Você está na página 1de 765

Folha

Copyright © 2021 Alessa Ablle


Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e
estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou
meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a permissão dos detentores dos
copyrights.
Plágio é crime inafiançável. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido pela lei nº 9.610/98 e previsto pelo artigo 184 do código Penal Brasileiro.

Título: A Esposa do Consigliere


Imagens da capa: Depositphotos.com
Ilustração da capa e Diagramação: Alessa Ablle.
Revisão: Carla Fernadan e Paola Leal

1ª ed. – Rio de Janeiro: Alessa Ablle, 2021


Série Honrados no Sangue Spin-off; Parte 1 e 2 de XEQUEMATE

1. Romance | 2. Ficção | 3. Crime Internacional | 4. Erótico | 5. Suspense

Texto fixado conforme as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto


Legislativo n° 54, de 1995).
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
que aqui serão descritos, são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança
com a realidade é mera coincidência.
Paolo Dal Moli é o homem que serve ao temido Capo da Lawless, a
máfia detentora do maior território americano, e por sua vez, é tão temido e
poderoso quanto.
Há um tempo ele perdera sua primeira esposa, e com isso teve que se
casar de novo, com a noiva arranjada para ele, dezessete anos mais nova. Pois
sua filha de apenas oito meses precisava de uma mãe e ele como um homem
poderoso e zeloso ao seu sobrenome, precisava de uma nova esposa para
dividir a vida, a cama e lhe dar um novo filho, talvez o tal herdeiro desejado
de todo homem da máfia.
Nina Dal Moli entrou em seu casamento sabendo da sua enorme
responsabilidade, lidar com a filha do seu marido, porém ela não esperava
encontrar um homem quebrado que realmente amava sua falecida esposa,
mesmo o amor sendo quase uma fantasia na máfia.
No primeiro livro nós temos o casamento, o descobrimento e o
nascimento dos sentimentos que um nutre pelo outro. Agora nessa noveleta
tão pedida pelos leitores, temos as perguntas “em aberto” resolvidas e um
pouco de ação.
Em XEQUE-MATE temos o renascer. O descobrir.
EM A Esposa Do Consigliere temos o florescer. O resistir.
Casamentos arranjados geralmente criam laços de sangue e respeito,
mas neste temos o amor e a devoção. Além, a obsessão de um homem que
não deixará nunca mais perder o jogo.
LEIA, É IMPORTANTE :D
POR FAVOR, LEIA!

meus... ANJOS. Eu pensei durante tanto tempo como


chamaria os leitores fiéis, que me acompanham em todas. Que estão ao meu
lado nos dias felizes e nos dias terríveis. E eu me sinto MUITO À
VONTADE em lhes chamar de Anjos.
Anjos que rezam e oram por mim. Anjos que perguntam como estou
no direct. Anjos que falam para eu descansar quando veem nitidamente que
estou muito exausta de trabalhar. Anjos que sabem o devido valor e respeito
ao próximo. Anjos que me dão todo seu apoio e carinho. Anjos que me fazem
acordar todo dia com novos propósitos e querendo entregar o melhor de mim.
Eu sei que esse livro foi prometido para dois meses atrás e Deus sabe
como eu queria, como tentei, como lutei para ele sair o mais rápido. Eu
também não gosto de ficar ansiosa, não gosto de prometer algo e não
cumprir, mas deixa eu confessar o real motivo de todos os atrasados desde
julho para A Esposa Do Consigliere.
Primeiro, eu não terminei ele para lançar em julho e nesse caso peço
desculpas POR MINHA CAUSA por prometê-lo muito antecipadamente.
Depois em agosto, eu fui colocar o arquivo e ele travou. A Amazon
lutou comigo e eu com eles, para pelo menos liberar o livro de novo para eu
poder lançar uns dias depois. Uns dias atrasado não era nada, certo!? Bem, o
livro foi liberado, porém eu me senti mal e por isso cai na escadinha da
minha estante. Tive que correr pro hospital de tanto incomodo e para não
acharem que foi mentira, eu tirei foto na cadeira de rodas. Tirei fotos de todos
os remédios que tomei e tive uma forte reação a vac1na :/ Infelizmente, mas
fiquei super bem depois. É comum isso, gente. E na última semana de agosto,
eu cansei de lutar contra meu corpo, doente constantemente, e relaxei e disse
que o livro iria sair quando estivesse melhor.
Setembro veio e o livro não. Por quê? Porque eu mexi nele, minha
revisora teve problemas com o computador dela, eu não estava pronta e a
Amazon pediu para eu atualizar alguns dados, que demorou e impediu de
lançar o livro. O mês acabou e nada.
Sinceramente, eu já tinha perdido as esperanças para publicar algum
livro esse ano e ficar saudável, porque no final de setembro (quem me
acompanha no Instagram, sabe) fiquei MUITO gripada. E agora, em outubro
estou eu aqui FINALMENTE (TÔ GRITANDO NESSE MOMENTO E EM
TODOS OS OUTROS) LANÇANDO esse livro.
Peço MIL desculpas por todas as inconveniências (da Amazon e
minhas). E como já disse, não dou mais data. Não faço mais contagem
regressiva. Não deixarei ninguém ansioso da forma que fiz para AEDC.
Seremos surpreendidos agora.
Quero agradecer do fundo do meu coração a todos – TODOS – que
estiveram do meu lado nesses meses difíceis, onde fiquei doente e sendo
sincera, minha depressão está dando sinais e me preocupa. Não quero voltar
para onde estivesse anos atrás. Já estou procurando ajuda para isso e as
orações, pensamentos positivos e tudo mais, ajuda e muito!
Gratidão a Deus por me dar leitores e amigos maravilhosos.
Gratidão por conseguir finalizar e upar esse livro.
Gratidão por escrever esse livro incrível. Era pra ter 50mil palavras e
terminamos com 75mil :O A demora até que foi boa por um lado.
Antes de deixar vocês lerem... Se você se sente como eu, por favor,
procure ajuda. Depressão não é frescura, tá.

OBRIGADA DE TODO CORAÇÃO POR TODO APOIO, CARINHO E


BOA LEITURA.
Amo vocês.
OBS.: Sobre os errinhos no livro 1, infelizmente o Word trava às
vezes salvar as alterações. Não é culpa da revisora e nem minha. Tem coisas
que foge da minha responsabilidade e eu sempre mando a versão da nova
revisão para KDP (Amazon), mesmo sabendo que eles muitas vezes não
atualizam. Isso acontece mais do que vocês possam imaginar com os autores.
Sinto muito que erros passem, mas é quase impossível não acontecer
nos livros e mesmo que eu me preocupe com isso e revise depois, o KDP
dificilmente atualiza.
Estou dando essa declaração porque sou MUITO transparente com
meus leitores. Enfim, espero a compreensão de vocês.
Qualquer tipo de transtorno, deixo meu e-mail abaixo:
alessaablle@gmail.com
Curta a playlist que fiz no Spotify para me ajudar a escrever o livro.

HTTPS://OPEN.SPOTIFY.COM/PLAYLIST/5FISGXNVGHPU0SQAWR7O8X?
SI=86A0D03588004306
Vamos deixar claro que não compactuo com nenhuma das atitudes
ilegais dos personagens. Não sou favorável a nenhuma perversidade,
maldade, brutalidade ou covardia. Este é um livro de ficção baseado em
estudos sobre a máfia italiana e usando o bom senso da licença poética,
minha criatividade, para criar os cenários e acontecimentos. Não tentem
abolir nenhuma atrocidade aqui para o romântico ou “defensável”. É um
livro. Na vida real é errado.
É sobre a MÁFIA sim! USO O PLANO DE FUNDO DA MÁFIA
ITALIANA DE FORMA TÉCNICA e ESTRATÉGICA ÀS VEZES, MAS É
UM ROMANCE! Temos as maldades, tretas, regras e tradições, porém o
forte é o nosso mocinho (anti-herói) se apaixonar pela mocinha (guerreira), e
vice-versa.
Baseado na licença poética e em pesquisas.
Esse glossário é tanto para vocês como para mim. Vamos ter essa base em todos os
meus livros de máfia.

Boss: é o CHEFÃO, que toma conta dos Capos. O supremo poder da


máfia. Os Capos aposentados, mas muito perigosos. Sempre os mais
antigos (muuuito velhos) que conquistaram o cargo a duras penas. Os
postos são passados de pais para filhos, por isso eles dão tanta
importância aos filhos homens. As mulheres não assumem cargos altos e
nem de longe podem ser Capo e chefe menor.

Capo: O cabeça chefe de cada território, só deve respeito ao Boss, e que


comanda as Famiglie compostas de: Capo, Testa, Underboss, Cinistro,
Consigliere, Soldados, Associados (os que não tem ligação consanguínea
ou italiana, porém atuam e “trabalham” para a máfia) e Clãs (as distintas
famílias: pais, esposas e filhos).
Testa: Muito respeitado e temido. Homem de extrema confiança. Serão
os irmãos dos Capos.

Underboss: Chefe menor ou gerente do Capo, são incumbidos pelo


Capo, a cuidar e zelar dos territórios dominantes. Aplicam as leias dos
Capos, mas não podem fazer o que quer.

Consigliere: Cada posto principal tem seu próprio conselheiro (Boss,


Capo, Testa e Underboss) para orientar e muitas vezes frear decisões.

Cinistro: Quem é o braço esquerdo. Muitas vezes incumbido de fazer a


“limpeza”. Mata ou acompanha as ações.

Famiglia: Nome dado aos grupos organizados. Eles se denominam


assim e defendem a ferro e fogo seus homens e suas famílias (clãs). É a
junção das várias organizações criminosas que formam A Máfia
Organizada Italiana, que, com a americana, é a mais importante das
organizações mafiosas do mundo.

Máfia Italiana: As organizações originais da Máfia Italiana, que se


expandiu pelo mundo e nos Estados Unidos, pelas regiões e ganharam
nome, para defender a ordem, comandar o crime organizado e etc. São as
quatro grandes Famiglie: Cosa Nostra, Camorra, ‘Ndrangheta e a Sacra
Corona Unita.

Porém, há outros países com suas organizações criminosas. Irei colocar as


que serão presentes no livro.

Máfia Mexicana: Após uma longa pesquisa não encontrei nada, então
vou usar minha licença poética: Hechos.

Máfia Yakuza: Famosa por muitos filmes de Hollywood, é um grupo de


crime organizado nativo que usa ameaças e extorsão para obter o que
querem. Sua origem data do século XVII. Todos os membros são
marcados com tatuagens, e exigem atos extremos de dedicação que
envolvem a amputação do dedo mindinho quando algum membro comete
um erro. Como uma forma de desculpas.

Máfia Russa: é, talvez, a mais perigosa. Teve origem na extinta União


Soviética e agora possui influência em todo o mundo. Estão envolvidos
em crimes organizados em Israel, Hungria, Espanha, Canadá, Reino
Unido, EUA e Rússia, entre outros. Denominada de Bratva.

Madman: Os homens que são iniciados na “máfia”. Homem feito.

Grama: Codinome dado pela Lawless para chamar os territórios,


principalmente os que estão com restrições.

Temhota: Tatuagens dos prisioneiros russos. Geralmente denotam o


ranking em que está o criminoso.
Assim como XEQUE-MATE, este livro pertence a máfia
Lawless.
Série Honrados No Sangue

Travis Lozartan é o mais novo Capo da máfia da Costa Leste dos Estados
Unidos, herdando o cargo de seu pai. Com a fama de “O Cruel”. Mau, impiedoso, frio
e calculista, não mede esforços para derramar sangue de seus inimigos e defender a
Lawless. Desde muito novo sabia que seria o próximo a liderar Nevada e os negócios;
e, quando seu pai morreu, ele ganhou poderes e inimigos. Porém, não esperava ter que
honrar um acordo de anos atrás, que salvou a todos.
Madeleine Beluzzo também foi nascida nesse mundo cruel e insano, mas
quando seu pai, um policial “duvidoso”, decide fazer um acordo com a máfia rival, é
introduzida no lado ainda mais obscuro e perigoso, tornando sua vida um terror;
quando ela começou a atrapalhar os negócios com suas opiniões, foi mandada para
longe. Agora está de volta e terá que se aprofundar nesse caos e na vida do homem
que a dominará muito além do que era o acordo.
Madeleine Beluzzo lutou o quanto pôde para não se render à encantadora e
magnética beleza e poder do Capo da Lawless, mas em vão. Em pouco tempo se viu
rendida e o desejando o tempo todo. Agora, ela assumiu o quanto está dominada por
ele e o quanto de sacrifício será capaz de suportar e fazer para tê-lo em sua vida e ficar
na dele.
Travis Lozartan quer o domínio do seu território, do seu nome, seu poder e da
mulher que escolheu para ser sua esposa. Ele ainda não se deu por vencido de que, na
verdade, ela é muito mais do que quer admitir, porém seus inimigos o farão enxergar
não só que sentimentos o tornam mais forte, como ainda mais perigoso.
Em “Dominado Por Ela” teremos a redenção das crenças de Madeleine e os
sentimentos de Travis. Iremos presenciar o retorno desse casal, agora unidos, focados
e ainda mais fortes.
E, se separados eles faziam todos temerem e se armarem, juntos eles forçarão
todos a ficarem de joelhos e pedirem arrego.
Travis e Madeleine Lozartan lutaram bastante para chegarem ao ponto de
dizerem que são feliz, porém alguns duvidam que seu chefe, que tinha fama de cruel e
impiedoso, ainda seja o mesmo depois de casar e fazer sacrifícios para sua família,
esposa e filhos, pois Travis sempre fora dedicado aos seus irmãos. Nesse conto forte e
impactante, Madeleine vai definitivamente mostrar a grande mulher que é e o quão
bem foi decisão de ser a esposa do chefe da Máfia Lawless, e Travis irá mostrar que
monstros caminham sob a superfície mesmo que se apaixone e seja devoto a sua
família. Que seu coração é separado das decisões de ser um Capo.
Essa coletânea contém as partes novas que estão dentro do livro
DOMINADOS. Se você não leu os livros DOMINADA POR ELE e DOMINADO
POR ELA, é PRECISO LÊ-LOS!
Nesse livro contém:
Dominada Por Ele + Dominado Por Ela + A Noveleta: Contos da Mafia.

Eles lutaram muito contra seus sentimentos.


Contra seus passados marcados por falta de afeto e tortura.
Contra as escolhas ruins que tomaram e de seus pais.
E lutaram bravamente contra um inimigo incomum.
Quando puderam “respirar” de novo, se perguntaram se os dias que viriam
seriam tranquilos ou tumultuados?!
Se os outros inimigos estão bem atentos para perceberem que o casamento
deles não fora como todos os outros da Famiglia, por estratégia. Pois era visível para
os próximos, que eles se amavam.
A pergunta era: Eles vão precisar esconder a verdade para poderem manter
os inimigos longe ou revelarão ao mundo que o que sentem os tornam ainda mais
perigosos?
Com cenas fofas, passagens de tempo e outros personagens dando seu ar da
graça.
DOMINADOS é um conto rápido e delicioso do primeiro casal da série
Máfia Lawless.
Prelúdio

Paolo não conseguiu evitar seu maior erro.


A morte da sua primeira esposa, Mia. Mãe da sua filha e o amor da
sua vida.
Jurou vingança e nunca mais amar ninguém, que não fosse sua filha,
Sophia.
Ele nunca deixou de honrar suas promessas.
E depois de oito meses...
...ainda exista muita dor, raiva e vingança dentro dele.
Mas ele tinha sua filha, que precisava de uma mãe.
Nina, é a noiva arranjada. Dezessete anos mais nova e inocente, que
chegará a Las Vegas. A cidade que Paolo é o conselheiro do chefe da máfia
Lawless.
E mesmo contra se casar de novo, ele sabia que precisava de ajuda
em casa... se quisesse continuar sendo o braço direito do Capo.
Ele sabia que precisava de vez “enterrar” sua ex-esposa.
E sua jovem e nova esposa foi um sopro de paz em sua vida.
Uma verdadeira mãe para a sua filha.
Mas Paolo faz uma descoberta, que deixa em risco sua família e sua
paz.
Que ele precisará agir e rápido.
Porque.... ele prometeu... ser o próximo a dar o xeque-mate.
“Não devemos amar, porque não é somente amor. É obsessão.”
SE VOCÊ NÃO CONHECE O LIVRO 1, VIRA A
PÁGINA.

SE VOCÊ JÁ LEU XEQUE-MATE E NÃO QUER LER DE


NOVO
APERTE AQUI!

Sobre os outros livros da série, eles são do Chefe da máfia Lawless, que
Paolo é o conselheiro. Seria legal ler, serie apaixonante, mas não quero
pressionar ninguém. É importante, mas não obrigatório.
E o motivo de colocar o livro um dentro do livro 2, foi devido a demora pra
lançar a continuação.
Paolo Dal Moli nasceu para ser grande. Um homem importante e estar à
margem de uma das organizações criminosas mais temida e conhecida da máfia ítalo-
americana. Ele sempre soube que teria que ser tão cruel quanto seu Capo para ser seu
conselheiro. Sabia que teria que se comprometer perante a Famiglia e suas regras.
Seu primeiro casamento foi tático, planejado para se estabelecer em um
mundo regado de tradições. Era apenas para ter uma esposa, dividir sua cama e ter um
herdeiro algum dia. Mas Mia foi a esposa perfeita para ele. O entendia como ninguém,
apesar da grande frustração em engravidar. No entanto, os acontecimentos se tornaram
sombrios novamente por conta da guerra com a máfia rival russa, a Bratva.
Recém-viúvo, revoltado e com um bebê recém-nascido, ele precisa
novamente arrumar uma companheira e uma mãe para a sua filha e para estar na sua
cama.
Nina Gatti cresceu ciente de que seria dada em casamento por funções
táticas. Filha do subchefe de Seattle, ela era a moeda de troca quando seu pai
precisasse ou o chefe dele. Então ela não foi pega de surpresa ao saber do noivado.
Não até descobrir quem era seu noivo. Um homem quase o dobro da sua idade e que,
em sua futura casa, já teria uma grande responsabilidade esperando por ela. A pequena
e órfã Sophia.
Tudo muito rápido.
Tudo mundo sombrio.
As vidas de Paolo e Nina se colidem e o destino dos dois está traçado.
Ele quer apenas cumprir com seu dever, mas Nina quer mais para a sua vida.
Prólogo

C om um último suspiro, ela tocou o meu peito e descansou para


sempre. Naquele momento, fechei os olhos controlando o grito que
estava no meio da minha garganta. E a sanidade mortal que sempre fez parte
de mim, precisava estar ativa senão...
Eu a abracei beijando sua testa. Ela foi a única que conseguiu, que
tinha alguma parte boa de mim. Isso sempre pertencerá a ela. Sempre a ela.
Os passos atrás de mim me colocaram em alerta e virando-me vi
Luca. Encontrei seus olhos e vislumbrei a piedade neles. Sem falar nada,
peguei minha esposa – o corpo dela – nos braços e a levei para dentro da
igreja.
Parei aos pés do altar, onde ela jurou sua lealdade, fidelidade e seu
corpo. Eu não sabia na época que ela seria tanto para mim. Me ajoelhei,
deitando seu corpo no chão frio do mármore e fechei os olhos batalhando
intensamente com minha luta interna para não explodir de uma vez.
Ainda não estava na hora.
— Ciao, mia bella![1] — murmurei e não aguentando mais, gritei,
abafando minha voz no seu pescoço.
Só parei quando senti a dor diminuir e minha voz falhar. Afastei o
corpo de Mia dos meus braços e, quando respirei fundo, olhando para a
frente, percebi que o padre estava me encarando. Em seus olhos havia
lamentação e pena.
Eu também sentia pena.
Todos sempre falaram e tinham uma pressuposição de quem eu era.
Um homem frio, sem sentimentos e cruel, mas eles não sabiam da verdade,
que eu reservava a única parte humana que tinha para a única pessoa que
merecia. E senti pena do dono da mão que puxou o gatilho que matou a
minha mulher. Ele pagaria com uma morte amarga.
— Os anjos têm lugar reservado no céu — o padre comentou com a
voz baixa e cansada por conta da idade.
Concordei com um aceno de cabeça e me coloquei de pé. Ele sabe
quem nós éramos. O que fazíamos e sabia que as mulheres geralmente são
usadas, algumas uma válvula de escape para as horas pesadas do nosso
mundo. Para ele, a morte da minha esposa foi um alívio. Foi a forma de Deus
encontrar sua absolvição na vida de sombras que ela tinha ao meu lado.
— Talvez o senhor tem razão em suas palavras. Mas um homem
como eu não vai para o céu. Então, assim como no céu e na terra, anjos e
demônios não deveriam conviver no mesmo lar.
— Às vezes, é necessário um pouco de bondade onde só há trevas.
Não se sinta como se não merecesse a felicidade.
— Minha esposa não era minha felicidade, ela era minha redenção.
Ela era tudo que me restava de bom. — Cerrei o maxilar com o ódio
percorrendo meu corpo. — Eu tinha reservado para ela a única parte humana
dentro de mim.
— E agora que ela morreu... — Ele deixa no ar o fim da frase.
Olhei para o corpo de Mia mais uma vez e disse:
— Quando eu me casei, ela foi o meu começo. O começo da minha
redenção. Com a sua morte... é o fim. Talvez eu me segure pela minha filha,
mas de resto não tenho mais o porquê de lutar contra minha fúria brutal e
cega, que sempre foi meu verdadeiro eu. Hoje marca o fim do jogo. Xeque-
mate.
1

E ntrei em casa e fui direto para o jardim que ficava atravessando o


quintal, onde Mia passava muitas horas do seu dia. Eu já tinha
desistido de entender por que ela não procurava outra coisa para fazer do que
cuidar das roseiras e margaridas. Ela amava flores e era seu “talento”.
As mulheres da máfia eram muito pressionadas a terem algo especial
como hobbies. Era algo bem parecido com os costumes antigos, onde as
mulheres precisavam ser prendadas. Levando em conta que não podiam
conviver com a sociedade, não como as mulheres de Fora. Ter algo para
ocupar os dias sem ser o marido e os filhos, era bom para elas terem algo a
mais para se ocuparem e fazer. Eu pensava isso, por mais que todos me
rotulassem de carrasco.
O talento da minha esposa era a jardinagem, mesmo eu sabendo que
ela era ótima em suas poesias escondidas nas gavetas do seu escritório.
Largando meu maço de cigarro na mesa da cozinha, Mia odiava que
eu fumasse, saí para o enorme jardim e a vi sorrindo sozinha. Ela estava
usando um vestido azul com flores espalhadas nele todo, um cinto alto branco
que fazia sua barriga protuberante ficar ainda maior. Grávida de oito meses,
Mia era uma visão linda e encantadora mexendo nas suas flores.
Instantaneamente algo dentro de mim se acalmou. Como se eu tivesse
uma ferida e ela fosse meu curativo. Ela nunca saberia que era isso para mim.
Que tinha tanto poder sobre mim e agora mais ainda enquanto carregava
nosso primeiro filho no ventre.
Limpei a garganta e, quando ela me viu, virou o rosto e seu sorriso se
alargou ainda mais. Essa reação dela sempre me pegava de surpresa.
— Você chegou cedo hoje — comentou e esticou a mão para que eu a
ajudasse a descer os degraus do patamar onde ficavam as margaridas.
Dei de ombros como resposta e Mia sorriu para mim. Tirou as luvas,
deixando-as perto dos vasos e virou-se para mim. Ficando perto, ela passou
as mãos no meu peito e mexeu na minha gravata, afrouxando.
— Já se acostumou com a Madeleine?
— Quase — respondi arfando com meu cansaço.
Ela riu e beijou minha boca, que fiz questão de aprofundar um pouco
mais o beijo. Se afastando, limpou seu batom rosa que tinha marcado meus
lábios.
— Você precisa aceitá-la e, sendo sincera, não sei por que a
implicância com a mulher, Paolo.
— Você não a conhece.
— Mesmo assim, não entendo você não gostar dela, eu gosto — disse
rindo.
— Apenas por que eu não gosto muito dela?
— Justamente por ela deixar você assim. Isso prova que é uma
mulher determinada e provoca seus instintos nervosos, que nem eu no
começo do nosso relacionamento.
A confirmação de que talvez ela estivesse absolutamente certa, me
incomodava. Quando Mia surgiu na minha vida, eu não a aceitei de primeira,
mas com o tempo ela se provou ser a mulher para estar ao meu lado e tinha
quase certeza de que Madeleine nasceu para ser a esposa do Capo. Talvez
cuidar de algumas situações que Travis ficava sobrecarregado demais. Ela
podia não ser perfeita, porém estava se mostrando incrível cuidando da casa e
sendo a mulher que faltava entre os Lozartan, que só tiveram uma boa
representante feminina com Giulia, embora ela fosse uma Caputo e sua forma
de lidar com a família fosse fria demais. Por vezes me peguei questionando
onde estava o sangue italiano daquela mulher. Nem eu com toda a minha
fama de “distante”, tratava meus pais e minha esposa como Giulia fazia com
os Lozartan, embora isso não tirasse o mérito de ela ser uma grande líder para
nós.
— Vamos jantar — Mia comentou.
Assenti e entrelacei nossos braços. Caminhamos com calma para
dentro de casa e levei minha esposa até o banheiro onde lavamos as mãos.
Logo seguimos para a sala de jantar. Marta já estava enchendo nossos copos
quando sentamos à mesa.
— Como foi o dia hoje? — perguntei descontraído.
— Tranquilo.
— E a bebê?
Os olhos da minha esposa brilharam ao falar:
— Ela está se mexendo demais. Não vejo a hora dela chegar. —
Suspirou com um sorriso. — E os negócios, como andam? Travis já marcou o
casamento? Ouvi um boato sobre o assunto.
Claro que ela tinha ouvido falar algo. Fofocar era uma tarefa
importante para algumas mulheres da máfia.
— Sim e nós fomos convidados para o noivado, que será semana que
vem no Dia de Ação de Graças.
— Como? — indagou espantada. — Dia de Ação de Graças? Desde
quando eles comemoram esse feriado? Lembro-me muito bem de que, ano
passado, você foi em uma missão que me deixou extremamente preocupada.
Procurei fugir do assunto sobre minhas missões perigosas, que ia
porque gostava da adrenalina. Como conselheiro do Capo, eu não precisava ir
nos confrontos e “negócios” corpo a corpo, no entanto, eu assumia o risco.
— Madeleine deu a ideia de comemorar e fazer o noivado no dia.
Mia abriu um sorriso singelo, engoliu a comida que mastigava e
pegando o suco de uva, que substituía seu vinho, disse:
— Por isso que eu falo que ela consegue irritar você e está provando
que o Travis não resiste a ela também. Eu já a adoro.
— Você não pode adorar ela, já que não a conhece.
— Não conheço porque não tive oportunidade ainda.
— Você sabia que ninguém podia saber que ela estava em Las Vegas
e muito menos na casa do Capo. — Mia sabia dessa informação porque eu
confiava nela, mas nem alguns dos homens próximos de Travis comentavam
sobre Madeleine dentro de suas próprias casas.
— Eu sei disso, mas eu já podia ter conhecido. — Bebericou seu suco
pausando. — Enfim, semana que vem eu vou conhecer a futura senhora
Lozartan.
— Com certeza, você vai.
— Não vou perder de jeito nenhum esse jantar.
Assenti e voltei a comer em silêncio. Mesmo que nossa conversa
estivesse no caminho descontraído, não gostava de conversar com Mia sobre
qualquer coisa que estivesse envolvendo os Lozartan e a Lawless, e sempre
procurava desviar sua atenção, o que fiz sabiamente.
Ela não entendia muitas vezes meu motivo por optar em falar sobre
assuntos que pudesse distrair minha cabeça e que ela não pudesse saber. E,
naquele dia, eu estava quase enlouquecendo com o noivado repentino e
problemático de Travis. A questão não era com quem ele fosse se casar e sim
as implicações sobre as nossas tradições. Travis simplesmente jogou fora
todas as tradições e eu estava com um trabalho do caralho nas mãos para
manobrar as más-línguas.
Eu tinha que fazer meu trabalho, defender e zelar pelo Capo e a
Famiglia, e, como ele ordenou, não me intrometer, tanto na sua relação com
Madeleine quanto conduzia a aliança com a Darkness.
Mas o caos total não era o casamento e sim a contínua investigação
sobre os aliados de Edgar Beluzzo. Eu estava em uma corrida desenfreada
para pegar o maldito traidor que estava por trás dos últimos acontecimentos.
As únicas coisas que me afastavam do tumulto que andava em Las
Vegas eram Mia e o nascimento da nossa filha que faltava muito pouco.
Naquela noite nós fomos para a cama e me deitei atrás de Mia para
poder relaxar minha mão na sua barriga e, às vezes, afagar.
Até eu pegar no sono senti minha filha chutar a barriga da minha
esposa. Não sabia ao certo se o que eu sentia era felicidade, mas era algo que
nunca tinha experimentado com tanta força assim. Algo parecido acontecia
comigo quando estava na presença de Mia.
Fechei os olhos. Eu sabia que não merecia o que tinha.

Uma semana depois, nós estávamos entrando na casa do Capo para o


seu noivado para poucos convidados. Era uma reunião para os que
interessavam na nossa guerra de território e os membros da Famiglia que
tinham algum parentesco ou amizade, como a família do babaca do Orazio
Mancini.
A notícia era para os nossos aliados, Travis Lozartan não estava mais
solteiro e as implicações de formar seu Clã deixava alguns preocupados.
Herdeiros – o futuro da Lawless – começara a estar no jogo. Mesmo sua
união não beneficiando a ninguém, apenas a ele mesmo, todos deveriam
mostrar respeito e honrar com sua presença. Pela tradição era isso que
custava querer os Capos por perto.
Os mais interessados tinham chegado um dia antes surpreendendo
Travis, negativamente. Ele sabia que ouviria coisas que não ia gostar. Eu
avisei. Vincenzo e Giulia não gostavam de apostar para perder e um
casamento sem fins positivos, não era bom aos olhos deles.
Tão logo que dera meus primeiros passos para dentro da mansão, vi o
Boss da Famiglia ao lado da sua estimada esposa; Giulia Caputo, que, com
certeza, poderia afirmar que era o segundo Boss.
Assim que seus olhos me alcançaram e cheguei perto, Vincenzo me
deu um olhar calculista. O cumprimentei com um aperto de mão e dei acesso
para ele falar com minha esposa em um aceno conciso e polido, assim como
Giulia fez para mim.
Para Mia, Giulia deu um beijo no rosto e disse com falsa simpatia:
— Você está muito bonita. É para quando o bebê?
A conversa fiada de sempre.
Quase todo mundo sabia que minha esposa estava grávida em nosso
território. Eu era um dos homens mais importantes da Lawless e saber da
minha vida era como um dever de casa.
— É para o mês que vem. Já estamos nos últimos dias — Mia
respondeu com um entusiasmo totalmente verdadeiro.
— Isso é ótimo. — Giulia abriu um sorriso que quase chegou aos
olhos. Ela estava pouco se fodendo para a minha vida matrimonial. — A vida
de vocês irá mudar totalmente.
Eu assenti, com pouca paciência, enquanto Mia abriu mais o sorriso,
com uma ansiedade mal contida.
— Sim, eu sei e mal posso esperar.
Cansado da conversa, Vincenzo pediu licença e me afastou das
mulheres. Fomos para o canto para conversarmos.
— Travis me comunicou que o senhor chegou ontem, mas não pude
vir para recebê-lo. Tive uns compromissos pendentes para resolver.
— Não se preocupe, Paolo. Eu sei que você faz o seu trabalho muito
bem e nem sempre lhe sobra tempo para bajulações.
Aprumei a postura e concordei. Era uma característica minha não
adular e por isso discutia com Travis como se estivéssemos no mesmo
patamar por muitas vezes. Caralho, eu lhe devia obediência, e ele tinha que
ouvir meus conselhos de vez em quando.
— De qualquer forma, você está aqui agora — continuou —, e queria
a sua palavra sobre um assunto.
— Em que sentido, senhor?
— Você não me informou que Travis estava tendo um caso e que
estava se tornando sério.
Cerrei a mandíbula pela acusação e desviei o olhar por
nanossegundos. Como Consigliere era uma das minhas funções orientar
quem eu servia e por muitas vezes delatar algumas ações, no caso do meu
Capo para o Boss, que era o seu superior. Um Consigliere falava com outro e
assim muitas informações eram passadas de uma Famiglia para a outra, de
um Underboss para outro, e para o Capo ou para o Boss.
O Consigliere também era a ponte que ligava todos os pontos e
repassava informações. Talvez por esta tarefa que, ao longo dos anos, muitos
dos homens que traíram a máfia foram os Consiglieres.
Nós, sucessivamente, fazíamos o trabalho de aconselhar, criar a ponte
para passarmos e obtermos informações, que ficariam entre nós sem correr o
risco de os de Fora ficarem sabendo. Eu tinha as minhas ligações, mas depois
de ter um Capo tão egoísta com a Famiglia e com o ego inflado sobre si
mesmo como Vincenzo Segundo, aprendi que eu deveria ser mais leal a um
Capo como Travis e não confiava no Boss.
Errei em não contar para Vincenzo que Travis, seu neto, estava tendo
um caso com Madeleine, e mesmo toda a história de ele ter a salvado e
trazido para dentro de sua casa. Mas era uma questão da palavra de honra de
um Capo, mesmo morto, de proteger uma mulher para sempre enquanto fosse
líder da Lawless.
— Honestamente, não fiquei contente com a decisão do Capo, mas eu
não pude intervir ou sequer me opor.
— Por qual razão?
— Travis é um homem de palavra e honrado. Madeleine faz parte da
Famiglia e, como tal, assim que eles dois tiveram o primeiro envolvimento e
ele levado a tirar sua virgindade, tomou a atitude de se casar com ela.
Encurtei uma boa parte dessa história porque Vincenzo não gostaria
de saber de tudo, que agora era irrelevante. Travis tomou sua decisão e,
quando ele tomava uma, nada o fazia recuar.
— Mas você não me disse que ela estava aqui.
— Depois que descobrimos todo o aparato dos planos de Edgar e
supostamente soubemos que ele foi capturado pela Bratva e morto, ficamos
muito envolvidos apenas nos ataques que poderiam começar a surgir. Ainda
estamos em total atenção — relembrei-o. — E com Vincenzo Segundo tendo
acabado de morrer, Travis assumiu o posto, depois Edgar desapareceu e a
garota surgiu do nada fugindo do filho de um dos sócios da Bratva, Yuri
Avilov, em uma das boates de Travis, onde ele estava. Foi assim que ele a
capturou, honrando o tratado de cuidar dela sobre a proteção da Lawless. —
Pausei, enfiando as mãos nos bolsos e terminei confiante: — Ele não teve
muita opção e cumpriu com a palavra do seu pai, mesmo morto. Uma palavra
dita por um de nós como um voto, é uma promissória, um juramento.
— Eu sei — disse parecendo ter engolido um limão com casca. — E
eu não estou me opondo a proteger a garota, mas se envolver e trazer para
dentro de casa e agora se casar com ela.
— Madeleine não é de todo mau.
— Pouco me importa. Alguns rumores vão surgir por ele ter quebrado
as tradições do casamento, fora que ela não o beneficia em nada a não ser que
escolheu a boceta com quem vai lidar em casa.
Com certeza ele poria juízo na cabeça de Travis da pior forma se
descobrisse que o Capo estava se casando não por honrar a virgindade e o
que mais fosse, e sim por sentimentos. Eu sabia que Travis estava apaixonado
pela futura esposa antes mesmo de ele tomar consciência deste fato.
Conhecia e ouvia os boatos, por isso fiquei teimando com Travis
sobre sua decisão. Eu não tinha nada contra Madeleine no quesito de ser
esposa dele, mas como nosso líder, ele simplesmente atropelou todas as
nossas tradições. Não quis saber de caralho nenhum. Se tivesse a capturado e
depois feito um noivado, não seria um grande problema e uma novidade entre
a Famiglia.
Mas não, ele teve um caso, um namoro e depois noivou, agora iria se
casar o mais rápido, não que fosse uma novidade. No mundo de Fora isso era
o normal, no nosso levantava suspeitas e eu esperava que Madeleine não
estivesse ou ficasse grávida tão cedo, porque seria muito pior.
Travis possuía o poder de silenciar qualquer um com o simples olhar
ou arrancando a porra da língua, de quem falava mal da sua família e dele.
Tinha deixado bem claro que todos seriam punidos, porém por trás, nos
cantos, no escuro, muitas pessoas continuaram não tolerando Madeleine e sua
suposta crescente de filha de um traidor para esposa do Capo. Luca me
alertou sobre os boatos e fez certo em falar com Travis, que pensara ter
sanado as opiniões. Na verdade, elas ficaram mais baixas, não mudas.
— Eu tentei convencê-lo a voltar atrás, no entanto ele não quis
renunciar a Madeleine. Mas sobre o namoro, apenas os homens leais sabiam
que ela já estava na casa do Capo. Os boatos que rondam têm mais a ver com
o pai dela ser um traidor da nossa causa.
Vincenzo fez um barulho enojado com a garganta.
— Ainda bem que ele acordou uma aliança com a Darkness, mesmo
não confiando que Marinne se casar com o filho de Giovanni irá realmente
nos beneficiar. — Seu olhar ficou distante e calculista. — Travis precisará
andar na linha, porque a Darkness é comandada por Cassio, e aquele velho é
muito mais tradicionalista do que nós. — Encarou-me novamente. — Travis
não deve continuar atropelando e aceitando rebeldias sobre a Famiglia. Isso
colocaria um alvo sobre nós no futuro.
A ordem estava dada e eu aceitei com um aceno, e falei:
— Não se preocupe com isto, senhor.
— Espero que sim.
— Eu sempre respeitei as tradições e as regras. As vezes que tive
alguns conflitos com Travis em relação ao seu envolvimento em ficar com
Madeleine, não fora por ela estar aqui. Reafirmo que ninguém sabia do seu
paradeiro. Ninguém dos que não deveriam saber, e obviamente nem mesmo o
senhor, com todo poder e informação, descobriu.
Ele assente concordando silenciosamente e contrariado.
Travis podia ter errado em várias situações, mas manteve a identidade
e o paradeiro de Madeleine em segredo usando todo seu poder. Ela ter
pintado o cabelo também ajudou bastante. Mesmo que alguns levantassem a
suspeita de que a mulher que acompanhou Travis na festa do Bellagio era ela,
tinha certeza de que ninguém iria levantar essa dúvida em voz alta. Ela agora
iria ser a esposa do Capo.
— Agora, com licença, vou falar com o meu Capo. Depois o senhor e
eu podemos conversar melhor.
— O que devemos conversar?
— Não é o momento para isso — assenti e me afastei não dando
oportunidade para falarmos nada demais perto de alguns ouvidos.
Primeiro minha lealdade era à Travis, depois ao seu avô, que, embora
fosse o Boss, tinha dúvidas se podia confiar nele. Não interessava o sangue,
muitas vezes na família, se precisasse, muitos avós e pais “atropelavam” seus
filhos e netos para se manterem no poder ou crescerem como força. Nós
ainda não sabíamos de todos os detalhes dos que estavam envolvidos com
Edgar.
A viagem desse final de semana de Travis para Colorado tinha o
objetivo de descobrir mais a fundo algumas informações que Luca conseguiu
sobre o Underboss de Denver. Pela premissa sabia que estávamos prestes a
um grande conflito de interesse e muitos traidores na Famiglia. Vincenzo
Segundo não adquiriu muitas estimas dos seus homens ao longo dos anos
como Capo. Ele era um porco nojento que não honrava seu poder.
— Querida, vamos — disse e esperei ela se despedir de Giulia para
sairmos do lobby da casa finalmente.
Atravessando as portas que davam para o jardim, vi Madeleine e
Travis muito perto um do outro conversando e intimamente relaxados, mas
então Madeleine percebeu que tinham pessoas chegando e se afastou
tomando uma postura mais polida e cuidadosa.
Ela amadureceu demais desde que chegou e nem parecia a garota
rebelde que foi capturada naquela boate. Não me restava dúvidas sobre sua
postura como esposa de Travis e até mesmo por suas declarações e
sentimentos, muito visível, que ela se apaixonou por ele e com certeza fará o
que for para deixá-lo vivo e honrá-lo. Ela foi criada como uma de nós e
mesmo afastada por um tempo e tendo um pai de Fora, ela sabia que era o
certo. Sabia das tradições da Famiglia.
Mia e eu nos aproximamos mais e deixei que ela passasse a minha
frente e recebesse o cumprimento de Travis com um aceno de cabeça e o
meio sorriso que ele dava quando tentava ser simpático publicamente.
Abrindo um sorriso verdadeiro, Madeleine me cumprimentou com um
simples aceno e chegou até a minha esposa para trocar um beijo no rosto.
Eu me direcionei para Travis e disse baixo:
— Então ele gostou.
O Capo torceu a boca com desgosto e me cortejou com um olhar
penetrante.
Contive a vontade de rir. Ele entendeu ao que me referi e percebi que
Madeleine também, e ela não gostou do meu comentário. Sempre com a
impressão de que eu não a tolerava. Foda-se.
Elas começaram a falar sobre o bebê, distraídas, quando Travis cortou
nossa distância e esbravejou para mim em voz baixa:
— Pouco me importa se o meu avô gostou ou não da minha decisão.
— Pode não se importar porque você não dá a mínima e não deixa
fazer qualquer diferença a opinião de ninguém sobre seu casamento, mas
você não quer que ela saiba pelo menos.
— É claro que não. Você também protegeria Mia de qualquer
falatório maldoso. Principalmente quando ela não merece.
Assenti, concordando.
Eu amava minha esposa e só além da minha consciência sabia deste
fato. Carregaria esse segredo para o meu túmulo. Nunca maltratei ou deixei
que Mia interpretasse que não sentia nada por ela e eu tinha ideia de que
Travis, como um observador detalhista e maquiavélico, notava que eu era
protetor de Mia assim como ele mesmo estava começando a fazer por
Madeleine.
No início a relação dos dois era cercada de muita possessão e ciúme.
Sempre existiu algo muito primitivo e carnal entre os dois antes mesmo de
começar o relacionamento, se poderia ser chamado assim. Mesmo quando
Travis não percebia, pensava e agia para ela. Ficava enfurecido com a ideia
de ela realmente ir embora para a Itália. Aquele casamento carregava algo
que muitos duvidavam que um Capo pudesse sustentar: o sentimento do amor
e devoção.
O amor era um risco em nosso mundo para um homem como Travis,
um perigo, e por isso um casamento tático teria sido melhor porque Travis
por vezes era descontrolado e violento, radical. No entanto, conseguia parar
seu monstro quando sentia que estava chegando no seu limite.
Eu temia que Madeleine pudesse ser a chave do cadeado para libertar
o monstro que tinha dentro do Capo. Esperava que ela o amasse, honrasse e
oferecesse toda sua devoção, e que não o enlouquecesse. Não provocasse ele
e nem ninguém, porque eu sentia o mesmo em relação a Mia.
Não gostava nem de imaginar alguém tentando fazer algo contra ela e
minha filha. Não ficaria nada bom. Eu não sabia se conseguiria me encontrar
depois. Não tinha nada a perder na vida, apenas elas duas e jurei lutar por
elas.
2

C om Travis em Denver, procurando saber de tudo que acontecia por


lá em uma “reunião”, que acabaria em uma retaliação ao Underboss,
que em poucas horas provável que estaria morto. As informações que Luca
conseguiu não restava muitas dúvidas e o Capo foi para colocar um ponto
final. Travis não tolerava traição de forma alguma e vindo de um dos homens
que deveria ser sua presença em uma das suas cidades, estava enfurecido. Eu
estava sobrecarregado.
Quando o Capo se ausentava, eu precisava estar vinte e quatro horas
atento a tudo em Las Vegas, no fundo, antes de Travis, era sempre assim. O
imundo do Vincenzo vivia ausente.
Sendo o braço direito do chefe, minhas funções redobravam e saíam
das diretrizes dos cassinos e bordéis que já cuidava. Eu passava a estar de
olho nas boates, nos sócios que tinham restaurantes e lojas pela cidade sobre
a proteção e vigília da Famiglia. E até mesmo no Balcão para cuidar das
drogas. Enzo fazia um bom trabalho no balcão geralmente e me passava tudo
que era importante por telefone, precisei ordená-lo a continuar no seu posto e
voltar apenas para Las Vegas amanhã para acompanhar Madeleine e
companhia.
Além de cuidar dos negócios precisava cuidar da segurança da família
do Capo. O que estava fazendo naquela hora quando fiquei sabendo que
Madeleine, Marinne e Dario estavam planejando sair com Bárbara Mancini
amanhã. Luigi me informou que iam ver o vestido de noiva de Madeleine e
almoçariam fora.
Madeleine gostava de levar Marinne para passear. Outra que mimava
e cuidava da menina. Ficava aliviado dela fazer este papel tão bem. Sempre
tive preocupação com a menina e com a futura esposa de Travis. Era algo que
passava na minha cabeça, às vezes, e tudo porque Travis não criou a irmã
como irmã e sim como uma filha e sua futura esposa precisaria entender a
forte ligação entre eles dois.
Nunca falei em voz alta que percebia que a menina precisava desse
tipo de interação a vida toda, por mais que Travis se esforçasse para ser tudo
que ela, Colen e Dario precisasse. Mas, porra, uma mãe fazia uma grande
diferença na vida de uma criança, mais ainda de uma menina.
Minha esposa não teve a presença da mãe depois dos oito anos e eu
podia afirmar como ela tinha esse vácuo dentro dela e uma saudade
esmagadora. Com sua gravidez terminando, prestes a dar à luz, ela pensava
muito na mãe. Mia se agarrou nas flores e nos livros para não se sentir tão
solitária. Seu pai não fora um babaca com ela, mesmo assim não foi o
suficiente; e a nova esposa, a madrasta de Mia, não se intitulou com
veracidade como mãe de Mia, a única filha do General de Los Angeles. Que
fora de onde Mia veio para se casar comigo.
— Não deixe de me passar nada e vigie com olhos de águia todos os
ângulos amanhã. Se algo acontecer a eles com Travis longe, ele volta de
Denver e acaba com você — avisei Luigi.
Por obrigação, Luigi era a sombra de Madeleine. Foi designado pelo
Capo para cuidar dela. Enzo os acompanharia para ter mais um homem forte
e capaz de defendê-los sem ser Luigi e Marco, guarda-costas de Marinne.
A Bratva estava de olho em nós e os mexicanos raivosos. Após o
ataque desenfreado de Travis, a Hechos não queria mais diálogo. O maluco
matou todos os mexicanos que estavam num hotel distante de Las Vegas com
facas e machados. Ele não atirou uma única vez. Quando cheguei ao local vi
uma carnificina e por isso alguns chamavam Travis de açougueiro por trás.
Todos os métodos de tortura de Travis não envolvia espancamento,
armas de fogo ou surras. Ele gostava da lâmina na pele dos traidores e
inimigos. Eu não ficava longe disto, no entanto apreciava usar bolas de
chumbo em cordas e acertar os filhos da puta nas bolas e na cara, e outras
coisas. Água sempre era bom.
— Não irei.
— Quando estiverem na rua, me avise para mandar alguns homens
passarem por perto.
— Enzo já ordenou que alguns soldados fiquem por perto no
Bellagio.
Fiquei tranquilo de Madeleine ir às lojas do Bellagio. Acreditava que
Travis mexera nos pauzinhos para ela ficar onde seus olhos pudessem ter
mais controle.
— Ótimo. — Desliguei e me levantei da cadeira.
Estava no meu escritório no MGM, que era minha responsabilidade
maior com ou sem Travis. Tudo era do Capo e da Lawless, mas cada homem
tinha algo seu para arrecadar seus próprios fundos e atributos. Metade dos
benefícios do MGM eram meus porque sua conquista foi luta minha. Quem
colocou Travis naquele jogo fora eu.
Saí do escritório e fui para o salão de jogos observar o movimento. Vi
ao longe Gregori Bianco, um dos soldados mais leais a mim e que cuidava de
Mia quando saíamos ou estávamos em perigo. Ele veio até a mim com passos
largos e parou.
— Me informaram de um movimento nas proximidades do bordel
subterrâneo da avenida principal.
— Fique de olho. O Capo está fora da cidade. Quero me poupar de
algum problema enquanto tentamos resolver o problema com alguns
Underboss.
Gregori assentiu e se afastou encontrando mais dois homens no
caminho para fora.
— Senhor — a secretária apareceu ao meu lado, me virei e ela
completou: —, telefonema importante.
Dei-lhe um aceno e segui o caminho do escritório e, quando peguei o
telefone e informei quem eu era, fiquei ainda mais surpreso ao ouvir a voz do
outro lado da linha: Cassio D’Ângelo, Boss da sanguinária e poderosa
‘Ndragheta. Muito em breve, com o casamento entre Marinne e Amândio, ele
seria também nosso Boss diretamente na Itália.

Sem estar nos meus planos, precisei aterrissar em Denver o mais


rápido após o grande entusiasmo de Luca ao relatar como Travis estava
lidando com a traição de Costa e como faria a cerimônia do novo Underboss
que seria o Consigliere. Travis estava fazendo do jeito a formação dos seus
homens, as alianças e mostrando seu total controle e poder sobre a Lawless.
Já se passara um ano do seu comando e muitos ainda não o respeitavam.
Depois de Denver algumas bocas iriam se calar ou perderiam a língua. Ele
tinha dado o recado sobre falar da sua família e agora dera sobre seu
comando.
— Meu pai deixou criar-se homens desleais porque ele era um.
Assenti, concordando totalmente. Las Vegas já teria afundado se
Travis não fosse como o avô desde novo, que mesmo frio com a família e
mais conservador nas tradições da Famiglia, fora um Capo determinado e
firme, e era um bom Boss. Para o bem ou para o mal, a tortura de Costa e a
ascensão de Amauri Rugerri – antigo Consigliere e novo Underboss – e Ugo
Venturana – como um novo Consigliere – faria com que muitos finalmente
respeitassem e colocassem Travis no seu devido lugar, de líder e julgador dos
traidores da nossa causa.
— Estou ficando cansado da falta de respeito, que parece que alguns
homens têm por mim.
— Geralmente é assim mesmo que alguns soldados tendem a
prosseguir quando ganham um novo líder.
Travis mostrou seu desdém com um olhar raivoso para mim, mesmo
assim prossegui porque estava ali para falar, para aconselhá-lo e trazê-lo para
o presente, porque não parecia que ele estava “acordado”.
— Eu sei que você tem muitos problemas com a Lawless para
resolver, mas precisamos falar sobre os mexicanos. O gerente do grupo que
fica dentro de Nevada não pareceu muito feliz quando deixou um dos nossos
bares destruídos. Ele fez questão de ir pessoalmente mandar um recado para
nós.
Travis esfregou o rosto impacientemente e levantou da poltrona
começando a andar na saleta que ficava no quarto que se hospedou.
— Estou indo para casa essa tarde. Quando chegar lá vamos fazer um
contra-ataque. Não vou deixar que eles fiquem achando que são melhores.
Balancei a cabeça negativamente e sacodi a perna que estava sobre a
outra. Estava sentado despojado e confortável com um cigarro por terminar
na mão.
— Embora eles tenham começado quando invadiu nosso território, o
que eles estão fazendo agora é o troco pelo que você fez mês passado. Devem
estar putos.
Sem se importar, ele andou até o carrinho com uma bandeja de
bebidas e se serviu de uísque generosamente. Travis não se misturava com
drogas, no entanto gostava de afogar suas frustrações e destilar seu ódio nas
bebidas – o principal era Bourbon – e nos bordéis. Depois de Madeleine, ele
parou com as idas até nossos estabelecimentos e os encontros com Antonela.
Os seus braços e ouvidos na boate favorita, Pandora. Eu sempre soube que
ele se demorava nas reuniões com aquela italiana foguenta por outros
motivos e os tinham pegados fodendo no escritório uma ou duas vezes.
— Travis, eu sei que você não gosta de ser contrariado e não estou
fazendo isso. — Deixei claro que não queria ficar em pé de guerra com meu
Capo o tempo todo. Precisava que ele entendesse que podia confiar em minha
lealdade. — Você está certo em fazê-los entender que existe um novo chefe,
mas não da forma que fez naquela noite e sim com novas alianças.
Um bom jogo de aquisição e poder faria com que Travis aparecesse e
crescesse maior.
— É, você está certo. — Deixou o copo na mesa e ajeitou o colete
com as armas. — Agora eu preciso falar com Amauri e acho que podemos ir.
Levantei e parei perto dele.
— Antes preciso dizer que o Boss da ‘Ndrangheta entrou em contato.
Travis franziu a testa e inflou os pulmões. Era curiosidade, não
receio.
— Cassio D’Ângelo ligou?
— Sim e disse que precisa falar com você urgente. Parece que seu
casamento e o noivado de Marinne o interessa bastante.
Ele cerrou os olhos e, ao mesmo tempo, que abriu a boca alguém
bateu na porta. Rapidamente ele caminhou até ela e a abriu. Luca apareceu e
disse urgente:
— Teve um ataque em Las Vegas.
— Explique-se melhor. Sabe que odeio quando fala dessa forma.
— Seus irmãos e Madeleine estavam saindo do restaurante de Giulio
quando atacaram eles.
Baixei a cabeça, não antes de perceber a escuridão macabra perturbar
ainda mais Travis. Puta que pariu! Eu não deveria ter vindo. Tinha que estar
lá.
Peguei meu celular e entrei em contato com Gregori enquanto
escutava Luca dar as informações que tinha. Esperava que nada de grave
realmente tivesse acontecido com nenhum deles. Essa guerra estava indo
longe demais, e rápido.
Ergui a cabeça quando Travis jogou longe o copo que bebia seu
uísque contra a parede. O vidro se espatifou por toda parte.
— Eu vou retornar agora! — Travis disse para mim e olhou para
Luca. — Diz para Enzo que estou chegando e, enquanto isso, que ele já pode
começar o interrogatório.
— Pensei que você ia querer que eu fizesse. — Luca sempre estava à
frente nas torturas. Ele era o pior de todos os homens, os executores. Ele
gostava de brincar com a carne dos traidores como uma criança com
massinha de modelar ou um pizzaiolo com farinha e massas.
Travis não disse mais nada. Acompanhei seus passos e saí do seu
quarto antes de ele fechar a porta com toda força. Para Luca, eu cerrei os
olhos e me pus em movimento.
— Precisamos ser rápidos e começar antes do Capo. Ele vai acabar
acertando onde não pode ainda e alertando o verdadeiro inimigo.
— Você tem a mesma dúvida que eu, não é.
Parei nas escadas e encarei Luca.
— Tenho e quero esperar. Comemos massa e gostamos de molho ao
ponto, não seja um japonês e coma cru.
Luca deu sua risada irritante e bateu no meu ombro.
— Enigma legal.
— Não brinque.
— Este não sou eu brincando. — Seus olhos ficaram escuros.
Realmente. Ele só se divertia dentro dos quartos que prendia os
cativos.

Com o atentado a Dario e Madeleine, minha preocupação tinha


redobrado nos últimos dias e, quando Mia começou a sentir as contrações, eu
conversei com ela e nós optamos que nossa filha nascesse em casa.
Providenciei os melhores médicos da cidade e ordenei aos funcionários da
casa que sempre a deixasse limpa e preparada.
E há meia hora meu celular tinha apitado e no momento eu estava
correndo para dentro de casa após finalmente o telefonema de Gregori de que
minha esposa estava sentindo muitas dores e a bolsa rompeu.
— Ela já está no quarto? — perguntei a Marta, que estava carregando
toalhas para o andar de cima.
— Sim, senhor. Ela está lá. — Sua expressão e resposta estavam
carregadas de apreensão.
Respirei fundo e não esperei ela começar a subir as escadas, passei
por Marta e corri para o nosso quarto. Logo que pisei no cômodo vi minha
esposa choramingando e apertando com tanta força as colchas que os nós dos
seus dedos estavam brancos.
— Querida? — disse me aproximando.
Ela abriu os olhos e tentou sorrir, mas senti que estava beirando ao
desespero pelas contrações. Odiei ver a dor em seus olhos. Porra!
— Paolo...
— Sim, querida. — Sentei na beira da cama e tirei o cabelo da frente
do seu rosto. — Os médicos já estão a caminho.
— Uhum — ela resmungou e apertou minha mão que segurava a sua
com muita força e gritou.
Ao seu lado aguardei a nova contração passar. Vi Marta nos pés da
cama rezando. Talvez para a Mia Ele recorresse, porque para mim jamais.
Não merecia benevolência divina o que fosse santo ou bom.
— Já passou. Já passou — Mia repetiu para si mesma e voltou a
relaxar.
Assenti automático e, como ficamos sozinhos, lhe dei um beijo no
rosto.
— O que você está sentindo?
— Dor. Desconforto, mas — seus olhos azuis encontraram os meus
— felicidade. Nossa menininha está vindo.
— É — afirmei e consegui sorrir para ela.
Ela me contagiou muitas vezes durante nosso casamento. Os dez anos
que mais fui maleável, mesmo o primeiro não sendo tão bom.
— Senhor.
Virei-me para a porta e vi Marta.
— Os médicos chegaram.
— Ótimo. Dê a eles toda a assistência e ajuda de que precisar.
— Você não irá vê-los?
Olhei para Mia e franzi a testa.
— Eles logo estarão aqui, não preciso ir até eles agora.
Ela soltou um riso entre um choramingo e beijou minha mão. Era
compreensível que estivesse ansiosa e nervosa. Era o nosso primeiro filho e
teríamos em casa. Não queria que fosse assim, mas era o melhor jeito de
garantir segurança. Senti que estava me agradecendo por permanecer ao seu
lado. Puta que pariu. Ela não percebia mesmo que eu a amava ao ponto de
renunciar ao meu poder, a minha vida.
Eu guardava meus sentimentos dentro de mim por sua segurança, mas
demonstrar respeito a ela naquele momento, era mais do que minha
obrigação. Até nos casamentos sem amor, os maridos estariam ao lado das
esposas, por aparência e para ver o herdeiro. Fiquei por preocupação e para
lhe dar meu apoio. Mostrar que eu estava ali para ela e nossa filha.
— Vai dar tudo certo. Os médicos são bons e vai ficar tudo bem.
— Eu sei que vai, Paolo — murmurou e abriu um sorriso simples,
que logo sumiu.
Apertando minha mão novamente com muita força, quase quebrando
meus dedos, teve outra contração. Esperei passar e ela relaxar o corpo.
— Não estou nervosa por causa disso.
Olhei-a desconfiado.
— É verdade. O que sinto é apenas ansiedade mesmo. — Ela sorriu
de novo e virou o rosto para Marta.
— É normal, senhora — falou nossa governanta passando um pano
molhado na testa da minha esposa. — É seu primeiro bebê e, se não estivesse
ansiosa, não estaria certo.
Mia quase riu e assentiu dizendo:
— Tudo bem...
Olhei para Marta, que acabara de secar a testa de Mia, e peguei o
pano da sua mão.
— Vai supervisionar os médicos, eu vou ficar com ela.
— Tudo bem, senhor.
Marta sempre entendia que eu preferia ficar a sós com minha esposa e
não gostava de demonstração de afeto em público, o que lógico estava
fazendo assim que ficamos confortavelmente sozinhos.
Relaxando um pouco mais na sua presença, passei um dos braços por
trás de Mia. Eu odiava não poder ser mais maleável. Sempre precisava
manter a fachada de frieza.
— Você está bem?
Franzi a testa para a sua pergunta.
— Claro, não sou eu que estou com dor.
Ela riu, finalmente conseguiu rir, e refutou:
— Os pais também ficam nervosos e ansiosos. É comum, sabia?!
— Sim, sabia — soei humorado para ela continuar relaxada.
Com os olhos brilhando da forma mágica que pareciam que
acendiam, sua mão tocou meu rosto.
— Você está feliz com a nossa menina?
— Claro que sim.
— Fico feliz.
— Espero que sim.
— Na verdade, eu amo a nossa vida. Eu amo... — Ela suspirou e eu
nunca senti uma conexão tão grande quanto naquele momento.
Pondo a mão do lado direito do seu rosto, guiei para mais perto e
beijei sua boca suavemente, mas com um toque de desespero. Ela era muito
para mim, sempre fora.
Nos afastando um pouco, vi seu rosto alegre e apaixonado.
— Os médicos — disse e me levantei da cama como se tivesse levado
um choque.
Mia deu uma gargalhada, compreensiva, no mesmo estante que Marta
voltou com os médicos. Os cumprimentei com um aperto de mão firme e fui
até minha esposa.
— Antes de começar tudo, não se esqueça de pegar a roupinha que
vou botar nela.
— Sim, senhora.
Ouvi as duas e parecia estar congelado.
— Está na gaveta da cômoda, na primeira, e pega as outras coisas.
Realmente esqueci.
Piscando rápido, cheguei perto dela, mas encarei a governanta.
— Não precisa, Marta. Eu vou pegar.
— Paolo — Mia tentou refutar.
— Não esquente. Eu posso pegar. — Beijei sua testa. — Eu vou
pegar. Você separou? Está na primeira gaveta, certo?
— Isso mesmo. É a rosinha com os laços de lilás e flores amarelas.
Dando um aceno para ela, me virei e fui até o quarto da nossa filha.
Parei no portal sentindo uma sensação estranha de desconforto. Não entendia
o que se passava comigo e mexi na gaveta, pegando o que Mia pediu, no
automático.
Um grito doloroso me despertou e saí correndo para o quarto.
— Empurre. Empurre com toda a força — o médico pediu.
— Já? — indaguei surpreso.
A enfermeira virou-se para mim e explicou:
— Ela começou a sentir muitas dores e as contrações mais fortes. O
médico foi medir a dilatação e o bebê simplesmente já estava ali. — Sorriu
animada. — Se eu fosse o senhor, ia ficar com ela.
— Sim, claro.
— Posso ficar com isso? — Ofereceu estendendo os braços.
Olhei para os itens de bebê nas mãos, me sentindo perdido, e olhei a
enfermeira.
— Claro — disse passando tudo para ela e corri para a minha esposa
quando estava com as mãos vazias para poder segurar as suas, que apertaram
as minhas. — Vamos, faça força.

Estávamos vidrados encarando nossa filha. Enrugada e chorosa. Ela


era tão miúda e delicada. Tive medo por ela. Medo do mundo sombrio que
vivíamos e o de Fora. Nenhum dos dois era seguro nos tempos atuais.
Mia parecia pensar diferente com um sorriso apaixonado. As dores e
o choro durante o parto, que não passara nem meia hora, foram esquecidos.
Ela estava em êxtase e provavelmente num mundo cor-de-rosa e com o rosto
de Sophia estampado em toda parte.
— Ela é tão linda — minha esposa disse baixo encarando nossa filha.
Ela não conseguia desviar sua atenção e nem parar de acariciar as bochechas
da bebê, que ficava cada vez mais em seus braços.
— Realmente ela é linda, puxou a você.
Mia negou com a cabeça e murmurou:
— Isso não é toda a verdade. Os olhos dela vão ser cinzas como os
seus.
Cheguei mais perto e encarei os olhos de Sophia e percebi que não
eram azuis como os da mãe e sim cinzas, o que levava a crer que poderiam
ficar idênticos aos meus, mas eu ainda esperava que fossem azuis. Sophia
tinha tudo da minha esposa incluindo os cabelos loiros claros. Eram muito
poucos, muito ralo, que parecia que não tinha nada em sua cabecinha, mas
dava para notar que eram loiros. Suas feições finas e a pele mais clara do que
a minha. Ela era toda a mãe.
— Eu sei que ela vai parecer muito comigo — Mia falou rindo e
virou-se para mim. — Eu sei disso e no próximo filho a gente faz mais
parecido com você.
Dei uma gargalhada forte e afaguei os cabelos de Mia.
— Você fala isso com tanta segurança como se pudesse programar
para que o nosso segundo filho se pareça com quem você decidir.
Erguendo as sobrancelhas loiras, ela deu de ombros e olhou para
Sophia e falou com uma voz doce e brincalhona:
— Eu posso tudo que nem meu marido. — Voltou a me olhar. —
Podemos fazer o que quisermos no nosso mundo.
— Assim parece que sou um super-homem.
— Isso não, mas detém muito poder e respeito, acho que se decidir
que o próximo pareça com você, ele ou ela parecerá.
— Está bem — falei como se ela tivesse ganhado a discussão.
Estávamos nos provocando e apreciando aquele momento de sossego.
Ela torceu a boca, brincando.
— Eu acho que a Sophia só é muito parecida comigo porque você fica
pensando isso, Paolo.
— Então, provavelmente, o próximo filho vai parecer com você
também, porque eu só penso em você, que é muito mais bonita.
Ela riu alto e sacudiu o bebê nos braços. Sophia estava enrolada numa
manta rosa da mesma cor que a camisola de Mia. Eu estava encantado com
aquela visão e me sentindo estranhamente calmo. Sempre tive momentos
calmos com Mia, mas aquele era diferente.
— Paolo, lamento dizer que, então, nosso segundo filho vai com
certeza se parecer com você.
— Por quê?
— Porque nós dois somos bonitos e, para empatar, um parece comigo
e outro com você. Fim da discussão.
Rindo, balancei a cabeça. Eu estava rindo sem me importar e
tranquilo. Nós dois estávamos na nossa bolha de felicidade e total alegria pela
chegada da nossa filha. Naquele momento eu até consegui esquecer os
conflitos da guerra a todo vapor na Famiglia. Era aqueles momentos raros
com Mia que conquistou meu coração sombrio. Ela era meu bálsamo e tinha
me dado uma nova pessoa para me trazer um mínimo de paz interna.
3

A ssisti de longe Mia se despedir, pela quinta vez, de Sophia, que ficara
com meus pais para que nós pudéssemos ir ao casamento do Capo.
Ela estava relutante em deixar nossa filha. Tive que insistir muito para ela
aceitar.
— Ah, minha filha. Não chora — minha esposa disse para a nossa
menina, que parecia entender que a mãe ia sair. — Não vou demorar.
A bebê de duas semanas estava inconsolável e eu poderia falar para
Mia não ir. Ela iria apenas me fazer companhia, não era obrigação dela ir ou
minha de levar minha esposa. O Capo não ligaria e eu pouco me fodia para as
tradições. Ela tinha acabado de dar à luz, caralho.
Eu estava ficando nervoso com Sophia chorando. Dentro de mim,
senti uma forte vontade de dizer para Mia desistir e de jogar todo o meu
esforço para convencê-la de ir junto comigo para o ralo. Mas eu a conhecia
muito bem e sabia que não adiava mais eu falar para ficar em casa.
Fora que prometi que seria rápido. Ela só iria participar da cerimônia
religiosa e voltar para casa em seguida. E olhando bem o seu vestido delicado
rosa, que escolheu com tanto entusiasmo e carinho, não queria pedir para ela
desistir. Mia quase nunca saía, independente da gravidez e o pós-parto.
Queria que ela fosse desde o início, pois vira seus olhos brilharem com a
realização de participar de um evento. A última vez que saiu foi para a
cerimônia de Travis como Capo e na festa comemorativa do Bellagio, ela não
estava se sentindo bem e, com a gravidez no início, optei para deixá-la segura
em casa.
— Minha filha, a mamãe já vai voltar. — Beijou a cabeça com
poucos cabelinhos loiros de Sophia. — Não vou demorar. Meu Deus, ela não
para de chorar.
Minha mãe meneou a cabeça, mas não disse nada. Ela não estava
muito satisfeita em ter que cuidar de um bebê de duas semanas por no
máximo duas horas. Merda. Se algumas pessoas são perversas e ruins,
culpem os pais. Os filhos sempre carregam traços dos pais. No meu caso,
ninguém poderia me acusar de ter o temperamento igual ao dos meus pais.
Meus pais eram pessoas muito frias e nem um pouco prestativos,
principalmente quando não iriam ganhar nada com isso. Cuidar da minha
filha na cabeça deles era “não ganhar nada”. E minha mãe adoraria ir ao
casamento do Capo. Sempre pensando nos status da Famiglia.
— Acha que ela vai se acalmar? — Mia, inocentemente, perguntou a
minha mãe.
— Eu não sei, querida, mas acho ainda que você precisa se apressar.
Daqui a pouco, você estará de volta.
Minha esposa fez uma careta de lamentação e assentiu.
— Vão. Vocês já estão atrasados.
Revirei os olhos e enfiei as mãos nos bolsos tentando não expressar o
quanto minha mãe me irritava. Já sabia que estávamos atrasados e iríamos
chegar com Madeleine entrando na igreja e não me importava. Eu não era o
caralho do noivo.
— Vamos, Mia — disse me aproximando e colocando a mão na
altura da sua lombar.
Ela suspirou, deu um último beijo na testa da nossa filha e foi comigo
para fora de casa. Fiz um sinal para Gregori e ele entrou no carro, já ligando o
motor.
— Ela vai se acalmar, não fique preocupada — falei assim que nos
ajeitamos na traseira do Bentley.
— Eu sei. — Virou o rosto para mim e sorriu.
Um sorriso que não consegui identificar o porquê e estranhamente
fiquei incomodado.
Piscando, peguei sua mão e entrelacei nossos dedos, focando minha
atenção na cabeça loira de Gregori.
O casamento ocorreu como esperado e foi rápido e bonito. Mia ficou
emocionada por várias vezes, os hormônios da gravidez ainda estavam
presentes e deixando-a muito sensível a tudo. Dei um olhar para Vincenzo e o
vi sair primeiro da igreja com seu Consigliere. Ele parecia satisfeito e Giulia
também, o que era esperado. Embora Travis tenha jogado fora muitas
tradições, na cerimônia ele respeitou todas elas.
— Te vejo lá fora — falei para Mia.
— Tudo bem. Eu vou acompanhar os noivos.
— Eu fico com ela — Marinne falou aparecendo ao lado de Mia e
deu o braço a minha esposa.
Assenti satisfeito.
Marinne era uma das únicas pessoas que conheci ao longo da minha
vida, que conseguia extrair bons sentimentos de mim. Ela era a caçula dos
Lozartan e sendo criada por Travis, que assumiu a irmã como sua
responsabilidade antes mesmo de saber quem era, tinha uma elegância e
educação que queria para a minha filha.
Virei as costas e saí da igreja junto com todos que estavam se
dirigindo ao salão de festas, que seria no Bellagio. Do lado de fora
acompanhei todos sumirem e poucos ficarem para ver Travis e Madeleine
sair, que não se dirigiram para as escadas. Primeiro eles tiraram umas fotos.
Mexi no celular para falar com Enzo, do outro lado das escadas,
quando ouvi um grito:
— Corre!
Virei-me na direção que a mulher olhara apavorada, com minha mão
na arma dentro do paletó. Vi carros parando no final da escada e movimentos
de homens vestidos de preto com a merda de uma faixa roxa no braço
esquerdo da Bratva.
Eles saíram com fuzis, metralhadoras pistolas para fora. Amaldiçoei
tudo que podia e logo percebi que não era capaz de evitar o ataque.
Os tiros começaram e tentei proteger todos por perto e procurei Mia
entre os convidados apavorados e correndo para todo lado.
Sem garantia de nada, corri para tentar evitar mais danos do que
aconteceria. Era inevitável naquele momento não acontecer feridos e mortos.
Puta que pariu!
Porra! Eu deveria saber que eles iriam atacar quando nós menos
esperássemos. Embora eu tivesse falado para Travis que existia uma
possibilidade de eles usarem o casamento e, à vista do público, para um
escândalo. Eu não precisei saber quem mandou eles. Tinha as roupas dos
malditos russos e um dos soldados de Ivon Avilov.
Ordenei que atacassem rapidamente, e os soldados se colocaram em
movimento. Como já tinha presumido, falado com o Capo, existia um traidor
entre nós e claro que tinha sido ele que entregou o casamento. Esperou um
momento que só restasse Travis e sua família.
Merda! Ainda bem que os membros das outras Famiglie já tinham ido
e seu avô com seu Consigliere. Algo martelou minha cabeça e era pelo
código de honra, que só iria poder fazer algum tipo de acusação quando
tivesse provas.
Correndo e atirando nos filhos da puta russos, dei graças a Deus que
minha filha ficou com os meus pais.
Os tiros cessaram e os russos fugiram quando Gregori comandou os
homens da Lawless a irem atrás deles.
— Fiquem atentos! — ordenei e corri escada acima.
Vi Travis bem e perto dos irmãos, agachados para não serem
atingidos, mas Luigi logo falou para eles correrem para os fundos da igreja.
Os soldados iam cada um para o seu canto, protegendo a família do
Capo e Luca ficara atrás de mim. Fui direto para a minha esposa. Ela estava
em frente à Madeleine, segurando o buquê e falando com Marinne.
— Querida — chamei-a nervoso.
Mia não deveria estar de pé no meio dessa loucura, desamparada.
Lentamente Mia se virou para mim e meu mundo desabou quando vi
uma mancha vermelha no meio do seu peito, que se alastrava e manchava o
seu vestido rosa claro cada vez mais.
— Paolo. — Ela sorriu e então caiu no chão.
Nada mais me importava naquele momento.
Fui até ela imediatamente na tentativa de deter que batesse a cabeça.
— Mia! Olha para mim — pedi e me senti desesperado como nunca
me senti na minha vida.
Ela abriu os olhos claros que tanto adorava. Me fitou e senti
profundamente que estava a perdendo. E como nunca senti na minha vida,
percebi meus olhos queimarem e arderem com a presença da dor que me
dilacerava de dentro para fora.
— Mia, olha para mim. Você vai ficar bem — menti porque eu
mesmo não acreditava. Não podia aceitar perdê-la.
— Paolo... está tudo bem? Se machucou?
Não respondi. Nada me interessava naquele momento.
Assisti minha esposa levantar a mão e tocar meu rosto tão
gentilmente. Ela sempre foi gentil. A única luz de alegria e pureza na minha
vida. As lágrimas escorreram pelos cantos do seu lindo rosto e, quando ela
pronunciou outra palavra, tossiu. Ela tossiu a porra do sangue.
Merda!
— Eu sempre... — pausou pegando fôlego. — Eu sempre soube que
você me amava.
Concordei com a cabeça, mas não disse nada. Ela derramou mais
algumas lágrimas, mesmo com um sorriso doce nos lábios. O maldito sorriso
do carro, que me atormentou.
— Eu também te amo — sussurrou bem baixinho. — Eu sempre vou
te amar.
— Mia, por favor. Fica quieta.
— Você precisa... — Fez outra pausa, tossindo. — Você precisa
cuidar da Sophia. — Em seus olhos havia apenas dor e saudades. — Ela
precisa de você forte... cruel e protetor. Eu confio em você para cuidar da
nossa menininha.
— Por favor — pedi baixo.
Ela sorriu um pouco grogue. Perdendo a cor e o brilho que era só
dela.
— Você precisa encontrar uma mãe para ela — os lábios tremiam —
e eu quero que você... seja feliz.
— Eu nunca mais vou ser. Sem você não.
Ela fechou os olhos, apertando-os com força e vi em seu rosto um
misto de tristeza e dor. Talvez saudades. E, quando ela voltou a fazê-los
encontrarem com os meus, eu me preparei para a ruína da minha vida: a
despedida.
— Obrigada... pela vida... que você me deu. Pela nossa filha. —
Tentei sorrir. — Diz para ela... — Tossiu e engoliu em seco. — Diz para a
Soph... que eu a amava. Que ela foi o presente mais incrível que eu ganhei.
Eu... adoraria viver... até ela ficar mocinha... Linda com os lindos olhos do
pai dela. Esses olhos cinzas que eu amo. Eu te amo! — Havia um desespero
no fim da sua frase.
— Eu também. Por favor... Mia, por favor. Fica comigo. — Eu estava
implorando.
Ela abriu um sorriso tão doce, que me jogou direto no limbo. A minha
doce redenção tinha partido para sempre. Se foi.
Com um último suspiro, ela tocou meu peito e descansou. A mão foi
escorregando em mim até bater em seu peito sangrento.
Fechei os olhos controlando o grito que estava no meio da minha
garganta. A sanidade mortal que sempre fez parte de mim, precisava estar
viva.
Eu a abracei beijando sua testa. Ela foi a única que conseguiu, que
tivera alguma parte boa de mim. Isso sempre pertenceria a ela. Sempre a ela.
Os passos atrás de mim me colocaram em alerta e vi Luca. Encontrei
seus olhos e enxerguei a maldita piedade. Sem falar nada, peguei minha
esposa nos braços e a levei para dentro da igreja.
Parei aos pés do altar, onde ela jurou sua lealdade, fidelidade e seu
corpo dez anos atrás. Eu não sabia na época que ela seria tanto para mim.
Ajoelhei-me, deitando seu corpo no chão frio do mármore e fechei os olhos.
— Ciao, mia bella![2] — E como não aguentava mais, gritei
abafando minha voz no seu pescoço. — Mia!
Só parei quando senti a dor diminuir e minha voz falhar.
Afastei o corpo de Mia dos meus braços e, quando respirei fundo,
olhando para a frente, percebi que o padre estava me encarando. Em seus
olhos havia lamentação e pena.
Eu também sentia pena. Todos sempre falavam e tinham uma
pressuposição de quem eu era. Um homem frio, sem sentimentos, mas eles
não sabiam da verdade, que eu reservara a única parte humana que tinha para
a única pessoa que merecia. Eu sentia pena. Pena do dono da mão que puxou
o gatilho que matou a minha mulher.
Eu o encontraria.
— Os anjos têm um lugar reservado no céu — o padre comentou.
Concordei com um aceno de cabeça e me coloquei de pé. Ele sabia
quem nós éramos, o que fazíamos e que as mulheres geralmente eram usadas.
Algumas uma válvula de escape para as horas pesadas do nosso mundo. Para
ele, a morte da minha esposa fora um alívio. Fora a forma de Deus encontrar
sua absolvição da vida de sombras que ela tinha ao meu lado. Mas Mia nunca
sofreu.
Eu sempre a tratei com respeito, antes mesmo de me apaixonar por
ela. Eu nunca abusei de mulheres, nenhuma.
E sempre cuidei e protegi Mia, até aquele maldito dia. Eu falhei
miseravelmente assim como lhe confessar que a amava antes de me despedir.
Eu nunca tive coragem de dizer que ela era a única parte boa da minha vida.
Que eu não conseguia quebrá-la, porque sua luz era forte demais. Se fosse
possível um ser como eu ter algo do tipo, ela que me curou.
— Talvez o senhor tem razão em suas palavras. Mas um homem
como eu, não vai para o céu. Então, assim como no céu e na terra, anjos e
demônios não deveriam conviver no mesmo lar.
— Às vezes, é necessário um pouco de bondade onde só há trevas.
Não se sinta como se não merecesse a felicidade.
— Minha esposa não era minha felicidade, ela era minha redenção.
Ela era tudo que me restava de bom. — Mordi o maxilar com ódio. — Eu
tinha reservado para ela a única parte humana dentro de mim.
— E agora que ela morreu... — Ele deixou no ar o fim da frase.
Olhei para o corpo dela e disse, com meu corpo todo trêmulo pelo
furor:
— Quando eu me casei, ela foi o meu começo. O começo da minha
redenção. Com a sua morte — encarei o padre — é o fim. Talvez eu me
segure pela minha filha, mas de resto não tenho mais o porquê de lutar contra
minha fúria brutal e cega, que sempre foi meu verdadeiro eu. Hoje marca o
fim do jogo. Xeque-mate.
4

E u senti os passos atrás de mim e vi quando os olhos do padre


demonstraram muito além de respeito. Sabia que era Travis antes de
ele parar ao meu lado e ficar encarando meu perfil em silêncio.
Tive mil coisas para descarregar em cima dele, mas o bolo na minha
garganta não permitiu e ele disse primeiro:
— Paolo?
Virei meu rosto para ele e esperei. Não tinha vontade de nada. Queria
correr com o corpo de Mia, enterrar, ver minha filha, levar para casa e achar o
desgraçado que matou minha mulher.
— Você precisa conversar? — Travis disse.
— Não.
— Paolo?
— O que é, Travis... — Virei meu corpo para ele e estremeci pela
cólera. — Eu a perdi. Fim da história.
— Eu sei e queria ter podido evitar.
— Todos nós falhamos para ela. Não foi culpa sua. Estamos em
guerra e não esperávamos que seríamos atingidos dessa forma. Quer dizer, eu
seria atingido. — Me corrigi a tempo.
Eu estava sendo condescendente com meu Capo naquele momento.
Foi culpa dele, foi culpa minha. Do pai morto dele. Culpa de todos que não
pensaram com a merda do cérebro.
— Você acha que eu não me importo? — Travis elevou a voz e
fechou a cara. — Eu gostava da sua esposa, a respeitava e todos da minha
família sempre a trataram bem.
— Obrigado. — Fecha os olhos, atormentado com a ausência de Mia,
ainda. — Não vamos falar disso, por favor.
— Tudo bem — ele afirmou.
— Vamos focar na retaliação desses filhos da puta. E já adianto, eu
não vou jogar limpo. — Deixei claro minhas intenções. — Vou atingi-los
onde mais pode doer. Quero que sintam o mesmo que eu e peço a sua
permissão para usar qualquer tipo de estratégia nessa guerra. Não vou me
conter, Travis.
— Você acha que eu quero? — Vi em seus olhos o mesmo ódio que
sentia. — Pode ordenar os homens da forma mais brutal. Pode fazer o que
quiser nesse jogo. Queime esses malditos. Eu não queria essa guerra, mas, já
que eles pediram, iremos fazer com que viremos lenda no sentido de
vingança.
Nós estávamos selando um acordo de vingança contra todos que
estavam envolvidos, e ele mal sabia que minhas suspeitas poderiam atingir
sua família no topo. Se eu estivesse certo, Travis teria que aguentar a
consequência de que seu avô não estava tão bem amparado assim. Foda-se!
Minha esposa estava morta e merecia que eu a vingasse.
— Travis!
Escutamos o grito e viramos avistando Madeleine correndo em nossa
direção pelas portas da igreja. Seu vestido de noiva estava manchado de
sangue. O sangue da minha esposa. Ela parecia arrasada, tremendo e
começou a chorar. Pensar que ela odiava tudo sobre nós e ter um casamento
como este, deve tê-la deixado arrasada e Travis preocupado com as
consequências.
— Vai ficar tudo bem.
Quando o chefe segurou o rosto da esposa e jurou que estaria tudo
bem, baixei os olhos querendo dizer o mesmo para a minha.
— Eu estou aqui e nada vai te atingir.
— Oh... não.
Ergui o rosto e vi Madeleine encarando Mia no chão, morta. Ela
colocou as mãos na boca e tentou, realmente se esforçou, para não
desmoronar. Travis envolveu seus braços e a afastou.
Sozinho, virei as costas para eles e liguei para os meus pais para saber
como estava a minha filha. Merda! Que droga de dor era aquela no meu
peito?!

Tinha encerrado a ligação com meus pais há dez minutos quando


senti novamente uma pessoa se aproximando. Já sabia que poderia ser Travis
ou Luca. Eles eram os únicos que permiti se aproximar, e apostaria minha
casa que o Capo não permitiria mais ninguém ver o corpo de Mia, agora
escondido por um lençol branco que o padre colocou.
— Oi.
A voz de Madeleine me surpreendeu e virei o rosto para ela
esperando o motivo de ela estar ali.
— Eu... queria dizer que sinto muito — disse com a voz baixa e notei
que queria chorar. — Sinto muito mesmo. Ela... estava na minha frente e eu...
— pausa segurando o soluço.
— Não se culpe. — Girei meu corpo por completo. — Não foi você
que apertou o gatilho.
— Mas ela morreu no meu lugar.
— Ela morreu porque era uma boa pessoa. Tenho certeza de que, se
acontecesse de novo, ela não mudaria o que fez. Mia era assim.
Era isso. Minha esposa era muito boa e mesmo não sabendo o motivo
da bala ter atingido-a invés de Madeleine, tinha certeza da sua pureza e
proteção a quem gostava.
— Um anjo — murmurou Madeleine e suas lágrimas escorreram. —
Eu não a conhecia há muito tempo, mas o pouco que estive em sua presença
me encantei e... não consigo me conformar. Não está certo.
A mulher na minha frente soluçou e era muito frágil. Nem um pouco
parecida com a pessoa determinada que era geralmente. Nem quando viu
Travis parecendo partido ao meio, ela ficou assim.
Dei um passo mais perto e disse:
— Madeleine, eu sei que as mulheres são emotivas e agradeço seu
carinho por Mia, porém você precisa ser forte. Essa guerra não está no fim.
Ela acenou que sim e limpou os olhos.
— Travis não pode lidar com seus sentimentos agora e, na verdade,
ele vai precisar de você em algum momento. Está apenas no começo, e
vingança sempre leva algo de nós. — E já tinha levado uma parte de mim. —
Não quero que seja sua determinação, que, convenhamos, foi muito boa e
irritante também — falei para ela despertar da sua dor e eu voltar ao foco.
— Pensei que você tinha apenas reclamações sobre mim.
— Não, mas entenda — me aproximei mais um pouco —, é meu
dever testar os limites. Ver as falhas, enxergar o perigo e os inimigos. Não
podia ficar sorrindo para você e não espere que eu faça agora. O que estou
lhe dizendo é para o bem da Famiglia. Nenhum de nós pode ficar neutro
agora. É preciso muita garra para saber lidar com uma vingança.
Concordou com um aceno silencioso e seus olhos fugiram para o
corpo de Mia. Alguns pensamentos passaram por sua cabeça e refletiram em
seu rosto. Era visível que tentava encontrar o equilíbrio de manter a
tranquilidade e a raiva. As mulheres tinham o senso de humanidade diferente
dos homens.
Engolindo em seco, ela enrijeceu a postura, me encarou e disse:
— Seja cruel e continue cuidando do meu marido. Sei que não tenho
direito de te pedir nada, mas preciso que prometa que irá fazer de tudo e
proteger a retaguarda de Travis.
— Farei tudo o que estiver ao meu alcance, Sra. Lozartan — dei
minha palavra.
Assisti Madeleine se afastar, indo até Travis, que a protegeu com um
braço nos seus ombros.
Sentindo um peso no peito, vi Gregori entrar na igreja e chegar até a
mim. Ele não disse nada quando olhou para o corpo de Mia e fez o que pedi
quando soube que estava voltando.
— Não se preocupe. Vou cuidar de tudo — disse ele.
Assenti e dei-lhe as costas e saí dali. Eu precisava respirar.
Gregori levaria Mia, o corpo de Mia, para o nosso necrotério e
começaria a preparar tudo para o velório e eu não precisava me preocupar
com muita coisa.
Sem dizer nada, saí da igreja. Do lado de fora, ignorei a mancha de
sangue nos degraus, passei por cima, e fui até meu carro do outro lado da rua.
Liguei o motor e corri. Simplesmente corri até pegar a estrada e não parei.
Cheguei no Balcão, deixei o carro de qualquer jeito.
— Paolo, o que está fazendo aqui?
Ignorei Carlo e entrei na quadra de treinamento. Alguns homens
estavam lutando e pararam para me ver caminhar até a sala à prova de som.
Sem falar uma única palavra, peguei uma pistola e comecei a atirar na porra
da folha com um alvo enorme que eu apenas atingi o meio doze vezes.
Acabei com um cartucho e usei outro, depois mais outro e depois de dez
cartuchos, larguei a arma em cima do balcão.
Meu peito doía. Sentia meu coração parecendo estar aberto e sendo a
merda de um alvo num papel. As lágrimas queimaram meus olhos pela
primeira vez na minha vida. Eu nunca, jamais, chorei na vida e estava prestes
a fazer porque doía. Eu sentia uma dor que também nunca sentira. Eu sentia
uma ausência dolorosa dentro de mim que apenas a fúria conseguia abafá-la.
Saindo do gabinete que estava, entrei no do lado e disparei com a
arma carregada gritando a plenos pulmões:
— PORRAAAAAAAAAA!

Esfreguei meus olhos com uma puta dor na nuca que, mesmo
recorrendo a um comprimido de dor que minha mãe arrumou, nada adiantou.
Eu sentia como se tivesse um caminhão de chumbo em minhas costas.
Ajeitando meu paletó, peguei um cigarro no maço no bolso da frente, já o
guardando para não perder, e acendi.
— Nunca vi você fumar tanto como agora.
A voz de Colen veio do fundo da sala da capela. Virei-me e
acompanhei ele caminhar até a mim com passos marcados. Tinha um ar
pesado em seus olhos. Ficando cara a cara comigo, apertou minha mão com
firmeza. Não teve sentimentalismo, mas entendi que ele estava me dando
seus pêsames, que não fez anteontem. Eu fugi de todos desde que saí da
igreja e deixei Gregori cuidar do corpo de Mia. Vi Travis e Enzo por algumas
horas para podermos começar o plano de retaliação, mas, fora isso, não
mantive contato com ninguém. Ainda nem entrei em casa.
— Pode contar comigo — Colen disse soltando minha mão e dando
um passo para trás. — Eu vou fazer questão de honrar sua esposa no que
você precisar de mim.
Assenti e deixei que ele saísse. Colen era pavio curto quando estava
nervoso. Diferente de Travis, ele não esperava nem uma palavra sequer para
uma tentativa de defesa. Colen era fatal. Todos os Lozartan não toleravam
mentira. Nascidos e criados por um homem ególatra, eles não gostavam de
ser adulados mais.
Não fiquei muito tempo sozinho. Logo vi uma sombra pelo corredor e
novamente me surpreendi com Madeleine. Ela estava toda de preto, pela
primeira vez desde que a conheci, e neutra. Não consegui ler seu rosto, nem
quando parou na minha frente. Travis apareceu atrás dela logo em seguida.
— Como você está? — ela perguntou.
Franzi a testa e encarei as rosas brancas em suas mãos.
— Como você acha que estou?
— Com raiva — disse e Travis colocou a mão no seu ombro.
— Querida, me deixa a sós com Paolo.
Ela assentiu e baixou a cabeça. Parecia querer falar algo.
— Ela está preocupada com você e sua filha.
Minha filha. Eu nem a vi ainda.
— É evidente. Diz para ela relaxar.
— Isso não vai acontecer, não — falou balançando a cabeça,
incomodado. — Todos nós estamos querendo saber como você está lidando
com isso.
— Todos nós? — repeti numa interrogação.
— Eu sei que você, e todo mundo, acredita que eu sou frio ao ponto
de não sentir a morte de alguém, mas você é meu braço direito e com isso só
vou te perguntar uma coisa. Você chegou em casa? Você, por acaso, dormiu,
Paolo?
— Travis... — Cerrei a mandíbula.
— Não! — ele me interrompeu. — Paolo, responde, merda. Você
dormiu ou bebeu e fumou o dia todo? Porque está na cara que você está
esgotado e não posso ter você assim ao meu lado.
Joguei o cigarro no chão e pisei para terminar de apagar a ponta, e
ergui a cabeça para perguntar:
— O que você quer dizer com isso?
— Você tem uma filha de menos de um mês para cuidar e sozinho.
Não dá para os seus pais, que são velhos, cuidarem dela para sempre.
Quis meter uma bala na cabeça dele e me controlei para não mandá-lo
se foder.
— Eu estou enterrando minha esposa hoje e você está pensando em
arrumar outra mulher para mim, como se fosse a coisa mais simples. —
Respirei profundamente. — Se Madeleine tivesse morrido, você ia arrumar
outra esposa no dia seguinte?
— Se eu tivesse um filho pequeno para cuidar e ninguém para me
ajudar, talvez sim.
Balancei a cabeça e escolhi fitar o teto.
— Eu vou deixar você passar o seu luto — Travis continuou. — No
momento, não temos como focar em nada a não ser na retaliação com a
Bratva, mas pense a longo prazo que vou retornar a esse assunto. Eu não
posso ter você cansado e sem foco ao meu lado.
Minhas entranhas se reviraram e torceram pela cólera. Olhei para o
meu Capo.
— Você quer que eu mostre meu foco?
— Não estou falando de vingança e seu poder de destruir. Não estou
falando de você destruir Ivon Avilov ao meu lado. Você é meu cérebro e a
opção tática. Eu não quero você cansado.
Engoli a saliva com força. Minha garganta estava travada. Eu sentia
um gosto de ferro na boca.
Apesar de sentir uma raiva mortal por ele estar dando aquela ideia no
funeral da minha esposa, sabia que estava certo. Não podia viver na tristeza
acompanhada de cansaço e raiva para sempre. Uma das últimas palavras de
Mia fora encontrar uma mãe para Sophia. E eu iria fazer, porém depois de
matar dolorosamente o desgraçado que matou ela. Ele iria se arrepender de
fazer parte da Bratva, de apertar aquele gatilho.
— Está na hora — minha mãe disse aparecendo no corredor.
Sem dizer mais nada, Travis passou por ela, que baixou a cabeça sem
encontrar seus olhos, e saiu. Eu fui em seguida com minha mãe.
— Ele pediu para você se afastar dos seus serviços por enquanto?
— Não, por que pediria?
— Você acabou de perder sua esposa e tem que cuidar da sua filha.
Merda de gente imprestável!
— Não se preocupe com Sophia. — Parei para ela me olhar. — Marta
pode cuidar dela até eu resolver os assuntos.
Meu pai se juntou a nós quando ela falou:
— Você precisa encontrar outra mulher. Uma mãe para ela, que é
apenas uma bebê. Não pode perder seu posto ao lado do Capo.
— Minha mulher está sendo enterrada hoje, porra! — Abafei meu
grito na garganta fazendo minha voz sair estrangulada, mas minha mãe
entendeu o recado.
Ela se afastou e foi ficar ao lado da minha tia Izolda, outra
inconveniente. Só sabiam fofocar e cuidar da vida dos outros.
— Sua mãe tem razão, Paolo — meu pai falou com a voz baixa. —
Você não pode cuidar dos seus afazeres como Consigliere e da sua filha
pequena. Precisa encontrar alguém e a Famiglia espera de você uma decisão
sensata. Não verão com bons olhos você sozinho com uma filha recém-
nascida e ao lado de Travis. Ele também não vai querer — completou seu
pensamento como se tivesse ouvido o Capo falando comigo há alguns
minutos.
— Não estou me negando — repliquei com um gosto amargo as
palavras. — Mas hoje não quero falar sobre isso e nem é momento para
pensar em um casamento.
— O que quer dizer com isso?
— O foco agora é pegar Ivon e seus aliados.
Meu pai assentiu e apertou meu ombro.
— Você é sensato e tomará a decisão certa quando precisar tomar.
Ainda bem que ele pensava assim, porque estava cansado de todos os
olhares de pena e dúvida em minha volta.
O funeral terminou poucos minutos depois e eu esperei todos jogarem
suas flores no buraco de terra no cemitério para eu fazer o mesmo. Joguei
margaridas brancas e rosas que Mia adorava e me despedi. A vontade de
derramar lágrimas não reapareceu e eu dei as costas assim que o começaram
a jogar a terra em cima do caixão. Dei as costas para uma vida tranquila, que
sempre tive ao lado de uma mulher que merecia muito mais do que teve. Dei
as costas para o meu lado compassivo e me preparei para o que viria à frente.
5

Final de Julho de 2012

Mia tinha um sorriso lindo e contagiante enquanto caminhava para


mim. Seus braços estavam ocupados com um buquê enorme de margaridas.
Eu acenei para ele e esperei que se aproximasse, mesmo caminhando a
passos lentos até ela.
— Vamos entrar.
Assenti em silêncio e a acompanhei junto até em casa. Observei-a
deixar as flores em cima de um banco e, quando ela se virou para mim, abriu
o sorrisinho envergonhado. Nunca me acostumava com seu sorriso.
— Tudo bem com você, Paolo? — perguntou para nos descontrair.
— Sim — respondi sem entender sua dúvida.
Mia meneou a cabeça e se aproximou para tocar meu peitoral. E
quando se afastou, eu vi Sophia em seus braços. Nossa filha estava grande e
vestida igual a ela. Um vestido branco com flores azuis e amarelas.
Eu pisquei e estava sozinho no quarto da nossa filha.
— Mia? — Girei no quarto procurando o sinal dela. — Mia.
— Papa!
Virei à procura daquele som e vi minha filha no chão sozinha e com
Mia ao seu lado vestida com um lindo vestido de festa rosa. Eu já tinha visto
ela com ele.
Assim que me aproximei, uma mancha de sangue surgiu no meio do
seu peito e seus olhos deu um último brilho. Dor e saudade refletiam em seu
semblante.
— MIA!

C omo um rompante, eu desperto de mais um pesadelo e sento-me no


meio da cama. Respiro fundo sentindo um peso no peito como se
tivesse um caminhão sobre. Passo a mão no rosto como uma
tentativa ridícula de expulsar os fragmentos dos últimos segundos e solto a
respiração.
Fecho os olhos e natural como respirar, lembro de Mia. Seus olhos
tristes e dolorosos dando seu último suspiro e. quando abro os meus, fito o
lado da cama vazio. O seu lado da cama e a angústia me consome.
— Porra! — brado e jogo as cobertas para longe me levantando da
cama.
Entro direto no chuveiro e deixo a ducha tentar tirar a nuvem de
sentimentos de mim. Eu nunca fui um homem fraco. Fui criado para ser o
braço direito de um grande líder. Meu pai me forçou e ensinou a tudo, menos
a ser fraco e desistente. O que leva meus dias adiante agora é a Lawless e
Sophia.
Como o Consigliere do chefe, preciso sempre estar concentrado e
firme, mas estou sobrecarregado de ódio e vingança. Eu quero fazer todos
pagarem. Inclusive eu.
Já se passaram sete meses desde que Mia morreu e muita coisa
aconteceu. Muito estrago, sangue e mortes. Muitos problemas por causa de
Travis, que ficou cego de ódio quando descobriu os motivos, e eu consegui
matar todos que pude. Ainda carrego a vingança e o ódio dentro de mim.
Parece que nada consegue diminuir a sensação de luta e perda.
A realização de que tudo que eu faço, nunca vai conseguir me trazer
alívio, porque o que quero não tem como eu conseguir, que é a Mia de volta e
sua companhia, sua presença, seu sorriso. Isso me consome, então ainda
procuro a raiva como companhia.
Finalizando o banho, saio me enxugando. Enrolado com a toalha na
cintura vou me vestir porque tenho uma reunião com Travis. Ele disse que
precisa falar comigo urgente e não tenho comparecido muitas vezes depois
que fizemos a emboscada e exterminamos o verdadeiro traidor da Lawless,
meu caminho foi reservado para o cassino que tomo conta e para casa. Nem
mesmo no Balcão tenho aparecido nas últimas semanas.
De calça e camisa de linho preta, coloco meus sapatos e visto o coldre
com minhas armas e o paletó preto por cima. E não me esqueço o maço de
cigarro quase terminado em cima da cômoda.
Eu diminuí um pouco o consumo do cigarro, mas ainda fumo bastante
em comparação de quando Mia era viva. Nunca tinha percebido como era
obediente em relação ao desgosto da minha esposa sobre eu fumar até
perceber que um maço durava uma semana e, desde que ela morreu, um maço
é o que uso em um dia. Ela realmente odiava o cheiro e eu não queria
desagradá-la. Agora estou diminuindo porque Marta falou que Sophia respira
com dificuldade e espirra muito por causa do cheiro forte da nicotina. Não dá
para ser um filho da puta a este ponto e não com minha filha. Mia não ficaria
feliz de saber que “parece” que eu não ligo, pelo menos, para a saúde da
nossa filha.
Saio do meu quarto fechando a porta e vou direto para o quarto da
minha filha. Como são sete horas da manhã, Sophia ainda está dormindo e eu
sorrio olhando para ela, que está abraçada com o ursinho de pelúcia que ficou
muito apegada desde que Madeleine deu de presente.
O conflito com a Bratva causado por conta das armações de Ivon
Avilov chegou ao fim literalmente há duas semanas quando fomos na casa do
traidor em potencial dentro da Lawless.

Travis me deu a ordem de começar a finalizar com esse desgraçado,


mas agora com a arma na cara dele estou relutante se não vou matá-lo de
uma vez mesmo que merece a pior das torturas. Eu já o arrebentei na
porrada. É uma mistura de sangue e lama para todos os lados.
Cerro a mandíbula e espero, apenas espero. E finalmente Travis
entra na casa. Seu sobretudo está todo sujo de sangue e ele está suando.
Nitidamente lutou com algum dos soldados desse verme na minha frente.
— Olá, Lucian.
— Travis — o filho da puta cospe sangue porque Luca chegou
primeiro que eu e distribuiu muitos socos na boca do seu estômago. Ele deve
estar com uma hemorragia interna.
— Parece que estava esperando minha visita — Travis o provoca
como sempre, com seu ar irônico e ácido na hora de dar fim a um traidor.
— Na verdade, eu estava esperando o comunicado do velório, mas
não tem como confiar nesses russos idiotas.
Me controlo para não apertar o gatilho e fazer um buraco na sua
testa.
— E, por acaso, você está em vantagem agora? Parece que você
também é um idiota.
Ele solta uma gargalhada alta, no entanto fraca e tosse de novo.
— Eu consegui muita coisa antes de você descobrir que fui eu.
Travis desembainha uma faca atrás do coldre preso em meu peito,
pega a mão do traidor e enfia a lâmina em seus dedos. Assisto o indicador e
o anelar caírem no chão enquanto um grito é disparado de seus pulmões
fracos e, com certeza, ensanguentado.
— Seu filho da puta lunático!
O Capo solta uma risada macabra.
— É apenas a prova da sua morte.
Travis recua e vira-se para mim. Com minhas mãos enfaixadas com
fita de boxe para acomodar o soco inglês, acerto um golpe seco no queixo de
um dos homens responsáveis pela morte da minha esposa. A cabeça dele vai
para trás e Luca, o Cinistro mais feroz da Lawless, segura a cadeira para ele
não cair e eu perder o ponto exato para lhe acertar de novo. Não vou me
segurar. Não vou me poupar. Ele vai pedir para morrer antes de eu me sentir
satisfeito.
Eu me perco dentro de mim na confusão de ira e dor. Acerto seu
rosto, estômago, ombros e costelas, desenfreado sentindo a fúria me
dominar. Como se, neste momento, pudesse exorcizar a dor que foi a perda
da minha esposa. Eu quero que sua morte leve a impotência que sinto a cada
dia que vivo e sei que também fui responsável por uma alma inocente morrer
em meus braços.
Pegando-o pelos cabelos, jogo no chão e chuto várias vezes. Perdi o
controle. Mia está morta – essas três palavras são como veneno em minhas
veias e meu inferno pessoal estar vivo e respirando.
Continuo a tortura em socos e chutes, então amarro suas mãos e o
puxo, arrastando até fora de casa.
— Coloca esse filho da puta sentado e amarra a bola nos seus pés! —
ordeno a Luca, que acata com seu sorriso sinistro.
Enquanto ele é amarrado como quero e colocam a bola de chumbo
presa em seus pés, tiro a faixa e o soco-inglês. Estalo meus dedos, um pouco
doloridos e arrebentados. Bater também causa ferimentos e isso só me faz
bater mais. Tiro meu coldre vendo que restou apenas eu e Luca, Travis foi
buscar Madeleine para ter a honra de empurrar o filho da puta para sua
morte, termino de libertar meu lado torturador. Meu coração está acelerado
encarando o rato traidor.
— Me passa o Surujin.
Eu gosto muito de finalizar as torturas com o Surujin (duas bolas
pesadas nas pontas de uma corda de três metros), pois me possibilita de
acertar lugares aleatórios e sensíveis como os sacos desse infeliz e no olho.
Isso quando não uso pesos com dentes que se agarram a pele que ao puxar
para acertar de novo o torturado, tira pedaços e faz uma cagada. Sangue
para tudo que é lado.
Com a corda eu me esbaldo ouvindo gritar e implorar. Acerto-o
muitas vezes na cara e nas pernas. Não sei quanto tempo fico assim, mas
paro sentindo uma mão no meu ombro e viro.
— Deixe para ela — Luca sugere e eu aceito.
Respiro fundo e deixo o Surujin cair no chão enlameado de sangue e
terra molhada. Olho fixamente ele quase morto. Os passos atrás de mim e o
fato dos homens baixarem a cabeça dá o sinal de que Madeleine veio com
Travis.
A esposa do Capo para ao meu lado e encara o mesmo que eu: o rato
traidor. Ele geme baixo em completa agonia. Eu ficaria por muito mais
tempo aqui até ele acabar morrendo de tanto apanhar, mas a honra é dela e
no seu estado, grávida de sete meses, não é correto deixá-la mais tempo fora
da segurança de casa.
O Capo apenas permitiu que ela estivesse aqui e finalizasse essa
tortura, porque ela implorou para fazer algo. Implorou ser parte do fim do
último inimigo. Implorou por vingança. Eu a entendo perfeitamente.
— Quer ajuda? — Travis pergunto baixo a ela.
— Não.
O babaca ergue a cabeça e abre um sorriso nojento para ela. Se me
irritar, eu dou um tiro na cara dele até ver seus olhos se espremerem para
fora.
— Ele vai mesmo deixar você fazer o serviço sujo? — ele fala fraco.
Madeleine surpreende dando um chute na boca do estômago dele.
— Sua vadia! — Tosse sangue.
Vejo Travis ir para cima, mas a esposa detém colocando a mão no
seu peito.
— Deve estar me confundindo com as suas putas — Madeleine
profere.
— Você é abusada.
— E você é um homem morto. — Suas palavras são acompanhadas
do seu pé empurrando a bola de aço que afunda com facilidade e rapidez na
piscina funda que tinha na casa desse rato. O barulho da corrente me causa
tamanha satisfação. Parado assisto-o se afogar. Vejo-o ter sua morte
derradeira e não sinto alívio algum por sua morte. É apenas mais um homem
morto. Um homem que foi responsável por Mia morrer, mas eu também fui
culpado.

Desde aquele dia não voltei a ver o Capo. Não tem nada acontecendo
comigo, apenas quero ficar sozinho e trabalhando nos meus negócios. Sophia
também toma muito da minha atenção e tempo, mesmo Marta ajudando como
ela consegue. Fiquei sabendo que Travis se encontrou com o Pakhan da
Bratva, que deu sua palavra – como se pudéssemos confiar no que esses
porcos russos falam – que não tinha nada a ver com Ivon. Mas, dessa vez, é
verdade. Todo o conflito foi gerado porque Edgar – pai de Madeleine – era
um caçador de poder.
O importante é que o Pakhan, que reside no Texas não deu sinal de
que está puto com o ataque que a Lawless fez com os homens de Ivon.
Continuamos em conflito de interesse e das drogas, mas sobre aquele assunto,
morreu. E ele disse que os homens e mulheres, que são da Bratva e morram
em Las Vegas, não irão causar problemas. Ainda temos muitos russos entre
nós. Não me agrada, contudo, precisei aceitar a ordem de Travis que alguns
podem frequentar a cidade. Dinheiro nunca é bom negar e ele quer mais que
os miseráveis enterrem seus dólares em nossos cassinos e puteiros.
Voltando minha atenção para Sophia em seu berço com o cachorro de
pelúcia que Madeleine deu quando veio aqui nas muitas vezes para cuidar da
minha filha – ela até amamentou quando descobriu que estava grávida e se
tornou a ama-de-leite de Sophia – fico imaginando como não andou sua
cabeça essas duas semanas. Espero que participar da morte daquele rato não
tenha mudado ela. Seria lamentável vê-la ficar insensível ou fria como os
Homens Feitos.
O filho do Capo deve nascer mês que vem e todos estão vigilantes.
Seu herdeiro é um alvo desde que vazou a gravidez de Madeleine. Algum
linguarudo conseguiu espalhar a notícia até a Sicília. Eu queria encontrar esse
idiota e fazê-lo engolir o caralho do negativo das fotos.
Hoje sinto uma grande necessidade de proteger Madeleine. Ela foi a
única pessoa, sem ser Marta – minha governanta, que se vira para ser babá –
que cuida da minha filha sem pedir nada em troca. Tudo bem que Marinne
vem algumas vezes, mas ela é uma criança. Minha mãe ficou doente e com a
guerra preferiu estar em Reno, em sua casa, a ficar por sua única neta em Las
Vegas. Eu pedi que cuidasse de Sophia pelo menos nos preparativos do
ataque a Ivon há duas semanas, e minha resposta foi: “não posso me envolver
nisso, Paolo. Você precisa de uma esposa. Uma mãe para essa criança, não
ficar pedindo ajuda a todos”. Eu quis mandá-la se foder. Imprestável.
Inspirando com força, estico minha mão e afago a barriga de Sophia.
Ela se mexe erguendo as perninhas gordinhas e o urso lentamente.
— Até mais tarde, querida — digo e me viro.
Saio do seu quarto, desço as escadas e sinto o celular vibrar. Leio a
mensagem de Travis:

Estou esperando no Bellagio. Não se atrase.

Movo as sobrancelhas estranhando ele estar no cassino quando pensei


que não sairia da cola de Madeleine prestes a dar à luz. Ele é obsessivo com a
esposa e não confia em ninguém. Pensei que o escritório que estava se
referindo na primeira mensagem era no escritório de casa.
Respondo que estou a caminho e guardo meu celular no meu bolso.
— Bom dia. Senhor — Marta me cumprimenta vindo do corredor que
leva para a cozinha. — Acordou cedo.
Assinto e ela devolve com um aceno simples e passando por mim,
sobe as escadas com a mamadeira de Sophia e um cesto com roupas de camas
limpa.
— Eu tenho uma reunião — aviso quando ela está no meio da escada
e para, me dando atenção. — Devo chegar um pouco mais tarde hoje.
Qualquer coisa você me liga.
— Tudo bem. — Aceno num cumprimento respeitoso.
Gregori vai ficar em casa, como sempre, porque não sei que horas
vou voltar e preciso que cuide da segurança da casa e da minha filha. Ele era
a minha sombra. Meus ouvidos e olhos pela cidade, mas o designei para ser a
sombra da minha filha depois de tudo. Não quero parecer escroto, mas perdi a
governanta para ser a babá e meu soldado para ser guarda-costas. Perdi os
dois para Sophia porque, sozinho, não dou conta. Tem dia que me sinto muito
esgotado. Mia faz uma falta muito grande além da emocional para mim. É
física, brutal e visceral.

Com uma paciência que não é meu normal, espero uma pequena
multidão se dissolver na frente do Bellagio. Parece até que essa porra está
com promoção. O que jamais seria.
Finalmente passo pelas pessoas e atravesso o hall de recepção. O
escritório de Travis fica na área do hotel. Noto que a movimentação de
hóspedes está muito grande devido ao feriado. Isso é bom para os bolsos, mas
fico em alerta. É sempre uma ótima forma de fingir ser uma pessoa comum.
As máfias rivais e os inimigos em comum, gostam de aprontar nos cassinos
ou mandar algum filho da puta que não tem medo de morrer fazer merda.
Com um aceno de cabeça, ordeno que abram as portas duplas que
leva ao corredor onde fica as salas de contagem de dinheiro, câmeras de
vigilância para ver se não tem nenhum espertinho contando cartas e etc., e a
sala do Capo, que alcanço rapidamente.
Lawrence, o novo encarregado de proteger o chefe, cerra os olhos,
surpreso por me ver aqui. Não lhe devo satisfação e abro a porta do
escritório.
— Pensei que você fosse me fazer ir até o MGM ou à sua casa.
Inclino a cabeça e fico em silêncio.
Sinto muita raiva o tempo todo e tento não direcionar ao meu líder.
Ele pode confiar em mim e esperar que eu seja leal, que tome boas decisões
para a nossa Famiglia. Por isso que baixo a cabeça.
— Sente-se, Paolo! — ordena Travis.
Sento-me na cadeira, em frente à sua mesa e pego um cigarro, acendo
e dou uma tragada.
— Você me chamou aqui para que?
— Já está de mau humor e eu nem abri minha boca. Geralmente quem
faz isso sou eu.
Respirando fundo, cruzo a perna apoiando sobre o joelho e trago mais
uma vez.
— Fala logo o que é. Eu não ando dormindo direito e há um mês
piorou.
— Sua filha não deixou você dormir? Achei que, quanto maior ela
ficasse, daria menos trabalho.
Eu também esperava que isso acontecesse, mas a verdade não é essa.
— Sophia está com uma pequena hérnia umbilical.
Travis franze a testa.
— Ela está bem?
— Sim, já está saindo, mas ela está chorando muito.
— Eu sei como é.
— É, eu sei. — Travis criou a irmã mais nova desde o começo.
A Sra. Lozartan estava num grau de depressão e revolta muito grande
quando Marinne nasceu e Vincenzo, o Capo anterior, nunca ligou para a
filha. Travis, como sempre tão concentrado em cuidar da família, na verdade
os irmãos, tomou Marinne como sua responsabilidade, o que foi bom quando
a mãe se jogou do apartamento e morreu espatifada no asfalto.
Ele cuidou da irmã bebê e arrumou as melhores babás, e completo o
resto dos meus pensamentos em voz alta:
— Mesmo que eu esteja numa outra forma de sofrimento sobre o
mesmo tema, convenhamos.
Travis concorda com um aceno e fala:
— Por isso mesmo que o chamei aqui. Rocco Gatti me ligou.
Meu cigarro acaba, jogo o resto no cinzeiro e acendo outro
encarando-o. Relaxo um pouco mais meu corpo na cadeira porque sinto como
se minhas pernas fossem dois troncos de árvores pesados e duros. Afrouxo
minha gravata e me permito dar uma tragada forte. Cigarro, eu fumo mais
livremente fora de casa porque fico perto demais de Sophia e não quero que
ela se acostume tão cedo como eu cheiro a esse vício maldito. Eu estou
cansado, esgotado, minha coluna dói e quase não durmo. Mesmo com a ajuda
de Marta, quando ela vai embora e os empregados, fica só eu e é muito
diferente cuidar de um bebê tão pequeno comparando com qualquer outra
função que já tenha feito na vida.
— O que tem o Underboss de Seattle? Algum problema com ele?
Travis nega com a cabeça e cruza as mãos na frente do corpo em cima
da mesa.
— Não, nada de errado com Rocco.
— Então, qual o problema?
— Paolo — faz uma pausa, o que sempre me irrita, e simplesmente
solta: —, você precisa se casar de novo.
— O quê? — Franzo a testa e apago o cigarro no cinzeiro. — Do que
você está falando?
— Você precisa se casar de novo para a sua filha ter uma mãe para
cuidar dela. Lhe dar toda atenção e...
— Não me lembro — interrompo-o — de lhe dar o mesmo conselho
quando você tomou a decisão de criar sua irmã recém-nascida.
— Não é a mesma coisa — fala com fúria e bate na mesa. — Minha
mãe tinha acabado de se suicidar e eu quis cuidar da minha irmã porque ela
não tinha ninguém, nem pai. Eu não era o pai dela e nunca precisei de uma
mulher para criar Marinne.
— Não é isso que eu acho. A menina sempre precisou de uma figura
materna.
Ele esfrega os olhos e respira fundo.
— Eu não tinha a obrigação de criar meus irmãos. Tomei a
responsabilidade deles para mim porque alguém precisava. Uma mãe nunca
foi necessária para cuidar deles. Marie Rose e Rosália sempre fizeram um
excelente trabalho e eu me casaria em algum momento. Não estava na hora
ainda. Agora, você... — pausa e se levanta. — Você foi casado. Você teve
sua filha num matrimonio e, infelizmente, perdeu sua esposa. Não foi a
mesma coisa comigo. Se na época que eu tomei Marinne como minha total
responsabilidade fosse casado e, por alguma circunstância perdesse minha
esposa, teria que me casar de novo como todo Madman faz na Famiglia.
Tinha que honrar minha casa, meus irmãos e filhos.
— Seu pai não se casou de novo quando sua mãe se matou.
— Você quer mesmo se comparar ao que um Capo faz?
Engulo a resposta que me levaria à morte e aperto a mandíbula
reprimindo minha raiva.
— Eu tenho Marta assim como você teve Marie Rose e Rosália.
— Paolo, não me contrarie. Você é meu braço direito e eu preciso de
você focado. Quer que eu dê um grande motivo para você se casar e logo?
É uma pergunta com imposição. Ele não espera minha confirmação.
— Você está cansado, desfocado e abatido. Eu não quero meu
Consigliere pela metade. Se optar em continuar com sua vida como está há
quase oito meses, eu vou precisar substituí-lo.
Aperto o maço de cigarro no bolso da frente do meu paletó e engulo a
saliva com força, que parece ser uma bola de futebol.
— Não pode continuar na sua casa, tentando, de alguma forma, ajudar
a criar sua filha e depois trabalhar apenas no cassino. Você não está dando
tudo de si em nenhum dos dois. E sabe que terá novos dias pesados e de
guerra. Se algo acontecer com você, ela estará com quem? Seus pais são
velhos e, mesmo assim, não acredito que vão querer assumir sua filha. Minha
esposa pode cuidar dela, mas não posso deixar. Você sabe das regras. —
Respira fundo. — No fim, ela ficará sozinha se você morrer.
Baixo a cabeça, fito meus sapatos marrons engraxados. A vertigem
me atinge forte. Não quero falar em voz alta que tudo que ouvi é verdade.
Minha causa, a causa da minha família sempre foi a Lawless. Vim de
uma longa linhagem de Consiglieres, que representou com estruturas
guerrilheiras nossa Famiglia, e agora, que tamanha decepção seria se eu
desonrasse meu sobrenome, meu Clã, permitindo que o Capo me exonere do
posto de ser seu braço direito. O homem que ele mais confia e escuta para
guiar seu território.
Engulo meu orgulho e a dor da perda Mia, a raiva que ainda é tão
presente dentro de mim, e ergo a cabeça. Eu jurei que faria todos pagarem sua
morte. E o que seria pior para mim do que conviver com uma nova mulher
na casa onde era dela? Eu não iria torturar minha nova esposa, mas seria
apenas um casamento tático. Um simples e infeliz casamento por estratégica.
— Você tem razão.
— Tenho — afirma com soberba e a postura implacável. — Apesar
de eu ser muito defensor da família e querer o bem da sua filha, quero sua
presença quando preciso — enfatiza a palavra engrossando a voz — e, talvez,
eu esteja pensando no bem da sua filha até mais do que você.
Desvio meus olhos e aperto meus lábios.
— Ela vai precisar de uma mãe. É uma menina e precisa de uma
figura materna. Você tocou na questão da Marinne e, mesmo que nossa
situação seja diferente, o que você falou não é tudo mentira. Minha irmã
precisou sim de uma mãe, de uma mulher que se encarregaria de cuidar,
ensinar e educá-la porque era seu dever, não porque era paga. Porém, eu não
tinha me casado e não exigiam de mim essa tarefa. Eu dei tudo de mim para
que ela não sentisse tanto a falta de uma mulher enquanto crescia, mas olha
que ironia. Quando ela mais precisou de uma mulher, uma figura materna, foi
quando Madeleine apareceu e eu assumi aquela mulher. Hoje ela é minha
esposa e cuida muito bem da minha irmã. Então... — faz a pausa pensativo
— por acaso, você pretende encontrar outra mulher? Me responde com
sinceridade. — Junta as mãos na frente do corpo, sobre a mesa, e encara-me
sério. — Pretendia, sem a minha intromissão, se casar de novo para que sua
filha tivesse uma mãe?
— Não — respondo seco e com senso. — Eu não tenho por que
mentir, Travis. Eu não estava pensando em me casar de novo, mas... — olho
para longe — confesso que cuidar de Sophia está sendo a tarefa mais difícil
da minha vida. — Olho para ele de novo. — Não pense que eu quis me
comparar a você e seu pai, e não tem como. Um Capo se precisar se ausentar
ou não comparecer, tem o seu Consigliere. Tem o seu homem de recado e
negócios. E esse alguém sou eu, que não posso ser substituído e recolocado
no lugar. Não existe lacuna para alguém como eu tirar folga ou se ausentar.
— Se a questão fosse por pouco tempo, sabe que eu posso fazer.
— Sim.
Ele assente.
— E você não falou o mais importante. A Famiglia espera que
homens na nossa idade tenha o seu Clã e sejam casados. Eu fiz a minha parte
e agora você precisa fazer a sua.
O que ele diz é a mais pura verdade. Pelas nossas tradições, homens
com nossos postos e nossas idades, já devem estar casados e gerando
herdeiros para o sobrenome se fortalecer e vigorar. Mesmo sem Madeleine
aparecer na vida dele, Travis se casaria logo. Ela surgir e o fazer desejá-la
como esposa, foi o útil ao agradável.
Sobre criar um bebê, é claro que ele sabe do que fala com tanta
certeza, afinal cuidou de todos os irmãos sozinho sem a figura da mãe.
Marinne é o retrato da menina que é forte demais, mas quebrável
porque não teve o lado materno por perto. Giulia Caputo era só apenas a avó
que vinha de vez em quando visitar, ou Travis ia com os irmãos até Carson
City ficar com os avós. Era muito breve e a menina precisava de uma figura
feminina sim. Madeleine pode ter chegado um pouco tarde, porém ainda bem
que está aqui agora. Inclusive, por conta do noivado dela com apenas quinze
anos.
— Olha, Travis. Eu concordo que preciso tomar uma atitude, mas não
quero me casar agora.
— Infelizmente, essa situação me compete de alguma forma e eu já
entrei em contato com alguns Underboss para saber se tinha alguma mulher
para casar. Algum com filha com idade para casar ou...
— Como assim? — interrompo-o sem acreditar nos meus ouvidos. —
Você quer me casar com uma jovem?
— Você quer se casar com uma viúva? Geralmente uma mulher, que
já fora casada, já tem filhos. Você quer uma mãe solteira? Quer dividir
atenção da sua filha bebê com outra criança, que não tem nada a ver com
vocês, e sem saber se a mulher pode rejeitar a sua filha e querer apenas cuidar
do seu próprio filho.
— Se pensou nisso tudo, também pensou ou imaginou que uma
mulher solteira e com idade para casar vai ser muito mais nova. Eu
provavelmente serei o dobro da sua idade.
— Então quer uma mulher que foi casada?
Solto a respiração sem vontade.
— E você quer que eu case com uma menina nova e virgem, que
provavelmente acabou de terminar a escola. Vou ser quase o dobro da idade
da garota. — Levanto-me da cadeira e, puto, caminho de um lado para o
outro na frente da sua mesa. —Você é louco, Travis. Não vou me casar com
uma criança.
— Ou é isso ou uma viúva. Você precisa se casar. Sophia precisa de
uma família, de uma mãe.
Paro e o vejo chegar até a mim.
— Você não pode continuar do jeito que está. Sozinho vai ser
derrotado e não pode confiar que seus pais podem ajudar e continuar a
sobrecarregar Marta. A maior diferença de você pedir a ela para ajudar e eu
deixar Marinne com Marie Rose, é a idade. Marie Rose tinha dezenove anos
quando cuidava da minha irmã bebê. Marta já tem quarenta e cinco. Ela não é
mais tão jovem.
Respiro fundo, engulo – pela milionésima vez – em seco e digo:
— Por acaso, você já encontrou?
— Uma mulher?
— Sim — responde assentindo. — Ela é filha do Subchefe de Seattle.
O rapaz que ela iria se casar, um soldado qualquer, saiu do jogo. Nada
importante.
— Claro — resmungo e vou me sentar nos sofás.
— Ela ainda não tinha sido compromissada oficialmente e, mesmo
assim, sempre passo à frente de qualquer acordo de boca.
— Você tirou uma noiva de alguém simplesmente porque queria que
ela fosse minha?
Assente com simplicidade. Que ordinário!
— Fique contente. A menina é muito inteligente e acredito que vai ser
uma boa companhia para você e ainda mais para a Sophia.
— Quantos anos ela tem? — Minha voz é baixa demonstrando minha
insatisfação apenas em saber da idade dela.
— Vinte. Acabou de completar.
Franzo a testa sem entender.
— Vinte e ainda não tinha se casado. Tem algum problema com ela?
— Não. O que aconteceu é que o noivo, o soldado, está na Itália
fazendo o treinamento especial de conhecimento da área de lá e porque sua
família toda reside na Sicília ainda. Alguns dos homens precisam aprender de
verdade a nossa cultura. Você sabe disso.
Assinto e comento:
— E você aproveitou que ele estava longe para roubar a noiva dele.
— Era um acordo de boca — responde e anda até o bar servindo-se
de uma boa dose de uísque. Toma um grande gole e vira-se para mim. —
Como disse, eu posso desfazer qualquer acordo que não tenha quebrado
nenhuma regra. E o pai dela achou muito mais interessante casar a filha com
meu braço direito do que com um simples soldado.
Realmente eu sou uma escolha muito melhor do que um simples
soldado.
— Mesmo assim, você fez algo incomum. Nunca um Capo se
intrometeu num casamento.
Travis respira fundo erguendo o queixo.
— O que interessa é que foi uma interferência bem-sucedida embora
incomum. O pai dela não achou nada de ruim.
Assinto e troco as pernas de posição deixando a direita sobre a
esquerda.
— Se você já acordou todo o processo acredito que o pai dela está
apenas esperando a minha resposta, certo?
— Não. Eu disse que você ligaria para ele confirmando e
supostamente marcaria uma visita à sua casa.
— Quer que eu vá à Seattle? Quando?
— O mais rápido possível. Espero que, depois do casamento, você
fique mais atento e presente aos negócios. A guerra com a Bratva causada por
Ivon foi encerrada e os traidores da Lawless também, mas temos os
mexicanos e os motoqueiros. Fora que meu filho nasce agora e preciso
manter em segredo sua existência até quando puder, e com isso vou precisar
da sua mente brilhante — soa com ironia, mas, no fundo, é verdade.
— Okay. Vou ligar para Rocco Gatti.
— E dizer que está tudo bem — ordena com seu tom de
questionamento invasivo. — Vai ligar para marcar o casamento, certo?! —
Meneia a cabeça do jeito autoritário e convincente.
Assinto e me levanto.
— Pode deixar comigo e agora vou para o MGM. Como você mesmo
disse, não estou dando tudo de mim e quero hoje, pelo menos, comparecer a
todos os lugares que são da minha responsabilidade.
— Falando nisso — diz se pondo de pé e ficando cara a cara comigo.
— Você precisa encontrar alguém para gerenciar o MGM. Quando fizemos o
acordo que seria metade meu e seu, não pensei que você, em algum
momento, fosse se enfurnar lá dentro. Então, agora estou pensando
seriamente em colocar alguém para cuidar do MGM.
— A única pessoa que eu confiaria para isso está cuidando da
segurança da minha filha.
— Um novo soldado leal para cuidar da sua família, nós podemos
encontrar. Podemos ir testando e preparando ele. — Enfia as mãos nos
bolsos. — E você está falando do Gregori para cuidar do MGM?
Nada, absolutamente nada, escapa de Travis e é óbvio que sabe que o
meu braço direito é Gregori.
— Ele mesmo.
Travis faz um som pensativo e se encaminha para a sua mesa,
sentando-se na sua majestosa cadeira.
— Encontre um nome para substituí-lo e depois conversamos sobre a
promoção de soldado a gerente de um dos meus hotéis e cassinos.
— Certo — concordo. — Agora já estou indo. Se precisar de mim,
apenas me ligue.
— O que preciso de você já disse agora.
Porra! Odeio o modo babaca dele.
Meneando a cabeça em sinal de respeito, lhe dou as costas e saio do
escritório.

Pegando o último cigarro, acendo e logo dou uma tragada forte e


continuo de cabeça baixa, como muitas vezes mantendo minha postura
passiva e a presença quase nula, observando de longe Luca falar suas
besteiras de sempre com Enzo, que está reclamado da proposta de Travis, que
parece ter virado um casamenteiro nos últimos tempos.
Orazio Mancini é o novo Underboss de Los Angeles e tem uma filha
em idade de casar solteira e Enzo tem futuro na Famiglia para além de ser um
simples Capitão. O Capo lhe ofereceu o antigo posto de Orazio, de General,
e como ele precisa representar nossas tradições, um casamento o fortalecerá
como uma pretensão de uma linhagem.
Há algum tempo, Travis pediu para Enzo conversar com Orazio e
fazer o pedido de casamento com Bárbara tagarela Mancini.
Eu ficaria preocupado com um casamento entre Bárbara e Enzo, na
verdade com qualquer homem escolhido para a garota.
Ela é uma linha de pólvora para os ânimos tensos e Enzo não é um
ser de meias palavras. Eu confio na decisão do Capo em quase tudo e espero
que esse casamento se saia bem. Não cairia bem para a Lawless ter um
problema de suicídio matrimonial tão cedo. Vincenzo está de olho no neto e é
bom ele não errar.
Fora que Cassio D’Ângelo também está de olho em nós. Como a
Famiglia mais tradicional, os D’Ângelo gostam de tudo muito certinho. Foi
assertiva a aliança com a Darkness, porém nos obriga a não fazer mais
merdas.
— Cazzo! — esbraveja Enzo em italiano e se levanta da cadeira onde
estava e sai da sala pegando seu celular no bolso do casaco. — Fala, mãe.
Não passou despercebido que as mulheres da Famiglia já estão
cientes do assunto do casamento de Enzo, e a mãe dele está no seu pé desde a
confirmação e agora espera poder começar os preparativos.
O casamento não podia demorar muito porque Bárbara se mudou para
Los Angeles e Enzo fica em Las Vegas. A união era para ter ocorrido um
pouco depois do casamento do Capo, porém depois do atentado justamente
no casamento dele, a cerimônia de Enzo foi adiada para este setembro, nove
meses depois, e todos esperam ansiosos esse casamento.
Honestamente não sei o motivo. Eu ficaria louco se Travis me fizesse
a proposta de me casar com Bárbara hoje. Não conheci ainda a filha de Rocco
Gatti, mas não sendo a desbocada e tagarela Bárbara, ficará tudo bem.
Estou na área de reposição de drogas no Balcão. Nosso lugar secreto
no meio do deserto de Nevada, uns bons quilômetros longe de Las Vegas e
dos olhos curiosos, numa antiga fábrica que a Famiglia tomou posse para as
transações de armas e drogas.
Após a reunião com Travis mais cedo e a cobrança da minha presença
nos negócios da Lawless. Precisei aparecer por aqui. Enzo sempre está no
Balcão e Luca parece ter me substituto nos últimos dias.
Soltando a respiração, levanto-me, ajeito meu sobretudo porque está
um frio do caralho e esfrego meu rosto com força tentando expulsar o sono.
— Você parece cansado — diz Luca depois de cheirar uma linha de
cocaína sobre um espelho pequeno que ele carrega dentro de uma latinha
quadriculada. Qualquer um pensaria que é um porta-remédio; ou para mulher,
porta-batom.
Esse aí só vive doidão. Dentro dele só deve ter fumaça e pó.
— Estou bem.
— Não parece que dormiu. — Ele franziu a testa e balançou a cadeira
onde estava sentado apoiando apenas os pés de trás, um pé no chão e o outro
na cadeira à sua frente, que sua bota está cagando tudo de lama. Tinha
chovido a tarde toda.
Quando penso em responder, meu celular toca. Vejo pelo
identificador de chamada quem é e logo atendo ficando preocupado.
— O que você quer, Gregori?
— Eu sei que fiquei na sua casa para eventuais problemas, mas a
questão é que a Marta está um pouco desesperada.
— Por quê? — indago sentindo meu interior vibrar de agonia e fúria.
— Sua filha não para de chorar deve ter... uns trinta minutos. Marta
pediu para não falar nada com você, que ela conseguiria manobrar a bebê,
mas sendo bem sincero não sei não. Estou pensando em chamar o médico.
Espero que ele não tenha pensado em chamar um médico antes de
falar comigo porque eu jamais gostaria que alguém entrasse na minha casa
sem eu estar lá.
— Não se incomode, já estou indo para aí — digo e encerro a ligação
colocando o celular no bolso. Viro-me para Luca. — Toma conta de tudo,
amanhã eu volto.
— Sua filha está bem? — ele pergunta.
Geralmente Luca não é muito interessado na vida de ninguém a não
ser a dele mesmo e acatar ordens do Capo. Mas percebi que, depois que ele
viu minha esposa morrer na porta da igreja, ficou um pouco sentimental –
pelo menos para o meu lado. Sentimento é uma forma muito razoável de falar
algo sobre Luca. Ele quer apenas ser útil sobre isso, mesmo não sendo capaz.
— Ela estava com um pouco de febre há uns dias e agora está
chorando. Vou para casa ver o que é.
— Certo. Espero que ela fique bem e Paolo... — ele me chama
quando estou virando para sair.
— O quê? — Encaro-o.
— Você precisa de uma esposa, uma mãe jovem ou que, pelo menos,
tenha capacidade de cuidar da sua filha melhor do que a Marta ou Gregori.
Qualquer coisa melhor que eles, seria muito bom para uma criança.
— Você não tem nada a ver com a minha vida.
— Engraçado que, quando cheiro uma carreira de cocaína, você se
mete.
— Já mandei você se foder hoje — digo e saio de uma vez.
Eu sei que preciso me casar. Preciso de uma mãe para Sophia. Babás
não são coisas reais na máfia. Um homem precisa de uma esposa, um Clã e o
meu está em desfalque.
6

C omo todas as manhãs depois que terminei a escola, eu acordo, tomo


um banho morno, coloco um dos meus vestidos confortáveis, passo
um pouco de maquiagem e penteio meus longos cabelos. Realmente adoro
que eles sejam tão longos, mesmo dando muito trabalho.
Pronta, eu faço minha oração matinal para proteger meu pai dos
inimigos e que nada acontece a nós. Mesmo crescendo num mundo obscuro
da máfia, eu fazia questão de me ajoelhar todas as manhãs e pedir proteção
Divina. Se Deus ainda nos ouve sendo criminosos. Eu não sou diretamente,
mas meu pai é e num nível alto. Ele é um subchefe.
Quando dá oito horas, tomo meu café da manhã com minha mãe, que
hoje não está à mesa.
— Mamãe saiu, Léa? — pergunto a empregada.
— Não, senhorita. Ela está conversando com seu pai no escritório.
— Hum... estranho — penso em voz alta e dou de ombros. — Se ela
me procurar, estou lá fora.
— É claro.
Sorrio e me levanto da mesa terminando de tomar meu suco de
laranja. Não gosto de tomar café de manhã, apenas no lanche da tarde.
Corro para o banheiro escovar os dentes e depois vou disparada para
as minhas flores. Jardinagem é o meu hobby. Eu já tentei fazer outras coisas
e, na verdade, sou muito boa também em culinária e, às vezes, me arrisco em
fazer bolos e tortas. Papai adora, mas mamãe odeia porque gosta que
mantemos nosso porte e papai descobriu que está diabético. Ironia do destino.
Ele pode morrer com um tiro pela Bratva, um policial, outra máfia rival e
todos os inimigos, e minha mãe se preocupa que ele possa morrer por conta
do açúcar. Ah, pelo amor de Deus!
E não me aprimoro mais na cozinha porque não tenho muita
paciência para esperar as coisas acontecerem. Não sei como eu gosto tanto de
flores, já que tenho, preciso, esperá-las desabrocharem e ficarem lindas.
Contudo, eu gosto das minhas flores.
Cantarolando, eu fico aqui, justamente fazendo o que mais amo.
Cuidando das minhas flores. Cortando, podando e regando.
Depois que terminei a escola passo muito dos meus dias na estufa e
no jardim, raras as vezes passo na biblioteca, sabendo que meu tempo de ficar
por aqui está contado.
Com meu noivado feito há três anos, eu só espero mesmo meu noivo
voltar da Itália. Apenas em pensar nisso e morar com alguém que eu mal
conheço, me causa um frio na barriga. Ter que me casar com alguém que eu
conheço menos do que meus seguranças.
Papai disse que Augusto é muito bom e eu acredito muito no que ele
fala. Ele não é um dos piores pais da Famiglia. Minha melhor amiga, Elvira,
apanha do seu quando está zangado. Tenho muita pena dela.

Fazendo minhas dancinhas bobas e cantando para mim mesma, rego


mais um vaso de rosas quando sinto uma presença se aproximando e logo me
viro para ver minha mãe caminhar até a mim.
— Boa tarde, Nina.
Aceno em cumprimento respeitosamente perguntando-me quanto
tempo estou por aqui.
— Já terminou?
— Não ainda — digo baixo. — Falta aquele canto. — Indico as
margaridas.
— Assim que terminar, entre, lave-se e vai até o escritório do seu pai.
Ele quer falar com você.
Um frio em meu interior me deixa gelada. Sinto um frio na barriga
que faz meu coração acelerar e meus pelinhos até se arrepiarem.
Assinto e mordo meu lábio.
— Por favor, pare com essa mania! — mamãe me recrimina. — Você
já não é mais uma criança. É feio morder os lábios.
— Tudo bem, mamãe. — Baixo a cabeça. — Desculpa.
— Termine isso logo e entre.
Assinto, mais uma vez, e a vejo ir embora. Como um soldado. É o
jeito que ela me trata desde criança.

Depois que finalmente termino de cuidar das minhas flores, sigo até o
meu quarto e tomo um banho rápido. Quando minha mãe diz para se limpar,
quer dizer: tome banho, troque de roupa e pare de se vestir como uma
criança.
São tantas regras, às vezes, que eu fico me perguntando se, em algum
momento da minha vida, vou ser livre. Eu nem sei o que é isso: liberdade.
Sinto-me como um dos soldados da Lawless, só que não do meu pai e
sim da minha mãe na luta de me fazer o melhor feito da sua vida. Ela é muito
frustrada por não ter tido mais filhos, e eu ser a primeira e do meu irmão ser
um tanto rebelde. Sinto falta dele, que está na Itália no mesmo treinamento
que Augusto.
Apesar de eu odiar ter que usar roupas neutras, coloco um vestido
preto com uma simples faixa lilás na bainha e um cinto branco combinando
com os meus sapatos sem saltos.
Papai acha que eu ainda sou uma criança, então preciso me vestir
como uma linda donzela. Ele disse que o momento de usar saltos, roupas
mais coladas ao corpo, mais ousadas, será quando eu me casar.
Às vezes, por mais que me dê muito medo em conviver em uma casa
com um homem estranho, anseio fervorosamente com o meu casamento,
mesmo sabendo dos boatos que existem alguns homens que estupram,
maltratam e batem nas esposas.
Eu acho que uma mulher da máfia, de verdade, nunca alcança nada
além da miséria. Acho que as que têm um pingo de sorte, conseguem um
marido que não bate, porém são frios como uma pedra de gelo.
Com os meus cabelos em uma trança de lado, desço até o escritório
do meu pai. Agora está quase na hora do jantar e é estranho ele estar em casa.
Deve ter acontecido alguma coisa para não ter saído hoje em nenhum horário.
Segurando a respiração por nanossegundos, bato na porta e espero
que ele permita que eu entre. Assim que estou dentro do escritório, escuto sua
voz:
— Fecha a porta e sente-se.
Não digo nada e faço um aceno de cabeça respeitosamente. Fecho a
porta e vou me sentar em uma das cadeiras em frente à sua mesa pomposa.
Ele tira os óculos de graus, deixando-os sobre a mesa e me encara
sério.
— Queria falar com você sobre o seu casamento.
O frio na barriga volta com força. Eu não digo nada. Não tenho
permissão.
— Augusto ainda não voltou da Itália e eu acho que a gente está
esperando por muito tempo.
— O que o senhor quer dizer com isso, papai? — pergunto em voz
baixa para não parecer que estou sendo abusada.
— Eu consegui outro marido para você.
Engulo em seco e torço meus dedos no tecido do meu vestido.
— Conseguiu outro marido para mim?! Assim tão rápido?
— Ele é um pouco mais velho que você — responde sem se alterar —
e é muito mais interessante se casar com ele.
— Em que sentido? Desculpa lhe perguntar.
— Augusto era apenas um soldado, Nina. Você ou seus filhos nunca
seriam nada além de simples membros da Lawless. Nunca alcançaria um
grande posto, a não ser que Augusto fosse tão bom que o futuro Capo, que no
caso será o filho de Travis, faça seu marido ou seu filho ser um Capitão ou
General. Mesmo assim nunca um Underboss ou Consigliere, por exemplo.
— Aham — digo baixinho.
— Então, Augusto não lhe traria frutos tão bons afinal de contas. E
você é filha de um Underboss.
— Eu sei, papai, m-mas... você disse que não tinha ninguém melhor.
— Não tinha — sorri de lado maliciosamente — até oito meses atrás
quando a esposa de Paolo Dal Moli morreu.
Esse nome não me é estranho, mas continuo calada esperando mais
informações, e obviamente permissão para falar alguma coisa.
— Paolo está viúvo e procurando uma esposa nova. Eu entrei em
contato com o Capo e disse que eu tinha uma filha solteira numa idade
razoável para se casar com um homem que já foi casado e consideravelmente
mais velho.
Franzo o cenho. Mais velho?
— Como assim, consideravelmente mais velho? — Me atrevo a
questionar.
— Paolo tem trinta e sete anos e uma filha sem mãe e precisando de
atenção. O casamento já foi acordado e ele está vindo para conhecê-la
amanhã à tarde.
Fiquei tão abalada, que não tive o que dizer depois que ele falou que
o homem tem trinta e sete anos e uma filha. Ou seja, ele é um viúvo, solteirão
e velho. Vão me casar com um homem velho.
— Eu acredito na sua boa escolha, papai, e... de qualquer forma, eu
não posso falar nada sobre.
— Ainda bem que você sabe o seu lugar.
Escuto de cabeça baixa.
— Eu só lhe chamei aqui antes de amanhã chegar para não ficar tão
surpresa e com essa cara de espanto e amedrontada na frente do seu futuro
marido.
Assinto e o encaro.
— Não se preocupe porque Paolo não tem fama de tratar as mulheres
com crueldade.
Como se isso fosse algo superlegal da parte dele. Uma benfeitoria. É
mais do que obrigação um homem tratar uma mulher com dignidade. Já que
as mulheres são obrigadas a serem submissas e tratá-los como reis, os
homens deveriam fazer o mesmo. Tratar as mulheres como rainhas, então
quando eu escuto: “Ah, mas ele não bate na mulher. Não estupra e não
tortura”, eu fico um pouco indignada. Parece um grande feito. É mais do que
obrigação.
— Tudo bem, papai.
— Amanhã, ele deve chegar mais ou menos um pouco depois do
horário do almoço e espero que você esteja dentro de casa e arrumada,
esperando, e não que esteja suja de terra e no seu jardim. Hoje você nem
almoçou, Nina.
— Me desculpa. É que, às vezes, eu fico...
— Distraída — ele me cortou. — Saiba que, quando você se casar,
terá uma grande responsabilidade e não só com seu marido. Existe um bebê
que precisará da sua atenção. Então, pare com essa palhaçada de flores e
assuma seu lugar como uma mulher adulta.
Agora eu sou uma mulher adulta? Penso torcendo meu interior,
esmagando meu fígado.
— Paolo é um homem mais velho — continua e eu presto atenção —,
por isso você tem que se vestir do jeito que está agora. Neutra e comportada,
nada de flores, cabelos soltos e já pode começar a usar salto alto. Como eu
disse a você, quando casasse teria permissão de usar saltos e estou lhe dando
agora. Se for da sua preferência, pode sair amanhã cedo com a sua mãe e
fazer compras.
— Não precisa. Eu ganhei de presente de Natal da vovó — assinto
falando, estou tremendo. — Eu tenho um salto alto, obrigada.
— Que seja. Agora, me dê licença e espero que não precise falar de
novo amanhã tudo que eu te orientei hoje, certo, Nina?
— Sim, senhor, papai.
Levanto-me e inclino meu corpo com os olhos baixos e saio.
É realmente muito difícil me controlar ao ponto de caminhar
lentamente e chegar até as escadas como uma dama. Estou alcançando os
degraus quando escuto alguém me chamar.
— Sim, o que deseja?
— A senhorita não vai jantar hoje? — Léa pergunta.
Respiro fundo e, ainda encarando o chão, respondo:
— Estou sem fome. Obrigada por se preocupar.
Ela assente como se entendesse o que estou sentindo.
— Eu vou guardar um pouco para a senhorita e deixar um leite com
canela morno no micro-ondas. Depois a senhorita esquenta mais um
pouquinho.
— Obrigada.
— De nada. Boa noite.
Com um aceno, finalmente corro pelas escadas acima e com toda a
força de vontade que tenho, fecho a porta do meu quarto sem bater e corro
para a minha cama, onde me sento e solto um suspiro alto. Sinto meu coração
acelerado.
Talvez eu esteja apavorada à toa. Eu nem conheço o meu futuro
marido e, mesmo que nossas idades sejam tão distantes, será um choque
conviver com ele e ele comigo, ainda tendo um bebê para cuidar.
Talvez não seja tão ruim quanto a vida que eu já levo. É
extremamente triste pensar assim. Que a minha única saída da tristeza, que é
ter um pai e uma mãe tão frios e maquiavélicos, seja um casamento
arranjado, com um homem mais velho e com um bebê sem mãe.

Antes de sair do quarto, para poder esperar o meu futuro marido na sala de
estar, eu paro em frente ao espelho e encaro a mim mesma com um vestido
marrom sem graça, os ombros são fofos e ordenados como se fosse feito de
glacê, a saia é pregada e estou usando o sapato que a vovó me deu de Natal. É
um salto preto sem nada demais, apenas uma fivela quadrada na ponta com
pequenos strass.
Meus cabelos estão penteados para trás e alisados porque quando eu
os deixo soltos, ao normal, que ficam quase cacheados criando muito volume,
papai não gosta. Minha maquiagem é um pouco mais pesada do que
geralmente gosto de usar. Estou usando lápis de olho, bastante rímel e um
batom cor de cereja.
Olhando-me no espelho, me daria vinte e quatro anos, mas, por
dentro, agora eu me sinto com uma criança no meio de uma praia deserta
vendo o mar revolto e prestes a me engolir.
Ontem eu estava confiante, pensando que esse casamento poderia me
salvar da vida horrível que é conviver com meu pai com a minha mãe, mas e
se não for?
Acordei chorando, desesperada, ansiosa e com o coração acelerado.
Martelando dolorosamente até. Engolindo o soluço, limpo com cuidado
embaixo dos olhos as lágrimas e tomo um fôlego.
Saindo do meu quarto, fico parada no topo da escada procurando
coragem necessária para descer os degraus. Respiro fundo, assumindo
bravura e finalmente desço até o lobby da casa. Ninguém está e com isso vou
até a sala de estar, depois de jantar, e, por fim, vou para a cozinha e encontro
mamãe, que logo me vê e fala:
— Não acha que está arrumada muito cedo? E, por acaso, você não
vai almoçar?
Suspiro baixinho e respondo:
— Eu não estou com fome. Tomei um café reforçado e papai disse
que ele deve chegar daqui a pouco.
— Quando ele falou isso se não está em casa?
— Ele me disse ontem, que o... Paolo... vai chegar um pouco depois
do almoço.
— Se é assim, então está ótimo. Fique arrumada mesmo e espere
sentada na sala de estar.
— Sim, senhora, mamãe.
Com um aceno de cabeça, me viro e saio.
Mesmo que ela não tivesse falado, eu viria me sentar na sala de estar
e esperar a excelência, que é a forma que tratamos papai, chegar. Pensei em
trazer um livro comigo para me fazer companhia, mas aí papai não ia gostar.
Quando eu estou me sentando no sofá maior perto das janelas, escuto
a porta de casa abrir. Prendo a respiração e meu coração acelera loucamente.
— Boa tarde, senhor. Não pensei que viria essa hora hoje — Léa fala
e com isso eu sei que é meu pai.
Até mesmo porque ele responde falando alto e grosseiramente:
— Eu disse que tinha um encontro depois do almoço e espero que a
casa esteja limpa e organizada para receber uma visita importante.
— Está sim, senhor. Todos os dias limpo.
Fico revoltada com a forma como ele fala com os funcionários da
casa.
— A casa está limpa e pronta para receber qualquer pessoa, não se
preocupe, senhor. Com licença.
Fecho os olhos e consigo visualizar perfeitamente ela fazendo a
referência de curvar levemente para a frente e olhar para o chão, se virar e se
afastar dele. Todo mundo aqui parece tratar meu pai como um rei e minha
mãe rainha. Isso me irrita bastante. Como eles são pedantes!
Quieta, abro os olhos e tento relaxar, mas vai por água abaixo quando
vejo a sombra do seu corpo no chão enquanto chega na sala de estar. Espero
que esteja ao alcance dos meus olhos para poder olhá-lo. Ele me olha de cima
a baixo e me levanto para ver direito como eu estou.
Depois de um longo silêncio, ele se pronuncia:
— Essa roupa está boa e o cabelo também. O salto poderia ser um
pouco melhor. Você deveria ter ido ao shopping, mas está apresentável. —
Olha para o seu relógio. — Paolo disse que já está a caminho.
Aceito sem dizer nada porque eu me sinto, como se tivesse algo na
minha boca tampando qualquer tipo de pensamento que eu possa ter agora, e
meu pai me traz um certo medo. Sempre foi assim. Sou um pouco
aterrorizada pelos seus olhos intensos sempre mal-humorado. Ele pode não
me bater, mas certos olhares doem mais do que um soco.
— Eu vou tomar um banho e trocar de roupa. Enquanto isso, você
fica aqui. Não sai daqui de jeito nenhum até eu voltar.
Ele não espera que eu faça nada ou nenhum cumprimento, muito
menos que fale. Ele deu sua palavra e sai me dando as costas.

Com o rosto erguido para a frente, não focando em nada realmente, espero
papai voltar. Nem sei quanto tempo já estou aqui. Provavelmente uns bons
dez minutos já e sem a possibilidade de me levantar.
E se eu tiver vontade de fazer xixi?
Ele quer mesmo que eu fique aqui até ter vontade de comer ou ir ao
banheiro e esperar ele voltar ou coisa pior, fazer nas calças. Ele nem vai ligar.
Ele faz coisa muito pior na vida. Deixar-me aqui, me fazer ficar com vontade
de ir no banheiro, é uma tortura leve. Realmente não é nada que se compare
as atrocidades cometida pela Famiglia.
Engulo em seco e inquieta começo a bater com meus pés no tapete
que a minha mãe ama. Ela mata um se fizer algo nele. Uma vez meu irmão
deixou cair macarrão, graças a Deus não estava com molho, e ela bateu nele
como se tivesse feito algo absurdo.
Às vezes, eu tenho inveja do meu irmão por estar longe deles. Com
certeza está melhor do que eu, mesmo passando por algumas torturas e tudo
que um Homem de Honra tem que passar para se fortalecer. Mas ele está
longe do papai e da mamãe.
Eu fico me perguntando se sofrer e apanhar de pessoas estranhas dói
menos do que se for do seu pai e da sua mãe. Eu espero que não.
Arregalo os olhos. Espero nunca concluir isso na minha vida, porque
a única forma que eu posso comparar se dói menos é com meu futuro marido
me batendo. E eu realmente não quero ser uma dessas esposas que apanha do
marido. Acho que a minha conta de maus-tratos já está fechada.
A campainha toca e meu coração parece que sai pela boca. Meu
Deus! A única pessoa que está para chegar é Paolo e papai está lá em cima
tomando banho e trocando de roupa.
Eu fico quieta, na minha, esperando que alguém apareça e logo
mamãe vem. Ela trocou de roupa. Quando? Eu nem percebi.
Ela ajeita os cabelos e passa as mãos no vestido preto que colocou
como se fosse sair para um casamento. Até os sapatos vermelhos chiques que
tem ciúmes, está usando. Se meu pai queria que eu ficasse assim, foi um
sonho. Eu ia aparentar ter trinta anos e se me incomoda tanto a minha idade,
ele não deveria ter aceitado me casar com um homem mais velho. Ele deveria
então ter recusado e arrumado um homem da minha idade. E o mesmo serve
para Paolo. Assim eu não teria que ficar tentando forçar parecer mais velha.
— Boa noite, Paolo. Seja bem-vindo.
Reviro os olhos pela forma doce que minha mãe fala com ele.
Ridículo.
E é ele mesmo. Ele chegou. Meu Deus!
— Pode entrar.
— Boa noite. — Eu escuto a voz dele e fico curiosa. Não parece uma
voz de um velho barrigudo com a barba nojenta e cheirando a charuto como
meu pai.
Meu pai tem quarenta e dois anos, é uma idade próxima a de Paolo,
então na minha cabeça eu só posso imaginar ele assim; como meu pai. Até
porque eu não vejo muitos homens. Meu segurança tem trinta e cinco, meu
irmão tem dezesseis, fui educada em casa e eu não posso olhar para cima
quando estou andando na rua. Tenho que ficar olhando pra baixo, só olho
para cima quando é para ver alguma roupa e isso com orientação da minha
mãe, que sempre vai junto.
Sei que se alguém soubesse disso, ouvisse eu falando, acharia que é
mentira ou exagero. Porém, infelizmente, eu não tenho necessidade de mentir
em meus pensamentos e nem nas orações; pois peço todo dia a Deus que esse
inferno acabe, mesmo não sabendo se existe algo melhor do que eu já tenho
no mundo que nasci.
Ouço passos cada vez mais próximos e veja os sapatos vermelhos da
minha mãe perto dos meus pés. Espero que ela me ordene a fazer algo.
É sempre assim. Eu sou um soldado.
— Querida, levante-se e cumprimente Paolo educadamente — ela
pede com a sua voz mais falsa do mundo.
Sentindo minhas pernas tremerem, com a sensação de que elas são
gelatinas, pisco algumas vezes e me coloco de pé. Erguendo minha cabeça
lentamente para encontrar seu rosto, admiro suas pernas compridas, o tronco
largo e as mãos grandes. Ele não tem tatuagem, pelo menos não nas mãos
como muitos soldados. Ele é grande e parece ser musculoso e é magro.
Graças a Deus, ele é magro, porque a impressão de ele ser gordo é
como se eu fosse me casar com o meu pai, realmente. Essa diferença já é
muito boa. Então... quando meus olhos registram seu rosto, fico chocada.
Eu realmente estava esperando um homem feio, velho, gordo,
barbudo e cansado pela vida. Mas ele é... bom para os olhos. É... atraente.
Ele é bonito. Tem uma barba por fazer com alguns pelos grisalhos
assim como seus cabelos, que nas laterais são mais grisalhos do que no topo,
como se tivessem reflexos no cabelo castanho. O rosto é bonito com um
queixo quadrado e o nariz também. Ele é sério e seus olhos têm quase que
uma placa de: “pare de encarar”.
Paolo está usando um terno preto, assim como a gravata e o colete de
dentro, mas a camisa é branca. O que me surpreende.
Notando que estou o admirando, enfia suas mãos dentro dos bolsos da
calça e por educação, provavelmente, ele estende uma para mim.
— Boa tarde — digo, com a voz baixa e tentando ser educada.
— Nina — ele murmura e solta minha mão, dando um passo para
trás. — Boa tarde também.
— Eu espero que você tenha feito uma boa viagem até aqui —
mamãe fala com toda simpatia que ela não é.
— Foi sim.
— Meu marido está no banho, mas deve estar descendo logo. Quer se
sentar e tomar um chá? Você toma chá?
— A não ser que a senhora vá tomar agora, eu tomo também.
— Então está bom. Vou mandar a Léa fazer... quer dizer, querida —
vira-se para mim e manda, já que as regras não permitem que eu fique
sozinha com um homem —, vai até a cozinha e peça para a empregada fazer
um chá para nós. Maçã ou canela? — pergunta para Paolo.
— O que a senhora for tomar — ele diz sem entusiasmo.
Eu estou me corroendo por dentro de alegria pela sua expressão fria e
distante dele perto dela, mesmo com sua tentativa de proximidade. Os lábios
dele estão em uma linha reta, duros e sem qualquer humor. Ainda dando
umas respostas afiadas assim para a mamãe. Estou adorando. Eu queria ter só
um pouquinho do seu poder para fazer isso com quem me intimida.
— Então faça de canela, querida — ela acaba falando.
— Com licença — eu peço me curvando de leve e saio da sala de
estar.
Nos últimos passos para adentrar a cozinha, dou uma corridinha e
chego até Léa.
— Você não deveria correr com esses saltos e mesmo assim vai
estragar sua maquiagem. — Afaga meu rosto.
— Podemos não falar da minha maquiagem agora. — Sem ser grossa,
me afasto dela e cruzo os braços. — Mamãe pediu para você fazer um chá
para o convidado.
— De quê?
— Faz de canela e um de maçã. Acho que nem todo mundo gosta de
canela. Mesmo que ele tenha sido educado falando que tomaria o que a
mamãe tomasse.
— Você é muito atenciosa — Léa comenta e olha para os meus
cabelos e depois o meu rosto. Algo peculiar cruza seu olhar. — Pode me
esperar na sala que eu levo para você.
— Não precisa ir levar. Eu prefiro ficar aqui.
— Mas eu prefiro que você respeite seu pai e vá para a sala.
— Tudo bem.
Solto uma respiração exasperada e saio, voltando para sala de estar.
Mamãe está conversando algo idiota. Conversa fiada e eu chego
quase que ao mesmo tempo que meu pai.
— O que você está fazendo? — pergunta com o semblante fechado.
— Eu não mandei você ficar na sala de estar até eu voltar? Que menina
teimosa!
Eu me encolho toda e olho para o chão.
Mamãe se aproxima e ergo o rosto para ver quando encosta a mão no
ombro do papai.
— Ela foi pedir a Léa para fazer um chá para nós.
— Mulher, isso é hora de você tomar chá?! — esbraveja papai.
E bem neste momento, Paolo aparece, do nada, por atrás da minha
mãe, mas mantendo distância. Então meu pai muda de postura e diz como se
estivesse brincando:
— Mil vezes tomar café, não concorda, Paolo?
Meu futuro marido não diz nada.
— Porque todos tomam café — continua papai com um sorriso
congelado e mentiroso. Olha para mim, forçando a paciência. — Volte para a
cozinha e peça para fazer um café também! — ordena como se eu fosse um
dos empregados.
— Sim, senhor.
— Não, querida — mamãe intervém. — Deixa que eu vou. — Ela
chega até mim e sussurra: — Vai ficar perto do seu futuro marido e deixa que
eu vou pedir para fazer o café. E se comporte. Sente-se direito.
Assinto e espero o papai deixar. E ele faz assim que mamãe fala algo
no seu ouvido.
— Vai! — ele manda.
Piscando sem jeito, aceno com a cabeça em sinal de respeito. Meu pai
me observa ir sentar-me de novo no sofá. Paolo se aproxima dele e o
cumprimenta finalmente com um aperto de mão. Sorrio, por educação, e olho
para baixo. Não quero me intrometer entre eles, que se sentam no sofá de
frente para mim.
— Você chegou mais cedo do que eu pensava. Tive que tomar um
banho. Precisei sair agora há pouco, mas nem demorei.
Nunca vi papai dar satisfação de nada até hoje.
— Tudo bem, não tem importância isso.
— Essa é minha filha, Nina. Creio que já foram apresentados.
— Sim — concorda sem esboçar alguma emoção.
Se ele me cumprimentar, é uma apresentação, eu estou por fora do
que é ser apresentada a alguém.
— Você veio aqui para a gente marcar o casamento, certo? — A voz
de papai me captura para o presente de novo.
— Eu vim aqui para conhecer Nina e falar com você sobre os
preparativos do casamento e entregar isto a ela. — Paolo tira do bolso alguma
coisa.
De longe, eu enxergo tem uma caixinha de anel. No caso, a minha
aliança. Eu seguro a respiração.
— Você me permite entregar para ela?
— Sim, é claro — responde rápido demais. — Eu vou até a cozinha
ver se o café está pronto. — Papai se levanta e sai tão rápido quanto o suspiro
que eu dou.
É sério que ele me deixou sozinha com um homem estranho que eu
nunca vi na vida? É incrível como suas regras morrem quando é para
beneficiar ele.
Nervosa, me mantenho sentada, congelada, basicamente a estampa do
sofá. Paolo levanta-se e se aproxima de mim. Pisco rápido registrando seus
movimentos quando escolhe se sentar ao meu lado. No mesmo sofá?
— Eu acredito que o seu pai falou que eu viria aqui hoje e que pediria
a sua mão em casamento? — Sua voz é segura e distante.
— Sim, ele me disse. — A minha voz é baixa.
— Você pode, por favor, olhar para mim?
Fico confusa se foi uma ordem ou um pedido. No entanto, eu faço o
que me pede. Encontro os seus olhos, que, por alguma razão, e tão rápido
quanto um piscar de olhos, vejo um lampejo de melancolia nos seus olhos
cinzas tão claros quanto um cubo gelo. Será que seu coração é tão gélido
quanto seu olhar?
— Seu pai também lhe disse que eu tenho uma filha pequena?
— Sim, ele me falou e... que você perdeu sua esposa. Eu sinto muito.
— Sou sincera.
— Nosso casamento está marcado para o mês que vem. Dia quinze de
agosto — comunica como se não tivesse me ouvido talvez falar da sua
esposa. Como se ela fosse um assunto proibido.
Registro com cuidado essa informação preciosa que ele me deu sem
uma única palavra dita. Sinto que seu olhar tem mais poder do que as
palavras. Não é igual meu pai que precisa humilhar e subir o tom da voz para
se engrandecer.
Não pensei que o casamento fosse tão cedo, mas não comento sobre
isso.
— Está tudo bem para você dia quinze de agosto?
— Está ótimo — murmuro.
— Okay.
Ele abre a caixinha e retira o anel de dentro. Um frio na minha barriga
me causa náuseas.
— Sua mão, por favor — pede e, quando eu não faço, ele questiona:
— Você sabe qual é a mão que fica o anel de noivado, não sabe?
Ele está exasperado e nervoso. E não sei o porquê.
— E-Eu... sei, s-sim. Me... d-desculpe. — gaguejo e levanto minha
mão, tremendo.
— Espero que caiba e você goste — ele comenta enquanto coloca o
anel no meu dedo.
Um diamante solitário adornado por um fio de ouro assim como o
anel. É simples e muito bonito. Elegante.
Finalizando, Paolo me surpreende colocando a caixinha na palma da
minha mão quando a vira para cima. Fito seu rosto.
— Para quando você quiser tirar para dormir.
— Ah — solto, ficando de boca aberta, mas logo me recupero do
choque de gentileza dele. — Obrigada, é muito bonita.
Ele faz um aceno simples e solta minha mão.
— Você espera um casamento grande?
— Acho que, pelo tempo, não vai ter como.
— Eu posso resolver isso — diz isso com tamanha autoridade e
segurança.
Tento procurar na minha mente quem ele realmente é na Lawless. A
pergunta ficou na minha cabeça a noite toda ontem.
Papai disse que ele é maior do que um soldado, que ele é um
Consigliere, mas de quem? Todo Underboss tem o seu conselheiro, e o Capo
e o Boss também. E eu não sei o nome de todos. Não conheço todos os
Madman. Piada. Eu nem tenho permissão para saber dos negócios da
Famiglia.
— Pergunte o que você quer, por favor — Paolo decreta, mas não tão
grosseiramente como meu pai fala comigo. E se ele consegue enxergar em
meus olhos a curiosidade, imagina quando convivermos.
Engulo em seco.
— Papai disse que você é um conselheiro e... eu não conheço todos os
homens da máfia. Nem quem eles são. Isso não me compete. É... só
curiosidade em saber...
— Eu sou o Consigliere do Capo Travis Lozartan — me detém de
continuar a gaguejar ridiculamente.
Arregalo os olhos e me mexo inquieta no sofá.
— Você sabe quem é ele, não sabe?!
Eu fico com a boca aberta sem saber o que dizer.
Minha nossa!
Para ser o conselheiro do nosso Capo, um homem tem que ser
destemido, estrategista e tão aberto a jogos de poder e manipulação como o
próprio Capo, ou até pior já que ele vai aconselhá-lo.
Eu não estava com medo de Paolo até agora, e se ele perdeu a
esposa... Será que ele a matou? Ou ela se suicidou?
Eu não escutei nada sobre a morte de ninguém importante, e quando
isso acontece é porque fazem de tudo para calar a boca dos fuxiqueiros.
Embora eu saiba que estávamos em conflito algum tempo atrás, mais ou
menos uns cinco meses atrás, não soube de nada. Teve uma grande guerra em
Las Vegas, mas eu não sabia da extensão de certos assuntos e principalmente
que o conselheiro perdeu a esposa. Será que foi por isso?
Seguro minhas mãos no meu colo para ele não ver que estou
tremendo.
— Qual é a outra pergunta que você quer fazer?
— Não quero fazer... mais pergunta nenhuma. Não quero perguntar
nada não.
— Então, se é só isso. Vou esperar seu pai voltar e confirmar que o
dia do casamento vai ser quinze de agosto.
Concordo com um aceno.
— O casamento será em Las Vegas porque depois disso iremos para a
minha casa. Você se incomoda?
— Não — nego com a cabeça. — Não, de forma alguma e eu sempre
quis conhecer Las Vegas.
— Agora você vai morar lá.
Essa frase na boca de qualquer pessoa soaria com humor, mas não
com ele. Nada é suave saindo da sua boca enquanto ele não esboça uma
reação a nada. parece que é feito de gesso.
— E aqui está o café — papai fala chegando até nós e para. Vejo em
seus olhos a raiva por eu estar sentada ao lado de Paolo.
Oras, ele que me deixou sozinha com ele.
Acompanho papai colocar a bandeja sobre a mesa de centro e
oferecendo biscoito, café ou chá. Paolo aceita só um café e volta a se sentar
do meu lado.
Fico nervosa porque, pelo protocolo, era para ele se sentar em outro
sofá, não do meu lado. Mamãe olha para nós dois e não diz nada, nem papai.
Encarando o tapete chego a seguinte conclusão. Agora eu entendo o
porquê meu pai cede tanto a Paolo. Ele é o Consigliere do Capo. Ele é mais
perigoso do que papai, mesmo sem ser o próprio Capo.

Ainda estou com as pernas como gelatina, sentada no sofá da sala.


Paolo e papai foram para o escritório conversar o que eu não posso ouvir. É
óbvio que papai não ganhou apenas uns pontos com o Capo dando sua filha
para o conselheiro dele. Ele deve ter pedido algo.
— Levante-se e vá comer algo. Você vai acabar desmaiando! —
mamãe ordena.
Confesso que estou com fome e faço o que pediu depois que respiro
fundo e percebo que não vou cair ao levantar. Quando estamos com câimbra
e nos levantamos, a perna parece que não existe. Eu vi isso num seriado
médico – Grey’s Anatomy – de quando a pessoa não tem mais o membro e
ela o sente mesmo assim e tenta mexê-lo ou sente dor. Se chama membro
fantasma. Parece que estou com duas pernas fantasmas.
No caminho para a cozinha, eu escuto vozes vindo do corredor e,
como não tem ninguém comigo, me aproximo mais para entender o que estão
falando. Percebo que na verdade só tem uma voz, a de Paolo. Ele está ao
telefone com alguém e acaba de dizer a frase:
— Eu não acredito nisso, Gregori.
Ele não acredita no quê?
— A menina... É isso, ela é uma menina. A porra de uma criança.
Travis disse que ela tinha vinte anos. Vá à merda ele! Ela parece ter
dezesseis.
Ele está falando de mim. A porra de uma criança!
— E o pai dela provavelmente a forçou a se vestir e colocar uma
maquiagem ridícula que não tem nada a ver com ela. A foto que você me
conseguiu dela, não tem nada a ver com o que eu vi hoje.
Ele tinha uma foto minha?
Como conseguiu uma foto minha?
E quem é esse tal de Gregori?
— Não, tudo bem. Eu já dei o anel para ela. Não tem como voltar
atrás.
Ele pensou mesmo em voltar atrás e não se casar comigo?
Eu sou tão indigna de ser sua esposa, assim?!
— Eu vou conversar com o pai dela agora. O cara é um babaca. Ele
e a esposa tratam a menina de uma forma terrível.
Ele me chamou de menina de novo?
Como é que a gente vai ser marido e mulher, se ele me vê como uma
criança? Eu não o vejo mais como um velho. Ele não tem nada a ver com o
que eu imaginei.
— Tudo bem. Eu já estou voltando. Vou sair daqui direto para o
aeroporto pegar o jatinho. É claro que sim.
Depois de tudo que eu escutei, não tenho mais vontade de ouvir nada.
Cabisbaixa e zangada por ele me chamar de menina, criança, não ouvi
mais o que ele pensa sobre mim, entro na cozinha e Léa logo vem até a mim.
— O que que há com você? Parece triste, criança?
— Não me chama assim! — esbravejo jogando minha ira nela sem ter
culpa. — Me desculpe, Léa. Eu só não quero mais que você me chame assim.
— Tudo bem, senhorita. Eu a chamava assim porque pensei que você
gostasse.
— Eu gostava, mas... vou me casar agora, então não posso mais ser
uma menina, uma criança. Quem pensaria que uma esposa é uma criança?
Ela estica a mão e afaga meu rosto, me dando um carinho que minha
mãe nunca foi capaz. Não é capaz.
— Não se preocupe. Vai dar tudo certo e eu espero que seu
casamento seja feliz. Faça valer a pena, mesmo que você tenha medo em
algum momento. É normal. A gente faz da vida o que esperamos que ela seja.
É como a frase: Faça do limão uma limonada. E tenha cuidado para não
espirar nos olhos.
Sorrio para ela e agradeço quando me abraça.
— Obrigada pelo carinho e eu vou sentir muito a sua falta.
— Aposto que deve ter outra Léa por lá.
Sorrio em agradecimento e me afasto para pedir a ela que prepare um
prato de macarronada com almôndegas para mim.
— Você quer me ajudar?
— Não! Ela não pode te ajudar, Léa. — A voz da mamãe corta a
alegria assim que sobrepuja o ambiente. — Ela precisa comer rápido porque
nós vamos sair.
Viro-me para mamãe.
— O que vamos fazer?
— Vamos ver seu vestido de casamento. Então, é melhor você andar
logo. E seria bom prender este cabelo, porque vai ser assim que você vai estar
no seu casamento. — Ela chega até a mim, segura meus cabelos para o alto e
coloca um pedaço para o lado, no meu ombro direito. — Vou colocar um
arranjo de flores no meio dos cabelos. Não pode ser à toa eles serem tão
grandes. Agora, vai servir para um belo penteado de princesa no seu
casamento. — Ela dá seu sorriso congelado de dama da sociedade.
Eu detesto esse sorriso. Espero que nunca tenha que fazer.
Concordando, assinto. Eu realmente não tenho voz para dizer nada a
ela.
Algumas meninas têm liberdade porque os pais os honram tanto
quanto seus filhos os obedecem, mas os meus são terríveis. Deus me perdoe,
mas eu odeio os meus pais. E morro de medo dos meus filhos um dia
pensarem assim de mim. A filha... do Paolo. Minha nossa! E se pensar isso
de mim? Afinal de contas eu vou ser uma madrasta. As madrastas nos filmes
da Disney não são muito boas e ninguém gosta delas. Mas eu vou tentar ser
legal, ser uma boa mãe e espero que ela goste de mim.
— Ande logo com isso. Eu vou trocar esses sapatos e já volto. — Ela
sai me deixando sozinha sentada no balcão.
Olho para Léa, que balança a cabeça e diz:
— Coma com paciência, Nina. Deixa sua mãe para lá.
— Como se eu pudesse fazer isso! — resmungo.
7

M inha cabeça está um ciclone de pensamentos. Esfrego meu


rosto sentado no banco de trás do carro e respiro fundo. Toda a
viagem de volta para Las Vegas não parei de pensar naqueles
olhos meigos e tão bonitos, e dentro de uma criança. Merda! Eu vou ter uma
conversa muito séria com Travis. Ele me disse que ela tinha vinte anos. Ela
pode ter no papel, mas a figura que Nina tem é de uma menina. Ela é uma
doce menina ingênua, virgem e maltratada.
Às vezes, a nossa idade não corresponde com o que vivemos. O que
realmente somos. E estava na cara que dela que não é bem tratada em casa,
que é muito jovem e não tem experiência. Acredito que nenhuma.
Como que puderam me dar a garantia de que ela será uma boa mãe
para minha filha? Eu mal consigo imaginar ela nua. Reivindicar sua boceta,
será uma tortura. Puta merda. Ela na minha cama parece errado.
Talvez eu me surpreenda. Espero que sim. Eu estou cansado e não
trabalho como antes e esse casamento é só por isso. Estou sendo a metade do
homem que sempre fui e preciso de ajuda com Sophia. Preciso de uma esposa
para ser a mãe da minha filha. Não pretendo nada com esse casamento além
disso.
E mesmo longe, agora fico com a imagem dela na cabeça. Os cabelos,
o rosto e mesmo que não tenha sorriso, mal tenha falado comigo e estava
consideravelmente nervosa, com medo ao meu lado quando eu entreguei a
aliança, eu vi o quanto era bonita e, caralho, ela lembra Mia de uma forma
que dói dentro de mim.
Loira, muito branca quase parecia pálida e doente, mas não era. E o
jeitinho dela. Delicada ao falar, mesmo com os pais babacas. A voz dela
baixa. Eu vou me sentir um velho com ela meu lado. Espero que a sensação
passe logo.
— Chegamos, senhor — Filippe informa.
Eu saio do carro, entrando logo em casa. porra! Vejo Marta dormindo
no sofá, a cabeça pendurada e uma flanela no ombro. Deve ter colocado
Sophia para dormir e acabou pegando no sono por aqui. São onze e meia da
noite agora. Ela deve estar cansada.
Vou até ela e encosto no seu ombro, acordando-a.
— Marta.
— Oh, senhor. — Desperta toda atrapalhada. — Me desculpa. Eu
devo ter pego no sono.
— Não precisa se desculpar. Está tudo bem
— A Sophia já está dormindo — ela explica levantando-se e ficando
na minha frente.
— Deixa comigo agora. Pode ir para casa. Peça para Filippe levá-la.
— Sim, senhor — assente concordando. — E o senhor, conheceu a
sua futura esposa?
— Conheci, sim.
Abre um sorriso cansado, porém feliz.
— Espero que tenha ocorrido tudo bem. Boa noite, senhor.
— Boa noite.
Espero ela se virar e seguir o caminho para os fundos da casa, e sigo
meu caminho.
Arrependido, cansado e com um peso maior do que eu realmente
posso carregar nas costas, subo e vou até o quarto da minha filha. Eu a vejo
dormindo agarrada ao ursinho que a Madeleine deu a ela. Sempre grudada
nesse cachorro de pelúcia.
— Oi, minha querida — digo baixo não querendo acordá-la.
Passei o dia inteiro longe dela e é incrível como eu sinto sua falta
quando estou longe. Tenho preocupação de ela se tornar uma pessoa triste ou
fria. Não quero que seja assim. Quero que ela seja forte, audaciosa e alegre. E
vou fazer de tudo para acontecer isso. Nina pode ter me assustado com sua
juventude, mas com certeza sua jovialidade será bem recebida por Sophia.
— Durma bem, princesa. Até mais.
Saio do quarto dela e caminho até o meu. Tomo um banho quente e
rápido, respondo Travis de que amanhã vou fazer os meus afazeres e estarei
ao seu lado para conversar sobre a retaliação aos mexicanos e a conversa com
os MCs. Respondo outras mensagens que mandaram enquanto estava no voo
e deixo o celular na cabeceira junto com minha arma. Encaro a babá
eletrônica que está do lado e rio.
Eu rio para a babá eletrônica, rio para a minha cama vazia, o espaço
vazio. E sinto como meu peito também estivesse vazio. Eu me sinto assim
todas as noites que apago as luzes e mais um dia se passa.
Jogo-me na cama e me cubro pensativo.
Vou me casar porque eu preciso, contudo, meu coração... ele foi
enterrado com Mia. Um homem da máfia não deveria se apaixonar porque
sua paixão se torna obsessão. E é muito perigosa. Nada que supere a lealdade
a nossa Famiglia pode ser bom.

— Eu percebi, pela sua voz ontem no telefone, que não estava feliz,
mas não achei que estivesse tão insatisfeito — Gregori fala sentado na minha
frente no meu escritório de casa depois que eu conto tudo sobre Nina.
— A garota é uma menina e os pais dela são uns babacas. Eu tive que
me segurar muitas vezes para não ceder ao meu impulso violento. O cara
tratava a menina como se fosse um lixo, nem parecia que era filha dele. Eu
jamais faria isso com Sophia.
— É porque você guarda um pouco de decência ainda.
— Pode ser isso ou não. Não estava certo falar com ela daquele jeito.
Faltou realmente pouco ontem para eu mandar Rocco Gatti calar a
boca. Ele tratava Nina horrível e eu sentia como ela estava com medo dele.
Provavelmente ela pensa assim de todos os homens. Que todos tratam as
pessoas, principalmente as mulheres, daquela forma. Mas nem a mãe dela
ficava longe do pai na forma de tratamento. Os dois se completam porque
maltratam a menina da mesma forma. Talvez Nina seja a válvula de escape
para eles deixarem de ser frustrados. Quantas pessoas não fazem isso na vida.
Abusam de outras pessoas para se sentirem satisfeitas na vida de merda que
tem.
— Eu pensei que você ia cancelar o casamento depois de tanta
reclamação no telefone.
Levanto o meu olhar para Gregori em um aviso silencioso.
— Mas aí você disse que deu a aliança.
— Se eu não confiasse tanto em você e precisasse no momento, eu ia
meter uma bala na sua cabeça.
Ele solta uma gargalhada e levanta-se.
— Você precisa relaxar. Talvez uma boceta nova vai fazer você ficar
feliz.
— Ela vai ser minha esposa. Olha o respeito.
— Ah, que isso. Todo mundo sabe que os homens velhos que se
casam com as menininhas ficam mais joviais. Talvez isso vai ser bom para
você tirar um pouco desse estresse.
— Gregori!
— Já estou indo — ele fala e sai do escritório.
Não tinha deixado de pensar isso. Não passou despercebido que a
idade dela seria boa para as eventuais noites que eu quiser foder.
Eu amava Mia, amava transar com ela. Nós nos satisfazíamos e muito
bem. Ela era perfeita, mas eu tenho que parar de me lembrar dela, dos
momentos com ela e nas vezes que a gente trepava nessa mesa do escritório.
Até acho que fiz minha filha por aqui mesmo.
Droga! Esquecer Mia vai ser muito difícil. Agora vai fazer oito
meses, assim como nossa filha completa oito meses dia dez de agosto. E a
dor que sinto parece que foi ontem que ela morreu.
Levantando-me, pego o meu paletó e visto, depois o meu sobretudo.
O clima está frio e não consigo entender. Estamos saindo do verão e indo
para o outono agora. Deve ser uma frente fria.
Chego na porta de casa e avisto Marta com Sophia no colo, que
resmunga suas palavras incompreensíveis. Decido ir até ela antes de sair.
— O que que ela está falando aí?
— Se eu conseguisse entender, senhor — Marta diz com um sorriso
doce. Um carinho de avó.
Não é porque um Homem de Honra é frio que não consegue
reconhecer sentimentos nos outros.
— Me dê ela um pouco — peço e Marta coloca minha filha nos meus
braços.
Faço carinho nas suas bochechas, na sua mãozinha que toca meu
rosto e nos seus cabelos, que estão crescendo loiros e macios. Assim como os
olhos azulados, ela é toda a mãe.
Talvez não só a minha futura esposa será o fantasma de Mia como
também a minha filha. Eu vou ter que aguentar para o resto da vida dois
retratos da mulher que eu me apaixonei sem nem perceber e nunca disse que
a amava.
Meu maior erro na vida não foi amá-la e deixá-la morrer, foi nunca
ter tido a competência de dizer o que eu sentia. Assim que minha filha
começar a entender, eu vou dizer o quanto eu a amo, porque eu amo a minha
filha. Espero que ela não só me respeite. O amor também é importante, talvez
mais forte do que quaisquer sentimentos.
Vendo o horário, eu deixo Sophia nos braços de Marta.
— Mantenha-a agasalhada. Está muito frio.
— Sim, senhor.
— Até mais — digo e sacudo a mão de Sophia, que grita.
Ela me deixa animado e feliz, mesmo por muitas vezes cansado.
Isto está no fim. Em breve, estará tudo melhor.

Como uma miragem, eu vejo Travis entrar no meu escritório no


MGM. Ele quase nunca vem aqui. Deixa essa responsabilidade para mim.
— Alguém me contou que você está nervoso, isso é verdade, Paolo?
— É verdade!
Balanço a cabeça e me levanto da minha cadeira, contorno a mesa e
fico de frente para ele.
— Você me disse que a menina tinha vinte anos, mas se esqueceu de
mencionar que ela tem cara de dezesseis.
Travis continua com seu rosto passivo e ignora-me, dá as costas e
senta-se em uma das poltronas perto do sofá, onde passei muitas noites
dormindo já que em casa não consigo.
Ele cruza as pernas e deixa os braços sobre os braços do sofá e diz:
— Você ainda queria que eu soubesse como a menina aparenta? Por
Deus, Paolo. Eu arrumei uma solução para você e agora está sendo ingrato.
— Eu não estou sendo ingrato — devolvo.
— Pretende anular o noivado?
— Nem se eu quisesse eu poderia já que entreguei a aliança.
— Então por que ainda estamos falando sobre esse assunto? Já
marcou a data do casamento?
— Vai ser dia quinze de agosto. Quis dar um tempo para a menina
pelo menos conseguir um vestido bonito. — Enfio as mãos nos bolsos
pausando. — Eu posso estar com pressa, mas é diferente para ela. Será seu
primeiro casamento. Eu não sou tão babaca assim.
— Eu sempre soube que você tinha um coração.
Balanço a cabeça, ignorando suas palavras e vou sentar-me na outra
poltrona e acendo um cigarro.
— Espero que você pare de fumar um pouco depois de se casar. Eu
não quero que você morra pelos inimigos e nem de câncer de pulmão, Paolo
— recrimina de cara amarrada.
— Agora você vai ficar ligando para isso?
— Eu sempre me importei com esse tipo de coisa. Não fode.
— Então por que não fala pro Luca parar de fumar? Por que você não
fala para ele parar de cheirar tanto? Eu posso morrer de câncer de pulmão e
ele de overdose.
Travis respira fundo e cerra a mandíbula, nitidamente irritado.
— Eu preciso que você tenha sanidade, para o Luca, nem tanto. E não
confunda você com Luca. Ele é para mim como um cão feroz que eu
mantenho na coleira deixando fumar carreiras de cocaína, agora com você,
não. Então não faça essa comparação. Eu, às vezes, mando ele parar de
cheirar, mas não sou a mãe dele, assim como não sou seu pai. E você nunca
me escutou sobre o cigarro, diminuiu há um tempo, mas desde que Mia
morreu você vive fumando.
Concordo com um aceno e dou uma tragada.
— O líder dos MCs de Chicago entrou em contato comigo — fala
calmamente, sem se alterar.
Franzo a testa ouvindo-o.
— Na verdade, ele me ligou essa madrugada.
— Ele entrou em contato com você? Isso é peculiar. E o que que ele
queria?
— Dar informações em troca de um contêiner de armas.
— Informações sobre o quê? O que temos a ver com Chicago?
— Vito Malvez — solta sua risada perversa. — As coisas não andam
muito bem por lá. O cara só anda fazendo merda e parece que Cassio não está
satisfeito com a forma como a sua Famiglia, a extensão da ‘Ndrangheta, está
sendo organizada.
— Seja mais específico sobre as merdas acontecendo por lá porque
em Las Vegas as coisas também desandaram no comando do seu pai.
— Você reclama que ultrapassamos as regras. Que eu não respeito as
tradições da família. Então imagina se a Bratva estivesse dentro da minha
casa, comendo na mesma mesa. Se irmãos pudessem ficar juntos, se os casais
não tivessem que honrar a data de casamento. É tudo uma balbúrdia que está
acontecendo na Blood Hands. O controle das drogas e das armas não existe
mais. O líder dos MCs falou que eles querem as armas porque os mexicanos,
os russos e até mesmo os japoneses, estão entrando em conflito pelo território
de Chicago.
— Então a Blood Hands está indo de mal a pior?
— Essa merda basicamente não existe mais. Está ficando sem
território e é óbvio que Cassio vai surpreender a todos e fazer alguma coisa
definitiva e monstruosa. E todos sabem que ele corta o mal pela raiz.
— Será que Vito não tem um plano para melhorar?
— Que plano, Paolo? Ele é o nosso inimigo direto, a Darkness não
quer saber dele e a Diabolos, não fede nem cheira nesse jogo. Está cada dia
mais perdendo espaço e cidades. A gente ainda vai chegar ao ponto de a
Diabolos ser distribuída em pedacinhos. Um pouco para cada Famiglia.
Serão menos italianos desonrados para nos preocupar. Talvez seja melhor
assim no futuro.
— O que você disse para o líder dos MCs?
— Que eu ia conversar com você e ver o que poderíamos fazer, mas
que não iria entrar numa guerra agora com Vito Malvez.
— Ele quis saber o porquê? — E concluo: — Porque eu também
quero saber.
— Eu disse que eu acabei de limpar a casa. — Dá seu sorriso de lado
insolente. — E que eu não quero um conflito agora. Não no momento; e se eu
entrar lá, vou matar o Vito da pior forma e não vai ficar bom. Afinal, eu
acabei de fazer um acordo com a Darkness, que é um acordo com o Cassio
D’Ângelo e não preciso brigar com ele agora. E as merdas que estão
acontecendo lá não estão afetando a gente, ainda. Na verdade, estão
favorecendo.
— Mas você vendeu as armas — afirmo e cerro os olhos.
— É claro que sim. Eu quero mais é que se matem.
— E outro motivo de você não querer entrar nessa briga é por causa
do seu filho, não é?
— É. — Muda a postura, partindo para a defesa. — Como disse a
você, eu quero que a gente consiga pelo maior tempo possível esconder a
existência do meu filho. Madeleine já é um alvo, antes mesmo de todo o
conflito com o Ivon. E agora os inimigos não precisam saber que ela está
grávida. Quase parindo, pra ser exato.
— Entendi e a gente pode resolver esse problema. E sobre os MCs,
não garanto que eles vão ficar quietos. Eles geralmente entram em contato
porque estão precisando e vão insistir. Você sabe disso.
— Eu sei, mas já dei meu ultimato. Não vou voltar atrás. — Algo
passa em sua mente. — E vou ligar para o Cassio, para dar a informação.
— Está querendo ser amiguinho dele?
— Melhor amigo de Cassio D’Ângelo do que inimigo. Se você pensa
que eu sou um lunático, que gosta de conflitos; um psicopata que gosta de
sangue; não sei qual seria a descrição exata para Cassio D’Ângelo.
Concordo balançando a cabeça e termino o cigarro. Realmente ter
uma briga indireta com a Darkness não é bom. Mesmo que Cassio seja o
Boss da ‘Ndrangheta e não o verdadeiro líder de Nova York, interfere e
muito Travis se envolver na briga com a Blood Hands.
— Será que Giovanni está sabendo?
— Eu acredito que sim. Chicago fica ao lado e eu vou dar a
informação para o Cassio mesmo sabendo que o filho já falou com ele.
— Com certeza será bom mostrar sua lealdade a Cassio.
Ele assente e se levanta.
— Estou indo para o Balcão e depois para casa. — Ajeita os botões
do paletó. — Madeleine anda com contrações. Passe depois no Bellagio e no
Mood-Night. Teve algum problema por lá. Veja o que houve.
Levanto-me também.
— Pode deixar.
Sem dizer mais nada, me dá as costas e sai da mesma forma que
surgiu aqui: como um fantasma. Com tantos inimigos, o Capo precisa ser
mais rápido que sua sombra, que no caso se torna eu. Eu sou a sombra do
chefe.
8

E u estou nervosa desde a hora que acordei. Não consigo tirar da


mente que amanhã é o meu casamento. O tempo passou muito
rápido e basicamente nem senti, mesmo minha mãe me forçando a
estar presente em todos os preparativos do casamento – embora não pudesse
opinar em nada.
Era como se eu não estivesse no ambiente: na sala vendo revistas de
noiva, na loja de vestido. O corpo que experimentou o vestido
definitivamente não foi o meu.
Mas eu preciso erguer a cabeça e pedir a Deus que tudo dê certo. Não
pode ser tão ruim quanto a vida que já levo. Vou fazer o que Léa me disse.
Vou fazer valer a pena.
Até li uns livros de bebês porque, pelo que eu entendi, a filha de
Paolo é pequena. Só que ninguém me deu uma informação exata. Não sei
quantos anos ela tem. Isso me irrita porque eu vou ser a madrasta dela. E eu
poderia ter um pouco mais de informação. Queria poder comprar um presente
para ela, qualquer coisa para a gente fazer uma amizade. Mas mamãe nem
liga sobre isso, nem pergunta. Não questiona e nem chega para mim e fala:
“Querida, você está preocupada de cuidar de uma menina que não é sua
filha?” ou “Querida, você quer um conselho de mãe?”.
Definitivamente, meus pais eram para ter cachorros ou gatos, não
filhos.
— Está de cara feia de novo? — mamãe pergunta entrando no meu
quarto.
Viro-me para ela, ainda sentada em minha cama, e respondo:
— Eu só acordei agora. — Não que isso seja mentira.
Acordei há uns vinte minutos e fiquei olhando para o teto, depois me
virei e encarei meu abajur cor-de-rosa e virei para o lado, para as portas da
varanda.
Parece que a minha cabeça vai explodir de pensamentos e dúvidas.
Estou agoniada e com medo. Eu me sinto muito sozinha e, mesmo que Paolo
tenha demonstrado que não será muito acessível, talvez a filha dele seja e os
nossos futuros filhos também.
Meu Deus. Filhos! Esse futuro pode estar muito perto agora que eu
vou me casar.
Será que ele vai querer ter um filho comigo? Ter mais um filho sendo
que já tem uma idade um pouco avançada. Meu pai e minha mãe tentaram ter
outro bebê depois de mim, tentando diminuir um pouco o desgosto e a
vergonha por eu ser menina, mas então papai desistiu quando fez quarenta
anos.
— Se levante e vista uma roupa bonita. Vamos para Las Vegas em
trinta minutos.
— Mas... eu não iria só amanhã de manhã?
— Acho melhor você chegar lá hoje para termos mais tempo de
cuidar de você e fazer o penteado.
— Tudo bem, então.
— Todas as suas coisas de noiva já estão no carro e sua mudança já
foi desembarcada mais cedo. No seu armário agora só resta a roupa para ir
embora.
Franzo a testa sem entender.
— Mas tem um monte de roupa no meu armário ainda.
— Suas roupas infantis? — pergunta mal-humorada e solta uma
gargalhada. — Você não vai levar isso nem sobre o meu cadáver, Nina. Você
não é mais uma menina para ficar usando aquilo e pare de ficar mordendo o
lábio e fazer maria-chiquinha. Você quer que seu marido a veja como uma
criança?
Ele já me chama de criança – penso de cabeça baixa.
— Responde! Eu estou falando com você. — Ela chega mais perto e
levanta meu rosto segurando meu queixo com suas unhas finas e a mão
gelada. — Você quer que ele a veja como uma criança?
— Não, senhora.
— Então pronto. — Ela me solta, vira as costas e caminha decidida
até a porta do meu quarto para ir embora. — Coloque a roupa que eu deixei
para você vestir no armário e deixa as outras ali. Se você pegar qualquer uma,
eu vou queimar na sua frente.
— Está bem, mamãe.
Eu a espero sair e fechar a porta, para deixar meu corpo cair na cama
e colocar um travesseiro no meu rosto enquanto grito de desespero e choro.
Esse inferno está acabando, Nina.
Talvez eu seja feliz com Paolo. Eu vou fazer de tudo para ser feliz em
Las Vegas. Não aguento mais sofrer, ser maltratada, escorraçada e
humilhada. Eu vou esquecer meus pais quando chegar em Las Vegas. Minha
vida nova começa amanhã. Mesmo incerta, é nova. Eu posso fazer valer a
pena.
9

N nunca fiquei congelado na minha vida. Em nenhuma ação que já


fiz, seja qual for, sempre sou rápido e atento. Não paro para
pensar quando estou em ação, diferente de quando estou
pensando nas estratégias.
Agora estou em ação porque o momento de planejar, foi três semanas
atrás, quando fui até a casa de Rocco Gatti e lhe informei que aceitei sua filha
como minha nova esposa. Que eu dei a aliança para Nina. Quando já tinha
afirmado o casamento com outra mulher e, porra, aqui estou eu parado,
apenas respirando e encarando a porta do quarto de hotel.
O casamento tinha que ser pelo menos memorável para Nina. Eu
posso ser um canalha em jurar internamente que nunca vou amá-la, porque é
muito difícil esquecer minha ex-esposa. Mas não era justo fazer um
casamento simples.
Solto a respiração e depois de girar pela milionésima vez o anel... a
minha antiga aliança no meu dedo, eu retiro e deixo sobre o aparador que fica
no corredor da porta.
O único que tem noção de como realmente eu estou é Gregori. Na
verdade, ele entende mais ou menos o que se passa na minha cabeça. Os
outros soldados e membros da Famiglia pensam que estou mais retraído por
raiva, querendo vingança pela morte da minha esposa.
Posso ainda estar com sede de sangue, mesmo que já tenha me
vingado dos principais. Peguei todos que pude menos o desgraçado que
apertou o gatilho. Esse ainda não me conheceu.
Virando-me para o espelho, ajeito minha gravata e meu paletó. As
aparências precisam ser mantidas e vou continuar sendo um homem frio e
calculista. O braço direito do meu Capo, o pai protetor da minha filha.
Conferindo meus bolsos com uma faca pequena e a aliança, eu saio
do quarto. Dou de cara com Filippe, que está comigo desde que mandei
Gregori ficar com Sophia.
Pego o caminho para o elevador e ele fala:
— Me informaram que a garota está pronta para descer.
— Quem está com ela?
— O guarda-costas dela. Um tal de Alcide.
— Por que não é nenhum dos nossos? Messi estava disponível.
Esse tinha acabado de fazer o juramento da Lawless e não tinha sido
designado para ninguém. Poderia vigiar Nina.
— O pai dela não permitiu.
Solto um som resmungo alto e aperto com força demais o botão do
elevador.
— Como se aquele gordo babaca desse a mínima para a filha.
Filippe baixa a cabeça, mas vejo quando sorri. Deve ter ouvido algo
ou visto. Eu juro que se eu pegar Rocco ou a esposa, que não fiz questão
alguma de saber o nome, tratando Nina mal de novo na minha frente, eu vou
comprar uma guerra com Travis, mas estou pouco me fodendo. Ele vai
aprender a falar com a minha esposa direito.
Chego no hall do salão de festa 1 do hotel e ando sem pressa até o
altar que armaram no fim do espaço. Ainda está vazio, os convidados estão
aguardando no salão que ocorrerá a festa, esse é para a cerimônia. Está tudo
arrumado com um gosto que não parece de uma jovem mulher. Cores muito
escuras e sem graça. Nina tinha um ar tão elegante e sofisticado, mas
moderno. Ela não escolheria copos de leite e marfim para o casamento.
— Está tudo do seu gosto, Paolo?
Escuto a voz atrás de mim e me viro para ver a mãe de Nina.
— Foi Nina que escolheu?
— É... é...
— Eu dei três semanas e reservei este salão para fazer um casamento
para ela.
— E foi ela que escolheu.
Mentira não é a melhor arma que uma mulher sabe usar. E essa
mulher é intragável.
— Que seja. Vou para o meu lugar. — Com isso espero que ela tenha
entendido que precisa ir para o lugar dela, sentada em frente ao altar e calada.
O casamento não é dela.
Parado no meu lugar, aprumo a postura vendo as portas se abrirem e
vendo os convidados entrarem e pegarem seus lugares no salão, que não terá
muitos convidados.
Eu espero todos os convidados entrarem. Meus pais, que não parecem
felizes. Alguns soldados com suas esposas e filhos de Las Vegas e Seattle, os
mais próximos obviamente. O Underboss de Denver, que veio porque fui
naquele encontro peculiar de Travis. Ele veio porque sabe que sou o único
que pode tentar barganhar as decisões do Capo. O Underboss de Reno e de
Carson City, o próprio Boss, Vincenzo Lozartan não veio.
Enzo veio com a mãe e a irmã. Luca está em missão no casamento,
não convidado e outros soldados também. Os Consiglieres de Rocco e
Orazio, que veio com a família. Ele tem umas dívidas comigo e nada mais
justo vir ao meu casamento.
Franzo a testa impressionado, e não é fácil me deixar surpreso, vendo
entrar no salão Amândio D’Ângelo, que comparece ao casamento. Ele está
representando a Darkness. Agora ele que aparece em todos os eventos para
representar a Darkness. Giovanni não comparece em mais nada.
Logo todos os lugares estão ocupados e completa com Travis, que
chega um pouco atrasado com Madeleine. Ela nem era para estar aqui. Não
precisava ter vindo, mas veio e chega até a mim, aperta a minha mão. Sempre
quebrando os protocolos.
— Eu só vim porque queria ver você tentar ser feliz de novo.
— Eu não posso te prometer nada, senhora.
— Não fala assim comigo — reclama com um sorriso.
— Tudo bem.
— Onde está a Sophia? — pergunta toda feliz, com os olhos
brilhando. Eu não poderia ter escolhido uma madrinha melhor.
— Está ali com a Marta.
— Eu vou ficar um pouquinho com a minha afilhada.
— Fique à vontade.
Sorrindo, faz um cumprimento e se afasta. Travis aperta minha mão,
sem dizer nada e segue a esposa. Não tem outra pessoa mais feroz para
protegê-la do que ele.
Mais uma vez, eu ajeito meu paletó e olho meus sapatos. Respiro
fundo e então a música começa. Ergo minha cabeça e fito as portas do salão.
Minha nossa! Ela está linda e não é porque não sinto nada por ela e é
um casamento estratégico, que não posso me sentir atraído. Eu vou precisar
dormir com essa mulher.
Nina está muito bonita, embora eu não goste muito do vestido. Está
aparecendo muito o decote, chega a ser indecente, que é segurado por duas
finas listras que não posso chamar de alça. Tem muito strass e a saia é colada
no corpo. Ela não parece confortável e não tem nada a ver em se casar com
alguém sem amor. Não tem nada a ver por ser um casamento estratégico.
Nunca erro no que penso e tenho quase certeza de que foi a mãe dela
que arrumou tudo e não deixou a menina optar em nada. É ridículo o buquê
que ela segura. Copo-de-leite? Horroroso é pouco!
A melodia matrimonial pega um ritmo mais acelerado, o que faz Nina
colocar-se em movimento. Mesmo de longe, eu consigo ver o pai dela
apertando seu braço. Ele estava a fim de tomar uma facada no meio da
jugular dele.
Quando ela está muito perto de mim, baixa os olhos de novo para o
chão. Eu chego perto, pego sua mão e dou um aperto de leve, para ver se ela
levanta a cabeça e olha para mim. Ela faz e o que eu enxergo em seus olhos
me traz uma fúria. É medo e timidez.
Mia me olhou quase assim no dia do nosso casamento, mas não era
tão horrorizada. Talvez porque seus pais eram bons. Eu poderia contar com
eles para cuidar da minha filha se não estivessem mortos.
E de novo Mia preenche meus pensamentos. Eu tenho que arrumar
um jeito de parar de fazer isso.
Será que a minha nova e jovem esposa conseguirá apagar Mia?
10

E u não tinha escolhido nada para o meu casamento. Nem o buquê de


flores, o penteado e muito menos o vestido. E entrando na igreja de
cabeça baixa e encarando minhas unhas feitas pintadas de
vermelho, que detestei, fico me perguntando se esse casamento é meu ou da
minha mãe?
Todavia, estou tão desesperada para que eu possa me livrar dos meus
pais, que aceito qualquer coisa. Aceitaria até minha mãe pendurar um bode na
minha cabeça. Eu aceitaria qualquer coisa para me casar logo e morar bem
longe dela.
Deus! Ainda bem que Seattle não fica do lado de Las Vegas para ela
não ficar vindo me visitar, para fingir interesse na minha vida.
Ela nunca esteve interessada em mim. A não ser quando me obrigava
a ir aos eventos da Famiglia, para mostrar status. Sua proximidade sempre foi
por algum motivo, menos por interesse genuíno pela minha vida, como uma
mãe comum. Eu não precisava que ela me amasse, mas, como minha mãe, me
desse um pouquinho de valor real.
Com a marcha nupcial, eu caminho até o altar, para encontrar Paolo
depois que papai aperta o meu braço, me chamando atenção.
— Olha para a frente e mostre respeito. Não me faça passar vergonha
agora, Nina. Não é o momento para as suas gracinhas.
Nada digo e continuo a minha caminhada.
Na frente do altar, Paolo logo chega perto de mim e segura minha
mão, e dá um aperto de leve. Não é igual ao que papai fez. Não me machuca.
Eu olho para ele e não sei exatamente como me comportar. Eu não
estava nervosa até ontem. Talvez seja a presença do meu pai tão perto de
mim.
A única vez que papai ficou do meu lado assim, foi quando dançou na
minha festa de dezoito anos. Geralmente ele é muito distante e frio. E ele
estar agora com o braço cruzado comigo, eu estou quase implorando para o
meu... marido me puxar para os seus braços. Para me livrar do meu pai e da
minha mãe.
— Espero que você seja feliz, Paolo. Minha filha é uma moça muito
prendada e educada.
Paolo olha para ele por um longo tempo sem dizer nada.
— Vou fazer o meu melhor. — Então eu estou nos seus braços.
Solto um suspiro. Dessa vez, o meu braço está cruzado com o do meu
marido... meu futuro marido. Que seja! Daqui a alguns minutos vai ser meu
marido mesmo. Não preciso ficar me corrigindo.
Paolo me guia até o altar tão bonito, porém sem vida. Enquanto
escuto o padre começar a cerimônia, olho um pouco melhor para Paolo.
Ele está penteado. Cortou os cabelos, dá pra ver porque as laterais
estão mais para dentro. A barba feita e muito cheiroso. Ele tem cheiro de
couro, sabonete e, claro, o aroma do cigarro. Eu notei que ele fuma quando
foi me visitar há três semanas.
E ele está de branco. Sério?!
Como um homem que tem a dureza no andar, a amargura na voz, a
violência nos olhos e sangue nas mãos, se casa de branco? Paolo é um
enigma como qualquer homem da máfia, porém ele é o mais profundo. Só
não sei o quanto.
Ele me assusta. Me causa calafrio. Sua distância me incomoda. Em
seus olhos enxergo apenas a placa de: mantenha distância. Até quando?
Não sei se mamãe e papai vão realmente ficar satisfeitos com esse
casamento, ou talvez não se importem de ele ser um monstro no fim das
contas.
Eu ganhei uma vida totalmente nova e enquanto escuto o padre falar,
rezo para que não seja um pesadelo. Que o meu marido, este homem frio ao
meu lado, não se transforme no meu maior medo. No monstro que fica
embaixo da cama de muitas meninas. Comigo ele dividirá a cama.
As palavras do padre voam no passar dos segundos e eu não pareço
estar presente. E logo chega o momento do juramento, que fazemos com
sangue. Quase suja meu vestido. Trocamos as alianças e o padre declara:
— Marido e esposa. Pode beijar a noiva.
O frio na barriga vem forte e prendo a respiração. Paolo fixa seus
olhos cinzas e penetrantes nos meus, fica muito perto e segura meu rosto com
as duas mãos. Eu prefiro fechar os olhos e esperar seus lábios tocarem os
meus, que acontece. Acontece muito rápido e sem vida. É meu primeiro
beijo.
11

F oram mais de dez anos beijando uma única mulher. Foram mais de
dez anos tendo Mia ao meu lado, sendo minha companheira, a minha
esposa. E eu não estive com mais ninguém depois que ela morreu
nos oito meses, que parece que fiquei parado no tempo. Que não dei tudo de
mim em lugar algum. Eu não servi para nada nesse tempo e me esgotei. Esse
casamento é para me salvar de enlouquecer e perder meu posto como
conselheiro e ter uma filha fraca.
Nos oitos meses, eu não pensei em ter outra mulher, nem mesmo para
diminuir meu estresse.
E beijar Nina agora foi surpreendentemente bom.
Seus lábios... são macios e doces e virgens. Lábios nunca tocados. Eu
me sinto um sortudo filho da puta porque ela me atrai, mas não posso ceder.
É como se quebrasse o juramento que eu fiz a Mia. Até que a morte nos
separe. Esse casamento é para Sophia. Para eu manter as aparências.
Caminhando com ela para o salão de festa, fico com os pensamentos
no beijo. Foi um beijo, é fácil de fazer e fácil de dar. É rápido, mas eu vou ter
que manchar os lençóis com o sangue dela quando tirar sua virgindade.
Merda! Mil vezes merda!
Não tem como eu não fazer essa tradição. Eu mesmo cobro tanto de
Travis para respeitar as tradições da Famiglia, então como eu posso chegar e
dizer que não vou fazer a tradição dos lençóis de sangue. Uma tradição mais
antiga do que meus pais.
Irei me sentir um estuprador fazendo isso. Ela pode me atrair, é uma
menina jovem, bonita e com tudo em cima. Os peitos são bonitos, estão
empinados e cheios. Ela ainda tem vinte anos, está na flor da idade. Intocada
como uma flor que acabou de desabrochar. Eu sou uma flor murchando.
Duvido que ela vai querer transar comigo depois de hoje à noite, que
é uma obrigação. Eu espero que ela saiba que devemos consumar o
casamento neste hotel e em poucas horas, e depois apresentar os lençóis.
Poderia ser pela manhã como geralmente os casais fazem, todavia eu
recusei e programei para ser hoje a noite tudo.
É, está certo que vou cumprir com minha obrigação e vou fazer com
que tudo seja muito rápido. Eu quero terminar essa festa e ir para casa, tenho
uma filha pequena. Não posso ficar de palhaçada na rua.
Se eu não posso cuidar da minha filha para cuidar dos negócios, não
posso ficar festejando meu casamento arranjado e a mancha dos lençóis com
o sangue da virgindade da minha nova esposa. Nova demais.
Enquanto eu a faço se sentar no seu lugar, percebo que em seus olhos
tem uma dúvida me perguntando se eu também vou me sentar. Encosto em
suas costas, sentindo a sua pele macia. Um calafrio percorre seu corpo e não
sei se é de frio ou outra coisa. Será medo de eu tocá-la? Se for, vai ser difícil
manchar os lençóis. Porra!
— Eu vou fumar e já volto.
— Tudo bem — murmura acanhada.
— Coma um pouco. Você não parece ter comido.
— Eu estou bem.
— Você que sabe — digo e me afasto.
Vou para o lado de fora, para a varanda do salão. Pego um cigarro e
acendo e na penumbra da noite com poucas luzes para romantizar o ambiente
do casamento, a chama do cigarro é um alaranjado na minha cara.
— O que você está fazendo aqui fora?
Termino de tragar e olho para o lado, dando de cara com Colen.
— O que você está fazendo aqui?
— É o seu casamento e eu jamais perderia — responde com
simplicidade e seus olhos me registram de cima a baixo. — Você não parece
estar muito satisfeito. Porra, Paolo! A garota é bonita, por que não está feliz?
Vai ter uma bocetinha apertada e virgem hoje à noite.
Cerro a mandíbula, puto.
— Eu não sei por que está com essa cara de comeu e não gostou. —
Colen dá uma risada. — Na verdade, não tem como você estar com cara de
comeu e não gostou, já que não comeu ainda.
— Colen, o meu limite não é muito grande.
Ele estende a mão, pedindo um cigarro e lhe dou. ele acende e nós
dois tragamos juntos e soltamos. A fumaça dele faz três círculos no ar.
Sempre fazendo graça com tudo.
— Eu sei que o meu irmão obrigou você a se casar — começa,
olhando para longe — e que você está contrariado. É muito nítido, Paolo.
Esse casamento vai ser bom para você. Embora ainda sinta falta da sua
primeira esposa, o tempo sempre apaga os momentos.
Encaro seu perfil e não digo nada. Não querendo cortar o seu
momento de desabafo. Ele está distante e pensativo.
— Tem algo que você queira me falar, Colen.
— Nada demais.
— Tem certeza? — insisto.
— Só se você puder me responder com sinceridade também. — Ele
vira o corpo para mim e respira fundo.
— É verdade que Cássio está de olho em nós?
Jogo meu cigarro no chão e termino de apagar.
— Está falando sobre Cássio D’Ângelo estar de olho em todos nós
em questão das vezes que seu irmão quebrou as tradições? Se for isso, sim
está e até porque nós fizemos uma aliança com a Darkness e precisamos
honrar a Cosa Nostra e a ‘Ndrangheta. Você sabe como elas são mais
rigorosas sobre as tradições.
— É, eu sei.
— Agora, me fala por que isso? Por que esse assunto? Você fez
alguma coisa que quebre as regras, Colen?
— É só porque isso não me cheira bem.
Ele não me convenceu, mas prefiro que o tempo me responda. Colen
não é muito bom com as palavras e sim com ações, não nas dele e sim de
qualquer pessoa que precise da sua presença.
— E você, por que não está satisfeito com o casamento? A Nina
realmente é uma mulher bonita. Não é tão mais nova que você. Tem vinte
anos. Pior se tivesse dezoito. Ia ser bem pior. É bom pegar uma virgem de
vez em quando e, com certeza, se você é tão rigoroso com nossas tradições,
não deixará de cumprir uma das mais nojentas, porém necessárias, inclusive
em um casamento estratégico.
— Sim, eu sei e não vou deixar de fazer, embora, como você disse:
Me causa repulsa.
— Mas não tem como abrir mão. É a única garantia de que o
casamento vai prosseguir. — Faz uma expressão engraçada. — Já pensou...
duas famílias fazem um acordo de um casamento e a filha se casa e vai
dormir com o novo marido, mas no dia seguinte o cara anula o casamento
porque não gostou da mulher. Essa garantia é mais para a mulher do que para
o homem, apesar de fazê-las passarem vergonha. É a única forma, a única
assinatura real, entre um acordo de sangue. Um acordo de casamento
arranjado.
— Eu sei disso, Colen.
— Então, larga dessa carranca e vai dançar com a sua esposa.
Aproveite ela um pouco e... — torce a boca com nojo — foi o beijo mais sem
graça que eu já vi em todos os casamentos da Famiglia.
Aperto seu ombro para calar a boca, mas aprecio sua presença.
— Apesar de tudo, eu estou satisfeito, se você quer saber. Eu pareço
ter livrado a menina de dois monstros. — Mesmo que eu seja um – completo
meus pensamentos.
— Está falando do Rocco Gatti? Ele sempre foi um babaca e eu não o
matei porque meu irmão não permite, mas ele é muito cruel com seus
soldados. O filho dele, você acha que o garoto está na Itália por quê. Por que
preferiu ser treinado por estranhos do que pelo pai? É claro que não, ele se
refugiou na Itália.
— A Sicília sempre é o nosso berço.
Colen dá uma gargalhada e bate no meu ombro.
— Eu desejo que você seja pelo menos tranquilo, não posso estimar
que você encontre a felicidade, mas talvez a tranquilidade, Paolo. Eu gosto de
você com os olhos no presente, não no passado e você precisa estar aqui.
Ele se afasta e me deixa com meus pensamentos. Eu posso ser o
Consigliere do Travis, mas se algo acontecesse comigo, tenho certeza de que
Colen seria um perfeito conselheiro para o irmão.
12

U m tempo depois, Paolo volta para a nossa mesa, onde tive uma
conversa amigável e legal com Madeleine, a esposa do Capo, que
também está na mesa, mas não está. Travis Lozartan ficou recluso
conversando com alguns homens ao longe. Assim como meu marido, que foi
para fora.
Com os olhos baixos, vejo-o se sentar no seu lugar e pegar uma taça
de champanhe quando o garçom passa. Ele bebe todo o líquido de uma vez.
— Você comeu? — Paolo pergunta olhando para o meu prato e a taça
de vinho cheia.
Na verdade, não. Meu estômago está revirado com o nervosismo de
ter que sair daqui e ir para a casa dele para sempre. Na máfia, o fim dos
casamentos é apenas a morte. Não tem outra opção. E não sei por que estou
pensando isso. Ficar no meio dos leões muda tudo.
— Não estou com fome.
Ele limpa a garganta, fita meu prato de novo e depois seus olhos
encontram os meus.
— Seria bom comer. Não quero que você passe mal. — Chega o rosto
mais perto do meu e murmura: — Também não estou feliz, mas você não me
verá ficar bêbado para compensar isso. Então, coma!
É uma ordem. E eu aceito. Qual a outra escolha? Acontecer o que ele
acha terrível e eu ser punida em casa. Melhor não. Nunca gostei de apanhar e
não será dele que vou aceitar.
Papai não me batia diretamente, ele fazia o típico pai que mandava a
mãe fazer o trabalho de punir, e tanto faz. Eu não gostava de apanhar, nem de
leve e nem forte, mas aguentava em silêncio e, principalmente, quando
desrespeitava as regras. Céus! Eu cresci cercada de tantas regras que me
questionava se respirava da forma como papai achava aceitável.
Mesmo assim, eu cresci forte e complacente. Eu sou a filha do meu
pai e se me tornasse fraca seria uma desonra por tudo o que ele representa em
Seattle como Subchefe de Travis. Eu não posso quebrar justamente essa
regra: a de esposa perfeita. Ele mandou eu respeitar e honrar meu marido.
— Deixe esse prato aqui. — Escuto Paolo e viro-me para ver. —
Coma! — ele ordena colocando o prato na minha frente e eu encaro o
macarrão ao molho branco.
Assinto e pego os talheres, encho a primeira garfada e o vejo comer
também. Ele olha de soslaio para mim e sorrio de canto de boca. Quero ser
agradável, fazer valer a pena.
— Está bom — comento.
— Você está com fome, por isso acha que está bom.
Solto uma risada e tampo a boca correndo para não ser deselegante.
Não antes de capturar os olhos de Paolo arregalados. Ele parece surpreso. Por
que eu ri?
13

S eu riso resgatou algo dentro de mim, que não sei o que foi. Alguns
meses atrás, eu pensei que ela nunca sorriria perto de mim e gostei
dela se permitir relaxar ao ponto de rir de algo que eu disse. Rir de verdade.
Mesmo eu dificultando as coisas.
Nós terminamos de comer em silêncio e eu peço uma taça de vinho
para ela e uma para mim depois que comemos. Quando estou relaxando do
seu lado e percebendo que ela também não está mais nervosa, o mestre de
cerimônia comunica que está no momento da dança dos noivos.
Eu me levanto, abotoo meu paletó de volta e estendo a mão.
— Vamos dançar?
Ela concorda com um aceno, aceita minha mão e se levanta. Seu olhar
está compassivo. Eu realmente esperava que se encolhesse na minha presença
às vezes, porém ainda bem que isso é bem distante do que ela faz.
Eu a guio até o meio do salão para podermos fazer a nossa dança, e
forço os pensamentos a ficarem trancafiados em algum lugar obscuro em
minha mente. Não quero ficar pensando na primeira dança que tive com Mia
ou na última, que foi num casamento da Famiglia.
Coloco minha mão na sua lombar e a outra junto com sua mão direita.
Tudo que nos resta enquanto dançamos é a música diante do silêncio que se
estabelece entre nós.
Olhando para os seus cabelos, ignorando a semelhança com minha
falecida esposa, tudo aquilo que Colen acabou de falar para mim e até mesmo
Gregori, martela na minha cabeça, pois eu preciso que tenhamos um bom
convívio como marido e mulher. Não tive ainda um filho homem e
provavelmente muitos esperam que ela me dê esse filho, ou mais filhos. Não
importa, se for outra menina, eu vou amá-la do mesmo jeito. Eu sempre vou
adorar todos os meus filhos.
Continuamos dançando por uma segunda música e uma força maior
do que eu pede para ela erguer o rosto e olhar para mim.
— Você está muito infeliz?
— O que você quer dizer?
— Com esse casamento. Você está muito infeliz?
A surpresa em seus olhos é brilhante. Ela chega a arregalar seus olhos
e depois franze a testa.
— Eu não tive escolha, Paolo, e seria muito mal-educada se falasse
que estou infeliz. Embora não tenha sido planejado, até agora você não me
tratou mal.
— E eu não pretendo fazer. Não vou lhe prometer nada além de
respeito e companhia. E assim eu quero sua lealdade e que cuide da minha
filha.
— Eu vou cuidar dela e... — Prende a vontade de rir mordendo seus
lábios doces e macios. — Eu adoraria conhecê-la.
Ela é uma ninfeta fazendo esse gesto e, por pouco, não me esqueço
dos protocolos, e a beijo bem agora.
O que está acontecendo comigo?
— Ela já foi embora para casa — replico retomando meu raciocínio.
— Você vai conhecê-la mais tarde.
— Tudo bem — ela assente.
— Daqui a pouco, depois que você dançar com seu pai e o meu pai e
o Capo, nós iremos subir para finalizar a cerimônia.
Seus olhos arregalam, agora de pavor.
Ela sabe do que estou falando e isso me dá um certo alívio. Iria
detestar ter que explicar para ela o que acontece nos casamentos, ou nos
quartos depois do casamento.
— Não fique com medo. Isso só piora as coisas.
Ela nada diz, apenas concorda balançando a cabeça mais uma vez.
— Agora é a minha vez de dançar. — O pai dela aparece, nos
interrompendo.
Dando um olhar protetor a Nina, eu me afasto e vou dançar com a
mãe dela.
Não troco uma palavra com ela, porque é uma mulher intragável. Eu a
cumprimento, dançamos e depois me afasto. Danço com minha mãe e
Madeleine, enquanto Nina dança com Travis.
— Faça valer a pena, Paolo — Madeleine fala e eu viro meu rosto
para ela. Com Travis, eu não preciso me preocupar em deixar Nina.
— Ela parece ser uma boa menina e educada. E, acima de tudo,
complacente. É raro ter meninas assim.
— O problema é esse, Madeleine. Ela é uma menina e isso me
incomoda.
— O tempo vai fazer essa impressão passar. — Abre um sorriso
suave. — Olha que estranho, Travis e eu somos quase dez anos de diferença,
e nós nunca tivemos essa conversa. — Franze a testa como se lembrasse de
algo. — Não sentimos a distância das nossas idades em nenhum momento
porque nos conhecemos, curtimos a mesma coisa e compartilhamos
momentos. Acredito que, quando a gente se abre, as coisas acontecem.
— Eu espero que você tenha razão.
— Acho que, dessa vez, você vai ter que dar o braço a torcer para
mim — diz fingindo soberba, e fica séria. — Eu espero de verdade que você
fique mais calmo e que, talvez, encontre a felicidade. Eu não quero que você
esqueça a Mia, talvez isso nunca vá acontecer, Paolo. — Faz uma pausa. —
Mas você pode ser feliz de novo com a Nina e eu sei que você era feliz com
sua esposa. Você sorriu e a tratou bem quando eu nunca vi você fazer isso
com ninguém, a não ser com Marinne. Eu sei que esse seu coração de gelo
não está todo congelado, então tente.
— Você tem o mesmo ar de persuasão do Travis.
Ela deixa escapar uma risada relaxada e feliz.
— E é por isso que eu sou a esposa dele.
— É por isso que todo mundo chama você agora de “O Capo de
saia”.
Ela ri, mais uma vez, e se afasta quando a música acaba.
— Então, o seu Capo está pedindo para você tentar ser feliz dentro de
casa — enfatiza a palavra casa. — Ninguém precisa saber. — Pisca o olho e
se vira para ir até Travis.
Minha esposa está nos meus braços, mais uma vez, e ela me dá um
sorriso tímido. Mas logo some quando todos gritam para que eu tire a liga.
Eu faço, tentando não encostar muito na sua pele. É sacanagem. Não quero
assustá-la.
— Lençóis! Lençóis!
Nina franze a testa porque sabe o que eles querem dizer e eu aperto
sua mão.
Eu aceitei me casar com uma mulher nova, quando todas as vezes que
fecho os olhos enxergo minha ex-esposa. Homem de honra só jura a
verdadeira lealdade a Lawless e ao seu Clã nada mais. O que é um
passatempo e uma forma de garantir que seu sobrenome se estenda por
muitos anos quando os filhos carregam seus nomes. Não temos piedade e
nossas morais são bem contraditórias, sobre esperar o casamento, quando
fazemos coisas tão bárbaras. Porém para mim, consumar este casamento será
uma tortura.
— Está na hora. Vamos subir?
Novamente ela apenas concorda com a cabeça. Eu espero que ela pare
com isso. Quero ouvir sua voz, não só suas expressões de obediência.
14

N ão é porque sou virgem que nunca ouvi as histórias sobre as


primeiras noites dos casais, marido e mulher. Que as mulheres eram
colocadas de cara no colchão e os maridos batiam nelas até o fundo. Nunca
entendia essa parte, mas se sangra, é porque não é uma coisa boa.
O elevador para no andar do quarto e Paolo me empurra de leve, com
sua mão na minha lombar, para fora. Não como se eu não fosse andar. O
problema são meus pés que congelaram.
— Qual o problema? — pergunta assim que estamos no corredor e o
segurança dele se afastou de nós.
— É... — Olho para os meus pés.
— Seus sapatos estão incomodando?
— Não! — Olho para ele. — É que não estou acostumada a andar de
saltos.
— Uhum... — Está na cara que não acreditou na minha mentira.
Chegamos à porta do quarto, espero ele passar a chave e abrir espaço
para eu entrar.
— Fique aqui fora. Vigie o corredor.
— Sim, senhor.
Ele fecha a porta e, quando se vira, esbarra em mim.
— O quê? — diz surpreso e agarrando meus ombros para eu não cair.
— Ele vai ficar ali enquanto nós estamos aqui dentro?
— O quê? — repete e me solta.
Cambaleio para trás e seguro a respiração.
— Filippe não vai ouvir nada. Quer dizer... — Ele se atrapalha
também e anda para a parte que parece uma sala.
Eu vou atrás dele e o vejo tirar o paletó e a gravata, que joga no canto.
Ele está com um dos coletes que comporta armas como meu irmão usava, só
que ao invés de ter armas, tem duas pequenas facas. E eu o vejo tirar esse
colete também e parar de repente. Se vira para mim e franze a testa.
— Qual o problema agora? Já falei que Filippe não vai fazer nada.
Balanço a cabeça que sim.
— Nina — resmunga, fechando os olhos e chega até a mim. Segura
meu rosto e fita meus olhos. — Fale! Abra essa boca de vez em quando. Eu
não estou acostumado com esse silêncio todo. Essa obediência toda. Sou seu
marido, não seu chefe.
— É... é...
— Eu sei. — A interrompo. — Seus pais criaram você assim. Eu
percebi, mas agora chega. Fale. Se expresse. Não fique o tempo todo muda e
apenas concordando. Você não é meu soldado, porra!
Engulo em seco e, quando vou assentir, falo:
— Vou tentar... falar mais.
— Acho bom. — Me solta, se afasta e seus olhos passam pelo meu
corpo todo. — Não vai querer se preparar?
— Como assim?
— Sua mãe não lhe orientou para a noite de núpcias?
— Me orientou a fazer o quê?
— A se preparar. Tomar um banho, colocar uma lingerie. Nada?
— Não — respondo baixo e nervosa.
— Puta que pariu! — resmunga.
Ele anda de um lado para o outro esfregando a cabeça. Parece
nervoso.
— Vem aqui — disse pegando minha mão.
Ele me leva para o quarto. Eu me controlo para não ficar nervosa. E
fico quieta quando me deixa dentro do banheiro. Agora estou confusa e
assustada.
— Tira o vestido. Tira essas flores do cabelo, o sapato e pode tomar
um banho.
— Tomar um banho? Por quê?
— Porque nós vamos transar. Algumas mulheres gostam de se
sentirem limpas — explica, um pouco rude.
Desvio meus olhos do seu rosto.
— Não fica com vergonha de mim. Sou seu marido e já que a sua
mãe não lhe deu orientação, eu vou ser obrigado a fazer. — Ele me dá as
costas e resmunga para si mesmo, mesmo assim eu escuto: — Era por isso.
Eu sabia que era um erro me casar com uma menina tão jovem.
— Eu não sou uma menina.
— Como você não é uma menina? — Ele se altera e nem ligou por eu
ter ouvido seus pensamentos em voz alta. — Você não sabe nem o que a
gente vai fazer agora. A sua mãe não teve a competência — ele parece bem
irritado e não é comigo — de explicar o que um homem e uma mulher fazem
dentro de um quarto na noite de núpcias. Nós vamos transar, Nina. Você acha
que o lençol de sangue... — Pausa me encarando. — Pera aí. Você já viu um
lençol de sangue?
— Claro que já. Eu tenho vinte anos. Desde os meus dezesseis eu
participo do momento onde apresenta-se o lençol.
— Então você sabe o que acontece?
— Não sei o que acontece. Eu sei que tem o sangue e provavelmente
é algo bruto. Eu sempre escutei alguns boatos sobre os homens “baterem” —
faço aspas com os dedos — nas mulheres com força e fazer elas ficarem de
cara no colchão. Essas coisas...
Eu me distraio puxando o fio do meu vestido.
— Nina, olha para mim.
Eu faço e ele se aproxima, segura minhas duas mãos.
— Um homem e uma mulher dentro do quarto ficam nus, fazendo
sexo. O... meu pênis vai entrar dentro do seu... orifício... Dentro da sua
boceta.
Minhas bochechas ficam vermelhas e eu tenho uma forte vontade de
soltar uma gargalhada. E isso pelo menos faz ele quase rir também, mas é
muito rápido.
— Não ria! — ele manda mesmo com a cara nada séria. — Porra,
Nina! Não ria porque fica bem pior a situação. Isso mostra a sua imaturidade.
— Me desculpe — falo mais calma e baixo o rosto. — A culpa não é
minha que ninguém nunca me deu essa orientação. Eu prometo que vou... ser
legal.
Ele fecha os olhos, por breves segundos, e fica mais perto de mim.
Fita meus olhos e tira o cabelo do meu rosto.
— Você é muito bonita e atraente, eu lhe daria mais tempo se
pudesse, mas não posso. Não podemos. Precisamos manchar aquele lençol de
sangue. Não fique com medo de mim, assim como eu não vou ter medo da
sua inocência.
— Você fica assustado comigo também? — Eu não acredito nos
meus ouvidos.
— É claro que sim. As mentes inocentes é um território fértil. Não sei
o que que vai passar na sua mente.
— Quer que eu fale? — sussurro.
— Você está me perguntando se eu quero saber o que você está
pensando agora? — Ele franze a testa, e a sua máscara tão compenetrada
morre. Eu consigo ver que está surpreendido comigo.
— É! Você quer saber o que eu estou pensando?
— Quero. Fale. Eu pedi para você falar, certo?!
— Certo — aceno concordando e mordo a boca rápido e solto. Tomo
coragem e digo: — Eu acho que, já que eu não sei o que a gente tem que
fazer, você podia me ensinar. Podia falar o que você espera que eu faça. Eu...
O que uma mulher faz com um homem?
Ele fica em silêncio me encarando.
— Quer que eu te ensine?
— É. Você tem mais experiência do que eu. E... — Desvio meus
olhos — hoje quando você me beijou... Foi o meu primeiro beijo. — Olho
para ele de novo. — Meu primeiro contato com um homem, de verdade.
Vejo os seus olhos ficarem negros e ele fica mais perto. Segura meu
rosto com as duas mãos.
— Eu vou te ensinar. — Sua voz está rouca e eu acho sexy.
Em vez do frio na minha barriga, eu sinto como tivesse formigas no
meio do meu peito e fico quente. Minhas mãos anseiam em tocá-lo.
— Você quer me tocar?
— Eu quero. Eu posso?
Em vez de ele responder, pega minha mão e coloca no seu peito, já
que estava abrindo alguns botões. Ele pega minha outra mão e coloca perto
da outra, e ordena:
— Termina de abrir minha camisa.
— Aham! — Concordo.
Com as mãos tremendo, eu termino de abrir sua camisa e depois a tiro
quando ele ajuda. Eu fito seu peitoral forte e com poucos pelos. Ele tem
várias cicatrizes e algumas tatuagens, inclusive uma com o símbolo da
Lawless. Todo Homem de Honra tem.
Sentindo-me corajosa, toco seu corpo e, quando vejo, Paolo abraça o
meu corpo e leva para mais perto da cama. Sua boca está na minha. Eu solto
uns suspiros sentindo suas mãos nas minhas costas e sua língua na minha
boca. Fico carente quando se afasta, mas é para uma boa causa. Ele abre meu
vestido e o retira de uma vez.
Fico só de calcinha e sutiã na sua frente. Acho que agora é aquele
momento que ele disse que as coisas acontecem, e eu só espero.
— E agora?
— Continue relaxando — ele diz.
Fecho os olhos quando suas mãos acariciam minha pele. É uma
sensação boa e eu tento só me concentrar nisso. Ele tira meu sutiã e eu me
arrepio toda. Estou nervosa, mas no sentido curioso e não medroso. Sua boca
está no meu pescoço, passando de um ombro para o outro e suas mãos
descem, encontrando as laterais da minha calcinha. Então ele retira junto com
os meus sapatos. Ele beija minhas coxas e olho para baixo.
— Você tem uma pele macia e cheirosa.
— E eu nem tomei o banho que você disse. — Essa parte sai mais
rápido do que eu consigo pensar.
— É, você nem fez — ele replica de um jeito simpático, não irritado.
Quando está voltando a ficar de pé, as pontas dos seus dedos
acariciam minha pele e logo suas mãos enormes seguram meus peitos,
acariciando a ponta dos meus mamilos, que estão duros. Eu aperto com força
o tecido da sua calça, enfiando os dedos onde o cinto passa.
— Isso! Aproveite.
— Aham — escapa da minha boca em meio a um gemido.
Ele continua por um bom tempo dando atenção para os meus peitos.
Beija o meu pescoço e segurando meu rosto, do seu jeito doce e bruto, me
beija arrancando o fôlego.
— Deite-se — ele ordena.
Eu faço porque, na verdade, minhas pernas não estão mais firmes.
Enquanto espero ele se juntar a mim, me sinto cada vez mais quente e
curiosa.
O que é que acontece agora?
Seguro a respiração sentindo Paolo perto das minhas pernas. Abro os
olhos e encaro-o no meio das minhas pernas. Ele as abre e olha para o meu
sexo. Engulo em seco envergonhada.
Ele parece que está relutante, pensativo, então sua mão acaricia o vale
dos meus seios até os meus pelos pubianos. Eu quero fechar a perna, fugir e
pedir para ele parar, mas as regras impedem isso. Ele tem que honrar a
tradição e consumar o casamento. Mostrar os lençóis.
Por reflexo fecho de leve as pernas e ele diz:
— Assim fica difícil. Não faça assim. Complica, Nina.
— Do-do... quê?
Ele se apoia nos braços e olha dentro dos meus olhos.
— Tenta relaxar. É isso que a gente faz. Aprecia esse momento.
— Okay — murmuro.
Escolho fechar os olhos e esperar. Suas mãos afagam as laterais do
meu corpo, sua boca toca minha barriga, perto do umbigo e logo sinto-o abrir
mais minhas pernas e seus dedos estão acariciando o meu clitóris.
Solto um gemido gostando disso. Seus dedos, às vezes, ficam mais
rápidos, então ele coloca sua boca na minha boceta.
— Oh, meu Deus — sussurro e agarro os lençóis.
— Você precisa ficar molhada para ser mais fácil. — Escuto sua voz,
mas não registro nada.
— Okay.
Seus dedos aceleram as carícias no meu clitóris e sua boca chupa e
lambe meu sexo. Eu arqueio meu corpo sentindo uma onda de desejo. Abro a
boca e sinto como se descesse da montanha-russa. Uau!
Paolo posiciona o corpo para a frente do meu e abro os olhos
respirando com dificuldade. Fica cara a cara comigo e pisco rápido. Eu vejo
seus olhos, quase prateados.
— Continua relaxada.
Assinto e engulo em seco.
Mordo os lábios quando sinto ele colocar a ponta do seu membro no
meu calor. Ele segura meu olhar e, mesmo que não consiga ler o seu rosto,
fico calma. Então ele empurra para dentro de mim e é involuntário jogar
minha cabeça para trás e abrir mais minhas pernas. É uma sensação diferente.
Abro a boca. Isso não tem nada a ver em sentir sua língua passar no meu
clitóris e como ele me chupou.
Ele entra mais um pouco e sua mão desce para brincar com o meu
clitóris. Gemo jogando a cabeça para trás e de olhos fechados, esqueço e só
quero sentir a sensação.
Paolo acelera e se enfia todo dentro de mim. Sinto uma dor aguda e
rápida. Ele para e eu abro os olhos.
— Você está bem?
— Estou — balbucio.
Ele balança a cabeça que sim e me beija, voltando a se mexer. Eu
assumo o controle das minhas ações e ponho as mãos nos seus ombros e tento
acompanhar seus movimentos. A dorzinha ainda está presente, mas muito
pouco. E parece que enquanto ele acelera, um nó dentro de mim se aperta
tanto que é bom. Não imaginei nunca que fosse tão bom transar.
Paolo acelera, fazendo um barulho enquanto me estoca, e eu
simplesmente fecho os olhos e agarro as suas costas. Sinto o nó se desfazer
ferozmente. É tão gostoso, tão bom.
Sinto seu corpo se mover ainda e abro os olhos quando ele afasta o
corpo e sua mão segura minha perna pela coxa e me abre, continua entrando
em mim.
Abro a boca, pois estou sem fôlego e, por mais que eu tente, não
consigo desviar meus olhos do seu rosto tenso e de olhos fechados.
Sinto um calor terrível. Ele abre a boca soltando o ar e encosta sua
bochecha na minha.
— Porra... Mi... — Ele para de acelerar.
Abro a boca porque sua investida dói.
Agarro-o pelos ombros e procuro o próximo ponto de prazer. Sei que
vou gozar de novo. Dentro de mim, ele me preenche e alarga. É bom e
excitante. Meus pensamentos se perdem. Sinto um líquido entre nós e deve
ser minha virgindade. Já aconteceu, não é?!
Ele está rápido e mantém um ritmo que não me machuca agora. Eu
volto a sentir a sensação, aquele nó e antes quando eu gozei, ele me beijou.
Eu quero que me beije de novo.
Mas ele nunca faz. Seu rosto continua colado ao meu, distante.
Minhas mãos nos seus ombros e relaxo para poder me livrar do nó e ele
gozar. Ele precisa gozar, eu acho, mas parece perdido. Se seu membro não
estivesse dentro de mim, era como se ele não estivesse aqui.
Não demora muito e ele goza finalmente. E se afasta. Se afasta muito
rápido. Ele se levanta da cama e entra no banheiro batendo a porta. E eu fico
estirada na cama encarando o teto, tentando compreender tudo.
Me cubro sentindo vergonha. Pensei que ele fosse ficar comigo.
Parecia que estava tentando ser legal. Talvez eu tenha entendido errado.

Eu não deveria me sentir fora de casa, porque, se eu me casei com Paolo, essa
casa é minha agora. Mesmo assim, me sinto extremamente deslocada.
Cheguei ontem por volta das onze e meia, após Paolo e eu transarmos,
tomarmos banho e levarmos o lençol para todo mundo ver. Ele fez tudo quase
que correndo e o ouvi falar para o homem que nos acompanhou, Filippe, que
ele queria queimar o lençol.
Respiro fundo encarando meu reflexo no espelho e me sinto pronta.
Escolhi um vestido leve já que o tempo está bom. Eu abri as portas da
varanda do meu quarto, que não é o de Paolo.
O vestido é branco e cheio de margaridas e vai até o pé, leve e com as
mangas para baixo mostrando meus ombros. Acho que causa uma boa
impressão e ele me deixa confortável. Feliz comigo mesma.
Meus cabelos estão soltos e eu até passei maquiagem, sendo que nem
sei o porquê. Eu estou só... tentando não parecer apavorada, mesmo que meus
olhos consigam transparecer exatamente como estou internamente. Morrendo
de medo dessa nova vida.
Caramba, cadê aquela supercoragem? Espero que não tenha ficado
em Seattle.
— Okay, Nina. Está na hora de você tomar uma atitude. Essa casa
também é sua.
Vou direto para a porta, decidida. Só que no corredor o frio na barriga
aumenta. Paolo deve estar lá embaixo e junto com a sua filha porque já são
nove horas da manhã e eu li que um bebê acorda essa hora, no caso. Acorda
pra valer e eu esperei a madrugada toda ela chorar, mas não ouvi. Será que
ela está bem?
Eu ainda não conheci a bebê. Nem vi como ela é, apenas sei que é
pequena, mas não sei de quanto tempo. Se já tem um ou dois anos, por
exemplo, ou mais. Mas acredito que não. Eu vi o berço, mas não vi o bebê
quando passei na porta do quarto ontem.
Desço as escadas, escutando barulho no andar de baixo e desvio
minha atenção do soldado que encontrei na casa quando chegamos. Parece
que ele está aqui para a filha de Paolo. Ele está na porta, sentado numa
cadeira e não olha para mim, mas óbvio que percebe que passo perto dele.
Na cozinha vejo uma senhora mexendo numa panela e sinto um
cheiro maravilhoso de leite quente. Ela vira-se para mim com um sorriso
educado.
— Bom dia, senhora. Vai tomar café?
— Er... bom dia. Vou sim.
— Então tem que se sentar na sala de jantar. O senhor Paolo já está lá
com a Sophia.
Sophia?
Deve ser a filha dele. Ai, caramba! Sinto um frio na barriga. Vou
conhecê-la agora.
— Faça um favor, e vá para lá.
Assinto, peço licença e baixo a cabeça para não me fazer sentir mais
errada.
Eu lhe dou as costas e vou para onde ela indica. Encontro meu
marido, essa palavra ainda é muito estranha na minha cabeça, e uma bebê
numa cadeirinha de bebê alta. Ela está batendo as mãozinhas ao lado do prato
com frutas: maçã e banana picadas.
Quase caio para trás vendo o homem frio e distante que se casou
comigo ontem sendo amável com a bebê. Ele fala baixo, com paciência e até
sorri, mas, quando me vê, fecha a cara como um dia ensolarado que fica
carregado de repente com uma trovoada e surge a chuva. É, o tempo fechou.
— Bom dia — digo e fico com a boca aberta como se eu fosse falar
mais alguma coisa, mas resolvo não falar nada.
Será que, em alguma hora, essa sensação de ser inconveniente vai
passar?
— Bom dia — devolve sendo educado.
Sorrio com educação, sentando-me na cadeira perto da menininha de
cabelos loiros. Ela é linda, perfeita. Ela olha para mim com lindos olhos
cinzas. Os olhos do pai. Minha nossa. Ela é linda demais.
— Olá! — Tento ser animada e contagiante para pegar sua simpatia.
— Essa é minha filha, Sophia.
— Ela é muito linda. Você é muito linda, sabia? — Brinco com ela
passando a mão nos seus cabelos, e ela apenas me olha.
— Ela tem nove meses, completou essa semana.
Assinto registrando a informação.
— Ela realmente é muito bonita — digo sem tirar os olhos dela. —
Eu não sabia que era tão nova.
— Tem algum problema ela ser tão nova?
Ela ainda é um bebê, e fofa.
— N-não — gaguejo procurando as palavras certas. Me sento uma
imbecil. — Eu só estou querendo dizer que estou surpresa. Não sabia que ela
era um bebê ainda.
— Se isso for um problema.
— Não, não é.
E o que ele quer dizer com “Se isso for um problema?” Ele vai me
devolver para os meus pais? Vai se divorciar? Eu sinto vontade de rir, mas
bem lá no fundo, porque tenho medo de ele ficar mais distante do que o
momento de ontem após o seu corpo estar tão perto do meu e depois sumir.
Eu tinha seu cheiro, senti a sua mão, sua pele e seu gosto. E depois nada.
— Não tem problema nenhum. É apenas uma novidade.
— Que bom, porque, enquanto eu estiver trabalhando, você vai cuidar
da casa e da minha filha. Sophia não é muito exigente. É obediente e uma
criança boa. Se você precisar de alguma coisa, é só me ligar que eu venho na
hora.
Parece que eu sou a babá da criança, não a esposa dele, e que sou uma
inútil também.
— Se precisar, Marta sempre estará cuidando e limpando a casa. Ela
está encarregada de fazer a comida e você só tem que cuidar da Sophia.
Novamente eu sou a babá da criança.
— Gregori vai ser o seu guarda-costas. Quando precisar sair, ele vai
levá-la e, se você quiser algo da rua, ele pode comprar. Você pode ir na
pracinha, passear com Sophia ou o que desejar, mas sempre tome cuidado.
Eu já sei sobre isso. Segurança.
— Tudo bem. — Sorrio sem jeito, concordando com a cabeça.
— Eu devo voltar para casa quase na hora do jantar, mas não vou dar
certeza. — Ele se levanta, terminando de tomar seu café e coloca as mãos nos
bolsos, fazendo seu paletó ir para trás.
Ele está de terno azul-marinho, a camisa branca e a gravata branca e
cinza com listras. Ele é muito bonito e assustador. A sua diferença de idade
comigo não me assusta mais. Só seus olhos penetrantes e raivosos.
— Você está me ouvindo?
— Sim, eu estou ouvindo.
— Ótimo. Eu vou agora. Meu número está na agenda telefônica ao
lado do telefone.
— Okay. — Eu acho que é a única palavra que posso dizer. É como
se eu não tivesse opção.
Eu sabia que era um casamento com propósito, mas não que eu fosse
ser tratada assim. Estou ficando um pouco irritada e acho que o primeiro
telefonema que eu vou dar, não vai ser para ele e sim para o meu pai. O que
ele tinha na cabeça? Como se ele pudesse fazer, ou se importasse. Ele só
pensa em poder e meu casamento o favorece com status para o Capo.
— Você já pegou um bebê no colo? — Paolo pergunta e eu acordo do
devaneio.
Encarando-o respondo:
— Claro que eu já peguei um bebê no colo.
Meu Deus do céu! Eu tenho vinte anos e não dez.
— Você pode pegar ela, por favor? Eu tenho que ir agora e ela
precisa de atenção.
— Ela parece que ainda está comendo — replico olhando para Sophia
com um pedaço de maçã na boca segurado por sua mãozinha fofa.
— Eu quero ver você com ela.
Ih, que coisa. Sou inútil e não sei segurar uma criança.
— Tudo bem, eu pego.
Paolo dá um passo para perto de mim quando me aproximo da cadeira
de bebê. Sophia me olha com seus olhos enormes e claros, cheia de
curiosidade.
— Oi.
Ela pisca rápido, me encarando, mas não dá sinal de que vai chorar.
Eu consigo tirá-la da cadeira e a aconchego nos meus braços. Ela não é muito
grande. É uma gracinha mesmo. É muito simpática, não se afasta ou reclama.
Ela é leve, cheirosa e agradável. Gostei dela. Parece uma boneca.
Eu sorrio para ela e sussurro de novo:
— Oi, Sophia. Tudo bem?
Ela pisca e toca meu rosto com sua mãozinha melada de maçã, mas
nem ligo. Vejo que ela dá uma risada e eu fico como uma boba olhando-a. Eu
acho que a gente vai se dar bem.
— Eu sou a Nina.
Ela faz um som como se estivesse conversando comigo e eu rio.
Paolo limpa a garganta e eu presto atenção nele. Tinha esquecido de
que estava aqui ainda.
— Espero que tudo dê certo. Agora eu tenho que ir.
— Quer que eu te acompanho até a porta?
— Não precisa. Termine de tomar o seu café. Marta! — ele chama a
governanta e ela aparece de prontidão:
— Sim, senhor.
— Auxilie Nina, não que ela vá precisar. No entanto, até ela se
acostumar com a casa, vai precisar da sua atenção.
Ele se importa, mas é grosso como uma porta.
— Tudo bem, senhor.
— Qualquer coisa, já sabe.
— Sim, senhor.
O que ele quer dizer com “Qualquer coisa, já sabe.”? Talvez seja a
mesma frase para mim. Qualquer coisa me ligue. Aff... Tanto poder, tanto
ego. É difícil não se irritar com essa possessão controladora dele. Cadê o
homem tranquilo que pediu para eu tirar sua blusa. Parece que ele mudou da
água para o vinho de repente desde o momento que se separou de mim na
cama ontem.
15

A ntes de eu sair com Filippe, paro para falar com Gregori.


— Qualquer coisa, você fala comigo. Hoje é o primeiro dia dela
aqui. Não sei como vai ser.
— Eu acho que vai ficar tudo bem.
— Eu não pedi a sua opinião.
Ele baixa a cabeça e para de falar. Às vezes, funciona; e outras vezes,
é claro que ele tem que dar sua opinião.
— Fique de olho nela. Eu não acredito que ela vai sair, mas pode
acontecer.
— Vai ficar tudo em ordem. Eu sempre cuido de tudo, Paolo, e você
se casou para ter um pouco mais de sossego no trabalho, não para continuar
com essa carranca de mau humor.
— Eu não estou de mau humor.
— Está sim. Desde ontem quando chegou. Acha que não vi que você
foi beber no seu escritório depois que chegou em casa. Parece amargo e
arrependido.
— Eu estava aqui pensando que finalmente você tinha parado de
falar.
— Falo para o seu bem. Agora, vai trabalhar. A menina vai dar conta
e, se não der também, a gente ajuda. Eu e a Marta podemos ajudá-la.
Dou-lhe um olhar atravessado, e saio de casa de uma vez.
Eu não queria parecer tão irritado, e nem que percebessem. Esse
casamento tem funções táticas e eu preciso estar confiante de que Nina vai
ser uma boa mãe para Sophia.
Pelo menos, os primeiros momentos entre as duas foi bom. Acho que
razoável. Minha filha não chorou e ainda tocou o seu rosto, fazendo Nina rir,
na verdade as duas riram. Eu nem entendi o porquê.
Mas aquilo foi fácil. Pegar no colo e sorrir para ela. Eu quero saber da
sua competência no geral. E serão os dias que contarão a história delas duas
juntas.
Olhando para o lado de fora da janela do carro, penso que merda deu
na minha cabeça para falar: se não der certo. Porra. É como se eu tivesse
outra opção.
Se não der certo, eu simplesmente vou ter que ficar em casa
ensinando Nina até aprender a cuidar da minha filha, porque Marta tem o seu
trabalho na casa e parece muito cansada. Estou pensando em contratar outra
empregada para ficar no seu lugar e lhe dar férias.
Marta parece tão arrasada quanto eu. As noites maldormidas são uma
merda. Eu não posso me acusar de carrasco. Minha filha acordou três vezes
essa noite e eu não acordei Nina nenhuma. Preferi que sua primeira noite na
minha casa não fosse tão ruim, porém eu sei que hoje ela vai ter a maior e
mais cansativa função de cuidar de um bebê, os horários imprevistos.
Acordar de madrugada mais três vezes.
O trajeto até o Bellagio não demora, principalmente pelo horário e eu
logo estou vendo o hotel.
— O senhor vai querer ficar em qual porta?
— Me deixa na recepção principal. Eu vou passar um olho no hotel
hoje.
— Sim, senhor — responde e pega o contorno para o hotel.
— Eu quero que você vá até o salão de festas e pegue os presentes de
casamento e leve até a minha casa, ou mande outro soldado levar.
Não ligo para essas coisas, assim como abri mão de ter um casamento
pequeno, por eu já ter tido um casamento e esse poder ser rápido e dinâmico,
mas no fim tive uma festa e uma celebração para muitas pessoas. Eu quero
pegar os presente e dar para Nina. Ela vai gostar dessa distração.
Filippe para o carro na frente da entrada principal e logo saio
caminhando para o balcão de recepção.
— Senhor, Paolo, quanto tempo — comenta a gerente.
Eu não venho aqui tem muito tempo e é claro que isso não passaria
despercebido.
— Bom dia, Vera. Está tudo em ordem?
— Está, sim, senhor. O hotel está indo bem e Dimitri me falou que o
cassino não tem nenhum incidente nos últimos trinta dias.
— É quase um recorde.
— É, sim. — Ela me dá um sorriso, concordando. — O senhor Travis
está animado por isso. Sabe que ele não gosta muito de fazer a punição dos
jogadores malandrinhos.
— Sim, eu sei.
Travis detesta ter que bater nos espertos, que acham que pode fazer o
que quiserem. Pensam que, porque temos muito dinheiro, não vamos nos
importar deles roubarem na cara de pau. São tudo malucos achando que vão
contar cartas ou trocar o dado pelo dado viciado deles. Os seguranças do
cassino são treinados para perceber isso e o robô de segurança também nos
ajuda. Quando eles são pegos, muitos correm daqui para o MGM, eles não
sabem que eu estou lá.
— Travis está?
— Não. O Sr. Lozartan não veio hoje. Disse que o senhor viria, então
pediu para eu lhe entregar a pasta.
A pasta com as últimas informações de todo o balanço do hotel e do
cassino. Quem entrou, quem saiu. Quanto faturou, quem saiu devendo, furtos
e roubos, etc. Pasta com senhas, já que o cofre muda de senha todo dia.
Travis confia em Vera, por isso que estava na sua mão. Embora a senha fique
por meio de códigos.
Eu pego a pasta e encaminho para o escritório. Eu senti falta dessa
adrenalina do hotel. O Bellagio é muito grande e requer muita ação e
controle. Não é fácil cuidar desse elefante. Mais tarde vou para o Balcão
recepcionar as novas armas que estão chegando.
Os MCs, depois daquele acordo com Travis, andam pedindo mais
armas e eu não teria dado na primeira vez. Mas o Capo, às vezes, faz as
coisas que acha melhor na hora e não a longo prazo. E é como eu disse, esses
filhos das putas desses motoqueiros ligaram pedindo ajuda e a gente disse
que não. Eles não aceitaram e insistirão até não tivermos outra opção. Eles
poderiam entender que vender as armas já foi uma ajuda. Ninguém faria o
que Travis fez por eles.
Passo pelas portas do corredor das salas e rapidamente estou no meu
escritório. Entro fechando a porta e vou me sentar à mesa. Vou trabalhar para
parar de pensar em Nina e nas suas funções como mãe.
Porra. Eu nem quero pensar na noite de ontem. Não era para ter
gostado tanto ontem de foder com ela, mas eu gostei e por isso precisei me
afastar. Eu não posso ceder. Prometi que não faria isso e fora que Mia ficou
na minha cabeça o tempo todo quando estava com meu pau dentro da minha
nova esposa.
Ela poderia não parecer tanto com a porra da minha ex-esposa?!
Talvez sua idade não me incomode tanto quanto a semelhança com Mia. E
será como Madeleine falou. Não será fácil e, talvez, eu nunca esqueça Mia.
Eu realmente queria tentar ter um bom convívio come Nina e, então,
ela acorda no dia seguinte na minha casa vestida igual a Mia. Eu quase
infarto hoje de manhã vendo-a com aquele vestido comprido cheio de flores.
Eu não quero ser chato e mandar ela mudar o jeito de se vestir.
Minha opção vai ser me afastar porque dói vê-la na minha frente com
os cabelos, o jeito, a voz, a doçura e os vestidos como da minha primeira
esposa. Dói e trazem memórias terríveis. Aqueles olhos tristes de lamento, se
despedindo nas escadas da igreja.
Alguém bate na porta e volto ao presente. Esteja aqui, agora, no
presente. Trago uma nota mental para parar de pensar no passado e
mergulhar no trabalho, o que eu posso ter controle. Em breve irei ter nas
minhas mãos minha encomenda e retomarei meu foco total.
16

T omando café reparei que Sophia é uma criança doce e não exige
nada. Fiquei surpresa que, depois que ela comeu, Marta a pegou na
cadeirinha. Eu fui atrás para saber o que iria acontecer e vi a mulher
colocar a bebezinha num bercinho baixo e com alguns brinquedos.
— Ela vai ficar aí?
— É onde ela fica — a mulher responde olhando para mim com a
testa franzida. — O que a senhorita esperava? Desculpa, o que a senhora
esperava?
Eu não sei se ela falou de propósito ou é porque a minha cara não
parece de uma senhora.
— Não. É... porque, ela fica o dia inteiro aí?
— Depois que ela come o seu café da manhã, eu coloco no
chiqueirinho para ela brincar com seus ursos de pelúcias.
— Mas ela não anda? Ela não engatinha? — questiono confusa e
triste pela criança. — Sendo sincera, nem sei se ela está engatinhando. Ela
tem nove meses e qualquer criança nessa idade já está engatinhando, quase
andando.
— Como você sabe disso? Você tem irmão pequeno?
— Não.
— Sobrinho pequeno?
— Não.
— Então como é que você sabe?
— Porque eu li num livro.
Os olhos de Marta se arregalam surpresos, porém irritados.
— Você leu num livro?
Ergo meu rosto, aprumando a postura e explico:
— Eu li vários livros sobre bebês e crianças. Não sabia a idade certa
dela, então queria me preparar como podia, já que ninguém me deu uma
única informação.
— Você não sabia que ele tinha uma filha pequena?
— Eu sabia que Paolo tinha uma filha, mas não que era um bebê tão
pequeno. Achei que tinha um ano e meio, ou dois anos.
— Mesmo que fosse essa idade, iria continuar dependente de você.
— Eu não estou dizendo isso. Estou falando que é errado ela ficar o
tempo todo dentro do berço.
— Olha, ela fica aí porque eu não tenho muito tempo para nada. Eu
estou cansada. Aproveita a sua energia de uma garota jovem e gaste com ela
ensinando a andar, brincar e tudo o que você leu nos seus livros. Eu agora
vou finalmente conseguir limpar a casa e preparar uma comida decente. Se
precisar de ajuda, é só me chamar — diz e me dá as costas sumindo feito
fumaça. Parece irritada comigo.
Pelo amor de Deus! Ela não percebe que está errada e a culpa é minha
ainda.
Suspirando, me aproximo de Sophia, que olha para mim cheia de
expectativa. Ela está agarrada a um cachorro de pelúcia muito bonitinho.
— Oi, anjinho. Que tal a gente hoje sair desse quadradinho e explorar
sua casa toda, hum?!
Eu a pego no colo, não esquecendo do urso que ela estica a mãozinha
pedindo desesperada para pegar. Vou me sentar sobre o tapete no meio da
sala com ela.
Sei que o quarto dela é grande, consegui perceber mesmo ainda não
entrando lá. Provavelmente tem várias outras coisas para bebês, mas a gente
está aqui.
No tapete, estico minhas mãos para ela tocar e ela bate com suas
mãos gordinhas. Caramba! Eu tenho vontade de morder de tão gostosa.
— Hoje a gente vai vê se você consegue engatinhar, que tal? —
Converso com ela, mesmo achando um absurdo a situação. — Você já era
para estar andando. É quase uma mocinha.
Ela faz sons confusos e joga para longe o urso. Acho que tentou jogar
para mim. Me estico e pego o urso e jogo para o alto, agarro e entrego para
ela. Sophia dá um grito, um meio sorriso, mostrando suas gengivas sem
dentinhos. É fácil se apaixonar por ela, diferente do pai. Ela é simpática,
agradável e exige nossa atenção, não tem vergonha disso.
— Eu espero que você goste de mim tanto quanto eu já estou
gostando de você.
Encarando-a, uma ideia passa pela minha cabeça vendo ela toda
melecada.
Então me levanto, a pego no colo e vou até a cozinha, onde encontro
Marta resmungando sozinha.
— Com licença — peço sentindo-me uma intrusa.
— Sim, senhora? — Ela vira-se para mim.
— Ela já tomou banho hoje?
— Creio que não pelo horário. O senhor Paolo não deu banho na filha
e, se você quiser dar, não precisa pedir para mim.
Uau. Ela é grossa sempre assim? Ou eu fiz algo que ela não gostou?
— Tudo bem, então eu vou dar um banho nela.
— Faça o que a senhora bem entender.
Caramba! Eu vou parar de falar com ela. Vou ignorar que não fazia
com minha mãe e com ela é mais fácil, já que eu sou a patroa dela.
Com um aceno de cabeça, saio da cozinha o mais rápido possível e
subo para o quarto de Sophia.
— Acho que a tia Marta não gosta de mim.
A bebê não entende, óbvio, e sorri.
— Isso. Ria da minha desgraça. Eu sou uma piada pra você?
Ela ri mais alto e agarra meus cabelos, mas não puxa.
— Por favor, não. Isso machuca a Nina.
Tiro suas mãos dos meus cabelos quando a deixo sobre uma cômoda
com um colchãozinho. É o trocador. Eu vi isso num filme. E passei as últimas
três semanas lendo livros de crianças e bebês, e assistindo filmes. Eu espero
que comer cocô por acidente ou deixar ela cair do canguru, não aconteça. Eu
vou comprar um canguru depois e vou cuidar para que não deixe Soph cair
dele.
— Vamos tomar banho.
— Aaaah! — ela grita e bate as mãozinhas.
— Você gosta de banho ou...
Ela não me deixa terminar e grita de novo.
Eu dou uma gargalhada e termino de tirar sua roupa.
— Banho?
— Ba-ba-ba...
Ai, que alívio. Ela gosta de banho.
17

H á muito tempo que eu não trabalhava até tão tarde e estive


ocupado o dia todo por isso. Ninguém ligou de casa e muito
menos eu liguei para casa. Fiquei enfurnado no trabalho. Esqueci
completamente dos problemas de casa, Sophia e Nina, no caso. Tinha muita
coisa para resolver, então é óbvio que eu iria chegar em casa nesse horário.
São meia-noite e estou entrando em casa. Observo que provavelmente
estão todos dormindo e o estranho é que meia-noite Sophia sempre acorda. É
o primeiro choro da madrugada.
Subindo, vou até o meu quarto para deixar o sobretudo e o paletó.
Depois vou ao quarto de Sophia, e a imagem que eu vejo é extraordinária.
Nina está dormindo na cama e Sophia está no berço quietinha, porém
acordada.
— Oi, princesa — falo com minha filha primeiro.
E me aproximo de Nina e vejo que ela trocou de roupa. Está usando
uma saia pregada cinza e uma blusa rosa, parece que está de uniforme.
O que me incomoda nem é isso, e sim que ela ergueu uma das pernas
enquanto dorme e eu consigo ver a sua bunda com a calcinha, que, por mais
comportada que seja, me traz memórias que não precisava ter agora.
Ela está de barriga para baixo, seu rosto tranquilo e a boca aberta.
Chega a babar dormindo e o urso que Sophia adora está com ela, na sua mão
do braço que está pendurado para fora da cama.
— Nina — eu chamo a primeira vez. — Nina — chamo a segunda
mais alto e, como minha filha está acordada, não me incomodo de falar um
pouco mais alto chamando-a pela terceira vez. — Nina!
Ela leva um susto e fica sentada na cama, agora eu vejo a calcinha na
parte da frente. Ótimo.
Quando me vê, senta-se direito e ajeita os cabelos.
— Desculpa. V-Você... — ela gagueja, então para. — Ainda está
acordado? Quer dizer, você chegou.
— Sim, eu cheguei.
— Está bom.
— Eu cheguei e você estava dormindo enquanto minha filha está
acordada.
— Sophia não está acordada.
— É mesmo? — digo e olho para a minha filha.
Nina corre até ela.
— Soph.
Soph? Ela chamou minha filha de Soph. Porra. Eu a acusaria de estar
fazendo de propósito se tivesse a possibilidade de ter conhecido Mia, mas ela
não conheceu.
— Querida, por que você não chamou? Não fez barulho gugu, dadá.
Isso faz Sophia soltar uma gargalhada e esticar os braços pedindo
colo para Nina. Essa imagem me deixa feliz, confesso que também sinto um
pouco de ciúme porque minha filha só fazia isso para mim até agora.
— Sophia está acordada agora porque quer mamar — explico para
Nina, porque me sinto na obrigação de comunicar isso a ela. — Ela acorda
meia-noite pra mamar; às duas da manhã, só para chorar mesmo; às quatro,
para trocar a fralda; e às seis horas da manhã, para mamar de novo. Então,
quando levanto às oito, a pego e levo lá para baixo para tomar café junto
comigo. Depois ela dorme um longo tempo e acorda, e dorme e acorda de
novo. Eu percebi que o mecanismo dela basicamente é esse.
— Isso está errado — minha jovem esposa solta e eu franzo a testa.
— Está errado?
— Eu li num livro que as crianças precisam ter atividades e a Sophia
fica dentro daquele bercinho, que fica lá embaixo, o dia todo. Isso não é
certo. Ela acordar e dormir sem a mínima atenção. A Marta não dá atenção
para ela e tudo bem. Ela ainda tem nove meses. A gente consegue reverter
essa situação.
— Reverter essa situação?
Ela está falando do quê e por quê com tanta propriedade. Ela é outra
criança.
— É, Paolo. A Sophia nem engatinha e ela tem nove meses. Já era
para estar quase andando. Mas se ela continuar no berço, fica difícil. Ela não
ganha força nas perninhas e nem equilíbrio. Alguém precisa dar essa atenção
a ela.
Eu não sei a palavra certa para descrever esse monólogo dela. Estou
em choque, mas com certeza estou surpreso. Não demonstro isso e cruzo os
braços.
— Vou para a cozinha agora, fazer o mamar. Você quer me
acompanhar?
— Eu vou trocar de roupa e depois desço.
— Tudo bem.
Ela sorri parecendo sem jeito.
Nós dois saímos do quarto de Sophia, a deixo passar na frente e ela
segue para um lado e eu para o outro.
Entrando no meu quarto, fecho a porta e vou tomar um banho rápido.
Enquanto a água cai no meu corpo limpando toda a sujeira do Balcão, as
fuligens de poeira e pólvora de quando descarreguei a arma no alvo, me
limpo de todo o estresse do dia e fico pensando na minha jovem mulher.
Ela é prestativa e não mede esforços para fazer as coisas certas. Não é
querendo agradar ninguém, ela só quer fazer as coisas darem certo.
Saindo do banho, me seco e visto apenas uma calça de flanela, porque
vou direto para a cama quando subir.
Desço para encontrar elas duas e chegando perto da cozinha, paro
escutando Sophia conversar com Nina no seu dialeto de bebê. Acho graça
dela fazendo uns sons altos.
— Eu sei, Sophia, mas agora você vai mamar e aí a gente vai fazer
essas perninhas gostosas, ficarem fortes para andar muito pela casa.
Sinto meus lábios curvarem-se em um sorriso. Ela pode me irritar em
muita coisa, inclusive por parecer tanto com Mia, mas não posso não me
sentir satisfeito e até mesmo orgulhoso por ter acertado em aceitá-la. Tem
apenas um dia e ela já tomou várias decisões. Parece também que Sophia
gosta dela.
Minha filha continua gritando e fazendo sons engraçados, o que faz
minha jovem esposa dar várias gargalhadas e imitar Sophia.
Voltando a ficar sério, entro na cozinha e Nina para imediatamente,
olhando para mim com um sorriso travesso, que logo desaparece totalmente.
Seus olhos passam pelo meu peitoral e vai até o limite da calça, então voltam
para os meus olhos.
Ela abre a boca como se fosse falar algo, mas desiste e depois volta
atrás:
— Você tomou banho.
— Tomei e?
Ela suspira assentindo automaticamente e me dá as costas.
— Você quer leite quente também? — Estende uma xícara com leite
com canela para mim.
Respiro fundo pelo nariz porque outras coisas passam pela minha
cabeça quando ela pergunta isso. Puta que pariu, Paolo! Que mente
pervertida! Sua filha está na sua frente. Limpo a garganta e digo:
— Não, eu estou bem. Só vim fazer companhia para vocês.
— Tudo bem e eu queria te perguntar uma coisa.
— Fala.
— Durante a noite não tem ninguém vigiando a casa?
— Tem, mas eles ficam na guarita e nos fundos observando as
câmeras.
— Têm câmeras na casa?
— Têm câmeras em volta da casa.
— E dentro da casa?
— Dentro da casa fica desligada, só liga se acontecer alguma
emergência.
— Que tipo?
Caralho, como ela pergunta!
— Se invadirem a casa, as câmeras ligam para podermos ver no
quarto secreto.
— Ah, sim. Na minha casa também tem.
— Na sua casa também tem?
Suas bochechas ficam vermelhas e ela se corrige rápido.
— Quero dizer, na minha antiga casa tinha e na minha nova casa
agora tem. — Nem ela aguenta com o quem fala e solta uma risada.
Balanço a cabeça e vou até a geladeira pegar água. Eu sinto seus
olhos em mim novamente e me virando com um copo d’água, encaro-a
intensamente e olhando bem suas pernas, digo:
— Você não acha essa saia muito curta, não?
— Você achou? — devolve.
— Eu achei — respondo e olho de novo para as suas pernas. —
Parece que ela é de uma criança e você não é mais uma criança, Nina.
Ela respira profundo e as bochechas ficam ainda mais vermelhas,
então ela foge das minhas vistas, escondendo o rosto virando para o lado.
— Minha mãe não deixou eu trazer muitas roupas, só o que ela achou
que seria apropriado e queria.
Coloco o copo na pia da cozinha, para não quebrar de tanto apertar e
chego perto dela.
— Olha para mim e responde. Explica isso, Nina.
Ela ajeita a mamadeira nas mãos de Sophia sentada no banco ainda e
explica sem olhar para mim. Talvez se sinta envergonhada por isso.
— A minha mãe acha minhas roupas ridículas, sempre achou. Então
quando ela soube que eu ia me casar, não deixou eu trazer as minhas. Ela que
escolheu os looks e colocou na minha mudança.
— E ela achou que essa saia seria legal?
— Eu não sei responder a isso. — Suspira e, por fim, olha para mim.
— Eu gosto dessa saia e sei que já deve estar um pouco pequena. Comprei
quando tinha dezessete anos, mas o meu corpo não mudou muito.
— Se você está dizendo... — Não concordo porque suas pernas e a
bunda são uma boa visão.
— É sério! — exclama. — Mas se você não quiser, não vou usar
mais.
— Eu não disse isso. Só comentei porque está um pouco curta. Se for
para sair, quero que você coloque meias-calças escuras.
— Mas é claro que sim— fala como um insulto. — A moda é colocar
as meias.
Respiro pelo nariz, mais uma vez, e ergo a sobrancelha. Reprimo a
vontade de rir. Ela é realmente sem filtro e tão jovem.
— Se você quiser, pode fazer compras amanhã.
— Hoje, porque já passou da meia-noite. A não ser que você esteja se
referindo à segunda-feira.
Balanço a cabeça e desisto. Lhe dou as costas, saindo da cozinha e
falo sobre os ombros:
— Só me informe se você for.
— Tudo bem e boa noite, Paolo — ela fala alto.
— Boa noite, Nina.
Estou alcançando as escadas quando a sinto perto.
— A Soph não vai ganhar um beijinho?
Paro para escutar sua voz baixa e viro-me para ver elas duas atrás de
mim.
— Ela já acabou de mamar?
— Já sim e eu acharia que você deveria dar um beijinho de boa noite
nela.
— Okay.
Eu pego minha filha nos braços e dou um beijo na sua testa e afago
suas costas. Decido subir com ela para o seu quarto enquanto Nina vai para a
cozinha fazer sei lá o quê.
— Você gostou dela? — pergunto para a minha filha sentando-me na
cama e apoio seus pés nas minhas pernas. — Ela vai ser sua mamãe. — Me
traz um gosto amargo na boca dizer essas palavras. — Ainda bem que você
não entende, querida. Não entende as coisas terríveis que a vida nos faz
passar e sentir.
— Desculpa eu ter sumido.
Vejo Nina aparecer com as mãos molhadas, que seca na blusa. Que
merda.
— Eu fui lavar a mamadeira. Coloquei de molho como o livro
orientou.
— O livro de bebê?
— Isso, esse livro.
— Eu fiquei muito curioso. Depois você deixa eu ver?
— Deixo, claro — responde com entusiasmo, com um sorriso
orgulhoso por ter lido um livro para cuidar da minha filha.
Fico aliviado. Pelo menos mostra interesse da sua parte.
Me levanto e fico de frente para ela.
— Agora, passa ela para mim. Vou fazê-la arrotar e depois dormir.
Você pode descansar. Tem problema eu dormir aqui?
— Você quer dormir nessa cama?
Olhamos para a cama que eu estava sentado e a peguei dormindo
quando cheguei.
— Quero, acho melhor. Eu não vou perder muito tempo se ela chorar
e eu não gosto de babá eletrônica. Prefiro ver ou escutar o choro dela de
verdade.
Eu fico sem resposta para dar.
Concordo balançando a cabeça que sim e entrego minha filha para
ela. Nina abre um sorriso enorme para Sophia. Parece até que eu lhe dei um
brinquedo de Natal.
— Ela é uma doce menina. Quase angelical. Ela só chora de fome e
porque a fralda está suja e por mais motivo nenhum. — Minha jovem esposa
vai se sentar na cama, falando ainda. — Eu ia enlouquecer se fosse aquelas
crianças que choram por tudo. Ah, não! — resmunga preocupada.
— O que houve, diga?
— Deixei o ursinho lá embaixo. O cachorrinho de pelúcia.
— Tudo bem, fica aqui que eu vou pegar.
Ela concorda e balança a cabeça, ninando Sophia nos braços, que está
quase pegando no sono.
Desço rápido para pegar o urso e vejo que Nina deixou a pia da
cozinha limpa. Lavou até o copo que usei. Quando estou saindo, vejo um
bilhete na porta da geladeira e chego mais perto. São recomendações sobre o
que fazer para a minha filha comer; e do lado, outras recomendações sobre
nutrição de bebês. Isso foi coisa de Nina, é claro. Essa garota ainda vai me
surpreender muito.
Como os pais dela a tratam tão mal e sem a mínima compostura para
disfarçar na presença de estranhos. Talvez para eles, tratar os filhos dessa
forma é o ideal e eu sou igual a eles. Corto minhas bolas antes de fazer minha
filha se sentir inferior e com necessidade de se curvar às pessoas.
18

C omo uma semana passou rápido, eu não sei. E nesses sete dias, eu
aprendi muita coisa sobre bebês e Paolo. Sophia é como eu percebi
no primeiro dia de convívio, calma e fofa. Já o pai dela. Eu mal o
vejo em casa e não acho que ele está fazendo de propósito. Deve estar com
muito trabalho. Eu vejo quando ele chega, parecendo bem esgotado, porque
todas as noites vai falar com Sophia no bercinho, menos comigo. Não tem
problema. Uma hora, ele vai se acostumar.
É óbvio que eu não quero ser apenas Nina, sua esposa estratégica para
cuidar da sua filha. Quero mais. Almejo ser feliz com ele e Sophia. Mas ainda
está cedo e eu o entendo estar relutante. Ele repete tantas vezes que a minha
idade o incomoda, que estou pensando em amadurecer. Vai ser bom para ele
e para mim. Não posso ser uma boboca cuidando de uma criança.
Nessa semana que passou fiquei pensando na nossa noite de núpcias.
Fiquei curiosa se ele gostou como eu. Ouvi tantas histórias sobre perder a
virgindade e como os maridos tratavam as esposas no Dia D, que fiquei
confusa. Não foi como eu esperava e eu queria experimentar mais. Quando o
vejo sem camisa, que ele sempre dorme sem, fico com vontade de tocar seu
peitoral musculoso. Ele é forte e um afrodisíaco para os meus olhos.
Como nos filmes que eu assisto e nos livros que eu leio, eu podia ser
legal com ele, me aproximar e ser sua amiga. Talvez isso o faça querer ficar
perto de mim também. Só não vou insistir nisso. Eu não sei quanto tempo ele
está viúvo e talvez é por isso que não quer ficar perto de mim ainda. Foi
pouco tempo, levando em consideração que Sophia tem nove meses.
— A senhora deseja mais alguma coisa?
Acordo do meu devaneio e olho para Gregori. Ele me ajudou a
colocar uma manta no gramado para poder brincar com Sophia no quintal,
que é enorme e repleto de flores. Mesmo mortas e maltratadas, eu percebi que
tinha um lindo jardim por aqui. Talvez eu possa fazer algo sobre isso.
— O urso dela. Eu esqueci.
Ele abre um sorriso.
— Você nunca esquece ele.
— Ela não me deixar esquecer.
Ele assente e volta para dentro da casa. Me viro para Sophia e ajeito o
chapéu de verão que coloquei nela. Estamos iguais. Vestido florido e chapéu
de palha. Ela está uma gracinha.
— Você está uma mocinha.
— Boh! — grita batendo as mãos nas perninhas. — Boh!
— Boh?
Estico minha mão para ela, que é empurrada.
— Boh! Boh... Boh... — continua e seu rostinho fica tristonho de
repente.
— Oh, amor, não.
— Acho que ela quer isso.
Olho para Paolo vindo de dentro da casa com o cachorrinho de
pelúcia na mão. Ele chega até nós e se agacha, sentando-se nos calcanhares.
Entrega o urso para Sophia e ela grita:
— BOH!
— Boh é o urso? Eu não sabia. Estou há uma semana aqui e não
sabia.
Paolo sorri olhando para a filha.
— Eu também não sabia.
Suspiro e admiro-o na minha frente. Eu realmente sinto uma atração
maluca por ele. É tão bonito e não parece ser tão velho. Definitivamente não
sei nada sobre aparentar a idade que temos. Será que tenho mesmo cara de
dezesseis.
— Que cara é essa? Está se sentindo bem?
Pisco rápido e o encaro.
— Eu tenho cara de dezesseis?
Paolo cerra os olhos, desconfiado e fica me encarando como se fosse
um bicho em extinção.
— Por que a pergunta?
— Porque você não parece ter trinta e sete.
Um som estridente sai da sua garganta e ele se levanta.
— Vamos entrar. Vim buscar você para fazer compras.
— Minhas roupas te incomodam também?
— Você pergunta demais, Nina. Vamos. — Estende a mão para mim.
Sem minha resposta, aceito sua mão e fico de pé e, quando estou
quase cara a cara com ele, porque ele é muito mais alto que eu, seu rosto fica
perto do meu e engulo em seco com a intensidade dos seus olhos.
— Não incomoda não. — Se afasta, muito rápido e manda: — Agora,
pegue minha filha e vamos sair.
Sua filha. Sempre sua filha. Tudo bem. Ela não é minha, mesmo.
Ignorando minha irritação, me agacho e pego Sophia, que estava com
os braços esticados pedindo atenção.
— Vamos, minha princesa. — A ajeito no meu colo e arrumo sua
franjinha. Seu cabelo cresce rápido. — Vamos passear com o papai.
Virando-me para Paolo, o flagro olhando para mim com uma
expressão estranha.
— Aonde vamos? No shopping?
— Melhor.
— O que é melhor do que o shopping?
— Você não pode esperar, não?
— Não é isso. Eu posso esperar. Só estou curiosa.
— Isso eu já percebi — fala com sarcasmos.
Prendo a vontade de rir porque ele está tranquilo hoje e parece que
aconteceu alguma coisa que o deixou leve. Geralmente é tão fechado e
distante. A placa de “Não olhe para mim”, hoje está fora das suas vistas. Em
vez disso, ele está se permitindo. Não quero estragar o clima.
Eu o sigo para dentro de casa com Sophia nos braços agarrada ao urso
e batendo quase no meu rosto. Eu não ligo. Ela é uma graça.
— Você vai levar o urso com a gente?
Olho para a mão de Soph e para Paolo.
— Eu acho melhor não — ele recrimina.
— Qual o problema de levar o urso de pelúcia?
— Se ela perder, eu não sei se Madeleine pode achar outro igual e
não quero Sophia chorando por besteira.
— Madeleine? — indago franzindo a testa.
— A esposa do Capo. Ela deu de presente para Sophia nas vezes que
veio ajudar.
— Posso fazer uma pergunta?
Ele me olha com desconfiança como se não tivesse a fim de
responder. Porém, eu sou eu e faço a pergunta:
— Há quanto tempo sua esposa morreu?
— Não quero falar da minha esposa.
— Da sua ex-esposa — corrijo.
— Não estrague o dia, Nina — fala seco e sai pela casa entra no
corredor, que eu sei que fica o seu escritório.
Parabéns, Nina. Conseguiu deixar o seu marido de novo no modus
operandi de distância. Está feliz agora? Meu inconsciente zomba de mim.
— Eu acho que não posso falar da sua mãe — comento para Sophia.
— Mama.
— Isso. Mamãe. Você a conheceu? Será que conheceu?
— Se eu fosse você, não ficava fazendo esse tipo de pergunta.
Eu me viro para a voz atrás de mim, Gregori.
— Paolo é fechado, como você consegue ver, mas nem sempre foi
assim e a sua esposa era uma das únicas pessoas que fazia ele relaxar.
— Sua ex-esposa.
— Você compreendeu — sentencia rudemente. — O que eu estou
querendo dizer. — Ele se aproxima com sua expressão séria. — Se casar com
você foi porque ele estava muito cansado para cuidar da filha sozinho. Sophia
precisava de uma mãe e ele de alguém para ajudar. De alguém para ser sua
parceira. Não fica fazendo esse tipo de pergunta se deseja uma boa vida com
ele.
— Mas eu não perguntei nada demais.
— Falar da ex-esposa de Paolo é tudo que vai fazê-lo ficar mais
distante de você.
— Então você pode me responder?
— Ela morreu quando a Sophia tinha quinze dias de nascida.
Satisfeita?
Meu coração para e meus olhos enchem d'água. Quinze dias, então
ela quase não conviveu com a filha e o Paolo ficou esse tempo todo sozinho
cuidando de um bebê recém-nascido.
— Isso quer dizer...
— Que Sophia vai ter você como a mãe dela, mais ninguém. Não
acredito que ela vai conseguir se lembrar de Mia. Com certeza, não.
— Ele se casou comigo para eu ser a mãe dela?
— É isso mesmo. Por que você está surpresa?
— Não é isso. Teria sido mais fácil e eu não ficaria insistindo às
vezes, nem falaria sobre ela ou tentaria descobrir.
— Você não está toda errada. O certo era as pessoas lhe dar
informações, mas quase ninguém sabe da situação.
— Qual era o nome dela?
— Mia.
Mia? Eu ouvi Paolo falar esse nome um dia desses. Ele parecia estar
falando sozinho no escritório e eu não entrei porque não me sinto à vontade
ainda para me aproximar dele. Eu não quero insistir. Prometi a mim mesma
que não iria me rebaixar a ele. Prometi que nessa vida nova, eu iria dar tudo
de mim para as pessoas gostarem do que eu sou, não do que elas esperam que
eu seja. Eu não quero ser uma mulher que fica se arrastando para o homem.
Estou me esforçando e sendo uma mãe muito legal para a Sophia
nesses dias. Atenciosa e fazendo muito mais do que qualquer um já tenha
tentado. A criança nunca nem deve ter visto aquele jardim. Mas se ele estava
falando com a esposa morta, quer dizer que ele ainda a ama. Que sente a falta
dela.
Meus olhos enchem d'água e eu sinto uma dor no peito.
Será que ela vai ser uma sombra entre nós. Um fantasma do que ele
viveu.
Eu não quero isso. Eu não mereço isso.
— Por que você quer chorar? Está triste pela morte dela? Realmente
foi terrível.
— Como ela morreu? Foi complicação do parto?
— Não. Foi um atentado da Bratva no casamento do Capo.
— Então é por isso que a esposa dele vem cuidar da menina.
— Madeleine veio cuidar da Sophia algumas vezes porque se sente
culpada, sim. Mia estava na sua frente quando tomou o tiro, no lugar dela.
Mesmo que Paolo e Travis não gostem de falar sobre isso, é bom que você
nunca mencione que eu falei isso. Eu gosto da minha vida.
— Minha boca é um túmulo. E eu fico feliz que você esteja falando.
Eu preciso que alguém me esclareça algumas coisas. Odeio ficar no escuro.
— Eu vou falar só o que eu acho que você precisa saber. Nada além
disso.
— Agradeço.
— Madeleine também é madrinha de Sophia e, por isso, ela vem
visitar a menina. Melhor do que Marta, ela cuidou do Sophia muitas vezes,
mas você está fazendo um bom trabalho. Continua assim que Paolo vai lhe
dar o devido respeito. Sinceramente, tenha paciência. Talvez ele se acostume
com você. Ele vai precisar de um filho homem.
Oh, meu Deus!
Agora eu fiquei mais aliviada ainda. Ele vai me procurar para transar
para eu engravidar do filho dele, apenas isso. Sou a mãe incubadora jovem.
— Podemos ir? — A voz de Paolo chega até nós.
Me afasto de Gregori, virando-me para o meu marido, que está de
testa franzida olhando de mim para o segurança.
— Qual o problema?
— Nenhum — respondo rápido demais e me arrependo. — Gregori
só foi... Eu pedi a ele para tirar as coisas do jardim. Não quero que suje. A
colcha ainda está limpa.
— Está bem. Agora, vamos.
— Só vou pegar minha bolsa e Gregori...
— Sim, senhora.
— Pegue o carrinho da Soph nos quartos dos fundos.
— Sim.
Subindo correndo as escadas, passo pelo quarto de Paolo e vejo as
portas abertas. Ele dividia o quarto com Mia ou ela também tinha seu próprio
quarto?
Duvido. Ele a amava. Pior que superar o ódio de alguém é substituir
um amor. Pessoas especiais ficam para sempre marcadas em nós. As que
odiamos têm tempo para nos fazer lembrar delas.
19

G regori me ligou dizendo que minha mulher estava no jardim com


Sophia, e algo inquietante me fez vir em casa. Quando cheguei e
vi as duas sentadas numa manta branca com roupas iguais, flores,
foi como se estivesse enxergando Mia e nossa filha ali.
Então, quando fui chegando mais perto e realmente consegui enxergar
Nina, a visão de algum jeito me agradou ainda mais. Porra. Ela vestiu a
minha filha igual a ela e ainda botou um chapeuzinho de palha idêntico ao
seu. Pareciam mãe e filha.
Eu quis tirar uma foto delas duas juntas ali no meio do jardim que
Mia tanto amava, agora morto e sem vida.
Parei de ligar para o jardim e sua estufa no quarto mês após sua
morte. Primeiro, que não tinha tempo. Marta também não e, com a guerra, foi
sendo esquecido. Agora o verde do gramado está mais para amarelo, mesmo
assim continua bonito. Preciso arrumar alguém pra cuidar dele. Mia iria
gostar que eu fizesse isso por ela.
Eu vou tentar resgatar o jardim para a minha filha ter um lugar para
brincar com Nina.
E o convite para fazer compras, não sei o motivo de fazer isso.
Foi a coisa mais improvisada que já fiz na minha vida e nem estou
com tanto tempo livre assim. No entanto, aqui estou eu passeando pelo
corredor do Bellagio e Nina com os olhos brilhando de admiração para as
lojas de grife.
— Eu posso mesmo entrar em uma dessas lojas e comprar o que eu
quiser?
— Pode, Nina — respondo pela terceira vez a mesma pergunta.
Eu não sei o que que se passou na cabeça dos pais dela. Como
conseguiram ser tão rudes com uma pessoa tão doce. Ela é tão passiva. Até
quando eu sou grosso, ela é doce comigo.
— Você vai comprar alguma coisa para você também?
Olho para ela e nego com a cabeça.
— Não preciso de nada.
— Tem certeza?
— Tenho certeza, Nina. Entre logo e compre alguma coisa. — Eu
tento soar não tão grosseiramente. Foda! Nem sei mais como não ser grosso
com as pessoas. É involuntário.
— Está bem. Eu vou comprar. — Chega perto de mim e estica a mão.
—Cadê o dinheiro?
Ela é inacreditável.
Pego da minha carteira e entrego o meu cartão black, mesmo que não
tenha necessidade. Eu sou o gerente do Bellagio e o Consigliere do chefe
dessa máfia, que é o dono desse hotel e comanda todas essas lojas e a cidade
de Las Vegas. Qualquer membro da sua Famiglia ou que ele permite fazer
extravagância por aqui, simplesmente entra, compra e coloca na conta do
Travis. Ou na minha, no caso.
— Você pode não precisar, mas eu vou te dar o cartão para você se
sentir mais à vontade.
— E qual é a senha?
Merda. É o aniversário de Mia.
Eu esqueci de trocar, mas ela não vai saber. São quatro números. Isso
só me fez lembrar que é mês que vem.
— 0509.
— Está bom. Obrigada — Nina agradece e entra com Sophia no
carrinho em uma das lojas.
Fico do lado de fora e detenho a vontade de acender um cigarro.
Esses dias trabalhar e esquentar a cabeça com as coisas da Famiglia tem feito
eu fumar menos. Qualquer pessoa acharia isso estranho, porque normalmente
o estresse faz as pessoas fumarem mais. A minha cabeça está tão cheia de
trabalho e de Nina, que não me lembro de fumar.
Nina com seu avental rosa florido pela casa.
Nina conversando com a minha filha de madrugada.
Nina fazendo mamadeira e derrubando as coisas na cozinha e fazendo
eu me levantar de madrugada.
Nina vestida igual a Mia.
Nina e sua bunda linda, que está sendo muito difícil resistir.
Estou quase cedendo e transando com ela de novo. Porra, ela é minha
esposa. Não me casei com ela só para ser uma babá para a minha filha. Casei-
me para foder quando tiver vontade e uma hora gerar outros filhos. Não sentir
nada por ela é diferente de não me sentir atraído por ela.
Ela sai da loja com uma sacola. Chega perto de mim e estica a mão.
— O que que foi? — Olho para a sacola e para ela.
— É um presente para você.
— Por quê?
— Porque no nosso casamento, você me deu um presente, lembra?
Me deu aquela pulseira de cristal e eu comprei um presente para você agora.
— Sorri envergonhada. — Não sei se meu pai deu alguma coisa, mas eu acho
que seria educado devolver e aqui está.
Estou, de novo, sendo surpreendido por ela. Mais uma vez.
Eu pego o presente, tiro da sacola vendo que é um relógio e abro a
caixinha de veludo encarando o Rolex com a pulseira de couro marrom e o
relógio de ouro.
— Muito obrigado. Eu gostei.
— Gostou mesmo? Se quiser pode trocar.
— Não, eu gostei — afirmo guardando o presente no lugar. — E
você, não vai comprar nada para você?
— Não aqui. Não tinha nada que eu gostasse. Não sou chegada a
joias.
É bom eu registrar isso.
— Vamos! Eu quero ir naquela loja de brinquedos.
— Vai comprar presente para Sophia? E para você?
— Calma, Paolo. — Mostra seu sorriso jovial para mim. — Eu tô
passeando. É bom ficar olhando. Não é simplesmente entrar nas lojas e sair
comprando. Gosto de passear no shopping, ou nesse corredor chique de lojas,
e então vou olhar algo que eu goste e vou experimentar, e talvez compre.
Ela quase fala cantando e, por força maior, eu me lembro de que ela é
muito jovem. Não pensa em nada, apenas no hoje e no agora. Não se
arrepende, não se incomoda e eu espero que ela não guarde remorso das
vezes que sou tão estúpido.
— Tudo bem. Vamos passear.
Ela sorri assentindo e me surpreende cruzando seu braço no meu.
Olho para onde nós estamos conectados e percebo que ela parou de
respirar quando encontro seus olhos.
— Você quer que eu me afaste?
— Não, tudo bem. Pode ficar.
Eu me casei com ela. É minha esposa e é normal andar de braço
cruzados.
Empurramos o carrinho, eu com uma mão e ela com a outra. Nunca
fiz isso com Mia. Não tive oportunidade.
Odeio ter que pensar nela o tempo todo. Odeio ter esses pensamentos
de que eu nunca vou experimentar com ela nada sobre a nossa filha.
Eu preciso me concentrar nessa esposa aqui. Nessa doce e jovem
esposa. Minha faladeira.
— Ali está a loja que eu falei.
Nós paramos e entramos numa loja de brinquedos, que eu nem sabia
que existia no Bellagio.
— Olha!
Faço o que pede.
— É igual o urso da Sophia.
— Ele é maior.
— Mas é igualzinho. Vou comprar para ela. Para ser o irmão do Boh.
— Irmão?
Nina congela e vira-se para mim lentamente.
— Falando nisso...
Eu sabia que ela vinha com uma pergunta.
— Pode falar.
Não sei porque eu ainda tento mandar ela cala a boca, se eu falei para
ela falar. Acho que nos vinte anos que ela conviveu com os pais, não falou. E
aí ela vai passar vinte anos falando comigo, só vai parar de falar com
quarenta. E depois? Será que vai calar a boca de novo?
Esse pensamento é perturbador e, ao mesmo tempo, idiota.
O que está passando na minha cabeça?
— Eu estava pensando se você vai querer...
— Que a Sophia tenha irmãos? — completo sua pergunta. — Claro
que sim. Mas não agora. Ela é muito pequena ainda. Concentre-se em fazê-la
andar, falar e comer sozinha. Depois a gente pensa nisso, está bom. Espero
que você esteja usando o controle de natalidade.
— Estou usando sim. Uso desde os meus dezoito porque eu tenho um
cisto no ovário. Então eu tinha que tomar, mas antes de nos casarmos, eu fui
ao médico para ver se estava tudo okay.
— Você tem um cisto no ovário? E pode engravidar?
Como alguém me vende um material com defeito?
Puta que pariu, Paolo, pensar isso é horrível. Quero cortar o meu
cérebro ao meio nesse momento. Eu acabei de chamar minha esposa de um
produto defeituoso.
— Não. Já acabou. Quando o médico receitou a pílula, sumiu. Eu
posso engravidar e mesmo assim, muitas mulheres engravidam com cistos.
— Ah, sim. Tudo bem.
— Não se preocupe, eu vou poder dar um filho para você. Mas não
agora — ela completa ficando séria e vira-se empurrando o carrinho para
longe de mim.
Ela é muito engraçada e até mesmo eu que sou difícil de achar graça
nas coisas, tenho que dar o braço a torcer. Madeleine iria adorar saber que
estou sendo torturado pela graça da minha esposa.
— Ela fala pra caramba. — Escuto o Gregori falar atrás de mim e
olho para ele.
— Eu pedi para ela falar. Acho que ela passou a vida toda sem falar
em casa e agora irá passar a vida toda falando comigo.
— Eu espero que você fique feliz. É horrível quando a gente convive
com pessoas que guardam segredos e não se comunicam.
Eu focalizo bem o seu rosto, tentando descobrir por que ele disse isso.
— Quer me contar alguma coisa?
— Não, senhor. Foi só um comentário aleatório. — Dá de ombros. —
Eu gosto dela. Está se esforçando. Meu medo era que ela fosse retraída perto
de você e uma completa idiota com a Sophia, mas eu só sirvo agora de
segurança. Com a Marta, muitas vezes eu tive que cuidar da sua filha.
Desculpe falar isso agora.
— Por que não falou antes?
Ele vem para a minha frente e olha para mim.
— Você já estava com muita coisa no seu prato para lhe dar mais
isso. Não precisava. Mas agora isso acabou. Nina é uma ótima mãe, mesmo
que ainda não consiga se situar como tal. Com o tempo vai se acostumando, e
a própria Sophia.
— Não acha estranho?
— O quê?
— Sophia ter se acostumado tão rápido com ela.
Gregori franze a testa me olhando estranho e se aproxima mais.
— Você acha que ela se apegou rápido a Nina porque lembra a Mia?
Porque se fosse... Senhor... sendo bem honesto não acredito nessa hipótese.
Até porque a Sophia se dá muito bem com Madeleine e Marinne, e óbvio
com a Marta. Sophia gosta da Nina porque a Nina é impossível de odiar.
Mesmo que ela tire a paciência de vez em quando, por falar além da conta,
ela devia ter um botão de pausa.
Mesmo achando graça, fecho a cara para ele.
— É da minha esposa que está falando.
— Me desculpe. Eu vou atrás dela para ver se está precisando de
ajuda.
— Não precisa, eu vou. Se eu vim junto, posso fazer companhia. É
minha esposa e a minha filha lá dentro. Eu posso ir ficar perto delas?
— Claro, senhor. — Ele se afasta e eu entro na loja.

Finalmente chegamos em casa e Gregori ajuda a levar as compras para cima


com Nina, e Sophia está amarrada a ela no canguru. Minha esposa fez
questão de comprar e fazer a vendedora ensiná-la a prender minha filha
direito nela. Deu tudo certo e ela passou o final do passeio com minha filha
grudada nela e falando seu dialeto de bebê.
Ela também comprou um monte de roupas para Sophia, brinquedos e
roupas de cama com muitas flores. Percebi que ela gosta e, mesmo trazendo
memórias, eu só fiquei olhando e gostando dela sorrindo e se divertindo com
Sophia. Parecia que eu via aquela cena desde o início. Como se os oito meses
que passei sozinho não existisse mais.
Para ela, comprou saias, vestidos, algumas blusas com babados nos
ombros, porque está na moda. Ela fez questão de vestir todas as roupas para
mim e dar voltinhas para eu ver como ficou.
Porra. Eu sou um homem forte, criado para ser determinado e
perspicaz. Estar à frente dos inimigos, e essa garota me deixa com as pernas
fracas com coisas que não espero, como: o presente, as gracinhas e o jeito
doce com minha filha.
E assim foram só, apenas, cinco horas fazendo compras.
Eu poderia me sentir arrependido se não tivesse gostado de ficar perto
de Nina. Não posso agir como um estranho com ela por muito tempo. Não
podemos ser estranhos para sempre. O andamento do casamento arranjado é
isso. Somos obrigados a nos conhecer e conviver quando já somos casados e
temos a obrigação de nos aceitar e tolerar.
No meu escritório, dou alguns telefonemas e vejo que está tudo em
ordem. Por eu ter trabalhado essa semana que nem um condenado, pude tirar
um tempinho hoje para a minha família. Travis disse que é importante.
Ele pode ser um babaca muitas vezes, mas sobre família, ele honra,
quase como nenhum outro Capo, como chamamos nossa organização
criminosa italiana: Famiglia. Ele tem muito respeito aos seus homens, as
pessoas leais a ele e espera que seus homens honrem seus Clãs. Talvez ter
tido um pai e uma mãe que não fizeram nada por ele e seus irmãos, fez dele
um líder preocupado com o refúgio dos seus homens, que é sua família, sua
esposa e filhos.
Eu volto para a sala esperando Nina, mas vejo o Gregori descer
apenas.
— Cadê elas?
— Nina disse que vai tomar um banho e dar em Sophia também.
— E quem é que vai ficar olhando Sophia?
— Elas vão tomar banho juntas. Disse que você pode tomar alguma
coisa enquanto a espera para o jantar.
Sem dar uma resposta, subo e entro no quarto de Sophia. Como não
vejo ninguém, vou para o de Nina. Eu bato na porta, apenas por educação, e
adentro o cômodo.
— Nina — eu a chamo.
— Estou aqui! — ela grita do banheiro. — Paolo?
— É claro que sou eu. Se Gregori entrar no seu quarto enquanto você
está tomando banho, eu corto os olhos e as bolas dele fora.
Ela dá uma gargalhada e eu abro a porta do banheiro. A vejo
completamente nua debaixo da água esperando a banheira encher. Sophia
está nos seus braços brincando com a água, que cai do chuveiro. É uma
imagem graciosa e eu tento expulsar a parte que acho deliciosa. Sua pele
quase intocada ficando molhada é tentador.
— Quer se juntar a nós?
— Não. Nunca. Eu jamais tomaria banho com a minha filha.
— E se ficar de cueca?
— Não insiste, Nina.
— Eu estou brincando. Você tem que rir um pouco.
E eu rio, um riso que não consigo conter e baixo a cabeça para ela não
ver. Não quero que ela pense que ganha tão rápido esse jogo.
— Eu esqueci de pegar a toalha da Sophia. Você pode ir lá buscar?
Está no quarto dela no banheiro.
— Eu já volto.
Vou rapidamente pegar a toalha e, quando volto, elas duas estão
dentro da banheira. Sophia brinca batendo em cima dos peitos de Nina. E eles
são lindos.
Para com isso, Paolo!
— Ela não pode ficar muito tempo no banho. Não quero que fique
resfriada. Você pode pegá-la. Vou terminar rapidinho.
— Fez isso de propósito?
— Fiz o quê de propósito? — Ela arregala os olhos.
— Você entrou no banho com a minha filha só para eu vir aqui e te
ajudar?
— Na verdade, não. Eu estava pretendendo ter um banho rápido, mas,
como você está aí, pode me ajudar. A não ser que você não queira pegar sua
filha nua, pequenininha e fofinha. É só pegar ela. Eu vou vesti-la e colocar a
fralda.
— Já troquei a fralda dela mais vezes do que qualquer homem já
tenha trocado a fralda de algum filho. Não é o problema. Eu dou banho nela,
só nunca vou tomar banho junto com a minha filha. Eu acho que é... ridículo.
— Tudo bem. Já entendi — sussurra e olha para a minha filha. —
Vamos acabar com esse banho, Soph — fala animada para Sophia, que bate
na água. — Isso! Água. Fala: água. Água!
— Bah, Bah.
— Água.
— Bah!
Nina dá uma gargalhada, balançando a cabeça.
— Está bom. Já que você chama o seu cachorrinho de Boh, agora a
água vai ser Babah.
— Bah!
— BAH? Então vai ser Bah.
Eu suspiro e espero. Nina termina de tirar o sabão e se levanta com
Sophia nos braços.
— Agora pega e a seque. Pode colocar a roupa se você quiser.
— Vou fazer — digo ignorando meu desejo de olhar para os seus
peitos, sua barriga lisa e os pelos pubianos, que são loiros como seus cabelos.
E ela fica muito bonita com os cabelos presos todo para o alto.
Respiro fundo, ignorando a ereção que está quase por vir, e levo
minha filha para o seu quarto.
— Você vai ter uma mãe meio doidinha. Sinto muito.
— Ni.
— Nina?
— Ni!
Será que ela está tentando dizer Nina. Assim tão rápido?
— Papai?
— Papa.
— Você disse papai?
— Papa.
Ela disse papai.
— Sim, meu amor. Eu sou o papai e você vai ter uma mamãe louca.
— NI!
— Isso, meu anjinho. Sua mãe. Você vai ter duas mães, uma aqui e
outra no céu.
Depois que eu visto minha filha, a coloco no bercinho e mais forte do
que eu, minhas pernas me levam para dentro do quarto de Nina. Para o seu
banheiro.
A vejo se esfregando com a esponja. E estou tirando da sua mão. Ela
leva um susto e vira-se para mim.
— O quê?
— Sou eu.
Ela fica de boca aberta, surpreendida e solta a respiração.
— Vira de costas para eu esfregar você.
— E-Está bom. Se... você insiste.
— Você podia falar um pouco menos.
— Você disse para eu falar — me responde malcriada. Está me
provocando.
Esfrego suas costas até ver que ficou branca de espuma, sua pele é
alva. Escuto quando ela geme e a vejo apertar as mãos. Deslizo minha mão
para a frente do seu corpo, toco sua barriga e subindo, toco os seus seios. Ela
deixa o corpo vir para trás, encostando no meu peito, molhando meu paletó.
Eu fecho os olhos sentindo o perfume do seu pescoço. Toco seus mamilos,
estão duros, e apalpo o seio esquerdo.
— Isso é frio?
— Não — geme. — A água está quente — diz e eu acho que nem se
dá conta.
Solto a esponja, que cai na água da banheira fazendo uma bagunça e
minha outra mão pega o seu peito direito. Massageio seus seios e escuto Nina
suspirar alto e me dá mais acesso jogando seu pescoço para o lado, que eu
beijo e chupo a pele perto do seu ombro.
— Você está comendo sabão.
Pelo amor. Como ela pode?
Rio e seguro seu rosto pelo queixo, fazendo-a olhar para mim.
— Então eu vou comer outra coisa. — Assim que eu digo isso, minha
boca está na sua.
A beijo num beijo barulhento e excitado. Eu estou de pau duro desde
que a vi dormindo com aquela saia na cama do berçário mostrando sua
bunda. Nas vezes que ela aparece na minha frente de manhã com a camisola
branca. Quando dá seis horas, todos os dias, ela vai até o quarto de Sophia
para vê-la acordar e me dá um bom-dia e volta dormir. Ela está decidindo
entre dormir no seu quarto e no quarto de Sophia. Hoje, eu quero que ela vá
para outro lugar.
— Quando a gente acabar de jantar, eu quero que você vá para o meu
quarto — digo ainda segurando seu rosto pelo queixo.
Ela assente devagar, atônita.
— Tudo bem.
Dou um beijo estalado na sua boca e me afasto. Nina geme e vira-se
para mim sem um mínimo pudor e tenta me tocar.
Recuo e provoco:
— Mais tarde.
Saio do seu banheiro e vou para o meu quarto trocar de blusa e depois
até a Sophia, que está resmungando.
— Já vamos descer. Papai está morrendo de fome.

Como esperado, nós dois jantamos, em silêncio. Comemos um prato muito


gostoso que Marta fez por recomendação minha. Porém, noto que Nina não
está comendo.
— Não gostou da comida?
— Eu gostei. — Levanta o rosto para mim. — Só não sou muito
chegada a carne. Prefiro frango ou peixe. — E completa com afobação, como
se estivesse com medo: — Mas não estou reclamando, não. Está uma delícia.
— Tudo bem, Nina. — Tento tranquilizá-la.
E, de repente, ela estica a mão dizendo:
— Tem uma coisa na sua boca. — Ela limpa o canto da minha boca.
— Obrigado — peço estranhando a sua delicadeza comigo.
Mia foi a única que me deu bondade. A única que não fez questão do
monstro que sou. Não esperava mais de ninguém o mesmo, mas aqui está
Nina. Eu deveria gostar, mas odeio ela ser como Mia. Tão parecida em tudo.
Baixo a cabeça, desviando minha atenção dela e continuo a comer.
Estranho como meia hora atrás, eu estava quase devorando ela na sua
banheira, e agora estou me estressando de novo. Ela não para de olhar para
mim e isso está me incomodando. Esses olhos cheios de juventude com
braveza do mundo, achando que a vida é fácil.
Eu quero transar com Nina porque passei oito meses sem ter um
mínimo contato com mulher alguma, e qualquer pessoa que já tenha perdido
a virgindade, sente vontade de vez em quando de trepar. Por mais que eu
tenha mergulhado em cuidar da minha filha e tentando ser o Consigliere de
Travis, e focar na vingança, tive vontade de foder, só não queria ir para a
cama com uma prostituta. Isso era desonrar demais a memória da minha
esposa.
Nenhum homem de honra trai ninguém, principalmente a mulher que
confia para dormir ao seu lado na cama com ele. E para mim, quando fez três
meses que Mia morreu, ela era viva demais para eu ir para cama com
qualquer outra mulher.
Eu me senti a traindo quando tirei a virgindade de Nina, e ainda me
sinto um desgraçado, sendo um maldito filho da puta, em desejar minha
jovem esposa. Mas eu sou homem, porra! Eu tenho necessidades e essa
mulher na minha frente, com esses olhos azuis esperançosos e curiosos, é
minha esposa. Eu posso tê-la nos meus braços essa noite. Tê-la embaixo de
mim gemendo. Espero que, dessa vez, seja melhor do que a primeira.
Tirar a virgindade é uma merda. Não sei como o Colen falou aquilo
que, de vez em quando, é bom pegar uma virgem. Vou ter uma conversa
muito séria com Travis sobre as virgens que o irmão dele deflora.
Sophia faz um barulho e joga longe o talher de plástico, que ela
estava tentando comer o purê de batata, com Nina a ajudando.
— Acho que ela não quer mais comer e, por mim, tudo bem. Eu vou
subir e ficar com ela.
— Okay. Daqui a pouco, eu subo também.
Dando um sorriso sem graça, Nina se levanta. Limpa sua boca com o
guardanapo de pano, faz o mesmo com Sophia, e depois a pega no colo.
Ficar sozinho nessa mesa me traz lembranças muito ruins.
Eu passei oito meses aqui, depois de botar minha filha para dormir ou
mamar, o que for. Eu comi sozinho por muito tempo, e espero não comer
mais. O que aconteceu agora foi um imprevisto. Nina não fez de propósito.
Talvez esteja nervosa e posso adiar o meu tesão por ela.
Vou demorar aqui embaixo para dar chance de ela dormir e não
precisar me recusar.
20

A verdade é que não sei o que esperar quando o Paolo pediu para eu
ir para o quarto dele. Eu ninei e troquei a fralda tão rápido, para
Sophia dormir logo, que me sinto até culpada. E já tem dez
minutos que estou sentada na ponta da cama dele. Eu estou no quarto dele.
Não tinha entrado aqui ainda, diferente dele que entrou três vezes no
meu quarto. Uma delas foi para brigar comigo porque eu estava demorando
para voltar.
Sophia tinha acabado de tomar banho e ele achou que eu estava
enrolando para ir ver a bebê. Eu jamais faria isso com Sophia. Ela é a minha
princesinha.
Será que ele vai querer transar comigo hoje de novo. Eu espero que
sim. Honestamente fico esperando-o me tocar de novo desde aquele dia, e
hoje ele esfregou minhas costas, tocou meus peitos e foi maravilhoso. Delirei
e queria que ele colocasse a mão lá embaixo porque sinto um vazio nas noites
que penso nele.
Será que é normal ficar assim?
— Meu Deus. Eu estou suando.
Vou até o banheiro, correndo, para ver se ainda estou apresentável.
Penteio meus cabelos com uma escova que tem na pia e confiro meu vestido.
É simples, preto, colado ao corpo e deixa acentuado todas as minhas curvas,
os meus peitos. Parece que Paolo gosta deles.
— Eu sabia que ela não viria.
Escuto e saio do banheiro. Dou de cara com Paolo. Ele arregala os
olhos e toma uma respiração aguda.
— Onde você estava?
— No banheiro. Fui... fazer xixi — minto.
Eu deveria falar isso em voz alta?
De vez em quando eu não tenho filtro e ninguém é obrigado a tolerar
as coisas que sai da minha boca.
Ele caminha em minha direção e seguro a respiração. Sua mão voa
pegando meus cabelos e está em cheio por trás da minha cabeça, que eu deixo
cair um pouco para trás. Nossos olhos se encontram e os dele estão negros.
Famintos. Um animal feroz.
O arrepio se espalha pelo meu corpo e sinto meus mamilos
endurecerem, pressionando o sutiã de renda que coloquei de propósito.
Comprei hoje porque a moça da loja disse que empina os peitos.
— Você está linda com esse vestido.
— Obrigada. Foi você que me deu hoje.
Vejo seus lábios estremecerem e logo sua mão, que estava livre, toca
minha cintura. Ele respira com força e fecha os olhos por breves segundos.
— Você está cheirando a canela.
— Eu escovei os dentes.
Assente e seus lábios estão nos meus, furiosos. Não sei por que, mas
sinto como se estivéssemos numa corrida desenfreada. Será que ele ficou
preocupado de eu não querer que nós tivéssemos outro contato depois da
noite de núpcias. Eu apenas não queria, e não quero, ficar me jogando para
ele. Já passei vinte anos de humilhação. Não quero mais um segundo.
— Vou fazer tudo aquilo que você permitir.
Toco seu peito e franzo a testa.
— Eu quero.
— Você quer transar comigo?
— Eu quero tudo — respondo subindo minhas mãos no seu peito e
começo a abrir os botões da camisa e do colete.
Ele está perigosamente atraente. A camisa dele e o colete com suporte
de armas ficou. Ele tirou o paletó porque provavelmente molhei no banho.
Isso me deixa eufórica.
— Você fica bonito assim. Assustadoramente bonito.
Sua expressão é tentadora e gananciosa. Eu nem reconheço meus
pensamentos, meus desejos. Eu era apenas uma menina, noiva de um soldado
que está na Itália e que gostava de flores e era supermaltratada pelos pais.
Agora sou esposa e a mãe de Sophia. Não mais uma menina. Esse
pensamento me causa ansiedade em tudo. Até de ser a mulher dele.
— Sou sua mulher — sussurro encarando.
— Sim, você é — ele reafirma.
Agarra minha cabeça de novo entrelaçando seus dedos nos meus
cabelos e me beijando até tirar o fôlego. Sua língua dança com a minha e
adoro. Corajosa também, enfio meus dedos por seus cabelos grisalhos. Eu
realmente gosto dos cabelos dele. Esse ar de maturidade o torna mais sexy.
Depois que paramos de nos beijar, nos afastamos para poder tirar as
nossas roupas. Desabotoo todos os botões da sua camisa e o colete. Ele deixa
cair no chão e me agarra, vira de costas. Abre o zíper do meu vestido e
desliza pelas minhas pernas apalpando meu corpo em todos os lugares que
anseio por seu contato. Ele quase arrebenta meu sutiã, mas eu o advirto
porque comprei hoje.
Ele tira minha calcinha e me abraça por trás, como estava na
banheira. Sua boca está no meu pescoço, lambendo até meu queixo e uma das
suas mãos toca meus peitos e desce. Seus dedos dedilham até o vale dos meus
pelos pubianos. Passa a ponta do dedo nos lábios e logo está massageando
onde formiga: a ponta do meu clitóris.
— Você está molhada — sussurra no meu ouvido e parece surpreso.
Eu não digo nada e junto minha mão com a sua, forçando-o a
continuar a me acariciando ali. Mordo o lábio sentindo uma quentura e gemo
alto, sem vergonha.
Ele continua brincando com meu clitóris, incansável. Eu estou quase
caindo porque minhas pernas viram gelatina, até que ele para. Me vira de
frente para ele, como se eu fosse uma boneca, e me beija segurando meu
rosto. Ele sempre faz isso. Essas mãos enormes e brutas seguram meu rosto e
seus lábios devoram a minha boca. Eu me sinto pequena em seus braços de
uma forma sexy. Ele é tão quente, alto, forte e musculoso. Eu toco seus
braços, sentindo os músculos e as várias cicatrizes, os pelos no meio do peito.
Pelos grisalhos.
Quando foi que o grisalho ficou tão sexy?
— O que que foi? — Afasta meu rosto, ainda segurando com suas
mãos e me encara. — Te incomoda?
— Não. Eu só acho... que combina com você.
— Meus pelos grisalhos combinam comigo?
Prendo meu sorriso mordendo minha boca.
— Você combina com você mesmo. — Toco seus ombros. — Não
consigo imaginar você sendo outro homem.
Seus olhos brilham e algo passa por eles que não consigo identificar.
— Como você me imaginava?
Eu poderia não falar, mas faço.
— Gordo, sem graça, um pouco parecido com meu pai e fedendo a
charuto.
Paolo ri, pela primeira vez para mim, e afaga minha bochecha com o
polegar.
— Ainda bem que eu não sou nada disso. E eu fumo cigarro.
— Percebi que está fumando menos. Está tentando parar? Seria bom
para viver mais.
Ele não responde e me dá um beijo. Gemo quando aperta minha
bunda e eu me agarro a ele. Dou um pulinho e consigo abraçá-lo, enlaço
minhas pernas em sua cintura e meus braços em seu pescoço. Ele continua
me beijando e sinto que anda.
Logo sinto o colchão macio e o cheiro bom das colchas quando ele
me deita, e não se afasta. Paolo mantém o contato me beijando, passando as
mãos na minha cintura, na minha bunda, nas minhas coxas e, quando para de
beijar minha boca, lambe meu queixo, meu pescoço e dá atenção para os
meus seios. Ele chupa um de cada vez.
Me agarro às colchas sentindo um prazer me enlouquecer e fecho os
olhos. Quase morro quando o sinto passar a barba no meu umbigo. Uau! Sua
boca está na minha boceta, me lambendo.
Ele parece gostar muito de fazer isso. Me chupar. Dá um beijo bem
no centro do meu calor, que envia um arrepio eletrizante por cada parte do
meu corpo. Me sinto eletrocutada. Sinto-me queimar e incendiar.
Paolo desce mais o corpo, se acomodando na cama para poder agarrar
minhas coxas, abrindo minhas pernas e começa a me chupar de verdade. Eu
abro a boca, sentindo meus olhos lacrimejar. Por que é tão bom?!
Se tivessem me contado antes que, quando a gente se casa tem isso,
eu teria aceitado ontem e com um sorriso. Mas será que, se não fosse Paolo,
seria assim? Não quero pensar nisso porque estou adorando demais isso que
ele faz com a língua na minha boceta.
Como Léa me falou brincando, mas agora comprovo: “Panela velha
que faz comida boa”. A experiência de Paolo é sexy e eu espero que um dia
ele ache o mesmo da minha juventude. Acho que nunca vou me cansar de
sexo.
Um gemido solta do meu peito, como se fosse uma corda que
arrebenta dentro de mim.
— Oh! — grito e ele levanta a cabeça.
— Não faz isso. Vai acordar a Sophia.
— Me desculpa. Me desculpa.
Ele sorri e vejo que seus lábios estão molhados. Não tem visão mais
sexy do que essa. Eu nem consigo pensar.
Por impulso, me sento, fazendo ele ir para trás e agarro seu rosto. Lhe
dou um beijo ardente.
— Eu não quero sua mão, nem sua boca. Eu quero você — murmuro
olhando-o nos olhos.
Fica me encarando e acho que vai fazer algo quando um choro
estridente atravessa a casa inteira e nós congelamos.
— Sophia — digo com a voz fraca. — Ela acordou.
Paolo fecha os olhos, parece se sentir derrotado e se afasta.
— Eu vou ver como ela está. Fica aí.
— Mas e se ela...
— Ela só quer atenção. Me espera aqui.
Eu não tenho outra opção porque estou nua e não sinto minhas
pernas.
Eu quero que ele volte logo.
21

F ico arrependido de ter atrapalhado nosso momento. Na verdade, eu


não atrapalhei nada, foi Sophia que acordou e ela podia ter esperado
um pouquinho mais para pedir atenção. Mas é um bebê e não
entende as coisas.
Estou parado, observando Nina dormindo na minha cama. Ela se
aconchegou e se cobriu deitando-se do meu lado da cama. Parece que tem
alguma voz extraordinária na cabeça dela que está aconselhando a fazer todas
as coisas certas para me convencer ou conquistar, de que ela foi a escolha
perfeita.
Me aproximando, eu cubro seus ombros e ela resmunga. Vou até o
banheiro tomar banho, bater uma punheta. Não tenho outra opção, porque
minha esposa pegou no sono e fiquei com vontade de foder. Que sorte a
minha.
Depois coloco minha calça de flanela e vou me deitar do seu lado,
mas paro.
Eu podia pedir para ela colocar a roupa ou ir para o seu quarto, no
entanto, em algum momento ela vai vir dormir comigo. Só não quero que seja
tão rápido. Não quero que pareça muito rápido que ela está substituindo Mia.
Com esse pensamento, vou dormir no quarto da minha filha, que
realmente só acordou e chorou pedindo atenção.
— Não é, minha querida?
Olho para Sophia dormindo agarrada ao urso de pelúcia novo: um
cachorrinho de pelúcia um pouco maior do que o que Madeleine deu, que ela
ainda está agarrada. Suas duas mãos estão ocupadas agora. Uma gracinha.
— Talvez você queira que o papai se comporte — penso em voz alta
e me sento na cama.
Depois que pego uma coberta no armário, me deito e olho para o teto
porque se eu virar para o lado, vou sentir o cheiro do xampu de Nina, que
está impregnado na merda do travesseiro.
Ela já está ficando em cada canto dessa casa. Como ela pode apagar
tão rápido todas as memórias de Mia? Será que um dia eu vou esquecer que
ela existiu, assim como seu cheiro já sumiu da casa?
Às cinco da manhã, saio de casa. Um horário mais cedo do que o normal.
Acredito que nunca saí tão cedo para trabalhar. Ir para trabalhar no cassino e
no hotel, não fazer emboscada e viajar para uma reunião para algum estado
substituindo Travis.
Um pouco depois das sete, meu celular toca e não reconheço o
número.
— Paolo Dal Moli — atendo da mesa do MGM.
— Sou eu. — A voz de Nina soa baixa e nervosa.
— O que aconteceu? Alguma coisa com Sophia?
— Não, é... — Faz uma longa pausa. — Você saiu tão cedo que nem
te vi. Está tudo bem?
Na medida do possível, estou bem.
— Está sim. Deseja alguma coisa?
— Vai vir jantar em casa?
— Não conte com isso.
— Ah... tudo bem. Vou desligar. — E ela desliga.
Fico encarando o celular. Eu sou um babaca. Não tinha necessidade
de tratá-la dessa forma. Ela não tem culpa por eu não conseguir enterrar
minha esposa.
Gregori mandou a mensagem não faz muito tempo. Pela primeira vez
eu o mandei se ausentar por algumas horas de vigiar Sophia e Nina. Sua
missão hoje tem outros fins. Ele conseguiu o que eu lhe pedi há nove meses.
Entro no local que ordenei ele trazer a encomenda e desvio dos
cascalhos de ferros enferrujados, peças de carros e motos destruídos. É um
lixão de peças que foram apreendidos, que usamos para desovar corpos ou
automóveis que a polícia descobriu o chassi. Algumas vezes trazemos uns
desgraçados para matar aqui e abandonar.
Virando uma pilha de carros amassados, vejo-o.
Todo o meu corpo entra em alerta. Adrenalina e fúria me consomem.
Ele está pelado e molhado, amarrado a uma cadeira de ferro perto de
Gregori com uma arma para a cabeça dele, mas creio que não usou, e sim
facas e punhos pela quantidade de sangue no chão.
Cerrando o maxilar controlando-me para não atirar na sua boca e
explodir sua cabeça. Paro na sua frente e encaro sua cara destruída. Eu
mandei meu soldado trazê-lo para cá pronto para eu lhe dar o último golpe,
assim como ele fez.
— Eu deveria lhe dar uma morte rápida. — Chego mais perto e
Gregori ergue sua cabeça puxando seus cabelos, para que ele possa me
enxergar. — Mas ela agonizou pelo menos por um minuto. Eu vou fazer
melhor.
Calmamente tiro um cigarro do meu bolso, acendo com meu isqueiro
e dou uma tragada.
Eu esperei esse momento por longos meses. O casei por todo o
Estados Unidos. Como um fodido de merda, ele estava debaixo do meu nariz,
escondido num hotel de lixo no fim da estrada que sai de Reno. Eu deveria
ter ouvido Luca e procurado nas redondezas. Gastei tempo e dinheiro à toa.
Ratos ficam nas espreitas dos esgotos.
Niklo Petronov é, não; foi, um soldado da Bratva, a serviço de Pyotr
Smirnov, um capitão do grupo do sul dos russos filhos da puta. Ele entrou no
meio do conflito de Ivon Avilov com Travis Lozartan, e perdeu muitos
homens no dia que atacaram a igreja e no decorrer da guerra declarada da
Lawless com Ivon. Niklo e outros soldados conseguiram fugir, e Pyotr deu a
desculpa de não querer mais estar em guerra conosco. Morreu mesmo assim.
O capturamos uns dias depois de resgatarmos Travis.
Se eu fosse humano quando se trata dos meus interesses e dos
negócios obscuros da Lawless, eu lamentaria matar um soldado de quatorze
anos que servia ordens sem questionar. Porém, lhe darei o mesmo que a
Bratva faria se pegasse um dos nossos soldados.
— Xeque-mate, Niklo! — Pronuncio em russo.
Vejo seus olhos aterrorizados brilharem no momento que solto o
cigarro. A chama acesa cai lentamente no chão e recuo assim que a explosão
acontece. Quando a faísca viva toca a gasolina em torno dele.
Com satisfação escuto seu grito quando a chama começa a lamber seu
corpo. Recuo dois passos quando o fogo quase alcança meus sapatos italianos
brilhantemente polidos. Enfio as mãos nos bolsos do sobretudo e assisto ele
agonizar por longos minutos, talvez horas.
— Gregori, vai embora. Vai cuidar delas — falo em italiano.
Os ouvidos dele, mesmo queimando, podem ainda funcionar. Não
quero que ele saiba das minhas fraquezas.
Ninguém nunca mais chegará tão perto do meu ponto fraco.
Não alcançará minha família.
Sozinho, dessa vez confortável em estar sozinho, aprecio ele morrer
na minha frente. Seu corpo queimar e virar carvão.
Espero a real satisfação e lamentavelmente não tenho, mas eu me
vinguei. Eu matei o penúltimo homem responsável pela morte de Mia. O
último eu preciso conviver quando me encaro no espelho e terei que aguentar
o meu purgatório vivo e castigando-me com a ausência da felicidade que
destruí.
22

Q ueria saber o que eu fiz de errado para o Paolo não querer falar
comigo. Ficou bem evidente no telefonema de mais cedo, que não
está com vontade nem de me ver. Poxa, ontem à noite pensei que nós
íamos engatar em um convívio harmônico de marido mulher.
Ele parecia com tanta vontade de querer transar comigo. Me preparei
toda para o momento, psicologicamente quero dizer, porque fiquei do jeito
que estava. Mesmo colocando aquele vestido para provocar, a calcinha e o
sutiã, não foi realmente para ele.
Eu queria demais, não só transar com ele, mas sua aproximação.
Ontem foi um dia incrível. Nós saímos como uma família na rua: eu, ele e
Sophia. Então ela chorou.
— Eu amo você, querida, mas você podia não ter chorado — comento
olhando para os seus olhos inocentes.
Vim para o jardim hoje de novo, dessa vez disposta a curtir o espaço.
Estou pensando em podar as pequenas árvores, regar os cantinhos que têm
flores quase mortas também e cortar as pontas dos roseiras que não vão
crescer mais.
Flores são que nem cabelo; se a gente tirar as pontas que estão podres,
elas se renovam e crescem mais fortes e mais bonitas. Tem até o lance de
cortar pela estação da lua que está na semana. Eu realmente quero cuidar
desse jardim.
Pegando Sophia no colo, dou uma caminhada com ela pelo jardim,
então vejo uma porta dupla francesa pintada de azul, desbotada por falta de
manutenção como todo o lado de fora da casa.
Do lado direito do jardim, no canto, tem treliças em volta da porta e
das duas pequenas janelas. É muito fofa e parece ter saído de um filme da
Disney.
— Você sabe o que é aquilo? — indago para Sophia, que olha para
onde estamos indo, quietinha.
Quando eu abro as portas, arregalo os olhos. E abro também um
sorriso. É uma estufa. Paolo tem uma estufa em casa. Por que ninguém nunca
me disse?!
Vendo que não tem perigo de nada cair em cima de mim e nem de
Sophia, entramos na estufa e observo que as flores cultivadas eram bem
cuidadas.
Cada uma está no seu respectivo vaso. Existia muitas margaridas, de
todas as cores, mas agora não tem mais nada. As que restaram nos galhos
estão desbotadas, e mortas. A única coisa que tem como salvar aqui é o
espaço. Qualquer flor que já existiu aqui morreu.
Na ilha, que fica no meio da estufa, tem uma árvore. Uma pequena
árvore e em torno dela colocaram como se fosse um poço e ladrilharam de
azul e lilás. É um lugar bonito.
— Será que era da sua mãe?
— Era sim. — Escuto a voz de Gregori, que tinha sumido mais cedo,
e viro-me para ele. — Não sei se Paolo vai gostar de ver você mexendo aqui.
— Por quê?
— Eu já disse que ele gostava muito da esposa e esse lugar era
como... Era o santuário dela. Não sei se ele vai gostar.
— Mas e se eu for cuidar? — Ergo o queixo, sendo – tentando –
arrogante. — Faz um teste e liga para ele. Podemos contratar um jardineiro
para cuidar do jardim. Não é só essas flores aqui que morreram. — Ajeito
Sophia no colo porque ela está ficando pesada e dando câimbra no meu
braço. — Só fala para ele que vai vir alguém cuidar do jardim e das flores lá
de fora. Eu vou cuidando daqui sem ele saber.
— Acha que ele não vai perceber? E se, em algum momento, tiver
vontade de entrar aqui e ver que todas as flores voltaram a viver. Sendo que
você consegue enxergar perfeitamente que nenhuma delas estão boas para
salvar. Todas morreram.
— Olha, você não me conhecia antes. Eu não quero mexer nessas
flores para incomodar alguém. Para desonrar a memória da esposa dele.
Sempre gostei das flores e eu posso cuidar delas melhor do que um jardineiro
qualquer que possa vir aqui. Como eu tenho que cuidar da Sophia, de vez em
quando a minha mente fica vazia. Ela dorme, descansa e eu não tenho
vontade de dormir. Fico sem fazer nada.
— Então leia um livro. Vai ler mais livros sobre bebês.
Fecho minha cara para ele e cruzo os braços.
— Você não tem capacidade de me dar ordens, Gregori. Você não é
meu marido, nem meu pai e nem nada que possa mandar eu fazer ou não
fazer algo. Não fale assim comigo.
— Você pediu para eu te ajudar e estou tentando fazer isso. Se você
não quiser me ouvir, não posso fazer nada. Depois não reclama se o Paolo
brigar com você.
Ele tenta ir embora, mas eu me apresso e paro na sua frente.
— A questão não é essa. Eu preciso de alguma coisa para me distrair
e, mesmo que eu saiba cozinhar, não sou muito boa. Eu quero mexer nessas
flores porque... esse jardim está horrível. Quero dar um pouco de vida para
esse lugar.
— Por que você não inventa de pintar um muro então?
— Porque eu não sei pintar, merda! — Eu tapo os ouvidos de Sophia
quando grito o palavrão. — Não me irrita. Eu vou fazer o que quero e eu
quero cuidar dessas flores. Quero cuidar desse espaço tão bonito que foi
abandonado. Pelo que eu percebo, Mia era uma mulher muito boa e legal,
então eu acho que ela não ia gostar do jardim dela estar desse jeito. Eu
duvido.
Gregori baixa a cabeça e parece se lembrar de algo. Quando volta a
olhar para mim, está mais relaxado.
— Eu vou te ajudar, mas você vai prometer — aponta o dedo para
mim — que eu nunca estive aqui. Que eu nem sabia que você estava
mexendo na estufa dela. Paolo não vai gostar disso, Nina. Eu estou te
avisando.
Dou de ombros e concordo que pode dar em confusão. Paolo pode
ficar zangado comigo e até me colocar de castigo, só que não pode me
mandar embora. Não vai dar em nada. Eu literalmente estou mexendo em
espinhos.
23

E sse dia podia passar sem eu perceber. Não estava nos meus planos
me lembrar dessa merda, mas, como um imbecil que sou, eu me
esqueci de retirar do calendário que hoje era o aniversário de Mia.
Dia cinco de setembro. Tenho vontade de jogar o celular longe, mas não sou
um completo babaca.
— Você está bem?
Levanto os olhos para Vera. Estamos em uma reunião sobre o hotel,
fazendo o balanço da festa de aniversário do Bellagio, que eu vim sem Nina.
Eu vim porque Travis não pôde comparecer com o filho recém-
nascido. O homem está mais protetor com a esposa do que nunca. Se todos
temiam em mexer com a família dele antes de ele se tornar pai, é bom não
testar agora se ele é tão mortal quanto alguns tem a sorte de comprovar sem
morrer.
— Estou apenas conferindo esses números agora.
Vera opta em não se meter nos meus pensamentos, nos meus assuntos
e foca no trabalho. Ela é a escolhida para gerenciar o hotel e não é à toa.
Como filha de um general da Itália, ela conquistou seu espaço em Roma e em
Las Vegas sozinha. Não é por conta do seu sobrenome ou seu pai. Ela tem
uma mente brilhante, uma fera e mesmo que Travis e eu não confiamos em
ninguém, nela nós acreditamos o suficiente para estar no posto que está.

Chego em casa cansado e estressado. Os MCs não param de insistir


com o apoio da Lawless para conseguir derrotar Vito Malvez. Eu queria dar
um troféu a Travis pela péssima escolha que fez quando vendeu as malditas
armas para os filhos da puta dos motoqueiros. Foi uma decisão maldita.
Jogando meu paletó e o sobretudo em cima do sofá da sala de estar,
caminho até a cozinha. Encaro vendo um bolo de chocolate confeitado de
flores e dou as costas. Que grande merda.
Ainda odeio tudo o que tem a ver com ela, porque tudo me lembra
Mia. Estou a evitando a mais de uma semana direto porque não consigo
permitir que ela substitua alguém que nunca deveria ser substituída.
Todas as vezes que a vejo pela casa, pela merda do jardim de Mia,
que ela está cuidando agora, eu quero arrastá-la para fora e levá-la até Seattle
de volta.
Eu nunca odiei Travis por nenhuma decisão, mas sobre essa... Sobre a
merda da minha vida, a indicação da minha esposa... eu tenho vontade de
enfiar um charuto na goela dele.
— Senhor — Marta me chama a atenção e eu viro-me para ela.
— O quê?
Ela se sobressalta pela brutalidade da minha voz e olha para o berço
na sala de estar, perto de mim. Nem notei que vinha para cá.
— Pode olhar a menina enquanto vou à cozinha?
Franzo a testa e pego a minha filha no colo.
— Onde está Nina?
— No banho, senhor. Ela pediu para cuidar da bebê enquanto toma
banho, mas preciso ver o frango no forno.
Meneio a cabeça com desdém e espero Marta se afastar.
Com Sophia subo as escadas, vou direto para o seu quarto, onde entro
e me deparo com minha jovem esposa saindo do banheiro. Ela está enrolada
numa toalha branca e seus cabelos em uma toalha enrolada cor-de-rosa.
Como a merda do meu pau não se controla, fico excitado e para não me
render, esbravejo:
— Você pode ir mais rápido? Marta não é babá!
Nina arregala os olhos, corre até onde estou e pega Sophia dos meus
braços. Seu perfume me perturba e eu viro as costas antes de saber o que
diabos vai resolver da vida dela. E como um babaca que eu estou sendo o dia
inteiro, ela não ficaria fora no meu rastro.
Nada fez eu esquecer que hoje é aniversário da Mia.
Entro no meu quarto, bato a porta, e no banheiro, tiro minha roupa e
tomo um banho. Eu poderia não ser um adolescente e bater uma punheta, mas
faço sem arrependimento. Faço com força e para machucar de propósito. Alta
flagelação era algo que condenava quando descobria que alguns soldados
praticavam, mas logo que Mia parou de respirar, passei a praticar. Parei um
pouco antes de casar me com Nina, no entanto, me masturbar com raiva ainda
faço às vezes. Foda-se! Eu não sou homem de arrependimento. Isso é coisa
de babaca.
Quando estou vestido, com uma calça jeans escura e camisa preta,
meu coldre com minhas armas por baixo. Não dá para confiar no acaso. Saio
para ir jantar e vejo Nina. Ela está de brincadeira usando um dos malditos
vestidos rosas e floridos, que parece que arrancou do guarda-roupa da minha
esposa morta.
— Vai ficar assim?
Ela olha para si mesma, ajeitando Sophia nos braços.
— Assim como?
— Com esse vestido. Não tinha nada melhor para vestir.
Eu achei os pais dela uns babacas na forma que a trataram e acabo de
agir da mesma forma.
— Esquece, fique como desejar.
Nina suspira e baixa a cabeça caminhando do meu lado para o andar
de baixo. E continua da mesma forma quando senta-se à mesa depois que
coloca Sophia na cadeirinha de bebê.
O jantar é silencioso, não tanto porque minha filha aprendeu que
gritar e bater com sua colher de plástico chama a atenção de Nina, que não
come direito devido a atenção maçante que dá a Sophia.
— Deixa ela pra lá e coma. Vai esfriar.
— Não tem problema, Paolo. Ela só quer minha atenção.
— Você podia ensiná-la que, na hora de comer, ela precisa comer e
não pedir atenção.
Nina não diz nada e nem tenta fazer o que falo. Continua brincando
com Sophia na mesa, como se não ligasse para a sua própria fome. Com isso,
eu foco em terminar de comer e, assim que acabo, me levanto.

O sono não parece algo que vai acontecer fácil para mim hoje. Então
vim fumar na sala de livros e jogar xadrez sozinho. Não tem muita graça.
Estou querendo distrair minha cabeça enquanto o sono não vem. Não dormir
é algo comum para mim, mas a questão não é apenas dormir. É tesão
acumulado.
Eu não posso continuar ignorando Nina. Talvez eu tenha que tomar
uma postura mais fria para conviver com ela. Vou procurá-la às noites e,
quando for necessário, precisarei tê-la como companhia. Temos um
casamento, o de Enzo, para ir semana que vem. Tenho que estar falando com
ela. Não dá para eu ir a um evento com tanta visibilidade sem estar falando
com minha esposa. Principalmente porque Nina é muito transparente. Ela não
é o tipo de pessoa que consegue esconder o que está sentindo. Seus olhos são
o espelho do que se passa dentro dela.
Levanto-me e vou pegar mais uma dose de conhaque. E após me
sento na poltrona de couro no canto. Desisto do xadrez. É horrível jogar
sozinho, tão ruim quanto não ter controle sobre as coisas que Nina faz. Ao
mesmo tempo que quero ela longe, não consigo deixar de olhá-la.
Olhar suas pernas, seus seios apertados nos vestidos. Sua bunda
moldada pelas calças de algodão que usa. Ela parece uma modelo retro. E
tenho que ver seu sorriso, que parece não sair do seu rosto.
Esfrego meu rosto sentindo-me esgotado.
De repente, alguém bate na porta, baixinho. Nina coloca sua cabeça
loira para dentro do cômodo, me procurando. Fito seu rosto e ela me dá um
sorriso tímido.
— Eu queria falar com você.
— Então fala.
Sua cabeça sobe para então terminar de abrir a porta e entrar. Ela
aperta o robe que está vestindo ficando na minha frente.
Ainda estou sentado na poltrona e olho para ela de cima a baixo. Está
com uma sandalinha cor-de-rosa que usa em casa, a tentadora camisola
branca e, por cima, o robe rosa claro, que não ajuda muito eu não ver a renda
da camisola. Os cabelos estão amarrados em um coque improvisado que não
consegue realmente segurar. Ela tem muito cabelo. E seu rosto está sem
maquiagem. Ela parece sofisticada e, ao mesmo tempo, jovem demais.
Aperto o braço do sofá sentindo o quanto gostaria de arrancar essa
camisola e lambê-la todinha. Imagino eu a comendo em cima da mesa de
jogos de tabuleiro. Derrubar as peças de xadrez, comer sua boceta e depois
foder até ela perder os sentidos.
— Você está me ouvindo? — pergunta inclinando a cabeça para o
lado e as bochechas ficando vermelhas de vergonha.
— Estou — respondo, mesmo que não tenha prestado atenção em
nada que estava falando. Sei que tinha alguma coisa a ver com o jardim.
— Eu estava pensando hoje, depois de regar o jardim, que você podia
providenciar produtos para cuidar um pouco melhor dele e... das roseiras.
Escuto-a, apático.
— Eu podia cortar, limpar e realmente cuidar do jardim todo lá de
fora. — Abre um sorrisinho. — Eu sempre gostei desse tipo de coisa, mas...
preciso de material apropriado para fazer funcionar.
— Basta você pedir para o Gregori comprar.
— Mas... será que eu posso arrumar um lugar para cuidar de
margaridas, por exemplo? — continua como não tivesse me ouvido. — Eu
gosto muito de margaridas.
Quando ela diz o nome dessa flor, eu acordo da minha admiração.
— Margaridas?
— Sim, eu gosto delas. Flores são meu hobby — explica-se. — Em
casa, era o jeito de fugir de meus pais.
Soltando ar pela boca, esfrego meu rosto e levanto-me. E, quando
passo por ela, sinto seu cheiro.
Ela podia gostar de outra coisa, menos flores. Porque até nisso ela
tem que parecer com minha esposa.
— Faz o que você quiser.
— Mas a casa é sua.
Minhas vistas se perdem no quadro na parede. A fotografia pintada de
Fontana di Trevi. Mia e eu fomos lá uma vez. Ela jogou uma moeda pedindo
que engravidasse e segurasse o bebê. Depois de três abortos espontâneos, ela
tinha começado a ficar com medo de nunca gerar um filho.
Pisco, voltando para o agora, e digo:
— Nina, fique à vontade. — Giro-me e olho para ela. — A casa é sua
também, não diga isso e... se cuidar das flores vai fazer você se sentir mais
em casa, tudo bem. Apenas não se esqueça de cuidar da minha filha.
— Eu cuido da sua filha! — exclama sendo malcriada. — Mas, às
vezes, eu fico entediada sem fazer nada. Enquanto ela dorme, fico sem nada
para fazer. Não sou obrigada a acompanhar esse momento. Algumas
mulheres têm, mas são quando são as mães de verdade e ficam cansadas de
amamentar e cuidar, mas eu não.
Assinto. Eu sei como fiquei acordado nos primeiros meses de Sophia.
E realmente ela não consegue ficar parada e se cuida de verdade das flores e a
minha filha, principalmente da minha filha, ela pode fazer o que quiser
quando estiver com tempo livre.
Pelo relatório que Gregori me passava, ela está fazendo um papel
muito bom com Sophia, e Marta não fica mais rabugenta ao redor dela. Marta
é rabugenta por natureza, mas tem parado de torcer a cara para a minha
jovem esposa.
— Você estava jogando sozinho?
Como ela é observadora. Na verdade, muito curiosa.
— Sim, eu estava.
— Como você consegue jogar xadrez sozinho? Acho que é um dos
jogos que não dá para jogar sozinho, que nem dama ou pôquer.
— Você sabe jogar pôquer?
— Sim, aprendi na internet a jogar um monte de coisa — fala se
aproximando de mim.
Seu perfume maravilhoso, que vem dos seus cabelos, chega no meu
nariz. Ela tem um cheiro tentador.
— Por que ninguém nunca jogou com você? Seu irmão não é muito
mais velho que você.
— Sim, meu irmão tem dezesseis anos. Vai fazer dezessete mês que
vem.
— Então ele já deve estar voltando da Itália.
— Eu espero que não — comenta nervosa. — Espero que ele fique
para sempre lá.
— Não gosta do seu irmão?
— Eu amo meu irmão e por isso acho que ele tem que ficar lá.
— Você realmente não gosta dos seus pais.
— Você também não gostaria deles.
— Eu não gosto.
— Que bom que temos mais alguma coisa em comum.
— O que seriam as outras coisas, Nina?
— Nós dois amamos a Sophia, jogos e livros e eu... peguei hoje livros
de romance erótico.
— Você está falando sério? — pergunto surpreso.
— Mesmo que você não estivesse falando comigo. Esteja — se
corrige — falando comigo esses dias. Eu fiquei curiosa sobre sexo e sabia
que no momento que você me desculpasse, por alguma coisa que eu fiz, nós
poderíamos continuar o que estávamos fazendo aquela noite.
Como ela é incrível.
Chego mais perto dela, toco o seu rosto e levanto.
— Eu não estava zangado com você. Estou com muito trabalho.
— Mas em casa você não pode relaxar? Sempre foi assim, você
trabalha o tempo todo? A gente não precisa necessariamente conversar — diz
calmamente. — Nós podemos ficar nessa salinha e jogar, assistir um filme.
Você pode brincar com a Sophia. Qualquer coisa. Não precisa falar comigo,
mas você está chegando muito tarde. Só te vejo de manhã saindo e quando
chega.
Me pergunto como, já que chego e a casa está silenciosa, e passa das
duas da manhã muitas vezes.
— Você sempre está acordada quando eu chego? Por quê?
— Porque eu espero você.
— Você me espera?
— Sim, para ver se está bem. — Baixa o rosto e murmura: — Nós
vivemos em um mundo cheio de perigos e inimigos. Não temos, de fato,
segurança de que vai ficar tudo bem. — Olha para mim de volta. — Você é o
conselheiro do nosso Capo e é altamente arriscado. Os inimigos sempre
querem pegar os homens mais poderosos. Assim como meu pai é um
Underboss. Eu fico com medo de acontecer algo com você.
Uma satisfação me envolve em ouvi-la falar isso, porque, mesmo
sendo um babaca com ela e forçando nossa distância, ela se preocupa
comigo.
Dando o último passo que nos afasta, seguro seu rosto com as duas
mãos. Seus olhos estão ansiosos enquanto espero que ela fale o que anseio
ouvir.
— O que é?
— Quero ouvir da sua boca.
Nina morde a boca, nitidamente excitada e sussurra:
— Eu quero que você me beije. Você vai me beijar?
— Eu vou.
— Aonde? — ela devolve e suas mãos estão no meu cinto.
Ela está querendo saber se eu vou beijá-la lá embaixo. Chupar e
lamber sua doce boceta.
— Primeiro eu vou beijar aqui — dou um selinho na sua boca —, e
depois — desço minha mão, abro o seu robe, subo sua camisola e espalmo
minha mão por cima da sua calcinha — eu vou te lamber todinha aqui. Vou
chupar sua boceta até você gozar na minha boca.
— E depois?
Sinto meus lábios se curvarem em um sorriso cínico, por causa de sua
audácia.
— Depois eu vou te colocar naquela mesa. — Indico com meus olhos
a mesa de jogo de tabuleiro. — Vou abrir suas pernas e te comer por trás.
Seus olhos se arregalam. Acho que entendeu errado.
— Eu vou comer sua boceta, não se preocupe. — Chego minha boca
no seu ouvido. — A gente ainda tem tempo para explorar outras coisas, se
você quiser.
Ela assente freneticamente e parece óbvio que já leu alguma coisa
sobre sexo anal. Ela é espetacular.
— Eu vou poder te chupar também?
Ela me deixa sem fala. Porra! Enfio minhas mãos em seus cabelos,
fazendo seu rosto inclinar mais para mim e mordo seu lábio inferior porque
sua boca está levemente aberta. Está respirando com dificuldade.
— Se você quiser.
— Você gosta? — questiona ousada.
— Quando é bem feito, eu gosto sim.
— Então eu vou tentar fazer direito. Você me diz se estou acertando?
Porque é tão sexy a possibilidade de ensiná-la a como me agradar na
cama e fazer ela gostar do que eu gosto. É tudo muito novo para mim, porque
com Mia nossas primeiras interações não foram assim.
Eu nunca tive esse tipo de conversa com Mia. Ela era solicita e
acabava gostando das coisas que eu fazia, e nós não transávamos loucamente.
Fora que depois de um tempo, com tantas tentativas de engravidar
fracassadas, acabávamos mais indo para a cama para tentar de novo e apenas
isso. Era o amor que sustentava qualquer coisa no nosso casamento. Mas esse
casamento com Nina, me traz outras sensações, como o sex appeal da minha
jovem esposa. Ela parece querer explorar várias formas de prazer e eu quero
também. Talvez eu largue o cigarro e ela se torne meu novo vício.
Eu estava tentando com todas as forças não ceder, não me aproximar,
mas, quando dou por mim, estou com ela nos meus braços. Com sua doce
boca colada a minha. Eu não resisto. Eu não resisti, merda!
Ninguém nunca pôde me acusar de ser um homem que não sabe se
controlar. Só perco o controle quando é mais forte do que minhas convicções
ou alguma ética. Essa mulher nas minhas mãos consegue derrubar todas as
minhas barreiras.
Beijo sua boca ruidosamente e me perco no seu gosto doce, no seu
cheiro suave e no sabor de canela que ela tem. Sigo perdendo meu controle
ao redor dela.
Pensei que ela ia me recusar, afinal são dezessete anos de diferença e
jurava que teria nojo, como muitas jovens esposas têm dos seus maridos
velhos, mas ela parece ansiar pela minha presença, pela minha boca, pelo
meu pau dentro dela. Então hoje vou satisfazer sua vontade.
Continuo provocando-a com meus beijos querendo deixá-la molhada
com a forma que eu chupo sua língua. Meus lábios acariciam os dela e minha
língua move-se com fúria na sua boca. Beijo-a cheio de tesão e desejo.
Enrosco a língua na dela, sorvendo seu sabor.
Afasto-me e ela se agarra a minha roupa para não cair quando
cambaleia para trás. Satisfeito com o efeito que meu beijo lhe causou, passo o
polegar sobre seus lábios inchados. Fito suas coxas escondidas por baixo da
sua camisola branca. Nina respira fundo e recua dois passos e abro o robe.
Com os olhos fixos nos meus, ela puxa a camisola por cima da cabeça,
ficando só de calcinha na minha frente.
Como um animal eu vou até ela. Espalmo minhas mãos nas suas
costas e chupo seus seios. Nina deixa o corpo cair para trás extasiada com
minha boca devorando seus seios.
— Paolo! — ela chama meu nome.
É a primeira vez que ela faz e sinto meu pênis ficar mais duro por sua
voz carente pedindo mais.
Pego-a, espero que me agarre para eu conseguir levá-la para a mesa.
Eu prometi que ia comer sua doce boceta aqui. Com um pouco de
dificuldade, consigo jogar as peças do xadrez no chão e coloco-a em cima da
mesa. Me afasto, encaro seu rosto e digo bem sério, porque é muito sério o
que eu vou prometer agora.
— Depois que eu lhe dei esse beijo e agarrei seu corpo, você é minha
essa noite — digo olhando nos seus olhos. — Hoje, mesmo que Sophia
chore, você vai me esperar. Eu vou ver minha filha. Ver o que ela precisa e,
enquanto isso, você se toca me esperando porque hoje eu como essa boceta.
Nina me dá um sorriso nervoso e agarra meu casaco.
— Eu espero sim! — Lambe minha boca. — Eu também fiquei
frustrada e esperei que fosse me procurar depois, mas você me ignorou na
manhã seguinte e... até hoje.
— Chega disso. Não vamos falar mais.
— Feito — sussurra com sua voz safada.
— Feito.
Promessa feita, acaricio o seu corpo com as pontas dos meus dedos e
encontro o tecido da sua calcinha. Peço a ela para erguer a bunda só para eu
poder passar a calcinha. Ela faz e jogo o tecido para longe ficando chocado
quando vejo sua boceta.
— Você se depilou?
— Fiquei curiosa e tirei um pouco mais dos pelos. Você gostou?
— Se eu gostei?
A respondo segurando suas coxas e enfiando minha cabeça no meio
das suas pernas e com urgência dou uma lambida nos lábios inferiores do seu
sexo mais aparente. Agora restou poucos pelos. Não está como a sua primeira
vez, e a segunda que fracassou. Está melhor para chupar e sei que ela fica
mais sensível também.
Passando a ponta da língua mais para baixo, toco seu clitóris e isso a
faz gemer. Porra. Eu estava duro quando cheguei em casa. Ficar vendo sua
bundinha no vestido que ela estava usando na hora do jantar e agora isso.
Estou dolorosamente com uma ereção no meio das pernas.
Eu não resisto e continuo chupando e solto um gemido lá no fundo da
minha garganta. Passo longos minutos chupando seu grelo, enfiando meus
dedos e fazendo-a ficar cada vez mais dilatada. Consigo enfiar três dedos e
dobro.
Nina gosta e chama meu nome perdida e goza.
Recuperando o fôlego, esfrego minha barba dos seus lábios inferiores
até o umbigo, porque eu sei que ela gostou da última vez. Ela se arrepia toda
e abre os olhos quando pairo sobre seu rosto. Ela agarra meu rosto e nós nos
beijamos de língua.
Ela não se importa se acabei de chupar sua boceta. Isso é tão sexy.
Agarra meu cabelo, me querendo no mesmo lugar e se esfrega em mim, no
meu cinto. Me afasto e detenho-a de continuar seu beijo desenfreado
segurando-a pelos cabelos.
— Calma. Eu estou aqui.
Ela puxa meu cinto.
— Eu quero mais.
— Eu sei, minha linda, mas calma. — Fitando seus olhos, desço
minha mão e massageio seu clitóris.
Ela geme de boca fechada, o som saindo da sua garganta. Sexy como
o diabo e rebola me ajudando a massageá-la onde quer.
— Eu quero te chupar — ela diz.
Caralho.
— Prometo fazer direitinho. Só... quero experimentar — murmura
como se estivesse pedindo desculpa.
Ela não entende direito meu silêncio. E limpando a garganta, dou-lhe
um selinho.
— Eu vou ter que te soltar.
Choraminga e me agarra de novo, se esfregando em mim. Minha mão
escorrega para a sua cintura e puxo seu cabelo, inclinando sua cabeça para ela
me enxergar.
— Para você me chupar, vou ter que me afastar — digo encarando
seus olhos.
— Está bem. Está bem.
Dou outro beijo na sua boca e me afasto de Nina. Ela está sentada na
mesa me olhando, parecendo atordoada. Nem consegue fechar as pernas. A
visão dela de pernas abertas na mesa de tabuleiro, seus olhos brilhando de
excitação. Está me deixando com as bolas roxas e o pau mais duro que já tive
na vida.
Recobrando os sentidos, me dispo das minhas roupas e tiro os sapatos
também. E não espero e a vejo pular da mesa e me agarrar. Ela me abraça e
beijo sua boca. Eu a comeria agora contra a parede se não quisesse sentir seus
lábios virgens no meu pau.
Lhe dou um beijo, só para ela tentar se acalmar. Seus olhos estão
arregalados e ela passa as mãos no meu peitoral.
— Eu me sinto como... — pausa, perdida. — Eu quero saber... Eu me
sinto vazia. Isso é loucura?
Aperto sua bunda e dou um beijo rude nela e mando:
— Me chupa logo para eu poder te comer. Outro dia, a gente faz um
69. — Deslizo as mãos até seus peitos. — Eu te chupo e você me chupa, mas
agora — belisco seus mamilos — estou por um fio, Nina.
Ela concorda e se afasta e cai de joelhos na minha frente. Eu olho
para baixo quando ela segura a minha base e... Senhor!
Não estou preparado quando enfia a ponta na boca de uma vez. Não
consigo desviar os olhos dela me chupando de olhos fechados e como se
estivesse chupando um sorvete. Agarro seus cabelos e jogo minha cabeça
para trás me controlando para não gozar antes do momento. Eu não sou um
adolescente.
Porra!
Me controlo para não impulsionar para a frente e acabar engasgando-
a. Não quero assustá-la na primeira vez que faz oral em mim e ela parece
poderosa.
— Você está satisfeita de me chupar?
Nina abre os olhos e me encara.
Quase gozo e, quando concorda com um som da garganta, é demais.
— Garota gulosa — digo dando-lhe um sorriso de tubarão.
Ela faz de novo o som com a garganta. E sou obrigado a puxar seu
cabelo.
Caralho.
Ela volta a fechar os olhos e eu fico hipnotizado vendo-a como está
me saboreando, adorando. Ela toca minha coxa, descansa a mão e com a
outra punheta meu pau. Para de chupar e lambe tudo.
Não. Não. Eu vou gozar.
Paro ela, para não conseguir gozar, recuando. Afastado, vejo que ela
continuaria até me fazer perder a cabeça. Feroz, eu a pego e é minha vez de
beijar sua boca sem me importar com meu gosto nela. Nós soltamos sons nos
beijando e parando, nossos lábios fazem barulhos se separando. Seguro seu
rosto com as duas mãos.
— Vou fazer você ver estrelas hoje.
Ela geme e morde os lábios fitando-me.
— Você vai gozar com meu pau dentro de você.
E como imaginei e prometi, coloco-a na mesa virada de costas para
mim. Sua bochecha fica pressionada no jogo de xadrez. Pego suas mãos,
puxo para trás, afasto suas pernas com meus pés e guiando meu pau com a
mão, coloco no seu calor molhado.
Nina geme alto, desprende suas mãos das minhas e se agarra à mesa.
Vejo-a mordendo a boca e vou mais para dentro. Ela está tão molhada que
não acredito que vai se machucar se eu não for com tanta calma. Não sei se
consigo.
— Se doer me fale.
— Por que vai... doer? — questiona sem entender.
— É a sua segunda vez, pode doer.
— Ah... Tudo bem. Vai logo.
Solto uma risada rouca e meto mais um pouco dentro dela, e ela
parece se adaptar rapidamente ao meu tamanho.
É claro. Sou eu que estive aqui.
Fecho os olhos e engulo em seco. Minha boca seca, a garganta
arranha conforme engulo a saliva e respiro. Meu coração está acelerado
demais. Que tesão louco. Ela vai me fazer enfartar e eu sou velho. Ela é
novinha.
Não, Paolo! Volta aqui.
Pego-a pelo quadril e puxo seu corpo para mim, forçando para dentro
e tiro devagar. Nina geme e eu impulsiono para dentro, forte e seco. Ela solta
uma risada como se estivesse extasiada e eu olho para ela. Baixo meu corpo,
tiro seu cabelo da frente e beijo suas costas até o pescoço. Escuto-a gemer de
novo.
É tão sexy e linda. Sinto seu cheiro, cheiro de sexo. Dou uma lambida
no seu lóbulo. Ela grita e agarra ainda mais a mesa, com os dedos ficando
brancos.
Entrelaçando minha mão direita com a dela, a esquerda levo até a sua
abertura molhada. Nina tenta arquear o corpo. Esfrego seu clitóris
vagarosamente e num movimento de entrar e sair, percorro meu orgasmo.
Chego a soltar um som estranho como um rosnado. Ela é tão macia. Ela geme
e chama meu nome.
Meu orgasmo está gritando e com uma imagem na cabeça, saio de
dentro dela, ouvindo-a protestar alto e rebelde:
— O quê?!
— Cale a boca, Nina — digo virando-a para mim.
Colocando em cima da mesa, mas de frente para mim, pego meu
membro e acaricio seu clitóris. Ela sorri e entrelaça os dedos atrás do meu
pescoço e olha para baixo, para onde meto meu pau de uma vez.
Sua boca se abre soltando uma lufada de ar misturada a um gemido.
Eu respiro fundo e acelero porque é demais. Agarro sua bunda e encontro
uma posição boa para bater meus quadris nela e ela me segurar. Num vaivém,
continuo até senti-la gozar e com isso, vou junto. Ainda mais porque ela
morde meu ombro e joga a cabeça para trás. Vejo seus olhos molhados. Eu
me sinto do mesmo jeito. Terrivelmente satisfeito. Foi um sexo feroz.
Definitivamente, tirei o atraso essa noite.
Sinto minhas pernas como borrachas e não sei como consigo nos
levar para o sofá, ainda conectados. Ela deita no meu peito, mole e cansada.
Não a abraço e olho para o teto. Como eu vou me afastar depois disso?
24

E ntediada, estou parada no sofá. Bato com a caneta no meu dedo


incessantemente, pensando no que eu mais posso fazer. Agora são
sete horas da noite. Paolo disse que não vai voltar para casa cedo,
então nem posso imaginar que nós vamos transar. Com certeza é uma
atividade que eu adoro.
Sophia está dormindo e eu não vou mexer no jardim aessa hora. Eu já
tive muito trabalho por lá hoje. Tirei muitas das flores que estavam mortas
dos vasos na estufa e plantei de novo. Amanhã vou terminar o outro lado.
Mia era organizada, pois todos os vasos tinham o nome das flores que
ficavam, então foi fácil replantar. recolocando-as exatamente onde estava.
Pensei em mudar um pouco para o Paolo não levar um susto e eu resgatar a
memória da esposa morta dele, mas ela deixou de um jeito que lembra um
arco-íris. Então não quis. Vai ficar como ela deixou.
Estou feliz com essa atividade extra. Eu nunca pude ter uma estufa de
verdade. O que eu tinha no quintal para mexer nas minhas flores, de longe era
uma estufa igual a dela. Mamãe jamais me daria uma. Ela odiava minhas
flores. Com certeza, já destruiu meu cantinho.
Aqui, Mia tinha todos os produtos: tesoura, pesticidas, adubo,
fertilizantes e várias sementes. Descobri que, mais para os fundos do jardim,
tinha uma plantação de alguma coisa que morreu também. Uma pena. Ela
levava a sério seu hobby de cuidar do jardim.
Eu me sinto tão bem ali, como não me sentia há muito tempo. Mesmo
morrendo de medo de quando Paolo descobrir. Quando falei com ele, não
parecia me ouvir e logo transamos naquela mesa. Foi uma noite louca, que
adorei, mas ele não me ouviu.
Acho que posso jogar na cara dele que a culpa não foi minha. Que eu
avisei e ele que não ouviu. Tô louca. Ele vai querer me amarrar no sótão.
O importante mesmo é que eu estou amando fazer paisagismo de
novo.
Sophia gasta os meus dias e horas. Eu a amo, não tem como não
amar. Porém, sinto-me bem e diferente em mexer em algo que fiz a vida toda.
Cuidar das flores é um jeito de eu me sentir mais em casa e, quando Sophia
tiver idade, vou ensiná-la a cultivar as flores também.
Levanto-me do sofá e vou até a sala de tevê que fica ao lado do
escritório e da sala de jogos.
Na sala de tevê tem uns armários que provavelmente tem álbuns de
retratos. Vou ver se tem alguma foto da Mia. Tenho muita curiosidade de
saber como ela era.
Entro na sala e fecho a porta. Como uma ladra, olho para os cantos e
vou fuxicar os armários. Primeiro, os de cima; depois, os de baixo; e, neles,
encontro três álbuns de retratos interessantes. Um deles é do primeiro
casamento de Paolo.
O meu álbum não chegou ainda e nem quero ver. Eu odiei aquele
vestido. Joguei fora na segunda semana aqui. Nada contra o casamento e
Paolo. Eu aprendi a gostar dele e da sua máscara cruel e distante – mesmo
depois daquela noite. Contudo, eu continuo odiando o vestido da minha mãe.
Aquele vestido não era meu. Se Sophia perguntar um dia sobre ele, vou dizer
que as traças comeram.
Levo os três álbuns comigo para o sofá branco e confortável, que fica
em frente a uma televisão enorme que assisto com Sophia. Assisto desenhos
irritantes que ela mostra suas gengivas, com dois dentinhos agora, que não
consigo nem mexer no controle remoto. Ela me tem nas mãos
completamente.
Sentando-me, pego o álbum do casamento e coloco em cima das
minhas pernas e abro, e viro estátua. Eu esperava tudo menos isso.
Mia tinha os cabelos loiros, o rosto doce e sorridente. Elegante e
magra e as roupas dela... Vestidos floridos. Ela... Eu lembro ela.
Eu limpo meus olhos com o bolo na minha garganta e uma pressão no
peito dolorosa.
Por quê?
Será que foi de propósito? Paolo me escolheu de propósito porque eu
sou tão parecido com ela?
É por isso que Sophia tem os cabelos loiros e os seus olhos estão
ficando azuis. Ela é o retrato da mãe e vai... parecer comigo quando crescer.
Muitas pessoas vão achar que ela é minha filha. É claro que sim. Eu pareço
com a mãe dela.
Eu pego o álbum com força e boto para o lado. Longe de mim.
A imagem da foto da antiga esposa de Paolo me assombra quando
fecho os olhos. Dentro de mim, uma avalanche começa a se formar. As
lágrimas brotam e esmaga meu coração. Eu sempre soube que era uma ideia
ruim em casar com um homem como o Paolo. Velho, viúvo e pai solteiro.
Droga! Droga! Droga!
Meus lábios trêmulos se abrem escapando uma respiração afoita.
Levanto e caminho até o armário. Querendo quebrar tudo, resolvo desbravar
a verdade de uma vez. Preciso saber como ela era.
Encontro uma fita de vídeo escrito: Mia. Talvez eu queira sofrer hoje
e coloco para rodar a filmagem. Ela está caminhando pelo jardim. Sorri, dá
um giro fazendo seu vestido comprido e leve voar. As margaridas parecem
vivas no tecido.
Paolo a chama e ela abre mais o sorriso. Um sorriso apaixonado e
corre para dentro de casa. Ele que estava filmando?
É... tão bonita. Tão angelical. Sophia. Sophia é ela. Eu sou ela.
— Meu Deus! — Coloco a mão na boca.
Vendo esse vídeo, eu sei. Sempre serei a memória da esposa morta,
porque até eu posso confessar. Sou muitas coisas que ela fora. Eu gosto de
flores, tenho a cor dos cabelos iguais, e eles são compridos também. Isso quer
dizer que temos vaidade com cabelo. Nossos olhos, mesmo os dela parecendo
serem mais azuis, são azuis como os meus. Gostamos do mesmo estilo de
roupa. Gostamos de vestidos leves e de mangas fofas. De deixar os ombros à
mostra. Sorrimos demais, mas ela é mais velha, e claro que era mais madura.
Talvez, quando eu tiver meus trinta e poucos anos, vou lembrar ela
ainda mais do que agora. Eu sempre vou lembrar ela. Sempre serei sua
sombra. Sou uma boba por pensar que terei tudo dela. Não vou.
Posso ser igual na aparência e ter tudo que foi dela, menos, talvez, o
amor de Paolo. Como se eu realmente tivesse pensado que fosse possível ele
sentir algo por mim. Essa criança tola. Sou uma substituta.
Assistindo a filmagem, vejo o jeito que ele filma, fala e a faz sorrir.
As fotografias. É óbvio que ele a mimava, dando tudo para que suas flores
fossem bem cuidadas. Ele a ama. Por isso Gregori falou para não mexer na
estufa. Talvez eu não devo mesmo mexer na estufa. Ele vai ficar com raiva de
mim.
— O que você está fazendo aqui?
Levanto-me e giro para ver Paolo com a mão na porta de correr da
sala de tevê.
— Eu te perguntei o que você está fazendo aqui? — ele fala de novo.
Congelada, o vejo caminhando com passos largos até a televisão e
desligar com tanta brutalidade que pensei que fosse jogar no chão.
— Você está surda? — Vira-se para mim e grita: — O que você está
fazendo aqui?!
— Eu só... fiquei curiosa.
— Você é muito curiosa para o meu gosto. — Vem para cima de mim
e segura meu braço, mas não machuca. — Vai para o seu quarto.
— Eu não sou a sua filha.
Se ele pode descontar sua raiva em mim, porque talvez é isso que
esteja dentro dele. Ele não se conforma que mataram a esposa. Eu posso jogar
nele também o fato de eu ser idêntica a ela.
Afasto-me dele, puxando meu braço e fecho a cara.
— Foi de propósito? — pergunto sentindo meus lábios tremerem e
meus olhos se encherem d'água. Tanta água que não consigo enxergar direito
e tenho que limpar. Droga de choro!
— Foi de propósito o que e por que você está chorando?
Tenta se aproximar, mas recuo. Então ele respeita e fica parado.
— Eu sou tão parecida com ela — falo baixo, que nem sei se ele me
ouviu.
Mas quando resmunga, é evidente que ele me ouviu. Respirando
fundo, me acalmo e o encaro.
— Foi de propósito que você me escolheu?
Colocando as mãos na cintura, jogando o paletó para trás, parece
indignado.
— Quer dizer que, na sua cabeça, eu preferi me casar de novo e com
uma mulher identicamente a minha esposa.
— Sua ex-esposa! — esbravejo chorando e vou para a frente dele.
Bato no seu peito com meu dedo indicador. — Sua ex-esposa porque a
nova.... — Eu pauso soluçando. — A nova sou eu. A sua esposa sou eu!
E desencadeio a chorar. Não consigo mais falar nada.
Depois de uma longa pausa, ele responde estático e segura meu pulso,
que meu dedo continua no seu peito.
— Não. Eu não escolhi.
Nossos olhos se encontram.
— Não foi de propósito.
Soluçando e tremendo, me afasto dele e limpo meu nariz na minha
blusa mesmo. Não estou ligando para nada. Levanto meu rosto e encontro os
seus olhos, que estão tão tristes. Ele não liga mais que eu veja sua fraqueza.
— Eu sinto muito... por mexer aqui, eu só queria... conhecer a casa.
— Não precisava mexer nisso — diz feito um robô. Fala por falar.
— Eu sei.
— E não precisa chorar.
— Não consigo — fungo e me preparo para perguntar: — Você a
ama? — Pauso e reformulo: — Você ainda a ama?
Paolo parece perder uma batalha antes de responder:
— É complicado. Foram muitos anos juntos. Mais de dez anos e não
tem como apagar em nove meses.
— E nem mesmo comigo, não é? — Meus lábios tremem. — Eu
estou dificultando.
— Não sei se é isso. — Ele vira-se e senta-se no sofá e encara os
álbuns de retratos que eu estava vendo. — Não sei se você está piorando eu
esquecer minha ex-esposa — enfatiza as palavras olhando nos meus olhos. —
Eu não falo que ela é minha esposa querendo magoar você ou porque não
esqueço, é porque...
— É força do hábito — concluo. — Tudo bem, eu entendo.
Ficamos em silêncio parecendo não saber o que falar ou fazer.
Sentindo ainda meu coração esmagado, pergunto:
— Você quer que eu pinte o meu cabelo?
— O quê? — Ele se levanta e chega até a mim e segura meu rosto. —
Por que você quer pintar o cabelo, Nina?
— Porque... aí você vai esquecer ela e, então, talvez consiga me
enxergar.
— Pouco tempo, Nina! — exclama como quisesse enfiar na minha
cabeça a frase. — Não se magoe dessa forma. A gente está casado tem uns
trinta e poucos dias e você quer que eu...
— Eu queria que você tentasse, que parasse de fugir. Que do nada me
trate friamente. Não é minha culpa. — Soluço o resquício do choro, preso na
garganta ainda. — Eu estou fazendo tudo que posso para ser uma boa esposa
e uma boa mãe para a Sophia, mesmo que eu nunca queira apagar a Mia da
memória dela.
Sua expressão fica como uma folha em branco.
— Ela não lembra. — Me solta. — Ela nunca vai lembrar da mãe.
Tinha quinze dias. É impossível.
— Se ela virou um anjo, a Sophia pode conhecê-la nos seus sonhos.
— Pode ser, mas eu... — Cerra mandíbula. Parece que sente dor. —
Não se preocupe com isso. E não precisa pintar o seu cabelo. — Seus olhos
me olham com reverência e sua mão afaga meus cabelos para trás e os
polegares limpam meus olhos. — Eu não quero ser rude com você, Nina.
Você não tem culpa e eu ainda me pergunto, por que você tem que ser tão
parecida com ela? Se isso é bom ou ruim.
— Eu também não sei. — Meneio a cabeça que não. — Não sei se
parecer com ela é bom. Assim, a Sophia não vai estranhar porque vai parecer
comigo e com seus irmãos. E para você... também acaba sendo mais fácil
conviver comigo. Ou pode ser ruim porque assim você não se esquece dela.
— Eu posso esquecer, lhe garanto — diz com muita certeza. — O
cheiro dela... não está mais aqui. Agora, tudo tem o seu cheiro e as memórias
também têm a ver com cheiro.
— Eu sei — sussurro.
— Não se preocupe. — Limpa meus olhos de novo. — Ver você
chorando agora me deixou com raiva. Não quero que sofra aqui comigo da
forma como, provavelmente, sofreu em casa com seus pais.
— Como você sabe? — Isso toca meu coração.
— Eu vi como você se retraía com eles e como eles te tratavam. Nem
ligavam de eu estar presente.
— Aquilo ali foi gentileza. Eles eram bem piores.
— Eu não quero também que você pinte o cabelo por isso. — Toca
meus cabelos de novo. — Parece que a vida toda você teve que agradar aos
seus pais. Eu jamais vou pedir para você fazer nada para me agradar.
Somente seja você e vai ficar tudo bem. — Respira fundo e assente para si
mesmo. — Você não pode se identificar a ninguém. Por mais parecido que
nós somos de outra pessoa, temos nossas próprias características e manias. —
Para aliviar o clima, ele diz: — Por exemplo, Mia era mais silenciosa e
comportada. Você quer saber de tudo e é curiosa. Fala sem parar.
— Você que pediu — fungo e limpo meus olhos. — Você disse para
eu falar.
— É claro que sim. Na sua casa, você não falava com seus pais, aqui
você pode. Eu quero que você fale, que seja presente.
Sorrio agradecida e aceito sua mão quando ele me oferece. Saímos da
sala apagando as luzes e subimos. Vamos para o quarto de Sophia, que está
em pé no berço olhando para a porta.
— Oi, querida — digo e me aproximando dela, pego-a no meu colo.
— Você acordou e nem falou nada?
— Boh.
— Cadê o Boh?
Ela estica a mão indicando o urso, mas desiste olhando para trás de
mim e grita:
— Papa!
Me viro e olho Paolo. Ele se aproxima de nós e pega a filha nos
braços.
— Papai. — Beija sua testa. — Oi, princesa.
Eu olho para ele com admiração e volto a chorar. Ele franze a testa e
vem limpar meu rosto.
— Está chorando por que agora?
— Você... As pessoas falam tantas coisas de você e eu acho que não
faz jus de verdade quem você é.
— Isso acontece mais do que o previsto. Muitas pessoas que falam
algo de você, não sabem quem realmente você é. — Ele chega mais perto de
mim e toca o meu rosto. — O que eu posso fazer para você parar de chorar?
— Eu não sei. — Penso e solto: — Eu quero te contar uma coisa.
— Fala — pede do seu jeito “delicado”.
— Estou mexendo na estufa da Mia.
— Você o quê?
— Eu amo flores, você sabe e — abro um sorriso honesto para ele
enxergar que é real, não estou manipulando — elas eram o meu refúgio dos
meus pais. Tirar espinhos era como arrancar cada palavra rude deles. Cada
vez que limpava as roseiras, me sentia leve. Eu amo flores e eu encontrei a
estufa lá fora. Me apaixonei por ela. Se você não quiser que eu cuide...
— Pode cuidar — fala simplesmente. — Eu ia pedir a alguém para
fazer isso. Acho que a Mia não ia gostar de ver o jeito que acabei deixando
seu lugar preferido. Mas não sei mexer e não tinha como eu trabalhar, cuidar
da Sophia e das suas flores.
— Eu vou cuidar com todo amor assim como cuido da Sophia.
— Eu sei que vai. — Acaricia meu rosto. — E você podia gostar de
chocolate, não de flor?
Dou uma gargalhada e fico perto até ele passar o braço em mim. É
um abraço estranho porque ele está com Sophia no colo, mas é bom porque
eu posso abraçar os dois, e encosto minha cabeça no seu peito.
— A gente pode ser uma família, Paolo.
— Nós iremos ser. Estamos em crescimento ainda.
— Somos uma mudinha.
Ele ri e ergue meu rosto pelo queixo para me enxergar.
— Você sempre tem que comentar.
— Eu não sei calar a boca.
25

P or conta dos motoqueiros, estou com muito trabalho. Eles não estão
querendo aceitar que para nós não dá para brigar com a Blood
Hands, e agora estou fazendo de tudo para que eles não comecem
um ataque contra a Lawless. Travis não quer se juntar a eles.
Trabalhando pra caralho em todos os setores, estou maluco, mas
depois da conversa com Nina na semana passada, passei a me esforçar para
chegar em casa cedo e tentar fazer companhia para ela. Até transamos
anteontem, mas ela continua no seu quarto.
Não estou pronto para dividir a cama com ela, mesmo satisfeito pelo
seu entusiasmo e esforço de querer que nós nos tornemos uma família de
verdade, é cedo demais. Mesmo assim, estou deixando-a chegar mais perto e
parece até que Sophia entende.
Hoje o dia começou com muito trabalho e as grosserias que estou
fazendo com todo mundo, não tem nada a ver com meus problemas em casa
ou os motoqueiros, é apenas uma coisa singular e simples que não tenho o
mínimo controle. Qualquer um poderia aturar esse incômodo, mas ninguém
está na minha cabeça e no meu coração.
Amanhã é o casamento de Enzo e aquele idiota poderia ter escolhido
qualquer lugar para fazer a cerimônia religiosa, e teve justamente a brilhante
ideia de aceitar o pedido de Bárbara, que pediu para o seu casamento ser na
mesma igreja que Travis e Madeleine se casaram. Elas são melhores amigas.
Eu não tenho nada contra igrejas, mas esse é um problema. Eu nunca
mais entrei naquela igreja depois que Mia morreu na porta. Escadas longas
que ficaram manchadas pelo sangue da minha esposa. Da minha ex-esposa,
me corrijo rapidamente, pois eu preciso cumprir com a promessa que fiz a
Nina de que pararia de chamar Mia de esposa.
Não sei como vou reagir amanhã ao entrar na igreja e subir aqueles
degraus. Não quero fazer uma cena. Vai ser ridículo para mim, fora que levar
Nina e Sophia serão outras preocupações na minha cabeça do que a mim
mesmo.
Uma mensagem chega no meu celular e rapidamente confirmo que é
de Gregori.

Nós estamos no Bellagio. Nina está comprando um vestido para ir


amanhã ao casamento.
Vestido de casamento. Porra. Queria poder falar para ela para não
usar nada rosa claro como Mia usou no casamento de Travis e Madeleine, e
morreu naquelas escadas. No entanto, eu prometi que não iria impor nada a
ela, nem mesmo uma interferência para a minha sanidade mental e para não
descontar minha frustração nela.
Se eu pudesse encontrar com ela nessas compras no Bellagio e vê-la
experimentar e fazer uma cara feia para algum vestido rosa que ela
supostamente escolhesse, se seria mais natural e fácil, ela não ficaria zangada.
Se fosse ontem esse passeio... Hoje não tenho tempo para nada e vou
chegar em casa muito tarde. Estou no Balcão recebendo nossas remessas de
materiais para cocaína e maconha. Mais tarde chega novas armas. Não tem
como eu me encontrar com ela.

Eu não vou poder ir até vocês. Estou no Balcão e vou chegar tarde
hoje. Tome conta delas.

Sim, senhor.

Se Gregori está com Nina, é óbvio que Sophia está junto. Nina não
sai sem ela para nada, primeiramente com aquele bebê canguru.

Me avisa quando estiver voltando para casa.


Envio e desligo o aplicativo de mensagem que nós usamos, que a
própria Famiglia fez há anos. Não tem como rastrear e quem pode usar é os
homens da máfia, tanto para falar com a Itália e ao redor do mundo.
Estão tentando novamente achar algo que possa incriminar as
Famiglie de uma investigação policial e estamos tomando muito cuidado nas
comunicações, mas está ficando cada vez mais difícil; e se acontecer, a
Lawless será a primeira a cair.
Colen ter feito faculdade em Cambridge e agora está de férias,
passeando pelos Estados Unidos, e principalmente em Nova York, não está
sendo inteligente da parte dele.
Amândio, que está assumindo o lugar do pai em negociações entre as
Famiglia, mandou um recado esses dias para Travis, dizendo que seus
homens estão de olho no irmão dele. A Darkness é muito controladora e evita
problemas com jurisdição. Não gosta de policiais metendo o nariz onde não
deve, e preferem não os matar e sim colocar na folha de pagamento. Nem
sempre é uma tarefa fácil subornar policiais. Alguns vestem a farda.
Levantando-me, saio da sala onde contam as caixas de encomenda e
vou até o pátio aonde os homens lutam no tatame e fazem musculação na
academia improvisada com pesos de ferros e pneus. A imagem de um seriado
de prisão americana. Não gosto muito e geralmente não venho malhar aqui.
Faço musculação no MGM logo que chego por lá. Faço para manter os
músculos e a força.
Paro de braços cruzados no pátio e assisto os idiotas lutarem.
— Se você quiser, pode ir. — Enzo aparece do meu lado.
Dou uma olhada atravessada para ele.
— Por que que você está aqui ainda se o seu casamento é amanhã?
— O noivo só tem que chegar.
— Você consegue estar mais feliz do que eu no meu casamento —
ironizo.
— Não tem nada a ver.
— Apenas não estou no clima. Amanhã talvez eu fique. Para fazer o
papel direito.
— Enzo, por que você não está pelo menos satisfeito? A garota gosta
de você, está apaixonada.
— Isso é coisa da sua cabeça.
— Não é coisa da minha cabeça. — Pego um cigarro e acendo. —
Quantas vezes já fui com você na casa de Travis e Bárbara estava lá, porque é
amiga de Madeleine. Aquela garota só falta beijar o chão que você passa. Ela
nem liga se alguém percebe que está olhando para você e, enquanto isso você
está de cara emburrada por ganhar uma esposa apaixonada. Isso vai facilitar
e, com certeza, ela vai te obedecer, fazer suas vontades e querer te agradar.
— Por acaso, a sua jovem esposa não faz isso.
Foco nos homens lutando.
— Nina é sim muito compreensiva. A adolescência dela é bem-vinda.
— Nossas esposas vão ter a mesma idade.
— Ela ainda não é sua esposa.
— É basicamente. Não tem como reverter esse acordo.
Respiro fundo pelo nariz e encaro-o novamente.
— Você precisa mudar esse teu jeito. Não faça a garota sofrer porque
você não está a fim de se casar. É até sacanagem. É preferível uma noiva
sorrindo entrando na igreja do que uma chorando. Quantas não assistimos
chorando e preferindo se suicidar a se casar com um de nós? Você consegue
uma que é apaixonada por você e está resmungando que nem um bebê
chorão. Estou dando um conselho para você de graça. — Apago meu cigarro
jogando no chão.
— Por que que você ficou sentimental? — Enzo olha para mim
mordendo o maxilar. — Parece que, depois que sua esposa morreu, um novo
Paolo nasceu.
Ele não deveria ter falado isso.
Vou para cima dele prendendo seu corpo com uma chave de braço,
empurrando seu queixo para cima, o enforcando quando chegamos na parede.
— Nunca mais tenha a ousadia de falar algo parecido para mim. —
Aperto mais seu pescoço. — Eu estava ali conversando e você vem com essa
palhaçada.
Enzo tenta falar, mas não consegue porque o estou sufocando.
Afrouxo o braço.
— Me desculpe. Não foi minha intenção.
— Eu espero que não. — Ainda não o solto. — Eu não nasci de novo,
estou apenas mais consciente do que nós somos, dos nossos deveres e nossas
honras. E se uma mulher consegue nos dar bondade e paixão, sabendo que
nós somos assassinos, nós devemos ser capazes de dar-lhes respeito e honra.
Espero que nunca mais fale uma merda dessas para mim. Porque eu posso
matar você, ao contrário não. — O solto e dou as costas porque essa é a lei.
Sou mais do que ele. Eu posso matá-lo, matar qualquer um que me
desrespeitar ou as tradições, que Travis não faria nada. Ele barganharia com
seu poder de fazer as pessoas verem o que ele quer, mas nenhum dos homens
pode me matar. Eu sou o braço direito do Capo del capi.
Jogando meu paletó pelo canto, ergo minhas mangas e tiro o meu
colete, as armas junto. Entro no tatame e o homem mais arrebentado sai. E
começo a lutar com o que sobrou. Estou enxergando sangue e golpeio o
soldado sem parar.
Sinto-me bem em estar no controle e bato no homem. Preciso lutar
para não voltar e matar o noivo de Bárbara tagarela Mancini. Enzo é muito
imaturo ainda para conseguir controlar a língua. Vou ensiná-lo a nunca mais
falar algo parecido para mim ou qualquer membro que mereça seu respeito.
26

D ou outra conferida no meu vestido. Andei muito ontem até


encontrar algo que fosse revelador para Paolo. Ele com certeza
ficará de boca aberta quando me ver usando esse vestido vermelho sangue
colado ao meu corpo e deixando meu decote sexy. Quase não me reconheço e
isso é legal. Me torna imprevisível.
Mordo meu lábio e ajeito meus cabelos antes de sair do quarto. Nós
vamos hoje para o casamento de Enzo, um soldado que conheci quando fui
ao Bellagio.
Ele é um homem muito bonito. A mulher que se casará com ele tem
muita sorte. Eu não a conheço, como não conheço quase ninguém aqui. Fico
muito em casa e não ligo. Sophia é uma ótima companhia, mas eu poderia
visitar alguém quando fizer amizade.
Paolo diz que Madeleine não está podendo vir aqui em casa como
costumava fazer porque está com um bebê recém-nascido. Ela se esforçou
muito para ir ao nosso casamento. Seu bebê agora vai fazer dois meses, assim
como o meu casamento. Ela podia vir aqui ou eu posso ir lá. Vou ver se
posso. Gostei dela, parece ser uma mulher equilibrada e educada. Ela não tem
nada a ver como muitas mulheres na máfia são.
A maioria gosta de saber da vida dos outros e de espalhar mentiras
sem se importarem com as consequências, porque são apenas fofocas. E
como eu não tenho o hábito de cortar o cabelo e faço as unhas eu mesma, não
tenho o convívio de nenhuma dessas mulheres aqui em Las Vegas, que
certamente se concentram em salões de beleza e lojas.
Quando eu saio, sempre vou com Sophia e sempre ao Bellagio fazer
compras. Gregori me levou para conhecer alguns pontos turísticos e onde
Paolo fica mais tempo trabalhando, no MGM Grand e me contou que o
Miragem também pertence a Travis. Muito dinheiro, muito poder e domínio.
Entrando no quarto de Sophia, encontro Paolo ajeitando a gravata
borboleta e falando com ela, como se fosse entender. Ele é muito gentil com a
filha. Paro na porta e sorrio assistindo-os.
— O que você acha? O papai está bonito? Acho que nós vamos
combinar muito bem.
Sinto um formigamento estranho no meio do meu peito. Meu coração
quase transborda. Eu gosto dele, mesmo não me deixando chegar tão perto.
Desabafar na semana passada foi preciso e eu ainda estou morrendo de medo
de ser a sombra da esposa falecida dele. E o que posso fazer é dar o melhor
de mim.
Sei que sou boa. Mesmo sendo tratada como lixo pelos meus pais, me
ignorando; eu sei que sou boa e mereço colher os frutos da minha
generosidade, da minha bondade, da minha paciência e da minha passividade.
Uma hora vai chegar esse momento.
— Mama.
Eu olho para Sophia e fico congelada. Paolo vira-se para mim e seus
olhos estão arregalados de surpresa. Ela quis dizer mama... de mamadeira?
— Está com fome, querida? — pergunto me aproximando dela.
— Mama! — Ela estica os braços. — Mama. Mama — ela repete.
Não quero sujar meus olhos. Vou borrar minha maquiagem.
— Ela não está pedindo comida, Nina. Ela está te chamando.
Eu fito o rosto dele, controlando meus batimentos.
— Não pode ser.
— Por que não?
— As crianças... — pauso e olho para Sophia e pego sua mãozinha,
que ela não deixa de esticar para mim. — As crianças repetem o que a gente
fala e eu nunca... ensinei. — Vou para perto dela. — Eu não te ensinei a me
chamar de... mamãe. — Meus olhos ficam cheio d'água e sinto meus lábios
tremerem. Faço carinho no seu rosto. — Eu sou a Nina, não mamãe.
— Mama.
Sinto as mãos de Paolo nos meus ombros e, por fim, me abraça. Seu
rosto está colado no meu, já que se inclinou.
— Talvez foi instinto porque você cuida muito bem dela — ele fala
baixo no meu ouvido.
— Por que ela não chama a Marta assim então? Ficou mais com ela
do que eu.
— Eu não sei. Como é que eu vou te responder isso?
— Eu não sei — murmuro sentindo-me perdida.
— Mama.
Meus olhos estão quentes e molhados. Eu vou ter que retocar a
maquiagem, não tem jeito.
Deixo o meu rosto pertinho do dela, encarando seus olhos azuis iguais
aos do pai. Toco seu narizinho e vejo como a minha mão está tremendo, e
provavelmente Paolo também percebe, porque ainda não se afastou de mim.
— Eu não a ensinei a me chamar assim. — Me viro para ele, fazendo-
o finalmente se afastar. — Eu juro que não ensinei. Me desculpe.
— Está se desculpando por quê?
— Porque ela me chamou de mãe.
Ele segura meu rosto.
— Você é a mãe dela. Qual outra ela vai ter?
— Mas... — olho para Sophia — como pode?
— Podendo e você aceitando. Talvez não seja questão de... — Olha
para mim. Ele pega meu queixo e vira meu rosto para ele. — Talvez não seja
questão de ela poder ou não, mas de você aceitar a escolha dela. E é verdade.
A Marta cuidou dela durante muito tempo, mas por poucas horas. Sophia me
reconhece e chama de pai também e nunca ensinei.
— Talvez seja a Marta ou o Gregori.
— Eu não sei e com você pode ser também um dos dois... ou é
instinto natural. Você passa o dia inteiro com ela, o tempo todo e vai para
cima e para baixo. Não se cansa. — Seu polegar move-se numa carícia suave
na mão que ele segura. — A Marta era como uma avó e você não porque
passa mais tempo do que qualquer pessoa com ela. E por isso ela só
reconhece você como mãe.
— Eu não quero desonrar a Mia.
— Você não está desonrando. — Ele segura meu rosto com as duas
mãos e seus polegares limpam embaixo dos meus olhos. — Não fica
pensando isso porque eu não estou.
— Não?
— Não. — Balança a cabeça. — Porque se eu tivesse, lá atrás,
preocupado de que minha filha um dia fosse chamar outra mulher de mãe
sem ser a Mia, eu não teria me casado. Eu sabia que isso ia acontecer e meu
medo era que a mulher que eu casasse não fosse o suficiente, e tive medo
quando soube da sua idade, mas você me surpreende o tempo todo.
Sorrio emocionada.
— Esquece e confia na sua filha. Ela confia tanto em você que está te
chamando de mãe.
Eu assinto concordando e me agarro a ele esvaziando meus olhos.
Chorando tanto como se tivesse uma torneira aberta em meus olhos. Eu choro
tentando aliviar a emoção.
E quando fico mais calma, viro-me para Sophia e pego-a nos meus
braços.
— Mama — ela fala de novo.
Ela me chamou de mãe mesmo? Ela me chamou de mãe! E depois do
choque, me dou conta de que eu sou a mãe dela. A mãe que ela terá.
— Eu sou... a mamãe e eu te amo, querida. — A abraço bem forte e
evito olhar para Paolo.

Depois da surpresa agradável de Sophia me chamar oficialmente de


mãe, eu nem acredito ainda. O sorriso no meu rosto não consegue mais
sumir. Estou muito feliz, afinal de contas ela é a minha filhinha que amo
muito.
Paolo está em silêncio ao meu lado, polido e distante, mas, dessa vez,
eu não tenho nada a ver com isso. Estamos no carro a caminho da igreja.
Tento encontrar algo para fazê-lo relaxar, mas duvido. Nem Sophia
puxando seu dedo, em cima das suas perninhas, consegue capturar sua
atenção. Ele olha para a frente e para os lados o tempo todo. Um vigilante
possessivo.
— Você gostou do meu vestido? — pergunto baixo.
— Está bom.
Ele nem olha para mim. Rio baixinho e balanço o pé de Sophia.
— Estamos lindos, não é, filha?
— Boh!
— Está em casa, meu amor.
Ela parece ter entendido e franze a testa zangada. A pego no colo e a
distraio antes que chore, bem a tempo do carro parar. Paolo sai primeiro,
ordena seus homens a ficarem nas pontas e me ajuda a sair pegando Sophia.
— Fica com ela e não teima comigo se eu mandar fazer algo.
Assinto e, quando ele me guia para ficar a sua frente, me protegendo
enquanto subimos as escadas, suspiro. A igreja que vai ser o casamento de
Enzo e Bárbara é linda.
Estamos a passos de entrar quando me dou conta do que Gregori me
contou daquela vez. Que Mia morreu num ataque da Bratva nas escadas de
uma igreja. Então, paro no meio do caminho e olho para o chão.
Paolo vira-se para mim e indaga:
— Qual o problema? Seu sapato estragou?
— Não, eu... — Entrelaço nossos braços. — A igreja é muito bonita
— comento para não dizer besteira, mas ele não se mexe e continua me
encarando.
— O Gregori te falou alguma coisa?
— Sobre o quê? Ele não falou nada não. — Sou uma péssima
mentirosa porque sempre falo rápido demais quando estou escondendo algo.
— Você não sabe mentir, Nina. Fala o que que ele te disse.
Envergonhada, olho para o chão.
— Ele me contou que a sua esposa morreu aqui. Eu sinto muito. —
Olho para ele de novo. — Eu sinto muito que você tenha que vir aqui hoje.
Se você quiser, a gente pode ir embora mais cedo ou podemos ir para o salão
de uma vez. Você não precisa assistir à cerimônia religiosa.
— O Capo não vai vir e eu preciso estar aqui. Faz um favor e anda.
Vamos sair daqui.
Ele me carrega para dentro da igreja e nós vamos nos sentar no canto
onde conseguimos ver todos e não estamos muito visíveis.
— Quer mesmo ficar aqui?
Paolo solta o ar pelo nariz.
— Eu preciso, já que o Capo não vai estar.
— Por que que o Capo não vai vir?
— Acho que pelo mesmo motivo que eu não gostaria que você
estivesse comigo e Sophia.
— Poderíamos ter deixado em casa.
— Sabe quando você não consegue confiar em nada. Não sei o que é
pior. Ela aqui ou em casa vou me preocupar.
— Não vai acontecer nada. — Coloco a mão no seu peito, sobre o seu
coração. — Sei que deve ser difícil. Eu nem sei mensurar o que você está
sentindo e tudo que passou, mas vai ficar tudo bem.
— Só me faz o favor e não tente ser heroína de ninguém, salvar
ninguém. Se você ver que alguém vai tomar um tiro, foda-se!
Ele fala isso por causa da suposição que Madeleine que era para ter
recebido o tiro e Mia estava na frente dela. Será que ele se ressente?
— Pode deixar. Vamos nos sentar?
Ele indica a cadeira no canto e olho para ela e depois para ele.
— Só tem uma cadeira.
— Justamente para você sentar e colocar a Sophia no seu colo.
— Você vai ficar de pé?
— Eu prefiro ficar de pé.
Não querendo irritar mais ele, vou me sentar.
Meu coração está apertado de como ele deve estar se sentindo. Até
mesmo amando ou não amando a falecida esposa, ainda deve ser difícil. Ele
deve estar preocupado. Nós poderíamos ter ficado em casa.
Sophia balança os braços enquanto eu a sacudo com a minha perna,
fazendo um cavalinho. Ela faz vários sons que ecoa pela igreja, que tem uma
acústica muito boa. As pessoas param para olhar para ela e eu balanço sua
mãozinha, sacudindo, e uma dessas vezes vejo Travis e Madeleine. Franzo a
testa sem entender.
Paolo vai até eles empurrando a mão na minha direção como se
pedisse para eu ficar no meu lugar. O Capo e ele trocam um aperto de mão.
Vejo Madeleine sorrir e vir até a mim.
— Finalmente eu consegui te ver de novo. Olha como está linda.
— Você está falando isso para Sophia ou para mim?
— Pode ser para as duas — ela comenta com o seu sorriso sofisticado
e o vestido preto elegante. Ela é muito bonita e espontânea. Não é uma
mulher-troféu.
— Posso pegá-la?
— É claro que sim. — Levanto-me e dou Sophia para ela segurar.
Madeleine a abraça, dando um beijinho no seu rosto e Sophia também
faz um som feliz e bate nas bochechas da esposa do Capo.
— Ela gosta de você.
— Que bom porque eu gosto muito dela também. Não é, minha
princesa? Cadê o cachorrinho?
— O Boh? — indago.
— Boh?
— Foi o nome que ela deu para ele.
— Ah, sim.
— Eu achei um igualzinho, só que maior.
— Eu sei, tem na loja do Bellagio, foi onde eu comprei o cachorrinho
para ela. Estava passeando lá um dia e... — Seus olhos ficam distantes, mas
logo some e ela volta a ser polida.
Ela sabe muito bem usar a máscara que a máfia faz a gente precisar.
— Vocês vão ficar aqui?
— Paolo separou essa cadeirinha para mim.
— Ele deve estar nervoso. É normal, falei para ele que a gente
poderia vir e, então, ele não tinha necessidade de substituir Travis.
— Paolo disse a mesma coisa.
— Eu sei, mas a Bárbara é minha melhor amiga. Não tinha como não
virmos.
— E o bebê? — pergunto baixinho.
— Ele está em segurança. Obrigada por perguntar.
— Queria conhecê-lo.
— Pode ir lá em casa quando quiser e leve Sophia, claro. Marinne
sente saudade dela.
— Marinne é sua filha?
— Marinne é irmã de Travis. A caçula. São quatro irmãos; Travis,
Colen, Dario e Marinne. E eu me casei, obviamente, com o mais velho e mais
bonito.
Eu assinto e registrando a informação.
— Você parece bem.
Parecia mesmo bem diferente de muitas das esposas que eu conheci
ao longo dos eventos da Famiglia.
— Quer dizer que eu sorrio e sou simpática de verdade? Bem, se
fosse para casar para ficar infeliz e de cara amarrada, não tinha casado.
— E tem como?
— Se casar por amor, você quer dizer? — ela devolve e sacode
Sophia nos braços. — É possível acontecer e a gente precisa se esforçar para
termos uma vida melhor do que nossos pais tiveram por destino ou escolha.
A evolução quer dizer isso. Nós superarmos as dificuldades e os traumas dos
nossos pais, quaisquer que sejam as lutas.
— Se você está dizendo que é possível...
— É sim, por exemplo: hoje a minha melhor amiga vai se casar
apaixonada.
— Eles se relacionaram?
— Na verdade, eu mexi meus pauzinhos — ela murmura e olha o
marido.
Eu nunca estive perto dele de novo depois do meu casamento, e ele
está caminhando para cá.
O homem é lindo. Alto, largo, musculoso, realmente forte. O
sobretudo, por mais largo que seja, fica um pouco acolhedor no seu corpo
grande. Vejo que ele está com um terno preto, a camisa de dentro branca e a
gravata vermelha da cor do vestido da esposa, que é muito parecida com a cor
do meu vestido. Seus olhos são penetrantes, azuis-escuros, e os cabelos
formam leves ondas nas pontas.
Chegando até a mim, estende a mão e me cumprimenta com um leve
beijo nas costas da mão. Ele tenta ser solicito com as pessoas.
— É um prazer revê-la de novo, Nina.
— O prazer é todo meu, senhor.
— Paolo disse que vocês vão ficar aqui reclusos. Está confortável
com isso?
— Eu acho que assim a Sophia não vai chamar tanta atenção. Ela já
está fazendo muito barulho.
Olha para a neném nos braços da esposa e por breves segundos, tão
rápidos que mal consigo ver, um carinho atravessa seu olhar. Mas ele logo
olha para mim.
— Se você se sentir melhor, pode sentar comigo e Madeleine.
Ficaremos na última fileira. Mais confortável do que isso aqui.
— Eu vou ver se Paolo permite.
— A gente pode ir com eles. — Paolo surge do meu lado colocando a
mão na minha cintura. — Não tem problema nós ficarmos com eles.
— Eu tenho que concordar com você.
Parece que Paolo e Travis gostam de se alfinetar.
— Vamos! — Travis ordena como um bom líder.
Nós quatro e Sophia vamos nos sentar na última fileira do lado
direito, para dentro da igreja, em frente ao altar. São apenas quatro fileiras e
geralmente aqui sentam as pessoas importantes da família e padrinhos. No
caso da máfia são os que tem patente alta.
— Se Madeleine é a madrinha dela, Travis também é? — pergunto
para Paolo.
— Não era necessário, mas acabou sendo.
— E ele não pega ela no colo?
— O Capo não faz gestos afetivos em público.
— Ah, entendi. Ele precisa manter a pose de durão que nem você.
— Precisamos manter o respeito.
— E quem disse que, quando você sorri, consegue-se perceber se
você está sério ou não. Por trás de um sorriso existe raiva e melancolia
também.
— Você tem que parar de ler esses livros, Nina, e vamos parar de
falar.
Ele me faz passar pelo corredor e sentar ao lado de Madeleine com
Sophia.
Ficamos em silêncio, tirando as vezes que Sophia grita e assistimos a
cerimônia. Como Madeleine informou, enquanto o noivo está de cara
fechada, e não sei se é porque ele precisa manter o respeito como o Paolo
acabou de dizer – a famosa máscara da frieza ou ele não gosta tanto da noiva
tanto quanto ela –, ela chega a derramar lágrimas de felicidade enquanto
entra. Está bem diferente das mulheres entrando na igreja chorando que já vi
nos casamentos.
Bárbara parece feliz e, enquanto chora e sorri de emoção de verdade,
o padre os declaro marido e mulher, e Enzo a beija.
O beijo mais rápido que eu já vi na minha vida. Mais rápido que o
beijo que Paolo me deu. Será que ele gostava de alguém e é difícil para ele se
casar com a ruiva?
Ela é muito bonita. O cabelo realça sua cor pálida e seus olhos verdes.
É linda.
— Os filhos deles vão ser realmente encantadores.
— Também acho.
Só depois do comentário de Madeleine que noto que falei isso em voz
alta.
— Você fala muito em voz alta? — indaga me encarando. — Porque
se for, é um risco muito grande. Tem que falar mais baixo.
— Na verdade, não falo muito meus pensamentos em voz alta não.
— Ela fala é muito mesmo.
Madeleine ri olhando para o marido, que continua compenetrado e
sério, mesmo com esse comentário sarcástico.
Quando é oficializado o casório, nós começamos a sair dos nossos
lugares para ir embora da igreja. Cumprimentamos os noivos rapidamente.
Paolo pega Sophia dos braços de Madeleine e entrega para mim.
— Vamos sair pelos fundos da igreja.
— Tudo bem — aceito concordando.
— Iremos com vocês — Travis fala.
Nós pegamos um caminho por dentro da igreja que um coroinha nos
guia. Uma vez ouvi falar que a igreja é muito envolvida nos negócios da
Famiglia, porém nunca pensei que eu fosse ao ponto de ter uma saída secreta
nos fundos da igreja. É, de alguma forma o dinheiro da máfia tem que se
esconder melhor do que em empresas e contas fantasmas. O que seria melhor
do que em “caridade” para a igreja.
Chegamos nos fundos da igreja e um carro estava esperando por nós.
Eu não reconheço o motorista, mas ele tem uma cara agressiva e irônica.
Acho que ele estava no meu casamento.
— O Luca virou motorista, Paolo? — Travis comenta.
— Na verdade, ele está aqui em missão. Pode pegar o carro aí.
Luca faz um aceno e vai para um dos carros idênticos, que estavam
nos esperando, que apenas noto o outro quando vai para ele.
Travis, Madeleine, Paolo e eu com Sophia, entramos no outro carro,
que quem dirige é Filippe e no carona é Gregori.
— O seu motorista está no outro carro, na esquina — Paolo informa a
Travis.
— Você preparou tudo mesmo.
— Quando você disse que estava chegando.
Ele não disse para mim que não podia ir embora porque o Capo não
viria. Será que foi a coisa mais improvisadamente rápida que ele arrumou
tudo a tempo. A minha resposta vem quando nós saímos, e vejo o outro carro,
que vai para outra direção, e ele é diferente. Foi a improvisação em cima da
hora.
Chegamos no salão de festas, muito grande, bonito e chique. Nos
sentamos na mesma mesa e ficamos nela durante a noite toda.
Madeleine vai dançar com Sophia, que, graças aos meus esforços,
agora tem força nas perninhas para quando a madrinha fica fazendo-a pular
no mesmo lugar. Eu ainda a quero ver andando antes de completar um ano
inteiro.
— Quer dançar? — Paolo oferece e eu aceito.
Ele se levanta e estende a mão para mim.
Nós dois vamos para a pista de dança. É uma valsa melódica, o que
faz ficarmos juntos enquanto valsamos para lá e para cá.
— Você não disse que o Capo não viria?
— Ele me disse que estava a caminho quando entramos na igreja —
respondo o que eu realmente quero saber.
— Ah... Você foi rápido.
— Fui o mais rápido possível.
Preciso concordar que sim.
Fito seu rosto até ele olhar para mim.
— O que você quer?
— Nada, eu estou olhando. Você fica bonito de gravata borboleta.
— Você fica bonita com esse vestido — ele diz com tanto
entusiasmo.
Algo estala na minha cabeça. Mia não gostava de vestidos como esse,
colado ao corpo, acentuando todas as curvas. Meus peitos estão sendo
emoldurados pelo decote e Paolo parece apreciar. Essa noite ele está vendo
quem eu sou.
— Você gosta que eu vista vermelho?
— Eu gosto que você vista o que você gosta de vestir.
Fico séria porque preciso me comportar em público.
— Não precisa fingir que você não achou engraçado.
— Eu tenho que ficar séria para o meu marido.
— Se você quiser.
— Por que você gosta de me contrariar? Depois você reclama —
admiro Sophia no colo de Madeleine e Travis balançando a sua mãozinha, e o
vejo sorrir pela primeira vez. É rápido, mas estava lá.
— Parece que ele é capaz de sorrir para a Sophia.
— Travis gosta de criança.
— É sério? — indago arregalando os olhos para Paolo.
— Ele gosta sim. É muito bom com elas.
— Com aquela cara de mau, ele não parece que é bom com ninguém.
— Travis tem um jeito peculiar de reservar suas emoções para as
pessoas que ele acha que deve, ter qualquer tipo de compartilhamento de
afeição. É difícil de explicar.
— É tipo que nem você?
Paolo finalmente desce os olhos para mim.
— Você acha que eu reservo meu sorriso para quem?
— Para Sophia.
— Eu rio quando você fala besteira.
— Mas não muito. — Balanço a cabeça e dou de ombros. — Você ri,
só não muitas vezes.
— Eu só vou rir, se achar engraçado mesmo, não porque tem que rir.
— Está querendo dizer que eu rio à toa?
— Não, Nina. Por que tudo você tem que transformar numa discussão
entre nós?
Dou uma risada e ajeito sua gravata com minha mão, que está no seu
ombro.
— Estou querendo te descontrair.
— Não se preocupe. Você fez isso muito bem hoje. Agradeço a
tentativa.
Eu fixo meus olhos nos seus. Estou hipnotizada. Queria poder beijá-
lo, mas em público não pode. O que eu quero fazer também não pode em
público.
— Chega — ele diz parando de dançar e me carrega para a nossa
mesa. — Está na hora de ir para casa — comenta. — Sophia deve estar
cansada.
— Então vamos. — Travis se levanta com a esposa, que passa minha
filha para mim.
Pelo mesmo esquema que saímos da igreja, fazemos ao sair do hotel,
que foi a festa. Dessa vez o Capo e sua esposa vão num carro e nós no nosso.
No caminho para casa, comento:
— Não sei por que tem aquela necessidade do lençol de sangue?
— É preciso fazer.
— Você vai ver o deles?
Enzo e Bárbara subiram para o seu quarto logo em seguida que nos
despedimos deles.
— Sim, vai ser feito de manhã. Terá uma pós-festa.
— E você vai vir?
— Sozinho, não precisa vir comigo.
— Se você quiser, eu venho.
— Não, está tudo bem. Virei para conferir o lençol e logo voltarei
para casa.
Concordo e dou um beijinho na testa de Sophia, que está aconchegada
nos meus braços.
— Ela ficou cansada da festa. É a primeira vez que ela sai em
público?
— Sim.
— Ela se comportou muito bem — falo com admiração.
— É porque ela tinha você e Madeleine entretendo.
Sorrio com carinho e toco sua coxa.
— Você também faz ela se comportar.
Paolo chega a mão até a minha e entrelaça seus dedos nos meus, e
aperta. Não diz nada, olha para a frente até chegarmos em casa. Talvez um
dia eu consiga de verdade tirar todas as camadas que têm sobre ele. Quebrar
seu coração de gelo.
27

T oda vez que Nina se aproxima demais, é doce comigo e abre seu
sorriso, eu quero fugir. Fugir da tentação de “aceitar” o que ela está
querendo me dar. O casamento era apenas para Sophia ter uma mãe,
não para eu ter outra esposa.
Hoje ela estava tão bonita com aquele vestido de festa. Eu todo
preocupado com sua escolha e ela me aparece toda sexy de vermelho. Me
surpreendendo mais uma vez. Eu nem me importei com seus peitos
parecendo que iam pular do tecido.
O mais interessante da noite mesmo foi o fato de ela se preocupar
comigo na porta da igreja. Talvez Gregori não devesse ficar falando da minha
vida, mas ele deve ter feito porque Nina não para de perguntar e tira a
paciência de qualquer pessoa. E foi bom ela saber, assim conseguiu
compreender que eu estava nervoso e que precisava que ela fosse rápida.
Termino meu conhaque e me levanto. Subo as escadas me arrastando,
meu paletó pendurado no meu ombro e, quando estou virando para o meu
quarto, vejo Nina saindo dele.
— Eu estava te procurando — murmura.
Meus olhos vagueiam por suas pernas, os braços e peitos.
— Ainda está com o vestido — comento meus pensamentos para ela.
— Eu estou. — Chega até a mim e afrouxa minha gravata, puxa
devagar e abre três botões da minha camisa. — A gente podia aproveitar a
noite. Sophia acabou de dormir.
— Você sempre tem tanta energia.
— Você também. — Estica a mão num convite. — Só vem comigo.
E não é que ela tem razão? Eu fico mais enérgico perto dela.
Sendo evidente que ela está me seduzindo, enfio minhas mãos nos
seus cabelos e beijo sua boca.
Eu sei o que ela quer me dar.
E mesmo que essa possibilidade de ter outro coração para cuidar não
seja viável, não sei se consigo mais me apegar. Pego-a nos meus braços e
carrego para o meu quarto. Fecho a porta quando vejo que ela deixou a babá
eletrônica na cabeceira da cama.
— Você é tão esperta — digo assim que a deixo no chão.
Nina ri e dá de ombros.
— Eu não quero que Sophia nos interrompa, mas se acontecer, eu não
vou desistir. Pais precisam se prevenir e improvisar.
Algo extraordinário acontece no meu coração ouvindo-a falar isso. É,
nós somos pais. Marido e mulher, companheiros.
Eu estava considerando subir e dormir de uma vez. Estava realmente
sentindo-me esgotado e ela acabou com meus planos. Tendo ela me
esperando na porta do quarto, sexy e linda, não tenho uma alternativa melhor
que não seja devorá-la essa noite.
Não me demoro em ficar beijando e provocando-a. Tiro seu vestido e
a jogo na cama. Enquanto Nina, descaradamente se toca quando eu mando,
tiro minha roupa e então vou para cima dela.
Fecho os olhos sentindo suas mãos tocarem meu corpo e como ela
gosta disso. Ela aperta meus músculos, arranha minhas costas e suas mãos
estão na minha bunda, quando estou entrando no seu calor. Estoco para
dentro dela com força e a escuto gemer jogando a cabeça para trás.
Afasto meu rosto para ver seu rosto e Nina segura meu rosto com as
duas mãos. Nos provocamos lambendo nossos lábios até que enfio minha
língua na sua boca, lhe dando um beijo profundo.
Abraçando seu corpo, viro de costas deixando-a por cima. Seus olhos
se arregalam e mesmo querendo me seduzir, ela ainda não fez todas as
posições comigo.
Por isso seguro sua cintura e ordeno:
— Quero que me cavalgue essa noite. Que monte em mim.
Ela solta um riso nervoso. Coloca as mãos no meu peito e começa a
se mexer lentamente. Respiro pelo nariz e a admiro toda gostosa rebolando
em cima de mim. Seus olhos sorriem e a puxo para mim. Junto minha boca
na sua, minhas mãos nos seus cabelos e na bunda, sentindo o vaivém do seu
corpo. Estou muito duro e, quando ela se contrai toda por dentro, fico
maluco. Aperto seus cabelos por reflexo e empurro para cima.
Meu pau está duro de uma forma dolorosa. Nina resmunga com a
boca na minha e diminuo o ritmo.
— Porra, Nina! — falo quando nos afastamos para respirar.
Ela joga a cabeça para trás e solta um “Paolo”, como se estivesse
delirando de olhos fechados.
Bato para cima, indo mais fundo e ela deixa o rosto cair no vale do
meu pescoço e ombro. Pegamos um ritmo bom e seguimos ele. Caralho, eu
vou gozar! Mordo seu ombro. Sinto a maciez da sua boceta, a quentura e
como está molhada. Uma ansiedade me corrói e passa freneticamente por
meu corpo. Bato meus quadris para cima e Nina respira fundo deslizando
para fora e voltando a me “engolir”.
— Caralho, Nina!
Ela faz um som afirmativo e segura meus cabelos. Colocando minhas
mãos na sua lombar, detenho-a de se afastar e acelero de verdade. Nina junta
a sua boca na minha, mas não nos beijamos. Trocamos o mesmo ar, perdidos
no coito.
— Paolo — sussurra com sofreguidão.
Corro uma das mãos nas suas costas, entrelaço meus dedos nos seus
cabelos e afasto seu rosto até seus olhos encontrarem os meus. E assim não
paro até que ela goze. Meus batimentos estão muito rápidos e estou sem
fôlego. Puta que pariu! Meus músculos estão tensionados e quero gozar.
Respiro fundo e quase no mesmo momento, ela também. Então grita,
arfando com força e apertando meus ombros quando bato nela. Ela é
apertadinha e deliciosa.
Impulsiono o quadril para cima e dou um tapa na sua bunda. Ela sobe,
ficando sentada e desce o corpo, deslizando. Os movimentos estão cada vez
mais rápidos. Nina rebola em cima de mim, procurando fricção. Se esfrega
em um vaivém enquanto me cavalga. E ela escorrega e encosta a testa na
minha. Me beija gemendo e arfando.
Seu núcleo me aperta forte e fica cada vez mais quente. Ela está
incrível. Está no controle e eu não me importo, nem um pouco.
— Minha — digo separando meus lábios brevemente dos seus.
— Sua — replica sem voz.
Abraço sua cintura e remexo dentro dela com força, e quando ela
geme baixinho agarrada a mim, gozamos juntos.
E pela segunda vez sinto-me exorcizando aquele sentimento ruim que
se estalou dentro de mim nos pés da igreja.
28

N ão sei o que fez Paolo deixar eu dormir no seu quarto hoje, mas
gostei. Ele até me abraçou enquanto dormia. Ficamos de
conchinha. Meu Deus. Ele foi tão bom ontem, ainda consigo senti-
lo dentro de mim. Embora o sexo mais selvagem que fizemos foi na sala de
jogos, ontem foi o mais excitante. Ficar por cima foi novidade.
Sinto quando ele desperta e me solta. Se mexendo na cama, me viro
para ele.
— Bom dia — digo encolhendo-me nas cobertas.
— Bom dia. Vou tomar um banho — ele informa e se levanta.
Sem beijo, sem abraço.
Será que ele se arrependeu de deixar eu dormir aqui? Aqui era o
quarto dele com a Mia, assim como o meu quarto era dela também, por mais
que ela não usasse para dormir, suas coisas ficavam lá. Gregori me contou.
Ele me conta tudo e não sei se ele faz de propósito ou é muito
linguarudo mesmo. Espero que seja a primeira opção, senão é um péssimo
soldado.
Não demora muito tempo, Paolo, sai do banheiro já vestido porque o
closet fica embutido ao lado.
Ele está cheiroso e todo bonito. De terno cinza escuro, a camisa preta,
e a gravata pelo visto hoje vai ficar em casa. Parece mais jovem, o que é
loucura da minha cabeça.
— Eu tenho que ir.
— Tudo bem. — Dou um sorriso amarelo para ele e, quando o vejo
saindo, corro até ele. — Paolo.
Ele gira para ver o que é. Toco o seu rosto, dando um beijo e não
recusa, na verdade aprofunda o beijo. Quando nós soltamos, estamos sem
fôlego.
— Ontem à noite foi incrível. Obrigada.
— Não precisa agradecer. Eu também gostei.
Assinto e mordo meu lábio, nervosa.
— Volte a dormir — fala passando uma mecha do meu cabelo atrás
da minha orelha. — Antes de eu sair, vou trocar a fralda da Sophia e dar a
mamadeira. E, provavelmente, hoje vou chegar muito tarde.
— Deixa que eu faço. Pode ir.
— Eu ainda vou tomar café.
— Então por que eu não posso acordar com você?
— Porque... você estava dormindo tão bem, pensei que estivesse com
sono.
— Eu durmo depois de tarde quando Sophia dormir.
— Está bem, então.
Saio com ele do quarto e vamos ver Sophia, que está dormindo
profundamente.
— Ela ficou cansada mesmo de ontem. Acho que eu não quero
acordá-la. — Fito seu rostinho fofo perto do ursinho que ela agarra, ainda o
ursinho da Madeleine.
— Vamos tomar café ou, se quiser, volte a dormir. Eu tomo café no
hotel.
— Tem certeza? — pergunto olhando para ele.
— Tenho, sim. Pode ficar.
— Então eu vou dormir aqui com ela.
Também concorda, me dá um beijo na testa e se vira para ir embora.
Dessa vez não vou atrás, mas fico no corredor vendo-o caminhar até as
escadas e sumir das minhas vistas.
Aquele formigamento no meu peito está crescendo, junto com um
calor estranho. Talvez eu goste dele.
Ele disse que eu sempre o surpreendo, mas é ele que faz tudo ser
perfeito. Na minha cabeça ele seria distante para sempre e não está. Cada dia
vejo que está se esforçando e estamos cada vez mais unidos.
Suspirando, me deito e volto a dormir querendo sonhar com a noite
de ontem, que foi espetacular. Mais ainda dormir com ele a noite toda no seu
quarto.

Como prometido estou na casa de Madeleine após o seu convite no


casamento de Bárbara e Enzo. É uma senhora casa, muito bonita. Uma
mansão e tanto. Gregori está comigo, mas de cara amarrada. Eu não estou
entendendo.
— Por que que você está com essa cara?
— Porque não vou poder entrar com você. Vou ter que ficar do lado
de fora.
— Você acha que eu corro perigo lá dentro? É a casa do Capo.
Duvido que exista um lugar mais seguro do que esse.
— Mas não me sinto à vontade em não ter você nas minhas vistas.
— Eu sei que você me ama, mas não precisa tanto.
— Você sempre leva tudo na brincadeira, Nina.
Ignoro ele e saio do carro quando para em frente as portas. Logo uma
senhora muito simpática aparece e me ajuda a tirar Sophia. Gregori contorna
o veículo e pega a bolsa de bebê na mala e me passa.
— Você deve ser a Nina, a nova esposa do Paolo.
— Sim, sou eu.
— É um prazer conhecê-la pessoalmente. Eu sou Rosália, a
governanta da casa dos Lozartan.
— Ah, que bom. Espero não dar muito trabalho, na verdade, Sophia é
um amor.
— Eu sei. Ela veio algumas vezes aqui. — E quando olho para a
minha filha, ela está sorrindo para a senhora, que pega sua mãozinha e
balança.
— Olá, Sophia. Quanto tempo? Que legal, você agora tem uma
mamãe.
— Mama. — Sophia olha para mim e bate nos meus peitos.
— Que bonitinha. Ela já chama você de mãe.
Eu dou de ombros, sem graça. Não sei o que dizer. Todo mundo sabe
que eu não sou a mãe dela de verdade. Sou a mãe de coração, é o que
importa.
— Não fique assim. Você é a mãe dela e mãe é quem cria. Não se
sinta envergonhada.
— Eu vou tentar. Na verdade, ainda é tudo muito novo para mim.
— Eu imagino. Agora vamos entrar. A senhora Madeleine está
esperando no jardim com o menino Dante.
— Dante?
— É o nome do filho da Sra. Lozartan. Ela falou que a senhora ia
conhecê-lo hoje, então não me incomodei de falar o nome dele.
— Eu não trouxe presente. Acabei esquecendo.
— Não se incomode, depois você traz ou manda alguém trazer.
— Está bem — concordo.
Finalmente entro na casa, que é um espetáculo. Toda iluminada com
mármore, vidros e parece que o lustre da sala de estar, que apenas passamos,
é de ouro. Chegamos às portas que leva para o imenso jardim, que é tão
grande que parece um minicampo de golfe. Tem uma piscina gigante.
A minha casa não é pequena, é uma casa muito boa, mas não chega
aos pés dessa daqui. Uma digna mansão para o Capo.
Madeleine se levanta da cadeira de ferro numa mesinha com guarda-
sol, e quando vira-se para mim, vejo que está com um bebê no colo. Meus
olhos brilham mesmo vendo-o de perto. É um bebê lindo.
— Você chegou. Pensei que tinha desistido.
— Não, eu só demorei um pouco. Sophia teve que trocar a fralda de
emergência.
— Eu sei como é. — O jeito que ela diz isso é cheio de carinho.
Sorrindo ela apresenta: — Esse é meu filho, Dante. — Existe muito orgulho
na sua fala.
Eu não sei por que, mas fazendo as contas sobre o tempo que ele
nasceu e ela se casou com Travis, é bom não tocar nesse assunto. Porque eu
sempre quero meter o bedelho onde não devo. Eu vou acabar morrendo.
— Quer se sentar com Sophia aqui na mesa? A gente pode preparar
um piquenique no jardim também.
— Não, tudo bem. Ficamos aqui na mesa mesmo.
— Que bom. Preparei um carrinho extra de quando ela ficou aqui.
— Ela tinha um carrinho aqui?
— Na verdade, no quarto de hóspedes tenho umas coisas de bebês
para Sophia. Ela veio algumas vezes para cá, mesmo eu indo mais na casa do
Paolo. — Sorri com pesar. — Travis não me deixava sair muito, mas eu
tentava. Foram meses difíceis depois que a Mia morreu. Nós estávamos em
guerra. Queria ter feito mais por Sophia.
— Pelo que todos dizem, você fez demais, mesmo não tendo
obrigação.
Ela parece agradecida, mesmo triste. Nos sentamos e ela ajeita o filho
nos braços e eu faço o mesmo com Sophia nas minhas pernas.
— Eu sei que parece muita coisa o que fiz, porque muitas mulheres
da máfia só podem cuidar das suas próprias vidas e dos seus próprios filhos,
menos quando é para fazer intriga. Parecem que nenhuma delas tem um
coração suficiente para estender a mão quando precisam. Ele precisava de
alguém e, quando também precisei, Paolo me protegeu. E... me senti culpada
durante muito tempo. — Ela engole em seco e desvia o olhar. — Mesmo que
não tivesse como prever, não teve como não me sentir culpada pela morte
dela.
Fico sem graça e não sabendo o que dizer, abro meu sorriso amarelo.
— Não vamos falar sobre isso. Eu quero saber da Sophia, de como
você está se adaptando e se esse Paolo tratava você bem. Pode me contar. Ele
não vai fazer nada comigo.
— Você se garante demais no seu marido.
A minha boca não tem filtro?
— Eu não me garanto no meu marido, me garanto em mim mesma —
diz cheia de si. — Mas obviamente que sendo esposa do Capo, eu tenho...
passe diplomático para fazer certos comentários.
Dou uma gargalhada e concordo.
— Deve ser muito bom ser esposa do chefe.
— É bom e não é. Ser alvo dos inimigos vinte e quatro horas e ter que
esconder meu filho é a parte ruim.
— Você é como a primeira-dama.
— Eu sei — diz rindo. — Mas e você, o que tem feito?
— Eu cuido da Sophia e das flores.
— Das flores?
— Eu gosto de paisagismo.
— Hum, deve ser legal.
— Você tem algum hobby?
— Fiz faculdade e estou tentando convencer Travis de que eu posso
ajudar com o meu diploma. Não é tão perigoso mexer com os números.
— Você fez faculdade de quê?
— De contabilidade.
— Uau! Você realmente gosta de números.
— Números são fáceis de lidar e quase ninguém tem dificuldade com
eles, como a língua. Ou qualquer outro tipo de matéria. Números são legais.
— Nem sempre. Eu não era muito boa em matemática.
— Era boa em que artes?
— Eu era boa em português e eu poderia ser professora de criança, se
nós pudéssemos ter esse tipo de chance.
— Oras, você pode ter a chance de educar Sophia em casa.
— É uma boa ideia — digo com uma lâmpada acendendo na minha
cabeça.
E nós levamos esse assunto descontraído, falando nada com nada.
Uma conversa como duas mães com seus bebês. Pego um pouco Dante nos
braços e Madeleine pega Sophia, e fica brincando com sua afilhada quase
andando. Ela cambaleia e mexe as perninhas conforme Madeleine suspende-a
pelos braços.
Sophia aprendeu a engatinhar não tem muito tempo, então ela tem
medo até mesmo de tentar movimentar os pés a segurando-a.
Dante é uma graça. Tão lindo, parece aqueles bonecos que vendem.
Bebê Reborn, de tão lindo e perfeito. Com um pai e uma mãe como ele tem,
fica difícil não nascer lindo. Os dois são tão parecidos simetricamente.
Brancos, altos, magros, olhos azuis, mesmo em tons diferentes, cabelos
negros e o sorriso amplo e branco. Mesmo que não tenha visto o sorriso do
Travis, eu consigo notar como ele é tentador de todos os jeitos.
Quando vejo são cinco horas da tarde e tenho que me despedir.
— Vou esperar você para a próxima e Paolo pode vir junto.
— Eu não acho muito provável isso, mas espero que da próxima vez
eu consiga conhecer a Marinne.
A irmã mais nova de Travis está na escola. Ela só volta na sexta-feira
de tarde. Coitada da menina em estudar num colégio interno.
— É só mais esse semestre. Ela começará a estudar em casa os dois
últimos anos. Por mim já estava em casa.
“E depois ela vai se casar com um homem que não conhece”,
completo com os meus pensamentos. A máfia e seus casamentos arranjados.
Dando um tchauzinho para Madeleine, entro no carro com Sophia
batendo no vidro, chamando a atenção da madrinha, que dá tchau para ela
com as duas mãos. Porque, como uma mãe preocupada e sabendo que é um
alvo, deixou o filho dentro de casa. Deu para perceber que eles querem
manter no sigilo o nascimento do primogênito do Capo por muito tempo.
Será que vão conseguir?
— Você vai para casa agora, certo?
— Eu poderia passar para ver o Paolo.
— Você não vai gostar de saber onde ele está agora.
— O que você quer dizer com isso? — Cerro os olhos.
— Nem sempre Paolo está no Bellagio, Nina, e o outro lugar,
nenhuma mulher tem autorização para ir — Gregori responde colocando o
carro em movimento, pegando a avenida para casa.
Eu não vou entrar em questão sobre onde Paolo fica e nem o que faz.
Sei que ele não me trai. Estou apenas preocupada de saber onde ele fica sem
ser no Bellagio e no MGM Grand.

Estou vendo Sophia brincar no tapete na sala de estar com seus


ursinhos, quando, de repente, ela se levanta e tenta caminhar até a mim do
outro lado do sofá, mas congela. Meu coração para e escorrego para sentar no
chão.
— Você quer andar? — pergunto tentando não assustá-la.
Lentamente vou até ela, fico na sua frente e estendendo minhas mãos
para ela encostar.
— Vem, querida, anda. Vem com a mamãe.
— Mama!
— Mamãe — assinto fazendo cara de boba. Nem preciso de um
espelho na minha frente para ver. — Tenta. Vem devagarinho.
A porta de casa se abre e um Paolo vestido todo de preto, elegante,
sexy, poderoso, congela vendo a cena que estou presenciando com muito
amor.
— Ela andou?
— Está tentando — respondo só mexendo a boca como se isso fosse
impedir Sophia de cair ou desistir. — Não faça movimentos bruscos para não
assustá-la.
— Vou tentar — diz sorrindo para mim. Está com cara de orgulhoso.
Paolo termina de fechar a porta, tira o paletó, coloca sobre o sofá e
vem lentamente ficar perto de nós. Sophia olha para o pai com os olhos
enormes e esbugalhados.
— Papa! — grita e estica os braços.
— Oi, princesa — Paolo fala lentamente. — Você quer andar?
— Papa.
— Vem. — Ele se ajoelha do meu lado e estica as mãos como eu.
— Se ela for para você, vou ficar triste. Estava aqui primeiro.
— Eu acredito que não. Ela vai vir para nós dois, não seja ciumenta.
Tapo minha boca para não rir alto e chamar a atenção de Sophia com
o barulho.
Ela faz uma expressão séria e devagarinho dá mais dois passinhos,
balança um pouco e, como estou segurando suas mãos, ela não cai.
— Devagar. Anda devagarinho. Mamãe está aqui.
— Mama! — ela grita e depois: — Papa!
— Isso, meu bem. Vai com a sua mãe devagarinho.
Eu quase choro porque ele fala essa frase. Mas engulo o choro e me
concentro em Sophia. Ela continua vindo na minha direção e logo está nos
meus braços. Dou vários beijinhos nela.
— Minha princesa está andando — digo erguendo-a no ar. — Vamos
tentar de novo?
— Então eu vou ficar aqui e você vai para lá.
Faço como Paolo sugeriu e fico numa ponta do tapete e ele na outra.
Passamos longas horas fazendo nossa filha andar para lá e para cá.
Quando terminamos, sentamo-nos os três no sofá e ele passa um braço nos
meus ombros. Eu deito minha cabeça no seu peito, Sophia olha para nós dois.
— Ela é minha filha também, não é?
— É claro que é — ele responde se afastando para conseguir ver meu
rosto. — Que pergunta é essa?
— Eu não sei. A gente ainda não conversou sobre isso.
— Será que vou ter que escrever em um papel que Sophia também é
filha da Nina. É claro que ela é sua filha. — Tira o cabelo do meu rosto. —
Ela é a nossa filha.
Eu concordo, com meus olhos enchendo d'água e abraço Sophia. Ela
me empurra e vai para o colo do pai.
— Acho que ela não gosta de ver você chorar.
— Engraçado, porque eu a aturo chorando o dia todo.
Paolo dá uma gargalhada e, por mais que eu quisesse que ele sorrisse
mais, é estranho. Ele fica mais bonito sério. No entanto, pouco me importo se
ele está rindo ou não. Sei que aquela sombra em seus olhos, o peso nos seus
ombros e a voz amarga, cada vez mais desaparece. Ele é um marido muito
bom e um pai excelente.
— Obrigada por essa família que você me deu.
— Ela não seria o que é sem você. — Passa o polegar na minha
bochecha. — Vai ficar tudo bem.
— Eu sei que vai.
Limpo meus olhos e deito minha cabeça no seu peito de novo,
agradecendo mentalmente por finalmente ter valor e ser feliz por ser
escolhida. Não tem nada tão valioso na vida quanto as pessoas quererem
você, por quem você é. Amarem você e enxergarem você. Dar valor por mais
que erramos. Eu não tive isso por muito tempo e agora parece que que minha
vida transborda de amor e carinho.
29

C hego em casa às dez e meia da noite. Fecho a porta e noto um


silêncio na escuridão e estranho. Passo na cozinha para tomar um
copo d'água e subo direto para o quarto de Sophia. A encontro
dormindo, respirando suavemente, o que quer dizer que tem muito tempo que
ela está dormindo.
Saio do quarto dela e vou para o meu. Há um mês ela está dormindo
comigo todas as noites. Me acostumei a dormir com ela e o cheiro de canela.
Nina não está no meu quarto, então vou para o dela.
Abrindo a porta, escuto sua voz.
— Oi.
— Tudo bem? — pergunto baixo.
Observo com atenção que está descabelada, toda agasalhada, coberta
até em cima dos ombros e têm vários papéis higiênicos descartados em cima
da cama, transbordando de um saco de plástico. Ao seu lado na cama, na
cabeceira, um copo, uma garrafa d'água, uma xícara, um prato com uma
colher sujos.
— Você está bem? — pergunto só por perguntar. A prova de que ela
não está bem, está evidente.
— Não — ela diz com a voz cansada e fraca. — Acho que estou
ficando doente.
— Ficando doente. Tem certeza?
Ela parece pensar e sorri sem jeito.
— É. Estou doente. — Tenta se sentar, mas o que quer que seu corpo
tente fazer, ela volta a ficar do jeito que estava, deitada e fala: — Estou com
dor no corpo. Estou resfriada e queria ver a Sophia, mas estou com medo de
deixá-la doente. Sinto muito.
— Está pedindo desculpa porque ficou doente?
— Porque eu não vou poder cuidar da Soph.
— Está tudo bem. — Chego perto dela, e sento-me na beira da cama.
— Eu queria ver como ela está.
— Está tudo bem, Nina, acabei de vê-la. — Coloco a mão na sua
perna. — Daqui a pouco você fica bem e fica com ela. Sophia vai ficar bem.
Você quer alguma coisa?
— Eu tô com fome, mas não consigo levantar.
— Pego para você. O que você quer?
— Tem sopa no fogão, é só esquentar e tem que dar mamadeira para
a Sophia. A Marta disse que ia vir, mas não sei se ela se lembrou.
— Eu dou a mamadeira para a minha filha e pego a sopa para você.
Só espera eu me trocar de roupa.
— Está bom. Está bom — responde de olhos fechados e grogue.
Deixando-a descansar de novo, vou para o meu quarto e tomo um
banho. Troco de roupa e desço para a cozinha. Ligo o fogo para aquecer a
sopa e coloco a mamadeira no banho-maria. Mando uma mensagem para
Marta para ela não vir. Eu posso ficar em casa e cuidar da minha esposa e da
minha filha. Não será a primeira vez.
Alguns minutos depois, subo com a mamadeira de Sophia na bandeja
com a sopa e um copo de suco de laranja para Nina. Como não vi remédio,
mandei Gregori comprar também. Vou primeiro para o quarto de Nina.
— Sua sopa e remédios.
— Oh! — ela resmunga e sai de baixo das cobertas, que entrei e
apenas vi seus cabelos.
Ela toma o remédio primeiro e ajudo-a a preparar os travesseiros
sobre as pernas, coloco a bandeja com o prato.
— Consegue comer sozinha?
— Hum... acho que sim.
Sorrio e afago seu rosto.
— Vou pegar Sophia, espera um pouco.
— Vai trazer ela para cá?
— Vou sim.
Sem mais conversa, vou até o quarto da minha filha e a pego no colo.
Troco a fralda e levo até Nina, que tenta tomar a sopa. Ela está muito fraca.
— Espera, Nina — advirto.
Escutando seu resmungo, deito Sophia no meio da cama, sobre as
cobertas e longe de Nina – até ela melhorar, é claro – e entrego nas suas
mãozinhas a mamadeira. Ela segura direitinho e come sem se sujar. Minha
garota esperta.
— Papai está aqui.
Ela arregala os olhos. Vigiando-a vou ficar perto de Nina e lhe dou a
sopa.
— Está com gosto de nada, mas vai passar minha fome.
Ergo as sobrancelhas e espero ela abrir a boca e enfio a colher.
— Obrigada por trazer a sopa para mim — diz depois que engole.
— Não há de quê.
Nina fica quieta comendo e eu de vez em quando olho Sophia. Elas
terminam de comer quase no mesmo momento. Coloco a bandeja em cima da
mesa que tem no quarto, empurrando as margaridas que ela colheu esses dias
pela casa. Volto até a cama e pego a mamadeira vazia.
Sophia se vira e engatinha para Nina balbuciando:
— Mama!
Eu não posso negar como a minha filha é bem agarrada a ela e foi
uma péssima ideia trazê-la aqui. Minha esposa choraminga com uma
expressão tristonha.
— Não, princesa. A mamãe não pode pegar você.
— Mama! — ela grita e quase chora.
— Calma, vem com o papai.
Pego-a no colo e vou me sentar na cama, apoiando as costas na
cabeceira. Sophia estica a mão e Nina depois de limpar com álcool em gel,
deixa a filha segurar seu indicador.
Como coloquei uma calça confortável e um casaco, e em Sophia, seu
pijama que deixa apenas as mãos e a cabeça para fora, vamos ficar por aqui.
Ligo a tevê num desenho e relaxo. E não demora para as duas dormirem.

Passa das duas da manhã quando Sophia se mexe, despertando.


— Shhh... Vai acordar a mamãe.
Ela pisca olhando para mim e para de se mexer. Olha para Nina, que
está dormindo de frente para nós, e estica a mão. Afago sua barriguinha por
cima do pijama e ela move as perninhas e os braços para o alto, fazendo
barulho.
— Você tem que dormir.
— Ela sempre acorda a essa hora.
Levanto a cabeça e noto que Nina parece melhor.
— Como está se sentindo?
— Bem. Você é magico?
— Não, mafioso.
Ela ri balançando os ombros e Sophia vai para cima dela.
— Soph, vai ficar doente.
— Nah! — Socou as mãos como se estivesse brigando com a mãe e
senta nas pernas dela. — Mama. — Bate nos peitos de Nina.
— Está bem. Sua mamãe. — Minha esposa afaga os cabelos da filha.
Olhando para elas duas e como eu me sinto em relação a Nina como
mãe de Sophia. Como ela sendo filha de Nina. Acho extraordinário como me
acostumei rápido e como parece certo ela aqui.
Sua idade não foi problema, por poucas vezes foi presente ao ponto
de eu me incomodar. Nina tem algo que prezo em qualquer pessoa: esforço.
Ela quis ser uma boa mãe, e se esforçou para ser. Ela quis me dar espaço e ao
mesmo tempo conquistar o dela, e conseguiu. Não posso negar mais que ela
tem o espaço do lado da minha cama. Eu a espero todo dia ali e seu sex
appeal me deixa maluco. Não me vejo mais sem ela e nem consigo imaginar
Sophia perdê-la. Minha filha é dela.
E olhando ela agora, mesmo cheia de sono e cansada, com a mão
esticada fazendo carinho em Sophia lentamente e de olhos fechados, queria
poder escondê-las de todos. Para que nada, jamais, alguma coisa acontecesse.
Seu otimismo, alegria e o jeito que enxerga a vida sempre com
esperança. O fato de ela ter renovado por completo toda a beleza do jardim lá
fora e cuidar da minha filha também. Me sinto confuso sobre os meus
sentimentos.
Pego-me questionando se é muito cedo para deixá-la realmente ficar
tão próxima, e eu não estou falando sobre dormir na minha cama.
Cobrindo mais os braços de Nina, acomodo Sophia perto dela, que
pegou no sono, e me deito virado para elas.
Eu queria fugir do seu corpo, do tesão que ela me causa, mas mandei
um foda-se e me entreguei ao prazer. Nunca fodi com tanta vontade como nas
vezes que transamos. Ela me seduz com muita facilidade. Agora preciso fugir
dos pensamentos que surgem na minha mente quando ela sorri para mim do
jeito que está agora.

Hoje faz uma semana que Nina ficou muito doente e com isso fui
obrigado a estar em casa. Dei folga para Marta e Gregori ficou longe da
minha esposa para não pegar o resfriado. Por sorte, Sophia tem uma
imunidade muito boa e não ficou doente, mesmo agarrada a mãe.
Nina foi muito forte e teimosa, achando que iria ficar boa de um dia
para o outro, como toda pessoa jovem tem costume de pensar. Que fica boa
de um resfriado tão rápido quanto o pegou. Tive muito trabalho para colocar
na cabeça dela que o repouso e o remédio eram as duas coisas que a ajudaria
a ficar boa mais rápido.
Agora são quase uma da manhã e chego em casa, subo direto para o
quarto de Sophia e a encontro dormindo sozinha. Nina deve estar no quarto
dela ou no meu. Ela voltou a dormir comigo anteontem quando se sentiu
melhor para dividir a cama.
Indo direto para o meu quarto, abro a porta e logo a fecho rápido.
Mesmo que minha filha não possa andar ainda, de vez em quando
Gregori anda pela casa vigiando os corredores. Não entra nos cômodos, mas
fica por aqui, e minha mulher está pelada no meio da minha cama, sentada de
pernas abertas com uma gravata no pescoço.
— Que é isso. Posso saber?
Sorrindo, ela se levanta e caminha até a mim. Tira o paletó da minha
mão, jogando na poltrona que tem no canto do quarto e começa a abrir os
botões da minha camisa. Estou sem gravata, que de uns tempos para cá não
quero mais usar. Estão falando que é o efeito de Nina e quero ficar mais
jovem. Não sei o que ela tem a ver com isso.
— Isso aqui é o meu jeito de agradecer você por ter cuidado de mim.
— Você quer me agradecer com sexo?
— Na verdade... não só isso — sussurra.
Ela continua tirando minha roupa e eu permito. Ela tira meu coldre,
colocando com cuidado junto com o paletó. Tira minha camisa, o cinto e se
ajoelha na minha frente. Ergo as sobrancelhas e a vejo tirar meus sapatos, as
meias e puxa minha calça. No fim, vai tirar minha cueca, que eu mesmo tiro e
me abaixo para poder pegá-la nos braços. Suas pernas abraçam meus quadris
e os braços meu pescoço. Eu beijo sua boca pintada de vermelho.
Nina estremece com meu beijo e se esfrega em mim. Sinto seu fluido
erótico molhar minha virilha quando a pressiono na parede devorando sua
boca. Me afasto para olhar seus olhos.
— Você quer fazer o quê?
— Me coloca no chão.
Faço o que pede, ela puxa-me para ficar perto da cama e olha dentro
dos meus olhos. Espalma as mãos no meu peito e vai descendo até estar de
joelhos na minha frente.
Eu sei o que ela quer.
Enfio meus dedos nos seus cabelos e puxo de leve fazendo ela gemer
e me enxergar.
— Eu tive uma ideia melhor.
— O quê? — pergunta visivelmente excitada.
— Vou te dar aquilo que te prometi da outra vez.
Dando um sorriso safado, ela levanta e segura meu rosto. Me
beijando com força e eu agarro seu corpo, levo-a para a cama. Passamos um
bom tempo nos beijando, até que giro na cama e fito seus olhos dizendo:
— Gira o corpo e vai chupar meu pau, que eu vou chupar você.
— Seu pedido é uma ordem, marido.
Ela me dá um selinho, vira o corpo e logo agarra meu pau. Fecho os
olhos com força quando abocanha a cabeça do meu pau e chupa apertando
meu comprimento. As mãos descem e apertam minhas bolas.
Passo um bom tempo aproveitando e, quando começo a perder a
cabeça, com a visão dela molhada e aberta na minha cara, dou um beijo e
assopro fazendo-a gemer alto.
Sinto minhas pernas começarem a tremer e Nina a engolir até o
fundo, sinto sua garganta. Eu fecho os olhos, respiro e dou um tapa na sua
bunda em cheio e trago sua boceta para a minha cara. Dou uma lambida e
belisco com a ponta dos dentes a ponta do seu clitóris e começo a chupar na
mesma velocidade que ela dá atenção para o meu pau. Meto dois dedos nela
que geme fazendo aquele estremecimento com a garganta. Não demora muito
e sinto que vou gozar. Ela gira a língua na ponta da cabeça.
— Porra.
Aperto os olhos sentindo meu orgasmo e trabalho na sua entrada com
a minha língua, metendo e tirando. Aperto sua bunda e seguro-a quando
começa a gozar e faço o mesmo, não permitindo afastar a boca.
Ainda duro, com um movimento rápido, a tombo para a cama e giro
meu corpo. Abro suas pernas e meto meu pau até o fundo. Nina abre a boca e
arranha minhas costas gritando meu nome.
— Você vai acordar Sophia.
— É... você que... está fazendo eu gritar.
Faço o movimento de sair e entrar mexendo só a pélvis, e murmuro:
— Então, grita baixinho.
Ela abre os olhos e agarra meus pulsos, com minhas mãos ao lado dos
seus ombros.
— Me ensina a gritar baixinho — ela me provoca.
Abaixo meu corpo e a permito gritar na minha boca enquanto
agradeço seu "agradecimento" fodendo-a até perder o raciocínio.
Quando terminamos, ficamos agarrados no meio da cama e
poderíamos ficar por mais tempo, se Sophia não fosse nos atrapalhar.
Dou um beijo no seu rosto e pergunto:
— Quer tomar banho?
— Só se for de banheira — responde de olhos fechados e manhosa.
— Está bom, mas não podemos demorar. Sophia deve acordar logo.
— Uhum. — Nina sorri e levanta a cabeça do meu peito. — Você
anda com muita energia.
— Deve ser porque tenho uma esposa jovem.
— E eu um marido velho com energia de garotão — debocha.
— Garotão?
— Eu acho que dentro de você na verdade tem dois de vinte.
A abraço e rio.
Não consigo lembrar de um momento que estive relaxado nesse ano.
Quase três meses casados e ela está se tornando magnífica.
Acho que não estou mais com raiva do meu Capo.
30

E u posso estar sendo iludida, mas sinto que Paolo está começando a
gostar de mim de algum jeito. Ele aprecia a minha companhia,
principalmente na cama, e eu também. Ele gosta de me fazer o rir, e
eu também. Agora estamos na banheira depois de eu ter o plano de agradecer,
porém parece que foi ele quem me agradeceu. Estou muito grata, e inchada.
— Acho que... estou... — Respiro fundo e completo: — Eu gosto de
você.
Paolo me encara por longos e intensos segundos.
— Não deveria.
Franzo a testa sem entender. Ele é meu marido e, por ordem do
destino e da convivência, gostar dele era mais do que o esperado. Muitos
homens e mulheres se casam por obrigação, mas começam a se gostar e
talvez até amar. Por que eu não deveria gostar dele?
— Por quê?
O que mais quero é tirar todo o peso que ele carrega, que está lá
dentro. A luta interna de querer ficar comigo. Ele precisa cuidar da sua filha,
protegê-la e deixá-la feliz. Ele é um homem criado para ficar dentro de um
casco de força e brutalidade. Não é para ser sensível e chorar, sentir saudade
e pesar, mas ele sente e como sente.
— Não sei se estou pronto ainda.
Ele está nos dando uma chance e quero saber até quanto. O que ele
pode me oferecer.
Viro-me de frente para ele e toco seu rosto.
— Não precisa me dar nada, só... se permita.
Ele assente e me beija. Um beijo profundo e desesperado.
Posso nunca ter o seu coração por completo, Mia sempre terá uma
parte dele. No entanto, sei que no fim o que importa é que eu sou dele.
Aprendi a ser dele e mesmo não tendo seu coração por inteiro, eu sei que
tenho algo sim. Que ele me sente.

Minha cabeça está como no dia do meu casamento. Porém, dessa vez é até
pior. Não sei o que faço. Ou não faço. O problema é que não posso chegar e
perguntar a Paolo. Tenho medo de ferir seus sentimentos, mas eu não acho
que deveria passar em branco.
Chateada, coloco as luvas em Sophia, porque o tempo está cada vez
mais frio. O inverno chegou, estamos em dezembro e hoje é dia nove, um dia
antes do aniversário da Sophia. Meu bebê vai fazer um ano e estou aqui sem
ter feito nada ainda. E é horrível isso. É o primeiro aniversário dela.
— Que tanto você está pensando aí? — Gregori indaga. Ele já me
conhece muito bem e aprendeu a conviver comigo desde agosto.
— Amanhã é aniversário da Sophia.
— Eu sei — diz neutro.
— Você acha que eu devo fazer alguma coisa?
— Do que vale a minha opinião, você sempre faz o que quer. Mesmo
quando eu mando você ir para a direita, vai para a esquerda. Falo para cima e
você vai para baixo. Mando parar e você continua, então não faz diferença o
que eu penso.
Reviro os olhos.
— Está de ovo virado hoje?
— Não. Não é isso — fala parecendo sem paciência e para na minha
frente.
Estou sentada no balanço de ferro que tem no jardim, que comprei
para Sophia se divertir. É daqueles balanços que as cadeiras uma fica de
frente para outra e nós impulsionamos a movimentar com o pedal.
Sophia está no outro balanço e amarrada com o cinto. Sou neurótica
com ela e tenho medo dela cair. Com suas mãozinhas, ela bate nas pernas
pedindo para continuar balançando.
Gregori fica atrás de Sophia e o balanço bate em suas mãos sempre
que chega perto. Ele fala que é turrão e faz essa cara de mau dentro dessas
roupas pretas e o sobretudo preto, mas faz muitas vontades de Sophia.
E quem melhor do que ele para me responder se eu faço festa de
aniversário para ela amanhã. Gregori é o braço direito de Paolo e o nosso
segurança. E cuidou muito de Sophia quando não tinha mais ninguém, a não
ser Paolo e Marta. Sempre está com nós duas, a não ser um único dia.
— Eu acho que tinha que fazer. — Finalmente fala, o rosto
indiferente.
— Está falando isso para me provocar?
— Não, estou falando a verdade, é o primeiro aniversário dela.
— E se Paolo ficar bravo comigo?
— Eu não acredito que vai ficar não.
— Mas será que isso não vai deixá-lo zangado?
— Está perguntando isso pelo fato da Mia estar morta? — Coloca as
mãos nos bolsos e me encara. — Se você ficar nessa, é mais fácil não fazer
mais nada, nem respirar. Tudo que você faz aqui pode ser profano à imagem
dela, mas não é. Ela morreu e você é a nova esposa, é a nova mãe da Sophia.
Você é a mãe da Sophia. — Vem para perto de mim. — Sendo bem rude,
Sophia não teve outra mãe a não ser você. Quinze dias com a Mia nunca vai
estar na lembrança dela. Sua mãe sempre será apenas você.
— Eu sei — murmuro.
— Você não pode viver para o resto da vida com essas dúvidas e
deixando de comemorar todos os dias especiais. Aniversário, Natal e...
— Meu Deus. O Natal! — Boto a mão na cabeça porque em uma das
conversas descontraídas com Madeleine, descobri que seu casamento foi dia
vinte e três de dezembro. Véspera da véspera de Natal.
Não sei se fazer o Natal vai ser bom. No dia vinte e cinco, Paolo
estava enterrando a esposa.
— Nina — Gregori chama minha atenção batendo no balanço com
seu anel, no dedo mindinho. — Preste atenção.
— Estou prestando.
Respiro fundo e o encaro.
— Se você ficar nessa, não vai fazer mais nada. Não vai comemorar
seu casamento, seu aniversário, aniversário do Paolo. Natal, Quatro de Julho.
Todos os tipos de comemoração. De aniversário da Sophia a Páscoa. Dias
que criança gosta.
— Mas o Natal...
— O Natal não pode ser assim. É lamentável a Mia ter morrido, mas
já acabou. Paolo tem que superar e você tem que jogar isso em cima dele. Se
ele casou de novo e para você ser a mãe da Sophia, você tem que fazer o que
acha melhor para a sua filha.
Concordo com um aceno.
— E o que você acha que ela tem que ter amanhã? Me responda.
Responde na sua forma arrogante:
— Eu acho que ela tem que ter uma festinha de aniversário. É o seu
um aninho. Acho que ela tem que passar o Natal com uma árvore enorme na
sala e com vários presentes, com músicas e só não vou fazer o Papai Noel
porque acho exagero. Mas eu quero que ela curta esse dia até o momento que
não acreditar mais no bom velhinho.
— Então?
— Eu vou fazer.
— Mas vai falar com Paolo.
Fecho a cara para ele.
— Por que você faz isso?! — digo zangada com ele. Desamarro
Sophia do balanço e saímos dele. Vou para a frente dele. — Você acabou de
me dar um conselho e manda eu pedir para o meu marido.
— Pedir o quê para mim?
— Ai, que susto! — Coloco a mão no coração e viro-me para Paolo.
Ele deve ter uma ligação astral com o universo. Sempre chega nos
piores momentos.
— Gregori — giro para o meu segurança —, me dê licença e, por
favor, leve a Sophia para dentro.
Sem uma palavra, ele pega Sophia e leva para dentro. Acompanho
seus passos e fico de frente para o meu marido, que se aproxima de mim
enfiando suas mãos nos bolsos do sobretudo. Ele me fita intensamente. Ajeito
a minha touca e me abraço com frio. Meu casaco não esquenta muito.
— O que você tem para falar comigo?
— Amanhã é aniversário da Sophia.
Ele continua neutro mesmo ouvindo isso e eu deveria parar, porém
continuo:
— Eu quero fazer uma festa de aniversário para ela. Um bolo, enfeitar
a casa e convidar a Madeleine, Travis e Marinne, já que ela gosta da Sophia.
Gregori vai vir de qualquer forma e não sei mais quem. Seus pais...
— Eles não virão — me conta.
— Por que não? São os avós dela.
— Meus pais são frios.
— Você também e mesmo assim...
— Deixa pra lá, Nina.
— Eles não gostam da Sophia? — Sinto muita raiva só de pensar.
— Esquece isso.
— A gente pode tentar convidar eles, meus pais. Vai ser uma coisa
simples.
— Tudo bem — responde tranquilo.
— E está tudo bem para você?
— Está perguntando isso por causa da Mia?
— Não sei se você ficaria chateado.
— Eu não fico triste.
— Mas você fica puto e eu não quero que você fique assim comigo.
— Eu não vou ficar. Não estou e você pediu, não com essas palavras,
para eu esquecer a Mia, mas você lembra mais dela do que eu.
— E-Eu...
— Escuta, essa não é a questão. — Segura minhas mãos. — Se você
morresse e deixasse sua filha e ela ganhasse uma mãe tão legal e que a
amasse tanto quanto você ama a Sophia, ia querer que ela vivesse no
passado? Que não fizesse nada pela filha dela? Acho que a Mia não gostaria
que você não fizesse nada pela Sophia.
— Acho que não. Acho que ela gostaria que eu fizesse, porque eu
também esperaria isso de uma mãe dos meus filhos. — Sinto-me emocionada
em falar sobre isso.
— A resposta está dada.
— Eu só não quero magoar você.
— Não vou ficar. — Coloca as mãos em meu rosto e me beija de
leve. — Não fica se importando comigo. Faça o que você quiser. O que achar
melhor. Você já está fazendo tudo muito bem até aqui, não vai ser uma festa
que estragará.
— E o Natal?
Paolo engole em seco e fecha os olhos por breves segundos. Quando
os abre, estão cheios de emoção e agradecimento também.
— Ela vai fazer um ano de morta e nós iremos comemorar o Natal
com a nossa filha. Vamos enfeitar a casa toda. — Faz uma pausa e parece
lembrar-se de algo. — Mia adorava o Natal. Eu quebrei tudo quando cheguei
em casa depois do velório, porque não vim para casa no dia que ela morreu.
Passei dois dias para cima e para baixo.
Imagino como deve ter sido horrível.
— Se ela estivesse viva, Sophia ia ver luzes de Natal pela casa toda.
Papai Noel, guirlanda, árvore de Natal e muitos enfeites, tudo que tem a ver
com o Natal. Música, ela realmente adorava cantá-las.
Limpo meus olhos imaginando ela grávida sonhando com a filha
brincando com os presentes debaixo da árvore de Natal.
— Se você quiser fazer, vai ter que comprar tudo novo. Quebrei tudo
mesmo.
É incontrolável e choro. Paolo limpa meus olhos.
— É muito bonito esse sentimento que você tem da memória dela
sem tê-la conhecido. Eu fico agradecido — assente, afirmando suas palavras.
— Qualquer outra em seu lugar, teria muita raiva.
— Eu não tenho. — Engulo o soluço. — Lamento de verdade sua
morte, mesmo que tenha me dado a Sophia e você.
Seus olhos ficam negros e ele me beija profundamente como se eu
fosse sumir. Fosse seu balão de oxigênio e estivesse precisando respirar.
Quando afasta o rosto e fita meus olhos, diz:
— Pode fazer o Natal que você quiser. Fique à vontade. Essa casa é
sua. Essa filha é sua e... esse marido aqui é seu.
— Nós podemos mandar rezar uma missa para ela. Qualquer coisa
assim.
Ele me agradece me abraçando. E eu agradeço a Deus por me
permitir ter essa família.
31

D ia dez de dezembro foi um dos dias mais felizes da minha vida,


embora assustadores. Eu vi Mia sofrer com as dores do parto, suas
lágrimas do sofrimento pelas contrações e depois lágrimas de
alegria quando escutou o primeiro choro de Sophia. O medo dela ir para o
hospital. O parto improvisado em casa, morrendo de medo que desse alguma
merda, mas fomos sortudos naquele momento.
Realmente, eu pensei que tinha uma vida perfeita. Tinha controle
sobre tudo.
Estava feliz e realizado, e mesmo meu pai odiando e não ter aceitado
Mia nunca ter me dado um filho depois de anos casados; e, quando
aconteceu, foi uma menina, e meu pai não aceitou. Tinha repulsa por Mia
engravidar logo de uma menina.
Ele não consegue aceitar até hoje e, por mais que Nina tenha feito
tudo com tanto carinho, em tempo de não dar nada certo, pois esperou a
minha permissão para começar a fazer a festinha para Sophia, hoje está tudo
lindo, e meus pais não virão.
Nós vamos ter um dia bom e feliz com nossos amigos, menos nossos
pais. Rocco Gatti e esposa não virão porque para eles a honra é só quando ela
tiver um filho homem, que vai levar o meu sobrenome, o título de
Consigliere e Sophia não é filha biológica dela.
Eu não quero matar meu pai, que é uma das maiores traições. Matar a
família. Então é bom que ele não venha e se for para ficar de cara feia, que
não venha assim como os pais de Nina.
Eu não gosto deles por perto. Não fede e nem cheira a presença, mas
minha esposa ficou triste porque eles não vão vir. Sempre tratando a filha
cruelmente como se ela fosse um soldado e merecesse a tortura deles. A mãe
dela disse:
“Sophia não é sua filha. Não acho que devo me importar e nem você.
Guarde o entusiasmo para os seus filhos de verdade.”
Cheguei no exato momento em que saiu essa frase maldita da boca
daquela filha da puta, que fez minha esposa chorar que nem criança. Eu tirei
o telefone da sua mão e desliguei sem falar nada. Existe um alto risco de eu
matar os pais dela e os meus, então que eles não venham.
O que importa é quem se importa conosco. Enzo e Bárbara já
chegaram, com um presente enorme. Percebo como ele fica distante da garota
o tempo todo, enquanto ela quase se atira em cima dele.
É outro que está merecendo umas porradas, mas não vai ser eu que
vou dar. Não consigo apenas castigar. Eu vou matar ele e ficaremos sem
capitão de novo.
Agora só falta, Madeleine, Marinne, Dario e Travis. Só acredito
vendo Dario na minha casa. Ele está recluso depois de tudo que passou nas
mãos da Bratva. Travis não falou ou fez nada, mesmo preocupado. Disse que
deixará o tempo abrir sua boca.
A família Lozartan vem com todo cuidado e preocupação. O
engraçado foi Nina ter o disparate de perguntar se trariam Dante. Só balancei
a cabeça pedindo para ela calar a boca.
É óbvio que não. Travis não arriscaria trazer o filho para fora do
casulo de casa. A segurança é tanta que Luca, o Cinistro do Capo, o Executor
mais cruel, que ficou tomando conta de Dante. Ninguém mais mortal do que
Luca para cuidar do filho do chefe.
Dando um olhar de aviso para Gregori, subo para o quarto de Sophia,
para ver se Nina já terminou de aprontar ela.
Com a festa temática de Frozen, porque minha jovem esposa
simplesmente pensou: “Estamos no inverno, que tema mais apropriado do
que Frozen?”, E mesmo que eu odeie a musiquinha desse desenho, ficou
bonita a arrumação da casa.
Está tudo azul e como se tivesse neve para todos os cantos. Ela
colocou algodão, neves temáticas de papel e jogou purpurina. Está cheio de
bichinhos da Frozen. Não sei se tudo vai para o quarto de Sophia depois ou é
lembrança da festa.
Eu deixei o cartão preto, sem limites, com ela e nunca mais vi. Eu não
me importo. Ela se diverte e compra muitas coisas para Sophia.
Bato na porta para chamar sua atenção e ela vira-se para mim. Sophia
está nos seus braços. As duas estão de azul, com um vestido com brilho e as
mangas parecem de algodão. Os cabelos em uma trança de lado e Nina cortou
um pouco sua franja para ficar igualzinho a boneca do desenho. Elsa, colada
na porta de casa com dois metros.
Ela é muito especial e o medo que eu tive dela ser tão infantil para
cuidar da minha filha, não existe mais. Ela é perfeita.
— Por que que você não está vestido de Olaf?
— Quem é Olaf?
— É um boneco de neve, não é? — Dá atenção a Sophia.
— Olaf! — Minha filha solta o nome engraçado perfeitamente.
— Ela acabou de falar o nome do boneco direito?
Nina dá de ombros.
— As crianças tem a tendência de aprender as coisas que não presta,
mais rápido do que mamãe e papai.
— Mama! Papa! — Só para contrariar, Sophia repete do seu jeito.
Nina dá um beijo no seu rosto e vem até a mim. O contraste da minha
roupa, calça social preta e suéter cinza escuro. Nina que escolheu e eu deixei.
É gritante quando ficam perto de mim.
— Pega ela, por favor. Está muito pesada.
— Você podia comer mais um pouco e assim ficaria forte para pegar
ela.
— Isso tudo é para não pegar ela no colo? — Ela cerra os olhos para
mim e mexe no vestido de Sophia.
— Estou recriminando que você está muito magra.
— Mas eu como. Você é terrível.
Não falo mais nada e ela me ignora. É provocação velada.
Nós dois saímos do quarto, com Sophia animada. Parece que sabe que
é o seu aniversário. Quando chegamos na sala de estar, damos de cara com
Marinne e Madeleine e o embrulho de presente gigante. Madeleine joga para
Travis, que segura e vem pegar a Sophia do meu colo.
— Meu Deus! Ela está tão linda de Elsa — diz toda feliz. — Eu não
estou linda, madrinha? — Madeleine brinca com Sophia, mexendo nos seus
pés e Marinne chega e toca as mãos da minha filha.
— Está muito bonita essa menina.
Vejo Nina rindo e a encaro. Minha casa tem sorrisos. Tem
gargalhadas de novo, tudo graças a ela. Fico do seu lado e entrelaço nossos
braços. Ela ergue o rosto para mim e sorri.
— Obrigada.
— É você que tem que agradecer?
— Se você soubesse quantas vezes quis algo e não tive. — Sua
expressão está consternada. — Você me deu direito de falar e optar. Me deu
uma filha linda e respeito. É claro que preciso agradecer.
Cubro sua mão com a minha sobre meu braço. Não há necessidade de
falar mais nada.
Não consigo sair do seu lado a festa toda. Parece que nós dois
tivemos motivos para casar muito maiores do que aliança de sangue.
Arranjado ou não, temos um casamento de verdade agora. Eu lhe dei a
primeira regra para uma casa se manter de pé: respeito; e ela deu a segunda:
confiança. Nós vamos ficar bem.
32

P aolo me deu carta branca e fiz tudo que tive vontade para hoje. Hoje
é véspera de Natal e nossa casa está pronta para receber o Papai
Noel para Sophia. O dia de lamentar e de luto, foi há um ano. Cada
dia que passa vou me convencendo de que Mia precisa estar morta. Precisa
estar num cantinho dessa casa sem influenciar em nosso casamento e na
criança de Sophia.
E eu decidi que Mia será as flores nessa estufa, que eu agora rego.
Infelizmente, pela estação fria não estão muito bonitas. Estou fazendo o meu
melhor.
O que importa é isso. Que eu faça o meu melhor.
Desde que aceitei o casamento, desde que disse sim para Paolo no
altar, eu prometi dar o meu melhor. Dar tudo que eu poderia ter de bom e eu
faço. Inclusive para ela.
Paolo não sabe, ontem quando eu vim regar a estufa mexi em alguns
vasos que estavam no canto mais escondido. Tinha terra neles e nada
brotando ali. Eu, sempre curiosa, resolvi tirar a terra deles e colocar nos vasos
que tem flores. Mexendo neles, encontrei uma carta.
Eu não sei como, me pergunto até agora, como ela sabia que ia
morrer, que ia acontecer alguma coisa com ela porque na sua carta ela diz
coisas como se soubesse que não estaria aqui para Sophia e nem para Paolo.
Tenho o costume de rezar porque acredito em Deus, mesmo no
mundo obscuro da máfia. O fato da violência existir não quer dizer que Deus
não existe. Eu acredito mesmo num mundo obscuro. Deus não deixa de estar
nunca. Ele não está ausente, tudo tem a permissão d’Ele.
É difícil manter a fé quando sabemos de mulheres torturadas, de
homens que estupram crianças, que vendem órgãos, que trocam suas filhas
por drogas, que matam seus pais, que fazem tudo por dinheiro. Que a
ganância é tão poderosa.
Obviamente perguntamos como Deus permite. Bem, a presença de
Deus não significa que só teremos bênçãos. Andar com Ele não significa que
nada irá nos acontecer. Talvez seja o contrário. A fé fica mais forte quando
nós mais precisamos. Deus fica mais forte quando nós estamos passando pelo
fogo, quando estamos sendo torturados, estamos sofrendo.
Por mais que eu tenha ficado zangada em descobrir minha
semelhança com Mia da pior forma, depois que li sua carta e rezei, sentei-me
na estufa e encarei todas as flores nos vasos e a aliança em minha mão.
Será que não foi obra de Deus me colocar na vida de Paolo? Talvez
não por ele, mas por Sophia. Talvez não por ele, por mim mesma.
Se não fosse Paolo, eu nunca saberia o que é ter voz, fazer o que eu
quero, realizar minhas vontades. Ele pode ser um monstro fora de casa,
temido por todos. Ele pode não me amar, talvez nunca e já assumi isso.
Mesmo assim, essas coisas não me impedem de amá-lo. Amar o que ele faz
por mim, amar o jeito que ele cuida da filha dele.
Será que nós não somos realmente obra do destino?
Ele se casar com uma mulher parecidíssima com a sua esposa
falecida. E novamente, não sou idêntica a ela, mas meus traços, meus gostos,
é claro que é assustador. Não pode ser por acaso. Nosso mundo é apavorante,
mas pode acontecer milagres e, por sorte, eu tenho um marido que não me
bate. Tenho um marido que não maltrata a filha, que a trata com carinho e
com honra, dignidade. Não menospreza porque nasceu menina como tantos
Madman fazem.
Não tem como negar, tive a sorte de ficar no lugar de uma pessoa tão
espirituosa que deixou uma carta. Não entendi direito algumas partes, mas
guardei as importantes na cabeça.

Quero que cuide da minha filha. Sophia precisa de atenção e uma


mãe generosa e firme. Entenda que o silêncio de Paolo quer dizer muito.
Trate bem minhas flores.

Irei continuar a cuidar de tudo feliz e cheia de vida.


— Não está com frio? — Escuto a voz dele.
Suspiro sentindo sua presença mesmo de longe. Abrindo um sorriso,
viro-me para ele.
— Estou de casaco.
— Mas está mexendo em água. Não está com frio?
— Não estou não.
— Está bom.
Ele fica do lado de fora, com as mãos dentro dos bolsos. Soltando o
regador, pego o paninho e seco minha mão. Caminho até ele e olho seus pés
no limite dos pisos e do gramado. Me mantenho dentro da estufa e olho-o
desconfiada.
— Você não entra aqui nunca?
Ele balança a cabeça que não.
— Eu acho que existe limites, Nina, e não tem nada a ver sobre sentir
saudade dela. Não é mais sobre isso.
— Você quer impor um limite para si mesmo sobre ela?
— Você disse que esse lugar sempre vai ser dela. — Faz uma pausa.
— Eu não quero ficar mais perto. Eu tenho uma nova vida com você... e a
Sophia, e é isso que me basta. Não merecia tanto depois de ser responsável,
de alguma forma, pela morte dela.
— Não foi você que matou ela. Por que fala isso?
Desvia os olhos e, depois de um tempo, responde baixo:
— Ela podia ter ficado em casa. Nem sempre as esposas precisam
acompanhar os homens. Eu insisti que ela fosse e não consegui tirar isso da
cabeça dela. — Olha para mim. — O que você tem de curiosa, Mia tinha de
teimosia. E ela foi e eu fiquei em adrenalina naquele momento. Quando os
filhos da puta russos chegaram e começaram a atirar em todo mundo, eu não
me toquei e, se a minha filha não estivesse com meus pais, eu teria perdido as
duas. E não teria mais motivo para viver.
— Você estava ocupado. Não foi sua culpa e aposto que ela ficou
com raiva.
Depois da sua carta, eu tenho certeza de que ela não ficou, ou tem
raiva, dele.
— Acredita mesmo que existe o céu e o inferno? — ele pergunta
como se eu pudesse dar essa resposta. E espera que eu dê.
— Eu não sei, porém a gente não pode ignorar o fato da coincidência,
do acaso, do destino de ter feito você se casar comigo. Sou tão parecida com
ela.
Ele toca meu rosto com reverência.
— Realmente não me importo com isso. Não aprendi a gostar de você
e a conviver com você porque lembra a Mia. Não se diminua a esse ponto. Se
dê valor. Sei que seus pais não fizeram, mas eu dou e você precisa fazer o
mesmo.
Sorrio profundamente com suas palavras.
— Por isso que eu gosto de você e vou continuar gostando, mesmo
que você não queira. O fato de você criar a Sophia do jeito que faz não tem
preço, Paolo. Você dá para ela todo seu amor e respeito. E não existe coisa
mais importante no mundo do que o respeito. Não precisa amar, o respeito é
mais forte. Você me deu respeito e eu... — pauso sem coragem de dizer que o
amo. — Eu agradeço.
Aperto sua mão, ele olha para a minha mão e diz:
— Que mãos frias. — Ergue o rosto. — Você não está com frio
mesmo?
Ele quer fugir, mudar de assunto e por mim tudo bem.
— Vem, vamos entrar.
— Eu... só vou terminar de molhar uma plantinha ali e já vou.
— Está bom. Eu vou começar a cortar o peru para almoçarmos e você
era para estar lá dentro. Hoje é Natal.
Assinto e espero ele se afastar. Me encosto no batente da porta,
olhando o jardim de dentro da estufa.
— Foi fácil, não é?! Você se apaixonar por ele. E pode deixar que eu
vou cuidar para sempre dele e da Sophia.
33

S ophia anda muito dengosa desde o seu aniversário e pede colo com
mais frequência que o normal. O problema é que não é o meu colo.
Ela quer o colo de Nina, que está demorando muito.
— Sua mãe está se vestindo. Para de chorar.
Tento acalentar Sophia para ela parar. Como ela vai conosco, se não
para de chorar? Que merda! Vamos à festa de Natal na casa de Travis, que
Madeleine organizou. Ela não me convidou formalmente porque me respeita
demais e pensa que estou sofrendo hoje. Honestamente, não. Mesmo vendo
Nina dentro da estufa, o que senti foi incômodo.
Não quero que ela abandone, ela gosta do lugar. No entanto, depois
que ela afirmou que lá seria onde Mia ficaria em nossas vidas, eu não quero
mais chegar perto. Depois de matar Niklo e me permitir realmente viver com
Nina, quero Mia onde deve estar. Nas memórias do passado.
Eu preciso me concentrar em Nina. É nela que preciso pensar, desejar
e amar. Não sei como aconteceu, mas eu me apaixonei pela minha jovem
esposa. Com seu jeito falante e esforçado, ela me conquistou.
— Por que não para de chorar, querida? — Coloco a mão na testinha
de Sophia para ver se ela não está ficando doente. — Está normal.
Não entendo por que que ela está chorando.
— Você não está ficando doente, querida. O que que houve?
Ela faz uma careta de choro e deita a cabecinha no meu peito. Eu
afago suas costas. Acho que ela não vai sujar minha roupa. Nina que escolheu
o terno preto, camisa de linho branca e a gravata champanhe.
Estou tentando consolar Sophia quando vejo Nina descendo as
escadas. Engulo em seco porque ela está linda. Me aproximo depois que me
levanto do sofá e ajeito Sophia no colo.
Nina está usando um vestido champanhe, igual a minha gravata, com
as alças finas com brilho. Os cabelos loiros e compridos estão soltos em
ondas e sua maquiagem é leve, mas sofisticada. Eu nunca a forcei a vestir
nada e não me incomodo mais com seu jeito jovial. Na verdade, nossa
diferença de idade passa despercebida agora.
Porém, hoje com essa roupa, ela parece uma esposa ideal para mim.
Uma mulher de uns vinte e cinco. Ainda jovem.
Ela abre um sorrisinho e para nos pés da escada. Parece mais madura,
mais mulher e mais bonita. Dizem que a minha convivência com ela fez eu
rejuvenescer. As roupas e o humor. Acho que ela amadureceu.
— Está me olhando assim por quê?
Vou mais para perto vendo-a de cima a baixo. Ela coloca a mão na
cintura e tomba o rosto para o lado, desconfiada.
— O quê?
— Porque você está linda. Não pode olhar?
Ela dá uma gargalhada.
— É claro que pode — responde e, de repente, fica séria. — O que
que houve com a Sophia?
— Ela não para de chorar.
A preocupação cruza seu rosto e ela acaba de descer as escadas. Não
tem mais provocação.
— Será que ela está ficando doente? — Toca nas costas da filha.
— Acredito que não, mas não tenho certeza.
— Me dá ela aqui.
Eu entrego nossa filha e ela imediatamente para de chorar. Abro a
boca indignado. Eu tenho um exército de homens cruéis que se curvam para
mim e minha filha não.
— Encontramos o remédio para a Sophia — resmungo.
— Mamãe.
Nina beija sua cabeça e a aconchega nos braços.
— Tudo bem, meu amor. A mamãe vai junto e a Sophia também.
Por algum motivo não me sinto bem vendo Sophia chorar desse jeito
e se agarrar a Nina. Se eu tivesse ouvido todas as vezes que meu instinto
acendeu um alerta de perigo como um alarme, e ficado em casa.
E então eu não teria ela. Não teria essa mulher maravilhosa cuidando
da minha filha.
Essa é minha esposa. Meu presente.
— A gente pode ficar em casa? — dou a ideia. — Ou você quer
muito ir?
Nina desvia sua atenção de Sophia e olha para mim.
— Você não quer ir à festa?
— Quero ficar em casa com vocês. — Dou um passo e coloco a
mecha do seu cabelo para trás. — Eu prefiro ficar em casa na lareira, tomar
um whisky e ver você dançando com a Sophia. Talvez assistir um filme de
Natal, qualquer coisa.
Ela tomba a cabeça para o lado, pensativa e assente com um grande
sorriso.
— Eu ia falar isso, mas fiquei sem jeito. — Sacode os ombros. —
Estava terminando de me arrumar agora e pensei que queria ficar em casa.
— Podia ter falado.
— É a festa do Capo. A gente não deveria ir?
— Eu sou o Consigliere dele, não sua sombra. Eu posso não ir em
alguns lugares e eventos. E hoje eu quero ficar em casa com a minha família.
Ela dá um sorrisinho e concorda de novo.
— Então, vamos.
— Ainda bem que sobrou comida.
— É claro que sobrou comida, Nina. Você fez um banquete para nós
três e era só para almoçar. Você é muito exagerada.
— Mas o Papai Noel vai chegar. — Ela olha para Sophia. — Não é,
filha? Ele não vai chegar e encher sua pança de peru e panetone?!
Sophia solta uma gargalhada, com o humor recuperado. Era a Nina
que ela queria.
Minha esposa passa por mim e anda até a sala de estar, onde montou
uma árvore gigante de Natal com muitas luzes. Tem uma guirlanda na nossa
porta e várias luzes do lado de fora, mas ela não exagerou muito. Talvez ela
goste do Natal, porém não tanto quanto Mia gostava. Ela botava guirlanda em
todas as portas da casa, tantas luzes de Natal que eu ficava preocupado de
pagar multa por ofuscar o quarteirão.
Chegando na sala vejo que ela colocou Sophia perto da árvore e
entregou o urso. O famoso urso de Madeleine.
— Eu acho que nunca vai superar esse ursinho. Nenhum brinquedo a
faz soltar ele — Nina comenta tirando os sapatos, deixando-os no canto para
Sophia não pegar e vem para mim.
Eu seguro o seu rosto, beijo sua boca.
— Vamos dançar?
— Quer dançar? — Um sorriso surge no seu rosto. — Mas não tem
música.
— Eu coloco a música. Não seja por isso.
Me afasto e vou até o aparelho de som. Escolho uma música
diferente, uma de 1993 – Crep. E volto dançando para ela, que me espera no
lugar.
— Você bebeu hoje? — Põe as mãos na cintura.
— Só porque estou dançando?
— Não — ela responde rindo.
Pego suas mãos, faço-a dar um giro para fora da sala, indo para o
hall. Então abraço o seu corpo e dançamos no ritmo da música.
— Essa música foi feita quando você nasceu?
Rio e aperto sua bunda, provocando-a.
— Com certeza não foi quando você nasceu, espertinha.
Ela abraça minha cintura e deita a cabeça no meu peito. Vamos para
lá e para cá. Nós dois olhamos para Sophia, que levanta as mãozinhas quando
chega no refrão.
— Olha! Ela gosta de música velha.
— E a mãe dela de homem.
Nina joga a cabeça para trás, rindo. A risada dela me deixa feliz.
O que eu faria se perdesse de novo?
Eu não posso ser hipócrita e dizer que nunca senti o que sinto com
ela. Esses dias mágicos. Claro que tem a novidade da sua idade, que a torna
confiante e esperançosa, e tem o acréscimo de Sophia. Tudo é novo para
mim, mesmo assim eu já estive aqui e nunca mereci. Eu destruí da outra vez.
Deus tirou de mim, ou o diabo. E tenho medo de perder de novo.
Fecho os olhos e encosto meu nariz nos seus cabelos, não querendo
pensar nisso. Escuto Nina cantar a outra parte do refrão e se afastar de mim.
Giro-a erguendo meu braço de novo e quando a vejo sorrindo desse jeito é
demais para mim.
Ela me fez esquecer de sentir raiva.
Ela me fez esquecer meu maior arrependimento.
Abraço seu corpo dançando e tento relaxar.
Ela está aqui. Sempre estará. Nina.
34

P aolo beija minha testa devagarinho e se afasta. Para a música e se


vira para mim. Estico minhas mãos, que ele pega e, apertando de
leve, me puxa para ele. Vamos nos sentar no sofá perto de uma
Sophia dormindo no chão. Dançamos tanto, que perdemos o limite do tempo.
Ao seu lado, me aconchego nele, que deixa o braço para eu me
encaixar e deito minha cabeça no seu peito. Fecho os olhos quando começa a
acariciar minhas pernas.
— Você é feliz? — ele pergunta, com a voz distante.
Afasto-me e franzo a testa.
— Que pergunta é essa?
— Responde.
— Sou sim — digo assentindo repetidas vezes. — Por quê? Você é
feliz?
— Sou — quase não o escuto.
Sorrio de leve e pego sua mão. Ele está usando o relógio que dei a
ele.
— Eu perdi a minha primeira esposa — ele murmura e eu o fito —,
sem realmente dizer o quanto eu a amava.
Eu não quero isso. Sinto meu coração se apertar. Será que está
lembrando dela. Ele a enterrou um ano atrás.
— Eu nunca disse para ela — continua —, posso ter demonstrado.
Cuidando, protegendo-a, afinal de contas. — Ele faz uma pausa.
Posso perceber que ele está lembrando os momentos ou do momento.
O único momento que importa.
— Quando ela morreu, me disse que sabia que eu sempre a amei. —
O que fala agora me parte ao meio. — Eu não queria me casar de novo, mas
estava cansado e me sentindo como um caminhão. Como se carregasse uma
carga muito grande e meus pneus não aguentassem mais.
Assinto e faço carinho nos seus cabelos grisalhos, que aprendi a amar.
E ele olha para mim intensamente.
— Eu não quero isso de novo, Nina.
— Não... quer o quê?
— Não quero viver me enganando. Mentindo para quem eu não devo.
— O que você quer dizer?
— Eu nunca disse para a Mia abertamente “eu te amo”. Que eu me
preocupava demais em morrer e deixá-la. Porque o nosso normal são os
maridos serem mortos primeiro.
Engulo com força.
— Que eu não ligava de ela ter demorado tanto para gerar um filho
nosso.
Ele pega minha mão de casada e mexe na aliança, girando-a.
— Escuta, eu não quero isso de novo.
— Tudo bem — falo baixinho ainda sem compreender.
E ele me agarra de surpresa nos seus braços, deitando-me sobre suas
pernas e segura meu rosto com as duas mãos. Ficamos cara a cara.
— Viu, você está que nem ela. Ela não sabia da verdade.
— Então me diz — sussurro, quase sem voz de nervoso — o que é
que você quer falar.
Meus olhos ficam quentes.
— Eu quero dizer... — Afaga meu rosto com o indicador. — Eu
quero dizer que eu te amo.
Meus lábios se abrem, os olhos enchem d’água e minha respiração
fica suspensa.
— Eu me apaixonei por você. Por esse seu jeito engraçado, doce,
aventureiro e cuidadoso. — Limpa meus olhos. — Eu não sei como você era
antes. Como era sua vida. Você deixa escapar de vez em quando como era
tratada pelos seus pais e... eu... — cerra o maxilar com raiva — tenho
vontade de meter a bala na cabeça do seu pai e da sua mãe por todas as vezes
que trataram você mal.
— Não precisa. — Balanço a cabeça e toco seu peito. — As pessoas
ruins de coração recebem tudo o que elas fazem em algum momento na vida.
A vingança não é realmente necessária, porque as pessoas vão ter sempre
aquilo que fazem. Elas colhem o que plantam.
— Então é por isso que você vai receber meu amor. — Sua voz me
deixa quente. — Vai receber a minha dedicação, meu carinho e proteção. Eu
sempre vou tentar fazer de tudo para que você seja feliz. Eu vou ser um
pouco obcecado com a sua segurança... porque eu não posso perder você.
Não posso ficar sozinho de novo.
— E você não vai. — Passo a mão no seu rosto. — Eu acho que Mia
que mandou você para mim, de algum jeito.
Ele limpa meus olhos e nega com a cabeça.
— Não seria ao contrário? Ela mandando alguém bondoso para ficar
comigo, mesmo eu não merecendo. Eu tenho um anjo para cuidar agora.
— Para cuidar de você também. — Beijo rápido a sua boca. — Eu sei
que todos nós somos condenados e, mesmo assim, eu amo você também e
quero cuidar de você de alguma forma. Eu sinto uma grande necessidade
sobre isso, Paolo.
— Eu agradeço e pare de chorar.
Fungo, rindo e limpo meus olhos.
— Sabe, eu nem a conheci, mas queria muito... muito ter conhecido.
Ela parecia ser tão boa e generosa.
Ele não se altera quando fala:
— O padre disse que pessoas como ela têm lugares no céu. Eu espero
de verdade que sim, mesmo que eu nunca mais vá vê-la e mesmo que quando
eu morrer, e chegar a sua hora também. Nunca mais vou te ver.
— Talvez eu consiga passe livre e posso ir te visitar.
— Você precisa dizer alguma coisa que é a cara dela?
Rio e o abraço bem forte.
— Eu te amo, Paolo. Assustador ou não. Velho ou não. Viúvo e pai
solteiro ou não. Te amo muito.
— E você falando demais ou não. — Afasta minha cabeça, me beija e
completa: — Eu te amo, Nina Dal Moli.
Epílogo 1

Algum tempo depois.

C uidar de Sophia foi muito fácil, levando em consideração o que


passo agora. Não pensei que estar grávida fosse tão cansativo e eu
fosse ficar faminta. Agora estou deitada enquanto a mão de Paolo
acaricia minha barriga e Sophia, acordada a meu lado, brinca com o cachorro
de pelúcia. Viro o rosto e fito a expressão do meu marido, que não está
tranquila. Então coloco minha mão na sua bochecha, para chamar sua
atenção.
— Qual o problema?
— Nenhum.
— Você não parece tranquilo.
— Apenas preocupado com o bebê. Não é nada. É bobagem.
— Conta essa bobagem para mim.
Ele solta uma risada que ficou tão comum entre nós. Paolo ri muitas
vezes perto de mim e da filha. Fora de casa, é o mesmo. E depois dos MCs,
ele ficou muito nervoso. Ouvir sua risada agora é bem-vindo.
— Será que Sophia vai se dar bem...
— Com ele? — completo seus pensamentos. — Eu acredito que sim.
Ela se dá bem com todo mundo.
— É verdade.
E ele continua sério, então eu insisto.
— Me fala o que que é logo, Paolo.
— Você ficou linda grávida.
— Fiquei linda e cansada.
— Eu estou feliz.
— Isso é bom. Então por que esta cara?
— A última vez que estive feliz assim...
Coloco a mão na sua boca.
— Por favor, não fique me agourando e para com que esses
pensamentos.
— Hum... — Faz, a expressão voltando a ficar tranquilo.
Viro e abraço seu pescoço.
— Eu sei que é difícil, mas é diferente agora e eu vou ficar bem.
— Não posso te perder.
Ele anda nervoso demais com os problemas da Lawless. Eu fico
tentando aliviar o clima, porém está complicado, então deixo-o falar para
tentar esvaziar sua mente.
— Você não vai. Nunca. Vai viver até cento e dezessete anos.
— Eu vou fazer muito esforço para isso, porque quero viver muitos
anos com você.
Rio e beijo sua boca.
Isso é uma promessa de verdade. Paolo está se cuidando mais, parou
de fumar e está evitando fazer extravagância com sua vida e se tornou mais
perigoso. Não gosto do que escuto sobre ele, às vezes. Mas se isso garante ele
chegar em casa, finjo não me incomodar.
São dois anos juntos e eu me sinto mais feliz, mais amada e sortuda.
Eu tenho um homem incrível e não poderia ter nada melhor na vida do que
essa família. Vamos ter um bebê para completá-la. Sophia está ansiosa para
ser a irmã mais velha.
Nesses anos, nossas diferenças foram sumindo cada vez mais. Nos
encaixamos como peças de quebra-cabeça. Sophia é uma filha maravilhosa e
Paolo não pode ficar mais bonito. É como vinho. Quanto mais velho fica,
melhor.
Aposto que não encontraria um marido tão bom quanto ele é para
mim. Sou apaixonada por ele. E se Mia não tivesse morrido, eu não teria a
minha família. Eu lamento com um gostinho de agradecimento. Assim como
agradeço Travis, que descobri que insistiu para Paolo se casar, meu pai que
aceitou na hora e meu antigo noivo. O destino se encarregou de me dar algo
muito melhor.
Mesmo sendo um casamento arranjado, você pode ser feliz. Tem que
fazer valer a pena. E na máfia. Valer a cada dia, nunca se sabe.
C hego em casa colocando a caixa de presente na sala. Hoje Sophia
completa quatro anos. Subo para o seu quarto e me deparo com ela
sentada na poltrona com o irmão nos braços. Tiro uma foto. Eu
aprendi a dar valor às pequenas coisas, que se tornam memoráveis. Preciso
registrar todo momento com a minha família. Sinto uma mão nas minhas
costas e me viro para ver minha esposa. Seguro seu rosto e dou um beijo na
sua boca.
— Chegou cedo — Nina comenta.
— Hoje é aniversário da Sophia. Claro que cheguei cedo.
— Está bem, vou pegar Dimmi dos braços dela antes que ela veja
você. Espera um pouquinho.
Nosso filho tem um aninho e é como uma vez Nina pensou: que
nossos filhos seriam idênticos a Sophia. Ninguém nunca poderá pensar
diferente sobre eles serem irmãos da mesma mãe. Ele nasceu num hospital e
foi tranquilo. Foi bom uma experiência diferente. Me esforço muito para
fazer tudo realmente novo.
Com cuidado, Nina pega nosso filho do colo da nossa filha e eu entro
no quarto; e, claro, Sophia me vê e pula do sofá correndo.
— Papai! — Sophia exclama correndo até a mim.
Eu a pego e a suspendo no ar.
— Feliz aniversário, minha princesa.
— Cadê o presente?
— Sophia! — Nina ralha com ela e eu a deixo de volta no chão.
Nina teve uma mãe muito rígida, mas na questão da educação dos
nossos filhos é rigorosa e brincalhona. Está sempre disposta a fazer nossos
filhos rirem e ficarem animados. Ela é incrível.
— Está lá embaixo. Vamos lá ver?
— Vamos.
Esperando Nina com Dimmi, nós descemos até a sala de estar e
Sophia logo acha o embrulho e destrói tirando de dentro um urso novo. Um
cachorro gigante de pelúcia.
Já se passaram quatro anos e ninguém supera o urso que a madrinha
dela deu. Eu não consigo entender o que aquela mulher fez. Esse urso e
minha filha são inseparáveis. Até hoje ela dorme com ele. Está ficando
surrado. Nina já costurou algumas vezes e Dimmi parece gostar dele, mas
Sophia morre de ciúme. Então evitamos que ele encontre o Boh.
— Eu gostei. É lindo, papai.
— Como é que se diz, Sophia?
— Obrigada. — Nossa filha agradece e sai correndo com o presente
novo pelas escadas.
— Você ainda quer superar o urso da Madeleine?
— Talvez um dia eu consiga.
Pego o Dimmi dos seus braços. Ele é um bebê fofo, pequeno e lindo.
Sua carequinha tem poucos fios loiros. Os olhos são bem azuis, muito
parecido com os de Nina. Nunca vou ter um filho parecido comigo, mas não
tem problema.
Com minha esposa sempre animada, vamos passear pelo jardim,
literalmente de inverno, juntos. E admiramos sua obra de arte em paisagismo.
Fiquei com raiva durante muito tempo. Queria vingança e entender
onde errei. Guardei raiva de mim mesmo e nem conseguia perceber o que
estava fazendo. Jogando a minha saúde e a minha felicidade fora.
Foram oito meses difíceis, mas os quatro últimos meses daquele ano,
quando Nina chegou, foram meu bálsamo e minha redenção. Mia ficaria feliz
por eu ter cumprido o seu último desejo: encontrar outra pessoa para amar e
ser feliz. E a melhor mãe para Sophia.
Jurei nos pés daquela igreja que minha vida tinha acabado. Que fora o
fim de jogo, xeque-mate. Mas, quando eu disse sim para Nina naquele altar,
iniciei um novo jogo. E nesse eu irei vencer. Essa vida é minha e vou
defendê-la. Estarei sempre um passo à frente. Ninguém nunca mais dará a
jogada final.
LIVRO 2
Prólogo

Última cena de Xeque-Mate

E u estava tentando consolar Sophia quando percebi Nina descendo as


escadas. Tive que engolir em seco. Ela estava deslumbrante e eu me
levantei do sofá e caminhei ao seu encontro com Sophia no colo.
Nina usava um vestido champanhe, no mesmo tom da minha gravata,
com as alças finas com brilho. Seus cabelos loiros e compridos estavam
soltos em ondas e com uma maquiagem leve, mas sofisticada. Eu nunca a
forcei a vestir nada e não me incomodava mais o seu jeito jovial. Nossa
diferença de idade são números entre nós agora. Porém, Nina com aquela
roupa parecia uma esposa ideal para mim. Uma mulher de uns vinte e cinco
anos.
Minha jovem e animada esposa abriu um sorrisinho e parou nos pés
da escada. Parecia mais madura, mais mulher e mais bonita. Talvez eu
estivesse vendo aquilo que ela me fazia sentir.
— Está me olhando assim por quê?
Dei mais um passo olhando-a dos sapatos vermelhos aos olhos azuis
brilhantes. Ela colocou a mão na sua cintura e tombou o rosto para o lado,
desconfiada e atrevida.
— O quê!? — insistiu com um sorriso nervoso.
— Porque você está linda. Não pode olhar?
Soltou uma gargalhada e respondeu:
— É claro que pode. — E, de repente, ficou séria. — O que que
houve com a Sophia?
— Ela não para de chorar.
A preocupação cruzou seu rosto, não tinha mais provocação e ela
desceu as escadas tocando nas costas de Sophia.
— Será que ela está ficando doente?
— Acredito que não, mas não tenho certeza.
— Me dá ela aqui.
Entreguei Sophia, que imediatamente parou de chorar. Abri a boca
indignado. Eu tinha um exército de homens assassinos e dispostos a fazeram
com que eu mandasse no comando do meu Capo, que se curvavam para mim
e minha filha, um bebê de um ano, não.
— Encontramos o remédio para a Sophia.
— Mamãe.
Nina beijou sua cabeça, apoiada em seu colo e a aconchegou nos
braços.
— Tudo bem, meu amor. A mamãe vai junto e a Sophia também.
Por algum motivo ver Sophia chorar daquele jeito e se agarrar a Nina,
resgatou um sentimento ruim dentro de mim. Se eu tivesse ouvido todas as
vezes que minha intuição acendeu um alerta de perigo, teria evitado muita
coisa. Mesmo que uma delas tirasse a chance de Nina entrar na minha vida. A
mulher maravilhosa que cuidava da minha filha tão bem.
Ela era minha esposa. Meu presente e meu futuro.
— A gente pode ficar em casa? — dei a ideia. — Ou você quer muito
ir?
Nina desviou os olhos de Sophia e me encarou com a expressão
neutra.
— Você não quer ir à festa?
— Quero ficar em casa com vocês. — Coloquei a mecha do seu
cabelo para trás dos seus ombros e disse: — Eu prefiro ficar em casa na
lareira, tomar um whisky e ver você dançando com a Sophia. Talvez assistir
um filme de Natal, qualquer coisa.
Ela tombou a cabeça para o lado, pensativa e concordou com um
grande sorriso.
— Eu ia falar isso, mas fiquei sem jeito. — Deu de ombros. — Estava
terminando de me arrumar agora e pensei que queria ficar em casa.
— Podia ter falado.
— É a festa do Capo. A gente não deveria ir?
— Eu sou o Consigliere dele, não sua sombra. Eu posso não ir em
alguns lugares e eventos. E hoje eu quero ficar em casa com a minha família.
Com um sorrisinho, ela concordou de novo.
— Então, vamos. — Assumi suas palavras.
— Ainda bem que sobrou comida.
— É claro que sobrou comida, Nina. Você fez um banquete para nós
três e era só para almoçar. Você é muito exagerada.
— Mas o Papai Noel vai chegar. — Ela olhou para Sophia. — Não é,
filha? Ele não vai chegar e encher sua pança de peru e panetone?!
Sophia soltou uma gargalhada como se entendesse a mãe, com o
humor totalmente recuperado. Era a Nina que ela queria.
Minha esposa passou por mim e andou até a sala de estar, onde tinha
montado uma árvore gigante de Natal com muitas luzes. Tinha uma guirlanda
na nossa porta de casa e várias luzes do lado de fora, mas ela não exagerou
muito. Talvez ela gostasse do Natal, porém não tanto quanto Mia gostava,
que colocava guirlanda em todas as portas e tantas luzes natalinas que eu
ficava preocupado de pagar multa por ofuscar o quarteirão, mesmo morando
em Las Vegas. Uma cidade que se via por satélite de tão iluminada.
Chegando na sala vi que ela acomodou Sophia perto da árvore e
entregou o famoso urso de Madeleine.
— Eu acho que nunca nada vai superar esse ursinho. Nenhum
brinquedo a faz soltar ele — Nina comentou tirando os sapatos, deixando-os
no canto para Sophia não pegar e veio para mim.
Eu segurei o seu rosto e beijei sua boca.
— Vamos dançar?
— Quer dançar? — Um sorriso surgiu na sua face. — Mas não tem
música.
— Eu coloco a música. Não seja por isso.
Me afastei e fui até o aparelho de som. Escolhi uma música diferente,
uma de 1993 – Crep – e voltei dançando para a minha esposa, que me
esperou no mesmo lugar.
— Você bebeu hoje? — indagou com um sorriso arteiro pondo as
mãos na cintura.
— Só porque estou dançando?
— Não. — Ela riu.
Peguei sua mão, fiz com que seu corpo desse um giro, indo para fora
da sala, até o hall. Então puxei para mim de volta e abracei o seu corpo,
dançando no ritmo da música.
— Essa música foi feita quando você nasceu?
Ri e apertei sua bunda, provocando-a.
— Com certeza não foi quando você nasceu, espertinha.
Nina abraçou minha cintura e deitou a cabeça no meu peito.
Ficamos dançando para lá e para cá lentamente. Eu adorava tê-la nos
meus braços. Ter a certeza da sua segurança. De frente para a sala, nós dois
olhamos para Sophia, que levantou as mãozinhas quando chegou no refrão e
sacodiu.
— Olha! — Nina exclamou. — Ela gosta de música velha.
— E a mãe dela de homem.
Nina jogou a cabeça para trás, rindo.
A risada dela me deixava feliz.
O que eu faria se perdesse de novo?
Eu não podia ser hipócrita e dizer que nunca senti o que sentia com
ela. Esses dias insanamente bons e tranquilos. Claro que tinha a novidade da
sua idade, que a tornava confiante e esperançosa, e tinha o acréscimo de
Sophia. Tudo era novo para mim, mesmo assim eu já estivera ali e nunca
mereci.
Eu destruí da primeira vez. Deus tirou de mim, ou o diabo.
O medo de perder de novo era sentido a cada dia mais. Cada vez que
eu sentia Nina entrar em meus pensamentos, na droga do meu coração
sombrio.
Fechei os olhos e encostei meu nariz nos seus cabelos, não querendo
pensar nisso. Escutei Nina cantar a outra parte do refrão se afastando de mim.
Girei-a erguendo meu braço de novo e quando a vi sorrindo daquele jeito, foi
demais para aguentar. Ela era o meu ponto secreto de paz. Em pouco tempo
se tornou muito, mesmo eu lutando em resistir ao seu charme, beleza e
doçura. Com Nina, o ódio e o rancor foi se desfazendo. Meus
arrependimentos aliviando-se. Ainda era cedo para aceitar muita coisa na
minha vida, mas de uma coisa tinha certeza. Eu sempre estaria um passo à
frente de todos.
Depois de dançarmos algumas músicas, desliguei o som e peguei
Nina e a levei para o sofá. Nos acomodamos, ela se encaixando no meu peito
e eu passei o braço por seu corpo. Escutei Nina suspirar depois de um
tempinho e fiz suas pernas, jogadas em cima de mim, ficarem mais sobre
minhas pernas e acariciei sua pele, empurrando o vestido.
— Você é feliz? — Tive vontade de perguntar.
Ela inclinou o corpo para o lado e me encarou.
— Que pergunta é essa?
— Responde.
— Sou sim — respondeu com muita certeza. — Por quê? Você é
feliz?
— Sou — murmurei.
Ela sorriu de leve e pegou minha mão. Fitei o relógio que ela me deu
e por algum motivo tive vontade de confessar algo que rondou minha cabeça
durante nossa dança há poucos minutos.
— Eu perdi a minha primeira esposa, sem realmente dizer o quanto
eu a amava.
Fiz uma pausa porque vi nos olhos de Nina que a conversa estava
indo por um caminho que a deixava triste, portanto me apressei em dizer:
— Eu nunca disse para ela. Posso ter demonstrado, cuidando.
Protegendo-a, afinal de contas. Quando ela morreu, me disse que sabia que eu
sempre a amei. — Parei porque queria chegar no ponto que ela precisava
ouvir. — Eu não queria me casar de novo, mas estava cansado e me sentindo
como um caminhão. Como se carregasse uma carga muito grande e meus
pneus não aguentassem mais.
Ela concordou esticando a mão e afagou meus cabelos. Esse gesto me
deixou ainda mais entregue.
— Eu não quero isso de novo, Nina.
— Não... quer o quê?
— Não quero viver me enganando. Mentindo para quem eu não devo.
— O que você quer dizer?
— Eu nunca disse para a Mia abertamente “eu te amo”. Que eu me
preocupava demais em morrer e deixá-la. Porque o nosso normal são os
maridos serem mortos primeiro. Que eu não ligava de ela ter demorado tanto
para gerar um filho nosso. — Agarrei sua mão com a aliança que dei há
quatro meses. — Escuta, eu não quero isso de novo.
— Tudo bem — murmurou atônita.
Nervoso, coloquei Nina sobre minhas pernas e segurei seu rosto com
as duas mãos.
— Viu, você está que nem ela. Ela não sabia da verdade.
— Então me diz... o que é que você quer falar.
— Eu quero dizer... — Afaguei seu rosto com o indicador. — Eu
quero dizer que eu te amo.
Nina abriu a boca surpresa e seus olhos ficaram marejados.
— Eu me apaixonei por você. Por esse seu jeito engraçado, doce,
aventureiro e cuidadoso. — Limpei seus olhos. — Eu não sei como você era
antes. Como era sua vida. Você deixa escapar de vez em quando como era
tratada pelos seus pais, e eu tenho vontade de meter a bala na cabeça do seu
pai e da sua mãe por todas as vezes que trataram você mal.
— Não precisa. — Espalmou as mãos no meu peito. — As pessoas
ruins de coração recebem tudo o que elas fazem em algum momento na vida.
A vingança não é realmente necessária, porque as pessoas vão ter sempre
aquilo que fazem. Elas colhem o que plantam.
— Então é por isso que você vai receber meu amor. Vai receber a
minha dedicação, meu carinho e proteção. Eu sempre vou tentar fazer de tudo
para que você seja feliz. Eu vou ser um pouco obcecado com a sua segurança,
porque não posso perder você. Não posso ficar sozinho de novo.
— E você não vai. — Recebi um afago das suas mãos em meu rosto.
— Eu acho que Mia que mandou você para mim, de algum jeito.
— Não seria ao contrário? — Limpei suas lágrimas mais uma vez. —
Ela mandando alguém bondoso para ficar comigo, mesmo eu não merecendo.
Eu tenho um anjo para cuidar agora.
— Para cuidar de você também. — Beijou rápido a minha boca. —
Eu sei que todos nós somos condenados e, mesmo assim, eu amo você
também e quero cuidar de você de alguma forma. Eu sinto uma grande
necessidade sobre isso, Paolo.
— Eu agradeço e pare de chorar.
Engoliu em seco, rindo sem jeito, limpando seus olhos.
— Sabe, eu nem a conheci, mas queria muito... muito ter conhecido.
Ela parecia ser tão boa e generosa.
— O padre disse que pessoas como ela têm lugares no céu. Eu espero
de verdade que sim, mesmo que eu nunca mais vá vê-la e mesmo que quando
eu morrer, e chegar a sua hora, também nunca mais vou te ver.
— Talvez eu consiga passe livre e posso ir te visitar.
— Você precisa dizer alguma coisa que é a cara dela?
Rindo, ela me abraçou bem forte.
— Eu te amo, Paolo. Assustador ou não. Velho ou não. Viúvo e pai
solteiro ou não. — Se afastou e completou me encarando: — Te amo muito.
— E você falando demais ou não. — A beijei e disse: — Eu te amo,
Nina Dal Moli.
E era uma verdade que pensei que me custaria a sanidade, mas
descobri que causava alívio.
Se você está lendo esse bilhete, que pode ser uma carta dos mortos,
queria dizer que se nada aconteceu e você está lendo isso, releve. Acho que
depois de ter sofrido alguns abortos, ter lutado tanto para ter um filho,
querer finalmente construir minha família e minha médica estar preocupada
com meu estado de saúde, é natural ficar nervosa. Até porque eu não sou
mais tão jovem e descobri recentemente que tenho angina no coração. Mas,
além disso, algo fica passando pela minha mente todos os dias desde que
descobri que estou grávida, e hoje escrevendo essas palavras, estou
segurando esse bebê há cinco meses dentro de mim e morrendo de medo.
Sabe, eu não consigo parar de pensar nas coisas ruins que podem
acontecer comigo. Coisa como, eu morrer sem segurar minha filha uma
única vez. Eu gostaria muito de não estar pensando nisso, mas não consigo
parar. Sempre quis uma longa vida, no entanto parece que não terei.
Eu não sei quem é que está lendo essa carta, espero que não seja
você, Paolo. Por favor, não brigue comigo. Você sempre disse que era bom
prevenir, e bem, é isso que estou fazendo escrevendo essa carta, que é muito
difícil para mim.
Confesso que queria ter apenas bons pensamentos, mas não é isso
que ronda a minha cabeça. Entenda, eu estou feliz e muito ansiosa para
segurar minha filha nos braços, mas algo fica me fazendo pensar que posso
não estar aqui para ela. Não estar agora para ela. E o que eu mais desejo é
que Sophia seja feliz, que cresça linda, forte e determinada.
Se for outra mulher lendo essa carta, não fique remoendo o passado.
Não fique lembrando de mim. Viva uma vida feliz. Quero que cuide da minha
filha. Sophia precisa de atenção e uma mãe generosa e firme. Uma mãe doce
e que a ensine os bons costumes e educação. Sei que Paolo não vai me
decepcionar em escolher uma segunda esposa e eu espero mesmo que seja
você lendo essa carta.
Posso estar ficando louca e qualquer pessoa tenha encontrado esse
papel dentro de um dos meus vasos de flores. Se for você, Gregori, largue
agora e ignore. Finja que nunca soube dela e não fale comigo. Já é doloroso
demais pensar que eu posso não estar aí, mas se as coisas realmente
aconteceram como o meu coração está falando, quero dizer para você que
estou tranquila.
Eu fui muito feliz e espero que minha filha tenha nascido bem,
saudável e que tudo esteja bem. Que essa carta talvez seja até para mim
mesma no futuro e eu esteja rindo agora lendo.
Mas se não for eu, gostaria de pedir que procure a felicidade. Porque
a felicidade é como a beleza de uma roseira, é bela, delicada, mas tem
espinhos e de vez em quando machuca e nos deixa irritada. Essa é a graça
da vida. Para bons momentos, precisam de outros muito ruins porque assim
a gente dá mais valor aos bons e grandiosos momentos.
Se você for a nova esposa de Paolo, entenda que o silêncio dele quer
dizer muito. Aprenda a olhar nos olhos dele e a sentir suas mãos, seu toque,
sua voz como a forma de chegar perto dele. Que ele está deixando você se
aproximar.
Agora vem um pedido bobo. Trate bem minhas flores. Eu gostava
muito delas.
Bem, é estranho me despedir agora, mas eu preciso. Ao mesmo tempo
que desejo que essa carta eu mesma tenha encontrado, imagino não ser.
Está tudo tranquilo. Tenho certeza de que estou em paz, como sempre
procurei estar dentro de mim. Cuide da Sophia e do Paolo.
Se for a esposa nova, não fica remoendo o passado. É para frente que
se anda. É pra frente que se olha. Para o horizonte.
Tenha uma boa vida e aprenda a enxergar beleza até nas lágrimas.
Carinho até nos espinhos.
Com amor,
Mia Calvin Dal Moli.
1

A inda estou me recuperando da declaração de Paolo. Não posso


acreditar que ele disse mesmo que me ama. Sendo sincera, eu
esperava algum sentimento dele por mim, mas não amor.
Por mais que Paolo tente, ele ainda não permite que eu chegue tão
perto, e mesmo assim consigo acreditar, até com a vozinha perturbadora
fazendo eu questionar seus verdadeiros sentimentos.
Secando minhas mãos na toalha, ajeito a alça do meu vestido e saio
do banheiro, e dou de cara com Paolo entrando em nosso quarto.
— Já coloquei Sophia para dormir — diz com a voz rouca, que
reconheço como sua voz de excitação.
Sorrio porque eu sei o que ele quer dizer com isso. Sinto um frio na
barriga de ansiedade. Parece que tudo é diferente depois das suas palavras, e
por eu ter me declarado também. Eu não deveria ficar tão nervosa, porém
estou e muito. Acho que ainda mais nervosa do que na primeira vez que
fizemos sexo. Talvez porque agora posso dizer que vamos fazer amor pela
primeira vez. Me sinto gananciosa sobre o amor que ele disse que sente por
mim.
Respirando fundo, mordo o lábio inferior observando Paolo tirar o
paletó, deixando em cima da poltrona que fica no canto do quarto, depois
começa a desabotoar a camisa de linho. Ele tirou a gravata na sala quando
brincou dizendo que precisa aparentar mais jovem e não usar gravata ajuda
nisso. Ri tanto com o bom humor dele nesta noite. São esses pequenos
momentos que calam a voz teimosa que me faz duvidar dos seus sentimentos.
Imediatamente lembrei do conselho de Mia. O jeito de Paolo mostrar que está
se abrindo é diferente.
Vendo-o apenas de calça de linho, o cinto de couro preto e os sapatos
polidos, fico babando em como ele está em forma. Ele sempre está
impecável, cheiroso e porra, o corpo dele não parece mesmo com os dos
meus sonhos malucos de um homem velho e rabugento. Seu corpo é lindo.
Os ombros e tórax largos, músculos definidos e as cicatrizes, deixa tudo mais
atraente. Adoro passar as mãos sobre as marcas em sua pele, e faço isso
assim que ele para bem na minha frente. Mas perco a deliciosa visão do seu
corpo quando ele se inclina e beija meu pescoço.
— Paolo... — Solto o ar pela boca murmurando seu nome, deslizando
as mãos até abraçar seus ombros e jogo a cabeça para trás.
Ele me segura pela cintura com firmeza, chupa e beija meu pescoço.
Gemo alto e arranho seus braços fortes. Adoro como ele me agarra e
manipula como se eu fosse uma marionete. Logo estou sendo virada de
costas.
— O vestido precisa sair, mesmo que você tenha ficado deslumbrante
— comenta jogando meus cabelos para o lado procurando o zíper.
Sorrio orgulhosa por tê-lo surpreendido com o modelo de vestido
sexy que escolhi. Assim como o vestido do casamento de Bárbara e Enzo,
quis ser mais ousada e tentar algo novo e longe do que costumo. Não tem
nada a ver com querer mudar e ser diferente de Mia. Depois da carta prometi
ir esquecendo-a aos poucos, assim como Paolo já está fazendo. Os vestidos
ousados são apenas porque quero encontrar o meu verdadeiro estilo. Por mais
que minha mãe não me proibisse de usar o que eu queria, ela não permitia
usar cores fortes, muito justas e saltos eram proibidos pelo meu pai. Então
quando veio a vontade de renovar, para ser boa em todos os sentidos, quis
ousar e fico satisfeita que ele esteja gostando.
Fecho os olhos sentindo o deslizar do zíper do vestido, que logo está
caindo no chão. Paolo corre as mãos na minha pele, puxa-me ao seu encontro
e agarra meus peitos.
— Sem sutiã — comenta no meu ouvido.
— Não precisava com esse vestido.
— Uhum — ele faz com a garganta e me vira de volta. Nossos olhos
se encontram e eu abraço seu pescoço juntando nossas bocas.
Paolo me beija profundamente e me agarro ainda mais nele, tirando
meus pés do chão. Abraço seu corpo com minhas pernas e ele me guia até a
cama. Solto gemidos sentindo a quentura do seu corpo e mordo seu lábio. Ele
aperta minhas coxas e fico perdida sentindo sua língua atrevida acariciar
minha boca e apenas me afasto quando preciso respirar, mas ele não para e
me derruba na cama.
— Ah... meu Deus. — Suspiro e agarro seus cabelos.
— Vou te comer bem gostoso hoje.
Sorrio sentindo borboletas no estômago e concordo. Estou tão
excitada e sinto-me derreter quando se afasta, posicionando as mãos aos
lados do meu rosto e vai descendo por meu corpo. Fecho os olhos conforme
ele toca minha calcinha e vai removendo-a, e não estou preparada quando
passa dois dedos entre meus lábios.
— AH! — Solto o ar com a boca aberta e aperto as coxas.
Escutando um som de degustação, abro os olhos e vejo Paolo
chupando os dedos.
— Acho que preciso de uma prova maior.
Uau. Ele quer me matar hoje.
Ele abre mais minhas pernas, baixa o corpo e abocanha com tudo meu
sexo. Reviro os olhos me controlando para não gritar e acordar Sophia. É
realmente muito ruim quando ela acorda quando estamos transando, e é isso,
mesmo que digamos que nos amamos essa noite vamos foder, mas é sobre
fazer amor que se resume. Nós sempre seremos intensos porque Paolo é bom
nisso.
Estico as mãos, aperto seus cabelos e, sem vergonha, pressiono meu
sexo na sua boca. Sua língua desliza entre os lábios, chupa meu clitóris e
lambe até estar dentro do meu calor de novo. Paolo acaricia minhas pernas e
me chupa até me fazer gemer alto. Minha nossa. Ele parece ganancioso,
rodopia a língua dentro de mim e seus dedos brincam com meu clitóris.
Gemo colocando meus pés sobre seus ombros, me abrindo e quando enfia os
dedos dentro de mim, jogo a cabeça para trás e gozo enlouquecida.
Recuperando-me, abro os olhos e o assisto se erguer, sair da cama e
terminar de tirar a roupa. Seu pau está deliciosamente excitado e não demora
para estar junto de mim, encaixando-se.
Suas mãos estão por todas as partes do meu corpo e resmungo quando
aperta minha bunda e minhas coxas. Arranho suas costas e o sinto me
penetrar lentamente. É tão bom, delirante. Paolo acelera um pouco os
movimentos e me fode de um jeito que está me deixando sem sentido. Com
paixão feroz.
Sua boca não me abandona em nenhum momento. Estou perto de
gozar de novo e jogo meus braços nele e afago seus ombros e costas. Seus
músculos gostosos.
— Paolo! — murmuro na sua boca. — Não para...
— Não antes de fazer você gozar bem gostoso no meu pau, meu
amor.
Ah, Meu Deus. Me arrepiei toda.
Puxo sua boca para mim e só quero que ele não pare, que me faça
gozar. Estou tão sensível. Sinto meu interior apertar seu pau com mais força
e, quando ele morde o meu lábio, o orgasmo vem em ondas. Ele continua
seus movimentos e vai mais fundo até que me prende na cama segurando
meus quadris.
Me dando um beijo forte, ficamos mais juntos, abraço seu corpo com
as pernas também e Paolo me penetra profundamente. Porra! Nossos corpos
estão suados e gememos baixinho um na boca do outro.
— Goza de novo para mim.
— Uhum — afirmo assentindo. Estou muito sensível.
Paolo está me fodendo tão intenso, que estou meio tonta. É
alucinante. Fecho os olhos e ele se move com força. Sua respiração está rouca
e, quando ele dá uma estocada forte, sinto-o gozando junto comigo.
Sem ar e com o coração acelerado, deixo meu corpo amolecer na
cama. Sinto-o saindo de dentro de mim e ficar ao meu lado, puxando meu
corpo para os seus braços. Ainda estamos ofegantes. Suas mãos passam numa
carícia suave minhas costas até a volta da minha bunda. Sorrio no escuro e
toco suas sobrancelhas. Seus olhos encontram o meu.
— Você realmente disse aquilo?
Paolo tira o cabelo da frente do meu rosto.
— Sim.
— Repete.
— Eu te amo.
Meu coração acelera de novo e me agarro a ele, beijando seu ombro.
Fecho os olhos e devolvo as palavras. Meu Deus. Talvez nos apaixonamos
porque encontramos um no outro o que precisávamos.
2

O ntem à noite foi muito gostoso, mesmo que eu tenha pensado que
conseguiria pela primeira vez foder com Nina mais calmo,
tentando mostrar a ela que a amo com ações, não apenas com
palavras, ela me deixou louco e perdi o limite ontem. Sempre perco o
controle que foi construído em anos de treinamento perto dela, então não
consegui ser lento e carinhoso. O importante é que foi gostoso e sei que ela
gostou.
Além de todo o frenesi do coito, percebi que ela ficou mais animada,
mais eufórica e exigente. Posso dizer tranquilamente que está amadurecendo
e sendo maravilhosa. Ela é de fato maravilhosa como mãe e esposa. Com
certeza, tudo mudou e eu só preciso aprender a confiar mais dela.
Não é que eu desconfie ou algo do tipo, o problema é que sou difícil
de permitir que se aproximem, um dos erros do meu primeiro casamento.
Eu sei que Nina quer ter mais de mim e que já tivemos uma grande
evolução em nosso casamento, porém tem que ter mais. Hoje até dormimos
abraçados, uma novidade. Confesso que gostei de tê-la tão perto assim na
hora de dormir. Seu corpo macio e quente aconchegado ao meu. Sua
confiança totalmente entregue a mim.
Agora, depois de levantar-se para ver Sophia duas vezes, Nina mudou
de posição quando voltei para a cama. Ela está de barriga para cima, as
pernas jogadas em cima das minhas, e as mãos seguram a minha do braço que
está sobre ela. Sua respiração está serena e os olhos nem tremem enquanto
dorme.
Meu pai sempre falou, quando eu era pequeno, que a maior confiança
dada a homens como nós, era as esposas dormirem ao nosso lado. E por isso
é um dos dilemas da Cosa Nostra. De não trair alguém que confia, fechar os
olhos e ficar tão vulnerável. Nina não apenas dorme comigo, como faz
questão de estar nos meus braços e numa posição muito além de vulnerável.
Ela merece toda a minha lealdade.
Com minha mão, do braço que está embaixo dela, consigo tirar o
cabelo do seu rosto e afago sua bochecha. Está realmente tão serena, tão
jovem que me sinto um velho porco sendo seu marido. Porque parece uma
menininha. Minha doce mulher.
Resmungando, ela geme e remexe na cama. Soltando minha mão,
estica os braços para o alto e abre os olhos. Meus olhos vão como imã para os
seus seios nus e deslizo minha mão da sua barriga e seguro um dos seios e
massageio.
Virando o rosto para mim lentamente, abre um sorriso. Eu gosto disso
nela pra caralho. Sempre de bem com a vida.
— Bom dia — falo baixo.
Ela vem para cima de mim dizendo:
— A gente dormiu a noite toda.
Afago o seu rosto e beijo sua boca.
— Sim, você dormiu a noite toda agarrada a mim.
Nina suspira profundamente e beija minha boca.
— E você acordou e foi ver a Sophia. Por que não me acordou?
— Porque você estava tão confortável e parecia feliz dormindo, não
quis te incomodar para cuidar de Sophia.
— Não é um incômodo. Não vamos brigar por causa disso. Você me
compensa outra noite.
Ela dá um sorriso e me abraça.
— Então está combinado. — Me beija de novo. — Eu compenso você
com isso, mas você precisa jogar xadrez comigo. Você ainda não pagou a sua
dívida.
Sorrio passando as mãos no seu corpo, me sentindo leve e
apaixonado. Não no sentimento de amar, por mais que tente dizer o que sinto
e já senti, parece ser tão novo e mais forte com ela.
Afastando-se, ela se senta no meio da cama.
— O que nós vamos fazer hoje de bom? Ficar na cama o dia todo?
Talvez abrir os presentes de Natal com a Sophia?
— Seria uma boa ideia, mas como Travis vai fazer um almoço nós
vamos passar a tarde com eles. Madeleine mandou uma mensagem um pouco
antes de Sophia acordar a segunda vez.
— Ah, então a gente vai passar um tempo lá e de noite abrimos os
presentes.
— Sem problemas — digo me sentando e depois jogando as pernas
para fora da cama, me levanto.
Pegando minha calça de flanela, visto de novo – tirei quando voltei a
me juntar a ela na cama já que estava deliciosamente nua – e a escuto
falando:
— Precisamos antes passar no shopping ou no Bellagio para comprar
um presente para Dante, pelo menos.
Franzo a testa e espero ela vestir sua camisola e a calcinha, virar-se
para mim.
— Por quê?
— É Natal, Paolo. — Nina anda para o final da cama e eu a encontro,
tocando seus ombros. — Nós adultos podemos não ligar para presentes, mas
as crianças gostam.
— Eu comprei um presente para você, por falar nisso.
— Sério? — pergunta toda animada e me lembra muito Marinne,
jovem demais. Acho que ela gosta de presentes. Não tinha percebido.
— Sim, eu comprei um presente para você. Está lá embaixo. Antes da
gente sair, você pega e pode até ir usando.
Ela me olha desconfiada pensando no que deve ser o presente.
— É uma joia?
— Não tem graça se eu contar...
— Se eu vou poder usar quando a gente sair.
— Pode ser uma bolsa — comento indo até o banheiro, e ela vem
atrás.
— Mas e se a roupa não combinar?
Pego o barbeador e a espuma, vendo Nina andando de um lado para o
outro até que se senta no vaso sanitário fazendo xixi na minha frente.
Realmente evoluímos demais de ontem para hoje. Sorrio de cabeça baixa e
preparo meu rosto com a espuma.
— Não sei se vou poder usar — resmunga ainda no vaso.
Desviando os olhos quando ela vai se secar, digo:
— É sério que a gente vai discutir por causa disso?
Nina termina, se levanta e vem para o meu lado. Em silêncio, na outra
pia, lava as mãos. Depois vira o corpo para mim, apoiando o quadril no
mármore.
— Não estou discutindo, apenas falando que, dependendo do que
seja, não sei se é apenas abrir e usar.
Ela é especial. Falando sem parar, o que me diverte muito. Passo a
lâmina na minha bochecha, e por isso não respondo dando a ela mais tempo
para falar. É claro.
— Você pode falar o que que é? Um sapato ou um casaco novo? Eles
eu também não sei se poderei usar com o vestido que escolher, a não ser que
seja um vestido preto ou... posso usar o mesmo que usei ontem. É champanhe
e neutro.
Limpo a garganta dando um sinal claro para ela parar um pouco, o
que não surge efeito algum.
— A não ser que você me comprou uma lingerie e queira que eu
troque antes da gente sair.
Sou obrigado a afastar a lâmina, deixando na pia, e dou uma
gargalhada tão forte que preciso abraçá-la.
— Você vai me sujar — reclama empurrando, sem força, meu peito.
— O chuveiro é logo ali. — Seguro sua cintura e a coloco em cima da
bancada entre as pias e beijo sua boca.
Simplesmente o seu jeito descontraído me causa uma alegria que
nunca realmente tive. Fico atordoado e obcecado por isso, por ela.
— É um conjunto de colar, brinco e pulseira, satisfeita? —
Finalmente declaro.
Sem fôlego, Nina passa o polegar sobre meus lábios e pega a lâmina.
— O que você está fazendo?
— Posso terminar?
Levando em conta que falta o lado direito e minha garganta, não sei
se é uma boa ideia, mas eu já deixei um barbeiro da Famiglia fazer a minha
barba e ela é minha mulher. Pela demora da minha resposta, Nina tenta se
afastar, mas eu a detenho segurando seu pulso.
— Não.
— Você não confia em mim com uma “minifaca” na mão?
— Eu já deixei barbeiros fazerem isso.
— E?
Respiro fundo, pego sua mão com a lâmina e levo até meu pescoço.
— Faça.
Seus olhos brilham com orgulho, paixão e algo além disso. Eu não
queria justamente isso, um jeito de provar o que sinto, de devolver a sua
lealdade de ficar vulnerável quando adormece ao meu lado. Porra. Deixá-la
fazer a minha barba, raspar uma lâmina perto da minha jugular, é muito mais
do que poderia fazer para provar que a amo, que confio nela.
Nina está congelada, os olhos vão dos meus para a lâmina parada na
minha pele.
— Eu confio em você. Pode fazer.
Ela solta a respiração e passa a primeira vez o barbeador no meu
pescoço, os olhos atentos e brilhantes. Quem segura a respiração sou eu
enquanto ela faz sua tarefa, que parece ser muito boa e estar gostando.
Alguns minutos depois ela finaliza, limpando o barbeador na pia,
batendo-o e volta com as duas mãos para o meu rosto, segura e sorri.
— Ainda mais lindo.
Engulo em seco e deslizo minhas mãos por suas coxas. Ela respira
fundo e puxa minha boca, colando a sua na minha em um beijo demorado e
excitante. Arranco sua camisola, arrebento sua calcinha e tiro minha calça de
dormir.
Puxando-a para mim, sem precisar de preliminar, guio meu pau para
o seu calor e a fodo rápido e feroz em cima da bancada da pia.
Ela geme alto, raspando suas unhas nas minhas costas, a cabeça
jogada para trás e as pernas bem abertas. Eu lambo sua clavícula, chupo seus
peitos enquanto estoco dentro dela com força.
Perdemos a noção do tempo e apenas fodemos eufóricos. Beijos,
chupões e arranhões. E paramos quando gozamos sem fôlego e afoitos. E
Sophia chora.
Caímos na gargalhada e nos mantemos abraçados e atrapalhados em
cima da pia.
— Precisamos ver a nossa filha — ela sussurra no meu ouvido e beija
meu ombro.
Eu repito seu gesto, saio de dentro dela e a ajudo a pular de cima da
bancada. Tocando seus cabelos, digo:
— Pode tomar seu banho que vou ver a Sophia e depois você cuida
dela enquanto me arrumo.
Nina toca meu peito distraída e assente concordando.
Me afasto dando um beijo nela e a observo, em silêncio, entrar no
chuveiro. Essa mulher foi uma revolução total na minha vida. Tudo que faço
e sinto com ela é uma bênção e uma maldição, porque me deixa feliz e
perturbado. É forte e perigoso demais.

O Natal na casa de Travis mudou completamente depois que


Madeleine surgiu e a casa inteira depois do casamento, até o temperamento
dele mudou. Continua sendo um torturador de traidores e um shark power,
porém está mais aberto às pessoas a falarem com ele, no caso ouvir sem se
estressar. Se tornou mais conciso em não tripudiar os inimigos. O que não
significa que não entraria em guerra facilmente com quem perturbasse seu
estado de espírito ou tentasse algo contra sua família ou a Lawless.
Espero Nina sair do carro e Gregori vir atrás com o presente que
acabamos de comprar para Dante no shopping, para seguir para as portas
duplas da casa que se abrem, Rosália aparece vindo com Madeleine.
— Finalmente vocês chegaram.
— Tivemos um imprevisto — Nina diz quando troca cumprimentos
com Madeleine, que se aproxima de mim e eu lhe dou um aceno.
— Posso? — ela pede com os braços estendidos para Sophia, que
toma a própria decisão se jogando para a madrinha.
— Óbvio — digo passando minha filha para ela.
Com minha filha no colo, Madeleine abre um sorriso orgulhoso e
contente. Dá beijos no rosto de Sophia e a abraça bem forte.
— Oi, princesa. Você está tão linda.
Preciso concordar que Nina arrumou Sophia como uma princesa hoje
e está muito bonita. Ela está com um vestido rosa com mangas fofas, igual a
saia, que tem flores azuis-claras da mesma cor dos seus olhos. Os sapatos são
brancos e parecem de louça. Seus cabelos, que nas pontas agora fazem leves
cachos, estão soltos com um lacinho na franja de lado, que não sei como Nina
o prendeu ali.
— Como você está?
— Made — Sophia balbucia e toca o rosto de Madeleine, que abre
um sorriso enorme.
— Ela acabou de tentar falar o meu nome? Na verdade, ela falou meu
apelido. Repete, Soph. Fala Made.
— Made.
Madeleine, contente, abraça apertado minha filha e lhe dá vários
beijos. Depois que acaba seu ataque de carinho a Sophia, ela volta a nos dar
atenção.
— Vamos entrar agora.
Com certeza que sim, penso e não digo em voz alta porque fico
contente por ela gostar tanto da minha filha e Sophia retribuir.
Nina entrelaça o braço com o meu e seguimos atrás de Madeleine e
Sophia com Gregori atrás porque ainda está segurando o presente. Passamos
pela sala de estar e jantar e chegamos na sala que dá acesso às portas duplas
do quintal. Nisso Travis vem do lado de fora com Dante no colo.
— Dan! — Sophia chama em voz alta esticando o braço.
— É tão fofo como ela gosta dele — comenta Nina. — Na verdade,
todos gostam de Sophia.
Olho para o seu perfil e concordo com um aceno. Quando Mia
morreu todos lamentaram e deram seus sentimentos, com raiva não aceitei e
achei que era fingimento, mas nos dias seguintes todos, de alguma forma,
estiveram presentes nos dias de Sophia, e Madeleine uma vez ou outra
perguntava se eu precisava de algo. Posso ter sido um babaca não aceitando
que os Lozartan ligavam para a minha família, mas hoje eu dou valor e mais
ainda por Madeleine ter recebido tão bem Nina como minha esposa.
Geralmente a esposa do Consigliere é alguém importante que
colabora assim como as esposas dos Underboss e Capos. Antes Mia cuidava
das caridades e visitava os lugares, mas Madeleine faz isso agora. Se Nina
pedir para trabalhar com algo, vou pensar no assunto. Ela seria boa em cuidar
das instituições que apoiamos que tenha crianças.
Madeleine está com Sophia e Dante, cada um em um braço, e vai se
sentar no sofá perto da árvore de Natal. Travis faz um sinal com a mão e vai
até ela quando pede ajuda para conseguir se sentar.
— Ela notou que a gente veio junto com a Sophia? — Nina cochicha
de brincadeira.
— Ela fica meio cega quando a Sophia está perto.
— Foi por isso que você a escolheu para ser a madrinha?
— Quando eu mais precisei, Madeleine ajudou em todos os
momentos e, como ela estava grávida de Dante, tinha leite e uma ou duas
vezes deu mamar para Sophia no peito.
— É sério? — indaga com os olhos realmente surpresos.
— É sim.
Nina vira o rosto para Madeleine e abre um sorriso de gratidão.
— Essa mulher nunca para de me surpreender. Acho legal ela ser
desse jeito. — Olha para mim e continua: — Eu conheci muitas esposas
troféus, como minha mãe, e Madeleine não é nada disso. Tudo que ouço
sobre ela me faz gostar ainda mais e entender por que Travis se casou com
ela.
Não comento sobre isso e fico intrigado por Nina saber do
relacionamento deles antes do casamento.
— Espero que as informações que você sabe sobre eles dois, não saia
da sua boca perto de outras pessoas.
Nina assente veementemente e segura minha mão com firmeza.
— Claro que sim. Eu sei que é segredo e quem me falou foi a própria
Madeleine.
— Certo, mas tente esquecer do que sabe.
— Já esqueci.
Meneio a cabeça dando como encerrado o assunto quando Travis
volta até nós dois. Ele cumprimenta Nina beijando seu rosto e apertamos as
mãos.
— Vocês não vieram ontem por algum motivo?
— Tivemos um imprevisto — Nina fala rápido.
— Não deu para vir ontem. Resolvemos ficar em casa. Sophia estava
muito enjoada.
— Tudo bem.
Escutamos passos e vozes e viramos para ver Marinne e Dario. Eles
param perto de nós para nos cumprimentar.
— Vocês não vieram ontem — Marinne comenta.
— Sophia estava enjoada, então resolvemos ficar em casa — explica
Nina.
— Ah, tadinha. Ela está bem agora?
— Sim e bem ali. — Minha esposa aponta para o sofá e Marinne,
acenando com educação, se afasta e vai até os bebês e Madeleine.
— Vem, Nina, ficar conosco — Madeleine a chama.
— Com licença.
Toco suas costas e ela se afasta. Isso poderia ser apenas uma
interação involuntária, mas vendo o olhar de Travis, percebo que meu Capo
quer falar algo e naturalmente Dario se afasta também. Travis não precisa
pedir nada, seu olhar diz tudo.
Limpo a garganta e espero em silêncio que ele fale.
— Você não veio ontem por causa de algo específico?
— Se você está insinuando que foi por causa que ontem fez um ano
da morte de Mia, não foi. — Balanço a cabeça e sigo para fora da casa,
ficando longe dos ouvidos curiosos. — Nós preferimos ficar em casa depois
que Sophia não parava de chorar. Aproveitamos a noite só nós três.
Pego o maço e retiro um cigarro. Acendo e dou uma tragada ouvindo-
o.
— Que bom para vocês então e foi até bom você não estar aqui.
— Por quê?
— Tivemos um problema naquele restaurante de comida japonesa na
Rua F. Tive que mandar alguns examinarem o local, verificar o que que
houve.
— Quem foi?
— Ninguém, Enzo descobriu que não foi um ataque a loja e sim o gás
que estava vazando que causou a explosão.
— Por que você não me ligou?
— Porque se você estivesse aqui eu teria que mandar ir até lá e
acontece que o gás não vazou por acidente, e os mesmos que armaram a
explosão passaram atirando na loja quando os soldados estavam verificando o
local. Perdemos dois homens e Enzo levou um tiro também.
— Que merda!
— Então foi bom você não estar.
Assinto concordando.
— Isso é bem estranho.
— Por quê?
Jogo o cigarro terminado no chão e apago.
— Ontem eu senti que algo de ruim ia acontecer. Por isso também
que não viemos.
— Você está virando um vidente?
— Não acho graça nisso.
Desvio o olhar e cerro o maxilar. Nunca gostei muito de sentir coisas
desse tipo, principalmente porque ignorei todas elas a minha vida toda até
ontem. É chamado sexto sentido e alguns gostam de escutar e estarem certos.
O foda é ter e nunca ouvir.
— A única coisa que espero, é que todas as vezes que eu tiver algum
sentimento ruim, ouça. Já errei duas vezes por não querer ouvir essa merda de
voz na minha cabeça e paguei caro.
— Paolo, você faz todo o possível para ser muito bom no seu cargo e
é normal errarmos.
Se afastando, ele coloca as mãos no bolso e meneia a cabeça
indicando as portas e vejo as mulheres e crianças.
— Vamos para lá e passar esse Natal tranquilamente.
— Certo. Depois falamos de negócios.
Ele para de caminhar e me encara.
— Evite qualquer assunto perto de Madeleine. Porra. Eu achei que a
gravidez fosse deixá-la mais suscetível a se comportar, se preocupar apenas
com o bebê. Mas ela tem uma vontade incontrolável de querer me ajudar e
resolver os problemas da Lawless e eu não quero que ela saiba de ontem, por
ora. Até porque, com o Enzo levando um tiro no ombro, ela ficará sabendo
por Bárbara, que estou monitorando se irá ligar pra cá. Ordenei para ninguém
passar a ligação para Madeleine.
— Eu não vou falar nada sobre ontem e nem nenhum tipo de negócio
perto dela, mas preciso dizer que você foi o culpado. Deixou muito livre e
não apenas para ela.
— Marinne — ele resmunga e olha para a irmã.
— Elas sabem muito e acabam querendo ajudar. — Sigo-o quando
começa a caminhar para dentro da casa.
— Falando em Marinne, achei que ela não iria descer hoje.
— Qual o problema com ela?
— Eu não sei. Madeleine e eu estamos tentando entender ainda.
Amândio veio ontem, por causa do acordo de eles se conhecerem melhor
antes do casamento. Mas Marinne não lidou muito bem com ele ontem. Foi
pega de surpresa e ele realmente tentou contato, mas ela subiu para o seu
quarto antes mesmo da ceia.
— Será que ela tem medo dele?
— Eu não sei. Se tem não sei o motivo, pois Amândio é até decente
para os padrões do pai dele.
— Provavelmente é porque está chegando perto. Esse ano ela vai
fazer dezesseis anos.
— Sim, daqui a dois meses.
— E você está preocupado.
— Não, eu estou tranquilo — Travis responde com sinceridade e me
olhando fala: — Se algo de ruim acontecer com a minha irmã, eu não quero
saber. Entro em Nova York e excluo aquela merda da face da Terra. Jamais
vou abandonar ela.
— Sei disso, Travis, e você pode contar comigo.
— Ei, parem de falar de negócio. Vamos comer — Madeleine nos
chama atenção e chega até Travis tocando suas costas, vejo como seus olhos
ficam com a presença dela tão perto.
O que Nina falou volta a minha mente. Madeleine nasceu para estar
ao lado de Travis e jamais ninguém poderá dizer perto de mim que é apenas
uma esposa, pois não é verdade. Assim como Nina, não é a mesma mulher
que se casou comigo. Pouco tempo se passou e ela já fez minha mente –
minha vida – mudar para muitas coisas. O que fortalece meus sentimentos
por ela.
3

— Você disse que viria e veio mesmo — Bárbara comenta assim que abre a
porta de sua casa para mim.

Ajeito Sophia nos braços e sorrio.


— Eu achei que uma visita seria legal. Precisamos nos conhecer e
talvez sermos amigas.
Ela ri baixo e me dá passagem para entrar no apartamento dela e de
Enzo. Reprimo minha vontade de revirar os olhos sobre o marido dela. O
pouco tempo que passei perto de Bárbara com Enzo junto, fiquei zangada. E
eu não sou o tipo de pessoa que fica com raiva de nada ou alguém. Sou mais
de ignorar o que não me faz feliz. Energia negativa não é algo bom.
Me indigna a forma que Enzo parece ignorar essa linda mulher.
Não deve ser fácil se casar com alguém por obrigação e essa pessoa te
ignorar. O que é bem nítido que ele faz com ela. Mas vim visitá-la com
outros objetivos e um deles é fazer uma amizade com Bárbara. Desde o
aniversário, basicamente fiquei pensando na frieza que eu vi nos olhos
daquele homem perto dos olhos esperançosos e iluminados de Bárbara. Foi
tão revoltante. Ele nem se preocupou em pegar o bolo e uma bebida. E ela
sempre dando atenção a ele, e Enzo nem olhava para o seu rosto.
— Espero que vocês não tenham almoçado — Bárbara diz animada
caminhando ao meu lado por sua linda casa. — Pedi comida no restaurante
que eu mais gosto.
— Não, nós não comemos ainda. Eu vim aqui para passar o dia com
você.
— Vai ficar muito tempo?
— Eu não sei, Bárbara, mas espero que sim. Eu não tenho feito muita
coisa e seria bom ter uma amiga.
Chegamos em uma sala de estar, muito bonita com um sofá em L no
canto da parede e o que me chama atenção, é o vaso gigante com uma flor
que eu não sei qual é, mas fico apaixonada.
— Uau! Adorei a decoração.
Ela abre um sorriso acolhedor.
— Eu fiquei pensando nisso hoje quando fui cuidar do vaso. Você
adora flores, não é?
Assinto concordando.
— Você comentou isso no aniversário da Sophia.
— Sim, eu falei — afirmo colocando Sophia no chão, quando me
sento no sofá com Bárbara.
Agora que minha filhinha está com mais equilíbrio, consegue ficar de
pé com facilidade e andar com passos pequenos ao meu lado. É a coisa mais
fofa do mundo. Caminhando do meu lado. Na verdade, ela vive atrás de mim.
Quando tiro os olhos de Sophia e encaro Bárbara, vejo-a sorrindo
para Sophia com um ar melancólico. Parece pensativa.
— Está tudo bem, Bárbara?
— Sim.
— É só... — ela suspira e pisca rapidamente, tentando esconder seja
lá o que passou na sua mente. E abre um sorriso extremamente manipulado, e
diz: — É que eu acho bonitinho a Sophia com você. Ela realmente se
acostumou, não é?
— Sim e sou eu que agradeço todos os dias. — Afago os cabelos
loirinhos da Soph. — Agradeço por ela, com certeza.
— Ela gostar de você assim deve ser gratificante.
Sorrio e assinto, mesmo que eu não seja uma expert em ler as
pessoas, Bárbara está melancólica hoje e o seu sorriso falso, não me
convence mesmo.
— Olha, Bárbara — chego perto dela e dou de ombros —, eu não
entrei no meu casamento pensando que seria tudo fácil. Um mar de rosas. Eu
estava um pouco apreensiva e com muito medo. Nervosa com absolutamente
tudo e pensando nas coisas que poderia errar em me casar com um homem
bem mais velho do que eu e com uma filha, mas, lá no fundo, eu tinha
esperança de que poderia batalhar para ter uma vida melhor. E, quer saber, eu
nunca tive uma vida boa com meus pais. Eles eram muito exigentes e me
tratavam... não muito bem. — Pauso. Tenho vergonha de dizer como eles me
tratavam. — Enfim, eu batalhei muito e batalho ainda mais para ter um bom
casamento com Paolo.
— Eu imagino.
Não entendo o que ela quer dizer com isso e me apresso em
esclarecer:
— Não é fácil. — Meneio a cabeça para lá e para cá. — Paolo não é
um homem muito fácil, mas eu posso te garantir que muitos momentos da
minha atual vida são maravilhosos e eu torço para que você também consiga.
Eu não espero e, quando vejo seus olhos ficarem marejados, isso me
comove. Ela se mexe inquieta no sofá e, depois do choque inicial, ela pisca
rápido e observa Sophia segurando minhas pernas enquanto balanço
distraidamente o urso para ela.
Por longos minutos, Bárbara apenas encara minha filha e respira
fundo. Quando ela faz seus olhos encontrarem os meus, solta uma respiração
trêmula.
— Não está sendo fácil, sabe. Posso te confessar algo?
— É claro que pode. Eu quero ser sua amiga e acho que você precisa
mais da minha amizade do que eu de você.
Ela abre um sorriso sem os dentes.
— Eu tenho a Madeleine, mas ela com o bebê recém-nascido, não
sobra muito tempo e mesmo que para algumas esposas de Capo ou
Underboss seja algo supérfluo, para ela não é.
Isso eu já tinha percebido e comentei com Paolo. Madeleine parece
ter tanta forca quanto o marido.
— Mas a gente conversa todos os dias e mesmo assim eu não conto
tudo para Made.
— Você não conta porque tem medo. — É um questionamento e
afirmação concluir que ela tem medo de contar para Madeleine, esposa do
líder de Enzo como ele é um marido babaca.
Embora na máfia os problemas familiares sejam de interesse do
marido e da esposa, algumas vezes os chefes se intrometem. Eu nunca
presenciei papai fazer algo do tipo, mas ouvi que meu tio, o Underboss de
Spokane, revolveu problemas do tipo. Na Famiglia não existe a opção do
divórcio, então é bom resolver os assuntos pendentes.
— Sim, é verdade. Eu não conto porque tenho medo de Made querer
tomar partido e até contar para Travis. — Move os ombros sem ânimo. — Eu
realmente não sei se Travis falaria por mim ou Enzo.
Dou-lhe um olhar desconfiado.
— É tão grave assim? Ele te bate?
— Não! — responde rápido e nervosa. — Não, Enzo não me bate.
Olha, eu vou te falar uma coisa e fica entre nós.
— Claro que sim, Bárbara.
Ela se ajeita no sofá, virando o corpo totalmente para mim.
— Eu nunca apanhei dos meus pais. Meu pai nunca levantou a mão
para mim. Não foi esse tipo de pai carrasco, mas talvez eu esteja errada. —
Ela torce a boca, pensativa e suspira. — Se ele tivesse me batido, eu estaria
preparada agora.
— Como assim?
Meu Deus. Eu não sei se estou preparada para ouvir certas coisas.
— Enzo... — Ela desvia o olhar. — Eu preferia que ele me batesse do
que falasse todas as coisas que fala para mim. — Sua voz fica carregada de
emoção e tristeza. — Tem vezes que eu quero explodir. Quero bater nele —
vira o rosto para mim e fita meus olhos — e tem vezes que eu quero fugir
desse casamento e outras vezes... Eu me odeio por amá-lo.
Sinto dentro de mim o gosto amargo das suas palavras. Que desastre
esse casamento.
— Eu percebi que você gosta dele.
— É.
Assinto.
Droga, Bárbara nem liga que notem seus olhos e o jeito que fica perto
dele em público. Como gosta dele.
— A primeira vez que eu te vi, foi no seu casamento — conto para
ela —. e o jeito que você olhava para ele entrando na igreja. Na hora dos
votos, aceitando; e, caramba, aquele beijo e na festa. Foi nítido que você
gosta dele.
Ela sorri de leve e olha para Soph que estica os braços. Com calma, a
pego nos braços e coloco sentada no meu colo. Bárbara segura o pezinho da
minha filha e fala distraída:
— Eu achei que seria melhor, seria mais fácil, me casar com alguém
que eu gostasse e me enganei. Porque a questão não era me casar com quem
eu amo, a questão é casar-se com alguém que me respeite, que possa ter um
mínimo. Sabe, a mínima chance de me amar também.
— Eu entendo.
— Ele não me bate, mas fala coisas terríveis para mim e pior é
quando me ignora totalmente.
— Não deve estar sendo fácil.
— É um eufemismo falar isso — ri com desagrado. — A questão não
é ser fácil ou difícil. É... que está doendo.
— Meu Deus, Bárbara. Eu não sei nem o que dizer. Espero que a
situação fique melhor.
— Eu também.
— Mesmo que você não tenha mais tanta esperança — eu concluo
mais uma vez.
O seu corpo dá sinais de que não está tão mais entusiasmada de que
sua vida vai melhorar. Esse é o pior sinal de uma pessoa em desespero e
tristeza. Eu reconheço porque era assim que me sentia na casa dos meus pais.
Porém, eu me salvei no meu casamento e fui persistente, teimosa, não
querendo ser jogada para o esquecimento. Fui educada e trabalhei com
parcimônia em todas as situações com Paolo, mas não deixei de querer fazer
do meu casamento minha nova chance, ou minha única chance de ter uma
boa vida. Bárbara não tem para onde sair e pensar nisso deixa meu coração
apertado. Estico minha mão e aperto a sua. Ela franze a testa sem entender
encarando-me.
— Você pode prometer para mim que não vai fazer nenhuma
loucura?
— Por que você está falando? Que tipo de loucura?
Respiro fundo tomando coragem para dizer meus pensamentos em
voz alta e rezando para que ela não fique com raiva ou zangada comigo.
— Não desista nunca! Tente encontrar coisas boas no seu dia a dia.
Eu não tenho uma vida perfeita, mas eu ainda estou procurando. — Pauso e
procuro as palavras certas. — Sendo sincera, Bárbara. Estou preocupada com
você.
— Preocupada comigo? — ela pergunta com a testa franzida.
— Sim, seus olhos dizem muita coisa, mesmo que você tente
esconder e esse sorriso não está sendo muito convincente. É o famoso sorriso
para se apresentar para as pessoas. Não precisa ficar forçando comigo. Eu
quero ser sua amiga que nem a Madeleine é. Eu quero te ajudar e não por
caridade ou pena, é porque eu gostei de você. Não quero mais ver você com
esse semblante de tristeza. Não quero ficar preocupada pensando que você
possa fazer alguma loucura.
— Você está querendo dizer suicídio?
Me arrepio todo e aperto sua mão por reflexo. Um medo percorre
meu corpo.
— Pelo amor de Deus, não faça isso. Tente melhorar as coisas e tenha
paciência. Tem um pouco mais de fé que pode dar certo. Pode melhorar sim.
Ela abre um sorrisinho triste e balança a cabeça que sim.
— Madeleine me falou isso ontem por telefone.
— Que bom que vocês são amigas.
Bárbara assente e olha para Sophia, pega sua mão estendida e
balança.
— Madeleine é como a Sophia para você, sabe — explica com um
sorriso. — Eu não preciso saber exatamente de tudo, Nina, mas é óbvio que
você e Sophia são bastantes próximas agora. Que ela é a pessoa que você
mais adora e você a pessoa que ela mais precisa.
Concordo com um aceno, mesmo que ela ainda não tenha tirado os
olhos de Soph.
— Nosso mundo é terrível, horroroso e cruel. É cheio de pecado,
tortura, morte e chantagem. Nós realmente precisamos de coisas boas e assim
como você tem a Sophia — ela mexe nos cabelinhos loiros de Soph —, eu
tenho a Madeleine e tem Marinne também. Nós sempre estamos
conversando, rindo e fazendo coisas que gostamos para distrair nossas
mentes. E Made me disse para ser paciente. — Engole com dificuldade, como
se estivesse com vontade de chorar. — Confesso que estar casada com o
Enzo... — faz uma pausa e fica de boca aberta como se as palavras tivessem
fugido da sua mente ou procurasse o que realmente quer transmitir — não é o
que eu esperava.
— Imagino que seja.
— Eu não queria que ele ficasse louco por mim — continua sem me
ouvir e fitando distraída o nada — e me amasse instantaneamente. Eu o
esperava tentar se aproximar de mim e talvez gostar de mim como amiga. Ele
pudesse ver em mim uma amiga, alguém que ele pudesse voltar para casa e
passar um tempo, mas não.
Uma lágrima solitária escorre em seu lindo rosto. Ela é tão bonita.
como aquele homem não consegue enxergar isso?
— Enzo não parece querer e, mesmo que tenha apenas quase quatro
meses juntos, estou cansada, mas fique tranquila. — Sorri para mim. — Eu
não vou desistir. Não vou fazer nenhuma loucura, Nina. Não vou desistir
porque Enzo não liga para mim. Eu tenho grandes motivos para não querer o
caminho mais fácil.
Eu concordo olhando-a nos olhos.
— Eu vou torcer para que tudo dê certo e que da próxima vez que eu
vir aqui, você possa me contar apenas coisas felizes e que não esteja mais
com essa cara de tristeza.
Bárbara assente e suspira rindo baixinho.
— Você tem dormido bem?
— Sim, é só porque estou ansiosa — ela não me convence.
— É, acontece.
— BOH! — Sophia grita e nós duas olhamos para ela. Essa garotinha
sabe a hora certa de fechar uma conversa.
— O que é Boh?
— É o ursinho que Madeleine deu de presente e ela adora e o chama
de Boh.
— Ah, entendi.
Pegando no chão onde Sophia o deixou, entrego o ursinho para ela,
que sacode pro alto e reclama.
— Calma, meu amor — digo e a tiro do meu colo. Soph cambaleia
para a mesa de centro e por fim cai de bunda no chão em cima do tapete e por
pouco não bate a cabeça na mesinha. Eu corro a tempo e consigo sentá-la
para o lado.
— Você quer matar a mamãe do coração?
— Mama.
Eu dou uma risada e me ajoelho na frente dela para ajeitar o lacinho
no seu cabelo. Escuto Bárbara rir e viro-me para ela.
— Vocês são lindas juntas.
— Ah, obrigada — digo sem jeito. Coloco-me de pé. — O que vamos
fazer agora? Distrair Sophia? — falo para descontrair e esquecer a conversa
sobre Enzo. Eu disse que não vim aqui para isso.
— Que tal a gente almoçar primeiro e depois podemos ficar matando
o tempo com a Sophia e tudo mais?
— Adorei a ideia — concordo e ajudo Sophia a ficar de pé, não
esquecendo de pegar o urso, que entrego a ela que espera com a mão
esticada.
Seguimos Bárbara para a sala de jantar.
— Espere aqui. Vou esquentar e trazer para nós.
— Okay.
Enquanto espero, meus olhos observam o apartamento todo. Ele é
muito bonito, chão de tabaco escuro, paredes cremes com móveis claros. As
cortinas brancas vão até o chão nas portas da varanda do apartamento no
vigésimo andar. A mesa da sala de jantar é de vidro com cadeiras de madeira
e forro branco. Tudo muito delicado com flores nos vasos. Quadros com
pinturas de paisagens que dá vontade de visitar.
A casa combina com Bárbara, que está muito elegante com seu
vestido rosa claro até o joelho e colado ao corpo. Eu adoro os cabelos ruivos
dela. Hoje estão soltos e um pouco cheios, os cachos se formando no final.
Como o Enzo não consegue perceber que ela é tão delicada e linda?
Sentada à mesa, vejo Bárbara chegando com uma bandeja.
— Você tem empregada ou alguém para te ajudar?
— Não — ela responde com simplicidade, ajeitando as coisas na
mesa antes de se sentar comigo e Sophia.
Ela é tão atenciosa. Preparou uma cadeirinha alta para Sophia se
sentar para comer do meu lado, no meio de nós duas já que a mesa é redonda.
— Eu pensei: para quê que eu vou querer alguém para cuidar da
casa se eu não tenho nada para fazer? — Dá de ombros. — Então o que tiver
que fazer, está por minha conta e o que não souber, eu aprendo.
— Até para limpar?
— É, claro — responde me servindo um macarrão muito cheiroso.
— Entendo, mas tipo. Cozinhar é uma coisa boa, mesmo que eu não
seja muito boa nisso. — Rio alto e dou um pouco da comida para Soph, que
está cada vez mais saindo da mamadeira.
— Mas eu não sou a responsável pela casa estar tão limpa. Uma
menina vem aqui para dar uma geral de dois em dois dias, mas eu também
limpo a casa. Passo aspirador e o que precisar. E comer é uma coisa que eu
gosto muito, então óbvio que preciso saber cozinhar.
— É sério? Você gosta de comer com esse seu corpinho violão? Não
parece.
Ela dá uma risada balançando a cabeça.
— É porque eu faço muitos exercícios. Tenho um quarto aqui no
apartamento que tem esteira, aparelhos para malhar e fazer yoga. Essas coisas
bobas de academia para quem sabe se virar sozinha, então eu como e faço
exercício.
— Você tem mais alguma outra coisa para distrair sua cabeça?
— Eu gosto de costurar.
— É verdade?
— Sério.
— Estou chocada com isso. Eu esperava tudo, menos que você
gostasse de costurar.
Ela dá de ombros.
— Se eu tivesse permissão de ir para a faculdade, escolheria Moda.
Gosto muito e estava conversando isso com o Enzo. Se eu não poderia fazer a
faculdade mesmo que fosse a distância. Eu não sou tão importante para os
inimigos ao ponto de não poder fazer uma faculdade e sair sem dez
seguranças. Acho que seria legal fazer algo.
— Eu também acho e, de qualquer forma, mesmo que você não se
sinta importante, é alguém que precisa de proteção.
— Sim, mas eu não quero chamar atenção. Se eu for para a faculdade,
vai ser o mínimo de atenção possível. O meu pai nunca deixaria, mas como
Enzo... — ela faz uma pausa porque parece que vai se arrepender do que vai
dizer, então respira e abre um sorriso forçado. — Como ele parece não se
importar muito com essas coisas, acho que poderá permitir.
Suas palavras são travadas e forçadas. Na verdade, ela não quis falar
isso. Acho que ele vai permitir porque não se importa com ela.
— Espero que sim, para sua felicidade. — É o recomendado a dizer.
— Você precisa encontrar seu lugar.
Bárbara abre um sorriso enorme e finalmente honesto.
— Obrigada por isso. É muito bom quando as pessoas gostam da
gente.
— E como não gostar de você, Bárbara?
Seu sorriso esmorece e os olhos ficam distantes. Ela encara a salada
no seu prato assentindo mecanicamente. Eu não preciso ser um oráculo para
saber o que se passa na sua cabeça agora.
— Agora vamos comer essa comida. Está bem cheirosa, mesmo que
você não tenha feito — falo para ela acordar do seu devaneio.
Eu falo demais. Paolo tem razão. Acho que devo calar a boca um
pouco.
— Sim e desculpa não ter cozinhado hoje. Não tive tempo.
— Imagina. Eu aposto que está uma delícia.
Ela concorda e nós duas começamos a comer em um silêncio
incômodo, portanto puxo um assunto totalmente aleatório sobre filmes ou
seriados. Sobre seus gostos de Moda, o que costura e se inspira. Fujo ao
máximo da sua vida.
Nas vezes que seu rosto fica congelado em uma expressão entre
mostrar a tristeza ou sorriso falso, me sinto fracassar com ela.
Quanto mais o tempo passa, mais eu fico à vontade com a ideia de
socar a cara de Enzo, mesmo que isso me cause problemas. É bom que ele
não apareça muito na minha frente porque o Paolo pode brigar comigo
depois, mas eu sou capaz de dar na cara desse homem. Bárbara é tão
maravilhosa. Como ele não consegue ver?
Meu Deus, por favor, mude essa situação! E obrigada pelo meu
casamento mais uma vez.
4

N ove horas da noite não é um horário que eu costumo chegar em


casa nem em dias normais, hoje consegui um milagre em chegar
em casa cedo. Entro no meu quarto, vou direto para o banheiro e
tenho uma feliz surpresa em ver minha esposa tomando banho de banheira.
Nina está com os pés para o alto, balançando devagarinho e lendo um livro
enquanto cantarola. Nem lendo, ela consegue ficar em silêncio.
— Você não tem medo de molhar este livro?
Nina leva um susto e seus ombros se sobressaltam enquanto ela ainda
está com boa parte do corpo submersa na banheira.
— Que susto! — Suspira alto, coloca o livro sobre a prateleira que
fica ao lado com os sais de banho, que não estão ali. Ela adaptou para uma
estante?! Então ela vira-se para mim e abre um sorriso enorme. — Você
chegou cedo hoje.
Assisto-a ficar de pé linda e gostosa pra caralho inteiramente nua e
molhada.
— Eu adoro quando você chega cedo.
Me aproximo, pego-a pela cintura e provoco encostando minha boca
na sua.
— Eu também gosto e assim consigo aproveitar — murmuro
deslizando minhas mãos pelo seu corpo e pego seus peitos.
Nina dá uma gargalhada e abraça meu corpo encharcando meu paletó.
— Porra, Nina!
— Você tem o que deseja.
— Uhum.
Seus olhos se acendem e Nina ergue bem o queixo, fixando seus
olhos nos meus. Estica as mãos, toca meu peito e seus dedos trêmulos
começam a desabotoar minha camisa, devagar e vejo tanto desejo em seus
olhos azuis. Depois ajudo-a a retirar meu coldre, a camisa de linho e a
camiseta de dentro.
— Eu detesto armas, mas você é tão sexy com elas.
Curvo o canto da boca e permaneço quieto enquanto suas mãos agora
desafivelam meu cinto, abre minha calça e ajudo-a a tirar minha roupa toda.
Me afastando, fico nu e entro na banheira com ela. Nos sentamos e abraço
bem gostoso seu corpo na frente do meu, mas ela tem outros planos e se
muda para ficar na minha frente, montada em mim. Toca meu rosto e ganho
um beijo suave na boca.
— Eu sempre quero você e amo que você me deixe louca me fodendo
até perder o fôlego.
— É terrível você falar assim.
Ela dá uma risada e toca minha boca distraída.
— Só escuta, está bem.
— Okay — respondo escorregando minhas mãos até apertar sua
bunda.
Nina arregala os olhos e paro de provocar para ouvir.
— Hoje eu fiquei a tarde toda com a Bárbara.
— Fiquei sabendo.
— É claro — revira os olhos. — Enfim... sem muitas informações
sobre o casamento dela, apenas...
— Você parece perdida e vou facilitar. Fala o que você precisa dizer e
não vou perguntar nada.
Ela assente veementemente e suspira.
— Okay, escuta. — Toca meu rosto de novo. — Eu estou querendo
dizer que amo meu casamento com você. Amo que você seja esse homem
paciente e... calado. Que saiba ouvir e dar oportunidades. Que tem esse senso
de humor... pouco contagiante.
— O quê? — Franzo a testa.
— Não chega a ser um senso de humor negro, apenas é difícil de
entender você rir de certas coisas as vezes.
Balanço a cabeça rindo e lhe dou um beijo na boca meio atrapalhado.
— Se você está dizendo.
Nina abraça meu pescoço e balança a cabeça.
— Me leva a sério.
— Eu estou, querida. — Afago suas costas, que está bem macia por
conta da água com sais de banho. O cheiro de canela, o cheiro dela, está me
deixando faminto.
— Eu amo você. Amo nossa vida e sou muito grata por tudo, porque
seria uma merda você me ignorar e com certeza eu acabaria morta. Não
conseguiria aturar um casamento ruim.
Dou uma gargalhada e faço seu corpo mergulhar mais na água
quando envolvo seu corpo e ficamos de lado. Seguro seu rosto com uma mão
só e dou beijos nos seus lábios.
— Concordo que seria uma merda — repito suas palavras — se você
fosse chata, pedante ou... Eu não consigo imaginar outra esposa para mim.
Ela ri baixinho e acaricia meu rosto, passando os dedos de leve.
— Digo o mesmo.
— Agora, senta-se no papai e me deixa mostrar o quanto sou
satisfeito em ter me casado com você.
Nina fica de joelhos, de frente para mim e se encaixa colocando as
duas pernas em cada lado do meu corpo e nos conectamos. Mesmo
enfurecido e querendo ser feroz, sou carinhoso porque ela merece e eu
também preciso da sua doçura.
Apago as luzes da cozinha e subo as escadas. Sigo para o quarto de
Sophia. Acabei de esquentar a mamadeira para dar a ela. Entrando no
cômodo, pego Nina andando para lá e para cá ninando Sophia no colo
falando baixinho. Essa mulher só para de falar quando dorme.
— Trouxe a mamadeira.
Nina vira-se para mim e pega a mamadeira da minha mão, se
acomoda na cadeira de amamentação e depois que ajeita Sophia, entrega para
a bebê. De longe vejo suas pequenas mãos agarradas a mamadeira e o
biquinho sugando o leite.
— Parece que foi ontem que ela dependia tanto de nós.
Minha esposa ri baixinho e afaga os cabelos de Sophia.
— Daqui a pouco vai para a escolinha e meu coração não está pronto
para isso.
Respiro com força e me sento na cama para assistir esse momento que
perco noventa por cento das vezes. Momentos que dou valor pelo trabalho
que tenho e que todas as vezes que saio posso não voltar para casa. Não gosto
de cogitar essa hipótese, mas ela é mais viva para mim do que outros pais e
maridos.
— O que está pensando?
Tiro meus olhos da minha filha e fito minha jovem maravilhosa e
fogosa esposa.
— Que não sei se ela irá estudar numa escola. — Conto “meia”
verdade.
— Quer um ensino em casa?
— Pode ser.
— Eu não vejo problema, mas Soph precisa de contato com outras
crianças para aprender a ser sociável.
— Para quê?
Nina revira os olhos e segura a mamadeira quando está terminando e
Sophia parece cada vez mais sonolenta.
— Porque nós mulheres temos nossas obrigações e deveres na
Famiglia. Muitos deles incluem eventos sociais, fazer a aparência de menina
de família e o sorriso apresentável, e sendo franca, isso se aprimora com os
coleguinhas da escola.
— Pelo visto, você não gostava da escola.
— Não, eu amava. Se não fossem minhas amigas da escola, eu não
saberia mentir quando preciso e dar meu sorriso falso.
— Me mostra.
— Assim não dá, Paolo — diz fazendo uma cara engraçada de
desdém.
— Oras, por quê?
— Porque eu sempre estou feliz perto de vocês e para fazer o sorriso
falso, eu preciso estar num ambiente hostil ou que eu não esteja a fim de
estar.
— Certo. Você venceu — replico, me levanto e vou beijar a sua testa.
Me abaixo, sentando-me nos calcanhares e afago as perninhas de Sophia.
Os olhos sonolentos da minha filha me fitam e eu sinto uma paz
capaz de quase apagar as mortes que já fui o ceifador. E quando os olhos de
Nina entram em contato comigo que finalmente toda a escuridão dentro de
mim some, como tudo se iluminasse em mim.
— Eu vou lutar todas as batalhas para proteger vocês.
Nina assente e entrelaça seus dedos nos meus. Elas são tudo que
preciso.
5

M esmo com um frio gelado e a chuva, o que faz eu detestar o


inverno mais um pouco, acordei hoje bem animada e antes de
Sophia. Aproveitei para fazer um café da manhã especial para
Paolo ir para o trabalho com o estômago forrado e “feliz”.
Gosto de agradar meu marido e quis mostrar minha gratidão pela
noite de ontem. Paolo me deu um colar lindo com um pingente de uma
menininha, assim como os brincos. Ele foi além de atencioso. Isso mostrou o
seu amor por mim. Fora que sempre que vamos dormir, nós ficamos bem
juntos, abraçados. Sinto uma felicidade enorme, que não sei realmente
mensurar.
— O que a senhora está fazendo na cozinha? — Marta aparece atrás
de mim com uma sacola de mercado, que coloca sobre o balcão que fica no
meio da cozinha.
— Estou lavando a louça do café da manhã de Paolo, Sophia e eu.
Quis fazer algo especial hoje.
— Você não precisava se incomodar. Eu estou aqui para fazer esse
tipo de serviço.
— Mas eu não me incomodo. Sophia está dormindo e, como o
inverno não vai me possibilitar de cuidar como gosto das flores, nem vai
fazer diferença eu mexer nelas já que está cada vez mais frio, não vou ficar na
estufa. Então estou sem muita coisa para fazer.
— Você pode organizar o armário de novo, ler um livro ou qualquer
coisa. Não precisa vir mexer na cozinha.
Terminando de tirar o sabão dos pratos, coloco-os no escorredor,
pego o pano de prato e viro-me para Marta secando minhas mãos. Cerro os
olhos e lhe dou toda a minha atenção, quando digo:
— O que a senhora está querendo dizer?
Porque sinto que parece que ela não gosta que eu fique na cozinha ou
não gosta de mim. Acho que tenho um jeito de descobrir.
— Eu também quero fazer um bolo — falo para medir sua intenção.
Descobrir se é comigo ou com a cozinha o problema, que no caso, será eu. Eu
nasci num mundo cercado de homens que induzem seu inimigo a dar as
respostas que eles precisam quando querem. Não seria filha do meu pai se
não jogasse esse jogo com Marta agora.
— Não precisa. Eu faço o bolo, basta a senhora pedir.
Mentalmente conto até dez. Será também que homens feitos contam
até dez? Eu divido muito disso e ela tem sorte.
— Você não gosta que eu mexa na cozinha... ou você não gosta de
mim? — pergunto de uma vez porque perdi a paciência.
— Não tenho nada contra a senhora — responde rápido e alarmada.
— É só... que é o meu trabalho.
— E sempre será, Marta, mas eu gosto de fazer as coisas. Não me
custa nada e essa é a minha casa.
— Tudo bem, se é assim que a senhora deseja.
Arfo com força e preciso contar até dez de novo.
— Não é questão de eu desejar. É o que eu quero de vez em quando.
— Me corrijo: — Que vou querer fazer de vez em quando. Cozinhar, assar
um bolo e preparar algo que eu estiver com vontade de comer. Eu quero
agradar o meu marido e a minha filha, entendeu?
— Sim, eu entendi. Peço desculpas se pareceu outra coisa.
— Não, não precisa me pedir desculpas. Você ainda está se
acostumando comigo. Eu entendo.
— Eu não preciso me acostumar com a senhora, tenho que aceitar.
Não tem isso.
Não gostei dessa resposta.
Respiro profundamente soltando o ar com calma, abro meu sorriso
educado.
— Tudo bem. Eu vou ver se a Sophia ainda está quietinha no berço e
se você quiser, pode terminar de limpar a cozinha. Já volto para fazer o bolo
— falo e passo por ela, que não diz nada.
Que ela se ferre. Eu desisto de fazer essa mulher se dar bem comigo.
Que ela não passe perto de mim e torça o nariz, está ótimo.
Uma coisa que aprendi depois de me casar com Paolo, que mesmo ele
tendo uma aparência tão rude e as pessoas falarem que ele é fechado e cruel,
não é sua aparência que descreve sua personalidade real.
Meu Deus, a primeira vez que eu o vi, as coisas que ouvi falar, é até
meio inacreditável pensar no homem que ele é hoje comigo. Porém, desde o
início Paolo me permitiu falar, dar a minha opinião, deu o meu lugar e agora
percebo que não tenho respeito de quem eu menos esperava. Da pessoa que
eu achava que seria o que ele é comigo facilmente, porém ela me deu as
costas e o desrespeito. Porra. A vida é uma caixinha de surpresas e algumas
delas são desagradáveis.
Por isso, a partir de agora vou ver como as pessoas me tratam e as
tratarei da mesma forma. É difícil, mas é a melhor forma de nos protegermos
de mágoas ou rancores. É a reciprocidade. Se me tratam com frieza, terão o
mesmo de mim. Se for carinho, receberão o melhor de mim. Qualquer tipo de
sentimento. É uma grande evolução e dolorosamente necessária em algum
momento da vida com certeza.
Eu não era para ser uma pessoa carinhosa, pela forma que os meus
pais são. Eles, no entanto, me ensinaram a bater, retribuir o que eles me
deram e vai ser assim com a Marta. Se ela quer me tratar rude e sem a
mínima vontade de fazermos as pazes, não serei obrigada a nada.
Talvez ela gostasse demais de Mia, mas eu não tenho culpa, droga.
Não foi eu que dei um tiro nela. Que merda! Gregori, por exemplo, pelo que
eu li na carta, eles se davam bem e mesmo assim nunca me tratou mal.
Ah, sinto falta dele. Paolo deu umas férias de duas semanas e o novo
segurança, nem gravei o nome dele, aparece só quando preciso sair. Não fica
o tempo todo perto porque já têm os dois que ficam do lado de fora da casa e
estou preferindo não sair de casa sem Gregori. Me acostumei com a sua
proteção e a intimidade que nós dois criamos.
Não sei se eu vou querer outro segurança depois e, por sorte, ele não
tem esposa e filhos. O que talvez leve à Paolo considerá-lo aceitável para
ficar sendo meu segurança.
Se Gregori tivesse filhos e esposa e algo acontecesse comigo, não ia
pensar só em mim para me salvar. Paolo pensa como papai, para ser segura
da família é bem melhor um soldado solitário. Até concordo, mas fico com
pena. Gosto muito de Gregori e não quero que fique para sempre sozinho.
Talvez daqui a algum tempo ele possa encontrar alguém. Ainda é
novo. Ele não é mais velho do que eu. Acabei descobrindo que ele tem vinte
e seis anos, e talvez por isso nos damos muito bem.
Abrindo a porta do quarto de Sophia, que só estava encostada,
encontro-a ainda dormindo de ladinho com seu ursinho nos braços. Sorrio
como uma mãe apaixonada.
Ela está toda de rosinha. Coloquei luvinhas nela e meias brancas. O
gorro saiu da sua cabeça. Os cabelos loiros escuros estão crescendo muito
rápido. Na verdade, desde que eu cheguei Sophia deu uma boa crescida. É a
minha menininha de um ano esperta e alegre.
Deus, nem parece. Se foram quatro meses e eu sou louca por ela.
Ainda bem. Tudo é tão bom, tão certo. Às vezes fico pensando se meu pai
tivesse providenciado o casamento com Paolo antes, como seria. Eu queria
ter estado aqui para ela quando era apenas um bebezinho. Deve ter sido muito
difícil para Paolo com certeza.
— Mas eu estou aqui agora — murmuro para ela — e eu nunca vou
embora.
Soph se mexe no berço, soltando o ursinho e dormindo de barriga
para cima. Ela joga o outro braço para o lado e a chupeta sai da sua boca
escorregando lentamente pela bochechinha.
Estico minha mão e toco sua barriga. Ela se mexe mais ainda. Está
despertando.
— Oi, princesa. É a mamãe. Que tal a gente acordar?
Sophia estica as perninhas se espreguiçando e é tão fofa. Abre os
olhos lentamente. Seus imensos e lindos olhos azuis me encaram. A beleza
dela me impacta com a mesma intensidade que a de Paolo. É perfeita demais.
— Oi, meu amor — falo baixinho quando ela pisca para mim.
— Mam... — ela faz um sonzinho fofo antes de esticar os braços
pedindo colo.
A pego nos braços, encaixando e sentindo seu calorzinho. Dou um
beijinho na sua cabeça quando ela encosta o rosto no meu peito. Está fazendo
dengo.
— Está com soninho ainda?
Sua mão agarra a manga do meu casaco e as pernas sacodem de leve.
— Então só vamos trocar a fralda, a roupinha e descer para ficar um
pouquinho lá embaixo com a mamãe. Vamos comer um pouquinho.
— Mama.
Sorrio com ela murmurando e a coloco na cama deitada, porque não
sei se ela consegue ficar sentada com todo esse sono.
— Doll — ela pede a boneca e entrego.
É a nova bonequinha de pano que Madeleine deu de Natal. Acho que
é o fim do Boh, mas não tenho certeza porque Soph ainda procura por ele.
Agora o novo grude é a boneca de Madeleine e acho que não vou
mais comprar presentes assim para ela, só roupas, sapatos, enfeites de cabelo.
Ela não gosta dos meus brinquedos.
Pegando um vestidinho de mangas lilás com azul no seu guarda-
roupa, troco sua roupa e coloco a meia-calça e um tênis branco com as
orelhinhas do Mickey. Ajeitando o vestido, coloco-a sentada e arrumo o
lacinho branco em seus cabelos.
— Pronta — cantarolo e a seguro até ficar de pé em cima da cama
olhando para mim. — Quem é a menina mais bonita do mundo?
Sophia franze a testa como se não entendesse essa pergunta e eu,
como uma mamãe bobona, sorrio e dou um beijo na sua testa. Quando me
afasto, seus olhos estão em mim de um jeito tão amoroso. Ela é muito linda.
— Quer a chupeta?
Ela nega com a cabeça ao mesmo tempo que estica os braços de novo.
Então a pego no colo.
— Vamos descer e ficar um pouquinho lá embaixo e esperar o papai
chegar.
— Papa. Papai — ela quase fala certinho.
— Sim, papai — repito para ela se acostumar e dizer correto. — Ele
está chegando.
Na sala de estar, ligo a televisão no desenho que ela fica hipnotizada,
sento-me no sofá e coloco Sophia sobre as pernas. Me preocupo em viver
esse momento com ela porque do jeito que está crescendo, daqui a pouco eu
vou sentir falta desses momentos. Adoro suas mãozinhas segurando a minha
com força. Seu cheirinho, seus sons animados enquanto assiste o cachorro
falante na tevê. Ela é o presente mais abençoado que já ganhei na vida.
6

O suor escorre na minha testa e limpo com as costas da mão. Ficar


num lugar tão apertado é uma merda. O que eu estou fazendo
aqui?! Cerro o maxilar e olho para Luca ao meu lado fumando.
Ele nunca está sem um cigarro na boca e mesmo que eu fume, me irrita que
num momento de concentração ele está fumando.
— Será que pode largar essa merda? — digo e tiro o cigarro dele
jogando no chão.
— Caralho, Paolo. Você quer levar uma facada na mão? — reclama
baixo, com a voz fica estrangulada.
Não podemos gritar, por isso ele não fez um escândalo por isso.
Estamos de tocaia esperando o VP (vice-presidente) dos MCs de Las Vegas.
Luca teve a ideia de fazermos um acordo com ele para conversarmos com o
Prez (presidente) da Sons of Hell para sabermos quais os responsáveis pelo
ataque ao restaurante no dia de Natal. Sabemos que foram os motoqueiros de
Chicago por causa do emblema, o que não significa muita coisa.
Eu achei a ideia falha antes mesmo de estar dentro do carro vindo
para cá, mas como Travis ordenou, precisei vir.
— Você não seria louco.
— Quer apostar?
Inclino a cabeça, fechando a cara e isso é o suficiente para calar a
boca. Ele é louco, não tenho dúvidas, e um psicopata. Muito bom com as
facas, porém sou mais rápido e, se ele tentar algo, eu parto a cabeça dele em
dois num corte bonito como de uma melancia.
A porta do clube de strippers abre com um rangido, e nós focamos
nossa atenção no local. Um cara com a jaqueta da Sons of Hell com figuras
de um crânio envolvido por uma cobra e uma faca no meio, surge e segue
caminho para a motocicleta, a maior delas, no estacionamento de motos
assoviando.
— É ele.
— Claro que tinha que ser — ironizo.
Luca sai primeiro do breu e isso faz o cara da Sons of Hell parar os
movimentos e virar-se com a mão dentro da jaqueta. Pegando a arma.
— O que você quer?
— Conversar — responde Luca.
— Não quero assunto com você.
— Não é o que você está pensando.
Ele cruza os braços, afastando as pernas e ergue o queixo respirando
fundo. Não parece que Luca vai conseguir e com isso eu entro para o campo
de visão, fazendo River Stan mudar de postura.
— Nós precisamos falar com o seu líder.
Ele ergue as sobrancelhas com o sarcasmo nítido em sua expressão.
— Inviável Ty conversar com um de vocês e por que a porra da
reunião agora? Nunca fomos amigos e que eu saiba não fizemos ou devemos
merda nenhuma a Travis Lozartan. — Passa os olhos com nojo sobre nós.
— Queremos saber quais foram os motoqueiros no ataque no dia de
Natal?
— Nenhum de nós, porra. Vocês sabem que foram a Outlaws. Vão
tirar satisfações com eles, caralho.
Dou alguns passos, até estar muito perto dele, perto o suficiente para
sentir o cheiro de perfume barato de mulher.
— E mesmo que você soubesse, não deduraria.
River ri alto e enfia as mãos nos bolsos.
— Estou pouco me fodendo se vocês entrarem em guerra com
aqueles imbecis. Menos uma tripe.
Solto a respiração e pego um cigarro para mostrá-lo que estou
tranquilo.
— Vamos fazer o seguinte, River — começo, usando o lado que a
Famiglia mais gosta. Deixar quem precisamos usar, se sentir bem. — Eu te
dou algo e você me dá dez minutos com Ty Stan.
Seus olhos faíscam incerteza e cólera. Eles não gostam quando
mostramos que sabemos demais, e eu sei tudo sobre eles. Nomes,
identidades, mãe e pai. Os codinomes, quem é quem. No caso, que River é o
irmão do meio de Tyler Jacob Stan com diferença de cinco anos. Eu sei como
funcionam e do que precisam. Eu não sou a merda do Consigliere à toa.
— Mesmo que eu lhe diga sim, não é garantia de que Ty irá aceitar.
— Você está apenas barganhando como eu estou para o meu Capo.
— Coloco o cigarro na boca, acendo e tomo uma tragada. — Estou lhe
oferecendo o que precisa, mesmo antes de conseguir falar com Ty.
Mantendo a expressão neutra, ele assente.
— Você não deveria falar isso.
— Por quê? O que você quer?
— Passagem liberada nas estradas 515 e 215.
— Você está pedindo muito.
— Foda-se. Nós não temos nada a ver com os problemas de vocês e
os Ventados, então é isso ou nada.
Ventados é a forma debochada que muitos chamam os residentes de
Chicago, a cidade dos ventos.
— Certo, mas é passagem. Não é domínio — aviso. — Vocês já
possuem grande parte das estradas de Nevada para circular e fazer suas
corridas. Não criamos conflitos, então fique satisfeito por abrirmos passagens
para suas motos.
Ele meneia a cabeça que sim e solta a respiração com força pelo
nariz. Me dá as costas e sobe na motocicleta, uma Harley Davison Heritage
do ano, da cor prata, com chamas vindo de baixo da moto como estivesse
pegando fogo enquanto anda.
— Se sabe nossos nomes, consegue o número do celular. — Liga a
moto, acelerando. — Vou esperar a ligação amanhã por volta das três.
— Com certeza que sim.
River faz um aceno conciso e com um ronco sai disparado para a
avenida, já que o clube de strippers fica numa esquina da Av. E. Harmon.
Uma das principais de Paradise.
— Babaca — escuto o resmungo e viro-me.
— Não é muito diferente de alguns de nós — viro-me para Luca —,
não é?!
Nitidamente puto, o Cinistro da Lawless, dá um peteleco no cigarro
que estava fumando e caminha até seu carro. Eu faço o mesmo e sento-me ao
lado de Filippe, que veio para manter minha retaguarda.
— Para onde?
Lhe dou um olhar atravessado.
— Casa — respondo sem vontade.
Ele é muito eficiente, menos quando precisa usar a merda da
memória.
— Amanhã eu vou ligar para o filho da puta — repito para Travis.
Assim que o carro pegou o caminho da minha rua, liguei para o Capo
avisando que o plano de Luca deu certo e que amanhã terei a resposta se o
líder dos Sons of Hell irá falar com ele.
— Está bem e é claro que o puto vai aceitar.
— Também acho, afinal ele está nos devendo por antecipação.
Dar ou fazer algo para alguém é uma ótima garantia para cobrar
quando precisar. É uma moeda justa ter uma dívida em aberto. Mesmo que o
acordo tenha sido eu lhe dando algo primeiro para ele fazer o mesmo por
mim, é isso. Estou dando, mas quero de volta o que preciso e quando preciso.
Eles sabem que cobramos devidamente.
— Ligue assim que tiver a resposta — Travis ordena e desliga.
Arfo com força e enfio o celular no bolso. Lidar com alguém tão
parecido conosco causa irritação. Travis e eu nos bicamos porque fazemos o
mesmo com os outros e odiamos quando recebemos o mesmo. Hipocrisia da
porra.
Saio do carro e bato a porta.
— Pode ir, Filippe.
Ele assente antes de dar partida e sair.
Eu sigo em frente e entro em casa. Logo que passo do lobby, continuo
indo até a cozinha. Bebo um copo de água e depois vou para o andar de cima.
Encontro Nina e Sophia dormindo na nossa cama quando entro no quarto
principal depois de ver que o quarto da minha filha estava vazio.
Deixando o celular e a carteira em cima do aparador em frente ao
banheiro, entro nele e fecho a porta. Me dispo, deixando as armas e o coldre
sobre a pia, e tomo um banho rápido. Não posso abraçar ou me aproximar da
minha esposa e filha com tanta impureza. As que os olhos humanos
conseguem ver e as sombras profundas do meu trabalho.
Hoje não teve banho de sangue, mas fui responsável por algumas
mortes. Eu tento ser burocrático, mas os devedores teimosos não entendem
que dinheiro emprestado não é dado. A Lawless não é mãe de vagabundo que
não consegue controlar os vícios para sustentá-los. Travis sempre avisa a
todos que pegam dinheiro com ele, sempre haverá consequências para quem
não devolve a Famiglia.
Limpo, saio do banheiro com uma toalha enrolada na cintura.
— Uau! — escuto a provocação sonolenta e baixa de Nina ainda
deitada com Sophia nos braços.
Sorrio e vou até ela.
— Está acordada?
— O barulho do banho me despertou.
Assinto e toco seu rosto, tirando o cabelo da frente.
— Espere aqui, já venho.
Minha esposa aceita e fecha os olhos aconchegando-se a filha.
Eu entro no closet e visto uma calça de flanela de dormir e uma
camisa. Pegando minha pistola, levo comigo para a cama deixando dentro da
gaveta da cabeceira. Subindo a coberta, me acomodo ao corpo quente e
cheiroso de Nina. Ela geme baixinho e se esfrega em mim.
— Nós ficamos muito tempo esperando você hoje lá na sala —
murmura no breu.
— Qual delas? — pergunto esticando a mão e afagando as costas de
Sophia. Ela está abraçada a Nina como se pudesse mamar no peito da mãe.
Será que ela sentiu falta disso? Aposto que não, porque mal teve essa
experiência, mesmo assim fico imaginando Sophia mamando em Nina e
sinto-me em cólera por ser impossível, errado e confuso desejar isso.
— Na sala de estar porque fica perto da porta. — A resposta de Nina
faz eu focar nela de novo.
— Eu preferia que vocês estivessem na sala de tevê.
— Por quê?
— Porque fica a porta de acesso ao quarto do pânico.
Nina vira o rosto para cima, na tentativa de conseguir me enxergar.
Curvando meu braço, elevo um pouco meu corpo e faço contato visual.
— Eu não fico pensando nisso, Paolo.
— É importante pensar — aviso.
— Sério?
— Muito sério.
— Hum — resmunga e volta a deitar a cabeça de lado. — Não sei.
Não gosto de ficar pensando essas coisas. — Sua voz fica embolada, e
percebo que está conversando comigo de olhos fechados tamanho é o seu
sono.
Deito-me como antes, abraço minha esposa por trás e deixo minha
mão encostada nas costas da minha filha.
— É sempre bom prevenir situações na Famiglia, então se uma casa
tem porta dos fundos, quarto do pânico e alguma arma em algum lugar, é
sempre bom estar perto para usar e ter um plano de fuga ou de ataque se
precisar. — Beijo sua pele macia no pescoço. — Não estou colocando terror
em você e sim preparando-a se algo acontecer.
— Eu tenho Gregori pra pensar essas coisas quando você não está.
— Nina.
— Tudo bem, Paolo — ela se redime. — Eu prometo a partir de
amanhã pensar no plano de fuga, é claro. Não sei se eu conseguiria atacar
alguém.
Fecho os olhos soltando o ar com força pelo nariz, exasperado e
cansado.
— Não precisa se preocupar. Vou proteger vocês.
— Eu sei e por isso não fico pensando no pior.
Sorrio, sentindo-me sonolento e fico em silêncio até o sono me
alcançar. Mesmo que eu durma apenas quatro horas, é o suficiente e ficar
agarrado a elas, é tudo que eu preciso para abafar o tumulto do dia a dia.
7

P egando minha xícara de café, tomo um gole enquanto observo Marta


colocar a salada de frutas na mesa e os frios. Meu olhar segue o
movimento na porta e Nina surge com Sophia nos braços e a
mamadeira quente. Em silêncio, minha esposa coloca a mamadeira na mesa e
depois a filha na cadeirinha de alimentação para, em seguida, sentar-se do
lado.
Espero Marta sair e continuo observando Nina extremamente calada e
dependente. Não é como se ela fosse inútil nas manhãs, ou qualquer horário –
pelo contrário –, nas tarefas da casa, mas geralmente quem esquenta a
mamadeira é Marta e quem traz o pão com grãos, mas Nina acaba de se
levantar para buscar.
Ergo meus olhos para a minha esposa quando volta da cozinha com
seu pão e se acomoda na cadeira e começa a preparar o seu café.
— Tem alguma coisa que você queira me contar?
Nina tira os olhos do queijo branco e franze a testa.
— Não. Como assim?
— Você está estranha essa manhã.
Ela parece me ignorar e resolve largar o pão, dando atenção para a
Sophia, que não quer mamar.
— Filha, não faz assim.
— Nina.
— Você precisa comer. Você quer frutinha?
— Nina — chamo-a de novo, porque ela está fingindo estar distraída
com Sophia.
— Ou quer queijinho?
— Nina!
Ela se assusta e olha para mim. Eu não suporto usar essa voz com ela,
mas também não gosto de ser ignorado.
— O que aconteceu ontem com você e Marta?
— Por que você acha que algo aconteceu entre mim e... a Marta?
— Porque até para falar o nome dela agora você hesitou e você não é
assim. Está distante dela, não trocaram sequer um “bom-dia” de praxe e nem
deixou que ela fizesse nada para te ajudar agora.
— Nem sempre é ela que faz o mama da Soph.
— Noventa por cento das vezes — rebato.
— Mas eu sou a mãe dela e não é mais do que minha obrigação.
— Não está me convencendo.
Ela suspira, os ombros caindo sem ânimo.
— Resolvi que vou ignorá-la para não piorar a situação.
— Como assim?
Nina fica pensativa olhando para mim e Sophia dá um grito. Então
desvia o olhar e responde sem encarar meus olhos, me impedindo de ver a
verdade, mas consigo ler sua expressão facial.
— Ela parece que não gosta de mim e tudo bem.
— Tudo bem?! — contesto e largo a merda do pano de prato que
estava sobre minhas pernas na mesa perdendo totalmente a porra da fome. —
Explique isso melhor se você não quer que eu a chame aqui agora e a demita
ou faça pior.
Nina engole em seco e seus olhos ficam temerosos. Agora ela me dá
toda a sua atenção e acalma Sophia segurando sua mão.
— Por favor, não é pra tanto, Paolo.
— Ainda não ouvi. — Ponho minhas mãos nos braços da cadeira
como se fosse levantar.
— Não, espere, por favor. — Ela segura minha mão.
— Então fala logo, porra.
Ela troca um olhar entre mim e Sophia.
— Ela ainda não entende — falo o que se passou na sua cabeça — e,
mesmo assim, Sophia precisa saber que o pai dela não tolera “meias-
verdades” e funcionários destratando minha família. Fala logo o que
aconteceu.
Nina respira fundo e conta com detalhes o que aconteceu ontem e eu
dou um soco na mesa assustando Sophia, que me encara com os olhos
arregalados. Estico minha mão e pego a sua para ela não chorar.
— Eu vou ter uma palavra com Marta.
— NÃO QUERO! — Nina fala rápido e alto. — Não quero que você
fale nada, assim como eu não vou mais falar com ela.
— Não pode ser resolvido assim.
— Mas será.
— Você precisa que alguém te ajude.
— Eu sei cuidar da Sophia e, desde que cheguei, Marta não foi mais
útil para além de cozinhar e fazer a manutenção da casa. Por favor, não faça
nada.
— Mas ela é sua funcionária. Você é a patroa dela.
— E talvez, a partir de hoje, uma patroa fria e cruel — ela fala com
incerteza o final da frase. Crueldade não é algo que esteja no DNA de Nina.
— Por que está falando isso?
— Acho que você não entendeu, Paolo. — Seu rosto fica frio, os
olhos impenetráveis. — Não é porque eu não vou falar mais com ela, que vou
ignorar o que aconteceu. Não significa que não vou dar ordens e mandá-la
fazer algo para mim. Mas no que diz respeito a amizade, consideração ou ela
chegar perto da minha filha, não mais — afirma sem lacunas para debates. —
Marta não ficará mais perto nem de Sophia e dos nossos outros filhos que
nascerão. — Seus olhos brilham. — Eu não quero que ela chegue perto deles
e nem de mim. É isso que ela vai merecer de mim.
Assinto em silêncio.
— Não falar ou fazer algo a ela não vai significar que terá o mesmo
tratamento. Eu irei dar a ela o que recebo. Serei totalmente recíproca. —
Ergue o queixo, decidida. — Ela é fria comigo, não faz questão de ter uma
boa amizade e bom convívio comigo, e bem, é isso que ela terá de mim. Eu
não preciso dela para além dos afazeres de limpar a casa, organizar e
cozinhar. Se eu precisar de algum tipo de ajuda, Gregori sempre está aqui; e,
se ele não estiver, a gente contrata uma babá. Eu posso muito bem tomar
banho quando você chegar.
— Não vai ser preciso — garanto-a. — A gente vai dar um jeito e
podemos sim contratar alguém para te ajudar.
Nina respira fundo, parece pensativa e fita-me assentindo.
— Eu quero que você me respeite e não faça nada, tudo bem?
— Querida, eu não estaria mais orgulhoso da sua decisão. — Aperto
sua mão, dando meu sinal de apoio. — Eu concordo totalmente com você. A
reciprocidade é uma boa forma de mantermos as coisas civilizadas e a culpa é
dela se, a partir de agora, a tratarmos como uma mera empregada. —
Concordei com Nina, mas a raiva está no meu âmago. — Não a
destrataremos, mas também não seremos nada além de bons patrões.
Nina abre um sorriso de leve e solta a respiração. Franzo a testa e
indago:
— Você estava com medo de eu não aceitar?
— Ela está aqui há muitos anos. — Dá de ombros.
— E você é minha esposa e está acima de tudo — esclareço forçando
minha voz a manter a tranquilidade. — Eu jamais escolheria Marta ou
qualquer funcionário, qualquer pessoa, acima da minha família, entendeu?
Ela balança a cabeça que sim e sorri.
— Eu entendo, mas pensei que você fosse insistir em conversarmos
ou... não sei. — Faz uma pausa e o olhar fica distante. — Não sei o que
estava pensando, Paolo, para ser sincera. Apenas sei que não gosto dessa
situação porque a pessoa que mais foi legal comigo, a minha vida toda, na
minha casa foi a governanta — olha para mim — e não imaginei que não
seria bem tratada na minha casa quando me casasse justamente por... Por essa
pessoa que, para mim, representava algo bom.
Solto um ruído e estico minha mão até seu rosto e afago sua
bochecha.
— Nem todos os lugares são iguais. Nem todas as pessoas têm o
mesmo sentimento e nós sempre nos surpreendemos com as pessoas que
menos esperamos.
— É verdade e eu estou bem — garante e abre um sorriso tranquilo
deitando o rosto na minha mão, para depois pegar ela e beijar.
— Isso que importa.
Ela concorda.
Afasto minha mão e volto a beber meu café e ela a comer. Sophia se
convence a aceitar as frutas e ficamos tranquilos tomando nosso café da
manhã.
— Quando o Gregori vai voltar?
Engulo o pedaço da torrada, que ela insistiu que eu comesse, e
respondo:
— Ele volta amanhã cedo. Ia ser hoje, mas ele teve alguns
imprevistos em casa e por isso não veio. Talvez nem seja amanhã.
— Ah, eu sinto falta dele.
Fito seu rosto e ela continua:
— Gregori sempre me tratou muito bem desde o início e, como ele
mesmo disse, cuidou mais da Sophia do que a Marta o tempo que eu não
estava aqui e você precisava de ajuda. — Sacode os ombros. — Então, ela
realmente não é necessária para estar comigo e minha filha. Eu sei me virar
muito bem.
Abro um sorriso satisfeito.
É tão engraçado, estranho, ouvi-la dizer: “o tempo que eu não estava
aqui e você precisava de ajuda”. Parece que Sophia sempre foi filha dela e,
por algum motivo precisou ficar longe, como mães que tem complicações no
parto. É estranho e, mesmo assim, a frase soa com um sentimento de apego,
de solidez.
Isso é loucura da minha cabeça, talvez. Porra. Nina é perfeita demais.
— Eu preciso ir agora. Está tudo bem?
— Claro que sim, amor — responde com a voz doce.
Aceno com a cabeça. Termino o meu café e me levanto. Enquanto
abotoo o meu paletó e ajeito a fivela do coldre no peito, Nina se levanta
pegando Sophia no colo. Eu seguro o seu rosto e dou um beijo na sua boca de
leve e um beijinho na testa de Sophia.
— Vamos levar o papai na porta — minha esposa anuncia.
Nós três vamos até a porta e nela de novo me despeço dando beijos
nelas duas. O carro passa pelos portões apenas quando eu vejo a porta de casa
fechar.
Pegando a avenida que dá para o Balcão. Hoje preciso de tarefas
violentas e talvez tenha um ou mais soldados querendo tomar uma lição. Eu
preciso trabalhar a vontade que estou de dar uma lição de moral em Marta.
Nunca pensei em demiti-la, nunca teve motivo, mas com certeza se eu
vê-la maltratando minha esposa, não vou pensar duas vezes. Eu dei minha
palavra a Nina de que não faria nada, só que não disse quando. Eu não vou
fazer nada hoje ou essa semana, mas não garanto que essa promessa seja para
sempre.
Quando Filippe contorna a esquina e pega o atalho para a estrada,
retiro meu celular do bolso e faço a ligação para River Stan. Ele estava certo
sobre eu saber tudo sobre eles. Os nomes e identidades, portanto tenho o
conhecimento dos números de celulares de todos os membros da Sons of
Hell.
Depois de uns dez toques, ele atende:
— Mas que porra você está fazendo me ligando as oito horas da
manhã?
— É o horário que se acorda para trabalhar.
— Só vocês mesmos para acordar cedo para chantagear e matar as
pessoas.
— Já tem a minha resposta?
— Eu falei que daria ela umas três horas da tarde — fala
pausadamente.
— Para mim, às três da tarde eu estaria conversando com o seu Prez.
— Mas ele ainda está dormindo — rebate e consigo ouvi-lo se
levantar da cama e algo cair. — Ontem não consegui falar com ele. Estava
muito ocupado fodendo umas mulheres no clube.
— Informação desnecessária, River.
Ele solta uma gargalhada.
— Agora me fala logo o que você tem — mando, sem paciência.
— Ele vai falar com você e vai ser presencial. Essa porra de telefone
é coisa de marica.
— Concordo. Eu gosto de um acordo com aperto de mãos.
— Beleza, nos encontramos no mesmo lugar de ontem e vê se não
leva o Luca.
— Por algum motivo específico?
— Talvez o fato de eu querer meter uma bala na cabeça dele e isso
causar um conflito muito grande.
Não digo nada.
— Nós sabemos que ele é tipo um pitbull raivoso sem coleira porque
vocês não conseguem domar aquele imbecil.
Concordo de novo, mas não digo.
— E eu não quero causar um problema na porta do meu clube de
strippers. Então é bom para você não levar o seu cão raivoso.
— Está certo. Não iremos levá-lo porque também gostamos de
manter a tranquilidade. Não é, River?!
— Até mais tarde, Paolo.
— Às três?
— As três horas, a gente está almoçando. Pode ser na hora da janta,
às onze.
Sem a necessidade de me despedir, encerro a ligação e mando logo
uma mensagem para Travis dizendo que está tudo certo para nós nos
encontrarmos com o Prez da Sons of Hell. E óbvio que ele me liga de volta,
porque parece que nem dorme, é um morcego.
— Então o imbecil vai falar comigo.
— Seria bom você não chegar já dando uma marretada neles.
Escuto a respiração exasperada de Travis.
— Não se esqueça de que você criou grandes problemas com a outra
Tripe de motoqueiros quando estava com ciúme de Madeleine e por isso a
gente até hoje tem conflitos com eles.
— Como se eu ligasse para eles.
— Vá com calma, Travis. Queremos resolver um problema, não criar
outro.
Ser pai mexeu demais com a cabeça de Travis. Fora que muitos falam
por trás que ele ficou mole depois que se casou. Na verdade, ele está mais
volátil e disposto a matar para defender seu Clã, mais do que nunca.
— Eu não falei nada, mas você precisa concordar que eles são uns
babacas. Olha a hora que eles marcaram? Tudo vagabundo que gosta de
acordar depois de meio-dia. Como conseguem organizar aquela porra de
moto clube?
— Será que eu vou ter que marcar um outro horário e outro local e
fazer você chegar lá e dar de cara na porta?
— Estou comentando, Paolo. Não fode. Eu sempre recriminei eles,
não é agora que vamos conversar, que seremos amigos.
— Eu sei, mas você nervoso não vai resolver nossos problemas. Não
precisamos do Travis raivoso. Seja hoje o Capo conciso e estratégico, como
você é todos os dias. Não um Capo de batalha. Não entraremos em guerra e
sim conversaremos.
Ele passa um tempo respirando audível.
— Você sabe que estou irritado com o Prez da Outlaws. O babaca
ligou para mim de madrugada, me chantageando.
— Ele quer mais armas?
— Sim e disse que se eu não der, ele vai fazer outro restaurante ir
pelos ares. Eu preciso saber onde esses filhos da puta estão se escondendo.
— Você já parou para pensar que talvez eles estejam aliados ao outro
grupo de MCs? Aqueles que você partiu em pedaços da outra vez? Com
certeza, eles querem aliados contra nós.
— Que eles venham. Vou estar pronto com meu machado bem afiado.
Eu não duvido disso, porque, desde que fez a merda de vender as
armas para os MCs de Chicago, Travis não ficou mais tranquilo, mas a culpa
é dele e eu avisei.
— Estou chegando no Balcão agora. As quatro horas, estou saindo e,
às dez, te encontrarei no Bellagio para irmos juntos para o encontro e o Luca
não vai.
— Eu não sei o que deu na sua cabeça ele ir junto ontem falar com
River.
— Foi a ideia dele.
— E mesmo assim, não era para levar. Eu posso ser um maluco
como você gosta de falar o tempo todo. Um psicopata enraivecido e mesmo
assim, nunca levaria Luca para nenhum tipo de reunião que não fosse para
ter sangue. Ele não é socialmente estável para ficar perto de ninguém, a não
ser que seja para atacar.
— Tudo bem. Até mais tarde.
Como de costume, ele encerra a ligação sem dizer nada.
Enfio o celular no bolso de dentro do paletó e fico em silêncio.
Preciso que esse encontro saia tudo bem e com benefícios. Geralmente os
Sons of Hell são tranquilos. Não entramos em conflitos com eles há anos. A
última vez que tive que falar com eles foi porque Vincenzo Segundo matou,
sem saber, uma puta deles e agora não precisamos de conflitos e sim aliados.
8

H oje tem praticamente duas semanas que não vejo Bárbara e ela
não atende no telefone há três dias. Estou ficando nervosa. As
últimas vezes que a gente se falou, ela estava tão triste, mais do
que o normal. Eu não sei se realmente esse casamento com o Enzo vai
conseguir melhorar, mas não vou falar isso. Não quero criar problemas. Ela
vai ter que aturar ele para sempre pelo visto.
Tocando a campainha, espero que Enzo não esteja em casa. Eu vim
rapidinho sem segurança e sem Sophia, o que me obrigou a precisar falar
com Marta e pedir algo, mas meu desespero por precisar de notícias sobre
minha amiga falou mais alto.
Finalmente o interfone do prédio faz um barulho e a voz de Bárbara
aparece:
— Pois não?
— Sou eu, Bárbara, Nina. Você pode abrir para mim?
— É claro. Pode subir — ela diz entusiasmada. Então é uma coisa
boa. — Se você não quiser receber visitas ou ver alguém, não precisa falar
comigo. Pelo menos é o que eu faço.
— Sobe logo, Nina.
Sorrio sem jeito e espero a porta do prédio destrancar. Logo estou
entrando no elevador e, como ela mora no vigésimo andar, demora muito
para eu estar saindo dele e indo em direção à sua porta, que está aberta. Ela
estava me esperando com um sorriso e o seu traje de dona de casa fofa.
Vestido branco sem mangas e gola alta, a saia chega até o joelho. Está usando
um avental e tem um pano de prato no ombro direito.
— Você parece que estava ocupada.
— Só estou preparando alguns cupcakes.
Eu a olho de cima a baixo e percebo que ela deu uma engordadinha.
— Você tem andado muito pela cozinha e nos doces.
Rio e depois a cumprimento dando dois beijos no seu rosto. Entro na
casa e espero ela vir ficar do meu lado.
— Você percebeu que eu engordei.
— Sim — afirmo assentindo e a sigo para cozinha.
— Estou afogando minhas mágoas nos bolinhos que estou
aprendendo a fazer na internet.
— Eu não estou reclamando de você ter um hobby. É legal, mas
comida e solidão não. Por que que não mandou para a minha casa um pouco,
pelo menos?
Bárbara dá uma gargalhada e vai ficar atrás da bancada da cozinha.
Pega a colher de pau, a bacia e começa a bater a massa do bolo de chocolate
rápido e harmonicamente.
— Já que você falou isso, da próxima vez eu vou mandar muitos
bolinhos para você e Soph.
— Eu vou ficar esperando se não mandar, vou vir aqui buscar.
— Não precisa. Eu vou cumprir com o que eu falei.
— Mas vamos cozinhar agora. — Eu vejo que está tudo bagunçado e
que já tem um bolo feito de dois andares. — Para que isso tudo, Bárbara?
— Então, eu estou aprendendo culinária, receitas de bolos temáticos.
Podia fazer um para Sophia no aniversário dela, no próximo.
— Mas falta tanto — comento, arregalando os olhos para expressar
figurativamente que nós estamos ainda em janeiro, basicamente fevereiro
porque falta quatro dias para acabar o mês.
— Pode ser no seu aniversário. Quando é?
— É trinta de junho.
— Combinado, vou fazer o seu bolo de aniversário e depois o da
Soph.
— Está bom, se você insiste.
Ela avisa, indo até a pia colhendo os sacos e cascas de ovo
espalhadas. Joga no lixo e assisto indo me sentar em uma das banquetas.
— Falando em Soph, por que não a trouxe?
— Porque estava com pressa e não pretendo demorar.
— Está bem — murmura dando de ombros e sorrindo.
— Então me conta como está tudo por aqui.
Bárbara muda as feições e vira as costas para mim.
— Está indo bem.
— Responde olhando para mim.
— Nós estamos bem de verdade.
— Isso é dizer? Que está tudo bem?
— Sim, Nina. Está tudo bem — solta o ar devagar e vira o corpo para
mim. — Não se preocupe. É sério e agora prove um bolinho para ver se você
gosta.
Eu não acredito nela e novamente prometi que não iria fazer nada
além de dar o meu apoio. Ela parece mais disposta, mesmo que seus olhos
ainda transpareçam cansaço e tristeza.
— Pelo cheiro, eu vou amar.
Bárbara abre um sorrisinho sem graça e me oferece um pratinho com
o bolinho. Eu pego e dou uma boa mordida. Engulo com vontade de comer
mais e mais.
— Que delícia. Você é muito — limpo o farelo da minha boca,
porque é muito bom — boa cozinhando, Bárbara. Está perfeito demais esse
bolo. Por isso você está engordando.
Ela solta uma gargalhada bem alta e fico feliz por estarmos
descontraídas. E puxo uma conversa animada.
9

Q ue merda. Não quero admitir, mas acho que a idade está começando
a cobrar, porque o incômodo na minha coluna, que sinto ainda mais
forte assim que entro em um dos quartos que fica no Balcão, está me
matando. Vim tomar um banho e trocar de roupa antes da reunião com o
River e o Tyler.
Não vim com planos para entrar no ringue, mas têm alguns novos
recrutas, e de vez em quando é bom dar uma surra neles para aprenderem a
lutar, mas não esperava que Dario aparecesse.
O garoto virou um monstro na hora de lutar. Não para enquanto não
vê sangue. Ele luta de verdade, não encara como se fosse um treinamento e
precisei me conter porque ele é um Testa, irmão do Capo, é muito
complicado. Me conter e deixá-lo me ferir na mesma proporção, levou mais o
meu esforço do que os socos.
Porra, bater em alguém que não sabe a hora de parar. E esse alguém
ser o Dario. Eu vi o garoto crescer e fui um dos que viu ele naquele dia que o
transformou nesse lutador feroz e cruel. Ele arrancou um pouco de sangue de
mim uma duas vezes e realmente não me importo.
Com Colen em Nova York fico tentando encontrar a maneira certa de
ajudar Dario a se livrar do que parece estar entranhado dentro dele desde os
russos e voltar a ser o que era. Travis se cobrava demais antes por conta que o
irmão nunca foi um dos melhores soldados. Na verdade, Dario lutou muito
contra os treinamentos e só após o que aconteceu mudou, porém para pior.
Entrando no banheiro, tiro minha roupa e tomo meu banho. Quando
termino visto uma calça de linho e a camisa pretas, coloco o coldre e o paletó
cinza. Devidamente calçado, pego meus pertences e saio do quarto deixando
as roupas sujas para trás. As prostitutas que trabalham aqui vão limpar. Elas
são responsáveis pela limpeza do local e a comida. São mulheres da
Famiglia, que fizeram alguma merda, ou os pais, e Travis as punem virando
putas. Se comportando bem vão trabalhar como empregadas dos nossos
Balcões, cassinos clandestinos ou até mesmo nos prostíbulos.
Desço as escadas, pego meu cigarro e acendo. Passando pelo
corredor, chego no lobby e vejo Luca parado no canto pensativo. Deve estar
maquinando uma maneira de atingir River. Luca não ficou nem um pouco
satisfeito por ser proibido de ir mais tarde.
Sentando-me no sofá, pego meu celular e ligo para casa. Hoje
chegarei em casa bem tarde.
— Casa dos Dal Moli.
— Marta, pode passar o telefone para Nina — peço sem muita
interação com ela. Não estou mais disposto a conversar com Marta.
— Senhor Paolo. Eu reconheci a sua voz.
— Certo, agora me responda.
— A senhora Nina colocou a menina para dormir já tem uma longa
hora e...
— Como assim?
— Sophia está dormindo tem muito tempo. Eu acabei de ver.
— E onde está minha esposa?
— Nina saiu, senhor.
— Ela saiu? — Franzo a testa. — Saiu sem Sophia?
— Sim, senhor.
— Repete. Ela saiu sozinha?
— Eu pensei que o senhor soubesse.
— Não e ela saiu com o segurança?
— Não. Saiu sozinha e disse que não iria demorar, mas não me falou
aonde iria e ainda não voltou.
Preciso respirar fundo antes de levantar e caminhar para fora, indo
para o meu carro.
— Tudo bem. Cuide de Sophia e qualquer coisa me informe. —
Desligo o telefone com urgência. Nervoso entro no carro. — Filippe!
Ele corre e entra no veículo batendo a porta do carona.
— Não quer que eu dirija?
Dou um olhar para ele e ligo o motor, já passando a marcha.
— Ligue para a minha esposa.
Filippe baixa a cabeça e faz o que mando. Espero estar na estrada
para perguntar:
— E?
— Não atende.
— Continue e espere. — Pego meu celular também e faço a chamada
para Gregori, e em dois toques ele atende e eu o atropelo. — Você sabe onde
está Nina?
— Como assim?
— Ela saiu sozinha.
— E Sophia?
— Deixou em casa. Você sabe onde ela está?
— Por que saberia?
— Porque vocês são tipo amigos.
Escuto sua respiração alta.
— Ela confia em mim e por isso nos damos bem, mas não somos
confidentes, nem nada.
— Mas você costuma sair com ela e deveria saber aonde vai.
— Sim, mas você sabe que estou nas minhas férias ainda.
— Acho melhor acabar agora porque você sabe onde ela costuma ir e
vai atrás.
Gregori não irá recusar. Não é um pedido de toda forma e ele gosta de
estar vivo.
— Certo — murmura vencido e fala. — Nina acostuma ir ao
mercado perto de casa, no Bellagio, no shopping e na casa do Capo. Mas por
que você está me ligando para perguntar isso?
— Ela saiu sozinha, porra. Você é surdo?
— Nina tem celular, sabia. Já ligou para ele?
Ignoro o sarcasmo. Olho para Filippe e ele balança a cabeça que não.
Merda, Nina.
— Ela não atende e pensei que você poderia me falar onde ela está.
— Claro que não, porra. Eu não sou vidente.
— Que seja. Agora vai procurá-la.
— Vou fazer de tudo, mas tenho a sensação de que você está fazendo
uma tempestade em copo d'água.
Encerro a ligação e acelero.
— Continue tentando — ordeno para Filippe —, mas antes ligue para
Luca e Otto.

Uma hora e meia depois e nada de sabermos onde Nina está. Saindo
do carro, encontro Gregori na porta da minha casa.
— Ela chegou? — pergunto.
— Não.
— Ligou para a casa do Capo para ver se ela foi visitar Madeleine?
— Liguei e Madeleine disse que não e não falou com ela desde
ontem.
— Falou mais alguma coisa?
— Nada que leve os Lozartan a ficarem desconfiados de algo.
Assinto, porque não preciso de um problema de traição a Famiglia, e
entro em casa.
— Papa!
Pego Sophia dos braços de Marta e entro no escritório. Minha filha
chora no meu colo e não sei se é falta da minha esposa. Esgotado pelo
estresse sento-me na poltrona do canto para ninar minha filha, que me encara
fixamente.
Espero Gregori entrar e fechar a porta.
— Quem você mandou ir atrás dela? — ele indaga.
— Você, Luca, Filippe e Otto.
— Foda! Eu não tive sorte. Você falou com Travis?
— Não é problema do Capo minha esposa sumir e ele estava no
Bellagio o tempo todo. Eu não quero levar mais esse problema para ele. Hoje
tem um encontro com o presidente da Sons of Hell para obtermos
informações sobre a Outlaws.
— Pelo visto, o caldo entornou de Chicago para cá.
— Eu avisei.
Gregori assente e encara Sophia por longos minutos antes de falar:
— Nina não deve ter ido longe.
— Não é normal uma mulher sumir assim.
— Você está preocupado ou com raiva?
— Puto — solto sem pensar e olho minha filha. — Não sei.
Levo meus pensamentos ao longe. Respiro pelo nariz contando até
dez e mantenho a boca fechada para não falar o que posso me arrepender
depois, mesmo que Nina não possa ouvir.
— Qual é a real preocupação sua?
— Apenas de ela ter saído, não ter falado para onde e sozinha.
— Ela já vai aparecer, te garanto.
Novamente assinto em silêncio, mas Marta bate à porta.
— Entre.
Pela fresta da porta, ela coloca a cabeça e diz:
— Tem um táxi pedindo para entrar.
Me levanto rápido e corro pela casa. Na porta, protejo Sophia em
meus braços e espero Gregori ir ver quem é e acompanhar a entrada. Não
demora para o táxi parar em frente às portas de casa e meu coração se acalma
quando vejo Nina saindo do carro com uma bolsa enorme e segurando uma
caixa de papelão.
— Mama! — Sophia grita esticando as mãos, porém ignoro e falo:
— Aonde você foi?
Nina arregala os olhos para mim nitidamente assustada e olha para
trás de mim rápido, antes de voltar a me encarar.
— Eu estava na Bárbara.
— E você sai agora sem avisar? Sem contar para onde vai e deixa a
minha filha sozinha?
Nina fica de boca aberta e assisto-a passar por mim entrando na casa.
Ela vai direto para a cozinha e não passa despercebido que ignorou com
rebeldia Marta e lhe deu um olhar aborrecido.
— Você ficou desde de manhã na Bárbara?
Ela não responde. Coloca na bancada da cozinha a sacola e a caixa,
depois abre e descubro uma torta.
— Por que não avisou que você ia para lá? Por que não atendeu ao
celular?
Espero ela responder, mas nada acontece. Decidido, entrego Sophia
para Gregori e mando-o para longe.
— Não se arrependa depois — ele avisa.
— Suma da minha frente — alerto-o.
Ele sai da cozinha e eu vou até minha esposa, que dá um passo para
trás antes de eu a pegar pelo braço e guiar até o meu escritório, mas não com
força. Fecho a porta com uma pancada forte e a solto no meio do escritório.
— O que você está fazendo? — Nina cambaleia para trás.
— Eu que pergunto o que você está fazendo?
— Eu fui visitar uma amiga, Paolo.
— Você poderia ter falado aonde ia ou dado algum sinal.
— Eu avisei que ia para lá.
— Avisou para quem?
— Para a Marta.
— Ela disse que você não falou para onde ia, simplesmente saiu e
demorou pra caralho, Nina. Porra! Você foi sem segurança.
Ela respira fundo, vira-se de costas para mim e anda de um lado para
o outro.
— Nina?
— Eu estou cansada.
Franzo a testa e vou para perto dela tocando seus ombros.
— Como assim?
Virando de frente para mim, Nina toca meu peito e olha dentro dos
meus olhos.
— Número um, é mentira da Marta. Eu avisei sim que ia para a casa
de Bárbara e que não demoraria, porque é óbvio que não deixaria Sophia
tanto tempo sozinha com essa velha desprezível. Número dois, ela é nossa
filha, não sua filha. Você não pode falar que ela é só sua quando está zangado
ou o que for. Ou ela é minha sempre ou nunca.
— Eu não...
— Não terminei, Paolo — atropela minha fala e se afasta de mim. —
Eu estou cansada e irritada com essa mulher implicando comigo o dia inteiro.
Estou cansada dela falar mentiras de mim para você e, o pior, você acreditar
nela. Até ela implicar comigo e ficar entre nós, era uma coisa. Agora ela está
provocando uma briga entre nós e, pior, me fazendo passar por mentirosa e
uma péssima mãe para a Sophia.
— Não consegui contato com você e tudo indicava que realmente
sumiu e deixou Sophia sozinha.
— Apenas visitei a Bárbara — diz com a testa franzida, zangada. —
Que absurdo tão grande foi esse que eu fiz, Paolo?
— Fazer uma visita é rápido. Você demorou e foi sem segurança.
Fiquei te procurando umas duas horas.
— Duas horas?
— Sim, duas horas, Nina.
— Mas eu não fiquei na casa da Bárbara nem isso.
— Essa torta você comprou onde?
— Bárbara que fez para mim e devo ter demorado uns trinta minutos
esperando terminar de assar e ela finalizar a torta. É sério que você está
querendo monitorar meus passos?
— Não é essa a questão. Você sabe que horas são?
— São quase seis horas, por quê? Agora tenho hora para ficar fora de
casa?
— Não é isso, porra.
— Está parecendo que sim.
Agarro seus braços e quase nossos peitos.
— Para mim, você tinha sumido.
— Não! — Ela me empurra. — Pra mim parece que a Marta está
fazendo você ficar contra sua a esposa. Eu te preveni sobre ela e mesmo
assim você preferiu ouvi-la hoje e colocou seus homens atrás de mim. Ficou
como um louco me procurando, como se eu fosse capaz de abandonar minha
filha. Na verdade, parece que você interpretou que eu seria capaz de fugir de
vocês.
Eu pensei tantas coisas e uma delas foi, sim, que ela tinha fugido com
algum homem mais novo. Não sei o porquê de pensar assim, mas depois de
horas procurando-a, comecei a criar opções para o seu sumiço.
— Eu fui ver uma amiga, será que você não vai permitir que eu veja
meus amigos?
— Nunca falei isso. Não é essa a questão.
— Então para de falar desse jeito comigo. Eu não mereço sua
desconfiança e nunca fiz nada para merecer essa sua raiva.
— Não estou com raiva de você, só para constar, mas fiquei
preocupado.
— Pode ficar preocupado, menos do jeito que você ficou. Me
pegando pelo braço e arrastando para o seu escritório e não me deixando falar
com a Sophia. Gritando comigo e me tratando mal. Eu não mereço isso de
você, Paolo.
Inspiro com força e lhe dou as costas. Passando as mãos nos cabelos
vou me sentar no sofá. O peso que estou sentindo sobre meus ombros me faz
apoiar meus cotovelos nos joelhos e fechar os olhos.
Sinto quando Nina se aproxima de mim e ergo minha cabeça para
olhá-la e, sem conseguir manter minhas mãos longe dela, toco-a na altura das
coxas. Estar alta, deixa-a poderosa e eu vulnerável, como me sinto neste
momento confuso. Talvez eu saiba o que sinto, mas ainda não sei identificar
realmente o sentimento.
— Eu sei que fiz errado — começo a falar com a voz calma. — Tem
muita coisa errada nesse dia todo, mas não eu ter ficado muito preocupado.
Como não vou ficar se tem motoqueiros atacando Las Vegas agora? A Bratva
nunca será nossa aliada ou decente conosco. Eles sempre estão procurando
algo para nos atingir. Você é a esposa do Consigliere. Eu sou um homem
importante para a Lawless, sou um alvo.
Nina assente e se mantém calada enquanto me ouve.
— Não tinha como eu não ficar preocupado e... eu não pensei direito
por conta do medo de você também ter sido capturada. Sei que eu errei na
forma que tratei você, mas você errou também.
Ela suspira alto e se abaixa na minha frente, sentando-se na mesa de
centro. Assim ficamos na mesma altura e nos encaramos.
— Você está querendo dizer que eu errei? Bem, meu único erro foi
não ter avisado a você que iria para a casa de uma amiga, mas não tem erro
sobre avisar que ia sair. Marta sabia e eu pensei que ela fosse uma mulher de
confiança, portanto, deixei o recado com ela porque quantas vezes você
deixou Sophia sob seus cuidados?
É uma pergunta retórica e não respondo. Nina se levanta e eu também
ficando perto dela.
— Sei que foram inúmeras vezes — ela continua. — Você nunca teve
dúvidas da lealdade dela. Não precisa responder de novo. Está tudo bem. O
ponto é: você confiava nela assim como eu também confiava. Não me culpe
agora.
— Eu sei e não estou te culpando.
— Acho bom. E sobre me ligar, eu fiquei sem bateria, mas não
importa porque não demorei na casa da Bárbara. Acho que logo que saí, você
ligou e Marta inventou que eu estava fora há muito tempo, sendo que talvez
nem tivesse passado vinte minutos. Mas quer saber — se afasta de mim —,
cansei dessa mulher. Não aguento mais.
— Você que pediu para eu não falar nada.
— Mudei de ideia. — Mexe os braços exasperada.
— O que você quer dizer com isso?
— Que eu quero ela fora dessa casa, Paolo. Ou eu ou ela.
Ergo a sobrancelhas impactado com sua sentença.
— É óbvio que é você. — Fico na sua frente e pego seu rosto em
minhas mãos. — Não pense por um minuto sequer que eu escolheria qualquer
pessoa e não você.
Nina engole em seco e seus lábios tremem num sorriso.
— Você e Sophia são as pessoas da minha vida — afirmo. — Você é
minha esposa e espero que não tenha se esquecido de que lhe disse que te
amo.
Sorrindo, ela assente e coloca as mãos sobre as minhas em seu rosto.
— Não esqueci não.
— Ótimo. — Beijo sua boca. — É isso que importa.
Ela ri baixinho.
— Você vai mandar a Marta embora?
— Vou. Ela está querendo arrumar confusão no nosso casamento e na
nossa casa. Não posso tolerar. Por mim já tinha falado com ela, mas você não
quis.
Seus ombros caem quando fala:
— Eu sou uma pessoa muito pacífica, Paolo. E realmente pensei que
ignorá-la fosse a melhor saída, mas eu errei.
— Está tudo bem, querida. Não fique pensando sobre isso.
— Eu não vou ficar pensando — diz com firmeza. — Marta indo
embora vai ser um grande alívio para mim porque, desde que eu pisei na sua
casa, ela nunca me aceitou.
— Você tinha que ter falado para mim, Nina.
— Eu não queria ser esse tipo de mulher.
— Você pensou que ia conquistar ela — comento e tiro uma mecha
da frente do seu rosto e bota na sua orelha. — Mas nem tudo a gente pode,
pelo menos você.
Ela dá uma risada.
— Você é muito convencido às vezes.
— Não é isso, mas agora está tudo bem e da próxima vez não saia
sozinha. É muito perigoso. Por favor, me prometa que não vai sair sozinha.
Batendo os cílios, ela assente.
— Está bem. Eu não vou sair sozinha.
— Espero que não.
— Já disse que não vou e agora posso ver a Sophia?
Franzo a testa sem entender seu pedido e os olhos brilhando de
emoção.
— Claro que pode.
Nina baixa a cabeça desviando o olhar.
— O jeito que você fez... entregando-a para Gregori, foi como se
tivesse me proibido de falar com ela — me encara com seus olhos totalmente
marejados —, e falando que ela era sua filha...
— Foi força de expressão — falo por cima dela. — Não foi isso que
eu quis dizer, Nina.
— Mas doeu! — confessa parecendo totalmente vulnerável. — Doeu
como falou comigo. Doeu a sua desconfiança... — Faz uma pausa e tenta se
afastar de mim. — Por que que você quer que eu acredite que você me ama e
não faz o contrário?
Porra. A sua pergunta me coloca num nível abaixo e sinto-me
enfurecido. Eu que provoquei isso por não ver todo o cenário.
— Pelo menos, eu nunca amei ninguém antes de você. Eu nunca tive
ninguém sem ser você.
Sua fala me põe em análise. Ela tem razão, mas não sobre tudo.
— Você está correta, Nina, mas não totalmente.
— Como assim? O que quer dizer?
Respiro fundo e olho-a no fundo dos seus olhos azuis.
— Eu fiquei pensando isso enquanto estava desesperado sem notícias
suas e com medo de você ter sido pega, morta ou até mesmo fugido. — Travo
minha voz e Nina se afasta, mas segura minhas mãos apertando.
— Vai, fala para mim o que você pensou.
— Acho que eu não amava a Mia.
— O quê? — indaga com os olhos arregalados.
— Eu acho que nunca senti por ninguém o que sinto por você.
Nina prende a respiração ficando de boca aberta, com os olhos fixos
em mim.
— Acho que antes de você... no meu primeiro casamento, talvez eu
respeitasse, adorasse e tivesse me acostumado a companhia da minha esposa
e talvez até amado, mas... não como sou louco por você. Como fico pensando
em você e nossa vida. Nesse pouco tempo, você conquistou meu coração.
Uma lágrima escorre no canto da sua face e ela suspira.
— Eu só vejo você. Só penso em você e enxergo você totalmente.
Ela assente freneticamente e sua respiração fica trêmula. Consigo ver
a palpitação acelerada no seu pescoço.
— Eu amo de todo o meu ser sombrio e pecador você, Nina. — Toco
seu rosto e limpo as lágrimas com meu polegar. — Homens como eu, não
devemos amar, porque não é somente amor. É obsessão. Não deveríamos nos
apaixonar porque ficamos enfurecidos e maníacos por controle. Não é
somente amor.
Ela murmura um sim e faço-a me abraçar com suas pernas, a minha
cintura, e os braços meus ombros, e vou me sentar com ela na poltrona de um
lugar.
— Eu o amo dessa forma também e fico triste de você ter pensado o
pior hoje de mim.
— Você é boa demais para mim.
Nina nega com a cabeça e suspira com um sorrisinho.
— Isso não é verdade. Você também é muito bom, maravilhoso e não
deveria ficar pensando que não merece a felicidade. — Me beija na boca de
leve. — Eu nunca vou embora.
— Espero que sim.
Rindo alto ganho um abraço bem forte. Fecho os olhos e circulo seu
corpo num abraço apertado.
— Sinto muito por ter sido mau com você.
Ela se afasta, afaga meu rosto.
— Não gostei, mas compreendo. Você ficou preocupado e com as
coisas que a Marta falou, deixou você nervoso. Perdoo e espero que nunca
mais aconteça.
— Não vai.
Ela assente e trocamos um beijo, que controlo para não ganhar
grandes proporções. Afastada, ela indaga:
— O Gregori voltou hoje?
Cerro os olhos e me levanto com ela. Espero-a ajeitar o vestido e ficar
na minha frente para respondê-la:
— Sim, por quê?
— Primeiro, tire essa cara de ciúme. — Me beija sorrindo e passa a
mão na minha barba lentamente. — Eu só tenho olhos para você.
Cerro a mandíbula e me mantenho calado.
— Segundo, eu só tenho confiança nele para cuidar de mim e Sophia.
Não me acostumei com o outro e Filippe é muito...
— Muito?
— Lerdo para cuidar da Sophia quando preciso.
Rio balançando a cabeça e agora eu a beijo. Ela é incrível demais.
— Não se preocupe. Gregori voltou suas atividades hoje.
— Isso foi tão formal.
— Mas precisa ser.
Nina dá de ombros. Colocando a mão na altura da sua lombar, a guio
para fora do escritório. Logo que atravessamos o corredor e chegamos na sala
de estar, ouvimos Sophia:
— Mamãe! — ela grita com um prelúdio de choro e então realmente
começa a chorar.
— Oh, não, meu amor. — Nina corre até ela e a pega dos braços de
Gregori. — Mamãe está aqui. Não chore.
Distante, eu vejo a imagem que representa Nina em nossas vidas.
Tudo. Ela se tornou nossa alegria, confusão, conforto e amor. Sophia deve ter
ficado triste por não receber o abraço da mãe logo que ela chegou. E merda.
Ela é a mãe da minha filha sem sombra de dúvida e, com certeza, eu nunca
mais vou cometer o erro de falar o que falei mais cedo. Fui um babaca.
Olho para Gregori, nitidamente irritado. Ele é bem protetor de
Sophia, sempre foi e agora de Nina. Sem uma única palavra dita e necessária,
ele chega até a mim.
— Onde está Marta? — pergunto.
— Nos aposentos dos empregados.
— Fique com minha esposa e filha. Preciso falar com Marta.
— Você vai demiti-la — ele afirma.
Assinto e lhe dou as costas, mas registro um sentimento oculto e
raivoso em seus olhos. Eu fico satisfeito dele querer defender minha família.
Gregori sempre foi leal a mim e eu nunca pensaria ao contrário sobre sua
postura e talvez ele tenha mais indícios e motivos para querer punir Marta do
que eu. É meu primeiro erro de caráter depois de Lorenzo.
Abrindo a porta dos fundos, saio da casa principal, atravesso o jardim
e chego na varanda aberta da casa dos funcionários. Laurence, um dos
soldados que supervisiona as câmeras e os fundos do terreno, levanta-se em
silêncio. Passo por ele e entro na casa que estava aberta.
— Senhor. — Marta sai do sofá e vem até a mim.
Olho-a bem sério e passo inúmeros momentos dela em minha casa
enquanto fui casado com Mia. Ela veio recomendada da minha mãe, pois era
filha da empregada que trabalhou na casa dos meus pais desde que eu era um
bebê indefeso. Sempre respeitei sua mãe e ela também, por sempre ser boa
nas suas funções. Bem, até agora.
— Arrume suas coisas. Estou dispensando você.
— O quê?
— Não me faça repetir, Marta.
— Mas senhor...
— Chega, Marta. Acabou. Pegue suas coisas e vá embora. — Aperto
os punhos ao lado do corpo, controlando minha raiva e palavras. — Se dê por
agradecida que não farei pior. Você quase me fez perder a cabeça hoje.
— Mas eu...
— Não me interessa. Saia da minha casa. Quando estiver pronta,
Gregori irá levá-la — dito isso, me viro e saio.
Retornando para a minha casa, encontro Gregori na cozinha.
— Está feito?
— Sim e você a levará para casa.
Um sorriso de lado cruza seu rosto marcado. Anos atrás, Gregori foi
golpeado por um mexicano filho da puta com uma faca. Quase ficou cego,
mas a cirurgia feita o deixou apenas com uma leve marca do lado direito, que
aparece quando sorri do jeito que fez agora. O sorriso cínico.
Me aproximo dele e falo em voz baixa:
— Você deveria ter me falado antes o que Marta estava fazendo.
— Mia gostava dela e pensei que você também. Fora que Nina tinha
me dito que não queria criar problemas.
— Então ela tinha te falado sobre Marta a tratar mal.
— Não — fala sustentando sua voz firme. — Eu vi Marta a tratando
com frieza e perguntei a Nina se falou com você e assim ela me disse que não
queria criar problemas e levá-los a você.
— Que ridículo — digo e solto o ar com força virando-me para longe
dele. Sentindo-me falho. Como não vi isso? — Ela tinha que ter me falado —
reclamo.
— Nina é boa demais para qualquer ato que magoe ou coloque
alguém em risco.
Encaro-o sério e digo:
— Na próxima, você irá me contar. Não importa o que seja. Se tem a
ver com minha esposa e filha, você tem que falar comigo.
Gregori acena que sim e por seus olhos demonstrarem algo que não
sei identificar, chego perto e o pressiono:
— Você tem mais alguma coisa para me contar, Gregori?
— Não, senhor.
— Tem certeza?
Ele se mantém intacto.
— Se você estiver mentindo, eu vou descobrir o que é e o punirei por
traição.
Gregori se transforma em uma pedra: sem emoção e qualquer sinal de
vulnerabilidade. Ele foi um excelente soldado nas torturas na época da sua
iniciação. Eu não o escolheria à toa. Ele é um dos melhores soldados da
Lawless quando a questão é manter um segredo ou manipular alguém.
— Não tem a ver com elas.
— Mas com você.
— Na hora certa irei falar.
Cerro os olhos para ele e fico a milímetros de tocá-lo.
— Não me obrigue a conseguir essa informação de você à força.
— Combinamos que na hora certa irei falar.
Aceito assentindo e saio da cozinha. Mais cedo ou mais tarde, eu vou
descobrir.
Chego na sala e não vendo ninguém, subo para os quartos. Encontro-
as no quarto de Sophia. Nina está colocando uma fralda nela e vejo que lhe
deu banho. Entro no quarto e fico atrás da minha esposa, mas os olhos de
Sophia me deduram.
Sorrindo, Nina vira-se para mim. Meus olhos passam de uma para a
outra e estico as mãos tocando o rosto delas. Logo elas estão nos meus braços
e me sinto tranquilo. Elas duas são os pontos de luzes que preciso para voltar
a ser um humano, não um animal raivoso que, às vezes, não consigo escapar
de ser.
10

C antarolando distraidamente, cuido da estufa. Mesmo que ainda


estejamos no início de fevereiro e o tempo ainda está bem frio, essa
semana peguei o tempo livre para cuidar das flores que sobrevivem
no frio. Sinto falta das minhas flores lindas e coloridas no jardim. Estou
ansiosa para a primavera.
— Por que que você ainda não está preparando nada?
Viro-me e encontro Gregori atrás de mim vindo da casa, já que eu
estou no jardim. Ter ele de volta era tudo que precisava para manter minha
alegria nessa casa. Agora faz oito dias que ele voltou e, no caso, que Marta
foi mandada embora.
A nova governanta foi recomendada por Madeleine e é maravilhosa.
Franciele, que eu já chamo carinhosamente de Fran, me respeita como dona
dessa casa e tem uma filha de dezessete anos muito prestativa. Ana Elis e
Sophia se deram bem, o que é muito bom para quando eu estou no banho ou
ocupada. Ela será quase uma babá.
— Do que você está falando?
— Não vai fazer nada hoje? — Gregori fala parando do meu lado. —
Você que adora uma festa, uma comemoração, não vai fazer nada.
Tiro as luvas e lhe dou total atenção.
— Não sei do que você está falando. Continuo não entendendo.
Gregori franze a testa.
— Hoje é aniversário do Paolo.
Quase deixo o vaso que estava perto da minha mão cair. Viro todo o
meu corpo para Gregori.
— Hoje é aniversário do meu marido e eu não estava sabendo disso?
— Ah, então você não sabia mesmo.
— Não! — Coloco a mão no peito. Um ato tão teatral, mas a verdade
é que me sinto em choque.
— Eu só falei porque você sempre faz festa para tudo e pensei que
hoje também teria.
Suspiro por ele já me conhecer tão bem, e aceitar meu jeito. Abro um
sorriso e digo:
— Eu não estava sabendo, mas já que você me falou... — deixo a
frase em aberto com uma lâmpada acesa sobre a minha cabeça.
Gregori já dá o seu sorriso conhecedor e muda a postura quando me
acompanha para fora da estufa.
— O que vamos fazer? — ele pergunta.
— Acho que vai ser só entre nós mesmo.
— Acho ideal. Paolo não gosta de festas.
— Então não vou insistir — completo seu pensamento. Espero ele
abrir a porta da varanda para a casa e passo. — Mas não vou deixar passar em
branco.
— Óbvio que não.
Rio baixo e olho para o meu segurança estufando o peito. Franzo a
testa sem entender.
— Senhora.
Giro meu corpo para a voz e encontro Ana. Ela sorri timidamente e
permanece de cabeça baixa.
— Já dei banho em Sophia.
— Obrigada, Ana. Agora pode ir fazer o que quiser. Deixa comigo.
Ela me dá um aceno e some pelo corredor que leva a cozinha, e eu
volto minha atenção para Gregori.
— Vamos na rua comprar as coisas.
— Tudo bem.
Sorrio e começo a subir as escadas, com Gregori falando. Acho que
ele pegou a minha mania e não para de falar agora.
— Será algo pequeno, certo?
— Sim, Gregori! — Encaro-o quando chegamos no segundo andar.
— Meu Deus. Você sentiu muito a minha falta, não é?
— Por quê?
— Porque você não para de falar. Um sinal de que tive uma forte
influência em você.
Ele faz um meneio com a cabeça com um sorriso sonso.
— E não se preocupe. Seremos apenas Sophia, você, eu e Paolo.
Talvez Fran, Ana, Filippe e o outro soldado.
— Otto — ele lembra. — Por que você não consegue gravar o nome
dele?
— Não costumo lembrar o nome das pessoas que não... gosto muito.
Ele solta uma gargalhada forte. Coisa rara.
— Enfim, será um momento de descontração, entenda bem. Eu não
pretendo convidar os pais dele e nem os meus. Nem ninguém. Melhor ser
apenas nós dessa casa.
— Até porque Paolo não é muito simpático.
— Sim — digo rindo. — Melhor ser só nós. Agora você pode me
levar ao mercado?
— É claro que sim.
— Vamos logo. Paolo deve voltar para casa cedo e pode não gostar
de festa, mas também não gosta de ficar com a sensação de ser esquecido. Às
vezes, eu acho que ele tem menos idade do que eu. — Rio de nervoso.
— Não deixe ele saber disso.
— É só você não falar, pois é muito legal e é meu segurança. —
Detenho meus passos para o quarto de Sophia e lhe pergunto: — Você tem
namorada?
— Não tenho tempo para ter namorada.
Ergo a sobrancelha.
— Você consome todo o meu tempo — Gregori completa.
— Ah, mas nem sempre teve eu para você falar isso.
— Mas agora sim e não estou reclamando. Eu gosto de cuidar de você
e da sua filha. É um trabalho com muita honra proteger a família do
Consigliere.
— Eu sei que é, mas não pensa em ter uma esposa? Ter a sua família.
— Por agora não.
— Mas já pensou em se casar?
— Não. Nunca pensei em ter uma mulher.
— Você deve se casar por estratégia?
— Sim e acho que eu mesmo posso escolher uma esposa para mim.
— Hum... — Franzo o cenho. — Não tem ninguém em mente?
Ele ri de novo e balança a cabeça.
— Não saio muito pelos círculos sociais. — Faz uma pausa. — Vocês
mulheres da Famiglia reclamam dos casamentos arranjados, mas não têm
noção de que os homens não têm muita opção. Não temos muito convívio
com outras mulheres a não ser as putas. Então se ninguém arranja um
casamento para nós, ficamos nisso para sempre.
— Nunca tinha pensado por esse ângulo.
— Eu sei. Uma mulher educada na máfia não pensa por esse ângulo,
mas se parasse para analisar, veria que, na verdade, o casamento arranjado é
vantajoso para elas. Nós homens não temos realmente onde procurar. Por
mais que vamos às festas e socializamos, não é mesma coisa quando alguém
escolhe você para se casar.
— Deveria ser bom.
— Eu ficaria mais aliviado se tivesse essa garantia.
— E por que acha que não tem?
— Não importa, afinal não estou pensando nisso e sou novo ainda.
— É verdade — comento. — Descobri que você só tem vinte e seis
anos.
— Vinte e sete, fiz no último final de semana.
— E não me contou? Acabou de falar que eu gosto de fazer festas e
não me contou do seu aniversário.
— Calma. Eu não comemoro meu aniversário. Não gosto.
— Mas eu gosto — digo quase batendo o pé. — Não estou te
perguntando se você gosta.
Gregori dá uma risada e balança a cabeça. Girando meu corpo, sigo
para dentro do quarto de Sophia. Ela está quietinha no bercinho, dormindo.
Com delicadeza acordo-a, mesmo assim ela começa a chorar, então a pego
rápido.
— Calma, meu amor. — Balanço-a no colo devagarinho. — Não
chora não. Shhh...
Nos meus braços, ela esconde o rostinho no meu pescoço.
— Por que você não a deixa em casa com a Fran ou Ana?
— Porque, depois do que aconteceu, quero evitar deixar Sophia nos
cuidados de qualquer pessoa que não seja eu, você ou Paolo — respondo e
respiro fundo.
Marta e meus pais são os únicos serem humanos na minha vida que
me tiraram a paz interna.
— Fico lisonjeado de você pensar em mim.
— Óbvio que sim. Confio em você e sei que não é louco de cometer
um erro conosco. — Abro um sorriso e sacudo Sophia, que continua a chorar
baixinho. — Você gosta de viver.
Gregori assente com um meio sorriso.
— Pode ter certeza que sim e não acho que Paolo iria brigar com você
se deixasse Sophia comigo. Ela ficou muitas vezes.
— Eu sei disso e agradeço por estar aqui.
Com um aceno conciso, ele se afasta e eu atravesso o quarto, levando
Sophia para o seu banheirinho. Troco sua fralda rapidamente e, quando volto
para o quarto, Gregori sumiu. Não demoro para vesti-la com uma roupa
quente. Calça e casaco de moletom. Botinha, luvas e touca. Está toda de preto
com dourado.
— Minha bebê chique.
Sophia enruga mais ainda a testa, olhando-me zangada. Ela não
gostou nem um pouco de ser acordada.
— Nós vamos comprar bolo para o papai. Vai ser legal.
Pisca rápido com seus enormes olhos azuis que tanto amo e estica os
braços pedindo colo.
— Tudo bem — digo pegando-a da cama e levo para o meu quarto,
onde troco de roupa. Também estou toda de preto. Vestido, meia-calça, um
casaco por baixo, o sobretudo e as botas que ganhei de Natal da minha mãe.
— Agora vamos ao mercado — falo para Sophia presa em mim pelo canguru
e tão confortável que fico com pena de levá-la junto.
O inverno em Las Vegas não é tão forte quanto em Seattle, mas frio é
frio. Inverno não é confortável muitas vezes.
— Mas a mamãe agasalhou a bebê mais linda e vai ficar tudo bem.
Ela suspira baixinho e deita a cabeça no meu peito. Meu coração se
derrete.
Dou um beijo na sua cabeça e pego minha bolsa. Desço as escadas e
logo Gregori se aproxima.
— Você está escondendo alguém nessa coisa aí?
Rio e abro um pouco o sobretudo para mostrar Sophia, que olha para
ele com um sorriso e depois vira o rosto, se escondendo.
— Ela está com frio.
— E com sono — completa Gregori.
— Também e por isso não vamos demorar. Me espere no carro, vou
falar com Fran rapidinho.
Ele concorda com um aceno. Sorrio e o vejo sair de casa. Indo até a
cozinha, encontro Fran falando com a cozinheira, Lúcia, que cuida
inteiramente da cozinha.
— Senhora. — Fran se aproxima de mim. — Deseja algo?
— Hoje é aniversário de Paolo. Gostaria que fizesse um jantar... um
pouco elaborado.
— Será para quantas pessoas?
— Só nós, mas quero fazer o prato que ele gosta.
— Qual é? Eu vejo tudo e faço.
— É batata ao molho de carne assada. Faz uma salada Caesar e um
macarrão à bolonhesa. Está perfeito. Vou sair agora para comprar os
ingredientes para fazer o bolo. Não vou demorar.
— Tudo bem, senhora. Vou deixar tudo pronto na sala de jantar.
— Ótimo. Até mais tarde — digo sorrindo e com um aceno saio.
Saindo de casa, observo Gregori mexendo no celular.
— Avisando a Paolo que estamos saindo? — indago parando ao seu
lado.
— Vamos evitar novos problemas.
Fecho a cara dando-lhe um olhar irritado.
— Você ficou zangada com isso?
— Sim. Como não ficaria. Por quê?
— É apenas uma pergunta. Você não é uma pessoa que fica com raiva
de ninguém ou nada, então é estranho vê-la dessa forma.
— Se acostuma porque a partir de agora, depois do que Marta fez,
acho que é mais fácil voar no pescoço de quem me irritar e... Enzo está no
meu radar, assim como você agora.
Gregori ri, mas fica sério perguntando:
— Enzo? Enzo Colombo?
— Ele mesmo — respondo erguendo minhas sobrancelhas e faço a
minha cara de poucos amigos. E entro no carro.
— Por que você está com raiva do Enzo? — ele pergunta assim que
está no banco do motorista e liga o carro.
— Pela forma que ele trata a Bárbara.
Saímos da garagem e na rua Gregori comenta em voz baixa:
— Não acho sensato você se meter no casamento que não lhe diz
respeito.
— Como não me diz respeito? — Me controlo para não gritar. Sophia
está ressonando em meu colo. — Ele trata Bárbara muito mal e eu não vou
ficar calada vendo aquilo.
— Seu pai trata bem a sua mãe?
Reviro os olhos e respondo:
— Não, mas eu não podia me meter. Eram meus pais e superiores.
Com certeza eu levaria uma... bronca do meu pai.
— Então é a mesma situação. — O olhar de Gregori me encontra às
vezes pelo retrovisor enquanto fala. — Até mesmo se você e Paolo não se
dessem bem, como alguns casos de casamentos onde o marido abusa da
mulher e bate, na Famiglia ninguém pode se meter nisso. Nem mesmo um
Capo. E não acho que a questão do Enzo com a Bárbara seja tão brutal... —
ele deixa a frase morrer com uma leve insinuação.
— Não é. Ele ainda não bate nela.
— Ainda não bate? — Parando no semáforo, sua atenção é toda para
mim. — Acha que vai?
Suspiro, acaricio as costas de Sophia e respondo:
— Acredito que sim. Sndo bem honesta.
Seu olhar muda, provando que não é totalmente imune a essa
situação. Menos mal.
— É isso ou ele vai ignorá-la para sempre, Nina.
Balanço a cabeça odiando ouvir isso.
— Mas um casamento não é para ela ter os filhos e manter a
linhagem? Não é assim que os homens pensam. — Sinto como se tivesse
veneno na minha boca. — Eu tenho nojo pela forma como Enzo trata a
Bárbara. Você sabe que ela gosta dele, não sabe?
— Todo mundo sabe disso — responde e acelera saindo do semáforo.
— Ela nunca tentou esconder, mesmo o pai dela tentando fazer ela parar com
aquilo. Era meio estranho o jeito que ela olhava Enzo nos eventos. Talvez
com o tempo ela deixe de gostar dele.
— Sério que disse isso? — Franzo a testa indignada.
Ele fica em silêncio até entrarmos no estacionamento do mercado. O
carro para e o espero abrir a porta. Pego minha bolsa, coloco no braço e saio.
Cara a cara com Gregori falo:
— Você pensa assim porque nunca amou. Se tivesse alguma vez na
vida se apaixonado, saberia que é impossível deixar de amar alguém. Mesmo
alguém nos tratando tão mal. — Respiro, pegando fôlego. — Ainda bem que
o Paolo não me trata mal, não me bate e não me ignora. Ele me dá toda
atenção e respeito que eu mereço como sua esposa, e Enzo... — Só em pensar
nele, me irrito. — Ele não está fazendo o mínimo esforço para tentar ter um
bom convívio com a Bárbara. Eu posso estar errada em me meter, mas eu não
vou ficar calada.
— Eu sei, Nina. — Ele balança a cabeça. Parece pensar em algo,
então me encara novamente. — Só espero que você não passe dos limites.
Enzo não é muito maleável. É um lutador de guerra assim como o pai dele
foi, então pode tentar ajudar a Bárbara, mas não confronte Enzo ou dê ideias
perigosas para a Bárbara. Não vai dar certo se ela tentar fazer algo, dar errado
e Enzo descobrir e querer se acertar com você. Paolo não vai ficar quieto,
okay. — Faz uma pausa. — Uma das mais respeitadas regras da Famiglia, é
que nenhum homem pode matar outro sem ter um motivo de traição pela
causa. Família, cada um que se resolva com a sua.
— Eu sei e não vou fazer nada demais. — Juro de coração. — Eu vou
ajudar a Bárbara no que eu puder assim como a Madeleine também faz.
Parecendo que levou um choque, ele diz calmamente:
— Tudo bem, mas não se compare com Madeleine. Ela é a esposa do
Capo. Tem carta branca para quase tudo e todos sabem quem é aquela
mulher, isso não é apenas um elogio. Então, não se compara a ela, mesmo
que você seja forte, inteligente e audaciosa, casada com o Consigliere do
Capo, não basta. Até porque Madeleine não se garante só no marido.
— Ela me falou a mesma coisa.
Depois que ela disse aquilo fui procurar saber quem é Madeleine e fiz
grandes descobertas, inclusive que ela traiu o pai para proteger sua vida e a
de sua mãe contando o plano dele para o pai de Travis, antigo Capo. Seu pai
queria atacar a Lawless com a máfia rival, a Blood Hands, porém ela foi mais
rápida. Salvou a todos, ganhou a garantia de proteção de Vincenzo Lozartan e
foi mandada para longe pelo pai. Ele foi até suave. Alguns matam os filhos
por muito menos.
— Porque ela sabe que é verdade — Gregori afirma.
Eu concordo com um aceno e dou por encerrado o assunto.
Caminhamos para o mercado e espero Gregori pegar um carrinho. Em
silêncio fazemos as compras.
— Você poderia pegar o leite?
— Não vou sair de perto de você.
— Seria mais rápido.
Ele se mantém silencioso e eu rio. Sophia resmunga e eu olho para o
seu rosto ainda enrugado.
— Ainda zangada, filha? A gente está fazendo compras para o
aniversário do papai.
Ela pisca lentamente e boceja. Isso parte meu coração.
— Ela está com soninho — sussurro para mim mesma, mas escuto
Gregori.
— Poderia ter deixado ela em casa com a Ana.
Prefiro não dizer nada. Eu tomei minha decisão e fazendo um carinho
com a ponta do dedo no seu narizinho, vejo-a abrir um sorriso sonolento.
Fico apaixonada por sua leveza.
— Minha princesa linda.
— Bananha.
Rio encantada pelo simples fato de ela estar aprendendo novas
palavras. A água agora é água e ela aprendeu a falar não, sono, colo e mamãe
e papai está cada vez melhor. Eu estava pensando que a gente poderia ter um
cachorro. Ia ajudar ainda mais o seu desenvolvimento, porém preciso
conversar com Paolo. Não sei se ele gosta de animais de estimação.
— Você gostaria de um cachorrinho?
— Boh!
— Não, filha. Um cachorrinho de verdade — explico e, meu Deus,
seria uma boa forma dela abandonar o urso de pelúcia já que vai ter um
cachorro de verdade. — Você pode chamar ele de Boh.
— Boh!
— Você pode comprar o cachorro, mas fale com Paolo.
— Sim, claro — digo para Gregori. — Ele precisa concordar com um
novo membro dentro de casa.
— Acho que a questão é mais sobre o susto de chegar em casa e ver
um cachorro.
Rio e afago Sophia, que está atenta olhando para mim.
— O que foi, filha?
— Boh! — diz fazendo beicinho de choro.
— Você trouxe o urso?
— Não. — Olho para ele. — Merda. Não trouxe.
— Agora ela vai ficar insistindo e pode começar a chorar sem parar
até pegar o urso. Por que você falou o nome dele?
— Não falei. Ela que lembrou.
— Você disse cachorrinho, Nina.
Arfo com força e encaro Sophia.
— Calma, bebê. Nós já iremos ver ele, está bem.
De cara amarrada, ela deita a cabeça no meu colo e fecha os olhos.
— Acho que o passeio vai precisar acabar mais rápido.
— A culpa é inteiramente sua.
Ignoro ele e saio na sua frente pegando confetes para o bolo e outras
coisas.
— Você é minha garota perfeita — murmuro para Sophia.
Ela suspira e sinto seus bracinhos me apertarem. Ela aquece meu
coração fazendo isso e sei que daqui a pouco vai esquecer o urso e curtir o
passeio. Ela gosta de carro.
11

T em tempo que não fico tão cansando em missão. Hoje foi violento
como não acontece desde que fomos atrás de Lucian, que fora a
última vez que participei de um conflito direto. Uma surra aqui
outra ali, castigar um traidor ou outro não é o mesmo que lutar como fizemos
hoje.
Travis não iria deixar barato o novo grupo de gangues chegando em
Las Vegas. Eles não podiam começar a querer chamar atenção da polícia para
nós, porque os babacas de uniforme sempre pensam que é a máfia que causa
tumulto e mortes nos bairros, entretanto, a verdade é que são os grupos de
gangues que tumultuam o nosso trabalho, ao contrário do que a justiça pensa
que é.
Nós também fazemos muitas coisas fora da lei, porém muitos bairros
têm tranquilidade (digamos paz) porque nos metemos e com medo,
chantagem e dinheiro fazemos muitos gângsters ficarem sobre controle.
Desde que a Cosa Nostra chegou nos Estados Unidos, só vem
trabalhando para que tudo, que está sob as leis obscuras, fique em total
“harmonia”. Nós organizamos os crimes ao mesmo tempo que fazemos parte
dele e queremos o total controle e poder. Não é muito difícil de entender,
portanto, quando um grupinho de merda tenta chamar atenção, nós damos a
devida resposta que eles queriam, nossa total atenção.
Hoje à noite fiz algumas cabeças rolarem aos meus pés, parece grande
o motivo para alguns policiais estarem na folha de pagamentos. Eles sabem
que organizar o crime sem nós, seria muito pior toda a situação. Ia ser uma
loucura todos terem seus próprios laboratórios de maconha e tudo mais. Não
que não aconteça e maconha não é o nosso pior problema. Nós lidamos com
coisas mais pesadas e cuidamos da segurança de políticos, policiais, gente
podre de rica e quem procurar nossos serviços.
Portanto, manter a discrição é o nosso dilema. Quem fala demais paga
o preço. Quem causa tumulto, paga com sua vida, pois coloca as nossas e as
de nossas famílias em risco.
Passando a mão na cabeça, entro em casa dando as costas para
Filippe, mas então ele vem atrás.
— O que houve?
— Preciso mijar.
Balanço a cabeça e sigo para a cozinha para pegar um copo d'água.
Estou prestes a acender as luzes, quando sinto um movimento estranho e
pego minha arma e engatilho apontando para o alto.
— Paolo! — Nina fala alto junto com a claridade embebedando o
ambiente. — O que é isso?
Pisco rápido e guardo a arma no coldre dentro do paletó e relaxo.
— O que está acontecendo aqui? — pergunto.
Franzo a testa e olho para além de Nina, que tem Sophia nos braços,
Gregori e a nova governanta com sua filha me encara em silêncio. Observo
que na mesa existe um bolo confeitado com velas acesas. Copos, pratos e
talheres em posições em frente as cadeiras, que poucas vezes usamos.
Geralmente usamos a sala de jantar para comer nossas refeições.
— O que é isso? — pergunto de novo.
— Hoje é o seu aniversário — Nina fala com a voz baixa, os olhos
alarmados devido ao meu quase ataque. — Eu... não queria que passasse em
branco.
Eu não sei nem o que dizer depois disso. Nunca ganhei uma festa nos
meus trinte e nove anos. Eu lembro que, quando pequeno, cantei alguns
“Parabéns”, mas depois dos dezesseis, quando fiz o juramento de honra da
Famiglia, não tive esse dia como repertório e, sendo honesto, não me
importei.
Com passos lentos, Nina chega mais perto de mim, os olhos indo dos
meus para as minhas mãos, e fala baixo para mim:
— Não queria causar desconforto a você, apenas uma surpresinha.
Estico a mão, ficando satisfeito de ela não se afastar, e toco seu rosto.
— Obrigado pela surpresa. — Afasto minha mão porque não estamos
à sós e pego Sophia, que estica os braços para mim. Dou um beijo no seu
rosto e olho para Nina. — Não queria assustar você.
Ela dá de ombros, abre um sorriso e caminha para perto da mesa.
Faço o mesmo e cumprimento com um aceno de cabeça Franciele e Ana,
chego até Gregori onde Filippe foi ficar do lado.
— Por que não mandou uma mensagem para mim? Evitaria eu
apontar uma arma para a testa da minha esposa.
— Sua esposa queria que fosse surpresa.
— Nós não gostamos de surpresa.
Nenhum Madman gosta de ser surpreendido, porque justamente
somos desconfiados e andamos armados. Seria uma tragédia se eu atirasse na
testa da minha esposa ou agarrasse Nina como faço quando sou pego de
surpresa em emboscadas.
— Não pensei que você reagiria assim. Você está em casa.
— Como nunca somos atacados em casa — ironizo, mas minha
atenção passa a ser de Sophia, que puxa meu colarinho.
— Por que não vai ficar perto de Nina? — Gregori sugere.
Olho para ele e tento ler as entrelinhas.
— Ela pode ter aberto um sorriso e feito como se nada tivesse
acontecido, mas seria bom ficar perto dela.
Arfo, soltando o ar pelo nariz e viro meu rosto para a minha esposa.
Ela está conversando com Ana, elas parecem distraídas e alegres, no entanto,
quando Nina olha para mim, vejo que está forçando a alegria. Está com o
maldito sorriso das damas da Famiglia. Sem emoção.
Sem desviar meus olhos dela, vou ficar perto e não consigo manter
tanto a distância. Ana se afasta abaixando a cabeça. Ainda com Sophia nos
braços, envolvo minha doce e gentil esposa pelos ombros.
— Me desculpe — sussurro no seu ouvido.
Miúda e cheirosa, ela encosta a cabeça no meu peito e depois inclina
para seus olhos encontrarem os meus.
— Está tudo bem. Eu deveria ter pensado que você iria ficar assim. É
da sua natureza.
— Atacar minha esposa não.
Ela ri e se afasta para poder pegar Sophia.
— Você não me atacou. — Abre seu sorriso que ilumina um
ambiente inteiro. — Agora esquece isso e vamos comer o bolo.
— Sem cantar parabéns. É demais.
Soltando uma gargalhada, passa Sophia para mim e chama Ana para
ajudá-la.

Entro no meu quarto, fecho a porta e, quando me viro para ir para o


banheiro, dou de cara com Nina.
— Uau. — Coloco a mão no peito. — Porra.
Ela morde os lábios sorrindo. Caminha lentamente até a mim e dá
uma voltinha para eu poder ver tudo.
Nina está usando uma camisola totalmente transparente preta com
rendas nas mangas, nas laterais e no colarinho. Duas flores rendadas cobrem
os bicos do peito e na bainha, mas o resto eu consigo ver totalmente sua
nudez. Está deliciosa, é óbvio.
Respiro fundo e sinto o sangue descer todo para o meu pau.
Dou três passos ficando mais perto dela. Sinto o seu cheiro. Porra, o
aroma dela é delicioso como um doce caramelado de canela.
— Esse é o meu presente?
Ela concorda com um aceno.
— Eu queria te dar algo especial e o bolo não conta — ri baixinho. —
Então pensei que fosse melhor dar algo que...
— Algo que eu pudesse gostar — completo. — Fique tranquila
porque eu amei.
Nina dá sua risadinha nervosa e me aproximo. Toco seu corpo como
ela fosse quebrar ou sumir na minha frente. Deslizando meus dedos no tecido
da camisola. Minha boca fica cheia d’agua e vendo quando os seus mamilos
ficam mais empinados. Sua respiração fica trepidada e a pulsação acelerando
no seu pescoço.
Deslizo minhas mãos para trás do seu corpo e vou descendo, aperto
sua bunda e ela geme baixinho segurando a lapela do meu paletó.
— É tão sexy.
— O quê? — pergunto.
— Você vestido e eu seminua. — Passa as mãos nos meus braços.
— Acho mais sexy quando eu estou pelado também.
Ela ri baixinho e assente.
— E eu quero ficar sem roupa bem agora.
Nina concorda assentindo, e como se fosse um pedido, começa a tirar
minha roupa. Empurra meu paletó, o coldre, a camisa e o cinto. Logo estou
ajudando-a a retirar minha calça, abrindo enquanto ela tira meus sapatos e as
meias. Encontro-a abaixo quando puxo a calça e a cueca junto.
De pé, seguro seus ombros, lhe dou um beijo duro na boca.
— Agora estou pelado.
Sinto e vejo seu suspiro, e pego seu corpo com a camisola mais sexy
que eu já vi e a levo até o closet com uma ideia meio louca. Eu sempre fico
animalesco com ela. Paro nós dois em frente ao espelho, que vai do teto ao
chão, fico atrás de Nina e olho dentro dos seus olhos pelo reflexo do espelho.
Digo no seu ouvido:
— Olha como você é gostosa e linda. — Vou deslizando minha mão
pelo meio do seu corpo até que estou tocando a pele das suas coxas.
— Deus! — ela geme e joga a cabeça para trás. Me dando uma visão
ainda mais erótica.
Desencosto meu corpo um pouco do seu para poder subir o tecido
leve como plumas da camisola, e meus dedos estão mergulhando nos lábios
inferiores onde a encontro úmida.
— Que delícia. Olha como você está molhadinha.
— Paolo... — ela sussurra meu nome e agarra meu outro braço que
está segurando-a pela altura das costelas.
— Tão macia.
Nina suspira tão forte que seu peito sobe e desce, e abre os olhos. Ela
não desvia o olhar e abre a boca sem-vergonha mostrando a sua cara de
excitação. Eu a acho deslumbrante assim com cara de safada. Só minha. Só
para os meus olhos.
— Adorei o presente — digo para provocá-la ainda mais. Nina gosta
da minha voz quando estamos fodendo.
— Adorou? — balbucia com um sorriso fraco.
— Amei. — Roço meu pau na altura da sua bunda. — Sinta como eu
adorei.
— Ah... eu estou sentindo.
Enfio mais um dedo no seu calor, acelerando e pressionando o dedão
na ponta do clitóris. Nina engole em seco e fecha os olhos gemendo baixinho,
totalmente perdida. Baixo a cabeça e dou um chupão no seu pescoço e sinto
quando seu núcleo me aperta.
Ela está quase gozando quando paro os movimentos e tiro meus
dedos de dentro dela. Ouço seu protesto e a solto por breves segundos. Nina
espalma as mãos no espelho à nossa frente, apoiando-se. Faço sua camisola
virar uma blusa, amarrando na frente e corro minha mão pela frente do seu
corpo para pegar seu queixo e erguer.
Espero seus olhos encontrarem os meus e a puxo comigo. Me
sentando no baú onde nós guardamos algumas peças de roupa casual, e faço-a
se sentar em mim e fico hipnotizado vendo meu pau sumindo para dentro
dela.
Nina dá um grito e agarra minhas mãos que a seguram pela cintura.
Morde a boca e joga a cabeça para trás quando estou todo dentro dela. Quase
gozo sentindo seu interior me apertar.
— Nina — murmuro seu nome enquanto estou sendo engolido por
seu calor molhado, quente e macio.
Ela faz o movimento de subir e descer. Seguro sua bunda com as
mãos cheias. Vejo-a soltando o ar com força e registro sua musculatura se
enrijecer conforme faz seus movimentos. Os seios balançando, as mãos
agarradas as minhas, a boca entreaberta.... Os olhos ora fechados e ora
abertos olhando para onde eu sumo dentro dela.
Quando ela joga as mãos para trás, juntando os cabelos de lado e abre
a boca para soltar um gemido junto com a respiração.
Que visão tentadora. Perturbadoramente tentadora.
Ela fica gemendo baixinho do jeito que amo e eu a puxo para mim.
Porra!
— Eu amei o presente. — Preciso repetir no seu ouvido o quanto
estou adorando essa foda e depois dou uma mordida no pescoço lambendo o
mesmo lugar para aliviar.
— Ah... eu tô sentindo — ela sussurra.
Nós ficamos longos minutos fodendo deliciosamente em frente ao
espelho. É igual, melhor, a um filme pornô.
Mergulho nesse momento e esqueço de tudo. Só tenho Nina, minha
garota doce. Me sinto submerso a sensações de alegria que não mereço.
Como o universo pode me dar tantas coisas boas, coisas que eu nunca pensei
em ter e mereço.
— Estou obcecado — digo com a voz rouca dando beijos nas suas
costas.
Nina se inclina para a frente, apoia uma das mãos no joelho e tirando
o cabelo, deixando-o para o lado, sexy pra caralho, fala comigo com a voz
aveludada como seu interior macio:
— Eu também estou.
Merda! Estoco para dentro dela, seu corpo balançando para cima num
solavanco.
— Eu quero te chupar todinha.
— Ai... eu também.
Perdendo o controle, pego seus cabelos, envolvendo minha mão com
ele como se fosse uma corda, e nos levanto. Faço-a se apoiar no espelho e
acelero com força, batendo em seu corpo e arrancando gritos dela. Com
minha outra mão, meus dedos encontram seu clitóris e massageio.
— Oh... meu Deus!
Quando ela está quase gozando, me afasto rápido, saindo de dentro
dela. Sem dizer nada e ignorando o protesto, viro-a de frente para mim. Sem
perder tempo, levo-a para a nossa cama. Faço-a se deitar, afasto bem suas
pernas, abrindo-a para mim e a penetro rápido ouvindo-a gritar. Sinto suas
unhas na minha pele, nosso cheiro juntos, ouço seus sons e não paro até
começarmos a gozar juntos. Me perco aqui. Sou apenas um homem
loucamente apaixonado fodendo sua mulher agora.
Porra! Que eu tenha forças para aguentar o que ela me faz desejar. Eu
amo essa mulher demais. A amo na minha vida.
12

S into um carinho no meu ombro e giro meu corpo na cama. Fico de


frente para Paolo. Estranhamente ele ainda não se levantou hoje para
trabalhar. Ganho um beijo suave na boca e um sorriso sem mostrar os
dentes. Meu sorriso de extrema felicidade, pois é o que sou com ele.
— Bom dia.
— Bom dia — devolvo e passo o indicador no seu peito.
Seus olhos se perdem no meu ombro e espero o que ele tem a dizer.
Porque parece que ele quer dizer alguma coisa.
— Ontem eu me excedi.
— Eu não acho — murmuro dando um encolher de ombros. — Eu
adorei.
Paolo ri me puxando para os seus braços e me beija, agora mais
demorado e feroz.
— Você me deu um sonho erótico que nem imaginei que ia gostar —
fala respirando sem fôlego.
Ainda bem que não é só eu a afetada.
— De nada.
Ganho um aperto na bunda e jogo minha perna sobre seu corpo.
Sinto-o semiereto. Não colocamos roupa para dormir depois que transamos
no closet. Quando caímos na cama, transamos de novo, porém lento e doce.
Isso depois que ele foi ver Sophia, que essa noite foi um anjinho e não
chorou.
Sentindo suas mãos afagarem minhas costas, sinto-me preguiçosa
para levantar e fazer qualquer outra coisa que não seja sentir seu corpo
quente, musculoso e gostoso.
— O que você vai fazer hoje? — indaga como se lesse meus
pensamentos.
— Tenho um encontro com Madeleine e Dante.
— De novo?
— Eu gosto de ir ficar com ela e Sophia precisa de uma criança para
brincar.
Paolo concorda com um aceno conciso. Não parece questionar
negativamente. É curiosidade. Eu jurava que ele fosse ser como o papai com
minha mãe. Ele sempre reclamava de tudo que ela fazia, menos quando era
para favorecer a ele. E como Paolo é um homem mais velho, pensei que seria
um chato sobre minhas vontades e é ao contrário. Na verdade, ele é o marido
que meus pais nunca desejaram para mim, pois é bom e amoroso.
— O que está se passando nessa cabecinha fértil? — pergunta
colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.
— Que você é um marido dos sonhos. Dos meus sonhos.
Ele solta um som parecido com uma risada e me beija rápido.
— Não tenho o que falar sobre isso.
— Então não diga nada, pois é a verdade. — Beijo-o na boca e me
movo para sair da cama e, quando estou de pé, sinto um tapa na minha bunda.
— O que foi isso? — Olho para ele, que tem um sorriso travesso.
— Nada. Só achei que essa bunda precisava de uma corzinha.
Arregalo os olhos e prendo a vontade de rir. Balanço a cabeça e vou
para o banheiro tomar um banho e sinto Paolo atrás de mim. Ele me agarra
pela cintura e o vejo sorrindo pelo espelho da pia.
— O que você tem? — pergunto colocando meus braços sobre os
seus em minha volta.
— Nada.
— Nada?
— Eu só amo te abraçar.
Rio alto e giro em seus braços. Pego seu rosto nas mãos e quase
tocamos nossas testas.
— Também amo que me abrace.
Assente veementemente e, sério, fala:
— Obrigado por ontem. Eu não tinha um bolo de aniversário há anos.
Franzo a testa sem entender e vários questionamentos surgem na
minha cabeça, que ele obviamente consegue ler e explica:
— Mia nunca soube que dia era o meu aniversário e, mesmo assim,
eu não queria comemorar. Quando ela chegou aqui, fez tudo que eu pedi e
uma dessas coisas era sobre meu aniversário. Não é um dia que eu ligue. —
Ele detém de eu falar algo tapando minha boca gentilmente e continua: —
Mas eu sei que você gosta e... adorei. — Dá de ombros. — Pode fazer
quantos aniversários quiser para quem quiser.
— Só para a minha família, Paolo.
— Sei...
— E — prossigo ignorando sua provocação — eu quero comemorar
quando você chegou ao mundo. Pode ter sido um século antes de mim, mas...
Ele me agarra, fazendo pressão nas minhas dobrinhas que sinto
cosquinhas e eu solto uma gargalhada.
— Ah, sua danada!
Envolvo-o pelo pescoço e deixo me levar para o chuveiro. Onde
tomamos banho, nos provocando o tempo todo e ele não podia ficar sem me
provar. Cumpriu a promessa de ontem. Me lambeu toda e me deixou mole
sobre as águas quando terminou primeiro que eu.
Hoje eu descobri como Dante está começando a dar trabalho e ainda
falta seis meses para fazer um ano, mas ele não para sentado e no carrinho. O
menino tem uma energia que não acaba nunca, enquanto Sophia fica sentada
quietinha no lençol na grama, que colocamos para podermos fazer o
piquenique, com brinquedos como o ursinho de Sophia e o carro azul de
pelúcia.
Sorrindo vejo Dante tentar ficar de pé forçando Madeleine a segurar
seus braços. Ele balança o tempo todo, porque ainda está ganhando força nas
perninhas.
— Meu Deus, ele não sabe o que quer — Madeleine reclama com um
sorriso de mãe. — Pede colo e pede para sentar e depois pede para ficar de
pé.
— Que bom que ele não chora — comento e me arrependo.
Dante não chora porque, como todo menino que será iniciado, é
forçado a ser determinado e chorar. Afinal é o filho do homem mais
importante, o Capo.
— Dante tem um pai firme — Madeleine diz com um ar debochado, e
eu sei o porquê. — Ele é muito teimoso e não sei dizer se essa teimosia é
minha ou do pai.
— Você engravidou muito rápido depois que se casou, não é? —
Assim que as palavras saem da minha boca, eu me arrependo. — Me
desculpa falar isso.
— Não, tudo bem. Quase ninguém traz o assunto porque Travis
proibiu.
— Sério?
— Sim — afirma e coloca Dante sentado em cima das pernas
cruzadas e depois olha para mim. — Não é bom dar a impressão de que eu
casei grávida, mesmo que não tenha sido tanto tempo, então Travis proibiu
que qualquer um tocasse no assunto.
Proibiu? Imagina como ele fez isso.
— Eu sinto muito. Me-me... desculpe e não conta para ele.
Ela dá uma risada alta.
— Relaxa, Nina. Você é minha amiga e amigas são pra isso.
Conversas desse tipo. Está tudo bem.
— Que bom — digo me sentindo mais aliviada.
Abrindo um sorriso educado, ela diz:
— Engravidei em novembro e nós nos casamos em dezembro. Eu
nem sabia, não tinha noção e estava passando por tanta coisa, então não
desconfiei de nada e só fui saber mesmo quando estava quase de três meses.
Então, acredito que ninguém percebeu — ri com ironia — por causa dos
acontecimentos, deixando de lado minha gravidez.
— Eu soube que teve um grande conflito em Las Vegas.
— Grande, barulhento e sanguinário com a Bratva. Como meu
marido fala: “aqueles filhos da puta dos russos”.
— Paolo também os chama assim quando não está perto de mim e
não sabe que eu consigo ouvir. Ele falando com Gregori é engraçado.
— Eles sempre acham que a gente não consegue ouvir — ela comenta
rindo.
— Você e Travis namoraram antes de se casarem?
Madeleine faz uma cara engraçada.
— Podemos dizer que sim.
Como eu fico em silêncio e devo estar com a cara de ansiedade. Ela
respira fundo, bota Dante sentado no lençol perto da minha filha e entrega o
urso de pelúcia parecido com o Boh para ele. Sophia estica a mãozinha e toca
em Dante. É uma cena fofa eles juntos. Levantando-se, Dante engatinha até
ficar sentado ao lado de Sophia. Eles trocam de ursos e os dois se distraem.
Madeleine começa a contar a história desde sua infância. Quando ela
era criança soube de uma coisa que o pai estava fazendo de errado e com
medo de acabar morrendo e matarem a mãe, contou para o pai do Travis, com
isso ele prometeu proteção para sempre enquanto fosse líder da Lawless.
— Bem, eu precisei ser salva — continua. — Só que, quem assumiu a
promessa foi Travis. Confesso que sou irritante e era muito teimosa antes.
Tinha muita repulsa do que o meu marido representa e não acho que algum
dia vou me sentir aliviada pelas coisas que ele é obrigado a fazer, mas agora
eu não fico mais remoendo isso. Entende? Depois de muita luta nós nos
entendemos — ela diz com os olhos brilhando e um sorriso. — Foi... quase
que inevitável ficarmos juntos. Somos muito parecidos e diferentes ao mesmo
tempo. Quando a gente viu estávamos rompendo todas as regras e ele me
pediu em casamento. Não foi fácil aceitar, mas quando eu percebi que Travis
era o meu mundo... — Suspira profundamente e sorri. — Acho que é um
resumo legal da minha vida e não me arrependo. Eu tenho um filho lindo e
um casamento seguro e feliz.
— É uma boa história.
— O amor floresce em todos os jardins. Até nos mais abandonados
— ela comenta baixinho.
— Você está falando de casamento arranjado?
— Sim, eu sei que não é comum em nossos casamentos o
relacionamento, no caso namorar antes, mas comigo foi assim. — Dá de
ombros. — Foi totalmente fora das nossas regras e Travis sendo líder, foi
impulsivo e teimoso sobre nós. Mas, escuta — ela toca meu joelho —,
ninguém pode saber que a gente teve um relacionamento antes e não foi fácil
ficarmos juntos. Para todos, ele aceitou se casar comigo por estratégia e não
nos conhecemos direito antes do casamento.
— Como o de todos — digo com sarcasmo e ela sorri.
— Sim e no caso Dante nasceu de oito meses.
Ponho minha mão sobre a dela antes de falar.
— Eu não vou contar para ninguém. Eu juro.
— Eu sei que não. — O sorriso que me dá é de confiança. — Só estou
te avisando mesmo.
— Certo, mas eu nunca vou comentar com ninguém.
Madeleine assente e sua atenção vai para Dante quando ele puxa o
cabelo de Sophia e ela começa a chorar. Soph não fica quieta. Ela dá com a
mãozinha na cara dele e os dois começam a brigar e chorar. Nós duas temos
que intervir os bebês. Eles se dão bem, mas de vez em quando não.
Depois que eles param e os obrigamos a fazerem as pazes, ficamos
mais um bom tempo com as crianças no lençol até nos levantarmos para a
mesa com eles nos carrinhos. A empregada coloca um lanche para a gente na
mesa e comemos.
Chego em casa quase na hora do jantar e peço a Ana para me ajudar a
cozinhar. Ela gosta de ficar na cozinha e é muito talentosa. Parece que
consegui alguém para me aprimorar na culinária. Percebo que todas as vezes
que Gregori está por perto, Ana fica de cabeça baixa e estabanada.
Quando termino de preparar o jantar, vou tomar um banho, faço um
pouco de ioga com Bárbara virtualmente, e tomo outro banho que Sophia me
acompanha para esperar Paolo. E, às sete e meia da noite, apenas sei que
estou muito cansada. Sophia mais Dante mais conversa e depois cozinhar e
quarenta minutos no telefone com Bárbara fazendo posições que não
favorece a coluna de uma mãe que vive com seu bebê nos braços, não é fácil.

Minha boca se curva num sorriso, que mordo os lábios, quando Paolo
me agarra por trás quando estou no closet pegando uma camisola.
— Que susto — murmuro e meu corpo é virado num movimento
rápido.
Eu nem consigo registrar seu rosto quando ele agarra o meu e sua
boca está me beijando espalhafatosamente. Puxo o ar com força pelo nariz e
me delicio com ele me acariciando. Suas mãos estão em todo o meu corpo...
meus cabelos... e peitos. Gemo sentindo suas mãos na minha cintura, na
bunda e nas costas. Também abraço seu corpo e enfio os dedos dentro dos
seus cabelos. quando ele tenta parar o beijo e se afastar, guio sua boca para
mim de novo.
Mas quando a falta do fôlego é forte demais, ele se afasta e nossos
olhos se encontram cerrando os olhos para mim.
— Boa noite para você também — falo baixo.
Paolo dá seu riso rouco e afaga minhas costas.
— Boa noite.
— Esperamos muito você para jantar.
— Tive um dia cheio.
Rio alto e toco seu peito, meus dedos escondem-se dentro do paletó.
— Eu estou morta de cansada. Um piquenique entre Dante e Sophia é
exaustivo. Só quero dormir.
— Está tudo bem.
Ganho um abraço e aproveito para acariciar seus cabelos, esfregando
o couro cabeludo.
— Sophia já está dormindo?
— Não, mas estava pegando no sono.
Ele me dá outro beijo.
— Vou vê-la rápido e volto para te pegar — ele diz apertando minha
bunda.
Jogo meus braços sobre seus ombros dando gargalhada e fecho os
olhos rapidamente quando ganho um beijo antes de ele sair para o quarto de
Sophia. Visto rápido minha camisola e ponho o robe, vou até o quarto da
nossa filha também. Pego Paolo conversando com ela baixinho e bem no
momento que ele a retira do berço.
— Oi, princesa. Papai chegou.
Sorrio encantada por ver eles dois juntos e volto para o quarto.
Alguns minutos depois, sou despertada da soneca com o barulho da
porta se fechando. Com os olhos cerrados vejo Paolo com Sophia nos braços,
e logo ela engatinhando para junto de mim.
— Mama — murmura sonolenta.
— Oi, meu amor. Veio dormir com a mamãe e o papai? — Encaro
meu marido falando o final da frase.
— Ela estava um pouco febril, por isso trouxe para dormir conosco.
Assinto e a aconchego com um abraço quentinho e fofo. Ela pisca os
olhos enormes para mim e sua mãozinha segura firme a alça da minha
camisola. E nem percebo que Paolo sumiu, apenas quando ouço o barulho do
chuveiro.
Um tempinho depois, novamente acordo sentindo a cama afundar
quando Paolo senta e logo se acomoda deitado de frente para mim. Mantenho
os olhos fechados sentindo sua mão passando de mim para Sophia.
Sinto um sossego, uma paz que não sei descrever com exatidão. É
calma e gostosa. O silêncio, o cheiro de banho tomado e de Sophia com seu
talco de bebê. A maciez das cobertas e a brisa suave do ar frio do inverno.
Nesse momento me sinto muito afortunada por minha vida. Essa família que
tanto amo e um marido que, para todos os efeitos, é amoroso.
Algumas mulheres na máfia não têm essa sorte. De dizer que tem um
marido, não ser apenas casada com um Madman. Paolo é quem precisa ser
em Las Vegas, mas dentro de casa é meu marido e um pai muito bom. Eu
tenho os dois mundos, mesmo que não seja lindo e legal como tenho uma
vida de luxo, mas não importa. Eu sempre soube quem somos e o que
fazemos. Minha educação nunca me permitiu almejar com algo diferente.
Honestamente, eu tenho muito mais do que esperava e essa noite eu pego no
sono com a certeza de que meus sonhos não alcançam a minha realidade.
13

S ophia parece ter um efeito encantador na família do Capo porque


todos a adoram e gostam de fazer sua vontade. Hoje a irmã mais nova
do Capo, Marinne vai fazer dezesseis anos e estou entrando com
Sophia no colo, Paolo atrás de mim com Gregori.
Nós não entramos pela porta da casa principal e, sim, damos a volta
até o jardim enorme, onde tem mesas, balões transparentes, flores e música.
A festa tem a decoração de flores rosas e brancas. As cadeiras com forro
branco e velas com focos de luzes pelo amplo jardim.
Tudo está muito bonito e do jeitinho de Marinne. Ela é muito elegante
e angelical. Não tem muitos convidados, apenas as pessoas mais próximas e
nós escolhemos uma mesa próxima da do bolo.
— Já volto. — Paolo me dá um beijo no rosto e se afasta.
Enquanto ajeito Sophia no carrinho acompanho Paolo com os olhos
até Travis. Pego as coisas na bolsa para quando eu precisar: água e o lencinho
para limpar Sophia.
Vejo Madeleine perto de Marinne rindo e tirando fotos perto da uma
parede cheia de flores próximo de uma pista de corrida de kart. Decido ir até
elas, e coloco Sophia no chão. De pé, pego suas mãozinhas.
— Vamos lá falar com a Marinne.
Olho Gregori vindo atrás de mim e sorrio.
— Você não pode relaxar um pouco?
— Nunca quando estou trabalhando.
— Mas estamos numa festa.
— Um ótimo lugar para eu ficar ainda mais atento.
Franzo a testa sem entender o que ele quis dizer, mas ignoro.
— Made! — Sophia grita quando estou chegando perto de Madeleine.
— Mar — fala o apelido de Marinne, e porque ela não consegue ainda falar
direito o nome dela.
Sorrio e olho pra cima e vejo Marinne. Ela está absolutamente
perfeita, os longos cabelos castanhos soltos com cachos nas pontas, uma
maquiagem leve e seu vestido rosa chá brilhante. Ela é um diamante em
todos os sentidos e em nossa conversa, na última vez que estive aqui, lembro
de ela dizer que o tema da sua festa seria flores.
Marinne Lozartan é uma dama perfeita da máfia e foi criada apenas
pelo irmão. É impressionante como é educada, delicada e convidativa. Tem a
forte presença de um homem feito, poderia ter um cargo importante na
Famiglia, e o porte de uma dama. Pelo que ouvi, seu futuro marido será o
Capo de uma das máfias dos Estados Unidos. Sou fã dela por ser tão única.
Um exemplo para criar minha Sophia.
— Made! — Sophia grita de novo e corre para a esposa do Capo, sua
madrinha, quando estamos a passos dela.
— Vem, minha princesa.
Solto a mãozinha de Sophia, mas continuando atrás, e a deixo correr
cambaleando para Madeleine, que a pega nos braços se agachando. Sorrio
vendo-as juntinhas e depois a madrinha beijando seu rosto.
— Você está linda, princesa — Madeleine comenta ajeitando o
vestido de Sophia, que realmente parece um vestido de princesa.
Fico feliz em ouvir isso mais do que se fosse o elogio para mim. Isso
é tão mãe e me surpreende toda as vezes que percebo como estou mãe.
Espero Madeleine levantar-se, com Sophia no colo, para a
cumprimentar. Ela também está linda com um vestido todo preto bem justo
ao seu corpo com bastante curvas. Para uma mulher que teve um filho em
seis meses, seu corpo está muito bem.
— Oi, você está linda — Madeleine fala.
Sorrio assentindo e grata por ter escolhido um conjunto social preto
com azul-claro. É um terninho confortável para ficar atrás de Sophia. Ela me
deixa cansada e vestido e salto é complicado.
— Muito obrigada e você também está perfeita. Nem parece que teve
um bebê agora.
Rindo, ela faz um gesto de desdém.
— Vamos falar com Marinne.
Aceito e vou me aproximar da aniversariante, mas sou interrompida
quando um homem alto, forte, vestido todo de preto, com os cabelos
castanhos um pouco na altura dos ombros, é mais rápido do que eu e chega
até Marinne. Eles se cumprimentam e Marinne recebe o presente. Alguma
coisa que o homem fala a faz sorrir timidamente e depois mais uma vez.
Enquanto olho, a mensagem na minha cabeça acende como uma
lâmpada. Acho que esse deve ser o noivo dela do casamento arranjado. Não
sabia que podia ter contato entre os noivos antes do casamento. Não é bem
assim que funciona.
Enfim, eu os espero se afastarem, o que demora um pouquinho. Me
distraio com Sophia fazendo seus sons novos no colo de Madeleine, até que
consigo cumprimentar Marinne com um abraço e um beijo.
— Feliz aniversário.
— Ah, obrigada por vir.
— Eu não perderia. Sophia adora você.
Marinne abre um sorriso e pega a mão de Sophia, no colo de
Madeleine ainda.
— Eu também gosto muito dela — comenta e vejo que, por mais que
queira estar presente em nossa conversa, seus olhos se desviam o tempo todo.
— Marinhe — Sophia tenta falar o nome e chama sua atenção.
Marinne abre um sorriso e volta a olhar para mim.
— O que disse?
— Que a festa está linda.
— Obrigada, fico feliz que tenha gostado e, na verdade, é só uma
festinha para os mais próximos.
— Não parece uma festinha.
Ela ri alto, até demais e suas bochechas ficam vermelhas. É tão fofa
ela estar nervosa e envergonhada, pois é isso que está. Madeleine passa
Sophia rapidinho para os braços de Marinne e depois a pega de volta
sorrindo. Marinne dá um beijinho na minha filha antes de eu me afastar com
Madeleine. Quando estamos indo para a mesa, Paolo e Travis nos encontram
e o Capo rouba Sophia dos braços da esposa. Sorrindo, vejo-o beijar o
rostinho dela e devolvendo a bebê para Madeleine.
— Quem é a garota mais bonita da madrinha? — ela diz toda
animada.
Como uma mãe orgulhosa, eu apenas sorrio vendo a interação de
todos com minha princesinha. Os homens se afastam de nós, cada um dando
um beijo no rosto de suas esposas, e ficamos a sós.
— Vamos nos sentar?! — sugiro.
Madeleine assente e me segue para a minha mesa, que está duas
mesas depois da sua. Nós nos sentamos e o garçom passa. Gregori pega uma
bebida para mim e outra para Madeleine.
— Obrigada.
Ele faz um aceno conciso e se afasta.
— Onde está Dante?
— Dormindo — responde com sua voz suave, pois Sophia parece
querer dormir também. — Eu nunca pensei que seria mãe. Não era algo que
eu almejasse, mas agora eu amo e para mim nada é tão ruim quanto ficar
longe dos meus filhos.
— Filhos?
Madeleine sorri e olha para mim.
— Marinne é como se fosse uma filha para mim. Quando cheguei
aqui, ela parece que precisava de uma figura materna que não fosse as babás.
Travis fez um trabalho maravilhoso criando-a, na verdade os três irmãos, mas
com uma menina, ele não poderia suprir algumas lacunas.
Assinto concordando. Mesmo minha mãe sendo basicamente um
general para mim, ela foi uma figura materna positiva para mim me
ensinando as etiquetas e ajudando nas mudanças do corpo. Passar pela
puberdade sem auxílio, é horrível.
— Quando cheguei aqui, nós não nos demos bem de primeira, porém
quando nos entendemos, foi tão natural sentir um amor por ela protetor e
devoto. Marinne é... — faz uma longa pausa e olha para os lados, checando
se não tem ninguém tão perto e vendo que Gregori está distante, vira-se para
mim novamente e conclui: — Ela é a extensão do amor que sinto por Travis.
Principalmente porque ela parece tanto com ele.
— Ela realmente é mais parecida.
— Em tudo — completa. — Marinne tem a beleza, a mente e o
coração de Travis. Ele a criou como sua filha sem se dar conta de que estava
fazendo isso e eu sinto muito orgulho dele nessa parte. Sendo sincera, é uma
das coisas que me fez admirá-lo como homem e não... o Capo cruel da
Lawless.
Nossa! Ela nunca definiu tão bem um bom marido na Famiglia. No
meu caso, eu admiro Paolo como homem e pai, e não como Consigliere.
Madeleine se distrai com Sophia, se perdendo em pensamentos.
— Eu amo bebês e o ruim deles é que crescem muito rápido. Parece
que foi ontem que ela nasceu e eu dei de mamar para ela.
— Achei muito generoso da sua parte fazer isso por Soph.
Ela dá de ombros.
— Eu não consigo me sentir feliz ou me gabar de nada que eu fiz para
ela. — Faz uma pausa. — Quando Paolo estava sozinho, depois que sofreu
aquela situação, me senti na obrigação e também foi um prazer cuidar dela.
— Seus olhos estão em Sophia repletos de amor.
De longe vejo um homem jovem, deve ter a idade do meu irmão,
mais ou menos, vindo até nós. Ele lembra demais o Capo e mais de perto
observo que apenas os olhos são realmente diferentes de Travis Lozartan.
Madeleine vira o rosto e sorri para ele. Passando Sophia para mim,
ela se levanta e o aproxima mais de mim.
— Eu não sei se você já foi apresentada a Dario Lozartan, Nina.
Balanço a cabeça e Dario, que agora sei o nome, aceita minha mão
dando um beijo rápido nas costas e se afasta rápido.
— Ele é o irmão número dois de Travis.
Então finalmente conheci o irmão mais novo. Dos meninos, ele é o
mais novo, depois vem Marinne, a única menina.
Me levanto, ajeitando Sophia para ficar “sentada” no meu quadril e
sorrio com educação para ele. Estranho já ter participado de várias festas e
eventos da Famiglia e nunca o ter encontrado. Pelo jeito, Dario é o irmão
menos sociável.
— É um prazer conhecê-la — ele me cumprimenta novamente, agora
com um aceno, e olha para Madeleine. — Rosália pediu para avisar que
Dante acordou.
— Você pode trazê-lo para mim?
— Já venho — responde, faz uma reverência para nós e se afasta.
Madeleine, sorrindo, olha para mim e explica:
— Dario não é muito de festas, mas é um bom menino.
— Parece que você não apenas adotou a posse de mãe para Marinne.
— Sim. — Ela ri e assente. — Eu acabei assumindo o lugar de mãe
para eles dois, pois nunca tiveram e foi... natural.
— Eu sei do que você está falando e... Posso te perguntar uma coisa?
— Claro, Nina.
— Você sente que envelheceu uns dez anos em um mês? Tipo isso.
Ela dá uma gargalhada alta.
— Não dez anos, mas alguns sim e não envelhecer, sim amadurecer.
— Suspira, pensativa. — Cuidar de alguém assim é preciso de uma postura
madura e responsável. Você precisa dar exemplo para cobrar deles e acho que
isso é o que chamam de “clique de mãe”, que as mulheres têm. Nós somos
pré-programadas para amar incondicionalmente e cuidar. Mas quer saber? —
murmura como um segredo.
— Sim, claro.
— Travis teve o mesmo clique. Ele assumiu e cuidou dos irmãos
desde sempre. Ele é mais para pai do que irmão deles e todos, até o Colen
que não tem tanta diferença de idade dele, o respeita como tal. — Ela abre
um sorriso enorme. — Eu particularmente acho isso incrível da família
Lozartan.
— Sua família.
— Sim, a minha família — diz com orgulho. — Meu clã
maravilhoso.
Ela parece ser feliz onde está e se encaixar com perfeição.
— Acho que ela quer você.
Levanto, pego Sophia e sento-me aconchegando-a no meu colo. Ela
deita e eu coloco o paninho no seu rosto.
— Ela acordou cedo hoje e... — Paro de falar quando vejo Bárbara
chegando até nós. — Oi, pensei que não viria.
— Jamais — ela fala com animação e dá um abraço em Madeleine
quando a amiga se levanta. — Você está um arraso.
Rio pelo jeito engraçado de Bárbara falar. Ela se senta perto de mim e
pega no pé de Sophia, chamando a atenção da bebê que tira o paninho de
cima do seu rosto e olha Bárbara.
— Oi, princesa.
— Bah.
Bárbara ri com um sorriso carinhoso e Sophia volta a fechar os olhos,
e eu tapo seu rosto de novo.
— Ela quer dormir — comento.
— Deixa essa coisinha linda descansar e vamos colocar as novidades
em dia.
— E o que você tem de novo para contar? — Madeleine pergunta
com a sobrancelha direita erguida. — Nós nos falamos ontem, e não é
possível ter algo sobre você que eu não saiba.
— Por incrível que pareça, eu tenho algo a dizer.
— É? —Madeleine insiste. — Fala logo. Não me deixe ansiosa.
O rosto de Bárbara se torna animado e ansioso, tanto quanto eu e
Madeleine para saber o que vai contar.
Nós ficamos muito tempo conversando, Dario chega com Dante todo
alegre e animado. Com elas duas, sou atualizada de assuntos de Las Vegas
que não saberia se não fosse elas e rio mais do que se estivesse assistindo um
stand-up. Olhando para os convidados da festa, percebo vários olhares em
nós. Eu basicamente estou com a Corte da Lawless e sei que também sou
parte. Se fôssemos a realeza, Madeleine seria a rainha e eu a esposa do
primeiro-ministro, e Bárbara o que é de verdade, esposa do capitão da guarda.
E talvez por isso que todos nos olham e cumprimentam cordialmente.
Quando mais uma das mulheres insuportáveis passa por nós e a
cumprimenta com um sorriso falso, meus olhos perseguem e fixam em
Marinne no canto da festa. Ela não saiu de lá desde que se afastou de nós.
Parece que tem uma amiga com ela, pois a forma que as duas conversam e
riem, é nítido que se dão bem assim como eu e Bárbara.
Além de Marinne rir e conversar com a amiga, ela não para de olhar
na direção do homem que nos interrompeu, e por isso meus olhos fixam nele.
Ele é alto e tem um ar poderoso em volta de si. Não preciso perguntar
se ele é importante entre nós. Seja quem for, seu cargo é alto.
— Aquele é Amândio D’Ângelo.
Viro meu rosto para Madeleine após dar-me a informação que
esclareceu, porque, como sempre, está observando tudo e todos.
— Ele é o filho mais velho de Giovanni D’Ângelo — ela continua.
— O Capo da Darkness — completo.
Ela dá um aceno conciso e mantém um sorriso neutro e conhecedor.
Ela é esperta e espera minhas próximas palavras.
Madeleine já observou que falo demais e sempre fica esperando que
eu fale algo para depois explicar o que é preciso, ou acrescentar. Essa mulher
é fascinante e tão perigosa quanto um Madman.
— Eu não sabia que a Lawless mantinha um convívio tão forte com a
Famiglia de Nova York.
— Não mantemos, para falar a verdade. Não mais do que os
interesses comerciais e territoriais, mas acabamos de selar um acordo que
refuta qualquer forma de convívio e nos obriga a ter laços.
— Laços? Você quer dizer casamento?
— Sim.
Assinto e olho para Amândio novamente.
— Ele parece...
— De olho no prêmio.
Franzo a testa e encaro Madeleine.
— Amândio é o noivo de Marinne.
— O quê? Mas ela está fazendo dezesseis anos hoje. Como assim? —
Suspiro e me dou conta de que dei um show. — Ah, me desculpe, Madeleine.
Não foi minha intenção.
Seu rosto, passivo de qualquer sentimento, demonstra rapidamente
um sorriso, as sobrancelhas curvando-se.
— Não precisa se desculpar. Eu também tive a mesma reação — diz
com a voz ainda mais tranquila que seu rosto. — Levei um tempo para...
aceitar.
— Nossa. Ela já irá se casar?
— Não — responde rápido e firme. — Eles noivaram ano passado, no
décimo quinto aniversário de Marinne, mas o casamento será seis meses após
ela completar dezoito anos e consequentemente terminar a escola.
Assinto sentindo que abro os olhos de espanto. Madeleine sorri, sem
entusiasmo, e saco Dante no colo. O bebê parece ter acordado para ficar a
noite toda em claro.
— Eu sei como funciona os casamentos arranjados. — Sei muito bem
porque o meu foi um. — Mas não sabia que os noivos podiam ficar tão pertos
assim. — Olho para Marinne e Amândio, agora perto um do outro
conversando. Dario está logo atrás da irmã como um cão de guarda.
— Travis fez um acordo com Giovanni, que aceitava a irmã se casar
com o filho dele, mas Amândio teria que comparecer sempre que possível.
Meu marido não queria que a irmã se sentisse tão incomodada no seu
casamento. Com aquela sensação ruim de ir morar, se deitar e conviver com
alguém que mal trocou três palavras e — Madeleine para de repente e apruma
a postura — agora sou eu que lhe devo desculpas.
Rio e deixo meu sorriso aberto quando falo:
— Não se incomode, afinal eu tenho um casamento feliz. Paolo e eu
nos damos muito bem e Sophia foi a melhor surpresa que eu poderia ter.
Estou torcendo que Marinne tenha um casamento tranquilo e que tudo dê
certo.
— Eu também espero que sim — ela diz e não parece que apenas
torcerá, como também irá fazer tudo que for possível para que Marinne seja
feliz. — Bem, agora é melhor eu ir. Tenho que fazer o meu papel de anfitriã e
vejo que seu marido está vindo para lhe fazer companhia.
Viro-me para onde ela está olhando e vejo Paolo apertando a mão de
um homem de terno preto, e se afastando dele caminha para nossa mesa.
— Foi um prazer como sempre ficar na sua companhia — digo para
Madeleine, já de pé com Dante no colo olhando para tudo enquanto sua mão
gordinha agarra o colar de pérolas pequenas da mãe.
— O meu também, Nina — diz com muito entusiasmo e dá uma
risada quando pega a mão do filho e sacode para mim. — Até mais.
— Até! — Dou um aceno e os vejo se afastar.
— Nem todas tem sorte — escuto o murmúrio e me dou conta de que
Bárbara está sentada do meu lado, basicamente atrás porque estava de costas
para ela, com Sophia no colo. Ela sacode a bebê para distrai-la, e não estou
falando que é para distrair minha filha.
— Oh, Bárbara! — lamento girando meu corpo para ela.
Com calma, ela passa Sophia para mim e se levanta.
— Vou deixá-la com seu marido e vou atrás do meu.
— Quer mesmo fugir do assunto?
— Nós já conhecemos esse assunto tão bem que... — Dá de ombros.
— Não vejo no que pode mudar continuar falando sobre isso.
De uns tempos pra cá, Bárbara chama o casamento de isso e evita
comentar sobre. Parece que resolveu viver do jeito que dá e esperar um
milagre. O milagre do babaca do Enzo valorizar a esposa apaixonada e boa
que tem. Meu Deus, me ajude se Sophia sofrer do mesmo.
Pensando bem, ter um casamento arranjado com um estranho não
pode ser tão pior do que um casamento arranjando com um homem
conhecido, um homem que já passou pelas terras do seu coração, e ignora a
esposa, o assunto sobre sentimentos. Entre o meu casamento e o de Bárbara,
prefiro o meu. Prefiro o meu Paolo, um homem que se reconstruiu comigo e
se permitiu.
O maior erro, problema não é o caso, de Enzo, é que ele não está se
permitindo e quando fazemos isso, não tem como mudar algo.
Com lamento, eu vejo Bárbara se afastar e Paolo parado perto de
Madeleine. Ela deve ter falado algo porque seu semblante muda de repente e,
quando chega até a mim, senta-se na cadeira mais perto e segura minha mão.
— O que foi? — questiono sorrindo para ele.
— Nada — responde e soltando minha mão, pega Sophia no colo e
volta a segurar a minha mão, com os olhos fixos distantes.
Seja lá o que Madeleine falou, foi de mim e não acho que tenha sido
negativo. Não consigo não pensar o quanto essa mulher é influente sobre as
pessoas, assim como Travis. A maior diferença entre ela e ele, é que
Madeleine fala, Travis apenas precisa olhar.
14

A gora que o verão chegou, e será o meu primeiro verão em Las


Vegas. Percebo que aqui é um pouco mais quente e abafado que
Seattle. Já estou procurando me adaptar com a estação do ano
que mais gosto.
Mesmo que Paolo e eu não possuímos uma piscina maravilhosa igual
à da casa de Travis e Madeleine, optei em cuidar das flores. Deixar o jardim
florido e a grama verdinha para poder ficar com Sophia. Este ano o inverno
foi um pouco mais longo, então hoje, como o dia está bonito, estamos aqui
fora. Junho está no começo e trazendo o prelúdio da nova estação.
Deixando um copo de suco sobre o prato que está na toalha do nosso
piquenique improvisado, observo Sophia ficando de pé. Ela esticando as
mãozinhas para mim e eu seguro abrindo um sorriso. Ela cambaleia com o
seu jeitinho atrapalhado. Soph é muito perseverante e suas perninhas
gordinhas não vão demorar muito para levá-la onde quiser sem minha ajuda
ou de alguém.
— Você vai me dar muito trabalho, não é? — falo com minha voz
boba. — Vai ficar andando para lá e para cá.
Sophia solta uma risada alta e larga minhas mãos para se agarrar no
tecido do meu vestido. Sorrio e afago seu rostinho. Ela está linda com um
vestido rosa com um urso gigante no peito com um coração cheio de brilho. É
tão lindo quanto seus tênis rosas com glitter. Eu adoro vesti-la como se fosse
uma das suas bonecas grandes com rosto de louça da estante, afinal ela é a
minha bonequinha.
— Não é? — continuo meus pensamentos em voz alta. — Você não é
a bonequinha da mamãe?
— Papa!
Franzo a testa para sua exclamação tão acalorada, mas então sinto um
calafrio por minhas costas e viro meu rosto para as portas de vidro que
trazem ao jardim. Vejo Paolo descendo as escadas, vindo até nós. Sorrio toda
feliz por ele estar em casa tão cedo.
— Veio lanchar ou pegar algo? — pergunto ao mesmo tempo que
Sophia se solta de mim e corre cambaleando para o pai.
Paolo se apressa também e a apoia nas costas quando ela consegue
agarrar suas pernas.
— Vim ver vocês.
— É mesmo? — digo sorrindo e me pondo de pé. Meu marido pega
Sophia no colo e vem para mim, parando na minha frente e me beija na boca
de leve.
— Não estou me sentindo bem.
— O que você tem? — Coloco a mão na sua testa e percebo que está
suando frio. — O que está sentindo?
Ele tira minha mão da sua testa e entrelaça nossos dedos.
— Não se preocupe. Vim tomar um banho e já estou indo. Não posso
me ausentar.
— Por quê? Está acontecendo algo em Las Vegas?
Ele respira fundo e resolve não me responder. Dá sua total atenção à
Sophia e vira-se para dentro de casa, que óbvio que vou atrás, e ele sabe
disso.
Passando pela sala da varanda, olho rapidamente para a cozinha e
flagro Gregori conversando com Ana. Franzo a testa pelo comportamento
dela, parece encabulada e suas bochechas estão vermelhas.
— Gregori — Paolo o chama e meu segurança logo vira-se para nós e
muda a postura.
Minha mente entra em alerta, pois parece que tenho um probleminha
por aqui. Não é errado Gregori querer ter uma mulher e minha preocupação
não é isso, e sim ele fazer dela sua antes de se casar, pois a chama que vi em
seus olhos neste instante me faz pensar isso.
— Você vem, querida?
Suspiro e giro-me para Paolo, Sophia e Gregori que não parece ter se
dado conta do que eu estava observando. É confuso eu estar preocupada com
isso quando não faz muito tempo desejei que ele encontrasse alguém. Talvez
seja porque, se ele tiver alguém para se preocupar e dedicar, não poderá ser
mais meu guarda-costas.
Na sala de estar, Paolo me entrega Sophia.
— Vou ter uma palavra com Gregori agora e já subo.
Sorrio e me viro para as escadas sem dizer nada. Sophia puxa meu
cabelo de leve e eu sorrio para ela.
— Oi, bebê?
Ela me olha séria e tem o mesmo olhar do pai há pouco, confuso.
Tentando desvendar meus pensamentos. Dou um beijinho no seu rosto e
aconchego seu rosto no meu ombro.
— Liga não, filha. Mamãe só está ainda pensando que tio Gregori vai
ter que nos deixar e vou ser obrigada a ter outro segurança e isso não é legal.
— Como assim?
Um frio gelado na boca do meu estômago quase faz eu cair quando
ouço a voz de Paolo atrás de mim. Ele não espera eu me virar, aparece na
minha frente com o semblante em branco, o que é pior do que se estivesse
raivoso.
— O que você quis dizer sobre Gregori ter que ir embora? Acabei de
falar com ele e não soube de nada.
— Ah... — Que droga! O que eu vou falar: que estou imaginando que
ele está flertando com Ana?! — Eu...
— Você?
— Eu só acho que ele uma hora vai ter que ir, não é?
— Por quê?
— Porque ele precisa ter sua família e não sei se você irá deixá-lo
para cuidar de nós se ele tiver mulher e filhos.
— Por quê?
Solto a respiração e explico:
— Porque se ele tiver sua família irá pensar muito antes de se colocar
em risco de vida para salvar outra pessoa. Meu pai sempre escolheu os
solitários para proteger mamãe, eu e meu irmão. Por isso, quando Gregori se
casar acredito que irá embora e eu me acostumei muito com ele.
Paolo não esboça nenhuma reação quando diz:
— Não acredito que ele irá se casar tão cedo. Você por acaso está
sabendo de algo que eu não esteja? — indaga com um tom provocador.
— Não.
Paolo cerra os olhos, desconfiado.
— É verdade. Eu só estava pensando que...
— Que ele está perto demais da menina nova da cozinha?
— Como...
— Como eu sei? — ele termina a frase e abre um sorriso de lado se
aproximando de mim. Ganho um beijo no rosto e uma carícia no mesmo
local. — Acredita mesmo que alguma coisa passa despercebida para mim?
Que eu não notei Gregori e Ana pertos demais nas últimas semanas. Nina —
meu nome se aprofunda nas suas cordas vocais —, eu não seria o Consigliere
da Lawless se não olhasse ao meu redor atentamente. Eu notei sim.
— E não está preocupado?
— Por que estaria? Ele pode paquerar à vontade, só não pode
desrespeitar a minha casa.
Suspiro aliviada e sorrio.
— Fico realmente aliviada que você não se importa de Gregori estar
de olho em Ana.
— Eles são solteiros.
— É verdade.
— Então por que você não parece satisfeita com isso?
— Porque não quero outro segurança.
Paolo solta a respiração e pega a mão de Sophia quando ela estica
para ele.
— Não pretendo trocar seu segurança tão cedo, então não fique
pensando isso e, pelo que conheço de Gregori, ele não pensa em se casar.
— Nunca?
— Nem todos os Homens Feitos pensam em se casar ou tem essa
obrigação.
Baixo a cabeça assentindo.
— Você foi um.
Colocando dois dedos embaixo do meu queixo, ele ergue minha
cabeça e meus olhos encontram os seus.
— Não queria, é verdade, mas não me arrependo um dia sequer de ter
me casado com você.
Mordo meu lábio prendendo o riso. Paolo me puxa para ele e me beija
na boca, sem demorar porque Sophia nos agarra e rimos com ela entre nós. A
beijamos e ficamos abraçados. Eu não posso negar Gregori de um dia ter o
que tenho, mas por enquanto serei egoísta de desejar que ele fique mais um
pouco protegendo todos nós.
15

S entado na minha poltrona da sala de lazer, espero Nina dar a próxima


jogada, mas ela fica olhando e já está assim há muito tempo. Não sei
o que ela está esperando.
— Você está demorando muito.
— É porque se eu me mover, você vai me dar xeque-mate.
— Esquece a aposta, Nina, e simplesmente joga.
— Você fala isso porque vai ganhar.
Ergo as sobrancelhas olhando-a com um sorriso de Poker-face. Ela
está certa e eu tenho todas as chances para dar o xeque-mate, mas foi ela que
insistiu para a gente jogar agora, então já que não melhorei decidi que ficaria
em casa.
Depois que tomamos banho e ela preparou Sophia para dormir, deu
mamadeira e a colocou no berço, descemos para a sala de lazer onde tenho
ótimas recordações dela em cima da mesa que estamos jogando xadrez agora.
E acho que, pela terceira vez consecutiva, ela não vai ganhar e ela não gosta
de perder.
Para animar o jogo esta noite, mais do que ver Nina enlouquecer
tentando ganhar de mim, fizemos uma aposta e óbvio que o prêmio é sexo.
Eu não sei o que ela quer hoje, mas sei o que eu quero e adoraria fazê-la
perder peça por peça para conquistar.
Observo-a levar a mão até um dos peões e digo, ainda controlando
minha expressão.
— Errado e se você mexer a peça, é uma jogada.
— Para, Paolo.
— Só estou avisando.
— Eu já sei! Você fala todas as vezes.
— Estou só avisando — finjo estar insultado.
Nina ergue os olhos, sem mover um milímetro de seu rosto e
murmura cerrando os olhos:
— Você está falando isso como um blefe. Tipo, se eu fizer é porque
eu acerto e você não quer que eu acerte.
— Não sei.
É óbvio que estou manipulando-a e, quando vejo ela fazer o que não
disse, espero que ela não reclame, foi muita burrice dela não entender a
jogada que dei a ela, pois ia funcionar para ela aprender o jogo mais um
pouco. Nina assiste atentamente eu movendo minha mão e a peça que acabo
de dar o xeque-mate.
— O QUÊ?! — Ela coloca as mãos na cabeça e arregala os olhos.
— Eu sinto muito, querida, mas eu ganhei de novo.
— Ah... não! Isso não é justo.
Rio da sua voz zangada e isso a faz sorrir também.
— Com o tempo você vai aprendendo — provoco.
— Até lá você vai ser um velhinho de cabelos e barba brancas.
Balanço a cabeça sorrindo e tomo o resto do conhaque.
Ficando de pé, contorno a mesa e pego suas mãos, entrelaçando
nossos dedos. Nina sorri levantando-se também e respira pelo nariz com
força. Parada na minha frente, solto suas mãos para que as minhas cheguem
em seus ombros. Faço uma carícia sedutora em seus braços e ela afaga os
meus, subindo suas mãos até irem para trás do meu pescoço, me abraçando.
Beijo seu ombro e ela fala com a voz baixa:
— Eu não quero nada demais hoje.
— Não?
— Não... — ela responde sem muita confiança.
Cerra o maxilar apertando os olhos e continuo acariciando seus
braços até que alcanço a bainha de seu vestido rosa colado ao corpo. Desde
que nós nos casamos, Nina mudou um pouco o jeito de se vestir. Ainda usa as
roupas coloridas, os jeans justos com os tops e adoro as saias com meia-calça
curta demais. Ainda é a mesma menina, mas agora está também mais ousada
usando vestidos de cor única, colados ao corpo. Ela fica sexy demais com as
cores vermelho-sangue, preto, azul-royal e o dessa noite é tentador. Um rosa
quase vermelho e sei que não é porque ela repetiu três vezes que é rosa-pink.
Colocou só para jogar comigo.
Lentamente deixo sua calcinha de fora, que descubro ser de renda
branca, e o tecido do vestido fica enrolado sobre o abdômen liso.
— Você escolheu esse vestido para ganhar o jogo ou para deixar eu
ganhar?
Nina morde a boca ainda mais, escondendo o sorriso.
— Está muito sexy e por isso hoje eu vou te dar o prêmio.
— Mas eu não ganhei.
Rio e beijo-a de leve.
— Você esqueceu que é dia hoje?
— Mmm... eu acho que sim.
Toco a pontinha do seu nariz.
— Como pôde ter esquecido?
Ela dá de ombros e abre dois botões do meu suéter. O dia estava
muito quente, mas a noite esfriou demais.
— Hoje é seu aniversário, amor.
— Já?
Assinto e acabo rindo.
— Sim, senhora, porque já passou da meia-noite e eu vou ser o
primeiro a te dar feliz aniversário...
— Obrigada — diz rindo e abrindo mais botões.
— E o seu presente — completo e me afasto para ela conseguir tirar o
suéter.
— Obrigada... — e cochicha — de novo.
Ela abraça meu pescoço e dá um pulinho, então está no meu colo.
Com passos lentos levo-a para o sofá, dando beijos nos seus ombros, pescoço
e, quando unimos nossas bocas, chupo seus lábios. Nina solta aqueles
gemidos que eu adoro, baixinho e de boca aberta. Retiro de uma vez o
vestido deixando-a sentada. Ela mesma tira o sutiã, me seduzindo jogando os
cabelos para longe.
Porra. Eu a pego com força e dou um beijo na sua boca barulhento e
molhado. Inclino meu corpo até fazer o dela se deitar no sofá de novo e vou
indo para baixo porque temos espaço. Não sei como ela não percebeu que
abri o sofá-cama e tranquei a porta.
Me ajoelho ao lado das suas pernas e tiro sua calcinha, erguendo suas
pernas. Levanto-me, saindo de cima do sofá-cama e Nina tenta me puxar,
dizendo:
— Onde você vai?
— A lugar nenhum — respondo e tiro minha camisa, a calça com a
cueca e junto com sapatos. Volto para ela adorando o jeito que está me
olhando agora.
Ela geme e me puxa, roçando sua boceta no meu pau que já está
bastante duro, mas não quero logo penetrá-la. Ainda temos tempo para
apreciar a noite, porque depois de uma mamadeira cheia Sophia não acorda
tão cedo.
Primeiro eu saboreio os lábios da minha esposa, beijando
demoradamente sua boca, roubando seus sons e sentindo o gosto do
conhaque que ela insistiu em tomar com o sabor do sorvete de creme. Beijo a
maçã do seu rosto seguindo o caminho do seu pescoço, sentindo suas unhas
arranharem meus ombros. Solto um gemido perplexo quando ela desce as
mãos até conseguir apertar minhas nádegas. Deixando uma mordida no seu
ombro, me afasto e encaro-a enquanto meus dois dedos acariciam seu clitóris
lentamente.
— Paolo — ela chama meu nome jogando a cabeça para trás.
Satisfeito, continuo movendo mais os dedos querendo-a ainda mais
excitada. Ela fecha os olhos, morde o lábio e volta a jogar a cabeça para trás
abrindo a boca, se entregando quando esfrega no ponto sensível e sem
delongas, meto um dedo no seu calor.
Meus olhos focam no seu peito, subindo e descendo com os mamilos
duros e vendo-a parecer delirar, vou colocar outro dedo bem devagar. Nina
não consegue deixar o corpo parado, movendo os quadris e fazendo meu
dedo massageá-la, dentro e fora.
Desço um pouco meu corpo e digo trocando a respiração com ela:
— Você é tão linda. Toda linda.
Nina geme com um sorriso e eu continuo.
Excitado pra caralho, eu paro de provocar seu clitóris e foco apenas
em meter meus dedos. Forço para dentro, socando até atingir seu ponto
sensível. Ela goza chamando meu nome bem alto. Aqui pode fazer barulho.
Está bem longe do quarto da Sophia.
Tiro minha mão, pego suas coxas e ergo mais um pouco, fazendo-a
me agarrar com as pernas. Pegando meu pau, coloco na ponta passando de
leve. Nina geme e eu penetro-a sentindo a delícia de estar dentro dela.
Abraçando seu corpo, ela geme de novo, agora no meu ouvido, e chama meu
nome escondendo meu rosto no seu pescoço e vou mais devagar.
É a única tortura que faço com ela, e não é apenas ela que sente a dor
misturada com prazer em ir tão devagar. Porém, sei que Nina adora tanto
quanto eu ir devagar.
Ela aperta seu núcleo e é tão apertada, como se fosse uma mão
apertando forte e punhetando deliciosamente meu pau, mas mais intenso e
bom. Perfeito porque tem seu calor molhado e seu corpo envolvendo o meu.
Nina chama meu nome e eu tiro meu rosto do esconderijo, encaro-a.
Tiro o cabelo da frente do seu rosto e movo-me mais devagar, passo o meu
nariz no dela e digo:
— Eu te amo e é isso que eu estou lhe dando agora.
Seus olhos brilham e ela toca meu rosto.
— Não sei se estou indo bem, tentei duas outras vezes, mas você me
deixa louco, mas quero ir lento hoje.
Ela sorri orgulhosa, mas morde o lábio inferior mexendo o corpo
rápido, fazendo eu acelerar a penetração.
— Você não precisa ser lento para dizer que me ama, Paolo. Eu gosto
de você me pegando com força. Eu aceito até umas palmadas.
Dou uma risada e beijo sua testa. Acho que ela está apenas me
provocando e não vou acelerar mais do que estou agora porque ela aceita,
hoje eu quero ser suave com ela porque preciso também.
Beijo sua boca, lambendo seus lábios e fazendo minha língua
perseguir a sua. Como uma dança ou um duelo. Seus braços me apertam, as
pernas ficam rígidas, sinto suas coxas flexionarem quando meto mais fundo e
lento na sua boceta. E quando atinjo o ponto que faz ela gozar, Nina joga a
cabeça para trás e geme arranhando minha pele.
— Porra, Nina! — esbravejo e dou uma estocada, mas me controlo
deixando meu corpo junto ao seu.
Ela volta a relaxar um pouco e seus olhos encontram os meus. Beijo
sua boca e apenas acelero para conseguir gozar. Sinto suas unhas de leve
raspando meus ombros, sua boca na minha pele, lambendo o suor do meu
pescoço e isso é tudo que preciso para gozar forte e rápido. Minha mão
encontra seu clitóris e eu provo fazendo círculos. Nina agarra meus braços e
grita gemendo e gozando. E, ao invés de ficar menos excitado, fico mais.
Porra, ela é incrível!
Apenas deixando nossos corpos moverem-se por impulso, seguro seu
rosto com as duas mãos e beijo sua boca por longos minutos. Ela acaricia
minhas costas e eu vou deixando meu corpo cair para o lado e me
acomodando. Dando um selinho nos seus lábios, relaxo e nós dois
suspiramos. Sorrindo ela deixa a mão no meu peito, brincando com os pelos.
— Está ficando grisalho aqui também.
— E lá embaixo? — brinco com ela.
Nina dá uma gargalhada e pega minha mão do seu peito e beija,
depois deixa no mesmo lugar. Nos encaramos e sinto meu peito pequeno para
os batimentos do meu coração.
— Quero te falar uma coisa.
— Diz — ela murmura e passa a mão no meu rosto.
Beijo sua palma como ela fez agora e começo:
— Eu quero que você escute com muita atenção.
Ela concorda assentindo com a cabeça.
— Eu sou obcecado por você, me sinto selvagem e animalesco. Eu
sempre fiz amor com você, porque você é só isso: amor, carinho e tudo de
bom na minha vida.
Vejo seus olhos ficarem marejados e observo quando vem ficar com o
corpo em cima do meu, e assim saio de dentro dela escutando-a gemer. Eu a
quero de novo e descanso minhas mãos na sua bunda. Não preciso dizer nada,
sua mão encontra meu pau e começa a provocar. O jeito que me olha, que me
toca e eu a ela. Toco seu rosto, seus cabelos e suas costas e bunda. Seu jeito
de me seduzir é muito mais doce e delicado do que eu.
— Eu adoro isso.
— O quê? — pergunta baixinho.
— Você me seduzindo.
Nina morde o lábio e força a mão, subindo e descendo no meu pau.
Minha ereção logo se apronta. Me deixando duro, pronto para ela de novo.
— Vamos, suba em mim.
Suas bochechas ficam vermelhas, envergonhada. Rio e vejo-a ficar
sentada e eu logo seguro sua cintura. Ela passa as pernas por cima de mim e
ficando onde eu preciso. Seguro meu pau e ela deixa seu corpo descer. Fico
ainda mais duro vendo meu pau sumir para dentro dela.
— Porra de perfeição.
Ela se apoia no meu peito, deixando a mão escorregar, inclinando o
corpo até seus seios encostarem no meu peito, os quadris movendo-se
suavemente.
— Eu também te amo muito. Estou tão feliz e quero que você saiba
disso. Vai fazer um ano que sou uma pessoa feliz e tudo porque você me
aceitou.
— Eu tinha que ter aceitado antes — digo afagando suas costas, de
vez em quando apertando sua carne. Ela é magra, mas tem carne e bunda. Eu
amo o corpo dela.
— Eu pensei isso também.
Ergo a sobrancelha e ela prossegue:
— Queria ter conhecido você antes, mas não tem importância.
— Não tem não, amor. — Minha voz sai rouca, quase estrangulada
pela emoção que sinto.
Abraço-a e deixo minhas mãos viajarem por suas costas e aperto sua
bunda. Sua boca encontra a mim e enquanto nos beijamos, ela mexe o corpo
num vaivém delicioso. Parece que a gente não vai sair daqui nunca. Estamos
aproveitando um ao outro sem pressa para gozar. E, de repente, surge-me
uma ideia e falo em voz alta:
— A gente pode tentar um bebê novo.
Nina afasta o rosto do meu e franze a testa.
— O quê?
— Quando você quiser, a gente pode ter outro filho.
Ela tenta não sorrir, mas falha.
— Eu tinha pensado nisso porque... eu não quero que você seja um
pai velho.
— Eu já sou um pai velho, Nina.
— Não é não. Eu juro.
— Não mesmo — falo e num giro rápido, fico por cima de novo e
acelero os movimentos e Nina arranha meu peito.
— Você é um velho gostoso.
— É? — Dou uma estocada, indo bem fundo.
— É! — ela geme. — Gostoso, experiente, ma-ra-vi-lho-so — fala
pausadamente passando as mãos no peito, nos braços e enfiando as unhas no
meu abdômen, indo para baixo.
Eu dou uma estocada e seguro sua cintura e continuo e continuo.
— Por favor. — Ela se abre todinha para mim e abraça-me.
Agora não vamos parar enquanto não gozarmos e vou mais rápido,
procurando meu orgasmo. Entrelaço nossas mãos enquanto beijo-a e acelero
mantendo meu corpo junto do dela. Seu núcleo começa a me apertar. Aperto
os olhos. Não aguentamos mais e gozamos juntos.
Ficamos um bom tempo abraçados e como eu tinha planejado à noite,
saio de dentro dela e puxo a coberta que deixei no canto. Apago a luz da sala
com o controle e deixo apenas o abajur que fica ao lado do sofá, na mesinha.
No escuro, ela vem para cima de mim e deita sua cabeça entre meu ombro e
peito. Abraço seu corpo e vejo que Nina tem um sorriso tranquilo em sua
face. Ela passa os dedos no meu peito para cima e para baixo lentamente.
— Sobre o bebê, é sério? — murmura como se estivesse com receio.
Franzo a testa para ela e dou um beijo na sua testa quando olha para
mim.
— É sério, sim.
— Então acho que eu vou parar de tomar o anticoncepcional.
— Tudo bem.
Ela fica silenciosa demais.
— Nina?
— Oi.
— O que está pensando?
— Nada. — Olha para mim de novo.
— Escuta, não quero que você queira ter um filho logo, está bem?
Não porque eu já estou ficando um coroa.
Ela ri baixinho e sobe o corpo, apoiando-se no meu peito.
— Eu amo o meu coroa. Ele é tão bom — acaricia meu peito e
completa sugestivamente — em tudo.
— Você está muito assanhada — brinco passando a mão na sua
bunda.
Seus olhos se fecham, relaxada e tranquila. Ela os abre apenas para
me enxergar e beijar minha boca. Depois se deita, ficando na mesma posição
de antes.
— Está tudo bem. Vamos ter um bebê novo e... — sinto que sua voz
vai diminuindo. — Podia ser um menino agora.
Meu coração acelera em imaginar um filho menino agora. Qualquer
sexo já me deixa eufórico.
Mia e eu tentamos como loucos ter um filho logo depois que nos
casamos. Pensamos até que não iríamos ter nunca. Fizemos exames e ela
ficou com medo de não poder engravidar. Começamos a pensar que eu fosse
o problema, meus pais me cobravam pra caralho um herdeiro. Meu pai mais
do que ninguém para e ter um filho homem. Até hoje ele cobra. E eu não
quero um menino para carregar meu nome, mas porque seria legal ter um
menino depois de ter uma menina.
Depois do que passei com a gravidez de Sophia e o que veio em
seguida, o que ultrapassei sozinho por longos sete meses após a morte de
Mia, não queria ter mais nenhum filho. Estava cego por vingança e tristeza.
E, quando percebi meus sentimentos por Nina, fiquei receoso com o assunto
um dia surgir à mesa do café da manhã. Mas agora, eu não quero não arriscar
ter um segundo filho e tampouco proibir Nina de ter um filho. Um segundo
filho como ela mesma disse. Não o filho dela, pois Sophia é dela.
— Pode ser.
— Sério?
— Estou falando sério, Nina.
— Agora? — Ela olha para mim.
— Sim.
— Você pensou nisso tem muito tempo?
Encaro-a sério e respondo:
— Porra, não quero ter outro filho quando estiver lá pela casa dos
cinquenta. Eu vou fazer quarenta daqui a pouco.
— É, eu sei.
— Acho que agora, eu com trinta e oito e você com vinte e um é uma
boa idade para começar a tentar e logo ter um bebê — falo vendo seu
sorrisinho. — O que é engraçado?
— Parece que eu te conheço a vida toda. Parece que você não teve
uma vida longe de mim, antes de mim.
Afago seu rosto e me acomodo de um jeito que posso beijar sua boca.
— E agora eu vou ter uma vida inteira com você até o fim dos meus
dias.
— O que vai demorar pra caralho.
— Não fala assim.
Ela ri baixinho, com os olhos piscando de sono.
— Para de falar agora. — Passo a mão no seu rosto. — Fecha os
olhos. Boa noite e vai dormir.
Ela segura meu pulso e tira minha mão do seu rosto.
— A gente está muito longe da Sophia.
— Trouxe a babá eletrônica. Está em cima do bar.
Nina cerra os olhos, agora com malícia.
— É impressão minha ou você organizou tudo isso?
Rio e ajeito a colcha em cima dela.
— Como é que você não percebeu que estamos no sofá-cama e ele
está aberto?
— Quando você transa comigo, eu não vejo nada ao redor. Se a gente
estivesse deitados em cima da mesa da cozinha ou no fogão, eu só ia
descobrir depois.
— Ainda bem que você tem a mim.
— Não posso discordar — diz sonolenta.
Beijando sua testa, faço-a se aconchegar no meu peito e afago suas
costas.
— Vai dormir, amor. Depois a gente faz muito sexo e conversa. Hoje
é seu aniversário, é seu dia.
— Você vai ficar em casa?
— Eu vou.
— Obrigada — agradece deixando um beijo no meu peito.
— Não precisa. Agora dorme.
— Estou indo... — balbucia.
Como ela está relutante, deve ser ansiedade, faço carinho onde ela é
sensível e pega no sono mais rápido. E depois de alguns minutos Nina relaxa
totalmente o corpo e adormece. Antes de eu dormir, penso sobre o que ela
falou e é verdade. Parece que ela e eu estamos juntos há muito tempo.
Quando é para ser, é para ser.
16

E u nunca gostei muito de aniversário, porque para mim não


significava muita coisa com as ordens insuportáveis da minha mãe.
Quando eu era criança, as festas eram até mais divertidas, mas
depois que fiz meus doze anos mamãe começou a supervisionar o que eu
comia e açúcar estava fora do cardápio. Ou seja, nem a droga do meu bolo de
aniversário eu podia comer. Nem no único dia que de fato é o meu dia.
O meu último aniversário em casa, meus pais estavam eufóricos
porque era a minha carta de casamento. Parece que Paolo não iria se casar
com alguém com menos de vinte anos e meu pai viu a oportunidade e não
perdeu tempo. Me casou praticamente um mês depois do meu aniversário.
Papai é um porco de vez em quando e eu dei sorte por Paolo ser quem é e nós
nos darmos bem.
Certo, nos damos mais do que bem.
Saindo da cozinha, paro vendo a decoração de flores, muitas e
diversas flores, pela sala de jantar onde está a mesa do bolo. Aqui foi o
melhor lugar porque as portas para o jardim ficam na sala um pouco mais à
frente e à direita, onde as mesas com os convidados ficaram. Além é claro
que o banheiro fica na mesma direção, mesmo que tenha um no jardim.
Suspiro e sorrio para Paolo quando o sinto chegando atrás de mim.
Ele pousa sua mão em minhas costas, um pouco acima da minha bunda.
Levanto o rosto e sorrio para ele.
— Obrigada por isso.
— Não foi nada.
— Você não falaria isso se soubesse dos meus últimos oito
aniversários.
Seus olhos ficam violentos e eu lembro com quem estou falando e
que meus pais estão no jardim.
Viro meu corpo de frente para o dele e espalmo minhas mãos no seu
peito.
— Você mandou fazer até um bolo com flores.
Ele dá de ombros.
— A ideia foi da Ana e a Bárbara se prontificou em fazer.
Rio assentindo. Minha amiga não ia deixar passar meu aniversário
sem fazer o meu bolo. Bárbara é uma fada e não fez apenas o bolo como
cupcakes decorados de flores. Parecem de verdade, mas são bolinhos. Foi um
presente lindo e não só isso. Ela parece bem e Enzo não está tão de cara feia
agora. Continua fechado, porém menos carrancudo.
— Mas se não fosse você, eu não teria um bolo, então estou me
sentindo em um sonho.
— Vamos lá para fora.
Assinto e deixo pra lá que Paolo não é a pessoa mais receptiva a
elogios. Tudo bem. Ele pode ter seus “defeitinhos”.
Descendo as escadas para o jardim, encaro todo mundo e sorrio.
Paolo se afasta e vai para a mesa dos Lozartan, onde Sophia ri alegremente
no colo da madrinha Madeleine.
Vendo Fran, eu me aproximo dela e peço que comece a servir o
jantar.
— Já vou começar, senhora. Ana?! — ela chama a filha.
Assisto cerrando os olhos quando vejo Ana saindo da estufa. Ela vem
apressada até nós.
— Sim, mamãe?
— Vamos servir o jantar. Me ajude.
— É claro — Ana diz prontamente e segue a mãe.
Alguns segundos depois Gregori sai da estufa também e eu sorrio
para ele abertamente. Com rápidas passadas, meu segurança se aproxima de
mim.
— Quer algo?
— No momento não. O que estava fazendo na estufa?
— Ana preparou uma surpresa para você.
Franzo a testa surpresa e não pelo suposto presente. Pensei que ele ia
negar que estava sozinho com ela na estufa.
— Posso ver?
— Seria legal ela te mostrar.
Penso melhor e concordo.
— Tudo bem. Quando ela quiser, me entrega.
Gregori assente e dá um passo para longe de mim e só quando mamãe
aparece na minha frente que entendo o porquê.
— Mãe?
— Você poderia me levar ao banheiro?
— É claro.
Ela sorri agradecida e estende o braço para mim. Eu aceito e nós duas
viramos para as escadas, e eu não subo antes de ver Paolo me acompanhar
com seus olhos de águia. Ele pode tentar esconder de mim, mas é nítido que
não gosta dos meus pais perto de mim.
— Essa casa é muito boa — mamãe comenta.
— É sim — concordo com orgulho. — É grande e tem tudo. Dá até
para se perder.
— Não é tão grande quanto a que você cresceu.
Não entendo o porquê a competitividade, mas ela sabe que é mentira.
Nossa casa é metade dessa aqui.
Chegamos na sala e eu faço questão de separar-me dela.
— É por aqui. — Indico com o braço onde fica o banheiro.
Mamãe não parece satisfeita, porém não tenho certeza. Ela sabe
manter a expressão neutra e controlada melhor até que papai. No corredor, ela
comenta:
— Você parece se dar muito bem com seu marido.
Respiro fundo e controlo meu sorriso. Não quero que ela saiba que
Paolo e eu nos damos além de bem.
— É, nós nos respeitamos.
— O que é muito importante — ela provoca.
— É — digo sem emoção. Aprendi jogando xadrez com Paolo a não
entregar o ouro e minha mãe nunca vai saber que nós dois nos amamos.
Vendo a porta do banheiro, sinto um aleluia brotar em meus lábios,
que mamãe mata dizendo em alto bom som:
— Eu quero saber quando é que você vai engravidar.
Paro de respirar e encaro-a.
— Como é que é, mãe?
— Você precisa engravidar logo. Ele já não é um homem muito
jovem e você está fazendo vinte e um hoje, uma boa idade. Precisa
engravidar e dar logo um herdeiro a ele, Nina.
Espero o choque passar e digo:
— Por que você está falando isso?
— Você precisa dar a ele um filho. Ouvi que foi um escândalo seu
último casamento. A demora para a ex-esposa morta dele engravidar.
— Nós temos Sophia e ela ainda tem um ano, mãe.
— Ela não é sua filha! — mamãe esbraveja. — Eu tenho que repetir
quintas vezes isso para você? Mesmo que você se comporte como se aquela
criança fosse sua filha...
— Por favor, não fala assim da Sophia. — Recupero as forças e a
faço se calar. — Eu sou a mãe dela.
— Isso é um erro. Você não é a mãe de sangue dela.
— Por favor, não começa a ficar falando essas coisas. Por que você
faz questão de me magoar?
— Não seja dramática. Não estou dizendo nada que ninguém nessa
festa aqui não pense, porém eu tenho coragem e sou sua mãe para te dizer
boas verdades.
Respiro fundo, irritada.
— Mesmo que elas me causem dor?
— A verdade dói, se acostume. Elas geralmente são feias e cruéis.
— Bem, eu não quero ser uma mãe como você um dia, então. —
Engulo em seco. — Se um dia eu tiver que falar algo para os meus filhos que
seja uma pura verdade e que possam deixá-los tristes, vou ser mais concisa e
delicada, coisa que você nunca foi.
— Não me responda, Nina.
Ela está prestes a me dar um tapa no rosto quando vejo uma sombra
alta se aproximando de mim e segurar a mão da minha mãe.
— Eu acho que a senhora não entendeu que essa casa é minha e eu
acho bom que você não se atreva a bater na minha esposa — Paolo diz rígido
e com firmeza, com os olhos fixos nos da minha mãe. — Ela não é mais sua
filha apenas. É minha mulher e exijo que a respeite.
Ele só solta a mão dela quando eu toco em suas costas.
Mamãe cambaleia para trás e me fita com raiva.
— Depois nós conversamos — ela diz e entra no banheiro.
Meu coração ainda bate acelerado e eu sinto as lágrimas esquentarem
meus olhos, mas não as deixo caírem. Olho para o alto e respiro umas três
vezes profundamente.
Sinto mãos tocarem meu rosto e abro os olhos encarando um Paolo na
beira do penhasco para assassinar alguém.
— Ela te machucou?
A pergunta de Paolo deveria ser para me deixar forte, no entanto fico
mais emotiva e olho para ele piscando rápido e fungando.
— Nada que ela nunca tenha admitido ou feito. Está tudo bem.
Ele solta a respiração e me puxa para os seus braços. Eu vou feliz
fechando os olhos, escutando seu coração batendo forte e apressado. Ele deve
ter subido as escadas correndo porque pressentiu que eu não ficaria bem
sozinha com a minha mãe. Ele pensou melhor do que eu que se nos longos
vinte anos que convivi com ela não fui feliz, por que eu seria agora. Por que
eu seria tratada bem agora?
— Eu sou uma burra por achar que ela iria me tratar diferente agora
que eu sou uma mulher casada e adulta — murmuro me sentindo
extremamente magoada.
Paolo se afasta e segura meu rosto olhando nos olhos.
— Eu já disse que você não tem que ficar pensando nos seus pais e
você não é burra por acreditar que a sua mãe iria te tratar com decência.
Esquece eles.
— Com prazer.
— Vamos descer e comemorar o seu aniversário.
Assinto e sorrio. O acompanho e ele muda de rota entrando no seu
escritório. Ele fecha a porta e eu o encaro.
— Qual o problema?
Paolo me agarra e pressiona meu corpo na parede com o seu corpo.
Sua boca me devora intensamente, me tirando o ar. Eu tento não bagunçar
seu cabelo. Foco em minhas mãos apertarem seus braços e o deixo me beijar,
até ganho uma mordidinha no lábio inferior de leve.
— Uau — murmuro quando ele para o beijo. — O que foi isso?
— A porra do meu remédio controlado.
Rio alto e limpo da sua boca o meu batom.
— Esquece a vaca da sua mãe, entendeu? Não fique mais a sós com
ela e nem com o seu pai. Eu não quero ter que matar ele, porque é traição,
Nina.
Assinto atônita.
— Mesmo que eu justifique que meti a porra de uma bala na cabeça
do seu pai porque ele tratava mal a filha, e ela é minha esposa e como meus
votos pediram para eu protegê-la e honrá-la, não tem jeito. Vai ser a droga de
uma traição, entendeu?
— Aham — balbucio.
— Ele é um homem de Travis e eu não posso matar um homem do
meu Capo sem que ele dê a ordem. Eu não posso matar nenhum outro
homem da Famiglia, então não fique perto deles sem mim. Não provoque
isso.
— Não vou. Prometo — falo com medo dele cometer uma traição
dessa, que será paga com sua vida. — Eu juro.
— Eu sei — diz baixo e afaga meu rosto. — Seus pais são horríveis e
eles sempre vão tratar você com medo se estiver perto de mim. É uma merda.
Você merece a porra de um tapete vermelho deles e flores caindo do céu, mas
não terá. Mas eles não conseguem, então por enquanto, por essas horas de
hoje e nas próximas vezes que nos encontrarmos, fique perto de mim quando
eles quiserem falar com você.
— Eu juro, amor. Eu juro e não... — perco a voz e o agarro, beijando-
o com desespero. — Esquece eles também.
— Por você.
Assinto e o abraço bem forte. Eu jamais deixaria Paolo cometer um
erro que me tiraria ele para dar um jeito em meus pais. Torço que a vida faça
isso sozinha. Mesmo que demore.
17

S em conseguir me controlar, me levanto e sigo os passos de Nina,


que está na estufa. Como tinha prometido a minha esposa, estarei
perto dela o tempo todo hoje. Entro na estufa ouvindo sua voz
irritada mais uma vez e logo dou de cara com seu pai e sua mãe em cima
dela.
— Cale a boca, mãe. Para de falar isso.
— Mas ela não é sua filha. — Chego bem na hora que o pai de Nina
grita com ela.
Com uma paciência que nunca foi meu forte, porque não quero
cometer uma loucura por impulso e é por todas essas razões que ainda não
devolvi aos pais de Nina nenhuma das grosserias que fizeram com ela, tento
me controlar.
Mas hoje eles passaram dos limites. Porra, no aniversário dela e ficar
falando sobre a Sophia.
Paro no meio da estufa, coloco minhas mãos nas bolsas e olho para os
pais dela, porém foco em minha esposa que tem os olhos marejados, no
entanto raivosos.
— Algum problema, Nina?
Porra! Eu disse para ela não ficar sozinha com eles. Ela não diz nada.
Sabe que se falar que não tem nada, é mentira; e se afirmar que têm, vai
causar um problema.
— É um assunto de família, Paolo. Você não tem que se meter — a
mãe dela fala.
— Eu acho que é problema meu sim porque a minha esposa não
parece feliz e eu estou aqui para defendê-la.
— Mas esse é um assunto de família.
— Então eu fico, pois Nina é minha família. — Me aproximo e ela
vem ficar com o corpo colado ao meu. Passo meu braço por trás dela e
descanso minha mão na sua cintura. — Algum problema, Nina? — pergunto
mais uma vez.
Respirando fundo, ela permanece em silêncio.
— Eu acho que, com todo respeito, você está na sua casa — o pai
dela começa —, mas esse assunto ainda é nós três que devemos ter.
Respiro fundo, solto Nina e viro-me para ele.
— Você maltratar minha esposa durante o período que ela viveu
debaixo do seu teto, foi problema seu. Infelizmente eu não sabia, não pude
fazer nada. Mas você fazer isso agora, na minha casa, é totalmente problema
meu. Então... — Dou alguns passos até ele.
Rocco não tem como se preparar quando agarro o seu colarinho e o
empurro até bater na parede. Pressiono o meu braço no seu peito fazendo
força com cotovelo no seu pescoço, deixando-o sem ar aos poucos e digo
bem sério:
— Você é um babaca e eu adoraria meter uma bala na sua cabeça, se
isso não fosse causar problemas para mim.
— Você não ousaria. — Consegue falar com muito esforço. — Eu
sou um Underboss de Travis.
Rio com nojo.
— Travis adoraria acabar com alguns Underboss, então cale a boca e
me escuta. — Faço mais pressão na sua garganta. — Você vai ficar vivo, seu
verme escroto, babaca e desprezível. Mas não vai mais ficar humilhando
Nina. Você acha isso certo? Ela é sua filha, não é a merda de um soldado e
nós vamos ter um filho quando nós decidirmos ou quando acontecer. Não te
diz respeito.
O solto, vendo-o cair um pouco para o lado, já que é um velho e deve
estar cansado, mas a esposa o segura.
— Agora, os dois se comportem e façam o favor de se dirigirem com
a educação que ainda lhes restam a minha esposa ou calem a merda da boca
se não quiserem tomar um tiro no pé.
Isso eu posso fazer sem correr o risco de Travis ficar uma fera
comigo.
— Não vou dar outro aviso. Eu posso não poder te matar, mas eu
tenho quem pode.
— Você está me ameaçando?
— Estou te avisando.
Rocco tenta ajeitar a gravata e a camisa, eu ignoro e vou para perto de
Nina e pego Sophia dos seus braços. Noto minha esposa tremendo.
— Você não podia fazer isso — escuto atrás de mim.
Me viro e digo para a mãe de Nina:
— Eu não fiz nada ainda.
Ela tem os olhos arregalados e ela dá um passo para trás.
— E o recado é para você também. Pois os dois sempre maltrataram
Nina, então, a partir de agora, não precisa vir, é melhor. Eu não sou obrigado
a ficar aturando vocês falando merdas sem fazer nada. O recado está dado.
Os ignorando, pego Nina e vamos nos sentar à nossa mesa. Sophia vai
para o colo da mãe. Como Travis está perto da minha cadeira, ele me dá um
olhar interrogativo.
— Não tem nada para se preocupar.
— Tem certeza disso?
— Só dei um recado rápido, não matei seu Underboss, mesmo que ele
não mereça esse favor.
— Lembre-se da Omertà.
— Foi por isso mesmo que só avisei. Se acontecer de novo, eu vou
mandar alguém fazer o serviço.
— Paolo — Travis tenta avisar.
— Você faria o mesmo se tratassem Madeleine assim, na verdade
você mataria o Edgar por menos. Aliás, que eu me lembre você não moveu
um músculo para salvá-lo da Bratva.
Travis concorda com um aceno seco.
Espero meu Capo se virar para a sua esposa, que tem os olhos de
águia em Nina. Madeleine é perigosa quando quer proteger alguém e se ela
um dia quiser fazer algo aos pais de Nina, seria até melhor. Travis nunca a
puniria. Ele é cego por ela.
— Você está bem?
Nina suspira, dá um beijo na cabeça de Sophia que está aconchegada
nos braços da mãe.
— Sim, mas não faça nada. Deixa eles pra lá.
— Ele fez o que eu queria há anos.
Levantamos os olhos e vemos o irmão de Nina.
— Romero! — Nina exclama e se levanta rápido.
Eles se abraçam bem forte e o irmão beija sua testa. Ele é mais novo,
porém é bem mais alto, quase da minha altura. Fico de pé também e os
observo. Eles se afastam e Romero tem os olhos azuis da irmã, só que frios e
ele tenta ver se Nina está bem e olha Sophia com a testa franzida. Percebe-se
que é protetor.
— O que está fazendo aqui?
— Vim para o seu aniversário.
— Mas ano passado você não veio.
Romero olha para mim e depois para ela.
— Seu marido pediu para vir. Disse que você estava com saudades.
Nina vira-se para mim com um sorriso enorme.
— Você fez isso?
— Fiz sim. Você não para de falar dele.
Ela assente emocionada e olha para Romero de volta.
— Estou tão feliz de te ver.
— Eu também, irmã — comenta ele e olha para mim. — Obrigado
pela honra e mais ainda por colocar meus pais no lugar deles.
— Você viu?
Ele vira-se para a irmã.
— Fiquei de longe assistindo alguém falar o que quis a vida toda.
Esperei vocês se afastarem para me aproximar. Não quero envolvimento com
eles.
— Não está falando com o papai?
— Apenas quando sou forçado, o que não é o caso hoje — responde
friamente e olha assustado quando Sophia estica os braços para ele. — Essa é
a sua filha? — A pergunta não foi para mim e eu aprecio demais isso.
— É — Nina responde emotiva e funga ficando com os olhos
molhados.
— Ei, por que o choro?
— Você não perguntou se ela é filha do Paolo e sim minha?
Ele dá de ombros e diz:
— Ficou assim porque nossos pais falaram que ela não é sua, não foi?
— Eles falam sobre isso o tempo todo.
— E você acha que é verdade? Acha que ela não é sua?
Nina balança a cabeça que não, deixando algumas lágrimas caírem e
olha para Sophia.
— Ela é minha. Minha filha.
— É sim, Nina — concordo e nunca a amei tanto como agora nesse
minuto.
— Então é isso que vale, Nina — Romero volta a falar. — Se para
você, ela é sua filha e é você que vai cuidar dela a vida toda, você é a mãe
dela. E deixa a mãe e o pai para o inferno, que é para lá que eles vão e
merecem.
Minha esposa abre um sorriso para o irmão e eles se abraçam de
novo. Sophia agarra o pescoço de Romero.
— Isso quer dizer que eu sou tio — ele comenta tentando ser mais
suave. O treinamento dele ainda está no começo. É comum ficar rígido com
as emoções perto das pessoas.
Nina dá uma gargalhada e o deixa pegar Sophia nos braços. Ela nem
estranha. Geralmente Sophia chora ou fica aborrecida de ficar no colo de
alguém que ela conheceu há poucos minutos, mas com ele Sophia
simplesmente relaxa.
— Ela gostou de você mesmo — Nina comenta extasiada.
— É porque ela não me conhece ainda.
Nina ri como não fez durante a festa toda, por culpa dos pais. Trazer
Romero da Itália foi um ótimo presente.
— Eu queria que você fosse feliz — Romero fala olhando a irmã. —
Desde que comecei a entender as coisas, quis ver você sorrindo e livre dos
nossos pais. E fico contente que pareça que você é e tem alguém para lutar
por você de verdade.
— Eu estou, irmão, e quero que você seja também.
— Talvez quando papai morrer, mas logo serei o seu sucessor e ele
não está mais com tanta saúde. Eu posso mudar algumas coisas.
— Pode sim — Nina fala confiante. — Você vai embora quando?
— Amanhã, não posso ficar muito e nem quero. Isso vai fazer eu ter
que falar com o papai.
— Onde você vai ficar?
Romero olha para mim e eu faço um aceno com a cabeça.
— Ele vai ficar no quarto de hóspede.
Nina me dá um sorriso de agradecimento e sei que mais tarde ela vai
me agradecer devidamente, ou não, porque ela segura a minha mão e diz para
o irmão:
— Eu preciso falar uma coisa com o Paolo. Já volto.
Romero fica sem entender, mas não diz nada. Com Sophia nos
braços, ele vai cumprimentar o Capo, é claro, e depois senta-se à mesa
conversando com ele, Madeleine, Marinne, Dario, Enzo e Bárbara. Na outra
mesa estão meus pais, emburrados; e nas outras, soldados mais próximos.
Pelo visto, os pais de Nina foram embora, pois, enquanto ela me
arrasta pelas escadas, não os vejo; e chegando à sala de lazer, também.
— O que você quer? — indago quando ela me empurra para dentro
da sala e fecha a porta.
— Dizer que te amo em alto e bom som sem ninguém ouvir.
Rio e recebo-a me agarrando, jogando-se em meus braços.
— De nada.
— Eu fiquei com medo de você acabar matando meu pai.
— Eu também.
Ela me olha bem séria.
— Isso não tem graça, Paolo. Eu sei que eles são ruins...
— Ruins é eufemismo, Nina — interrompo-a.
— Eu sei, mas eu não quero isso. Vai causar uma confusão muito
grande.
— Você vale a pena qualquer confusão, até uma guerra com seu pai.
— Obrigada, de verdade, mas eu prefiro que você não faça nada
contra ele e fique vivo.
Assinto e abraço-a bem forte.
— Queria ir agora para o nosso quarto, te dar o presente número dois
do dia.
Ela geme e enfia a mão dentro da minha calça.
— Se for esse o presente... meio que já é meu.
Retiro sua mão do meu pau e seguro firme sua cintura. Beijo rápido
sua boca e lhe digo:
— Mais tarde e, sim, ele já é seu.
Nina ri alto e me abraça por longos minutos e eu deixo. Talvez seja
aquilo que o irmão dela falou. Ela finalmente teve a felicidade que sempre
mereceu e tomo isso como uma missão: fazê-la sempre feliz e protegida.

Na manhã seguinte, estou no escritório de casa. ainda não saí porque


estou esperando Romero para poder levá-lo até o aeroporto e não quis
mandar o garoto sair correndo, até porque Nina fez questão de passar o
começo da tarde com ele. Devo sair com ele lá pelas três horas.
Uma chamada no telefone de mesa do meu escritório e atendo rápido.
— Paolo Dal Moli.
— Ainda bem que você atendeu rápido — Travis fala do outro lado
da linha.
— Qual o problema?
— Descobriu que eu não matei todos da família de Ivan. Eles querem
se vingar.
— Como você tem essa informação? Como chegou até você?
— Kira Avilov.
— Você está falando da menina que pegamos na casa dele. A filha
dele.
— Sim, ela mesma. Colen que me deu a informação.
Estranho por Colen estar em Las Vegas. Ele já voltou de Nova York?
— O que ele te falou?
— Que o tio dela entrou em contato com ela e pretende visitá-la.
Quer saber se está bem e óbvio que ele não vai gostar de saber que eu a
entreguei a um dos meus clubes de dança.
— Pelo menos não foi no puteiro.
— Você sabe que algumas mulheres fazem de tudo lá.
— Mas isso é com elas, Travis. Não é uma obrigação e... só não
entendo como Colen sabe disso.
— Esse é o outro problema. Ele está andando por Los Angeles, fez
amizade com um riquinho que fez faculdade com ele em Harvard, e aqui.
Está aparecendo por Las Vegas mais do que antes, de quando eu mandava
ele vir e agora vem com informações dessa garota, que vamos lembrar foi ele
que resgatou.
— Ela e ele são?
— Ele disse que são — faz uma longa pausa — amigos.
— Travis... isso não vai sair bem.
— Caralho. Você acha que eu não sei? Estou quase dando um tiro na
cabeça do meu irmão. Esse é um problema que não deveria acontecer.
Confraternizando com uma russa maldita. Puta que pariu o Colen.
— Eu estou te avisando há um tempo sobre Cássio D’Ângelo. Ele não
aceita que fiquem atravessando, burlando, adiando, cancelando ou qualquer
tipo de quebra das tradições da Famiglia. Elas foram feitas para serem
respeitadas, para imporem limites a nós, para que nos sacrifiquemos diante de
uma sociedade sem freios e beirando a loucura e perdição. Para que nós
sejamos mais fortes para nossas ações. É difícil de entender perante o que
somos, mas as regras nos tornam menos animais selvagens.
— Você acha que eu não sei disso porque o meu casamento foi um
pouco na contramão.
— Não. Não estou falando de você agora. Eu só estou te avisando que
não vai ser bom Colen com essa amizade. Um lobo não pode ser amigo de
uma ovelha e vice-versa. Nesse momento, ela é a ovelha, mas e se o jogo
virar?
Escuto Travis respirar fundo e sei que ele vai tomar uma decisão,
mesmo que faça Colen o odiar por um tempo. Como irmão sempre foi mole
demais em castigar os irmãos, mas assim que se tornou Capo, os irmãos têm
que respeitá-lo como líder não apenas o grande irmão que os criou como pai.
Ele morreria pelos irmãos sem pensar, isso antes de casar e ser pai. Isso antes
de carregar o peso da Lawless nas costas e a aliança com a Darkness. A
Famiglia mais certinha de todas sobre as regras, mesmo que eles as quebrem
as vezes, eles dão a devida punição. É algo que Travis precisa aprender.
18

H oje de manhã eu pedi para que alguns homens fossem até Chicago
descobrir o que está acontecendo com aquela merda de cidade que
Vitorio Malvez não comanda nada. Ele está destruindo anos de
uma organização, manchando as honras da Famiglia.
Se entrar em guerra com a Blood Hands não fosse custar tanto para a
Lawless, tenho certeza de que nós já estaríamos lá. Mas Travis não quer e eu
também não acho uma boa estratégia, agora que estamos colocando ordem na
nossa casa depois do problema com Edgar e o grupo da Bratva que ficava em
Las Vegas.
Me levanto da minha mesa no MGM, vim para cá depois de passar no
Balcão e vigiar as novas remessas de armas vindo de Nova York para nós.
Irritado com a falta de notícias de Chicago, o que sabemos é muito
irrelevante.
Vou ao banheiro e, quando estou saindo dele, um grito estridente
percorre o ambiente e colocando minha mão na arma do coldre por baixo do
paletó, saio do escritório imediatamente.
Franzo a testa procurando o que está acontecendo e uns dos homens
que ficam comigo, me seguem quando dou o comando. Eles sabem que não
podemos mostrar as armas – principalmente as luzes do dia – até que
necessário. Portanto corremos para onde acontece um tumulto do lado de fora
do cassino. Um tiro explode assim que colocamos os pés do lado de fora.
Sigo o som e vejo homens de preto, óculos escuros e a merda da jaqueta de
couro com o emblema dos motoqueiros.
— Peguem eles! — esbravejo com muita raiva.
Os filhos da puta sabem quem sou e começam a atirar sem parar.
Alguns disparos são para o tumulto e outros para cima. Eles não querem nos
matar, estão à minha procura para levar a minha ira. Estão procurando fazer
barulho, nos irritar. Chamar a atenção de Travis, que, depois de vender as
armas que eles precisavam, não quis vender mais e nem cartucho.
Corro até eles com sangue nos olhos e, quando estou bem perto do
que parece ser o líder do grupo, uma bala de raspão atinge meu casaco. A
raiva me cega e eu viro-me para o desgraçado que ouço atirar em mim, pego-
o pelo colarinho do casaco e dou um tiro no meio da testa dele.
Minha atenção é capturada quando sons de ronco de moto assoviam.
Levanto a cabeça e eles estão fugindo, o babaca que eu estava atrás com um
sorriso. Eu talvez faça um novo sorriso no pescoço dele quando o encontrar.
— Filhos da puta! Sigam! — ordeno para Mario quando para ao meu
lado.
— Sim, senhor.
Guardando minha arma no coldre, respiro fundo e ligo para Robert, o
policial que eu tenho contato.
— Paolo — ele atende e sem o mínimo entusiasmo. Ele sabe que não
ligo se não for muito grave a situação.
— Um grupo tentou roubar meu cassino e preciso que você cuide
disso. — Não preciso dizer mais nada.
— Qual deles?
— O MGM. Foi agora e algumas pessoas ficaram feridas.
— Tenta não mexer em nada. Estou a caminho e pode deixar que eu
cuidarei para que ninguém se meta.
— Conto com sua total discrição — encerro a ligação e ligo para
Luca. — Onde está Travis?
— Acabamos de chegar no Balcão.
Desliga e sigo para o estacionamento privativo, que tem muitas
pessoas desesperadas correndo para todos os lados ainda. Meus homens e
funcionários tentam acalmá-los. O protocolo de quando isso acontece, é que
eles tentem manter a discrição de todos, peçam desculpas e até ofereçam uma
estadia grátis.
Estou caminhando para o meu carro quando a gerente aparece do meu
lado.
— Mantenha tudo em ordem — digo para ela.
— Quem foi, senhor?
— Um grupo de MCs, mas a polícia está chegando. Diga que foi uma
tentativa de roubo.
Os babacas de fardas engolem uma tentativa de assalto nos cassinos
com facilidade. Eles sabem que nós sempre estamos armados até os dentes.
Porque quando se envolve com dinheiro, é complicado não ter armas. Eles
têm ciência de que todo cassino tem sua própria máfia de defesa e estão
armados até os dentes. Eu posso alegar o assalto tranquilo. O policial Robert
vai apenas dificultar que exista uma investigação, principalmente porque há
alguns feridos e mortos. Os soldados vão fazer a limpeza para que Robert
chegue com os outros.
Quando tem a possibilidade de identificação de alguma organização
ou clube de motoqueiros, tiramos as identificações; casaco, cordão, emblema
de qualquer forma, tudo que se refere a eles e damos um tiro onde tem a
tatuagem da irmandade ou da máfia. Não podemos deixar a polícia descobrir
que estávamos envolvidos. Percorremos um longo caminho, muitos anos,
para nos estabilizar novamente depois da queda. Não dá para deixar a polícia
se meter de novo com a gente e começar a investigar. Eles sabem que nunca
deixamos de existir e investigar, mas manter a discrição é o que eles também
querem de nós. Não nos chamam de reis do submundo à toa, porque é aqui
que precisamos estar quando outros fingem não nos ver e cometem suas
merdas as luzes. Somos a mesma farinha, porém dentro de embalagens
diferentes.
Furioso, eu entro no Balcão com passos largos, determinado a chegar
ao escritório onde me informaram que Travis está. Então abro a porta com
um rompante e berro para ele:
— Eu te avisei. Não diga que eu não te avisei.
— Mas que merda é essa, Paolo? — Ele se levanta e anda até a mim,
os olhos focando no meu ombro sangrando.
— Eu falei para você não fazer acordo nenhum com os motoqueiros
de Chicago e você não me ouviu.
Sua expressão raivosa demonstra que sente raia de si mesmo.
— Me explica o que que houve.
— Eles acabaram de atacar de novo Las Vegas. Dessa vez atacaram à
luz do dia o MGM. Eles assustaram uma porrada de gente e feriram um
segurança e eu. — Indico o ombro sacudindo-o. — Só não deu polícia porque
eu contornei a situação. Travis, você sabe que a gente tem que evitar qualquer
tipo de investigação ou assassinato nessa merda de cidade por causa que
ficam sempre de olho na gente. Se um desses MC’s filhos da puta, com fogo
no rabo, conseguirem fazer alguma coisa, você vai ser o culpado.
— Porra! — ele esbraveja. — Eu dei o que eles queriam para
poderem foder Vitorio e não virem atrás de mim.
— Eles sempre fazem isso, atacam quem tem poder e querem
retaliação.
— Nós não fizemos porra nenhuma a eles.
— Você não quis aceitar o acordo total de apoiá-los contra a Blood
Hands. Você vendeu as armas, mas eles queriam você. Eles queriam a
Lawless contra Chicago. Como você não fez, eles deram um recado hoje. O
que você vai fazer agora?
— Obviamente não vou deixar barato e se você já resolveu todos os
problemas que aconteceram para chamar a atenção da polícia, já é meio
caminho andado. Vou ligar para o líder deles e vou falar mais uma vez que eu
não quero participar. Se eles não aceitarem novamente, vou matar todos eles.
— Você vai fazer essa ameaça vazia?
— Claro que não — responde secamente. — A gente vai descobrir
aonde eles estão em Las Vegas. Porque eles ainda não foram embora se
atacaram hoje. E nós vamos pegar todos que estão aqui e matar e filmar.
Cortar em pedaços e mandar para o Prez deles. Isso vai ser a minha carta de
encerramento de contrato, onde eu não vou dar mais nenhuma arma para eles.
— Espero que essa merda não piore. O problema deles é com Malvez.
— Paolo, isso vai piorar muito mais. Não vai demorar para que a
Blood Hands caia e eu não quero me envolver com isso. — Travis pega uma
bebida no bar e toma o líquido de uma vez. — Eu não quis estar junto com os
motoqueiros e a Bratva atacando Vitorio, mesmo odiando aquele filho da
puta. Mesmo que fosse um prazer.
Claro que seria. Vitorio foi um dos mandantes por matar Vincenzo
Lozartan, e mesmo que Travis odiasse o pai, aceitar que matassem ele lhe
custou muito. Foi um golpe muito duro de sentir e a Lawless pareceu fraca
nos meses seguintes. Se reergueu porque Travis tem punhos de ferro
comandando nosso território.
— Seria um enorme prazer capturar Vitorio, mas eu não vou me
meter. Eu dei as armas querendo conflito. Quanto mais melhor. — Me
encara. — Eu fiz tudo de caso pensado, mesmo que você nunca tenha
apoiado. O plano sempre foi eu precisar entrar em Chicago para vê-la pegar
fogo. E você sabe, tudo que está acontecendo ali, é porque Cassio está
permitindo e ele vai dar a cartada final.
— Você acredita que ele tem algum plano?
— É óbvio que sim. Aquele velho maquiavélico — resmunga e vai se
sentar.
O sigo e faço o mesmo, acendendo um cigarro.
— Cassio já tem um filho comandando Nova York e o neto dele é
muito bem preparado para ser um líder. Eu não aceitei apenas o casamento de
Marinne com Amândio por estratégia, porque eu queria ficar com Madeleine.
Não foi o único motivo para eu ficar com a minha esposa, mas também
porque eu sei que o neto favorito de Cassio é Amândio. Eu mexi meus
pauzinhos para ter essa informação, já que Cassio não deixa que ninguém
permita saber dos seus interesses. Agora ele está deixando Chicago ruir,
perder as forças para logo dar o golpe final. É óbvio que ele vai deixar
alguém da família no comando.
— Será que ele pode dar para outro neto dele? O da filha dele ou até
mesmo para Amândio.
— Amândio terá Nova York, todos sabem disso. Ele sabe disso —
ironiza. — Chicago... eu não sei, acredito que vem alguém da Itália.
— Vai ser uma grande jogada.
— Aguarde, Paolo. Cassio não vai avisar. Vai ser de surpresa e vai
mexer com todos nós aqui quem quer que seja o novo líder da Blood Hands.
Assim que Vitorio morrer, vai ter muito motoqueiro e a Bratva para causar
muito tumulto para todos nós. A Diabolos em breve também deve cair. A
guerra vai ser declarada e cada um vai querer uma fatia.
— Com certeza é bom a gente se preparar para isso, mesmo que não
tenhamos nada a ver com a partilha da Blood Hands, mas a Diabolos não fica
muito longe e pegar um pedaço dela não vai fazer mal nenhum; e se todos
vão pegar, por que a gente não?
— Justamente, mas agora vamos até o MGM. Quero apurar a situação
e vou ligar para Enzo começar a procurar esses motoqueiros filhos da puta.
Vamos dar uma lição a eles.

Chego em casa bem tarde e vou direto para o quarto de Sophia. Ela
está dormindo tranquilamente no berço. Faço um cafuné na sua barriguinha e
ela abre a boca, bocejando sem acordar.
— Boa noite, filha.
Tirando a boneca e deixando apenas o urso, saio encostando a porta
do seu quarto iluminado por um urso que gira em volta das paredes. O abajur
que Nina colocou essa semana. Sophia gritou sem parar: Boh! Boh! Boh!
Passando pelo corredor, tento tirar o curativo do meu ombro. Se Nina
ver vai ter um ataque. Puta que pariu! Nem lembrei de pedir a Leonel Donati,
o médico da Famiglia, para dar pontos sem fazer um maldito curativo que
cobrisse meu ombro todo. E é quando consigo tirar o primeiro pedaço do
curativo que esbarro em algo.
— O que foi isso? — Nina arregala os olhos e tira minha mão da
frente para ver o machucado. — Paolo!
— Calma. Foi de raspão.
— O que foi de raspão? — Ela parece zangada, mas preocupada
também.
— Teve um ataque ao hotel e o filho da puta me acertou de raspão.
— Foi um tiro?
— Sim.
— Ai, meu DEUS! — grita no final. — Eu digo para você se cuidar e
é isso que você faz?
— Calma. — Seguro suas mãos e faço-a focar em meu rosto. —
Respira e não fique em pânico.
— Não fala isso — murmura parecendo irritada e emocionada ao
mesmo tempo. — Você não pode se machucar. Não pode levar um tiro.
Porra, Paolo.
— Para de falar palavrão e vem. — A puxo comigo para o nosso
quarto.
— Para onde?
Não respondo e entro no banheiro. Me viro para ela e começo a tirar
sua camisola.
— O quê?! — Nina se afasta. — Você quer fazer sexo com esse
ombro?
— Não. — Puxo-a de novo e volto a despi-la. — Eu só quero tomar
banho com você.
Ela sorri e não apenas deixa eu tirar sua calcinha, como ajuda eu a
tirar a minha roupa. Logo estamos na banheira, Nina fica na minha frente
entre minhas pernas enquanto suas mãos sobem e descem lentamente.
— Doeu? — ela pergunta baixinho.
— O tiro?
— É claro, Paolo.
Rio com seu mau humor.
— Não muito.
— Então foi pouco?
Beijo seu ombro e faço uma concha com a mão e molho seu peito.
— Não pense isso.
— Eu estaria se você não estivesse agindo tão calmo.
Dou uma risada e aperto-a bem forte.
— Então eu não sou carinhoso com você? — digo no seu ouvido. —
Sou mau?
Nina vira um pouco o corpo e olha para mim tocando meu rosto.
— Não é isso. Você é carinhoso comigo, mas parece que está me
escondendo algo.
Solto a respiração pelo nariz pesadamente e afago seus braços, costas
e rosto, olhando-a nos olhos profundamente.
— Não é nada que você precise saber. Fique tranquila.
— Só quando você se aposentar.
Rio e a beijo com força. E para fazê-la esquecer totalmente do tiro,
faço sexo lento na banheira. Isso sempre deixa Nina calminha e feliz. Deve
ser difícil ser casada com um soldado da Famiglia, mas o que posso fazer?
19

D e todas as comemorações do ano, com certeza essa é a que eu mais


estava ansiosa, afinal é a primeira vez que vou celebrá-la. Depois
de um ano com Paolo, eu gostaria demais de festejar por estar – e
ser – completamente feliz e meus pais não merecem crédito por isso. Tenho
certeza de que o cruel do meu pai esperava que eu fosse infeliz nesse
casamento, mas eu não sou, ao contrário.
Paolo manteve sua promessa desde o primeiro dia que estive na sua
casa e depois quando conversamos. Ele disse que sempre estaria disposto a
me fazer feliz e em um ano minha vida se transformou completamente. Sou
mãe de uma menina linda, que eu amo absurdamente e tenho um homem que
me deu muito mais do que uma casa, roupas, um anel de brilhante no dedo e
sua lealdade. Como meu irmão falou, eu tenho tudo aquilo que sempre soube
que merecia.
Droga. Nós não podemos achar que não merecemos ser feliz e eu
posso dizer que depois de um ano, eu também cumpri a promessa de Mia em
não tocar mais no seu nome. Falar sobre ela não é necessário. Ela ficou com o
passado de Paolo e eu com o presente e futuro. É óbvio que não a
esqueceremos, não tem como, mas ela ficou para trás. Eu não tento mais ser
como ela ou diferente dela. Eu sou como exatamente deveria ser, como sou.
Eu sei que Paolo observou isso durante esse um ano. Notou em
silêncio os dias passarem e apagando os pensamentos de que eu poderia
sempre ser a memória viva de Mia. Acho que Paolo nem se deu conta de que
na verdade ele esqueceu dela primeiro. Eu apenas percebi quando ele disse
que me amava, quando ele achou que sumi aquela vez e ele disse aquelas
palavras, aquela declaração tão linda para mim. Ali eu soube que ele não
apenas me ama, mas é obcecado.
Eu também sou obcecada por ele e por Sophia. Pela nossa felicidade,
sobrevivência e segurança. Um ano me transformou. Um ano e sou feliz. Um
ano e tenho essa família que eu amo com todo meu corpo. Todo o meu ser.
Ajeitando meus cabelos para colocar meu vestido, entro no closet. Eu
escolhi um vestido de seda que vai até os pés com mangas que são presas nos
pulsos, mas soltas e para cima é tudo fechado. Tem um decote muito bonito.
Opto em manter meus cabelos soltos e coloco duas presilhas do lado. Estou
usando a sandália que o Paolo me deu de aniversário e as joias que me deu no
Natal. Ah, ele vive com o relógio que eu dei a ele e eu fico tão apaixonada
por ele nem se esforçar para ser gentil. Paolo simplesmente faz. Ele
simplesmente é e eu amo isso nele.
Pegando minha bolsa preta, saio do quarto e sigo até o quarto de
Sophia e como sempre Paolo está lá dentro conversando com ela gentilmente.
Talvez eu tenha me apaixonado por ele ser quem é, apesar de ter tanta
responsabilidade, crueldade e morte em seu caminho. Não gosto de lembrar
quando vi uma sombra sobre seus olhos. Apesar disso tudo, quando está com
Sophia só existe o Paolo pai, que é amável, doce, paciente e gentil. Não teve
como eu resistir.
Eu paro no batente da porta e sorrio sentindo meu coração transbordar
de amor e meus olhos encherem d'água porque quando há tanto amor e
felicidade é impossível não ficar emotiva.
— Eu e a mamãe vamos sair hoje, mas não vamos demorar muito. Eu
quero que você se comporte. Obedeça a Ana.
Suspiro aliviada sabendo que Ana é a melhor pessoa para cuidar de
Sophia, já que a minha filha adora a menina.
— Sim — Sophia solta, mas acho que ela não tem noção do que sim
quer dizer ainda.
— Você vai ficar quietinha?
Sophia acena com o rosto e a expressão séria, e Paolo está agachado
em frente à cama com as mãos nas perninhas gordinhas da filha. Soph já está
vestida para dormir com o pijaminha rosa e os cabelinhos penteados, que
cresceram bastante. Eu nem acredito que daqui a quatro meses ela vai fazer
dois anos.
Ah, como o tempo passa rápido. Eu posso estar feliz de fazer um ano
de casada com ele, mas o tempo voa e me assusta. Respirando fundo resolvo
entrar em cena e Sophia logo percebe e me chama com as mãozinhas.
— Oi, querida. — Vou me sentar do seu lado, deixando minha bolsa
longe dela e ignorando o olhar de Paolo para o meu visual. Temos tempo para
isso depois. Afago seus cabelos e Sophia coloca as mãos nas minhas pernas.
— Mam...
Sorrio e beijo seus cabelos loirinhos.
— Eu estava explicando para ela que precisa ser boazinha com Ana.
Ela abre seu sorriso com três dentinhos e assente ouvindo o pai.
— Eu sei que ela será perfeita, não é, filha? — pergunto fazendo
caras e bocas para ela, porque assim ela presta atenção total.
— Mam!
— Sim, mamãe.
Ela escala meu corpo e eu a ajudo. Seus bracinhos circulam meu
pescoço e finalmente a acomodo nos meus braços. Seus pezinhos marcam o
meu vestido, mas não me importo.
— Você vai ser maravilhosa, não é?
Ela tenta me beijar, mas na verdade me baba e mantém o sorriso
desdentado para mim. Encaro Paolo e percebo que está ansioso.
— Ela vai ficar bem, amor. Não se preocupe, papai — digo olhando-
a. — Ninguém resiste a nossa princesa Sophia.
Ela faz um som engraçadinho e me abraça de novo. Dou vários
beijinhos no seu rosto, porque, como eu sabia que ia vê-la, não coloquei
batom.
— Junto, mama.
— Você quer ir junto?
Ela concorda e senta-se nas minhas pernas.
— Sinto muito, não pode princesa. Não dessa vez.
— Made!
— Você quer ir para a madrinha Madeleine?
— Madilineee... — ela tenta falar, mas ainda não consegue.
— Amanhã a gente vai ver a dindinha, mas hoje você vai ficar em
casa. Já é tarde e daqui a pouco você vai dormir.
— Não! — Bate as mãos rebeldes nas suas pernas.
— Não começa a fazer assim, sabe que a mamãe não gosta de brigar
com você, por isso seja boazinha.
— Boh!
— Ah, é isso. Você quer o Boh? — Ela assente. — Cadê o Boh da
Sophia? — Levanto com ela, vou até o berço e pego o urso para entregar a
ela. — Você vai ficar quietinha, não vai?
Agora seu foco é o urso. Dou um beijinho nela.
— Pega minha bolsa.
Paolo pega para mim e nós três descemos as escadas. Ana aparece
vindo da cozinha.
— Quem é a menina que vai ficar comigo hoje?
— Sofi. — Rio da sua tentativa de dizer seu nome.
Dou um beijinho me despedindo dela e espero Paolo fazer o mesmo
para entregar Sophia para Ana.
— Nossos números de celulares estão na agenda, na primeira página.
Qualquer coisa não hesite em ligar.
— Sim, senhora. Não se preocupe e se divirta.
— Justamente — Paolo fala ficando atrás de mim e circulando minha
cintura com o braço. — Boa noite, Ana.
— Boa noite, senhor.
Ana nos acompanha até a porta e espera que entremos no carro para
fechar a porta de casa. No carro eu pego meu celular e confiro se tem bateria
o suficiente.
— Você está preocupada com Sophia? Não é a primeira vez que
saímos e ela fica em casa.
— Mas todas as vezes eu fico preocupada.
Paolo puxa minha mão para ele, entrelaçando seus dedos nos meus
em cima da sua perna. Coloco o celular na bolsa e olho para ele.
— Relaxa, Nina. Vai sair tudo bem. Confia em mim.
Sorrio assentindo e arrasto meu corpo para ficar aconchegado ao seu.
— Daqui a pouco ela vai dormir e quando acordar vai ser para mamar
e logo que comer, vai voltar a dormir. Vamos aproveitar a noite de hoje.
Com a cabeça deitada no seu peito aceito o que ele diz. Respiro fundo
segurando a mão de Paolo. Ele parece distraído. Pega o celular, lê e digita
alguma mensagem. Aperto sua mão, para ele olhar para mim.
— Está tudo bem a gente sair hoje?
— É claro que sim. Está tudo bem.
Sorrio e olho para a frente enquanto o motorista nos leva até o
restaurante. Eu não sei aonde vamos e sigo confiante de que será bom.
— Eu gostei desse vestido — Paolo comenta.
Olho para ele de novo e cruzo as pernas, deixando uma delas em cima
da sua que está do meu lado, para ele ver a fenda e subo mais um pouco pela
minha coxa. Escuto um som de prazer e sua mão termina de fazer o serviço
até que consegue ver a borda da minha calcinha.
— Gostei demais desse vestido.
Solto uma risada e vou me sentar no seu colo. Uma das suas mãos
afagam minhas costas e a outra minha coxa nua. Eu toco seu rosto com as
duas mãos e o beijo de leve.
— Sabe — murmuro — tive dois motivos para não estar usando
batom essa noite.
— É mesmo? Me conte o porquê.
— Bem — beijo-o de novo —, eu sabia que iria me despedir de
Sophia e lhe daria vários beijinhos. E o outro motivo — lhe dou outro beijo
na boca — é o pai dela que tem uma boca deliciosa.
Ele aperta minha coxa.
— Você é muito inteligente.
— E meu marido é insaciável.
— Só eu?
Franzo a testa e faço um carinho com as pontas dos dedos na frente
do seu paletó e vou descendo.
— Não faça isso. A gente tem um compromisso e não posso adiar.
— Mas só uma rapidinha? — Beijo seu pescoço e ele geme, e mesmo
assim segura minha mão. — O quê?
— Não, depois eu te dou o que você quiser.
— Tudo bem. — Resignada, paro de provocar.
— Posso lhe fazer uma pergunta?
— Claro que sim, amor — respondo franzindo a testa.
— Você me disse uma vez que nada que teve em nosso casamento era
o que você queria. O que você mudaria?
— Hum... eu colocaria mais flores.
— Óbvio — ele zomba.
Rio e bate no seu peito.
— Para e deixa eu falar.
— Então continua.
— Okay — digo pensativa, lembrando o que imaginei. — Vejamos,
ia ser um casamento perfeito se fosse mais claro, branco mesmo. Nada muito
exagerado. As flores já iriam enfeitar a festa.
— Isso é verdade.
— Então não precisaria de cores e o meu vestido eu queria algo mais
para um seda tomara que caia com a saia sereia.
— Não entendo o que você está falando.
— São aqueles vestidos que são colados no corpo todo e do joelho
pra baixo é solto, por isso que se chama sereia porque é como se fosse a
cauda.
— Ah, entendi. E o que mais?
— Eu estaria com o cabelo solto.
— Eu aprovaria isso. — Para afirmar o que diz, ele enrola meus
cabelos na sua mão e sobe até que toca minha nuca e puxa meu rosto para ele
dando um beijo rápido. — Adoro seus cabelos.
— E o que você mais ama em mim?
— Eu amo tudo — responde rápido.
— Tudo? Seja específico, Paolo.
Respira fundo e fica me olhando por longos minutos. Sua mão sobe
até tocar minha bochecha, acariciando minha pele com o polegar.
— Amo que você quer ficar de bem com a vida. Que acorda feliz.
Acho que você nunca esteve de mau humor, nem quando está de TPM. Eu
amo que você seja tão positiva e toda linda. Sua alegria, um otimismo de que
você faz tudo achando que vai dar certo e dará certo. Amo que você seja uma
mãe maravilhosa para a nossa filha. — Faz uma pausa e acaricia meus
ombros distraído: — Eu me acostumei tão fácil com você.
Dou uma risada.
— Eu também me acostumei muito fácil. — Minha voz sai rouca,
ficando emocionada com suas palavras.
Paolo faz uma longa pausa de novo e seus olhos encontraram os
meus. É como se o céu se abrisse de novo após uma longa tempestade. Eu
posso sentir isso no seu toque. Nos seus beijos e carinho. Será que ele
realmente percebeu essa mudança dentro dele também nesse um ano juntos?
— Por mais que tenha sido apenas oito meses, eu fiquei sozinho
demais um grande período e cansado, com raiva. Quando Travis deu a ideia
de me casar de novo, não pensei em me apaixonar e muito menos como eu
fiz.
Não entendo o que ele quer dizer, afinal ele já tinha sido apaixonado
por outra mulher antes de mim. Seus dedos tocam meus lábios e eu não estou
preparada para o que vai dizer, seus olhos estão intensos como nunca vi
antes.
— Não quero agredir ou desonrar a alma de Mia, ela me deu uma
filha, mas foi muito difícil para ela. E ela era muito boa para mim, sempre
foi, mas... o negócio é que eu nunca a amei de verdade se comparar com o
que sinto por você.
Prendo a respiração e meus olhos ficam quentes pelas lágrimas não
derramadas.
— Se amor for o que sinto por você agora, nunca tinha
experimentado antes. — Suas mãos apertam meu corpo, puxando,
aproximando mais ainda dele. — É insano. Nunca tive ciúme dela ou pensei
em um dia não tê-la.
— Talvez seja assim porque você a perdeu e agora sabe como dói.
— Não. Eu sou uma pessoa muito pé no chão, Nina. Sou realista ao
ponto de pensar que sou negativo, porém não é isso. A vida é cheia de
imprevistos e destruição. Eu sou um homem com muita bagagem nas costas,
muitas mortes e almas que mandei para o inferno. Então, eu entendo a
intensidade das coisas e a necessidade delas. Mia foi uma amiga maravilhosa
para mim e estou falando isso para que entenda que você não é apenas a
minha amiga, a minha esposa, a mãe da Sophia, a mãe de verdade da sua
filha.
Fungo chorando, absurdamente emocionada ouvindo-o.
— Você não é a mãe substituta dela, é como se sempre tivesse que ter
sido como é e cada dia que passa, eu te amo e morro de medo de te perder ou
eu morrer, porque eu quero ficar muitos anos ao seu lado. Quero ter outros
filhos com você. Quando chegar o momento de me aposentar, estaremos
juntos e nos amaremos e cuidaremos um do outro.
Ele seca as minhas lágrimas, mas não adianta muito.
— Isso seria o que um noivo falaria, não é? — comento com a voz
embargada. — Num casamento normal... existe votos e isso foi o mais
próximo que já ouvi.
— Bom... parando para pensar, só falei o que está no meu coração.
Que eu te amo demais e tenho uma vida bem melhor do que eu realmente
mereço.
— Eu também te amo demais e sinto isso tudo.
Paolo segura meu rosto e beija minha boca intensamente, sua língua
varrendo minha boca. Paramos quando o ar falta, e me afastando faço carinho
no seu rosto.
— Eh... você está falando tantas coisas... sobre o casamento, por quê?
Dando-me seu sorriso contido, que fica no cantinho da sua boca, ele
explica olhando-me nos olhos e afagando minha coxa distraidamente.
— Porque eu queria que você tivesse algo que pudesse guardar na
lembrança para sempre.
— Ah, eu entendo e... estava com tanto medo quando me casei com
você. Medo da novidade, medo daquele seu olhar distante e frio. Ainda muito
retraída pelos meus pais e a minha mãe me repreendendo de longe, aquele
vestido horrível. — Prendo a minha respiração porque são tantas coisas que
eu queria mudar naquele dia. Suspirando, sorrio para ele ficar tranquilo. —
Então hoje eu vou guardar para sempre, dentro do meu coração, essas
palavras que você acabou de dizer, que... por mais que você já tenha um ano
no meu coração... — balanço a cabeça sorrindo e emotiva — parece uma vida
inteira e eu vou passar outras vidas inteiras com você, Paolo. Sempre vou
estar do seu lado para o que der e vier. E uma coisa que eu percebi, é que
você ainda tem o seu lado sombrio e assustador, mas quando está perto de
mim é como...
— Como se as minhas sombras sumissem, pois a sua luz ilumina o
meu interior.
Sinto as lágrimas quase saírem e assinto freneticamente murmurando:
— É isso aí.
Paolo me dá um beijo feroz e agitado que me arrepia toda. Quando se
afasta, toca meus cabelos e deixa a mão no meu rosto limpando minhas
lágrimas.
— Acho que seria melhor você retocar a maquiagem.
— Eu vou, não se preocupe.
— Certo, você ainda continua deslumbrante.
— Obrigada — eu respondo baixinho porque nós estamos falando
baixo, estamos sendo cúmplices desse momento tão lindo.
— Eu tenho uma coisa para você.
— O meu presente?
— É mais do que um presente. É muito especial e tenho certeza de
que você vai gostar.
— Eu espero que sim.
Ele sorri rápido e assente.
— Então, agora venha — ele diz e abre a porta do carro saindo num
movimento elegante e preciso.
Nem percebi que o carro parou. Arregalo os olhos vendo onde
chegamos. Saio do carro conduzida pela mão de Paolo na minha e sigo para o
saguão do Bellagio.
— Vamos jantar aqui?
Paolo não me responde, apenas continua me levando para dentro do
hotel, passa direto pela recepção e caminhamos para as entalações que ficam
as lojas, o shopping do Bellagio.
— O que você aprontou? — Cerro os olhos para as suas costas. —
Vai comprar algo para mim?
— É surpresa. Não vou te contar — responde sem olhar para mim.
Rindo, eu fico quieta.
— Está bom, não conte. Eu vou descobrir mesmo.
Parando abruptamente, vira-se para mim, segura meu rosto e me
rouba um beijo.
— E vai mesmo, então me siga quietinha.
Morde o lábio para não abrir meu sorriso e assinto fazendo cara de
boa menina.
— Ótimo — fala e me beija.
Virando-se, ele continua a me guiar pelo corredor até o shopping.
Paolo me leva até uma loja com mulheres na frente parecendo esperar
alguém. Eu? Tudo aqui é deslumbrante, o corredor de mármore, paredes de
pisos claros e detalhes dourados, mas essa loja. Meu coração acelera quando
vejo o que ela vende.
— Por que você me trouxe aqui? Não estou entendendo.
Parando, vira-se para mim e sorri. Me dá um beijo de leve nos lábios
e segura as minhas mãos.
— Hoje eu vou te dar o que você mais queria. Um dia para recordar.
— Prendo a respiração. — Não vou repetir aquilo que disse no carro porque é
só entre mim e você, mas você vai ter o seu dia de noiva. O vestido que você
quer e a decoração, ainda bem que eu acertei em tudo ser branco com muitas
flores. Se divirta um pouco escolhendo seu vestido — diz me levando para
dentro da loja.
— O quê? — Arregalo os olhos sem acreditar e atônita.
Várias mulheres me esperam na loja de noiva para eu escolher o meu
vestido?
Volto-me para ele e pergunto baixo:
— Você fez mesmo isso?
— Sim.
— Por quê?
— Porque eu quero. — Coloca uma mecha do meu cabelo atrás da
minha orelha. — Porque eu quero dizer sim com verdade. Porque quero fazer
a coisa certa para você. Quero lhe dar o que você merece e prometi para mim
que você sempre teria; liberdade e tudo que você deseja. E para hoje, eu
pensei em lhe dar o seu casamento.
— Aham... — murmuro e limpo a garganta. — E não vai vir
ninguém?
— No máximo os meus padrinhos e os seus padrinhos.
— Quem são os nossos padrinhos, Paolo?
— Estão lá dentro — diz com um sorriso mal disfarçado nos olhos.
— Os meus são: Madeleine e Travis. E os seus: Bárbara e Enzo.
— Eu não acredito que você fez isso — digo ficando mais perto dele
e quero lhe dar um abraço bem forte. — Ah... nem sei o que falar.
Paolo tem a expressão neutra, mesmo que seus olhos estejam calmos
e meigos. Então corro e pulo em cima dele abraçando bem forte seu pescoço
e ele me abraça também cochichando em meu ouvido:
— Eu queria muito procurar as melhores formas para demonstrar para
você que a amo com gestos e não com palavras. E estou fazendo isso agora.
Sinto um quentinho no coração. Um amor tão grande e me afastando
toco seu rosto.
— Você faz isso todos os dias, mas obrigada.
Ele dá um aceno e limpa minhas lágrimas.
— Vai ser um prazer me casar com você de novo e... — controlo
minhas emoções — você é... o homem dos meus sonhos.
Ele aproxima o rosto do meu e diz em voz baixa:
— E você é a mulher dos meus sonhos, só que eu demorei muito para
te encontrar, mas ainda bem que encontrei.
Dou uma risadinha e vejo tanta emoção nos olhos dele.
— Você tinha que ser mais maduro porque eu sou meio cabeça mole.
Então, quem tinha que ser maduro nesse relacionamento é você.
Paolo me dá um beijinho na testa.
— A senhora nunca cala a boca, não é?
Solto uma gargalhada e volto meus pés para ficarem normais. Sem
ficar na ponta dos pés, não consigo beijá-lo.
— Certo, agora vai se arrumar porque eu também vou — ele diz
colocando mais distância entre nós. — Te encontro daqui a pouco.
— Onde é?
— Você verá daqui a pouco. Irão te levar até lá. Eu organizei tudo.
Assinto. Ele foi sorrateiro, fez tudo e não me contou nada. E sem me
controlar, vou rápido abraçá-lo de novo antes de se afastar. Eu só queria ficar
no abrigo dos seus braços. No meu verdadeiro lar, na minha casa, na minha
felicidade.
20

A ideia do segundo casamento não veio à toa, algumas vezes, na


Famiglia, alguns casais fazem isso e hoje sei qual é o verdadeiro
motivo: eles se apaixonaram e o primeiro casamento sempre é
sobre obrigação apenas, não sentimentos. Nem sempre é bom, algumas vezes
acontece de ser memorável, bonito, mas a maioria das vezes não é; então
alguns optam por refazer a cerimônia no reservado.
Espero que ninguém tire conclusões sobre hoje, porque não quero que
ninguém tente algo contra a Nina para me atingir. Tudo que eu disse no carro
é a pura verdade. Eu a amo como nunca amei ninguém e o mais perto do que
eu já amei e senti algo tão forte assim dentro do meu coração foi para Sophia.
Eu amei Mia de outra forma. Ela foi perfeita para mim. Foi minha
companheira, sempre esteve ao meu lado. Nunca mediu esforços para
absolutamente nada em me ver feliz. Era uma tarefa e ela fazia questão de
tentar, mas eu acho que nunca a amei tanto quanto Nina. Porra. Não era igual
ao que sinto por Nina. Mia não me deixava sem fôlego, eufórico,
desesperado, quando ela estava perto de mim. Com Nina só enxergo ela. Não
tem mais ninguém. É até um pouco alucinante a forma que eu penso nela e
desejo. Portanto, precisava dar a ela algo memorável.
Quando pisco rápido, ouço uma música suave, que Madeleine
escolheu. Se não fosse ela não teria essa noite também. Engulo em seco
olhando para onde Nina surge. Puta que pariu! Valeu cada minuto planejando
esse casamento. Estamos nos casando no salão de baile do Bellagio. Mandei
decorarem um altar de flores, rosas brancas, pontos de luzes e uma mesa
grande para acomodar todos num jantar feito pelo maître do restaurante que
Nina gostou quando a trouxe há dois meses.
Mas nada é tão perfeito quanto Nina. Ela está perfeita com um sorriso
feliz e suave bem diferente daquele ar assustado de um ano atrás. Seu vestido,
a maquiagem e o cabelo fazem ela parecer uma princesa.
Um olhar em meu Capo e lembro da sua pergunta há um mês, ele
soube primeiro que qualquer pessoa já que pedi para fechar o salão do
Bellagio para o casamento secreto.
Travis quis saber por que eu queria me casar novamente depois
apenas um ano, pois geralmente demora uns cinco, dez ou vinte anos para
casais fazerem algo parecido. Minha resposta foi que Nina se achava muito
inferior e reprimida no primeiro casamento por causa dos pais dela. A
questão não fora ela ser dada a mim, mas os pais tolhendo suas escolhas
simples como a droga do vestido de noiva. E Travis sabe como Rocco é um
babaca filho da puta.
Disse também que não tiramos fotos do casamento e que depois de
um ano nós nos entendemos. Fora a pequena mentira de que eu estava
pedindo desculpas por algo que fiz. Travis não precisava saber o real motivo.
Foda-se os argumentos, só dei satisfação porque ele é o único homem para
quem preciso me curvar.
O que mais importa agora é que, enquanto ela caminha para mim, o
que sinto dentro de mim é paz, amor e felicidade, o oposto da raiva e vazio
que senti ano passado.
A canção do piano delicada que Madeleine escolheu é como Nina,
suave. Focando minha atenção nela, estou ainda mais encantado por ela estar
segurando a mão de Sophia. Não abri mão da nossa filha estar aqui. Da filha
dela, minha e de Mia.
Nina não sabe, mas eu achei a carta dias depois do meu aniversário na
sua gaveta do guarda-roupa, quando procurava uma blusa para ela, pois
tínhamos transado no chuveiro e ela precisava de roupas limpas.
Eu não sei o que deu na cabeça dela em deixar aquela carta no meio
de meias e roupas que usava em casa para brincar com Sophia no jardim. Mas
não importa o motivo dela e sim de Mia por nunca ter falado nada daquilo
comigo.
Merda. Eu a vi morrendo sentindo o caralho de um remorso,
pensando que perdi anos de convívio com ela. Fiquei irado com aquela carta
por Mia nunca ter contado para mim que estava doente. Como ela pôde
mentir? Ela podia ter me preparado, ter feito um tratamento, procurado um
especialista, alguma coisa.
Mia sempre tomou remédios para engravidar, então não desconfiei
das pílulas durante a gravidez, mas, mesmo assim, um remédio de coração
porque ela estava frágil e podia simplesmente morrer dando à luz, foi uma
mentira grande demais. E ela insistiu que o parto seria normal. Puta que
pariu, o que passou na cabeça dela? O que deu na merda da cabeça daquela
médica, que preferia nem visitar? Ia acabar matando-a, enfiando a faca na
mão dela para ela nunca mais exercer medicina.
Mas deixei para lá. Ela não foi totalmente culpada. Foi Mia que
quebrou a confiança e foi por isso também que fui me dando conta de que o
meu casamento com ela, o que eu pensava que era amor, não fora tão grande
quanto o que sinto por Nina. Foi um tempo bom junto com ela, senti sua falta
e sou agradecido por ter Sophia, mas embora seja terrível sua morte
repentina, me deu uma verdadeira chance de ter uma mulher que sou
inteiramente dela.
A carta foi guardada no lugar e não sei se um dia Nina me mostrará
ou conversará sobre ela comigo, mas agora eu vou focar no nosso presente.
Respirando fundo, enchendo os pulmões de ar, acompanho Nina
chegar até a mim com Sophia no colo. Ela não resistiu e a pegou nos braços.
Parada na minha frente, sinto-me faminto por vê-la com os olhos brilhando de
alegria.
— Você pensou em tudo — Nina comenta.
Concordo com a cabeça e sorrio de leve.
— É claro que pensei em tudo.
Gregori tenta pegar Sophia, mas ela não solta Nina, então eu pego
minha filha no colo. Nina sorri e acaricia as costas dela.
— Ela faz parte da equação. Nada mais justo ficar.
— Você tem razão.
Nós nos casamos em uma cerimônia rápida e falamos os votos
matrimoniais com tranquilidade, eu mais do que nunca disse que irei amá-la,
protegê-la e honrá-la. Estamos a todo momento alegres e na companhia de
amigos. Não tem ninguém por aqui com falsidade ou interesse. Quando
termina, nós nos abraçamos e viramos para que Madeleine tire uma foto, o
que ela fez durante a cerimônia toda. Depois passa a máquina para a
fotógrafa.
— Foi tão lindo — Nina comenta quando estamos mais afastados.
Balanço a cabeça e fito-a dos pés à cabeça. Seu vestido de seda
marfim colado no corpo magro, apenas os seios e a cintura, acentuada por
conta da bunda, marcando as curvas. Os ombros estão nus, os cabelos soltos e
jogados a deixam sexy. Ela está perfeita.
— Para de me olhar assim — ela murmura. — Estamos em público.
Faço minha cara séria, que ela sabe que é padrão de quando estamos
fora de casa e me aproximo. Seguro seu rosto e lhe dou um beijo. Sophia
finalmente soltou a mãe e está com Marinne.
— Você está deliciosa com esse vestido.
Nina dá uma risadinha encostando a testa no meu peito e depois ergue
a cabeça fitando-me nos olhos.
— Você não sabe a surpresa que terá mais tarde.
— O que é?
Joga os braços em cima dos meus ombros.
— O vestido marca muito, então estou pelada embaixo dele.
Respiro com força, limpando a garganta.
— Porra! As coisas que você faz eu pensar...
Ela dá uma gargalhada e me beija.
— Eu te amo — sussurra com a boca colada na minha.
— Mama! — Sophia grita e nos viramos para ela, que está
esperneando no colo de Marinne. — Mama!
A irmã de Travis a entrega para Nina com um sorriso tranquilo. Ela
parece feliz hoje e serena. Tocando seu ombro, chamo sua atenção para mim.
— Você está bem? — pergunto a Marinne.
— Claro — responde afiada.
— Certo.
— Vou ficar com Dario — ela comunica e se vai antes de eu falar
algo mais.
— Qual o problema?
Olho para Nina e balanço a cabeça.
— Nada.
— Tem certeza?
Assinto olhando minha filha antes de responder:
— É apenas que Marinne não é mais a menina que pedia para eu
comprar sorvete quando a buscava na escola. Ela amadureceu muito enquanto
estávamos em guerra e eu nem percebi.
— E você está pensando nisso por quê?
— Porque me sinto responsável por ela e, em dois anos, ela estará se
casando com Amândio.
— E...
Inspiro com força e foco em Nina, que é muito curiosa.
— Eu não confio nele. O garoto é um assassino de mão cheia.
— Faz pior que as histórias de Travis?
Viro meu corpo todo para ela e explico o que apenas está na minha
cabeça, assim como a de Colen.
— Travis tem trinta e sete anos e Amândio apenas vinte e um para ter
um histórico como o de Travis. Entendeu?
Minha esposa arregala os olhos e aperta Sophia mais um pouco.
— Vou torcer para tudo ficar bem. Ela tem um ar... — Nina faz uma
pausa e abre um sorriso meigo quando finaliza o raciocínio: — Um ar
hipnotizante e confiante.
Concordando com um aceno, passo um braço pelos ombros de Nina,
Sophia tocando em mim, e caminhamos para os convidados que nos
aguardam na mesa do salão onde vamos ter um jantar. Romero vem ao nosso
encontro e abraça Nina, no caso Sophia também, que pula para o seu colo.
Ele fica sem reação, mas não dispensa.
— Ela realmente gostou de você — Nina comenta feliz.
Passa das onze horas quando brindamos a nós, cortamos o bolo. Ela
tem as bochechas vermelhas quando posa para as fotos ao meu lado.
Abraçado ao seu corpo por trás, falo baixo no seu ouvido:
— Que tal subirmos para o nosso quarto?
Ela gira o corpo rápido entre meus braços e me encara com os olhos
arregalados. Calo sua boca com um dedo e a levo para longe de todos, para a
varanda do salão.
— Como assim? — pergunta assim que paramos. — Não vamos para
casa?
— Não. Vamos ficar essa noite aqui no quarto de núpcias.
Nina morde os lábios, ansiosa.
— Mas?
— Mas nada — continuo falando em voz baixa só para ela. — Como
vamos ter outro filho sem praticar?
Ela ri bem alto e isso faz com que eu a beije profundamente.
Escorrego minhas mãos pelo seu corpo, com a seda do vestido ajudando a
manobra e, caralho, que gostoso acariciar seu corpo.
— Nunca mais use outro vestido.
Isso a faz soltar uma gargalhada.
— Você gostou mesmo dele — fala agarrada ao meu pescoço.
— Eu estou apaixonado, querida. Você ficou muito gostosa com ele e
só permito usar algo assim na minha presença.
Ela me beija, rindo, e afasta o rosto tocando no meu com a ponta dos
dedos.
— Você ficou lindão também de smoking.
— Mas você já tinha me visto assim.
— É sempre um prazer.
Porra. Eu me sinto como se tivesse meus vinte e pouco anos. Ela me
dá energia e humor, coisa que não vinha fácil. Coisa que não tinha muito
antes de ela aparecer na minha vida. Eu seguro com vigor seu rosto e enrosco
minha língua na sua quando nossas bocas se encontram num beijo selvagem.
Nina enfia os dedos nos meus cabelos e geme na minha boca.
— Está difícil não te levar agora para o quarto — falo entre os beijos
que lhe dou.
Gemendo, ela concorda com um som e sua perna tenta se entrelaçar
na minha.
— Vamos fazer nosso bebê agora — balbucia ela.
Rio balançando a cabeça e me afasto para fitar seu rosto perfeito.
— Agora! Porque o papai aqui não é tão jovem.
— Papai é delicioso. — Ela tenta me provocar descendo a mão até
minha ereção e aperta. — A gente já pode começar a praticar?
Eu tiro os seus pés do chão, abraçando-a muito forte e beijo sua boca.
— Quando a gente subir para o nosso quarto, vamos praticar bastante.
Ela joga a cabeça para trás rindo.
— E eu pensando que você não iria querer ter um filho comigo
quando soube da sua idade.
— Não — respondo rápido. — Eu teria uns dez.
— Deus me livre! — Ela se solta de mim e ajeita o cabelo. — Acho
que mais dois filhos, está ótimo.
Concordo e fico mais perto dela, deslizando minhas mãos por seu
corpo.
— Eu realmente teria cancelado o jantar se não fosse importante para
você.
Nina ri e limpa o seu batom da minha boca.
— Mas o jantar estava bom.
Inclino-me e falo com a voz rouca que ela gosta:
— Eu preferia mil vezes você do que qualquer prato sofisticado.
Seus olhos ganham um brilho excitado e noto quando pressiona as
pernas. Ergo a sobrancelha para ela e agarrando sua mão, nos guio para o
lobby do hotel e logo para os elevadores.
— Paolo, e o pessoal?
Sem respondê-la, mando uma mensagem para Gregori cuidar de tudo.
Paramos no elevador e leio a resposta dele no celular, dou um okay e guardo
o aparelho no bolso.
— O que você está fazendo?
— Avisando para Gregori que vamos para o nosso quarto.
— Ai, que vergonha! — Ela esconde o rosto com as duas mãos, com
a voz saindo nasalada.
Eu a puxo para mim, beijo sua boca até que ela esfrega os peitos em
mim. Fica com vergonha, mas está muito excitada para voltar à festa.
— Você acha que ele não sabe como faz os bebês?
Nina dá um tapa no meu peito, rindo, e balança cabeça. Entramos no
elevador e espero as portas se fecharem para falar:
— É claro que eu sei, mas sei lá. Está todo mundo lá e a gente nem se
despediu ou... porra, não vimos como ficará Sophia.
Faço cara feia para o palavrão. Detesto que ela fale assim.
— Não se preocupe. Travis, Madeleine, Bárbara, Enzo, Dario,
Marinne, Romero, Ana e o Gregori estão lá e todos gostam de Sophia. Ela
não poderia estar segura. Todos podem muito bem cuidar dela e esse lugar é
o mais seguro de Las Vegas.
Quando chegamos ao nosso andar, eu a surpreendo pegando no colo e
caminho até a porta da suíte premium que fica no meio para termos a visão
perfeita da fonte e ela é enorme, tem espaço e sofás de sobra para nós
fodermos muito durante os três dias que ficaremos aqui. Ela ainda na sabe
que ficaremos todos esses dias, mas vai gostar. Quero que ela aproveite o
spa, conheça todas as acomodações do hotel e até podemos ir ao teatro, que
tenho certeza de que ela irá apreciar. O Bellagio é o mais famoso por sua
excelência e porque entrega tudo. Tem tantos restaurantes e atrações que os
hóspedes podem ficar duas semanas e não aproveitar tudo.
Peço para ela abrir com a chave e entrando, fecho a porta com o pé.
As luzes da suíte fazem Nina suspirar. Ela abre um sorriso contemplativo
para as instalações, os sofás em vinho com detalhes em verde. O balcão em
granito escuro, banquetas em aço escuro com assentos dourados, as
luminárias em cristal e, claro, as luzes de Las Vegas com a vista da fonte
vindo das janelas panorâmicas.
— Que perfeição.
Vou com Nina até o quarto com uma cama king size, jogos de cama
conforme a decoração, vinho e verde. Tem um vaso enorme com rosas
brancas. A coloco no chão e ela dá um giro em trezentos e sessenta vendo
tudo e sorri para mim.
— Essa suíte é a mais bonita do que aquela que a gente ficou no
nosso casamento — comenta andando até a varanda.
— Eu sei.
Há um ano eu não estava muito interessado em transar com outra
mulher com Mia na minha cabeça. Sem contar que estava com muita raiva
por estar me casando. E agora, um ano se passou e eu estenderia um tapete de
flores por essa mulher.
— Que vista — comenta olhando pela janela periférica da suíte que
vai do teto ao chão.
Ela parece uma fotografia de catálogo de noiva com esse vestido
perfeito e a vista de Las Vegas no fundo. Porra.
— Ainda bem que hoje não vai ter aquele lençol nojento de sangue.
Sem dizer nada, corto a distância entre nós. Abraço seu corpo por trás
e beijo seu ombro.
— Talvez tenha lençol, mas com outra coisa.
— Paolo?! — Ela vira-se para mim e arregala os olhos. — Que
horror! Meu Deus!
Rindo, eu acaricio seu rosto.
— Como você pode fazer um monte de sacanagem comigo, mas tem
vergonha quando eu falo.
— É diferente. Não fala essas coisas. — Passa as mãos no meu
peitoral lentamente. — Você é muito sofisticado para ficar falando isso.
— Eu sou sofisticado? Okay. Então não vou falar mais — deixo
minha voz rouca e vou ficando mais perto, seguro sua cintura e a guio, sem
perceber, para a cama — que a sua bocetinha apertada é deliciosa e que eu
adoro trepar em cima da mesa de jogos.
Nina engole em seco e morde o lábio inferior.
— Vou me poupar em dizer que você é a esposa mais linda do
mundo.
— Obrigada — fala gemendo, tirando minha gravata. — Eu sou a
esposa do Consigliere.
— E duas vezes.
— Isso é muito legal. Se quiser podemos fazer um novo casamento
aos dez anos e depois quando fizermos vinte e até as bodas de ouro.
— Cinquenta anos? — Paro de provocá-la para focar em seus olhos.
— Imagina eu com oitenta e oito anos me casando com você pela
quinquagésima vez.
— Tenho certeza de que ainda será lindo — ela fala passando as
mãos no meu rosto. Dou um beijo na sua boca rápido e o sorriso dela some.
— Promete viver muitos anos.
Ela tem os olhos marejados, então eu me sento na cama e ela se joga
nos meus braços.
— Eu amo que você seja quem é, mas a única coisa que dói na nossa
diferença de idade é que a vida cobra um preço para todos nós quando chega
a hora.
— Eu sei, mas eu vou durar muitos anos ainda com você e a Sophia,
com os nossos outros filhos, netos e vai ficar tudo bem.
Ela funga, totalmente deselegante, e me dá um beijo de leve.
— Tira o meu vestido.
Sai de cima do meu colo, para na minha frente e tira o único
prendedor do seu cabelo deixando em cima da mesa de cabeceira. Estende as
mãos e eu me levanto ouvindo-a:
— A honra é sua de tirar o vestido.
— Porra, Nina.
Não penso em nada, agarro seu corpo com força, corro minha mão
por suas curvas uma última vez porque, caralho, é bom demais sentir a seda.
Virando-a de costas para mim, abro seu vestido. O maldito tecido é pesado o
suficiente para cair em seus pés e ela não estava brincando quando disse que
estava nua.
— Puta que pariu — minha voz sai estrangulada de tesão.
Lhe dou um beijo levantando-a nos braços. Jogo-a na cama e abro
suas pernas, minha boca encontrando sua boceta melada de excitação. Porra,
que deliciosa! Eu chupo seu clitóris com vigor e Nina agarra meus cabelos
com força. Subo minha mão e brinco com a ponta do seu seio. Nina goza uns
minutos depois gritando e apertando as colchas da cama. Erguendo o corpo,
seguro seu rosto e nos beijamos. Um beijo atrapalhado onde lambo seu rosto
e chupo seus lábios enquanto ela se esfrega em minha roupa.
Saindo de cima dela, tiro minhas roupas tão veloz que destruo alguns
botões. Posso não ser mais jovem como ela é, mas quando estou com tesão
por ela, tenho a mesma idade.
— Vem logo — geme passando os dedos nos lábios da sua vagina.
Arrancando o último item interessante, minha cueca, vou para cima
dela. Afasto mais suas pernas com as minhas e encaixo na pontinha.
— Vou te pegar bem gostoso hoje.
— Até o fundo. Faz isso, amor — ela geme e agarra meu pulso da
mão, que massageia seu clitóris.
Meto meu pau até o fundo e acelero os movimentos. Paro de provocar
seu clitóris e seguro suas mãos, entrelaçando nossos dedos, levando para o
alto da sua cabeça. Deitada, ela rebola fazendo meu pau massageá-la por
dentro. Ela joga a cabeça para trás e eu mordo seu pescoço. Suas coxas
flexionam conforme faz força para mim e eu vou mais fundo, adorando ouvi-
la gritar livremente. Não tem coisa mais erótica do que ela sempre estar
entregue a mim. E seu orgasmo vem em uma explosão que me controlo para
não gozar também.
Saio de dentro dela, mudando de posição, deito-me de barriga para
cima e puxo-a para ficar por cima. Seguro meu pau e Nina vem sentando-se
devagar, olho no olho e mordendo a boca. Amo sua cara de tesão. Fecho os
olhos com seus movimentos de sobe e desce, meus polegares brincando com
seus mamilos. Ela quica em cima de mim e geme.
— Vem. Mais rápido — ordeno e ela deixa o corpo cair sobre o meu,
me abraça beijando minha boca e eu acomodo minhas pernas para poder
socar para dentro.
— Ah, Paolo.
— Sim, meu amor — digo no seu ouvido, beijando o lóbulo. — Goza
pro papai.
— Mm...
Aperto sua bunda, dou uns tapas e soco bem fundo e rápido. Suas
unhas marcam meus ombros, a boca aberta toca meu pescoço e eu acaricio
cada centímetro dessa mulher. Girando-nos, volto a ficar por cima e, dessa
vez, quero gozar. Aumento meus movimentos e ela revira os olhos antes de
fechar e abrir a boca. A visão dela aproveitando enquanto a fode me causa
vertigem e eu estimulo seu clitóris. Quando sinto que está gozando, me
permito fazer o mesmo. Gozamos abraçados, suados e nitidamente com
vontade de fazer de novo.
Recuperando o fôlego, ainda abraçado a ela, viro para ficar por baixo.
Sou pesado demais. Beijo seu ombro e afago suas costas e murmuro no seu
ouvido:
— Você está bem?
— Maravilhosamente bem — responde lânguida em cima de mim.
Satisfeito, fecho os olhos.
— Vamos nos recuperar um pouco.
— Ah, com certeza.
Ficamos abraçados, sem ar e em silêncio. Ela passeia os dedos pelo
meu braço e ombro. Minhas caricias fazem Nina gemer como uma gatinha.
Ela adora que eu faça carinho no seu corpo e nós dois ficamos cochichando
palavras soltas e acabamos pegando no sono assim como muitas noites. O
que temos é mais do que amor, é cumplicidade e, quando assumo que não
mereço, é porque ela é demais para mim.
21

P aciência nunca foi meu forte. Muitas vezes ser o conselheiro do


Capo é uma tarefa difícil, porque eu preciso estar à frente de alguns
assuntos antes dele e resolver problemas que não pode chegar até
ele, pois não é bom provocar Travis. O pai dele eu conseguia manobrar
melhor porque era um líder fraco, mas o filho nem de longe é igual aquele
velho desprezível.
Mas hoje o problema não tem a ver com Travis, pelo menos é o que
River deu a entender quando disse que precisava falar comigo e apenas
comigo.
Ele marcou uma reunião no clube de dançarinas que fica numa rua
sem saída na avenida principal. Outro não veria sozinho sabendo como os
motoqueiros são traiçoeiros. Já eu, não tenho medo deles.
Saindo do carro, jogo a guimba do cigarro no chão e piso para
terminar de acabar. River sai da boate com uma mulher quase nua agarra a
ele. Encaro-os esperando que parem de se chupar.
— Belezura, me espera lá dentro.
Ergo a sobrancelha com desgosto e espero ele se aproximar.
Acendendo outro cigarro, de maconha, se apronta na minha frente.
— Pronto, estou aqui.
Ele ri com deboche e apoia-se no capô do meu carro.
— Daquela vez que a gente conversou, você deixou claro que eu
devia um favor e é algo muito precioso entre homens como nós.
— Não me compare. Você é um moleque que sobe na moto e tem
uma arma na cintura.
— E você é um empresário por acaso? Não fode — esbraveja e suga
uma tragada.
— Me fala logo o motivo desse encontro.
— Preciso te falar sobre uma parada que descobri em uma das igrejas
de vocês.
— Nossas igrejas? — Cerro os olhos.
— Sei muito bem que vocês mafiosos gostam desse tipo lugar. É
irônico que vocês pensem que algum ser Divino possa ajudá-los sendo que
todos nós somos podres. Somos iguais, porém eu uso jaqueta de couro e você
terno sob medida. Vamos para o inferno quando morrer, não tenha dúvidas.
Eu me controlo muito para não puxá-lo pelo colarinho.
— Fala logo o que você quer. Termina o seu monólogo, River.
— Eu vou te dar uma informação e não sei como você vai reagir. O
que você vai fazer. E não tô preocupado por ter descoberto sem querer.
— Não existe nada sem querer.
— Tá bom — se corrige rápido com ironia. — Eu sabia de um
rolinho sobre isso, mas não pensei que fosse algo tão... — Seu rosto fica
sinistro, meio irônico e humorado. — Não pensei que fossem tão canalhas.
Limpo a garganta.
— Tem algum motivo muito sério para estar demorando para falar
que merda você descobriu?
— Digamos que quando você fez um acordo comigo e eu não tivesse
honrado ele ou melhor... — Ele reformula os pensamentos rapidamente. —
Pensa só, você queria conversar com meu irmão e eu queria ter umas
corridinhas naquela avenida sem problemas com vocês. E você me deu a
passagem que pedi, mas e se eu não fizesse dar certo a sua reunião com meu
irmão. — Faz uma pausa fumando e jogando a fumaça quase na minha cara,
termina: — Como você se sentiria?
— Com muita raiva e com vontade de meter uma bala no meio da sua
testa.
— E se você não pudesse me alcançar?
— Como eu não poderia te alcançar? — digo sem paciência. —
Porra. Desembucha logo essa merda.
— Caralho! — Ele termina o baseado e desencosta-se do carro. —
Leva a sério a minha hipótese, senão não tem como dialogar com você.
— Vai. Continua.
River respira fundo e cruza os braços sobre o peito.
— Você ficaria puta comigo, não é. Iria querer me matar, mas e se
não tivesse como?
— Como o que?
— Como você saber do que fiz.
Paro pra pensar e se eu não pudesse me vingar de algo eu sei qual tipo
de sentimento ficaria me corroendo. Remoendo por longos anos.
— É difícil para caralho pensar assim, porque sempre consigo o que
eu quero. Se eu der a minha palavra, vou conseguir. E eu nunca quebro um
juramento. Poderia demorar muitos anos, mas eu iria conseguir pegar o
desgraçado.
— Eu também, Paolo e acho foda você ser assim. E o que eu vou te
contar é pessoal. Esses babacas me traíram e enganaram. Eu fiquei puto
durante muitos anos e acontece que agora eu acabei de descobrir que não é só
comigo que esses filhos da puta estão fodendo.
— Quem são?
— Primeiro vou contar uma historinha para você... — ele fala
baixando os olhos, tentando manter a expressão neutra, mas vejo muita raiva.
— Deixa pra lá. Depois eu conto para você, porque se eu contar agora. — Ele
dá um sorriso assombroso. — A conversa vai acabar e eu não vou poder pedir
nada em troca. Eu não sei se vai sobrar alguma coisa depois que você tentar
destruir esses filhos da puta e sendo sincero. Não sei se você consegue.
— Não me subestime, garoto.
— Não estou te subestimando, mas nem meu irmão que é um maluco
conseguiu acabar com eles.
— Conta a história porque senão não tem como fazer nada.
River move os pés desconfortável, enfiando as mãos nos bolsos da
jaqueta.
— Não teve aquele lance do casamento do seu Capo — ele fala com
deboche. — Teve um ataque em massa na porta da porra da igreja, que vocês
insistem em manter as aparências religiosas. É sério que você acredita em
Deus ainda?
— River.
— Tá bem. — Dá de ombros. — Enfim, teve aquele lance todo.
Traição, polícia, os russos. Foi ruim pra gente também.
Assinto concordando.
— Então, eu sei quem ajudou todos eles a se juntarem contra vocês.
— Já matamos todos eles.
— Ainda não. Pelo menos não esses.
Aperto a mandíbula e o olho com desconfiança.
— Porque que você estaria me dando essa informação.
— Porque eu sei quem é o seu novo chefe. — Ele ergue os olhos para
mim com cautela. — Travis Lozartan não é um cara que tolera traição. O seu
antigo Capo era um babaca. Me desculpe, certo. Mas ele se envolvia com as
putas do clube, fazia qualquer tipo de acordo e só pensava em dinheiro.
Merda. Não sei como o meu irmão nunca fez um acordo com ele também.
— Realmente Travis não é como o pai.
— Eu sei disso e por isso estou lhe dando a minha moeda de troca,
Paolo. E nada naquele dia na igreja foi sem planejar.
— Como assim?
— Eles não foram até a igreja sem saber de todas as informações.
Eles sabiam do casamento, o horário e tinha as informações certas de quando
vocês estariam nas escadas. — Ergue o rosto e fica bem sério. — Eu sei que
mataram sua esposa e que você é um homem vingativo também.
Me mantenho neutro, sem balançar a cabeça ou um movimento.
Apenas ouvindo.
— Você está entendendo o que eu estou falando?
— Eu já sabia disso tudo.
— Não — sua voz tem um toque de suspense. — Você não está
entendendo.
— Diga.
— Toda a informação veio de dentro da igreja.
— Como é que é? — Dou um passo pra frente, encarando-o no fundo
dos seus olhos castanhos. — Repete. Conta a história inteira.
— O padre tem um acordo com uma espécie de cúpula aonde os
japoneses, russos e outros motoqueiros, até outros mafiosos.
— Para de falar essa palavra que eu vou te dar um soco na sua cara.
— Está bom. Magnatas que nem vocês. — River se corrige rápido. —
O importante é que esses filhos da puta querem tomar Las Vegas. Você sabe
que aqui é o berço do mundo proibido. O lugar mais certo de se fazer o que
nós mais gostamos. Chantagem, putaria e dinheiro com drogas. O que a gente
quiser e todos querem um pedaço. E o líder da Blood Hands fez um acordo
com o grupo dos russos de Orlando e com os mexicanos.
— Óbvio. Aqueles imundos.
— Você acha que os motoqueiros de Chicago vão conseguir destruir
o território daquele imbecil?
— Malvez está segurando firme. — Não dou a resposta que esperava
e ele ignora.
— Ele pode estar fraco, mas se juntando com a cúpula, pode
conseguir vencer a guerra e ficar mais forte nós.
— Você tem o paradeiro desses filhos da puta?
— Sei que as reuniões são feitas na igreja.
— Numa igreja?
— A que fica no meio do caminho entre todas essas organizações que
eu acabei de falar e a igreja que você perdeu a sua esposa, e o seu Capo foi
resumido a um otário que se casou a luz do dia, é o cofre deles. Naquele dia
todos eles sabiam.
Estranho ele falar sobre aquele dinheiro quando a Lawless tem seu
mini Vaticano, guardando o dinheiro sujo na maior igreja de Nevada, porque
a igreja que River citou recusou guardar nosso dinheiro.
Porém estou me fodendo para o dinheiro. Eles vão pagar.
— O que você vai fazer?
— Vou dar um recado a eles.
— Eu estava pensando em entrar nessas reuniões e matar cada chefe
desses grupos.
— Não posso matar todos.
— E o seu líder? Travis pode acabar com todos esses russos, as
gangues de moto e Cartel dos mexicanos, que não é a Hechos. Ele já fez algo
monstruoso assim.
Travis já fez coisa pior. Matar uns babacas traidores é aperitivo para
os dias mais violentos. Fazer ele matar é simples, o problema é controlar.
— Tudo que eu quero agora é matar um por um.
— Você tem o nome de todos.
— Claro que sim, mas eu vou afetar eles de outra forma e muito pior.
Morrer é fácil demais.
River assente com sua cara de ironia.
— Você vai querer estar junto?
— Óbvio e já que não vamos matá-los, precisamos focar no dinheiro.
— Não tem como matar todos eles. São muitas mortes.
— Sim, é verdade e não seria uma boa ideia fazer a polícia voltar a
nos investigar. Não é apenas a máfia que teve um período ruim.
— Nenhum de nós quer mais esse conflito. Mesmo que a guerra seja
para matar outra organização. Isso sempre chama atenção para todos. Não
podemos deixar rastros. Quando a Lawless faz algo vamos no coração de
tudo e o deles é na merda da igreja. No cofre deles.
— Travis deixara acontecer?
— Claro que sim. Ele dá dinheiro para aquela instituição de merda
que bota o nome de Deus e engana as pessoas. Sobre seu questionamento, eu
não sou religioso. Não acredito em Deus, mas acredito no inferno. As nossas
escolhas que nos levam para onde queremos. Logicamente, todos vamos nos
foder. As pessoas que são imunes e inocentes sobre o mundo que não querem
ver, elas sim podem crer em paz, santidade e Deus.
— Não tenho como não concordar com você.
— Só disse a verdade e você vai ter que me segurar para não matar o
padre.
— A gente pode arrancar uns pedaços. As mãos e a língua.
— Vou ver isso na hora. O foco é destruir o cofre. O que vamos fazer
com eles é outra coisa a se pensar.
— Vamos incendiar a igreja?
Fico congelado e minha boca abre, mas então penso melhor e falo:
— Você se daria muito bem com Luca, mesmo que você não goste
dele.
— Agora eu falo; não me compare com aquele maluco. A diferença é
que eu sei a hora certa, esse lunático psicopata não. — River respira fundo e
pega um maço de cigarro no bolso da jaqueta. — Mas não me interessa e não
me coloque perto dele. Não vai dar certo. Vamos a nossa ideia. A gente pode
tacar fogo em tudo e falar que foi o gás da cozinha da igreja.
— É uma ideia tática razoável. A polícia não investiga vazamento de
gás. Porém antes nós temos que tirar as armas e as barras de ouro — lembro a
ele. — Depois tacamos fogo nos papéis. Todos eles e o que estiver lá dentro.
— Você já tinha pensado nisso?
— Assim que você me falou, imaginei aquela igreja explodindo.
— Quando vamos?
— Primeiro vou falar com meu Capo. É ele que manda e eu não
quero problemas com ele.
— Eu sei que ele é volátil. É bom falar mesmo, porque não tô a fim
dele entrando no meu clube e matando os meus homens.
Assinto e caminho para a porta do motorista. Isso é a deixa para River
se afastar.
— Fique de olho e saiba quando será a próxima reunião — falo e
entro no carro.
River tira um chiclete do bolso e taca na boca.
— Pode deixar.
Dando a partida no carro, passo a marcha e espero que ele saia da
frente, no caso entre na boate e sigo caminho para a casa de Travis.

Na manhã seguinte, eu nem entro direito no escritório do Capo que


fica na casa dele e o escuto falar:
— Foi legal a sua reunião com River Stan?
— Está me seguindo agora?
— Não preciso seguir ninguém na minha cidade, Paolo.
Óbvio que não.
Sentando-me na cadeira de frente para ele confortável em sua cadeira
atrás da mesa, jogo a perna sobre a outra e abro o botão do paletó.
— A igreja está trabalhando com os russos, os mexicanos e os
motoqueiros de Chicago. — Jogo logo a merda no ventilador porque Travis
não é de perguntar o que pode ser arrancando com facilidade.
— Quem lhe disse isso?
— River Stan.
— Como ele sabe?
— Porque descobriu que eles se reúnem na igreja nos arredores de
Jackpot e nos arredores de Idaho descobri, vindo para cá por sinal, que existe
um hotel que o pessoal de Chicago está aparecendo por lá. E tem mais.
Travis respira fundo e é visível que está se controlando.
— Vitorio Malvez está por trás disso também.
— Aquele filho da puta não consegue dar conta de Chicago é quer vir
para Las Vegas?! — Ele se levanta batendo na mesa, indo até a janela que dá
para o jardim. — Eu não quero me envolver com a queda da Blood Hands,
mas se Vitorio se meter a besta por aqui, não vou pensar uma segunda vez.
Ele está querendo me provocar para que Cassio faça alguma coisa. Sabe que
o acordo que fiz com a Darkness me amarra as regras de Cassio, mas eu vou
me foder. Não quero saber. Eu vou matar ele e depois resolvo. Se ele tentar
alguma coisa ou mandar seus homens. Porra! — Ele solta a respiração com
força. — Eu não vou pensar. Vou reagir. Vou matar todos eles do jeito mais
brutal.
O jeito mais brutal que ele se refere é quando usa o machado. Ele
aprecia sentir a adrenalina, o pavor e os gritos. É uma das piores mortes que
Travis tem o prazer de fazer. Ele fica tão fora de si que precisa estar longe de
casa uma semana.
Eu sempre me orgulho do meu autocontrole sobre a escuridão que
todos nós temos, porém Travis é diferente. Ele precisa de uma semana, uns
dias de longe de casa. Sempre foi assim, no entanto, agora, Madeleine corre
atrás dele. Não deixa que passe de dois dias longe dela. Embora ele prefira se
manter na cobertura do Bellagio por mais alguns dias, agora na companhia da
esposa. Ele tem medo de ficar perto do filho. Caralho. Ainda tem gente que
acha que ele está perdendo o lado assassino. Melhor não provocar para ver se
é verdade.
— Nós vamos até eles — ele comunica virando-se de frente para
mim.
— Primeiro quero te contar a história toda.
Ele cerra a mandíbula e move a cabeça como dissesse fala logo.
Em poucas palavras conto tudo que River me disse e a reação de
Travis é jogar o copo que estava bebendo uísque na parede.
— Aquele padre me casou. Ele fez eu jurar meus votos para minutos
depois ajudar a tentarem matar minha mulher.
Levando vendo-o perder o controle.
— Nós vamos acabar com eles, Travis.
— Com toda certeza — diz virando-se para mim. — Você mandou
alguém vigiar para saber quando terá a próxima reunião?
— River vai ficar de olho.
— Ele quer vingança — conclui.
Assinto enfiando as mãos nos bolsos.
— Não sei o móvito real, mas ele quer ir junto.
— Não interessa. Se não for uma armadilha dele contra nós, ele vive.
— Eu já confirmei tudo que ele contou.
— E mesmo assim não sabe qual envolvimento ele tem com essa
igreja para agora querer derrubá-la?
— Tem a ver com a mãe. É tudo que consegui.
— Pelo visto ele sabe guardar segredo melhor que muitos por aí.
Ergo a sobrancelha com sua ironia. Sei que não está se referindo a
mim, mas parece que não gosta dos motoqueiros nisso. Eu também não gosto
e a contragosto decide que iremos trabalhar com eles nesse problema.
22

O lhando sem piscar para o teste de gravidez percebo que minha


mão está tremendo. Meu Deus. Lembro dos últimos meses que
Paolo e eu fizemos amor. Ele andava muito estressado. Os
problemas com a outra máfia e os motoqueiros estão deixando ele um pouco
fora de controle, mas quando estamos só nós no quarto — pessoalmente
transando — ele fica ainda mais descontrolado. Mesmo tendo um sexo mais
bruto, fico feliz de ser sua válvula de escape e é a única maneira também de
eu extravasar o estresse do dia.
Acaricio meu ventre lembrando da nossa conversa sobre ter o bebê no
nosso aniversário de casamento, o dia mais incrível que já tive na vida, meu
casamento de verdade com Paolo. E nós estávamos mesmo pensando em ter
nosso segundo filho.
Parei de tomar a pílula em seguida e esqueci do assunto. Não queria
ficar pensando em engravidar porque isso me deixaria ansiosa demais e isso
não ajuda em nada. E transar com meu marido duas ou três vezes quase todos
os dias durante esse tempo não foi sacrifício nenhum. Mas demorou uns
quatro meses ou mais para acontecer.
Devo estar com mais ou menos oito semanas de gravidez, porque tem
esse tempo que estou me sentindo mal. Escondi de Paolo o quanto pude meu
mal-estar e logo, guardei em segredo o teste de gravidez durante essa semana
porque hoje é o aniversário dele e preparei uma caixinha de presente e
coloquei o teste dentro.
Deixando o presente na nossa cama, saio do meu quarto e vou para o
de Sophia. Meu coração fica tão elétrico, como tivesse borboletas no
estômago em pensar que alguns meses teremos um bebezinho nessa casa e
imaginando Sophia como uma irmã mais velha. Espero que ela fique feliz.
— Mamãe — ela exclama sentada no chão brincando com a boneca e
o Boh.
Sorrio para ela e me aproximo. Passo a mão nos seus cabelos e beijo
seu rostinho quando sentando-me no chão.
— Vamos brincar com a mamãe?
Pego a boneca, porque ela sente muito ciúme do urso.
— Sim!
Rio do seu entusiasmo e assisto-a mexer as mãos para o alto, fazendo
o urso dançar com a boneca que eu também mexo.
— Você gosta do Dante? Gosta de brincar com ele?
Ela ergue os olhinhos para mim e parece confusa.
— Você gosta do Dante? — repito.
— Sim, mamãe.
— O que você acharia de ter um menininho ou uma menininha para
brincar com você todos os dias?
Sophia franze mais ainda a testinha. Meu Deus. Eu estou sendo uma
boboca perguntando a uma menina de um ano e dois meses se ela vai gostar
de ter um irmão. Suspirando, me aproximo dela e beijo o topo da sua cabeça.
— Mamãe te ama muito e para sempre.
— Mamãe! — Ela fala olhando para mim e então fica de pé e me
abraça.
Como os hormônios estão me deixando emotiva, meus olhos ficam
cheios d'água. Segura-a bem forte em meus braços e fecho os olhos.

As dez para uma da manhã Paolo me surpreende na cozinha,


abraçando-me por trás. Ele beija meu pescoço e murmura:
— O que você está fazendo acordada?
— Esperando você. — Virando-me de frente, dou um beijo na sua
boca. — Na verdade, esperei o dia todo. Afinal, hoje é seu aniversário.
— Ah, Nina. Não precisa ficar esquentando com isso. É besteira.
Faço uma carranca e balanço a cabeça.
— Não é uma besteira eu querer ficar o dia que meu marido faz
aniversário com ele. Não fala assim.
Paolo assente e me beija. Sua boca acaricia a minha lentamente, a
língua abrindo caminho para dentro e eu solto um gemido adorando como me
beija. Logo começo a ficar excitada e jogo-me em seus braços. Dando um
pulinho estou em cima do balcão da cozinha e minhas pernas agarrando seu
corpo, puxando para mim.
— Não é prudente fazer sexo na cozinha — ele comenta, porém, sem
parar de me beijar e sua mão desliza para dentro da minha camisola.
— Me leva para o nosso quarto.
Não preciso pedir duas vezes. Paolo me agarra, uma das mãos na
minha bunda com muita vontade e a outra nas costas. Enquanto nos leva para
o andar de cima, beijo seu pescoço.
Empurrando a porta, entramos no quarto e eu fecho a mesma. Ele
caminha até a cama e acho que está prestes a me derrubar nela quando para
de repente.
— Comprou um presente para mim?
Paro de beijar seu pescoço e olho para a mesma direção que ele.
— Sim — responde rápido e espero que não tenha percebido a nota
mais alta no meu tom nada verdadeiro.
— Mm... — ele geme me beijando.
Sorrindo, saio do seu colo e fico de pé. Paolo senta-se na cama e pega
o embrulho. Prendo a respiração como uma adolescente boba e espero ele
abrir. Ele destrói o embrulho bem rápido e quando tira a tampa da caixinha,
ergue a cabeça e me encara.
— Você...
— Sim! — Toco minha barriga. — Estou grávida.
Vejo-o erguer as sobrancelhas, parece perdido e então, se levanta.
Segura meu rosto e me dá um beijo.
— Há quanto tempo você sabe?
— Umas duas semanas. Como sabe que eu já sei tem um tempo?
Ele me dá seu sorriso enigmático e me beija.
— Você estava diferente há umas semanas. Pensei que estava doente
ou cansada. Sophia não é mais uma bebê e está muito ativa.
Rio concordando com ele.
— É, mas não foi ela. Sophia não me cansa em nada.
Ganho um abraço bem forte e um beijo que não importa se caio sobre
a caixinha do presente, caímos na cama. Paolo geme passando as mãos nas
minhas coxas.
— Você vai ficar ainda mais linda.
Dou uma risada afagando seu rosto.
— Feliz aniversário, amor.
Me pegando de surpresa, ele me deixa por cima dele e faz sentar.
Levanta minha camisola passando as mãos pela minha cintura até que as
deixa sobre minha barriga.
— Obrigado pelo presente.
Fico com os olhos marejados e deixo-me cair sobre ele de novo. Sinto
que mesmo feliz com a notícia tem algo que está incomodando.
— Você quer me falar algo? — pergunto no seu ouvido baixinho.
— Não se preocupe — respondi com seus olhos azuis quase cinzas
profundos em mim. — Eu vou cuidar de tudo.
Ergo a cabeça para encará-lo.
— Eu sei que vai, mas mesmo assim eu estou aqui.
Sem dizer mais nada, ele começa a me beijar e tira minha camisola.
Diferente das últimas noites, não fodemos e sim fazemos amor. Lento
e carinhoso. Acredito que não é apenas porque estou grávida e ele tem o
senso de querer me proteger e cuidar, mas também porque necessita desse
contato carinhoso.
23

A s madrugadas sempre foram longas para mim, principalmente


quando não posso dormir para vigiar um local ou alguém, ou
porque estou prestes a atiçar uns inimigos sem escrúpulos e
descubro que não apenas tenho que cuidar da minha filha e da minha esposa,
mas também um bebê a caminho.
Não sei nem por onde começar a resumir minha mente neste
momento. É a porra de um pesadelo. Não posso adiar o ataque a igreja, eles
merecem e depois de tudo que soube sobre os planos deles. Como eles
armaram para atingir Madeleine ou Mia, resgatou aquela raiva de antes. A
cólera que me fez queimar aquele desgraçado ano passado. Eu pensei que
tinha colocado um ponto final no último culpado e descobrir que estava
errado, faz a raiva ser duas vezes maior.
Nina se mexe nos meus braços e eu volto-me para onde estou ainda.
Deitado na minha cama, abraçado a minha esposa recostada em mim
sentindo-se totalmente seguro. Quero que isso dure e que eu possa assegurar
a garantia delas duas e do próximo filho.
Beijando seus cabelos, tiro meu braço debaixo do seu corpo com
calma e saio da cama. Entro no banheiro e tomo uma ducha duradoura.
Enrolado na toalha, atravesso o quarto e sigo para o closet. Me visto rápido.
Escolho roupas mais despojadas, roupa para combate; calça jeans, camisa de
manga longa, o coldre e a jaqueta, tudo preto para o sangue não manchar.
Calço as botinas de cano alto e encaixo as armas no coldre e as facas nos
suportes que ficam nos pés. Não sei se vou usar.
Pegando meu celular e os cigarros dentro do paletó que usei ontem,
me aproximo de Nina e lhe dou um beijo no rosto, antes de me afastar ela
agarra minha mão de leve.
— Que horas são?
Sento-me na beira da cama entrelaçando nossos dedos.
— Cedo e você pode voltar a dormir.
Ela abre mais os olhos, ainda mantendo-os cerrados e faz uma careta
confusa.
— Que roupas são essas? Virou um playboy?
Rio da piada e me inclino para beijar sua boca, e também distrai-la.
— Volte a dormir. Está cedo demais.
Nina resmunga, mas fecha os olhos. E com um último beijo, em sua
testa, me afasto e saio do quarto.
No corredor fico indeciso se vou ver Sophia. Ela não é mais uma
bebezinha que eu mandava voltar a dormir e ia. Agora quando me vê, eu
preciso estar pronto para pegá-la no colo e lhe dar atenção. O carinho por
minha filha vence a razão e eu entro no seu quarto.
Ela está dormindo serenamente. Agarrada ao urso e a boneca. Ontem
quando cheguei não vim ver como ela estava, Nina me carregou para o quarto
e foi impossível me afastar daquela mulher. Mas de madrugada eu que trouxe
a mamadeira de Sophia e mesmo que estivesse basicamente dormindo nos
meus braços enquanto eu lhe alimentava, ela segurou firme no colarinho do
roupão que usava por cima da calça de flanela.
Me inclino para conseguir tocar nos seus cabelos e digo baixinho para
não acordá-la:
— Até mais tarde, filha.
Sophia se mexe, virando o corpo para o outro lado, sem soltar o urso,
e suspira. Sinto meu rosto enrugar com o sorriso. Eu a amo tanto e nunca
pensei que iria amar tão forte mais alguém como faço para minha filha. agora
não só tenho Nina também para amar assim como um novo filho.
Saindo do seu quarto, desço em passos rápidos para o primeiro andar
e dou de cara com Gregori.
— Por que você me acordou tão cedo?
Ignoro-o indo até a cozinha. São três e meia da madrugada e é óbvio
que está estranhando.
Caminho até a bancada e apronto tudo para passar o café e um pão
para virar torrada.
— Vou precisar fazer algo e você de cuidar da minha esposa e filha.
— Vai agora... — Ele para sua pergunta com uma sugestão na voz. —
O que aconteceu? Os motoqueiros atacaram de novo ou vocês vão entrar em
Chicago a força?
— Não tem a ver com eles hoje.
— Tudo bem. Pode ir. Vou cuidar de tudo.
O café fica pronto e pego uma caneca para me servir. Dou um gole e
uma mordida na torrada.
— Deixe as duas perto de um ponto de fuga e Solo ficará também.
Gregori concorda com um aceno e pega um pouco de café para si
mesmo.
Não me demoro tomando o café. Logo que termino, sigo para saída,
mas paro ouvindo Sophia chorar. Meus pés travam no chão.
— Pode ir, Paolo. Eu vou cuidar deles e Nina já deve estar saindo da
cama para ver Sophia.
Respiro fundo e viro-me para ele.
— Me ligue para qualquer coisa e não hesite em fazer nada que possa
deixá-las seguras.
— Com a minha vida.
Com um aceno, eu sigo para a porta de casa e entro no carro. Vou
dirigindo porque o que preciso fazer não tem necessidade de ter alguém
comigo. River irá encontrar Travis e alguns soldados, da equipe de Enzo, na
igreja que os filhos da puta fazem as reuniões, e eu vou para a igreja onde
fica o dinheiro.
Estou saindo com o céu ainda escuro. Quero que seja uma surpresa
para os aliados e donos daquele dinheiro cheirando a traição. Nós podemos
ser assassinos e criminosos, mas não somos desleais. Os que são pagam com
sua vida. A Omertà é um voto de vida e morte.
Não demorar cerca de dez minutos para Travis ligar.
— Você já está no local?
— Chegando e você?
— Acabamos de sair. River veio com o irmão e dois motoqueiros
fedendo a cigarro.
A raiva é sentida de longe. Travis está fazendo essa breve aliança
com a Sons of Hell para eles entenderem que o dono de Las Vegas é ele. Por
mais que eles soubessem desse grupo e até mesmo onde se encontram, os
MCs recorreram a nós para armar um plano e foder o grupo. No fim, River e
Tyler sabem que o poder dessa cidade está em Travis, com a máfia italiana
como eles adoram nos lembrar e irritar.
— Estamos chegando no local — Travis informa. — Nos
encontramos no Balcão.
O encontro é entre nós e os soldados. Ele jamais levaria os
motoqueiros para onde nossas armas e drogas estão armazenadas.
Desligo o telefone e paro o carro na esquina, meus olhos focando na
igreja. A imagem de Mia entrando na igreja com a marcha nupcial, depois
quando saímos e ela parecia relaxada. Nunca teve medo de estar casando
comigo e por isso nunca tive sentimento ruim com ela. E quando a visão dela
subindo os degraus da igreja para o casamento de Travis e Madeleine, e logo
depois morrendo nos degraus. Essas imagens causam o efeito necessário para
eu sair do carro. Na porta-malas pego a mala com os explosivos e confiro
minhas armas no coldre e vou em direção a maldita igreja.
Entro pelas portas principais. Dou uma pausa na entrada e olho para
todos os cantos, e não encontro ninguém. Sigo em frente, sentindo a cólera
miserável de quando pisei nesses pisos de mármore em meu casamento com
Mia e quando a carreguei morta em meus braços. Respiro fundo e vou para
trás do altar.
Entro pelas portas principais. Ajeito a alça no ombro e dou uma pausa
antes de passar pelos bancos. Olho para todos os cantos e não encontro
ninguém. Está silencioso e calmo até demais. Sigo em frente, sentindo a
cólera miserável de quando pisei nesses pisos de mármore em meu casamento
com Mia e quando a carreguei morta em meus braços. Respiro fundo e vou
para trás do altar.
Entro na porta que leva para as salas e os cômodos adjacentes para os
padres, freiras e outros membros da igreja. Encontro uma freira quando estou
passando pelas portas.
— O que o senhor faz aqui dentro?
— Onde está o padre mestre?
Seus olhos ficam alarmados e seus pés não parecem firmes no chão,
pois cambaleia para trás.
— O senhor não pode entrar aqui?
— Onde ele estar? — repito com mais firmeza.
— Ele... ele está no seu quarto.
— Onde?
Com as mãos trêmulas, ela indica o final do corredor a direita. Eu não
pretendia que alguém me visse antes de pegar o filho da puta do padre, mas
passando pela freira, sigo para onde ela apontou e abro a porta de uma vez só.
— Paolo?! — Ele fala alarmado. — O que está fazendo aqui?
— Não fale nada — digo.
Vou até ele, agarro pela camisa e arrasto para fora do quarto. Seus pés
batem no chão atrapalhados e eu o seguro para não cair.
— Paolo... — ele tenta falar.
Continuo andando, puxando-o como fosse um peso morto, o que será
em breve. Desço as escadas no canto mais escuro e chego a um corredor.
Jogo a mala no chão e sigo até ver as grades que protegem o cofre.
Eu não contei o que estava rodando minha cabeça a Travis quando eu
finalmente colocasse as mãos no padre, mas tinha permissão para colocar um
basta na igreja e dar o recado para os que não sabíamos ainda que estava
envolvido. Travis mencionou que não iria poupar quem estivesse na reunião,
e eu tão pouco irei poupar minhas ações na igreja. A diferença é que o único
que será morto é o padre. Para o que eu quero preciso que tenha testemunhas
e as freiras servirão para o propósito.
O padre está com a cabeça pendura enquanto o carrego para o sótão.
E quando chegamos na frente do cofre, vejo a grade protetora. Jogo-o no
chão.
— Onde fica as chaves?
Ele não responde, fica de cabeça baixa respirando com dificuldade.
— Responde, porra. — Dou um chute nas costelas dele e o
movimento vira seu corpo e eu então vejo um molho de chaves preso no
cinto. Me inclino e arranco as chaves dele com um puxão. Não vou perguntar
qual é. Pego a maior de ferro e comparo o nome da marca da fechadura com a
chave. Acerto na terceira tentativa. O Diabo coopera quando quer, pois tem
mais doze chaves.
Volto para ele, pego o filho da puta puxando-o pela roupa de novo e
carrego para dentro do cofre. Levanto seu corpo para guiar sua mão até o seu
polegar tocar no touch de confiança e na íris no leitor de olhos. Eles são tão
espertos que o cofre é linha de casino como Bellagio. Travis vai gostar de
saber disso.
Quando o cofre abre encontro muito mais do que nós fornecemos.
Como um desentendido, deixo-o sobre os degraus e pergunto:
— De onde vem tanta riqueza? — Me abaixo, sentando nos
calcanhares para manter o contato visual. — Me responde seu merda.
— É da máfia.
— Só da Lawless? Tem certeza?
Ele engole em seco.
— Você já sabe a resposta — diz com a voz tremula. — Não precisa
que eu minta.
— É só dizer a verdade ou você está envergonhado demais para me
falar. Ah, eu sei. — Curvo-me mais para perto, pego minha faca tão rápido
que ele não percebe e enfio no seu tornozelo. — Você sabe o que acontece
com quem traí a Lawless.
Ele dá um grito e tenta pegar minha mão que continua cravando a
faca na sua perna.
— Por favor, Paolo.
— Não implora porque fica pior.
Ele cala a boca. Eu olho profundamente em seus olhos e com um
movimento certeiro e rápido, puxa a faca de uma vez e a lamina tira um
pedaço grande da pele, o sangue jorra pra fora e eu vejo o osso.
— AH! PORRA!
Fico de pé e vou até minha mala. Deslizo o zíper e deixo bem aberta
para poder pegar as granadas e os outros explosivos. Erguendo-me caminho
até o cofre e ascendo tudo jogando logo em seguida sobre os dinheiros no
chão e algumas armas. Vai explodir a igreja. Foda-se.
— O que você está fazendo?
— Como diz a bíblia. Do pó viemos, do pó retornamos. E é isso que
estou cumprindo com esse dinheiro e sua vida desgraçada. Fazendo tudo virar
pó.
— Eles vão atrás de você e da sua família — ele diz com a voz
sofrida e faz uma pausa, nisso caminho com passos largos até seu corpo. —
Quer perder outra esposa?
Eu nem enxergo direito quando deslizo a faca presa na pulseira de
coro que fica sob a pele, estico meu braço e corto sua garganta fora a fora. O
sangue respinga em mim. Engolindo em seco, fico de pé e fito seus olhos
perderem o brilho da vida.
Dando as costas para o cofre, que começa a ser lambido pelas
chamas, subo as escadas e ouço o primeiro estouro. Corro pelo corredor,
vendo algumas freiras fazendo o mesmo e chegando no altar da igreja paro.
Fito os santos e a imagem de Jesus na cruz. Mesmo não crendo em
Deus, é complicado um homem como eu acreditar na divindade, sei que
padres e freiras como as que viviam aqui, não merecem servir a Deus. A
encanar corações devotos e por muitas vezes em aflição. Deslizo a
metralhadora das minhas costas para o meu peito e estouro tudo na minha
frente. Destruí absolutamente tudo antes de sair da igreja.
Na calça as freiras choram e rezam ajoelhadas.
— Vocês precisam rezar mesmo para pagar seus pegados.
— Nem todas sabiam — uma delas murmura.
— Mas você sim e sabendo do que sabe. Crendo no que crer, não lhe
resta dúvidas para onde vai quando morrer, sua cadela.
Ela segura a respiração, quase fala algo para mim, mas dá um berro
quando o sino da igreja cai fazendo um grande barulho junto com mais
explosões.
Cinzas, sangue e chamas é como termina as memórias de Mia. Todas
elas. Não como estivesse vivo ainda dentro de mim suas memórias e
sentimentos, mas o ressentimento. Ela morreu antes do prazo, antes do seu
corpo desistir. Ela estava em paz, eu sei disso agora, mas foi tirada a chance
de se despedir de Sophia e até de mim.
Respiro fundo e dou as costas para tudo.
Agora eu volto para o meu presente e futuro.
O que eu mais preciso agora é voltar para casa. Voltar para Nina e
Sophia, ter a certeza de que estão bem com meus próprios olhos por mais que
Gregori tenha me confirmado que estão seguras. Tudo está calmo em casa.
Mas Travis mandou eu ir para o Balcão. Parando o carro, vou para o prédio e
vejo Ludovico de guardar com outros homens. Ele é o soldado mais rápido de
Enzo.
— Algum sinal de conflito?
— Não. Tudo está na perfeita ordem, senhor.
Dou um aceno e passo por ele. Vejo alguns homens trabalhando em
empacotar as drogas, outros contando dinheiro e separando os pagamentos.
Estamos na semana de pagar os filhos das putas dos polícias, guardinhas que
cuidam das esquinas e o governador de Nevada. Os outros governadores que
estão na folha de pagamento da Lawless, cada subchefe faz os pagamentos.
Percebendo que tudo está tranquilo, subo para o quarto que fico
quando estou aqui. Os soldados não torceram a cara ou reclamaram por eu
estar com sangue respingado no terno e no rosto, manchas de cinza e
fuligens. Para eles é normal, porém chegar em casa assim não será bom e
com Nina grávida, não quero deixá-la nervosa ou assustar Sophia também.
Tomo um banho mais demorado para tirar todo o sangue e sujeira.
Minha preocupação não sai conforme a água me lava. A raiva ainda está na
superfície e levar um tempo por aqui antes de retornar para minha família é
até a melhor decisão.
Pronto com minhas roupas limpas, calça e camisa de linho pretas,
coloco meu coldre e desço para a cozinha. Pego algo para comer e vou para o
lado de fora. Como um porco que não sou muitas vezes, como o pão com as
mãos e depois para completar, acendo um cigarro.
— Você não parece tranquilo.
Viro-me para Colen e franzo a testa.
— Quando que nós estamos?
Ele me dá seu riso irônico e chega mais perto. Está vestido casual
demais para os nossos padrões e se tiver alguma arma em seu corpo, são
facas porque ele estava em Los Angeles com os amigos de fora.
— O que veio fazer aqui?
— Travis me falou das traições da igreja e que hoje seria o dia do
ataque. Acabei de passar na casa dele, vi sua família e passei na igreja — fala
com o semblante em branco. — Você fez um estrago em tanto.
— Colheram o que plantaram.
Colen parece pensar em algo e fala:
— Foi vingança. Acha que não sei ou Travis?
Jogo a guimba para longe.
— Não nego e apenas falei que eles colheram a sua destruição.
Sombrio e calado, Colen dá um aceno de cabeça e vira-se para dentro
do balcão na mesma hora que recebo uma mensagem. Pegando meu celular
do bolso da calça, leio:
Como tudo ocorreu?
A mensagem é de Gregori. Fico em alerta imediatamente.
Foi tudo em ordem. Por quê?
Nina não parece bem essa manhã, mas ela disse que está bem
apenas com mal-estar.
Ninguém sabe ainda que está grávida.
Estou chegando as três horas. Vigie a casa e mantém elas perto da
sala de tevê.
A sala de tevê é onde fica a porta para o quarto do pânico. Espero não
precisar, mas está lá para protegê-las se invadirem ou atacaram a casa.

Por volta das onze da noite, chego em casa exaurido de ouvir meu
Capo reclamar por eu ter feito a igreja explodir. Travis não pretendia chamar
a atenção da cidade e da polícia. Mas tudo foi resolvido quando River Stan
fez o que tinha prometido. Relatado ao seu contato na delegacia, que é
responsável pelo bairro da igreja, que foi um incêndio na cozinha. É claro que
o delegado é um dos cúmplices dos MCs. Eles também têm sua folha de
pagamento muito bem preparada para eventualidades.
O som da televisão está alta demais para Gregori conseguir ouvir
alguma movimentação na porta principal. Puta que pariu. Não preciso me
estressar com isso hoje.
A porta da sala está com uma fresta aberta e eu abro por inteira de
uma vez.
— PAPAI! — Sophia me saúda correndo até a mim com o urso de
pelúcia nos braços.
Pego-a no colo, lhe dando um abraço apertado e beijo seus cabelos.
Ela está com o cheirinho da mãe e eu me pergunto onde Nina está e porque
Sophia ainda está acordada.
Desfocando minha atenção da minha filha, vejo no chão da sala, no
canto perto da mesa, Ana.
— Boa noite — ela me cumprimenta se colocando de pé assim que
registra meus olhos nela.
— Onde está Gregori?
— Bem aqui.
Giro meu corpo para sua voz e o vejo parado com o corpo repousando
na parede.
— Sim, eu já estava aqui quando você abriu a porta parecendo muito
irritado.
— Irraditato — Sophia tenta repetir.
Beijo seus cabelos e foco em Gregori.
— A televisão está alta demais, não acha?
— Sim e por isso fiquei do lado de fora.
— Sophia estava sozinha.
— ANA! — Ela interrompe de novo e percebo que está lembrando
que Ana estava com ela.
— Ela tem razão. A babá estava com ela.
Ignoro-o e pergunto:
— Onde está Nina?
— Na estufa. — Se aproxima mais e fala baixo: — Ela ficou nervosa
o dia todo depois que descobriu sobre a igreja. De algum modo ela sabe que
foi você.
Respiro fundo e entrego Sophia para Ana que aparece do meu lado.
— Coloque-a para dormir e não me incomode com minha esposa. —
Viro-me para Gregori. — Fique hoje aqui.
Ele assente e vai para a sala de estar principal para estar perto da
porta. O posto que sempre escolhe ficar nas noites de vigia na casa. espero
Ana subir com Sophia, que reclamou por eu estar me afastando, e saio pelas
portas do quintal. Sigo em passos lentos até a estufa. Vejo Nina mexendo em
umas flores vermelhas que parecem prestes a morrer e minha esposa está tão
animada quanto as flores.
— Me falaram que você estava me procurando.
Eu mal falo isso e ela gira o corpo para mim e dispara, correndo para
cima de mim.
— Paolo! — exclama me abraçando bem forte.
Acolho seu corpo, apertando bem forte e sinto seu cheiro. Os cabelos
sedosos na palma da minha mão e a curva do seu corpo quente na outra.
Fecho os olhos e é incrível como me sinto bem agora. Passei o dia com
muitos sentimentos ruins e eles sumiram quando vi Sophia, mas a paz interna
só veio agora com Nina.
Afasto seu rosto para poder segurá-lo e olhar seus olhos.
— Eu estou bem.
— Foi você que fez aquilo com a igreja, não foi?!
— Sim.
— Por quê? — Indaga e em seus olhos vejo que tem mais. — Pensei
que você tinha superada a morte dela.
— Mais do que isso, Nina — garanto-a. — Mas tinha mais. Eu
descobri algo que não podia deixar de retribuir.
— Você se ressente ainda por terem matado Mia.
— Sim, mas não pelo que você está pensando.
Nina franze o cenho e eu passo o dedo na pequena ruga.
— Meu ressentimento tem a ver por ela ter morrido de forma tão
brutal e cruel. Por ela não merecer aquele fim e não ter tido a chance de se
despedir da Sophia.
Minha esposa respira fundo e seu rosto fica em braço. Ela dá um
passo para trás colocando a mão no peito.
— Você sabe — me acusa.
— Do que?
— Você sabe... que ela ia morrer. — Faz uma pausa. — Sabia que ela
estava doente e morrendo.
Dou o passo que nos separa e seguro seu rosto.
— Eu achei a carta na gaveta.
Nina arregala os olhos.
— Eu não queria esconder de você, mas... fiquei sem saber o que
fazer com ela.
— Não se preocupe. Eu entendo o que deve ter passado na sua
cabeça. — Dou um beijo na sua boca. — Tudo é passado. A igreja, a morte
dela e os seus segredos.
— Ficou zangado por ela não ter te contato da sua doença?
— Um pouco, mas compreensível. Todo mundo estava pressionando-
a a engravidar. Mia só pensava nisso.
Nina suspira e pisca os olhos marejados.
— E eu engravidei tão fácil que...
— Não se lamente. — Beijo-a de novo e fixo meus olhos nos seus. —
O que eu fiz hoje foi porque sou um homem de palavra e eu jurei que iria
vingar a morte dela. Eu precisava fazer, de todas as maneiras, a coisa certa
para Mia depois de sua morte, mas ela é meu passado. Você — pauso
tomando o ar com força — é meu presente e futuro. Você, Sophia e esse bebê
que está carregando, é tudo que mais me importa. Tudo que me motiva para
ser quem sou. Eu sou um criminoso, um homem errado e vingativo, porém
fui absolvido com uma família perfeita.
Nina suspira tremula, os olhos nublados das lágrimas que escorrem
por seu lindo rosto. Ela se inclina, fica na ponta dos pés, segura meu rosto e
me beija. Minha mão desce até sua bunda e eu a acomodo para poder beijá-la
como gosto. Seu gemido na minha boca faz meu pau ficar duro na hora e eu a
arrasto até o canto e pressiono seu corpo na parede.
— Estão — ela solta sua boca da minha e aperta meu queixo — todos
em casa e a... Sophia...
— Está na cama — digo beijando seu pescoço. — Ana levou ela para
dormir e Gregori está na sala vigiando.
Lambo seu lóbulo e aperto sua coxa, fazendo-a abraçar meu corpo.
Roco meu pau nela e Nina geme mais alto.
— Mas...
Levanto minha cabeça e fito seus olhos.
— Não se preocupe. Fique aqui comigo e relaxa.
Ela morde o lábio inferior, prendendo o sorriso e enfia as mãos dentro
do meu casaco de couro que achei hoje no balcão.
— Se eu estivesse pensando só com a cabeça, eu recusaria, mas com
os hormônios... — Pula, fazendo seu corpo abraçar meu corpo e eu sorrio
quando se esfrega em mim. — Não consigo te largar agora.
Nós nos beijamos afoitos e barulhentos. Ela começa a abrir minha
camisa.
— Me faz gozar.
Um ruído, entre o gemido e um rosnado, sai de dentro de mim e eu
levo Nina para a mesa que ela usa para fazer mudas novas. Suas invenções de
novas cores de flores. Jogo tudo no chão, sabendo que ela vai brigar depois,
mas não liga. Eu preciso tirar sua roupa e entrar nela o mais rápido possível.
E depois que estamos agarrados um no outro. Gemendo, fodendo de
balançar os pés da mesa, não ligamos para nada. nos perdemos e o único
nome que penso é o seu na ponta da minha língua quando estou metendo o
mais fundo na sua boceta aperta e quente. Nina geme alta jogando a cabeça
para trás, se sujando de terra, me sujando de terra. Pelados, animalescos e
eufóricos. Trepamos, nos entregamos um para o outro como todas as vezes e
o passado é o passado. Ela é meu recomeço e tudo que importa desde o
momento que a vi na minha frente.
Nós terminamos sujos e ofegantes sobre a espreguiçadeira e a colcha
que ela deixa aqui para quando precisa monitorar alguma flor. Ela leva muito
a sério seu hobby, que agora não quer que seja apenas isso. Nina quer vender
suas flores e as fragrâncias que está aprendendo a fazer. O cheiro que fico
viciado, foi uma colônia que ela mesma fez.
— Você vai limpar e repor tudo no lugar que jogou no chão hoje —
sua voz é um murmurinho no meu pescoço, as pontas dos dedos passam para
cima e para baixo no meu peito.
Solto uma risada e beijo seu ombro nu.
— Eu já sabia disso.
Ela ergue a cabeça e franze o cenho para mim.
— Ainda bem que me casei com um homem inteligente — diz
sorrindo e me beija. — Na próxima fazemos aqui.
— Aqui? Nessa espreguiçadeira?
— Uhum — faz com a garganta e ela assente.
— Mal coubemos aqui deitados e parados. Imaginar trepar aqui,
Nina.
— Run... — Resmunga de novo e levanta o corpo.
Espero quieto o que ela vai fazer.
Pegando as pontas da colcha, Nina cobre o corpo e monta em cima de
mim, e só isso já me deixa duro de novo. Me acomodo no meio da
espreguiçadeira – que não é grande e nem pequena, mas transar aqui seria
difícil. Ela joga as mãos do lado do meu rosto, inclina-se para mim dando
uma visão deliciosa dos seus seios e murmura na minha boca:
— Uma foda animalesca eu não garanto, mas devagar e carinhoso,
com certeza.
Sinto meus lábios curvarem-se num sorriso e seguro sua cintura,
puxando seu corpo para mais perto e seu calor bem em cima da minha ereção.
— Quer testar? — Ela pergunta sedutoramente.
Não respondo com palavras.
24

Cinco meses depois.

F echo a porta da sala de tevê e pegando outro travesseiro, que estava


em cima da poltrona, ligo o aparelho no canal do desenho. Sento-
me para o sofá/cama que se encontra aberto.
Estou me sentindo esgotada e resolvi que vou me deitar, e Sophia
ultimamente tem preferido ficar no andar de baixo, pessoalmente correndo no
jardim ou nessa sala. Eu, uma mulher grávida de sete meses, não consigo
ficar subindo e descendo as escadas toda hora.
Eu preciso tomar conta dela, dá atenção e estar presente. Sophia anda
muito ciumenta comigo e eu não quero que ela pense que o bebê é tudo que
penso agora, porque não é nem de longe.
Mas ando passando boa parte dos dias dormindo na sala de tevê ou
posso chamar de lazer e jogos.
Pego o travesseiro e me deito cobrindo meu corpo. Me acomodando
como dá. Minha barriga está bem grande para sete meses e mesmo sendo
minha primeira gravidez, conheci mulheres grávidas e nem todas elas tiveram
uma barriga tão grande assim. Fecho os olhos e tento relaxar ouvindo o
desenho que está passando. Sophia está dormindo no colchãozinho que deixo
no chão para ela brincar. É o nosso sono da tarde e eu aprovo que a pilha dela
precise recarregar essa hora.
Ficar grávida é maravilhoso, assustador e bastante revelador, em
todos os sentidos. O comportamento de Sophia me pegou despreparada. Não
pensei que ela ficaria mais agarrada a mim e reclamasse minha presença vinte
e quatro horas. E Paolo, ele se tornou três vezes mais protetor e mesmo que
eu não queira nomear em voz alta que me proibiu de sair de casa, ele fez.
Desde que completei meus quatro meses de gravidez não saio mais de
casa. Isso é muito comum na máfia. As mulheres são escondidas quando
estão grávidas. É um alvo muito fácil e pegar uma mulher grávida; matá-la ou
torturá-la, usar como chantagem, destrói qualquer homem.
Paolo é muito protetor. Sempre foi, como ele disse; obcecado e por
mais que seja às vezes sufocante, insuportável não sair de casa nem para ir ao
mercado coisa que eu fazia cotidianamente, agora não saio para
absolutamente nada. Sua proteção é como tivesse uma doença contagiosa do
lado de fora e eu não pudesse sair.
Meu Deus. Eu preciso meditar muito para não enlouquecer.
Eu tenho tudo dentro de casa e tudo que quero Gregori vai comprar
ou faz para mim, mas eu gostaria de visitar a Bárbara. Não vejo Dante há
tanto tempo. O menino fez um ano. Eu não vejo mais ninguém e por algum
motivo, não recebo visita. Ou seja, uma gravidez na máfia é segredo absoluto
até o bebê nascer e estar seguro.
Eu realmente amo carregar esse bebê, amo ficar o tempo todo com
Sophia e no último mês, eu amo ficar dormindo, mas se eu soubesse tinha
aproveitado mais os três meses primeiros meses e as vezes que podia sair. Eu
sei que uma hora vou poder sair de novo e agora só preciso respirar fundo e
aproveitar meu bebê dentro de mim.
Um barulho alto como uma explosão me deixa em alerta. Eu abro os
olhos, me sentando no meio do sofá/cama. Vejo Sophia também acordando e
ela fica de pé vindo para cima da cama correndo.
— Calma, meu amor. Não é nada.
Eu mal falo isso e a porta da sala é escancarada.
— Vamos! Levante e venha comigo. — Gregori ordena e vai para
porta de acesso ao quarto de pânico.
Meu coração acelera tão forte e rápido, que sinto dor.
— Você está de brincadeira, não está? É algum tipo de treinamento
porque Paolo agora...
— Nina, vem logo — ele manda e outra explosão acontece.
Ana aparece na sala também respirando rápido e tremendo.
— O que está acontecendo?
— Estou invadindo a casa — Gregori explica. — Eu preciso proteger
vocês. Venham. — Indica a porta que segura aberta, parecendo muito
impaciente.
Eu não penso em mais nada. Saio da cama levando comigo a colcha,
Sophia corre e pega seu urso e vem para o meu colo. Nós quatro corremos
para dentro do quarto do Pânico. Gregori fecha a porta e estamos num
corredor a prova de som com luzes de neon vermelhas, mas muito baixa. É
muito escuro e sou guiada com minha mão no seu ombro.
Então uma porta é aberta e entramos numa sala que parece um cofre
gigante. No canto tem um sofá confortável, uma geladeira, algumas colchas e
travesseiros. Comida em lata e biscoitos no armário com um micro-ondas ao
lado preso na parede.
Estou tentando não entrar em pânico porque a Sophia está no meu
colo e ela fica de lado porque sabe que não pode apertar minha barriga, mas
sei que ela está desconfortável.
Meu coração começa a bater descontrolado e eu vejo turvo e só tenho
tempo de gritar:
— Gregori, pega ela.

Um cheiro forte me desperta e abro os olhos. Vejo Gregori parado na


minha frente segurando um algodão. Seus olhos ficam tranquilos e ele se
afasta, sentando-se na beira de onde estou deitada.
Onde estou deitada!!!
Um alarme toca na minha cabeça e sento-me com pressa.
— Calma. Calma — ele pede com a mão no meu ombro.
Eu olho em volta para o quarto do pânico e ironicamente fico em
pânico. Estico meus braços e Sophia corre para mim. Ela estava chorando nos
braços de Ana.
— Shuu... mamãe está aqui — Eu nino nos meus braços, acalmando.
Olho para meu segurança e pergunto: — O que está acontecendo?
— Estão atacando a casa.
— Quem?
— Se não for os motoqueiros são os russos.
— Por quê?
Gregori não responde, fica me encarando por tempo demais. Isso é
claro que me deixa mais nervosa, mas me dou conta do porquê e o motivo de
ele não responder em voz alta. Foi o que Paolo fez há cinco meses, a
demolição na igreja, melhor dizer destruição total.
Respirando fundo para não deixar Sophia nervosa e começar a chorar
alto. Encosto sua cabeça no meu peito e olho séria para Gregori.
— O que faremos agora?
— Nós vamos precisar ficar aqui até o reforço chegar.
— E os soldados em volta da casa?
— Provavelmente estão mortos ou duelando com os invasores.
— Você não sabe mesmo quem são?
— É um dos dois que eu disse. Eles estão dando problemas pra gente
há muito tempo, mas não pensei que eles irão arriscar um ataque ao Paolo.
— Deve ser porque eles querem se vingar sobre o que aconteceu na
igreja.
— Provavelmente sim e atacar Travis é burrice. Nem tem como, para
dizer a verdade.
Não entendo o que quer dizer e cerro os olhos para ele.
— Quer dizer que a nossa segurança é fraca?
— Não fraca, mas não tão forte quanto a do Capo. — Afirma
calmamente. — Ninguém é tão poderoso quanto Travis Lozartan em Las
Vegas, Nina.
— Sim, eu sei — digo e respiro fundo, tentando me acalmar. — Mas
esse quarto é seguro?
Gregori assente antes de responder:
— Não fica nervosa com isso. Estamos seguros e eu consigo ver pelas
câmeras o que acontece na casa.
— Você não faz nada? Só fica vendo pelas câmeras enquanto a gente
está aqui dentro?
— Eu não faço nada? — Ele parece muito ofendido. — O meu dever
é cuidar da sua segurança e eu estou fazendo isso ficando aqui dentro com
vocês. Trazendo vocês em segurança aqui para dentro.
Desvio o olhar do seu, me sentindo culpada por insultá-lo. No
entanto, nada que ele fale faz o nervoso passar. Eu me deito novamente,
sentindo-me tonta. Colocando Sophia para o canto do sofá, para ela se
escorar nele e sair de cima da minha barriga.
— Como é que o Paolo vai saber o que aconteceu? Que estamos aqui.
Gregori se aproxima e voltou a ter o semblante imparcial.
— Quando a gente usa o quarto, existe um alarme e ele manda o sinal
direto para o celular do Paolo. — Do alto ele me encara com seu semblante
em branco, mesmo que seus olhos estejam tumultuados e a voz mais calma
do mundo: — Fica tranquila. Daqui a pouco vai chegar o reforço e tudo será
resolvido. E nós iremos sair daqui.
— Quando é que sabemos?
— Sabemos o que?
— Sabemos a hora de sair.
Uma expressão de ironia cruza seu rosto, mas logo desaparece.
— Não somos nós que decidimos sair, na verdade. São as digitais de
Paolo e a senha que apenas ele sabe, que vai nos tirar daqui.
— Então só ele pode abrir... — murmuro nervosa e solto um suspiro
trêmulo. — Entendo.
— Escuta, Nina. Você agora tem que pensar positivo. Ficar calma por
causa desse bebê e Sophia.
Ela olha para ele, levantando a cabeça.
— Sophia — e repete o nome dela.
— Sim, querida — Gregori diz com toda paciência para minha filha.
— Vamos acalmar a mamãe enquanto a gente brinca de esconde-esconde.
Ela olha para mim com os olhos arregalados e me abraça.
— Mamãe fica quietinha — fala do meu ouvido com a sua voz
atrapalhada ainda.
— Se você me abraçar, eu fico.
— Vou abraçar.
Sorrio com meu coração de mãe e olho para o canto. Ana está de pé
parecendo mais nervosa do que eu.
— Vai dar atenção a menina — digo em voz baixa.
Gregori vira o rosto, olha para Ana e volta-se para mim.
— Eu vou tentar dormir e você ver se ela quer comer alguma coisa ou
beber. Se tem remédio calmante.
— Aqui tem tudo que a gente precisa — ele me interrompe.
— Então, por favor. Pega uma cadeira para ela e esquente uma
comida, qualquer coisa. Ela parece pior do que eu.
Ele fica me olhando por um longo tempo e então fala:
— Desculpe não ter pensado nela. Você e Sophia são minhas
primeiras opções de resgate — mantem a voz baixa.
— Eu sei, Gregori, mas você pode se preocupar com ela agora.
— Agora você pode cuidar dela. E falando nisso, onde está a mãe
dela?
— Não tinha ninguém pela casa, só nós. Fran e a cozinheira foram no
mercado. Elas estão seguras, porque logo que chegarem perto e virem pelos
portões a invasão, o motorista não vai entrar.
— Ah, que bom. Isso me traz alívio.
Ele concorda com um aceno e eu peço para pegar outra coberta. Ele
cobre eu e Sophia.
— Eles estão destruindo toda a casa? — pergunta quando se afasta.
— Eu não sei. Vou ligar os monitores agora, mas não se preocupe.
Isso se reconstrói, a vida não e Paolo me mataria se acontecesse algo com
você e Sophia.
Eu assinto devagar e nem gosto de pensar nisso. Paolo não seria mais
o mesmo se nós duas morrêssemos e o bebê dentro de mim. Ele iria de vez se
transformar em um monstro. Eu é que sei como vi as sombras em seus olhos
no início do casamento. E uma coisa vem na minha cabeça.
— Não era Sophia que queria ficar na sala de tevê, não é? — Indago
para Gregori. — Você não me deu a ideia de ficar por lá porque tem uma
cama confortável para eu deitar. Descansar minha coluna — repito sua frase
de meses atrás. — Fica na sala de tevê não é bom porque fica no andar de
baixo, mais perto do quintal... — pausa cerrando meus olhos, acusador. —
Foi Paolo que ele deu a ideia. Para nós duas ficarmos perto do quarto do
pânico.
Gregori toma uma respiração profunda, parecendo resignado.
— Sim. Paolo pediu para deixar vocês perto do quarto do pânico, de
preferência na sala de tevê onde fica a porta.
— Então ele sabia que talvez alguma coisa aconteceria?
— Não foi premeditado, Nina. Mas é sempre bom prevenir do que
remediar e depois do que ele fez na igreja, achou que ia ter uma represália
sim.
— Isso nunca vai acabar — murmuro num misto de sentimentos.
Irritação e medo.
— Eu acredito que hoje sim — Gregori fala com firmeza. — Paolo
não vai deixar barato invadirem sua casa e atacarem sua esposa e filha. Ele
não vai procurar outro dia para caçar quem está infernizando-o e a Lawless.
Ele vai fazer tudo hoje e talvez demore para a gente sair. Porque ele só vai
abrir essa porta quando tiver certeza de que definitivamente acabou.
— Quando ele der o xeque-mate — digo o que uma vez Paolo me
falou.

Minha pressão arterial sempre foi nos padrões, ou normal como os


médicos dizem, mas a gravidez fez ela cair muito e por isso que durmo mais
do que o normal. Eu tenho energia para fazer muita coisa, mas logo me canso
e vou dormir. Meu Deus. Eu gosto muito de dormir quando estou me
sentindo mal. E não seria diferente numa situação que estou.
Dormir agora relaxou tanto o meu corpo que sonhei que estava no
jardim com Sophia, o bebê e Paolo. Nós quatro estávamos felizes e livre
desse quarto. Em breve isso vai acontecer. É meu pensamento quando me
dou conta que era um sonho.
Abrindo os olhos, coloco uma mão atrás do corpo e me ajudo a ficar
sentada. Vejo Sophia sentada no sofá perto dos meus pés. Ela está segurando
o urso enrolada na manta e olhando concentrada para frente. Olho para o que
está capturando sua atenção e vejo Gregori com um sorriso aberto que nunca
vi antes.
Sorrio por dentro, feliz por ele realmente fazer tudo para nossa
segurança e distrair minha filha. É um ótimo soldado e é por isso que
consegui dormir. Sei que estou segura.
Ana também está rindo muito das brincadeiras dele e quando ela ri
mais alto, seus olhos vão para ela. Gregori abre mais o sorriso e eu nunca o vi
desse jeito antes.
Resolvo me levantar e o movimento captura a atenção de Sophia.
Meu segurança também fica atento e ele vem correndo para me ajudar e
Sophia aparece do meu lado pondo as mãozinhas em mim.
— Mamãe.
— Oi, filha — digo olhando nos olhos.
— Quando vamos sair?
— Em breve — respondo e olho para o Gregori quando estou de pé.
— Alguma novidade?
— Não, mas eles ainda estão na casa procurando alguma coisa. Eu
não sei o que é. Alguns soldados morreram e outros de Paolo conseguiram
matar do deles também.
— Ótimo. Aqui dentro tem banheiro?
— Claro que tem.
— Okay. Eu vou no banheiro e depois a gente conversa.
Caminho calmamente e entro no banheiro. Não me demoro. Só
precisava urinar mesmo e jogar um pouco de água no rosto para tentar ficar
acordado. Quando me ajeito e arrumo meu cabelo, saio e estão todos
comendo alguma coisa quente que saiu do micro-ondas.
— Não tem perigo de usar o micro-ondas? O barulho.
— Esse quarto tem paredes à prova de som dez vezes mais potente
que um estúdio de gravação de uma música da Sony Music. Fora que é
blindado três vezes mais forte que um tranque de guerra. Não se preocupe.
Estamos todos muito protegidos aqui dentro.
Assinto e continuo me sentindo cabisbaixa.
— Por que que o Paolo não escolheu deixar o quarto de pânico no
porão?
— Porque é óbvio demais e esse daqui fica entre as paredes. Quase
não dá para pessoa pensar que alguém projetou um cômodo entre a cozinha e
a sala. Fora que fica por trás do banheiro da casa. Qual um logo pensa que é o
banheiro. Fica calma, Nina.
Isso apenas serve para eu ficar mais agitada. Não diga para uma
pessoa ficar calma quando a situação não permiti que isso acontece. Vem um
tsunami e falam, fica calma. Pelo amor de Deus. Cala a boca. É melhor.
— Já são que horas agora?
— São dez e meia. E você deveria comer alguma coisa.
Desabo na cadeira perto da mesinha.
— Meu Deus! Nós estamos aqui há sete horas?
— Nove — Gregori corrige.
Essa realidade caindo sobre mim, me deixa cansada. Eu coloco a mão
no peito.
Ana se levanta e para na minha frente com as feições preocupada.
— A senhora está bem? Deveria comer pelo menos pelo bebê.
— Eu sei — murmuro. — Só... Eu só preciso sair daqui e ver meu
marido.
— E você vai. — A confiança de Gregori me mantém firme, mesmo
que não traga acalma necessária para suportar um dia aqui.
Meu Deus! Isso não.
Eu preciso de Paolo e agora dou muito valor as suas palavras de
proteção. Sua obsessão com minha segurança.
— Eu preciso que seja forte, Nina.
— Eu só preciso do Paolo — digo encarando os olhos do meu
segurança.

Meus olhos não saem da tela que mostrar as câmeras de vigilância da


casa e mais algumas horas se arrastam. Eu quero não enlouquecer com a
demora e pensar que sairei ainda hoje daqui, mas as horas passam e as
esperanças vão perdendo as forças.
Levanto-me para pegar um pouco de água para mim e ver Sophia
dormindo no sofá quando escuto tiros de novo. Viro-me a tempo de ver de
um barulho reverberar nesse quarto à prova de som.
— Meu Deus. Eles estão quebrando alguma coisa na casa?
Gregori troca as imagens da tevê procurando rastros e vendo onde foi
a nova explosão. Os invasores destruíram a sala de estar e jantar. Meu Deus.
Eles quebraram ao meio a minha mesa de jogos que eu me divertia tanto com
Paolo. Que eu transei com meu marido a segunda vez e tinha tantas
lembranças ali. Destruíram a cozinha, a escada e nosso quarto.
Está tudo tão quebrado e parece realmente que procuravam algo.
Vejo alguns corpos no chão e eu queria que fosse um pesadelo e pudesse
acordar imediatamente. Eu abriria os olhos e tudo estaria bem de novo.
A câmera foca no jardim e os filhos da puta quase não foram para lá,
mas destruir alguns pedaços, meu jardim e a estufa é o único lugar que não
mexeram ainda bem.
Então a tela mostra uma imagem de vidrados em cada pedaço,
homens mortos, sangue e armas. Violência e destruição.
O monitor marca uma da manhã. Meu coração está tão apertado.
— Paolo está demorando muito.
— É assim mesmo.
— Será que aconteceu alguma coisa com ele?
— Pare de pensar nisso.
— Aqui não tem sinal de celular. Você não pode entrar em contato
com Paolo. — Me controlo para não falar um palavrão.
— Nina, tem um satélite no quarto do pânico que avisa.
— Tem certeza que está funcionando?
— Absoluta — responde quase rude. — Eu testo todo dia.
— Sério? — Indago e paro para pensar. — Se faz isso é porque... —
Me coloco de pé. — Por que que ninguém me avisou que poderia acontecer
algo? Por que essa preocupação toda?
— Você está grávida, Sophia é uma criança de dois anos que precisa
da sua atenção e carinho. E você não precisa ficar sabendo dessas
preocupações. — Gregori solta a respiração. — Essas preocupação e
protocolos sempre existiram. Eu podia não ficar regulamente testando o
quarto todo dia antes, mas pelo menos toda semana eu fazia. Está bom a essa
explica...
Uma explosão na porta principal nos interrompe e olhamos com
atenção. Só conseguimos ver poeira e luz branca dominando todo o ambiente.
Depois estouram-se granadas de fumaça. Gás lacrimogênio? Não escutamos
de fato o que fez aquilo e olho para Gregori em busca de resposta.
— Será que ele chegou?
— Ele chegou — ele confirma.
Sentando-me na cadeira, assinto freneticamente e observo vários
soldados, muitos homens. Todos de pretos com máscaras de proteção para o
gás e bem armados. Eles entram com suas armas para o alto atirando e
depressa. Confrontam os homens que invadiram a casa. Vários feixes de luz
das armas explodem e terminam de quebrar mais a casa, mas matando os
homens. Um soldado cai no chão e outros correm para onde ele caiu, o ajuda
e atira nos invasores.
Acompanho atentamente esperando até que morra o último filho da
puta, não consigo não pensar assim.
Se passa um bom tempo entre tiroteios, lutas e quebra-quebra. Me
assusto quando o último invasor – de fato – fica sem balas e um soldado saca
a faca e perfura o peito do inimigo. Então os soldados fazem sinais com as
mãos e vão caçar pela casa.
E dentro de toda essa luta não vi meu marido!
Cadê você Paolo?
Demora cerca de trinta minutos para perceber que eles têm certeza de
que não tenho mais ninguém. Vejo um homem alto com a arma na frente do
rosto, tão elegante entrando nos quartos demoradamente e logo descendo as
escadas.
É ele. É ele!
Afago minha barriga de sete meses e prendo a respiração vendo Paolo
tirar a máscara que estava no seu rosto para ele não sufocar e a joga no chão.
Parece tão poderoso. Tão cruel e mafioso. Como num filme sombrio, eu com
certeza torceria para ele porque é perigosamente tentador e lindo.
Vendo que está caminhando para a sala de tevê, para o quarto do
pânico, levanto da cadeira depois de respirar profundamente e ter certeza que
minhas pernas me aquentam, e espero.
Vejo Paolo entrar na sala e fico na porta aguardando. Continuo
olhando para tela. Ele para na porta, vejo-o tirando um quadro da frente de
não sei onde e não sei como. Puxando uma gaveta de dentro da parede,
coloca as mãos, no caso as digitais e depois aperta os números no teclado ao
lado. Como Gregori disse, o leitor e a senha.
Meu coração mal consegue bater escutando a tranca, todas elas
porque deve ter mais de doze trancas, destravando a porta. Aguardo a porta se
abrir e vou para frente da porta do corredor, e prendo a respiração quando se
abre e quando... o vejo meus olhos enchem de lágrima. Eu corro para os seus
braços e ele me encontra no meio do caminho.
— Você demorou muito — desabafo chorando minha reclamação. E
parece que pelo alívio meu corpo fica sem forcas nenhum e minhas pernas
cedem. Caio de joelhos no chão e ele me ampara com seus braços fortes e
protetores.
— Estou aqui. Já acabou. — Ele me consola beijando meu rosto e
meus cabelos. — Está tudo bem.
— Por favor, me diz que acabou?
Paolo coloca dois dedos embaixo do meu queixo e ergue meu rosto
para poder ver meus olhos.
— Definitivamente acabou. — Eu sinto uma verdade profunda em
sua afirmação.
— Eles destruíram a nossa casa — choramingo.
— Não tem problema. Eu reconstruo tudo de novo ou podemos nos
mudar. Não tem problema. Isso eu consigo colocar no lugar.
Assinto repetidas vezes e o abraço.
— Eu não quero me mudar. Aqui é o nosso lar, mas se para você for
melhor.
— Não vamos nos preocupar com isso agora, vamos...
— Papai! Papai! — Sophia interrompe na hora certa e Paolo abre o
outro braço para ela. Nossa filha rodeia seu pescoço, e deixa sua mão em
mim. Ela é sempre protetora e amorosa. — Saudade, papai.
Paolo respira fundo e beijo seu rostinho.
— Também senti sua falta, querida. Agora vamos sair daqui? —
pergunta a ela.
Sophia assente animada e eu me estico para beijar seu rosto. Paolo me
ajuda a ficar de pé, põe nossa filha no colo, mas para olhando para frente. Seu
olhar diz muito para Gregori.
— Tudo em ordem?
— Tudo em ordem, senhor.
— Ótimo.
— Onde está minha mãe? — Ana pergunta aparecendo atrás de
Gregori.
— Sua mãe está no esconderijo da Famiglia, para onde nós vamos
agora. Okay.
Ana assente, mas não tem muito o que fazer mesmo. Sem pedir com
palavras, Paolo ordena Gregori para nós ajudar. Nós cinco saímos do
esconderijo, Paolo tampando o rosto de Sophia enquanto passamos pelos
corpos, eu apenas desvio o olhar e tomo cuidado para não pisar.
Depois estamos fora da casa, com alguns soldados cobrindo nossa
retaguarda. Têm alguns carros estacionados na frente, mais soldados com
armas penduras no peito e nas costas. Parece que aconteceu uma guerra aqui.
Gregori vai com Ana para um carro e em outro nós três seguimos. Paolo
coloca Sophia no banco prendendo o cinto e eu vou me sentar. Fico tonta e
por sorte meu marido me segura firme. Com seus olhos nos meus, uma
vontade derradeira me faz começar a chorar.
— Está tudo bem, amor — ele murmura.
Assinto tocando seu rosto.
— Calma. — Pede e fica de pé, a mão no meu ombro. — Gregori!
Meu segurança sai do carro.
— Vem conosco. Você dirige e Ana vai no banco do carona na frente.
Os dois vem e acompanho Paolo dar a volta no carro, se sentar
colocando Sophia no colo e estica o braço para eu me aconchegar ali. Deito
minha cabeça no seu peito e fecho os olhos chorando sem parar. Cerro os
olhos e vejo minha filha esticar a mãozinha e me tocar enquanto Paolo faz o
mesmo, a mão em cima da minha barriga com o polegar esfregando o local.
— Está tudo bem agora, amor — Ele sussurra no meu ouvido para
apenas eu ouvir. — Está tudo bem, Nina.
— Eu fiquei com medo. Entrei em pânico.
— É compreensível. Você foi pega de surpresa.
Assinto e levanto minha cabeça para enxergá-lo.
— Agora acabou mesmo?
— Sim, acabou totalmente e eu deveria ter presumido. Prometi que
nunca mais seria pego de surpresa, mas aconteceu e...
— Você não foi pego de surpresa — interrompo-o, — porque parece
que você sabia. Me deixou perto do quarto do pânico para poder escapar o
mais rápido possível a para dentro. Você cuidou de mim e não fica pensando
ao contrário disso.
Ele dá um aceno e afaga meu rosto.
— Eu não podia perder você, nem Sophia. Não podia perder de novo.
— Acaricia minha barriga. — Vocês são tudo para mim e agora a gente vai
ficar um longo tempo em mesmo em paz.
— Promete?
— Pelo menos entre nós dois, pois os conflitos da Famiglia é outra
história.
Eu assinto e o abraço fechando os olhos.
— Obrigada por cuidar de nós.
— É o meu dever e minha honra.
Sorrio e levanta a cabeça, toco seu rosto e trago sua boca para mim. Nosso de
beijo é um pouco mais profundo do que fazemos publicamente. Nós paramos
rápido, infelizmente.
25

M uitas pessoas se perguntam qual a diferença de um homem da


máfia e um homem comum. Geralmente as pessoas de fora,
sem treinamento da Famiglia, entram em pânico por muito
porco numa situação como a de hoje.
A porra da minha casa sendo invadida com a minha mulher grávida
de sete meses e minha filha de quase três anos. Merda. Qualquer homem,
qualquer pessoa, entraria em desespero, mas eu mantive a calma quando
recebi o alerta das trancas do quarto de pânico sendo acionados.
Honestamente minha calma ficou redobrada e me concentrei em correr atrás
em fazer todos me pagarem antes de chegar até a minha família.
Gregori conversou muito comigo sobre isso. O que eu deveria fazer
para pôr um fim de uma vez nessa situação. O ataque de hoje veio dos MCs
Outlaws de Chicago. Eu soube disso porque a Bratva apesar de ter perdido
alguns dólares na explosão da igreja, dinheiro eles conseguem de novo e eles
estavam realmente devendo a Lawless depois do que Ivon Avilov fez com
Travis. E sei que não é Vitorio Malvez. Aquele filho da puta não tem culhões
para isso e como ele tentaria nos atacar com a sua Famiglia morrendo a cada
dia.
Já os MCs de Chicago estão tentando nos provocar e me destruir é
uma forma de atingir um alvo forte da Lawless. Eles queriam Nina e Sophia,
sabem que eu não sou direcionado por dinheiro. Se fosse o caso, tentariam
roubar o MGM Grand, mas não fizeram. Foram até minha casa e está claro
que era para colocar o medo na minha esposa e filha incendiando, quebrando
e destruindo.
Eu sou mais espero e rápido.
Fui até o líder dos MCs e lhe dei um ultimato. Se ele queria continuar
com essa guerra por mais tempo perdendo dinheiro e mais homens. Homens
que uma hora não teria mais. Em números a Famiglia é muito maior e por
tanto, mais forte e poderosa. Os motoqueiros não deveriam nos provocar.
O Prez da Outlaws tinha que se decidir se queria arrastar por anos
esse conflito ou finalizar agora. Fiz uma manipulação básica colocando em
xeque o fato de eles precisarem focar na Blood Hands, em Vitorio Malvez, e
para provar minha boa vontade, eu pagaria as armas e munições que pegaram
com Travis. Eu receberia em troca eles saindo de vez dos nossos territórios,
principalmente Las Vegas com a condição de matar os teimosos. Sempre tem
os soldados que não tem dois neurônios para duelarem.
Sendo honesto eu não apenas falei. Não sou um homem paciente,
assim como o meu Capo. E Travis fez o que faz de melhor em nossa reunião.
Ele pegou o filho do Prez da Outlaws de surpresa, deixou a lâmina se
aprofundar em sua garganta enquanto a gente conversava até colocar juízo na
porra da sua cabeça.
— Tudo bem. Eu aceito — Joshua gritou.
— Você aceita o que, porra? — Travis falou sem soltar o garoto.
— A trégua.
— Não quero trégua — disse o Capo. — Quero o fim disso. Foram
vocês que começaram.
— E eu — falei por mim mesmo, — quis me vingar e mais do que
justo, porra. Vocês acharam que eu nunca ia descobrir? Que eu nunca ia
retribuir o que vocês fizeram com minha primeira esposa, uma mulher
inocente. — Dei um passo para ele e olhei no fundo dos seus olhos. — Vamos
comparar? Eu só taquei fogo na merda do dinheiro de vocês e no cúmplice e
destruí aquela maldita igreja. E vocês mataram minha esposa que tinha
acabado de dar à luz — berrei. — Vocês querem colocar um peso sobre isso?
— Tirei minha arma do coldre e mirei na cabeça do filho dele sem desviar
dos seus olhos. — O lado da minha balança vai descer mais.
—Você tem razão.
Assenti encarando-o.
— Foi uma união errada se juntar a Ivon tentar me atingir. — Travis
falou parecendo que ia espumar pela boca. — Vamos dar mais alguns dias
para você e sua família viver. Se foi só pelo dinheiro, uma péssima decisão e
não me interessa. Saiam do meu território e nunca mais voltem.
— Não irei pensar mais em vocês. Não era o plano e suas espoas e
filhos não me importa também. — Ele parou de falar e se levantou da sua
cadeira.
Seus homens ergueram suas armas apontadas para o meu peito, não
o de Travis, mesmo que existisse quatro soldados atrás de mim fazendo o
mesmo que os dele. Abaixei minha arma, contrariado e ele mandou seus
homens fazerem o mesmo.
Travamos uma luta de olhares e esperei um pouco. Joshua levantou a
mão, se rendendo.
— Solta o meu filho e eu lhe dou a minha palavra de que vou
esquecer de vocês.
Travis deu uma risada sinistra e jogou o menino de quinze anos no
chão e andou até o Prez.
— Não quero que você esqueça que eu existo — sua voz era baixa e
perigosa. — Eu quero que você pare, porque eu não vou esquecer que você
existe e se alguma coisa acontecer, é muito fácil pegar sua família, assim
como você acabou de fazer com um dos meus. — Enfiou a arma no coldre de
volta. — Agora você vai viver sua vida bem longe do meu território.
Ele assentiu com um som na garganta.
Saí daquele clube com a cabeça erguida e alguns homens mortos.
Quando chegamos, invadimos com a certeza de que ele iria parar quando
chegássemos dentro do seu escritório e com seu filho sendo arrastado. Nós
fizemos uma boa jogada e iremos monitorar esses desgraçados de couro.
Com sorto hoje tudo se saiu bem porque minha esposa, o bebê que
está dentro dela e minha filha estão bem, porém eu não estou tranquilo ainda.
Escuto a voz de Nina atrás de mim e me viro. Estou na varanda da
suíte que eu, ela e Sophia estamos numa cobertura no MGM. Eu a vejo
caminhando para mim com uma camisola branca de seda e um roupão por
cima. Está tão incrivelmente linda grávida. Tão bonita e delicada.
Ela chega na minha frente, bota suas mãos no meu peito e diz:
— Você vai voltar a ficar tranquilo?
Encaro seus olhos azuis tão expressivos e meigos. O desespero pós
quarto do pânico está esquecido, ou pelo menos neutralizado. Nina é uma
mulher admiravelmente forte para caralho e por isso a amo tanto.
— Você me ouviu? — fala baixinho segurando meu rosto. —Vai
ficar tranquilo em algum momento, não vai?
— Eu vou tentar, querida.
Nina me beija, pegando-me de surpresa e toca meu peito, nitidamente
querendo entrar em meu coração.
— Eu sei que você deve ter ficado com muita raiva e... memórias do
passado se acenderam dentro de você, mas... — seus olhos ficam marejados.
— Nós estamos bem. Vai ficar tudo bem, querido.
Seguro seu rosto em minhas mãos.
— Só não queria que você tivesse esse trauma.
— O importante é que eu e Sophia estamos vivas. Estamos bem,
Paolo. — Abre um sorriso pequeno e tranquilo, mesmo deixando eu ver os
olhos melancólicas. — Você mesmo disse que é isso que importa. Está se
contradizendo? — provoca dando um alívio ao clima.
— De jeito nenhum — replico e toco sua barriga. Sinto o bebê chutar
e Nina dá uma risadinha.
— Ele gosta do papai.
Assinto orgulhoso disso.
— O transforme em um dos homens mais fortes que a Lawless terá,
assim como você é — ela pede.
— Pode ter certeza.
Ela suspira e vem para os meus braços fechando os olhos. Eu a
envolvo bem apertado, beijando seus cabelos e afago seus braços. A
tranquilidade e a luz de Las Vegas do alto do hotel, é um maravilhoso. Luzes,
dinheiro, chantagem e poder representam essa cidade caótica. Crimes e
drogas, mas eu tenho a minha paz quando chego em casa. Eu reafirmei minha
promessa hoje que nunca mais ninguém correria na minha frente. Que ia
derrubar a última peça do xadrez.
26

S etembro, dois anos juntos com essa mulher que não mereço nem um
pouco. E dois meses depois de tudo e estávamos no hospital. Nina –
linda, cansada e suada – grita com muita dor sentindo as contrações.
A médica logo veio e disse que ainda não era a hora dela empurrar.
Mas Nina não para de sofrer e tento não me irritar com a enfermeira.
Ela segura minha mão com força mais uma vez e respira como aprendeu no
ensaio de parto normal.
— Ela está fazendo só o trabalho dela — minha esposa chama a
minha atenção quando olho feio para a mulher saindo do quarto.
— Você está com dor.
— É normal — responde sem fôlego.
— Você poderia ter tido uma cesariana.
— Eu sei, mas... me deixa conseguir isso. — Ela tenta ser forte. —
Ele já vai nascer e eu vou parar de sentir dor. Vou me recuperar muito mais
rápido do que fazendo uma operação. Eu quero poder... ter ele nos meus
braços e fazer tudo o quanto antes.
— Você é muito teimosa.
Ela força um sorriso e coloca a mão sobre a minha.
— É o convívio com meu marido.
Um sorriso repuxa em meu rosto e me levanto do banco ao lado da
cama para beijar sua testa. Ela está suada, os cabelos grudando na testa.
— Sophia?
— Está em casa quietinha.
Ela pergunta toda hora a mesma coisa.
— Ai, meu Deus! Que dor. — Ela se curva para frente segurando a
barriga e a outra mão aperta a minha com tanta força, que é calejada por
conta dos socos e segurar as pistolas, então não sinto dor e Nina aperta com
força para caralho.
— EU PRECISO EMPURRAR! — Nina grita bem alto.
Não é possível aguentar mais isso. Chamo a médica de novo. Aperto
o botão da cama e logo aparece a médica.
— Vamos ver se dá para você empurrar, Nina. Calminha. — Ela
levanta o lençol sobre as pernas de Nina, faz o exame rapidamente e ergue a
cabeça para nós. — Sim, está na hora. Pode empurrar.
Duas enfermeiras aparecem para auxiliar a médica e as coisas
começam a ganhar forma, e não era para mim entrar em pânico. Calma. Está
tudo bem. Você sabe o que acontece agora e basta minha esposa respirar e
empurrar.
— Estou do seu lado — digo baixo no seu ouvido.
— Tudo bem — ela balbucia parecendo esgotada e olha para frente e
faz o primeiro esforço com a contração seguinte e empurra.
— Vai empurra! Empurra.
Ela faz, respira, aguenta a contração e empurra jogando a cabeça para
trás. Sua respira com tanta força e depois de umas dez tentativas. Todo o
esforço, respirações e lágrimas, e resta a Nina empurrar e empurrar e gritar
bem forte. Até que a médica sou esperançosa:
— Estou vendo a cabeça. Continue assim, Nina. Respira fundo e
empurra mais uma vez e muito forte.
Ela faz força de novo e com mais alguns empurrões, Nina inspira e
respira e escuto choro de bebê. A médica ergue um bebê no meio das pernas
de Nina e o examina rapidamente, dá informações para as enfermeiras e
depois que corta o cordão, que eu não quis cortar. Nina precisa mais de mim.
Ela parece muito abalada, sua cabeça está deitada no meu peito e sua
respiração está devagar.
— Você está bem? — pergunto.
— Estou... eu só quero ver ele — murmura baixinho.
— Você vai ver. Fique calma.
E uns segundos depois a enfermeira vem com o nosso filho num
embrulho azul e entrega para os braços de Nina. Ela o pega com tanto amor,
tanto carinho, o mesmo que dá para Sophia. A sensação de que tudo está
como deveria ser, é reconfortante para caralho.
— Oi, filho. É a mamãe — fala ainda com a voz cansada. — Você me
deu um trabalhinho, mas está tudo bem.
Não me controlo e rio mesmo que estejamos na presença de
estranhos. Todos os médicos sabem quem eu sou e não dá para ficar sendo
simpático. O respeito e o medo são duas coisas que precisam ser conservadas.
Nina olha para o nosso filho sorrindo com os olhos marejados e eu
estou com minha mão em seus cabelos com um pouco de gosma de sangue
ainda, mas eu não ligo. Já toquei tanto sangue de homens impuros que tocar
meu filho é perfeito. Meu filho. Ele vai carregar meu legado, meu sobrenome
e vai ser o conselheiro de Dante Lozartan. Puta que pariu.
Fico emocionado por isso, mas respiro fundo de olho em Nina, o que
não adianta muito porque ela sorri com tanto amor, tanto proteção para mim e
para esse bebê nos seus braços. Ela foi a melhor coisa que já me aconteceu
sem sombra de dúvida.
— Você quer pegar ele?
— Eu quero — afirmo.
Ela passa o bebê para os meus abraços e eu dou um beijo na sua testa
para depois fazer o mesmo na testinha dele, que resmunga sem chorar. A
imagem de Sophia quando nasceu, o sofrimento de Mia, sua preocupação.
Ela estava com tanto medo, tão ansiosa e sofrendo em casa. Me deixou um
pouco traumatizado e por isso corremos para Nina dar à luz em um hospital.
Eu não queria aquilo de novo. Todas aquelas lembranças morreram.
Eu balanço nosso bebê nos braços e olho para minha esposa.
— O nome dele?
— Vai ser Dimmi como a gente tinha falado — ela afirma com um
sorriso enorme. Tão cansada, mas linda e feliz.
— Então vai ser Dimmi.
Era o nome do avô dela, que fora bem diferente do seu pai, segundo
ela mesma. Eu não vou reivindicar isso e sei que ele me dará muito orgulho.

No dia seguinte nós chegamos em casa reformada. Tudo está novo; a


cor, as janelas, o carpete, o chão de madeira agora é escuro. Colocamos um
lustre enorme no meio do lobby da casa, a sala de estar não existe mais,
porém tem apenas um sofá e um aparador com nossas fotos. As escadas agora
em mármore com o corrimão preto. Nina deu muitas ideias para a casa estar
mais elegante. Abrimos mais o corredor para podermos ter mais espaço e ser
fácil para ter acesso a sala de tevê, que minha esposa apelidou
carinhosamente como a sala de prazer, mas só para nós mesmo.
Quando Nina, carregando o bebê, entra na sala e paramos no lobby
escutamos os passos de Sophia e seu grito:
— Mamãe! Papai!
Ela vem da cozinha e Ana vem atrás dela pedindo para não correr. A
babá então para e sorri para a nossa filha que não para na nossa frente. Eu a
pego nos braços dando um aperto bem forte, beijo sua bochecha e a aproximo
para ver seu irmãozinho.
— Bebê — ela diz perfeitamente, agitada no meu colo.
— Tudo bem, filha — a mãe sorri para ela.
— Calma, Sophia. Você vai ver o seu irmãozinho.
— O nome dele é Dimmi — Nina fala para nossa filha.
— Ele é muito pequeno. Parece meu boneco.
— Mas não é — digo em cima da sua fala.
— Eu posso pegar?
— Depois, querida. Agora ele é muito novinho — a mãe explica com
carinho e ela faz aquela cara de zangada.
Sophia é muito teimosa, como Nina e eu já vim preparado para
amanciar a situação e o ciúme. Colocando minha mão para trás, Gregori me
passa o presente que comprei para ela.
— Olha o que o papai comprou.
— Presente! — ela exclama e me abraça. Agarra o presente e bate as
pernas para ser colocada no chão e logo corre para sala de tevê.
— Não corre, Sophia — Ana pede, mesmo sendo tarde e vai atrás
dela. — Com licença, senhores.
Vejo Gregori sorrir de uma forma diferente. Ele precisa tomar uma
atitude com essa garota. Piscando, ele olha para mim ajeitando a postura e
diz:
— Vou colocar a mala e o cesto do carrinho no quarto do bebê. — E
sobe as escadas.
Nina segue com os olhos seus movimentos e depois olha para mim.
— Eu acho que você precisa deixar acontecer naturalmente —
comenta.
— Se eu deixar acontecer naturalmente, posso não gostar depois.
Projeta seu corpo para ficar de frente para mim e me dá seu sorriso
sabido.
— Eu acho que não vai acontecer nada.
— A garota é menor de idade ainda.
— E daí? Talvez ele esteja... paquerando e quando tiver certeza, e ela
fizer dezoito anos, ele a peça em casamento ou em namoro.
— Namoro? — Franzo a testa. — Não existe essa coisa de namoro na
Famiglia.
Minha esposa suspira e balança de leve Dimmi nos braços.
— Isso poderia começar a mudar — diz suavemente. —
Principalmente quando o Soldado ou a mulher não tiverem a obrigação de se
casar por estratégia ou prosseguir a linhagem.
— A maioria dos homens da Famiglia, mesmo os com cargos baixos,
desejam que seus filhos tenham herdeiros para manter o sobrenome vivo e
para fortalecer a árvore genealógica. Enzo Colombo é uma prova disso.
Não deixo de notar que torce brevemente o rosto quando digo o nome
dele. Ainda se recente pela forma como ele tratava Bárbara antes. Nina é uma
santa curadora de lares. Ela realmente pensa que eu não sei de tudo que fez
para Enzo e Bárbara se darem bem e o casamento deles dar certo.
Sei porque Gregori me informa de tudo, inclusive o que pode dar
errado, e também porque ouvi Bárbara uma vez agradecer minha esposa. Foi
um trabalho de equipe entre Nina e Madeleine fazer o casamento dos dois
não acabar antes de começar. Muitas uniões na Famiglia fracassam e não tem
retorno, e isso quando os homens são calmos. Os casos de estupro da esposa
e violência. Bem, esses são fadados bem antes de tudo começar e eu vou
vigiar e tomar muita conta dos pretendentes de Sophia quando chegar a hora.
— O avô dele era apenas um Soldado, — retorno meu raciocínio —
seu pai se tornou Capitão e agora Enzo é um General.
Ela concorda com um aceno, sem parecer convencida, e fala:
— Mas seria bom simplesmente seguir o coração.
Respiro fundo, dou um passo para frente e beijo sua testa depois a
boca, rápido e de leve.
— Você está cansada e precisa dormir um pouco. Fez muito esforço
ontem.
Nina cerra os olhos zangada.
— Meus neurônios não cansaram por eu empurrar para o meu filho
nascer. Não fala comigo como se eu fosse uma imbecil.
Os hormônios ainda estão aflorados e eu seguro a vontade de rir. Só
ela para me trazer uma emoção tão forte de alegria como a que sinto agora.
— Não vamos mais falar do Gregori e da Ana.
— Você está assim porque quando ele se casar não vai mais poder
cuidar da gente — e ela insiste.
Teimosa, no entanto, cheia de razão. Não sei como pode funcionar
um soldado que precisa ser guarda-costas se casando e tendo filhos,
principalmente se ele se apaixonar pela esposa. Eu sei o que Nina está
querendo dizer.
— Se você tivesse que escolher entre seu Capo e nós, o que faria?
Não penso quando respondo:
— Por lealdade e pelo juramento, eu teria que pensar em um jeito de
salvar todos, mas com certeza seria você e nossos filhos primeiro. Sempre
vocês primeiro.
— E você conseguiria, tenho certeza disso — diz com muita
confiança nas palavras.
— Mas isso nunca vai acontecer porque eu sempre estou na frente.
— Você sempre estará na frente — fala baixinho e sorri.
Dando um beijo na sua boca, afago sua têmpora.
— Vamos subir. Você está com sono e deve dormir um pouquinho
antes de ele começar a chorar por atenção.
— Eu quero muito, mas... — choraminga, — eu vou dar mamar a ele
primeiro e depois tomar um banho. Preciso tomar um banho decente e então
vou dormir.
— Tudo bem.
Passando o abraço sobre seus ombros, viramos juntos para a escada.
Nina deita a cabeça no meu ombro quando chegamos no corredor e de
repente para.
— Você me deu uma vida tão boa — murmura encarando-me. — Eu
te amo muito, amor. Amo profundamente.
Docemente eu beijo sua boca e não consigo sair do lugar. Trago-os
para os meus braços e digo no seu ouvido:
— Faço das suas as minhas palavras. — Seguro seu queixo e fito seus
olhos. — Inclusive, obrigado pela nossa família e... eu te amo demais
também, Nina.
Ela dá um suspiro audível e os olhos ficam marejados. A abraço de
novo me sentindo muito em paz.
— A gente pode fazer isso deitados na cama?
Rio da sua pergunta.
— Claro que podemos.
E nós nos colocamos em movimento e chegamos no nosso quarto
para ficarmos aconchegados. Eu ajudo Nina a se acomodar na cama e assisto-
a tirar o peito para fora e dar de mamar para Dimmi.
— Espero que agora eu possa sair de novo — comenta depois de uns
minutos.
— Claro que sim, Nina.
— Eu quero sair e finalmente fazer minhas colônias.
Respiro fundo e toco sua perna.
— Não quis te trancar em casa porque eu quis.
— Eu sei, amor e tudo bem — desvia os olhos do bebê para mim. —
Mas eu quero sair assim que tiver disposta para isso e o bebê mais firme.
— Você vai sair. Nunca te proibi de nada.
— Eu sei disso — sussurra com gratidão na voz. — Bem, agora eu
quero cuidar das minhas flores, fazer as colônias, organizar a estufa
novamente porque a reforma me deixou distante dela por muito tempo e
talvez...
— Diga.
— Eu esteja pensando em fazer sabonete também.
— Sabonete?
— Sabonete esfoliante e outros produtos desse tipo, e não me
subestime. Muitas pessoas começaram pequenininhas basta pesquisar suas
histórias. Victoria Secret, Facebook, McDonald’s e muitos outros. Não fica
debochando, tá. Nem tudo começa grande. É a persistência que determina
aonde você pode chegar e não como começa e os concorrentes.
— Eu sei e vou te dar todo apoio. — Chego mais perto dela e acaricio
seu rosto. — Quem sabe um dia você não tem uma marca que nem da
Carolina Herrera.
— Pode ser. — Abre um sorriso esperançoso e lindo.
Eu posso dar a ela o que quiser. Ela merece o mundo.
— Ia ser muito legal. Eu posso ficar rica.
Rio e observo como está cansada quando boceja no automático. Ela
está letárgica, precisa descansar.
— Será que vai demorar muito?
— Acho que não e se você continuar falando, ele vai dormir
mamando.
— Okay. — Dito isso, afago as costas do bebê. — Se é assim, eu vou
falar muito para ele dormir logo e deixar a mãe dele dormir também.
— Tadinho... — ela sussurra, vidrada no filho, — eu só tenho um dia
de vida e amo minha mamãe. Gosto muito do peito dela e dos carinhos.
— Mas em breve eu estarei acordando para os choros dele — digo e
Nina levanta a cabeça para mim, e continuo: — Preciso dormir muito essa
semana porque ele vai começar a chorar nas madrugadas em breve.
— Eu sei — ela respira fundo e olha dentro dos meus olhos durante
um bom tempo. — Mas você não vai estar sozinho.
— Eu sei — afirmo sentindo uma emoção no peito. — Eu sei disso.
Ela sorri emocionada e estica a mão para tocar meu rosto.
— Dessa vez você terá a mim todos os dias, amor.
Fico mais perto e seguro seu rosto com firmeza, beijando sua boca.
— Você vai ser o melhor pai do mundo para ele... assim como foi e é
para Sophia. Tenho um orgulho enorme de você ter sido quem foi para ela.
Às vezes... — faz uma pausa. — Algumas vezes, logo no início do nosso
casamento, quando estava aprendendo a cuidar dela, eu percebi como você
foi incrível. Meu Deus. Levando em conta o que você faz, o que precisa ser e
fazer. A escuridão e a brutalidade que rondam seus dias... e quanto você se
esforçou para ela. — Engole com dificuldade. — Quando fiquei grávida... eu
senti um amor ainda maior pelo homem que você é e o pai que precisou ser.
No sacrifício que fez e eu... — Pausa chorando ainda mais forte.
— Querida — digo limpando seu rosto.
Depois de umas respirações, olhar Dimmi e recuperar a voz, ela
termina:
— Eu queria ter estado aqui para você bem antes. Queria ter... te
ajudado com ela bebezinha e você perdido, mas... talvez não era a hora e...
provavelmente foi ela que fez você estar pronto para mim quando cheguei.
Nunca senti vontade de chorar. Eu nunca choro. Não sou um homem
sentimental a isso. Ou fraco a esse impulso, mas minha garganta fica apertada
e eu quero esmagar essa mulher dentro de mim. No meu peito.
— Você está agora.
Ela balança a cabeça chorando e sorri para mim, a pontinha do nariz
vermelha.
— Você não... sabe o quanto te amo e tenho orgulho de você.
Limpo suas lágrimas assentindo.
— Não sei dizer o que sinto por você, Nina. É forte demais e há dois
meses, mesmo tento tudo sobre controle quando você e Sophia ficaram
trancadas no quarto do pânico, por um momento eu... — Baixo a cabeça e
olho sua mão entre as minhas. — Eu pensei o que faria se perdesse vocês. —
Ergo os olhos para ela. — Perder de novo. Perder minha filha e perder você,
ainda mais grávida, não teria um fim bonito. Foi a primeira vez na vida que
quase tive certeza que não mereço ser feliz e senti uma pontada no peito tão
forte... como minha vida estivesse saindo de mim.
Seus lábios tremem enquanto chora.
— Mas eu não deixei isso me dominar. Eu acreditei que vocês são
meus e eu iria proteger com minha vida para sempre.
— Você vai.
— E não existe escolha entre você e a Lawless. Vocês primeiro
sempre, com ou sem juramento. Por vocês eu dou meu sangue e a minha
vida. A porra do meu coração. Pela Famiglia eu dou a minha mente e força
apenas.
Nina funga chorando e eu faço-a deitar a cabeça no meu peito. Relaxo
de verdade com ela nos meus braços e deixo minha mente viajar.
Eu passei dez anos casado com Mia e posso garantir que os dois anos
com Nina teve mais memórias, amor, alegria e algo que não sei definir. Algo
que transforma esses dois anos em uma eternidade.
O bebê chora, roubando nossa atenção e me afasto para Nina cuidar
dele melhor.
— O meu amor, está tudo bem. Vamos dormir um pouco.
— Tenta deixá-lo paradinho de novo enquanto mama. Ele vai comer e
vai dormir.
— Viu, o papai é expert em bebês, sabia? — Ela comenta sorrindo,
olhando para Dimmi em seus braços. — Durante oito meses ele foi um
paizão para sua irmã e nunca existirá alguém melhor que ele. Por isso eu o
amo tanto, porque por trás do homem que todo mundo tem medo, desvia até
do caminho e não perdoa e é vingativo, — ergue os olhos para mim, — ele é
um pai e o marido maravilhoso.
Beijo seu rosto.
— Você também é uma mãe incrível.
— Porque você sempre está do meu lado.
— Não é verdade — falo negando com a cabeça. — Você tem um
instinto natural.
— Pode ser — cochicha e fita Dimmi. — Eu acho que ele dormiu.
Ele soltou o peito e sua boquinha está aberta, respira suavemente com
a mão agarra ao paninho que cobri seu rosto.
— Não deveria pôr ele para arrotar um pouco?
— Sim, deixa comigo. — Fico de pé e com muito cuidado para não o
despertar de novo, pego o bebê.
Depois que faço ele arrotar para não passar mal, o coloco no berço
portátil preso ao lado da cama, do lado dela. E não fico de pé, ela estica a
mão me chamando e eu vou me deitar do seu lado. Abraço seu corpo bem
forte, pegando-a de conchinha e dou um beijo no seu rosto e logo no seu
nariz quando vira o corpo para mim.
— Preciso de um banho — sussurra.
— Depois, amor.
— Você é um sonho.
— Pode ser.
— É um sonho e a gente já está tão longe.
Longe do terrível início de nós dois. Antes de eu me casar com ela
estava triste, desesperado. Agora já se passou dois anos e temos uma filha
adorável, uma casa legal, acabamos de ter um filho e nos amamos de
verdade. Se eu soubesse que deveria cair para levantar, não teria ficado por
tanto tempo com raiva de ter outra esposa. Eu posso ter tido sorte, a sorte te
ter Nina, mas a vida não avisa das coisas boas ou ruins que virão. Nós apenas
precisamos seguir e esperar, e muitas vezes fazer acontecer.
Falei para Colen que a igreja teve o que plantou. Será que colhi um
novo casamento, Nina, Sophia e Dimmi, porque plantei em algum momento
isso, ou na verdade eu sou a colheita de Nina. Acredito muito mais na
segunda opção. Eu sou o que Nina merece. Nossa família é o que essa mulher
sempre mereceu e isso não torna tudo menor, e sim maior. Numa vida de
crueldade e dívidas pela justiça, ser o marido e o pai que ela merece é a
minha redenção diária.
Eu fecho os olhos e ressonando com minha esposa maravilhosa nos
braços. Eu irei dar meu último suspiro por eles três. Sempre daria o xeque-
mate na dificuldade que nos rodeiam para eu nunca mais perder.
Epílogo
Dez anos depois.

C hega um momento na vida que temos uma espécie de


amadurecimento até para apreciar uma paisagem. É como nossa
alma tivesse calejada do cotidiano e só respirasse, se se
surpreendesse com algo realmente fascinante. E nada é mais fascinante para
mim que o pôr do sol e meus filhos e meu marido juntos correndo na areia da
casa de praia.
Há uns cinco anos passar os melhores dias de verão na piscina de casa
em Las Vegas, não era mais uma atração que captasse a atenção dos nossos
filhos. Confesso que para mim também. Então Paolo conseguiu uma casa em
Malibu para nós, na verdade foi Colen que arrumou. Fica muito perto da sua
casa aqui e de uns amigos que ele adora e meus filhos também.
O vento forte e gelado sopra em mim e eu me encolho apertando com
força o casaco de cachemira. Sorrio vendo Paolo caminhar em minha direção
com nosso cachorro ao lado. Um dobermann de três anos gigante, marrom.
Foi um presente para Dimmi, mas o cachorro escolheu Paolo para ser seu
dono. Os cachorros que escolhem de quem são definitivamente.
— Está com frio? — ele pergunta chegando em mim e eu sorrio
quando me abraça.
— Estou e fico me perguntando o que poderia me aquecer. —
Provoco e ganha um beijo nos lábios muito rápido. Mesmo que estejamos
apenas nós dois e nosso filho na praia, e poucos olhares que nos reconhecem,
ainda nos reservamos a não fazer demonstrações de afeto em público. É uma
coisa que precisa ser mantida e nunca esquecido.
— Eu posso aquecer você.
— Eu quero que você faça mais do que isso — digo sugestivamente.
Paolo quase sorri com os lábios, porque seus olhos têm a malícia e o
sorriso que eu adoro. Às vezes é impressionante que estou há doze anos com
ele e o amo cada dia mais.
— Mãe — a voz de Dimmi surge e nos afastamos para ver o que é.
— Sim, filho.
Ele para na nossa frente e envia as mãos nos bolsos da calça de
moletom azul. Está com um casaco preto de moletom também com o escudo
do capitão américa no peito. Ele gosta desses super-heróis. Adoro o seu estilo
adolescente despojado.
— Ele quer andar de carro com o Colen — Paolo fala depois que
nosso filho demora demais para pronunciar qualquer sílaba.
Eu encaro desconfiada Paolo e balanço a cabeça.
— Seria melhor você dizer, Dimmi. — O pai insiste.
— Você quer apostar corrida com o Colen? — Indago cruzando os
braços. — Eu não acho isso uma boa ideia.
Apesar de eu respeitar muito o Colen – é uma obrigação respeitá-lo
como Testa da Lawless e afinal estamos no seu estado – eu gostaria que ele
parasse de influenciar o meu filho a fazer certas coisas.
— Não gosto de Colen dando essas ideias para você.
— Querida, daqui a quatro anos nada que você faça ou fale vai
impedir Dimmi de fazer outras coisas muito piores do que apostar corrida de
carro.
Desvio meus olhos para a gola de Paolo e engulo com força. Já foi tão
difícil perceber que meu irmãozinho não é mais um garotinho indefeso.
Romero agora é o Underboss de Seattle e governa o estado e sua cidade pelo
respeito e medo, nada diferente dos outros Subchefes de Travis. A reputação
do meu irmão é de cruel, assustadora e todos sabem que ele não gosta de
prazos. É à vista.
Eu sabia, sempre soube, o que meu filho precisaria ser. Que Dimmi
tem que ser como o pai, mas quero esperar mais. Ter tempo de ver meu filho
começar a iniciar e logo fazer o juramento.
— Deus! Saber do que vai passar, me causa gastura.
— Não se preocupe — diz Paolo colocando meu cabelo atrás da
orelha. — Ele vai treinar ao lado de Dante e nada melhor do que isso.
— Eu sei.
Dimmi e Dante são amigos, o que é ótimo já ser o braço direito do
futuro Capo, mesmo assim minha preocupação não some.
— Paolo, nenhuma mãe da Famiglia gosta dessa posição. Nós nos
acostumamos.
— Eu sei, mas ele vai ser muito forte.
— Ele já é forte e isso me assusta.
— Você na verdade se assusta porque ele não é mais o nosso
garotinho que brincava de espada com as suas rosas e destruía as suas flores.
Ele agora já está se tornando um rapaz.
— Sim — murmuro.
Ainda bem que não preciso me preocupar com isso para Sophia. Não
preciso pensar nela se transformando num soldado cruel e sanguinário, mas
preciso começar a ver o que ela vai fazer da vida. A Famiglia mudou muito
algumas regras e fiquei feliz. Porém, relacionamentos, virgindade, casamento
arranjados, ainda são nossas tradições e eu acho que nunca vai acabar. Por
um lado, lembro do que uma vez Gregori disse.
Que os homens precisam se curvar muito mais e as mulheres são mais
beneficiadas por escolherem um bom marido. Um bom pretendente, mesmo
que às vezes não seja. Sabemos de muitos casos terríveis. Mas sempre
pensam nas mulheres, já nos homens. Se eles não têm fins lucrativos,
ninguém se importa com quem eles se casarem ou não. É um pouco terrível
esse tema e é preciso colocar para pesar na balança, lembrando que tem dois
lados. Gosto de pensar pelos dois, é preciso esse ponto de reflexão para não
sermos injustos em nada na vida.
— Ainda é cedo para pensar nisso — Paolo comenta como lesse meus
pensamentos sobre o casamento de Sophia.
— Sim. Ela ainda vai terminar a escola e eu quero muito que ela se
case com vinte anos, que nem eu. Mesmo que não tenha sido planejado.
— Por mim tudo bem vinte anos. — Ele concorda. — Até ela vai
estar mais madura, talvez mais preparada com a responsabilidade de viver
com outra pessoa. Com dezoito nem sempre as meninas estão prontas. Nem
todas são Marinne — diz com carinho ao lembrar da caçula dos Lozartan.
Eu também sinto falta dela e agora só a vejo em fotos e em breves
ocasiões entre as Famiglie.
— Ainda falta muito para Sophia se casar e o nosso filho fazer o
juramento. — Suspiro e faço um cafune na sua nuca. — Gosto de pensar que
a gente ainda tem tempo para aproveitar eles.
— Claro que sim. Sophia ainda tem treze anos e Dimmi dez. Temos
aí uns seis anos com eles sobre nossas asas.
— Mas sabe a única coisa que está muito próxima?
— O que? — ele pergunta e chega a boca perto do meu ouvido. — Eu
tirar a sua roupa e te comer bem gostoso contra a parede?
Rio e faço ele afastar um pouco o corpo do meu, assim posso falar
olhando em seus olhos.
— Que meu marido vai fazer cinquenta anos e precisamos fazer uma
festa.
Ele logo balança a cabeça e aperta a minha cintura do jeito gostoso
que me excita.
— Por que uma festa grande, Nina?
— Porque eu preciso comemorar, afinal de contas, o meu marido é
um espetáculo nos seus cinquentas anos.
— Você não me acha velho demais agora?
— Não, eu envelheci junto e daqui três fazer meus trinta e cinco.
— Você ainda parece que tem vinte.
Dou uma risada forte e balanço a cabeça.
— Deve ser porque os meus produtos funcionam, então não tenho
rugas e você também não já que passo no seu rosto.
Paolo mesmo contrariado, deixa eu usar meus produtos nele e
funciona muito bem. Por isso parece ter uns quarenta anos. O tempo passou e
a gente só ficou mais bonito e mais apaixonados e felizes. Meu Deus. Las
Vegas pode pegar fogo que quando a gente está dentro de casa,
metaforicamente, é como abrisse as portas do céu. O nosso céu.
— Mamãe?
Escuto a voz grossa e irritada do meu filho e me afasto para poder dar
a atenção a ele.
— Vocês me deixaram falando sozinho.
— Desculpa, querido. Então, eu deixo você ir com Colen, mas com
uma condição.
— Qual? Eu faço o que a senhora mandar.
— Quando nós voltarmos para casa, você vai fazer os deveres de casa
sem reclamar, pegar sua roupa suja e colocar no cesto de roupa suja. Não é
muito difícil — ironizo porque ele me deixa de cabelos brancos com as
roupas espalhadas. Chego perto dele e lhe dou muitos beijos. — E não pode
reclamar da mamãe dando beijos em você.
Dimmi dá uma risada histérica e baixa o rosto, como não quisesse que
eu soubesse que está rindo. Levantando o rosto, nós nos encaramos, eu amo
os olhos dele, iguais aos do pai. Ele é uma versão do Paolo mais jovem e
menor, mesmo que já esteja quase me alcançando na altura.
— Tudo bem, eu prometo fazer tudo e queria pedir outra coisa.
— Diga, filho.
— Na verdade, não é um pedido e sim uma pergunta, e é para o papai.
Paolo fica do meu lado e presta atenção no filho.
— Pode dizer.
— Eu sei que geralmente as mães que escolhem os noivos para as
filhas e não é muito comum os noivos escolherem, mas eu estava pensando...
— Você já quer se casar? — Eu pergunto e sinto a ruga brotando no
meio da minha testa.
— Não agora, mas quando chegar a hora e também porque ela é
menor de idade que nem eu.
— Me sinto aliviada. — Não foi um comentário cômico e Paolo
suspira também.
— É porque eu gosto de uma menina e eu sei que a gente não pode
namorar, mas eu sei que se eu for na frente, posso pedir a mão da dela e não
tem como romper uma promessa dessa.
— Como você tem essas informações? — indago desconfiada.
— Foi o Lorenzo que me disse.
Sinto meu marido respirar fundo do meu lado e com certeza ele vai
falar com o pai do Lorenzo para o filho parar de falar certas coisas nas festas
da Famiglia. A última foi no Natal e provavelmente um mês não é tão longe
para deixar tão fresco uma informação dessa na cabeça do meu filho de dez
anos.
— Certo, filho. Tudo bem. O que você disse é verdade, mas quem é a
menina? Ela é filha de quem?
— É sim — responde.
Paolo fica mais perto dele, pois não gosta quando a pessoa é invasiva.
— Continua, Dimmi.
— Ela é a filha do Enzo com a Bárbara.
Sinto uma palpitação no coração agora. É um infarto.
A menina é maravilhosa, perfeita e eu já tinha imaginado isso, no
entanto ouvi Enzo falando que pretende casar a filha com o Underboss da
Filadélfia para assim criar outra aliança com a Darkness e Travis apoia essa
ideia.
— Ela já é prometida a alguém? — O jeito como meu filho de dez
anos está tocando nesse assunto, me espanta.
— Prometida ela não é, porém existe um pretendente já de olho nela e
quando isso acontece, a gente tem que ver outra tática.
Ou outra esposa – completo o que Paolo não quis dizer em voz alta.
Sinto orgulho do meu filho, mas quero sorrir da sua cara séria. Dimmi
lembra muito a personalidade de Paolo e quando quer uma coisa, não tira da
cabeça. E sinto que ele realmente quer Alissia, e ele terá.
Caramba. Eu toda preocupada com ele sendo iniciado e depois
fazendo seu juramento de sangue e ele mais preocupado com um casamento.
A menina é linda de fato. Uma mistura de Enzo com Bárbara perfeitamente.
A cor do pai, os olhos da mãe, o cabelo castanho escuro e Bárbara cuida dela,
transforma-a numa boneca com seus cachos.
Alissia é o orgulho da minha amiga e morri de felicidade quando ela
me disse que estava grávida e feliz finalmente com o homem que sempre
amou. Foi difícil, um longo caminho, muitos choros e coração partido,
desespero e revoltas, mas deu certo.
Eu não sei como Bárbara aguentou e se alguém me contasse a história
dela, eu odiaria o Enzo, mesmo que ele tenha provado que todos os homens
da máfia quando querem se render, eles fazem de uma forma magistral. Enzo
fez exatamente isso porque a mulher dele merece que se jogue no chão para
ela passar por cima.
Abraçando meu filho, dou um beijo no seu rosto e o olho firme.
— Se você quer ela, precisa merecer e provar que merece.
Principalmente quando tem uma outra proposta. — Sorrio afagando seu
rosto. — Se você conversar com o seu pai, ele pode te ensinar um ou dois
truques para fazer uma mulher... uma menina, querer você.
Paolo toca no seu ombro e o filho olha para ele com o semblante de
pura admiração.
— Nós vamos tentar.
— E vamos conseguir. Eu conheço a Alissia a vida toda e não é mais
do que certo passarmos o resto dela juntos.
Respiro fundo e encaro Paolo. Esse pequeno homem é filho dele
mesmo.
Risadas altas e contagiantes nos fazem virar para o outro lado da
praia. Alba e Vivien vem em nossa direção com Victoria Brown, a amiga de
Colen que é associada a máfia. Na verdade, se não fosse os nossos soldados
ela estaria morta e acho muito legal que seus filhos são afilhados de Travis e
Madeleine, no caso os gêmeos. Vivien é afilhada de Colen e a esposa.
— Olá — ela diz com seu sorriso elegante e educado.
Essa mulher é fascinante demais. Parece uma das bonecas da minha
filha e por Deus, ela tinha tudo para ser insuportável, contudo é um anjo.
Talvez por isso o marido dela a chame assim.
— Oi — cumprimento-a. — Vocês parecem prontas para algo
divertido — digo fitando seus vestidos de versão esvoaçantes.
— Vamos ter uma festa de cinema em casa hoje — responde Vivien,
a cópia da mãe na simpatia e educação. — Viemos convidar Sophia, Dimmi e
a senhora.
— E o papai vai fazer um brunch para o senhor e o tio Colen — Alba
refere-se a Paolo.
Acho um amor ela chamar Colen de tio. Pela longa história que eu sei
de Ethan, Colen e Victoria. Eles são como família e seus filhos se tratam
assim.
— Nós iremos, querida. Vamos apenas trocar de roupa. — Tão logo
eu falo isso e Sophia aparece descendo as escadas da nossa casa que dá
acesso a praia.
— Oi — minha filha diz para as meninas e a mãe. — Vocês já
falaram com minha mãe e meu pai?
— Já sim, querida — Victoria responde e olha para mim. — Sophia
já pode ir conosco?
Paolo assente primeiro e eu chego perto de Sophia, beijo seu rosto.
— Pode ir. Já estaremos logo lá.
Me dando um abraço, ela se afasta com os Brown.
Paolo permiti essa visita, e muitas outras e um conviveu próximo,
porque sabe que Ethan Brown pode não ser um mafioso, mas é obcecado com
a família. O homem é um nível de apaixonado que é quase surreal. Não
esconde, não tem reservas e é extremamente preocupado com a família. Tem
seguranças e câmeras em torno deles vinte e quatro horas. Prova disso? Basta
ver o homem de preto parado nas escadas deles esperando Victoria e as
filhas, com Sophia, subirem.
— Nunca pensei que existia homens tão cruelmente maníacos por
controle e perigosamente apaixonados sem ser da máfia.
— Ethan sempre foi assim, só piorou com o nascimento dos filhos —
Paolo diz enquanto caminhamos para dentro de casa, Dimmi já sumiu pelas
escadas. Meu marido os conheceu anos atrás.
— É estranho, mas bom. Assim nossos filhos têm amigos “comuns”.
Paolo balança a cabeça com um sorriso sarcástico.
— Não existe nada de comum nos Brown ou nos Colton. Em nenhum
deles.
Pensando bem e conhecendo William Colton, pai de Victoria, tenho
que concordar. Eles não são mafiosos, são podres de ricos e poderosos, o que
os torna atrativos e para os filhos da puta, perigosos.
Os Brown e os Colton são tão assim e próximos dos Lozartan, que
corre um boato de que Dante tem pretensões para casamento com Vivien
Brown. Eu acho que eles seriam um casal perfeito. Ele é forte, naturalmente
com o senso de controle do pai e ela é refinada, gentil e vigorosa. Um casal
que terá equilíbrio e como ela é afilhada de um Lozartan, a Famiglia não vai
se opor do futuro Capo se casar com uma mulher de fora da máfia e sem ser
tático. Acho que finalmente um casamento entre as duas famílias, gere
benefícios para ambos. Dinheiro, poder, armas e domínio são coisas que elas
compõem com maestria.
É chato ficar pensando na tática e poder, mas com os anos as
Famiglie ficam mais brutais e a paz entre nós não é mais tão constante. A
Darkness é brutal no comando de Amândio e o primo dela com a Blood
Hands, fez de Travis potencialmente uma granada.
Na área da piscina, Paolo vai lavar os pés no chuveirão e nosso
cachorro quase toma banho junto.
— Vem, Pelucio — chamo o cachorro e ele vem correndo. O nome
quem deu foi Dimmi, em homenagem a Harry Potter. Meu filho adoro esses
livros.
— MÃE! CADÊ MINHAS MEIAS? — Dimmi grita de dentro do
quarto e sua voz soa pela varanda do mesmo.
— Ele precisa arrumar o quarto daqui também, Nina — meu marido
comenta balança a cabeça.
Concordo com um aceno e sorrio.
— Ele não deveria ser assim. Eu não sou e nem você.
— Acontece nas melhores famílias — comenta Gregori vindo de
dentro da casa. Ele veio conosco dessa vez para as férias de verão. Não é meu
guarda-costas, mas sim um amigo que considero irmão. Paolo confia ainda
minha vida a ele. — Dimmi precisa mesmo ser iniciado. Ele não só irá achar
as meias como irá lavá-las.
— Se for assim, eu apoio — digo entrando em casa.
Gregori e Paolo riem e ficam conversando na varanda.
— Vai ter uma reunião na casa dos Brown.
— Eu sei. Sophia me disse antes de sair.
Suas vozes somem quando alcanço o segundo andar e chego no
quarto do meu filho.
— Meu Deus do céu, Dimmi. Você precisa arrumar isso — falo
olhando de cara feia a bagunça generalizada das roupas e tênis espalhados no
quarto. Tudo jogado nas portas do guarda-roupas e no sofá que fica no canto
ao lado da mesa do computador.
Como ele consegue fazer isso num quarto desse tamanho?
— Desculpe, mãe. Eu vou arrumar.
— Hoje!
— Agora?
— Quando voltarmos da casa dos Brown.
— Mas vai ser de noite já.
— Você fica até tarde jogando vídeo game as vezes, pode limpar seu
quarto também até as quatro da manhã.
Ele tanta falar, mas não deixo.
— E outra, vamos começar o treinamento de soldado por resistência
ao sono. Só irá dormir quando este quarto estiver limpo, arrumado e cheiroso.
— Vou para perto dele. — Faça por merecer, lembra? — Ergo minha
sobrancelha.
— Irei merecer, certo.
— Quarto limpo, corrida com Colen amanhã.
— Mas você já não tinha decidido que eu ia
— Não tinha visto seu quarto e agora que fiz, só irá quando este
quarto aqui estiver limpo.
Ele me abraça e eu aceito. Não está barganhando, está agradecendo
porque sabe que precisa. Ele é meu garoto e eu quero que ele me orgulhe.
Dimmi pode um dia se transformar num monstro como muitos outros
membros da Lawless, mas nunca quero que perca esse lado família que tem
comigo, seu pai e sua irmã.
Sophia e Dimmi são muito unidos e sempre que lembro dela, há dois
anos descobrindo sobre Mia, meu coração se enche de amor.
— Ela só... ficou comigo por treze dias?
Assenti e meu coração se apertou vendo-a controlar suas lágrimas.
Sophia baixou os olhos para suas mãos e suspirou profundamente e quando
percebi que seu corpo tremou, notei que estava chorando.
— Oh, meu amor.
— Mãe — disse baixinho no meu ouvido e tive a impressão de que ela
estava falando de Mia. Eu também senti esse sentimento avassalador. Bastou
me colocar no lugar dela e desmoronei.
— Ela te amou muito durante todo o tempo que esteve dentro dela e
em seus braços.
Sophia assentiu e seus braços me apertaram. Eu a deixei chorar por
longos e longos minutos. Queria que ela tirasse toda a dor e sentimento triste
sobre Mia de dentro dela para poder apresentar a mulher doce que eu
conheci pelos álbuns de retrato e no que Paolo falava.
Ela se tornou uma lembrança bonita para todos nós. Paolo não
falava dela, nunca falou depois daquela vez na estufa onde eu disse que
manteria Mia como uma lembrança. Era estranho perceber que ela sumiu da
sua mente e só restou nas fotografias. Para Sophia a mãe foi um anjo que a
carregou e lhe deu para mim. Suas palavras:
— Você é minha mãe e ela também. Ela me guardou para ser sua,
mamãe.
Sophia e Dimmi têm todo o meu coração, a vida toda. Meu marido
me tem de corpo e alma. Paolo é meu parceiro em tudo. Cuida, protege, ama
e apoia. Ele me libertou dos meus pais e nosso casamento foi minha
liberdade. Meus pais erraram toda a vida deles comigo, menos em me fazer
ser A Esposa Do Consigliere.
Não perca também a história de
Marinne Lozartan e Amândio D’Ângelo.

Mais informações no Instagram da autora.


Alessa Ablle já sabia o que queria desde criança: deixar um pedacinho dela
no mundo. Sempre sonhadora pensou até em ser astronauta (risos), mas aprofundou-se
na dramaturgia e suas infinitas possibilidades. O teatro foi sua primeira paixão e logo
depois vieram os livros, que se tornaram seu escape da realidade após conseguir
superar sua depressão. Escrever não é apenas sua terapia favorita como também a sua
melhor forma de superar sua dislexia, dando exemplo para muitas pessoas de que não
será uma deficiência que irá pará-la.
Seu primeiro lançamento na Amazon, Ensina-me o prazer, alcançou o ranking
em primeiro lugar e teve mais de um milhão e meio de leituras on-line nas duas
primeiras cenas. Tem mais de 20 mil e-books baixados e 2 mil exemplares vendidos
em todo o Brasil. Seu segundo lançamento também alcançou o ranking no top 5,
Profundamente Apaixonado, e hoje a Saga Profundamente já bateu mais de 24
milhões páginas lidas pelo Kindle Unlimited. Hoje Alessa já tem mais de 4 mil
exemplares vendidos, dos livros publicados em físicos, e mais de 40 milhões em
páginas lidas na Amazon.
É uma legítima geminiana, carioca, que vive ainda na Cidade Maravilhosa
com sua família e seus amados cachorros. Falante, animada, adora fazer LIVEs em
suas redes sociais. Aberta ao público e humorada. Conhecida por sua sinceridade e
palhaçadas.
Para conhecer mais dessa autora regada a humor, siga-a em suas redes
sociais:
Instagram: ALESSA ABLLE
Página do Facebook: AUTORA ALESSA ABLLE
Grupo do Facebook: ALESSA ABLLE ROMANCES
Wattpad: ALESSA ABLLE
Para saber sobre livros físicos, entre em contato via e-mail
(alessaablle@gmail.com) ou no Instagram (@alessaablle).
Tudo que foi quebrado, um dia esteve perfeito. E talvez para Adam Stella é
exatamente assim que ele se sente. Após uma terrível tragédia ter abatido sua família e
principalmente a ele, Adam sente-se imperfeito. Há seis anos sua vida sofreu uma
reviravolta e o garoto mais querido e cheio de amigos, o neto mais amado, o filho
mais aclamado por seus dotes e inteligência nos próximos segundos depois do
acidente deixou de existir. Se ruiu por entre as chamas. Ele deixou tudo para trás em
cacos. Adam se tornou um homem estilhaçado, quebrado. Vivendo cada dia após o
acidente com culpa.
Sua família não suporta mais vê-lo viver desta forma, então sua mãe em uma
nova tentativa encontra uma nova forma de salvá-lo de si mesmo. Colocando a
menina curiosa de olhos azuis em sua vida. Tão quebrada quanto ele, mas cheia de
vontade de viver, Belinda o fará ver o lado ruim de ter deixado a vida para depois.
Será que Adam vai conseguir aproveitar essa nova chance e colar as partes
que ele deixou-se perder pelos anos de culpa?
Nascida em berço de ouro, Victoria Colton carregava em seu coração muito
mais que sonhos. A “pobre menina rica” rodeada por holofotes, inseguranças e uma
vingança gerada por um segredo guardado há muitos anos, contava os dias para se
livrar do medo e dos traumas de sua infância.
Ethan Brown nunca pôde reclamar de sua boa vida. Nada nunca lhe faltou e
aprendeu cedo demais que o dinheiro tinha seus prós e contras. Após anos longe de
casa, retorna com ambições para com sua carreira, mas logo de cara algo entra em seu
caminho e ele precisará saber o que é mais importante.
Totalmente opostos um do outro, deixam as diferenças de lado, quando após
um reencontro – nada convencional –, não conseguem mais ficar separados. Mas eles
precisarão de muito mais do que sentimentos para ficarem juntos.
Eles não esperavam que fossem se apaixonar tão profundamente. Victoria e
Ethan se tornaram inseparáveis, e ficar longe um do outro é um desejo que não
almejam. O intenso e profundo amor que construíram, sofrerá altos e baixos, e sustos
que colocará em prova seu futuro juntos e o desejo de viver o “felizes para sempre”.
Victoria vem determinada a lutar com Ethan, que está ainda mais apaixonado
e profundamente envolvido por sua princesa, focado em destruir o inimigo, na
continuação da história de amor épica, que ficará para sempre na sua cabeça.
Um reencontro que marcou a vida dos dois.
Uma aventura que se transformou em amor verdadeiro.
Um amor que durará a vida toda?
QUEM SABE?!
No terceiro volume da Saga Profundamente, Victoria viverá seu pior
pesadelo e verá seu mudo sofrer grandes perdas e um grande choque.
Ethan enfrentará todos os demônios para viver ao lado da mulher que ama. E
terá que fazer coisas que apenas esteve em seus piores pensamentos e precisará
descobrir um jeito de trazer Victoria de volta para ele.
Agora o inimigo é o tempo e a mente, onde ninguém pode corromper.
E mesmo um homem profundamente apaixonado, terá seus momentos de
desespero e arrependimento enquanto sua amada não sabe o que é real ou fantasia.
Novamente o mais forte salvará os dois de cair no mais profundo abismo.
Um amor tão profundo que ultrapassa todas as barreiras. Que enfrenta o
medo.
Uma promessa de amor eterno.
Mas será que, depois de tudo, ainda restará algo além de estilhaços?
Agora parece que todos os problemas já estão resolvidos, que os traumas
foram deixados para trás e só lhes restam viver e serem felizes.
Victoria ultrapassou todos os obstáculos que apareceram em sua vida. Foi
forte, confiante e corajosa, mas claro que nada seria a mesma coisa sem seu príncipe
“encantado”. A sua vida é um verdadeiro milagre e ela quer mais do que nunca viver
intensamente a segunda chance que teve.
Ethan deixou totalmente seu passado para trás e se transformou em um
homem de sucesso e maduro. A felicidade está batendo em sua porta, finalmente. E só
resta aproveitar essa jornada com sua princesa.
Mas será mesmo que todos os espinhos foram retirados de suas vidas?
Não perca o desfecho desta história linda e profundamente apaixonante.
A história de Ethan e Victoria sem aspas e com um Conto especial no
final.
Cecillia Romanoff é uma jovem nerd, conhecida por ser muito curiosa. Uma
de suas maiores curiosidades é, justamente, sobre algo que nunca fez: sexo.
Henry Frinsheens tem uma vida agitada, porém responsável. É um jovem que
possui um currículo ótimo, é estudioso e amigável. Diferente do típico cara babaca de
faculdade. Em uma aula de Biologia, por força do destino, os dois se esbarram. Dois
jovens diferentes, mas iguais em um sentido: são solitários e buscam algo que os
complete.
Quebram a velha (e ultrapassada) rixa entre nerd e playboy e viram amigos
de verdade. Vencidos pela forte química que existia entre eles, os dois se rendem a
uma noite que os envolvem ainda mais e poderia mudar tudo. Talvez tenha sido um
tremendo erro e a amizade tão sólida correria perigo. Eles sabem que seus sentimentos
estão indo além de carinho e, no meio dessa relação, vão perceber que um precisa do
outro muito mais do que podem admitir.
No final, qual será a escolha certa a se tomar?
Um relacionamento que começou sem pretensão de ser alto mais do que
amizade e realmente os transformaram em grandes amigos, mas os sentimentos
mudaram e cresceram. Henry e Cecillia aprenderam a não saber viver um sem o outro.
De uma amizade nasceu um amor verdadeiro.
Os anos se passaram, a vida seguiu seu curso perfeitamente e eles estão a
passos de dizer o sim mais importante da vida deles e começar sua própria família.
Até que uma farpa do passado volta e dá um choque de realidade em suas vidas.
A história de Henry e Cecillia sem aspas e com um Conto especial no
final.
Amanda Frinsheens, ou Mandy para os íntimos, é uma garota determinada,
sonhadora e uma Frinsheens. O que a torna sensível. Assim como seu irmão Henry,
foi cursar sua faculdade de Medicina em Massachusetts, na aclamada Cambridge. Ela
ama sua rotina, que intercala em estudar e curtir sua juventude.
Maximus Smith é um médico dedicado e, mesmo com trinta e três anos, é um
molecão que vive apenas para o trabalho. Talvez o que lhe ocorreu anos atrás tenha
deixado cicatrizes maiores do que possa admitir.
Logo de cara, Mandy e Max sentem uma forte atração, que agora terá que ser
enfrentada no mesmo ambiente de trabalho, já que por destino ela fará residência no
hospital em que ele é cirurgião.
Será que Mandy vai conseguir manter o profissionalismo perto dele?
E Max, será que vai conseguir ficar longe da irmã do seu melhor amigo,
agora sua aluna também?
“ Ele se tornou meu vício mais teimoso. ”

Linda, falante, teimosa e tentando achar seu lugar no mundo, Amber


Vasconcelos estava vivendo um grande dilema na sua vida depois que um
moreno tentador aparece no seu caminho e a deixou completamente viciada.
Jordan Saldañas é o famoso: “o cara”. Lindo, olhos intensos, fala macia e tão
sincero que chega a ofender, também não parava de pensar na “sereia”.
Era para ser apenas algo casual, para matar o desejo, mas não foi isso
que acabou acontecendo e Jordan em pouco tempo notou que Amber tinha se
tornado sua. Porém, o maior dos problemas não era ter que lidar com uma
garota meio desmiolada e ser seu próximo “desamor”, e sim com todos as
outras pessoas que tinham saído dos esgotos decididas a acabar com a sua paz
e seu relacionamento com Amber.
Será que ele vai conseguir ficar com a garota no final?
Se puder ou quiser, deixe sua avaliação aqui mesmo na Amazon ou no
Skoob. O feedback é muito importante para eu continuar a amadurecer,
melhorar ou saber o quanto vocês amaram (tenho que ser otimista, né?) o
livro.
Fique à vontade também para falar comigo via Facebook ou
Instagram. ;)
Ou, se quiser, manda um e-mail para alessaablle@gmail.com e até
ganhe mimos se mandar a avaliação ou leitura ou compra do livro. Eu adoro
agradar meus leitores.

[1] Tchau, minha linda.

[2] Tchau, minha linda.

Você também pode gostar