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Copyright © 2023 Olívia Molinari

Capa e Diagramação: L.A Design


Adobe Stock, PNGTree

Molinari, Olívia – 1ª Edição – Publicação Independente, 2023.


Romance Contemporâneo

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e acontecimentos descritos


são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança é mera
coincidência

Todos os direitos reservados.


Proibida a cópia e reprodução, por quaisquer meios, sem a prévia
autorização por escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
ÍNDICE
ÍNDICE
ATENÇÃO:
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Epílogo
Recadinho da Autora
Agradecimentos
Sobre a autora
ATENÇÃO:
Este não é um livro Dark, mas pode ser pesado para algumas pessoas. Não
leia se tiver gatilhos a: Abuso psicológico, temas relacionados a suicídio,
bullying ou linguagem vulgar, como palavrões e cenas de sexo descritivas.
Leia por conta e risco.

ESTE LIVRO É UMA FICÇÃO


Lugares, nomes, leis, são frutos da minha imaginação.
Claro que tentei aproximar o máximo possível da realidade através de
pesquisas, mas para algumas coisas precisamos dar voz à licença poética
para fazer a história funcionar.
PLAYLIST
Ouça as músicas que me inspiraram a escrever esta história:
https://linktr.ee/oliviamolinari
Ou acesse pelo meu instagram: @autoraoliviamolinarii
1

Chicago, Illinois

2 meses antes

— Eles estão em casa. — David entra afobado dentro do carro,

sentando-se no banco do passageiro. — Pelo que vi, a vagabunda está


terminando de arrumar as coisas para cair fora.

Solto a fumaça do meu cigarro e meus olhos vão para a porta de

entrada da casa dos Coleman.


— Ótimo. Avise os outros do carro de trás que vamos fazer uma

visitinha para os Coleman.


— Ok.

Harris, um outro comparsa que está no banco de trás, passa uma

mensagem para os integrantes do outro veículo e após pensar um pouco

sobre o que vou fazer nos próximos minutos, saio do carro.

Enquanto atravessamos a rua, vejo uma sombra entre as cortinas

da janela do andar de cima.


Foi rápido, mas pela silhueta e pela sombra dos cabelos

ondulados, sei que é ela.


Consigo farejar o desespero.
Quando subo os degraus da varanda da casa bem localizada no

Lincoln Park, nem preciso fazer o esforço de derrubar a porta, porque ela se

abre, apenas um pouco, o suficiente para Mary colocar a cabeça para fora.

— Eros? — Seu rosto tenta transmitir toda a calma do mundo,

embora seus olhos demonstrem nervosismo. — David? Meninos? O que

estão fazendo aqui a essa hora?


Mary sabe como colocar sua profissão em ação nas horas de

terror. A vagabunda foi uma atriz bem-sucedida que atuou por alguns anos

nos teatros da Broadway, em Nova York, até que John a encontrou e quis se

casar com ela, tornando-a membro de nossa Organização.

Um erro que todos sabiam que traria consequências. Elas

demoraram, quase vinte anos para ser mais específico, mas vieram.

E é por isso que estou aqui.


— Não vai convidar os seus amigos para entrar? — Ergo as

sobrancelhas. — São... — Ergo meu braço e checo o relógio de pulso. —

4:35 da manhã e daqui a pouco poderemos tomar um café da manhã, todos

juntos. O que acha?

O cheiro do medo vem até as minhas narinas.

— Eu, ahn... John ainda está dormindo, acho melhor virem mais
tarde, Eros.
Dou um empurrão na porta que a joga para trás e enquanto entro

no hall da casa, um dos meus homens a pega.


— Eros! O que está fazendo? — grita, desesperada. — John!

Não há nenhuma resposta do andar de cima. Talvez ele esteja se


escondendo.
— Sim, John. Não seja covarde e venha conversar, meu amigo!

— grito de volta, já tirando a minha pistola da cintura. — Levem essa vadia


para a sala e a amarrem.

Os gritos de Mary são ensurdecedores e só param quando Harris


coloca uma fita cinza em sua boca.

John desce as escadas correndo, vestindo um pijama azul


marinho listrado, os cabelos bagunçados. Quando chega no último andar,
mais dois homens o pegam pelo colarinho.

— Eros! O que é isso??? — Se debate, tentando se livrar dos


meus homens. — O que está acontecendo???

— Levem-no para a sala também — ordeno. — Quero dar uma


olhadinha em sua casa.

Enquanto subo os degraus da escada, ouço seus gritos, junto


com os murmúrios de sua esposa.
Recebi uma denúncia que esses filhos da puta estão me traindo

e é por isso que estou aqui para averiguar.


Conheço a casa dos Coleman desde que eu era criança, afinal,

meu pai sempre foi amigo deles. John Coleman era um dos homens
essenciais do meu pai. Isso forçou a nossa relação, nossa convivência.

Abro a porta do primeiro quarto e não encontro nada.


Abro a segunda porta e apenas vejo a cama desarrumada, onde o

casal estava dormindo. Não há malas ou qualquer indício de que eles


estavam armando para escapar.
Saio do quarto e paro em frente a uma porta que foi fechada há

alguns anos.
Fecho os olhos e respiro fundo.

Ela não está mais aqui, mas sua presença é forte dentro desta
casa. Sienna Coleman foi embora quando tinha apenas 9 anos, uma pirralha.
Coloco a mão na maçaneta e a giro.

A porta está destrancada, para a minha surpresa.


— Ora, ora, Sienna. O que será que temos por aqui? —

murmuro, abrindo-a devagar.


No chão, perto da cama, estão duas malas de rodinhas.

Aproximo-me e a abro, encontrando roupas de Mary.


— Porra, eles iam mesmo fugir — David diz, logo atrás de
mim. — O que vamos fazer?
Traidores precisam ser tratados como tal, disso não há dúvidas,
principalmente dentro de uma Organização como a nossa, que se ainda está
em pé nos dias de hoje, é por exatamente tratar as coisas como devem ser.

— Vamos fazer o que precisa ser feito — resmungo, saindo pela


porta.

Volto para a sala onde o casal já está amarrado e suas bocas


silenciadas com fita crepe.
Mary está com os olhos vermelhos de tanto chorar e John, com

o olhar assustado, como se não estivesse entendendo o que está


acontecendo.

Meu sangue está fervendo de raiva, mas, além de tudo, estou


chateado. Nunca pensei que o homem que foi o braço do meu pai por toda a

vida, ia me trair desta forma, quando jurou estar ao meu lado.


Abaixo-me a sua frente e o deixo ver a minha frustração através
da expressão em meu rosto.

— Não quis acreditar quando me disseram que vocês estavam


nos traindo, John. — Balanço a cabeça negativamente. — Achei que era um

mal-entendido, mas eu encontrei as malas e não há como negar.


John agora está com os olhos arregalados, sua cabeça balança
de um lado para o outro negando o que eu acabei de ver.

Encosto o cano da minha pistola em seu queixo.


— Sabe o que fazemos com traidores, não sabe? — Ele fecha os
olhos. Seus resmungos desesperados me deixam ainda mais furioso. —
Como homem de confiança do meu pai, você fazia isso também. Quantos

traidores você eliminou, meu caro?


Ele balança a cabeça negativamente, junto com resmungos.

— Ah, sim. Não há como responder com essa fita em sua boca.
— Puxo-a com força, arrancando um pedaço de seu bigode junto.
Ele toma fôlego.

— Não sei do que está falando, Eros! — grita. — Eu nunca o

trairia, você sabe disso!


— Pare de mentir! — Levanto-me irritado. Seguro a pistola

agora em sua cabeça. — Eu devia estourar os seus miolos agora mesmo, seu

traidor.

— Por favor, Eros! Eu juro! Nunca o traí, não sei o que são
aquelas malas!

David puxa a fita da boca de Mary e ela começa a despejar:

— É minha culpa! John não tem nada a ver com isso! Eu juro!
Mary está chorando desesperadamente ao lado e se eu atirar nos

dois, isso irá acabar de uma vez.

Porém...
Existem castigos muito piores do que simplesmente morrer.
— John, lembra-se quando papai disse que se casar com Mary

era uma das piores coisas que você ia fazer na vida? — Ergo as
sobrancelhas. — Você se casou. E veja só onde estamos, veja só onde ela te

levou.

— ELE NÃO SABE! — Ela grita.


— Cala a boca, vadia! — David dá um tapa em seu rosto.

John tenta se levantar, mas não consegue e me olha com

desespero e súplica.

— Por favor, Eros. Podemos conversar.


Abaixo-me novamente a sua frente e encosto o cano da pistola

em seu colo.

— Mesmo que ela tenha razão, você me decepcionou muito,


John. Você devia ter cuidado melhor da sua mulher, rastreado seus passos.

Agora é tarde demais.

— Vai fazer o quê? Vai me matar???


Abro um meio-sorriso.

— Existem castigos piores que a morte.

Seus olhos se arregalam e ele começa a balançar a cabeça

negativamente.
Já deve ter imaginado ao que me refiro.
— Não, Eros. Não, por favor. Concordamos que ela ia ficar para

sempre fora desta bagunça!

— Concordamos também que você ia ficar ao meu lado para


sempre, mas você quebrou o acordo. Sua esposa quebrou, tanto faz. Não

dizem que quando duas pessoas se casam, se tornam uma?

— Eros! Não, por favor! Ela... Ela é tudo o que tenho!

— É, tem razão. E é por isso que eu a quero. Faz bastante tempo


que não a vejo, uns quinze anos? Não sei... Como ela está? Deve ter se

tornado uma Bella mulher, não é? — Sorrio. — Pelo que me lembro, a mãe

dela... hummm, você e Giovanni até brigaram por ela, não foi?
— Eros!

Dou risada ao mesmo tempo que me levanto.

— Eu quero Sienna. Traga-a de volta, seja lá onde ela estiver. E

sabe o que vou fazer com ela? Claro que sabe, não é? — Dou uma risada.
— Eu vou fazer da vida dela um inferno, até que ela procure a própria

morte, como a mãe fez quando descobriu o que você era e não soube lidar

com a pressão.
As lágrimas caem com mais força pelo rosto de John.

— Ela se formou na faculdade, está ensinando crianças, é

professora. Por favor, Eros. Você pode ter a mulher que quiser. Esqueça

Sienna. Mate-me, mas deixe a minha filha fora disso.


— Não! Sienna vai ter que lidar com os erros do pai e da

madrasta.
Então olho na direção de Mary e ergo a pistola na altura da sua

cabeça.

— E você, vadia, eu passei a vida esperando pelo momento em


que eu ia mandá-la dar um passeio pelo inferno.

Aperto o gatilho, disparando de uma só vez uma bala que se

aloja na testa de Mary, espirrando sangue para todo lado, inclusive no

pijama de John.
O choro do homem é ainda mais alto.

— Traga Sienna de volta, John. É o melhor que você pode fazer

no momento.
Dou sinal para os meus homens e eles o pegam, seguindo

fielmente o que eu já tinha proposto antes de sairmos para resolver esta

questão.
2

Nova Orleans,

Atualmente

Sienna

— Então, na semana que vem, faremos uma releitura dos

clássicos da Disney, mas revisitando a história original dos Irmãos Grimm.

— Ouço vozes animadas. — Espero que vocês se divirtam com essa


matéria.

— Ah, com certeza, senhorita Coleman. Vai ser muito legal!


Ainda mais agora que estamos no Halloween — diz Creedence, um dos

meus alunos mais espertos.

A maioria dos alunos já estão indo embora e eu aproveito para

me sentar um pouco, pois passei a aula inteira em pé e agora estou cansada.

Ainda preciso terminar de dar nota em alguns trabalhos que me trouxeram

esta semana.
— Aí, senhorita Coleman, o Gerard disse que vai ao baile

vestido de Michael Myers, só que nem altura pra isso ele tem! — Os
meninos batem na cabeça do pequeno Gerard e começam a rir.
— Não façam isso — digo em tom de censura, mas ao mesmo

tempo com um sorriso nos lábios. — Gerard, vá vestido do que quiser. É

Halloween!

Ele sorri de volta e seus olhos brilham em minha direção.

— Obrigado, senhorita Coleman. Minha mãe tem uma

plantação de Abóboras, vou pedir a ela para que me deixe trazer uma para a
senhorita enfeitar sua casa.

Apoio o queixo no antebraço.

— Isso é uma ótima ideia, querido. Mas não quero abusar da

sua mãe.

— Não é abuso nenhum, ela gosta muito da senhorita.

Sorrio novamente e os garotos saem da minha sala. Quando

finalmente estou sozinha, consigo respirar fundo.


Não é fácil ser jovem e dar aulas para crianças que estão

entrando na adolescência.

Em um dia eles são os melhores alunos, no outro, querem fazer

da sua vida um verdadeiro inferno. Claro que aos poucos tenho conseguido

conquistar sua admiração, após quase um ano acompanhando-os bem de

perto, quebrando regras da escola para oferecer a eles um ensino diferente,


mas funcional.
— Hey! O que está fazendo aí? — Alessa entra na sala. —

Achei que já tinha ido para a sala dos professores.


— Não mesmo. Você sabe que ninguém aqui gosta de mim, não

é? — Assino alguns papéis. — Então prefiro ficar aqui, até terminar o meu
trabalho.
— Falta muito? Queria dar uma passadinha no Hoy’s, lá tem um

novo atendente que é um gato. Quero ver se consigo convidá-lo para sair.
Hoy’s é um bar bem badalado que temos aqui em Nova Orleans

e às sextas-feiras depois do expediente, vamos para lá beber alguma coisa e


jogar conversa fora.

— Não sei, Alessa. Estou cansada, fiquei em pé o dia inteiro


hoje.
— Ah, por favor, amiga. — Ergo a cabeça e encontro seus olhos

pidões. — Por favor? Não quero ir sozinha. E hoje, pode ser que você se dê
bem.

Respiro fundo.
Alessa é uma amiga que fiz quando cheguei no Estado da

Louisiana. Ela também estava procurando emprego de professora e, assim


como eu, tinha ouvido falar que em Nova Orleans tinha bastante procura
por professoras, já que a maioria das pessoas queria ir para as grandes

cidades, como Nova York, Chicago e etc.


Por sorte fomos contratadas no mesmo colégio e aqui estamos,

quase dois anos trabalhando juntas e sendo odiadas juntas também, por
causa da inovação que trouxemos em nossa profissão, começando pela

midiatização dos alunos.


— Tá bom, eu vou com você. Mas não vou ficar até tarde,

porque amanhã vou passar o dia inteiro em uma aula online.


— Então esquece ir para a casa de alguém fazer um sexo bem
gostoso, né?

Enfio as coisas dentro da minha bolsa, levanto-me e sorrio.


— Sim, pelo menos da minha parte.

— Eu sabia que vocês viriam esta noite! — George Hoy, o dono


do estabelecimento pousa duas canecas gigantes de cerveja na nossa frente.

— É, mas ela só veio porque eu insisti muito, senão ela queria ir


para casa dormir — Alessa resmunga. — Cadê aquele bonitão da semana

passada, Hoy?
— Quem, eu? — Damos um pulo ao ouvir a voz masculina bem
atrás de nós. Alessa fica extremamente envergonhada. O homem sorri. —

Mais duas canecas, Hoy!


Hoy sorri e se afasta para pegar o pedido e entregar a ele.
O bar é em estilo rústico, com músicas Country e hoje está
cheio como de costume, mas essa é a primeira vez que somos pegas assim,

desprevenidas.
— E então, gato. Como é o seu nome? — Alessa tenta passar

confiança, mas sei que por dentro, ela deve estar morrendo de nervosismo.
— Christian Hoy, muito prazer. — Seu sorriso é sedutor.
Arregalamos os olhos.

— Espera aí, você é filho do Hoy? — disparo. — Hoy! Por que


não disse que ele era seu filho?

Hoy coloca as canecas em cima da bandeja e dá de ombros.


— Vocês nunca perguntaram, oras.

O rapaz sorri e se afasta para atender a uma das mesas. Alessa e


eu fechamos a brecha com nossos corpos e encaramos o velho Hoy.
— Conta tudo sobre ele, a minha amiga está ansiosa para saber.

O velho Hoy dá risada. Olhamos para Christian e depois de


volta para o seu pai.

— Ele é do meu primeiro casamento. Estava viajando, passou


muitos anos morando fora e agora voltou. Dei esse emprego a ele até que
arrume algo melhor.

— Entendo.
Alessa e eu olhamos para ele novamente.
Ele é um cara muito bonito, tem cabelos escuros, pele
bronzeada e um porte de bad boy que faz qualquer mulher se derreter.

— Ele tem namorada, Hoy? — Alessa pergunta.


— Não, querida. Meu filho não é de namorar.

Alessa olha para mim com um sorriso malvado. Ela também


não gosta de namorar e fica muito feliz quando encontra um homem assim,
porque parece que sempre atrai os que são grudentos e querem casamento.

— Agora se me dão licença, preciso atender os outros clientes.

Quando o homem se vai, Alessa e eu nos viramos de costas para


o bar e começamos a observar Christian Hoy.

Ele está com uma bandeja passeando pelo salão, sorrindo e

atendendo os clientes com a maior simpatia do mundo.

Claro que as mulheres estão de olho nele. O homem tem um


corpo bem seco, cintura fina e ombros largos. É alto e chamativo, um porte

atlético, de quem se dedica aos exercícios físicos.

— Você acha que devo falar com ele?


— Não sei.

— Mas você acha que ele gostou de mim?

Dou uma risada.


— Não sei, Alessa. Você sabe que não entendo dessas coisas.
— Ah, é. Esqueci que você é uma donzela virgem que está

esperando o cara certo.


Faço uma careta.

— Não é bem assim. Eu só...

Christian Hoy olha para nós e tudo o que eu estava prestes a


dizer some dos meus lábios como fumaça jogada ao vento.

Que olhar foi esse? Pelo amor de Deus.

Até eu que não demonstrei interesse nele, senti algo

esquentando lá embaixo.
— Sentiu, né? — Alessa me cutuca. — Ele é quente. Meu Deus,

eu preciso ficar com esse homem. De um jeito ou de outro.

Bebo um pouco da minha cerveja e volto a mim, deixando para


lá esse homem enigmático, que com certeza será o prato principal da minha

amiga.

— Boa sorte, então.

Passo um pouco da hora que tinha planejado voltar para casa e


bebo um pouco além também. Mesmo assim, caminho a passos rápidos pela

calçada e pela rua deserta.


Adoro esta época de Halloween, onde as casas estão decoradas

com Abóboras, máscaras de grandes ícones dos filmes de terror e tudo o

mais. Todos os anos visto a minha fantasia e saio com alguns amigos para
pedir doces na vizinhança.

É um costume que tenho desde criança, mas a questão é que não

gosto muito de me lembrar dos Halloweens que tive na infância, então

prefiro me lembrar só dos atuais. Com amigos de verdade, pessoas que


realmente gostam de mim.

Hoje está um pouco mais frio do que de costume e isso me faz

apertar mais os passos até a minha casa.


Quando finalmente chego, atravesso o jardim e vou direto para

a porta da cozinha, na parte de trás.

Costumo deixar a porta da frente sempre trancada e uso a de trás

para sair. Isso me ajuda a ter um pouco de controle de segurança, porque às


vezes sou um pouco esquecida. Então usando apenas uma porta, tenho

certeza de trancá-la ao sair.

O problema é que quando enfio a chave na fechadura e a giro,


ela já está destrancada.

Caramba.

Será que esqueci novamente a porra da porta aberta? Já é a

segunda vez esta semana.


Preciso colocar um lembrete no celular, não sei. Algo que me

faça lembrar da porta, porque céus, isso é tão perigoso.


Minha casa está como sempre, silenciosa, escura.

Acendo a luz da cozinha e dou uma olhada ao redor, vendo se

nada está fora do lugar. Facas principalmente.


Aproximo-me do faqueiro, estão todas intactas.

Acho que vou pegar uma para seguir pelo restante da casa. Só

por precaução.

Ergo minha mão e...


Trimmmmmm.

Meu Deus do céu.

Levo a mão ao peito com o coração disparado após ouvir o


toque do telefone da cozinha.

Mas quem é a essa hora? Pelo amor de Deus.

Aproximo-me do telefone, pendurado perto da porta de saída e

o coloco no ouvido.
— Quem é?

— Sienna? Está me ouvindo?

— Pai?
— Sim, Sienna. Você precisa sair desta casa agora.
— O quê? Pai, eu já disse que não vou voltar para Chicago. Eu

não quero essa vida, pelo amor de Deus! Me deixe em paz!

Bato o telefone no gancho e respiro fundo.

Há dois meses meu pai tem ligado e dito coisas que não entendo
e não faço a menor questão de entender.

Quando eu completei 9 anos, ele me enviou para fora de

Chicago, para fora de sua amada e tão significante Chicago Outfit, uma
Organização Criminosa que domina boa parte da cidade, e eu fiquei tão

feliz e agradecida por isso, porque nunca imaginei o meu destino ao lado de

um homem mal e arrogante.

E o destino de toda filha da máfia é esse: casar-se com um dos


homens de “honra” e ser o objeto de prazer até ele se cansar e procurar

outra.

Eu nunca quis isso.


Estudei muito, me esforcei para ter um destino melhor que esse.

O telefone começa a tocar de novo e eu atendo.

— Pai! Eu já disse que não vou voltar!

A risada seca e grossa ecoa do outro lado da linha.


— Olá Sienna! Como você está? Faz muuuuitos anos que não

ouço a sua voz. Devo admitir que ela está doce e suave, bem diferente

daquela voz chatinha e arrogante que você tinha quando era criança.
Meu coração congela no mesmo instante.

— Q q q quem é?
— Não faça esta pergunta idiota, porque você sabe exatamente

quem eu sou. Aquele que você queria que fosse o seu amigo.

Engulo em seco.

Não, não pode ser. Deve ser alguma pegadinha.


— Quem é? — grito.

— Sou eu, Sienna! — E então ouço um grito de fundo. A voz do

meu pai. — E se você não voltar para Chicago, sabe o que vou fazer com o
seu amado pai?

Fecho os olhos e de repente as lágrimas começam a descer uma

atrás da outra.
Isso não pode ser verdade.

— Não, isso é uma pegadinha! Eu vou desligar.

— Acha que é uma pegadinha, Sienna? Embora estejamos no

Halloween e algumas pessoas gostem de brincar com o horror, eu não, eu


gosto de tocar o horror e ver quanto tempo elas aguentam antes que o

sangue jorre em minhas mãos. Você sabe disso porque já me viu cometer

atrocidades que lhe tiraram o sono infantil, então nem preciso dizer muita
coisa.

— Eros...
— Olha, até que você não é tão burra como eu pensava.
Pressiono meus dedos com força ao redor do telefone. Maldito.

— Por favor!

— Já faz dois meses que eu dei uma ordem ao seu pai e ele
ainda não a cumpriu. Você quer que eu faça o mesmo que fiz com sua

madrasta? — ele pergunta devagar, soando tão terrível e miserável como

sempre foi. — Seu pai te contou que eu enfiei uma bala na testa dela?
— Chega!

E as lágrimas já estão rolando em meu rosto e eu não sei o que

fazer.

O meu pesadelo está de volta e não sei como fugir dele.


— Vai ser muito melhor te contar isso pessoalmente, quando eu

puder olhar em seus olhos, sentir o seu cheiro e te comer inteirinha,

querida, Sienna. Não sei se já te contaram, mas você foi prometida a mim,
então chegou a hora de voltar.

— Eros!
— Te espero.
E a ligação é encerrada com os gritos do meu pai ao fundo.

— Não quero te levar a força, Sienna, mas se você lutar, é isso o


que vou fazer.
Viro-me devagar para a voz que ecoou atrás de mim.
Meu coração está batendo como louco no peito, suor frio
escorre pela minha testa e ao virar-me devagar, na direção da voz, grudo
minhas costas na pia.

— Christian? O que está fazendo aqui?


Seus olhos estão cheios de algo ruim, algo que já vi em muitos
homens da máfia. Olhos que sempre tentei deixar para trás.

— Vim buscá-la. É para isso que estou aqui.


Balanço a cabeça negativamente.
— Mas... você e a Alessa...

Ele solta um suspiro e uma risada.


— É, ela foi uma boa foda. Mas não foi pra isso que vim aqui.
Tenho ordens e vou cumpri-la.

Christian vem para cima de mim, mas sou mais rápida e puxo
uma das facas do faqueiro, raspando-a em seu braço.
Ele arregala os olhos ao ver o liquido vermelho espesso saltando

para fora.
— Sua vadia! Eu só não vou te dar uma surra, porque quem vai

fazer isso é o meu chefe!


E ele pula para cima de mim, onde começamos uma luta
corporal.

É claro que Christian me domina.


É claro que a faca vai ao chão.
E em um movimento brusco para tentar me libertar de seu
aperto, ele me empurra e eu bato a cabeça em algo, o que me faz perder os

sentidos e ser entregue totalmente às mãos daqueles a quem eu jurei que ia


deixar para sempre no passado.
3

Chicago, Illinois

Sienna

Abro os olhos devagar ao mesmo tempo que meus sentidos


começam a voltar, pouco a pouco. Ouço o barulho de motor e uma música

de uma banda de rock ecoando dentro do carro.

Quer dizer, dentro de uma Van.


Meu Deus.

Levanto-me, de joelhos, tomando cuidado para não ser jogada


longe com o movimento brusco do veículo e grudo meus dedos na telinha

que me separa do condutor.

— Finalmente a Bella Adormecida acordou.

— ME DEIXE SAIR, SEU CRETINO! ONDE ESTOU?

— Quietinha — Ele masca um chiclete. Vejo seu rosto pelo

espelho retrovisor. Seus olhos de águia cruzam os meus. — Estamos quase


chegando em casa. Você dormiu por muito tempo, já estava até pensando no

que eu ia dizer ao chefe se não acordasse.


Aqui não há janelas e apenas sei que é noite, por ter a visão da
estrada pela telinha da frente.

— Eu quero sair daqui! — Tento puxar a grade mais uma vez.

Ele suspira.

— Olha, gatinha, eu tive a porra de um grande trabalho pra

conseguir esse Furgão velho e fedorento, ainda precisei trazê-la

desacordada e sair de Nova Orleans sem que nos pegassem. Estou há mais
de treze horas dirigindo, sem falar nas horas que não consegui dormir, então

é melhor você calar a porra da sua boca e sossegar, porque falta apenas

trinta minutos para você chegar ao seu destino.

Respiro fundo, viro-me e desço até o chão do furgão, deslizando

minhas costas pela parede de ferro que nos separa.

Enfio minha cabeça entre as mãos.

Não vou chorar.


Eu sabia que isso podia acontecer um dia, mas nunca imaginei

que seria tão cedo. Sempre rezei para que me esquecessem, anulassem o

meu nome e a minha memória.

“— Oi garotinha, tudo bem? — O amigo do papai, um homem

alto e bigodudo se inclina sobre mim. Seus olhos azuis me dão arrepios.
Sempre deram. — Meu Deus, John. Esta menina está a cara da mãe!
Papai solta uma risada.

— Sim, é verdade. E eu acho que a cada ano que ela crescer, irá
se parecer ainda mais.

O homem me olha por mais alguns segundos até se levantar e


dizer ao meu pai:
— Venham, soube que desejava falar comigo.

Papai me puxa pela mão e me leva até uma cadeira alta, na


frente de uma grande mesa escura.

O escritório do senhor Antonio é grande, mas é escuro e frio.


Tenho medo daqui, porque dizem ser mal-assombrado.

Ele volta com um copo com um liquido escuro e entrega ao


papai. Então, senta-se em sua cadeira atrás da mesa.
— Quer que eu peça um suco de laranja para ela?

— Não, ela acabou de comer. An, eu quero algo. Preciso que


você me dê sua permissão.

— Para o quê, John?


Papai olha para mim, depois de volta para o homem.

— Quero enviar Sienna para uma escola de meninas em Nova


York. Ela, ahn... Quero que ela siga outro rumo.
Senhor Antonio olha para mim e me estuda por alguns

segundos.
— Você sabe, John que todas as meninas que nascem na

Organização são criadas para isso. Por que está me pedindo algo assim?
Papai me olha mais uma vez e diz, com pesar na voz:

— Porque tenho medo de que ela faça como a mãe.”

Apesar de ter sido criada por muitos anos longe disso, algumas
memórias ainda são inevitáveis.
— O que fez com a Alessa?

Ele solta uma risada.


— Não a matei, se é isso que quer saber. — Fica em silêncio um

tempo e depois diz: — Acho que seria um desperdício matar uma gostosa
como aquela.
— Poupe-me. Alessa vai ficar decepcionada quando souber.

— Ela não vai saber. Tá, ela vai perceber que o gato com quem
trepou bem gostoso no beco atrás do bar, sumiu do mapa. Mas uma vadia

como ela já deve estar acostumada com isso.


— Alessa não é vadia! — Grudo novamente na tela. — Ela é

minha amiga e é uma boa pessoa. Pena que teve olhos para um patife como
você!
— Você não a conhece, garota. Enfim, você tem um vocabulário

diferente. O chefe vai gostar disso porque ele também fala umas coisas que
as vezes a gente não entende. Ele é bem... culto, sabe?
— Eu não ligo.
— Pois deveria.

Solto um grunhido irritado e me sento novamente.


Sei que o pesadelo está apenas começando, mas seria pedir

demais que já acabasse?

Ergo a cabeça assim que o motor do Furgão é desligado.

— Muita calma agora, mocinha — Christian diz. — Seja bem-


vinda ao lar.

Ele abre a porta e desce do carro, então em alguns minutos, as


portas de onde estou são abertas também e dois homens entram, enfiam em
minha cabeça um pano escuro e amarram as minhas mãos enquanto tento

me debater e fugir.
Claro que todo o meu esforço é em vão. Os homens são fortes e

me levam como uma prisioneira no corredor da morte.


— Para onde estão me levando? — insisto, na esperança de
alguém falar comigo.
Só que ninguém fala nada, apenas conversam entre si na língua
de origem dos nossos antecessores, o italiano. O problema é que quando saí
deste meio, aboli a língua, usando apenas o inglês e tem muitas coisas que

não entendo mais.


Sinto que entramos em algo, talvez um elevador. Uma mulher

diz alguma coisa, depois ri. E alguns minutos depois, me empurram de


forma que caio de joelhos em um piso gelado.
— Mas que porra vocês pensam que estão fazendo? — Ouço a

voz de um homem se aproximando. — Eros vai ficar louco se souberem

que estão fazendo isso.


— Não fizemos nada, embora ela mereça. É uma deles, uma

traidora. — Alguém cospe em minha mão. — A morte seria pouco para ela.

— Saiam daqui! Eu cuido disso — ele grita. — Saiam logo ou

juro que vou estourar a cabeça de vocês.


Ouço alguns murmúrios, então sinto-os se afastando.

A porta do elevador se fecha e quando o silêncio reina, sinto

uma presença e depois duas mãos segurando meus braços e me ajudando a


levantar.

— Porra, esses idiotas são uns fodidos — ele murmura. — Eu

vou tirar isso da sua cabeça, mas não quero nenhum escândalo. Ok?
Não consigo reconhecer a voz, mas ela é reconfortante.
Fico em silêncio e ele suspira pesadamente.

— É, acho que não reconheceu a minha voz.


Então ele puxa o pano para cima e eu abro os olhos.

— Giovanni! — Dou um grito após reconhecer os traços do

único homem que gostei dentro desta Organização.


Abro os braços e o seguro com força, desmanchando-me em

lágrimas.

— Sienna! Minha querida!

Giovanni, meu pai e Antonio eram um trio poderoso na


Organização. Eles eram considerados a Santíssima Trindade da Máfia e essa

amizade perdurou por muitos anos, até a morte de Antonio, pai de Eros.

Pelo visto, Giovanni continuou fiel a Eros, assim como foi ao


seu pai.

O encanto dura pouco tempo, porque logo me lembro o que

estou fazendo aqui e a forma como fui trazida. Então me afasto, como se ele
fosse mais um que pudesse me fazer muito mal.

Seus olhos se tornam tristes.

— Sienna? O que houve?

— O que houve? — Tento secar as lágrimas. — Por que estou


aqui, Giovanni? Não foi combinado que nunca mais me procurariam?
— Eu sei, querida. Mas esse foi um acordo que seu pai fez com

Antonio e não com Eros.

— Mas o que Eros quer comigo? Não tenho nada para oferecer.
Giovanni respira fundo.

— Você está cansada, querida. Venha, já preparei o seu quarto e

sei que deve estar morrendo de fome.

Dou mais um passo para trás e balanço a cabeça negativamente.


— Eu quero ir embora, Giovanni. Quero voltar para a minha

casa, para a minha cidade e para os meus alunos!

Ouço o elevador se abrindo, mas não me viro para ver quem é,


afinal, deve ser mais um dos capangas.

Dou mais um passo para trás, até que meu corpo bate contra o

peito de alguém. Viro-me e perco o fôlego quando os olhos azuis cruzam

com os meus.
— Sienna.

É a mesma voz do telefone.

Grossa.
Rouca.

Poderosa.

Recuo porque ele é um homem perigoso e eu o odeio.


E mesmo que eu não reconhecesse seus traços, jamais poderia

dizer que ele é só mais um capanga, porque seus trajes de gala, seu perfume
caríssimo e seu porte físico de atleta, denunciam muito bem sua condição.

Quantos meses do meu salário de professora custam esse terno?

— O que ela está fazendo aqui? — Ele pergunta para Giovanni.


— Acho que deixei bem claro que a quero trancada no quarto.

— Ela acabou de chegar, Eros.

Os olhos curiosos e famintos de Eros voltam a mim e percorrem

meu corpo da cabeça aos pés.


Vejo o nojo estampado em sua face e isso não é novidade para

mim. Sua indiferença e prepotência de quem se achava melhor que eu,

sempre foi uma das coisas que mais doeu em mim ao decorrer dos anos e
contribuíram para o sentimento que agora carrego.

— Suja... — Ele se aproxima e anda ao meu redor. — E

fedorenta. Magra demais. — Sua mão vem até a minha bunda e a aperta, me

fazendo dar um pulo, assustada. — Não gostei. No entanto, isso é bom


porque vai ser mais fácil acabar com você.

Recuo vários passos.

— O que quer de mim? Eu não faço parte da Organização!


— Quem nasce dentro da Organização, nunca pode sair. Achei

que soubesse disso.


Olho para Giovanni, tentando uma ajuda. Mas ele está de

cabeça baixa.

— Não faça esta cara, Sienna. Eu conheço toda a sua história.

Não achou mesmo que eu ia deixar a filha de um traidor vivendo uma vida
livre por aí, não é?

Preciso de vários segundos para entender o que ele está dizendo,

então pergunto:
— Traidor? Como assim?

Ele solta uma risada, olha para Giovanni e balança a cabeça

negativamente.

— Pelo visto ser uma professorinha em um lugar esquecido por


Deus estava lhe fazendo bem.

Sei como esses homens agem, apesar de ter ido embora quando

já tinha nove anos, lembro-me de ver como as mulheres se portavam. Elas


eram suas escravas, em todos os sentidos.

Eu nunca quis isso.

Ergo o queixo e encaro Eros como se ele fosse apenas um dos

meus alunos rebeldes.


— Ser uma professorinha em um lugar esquecido por Deus me

trouxe algo que vocês nunca terão: dignidade.

Vejo um rastro de desafio percorrer o olhar de Eros.


— Pelo visto lhe trouxe uma boca grande e afiada também.

— Pode considerar que sim.


Eros corta a nossa distância como um lobo prestes a devorar sua

presa e suas mãos fortes vem para o meu queixo, segurando-me com tanta

força que acho que poderia ser capaz de quebrar meu maxilar.

— Então fique avisada, Sienna: Eu odeio que alguém se


coloque na minha frente e odeio que tentem passar por cima das minhas

ordens. Sabe o que eu fiz com a sua madrasta?

— Está me machucando!
Ele aperta com mais força.

— Eu enfiei uma bala na testa dela na frente do seu pai e depois

o torturei. Sabe onde ele está agora? — Minhas lágrimas começam a descer.
— Apodrecendo dentro de um manicômio, porque a morte é um castigo

muito fácil para ele. Eu quero que John esteja vivo quando eu foder a

filhinha dele e depois estrangulá-la até que lágrimas como essas desçam por

falta de fôlego. E só assim, quando tudo acabar, eu vou matá-lo e picá-lo,


deixando os pedaços espalhados para os meus cães comerem.

Eros me solta com brutalidade e eu caio no chão, desta vez

chorando com toda a minha força.


— Cumpra as minhas ordens, Giovanni. Não quero ter que lidar

com você também.


Então ele vira as costas, entra no elevador e se vai.
Giovanni vem ao meu encontro novamente e quando tento fugir

de suas mãos, ele tira algo do bolso e eu apenas sinto a picada antes da

minha consciência me deixar mais uma vez.


4

Chicago, Illinois

Halloween de 2006

Sienna

“— Que Bella bruxinha você é! — Mary acerta o chapéu em

minha cabeça. — Embora eu acho que você devia ter escolhido outra

fantasia.
— Ela gosta de bruxas, Mary — papai intervém.

— Sim, eu sei. Mas seria legal se ela tivesse escolhido outra


coisa. Ano passado ela já foi vestida assim.

— Querida, venha aqui. — Papai afasta o jornal do rosto e eu

me aproximo devagar. — Quer que eu coloque a minha fantasia e vá com

você? Vai ser um pouco ridículo, mas...

Abro um meio-sorriso.

— Não quero andar com um Barney gigante por aí, papai.


Ele ri e me puxa para si, fazendo cócegas em minha barriga.

Dou muitas risadas.


E então a campainha de casa toca e Mary sai para atender a
porta. Ela volta segundos depois e diz:

— Vamos, Sienna. Seus amigos já chegaram.

Respiro fundo.

Não sei se considero essas pessoas meus amigos. Eles são filhos

de outros homens da Organização em que papai trabalha e sempre fazem

questão de humilhar as pessoas. Não gosto disso. Eles se acham demais.


Isso quando não implicam comigo, dizendo que sou estranha, que sou uma

pirralha idiota.

A maioria deles são mais velhos que eu, exceto Carol, que tem a

mesma idade.

— Deixa eu ver quem vai com você. — Papai se levanta e me

acompanha até a porta.

— Boa noite, senhor Coleman. — Um bando de crianças o


cumprimenta, todos juntos.

Papai sorri.

— Boa noite, crianças. Ah, veja só... Este aqui é quem? — Ele

pergunta para quem está usando a fantasia de fantasma.

— Harry, senhor.

— Ah, o pequeno Harry.


Enquanto papai averigua a fantasia de cada um, um outro

garoto se aproxima. Ele é bem mais alto que nós todos e é mais velho
também. Ele tem cabelos pretos repicados, olhos azuis que eu não gosto. Às

vezes o acho bem parecido com seu pai, mas pela foto que vi de sua mãe,
ele também carrega um pouco dela em si.
— Ah, Eros, boa noite — papai o cumprimenta. Ele não usa

fantasia alguma. — Não vai pedir doces, também?


— Boa noite, John. Não tenho mais idade para essas porcarias.

Só vou acompanhar esses pirralhos porque o papai pediu.


— Ah, sim. Ora... — papai apoia a mão em meu ombro. —

Cuide bem da minha garotinha.


E ele me empurra na direção do pequeno corredor que meus
outros amigos fizeram e paro bem na frente de Eros.

Ele me analisa dos pés à cabeça.


Acho que não sou nada para ele, porém, sinto um arrepio

percorrer o meu corpo.


Tenho medo dele.

— Vamos, pirralha. Não tenho a noite toda.”

Respiro fundo, olhando para a cidade de Chicago pela janela do

meu quarto. Ou, melhor dizendo, minha prisão.


As lembranças que tentei enterrar a todo custo, voltam uma

atrás da outra e me deixam muito confusa e irritada.


Faz dois dias que cheguei aqui e desde então só recebi as visitas

de Giovanni e sempre quando pergunto sobre o meu pai, ele diz que não
sabe de nada.

Eu acho que é mentira. Tudo isso é muito frustrante.


Ouço algumas vozes no corredor, então corro para cama e me
sento nela.

A porta é destravada e aberta.


— Olá, menina. — Giovanni entra com uma bandeja. — Trouxe

um lanche para você.


Na bandeja há um copo de suco e um sanduíche, que não sinto a
menor vontade de comer.

— Não estou com fome.


— Você precisa comer, filha. Faz dois dias que chegou e não

quer nada. Vai emagrecer desse jeito.


Dou uma risada seca.

— Bem, o Eros já disse que estou seca, então para que vou
engordar? Prefiro secar mais, até a morte se for possível.
— Não diga essas coisas! — ele ralha. — Seu pai não ia gostar

de ouvir isso da sua boca.


— Meu pai está preso em um manicômio, Giovanni! — Ergo o
tom de voz. — E você acha que vou vê-lo novamente? Não sei que
confusão dos demônios foi essa que ele se meteu, mas a verdade é que

vamos todos morrer!


— Não! — Giovanni se aproxima e puxa as minhas mãos. —

Morte não. Pelo menos pra você, não.


Deixo as lágrimas escaparem mais uma vez.
Giovanni me puxa para si e me abraça.

Quando eu era criança, ele me tratava como se realmente fosse


sua filha. Me trazia presentes, doces. Ele dizia que eu era a filha que ele

queria ter tido.


— Vai ficar tudo bem, eu prometo. — Acaricia minhas costas.

— Mas agora quero que coma algo.


— Não quero, Giovanni... — choramingo.
— Se comer, eu prometo que lhe trago alguma notícia sobre

John.
Suas palavras me desestabilizam e eu olho para ele.

— Sério?
Ele faz aquela cara de quem sabe que vai se meter em confusão,
mas assente.

— Sério. Eu prometo. Agora vá, coma logo.


Pulo na cama e devoro o sanduíche, descobrindo que realmente
estou morrendo de fome.
Ele me observa a todo o momento.

— Onde Eros estava indo aquela noite? — pergunto. — A que


cheguei. Ele estava usando Smoking.

— Uma festa da alta sociedade.


Dou uma risada com a boca cheia.
— As pessoas acham que ele é um bom homem, que ajuda as

pessoas?

Giovanni assente.
— Ridículo.

Mastigo mais um pedaço do meu sanduíche.

— Eu nunca gostei dele. Ele humilhava a nós crianças, porque

era mais velho. Não lembro exatamente quantos anos ele é mais velho, mas
argh, sempre se achou demais.

Giovanni dá uma risada.

— Eros é um rapaz peculiar.


— Peculiar? Ele é um psicopata, isso sim.

Como mais um pedaço, estou curiosa sobre algumas coisas e sei

que só Giovanni vai poder me dar as respostas necessárias.


— Ele já se casou? Homens como ele, devem se casar logo

quando assumem o cargo, não é?


Lembro do que ele me disse ao telefone, sobre eu ter sido

prometida a ele, mas prefiro acreditar que foi apenas um blefe.

— Eros não se casou. — Giovanni se aproxima da janela e


observa lá fora. — Mas não foi por falta de candidatas, foi porque nunca

quis, mesmo.

Meu coração afunda um pouco.

— Coitada da mulher que cair em suas mãos — digo, sentindo


pena de mim mesma.

Os olhos de Giovanni cruzam os meus e sei que ele quer dizer

algo, mas fica em silêncio.


— É verdade que mataram a Mary?

Ele não responde a princípio.

Pelo que me lembro, Giovanni sempre foi um amigo próximo


de Mary e gostava muito dela.

— Sim. Eles... atiraram nela.

— Mas por quê? O que ela e o meu pai fizeram?

— São perguntas que não posso responder, querida. Agora, me


passe esse prato, preciso descer logo.

Bebo todo o suco e coloco o copo na bandeja.


— Giovanni, por favor. Não se esqueça do que me prometeu.

— Não vou esquecer, querida. — Ele pega a bandeja. — Agora

descanse um pouco, acredito que logo você irá receber visitas.


Ele sai do quarto e eu fico olhando para o nada.

O sono me pega por um tempo, até que ouço barulho do trinco

da porta se abrindo. Me ajeito na cama, esperando por Giovanni e rezando

para que seja mais um lanche, porque ainda estou com fome.
Mas, para a minha decepção não é Giovanni. É Eros.

Hoje ele está vestindo calça social preta e camisa da mesma cor.

A manga está dobrada até metade dos antebraços grossos, com veias
saltando. Há uma tatuagem ali que não consigo definir o que é.

Ele é o tipo de homem que Alessa ia gostar.

Argh.

— Vejo que meus braços a agradam — diz.


Ergo os olhos até os dele e faço uma careta.

— Estava olhando a tatuagem.

— É uma serpente — Ele ergue o braço, mostrando-a a mim. —


A cabeça começa aqui na mão e você não vai querer saber onde termina a

cauda. — Seu rosto é muito sugestivo.

Céus.

— O que quer, Eros? — disparo.


Ele cruza os braços.

— Não consegui vir falar com você antes, porque estava


ocupado resolvendo algumas coisas.

— Resolvendo? — Ergo as sobrancelhas. — Não precisa usar

desse palavreado comigo. Eu sei que “resolver” para vocês, é a mesma


coisa que “matar”.

Seus olhos se tornam frios.

— Nunca gostei de você, sabia?

— Estamos quites, então — retruco. — Também nunca gostei


de você.

Ele se abaixa na cama, pressionando as mãos no colchão.

— Seria muito fácil acabar com a sua vida, de uma vez.


— Então faça isso. Pouparia muito tempo de nossas vidas.

— Seria fácil para você, para o seu pai. Mas não é isso o que vai

acontecer. — Ele se ergue novamente. — Enfim, vim para dizer que você

não vai ficar aqui trancada para sempre. Vou liberá-la.


Meus olhos se arregalam e meu coração se enche de esperança.

Avanço na cama e pulo dela, parando bem na sua frente.

— Quer dizer que vai me soltar? Vou poder voltar para Nova
Orleans?
— Não, gatinha. — Eros segura o meu queixo e me gira até que

minhas costas estejam prensadas contra a parede. — Eu vou soltá-la aqui,

no nosso mundo. — Seus olhos vasculham o meu rosto. — Tenho coisa

melhor para você.


— Me solta, por favor.

— Não mesmo.

Fecho os olhos, seu aperto com certeza vai deixar marcas de


dedos em meu rosto.

— Se meu pai o traiu, porque não nos mata de uma vez? Não é

assim que funciona as leis da máfia? Sangue por Sangue?

— Sim, mas eu faço minhas próprias regras.


— Então o que quer de mim?

Abro os olhos novamente e o encontro analisando o meu rosto.

— Por que foi estudar em Nova York e abandonou a nossa


vida?

— Você sabe o porquê.

Dá de ombros.

— Sei o que me falaram, mas nunca tive a oportunidade de


ouvir dos seus lábios.

O aperto de Eros afrouxa um pouco, mesmo assim, continua me

segurando contra a parede.


— Eu... queria outra vida. Longe disso, longe da violência, do

crime. De tudo o que isso representa.


— Mas você nasceu na Máfia, foi criada para ser esposa. A

minha esposa. — A última palavra sai baixinho e ele suspira pesadamente.

— Isso sempre foi uma loucura, porque nunca gostei de você.

Encaro seus olhos.


— Compartilhamos do mesmo sentimento, Eros. Eu não fui

criada para me casar com você, muito menos com qualquer um desses

homens. Não posso compartilhar minha vida com um homem mal, tenho fé
e acredito em Deus.

Um brilho perverso cruza os olhos de Eros.

— Que interessante. Acredite ou não, eu também acredito em


Deus.

Fico em silêncio.

— É tão interessante ver como você fala dos nossos pecados

como se os seus não fossem nada. — Eros se aproxima e seus lábios ficam
a centímetros do meu ouvido. — A adolescente que subornou uma

professora para entrar na Universidade. — Arregalo os olhos. Porra, como

ele sabe disso? — A garotinha que tentou envenenar a própria madrasta


quando o pai se casou novamente. Inclusive, ele sabe disso? — Seus olhos

voltam a me encarar. — É, não sabe. Mas antes de ele morrer, eu vou contar
que sua esposa ficou dias no hospital porque a filhinha não aceitava o seu
casamento e quis dar um jeito na madrasta.

— Isso é mentira! — explodo! — Solte-me!

Tento fugir, mas Eros me segura pela cintura e pressiona sua


boca em meu ouvido.

— Você é tão suja quanto qualquer um de nós, Sienna. E eu sei

que se eu procurar mais, posso encontrar muitos mais pecados nos anos em
que esteve longe da Organização. — Eros começa a rir. — O seu pesadelo é

se enxergar como uma de nós e eu vou te dar esse privilégio, minha querida.

Nós vamos nos casar.

E então Eros me solta e eu viro-me, caindo na cama, assustada


com o que acabei de ouvir.

— O que disse?

— Que vamos nos casar! Você, Sienna, será a esposa do chefe.


— Ainda não consigo processar suas palavras e ele continua: — Fugir

nunca foi a solução, Sienna. Seja bem-vinda à sua nova vida.


E antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele abre a porta e se
vai, me deixando completamente sem saída.

Nunca quis me casar com um nenhum deles, muito menos com


o chefe.
Mas é claro que ele sabe disso.
E é claro que vai usar isso para me destruir.
5

Eros

— Tem certeza que quer fazer isso? — David pergunta pela

terceira vez.

— Eu juro que se ouvir essa pergunta mais uma vez, eu vou


deixá-lo internado junto com o velho.

Ele bufa.

Viramos o corredor e seguimos até o quarto onde John Coleman


está aprisionado.

Giro a chave na porta, entro e o encontro sentado em uma


cadeira de rodas olhando pela janela.

— Sienna?

— Até parece.

Ele vira a cabeça em nossa direção, seus olhos estão confusos,

deve ser pelos inúmeros remédios que estão forçando-o a tomar.

— O que querem? Eu pedi que trouxessem a minha filha!


Puxo uma cadeira e me sento de frente para ele.
— Sua filhinha está dormindo a essas horas no meu quarto.
Deixei-a nua nos lençóis de seda, que são os meus favoritos.

John tenta se levantar, mas está tão dopado que não consegue.

— Maldito!

Dou uma risada.

— Calma aí, velhote. Eu não usei a sua filhinha. Ainda... —

Olho para David e sorrio. — Não sei se gosto dela, sabe? Ela sempre me
irritou, desde criança. Muito inocente para o meu gosto, acho que prefiro as

safadas.

— Seu desgraçado!

Sorrio.

— Mas é claro que não vou deixar uma preciosidade como a sua

pequena Sienna sair desta sem ter passado pelas minhas mãos. Enfim... é

por isso mesmo que estou aqui. Você devia ter visto o rosto dela quando eu
disse que vamos nos casar.

John ergue as sobrancelhas.

— O quê? Eu vou matá-lo!

— Eu sei que é o que deseja, mas não vai acontecer. Até porque,

seremos parentes, John. Devia ficar feliz por isso.

E então o homem começa a chorar copiosamente.


Resmunga coisas como “ela não queria isso, ela não merece

essa vida” como se a garota fosse a porra de uma santa.


Quero ver a santa que ela é quando estiver entre quatro paredes

comigo.
— Não faça esse drama todo, porra. Você sabe muito bem que
ela ia se casar comigo uma hora ou outra, papai sempre disse isso.

— Só se disse isso a você, a mim nunca aconteceu esta


conversa!

Suas palavras me deixam um pouco pensativo.


Será que meu pai esqueceu de deixar esse detalhe acertado com

John antes de morrer?


— O que vai fazer com ela? — pergunta, ainda chorando.
— Vou me casar com ela, dar um pouco de respeito, até me

cansar e finalmente executá-la.


— Eros, você não está pensando.

— Ah, não? Por que?


Os olhos de John grudam em meu rosto.

— Mesmo que seu pai tenha dito que ela seria sua, vai mesmo
se casar com a filha de um traidor? O que acha que vão dizer de você?
— Não me importa o que vão dizer de mim. Importa como vou

cumprir com a lei perante a sua família.


John balança a cabeça negativamente.

— Ela vai engravidar de você.


— Quando ela morrer, o bebê morre junto.

John derrama mais lágrimas.


— Você não é assim, Eros. Você é diferente e está agindo assim

porque está com raiva. Eu já disse que não sabia que Mary ia fugir, porra.
— Não importa, John. Eu preciso fazer isso.
Seus olhos se cravam aos meus.

— Mate-me de uma vez, mas deixe Sienna livre.


Respiro fundo e me levanto, empurrando a cadeira para longe.

Chega dessa conversa.


— Não. Eu vou me livrar de Sienna quando eu achar que ela já
não me serve para mais nada. Eu tenho planos para ela, para você, mas não

é o momento de dizer nada ainda. Enquanto isso, tenha uma boa estadia
aqui nesse... — Olho ao redor. — Lugar de loucos.

David abre a porta e eu sigo até a saída, deixando John e seus


gritos de protesto para trás.
6

Sienna

Faz alguns dias que a porta do meu quarto está destrancada, mas

a verdade é que não tive coragem de sair da fortaleza que esse cômodo se

tornou para mim nos últimos dias.


Giovanni têm vindo todos os dias nos mesmos horários me

trazer comida. Alguns outros homens vieram com sacolas de marcas de

luxo e encheram o meu closet com coisas que não pretendo usar.
Desde aquele dia não vi mais o rosto de Eros e queria que

continuasse assim, mas sei que logo vou ter que encará-lo mais uma vez.
Ele é como um pesadelo, que parece não acabar nunca.

Suas últimas palavras foram mais assustadoras do que se ele

tivesse dito que ia me matar.

Não quero me casar com ele. Não quero me casar com nenhum

homem da máfia. Entretanto, as coisas não estão a meu favor e querer, neste

caso, não é poder.


— Com licença... — Giovanni abre a porta devagar. Estou

sentada na cama, com uma perna dobrada, mexendo em um cantinho da


unha do meu pé. — Querida, a porta está aberta. Pode transitar pela casa o
quanto quiser.

— Não quero, Giovanni. Estou bem aqui.

Ele respira fundo e se aproxima.

— Você será a senhora desta casa. Precisa conhecê-la.

Uma risada amarga escapa da minha garganta.

— Você acredita mesmo no que ele disse? Eros não vai se casar
comigo, está fazendo isso como chantagem emocional.

— Eu não teria tanta certeza disso.

Encaro os olhos frios do homem que me conhece desde a

infância.

— Ele é louco se pensa mesmo em se casar comigo. Vocês não

me consideram uma traidora? O que ele ganha fazendo isso?

O homem respira fundo e desvia o olhar para a janela.


— Eros não é como os outros homens, Sienna. Ele é cruel,

perigoso. Não liga para o que dizem e faz suas próprias regras dentro da

Organização. Também não entendo por que ele quer isso.

— Então você acha que ele vai mesmo se casar comigo?

Giovanni olha para a porta, a fecha e vem até mim, sentando-se

a poucos centímetros de distância.


— Você conhece a história de Ester, rainha dos Judeus?
Encaro-o por longos segundos.

— Quem diria, Giovanni Rossi lê a Bíblia. — Dou risada.


Ele ri também.

— Estou falando sério, Sienna. Ester se casou com um homem


rígido, foi escolhida por ele e o fez se apaixonar por ela. Quando ela
precisou, ele não negou ao pedido dela.

Fico olhando para Giovanni por vários segundos tentando


entender o que ele quer dizer e quando abro a boca para dizer algo, a porta

se abre e uma mulher de cabelos grisalhos diz:


— O jantar vai ser servido daqui a pouco e o chefe quer que ela

desça e participe com ele.


Giovanni assente, olha para mim e me lança uma piscadela.
— É hora de usar aquelas roupas caríssimas que compraram

para você, querida.

Escolho um vestido Valentino lilás. Ele é curto, vai até os


joelhos e tem um decote canoa.
Se eu pudesse, não usaria nada. Mas é claro que isso ia agradar

aos homens pervertidos dessa Organização.


Então quando desço as escadas do apartamento, Giovanni está

na porta de uma das salas, fazendo sinal para que eu me aproxime.


— Ele está lá dentro, pode entrar.

Respiro fundo e quando ele abre a porta, entro tentando manter


a confiança diante do homem que disse claramente querer atormentar a

minha vida, pelo pouco tempo que me resta.


Eros não está sozinho. Ao seu lado esquerdo, há um outro
homem. Ao contrário de Eros, ele tem os cabelos claros e no rosto, apesar

de ser muito bonito, uma cicatriz que corta da bochecha até o começo da
sobrancelha.

Os olhos dos homens vêm diretamente a mim quando ultrapasso


as portas e eles se levantam, como se realmente estivessem esperando por
mim.

— Boa noite, Sienna. — Eros sai detrás da mesa e vem em


minha direção. Para em minha frente e me olha da cabeça aos pés. — Está

muito bonita esta noite.


O quê?

Esse não é o mesmo homem que disse que sou sem graça e
magra demais? O mesmo homem que disse não gostar de mim?
— Venha, estamos esperando por você. — Ele ergue a minha

mão e me leva até a cadeira ao seu lado direito, de frente para o outro
homem, que me olha curioso.
Ele puxa a cadeira e me ajuda a sentar, então vai novamente
para o seu assento.

— Ahn, hoje temos cordeiro ao molho. Mas se não gostar,


posso pedir que preparem outra coisa — ele diz, soando até amável.

Eles me encaram e eu não sei o que dizer, estou completamente


confusa. Esperava que ao chegar aqui, Eros me empurrasse no chão e me
fizesse limpá-lo com a língua.

— Eu, ahn... adoro cordeiro.


Ele sorri, satisfeito e faz sinal para que me sirvam.

A todo momento sinto os olhos do rapaz a minha frente em


cima de mim. Então, quando finalmente sou servida, ele se inclina e diz:

— Não se lembra de mim, Sienna?


— Eu, eu...
Tenho a sensação de que o conheço, mas não consigo me

lembrar.
Ele sorri, olha para Eros, eles dão uma risada e depois olha para

mim novamente.
— Eu roubava doces no Halloween das outras crianças para
você.

E então eu sei quem ele é.


Meus olhos se arregalam.
E a felicidade de reencontrar uma das poucas pessoas que já
foram tão legais aqui comigo me enche de tal forma, que me levanto da

cadeira e vou até ele, dando-lhe um abraço forte.


— David!!! — digo, extremamente feliz. — Não acredito. É

você mesmo!
A esta altura já estamos em pé, trocando um abraço caloroso.
— Sou eu, sim. Fico feliz de ver você entre nós mais uma vez.

Então me afasto, porque me lembro que não era para eu estar

aqui. Mesmo assim, controlo um pouco a minha infelicidade e volto para o


meu lugar, ciente do olhar de Eros em cima de mim.

— Vai me contar sobre essa cicatriz? — pergunto.

— Nada extraordinário, só uma briga de facas — diz como se

fosse a coisa mais normal do mundo. — Na verdade, só vim aqui para


comer um pouco, preciso ir e deixá-los a sós. — David se levanta, seu prato

já está vazio.

— Fique, por favor.


Ele balança a cabeça negativamente.

— Eros precisa ter um jantar com sua noiva. E eu, tenho

negócios a resolver.
Tenho tantas perguntas a lhe fazer, inclusive sobre sua irmã,

Carol, que foi a minha melhor amiga na infância. No entanto, ele está
apressado. David pega o blazer jogado em uma outra cadeira e o veste.

Passa por trás da minha cadeira, abaixa-se e deposita um beijo em meu

rosto.
— Depois conversamos — diz baixinho.

Assinto devagar e o observo saindo da sala, deixando-me

apenas com o meu pesadelo.

— Vocês eram amigos — Eros comenta, cortando sua carne. —


É bom assim, pelo menos você não vai se sentir tão sozinha, como uma

garota que nunca conheceu ninguém da Organização.

Fico em silêncio e coloco a minha atenção no prato a minha


frente.

— Fui visitar o seu pai há dois dias.

Olho para ele no mesmo instante.


— E como ele está?

— Como uma pessoa internada em um manicômio deve estar —

dispara, mas então vejo que ele tenta se controlar. — Disse a ele que vou

me casar com você.


Uma risada escapa.

— É sério isso? Vai levar a frente este tipo de loucura?


— Eu faço minhas próprias regras, Sienna. Além do mais, eu

tenho planos.

Tenho vontade de retrucar, de mandá-lo ao inferno, mas ele


aponta para a minha comida e diz:

— Coma, vai esfriar desse jeito.

— Não estou com fome.

Seus olhos faíscam.


— Coma. E não vou repetir.

Bufo, irritada por ser tratada como uma criança, mas decido

comer, porque a cara da comida está maravilhosa.


Depois de um longo silêncio, Eros diz:

— Espero que entenda que vou colocar alguns limites em você,

mas não pretendo tratá-la como um lixo, afinal, será minha esposa.

Confesso que a tratei daquela forma a princípio por... — Respira fundo. —


A traição de seu pai e a sua própria maneira de olhar para nós como se fosse

superior.

Olho para ele e deixo que continue falando:


— Uma das piores coisas foi a traição de seu pai. Algo que não

posso perdoar.

— E por isso quer me transformar em sua esposa troféu?

— Sim. Talvez.
Solto uma risada entre um suspiro.

— Vá em frente, faça o que quiser. Infelizmente eu sei que não


adianta eu fugir, você vai me encontrar. O que me resta é me acostumar

com a nova vida e aguentar em silêncio as suas traições e todo o resto.

Eros ergue as sobrancelhas, talvez surpreso.


— Por que mudou de ideia? Achei que faria um escândalo sobre

o casamento.

Olho para o lustre no teto e mordo o lábio.

— Existem algumas batalhas que não valem a pena serem


lutadas. Eu acho que a minha é esta.

— Não lhe incomoda, então?

— O que?
— Que eu tenha amantes?

Dou de ombros.

— Você não será o primeiro e nem o último homem neste

mundo a não se contentar com apenas uma.


Eros sorri.

— Acho que errei quando disse pelo telefone que você era

burra. A faculdade lhe serviu para algo, afinal.


Você nem imagina o quanto, sorrio de volta.
Penso no que Giovanni me disse lá no quarto sobre a rainha

Ester e penso em minha atual situação. Se eu não posso lidar com o

inimigo, devo me juntar a ele, entrar em sua mente, em seu coração e

conseguir o que desejo.


— Ótimo. — Eros bate as palmas. — Eu quero uma festa. Onde

irei anunciar a volta de Sienna Coleman para a Organização e o nosso

iminente casamento.

— Aqui temos a piscina do prédio. Caso esteja se perguntando...


— Todos os que moram aqui pertencem à Organização — o

corto, já sabendo de tudo. — Eu já fui uma de vocês.

Os olhos azuis cruzam os meus. Queria muito saber o que ele


está pensando.

Estamos parados frente a frente na beirada de uma gigantesca

piscina Olímpica. A água é extremamente azul e nos tempos de calor, deve

ser uma boa pedida.


— Bem, então é isso. Você já conhece cada canto.

Todo lugar em que Eros me leva, ativa uma memória em minha

cabeça e eu sei exatamente onde estamos. Foram corredores que já percorri


quando criança, lugares que já passei horas esperando pelas intermináveis

reuniões do meu pai, e etc.


Nada aqui é novidade.

— Quer dar um mergulho? — pergunta, talvez incomodado

pelo silêncio.

— Não. Quero voltar para o meu quarto.


Ele respira fundo.

— Ok, então vamos.

Caminhamos para fora da sala da piscina e vamos até o hall com


piso de mármore claro. Vejo algumas pessoas trabalhando, mas quando a

porta se abre, Eros me empurra para dentro do elevador.

Ele começa a subir rápido, mas para mim parece uma


eternidade, ainda mais quando ele está me encarando.

— Eu disse aquilo para lhe irritar.

— Aquilo o quê?

Seus olhos descem pelo meu corpo.


— Que não gostei de você. Que é muito magra.

— Mas eu sou magra.

— Eu sei, mas eu até que gosto.


Bufo, incomodada.
— Olha, não tente bancar o bonzinho comigo, porque sei
exatamente o que quer.

— Ah, é?

— Sim. Sei que quer me usar e depois vai acabar comigo. Você
mesmo disse e é isso o que espero desta loucura.

Eros aperta o botão de emergência do elevador, parando-o no

meio do caminho e seu corpo gigante vem para cima do meu.


Seu dedo indicador ergue o meu queixo.

— Não tem vontade de salvar o seu pai?

— Salvar? Ele podia ter se salvado, se nunca tivesse entrado

nisto.
— Você tem uma boca muito atrevida, Sienna. — Seu rosto

paira a centímetros dos meus. — Quero ver quando esses lábios carnudos

estiverem em volta do meu pau.


— Pare. — Fecho os olhos, suplicando. — Por favor.

— Por quê? Você não é mais nenhuma criança, Sienna. Cresceu,


é mulher. Sabe exatamente o que um homem e uma mulher podem fazer
dentro de um quarto. Não sabe?

Sinto minhas bochechas queimarem.


Abro os olhos e o encaro.
— Me deixe em paz, Eros.
Controlo a minha vontade de mandá-lo ao inferno, ao mesmo
tempo que tento controlar as batidas aceleradas do meu coração.
Odeio este homem.

Odeio tudo o que está acontecendo.


— Me diz uma coisa, Sienna — murmura, seus olhos
encontrando os meus. — Ainda é virgem, não é?

Fecho a boca, recusando-me a responder.


— Se não me responder, eu vou tirar a prova aqui mesmo no
elevador — ameaça, sua mão livre começando a subir o vestido,

deslizando-a devagar pela minha coxa.


Inferno!
Não sei porque me guardei por tanto tempo. Esses homens

malucos da máfia adoram virgens e eu devia ter me livrado disto quando


tive a oportunidade, agora isto será como um troféu para este cretino.
— Não sou virgem.

Eros ri.
— Eu sinto o cheiro de castidade em você, Sienna — sussurra

em meu ouvido. — Uma professorinha que só teve tempo para estudar,


nunca namorou. Acha mesmo que vou acreditar nisto?
Solto um suspiro pesado.

— Estou ansioso por isso, pode acreditar.


7
Sienna

Acostumar-se com uma nova rotina ou, uma nova vida, é uma
das coisas mais difíceis que o ser humano pode enfrentar.

No meu caso, acho que o que mais dói, é não poder dar aulas.

Sinto falta dos meus alunos, de como eles me tiravam do sério


ou me faziam rir do seu jeito adolescente rebelde.

Queria poder mudar as coisas.

Mais alguns dias se passaram e a festa que Eros disse que queria
fazer para anunciar a minha volta, vai finalmente acontecer.

Estou nervosa.
Sei que vou encontrar pessoas que querem o meu pescoço.

Pessoas que me odeiam desde que eu era criança, simplesmente por ser

quem sou.

— Com licença... — Ryna, a cozinheira de Eros, entra em meu

quarto carregando uma caixa branca grande. — Chegou para a senhorita!

Ela deixa o pacote em cima da cama e me olha na expectativa


de que eu vá feliz abrir seja lá o que for.
— Tem algum bilhete? — pergunto, com os braços cruzados,
em pé perto da janela.

— Hummm, deixa eu ver.

Ela fuça o pacote.

— Pelo menos por fora, não.

— Então abra e verifique dentro.

Ryna arregala os olhos.


— Quer que eu abra? O seu presente?

Sento-me na beirada da cama.

— Acha que é um presente? De quem poderia ser?

— Sim... do seu noivo, oras.

Bufo.

— Bem, ele é um homem peculiar. Pode ser alguma roupa para

eu usar esta noite.


Os olhos de Ryna em cima de mim dizem que devo abrir logo

porque ela está muito curiosa para saber o que é.

— Ok, vamos abrir.

Abro a caixa, puxando a parte de cima e encontro algo enrolado

em um papel de seda branco. Em cima, há um pequeno envelope, que abro

e o leio em voz alta:


— “Quero que use este vestido esta noite. Eros.”
Patético.

Clichê.
Reviro os olhos.

— Ahhhh, abra-o, senhorita! Deve ser lindo!


Rasgo o papel de seda e encontro um tecido vermelho enrolado.
Puxo-o para cima, revelando um lindo vestido de alcinha, que vai até os

joelhos. Ele é brilhoso, como cetim. A gola V não é muito chamativa, fica
bem, acredito.

Nada mal.
— Uau, que coisa linda! — Ryna diz. — A senhorita vai usá-lo,

não vai?
Aproximo-me do espelho e o coloco por cima do meu corpo.
Nunca usei um vestido de alcinha antes.

As minhas roupas sempre foram bem simples, fechadas. Por


trabalhar com adolescentes, sempre priorizei elegância e nunca

sensualidade.
— E qual escolha eu tenho a não ser usar isto?

~
— Soube que Eros lhe mandou um vestido para usar na festa

esta noite — Giovanni diz.


— Pois, é. Mandou.

— E você gostou?
Dou de ombros.

— Tanto faz.
Giovanni suspira.
Estou sentada na penteadeira tentando dar um jeito em meu

cabelo, mas não consigo fazer nada.


— Mulheres do mundo inteiro dariam tudo para estar aqui,

ganhando um vestido de um homem como Eros.


Isso me deixa furiosa. Encaro Giovanni pelo espelho.
— E eu não estou inclusa nisso. Nunca pedi para estar aqui.

— Mas agora que está, pode usar isso a seu favor.


— Eu sei, Giovanni. Eu só... pode me deixar sozinha? Preciso

terminar de me arrumar e me preparar mentalmente para suportar pessoas


que nunca gostaram de mim.

Ele assente e sai do quarto, me deixando sozinha. Então solto as


lágrimas que estava segurando.
Nunca gostaram de mim porque sou a filha da mulher que se

matou por não gostar desse mundo. Por odiar aquelas pessoas. Eles sempre
acharam que eu seguiria o mesmo caminho da minha mãe.
Escuto batidas na porta e seco minhas lágrimas rapidamente
antes de permitir a entrada de seja lá quem for. Para a minha surpresa, quem

entra pela porta, é Caroline, irmã de David, a única menina que também foi
minha amiga no tempo em que estive aqui.

— Quando me disseram que Sienna Coleman tinha voltado eu


realmente não acreditei, mas porra. É você!
E em poucos segundos já estamos grudadas uma na outra

chorando por motivos que nem sei explicar.


— Carol! — Afasto-me para olhá-la com mais calma. — Céus,

você está tão linda!


— Você também, Sienna! Meu Deus!

Nos abraçamos mais uma vez e de repente o choro já se torna


risadas.
Pelo menos agora estou mais feliz.

— Mas você ainda está de roupão! Já tem um monte de gente lá


embaixo, estão todos curiosos para vê-la.

— Para ver ou para me fuzilar?


Ela abre um meio-sorriso.
— E esse cabelo bagunçado?

— Não consegui arrumar.


— Não, vamos mexer nisto agora. Sente-se ali, vou fazer um
penteado bem bonito.
Agradeço aos céus por ter enviado Carol bem agora e me sento

em frente a penteadeira. Ela se aproxima e pega a escova de cabelos,


começando a mexer em minhas madeixas.

— Quando David me contou que você tinha voltado, eu quase


caí da cadeira. Juro. — Ela ri. — Eu queria pegar um avião no mesmo dia e
vir para cá, mas Phellipe não deixou.

— Phellipe?

— Sim, meu marido. — Ela continua penteando. — Eu me


casei com um homem da Organização e estávamos tomando conta dos

negócios no Oeste da América, no entanto, voltamos. Eros nos quer aqui de

volta.

— Entendo.
Ela me olha pelo espelho, como se soubesse o que estou

pensando.

— Eu sou feliz, sabe?


— Sim, eu... quero que seja verdade.

Ela abaixa a cabeça e volta a se concentrar no meu cabelo.

— Phellipe é quase trinta anos mais velho que eu, mas não
posso reclamar. Ele... me dá uma vida estável.
Meu coração dói um pouco ao vê-la falando desta maneira, mas

prefiro não a criticar e muito menos julgá-la. Cada um sabe de suas próprias
decisões.

— Entendo.

— E você? Soube que era professora e estava dando aulas para


adolescentes. É verdade?

Sorrio.

— É, sim. Eles eram maravilhosos.

Carol sorri de volta.


— E agora voltou e vai se casar com Eros, hein. — Seu sorriso

é malicioso. — Quem diria. Agarrou logo o Alfa.

— Não o agarrei. Estou sendo forçada a isso.


— Bobagem. — Dá de ombros. — Se Eros quisesse cumprir

alguma maldita vingança por causa do seu pai, já teria feito isso.

Olho para ela pelo espelho.


— Ele quer me usar, Carol.

Ela me encara de volta.

— Todos eles fazem isto, Sienna. Não é novidade para nós, só o

que nos resta é aprender a conviver com isso. — Ela finaliza a minha
trança. — Sinto muito que precisou deixar sua vida para trás, queria que

houvesse uma forma de conciliar tudo isto.


Eu também, mas nem preciso dizer isto em voz alta.

Respiro fundo.

— Obrigada.
Ela apoia as mãos em meus braços.

— Estou muito feliz por você ter voltado. Pode contar comigo

para o que precisar, Sienna. Eu sempre te amei como se fosse a minha irmã

de sangue e mesmo com a nossa separação, isso nunca mudou.


Suas palavras me emocionam, seus olhos me transmitem a

verdade.

— Obrigada, eu vou precisar muito de você e de David.


Ela assente, abaixa-se e deposita um beijo no topo da minha

cabeça.

— Agora se vista, estão todos loucos para verem a noiva de

Eros.

Saio pelo corredor em meus saltos extremamente altos e finos,

acompanhada por Carol. Temos tanto a conversar, mas chegamos à

conclusão que isso pode esperar.


Quando chego na escadaria e desço alguns degraus, vejo a sala

lotada pessoas. Pessoas que eu tinha deixado para trás há muitos anos.
Eles param suas conversas e olham para mim.

— Vá, Sienna. — Carol me cutuca.

Mas não consigo.


Fico parada igual a uma estátua, porque, talvez, eu devesse ter

esperado Eros ter ido me buscar no quarto ou porque eu simplesmente

odeio ser o centro das atenções.

— Sienna voltou! — Uma das mulheres, que não reconheço,


grita, erguendo sua taça de champagne.

E esse bando de malucos começa a brindar entre si, como se eu

fosse alguém importante, alguém por quem eles esperam há muito tempo.
Reconheço Eros adentrando a pequena multidão e vindo em

minha direção. Ele sobe as escadas e seus olhos me varrem dos pés à

cabeça.

— Você está linda. — Segura a minha mão e deposita um beijo,


volta-se para minha amiga, atrás de mim e diz: — Boa noite, Carolina.

Ela sorri e passa pelo lado vazio da escada.

— Boa noite, Eros. Você fez uma ótima escolha, Sienna é a


melhor pessoa que já conheci.

Ela desce, entrando no meio das pessoas.


Estou soando frio.

Não queria fazer parte deste espetáculo ridículo.

— A melhor pessoa que ela já conheceu, hummm. Que

interessante. — Eros dá uma risada. — Venha, vamos cumprimentar as


pessoas.

Eros inclina o seu braço em minha direção, esperando que eu

enganche o meu. E após alguns segundos pensando se devo mesmo fazer


isto, ele ergue a sobrancelha e eu penso que é melhor fazer logo e acabar

com este espetáculo ridículo.

Descemos as escadas lentamente.

São muitos rostos, pessoas que já nem me lembro mais quem


são.

Alguns sorriem de forma genuína. Alguns nem tanto.

Algumas mulheres me olham com desdém, como eu já


esperava. Outras, com pena, por saberem qual será o meu destino depois

que Eros se cansar de mim.

Em um certo momento da recepção, Carol volta e me segura

pelo braço, caminhando comigo ao redor e cochichando em meu ouvido


quem é quem.

A maioria é insignificante, mas uma me chama a atenção.


— Aquela ali é Francesca Giordano. Sinceramente, não sei o

que ela está fazendo aqui. Eros não a quer mais.

— Como assim?

— Ela foi amante dele um tempo, sabe? Amante no grosso


modo, porque a menina era bem ingênua e ele a usou por um tempo. Ela era

virgem e caiu nas lábias dele. Caiu porque quis, né? Então ele a usou e

depois descartou. A face dela é de pura tristeza, veja só.


E Carol tem razão.

A menina tem todo o semblante triste. Ao seu lado, vejo pessoas

que devem ser sua família.


— Ela só está aqui, porque a família foi convidada e devem tê-

la obrigado a vir — Carol diz. — Mas cuidado, a mãe dela é uma cobra.

Bufo.

— Não me importo com ninguém. Daqui a um tempo nem sei


se estarei viva.

Carol para de andar e se coloca na minha frente.

— Sei que está confusa com tudo isso, mas... ouça o meu
conselho: Não se entregue ao Eros antes do casamento, ok? Não queira ser

a próxima Francesca da turma.


Olho para o homem citado do outro lado do salão. Ele está
conversando e bebendo com alguns homens. Seu olhar cruza o meu e ele

meneia a cabeça minimamente.

Então uma ideia demoníaca se apossa da minha mente.

Eros

Finalmente todos os desgraçados foram embora.

Acho que já são quase três da manhã, a casa está uma bagunça,
mas pouco importa.

Sienna foi bem-aceita de volta. Claro que eles pensam que

quero me casar com Sienna apenas como uma forma de vingança. Pois
bem, que continuem pensando assim, é melhor para os meus planos.

Bebo um último gole de uísque e deixo o copo em cima do


balcão da cozinha.
Está tudo escuro.

Subo as escadas, louco para cair na minha cama e adormecer.


Repor as energias.
Meu quarto é do outro lado do corredor e até penso em ir no de
Sienna para falar com ela, mas acho que ela deve estar dormindo.
Amanhã nos falamos.

Viro na direção do meu quarto e vou. Abro a porta e entro, mas


o que vejo, quase faz o meu coração parar.
Sienna está deitada de lado em minha cama, completamente

nua, usando apenas a porra dos sapatos que ela usou esta noite e que, diga-
se de passagem, deixaram-na extremamente sexy, junto com aquele vestido
vermelho.

Meus olhos passeiam pelo corpo pequeno, pelos seios com


bicos rosados e depois descem até o triângulo no meio de suas pernas, com
pelos raspados que estão começando a crescer.

Sienna sobe mais uma perna, expondo sua boceta para mim. Em
contrapartida, meu pau endurece instantaneamente.
Bebi um pouco durante a festa, mas não a ponto de imaginar

coisas.
Isso só pode ser a porra de uma miragem.

Mas eu sei que não é.


Sienna está sorrindo como uma vadia para mim.
— Já que estamos noivos, achei que poderíamos adiantar a

coisa toda — ela diz, soando confiante.


Olho para ela, dentro de seus olhos.
Maldita seja.
Aproximo-me devagar.

Abro a minha mão e a levo na direção de seu corpo. Ela vacila


um pouco, uma ratinha medrosa que está tentando fingir ser o que não é.

Então deslizo meus dedos pela cintura e ela estremece sob o meu toque,
mas continua fingindo que está tudo bem, que posso continuar.
Falsa.

Deslizo os dedos pelos seios, que não são pequenos, nem


grandes. Eu gosto do tamanho deles. E gosto de vê-los com os bicos
saltando em minha direção.

Acaricio-os com o polegar.


Sienna fecha os olhos, sua respiração está dura. Frenética.
— Quer dar pra mim esta noite?

Ela assente minimamente.


Não deve nem saber como beijar, essa maluca dos infernos.
— Sabe que vou te deixar assada por um tempo, não sabe?

Seu rosto começa a modificar, transitando para algo mais


assustado. Suas bochechas assumem um tom rosado, de vergonha.

Bem feito, Sienna.


— Vou fazer você sentar tanto no meu pau, que não vai
conseguir nem sentar em mais nada. Sem falar que vou fazer você mamar

todo o meu gozo quando eu estiver fodendo a sua boca.


Ela arregala os olhos como a boa inocente que é.
Touché.

Tenho vontade de rir.


— Eros!

Balanço a cabeça negativamente e me afasto dela enquanto


começo a abrir os botões da minha camisa.
— Saia daqui, Sienna. Seus jogos não vão funcionar comigo. Eu

vou ter você, mas vai ser no meu tempo e não no seu.
Não olho para ela, mas consigo ouvir que está com raiva.
Levanta-se, pega o roupão no chão e sai, pisando duro.

Dou risada quando ela bate à porta e termino de tirar a minha


roupa. Jogo-me na cama, com meu pau apontando para o teto. Enrolo meus
dedos ao redor da carne macia, seguro-o com força e fecho os olhos.

Movimento-o para baixo e para cima, pensando na imagem da


Sienna tão lindamente nua em minha cama, querendo trepar comigo.
Sei que ela não queria de verdade, mas prefiro pensar que ela

queria sim.
Porque ela ainda vai querer. Ela vai me desejar tanto, que seu

corpo vai arder só quando eu a tocar por cima da roupa.


Só paro de me masturbar quando sinto o meu gozo sujando a
minha mão e se espalhando em minha barriga.

Eu tenho que admitir: apesar de tudo, estou louco para foder


esse corpinho angelical.
8

Sienna

— Chegamos, senhorita — ouço a voz do motorista de Eros,

anunciando o que eu já sei.

Meus olhos vasculham a antiga construção do século anterior,


local que serviu e pelo visto ainda serve, como moradia da família

Ruggiero, a família de Eros.

As paredes continuam em tons claros, as janelas ainda tem


grades pretas e o seu ar continua imponente em um dos bairros familiares

de Chicago.
Achei que nunca mais colocaria os pés aqui, mas infelizmente

eu estava enganada e as memórias voltam como uma tempestade querendo

me afogar.

“— Sienna, o que você está fazendo? — Bella, filha de

Giovanni, um dos amigos do meu pai, pergunta. — As crianças estão todas


brincando lá atrás, no jardim. Por que não vem conosco? — Ela se
aproxima, como se quisesse me contar um segredo. — Descobrimos algo e
acho que você vai querer ver.

Não sei porque Bella está aqui, sendo que ela nem gosta de

mim. Estou brincando no jardim da frente, porque é desse jeito que as

coisas são. Eles não gostam de estar comigo e eu não gosto de estar com

eles.

Além do mais, ela é bem mais velha, da idade de Eros. Eles sim
brincam juntos.

— Eu... estou esperando o meu pai.

— Deixa de ser boba. Ele vai demorar. Nossos pais sempre

demoram. — Ela revira os olhos. — Vem logo, a gente quer brincar com

você!

Bella olha para trás e suas duas amigas estão sorrindo,

esperando que eu me junte a elas.


Respiro fundo e aceito.

Levanto-me, esfregando as mãos uma na outra para retirar o

excesso de terra úmida. Anda chovendo bastante nos últimos dias.

Bella me segura pela mão e me leva na direção do jardim dos

fundos, como se fosse a minha irmã mais velha.

Seguimos para o jardim dos fundos e descemos a ladeira até


perto do lago. Ali existem muitas árvores e é bem longe da casa, pouca
gente passa por aqui, por ser propriedade exclusiva dos Ruggiero.

Quando nos aproximamos, vejo as outras crianças em volta de


um buraco no chão.

— Oi gente, eu trouxe a Sienna pra brincar com a gente! —


Bella diz, esboçando um sorriso de orelha a orelha. — E então, Sienna,
você acha que esse buraco serve para o quê?

Aproximo-me mais um pouco e dou uma rápida olhada.


É bem fundo.

— Não sei, Bella. — Afasto-me. — O que vocês querem fazer?


— Cadê a sua amiguinha? A Carol? — Nina, outra garota mais

velha, pergunta, rondando-me.


— Ela está doente, não pôde vir hoje.
Elas começam a rir.

— Que pena — Nina diz. — E então, George, qual a


brincadeira que vamos fazer hoje com a Sienna?

— Queremos ver se a Sienna tem coragem de entrar no buraco


— ele diz. — Ou se é uma covardezinha.

Meu sangue esquenta na mesma hora ao vê-los falando desta


maneira. Eles não são meus amigos, sempre se acharam melhores do que
eu.

— Não vou entrar no buraco. Meu... vestido...


Estou com um vestido branco que meu pai me deu de

aniversário e não posso sujá-lo, apesar de já ter sujado um pouco com a


brincadeira lá da frente.

— Então você é mesmo uma covardezinha! — Bella vem para


cima de mim e eu dou passos para trás. — Sabe o que dizem de você,

Sienna?
Estou quase perto do buraco, mesmo assim, ela continua
andando e me pressionando.

— O que dizem?
As quatro crianças malvadas se colocam diante de mim, de

braços cruzados.
— Que você é como sua mãe. Fraca e digna de pena. Quando
crescer, vai ser só a putinha de um dos homens da família, até enrolar uma

corda no pescoço e... — Ela faz um gesto com as mãos, entortando o


pescoço enquanto coloca a língua para fora e revira os olhos.

Balanço a cabeça negativamente.


— Sienna fracotinha! Sienna fracotinha! Sienna fracotinha!

E eles começam a avançar novamente para cima de mim e num


descuido, tropeço em algo e caio dentro do buraco.
O impacto gera uma dor horrível em minha bunda.
— SOCORRO! — grito, sentindo a dor subindo para as minhas
costas. — SOCORRO!
Vejo algumas cabeças olhando para mim lá de cima.

— Vamos poupar o seu pai de ver a filha seguindo os passos da


própria mãe! — Bella grita e começa a rir. — Tchau, Sienna!

— Espera! Espera! — As lágrimas estão rolando com força


pelo meu rosto. — BELLA! Espera! Socorro! Me tirem daqui!
Mas eles se afastam e me deixam para trás.

Grito com mais força, mas é em vão. Ninguém mais vem me


ajudar.

As horas se passam, minha garganta já dói de tanto que gritei


durante a tarde toda, mas ninguém veio me buscar.

Estou com frio, com fome.


Acho que vou mesmo morrer dentro desse buraco.
Então não faço a menor ideia de que horas são, estou tão fraca.

Só sei que consigo ouvir um assobio.


E tento, pela última vez, conseguir que alguém me tire daqui.

— SOCORRO!
O assobio para.
— SOCORRO! ME TIREM DAQUI!
Ouço passos se aproximando. Então vejo-o colocando a cabeça
dentro do buraco.
— Sienna?

Ele sequer me espera responder e continua:


— Puta que pariu garota dos infernos! Mas que porra pensa

que está fazendo aqui? — Eros começa a gritar, furioso. — Sabia que estão
todos a procurando pela porra da cidade inteira????
Não sei como respondê-lo, então deixo que as lágrimas falem

por mim.

Ele respira fundo.


— Porra. Eu vou tirar você daí, sua chata. Espera um pouco.

Não sei se ele está dizendo a verdade, até que minutos depois

ele volta com uma corda.

— Amarre isso na sua cintura, porque vou puxar.


Tento amarrar a corda, mas estou muito fraca.

— Não consigo! — Deixo as lágrimas me vencerem mais uma

vez.
Eros resmunga mais um palavrão, mas logo ele pula dentro do

buraco. Ele é alto e consegue sair sozinho.

— Eu vou te matar, garota infernal. Eu ia para uma festa depois


com esta roupa e agora ela está cheia de terra por sua causa.
— Eu não fiz nada. — Deixo mais lágrimas rolarem. — Me

empurraram aqui!
— Porque você é uma idiota. É só por isso.

Eros passa um braço pela minha cintura e me ergue,

empurrando-me para fora do buraco.


Quando finalmente saio, sento-me no gramado e choro ainda

mais.

Ele sai, tenta tirar a terra da roupa e respira fundo.

Gotas de chuva começam a cair e a única coisa que ele diz,


antes de me arrastar pelo braço até a casa é:

— Se eu não tivesse a encontrado, aquele buraco ia encher com

a água da chuva e daqui a algumas horas estaria morta, sua idiota.”

— Memórias ruins? — a voz de Eros me faz tomar um pequeno

susto.
Na verdade não sei como vim parar aqui atrás da casa, no

mesmo lugar onde aconteceu a minha quase morte, mas sei que estou aqui.

E às vezes me pego pensando para que aquele buraco foi aberto.

E como foi usado.


— É, acho que sim. — Respiro fundo e olho para o lago. É final

de tarde e a paisagem começa a ficar aconchegante, ao mesmo tempo fria.


Uma paisagem típica de Outono. — Por que me trouxe para cá, Eros?

Ele se coloca ao meu lado, as mãos enfiadas nos bolsos.

— Eu gosto de morar aqui. Uso o apartamento às vezes, mas


não me sinto tão confortável lá quanto aqui. Aqui é o meu lar, onde cresci,

onde minha família fortaleceu o seu legado.

Fico em silêncio, apenas ouvindo o movimentar das águas e sua

voz grossa.
— Irônico, não acha?

— O quê?

— Você me salvou aquela vez de morrer dentro daquele buraco,


mas... agora poderá finalmente me matar quando tiver o seu desejo de dever

cumprido saciado.

Eros me encara por alguns segundos.

— É, a vida é engraçada às vezes.


— Pergunto-me para o que era aquele buraco.

— Enterramos um traidor naquela madrugada. Bem aqui,

debaixo dos nossos pés.


E então começo a soar frio.

Afasto-me, enojada com tudo isso.

Nunca quis ser parte disto e estou a cada dia mais fundo, mais

dentro. Às vezes sinto que esse é o meu lugar, mas ao mesmo tempo luto
contra isso. Não quero ser um monstro como esses homens, mas é como se

isso me puxasse a todo momento.


Eros disse que não sou diferente deles e, realmente não sou.

Mas tentei ser.

— Não faça essa cara, Sienna. Eu já disse e volto a repetir, você


não é melhor que qualquer um dentro desta Organização. Você tem o

sangue da máfia correndo em suas veias, assim como todos nós.

Balanço a cabeça negativamente.

Eros vem para cima de mim e me segura pelos ombros.


— Eu não sou assim. — Meus olhos se enchem de lágrimas. —

Eu nunca mataria uma pessoa. Eu nunca...

— Chega, Sienna. Se não tivesse deitado nua em minha cama


naquela noite para me seduzir, eu diria que, talvez, eu estivesse enganado,

mas aquilo só confirmou o que já penso de você. É tão mesquinha quanto

qualquer um de nós. Merece estar aqui e tenha certeza que nunca vou deixá-

la livre. — Segura o meu rosto e seus olhos se cravam nos meus. — Se


pensa que vou matá-la, está enganada. Quero que viva cada segundo

pensando e se tornando uma de nós. Esse será o seu castigo por querer viver

uma vida que não era sua.


Eros solta o meu rosto e eu me afasto correndo.

Corro o mais rápido que consigo.


Corro até estar segura dentro da casa.

Eu preciso ver o meu pai.

Não desço para o jantar, mas sei que preciso falar com Eros.

Pelo que observei nos últimos dias em seu apartamento, ele é


um homem que não dorme.

Já é quase meia-noite e ele deve estar no escritório, porque

sempre vive lá quando não está fora com seus amigos da Organização.

Desço as escadas lentamente, está tudo escuro. Sinto uma brisa


fria passar por mim.

Apesar de tudo, eu tenho medo de Eros e esse medo devia ser o

suficiente para me fazer voltar para a cama, mas quem disse que consigo?
A casa é gigantesca, mas lembro-me de cada sala, cada

corredor. Viro no corredor que segue para a cozinha e me aproximo da porta

do escritório, que está entreaberta. Há uma música suave de jazz tocando ao

fundo.
Bato uma vez na porta e ouço um “entre”.

O problema é que eu não estava muito preparada para ver o que

me espera.
Eros está sentado atrás da mesa, com um lápis na orelha e outro

na boca. Mas o que me chama mais a atenção é que está sem camisa,
mostrando seu físico dos deuses.

Seu peito é liso, não tem pelos e isso me agrada. É musculoso,

não deve ter nenhuma grama de gordura na cintura.

Ele é bonito. Muito bonito.


É uma mistura cruel e sexy de um ser mitológico, ironicamente

recebendo o nome de um deles.

A serpente se desenha ao redor de sua cintura, exatamente como


ele me disse que era.

Será que a cauda realmente termina lá?

De repente, minha temperatura se eleva alguns graus.


Desvio minha atenção para os seus cabelos pretos caindo em

sua testa. Eles são lisos, sedosos, brilhantes. Sempre tive inveja de seus

cabelos.

— Sienna — ele diz, depois que volto do meu choque


momentâneo.

— Ahn, eu volto depois. Acho que está ocupado.

Viro-me para sair dali, porque de repente, não parece certo eu


estar olhando o físico desse homem desgraçado e pensando no quanto ele é
gostoso e cruel. Pensando no que ele pode fazer comigo quando finalmente
me tiver em suas mãos.

Mas antes que eu alcance a maçaneta, o corpo alto, forte e viril

se coloca na minha frente e tranca a porta.


— Não. Agora que está aqui, diga-me o que quer. — Sua voz

sai rouca, deixando-me ainda mais atônita.

Dou alguns passos para trás.


Distância é tudo o que preciso agora.

— Eu, ahn... Eu, ahn...

Eros se aproxima com um meio sorriso. Viro-me de costas para

que ele não veja o meu desconforto, mas tudo acontece ao contrário, porque
ele para bem atrás de mim pressionando-me. Dou um pulo e tento me

afastar, mas ele circunda a minha cintura com os braços e me puxa de volta

para si.
— Achou que vir à toca do lobo usando essa camisola de

senhorinha seria uma boa ideia? — diz, sua boca pressionada em meu
ouvido.
Estou tremendo. Sei lá, meu coração está batendo com força.

Engulo em seco.
Acho que estou soando frio agora.
— Eros, me solte. Eu...
— O que quer, Sienna? — Seus braços se afastam da minha
cintura, mas seus dedos ágeis sobem até os meus ombros, empurrando a
camisola para baixo. — Ainda está disposta a me fazer quebrar a regra do

casamento? Por que, bem, segundo as tradições, só posso tê-la, depois que
nos casarmos.
Respiro fundo e devagar quando sinto seus dedos roçarem a

minha pele desnuda.


Fecho os olhos.
— Eu acho que posso quebrar essa regra, ninguém precisa saber

— diz.
— Eros... — Solto um suspiro alarmado. — Eu não vim aqui
por isso.

Sinto seus lábios passando pela minha orelha. Ele a mordisca.


Ai meu Deus.
— Então veio para o quê?

Na verdade eu nem me lembro para o que eu tinha ido ali, ainda


mais agora que parece ter uma corrente elétrica percorrendo o meu corpo,

ativando um ponto lá embaixo. Já estou sentindo a umidade na minha


calcinha e isso não é um bom sinal.
Preciso tomar as rédeas da situação.

— Eu quero ver o meu pai.


E o fogo recebe um balde de água fria.
Sinto-o endurecendo ao mesmo tempo que se afasta de mim. E
ele é categórico ao dizer:

— Não!
— Mas...

— Não, Sienna! — Seus olhos agora são duas labaredas de


fogo. — Você não vai ver o seu pai.
— Por favor, Eros!

Ele se aproxima da porta, a destranca e aponta para fora.


— Não vou repetir. Aprenda a viver a sua nova vida, longe de
tudo e todos que ama.

Suas palavras me magoam, me machucam.


As lágrimas começam a descer novamente e eu saio correndo de
seu escritório, jurando que um dia, vou me vingar deste homem.
9

Eros

— Porra, que cara é essa de quem não dorme há três dias? —

David entra em meu escritório, fecha a porta e se joga em minha poltrona.

— Sério, Eros. Está tudo bem?


— Se querer enfiar a cabeça de uma pessoa dentro do lago e

esperar até que ela passe para o outro é estar bem, então acho que sim, estou

ótimo. — Levanto-me e vou até o armário de bebidas.


São 9 horas da manhã, mas foda-se, só quero beber um pouco e

esquecer que Sienna existe.


— Caramba, não faz nem 1 mês que recuperamos a Sienna pra

você e é assim que está se sentindo?

Encho um copo com Vodka pura e entorno de uma só vez.

— Sim. Ela... está pior do que eu me lembrava. Chata,

arrogante, insuportável.

David solta uma risada.


— Eu acho que isso é tesão acumulado. Já transou com ela?

— Não.
Mas eu tenho pensado muito nessa porra, desde que a vi nua em
minha cama.

Todos os dias estão sendo torturantes a vontade de ir até o

quarto dela e me afundar em seu corpo, mostrando a ela quem é que manda

nesta porra.

— Então transa logo, depois você a descarta, como fez com a

Francesca Giordano.
Dou uma risada sem humor e entrego um copo cheio de Vodka

para David.

— Não abandonei a Francesca por ela ter transado comigo, você

sabe disso.

— Eu sei, mas todo mundo pensa que é.

— Foda-se o que pensam. Eu não a quis porque... — Olho para

a bebida em meu copo. — Ela... é fraca. Tão fraca quanto Sienna.


— E por que está insistindo com Sienna? Não é melhor matá-la

logo e depois ao pai?

Respiro fundo.

Como dizer isso sem que David pense que sou um retardado?

— Eu tenho meus planos e matá-los agora não é um deles. Tudo

ao seu devido tempo, David.


Ele bebe o liquido em seu copo e assente.
— Entendi. Bem, já marcou a data do casamento?

— Ainda não. Mas acredito que no começo de dezembro.


— Nossa, tão longe. Por que esperar tanto?

— Eu já disse que tenho meus planos, David. Aliás, é uma


previsão, pode ser que eu decida antes, não sei.
Respiro fundo.

— Carol está preocupada com Sienna. Acha que ela... bem,


você sabe. A história da mãe dela.

Balanço a cabeça negativamente.


— Sienna não vai fazer isso. Ela era feliz em sua vidinha

medíocre em Nova Orleans. Era... amigável com as pessoas e dava aulas


para crianças.
— Eu sei disso.

— Sei que sou um monstro e não faço a menor questão de que


Sienna goste de mim, você sabe, também nunca fui afetuoso com ela —

Encaro os olhos do meu melhor amigo e braço direito. —, mas eu preciso


encontrar uma forma de fazê-la se acalmar. Ontem veio pedir para ver o pai.

— E você deixou?
— Claro que não.
David suspira.

— Ela deve odiá-lo.


— O problema não é Sienna me odiar. O problema é fazer da

minha vida um inferno. — Ergo a cabeça e respiro fundo. — Eu realmente


preciso encontrar uma forma de aquietá-la. Só assim para viver em paz nos

próximos meses, até o casamento.


Abaixo a cabeça novamente e abro os olhos.

De repente me perco em um quadro pendurado na parede, que


deve ter sido pintado por algum desconhecido. Meu pai adorava comprar
essas coisas de quem ele achava que merecia, geralmente pessoas que

expunham suas artes na rua.


No quadro, há uma imagem de um jardim e um cão amarelo

pulando.
É isso.
— Vamos, levante-se daí. — Dou a volta na mesa e pego minha

camisa e meu terno, vestindo-os. — Vamos sair.


— Eu vim aqui morrendo de fome, esperando um café da

manhã decente, Eros.


— Foda-se. Vamos sair, agora. Preciso fazer uma coisa.

David revira os olhos.


— Eu acho que vou concordar com a Sienna. Você é chato pra
caralho.
~

Sienna

— Oi, posso entrar?

Ergo a cabeça e fito o rosto bonito e angelical de Carol. Sento-


me rapidamente na cama e tento ajeitar o meu cabelo.
— Sim, claro. Entre.

Ela sorri e entra, fechando a porta atrás de si.


Carol está elegante usando calça social preta e uma blusa de cor

vinho. Um casaco de tom preto com listras douradas compõe o look,


deixando-o ainda melhor.

— Como você está?


— Se ser uma prisioneira e querer matar o seu algoz todos os
dias é estar bem, então sim, eu estou.

Carol solta uma risada.


— Me perdoe por não ter vindo antes, tive que resolver alguns

problemas relacionado a nossa mudança.


— Mudança? — Franzo o cenho.
Ela balança a cabeça afirmativamente.
— Vou me mudar de volta. Estou tão feliz, porque agora poderei
ficar perto de você novamente.
Carol abre os braços e eu me jogo neles, tentando encontrar um

refúgio em meio a todo esses caos que a minha vida se tornou.


— Já encontraram a casa? — pergunto.

— Sim, fica aqui nesta rua mesmo. Inclusive, eu vim chamá-la


para tomar um café comigo. Que tal?
A ideia me anima logo de cara, mas ao mesmo tempo me

entristeço ao pensar em Alessa.

O que será que ela pensa que aconteceu comigo?


— O que foi, Sienna? — Carol apoia sua mão na minha. —

Eros já permitiu. Aliás, ele e David saíram logo agora, então temos a manhã

livre.

Abro um meio-sorriso.
— Eu tinha uma amiga em Nova Orleans e a gente tomava café

da manhã juntas, antes de entrarmos na escola, para dar aulas — explico. —

Ela... deve estar pensando que a abandonei ou algo do tipo.


Carol se solidariza apertando a minha mão levemente.

— Não fique assim. Essa sua amiga deve sentir a sua falta, mas

quem sabe você poderá vê-la novamente um dia?


Vê-la novamente um dia.
Talvez.

Respiro fundo.
Quero dizer à Carol tudo o que sinto sobre isso, mas ela é uma

pessoa especial que parece não ter sido afetada pelos anos, mesmo se

casando com um dos homens da Organização, então não quero magoá-la,


por isso digo:

— É, quem sabe.

Ela sorri.

— Então vamos, quero te mostrar a minha nova casa.

— Não sei se Eros é louco ou se é corajoso — digo, enquanto

atravessamos a rua e caminhamos na direção da casa de Carol.

— Por quê?
— Por me deixar sair assim, sozinha.

— Não está sozinha. Você está comigo.

— Eu poderia tentar fugir.

— Não chegaria nem na esquina. — Ela ri. — Eros é muito


poderoso, sinto muito, mas você não conseguiria escapar dele.

Respiro fundo e assinto, derrotada.


Carol tem razão.

Sua casa fica quase na outra esquina, é de dois andares e tem

um jardim muito bonito na frente.


— O que acha?

— É linda!

— Eu já estou louca para começar a decoração do Halloween.

Você vai fazer na sua casa também?


— Minha casa? — Ergo as sobrancelhas.

— Sim, você é noiva do Eros. Aquela também vai ser sua casa,

quando se casarem.
Respiro fundo mais um vez.

— Não sei. Eu, não tenho boas lembranças do Halloween aqui

em Chicago.

— Claro que tem! Saíamos todos os anos fantasiados pedindo


doces pela vizinhança. Pelo amor de Deus, Sienna. Nem pense em fazer

isso, eu já estou até planejando uma super festa aqui em casa e todos vão ter

que vir fantasiados!


Olho para a minha amiga procurando por algum sinal de

embriaguez, mas não consigo encontrar.

— Como consegue? — pergunto baixinho.

— O quê?
— Viver... esta vida — Olho para os lados. —, como se fossem

pessoas comuns.
Carol gira a cabeça e seu semblante se torna sério o bastante

para me dizer que estou pisando em um terreno desconhecido.

— Porque somos pessoas comuns, Sienna.


Abro a boca para dizer algo, mas ela me interrompe, abrindo um

sorriso e olhando para a porta da frente.

— Venha, vamos tomar um café bem gostoso!

Então ela vai na frente e eu enfio as mãos nos bolsos da minha


calça.

O vento gelado me faz estremecer.

Começo a pensar que a louca deste lugar sou eu.

Carol e eu passamos toda a manhã conversando.


Contei para ela sobre como foi a minha vida quando fui embora,

a escola que estudei, a faculdade... Falei sobre como amava dar aulas e

como amava os meus alunos, mesmo que eles fizessem muita bagunça boa
parte do dia.
Ela achou fascinante cada detalhe e disse que se sentia feliz por

eu ter vivido pelo menos um pouco do que idealizei para a minha vida.

Então entramos em sua vida e ela me contou como conheceu

Phellipe, seu esposo.


Eles são bons amigos, isso que importa, segundo suas palavras.

Então, depois de muita conversa, o celular de Carol toca com Eros me

querendo de volta.
— Não vai entrar? — pergunto a ela quando paramos na entrada

do jardim.

— Não. Preciso resolver algumas coisas, mas obrigada pela

companhia, Sienna. Amei retomar nossa amizade.


— Eu que agradeço por isso.

Ela sorri.

Sorrio de volta.
Afasto-me.

Quando entro na casa, Eros está parado perto da escadaria, com

os braços cruzados.

Espero que me xingue, porque nem tentei averiguar se ele


realmente sabia que eu estava com Carol, mas tudo o que recebo é um

sorriso presunçoso.

— Fico feliz que encontrou uma amiga — diz.


— Carol era a única que gostava de mim. Ela e David.

— Eles não são os únicos, bem, pelo menos a partir de agora.


Paro de andar e olho para ele.

Franzo o cenho.

— O que quer dizer?

— Venha comigo. — Estende a mão.


Seu olhar fixo ao meu denuncia o que ele não diz em voz alta:

Coloque a mão aqui ou eu vou puxá-la a força.

Então eu ergo a mão e a descanso em cima da de Eros. Ele abre


um meio-sorriso e relaxa sua postura. Leva-me até a porta do jardim dos

fundos. E é quando a abre que quase caio para trás quando um cachorro

pula em cima de mim.


— Ai meu Deus. — Dou risada. O animal está cheirando o meu

rosto. — Hey, espere, garoto.

O cão se afasta e eu me levanto.

— O que é isso, Eros?


Ele ergue as sobrancelhas como se a resposta fosse óbvia.

— Ok, eu sei que é um cachorro, mas... Ele é seu?

— Não. Eu o comprei.
— De quem?

O cachorro é um Golden Retriever dourado, mas ele já é adulto.


— Bem, não interessa. Gostou? Ele é seu a partir de hoje.
Olho para o animal.

Ele se esfrega em minha perna e balança o rabo de um lado para

o outro.
Abaixo-me até que seu focinho esteja em minhas mãos.

— Ele te roubou, não é, amiguinho? — O cachorro me responde

com uma lambida no rosto. Dou risada. — Ok, eu sei. Mas eu vou cuidar de
você, tá? Eu prometo.

Eros bufa.

— Ele estava na casa de um casal de paspalhões que não sabiam

cuidar direito. Então eu fiz o favor de trazê-lo para cá. Não o roubei, apenas
peguei emprestado.

Dou uma risada.

— Ok, obrigada.
Sempre quis ter um cachorro, essa é a verdade.

— Ele tem um nome? — pergunto.


— Não, escolha o que quiser.
Penso por alguns instantes.

— Ele é macho, né?


— Não, é fêmea.
— Hummmm, vejamos, então...
Começo a rir ao pensar no nome que escolhi.
— Qual nome escolheu, Sienna?
Levanto-me e o encaro. Depois encaro-o o animal.

— Ela vai se chamar “Hedonê”.


Os olhos de Eros brilham perigosamente.
— Você é muito atrevida, Sienna. — Ele se aproxima. — Não

sei se gosto disso.


Então ele se afasta e eu rio ainda mais.
Hedonê, segundo a mitologia grega, era filha de Eros com

Psique. Mas Eros sabe disso e agora sabe também, que esta cachorrinha, é a
sua filha.
— Vem Hedonê, vou te mostrar a casa.

Ela me segue e, por alguns instantes, sinto como se esta fosse


também a minha casa.
E ela vai ser.

Mesmo que eu ainda lute contra esse sentimento.


10

Eros

— Pelo visto, Sienna adorou o presente que você lhe deu.

Beberico um pouco do uísque em meu copo enquanto observo

Sienna pulando e brincando com a Golden Retriever que lhe dei alguns dias
atrás.

— É, acho que sim. Ela leva esse animal para todo lado agora.

David se levanta e se junta a mim na janela, para os


observarmos.

— Sienna se tornou uma mulher muito bonita. Isso você precisa


admitir.

— Sim... Mas eu disse a ela, quando chegou, que estava muito

magra, sem sal.

David bufa.

— Você é um idiota.

— É, eu sei. Só que naquele dia, eu estava puto com tudo e com


todos. Estava atrasado para a porra de um evento, a minha acompanhante

tinha furado e eu tive que ir sozinho. Sem falar que durante o dia, eu
precisei averiguar umas cargas que trouxeram de São Francisco e estavam
erradas. Resumindo: meu dia tinha sido do caralho e quando vi Sienna

daquele jeito, falei merda. — Solto um longo suspiro. — Sem falar que eu

precisava que ela se rendesse à Organização novamente. E isso não

aconteceria sendo bonzinho. Por vontade própria, ela nunca voltaria.

David apoia os dedos no vidro da janela.

— É, nisto você tem razão. — Os olhos dele se prendem à


Sienna de uma forma que me deixa um pouco incomodado. Ele sorri. —

Sabe, se você não a quisesse, pode ter certeza que eu ia querer.

Então o empurro contra a janela e o seguro pelo colarinho da

camisa.

— Que porra pensa que está dizendo?

— Calma, irmão. Eu só disse que...

— É melhor medir suas palavras, David. Sabe que não gosto de


compartilhar o que é meu.

— Eu sei, me desculpa! Eu só falei por falar. Sienna é amiga da

minha irmã e é minha amiga também. — Solto-o e ele começa a arrumar a

camisa. — Não sei por que todo esse estresse. Você nem gosta dela.

David tem razão, mas por algum motivo não gostei da ideia de

Sienna e David juntos.


— Aí, está vendo? — David diz, olhando para trás. — Ela está

nos olhando, sem entender. De certo viu o seu surto desnecessário.


Inclino o corpo e a vejo parada olhando para nós.

Porra.
David olha novamente para mim.
— Esta noite iremos ao The Sun. Você irá conosco?

The Sun é um dos clubes que administramos na cidade e é alvo


de investigação, depois que comecei a suspeitar do gerente estar me traindo.

— Minha suspeita se confirmou, então?


— Sim. O desgraçado está passando informações para os

italianos de Nova York.


Respiro fundo.
— Ok. Esta noite vamos fazer uma visita a ele, então.

Olho novamente para baixo, mas Sienna já não está mais lá.
Até que David diz:

— Sienna! Que bom vê-la! — Ele se afasta de mim e vai até


ela, que está entrando pela porta, com a cadela em seu encalço.

David a abraça, ergue seu corpo e a gira no ar, como sempre fez
quando ela era criança.
— David! Me solte — Ela ri. — Não tenho mais oito anos.
— Eu sei disso — ele diz, segurando a sua mão e olhando-a dos

pés à cabeça. Você se tornou uma mulher. Uma linda mulher.


Eu vou matá-lo.

Seu olhar malicioso vem até o meu.


— Você tem um ótimo gosto, Eros. Repito: Se não a quisesse,

eu queria.
Sienna dá um soco em sua barriga e ele se inclina.
— Porra, Sienna. Isso dói.

Ela olha para mim e cruza os braços em frente ao peito.


— Aconteceu algo aqui? O vi pressionando David na janela

como se estivessem brigando.


— Virou a protetora de David, agora? — pergunto em tom de
deboche.

— Não aconteceu nada, Sienna. Fique tranquila. — David tenta


acalmá-la. — Eros é um pouco estressado, mas já passou. E essa

cachorrinha aqui, hein?


Ele se abaixa e começa a brincar com o animal enquanto Sienna

vêm até mim com um semblante fechado. Ela para na minha frente e é
engraçado como eu poderia acabar com ela em questão de segundos, sendo
tão menor que eu.
— Passei anos fora desta Organização, mas como você mesmo
disse, eu faço parte disto. Então... — Ela dá mais um passo a minha frente.
— Não se meta com David.

O silêncio reina por vários segundos enquanto processo o que


acabou de me dizer.

David ainda está abaixado com a cachorra, mas o desgraçado


está se segurando para não rir.
— Se não...? O que você vai fazer, Sienna?

— Não sei. Mas nunca duvide do poder que uma mulher exerce
sobre um homem. Eu posso destruí-lo, da mesma forma que quer fazer

comigo.
Sei que devo sentir raiva de sua audácia e petulância, mas é

engraçado ver como ela está tão confiante de si, diferente da garota que
chegou aqui há algumas semanas.
Isso me deixa um pouco entusiasmado, se assim posso dizer.

Passo um braço pela cintura de Sienna e a puxo para mim,


colando seu pequeno corpo ao meu. Ela solta um pequeno suspiro de susto

e eu abaixo a cabeça, pressionando a minha boca em sua orelha para dizer:


— Você não faz ideia do que eu quero fazer com você. Só não
vou lhe mostrar um pouco agora, porque David, o seu amado David está

aqui e eu odeio ter que compartilhar o que é meu. Então, se contente em


saber que quem vai exercer algum poder aqui, sou eu. E você tem duas
escolhas... — Solto um pequeno suspiro em seu ouvido. Depois mordisco o
lóbulo, sentindo-a estremecer em meus braços. — Resistir ou se render. —

Desço minha boca pelo pescoço. Seus pelos ficam arrepiados. — Mas acho
que se render é a melhor opção.

— Ah gente, eu sei que vocês estão com os nervos à flor da


pele, mas podem deixar isso para um momento em que não estou aqui? —
David se levanta, quebrando o nosso momento intimidador. — Nós temos

trabalho a fazer, Eros.

Sienna se afasta de mim e me olha com medo. Porém, ao


mesmo tempo, parece que ela quer sentir isso, quer conhecer o outro lado

da moeda.

— Já vamos, David.

Então seguro o seu queixo e ergo sua cabeça.


— Eu acho que gosto dessa sua boca petulante. — Abaixo a

minha cabeça e grudo os meus lábios nos dela, depositando um beijo

simples. Apenas um toque dos nossos lábios. Uma prévia do que ela pode
esperar de mim. Uma forma de deixar sua imaginação agitada, assim como

todo o resto, a julgar pelos bicos dos seios saltando no vestido branco.

Afasto-me, pego meu terno pendurado no encosto da cadeira e


sigo David, deixando-a para trás.
— Até logo, Sienna. — David a cumprimenta.

Não esperamos sua resposta, porque sabemos que não virá.


Sienna está em completo choque. Então, saímos pelo corredor e descemos

as escadas.

Quando entramos no carro, David pergunta:


— Vai mesmo esperar o casamento?

— É claro que não.

— Então por que ainda não transou com ela?

Olho no relógio do pulso.


— Tudo ao seu tempo, David. Tudo ao seu tempo.

Sienna

Saio do escritórios de Eros tão atordoada que não vejo nada a

minha frente e acabo dando de cara com Giovanni e fazendo-o derrubar

uma bandeja com suco.

— Ai meu Deus, Giovanni! Vou ajuda-lo!


— Não, Sienna! Deixe, vou mandar alguém vir limpar — ele

diz, levantando-se. — Eros tinha pedido uma jarra de suco e eu vim trazer,
mas posso buscar outra.

— Eros não está aqui. Acabou de sair com David.

Giovanni franze o cenho. Depois assente.


— Ah, entendo. Acho que ele esqueceu de me avisar, então.

— Sim, provavelmente.

Olho para o escritório mais uma vez e é como se eu sentisse

tudo de novo.
Sua respiração lenta em meu ouvido.

Sua voz grossa e máscula.

Seus braços fortes em volta da minha cintura.


O meu coração batendo como louco.

E uma vontade maligna de estar ali ao mesmo tempo em que

quero rechaçá-lo e sentir nojo de tudo isso.

— Você está bem, Sienna?


— Sim, estou. Eu só preciso... ahn, eu preciso ver Carol. Será

que pode ligar para ela e pedir que venha aqui?

Giovanni me encara por alguns instantes, depois assente.


— Sim, claro. Vou chamá-la.

~
Carol chega pouco tempo depois e nos reunimos na sala de

estar, onde um grande quadro da família de Eros está pendurada em cima da


lareira. Ele aparece como um garoto extremamente branco, de cabelos

pretos e olhos azuis. Seus pais estão ao seu redor, sorrindo como faria uma

família conservadora dos Estados Unidos.


Céus, esta casa seria um cenário perfeito de um filme de terror.

— Sienna, você está bem? Tentei vir o mais rápido possível,

achei que tivesse acontecido algo.

— Estou bem, sim. Eu só queria companhia.


Giovanni abre a porta e nos traz chá e biscoitos.

— Como estão os preparativos para o Halloween? — pergunto,

tentando encontrar algum assunto.


— Tudo muito bem. Inclusive eu demorei a vir, porque estava

na Macy’s procurando algumas coisas de decoração. Quando você vai

decorar sua casa?

— Nem vou. Você sabe que aqui não é a minha casa.


Carol me encara com pena.

— É sim. David me disse que Eros pretende agendar o

casamento para o começo de dezembro.


Meu coração se aperta.
— De qualquer forma, o Halloween já é daqui a 4 dias. Não tem

mais graça arrumar a casa.

— Já sabe com qual fantasia vai à festa em minha casa?

Levanto-me e me aproximo da janela que dá para o jardim da


frente.

— Não sei se vou a sua festa, Carol.

— O quê? — Ela se levanta. — Por quê?


Viro-me para ela e me aproximo novamente. Ela se senta e eu

me sento ao seu lado, puxando suas mãos.

— Eu te chamei aqui por que preciso desabafar. Já faz um

tempo que estou de volta e eu sinto que vou ficar louca a qualquer
momento.

Seus olhos tentam me transmitir paz.

— Louca? Por quê?


Respiro fundo, não sei se posso conversar abertamente com ela,

afinal, faz anos que não convivemos.

— Sienna, fale comigo. Nada do que disser, sairá daqui. Eu

prometo.
Respiro fundo novamente.

— Ok. Eu... não sei se vai conseguir me entender, mas a questão

é que ao mesmo tempo que não quero estar aqui, eu quero. Sinto culpa e ao
mesmo tempo ódio pelo meu pai ter me colocado nesta situação. — Deixo

algumas lágrimas escaparem. — Não quero ser a mocinha frígida, afinal, eu


já fui daqui. Sei como funcionam as leis, como as coisas são. Isso me

aterroriza e ao mesmo tempo me acalma. Consegue entender?

Carol assente e aperta minhas mãos delicadamente.

— Sienna, você está vivendo um momento de transição. É


normal que se sinta assim. É como se existissem duas de você, a que sabe

onde é o seu lugar e a que se acostumou com uma vida fora daqui.

— Sim, é exatamente isso.


Ela sorri.

— Eu queria poder ter esse tipo de conflito, mas a única vida

que conheço é esta. Particularmente, eu adoro. Aqui conto com a proteção


da família e lá fora é cada um por si. Não sei se saberia viver deste jeito.

— Eu gostava da minha vida lá fora.

— Eu sei que gostava, mas sei que existe outra parte de você

que também está começando a gostar da que está vivendo aqui. Sei que
Eros foi um animal quando chegou, mas ele ainda está agindo assim? Te

deu até um cachorro!

— Eros é outro grande dilema para mim — confesso.


Ela arregala levemente os olhos.

— Ah, é? Por quê?


Não sei se devo me abrir sobre esse tipo de coisa, mas se eu não
falar, vou enlouquecer.

— Eros... Me deixa confusa.

Sinto minhas bochechas esquentarem. Carol ri, já entendendo o


que quero dizer.

— Vocês já transaram? — ela pergunta, abaixando o tom de

voz. — Pode ser sincera comigo.


Balanço a cabeça negativamente.

— Então você é mesmo virgem? Não teve ninguém lá fora?

Mordo o lábio.

— Teve um rapaz com quem eu tentei, mas não consegui. Não


sei, acho que ele estava muito bêbado e não deu certo.

Ela ri novamente.

— Nossa, caramba. Eros deve estar radiante por você ser


virgem. Ele vai ser o seu primeiro.

— E é isso que me assusta, Carol. Ao mesmo tempo que quero


odiá-lo, sinto meu corpo formigar quando ele se aproxima. Tenho o
observado sem camisa, todas as noites. Às vezes demoro pra dormir

pensando em como será quando ele... Enfim, Eros é muito bonito.


Sinceramente, um dos homens mais bonitos que já vi. E olha que em Nova
York vi muitos.
— Ele é mesmo, você é sortuda nisso, se quer saber a verdade
— Carol sorri. — Mas, Sienna, se acalme. Ele vai ser seu marido, qual é o
problema em desejá-lo?

Arregalo os olhos.
— Todo o problema do mundo. Ele está se casando comigo para
torturar ao meu pai e a mim. Vai me usar e depois, provavelmente, irá me

descartar. Às vezes fico pensando em como ele irá me matar.


Carol respira fundo, aproxima-se e me abraça.
— Hey, calma. Acho que se Eros quisesse te matar, ele já teria

feito isso logo no início. Mas... ele quer se casar com você. Alguma coisa
tem por trás desta história, acredite em mim.
— Você acha?

— Acho.
Fico em silêncio em seus braços, pensando em tudo o que
estamos conversando.

Ouço o barulho de um carro parando em frente da casa. Depois


a campainha da porta.

— Quem será? — Carol pergunta.


Leva alguns minutos, mas logo temos a nossa reposta quando
Giovanni abre as portas da sala em que estamos e diz:
— Meninas, olha só quem voltou... — Ele se afasta e abre
espaço para a pessoa entrar: — A Bella!
11

Sienna

Último Halloween de Sienna em Chicago

“A verdade é que eu não queria ter vindo a esta festa.


Primeiramente por ser na casa da Bella Rossi, a garota que oficialmente

me odeia e eu nem sei o porquê. Mas papai disse que temos que aprender a

conviver, mesmo com nossas diferenças e é por isso que estou aqui.
— O seu pai sabe que essa festa não é para crianças como nós?

— Carol pergunta baixinho em meu ouvido, enquanto meus olhos


vasculham pessoas bem maiores que nós, bebendo e dançando.

— Acho que sabe. Ele só disse que eu precisava vir. Não sei,

meu pai às vezes esquece as coisas.

— O problema é que o pai Bella não está aqui. Se estivesse... —

Carol olha ao redor. — Acho que não estaria assim.

Concordo com ela ao constatar que esta festa não é para


crianças como nós.

— Então vamos embora, já está tarde também.


— Espera. — Ela segura o meu braço. — Não vai falar com a
Bella? Avisar que vamos embora?

— Ela não se importa conosco.

— Mas é melhor avisar. E se ela mentir ao seu pai dizendo que

nem estivemos aqui?

Sim, ela teria coragem para isso.

— Ok, eu vou atrás dela. Você espera aqui?


— Espero.

Deixo Carol perto da saída e entro no meio de um bando de

adolescentes que deve ser da escola onde Bella e Eros estudam.

Não a encontro em canto nenhum. Alguns dizem que ela deve

estar no jardim dos fundos, na piscina.

Porém, ela também não está.

Então alguém me diz que a viu subindo as escadas com Eros e


que, provavelmente, estão no segundo andar. E é esse o caminho que faço,

assustada com as coisas que os maiores podem fazer quando os pais não

estão por perto.

Preciso ir embora, antes que essa festa dê problema.

Ao chegar no segundo andar, já logo dou de cara com um casal

se beijando na boca.
— Nossa, garota. O que está fazendo aqui? — a menina diz

assim que me vê. — Você é uma criança, vá embora! Essa festa não é pra
você!

— Eu estou procurando a Bella!


— No último quarto — o garoto misterioso com quem ela está
diz. Então ele volta a beijar a menina na boca e esquecem da minha

presença.
Credo.

O barulho da música é alto, então deve ser por isso que Bella
não escuta quando chamo seu nome.

Aproximo-me da porta, que está entreaberta, mas estaco no


lugar assim que ouço vozes lá dentro:
— Calma, Eros. É a primeira vez que faço isso.

— Eu sei. É por isso que estou falando, se você morder, eu vou


te matar, vadia.

— Alguém já mordeu antes?


— Não é da sua conta.

— Não vou te morder. Quer dizer, vou tentar.


— Cale a boca e faça logo, Bella.
Dou uma espiadinha pela porta e vejo Bella Rossi ajoelhada na

frente de Eros. Ele está com os dedos enfiados em seus cabelos loiros,
segurando sua cabeça.

Ai meu Deus.
O que é que ela está fazendo?

Observo por mais alguns instantes, fazendo o máximo de


silêncio para que não saibam que estou aqui.

Eros fecha os olhos, parece que ele está feliz. Satisfeito.


— Porra, Bella. Isso, chupa devagar, vadia.
Arregalo os olhos, percebendo tardiamente o que eles estão

fazendo.
Os olhos de Eros se abrem.

E ele me vê.
Um sorriso presunçoso se forma em seus lábios, antes de eu
virar as costas e sair correndo dali.”

Bella Rossi.

Trágica, polêmica e astuta.


O boquete que eu a flagrei fazendo em Eros quando eles eram

apenas adolescentes, foi um episódio que deixei no passado e esta é a


primeira vez que ele retorna à minha cabeça. Talvez por eu estar aqui frente
a frente com ela, talvez por agora eu estar na posição de noiva daquele

desgraçado presunçoso.
Não sei.
Acho que Bella nunca soube que eu a vi naquele dia, porque
nunca comentou nada. Também existe o fato de que um mês depois, eu fui

embora daqui com a convicção de que nunca mais voltaria.


No entanto, aqui estamos.

— Porra, é verdade, então. Olá, Sienna — ela diz, seus olhos


varrendo-me da cabeça aos pés.
— Olá, Bella. Quanto tempo, hein?

Ela se aproxima, cumprimenta Carol com um meio sorriso, mas


está aqui por mim. Seus olhos focam em mim. Para me fazer sentir a pior

das pessoas, porque sempre foi assim que ela me tratou. Não espero nada
diferente.

— É, você cresceu. Mas será que ainda continua tão ingênua


quanto antes? — Ela pega o óculos de sol e o fecha, colocando-o em uma
bolsinha. — Bem, quando ouvi dizerem que você estava de volta, fiquei

desacreditada, para ser sincera.


Cruzo os braços.

— Como você está, Bella? Quer se sentar? Estávamos tomando


chá.
Ela olha para Carol e depois para mim.
— Eu devia saber que vocês continuaram a amizade, mesmo
depois do que você fez.
— Eu fiz?

— É. Sabe, Sienna? Eu achei que você seria como a sua mãe,


mas me enganei. Você conseguiu ser pior do que ela. — Um sorriso

malvado se forma em seus lábios. — Sua mãe, pelo menos, viu que seria
um problema para nós e nos poupou de ter que lidar com ela. Você, no
entanto, veja só. Não sei porque Eros está perdendo tempo com você.

E é nesse momento que perco a paciência e avanço para cima

dela, pronta para fazê-la pagar por todos os anos de Bullying que praticou
comigo, no entanto, Carol se coloca na frente.

— Não, Sienna. É isso o que ela quer!

Bella leva as mãos ao rosto, surpresa.

— Céus, não esperava essa reação. Que interessante saber que


ainda consigo provocá-la, queridinha. Estava ansiosa para chegar aqui.

— Saia daqui, Bella! — grito, furiosa. — Saia daqui! Não a

quero perto de mim.


Ela fecha o semblante.

— Você não tem que querer a minha presença aqui. Eu chego...

— Ela se senta na poltrona. — E me sento onde eu quiser. Essa casa é de


Eros e não sua.
— Em breve esta casa também será minha ou você ainda não

sabe?
— Sobre...?

Bufo.

— Onde é que você estava, Bella?


Ela franze o cenho.

— Estava nas Maldivas, aproveitando a morte do meu marido,

baleado por um banqueiro italiano. Mas, enfim... Só soube que você estava

de volta quando meu avião pousou aqui. Ouvi uma conversa de alguns
homens no carro.

Deixo escapar uma risada.

Carol me solta e se vira na direção de Bella.


— Sienna está noiva de Eros. Esta casa, em breve, também será

dela.

O silêncio reina por vários segundos.


O semblante de Bella muda da água para o vinho, tornando-se

assustado, desolado. Como se estivesse sem saída.

Então ela solta uma risada.

E depois outra.
E vira uma gargalhada.
— Ai, meninas. Vocês quase me pegaram! Sienna se casando

com Eros? Olha, essa piada foi ótima!

Cruzo os braços e prefiro me manter em silêncio enquanto ela


percebe que estamos dizendo a verdade. E isso acontece devagar. Ela

sempre alternando entre Carol e eu.

— Espera, vocês estão me dizendo que Eros vai se casar com

Sienna? É isso?
— Sinto muito, Bella. Mas é a verdade — confirmo com tanto

entusiasmo para que ela pense que estou radiante com isso, mesmo não

estando.
Bella me encara com um semblante de puro ódio.

E desta vez, ela tenta vir para cima de mim, sendo impedida por

Carol.

— Eros deve estar louco! Só pode ser isso! De onde ele tirou
esta loucura?

Bella se afasta e começa a gritar como uma louca pela casa.

— EROS!? EROS????
— Eros não está aqui, querida — digo, apoiando-me no umbral

da porta. — Agora, saia da minha casa, antes que eu perca a paciência e me

vingue de você por tudo o que fez na minha infância.

Bella me encara.
— Eu vou embora, mas se pensa que vai se casar com Eros, está

louca. Antes, eu acabo com você, sua pirralha idiota.


Giovanni aparece, assustado.

— Mas o que está acontecendo aqui?

— Nada que seja da sua conta, seu velho idiota! — ela grita. —
Agora abra esta porta!

Giovanni arregala os olhos, mas faz o que ela quer.

Ela sempre foi rebelde com o próprio pai, desde a infância, mas

nunca pensei que ela continuasse tratando-o desta forma.


— Por que não nos disse que Bella estava voltando? —

questiono Giovanni.

— Eu, eu... não sabia. Também fiquei surpreso, para ser sincero.
Bella sai pisando duro e quando ela finalmente vai embora,

Carol e eu voltamos para a sala e eu derramo todas as lágrimas que deveria

ter derramado na infância.

— Sienna, não ligue para ela. Não é novidade que a Bella queria
se casar com Eros. Esse surto logo vai passar, você vai ver.

— Não me importo com ela ou com Eros ou com quem seja. Eu

vou enlouquecer!
— Não vai, não. Acalme-se. Venha cá, senta aqui comigo.

Aproximo-me de Carol e me sento ao seu lado.


É como se eu tivesse voltado no tempo.

É como se eu nunca tivesse ido embora.

Eros

— Como faremos esta noite? — pergunto à David, enquanto

assino alguns papéis em minha mesa, no escritório do The Sun. — Antes de

vir para cá, eu vou dar uma passada em casa para...

E a porta se abre, Giulio, um dos meus comparsas diz:


— Chefe, a senhorita Rossi quer vê-lo.

Porra. Bella Rossi bem agora. Que má sorte do caralho.

— Como ela me achou? E o que ela quer?


— Não sei, só disse que se o senhor não a atender...

— Não há chances de não me atender, Eros! — Bella entra,

praticamente caindo dentro do meu escritório. Meus homens imediatamente

tentam segurá-la. — Eros! Faça algo!


Porra, que saco.

— Deixem-na. — Suspiro. — Saiam daqui e me deixem a sós

com a senhorita Rossi.


David me olha mais uma vez para ter certeza se é isso mesmo

que quero e depois que assinto levemente, ele se vai junto com os outros
homens.

Bella está um horror.

Sua maquiagem está borrada. Seus cabelos bagunçados.

— Mas de qual buraco do inferno você saiu, Bella?


— Não fale assim! — Ela grita e começa a chorar. — Por que

não me disse? Por que me enganou?

Bella dá a volta e se joga na minha frente, ajoelhada.


— Enganei sobre o quê?

— Sobre aquela maldita pirralha!

Sienna.
Agora ela já deve saber sobre o meu casamento.

— É verdade que vai se casar com ela? Que história é essa,

Eros?

Respiro fundo.
Bella sempre foi a minha melhor amiga. Trocamos experiências

e até fluídos corporais por um bom tempo.

O problema é que com o tempo ela começou a se tornar chata,


mandona e eu odeio isso. Ela sempre soube o seu lugar, mas acho que ainda

deseja se casar comigo.


Algo que ela sabe que nunca vai acontecer.
Não foi à toa que logo quando assumi a Organização, dei um

jeito de arrumar um marido para ela em outro país. Amo Bella, ela é uma

ótima amiga, mas às vezes a distância é a melhor coisa, antes que acabemos
nos matando.

— Sim, é verdade. Eu vou me casar com Sienna, no começo de

dezembro.
Ela abre a boca e começa a chorar novamente.

Seus punhos começam a bater em meus ombros e eu a detenho,

segurando-a com força.

— Para com isso, porra! O que quer de mim, Bella?


— Você sabe o que eu quero, seu filho da puta! — grita. — Eu

quero amor, carinho, compreensão! Quero me casar com você e ser a mãe

dos seus filhos!


— Você sabe que isso nunca vai acontecer. Somos amigos,

apenas isso, ok?


Mais lágrimas rolam pelo seu rosto.
— Não, Eros. Não vou deixar você cometer essa loucura! O pai

dela é um traidor! Você deveria ter matado a todos! Vai ficar preso a algo
que seu pai disse no passado? Ele já está morto, pense nisso!
Seguro-a com mais força e encaro seus olhos.
Odeio esse chororô todo.
— Cale essa boca, Bella. Eu só vou dizer uma vez e quero que
ouça com atenção: vou me casar com Sienna Coleman e isso não é da sua

conta, ok? Nem pense em tentar algo contra Sienna, porque eu acabo com
você.
— Você não teria coragem.

— Eu tenho coragem para muitas coisas, Bella. Experimente.


Ela tenta se soltar, mas eu a seguro com mais força.
— Sienna é meu problema e eu sei como resolvê-lo. Devia ter

ficado na porra das Maldivas, mas se voltou, vai ter que agir como uma
membro da família, ok? Quero que respeite a minha noiva.
Ela balança a cabeça devagar.

— Achei que me amasse, Eros.


— Eu amo, mas não da forma que você quer.
— Eu dou a minha vida por você. Não pode ser do mesmo jeito

comigo?
Respiro fundo.

— Eu não sou homem de me apaixonar, Bella. Tudo o que eu


faço são negócios. Nada mais.
Ela suspira.

— Mas então vai continuar saindo comigo?


Não sei se continuar transando com Bella é uma boa ideia,
afinal, ela sempre é apegada demais. No entanto, posso enganá-la por um
tempo, dizendo que sim. Não quero ter que lidar com suas lágrimas por

muito tempo.
— Posso pensar nisso, mas por enquanto estou muito ocupado

resolvendo coisas do trabalho, ok?


Solto seus braços e ela abre um meio-sorriso.
— Eu vou te esperar, então. Eu sabia que você nunca ia ter

olhos para aquela magrela ridícula e mimada.


De repente os meus pensamentos vão até Sienna.
Eu também pensei que nunca teria olhos para ela, mas como

posso explicar o tesão que estou sentindo desde que a vi nua em minha
cama naquela noite?
12

Sienna

— Eu quero a chave da sala de lutas, Giovanni.

Giovanni vira a cabeça em minha direção e me olha como se eu

tivesse me tornado um extraterrestre.


— Você quer o quê?

— A chave da sala de lutas.

— Mas de que sala está falando, garota?


Respiro fundo e dou um passo, entrando na cozinha. Giovanni

estava pegando uma bebida no armário e, aparentemente já perdeu o foco


quando lhe fiz o pedido.

— Eu sei que há uma sala de lutas aqui no porão. Uma vez

papai foi para lá com o pai de Eros e eu tive que ir atrás dele, porque estava

me sentindo mal e queria ir embora.

Giovanni respira fundo.

— E o que te faz pensar que esta sala ainda existe?


Cruzo os braços e solto uma risada.

— Duvido que Eros ia acabar com ela.


— Ok. O que você que fazer lá?
Olho para ele como se essa pergunta não precisasse de uma

resposta. Mas é óbvio que ele a quer mesmo assim.

— Eu quero socar alguém, mas como não posso, um saco de

pancadas já me serve.

Ele solta uma risada.

— Ai, menina... tá bom, eu vou destrancar pra você. Mas não


pode ficar lá muito tempo, Eros tem um ciúme absurdo daquele lugar.

Reviro os olhos.

— Ele que se dane.

Giovanni some das minhas vistas e enquanto isso me

encaminho até a entrada do porão, em uma portinha escondida na cozinha.

Ele volta alguns minutos depois, com um molho de chaves e

abre a porta.
— Vamos, mas se quiser um conselho: Feche os olhos, porque o

primeiro andar é de acerto de contas.

Meu corpo estremece ao pensar em quantas atrocidades

acontecem ali no primeiro andar.

Tento não olhar, mas o cheiro de morte é evidente.

— Vem logo, Sienna.


Apresso meus passos e então vamos para uma segunda porta e

descemos mais um lance de escadas.


Então finalmente entro na sala de lutas.

Espero encontrar algo velho e caindo aos pedaços, afinal, faz


tantos anos que existe, mas Giovanni tem razão em dizer que Eros tem
ciúmes daqui, porque eu também teria se fosse a dona.

A sala está completamente equipada com tatames, espelhos nas


paredes, saco de pancadas, luvas. Do outro lado, ainda existem aparelhos de

musculação, mesa flexora, esteira e tudo o mais. As luzes são feitas para
deixar o ambiente proporcional a sua existência e o ar condicionado

consegue deixar climatizado.


— Caramba, aqui está... moderno.
— Sim, Eros vem lutar quase todos os dias.

— Ele luta, então? — A curiosidade me pega.


— Sim, ele é um ótimo boxeador.

Hummm, não sabia que Eros gostava disso, apesar de já ter


observado várias vezes, nesses últimos dias, o seu físico de quem gosta de

treinar.
— Entendi. Bem, se você me permite, então... Quero dar uns
socos naquele saco ali.

Giovanni solta uma risada.


— Tudo bem, eu volto pra fechar a sala em 1 hora.

Penso em dizer que é pouco tempo, mas tudo bem. Não quero
ver a cara irritada de Eros se me pegar aqui usando suas coisas.

Aproximo-me do saco de boxe e respiro fundo.


Tento imaginar o rosto da Bella Rossi.

E consigo.
Então dou um passo para trás, ergo o punho e...
Pá.

Esse é o primeiro de muitos socos e pontapés que desfiro.

Eros

— Onde Sienna está?

Giovanni dá um pulo assustado e quase derruba uma garrafa de


bebida que está em um armário alto na cozinha.

— Porra, Eros! De onde você saiu, caralho?


Cruzo os braços e seguro uma risada.
É engraçado quando Giovanni é pego de surpresa, ele sempre

fica todo sem jeito e grosseirão.


— Eu entrei nesta casa há mais de dez minutos, fui até o quarto
de Sienna e não a encontrei. Rodei todos os quartos e ela não está em lugar
algum. — Dou um passo à frente. — Onde Sienna está?

Giovanni engole em seco, dá uma olhada para o lado.


— Ah, não sei. Já olhou no jardim? Ela agora fica lá o tempo

todo perto do lago com aquela cachorra.


— Já olhei também.
Giovanni está tentando escondê-la, sinto isso.

— Então não sei.


— Não sabe o caralho! Diga logo onde ela está.

O homem respira fundo e assente.


— Ok, ela está na sala de lutas.

Levo vários segundos para entender o que ele disse.


— Sala de lutas?
— Acho que foi exatamente o que eu disse.

— Mas que porra ela está fazendo na sala de lutas?


— Ela disse que queria socar alguma coisa, já que não podia

socar a cara de ninguém.


Bem, foi uma ideia inteligente, devo admitir.
— E há quanto tempo ela está lá?
— Uns trinta minutos eu acho, eu já ia descer para trancar a sala
e trazê-la de volta porque eu sabia que você ia ficar irritado.
Respiro fundo e passo as mãos pelos cabelos.

Não estou irritado.


Estou surpreso, por assim dizer.

— Deixe isso comigo. — Puxo a chave da mão de Giovanni. —


Quero ver quanta raiva existe dentro daquela pirralha.

Sienna

Meus punhos estão vermelhos e eu já nem sei mais se estou

fazendo da forma certa, mas a verdade é que está sendo uma delícia
imaginar a cara da Bella Rossi enquanto desfiro muitos socos.

É libertador.

Claro que se eu pudesse, faria isso na cara dela, seria muito


mais emocionante. Mas não posso fazer isso, então devo me contentar com

o que tenho no momento.

— Tome essa, sua vadia desgraçada! — Ergo a perna e o chuto


com tanta raiva que o saco voa longe.
E de repente ouço palmas.

Viro-me, assustada e dou alguns passos para trás.


Essa não.

Estou cansada, soada, devo estar com os cabelos bagunçados e

Eros chegou para ver isso bem de perto.


Que legal.

Ele entra na sala, olhando-me com curiosidade. Vejo um brilho

perverso cruzando seu rosto.

— Desculpe a pergunta, mas quem era a vadia desgraçada que


você estava imaginando ao bater no saco?

Minha respiração está ofegante e estou pingando suor.

— Não. É. Da. Sua conta.


Encaminho-me até a porta para sair daqui, quando ouço a voz

de Eros:

— Bem, eu também tenho algumas pessoas que gostaria de


socar até a morte e não posso. Então aqui é o meu alívio.

Paro de andar.

Por que ele está me dizendo isso?

E outra coisa, por que ele não pode socar quem ele quer? Ele
não é o chefe da Organização?
— Que eu saiba, você pode socar quem quiser. Não é para isto

que você é o chefe?

Eros solta uma risada cansada. Pega o saco, empurra-o e se


coloca na posição de boxeador, acertando-o em cheio.

É hipnotizante vê-lo fazendo tudo tão certinho, cronometrado.

— Não é porque sou o chefe de uma Organização que posso

fazer o que quero, Sienna. Existem regras, leis. Bom senso também, porque
qualquer passo em falso que eu der, existem muitos aí fora querendo me

destroçar. Basta apenas um erro.

Eros empurra o saco e o acerta novamente.


— Como foi a transição? — pergunto, genuinamente curiosa.

— Ainda não sei como seu pai morreu.

— Ao contrário do que dizem, meu pai não foi assassinado. Ele

morreu de infarto. — Eros me encara. — Eu tinha vinte anos, estava no


meio da faculdade.

— Sinto muito. Seu pai... ahn, ele sempre foi bom comigo. Eu

gostava dele.
— Obrigado.

Fico em silêncio observando enquanto ele desfere outros socos

elegantes no saco.

Ele sabe o que está fazendo.


— No começo foi difícil sabe — Eros continua. — Assumir

uma posição de líder. É claro que meu pai me preparou para isso, mas no
começo fiquei bem assustado. Temos tantos inimigos, você não faz ideia.

— Temos inimigos aqui dentro da Organização, quem dirá fora

— deixo escapar.
Eros me encara novamente.

— Acha que temos inimigos aqui dentro?

Dou de ombros.

— Meu pai é considerado um inimigo e ele era daqui, não era?


Ele dá outro soco no saco.

— Seu pai é uma incógnita para mim, Sienna. Eu... — Fica em

silêncio. — Ainda não sei o que fazer com ele.


— Você tem certeza que ele o traiu?

Eros desfere outro soco.

— Venha aqui, deixe-me ver suas mãos.

Ele mudou de assunto, isso pode ser interpretado como um sinal


de que não acredita na traição do meu pai?

— Eu vou sair daqui, preciso ir lá para cima.

— Sienna.
Respiro fundo e me aproximo dele.

— Deixe-me ver.
Ergo os punhos vermelhos e machucados e Eros respira fundo.

— Não, não devia ter feito isso. — Ele segura minhas mãos. —

Por que não usou as luvas?

— Porque eu queria sentir dor.


Ele ergue os olhos, confuso.

— Por que queria sentir dor?

— Porque foi assim que me senti a infância toda, Eros.


Ninguém, exceto meus pais, Carol e David, gostavam de mim. Todos só

sabiam me comparar com minha mãe dizendo que eu seria como ela. Bella

Rossi me jogou naquele buraco que você me encontrou aquela vez e eu

poderia estar morta agora, se você não tivesse me encontrado. Fora outra
vez que ela tentou me matar.

Os olhos azuis de Eros estão nublados, confusos. Mas ele se

lembra daquele dia, posso sentir.


— Então a vadia que você imaginava no saco era a Bella Rossi?

Assinto lentamente.

Penso que irá rir ou ficar bravo, afinal, sei que eles eram muito

amigos.
— Olha, eu vou te ensinar a socar, para não ficar com a mão

deste jeito — ele diz, soltando-as. — Venha aqui.

Vou até onde Eros aponta, de frente para o saco.


Ele se coloca atrás de mim.

— Você deve erguer a mão até aqui. — Encaixa sua mão na


minha. — E fazer o movimento de cima para baixo, desta forma.

Sei que ele quer me ensinar uma forma melhor de socar aquilo,

mas o que atrai a minha atenção não é a aula, mas sim o seu corpo atrás do

meu, tão quente, tão grande, tão... protetor.


— Consegue entender, Sienna?

— Uhum.

— Então vamos lá.


Eros empurra o saco, mas não consigo me concentrar e ele vem

direto na minha cara e eu caio para trás, tendo como apoio o peito largo de

Eros.
— Isso foi péssimo. — Ele ri. — Está bem?

Afasto-me porque preciso de ar. Não consigo pensar com

clareza quando estou perto dele, quando me lembro do que ele fez com

Bella naquela noite de Halloween.


— Estou cansada, quero sair daqui.

Viro as costas, mas Eros me puxa novamente e eu bato de frente

com o seu peito.


— O que houve, Sienna? Está com medo de mim? Eu já disse

que não vou machucá-la novamente.


Balanço a cabeça negativamente.
— Então o que é?

Ergo a cabeça e fito seus olhos por alguns instantes.

— Não quero olhar pra você e me lembrar daquilo.


Ele fica em silêncio, talvez pensando no que eu acabei de dizer.

— Lembrar daquilo o quê?

Dou um passo para trás.


— Quando Bella Rossi ultrapassou aquelas portas hoje, sabe

qual foi a primeira lembrança que veio a minha mente? — Ele fica em

silêncio, esperando que eu continue: — Aquela noite de Halloween que eu a

vi fazendo um boquete em você.


Eros leva alguns segundos para relaxar a postura.

— Nem eu lembrava disso, Sienna.

— Pois eu lembrei, eu era uma criança e vi aquela nojeira!


Viro as costas, mas novamente, Eros me segura pelo braço e me

vira para si.


— Nojeira? Não diga isso, porque eu estou ansioso para que
chegue a sua vez. Me diga, Sienna. Já que isso foi algo marcante para você,

nunca pensou em como é? Qual o gosto?


Fecho os olhos, porque sim, durante a adolescência, enquanto
meus hormônios floresciam, me perguntei várias vezes como seria aquela
experiência.
E agora estou tão perto de descobrir. Só que isso me deixa cada
vez mais confusa.

— Eu não vou fazer isso.


Eros solta uma risada, mas sinto-o tão perto de mim.
— Será que não vai? — Sua voz rouca ecoa perto do meu

ouvido. Sinto seus dedos deslizarem pelo meu braço desnudo. — Será que
não quer experimentar? É tão excitante, Sienna. Poder dar prazer a alguém
usando a boca. Claro que não são todos que sabem fazer de forma correta,

mas eu posso te garantir que no que depender de mim e da minha boca,


você vai chegar aos céus.
Minha respiração está acelerada, meu coração batendo como

louco.
Eros apoia as mãos em meu pescoço e eu abro os olhos,
encontrando os seus me vigiando.

Suas mãos descem lentamente pelo pescoço, pelo decote da


minha regata. Ele só para quando toca os meus seios por cima do tecido.

Seus olhos nunca desviam dos meus.


Eros circula os bicos dos meus seios com os polegares e eu
fecho novamente os olhos, soltando um pequeno suspiro.
Meu corpo está formigando, minha intimidade está pegando
fogo.
Ele volta suas mãos até as alças da minha regata e as empurra,

deslizando pelos meus braços.


Meu Deus, o que ele está fazendo?

— Eros...
— Psiu... — Sinto seus lábios encostando na pele do meu
pescoço e descendo lentamente. — Esqueça a porra da Bella Rossi. Agora é

a sua vez.
13

Sienna

Saio atordoada, caminhando pelos cantos do corredor enquanto

minhas pernas não conseguem se afirmar, meu coração batendo com força

no peito e minha respiração parece nunca se acalmar.


Finalmente abro a porta do meu quarto, entro e me recosto nela,

fechando os olhos e repassando tudo o que acabou de acontecer dentro da

sala de lutas.

“— Psiu... — Sinto seus lábios encostando na pele do meu


pescoço e descendo lentamente. — Esqueça a porra da Bella Rossi. Agora

é a sua vez.

Eros ergue a cabeça e imediatamente grudo meus braços ao

redor de seu pescoço, puxando-o para mim. Sedenta de ter seus lábios

sobre os meus, sedenta de descobrir o que é que esse homem tem que me

atrai tanto, quando eu deveria apenas odiá-lo.


Sua boca encosta na minha ao mesmo tempo que seus braços

me seguram e me erguem. Sua boca devora a minha em um beijo que eu


nunca pensei que compartilharia com alguém.
Seguro seu rosto com as duas mãos, sinto sua barba rala em

contato com meus dedos, enquanto minha língua entra em sua boca e nos

movimentamos em conjunto.

Eros me segura como se eu fosse uma boneca de pano e quando

abaixa de vez a minha regata, deixando meus seios livres, ele os abocanha

com vontade e os chupa, fazendo-me delirar ao sentir sua língua


acariciando meus mamilos.

Nunca pensei que sentiria algo assim.

A primeira vez que tentei algo com outro homem, não foi nada

parecido com isso.

Simplesmente tiramos as roupas e ele se deitou sobre mim, mas

sequer conseguiu algo, de tão bêbado que estava, e acabou dormindo em

cima do meu corpo.


Agora Eros...

— Consegue sentir, Sienna? — Ele sobe seus lábios pelo meu

peito e me abaixa. — Eu quero você. Porra, como eu quero.

Ele me desce, fazendo pressão da minha virilha contra a sua e

eu sinto a extensão e a grossura.

Preciso senti-lo lá, minha intimidade está ardendo de desejo,


latejando a cada segundo que se passa.
Meu Deus.

— Eros... — Solto em um suspiro.


Sua boca devora a minha mais uma vez, me fazendo perder a

noção de onde estamos até que...


Algo barulhento cai, fazendo-nos afastar um do outro na
velocidade da luz. Viro-me de costas para ele e para a porta, erguendo a

minha regata.
— Eros, tem gente querendo falar com você — Giovanni diz, de

forma polida.
— Porra, mas tinha que entrar aqui deste jeito? — Eros grita,

raivoso.
— Me desculpe, eu achei que estavam lutando.
Eros murmura um palavrão e respira fundo.

— Vá na frente, Sienna.
Não consigo erguer a cabeça para encará-los tamanha a

vergonha que estou sentindo.


Então apresso meus passos e saio dali.”

Ainda tenho a sensação da sua boca chupando o meu peito.


Fecho os olhos e enfio minha mão dentro da minha calcinha.

Estou tão quente, tão molhada. O desejo ainda não esfriou, o latejar no meio
das minhas pernas.

Ah céus.
Acaricio-me um pouco, desejando que não fossem as minhas

mãos ali, mas sim as de Eros.


Solto um gemido.

E então uma batida na porta me faz dar um pulo para trás. Eros
abre a porta devagar e entra, desconfiado.
— Está tudo bem, Sienna?

— Aham.
Ele fecha a porta atrás de si e se aproxima.

Não consigo fitá-lo ainda, pois sinto que sou uma criança pega
fazendo algo errado em flagra. Ele apoia o indicador no meu queixo e o
levanta. Vejo um brilho malicioso em seu olhar.

— Estava se tocando?
Arregalo os olhos e nego com a cabeça.

— Não minta, Sienna.


Então assinto levemente, mortificada.

Sorri maliciosamente.
— Foi com essa mão? — Ele ergue a minha mão direita e eu
assinto novamente.

Eros a leva até a boca e chupa os meus dedos devagar.


Arregalo os olhos, surpresa.
— Que delícia. Uma pena que vou ter que sair agora, mas
quando eu voltar, quero te mostrar algumas coisas que uma boca faminta

pode fazer.
Solto um longo suspiro.

— Até logo.
— Até.
Ele abaixa a cabeça e deposita um beijo longo em meus lábios.

Então vira as costas e se vai, deixando-me sozinha com a minha própria


vergonha.

Vergonha de, principalmente, querer descobrir tudo o que esse


homem maldito pode me ensinar.

Eros

— Achei que íamos resolver as coisas com o Maldonado apenas


a noite.
— Eu também, mas recebi a informação de que ele está

desconfiado de algo e que não vai esta noite.


— Então por que estamos indo para a The Sun agora? —
pergunto, já irritado.
— Porque ele está indo lá pegar algumas coisas. Vamos pegá-lo

de surpresa.
Respiro fundo.

— Ok.
David joga o cigarro que estava fumando pela janela e acelera
rumo à The Sun.

Preciso me concentrar no que vou fazer, mas não consigo tirar a

porra da Sienna da minha cabeça.


O gosto da sua pele, a maciez. Seus dedos lambuzados de sua

própria excitação.

Porra, estou duro até agora.

Isso me faz pensar seriamente em fodê-la esta noite. É loucura


ter que esperar um sermão para poder foder a minha mulher.

Porque é isso o que ela é agora.

Minha.
Chegamos pela entrada de trás da The Sun e rapidamente meus

homens cercam todos os arredores, para o caso de o Maldonado tentar fugir.

Entramos na boate, há alguns funcionários fazendo a limpeza


para abrir as portas à noite. Cumprimento-os e sigo na direção do escritório.
A porta está entreaberta, Maldonado está de costas para mim,

enfiando alguma coisa dentro de uma mochila.


— Maldonado? — Tento agir como se não soubesse de nada.

Ele dá um pulo e me fita assustado.

— Eros? O que está fazendo aqui a essa hora?


Abro os braços.

— Estou andando pelas minhas propriedades. Por quê a

surpresa?

Ele dá um passo para trás, na direção da parede lateral. David se


coloca logo atrás de mim.

— Não, por nada. Eu só... você quase nunca vem aqui. Só achei

estranho.
Respiro fundo.

— Pois, é... Tem muitas coisas que eu também tenho achado

estranho ultimamente. — Enfio a mão dentro da mochila e retiro de lá o


livro caixa. — O que estava fazendo com isso?

— Ora, eu... sou o gerente, não sou? — Maldonado está

tremendo, nervoso. — Estava levando o caderno para fazer a contabilidade

em casa. Mudar os números e essas coisas, como sempre faço.


— Entendo.

Deixo o caderno em cima da mesa e olho ao redor.


— O que está acontecendo com você, Maldonado? —

Aproximo-me. — Parece nervoso. Não dormiu bem esta noite?

Ele olha para David e mais um capanga que está cercando a


porta e depois para mim.

— Estou bem, Eros.

Assinto devagar.

Maldonado faz um movimento rápido e saca uma pistola,


apontando-a para mim.

— Fique longe de mim, Eros!

— Meu Deus, homem. O que está acontecendo com você?


Ficou maluco, é?

Meus homens já estão apontando pistolas para ele também.

— Eu sei que você quer me matar. Mas não vou deixar isso

acontecer.
Continuo agindo como alguém que não sabe de nada.

— Mas por que eu quero te matar, homem? Me explique. Estou

confuso agora.
Maldonado reveza entre apontar a arma para mim e para os

meus homens.

— Você acha que estou traindo-o levando informações para os

caras de Nova York. E agora quer acertar as contas comigo.


Respiro fundo.

— E você não está? — Meu semblante se torna irônico.


— Você não pode provar que sou eu! — Maldonado grita. —

Você acha que todos são seus inimigos, Eros. Sabe por quê? Porque você é

só um garoto mimado que não merece estar onde está. Todos sabem disso!
Meu sangue começa a ferver e a irritação se eleva a cada

segundo.

— Então me conte quem são todas essas pessoas que acham que

não mereço estar na posição de líder!


— Não! Eu sei que não tenho chances de sair daqui vivo, então

não vou dizer nada! Quero que te peguem de surpresa e o torturem como

você faz com todos. Quero encontrá-lo no inferno, que é o seu lugar!
Maldonado faz um gesto de vir para cima de mim, mas eu

consigo contorná-lo e tomo a arma de sua mão.

Agora são três pistolas contra zero.

Maldonado se encosta na parede e começa a chorar.


— Tenha piedade, Eros! Eu não o traí.

— Ah, não traiu? Então me diga quem está passando

informações para Nova York e eu o deixo em paz.


Ele me olha desconfiado.

— Eu sei que não vai me deixar em paz! Eu sei!


E o restante da minha paciência vai para o inferno.

Avanço em Maldonado e bato em sua cabeça com a pistola.

Depois desfiro mais socos e pontapés.

Minhas mãos começam a ficar vermelhas de sangue, assim


como seu rosto enquanto ele cai no chão, atordoado.

— Fale, seu filho da puta nojento! Quem está me traindo?

Ele não diz.


Então bato com mais força, seu rosto contra os meus punhos,

até praticamente deixá-lo desacordado.

Maldonado não faz questão de lutar, porque sabe que já perdeu.

— Sabe o que é melhor, Eros? — Já caído de joelhos no chão,


ele abre um sorriso cheio de sangue. — Aquela putinha, filha do Coleman.

Me disseram que ela é bem gostosinha e é virgem. Hummmm, estão loucos

querendo ela, posso te garantir.


— Cale a porra da boca, seu filho da puta!

Nesse momento, já não consigo enxergar mais nada.

Levanto Maldonado e o soco na parede, sua cabeça deixando

um buraco onde ela bate.


— Eles vão pegá-la. Pode ter certeza.

— Não vão pegá-la. — Enfio a pistola no queixo do

Maldonado. — Por que antes, eu vou destroçar um por um.


E em um clique, a cabeça de Maldonado praticamente explode,

sujando toda a sala.


Sujando a mim.

Fazendo-me sentir o monstro que eu sou.

O monstro que fui criado para ser.

Sienna

Já é quase meia-noite e Eros ainda não veio ao meu quarto.

Por um lado agradeço aos céus por isso, por outro, no entanto,
sinto que queria vê-lo esta noite.

Decido então descer para pegar um copo de leite.

Saio do quarto e sigo pelo corredor até a escadaria. Desço os

degraus lentamente e vou até a cozinha.


Acendo a luz, porque esta casa no escuro parece muito mal

assombrada. Abro a geladeira e começo a vasculhar se há algo que posso

comer aqui, além do leite que vou beber.


Pego a garrafa de leite e viro-me para colocá-la em cima da

mesa.
E é neste momento que eu o vejo.
O grito que sai da minha garganta é alto. E a jarra de leite vai

direto para o chão.

— Eros????
Ele está coberto de sangue seco. É assustador. Horrível. Uma

imagem que nunca pensei que veria em toda a minha vida.

Meu pai sempre foi da Organização, mas nunca precisei vê-lo


desta maneira.

— Por que está assustada, Sienna? — Ele abre os braços. —

Não finja que é inocente. Seu pai já foi um dos nossos e ele deve ter ficado

até pior que eu.


As lágrimas começam a descer uma atrás da outra.

Isso é terrível.

— Não chore. Não quero ouvir suas lágrimas, porque você não
é nenhuma pirralha. Esse sou eu, Sienna. Um monstro. E eu vou me casar

com você, queira você ou não.


Afasto-me, tomando cuidado para não pisar nos cacos de vidro
misturados ao leite e passo por ele.

— Não quero me casar com um monstro!


Eros segura o meu rosto, mas seus dedos escorregam. Ainda há
sangue fresco em sua mão.
Ah meu Deus.
— Mas é isso o que vai acontecer. Acostume-se, Sienna.
Viro as costas e saio correndo, trancando-me em meu quarto.

Não quero ver Eros, não quero desejá-lo. Ele é um homem mal
e não merece o meu coração, ele sequer se importa com o que eu penso,
com o que eu faço.

Hoje mais cedo achei que teríamos uma chance de ter uma
conexão. Algo que o fizesse mudar a ponto de livrar o meu pai e ter uma
vida estável.

Mas acho que me enganei.


14

Eros

— Mas por que caralhos você foi assustá-la???? — David

praticamente grita comigo.

— Não sei, porra!


— Você é um idiota, Eros. Sério mesmo. — Respira fundo. —

Você sabe que ela não gosta do que fazemos, que é ingênua e acredita na

bondade humana. Qual você acha que seria a reação dela ao vê-lo coberto
de sangue do homem que você matou, porra????

— Eu sei! — grito de volta. — Eu errei! Eu sou mesmo um


imbecil!

Faz dias que Sienna não fala comigo e voltamos à estaca zero.

Nem mesmo a cachorra, Hedonê, chega perto de mim.

Exagerei, eu sei, mas queria mostrar a ela a dura realidade que é

a nossa vida. Não matei Maldonado por diversão, matei por ele ser um

traidor, um imbecil, um desgraçado que não merecia ter vindo ao mundo.


Respiro fundo.
— Olha, eu não sei o que te dizer. — David bufa. — Descobriu
quem é que está querendo pegá-la?

— Não.

— Ótimo. Muito bom isso.

Estreito os olhos para o meu amigo.

— Vão à festa da Carol esta noite?

Hoje é noite de Halloween e Carol preparou uma festa para os


amigos. Não quero ir, mas sei que ela e Sienna prepararam várias coisas

juntas e acho que ela espera por isso.

— Talvez.

— Talvez o caralho. — David aponta o dedo para mim. —

Sienna ajudou a Carol a preparar as coisas e ela quer ir. Arrume a porra de

uma fantasia e vá.

— Não tenho idade para essas merdas.


— O problema é seu. — Então seu semblante muda, abrindo um

meio-sorriso. — Eu vou vestido de Dean Winchester[1].

Reviro os olhos.

— Vá com a máscara do Pânico e pronto.

— É, talvez. Veremos.
David revira os olhos.
— Sabe o que você precisa? Transar. Transar muito. Cadê a

Bella Rossi?
— Não vou transar com a Bella Rossi. Se eu fizer isso, já sabe

que ela nunca mais vai sair do meu pé.


— Então transa com a Sienna.
— Se ela me deixasse chegar perto dela, provavelmente.

Naquela noite eu ia... — As palavras morrem.


David solta uma risada e se afasta.

— Você fez a cagada, dê um jeito de consertar. Se for preciso,


roube outro cachorro e dê para ela.

David sai do escritório e eu passo as mãos pelos cabelos,


completamente irritado.
Não deveria estar me sentindo assim em relação à Sienna. Não

fiz nada demais, só quis lhe mostrar como as coisas são. O problema é que,
pela primeira vez na vida, estou me sentindo um idiota.

Sienna
Estou lendo “O Morro dos Ventos Uivantes” e Hedonê está com

o focinho deitado em minha coxa, com os olhinhos de quem quer sair para
brincar no jardim.

O problema é que não saio deste quarto já tem 3 dias.


Não quero correr o risco de dar de cara com Eros, que me

deixou muito mal na noite em que apareceu todo ensanguentado.


— Sinto muito, garota. Acho que não é bom irmos lá fora ainda.
Ela solta um bufo, chateada comigo.

Céus, não aguento isso.


— Tá bom, eu... — Passo a mão em seu pelo caramelo. —

Podemos ir lá fora, passear um pouco.


Ao dizer a palavra “passear” a cachorra ergue a cabeça e o seu
semblante muda, passando para uma felicidade extrema. Então, com o

focinho, ela empurra o livro da minha mão.


Dou risada e a abraço, jogando-me com ela na cama e rolando.

Ela é tão macia.


Hedonê pula da cama e vai até a poltrona onde sua guia está

jogada. Pega-a com os dentes e volta, jogando-a em cima da minha barriga.


— Ela realmente quer passear.
Dou um pulo ao ouvir a voz grossa e me encolho na cabeceira

da cama, tentando manter o máximo de distância possível.


Eros suspira, parece cansado.
— Posso entrar?
Não.

Quer dizer, não sei.


Se fosse há alguns dias atrás, eu queria sim. Queria inclusive

que ele continuasse colocando suas mãos em mim, mas agora já não sei.
Ele entra do mesmo jeito e fecha a porta atrás de si.
Hedonê solta um latido na direção de Eros.

— Só falta isso. Diga a essa cachorra maldita que não vou te


machucar.

— E quem nos garante isso?


Ele ergue as sobrancelhas, talvez surpreso com a minha

resposta. Ergue as mãos e diz:


— Ok, ok. Você está certa, Sienna. Eu sou um idiota e agi como
um idiota, mas eu só queria te mostrar, fazê-la lembrar de quem somos.

— DE QUEM VOCÊ É! — grito de volta. As lágrimas que


tanto segurei, começam a descer com violência. — Eu não pedi por isso,

Eros. Eu só queria uma vida tranquila, eu só queria paz. Eu cresci com meu
pai saindo todos os dias, sem saber se ele ia voltar. Então não venha com
esse discurso...
— Eu sei. Mas a vida é essa, Sienna. Todos temos que conviver
com alguma merda, alguma responsabilidade que nos foi atribuída. Já se
perguntou alguma vez, se eu queria estar no lugar onde estou?

E sua pergunta me deixa sem resposta por longos instantes.


Eros sempre foi tão... mau.

Sempre achei que ele estivesse preparado para isso.


— Foi isso que você sempre nos mostrou. Sede de sangue.
Eros assente devagar, seus olhos miram o teto e depois a janela.

Acho que não quer mais discutir comigo e sinceramente? Também estou

cansada dessa merda toda.


— Vim buscá-la para irmos comprar uma fantasia para a festa

da Carol esta noite.

Eros me encara como se quisesse dizer “e não discuta comigo,

porque estou sem paciência para você.”


— Não achei que iríamos à festa.

— Pois vamos.

Assinto devagar.
Hedonê solta um resmungo de quem já perdeu o passeio e deita

a cabecinha entre as patas.

— Você também vai, criaturinha dos infernos. — Eros diz a ela.


— No banco de trás.
Hedonê ergue a cabeça e eu quase posso ver um sorrisinho

aparecendo em seu focinho.

Eros me trouxe a uma loja repleta de fantasias e coisas de

Halloween.

Claro que ela está cheia, porque muita gente deixou para o

último dia e é por isso que a simples tarefa de escolher uma fantasia, se
torna a tarefa mais difícil e complicada do dia.

— Não vamos conseguir experimentar nada aqui — digo a ele,

quando trombamos com pessoas escolhendo suas coisas. — Não tem outra
loja?

— Todas estão cheias. É Halloween.

Suspiro.
— Então deixa pra lá, vamos inventar outra coisa.

— Não, não vamos deixar pra lá. Eu sei que o Halloween era o

seu dia do ano favorito. — Eros me encara e eu fico pensando em como

diabos ele sabe disso. — Claro que se tornava o pior dia quando eu era o
escolhido para levar vocês para pedir doces.

Solto uma risada.


— É, nisto você tem razão.

Eros pega um chapéu de Bruxa e o coloca na minha cabeça.

— Lembro do seu último Halloween conosco. Você era uma


bruxinha adorável.

Essas palavras, por algum motivo do inferno, me deixam

envergonhada.

— Todo mundo vai assim. — Tiro o chapéu. — Queria algo


diferente.

— Tipo o quê?

Olho ao redor.
Não há nada interessante.

Coloco o chapéu de volta.

— Tipo uma Bruxa.

Eros solta uma risada que me enfeitiça por vários segundos.


Porra, seu sorriso é tão lindo, perfeito. Dentes brancos e alinhados. Ele

deveria sorrir mais, até o faz parecer quase... Um homem comum.

— A Bruxa da Chicago Outfit — ele diz em meu ouvido,


enviando ondas inquietantes pelo meu corpo. — Eu acho que gosto disso.

Abro um sorriso envergonhado, então para disfarçar, pego uma

máscara do Ghostface, o assassino dos filmes “Pânico” e o enfio no rosto de

Eros.
— Você devia usar isso.

Ele pega a máscara e assente.


— Era o que eu pretendia.

Eros e eu saímos da loja e voltamos para casa com um chapéu

de bruxa e uma máscara do Ghostface, cientes de que teremos que nos

reinventar no quesito “roupas”, porque as lojas estavam simplesmente


abarrotadas de gente.

Quando chegamos na mansão, Hedonê sai correndo para os

fundos, afim de comer. Decido, então, subir para o meu quarto, mas sou
impedida por Eros, quando ele segura o meu braço.

— Vamos à sala de lutas?

Quero dizer que não, mas talvez seja uma boa ideia. Talvez eu

veja seu rosto no saco de pancadas e o soque até sentir que minha alma está
limpa.

— Vamos.

Eros vai na frente e eu o sigo. Ele abre a porta, descemos as


escadas e logo estamos na sala de lutas.
— Vá, quero que acerte o saco. Pode imaginar o meu rosto, se

isso a fizer se sentir melhor.

Deixo uma risada escapar.

Paro em frente ao saco de pancadas e o encaro por alguns


instantes, antes de abrir a minha alma e dizer:

— Você diz que a minha noite favorita do ano era o Halloween,

e era, sabe? — Meu semblante se fecha ao lembrar das coisas que


aconteceram no passado. — Era a única noite em que eu sentia a presença

da minha mãe bem forte ao meu lado. Não sei se ela era uma Bruxa ao algo

do tipo, o que sei, é que mesmo quando vocês me humilhavam, eu quase

podia sentir sua mão tocando o meu ombro e dizendo que tudo ia ficar bem.
Respiro fundo, ergo o braço e desfiro um soco no saco de

pancadas.

— Mas, por incrível que pareça, depois que fui para longe de
tudo isso, eu nunca mais senti a sua presença. Talvez, ela só precisava estar

perto de mim quando sabia que as pessoas ao meu redor podiam me

machucar. — Dou outro soco no saco e o seguro antes que me atinja. —

Não sei se esta noite ela irá aparecer e, talvez, eu queira que você seja mal
comigo. Mesmo que este seja o meu último Halloween, porque sei que você

irá me matar em alguns meses. — Dou outro soco. — Mas tudo bem, eu

não ligo. Desde que eu sinta aquela presença mais uma vez.
Eros não diz nada, seus olhos estão presos em meu rosto. Não

sei o que está pensando, mas a frieza que vejo, me dá um pouco de medo.
E para finalizar, eu digo:

— Olhando sob outra perspectiva, vejo que foi bom você ter me

trazido de volta, Eros. Eu estava com saudades da minha mãe.

Desfiro mais alguns socos, ciente de que ele está me olhando.


Ele apenas observa.

Então quando já estou cansada, soada, ele se aproxima e segura

o meu queixo, virando o meu rosto para si.


— Esta noite será memorável, Sienna. Você nunca irá esquecer

este Halloween.

E então ele vira as costas e sai da sala, me deixando um pouco


confusa pelo que acabou de me dizer.

Sua voz me transmitiu temor. Como se fosse um aviso de que

essa noite será a pior da minha vida, em outras palavras.

Respiro fundo.
Eros me confunde, não sei o que ele quer ao certo comigo. Se só

está me usando como um peão em seu tabuleiro ou se ele realmente quer ser

legal comigo.
— Mãe, me ajuda, por favor — peço baixinho. — Fique ao meu

lado esta noite.


E como resposta, sinto um arrepio percorrer o meu corpo.
Uau, isso é real.
15

Sienna

Pedi à Giovanni que colocasse uma TV no meu quarto para que

eu pudesse ouvir músicas enquanto me arrumava para a festa.

Então agora estou ouvindo Monster Mash enquanto tento fazer


a maquiagem mais gótica que consigo. O problema da roupa foi resolvido

com um vestido preto todo soltinho foi emprestado pela Carol. Ele vai até

os joelhos, mas vou colocar uma meia calça preta para completar o visual.
— Você está animada com a festa? É isso que estou vendo? —

Giovanni entra quando estou dando os últimos retoques em meu visual. —


Cadê a Sienna assustada, que odeia essa vida e não quer que ninguém a

toque?

— Ela está aqui, mas esta noite vou dar um descanso a ela. É

Halloween, Giovanni!

Ele sorri.

— Fico feliz de ver você assim. Eros também vai ficar.


— Eros vai ficar feliz de não me ver fazendo birra — resmungo.

— É só por isso.
— Mas já é algo.
— Sienna está pronta? — Ouço a voz de Eros entrando pela

porta e quando me viro para ele, ele fica em completo silêncio, olhando-me

da cabeça aos pés enquanto se aproxima.

— Estou.

Lembranças devem invadir sua mente, assim como invadem a

minha.
Se eu não tivesse ido embora, será que seríamos amigos? A

pergunta circula em minha mente.

Eros é alguns anos mais velho e é claro que nossas mentes do

passado não se conversavam, mas, talvez, conforme eu fosse crescendo, as

coisas fossem diferentes.

Talvez ele teria se apaixonado por mim.

Solto uma risada pelo pensamento idiota que passa pela minha
cabeça.

— O que foi? — ele pergunta. — Por que riu?

— Nada, não.

— Sienna? — Sua voz é em tom de aviso.

Respiro fundo.

Giovanni saiu do quarto e nos deixou a sós. Mesmo assim,


tenho vergonha de dizer em voz alta o pensamento que tive.
— Sienna? — Ele ergue as sobrancelhas.

— Não. Nada... — Viro-me para o espelho e tento ajeitar algo


na maquiagem. — Só pensei que... — Vejo seus olhos me encarando

através do espelho. — Se eu não tivesse ido embora, se as coisas teriam


sido diferentes.
— Em qual sentido?

— Nenhum. — Viro-me para sair de perto dele, mas Eros é


mais esperto e me segura.

Ele está tão bonito, porra.


Está usando um terno preto, com camisa da mesma cor. O

problema é que o terno abraça corretamente o seu corpo e o deixa tão


poderoso, tão intenso.
— Em qual sentido, Sienna? — repete a pergunta.

Olho para os seus lábios e lembro deles em minha boca, em


meus peitos, provocando-me. Devorando-me.

Não quero desejá-lo, mas às vezes eu simplesmente esqueço o


que ele é, pensando apenas nas coisas que já me fez sentir e nas coisas que

ainda posso sentir se ele continuar o que não terminamos naquele dia, na
sala de lutas.
— Se você teria se apaixonado por mim.

Os olhos de Eros suavizam.


Ele desliza os dedos pelo meu rosto.

— Talvez. Seria mais fácil por não ter que lidar com uma garota
que odeia esta vida, que me odeia.

— Você me trouxe a força, não reclame.


— Mas achei que as coisas seriam diferentes. — Ele suspira. —

Nem tudo é como você pensa, Sienna.


Fico pensando no que acabou de dizer.
Não entendo.

— Como assim?
Ele abre a boca para dizer algo, mas a fecha.

— Nada. Vamos? Carol está nos esperando.


Eros me solta e se afasta, então penso no que foi que eu disse de
errado.

Não consigo encontrar nada.


— Vamos.

— Doçuras ou Travessuras? — Eros e eu gritamos – ele com


má vontade, claro – quando Carol abre a porta de sua casa badalada para

nos receber.
— Ahhhhhhhhh vocês vieram! Estou tão feliz por isso!
Carol me abraça com força e cumprimenta Eros, que entra e já
sai a procura de David.

— Está tudo bem? — ela pergunta.


— Não sei. — Dou de ombros. — Não quero pensar em nada

esta noite. Quero apenas relembrar nossos tempos pedindo doces na rua e
depois comendo até passar mal.
Carol ri e passa um braço pelo meu pescoço enquanto me faz

entrar na casa, vendo pessoas que nunca gostaram de mim ou nunca fizeram
questão de me ver aqui.

— A noite é sua, garota. Aproveita.


David se aproxima, está vestido com jaqueta e camisa xadrez,

além da calça jeans surrada e botas.


— Sienna! Que Bruxa linda você se tornou! — Ele me abraça e
me ergue, girando-me ao redor de si. Quando me coloca no chão, vejo o

rosto de Eros atrás dele, me encarando. — Mas sério, por que uma Bruxa?
Eu não gosto de Bruxas.

— Você não gosta de Bruxas? — Franzo o cenho. — Sempre


pensei que gostasse.
Eros coloca a mão no ombro dele e entra na conversa.
— O idiota está fantasiado de Dean Winchester, personagem de
uma série.
— E na série ele odeia Bruxas — David confidencia.

— Ahhh, entendi.
Ele sorri.

— Pelo menos eu tenho criatividade. — Tira do bolso uma


pistola comprida e a aponta para o teto. — Até uma pistola falsa eu arrumei.
David aperta o gatilho e a arma dispara, assustando a todos.

— DAVID! — Carol grita, furiosa. — VOCÊ ESTÁ FICANDO

LOUCO?
— Desculpa! Eu achei que era a pistola de mentira!

Um buraco se formou no teto da sala, mas isso parece não

perturbar a ninguém. No final das contas, todo mundo volta ao seu próprio

mundo e esquecem que um maluco deu um tiro de verdade para cima.


— Bem, como eu ia dizendo, eu tenho mais criatividade que o

seu noivinho. — Ele dá um cutucão em Eros. — Ahn, deixa eu ir guardar

essa pistola, porque hoje apenas as de mentira estão liberadas.


David me lança um último sorriso antes de virar as costas e se

afastar, então pergunto a Eros:

— É verdade?
— O quê?
— Que esta noite está liberado apenas as de mentira.

— Sim, mas isso tem um motivo. — Eros me encara. — Quer


beber algo?

Assinto e vejo-o se afastando para pegar uma bebida para nós.

Olho ao redor e vejo mulheres da máfia cochichando.


Nenhum sinal da Bella Rossi, algo que eu acho ótimo.

Uma ou outra sorri, mas a maioria me olha como se eu fosse um

pedaço de cocô de cachorro.

A verdade é que não ligo para elas, tenho meus próprios


problemas a me preocupar.

Bebo alguns drinks, me enturmo um pouco com as pessoas que

Carol conversa, até que a bebida começa a fazer efeito e eu quero me sentir
livre.

A música já passou para uma batida pesada e eu me lembro das

baladas que fui com a Alessa onde dançávamos até que nossos pés saíssem

andando sozinhos.
Era assim que sabíamos que era hora de parar.

— Vamos dançar? — Puxo Carol de lado.


— Vamos!!! Vamos ali para o meio da sala, é melhor.

Carol me puxa pela mão e quando chegamos ao centro da pista

improvisada, onde algumas outras pessoas estão dançando, tento esquecer


os meus problemas e me concentro apenas na batida da música.

— Ele está te olhando, não pare — Carol cochicha em meu

ouvido.

— Ele quem?
— O seu “Ghostface” — Ela ri.

Olho para trás e vejo Eros parado na escada me observando.

Quer dizer, ele está com a máscara no rosto, mas sei que seus olhos estão
presos em mim.

— Ele disse que essa noite ia ser o melhor Halloween da minha

vida — digo no ouvido da Carol.

Ela ergue as sobrancelhas, surpresa.


— Caramba, ele quer te comer. E nossa, ele nem vai esperar o

casamento.

— Você acha?
— Claro, amiga. Ele não para de te olhar. Continua dançando.

Faço o que Carol diz porque, por um instante, me sinto a mulher

mais poderosa dessa festa.


Eros podia ter me matado quando me capturou, mas me deixou

viva, então estou me alimentando disto, me fortalecendo aos poucos, me


tornando a mulher que eu sei que minha mãe queria que eu fosse.

Viro-me de costas para a minha amiga e me esfrego nela. Ela

captura a mensagem do que quero transmitir e segura a minha cintura,


subindo suas mãos lentamente pelo meu corpo.

— Ele vai nos matar. — Ela ri. — Mas tenho certeza que está

ficando louco.

— Será?
— Com certeza, amiga. — Carol sobe as mãos até os meus

seios. — Vamos provocá-lo só mais um pouquinho.

Solto uma risada, mas deixo que ela beije o meu pescoço e
aperte os meus seios por cima do vestido.

E é neste momento que Eros sobe as escadas bruscamente.

Viro-me para a minha amiga e ela solta uma risada escandalosa.

— Uauuu!
— Ele está puto?

— Não sei, mas se quiser... pode ir averiguar. — Seu sorriso é

sugestivo. — Os quartos lá de cima estão liberados.


Respiro fundo, pensando se quero ir encontrar Eros agora. A

resposta é que sim, eu quero.


Afasto-me dela e vou na direção das escadas, trombando com

pessoas se agarrando pelos cantos.

Subo cada um dos degraus.

Lembro-me do que vi a última vez que fiz isso. Só que agora, a


porra da Bella Rossi não está aqui.

Mas eu estou.

A última porta do quarto está entreaberta e eu sinto que Eros


está lá, me esperando.

Sigo devagar, o corredor pouco iluminado me dá um pouco de

medo, mas sigo da mesma forma.

Não sei se estou apresentável para encontrar Eros. Penso em


voltar, mas daí vejo a porta do banheiro entreaberta e com a luz acesa.

O banheiro é sempre a salvação.

Entro nele e me olho no espelho.


Acho que acabei bebendo uns drinks a mais do que deveria.

Minhas bochechas estão vermelhas, minha maquiagem um pouco borrada

pelo suor e meus cabelos desgrenhados.

— Vai ter que servir assim.


— Vai servir sim, gatinha.

Olho para o lado e Eros vem para cima de mim com

agressividade, então faz uma chave de braço em meu pescoço para tentar
me enforcar.

Solto um grito desesperado e começo a me debater.


— Cala a boca, vadia. Hoje é o seu dia de morrer! — Ele tira

uma faca enorme da roupa e a ergue.

E nesse momento percebo que este não é Eros.

Eros estava usando um terno, este está usando uma capa preta,
com a mesma máscara.

E a voz é diferente.

— SOCORRO!

Eros

Estou no quarto esperando por Sienna, duro pra caralho depois

da ceninha que ela protagonizou lá embaixo, entretanto, ouço um grito de


socorro.

Tiro a pistola da minha cintura e corro pelo corredor,

encontrando Sienna jogada no chão, com um enorme corte no braço. Ela


está chorando, desesperada.
A sombra é ligeira, mas o vejo descendo as escadas correndo.
Ela aponta na direção das escadas.

— Rápido! Ele vai fugir!

Vacilo em deixá-la ali ou sair correndo atrás do desgraçado,


quando David sobe correndo.

— Que grito foi esse???

— O filho da puta fugiu!


— Vá Eros! — Sienna tenta estancar o sangramento. — Vá

logo! Ele está fugindo, porra!

Sua voz grossa e séria me deixa assustado por um segundo.

Mas eu entendo.
Sienna é uma das nossas e mesmo que ela tente negar, seu

sangue clamando por justiça sempre vai falar mais alto, mesmo que isso

signifique fugir das regras.


Não sei se me sinto orgulhoso ou me odeio por tê-la deixado tão

vulnerável, mas agora preciso caçar esse filho da puta que tentou machucá-
la.
— Eu vou. David, vamos!

Ele me olha com a mesma incerteza de deixá-la ali, sozinha.


Mas ela grita novamente:
— Vão ficar me olhando ou vão caçar aquele homem, porra?
Ele tentou me matar! Vão logo, seus idiotas!
David me segue, mas antes diz:

— Caralho, esta é a mesma Sienna que eu conheço?


— Não sei. Só sei que estou com um tesão do caralho. — Desço
as escadas, preparando a minha arma. — Eu vou colocar a cabeça desse

filho da puta em uma bandeja, trazer à Sienna e depois eu vou foder essa
mulher a noite inteira, pode ter certeza disso.
16

Sienna

— Mas como você escapou, mulher? — Carol passa a faixa em

volta do meu corte no braço. — Ele era alto como Eros, forte também. E

você, é tão pequena e magrinha.


— Não sei, amiga. Na hora que ele me atacou e comecei a me

debater, senti uma força extrema dentro de mim e comecei a lutar, minha

vida dependendo disto — Dou uma pausa, não sei se continuo falando o
que eu vi, porque talvez Carol não vá entender, então digo: — Algo me

ajudou, talvez.
Ela sorri.

— Um anjo, certamente.

Carol termina de enfaixar o meu braço e se afasta.

— Ainda bem que não foi um corte profundo, senão você ia ter

que ir para o hospital. Amputar o braço, quem sabe.

— Nossa, nem fale isso. — Solto uma risada. — Pena que a sua
festa acabou.
Quando Eros desceu as escadas, convocou todos os meus
capangas para caçarem o homem misterioso que se infiltrou no nosso meio.

Eles não pensaram duas vezes em atender o chamado do seu senhor.

— São quase duas da manhã, você quer dormir aqui comigo ou

quer ir para a sua casa?

Por incrível que pareça, tenho a sensação de que se estiver

dentro daquelas muralhas que antes encarava como prisão, estarei mais
segura do que em qualquer outro lugar.

— Quero ir para casa. Talvez Eros já tenha chegado, quero

saber se conseguiu pegar o maldito.

— Eros vai demorar. Essas missões são complicadas, ainda

mais em uma noite em que muitas pessoas vão às ruas com máscaras e

essas fantasias. Mas espero que ele pegue o desgraçado.

Carol me ajuda a levantar, puxando o braço bom e eu a sigo


para fora de seu quarto.

— Está melhor, Sienna? — Phellipe, seu marido, pergunta ao

nos encontrar no corredor.

— Sim, acho que sim. O susto foi grande, mas estou bem.

Ele assente.

— Tome cuidado. Você é a noiva do chefe e pessoas estão


revoltadas com isso. Não confie em ninguém — ele diz de uma forma tão
séria que um arrepio percorre o meu corpo.

Será que não devo confiar nele? Em Carol?


— Não a assuste ainda mais, Phellipe. Eu vou acompanhá-la até

em casa, já volto.
— Está com sua arma?
— Sim.

— Ok, boa noite garotas.


Ele vai para o quarto, visivelmente cansado. Carol me puxa

novamente.
— Vamos.

Descemos as escadas e passamos pelo meio da bagunça na sala.


Queria que a festa não tivesse acabado assim, estava tão legal.
— Você realmente tem uma arma?

Carol olha para os lados quando chegamos na calçada, segura a


minha mão e me puxa pela rua.

— Sim, claro. Você nem imagina a quantidade de inimigos que


temos. Segurança é primordial. Além de tudo, eu sei lutar.

— Preciso aprender, Eros tem uma sala de lutas gigantesca e é


uma covardia não lutar naquele lugar.
— Ah, sim. Eu já fui lá com Phellipe. É um paraíso para quem

gosta, né? Eu luto por precisão, menina. Não por que gosto.
Minha casa está escura, silenciosa, sinal de que Eros ainda não

chegou.
— Quer que eu fique aqui com você? Sei lá, posso chamar

David.
— Não precisa. Giovanni está lá dentro, ele cuida de mim.

Carol não consegue acreditar e entra comigo em casa e só fica


em paz quando encontramos Giovanni andando pela casa, já atento, com
uma pistola em mãos.

— Como está, Sienna? Eros me contou o que aconteceu e me


pediu para ficar de olho na casa. Eu ia te buscar, mas ele disse que você

estava com Carol e Phellipe, então preferi ficar aqui, pronto para pegar
aquele filho da puta, caso aparecesse.
— Estou bem, Giovanni. Carol disse para eu ficar lá, mas acho

que aqui é melhor. Estou exausta, quero descansar um pouco.


— Sim, claro, querida. Vá para o seu quarto e descanse, de

qualquer maneira, há outros dois homens cercando a casa, então fique


tranquila. Estamos aqui para te guardar.

Dou um abraço em Giovanni e me sinto protegida. Ele sempre


foi um grande amigo do meu pai, conheceu minha mãe e viu quando eu
nasci. Confio nele de olhos fechados.
— Vou para casa, amiga. Boa noite, amanhã nos falamos, ok?
— Carol me abraça. — Qualquer coisa, me chame.
— Obrigada, amiga. Amanhã nos falamos melhor.

Ela assente e após se despedir, vai embora.


— Alguma notícia de Eros? — pergunto à Giovanni.

— Nenhuma.
Céus.
— Ok.

Subo as escadas e vou para o meu quarto. No caminho, encontro


um dos homens da Organização andando pelo corredor.

— Olhei todos os quartos, Sienna. Pode ficar tranquila.


Assinto e o vejo se afastando na direção das escadas.

Ok, isso é assustador.


Entro em meu quarto e me recosto na porta assim que a fecho.
Sinto-me diferente, não sei explicar. É como se o ataque desse assassino

tivesse levado algo de mim, algo que protegia a minha alma.


E agora só consigo pensar em Eros.

Em sua segurança.
Abro a porta do banheiro e acendo a luz, preciso de um banho.
Tiro minhas roupas, abro o registro e entro debaixo, tomando cuidado para

não molhar o meu curativo.


A água quente faz os meus músculos tensos relaxarem.
Meu Deus, que confusão dos infernos.
Acho que preciso dormir para colocar os meus pensamentos em

ordem, analisar tudo o que estou vivendo, pensar, principalmente, como


sobreviver no meio de pessoas que me querem morta.

Fecho o registro, puxo a toalha e me enrolo nela. Olho-me no


espelho, minha maquiagem borrada.
Estou horrível.

Abro o armário do espelho e pego alguns cremes que deixaram

ali. Limpo meu rosto, tirando todo resquício de maquiagem.


Agora sim, sinto-me leve.

Saio do quarto e abro o closet. Pego uma calcinha limpa, visto-

a, depois coloco o baby-doll.

Nada de Eros chegar.


Eu acho realmente que ele vai demorar. Estou tão cansada, nem

vou esperá-lo.

Puxo o cobertor da cama, mas estou inquieta.


Algo não parece estar certo.

Então é no momento em que vou me deitar, que vejo a cabeça

de algo saindo por debaixo do cobertor.


— Ahhhhhhhh! — grito e me afasto, até ver que é uma

serpente.
Abro a porta do quarto e saio correndo, desço as escadas,

gritando, desesperada e no momento em que chego no meio da escada, a

porta se abre e Eros entra com um saco preto nas mãos.


— Sienna????

— Tem uma serpente na minha cama!!!! — Termino de descer

os degraus e pouco me importa se Eros está sujo de sangue, jogo-me em

seus braços e ele me segura como se eu fosse uma criança novamente. —


Por favor, me leve daqui!

Eros deixa o saco cair no chão e tenta me acalmar enquanto

derramo lágrimas em seu ombro.


— Eu vou levá-la daqui agora. Porra — ele xinga. — Giovanni!

Os homens se aproximam, assustados.

— O que foi, Eros? — Giovanni pergunta assustado. — Sienna?


O que houve?

Eros me coloca no chão e parte para cima de Giovanni,

segurando-o pelo colarinho.

— Aconteceu que tem a porra de uma serpente na cama da


minha mulher e nenhum de vocês foi capaz de protegê-la! — Eros está
furioso. — Estou começando a pensar que o traidor não foi John, mas que

ele está realmente dentro desta Organização!

Eu sei que não foi Giovanni, por isso, tento acalmá-lo.


— Para, Eros! Giovanni não tem culpa!

Mas ele está com sangue nos olhos e não quer saber. Afasta-se e

puxa a arma da cintura, apontando-a para cada um dos homens ali

presentes.
— Será que é você? Ou será que é você? Eu posso matar a todos

e acabamos por aqui.

— Não sou um traidor, Eros! — Giovanni diz, mantendo a


calma. — Você sabe disso, sempre foi como um filho para mim. Abaixe

essa arma, rapaz. Talvez o assassino entrou pela janela, não sei.

— O assassino está aqui! — Eros pega o saco preto e o ergue.

— A cabeça dele está lindamente aqui dentro e você tem coragem de me


dizer uma porra dessas?

— Ele pode ter entrado aqui antes da festa.

— Eros, Giovanni tem razão. Ele não ia entrar aqui depois que
todo mundo estivesse alerta. Talvez tenha sido na hora que saímos, porque

eu deixei a janela aberta.

Eros me encara, pondera.


— Vamos daqui. Vocês fiquem aqui e cuidem da propriedade.

Amanhã conversaremos melhor.


Giovanni abre a porta e saímos. Eros me guia até o carro

estacionado em frente à casa e chegando lá, descubro que é o carro de

David, que está fumando um cigarro no lugar do motorista.


— Sienna? — Ajeita-se no lugar quando entro no banco de trás.

Eros fecha a minha porta e entra no banco da frente. — O que aconteceu?

— Colocaram uma serpente na cama da Sienna.

— Porra, que loucura!


— Nos leve para o apartamento, lá é o lugar mais seguro no

momento.

— Claro, levo sim.


David liga o carro e acelera, nos tirando dali.

Enquanto ele dirige, deixo algumas lágrimas caírem. Sei que

esse é o meu destino, mas não quero morrer.

Quando chegamos ao apartamento, David nos acompanha até lá


dentro, para se certificar que está tudo bem por aqui.

Fico esperando na sala, ele e Eros saem vasculhando cada

quarto, cada cama, cozinha e etc.


— Está tudo bem por aqui, Sienna — David diz, guardando a

pistola na cintura. — Hey, acalme-se. Não chore.


David se abaixa na minha frente e eu jogo os braços em seus

ombros. Ele sempre foi um bom amigo, então deixo as lágrimas rolarem.

— Não quero morrer, David. Não quero.

— Você não vai morrer, Sienna. — Se afasta e me encara. —


Você vai ser a esposa de Eros, ninguém vai tocar em você.

— Mas ele vai — digo baixinho. — Ele me quer morta.

David vacila um pouco, então diz:


— Não, claro que não. Ele é maluco, mas não vai matá-la. Ele

pegou o assassino para você.

Respiro fundo.

— Ok, eu acho que estou ficando louca.


David assente.

— Fique bem. Mais tarde eu volto para ver como as coisas

estão. — Deposita um beijo em minha cabeça e se levanta.


David se afasta com Eros até a porta e eles conversam algo que

não consigo ouvir.

Sei que é loucura, mas no caminho para cá, me peguei pensando

se não foi ele próprio que planejou tudo isto. Ele foi capaz de me sequestrar,
me disse coisas horríveis e prendeu meu pai em um hospício.

Ele é capaz de tudo.


— Sienna, venha para o quarto — Eros se aproxima, mas eu

levanto e me afasto até as janelas. — O que foi?


— Fique longe. Não posso confiar em ninguém.

Seu semblante se torna assustado.

— Não fui eu que armei tudo isto, Sienna. Se fosse, você estaria

morta, pode ter certeza.


Encaro seus olhos azuis por longos instantes. O pior de tudo é

que vejo sinceridade neles.

Eros se aproxima.
— Eu sei que o nosso começo foi horrível, mas eu não quero

matá-la, Sienna. — Respira fundo. — Porra, acho que chegou a hora de

dizer porque eu a trouxe de volta.


Fico em silêncio esperando que ele continue.

— Eu desconfio de algumas pessoas dentro da Organização, só

que não posso simplesmente matá-las. Então quando eu soube que sua

madrasta estava prestes a fugir, eu entrei na casa e tratei a situação como se


seu pai estivesse envolvido. — Suspira. — Mas eu sei que seu pai é

inocente.

Meus olhos se arregalam e eu preciso me recostar com mais


força na parede de vidros para conseguir processar o que ele está me

dizendo.
— É por isso que o colocou em um manicômio?
— Sim. Eu... inventei toda essa coisa de vingança para poder

armar a situação. Eu preciso descobrir quem é o traidor e trazendo você de

volta, eu sabia que ia despertar o ódio dessas pessoas, os ataques


começariam e eu poderia chegar mais rápido no encalço do traidor.

— Mas por que matou a minha madrasta?

— Porque ela estava sendo cúmplice dessa pessoa, o problema é


que nunca conseguimos descobrir quem era.

— Por que não a torturou antes?

— Mary era uma vagabunda, ela ia dizer qualquer um. E eu não

quero qualquer um, eu quero o cara certo.


Eros se aproxima, ficando a centímetros de distância de mim.

— Eu achei que conseguiria colocá-la nesta situação sem me

abalar, o problema é que estou louco por você, Sienna. — Apoia as mãos no
vidro, uma de cada lado da minha cabeça. — Todas as noites eu penso em

como vai ser quando estiver dentro de você e isso está me deixando louco.
— Ele abaixa a cabeça e sinto seu hálito quente roçando meu rosto. — Hoje
quando deixou sua fúria extravasar e me pediu para ir atrás do assassino,

fiquei com um tesão do caralho.


Solto um suspiro.
Minhas pernas estão moles. Meu coração bate como louco no
peito.
— O que eu quero saber é, você me quer, Sienna? Porque se

disser que sim, será minha para sempre.


Sua revelação deveria ter me enfurecido, afinal, ele apenas me
usou como isca todo esse tempo. Entretanto, já não sei se consigo mais

controlar o que sinto por ele, porque quero descobrir tudo o que ele pode
me oferecer, seja bom ou ruim.
— Eu quero.

Eros segura o meu maxilar, acaricia o meu lábio inferior com o


dedão e desce sua boca até a minha, com a fúria e a paixão que preciso
neste momento para me sentir completa.
17

Sienna

Os lábios de Eros se movendo com os meus trazem sensações

que só experimentei uma vez em minha vida: aquela de quando ele me

beijou na sala de lutas.


Seus lábios me devoram ora devagar, ora com fúria. Suas mãos

passeiam pelo meu corpo e quando chegam até a minha bunda, ele aperta

com força e me ergue em seu colo. Jogo os braços ao redor do seu pescoço
e enlaço sua cintura com minhas pernas.

— Vamos para o quarto — ele diz, quando paramos o beijo para


respirar.

— Vamos.

Eros me leva para o andar de cima e durante o percurso,

trocamos alguns beijos.

— Eu vou cair com você deste jeito — brinca.

— Não vai não. Você é forte. — Passo uma mão pelo bíceps
saliente na camisa.

— Ah, então você gosta dos meus braços?


— Gosto.
Eros abre a porta do quarto e entramos, beijo sua boca mais uma

vez, movendo meus lábios lentamente, sentindo seu gosto, a maciez de seus

lábios contra os meus.

Ouço o barulho da porta se fechando, mas nem isso é capaz de

me fazer parar, apenas quando ele me afasta e me deita na espaçosa cama de

seu quarto. Lugar onde me deitei uma vez nua, fingindo que queria os seus
toques.

O problema é que agora eu quero de verdade.

Eros abaixa o quadril e esfrega-se em minha intimidade.

— Olha como eu estou duro por você.

E sim, sinto-o extremamente duro, o que faz o meu corpo se

acender ainda mais.

— Eu te quero, Eros.
Seus rosto paira sobre o meu por alguns segundos.

— Eu também te quero, Sienna.

Se alguém me perguntasse algum tempo atrás qual o último

homem com quem eu me relacionaria, sem pensar muito eu diria o nome de

Eros, porque nunca fomos amigos, nem nada do tipo. Ele sempre me tratou

como se eu fosse um peso quando criança e eu sempre o achei um


verdadeiro escroto. E agora, estou debaixo de seu corpo forte, ansiando para

sentir sua boca em todos os lugares possíveis.


Eros beija os meus lábios, devorando com força, então se ergue

um pouco e segura a minha blusa de alcinha do baby-doll, rasgando-a sem


dó.
— Meu Deus, Eros.

Vejo o desejo estampado em seu rosto quando seus olhos


percorrem a minha pele desnuda.

— Eu gosto disso, Sienna.


Eros se abaixa novamente e sinto seus lábios percorrendo meu

maxilar, descendo pelo pescoço e pelo meu colo desnudo. A mão que não
está apoiada na cama, segura o meu seio e com o polegar e o indicador
acaricia meu mamilo duro.

— Céus.
— É aonde eu vou te levar, linda — Ele se levanta e me encara.

— Você é linda, eu fui um imbecil quando disse que não gostava do que
via. Eu estava mentindo.

Abro a boca para dizer algo, mas tudo o que sai é um gemido
rendido quando ele abaixa a cabeça e sua língua circula o meu mamilo.
— Estou louco para fazê-la minha, Sienna.

— Então faça — peço, minha respiração acelerada.


— Calma aí, gata. Essa é a sua primeira vez. Precisa ser

memorável. — Seus olhos me transmitem a certeza de que não são apenas


palavras.

Ele tem razão, mas quando seus lábios percorrem o meu corpo,
sinto uma espécie de euforia, algo que faz o meu coração acelerar. Estou

fervendo e quero descobrir até onde posso chegar.


Eros desce sua boca pela minha barriga e eu sinto um pouco de
cócegas.

— Hummm, tem cócegas aqui? — Ele sorri maliciosamente. —


Acho então, que vou explorar mais um pouco esta região.

Eros beija a parte de baixo do meu ventre e eu me contorço na


cama.
Caramba.

Eu acho que sei o que ele quer fazer. Alessa já me mostrou


vídeos sobre isso e disse que é muito bom, mas tenho receios.

— O que vai fazer? — pergunto, tentando afastá-lo quando ele


puxa o meu short. — Espera.

Eros me olha confuso.


— Quero te chupar, Sienna.
— Mas... — Lembro da cena que vi quando era criança entre

ele e Bella Rossi. — Não preciso fazer primeiro em você?


Eros solta uma risada, se levanta e começa a abrir os botões da
camisa.
— Não. Tanto faz, depende de como estiver o clima entre o

casal — explica. — Hoje, eu quero fazer primeiro em você. Quando estiver


acostumada, eu a ensinarei a me dar prazer com sua boca gostosa.

Minhas bochechas começam a ferver ao pensar no que vamos


fazer, mas logo sou hipnotizada com a imagem de Eros se despindo na
minha frente.

Seu corpo é muito bonito, torneado. Eu já tinha visto-o sem


camisa antes, claro, mas suas pernas são grossas e existe aquele V que liga

sua cintura ao quadril.


E seu pênis...

É grande, grosso e está em pé, apontado em minha direção. De


repente sinto uma vontade louca de colocá-lo em minha boca.
Acho que agora eu entendo a Bella Rossi. Eu teria feito a

mesma coisa se estivesse no lugar dela.


— Fique tranquila, Sienna. Relaxe. — Eros volta para cima de

mim, então passa um braço em minha cintura e me coloca com a cabeça


deitada nos travesseiros. — Só quero isso, relaxe.
Respiro fundo e o vejo se afastando mais uma vez.
Ele puxa o meu short, deixando-me totalmente nua na cama.
Segura meus tornozelos e os levanta, fazendo-me abrir as pernas e me expor
para ele.

— Que delícia, Sienna.

Eros

Vejo a carne rosada de sua boceta e isso me deixa ainda mais

duro.

Porra.
Nunca pensei que eu ia querer tanto uma pessoa quanto quero

Sienna. Quando percebi que ela podia ter morrido esta noite, percebi que

não há motivos para esperar mais para ter algo que já é meu.

De joelhos na cama, abaixo-me e a seguro pela bunda. Trago-a


até mim, como um banquete.

— Eros... — Ela suspira, fechando os olhos.

Primeiro dou um beijo em seu clitóris. Sienna suspira e


estremece novamente. Depois, deslizo minha língua para cima e para baixo.

— Eros!

— Você vai dizer o meu nome muitas vezes esta noite, Sienna.
Ela é deliciosa.
Mordisco a carne úmida e quente, depois a chupo, deliciando-

me em suas dobras. Sienna está cada vez mais molhada, inchada. Do jeito
que eu gosto.

Deslizo a minha língua para cima e para baixo novamente,

provocando seu clitóris e ela responde erguendo o quadril, pedindo por


mais.

— Você é deliciosa.

Ela fecha os olhos quando a lambo novamente, misturando a

minha saliva a sua carne molhada e inchada. Seguro sua bunda e a ergo
apenas um pouco para ter um maior acesso a sua boceta.

— Está gostando, Sienna?

— S s sim... — Ela gagueja e é uma graça, a coisinha mais linda


que eu já vi.

Chupo seu clitóris mais algumas vezes, apenas apreciando

enquanto Sienna entra em combustão e fecha os olhos, entregando-se sem


reservas.

— Eu vou... — diz, com os olhos fechados. — Não sei.

— Sim, você vai... — Enfio a minha língua em sua boceta,

chupo mais uma série de vezes. — Vai gozar bem gostoso na minha boca.
Sienna geme com força, segura o lençol com tanta força que os

nós de seus dedos começam a ficar brancos.


— Abra os olhos, Sienna. Quero que olhe para mim enquanto

eu estou me deliciando com seu gozo.

Seus olhos azuis claros se concentram nos meus, então passo a


chupar seu clitóris com força e velocidade. Para aumentar o seu prazer,

enfio o dedo indicador em sua boceta quente e molhada, estocando-a

enquanto ela se debate na cama e pede por algo que nem sabe o que é, mas

que eu vou mostrar esta noite.


— Ahhh, meu Deus! — Ela grita quando seu corpo estremece e

o orgasmo a toma por completo. — O que foi isso, Eros?

Levanto-me, com a boca lambuzada do seu prazer, mas


extremamente satisfeito por ter feito Sienna gozar assim, sendo esta, a sua

primeira vez.

Eu sou um sortudo do caralho.

— Você gozou, meu amor. — Beijo sua boca, quero que ela
sinta seu próprio gosto. — Quer gozar de novo?

Ela me olha, incerta.

— É possível?
— Claro que é.

Então, timidamente, ela assente.

Abaixo-me novamente e recomeço tudo o que fiz, chupando-a

devagar e rápido, estocando-a com meu dedo, me certificando de que essa


noite será inesquecível para Sienna.

E quando ela goza pela segunda vez, solta um palavrão.


— Porra, Eros.

Dou risada, a abraço e a beijo nos lábios.

— Isso é só o começo.
Trocamos de posições, com ela ficando por cima de mim. Nos

beijamos mais alguma vezes e nos acariciamos com as mãos no corpo um

do outro. E, por incrível que pareça, quando Sienna envolve o meu pau com

suas mão delicadas, eu vou até os céus.


— Chega, senão eu vou gozar como um adolescente — a

interrompo, virando nossos corpos novamente, ficando por cima dela. —

Agora eu vou te comer bem gostoso, Sienna.


Ela arregala levemente os olhos e eu abaixo o meu quadril

devagar. Roço a cabeça do meu pau em sua entrada molhada.

Porra.

Se fosse outra mulher, eu já teria feito isso sem cerimônias.


Apenas teria feito, mas Sienna é diferente e eu não sei o porquê, mas não

quero que seja apenas sexo para ela.

Eu sou maluco, essa deve ser a explicação.


— Assim. Eu gosto disso. — Ela fecha os olhos, estou

esfregando meu pau, circulando, preparando-a para quando eu finalmente


entrar.

— Relaxe. Eu acho que vai doer um pouquinho, por ser sua

primeira vez, mas depois você vai gostar.

Ela abre os olhos e encara os meus.


Vejo a confiança.

Isso me faz sentir o maior de todos os homens que já pisou a

porra da Terra.
— Vá, eu confio em você — ela encosta sua testa na minha.

Caralho.

Respiro fundo.

Posiciono meu pau em sua entrada, mas antes de entrar, ergo


suas mãos, colocando-as acima da cabeça.

— Fique comigo, Sienna.

Empurro o quadril, entrando em sua boceta apertada. Ela faz


uma careta de dor, o que me faz parar.

— Pode continuar — diz.

Entro mais um pouco e ela faz mais uma careta de dor.

— Você é grande e grosso — ela diz. — Mas eu gosto disso.


Continue.

Solto uma risada, porque... ela é doida como eu. Sienna é

pequena e eu tenho consciência de que fui abençoado por Deus, mas nunca
nenhuma mulher falou isso tão alto. Não quero machucá-la, mas quero que

seu corpo aceite o meu para sermos completos um no outro.


Empurro meu quadril mais um pouco.

— Já estou quase lá, Sienna.

— Caralho — ela solta.

Quando finalmente estou dentro dela, preciso de um tempo para


respirar. Além de pequena, Sienna é bem apertada, quente, gostosa demais e

eu preciso me controlar para não a machucar com a força do meu desejo.

Ela apoia as mãos em meu rosto e diz:


— Eu te quero, Eros.

Beijo seus lábios para fazê-la esquecer da dor ao mesmo tempo

que começo a movimentar os meus quadris, entrando e saindo.


— Ahhh, assim. — Ela geme. — Isso.

— Posso continuar, então?

— Sim!

O desespero e a inexperiência de Sienna me encantam e me


fascinam de uma forma que não sei explicar.

Fecho os olhos, respiro fundo e apoio as mãos nas laterais da

sua cabeça. Movimento os quadris para frente e para trás, devagar. Sorrio ao
ver o seu delírio debaixo de mim e me deixo guiar pelo meu próprio prazer,

sentindo-a tão apertada, deliciosa e escorregadia para mim.


— Você é linda, Sienna. — Beijo o vinco em sua testa. — Linda
pra caralho.

Ela abre os olhos e neste momento eu paro de estocar e apenas a

encaro.
— Nunca pensei que ia estar aqui, na sua cama.

— Está arrependida?

— Claro que não. — Suas mãos deslizam pelas minhas costas,


fazendo um arrepio percorrer o meu corpo. Ela aperta a minha bunda. — Eu

quero mais disto, Eros.

— E você vai ter. — Beijo seus lábios.

Seguro sua cintura com um braço e retomo meus movimentos


entrando e saindo, até o momento que vejo que posso colocar mais força e

rapidez.

Sienna joga a cabeça para trás e respira fundo.


Meto com força e agilidade, buscando o prazer tanto dela

quanto o meu. Sienna estremece mais uma vez e eu me aproximo do


orgasmo aos poucos, apreciando cada investida em sua boceta molhada e
quente.

O orgasmo chega, fazendo-me estremecer enquanto gozo com


força dentro de Sienna.
São vários segundos em que perco as palavras, porque não há o
que dizer neste momento. Não enquanto o prazer ainda percorre as minhas
veias.

Retiro o meu pau e afasto-me, abrindo a gaveta da mesa de


cabeceira. Pego vários lenços de papel e os entrego à uma Sienna sonolenta
e cansada.

— Obrigada. — Ela abre um meio-sorriso, então começa a se


secar.
— Pode jogar no chão, depois jogamos no lixo — digo,

deitando-me ao seu lado.


Sienna amassa e joga os papéis no chão.
Quando penso que ela irá se juntar a mim, vejo a timidez

subindo de uma só vez e ela tentando puxar o lençol para se cobrir.


Entretanto, eu a interrompo, trazendo-a para mim.
— Não, Sienna. A partir de hoje está proibida de sentir

vergonha.
— O quê? Sério? — Ela sorri.

— Sim. O que acabamos de fazer não é motivo para timidez. —


Coloco-me por cima dela novamente. — Porque vamos fazer muitas vezes
mais.

— Agora? — Arregala os olhos.


— Sim. Agora, a noite inteira. A manhã toda... — Beijo seus
lábios. — É isso o que quer?
Suas mãos delicadas seguram o meu rosto e ela sorri.

— É, sim.
18

Sienna

“— O que está fazendo aqui garota??? — Eros segura a minha

blusa e me levanta como se eu fosse um pedaço de carne.

— Me solta! — Tento espernear, mas ele me segura com mais


força ainda. — Não estava fazendo nada!

— Claro que estava! — Ele me solta e eu caio no chão. Vem

para cima de mim com os olhos cheios de fúria. — Estava roubando as


flores que minha mãe plantou com muito esforço!

— Eu não estava roubando! — Choramingo. — Eu só queria


levar algumas para colocar no vaso e tirar as que estão lá, porque já estão

murchas.

A mãe de Eros está doente e muito debilitada, então todos os

dias alguém leva flores para ela.

Eu queria fazer o mesmo, então vim no jardim que ela cultivava

quando ainda estava saudável e tentei recolher algumas, mas Eros, seu
filho, me pegou no flagra.
— Minha mãe não precisa das suas flores. Caia fora daqui,
pirralha. — Pega as flores e as joga no meu colo, então se afasta. — Não a

quero ver aqui neste lugar, nunca mais.

Deixo lágrimas descerem pelo meu rosto.

Que moleque idiota, malvado e mesquinho!”

— No que está pensando?


Eros está deitado de bruços, sua cabeça virada em minha

direção enquanto os pensamentos não param em minha cabeça.

O dia já amanheceu faz horas, mesmo assim, não conseguimos

sair da cama.

— Nada.

— Não minta para mim, Sienna.

Respiro fundo.
— Ok, estou pensando em... Como você sempre foi muito

escroto comigo quando eu era criança.

Um sorrisinho se forma em seus lábios e ele vem para cima de

mim, sua testa encostando na minha.

— Eu era malvado, né?

— Você me fez chorar muitas vezes.


— Mas também salvei a sua vida, duas vezes.
— O que não o redime dos seus pecados.

— Vai ficar lembrando disso agora? Já que quer lembrar de


algo, porque não relembramos o que fizemos esta madrugada?

Solto um suspiro e acaricio seu rosto com a ponta dos dedos.


Sua barba começou a nascer.
— Lembrei da vez em que eu tentei pegar algumas flores para

levar à sua mãe e você não deixou.


— Mas você levou mesmo assim. Fiquei com ódio de você

naquele dia, Sienna.


— Por que me tratava daquele jeito?

Eros deita as costas no colchão e me puxa para cima de seu


corpo.
— Não sei. Eu nunca gostei muito das pessoas, os únicos com

quem eu me dava bem eram Bella Rossi e David, que eram meus amigos,
pessoas da minha idade.

Ao mencionar Bella Rossi, meu estômago embrulha e eu saio de


cima de seu corpo, pulando para fora da cama.

— O que foi, Sienna?


— Nada.
Puxo o lençol para tentar cobrir o meu corpo. Preciso tomar

banho e sair desta cama, porque quando estou com Eros, sou facilmente
influenciada por seu corpo gostoso e tudo o mais.

— Sienna, volte aqui. Vamos descansar mais um pouco.


— Não quero.

Abro a porta do banheiro e entro. Já vou ligando o chuveiro,


quando Eros entra atrás de mim e me puxa para si.

— O que foi? Por que ficou assim?


— Não é nada! Eu quero tomar banho!
Desvencilho-me de seus braços e entro no box, mas é claro que

ele não se deixa abalar e entra atrás de mim.


— Foi porque eu mencionei a Bella Rossi?

Viro de costas para que ele não veja que estou com raiva disso,
porque, como pode, após ter passado a noite inteira transando comigo, vir
mencionar aquela vadia?

— Eu não quero a Bella Rossi. — Eros apoia a mão na minha


bunda e a acaricia. — Eu quero você, Sienna.

— Então por que mencionou o nome dela? — Pego o sabonete e


começo a deslizar pelo meu corpo.

— Porque ela era minha amiga, caralho. — Pressiona seu corpo


atrás do meu. Sinto sua boca em meu ombro. — Mas eu não vou mais
trepar com ela, porque só você me interessa.
— Todos os homens dizem a mesma coisa, mas depois voltam
para a cama da amante, sem peso na consciência.
O maldito suspira em meu pescoço. A água do chuveiro nos

molhando e nos tornando únicos.


— Eu tenho palavra, Sienna. E se eu disse que não vou mais

trepar com ela, eu não vou. — Quero acreditar em suas palavras, mas não
consigo raciocinar muito bem quando ele desliza as mãos grandes pela
minha cintura. — Entendeu?

— Sim... — Solto um suspiro quando ele sobe as mãos e


contorna os meus mamilos com os dedos.

— Então diga: Me foda agora, Eros.


Fico em silêncio, porque não quero que pense que suas palavras

de ordem têm efeito sobre mim. O problema é que Eros é astuto e quando
seus dedos descem pela minha barriga e se infiltram em minhas dobras,
minhas pernas cedem e já não consigo raciocinar direito.

— Diga. Agora.
Respiro fundo.

Apoio as mãos na parede do box.


Eros movimenta os dedos com mais precisão, provocando meu
clitóris.

— Estou esperando.
— Eros... — Fecho os olhos. Involuntariamente ergo os quadris
para trás, esfregando a minha bunda em sua ereção.
— Diga que me quer, Sienna.

Ele segura a minha cintura com uma mão e com a outra


continua acariciando minhas dobras.

— Por favor — digo baixinho, jogando a cabeça para trás.


— Por favor o quê? — Ele mordisca a minha orelha, sua boca
desliza pelo meu pescoço, lambendo a água que envolve a minha pele.

Espasmos involuntários começam a me tomar conforme seus

dedos esfregam a minha intimidade.


— Eros! — Esfrego a minha bunda mais uma vez em seu pau,

desejando-o dentro de mim. — Por favor!

— Só vou fazer o que me pedir, Sienna. — Sua voz lenta e

preguiçosa zomba de mim em meu ouvido.


Eros enfia o dedo médio em minha boceta e depois o arrasta

para fora, espalhando a minha umidade. Sua mão que antes estava

segurando a minha cintura, agora subiu para o meu seio, que ele estimula
meu mamilo, esfregando-o com precisão.

Eu preciso disso.

A raiva de antes deu lugar ao tesão, ao desejo. Quero esse


homem com todas as minhas forças.
— Me foda, Eros! Me foda agora!

Ao contrário do que pedi, ele esfrega o meu clitóris por mais um


tempo até que minhas forças vão embora e desfaleço em seus braços,

extasiada pelo orgasmo.

Eros vira-me de frente para si e encosta-me na parede do box. A


fumaça do chuveiro quente nos envolve.

Seus olhos estão cheios de algo que não sei explicar o que é.

Talvez seja prazer, alívio ou... não sei. O que sei é que ele me encara como

se eu fosse um objeto precioso, talvez eu seja mesmo.


Eros prensa seu corpo forte contra o meu e sua boca vem até a

minha, beijando-me com força, desejo. Sua língua entra em minha boca e

duela com a minha.


Não é um beijo fofo, é um beijo de posse.

Seus braços se engancham em minhas pernas e me erguem. Ele

me penetra sem cerimônias e quando isso acontece, deixo sua boca e solto
um gemido alto.

— Gostosa pra caralho — murmura.

Fecho os olhos e sinto-o entrando e saindo, uma tortura doce e

lenta com o movimentar de seus quadris.


— Ahhh, Sienna! — Eros geme, aumentando a velocidade. —

Porra, que delícia.


Ele estoca com mais força e rapidez. Gemidos escapam dos

meus lábios e não quero que ele pare.

— Isso, assim — incito-o. — Por favor.


De repente ele para e me coloca no chão, vira-me de costas para

si, onde me resta apoiar as mãos no vidro do box.

— Vou te comer assim, bem gostoso. Você vai gostar, Sienna.

— Ele segura o meu quadril e logo sinto-o esfregando a ponta do pau em


minha entrada. — Tão molhada, apesar de apertada, é fácil deslizar para

dentro de você. Tem noção de que eu nunca vou parar isto? — Encosta sua

boca em minha orelha. — Você é minha e ai de quem tentar encostar um


dedo em você. Eu mato, estripo e depois dou aos cachorros para comerem.

— Eros... — Solto um suspiro.

— Você vai ficar assada, minha querida. — Solta uma risada. —

De tanto que eu vou te foder daqui pra frente.


Isso deveria ser algo ruim, mas por algum motivo, só quero que

ele continue.

Eros posiciona o pau em minha entrada e me penetra de uma só


vez.

Então ele recomeça seus movimentos, entrando e saindo, só que

desta vez, com mais agilidade e força.


— Ahhh! — Gemidos escapam da minha garganta. — Caralho,

Eros.
Suas bolas batem contra a minha intimidade quando ele investe

em seus movimentos.

Entrego-me.
Eros também geme e em uma rápida olhada que dou para trás,

vejo-o com a cabeça jogada para trás, o prazer inundando-o como a mim.

O orgasmo é certeiro.

Os espasmos percorrem-me da cabeça aos pés, deixando-me


saciada, e logo depois sinto seu gozo quente me preenchendo.

Olho para a minha cintura e suas mãos estão marcadas lá.

Eros me puxa para si, virando-me de frente e beija a minha boca


com ferocidade.

— Posso comer mais esse pãozinho aqui? — David ataca a

cesta de mini pães e Eros solta um bufo irritado.

— Não comeu o dia inteiro, porra?


— Do jeito que preciso comer, não — David se justifica. — Se

não se lembra, você me mandou passar o dia inteiro procurando pistas sobre
o nosso traidor.

Solto uma risada.

— Como assim do jeito que você precisa comer?

— Eu faço uma dieta para ganho de massa — explica. — Então


o meu cardápio é bem robusto. Mas hoje não consegui e a culpa é do seu

noivo.

— Na verdade a culpa é minha. Eu que fui atacada.


— Se Eros tivesse aberto o jogo logo, talvez não tivesse

acontecido isso. — David dá de ombros. — E então, Eros... quais serão os

próximos passos?

Já escureceu, passamos o dia no apartamento e David veio


jantar conosco para nos atualizar sobre o que aconteceu durante o dia.

Eros me encara e diz:

— Se quiser ir para o quarto, fique à vontade. O assunto agora


vai ser apenas sobre a Organização.

— Eu quero ficar. Quero saber de tudo.

A resposta surpreende David que me olha com os olhos

arregalados.
— Caralho, você é outra Sienna. Não é possível. Deve ser um

metamorfo se passando por ela!

— Metamorfo? O que é isso?


Eros revira os olhos e esfrega o rosto.

— Esse idiota assiste Supernatural demais.


Dou uma risada, já assisti alguns episódios da série, mas nunca

tive tempo para vê-la por completo.

— É a melhor série de todos os tempos — David assume. —

Vocês deveriam assistir.


— Já vi alguns episódios — digo. — E eu gostei. Só não sabia

sobre essa história de metamorfos.

Ele ri e apoia sua mão em cima da minha, por sobre a mesa.


— Não fique assim. Eu estava brincando.

Os olhos de Eros se inflamam ao ver as mãos de David sobre as

minhas.
— Eu juro por Deus que eu vou cortar as suas mãos, David.

Ele olha para Eros sem entender.

— Ah para com essa porra! Sienna e eu éramos amigos, sempre

fomos. Agora só porque é noivo dela vai vir com essa palhaçada de ciúme!
Vá se foder, Eros.

Eros se levanta irritado, mas dou um grito que o impede de ir

para cima de David.


— Controle esse gênio, malvadão — David joga mais um

pãozinho na boca. — Porque vou continuar colocando as minhas mãos em


sua noivinha, ela sabe que sou apenas um amigo.
Sorrio para David.

Eros se senta novamente, irritado.

— Podemos continuar falando sobre os planos futuros? —


pergunto.

— Claro, claro. Só precisamos amaciar um pouco a fera, depois

podemos nos concentrar nos verdadeiros inimigos.


Solto uma risada e a curiosidade, de repente, vêm:

— David, por que não se casou até hoje? Você tem a mesma

idade de Eros, não é?

— Tenho dois a menos que o seu noivinho.


— Hummm.

— Não me casei porque... — Ele suspira. — Ela foi obrigada a

se casar com outro.


Olho para Eros, esperando uma explicação e ele diz:

— Foi um acordo que tentamos com os caras de Nova York.


— Que pena, sinto muito.
— Não sinta. Eu prefiro ser solteiro. Mulheres, me perdoe, são

dor de cabeça.
Fecho o semblante.
— Vocês homens são o nosso problema. Loucos, ciumentos e
burros.
Eles me olham surpresos.

— Eu estou falando, Eros. Essa não é a Sienna. É um


metamorfo!
19

Sienna

— Eu acho que é melhor ficar aqui. — Eros segura o meu

queixo com delicadeza. — Não a quero correndo riscos desnecessários.

— Mas estou com saudade da Hedonê e da Carol. Quero ficar


perto dela, acho que me sinto mais segura.

— Só porque ela tem uma pistola? Pelo amor de Deus, Eros, dê

uma pistola à Sienna e pronto — David se intromete.


Olho feio para ele, que está esperando do lado de fora do apê,

enquanto Eros está tentando me acalmar antes de sair.


— Ela não vai ter uma pistola, agora não, pelo menos. — Eros

respira fundo.

— Por favor. — Faço aqueles olhinhos do gato de Botas do

Shrek. — Me deixa voltar para a mansão. Vou ficar mais atenta e você pode

encher a casa com seus homens, se quiser.

Eros me encara por longos instantes.


Faz quase uma semana que estamos trancados no apartamento,

mas precisamos voltar à vida normal e agora que ele começou a me incluir
em seus planos, me mostrar como quer pegar o traidor, estou me sentindo
mais animada.

Eros podia ter me contado tudo desde o começo, teria evitado

muita dor de cabeça.

Quando argumentei isto, uns dias atrás, ele disse que se eu

soubesse, não teria vindo ajudá-lo de bom grado.

E eu acho que ele tem razão.


— Não posso deixar meus homens de babá, Sienna. Eles têm

obrigações e os que poderiam fazer isso, são apenas alguns em que

realmente confio. São poucos.

— Então me leve com você! Não quero ficar trancada neste

apartamento o dia inteiro!

Eros e David trocam olhares cúmplices.

Ele respira fundo.


— Tá bom, vá se trocar. Vai passar o dia comigo.

Dou um pulinho animada, beijo-o na boca e corro até o meu

quarto para trocar de roupa.

~
Decido por usar calça jeans, porque não sei aonde vou e se

precisarmos correr ou algo do tipo, saias ou vestidos nunca ajudam.


David coloca uma música de uma banda de rock chamada Ghost

enquanto dirige e canta junto. Eros observa tudo ao redor, como se Chicago
fosse sua propriedade. E talvez seja mesmo.
— Primeiro vamos dar uma passada em um escritório, preciso

dar uma palavrinha com um sujeito — diz Eros. — Se quiser, pode esperar
no carro com David.

— Não vou esperar no carro. Quero ir junto.


Eros respira fundo.

— Sienna, eu sei que agora você está por dentro de tudo, mas
não acho que andar conosco, seja o melhor.
— Por quê? — Apoio-me entre os dois bancos e olho de um

para o outro. — Vocês me acham fraca, não é? Sempre acharam.


Cruzo os braços e me recosto no banco de trás como a menina

mimada que eles sempre acharam que eu era.


— Não é isso. — Eros vira para trás. — Pelo amor de Deus. Eu

só não quero que você tenha um ataque de direitos humanos quando eu


esfolar a cara do filho da puta que está me devendo!
— Não vou ter ataque de direitos humanos... — Olho para a

janela e respiro fundo. — Ainda acho que o que fazemos é errado, mas
essas são as regras e não dá para fugir. — Olho dentro de seus olhos e digo:

— Aqui ou se mata ou se morre.


Vejo um brilho de admiração perpassar seu rosto.

— Tá bom, então você vem com a gente.


— Eu acho que é furada — David resmunga, enquanto saímos

do carro.
— Cale a boca, David. Eu sei o que estou fazendo — resmungo.
Ele solta uma risada.

— A ideia do metamorfo ainda está em pé.


Dou um chute na canela de David e, além dos xingos que

recebo de volta, só ouço a voz de Eros, a metros de distância na nossa frente


dizendo:
— Vocês vão comigo ou vão ficar aí brigando como duas

crianças idiotas?

Os dois homens estão na minha frente no elevador, em silêncio,


enquanto o elevador sobe.
David vira-se para mim e aponta o dedo indicador.

— Você vai me pagar pelo chute na canela, sua diabinha.


— Eu vou quebrar esse dedo se apontá-lo para Sienna
novamente — Eros ralha. — Vamos, recomponham-se, chegamos.
David faz uma careta, tentando parecer assustador com sua

cicatriz e eu devolvo mostrando a língua.


A porta de ferro se abre e saímos para um hall muito bonito,

com chão de mármore.


— Bom dia, senhorita. Onde está nosso querido amigo Stanley?
— No escritório, senhor. — A mulher já aponta de forma

temerosa. Ela sabe quem esses homens são. Ela pega o telefone, mas Eros
aperta o gancho.

— Não precisa avisá-lo.


Ela assente devagar, então Eros vai na frente e abre a porta do

escritório.
Ouço apenas gritos e quando entro vejo um homem tentando
subir as calças enquanto outra mulher corre, tentando esconder sua nudez.

— Uau, chegamos em hora boa, Stanley... — Eros aproxima-se


e chuta uma cadeira enquanto vai para cima do homem. A mulher tenta sair

da sala, mas meu noivo diz: — Sienna, feche a porta e não deixe essa vadia
sair daqui.
Arregalo os olhos quando a ordem chega aos meus ouvidos,

mas faço o que ele diz, antes que algo dê errado.


— Me deixa sair, por favor — ela choraminga.
Balanço a cabeça negativamente.
Não vai sair.

Eros parte para cima do homem que agora já está tremendo de


medo encostado na parede.

— Então, Stanley. Cadê a porra do meu dinheiro?


— Eros, eu... eu disse que ia conseguir apenas no final do mês.
— No final do mês de outubro, seu filho da puta. — Eros o pega

pelas lapelas do terno e o empurra em cima da mesa, derrubando tudo o que

está em cima. — E agora, vai me dizer que só vai me pagar no final de


novembro?

— Eu... eu...

— Eu odeio que não cumpram a palavra, Stanley. Deus odeia

blasfêmias e eu odeio mentirosos.


Eros ergue o punho e acerta o rosto do homem.

Por um momento, sinto-me chocada pela violência com que o

homem que estou prestes a me casar trata alguém, mas logo depois, lembro-
me que ele procurou por isto, não cumprindo com sua palavra.

— Eros, por favor! — Ele grita, seu rosto já vermelho de

sangue. — Eu não consegui todo o dinheiro, mas juro que até o final do mês
vou conseguir e te pago!
— Quanto você tem?

— 500 mil.
— E onde está?

— No cofre. — Ele aponta com o queixo para uma pintura na

parede.
Eros o encara por alguns segundos, depois o solta.

— Abra a porra do cofre, então.

O homem corre imediatamente até a pintura e ali se revela um

cofre, que ele abre com agilidade enquanto estamos ali esperando
impacientes.

Eros se recosta na mesa e David vai até o cofre com uma bolsa

que ele tira do terno e começa a enfiar bolos de notas de dólares dentro.
Quando ele termina, Eros se ergue novamente, pronto para

irmos embora.

— Dia 30 os meus 300 mil precisam estar aqui, Stanley, ou


voltarei e não haverá mais conversa.

— Eu juro que vou conseguir.

Eros aproxima-se e quando penso que irá abrir a porta para

irmos embora, ele segura a menina pelos cabelos e a empurra para David.
— É claro que vai, estou levando a sua sobrinha como garantia.
O choque me faz arregalar os olhos, mas resolvo não abrir a

boca para questionar o que Eros está fazendo e nem o fato daquela menina

ser sobrinha daquele sujeito imundo.


David sai com ela na frente, porque Eros e eu vamos em outro

carro, ele me diz quando saímos da sala.

Quando estamos a sós, indo para o outro carro, pergunto:

— Por que não o matou?


— Eu deveria?

— Claro que deveria! Aquele homem fode com a própria

sobrinha!
Eros abre a porta traseira do carro.

— Eu vou matá-lo, mas só quando eu terminar de receber o meu

dinheiro.

Eros e eu vamos para um de seus pub’s espalhados pela cidade e


almoçamos por lá mesmo.

Depois do almoço, nos recolhemos em seu escritório.

— Está achando um porre estar comigo o dia inteiro? —

pergunto, passando os dedos pela enorme estante de livros a minha frente.


— Não. Eu gostei quando não deixou a garota sair da sala.

— Aquilo foi a coisa mais mafiosa que eu já fiz em toda a


minha vida. — Apoio as mãos na mesa.

— Sério? Vem aqui, gostosa.

Dou a volta na mesa e me sento em seu colo quando ele me


puxa para si. Suas mãos vêm ao meu rosto, afastam os fios de cabelo que

teimam em cair em meus olhos.

— Eu acho que quero fazer coisas mafiosas com você. Bem

aqui.
— Eros... — Tento impeli-lo, minha timidez tomando conta.

— Não, não quero timidez aqui. — Seus olhos azuis passeiam

pelo meu rosto. — Eu acho que quero vê-la segurando uma arma.
Arregalo os olhos.

— Agora?

— Sim.

Eros enfia a mão na cintura e pega sua pistola de metal.


Entrega-a para mim.

Solto um suspiro ao pegar o objeto pesado. Ao mesmo tempo,

sinto que tenho poder em mãos.


— Ela é pesada.

— Sim...
Eros desliza os dedos pelo meu pescoço, então de repente, ele

puxa a minha blusa para cima, deixando-me apenas com uma regata.

— Eu adoro quando você usa essas regatas. Fica sexy pra

caralho — diz em meu ouvido. — Gosto ainda mais, porque posso fazer
assim...

Ele abaixa as alças, deixando os meus seios livres.

Eros os abocanha, chupando-os com avidez e força.


Imediatamente inclino-me para ele, desejando mais.

Sinto a minha calcinha encharcando ao mesmo tempo que

desejo que sua boca chegue à minha intimidade com a mesma força e

velocidade com que chupa os meus peitos.


— Eros!

— Não ia trazer você até aqui e deixá-la escapar.

Eros se levanta e me deita em cima da mesa, onde consegue


explorar o meu corpo de uma forma melhor, mais ampla.

Fecho os olhos quando ele desce seus lábios pela minha barriga

e começa a abrir o botão da minha calça jeans.

— Mas o que é isso!?


A porta se abre de repente, nos interrompendo. Levanto

assustada, procurando a minha camiseta, quando Bella Rossi tenta vir para

cima de mim.
— Essa vagabunda está com o meu homem!

Eros a segura pela cintura e a afasta de mim. Bella Rossi grita e


esperneia, chamando a atenção dos outros homens que estavam do lado de

fora.

Puxo rapidamente a minha camiseta e a visto, antes que os

homens tenham a visão dos meus peitos.


— Para com isso, Bella! — Eros a coloca na parede e a segura

com força. Os olhos dela estão tomados de ódio em minha direção. — Olha

pra mim!
Bella olha para ele.

— Você me traiu, Eros! Está trepando com essa idiota!

— Eu não a traí, Bella! Sienna é minha noiva, vou me casar


com ela!

As lágrimas da vadia começam a descer com força.

— Por que ela? Eu sempre disse que estou disposta a tudo por

você!
Ele solta um suspiro pesado.

Bella me olha com raiva novamente.

— Ele não gosta de você, queridinha. Está comendo a sua


boceta até enjoar, depois vai meter o pé e você vai ficar manchada perante
os outros homens da Organização assim como a Francesca Giordano. Ouça
o que estou dizendo!

— Cale a boca, Bella! — Eros vocifera. — Porra, você não me

dá um minuto de paz?
Ela olha novamente para ele e chora ainda mais.

— Fizemos um pacto quando éramos crianças. Você devia

honrá-lo.
— Aquilo foi uma idiotice.

— Não foi! Prometemos um ao outro que estaríamos juntos para

sempre.

Eros respira fundo.


— Saia daqui, Bella. Não quero ter essa discussão mais uma

vez.

Ela me fita novamente.


— Eu vou acabar com você, vagabunda. Tentei matá-la

inúmeras vezes quando era uma criança, porque eu sabia que esse dia ia
chegar, porém não deu certo, mas da próxima vai dar, pode ter certeza. Você
não vai ser a esposa de Eros.

— Chega, Bella! — Ele vocifera, mas ela consegue se soltar e


vai embora, deixando-me em choque, com raiva, furiosa e triste.
Eros se volta para mim.
— Sienna, esse pacto...
— Não me interessa! — grito, estressada, nervosa e chateada.
— Não quero saber que porra vocês fizeram no passado, eu só quero saber

de agora em diante, não quero essa vadia falando comigo desse jeito! —
Encurto a distância e aponto o dedo em seu peito, mesmo ele sendo bem
mais alto e mais assustador. — Se você não der um jeito nela, pode ter

certeza que eu vou dar.


Ao dizer isto, viro as costas e saio da sala, deixando-o para trás.
20

Sienna

— Então Eros se recusa a voltar para a mansão? — Carol

pergunta antes de levar a xícara de chá até os lábios.

— Sim. E o pior é que eu gosto da casa. Também gosto do


apartamento, mas... aqui tenho mais espaço para criar a Hedonê.

Levo a xícara de chá até os lábios e beberico um pouco do

liquido quente. Quando alcança minhas papilas degustativas, sinto a


refrescância da Hortelã.

— É uma situação bem complicada. Não conseguiram ainda


pegar quem mandou aquele sujeito para te matar?

— Não.

Alguns dias se passaram e por não aguentar mais ficar trancada

naquele apartamento o dia todo, pedi a Eros que me deixasse passar o dia

com Carol em sua casa. Claro que do lado de fora, pelo menos três homens

estão de tocaia.
— Estive pensando — Carol coloca a xícara em cima do pires.

Ela está em pé atrás do balcão da cozinha e eu sentada a sua frente. — Será


que não foi a Bella Rossi?
— Ela sabe que matar a noiva do chefe é crime. Acha mesmo

que ia correr o risco de atrair o ódio do homem que ela é obcecada?

— Não sei. Pode ser. Ela é maluca.

Solto uma risada.

— Esses dias ela invadiu o escritório de Eros e estávamos, hum,

sabe...
Carol arregala os olhos.

— Espera aí! Vocês transaram?

Minhas bochechas esquentam na mesma hora e ela solta um

grito animado.

— Não acredito!!!! Quer dizer, acredito. Do jeito que ele te

olhou na escada no dia da festa, nossa, eu sabia que ele não ia esperar o

casamento coisa nenhuma.


— Não sei por que ainda existe essa regra. Ninguém segue.

Carol suspira.

— O meu marido seguiu.

— Sério?

— Sim. Ele... leva essas coisas bem a sério. Eu achei que Eros

também levava.
— Eros é um fora da lei, você quer o quê?
Nós rimos juntas.

— Mas e aí, você gostou?


— Não tenho outros homens para comparar, né? Mas acho que

nem preciso, ele sabe... ele faz coisas comigo que me deixam maluca.
Carol dá pulinhos e gritinhos e nós rimos mais uma vez. Céus,
que vergonha de falar sobre isso com outra pessoa.

— Que bom! Fico feliz por você, porque ninguém merece um


homem que não sabe dar prazer a uma mulher. — Ela revira os olhos. —

Enfim, continue me contando sobre a Bella ter flagrado vocês.


— Ela não flagrou já nos finalmentes. Só o começo, mas que já

serviu para fazer um escândalo daqueles!


— Que vadia desgraçada!
— Ela disse que não vou me casar com Eros, que antes ela vai

me matar, como já tentou duas vezes no passado.


— Meu Deus e o que Eros fez?

Bufo, irritada.
— Ah, gritou com ela, mandou sumir. Não sei, eles são amigos

de infância e vejo que ele tem um carinho com ela. — Faço uma careta.
— Mas ele é seu noivo, tem que se importar com você e não
com ela. Foda-se a Bella Rossi.
— Eu sei, foi por isso que eu apontei o dedo no peito dele e

disse que se não der um jeito nela, eu vou dar.


— Uauuuu, quem te viu, quem te vê, Sienna! É assim que eu

gosto. — Ela levanta a mão e eu levanto a minha, dando um tapa. — Se


quiser a minha arma, eu empresto.

Dou risada e beberico o restante do chá.


— Acho que não vai ser preciso, Eros já está cuidando do que
fazer com aquela vaca.

E quando termino de dizer essas palavras, ouço uma buzina em


frente da casa.

— Falando no diabo...
— Pode ser David também. — Carol vai na frente e abre a
porta. — Ah, são os dois.

Os dois homens descem do carro e desfilam pela entrada do


jardim como dois modelos da Vogue.

Porra.
— Seu irmão também não é de jogar fora, Carol.

— Sienna! — Ela me repreende, mas logo sorri. — Mas eu


concordo, meu irmãozinho não é de jogar fora.
— Boa tarde, Carol. — Eros a cumprimenta com um beijo no

rosto. — Boa tarde, Sienna. — Segura o meu rosto e me beija nos lábios.
— Boa tarde, Sienna. — David me dá um beijo no rosto.
— Boa tarde, meninos. Onde estavam? — pergunto enquanto
eles vão direto para a cozinha e procuram o que comer nos armários de

Carol.
— Dando uma volta pela cidade e já vamos voltar, porque

temos que terminar umas coisas. — Eros abre uma garrafa de cerveja. —
Você pode ir fazer compras com a Carol. — Ergue a cabeça e me fita. —
Vamos a um jantar importante esta noite.

Ergo as sobrancelhas.
— Jantar importante?

Ele leva a garrafa até a boca e bebe quase toda a cerveja.


Não sei por que, mas fico vidrada vendo o liquido descendo,

movimentando as veias em seu pescoço.


Meu Deus.
— Sim. Com o Senador Hopkins.

Arregalo os olhos.
— Com o Senador???

— Precisamos escolher um vestido à altura, Sienna — Carol


comenta. — Vai ser só um jantar?
— Sim. Na verdade é uma festa de aniversário do Senador e ele

nos convidou. Você e seu marido também vão.


— Ahhh, que ótimo! Estava sentindo falta dos eventos da
sociedade de Chicago.
Eros lança um sorrisinho para nós.

— Espero que tenha alguma gata solteira. — David se vira,


apoiando outra cerveja no balcão. — Estou precisando.

— Você precisa se casar, David — digo.


— Não. Eu preciso é tre...
— Então porque vocês não vão agora? — Eros o interrompe,

lançando um olhar de advertência para ele. — Terão mais tempo para

vasculhar à vontade.
Troco um rápido olhar com Carol.

— Precisamos mesmo gastar dinheiro com roupa nova?

— Claro que precisamos! — Ela se encaminha até a escada. —

Vou trocar de roupa e já venho para irmos desbravar as lojas desta cidade.

Carol e eu chegamos até a Oak Street, uma avenida que é

extensão da Michigan Avenue. Aqui temos lojas de grife mais adequadas

para que o queremos para a festa do Senador dos Estados Unidos.


— Você vai contar para o Senador que era professora? — Carol

pergunta quando paramos em frente a uma loja da Hermés. — Ele é do tipo


que apoia muito a educação no País, talvez seja interessante falar disto com

ele.

— Não sei nem se vou ter a chance de abrir a boca, Carol. —


Solto um suspiro, ciente de como as noivas e esposas dos homens da Máfia

devem se comportar. — Mas se ele me der a chance, claro que vou falar.

— Mary não era desse tipo que fica quietinha, você deve saber.

— Ela menciona minha madrasta.


— Não mencione o nome dessa mulher, por favor.

— Sim, claro. Me perdoe.

Mary traiu meu pai e se juntou aos inimigos. Hoje penso que o
seu destino foi certeiro e não vejo a hora de pegarmos o traidor, para poder

livrar o meu pai e restituí-lo perante todos.

Eros não mentiu quando disse que tentei envenená-la quando eu


era criança. Uma pena que deu errado.

— Vamos até a loja da Chanel, acho que lá vamos encontrar um

vestido adequado para você.

Atravessamos a rua e caminhamos alguns metros até a loja da


Chanel. Nossos “seguranças” sempre atrás de nós, vestidos de preto, com

óculos escuros e prontos para nos defender.


— Logo você vai se acostumar, Sienna — ela diz, ao perceber

que estou um pouco incomodada com os homens atrás de nós. — Aliás,

você nem deveria se sentir assim, já esteve nisso antes.


— Sim, mas são anos que tentei bloquear em minha mente.

Quando você sai do casulo, aprende a se virar, sabe? É uma outra

perspectiva, totalmente diferente do que vivemos aqui dentro, como filhas

da Máfia.
— Bem — Carol apoia a mão na maçaneta da porta da loja. —,

você já sabe o que penso sobre isso, né. Eu nunca abriria mão desta vida,

acho que na primeira oportunidade, eu morreria no deserto.


Dou risada.

— É, pode ser.

Carol pisca para mim e abre a porta, entrando na loja. Sigo-a,

não totalmente impressionada, porque quando criança já estive em lojas


assim. Mary adorava comprar e fazia isso quase todos os dias.

— Consegue sentir o cheiro? — pergunta, caminhando a minha

frente. — Cheiro de poder!


Dou risada, paro para olhar algumas peças.

Uma vendedora se aproxima, com um sorriso largo.

— Boa tarde, senhoritas! No que posso ajudá-las?


— Estamos procurando um vestido para a minha amiga aqui —

Carol diz. — Um vestido poderoso, porque esta noite iremos ao jantar de


aniversário do Senador Hopkins.

A vendedora se impressiona, mas o clique em sua cabeça é

rápido e ela já sabe o que nos mostrar.


Ela então nos leva até o segundo andar da loja, onde os vestidos

de festa exclusivos ficam.

— Temos longos, curtos... o que a senhorita gostaria?

— Acho que um longo seria interessante.


— Boa escolha, Sienna — Carol sorri. — Vestidos longos são

sexys. Pelo menos, eu acho.

A vendedora nos mostra alguns vestidos, mas um de cor vinho


me chama a atenção.

— Experimente este, Sienna. Acho que vai ficar perfeito em

você.

Não perco tempo e vou para o provador. Sou ajudada em todo o


tempo, paparicada até o ponto que isso começa a me irritar.

O vestido, no entanto, fica perfeito em meu corpo. Ele é longo,

rodado, decote em gola V e suas mangas são de renda.


— Quero este — digo à Carol. — É perfeito.

— É, sim amiga. Você arrasou.


Tiro o vestido, peço para a vendedora embrulhar e quando nos

encaminhamos para o caixa, uma mulher de cabelos pretos entra na minha

frente com a caixa do meu vestido.

Já estou com o cartão de crédito na mão quando ela pergunta:


— Você é Sienna Coleman?

Estranho a sua pergunta, no entanto, o que mais estranho é a sua

forma de me olhar.
— Sim, sou eu. Por quê?

— Ah, sinto muito. Não vamos vender este vestido para você.

Fico vários segundos tentando encontrar as palavras, até que

Carol é mais rápida que eu e dispara:


— O quê? Como assim?

A mulher desvia um olhar preguiçoso para a minha amiga.

— Não vamos vender este vestido para a sua amiga. Aliás, nada
do que tem nesta loja vamos vender para vocês.

Arregalo os olhos para Carol e ela faz o mesmo.

— Tem certeza disso? — pergunto.

— Você por acaso sabe quem somos? — Carol dá um passo à


frente.

A mulher não se intimida.


— Claro que sei. E é por isso que não vendemos para vocês. —

Ela faz uma careta de nojo. — Diga ao seu homem que Nova York mandou
lembranças e que logo dominaremos Chicago.

Dizendo isto, ela vira as costas e some nos fundos da loja.

— Mas que filha da puta — Carol resmunga. — Vem, Sienna.

Vamos embora, esse lugar medíocre não merece o nosso dinheiro.


Carol e eu saímos da loja, ainda um pouco perdidas com a

situação, mas então resolvemos ir até uma loja Valentino, onde lá encontro

um modelo semelhante, que fica até melhor no meu corpo.


Chego no apê já está escuro, mas encontro Eros deslizando os

dedos no piano de cauda enquanto bebe um pouco de Whisky.

— Demorou — diz. — Conseguiu encontrar algo?


— Consegui, mas você nem imagina o que aconteceu.

— O quê?

Tiro minhas sandálias, deixo a caixa em cima da poltrona e me

aproximo dele, doida para contar o caos que passamos na loja.


— Gostei de um vestido na loja da Chanel, ficou perfeito em

mim e eu ia comprar, mas não deu certo.

— E por que não deu certo? — Ele ergue as sobrancelhas.


— A gerente, eu acho, não quis me vender. Disse que sabia

quem somos e mandou te dizer que Nova York vai dominar Chicago em
breve.
O semblante de Eros se fecha no mesmo instante.

— Eles disseram isso mesmo, Sienna?

— Sim. Acho que a gerente tem algo a ver com a outra


Organização, sei lá.

Ele erra uma nota no piano e desiste, bebendo o Whisky.

— Certo. Mas conseguiu encontrar algo?


— Consegui. — Sorrio. — Quer ver?

— Quero ver em seu corpo. — Sorri de volta. — Vá se arrumar,

Sienna. Temos pouco tempo para sair.

Abraço-o por trás e deposito um beijo em seu rosto. Afasto-me,


não a tempo de proteger a minha bunda de um tapa de sua mão grande.

— Eros!

— Essa bunda é deliciosa demais, não resisto.


Dou risada e me afasto até as escadas.

Eu até preferia ficar em casa com o meu noivo ultra sexy,


aproveitando o corpo dele, mas... esta noite teremos um jantar com o
Senador.

Um jantar!
Com o Senador dos Estados Unidos!
21

Sienna

Estou em frente ao espelho, dando os últimos retoques em

minha maquiagem quando Eros atravessa a porta, deixando-me

completamente sem ar.


Ele está usando um Smoking preto, com gravata borboleta e

camisa branca. É a imagem de um deus grego e é impossível não ficar

impressionada com sua beleza. No entanto, ao que parece, quem está


enfeitiçado é ele.

— Pelos deuses, você está linda, Sienna.


Viro-me para ele, mexo em meu vestido e abro um meio-sorriso.

— Obrigada. Não é bem o vestido que eu queria, mas...

— Está perfeito em você. — Ele estende a mão e quando

encaixo a minha, ele me puxa para si. Perco o fôlego por alguns segundos,

então ele me vira de costas para seu peitoral e nos olhamos pelo espelho. —

Queria tirar esse vestido agora mesmo usando os dentes, mas... Temos um
jantar importante a comparecer.

— Sim, claro.
Eros deposita um beijo em meu pescoço. Seu braço circundado
em minha cintura, me prende com força. Sua mão livre, começa a puxar

meu vestido para cima.

— Eros... Não disse que não podemos?

— Eu trouxe algo para você.

Ele segura a barra do meu vestido na linha da cintura, então

vejo-o pegando algo no bolso da calça.


— Vamos encaixar isto bem aqui. — Mordisca a minha orelha

enquanto enfia algo em minha calcinha.

— O que é isto? — pergunto, um pouco sem fôlego.

— Um vibrador, perfeito para encaixar na sua calcinha. — Eros

termina de colocá-lo em minhas partes íntimas e então solta o meu vestido.

— Eu tenho o controle.

— O que pretende fazer?


Ele sorri maliciosamente e seus olhos se fixam aos meus pelo

espelho.

— Quero te fazer gozar na mesa de jantar do Senador. Só que

isso ninguém pode saber, você vai ter que se controlar.

— Meu Deus, Eros...

— Gostosuras ou Travessuras?
— O Halloween já acabou.
— Para mim, ainda não. — Ele beija a minha têmpora. —

Vamos, nosso carro já está pronto.


Eros vai na frente e abre a porta, esperando por mim.

Não acredito que ele vai me fazer usar um vibrador neste jantar,
mas confesso que estou ansiosa pelo que está por vir.
Passo por ele, ciente de que a noite vai ser longa.

Não precisamos rodar muito para chegar até o hotel onde o

Senador está hospedado, porque ele fica aqui no mesmo bairro, apenas
algumas quadras antes.
Eros me ajuda a descer e nos encaminhamos para dentro do

edifício.
— Será que a Carol já chegou? — pergunto, antes de entrarmos.

— Não sei. Eles costumam se atrasar.


Na entrada do salão de festas um homem recolhe nossas

identidades e nos libera para entrar.


O senador está em uma roda de pessoas ao lado de sua esposa,
conversando e rindo. E é quando ele vê Eros que pede licença e vem

imediatamente em nossa direção.


— Eros! — O Senador o cumprimenta como se fosse um de

seus filhos, puxando-o para um abraço. — Meu rapaz, como está?


— Muito bem, senhor. — Eros fica um pouco tímido. — Olá,

Grace.
— Olá, querido. — Ela o beija no rosto. Seus olhos vêm até

mim. — Quem é esta linda moça?


Abro um meio-sorriso.
— Ah, quero que conheçam a minha noiva, Sienna Coleman.

O Senador ergue as sobrancelhas, surpreso.


— Noiva? Desde quando?

— Não faz muito tempo. — Dá de ombros.


— Muito prazer — cumprimento o Senador, mas ele ignora a
minha mão e me puxa para um abraço apertado, assim como Grace, sua

esposa. — Você é muito linda, meu Deus. Eros, você tem sorte, meu rapaz.
O senador é um senhorzinho de cabelos brancos e nunca pensei

que ele fosse tão brincalhão assim, pois na TV sempre o vi sério, achei que
isso se aplicava à sua vida pessoal também.

— É, eu tenho. — Meu noivo me dá uma olhada de esguelha.


— Querida, não quer dar uma volta com a senhora Hopkins? Preciso dar
uma palavrinha com o Senador.

— Claro. — Sorrio. — Se não for incomodá-la.


— Claro que não. — Ela sorri de volta. — Estamos distraindo
nossos convidados enquanto o chef não serve as entradas. — Ela me puxa
pelo braço e caminhamos até uma mesa de bebidas. — Pelo menos os

convidados enchem as barrigas de bebida e depois comem menos.


Dou risada.

— Vocês são bem diferentes — comento sem querer.


— Como assim?
Dou de ombros.

— Às vezes pensamos que vocês, políticos, são pessoas


extremamente sérias.

— Que nada, menina. — Ela ri, então pega uma bebida e


entrega a mim. — Achei que Eros havia comentado com você sobre o caos

que somos.
Dou uma olhadinha para Eros e ele está conversando seriamente
com o Senador.

— Eros conheceu o meu filho na faculdade e eles se tornaram


bons amigos. Uma pena que o meu príncipe está na Europa agora, sinto

falta dele. — Ela suspira. — Mas, enfim, não é porque somos políticos que
precisamos ser robôs.
Sorrio.

— Sim, claro.
— Você sabe que sou do Arizona, não sabe? Somos pessoas
bem felizes ao contrário dos Nova Iorquinos e, Deus me perdoe, os
Chicagoenses.

Dou risada.
— O Senador Hopkins é Chicagoense, não é?

— É, mas ele não conta. Ele foi contaminado pela Casa Branca.
Rimos juntas, até que vejo Carol entrando pela porta,
acompanhando seu marido.

Ela está com uma cara estranha.

— Então, querida. Conte-me sobre você — ela pede. — Eu


gosto muito de Eros e quero saber quem é a moça que conquistou seu

coração.

Quero ir falar com Carol, mas não posso deixar a esposa do

Senador assim. Então concentro-me nela.


— Ahn... Eros e eu nos conhecemos desde a infância. Só que a

verdade é que sempre nos odiamos.

Ela ri.
— Uau. Conte mais.

— Eu... Sou alguns anos mais nova que ele, oito, para ser exata,

então ele sempre me tratou como a pirralha. A pedrinha no sapato.


— Homens. — Ela revira os olhos. — Mas e aí?
— Aí... — Respiro fundo, pensando se conto a verdade ou não.

— É complicado. Nos reencontramos agora, depois de muitos anos. Eu era


professora em Nova Orleans.

Grace ergue as sobrancelhas.

— Professora? Sério? Dava aulas para crianças?


— Adolescentes. Eu adorava, uma pena que precisei parar.

— Por quê? Não conseguiu nenhuma escola por aqui? Se quiser

posso conversar com Anthony e ele pode ver algo para você...

Meu coração se enche de esperança, mas logo me lembro da


posição em que estou. As mulheres da máfia não fazem outra coisa a não

ser viver em função da máfia.

— Seria gentil da sua parte, mas agora estou com outros planos
e logo me casarei com Eros, então...

— Entendo. — Ela suspira e apoia a mão em meu braço. —

Mas vou me lembrar de você quando estiver com a primeira dama. Saiba
que precisamos de aliados, então você e seu marido precisam estar

preparados para estarem ao nosso lado.

Sorrio.

— Sim, claro. Obrigada.


— Ah, vou ali cumprimentar aquele casal, com licença...

Ela sai, bem na hora em que Carol se aproxima de mim.


— Ela já quer te arrastar para a campanha do marido dela? —

Carol pergunta, abaixando-se para pegar uma taça ao meu lado.

— Não sei. Vai demorar as eleições, não vai?


— Sei lá, tanto faz. — Carol dá de ombros. — Estou puta pra

caralho.

— Por quê?

Ela respira fundo.


— Nada.

— Carol. — Olho para ela. Então vejo em seu pescoço um

resquício de um roxo que a maquiagem não conseguiu cobrir. — Carol!


— Para, Sienna. Para, não diz nada.

— Como não vou dizer? — Meu tom de voz já subiu um pouco

e meus olhos estão arregalados.

— Por favor, Sienna. — Ela me fita desolada. — Por favor, não


faça nada, não diga nada. Se perceberem, vai ser pior. Depois vou ao

banheiro cobrir isso direito.

Meu coração se quebra em mil pedaços ao ver a dor em cada


palavra que sai da boca da minha amiga.

Eu achei que ela era feliz.

— Por que ele fez isso?

Ela ergue a taça na boca e bebe mais um pouco.


— Porque disse que eu fui uma vadia burra por levá-la até

aquela loja em território inimigo.


— Mas não sabíamos!

— Claro que não, mas ele acha que é o meu dever saber de

tudo. Disse que você voltou agora, não sabe de nada, mas eu sou daqui,
preciso saber. Ele esquece que estávamos morando longe. — Ela respira

fundo. — Às vezes eu só queria cortar a garganta dele enquanto dorme.

Meu coração afunda mais uma vez.

— Eu achei que...
Carol abre um sorriso triste.

— As aparências enganam, Sienna. Eu gosto da minha vida,

mas nem sempre é um conto de fadas e tudo o que posso fazer é calar a
boca e esperar que a raiva passe.

— Eu posso falar com Eros.

Ela me fita como se eu fosse a burra da história.

— Eles são homens. Nunca vão se colocar na frente do outro


por causa de nós mulheres, aprenda isso, Sienna.

Sinto vontade de retrucar, mas é bem no momento em que

David chega alegrando todo mundo e eu deixo pra lá, pelo menos por hora.

~
É no ápice do jantar que sinto o vibrador acariciando o meu

clitóris.

Imediatamente olho para Eros, que está concentrado no que o


Senador Hopkins está dizendo sobre a taxa de criminalidade em Chicago.

Uma de suas mãos está segurando a minha, a outra, sumiu

dentro do bolso e acho que é de onde esse maldito está controlando o


aparelho em minha calcinha.

— Eros... — falo baixinho, quando sinto um tremor me arrepiar

da cabeça aos pés.

— Psiu.
Fico em silêncio, tentando manter a calma. Porém, conforme ele

vai mexendo no aparelho, sinto vontade de gritar.

Céus, por que ele precisa ser assim?


Carol está sentada a minha frente e de repente me encara.

— Está tudo bem? — gesticula.

Mordo os lábios e nego com a cabeça, de repente, balanço

afirmativamente.
Ela franze o cenho.

Eros aumenta a intensidade do vibrador e eu aperto sua perna

como retaliação, enfiando as unhas com força.


Ele nem se abala.

— Eros, por favor.


Ele apenas abre um meio-sorriso, seus olhos estão concentrados

no Senador discursando na ponta da mesa.

— Eu concordo com tudo o que o senhor disse — Eros diz alto,

atraindo a atenção de todos para nós.


Eu vou matá-lo.

Espasmos começam a percorrer o meu corpo, a vontade de

gemer é absurda, a vontade de me esfregar com mais força nessa porra.


— E eu acho que a minha noiva também concorda com isso,

não é Sienna?

E todos os olhares recaem sobre mim.


Respiro fundo.

A única coisa que me resta é fingir um desmaio, pelo amor de

Deus.

— Eu, eu... — Mordo o lábio. Porra, que delícia. Fecho os


olhos, mas logo os abro. — Eu... estou me sentindo mal. — Levanto-me em

um salto. — Com licença.

Saio da sala, meio que tropeçando, tentando conseguir forças


em minhas pernas para chegar até o banheiro.

Ouço burburinhos, mas foda-se.


Entro no banheiro e apoio as mãos na bancada de mármore.
Estou com um tesão do caralho e não sei o que fazer, até

porque, o aparelho já desligou.

— Desculpe a demora. — Eros abre a porta e eu arregalo os


olhos. — Disse a eles que você estava se sentindo mal e que precisava

averiguar.

— Seu filho da puta! — Bato em seu peitoral, mas ele é mais


rápido e me coloca sentada em cima da bancada. Sua boca vem até a minha

e me beija sem pudores.

— Precisamos ser rápidos — diz, abaixando as alças do meu

vestido. — Tudo muito bem cronometrado, Sienna querida.


Eros volta a pressionar os seus lábios contra os meus e com o

fogo crepitando em minhas veias, puxo o cinto de sua calça, abrindo-o. Sua

boca devora a minha e quando finalmente consigo abaixar sua cueca,


seguro seu pau macio e aveludado com força.

— Porra, Sienna. — Eros arrasta a boca pela minha bochecha e


mordisca a minha orelha. — Precisei me segurar o jantar inteiro.
Suas mãos seguram os meus seios e os acariciam com a ponta

dos dedos. Isso, logo é substituído pela sua boca faminta, que chupa os
meus peitos e acaricia os mamilos com a língua quente.
— Eros... — Suspiro o seu nome.
— Vamos ver como está aqui — Ele me puxa da bancada e me
vira de costas para si. Seus dedos erguem o tecido do meu vestido e inclino-
me no mármore frio enquanto sinto-o deslizando o tecido de renda para

baixo. Ele tira o aparelho e o mostra para mim, completamente melado. —


Que delícia, Sienna. Eu fiz você gozar na mesa de aniversário do Senador
dos Estados Unidos.

Solto um suspiro longo. Seguro a bancada com força.


— E o que vai fazer sobre isso?
— Você foi uma boa menina, gozou e não fez nenhum

escândalo na frente de ninguém, por isso... — Ele encaixa seu pau em


minha entrada. — Vou te foder bem gostoso agora.
Mordo o lábio quando Eros me penetra de uma só vez.

Olho para ele pelo espelho.


Suas mãos seguram a minha cintura com força. Eros começa a
bombear, seus movimentos longos, fortes e precisos.

— Porra, Sienna. Isso me deixa louco.


Ele entra e sai várias vezes, até tomar um ritmo mais rápido,

alucinado. Inclino-me tanto, que meu rosto encosta no espelho. De repente,


uma de suas mãos já está em minha cabeça, segurando-a com força.
— Eros! — Deixo escapar um gemido alto.
— Psiu... — Ele tampa a minha boca. — Não quero que
nenhum pervertido ouça o que estamos fazendo.
Eros segura a minha boca e mete com mais força. Solto vários

gemidos que ele abafa, até suor começar a descer pelo meu rosto.
Está abafado aqui, mas acho que é muito mais pelo calor que

incendeia nossos corpos unidos.


Os movimentos de Eros me deixam maluca e quando chego ao
ápice, estremeço. Perco a razão por vários segundos, sentindo-me

completamente mole, sem forças.


— Agora eu que vou gozar nessa sua bocetinha apertada e
gostosa, Sienna. — Ele grunhe e aumenta o ritmo, buscando seu próprio

prazer.
Não demora para que ele faça suas últimas investidas, como se
fossem as últimas de nossas vidas. Eros me preenche com seu gozo quente,

seu corpo estremece e precisamos de vários segundos para voltarmos à


Terra.
Então batidas na porta começam.

Arregalo os olhos, mas ele faz sinal para que eu me acalme.


— Quem é? — pergunta com sua voz grossa e autoritária.

— Sou eu! — Carol grita. — A Sienna está bem? Quero vê-la!


— Porra — Ele resmunga. — Ela está bem! Já vai sair!
Carol fica em silêncio alguns instantes.
— Tá bom...

Ficamos em silêncio até ouvir os passos se afastando e quando


isto acontece, soltamos a risada que estávamos segurando.
— Por pouco, hein. — Viro-me de frente para o espelho.

— Delícia, precisamos fazer isso mais vezes. — Ele beija o meu


pescoço. — Seque-se com isto.

Eros me entrega um pouco de papel higiênico e eu faço a minha


limpeza, tentando ao máximo me manter em pé após o orgasmo arrebatador.
— Deixa eu te ajudar com o vestido. — Ele sobe as alças e eu

me viro de frente para o espelho, avaliando a bagunça que estou. — Ainda


bem que optou por vir com os cabelos soltos.
Solto uma risada.

— Sim, acho que você não ia conseguir reproduzir um penteado


novo.
— Sou bom com pistolas, não com pentes.

Eros também arruma o terno e quando temos certeza que


estamos apresentáveis, saímos do banheiro.
Quando chegamos à mesa de jantar, a maioria das pessoas está

com caras assustadas, olhando para o celular.


— O que houve? — pergunto, sentando-me.
— Incendiaram a loja da Chanel! — Grace diz, mostrando-me

um vídeo de um prédio em chamas. — Aconteceu há meia hora!


Choque percorre o meu corpo.
Olho discretamente para Carol, mas ela está com o olhar

cabisbaixo. Resta-me apenas Eros.


Ele ergue as sobrancelhas.
Não precisa dizer nada, porque eu sei que isso foi a mando dele.

Eros, no entanto, abaixa a cabeça e sussurra em meu ouvido:


— Fique ciente de uma coisa, Sienna: Ninguém que mexe com

a minha mulher, sai impune.


22

Sienna

Os dias estão passando rápidos demais e o casamento está cada

vez mais próximo.

Falta apenas 10 dias.


Eu estaria mais animada, se já tivessem pegado o traidor,

porque... não sei, toda vez que penso no casamento, sinto uma espécie de

sensação ruim ou algo desse tipo. Eros, no entanto, acha que é coisa da
minha cabeça e diz que está tentando encontrar a pessoa.

Voltamos a morar na mansão e aqui me sinto bem melhor,


porque Hedonê e Eros às vezes brigam para ver quem vai deitar comigo na

cama. Ela geralmente o morde, não com força, mas de uma forma que o

deixa bem irritado.

— Eu vou matar essa cachorra um dia desses. — Ele sempre

resmunga e vai deitar no sofá.

É claro que eu levanto e vou me deitar com ele, o que deixa a


cachorra frustrada, mas é essa dinâmica que me faz perceber que as coisas

podem ser quase normais.


Hoje é terça-feira e estou sentada em frente a penteadeira
passando um creme nas mãos.

— Bom dia, querida Sienna. — Giovanni abre a porta. — Posso

entrar?

— Claro que pode. — Sorrio.

Ele entra e estende um envelope em minha direção.

— Eros mandou te entregar isto.


Franzo o cenho.

— Uma carta?

— Provavelmente é um recado. — Dá de ombros. — Isso

acontece quando ele não quer usar os meios tecnológicos para se

comunicar.

Solto uma risada enquanto abro o envelope.

Giovanni tem razão, é um recado. Simples, curto.

“Arrume-se, vou buscá-la às 10h para visitarmos ao seu pai”.

Meu coração erra uma batida ao ler estas palavras.

— Algo ruim? — Giovanni pergunta.

— Não. Pelo contrário... — Guardo o recado de volta no


envelope. — Eros... — E de repente fico sem palavras.
— As coisas mudaram bastante desde que você chegou, não é,

Sienna?
— Como assim?

Ele ergue os ombros como se a resposta fosse óbvia.


— Você o odiava, odiava a esta vida e agora... Está feliz. Vai se
casar e não fez mais nenhum escândalo por isso. Está apaixonada por Eros e

sequer menciona o que ele é, porque agora, para você, ele é um homem
como qualquer outro.

As palavras de Giovanni me deixam um pouco confusa.


— Isso é ruim?

— Claro que não. Era esperado que um dia você se acostumasse


com sua nova vida, mas achei que foi rápido. — Ele suspira. — Não me
entenda mal, Sienna. Eu a quero bem, você é como uma filha para mim. Eu

só não quero vê-la apaixonada por um homem que vai destruí-la assim que
tiver a oportunidade.

Abro a boca para dizer a Giovanni que as coisas entre Eros e eu


mudaram quando eu soube da verdade, mas isso é algo que ele não precisa

saber agora.
— Obrigada pela preocupação, mas estou bem.
— Mas está apaixonada.

— E se eu estiver?
Ele suspira tristemente.

— Tenha cuidado, Sienna. Ninguém é confiável aqui dentro.


Não quero que se iluda achando que eles te aceitaram, porque... isso,

provavelmente, nunca irá acontecer.


Fico um pouco irritada com suas palavras e retruco quase que

imediatamente:
— Sua filha é a primeira que não me aceita.
Giovanni fecha o semblante por uns instantes, mas depois

assente.
— Bella é uma pessoa difícil.

— Ela me odeia. Sempre me odiou... e às vezes me pergunto o


porquê.
— Bella perdeu a mãe muito nova, Sienna. O problema dela não

era só com você, com outras crianças também.


— Sim, mas comigo sempre foi pior. Ela tentou me matar duas

vezes.
— Eu não sei. Já tentou perguntar a ela quais eram os motivos?

O que eu sei, é que Bella sempre foi apaixonada por Eros e sonhou se casar
com ele a vida inteira.
— E por que não se casaram?
— Eros não foi feito para se casar assim, ele tem planos, tem
objetivos. É por isso que eu lhe digo para que tome cuidado, não pense que
ele vai se casar por estar apaixonado. Eros não sabe o que é amor e nunca

vai saber. Ele é um soldado, um capitão. Um líder.


Dizendo isto, Giovanni sai do quarto e me deixa completamente

para baixo e de mal humor.


Eros tem me tratado muito bem desde antes de transarmos. Às
vezes fico me perguntando o que ele sente por mim, se sou apenas um

corpo que ele usa todas as noites e que logo vai descartar.
Pensar nisso faz o meu coração quebrar em vários pedaços,

porque sim, estou apaixonada por ele. Não sei como será se ele me trair ou
se, no final das contas, realmente quiser se livrar de mim.

Apoio as mãos na penteadeira e respiro fundo algumas vezes,


lutando contra as lágrimas.
Eros me disse a verdade e eu preciso confiar nele.

E é com esse pensamento que me levanto e escolho uma roupa


no closet para visitar ao meu pai.

~
Ouço gritos enquanto caminhamos pelo corredor frio e
malcheiroso. Sinto também a mão de Eros em minha cintura, guiando-me
até o quarto em que meu pai está.

— Não tinha um lugar melhor para colocá-lo?


— Sinto muito, Sienna.

O médico abre a porta e meus olhos recaem sobre o meu pai,


que está de costas para a porta, sentado em uma cadeira de rodas, olhando
pela janela.

— Pai!

A força do meu chamado o faz virar a cabeça imediatamente em


minha direção. Então ele se levanta e abre os braços, seu rosto cheio do

amor que ele sempre me deu, apesar de ter sido um dos maiores homens da

Organização.

Corro até ele e o abraço com força, enquanto as lágrimas


começam a descer uma atrás da outra.

Ele me abraça de volta com a mesma intensidade.

— Sienna? O que... O que está fazendo aqui?


— Ah, pai, é uma longa história. — Seguro seu rosto entre as

mãos. — O senhor envelheceu.

Ele solta uma risada triste em meio as lágrimas que também


estão descendo de seus olhos.
— Pois é. Mas em compensação, você está linda demais, minha

filha.
Nos abraçamos mais uma vez e choramos muito, por tempo

indeterminado.

Quando ele finalmente presta atenção em Eros, tenta me colocar


atrás de si, para me proteger.

— Fique longe dele, filha. Por favor, Eros, não toque em

Sienna.

Eros se desencosta da parede e ergue as mãos em sinal de


rendição.

— Acalme-se, John. A trouxe para termos uma conversa e

espero que no final dela, você possa me perdoar e entender porque fiz isso
com você.

Papai olha para mim sem entender e eu balanço a cabeça

afirmativamente.
— Sim, pai. Confie em nós. Estamos aqui para esclarecer tudo.

A conversa dura mais de duas horas, onde Eros explica tudo o

que aconteceu, como e por quê.


A princípio, meu pai fica furioso com a traição, a decepção, mas

depois, raciocina e entende que tudo o que Eros está fazendo, é para limpar

a Organização de traidores.
— Então preferiu me colocar dentro de um manicômio a me

deixar ajudá-lo?

— Eu precisei fazer isso, John. Para mim, a informação que

chegou foi de que você também havia me traído e era o que todos
pensavam, aliás, pensam. Se eu tivesse lhe deixado livre, as coisas teriam

sido piores.

Papai respira fundo.


— Porra, eu quero pegar esse traidor filho da puta e estourar a

cabeça dele com as minhas próprias mãos!

— Pai...

— É sério, Sienna. Não sei nem o que dizer. — Seus olhos se


entristecem. — Todas às vezes que eu pensava que você estava sofrendo

nas mãos desse moleque idiota, eu... Olha, nem vou dizer.

— Eu estou bem, pai. — Pressiono sua perna. — Eros fez o que


precisava para fazer as pessoas acreditarem que estávamos do lado errado.

— Mas e agora, Eros. Qual é o plano?

— Vou me casar com Sienna e... Se tudo der certo, pegaremos o

traidor antes.
Papai respira fundo.

— Não sei se esse casamento é uma boa ideia agora. E se


fizerem uma emboscada no dia?

— Não vão fazer. Sienna está sempre vigiada pelos meus

homens de confiança.
— E você confia mesmo em todos dentro da Organização?

A pergunta pega Eros de surpresa.

— Em todos não, mas tem um ou outro que eu confio.

— Você é um burro, moleque.


Arregalo os olhos ao ver meu pai falando assim com Eros, mas

ele nem se abala.

— Já estou acostumado, Sienna. Foi assim a vida toda.


Ficamos mais uma hora conversando com meu pai e planejando

como será depois que ele sair daqui.

A despedida é difícil, não aguento segurar as lágrimas e as

derramo todas em sua camiseta branca.


Saímos do hospital e peço para Eros me deixar em casa, o que

ele não discute. Durante o percurso, fico pensando em tudo o que

conversamos com meu pai, sobre a conversa que tive com Giovanni.
Isso me deixa muito mal.

Sinto-me sufocada.
Ao chegarmos em casa, Eros aperta a minha mão no banco de

trás do carro.

— Você está bem, Sienna?

Nego com a cabeça.


— Deixe-nos a sós, Patrick — ordena ao motorista.

Assim que ele sai do carro, Eros se vira para mim.

— O que foi? Eu já disse que vamos tirar seu pai de lá assim


que pegarmos o traidor.

Olho para a casa, depois para ele.

Não é isso.

As palavras de Giovanni e as do meu pai se misturam em minha


cabeça.

Será que estou sendo idiota de confiar no homem que mandou

me sequestrar para me trazer de volta?


— Sienna...

— O que você sente por mim, Eros? — disparo.

A pergunta o pega de surpresa.

— Como assim?
— Sou apenas um objeto para você? Será que devo confiar em

você ou estou sendo idiota?

Ele franze o cenho.


— Por que está fazendo essas perguntas?

— Por que sim, Eros! — De repente as lágrimas voltam a


descer. — Eu quero saber se sou apenas um brinquedo para você e quando

se cansar vai me descartar como fez com as outras!

— Porra. — Esfrega o rosto. — Eu sabia que não deveria te

levar para ver o seu pai.


— Não é isso! — Ergo o tom da voz. — Mas se coloque no meu

lugar, Eros! Eu fui sequestrada...

— Não foi! — grita de volta, interrompendo-me. — Eu mandei


buscá-la, porque não existe alguém que sai da máfia. Se você achou que

podia viver uma vida longe disso, sinto muito, bebê. Aqui é o seu lugar, a

sua vida. Pode tentar fugir, mas nunca a deixaremos em paz.


— Meu pai fez um acordo com o seu...

— Meu pai quis apenas agradar ao seu pai, pela amizade de

anos. Mas ele sempre disse que quando você completasse dezoito, ia trazê-

la de volta. Eu fui bonzinho e esperei mais alguns anos.


A descoberta me faz derramar ainda mais lágrimas.

— Por que não me disse isso antes?

— E faz diferença?
— Claro que faz! — grito de volta. — O que mais você esconde

de mim, Eros?
Ele fica em silêncio e eu balanço a cabeça negativamente. Seco
as lágrimas com as costas das mãos e abro a porta do carro para sair, mas

ele me puxa de volta.

— Me deixa sair!
— Não, Sienna! Não vai sair porque a conversa não acabou! —

Ele já está em cima de mim, seu rosto tomado pela fúria.

— Vai fazer o quê? Vai me bater como o marido da Carol faz?


Vejo que isso deixa Eros um pouco desconcertado.

— O quê?

— É, mas não faça essa cara. Aposto que você sabia que ele

espanca a minha melhor amiga e nunca fez nada!


Ele fica em silêncio e se afasta.

Aproveito para abrir a porta novamente.

— Giovanni tinha razão hoje de manhã quando me disse que


preciso tomar cuidado e não confiar em ninguém. Nem mesmo em você.

Fecho a porta do carro com um estrondo e entro correndo na


casa, subo para o meu quarto e me fecho lá, torcendo para que Eros me
deixe em paz, porque preciso pensar.

Preciso colocar a cabeça no lugar e avaliar quem é quem dentro


desta Organização.
23

Eros

“— Você já é um homem, Eros. Está indo para a faculdade e

quando voltar, provavelmente, irá assumir todas as responsabilidades da

Organização.
É final da tarde e papai está em frente ao lago na parte de trás

da nossa casa, olhando o movimento das águas. Suas mãos, cruzadas atrás

do corpo, denunciam o homem sério e temido que ele se tornou com os


anos.

— Não sei se sou capaz de assumir tudo isto, pai. Você sempre
pediu que eu fosse sincero e é isso que estou tentando lhe dizer durante os

anos, mas você nunca me ouve.

Ele dá uma risada.

— Bobagem, Eros. — Vira-se para mim e me olha no fundo dos

olhos. — Quando eu tinha a sua idade, também tinha esse tipo de

pensamento. Mas quando meu pai, seu avô, morreu, sabe qual foi a
primeira coisa que eu fiz?

Balanço a cabeça negativamente.


— Procurei uma esposa. Casei-me e assumi a Organização.
— Os tempos eram outros, pai.

— Os tempos são os mesmos, Eros. O problema é que vocês

jovens querem fugir das responsabilidades.

Respiro fundo e volto-me para o lago, tomando a mesma

posição que ele estava minutos antes.

— Então eu devo me casar quando você morrer?


— É um começo.

Fico em silêncio porque sei quais são os desejos do meu pai, já

discutimos inúmeras vezes por isso e não quero discutir mais uma vez,

sendo que daqui a pouco irei para Stanford estudar e não faço a mínima

ideia de quando o verei novamente.

— Sei que não gosta deste assunto, mas eu a guardei para você

todos estes anos.


— Ela é uma criança, pai.

— Agora ela é uma criança, mas ela vai crescer, Eros. Se puxar

a beleza da mãe... — Sorri. — Será uma mulher incrível.

— Sienna é... — Faço uma careta. — Não, não dá para

imaginar isso. Não é por que você e John fizeram esses planos que eu

preciso segui-lo. Não vou esperar Sienna crescer para me casar com ela.
— John não sabe do meu desejo, ele tem umas ideias

mirabolantes para a filha. Quer que ela cresça em outro ambiente, mais
calmo. Como se a porra da sociedade fosse calma. — Ele ri. — A verdade é

que todos são doentes, seja aqui ou lá fora, mas aquele idiota não consegue
perceber isso.
— Ele tem medo que ela siga os passos da mãe — repito o que

ouço todo mundo dizendo.


— Pode ser. Tanto faz. Escute, Eros. — Papai se vira novamente

e coloca a mão em meu ombro. — Sienna vai embora neste verão.


— O quê? — Franzo o cenho. — Como assim?

— Eu devia alguns favores à John e ele me pediu que permitisse


que sua filha fosse embora estudar em um colégio particular e que depois
pudesse entrar na faculdade. E eu permiti.

Ergo as sobrancelhas, surpreso.


— Sério? Isso é... Bom para ela?

— Talvez. No entanto, você sabe que quando uma pessoa entra


na Organização...

— Morre na Organização — completo.


Papai assente.
— Um dia, você irá buscá-la. Espero que não tenha escolhido

outra esposa até lá, porque ouça o que digo, aquela menina será especial.
— Pai...

— Eu sei que você vai se lembrar destas palavras um dia. — Dá


um tapinha em meu ombro. — Agora, preciso resolver umas coisas. Até

logo, filho.
Papai vira as costas e segue pelo jardim até nossa casa,

deixando-me sozinho.
Balanço a cabeça negativamente.
Sienna e eu?

Isso é impossível.”

Soco o banco do carro com tanta força que meus punhos até
doem.
Mas que porra Sienna quer de mim? Será que não estou fazendo

o meu melhor protegendo-a?


O Eros malvado, que não a suportava, ficou para trás quando

comecei a enxergar o outro lado de Sienna, vê-la não como uma menina
mimada, mas como uma mulher irresistível.

Mas parece que para ela, não é o suficiente.


Porra!
Saio do carro batendo a porta com força e entro em casa, indo

diretamente ao escritório.
Para a minha surpresa e desgosto, David está sentado no sofá,
bebendo um dos meus uísques mais caros.
— O que está fazendo aqui?

— Ihhhh, azedou o paraíso?


Aproveito que a garrafa está aberta em cima da minha mesa e

viro uma dose em um copo, que engulo de uma só vez.


— Porra, Eros, vai com calma. Esse negócio é forte demais.
— Foda-se. Preciso de algo muito forte para controlar a raiva

que estou sentindo.


— Raiva de quem?

— De todos! — Viro-me para ele, os olhos arregalados, cheios


de ódio. — Do meu pai que morreu e me deixou essa herança maldita, de

John Coleman que podia muito bem ter mesmo me traído e teria sido muito
mais fácil acabar com sua vida, de Sienna que... — Esfrego o rosto. — O
que ela quer de mim, porra?

— Calma, cara.
— Calma? — Olho novamente para David. — Ela jogou na

minha cara coisas absurdas, querendo dizer que estou enganando-a, sendo
que nesta manhã quebrei minhas próprias regras e a levei para ver o pai!
Jogo o copo vazio no chão, vendo-o estilhaçando em mil

pedaços, dou a volta na mesa e me jogo em minha cadeira.


David respira fundo.
— Já parou para pensar que Sienna está assustada?
— Isso não significa que ela...

— Eros, antes de falar qualquer besteira, pense um pouco.


Fico em silêncio.

Repasso toda a conversa que tivemos no carro, tentando achar


os erros, os problemas para tentar consertá-los.
— O que ela te disse? Talvez, olhando de fora, eu consiga te

ajudar.

— Primeiro ela perguntou o que eu sinto por ela, como se


sentimento pudesse estar envolvido nesta porra toda. — Bufo. — Depois,

disse que eu precisava entender, porque ela foi sequestrada e como podia

confiar em mim?

David assente.
— O que mais ela disse?

— Eu disse a ela que não foi um sequestro, porque ela é da

máfia e não existe um ex-membro da máfia. Que meu pai sempre disse que
um dia ia trazê-la de volta.

— Eita, porra.

— E foi aí que ela surtou de vez, perguntou porque escondi essa


informação e que Giovanni disse a ela esta manhã...
E as palavras morrem assim que penso nelas.

— O que ele disse?


Olho para David e de repente penso se posso confiar em meu

braço direito. Resolvo tirar a limpo outra coisa:

— Me diz uma coisa, David. Você sabia que o seu cunhado bate
em sua irmã?

— O quê? — David pula do sofá e vem em minha direção. — O

que disse?

— Foi o que ouviu. Seu cunhado espanca a sua irmã.


— É mentira isso! Quem te falou? Nunca vi Phellipe erguendo a

mão para Carol.

— Não interessa quem falou.


— Eros...

— Se acha que é mentira, quero que investigue para mim, então.

Eu não duvido, mas como não vi nada do tipo, não posso afirmar que ele
faz isso.

— Porra, eu vou cortar a mão daquele filho da puta.

— Não vai fazer nada. Vamos resolver um problema de cada

vez.
David suspira e assente.

— Vou investigar e depois te trago notícias sobre isso.


Assinto.

— Precisa de algo para hoje?

— Não. Vá fazer o que precisa, não quero falar com ninguém


hoje.

— Ok.

Ele sai do escritório e eu me levanto, pego outra garrafa e volto

para o meu assento. Despejo o liquido em meu copo, um atrás do outro, até
me perder em minha própria escuridão.

Sienna

Já é quase meia noite e desço as escadas para ir até a cozinha


pegar um pouco de leite.

Ainda estou magoada com Eros, confusa e triste com tudo, mas

resolvi não o procurar até estarmos prontos para conversar como pessoas
civilizadas.

Quando entro na cozinha, Giovanni está sentado lendo um

jornal.
— Acordada a essas horas? — Ele ergue as sobrancelhas. —

Está com fome?


— Sim, eu... ahn, vim pegar um pouco de leite.

— Ah, sim. Eu já estava pensando em ir dormir, mas Eros

mandou eu ficar acordado até a hora que ele chegar.


— Ele saiu? — pergunto, tentando fingir desinteresse enquanto

abro a geladeira em busca da garrafa de leite.

— Saiu. Ele não te disse?

— Não. — Fecho a geladeira e respiro fundo. — Não nos


falamos desde que chegamos.

— Ah, vocês brigaram? Desculpe a intromissão, mas é que ele

estava bem alterado hoje, gritando com todo mundo, despejando ordens...
Sento-me na cadeira em frente à Giovanni e respiro derrotada.

— Brigamos sim.

— Sinto muito, querida.

— Pensei que ele ia tentar falar comigo, mas... acho que ele está
com raiva.

— Eros é complicado.

— Acha que eu devo falar com ele? Sei lá, tentar fazer as pazes,
acho que fui idiota nas coisas que disse a ele.
— Talvez, querida. Mas deixe isso para amanhã. — Giovanni se

levanta, deixa o prato de comida que certamente acabou de devorar dentro

da pia. — Hoje não é um bom dia para fazer isto.

— Eu sei, mas não quero dormir brigada, odeio isso.


— Sim, Sienna, mas deixe para amanhã. — Ele se aproxima e

deposita um beijo em minha cabeça. — É melhor.

Giovanni segue para a porta, mas eu o interrompo:


— Por que é melhor? Onde Eros está?

Ele para de andar e pelo movimento de sua respiração, sei que

algo não está certo.

— Ele saiu, querida. Eu já disse.


Levanto-me.

— Aonde Eros foi, Giovanni?

Ele vira-se para mim.


— Não sei, Sienna. Eros saiu, estava bêbado, disse que...

Fica em silêncio e de repente, uma sensação ruim se apossa do

meu corpo.

Meu coração começa a bater acelerado.


— Disse que...?

Giovanni respira fundo.

— Disse que precisava esquecer de tudo. Esquecer de você.


Suas palavras me chocam.

— Ele disse que quer me esquecer?


Vejo a tristeza passando pelo olhar de Giovanni.

— Olha, ele disse isso porque estava bêbado, mas não leve a

sério. Ok? Amanhã vocês conversam e fazem as pazes.

Giovanni se aproxima e deposita outro beijo em minha cabeça.


— Eu vou dormir, dane-se as ordens dele. Passei o dia todo

cumprindo obrigações que nem eram minhas. Agora me prometa que

também vai dormir, Sienna.


— Eu vou, só vou beber um pouco desse leite.

Ele assente e vira as costas, me deixando sozinha na cozinha.

Bebo o leite, mas o ódio começa a ferver em minha cabeça ao


pensar que, neste momento, Eros pode estar na cama de qualquer

vagabunda por aí, enquanto estou aqui sofrendo por essa briga idiota.

Bella Rossi vem em minha cabeça.

Claro, ela seria a primeira que ele iria atrás.


Filho da puta.

Deixo o copo de leite na pia e subo para o meu quarto. Ao invés

de ir dormir, pego uma roupa no closet e a visto.


Saio devagar pelo corredor, torcendo para não encontrar

nenhum soldado de tocaia. Então quando finalmente consigo sair da casa,


vou direto para a casa de Carol. O problema é que se eu tocar a campainha,
vou alertar o seu marido e não é isso o que quero.

Então pego pedrinhas e começo a jogar na janela de seu quarto,

que por sorte, fica de frente para a rua. Logo a vejo olhando pela janela.
Carol sempre teve o sono leve.

Quando me vê, arregala os olhos e pede para eu esperar fazendo

gestos com a mão.


Está frio pra cacete, mas não importa.

Alguns minutos depois, ela abre a porta principal e vem

correndo em minha direção com seus cabelos loiros bagunçados e um

pijama de seda claro.


— Meu Deus, Sienna! O que está fazendo aqui? Você não tem

ordens para sair de casa sozinha, porra!

— Eu sei, não importa. Preciso da sua ajuda.


— No quê?

— Eros saiu e acho que ele está na cama de outra. Quero flagrá-
lo. Quero... Quero dar um tiro na cara dele, eu juro.
Ela arregala os olhos.

— Por que acha isso?


— Porque brigamos. Giovanni disse que ele bebeu muito e disse
que queria me esquecer. E como os homens esquecem das suas mulheres?
Fodendo outras, Carol!
Estou tão nervosa que as palavras saem como uma fonte
jorrando da minha boca.

Ela assente.
— Ok e como você quer a minha ajuda?
— Descubra aonde aquele filho da puta está. Não sei, pergunte à

David, invente alguma coisa. Eu só preciso saber para ir lá matar aquele


desgraçado com minhas próprias mãos!
— Eu vou ligar para David, mas você não vai sozinha, porra. Se

algo acontecer a você, meu Deus do céu. Sienna, estamos em guerra, não é
tempo de ficar preocupada se Eros tem uma amante ou não.
— É tempo sim. Eu não perdi a porra da minha vida em Nova

Orleans para vir ser chifrada aqui por aquele otário. Se ele me trair, eu vou
retaliar, pode ter certeza.
Carol parece surpresa com a fúria das minhas palavras, mas

assente.
— Ok, entra aqui em casa e fica quietinha. Phellipe está

dormindo e não posso acordá-lo.


Sigo Carol até sua casa e espero enquanto ela descobre o nosso
próximo destino.

Eros que se prepare, porque estou chegando.


24

Eros

A música está alta, a boate cheia.

Bebo mais um drink, desejando que o vazio dentro de mim seja

preenchido com isso.


— Eu sempre te encontro aqui.

Olho para trás apenas para confirmar que é Bella Rossi. Sua voz

estridente às vezes me confunde, ainda mais quando estou um pouco


bêbado. Ou muito bêbado, já nem sei mais.

— O que quer?
Ela se senta na banqueta ao meu lado e pede um drink ao

Barman.

— Vim conversar.

— Faz tempo que não conversamos. Todas as vezes você está

disposta a arrumar um escândalo e você sabe que odeio escândalos.

— Não me julgue por ser quem eu sou.


Bufo.

— Como soube que eu estou aqui?


— Eros, você insulta a minha inteligência agindo assim. — Ela
pega o drink que o Barman a serviu e se vira de lado, em minha direção. —

Você está péssimo.

Viro-me em sua direção e meus olhos não conseguem se

controlar, quando vejo o que essa desgraçada está vestindo.

Um vestido curto, que mal cobre suas coxas. O decote deixa os

peitos quase todos a mostra.


Vadia.

Respiro fundo e bebo mais um pouco, virando-me de volta para

o bar.

— Oras, você não era assim. Você sempre gostou das roupas

que uso.

— Cale a boca, Bella. Não estou de bom humor para suas

palhaçadas.
— Ok, me desculpe. Eu não estou aqui para discutirmos ou algo

assim, soube que estava mal e como sua amiga, me dispus a vir aqui.

Lembra de quando desabafava comigo os seus problemas?

Bebo mais um pouco do drink.

— Não preciso desabafar, não tenho problema nenhum.

— Ah, claro que não. Está aqui enchendo a cara desde sei lá que
horas e agora diz isso. — Ela bufa. — Poxa, Eros. Somos amigos, acima de
tudo.

Olho novamente para Bella.


Sim, éramos amigos, muito amigos, até ela cismar de querer me

forçar a casar com ela. Isso me deixou puto de uma forma que eu nem
queria ver mais a cara dela.
— Quer dançar um pouco? Você gostava de dançar.

— Não.
— Então vamos até o segundo andar, onde você costuma se

sentar para resolver as coisas com seus amigos. A gente senta e conversa
um pouco lá, pode ser?

— Tá, tanto faz.


Bella pula do assento animada e me puxa pela mão, guiando-me
pela boate até o segundo andar.

Aqui é um pouco mais calmo, apesar de ainda ouvirmos a


música. Já vim aqui com outras mulheres, além da Bella, quando eu queria

privacidade para me divertir ou quando enchia a cara com substâncias


ilícitas.

Tempos bons.
Um garçom se aproxima e pergunta se desejamos algo. Digo
que não, chega de bebidas por hora, não quero perder o controle e estar à
mercê dos desejos dessa maluca, porque a conheço e sei bem do que é

capaz.
— Então, me conte. Por que está assim?

— Nada, foi só uma discussão com a Sienna. Mas amanhã


estaremos bem.

— Não acredito que você vai mesmo se casar com ela.


— Não só vou me casar com ela — Aponto o dedo em seu
rostinho de vadia e me inclino sobre seu corpo. —, como você vai se casar

novamente. Já estou preparando tudo.


Ela arregala os olhos.

— O quê? Como assim?


— É, isso que ouviu. Você vai se casar, Bella. Preciso de você
fora do meu caminho, mas cuidando dos negócios por aí.

Ela bufa.
— Eros, porque não se casa comigo?

— Porque não, porra! — digo, meio bêbado. — Eu gosto de


você como amiga e se veio aqui pra choramingar essa porra de novo, tchau.

Vai embora, chega de chororô de mulher por hoje.


— Tá bom, eu paro. — Ela se inclina sobre mim. — Não vou
falar mais nada. Vamos mudar de assunto, porque também não quero falar

sobre Sienna.
— Sobre o que quer falar?
— Sobre Frank, você sabia que ele está importando e
comercializando drogas que vem da Venezuela?

— O quê?
— É, isso que ouviu.

— E como sabe disso?


— Você esquece que sou desta família, que conheço cada um
desses soldados. Sei tudo o que acontece, Eros.

— Então sabe que existe um traidor atrás de mim, não sabe?


— Claro que sei. O pai da sua noivinha e a mulher dele, que

você já nos fez o favor de executar. Sério, nunca fui com a cara daquela
vagabunda interesseira.

— Não, Bella. Existe outro traidor.


— O quê?
— É, porra. Sienna foi atacada na noite do Halloween. Peguei o

desgraçado, mas não acabou. Eu sei que ainda existe mais alguém.
Ela está tão surpresa que não posso dizer que é mentira.

— Mas... meu Deus, Eros. Já pensou que pode ser Sienna


então?
Solto uma risada.

— Sienna? Como? Ela foi atacada!


Bella revira os olhos.
— Ela pode estar fingindo tudo. Eu não gosto dela, sempre
achei que merecia morrer.

— Você cria umas fanfics muito loucas nessa sua cabeça, não é,
Bella? — Dou risada. — Sienna sequer sabe pegar em uma arma, porra.

— Se você diz... Eu não confio nela. Ela é filha de traidores, a


mãe se matou por não aguentar o peso da máfia. O pai sempre foi um
bajulador do seu pai e a madrasta uma interesseira.

Penso em discutir mais um pouco, mas não estou no clima para

isso.
— Saudade de quando conversávamos assim, sobre a

Organização — ela diz, pesarosa.

— Foi você mesma quem acabou com isso, exigindo coisas que

não posso lhe entregar.


— Eu sei, me perdoa, Eros.

Olho dentro dos olhos da minha melhor amiga e assinto.

— Me diz só uma coisa, Bella. Por que odeia tanto a Sienna?


Por que a tentou matar duas vezes?

Ela respira fundo e olha para o vidro atrás de nós.

— Porque eu sei de algo que pode mudar a vida dela. Não só a


dela, mas a minha também. — Bella olha de volta para mim. — Mas eu não
vou te dizer, não estou preparada para isto.

E é quando abro a boca para questionar sua decisão, que ouço o


primeiro estalo.

Levanto-me imediatamente e olho para baixo, onde o caos

começou a se formar com pessoas correndo desesperadas para a saída e há


uma mulher em pé, segurando uma arma apontada para cima.

O problema é que não é qualquer mulher.

É Sienna.

— Você não disse que ela não sabia nem segurar uma arma,
porra??? — Bella grita.

Não sei o que responder, ainda mais quando ouço o segundo

estalo.

Sienna

— Me dê a sua arma, Carol.

— O quê??? Pra quê? Sienna, você não vai matar o Eros, está
maluca?

— Não vou matá-lo, só quero dar um susto.


Carol arregala os olhos.

— Não mesmo. — Ela aperta as mãos no volante. — Sério,

onde eu estava com a cabeça de te trazer aqui?


— Ou me dá a arma ou eu não falo mais você — ameaço. — Eu

juro que não vou acertar ninguém, só quero dar um tiro para cima, para ele

se assustar.

— Sienna...
— Por favor, Carol.

Ela respira fundo, tira a pequena pistola da bolsa e me entrega.

Vislumbro o cano dourado, uma preciosidade que foi feita para


ela sob medida. Nunca pensei que um dia eu gostar de segurar algo assim,

mas cá estou.

— Vamos lá, quero ver se ele está mesmo me traindo.

Carol e eu seguimos até a entrada dos fundos e após passar por


um segurança, conseguimos entrar.

Pessoas estão animadas na pista de dança, mas o que quero é

encontrar Eros.
De um lado do bar está David, conversando animadamente com

uma garota. Os outros soldados da Organização estão espalhados, alguns

fazendo a segurança, outros flertando.


É quando chegamos até o meio da boate que Carol segura o meu

braço e me puxa para falar ao meu ouvido:


— Já o encontrei.

— Onde ele está???

— Segundo andar. Mas é melhor irmos embora, Sienna.


— Ir embora coisa nenhuma. — Puxo meu braço de volta e olho

para cima, onde descubro a vadia da Bella Rossi esfregando os peitos no

rosto dele.

Puta que pariu.


Eu sabia.

De repente sinto uma onda violenta de enjoo, misturada ao ódio

que ferve em minhas veias.


Eu vou matá-los.

Só que não posso matar o chefe da Organização e sair impune.

E tem o meu pai.

Porra.
Quero ir até o segundo andar, mas Carol me segura.

— Antes me dê a pistola.

— Não!
Então me desvencilho do aperto da minha amiga e vou até o

meio da pista de dança. Tiro a pistola da bolsa e a ergo, disparando um tiro


para cima.

Não foi muito bem pensado, mas resultou em algo.

O tumulto começa. Gente corre para todo lado, tentando fugir.

Vejo Eros se levantando assustado e olhando para baixo. Seus


olhos cruzam os meus.

Sorrio.

Bella diz algo a ele e o segura pelo braço e é aí que disparo pela
segunda vez.

Claro que a essa altura os homens da Organização já estão vindo

para cima de mim, então aponto o cano da pistola para a minha cabeça e

grito:
— Se chegarem perto de mim, eu disparo!

O salão começa a esvaziar conforme as pessoas saem da boate.

Eros desce as escadas e vem em minha direção. Pela sua feição, está puto,
com raiva, prestes a acabar comigo.

— Mas que porra pensa que está fazendo, Sienna? —

Aproxima-se e eu dou um passo para trás, com a arma ainda na cabeça. —

Sienna!
— Fique longe ou vou atirar e aí, adeus.

— Essa garota é louca! — Bella grita, alguns passos atrás de

Eros.
— Louca? Não era, mas talvez eu fiquei depois de voltar. —

Desvio para Eros. — Acha mesmo que vai me deixar em casa sozinha e vai
sair para trepar com qualquer vadia por aí?

— Vadia, não! — Bella grita e tenta vir para cima de mim, mas

um dos homens a segura.

Eros respira fundo e estende a mão, tentando manter a calma.


Pelo menos é o que vejo em seu rosto, mas nos olhos, vejo um uma raiva

animal.

— Sienna, me dê esta arma.


— Não.

— Onde a conseguiu? — Dá um passo em minha direção.

— Não te interessa.
Eros olha para o lado, onde Carol está assistindo tudo. Ela ergue

as mãos como se não tivesse culpa.

— Ela me ameaçou se eu não entregasse a minha arma.

— Porra, Sienna. Me dê a arma, caralho.


— Não vou dar! — Aponto-a para Bella. — Ela sempre tentou

me matar, acho que chegou a hora de acertar as contas com essa vadia dos

infernos.
Eros entra na frente de Bella.
— Sienna, você não é assim. Me entregue a arma, pelo amor de
Deus. Eu não estava trepando com a Bella. Estávamos apenas conversando.

— Ahhh, claro que sim. Olha a roupa que essa vagabunda veio,

um pedido escrito na cara de “me foda, Eros” e você me vem com essa? Vá
se foder, seu mentiroso de merda!

— EU NÃO TREPEI COM ELA, PORRA! — Eros grita. —

David está de prova.


Olho para o lado e David assente.

Meu amigo está achando graça do escândalo e tudo o mais,

mesmo assim ele assente e diz:

— É verdade, Sienna. Ele só encheu a cara o dia todo. Só isso.


Isso me faz vacilar um pouco, entretanto, continuo com a pistola

erguida.

— Mas você ia trepar?


— Claro que não! Bella é minha amiga, você sabe disso.

— Isso nunca o impediu antes.


Eros esfrega o rosto e passa as mãos pelos cabelos.
— Isso foi antes, ok?

— Antes do quê?
Ele fica em silêncio, seus olhos recaem no chão.
— ANTES DO QUÊ?
— ANTES DE VOCÊ! — Ele grita novamente, erguendo-os
para mim. — Eu... caralho, Sienna. Sentimentos não podem estar
envolvidos nesta merda. Mas, porra, eu... eu estou apaixonado por você!

Suas palavras percorrem o meu corpo com a velocidade da luz e


me deixam desconcertada.
Dou mais um passo para trás.

Meu braço vacila.


— O que disse? — pergunto baixinho.
E é no momento em que ele vai dizer algo, Bella sai de trás de

seu corpo e vem para cima de mim, tentando roubar a arma. Giro de um
lado para o outro, pois não vou entregar a ela.
Lutamos pela pistola por poucos segundos, até que ouvimos um

estalo.
E aí tudo fica em câmera lenta. Pelo menos é o que parece.
Olhamos uma para a outra com os olhos arregalados.

Os segundos viram minutos eternos.


Agonizantes.

Um tiro foi disparado, eu sei disso.


Levanto a minha mão, porque a sinto molhada. Ela está
vermelha. Vermelha de sangue.
Bella dá um passo para trás e olha para baixo. Em seu ventre, há
um circulo vermelho que vai se expandindo rapidamente, roubando a cor
vívida de seu rosto.

Meu Deus, eu atirei em Bella Rossi.


E então ela cai de joelhos.
25

Sienna

Eu matei Bella Rossi.

É tudo o que minha mente grita enquanto sou levada para longe

de tudo e todos, na correria, gritaria e pânico que eu mesma causei.


David enfia a minha cabeça dentro do carro como se eu fosse

uma criminosa, e bem, talvez eu realmente seja. Talvez Eros sempre teve

razão ao dizer que eu nunca fui diferente deles e que no meu sangue,
também corre a maldade de todo filho da Máfia.

Sou levada para longe, David dirige como um alucinado sem


dizer qualquer palavra. E eu também não consigo dizer nada, apenas

lágrimas rolam pelo meu rosto.

Quando chegamos em casa, ele estaciona, abre a minha porta e

me puxa para fora, guiando-me para dentro de casa, o lugar de onde eu não

devia ter saído esta noite.

Giovanni avisou: Deixe para amanhã. Mas eu não quis ouvi-lo e


criei uma confusão dos infernos.
E é bem no momento em que ultrapassamos as portas, que
Giovanni aparece em meu campo de visão, com os olhos vermelhos,

visivelmente transtornado.

— Eu vou te matar, Sienna! — Ele vem para cima de mim, mas

David entra na minha frente e saca a pistola.

— Fique longe dela, Giovanni. Eu vou resolver o problema.

— Ficar longe dela??? — ele vocifera. — Essa garota tem que


morrer. Ela tentou matar a minha filha!

— Não foi isso! — grito pela primeira vez desde que tudo

aconteceu. — Eu não queria...

E as lágrimas caem com mais força quando sequer consigo dizer

o que houve de fato.

— Se Eros não acabar com você, pode ter certeza que eu vou.

Vadia igual a sua mãe era.


As palavras de Giovanni me penetram como facas e rasgam a

minha alma, deixando-me ainda pior.

Ele vai na direção da porta.

— Giovanni, eu juro que não queria isso! Você precisa me

ouvir!

— Cala a boca, sua puta! — ele grita, cheio de ódio. — Eu


tentei alertá-la, mas saiba que você sofrerá as consequências. Você não tem
ideia de quem a Bella é e como a vida dela está ligada à sua! Se a minha

filha morrer, pode ter certeza que você também vai!


E dizendo isto, ele abre a porta, sai e a bate com força,

deixando-me aos pedaços. E o pior, sem entender uma só palavra do que ele
disse.
O que Bella Rossi tem a ver comigo?

— Vem, Sienna, vamos para o seu quarto. — David tenta me


puxar, mas resisto.

— A Bella morreu? Ela vai morrer?


— Não sei, porra. — David está nervoso. — Por que fez isto,

Sienna? Por que agiu como uma maluca?


— Porque eu estou apaixonada por Eros! — Deixo mais
lágrimas rolarem. — Não suportei pensar que ele estaria com outra,

enquanto eu estava sofrendo sozinha no quarto.


David esfrega o rosto.

— Você criou uma confusão do caralho e se a Bella morrer,


pode ter certeza que as coisas vão ficar feias. — David dá um passo em

minha direção. — Você pode ter criado uma guerra dentro da Organização.
Bella é uma vadia ordinária, mas é um dos braços essenciais de Eros.
Essas palavras só servem para o meu desespero aumentar ainda

mais.
— Eros nunca vai me perdoar, não é?

— Não sei. — Ele respira fundo. — Agora vamos para o seu


quarto, tenho ordens para trancá-la lá.

Eu podia gritar, correr e dizer que não, mas estou tão


desesperada que tudo o que mais quero é me enfiar debaixo das cobertas e

sumir por um instante.


Subo as escadas e vou diretamente para o quarto.
— Se você acredita em algo, é melhor começar a rezar para

aquela vadia se salvar.


David fecha a porta e ouço o trinco se fechando.

Céus.
Eu não queria atirar em ninguém, mas Bella pulou em cima de
mim. Foi um acidente.

Eros e Giovanni nunca vão me perdoar.

Eros

Bella está deitada na cama do hospital, com os aparelhos

ligados, enquanto luta pela própria vida.


Ela passou por uma cirurgia complicada, pois a bala se instalou
em um órgão delicado e se ela não morrer por causa do tiro, pode morrer de
infecção.

Porra.
Não faço ideia de que horas são, mas sei que preciso voltar para

casa e conversar com Sienna, apesar de estar muito puto com ela.
O problema é que no fundo eu sei que isso tudo não teria
acontecido se não tivéssemos aquela briga. Se eu tivesse ficado em casa ou

tentado conversar com ela antes, falando-lhe sobre meus sentimentos.


Inferno.

Agora não adianta lamentar pelo que ocorreu, preciso tentar


consertar essa merda toda.

— Vamos, Bella. Lute pela vida. — Apoio a minha mão sobre a


sua. — Sei que as coisas nem sempre saíram como você quis, mas essa é a
porra da nossa vida. Desde crianças somos manipulados e não há pra onde

fugir.
Só consigo ouvir o barulho do aparelho ligado ao seu coração.

— Não morra, por favor. Você é... minha amiga. Esteve comigo
em momentos horríveis e, apesar de não a amar do jeito que você quer, eu te
amo como a uma irmã.
Falar dos meus sentimentos sempre foi uma coisa extremamente
difícil, mas depois que conheci Sienna, percebi que não precisa ser assim
para sempre. Quem me dera ter dito à Sienna tudo o que eu disse antes de

acontecer essa tragédia.


— Eros! Vamos, temos que sair daqui! — David abre a porta da

UTI. Seu semblante é de quem acabou de ver um fantasma.


— O que foi, David?
— Temos que sair daqui agora!

— Por quê?

— Porque o traidor se revelou — David diz, cara a cara comigo.


— E ele convocou um exército de traidores para te matar. Matar você,

Sienna e todo mundo que ficar ao seu lado.

Meu coração acelera.

— E quem é o traidor?
— Giovanni Rossi.

Sienna
O dia está começando a ir embora e a noite se aproximando,

mas até agora não tive nenhuma visita de Eros, David ou qualquer um que
pudesse me dizer sobre o estado de saúde da Bella.

E isso está me consumindo.

Então é no momento em que vou para a cama, que a porta se


abre com violência.

— Vamos, Sienna. Precisamos sair daqui! — Eros vem em

minha direção para me puxar.

— Por quê? O que houve?


— Temos que sair agora, estão atrás de nós!

— Mas e a Hedonê? Ela está no closet dormindo!

— David pegue a cachorra e a leve para um lugar seguro.


— Não há tempo para isso, Eros! — David retruca, impaciente.

— Não vão deixar a minha cachorra aqui! — aviso. — Senão eu

não vou a lugar algum!


David me olha com raiva.

— Tá bom, eu vou pegar ela. Agora vá, Sienna!

— Se acontecer algo a Hedonê, eu vou te matar, David! — grito

enquanto Eros me leva pelo corredor, em direção às escadas.


Descemos rapidamente e ele me guia pelos fundos.

— O que está acontecendo, Eros?


— Não dá pra conversar agora. Apenas faça o que estou

dizendo! Vamos sair pelos fundos, já tenho homens nos esperando!

Fico em silêncio e o sigo, sendo puxada pelo braço, para sabe-se


lá Deus onde.

— Isso é um Bunker? — pergunto, olhando ao redor.

Estamos em uma sala, mas não é só uma sala. É quase uma mini

casa, equipada com uma cozinha e coisas para a sobrevivência.


— Mais ou menos — Eros responde.

Ele está sentado em uma cadeira, polindo sua pistola.

Não conversamos desde que chegamos aqui, ele está quieto,

pensativo. Acho que está com raiva de mim e não é sem motivos.
— Por que estão atrás de nós?

— Porque o traidor se revelou, junto a ele, um bando de

desertores que não me aceitam como líder e querem a porra da minha


cabeça.

Ajoelho-me a sua frente, tentando fazer com que olhe para mim.

— E quem é o traidor?

Ele ergue a cabeça e pela primeira vez, fita os meus olhos.


— Giovanni.

Suas palavras me causam um choque que eu me levanto


assustada e ando até minhas costas baterem na parede.

— O que disse?

— É isto que ouviu. — Engatilha a arma e depois desengatilha.


— O desgraçado, bem debaixo dos nossos narizes.

— Então a culpa é minha! — As lágrimas começam a descer

novamente. — Eu... eu matei a Bella! Eu dei o start em tudo isso!

E o desespero me consome mais uma vez.


— Psiu, Sienna. Vem cá. — Eros se levanta e vem até mim,

puxando-me para seus braços. — Não chore assim.

— Eu a matei, não foi?


— Não. Quer dizer, não sei. Quando eu saí do hospital, ela

estava lutando pela vida. A bala acertou lugares delicados.

Derramo todas as lágrimas que consigo na camisa de Eros.

Eu sou uma desgraçada.


— Foi por isso que ele disse tantas coisas horríveis para mim —

digo. — Quando David foi me deixar em casa. Giovanni estava... Ele

realmente queria me matar naquela hora.


Eros se afasta um pouco para olhar em meu rosto.
— Ele fez uma rebelião. Como Lúcifer quando arrastou terça

parte dos anjos consigo. Mas ele que se prepare, porque iremos lutar.

— Você acha que pode vencê-lo?

— Não sei. O desgraçado se uniu à Organização de Nova York,


então eles estão em vantagem.

— Sinto muito. — Apoio as mãos em seu rosto. — Eu juro que

nunca foi a minha intenção que as coisas chegassem a esse ponto. Eu fui até
a boate para sei lá, lhe dar um susto apenas. Eu fiz isso por medo de te

perder para outra.

Eros abaixa a cabeça e encosta sua testa na minha. Minhas

costas se pressionam na parede novamente.


— Por que medo? Por que não pode me perder para outra?

— Porque eu te amo, Eros. Eu não devo, mas estou apaixonada

por você. Não quero perdê-lo.


Ele fica em silêncio, seu rosto a centímetros do meu.

Respira fundo.

— Eu não sei o que é amor, Sienna, mas porra, se querer lutar

contra tudo e todos para lhe manter a salvo é isso, pode ter certeza que eu te
amo pra caralho.

Mais lágrimas rolam pelo meu rosto quando termino de ouvir

suas palavras.
— Me perdoa, Eros. Eu não queria matar a Bella, eu juro.

— Não peça perdão. Eu sei que foi um acidente. Podíamos ter


evitado, mas já foi.

Sinto um alívio quando ele diz isso, porque acho que um dos

meus piores medos era que o homem que eu amo me odiasse por ter

acertado a sua melhor amiga.


— Eu vou lutar com você — digo, as mãos apoiadas em seu

belo rosto. — Vou para cima de quem tiver que ir. Vou defender a nossa

família.
— Eu sei que vai, mas não a quero nesta luta. — Eros apoia as

mãos em minha cintura. — Já fiz demais trazendo-a para este inferno. Não

quero que corra riscos desnecessários, por isso a trouxe para cá. Quero
mantê-la a salvo.

— Não sou uma criança frágil. Eu sei me defender.

— Não estou dizendo que é frágil, Sienna. Mas... — Seus olhos

se fixam aos meus. — Não terei motivos para lutar se algo acontecer a
você.

Suas palavras me comovem mais uma vez.

Eros encosta seus lábios nos meus e um beijo casto se inicia.


— Tudo o que eu entendo, entendo apenas por causa do que eu

amo — cito essa pequena frase de um livro que sempre vi nas mãos de Eros
quando éramos mais novos, quando há uma pequena pausa em nosso beijo.
— Guerra e Paz?

— Sim. Liev Tolstói.

Ele abre um sorriso.


— Porra, é por isso que eu estou apaixonado por você.

Sorrio de volta, ele me beija com mais força, então se abaixa e

me pega no colo, levando-me para um sofá, onde deposita as minhas costas


no tecido gelado de couro.

— E se alguém vier aqui? — pergunto, olhando para a porta.

— Só David sabe vir aqui e ele não vai vir tão cedo. Não

enquanto não conseguir reunir todos os soldados que não se rebelaram.


Eros tira a camisa, deixando seu corpo escultural à mercê dos

meus dedos famintos.

— Você é tão gostoso. E tão meu.


Ele se abaixa, sua boca captura a minha.

— E você é tão minha. Nunca vou permitir que coloquem as


mãos em você. Eu mato qualquer um que tentar fazer isso.
Fecho os olhos e deixo sua boca faminta explorar o meu corpo.

Do lado de fora, há uma guerra acontecendo, mas o que importa


é que aqui, entre nós, estamos ainda mais unidos.
26

Sienna

Perco a noção de quantos gemidos já escaparam da minha boca

desde que Eros começou a estimular o meu clitóris com sua língua faminta.

Ele a move para cima e para baixo, exatamente do jeito que preciso para o
meu corpo sucumbir à violência do orgasmo.

— Eros! — Aperto com força o couro do sofá onde estou

deitada. — Ahhhh!
As ondas percorrem o meu corpo e eu fecho os olhos. De

repente sinto o cansaço, a leveza e a satisfação, tudo ao mesmo tempo.


Eros ergue a cabeça, sua boca está lambuzada com o meu gozo.

Ele sorri e então deposita alguns beijos nas minhas coxas e quando jogo as

mãos ao redor de seu pescoço e o puxo para mim, ele pressiona sua boca na

minha em um beijo quente, fazendo-me sentir o meu próprio gosto.

— Me foda, Eros. Quero senti-lo dentro de mim agora — peço.

— Por favor.
— Seu desejo é uma ordem, minha rainha. — Ele se senta no

sofá e me puxa para cima de seu colo. Esfrego-me em seu pau, fechando os
olhos com a sensação gostosa de senti-lo tão duro para mim.
— Mas antes... — Afasto-me um pouco. — Eu quero te chupar.

Desde que começamos a nos relacionar sexualmente, Eros

nunca me pediu para chupá-lo e eu nunca pedi ou me ofereci para isso. Ele

sabe que tenho lembranças que não são agradáveis relacionadas a isso, mas

eu quero construir novas memórias, então acho que esse é o momento ideal.

— Tem certeza, Sienna? — Sua voz grossa reverbera fazendo


meu corpo estremecer.

— Tenho.

Ele não diz nada, apenas me olha com luxúria.

Afasto-me até descer de seu colo e cair de joelhos no chão. Eros

abre mais as pernas, seu pau grande e grosso em pé. Então percebo que

sempre tive vontade de fazer isso, mas nunca tive coragem, talvez por medo

de comparação.
Porém, agora é o momento.

— Alguma recomendação antes que eu faça isso? — pergunto,

aproximando-me devagar.

— Só não use os dentes.

Olho novamente para o seu pau. Agarro-o com a mão direita e

faço um leve movimento para cima e para baixo, estimulando-o.


— Porra, Sienna — Eros joga a cabeça para trás.
Sorrio.

— Espere até ter a minha boca aí.


— Estou ansioso por isso.

Aproximo a minha cabeça, ainda segurando-o firme com a mão.


Arrasto a minha língua pela cabeça, capturando a ponta salgada.
Eros solta um gemido alto.

Abro bem a boca e o engulo, é o suficiente para sentir a mão


poderosa se infiltrando em meus cabelos, segurando a minha cabeça.

— Caralho, Sienna. — Ele geme enquanto empurra a minha


cabeça para baixo, não forte, mas em um ritmo que acho que ele deve

gostar. — Puta que pariu, que delícia.


Seu pau encosta em minha garganta, faz cócegas, mas não
chego a me engasgar. Mantenho minha boca bem aberta, para não mordê-lo.

É um pouco complicado devido à sua grossura, mas de repente, aumento


um pouco mais o ritmo, deixando a minha saliva escorrer para lubrificá-lo e

facilitar o processo.
— Isso, mama desse jeito, Sienna. Porra, que boca deliciosa.

Ele joga a cabeça para trás e retira a mão da minha cabeça,


deixando-me em meu próprio ritmo.
Com uma mão livre, agarro suas bolas e tento estimulá-lo

também desta forma, acariciando-o com movimentos circulares e suaves.


Circulo minha língua ao redor da cabeça de seu pau e depois engulo-o

novamente.
Faço desse jeito por um tempo até que...

— Chega, porra. — Eros me afasta e me puxa novamente para o


seu colo. — Não vou gozar na sua boca hoje, quero gozar dentro de você.

Apoio as mãos em seu maxilar e o beijo com ferocidade. Eros


levanta o meu quadril, encaixa seu pau em minha entrada e sobe o quadril
de uma só vez, sequer me dando tempo para respirar.

— Eros! — Seguro seus ombros, arqueando um pouco para trás.


— Céus.

Balanço meus quadris para frente e para trás, deslizando em seu


pau. Sentindo-o me preencher em toda a sua glória. Eros apoia as mãos em
minha bunda e quando dou por mim, ele está erguendo o meu quadril e me

descendo de uma só vez.


— Você é tão gostosa, Sienna. Eu amo estar dentro de você —

ele diz, uma gota de suor descendo de sua testa. — Você foi feita para mim.
Abro os olhos e encontro os seus, olhando-me com paixão.

— Acha mesmo isso?


— O quê?
— Que eu nasci para você?

— Tenho certeza.
Ele beija a minha boca, sua língua duelando com a minha por
alguns instantes.
— Fica de quatro para mim, meu amor.

“Meu amor”.
Essas duas palavrinhas enchem o meu coração de uma alegria

que não sei explicar.


Eu estou tão apaixonada por esse homem.
Saio de cima de Eros e me coloco de joelhos em cima do sofá.

Eros se levanta, fica atrás de mim. Esfrega a ponta de seu pau em minha
entrada.

— Inchada, molhada. Do jeitinho que eu gosto. — Ele esfrega


meu clitóris com o polegar. — Porra, Sienna. Eu sou um filho da puta

sortudo.
Antes que eu consiga elaborar uma resposta coerente, Eros me
penetra.

E então eu vou até o paraíso, mais uma vez.


Suas mãos fortes seguram meus quadris enquanto ele bombeia

para dentro de mim.


Ergo meu tronco e suas mãos seguram os meus seios. Seus
movimentos não param, apenas se tornam mais lentos.
— Eu te amo, Sienna — sussurra em meu ouvido. — Te amo
pra caralho.
E eu acredito.

Ele me solta, suas mãos voltam aos meus quadris, passeiam pela
minha bunda e desferem alguns tapas que certamente ficaram marcados,

mas pouco importa, o que importa é que esse homem delicioso faz o favor
de aumentar sua velocidade, estocando-me com força, fazendo-me delirar
de prazer.

Sinto algo escorrendo pelas minhas pernas, mas não é o seu

gozo ainda.
É o meu.

Esse homem me enlouquece.

Depois que me entrego ao Orgasmo pela segunda vez, Eros

estoca mais algumas vezes, até suas mãos me apertarem com força, um
grunhido satisfeito sair de seus lábios e o seu gozo quente me preencher.

Deitamos nos braços um do outro, respirando fundo, tentando

acalmar nossos corações.


— Se essa for a nossa última transa, eu estou muito satisfeita —

brinco.

Mas Eros não ri.


Sua mão livre segura o meu queixo e me faz encará-lo.
— Não foi a nossa última transa. Nada vai acontecer a nós, eu

prometo.
Sei que ele quer acreditar nisso, mas é muito mais fácil lidar

com inimigos de fora do que quando eles se rebelam por dentro.

— Eu confio em você. Me perdoe por dizer aquelas coisas,


Giovanni tinha tentado colocar dúvidas em minha cabeça e eu fui idiota de

ouvi-lo.

— Não precisa pedir perdão, Sienna. Giovanni soube como agir,

pensou que ele seria a última pessoa de quem desconfiaríamos e agora vejo
que ele estava certo. Eu sou o idiota desta história.

— Você não é idiota, Eros. Apenas acreditamos nas pessoas

erradas. — Suspiro pesadamente. — Sabe, eu ainda era muito pequena


quando minha mãe morreu, mas lembro-me, não sei como, de uma forma

bem vívida quando Mary chegou em casa e papai disse que ela seria a

minha nova mãe.


Ele fica em silêncio. Apoio minha mão em seu peito e deixo que

as memórias voltem com força.

— Eu a odiei a princípio. Não queria outra mulher ocupando o

lugar que era para ser da minha mãe. E, sim... eu tinha apenas seis anos,
mas tentei envenená-la, colocando um monte de remédio do meu pai no

suco dela. — Mordo o lábio. — Não sei como você descobriu isso, mas sei
que preciso contar ao meu pai, ainda mais, porque depois de tudo isso,

Mary ainda foi incrivelmente boa comigo. — Meus olhos se enchem de

lágrimas. — Ninguém nunca desconfiou, eu também nunca falei nada. E


quando papai fez o acordo com o seu pai, para eu ir estudar em outro lugar,

ela chorou muito. Lembro-me de entrar em seu quarto e ela estar aos

prantos, porque não me queria longe.

— Eu não sabia de nada, Sienna. Foi apenas um burburinho que


rolou na época e eu falei isto para te intimidar. Entretanto, ninguém da

Organização gostava de Mary. Exceto Giovanni, pelo visto.

Subo um pouco mais em seu peito e o encaro.


— Você acha mesmo que eles iam fugir juntos?

— O que sei foi o que vi. As malas estavam todas prontas em

seu antigo quarto, denunciando como se Mary e seu pai fossem fugir

naquela noite. Só que, claro, John não sabia de nada.


— Como você sabia que ele era inocente?

— Eu sabia. Simples assim.

Tento lembrar de alguma coisa que possa denunciar essa união


entre Mary e Giovanni, mas não consigo pensar em nada. Pudera, eu fui

embora quando ainda estava para completar 9 anos. Naquela época não

prestava atenção nessas coisas.

— Eles nos enganaram, mas vamos vencê-los. Tenha fé, Eros.


Ele abre um meio-sorriso.

— Você tem fé?


Balanço a cabeça afirmativamente.

Ele se inclina, pega uma caixa de cigarros em cima da mesinha

e acende um. Não gosto disto, mas se isso o acalma, o que posso fazer?
Depois de acender e dar a primeira tragada, que, pelo inferno, o

deixa ainda mais sexy, seus olhos perscrutam o meu rosto por alguns

instantes. Ele morde o lábio e diz:

— Me conta como era ser professora. Me conta como era a sua


vida em Nova Orleans.

Sorrio e de alguma forma me emociono quando ele me pede

isso.
Eros é um homem frio, arrogante e teimoso. Vê-lo pedindo para

saber sobre algo que foi importante para mim, demonstra o quanto ele já

mudou desde que nos reencontramos.

— Bem, eu tinha uma amiga. A Alessa.


Ele abre um meio-sorriso.

— Ela comprou o diploma de professora, caso não saiba.

Arregalo os olhos.
— O quê?
— Pois é. — Solta uma risada misturada ao cigarro. — Ela é

filha de pessoas muito pobres e não teve dinheiro para fazer uma faculdade.

Foi prostituta em Nova Iorque, onde conseguiu dinheiro para comprar o

diploma e forjar uma nova vida. — Sua revelação me deixa completamente


chocada. — Ela foi esperta, se quer saber.

Fico em silêncio, digerindo suas informações.

— Não fique assustada assim, Sienna. Muita gente faz isso e eu


confesso que devo parabenizar a sua amiga. A prostituição pode render

muito dinheiro, mas conforme os anos vão se passando, já não rende tanto.

Eles, a maioria que conheço, pelo menos, procuram as novas, aquelas que

não foram afetadas pela idade, se é que você me entende.


— Chega. — Tapo os ouvidos. — Não gosto desse tipo de

assunto. Inclusive — Encaro-o novamente. — Você não mexe com essas

coisas, não é?
Eros traga o cigarro e solta a fumaça.

— Não.

O alívio percorre a minha alma.

Entendo que ele tem seus negócios, mas não suportaria saber
que ele trafica meninas para servir de objeto sexual para homens

pervertidos.
— Meu pai tinha. Mas eu acabei com isso quando assumi —

confessa. — Talvez seja por isso que grande parte dos meus homens não me
vê como um bom líder.

— Você é um bom líder. — Seguro seu rosto. — Foda-se o que

eles acham.

— Muito dinheiro deixou de passar pelas nossas mãos, Sienna.


Por essa simples atitude.

— Eu sei, mas com isso você ganhou ainda mais um pouco do

meu coração. Não concordo com metade das coisas que você faz, que a
Organização faz, mas essa seria a pior.

Ele abre um meio-sorriso e acaricia o meu rosto.

— Sabe, tem uma coisa que Giovanni me disse quando cheguei


à casa e ele estava saindo para ir ver a Bella.

— O que ele disse?

— Que eu não sabia o que havia feito, porque a vida da Bella

estava, está, ligada à minha. Confesso que não entendi.


A expressão de Eros se torna fria.

— O que mais aquele bastardo disse?

— Só isso.
— Vista suas roupas, minha rainha. David pode chegar a

qualquer momento e precisamos estar preparados.


Limpo-me com alguns lenços umedecidos que estão na sala e
visto minhas roupas. Eros e eu nos sentamos no sofá e ficamos perdidos em

nossos próprios pensamentos.

David chega quase duas horas depois.


— As notícias não são boas — diz. — Metade dos nossos

homens se uniu à Giovanni. Fora o apoio que eles estão recebendo de Nova

Iorque.
Eros solta um palavrão.

— Quem está ao nosso lado?

— Dos homens de confiança: Vicenzo, Henry, Charles,

Gabriele, Christian, Harris, eu, obviamente.


— E Phellipe? — Eros franze o cenho.

O rosto sério e o silêncio de David já dizem tudo.

Eros se levanta e empurra uma fileira de livros que estavam em


cima de uma mesinha ao chão.

— Filho da puta! E a sua irmã? Ela também estava nos


enganando esse tempo todo?
— Não! Carol, não. Eu a levei para um lugar secreto, porque

Phellipe tentou matá-la e ela se escondeu em um lugar que só ela sabia da


existência no sótão da casa.
De repente as lágrimas começam a cair.
Terror, medo.
Não quero perder Eros, não quero perder a vida que estamos
começando a construir.

— Vocês precisam estar preparados — David diz, olhando de


um para o outro. — Seja para lutar e viver ou lutar e morrer.
27

Sienna

— A primeira regra é: atire primeiro, pergunte depois — David

diz enquanto vasculhamos o arsenal de armas, pegando as melhores. — Se

te encurralarem, entregue-se. Melhor tentar resolver depois, de outra forma,


do que levar um tiro na cabeça.

— Sienna não vai à luta — Eros rosna. — Ela e Carol precisam

ficar juntas. Nós é que vamos.


— Não vou deixá-lo ir sozinho! — retruco. — Eu... Eu sei usar

a arma.
David pega uma, coloca algumas balas no carregador e diz:

— Eu acho que Giovanni espera que nos separemos delas e as

coloquemos em segurança, essa é a verdade.

— Foda-se o que Giovanni pensa. Eu quero Sienna e Carol

juntas. Traga a sua irmã para cá. O Bunker é o melhor lugar para elas

ficarem agora.
— Tá bom, Eros. Mas como vamos colocá-las juntas neste

momento? — David ergue as sobrancelhas. — E não acho que aqui seja um


lugar seguro.
— Como não? Que porra está dizendo?

— Estou dizendo que nenhum lugar é seguro agora, porra.

— Claro que é! — Eros começa a erguer o tom de voz.

— Eu acho que David tem razão! — retruco, atraindo a atenção

dos dois.

— Obrigada, Sienna querida. — David sorri. Então franze o


cenho. — Mas porque acha que eu tenho razão?

Reviro os olhos.

— Giovanni nos viu crescer, Eros. Ele acredita que nos

conhece, então vai tentar mapear os nossos passos. — Fito seus olhos. —

Ele sabe que você nunca me colocaria à frente de batalha e vai usar isso de

alguma forma.

A compreensão atinge seu rosto.


— Acha que ele sabe a senha aqui do Bunker? — pergunta à

David.

— Sei lá, mas acho que sim. O filho da puta não é burro.

David coloca mais munição em outras armas, assim como Eros.

Eu pego outros equipamentos e coloco dentro das bolsas.

Quando terminamos tudo, Eros segura a minha mão,


entrelaçando os nossos dedos. Deposita um beijo e diz:
— Vamos juntos à guerra, minha rainha.

Balanço a cabeça afirmativamente.


Olho pela última vez ao redor do Bunker, desejando que

estejamos certos e que não seja uma loucura da nossa cabeça bater de frente
com o homem que nos conhece como a palma da própria mão.

— É seguro sair assim na rua? — pergunto quando saímos na


calçada de uma das avenidas mais movimentadas de Chicago.

— Não. Mas é o que temos — David responde, olhando ao


redor. — Vamos logo. Tem um carro ali atrás, pronto para sairmos daqui.
Atravessamos a rua e corremos até uma pequena viela, mas

assim que entramos nela, David solta a bolsa no chão.


— Porra! Eu deixei o carro aqui! Mas que caralho! — Ele olha

para nós. — Vamos, temos que arrumar outro.


Saímos novamente na avenida e um homem está entrando em

seu Chevrolet, quando David o intercepta.


— Quietinho, meu amigo. Me dê a chave do seu carro e tudo
vai ficar bem.

O homem ergue as mãos, a pistola de David está em sua costela.


— Calma amigo, eu vou entregar... Deixa só eu pegar aqui...

Não sei o que acontece, porque é tudo muito rápido, mas vejo
quando David o nocauteia e o empurra para trás.

— Vamos! Entrem logo no carro!


Entramos no carro e em poucos instantes, David sai da vaga e

começa a percorrer a avenida. Porém, assim que nos aproximamos de um


semáforo, os tiros começam.
— Abaixe-se, Sienna! — Eros grita. — Agora!

Abaixo-me no banco de trás, enquanto David acelera e Eros se


encarrega de atirar de volta. Sou jogada de um lado para o outro e a cada

curva meu coração quase sai pela boca.


— Roubar um carro não estava nos meus planos! — grito para
David.

— Nem nos meus!


Eros troca mais tiros com quem seja que está nos perseguindo.

— Eu vou acelerar mais, senão vamos morrer aqui — David


diz. — Segura aí, Sienna!

Seguro-me com força no banco, mas a velocidade me faz


parecer fraca.
Um tiro atinge o espelho de David.
— Filho da puta! Vou ter que fazer umas voltas meio doidas
para despistar esses caras, segurem-se.
Náuseas me consomem e quase penso que vou sujar o chão do

carro, mas após muitas curvas, David consegue com que os desgraçados
deem de cara com a Polícia, nos dando uma vantagem.

E é com essa vantagem que conseguimos chegar até o


esconderijo de Carol.

— Meu Deus, Sienna! — Carol pula do sofá e vem me abraçar


assim que entro em seu esconderijo. — Achei que tinha sido pega por eles!

Abraço-a de volta com a mesma força e as lágrimas vem aos


meus olhos ao pensar que a minha amiga estava debaixo do mesmo teto que
um dos traidores.

Ela podia ter sido morta.


— A cidade está uma loucura. — David joga a mochila em

cima de um sofá. — Eles chamaram a atenção até da polícia. Estamos


fodidos, isso sim.
— E o que vamos fazer agora? — Carol pergunta. — Não

podemos ficar trancados aqui para sempre.


Olho para os outros integrantes desta sala, dentre eles, Christian.
O mesmo homem que me trouxe a força para esta loucura, meses atrás. Ele
não consegue me olhar dentro dos olhos, deve estar sentindo culpa ou algo

do tipo.
Dou um passo em sua direção.

— Hey, eu te perdoo.
Minhas palavras o surpreendem. Ele ergue a cabeça, com as
sobrancelhas também erguidas.

Não sei qual é a história de Christian e nem como ele entrou na

Organização, o fato é que ele está do nosso lado e sei que dará sua vida para
nos proteger, se for preciso.

— Temos que armar uma cilada para pegar Giovanni — diz

Eros, o mais seriamente possível. — Se destruirmos o cabeça, os peões irão

cair.
Olhamos uns para os outros e assentimos.

É isso.

Temos que derrubar Giovanni, pois só assim, teremos uma


pequena chance de vencer esta guerra.

De repente, começamos a conversar e pensar em possibilidades.

Tentamos nos lembrar de pontos fracos que Giovanni possui. Traçamos uma
rota que nos dê liberdade para agir.
Um outro membro da Organização chega, ele está afoito, mas

parece um pouco feliz, se assim posso dizer.


— Deu certo, Ramón? — David se apressa em perguntar.

Ele olha para David, depois para Eros.

— Sim, eu consegui.
Encaro-os sem entender. Eros me fita de volta e diz:

— Conseguimos ajuda de outra gangue. Eles vão lutar conosco.

Solto um suspiro aliviado.

David apoia uma arma longa, daquelas que atiradores de elite


usam, no peito e diz, com um sorriso encantador:

— É isso meus caros, está escurecendo, o que facilita tudo para

nós. Só precisamos executar o plano da melhor forma possível e exterminar


aqueles filhos da puta!

— Como está se sentindo em relação à... ahn, você sabe, traição

de Phellipe? — pergunto à Carol enquanto estamos andando por um

extenso corredor subterrâneo que nos levará de volta ao centro da cidade.


— Aliviada, talvez. Eu queria ter a oportunidade de enfiar uma

bala no crânio daquele desgraçado. Mas talvez, quem faça isso, seja Eros.
— Ele nunca deu sinais?

— Não. Pelo menos eu nunca notei nada. Claro que ele sempre

tinha reuniões escondidas, falava com pessoas que eu não conhecia, mas
sempre achei que Eros estava por trás, achei que eram coisas da nossa

Organização e não que ele estava nos traindo.

Respiro fundo.

— Pois é, as pessoas nos enganam com facilidade.


— E você nunca notou nada estranho em Giovanni?

— Não. Ele sempre me tratou como filha.

Lembro-me novamente de suas palavras quando cheguei da


boate. Ainda quero descobrir o que ele quis dizer com aquilo, porque não

faço ideia e tenho a sensação de que não vou gostar de descobrir.

— Vamos, meninas — David nos apressa. — Lembrem-se do

que eu disse. Atirem primeiro, perguntem depois.


Chegamos até uma escada e Christian é o primeiro a subir. Ele

ergue a tampa de ferro e olha de um lado ao outro, então volta e diz:

— A cidade está um caos. Eles aproveitaram para detonar tudo,


está tudo pegando fogo.

Isso não é bom, é como se Giovanni quisesse dizer às outras

gangues que a Chicago Outfit é fraca e por isso eles se rebelaram.


O primeiro passo do plano é ir buscar o meu pai no hospital

psiquiátrico. Para isso, iremos em carros separados. Carol com Eros e


David comigo, para despistar, caso algum deles tentem cercar os nossos

carros.

— Vamos, não temos tempo a perder — Eros diz. — Façam


conforme combinamos. Depois que pegarmos John, voltaremos até a

Michigan Avenue, para um confronto com Giovanni.

Olhamos uns para os outros e assentimos.

Vai dar certo.


Tem que dar.

Christian é o primeiro a subir, depois puxa Carol. David vai em

seguida, e na minha vez, Eros me segura por alguns poucos instantes.


Encosta sua testa na minha e diz:

— Vai dar certo, meu amor. Nós vamos vencer.

— Vamos sim.

Seguro o seu rosto e beijo seus lábios com todo o sentimento


que carrego dentro do peito.

Algumas semanas atrás eu sequer o suportava, agora, não sei o

que vai ser de mim se algo acontecer a ele.


— Vamos, gente! — David grita lá de cima.
Eros me dá um último beijo e me ergue com seus braços fortes.

Agarro-me a escada e subo devagar, sendo puxada por David.

Finalmente ele sobe e dali corremos para os veículos que já

estão estrategicamente separados para nós.


Queria ir com Eros, mas sei que é arriscado.

Se Giovanni já invadiu o Bunker, vai saber que estou na luta e

então seremos os alvos. Os dois, de uma só vez.


E não é disso que precisamos neste momento.

Os capuzes que arrumamos nos ajudaram a passar

despercebidos, então conseguimos atravessar a cidade em direção ao

hospital onde meu pai está.


— Não fique nervosa, Sienna. Vai dar tudo certo — David diz.

— Não é a primeira vez que temos que lidar com algo assim. Quer dizer, a

gente sim, mas os nossos antepassados também precisaram lidar com

traidores e baderneiros para estabelecer a honra na cidade.


— Você diz isso de forma tão orgulhosa.

Ele sorri.
— Eu sou orgulhoso da nossa história sim. E quando você tiver

seus filhos e contar para eles o que estamos fazendo nesta noite, sei que eles
também terão orgulho de nós.

Filhos.

Uma palavrinha que nunca parei para analisar com calma e que

se fosse em outros tempos, eu provavelmente surtaria.


Como colocar filhos no meio de uma bagunça como esta?

A questão é que hoje, pensando nisso com mais calma, sei que o

dia que eu engravidar, vai ser o mais feliz da minha vida, pois cuidarei dos
meus filhos com unhas e dentes, serei uma mãe forte, contrariando todas as

expectativas que colocaram sobre mim, quando duvidaram que eu seria

forte, que me renderia à tristeza e à amargura assim como minha mãe fez no
passado.

— Eu quero ter filhos — digo, pensando em como seria um

mini Eros. — De preferência que se pareçam com o pai.

David faz uma careta.


— Que horror. Que sejam parecidos com você, então.

Dou uma risada, mas ela logo cessa assim que nos aproximamos

do hospital psiquiátrico.
— Chegamos — anuncia.
Ele estaciona a uma distância segura, assim como os outros
atrás de nós. Saímos dos veículos, prontos para invadir aquele lugar e trazer

o meu pai de volta.

Eros se aproxima, sacando sua arma de atirador de elite, assim


como os outros homens que foram designados para nos acompanhar.

Estou feliz, com a adrenalina correndo nas veias.

— Estou chegando, papai.


O problema é que quando nos aproximamos do portão, há a

primeira explosão.

— Corram! — Eros grita, puxando-me para si. — Agora!

Em questão de segundos outros explosivos começam a detonar,


um atrás do outro.

— Não! Meu pai! Eu tenho que tirar ele de lá! — grito, tentando

me desvencilhar do aperto de Eros.


Mas é tudo muito rápido.

O prédio começa a ruir e a poeira se levantar.


Nos dispersamos e corremos para os veículos e enquanto Eros
dirige como louco para nos tirar dali, vejo a construção indo ao chão,

levando o meu querido pai consigo.


28

Sienna

Meu pai morreu.

E eu não consigo controlar o desespero que percorre as minhas

veias e se aloja em minha alma.


As lágrimas são apenas uma parte do que estou sentindo.

— Sienna, acalme-se. — Eros tenta segurar a minha mão. —

Nós vamos acabar com ele. Eu juro.


— Meu pai está morto!

Minha memória começa a jorrar com lembranças da minha


infância e dos momentos que foram importantes em nossa vida. Inclusive,

lembro-me de seu sorriso quando nos despedimos na clínica, prometendo

que em breve ele teria sua liberdade de volta.

Mas isso, agora, é em vão.

— Sienna, eu preciso de você — Eros diz, sua atenção no

trânsito. — Se não estiver comigo, seremos vencidos.


Eu sei disso, mas a dor que se alojou em meu peito é tão grande

que parece que estou sendo rasgada ao meio.


— Porra! — Eros vocifera, olhando pelo retrovisor. — Filhos da
puta!

Olho para trás e vejo carros saindo de outras ruas, para nos

seguir.

Eros enfia o pé no acelerador e uma perseguição se inicia.

— Sienna! — Eros grita. — Fique comigo!

Sei que preciso ficar com ele, senão Giovanni será o vencedor.
Quero chorar a morte do meu pai, mas digo a mim mesma que

essas lágrimas precisam ser combustível para me dar forças para enfrentar o

inimigo, pelo menos por hora.

— Eu vou atirar — digo, pegando a arma que está no banco de

trás.

— Cuidado, Sienna. O recuo dela é muito forte.

— Foda-se. Eu só quero matar todos eles.


Abro o vidro do carro e viro-me para trás. Concentro-me na

mira e faço o primeiro disparo que me pega de surpresa ao mover meus

braços e meu corpo para trás com tudo.

No entanto, o primeiro carro deles é atingido em cheio e

explode em uma grande bolha de fogo.

— Boa, garota!
Aponto a arma para o outro carro atrás de nós, mas não preciso

atirar, pois David surge da fumaça, tomando velocidade para ficar lado a
lado com o inimigo.

E quando isso acontece, ele atira, explodindo-o em cheio.


— Boaaa!
Ele acelera para nos alcançar e então deixamos para trás os

inimigos que tentaram nos destruir.


Ainda não vamos cair.

— O que vamos fazer, Eros? — Sento-me no banco, verificando


quantas balas ainda tem no depósito.

E antes que ele me responda, seu celular começa a tocar. Eros o


atende, colocando-o no viva voz.
— Giovanni?

Já esperávamos por esta ligação, ela até que demorou.


A risada soa seca do outro lado.

— Garoto.
Eros fecha a cara.

— Garoto, não é? Foi sempre assim que me tratou, apenas como


um garoto.
— Claro que te tratei como um garoto. Porque é isso o que você

é. Um moleque impertinente que achou ser capaz de liderar uma


Organização tão grande em Chicago. — Ele bufa. — Seu pai foi um grande

idiota, porque muitas vezes o alertei de que você nos levaria para o buraco.
Eros aperta os dedos no volante.

— O que quer de nós, Giovanni?


— Quero encontrar a Sienna, sozinha. Preciso conversar umas

coisas bem interessantes com ela.


— Você não vai encontrá-la! — Eros ruge.
— Bem, é uma pena então, porque vou precisar me livrar da

amiguinha dela.
Arregalo os olhos com sua ameaça.

— Como assim? — deixo escapar.


Giovanni dá uma risada.
— Olhem bem para o carro que vai se aproximar de vocês neste

momento. Já que não querem falar comigo, já podem se despedir da vadia.


Ergo a cabeça bem no momento em que um veículo se coloca

lado a lado ao nosso.


Carol está com uma fita na boca, chorando e acenando para não

fazermos nada.
Mas como ela foi sequestrada assim?
Então foco no motorista ao seu lado e meu coração quase para.

Christian.
— Surpresa, não é, Sienna? — Giovanni ri. — Foi Christian
quem tentou matá-la na noite de Halloween. Eu sei, ele sempre foi um dos
homens de confiança de Eros, mas a paciência dele se acabou quando viu

que nunca chegaria aos pés dos outros homens nascidos dentro da
Organização. Não foi difícil trazê-lo para o outro lado.

Fito Eros sem entender, porque pensei que ele tinha pegado o
meu agressor na noite de Halloween.
Ele balança a cabeça negativamente e diz com uma voz

derrotada:
— Foi Christian quem me trouxe o homem.

Isso explica tudo.


Giovanni solta uma risada.

— E então, Sienna. Vai vir ou vou acabar com a vida da sua


amiguinha?
Dou uma olhada para Eros antes e ele assente.

— Eu vou.
— Eu a quero sozinha. Se eu descobrir que veio acompanhada,

sua amiga morre do mesmo jeito, entendeu?


— Sim, entendi.
— Venha até o alto da Willis Tower. Espero-a em uma hora.
E a ligação se encerra, assim como Christian some com Carol
na nossa frente.
Eros soca a mão no volante, soltando um grito e um palavrão.

Então decide ligar para David.


— Mudança de planos, precisamos conversar.

— Eu vou matar aquele filho da puta! — David grita,

precisando Eros segurá-lo. — Ele está com a minha irmã!!!


— Eu sei, David. Acalme-se, nós vamos resolver isso.

— E como??? Aquele traidorzinho estava no nosso meio e nem

desconfiamos!

David se joga no sofá. Eros encosta-se a uma mesa e cruza os


braços.

— Tenho menos de vinte minutos para chegar à Willis Tower —

digo, impaciente.
— Ele vai acabar com você, Sienna — David diz, sem me olhar

nos olhos.

— Mas preciso tentar salvar a Carol!


— Nós precisamos ir com você e invadir aquela porra!
— E com isso ele mata as duas! — Eros retruca. — Temos que

pensar em outra coisa, outro plano.


David respira fundo, inclina-se e passa as mãos pelos cabelos.

— Pelo menos os homens que convocamos já estão nas ruas

matando esses cretinos — resmunga. — Eu quero torcer o pescoço do


Giovanni.

— Podemos sequestrar a Bella e usá-la como refém — sugiro.

Eros ergue as sobrancelhas.

— Não vai servir de muita coisa alguém que está morrendo no


hospital. Além do mais, Giovanni já deve ter cercado a propriedade,

impossibilitando a nossa entrada.

Não sei o que fazer e nem como vamos vencer esta guerra, mas
sei que preciso encontrar Giovanni em, agora, quinze minutos.

— Temos que ir — digo, olhando para os homens. — Agora.

Engulo em seco enquanto o elevador sobe todos os andares da

Willis Tower.
Este lugar foi considerado o prédio mais alto da América do

Norte, até a construção do One World Trade Center, em Nova York.


Já falei diversas vezes sobre ele com meus alunos em Nova

Orleans, porque o seu observatório recebe milhares de visitas por dia, no

103º andar, gente do mundo todo vem aqui.


E eu nunca pensei que entraria nele e subiria até o topo, para

encarar o assassino do meu pai.

O meu futuro assassino.

Ao chegar no último andar, ainda subo uma escada que me leva


ao topo, onde helicópteros costumam descer.

Está escuro, mas há luzes no chão que facilitam a visão. Está

ventando muito, tudo muito propício para cairmos daqui e termos uma
morte esmagadora lá em baixo.

Estremeço só de pensar.

— Olá, Sienna!!! — Giovanni está perto da beirada, cercado por

dois homens que não conheço, exceto pelo terceiro, que é Christian,
segurando Carol pelo pescoço.

Quero matá-lo.

— Gostou do que fizemos na cidade? — O desgraçado abre os


braços como se incendiar carros e ônibus, invadir bancos e tocar o terror

fosse um espetáculo.

— Você é doente.

Aproximo-me devagar.
Carol está chorando, mas não posso me concentrar nela agora.

Preciso ir com calma.


— Não sou doente, Sienna. Sou apenas um homem que sabe

raciocinar. Que sabe o que quer.

— E o que você quer? — retruco. — Destituir Eros? Destruiu a


cidade inteira por isso? — Solto uma risada amarga. — Não era mais fácil

apenas ter o matado?

— Talvez, mas que graça teria? Eu quis mostrar a todos que

Eros, o homem com quem você trepa todas as noites, é um coitado e está no
lugar que está apenas porque é filho do antigo chefe.

— Por que tanto ódio, Giovanni?

Ele fecha o semblante se aproxima, mas ainda mantém uma


pequena distância de mim.

O vento parece pior agora.

— Por que tanto ódio? Porque aquele filho da puta me deixou

de escanteio todos esses anos! Porque de braço direito da Organização,


tornei-me um empregado, um servo!

Ele bufa.

— Tem noção, menina? Todos esses anos ouvi comentários de


outros homens dizendo que eu tinha me tornado apenas um mordomo! E eu

não nasci para isso, nasci para matar, para liderar! E é o que passei anos
planejando e agora vou conseguir! — Seus olhos estão tomados de ódio. —

Tentei matar o pai dele, mas o desgraçado sempre foi forte. Então restou-me

esperar sua morte. Achei que seria mais fácil, mas esse moleque desgraçado

sempre esteve um passo à frente. Mas hoje isso mudou.


Faço uma cara de nojo ao ouvir suas palavras. Olho na direção

da minha amiga, o braço de Christian em volta de seu pescoço.

Meu Deus.
— Solte a Carol, Giovanni! Solte-a, por favor!

Ele abre um sorriso amedrontador.

— Quer que eu a solte?

Balanço a cabeça afirmativamente.


— Eu vou soltá-la, mas só quando o seu macho estiver aqui

para acabar com ele pessoalmente!

E dizendo isso, a porta pela qual eu entrei, se abre novamente e


Eros aparece, sendo guiado por outro homem, com uma pistola na cabeça.

— Eros! — Quero correr até ele, mas Giovanni segura o meu

pulso.

— Se for até ele agora, eu vou estourar os miolos dele.


Então eu paro.

O homem empurra o meu noivo para o chão sem piedade e é

nesse momento que Giovanni se afasta de mim e se aproxima de Eros,


cuspindo em seu rosto.

— Moleque imbecil! — Giovanni o soca na barriga. — Tantos


anos eu tive que esperar. Mas poder te bater, poder estragar esse seu

rostinho vai fazer tudo isso valer a pena.

Giovanni saca um canivete da manga do terno e se aproxima

para machucá-lo.
— Pare! — grito. — Pare, por favor! Eu faço o que quiser, mas

deixe-os livres!

Giovanni para o canivete a milímetros de distância dos olhos de


Eros.

— Vai fazer o que eu quiser, Sienna?

Sei que isso é loucura, mas não temos muito o que fazer. O
desgraçado sabia que eu não viria sozinha. Isso foi tudo um plano para nos

pegar.

— Faço!

Ele sorri, guarda o canivete e se aproxima.


— Eu estou puto com o que você fez com a Bella, mas por

outro lado, achei muito corajoso de sua parte. — Segura o meu queixo com

força e sorri. — Tenho que te contar uma coisa que você nem imagina,
Sienna.

Ele olha para Eros, depois de volta para mim.


— Depois que a Bella nasceu, a mãe dela teve uma depressão
severa. Aquela vadia sequer me deixava chegar perto. Os anos se passaram

e em uma noite de vadiagem com o seu pai, conhecemos Ava.

Meus olhos se fixam em Giovanni, ainda mais quando ele cita o


nome da minha mãe.

Ele se afasta um pouco.

— Ela foi um sonho desde que coloquei os olhos nela. — Abre


um meio-sorriso. — Mas é claro que John saiu na frente, ainda mais com o

apoio do pai desse moleque aí. John era o favorito, sempre foi — Giovanni

fecha o semblante. — Mas eu não desisti. John se casou com Ava, ela

sequer imaginava quem ele era... Ele queria mantê-la fora disto tudo, assim
como tentou com você. Mas ele falhou... — Giovanni sorri. — Ele a

deixava sozinha por longos períodos, períodos que usei para me aproximar.

Um amigo, que logo a devorou.


Balanço a cabeça negativamente, não querendo ouvir mais

nenhuma palavra.
As lágrimas começam a descer.
— Ela engravidou de você, Sienna. Mas se John descobrisse

que ela teve um caso comigo, ela seria morta. Então, em uma noite, quando
a gravidez ainda estava no começo, demos um jeito de trazer John de volta
para eles transarem e ele pensar que a criança era dele.
— Chega!
— Quando você nasceu, Ava não conseguia carregar a culpa de
ter traído o marido e então prendeu uma corda no ventilador e tirou a

própria vida. Uma covarde.


— Chega! — grito novamente, tapando os ouvidos. — Não
quero ouvir mais nada!

— Eu sou seu pai, Sienna. Eu sou o seu verdadeiro pai! Bella é


sua meia-irmã.
— Isso é mentira!

Mas eu vejo em seus olhos que está dizendo a verdade e isso,


mais uma vez, rasga-me ao meio.
Ele respira fundo.

— Mary foi só uma vadia que coloquei no caminho de John.


Um meio que eu usei para me passar informações que Eros compartilhava
apenas com ele. Não foi difícil armar a cena da noite de fuga, nem fazer

com que acreditassem que ele estava junto.


— Mas eu nunca acreditei que John estava envolvido — Eros

grita de volta.
— É, eu sei. Talvez eu tenha te subestimado muito, mas é por
isso que dei um jeito no hospital psiquiátrico. A hora de John já deu há
muito tempo e teria sido mais fácil se você o tivesse eliminado naquela
noite.
Balanço a cabeça negativamente mais uma vez.

Meus joelhos cedem.


O vento da noite fria de novembro bate em meus cabelos,

bagunçando-os.
Acho que perdemos a guerra. É o nosso fim.
Giovanni se ajoelha a minha frente e estende a mão.

— Se unir-se a mim, eu prometo que não lhe farei mal algum,


Sienna. Reestabelecemos nossa família do jeito que precisa ser. — Ergo a
cabeça para fitá-lo. Atrás de si, um helicóptero se aproxima. — Estão vindo

me buscar e posso levá-la. Deixaremos tudo isto para trás e você pode
voltar à sua vida antiga se quiser. Ser professora, cuidar de criancinhas.
Basta apenas pegar na minha mão e dizer que aceita.

Sabe quando você está em um beco sem saída, com a difícil


missão de decidir o que quer para a sua vida?
De um lado, eu tenho o homem que mudou a minha vida, com

meios sugestivos, arrancando-me do que eu mais amava fazer, mas mesmo


assim, mostrou-me o que é o amor. Do outro lado, tenho este homem que

está dizendo ser o meu pai, que está me oferecendo a chance de recuperar o
que perdi ao vir para cá.
A questão é que eu nunca perdi nada.
Tudo o que desfrutei, foram momentos que, lá no fundo, eu

sabia que um dia iam acabar, porque quem nasce na Máfia, morre na Máfia.
— Giovanni! — Christian o chama, atraindo a nossa atenção.
E para a minha surpresa, ele está com a arma apontada para o

outro homem traidor, que segura Eros.


— Desculpa, velho. Mas desta vez não vou poder seguir com

você.
E ele atira.
Giovanni se assusta e é o momento em que me levanto e o

acerto com um chute bem no meio do saco.


Ele cai, chorando de dor.
O caos se instala, com tiros que vem do helicóptero, mas não

para nós.
Para eles.
Christian acaba com o outro homem, Eros avança em Giovanni,

luta com ele e eu corro para Carol, abraçando-a e tentando protegê-la.


E é no momento que passo o meu casaco pelo corpo da minha
amiga, que o helicóptero se aproxima mais e eu o vejo, sentado na beirada,

carregando um fuzil enorme e com aquele sorriso que eu sempre amei.


Papai.
Ele acena para mim, mas logo eles se afastam, porque precisam

cuidar dos outros traidores.


Eros bate com tanta força em Giovanni que seus punhos estão
tomados de sangue.

E assim, eles vão se aproximando da beirada.


— Eu disse que ia matar quem colocasse as mãos na minha
mulher — Eros o segura pelo terno e o levanta. — E agora é a sua vez, seu

desgraçado!
Giovanni olha para trás e sorri. Seus dentes vermelhos.

— Vai fazer o quê, garoto? Vai me jogar? Me matar não vai


anular a bagunça que fizemos hoje na cidade. A polícia vai vir atrás de
vocês e o seu reinado vai cair.

— É isso o que vamos ver!


Fraco e sem forças, Giovanni é empurrado do alto da Willys
Tower, fazendo-me respirar corretamente pela primeira vez desde que os vi

se aproximando da beira.
Junto-me à Eros, colocando-me ao seu lado. Tenho medo de
olhar lá para baixo, mas também tenho medo de Giovanni ter conseguido se

segurar em algo, por isso, inclino-me só um pouco.


Pendurado ele não está. Com a altura do edifício não consigo
ver bem, mas ao que parece, ele se partiu em vários pedacinhos em uma das
maiores avenidas de Chicago.
— Acabou, Sienna. Acabou — Eros me puxa para si e me
abraça.

E eu me desfaço em lágrimas.
29

Sienna

— VENCEMOS! — David entra gritando em um dos pubs da

Organização. — VENCEMOS A PORRA TODA!

Os homens que aqui estão reunidos erguem suas pistolas e


comemoram em voz alta. Claro que me junto a eles, extremamente aliviada

de que acabou. Giovanni está morto, os ratos de Nova York se renderam e

acabamos com um por um, sem deixar ninguém para contar a história.
— Vamos precisar arrumar outro lugar para ficar por um tempo.

— Eros acaricia o meu rosto. — Os desgraçados invadiram a casa, o


apartamento. Fizeram uma zona e vai demorar um tempo até recuperar

tudo.

— Não tem problema. — Jogo os braços ao redor de sua cintura

e me aconchego em seus braços. — Tudo o que eu quero é estar com você e

não importa onde.

Eros beija a minha cabeça e me abraça com força.


— Tragam bebidas! — Ele grita. — Temos muito a comemorar!
Então garrafas de bebidas começam a circular entre nós, música
e muita felicidade.

Carol se aproxima e quando nos abraçamos mais uma vez, sei

que ela não está bem. Vou precisar muito tempo para conversar com ela e

ajudá-la a superar este momento traumático.

— Saiba que vou estar ao seu lado, amiga. — Aperto suas

mãos. — O que seu marido fez foi imperdoável, mas ele teve o fim que
mereceu.

Segundo David, que ligou para Eros um pouco antes de

chegarmos aqui, disse que encurralou Phellipe e fuzilou os seus miolos

enquanto ele tentava fugir para o Parque.

— Eu sei, Sienna. Eu... — Ela olha para cima. — Vamos

comemorar, depois falamos sobre os desgostos da vida. Ganhamos a porra

da guerra! Nova York se fodeu bonitinhooooo!


Dou risada da forma como ela consegue levar as coisas na

brincadeira mesmo quando tudo está desmoronando.

Carol é a amiga que eu pedi aos céus.

Em um certo momento, um carro de polícia para em frente do

estabelecimento e Eros vai até eles.

Meu coração afunda, pensando que eles vão levá-lo preso.


— Não fique assim, Eros tem o apoio do Senador. Se esses

imbecis tentarem levá-lo, ele sai em meia hora, apenas com uma ligação. —
David pisca para mim, enquanto mantenho os olhos na janela do pub.

— Se você está dizendo...


Eros troca mais algumas palavras com o homem e eles se
cumprimentam. Ele volta para dentro do Pub e eu vou correndo ao seu

encontro.
— O que eles disseram? Queriam te levar preso?

— Não, querida — Segura o meu rosto com as duas mãos. —


Talvez me processem, mas quando eu disse que ia falar com o Senador

Hopkins, eles mudaram a conversa. Não vai dar em nada, fique tranquila.
Abraço-o novamente.
Não quero pensar em perdê-lo jamais.

E é nesse momento que a porta do pub se abre e meu pai entra.


Está sujo de sangue, soado, mas ele é o único homem por quem eu troco o

abraço de Eros pelo dele.


— Pai!!! — Nossos corpos colidem, deixo as lágrimas caírem

com força. — Achei que estava morto.


— Não, querida. Seu velho é forte. Não morre assim, tão fácil.
— Abraça-me com força. — Estou de volta.
Seguro seu rosto entre as mãos e pressiono minha boca em suas

bochechas.
— Nunca mais ficaremos longe um do outro.

— Nunca mais.
Papai se aproxima de Eros e dos outros homens.

— Obrigado, John — Eros dá um passo à frente e estende a


mão. — Espero que um dia possa me perdoar pelo que fiz.
Papai olha para a mão estendida de Eros por alguns segundos,

então respira fundo e encaixa a sua na dele.


— Já está perdoado. Se não fosse as suas ordens de me mandar

soltar naquela tarde, depois que vocês saíram de lá, eu estaria morto a essa
hora.
Olho para Eros e meu coração se inflama com ternura.

Mesmo com a briga que tivemos, ele ainda teve a compaixão de


soltar o meu pai.

Papai se infiltra no meio dos outros homens que lhe dão as


boas-vindas novamente e eu me aproximo do meu noivo.

— Mandou soltar meu pai depois da briga que tivemos no


carro?
— Sim. — Ele apoia as mãos na cintura, parece sem graça.

— Por quê?
Seus olhos pousam em meu rosto.
— Porque eu te amo, Sienna. Porque me doeu ver em seus olhos
a tristeza quando viu onde seu pai estava. — Ele aproxima os lábios da

minha orelha e diz: — Sabe aquela presença que você disse que sentia
algumas vezes, quando estava em perigo?

Assinto.
— Pois é, enquanto eu estava no escritório remoendo a raiva,
ela me deu um susto do caralho e me disse para soltar John ou eu seria

assombrado para o resto da vida.


Não consigo segurar a risada, mas ele não está rindo.

— Está falando sério?


— Pode acreditar que sim.

As conversas param quando a porta do pub se abre novamente e


Christian entra, temeroso.
— E por que esse filho da puta está aqui? — David saca a

pistola em cima da mesa e já parte para cima, mas Eros estende o braço,
parando-o.

— Qual é, Eros? — David reclama. — Eu mesmo quero dar um


tiro na cabeça desse traidor.
— Não vai dar tiro em ninguém, porra — Eros o repreende. —

Christian, aproxime-se.
Não sei o que pensar sobre este homem.
Ele traiu duas vezes.
A nós e aos Nova Iorquinos.

— Eu sei que acham que sou um traidor — diz, olhando para


cada um de nós. — Mas eu posso explicar.

— Então desembucha logo, antes de eu dar um tiro na sua cara,


filho da puta — David cospe.
— Quer dizer, Eros pode explicar. Nada melhor que o arquiteto

deste plano interceder a meu favor.

Desvio para meu noivo, sem entender o que ele acabou de dizer.
Não só eu, mas todo mundo está confuso agora.

Eros respira fundo e diz:

— Há alguns meses, Christian veio até o meu escritório me

dizer que o haviam convidado para se juntar aos Nova Iorquinos em um


plano de derrubar o meu império. — Seus olhos se mantêm presos ao rosto

de Christian. — Achei uma coragem absurda de um soldado vir me dizer

isso, sabendo que eu poderia não acreditar. Então eu disse a Christian que
ele ia entrar na rebelião, ia fazer o que eles o mandassem fazer.

O pub está em completo silêncio, todo mundo, provavelmente,

em choque com essa revelação.


— Giovanni nunca se revelou ser o cabeça do plano e era por

isso que Christian estava lá dentro, tentando descobrir para mim quem era o
traidor. — Eros olha para o meu pai. — Foi ele que descobriu a traição de

Mary e me disse que você era inocente.

Caramba.
Eros olha para mim.

— O seu ataque na festa de Halloween não foi por acaso, eu já

sabia que ia acontecer.

— O quê??? E deixou acontecer????


— Eu precisava, Sienna. — Ele coça a cabeça. — Tinha

esperanças que naquela noite o verdadeiro traidor se mostrasse.

Ok, por essa eu não esperava e isso me deixa muito furiosa.


Eu podia ter morrido!

— Ele raspou a faca no meu braço, porra!

— Desculpa, Sienna. É que... você é forte. Não facilitou as


coisas. — Christian diz.

— E o que você ia fazer comigo???

— Eu ia te deixar desacordada e ia tirar uma foto para eles,

dizendo que você estava morta.


— E nós sumiríamos com você por um tempo — Eros

completa. — Mas o plano mudou.


Cruzo os braços, estou perplexa.

— E a serpente???

— Bem, isso com certeza foi Giovanni. — Christian diz. —


Acho que quando percebeu que você estava bem e o plano tinha ido por

água a baixo.

Ficamos em silêncio por muito tempo.

A verdade é que eu fui um peão a todo momento dentro desta


história.

Por um lado sinto raiva.

Por outro, sinto alívio por ter dado certo.


— Eu nunca a deixaria morrer, Sienna. Não era só a minha vida

que estava em jogo, a de todos aqui estava, inclusive a sua e de seu pai —

Eros diz, olhando-me nos olhos. — Apesar de tudo ter sido um plano, o que

eu disse sobre eu estar apaixonado por você, é a mais pura verdade.


Respiro fundo.

— Preciso de tempo. Preciso pensar em tudo isso.

Começo a sentir um mal-estar, uma espécie de tontura e enjoo


que quase me fazem desmaiar. Eles vêm para cima de mim, mas eu grito,

parando-os antes que se aproximem mais.

— Tirem as mãos de mim. — Afasto-me de todos. — David,

pode me levar daqui?


David assente.

— Claro, vamos. — Ele olha feio para Eros. — Depois vamos


conversar, seu otário.

Não quero ouvir mais nada, só quero um pouco de paz.

E esquecer que o dia de hoje existiu em minha vida.

Faz alguns dias que estou na casa de Carol, assimilando tudo o


que aconteceu, lidando a situação e também ajudando-a a superar o trauma

de ter sido caçada pelo próprio marido.

Tem algumas coisas que preciso resolver hoje e é por isso que,
depois de pegar o carro da minha amiga, a minha primeira parada é a casa

onde cresci.

Parece estranho vê-la depois de tantos anos, mas a verdade é

que ela não mudou em nada. Continua sendo uma casinha imponente de
dois andares, com um jardim na frente e nenhum outro tipo de atributo que

a faça valer mais do que já valeu no passado.

Atravesso o caminho de pedras do jardim e paro em frente a


porta. Ergo a mão e dou duas batidinhas.

Papai a abre.
Sorri.

— Que bom que está aqui, filha. — Abre mais a porta. — Estou

no meio da bagunça mudando algumas coisas aqui, mas pode entrar. A casa

é sua.
Abraço-o e entro devagar, como se um filme passasse pela

minha cabeça.

Tantas lembranças...
Olho para trás e consigo me lembrar das vezes que as crianças

vinham me chamar para ir pedir doces no Halloween e quase sempre era

Eros que nos acompanhava, mesmo com todo a má vontade do mundo.

Olho para a escadaria e quase consigo ver Mary com seu


vestido branco descendo apressada, dizendo que estou atrasada para o

colégio.

— Muitas lembranças? — papai pergunta.


— Sim, muitas.

Ele vai na frente.

— Está jogando os móveis fora? — pergunto ao ver que metade

do que havia na sala de estar já não está mais.


— Alguns que estavam velhos, sim. — Bate as mãos uma na

outra, livrando-se da poeira. — Mas eu quero esvaziar esta casa. Vou

vendê-la.
Sustento seu olhar por vários instantes.

— Você vai ficar chateada?


— Não, claro que não. A casa é sua, pai. Tem o direito de fazer

o que quiser com ela.

Ele suspira.

— Quero enterrar a memória de Mary e da sua mãe que


morreram aqui. Sobre Mary, eu deveria ter ouvido ao Antonio quando me

disse que ela era furada.

— Você a amava, pai. — Aproximo-me, segurando seus braços.


— Mesmo que ela não tenha merecido, você fez a sua parte.

Ele assente.

— Vamos falar de coisas boas. O que a trouxe aqui? Já fez as


pazes com Eros?

Cruzo os braços.

— Não. Bem, não ainda. Vou procurá-lo, mais tarde. Só preciso

resolver umas coisas antes.


— Ah, sim. Que bom. Ontem ele estava no bar, bebendo e

choramingando que você nunca mais vai querê-lo.

Solto uma risada.


— Eros é exagerado.
— Ele é — papai concorda. — Mas eu já o avisei, que se fizer
isso novamente, vou lhe meter um tiro no meio da cabeça.

— Não vai se preciso, papai. Ele estava perdido, mas agora eu

cheguei e vou ajudá-lo, vou fazer o que é preciso para manter as coisas no
lugar, como devem ser.

Papai me olha com seriedade.

— E sua vida em Nova Orleans? Vai abrir mão?


— Eu posso ter uma vida aqui também.

— Tem certeza, filha? Eu a queria longe disto tudo.

— Pai. Giovanni me disse umas coisas antes de morrer e eu

acho que precisamos conversar sobre isso.


Papai fecha os olhos e respira fundo.

— Não dê ouvidos, Sienna.

— Você sabia?
Ele os abre e me encara.

— Sobre você ser filha dele? Bem, eu suspeitava, mas nunca foi
confirmado, sua mãe morreu antes de dizer a verdade.
Fico em silêncio, porque não sei o que dizer.

— Você quer ser filha dele?


— Claro que não.
Papai se aproxima e coloca as mãos em meus ombros.
— Então é isso, você é a minha filha e nada mais importa. O
passado que fique no passado.
— E Bella? Eu acho que ela sabe.

— Se quiser tratar aquela garota como sua irmã, fique à


vontade, mas... você realmente quer ser irmã de uma garota mimada que
sempre tentou de tudo para vê-la na pior?

Balanço a cabeça negativamente.


— Então já sabe o que penso sobre isso. Mas a escolha sempre é
sua, Sienna. E eu vou estar aqui ao seu lado, em todo o momento.

Jogo os braços ao redor de seu pescoço e deixo as lágrimas


caírem.
— Você, John Coleman, é o meu pai. E é só isso o que me

importa.
Nos abraçamos por muito tempo.
Choramos também.

E quando sinto que é a hora de ir embora, afasto-me dele e digo:


— Pai, só tem mais uma coisa que preciso confessar a você. —

Ele me olha atento. — Quando eu tinha seis anos, coloquei um monte de


remédios dentro da bebida da Mary. Eu quase a matei.
Espero que ele fique chocado, que me amaldiçoe, mas tudo o

que recebo de volta é uma risada profunda e gostosa.


— Que pena que não deu certo, teria nos poupado toda essa
merda.
30

Sienna

Ouço o som das vozes e risadas contidas enquanto me

aproximo.

Talvez não tenha sido uma boa ideia vir até aqui. Talvez eu
devesse simplesmente ter deixado para lá, como papai me disse para fazer.

O problema é que preciso colocar um ponto final nisto.

Giro a maçaneta da porta e entro de uma só vez. Os olhares vêm


direto a mim, carregado com a surpresa de ambos.

— Sienna. — Eros fica em pé no mesmo instante. — O que está


fazendo aqui?

— Eu...

Meu olhar vai para a mulher deitada na cama, que apenas me

observa, sem dizer uma palavra sequer.

— Posso falar com você, Bella?

Ela olha para Eros e diz:


— Saia daqui, a princesa quer falar com a bruxa má.
Ele vacila, talvez com medo de deixar-nos sozinha e algo pior
acontecer.

— Não vou matar a sua amiga, se é com isso que está

preocupado.

Eros passa por mim sem dizer uma palavra sequer, mas quando

está prestes a sair pela porta, diz:

— Vou esperá-la, Sienna.


Um claro aviso de “daqui você não vai sair sozinha”.

Espero ele fechar a porta e me aproximo da cama de hospital,

onde Bella passou os últimos dias lutando para se manter viva.

Seu rosto está magro, pálido. Seus cabelos bagunçados.

E a culpa é minha.

— Bella, eu...

— Veio se desculpar por quase me matar?


— Foi um acidente.

— Que não teria acontecido se você não tivesse bancado a louca

ciumenta — diz. Fico em silêncio, então ela solta uma risada. — Mas eu a

entendo. Em seu lugar, teria feito o mesmo.

Ergo os olhos e encaro os dela.

— Por que sempre me odiou? Por que me atormentou quando


eu ainda era apenas uma criança?
Bella vira o rosto para o outro lado.

— Não quero falar sobre isso.


— Mas eu quero. Eu preciso.

Ela fica em silêncio por bastante tempo e quando penso que não
irá dizer nada, ela abre a boca e diz:
— Eu me lembro quando meu pai conheceu a sua mãe. Minha

mãe apareceu morta logo depois e eu acho que foi ele, porque ele
enlouqueceu e vivia dizendo que um dia ia tê-la. — Ela bufa, vira a cabeça

em minha direção. — Quando ela engravidou, meu pai queria me deixar


morando com uma tia no Arizona para fugir com sua mãe. Só que ela não

quis... — Bella solta uma risada. — Ao que parece, ela tinha se arrependido
de ter aberto as pernas para o meu pai e passou a gestação inteira fazendo o
idiota do seu pai acreditar que você era dele.

Consigo sentir o rancor em cada palavra que sai da boca de


Bella.

— Você era a filha que ele queria, não eu. E eu cresci ouvindo
isso, todos os dias. Aí você nasceu, eu espalhei os boatos que sua mãe era

uma fraca e por isso todo mundo achava que você seria como ela, uma
suicida. — Bella abre um meio-sorriso. — Um dia, ouvi Antonio dizendo à
John que quando crescesse, queria que se casasse com Eros. Você tinha três
anos naquela época. Então, Sienna... O meu ódio por você só cresceu ainda

mais.
Respiro fundo, tento absorver o que ela está dizendo, mas o

rancor ainda é muito forte.


— Você tirou tudo de mim, Sienna e agora não adianta vir pedir

perdão, porque isso nunca lhe darei. Também saiba que não a considero
como minha irmã, para mim você sempre será a garota irritante que eu
poderia ter tirado do meu caminho.

— Você ainda pode tentar.


Ela solta uma risada e um suspiro.

— Agora é tarde demais. Ele está apaixonado por você e tudo o


que eu fizer, o machucará. Não é isso o que quero, Sienna. Eu amo Eros
desde que me conheço por gente e só por isso que eu vou embora, vocês

nunca mais ouvirão falar de mim. Se ele acha que vai ser feliz com você,
que seja, então.

Demoro alguns segundos para dizer algo, mas finalmente digo:


— Obrigada, Bella.

Eu estava disposta a aceitar a amizade deles, por amor à Eros,


que a ama como sua amiga de infância. Já tinha passado os dias pensando
em como seria difícil conviver no mesmo ambiente que ela, sabendo de

tudo o que agora sei.


No entanto, acho que Bella sabe que isso nunca vai dar certo.
Fomos feitas para viver longe uma da outra.
— Não me agradeça. Vá viver a sua vida e ser feliz com o

homem que você conseguiu fazer com que a ame, porque eu... — Lágrimas
preenchem os seus olhos e ela desvia para o lado. — Não posso ficar aqui

sabendo que não vou suportar vê-los felizes, como sei que serão.
De repente as lágrimas escorrem pelo meu rosto.
Quero dizer algo para que ela me perdoe, mas sei que isso

nunca vai acontecer.


Caminho até a porta, giro a maçaneta, mas antes de sair, ainda

digo:
— Me perdoe, Bella. Não pedi para vir ao mundo, não do jeito

que aconteceu. E, certamente, também não pedi para Eros me amar.


Simplesmente aconteceu.
Ela derrama mais lágrimas e eu saio do quarto, sentindo um

alívio na alma e ao mesmo tempo um vazio.


A vida pode ser complicada em níveis que não estamos

preparados.
Eros se aproxima pelo corredor e quando vê o estado em que
estou, puxa-me para os seus braços e ali eu me derramo mais uma vez.
~

Eros me leva até o apartamento dele, que, por incrível que

pareça, já conseguiram deixar em ordem.


Deitamos no sofá e fico em seu peito, em silêncio, por muito

tempo. Acho que não precisamos de palavras, apenas da companhia um do


outro, que, para ser sincera, eu já estava morrendo de saudades.
A tarde começa a cair e o anoitecer vai aparecendo aos

pouquinhos, deixando-nos no escuro.

Eros acabou adormecendo, mas preciso acordá-lo, preciso dele.


Arrasto meu corpo até minha cabeça estar na mesma altura que

a sua. Pressiono meus lábios nos seus e ele abre os olhos de forma lenta e

preguiçosa.

— Isso é um sonho?
— Queria que fosse?

— Se isso for trazer a minha Sienna de volta, quero sim.

Solto uma risada.


— A sua Sienna está de volta. Para nunca mais ir embora.

Os braços de Eros se fecham ao redor da minha cintura e em um

movimento ágil, sou colocada debaixo de seu corpo forte.


— Senti sua falta. Achei que não ia me perdoar. — Seus olhos

estão cheios de arrependimento. — Eu fui um cretino, mas, porra. Não


posso ficar longe de você.

Seguro seu rosto.

— Também não posso e nem quero ficar longe de você.


Eros se aproxima e seus lábios vêm para os meus em um beijo

doce e quente, daqueles que só ele consegue compartilhar de uma forma

que me deixa desejosa por mais.

Em poucos instantes ele abre os botões da minha camisa,


deixando-me apenas com a regata.

E depois, nem com a regata.

Seus lábios percorrem o meu corpo de forma faminta, com


saudade, com tesão.

Sua língua desliza pelos meus mamilos, chupa-os, deixando sua

marca. Ondas percorrem o meu corpo, fazendo-me querer mais. Muito


mais.

Ele se afasta apenas para tirar suas roupas e quando estamos

completamente nus, Eros se deita por cima de mim e pressiona sua boca na

minha, em um beijo quente, possessivo.


Ficamos um tempo apenas nos beijando, provando a boca um

do outro, movendo nossas línguas uma contra a outra. Suas mãos percorrem
o meu corpo, assim como as minhas, que deslizam pelas suas costas e

depois pela bunda que eu adoro.

— Eu te amo, Sienna — Eros diz, entre um beijo e outro. — Te


amo pra caralho.

— Eu também te amo.

Ele mordisca o meu lábios inferior, antes de mergulhar sua

língua em minha boca.


Sinto seu pau pressionando a minha intimidade quente, úmida.

— Não vou conseguir esperar. Estou louco para te foder bem

gostoso, estar dentro de você é o paraíso, Sienna — ele diz, sua testa
encostando na minha. — Mas eu juro que vou te levar até o céu.

— Eu sei que vai. — Apoio as mãos em seu rosto com a barba

rala. — Você sempre me leva.

Eros pressiona meu clitóris com os dedos e céus, nem é preciso


de muito esforço para me deixar pronta para recebê-lo.

Ele se senta no sofá, puxando-me para o seu colo.

— Quero que cavalgue o meu pau do jeito que só você sabe


fazer.

Abro um meio-sorriso e deixo-o levantar o meu quadril,

encaixando seu pau em minha entrada. Ele sobe o quadril de uma só vez e

eu solto um suspiro seguido de um gemido extasiado.


— Ah, Eros!

— Sim, esse o único nome que você vai dizer para o resto da
vida — Eros sobe novamente e eu jogo a cabeça para trás, enlouquecida.

Apoio as mãos em seus ombros e balanço meus quadris para

frente e para trás, deslizando em seu pau. Sentindo-o me preencher em toda


a sua glória.

— Geme, Sienna. Geme bem gostoso.

Ele apoia as mãos na minha bunda e guia o ritmo que deseja.

Nem rápido, nem devagar. Um ritmo só nosso.


Respiro fundo.

Minha boca começa a ficar seca de tantos gemidos que deixo

escapar.
De repente, ele me faz parar e diz:

— Sienna.

Abro os olhos e o encaro confusa. Fiz algo errado?

— Casa comigo?
Vasculho seus olhos em busca de respostas. Ele está mesmo me

perguntando se quero me casar com ele?

— Achei que o casamento já era algo certo.


Ele balança a cabeça negativamente.
— Quero ouvir de sua boca. Quero que diga se deseja se casar

comigo ou não.

Fico perplexa por alguns instantes, ao mesmo tempo

emocionada.
Ele ergue o meu quadril e me faz descer em seu pau novamente

antes de perguntar:

— Sienna Coleman, aceita se casar comigo?


Solto uma risada e aperto seus ombros com os meus dedos.

— Como posso raciocinar com você dentro de mim?

Ele sorri.

— A ideia era essa, não lhe dar tempo de pensar e dizer não.
Eros me faz deslizar em seu pau mais algumas vezes, deixando-

me a beira do precipício.

Desgraçado.
— Sim, eu quero! Eu quero me casar com você. — Olho dentro

de seus olhos. — Eros Lucca Ruggiero, eu quero ser sua para sempre.

Ele sorri, satisfeito.

— Deu certo a minha estratégia, então. — Eros me deita de


costas no sofá, colocando-se por cima de mim. — E agora você vai ter tudo

de mim, meu amor.


Ele esfrega o meu clitóris com os dedos, provocando-me ainda

mais. Entrego-me aos espasmos e gemidos que saem da minha garganta.


— Eu já disse isso, mas porra, Sienna. Eu sou um filho da puta

sortudo.

E então eu vou até o paraíso, mais uma vez.

Suas mãos fortes seguram meus quadris enquanto ele bombeia


para dentro de mim.

Perco a noção do tempo, porque a única coisa que me importa é

este homem deslizando para dentro de mim como se hoje fosse o último dia
de nossas vidas.

O orgasmo não demora, sinto-o percorrendo minhas veias,

deixando-me exausta e satisfeita.


Abraço-o enquanto ele faz suas últimas estocadas e logo sinto o

liquido quente de seu gozo me preenchendo.

Não há palavras para definir o que estamos sentindo.

Nos deitamos nos braços um do outro, respirando fundo,


tentando acalmar nossos corações.

Parece loucura, mas é a nossa vida. E eu amo isto.

— Antes de qualquer coisa — digo, afobada. — Eu quero a


minha cachorra. Onde Hedonê está?

Eros ri.
— Está com Harris, no apartamento dele.
— Hummm. Quero que a traga de volta.

— Claro, amor. Mas hoje eu só quero ficar com você. — Ele

beija o meu rosto.


Meu coração parece explodir de felicidade.

— Quando será o casamento? — pergunto.

— O mais rápido possível. — Ele sorri. — Não vejo a hora de


que seja completamente minha.

— Eu também.

Eros e eu passamos o restante da noite explorando vários

lugares do apartamento, apenas aproveitando o corpo um do outro. Corpos


que nasceram para ficarem juntos, mesmo que isso parecesse impossível no

passado.

Mas hoje eu sei que as coisas podem mudar e tudo bem.


Não nos apaixonamos à primeira vista, mas nos apaixonamos ao

conhecer o que cada um carrega dentro de si. Sombras, marcas do passado,


mas também a vontade única de amar e ser amado.
Eros Lucca Ruggiero é com certeza o único da minha vida e eu

estarei ao seu lado para sempre.


Epílogo

Dois anos depois

Sienna

— Professora? — Ergo os olhos na direção da voz que me


chamou.

— Sim, Harry.

— A senhora disse que íamos estudar sobre os Irmãos Grimm


esse mês, por causa do Halloween. Mas já estamos no final do mês e não

estudamos isso.
— Pois é, mas estudamos os contos de Edgar Alan Poe. Mas

ainda temos alguns dias e podemos ver algumas histórias dos Irmãos

Grimm se vocês quiserem.

A sala explode com adolescentes animados.

Abro um sorriso.

O sinal toca e eles se levantam, pegando suas bolsas e saindo da


sala com a mesma agilidade com que correm para comprar sorvete dos

carrinhos da rua.
— Terminou a aula?
Viro-me para a porta e o encontro, segurando a minha coisa

mais preciosa do mundo nos braços.

— Terminei. Venham aqui.

Eros entra na sala e eu o abraço, depositando um beijo em seus

lábios.

— Vem com a mamãe, Sophia. — Puxo-a para os meus braços e


a beijo no rosto. — Hummm, você está fria. Por que não pegou um casaco

mais grosso, amor?

Eros dá de ombros.

— A culpa é de David. Ele nos apressou a sair de casa e eu tive

que vir com ela desse jeito.

As coisas aconteceram de uma forma muito rápida.

Eros e eu nos casamos no início de dezembro e logo depois eu


descobri que os mal estares que eu tive no mês de novembro eram a minha

gravidez de Sophia.

Foi de repente, mas essa princesa chegou para alegrar a nossa

vida e nos tornar seres humanos melhores.

— Você já vai embora, Sienna? — Carol entra na sala. — Ah,

olá Eros. Ownnn, minha princesinha Sophia! — Ela a pega nos braços. —
David está no carro me apressando, vocês sabem o porquê?
— Mas você já terminou sua aula?

— Já, sim.
Carol começou a dar aulas de francês na escola em que dou

minhas aulas. Isso porque Grace e a primeira dama fizeram questão de nos
incluir nos planos educativos do País.
A verdade é que não sei nem como agradecer.

— Mas o que quero saber é por que ele está com tanta pressa.
— Porque está tendo uma liquidação de fantasias para o

Halloween — a resposta vem da porta, onde David entra. — E, desta vez,


eu quero usar algo bem diferente na sua festa, Carol.

Ela revira os olhos.


— Tipo o quê?
— Um palhaço assassino. Ou algo do tipo.

Todos os anos Carol continua oferecendo suas festas de


Halloween e nós amamos isto.

Eros apoia a mão em minha cintura enquanto nos


encaminhamos até a porta e diz:

— Vai usar uma fantasia de bruxa este ano?


— Hummm, não. Acho que vou fantasiar a Hedonê de Bruxinha
porque desta vez eu quero ir diferente. — Sorrio. — Vou de Arlequina e

você de Coringa.
— E eu vou de Batman. — David abre os braços. — E vou

prender vocês, seu safados.


Carol dá um tapa em seu braço e nós rimos.

— Ah, espera aí, vou trancar a sala. — Entrego Sophia para


Eros e volto para fechar a porta.

Meus olhos percorrem os assentos dos meus alunos.


Solto um suspiro feliz.
As coisas nem sempre foram como eu queria, mas no final das

contas, deu tudo certo e hoje eu tenho tudo o que preciso: Um marido que
me ama, uma filha de quem eu posso cuidar com todo o meu amor, amigos

que não abro mão e a comodidade de poder ensinar quem eu quiser, quando
eu quiser, porque me chamo Sienna Coleman Ruggiero e eu provei que
ninguém pode me deter.
Recadinho da Autora

Olá! Se você chegou até o final, MUITO OBRIGADA!

Se quiser conhecer outros livros meus, entre neste link:


https://amz.run/6tck

Não deixe de avaliar o livro, isso é muito importante para o nosso

trabalho. Mais uma vez: MUITO OBRIGADA!


Agradecimentos

São muitas pessoas que preciso agradecer aqui, mas em primeiro

lugar: a Deus, que é o meu amor maior. Quem me dá forças nos momentos
de tristeza e desânimo. Depois, às minhas leitoras que gostam e apoiam o

meu trabalho. Às meninas do Bonde! Vocês são demais! Eu amo todas. Aos

meus pais e, principalmente ao meu marido, que não mede esforços para me
ver feliz.

Muito obrigada!
Sobre a autora

Nascida e criada em Jacareí, interior do Estado de São Paulo, Olívia


é casada e mamãe de um gato laranja. Desde criança sempre foi apaixonada
por livros, gastando horas dentro da biblioteca da escola. Aos quinze anos

começou a escrever fanfics que conquistaram leitoras em sites como Nyah!

Fanfiction. Sempre gostou de criar personagens femininas fortes, que apesar

de seus conflitos interiores, lutam pelos seus sonhos. Acredita que os livros

transformam as pessoas.

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[1]
Dean Winchester é um personagem fictício, um dos dois protagonistas da série de televisão de
fantasia sombria e urbana estadunidense Supernatural, criada por Eric Kripke. Wikipédia

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