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Vamos deixar claro que não compactuo com nenhuma das atitudes
ilegais dos personagens. Não sou favorável a nenhuma perversidade,
maldade, brutalidade ou covardia. Este é um livro de ficção baseado em
estudos sobre a máfia italiana e usando o bom senso da licença poética,
minha criatividade, para criar os cenários e acontecimentos. Não tentem
abolir nenhuma atrocidade aqui para o romântico ou “defensável”. É um
livro. Na vida real é errado.
É sobre a MÁFIA sim! USO O PLANO DE FUNDO DA MÁFIA
ITALIANA DE FORMA TÉCNICA e ESTRATÉGICA ÀS VEZES, MAS É
UM ROMANCE! Temos as maldades, tretas, regras e tradições, porém o
forte é o nosso mocinho (anti-herói) se apaixonar pela mocinha (guerreira), e
vice-versa.
Baseado na licença poética e em pesquisas.
Esse glossário é tanto para vocês como para mim. Vamos ter essa base em todos os
meus livros de máfia.
Máfia Mexicana: Após uma longa pesquisa não encontrei nada, então
vou usar minha licença poética: Hechos.
Travis Lozartan é o mais novo Capo da máfia da Costa Leste dos Estados
Unidos, herdando o cargo de seu pai. Com a fama de “O Cruel”. Mau, impiedoso, frio
e calculista, não mede esforços para derramar sangue de seus inimigos e defender a
Lawless. Desde muito novo sabia que seria o próximo a liderar Nevada e os negócios;
e, quando seu pai morreu, ele ganhou poderes e inimigos. Porém, não esperava ter que
honrar um acordo de anos atrás, que salvou a todos.
Madeleine Beluzzo também foi nascida nesse mundo cruel e insano, mas
quando seu pai, um policial “duvidoso”, decide fazer um acordo com a máfia rival, é
introduzida no lado ainda mais obscuro e perigoso, tornando sua vida um terror;
quando ela começou a atrapalhar os negócios com suas opiniões, foi mandada para
longe. Agora está de volta e terá que se aprofundar nesse caos e na vida do homem
que a dominará muito além do que era o acordo.
Madeleine Beluzzo lutou o quanto pôde para não se render à encantadora e
magnética beleza e poder do Capo da Lawless, mas em vão. Em pouco tempo se viu
rendida e o desejando o tempo todo. Agora, ela assumiu o quanto está dominada por
ele e o quanto de sacrifício será capaz de suportar e fazer para tê-lo em sua vida e ficar
na dele.
Travis Lozartan quer o domínio do seu território, do seu nome, seu poder e da
mulher que escolheu para ser sua esposa. Ele ainda não se deu por vencido de que, na
verdade, ela é muito mais do que quer admitir, porém seus inimigos o farão enxergar
não só que sentimentos o tornam mais forte, como ainda mais perigoso.
Em “Dominado Por Ela” teremos a redenção das crenças de Madeleine e os
sentimentos de Travis. Iremos presenciar o retorno desse casal, agora unidos, focados
e ainda mais fortes.
E, se separados eles faziam todos temerem e se armarem, juntos eles forçarão
todos a ficarem de joelhos e pedirem arrego.
Travis e Madeleine Lozartan lutaram bastante para chegarem ao ponto de
dizerem que são feliz, porém alguns duvidam que seu chefe, que tinha fama de cruel e
impiedoso, ainda seja o mesmo depois de casar e fazer sacrifícios para sua família,
esposa e filhos, pois Travis sempre fora dedicado aos seus irmãos. Nesse conto forte e
impactante, Madeleine vai definitivamente mostrar a grande mulher que é e o quão
bem foi decisão de ser a esposa do chefe da Máfia Lawless, e Travis irá mostrar que
monstros caminham sob a superfície mesmo que se apaixone e seja devoto a sua
família. Que seu coração é separado das decisões de ser um Capo.
Essa coletânea contém as partes novas que estão dentro do livro
DOMINADOS. Se você não leu os livros DOMINADA POR ELE e DOMINADO
POR ELA, é PRECISO LÊ-LOS!
Nesse livro contém:
Dominada Por Ele + Dominado Por Ela + A Noveleta: Contos da Mafia.
Sobre os outros livros da série, eles são do Chefe da máfia Lawless, que
Paolo é o conselheiro. Seria legal ler, serie apaixonante, mas não quero
pressionar ninguém. É importante, mas não obrigatório.
E o motivo de colocar o livro um dentro do livro 2, foi devido a demora pra
lançar a continuação.
Paolo Dal Moli nasceu para ser grande. Um homem importante e estar à
margem de uma das organizações criminosas mais temida e conhecida da máfia ítalo-
americana. Ele sempre soube que teria que ser tão cruel quanto seu Capo para ser seu
conselheiro. Sabia que teria que se comprometer perante a Famiglia e suas regras.
Seu primeiro casamento foi tático, planejado para se estabelecer em um
mundo regado de tradições. Era apenas para ter uma esposa, dividir sua cama e ter um
herdeiro algum dia. Mas Mia foi a esposa perfeita para ele. O entendia como ninguém,
apesar da grande frustração em engravidar. No entanto, os acontecimentos se tornaram
sombrios novamente por conta da guerra com a máfia rival russa, a Bratva.
Recém-viúvo, revoltado e com um bebê recém-nascido, ele precisa
novamente arrumar uma companheira e uma mãe para a sua filha e para estar na sua
cama.
Nina Gatti cresceu ciente de que seria dada em casamento por funções
táticas. Filha do subchefe de Seattle, ela era a moeda de troca quando seu pai
precisasse ou o chefe dele. Então ela não foi pega de surpresa ao saber do noivado.
Não até descobrir quem era seu noivo. Um homem quase o dobro da sua idade e que,
em sua futura casa, já teria uma grande responsabilidade esperando por ela. A pequena
e órfã Sophia.
Tudo muito rápido.
Tudo mundo sombrio.
As vidas de Paolo e Nina se colidem e o destino dos dois está traçado.
Ele quer apenas cumprir com seu dever, mas Nina quer mais para a sua vida.
Prólogo
A ssisti de longe Mia se despedir, pela quinta vez, de Sophia, que ficara
com meus pais para que nós pudéssemos ir ao casamento do Capo.
Ela estava relutante em deixar nossa filha. Tive que insistir muito para ela
aceitar.
— Ah, minha filha. Não chora — minha esposa disse para a nossa
menina, que parecia entender que a mãe ia sair. — Não vou demorar.
A bebê de duas semanas estava inconsolável e eu poderia falar para
Mia não ir. Ela iria apenas me fazer companhia, não era obrigação dela ir ou
minha de levar minha esposa. O Capo não ligaria e eu pouco me fodia para as
tradições. Ela tinha acabado de dar à luz, caralho.
Eu estava ficando nervoso com Sophia chorando. Dentro de mim,
senti uma forte vontade de dizer para Mia desistir e de jogar todo o meu
esforço para convencê-la de ir junto comigo para o ralo. Mas eu a conhecia
muito bem e sabia que não adiava mais eu falar para ficar em casa.
Fora que prometi que seria rápido. Ela só iria participar da cerimônia
religiosa e voltar para casa em seguida. E olhando bem o seu vestido delicado
rosa, que escolheu com tanto entusiasmo e carinho, não queria pedir para ela
desistir. Mia quase nunca saía, independente da gravidez e o pós-parto.
Queria que ela fosse desde o início, pois vira seus olhos brilharem com a
realização de participar de um evento. A última vez que saiu foi para a
cerimônia de Travis como Capo e na festa comemorativa do Bellagio, ela não
estava se sentindo bem e, com a gravidez no início, optei para deixá-la segura
em casa.
— Minha filha, a mamãe já vai voltar. — Beijou a cabeça com
poucos cabelinhos loiros de Sophia. — Não vou demorar. Meu Deus, ela não
para de chorar.
Minha mãe meneou a cabeça, mas não disse nada. Ela não estava
muito satisfeita em ter que cuidar de um bebê de duas semanas por no
máximo duas horas. Merda. Se algumas pessoas são perversas e ruins,
culpem os pais. Os filhos sempre carregam traços dos pais. No meu caso,
ninguém poderia me acusar de ter o temperamento igual ao dos meus pais.
Meus pais eram pessoas muito frias e nem um pouco prestativos,
principalmente quando não iriam ganhar nada com isso. Cuidar da minha
filha na cabeça deles era “não ganhar nada”. E minha mãe adoraria ir ao
casamento do Capo. Sempre pensando nos status da Famiglia.
— Acha que ela vai se acalmar? — Mia, inocentemente, perguntou a
minha mãe.
— Eu não sei, querida, mas acho ainda que você precisa se apressar.
Daqui a pouco, você estará de volta.
Minha esposa fez uma careta de lamentação e assentiu.
— Vão. Vocês já estão atrasados.
Revirei os olhos e enfiei as mãos nos bolsos tentando não expressar o
quanto minha mãe me irritava. Já sabia que estávamos atrasados e iríamos
chegar com Madeleine entrando na igreja e não me importava. Eu não era o
caralho do noivo.
— Vamos, Mia — disse me aproximando e colocando a mão na
altura da sua lombar.
Ela suspirou, deu um último beijo na testa da nossa filha e foi comigo
para fora de casa. Fiz um sinal para Gregori e ele entrou no carro, já ligando o
motor.
— Ela vai se acalmar, não fique preocupada — falei assim que nos
ajeitamos na traseira do Bentley.
— Eu sei. — Virou o rosto para mim e sorriu.
Um sorriso que não consegui identificar o porquê e estranhamente
fiquei incomodado.
Piscando, peguei sua mão e entrelacei nossos dedos, focando minha
atenção na cabeça loira de Gregori.
O casamento ocorreu como esperado e foi rápido e bonito. Mia ficou
emocionada por várias vezes, os hormônios da gravidez ainda estavam
presentes e deixando-a muito sensível a tudo. Dei um olhar para Vincenzo e o
vi sair primeiro da igreja com seu Consigliere. Ele parecia satisfeito e Giulia
também, o que era esperado. Embora Travis tenha jogado fora muitas
tradições, na cerimônia ele respeitou todas elas.
— Te vejo lá fora — falei para Mia.
— Tudo bem. Eu vou acompanhar os noivos.
— Eu fico com ela — Marinne falou aparecendo ao lado de Mia e
deu o braço a minha esposa.
Assenti satisfeito.
Marinne era uma das únicas pessoas que conheci ao longo da minha
vida, que conseguia extrair bons sentimentos de mim. Ela era a caçula dos
Lozartan e sendo criada por Travis, que assumiu a irmã como sua
responsabilidade antes mesmo de saber quem era, tinha uma elegância e
educação que queria para a minha filha.
Virei as costas e saí da igreja junto com todos que estavam se
dirigindo ao salão de festas, que seria no Bellagio. Do lado de fora
acompanhei todos sumirem e poucos ficarem para ver Travis e Madeleine
sair, que não se dirigiram para as escadas. Primeiro eles tiraram umas fotos.
Mexi no celular para falar com Enzo, do outro lado das escadas,
quando ouvi um grito:
— Corre!
Virei-me na direção que a mulher olhara apavorada, com minha mão
na arma dentro do paletó. Vi carros parando no final da escada e movimentos
de homens vestidos de preto com a merda de uma faixa roxa no braço
esquerdo da Bratva.
Eles saíram com fuzis, metralhadoras pistolas para fora. Amaldiçoei
tudo que podia e logo percebi que não era capaz de evitar o ataque.
Os tiros começaram e tentei proteger todos por perto e procurei Mia
entre os convidados apavorados e correndo para todo lado.
Sem garantia de nada, corri para tentar evitar mais danos do que
aconteceria. Era inevitável naquele momento não acontecer feridos e mortos.
Puta que pariu!
Porra! Eu deveria saber que eles iriam atacar quando nós menos
esperássemos. Embora eu tivesse falado para Travis que existia uma
possibilidade de eles usarem o casamento e, à vista do público, para um
escândalo. Eu não precisei saber quem mandou eles. Tinha as roupas dos
malditos russos e um dos soldados de Ivon Avilov.
Ordenei que atacassem rapidamente, e os soldados se colocaram em
movimento. Como já tinha presumido, falado com o Capo, existia um traidor
entre nós e claro que tinha sido ele que entregou o casamento. Esperou um
momento que só restasse Travis e sua família.
Merda! Ainda bem que os membros das outras Famiglie já tinham ido
e seu avô com seu Consigliere. Algo martelou minha cabeça e era pelo
código de honra, que só iria poder fazer algum tipo de acusação quando
tivesse provas.
Correndo e atirando nos filhos da puta russos, dei graças a Deus que
minha filha ficou com os meus pais.
Os tiros cessaram e os russos fugiram quando Gregori comandou os
homens da Lawless a irem atrás deles.
— Fiquem atentos! — ordenei e corri escada acima.
Vi Travis bem e perto dos irmãos, agachados para não serem
atingidos, mas Luigi logo falou para eles correrem para os fundos da igreja.
Os soldados iam cada um para o seu canto, protegendo a família do
Capo e Luca ficara atrás de mim. Fui direto para a minha esposa. Ela estava
em frente à Madeleine, segurando o buquê e falando com Marinne.
— Querida — chamei-a nervoso.
Mia não deveria estar de pé no meio dessa loucura, desamparada.
Lentamente Mia se virou para mim e meu mundo desabou quando vi
uma mancha vermelha no meio do seu peito, que se alastrava e manchava o
seu vestido rosa claro cada vez mais.
— Paolo. — Ela sorriu e então caiu no chão.
Nada mais me importava naquele momento.
Fui até ela imediatamente na tentativa de deter que batesse a cabeça.
— Mia! Olha para mim — pedi e me senti desesperado como nunca
me senti na minha vida.
Ela abriu os olhos claros que tanto adorava. Me fitou e senti
profundamente que estava a perdendo. E como nunca senti na minha vida,
percebi meus olhos queimarem e arderem com a presença da dor que me
dilacerava de dentro para fora.
— Mia, olha para mim. Você vai ficar bem — menti porque eu
mesmo não acreditava. Não podia aceitar perdê-la.
— Paolo... está tudo bem? Se machucou?
Não respondi. Nada me interessava naquele momento.
Assisti minha esposa levantar a mão e tocar meu rosto tão
gentilmente. Ela sempre foi gentil. A única luz de alegria e pureza na minha
vida. As lágrimas escorreram pelos cantos do seu lindo rosto e, quando ela
pronunciou outra palavra, tossiu. Ela tossiu a porra do sangue.
Merda!
— Eu sempre... — pausou pegando fôlego. — Eu sempre soube que
você me amava.
Concordei com a cabeça, mas não disse nada. Ela derramou mais
algumas lágrimas, mesmo com um sorriso doce nos lábios. O maldito sorriso
do carro, que me atormentou.
— Eu também te amo — sussurrou bem baixinho. — Eu sempre vou
te amar.
— Mia, por favor. Fica quieta.
— Você precisa... — Fez outra pausa, tossindo. — Você precisa
cuidar da Sophia. — Em seus olhos havia apenas dor e saudades. — Ela
precisa de você forte... cruel e protetor. Eu confio em você para cuidar da
nossa menininha.
— Por favor — pedi baixo.
Ela sorriu um pouco grogue. Perdendo a cor e o brilho que era só
dela.
— Você precisa encontrar uma mãe para ela — os lábios tremiam —
e eu quero que você... seja feliz.
— Eu nunca mais vou ser. Sem você não.
Ela fechou os olhos, apertando-os com força e vi em seu rosto um
misto de tristeza e dor. Talvez saudades. E, quando ela voltou a fazê-los
encontrarem com os meus, eu me preparei para a ruína da minha vida: a
despedida.
— Obrigada... pela vida... que você me deu. Pela nossa filha. —
Tentei sorrir. — Diz para ela... — Tossiu e engoliu em seco. — Diz para a
Soph... que eu a amava. Que ela foi o presente mais incrível que eu ganhei.
Eu... adoraria viver... até ela ficar mocinha... Linda com os lindos olhos do
pai dela. Esses olhos cinzas que eu amo. Eu te amo! — Havia um desespero
no fim da sua frase.
— Eu também. Por favor... Mia, por favor. Fica comigo. — Eu estava
implorando.
Ela abriu um sorriso tão doce, que me jogou direto no limbo. A minha
doce redenção tinha partido para sempre. Se foi.
Com um último suspiro, ela tocou meu peito e descansou. A mão foi
escorregando em mim até bater em seu peito sangrento.
Fechei os olhos controlando o grito que estava no meio da minha
garganta. A sanidade mortal que sempre fez parte de mim, precisava estar
viva.
Eu a abracei beijando sua testa. Ela foi a única que conseguiu, que
tivera alguma parte boa de mim. Isso sempre pertenceria a ela. Sempre a ela.
Os passos atrás de mim me colocaram em alerta e vi Luca. Encontrei
seus olhos e enxerguei a maldita piedade. Sem falar nada, peguei minha
esposa nos braços e a levei para dentro da igreja.
Parei aos pés do altar, onde ela jurou sua lealdade, fidelidade e seu
corpo dez anos atrás. Eu não sabia na época que ela seria tanto para mim.
Ajoelhei-me, deitando seu corpo no chão frio do mármore e fechei os olhos.
— Ciao, mia bella![2] — E como não aguentava mais, gritei
abafando minha voz no seu pescoço. — Mia!
Só parei quando senti a dor diminuir e minha voz falhar.
Afastei o corpo de Mia dos meus braços e, quando respirei fundo,
olhando para a frente, percebi que o padre estava me encarando. Em seus
olhos havia lamentação e pena.
Eu também sentia pena. Todos sempre falavam e tinham uma
pressuposição de quem eu era. Um homem frio, sem sentimentos, mas eles
não sabiam da verdade, que eu reservara a única parte humana que tinha para
a única pessoa que merecia. Eu sentia pena. Pena do dono da mão que puxou
o gatilho que matou a minha mulher.
Eu o encontraria.
— Os anjos têm um lugar reservado no céu — o padre comentou.
Concordei com um aceno de cabeça e me coloquei de pé. Ele sabia
quem nós éramos, o que fazíamos e que as mulheres geralmente eram usadas.
Algumas uma válvula de escape para as horas pesadas do nosso mundo. Para
ele, a morte da minha esposa fora um alívio. Fora a forma de Deus encontrar
sua absolvição da vida de sombras que ela tinha ao meu lado. Mas Mia nunca
sofreu.
Eu sempre a tratei com respeito, antes mesmo de me apaixonar por
ela. Eu nunca abusei de mulheres, nenhuma.
E sempre cuidei e protegi Mia, até aquele maldito dia. Eu falhei
miseravelmente assim como lhe confessar que a amava antes de me despedir.
Eu nunca tive coragem de dizer que ela era a única parte boa da minha vida.
Que eu não conseguia quebrá-la, porque sua luz era forte demais. Se fosse
possível um ser como eu ter algo do tipo, ela que me curou.
— Talvez o senhor tem razão em suas palavras. Mas um homem
como eu, não vai para o céu. Então, assim como no céu e na terra, anjos e
demônios não deveriam conviver no mesmo lar.
— Às vezes, é necessário um pouco de bondade onde só há trevas.
Não se sinta como se não merecesse a felicidade.
— Minha esposa não era minha felicidade, ela era minha redenção.
Ela era tudo que me restava de bom. — Mordi o maxilar com ódio. — Eu
tinha reservado para ela a única parte humana dentro de mim.
— E agora que ela morreu... — Ele deixou no ar o fim da frase.
Olhei para o corpo dela e disse, com meu corpo todo trêmulo pelo
furor:
— Quando eu me casei, ela foi o meu começo. O começo da minha
redenção. Com a sua morte — encarei o padre — é o fim. Talvez eu me
segure pela minha filha, mas de resto não tenho mais o porquê de lutar contra
minha fúria brutal e cega, que sempre foi meu verdadeiro eu. Hoje marca o
fim do jogo. Xeque-mate.
4
Esfreguei meus olhos com uma puta dor na nuca que, mesmo
recorrendo a um comprimido de dor que minha mãe arrumou, nada adiantou.
Eu sentia como se tivesse um caminhão de chumbo em minhas costas.
Ajeitando meu paletó, peguei um cigarro no maço no bolso da frente, já o
guardando para não perder, e acendi.
— Nunca vi você fumar tanto como agora.
A voz de Colen veio do fundo da sala da capela. Virei-me e
acompanhei ele caminhar até a mim com passos marcados. Tinha um ar
pesado em seus olhos. Ficando cara a cara comigo, apertou minha mão com
firmeza. Não teve sentimentalismo, mas entendi que ele estava me dando
seus pêsames, que não fez anteontem. Eu fugi de todos desde que saí da
igreja e deixei Gregori cuidar do corpo de Mia. Vi Travis e Enzo por algumas
horas para podermos começar o plano de retaliação, mas, fora isso, não
mantive contato com ninguém. Ainda nem entrei em casa.
— Pode contar comigo — Colen disse soltando minha mão e dando
um passo para trás. — Eu vou fazer questão de honrar sua esposa no que
você precisar de mim.
Assenti e deixei que ele saísse. Colen era pavio curto quando estava
nervoso. Diferente de Travis, ele não esperava nem uma palavra sequer para
uma tentativa de defesa. Colen era fatal. Todos os Lozartan não toleravam
mentira. Nascidos e criados por um homem ególatra, eles não gostavam de
ser adulados mais.
Não fiquei muito tempo sozinho. Logo vi uma sombra pelo corredor e
novamente me surpreendi com Madeleine. Ela estava toda de preto, pela
primeira vez desde que a conheci, e neutra. Não consegui ler seu rosto, nem
quando parou na minha frente. Travis apareceu atrás dela logo em seguida.
— Como você está? — ela perguntou.
Franzi a testa e encarei as rosas brancas em suas mãos.
— Como você acha que estou?
— Com raiva — disse e Travis colocou a mão no seu ombro.
— Querida, me deixa a sós com Paolo.
Ela assentiu e baixou a cabeça. Parecia querer falar algo.
— Ela está preocupada com você e sua filha.
Minha filha. Eu nem a vi ainda.
— É evidente. Diz para ela relaxar.
— Isso não vai acontecer, não — falou balançando a cabeça,
incomodado. — Todos nós estamos querendo saber como você está lidando
com isso.
— Todos nós? — repeti numa interrogação.
— Eu sei que você, e todo mundo, acredita que eu sou frio ao ponto
de não sentir a morte de alguém, mas você é meu braço direito e com isso só
vou te perguntar uma coisa. Você chegou em casa? Você, por acaso, dormiu,
Paolo?
— Travis... — Cerrei a mandíbula.
— Não! — ele me interrompeu. — Paolo, responde, merda. Você
dormiu ou bebeu e fumou o dia todo? Porque está na cara que você está
esgotado e não posso ter você assim ao meu lado.
Joguei o cigarro no chão e pisei para terminar de apagar a ponta, e
ergui a cabeça para perguntar:
— O que você quer dizer com isso?
— Você tem uma filha de menos de um mês para cuidar e sozinho.
Não dá para os seus pais, que são velhos, cuidarem dela para sempre.
Quis meter uma bala na cabeça dele e me controlei para não mandá-lo
se foder.
— Eu estou enterrando minha esposa hoje e você está pensando em
arrumar outra mulher para mim, como se fosse a coisa mais simples. —
Respirei profundamente. — Se Madeleine tivesse morrido, você ia arrumar
outra esposa no dia seguinte?
— Se eu tivesse um filho pequeno para cuidar e ninguém para me
ajudar, talvez sim.
Balancei a cabeça e escolhi fitar o teto.
— Eu vou deixar você passar o seu luto — Travis continuou. — No
momento, não temos como focar em nada a não ser na retaliação com a
Bratva, mas pense a longo prazo que vou retornar a esse assunto. Eu não
posso ter você cansado e sem foco ao meu lado.
Minhas entranhas se reviraram e torceram pela cólera. Olhei para o
meu Capo.
— Você quer que eu mostre meu foco?
— Não estou falando de vingança e seu poder de destruir. Não estou
falando de você destruir Ivon Avilov ao meu lado. Você é meu cérebro e a
opção tática. Eu não quero você cansado.
Engoli a saliva com força. Minha garganta estava travada. Eu sentia
um gosto de ferro na boca.
Apesar de sentir uma raiva mortal por ele estar dando aquela ideia no
funeral da minha esposa, sabia que estava certo. Não podia viver na tristeza
acompanhada de cansaço e raiva para sempre. Uma das últimas palavras de
Mia fora encontrar uma mãe para Sophia. E eu iria fazer, porém depois de
matar dolorosamente o desgraçado que matou ela. Ele iria se arrepender de
fazer parte da Bratva, de apertar aquele gatilho.
— Está na hora — minha mãe disse aparecendo no corredor.
Sem dizer mais nada, Travis passou por ela, que baixou a cabeça sem
encontrar seus olhos, e saiu. Eu fui em seguida com minha mãe.
— Ele pediu para você se afastar dos seus serviços por enquanto?
— Não, por que pediria?
— Você acabou de perder sua esposa e tem que cuidar da sua filha.
Merda de gente imprestável!
— Não se preocupe com Sophia. — Parei para ela me olhar. — Marta
pode cuidar dela até eu resolver os assuntos.
Meu pai se juntou a nós quando ela falou:
— Você precisa encontrar outra mulher. Uma mãe para ela, que é
apenas uma bebê. Não pode perder seu posto ao lado do Capo.
— Minha mulher está sendo enterrada hoje, porra! — Abafei meu
grito na garganta fazendo minha voz sair estrangulada, mas minha mãe
entendeu o recado.
Ela se afastou e foi ficar ao lado da minha tia Izolda, outra
inconveniente. Só sabiam fofocar e cuidar da vida dos outros.
— Sua mãe tem razão, Paolo — meu pai falou com a voz baixa. —
Você não pode cuidar dos seus afazeres como Consigliere e da sua filha
pequena. Precisa encontrar alguém e a Famiglia espera de você uma decisão
sensata. Não verão com bons olhos você sozinho com uma filha recém-
nascida e ao lado de Travis. Ele também não vai querer — completou seu
pensamento como se tivesse ouvido o Capo falando comigo há alguns
minutos.
— Não estou me negando — repliquei com um gosto amargo as
palavras. — Mas hoje não quero falar sobre isso e nem é momento para
pensar em um casamento.
— O que quer dizer com isso?
— O foco agora é pegar Ivon e seus aliados.
Meu pai assentiu e apertou meu ombro.
— Você é sensato e tomará a decisão certa quando precisar tomar.
Ainda bem que ele pensava assim, porque estava cansado de todos os
olhares de pena e dúvida em minha volta.
O funeral terminou poucos minutos depois e eu esperei todos jogarem
suas flores no buraco de terra no cemitério para eu fazer o mesmo. Joguei
margaridas brancas e rosas que Mia adorava e me despedi. A vontade de
derramar lágrimas não reapareceu e eu dei as costas assim que o começaram
a jogar a terra em cima do caixão. Dei as costas para uma vida tranquila, que
sempre tive ao lado de uma mulher que merecia muito mais do que teve. Dei
as costas para o meu lado compassivo e me preparei para o que viria à frente.
5
Desde aquele dia não voltei a ver o Capo. Não tem nada acontecendo
comigo, apenas quero ficar sozinho e trabalhando nos meus negócios. Sophia
também toma muito da minha atenção e tempo, mesmo Marta ajudando como
ela consegue. Fiquei sabendo que Travis se encontrou com o Pakhan da
Bratva, que deu sua palavra – como se pudéssemos confiar no que esses
porcos russos falam – que não tinha nada a ver com Ivon. Mas, dessa vez, é
verdade. Todo o conflito foi gerado porque Edgar – pai de Madeleine – era
um caçador de poder.
O importante é que o Pakhan, que reside no Texas não deu sinal de
que está puto com o ataque que a Lawless fez com os homens de Ivon.
Continuamos em conflito de interesse e das drogas, mas sobre aquele assunto,
morreu. E ele disse que os homens e mulheres, que são da Bratva e morram
em Las Vegas, não irão causar problemas. Ainda temos muitos russos entre
nós. Não me agrada, contudo, precisei aceitar a ordem de Travis que alguns
podem frequentar a cidade. Dinheiro nunca é bom negar e ele quer mais que
os miseráveis enterrem seus dólares em nossos cassinos e puteiros.
Voltando minha atenção para Sophia em seu berço com o cachorro de
pelúcia que Madeleine deu quando veio aqui nas muitas vezes para cuidar da
minha filha – ela até amamentou quando descobriu que estava grávida e se
tornou a ama-de-leite de Sophia – fico imaginando como não andou sua
cabeça essas duas semanas. Espero que participar da morte daquele rato não
tenha mudado ela. Seria lamentável vê-la ficar insensível ou fria como os
Homens Feitos.
O filho do Capo deve nascer mês que vem e todos estão vigilantes.
Seu herdeiro é um alvo desde que vazou a gravidez de Madeleine. Algum
linguarudo conseguiu espalhar a notícia até a Sicília. Eu queria encontrar esse
idiota e fazê-lo engolir o caralho do negativo das fotos.
Hoje sinto uma grande necessidade de proteger Madeleine. Ela foi a
única pessoa, sem ser Marta – minha governanta, que se vira para ser babá –
que cuida da minha filha sem pedir nada em troca. Tudo bem que Marinne
vem algumas vezes, mas ela é uma criança. Minha mãe ficou doente e com a
guerra preferiu estar em Reno, em sua casa, a ficar por sua única neta em Las
Vegas. Eu pedi que cuidasse de Sophia pelo menos nos preparativos do
ataque a Ivon há duas semanas, e minha resposta foi: “não posso me envolver
nisso, Paolo. Você precisa de uma esposa. Uma mãe para essa criança, não
ficar pedindo ajuda a todos”. Eu quis mandá-la se foder. Imprestável.
Inspirando com força, estico minha mão e afago a barriga de Sophia.
Ela se mexe erguendo as perninhas gordinhas e o urso lentamente.
— Até mais tarde, querida — digo e me viro.
Saio do seu quarto, desço as escadas e sinto o celular vibrar. Leio a
mensagem de Travis:
Com uma paciência que não é meu normal, espero uma pequena
multidão se dissolver na frente do Bellagio. Parece até que essa porra está
com promoção. O que jamais seria.
Finalmente passo pelas pessoas e atravesso o hall de recepção. O
escritório de Travis fica na área do hotel. Noto que a movimentação de
hóspedes está muito grande devido ao feriado. Isso é bom para os bolsos, mas
fico em alerta. É sempre uma ótima forma de fingir ser uma pessoa comum.
As máfias rivais e os inimigos em comum, gostam de aprontar nos cassinos
ou mandar algum filho da puta que não tem medo de morrer fazer merda.
Com um aceno de cabeça, ordeno que abram as portas duplas que
leva ao corredor onde fica as salas de contagem de dinheiro, câmeras de
vigilância para ver se não tem nenhum espertinho contando cartas e etc., e a
sala do Capo, que alcanço rapidamente.
Lawrence, o novo encarregado de proteger o chefe, cerra os olhos,
surpreso por me ver aqui. Não lhe devo satisfação e abro a porta do
escritório.
— Pensei que você fosse me fazer ir até o MGM ou à sua casa.
Inclino a cabeça e fico em silêncio.
Sinto muita raiva o tempo todo e tento não direcionar ao meu líder.
Ele pode confiar em mim e esperar que eu seja leal, que tome boas decisões
para a nossa Famiglia. Por isso que baixo a cabeça.
— Sente-se, Paolo! — ordena Travis.
Sento-me na cadeira, em frente à sua mesa e pego um cigarro, acendo
e dou uma tragada.
— Você me chamou aqui para que?
— Já está de mau humor e eu nem abri minha boca. Geralmente quem
faz isso sou eu.
Respirando fundo, cruzo a perna apoiando sobre o joelho e trago mais
uma vez.
— Fala logo o que é. Eu não ando dormindo direito e há um mês
piorou.
— Sua filha não deixou você dormir? Achei que, quanto maior ela
ficasse, daria menos trabalho.
Eu também esperava que isso acontecesse, mas a verdade não é essa.
— Sophia está com uma pequena hérnia umbilical.
Travis franze a testa.
— Ela está bem?
— Sim, já está saindo, mas ela está chorando muito.
— Eu sei como é.
— É, eu sei. — Travis criou a irmã mais nova desde o começo.
A Sra. Lozartan estava num grau de depressão e revolta muito grande
quando Marinne nasceu e Vincenzo, o Capo anterior, nunca ligou para a
filha. Travis, como sempre tão concentrado em cuidar da família, na verdade
os irmãos, tomou Marinne como sua responsabilidade, o que foi bom quando
a mãe se jogou do apartamento e morreu espatifada no asfalto.
Ele cuidou da irmã bebê e arrumou as melhores babás, e completo o
resto dos meus pensamentos em voz alta:
— Mesmo que eu esteja numa outra forma de sofrimento sobre o
mesmo tema, convenhamos.
Travis concorda com um aceno e fala:
— Por isso mesmo que o chamei aqui. Rocco Gatti me ligou.
Meu cigarro acaba, jogo o resto no cinzeiro e acendo outro
encarando-o. Relaxo um pouco mais meu corpo na cadeira porque sinto como
se minhas pernas fossem dois troncos de árvores pesados e duros. Afrouxo
minha gravata e me permito dar uma tragada forte. Cigarro, eu fumo mais
livremente fora de casa porque fico perto demais de Sophia e não quero que
ela se acostume tão cedo como eu cheiro a esse vício maldito. Eu estou
cansado, esgotado, minha coluna dói e quase não durmo. Mesmo com a ajuda
de Marta, quando ela vai embora e os empregados, fica só eu e é muito
diferente cuidar de um bebê tão pequeno comparando com qualquer outra
função que já tenha feito na vida.
— O que tem o Underboss de Seattle? Algum problema com ele?
Travis nega com a cabeça e cruza as mãos na frente do corpo em cima
da mesa.
— Não, nada de errado com Rocco.
— Então, qual o problema?
— Paolo — faz uma pausa, o que sempre me irrita, e simplesmente
solta: —, você precisa se casar de novo.
— O quê? — Franzo a testa e apago o cigarro no cinzeiro. — Do que
você está falando?
— Você precisa se casar de novo para a sua filha ter uma mãe para
cuidar dela. Lhe dar toda atenção e...
— Não me lembro — interrompo-o — de lhe dar o mesmo conselho
quando você tomou a decisão de criar sua irmã recém-nascida.
— Não é a mesma coisa — fala com fúria e bate na mesa. — Minha
mãe tinha acabado de se suicidar e eu quis cuidar da minha irmã porque ela
não tinha ninguém, nem pai. Eu não era o pai dela e nunca precisei de uma
mulher para criar Marinne.
— Não é isso que eu acho. A menina sempre precisou de uma figura
materna.
Ele esfrega os olhos e respira fundo.
— Eu não tinha a obrigação de criar meus irmãos. Tomei a
responsabilidade deles para mim porque alguém precisava. Uma mãe nunca
foi necessária para cuidar deles. Marie Rose e Rosália sempre fizeram um
excelente trabalho e eu me casaria em algum momento. Não estava na hora
ainda. Agora, você... — pausa e se levanta. — Você foi casado. Você teve
sua filha num matrimonio e, infelizmente, perdeu sua esposa. Não foi a
mesma coisa comigo. Se na época que eu tomei Marinne como minha total
responsabilidade fosse casado e, por alguma circunstância perdesse minha
esposa, teria que me casar de novo como todo Madman faz na Famiglia.
Tinha que honrar minha casa, meus irmãos e filhos.
— Seu pai não se casou de novo quando sua mãe se matou.
— Você quer mesmo se comparar ao que um Capo faz?
Engulo a resposta que me levaria à morte e aperto a mandíbula
reprimindo minha raiva.
— Eu tenho Marta assim como você teve Marie Rose e Rosália.
— Paolo, não me contrarie. Você é meu braço direito e eu preciso de
você focado. Quer que eu dê um grande motivo para você se casar e logo?
É uma pergunta com imposição. Ele não espera minha confirmação.
— Você está cansado, desfocado e abatido. Eu não quero meu
Consigliere pela metade. Se optar em continuar com sua vida como está há
quase oito meses, eu vou precisar substituí-lo.
Aperto o maço de cigarro no bolso da frente do meu paletó e engulo a
saliva com força, que parece ser uma bola de futebol.
— Não pode continuar na sua casa, tentando, de alguma forma, ajudar
a criar sua filha e depois trabalhar apenas no cassino. Você não está dando
tudo de si em nenhum dos dois. E sabe que terá novos dias pesados e de
guerra. Se algo acontecer com você, ela estará com quem? Seus pais são
velhos e, mesmo assim, não acredito que vão querer assumir sua filha. Minha
esposa pode cuidar dela, mas não posso deixar. Você sabe das regras. —
Respira fundo. — No fim, ela ficará sozinha se você morrer.
Baixo a cabeça, fito meus sapatos marrons engraxados. A vertigem
me atinge forte. Não quero falar em voz alta que tudo que ouvi é verdade.
Minha causa, a causa da minha família sempre foi a Lawless. Vim de
uma longa linhagem de Consiglieres, que representou com estruturas
guerrilheiras nossa Famiglia, e agora, que tamanha decepção seria se eu
desonrasse meu sobrenome, meu Clã, permitindo que o Capo me exonere do
posto de ser seu braço direito. O homem que ele mais confia e escuta para
guiar seu território.
Engulo meu orgulho e a dor da perda Mia, a raiva que ainda é tão
presente dentro de mim, e ergo a cabeça. Eu jurei que faria todos pagarem sua
morte. E o que seria pior para mim do que conviver com uma nova mulher
na casa onde era dela? Eu não iria torturar minha nova esposa, mas seria
apenas um casamento tático. Um simples e infeliz casamento por estratégica.
— Você tem razão.
— Tenho — afirma com soberba e a postura implacável. — Apesar
de eu ser muito defensor da família e querer o bem da sua filha, quero sua
presença quando preciso — enfatiza a palavra engrossando a voz — e, talvez,
eu esteja pensando no bem da sua filha até mais do que você.
Desvio meus olhos e aperto meus lábios.
— Ela vai precisar de uma mãe. É uma menina e precisa de uma
figura materna. Você tocou na questão da Marinne e, mesmo que nossa
situação seja diferente, o que você falou não é tudo mentira. Minha irmã
precisou sim de uma mãe, de uma mulher que se encarregaria de cuidar,
ensinar e educá-la porque era seu dever, não porque era paga. Porém, eu não
tinha me casado e não exigiam de mim essa tarefa. Eu dei tudo de mim para
que ela não sentisse tanto a falta de uma mulher enquanto crescia, mas olha
que ironia. Quando ela mais precisou de uma mulher, uma figura materna, foi
quando Madeleine apareceu e eu assumi aquela mulher. Hoje ela é minha
esposa e cuida muito bem da minha irmã. Então... — faz a pausa pensativo
— por acaso, você pretende encontrar outra mulher? Me responde com
sinceridade. — Junta as mãos na frente do corpo, sobre a mesa, e encara-me
sério. — Pretendia, sem a minha intromissão, se casar de novo para que sua
filha tivesse uma mãe?
— Não — respondo seco e com senso. — Eu não tenho por que
mentir, Travis. Eu não estava pensando em me casar de novo, mas... — olho
para longe — confesso que cuidar de Sophia está sendo a tarefa mais difícil
da minha vida. — Olho para ele de novo. — Não pense que eu quis me
comparar a você e seu pai, e não tem como. Um Capo se precisar se ausentar
ou não comparecer, tem o seu Consigliere. Tem o seu homem de recado e
negócios. E esse alguém sou eu, que não posso ser substituído e recolocado
no lugar. Não existe lacuna para alguém como eu tirar folga ou se ausentar.
— Se a questão fosse por pouco tempo, sabe que eu posso fazer.
— Sim.
Ele assente.
— E você não falou o mais importante. A Famiglia espera que
homens na nossa idade tenha o seu Clã e sejam casados. Eu fiz a minha parte
e agora você precisa fazer a sua.
O que ele diz é a mais pura verdade. Pelas nossas tradições, homens
com nossos postos e nossas idades, já devem estar casados e gerando
herdeiros para o sobrenome se fortalecer e vigorar. Mesmo sem Madeleine
aparecer na vida dele, Travis se casaria logo. Ela surgir e o fazer desejá-la
como esposa, foi o útil ao agradável.
Sobre criar um bebê, é claro que ele sabe do que fala com tanta
certeza, afinal cuidou de todos os irmãos sozinho sem a figura da mãe.
Marinne é o retrato da menina que é forte demais, mas quebrável
porque não teve o lado materno por perto. Giulia Caputo era só apenas a avó
que vinha de vez em quando visitar, ou Travis ia com os irmãos até Carson
City ficar com os avós. Era muito breve e a menina precisava de uma figura
feminina sim. Madeleine pode ter chegado um pouco tarde, porém ainda bem
que está aqui agora. Inclusive, por conta do noivado dela com apenas quinze
anos.
— Olha, Travis. Eu concordo que preciso tomar uma atitude, mas não
quero me casar agora.
— Infelizmente, essa situação me compete de alguma forma e eu já
entrei em contato com alguns Underboss para saber se tinha alguma mulher
para casar. Algum com filha com idade para casar ou...
— Como assim? — interrompo-o sem acreditar nos meus ouvidos. —
Você quer me casar com uma jovem?
— Você quer se casar com uma viúva? Geralmente uma mulher, que
já fora casada, já tem filhos. Você quer uma mãe solteira? Quer dividir
atenção da sua filha bebê com outra criança, que não tem nada a ver com
vocês, e sem saber se a mulher pode rejeitar a sua filha e querer apenas cuidar
do seu próprio filho.
— Se pensou nisso tudo, também pensou ou imaginou que uma
mulher solteira e com idade para casar vai ser muito mais nova. Eu
provavelmente serei o dobro da sua idade.
— Então quer uma mulher que foi casada?
Solto a respiração sem vontade.
— E você quer que eu case com uma menina nova e virgem, que
provavelmente acabou de terminar a escola. Vou ser quase o dobro da idade
da garota. — Levanto-me da cadeira e, puto, caminho de um lado para o
outro na frente da sua mesa. —Você é louco, Travis. Não vou me casar com
uma criança.
— Ou é isso ou uma viúva. Você precisa se casar. Sophia precisa de
uma família, de uma mãe.
Paro e o vejo chegar até a mim.
— Você não pode continuar do jeito que está. Sozinho vai ser
derrotado e não pode confiar que seus pais podem ajudar e continuar a
sobrecarregar Marta. A maior diferença de você pedir a ela para ajudar e eu
deixar Marinne com Marie Rose, é a idade. Marie Rose tinha dezenove anos
quando cuidava da minha irmã bebê. Marta já tem quarenta e cinco. Ela não é
mais tão jovem.
Respiro fundo, engulo – pela milionésima vez – em seco e digo:
— Por acaso, você já encontrou?
— Uma mulher?
— Sim — responde assentindo. — Ela é filha do Subchefe de Seattle.
O rapaz que ela iria se casar, um soldado qualquer, saiu do jogo. Nada
importante.
— Claro — resmungo e vou me sentar nos sofás.
— Ela ainda não tinha sido compromissada oficialmente e, mesmo
assim, sempre passo à frente de qualquer acordo de boca.
— Você tirou uma noiva de alguém simplesmente porque queria que
ela fosse minha?
Assente com simplicidade. Que ordinário!
— Fique contente. A menina é muito inteligente e acredito que vai ser
uma boa companhia para você e ainda mais para a Sophia.
— Quantos anos ela tem? — Minha voz é baixa demonstrando minha
insatisfação apenas em saber da idade dela.
— Vinte. Acabou de completar.
Franzo a testa sem entender.
— Vinte e ainda não tinha se casado. Tem algum problema com ela?
— Não. O que aconteceu é que o noivo, o soldado, está na Itália
fazendo o treinamento especial de conhecimento da área de lá e porque sua
família toda reside na Sicília ainda. Alguns dos homens precisam aprender de
verdade a nossa cultura. Você sabe disso.
Assinto e comento:
— E você aproveitou que ele estava longe para roubar a noiva dele.
— Era um acordo de boca — responde e anda até o bar servindo-se
de uma boa dose de uísque. Toma um grande gole e vira-se para mim. —
Como disse, eu posso desfazer qualquer acordo que não tenha quebrado
nenhuma regra. E o pai dela achou muito mais interessante casar a filha com
meu braço direito do que com um simples soldado.
Realmente eu sou uma escolha muito melhor do que um simples
soldado.
— Mesmo assim, você fez algo incomum. Nunca um Capo se
intrometeu num casamento.
Travis respira fundo erguendo o queixo.
— O que interessa é que foi uma interferência bem-sucedida embora
incomum. O pai dela não achou nada de ruim.
Assinto e troco as pernas de posição deixando a direita sobre a
esquerda.
— Se você já acordou todo o processo acredito que o pai dela está
apenas esperando a minha resposta, certo?
— Não. Eu disse que você ligaria para ele confirmando e
supostamente marcaria uma visita à sua casa.
— Quer que eu vá à Seattle? Quando?
— O mais rápido possível. Espero que, depois do casamento, você
fique mais atento e presente aos negócios. A guerra com a Bratva causada por
Ivon foi encerrada e os traidores da Lawless também, mas temos os
mexicanos e os motoqueiros. Fora que meu filho nasce agora e preciso
manter em segredo sua existência até quando puder, e com isso vou precisar
da sua mente brilhante — soa com ironia, mas, no fundo, é verdade.
— Okay. Vou ligar para Rocco Gatti.
— E dizer que está tudo bem — ordena com seu tom de
questionamento invasivo. — Vai ligar para marcar o casamento, certo?! —
Meneia a cabeça do jeito autoritário e convincente.
Assinto e me levanto.
— Pode deixar comigo e agora vou para o MGM. Como você mesmo
disse, não estou dando tudo de mim e quero hoje, pelo menos, comparecer a
todos os lugares que são da minha responsabilidade.
— Falando nisso — diz se pondo de pé e ficando cara a cara comigo.
— Você precisa encontrar alguém para gerenciar o MGM. Quando fizemos o
acordo que seria metade meu e seu, não pensei que você, em algum
momento, fosse se enfurnar lá dentro. Então, agora estou pensando
seriamente em colocar alguém para cuidar do MGM.
— A única pessoa que eu confiaria para isso está cuidando da
segurança da minha filha.
— Um novo soldado leal para cuidar da sua família, nós podemos
encontrar. Podemos ir testando e preparando ele. — Enfia as mãos nos
bolsos. — E você está falando do Gregori para cuidar do MGM?
Nada, absolutamente nada, escapa de Travis e é óbvio que sabe que o
meu braço direito é Gregori.
— Ele mesmo.
Travis faz um som pensativo e se encaminha para a sua mesa,
sentando-se na sua majestosa cadeira.
— Encontre um nome para substituí-lo e depois conversamos sobre a
promoção de soldado a gerente de um dos meus hotéis e cassinos.
— Certo — concordo. — Agora já estou indo. Se precisar de mim,
apenas me ligue.
— O que preciso de você já disse agora.
Porra! Odeio o modo babaca dele.
Meneando a cabeça em sinal de respeito, lhe dou as costas e saio do
escritório.
Depois que finalmente termino de cuidar das minhas flores, sigo até o
meu quarto e tomo um banho rápido. Quando minha mãe diz para se limpar,
quer dizer: tome banho, troque de roupa e pare de se vestir como uma
criança.
São tantas regras, às vezes, que eu fico me perguntando se, em algum
momento da minha vida, vou ser livre. Eu nem sei o que é isso: liberdade.
Sinto-me como um dos soldados da Lawless, só que não do meu pai e
sim da minha mãe na luta de me fazer o melhor feito da sua vida. Ela é muito
frustrada por não ter tido mais filhos, e eu ser a primeira e do meu irmão ser
um tanto rebelde. Sinto falta dele, que está na Itália no mesmo treinamento
que Augusto.
Apesar de eu odiar ter que usar roupas neutras, coloco um vestido
preto com uma simples faixa lilás na bainha e um cinto branco combinando
com os meus sapatos sem saltos.
Papai acha que eu ainda sou uma criança, então preciso me vestir
como uma linda donzela. Ele disse que o momento de usar saltos, roupas
mais coladas ao corpo, mais ousadas, será quando eu me casar.
Às vezes, por mais que me dê muito medo em conviver em uma casa
com um homem estranho, anseio fervorosamente com o meu casamento,
mesmo sabendo dos boatos que existem alguns homens que estupram,
maltratam e batem nas esposas.
Eu acho que uma mulher da máfia, de verdade, nunca alcança nada
além da miséria. Acho que as que têm um pingo de sorte, conseguem um
marido que não bate, porém são frios como uma pedra de gelo.
Com os meus cabelos em uma trança de lado, desço até o escritório
do meu pai. Agora está quase na hora do jantar e é estranho ele estar em casa.
Deve ter acontecido alguma coisa para não ter saído hoje em nenhum horário.
Segurando a respiração por nanossegundos, bato na porta e espero
que ele permita que eu entre. Assim que estou dentro do escritório, escuto sua
voz:
— Fecha a porta e sente-se.
Não digo nada e faço um aceno de cabeça respeitosamente. Fecho a
porta e vou me sentar em uma das cadeiras em frente à sua mesa pomposa.
Ele tira os óculos de graus, deixando-os sobre a mesa e me encara
sério.
— Queria falar com você sobre o seu casamento.
O frio na barriga volta com força. Eu não digo nada. Não tenho
permissão.
— Augusto ainda não voltou da Itália e eu acho que a gente está
esperando por muito tempo.
— O que o senhor quer dizer com isso, papai? — pergunto em voz
baixa para não parecer que estou sendo abusada.
— Eu consegui outro marido para você.
Engulo em seco e torço meus dedos no tecido do meu vestido.
— Conseguiu outro marido para mim?! Assim tão rápido?
— Ele é um pouco mais velho que você — responde sem se alterar —
e é muito mais interessante se casar com ele.
— Em que sentido? Desculpa lhe perguntar.
— Augusto era apenas um soldado, Nina. Você ou seus filhos nunca
seriam nada além de simples membros da Lawless. Nunca alcançaria um
grande posto, a não ser que Augusto fosse tão bom que o futuro Capo, que no
caso será o filho de Travis, faça seu marido ou seu filho ser um Capitão ou
General. Mesmo assim nunca um Underboss ou Consigliere, por exemplo.
— Aham — digo baixinho.
— Então, Augusto não lhe traria frutos tão bons afinal de contas. E
você é filha de um Underboss.
— Eu sei, papai, m-mas... você disse que não tinha ninguém melhor.
— Não tinha — sorri de lado maliciosamente — até oito meses atrás
quando a esposa de Paolo Dal Moli morreu.
Esse nome não me é estranho, mas continuo calada esperando mais
informações, e obviamente permissão para falar alguma coisa.
— Paolo está viúvo e procurando uma esposa nova. Eu entrei em
contato com o Capo e disse que eu tinha uma filha solteira numa idade
razoável para se casar com um homem que já foi casado e consideravelmente
mais velho.
Franzo o cenho. Mais velho?
— Como assim, consideravelmente mais velho? — Me atrevo a
questionar.
— Paolo tem trinta e sete anos e uma filha sem mãe e precisando de
atenção. O casamento já foi acordado e ele está vindo para conhecê-la
amanhã à tarde.
Fiquei tão abalada, que não tive o que dizer depois que ele falou que
o homem tem trinta e sete anos e uma filha. Ou seja, ele é um viúvo, solteirão
e velho. Vão me casar com um homem velho.
— Eu acredito na sua boa escolha, papai, e... de qualquer forma, eu
não posso falar nada sobre.
— Ainda bem que você sabe o seu lugar.
Escuto de cabeça baixa.
— Eu só lhe chamei aqui antes de amanhã chegar para não ficar tão
surpresa e com essa cara de espanto e amedrontada na frente do seu futuro
marido.
Assinto e o encaro.
— Não se preocupe porque Paolo não tem fama de tratar as mulheres
com crueldade.
Como se isso fosse algo superlegal da parte dele. Uma benfeitoria. É
mais do que obrigação um homem tratar uma mulher com dignidade. Já que
as mulheres são obrigadas a serem submissas e tratá-los como reis, os
homens deveriam fazer o mesmo. Tratar as mulheres como rainhas, então
quando eu escuto: “Ah, mas ele não bate na mulher. Não estupra e não
tortura”, eu fico um pouco indignada. Parece um grande feito. É mais do que
obrigação.
— Tudo bem, papai.
— Amanhã, ele deve chegar mais ou menos um pouco depois do
horário do almoço e espero que você esteja dentro de casa e arrumada,
esperando, e não que esteja suja de terra e no seu jardim. Hoje você nem
almoçou, Nina.
— Me desculpa. É que, às vezes, eu fico...
— Distraída — ele me cortou. — Saiba que, quando você se casar,
terá uma grande responsabilidade e não só com seu marido. Existe um bebê
que precisará da sua atenção. Então, pare com essa palhaçada de flores e
assuma seu lugar como uma mulher adulta.
Agora eu sou uma mulher adulta? Penso torcendo meu interior,
esmagando meu fígado.
— Paolo é um homem mais velho — continua e eu presto atenção —,
por isso você tem que se vestir do jeito que está agora. Neutra e comportada,
nada de flores, cabelos soltos e já pode começar a usar salto alto. Como eu
disse a você, quando casasse teria permissão de usar saltos e estou lhe dando
agora. Se for da sua preferência, pode sair amanhã cedo com a sua mãe e
fazer compras.
— Não precisa. Eu ganhei de presente de Natal da vovó — assinto
falando, estou tremendo. — Eu tenho um salto alto, obrigada.
— Que seja. Agora, me dê licença e espero que não precise falar de
novo amanhã tudo que eu te orientei hoje, certo, Nina?
— Sim, senhor, papai.
Levanto-me e inclino meu corpo com os olhos baixos e saio.
É realmente muito difícil me controlar ao ponto de caminhar
lentamente e chegar até as escadas como uma dama. Estou alcançando os
degraus quando escuto alguém me chamar.
— Sim, o que deseja?
— A senhorita não vai jantar hoje? — Léa pergunta.
Respiro fundo e, ainda encarando o chão, respondo:
— Estou sem fome. Obrigada por se preocupar.
Ela assente como se entendesse o que estou sentindo.
— Eu vou guardar um pouco para a senhorita e deixar um leite com
canela morno no micro-ondas. Depois a senhorita esquenta mais um
pouquinho.
— Obrigada.
— De nada. Boa noite.
Com um aceno, finalmente corro pelas escadas acima e com toda a
força de vontade que tenho, fecho a porta do meu quarto sem bater e corro
para a minha cama, onde me sento e solto um suspiro alto. Sinto meu coração
acelerado.
Talvez eu esteja apavorada à toa. Eu nem conheço o meu futuro
marido e, mesmo que nossas idades sejam tão distantes, será um choque
conviver com ele e ele comigo, ainda tendo um bebê para cuidar.
Talvez não seja tão ruim quanto a vida que eu já levo. É
extremamente triste pensar assim. Que a minha única saída da tristeza, que é
ter um pai e uma mãe tão frios e maquiavélicos, seja um casamento
arranjado, com um homem mais velho e com um bebê sem mãe.
Antes de sair do quarto, para poder esperar o meu futuro marido na sala de
estar, eu paro em frente ao espelho e encaro a mim mesma com um vestido
marrom sem graça, os ombros são fofos e ordenados como se fosse feito de
glacê, a saia é pregada e estou usando o sapato que a vovó me deu de Natal. É
um salto preto sem nada demais, apenas uma fivela quadrada na ponta com
pequenos strass.
Meus cabelos estão penteados para trás e alisados porque quando eu
os deixo soltos, ao normal, que ficam quase cacheados criando muito volume,
papai não gosta. Minha maquiagem é um pouco mais pesada do que
geralmente gosto de usar. Estou usando lápis de olho, bastante rímel e um
batom cor de cereja.
Olhando-me no espelho, me daria vinte e quatro anos, mas, por
dentro, agora eu me sinto com uma criança no meio de uma praia deserta
vendo o mar revolto e prestes a me engolir.
Ontem eu estava confiante, pensando que esse casamento poderia me
salvar da vida horrível que é conviver com meu pai com a minha mãe, mas e
se não for?
Acordei chorando, desesperada, ansiosa e com o coração acelerado.
Martelando dolorosamente até. Engolindo o soluço, limpo com cuidado
embaixo dos olhos as lágrimas e tomo um fôlego.
Saindo do meu quarto, fico parada no topo da escada procurando
coragem necessária para descer os degraus. Respiro fundo, assumindo
bravura e finalmente desço até o lobby da casa. Ninguém está e com isso vou
até a sala de estar, depois de jantar, e, por fim, vou para a cozinha e encontro
mamãe, que logo me vê e fala:
— Não acha que está arrumada muito cedo? E, por acaso, você não
vai almoçar?
Suspiro baixinho e respondo:
— Eu não estou com fome. Tomei um café reforçado e papai disse
que ele deve chegar daqui a pouco.
— Quando ele falou isso se não está em casa?
— Ele me disse ontem, que o... Paolo... vai chegar um pouco depois
do almoço.
— Se é assim, então está ótimo. Fique arrumada mesmo e espere
sentada na sala de estar.
— Sim, senhora, mamãe.
Com um aceno de cabeça, me viro e saio.
Mesmo que ela não tivesse falado, eu viria me sentar na sala de estar
e esperar a excelência, que é a forma que tratamos papai, chegar. Pensei em
trazer um livro comigo para me fazer companhia, mas aí papai não ia gostar.
Quando eu estou me sentando no sofá maior perto das janelas, escuto
a porta de casa abrir. Prendo a respiração e meu coração acelera loucamente.
— Boa tarde, senhor. Não pensei que viria essa hora hoje — Léa fala
e com isso eu sei que é meu pai.
Até mesmo porque ele responde falando alto e grosseiramente:
— Eu disse que tinha um encontro depois do almoço e espero que a
casa esteja limpa e organizada para receber uma visita importante.
— Está sim, senhor. Todos os dias limpo.
Fico revoltada com a forma como ele fala com os funcionários da
casa.
— A casa está limpa e pronta para receber qualquer pessoa, não se
preocupe, senhor. Com licença.
Fecho os olhos e consigo visualizar perfeitamente ela fazendo a
referência de curvar levemente para a frente e olhar para o chão, se virar e se
afastar dele. Todo mundo aqui parece tratar meu pai como um rei e minha
mãe rainha. Isso me irrita bastante. Como eles são pedantes!
Quieta, abro os olhos e tento relaxar, mas vai por água abaixo quando
vejo a sombra do seu corpo no chão enquanto chega na sala de estar. Espero
que esteja ao alcance dos meus olhos para poder olhá-lo. Ele me olha de cima
a baixo e me levanto para ver direito como eu estou.
Depois de um longo silêncio, ele se pronuncia:
— Essa roupa está boa e o cabelo também. O salto poderia ser um
pouco melhor. Você deveria ter ido ao shopping, mas está apresentável. —
Olha para o seu relógio. — Paolo disse que já está a caminho.
Aceito sem dizer nada porque eu me sinto, como se tivesse algo na
minha boca tampando qualquer tipo de pensamento que eu possa ter agora, e
meu pai me traz um certo medo. Sempre foi assim. Sou um pouco
aterrorizada pelos seus olhos intensos sempre mal-humorado. Ele pode não
me bater, mas certos olhares doem mais do que um soco.
— Eu vou tomar um banho e trocar de roupa. Enquanto isso, você
fica aqui. Não sai daqui de jeito nenhum até eu voltar.
Ele não espera que eu faça nada ou nenhum cumprimento, muito
menos que fale. Ele deu sua palavra e sai me dando as costas.
Com o rosto erguido para a frente, não focando em nada realmente, espero
papai voltar. Nem sei quanto tempo já estou aqui. Provavelmente uns bons
dez minutos já e sem a possibilidade de me levantar.
E se eu tiver vontade de fazer xixi?
Ele quer mesmo que eu fique aqui até ter vontade de comer ou ir ao
banheiro e esperar ele voltar ou coisa pior, fazer nas calças. Ele nem vai ligar.
Ele faz coisa muito pior na vida. Deixar-me aqui, me fazer ficar com vontade
de ir no banheiro, é uma tortura leve. Realmente não é nada que se compare
as atrocidades cometida pela Famiglia.
Engulo em seco e inquieta começo a bater com meus pés no tapete
que a minha mãe ama. Ela mata um se fizer algo nele. Uma vez meu irmão
deixou cair macarrão, graças a Deus não estava com molho, e ela bateu nele
como se tivesse feito algo absurdo.
Às vezes, eu tenho inveja do meu irmão por estar longe deles. Com
certeza está melhor do que eu, mesmo passando por algumas torturas e tudo
que um Homem de Honra tem que passar para se fortalecer. Mas ele está
longe do papai e da mamãe.
Eu fico me perguntando se sofrer e apanhar de pessoas estranhas dói
menos do que se for do seu pai e da sua mãe. Eu espero que não.
Arregalo os olhos. Espero nunca concluir isso na minha vida, porque
a única forma que eu posso comparar se dói menos é com meu futuro marido
me batendo. E eu realmente não quero ser uma dessas esposas que apanha do
marido. Acho que a minha conta de maus-tratos já está fechada.
A campainha toca e meu coração parece que sai pela boca. Meu
Deus! A única pessoa que está para chegar é Paolo e papai está lá em cima
tomando banho e trocando de roupa.
Eu fico quieta, na minha, esperando que alguém apareça e logo
mamãe vem. Ela trocou de roupa. Quando? Eu nem percebi.
Ela ajeita os cabelos e passa as mãos no vestido preto que colocou
como se fosse sair para um casamento. Até os sapatos vermelhos chiques que
tem ciúmes, está usando. Se meu pai queria que eu ficasse assim, foi um
sonho. Eu ia aparentar ter trinta anos e se me incomoda tanto a minha idade,
ele não deveria ter aceitado me casar com um homem mais velho. Ele deveria
então ter recusado e arrumado um homem da minha idade. E o mesmo serve
para Paolo. Assim eu não teria que ficar tentando forçar parecer mais velha.
— Boa noite, Paolo. Seja bem-vindo.
Reviro os olhos pela forma doce que minha mãe fala com ele.
Ridículo.
E é ele mesmo. Ele chegou. Meu Deus!
— Pode entrar.
— Boa noite. — Eu escuto a voz dele e fico curiosa. Não parece uma
voz de um velho barrigudo com a barba nojenta e cheirando a charuto como
meu pai.
Meu pai tem quarenta e dois anos, é uma idade próxima a de Paolo,
então na minha cabeça eu só posso imaginar ele assim; como meu pai. Até
porque eu não vejo muitos homens. Meu segurança tem trinta e cinco, meu
irmão tem dezesseis, fui educada em casa e eu não posso olhar para cima
quando estou andando na rua. Tenho que ficar olhando pra baixo, só olho
para cima quando é para ver alguma roupa e isso com orientação da minha
mãe, que sempre vai junto.
Sei que se alguém soubesse disso, ouvisse eu falando, acharia que é
mentira ou exagero. Porém, infelizmente, eu não tenho necessidade de mentir
em meus pensamentos e nem nas orações; pois peço todo dia a Deus que esse
inferno acabe, mesmo não sabendo se existe algo melhor do que eu já tenho
no mundo que nasci.
Ouço passos cada vez mais próximos e veja os sapatos vermelhos da
minha mãe perto dos meus pés. Espero que ela me ordene a fazer algo.
É sempre assim. Eu sou um soldado.
— Querida, levante-se e cumprimente Paolo educadamente — ela
pede com a sua voz mais falsa do mundo.
Sentindo minhas pernas tremerem, com a sensação de que elas são
gelatinas, pisco algumas vezes e me coloco de pé. Erguendo minha cabeça
lentamente para encontrar seu rosto, admiro suas pernas compridas, o tronco
largo e as mãos grandes. Ele não tem tatuagem, pelo menos não nas mãos
como muitos soldados. Ele é grande e parece ser musculoso e é magro.
Graças a Deus, ele é magro, porque a impressão de ele ser gordo é
como se eu fosse me casar com o meu pai, realmente. Essa diferença já é
muito boa. Então... quando meus olhos registram seu rosto, fico chocada.
Eu realmente estava esperando um homem feio, velho, gordo,
barbudo e cansado pela vida. Mas ele é... bom para os olhos. É... atraente.
Ele é bonito. Tem uma barba por fazer com alguns pelos grisalhos
assim como seus cabelos, que nas laterais são mais grisalhos do que no topo,
como se tivessem reflexos no cabelo castanho. O rosto é bonito com um
queixo quadrado e o nariz também. Ele é sério e seus olhos têm quase que
uma placa de: “pare de encarar”.
Paolo está usando um terno preto, assim como a gravata e o colete de
dentro, mas a camisa é branca. O que me surpreende.
Notando que estou o admirando, enfia suas mãos dentro dos bolsos da
calça e por educação, provavelmente, ele estende uma para mim.
— Boa tarde — digo, com a voz baixa e tentando ser educada.
— Nina — ele murmura e solta minha mão, dando um passo para
trás. — Boa tarde também.
— Eu espero que você tenha feito uma boa viagem até aqui —
mamãe fala com toda simpatia que ela não é.
— Foi sim.
— Meu marido está no banho, mas deve estar descendo logo. Quer se
sentar e tomar um chá? Você toma chá?
— A não ser que a senhora vá tomar agora, eu tomo também.
— Então está bom. Vou mandar a Léa fazer... quer dizer, querida —
vira-se para mim e manda, já que as regras não permitem que eu fique
sozinha com um homem —, vai até a cozinha e peça para a empregada fazer
um chá para nós. Maçã ou canela? — pergunta para Paolo.
— O que a senhora for tomar — ele diz sem entusiasmo.
Eu estou me corroendo por dentro de alegria pela sua expressão fria e
distante dele perto dela, mesmo com sua tentativa de proximidade. Os lábios
dele estão em uma linha reta, duros e sem qualquer humor. Ainda dando
umas respostas afiadas assim para a mamãe. Estou adorando. Eu queria ter só
um pouquinho do seu poder para fazer isso com quem me intimida.
— Então faça de canela, querida — ela acaba falando.
— Com licença — eu peço me curvando de leve e saio da sala de
estar.
Nos últimos passos para adentrar a cozinha, dou uma corridinha e
chego até Léa.
— Você não deveria correr com esses saltos e mesmo assim vai
estragar sua maquiagem. — Afaga meu rosto.
— Podemos não falar da minha maquiagem agora. — Sem ser grossa,
me afasto dela e cruzo os braços. — Mamãe pediu para você fazer um chá
para o convidado.
— De quê?
— Faz de canela e um de maçã. Acho que nem todo mundo gosta de
canela. Mesmo que ele tenha sido educado falando que tomaria o que a
mamãe tomasse.
— Você é muito atenciosa — Léa comenta e olha para os meus
cabelos e depois o meu rosto. Algo peculiar cruza seu olhar. — Pode me
esperar na sala que eu levo para você.
— Não precisa ir levar. Eu prefiro ficar aqui.
— Mas eu prefiro que você respeite seu pai e vá para a sala.
— Tudo bem.
Solto uma respiração exasperada e saio, voltando para sala de estar.
Mamãe está conversando algo idiota. Conversa fiada e eu chego
quase que ao mesmo tempo que meu pai.
— O que você está fazendo? — pergunta com o semblante fechado.
— Eu não mandei você ficar na sala de estar até eu voltar? Que menina
teimosa!
Eu me encolho toda e olho para o chão.
Mamãe se aproxima e ergo o rosto para ver quando encosta a mão no
ombro do papai.
— Ela foi pedir a Léa para fazer um chá para nós.
— Mulher, isso é hora de você tomar chá?! — esbraveja papai.
E bem neste momento, Paolo aparece, do nada, por atrás da minha
mãe, mas mantendo distância. Então meu pai muda de postura e diz como se
estivesse brincando:
— Mil vezes tomar café, não concorda, Paolo?
Meu futuro marido não diz nada.
— Porque todos tomam café — continua papai com um sorriso
congelado e mentiroso. Olha para mim, forçando a paciência. — Volte para a
cozinha e peça para fazer um café também! — ordena como se eu fosse um
dos empregados.
— Sim, senhor.
— Não, querida — mamãe intervém. — Deixa que eu vou. — Ela
chega até mim e sussurra: — Vai ficar perto do seu futuro marido e deixa que
eu vou pedir para fazer o café. E se comporte. Sente-se direito.
Assinto e espero o papai deixar. E ele faz assim que mamãe fala algo
no seu ouvido.
— Vai! — ele manda.
Piscando sem jeito, aceno com a cabeça em sinal de respeito. Meu pai
me observa ir sentar-me de novo no sofá. Paolo se aproxima dele e o
cumprimenta finalmente com um aperto de mão. Sorrio, por educação, e olho
para baixo. Não quero me intrometer entre eles, que se sentam no sofá de
frente para mim.
— Você chegou mais cedo do que eu pensava. Tive que tomar um
banho. Precisei sair agora há pouco, mas nem demorei.
Nunca vi papai dar satisfação de nada até hoje.
— Tudo bem, não tem importância isso.
— Essa é minha filha, Nina. Creio que já foram apresentados.
— Sim — concorda sem esboçar alguma emoção.
Se ele me cumprimentar, é uma apresentação, eu estou por fora do
que é ser apresentada a alguém.
— Você veio aqui para a gente marcar o casamento, certo? — A voz
de papai me captura para o presente de novo.
— Eu vim aqui para conhecer Nina e falar com você sobre os
preparativos do casamento e entregar isto a ela. — Paolo tira do bolso alguma
coisa.
De longe, eu enxergo tem uma caixinha de anel. No caso, a minha
aliança. Eu seguro a respiração.
— Você me permite entregar para ela?
— Sim, é claro — responde rápido demais. — Eu vou até a cozinha
ver se o café está pronto. — Papai se levanta e sai tão rápido quanto o suspiro
que eu dou.
É sério que ele me deixou sozinha com um homem estranho que eu
nunca vi na vida? É incrível como suas regras morrem quando é para
beneficiar ele.
Nervosa, me mantenho sentada, congelada, basicamente a estampa do
sofá. Paolo levanta-se e se aproxima de mim. Pisco rápido registrando seus
movimentos quando escolhe se sentar ao meu lado. No mesmo sofá?
— Eu acredito que o seu pai falou que eu viria aqui hoje e que pediria
a sua mão em casamento? — Sua voz é segura e distante.
— Sim, ele me disse. — A minha voz é baixa.
— Você pode, por favor, olhar para mim?
Fico confusa se foi uma ordem ou um pedido. No entanto, eu faço o
que me pede. Encontro os seus olhos, que, por alguma razão, e tão rápido
quanto um piscar de olhos, vejo um lampejo de melancolia nos seus olhos
cinzas tão claros quanto um cubo gelo. Será que seu coração é tão gélido
quanto seu olhar?
— Seu pai também lhe disse que eu tenho uma filha pequena?
— Sim, ele me falou e... que você perdeu sua esposa. Eu sinto muito.
— Sou sincera.
— Nosso casamento está marcado para o mês que vem. Dia quinze de
agosto — comunica como se não tivesse me ouvido talvez falar da sua
esposa. Como se ela fosse um assunto proibido.
Registro com cuidado essa informação preciosa que ele me deu sem
uma única palavra dita. Sinto que seu olhar tem mais poder do que as
palavras. Não é igual meu pai que precisa humilhar e subir o tom da voz para
se engrandecer.
Não pensei que o casamento fosse tão cedo, mas não comento sobre
isso.
— Está tudo bem para você dia quinze de agosto?
— Está ótimo — murmuro.
— Okay.
Ele abre a caixinha e retira o anel de dentro. Um frio na minha barriga
me causa náuseas.
— Sua mão, por favor — pede e, quando eu não faço, ele questiona:
— Você sabe qual é a mão que fica o anel de noivado, não sabe?
Ele está exasperado e nervoso. E não sei o porquê.
— E-Eu... sei, s-sim. Me... d-desculpe. — gaguejo e levanto minha
mão, tremendo.
— Espero que caiba e você goste — ele comenta enquanto coloca o
anel no meu dedo.
Um diamante solitário adornado por um fio de ouro assim como o
anel. É simples e muito bonito. Elegante.
Finalizando, Paolo me surpreende colocando a caixinha na palma da
minha mão quando a vira para cima. Fito seu rosto.
— Para quando você quiser tirar para dormir.
— Ah — solto, ficando de boca aberta, mas logo me recupero do
choque de gentileza dele. — Obrigada, é muito bonita.
Ele faz um aceno simples e solta minha mão.
— Você espera um casamento grande?
— Acho que, pelo tempo, não vai ter como.
— Eu posso resolver isso — diz isso com tamanha autoridade e
segurança.
Tento procurar na minha mente quem ele realmente é na Lawless. A
pergunta ficou na minha cabeça a noite toda ontem.
Papai disse que ele é maior do que um soldado, que ele é um
Consigliere, mas de quem? Todo Underboss tem o seu conselheiro, e o Capo
e o Boss também. E eu não sei o nome de todos. Não conheço todos os
Madman. Piada. Eu nem tenho permissão para saber dos negócios da
Famiglia.
— Pergunte o que você quer, por favor — Paolo decreta, mas não tão
grosseiramente como meu pai fala comigo. E se ele consegue enxergar em
meus olhos a curiosidade, imagina quando convivermos.
Engulo em seco.
— Papai disse que você é um conselheiro e... eu não conheço todos os
homens da máfia. Nem quem eles são. Isso não me compete. É... só
curiosidade em saber...
— Eu sou o Consigliere do Capo Travis Lozartan — me detém de
continuar a gaguejar ridiculamente.
Arregalo os olhos e me mexo inquieta no sofá.
— Você sabe quem é ele, não sabe?!
Eu fico com a boca aberta sem saber o que dizer.
Minha nossa!
Para ser o conselheiro do nosso Capo, um homem tem que ser
destemido, estrategista e tão aberto a jogos de poder e manipulação como o
próprio Capo, ou até pior já que ele vai aconselhá-lo.
Eu não estava com medo de Paolo até agora, e se ele perdeu a
esposa... Será que ele a matou? Ou ela se suicidou?
Eu não escutei nada sobre a morte de ninguém importante, e quando
isso acontece é porque fazem de tudo para calar a boca dos fuxiqueiros.
Embora eu saiba que estávamos em conflito algum tempo atrás, mais ou
menos uns cinco meses atrás, não soube de nada. Teve uma grande guerra em
Las Vegas, mas eu não sabia da extensão de certos assuntos e principalmente
que o conselheiro perdeu a esposa. Será que foi por isso?
Seguro minhas mãos no meu colo para ele não ver que estou
tremendo.
— Qual é a outra pergunta que você quer fazer?
— Não quero fazer... mais pergunta nenhuma. Não quero perguntar
nada não.
— Então, se é só isso. Vou esperar seu pai voltar e confirmar que o
dia do casamento vai ser quinze de agosto.
Concordo com um aceno.
— O casamento será em Las Vegas porque depois disso iremos para a
minha casa. Você se incomoda?
— Não — nego com a cabeça. — Não, de forma alguma e eu sempre
quis conhecer Las Vegas.
— Agora você vai morar lá.
Essa frase na boca de qualquer pessoa soaria com humor, mas não
com ele. Nada é suave saindo da sua boca enquanto ele não esboça uma
reação a nada. parece que é feito de gesso.
— E aqui está o café — papai fala chegando até nós e para. Vejo em
seus olhos a raiva por eu estar sentada ao lado de Paolo.
Oras, ele que me deixou sozinha com ele.
Acompanho papai colocar a bandeja sobre a mesa de centro e
oferecendo biscoito, café ou chá. Paolo aceita só um café e volta a se sentar
do meu lado.
Fico nervosa porque, pelo protocolo, era para ele se sentar em outro
sofá, não do meu lado. Mamãe olha para nós dois e não diz nada, nem papai.
Encarando o tapete chego a seguinte conclusão. Agora eu entendo o
porquê meu pai cede tanto a Paolo. Ele é o Consigliere do Capo. Ele é mais
perigoso do que papai, mesmo sem ser o próprio Capo.
— Eu percebi, pela sua voz ontem no telefone, que não estava feliz,
mas não achei que estivesse tão insatisfeito — Gregori fala sentado na minha
frente no meu escritório de casa depois que eu conto tudo sobre Nina.
— A garota é uma menina e os pais dela são uns babacas. Eu tive que
me segurar muitas vezes para não ceder ao meu impulso violento. O cara
tratava a menina como se fosse um lixo, nem parecia que era filha dele. Eu
jamais faria isso com Sophia.
— É porque você guarda um pouco de decência ainda.
— Pode ser isso ou não. Não estava certo falar com ela daquele jeito.
Faltou realmente pouco ontem para eu mandar Rocco Gatti calar a
boca. Ele tratava Nina horrível e eu sentia como ela estava com medo dele.
Provavelmente ela pensa assim de todos os homens. Que todos tratam as
pessoas, principalmente as mulheres, daquela forma. Mas nem a mãe dela
ficava longe do pai na forma de tratamento. Os dois se completam porque
maltratam a menina da mesma forma. Talvez Nina seja a válvula de escape
para eles deixarem de ser frustrados. Quantas pessoas não fazem isso na vida.
Abusam de outras pessoas para se sentirem satisfeitas na vida de merda que
tem.
— Eu pensei que você ia cancelar o casamento depois de tanta
reclamação no telefone.
Levanto o meu olhar para Gregori em um aviso silencioso.
— Mas aí você disse que deu a aliança.
— Se eu não confiasse tanto em você e precisasse no momento, eu ia
meter uma bala na sua cabeça.
Ele solta uma gargalhada e levanta-se.
— Você precisa relaxar. Talvez uma boceta nova vai fazer você ficar
feliz.
— Ela vai ser minha esposa. Olha o respeito.
— Ah, que isso. Todo mundo sabe que os homens velhos que se
casam com as menininhas ficam mais joviais. Talvez isso vai ser bom para
você tirar um pouco desse estresse.
— Gregori!
— Já estou indo — ele fala e sai do escritório.
Não tinha deixado de pensar isso. Não passou despercebido que a
idade dela seria boa para as eventuais noites que eu quiser foder.
Eu amava Mia, amava transar com ela. Nós nos satisfazíamos e muito
bem. Ela era perfeita, mas eu tenho que parar de me lembrar dela, dos
momentos com ela e nas vezes que a gente trepava nessa mesa do escritório.
Até acho que fiz minha filha por aqui mesmo.
Droga! Esquecer Mia vai ser muito difícil. Agora vai fazer oito
meses, assim como nossa filha completa oito meses dia dez de agosto. E a
dor que sinto parece que foi ontem que ela morreu.
Levantando-me, pego o meu paletó e visto, depois o meu sobretudo.
O clima está frio e não consigo entender. Estamos saindo do verão e indo
para o outono agora. Deve ser uma frente fria.
Chego na porta de casa e avisto Marta com Sophia no colo, que
resmunga suas palavras incompreensíveis. Decido ir até ela antes de sair.
— O que que ela está falando aí?
— Se eu conseguisse entender, senhor — Marta diz com um sorriso
doce. Um carinho de avó.
Não é porque um Homem de Honra é frio que não consegue
reconhecer sentimentos nos outros.
— Me dê ela um pouco — peço e Marta coloca minha filha nos meus
braços.
Faço carinho nas suas bochechas, na sua mãozinha que toca meu
rosto e nos seus cabelos, que estão crescendo loiros e macios. Assim como os
olhos azulados, ela é toda a mãe.
Talvez não só a minha futura esposa será o fantasma de Mia como
também a minha filha. Eu vou ter que aguentar para o resto da vida dois
retratos da mulher que eu me apaixonei sem nem perceber e nunca disse que
a amava.
Meu maior erro na vida não foi amá-la e deixá-la morrer, foi nunca
ter tido a competência de dizer o que eu sentia. Assim que minha filha
começar a entender, eu vou dizer o quanto eu a amo, porque eu amo a minha
filha. Espero que ela não só me respeite. O amor também é importante, talvez
mais forte do que quaisquer sentimentos.
Vendo o horário, eu deixo Sophia nos braços de Marta.
— Mantenha-a agasalhada. Está muito frio.
— Sim, senhor.
— Até mais — digo e sacudo a mão de Sophia, que grita.
Ela me deixa animado e feliz, mesmo por muitas vezes cansado.
Isto está no fim. Em breve, estará tudo melhor.
F oram mais de dez anos beijando uma única mulher. Foram mais de
dez anos tendo Mia ao meu lado, sendo minha companheira, a minha
esposa. E eu não estive com mais ninguém depois que ela morreu
nos oito meses, que parece que fiquei parado no tempo. Que não dei tudo de
mim em lugar algum. Eu não servi para nada nesse tempo e me esgotei. Esse
casamento é para me salvar de enlouquecer e perder meu posto como
conselheiro e ter uma filha fraca.
Nos oitos meses, eu não pensei em ter outra mulher, nem mesmo para
diminuir meu estresse.
E beijar Nina agora foi surpreendentemente bom.
Seus lábios... são macios e doces e virgens. Lábios nunca tocados. Eu
me sinto um sortudo filho da puta porque ela me atrai, mas não posso ceder.
É como se quebrasse o juramento que eu fiz a Mia. Até que a morte nos
separe. Esse casamento é para Sophia. Para eu manter as aparências.
Caminhando com ela para o salão de festa, fico com os pensamentos
no beijo. Foi um beijo, é fácil de fazer e fácil de dar. É rápido, mas eu vou ter
que manchar os lençóis com o sangue dela quando tirar sua virgindade.
Merda! Mil vezes merda!
Não tem como eu não fazer essa tradição. Eu mesmo cobro tanto de
Travis para respeitar as tradições da Famiglia, então como eu posso chegar e
dizer que não vou fazer a tradição dos lençóis de sangue. Uma tradição mais
antiga do que meus pais.
Irei me sentir um estuprador fazendo isso. Ela pode me atrair, é uma
menina jovem, bonita e com tudo em cima. Os peitos são bonitos, estão
empinados e cheios. Ela ainda tem vinte anos, está na flor da idade. Intocada
como uma flor que acabou de desabrochar. Eu sou uma flor murchando.
Duvido que ela vai querer transar comigo depois de hoje à noite, que
é uma obrigação. Eu espero que ela saiba que devemos consumar o
casamento neste hotel e em poucas horas, e depois apresentar os lençóis.
Poderia ser pela manhã como geralmente os casais fazem, todavia eu
recusei e programei para ser hoje a noite tudo.
É, está certo que vou cumprir com minha obrigação e vou fazer com
que tudo seja muito rápido. Eu quero terminar essa festa e ir para casa, tenho
uma filha pequena. Não posso ficar de palhaçada na rua.
Se eu não posso cuidar da minha filha para cuidar dos negócios, não
posso ficar festejando meu casamento arranjado e a mancha dos lençóis com
o sangue da virgindade da minha nova esposa. Nova demais.
Enquanto eu a faço se sentar no seu lugar, percebo que em seus olhos
tem uma dúvida me perguntando se eu também vou me sentar. Encosto em
suas costas, sentindo a sua pele macia. Um calafrio percorre seu corpo e não
sei se é de frio ou outra coisa. Será medo de eu tocá-la? Se for, vai ser difícil
manchar os lençóis. Porra!
— Eu vou fumar e já volto.
— Tudo bem — murmura acanhada.
— Coma um pouco. Você não parece ter comido.
— Eu estou bem.
— Você que sabe — digo e me afasto.
Vou para o lado de fora, para a varanda do salão. Pego um cigarro e
acendo e na penumbra da noite com poucas luzes para romantizar o ambiente
do casamento, a chama do cigarro é um alaranjado na minha cara.
— O que você está fazendo aqui fora?
Termino de tragar e olho para o lado, dando de cara com Colen.
— O que você está fazendo aqui?
— É o seu casamento e eu jamais perderia — responde com
simplicidade e seus olhos me registram de cima a baixo. — Você não parece
estar muito satisfeito. Porra, Paolo! A garota é bonita, por que não está feliz?
Vai ter uma bocetinha apertada e virgem hoje à noite.
Cerro a mandíbula, puto.
— Eu não sei por que está com essa cara de comeu e não gostou. —
Colen dá uma risada. — Na verdade, não tem como você estar com cara de
comeu e não gostou, já que não comeu ainda.
— Colen, o meu limite não é muito grande.
Ele estende a mão, pedindo um cigarro e lhe dou. ele acende e nós
dois tragamos juntos e soltamos. A fumaça dele faz três círculos no ar.
Sempre fazendo graça com tudo.
— Eu sei que o meu irmão obrigou você a se casar — começa,
olhando para longe — e que você está contrariado. É muito nítido, Paolo.
Esse casamento vai ser bom para você. Embora ainda sinta falta da sua
primeira esposa, o tempo sempre apaga os momentos.
Encaro seu perfil e não digo nada. Não querendo cortar o seu
momento de desabafo. Ele está distante e pensativo.
— Tem algo que você queira me falar, Colen.
— Nada demais.
— Tem certeza? — insisto.
— Só se você puder me responder com sinceridade também. — Ele
vira o corpo para mim e respira fundo.
— É verdade que Cássio está de olho em nós?
Jogo meu cigarro no chão e termino de apagar.
— Está falando sobre Cássio D’Ângelo estar de olho em todos nós
em questão das vezes que seu irmão quebrou as tradições? Se for isso, sim
está e até porque nós fizemos uma aliança com a Darkness e precisamos
honrar a Cosa Nostra e a ‘Ndrangheta. Você sabe como elas são mais
rigorosas sobre as tradições.
— É, eu sei.
— Agora, me fala por que isso? Por que esse assunto? Você fez
alguma coisa que quebre as regras, Colen?
— É só porque isso não me cheira bem.
Ele não me convenceu, mas prefiro que o tempo me responda. Colen
não é muito bom com as palavras e sim com ações, não nas dele e sim de
qualquer pessoa que precise da sua presença.
— E você, por que não está satisfeito com o casamento? A Nina
realmente é uma mulher bonita. Não é tão mais nova que você. Tem vinte
anos. Pior se tivesse dezoito. Ia ser bem pior. É bom pegar uma virgem de
vez em quando e, com certeza, se você é tão rigoroso com nossas tradições,
não deixará de cumprir uma das mais nojentas, porém necessárias, inclusive
em um casamento estratégico.
— Sim, eu sei e não vou deixar de fazer, embora, como você disse:
Me causa repulsa.
— Mas não tem como abrir mão. É a única garantia de que o
casamento vai prosseguir. — Faz uma expressão engraçada. — Já pensou...
duas famílias fazem um acordo de um casamento e a filha se casa e vai
dormir com o novo marido, mas no dia seguinte o cara anula o casamento
porque não gostou da mulher. Essa garantia é mais para a mulher do que para
o homem, apesar de fazê-las passarem vergonha. É a única forma, a única
assinatura real, entre um acordo de sangue. Um acordo de casamento
arranjado.
— Eu sei disso, Colen.
— Então, larga dessa carranca e vai dançar com a sua esposa.
Aproveite ela um pouco e... — torce a boca com nojo — foi o beijo mais sem
graça que eu já vi em todos os casamentos da Famiglia.
Aperto seu ombro para calar a boca, mas aprecio sua presença.
— Apesar de tudo, eu estou satisfeito, se você quer saber. Eu pareço
ter livrado a menina de dois monstros. — Mesmo que eu seja um – completo
meus pensamentos.
— Está falando do Rocco Gatti? Ele sempre foi um babaca e eu não o
matei porque meu irmão não permite, mas ele é muito cruel com seus
soldados. O filho dele, você acha que o garoto está na Itália por quê. Por que
preferiu ser treinado por estranhos do que pelo pai? É claro que não, ele se
refugiou na Itália.
— A Sicília sempre é o nosso berço.
Colen dá uma gargalhada e bate no meu ombro.
— Eu desejo que você seja pelo menos tranquilo, não posso estimar
que você encontre a felicidade, mas talvez a tranquilidade, Paolo. Eu gosto de
você com os olhos no presente, não no passado e você precisa estar aqui.
Ele se afasta e me deixa com meus pensamentos. Eu posso ser o
Consigliere do Travis, mas se algo acontecesse comigo, tenho certeza de que
Colen seria um perfeito conselheiro para o irmão.
12
U m tempo depois, Paolo volta para a nossa mesa, onde tive uma
conversa amigável e legal com Madeleine, a esposa do Capo, que
também está na mesa, mas não está. Travis Lozartan ficou recluso
conversando com alguns homens ao longe. Assim como meu marido, que foi
para fora.
Com os olhos baixos, vejo-o se sentar no seu lugar e pegar uma taça
de champanhe quando o garçom passa. Ele bebe todo o líquido de uma vez.
— Você comeu? — Paolo pergunta olhando para o meu prato e a taça
de vinho cheia.
Na verdade, não. Meu estômago está revirado com o nervosismo de
ter que sair daqui e ir para a casa dele para sempre. Na máfia, o fim dos
casamentos é apenas a morte. Não tem outra opção. E não sei por que estou
pensando isso. Ficar no meio dos leões muda tudo.
— Não estou com fome.
Ele limpa a garganta, fita meu prato de novo e depois seus olhos
encontram os meus.
— Seria bom comer. Não quero que você passe mal. — Chega o rosto
mais perto do meu e murmura: — Também não estou feliz, mas você não me
verá ficar bêbado para compensar isso. Então, coma!
É uma ordem. E eu aceito. Qual a outra escolha? Acontecer o que ele
acha terrível e eu ser punida em casa. Melhor não. Nunca gostei de apanhar e
não será dele que vou aceitar.
Papai não me batia diretamente, ele fazia o típico pai que mandava a
mãe fazer o trabalho de punir, e tanto faz. Eu não gostava de apanhar, nem de
leve e nem forte, mas aguentava em silêncio e, principalmente, quando
desrespeitava as regras. Céus! Eu cresci cercada de tantas regras que me
questionava se respirava da forma como papai achava aceitável.
Mesmo assim, eu cresci forte e complacente. Eu sou a filha do meu
pai e se me tornasse fraca seria uma desonra por tudo o que ele representa em
Seattle como Subchefe de Travis. Eu não posso quebrar justamente essa
regra: a de esposa perfeita. Ele mandou eu respeitar e honrar meu marido.
— Deixe esse prato aqui. — Escuto Paolo e viro-me para ver. —
Coma! — ele ordena colocando o prato na minha frente e eu encaro o
macarrão ao molho branco.
Assinto e pego os talheres, encho a primeira garfada e o vejo comer
também. Ele olha de soslaio para mim e sorrio de canto de boca. Quero ser
agradável, fazer valer a pena.
— Está bom — comento.
— Você está com fome, por isso acha que está bom.
Solto uma risada e tampo a boca correndo para não ser deselegante.
Não antes de capturar os olhos de Paolo arregalados. Ele parece surpreso. Por
que eu ri?
13
S eu riso resgatou algo dentro de mim, que não sei o que foi. Alguns
meses atrás, eu pensei que ela nunca sorriria perto de mim e gostei
dela se permitir relaxar ao ponto de rir de algo que eu disse. Rir de verdade.
Mesmo eu dificultando as coisas.
Nós terminamos de comer em silêncio e eu peço uma taça de vinho
para ela e uma para mim depois que comemos. Quando estou relaxando do
seu lado e percebendo que ela também não está mais nervosa, o mestre de
cerimônia comunica que está no momento da dança dos noivos.
Eu me levanto, abotoo meu paletó de volta e estendo a mão.
— Vamos dançar?
Ela concorda com um aceno, aceita minha mão e se levanta. Seu olhar
está compassivo. Eu realmente esperava que se encolhesse na minha presença
às vezes, porém ainda bem que isso é bem distante do que ela faz.
Eu a guio até o meio do salão para podermos fazer a nossa dança, e
forço os pensamentos a ficarem trancafiados em algum lugar obscuro em
minha mente. Não quero ficar pensando na primeira dança que tive com Mia
ou na última, que foi num casamento da Famiglia.
Coloco minha mão na sua lombar e a outra junto com sua mão direita.
Tudo que nos resta enquanto dançamos é a música diante do silêncio que se
estabelece entre nós.
Olhando para os seus cabelos, ignorando a semelhança com minha
falecida esposa, tudo aquilo que Colen acabou de falar para mim e até mesmo
Gregori, martela na minha cabeça, pois eu preciso que tenhamos um bom
convívio como marido e mulher. Não tive ainda um filho homem e
provavelmente muitos esperam que ela me dê esse filho, ou mais filhos. Não
importa, se for outra menina, eu vou amá-la do mesmo jeito. Eu sempre vou
adorar todos os meus filhos.
Continuamos dançando por uma segunda música e uma força maior
do que eu pede para ela erguer o rosto e olhar para mim.
— Você está muito infeliz?
— O que você quer dizer?
— Com esse casamento. Você está muito infeliz?
A surpresa em seus olhos é brilhante. Ela chega a arregalar seus olhos
e depois franze a testa.
— Eu não tive escolha, Paolo, e seria muito mal-educada se falasse
que estou infeliz. Embora não tenha sido planejado, até agora você não me
tratou mal.
— E eu não pretendo fazer. Não vou lhe prometer nada além de
respeito e companhia. E assim eu quero sua lealdade e que cuide da minha
filha.
— Eu vou cuidar dela e... — Prende a vontade de rir mordendo seus
lábios doces e macios. — Eu adoraria conhecê-la.
Ela é uma ninfeta fazendo esse gesto e, por pouco, não me esqueço
dos protocolos, e a beijo bem agora.
O que está acontecendo comigo?
— Ela já foi embora para casa — replico retomando meu raciocínio.
— Você vai conhecê-la mais tarde.
— Tudo bem — ela assente.
— Daqui a pouco, depois que você dançar com seu pai e o meu pai e
o Capo, nós iremos subir para finalizar a cerimônia.
Seus olhos arregalam, agora de pavor.
Ela sabe do que estou falando e isso me dá um certo alívio. Iria
detestar ter que explicar para ela o que acontece nos casamentos, ou nos
quartos depois do casamento.
— Não fique com medo. Isso só piora as coisas.
Ela nada diz, apenas concorda balançando a cabeça mais uma vez.
— Agora é a minha vez de dançar. — O pai dela aparece, nos
interrompendo.
Dando um olhar protetor a Nina, eu me afasto e vou dançar com a
mãe dela.
Não troco uma palavra com ela, porque é uma mulher intragável. Eu a
cumprimento, dançamos e depois me afasto. Danço com minha mãe e
Madeleine, enquanto Nina dança com Travis.
— Faça valer a pena, Paolo — Madeleine fala e eu viro meu rosto
para ela. Com Travis, eu não preciso me preocupar em deixar Nina.
— Ela parece ser uma boa menina e educada. E, acima de tudo,
complacente. É raro ter meninas assim.
— O problema é esse, Madeleine. Ela é uma menina e isso me
incomoda.
— O tempo vai fazer essa impressão passar. — Abre um sorriso
suave. — Olha que estranho, Travis e eu somos quase dez anos de diferença,
e nós nunca tivemos essa conversa. — Franze a testa como se lembrasse de
algo. — Não sentimos a distância das nossas idades em nenhum momento
porque nos conhecemos, curtimos a mesma coisa e compartilhamos
momentos. Acredito que, quando a gente se abre, as coisas acontecem.
— Eu espero que você tenha razão.
— Acho que, dessa vez, você vai ter que dar o braço a torcer para
mim — diz fingindo soberba, e fica séria. — Eu espero de verdade que você
fique mais calmo e que, talvez, encontre a felicidade. Eu não quero que você
esqueça a Mia, talvez isso nunca vá acontecer, Paolo. — Faz uma pausa. —
Mas você pode ser feliz de novo com a Nina e eu sei que você era feliz com
sua esposa. Você sorriu e a tratou bem quando eu nunca vi você fazer isso
com ninguém, a não ser com Marinne. Eu sei que esse seu coração de gelo
não está todo congelado, então tente.
— Você tem o mesmo ar de persuasão do Travis.
Ela deixa escapar uma risada relaxada e feliz.
— E é por isso que eu sou a esposa dele.
— É por isso que todo mundo chama você agora de “O Capo de
saia”.
Ela ri, mais uma vez, e se afasta quando a música acaba.
— Então, o seu Capo está pedindo para você tentar ser feliz dentro de
casa — enfatiza a palavra casa. — Ninguém precisa saber. — Pisca o olho e
se vira para ir até Travis.
Minha esposa está nos meus braços, mais uma vez, e ela me dá um
sorriso tímido. Mas logo some quando todos gritam para que eu tire a liga.
Eu faço, tentando não encostar muito na sua pele. É sacanagem. Não quero
assustá-la.
— Lençóis! Lençóis!
Nina franze a testa porque sabe o que eles querem dizer e eu aperto
sua mão.
Eu aceitei me casar com uma mulher nova, quando todas as vezes que
fecho os olhos enxergo minha ex-esposa. Homem de honra só jura a
verdadeira lealdade a Lawless e ao seu Clã nada mais. O que é um
passatempo e uma forma de garantir que seu sobrenome se estenda por
muitos anos quando os filhos carregam seus nomes. Não temos piedade e
nossas morais são bem contraditórias, sobre esperar o casamento, quando
fazemos coisas tão bárbaras. Porém para mim, consumar este casamento será
uma tortura.
— Está na hora. Vamos subir?
Novamente ela apenas concorda com a cabeça. Eu espero que ela pare
com isso. Quero ouvir sua voz, não só suas expressões de obediência.
14
Eu não deveria me sentir fora de casa, porque, se eu me casei com Paolo, essa
casa é minha agora. Mesmo assim, me sinto extremamente deslocada.
Cheguei ontem por volta das onze e meia, após Paolo e eu transarmos,
tomarmos banho e levarmos o lençol para todo mundo ver. Ele fez tudo quase
que correndo e o ouvi falar para o homem que nos acompanhou, Filippe, que
ele queria queimar o lençol.
Respiro fundo encarando meu reflexo no espelho e me sinto pronta.
Escolhi um vestido leve já que o tempo está bom. Eu abri as portas da
varanda do meu quarto, que não é o de Paolo.
O vestido é branco e cheio de margaridas e vai até o pé, leve e com as
mangas para baixo mostrando meus ombros. Acho que causa uma boa
impressão e ele me deixa confortável. Feliz comigo mesma.
Meus cabelos estão soltos e eu até passei maquiagem, sendo que nem
sei o porquê. Eu estou só... tentando não parecer apavorada, mesmo que meus
olhos consigam transparecer exatamente como estou internamente. Morrendo
de medo dessa nova vida.
Caramba, cadê aquela supercoragem? Espero que não tenha ficado
em Seattle.
— Okay, Nina. Está na hora de você tomar uma atitude. Essa casa
também é sua.
Vou direto para a porta, decidida. Só que no corredor o frio na barriga
aumenta. Paolo deve estar lá embaixo e junto com a sua filha porque já são
nove horas da manhã e eu li que um bebê acorda essa hora, no caso. Acorda
pra valer e eu esperei a madrugada toda ela chorar, mas não ouvi. Será que
ela está bem?
Eu ainda não conheci a bebê. Nem vi como ela é, apenas sei que é
pequena, mas não sei de quanto tempo. Se já tem um ou dois anos, por
exemplo, ou mais. Mas acredito que não. Eu vi o berço, mas não vi o bebê
quando passei na porta do quarto ontem.
Desço as escadas, escutando barulho no andar de baixo e desvio
minha atenção do soldado que encontrei na casa quando chegamos. Parece
que ele está aqui para a filha de Paolo. Ele está na porta, sentado numa
cadeira e não olha para mim, mas óbvio que percebe que passo perto dele.
Na cozinha vejo uma senhora mexendo numa panela e sinto um
cheiro maravilhoso de leite quente. Ela vira-se para mim com um sorriso
educado.
— Bom dia, senhora. Vai tomar café?
— Er... bom dia. Vou sim.
— Então tem que se sentar na sala de jantar. O senhor Paolo já está lá
com a Sophia.
Sophia?
Deve ser a filha dele. Ai, caramba! Sinto um frio na barriga. Vou
conhecê-la agora.
— Faça um favor, e vá para lá.
Assinto, peço licença e baixo a cabeça para não me fazer sentir mais
errada.
Eu lhe dou as costas e vou para onde ela indica. Encontro meu
marido, essa palavra ainda é muito estranha na minha cabeça, e uma bebê
numa cadeirinha de bebê alta. Ela está batendo as mãozinhas ao lado do prato
com frutas: maçã e banana picadas.
Quase caio para trás vendo o homem frio e distante que se casou
comigo ontem sendo amável com a bebê. Ele fala baixo, com paciência e até
sorri, mas, quando me vê, fecha a cara como um dia ensolarado que fica
carregado de repente com uma trovoada e surge a chuva. É, o tempo fechou.
— Bom dia — digo e fico com a boca aberta como se eu fosse falar
mais alguma coisa, mas resolvo não falar nada.
Será que, em alguma hora, essa sensação de ser inconveniente vai
passar?
— Bom dia — devolve sendo educado.
Sorrio com educação, sentando-me na cadeira perto da menininha de
cabelos loiros. Ela é linda, perfeita. Ela olha para mim com lindos olhos
cinzas. Os olhos do pai. Minha nossa. Ela é linda demais.
— Olá! — Tento ser animada e contagiante para pegar sua simpatia.
— Essa é minha filha, Sophia.
— Ela é muito linda. Você é muito linda, sabia? — Brinco com ela
passando a mão nos seus cabelos, e ela apenas me olha.
— Ela tem nove meses, completou essa semana.
Assinto registrando a informação.
— Ela realmente é muito bonita — digo sem tirar os olhos dela. —
Eu não sabia que era tão nova.
— Tem algum problema ela ser tão nova?
Ela ainda é um bebê, e fofa.
— N-não — gaguejo procurando as palavras certas. Me sento uma
imbecil. — Eu só estou querendo dizer que estou surpresa. Não sabia que ela
era um bebê ainda.
— Se isso for um problema.
— Não, não é.
E o que ele quer dizer com “Se isso for um problema?” Ele vai me
devolver para os meus pais? Vai se divorciar? Eu sinto vontade de rir, mas
bem lá no fundo, porque tenho medo de ele ficar mais distante do que o
momento de ontem após o seu corpo estar tão perto do meu e depois sumir.
Eu tinha seu cheiro, senti a sua mão, sua pele e seu gosto. E depois nada.
— Não tem problema nenhum. É apenas uma novidade.
— Que bom, porque, enquanto eu estiver trabalhando, você vai cuidar
da casa e da minha filha. Sophia não é muito exigente. É obediente e uma
criança boa. Se você precisar de alguma coisa, é só me ligar que eu venho na
hora.
Parece que eu sou a babá da criança, não a esposa dele, e que sou uma
inútil também.
— Se precisar, Marta sempre estará cuidando e limpando a casa. Ela
está encarregada de fazer a comida e você só tem que cuidar da Sophia.
Novamente eu sou a babá da criança.
— Gregori vai ser o seu guarda-costas. Quando precisar sair, ele vai
levá-la e, se você quiser algo da rua, ele pode comprar. Você pode ir na
pracinha, passear com Sophia ou o que desejar, mas sempre tome cuidado.
Eu já sei sobre isso. Segurança.
— Tudo bem. — Sorrio sem jeito, concordando com a cabeça.
— Eu devo voltar para casa quase na hora do jantar, mas não vou dar
certeza. — Ele se levanta, terminando de tomar seu café e coloca as mãos nos
bolsos, fazendo seu paletó ir para trás.
Ele está de terno azul-marinho, a camisa branca e a gravata branca e
cinza com listras. Ele é muito bonito e assustador. A sua diferença de idade
comigo não me assusta mais. Só seus olhos penetrantes e raivosos.
— Você está me ouvindo?
— Sim, eu estou ouvindo.
— Ótimo. Eu vou agora. Meu número está na agenda telefônica ao
lado do telefone.
— Okay. — Eu acho que é a única palavra que posso dizer. É como
se eu não tivesse opção.
Eu sabia que era um casamento com propósito, mas não que eu fosse
ser tratada assim. Estou ficando um pouco irritada e acho que o primeiro
telefonema que eu vou dar, não vai ser para ele e sim para o meu pai. O que
ele tinha na cabeça? Como se ele pudesse fazer, ou se importasse. Ele só
pensa em poder e meu casamento o favorece com status para o Capo.
— Você já pegou um bebê no colo? — Paolo pergunta e eu acordo do
devaneio.
Encarando-o respondo:
— Claro que eu já peguei um bebê no colo.
Meu Deus do céu! Eu tenho vinte anos e não dez.
— Você pode pegar ela, por favor? Eu tenho que ir agora e ela
precisa de atenção.
— Ela parece que ainda está comendo — replico olhando para Sophia
com um pedaço de maçã na boca segurado por sua mãozinha fofa.
— Eu quero ver você com ela.
Ih, que coisa. Sou inútil e não sei segurar uma criança.
— Tudo bem, eu pego.
Paolo dá um passo para perto de mim quando me aproximo da cadeira
de bebê. Sophia me olha com seus olhos enormes e claros, cheia de
curiosidade.
— Oi.
Ela pisca rápido, me encarando, mas não dá sinal de que vai chorar.
Eu consigo tirá-la da cadeira e a aconchego nos meus braços. Ela não é muito
grande. É uma gracinha mesmo. É muito simpática, não se afasta ou reclama.
Ela é leve, cheirosa e agradável. Gostei dela. Parece uma boneca.
Eu sorrio para ela e sussurro de novo:
— Oi, Sophia. Tudo bem?
Ela pisca e toca meu rosto com sua mãozinha melada de maçã, mas
nem ligo. Vejo que ela dá uma risada e eu fico como uma boba olhando-a. Eu
acho que a gente vai se dar bem.
— Eu sou a Nina.
Ela faz um som como se estivesse conversando comigo e eu rio.
Paolo limpa a garganta e eu presto atenção nele. Tinha esquecido de
que estava aqui ainda.
— Espero que tudo dê certo. Agora eu tenho que ir.
— Quer que eu te acompanho até a porta?
— Não precisa. Termine de tomar o seu café. Marta! — ele chama a
governanta e ela aparece de prontidão:
— Sim, senhor.
— Auxilie Nina, não que ela vá precisar. No entanto, até ela se
acostumar com a casa, vai precisar da sua atenção.
Ele se importa, mas é grosso como uma porta.
— Tudo bem, senhor.
— Qualquer coisa, já sabe.
— Sim, senhor.
O que ele quer dizer com “Qualquer coisa, já sabe.”? Talvez seja a
mesma frase para mim. Qualquer coisa me ligue. Aff... Tanto poder, tanto
ego. É difícil não se irritar com essa possessão controladora dele. Cadê o
homem tranquilo que pediu para eu tirar sua blusa. Parece que ele mudou da
água para o vinho de repente desde o momento que se separou de mim na
cama ontem.
15
T omando café reparei que Sophia é uma criança doce e não exige
nada. Fiquei surpresa que, depois que ela comeu, Marta a pegou na
cadeirinha. Eu fui atrás para saber o que iria acontecer e vi a mulher
colocar a bebezinha num bercinho baixo e com alguns brinquedos.
— Ela vai ficar aí?
— É onde ela fica — a mulher responde olhando para mim com a
testa franzida. — O que a senhorita esperava? Desculpa, o que a senhora
esperava?
Eu não sei se ela falou de propósito ou é porque a minha cara não
parece de uma senhora.
— Não. É... porque, ela fica o dia inteiro aí?
— Depois que ela come o seu café da manhã, eu coloco no
chiqueirinho para ela brincar com seus ursos de pelúcias.
— Mas ela não anda? Ela não engatinha? — questiono confusa e
triste pela criança. — Sendo sincera, nem sei se ela está engatinhando. Ela
tem nove meses e qualquer criança nessa idade já está engatinhando, quase
andando.
— Como você sabe disso? Você tem irmão pequeno?
— Não.
— Sobrinho pequeno?
— Não.
— Então como é que você sabe?
— Porque eu li num livro.
Os olhos de Marta se arregalam surpresos, porém irritados.
— Você leu num livro?
Ergo meu rosto, aprumando a postura e explico:
— Eu li vários livros sobre bebês e crianças. Não sabia a idade certa
dela, então queria me preparar como podia, já que ninguém me deu uma
única informação.
— Você não sabia que ele tinha uma filha pequena?
— Eu sabia que Paolo tinha uma filha, mas não que era um bebê tão
pequeno. Achei que tinha um ano e meio, ou dois anos.
— Mesmo que fosse essa idade, iria continuar dependente de você.
— Eu não estou dizendo isso. Estou falando que é errado ela ficar o
tempo todo dentro do berço.
— Olha, ela fica aí porque eu não tenho muito tempo para nada. Eu
estou cansada. Aproveita a sua energia de uma garota jovem e gaste com ela
ensinando a andar, brincar e tudo o que você leu nos seus livros. Eu agora
vou finalmente conseguir limpar a casa e preparar uma comida decente. Se
precisar de ajuda, é só me chamar — diz e me dá as costas sumindo feito
fumaça. Parece irritada comigo.
Pelo amor de Deus! Ela não percebe que está errada e a culpa é minha
ainda.
Suspirando, me aproximo de Sophia, que olha para mim cheia de
expectativa. Ela está agarrada a um cachorro de pelúcia muito bonitinho.
— Oi, anjinho. Que tal a gente hoje sair desse quadradinho e explorar
sua casa toda, hum?!
Eu a pego no colo, não esquecendo do urso que ela estica a mãozinha
pedindo desesperada para pegar. Vou me sentar sobre o tapete no meio da
sala com ela.
Sei que o quarto dela é grande, consegui perceber mesmo ainda não
entrando lá. Provavelmente tem várias outras coisas para bebês, mas a gente
está aqui.
No tapete, estico minhas mãos para ela tocar e ela bate com suas
mãos gordinhas. Caramba! Eu tenho vontade de morder de tão gostosa.
— Hoje a gente vai vê se você consegue engatinhar, que tal? —
Converso com ela, mesmo achando um absurdo a situação. — Você já era
para estar andando. É quase uma mocinha.
Ela faz sons confusos e joga para longe o urso. Acho que tentou jogar
para mim. Me estico e pego o urso e jogo para o alto, agarro e entrego para
ela. Sophia dá um grito, um meio sorriso, mostrando suas gengivas sem
dentinhos. É fácil se apaixonar por ela, diferente do pai. Ela é simpática,
agradável e exige nossa atenção, não tem vergonha disso.
— Eu espero que você goste de mim tanto quanto eu já estou
gostando de você.
Encarando-a, uma ideia passa pela minha cabeça vendo ela toda
melecada.
Então me levanto, a pego no colo e vou até a cozinha, onde encontro
Marta resmungando sozinha.
— Com licença — peço sentindo-me uma intrusa.
— Sim, senhora? — Ela vira-se para mim.
— Ela já tomou banho hoje?
— Creio que não pelo horário. O senhor Paolo não deu banho na filha
e, se você quiser dar, não precisa pedir para mim.
Uau. Ela é grossa sempre assim? Ou eu fiz algo que ela não gostou?
— Tudo bem, então eu vou dar um banho nela.
— Faça o que a senhora bem entender.
Caramba! Eu vou parar de falar com ela. Vou ignorar que não fazia
com minha mãe e com ela é mais fácil, já que eu sou a patroa dela.
Com um aceno de cabeça, saio da cozinha o mais rápido possível e
subo para o quarto de Sophia.
— Acho que a tia Marta não gosta de mim.
A bebê não entende, óbvio, e sorri.
— Isso. Ria da minha desgraça. Eu sou uma piada pra você?
Ela ri mais alto e agarra meus cabelos, mas não puxa.
— Por favor, não. Isso machuca a Nina.
Tiro suas mãos dos meus cabelos quando a deixo sobre uma cômoda
com um colchãozinho. É o trocador. Eu vi isso num filme. E passei as últimas
três semanas lendo livros de crianças e bebês, e assistindo filmes. Eu espero
que comer cocô por acidente ou deixar ela cair do canguru, não aconteça. Eu
vou comprar um canguru depois e vou cuidar para que não deixe Soph cair
dele.
— Vamos tomar banho.
— Aaaah! — ela grita e bate as mãozinhas.
— Você gosta de banho ou...
Ela não me deixa terminar e grita de novo.
Eu dou uma gargalhada e termino de tirar sua roupa.
— Banho?
— Ba-ba-ba...
Ai, que alívio. Ela gosta de banho.
17
C omo uma semana passou rápido, eu não sei. E nesses sete dias, eu
aprendi muita coisa sobre bebês e Paolo. Sophia é como eu percebi
no primeiro dia de convívio, calma e fofa. Já o pai dela. Eu mal o
vejo em casa e não acho que ele está fazendo de propósito. Deve estar com
muito trabalho. Eu vejo quando ele chega, parecendo bem esgotado, porque
todas as noites vai falar com Sophia no bercinho, menos comigo. Não tem
problema. Uma hora, ele vai se acostumar.
É óbvio que eu não quero ser apenas Nina, sua esposa estratégica para
cuidar da sua filha. Quero mais. Almejo ser feliz com ele e Sophia. Mas ainda
está cedo e eu o entendo estar relutante. Ele repete tantas vezes que a minha
idade o incomoda, que estou pensando em amadurecer. Vai ser bom para ele
e para mim. Não posso ser uma boboca cuidando de uma criança.
Nessa semana que passou fiquei pensando na nossa noite de núpcias.
Fiquei curiosa se ele gostou como eu. Ouvi tantas histórias sobre perder a
virgindade e como os maridos tratavam as esposas no Dia D, que fiquei
confusa. Não foi como eu esperava e eu queria experimentar mais. Quando o
vejo sem camisa, que ele sempre dorme sem, fico com vontade de tocar seu
peitoral musculoso. Ele é forte e um afrodisíaco para os meus olhos.
Como nos filmes que eu assisto e nos livros que eu leio, eu podia ser
legal com ele, me aproximar e ser sua amiga. Talvez isso o faça querer ficar
perto de mim também. Só não vou insistir nisso. Eu não sei quanto tempo ele
está viúvo e talvez é por isso que não quer ficar perto de mim ainda. Foi
pouco tempo, levando em consideração que Sophia tem nove meses.
— A senhora deseja mais alguma coisa?
Acordo do meu devaneio e olho para Gregori. Ele me ajudou a
colocar uma manta no gramado para poder brincar com Sophia no quintal,
que é enorme e repleto de flores. Mesmo mortas e maltratadas, eu percebi que
tinha um lindo jardim por aqui. Talvez eu possa fazer algo sobre isso.
— O urso dela. Eu esqueci.
Ele abre um sorriso.
— Você nunca esquece ele.
— Ela não me deixar esquecer.
Ele assente e volta para dentro da casa. Me viro para Sophia e ajeito o
chapéu de verão que coloquei nela. Estamos iguais. Vestido florido e chapéu
de palha. Ela está uma gracinha.
— Você está uma mocinha.
— Boh! — grita batendo as mãos nas perninhas. — Boh!
— Boh?
Estico minha mão para ela, que é empurrada.
— Boh! Boh... Boh... — continua e seu rostinho fica tristonho de
repente.
— Oh, amor, não.
— Acho que ela quer isso.
Olho para Paolo vindo de dentro da casa com o cachorrinho de
pelúcia na mão. Ele chega até nós e se agacha, sentando-se nos calcanhares.
Entrega o urso para Sophia e ela grita:
— BOH!
— Boh é o urso? Eu não sabia. Estou há uma semana aqui e não
sabia.
Paolo sorri olhando para a filha.
— Eu também não sabia.
Suspiro e admiro-o na minha frente. Eu realmente sinto uma atração
maluca por ele. É tão bonito e não parece ser tão velho. Definitivamente não
sei nada sobre aparentar a idade que temos. Será que tenho mesmo cara de
dezesseis.
— Que cara é essa? Está se sentindo bem?
Pisco rápido e o encaro.
— Eu tenho cara de dezesseis?
Paolo cerra os olhos, desconfiado e fica me encarando como se fosse
um bicho em extinção.
— Por que a pergunta?
— Porque você não parece ter trinta e sete.
Um som estridente sai da sua garganta e ele se levanta.
— Vamos entrar. Vim buscar você para fazer compras.
— Minhas roupas te incomodam também?
— Você pergunta demais, Nina. Vamos. — Estende a mão para mim.
Sem minha resposta, aceito sua mão e fico de pé e, quando estou
quase cara a cara com ele, porque ele é muito mais alto que eu, seu rosto fica
perto do meu e engulo em seco com a intensidade dos seus olhos.
— Não incomoda não. — Se afasta, muito rápido e manda: — Agora,
pegue minha filha e vamos sair.
Sua filha. Sempre sua filha. Tudo bem. Ela não é minha, mesmo.
Ignorando minha irritação, me agacho e pego Sophia, que estava com
os braços esticados pedindo atenção.
— Vamos, minha princesa. — A ajeito no meu colo e arrumo sua
franjinha. Seu cabelo cresce rápido. — Vamos passear com o papai.
Virando-me para Paolo, o flagro olhando para mim com uma
expressão estranha.
— Aonde vamos? No shopping?
— Melhor.
— O que é melhor do que o shopping?
— Você não pode esperar, não?
— Não é isso. Eu posso esperar. Só estou curiosa.
— Isso eu já percebi — fala com sarcasmos.
Prendo a vontade de rir porque ele está tranquilo hoje e parece que
aconteceu alguma coisa que o deixou leve. Geralmente é tão fechado e
distante. A placa de “Não olhe para mim”, hoje está fora das suas vistas. Em
vez disso, ele está se permitindo. Não quero estragar o clima.
Eu o sigo para dentro de casa com Sophia nos braços agarrada ao urso
e batendo quase no meu rosto. Eu não ligo. Ela é uma graça.
— Você vai levar o urso com a gente?
Olho para a mão de Soph e para Paolo.
— Eu acho melhor não — ele recrimina.
— Qual o problema de levar o urso de pelúcia?
— Se ela perder, eu não sei se Madeleine pode achar outro igual e
não quero Sophia chorando por besteira.
— Madeleine? — indago franzindo a testa.
— A esposa do Capo. Ela deu de presente para Sophia nas vezes que
veio ajudar.
— Posso fazer uma pergunta?
Ele me olha com desconfiança como se não tivesse a fim de
responder. Porém, eu sou eu e faço a pergunta:
— Há quanto tempo sua esposa morreu?
— Não quero falar da minha esposa.
— Da sua ex-esposa — corrijo.
— Não estrague o dia, Nina — fala seco e sai pela casa entra no
corredor, que eu sei que fica o seu escritório.
Parabéns, Nina. Conseguiu deixar o seu marido de novo no modus
operandi de distância. Está feliz agora? Meu inconsciente zomba de mim.
— Eu acho que não posso falar da sua mãe — comento para Sophia.
— Mama.
— Isso. Mamãe. Você a conheceu? Será que conheceu?
— Se eu fosse você, não ficava fazendo esse tipo de pergunta.
Eu me viro para a voz atrás de mim, Gregori.
— Paolo é fechado, como você consegue ver, mas nem sempre foi
assim e a sua esposa era uma das únicas pessoas que fazia ele relaxar.
— Sua ex-esposa.
— Você compreendeu — sentencia rudemente. — O que eu estou
querendo dizer. — Ele se aproxima com sua expressão séria. — Se casar com
você foi porque ele estava muito cansado para cuidar da filha sozinho. Sophia
precisava de uma mãe e ele de alguém para ajudar. De alguém para ser sua
parceira. Não fica fazendo esse tipo de pergunta se deseja uma boa vida com
ele.
— Mas eu não perguntei nada demais.
— Falar da ex-esposa de Paolo é tudo que vai fazê-lo ficar mais
distante de você.
— Então você pode me responder?
— Ela morreu quando a Sophia tinha quinze dias de nascida.
Satisfeita?
Meu coração para e meus olhos enchem d'água. Quinze dias, então
ela quase não conviveu com a filha e o Paolo ficou esse tempo todo sozinho
cuidando de um bebê recém-nascido.
— Isso quer dizer...
— Que Sophia vai ter você como a mãe dela, mais ninguém. Não
acredito que ela vai conseguir se lembrar de Mia. Com certeza, não.
— Ele se casou comigo para eu ser a mãe dela?
— É isso mesmo. Por que você está surpresa?
— Não é isso. Teria sido mais fácil e eu não ficaria insistindo às
vezes, nem falaria sobre ela ou tentaria descobrir.
— Você não está toda errada. O certo era as pessoas lhe dar
informações, mas quase ninguém sabe da situação.
— Qual era o nome dela?
— Mia.
Mia? Eu ouvi Paolo falar esse nome um dia desses. Ele parecia estar
falando sozinho no escritório e eu não entrei porque não me sinto à vontade
ainda para me aproximar dele. Eu não quero insistir. Prometi a mim mesma
que não iria me rebaixar a ele. Prometi que nessa vida nova, eu iria dar tudo
de mim para as pessoas gostarem do que eu sou, não do que elas esperam que
eu seja. Eu não quero ser uma mulher que fica se arrastando para o homem.
Estou me esforçando e sendo uma mãe muito legal para a Sophia
nesses dias. Atenciosa e fazendo muito mais do que qualquer um já tenha
tentado. A criança nunca nem deve ter visto aquele jardim. Mas se ele estava
falando com a esposa morta, quer dizer que ele ainda a ama. Que sente a falta
dela.
Meus olhos enchem d'água e eu sinto uma dor no peito.
Será que ela vai ser uma sombra entre nós. Um fantasma do que ele
viveu.
Eu não quero isso. Eu não mereço isso.
— Por que você quer chorar? Está triste pela morte dela? Realmente
foi terrível.
— Como ela morreu? Foi complicação do parto?
— Não. Foi um atentado da Bratva no casamento do Capo.
— Então é por isso que a esposa dele vem cuidar da menina.
— Madeleine veio cuidar da Sophia algumas vezes porque se sente
culpada, sim. Mia estava na sua frente quando tomou o tiro, no lugar dela.
Mesmo que Paolo e Travis não gostem de falar sobre isso, é bom que você
nunca mencione que eu falei isso. Eu gosto da minha vida.
— Minha boca é um túmulo. E eu fico feliz que você esteja falando.
Eu preciso que alguém me esclareça algumas coisas. Odeio ficar no escuro.
— Eu vou falar só o que eu acho que você precisa saber. Nada além
disso.
— Agradeço.
— Madeleine também é madrinha de Sophia e, por isso, ela vem
visitar a menina. Melhor do que Marta, ela cuidou do Sophia muitas vezes,
mas você está fazendo um bom trabalho. Continua assim que Paolo vai lhe
dar o devido respeito. Sinceramente, tenha paciência. Talvez ele se acostume
com você. Ele vai precisar de um filho homem.
Oh, meu Deus!
Agora eu fiquei mais aliviada ainda. Ele vai me procurar para transar
para eu engravidar do filho dele, apenas isso. Sou a mãe incubadora jovem.
— Podemos ir? — A voz de Paolo chega até nós.
Me afasto de Gregori, virando-me para o meu marido, que está de
testa franzida olhando de mim para o segurança.
— Qual o problema?
— Nenhum — respondo rápido demais e me arrependo. — Gregori
só foi... Eu pedi a ele para tirar as coisas do jardim. Não quero que suje. A
colcha ainda está limpa.
— Está bem. Agora, vamos.
— Só vou pegar minha bolsa e Gregori...
— Sim, senhora.
— Pegue o carrinho da Soph nos quartos dos fundos.
— Sim.
Subindo correndo as escadas, passo pelo quarto de Paolo e vejo as
portas abertas. Ele dividia o quarto com Mia ou ela também tinha seu próprio
quarto?
Duvido. Ele a amava. Pior que superar o ódio de alguém é substituir
um amor. Pessoas especiais ficam para sempre marcadas em nós. As que
odiamos têm tempo para nos fazer lembrar delas.
19
A verdade é que não sei o que esperar quando o Paolo pediu para eu
ir para o quarto dele. Eu ninei e troquei a fralda tão rápido, para
Sophia dormir logo, que me sinto até culpada. E já tem dez
minutos que estou sentada na ponta da cama dele. Eu estou no quarto dele.
Não tinha entrado aqui ainda, diferente dele que entrou três vezes no
meu quarto. Uma delas foi para brigar comigo porque eu estava demorando
para voltar.
Sophia tinha acabado de tomar banho e ele achou que eu estava
enrolando para ir ver a bebê. Eu jamais faria isso com Sophia. Ela é a minha
princesinha.
Será que ele vai querer transar comigo hoje de novo. Eu espero que
sim. Honestamente fico esperando-o me tocar de novo desde aquele dia, e
hoje ele esfregou minhas costas, tocou meus peitos e foi maravilhoso. Delirei
e queria que ele colocasse a mão lá embaixo porque sinto um vazio nas noites
que penso nele.
Será que é normal ficar assim?
— Meu Deus. Eu estou suando.
Vou até o banheiro, correndo, para ver se ainda estou apresentável.
Penteio meus cabelos com uma escova que tem na pia e confiro meu vestido.
É simples, preto, colado ao corpo e deixa acentuado todas as minhas curvas,
os meus peitos. Parece que Paolo gosta deles.
— Eu sabia que ela não viria.
Escuto e saio do banheiro. Dou de cara com Paolo. Ele arregala os
olhos e toma uma respiração aguda.
— Onde você estava?
— No banheiro. Fui... fazer xixi — minto.
Eu deveria falar isso em voz alta?
De vez em quando eu não tenho filtro e ninguém é obrigado a tolerar
as coisas que sai da minha boca.
Ele caminha em minha direção e seguro a respiração. Sua mão voa
pegando meus cabelos e está em cheio por trás da minha cabeça, que eu deixo
cair um pouco para trás. Nossos olhos se encontram e os dele estão negros.
Famintos. Um animal feroz.
O arrepio se espalha pelo meu corpo e sinto meus mamilos
endurecerem, pressionando o sutiã de renda que coloquei de propósito.
Comprei hoje porque a moça da loja disse que empina os peitos.
— Você está linda com esse vestido.
— Obrigada. Foi você que me deu hoje.
Vejo seus lábios estremecerem e logo sua mão, que estava livre, toca
minha cintura. Ele respira com força e fecha os olhos por breves segundos.
— Você está cheirando a canela.
— Eu escovei os dentes.
Assente e seus lábios estão nos meus, furiosos. Não sei por que, mas
sinto como se estivéssemos numa corrida desenfreada. Será que ele ficou
preocupado de eu não querer que nós tivéssemos outro contato depois da
noite de núpcias. Eu apenas não queria, e não quero, ficar me jogando para
ele. Já passei vinte anos de humilhação. Não quero mais um segundo.
— Vou fazer tudo aquilo que você permitir.
Toco seu peito e franzo a testa.
— Eu quero.
— Você quer transar comigo?
— Eu quero tudo — respondo subindo minhas mãos no seu peito e
começo a abrir os botões da camisa e do colete.
Ele está perigosamente atraente. A camisa dele e o colete com suporte
de armas ficou. Ele tirou o paletó porque provavelmente molhei no banho.
Isso me deixa eufórica.
— Você fica bonito assim. Assustadoramente bonito.
Sua expressão é tentadora e gananciosa. Eu nem reconheço meus
pensamentos, meus desejos. Eu era apenas uma menina, noiva de um soldado
que está na Itália e que gostava de flores e era supermaltratada pelos pais.
Agora sou esposa e a mãe de Sophia. Não mais uma menina. Esse
pensamento me causa ansiedade em tudo. Até de ser a mulher dele.
— Sou sua mulher — sussurro encarando.
— Sim, você é — ele reafirma.
Agarra minha cabeça de novo entrelaçando seus dedos nos meus
cabelos e me beijando até tirar o fôlego. Sua língua dança com a minha e
adoro. Corajosa também, enfio meus dedos por seus cabelos grisalhos. Eu
realmente gosto dos cabelos dele. Esse ar de maturidade o torna mais sexy.
Depois que paramos de nos beijar, nos afastamos para poder tirar as
nossas roupas. Desabotoo todos os botões da sua camisa e o colete. Ele deixa
cair no chão e me agarra, vira de costas. Abre o zíper do meu vestido e
desliza pelas minhas pernas apalpando meu corpo em todos os lugares que
anseio por seu contato. Ele quase arrebenta meu sutiã, mas eu o advirto
porque comprei hoje.
Ele tira minha calcinha e me abraça por trás, como estava na
banheira. Sua boca está no meu pescoço, lambendo até meu queixo e uma das
suas mãos toca meus peitos e desce. Seus dedos dedilham até o vale dos meus
pelos pubianos. Passa a ponta do dedo nos lábios e logo está massageando
onde formiga: a ponta do meu clitóris.
— Você está molhada — sussurra no meu ouvido e parece surpreso.
Eu não digo nada e junto minha mão com a sua, forçando-o a
continuar a me acariciando ali. Mordo o lábio sentindo uma quentura e gemo
alto, sem vergonha.
Ele continua brincando com meu clitóris, incansável. Eu estou quase
caindo porque minhas pernas viram gelatina, até que ele para. Me vira de
frente para ele, como se eu fosse uma boneca, e me beija segurando meu
rosto. Ele sempre faz isso. Essas mãos enormes e brutas seguram meu rosto e
seus lábios devoram a minha boca. Eu me sinto pequena em seus braços de
uma forma sexy. Ele é tão quente, alto, forte e musculoso. Eu toco seus
braços, sentindo os músculos e as várias cicatrizes, os pelos no meio do peito.
Pelos grisalhos.
Quando foi que o grisalho ficou tão sexy?
— O que que foi? — Afasta meu rosto, ainda segurando com suas
mãos e me encara. — Te incomoda?
— Não. Eu só acho... que combina com você.
— Meus pelos grisalhos combinam comigo?
Prendo meu sorriso mordendo minha boca.
— Você combina com você mesmo. — Toco seus ombros. — Não
consigo imaginar você sendo outro homem.
Seus olhos brilham e algo passa por eles que não consigo identificar.
— Como você me imaginava?
Eu poderia não falar, mas faço.
— Gordo, sem graça, um pouco parecido com meu pai e fedendo a
charuto.
Paolo ri, pela primeira vez para mim, e afaga minha bochecha com o
polegar.
— Ainda bem que eu não sou nada disso. E eu fumo cigarro.
— Percebi que está fumando menos. Está tentando parar? Seria bom
para viver mais.
Ele não responde e me dá um beijo. Gemo quando aperta minha
bunda e eu me agarro a ele. Dou um pulinho e consigo abraçá-lo, enlaço
minhas pernas em sua cintura e meus braços em seu pescoço. Ele continua
me beijando e sinto que anda.
Logo sinto o colchão macio e o cheiro bom das colchas quando ele
me deita, e não se afasta. Paolo mantém o contato me beijando, passando as
mãos na minha cintura, na minha bunda, nas minhas coxas e, quando para de
beijar minha boca, lambe meu queixo, meu pescoço e dá atenção para os
meus seios. Ele chupa um de cada vez.
Me agarro às colchas sentindo um prazer me enlouquecer e fecho os
olhos. Quase morro quando o sinto passar a barba no meu umbigo. Uau! Sua
boca está na minha boceta, me lambendo.
Ele parece gostar muito de fazer isso. Me chupar. Dá um beijo bem
no centro do meu calor, que envia um arrepio eletrizante por cada parte do
meu corpo. Me sinto eletrocutada. Sinto-me queimar e incendiar.
Paolo desce mais o corpo, se acomodando na cama para poder agarrar
minhas coxas, abrindo minhas pernas e começa a me chupar de verdade. Eu
abro a boca, sentindo meus olhos lacrimejar. Por que é tão bom?!
Se tivessem me contado antes que, quando a gente se casa tem isso,
eu teria aceitado ontem e com um sorriso. Mas será que, se não fosse Paolo,
seria assim? Não quero pensar nisso porque estou adorando demais isso que
ele faz com a língua na minha boceta.
Como Léa me falou brincando, mas agora comprovo: “Panela velha
que faz comida boa”. A experiência de Paolo é sexy e eu espero que um dia
ele ache o mesmo da minha juventude. Acho que nunca vou me cansar de
sexo.
Um gemido solta do meu peito, como se fosse uma corda que
arrebenta dentro de mim.
— Oh! — grito e ele levanta a cabeça.
— Não faz isso. Vai acordar a Sophia.
— Me desculpa. Me desculpa.
Ele sorri e vejo que seus lábios estão molhados. Não tem visão mais
sexy do que essa. Eu nem consigo pensar.
Por impulso, me sento, fazendo ele ir para trás e agarro seu rosto. Lhe
dou um beijo ardente.
— Eu não quero sua mão, nem sua boca. Eu quero você — murmuro
olhando-o nos olhos.
Fica me encarando e acho que vai fazer algo quando um choro
estridente atravessa a casa inteira e nós congelamos.
— Sophia — digo com a voz fraca. — Ela acordou.
Paolo fecha os olhos, parece se sentir derrotado e se afasta.
— Eu vou ver como ela está. Fica aí.
— Mas e se ela...
— Ela só quer atenção. Me espera aqui.
Eu não tenho outra opção porque estou nua e não sinto minhas
pernas.
Eu quero que ele volte logo.
21
Q ueria saber o que eu fiz de errado para o Paolo não querer falar
comigo. Ficou bem evidente no telefonema de mais cedo, que não
está com vontade nem de me ver. Poxa, ontem à noite pensei que nós
íamos engatar em um convívio harmônico de marido mulher.
Ele parecia com tanta vontade de querer transar comigo. Me preparei
toda para o momento, psicologicamente quero dizer, porque fiquei do jeito
que estava. Mesmo colocando aquele vestido para provocar, a calcinha e o
sutiã, não foi realmente para ele.
Eu queria demais, não só transar com ele, mas sua aproximação.
Ontem foi um dia incrível. Nós saímos como uma família na rua: eu, ele e
Sophia. Então ela chorou.
— Eu amo você, querida, mas você podia não ter chorado — comento
olhando para os seus olhos inocentes.
Vim para o jardim hoje de novo, dessa vez disposta a curtir o espaço.
Estou pensando em podar as pequenas árvores, regar os cantinhos que têm
flores quase mortas também e cortar as pontas dos roseiras que não vão
crescer mais.
Flores são que nem cabelo; se a gente tirar as pontas que estão podres,
elas se renovam e crescem mais fortes e mais bonitas. Tem até o lance de
cortar pela estação da lua que está na semana. Eu realmente quero cuidar
desse jardim.
Pegando Sophia no colo, dou uma caminhada com ela pelo jardim,
então vejo uma porta dupla francesa pintada de azul, desbotada por falta de
manutenção como todo o lado de fora da casa.
Do lado direito do jardim, no canto, tem treliças em volta da porta e
das duas pequenas janelas. É muito fofa e parece ter saído de um filme da
Disney.
— Você sabe o que é aquilo? — indago para Sophia, que olha para
onde estamos indo, quietinha.
Quando eu abro as portas, arregalo os olhos. E abro também um
sorriso. É uma estufa. Paolo tem uma estufa em casa. Por que ninguém nunca
me disse?!
Vendo que não tem perigo de nada cair em cima de mim e nem de
Sophia, entramos na estufa e observo que as flores cultivadas eram bem
cuidadas.
Cada uma está no seu respectivo vaso. Existia muitas margaridas, de
todas as cores, mas agora não tem mais nada. As que restaram nos galhos
estão desbotadas, e mortas. A única coisa que tem como salvar aqui é o
espaço. Qualquer flor que já existiu aqui morreu.
Na ilha, que fica no meio da estufa, tem uma árvore. Uma pequena
árvore e em torno dela colocaram como se fosse um poço e ladrilharam de
azul e lilás. É um lugar bonito.
— Será que era da sua mãe?
— Era sim. — Escuto a voz de Gregori, que tinha sumido mais cedo,
e viro-me para ele. — Não sei se Paolo vai gostar de ver você mexendo aqui.
— Por quê?
— Eu já disse que ele gostava muito da esposa e esse lugar era
como... Era o santuário dela. Não sei se ele vai gostar.
— Mas e se eu for cuidar? — Ergo o queixo, sendo – tentando –
arrogante. — Faz um teste e liga para ele. Podemos contratar um jardineiro
para cuidar do jardim. Não é só essas flores aqui que morreram. — Ajeito
Sophia no colo porque ela está ficando pesada e dando câimbra no meu
braço. — Só fala para ele que vai vir alguém cuidar do jardim e das flores lá
de fora. Eu vou cuidando daqui sem ele saber.
— Acha que ele não vai perceber? E se, em algum momento, tiver
vontade de entrar aqui e ver que todas as flores voltaram a viver. Sendo que
você consegue enxergar perfeitamente que nenhuma delas estão boas para
salvar. Todas morreram.
— Olha, você não me conhecia antes. Eu não quero mexer nessas
flores para incomodar alguém. Para desonrar a memória da esposa dele.
Sempre gostei das flores e eu posso cuidar delas melhor do que um jardineiro
qualquer que possa vir aqui. Como eu tenho que cuidar da Sophia, de vez em
quando a minha mente fica vazia. Ela dorme, descansa e eu não tenho
vontade de dormir. Fico sem fazer nada.
— Então leia um livro. Vai ler mais livros sobre bebês.
Fecho minha cara para ele e cruzo os braços.
— Você não tem capacidade de me dar ordens, Gregori. Você não é
meu marido, nem meu pai e nem nada que possa mandar eu fazer ou não
fazer algo. Não fale assim comigo.
— Você pediu para eu te ajudar e estou tentando fazer isso. Se você
não quiser me ouvir, não posso fazer nada. Depois não reclama se o Paolo
brigar com você.
Ele tenta ir embora, mas eu me apresso e paro na sua frente.
— A questão não é essa. Eu preciso de alguma coisa para me distrair
e, mesmo que eu saiba cozinhar, não sou muito boa. Eu quero mexer nessas
flores porque... esse jardim está horrível. Quero dar um pouco de vida para
esse lugar.
— Por que você não inventa de pintar um muro então?
— Porque eu não sei pintar, merda! — Eu tapo os ouvidos de Sophia
quando grito o palavrão. — Não me irrita. Eu vou fazer o que quero e eu
quero cuidar dessas flores. Quero cuidar desse espaço tão bonito que foi
abandonado. Pelo que eu percebo, Mia era uma mulher muito boa e legal,
então eu acho que ela não ia gostar do jardim dela estar desse jeito. Eu
duvido.
Gregori baixa a cabeça e parece se lembrar de algo. Quando volta a
olhar para mim, está mais relaxado.
— Eu vou te ajudar, mas você vai prometer — aponta o dedo para
mim — que eu nunca estive aqui. Que eu nem sabia que você estava
mexendo na estufa dela. Paolo não vai gostar disso, Nina. Eu estou te
avisando.
Dou de ombros e concordo que pode dar em confusão. Paolo pode
ficar zangado comigo e até me colocar de castigo, só que não pode me
mandar embora. Não vai dar em nada. Eu literalmente estou mexendo em
espinhos.
23
E sse dia podia passar sem eu perceber. Não estava nos meus planos
me lembrar dessa merda, mas, como um imbecil que sou, eu me
esqueci de retirar do calendário que hoje era o aniversário de Mia.
Dia cinco de setembro. Tenho vontade de jogar o celular longe, mas não sou
um completo babaca.
— Você está bem?
Levanto os olhos para Vera. Estamos em uma reunião sobre o hotel,
fazendo o balanço da festa de aniversário do Bellagio, que eu vim sem Nina.
Eu vim porque Travis não pôde comparecer com o filho recém-
nascido. O homem está mais protetor com a esposa do que nunca. Se todos
temiam em mexer com a família dele antes de ele se tornar pai, é bom não
testar agora se ele é tão mortal quanto alguns tem a sorte de comprovar sem
morrer.
— Estou apenas conferindo esses números agora.
Vera opta em não se meter nos meus pensamentos, nos meus assuntos
e foca no trabalho. Ela é a escolhida para gerenciar o hotel e não é à toa.
Como filha de um general da Itália, ela conquistou seu espaço em Roma e em
Las Vegas sozinha. Não é por conta do seu sobrenome ou seu pai. Ela tem
uma mente brilhante, uma fera e mesmo que Travis e eu não confiamos em
ninguém, nela nós acreditamos o suficiente para estar no posto que está.
O sono não parece algo que vai acontecer fácil para mim hoje. Então
vim fumar na sala de livros e jogar xadrez sozinho. Não tem muita graça.
Estou querendo distrair minha cabeça enquanto o sono não vem. Não dormir
é algo comum para mim, mas a questão não é apenas dormir. É tesão
acumulado.
Eu não posso continuar ignorando Nina. Talvez eu tenha que tomar
uma postura mais fria para conviver com ela. Vou procurá-la às noites e,
quando for necessário, precisarei tê-la como companhia. Temos um
casamento, o de Enzo, para ir semana que vem. Tenho que estar falando com
ela. Não dá para eu ir a um evento com tanta visibilidade sem estar falando
com minha esposa. Principalmente porque Nina é muito transparente. Ela não
é o tipo de pessoa que consegue esconder o que está sentindo. Seus olhos são
o espelho do que se passa dentro dela.
Levanto-me e vou pegar mais uma dose de conhaque. E após me
sento na poltrona de couro no canto. Desisto do xadrez. É horrível jogar
sozinho, tão ruim quanto não ter controle sobre as coisas que Nina faz. Ao
mesmo tempo que quero ela longe, não consigo deixar de olhá-la.
Olhar suas pernas, seus seios apertados nos vestidos. Sua bunda
moldada pelas calças de algodão que usa. Ela parece uma modelo retro. E
tenho que ver seu sorriso, que parece não sair do seu rosto.
Esfrego meu rosto sentindo-me esgotado.
De repente, alguém bate na porta, baixinho. Nina coloca sua cabeça
loira para dentro do cômodo, me procurando. Fito seu rosto e ela me dá um
sorriso tímido.
— Eu queria falar com você.
— Então fala.
Sua cabeça sobe para então terminar de abrir a porta e entrar. Ela
aperta o robe que está vestindo ficando na minha frente.
Ainda estou sentado na poltrona e olho para ela de cima a baixo. Está
com uma sandalinha cor-de-rosa que usa em casa, a tentadora camisola
branca e, por cima, o robe rosa claro, que não ajuda muito eu não ver a renda
da camisola. Os cabelos estão amarrados em um coque improvisado que não
consegue realmente segurar. Ela tem muito cabelo. E seu rosto está sem
maquiagem. Ela parece sofisticada e, ao mesmo tempo, jovem demais.
Aperto o braço do sofá sentindo o quanto gostaria de arrancar essa
camisola e lambê-la todinha. Imagino eu a comendo em cima da mesa de
jogos de tabuleiro. Derrubar as peças de xadrez, comer sua boceta e depois
foder até ela perder os sentidos.
— Você está me ouvindo? — pergunta inclinando a cabeça para o
lado e as bochechas ficando vermelhas de vergonha.
— Estou — respondo, mesmo que não tenha prestado atenção em
nada que estava falando. Sei que tinha alguma coisa a ver com o jardim.
— Eu estava pensando hoje, depois de regar o jardim, que você podia
providenciar produtos para cuidar um pouco melhor dele e... das roseiras.
Escuto-a, apático.
— Eu podia cortar, limpar e realmente cuidar do jardim todo lá de
fora. — Abre um sorrisinho. — Eu sempre gostei desse tipo de coisa, mas...
preciso de material apropriado para fazer funcionar.
— Basta você pedir para o Gregori comprar.
— Mas... será que eu posso arrumar um lugar para cuidar de
margaridas, por exemplo? — continua como não tivesse me ouvido. — Eu
gosto muito de margaridas.
Quando ela diz o nome dessa flor, eu acordo da minha admiração.
— Margaridas?
— Sim, eu gosto delas. Flores são meu hobby — explica-se. — Em
casa, era o jeito de fugir de meus pais.
Soltando ar pela boca, esfrego meu rosto e levanto-me. E, quando
passo por ela, sinto seu cheiro.
Ela podia gostar de outra coisa, menos flores. Porque até nisso ela
tem que parecer com minha esposa.
— Faz o que você quiser.
— Mas a casa é sua.
Minhas vistas se perdem no quadro na parede. A fotografia pintada de
Fontana di Trevi. Mia e eu fomos lá uma vez. Ela jogou uma moeda pedindo
que engravidasse e segurasse o bebê. Depois de três abortos espontâneos, ela
tinha começado a ficar com medo de nunca gerar um filho.
Pisco, voltando para o agora, e digo:
— Nina, fique à vontade. — Giro-me e olho para ela. — A casa é sua
também, não diga isso e... se cuidar das flores vai fazer você se sentir mais
em casa, tudo bem. Apenas não se esqueça de cuidar da minha filha.
— Eu cuido da sua filha! — exclama sendo malcriada. — Mas, às
vezes, eu fico entediada sem fazer nada. Enquanto ela dorme, fico sem nada
para fazer. Não sou obrigada a acompanhar esse momento. Algumas
mulheres têm, mas são quando são as mães de verdade e ficam cansadas de
amamentar e cuidar, mas eu não.
Assinto. Eu sei como fiquei acordado nos primeiros meses de Sophia.
E realmente ela não consegue ficar parada e se cuida de verdade das flores e a
minha filha, principalmente da minha filha, ela pode fazer o que quiser
quando estiver com tempo livre.
Pelo relatório que Gregori me passava, ela está fazendo um papel
muito bom com Sophia, e Marta não fica mais rabugenta ao redor dela. Marta
é rabugenta por natureza, mas tem parado de torcer a cara para a minha
jovem esposa.
— Você estava jogando sozinho?
Como ela é observadora. Na verdade, muito curiosa.
— Sim, eu estava.
— Como você consegue jogar xadrez sozinho? Acho que é um dos
jogos que não dá para jogar sozinho, que nem dama ou pôquer.
— Você sabe jogar pôquer?
— Sim, aprendi na internet a jogar um monte de coisa — fala se
aproximando de mim.
Seu perfume maravilhoso, que vem dos seus cabelos, chega no meu
nariz. Ela tem um cheiro tentador.
— Por que ninguém nunca jogou com você? Seu irmão não é muito
mais velho que você.
— Sim, meu irmão tem dezesseis anos. Vai fazer dezessete mês que
vem.
— Então ele já deve estar voltando da Itália.
— Eu espero que não — comenta nervosa. — Espero que ele fique
para sempre lá.
— Não gosta do seu irmão?
— Eu amo meu irmão e por isso acho que ele tem que ficar lá.
— Você realmente não gosta dos seus pais.
— Você também não gostaria deles.
— Eu não gosto.
— Que bom que temos mais alguma coisa em comum.
— O que seriam as outras coisas, Nina?
— Nós dois amamos a Sophia, jogos e livros e eu... peguei hoje livros
de romance erótico.
— Você está falando sério? — pergunto surpreso.
— Mesmo que você não estivesse falando comigo. Esteja — se
corrige — falando comigo esses dias. Eu fiquei curiosa sobre sexo e sabia
que no momento que você me desculpasse, por alguma coisa que eu fiz, nós
poderíamos continuar o que estávamos fazendo aquela noite.
Como ela é incrível.
Chego mais perto dela, toco o seu rosto e levanto.
— Eu não estava zangado com você. Estou com muito trabalho.
— Mas em casa você não pode relaxar? Sempre foi assim, você
trabalha o tempo todo? A gente não precisa necessariamente conversar — diz
calmamente. — Nós podemos ficar nessa salinha e jogar, assistir um filme.
Você pode brincar com a Sophia. Qualquer coisa. Não precisa falar comigo,
mas você está chegando muito tarde. Só te vejo de manhã saindo e quando
chega.
Me pergunto como, já que chego e a casa está silenciosa, e passa das
duas da manhã muitas vezes.
— Você sempre está acordada quando eu chego? Por quê?
— Porque eu espero você.
— Você me espera?
— Sim, para ver se está bem. — Baixa o rosto e murmura: — Nós
vivemos em um mundo cheio de perigos e inimigos. Não temos, de fato,
segurança de que vai ficar tudo bem. — Olha para mim de volta. — Você é o
conselheiro do nosso Capo e é altamente arriscado. Os inimigos sempre
querem pegar os homens mais poderosos. Assim como meu pai é um
Underboss. Eu fico com medo de acontecer algo com você.
Uma satisfação me envolve em ouvi-la falar isso, porque, mesmo
sendo um babaca com ela e forçando nossa distância, ela se preocupa
comigo.
Dando o último passo que nos afasta, seguro seu rosto com as duas
mãos. Seus olhos estão ansiosos enquanto espero que ela fale o que anseio
ouvir.
— O que é?
— Quero ouvir da sua boca.
Nina morde a boca, nitidamente excitada e sussurra:
— Eu quero que você me beije. Você vai me beijar?
— Eu vou.
— Aonde? — ela devolve e suas mãos estão no meu cinto.
Ela está querendo saber se eu vou beijá-la lá embaixo. Chupar e
lamber sua doce boceta.
— Primeiro eu vou beijar aqui — dou um selinho na sua boca —, e
depois — desço minha mão, abro o seu robe, subo sua camisola e espalmo
minha mão por cima da sua calcinha — eu vou te lamber todinha aqui. Vou
chupar sua boceta até você gozar na minha boca.
— E depois?
Sinto meus lábios se curvarem em um sorriso cínico, por causa de sua
audácia.
— Depois eu vou te colocar naquela mesa. — Indico com meus olhos
a mesa de jogo de tabuleiro. — Vou abrir suas pernas e te comer por trás.
Seus olhos se arregalam. Acho que entendeu errado.
— Eu vou comer sua boceta, não se preocupe. — Chego minha boca
no seu ouvido. — A gente ainda tem tempo para explorar outras coisas, se
você quiser.
Ela assente freneticamente e parece óbvio que já leu alguma coisa
sobre sexo anal. Ela é espetacular.
— Eu vou poder te chupar também?
Ela me deixa sem fala. Porra! Enfio minhas mãos em seus cabelos,
fazendo seu rosto inclinar mais para mim e mordo seu lábio inferior porque
sua boca está levemente aberta. Está respirando com dificuldade.
— Se você quiser.
— Você gosta? — questiona ousada.
— Quando é bem feito, eu gosto sim.
— Então eu vou tentar fazer direito. Você me diz se estou acertando?
Porque é tão sexy a possibilidade de ensiná-la a como me agradar na
cama e fazer ela gostar do que eu gosto. É tudo muito novo para mim, porque
com Mia nossas primeiras interações não foram assim.
Eu nunca tive esse tipo de conversa com Mia. Ela era solicita e
acabava gostando das coisas que eu fazia, e nós não transávamos loucamente.
Fora que depois de um tempo, com tantas tentativas de engravidar
fracassadas, acabávamos mais indo para a cama para tentar de novo e apenas
isso. Era o amor que sustentava qualquer coisa no nosso casamento. Mas esse
casamento com Nina, me traz outras sensações, como o sex appeal da minha
jovem esposa. Ela parece querer explorar várias formas de prazer e eu quero
também. Talvez eu largue o cigarro e ela se torne meu novo vício.
Eu estava tentando com todas as forças não ceder, não me aproximar,
mas, quando dou por mim, estou com ela nos meus braços. Com sua doce
boca colada a minha. Eu não resisto. Eu não resisti, merda!
Ninguém nunca pôde me acusar de ser um homem que não sabe se
controlar. Só perco o controle quando é mais forte do que minhas convicções
ou alguma ética. Essa mulher nas minhas mãos consegue derrubar todas as
minhas barreiras.
Beijo sua boca ruidosamente e me perco no seu gosto doce, no seu
cheiro suave e no sabor de canela que ela tem. Sigo perdendo meu controle
ao redor dela.
Pensei que ela ia me recusar, afinal são dezessete anos de diferença e
jurava que teria nojo, como muitas jovens esposas têm dos seus maridos
velhos, mas ela parece ansiar pela minha presença, pela minha boca, pelo
meu pau dentro dela. Então hoje vou satisfazer sua vontade.
Continuo provocando-a com meus beijos querendo deixá-la molhada
com a forma que eu chupo sua língua. Meus lábios acariciam os dela e minha
língua move-se com fúria na sua boca. Beijo-a cheio de tesão e desejo.
Enrosco a língua na dela, sorvendo seu sabor.
Afasto-me e ela se agarra a minha roupa para não cair quando
cambaleia para trás. Satisfeito com o efeito que meu beijo lhe causou, passo o
polegar sobre seus lábios inchados. Fito suas coxas escondidas por baixo da
sua camisola branca. Nina respira fundo e recua dois passos e abro o robe.
Com os olhos fixos nos meus, ela puxa a camisola por cima da cabeça,
ficando só de calcinha na minha frente.
Como um animal eu vou até ela. Espalmo minhas mãos nas suas
costas e chupo seus seios. Nina deixa o corpo cair para trás extasiada com
minha boca devorando seus seios.
— Paolo! — ela chama meu nome.
É a primeira vez que ela faz e sinto meu pênis ficar mais duro por sua
voz carente pedindo mais.
Pego-a, espero que me agarre para eu conseguir levá-la para a mesa.
Eu prometi que ia comer sua doce boceta aqui. Com um pouco de
dificuldade, consigo jogar as peças do xadrez no chão e coloco-a em cima da
mesa. Me afasto, encaro seu rosto e digo bem sério, porque é muito sério o
que eu vou prometer agora.
— Depois que eu lhe dei esse beijo e agarrei seu corpo, você é minha
essa noite — digo olhando nos seus olhos. — Hoje, mesmo que Sophia
chore, você vai me esperar. Eu vou ver minha filha. Ver o que ela precisa e,
enquanto isso, você se toca me esperando porque hoje eu como essa boceta.
Nina me dá um sorriso nervoso e agarra meu casaco.
— Eu espero sim! — Lambe minha boca. — Eu também fiquei
frustrada e esperei que fosse me procurar depois, mas você me ignorou na
manhã seguinte e... até hoje.
— Chega disso. Não vamos falar mais.
— Feito — sussurra com sua voz safada.
— Feito.
Promessa feita, acaricio o seu corpo com as pontas dos meus dedos e
encontro o tecido da sua calcinha. Peço a ela para erguer a bunda só para eu
poder passar a calcinha. Ela faz e jogo o tecido para longe ficando chocado
quando vejo sua boceta.
— Você se depilou?
— Fiquei curiosa e tirei um pouco mais dos pelos. Você gostou?
— Se eu gostei?
A respondo segurando suas coxas e enfiando minha cabeça no meio
das suas pernas e com urgência dou uma lambida nos lábios inferiores do seu
sexo mais aparente. Agora restou poucos pelos. Não está como a sua primeira
vez, e a segunda que fracassou. Está melhor para chupar e sei que ela fica
mais sensível também.
Passando a ponta da língua mais para baixo, toco seu clitóris e isso a
faz gemer. Porra. Eu estava duro quando cheguei em casa. Ficar vendo sua
bundinha no vestido que ela estava usando na hora do jantar e agora isso.
Estou dolorosamente com uma ereção no meio das pernas.
Eu não resisto e continuo chupando e solto um gemido lá no fundo da
minha garganta. Passo longos minutos chupando seu grelo, enfiando meus
dedos e fazendo-a ficar cada vez mais dilatada. Consigo enfiar três dedos e
dobro.
Nina gosta e chama meu nome perdida e goza.
Recuperando o fôlego, esfrego minha barba dos seus lábios inferiores
até o umbigo, porque eu sei que ela gostou da última vez. Ela se arrepia toda
e abre os olhos quando pairo sobre seu rosto. Ela agarra meu rosto e nós nos
beijamos de língua.
Ela não se importa se acabei de chupar sua boceta. Isso é tão sexy.
Agarra meu cabelo, me querendo no mesmo lugar e se esfrega em mim, no
meu cinto. Me afasto e detenho-a de continuar seu beijo desenfreado
segurando-a pelos cabelos.
— Calma. Eu estou aqui.
Ela puxa meu cinto.
— Eu quero mais.
— Eu sei, minha linda, mas calma. — Fitando seus olhos, desço
minha mão e massageio seu clitóris.
Ela geme de boca fechada, o som saindo da sua garganta. Sexy como
o diabo e rebola me ajudando a massageá-la onde quer.
— Eu quero te chupar — ela diz.
Caralho.
— Prometo fazer direitinho. Só... quero experimentar — murmura
como se estivesse pedindo desculpa.
Ela não entende direito meu silêncio. E limpando a garganta, dou-lhe
um selinho.
— Eu vou ter que te soltar.
Choraminga e me agarra de novo, se esfregando em mim. Minha mão
escorrega para a sua cintura e puxo seu cabelo, inclinando sua cabeça para ela
me enxergar.
— Para você me chupar, vou ter que me afastar — digo encarando
seus olhos.
— Está bem. Está bem.
Dou outro beijo na sua boca e me afasto de Nina. Ela está sentada na
mesa me olhando, parecendo atordoada. Nem consegue fechar as pernas. A
visão dela de pernas abertas na mesa de tabuleiro, seus olhos brilhando de
excitação. Está me deixando com as bolas roxas e o pau mais duro que já tive
na vida.
Recobrando os sentidos, me dispo das minhas roupas e tiro os sapatos
também. E não espero e a vejo pular da mesa e me agarrar. Ela me abraça e
beijo sua boca. Eu a comeria agora contra a parede se não quisesse sentir seus
lábios virgens no meu pau.
Lhe dou um beijo, só para ela tentar se acalmar. Seus olhos estão
arregalados e ela passa as mãos no meu peitoral.
— Eu me sinto como... — pausa, perdida. — Eu quero saber... Eu me
sinto vazia. Isso é loucura?
Aperto sua bunda e dou um beijo rude nela e mando:
— Me chupa logo para eu poder te comer. Outro dia, a gente faz um
69. — Deslizo as mãos até seus peitos. — Eu te chupo e você me chupa, mas
agora — belisco seus mamilos — estou por um fio, Nina.
Ela concorda e se afasta e cai de joelhos na minha frente. Eu olho
para baixo quando ela segura a minha base e... Senhor!
Não estou preparado quando enfia a ponta na boca de uma vez. Não
consigo desviar os olhos dela me chupando de olhos fechados e como se
estivesse chupando um sorvete. Agarro seus cabelos e jogo minha cabeça
para trás me controlando para não gozar antes do momento. Eu não sou um
adolescente.
Porra!
Me controlo para não impulsionar para a frente e acabar engasgando-
a. Não quero assustá-la na primeira vez que faz oral em mim e ela parece
poderosa.
— Você está satisfeita de me chupar?
Nina abre os olhos e me encara.
Quase gozo e, quando concorda com um som da garganta, é demais.
— Garota gulosa — digo dando-lhe um sorriso de tubarão.
Ela faz de novo o som com a garganta. E sou obrigado a puxar seu
cabelo.
Caralho.
Ela volta a fechar os olhos e eu fico hipnotizado vendo-a como está
me saboreando, adorando. Ela toca minha coxa, descansa a mão e com a
outra punheta meu pau. Para de chupar e lambe tudo.
Não. Não. Eu vou gozar.
Paro ela, para não conseguir gozar, recuando. Afastado, vejo que ela
continuaria até me fazer perder a cabeça. Feroz, eu a pego e é minha vez de
beijar sua boca sem me importar com meu gosto nela. Nós soltamos sons nos
beijando e parando, nossos lábios fazem barulhos se separando. Seguro seu
rosto com as duas mãos.
— Vou fazer você ver estrelas hoje.
Ela geme e morde os lábios fitando-me.
— Você vai gozar com meu pau dentro de você.
E como imaginei e prometi, coloco-a na mesa virada de costas para
mim. Sua bochecha fica pressionada no jogo de xadrez. Pego suas mãos,
puxo para trás, afasto suas pernas com meus pés e guiando meu pau com a
mão, coloco no seu calor molhado.
Nina geme alto, desprende suas mãos das minhas e se agarra à mesa.
Vejo-a mordendo a boca e vou mais para dentro. Ela está tão molhada que
não acredito que vai se machucar se eu não for com tanta calma. Não sei se
consigo.
— Se doer me fale.
— Por que vai... doer? — questiona sem entender.
— É a sua segunda vez, pode doer.
— Ah... Tudo bem. Vai logo.
Solto uma risada rouca e meto mais um pouco dentro dela, e ela
parece se adaptar rapidamente ao meu tamanho.
É claro. Sou eu que estive aqui.
Fecho os olhos e engulo em seco. Minha boca seca, a garganta
arranha conforme engulo a saliva e respiro. Meu coração está acelerado
demais. Que tesão louco. Ela vai me fazer enfartar e eu sou velho. Ela é
novinha.
Não, Paolo! Volta aqui.
Pego-a pelo quadril e puxo seu corpo para mim, forçando para dentro
e tiro devagar. Nina geme e eu impulsiono para dentro, forte e seco. Ela solta
uma risada como se estivesse extasiada e eu olho para ela. Baixo meu corpo,
tiro seu cabelo da frente e beijo suas costas até o pescoço. Escuto-a gemer de
novo.
É tão sexy e linda. Sinto seu cheiro, cheiro de sexo. Dou uma lambida
no seu lóbulo. Ela grita e agarra ainda mais a mesa, com os dedos ficando
brancos.
Entrelaçando minha mão direita com a dela, a esquerda levo até a sua
abertura molhada. Nina tenta arquear o corpo. Esfrego seu clitóris
vagarosamente e num movimento de entrar e sair, percorro meu orgasmo.
Chego a soltar um som estranho como um rosnado. Ela é tão macia. Ela geme
e chama meu nome.
Meu orgasmo está gritando e com uma imagem na cabeça, saio de
dentro dela, ouvindo-a protestar alto e rebelde:
— O quê?!
— Cale a boca, Nina — digo virando-a para mim.
Colocando em cima da mesa, mas de frente para mim, pego meu
membro e acaricio seu clitóris. Ela sorri e entrelaça os dedos atrás do meu
pescoço e olha para baixo, para onde meto meu pau de uma vez.
Sua boca se abre soltando uma lufada de ar misturada a um gemido.
Eu respiro fundo e acelero porque é demais. Agarro sua bunda e encontro
uma posição boa para bater meus quadris nela e ela me segurar. Num vaivém,
continuo até senti-la gozar e com isso, vou junto. Ainda mais porque ela
morde meu ombro e joga a cabeça para trás. Vejo seus olhos molhados. Eu
me sinto do mesmo jeito. Terrivelmente satisfeito. Foi um sexo feroz.
Definitivamente, tirei o atraso essa noite.
Sinto minhas pernas como borrachas e não sei como consigo nos
levar para o sofá, ainda conectados. Ela deita no meu peito, mole e cansada.
Não a abraço e olho para o teto. Como eu vou me afastar depois disso?
24
P or conta dos motoqueiros, estou com muito trabalho. Eles não estão
querendo aceitar que para nós não dá para brigar com a Blood
Hands, e agora estou fazendo de tudo para que eles não comecem
um ataque contra a Lawless. Travis não quer se juntar a eles.
Trabalhando pra caralho em todos os setores, estou maluco, mas
depois da conversa com Nina na semana passada, passei a me esforçar para
chegar em casa cedo e tentar fazer companhia para ela. Até transamos
anteontem, mas ela continua no seu quarto.
Não estou pronto para dividir a cama com ela, mesmo satisfeito pelo
seu entusiasmo e esforço de querer que nós nos tornemos uma família de
verdade, é cedo demais. Mesmo assim, estou deixando-a chegar mais perto e
parece até que Sophia entende.
Hoje o dia começou com muito trabalho e as grosserias que estou
fazendo com todo mundo, não tem nada a ver com meus problemas em casa
ou os motoqueiros, é apenas uma coisa singular e simples que não tenho o
mínimo controle. Qualquer um poderia aturar esse incômodo, mas ninguém
está na minha cabeça e no meu coração.
Amanhã é o casamento de Enzo e aquele idiota poderia ter escolhido
qualquer lugar para fazer a cerimônia religiosa, e teve justamente a brilhante
ideia de aceitar o pedido de Bárbara, que pediu para o seu casamento ser na
mesma igreja que Travis e Madeleine se casaram. Elas são melhores amigas.
Eu não tenho nada contra igrejas, mas esse é um problema. Eu nunca
mais entrei naquela igreja depois que Mia morreu na porta. Escadas longas
que ficaram manchadas pelo sangue da minha esposa. Da minha ex-esposa,
me corrijo rapidamente, pois eu preciso cumprir com a promessa que fiz a
Nina de que pararia de chamar Mia de esposa.
Não sei como vou reagir amanhã ao entrar na igreja e subir aqueles
degraus. Não quero fazer uma cena. Vai ser ridículo para mim, fora que levar
Nina e Sophia serão outras preocupações na minha cabeça do que a mim
mesmo.
Uma mensagem chega no meu celular e rapidamente confirmo que é
de Gregori.
Eu não vou poder ir até vocês. Estou no Balcão e vou chegar tarde
hoje. Tome conta delas.
Sim, senhor.
Se Gregori está com Nina, é óbvio que Sophia está junto. Nina não
sai sem ela para nada, primeiramente com aquele bebê canguru.
T oda vez que Nina se aproxima demais, é doce comigo e abre seu
sorriso, eu quero fugir. Fugir da tentação de “aceitar” o que ela está
querendo me dar. O casamento era apenas para Sophia ter uma mãe,
não para eu ter outra esposa.
Hoje ela estava tão bonita com aquele vestido de festa. Eu todo
preocupado com sua escolha e ela me aparece toda sexy de vermelho. Me
surpreendendo mais uma vez. Eu nem me importei com seus peitos
parecendo que iam pular do tecido.
O mais interessante da noite mesmo foi o fato de ela se preocupar
comigo na porta da igreja. Talvez Gregori não devesse ficar falando da minha
vida, mas ele deve ter feito porque Nina não para de perguntar e tira a
paciência de qualquer pessoa. E foi bom ela saber, assim conseguiu
compreender que eu estava nervoso e que precisava que ela fosse rápida.
Termino meu conhaque e me levanto. Subo as escadas me arrastando,
meu paletó pendurado no meu ombro e, quando estou virando para o meu
quarto, vejo Nina saindo dele.
— Eu estava te procurando — murmura.
Meus olhos vagueiam por suas pernas, os braços e peitos.
— Ainda está com o vestido — comento meus pensamentos para ela.
— Eu estou. — Chega até a mim e afrouxa minha gravata, puxa
devagar e abre três botões da minha camisa. — A gente podia aproveitar a
noite. Sophia acabou de dormir.
— Você sempre tem tanta energia.
— Você também. — Estica a mão num convite. — Só vem comigo.
E não é que ela tem razão? Eu fico mais enérgico perto dela.
Sendo evidente que ela está me seduzindo, enfio minhas mãos nos
seus cabelos e beijo sua boca.
Eu sei o que ela quer me dar.
E mesmo que essa possibilidade de ter outro coração para cuidar não
seja viável, não sei se consigo mais me apegar. Pego-a nos meus braços e
carrego para o meu quarto. Fecho a porta quando vejo que ela deixou a babá
eletrônica na cabeceira da cama.
— Você é tão esperta — digo assim que a deixo no chão.
Nina ri e dá de ombros.
— Eu não quero que Sophia nos interrompa, mas se acontecer, eu não
vou desistir. Pais precisam se prevenir e improvisar.
Algo extraordinário acontece no meu coração ouvindo-a falar isso. É,
nós somos pais. Marido e mulher, companheiros.
Eu estava considerando subir e dormir de uma vez. Estava realmente
sentindo-me esgotado e ela acabou com meus planos. Tendo ela me
esperando na porta do quarto, sexy e linda, não tenho uma alternativa melhor
que não seja devorá-la essa noite.
Não me demoro em ficar beijando e provocando-a. Tiro seu vestido e
a jogo na cama. Enquanto Nina, descaradamente se toca quando eu mando,
tiro minha roupa e então vou para cima dela.
Fecho os olhos sentindo suas mãos tocarem meu corpo e como ela
gosta disso. Ela aperta meus músculos, arranha minhas costas e suas mãos
estão na minha bunda, quando estou entrando no seu calor. Estoco para
dentro dela com força e a escuto gemer jogando a cabeça para trás.
Afasto meu rosto para ver seu rosto e Nina segura meu rosto com as
duas mãos. Nos provocamos lambendo nossos lábios até que enfio minha
língua na sua boca, lhe dando um beijo profundo.
Abraçando seu corpo, viro de costas deixando-a por cima. Seus olhos
se arregalam e mesmo querendo me seduzir, ela ainda não fez todas as
posições comigo.
Por isso seguro sua cintura e ordeno:
— Quero que me cavalgue essa noite. Que monte em mim.
Ela solta um riso nervoso. Coloca as mãos no meu peito e começa a
se mexer lentamente. Respiro pelo nariz e a admiro toda gostosa rebolando
em cima de mim. Seus olhos sorriem e a puxo para mim. Junto minha boca
na sua, minhas mãos nos seus cabelos e na bunda, sentindo o vaivém do seu
corpo. Estou muito duro e, quando ela se contrai toda por dentro, fico
maluco. Aperto seus cabelos por reflexo e empurro para cima.
Meu pau está duro de uma forma dolorosa. Nina resmunga com a
boca na minha e diminuo o ritmo.
— Porra, Nina! — falo quando nos afastamos para respirar.
Ela joga a cabeça para trás e solta um “Paolo”, como se estivesse
delirando de olhos fechados.
Bato para cima, indo mais fundo e ela deixa o rosto cair no vale do
meu pescoço e ombro. Pegamos um ritmo bom e seguimos ele. Caralho, eu
vou gozar! Mordo seu ombro. Sinto a maciez da sua boceta, a quentura e
como está molhada. Uma ansiedade me corrói e passa freneticamente por
meu corpo. Bato meus quadris para cima e Nina respira fundo deslizando
para fora e voltando a me “engolir”.
— Caralho, Nina!
Ela faz um som afirmativo e segura meus cabelos. Colocando minhas
mãos na sua lombar, detenho-a de se afastar e acelero de verdade. Nina junta
a sua boca na minha, mas não nos beijamos. Trocamos o mesmo ar, perdidos
no coito.
— Paolo — sussurra com sofreguidão.
Corro uma das mãos nas suas costas, entrelaço meus dedos nos seus
cabelos e afasto seu rosto até seus olhos encontrarem os meus. E assim não
paro até que ela goze. Meus batimentos estão muito rápidos e estou sem
fôlego. Puta que pariu! Meus músculos estão tensionados e quero gozar.
Respiro fundo e quase no mesmo momento, ela também. Então grita,
arfando com força e apertando meus ombros quando bato nela. Ela é
apertadinha e deliciosa.
Impulsiono o quadril para cima e dou um tapa na sua bunda. Ela sobe,
ficando sentada e desce o corpo, deslizando. Os movimentos estão cada vez
mais rápidos. Nina rebola em cima de mim, procurando fricção. Se esfrega
em um vaivém enquanto me cavalga. E ela escorrega e encosta a testa na
minha. Me beija gemendo e arfando.
Seu núcleo me aperta forte e fica cada vez mais quente. Ela está
incrível. Está no controle e eu não me importo, nem um pouco.
— Minha — digo separando meus lábios brevemente dos seus.
— Sua — replica sem voz.
Abraço sua cintura e remexo dentro dela com força, e quando ela
geme baixinho agarrada a mim, gozamos juntos.
E pela segunda vez sinto-me exorcizando aquele sentimento ruim que
se estalou dentro de mim nos pés da igreja.
28
N ão sei o que fez Paolo deixar eu dormir no seu quarto hoje, mas
gostei. Ele até me abraçou enquanto dormia. Ficamos de
conchinha. Meu Deus. Ele foi tão bom ontem, ainda consigo senti-
lo dentro de mim. Embora o sexo mais selvagem que fizemos foi na sala de
jogos, ontem foi o mais excitante. Ficar por cima foi novidade.
Sinto quando ele desperta e me solta. Se mexendo na cama, me viro
para ele.
— Bom dia — digo encolhendo-me nas cobertas.
— Bom dia. Vou tomar um banho — ele informa e se levanta.
Sem beijo, sem abraço.
Será que ele se arrependeu de deixar eu dormir aqui? Aqui era o
quarto dele com a Mia, assim como o meu quarto era dela também, por mais
que ela não usasse para dormir, suas coisas ficavam lá. Gregori me contou.
Ele me conta tudo e não sei se ele faz de propósito ou é muito
linguarudo mesmo. Espero que seja a primeira opção, senão é um péssimo
soldado.
Não demora muito tempo, Paolo, sai do banheiro já vestido porque o
closet fica embutido ao lado.
Ele está cheiroso e todo bonito. De terno cinza escuro, a camisa preta,
e a gravata pelo visto hoje vai ficar em casa. Parece mais jovem, o que é
loucura da minha cabeça.
— Eu tenho que ir.
— Tudo bem. — Dou um sorriso amarelo para ele e, quando o vejo
saindo, corro até ele. — Paolo.
Ele gira para ver o que é. Toco o seu rosto, dando um beijo e não
recusa, na verdade aprofunda o beijo. Quando nós soltamos, estamos sem
fôlego.
— Ontem à noite foi incrível. Obrigada.
— Não precisa agradecer. Eu também gostei.
Assinto e mordo meu lábio, nervosa.
— Volte a dormir — fala passando uma mecha do meu cabelo atrás
da minha orelha. — Antes de eu sair, vou trocar a fralda da Sophia e dar a
mamadeira. E, provavelmente, hoje vou chegar muito tarde.
— Deixa que eu faço. Pode ir.
— Eu ainda vou tomar café.
— Então por que eu não posso acordar com você?
— Porque... você estava dormindo tão bem, pensei que estivesse com
sono.
— Eu durmo depois de tarde quando Sophia dormir.
— Está bem, então.
Saio com ele do quarto e vamos ver Sophia, que está dormindo
profundamente.
— Ela ficou cansada mesmo de ontem. Acho que eu não quero
acordá-la. — Fito seu rostinho fofo perto do ursinho que ela agarra, ainda o
ursinho da Madeleine.
— Vamos tomar café ou, se quiser, volte a dormir. Eu tomo café no
hotel.
— Tem certeza? — pergunto olhando para ele.
— Tenho, sim. Pode ficar.
— Então eu vou dormir aqui com ela.
Também concorda, me dá um beijo na testa e se vira para ir embora.
Dessa vez não vou atrás, mas fico no corredor vendo-o caminhar até as
escadas e sumir das minhas vistas.
Aquele formigamento no meu peito está crescendo, junto com um
calor estranho. Talvez eu goste dele.
Ele disse que eu sempre o surpreendo, mas é ele que faz tudo ser
perfeito. Na minha cabeça ele seria distante para sempre e não está. Cada dia
vejo que está se esforçando e estamos cada vez mais unidos.
Suspirando, me deito e volto a dormir querendo sonhar com a noite
de ontem, que foi espetacular. Mais ainda dormir com ele a noite toda no seu
quarto.
Hoje faz uma semana que Nina ficou muito doente e com isso fui
obrigado a estar em casa. Dei folga para Marta e Gregori ficou longe da
minha esposa para não pegar o resfriado. Por sorte, Sophia tem uma
imunidade muito boa e não ficou doente, mesmo agarrada a mãe.
Nina foi muito forte e teimosa, achando que iria ficar boa de um dia
para o outro, como toda pessoa jovem tem costume de pensar. Que fica boa
de um resfriado tão rápido quanto o pegou. Tive muito trabalho para colocar
na cabeça dela que o repouso e o remédio eram as duas coisas que a ajudaria
a ficar boa mais rápido.
Agora são quase uma da manhã e chego em casa, subo direto para o
quarto de Sophia e a encontro dormindo sozinha. Nina deve estar no quarto
dela ou no meu. Ela voltou a dormir comigo anteontem quando se sentiu
melhor para dividir a cama.
Indo direto para o meu quarto, abro a porta e logo a fecho rápido.
Mesmo que minha filha não possa andar ainda, de vez em quando
Gregori anda pela casa vigiando os corredores. Não entra nos cômodos, mas
fica por aqui, e minha mulher está pelada no meio da minha cama, sentada de
pernas abertas com uma gravata no pescoço.
— Que é isso. Posso saber?
Sorrindo, ela se levanta e caminha até a mim. Tira o paletó da minha
mão, jogando na poltrona que tem no canto do quarto e começa a abrir os
botões da minha camisa. Estou sem gravata, que de uns tempos para cá não
quero mais usar. Estão falando que é o efeito de Nina e quero ficar mais
jovem. Não sei o que ela tem a ver com isso.
— Isso aqui é o meu jeito de agradecer você por ter cuidado de mim.
— Você quer me agradecer com sexo?
— Na verdade... não só isso — sussurra.
Ela continua tirando minha roupa e eu permito. Ela tira meu coldre,
colocando com cuidado junto com o paletó. Tira minha camisa, o cinto e se
ajoelha na minha frente. Ergo as sobrancelhas e a vejo tirar meus sapatos, as
meias e puxa minha calça. No fim, vai tirar minha cueca, que eu mesmo tiro e
me abaixo para poder pegá-la nos braços. Suas pernas abraçam meus quadris
e os braços meu pescoço. Eu beijo sua boca pintada de vermelho.
Nina estremece com meu beijo e se esfrega em mim. Sinto seu fluido
erótico molhar minha virilha quando a pressiono na parede devorando sua
boca. Me afasto para olhar seus olhos.
— Você quer fazer o quê?
— Me coloca no chão.
Faço o que pede, ela puxa-me para ficar perto da cama e olha dentro
dos meus olhos. Espalma as mãos no meu peito e vai descendo até estar de
joelhos na minha frente.
Eu sei o que ela quer.
Enfio meus dedos nos seus cabelos e puxo de leve fazendo ela gemer
e me enxergar.
— Eu tive uma ideia melhor.
— O quê? — pergunta visivelmente excitada.
— Vou te dar aquilo que te prometi da outra vez.
Dando um sorriso safado, ela levanta e segura meu rosto. Me
beijando com força e eu agarro seu corpo, levo-a para a cama. Passamos um
bom tempo nos beijando, até que giro na cama e fito seus olhos dizendo:
— Gira o corpo e vai chupar meu pau, que eu vou chupar você.
— Seu pedido é uma ordem, marido.
Ela me dá um selinho, vira o corpo e logo agarra meu pau. Fecho os
olhos com força quando abocanha a cabeça do meu pau e chupa apertando
meu comprimento. As mãos descem e apertam minhas bolas.
Passo um bom tempo aproveitando e, quando começo a perder a
cabeça, com a visão dela molhada e aberta na minha cara, dou um beijo e
assopro fazendo-a gemer alto.
Sinto minhas pernas começarem a tremer e Nina a engolir até o
fundo, sinto sua garganta. Eu fecho os olhos, respiro e dou um tapa na sua
bunda em cheio e trago sua boceta para a minha cara. Dou uma lambida e
belisco com a ponta dos dentes a ponta do seu clitóris e começo a chupar na
mesma velocidade que ela dá atenção para o meu pau. Meto dois dedos nela
que geme fazendo aquele estremecimento com a garganta. Não demora muito
e sinto que vou gozar. Ela gira a língua na ponta da cabeça.
— Porra.
Aperto os olhos sentindo meu orgasmo e trabalho na sua entrada com
a minha língua, metendo e tirando. Aperto sua bunda e seguro-a quando
começa a gozar e faço o mesmo, não permitindo afastar a boca.
Ainda duro, com um movimento rápido, a tombo para a cama e giro
meu corpo. Abro suas pernas e meto meu pau até o fundo. Nina abre a boca e
arranha minhas costas gritando meu nome.
— Você vai acordar Sophia.
— É... você que... está fazendo eu gritar.
Faço o movimento de sair e entrar mexendo só a pélvis, e murmuro:
— Então, grita baixinho.
Ela abre os olhos e agarra meus pulsos, com minhas mãos ao lado dos
seus ombros.
— Me ensina a gritar baixinho — ela me provoca.
Abaixo meu corpo e a permito gritar na minha boca enquanto
agradeço seu "agradecimento" fodendo-a até perder o raciocínio.
Quando terminamos, ficamos agarrados no meio da cama e
poderíamos ficar por mais tempo, se Sophia não fosse nos atrapalhar.
Dou um beijo no seu rosto e pergunto:
— Quer tomar banho?
— Só se for de banheira — responde de olhos fechados e manhosa.
— Está bom, mas não podemos demorar. Sophia deve acordar logo.
— Uhum. — Nina sorri e levanta a cabeça do meu peito. — Você
anda com muita energia.
— Deve ser porque tenho uma esposa jovem.
— E eu um marido velho com energia de garotão — debocha.
— Garotão?
— Eu acho que dentro de você na verdade tem dois de vinte.
A abraço e rio.
Não consigo lembrar de um momento que estive relaxado nesse ano.
Quase três meses casados e ela está se tornando magnífica.
Acho que não estou mais com raiva do meu Capo.
30
E u posso estar sendo iludida, mas sinto que Paolo está começando a
gostar de mim de algum jeito. Ele aprecia a minha companhia,
principalmente na cama, e eu também. Ele gosta de me fazer o rir, e
eu também. Agora estamos na banheira depois de eu ter o plano de agradecer,
porém parece que foi ele quem me agradeceu. Estou muito grata, e inchada.
— Acho que... estou... — Respiro fundo e completo: — Eu gosto de
você.
Paolo me encara por longos e intensos segundos.
— Não deveria.
Franzo a testa sem entender. Ele é meu marido e, por ordem do
destino e da convivência, gostar dele era mais do que o esperado. Muitos
homens e mulheres se casam por obrigação, mas começam a se gostar e
talvez até amar. Por que eu não deveria gostar dele?
— Por quê?
O que mais quero é tirar todo o peso que ele carrega, que está lá
dentro. A luta interna de querer ficar comigo. Ele precisa cuidar da sua filha,
protegê-la e deixá-la feliz. Ele é um homem criado para ficar dentro de um
casco de força e brutalidade. Não é para ser sensível e chorar, sentir saudade
e pesar, mas ele sente e como sente.
— Não sei se estou pronto ainda.
Ele está nos dando uma chance e quero saber até quanto. O que ele
pode me oferecer.
Viro-me de frente para ele e toco seu rosto.
— Não precisa me dar nada, só... se permita.
Ele assente e me beija. Um beijo profundo e desesperado.
Posso nunca ter o seu coração por completo, Mia sempre terá uma
parte dele. No entanto, sei que no fim o que importa é que eu sou dele.
Aprendi a ser dele e mesmo não tendo seu coração por inteiro, eu sei que
tenho algo sim. Que ele me sente.
Minha cabeça está como no dia do meu casamento. Porém, dessa vez é até
pior. Não sei o que faço. Ou não faço. O problema é que não posso chegar e
perguntar a Paolo. Tenho medo de ferir seus sentimentos, mas eu não acho
que deveria passar em branco.
Chateada, coloco as luvas em Sophia, porque o tempo está cada vez
mais frio. O inverno chegou, estamos em dezembro e hoje é dia nove, um dia
antes do aniversário da Sophia. Meu bebê vai fazer um ano e estou aqui sem
ter feito nada ainda. E é horrível isso. É o primeiro aniversário dela.
— Que tanto você está pensando aí? — Gregori indaga. Ele já me
conhece muito bem e aprendeu a conviver comigo desde agosto.
— Amanhã é aniversário da Sophia.
— Eu sei — diz neutro.
— Você acha que eu devo fazer alguma coisa?
— Do que vale a minha opinião, você sempre faz o que quer. Mesmo
quando eu mando você ir para a direita, vai para a esquerda. Falo para cima e
você vai para baixo. Mando parar e você continua, então não faz diferença o
que eu penso.
Reviro os olhos.
— Está de ovo virado hoje?
— Não. Não é isso — fala parecendo sem paciência e para na minha
frente.
Estou sentada no balanço de ferro que tem no jardim, que comprei
para Sophia se divertir. É daqueles balanços que as cadeiras uma fica de
frente para outra e nós impulsionamos a movimentar com o pedal.
Sophia está no outro balanço e amarrada com o cinto. Sou neurótica
com ela e tenho medo dela cair. Com suas mãozinhas, ela bate nas pernas
pedindo para continuar balançando.
Gregori fica atrás de Sophia e o balanço bate em suas mãos sempre
que chega perto. Ele fala que é turrão e faz essa cara de mau dentro dessas
roupas pretas e o sobretudo preto, mas faz muitas vontades de Sophia.
E quem melhor do que ele para me responder se eu faço festa de
aniversário para ela amanhã. Gregori é o braço direito de Paolo e o nosso
segurança. E cuidou muito de Sophia quando não tinha mais ninguém, a não
ser Paolo e Marta. Sempre está com nós duas, a não ser um único dia.
— Eu acho que tinha que fazer. — Finalmente fala, o rosto
indiferente.
— Está falando isso para me provocar?
— Não, estou falando a verdade, é o primeiro aniversário dela.
— E se Paolo ficar bravo comigo?
— Eu não acredito que vai ficar não.
— Mas será que isso não vai deixá-lo zangado?
— Está perguntando isso pelo fato da Mia estar morta? — Coloca as
mãos nos bolsos e me encara. — Se você ficar nessa, é mais fácil não fazer
mais nada, nem respirar. Tudo que você faz aqui pode ser profano à imagem
dela, mas não é. Ela morreu e você é a nova esposa, é a nova mãe da Sophia.
Você é a mãe da Sophia. — Vem para perto de mim. — Sendo bem rude,
Sophia não teve outra mãe a não ser você. Quinze dias com a Mia nunca vai
estar na lembrança dela. Sua mãe sempre será apenas você.
— Eu sei — murmuro.
— Você não pode viver para o resto da vida com essas dúvidas e
deixando de comemorar todos os dias especiais. Aniversário, Natal e...
— Meu Deus. O Natal! — Boto a mão na cabeça porque em uma das
conversas descontraídas com Madeleine, descobri que seu casamento foi dia
vinte e três de dezembro. Véspera da véspera de Natal.
Não sei se fazer o Natal vai ser bom. No dia vinte e cinco, Paolo
estava enterrando a esposa.
— Nina — Gregori chama minha atenção batendo no balanço com
seu anel, no dedo mindinho. — Preste atenção.
— Estou prestando.
Respiro fundo e o encaro.
— Se você ficar nessa, não vai fazer mais nada. Não vai comemorar
seu casamento, seu aniversário, aniversário do Paolo. Natal, Quatro de Julho.
Todos os tipos de comemoração. De aniversário da Sophia a Páscoa. Dias
que criança gosta.
— Mas o Natal...
— O Natal não pode ser assim. É lamentável a Mia ter morrido, mas
já acabou. Paolo tem que superar e você tem que jogar isso em cima dele. Se
ele casou de novo e para você ser a mãe da Sophia, você tem que fazer o que
acha melhor para a sua filha.
Concordo com um aceno.
— E o que você acha que ela tem que ter amanhã? Me responda.
Responde na sua forma arrogante:
— Eu acho que ela tem que ter uma festinha de aniversário. É o seu
um aninho. Acho que ela tem que passar o Natal com uma árvore enorme na
sala e com vários presentes, com músicas e só não vou fazer o Papai Noel
porque acho exagero. Mas eu quero que ela curta esse dia até o momento que
não acreditar mais no bom velhinho.
— Então?
— Eu vou fazer.
— Mas vai falar com Paolo.
Fecho a cara para ele.
— Por que você faz isso?! — digo zangada com ele. Desamarro
Sophia do balanço e saímos dele. Vou para a frente dele. — Você acabou de
me dar um conselho e manda eu pedir para o meu marido.
— Pedir o quê para mim?
— Ai, que susto! — Coloco a mão no coração e viro-me para Paolo.
Ele deve ter uma ligação astral com o universo. Sempre chega nos
piores momentos.
— Gregori — giro para o meu segurança —, me dê licença e, por
favor, leve a Sophia para dentro.
Sem uma palavra, ele pega Sophia e leva para dentro. Acompanho
seus passos e fico de frente para o meu marido, que se aproxima de mim
enfiando suas mãos nos bolsos do sobretudo. Ele me fita intensamente. Ajeito
a minha touca e me abraço com frio. Meu casaco não esquenta muito.
— O que você tem para falar comigo?
— Amanhã é aniversário da Sophia.
Ele continua neutro mesmo ouvindo isso e eu deveria parar, porém
continuo:
— Eu quero fazer uma festa de aniversário para ela. Um bolo, enfeitar
a casa e convidar a Madeleine, Travis e Marinne, já que ela gosta da Sophia.
Gregori vai vir de qualquer forma e não sei mais quem. Seus pais...
— Eles não virão — me conta.
— Por que não? São os avós dela.
— Meus pais são frios.
— Você também e mesmo assim...
— Deixa pra lá, Nina.
— Eles não gostam da Sophia? — Sinto muita raiva só de pensar.
— Esquece isso.
— A gente pode tentar convidar eles, meus pais. Vai ser uma coisa
simples.
— Tudo bem — responde tranquilo.
— E está tudo bem para você?
— Está perguntando isso por causa da Mia?
— Não sei se você ficaria chateado.
— Eu não fico triste.
— Mas você fica puto e eu não quero que você fique assim comigo.
— Eu não vou ficar. Não estou e você pediu, não com essas palavras,
para eu esquecer a Mia, mas você lembra mais dela do que eu.
— E-Eu...
— Escuta, essa não é a questão. — Segura minhas mãos. — Se você
morresse e deixasse sua filha e ela ganhasse uma mãe tão legal e que a
amasse tanto quanto você ama a Sophia, ia querer que ela vivesse no
passado? Que não fizesse nada pela filha dela? Acho que a Mia não gostaria
que você não fizesse nada pela Sophia.
— Acho que não. Acho que ela gostaria que eu fizesse, porque eu
também esperaria isso de uma mãe dos meus filhos. — Sinto-me emocionada
em falar sobre isso.
— A resposta está dada.
— Eu só não quero magoar você.
— Não vou ficar. — Coloca as mãos em meu rosto e me beija de
leve. — Não fica se importando comigo. Faça o que você quiser. O que achar
melhor. Você já está fazendo tudo muito bem até aqui, não vai ser uma festa
que estragará.
— E o Natal?
Paolo engole em seco e fecha os olhos por breves segundos. Quando
os abre, estão cheios de emoção e agradecimento também.
— Ela vai fazer um ano de morta e nós iremos comemorar o Natal
com a nossa filha. Vamos enfeitar a casa toda. — Faz uma pausa e parece
lembrar-se de algo. — Mia adorava o Natal. Eu quebrei tudo quando cheguei
em casa depois do velório, porque não vim para casa no dia que ela morreu.
Passei dois dias para cima e para baixo.
Imagino como deve ter sido horrível.
— Se ela estivesse viva, Sophia ia ver luzes de Natal pela casa toda.
Papai Noel, guirlanda, árvore de Natal e muitos enfeites, tudo que tem a ver
com o Natal. Música, ela realmente adorava cantá-las.
Limpo meus olhos imaginando ela grávida sonhando com a filha
brincando com os presentes debaixo da árvore de Natal.
— Se você quiser fazer, vai ter que comprar tudo novo. Quebrei tudo
mesmo.
É incontrolável e choro. Paolo limpa meus olhos.
— É muito bonito esse sentimento que você tem da memória dela
sem tê-la conhecido. Eu fico agradecido — assente, afirmando suas palavras.
— Qualquer outra em seu lugar, teria muita raiva.
— Eu não tenho. — Engulo o soluço. — Lamento de verdade sua
morte, mesmo que tenha me dado a Sophia e você.
Seus olhos ficam negros e ele me beija profundamente como se eu
fosse sumir. Fosse seu balão de oxigênio e estivesse precisando respirar.
Quando afasta o rosto e fita meus olhos, diz:
— Pode fazer o Natal que você quiser. Fique à vontade. Essa casa é
sua. Essa filha é sua e... esse marido aqui é seu.
— Nós podemos mandar rezar uma missa para ela. Qualquer coisa
assim.
Ele me agradece me abraçando. E eu agradeço a Deus por me
permitir ter essa família.
31
P aolo me deu carta branca e fiz tudo que tive vontade para hoje. Hoje
é véspera de Natal e nossa casa está pronta para receber o Papai
Noel para Sophia. O dia de lamentar e de luto, foi há um ano. Cada
dia que passa vou me convencendo de que Mia precisa estar morta. Precisa
estar num cantinho dessa casa sem influenciar em nosso casamento e na
criança de Sophia.
E eu decidi que Mia será as flores nessa estufa, que eu agora rego.
Infelizmente, pela estação fria não estão muito bonitas. Estou fazendo o meu
melhor.
O que importa é isso. Que eu faça o meu melhor.
Desde que aceitei o casamento, desde que disse sim para Paolo no
altar, eu prometi dar o meu melhor. Dar tudo que eu poderia ter de bom e eu
faço. Inclusive para ela.
Paolo não sabe, ontem quando eu vim regar a estufa mexi em alguns
vasos que estavam no canto mais escondido. Tinha terra neles e nada
brotando ali. Eu, sempre curiosa, resolvi tirar a terra deles e colocar nos vasos
que tem flores. Mexendo neles, encontrei uma carta.
Eu não sei como, me pergunto até agora, como ela sabia que ia
morrer, que ia acontecer alguma coisa com ela porque na sua carta ela diz
coisas como se soubesse que não estaria aqui para Sophia e nem para Paolo.
Tenho o costume de rezar porque acredito em Deus, mesmo no
mundo obscuro da máfia. O fato da violência existir não quer dizer que Deus
não existe. Eu acredito mesmo num mundo obscuro. Deus não deixa de estar
nunca. Ele não está ausente, tudo tem a permissão d’Ele.
É difícil manter a fé quando sabemos de mulheres torturadas, de
homens que estupram crianças, que vendem órgãos, que trocam suas filhas
por drogas, que matam seus pais, que fazem tudo por dinheiro. Que a
ganância é tão poderosa.
Obviamente perguntamos como Deus permite. Bem, a presença de
Deus não significa que só teremos bênçãos. Andar com Ele não significa que
nada irá nos acontecer. Talvez seja o contrário. A fé fica mais forte quando
nós mais precisamos. Deus fica mais forte quando nós estamos passando pelo
fogo, quando estamos sendo torturados, estamos sofrendo.
Por mais que eu tenha ficado zangada em descobrir minha
semelhança com Mia da pior forma, depois que li sua carta e rezei, sentei-me
na estufa e encarei todas as flores nos vasos e a aliança em minha mão.
Será que não foi obra de Deus me colocar na vida de Paolo? Talvez
não por ele, mas por Sophia. Talvez não por ele, por mim mesma.
Se não fosse Paolo, eu nunca saberia o que é ter voz, fazer o que eu
quero, realizar minhas vontades. Ele pode ser um monstro fora de casa,
temido por todos. Ele pode não me amar, talvez nunca e já assumi isso.
Mesmo assim, essas coisas não me impedem de amá-lo. Amar o que ele faz
por mim, amar o jeito que ele cuida da filha dele.
Será que nós não somos realmente obra do destino?
Ele se casar com uma mulher parecidíssima com a sua esposa
falecida. E novamente, não sou idêntica a ela, mas meus traços, meus gostos,
é claro que é assustador. Não pode ser por acaso. Nosso mundo é apavorante,
mas pode acontecer milagres e, por sorte, eu tenho um marido que não me
bate. Tenho um marido que não maltrata a filha, que a trata com carinho e
com honra, dignidade. Não menospreza porque nasceu menina como tantos
Madman fazem.
Não tem como negar, tive a sorte de ficar no lugar de uma pessoa tão
espirituosa que deixou uma carta. Não entendi direito algumas partes, mas
guardei as importantes na cabeça.
S ophia anda muito dengosa desde o seu aniversário e pede colo com
mais frequência que o normal. O problema é que não é o meu colo.
Ela quer o colo de Nina, que está demorando muito.
— Sua mãe está se vestindo. Para de chorar.
Tento acalentar Sophia para ela parar. Como ela vai conosco, se não
para de chorar? Que merda! Vamos à festa de Natal na casa de Travis, que
Madeleine organizou. Ela não me convidou formalmente porque me respeita
demais e pensa que estou sofrendo hoje. Honestamente, não. Mesmo vendo
Nina dentro da estufa, o que senti foi incômodo.
Não quero que ela abandone, ela gosta do lugar. No entanto, depois
que ela afirmou que lá seria onde Mia ficaria em nossas vidas, eu não quero
mais chegar perto. Depois de matar Niklo e me permitir realmente viver com
Nina, quero Mia onde deve estar. Nas memórias do passado.
Eu preciso me concentrar em Nina. É nela que preciso pensar, desejar
e amar. Não sei como aconteceu, mas eu me apaixonei pela minha jovem
esposa. Com seu jeito falante e esforçado, ela me conquistou.
— Por que não para de chorar, querida? — Coloco a mão na testinha
de Sophia para ver se ela não está ficando doente. — Está normal.
Não entendo por que que ela está chorando.
— Você não está ficando doente, querida. O que que houve?
Ela faz uma careta de choro e deita a cabecinha no meu peito. Eu
afago suas costas. Acho que ela não vai sujar minha roupa. Nina que escolheu
o terno preto, camisa de linho branca e a gravata champanhe.
Estou tentando consolar Sophia quando vejo Nina descendo as
escadas. Engulo em seco porque ela está linda. Me aproximo depois que me
levanto do sofá e ajeito Sophia no colo.
Nina está usando um vestido champanhe, igual a minha gravata, com
as alças finas com brilho. Os cabelos loiros e compridos estão soltos em
ondas e sua maquiagem é leve, mas sofisticada. Eu nunca a forcei a vestir
nada e não me incomodo mais com seu jeito jovial. Na verdade, nossa
diferença de idade passa despercebida agora.
Porém, hoje com essa roupa, ela parece uma esposa ideal para mim.
Uma mulher de uns vinte e cinco. Ainda jovem.
Ela abre um sorrisinho e para nos pés da escada. Parece mais madura,
mais mulher e mais bonita. Dizem que a minha convivência com ela fez eu
rejuvenescer. As roupas e o humor. Acho que ela amadureceu.
— Está me olhando assim por quê?
Vou mais para perto vendo-a de cima a baixo. Ela coloca a mão na
cintura e tomba o rosto para o lado, desconfiada.
— O quê?
— Porque você está linda. Não pode olhar?
Ela dá uma gargalhada.
— É claro que pode — responde e, de repente, fica séria. — O que
que houve com a Sophia?
— Ela não para de chorar.
A preocupação cruza seu rosto e ela acaba de descer as escadas. Não
tem mais provocação.
— Será que ela está ficando doente? — Toca nas costas da filha.
— Acredito que não, mas não tenho certeza.
— Me dá ela aqui.
Eu entrego nossa filha e ela imediatamente para de chorar. Abro a
boca indignado. Eu tenho um exército de homens cruéis que se curvam para
mim e minha filha não.
— Encontramos o remédio para a Sophia — resmungo.
— Mamãe.
Nina beija sua cabeça e a aconchega nos braços.
— Tudo bem, meu amor. A mamãe vai junto e a Sophia também.
Por algum motivo não me sinto bem vendo Sophia chorar desse jeito
e se agarrar a Nina. Se eu tivesse ouvido todas as vezes que meu instinto
acendeu um alerta de perigo como um alarme, e ficado em casa.
E então eu não teria ela. Não teria essa mulher maravilhosa cuidando
da minha filha.
Essa é minha esposa. Meu presente.
— A gente pode ficar em casa? — dou a ideia. — Ou você quer
muito ir?
Nina desvia sua atenção de Sophia e olha para mim.
— Você não quer ir à festa?
— Quero ficar em casa com vocês. — Dou um passo e coloco a
mecha do seu cabelo para trás. — Eu prefiro ficar em casa na lareira, tomar
um whisky e ver você dançando com a Sophia. Talvez assistir um filme de
Natal, qualquer coisa.
Ela tomba a cabeça para o lado, pensativa e assente com um grande
sorriso.
— Eu ia falar isso, mas fiquei sem jeito. — Sacode os ombros. —
Estava terminando de me arrumar agora e pensei que queria ficar em casa.
— Podia ter falado.
— É a festa do Capo. A gente não deveria ir?
— Eu sou o Consigliere dele, não sua sombra. Eu posso não ir em
alguns lugares e eventos. E hoje eu quero ficar em casa com a minha família.
Ela dá um sorrisinho e concorda de novo.
— Então, vamos.
— Ainda bem que sobrou comida.
— É claro que sobrou comida, Nina. Você fez um banquete para nós
três e era só para almoçar. Você é muito exagerada.
— Mas o Papai Noel vai chegar. — Ela olha para Sophia. — Não é,
filha? Ele não vai chegar e encher sua pança de peru e panetone?!
Sophia solta uma gargalhada, com o humor recuperado. Era a Nina
que ela queria.
Minha esposa passa por mim e anda até a sala de estar, onde montou
uma árvore gigante de Natal com muitas luzes. Tem uma guirlanda na nossa
porta e várias luzes do lado de fora, mas ela não exagerou muito. Talvez ela
goste do Natal, porém não tanto quanto Mia gostava. Ela botava guirlanda em
todas as portas da casa, tantas luzes de Natal que eu ficava preocupado de
pagar multa por ofuscar o quarteirão.
Chegando na sala vejo que ela colocou Sophia perto da árvore e
entregou o urso. O famoso urso de Madeleine.
— Eu acho que nunca vai superar esse ursinho. Nenhum brinquedo a
faz soltar ele — Nina comenta tirando os sapatos, deixando-os no canto para
Sophia não pegar e vem para mim.
Eu seguro o seu rosto, beijo sua boca.
— Vamos dançar?
— Quer dançar? — Um sorriso surge no seu rosto. — Mas não tem
música.
— Eu coloco a música. Não seja por isso.
Me afasto e vou até o aparelho de som. Escolho uma música
diferente, uma de 1993 – Crep. E volto dançando para ela, que me espera no
lugar.
— Você bebeu hoje? — Põe as mãos na cintura.
— Só porque estou dançando?
— Não — ela responde rindo.
Pego suas mãos, faço-a dar um giro para fora da sala, indo para o
hall. Então abraço o seu corpo e dançamos no ritmo da música.
— Essa música foi feita quando você nasceu?
Rio e aperto sua bunda, provocando-a.
— Com certeza não foi quando você nasceu, espertinha.
Ela abraça minha cintura e deita a cabeça no meu peito. Vamos para
lá e para cá. Nós dois olhamos para Sophia, que levanta as mãozinhas quando
chega no refrão.
— Olha! Ela gosta de música velha.
— E a mãe dela de homem.
Nina joga a cabeça para trás, rindo. A risada dela me deixa feliz.
O que eu faria se perdesse de novo?
Eu não posso ser hipócrita e dizer que nunca senti o que sinto com
ela. Esses dias mágicos. Claro que tem a novidade da sua idade, que a torna
confiante e esperançosa, e tem o acréscimo de Sophia. Tudo é novo para
mim, mesmo assim eu já estive aqui e nunca mereci. Eu destruí da outra vez.
Deus tirou de mim, ou o diabo. E tenho medo de perder de novo.
Fecho os olhos e encosto meu nariz nos seus cabelos, não querendo
pensar nisso. Escuto Nina cantar a outra parte do refrão e se afastar de mim.
Giro-a erguendo meu braço de novo e quando a vejo sorrindo desse jeito é
demais para mim.
Ela me fez esquecer de sentir raiva.
Ela me fez esquecer meu maior arrependimento.
Abraço seu corpo dançando e tento relaxar.
Ela está aqui. Sempre estará. Nina.
34
O ntem à noite foi muito gostoso, mesmo que eu tenha pensado que
conseguiria pela primeira vez foder com Nina mais calmo,
tentando mostrar a ela que a amo com ações, não apenas com
palavras, ela me deixou louco e perdi o limite ontem. Sempre perco o
controle que foi construído em anos de treinamento perto dela, então não
consegui ser lento e carinhoso. O importante é que foi gostoso e sei que ela
gostou.
Além de todo o frenesi do coito, percebi que ela ficou mais animada,
mais eufórica e exigente. Posso dizer tranquilamente que está amadurecendo
e sendo maravilhosa. Ela é de fato maravilhosa como mãe e esposa. Com
certeza, tudo mudou e eu só preciso aprender a confiar mais dela.
Não é que eu desconfie ou algo do tipo, o problema é que sou difícil
de permitir que se aproximem, um dos erros do meu primeiro casamento.
Eu sei que Nina quer ter mais de mim e que já tivemos uma grande
evolução em nosso casamento, porém tem que ter mais. Hoje até dormimos
abraçados, uma novidade. Confesso que gostei de tê-la tão perto assim na
hora de dormir. Seu corpo macio e quente aconchegado ao meu. Sua
confiança totalmente entregue a mim.
Agora, depois de levantar-se para ver Sophia duas vezes, Nina mudou
de posição quando voltei para a cama. Ela está de barriga para cima, as
pernas jogadas em cima das minhas, e as mãos seguram a minha do braço que
está sobre ela. Sua respiração está serena e os olhos nem tremem enquanto
dorme.
Meu pai sempre falou, quando eu era pequeno, que a maior confiança
dada a homens como nós, era as esposas dormirem ao nosso lado. E por isso
é um dos dilemas da Cosa Nostra. De não trair alguém que confia, fechar os
olhos e ficar tão vulnerável. Nina não apenas dorme comigo, como faz
questão de estar nos meus braços e numa posição muito além de vulnerável.
Ela merece toda a minha lealdade.
Com minha mão, do braço que está embaixo dela, consigo tirar o
cabelo do seu rosto e afago sua bochecha. Está realmente tão serena, tão
jovem que me sinto um velho porco sendo seu marido. Porque parece uma
menininha. Minha doce mulher.
Resmungando, ela geme e remexe na cama. Soltando minha mão,
estica os braços para o alto e abre os olhos. Meus olhos vão como imã para os
seus seios nus e deslizo minha mão da sua barriga e seguro um dos seios e
massageio.
Virando o rosto para mim lentamente, abre um sorriso. Eu gosto disso
nela pra caralho. Sempre de bem com a vida.
— Bom dia — falo baixo.
Ela vem para cima de mim dizendo:
— A gente dormiu a noite toda.
Afago o seu rosto e beijo sua boca.
— Sim, você dormiu a noite toda agarrada a mim.
Nina suspira profundamente e beija minha boca.
— E você acordou e foi ver a Sophia. Por que não me acordou?
— Porque você estava tão confortável e parecia feliz dormindo, não
quis te incomodar para cuidar de Sophia.
— Não é um incômodo. Não vamos brigar por causa disso. Você me
compensa outra noite.
Ela dá um sorriso e me abraça.
— Então está combinado. — Me beija de novo. — Eu compenso você
com isso, mas você precisa jogar xadrez comigo. Você ainda não pagou a sua
dívida.
Sorrio passando as mãos no seu corpo, me sentindo leve e
apaixonado. Não no sentimento de amar, por mais que tente dizer o que sinto
e já senti, parece ser tão novo e mais forte com ela.
Afastando-se, ela se senta no meio da cama.
— O que nós vamos fazer hoje de bom? Ficar na cama o dia todo?
Talvez abrir os presentes de Natal com a Sophia?
— Seria uma boa ideia, mas como Travis vai fazer um almoço nós
vamos passar a tarde com eles. Madeleine mandou uma mensagem um pouco
antes de Sophia acordar a segunda vez.
— Ah, então a gente vai passar um tempo lá e de noite abrimos os
presentes.
— Sem problemas — digo me sentando e depois jogando as pernas
para fora da cama, me levanto.
Pegando minha calça de flanela, visto de novo – tirei quando voltei a
me juntar a ela na cama já que estava deliciosamente nua – e a escuto
falando:
— Precisamos antes passar no shopping ou no Bellagio para comprar
um presente para Dante, pelo menos.
Franzo a testa e espero ela vestir sua camisola e a calcinha, virar-se
para mim.
— Por quê?
— É Natal, Paolo. — Nina anda para o final da cama e eu a encontro,
tocando seus ombros. — Nós adultos podemos não ligar para presentes, mas
as crianças gostam.
— Eu comprei um presente para você, por falar nisso.
— Sério? — pergunta toda animada e me lembra muito Marinne,
jovem demais. Acho que ela gosta de presentes. Não tinha percebido.
— Sim, eu comprei um presente para você. Está lá embaixo. Antes da
gente sair, você pega e pode até ir usando.
Ela me olha desconfiada pensando no que deve ser o presente.
— É uma joia?
— Não tem graça se eu contar...
— Se eu vou poder usar quando a gente sair.
— Pode ser uma bolsa — comento indo até o banheiro, e ela vem
atrás.
— Mas e se a roupa não combinar?
Pego o barbeador e a espuma, vendo Nina andando de um lado para o
outro até que se senta no vaso sanitário fazendo xixi na minha frente.
Realmente evoluímos demais de ontem para hoje. Sorrio de cabeça baixa e
preparo meu rosto com a espuma.
— Não sei se vou poder usar — resmunga ainda no vaso.
Desviando os olhos quando ela vai se secar, digo:
— É sério que a gente vai discutir por causa disso?
Nina termina, se levanta e vem para o meu lado. Em silêncio, na outra
pia, lava as mãos. Depois vira o corpo para mim, apoiando o quadril no
mármore.
— Não estou discutindo, apenas falando que, dependendo do que
seja, não sei se é apenas abrir e usar.
Ela é especial. Falando sem parar, o que me diverte muito. Passo a
lâmina na minha bochecha, e por isso não respondo dando a ela mais tempo
para falar. É claro.
— Você pode falar o que que é? Um sapato ou um casaco novo? Eles
eu também não sei se poderei usar com o vestido que escolher, a não ser que
seja um vestido preto ou... posso usar o mesmo que usei ontem. É champanhe
e neutro.
Limpo a garganta dando um sinal claro para ela parar um pouco, o
que não surge efeito algum.
— A não ser que você me comprou uma lingerie e queira que eu
troque antes da gente sair.
Sou obrigado a afastar a lâmina, deixando na pia, e dou uma
gargalhada tão forte que preciso abraçá-la.
— Você vai me sujar — reclama empurrando, sem força, meu peito.
— O chuveiro é logo ali. — Seguro sua cintura e a coloco em cima da
bancada entre as pias e beijo sua boca.
Simplesmente o seu jeito descontraído me causa uma alegria que
nunca realmente tive. Fico atordoado e obcecado por isso, por ela.
— É um conjunto de colar, brinco e pulseira, satisfeita? —
Finalmente declaro.
Sem fôlego, Nina passa o polegar sobre meus lábios e pega a lâmina.
— O que você está fazendo?
— Posso terminar?
Levando em conta que falta o lado direito e minha garganta, não sei
se é uma boa ideia, mas eu já deixei um barbeiro da Famiglia fazer a minha
barba e ela é minha mulher. Pela demora da minha resposta, Nina tenta se
afastar, mas eu a detenho segurando seu pulso.
— Não.
— Você não confia em mim com uma “minifaca” na mão?
— Eu já deixei barbeiros fazerem isso.
— E?
Respiro fundo, pego sua mão com a lâmina e levo até meu pescoço.
— Faça.
Seus olhos brilham com orgulho, paixão e algo além disso. Eu não
queria justamente isso, um jeito de provar o que sinto, de devolver a sua
lealdade de ficar vulnerável quando adormece ao meu lado. Porra. Deixá-la
fazer a minha barba, raspar uma lâmina perto da minha jugular, é muito mais
do que poderia fazer para provar que a amo, que confio nela.
Nina está congelada, os olhos vão dos meus para a lâmina parada na
minha pele.
— Eu confio em você. Pode fazer.
Ela solta a respiração e passa a primeira vez o barbeador no meu
pescoço, os olhos atentos e brilhantes. Quem segura a respiração sou eu
enquanto ela faz sua tarefa, que parece ser muito boa e estar gostando.
Alguns minutos depois ela finaliza, limpando o barbeador na pia,
batendo-o e volta com as duas mãos para o meu rosto, segura e sorri.
— Ainda mais lindo.
Engulo em seco e deslizo minhas mãos por suas coxas. Ela respira
fundo e puxa minha boca, colando a sua na minha em um beijo demorado e
excitante. Arranco sua camisola, arrebento sua calcinha e tiro minha calça de
dormir.
Puxando-a para mim, sem precisar de preliminar, guio meu pau para
o seu calor e a fodo rápido e feroz em cima da bancada da pia.
Ela geme alto, raspando suas unhas nas minhas costas, a cabeça
jogada para trás e as pernas bem abertas. Eu lambo sua clavícula, chupo seus
peitos enquanto estoco dentro dela com força.
Perdemos a noção do tempo e apenas fodemos eufóricos. Beijos,
chupões e arranhões. E paramos quando gozamos sem fôlego e afoitos. E
Sophia chora.
Caímos na gargalhada e nos mantemos abraçados e atrapalhados em
cima da pia.
— Precisamos ver a nossa filha — ela sussurra no meu ouvido e beija
meu ombro.
Eu repito seu gesto, saio de dentro dela e a ajudo a pular de cima da
bancada. Tocando seus cabelos, digo:
— Pode tomar seu banho que vou ver a Sophia e depois você cuida
dela enquanto me arrumo.
Nina toca meu peito distraída e assente concordando.
Me afasto dando um beijo nela e a observo, em silêncio, entrar no
chuveiro. Essa mulher foi uma revolução total na minha vida. Tudo que faço
e sinto com ela é uma bênção e uma maldição, porque me deixa feliz e
perturbado. É forte e perigoso demais.
— Você disse que viria e veio mesmo — Bárbara comenta assim que abre a
porta de sua casa para mim.
H oje tem praticamente duas semanas que não vejo Bárbara e ela
não atende no telefone há três dias. Estou ficando nervosa. As
últimas vezes que a gente se falou, ela estava tão triste, mais do
que o normal. Eu não sei se realmente esse casamento com o Enzo vai
conseguir melhorar, mas não vou falar isso. Não quero criar problemas. Ela
vai ter que aturar ele para sempre pelo visto.
Tocando a campainha, espero que Enzo não esteja em casa. Eu vim
rapidinho sem segurança e sem Sophia, o que me obrigou a precisar falar
com Marta e pedir algo, mas meu desespero por precisar de notícias sobre
minha amiga falou mais alto.
Finalmente o interfone do prédio faz um barulho e a voz de Bárbara
aparece:
— Pois não?
— Sou eu, Bárbara, Nina. Você pode abrir para mim?
— É claro. Pode subir — ela diz entusiasmada. Então é uma coisa
boa. — Se você não quiser receber visitas ou ver alguém, não precisa falar
comigo. Pelo menos é o que eu faço.
— Sobe logo, Nina.
Sorrio sem jeito e espero a porta do prédio destrancar. Logo estou
entrando no elevador e, como ela mora no vigésimo andar, demora muito
para eu estar saindo dele e indo em direção à sua porta, que está aberta. Ela
estava me esperando com um sorriso e o seu traje de dona de casa fofa.
Vestido branco sem mangas e gola alta, a saia chega até o joelho. Está usando
um avental e tem um pano de prato no ombro direito.
— Você parece que estava ocupada.
— Só estou preparando alguns cupcakes.
Eu a olho de cima a baixo e percebo que ela deu uma engordadinha.
— Você tem andado muito pela cozinha e nos doces.
Rio e depois a cumprimento dando dois beijos no seu rosto. Entro na
casa e espero ela vir ficar do meu lado.
— Você percebeu que eu engordei.
— Sim — afirmo assentindo e a sigo para cozinha.
— Estou afogando minhas mágoas nos bolinhos que estou
aprendendo a fazer na internet.
— Eu não estou reclamando de você ter um hobby. É legal, mas
comida e solidão não. Por que que não mandou para a minha casa um pouco,
pelo menos?
Bárbara dá uma gargalhada e vai ficar atrás da bancada da cozinha.
Pega a colher de pau, a bacia e começa a bater a massa do bolo de chocolate
rápido e harmonicamente.
— Já que você falou isso, da próxima vez eu vou mandar muitos
bolinhos para você e Soph.
— Eu vou ficar esperando se não mandar, vou vir aqui buscar.
— Não precisa. Eu vou cumprir com o que eu falei.
— Mas vamos cozinhar agora. — Eu vejo que está tudo bagunçado e
que já tem um bolo feito de dois andares. — Para que isso tudo, Bárbara?
— Então, eu estou aprendendo culinária, receitas de bolos temáticos.
Podia fazer um para Sophia no aniversário dela, no próximo.
— Mas falta tanto — comento, arregalando os olhos para expressar
figurativamente que nós estamos ainda em janeiro, basicamente fevereiro
porque falta quatro dias para acabar o mês.
— Pode ser no seu aniversário. Quando é?
— É trinta de junho.
— Combinado, vou fazer o seu bolo de aniversário e depois o da
Soph.
— Está bom, se você insiste.
Ela avisa, indo até a pia colhendo os sacos e cascas de ovo
espalhadas. Joga no lixo e assisto indo me sentar em uma das banquetas.
— Falando em Soph, por que não a trouxe?
— Porque estava com pressa e não pretendo demorar.
— Está bem — murmura dando de ombros e sorrindo.
— Então me conta como está tudo por aqui.
Bárbara muda as feições e vira as costas para mim.
— Está indo bem.
— Responde olhando para mim.
— Nós estamos bem de verdade.
— Isso é dizer? Que está tudo bem?
— Sim, Nina. Está tudo bem — solta o ar devagar e vira o corpo para
mim. — Não se preocupe. É sério e agora prove um bolinho para ver se você
gosta.
Eu não acredito nela e novamente prometi que não iria fazer nada
além de dar o meu apoio. Ela parece mais disposta, mesmo que seus olhos
ainda transpareçam cansaço e tristeza.
— Pelo cheiro, eu vou amar.
Bárbara abre um sorrisinho sem graça e me oferece um pratinho com
o bolinho. Eu pego e dou uma boa mordida. Engulo com vontade de comer
mais e mais.
— Que delícia. Você é muito — limpo o farelo da minha boca,
porque é muito bom — boa cozinhando, Bárbara. Está perfeito demais esse
bolo. Por isso você está engordando.
Ela solta uma gargalhada bem alta e fico feliz por estarmos
descontraídas. E puxo uma conversa animada.
9
Q ue merda. Não quero admitir, mas acho que a idade está começando
a cobrar, porque o incômodo na minha coluna, que sinto ainda mais
forte assim que entro em um dos quartos que fica no Balcão, está me
matando. Vim tomar um banho e trocar de roupa antes da reunião com o
River e o Tyler.
Não vim com planos para entrar no ringue, mas têm alguns novos
recrutas, e de vez em quando é bom dar uma surra neles para aprenderem a
lutar, mas não esperava que Dario aparecesse.
O garoto virou um monstro na hora de lutar. Não para enquanto não
vê sangue. Ele luta de verdade, não encara como se fosse um treinamento e
precisei me conter porque ele é um Testa, irmão do Capo, é muito
complicado. Me conter e deixá-lo me ferir na mesma proporção, levou mais o
meu esforço do que os socos.
Porra, bater em alguém que não sabe a hora de parar. E esse alguém
ser o Dario. Eu vi o garoto crescer e fui um dos que viu ele naquele dia que o
transformou nesse lutador feroz e cruel. Ele arrancou um pouco de sangue de
mim uma duas vezes e realmente não me importo.
Com Colen em Nova York fico tentando encontrar a maneira certa de
ajudar Dario a se livrar do que parece estar entranhado dentro dele desde os
russos e voltar a ser o que era. Travis se cobrava demais antes por conta que o
irmão nunca foi um dos melhores soldados. Na verdade, Dario lutou muito
contra os treinamentos e só após o que aconteceu mudou, porém para pior.
Entrando no banheiro, tiro minha roupa e tomo meu banho. Quando
termino visto uma calça de linho e a camisa pretas, coloco o coldre e o paletó
cinza. Devidamente calçado, pego meus pertences e saio do quarto deixando
as roupas sujas para trás. As prostitutas que trabalham aqui vão limpar. Elas
são responsáveis pela limpeza do local e a comida. São mulheres da
Famiglia, que fizeram alguma merda, ou os pais, e Travis as punem virando
putas. Se comportando bem vão trabalhar como empregadas dos nossos
Balcões, cassinos clandestinos ou até mesmo nos prostíbulos.
Desço as escadas, pego meu cigarro e acendo. Passando pelo
corredor, chego no lobby e vejo Luca parado no canto pensativo. Deve estar
maquinando uma maneira de atingir River. Luca não ficou nem um pouco
satisfeito por ser proibido de ir mais tarde.
Sentando-me no sofá, pego meu celular e ligo para casa. Hoje
chegarei em casa bem tarde.
— Casa dos Dal Moli.
— Marta, pode passar o telefone para Nina — peço sem muita
interação com ela. Não estou mais disposto a conversar com Marta.
— Senhor Paolo. Eu reconheci a sua voz.
— Certo, agora me responda.
— A senhora Nina colocou a menina para dormir já tem uma longa
hora e...
— Como assim?
— Sophia está dormindo tem muito tempo. Eu acabei de ver.
— E onde está minha esposa?
— Nina saiu, senhor.
— Ela saiu? — Franzo a testa. — Saiu sem Sophia?
— Sim, senhor.
— Repete. Ela saiu sozinha?
— Eu pensei que o senhor soubesse.
— Não e ela saiu com o segurança?
— Não. Saiu sozinha e disse que não iria demorar, mas não me falou
aonde iria e ainda não voltou.
Preciso respirar fundo antes de levantar e caminhar para fora, indo
para o meu carro.
— Tudo bem. Cuide de Sophia e qualquer coisa me informe. —
Desligo o telefone com urgência. Nervoso entro no carro. — Filippe!
Ele corre e entra no veículo batendo a porta do carona.
— Não quer que eu dirija?
Dou um olhar para ele e ligo o motor, já passando a marcha.
— Ligue para a minha esposa.
Filippe baixa a cabeça e faz o que mando. Espero estar na estrada
para perguntar:
— E?
— Não atende.
— Continue e espere. — Pego meu celular também e faço a chamada
para Gregori, e em dois toques ele atende e eu o atropelo. — Você sabe onde
está Nina?
— Como assim?
— Ela saiu sozinha.
— E Sophia?
— Deixou em casa. Você sabe onde ela está?
— Por que saberia?
— Porque vocês são tipo amigos.
Escuto sua respiração alta.
— Ela confia em mim e por isso nos damos bem, mas não somos
confidentes, nem nada.
— Mas você costuma sair com ela e deveria saber aonde vai.
— Sim, mas você sabe que estou nas minhas férias ainda.
— Acho melhor acabar agora porque você sabe onde ela costuma ir e
vai atrás.
Gregori não irá recusar. Não é um pedido de toda forma e ele gosta de
estar vivo.
— Certo — murmura vencido e fala. — Nina acostuma ir ao
mercado perto de casa, no Bellagio, no shopping e na casa do Capo. Mas por
que você está me ligando para perguntar isso?
— Ela saiu sozinha, porra. Você é surdo?
— Nina tem celular, sabia. Já ligou para ele?
Ignoro o sarcasmo. Olho para Filippe e ele balança a cabeça que não.
Merda, Nina.
— Ela não atende e pensei que você poderia me falar onde ela está.
— Claro que não, porra. Eu não sou vidente.
— Que seja. Agora vai procurá-la.
— Vou fazer de tudo, mas tenho a sensação de que você está fazendo
uma tempestade em copo d'água.
Encerro a ligação e acelero.
— Continue tentando — ordeno para Filippe —, mas antes ligue para
Luca e Otto.
Uma hora e meia depois e nada de sabermos onde Nina está. Saindo
do carro, encontro Gregori na porta da minha casa.
— Ela chegou? — pergunto.
— Não.
— Ligou para a casa do Capo para ver se ela foi visitar Madeleine?
— Liguei e Madeleine disse que não e não falou com ela desde
ontem.
— Falou mais alguma coisa?
— Nada que leve os Lozartan a ficarem desconfiados de algo.
Assinto, porque não preciso de um problema de traição a Famiglia, e
entro em casa.
— Papa!
Pego Sophia dos braços de Marta e entro no escritório. Minha filha
chora no meu colo e não sei se é falta da minha esposa. Esgotado pelo
estresse sento-me na poltrona do canto para ninar minha filha, que me encara
fixamente.
Espero Gregori entrar e fechar a porta.
— Quem você mandou ir atrás dela? — ele indaga.
— Você, Luca, Filippe e Otto.
— Foda! Eu não tive sorte. Você falou com Travis?
— Não é problema do Capo minha esposa sumir e ele estava no
Bellagio o tempo todo. Eu não quero levar mais esse problema para ele. Hoje
tem um encontro com o presidente da Sons of Hell para obtermos
informações sobre a Outlaws.
— Pelo visto, o caldo entornou de Chicago para cá.
— Eu avisei.
Gregori assente e encara Sophia por longos minutos antes de falar:
— Nina não deve ter ido longe.
— Não é normal uma mulher sumir assim.
— Você está preocupado ou com raiva?
— Puto — solto sem pensar e olho minha filha. — Não sei.
Levo meus pensamentos ao longe. Respiro pelo nariz contando até
dez e mantenho a boca fechada para não falar o que posso me arrepender
depois, mesmo que Nina não possa ouvir.
— Qual é a real preocupação sua?
— Apenas de ela ter saído, não ter falado para onde e sozinha.
— Ela já vai aparecer, te garanto.
Novamente assinto em silêncio, mas Marta bate à porta.
— Entre.
Pela fresta da porta, ela coloca a cabeça e diz:
— Tem um táxi pedindo para entrar.
Me levanto rápido e corro pela casa. Na porta, protejo Sophia em
meus braços e espero Gregori ir ver quem é e acompanhar a entrada. Não
demora para o táxi parar em frente às portas de casa e meu coração se acalma
quando vejo Nina saindo do carro com uma bolsa enorme e segurando uma
caixa de papelão.
— Mama! — Sophia grita esticando as mãos, porém ignoro e falo:
— Aonde você foi?
Nina arregala os olhos para mim nitidamente assustada e olha para
trás de mim rápido, antes de voltar a me encarar.
— Eu estava na Bárbara.
— E você sai agora sem avisar? Sem contar para onde vai e deixa a
minha filha sozinha?
Nina fica de boca aberta e assisto-a passar por mim entrando na casa.
Ela vai direto para a cozinha e não passa despercebido que ignorou com
rebeldia Marta e lhe deu um olhar aborrecido.
— Você ficou desde de manhã na Bárbara?
Ela não responde. Coloca na bancada da cozinha a sacola e a caixa,
depois abre e descubro uma torta.
— Por que não avisou que você ia para lá? Por que não atendeu ao
celular?
Espero ela responder, mas nada acontece. Decidido, entrego Sophia
para Gregori e mando-o para longe.
— Não se arrependa depois — ele avisa.
— Suma da minha frente — alerto-o.
Ele sai da cozinha e eu vou até minha esposa, que dá um passo para
trás antes de eu a pegar pelo braço e guiar até o meu escritório, mas não com
força. Fecho a porta com uma pancada forte e a solto no meio do escritório.
— O que você está fazendo? — Nina cambaleia para trás.
— Eu que pergunto o que você está fazendo?
— Eu fui visitar uma amiga, Paolo.
— Você poderia ter falado aonde ia ou dado algum sinal.
— Eu avisei que ia para lá.
— Avisou para quem?
— Para a Marta.
— Ela disse que você não falou para onde ia, simplesmente saiu e
demorou pra caralho, Nina. Porra! Você foi sem segurança.
Ela respira fundo, vira-se de costas para mim e anda de um lado para
o outro.
— Nina?
— Eu estou cansada.
Franzo a testa e vou para perto dela tocando seus ombros.
— Como assim?
Virando de frente para mim, Nina toca meu peito e olha dentro dos
meus olhos.
— Número um, é mentira da Marta. Eu avisei sim que ia para a casa
de Bárbara e que não demoraria, porque é óbvio que não deixaria Sophia
tanto tempo sozinha com essa velha desprezível. Número dois, ela é nossa
filha, não sua filha. Você não pode falar que ela é só sua quando está zangado
ou o que for. Ou ela é minha sempre ou nunca.
— Eu não...
— Não terminei, Paolo — atropela minha fala e se afasta de mim. —
Eu estou cansada e irritada com essa mulher implicando comigo o dia inteiro.
Estou cansada dela falar mentiras de mim para você e, o pior, você acreditar
nela. Até ela implicar comigo e ficar entre nós, era uma coisa. Agora ela está
provocando uma briga entre nós e, pior, me fazendo passar por mentirosa e
uma péssima mãe para a Sophia.
— Não consegui contato com você e tudo indicava que realmente
sumiu e deixou Sophia sozinha.
— Apenas visitei a Bárbara — diz com a testa franzida, zangada. —
Que absurdo tão grande foi esse que eu fiz, Paolo?
— Fazer uma visita é rápido. Você demorou e foi sem segurança.
Fiquei te procurando umas duas horas.
— Duas horas?
— Sim, duas horas, Nina.
— Mas eu não fiquei na casa da Bárbara nem isso.
— Essa torta você comprou onde?
— Bárbara que fez para mim e devo ter demorado uns trinta minutos
esperando terminar de assar e ela finalizar a torta. É sério que você está
querendo monitorar meus passos?
— Não é essa a questão. Você sabe que horas são?
— São quase seis horas, por quê? Agora tenho hora para ficar fora de
casa?
— Não é isso, porra.
— Está parecendo que sim.
Agarro seus braços e quase nossos peitos.
— Para mim, você tinha sumido.
— Não! — Ela me empurra. — Pra mim parece que a Marta está
fazendo você ficar contra sua a esposa. Eu te preveni sobre ela e mesmo
assim você preferiu ouvi-la hoje e colocou seus homens atrás de mim. Ficou
como um louco me procurando, como se eu fosse capaz de abandonar minha
filha. Na verdade, parece que você interpretou que eu seria capaz de fugir de
vocês.
Eu pensei tantas coisas e uma delas foi, sim, que ela tinha fugido com
algum homem mais novo. Não sei o porquê de pensar assim, mas depois de
horas procurando-a, comecei a criar opções para o seu sumiço.
— Eu fui ver uma amiga, será que você não vai permitir que eu veja
meus amigos?
— Nunca falei isso. Não é essa a questão.
— Então para de falar desse jeito comigo. Eu não mereço sua
desconfiança e nunca fiz nada para merecer essa sua raiva.
— Não estou com raiva de você, só para constar, mas fiquei
preocupado.
— Pode ficar preocupado, menos do jeito que você ficou. Me
pegando pelo braço e arrastando para o seu escritório e não me deixando falar
com a Sophia. Gritando comigo e me tratando mal. Eu não mereço isso de
você, Paolo.
Inspiro com força e lhe dou as costas. Passando as mãos nos cabelos
vou me sentar no sofá. O peso que estou sentindo sobre meus ombros me faz
apoiar meus cotovelos nos joelhos e fechar os olhos.
Sinto quando Nina se aproxima de mim e ergo minha cabeça para
olhá-la e, sem conseguir manter minhas mãos longe dela, toco-a na altura das
coxas. Estar alta, deixa-a poderosa e eu vulnerável, como me sinto neste
momento confuso. Talvez eu saiba o que sinto, mas ainda não sei identificar
realmente o sentimento.
— Eu sei que fiz errado — começo a falar com a voz calma. — Tem
muita coisa errada nesse dia todo, mas não eu ter ficado muito preocupado.
Como não vou ficar se tem motoqueiros atacando Las Vegas agora? A Bratva
nunca será nossa aliada ou decente conosco. Eles sempre estão procurando
algo para nos atingir. Você é a esposa do Consigliere. Eu sou um homem
importante para a Lawless, sou um alvo.
Nina assente e se mantém calada enquanto me ouve.
— Não tinha como eu não ficar preocupado e... eu não pensei direito
por conta do medo de você também ter sido capturada. Sei que eu errei na
forma que tratei você, mas você errou também.
Ela suspira alto e se abaixa na minha frente, sentando-se na mesa de
centro. Assim ficamos na mesma altura e nos encaramos.
— Você está querendo dizer que eu errei? Bem, meu único erro foi
não ter avisado a você que iria para a casa de uma amiga, mas não tem erro
sobre avisar que ia sair. Marta sabia e eu pensei que ela fosse uma mulher de
confiança, portanto, deixei o recado com ela porque quantas vezes você
deixou Sophia sob seus cuidados?
É uma pergunta retórica e não respondo. Nina se levanta e eu também
ficando perto dela.
— Sei que foram inúmeras vezes — ela continua. — Você nunca teve
dúvidas da lealdade dela. Não precisa responder de novo. Está tudo bem. O
ponto é: você confiava nela assim como eu também confiava. Não me culpe
agora.
— Eu sei e não estou te culpando.
— Acho bom. E sobre me ligar, eu fiquei sem bateria, mas não
importa porque não demorei na casa da Bárbara. Acho que logo que saí, você
ligou e Marta inventou que eu estava fora há muito tempo, sendo que talvez
nem tivesse passado vinte minutos. Mas quer saber — se afasta de mim —,
cansei dessa mulher. Não aguento mais.
— Você que pediu para eu não falar nada.
— Mudei de ideia. — Mexe os braços exasperada.
— O que você quer dizer com isso?
— Que eu quero ela fora dessa casa, Paolo. Ou eu ou ela.
Ergo a sobrancelhas impactado com sua sentença.
— É óbvio que é você. — Fico na sua frente e pego seu rosto em
minhas mãos. — Não pense por um minuto sequer que eu escolheria qualquer
pessoa e não você.
Nina engole em seco e seus lábios tremem num sorriso.
— Você e Sophia são as pessoas da minha vida — afirmo. — Você é
minha esposa e espero que não tenha se esquecido de que lhe disse que te
amo.
Sorrindo, ela assente e coloca as mãos sobre as minhas em seu rosto.
— Não esqueci não.
— Ótimo. — Beijo sua boca. — É isso que importa.
Ela ri baixinho.
— Você vai mandar a Marta embora?
— Vou. Ela está querendo arrumar confusão no nosso casamento e na
nossa casa. Não posso tolerar. Por mim já tinha falado com ela, mas você não
quis.
Seus ombros caem quando fala:
— Eu sou uma pessoa muito pacífica, Paolo. E realmente pensei que
ignorá-la fosse a melhor saída, mas eu errei.
— Está tudo bem, querida. Não fique pensando sobre isso.
— Eu não vou ficar pensando — diz com firmeza. — Marta indo
embora vai ser um grande alívio para mim porque, desde que eu pisei na sua
casa, ela nunca me aceitou.
— Você tinha que ter falado para mim, Nina.
— Eu não queria ser esse tipo de mulher.
— Você pensou que ia conquistar ela — comento e tiro uma mecha
da frente do seu rosto e bota na sua orelha. — Mas nem tudo a gente pode,
pelo menos você.
Ela dá uma risada.
— Você é muito convencido às vezes.
— Não é isso, mas agora está tudo bem e da próxima vez não saia
sozinha. É muito perigoso. Por favor, me prometa que não vai sair sozinha.
Batendo os cílios, ela assente.
— Está bem. Eu não vou sair sozinha.
— Espero que não.
— Já disse que não vou e agora posso ver a Sophia?
Franzo a testa sem entender seu pedido e os olhos brilhando de
emoção.
— Claro que pode.
Nina baixa a cabeça desviando o olhar.
— O jeito que você fez... entregando-a para Gregori, foi como se
tivesse me proibido de falar com ela — me encara com seus olhos totalmente
marejados —, e falando que ela era sua filha...
— Foi força de expressão — falo por cima dela. — Não foi isso que
eu quis dizer, Nina.
— Mas doeu! — confessa parecendo totalmente vulnerável. — Doeu
como falou comigo. Doeu a sua desconfiança... — Faz uma pausa e tenta se
afastar de mim. — Por que que você quer que eu acredite que você me ama e
não faz o contrário?
Porra. A sua pergunta me coloca num nível abaixo e sinto-me
enfurecido. Eu que provoquei isso por não ver todo o cenário.
— Pelo menos, eu nunca amei ninguém antes de você. Eu nunca tive
ninguém sem ser você.
Sua fala me põe em análise. Ela tem razão, mas não sobre tudo.
— Você está correta, Nina, mas não totalmente.
— Como assim? O que quer dizer?
Respiro fundo e olho-a no fundo dos seus olhos azuis.
— Eu fiquei pensando isso enquanto estava desesperado sem notícias
suas e com medo de você ter sido pega, morta ou até mesmo fugido. — Travo
minha voz e Nina se afasta, mas segura minhas mãos apertando.
— Vai, fala para mim o que você pensou.
— Acho que eu não amava a Mia.
— O quê? — indaga com os olhos arregalados.
— Eu acho que nunca senti por ninguém o que sinto por você.
Nina prende a respiração ficando de boca aberta, com os olhos fixos
em mim.
— Acho que antes de você... no meu primeiro casamento, talvez eu
respeitasse, adorasse e tivesse me acostumado a companhia da minha esposa
e talvez até amado, mas... não como sou louco por você. Como fico pensando
em você e nossa vida. Nesse pouco tempo, você conquistou meu coração.
Uma lágrima escorre no canto da sua face e ela suspira.
— Eu só vejo você. Só penso em você e enxergo você totalmente.
Ela assente freneticamente e sua respiração fica trêmula. Consigo ver
a palpitação acelerada no seu pescoço.
— Eu amo de todo o meu ser sombrio e pecador você, Nina. — Toco
seu rosto e limpo as lágrimas com meu polegar. — Homens como eu, não
devemos amar, porque não é somente amor. É obsessão. Não deveríamos nos
apaixonar porque ficamos enfurecidos e maníacos por controle. Não é
somente amor.
Ela murmura um sim e faço-a me abraçar com suas pernas, a minha
cintura, e os braços meus ombros, e vou me sentar com ela na poltrona de um
lugar.
— Eu o amo dessa forma também e fico triste de você ter pensado o
pior hoje de mim.
— Você é boa demais para mim.
Nina nega com a cabeça e suspira com um sorrisinho.
— Isso não é verdade. Você também é muito bom, maravilhoso e não
deveria ficar pensando que não merece a felicidade. — Me beija na boca de
leve. — Eu nunca vou embora.
— Espero que sim.
Rindo alto ganho um abraço bem forte. Fecho os olhos e circulo seu
corpo num abraço apertado.
— Sinto muito por ter sido mau com você.
Ela se afasta, afaga meu rosto.
— Não gostei, mas compreendo. Você ficou preocupado e com as
coisas que a Marta falou, deixou você nervoso. Perdoo e espero que nunca
mais aconteça.
— Não vai.
Ela assente e trocamos um beijo, que controlo para não ganhar
grandes proporções. Afastada, ela indaga:
— O Gregori voltou hoje?
Cerro os olhos e me levanto com ela. Espero-a ajeitar o vestido e ficar
na minha frente para respondê-la:
— Sim, por quê?
— Primeiro, tire essa cara de ciúme. — Me beija sorrindo e passa a
mão na minha barba lentamente. — Eu só tenho olhos para você.
Cerro a mandíbula e me mantenho calado.
— Segundo, eu só tenho confiança nele para cuidar de mim e Sophia.
Não me acostumei com o outro e Filippe é muito...
— Muito?
— Lerdo para cuidar da Sophia quando preciso.
Rio balançando a cabeça e agora eu a beijo. Ela é incrível demais.
— Não se preocupe. Gregori voltou suas atividades hoje.
— Isso foi tão formal.
— Mas precisa ser.
Nina dá de ombros. Colocando a mão na altura da sua lombar, a guio
para fora do escritório. Logo que atravessamos o corredor e chegamos na sala
de estar, ouvimos Sophia:
— Mamãe! — ela grita com um prelúdio de choro e então realmente
começa a chorar.
— Oh, não, meu amor. — Nina corre até ela e a pega dos braços de
Gregori. — Mamãe está aqui. Não chore.
Distante, eu vejo a imagem que representa Nina em nossas vidas.
Tudo. Ela se tornou nossa alegria, confusão, conforto e amor. Sophia deve ter
ficado triste por não receber o abraço da mãe logo que ela chegou. E merda.
Ela é a mãe da minha filha sem sombra de dúvida e, com certeza, eu nunca
mais vou cometer o erro de falar o que falei mais cedo. Fui um babaca.
Olho para Gregori, nitidamente irritado. Ele é bem protetor de
Sophia, sempre foi e agora de Nina. Sem uma única palavra dita e necessária,
ele chega até a mim.
— Onde está Marta? — pergunto.
— Nos aposentos dos empregados.
— Fique com minha esposa e filha. Preciso falar com Marta.
— Você vai demiti-la — ele afirma.
Assinto e lhe dou as costas, mas registro um sentimento oculto e
raivoso em seus olhos. Eu fico satisfeito dele querer defender minha família.
Gregori sempre foi leal a mim e eu nunca pensaria ao contrário sobre sua
postura e talvez ele tenha mais indícios e motivos para querer punir Marta do
que eu. É meu primeiro erro de caráter depois de Lorenzo.
Abrindo a porta dos fundos, saio da casa principal, atravesso o jardim
e chego na varanda aberta da casa dos funcionários. Laurence, um dos
soldados que supervisiona as câmeras e os fundos do terreno, levanta-se em
silêncio. Passo por ele e entro na casa que estava aberta.
— Senhor. — Marta sai do sofá e vem até a mim.
Olho-a bem sério e passo inúmeros momentos dela em minha casa
enquanto fui casado com Mia. Ela veio recomendada da minha mãe, pois era
filha da empregada que trabalhou na casa dos meus pais desde que eu era um
bebê indefeso. Sempre respeitei sua mãe e ela também, por sempre ser boa
nas suas funções. Bem, até agora.
— Arrume suas coisas. Estou dispensando você.
— O quê?
— Não me faça repetir, Marta.
— Mas senhor...
— Chega, Marta. Acabou. Pegue suas coisas e vá embora. — Aperto
os punhos ao lado do corpo, controlando minha raiva e palavras. — Se dê por
agradecida que não farei pior. Você quase me fez perder a cabeça hoje.
— Mas eu...
— Não me interessa. Saia da minha casa. Quando estiver pronta,
Gregori irá levá-la — dito isso, me viro e saio.
Retornando para a minha casa, encontro Gregori na cozinha.
— Está feito?
— Sim e você a levará para casa.
Um sorriso de lado cruza seu rosto marcado. Anos atrás, Gregori foi
golpeado por um mexicano filho da puta com uma faca. Quase ficou cego,
mas a cirurgia feita o deixou apenas com uma leve marca do lado direito, que
aparece quando sorri do jeito que fez agora. O sorriso cínico.
Me aproximo dele e falo em voz baixa:
— Você deveria ter me falado antes o que Marta estava fazendo.
— Mia gostava dela e pensei que você também. Fora que Nina tinha
me dito que não queria criar problemas.
— Então ela tinha te falado sobre Marta a tratar mal.
— Não — fala sustentando sua voz firme. — Eu vi Marta a tratando
com frieza e perguntei a Nina se falou com você e assim ela me disse que não
queria criar problemas e levá-los a você.
— Que ridículo — digo e solto o ar com força virando-me para longe
dele. Sentindo-me falho. Como não vi isso? — Ela tinha que ter me falado —
reclamo.
— Nina é boa demais para qualquer ato que magoe ou coloque
alguém em risco.
Encaro-o sério e digo:
— Na próxima, você irá me contar. Não importa o que seja. Se tem a
ver com minha esposa e filha, você tem que falar comigo.
Gregori acena que sim e por seus olhos demonstrarem algo que não
sei identificar, chego perto e o pressiono:
— Você tem mais alguma coisa para me contar, Gregori?
— Não, senhor.
— Tem certeza?
Ele se mantém intacto.
— Se você estiver mentindo, eu vou descobrir o que é e o punirei por
traição.
Gregori se transforma em uma pedra: sem emoção e qualquer sinal de
vulnerabilidade. Ele foi um excelente soldado nas torturas na época da sua
iniciação. Eu não o escolheria à toa. Ele é um dos melhores soldados da
Lawless quando a questão é manter um segredo ou manipular alguém.
— Não tem a ver com elas.
— Mas com você.
— Na hora certa irei falar.
Cerro os olhos para ele e fico a milímetros de tocá-lo.
— Não me obrigue a conseguir essa informação de você à força.
— Combinamos que na hora certa irei falar.
Aceito assentindo e saio da cozinha. Mais cedo ou mais tarde, eu vou
descobrir.
Chego na sala e não vendo ninguém, subo para os quartos. Encontro-
as no quarto de Sophia. Nina está colocando uma fralda nela e vejo que lhe
deu banho. Entro no quarto e fico atrás da minha esposa, mas os olhos de
Sophia me deduram.
Sorrindo, Nina vira-se para mim. Meus olhos passam de uma para a
outra e estico as mãos tocando o rosto delas. Logo elas estão nos meus braços
e me sinto tranquilo. Elas duas são os pontos de luzes que preciso para voltar
a ser um humano, não um animal raivoso que, às vezes, não consigo escapar
de ser.
10
T em tempo que não fico tão cansando em missão. Hoje foi violento
como não acontece desde que fomos atrás de Lucian, que fora a
última vez que participei de um conflito direto. Uma surra aqui
outra ali, castigar um traidor ou outro não é o mesmo que lutar como fizemos
hoje.
Travis não iria deixar barato o novo grupo de gangues chegando em
Las Vegas. Eles não podiam começar a querer chamar atenção da polícia para
nós, porque os babacas de uniforme sempre pensam que é a máfia que causa
tumulto e mortes nos bairros, entretanto, a verdade é que são os grupos de
gangues que tumultuam o nosso trabalho, ao contrário do que a justiça pensa
que é.
Nós também fazemos muitas coisas fora da lei, porém muitos bairros
têm tranquilidade (digamos paz) porque nos metemos e com medo,
chantagem e dinheiro fazemos muitos gângsters ficarem sobre controle.
Desde que a Cosa Nostra chegou nos Estados Unidos, só vem
trabalhando para que tudo, que está sob as leis obscuras, fique em total
“harmonia”. Nós organizamos os crimes ao mesmo tempo que fazemos parte
dele e queremos o total controle e poder. Não é muito difícil de entender,
portanto, quando um grupinho de merda tenta chamar atenção, nós damos a
devida resposta que eles queriam, nossa total atenção.
Hoje à noite fiz algumas cabeças rolarem aos meus pés, parece grande
o motivo para alguns policiais estarem na folha de pagamentos. Eles sabem
que organizar o crime sem nós, seria muito pior toda a situação. Ia ser uma
loucura todos terem seus próprios laboratórios de maconha e tudo mais. Não
que não aconteça e maconha não é o nosso pior problema. Nós lidamos com
coisas mais pesadas e cuidamos da segurança de políticos, policiais, gente
podre de rica e quem procurar nossos serviços.
Portanto, manter a discrição é o nosso dilema. Quem fala demais paga
o preço. Quem causa tumulto, paga com sua vida, pois coloca as nossas e as
de nossas famílias em risco.
Passando a mão na cabeça, entro em casa dando as costas para
Filippe, mas então ele vem atrás.
— O que houve?
— Preciso mijar.
Balanço a cabeça e sigo para a cozinha para pegar um copo d'água.
Estou prestes a acender as luzes, quando sinto um movimento estranho e
pego minha arma e engatilho apontando para o alto.
— Paolo! — Nina fala alto junto com a claridade embebedando o
ambiente. — O que é isso?
Pisco rápido e guardo a arma no coldre dentro do paletó e relaxo.
— O que está acontecendo aqui? — pergunto.
Franzo a testa e olho para além de Nina, que tem Sophia nos braços,
Gregori e a nova governanta com sua filha me encara em silêncio. Observo
que na mesa existe um bolo confeitado com velas acesas. Copos, pratos e
talheres em posições em frente as cadeiras, que poucas vezes usamos.
Geralmente usamos a sala de jantar para comer nossas refeições.
— O que é isso? — pergunto de novo.
— Hoje é o seu aniversário — Nina fala com a voz baixa, os olhos
alarmados devido ao meu quase ataque. — Eu... não queria que passasse em
branco.
Eu não sei nem o que dizer depois disso. Nunca ganhei uma festa nos
meus trinte e nove anos. Eu lembro que, quando pequeno, cantei alguns
“Parabéns”, mas depois dos dezesseis, quando fiz o juramento de honra da
Famiglia, não tive esse dia como repertório e, sendo honesto, não me
importei.
Com passos lentos, Nina chega mais perto de mim, os olhos indo dos
meus para as minhas mãos, e fala baixo para mim:
— Não queria causar desconforto a você, apenas uma surpresinha.
Estico a mão, ficando satisfeito de ela não se afastar, e toco seu rosto.
— Obrigado pela surpresa. — Afasto minha mão porque não estamos
à sós e pego Sophia, que estica os braços para mim. Dou um beijo no seu
rosto e olho para Nina. — Não queria assustar você.
Ela dá de ombros, abre um sorriso e caminha para perto da mesa.
Faço o mesmo e cumprimento com um aceno de cabeça Franciele e Ana,
chego até Gregori onde Filippe foi ficar do lado.
— Por que não mandou uma mensagem para mim? Evitaria eu
apontar uma arma para a testa da minha esposa.
— Sua esposa queria que fosse surpresa.
— Nós não gostamos de surpresa.
Nenhum Madman gosta de ser surpreendido, porque justamente
somos desconfiados e andamos armados. Seria uma tragédia se eu atirasse na
testa da minha esposa ou agarrasse Nina como faço quando sou pego de
surpresa em emboscadas.
— Não pensei que você reagiria assim. Você está em casa.
— Como nunca somos atacados em casa — ironizo, mas minha
atenção passa a ser de Sophia, que puxa meu colarinho.
— Por que não vai ficar perto de Nina? — Gregori sugere.
Olho para ele e tento ler as entrelinhas.
— Ela pode ter aberto um sorriso e feito como se nada tivesse
acontecido, mas seria bom ficar perto dela.
Arfo, soltando o ar pelo nariz e viro meu rosto para a minha esposa.
Ela está conversando com Ana, elas parecem distraídas e alegres, no entanto,
quando Nina olha para mim, vejo que está forçando a alegria. Está com o
maldito sorriso das damas da Famiglia. Sem emoção.
Sem desviar meus olhos dela, vou ficar perto e não consigo manter
tanto a distância. Ana se afasta abaixando a cabeça. Ainda com Sophia nos
braços, envolvo minha doce e gentil esposa pelos ombros.
— Me desculpe — sussurro no seu ouvido.
Miúda e cheirosa, ela encosta a cabeça no meu peito e depois inclina
para seus olhos encontrarem os meus.
— Está tudo bem. Eu deveria ter pensado que você iria ficar assim. É
da sua natureza.
— Atacar minha esposa não.
Ela ri e se afasta para poder pegar Sophia.
— Você não me atacou. — Abre seu sorriso que ilumina um
ambiente inteiro. — Agora esquece isso e vamos comer o bolo.
— Sem cantar parabéns. É demais.
Soltando uma gargalhada, passa Sophia para mim e chama Ana para
ajudá-la.
Minha boca se curva num sorriso, que mordo os lábios, quando Paolo
me agarra por trás quando estou no closet pegando uma camisola.
— Que susto — murmuro e meu corpo é virado num movimento
rápido.
Eu nem consigo registrar seu rosto quando ele agarra o meu e sua
boca está me beijando espalhafatosamente. Puxo o ar com força pelo nariz e
me delicio com ele me acariciando. Suas mãos estão em todo o meu corpo...
meus cabelos... e peitos. Gemo sentindo suas mãos na minha cintura, na
bunda e nas costas. Também abraço seu corpo e enfio os dedos dentro dos
seus cabelos. quando ele tenta parar o beijo e se afastar, guio sua boca para
mim de novo.
Mas quando a falta do fôlego é forte demais, ele se afasta e nossos
olhos se encontram cerrando os olhos para mim.
— Boa noite para você também — falo baixo.
Paolo dá seu riso rouco e afaga minhas costas.
— Boa noite.
— Esperamos muito você para jantar.
— Tive um dia cheio.
Rio alto e toco seu peito, meus dedos escondem-se dentro do paletó.
— Eu estou morta de cansada. Um piquenique entre Dante e Sophia é
exaustivo. Só quero dormir.
— Está tudo bem.
Ganho um abraço e aproveito para acariciar seus cabelos, esfregando
o couro cabeludo.
— Sophia já está dormindo?
— Não, mas estava pegando no sono.
Ele me dá outro beijo.
— Vou vê-la rápido e volto para te pegar — ele diz apertando minha
bunda.
Jogo meus braços sobre seus ombros dando gargalhada e fecho os
olhos rapidamente quando ganho um beijo antes de ele sair para o quarto de
Sophia. Visto rápido minha camisola e ponho o robe, vou até o quarto da
nossa filha também. Pego Paolo conversando com ela baixinho e bem no
momento que ele a retira do berço.
— Oi, princesa. Papai chegou.
Sorrio encantada por ver eles dois juntos e volto para o quarto.
Alguns minutos depois, sou despertada da soneca com o barulho da
porta se fechando. Com os olhos cerrados vejo Paolo com Sophia nos braços,
e logo ela engatinhando para junto de mim.
— Mama — murmura sonolenta.
— Oi, meu amor. Veio dormir com a mamãe e o papai? — Encaro
meu marido falando o final da frase.
— Ela estava um pouco febril, por isso trouxe para dormir conosco.
Assinto e a aconchego com um abraço quentinho e fofo. Ela pisca os
olhos enormes para mim e sua mãozinha segura firme a alça da minha
camisola. E nem percebo que Paolo sumiu, apenas quando ouço o barulho do
chuveiro.
Um tempinho depois, novamente acordo sentindo a cama afundar
quando Paolo senta e logo se acomoda deitado de frente para mim. Mantenho
os olhos fechados sentindo sua mão passando de mim para Sophia.
Sinto um sossego, uma paz que não sei descrever com exatidão. É
calma e gostosa. O silêncio, o cheiro de banho tomado e de Sophia com seu
talco de bebê. A maciez das cobertas e a brisa suave do ar frio do inverno.
Nesse momento me sinto muito afortunada por minha vida. Essa família que
tanto amo e um marido que, para todos os efeitos, é amoroso.
Algumas mulheres na máfia não têm essa sorte. De dizer que tem um
marido, não ser apenas casada com um Madman. Paolo é quem precisa ser
em Las Vegas, mas dentro de casa é meu marido e um pai muito bom. Eu
tenho os dois mundos, mesmo que não seja lindo e legal como tenho uma
vida de luxo, mas não importa. Eu sempre soube quem somos e o que
fazemos. Minha educação nunca me permitiu almejar com algo diferente.
Honestamente, eu tenho muito mais do que esperava e essa noite eu pego no
sono com a certeza de que meus sonhos não alcançam a minha realidade.
13
H oje de manhã eu pedi para que alguns homens fossem até Chicago
descobrir o que está acontecendo com aquela merda de cidade que
Vitorio Malvez não comanda nada. Ele está destruindo anos de
uma organização, manchando as honras da Famiglia.
Se entrar em guerra com a Blood Hands não fosse custar tanto para a
Lawless, tenho certeza de que nós já estaríamos lá. Mas Travis não quer e eu
também não acho uma boa estratégia, agora que estamos colocando ordem na
nossa casa depois do problema com Edgar e o grupo da Bratva que ficava em
Las Vegas.
Me levanto da minha mesa no MGM, vim para cá depois de passar no
Balcão e vigiar as novas remessas de armas vindo de Nova York para nós.
Irritado com a falta de notícias de Chicago, o que sabemos é muito
irrelevante.
Vou ao banheiro e, quando estou saindo dele, um grito estridente
percorre o ambiente e colocando minha mão na arma do coldre por baixo do
paletó, saio do escritório imediatamente.
Franzo a testa procurando o que está acontecendo e uns dos homens
que ficam comigo, me seguem quando dou o comando. Eles sabem que não
podemos mostrar as armas – principalmente as luzes do dia – até que
necessário. Portanto corremos para onde acontece um tumulto do lado de fora
do cassino. Um tiro explode assim que colocamos os pés do lado de fora.
Sigo o som e vejo homens de preto, óculos escuros e a merda da jaqueta de
couro com o emblema dos motoqueiros.
— Peguem eles! — esbravejo com muita raiva.
Os filhos da puta sabem quem sou e começam a atirar sem parar.
Alguns disparos são para o tumulto e outros para cima. Eles não querem nos
matar, estão à minha procura para levar a minha ira. Estão procurando fazer
barulho, nos irritar. Chamar a atenção de Travis, que, depois de vender as
armas que eles precisavam, não quis vender mais e nem cartucho.
Corro até eles com sangue nos olhos e, quando estou bem perto do
que parece ser o líder do grupo, uma bala de raspão atinge meu casaco. A
raiva me cega e eu viro-me para o desgraçado que ouço atirar em mim, pego-
o pelo colarinho do casaco e dou um tiro no meio da testa dele.
Minha atenção é capturada quando sons de ronco de moto assoviam.
Levanto a cabeça e eles estão fugindo, o babaca que eu estava atrás com um
sorriso. Eu talvez faça um novo sorriso no pescoço dele quando o encontrar.
— Filhos da puta! Sigam! — ordeno para Mario quando para ao meu
lado.
— Sim, senhor.
Guardando minha arma no coldre, respiro fundo e ligo para Robert, o
policial que eu tenho contato.
— Paolo — ele atende e sem o mínimo entusiasmo. Ele sabe que não
ligo se não for muito grave a situação.
— Um grupo tentou roubar meu cassino e preciso que você cuide
disso. — Não preciso dizer mais nada.
— Qual deles?
— O MGM. Foi agora e algumas pessoas ficaram feridas.
— Tenta não mexer em nada. Estou a caminho e pode deixar que eu
cuidarei para que ninguém se meta.
— Conto com sua total discrição — encerro a ligação e ligo para
Luca. — Onde está Travis?
— Acabamos de chegar no Balcão.
Desliga e sigo para o estacionamento privativo, que tem muitas
pessoas desesperadas correndo para todos os lados ainda. Meus homens e
funcionários tentam acalmá-los. O protocolo de quando isso acontece, é que
eles tentem manter a discrição de todos, peçam desculpas e até ofereçam uma
estadia grátis.
Estou caminhando para o meu carro quando a gerente aparece do meu
lado.
— Mantenha tudo em ordem — digo para ela.
— Quem foi, senhor?
— Um grupo de MCs, mas a polícia está chegando. Diga que foi uma
tentativa de roubo.
Os babacas de fardas engolem uma tentativa de assalto nos cassinos
com facilidade. Eles sabem que nós sempre estamos armados até os dentes.
Porque quando se envolve com dinheiro, é complicado não ter armas. Eles
têm ciência de que todo cassino tem sua própria máfia de defesa e estão
armados até os dentes. Eu posso alegar o assalto tranquilo. O policial Robert
vai apenas dificultar que exista uma investigação, principalmente porque há
alguns feridos e mortos. Os soldados vão fazer a limpeza para que Robert
chegue com os outros.
Quando tem a possibilidade de identificação de alguma organização
ou clube de motoqueiros, tiramos as identificações; casaco, cordão, emblema
de qualquer forma, tudo que se refere a eles e damos um tiro onde tem a
tatuagem da irmandade ou da máfia. Não podemos deixar a polícia descobrir
que estávamos envolvidos. Percorremos um longo caminho, muitos anos,
para nos estabilizar novamente depois da queda. Não dá para deixar a polícia
se meter de novo com a gente e começar a investigar. Eles sabem que nunca
deixamos de existir e investigar, mas manter a discrição é o que eles também
querem de nós. Não nos chamam de reis do submundo à toa, porque é aqui
que precisamos estar quando outros fingem não nos ver e cometem suas
merdas as luzes. Somos a mesma farinha, porém dentro de embalagens
diferentes.
Furioso, eu entro no Balcão com passos largos, determinado a chegar
ao escritório onde me informaram que Travis está. Então abro a porta com
um rompante e berro para ele:
— Eu te avisei. Não diga que eu não te avisei.
— Mas que merda é essa, Paolo? — Ele se levanta e anda até a mim,
os olhos focando no meu ombro sangrando.
— Eu falei para você não fazer acordo nenhum com os motoqueiros
de Chicago e você não me ouviu.
Sua expressão raivosa demonstra que sente raia de si mesmo.
— Me explica o que que houve.
— Eles acabaram de atacar de novo Las Vegas. Dessa vez atacaram à
luz do dia o MGM. Eles assustaram uma porrada de gente e feriram um
segurança e eu. — Indico o ombro sacudindo-o. — Só não deu polícia porque
eu contornei a situação. Travis, você sabe que a gente tem que evitar qualquer
tipo de investigação ou assassinato nessa merda de cidade por causa que
ficam sempre de olho na gente. Se um desses MC’s filhos da puta, com fogo
no rabo, conseguirem fazer alguma coisa, você vai ser o culpado.
— Porra! — ele esbraveja. — Eu dei o que eles queriam para
poderem foder Vitorio e não virem atrás de mim.
— Eles sempre fazem isso, atacam quem tem poder e querem
retaliação.
— Nós não fizemos porra nenhuma a eles.
— Você não quis aceitar o acordo total de apoiá-los contra a Blood
Hands. Você vendeu as armas, mas eles queriam você. Eles queriam a
Lawless contra Chicago. Como você não fez, eles deram um recado hoje. O
que você vai fazer agora?
— Obviamente não vou deixar barato e se você já resolveu todos os
problemas que aconteceram para chamar a atenção da polícia, já é meio
caminho andado. Vou ligar para o líder deles e vou falar mais uma vez que eu
não quero participar. Se eles não aceitarem novamente, vou matar todos eles.
— Você vai fazer essa ameaça vazia?
— Claro que não — responde secamente. — A gente vai descobrir
aonde eles estão em Las Vegas. Porque eles ainda não foram embora se
atacaram hoje. E nós vamos pegar todos que estão aqui e matar e filmar.
Cortar em pedaços e mandar para o Prez deles. Isso vai ser a minha carta de
encerramento de contrato, onde eu não vou dar mais nenhuma arma para eles.
— Espero que essa merda não piore. O problema deles é com Malvez.
— Paolo, isso vai piorar muito mais. Não vai demorar para que a
Blood Hands caia e eu não quero me envolver com isso. — Travis pega uma
bebida no bar e toma o líquido de uma vez. — Eu não quis estar junto com os
motoqueiros e a Bratva atacando Vitorio, mesmo odiando aquele filho da
puta. Mesmo que fosse um prazer.
Claro que seria. Vitorio foi um dos mandantes por matar Vincenzo
Lozartan, e mesmo que Travis odiasse o pai, aceitar que matassem ele lhe
custou muito. Foi um golpe muito duro de sentir e a Lawless pareceu fraca
nos meses seguintes. Se reergueu porque Travis tem punhos de ferro
comandando nosso território.
— Seria um enorme prazer capturar Vitorio, mas eu não vou me
meter. Eu dei as armas querendo conflito. Quanto mais melhor. — Me
encara. — Eu fiz tudo de caso pensado, mesmo que você nunca tenha
apoiado. O plano sempre foi eu precisar entrar em Chicago para vê-la pegar
fogo. E você sabe, tudo que está acontecendo ali, é porque Cassio está
permitindo e ele vai dar a cartada final.
— Você acredita que ele tem algum plano?
— É óbvio que sim. Aquele velho maquiavélico — resmunga e vai se
sentar.
O sigo e faço o mesmo, acendendo um cigarro.
— Cassio já tem um filho comandando Nova York e o neto dele é
muito bem preparado para ser um líder. Eu não aceitei apenas o casamento de
Marinne com Amândio por estratégia, porque eu queria ficar com Madeleine.
Não foi o único motivo para eu ficar com a minha esposa, mas também
porque eu sei que o neto favorito de Cassio é Amândio. Eu mexi meus
pauzinhos para ter essa informação, já que Cassio não deixa que ninguém
permita saber dos seus interesses. Agora ele está deixando Chicago ruir,
perder as forças para logo dar o golpe final. É óbvio que ele vai deixar
alguém da família no comando.
— Será que ele pode dar para outro neto dele? O da filha dele ou até
mesmo para Amândio.
— Amândio terá Nova York, todos sabem disso. Ele sabe disso —
ironiza. — Chicago... eu não sei, acredito que vem alguém da Itália.
— Vai ser uma grande jogada.
— Aguarde, Paolo. Cassio não vai avisar. Vai ser de surpresa e vai
mexer com todos nós aqui quem quer que seja o novo líder da Blood Hands.
Assim que Vitorio morrer, vai ter muito motoqueiro e a Bratva para causar
muito tumulto para todos nós. A Diabolos em breve também deve cair. A
guerra vai ser declarada e cada um vai querer uma fatia.
— Com certeza é bom a gente se preparar para isso, mesmo que não
tenhamos nada a ver com a partilha da Blood Hands, mas a Diabolos não fica
muito longe e pegar um pedaço dela não vai fazer mal nenhum; e se todos
vão pegar, por que a gente não?
— Justamente, mas agora vamos até o MGM. Quero apurar a situação
e vou ligar para Enzo começar a procurar esses motoqueiros filhos da puta.
Vamos dar uma lição a eles.
Chego em casa bem tarde e vou direto para o quarto de Sophia. Ela
está dormindo tranquilamente no berço. Faço um cafuné na sua barriguinha e
ela abre a boca, bocejando sem acordar.
— Boa noite, filha.
Tirando a boneca e deixando apenas o urso, saio encostando a porta
do seu quarto iluminado por um urso que gira em volta das paredes. O abajur
que Nina colocou essa semana. Sophia gritou sem parar: Boh! Boh! Boh!
Passando pelo corredor, tento tirar o curativo do meu ombro. Se Nina
ver vai ter um ataque. Puta que pariu! Nem lembrei de pedir a Leonel Donati,
o médico da Famiglia, para dar pontos sem fazer um maldito curativo que
cobrisse meu ombro todo. E é quando consigo tirar o primeiro pedaço do
curativo que esbarro em algo.
— O que foi isso? — Nina arregala os olhos e tira minha mão da
frente para ver o machucado. — Paolo!
— Calma. Foi de raspão.
— O que foi de raspão? — Ela parece zangada, mas preocupada
também.
— Teve um ataque ao hotel e o filho da puta me acertou de raspão.
— Foi um tiro?
— Sim.
— Ai, meu DEUS! — grita no final. — Eu digo para você se cuidar e
é isso que você faz?
— Calma. — Seguro suas mãos e faço-a focar em meu rosto. —
Respira e não fique em pânico.
— Não fala isso — murmura parecendo irritada e emocionada ao
mesmo tempo. — Você não pode se machucar. Não pode levar um tiro.
Porra, Paolo.
— Para de falar palavrão e vem. — A puxo comigo para o nosso
quarto.
— Para onde?
Não respondo e entro no banheiro. Me viro para ela e começo a tirar
sua camisola.
— O quê?! — Nina se afasta. — Você quer fazer sexo com esse
ombro?
— Não. — Puxo-a de novo e volto a despi-la. — Eu só quero tomar
banho com você.
Ela sorri e não apenas deixa eu tirar sua calcinha, como ajuda eu a
tirar a minha roupa. Logo estamos na banheira, Nina fica na minha frente
entre minhas pernas enquanto suas mãos sobem e descem lentamente.
— Doeu? — ela pergunta baixinho.
— O tiro?
— É claro, Paolo.
Rio com seu mau humor.
— Não muito.
— Então foi pouco?
Beijo seu ombro e faço uma concha com a mão e molho seu peito.
— Não pense isso.
— Eu estaria se você não estivesse agindo tão calmo.
Dou uma risada e aperto-a bem forte.
— Então eu não sou carinhoso com você? — digo no seu ouvido. —
Sou mau?
Nina vira um pouco o corpo e olha para mim tocando meu rosto.
— Não é isso. Você é carinhoso comigo, mas parece que está me
escondendo algo.
Solto a respiração pelo nariz pesadamente e afago seus braços, costas
e rosto, olhando-a nos olhos profundamente.
— Não é nada que você precise saber. Fique tranquila.
— Só quando você se aposentar.
Rio e a beijo com força. E para fazê-la esquecer totalmente do tiro,
faço sexo lento na banheira. Isso sempre deixa Nina calminha e feliz. Deve
ser difícil ser casada com um soldado da Famiglia, mas o que posso fazer?
19
Por volta das onze da noite, chego em casa exaurido de ouvir meu
Capo reclamar por eu ter feito a igreja explodir. Travis não pretendia chamar
a atenção da cidade e da polícia. Mas tudo foi resolvido quando River Stan
fez o que tinha prometido. Relatado ao seu contato na delegacia, que é
responsável pelo bairro da igreja, que foi um incêndio na cozinha. É claro que
o delegado é um dos cúmplices dos MCs. Eles também têm sua folha de
pagamento muito bem preparada para eventualidades.
O som da televisão está alta demais para Gregori conseguir ouvir
alguma movimentação na porta principal. Puta que pariu. Não preciso me
estressar com isso hoje.
A porta da sala está com uma fresta aberta e eu abro por inteira de
uma vez.
— PAPAI! — Sophia me saúda correndo até a mim com o urso de
pelúcia nos braços.
Pego-a no colo, lhe dando um abraço apertado e beijo seus cabelos.
Ela está com o cheirinho da mãe e eu me pergunto onde Nina está e porque
Sophia ainda está acordada.
Desfocando minha atenção da minha filha, vejo no chão da sala, no
canto perto da mesa, Ana.
— Boa noite — ela me cumprimenta se colocando de pé assim que
registra meus olhos nela.
— Onde está Gregori?
— Bem aqui.
Giro meu corpo para sua voz e o vejo parado com o corpo repousando
na parede.
— Sim, eu já estava aqui quando você abriu a porta parecendo muito
irritado.
— Irraditato — Sophia tenta repetir.
Beijo seus cabelos e foco em Gregori.
— A televisão está alta demais, não acha?
— Sim e por isso fiquei do lado de fora.
— Sophia estava sozinha.
— ANA! — Ela interrompe de novo e percebo que está lembrando
que Ana estava com ela.
— Ela tem razão. A babá estava com ela.
Ignoro-o e pergunto:
— Onde está Nina?
— Na estufa. — Se aproxima mais e fala baixo: — Ela ficou nervosa
o dia todo depois que descobriu sobre a igreja. De algum modo ela sabe que
foi você.
Respiro fundo e entrego Sophia para Ana que aparece do meu lado.
— Coloque-a para dormir e não me incomode com minha esposa. —
Viro-me para Gregori. — Fique hoje aqui.
Ele assente e vai para a sala de estar principal para estar perto da
porta. O posto que sempre escolhe ficar nas noites de vigia na casa. espero
Ana subir com Sophia, que reclamou por eu estar me afastando, e saio pelas
portas do quintal. Sigo em passos lentos até a estufa. Vejo Nina mexendo em
umas flores vermelhas que parecem prestes a morrer e minha esposa está tão
animada quanto as flores.
— Me falaram que você estava me procurando.
Eu mal falo isso e ela gira o corpo para mim e dispara, correndo para
cima de mim.
— Paolo! — exclama me abraçando bem forte.
Acolho seu corpo, apertando bem forte e sinto seu cheiro. Os cabelos
sedosos na palma da minha mão e a curva do seu corpo quente na outra.
Fecho os olhos e é incrível como me sinto bem agora. Passei o dia com
muitos sentimentos ruins e eles sumiram quando vi Sophia, mas a paz interna
só veio agora com Nina.
Afasto seu rosto para poder segurá-lo e olhar seus olhos.
— Eu estou bem.
— Foi você que fez aquilo com a igreja, não foi?!
— Sim.
— Por quê? — Indaga e em seus olhos vejo que tem mais. — Pensei
que você tinha superada a morte dela.
— Mais do que isso, Nina — garanto-a. — Mas tinha mais. Eu
descobri algo que não podia deixar de retribuir.
— Você se ressente ainda por terem matado Mia.
— Sim, mas não pelo que você está pensando.
Nina franze o cenho e eu passo o dedo na pequena ruga.
— Meu ressentimento tem a ver por ela ter morrido de forma tão
brutal e cruel. Por ela não merecer aquele fim e não ter tido a chance de se
despedir da Sophia.
Minha esposa respira fundo e seu rosto fica em braço. Ela dá um
passo para trás colocando a mão no peito.
— Você sabe — me acusa.
— Do que?
— Você sabe... que ela ia morrer. — Faz uma pausa. — Sabia que ela
estava doente e morrendo.
Dou o passo que nos separa e seguro seu rosto.
— Eu achei a carta na gaveta.
Nina arregala os olhos.
— Eu não queria esconder de você, mas... fiquei sem saber o que
fazer com ela.
— Não se preocupe. Eu entendo o que deve ter passado na sua
cabeça. — Dou um beijo na sua boca. — Tudo é passado. A igreja, a morte
dela e os seus segredos.
— Ficou zangado por ela não ter te contato da sua doença?
— Um pouco, mas compreensível. Todo mundo estava pressionando-
a a engravidar. Mia só pensava nisso.
Nina suspira e pisca os olhos marejados.
— E eu engravidei tão fácil que...
— Não se lamente. — Beijo-a de novo e fixo meus olhos nos seus. —
O que eu fiz hoje foi porque sou um homem de palavra e eu jurei que iria
vingar a morte dela. Eu precisava fazer, de todas as maneiras, a coisa certa
para Mia depois de sua morte, mas ela é meu passado. Você — pauso
tomando o ar com força — é meu presente e futuro. Você, Sophia e esse bebê
que está carregando, é tudo que mais me importa. Tudo que me motiva para
ser quem sou. Eu sou um criminoso, um homem errado e vingativo, porém
fui absolvido com uma família perfeita.
Nina suspira tremula, os olhos nublados das lágrimas que escorrem
por seu lindo rosto. Ela se inclina, fica na ponta dos pés, segura meu rosto e
me beija. Minha mão desce até sua bunda e eu a acomodo para poder beijá-la
como gosto. Seu gemido na minha boca faz meu pau ficar duro na hora e eu a
arrasto até o canto e pressiono seu corpo na parede.
— Estão — ela solta sua boca da minha e aperta meu queixo — todos
em casa e a... Sophia...
— Está na cama — digo beijando seu pescoço. — Ana levou ela para
dormir e Gregori está na sala vigiando.
Lambo seu lóbulo e aperto sua coxa, fazendo-a abraçar meu corpo.
Roco meu pau nela e Nina geme mais alto.
— Mas...
Levanto minha cabeça e fito seus olhos.
— Não se preocupe. Fique aqui comigo e relaxa.
Ela morde o lábio inferior, prendendo o sorriso e enfia as mãos dentro
do meu casaco de couro que achei hoje no balcão.
— Se eu estivesse pensando só com a cabeça, eu recusaria, mas com
os hormônios... — Pula, fazendo seu corpo abraçar meu corpo e eu sorrio
quando se esfrega em mim. — Não consigo te largar agora.
Nós nos beijamos afoitos e barulhentos. Ela começa a abrir minha
camisa.
— Me faz gozar.
Um ruído, entre o gemido e um rosnado, sai de dentro de mim e eu
levo Nina para a mesa que ela usa para fazer mudas novas. Suas invenções de
novas cores de flores. Jogo tudo no chão, sabendo que ela vai brigar depois,
mas não liga. Eu preciso tirar sua roupa e entrar nela o mais rápido possível.
E depois que estamos agarrados um no outro. Gemendo, fodendo de
balançar os pés da mesa, não ligamos para nada. nos perdemos e o único
nome que penso é o seu na ponta da minha língua quando estou metendo o
mais fundo na sua boceta aperta e quente. Nina geme alta jogando a cabeça
para trás, se sujando de terra, me sujando de terra. Pelados, animalescos e
eufóricos. Trepamos, nos entregamos um para o outro como todas as vezes e
o passado é o passado. Ela é meu recomeço e tudo que importa desde o
momento que a vi na minha frente.
Nós terminamos sujos e ofegantes sobre a espreguiçadeira e a colcha
que ela deixa aqui para quando precisa monitorar alguma flor. Ela leva muito
a sério seu hobby, que agora não quer que seja apenas isso. Nina quer vender
suas flores e as fragrâncias que está aprendendo a fazer. O cheiro que fico
viciado, foi uma colônia que ela mesma fez.
— Você vai limpar e repor tudo no lugar que jogou no chão hoje —
sua voz é um murmurinho no meu pescoço, as pontas dos dedos passam para
cima e para baixo no meu peito.
Solto uma risada e beijo seu ombro nu.
— Eu já sabia disso.
Ela ergue a cabeça e franze o cenho para mim.
— Ainda bem que me casei com um homem inteligente — diz
sorrindo e me beija. — Na próxima fazemos aqui.
— Aqui? Nessa espreguiçadeira?
— Uhum — faz com a garganta e ela assente.
— Mal coubemos aqui deitados e parados. Imaginar trepar aqui,
Nina.
— Run... — Resmunga de novo e levanta o corpo.
Espero quieto o que ela vai fazer.
Pegando as pontas da colcha, Nina cobre o corpo e monta em cima de
mim, e só isso já me deixa duro de novo. Me acomodo no meio da
espreguiçadeira – que não é grande e nem pequena, mas transar aqui seria
difícil. Ela joga as mãos do lado do meu rosto, inclina-se para mim dando
uma visão deliciosa dos seus seios e murmura na minha boca:
— Uma foda animalesca eu não garanto, mas devagar e carinhoso,
com certeza.
Sinto meus lábios curvarem-se num sorriso e seguro sua cintura,
puxando seu corpo para mais perto e seu calor bem em cima da minha ereção.
— Quer testar? — Ela pergunta sedutoramente.
Não respondo com palavras.
24
S etembro, dois anos juntos com essa mulher que não mereço nem um
pouco. E dois meses depois de tudo e estávamos no hospital. Nina –
linda, cansada e suada – grita com muita dor sentindo as contrações.
A médica logo veio e disse que ainda não era a hora dela empurrar.
Mas Nina não para de sofrer e tento não me irritar com a enfermeira.
Ela segura minha mão com força mais uma vez e respira como aprendeu no
ensaio de parto normal.
— Ela está fazendo só o trabalho dela — minha esposa chama a
minha atenção quando olho feio para a mulher saindo do quarto.
— Você está com dor.
— É normal — responde sem fôlego.
— Você poderia ter tido uma cesariana.
— Eu sei, mas... me deixa conseguir isso. — Ela tenta ser forte. —
Ele já vai nascer e eu vou parar de sentir dor. Vou me recuperar muito mais
rápido do que fazendo uma operação. Eu quero poder... ter ele nos meus
braços e fazer tudo o quanto antes.
— Você é muito teimosa.
Ela força um sorriso e coloca a mão sobre a minha.
— É o convívio com meu marido.
Um sorriso repuxa em meu rosto e me levanto do banco ao lado da
cama para beijar sua testa. Ela está suada, os cabelos grudando na testa.
— Sophia?
— Está em casa quietinha.
Ela pergunta toda hora a mesma coisa.
— Ai, meu Deus! Que dor. — Ela se curva para frente segurando a
barriga e a outra mão aperta a minha com tanta força, que é calejada por
conta dos socos e segurar as pistolas, então não sinto dor e Nina aperta com
força para caralho.
— EU PRECISO EMPURRAR! — Nina grita bem alto.
Não é possível aguentar mais isso. Chamo a médica de novo. Aperto
o botão da cama e logo aparece a médica.
— Vamos ver se dá para você empurrar, Nina. Calminha. — Ela
levanta o lençol sobre as pernas de Nina, faz o exame rapidamente e ergue a
cabeça para nós. — Sim, está na hora. Pode empurrar.
Duas enfermeiras aparecem para auxiliar a médica e as coisas
começam a ganhar forma, e não era para mim entrar em pânico. Calma. Está
tudo bem. Você sabe o que acontece agora e basta minha esposa respirar e
empurrar.
— Estou do seu lado — digo baixo no seu ouvido.
— Tudo bem — ela balbucia parecendo esgotada e olha para frente e
faz o primeiro esforço com a contração seguinte e empurra.
— Vai empurra! Empurra.
Ela faz, respira, aguenta a contração e empurra jogando a cabeça para
trás. Sua respira com tanta força e depois de umas dez tentativas. Todo o
esforço, respirações e lágrimas, e resta a Nina empurrar e empurrar e gritar
bem forte. Até que a médica sou esperançosa:
— Estou vendo a cabeça. Continue assim, Nina. Respira fundo e
empurra mais uma vez e muito forte.
Ela faz força de novo e com mais alguns empurrões, Nina inspira e
respira e escuto choro de bebê. A médica ergue um bebê no meio das pernas
de Nina e o examina rapidamente, dá informações para as enfermeiras e
depois que corta o cordão, que eu não quis cortar. Nina precisa mais de mim.
Ela parece muito abalada, sua cabeça está deitada no meu peito e sua
respiração está devagar.
— Você está bem? — pergunto.
— Estou... eu só quero ver ele — murmura baixinho.
— Você vai ver. Fique calma.
E uns segundos depois a enfermeira vem com o nosso filho num
embrulho azul e entrega para os braços de Nina. Ela o pega com tanto amor,
tanto carinho, o mesmo que dá para Sophia. A sensação de que tudo está
como deveria ser, é reconfortante para caralho.
— Oi, filho. É a mamãe — fala ainda com a voz cansada. — Você me
deu um trabalhinho, mas está tudo bem.
Não me controlo e rio mesmo que estejamos na presença de
estranhos. Todos os médicos sabem quem eu sou e não dá para ficar sendo
simpático. O respeito e o medo são duas coisas que precisam ser conservadas.
Nina olha para o nosso filho sorrindo com os olhos marejados e eu
estou com minha mão em seus cabelos com um pouco de gosma de sangue
ainda, mas eu não ligo. Já toquei tanto sangue de homens impuros que tocar
meu filho é perfeito. Meu filho. Ele vai carregar meu legado, meu sobrenome
e vai ser o conselheiro de Dante Lozartan. Puta que pariu.
Fico emocionado por isso, mas respiro fundo de olho em Nina, o que
não adianta muito porque ela sorri com tanto amor, tanto proteção para mim e
para esse bebê nos seus braços. Ela foi a melhor coisa que já me aconteceu
sem sombra de dúvida.
— Você quer pegar ele?
— Eu quero — afirmo.
Ela passa o bebê para os meus abraços e eu dou um beijo na sua testa
para depois fazer o mesmo na testinha dele, que resmunga sem chorar. A
imagem de Sophia quando nasceu, o sofrimento de Mia, sua preocupação.
Ela estava com tanto medo, tão ansiosa e sofrendo em casa. Me deixou um
pouco traumatizado e por isso corremos para Nina dar à luz em um hospital.
Eu não queria aquilo de novo. Todas aquelas lembranças morreram.
Eu balanço nosso bebê nos braços e olho para minha esposa.
— O nome dele?
— Vai ser Dimmi como a gente tinha falado — ela afirma com um
sorriso enorme. Tão cansada, mas linda e feliz.
— Então vai ser Dimmi.
Era o nome do avô dela, que fora bem diferente do seu pai, segundo
ela mesma. Eu não vou reivindicar isso e sei que ele me dará muito orgulho.