes acontecem.

Miguel:

É melhor quando se pode evitá-los.

Sandro:

Se você diz...

Paola já foi embora, deve estar pegando o voo para a Espanha agora com aquele cara e o
Raul.

Miguel:

E vocês?
Sandro:

Já vamos sair também. Achei que a Alma iria querer aproveitar um pouco mais, talvez
conversar com o Adrián, mas foi a primeira a querer ir embora.

Miguel:

O atraso no casamento cansou a todos.

Sandro:

Você sabe que não é isso, irmão.

Alminha não quer se casar com esse cara.

Ele tem o dobro da idade dela, está numa cadeira de rodas...

Não podemos cancelar isso?

Miguel:

Sabe que não.

Sandro:

Eu não a quero sofrendo.

Miguel:

Também não, mas todos nós pagamos um preço por essa família.

Sandro:

Já basta a Paola longe da gente.

Miguel:

Quer o Ramón debaixo do nosso teto?

Sandro:

Meus filhos poderiam estar mortos por causa dele, então é claro que não quero.
Miguel:

Então.

Sandro:

Mas é diferente. Alma não se envolveu com o Adrián, você quem meteu ela nisso.

Miguel:

Ela vai ficar bem.

Sandro:

Eu realmente espero que sim, ou eu mesmo terminarei de matá-lo.

Miguel:

Cuidarei disso.

Sandro:

Okay.

Miguel:

Mantenha a família segura e me avisem quando estiverem em casa.

Sandro:

Pode deixar.

Boa foda para você rsrs

Nem respondi a última frase do meu irmão, apenas guardei o celular de volta no bolso
com um sorriso no canto dos lábios.

Estava ansioso por aquela lua de mel.


Capítulo 41

Senti que meu coração estava prestes a sair pela boca quando descemos daquele avião e
Miguel ofereceu a mão para mim. Em outro momento talvez não aceitasse, mas estava com as
pernas bambas e medo de cair.

Gentilmente, ele me conduziu até o banco de trás de um veículo grande e espaçoso, com
a lataria prateada. Só soltou os meus dedos quando eu me acomodei no assento e ele se
posicionou ao meu lado.

Tive outro arranco no peito quando a mão pesada pousou sobre minha coxa. Meu vestido,
daquela vez era curto e deixava um bom pedaço de perna à mostra. Por mais que ninguém
estivesse reparando, sentimento um tanto desconcertada e ao mesmo tempo com outras
sensações que não soube descrever, ou não quis, com medo de enfrentá-las.

A mão do Miguel era pesada e quente como ferro em brasas, parecia dominante demais
para um toque relativamente simples.

— Vamos direto para o hotel, chefe? — questionou o motorista.

— Sim.

— Mas e as roupas para mim? — atrevi-me a perguntar.


— Está tudo fechado agora.

Depois da sua fala eu olhei para fora e me dei conta do céu escuro e de que
provavelmente estávamos no meio da madrugada.

— Ah...

— Você não vai precisar de roupa alguma agora — disse num tom tão firme que parecia
uma conversa séria, talvez fosse.

Senti a vergonha me fazer arder pelo motorista ter escutado aquilo, ao mesmo tempo em
que uma pulsação incomum entre minhas coxas me desconcertou ainda mais. Ela aumentou à
medida que a mão do Miguel subia lentamente pela minha coxa até avançar para dentro da saia
do meu vestido.

Por reflexo, coloquei a minha sobre a dele, impedindo que avançasse ainda mais.

O interior do veículo estava na penumbra, mas consegui enxergar bem quando ele se
virou para mim e esboçou um sorriso.

Meu coração voltou acelerar porque eu tive certeza de que não conseguiria escapar dele
por muito mais tempo.

Quando o carro estacionou na entrada do resort onde havia me hospedado para a festa de
noivado, ninguém nos impediu, nem nos deteve ou mesmo seguiu. Miguel sabia exatamente para
onde deveríamos ir quando nos conduziu para o elevador.

Eu me sentia prestes a ter um troço, com o coração tão acelerado que chegava a doer.
Estava apavorada, mas no fundo havia um pouco de ansiedade que levava a minha cabeça a
latejar. Era um misto de certo e errado alucinante.

Não foi naquele quarto em que fiquei hospedada, ele era muito maior. Quando Miguel
acendeu a luz, eu vi a cortina balançar e percebi uma varanda com piscina particular. Era um
apartamento inteiro ali, com direito a sala de estar e jantar. Entretanto, a única coisa que eu
conseguia pensar era no fato de que apenas Miguel e eu estávamos ali dentro.

Meu olhar buscou o dele, apesar do medo, foi como se me atraísse como um ímã e eu
encarei o ar de predador prestes a me estraçalhar com os seus dentes. Engoli em seco em meio ao
medo que crescia exponencialmente, congelando meus membros inferiores.

— Você... — Tentei tomar fôlego. — Você vai me machucar.

Miguel me dirigiu um olhar sério enquanto balançava a cabeça em negativa.


— Não tenho qualquer intenção de fazer isso. — Estendeu a mão para tocar meu rosto e
contornou minha face com o polegar.

— Mas vai doer?

— Que tal começarmos com algo que não dói?

Ele nem esperou que eu respondesse antes de envolver meu pescoço com seus dedos
firmes, puxando-me na sua direção e tomando meus lábios com os seus. Sua língua entrou na
minha boca com uma pressão intensa, indo ao encontro da minha e não me deixando alternativa
a não ser corresponder ao beijo que me dominava completamente.

A forma como ele me apertava era dolorida e ao mesmo tempo prazerosa. Eu tinha raiva
daquele homem pelo que havia feito ao meu irmão e a Virginia, porém, não consegui pensar
nisso enquanto sua língua torcia a minha dentro da minha boca e me deixava completamente à
sua mercê. Era como se ele estivesse no deserto e eu fosse sua última gota d’água.

Estava completamente dominada pelo beijo quando sua mão livre agarrou minha coxa
novamente, dessa vez sem qualquer recato. Ninguém estava olhando e com o gesto, Miguel
demonstrou que eu não poderia mais fugir dele.

Eu era virgem, nenhum homem havia me tocado tão intimamente, meu irmão havia
garantido que ninguém se aproximasse, mas eu duvidava que meu hímen continuasse intacto
depois daquela noite. O pior de tudo era que cada célula do meu corpo vibrava afoita pela
experiência.

A mão pesada subiu, marcando minha pele até chegar a lateral da minha calcinha. Ele
enfiou os dedos dentro do elástico e a puxou com um movimento só, fazendo-a parar na altura
dos meus joelhos.

Arregalei os olhos e deixei escapar um gritinho contra os seus lábios.

Os sentimentos de pavor e excitação já eram o suficiente para me deixar tonta e o beijo


suprimindo minha respiração, piorava tudo.

Eu senti um calafrio, como uma pontada no meu sexo que se irradiou pelo corpo inteiro,
fazendo-me tremer. Imaginei que fosse o contato de uma brisa entrando pela varanda, mas não
tinha certeza.

Ainda com a calcinha na altura dos joelhos, Miguel apartou o beijo para que eu o
encarasse enquanto ele subia a saia do meu vestido, expondo completamente minha intimidade.

Ele colocou o indicador da mão livre na boca e o chupou me encarando de um jeito que
aumentou ainda mais o latejar entre minhas coxas.
O que ele está fazendo comigo?

Não sabia responder.

A mão desceu, tocando meu monte sem qualquer hesitação e abriu meus grandes lábios
até pressionar incisivamente o ponto de maior prazer do meu corpo. Eu não consegui fazer outra
coisa a não ser jogar a cabeça para trás e gritar.

— Ah!

— Abre mais as pernas. — Sua boca estava na minha orelha, com sua língua contornando
o lóbulo e não houve pelo do meu corpo que não se arrepiou.

Atendi ao seu comando e esse dedo desceu mais, entrando dentro de mim e fazendo meu
canal se contrair para envolvê-lo. Ele entrou e saiu duas, talvez três vezes antes do Miguel tirar
os dedos e deixar meu corpo com uma sensação de necessidade como se aquilo fosse o suficiente
para me viciar.

Movia a cabeça buscando o seu olhar e ele sorriu para mim de uma forma que me
provocou ainda mais. Eu deveria sentir pavor, mas o que ele estava despertando em mim era
muito diferente disso e me fazia querer mais.

— Como que disse... — Escorregou os dedos pelas minhas costas, abrindo o zíper do
meu vestido. — Você não vai precisar de roupa nenhuma. — Puxou meu vestido na parte da
frente e o fez escorregar pelo meu corpo, caindo aos meus pés e ele terminou de empurrar minha
calcinha.

Por reflexo, cruzei os braços na frente do corpo, querendo esconder meus seios, mas
Miguel agarrou meus pulsos e levantou meus braços para cima, expondo-os novamente.

— Você é minha e eu quero tudo. — Inclinou-se e lambeu meu mamilo.

A onda de tesão que irradiou pelo meu corpo me fez gemer.

Ele segurou minha cintura com as duas mãos e eu deixei a sandália pelo caminho antes de
cair sentada em uma poltrona, de frente para ele. Miguel se inclinou, voltando a me beijar
enquanto suas duas mãos cobriam meus seios, deixando meus mamilos ainda mais rígidos com o
estímulo. Seus polegares os pressionaram, fazendo movimentos circulares, enquanto seus dentes
raspavam meus lábios e o calor no meu corpo se tornava ainda mais intenso.

Sua língua deixou um caminho úmido, que me deixou com calafrios, por causa da brisa
que vinha do mar ao descer por entre meus seios e ir seguindo pelo meu ventre até que ele se
ajoelhou diante da poltrona e acomodou a cabeça entre minhas coxas. Suas mãos firmes
acomodaram minhas pernas sobre seus ombros.
Ele me olhou, provocando-me com um sorriso malicioso antes de umedecer os lábios e se
inclinar, soprando um ar quente. Eu me retorci, mas o peso de suas mãos, escorregando para as
minhas nádegas deteve meus movimentos.

— Miguel! — gritei o nome dele quando seus lábios se uniram aos do meu sexo e ele
começou a me chupar e lamber.

O prazer foi tão intenso que nem conseguia pensar que em algum momento eu senti
medo. Instintivamente eu rebolava contra o seu rosto enquanto a sua língua me fazia
experimentar a melhor sensação do mundo. A necessidade crescia de forma descontrolada em
mim e eu não o perdoaria se ele parasse.

Os pelos da sua barba feita provocavam uma leve cócega que me despertava ainda mais
prazer, ao passo que a sua língua subia e descia, dava voltas e pancadas ao entrar em mim.
Miguel parecia não ver nenhum problema em estar ajoelhado entre as minhas pernas daquele
jeito, me proporcionando o paraíso com a sua boca.

Eu queria gritar, a necessidade de tremer era grande e eu sentia uma tensão crescer até
que ela explodiu, numa enxurrada de sensações que me deixou ainda mais mole e meu corpo
inteiro formigando. Sem forças, pousei os braços sobre os da poltrona e Miguel se afastou
percebendo que havia alcançado seu objetivo.

Ainda me recuperando, derretida na poltrona, o vi se despir na minha frente, tirando cada


peça do terno, quase como um show de strip-tease. Sua pele era morena, brilhando com um
aspecto dourado, mas o que chamou a minha atenção foi o caminho de pelos que descia por entre
os gomos bem definidos do seu abdômen e indicavam o membro tão duro que parecia pulsar
sozinho.

Eu ainda estava com as pernas abertas quando ele segurou com uma mão no encosto da
poltrona e com a outra na face interna da minha coxa, inclinando-se na minha direção.

— Vou engravidar você.

Era uma previsão, uma promessa ou uma ameaça?

Deixou de ser importante quando aquela ponta firme e esponjosa esfregou na minha
entrada, desencadeando uma nova onda de pulsações pelo meu corpo.

Miguel não enfiou de imediato, esfregou do lado de fora, roçando no meu clitóris e
despertando uma nova onda de pulsações em mim.
Capítulo 42

Esfreguei o meu pau naquela boceta exposta para mim e mal via a hora de enfiar bem
fundo, devorando aquele canal que parecia deliciosamente molhado. Entretanto, precisava ser um
pouco mais paciente. Eu não desejava machucá-la.

Queria fazê-la gostar, desfrutar do momento para que não me rejeitasse quando eu fosse
atrás dela procurando por mais. Estávamos casados e sexo era uma parte fundamental disso.
Queria que aquela fosse apenas a primeira vez de muitas outras.

Soltei sua coxa e coloquei dois dedos dentro da boca, que ainda estava com gosto da
Mirelle e chupei-os, deixando-os úmidos antes de voltar a encará-la, colocando a mão na sua
vagina e introduzindo os dedos lentamente no seu canal.

Tão apertada...

Eu sentia ainda mais tesão enquanto seu canal se contraía, apertando os meus dedos.
Conseguia sentir seu hímen, mas precisaria de algo bem mais grosso para rompê-lo.

Com os dedos ainda dentro dela, permaneci inclinado sobre a poltrona e busquei sua boca
novamente, agarrando um dos seios macios com a outra mão. Ela gemeu contra meus lábios
enquanto eu ainda a penetrava com os dois dedos.

Sandro e Paola tiveram sorte, ou azar, dependendo da perspectiva, mas eu estava


determinado a voltar daquela lua de mel com meu próprio herdeiro.

— Assim dói? — Entrei e saí com os dedos bem lentamente.

Mirelle balançou a cabeça fazendo que não.

Incluí mais um dedo e ela se remexeu soltando um resmunguinho.

— Um pouco...

— Vem aqui. — Peguei-a no meu colo e levei comigo para a cama. Sentando-a na minha
perna. — Vou te pôr em mim e vai poder sentir o quanto meu pau entra em você.

Mirelle assentiu com um movimento de cabeça enquanto eu a ajudava a se acomodar


sobre minhas pernas. A cabeça do meu pau tocou sua entrada enquanto eu segurava sua cintura,
mantendo-a firme. Entrei apenas um pouquinho antes da Mirelle dar um gritinho.

— Dói!

— Só da primeira vez.

Ela me encarou com um olhar um pouco assustado e mordeu o lábio inferior ao descer
um pouco mais no meu volume.

Sustentei sua cintura com apenas uma das mãos e com a outra comecei a masturbá-la,
estimulando seu clitóris e Mirelle relaxou um pouco, descendo mais. Puxei-a para baixo e senti
meu pau rasgar sua virgindade ao alcançar a entrada do seu útero.

Ela gritou de dor, cravando as unhas nos meus ombros.

— Ai!

— Calma. — Beijei seu pescoço, sentindo o cheiro doce da sua pele.

— Você disse que íamos com calma. — Vi que lágrimas haviam brotado nos seus olhos.

— E vamos. — Segurei seu queixo antes de puxar sua boca de volta para minha. — Leve
o tempo que precisar para se acostumar comigo em você, porque agora o meu pau vai ficar muito
assim.

Ela deixou escapar um gritinho antes que eu puxasse sua boca de volta para mim,
envolvendo a sua língua e desfrutando de uma dança cada vez mais erótica.

Eu queria movimentá-la, a pressão do seu canal me envolvendo só servia para aumentar


ainda mais a minha excitação, mas esperei, deixei que ela começasse a rebolar lentamente
enquanto eu ainda a masturbava. Percebi que a dor estava dando lugar ao prazer quando ela
aumentava o ritmo.

— Delícia... — Mordi seu lábio.

Meu braço estava entre nossos corpos, garantindo que ela sentisse prazer, enquanto
Mirelle rebolava cada vez mais em mim. Senti a pressão dela aumentar, seus espasmos me
empurrar para fora e percebi que ela estava gozando novamente. Nesse momento, segurei sua
cintura com as duas mãos e retomei o controle, fazendo-a quicar em mim, sentando-se
deliciosamente no meu pênis até que eu explodisse, preenchendo-a com meu gozo.

Exausta, ela tombou sobre o meu peito, mas eu não me atrevi a sair daquele corpo quente
até que meu volume diminuísse.
Capítulo 43

Agora o meu pau vai ficar muito assim...

Passei o resto da noite com aquela frase na minha mente em um misto de vergonha e
excitação. Nos termos dele, Miguel estava afirmando que faria jus aos votos de sermos só uma
carne.

Sentia uma leve dor e ardência entre as pernas, essas sensações eram a minha garantia de
que eu não havia apenas sonhado, meu marido tinha tirado minha virgindade.

Parecia estranho eu ter gostado, como se houvesse uma pontada de culpa, ao mesmo
tempo em que era o certo entre um marido e uma mulher.

— Miguel... — Virei na cama, procurando por ele, mas encontrei um espaço vazio que
provocou uma inquietação incômoda no meu peito.

Sentei-me, puxando o cobertor para cobrir minha nudez e olhei de um lado para o outro,
procurando pelo meu marido, mas não havia nenhum sinal dele.

— Miguel?

Vi um vulto masculino atrás da cortina branca na porta que dividia o quarto da varando
com a piscina e pensei que pudesse ser ele, mas o homem que entrou no quarto segurando uma
arma não era meu marido.

— Ah! — soltei um grito agudo, encolhendo-me na tentativa de me proteger, mas pelada


por debaixo daquele cobertor, nunca me senti tão exposta.

Eu nunca havia visto aquele homem antes, mas ele avançou na minha direção.

Antes que ele atravessasse completamente a distância da varanda até a cama onde eu
estava, ouvimos um barulho na porta que fez nós dois virarmos e Miguel entrou por ela, com
uma sacola de loja que deixou cair assim que viu o sujeito armado.

Meu marido avançou para cima do cara, agarrando o braço com a arma e um tiro foi
disparado, acertando a parede atrás da cabeceira da cama onde eu estava. Gritei de pavor
novamente enquanto o Miguel lutava com o cara.

Vi meu marido atingir o invasor com um soco na boca do estômago, fazendo-o soltar a
arma, que rolou pelo chão. Antes que ele se recuperasse, Miguel o atingiu novamente no rosto,
mas acabou tomando um chute.

Os dois se digladiavam diante de mim de uma forma agressiva que me deixava cada vez
mais assustada. Miguel tentou tirar a própria arma, mas ela também caiu, então ele esmurrou o
invasor novamente, dando um soco de direita, depois um de esquerda e por fim outro que o
jogou sobre a mesa de centro.

Antes que o sujeito conseguisse se levantar, meu marido subiu em cima dele e agarrou
seu pescoço, apertando-o até que o sujeito começasse a se debater. Levou alguns instantes ou
uma eternidade até que ele caísse sem vida.

Suado e ofegante, Miguel se levantou e veio na minha direção, parando na beirada da


cama e estendendo a mão para tocar meu rosto.

— Você está bem?

Apenas balancei a cabeça em afirmativa. O choque era tão grande que nem me permitia
abrir a boca para dizer uma frase completa.

— O... Onde... Onde você... Onde você estava? — gaguejei.

— Busquei algo para você vestir antes de sairmos às compras para que possa escolher o
que gosta mais. — Indicou a sacola jogada na entrada. — Estava dormindo tão bem que não quis
acordá-la.

Queria algo para vestir, ao mesmo tempo em que ficar sozinha novamente me apavorava
demais.
— Quem é esse homem? — Inclinei-me para me certificar de que ele não estava se
mexendo.

— Eu não sei. — Miguel também encarava o homem com uma expressão de


questionamento. — Mas vou descobrir.

— Não me deixa aqui — supliquei, tensa.

Todos os meus suspiros em relação a minha noite de núpcias desapareceram quando as


lembranças na minha mente foram substituídas pelo sequestro e tudo o que havia acontecido
enquanto eu estava em meio aos homens do Santiago.

— Eu não vou — Miguel prometeu, estendendo a mão para mim.

Dessa vez, não pensei duas vezes antes de aceitar e ele me puxou para mais perto,
envolvendo-me em seus braços e meu coração foi aos poucos desacelerando.

— Por que não se troca? — Ele afagou meu cabelo, fungando o topo da minha cabeça. —
Vamos descer para tomar café da manhã.

— E esse cara? — indiquei o corpo que ainda estava no meio do nosso quarto.

— Meus homens darão um jeito nele.

— E se tiver mais de onde veio esse?

— Vou garantir que fique segura — prometeu e eu senti que ele tinha o necessário para
cumprir.

Assenti com um movimento de cabeça e Miguel pegou a sacola, acompanhando-me até a


porta do banheiro para que eu pudesse me trocar. Assim que eu entrei no cômodo, tranquei a
maçaneta, dando-me a ilusão de estar segura.

Acreditei que após o meu casamento, ataques como aquele não aconteceriam mais a mim
ou qualquer outro membro da minha família, mas eu parecia estar errada.
Capítulo 44

Enquanto Mirelle se trocava, encarei o corpo do sujeito que eu acabara de matar. Isso não
estava nos meus planos de lua de mel e me deixou muito puto. Se eu tivesse demorado alguns
minutos a mais para chegar, algo irreversível poderia ter acontecido.

Era meu dever manter minha esposa segura e, a possibilidade de falhar nessa tarefa era
muito desagradável.

Seja lá quem era o responsável por atrapalhar a minha lua de mel teria que pagar bem
caro por isso.

Esperei que Mirelle saísse do banheiro. Ela havia ficado simplesmente perfeita no vestido
florido que eu havia comprado na loja de conveniências do resort. O tecido caía como raios de
sol ao redor da sua cintura e o decote mostrava o suficiente para me fazer desejar arrancá-lo,
porém, com a ameaça, eu teria que esperar.

— Vamos. — Estendi a mão para ela.

— Sim.

Mirelle observou com o canto de olho o corpo caído e apressou-se para seguir na frente.

Enquanto pegávamos o elevador, eu peguei meu celular e mandei uma mensagem para o
meu braço direito.

Miguel:

Fomos atacados, aumente a segurança.

Javier:

Por quem, chefe?

Miguel:

Não sei, preciso que você descubra e se livre do corpo no meu quarto.

Javier:

Farei isso. Onde o senhor está?

Miguel:

Indo para o restaurante.

Javier:

Mandarei homens para lá.

Miguel:

Certo.

Assim que saímos do elevador eu conduzi a Mirelle para uma mesa vazia no restaurante e
meus olhos percorreram o ambiente, vendo alguns homens entrar e ficarem margeando as saídas
do ambiente. Troquei olhares com eles, que assentiram, estavam ali a mando do Javier para
manterem a mim e a minha esposa em segurança.

— E se tentarem nos matar de novo? — murmurou Mirelle ao pegar um guardanapo de


pano e colocá-lo no colo.

— Não vão chegar tão perto novamente.

— Mas...
Inclinei-me sobre a mesa e pousei minha mão sobre a sua, atraindo a sua atenção.

— Confie em mim.

Ela ficou um bom tempo com o olhar preso ao meu antes de assentir.

— Será que meu irmão está bem?

— Adrián pode proteger a si mesmo.

— Ele está em uma cadeira de rodas.

— Não duvide das habilidades do seu irmão e aposto que devido ao que aconteceu, ele
contratou capangas melhores.

— Tomara...

Ela estava tensa e, devido ao que havia acontecido mais cedo, eu nem poderia julgá-la.
Estava furioso por alguém ter chegado tão perto enquanto ela estava sob minha proteção.

— Acho melhor sairmos para comprar roupas para mim em outro momento, ou esperar as
coisas que o meu irmão enviou chegarem.

— Elas vão direto para a minha casa.

— Ah!

— Vamos ficar bem.

— Mas...

— Aquele sujeito está morto.

— E se tiver mais?

— Eles não serão tão estúpidos ao se aproximarem de nós quando estivermos com a
proteção dos meus homens. — Peguei a mão dela e trouxe até meus lábios, beijando o dorso.

Mirelle inspirou profundamente e seus lábios se torceram em um sorriso.

— Está bem.

— Vamos comer agora. Quero que reponha suas forças. — Lancei um olhar para ela e
suas bochechas coraram.
Capítulo 45

Apesar de tudo o que o Miguel havia falado, não conseguia evitar o nervosismo que me
corroía. Aquele sujeito havia chegado perto demais e após o que o Santiago havia feito, tinha
muito medo de que aproveitassem de mim novamente.

Tinha que me lembrar de que o meu marido era o homem que costumava botar medo nas
pessoas e se ele havia prometido me proteger, tudo ficaria bem.

Fomos de carro até um shopping center, seguidos por outro com vários homens. Por mais
que a presença de tantos seguranças me incomodasse um pouco, sabia o quanto eles eram
necessários para garantir a minha segurança e a do Miguel. Não queria que fôssemos pegos de
surpresa outra vez.

Era um lugar lindo, uma galeria a céu aberto com direito a um riacho artificial no centro.
Havia muitas lojas, principalmente as mais famosas do mundo de roupas, acessórios e
cosméticos.

Encantada, aproximei-me do parapeito, observando a água que corria no riacho que


dividia a rua em duas partes.

Miguel se aproximou de mim e me envolveu pela cintura, colando seu corpo atrás do meu
enquanto sua boca ia para o meu pescoço e me arrepiava.
— Miguel!

— Sim...

— As pessoas estão olhando.

— E daí?

— Você não tem vergonha?

— Nem um pouco. — Segurou minha cintura e me girou, fazendo com que eu ficasse de
frente para ele enquanto seu corpo forte e volumoso me prensava contra a superfície de metal.

— Mig...

O peso dos seus lábios me silenciou, sua língua envolveu a minha e quando me dei conta,
estava correspondendo ao beijo, passando meus braços ao redor dos seus ombros. Seu corpo se
esfregava no meu e descobri o quanto eu queria mais, porém, precisava me lembrar que
estávamos em um local público.

— Para...

Ele deixou escapar uma risadinha ao morder meu lábio inferior e se afastar.

Seus dedos se entrelaçaram nos meus e me guiaram para a entrada de uma loja de roupas
femininas.

Eu ainda o culpava pelo que havia acontecido com a Virginia, mas não poderia negar que
era cada vez mais fácil ficar na sua companhia.

Assim que pisamos no interior da loja, uma das vendedoras veio em nossa direção e eu
não gostei da forma como ela olhou para o meu marido.

Mirelle, o que você está fazendo?

— Em que posso ajudá-los?

— Minha esposa quer escolher alguns modelos.

— Esposa.

— Sim. — Estufei o peito.

— Ah... Certo! Vamos ver os modelos que mais agradam você.


— Obrigada.

Miguel soltou minha mão, indo até os seus homens, que estavam na porta da loja.
Ninguém entraria ali sem passar por eles e isso me deixou segura.

— Gosta de modelos mais discretos ou sexys? — A vendedora me lançou um olhar que


me deixou um tanto envergonhada.

— Discretos, por favor.

— Ah, com um bonitão daquele você pode ousar um pouco mais.

— É melhor que só ele veja.

— Se você pensa assim. — Ela deu de ombros.

— Aquele vestido ali! — Apontei para o primeiro que vi, tentando desviar daquele
assunto.

Ainda estava absorvendo meu grau de intimidade com o Miguel e não queria falar sobre
ele com outras pessoas, ainda mais uma estranha.
Capítulo 46

Mirelle estava distraída sendo atendida pela vendedora quando me aproximei do Javier
com uma expressão mais séria. Apesar de ter conseguido fazer com que ela ficasse mais
descontraída, eu ainda não estava nem um pouco tranquilo ao pensar no que havia acontecido
mais cedo.

— Onde está o corpo? — indaguei ao cruzar os braços.

— No fundo do oceano.

— Descobriram para quem ele trabalhava.

— Ainda não.

— Preciso de um nome, Javier. De preferência, uma cabeça. Minha mulher poderia ter se
machucado, ou algo pior.

— Estamos trabalhando nisso, chefe.

— Preciso que lidem com essa situação logo. Entre em contato com os homens da casa e
assegure-se de que a minha família não corra perigo.

— Farei isso. Seja lá quem for não vai se aproximar de novo.


— É melhor que não.

— Miguel! — Mirelle chamou e eu me virei para observá-la.

Ela estava com um vestido de renda leve e rosa que deixava ainda mais charmosa a sua
pele bronzeada, mas ainda pensava nela sem nada.

— É lindo... Você é linda.

— Obrigada. — Corou. — Vou ficar com esse.

— Sim e escolha outros.

— Está bem.

Mirelle se colocou para dentro do trocador e eu encarei o Javier novamente. Aquele


homem estava comigo há tanto tempo que eu nem lembrava de quando era a minha vida sem a
presença daquele homem. Desde que eu era uma criança meu pai havia o designado para a minha
proteção e ele havia feito por merecer minha confiança.

— Sua família está bem.

— Obrigado.

— Avise o Sandro.

— Sim.
Capítulo 47

Coloquei um vestido, outro, alguns shorts e blusas e escolhi várias peças.

Miguel pagou por todos eles e depois saímos da loja com os homens dele carregando
todas as sacolas. Seguimos por entre as lojas até um luxuoso restaurante onde paramos para o
almoço.

Gentilmente, ele puxou uma cadeira e esperou que eu me acomodasse antes de dar a volta
e se sentar diante de mim.

Um garçom se aproximou e nos entregou o cardápio.

Havia muitas opções de massas e frutos do mar que me fizeram salivar. Adrián não me
levava para sair com frequência e nas vezes que passeava com a minha mãe, não me sentia tão
livre.

— Gosto de camarões — disse ao dedilhar o cardápio.

— Existem muitas opções — falou Miguel.

— Percebi. — Sorri sem jeito enquanto o encarava e acabei colocando uma mecha do
cabelo atrás da orelha.
No fundo, havia uma culpa pela liberdade com ele estar fluindo tão facilmente, mas era
tão estranhamente natural que eu nem tinha controle.

Estamos casados... Minha consciência brincava comigo, relembrando-me do óbvio.

— Esse risoto parece uma boa opção. — Percorreu com o dedo a folha do cardápio e eu
pensei em como era ter aquela mão pesada escorregando pelo meu corpo.

Mirelle!

Sentia como se houvesse uma coisa errada comigo, porque eu não conseguia mais olhar
para ele da mesma forma.

— Esposa... — Senti a mão dele tocar minha coxa por debaixo da mesa e eu levantei a
cabeça, encarando-o enquanto minhas bochechas ardiam.

— Sim...

— Pode ser o risoto?

— Ah...

— O garçom está esperando.

Quê?!

Foi como se eu tivesse tomado um choque que me arremessou contra o encosto da


cadeira e fez com que ela balançasse.

Foi como se eu houvesse sido acertada por um balde de constrangimento quando notei o
sujeito de terno parado ao lado da mesa, aguardando pelos nossos pedidos, enquanto eu me
derretia inteira para o meu marido como se fôssemos as duas únicas pessoas no mundo.

Miguel deixou encapar uma risada baixa que me deixou ainda mais envergonhada.

— Sim... Sim! O risoto por favor — falei qualquer coisa para que o garçom saísse o mais
rápido possível.

— E o senhor? — O garçom teve a decência de fingir que nada havia acontecido e se


virar para o Miguel.

— Um filé mignon malpassado ao molho Roti.

Finalmente ele assentiu com um movimento de cabeça e se afastou de nós.


— Está tudo bem com você, Mirelle? — questionou Miguel quando parecia não haver
mais ninguém olhando.

— Não...Foi constrangedor.

— Não deveria se preocupar tanto.

— Ele deve estar rindo de mim agora.

— Posso matá-lo por ousar fazer isso.

— Não! Pelo amor de Deus! — gritei desesperada.

— Foi só uma brincadeira — Miguel voltou a rir.

— Não fale isso, nem brincando.

— Está bem.

O garçom voltou para perto de nós e eu fiquei em silêncio, tinha medo de que ele sofresse
algum tipo de consequência, porque ainda não sabia o limite das reações do Miguel e até onde
ele estava disposto a ir.

É melhor nem descobrir...

Fomos servidos com uma garrafa de vinho tinto, uma dose na taça de cada um e o garçom
depositou a garrafa no canto da mesa antes de se afastar novamente.
Capítulo 48

Preciso admitir que, apesar da tensão que eu estava sentindo ao sermos atacados
novamente, foi um passeio divertido, principalmente devido ao desconcerto da minha esposa.

Aquele casamento havia começado de um jeito conturbado, mas eu estava cada vez mais
certo de que iríamos nos entender para levar a relação ao ponto do aceitável para ambos. Ela era
bonita, simpática e eu estava me divertindo, gostava disso.

No fim das contas, havia me saído muito bem naquele acordo com o irmão dela.

Já era fim da tarde e o sol estava baixando, tingindo o horizonte de alaranjado quando
voltamos para o resort. Com o porta-malas cheio de sacolas, Mirelle não poderia mais reclamar
de não ter o que vestir, por mais que eu preferisse vê-la sem nada.

Entramos no quarto e Javier, mais dois homens depositaram as sacolas em cima do sofá
antes de deixarem o cômodo. Assenti para eles com um movimento de cabeça antes de esperar
que saíssem para trancar a porta.

— O que acha de entrarmos naquela piscina. — Virei-me para a minha esposa, sorrindo
ao encará-la e me deliciando com o rubor das suas bochechas.

Ela desviou o olhar para baixo, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha de um
jeito delicado e ao mesmo tempo sensual, que aumentou ainda mais minha vontade de beijá-la.
— Vou colocar o biquíni novo...

— Não... — dei um passo na direção dela, segurando sua cintura e a puxando para mim.
— Você não precisa colocar nada.

— Mas, Miguel...

Segurei seu queixo e levantei seu rosto para que ela me encarasse.

— Quero você nua.

— Alguém pode ver...

— Ninguém vai ver além de mim.

— Isso parece...

— Delicioso. — Aproximei minha boca da dela, roçando nossos lábios levemente em


uma provocação.

— Eu diria indecoroso.

— Não importa. — Com a outra mão, agarrei a bunda dela sob o vestido sem me
importar em ser mais delicado.

— Miguel...

Minha palma contornou a curvatura delimitada pela saia do vestido.

Voltei a roçar minha boca na sua até que a minha língua forçou passagem. Soltei seu
queixo e minhas duas palmas pousaram sobre suas nádegas, apertando-as e pressionando o
delicado corpo da Mirelle contra o meu.

Ela gemeu baixo por causa da minha língua dentro da sua boca, mas não tentou me
afastar enquanto eu subia a saia do vestido para tocar diretamente na sua pele. Soltei o tecido
para desfazer o laço atrás do seu pescoço e puxei o vestido para o chão, retomando o beijo logo
em seguida quando minhas mãos pousaram sobre os seios redondos de mamilos arrebitados.

Mirelle tombou a cabeça para trás enquanto eu descia traçando um caminho de beijos,
chupões e mordidas até minha língua retocar a ponta do seu peito.

— Não íamos para a piscina?

— Ainda vamos chegar lá.


Lambendo e sugando o seio dela, movi minhas mãos para tirar minha camisa de botões e
a bermuda, com o meu pau já latejando dentro da cueca, suplicando para ser liberto.

Nus, puxei-a de volta, colando nossas peles enquanto voltava a desfrutar do sabor do seu
beijo. Minhas mãos não tinham controle iam e voltavam pelas curvas do seu corpo, explorando
cada parte. Torcia seus mamilos com as pontas dos dedos e as afundava na sua bunda macia.

O beijo era urgente, esfomeado, minha língua não dava paz a dela, mostrando-se cada vez
mais feroz e a pressão dos lábios parecia quase o suficiente para fundi-los.

Quando a sua boca escapou da minha, buscando fôlego, virei-a de costas e levantei seu
cabelo para morder sua nuca, enquanto pressionava meu pau duro contra a sua bunda.

A minha fome por ela parecia tão urgente, que eu talvez não me contivesse até chegarmos
à piscina.

Fiz com que Mirelle desse mais passos cambaleantes para frente até que eu a pressionei
contra a parede. Seus seios, amassados contra a superfície, pareciam ainda maiores e mais
deliciosos. Atrevido, toquei-os antes de escorregar lentamente até a sua cintura.

— O que vai fazer comigo? — Deixou escapar com a voz rouca.

— Te comer. — Dei uma risadinha provocativa ao encaixar meu pau entre suas coxas e
esfregá-lo em seus grandes lábios antes de penetrá-la.

Mirelle gemeu, se retorcendo enquanto eu a provocava, mordiscando seus ombros e nuca.

Puxei sua cintura mais, fazendo com que minha esposa empinasse mais a bunda para que
eu tivesse ângulo para enfiar nela.
Capítulo 49

Eu cravei as unhas na parede quando senti uma leve dor com o Miguel entrando em mim
e deslizando até o mais fundo que aquela posição permitia. A dor foi bem menor daquela vez e
ela começou a se dissipar quando ele iniciou os movimentos. Todo meu corpo se aqueceu e
minha excitação aumentou quando ele segurou meu cabelo num rabo de cavalo para mordiscar e
beijar minha nuca e ombros.

Oh, isso é bom...

Tinha tanto medo de que ele pudesse me machucar que nem havia pensado no quão
delicioso pudesse ser transar com ele.

Oh, céus!

Ahhhhh!

Enlouqueci quando seus dedos fortes afundaram na minha cintura e ele ficou ainda mais
fundo em mim numa estocada firme que fez todo meu ser vibrar.

Eu não tinha amigas além da Virginia e não conversávamos sobre sexo porque eu não
queria saber da intimidade dela com meu irmão. Certamente minhas buscas pela internet não me
prepararam para aquele momento.
— Gostosa... — Ouvi-lo sussurrar contra a minha orelha me deixou com ainda mais
tesão.

— Ah, Miguel...

Mais rápido, mais forte, ele me puxava contra sua pélvis e o impacto da minha bunda na
sua musculatura fazia todo o meu ser vibrar. Havia o som de estalos ecoando pelo quarto que
eram como palmas a cada estocada dele.

Minhas mãos escorregaram pela parede, arranhando-a enquanto eu esmorecia em meio ao


prazer. A cada impacto, senti-me cada vez mais perto do ápice. Senti o líquido dele esguichar
para dentro de mim, mas Miguel não parou, indo mais fundo e mais gostoso até que eu joguei a
cabeça para trás, tombando-a em seu ombro ao ceder a deliciosa explosão do meu orgasmo.

Quando ele desencaixou, senti o esperma escorrer por entre minhas coxas até que ele me
entregasse alguns lenços de papel.

Minhas pernas estavam completamente bambas e eu dei alguns passos cambaleantes para
o lado, mas não caí porque ele me segurou.

— Sem cair.

— Ainda estou recuperando o controle do meu corpo.

— É assim mesmo.

Achava que a intimidade de um casal pudesse ser constrangedora, mas era surpreendente
como poderia fluir fácil ao ponto de já me sentir à vontade por estar nua diante dele.

E a forma como ele me olhava... Ah, céus!

Era difícil não ficar louca com o calor que se irradiava pelo meu corpo e todo aquele
desejo. Eu definitivamente não estava pronta para isso.

— Vamos para a piscina?

Tudo que eu consegui fazer foi balançar a cabeça fazendo que sim.

Enquanto eu entrava na água, morna por ter recebido o sol forte o dia todo, Miguel foi até
um pequeno bar que havia num balcão perto de nós e preparou drinques. Logo ele chegou perto
de mim e me entregou uma taça.

— Obrigada. — Tentei sorrir depois de bebericar o líquido e sentir o álcool descer


arranhando minha garganta.
— Por nada. — Ele se sentou na beirada da piscina, perto de mim.

— Então além de chefe de Cartel você é mixologista — brinquei.

— Mais ou menos isso.

— Interessante.

— Ainda tenho muitos talentos para te mostrar. — Piscou para mim de um jeito
provocativo.

— Devo me sentir ameaçada?

— De forma alguma.

— Que bom. — Bebi um pouco mais enquanto reparava como os raios de sol alaranjados
do pôr do sol faziam com que a pele dele brilhasse ainda mais, como se o moreno se tornasse
quase dourado.

Miguel se inclinou, aproximando a boca da minha, mas a manteve a uma pequena


distância, sem me beijar.

— Não precisa se sentir ameaçada.

— Não? Nem quando disser que vai me comer?

— Talvez só nessas vezes... — Umedeceu os lábios e me laçou um olhar que me fez


tremer de dentro para fora.

— E vai acontecer muito?

— Bastante..., mas a culpa é toda sua.

— Minha?! — Fingi espanto enquanto me divertia com o rumo daquela conversa. — Por
quê?

— Por ser gostosa.

Sorri com as bochechas ardendo.

Deveria me sentir um pedaço de carne, mas gostei de como a nossa troca de olhares fluiu
durante aquela conversa pervertida.

Miguel gostava disso e descobri que eu também.


Capítulo 50

Pedi nosso jantar no quarto e ainda estávamos nus quando fomos nos deitar. Mirelle não
demorou a dormir e confesso ser o responsável pelo seu cansaço.

Estava acomodado ao seu lado na cama quando puxei meu celular do móvel de cabeceira
e mandei uma mensagem para o meu irmão.

Miguel:

Como está tudo por aí?

Sandro:

Se sentindo culpado por estar transando ao invés de cuidar da família?

Miguel:

Não seja idiota!

Sandro:
Estamos bem.

Diego escalou o armário da cozinha hoje e a Agda quase teve um infarto. Fora isso,
estamos bem.

Miguel:

Ninguém rondando a casa?

Sandro:

Não.

Miguel:

Menos mal.

Sandro:

Acho que está traumatizado com o Ramón.

Miguel:

Quem dera se ele fosse nosso único inimigo.

Alguém nos atacou aqui e ainda não sei a quem devo responsabilizar.

Sandro:

Vai ver o cara só errou de quarto.

Miguel:

Rá Rá

Sandro:

Aproveite sua lua de mel.

Miguel:

Estou fazendo isso.


Sandro:

Então não enche.

Miguel:

Só estou preocupado com a família.

Sandro:

Não estaria se confiasse mais em mim.

Miguel:

Eu confio.

Sandro:

Sei...

Parei de responder ao idiota do meu irmão quando ouvi uma batida na porta.

Mirelle se remexeu ao meu lado, mas não acordou. Levantei-me antes da próxima batida
para que o barulho não despertasse a minha esposa. Peguei uma bermuda jogada sobre a poltrona
e enfiei-me nela antes de abrir a porta, deparando-me com o Javier no corredor com uma
expressão que não era das melhores possíveis.

— O que aconteceu, homem? — fui logo perguntando ao cruzar os braços.

— Acho que o senhor precisa ver por conta própria.

— Onde?

— Na praia.

— Me mostre. — Fechei a porta atrás de mim.

Javier fez um movimento com a cabeça para que eu o seguisse e saímos do resort para a
praia em frente. Apesar de ela pertencer ao empreendimento, era um local aberto e de fácil
acesso onde qualquer um poderia passar.

Havia cerca de três homens, meus soldados, cercando algo no chão e eles se afastaram,
abrindo espaço para que eu visse quando me aproximei.
— Que porra é essa?! — exclamei ao me deparar com algo mais do que bizarro.

Levou um tempo para que eu conseguisse distinguir a criatura com o pescoço degolado.
Era um cachorro de porte pequeno, usando um vestido de noiva, manchado com o sangue que
provavelmente pertencia ao animal. Ao seu redor, na areia, estava escrito com o mesmo sangue:
Puta, traidora.

Ah, merda!

Meu coração começou a acelerar quando cheguei à conclusão sobre algo que já deveria
estar distante dos meus olhos há tempos.

— Eu não sou o alvo...

Mal terminei a frase antes de escutar um grito agudo.

— Mirelle!

Disparei correndo de volta para o quarto do hotel o mais rápido que consegui,
arrombando a porta com um chute entrando com tudo sem me dar ao trabalho de abri-la com um
cartão-chave.

Assim que meus pés tocaram o chão do quarto, avistei um homem em cima da minha
esposa, com uma faca apontada contra o pescoço dela, numa região bem próxima de onde o
animal fora degolado.

— Fique longe dela! — rugi.

Minha entrada abrupta fez com que ele recuasse com o susto e hesitasse por alguns
instantes. Antes que eu avançasse para cima dele, escutei o som de um disparo e o sujeito foi
atingido entre os olhos, tombando para trás e caindo da cama.

Mirelle gritou ainda mais com o pânico, tendo o rosto sujo de sangue mais uma vez.

Virei-me brevemente para trás, vendo o Javier ainda com a arma apontada e assenti com
um movimento de cabeça, agradecendo antes de ir na direção da minha esposa.

Ela estava tremendo, assustada, com a boca entreaberta e os olhos arregalados. Coberta
apenas por um lençol manchado de sangue. Puxei-a para os meus braços, envolvendo-a no meu
peito e conseguia sentir o quanto seu coração estava acelerado. Não era a primeira vez que
atentavam contra a vida dela e tudo estava ficando cada vez mais perigoso.

— Mi... Miguel... — murmurou ainda em pânico.


— Está tudo bem agora. — Beijei-a no topo da cabeça.

— Ele ia... Ele ia me... — Mirelle não conseguia terminar a frase.

— Calma, ninguém vai machucar você.

— Mas...

— Eu prometo. — Apertei-a com ainda mais força contra o meu corpo, tentando fazer
com que o meu coração mais calmo desacelerasse o seu.

Estava muito puto com o que havia acontecido, mas não queria deixá-la ainda mais tensa
e preocupada.

— O que quer que eu faça, chefe? — Javier ainda estava na porta do quarto, esperando
por minhas ordens.

— Vamos para casa.

— Tem certeza?

— Sim. — Apertei Mirelle ainda mais contra mim, enquanto ela se aninhava como um
animalzinho acuado. — Lá podemos nos proteger melhor e pensar num plano para pegar o
desgraçado por trás disso.

Javier assentiu com a cabeça.

— Vou avisar os homens. Partiremos quando?

— Em uma hora.

Ele concordou com um aceno e seguiu, saindo de vista.


Capítulo 51

— Quer tomar um banho? — Miguel afagou meu rosto enquanto eu puxava o seu braço
ainda mais para perto, garantindo que poderia usá-lo como escudo se outra ameaça aparecesse.

— Na... Não... — Ainda tremia muito devido ao pânico e mal conseguia formular uma
frase completa. — Não... Não sai de perto... Por favor...

— Eu vou ficar bem aqui — garantiu.

Miguel não poderia se afastar de jeito nenhum. Todas as vezes que ele me deixava
sozinha algo terrível acontecia.

— Pode tomar banho. Eu vou cuidar de você — assegurou.

— E se alguém aparecer?

Miguel se inclinou, abrindo a gaveta do móvel de cabeceira e tirando um revólver.

— Morre — afirmou me fazendo engolir em seco.

Eu já tinha visto corpos demais para poucos dias e isso não fazia com que eu me sentisse
mais segura. Era como se desde o momento em que entrei naquele carro com o Santiago, tudo
havia mudado para muito pior.
Santiago...

Será que ele era o responsável pelos ataques? Nenhum dos homens havia dito nada,
apenas tentado me matar, mas quem mais teria motivos para atentar contra minha vida?

Eu me levantei com todo o receio do mundo, vendo o homem caído e a poça de sangue
que se formara ao redor da cabeça. Por mais que eu soubesse dos negócios do meu irmão, ele
havia me privado de ver coisas como aquela, porém, só naquele quarto em pouco mais de vinte e
quatro horas, dois caras haviam morrido.

Entrei debaixo do chuveiro com o coração ainda doendo devido ao tanto que ele havia
saltado. A água quente deveria me tranquilizar, mas eu precisaria de bem mais do que isso.

Pela minha cabeça havia passado algumas possibilidades de como seria a minha lua de
mel, mas nenhuma chegou perto de alguns dias regados de sexo e sangue.

Miguel permanecia parado na porta do banheiro, ele estava apenas de bermuda. Em outro
momento eu percorreria os gomos do seu abdômen, mas naquele só queria terminar o banho mais
rápido possível. O fato de ele estar olhando para fora com uma arma na mão, não me
tranquilizava em nada, porque sinalizava uma ameaça.

Quando poderemos ficar tranquilos?

Após a morte da minha cunhada, essa parecia uma realidade que a minha família não
teria mais.

Será que o Adrián está bem?

Apesar de meu irmão ter me colocado no meio de tudo aquilo, ainda me preocupava com
ele e torcia para que estivesse bem.

Troquei de roupas, enquanto o Miguel ainda vigiava. Quando um dos homens dele
apareceu na porta, ele aproveitou para se vestir também. Depois, seguimos para o carro que nos
esperava na frente do resort.

Ainda estava muito escuro, mas eu não fazia ideia de quantas horas eram, apenas que eu
estava com muito sono. Apesar disso, devido ao que acontecera, dificilmente eu seria capaz de
dormir.

Escorado no assento ao meu lado, Miguel enticou a mão, tocando a minha e eu tomei a
liberdade de acabar com a distância entre nós e me recostar no seu peito, sentindo o seu coração
calmo desacelerar o meu.

Dadas as circunstâncias em que nos casamos, jamais imaginei que algo assim fosse
acontecer. Estar perto dele fazia com que eu me sentisse segura, protegida e não queria que
Miguel se afastasse, pois coisas ruins aconteciam.

Eu não era tola ao pensar que poderia me proteger sozinha naquele mundo de feras
sanguinárias, nem fora preparada para isso. Adrián não havia me ensinado a atirar nem
contratado um professor de artes marciais. Odiava a certeza de que não passava de uma isca
fácil.

Se não fosse pelo Miguel aparecendo no momento certo, eu já teria morrido ao menos
umas três vezes.

Miguel acreditava que voltando para casa dele poderia garantir a minha segurança, mas
eu não estava tão certa disso. Na verdade, só conseguia sentir medo. Quem não sentiria?

Ele afagou meu rosto, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e eu
movi meus olhos em sua direção, encontrando os dele e recebi um selinho calmo que validava
uma promessa.

— Vai ficar tudo bem.

— Mas...

— Vou pegar quem mandou esses caras.

— Você promete?

— Sim.

Deitei a cabeça no seu ombro e acabei cedendo ao cansaço que me fez voltar a dormir.
Capítulo 52

Eu não estava contente com a interrupção da minha lua de mel naqueles termos. Fizera
planos para passar ao menos mais alguns dias em Cancun, mas depois dos ataques e da morte
bizarra daquele cão, não era prudente permanecer em um local onde estávamos expostos. Apesar
de todos os meus homens vigiando os perímetros do resort, Mirelle foi atacada duas vezes e eu
não poderia deixar que acontecesse novamente.

De uma coisa eu tinha certeza, não importava quantos eu tivesse que matar, iria cumprir a
promessa de mantê-la segura.

Na minha casa, além dos meus homens de confiança, havia um sistema de segurança
mais sofisticado e uma entrada limitada e bem controlada de pessoas. Ninguém passava pelos
muros sem que eu soubesse. Os empregados nos serviam há anos e eu conhecia muito bem a vida
de cada um deles para garantir que não agiriam contra nós. Todos sabiam que o preço por me
trair era alto.

Assim como eu protegia as minhas irmãs, ou havia tentado, cuidaria da minha esposa e
arrancaria a cabeça do responsável pelos ataques contra ela.

Após desembarcarmos na pista de pouso particular, seguimos de carro até em casa e,


felizmente, o comboio não foi perseguido.

O sol já havia nascido e, quando entrei de mãos dadas com Mirelle, encontrei minha mãe
e Alma sentadas na sala, juntamente com Agda, a esposa do meu irmão, que estava brincando
com seus filhos gêmeos no tapete.

— Vocês já voltaram? — Surpresa, minha mãe deu um salto do sofá e veio em nossa
direção. — Achei que fossem passar mais tempo.

— Tivemos um imprevisto — respondi sem entrar em detalhes. Já bastava o medo da


Mirelle, não precisava espalhar o pavor pela minha casa.

Não havia nada que elas pudessem fazer para me ajudar e não avistei meu irmão.

— Onde está o Sandro? — desviei o assunto.

— Saiu.

— Para onde?

— Eu não sei — murmurou minha mãe.

— Certo. Ajude a Mirelle a se acomodar. As coisas dela chegaram?

— Sim, estão em caixas no quarto, mas não mexi em nada.

— Mirelle vai organizar da forma como ela quiser depois. — Coloquei a mão no centro
das costas da minha esposa, que apenas concordou com um movimento de cabeça. — Vou atrás
do Sandro.

— Mas... — De olhos arregalados, ela se virou para mim com um ar de medo.

— Você está segura aqui — prometi.

— Achei que estivesse segura no hotel.

— Aqui é diferente.

— Miguel...

Toquei o seu rosto e me inclinei na sua direção, dando um beijo rápido.

— Não vou deixar ninguém te machucar — lembrei-a da minha promessa.

Ainda tensa, Mirelle acabou assentindo.

— Por que não me acompanha, querida? — Minha mãe fez um gesto para que ela fosse
seguida.

Minha esposa ficou olhando para mim por vários segundos, esperando que eu falasse algo
mais, como eu não disse nada, ela acabou seguindo a mulher mais velha e desapareceram escada
acima.

Eu precisava ir atrás do Sandro e colocá-lo para caçar algumas cabeças. Meu irmão
sempre foi bom nisso.
Capítulo 53

Eu estava com os braços cruzados na frente do corpo e uma postura levemente curvada,
num ato quase ingênuo de garantir minha proteção se alguém tentasse me atacar novamente.
Contudo, a verdade era que eu não tinha chances. Qualquer um com o mínimo de treinamento já
era um oponente injusto.

Odiava me sentir tão frágil e indefesa, mas as circunstâncias haviam jogado essa
realidade assustadora na minha cara.

— Meu filho está certo.

Arregalei os olhos, surpresa, quando a mulher se virou para mim.

Não falei nada e ela prosseguiu.

— Os homens que meus filhos colocaram aqui são de confiança. Não sei o que aconteceu
com você, mas enquanto estiver dentro dessas paredes não irá acontecer de novo.

Sem saber o que dizer, apenas balancei a cabeça.

Ela seguiu por mais alguns metros no corredor até abrir a porta de um dos cômodos e me
indicar o interior.
— Esse é o seu quarto com o Miguel a partir de agora.

— Obrigada.

— Disponha. — Deu um sorriso que deveria me aquecer, mas eu ainda estava tensa
demais e me sentia um tanto sufocada.

Dei alguns passos para dentro do cômodo antes de ouvir sua voz novamente.

— Precisa da minha ajuda?

Virei a cabeça para encará-la e ponderei. Estava com medo, mas duvidava que a senhora
que deveria ter mais de sessenta anos pudesse me servir de proteção. Percebi que era melhor ficar
sozinha, nem que fosse para me desesperar sem ninguém julgando.

— Não...

— Se precisar de qualquer coisa é só chamar.

— Está bem.

Ela seguiu pela escada e eu fui para o interior do quarto.

O cômodo estava impecável de tão bem-arrumado, cheirava a alvejante, um sinal de que


mesmo na ausência do Miguel, mantinham o ambiente limpo. Parecia como um quarto de hotel,
porque eu não encontrei fotografias nem nada pessoal como pôsteres e livros. Meu marido não
deveria se preocupar com esses pequenos detalhes.

Em um canto, encontrei as caixas empilhadas e etiquetadas com a letra da minha mãe. Ela
se deu ao trabalho de sinalizar para mim o que estava dentro de cada uma delas, o que me
facilitaria muito no momento de desmontar.

Abri uma que estava por cima, escrito em letras garrafais FRÁGIL, logo embaixo, vinha
uma etiqueta menor com as palavras: pertences pessoais. Puxei o durex por cima e encontrei
dentro meu notebook, meu celular, carteira com documentos, fones de ouvidos e outros
eletrônicos, delicadamente embalados em pano e espuma, provavelmente o que a minha mãe
encontrou para manter os itens protegidos e evitar que quebrassem.

Peguei meu celular e o desenrolei de um pano e liguei o aparelho, tinha trinta por cento
de bateria e começou a vibrar com muitas notificações. A maioria era de aplicativos e mensagens
da operadora, mas havia uma da minha mãe.

Quando eu estava em casa, nem me lembrava muito do aparelho, afinal, as pessoas com
quem mais convivia estavam debaixo do mesmo teto que eu, entretanto, tive a sensação de que
agora seria diferente. O aparelho poderia ser a única ferramenta com a qual eu poderia me
comunicar com minha família.

Mãe:

Mande mensagem para mim quando puder. Quero saber se você está bem.

O recado tinha dois dias, mas era difícil responder quando eu estava sem nada, nem
mesmo minhas roupas.

Sentei-me na beirada da cama enquanto digitava para ela.

Mirelle:

Oi, mãe!

Eu estava sem acesso às minhas coisas, só abri a caixa agora. Obrigada por ter mandado
tudo para mim.

Estava prestes a me levantar e recomeçar a abrir as caixas quando ela respondeu.

Mãe:

Mirelle, finalmente você respondeu!

Estava preocupada com você.

Mirelle:

Estava em Cancun, sem acesso a nada.

Acabei de chegar em casa.

Mãe:

Você está bem?


Mirelle:

Estou.

Não sei...

Mãe:

Como assim?

Mirelle:

Fui atacada, duas vezes.

Mãe:

Ah, meu Deus! Você se machucou?

Mirelle:

Não...

Fisicamente, não.

Mãe:

Mirelle, seja mais clara ou vai matar sua mãe do coração.

Mirelle:

Estou assustada.

Mãe:

Compreensível.

O que seu marido fez a respeito?

Ele tem que manter os inimigos dele longe de você.

Mirelle:

Não acho que sejam inimigos do Miguel.


Mãe:

Por que não?

Mirelle:

Eles tentaram me atacar quando eu estava sozinha.

Mãe:

O que eles podem querer com você?

Mirelle:

Eu não sei.

O Adrián foi atacado?

Mãe:

Não que ele tenha me contado.

Seu irmão anda muito distante desde que foi ferido.

Por quê?

Mirelle:

Quem veio atrás de mim pode tentar algo contra o meu irmão.

Mãe:

Em quem você está pensando?

Mirelle:

O Santiago.

Mãe:

Aquele bastardo!

A cobra traiçoeira estava dentro do nosso ninho o tempo todo.


Mirelle:

Achei que pudesse confiar nele.

Mãe:

A confiança deve ser conquistada.

Mirelle:

É...

Mãe:

Foi ele quem atacou você?

Mirelle:

Outros homens.

Mãe:

Eles disseram algo?

Mirelle:

Morreram antes de ter a oportunidade.

Mãe:

Como seu marido agiu?

Mirelle:

Ele me protegeu.

Mãe:

Menos mal.

Não consigo parar de pensar no quanto você possa estar sofrendo com esse casamento.

Mirelle:
Na verdade, não está sendo assim tão terrível.

Mãe:

Como assim?

Mirelle:

Ele faz com que eu me sinta segura e me trata bem.

Mãe:

Isso é bom.

Quem sabe possam se apaixonar um pelo outro.

Mirelle:

É...

Mãe:

Tome cuidado, está bem?

Mirelle:

Sim.

Mãe:

Vou perguntar ao seu irmão se ele tem notícias do Santiago e conto para você o que
descobrir.

Mirelle:

Obrigada.

Mãe:

Tome cuidado.

Mirelle:
Você também.

Amo você, mamãe.

Mãe:

Também te amo, querida.

Larguei o celular sobre a cama e me levantei para voltar a mexer nas caixas. Havia
pertences ali dentro que eu nem me lembrava direito, mas tudo que era meu havia sido
devidamente embalado, para que eu não sentisse falta de nada e deveria ser grata a minha mãe
por isso.

Ah, mamãe...

Sentia falta dela.


Capítulo 54

Desci do carro diante de uma casa abandonada. O local ficava cerca de vinte minutos da
nossa mansão e já havia sido completamente deteriorado pelo tempo. Portas e janelas que ainda
sobraram foram comidas por cupins e no interior restavam apenas destroços, tudo que pudesse
possuir algum valor fora saqueado, mas não era pela estrutura que Sandro estava ali.

Ou talvez fosse...

Desde que os seus filhos nasceram, percebi que ele era muito mais cuidadoso para
manipular a arma em nossa casa, deixando os treinamentos para lugares isolados como aquele,
onde as crianças estariam bem longe dos disparos.

Meu irmão segurava a arma com a mão esquerda e disparou dois tiros contra latas
empilhadas em uma mureta caindo aos pedaços, mas acertou apenas uma delas.

— O que está fazendo? — Parei atrás dele, com os braços cruzados e meu irmão
finalmente notou minha presença.

— Treinando a mão mais fraca.

— Para que se você atira melhor com a direita?

— Se eu não puder atirar com a direita vou conseguir me sair bem.


— Entendi...

— O que está fazendo aqui? — Abaixou a arma e se virou para me encarar. — Não
deveria estar na praia fodendo sua esposa? Os gêmeos precisam de um primo que não seja o filho
daquele imbecil... — Torceu os lábios ao se lembrar do Ramón Hernandes.

— Estou trabalhando nisso.

— Não é o que parece.

— Precisamos voltar. Mirelle não estava segura no resort.

— Você já foi melhor do que isso, irmão — debochou Sandro, sem compreender a
gravidade a qual eu estava me referindo.

— É sério.

— Como se nossos inimigos fossem parar de aparecer. Assim ela nunca mais colocará os
pés para fora da mansão.

— Dessa vez acho que não é sobre nós.

— Quê? — Ele franziu o cenho, surpreso, sem compreender com exatidão o que eu havia
falado. — Que história é essa? Por que estariam atrás dela?

— É o que eu quero entender.

— Isso não parece bom. — Travou a arma e guardou-a de volta no coldre, usando sua
mão dominante.

— E não é.

— O que precisa que eu faça? — Dirigiu-me uma expressão séria, aguardando minhas
ordens.

— Quero que encontre o tal Santiago e o traga para mim.

— Vivo ou morto?

— Tanto faz.

— Ótimo! — O sorriso que se formou nos lábios do meu irmão indicava que eu
dificilmente veria o sujeito respirando, mas eu não me importava, desde que a ameaça à vida da
minha esposa acabasse.
Capítulo 55

Entrei no closet, deparando-me com um ambiente largo, bem iluminado e com várias
araras, gavetas e prateleiras. Uma parte estava vazia e eu imaginei que deveria estar assim para
que eu acomodasse meus pertences.

Só de pensar em todas aquelas caixas, eu tinha um pouco de preguiça, mas não havia
muito mais o que eu pudesse fazer. Até que me acostumasse com o ritmo da casa, seria difícil
encontrar meu lugar.

Parei de encarar as araras vazias e voltei minha atenção para as camisas, pegando uma
involuntariamente e levando-a ao nariz, esperando sentir o cheiro de carvalho da pele do Miguel,
porém, tudo o que senti foi amaciante.

Sua tonta!

Quase ri de mim mesma. Estava esperando que uma roupa suja estivesse pendurada? Era
óbvio que tudo ali estava muito bem lavado e esperando o momento para ser utilizada
novamente.

Ouvi o som de passos e isso me fez ficar tensa. Deixei que a camisa do Miguel caísse no
chão enquanto olhava em volta em busca de algo para usar como arma. A não ser que eu jogasse
sapatos no meu agressor, não havia nada.
A sombra se aproximou da porta e meu coração disparou ainda mais. Antes que eu
percebesse que ela era pequena e delicada demais para pertencer a um homem, avistei a Alma, a
irmã mais jovem do Miguel e noiva do meu irmão.

— Assustei você? — perguntou ao certamente perceber que havia algo de errado comigo.

— Não — menti, mas não foi o suficiente para esconder minha reação.

— Eu soube... — começou chegando mais perto e eu involuntariamente dei um passo


para trás.

— Soube do quê?

— Que atacaram você.

— Ah, é...

— Deve ser assustador.

— Muito...

— Eu estou assustada — disse desviando o olhar para baixo e envolvendo o corpo com
os braços, em um abraço solitário.

— Com os ataques?

— Com o casamento — confessou num sussurro.

— O meu?

— O meu...

— Ah! — Fiquei surpresa com o comentário e precisei de alguns instantes para pensar a
respeito. — Meu irmão é um bom homem.

— Você é suspeita para falar.

— É, você tem razão — confessei.

Eu amava meu irmão, mas precisava admitir que ele não estava sendo uma pessoa muito
amável desde que quase morreu.

— Ele não parece gostar de mim — murmurou ela, como se estivesse ansiosa para ter
aquela conversa comigo, ao mesmo tempo em que pisava em ovos.
— Meu irmão está passando por um momento complicado. — Foi a melhor desculpa que
encontrei para o atual comportamento do Adrián.

— Ele amava muito a falecida. — Alma olhou para o anel na sua mão e eu reconheci o
que costumava brilhar no dedo da Virginia.

Porra, Adrián!

Deveria haver um senso de humor mórbido, mas a verdade era quase uma ofensa. Eu
ficaria chateada com aquela situação e compreendia todo o receio da minha cunhada.

— É complicado...

— Complicado por quê?

— Acho que essa coisa de encontrar alguém que amamos de verdade, antes de nos
comprometermos com essa pessoa pelo resto de nossas vidas é um luxo, que o nosso mundo não
permite.

Eu estava falando sobre mim ou ela? No fundo, tudo parecia a mesma coisa.

— Pode ser...

— Sinto muito — sussurrei por fim. Talvez fosse a única coisa que ela quisesse escutar.

— Eu também sinto.

— Alma?

Ela deu um pulo de susto quando escutou a voz do irmão mais velho.

— Miguel. — Virou-se, encontrando-o parado atrás dela, olhando para mim por cima do
ombro da irmã.

— Nossa mãe está a chamando.

— Já vou indo. — Alma acenou para mim com um movimento de cabeça antes de deixar
o quarto, como se o irmão estivesse a expulsando. Pelo olhar dele, senti que era bem isso.

— Alma estava a incomodando.

— Não.

— Tem certeza? — afunilou os olhos e me lançou um olhar que me deixou ainda mais
receosa. Não queria que ele brigasse com a irmã por minha causa.

— Tenho. Ela é gentil.

— Está bem. — Ele deu alguns passos na minha direção e meu coração disparou. — Não
sabia se isso era bom ou ruim. — Está colocando suas coisas no lugar?

— Vou começar.

— Isso pode esperar.

— Ma... — Nem consegui terminar a frase antes que ele envolvesse a minha cintura e me
sentasse no móvel no centro do cômodo, com uma tampa de vidro onde havia joias e
principalmente relógios.

Ele se acomodou entre minhas pernas, subindo com as mãos pelas minhas coxas de um
jeito que provocava formigamentos, mesmo eu estando de calça.

— Isso vai quebrar. — Movi a cabeça, reparando na superfície onde eu estava.

— Vidro temperado é resistente. — Miguel segurou meu maxilar e trouxe meu olhar de
volta ao seu, fazendo com que eu estremecesse de dentro para fora, de um jeito que me
provocava tremores e calor.

O misto de sensações conflitantes chegava a ser enlouquecedor.

Sua mão forte, segurou os fios do meu cabelo que nasciam na nuca e os puxou com força,
fazendo-me soltar um gemido baixo antes que seus lábios cobrissem os meus. Era um ato
selvagem e ao mesmo tempo estranhamente excitante, que deixava meu sexo pulsando. Quando
a língua dele invadiu minha boca, percebi a necessidade por mais e a minha se entregou,
movendo-se na direção da dele, enquanto nossas cabeças se viraram, procurando o encaixe
perfeito.

Miguel puxou meu cabelo, apertando minha coxa com a outra mão e o beijo se tornou
ainda mais feroz. Ele era um devorador e eu percebi que gostava de ser sua refeição.

O seu volume foi pressionado contra mim e a necessidade por ele cresceu de forma
descontrolada. Percebi que ele tinha despertado em mim uma necessidade nova. Eu poderia não
precisar disso antes de ter experimentado, porém, estava se torando um vício.

Vício delicioso...

Rebolei no vidro, sentindo meu sexo esfregar no dele e a necessidade urrar ainda mais
dentro de mim. Odiei que houvesse tantas camadas de roupas impedindo-o de entrar em mim. As
paredes do meu canal estavam se contraindo e latejando, clamando por ele enquanto o beijo me
deixava com a boca seca e sedenta por mais.

Minhas mãos subiram pelos seus ombros, sentindo os músculos por debaixo da camisa e
foi a vez dos meus dedos se embrenharem no seu cabelo curto e macio. Enquanto isso, Miguel
afundou ainda mais os dedos na minha coxa, de uma forma estranhamente dolorida e deliciosa.

Ele mordeu meu lábio inferior, arrancando de mim mais um gritinho enquanto suas mãos
subiam, enfiando-se dentro do decote da minha blusa e rasgando-a ao meio como se o tecido
fosse uma folha de papel. Sua boca desceu para o vale entre meus seios e suas mãos os
agarraram sob a proteção do sutiã.

Delirando, joguei a cabeça para trás enquanto meus olhos giravam nas órbitas e cada pelo
do meu corpo se arrepiava com o calafrio, provocado pelo caminho úmido que ele deixou ao
contornar meus seios com a língua. Percebi que eles haviam sido retirados do sutiã e estavam
sendo explorados pela boca, dedos e palmas das mãos do Miguel. Ele se divertia, sugando-os,
mordendo-os e apertando-os.

— Miguel...

— Gostosa.

Eu estremecia inteira com o peso das suas mãos contornando minhas curvas.

— Desce daí!

Estava completamente entorpecida pela troca de carícias que levou um tempo para
processar o que o Miguel queria. Ele me tirou de cima do móvel e me pós de pé no chão, mas me
empurrou pelo ombro até que eu me ajoelhasse na sua frente.

— O que foi? — Levantei a cabeça, procurando pelo seu olhar e tentando compreender o
que estava acontecendo.

Miguel apenas sorriu para mim enquanto abria o zíper da calça e enfiava a mão dentro da
boxer preta, retirando o membro rígido e pulsante. Seu pênis estava tão próximo do meu rosto
que deixou minhas bochechas coradas.

Seus dedos subiram e desceram por todo o cumprimento de uma maneira mais do que
provocativa, antes que ele aproximasse a ponta redonda e rosada da minha boca.

Meus olhos se arregalaram ainda mais e antes que eu dissesse qualquer coisa, ele soltou:

— Chupa.
— Eu... Eu... — fiquei constrangida e sem saber o que falar.

— Não sabe?

Balancei a cabeça fazendo que não.

— Eu te ensino. — Com uma mão ainda segurando o membro, ele aproximou a outra da
minha boca, contornando meus lábios com o polegar até afastá-los, empurrando o inferior para
baixo. — Abre a boca.

Assenti, afastando mais os meus lábios e ele posicionou a ponta macia sobre eles,
empurrando-a para que ele deslizasse pela minha língua até que o senti encostar no início da
minha garganta. Era desconcertante tê-lo colocando o membro na minha boca, ao mesmo tempo
em que aumentava ainda mais a pulsação entre as minhas coxas. Chegava a ser tão insano como
seu eu tivesse um segundo coração no lugar do meu sexo.

Ele soltou o membro e se inclinou para pegar uma das minhas mãos e posicioná-la ao
redor da base e instintivamente, eu o envolvi com os dedos.

— Isso! — gemeu. — Pode chupar, começa devagar. — Miguel se inclinou, envolvendo


meu cabelo com as mãos e segurando-o em um rabo de cavalo enquanto me instigava a
continuar.

Lentamente, movi a boca pela sua extensão, experimentando o seu sabor e desfrutando de
como era tê-lo na minha língua.

Eu me sentia uma safada, ao mesmo tempo em que parecia divertido.

Pela expressão do Miguel, cerrando os lábios para não gemer e os olhos afunilados,
indicavam que ele estava gostando.

Fiquei mais empolgada à medida que minha vergonha ia diminuindo e eu me empolgava


um pouco mais, com minha boca salivando. A forma como ele puxava e acariciava meu cabelo
me instigava a continuar.

— Um pouco mais rápido — pediu com a voz incrivelmente rouca. — Cuidado com os
dentes.

— Desculpa.

— Continua! — rugiu empurrando minha cabeça de volta.

Pressionei-o mais com os lábios, afastando os dentes e chupando com mais pressão até
que ele rugiu.
— Chega!

— Fiz algo de errado? — Fiquei preocupada.

— Não, mas não é na sua boca que eu vou gozar. — Puxou-me novamente para que eu
me levantasse e me girou, fazendo com que eu espalmasse a superfície de vidro.

Miguel agarrou minha cintura, empinando minha bunda e fazendo com que eu me
inclinasse ainda mais para frente. As mãos firmes foram para frente, puxando o zíper da minha
calça e a tirando com um único puxão, deixando-a acumulada nas minhas canelas com minha
calcinha.

Ele me empurrou ainda mais para frente a ponto de espremer meus seios para fora do
sutiã contra o vidro e um arrepio me varreu antes que o calor das suas mãos nas minhas nádegas
me aquecesse.

Mal tive tempo de perceber que ele estava afastando minhas coxas antes que a ponta
macia, há pouco dentro da minha boca, pressionasse minha entrada e fosse parar perto do meu
útero. Os dedos grossos do Miguel afundaram ainda mais na minha pele quando ele começou a
se mover, chocando seu corpo contra o meu com tanta urgência e força que fez o móvel, fixo no
chão, ranger e parecer se movimentar.

Aquele corpo másculo e enorme pressionava o meu de uma forma que parecia me
esmagar, ao mesmo tempo era muito prazeroso. Ele passou a mão pela minha nuca, empurrando
meu cabelo para o lado e sua barba por fazer roçou na minha pele sensível ao passo que sua
língua traçava um caminho provocante até minha orelha.

Ahhhhh!

Meu mundo estava girando, ou talvez fosse apenas aquele cômodo enquanto o Miguel
continuava a se movimentar rápido e com força, entrando o mais fundo em mim que a posição
permitia.

— Ai... — deixei escapar um gritinho quando ele apertou minha nádega com mais força
enquanto sentia o seu jato me preencher. Sua respiração ofegante na minha nuca, arrepiando-me.

Sua mão soltou minha bunda e contornou minha cintura, descendo para a região entre
minhas coxas e seu dedo abriu meus grandes lábios, pressionando o meu clitóris de um jeito que
aumentou ainda mais os meus gemidos. Rebolei contra ele, com Miguel ainda cravado em mim e
me deliciei com a onda crescente de prazer, enquanto ele me masturbava.

— Ah!

Seu dedo se movia sobre meu ponto de maior prazer em um ritmo alucinante até que as
sensações explodiram em fragmentos formigantes e viciantes.
Exausta, desmoronei sobre o móvel, fazendo o vidro embaçar com minha respiração.

Senti o nariz do Miguel nas minhas costas até que sua boca tocou minha nuca em um
beijo carinhoso.

Ainda estava me recuperando e parecia coletar os pedaços do me corpo que havia se


fragmentado durante o orgasmo.

— Acho que deveríamos tomar um banho — comentou ele, ainda colado em mim.

Sabia que quando o Miguel desencaixasse o pênis de mim, seu esperma provavelmente
escorreria pelas minhas pernas. Um banho parecia uma boa ideia.

— Juntos.

— É claro! — Em um movimento rápido, que durou menos de um segundo. Ele se


afastou um pouco e me girou, colocando-nos frente a frente.

Sua boca voltou para minha e eu duvidava que fôssemos permanecer apenas no banho.
Entretanto, eu não estava me julgando por querer mais.
Capítulo 56

Deixamos o closet abandonando uma trilha de roupas até eu puxar minha esposa para
debaixo do chuveiro. Abri o registro, deixando que a água morna escorresse por nós, molhando
nossos cabelos e corpos, enquanto eu puxava a sua cintura e a trazia de volta para mim.

— Miguel! — deixou escapar um gritinho antes que a minha boca tomasse a sua
novamente.

Minhas mãos exploravam as curvas macias do seu corpo, descendo dos seios até a bunda
e a pressionando mais contra meu corpo.

Mirelle levantou a cabeça, e eu observei seu olhar enquanto as gotas d’água contornavam
seu rosto lindo. Sua expressão me deixou ainda mais excitado e eu voltei a apertar a bunda
redonda, arrancando dela um gemido.

— Você é tão linda. — Contornei seu rosto com os dedos e puxei sua boca de volta para
minha, domando sua língua e explorando cada canto do interior da sua boca com a minha.

Pressionei-a contra o vidro do box, ainda beijando-a. Uma das minhas mãos seguiu para o
seu seio, torcendo o mamilo e apertando-o com meu polegar, enquanto a outra desceu mais, indo
parar entre suas coxas, sem hesitar, enfiei o dedo nela e Mirelle gemeu alto, jogando a cabeça
para trás, batendo-a no vidro. Minha esposa se espichou contra a superfície enquanto eu metia o
dedo nela.
Ela era minha e eu fazia questão de explorá-la como o direito conjugal me garantia.

Seus gemidos eram cada vez mais altos e ela se remexia, esfregando a bunda contra o
vidro ao passo que meu dedo entrava e saía, sendo envolvido pelo seu canal e extraindo seu
néctar.

Puxei sua boca de volta para a minha, quando eu girei a mão num ângulo em que meu
dedo permanecia nela enquanto o polegar podia pressionar seu clitóris. Ela vibrou de prazer, o
que aumentou minha excitação. Já havia gozado, mas meu pau estava duro de novo, porém, eu
queria prepará-la para um passo além.

Continuei metendo os dedos na Mirelle, estimulando-a até que seu olhar, seus gemidos e
respiração me indicaram que ela havia gozado.

Virei-a de costas enquanto ela se recuperava e seu rosto foi pressionado no vidro,
enquanto eu a puxava contra mim.

Contornei a volumosa bunda redonda com as mãos e levantei-a, abrindo para ver melhor
meu alvo.

— O que você... Ah! — minha esposa gritou quando o dedo que antes estava na sua
vagina, entrou na sua bunda. — Miguel...

Enfiei e extraí o dedo algumas vezes.

— Você não deveria mexer aí. — Mirelle estremeceu.

— Não vou só mexer, vou comer.

— Minha bunda?! — Tomou um susto.

— Ah, sim... — Aproximei minha boca da sua orelha. — É toda minha, esposa. Da sua
boca até aqui... — Enfiei mais um dedo para que ela tivesse certeza do que eu estava dizendo.

Estava tão apertado que eu mal via a hora de enfiar nela, mas não queria machucá-la,
precisava ir devagar. Mirelle não deveria ficar traumatizada, muito pelo contrário, queria que ela
gostasse tanto, ao ponto de não hesitar para me satisfazer todas as vezes que eu a procurasse.
Podia e deveria ser bom para nós dois.

Cuspi na minha mão e esfreguei a entrada dela, enquanto o chuveiro ainda nos molhava,
afastei bem suas nádegas com as mãos e fui enfiando lentamente. Era muito apertado e precisei
ter calma, ganhando cada centímetro por vez até ir ao fundo.

Sua bunda se acomodou deliciosamente contra a minha pélvis enquanto eu entrava nela.
— Ah, Miguel! — Envergonhada, minha esposa se apoiou contra o box.

— Que delícia. — Soltei ao começar a me mover.

— Acho que assim eu não engravido. — Poderia ser um comentário ingênuo ou uma
provocação, mas não tinha importância.

— Pode ficar despreocupada. — Mordisquei sua orelha ao descer com a mão para o seu
clitóris e fazê-la gemer quando passei a masturbá-la. — Sua boceta não vai ter sossego quando
eu estiver por perto e faremos muitos bebês.

— É?... — Era um questionamento ou só um gemido, mas respondi assim mesmo.

— Pode ter certeza.

Aumentei o ritmo em que entrava nela e os movimentos do meu dedo no seu clitóris.
Mirelle voltou a gemer mais alto e me apertar com ainda mais força. Duvidava que ela estivesse
fazendo de propósito, mas foi tão gostoso que eu não resisti, gozando de novo.

Apoiei as duas mãos no box me recuperando, enquanto respirava ofegante contra o


cabelo molhado dela.

— Miguel! — Ouvi meu irmão gritar.

— Porra! — rosnei baixinho.

— O que ele quer? — perguntou Mirelle.

— Eu não sei.

— Miguel! Não quero entrar aí e ver seu pau de fora.

— Que caralho! — rugi afastando-me da minha esposa.

— Acho que você vai ter que ir até lá — murmurou ela.

— Sim. Merda...

Deixei que a água escorresse para lavar meu corpo antes que eu saísse do chuveiro e me
secasse rapidamente. Enrolei-me numa toalha e saí para o meu quarto, deparando-me com o
Sandro de pé perto da cama.

— Você não deveria estar aqui! — rugi.


— Nem eu queria. — Deu de ombros ao cruzar os braços. — É melhor você vestir algo
decente porque vai querer ver o que encontramos.

— Me encontrem no escritório.

— Certo.

— Agora saí daqui e não entra mais no meu quarto.

As chances de Mirelle estar nua no cômodo eram bem grandes e eu não queria que meu
irmão a visse.

Sandro não protestou ao sair de vista. Eu troquei de roupa, vestindo uma calça e camiseta
antes de ir me encontrar com ele no escritório. Lá estava Joaquim, Javier e outro homem que eu
não via com tanta frequência, mas sabia chamar Luciano e ser bom com computadores, expert o
bastante para que estivéssemos dispostos a pagar pelos seus serviços.

— Pronto. — Parei na frente deles, exigindo que olhassem para mim. — O que vocês
têm?

— O Luciano conseguiu acessar as câmeras de segurança do aeroporto de Cancun... —


começou Sandro, mas foi o hacker que continuou o assunto.

— Usei um programa de reconhecimento facial e consegui identificar o Santiago e outros


dos seus homens chegando logo depois de vocês. Vieram em um voo comercial com identidades
falsas.

O sujeito virou a tela do notebook para mim e eu vi o Santiago usando um boné e outros
cinco homens.

— Esses dois foram os que atacaram a Mirelle — indiquei na imagem.

— Então eles realmente estavam trabalhando para o Santiago — concluiu o Sandro.

— Estavam em voo comercial? — questionei.

Luciano assentiu com a cabeça.

— Pelo visto, eles não tem os mesmos recursos que nós — brincou meu irmão.

— O que não significa que eles não sejam perigosos — disse Javier, sério. Eles já
chegaram perto demais, duas vezes.

— E não vão chegar uma terceira — garanti.


— Enquanto não pegarmos ele, é melhor não deixar sua esposa sair dessa casa — sugeriu
meu homem de maior confiança. Apesar de não ser uma notícia muito agradável para dar a
Mirelle, eu prezava pela segurança dela e Javier estava certo.

Santiago poderia ter colocado um alvo nela, mas não atingiria a minha esposa antes de
passar por mim. Era melhor que ele estivesse pronto, pois iria se arrepender de ter entrado no
caminho dos Velásquez.

— Ele ainda está em Cancun? — Voltei minha atenção para o Luciano.

O hacker já parecia ter previsto essa minha pergunta, pois não hesitou em respondê-la.

— Pegou um voo para Medellín usando a mesma identidade falsa, logo depois que vocês
deixaram o resort.

— Isso prova que estava atrás de nós — concluí.

— Ele não vai ser louco de vir atrás de nós em Sinaloa — Sandro pareceu certo de sua
afirmação, mas eu já não apostava minhas fichas.

— É melhor estarmos prontos para tudo — falei em tom firme.

— É claro — exclamou Sandro e os outros concordaram com um movimento de cabeça.

Se ele estava em Medellín talvez meu cunhado pudesse me ajudar a resolver aquele
assunto antes de que o Santiago voltasse a ser problema meu, afinal, a culpa era do Adrián por
não escolher bem aqueles que trabalhavam para ele.

Puxei meu celular do bolso e disquei para o irmão da minha esposa. Ele atendeu rápido
demais, o que me deixou até surpreso.

— Adrián?

— Miguel!

— Olá.

— Eu estava prestes a ligar para você — falou ele do outro lado da linha.

— Parece que entramos em sintonia.

— Talvez... Espero que esteja aproveitando a lua de mel com a minha irmã.

— Na medida do possível...
— Não precisa entrar em detalhes — interrompeu-me antes que eu começasse a falar
sobre os ataques que o Santiago havia ordenado contra a Mirelle. — Acho que já podemos passar
para a segunda parte do nosso acordo.

— Segunda parte?

— Achei que fosse um homem mais inteligente, Miguel Velásquez.

— Se você fosse menos enigmático.

— Você já está casado com a Mirelle, tudo está correndo bem, acredito que eu possa me
casar logo com a sua irmã.

— Não queria esperar um pouco mais? — Franzi o cenho, tentando compreender a


repentina mudança de opinião dele.

— Vi que isso não é mais necessário. Apesar dos imprevistos, seu casamento correu bem
e o meu também irá.

— Quando?

— Uma semana.

— Alma ainda não escolheu um vestido nem reservamos a igreja.

— Eu tenho certeza de que com seus recursos esse tempo é mais do que o suficiente.

— Verei o que posso fazer.

— Sei que pode resolver. Nos falaremos em breve. — Adrián desligou a chamada e eu
fiquei com o celular na mão, encarando nada como se houvesse sido congelado.

— Não falou com ele sobre o Santiago? — esbravejou meu irmão.

— Adrián nem me deu a oportunidade.

— Deveria ter gritado com esse imbecil.

— Ele mudou de ideia sobre esperar para se casar com a Alma.

— Quero ver só quando eu enfiar a minha mão na cara dele.

— Sandro!
— Qual é! Não podemos deixar esse sujeito se casar com a nossa irmãzinha.

— É o nosso acordo.

— Errado! Seu acordo.

Fechei a cara, cerrando meus dentes para o meu irmão e ele recuou. Não gostei nem um
pouco de ser desafiado diante dos nossos homens.

— Lembre-se de que sou eu que dou as ordens aqui.

— É claro! — Sandro não gostou do que ouviu, mas foi o bastante para fazê-lo recuar.

— O que faremos em relação ao Santiago, chefe? — perguntou Javier para dissipar o


atrito entre mim e meu irmão.

— Mantenham os olhos nele e rastreiem seus passos. De forma alguma ele pode se
aproximar da minha esposa novamente.

Eles assentiram.
Capítulo 57

Nada é tão simples...

Nunca compreendi tão bem a frase que meu pai costumava dizer enquanto ainda estava
vivo. O mundo não era preto e branco, havia mais nuances de cinza do que eu conseguia medir e
eu estava bem no meio de uma delas.

Estava me apaixonando pelo homem que racionalmente eu deveria odiar. Miguel havia
atentado contra a vida do meu irmão, deixando-o na UTI por vários dias, lutando para
sobreviver. Minha pobre cunhada não teve a mesma sorte. Mesmo diante disso Adrián
concordou com um acordo insano no qual eu me casaria com aquele monstro, o problema, ou
talvez não, era que a convivência estava mudando tudo rápido demais...

Por Deus, Mirelle!

Chegava a ser absurdo pensar em tudo o que havia acontecido na última hora, Miguel
tinha me feito chupá-lo, rasgado minha blusa, penetrado minha vagina no closet e a minha bunda
debaixo do chuveiro.

Céus!

Ele estava me virando do avesso, explorando partes do meu corpo que imaginei que era
proibido serem maculadas. Entretanto, o pior de tudo era que eu estava gostando disso. Quando
ele dizia que não iria me dar sossego isso me fazia vibrar por dentro. Não parecia certo, eu me
sentia como uma pervertida ao mesmo tempo em que eu tinha sorte pelo meu casamento estar
tomando esse rumo.

Pela imagem que eu tinha do Miguel, ele poderia ser um homem violento, me machucar,
ferir e fazer da minha vida um inferno por ser meu marido, porém, não estava sendo assim.

Eu me sentia acesa nos seus braços e segura. Ele já havia mostrado ser capaz de matar
qualquer um para me proteger.

Poderia lutar contra o que estava bem diante dos meus olhos, porém, aceitar que ele me
fazia bem era o primeiro passo para ser feliz. Talvez a Virginia nunca iria me perdoar por isso,
entretanto, ela estava morta e eu nunca iria saber.

Enfrentar meu marido também não era algo inteligente a se fazer. Meu irmão sabia disso
ao ponto de aceitar me casar com um de seus inimigos. Eu tinha uma escolha muito nítida diante
dos meus olhos, aceitar meu casamento e ser feliz com o Miguel, ou morrer na mão dele, ou de
outros. A primeira era bem mais inteligente.

Ele não retornou rapidamente para o quarto, presumi que o assunto com o seu irmão fosse
importante. Só torcia para que não fosse o Santiago ou qualquer ameaça, mas já tinha percebido
que era ingenuidade pensar que tudo acabaria sem mais conflitos.

Vesti roupas limpas e joguei a camiseta que o Miguel havia rasgado no lixo. Ainda bem
que ele havia me comprado roupas novas, pois se meu marido fizesse aquilo mais vezes eu
acabaria ficando sem peças.

Ouvi um choro baixo e a minha curiosidade me levou ao corredor, onde o som guiou-me
a uma porta aberta. Havia dois berços no centro e muitas coisas rosas e azuis.

A esposa do Sandro estava curvada sobre um dos berços, fazendo um chiado baixo com a
boca, enquanto a menina lá dentro resmungava de olhos fechados.

Permaneci quieta, não queria incomodar e levou um bom tempo para que ela notasse a
minha presença.

— Ah, é você! — Abriu um sorriso que me fez rir de volta. — Finalmente dormiu. —
Soltou um suspiro de alívio.

— Desculpa por ter entrado assim.

— Está tudo bem. Nossa! Como estou cansada.

— Por causa dos seus filhos?


Ela balançou a cabeça fazendo que sim.

— Enquanto nós fazemos de tudo para não ter que sair da cama e continuar dormindo,
eles parecem que sofrem. É um berreiro toda vez que precisam dormir que só Deus. Parece que
estão até sofrendo.

— Ficar acordado deve ser divertido — supus sem saber muito.

— Só se for para eles. — Deu de ombros.

— Espero também ser mãe um dia.

— Você será! Ultimamente meu maior pavor é engravidar de novo — Riu.

— Por que não gosta dos seus filhos? — Arqueei as sobrancelhas.

— Eu os amo mais do que tudo, só que quando os dois começam a chorar, quero chorar
junto, além disso, minha gravidez foi um pouco traumática.

— O que aconteceu?

— Fiquei grávida de um cara com quem eu fui para cama só uma vez, nem sabia o nome
dele direito, muito menos que fazia parte de um Cartel de drogas no México.

— Você não é daqui?

Eu havia notado um sotaque, mas não tinha como ter certeza.

— Sou brasileira.

— Ah, nossa! Deve ter sido uma loucura.

— Nem me fala. Foi como se um caminhão houvesse me atropelado. Descobri quem o


Sandro era, minha menstruação atrasou, contei que estava grávida e ele não quis saber até que o
marido da Paola me sequestrou. Quase fui morta umas três vezes, meus bebês nasceram
prematuros, ficaram por dois meses no hospital e agora estou aqui, casada com o pai deles e
tentando fazê-los dormir.

— Uau! Que loucura! — exclamei tentando absorver o resumo que ela havia me dado.

— Nem me fale. Pelo que o Sandro comentou, também não está sendo fácil para você.

— Também fui sequestrada e quase morta algumas vezes, então acho que nessa parte
estamos quites.
— Não que seja algo legal de se competir, mas parece vir com o combo da família
Velásquez.

— Pode não ser exatamente culpa deles — murmurei ao me envolver com meus braços.

Agda me lançou uma expressão confusa.

— Você parece não ter nada a ver com esse mundo antes de se envolver com o Sandro,
mas no meu caso não é assim. Meu irmão é chefe do Cartel de Medellín

— Entendi.

— Não queria estar no meio de tudo isso, mas talvez eu não pudesse evitar.

— O importante é que você está segura agora.

Sorri fazendo que sim com a cabeça.

— E pensando em ser mãe — continuou ela. — Alguém para compartilhar do meu


desespero. — Deu uma gargalhada.

— Prefiro um de cada vez.

— Com certeza, gêmeos é uma loucura, mesmo com a ajuda da babá.

— Dá para perceber. — Mantive o sorriso.

— Quer um teste de gravidez?

— Quê? — Arregalei os olhos.

— Eu fiquei um pouco paranoica. Então sempre faço para ter certeza de que não estou
grávida de novo.

— Ah, nossa! — As palavras escaparam da minha boca em meio a uma exclamação,


porque não soube o que dizer.

— Sandro costuma dizer que estou financiando sozinha a indústria de testes.

— Que exagero.

— Pois é.

Eu ponderei um pouco, por um lado, eu não estava me preocupando em descobrir que


estava grávida, por outro, ter uma ferramenta em mãos para ter certeza poderia ser muito bom.

— Eu vou querer sim.

— Vou pegar no meu quarto para você. — Agda sorriu antes de sair da minha vista e
entrar em outro cômodo da casa, voltando instantes depois com duas caixinhas de cor branca e
rosa. — Aqui está.

— Muito obrigada.

— Disponha. Se precisar de mais pode me falar.

— Está bem! — Ri.

Antes que iniciássemos outro assunto, um dos bebês começou a chorar novamente.

— Ah, droga! — ela suspirou.

— Quer ajuda? — Ofereci, mesmo sem saber muito o que fazer, já que não tive
oportunidade de ver nenhum bebê crescer.

— Ah, claro, por favor. A Dolores está de folga e sempre quando um chora acaba
acordando o outro.

— Deve ser um pesadelo.

— Nem imagina — Deu uma risada enquanto voltávamos para o interior do quarto dos
bebês.
Capítulo 58

Alma estava distraída, observando o céu estrelado, sentada no degrau da porta que levava
à área atrás da cozinha. Quando me aproximei, o som dos meus passos a assustaram ao ponto de
fazê-la dar um pulinho.

— Miguel!

— Oi.

— O que você está fazendo aqui?

— Vim conversar com você. — Acomodei-me ao lado dela, colocando a minha mão
sobre o seu ombro.

— Sobre... — Levantou uma das sobrancelhas com ar curioso, mesmo seu semblante
demonstrando que ela estava repleta de receio.

— O seu casamento.

— Ele desistiu? — Havia uma chama de esperança em seu tom de voz que eu logo
apagaria.

— Não...
— Ah!

— Ele quer que o casamento aconteça logo.

— Logo?! — Deu outro pulo de susto.

— Sim. — Curvei a cabeça, olhando para o chão com um certo pesar.

Apesar de não querer causar sofrimento para ela, a situação era muito mais complicada
do que eu gostaria.

— Logo quando?

— Nas próximas semanas — tentei amenizar.

— Mas ainda não temos nada pronto. A decoração, meu vestido, Miguel...

— Podemos providenciar tudo da melhor forma para que você fique satisfeita com o
resultado.

— Do dia para noite?

— É possível...

— Não deveria ser assim, Miguel. — Bateu o pé, cruzando os braços, irritada. Por mais
que ela estivesse agindo como uma menina mimada, eu não poderia dizer que estava sendo fácil
para ela.

— Eu sinto muito, Alma.

— Sente mesmo? — questionou irritada. — Porque eu acho que não.

— Sabe que os casamentos dessa família nunca foram muito fáceis.

— O que não significava que o meu também precisasse ser. — Deu de ombros.

— Você vai ser feliz.

— Como está sendo com a Mirelle? — havia um teor de sarcasmo na sua voz.

— Sim — respondi com convicção, um tanto surpreso com a quantidade de verdade que
poderia caber em uma única palavra.

— É mesmo?
— É. O casamento nem sempre começa de uma forma fácil, mas podemos torná-lo
melhor.

— Não parece que o Adrián quer torná-lo melhor. — Ela levantou a mão, mostrando o
anel que havia pertencido à mulher que eu matara. Era no mínimo uma piada de muito mal gosto.

— Vai ser melhor.

— Está tentando me convencer ou a si mesmo? — Lançou-me um olhar desafiador.

— Um pouco dos dois.

— Eu não quero me casar com aquele homem, irmão.

— Você não tem escolha.

— Porque me tirou ela.

Engoli em seco, mas não disse nada, pois minha irmã estava certa.

— Vamos comprar um belo vestido e preparar uma festa inesquecível.

— Obrigada. — Não havia um pingo de empolgação na sua voz.

Sem mais o que dizer e me sentindo culpado por ter arrastado minha irmãzinha para
aquilo. Eu fui embora, deixando-a sozinha outra vez.
Capítulo 59

Quando os gêmeos finalmente voltaram a dormir, saímos do quarto deles tentando fazer o
mínimo de barulho e nos despedimos no corredor.

Eu não tinha visto nenhum sinal do meu marido ou cunhado, o que não deveria ser boa
coisa. Apesar de ninguém ter me atacado dentro da casa, ainda era bem óbvio que eu não estava
segura.

Sentia-me tão idiota por ter confiado no Santiago. Ele era um maldito traidor que fingira
estar ao nosso lado, mas só queria derrubar meu irmão. O pior de tudo era que Adrián parecia no
seu momento mais frágil. Depois de toda a raiva por ele ter me metido naquele casamento
passou, era bem mais fácil compreender que meu irmão não poderia lidar com inimigos externos
e internos ao mesmo tempo.

Miguel era muito melhor como aliado.

Meu Miguel...

Meu marido...

Abri um sorriso ao perceber que gostava do som daquelas frases. Era algo que eu não
imaginava antes, a possibilidade de ser feliz naquele casamento arranjado.
Olhei para as minhas mãos e vi as caixas de teste. Um calafrio subiu do meu ventre.

Segui até o banheiro e abria uma das caixas, pegando a pequena fita de teste. Estava
casada há pouco tempo e seria tolice esperar que o resultado fosse positivo, ainda assim, senti
uma curiosidade absurda.

Segui o passo a passo do teste e sentei-me no vaso, esperando. Só vi um risco evidente,


mas era o que eu deveria querer.

Ainda é cedo...

— Mirelle! — o grito do Miguel entrando no quarto me fez pular de susto.

Rapidamente, recolhi tudo, enrolei em papel higiênico e joguei na lixeira. Não queria
falar com ele a respeito, principalmente por não ter um resultado positivo para mostrar.

— Oi! — Sem jeito, parei na porta do banheiro e me escorei no batente.

— Está tudo bem com você?

— Por que não estaria? — Abri um sorriso amarelo.

— Não sei, me pareceu estranha.

— Eu estou bem. — Segui até ele, colocando minha palma sobre o seu peito e sentindo o
coração bater debaixo da camisa.

— E você?

— Preocupado.

— Com o quê?

— A ameaça a sua vida.

Engoli em seco.

— Achei que eu estivesse segura aqui.

— E está, mas não significa que a ameaça desapareceu.

— Entendi. — Prendi a respiração por alguns segundos quando imagens ruins tomaram
minha mente. — Sabe onde o Santiago está?
— Estou trabalhando nisso.

— Então você não sabe.

— Eu vou mantê-la segura, Mirelle — esquivou-se mais uma vez da minha pergunta, não
era exatamente o tipo de réplica que eu esperava, mas ajudava a me deixar mais calma.

— Obrigada.

— Vem aqui. — Ele envolveu minha cintura e me deu um beijo mais calmo, algo que
beirava a ternura. — Vamos dormir?

Assenti com a cabeça.

Eu estava bem, segura e por enquanto isso precisava ser o suficiente.


Capítulo 60

Durante os dias que se seguiram, pressionei minha mãe para cuidar dos preparativos do
casamento da Alma, que não era a noiva mais feliz do mundo. Enquanto isso, Sandro caçava o
Santiago, tentando garantir a segurança da minha esposa e da nossa família.

Por fim, nosso principal inimigo no momento havia desaparecido como um fantasma e
não deixado sinais do seu paradeiro. Era bom demais, até poderia acreditar que ele não atacaria
de novo, mas eu não era tolo.

No fim, com ou sem a cabeça do Santiago, o casamento entre o Adrián e a minha irmã
iria acontecer. Nós tornaríamos duplamente cunhados. Nem precisava ser muito esperto para
perceber que ele havia pressionado para que a união acontecesse logo porque ele precisava do
meu apoio. Santiago poderia não ser a única cobra que Adrián havia criado dentro de sua casa.

Até expurgar todas as pragas, ele estava fragilizado e, nada melhor do que contar com um
aliado como eu. Para a sorte do meu cunhado, eu queria proteger minha esposa e qualquer
ameaça que pudesse representar perigo para ela, eu iria liquidar.

Ajeitei minha gravata e escolhi um dos relógios de ouro da minha coleção, depois passei
o meu perfume favorito e saí do closet, seguindo um cantarolar sussurrado da Mirelle. Quando
ela parecia feliz, isso me contagiava e dava a entender que eu estava fazendo um bom trabalho.

Ela estava debruçada sobre a pia do banheiro, acertando os últimos detalhes da


maquiagem, enquanto os belos cabelos escuros desciam como uma cascata sedosa pelas suas
costas delicadas.

Parei atrás dela, apoiando a mão em cada canto da bancada de pedra e pressionando
minha esposa com meu corpo.

— Miguel... — gemeu.

— Você está linda. — Inclinei a cabeça para sussurrar contra a sua orelha.

— Estou?

— Sim... — Puxei seu cabelo para o lado, mordiscando sua nuca.

— Assim você vai bagunçar tudo.

— Você não precisa de maquiagem para continuar linda.

— Mas é o casamento do meu irmão, eu quero estar arrumada.

Girei-a pela cintura e Mirelle deu um grito mais alto.

— Miguel!

Inclinei-me para tomar sua boca com a minha.

— Assim você vai ficar sujo de batom — falou com os lábios contra os meus.

— Quem se importa?

— Eu, ma...

Minha língua escorregou para dentro da sua boca, silenciando-a enquanto o beijo se
transformou ainda mais em algo intenso e provocativo. Minhas mãos subiram pela lateral do seu
corpo, puxando seu vestido para cima.

— Miguel...

— Sim. — Minha língua brincava com a sua enquanto meus lábios sugavam os seus de
forma cada vez mais sugestiva.

Eu não estava nem aí se toda a minha boca ficasse vermelha por causa do batom dela.

Ela ficou tensa e percebi haver algo de errado.


Interrompi o beijo e busquei o seu olhar com uma expressão mais séria.

— O que foi?

— Eu tenho uma coisa para falar.

Foi a minha vez de ficar tenso e percebi que poderia ser algo que eu não gostaria de
ouvir.

— Diz logo! — Meu tom foi mais rude do que eu gostaria e isso a fez arregalar os olhos.

— Eu... Eu... — Soluçou e percebi que poderia tê-la assustado.

— Ei... — Segurei seu rosto com delicadeza e dirigi um sorriso mais gentil. — Me
desculpa por ter sido rude. Pode falar. Está tudo bem.

— Não sei como falar.

— Que tal só falar? — Segurei seu rosto com as pontas dos dedos e atraí seu olhar para o
meu.

— Parece bom. — Deixou escapar uma risadinha que também me fez sorrir.

— Então... — insisti para que prosseguisse.

Ela tomou fôlego, então disse:

— Eu estou grávida.

A notícia me atingiu como um coice, deixando-me sem reação por alguns instantes. Por
mais que quisesse muito, não esperava ficar sabendo desse jeito.

— Miguel...

A ausência da minha resposta acabou deixando-a tensa.

— É sério?!

Balançou a cabeça fazendo que sim.

— Achei que você quisesse...

— E eu quero! Céus, quero muito! — Ajoelhei-me diante dela para beijar a sua barriga.
— Vai sujar meu vestido! — Deu um grito, tentando se esquivar.

— Você coloca outro.

— Não tenho outro desses. — Riu, puxando-me de volta antes que o batom manchasse a
parte do seu vente.

— Ah, Mirelle! — Segurei seu rosto entre as minhas mãos. — Estou muito feliz com essa
notícia.

— Eu também.

— Quando descobriu.

— Hoje pela manhã.

— Como? — Toquei seu rosto, encarando-a profundamente.

— A Agda me deu alguns testes de gravidez.

— Quê? — franzi o cenho, surpreso com aquela informação.

— É! — Sem jeito, Mirelle colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha. — Ela tem
vários e me deu alguns.

— Por quê?

— Ela está com medo de engravidar de novo. Cuidar de dois de uma vez parece ser uma
loucura.

— Ah!

Sandro não havia me falado nada a respeito, mas também não acreditava ser um assunto
que deveríamos discutir. Quantos filhos ele tinha ou pretendia ter com a esposa era da conta dele,
mas a minha esposa...

— E você não queria? — Por um instante fiquei tenso, com medo da sua resposta.

— Sim, queria! — O sorriso dela se alargou. — Eu já fiz o teste antes, mas foi negativo.
Talvez eu já estivesse grávida antes, mas leva um tempo...

Silenciei-a com a minha boca, beijando-a num misto de empolgação e paixão.

— É a melhor notícia que poderia me dar — disse com a boca na dela.


O sorriso da Mirelle se alargou.

— Eu... Eu... — Voltou a gaguejar.

— Você... — insisti para que falasse.

— Acho que amo você.

Foi minha vez de sorrir ainda mais e beijá-la.

— Também amo você. — Estava cada vez mais certo de que aquelas palavras não eram
da boca para fora.

Desci com a mão até o ventre dela e o acariciei gentilmente antes de retomar o beijo,
tornando-o mais profundo pouco a pouco. Minha esposa correspondeu até que eu a segurei pela
cintura e sentei-a sobre a pia.

— Miguel!

— Hum. — Mordi seu lábio inferior.

— Achei que você fosse se comportar.

— O fato de estar grávida não impede de transarmos.

— E o casamento!

— Ah, ele pode esperar.

— Miguel!

— Eu só me casei com você no dia seguinte.

Antes que ela falasse algo mais, silenciei-a com um beijo mais intenso e meus dedos
abriram caminho por entre suas coxas, subindo o vestido longo e entrando por dentro da sua
calcinha.

Mirelle gemeu e eu brinquei ainda mais com seu clitóris, atiçando-a enquanto minha
língua imitava os movimentos dos meus dedos.

Puxei sua calcinha, tirando-a pela ponta dos saltos altos e a pendurei na torneira
cumprida.

— Cuidado com meu vestido — sussurrou ao subir com as mãos pelo meu peito e torcer
os dedos na lapela do meu paletó.

— Eu vou tentar.

— Miguel...

Minha língua voltou para o interior da sua boca ao passo que eu abria o zíper da minha
calça e tirava o meu pau do interior da cueca. Afastei mais as suas coxas e envolvi sua cintura
com o braço, puxando-a para a beirada da pia, num ângulo perfeito para me encaixar nela.

Mirelle gemeu na minha boca e eu me uni a ela ao encaixar bem no fundo. Segurei a sua
cintura e a sua nuca, enquanto começava a me movimentar. Ela cruzou as pernas ao redor do
meu quadril e eu aumentei a intensidade em que entrava no seu canal, deliciando-me com cada
contração.

Mais rápido, forte e fundo... Eu me movimentei como um animal faminto, devorando-a


sobre a pedra gelada da pia em uma necessidade que beirava a fome.

Ela tombou a cabeça para trás e deixou um gemido ainda mais alto escapar e eu movia
meu quadril, com tanta firmeza e força que chegava a estalar.

— Miguel! — deixou escapar um grito mais alto ao afundar as unhas nos meus ombros.

Estava tão delicioso que eu não queria me afastar. Então fiz um esforço sobre-humano
para tirar dela quando estava prestes a gozar. Puxei rapidamente um lenço de papel sobre a
bancada e envolvi meu membro com ele, contendo o gozo para evitar sujeira em nossas roupas.
Com a outra mão ainda sobre a superfície dura, eu ofeguei, recuperando-me do orgasmo.

Senti os dedos da minha esposa sobre o dorso da minha mão espalmada e levantei o olhar
para encará-la. A forma como ela sorriu para mim e umedeceu os lábios foi o suficiente para que
eu percebesse sua necessidade por mais.

Deixei que Mirelle guiasse minha mão de volta para o interior das suas coxas e meu dedo
procurou pelo seu clitóris. Meti dois dentro do seu canal úmido e latejante, ao passo que meu
polegar pressionava seu ponto de prazer.

Gemendo, ela rebolou numa dança provocativa sinalizando seu prazer. Segui dando a ela
cada vez mais até que os espasmos do seu canal e sua respiração descompassada, somada a
gemidos agudos me indicassem que ela havia gozado também.

— Acho que estamos atrasados — murmurou.

— Por um bom motivo. — Puxei seu rosto para beijá-la de novo.


— É melhor terminarmos de nos arrumar agora. — Colocou a mão sobre meu peito e me
empurrou para trás, fazendo com que eu recuasse.

Nos limpamos e terminamos de nos arrumar antes de sair do quarto e encontrar minha
irmã pronta na sala.

Alma estava uma noiva linda, em um vestido de rendas com formato de borboletas,
muitas pérolas e brilhos. Entretanto, apenas sua beleza e um vestido luxuoso não eram o
suficiente para fazê-la brilhar.

Era fácil perceber que aquele estava bem longe de ser o dia mais feliz da vida da Alma.

Só torcia para que, assim como eu, ela conseguisse encontrar felicidade em um
casamento arranjado.

Por falar em felicidade...

Eu estava radiante por saber que seria pai. Mal via a hora de conseguir engravidar a
Mirelle e a notícia tinha vindo em um ótimo momento.
Capítulo 61

O meu casamento havia acontecido na Colômbia, mas o do meu irmão seria no México, o
território dos Velásquez. Considerando tudo o que havia acontecido e a ameaça iminente que o
Santiago ainda representava, era bem melhor dessa forma. Já tínhamos corrido riscos demais e
ninguém queria que os últimos e terríveis episódios se repetissem.

Assim como Miguel me prometera, eu estava em segurança na sua casa e até conseguira
me esquecer dos perigos que havia passado em minha lua de mel, todo aquele sangue e homens
tentando me matar.

Miguel cuidava de mim, era um marido muito melhor do que eu imaginei. Estava feliz,
talvez até mais do que me sentia em casa, principalmente depois do ataque ao meu irmão e da
forma como ele havia mudado.

Agda, minha concunhada, era simpática comigo e conversávamos sempre que possível,
eu até gostava de ajudá-la com os gêmeos, talvez me preparando para os meus próprios filhos,
que chegariam em breve. A minha sogra também era gentil, se preocupando com as minhas
necessidades e me ajudando na adaptação com a nova casa. Alma também era amável, por mais
que demonstrasse ter medo do destino que a aguardava, e sempre me fizesse perguntas sobre
meu irmão.

Virginia não reclamava por ele ser um marido ruim e eu esperava que para a Alma ele
também não fosse. Torcia muito para que eles se entendessem assim como Miguel e eu, e
construíssem uma família. Adrián também merecia ter filhos e as pessoas esperavam isso dele.
Virginia vivia comentando comigo sobre a expectativa que criavam em relação a uma gravidez,
que infelizmente não deu tempo de acontecer.

A igreja estava cheia, ainda mais do que no dia do meu casamento, muitos dos
convidados eu nem imaginava quem eram, apesar de ter suspeitado reconhecer um ou outro rosto
da televisão. Considerando a posição que o meu marido ocupava, era de se esperar que ele e a
família tivessem conhecidos importantes.

Eu entrei sozinha e me sentei em um dos bancos da frente, onde me indicaram, já que o


Miguel acompanharia a irmã, na ausência do pai. Adrián não havia se oferecido para entrar
comigo e eu também não disse nada, estava bem longe de viver nosso momento de maior
proximidade e companheirismo.

Reparei no arco de flores que compunha o altar, cuja mesa fora forrada com uma linda
toalha bordada com fios de prata representando símbolos do catolicismo. A decoração ali não
perdia em nada para o dia da minha cerimônia.

Assim que o meu irmão entrou, ainda na cadeira de rodas, eu fiquei reparando nele, mas
não trocamos uma única palavra. Eu não sabia como estava a sua recuperação, conversava com a
minha mãe, mas não mantinha a mesma intimidade com ele, entretanto, sentia que o Adrián nem
estava tentando ficar melhor, o que era péssimo. Considerando o tempo que havia passado e a
estimativa dos médicos quando ele teve alta, já deveria ter voltado a andar.

A marcha nupcial começou a tocar e eu, assim como todos os demais presentes na igreja,
nos viramos para ver a noiva entrar de braços dados com o irmão. Alma nem conseguia esconder
que não desejava estar ali, honestamente, eu não poderia julgá-la por isso, já havia me sentido da
mesma forma.

Eles vieram até o altar e Miguel entregou a mão dela para meu irmão. Eles trocaram
olhares e frases cordiais antes do meu marido se afastar e vir sentar-se ao meu lado.

Sua mão grande e firme pousou sobre a minha e eu lhe dirigi um sorriso sem falar nada,
enquanto o padre dava início aos ritos do casamento. A vantagem, ou não, de uma cerimônia
tradicional, era que sempre diziam e faziam as mesmas coisas e não havia surpresas. Ao menos
eu torcia para que não tivéssemos.

Senti o meu celular tocar dentro da minha pequena bolsa de mão e me apressei para pegá-
lo, seria péssimo se o som atrapalhasse a cerimônia, além disso, todos olhariam para mim de um
jeito que me deixaria muito constrangida.

Não reconheci o número, mas atendi brevemente, num sussurro:

— Eu não posso falar agora.


— Não desligaria se fosse você. — A voz do Santiago do outro lado da linha me fez
estremecer.

— O que você quer? — Mantive o tom baixo para não atrapalhar a cerimônia que se
seguia sem notarem minha tensão.

— Uma igreja bonita, tantas pessoas bem arrumadas... Seria uma pena se tudo fosse para
o ar.

— Do que você está falando?

— Quem é? — Encarando-me, Miguel percebeu que havia algo de errado.

Tensa, não soube exatamente o que dizer, mas meu silêncio não era o que meu marido
esperava.

Impaciente, Miguel puxou o celular da minha mão e falou com quem estava do outro lado
da linha.
Capítulo 62

— Não deveria estar perturbando minha esposa — ameacei, impaciente.

Desejava que tudo corresse bem no casamento da minha irmã e não estava com brecha
para tolerar nada que fugisse do meu esperado.

— Velásquez. — A risada provocativa do outro lado só me deixou ainda mais puto.

— Santiago...

— Sua irmãzinha é muito bonita, uma pena que ela está se casando com um homem que
nem pode ficar de pé, quanto mais ser o marido que ela merece e precisa.

— Parecem palavras de um sujeito amargurado por não ter sido convidado.

— Talvez. — Riu, provocando-me, como se ainda estivesse no controle. — Acho que


sorte a minha por não estar presente.

— Por quê?

— Assegurei que o Adrián não volte para a Colômbia, uma pena que todos vocês vão
acabar explodindo junto.
— O quê?!

— Você é um homem esperto, Miguel, não precisa que eu desenhe.

Mirelle encarou-me com um ar confuso, procurando respostas, mas ao invés de dar a ela,
levantei-me, fazendo um gesto para que ela ficasse no lugar e eu caminhei para a lateral da
igreja, passando por meus homens, que estavam parados, fazendo a segurança e fui para uma
área no exterior, onde poderia conversar sem que minha esposa ou outros membros da minha
família escutassem.

— Você está nos ameaçando? — rosnei. — Tomaria cuidado se fosse você.

— Ameaçando? Ah, não! Eu não sou um homem de ameaças. Só pensei em me despedir


da querida Mirelle antes de todos vocês morrerem.

— Não vamos morrer.

— Os planos são outros.

— O que planeja fazer?

— O que já fiz? Agora só vou me sentar e esperar.

— Santiago.

— Uma boa passagem para a Terra de Los Muertos, Miguel Velásquez.

— Santiago!

Antes que eu obtivesse uma resposta mais clara em relação à provocação dele, o cretino
desligou a chamada.

Peguei o meu celular e liguei imediatamente para o Javier, que estava de prontidão na
porta da igreja.

— Do que precisa chefe?

— Identifique qualquer um suspeito.

— Por quê?

— Santiago está armando alguma coisa.

— Sabe o que é?
— Ainda não.

— Vou colocar todos os homens em alerta.

— Certo. — Desliguei a chamada, tentando pensar, mas antes de chegar a uma


conclusão, senti uma mão sobre o meu ombro que me fez girar para ver quem era.

— O que está fazendo aqui fora? — questionou Sandro. — Está perdendo o casamento da
Alma.

— Podemos estar em perigo — revelei a ele.

— Por que está dizendo isso?

— Santiago ligou para a Mirelle, fazendo ameaças.

— O idiota que a sequestrou e tentou matá-la?

Fiz que sim com um movimento de cabeça.

— Disse que ia assistir enquanto todos explodíamos.

— Uma bomba?

Sandro era mais espero do que eu imaginava.

— É possível.

— Onde? — Olhou de um lado para o outro.

— Não faço ideia.

— Tenho que tirar meus filhos daqui. — Foi a primeira coisa em que pensou e eu não
poderia julgá-lo por isso.

— Tem que tirar todos, mas faça isso sem criar pânico.

— E o casamento?

— Pode continuar depois, desde que nossa irmã esteja viva.

— Você está certo — suspirou. — O que vai fazer?

— Nessa igreja enorme?


— Vai, o tempo pode estar acabando — rugi e ele não falou mais nada antes de se afastar
de mim.

Pensa, Miguel!

Olhei de um lado para o outro, buscando um possível local onde poderiam ter colocado
uma bomba. Se ele queria atingir a todos, a melhor forma era um local central, talvez...

Continuei considerando todas as hipóteses, eles não teriam tido tempo para colocar vários
explosivos nas pilastras que sustentavam a fundação, então o melhor local deveria ser bem ao
centro.

Voltei para o interior da igreja, onde Sandro tentava tirar as pessoas confusas, que
começavam a criar tumulto.

Assim que me avistou, minha esposa veio correndo em minha direção.

— Miguel, o que está acontecendo?

— Você precisa sair daqui, agora! — ordenei.

— Por quê?

— Só me obedeça.

— Mas...

Não queria dizer para ela o verdadeiro motivo da minha preocupação, porém, só meu
jeito de agir já parecia o bastante para fazê-la notar que algo de muito errado estava acontecendo.

— Miguel...

— Vai para fora!

— Mas e você?

— Eu já vou.

— Por favor. — Segurou os meus dedos antes de me ouvir rugir novamente.

— Vai!

Assustada, Mirelle deu alguns passos cambaleantes, até correr para fora da igreja.
As pessoas ainda estavam saindo sem compreender o que poderia estar acontecendo
enquanto eu parei sobre o tapete vermelho, olhando de um lado para o outro, tentando encontrar
qualquer pista de uma possível ameaça.

Vi uma luz vermelha piscar em um dos bancos na região central e cheguei mais perto,
precisei me agachar para ver a bomba que fora montada com pacotes de C4 suficientes para jogar
todo o edifício no chão.

Eu estava bem longe de ser do esquadrão antibombas ou saber qual fio daquele
emaranhado deveria ser cortado para desativá-la. Tudo o que eu via era o contador baixando,
faltava menos de trinta segundos para que tudo explodisse.
Capítulo 63

Confusas, as pessoas se acumulavam do lado de fora da igreja, olhando umas para as


outras e murmurando a fim de compreender o que poderia ter acontecido para que expulsássemos
todos de seus lugares antes que o casamento acabasse.

— O que o seu marido pensa que está fazendo? — furioso, meu irmão rugiu para mim.

— Eu não sei...

— Ele interrompeu meu casamento. Se estiver planejando...

— Santiago fez alguma coisa — interrompi meu irmão antes que ele continuasse a falar
sobre coisas que não entendia.

— Como assim? — Adrián recuou, percebendo que poderia estar agindo de uma forma
imprudente diante do cenário que enfrentávamos.

— Ele me ligou fazendo ameaças e acho que disse algo para o Miguel.

— Disse o quê?

— Ele não me contou, só mandou sair da igreja.


— Onde ele está agora?

— Lá dentro... — nem consegui terminar a frase antes que uma explosão gigantesca
acontecesse.

A rua tremeu, as pessoas ficaram boquiabertas e eu vi uma nuvem de fumaça, fogo e


fragmentos indo em todas as direções.

— Miguel! — gritei em pânico ao lembrar que meu marido não havia saído do interior da
igreja.

Tentei correr na direção da explosão, sem pensar muito, por puro impulso, mas antes que
eu me afastasse, meu irmão agarrou meu braço.

— Ficou maluca!

— Meu marido está lá dentro.

— Se ele estava, você é viúva agora — disse meu irmão sem um pingo de tato, fazendo
com que lágrimas doloridas brotassem dos meus olhos.

— Na... Não pode ser...

— Nem queria se casar com ele. — Adrián deu de ombros.

Ele estava certo, eu não queria antes, mas tudo havia mudado com a nossa convivência.
Desci com a mão para minha barriga e o choro aumentou.

— Vamos ter um bebê.

— Você está grávida? — Adrián ficou surpreso.

— Estou.

— Ah, droga! Se ele estiver morto...

— Para de falar isso!

— Mas, Mirelle...

— Não!

Eu não podia acreditar, nem cogitar que meu marido estivesse morto logo no melhor
momento de nossas vidas.
Santiago não tinha o direito de fazer isso, por mais que parecesse que aquela bomba não
era destinada ao Miguel e sim a mim, tudo o que ele estava tentando fazer era me proteger.

Pareceu levar uma eternidade para que a poeira começasse a se dissipar e o horizonte
fosse ficando menos desfocado, revelando as ruínas que estavam no lugar que antes era ocupado
pela bela igreja.

— Miguel! — Saí correndo novamente e dessa vez meu irmão não me impediu.

Havia muitos pedaços de parede, portas e janelas pelo caminho até que eu conseguisse
me aproximar.

Estava garantindo a mim mesma que o Miguel tinha conseguido escapar antes da
explosão até que vi um corpo. Ele estava fora dos limites, mas tinha sido atingido pelo raio da
explosão.

— Miguel!

Saltei alguns destroços no chão antes de me ajoelhar ao lado dele. Meu marido estava
caído com o rosto para baixo e eu agarrei o seu paletó puxando-o para que se virasse e o encarei.

— Miguel! — Voltei a chamar por ele ao ver o filete de sangue que brotou na sua
têmpora e seu rosto completamente coberto de poeira.

— Ele está vivo? — Tomei um susto quando seu irmão, Sandro, parou ao meu lado.

— Não sei... — Minhas lágrimas de agonia eram tão intensas que molhavam o rosto do
meu marido.

— Me deixa ver. — Sandro tentou me empurrar para o lado, mas antes que conseguisse,
Miguel se moveu e agarrou meu braço.

— Oi, amor. — Me deu um sorriso que aqueceu meu coração.

— Você está vivo! — continuei chorando, mas dessa vez era de emoção.

— Só tomei um tombo — brincou.

— Idiota — resmungou Sandro.

— Por que não para de reclamar e ajuda a me levantar daqui?

— Folgado.
— Eu poderia ter explodido lá dentro.

— Tem uma cabeça dura. — O mais novo deu de ombros.

— Sandro... — supliquei.

Ele maneou a cabeça, mas ajudou Miguel a se levantar. Meu marido deu alguns passos
cambaleantes e mancou. Estava machucado, mas não parecia nada sério.

— Você vai ficar bem?

— Claro, amor! Temos um bebê para criar.

— Sim. — Sorri.

— Vamos fazer outros.

— Eca! — Sandro fez uma careta.


Capítulo 64

— A porra de uma bomba! — exclamou Adrián quando me aproximei dele e dos outros.

— Cortesia do seu amigo.

— Amigo?

— Santiago — respondeu Mirelle de dentes cerrados.

— Achei que tivesse controle sobre o seu território.

Ignorei a provocação do Adrián. Tinha um assunto muito mais importante para lidar,
como verificar se todos estavam bem e garantir que não tivéssemos que lidar com outra bomba
ou imprevisto, enquanto meu corpo dolorido me recordava de que eu não era de ferro.
Felizmente consegui me afastar da bomba o bastante para não morrer com a força do impacto
que só me jogou para frente e me deixou tonto por alguns minutos. Estava machucado, mas nada
parecia grave.

Por sorte, o Sandro parecia ter conseguido tirar todos e ninguém morreu, mas duvidava
que fosse a última vez que tínhamos que lidar com Santiago e seus homens.

— E agora? Vai querer reconstruir a igreja, ou eu e sua irmã podemos nos casar em outro
local? — quis saber Adrián, com um tom provocativo.
Era melhor que meu cunhado ficasse quieto, pois eu tinha certeza de que o alvo do
Santiago era ele e não eu. O colombiano ganhava muito mais matando o antigo chefe do que a
mim.

— O casamento vai continuar?

— Como assim?! — Alma ficou surpresa.

— Terminaremos a cerimônia na nossa casa.

Nosso jardim já estava preparado para a festa, era simples arrumar uma mesa e
providenciar um altar. O padre me encarou com uma expressão de descontentamento, mas sabia
que era melhor não me desafiar.

Acreditava que a segurança da mansão pudesse ser o suficiente para suprimir as surpresas
daquele dia.

— Você precisa ir ao médico. — Mirelle segurou minha mão.

— Estou bem — garanti a ela.

— Miguel...

— Tem um casamento para continuar.

Ela acabou assentindo ao perceber que discutir comigo não era a melhor alternativa.

Os convidados foram orientados a seguir para a mansão. Onde a minha segurança cuidou
de revistar todos e garantir que estivessem na lista. Foram acomodados nas mesas na distribuição
feita pela minha mãe e colocamos um altar improvisado num ângulo onde todos poderiam ver.

Não era exatamente como o programado, mas planejar um novo casamento poderia
colocar nossa família ainda mais em risco. Enquanto não encontrássemos o Santiago, era melhor
ser cauteloso.
Capítulo 65

Depois da igreja ter explodido, meu marido quase acabar morto, meu irmão se casou com
minha cunhada no jardim da mansão dos Velásquez. Cerimônias católicas tradicionais
aconteciam em uma igreja, mas a ocasião pediu uma atitude emergencial e, apesar de estar
machucado, Miguel conseguiu contornar tudo da melhor forma.

Ele era bom em seu papel, liderar e provava isso diariamente.

— Alma e seu irmão estão casados. — Puxou-me para os seus braços, envolvendo-me em
um aconchego delicioso, assim que entramos no nosso quarto depois que a festa acabou e os
convidados haviam ido embora.

— Estão...

— O que foi? — Segurou meu queixo como fazia quando não queria que eu e desviasse o
olhar.

— Quando o Santiago vai parar de tentar nos matar?

— Quando o matarmos — falou num tom tão sério que me fez engolir em seco.

— Por que tem que ser assim?


— É o mundo em que nascemos.

— Tão cruel.

— Infelizmente sim.

— Mas vamos ficar bem.

— Diz o homem que quase foi explodido hoje. — Era para soar sarcástico, mas fez com
que lágrimas voltassem a se acumular nos meus olhos.

— Ei... — Limpou meu choro com a ponta do polegar. — Não vai acontecer de novo.

— Promete?

— Sim.

— Por que é tão difícil acreditar? — Coloquei os braços ao redor do pescoço dele ao
encará-lo com firmeza.

— Passamos por muita coisa.

— Sim, passamos... Só queria que não tivéssemos mais que passar.

— Infelizmente não posso prometer isso, só que farei de tudo para proteger você e nossa
filha.

— Filha? — Arqueei as sobrancelhas, surpresa.

— Sim.

— De onde tirou isso?

— Só um palpite. — Deu de ombros ao acariciar minha barriga.

— Imaginei que preferisse um menino.

— Ainda vamos fazer um menino. — Lançou-me um olhar malicioso.

— Ei!

— Um, não! Ao menos dois.

— Vamos com calma, senhor Velásquez.


— Calma? — Envolveu a minha cintura, as mãos firmes e a pressionou, arrancando de
mim um gritinho. — Quem disse que eu quero ter calma?

— Mas...

Entreguei-me ao beijo quando o sabor da sua língua me envolveu. Não demorou muito
para que estivéssemos nus, nos deitando na cama.

Minhas mãos percorreram os roxos que a explosão havia deixado em sua pele, mas
Miguel não reclamou, como se não estivesse doendo, mas eu acreditava que só estivesse se
fazendo de forte.

— Eu te amo — murmurei para ele, percebendo o quanto essas palavras tinham se


tornado ainda mais verdadeiras ao pensar que poderia tê-lo perdido.

— Também amo você. — Retomou o beijo enquanto seu corpo escorregava para dentro
do meu e Miguel começava a se mover num vai e vem cada vez mais delicioso.
Epílogo

Meses depois...

Odiava admitir que nem meus homens ou a tecnologia a qual eu tinha acesso era boa o
bastante para perseguir Santiago e seus homens dentro da floresta. O bastardo conhecia bem a
Amazônia colombiana e conseguia usá-la como seu esconderijo perfeito. Todas as vezes em que
acreditava estar perto o bastante, ele desaparecia como um fantasma. Entretanto, Santiago não
era assim tão esperto se acreditava que eu iria desistir de capturá-lo, depois de tudo o que havia
feito.

Teria a sua cabeça em uma bandeja nem que fosse a última coisa.

— Miguel! — Mirelle surgiu na porta do meu escritório carregando a nossa filha com
apenas dois meses de vida.

Ela era tão pequena e delicada que me deixava tenso a todo momento. Apesar do meu
irmão me garantir que era assim no início.

— Oi.

— Pode segurá-la um pouco, preciso organizar as roupinhas.

— Onde está a babá?


— De folga.

— Ah... E minha mãe?

— Não sei, mas você consegue. — Contornou a mesa e chegou mais perto, estendendo o
bebê enrolado em uma manta para mim.

— Tenho medo de machucá-la — confessei.

— É só segurar a cabeça, aqui... Assim... — Posicionou a minha pequena nos meus


braços de um jeito que a deixasse mais confortável.

— Viu! Você consegue.

— Parece que sim. — Ri.

— Já volto. — Mirelle desapareceu no corredor e me deixou sozinho com a nossa filha,


olhando para ela em meus braços e a pequena abriu os olhinhos, encarando-me de volta.

Aquela pequena menininha era um motivo ainda mais forte para que eu fizesse tudo de
mim para garantir a segurança da minha família.

Fiquei por muito tempo admirando-a em meus braços e me sentindo orgulhoso por tê-la
até que Mirelle apareceu para pegá-la de volta.

— Pode me dar a Pérola aqui.

— Agora que estávamos bem — brinquei.

— Bom, você pode dar o banho dela.

— Quando estiver um pouquinho maior. — Estendi minha filha de volta para a minha
esposa e Mirelle riu.

Ela se inclinou para me dar um selinho antes de deixar o escritório com a nossa
pequenina.

Pérola me pareceu um excelente nome desde que Mirelle sugeriu e demostrava o quanto
ela era preciosa para nós.

Parei de divagar sobre a minha filhinha quando meu celular começou a tocar e eu puxei
de cima da mesa para atender.

— Miguel.
— Adrián?! — Surpreendi-me com o meu cunhado. — O que foi?

— Sua irmã.

— Ela está bem?

— Não... — Soluçou.

— O que você fez?! — rugi.

— Não fui eu! — rosnou do outro lado, como se houvesse se ofendido.

— Santiago... — murmurei ao me dar conta de que ele ainda estava em nossas vidas e
não havia deixado de caçar o Adrián e todos ligados a ele, incluindo minha irmã e sua esposa,
Alma.

— Ela vai ficar bem?

— Ela precisa ficar...

Fiquei tenso, aquela não era a resposta que gostaria de ouvir.

Ao entregar a Alma àquele casamento, nunca quis que ela se machucasse.


Agradecimentos

Meu agradecimento mais que especial às minhas leitoras e meus leitores, que
me motivam a continuar sempre, em particular a todos os participantes do meu
grupo do Whats: Jeniffer Barcellos, Priscilla, Mi, Marliany Caetano, Mª Yasmin,
Marinalva, Mariana Telles, Gilvane, Chirly Rodrigues, Lais, Larissa Costa, Gaby,
Leidiana, Cristina Tiemi, lasmin Guimarães, Eglaia, Vanessa Oliveira, Nalu, Salene
Oliveira, Ionara, Ilza Mendes, Tatiane, Ana Paula Mendes, Suelen, Elaine David,
Juliana Lelis, Elaine, Simenya Jéssyka Carla Staub, Natalia Fiorruci, Bells, Agda,
Silvana Brito, Daniela Bispo, Celia, Angelica, Pauline Quesada, Cintia Thaty,
Daianna, Dayane Santos, Ivana Sandes, Cristiane Ribeiro, Gardenia Feitosa,
Gilcelia Martins, Amelia Luize, Eliz Severo, Jessyka Monyka, Katlyn, Carol, Natali,
Lidiane, Sthefanie, Rachel Adrielly, Tatiana Amorim, Maria Cristina (Andromeda),
Regina Fabbris, Cleonice Siqueira, Registela, Sandra Fontana, Raay, Daniela Sousa,
Sandra Cecília, Val Luza, Rosiane Ferreira, Janine, Elisandra, Mari, Angela, Ana
Sergia, Alecsandra, Ticyanne, Roberta Frosi, Fatima Aguiar, Paloma das Graças,
Jeh, Karol Moreira, Beatriz Soares, Karina, Fernanda Rulfino e todas as outras.
Agradeço também aos leitores do Instagram e Facebook por todo o carinho e
incentivo constante, em especial à Micheline, amiga, apoiadora e leitora pela qual
tenho um carinho todo especial.

Obrigada, Rosi, por todo carinho. O seu trabalho duro em me assessorar em


todas as etapas dos meus livros, da criação à divulgação, é responsável pelo meu
sucesso. Em especial por me acolher, apoiar, dar conselhos que acabam se
transportando para as páginas dos livros.

Gratidão a toda equipe do Grupo Editorial Portal.

Agradeço meu marido, Gabriel, por estar sempre ao meu lado, me dando
apoio incondicional.

Agradeço a minha coautuara mirim, minha filinha Aurora,


digitando/atrapalhando rsrs, ou só ficando no meu colo e sendo inspiração para
minhas cenas com bebês.

Gratidão aos meus mentores e protetores espirituais! Que meu caminho até
vocês sempre esteja aberto para que possam me orientar e proteger, para que eu
tome as melhores decisões e nunca desista dos meus sonhos.
Sobre a autora

Jéssica Macedo é mineira, de 28 anos, e Under 30 da Forbes Brasil, a lista dos


jovens mais promissores do país. Mora em Belo Horizonte, Minas Gerais. De dentro
de seu apartamento, na companhia do marido, da filha e de três gatos, ela produz
livros fantasia, romances de época e contemporâneos, e, principalmente, obras da
literatura hot, um verdadeiro fenômeno editorial entre o público feminino, vendidas
em um ritmo intenso nas plataformas digitais.

Autora best-seller da Amazon, iniciou sua experiência no mundo da escrita


aos nove anos e tornou-se autora aos 14, com o lançamento do seu primeiro livro “O
Vale das Sombras”. Com mais de 100 obras publicadas, é escritora, editora,
designer e roteirista. Ajudou a adaptar um dos seus romances “Eternamente Minha”
para um longa-metragem lançado na plataforma Cinebrac. Hoje, Jéssica é o
principal nome de um time de autores, a maioria mulheres, que compõem o catálogo
do Grupo Editorial Portal, que ela fundou a partir das experiências vividas em outras
editoras.

Acompanhe mais informações sobre outros livros da autora nas redes sociais.
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Outras obras
Eu errei com elas

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Sinopse:

Ele deixou tudo para trás para ser um juiz, inclusive ela.

Abandonei tudo para me dedicar ao meu maior sonho. Determinado a me tornar juiz, buscava
prestígio, sucesso e dinheiro que eu nunca iria ter seguindo o caminho dos meus avós naquela
cidadezinha.

Ninguém era mais importante que o meu objetivo, nem Janine, minha sonhadora namorada, que
deixei com apenas um bilhete, sem me explicar ou dar a chance que suas lágrimas me
impedissem de partir.

Seis anos se passaram, tornei-me o juiz que havia sonhado, mas com isso veio a frieza e a
solidão. Ainda assim, nada importava até que um diagnóstico jogou meu mundo no chão,
mostrando que dinheiro e prestígio não importavam.

Decidi ir atrás da Janine e descobri que tínhamos uma filha juntos, entretanto eu poderia não ter
tempo de conquistar o perdão pelo meu erro.
Não seja boa, seja minha!

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Sinopse:

MONSTER ROMANCE
ELE É O VILÃO DAS LENDAS DE NATAL.
ELA É UMA MOCINHA INOCENTE.
ELE TEM UMA CAUDA E SABE COMO USAR.
ELE A QUER E TERÁ A QUALQUER CUSTO.

Todos o conhecem por ser o assombroso demônio que pune aqueles que se comportam mal.
Krampus era mau, o terror das lendas natalinas e ninguém desejava estar na sua lista de crianças
más.
Nalu sempre se esforçou para ser uma menina doce, amável e prestativa que agradava a todos.
Abria mão das próprias vontades para ser vista como boa, mas isso não estava sendo o suficiente.
Krampus sempre a quis, mas ela permanecia longe dos seus domínios. Entretanto, estava
disposto a tudo para tê-la para si, inclusive levá-la para o mau caminho.
Gavião: O marido que me rejeitava (agents of S.A.E.W. Livro 2)

link => https://www.amazon.com.br/Gavi%C3%A3o-marido-rejeitava-S-W-ebook/dp/B0CP742SPT/

Sinopse:

O solteiro mais cobiçado de Londres vai se casar!


O milionário Adan Stanley finalmente anunciou o fim da sua vida de solteiro cafajeste e a noiva
era uma garota irlandesa de origem humilde.
O príncipe e a plebeia, um conto de fadas, ao menos era o que todos pensavam.
Regina Evans nunca havia se encontrado pessoalmente com Adan, antes de seu pai tê-lo
apresentado como seu futuro marido. Um casamento arranjado com o homem dos sonhos era
inacreditável, mas ela não sabia que só estava sendo usada.
Adan nunca quis se casar, entretanto o agente secreto da inteligência inglesa estava disposto a
tudo pelo seu país. Seu objetivo era apenas expor uma célula terrorista comandada pelo pai da
Regina, Adan pretendia conseguir o divórcio antes de consumar a união. No entanto, a pobre
garota ingênua não entende por que o marido a rejeita e, deseja um casamento completo.
Rejeitada pelo antigo amor (Irmãos Baker Livro 3)

link => https://www.amazon.com.br/Rejeitada-antigo-Irm%C3%A3os-Baker-Livro-ebook/dp/B0CMC1K5RM/

Sinopse:

AGE GAP – REJEITADA ABANDONADA – BEBÊ POR CONTRATO – SEGUNDA


CHANCE

Keyla Baker carregava consigo um segredo que levaria até o túmulo pela felicidade daqueles que
mais amava. Até que uma doença terrível abalou tudo e a verdade veio à tona.

Depois de uma gravidez na adolescência, e de ter sido rejeitada e abandonada pelo pai do bebê,
foi obrigada a acompanhar de longe o crescimento da filha, mas com a doença dela, precisou
contar a verdade. Entretanto, apenas isso não foi o bastante, o sofrimento foi maior ao ter que
reencontrar o homem que mais a machucou.

Para salvar a primeira filha, precisava de outro bebê...


Keyla estava disposta a tudo, inclusive engravidar novamente do cretino egoísta que só se
importava com ele mesmo.
Jonas Bennet só pensava em se dar bem na vida, o viúvo, achava que ter ficado milionário era a
única coisa que importava e não se arrependia de ter abandonado Keyla. Após tantos anos, ele
não havia mudado, e só aceitou ter outro filho mediante a um contrato que o isentava de
responsabilidades com a criança.

Ele achava que não precisava de amor, mas estava prestes a descobrir o quanto a sua vida sem
uma família era vazia.
Eu sou o pai

link => https://www.amazon.com.br/Eu-sou-pai-J%C3%A9ssica-Macedo-ebook/dp/B0CLC2BBCJ

Sinopse:

Ulisses Weber estava focado em construir a própria carreira. Após se formar na faculdade, ele
só pensava em subir na hierarquia empresarial. Ao começar a trabalhar para a CEO da Global
Solutins, ele não esperava que a linda mulher fosse ensiná-lo mais do que se dar bem no mundo
dos negócios. Determinado, Ulisses tinha mantido as mulheres em segundo plano e ainda era
virgem, mas sua chefe decidiu ajudá-lo com isso.

Não era certo se envolverem, mas foram longe demais...

Então, ele desapareceu.

Gilcélia achou que Ulisses tinha fugido de tudo e, descobrir que estava grávida, só piorou as
coisas, no entanto, ela não sabia da verdade.

O pai de Ulisses o abandonou quando ele era um bebê e só se arrependeu quando já era tarde
demais para recuperar o filho, porém, ao morrer, deixou uma herança milionária ao seu único
herdeiro. Mesmo odiando o pai, havia um império que Ulisses precisava administrar.
Os dois não imaginavam que se reencontrariam, mas um evento os colocou frente a frente.
Ulisses só desejava se desculpar por ter desaparecido, mas descobriu que tinha um filho e de uma
coisa estava certo, não cometeria o mesmo erro do pai.
Os gêmeos rejeitados do mafioso (Cartel Velásquez Livro 1)

link => https://www.amazon.com.br/g%C3%AAmeos-rejeitados-mafioso-Cartel-Vel%C3%A1squez-


ebook/dp/B0CJWWJVYH/

Sinopse:

Agda Martins era só uma garota comum, filha caçula de pais amorosos e estudante universitária
até o cara errado cruzar seu caminho. Sexy, com um sotaque forte e tatuagens, ele parecia apenas
um estrangeiro gato numa festa. Quando descobriu a verdade sobre ele, era tarde demais...

Herdeiro de um dos maiores cartéis do México, Sandro Alberto Velásquez colecionava inimigos.
Entretanto, suas vindas ao Brasil, garantiam um pouco de normalidade e permitiam que ele
baixasse a guarda.

Era para ser apenas um dia de festa com uma brasileira jovem e bonita, Sandro esperava nuca
mais voltar a vê-la, porém, foi o início do pesadelo de Agda.

Uma transa que acabou numa gravidez inesperada...


Agda tinha medo de quem era o pai de seus bebês, no entanto, ainda assim decidiu contar para
ele, deparando-se com desprezo e rejeição. Porém ser abandonada pelo homem que a engravidou
estava longe de ser o seu maior sofrimento, pois os inimigos dos Velásquez viriam atrás dela.
A arrogância de Henzel (Os pecadores)

link => https://www.amazon.com.br/arrog%C3%A2ncia-Henzel-Os-pecadores-ebook/dp/B0CHXVZDZD/

Sinopse:

Age GAP – Dark Fantasy – Ela se apaixona pelo vilão — Anjo caído
Deus não aceita os arrogantes em sua presença (Salmos 5.4,5)

Para as pessoas, Henzel Pellegrini não passava de um homem recluso que controlava a pacata
cidade de Bella Colina. Raramente viam o milionário fora de sua reservada mansão. Contudo,
ninguém imaginava o que ele realmente escondia.

Anna Lombardi só desejava encontrar um lar. A jovem órfã estava perdida e sozinha. Sua
única opção foi se mudar para Bella Colina, onde havia herdado a casa de sua avó e o único lugar
onde teria para morar. Com apenas um punhado de euros no bolso, ela esperava poder começar
de novo.

Henzel abominava os humanos e a mediocridade deles, preferia não os ter por perto, mas para
manter aquela casa enorme, precisava de empregados. Assim Anna cruzou seu caminho,
colocando a soberba que o fez cair diante da gentileza e humildade de espírito de uma jovem
ingênua.
Anna viu a luz nele, mesmo anjo caído fazendo de tudo para afastá-la.
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