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Copyright © 2022 Evilane Oliveira

CRUEL DESEJO

1ª Edição

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e acontecimentos

que aqui serão descritos, são produtos da imaginação da autora.

Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é

mera coincidência. Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da

Língua Portuguesa. É proibido o armazenamento e/ou a reprodução

de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios, sem o

consentimento escrito da autora. A violação dos direitos autorais é

crime estabelecido pela lei nº. 9.610. /98 e punido pelo artigo 184 do

Código Penal.

Todos os direitos reservados.


Edição Digital | Criado no Brasil.
“Puede ser doloroso comprender nuestros propios sentimientos.”
Diego Bustamante
Ele é um cruel.

Ela é mãe solo.

Ele quer vingança.

Ela não sabe o que fez.

Ele não entende por que a quer tanto.

Ela guarda segredos que mudariam tudo.

Ele vai fazê-la ruir por suas mentiras.

Ela é sua cunhada.

Ele é irmão do seu falecido marido.

É errado, é cruel, é intenso.

É um erro prestes a acontecer e mudar completamente tudo.


Ouço nitidamente as batidas desenfreadas do meu coração.

Elas gritam para que eu corra, me esconda, mas minhas pernas não

as ouvem. Então eu fico parada. Talvez, esse tenha sido o meu

maior erro. Ficar quieta.

Ele está me olhando. As lágrimas em seus olhos me dizem

que isso está matando-o. Eu sei que sim. Ele me ama. Sempre

amou.

— Não faça isso — imploro quando ele me puxa, colocando-

me sentada na cadeira de madeira no meio da cozinha. Ele começa

a amarrar as minhas mãos às costas enquanto mordo meu lábio.


Kellan passou o dia longe de casa, enquanto eu estava na

floricultura em que trabalho. Ele me ligou pedindo que eu viesse

almoçar com ele, e eu vim. Quando cheguei, eu o encontrei

andando pela casa, nervoso.

Eu não senti medo. De jeito nenhum. Eu o amo, ele é a

minha vida e eu sei que sou a dele. Porém, quando sua boca se

abriu e ele cuspiu ordens para eu me sentar e ficar calada, percebi

que não o conhecia. Não o homem diante de mim.

— Preciso fazer isso. Tudo bem? Fique quieta. Eu juro,

cuidarei dela. — Suas palavras enviam ondas de choque até mim.

— Eu sou a mãe dela! Como você se atreve...

— Eu preciso! Eles... — Seus olhos correm para a porta.

Sinto as lágrimas começarem a descer por meu rosto.

— Kellan — sussurro —, eles nos encontraram? — Meus

olhos ficam arregalados, enquanto ele desliza o dedo pelo meu

rosto, secando minhas bochechas molhadas.


— É mais que isso, Bree. — Ele enxuga a única lágrima que

deixa descer por seu rosto. — Eu me meti com pessoas perigosas.

É melhor eu fazer isso do que eles entrarem nisso... Eu te amo e

juro que vou cuidar dela...

— Eles pediram que me matasse?

Ele nota o horror em minha voz. Como alguém manda matar

a esposa de outra pessoa? E como a pessoa que está diante de

mim, o meu marido, pôde aceitar?

— Vai ser rápido e eu...

— Oh meu Deus! — lamento, enquanto meu corpo treme de

medo. — Eu te odeio, Kellan. Quem é você? Quem diabos é você e

onde está o meu marido? — Empurro as palavras para fora em

gritos descontrolados.

O rosto de Poppy aparece em minha mente. Seu olhar azul,

seu cabelo preto como o meu. Seu grito de mamãe ecoa na minha
cabeça e eu a vejo, como se fosse agora, chegando da escola com

sua mochila. Seu sorriso se ilumina ao me ver. Então desabo.

— Quem é você? Quem é? — grito, completamente

apavorada. Meu grito ecoa na casa bonita que compramos anos

atrás, quando Poppy pediu uma casa que tivesse quintal para que

ela brincasse com Scarlet, sua cachorrinha.

— Bree...

— Eu quero viver. Eu quero ver minha filha crescer. Kellan,

pare com isso. Me solte. Por favor — imploro, enxergando tudo

embaçado pelas lágrimas. — Eu fujo. Você pode dizer que me

matou...

A porta da frente se abre com um baque e eu grito,

imaginando quem poderia ser. Porém, antes que eu olhe para a

porta para ver quem chegou, um tiro soa e eu grito de novo, caindo

para trás com a cadeira.


Encaro o teto da minha cozinha enquanto ouço mais tiros e

me pergunto o que fiz com a minha vida. Com quem me casei?

O que fiz com a vida da minha Poppy?


— Para onde? — Engulo em seco ao escutar a pergunta da

minha filha.

Não quero ter que fazer isso, mas na minha sala tem um

lembrete do que pode acontecer caso eu não faça o que me foi

ordenado.

Os seguranças que foram enviados para a minha casa me

buscar não parecem gentis, e não quero descobrir se suas caras

feias podem fazer mais que isso.

A ligação de um dos homens mais importantes de Nova

Iorque arrancou meu chão. Reinald MacGregor quer a neta por

perto, ou entrará com o pedido de guarda dela. Simples assim. Eu


estava entre a cruz e a espada, porém não titubeei na resposta. Eu

farei tudo por Poppy.

Voltar para Nova Iorque é aterrorizante. Eu fugi daquele lugar

por tempo demais, Kellan correu de lá e me levou junto, na verdade.

Segundo meu marido, as pessoas da família dele não são boas.

Seu pai é um político corrupto, e sua mãe, uma mulher sem

escrúpulos, e bem, ainda tem seu irmão, que não conheço e nem

quero. Ele pode ser bem pior.

— Poppy, vamos passear em uma cidade linda. Tem praia,

sabia? Você pode brincar na areia. — Sorrio, enquanto coloco mais

roupas dentro da mala rosa.

— Danton pode ir? — Sua pergunta doce me faz parar de

arrumar os seus vestidos.

— Não, Poppy, ele ainda não pode ir. Porém, poderá nos

visitar nas férias. O que acha? — questiono, fazendo cócegas em


sua barriga. Seu sorriso ilumina o ambiente e diminui um pouco a

minha apreensão por estar voltando para Nova Iorque.

— Acho que ele ficará feliz. Posso ir contar a ele?

Seu pedido me faz olhar para a janela. Danton é um

amiguinho da Poppy. Os dois brincam juntos desde bebês, seus

pais são confiáveis e eu amo Danton como se fosse meu, porém, eu

sei que há seguranças lá fora.

Reinald fez questão de mandar escolta para ter certeza de

que eu estarei voltando para lá. Meu sogro é a personificação do

diabo, como Kellan sempre repetia. Nunca presenciei nada de fato,

mas Kellan sentia um ódio profundo por sua família. Cansei de ouvi-

lo dizer que nunca mais veria a cara dos pais e estava muito bem

com isso.

— Acho melhor esperar até que estejamos indo — murmuro,

me ajoelhando na sua frente. Scarlet, que está em seus braços,


sente a mudança de Poppy. Seus olhos brilham, mas ela logo limpa

o rosto.

— Tudo bem.

Sua resposta me faz pensar em como Poppy é obediente e

madura para sua idade.

Termino de arrumar suas coisas e espero o caminhão com

meus móveis e pertences serem enviados para o apartamento em

que morei antes de me casar.

Coloco nossas malas no carro e vou com Poppy até a casa

de Danton. Ele está na janela e corre para a porta quando nos vê,

caminhando até nós com seus pais atrás dele. O rosto de ambos é

recheado de confusão. Não os culpo.

— Anna, estamos nos mudando. Foi de repente, nem tive

oportunidade de avisar. Sinto muito — digo devagar e vejo Danton

dar um passo para trás. Olho para Poppy e seus olhos estão cheios

de lágrimas.
— Mamãe disse que você pode ir nos visitar. — Sua fala

embola com o choro.

Danton engole em seco e se aproxima novamente.

— Eu vou. Não é, mãe? Pai? — Ele se vira e os pais

acenam. — Não chore, Poppy. O verão está para começar. Irei te

visitar. — Os dois parecem tão maduros. Não sei se eu estaria tão

séria se estivesse sendo separada do meu melhor amigo.

Poppy morde o lábio e acena. Danton a abraça e parte meu

coração ouvir o soluço da minha filha.

— Tchau, Dan. — Ela sorri e pega a minha mão.

Coloco Poppy em sua cadeirinha e deixo minha casa, os

amigos e minha vida para trás.

— Acorde, Poppy. Estamos aqui — sussurro, balançando seu

ombro e beijando seu rosto. Ela desperta aos poucos e logo sorri.
— Chegamos à praia, mamãe? — ela pergunta.

Suspiro, olhando para o mar bem ao lado, com as ondas

quebrando ao chegarem à areia.

É, eu acho que chegamos.

— Sim, venha. Vou te mostrar. — Pego-a em meus braços e

bato a porta do carro para fechá-la. Ignoro os seguranças descendo

dos seus carros enquanto caminho com Poppy em meus braços até

estarmos de frente para as ondas.

Os olhos dela brilham e eu sorrio com isso. Poppy nunca foi à

praia, não tinha praia na cidade em que eu morava. Coloco-a no

chão e me sento na areia com ela na minha frente. Pego a areia em

minhas mãos e sorrio, sentindo a maciez.

— Mamãe?

— Hum, querida?

— Papai está aqui?


Sua pergunta faz lágrimas surgirem em meus olhos. Nunca

falei sobre aquela tarde para ninguém, não quero que pensem mal

de Kellan. É estúpido, mas é assim que me sinto. Eu jamais

permitirei que algo manche a imagem do pai na mente da filha.

— Ele está em todo lugar. Onde você estiver, ele estará —

respondo e beijo seu cabelo.

— Eu te amo, mamãe. Não estou triste por nos mudarmos.

— Querida — viro Poppy até que eu possa olhar diretamente

para suas pérolas negras —, você pode se sentir triste. Poppy, eu

também estou. Então, meu amor, se estiver triste, não tem

problema. Estamos juntas. Eu e você. Sempre. — Ela acena e eu

vejo as lágrimas novamente. — Você quer descansar, ou ficar aqui

mais um pouco?

— Podemos ficar? Eu quero molhar meus pés lá. — Ela

aponta para as ondas a menos de um metro de nós.


Poppy se levanta e vai até lá. A água retrocede e depois uma

nova onda vem em sua direção, ela ri e corre, mas não antes de a

água molhar seus pezinhos. Sua gargalhada ressoa e eu sorrio,

recebendo-a em meus braços.

— É gelada! — ela grita.

— Sim, querida, é gelada. — Eu gargalho. — Porém, durante

o dia, é bem mais fresca. Podemos vir amanhã — indico.

— Por favor, por favor! — Ela sorri, acenando.

— Okay. Eu te amo, minha doce Poppy — digo, olhando para

o seu rosto.

— Eu te amo, minha doce mamãe.

Rimos juntas enquanto abraço seu corpo.

— Srta. Sawes, o sr. MacGregor está à sua espera — um dos

seguranças avisa.

Mas eu o dispenso com a mão. Não quero falar com

ninguém, quero apenas descansar.


— Diga a ele que me apresentarei só amanhã. Hoje, irei

descansar da viagem — aviso, porém sorrio, tentando amenizar

meu tom.

— Deixe comigo, Vítor — uma voz mais baixa porém firme,

fala.

Eu me viro e vejo um homem com o dobro do meu tamanho.

Sentada, então, ele parece um gigante.

— Sim, senhor. — Vítor sai e eu me ergo, segurando a mão

da minha filha.

O homem não fala nada enquanto sinto as mãos de Poppy

apertarem as minhas com força. Pego-a em meus braços e o olhar

dele franze e seus punhos cerram.

— Bree, meu pai está te esperando faz horas, por que você

não faz o que foi pedido quietinha?

— Erick — pronuncio o nome do meu cunhado. Seu rosto é

bem quadrado, seu cabelo é tão negro quanto o de Poppy e o meu.


Seus olhos são claros, mas não posso ter certeza de qual cor, já

que está contra a luz. — Sinto muito, mas a minha filha está

cansada e você acabou de assustá-la — murmuro calmamente,

acariciando Poppy.

— Entre, Bree. Agora.

Seu comando me faz respirar profundamente, mas faço o que

foi ordenado. Ando a passos largos até o prédio à minha frente e

entramos.

Poppy suspira contra meu cabelo quando entramos no

elevador. Ela vai odiar esse lugar, não tem quintal para Scarlet.

Balanço a cabeça, espantando o pensamento. Lidarei com isso mais

tarde.

Assim que saímos no andar da cobertura eu começo a suar.

Poppy agarra mais meu pescoço quando Erick abre a porta para

que possamos entrar.


— Irei mostrar seus quartos — Erick diz e eu sobressalto,

assustada com sua voz firme. — Depois que ela dormir, desça para

falar com meu pai — ele ordena.

Eu aceno e o sigo para dentro do apartamento.

É enorme. Minha casa caberia nesta sala, tenho certeza. É

espaçosa, tem duas poltronas bem à frente de uma imensa que

está presa em um suporte de madeira clara. Atrás das poltronas tem

uma mesa pequena e dois sofás. Mais para a frente vejo mais um

sofá, só que é um sofá-cama, e andando mais encontro uma mesa

de jantar. À minha esquerda tem a escada, e é por ela que Erick

avança, nos levando ao andar superior.

Assim que paramos em um corredor, ele abre a primeira

porta e eu engulo em seco ao ver todas as coisas de Poppy lá

dentro. Até mesmo Scarlet. A cachorra late e Poppy desce dos

meus braços, correndo até ela.

— Mamãe, a Scarlet!
— Eu sei. Que maravilha. Tire suas roupas da mala enquanto

vou olhar o meu quarto, pode ser? — pergunto.

Ela acena, ainda concentrada em Scarlet.

Sigo para o corredor e engulo em seco ao olhar para Erick.

Quando seus olhos descem por meu corpo ao achar que não estou

olhando, sinto minhas bochechas corarem. Assim que arrumo minha

blusa um tanto decotada, seu olhar sobe para o meu rosto.

— Seu quarto. — Ele aponta para a porta da frente do quarto

de Poppy.

Fico grata por ficar perto da minha filha.

— Obrigada — murmuro, mas a frase morre quando ele se

coloca atrás de mim e abre a porta. Seu braço forte toca o meu e eu

fecho meus olhos, tremendo. O que há de errado comigo?

— Entre, Bree.

Paro de respirar ao sentir sua voz contra minha orelha. Sua

respiração quente me faz arquejar.


Abro meus olhos e entro no quarto. Há uma porta que vai dar

no banheiro, acho. O quarto é arejado e de frente para o mar. As

paredes são brancas, e os móveis, escuros. A cama parece macia,

mas não me atrevo a me sentar para experimentar com Erick aqui.

— É... obrigada. Eu descerei assim que Poppy dormir — digo

calmamente.

Ele comprime os lábios. Seu olhar parece raivoso agora e eu

não consigo entender o porquê.

— Não se sinta tão em casa. Só está aqui porque escondeu

Poppy de nós e por ter sido a causa da morte do meu irmão.

Sabemos de tudo, Bree. — Sua voz carregada de ódio me faz dar

um passo para trás.

— Eu... como se atreve? — pergunto, sentindo meus olhos

queimarem.

Kellan ia me matar... eu não fiz nada. Eu não fiz. Não, não,

não. Eu não fiz.


— Deixe as portas abertas. — Ele sai antes que eu possa

processar sua frase.

Limpo as lágrimas antes mesmo de caírem. Saio do quarto e

sigo para onde deixei Poppy. Meu corpo se retesa quando vejo uma

senhora sentada à sua frente.

— Quem é você? — pergunto ao me aproximar devagar.

— Mãe! É a vovó Jo! — Minha filha sorri e eu franzo as

sobrancelhas.

— Olá, Bree. Sou Jolie. — Assim que a mulher se ergue, eu

encontro seu sorriso carinhoso e a mão estendida.

— Saia de perto da minha filha — mando, vendo seu sorriso

sumir, então me aproximo mais de Poppy. — Venha aqui. Agora,

Poppy! — grito quando ela não me obedece.

Minha filha treme e corre até mim.

— Estou descendo. Não entre sem a minha permissão. Saia,

por favor — peço rapidamente.


Jolie me encara completamente sem reação. Eu sinto meu

coração doer por estar agindo como uma cadela, porém lembro-me

o quanto Kellan dizia que sua mãe era ruim com ele.

Jolie balança a cabeça, mas no fim sai do quarto.

— Mãe, você a magoou — Poppy murmura.

Eu engulo em seco ao pensar no que acaba de acontecer.

Será que Kellan mentiu? Impossível. Kellan não mentiria sobre isso.

Não é?

— Poppy, vamos nos arrumar para dormir. Você ainda está

com fome, ou o lanche na estrada foi suficiente? — questiono,

mudando de assunto.

— Não tenho fome. — Ela balança a cabeça.

Eu a ajudo a tomar banho e vestir seu pijama, então deito-a

na cama e sento-me ao seu lado. Conto uma de suas histórias e

sorrio ao ver seu olhar sonolento.


— O mundo só é mais lindo por sua causa, minha doce

Poppy.

Ela me encara algumas vezes e eu sei que quer tocar no

assunto da Jolie, porém o cansaço vence e ela logo adormece. Beijo

sua testa e saio do quarto para ir ao encontro do meu maior

pesadelo.

A família MacGregor.
A porta range quando a abro e eu tento manter minha

respiração calma. Eles podem me dizer onde morar, mas nunca

terão meu respeito. Nunca poderão corromper a minha filha e a

mim.

— Bree... — A mulher sentada é Jolie, e pelo seu olhar vejo o

quão triste parece estar. — Eu...

— Não conheço vocês — interrompo, tentando manter meus

olhos sobre os dois idosos e esquecer que Erick está ao meu lado,

encostado na parede. — Sei que são avós da Poppy, mas não

pensem por um segundo que vou deixar...

— Cale a porra da boca. — A voz rouca e arrastada é dele.


Meu corpo tensiona, mas eu me viro e travo o meu olhar com

o do meu cunhado, que parece me odiar mais a cada hora.

— Ou o quê? Você vai orquestrar a minha morte para que

fiquem com a minha filha? — Eu elevo a voz, olhando na sua

direção enquanto vejo, pela minha visão periférica, Reinald se

erguer.

— Erick, por favor — a mulher pede enquanto ele e eu

estamos com os olhos presos no do outro.

Algo em seu modo despreocupado de me olhar e até de se

portar nessa sala me deixa inquieta. O sorriso cínico que exibe me

dá nos nervos. É como se ele lesse meus movimentos e soubesse

que eu nunca serei uma ameaça.

— Não, mãe, a Bree aqui acha que somos os vilões. — Erick

ri, balançando a cabeça ao falar meu nome com puro desdém. Ao

se aproximar, eu inclino a cabeça para continuar o encarando,

nossos corpos a centímetros de se tocarem. — Deixe-me te dizer


uma coisa, sua imbecil. A porra do seu marido que era. — Sua boca

sorri de lado de forma cruel.

Quase caio para trás quando ele invade meu espaço pessoal,

empurrando seu dedo em meu peito.

— Erick? Foda-se, me deixe sozinho com ela e sua mãe.

Agora! — o avô da minha filha vocifera, furioso.

Sobressalto, me afastando e temendo outra explosão.

— Se eu ouvir você dizer qualquer merda para meus pais,

vou entrar aqui e dar vários tapas na sua bunda.

Sua ameaça faz com que eu me afaste mais e franza o

cenho. Que merda é essa?

Antes que eu possa responder, ele se vira e sai do escritório.

— Desculpe o comportamento do Erick. Ele... — Jolie engole

em seco e coloca a mão sobre os lábios, sem saber como explicar o

comportamento do filho.
— Não queremos que goste da gente, Bree — Reinald

resmunga, ainda de pé. — Não sabíamos da existência da nossa

neta. Kellan escondeu de todos nós que existia uma esposa e filha.

Você nunca foi apresentada a nós, até hoje não consigo entender

por quê.

— Ele não quis. Nunca quis. — Encontro minha voz e o

respondo de maneira firme. — Eu tenho amor a minha vida, mas por

Poppy eu faço tudo, sr. MacGregor.

— Prossiga. — Ele me encara com as sobrancelhas

franzidas, totalmente confuso.

— Kellan sempre me disse que a família dele era complicada.

Que o senhor era um político desonesto. — Eu me viro para Jolie

quando Reinald parece ter levado um tapa. — E a senhora, Jolie,

era uma mulher fria e distante. Ele só queria esquecer a infância

sofrida e sumir. Eu o amava, então fiz exatamente o que ele queria.


— Engulo em seco ao ver Jolie levar as mãos ao rosto e soltar um

soluço baixo. Seu marido vai até ela e a puxa para seus braços.

A cena me comove e eu não consigo enxergar nessas duas

pessoas as que acabei de descrever. É impossível. O modo como

Reinald beija as lágrimas da mulher e a pede para ficar calma toca

meu coração de uma maneira única.

— Kellan mentiu para você, Bree. Nós não somos assim. —

Ele sustenta meu olhar e eu vejo a mágoa neles. — Eu amei meus

filhos igualmente, mas Kellan sempre se rebelou contra nós. Depois

que ele começou a sair com algumas pessoas realmente perigosas

da cidade, ele se desconectou da família. Eu investiguei até

encontrar você, Poppy, e as postagens na internet sobre seu luto...

Nós não tínhamos mais ouvido falar dele até você pôr em suas

redes sociais que ele tinha falecido — Reinald explica

pausadamente, me encarando com firmeza.


Meu queixo treme e eu mordo meu lábio inferior, me sentindo

destruída. Kellan mentiu. Todo esse tempo ele escondeu a sua

família, o seu passado.

— Erick me culpou. Eu nunca faria nada para ocasionar a

morte de Kellan. — Balanço a cabeça, sentindo meu peito

comprimir. — Eu o amava mais que tudo na minha vida. Ele era tudo

que eu tinha. — Meus olhos se enchem de lágrimas e eu respiro

fundo, recordando o dia em que eu o perdi. — Ele ia me matar...

— Não. — Jolie balança a cabeça e leva a mão ao rosto. —

Ele nunca faria isso. De jeito nenhum...

— Eu também não acreditaria se não estivesse lá, amarrada

a uma cadeira, com ele apontando uma arma para a minha cabeça

— gaguejo, relembrando-me. Abraço meu corpo e encaro os avós

da minha filha. Jolie está parada olhando para o chão, enquanto

lágrimas descem por sua bochecha. Já o pai de Kellan cai,


sentando-se em sua poltrona. — Eu ouvi o som de tiro e desmaiei.

Quando acordei, ele estava morto aos meus pés.

O silêncio recai sobre a sala e a porta se abre, revelando

Erick. Seus olhos estão em chamas e eu vejo o puro ódio em suas

íris.

— Eles o mataram porque ele não cumpriu o acordo. Ele

deveria ter te matado, mas titubeou. Mataram Kellan para servir de

exemplo. — Franzo as sobrancelhas, sem conseguir entender. —

Ele fazia parte da The Savage, Bree.

— Como sabe disso? — murmuro, me sentindo sufocada. —

Ele não faria parte... É claro que não!

The Savage é a maior gangue do país. É uma máfia. Eles

são a escória do planeta. Pessoas realmente ruins. Kellan não era

assim. Eu não sei explicar, mas sinto que Erick está mentindo. Tem

que estar. Como Kellan me esconderia isso? Morávamos juntos,

vivíamos um para o outro.


— Não? Você acha que amanheceu e do nada quis te matar?

— O corpo grande e musculoso de Erick se aproxima, então dou

passos para trás, tremendo. — Não. Eles mandaram. Ordenaram a

morte dele. Ele foi fraco. — Erick me encara como se eu fosse um

nada. Apenas a sujeira do seu sapato, na qual ele diariamente pisa.

— Sua vida significou a morte dele.

— Pare, Erick. É uma ordem! — o pai dele grita, vendo-o me

encurralar no canto do escritório.

— Não é minha culpa! — grito assim que minhas costas

colidem com a parede, enquanto Erick sorri friamente.

— Você sabe que é. — Fecho meus olhos, completamente

apavorada. Não foi minha culpa. Ele ia me matar. — Você acorda de

manhã e é exatamente isso que pensa. Admita, Bree.

Reinald empurra o filho para longe de mim e fica cara a cara

com ele, enquanto deslizo pela parede, abraçando minhas pernas.

Não é minha culpa. Kellan ia me matar. Se ele morreu foi por ter se
metido com pessoas erradas. Ele ia deixar minha filha crescer sem

mãe. Que ser humano faz isso, por Deus?

— Se controle, porra! — Reinald grita com o filho.

Sinto quando braços rodeiam meus ombros.

— Está tudo bem, Bree. — A voz carinhosa de Jolie chega

aos meus ouvidos.

Eu respiro fundo, me punindo por acreditar em Kellan.

— Me desculpe. Por favor, me perdoe. Kellan mentiu todos

esses anos. — Soluço, reunindo forças para cessar o choro, mas

parecem escassas. — Eu nunca deveria ter aceitado suas objeções

calada. Fui tão fraca, tão burra...

— Eu entendo, Bree. Não se preocupe. — Ela beija meu

cabelo e olha para o filho ao lado do pai, ambos mais calmos e nos

observando. — Erick está assim porque perdeu o irmão. Ele não é

esse monstro que está te mostrando, eu juro.


— Eu entendo — murmuro e me afasto de seus braços. Olho

para os dois homens na sala e vejo a bagunça que fiz em menos de

meia hora de conversa. — Eu preciso ir dormir. — Mordo meu lábio

e me ergo junto a Jolie.

— Sentimos muito, Bree — Reinald sussurra.

Eu aceno, saindo da sala sem olhar para Erick. Fecho a porta

do meu quarto e vou direto para o banheiro, enchendo a banheira e

retirando minha roupa, tentando respirar com calma. Ouvir e

perceber que tudo que Kellan me disse em todos esses anos é

mentira me colocou no limite. Nunca duvidei dele. Nunca. Hoje, eu

descobri que Kellan MacGregor é o único vilão da minha história. E

eu não posso culpar ninguém pela minha burrice.

Aperto minhas têmporas e suspiro, afundando na água

límpida. Abro meus olhos e vejo a luz distante. Quando meus

pulmões gritam pedindo oxigênio, eu me ergo e me sento,

segurando as bordas da banheira.


Minha visão detecta um vulto à minha frente, então solto um

grito, sem conseguir me controlar.

— Oh meu Deus!

Puxo a toalha da lateral da banheira e me ergo, tentando não

cair ao enrolar o pano felpudo ao redor do meu corpo. Minhas mãos

tremem e eu tento inutilmente respirar fundo.

— O que...

Erick se vira em minha direção e eu arregalo os olhos ao ver

seu corpo em plena exposição. Seu peito firme e com gominhos

captam a minha atenção instantaneamente, porém, quando meus

olhos alcançam seu umbigo, vejo seu membro longo e duro

cutucando sua barriga. Porra! Mesmo odiando admitir, sinto minhas

pernas amolecerem e meu ventre tremer. Engulo em seco, com nojo

de mim mesma por reagir a ele.

Sua pele clara está cheia de rabiscos. Tatuagens cobrem a

maior parte do seu braço e ombro. Em sua barriga tem algumas,


mas a maioria realmente está nos braços.

— Meu rosto, Bree — a voz dura de Erick ordena, então saio

do meu estupor. Encaro seus olhos enquanto o chuveiro ainda está

ligado sobre sua cabeça. — Você está encarando meu pau como se

ele fosse a solução de todos os seus problemas — ele sibila,

venenoso.

Sinto minhas bochechas corarem com vergonha. Inferno.

Um buraco. É tudo que peço ao senhor, meu Deus! Que me

enfie em um buraco!

— Seu porco! — Enrugo meus lábios com nojo do seu

comentário. — Como diabos entrou no meu quarto? E que porra

está fazendo ao tomar banho aqui, no meu banheiro? — grito

irritada, sentindo meu coração explodir com batidas rápidas.

Odeio ser o motivo de piada para as pessoas. Passei anos na

escola me sentindo uma imbecil de quem todos riam. Não deixarei

esse homem infernal me tratar assim. Erick deixou bem claro o que
acha de mim. Suas palavras voltam como um tapa e eu mordo meu

lábio com força. Só preciso entender o que esse infeliz está fazendo

aqui, no meu quarto. No meu banheiro.

— Essa é minha casa, Bree. Minha. Casa — ele fala

pausadamente e desliga o chuveiro, nem um pouco intimidado pela

sua nudez.

Erick sai do banho e enrola a toalha na cintura, mantendo-a

baixa em seus quadris, deixando seu bem-definido em exibição.

Quero dar um soco em meu rosto por ficar conferindo seu corpo.

— Esse é meu banheiro. Do meu quarto. Tenho certeza de

que existem trezentos banheiros nessa casa...

— Compartilhamos o banheiro. — Ele arqueia a sobrancelha

e aponta com a cabeça para trás de mim.

Quando me viro, eu vejo uma porta branca. Abro-a e minha

barriga congela ao me dar conta que o que está atrás da porta é


outro cômodo. Um quarto completamente negro. Arregalo os olhos,

tentando ordenar meus pensamentos.

— Vou pedir a Jolie para trocar de quarto amanhã —

resmungo, me encaminhando para a porta que dá acesso ao meu

quarto, porém Erick segura meu cotovelo e me faz virar de supetão,

quase deixando minha toalha cair no processo. Agarro o tecido,

mantendo meu corpo coberto mais rápido do que pensei que eu

poderia.

— O outro quarto vazio na casa está no terceiro andar, longe

da sua filha. Mas fique à vontade. Você sabe o que é melhor para si

— ele informa de maneira firme e autoritária.

Puxo meu braço do seu domínio e me afasto.

— Se mantenha longe de mim, Erick. Juro por Deus, se me

tocar mais uma vez, eu vou matar você — sibilo, furiosa.

Ele ergue as mãos e seus lábios tremem, tenho quase

certeza de que ele iria sorrir. O grande filho da puta.


— Isso vai ser difícil, Bree. Você mora na minha casa, dorme

no quarto ao lado do meu... — Erick segura meus quadris e me

puxa contra seu corpo. Meu rosto pega fogo quando sinto seu pau

cutucando minha barriga. — Vai ser complicado manter as mãos

longe da mulher que me desejou assim que pôs os olhos sobre

mim...

Não sei como, de onde ou por quê, mas uma risada irrompe

por meus lábios quando coloco minhas mãos contra o peito de Erick

e me afasto.

— Erick, somos cunhados. Se coloque no seu lugar, pelo

amor de Deus. — Eu balanço a cabeça enquanto limpo as lágrimas

dos meus olhos risonhos.

— Você tem certeza? — Ele arqueia a sobrancelha e eu

franzo o cenho, sem entender. — Meu lugar pode ser entre as suas

pernas, Pink. — Erick sai do banheiro enquanto abro e fecho a

boca, sem encontrar palavras para responder.


Filho de uma puta!

Dormir se torna uma penitência, mas eu consigo depois de

muito rolar entre os lençóis. Na manhã seguinte, eu acordo Poppy e

a ajudo com o banho e a se vestir.

— Bom dia. — Ela sorri, agarrando minha perna quando

chegamos à sala de jantar.

A mesa está posta com frutas, pães e bolos. Faz muito tempo

que eu não via uma mesa tão linda. Nós nos acomodamos assim

que Reinald e Jolie nos saúdam.

— Dormiram bem? — Jo pergunta enquanto leva uma taça

com suco à boca.

Paro um pouco para observá-la e suspiro ao ver o quão

bonita é. Seu cabelo é loiro e seus olhos azuis, como os de Erick.

Kellan tinha olhos castanho-claros, e eu sei que ele os herdou de

Reinald. O homem tem cabelo castanho-escuro, como o de Erick.


— Muito bem, obrigada — murmuro, deixando de lado o meu

medo de Erick entrar em meu quarto durante a noite e me matar.

O.k., eu exagerei, mas, sim, ele rondou meus pensamentos à

noite. Não que um dia eu vá admitir um absurdo desses a alguém.

— Eu dormi bem. A cama é muito macia. — Poppy ri,

comendo um pedaço de maçã, e nos fazendo sorrir em sua direção.

— Ela é sua cara. Incrível — Reinald fala suavemente.

Eu o encaro sorrindo, orgulhosa.

— Quero me desculpar novamente por ontem. Espero que

possamos nos dar bem pela Poppy — murmuro, com toda

sinceridade do mundo.

Quero que Poppy tenha avós presentes. Sei que faz pouco

tempo que estamos aqui, mas tenho ciência de que eles não

mentiram sobre serem boas pessoas. Kellan é o único mentiroso

dessa história toda e eu o odeio por isso.


— É o nosso maior desejo. — Jolie sorri assim que uma porta

se abre.

Um homem loiro, alto e sorridente entra na cozinha. Erick é

tão alto quanto o homem, mas esse tem uma áurea de felicidade

que meu cunhado parece não conhecer. O homem sorri para o casal

mais velho antes dos seus olhos encontrarem a mim e a Poppy.

— Essa deve ser a Poppy. — Ele se senta em uma das

cadeiras e olha para minha filha com tanto carinho, que

instantaneamente um sorriso se estende por meus lábios. Eu gosto

dele.

— Sim, eu sou a Poppy! E você, quem é? — ela questiona.

O rapaz me encara. Ele não deve ter mais que vinte anos.

— Esse é Drew. Nosso filho mais novo. Você conheceu Erick

ontem, ele é o mais velho — Reinald apresenta.

Eu arregalo os olhos, completamente surpresa.


— Não esperava ter outro. Kellan nunca disse que tinha dois

irmãos — murmuro, confusa, sentindo meu corpo se arrepiar

quando ouço a voz de Erick ecoar.

— É porque ele não me considerava um.


O silêncio na sala é cortado apenas por minha filha, que

desce da cadeira e pula nos braços do próprio demônio. O que

diabos está acontecendo?

— Ei, pequena! — Ele sorri, beijando o rosto da Poppy

enquanto eu continuo petrificada. Como, quando e onde ele se

aproximou da minha menina?

— Tio Erick! Scarlet gostou muito do petisco — minha menina

fala alegremente.

Engulo em seco, sem entender o que está se passando.

— Erick e Drew, sentem-se — Reinald pede, sorrindo, então

os três se sentam à mesa.


Sorrio para Poppy quando ela volta para o meu lado. Depois

vou perguntar a ela sobre seu “tio Erick”.

— Drew, é um prazer conhecê-lo — murmuro, estendendo

minha mão em sua direção.

— O prazer é meu, Bree. Não sabia que era tão linda. Estou

muito surpreso. — Seu flerte se concretiza quando ele pisca,

sorrindo.

Eu rio, me afastando e agradecendo por seu carinho.

Comemos enquanto Reinald, Erick e Drew falam sobre a

empresa que os irmãos dirigem, pelo menos é o que entendo. Não

me atento muito à conversa deles.

— Você trabalha com o quê, Bree? — Drew pergunta, me

olhando.

— Eu possuía uma floricultura — sinto uma tristeza me

consumir —, mas com a mudança tive que vender a minha parte

para minha sócia — explico, mantendo meus olhos em meu prato.


Sei que foi preciso, mas ainda me sinto mal por saber que deixei as

flores de lado.

— Aidan tem uma floricultura. Você não gostaria de

conhecer? Talvez tenha até uma vaga. — Drew sorri animadamente.

Arregalo os olhos, sentindo a euforia correr por meu corpo.

— Eu adoraria...

— Ela tinha uma empresa, Drew. Não quer ser empregada do

seu marido. — Erick corta minha fala.

Cuspo o suco que estava em minha boca ao assimilar suas

palavras. Não a parte em que ele se mete na porra da minha vida,

mas que Drew tem um marido.

— Você é...

— Sim. Gay. Totalmente gay. — Drew ri levemente enquanto

morde um pedaço do bolo.

Sorrio ao ver o tamanho do seu sorriso. Reinald e Jolie

sorriem para mim, e eu continuo embasbacada.


— Ele é um homem de muita sorte. Você é incrivelmente

lindo. — Cubro a minha boca assim que as palavras saem. Era para

só pensar nisso, não dizer em voz alta.

— Obrigado. Vou dizer a ele para cuidar melhor de mim. —

Ele ri.

Suspiro, sentindo minhas bochechas queimarem.

— Você que precisa cuidar dele — Erick resmunga e Drew

revira os olhos, enviando o dedo médio para seu irmão.

— Cinco dólares! — Poppy grita, se erguendo.

Eu arregalo os olhos ao vê-la indo em direção à escada.

— Poppy! — chamo, temendo que se machuque.

— Vou pegar meu cofrinho, mamãe. Só um momento. — Ela

some da minha visão e eu me desculpo com a família.

— Deixe-a. Drew vai tirar o dinheiro da carteira agora mesmo.

— Jolie sorri, dando tapinhas no ombro do filho mais novo, que

acena fazendo o que foi dito.


— Então, aproveitando que Poppy saiu... — Limpo minha

garganta e encaro os rostos diante de mim. — Eu quero voltar a

morar no meu apartamento. Ele fica longe daqui, mas não seria um

problema grande...

— Oh, sério, Bree... — Jo baixa os olhos para seu prato.

— Jolie. — Sinto um nó se formar em meu estômago. Droga.

— Eu realmente apreciaria ficar na sua casa, mas estou

acostumada a ter o meu lar, minha rotina e da Poppy. Preciso

encontrar uma escola para ela que caiba no meu orçamento

também. — Lembrar isso causa uma dor de cabeça. Tenho dinheiro

no banco, mas não terei para sempre. Preciso de um emprego, e

rápido.

— Bree — Erick fala e eu suspiro, desviando minha atenção

em sua direção. Seus olhos castanhos se prendem em mim e eu

engulo em seco, tentando ordenar a minha mente para encará-los,

em vez de seus lábios grossos e vermelhos. — Poppy acabou de


chegar. Meus pais querem mais contato com ela nesse momento.

Que tal, por um momento, pensar nos três, em vez de você? — Sua

voz é suave, mas suas palavras me causam irritação. Ele me

descreve como uma puta egoísta.

— Desculpem. Erick está certo — murmuro a contragosto,

sentindo um sabor amargo na boca. — Alguns meses aqui serão

bons para todos.

Menos para mim, isso é certo. Se Erick não me matar, eu

possivelmente organizarei o seu enterro.

— Aqui, tio Drew. — Poppy reaparece assim que Jolie abre

um sorriso enorme e me agradece, dizendo que será ótimo para a

gente.

Drew dá dez dólares, pois disse que possivelmente

amaldiçoará ou dará o dedo novamente se Erick estiver por perto.

Por dentro eu sorrio, me sentindo vingada ao ver o olhar de raiva no

rosto de Erick.
— Você vai amar o lugar. É lindo e enorme — Drew murmura

assim que entramos no seu carro para ir até a floricultura de Aidan,

seu marido. Passo o cinto de segurança enquanto ouço alguém

entrar na parte de trás. — O que diabos está fazendo?

Eu me viro e semicerro os olhos ao ver Erick de braços

cruzados, no banco de trás.

— Vou conversar com meu amigo. Sabe, aquele que saía

comigo, antes de você enfiar seu pau nele e mudá-lo drasticamente.

Suas palavras me causam horror, mas minha risada se

sobressai, causando surpresa em todo mundo, inclusive em mim.

— Bree, não ria do que esse infeliz fala! — Drew grita e eu

sorrio ainda mais.

Drew manda Erick ir se foder e logo saímos do prédio

enorme. Poppy fica com Jolie, graças a Deus, porque pelo curto
espaço de tempo até a floricultura, Drew fala tanto palavrão que eu

logo constato que minha filha terá seu primeiro milhão em um ano.

Respiro fundo, encantada ao encarar a fachada da loja de

flores. Tem tantas do lado de fora. Todas as que eu mais amo.

Descemos do carro e Drew caminha em direção à entrada. Cheiro

uma tulipa e sorrio, encantada.

— Fique calada e acene para tudo que eu falar — ele pede,

sussurrando.

Eu aceno, mesmo sem saber do que diabos ele está falando.

Assim que um homem ruivo aparece, eu arregalo os olhos,

passando por todo seu corpo. Puta que pariu. Seus ombros largos,

seu sorriso gentil e olhar doce me fazem o desejar

instantaneamente, mas o desejo some quando Erick passa por mim

e abraça o homem.

Não me sinto honrada ao pensar isso, mas, droga! Erick é mil

vezes mais gostoso.


— Quem... — Aidan me encontra sobre os braços de Drew e

semicerra os olhos, parecendo furioso. Nossa, o homem é ciumento.

— Ela está gravida de mim. Foi só uma noite, mas, droga,

nós iremos ter um bebê! — Drew fala, completamente sério. Eu pulo

para longe dele, arregalando os olhos e gritando ao dar um tapa em

seu braço. — Bree, continue no papel. — Ele puxa meu braço

enquanto o amaldiçoo.

— Drew, seu filho de uma puta! Solte-a agora. — Erick me

pega dos braços do seu irmão segurando minha cintura, fazendo

minhas costas colidirem contra seu peito.

— Drew, o que diabos? — Aidan e eu falamos ao mesmo

tempo.

— Era uma brincadeira! — Ele ergue as mãos.

Aidan balança a cabeça, andando até meu cunhado. Quando

vejo os dois se beijando livremente, sinto minha barriga esquentar.

Os dois são tão lindos e tão gostosos. Me julguem!


— Está excitada, Pink? — Erick murmura contra minha

orelha.

Mordo meu lábio ao sentir palpitações em meu baixo ventre.

— Agora estou — murmuro suavemente e ele grunhe em

meu pescoço. Droga, falei alto novamente.

Eu me afasto de Erick assim que Drew e Aidan separam suas

bocas.

— Amor, essa é a Bree. Mãe da minha sobrinha — ele nos

apresenta e eu abraço Aidan rapidamente.

— É um prazer, Bree. Preciso conhecer Poppy. — Ele sorri e

meu coração se derrete com a menção da minha filha.

— Ela vai amar você — afirmo, certa do que estou falando.

Aidan nos convida para ir ao escritório. Depois de nos

acomodarmos em cadeiras, uma mulher ruiva aparece e eu sorrio

quando os olhos azuis dela encontram os meus.


— Bom dia! Trouxe café. — Ela põe uma garrafa e xícaras na

mesa e deixa livre para que a gente se sirva. Agradeço a Drew

quando ele me serve.

— Essa é a Andie, irmã do Aidan — Drew apresenta e eu

sorrio ao encarar a barriga redonda dela. — Andie, essa é a Bree,

mãe da minha sobrinha.

— Quantos meses, Andie? — questiono, sorrindo

amavelmente antes de beber um gole do meu café.

— Seis. Prazer em conhecê-la. — Ela estende a mão em

minha direção e eu a pego.

— Como anda o nosso menino? — Erick pergunta sério.

Eu afasto minha mão da de Andie ao entender o que falou.

— Vocês... — minha voz murmura a primeira palavra, mas as

outras se perdem quando ela se anima. Andie está grávida de

Erick? Ele vai ser pai? Nossa.


— Bem. Ótimo, até. — Andie sorri, acariciando a barriga

enquanto sinto um incômodo crescer em meu estômago.

— Aidan, viemos aqui para você conhecer Bree, mas também

quero perguntar se tem alguma vaga. Ela tinha uma floricultura onde

morava. — Drew toca no principal assunto que me fez vir até aqui.

Eu mordo o lábio, deixando Andie e a gravidez dela de lado.

— Andie está saindo de licença hoje. Você pode ficar como

gerente, no lugar dela. Realmente, eu já ia procurar pessoas

qualificadas... — ele fala ao pegar a xícara e beber o café devagar.

— Sério?! — Bato palminhas, animada, e Aidan sorri, ao lado

da irmã. — Quando posso começar?

— Segunda-feira — ele responde enquanto Andie acena

sorridente.

Eu devolvo o sorriso, deixando de lado meu desconforto ao

saber que ela carrega um filho do meu cunhado. Erick se ergue e

anda até a porta.


— Vamos embora — ele chama a mim e a Drew.

— Pode ficar? — Aidan fala quando segura o marido. —

Preciso conversar com você.

Drew acena e joga as chaves do carro para Erick assim que

me ergo.

— Erick te leva, Bree. Mais tarde passo em casa para pegar

o carro — Drew fala e me envolve em seus braços. Beijo sua

bochecha e aceno.

— Foi um prazer, Aidan e Andie. — Aceno para os dois e eles

sorriem.

Erick me guia até a porta e para em frente a Andie. Finjo não

estar olhando, mas vejo quando ele beija a testa dela e se vira para

mim.

Assim que saímos da floricultura, eu caminho rapidamente

em direção ao carro. Entro na parte de trás, querendo distância dos

seus comentários escrotos.


— Não sou a porra do seu motorista, Bree. Vem para a frente

— ele manda, me encarando pelo retrovisor, mas apenas nego

enquanto olho pela janela.

Erick sai do carro e eu tremo quando abre a minha porta e

me pega em seus braços. Seguro seus ombros e fulmino seu rosto

com o olhar.

— Me solte agora! — grito, chamando atenção das pessoas,

porém logo elas somem da minha vista, pois sou enfiada dentro do

carro, na frente, ao lado do demônio.

Ele fecha a porta e eu fixo meus olhos na janela, esquecendo

que esse imbecil acabou de me fazer passar vergonha no meio da

rua.

— Logo vai aprender que quando eu mandar você fazer algo,

você faz, Pink.

Eu me viro e franzo o cenho, irritada.


— Não sou seu bichinho de estimação. E pare de me chamar

de Pink. Meu nome é Bree! — berro, furiosa, enquanto ele sai do

meio-fio e entra na via.

— Eu chamo você do que eu quiser. Por enquanto, eu quero

Pink.

Cruzo meus braços, tentando me impedir de dar socos na

sua cara.

Quando chegamos ao estacionamento, Erick não destrava as

portas para saímos, ele apenas desafivela o cinto de segurança e se

vira para mim.

— Abre as portas, Erick! Agora — mando, cansada.

Ele sorri. Só sorri. Por que seu sorriso tem que ser tão

bonito?

Tento procurar algo de Kellan nele, mas não encontro nada.

Os dois não se parecem em nada. Meu falecido marido tinha olhos

castanho-claros, cabelo claro também, quase loiro, mas não tanto


quanto Drew. Já Erick tem cabelo tão escuro quanto o meu. E os

olhos são azuis. Ele é incrível. Muito mais que Drew e Kellan juntos.

Engulo em seco ao perceber que Erick mexe comigo, e não

de uma maneira que cunhados devem fazer. Eu me encolho com

vergonha ao perceber isso.

— Você ainda está excitada, Pink? — ele pergunta

suavemente.

Eu mordo meu lábio inferior, tentando me impedir de corar.

— Não, Erick, não estou — resmungo, encarando seu rosto

quadrado e seus olhos escuros. — Eu estive por causa de Drew e

Aidan. Os dois são um pecado.

— Vou perguntar se eles curtem um ménage à trois. Quem

sabe você pode participar — ele sugere, erguendo as sobrancelhas.

— Obrigada, eu mesma pergunto. — Eu me inclino sobre ele

e destravo as portas. Saio do carro e ouço as portas se fechando.


— Se quer sentar em um colo é só pedir, Pink. Vou foder

você melhor do que meu irmão alguma vez na vida já fodeu,

prometo — Erick fala sério assim que entramos no elevador.

Meu corpo estremece quando o sentimento de puro nojo me

preenche.

— Você é tão nojento! Seu porco! — grito, atacando seu

rosto, mas ele segura meus braços e os prende acima da minha

cabeça.

Erick empurra seu corpo contra o meu e eu sinto quando seu

membro duro toca em minha barriga.

— Eu sei, Pink. — Ele se inclina em minha direção e lambe

minha orelha. — E você gosta. Não negue.

Eu poderia negar, mas é inútil. Erick me atrai e eu odeio isso

mais do que qualquer coisa no mundo.

— Essa coisa que você está fazendo desde o momento que

cheguei aqui não vai acabar bem...


— Não? — Erick morde meu lóbulo e eu estremeço, mesmo

não querendo. — Vamos nos matar ou foder um ao outro. Nós dois

sabemos disso. E aí, Pink, qual você escolhe?


As palavras de Erick rondam a minha mente durante os dias

que se seguem. Não tive oportunidade de respondê-lo na hora, pois

um segurança entrou no elevador e interrompeu a nossa conversa.

Depois passamos a nos ignorar com tanta elegância que eu duvido

que alguém diga com certeza que nos odiamos.

Porém, elas voltam a me perturbar pela segunda vez no dia,

enquanto arrumo Poppy para a escola. Foder ou matar? Eu grunho

ao pensar nisso. Nunca vou dormir com você, imbecil.

Estou suja, sem escovar os dentes, apenas porque o infeliz

resolveu que ficaria vinte e quatro horas dentro do banheiro. Acordei


cedo para me arrumar e depois arrumar minha filha para a escola,

mas ele está testando minha paciência.

— Filha, desça para tomar café com seus avós enquanto eu

tomo banho, pode ser? — peço.

Poppy sorri ao acenar. Ela segura a mochila que sua avó

comprou e lhe deu de presente e beija minha bochecha.

— Bom dia, mamãe. — Sorrio e respondo com a mesma

frase.

Assim que ela sai, eu me ergo e volto para o meu quarto. A

porta do banheiro está aberta, então relaxo ao saber que Erick já

saiu. Pego minha toalha e corro até lá, mas grito quando colido

contra uma parede de tijolos, porém, é apenas o corpo enorme e

sarado do demônio.

— Erick, eu vou te matar se não sair desse banheiro agora

mesmo! Estou atrasada por sua causa! — grito, nervosa.


Assim que ele se vira em minha direção, fico boquiaberta e

ofego.

— Estou saindo. Eu adormeci na banheira. — Ele faz uma

careta e anda em direção à porta dele.

— O que aconteceu? — questiono, encarando suas mãos

sujas e cheias de cortes. — Você entrou em uma briga ou algo

assim?

— É preocupação que escuto em sua voz? — Ele semicerra

os olhos, apertando a mão contra o rosto, mas em seguida geme,

por causa do ferimento coberto com sangue seco.

— Deixe de ser um idiota. — Puxo sua mão e o faço se

sentar no vaso sanitário. Pego o kit de primeiros socorros que

encontrei quando cortei meu dedo na cozinha, dias atrás, e tiro

algodão e água oxigenada.

— Nasci assim, Pink. — Erick ri quando eu aperto o algodão

com mais força que o necessário contra seu dedo. — Droga, mulher.
Relaxo, terminando de limpar os ferimentos e passar

pomada. Suspiro ao me afastar e engulo em seco ao ver os olhos

dele presos em minha boca. Meu coração bate descompassado e

eu tento organizar meus pensamentos ao morder meu lábio.

— Inferno de mulher provocadora! — Erick amaldiçoa ao se

erguer.

Eu franzo as sobrancelhas, sem entender seu momento de

fúria.

— Se pensa que estou te provocando, repense. Tenho

decência, diferente de você — murmuro, vendo-o ir em direção à

porta que dá acesso ao seu quarto.

— Vou me lembrar disso quando você estiver gemendo meu

nome enquanto senta no meu pau — Erick fala de maneira firme.

Eu mordo a carne da minha bochecha para me impedir de

matá-lo.
Vinte minutos depois, eu desço a escada com pressa e

apareço na cozinha para pegar apenas uma fruta.

— Bom dia. Tudo bem? — saúdo os avós de Poppy e a ajudo

a descer da cadeira.

— Oi, Bree. Atrasou hoje? — Jo questiona com um sorriso no

rosto. Eu suspiro e aceno, porém deixo de fora a parte de que o filho

dela é o culpado. — Fiz uma marmita para você. De café da manhã.

Tenho certeza de que Aidan tem comida lá, é mais por precaução.

Assim que ela estende para mim uma bolsa, sinto meu peito

apertar com carinho.

Ninguém nunca cuidou ou se preocupou comigo. Jolie fazer

isso depois de todas as coisas que falei para ela põe lágrimas em

meus olhos. Caminho até ela e abraço seu corpo.

— Obrigada. Muito obrigada. — Beijo seu rosto e ela sorri,

segurando meus ombros.

— Ah, querida. Não é nada.


Nós nos afastamos assim que Erick entra no cômodo. Não

me acostumei ainda a vê-lo de terno e gravata. Todas as peças

caras são pretas, e se eu não soubesse que está indo para a

empresa da família, pensaria que há um velório.

— Se despeça da vovó, querida. Nós já vamos — digo a

Poppy, enxugando meus olhos.

Saio da cozinha e ando com Poppy até o elevador. Ouço

passos atrás de mim e engulo o nó da garganta ao sentir Erick

entrar conosco na caixa de metal.

— Tio Erick, você pode ir à minha festinha dos pais? — Viro

minha cabeça rapidamente em direção à minha filha e a pego

encarando seu tio enquanto sorri. — Não tenho mais pai, então

acho que você pode ser meu papai por um dia.

— Poppy... — murmuro, tremendo e puxando seus ombros

em minha direção. Não encaro Erick, mas sinto seus olhos sobre

nós duas.
Os dois se aproximaram nessas semanas. Quando perguntei

a ela sobre nossa primeira noite aqui, Poppy disse que Erick a ouviu

no quarto com Scarlet, que resmungava por comida, e a ajudou. Ele

desceu e pegou petiscos para a cachorrinha. Depois de as duas

estarem calmas, ele colocou minha filha para dormir.

— Seria uma honra, Poppy. Peça sua mãe para me passar o

endereço e horário. Estarei lá — ele fala assim que se abaixa até

estar à altura da minha filha.

— Oba! — Poppy sorri e se joga em seus braços.

Meu coração aperta quando ela, em seguida, se vira para

mim, ainda com o sorriso gigante.

Juro que nessa hora a vontade de chorar volta com força. O

Dia dos Pais está próximo e eu nem mesmo me liguei nisso. Eu sou

uma péssima mãe. Sei que isso machuca minha filha. Não é fácil

crescer sem um pai. Eu sei, pois passei por isso. É horrível.


Reprimo a vontade de bater em mim mesma pelo esquecimento e

devolvo o sorriso para a minha Poppy.

Quando saímos do elevador, eu entro em meu carro assim

que coloco Poppy na cadeirinha. Saio do prédio e dirijo até a escola

dela. Jo e Reinald exigiram pagar pelos estudos da neta e, por mais

que eu tivesse recusado, os dois foram imbatíveis. Poppy estuda

agora na melhor escola da cidade. Ao mesmo tempo em que sou

grata, eu fico preocupada. Não quero dar luxo demais a Poppy. Um

dia tudo isso pode ruir e eu nunca poderei arcar com os custos

desse patamar de vida.

Deixo-a na escola e vou para a floricultura. Aidan é um patrão

incrível, nessas semanas de trabalho eu realmente me afeiçoei a

todas as funcionárias e clientes. Andie não apareceu mais lá, e

Aidan deixou escapar que sua gravidez é de risco. Controlei minha

boca e não perguntei nada sobre isso. Eu estou curiosa. Quero

saber se Erick e ela estão juntos, mas todo dia eu acho que a

encontrarei na casa dele, mas isso não acontece. Ela nunca foi.
— Bom dia. — Sorrio abertamente quando um homem,

magro e mais alto que eu apenas uns dez centímetros, entra na loja.

As atendentes estão ocupadas com outros clientes, então vou

ajudar.

— Quero saber quem enviou essas flores para a minha

mulher.

Quando ele joga o buquê em cima do balcão, meu sorriso cai.

Ele parece com raiva e eu não sei o que fazer diante da sua

expressão de fúria.

— Não faz parte da nossa política fornecer dados dos nossos

clientes. Não tinha um cartão no embrulho? — questiono, tentando

ser educada.

Ele se inclina sobre mim, me fulminando com os olhos.

— Um homem mandou isso para a minha esposa. Ou a

senhora me diz por bem quem comprou, ou eu vou fazer você me


dizer por mal. — Ele pega meus braços e aperta minha carne,

fazendo-me arregalar os olhos.

— Senhor... — Um gemido meu soa, de tão forte que é seu

aperto. As meninas na loja se aproximam enquanto tento me soltar.

— Responda-me! Agora! — ele grita em meu rosto.

Sinto as lágrimas encherem meus olhos. Oh meu Deus.

— Se afaste dela agora!

Pulo ao ouvir um rosnado na entrada da loja.

— Está tudo bem — consigo murmurar assim que o homem

se afasta. Limpo minhas lágrimas e vejo Erick caminhando para

dentro. Ele para ao lado do homem e o faz virar para encará-lo.

— Você deveria perguntar à sua mulher quem mandou, não

para a funcionária de uma empresa. Saia daqui antes que eu chame

a polícia. — Erick joga a insinuação na cara do homem.

Assim que Aidan aparece saindo do escritório, eu suspiro

envergonhada.
O homem encara Erick, mas quando vê que a polícia poderá

ser envolvida, ele sai da loja rapidamente, murmurando que vai

matar a vagabunda. Estremeço ao pensar em sua mulher.

Eu me inclino sobre o balcão, colocando a mão contra meu

peito e suspirando, tentando me acalmar.

— Está tudo bem, Bree? — Aidan questiona ao se aproximar.

Ainda trêmula, eu aceno e passo as mãos por meus braços,

tentando diminuir a dor que o aperto do homem deixou.

— Já falei para contratar um segurança. — Erick passa por

Aidan e confere meus braços. — Ele poderia estar armado. Isso é

corriqueiro e nós dois sabemos disso — ele continua a reclamar

com seu melhor amigo.

— Vou beber água — murmuro, me afastando dele e

entrando no escritório que divido com Aidan.

Bebo água devagar e logo a porta se abre. Uma das

vendedoras – Florence – aparece, e eu sorrio, tentando acalmar sua


preocupação.

— Meu Deus, você está bem? — ela questiona.

— Fiquei assustada. — Eu aceno, colocando meu copo sobre

a mesa. — Isso acontece muito? — Eu franzo o cenho, preocupada

com as meninas. Como Erick falou, e se o homem estiver armado

na próxima? É muito perigoso.

Na minha floricultura nunca houve episódios nem mesmo

parecidos com esse.

— Infelizmente, sim. Amantes enviam flores para as mulheres

e seus maridos descobrem. É um terror. — Florence faz careta e

sorri em seguida. — Fico feliz que esteja bem.

— Obrigada.

Ela se vira quando a porta é aberta. Erick a encara e a

mulher olha para os pés, corando.

Não sei por quê, mas fico aliviada ao ver que não sou apenas

eu que sou afetada por esse homem cada vez que ele entra no
recinto.

— Com licença — ela murmura e foge, me deixando com ele.

— Vamos embora. — Ele acena para fora.

Eu nego, balançando a cabeça.

— Não está no meu horário e eu vou buscar Poppy quando

sair, mais tarde — explico, respirando fundo e arrumando alguns

papéis.

— Bree. — Sua voz está tensa. Quando encaro seu rosto, eu

vejo a irritação por ele todo. — Será que pode uma maldita vez fazer

o que mandam sem reclamar?

— Sou uma mulher adulta e livre. Não tenho que ser

maleável ou suscetível a qualquer um. Você deveria saber disso. —

Faço careta quando ele se aproxima, dando a volta na mesa e

ficando na frente da minha cadeira. — Erick...

— Se soubesse o que desejo fazer com você neste exato

momento, você não estaria tão firme...


— Aposto cem dólares que quer me esfolar viva. Essas duas

semanas foram um teste de paciência, tenho certeza de que está

por um fio — eu resmungo.

Ele se inclina sobre mim, invadindo meu espaço pessoal.

Erick parece amar isso, e nós dois sabemos o porquê.

— Eu estou pensando em curvar você nessa mesa e foder

sua boceta. — O modo sujo que suas palavras chegam a mim me

causa vergonha e, contrariando tudo, excitação. Junto minhas

pernas para dar alívio ao meu clitóris latejante e sinto minhas

bochechas corarem ao ver que Erick observa meus movimentos.

— A cada dia você se torna mais imundo e doente. Eu nunca

vou transar com você. Sei que isso é um jogo. Você odiava Kellan e

agora quer a viúva dele...

— Kellan me odiava, Bree. Eu nunca o odiei. — Erick me

corta com a voz profunda. — Pode ter certeza de que eu não me

orgulho de dormir depois de me tocar imaginando a boca e boceta


da viúva do meu irmão em volta do meu pau. — Ele se inclina mais

e sua respiração toca meu ouvido. — Porém, é o que é. Não posso

mudar isso. — Ele se afasta e coloca meu cabelo atrás da orelha.

— Você é como o Furacão Katrina, Bree. Arrasa tudo que

vem pela frente. Meu irmão foi fodido primeiro. Quem mais você

quer derrubar?

Meu coração aperta quando Erick sai da sala e me deixa

sozinha, na minha própria merda. Se o que ele falou sobre Kellan

não ter cumprido o acordo ao me matar é verdade, então, sim, eu

sou um furacão.
— Você está ouvindo ao menos a porra de uma palavra do

que estou dizendo? — Aidan questiona, franzindo o cenho.

Ele quer arrancar a minha cabeça, isso é certo. O infeliz

sempre foi um imbecil bipolar. Era um inferno na faculdade e agora

que ele resolveu que gosta de chupar pau em vez de boceta, se

tornando assim meu cunhado, tudo piorou.

— Drew não está dando conta de você, porra? — questiono,

irritado.

Aidan revira os olhos e se espalha na cadeira de frente para

mim.
— Olha como fica irritado. Não precisa responder, sei que

escutou. — Ele ri de mim.

Eu me forço a permanecer sentado, ao contrário do que eu

realmente quero, que é apertar minhas mãos em volta do seu

pescoço e ir embora.

— Não dou um segundo do meu dia a ela. Fodam-se você e

ela. — Bebo mais do meu suco e afasto o prato de porcelana

quando acabo a minha refeição.

— Eu vi você checando a mulher como se ela fosse um bebê.

— Ele ri, cortando sua carne. O asno demora até para comer.

— Tinha um cara machucando-a, Aidan. Por que está sendo

um imbecil sobre isso? — questiono, encarando-o como o bom

idiota que ele é. Inferno, por que eu não posso respirar sem ter

Drew, ele e Andie me lançando olhares?

— Nada. — Aidan eleva as mãos e se inclina, comendo mais.

— Você estava lá ontem? — Ele não precisa me dizer onde é esse


"lá".

— Não, ganhei esses machucados enquanto tomava café no

escritório. — Mostro meus punhos esfolados a ele e meu melhor

amigo suspira e dá de ombros.

— Você poderia ter pegado algum cara aleatório que olhou

para Bree, quem sabe? — Olho para ele enfurecido, mas ele ri,

erguendo as mãos como em rendição. — Desculpa. Sei que vocês

não têm nada. Afinal, quão doentes seriam se rolasse? Vocês são

família. Cunhados.

— Você acredita nessa bosta? — questiono, rindo ao relaxar

de volta na cadeira.

Ele relaxa também, balançando a cabeça.

— Nada fica entre Erick MacGregor e uma boceta — Aidan

fala convicto.

Eu aceno, pois é a completa verdade.


Dormir com Andie foi um desses casos. Quantos milhares de

vezes Aidan me mandou ficar longe? Droga, eu perdi a conta,

porém, tempos depois lá estava eu, comendo a irmã dele em seu

quarto de infância.

— Porra, cara, você termina de comer hoje ou o quê? —

questiono depois de alguns minutos. Ouço o sino soar na entrada do

restaurante e encaro a mulher de cabelo negro avançar ao lado de

uma loira.

Assim que vi uma foto de Bree eu a quis. Pode ser errado pra

caralho, mas a imagem dela sorrindo ao lado do mar aberto me

levou ao limite. Quando eu a conheci, ainda sentia isso e odiei cada

pensamento pecaminoso que rondava minha mente, porém, dei um

belo foda-se para isso. Em algum momento, ela estará na minha

cama, é questão de tempo. Nós dois sabemos disso.

— Meninas, façam as honras. Sentem-se conosco — Aidan

chama sorrindo.
As duas mulheres sorriem e andam até nós. Bree para ao

lado da mesa e me encara, semicerrando os olhos. Ela se senta ao

lado e eu relaxo contra a cadeira macia do restaurante. O garçom

anota o pedido de ambas e vai embora.

— Pensei que tinha ido para casa — Bree murmura me

encarando.

Eu me inclino, ficando perto do seu rosto. Eu amo fazer isso.

Ela engole em seco e suas bochechas esquentam a cada vez.

— Você anda pensando muito em mim, Bree? — sussurro

sem que os outros dois escutem nossa conversa.

— Sim, em mil maneiras de te jogar no meio da via expressa,

com mil carros passando. — Ela sorri, pouco afetada.

Eu cruzo meus braços. Adoro ver a tensão em seus olhos. Se

tem algo que nós dois dividimos é a raiva por desejarmos um ao

outro.

Eu não deveria querê-la.


Eu não deveria desejar seu corpo.

Eu não deveria pensar nela todas as noites.

Eu não deveria sorrir ao pensar que não ligo para nenhuma

dessas porcarias que acabei de pontuar.

— Minta mais, Pink.

Ela semicerra os olhos, irritada, enquanto sorrio

completamente feliz. Ela odeia o apelido sem saber o significado,

quando souber, então...

Quando o garçom traz seu pedido, ela foca na comida. Aidan

termina, graças a Deus, e pede licença quando nos erguemos. Bree

coloca seus lábios no canudo e chupa devagar o suco de morango.

Seus lábios perigosos ficam mais vermelhos ainda.

— Diaba — murmuro ao sair antes de ouvir a risada dela e da

outra mulher de algo que não chegou a mim, já que eu estava

entretido com sua maldita boca.


Volto para a MacGregor Empreendimentos e aceno para os

funcionários que me saúdam. Entro no elevador e respiro fundo

quando um sapato vermelho vivo impede que as portas se fechem

comigo dentro. Faith sorri assim que meus olhos passam por seu

corpo coberto pelo vestido branco e alcançam seus olhos.

A mulher sabe que é linda e não se impede de mostrar

exatamente isso. Sua beleza. Ela passa a mão em seu cabelo

vermelho que alcança sua bunda e fica de frente para as portas, ao

meu lado.

— Boa tarde, sr. MacGregor — ela me cumprimenta sorrindo

e eu só aceno em resposta. Uma das coisas que me fez levá-la para

a cama meses atrás foi exatamente isso. Ela é profissional e me

trata exatamente como deve. Já saí com várias funcionárias no

passado, mas isso foi se tornando um saco, então parei. Até essa

maldita.
— Faith — murmuro e ela se vira para mim, arqueando a

sobrancelha —, me entregue os contratos que está preparando para

este mês. Nós dois sabemos que nada vai ser assinado sem eu ler

tudo.

Seu rosto declina por um segundo, mas logo ela sorri e

acena.

— Claro. Vou fazer isso assim que chegar à minha sala. —

As portas se abrem e eu saio. — Hum, Erick, posso deixá-los eu

mesma... — Sua voz baixa e fica inexistente.

— Não. Mande o funcionário que pago para fazer isso —

respondo, sabendo exatamente o que ela quer com essa visita

inesperada.

Não faço o tipo que só sai uma vez com uma mulher. Saio

quantas vezes eu achar necessário, mas agora está fora dos meus

planos foder alguém que não seja a minha cunhada. Por mais porco

que isso soe.


Passo o restante da tarde trabalhando, e quando estou

saindo recebo uma mensagem de Bree com o convite da festinha

dos pais de Poppy. Um sorriso preenche meus lábios ao me lembrar

da filha dela. A menina é esperta e extremamente carinhosa. Eu

gosto dela.

“Obrigado, Pink.”

Ela não me responde e eu sei que não vai, por isso guardo

meu celular e entro em meu carro. Drew passa por mim e me

manda o dedo médio, me fazendo revirar os olhos para suas

brincadeiras. O cara não cresce.

Quando chego à minha casa está tudo silencioso, a não ser

por um som baixo que sei que vem da sala de jogos. Eu me encosto

no portal e suspiro, encarando meus pais dançando. Meu pai

murmura algo no ouvido da minha mãe e ambos sorriem. Se tem

algo que eu admiro nos dois é o amor que os une. Nunca vi casal

mais apaixonado.
— Erick! — Mamãe sorri e para de dançar, vindo até mim. —

Vamos, dance comigo...

— Mamãe... — Ela puxa meu braço e eu sorrio,

acompanhando-a. Assim que sua cabeça repousa em meu peito, eu

beijo seu cabelo.

— Amo você, querido. — Ela beija meu peito, me fazendo

suspirar longamente.

— Também te amo, mãe.

Nós nos separamos assim que ouço uma risada que sei ser

de Poppy. Meu pai a tem nos braços enquanto mexe os dedos nas

suas costelas. Encaro a mãe da pequena e não desvio meus olhos

ao ver sua atenção em mim.

— Hum, Poppy, vou subir, o.k.? Fique com a vovó e vovô.

Daqui a pouco suba para tomar banho e fazer a atividade — Bree

fala com a filha e, em seguida, some.


Eu me retiro depois de beijar Poppy e subo a escada. Entro

em meu quarto e me sento, tirando meus sapatos depois de jogar

meu paletó na cama. Desabotoo a blusa preta e suspiro quando o

tecido desliza pelos meus cortes dos dedos.

Sempre briguei bem. Minha infância foi feliz, bastante, mas

eu sempre precisei extravasar minha raiva. Eu nunca soube de onde

ela vem ou por quê, mas eu a empurro para longe toda vez que

soco o rosto de alguém. É automático.

Abro a porta do meu banheiro e não me surpreendo ao ver

Bree no boxe. Passo reto até o espelho e tiro a caixa com

medicamentos, então deixo tudo separado e me sento no vaso

sanitário, esperando-a terminar. Vejo seu corpo de costas para mim

e engulo em seco ao sentir cada fibra do meu corpo endurecer com

a visão. Pelo vidro embaçado, observo o contorno da sua cintura

fina, seus quadris largos e sua bunda redonda e firme. A mulher é

uma tentação e eu me odeio por permanecer aqui, sabendo o quão

irritada ela vai ficar.


Invadir sua privacidade é horrível, mas não ligo. Foda-se, eu

a quero. Bree está na minha mente como um maldito cigarro, me

entorpecendo.

Eu a odiei quando Kellan foi morto. Eu a odiei quando vi

Poppy e soube que ela é minha sobrinha. Uma sobrinha que Bree

escondeu de toda a minha família. Família essa que sofre por Kellan

há anos.

Se me perguntarem, eu diria que hoje eu ainda a odeio, mas

por motivos diferentes. Bree é meu sonho de consumo e eu farei

qualquer coisa para tê-la embaixo do meu corpo, gemendo meu

nome, gritando por conta dos orgasmos que eu sei que vou dar a

ela. E eu me odeio por desejar e planejar cada passo para tê-la

comigo. Porque, querendo ou não, ela foi esposa do meu irmão. Eu

sou tio da filha dela.

— Oh meu Deus! — Bree grita e procura sua toalha.

Sorrindo, desvio o olhar e saio dos meus pensamentos ao escutá-la


me xingar de todos os nomes possíveis. — Isso é inaceitável.

Ouviu? — ela berra me encarando.

Simplesmente me ergo e tiro minha roupa, entrando no boxe

enquanto Bree continua me encarando, completamente irritada.

— Vou tomar banho agora. Só estava esperando você sair...

— explico, passando sabonete pelo meu corpo.

Os olhos dela derivam do meu peito até meu pau e eu

observo o desejo em suas íris. A mulher me quer tanto quanto eu a

quero.

— Vou contar aos seus pais. — Ela engole em seco e sai do

quarto.

Eu fico rindo embaixo do chuveiro por algum tempo, e

quando termino, limpo meus dedos e passo pomada. Queria que

Bree fizesse de novo, mas acho que ela deve estar pensando em

maneiras de me matar neste exato momento.


— Você vai sair? — minha mãe questiona assim que eu

apareço na sala.

— Sim — murmuro, colocando minha carteira e chaves no

bolso da calça jeans.

— Pode dar uma carona a Bree? Ela vai sair com uma amiga

da floricultura, mas vai beber e não quer dirigir — minha mãe fala

calmamente.

Eu ergo os olhos e encaro Bree de cima a baixo, antes de

caminhar em direção à porta.

— É claro. Vamos lá. — Aceno para fora.

— Eu chamei um Uber — ela remexe as mãos parecendo

desconfortável —, está tudo bem — ela murmura para a minha mãe,

então eu paro de me mover.

— Bree, eu te dou uma carona — digo firmemente.

— Bree, deixe de ser do contra. Erick vai te deixar e buscar,

sem problema. — Minha mãe sorri largamente quando Bree acena,


finalmente, e me segue para fora.

Assim que as portas do elevador se fecham, ela cruza os

braços e me olha. Seu vestido preto com mangas e decote ombro a

ombro modela o corpo dela de forma incrível. Vejo em seu colo

exposto um colar simples antes de olhar para baixo e encontrar a

fenda que deixa sua coxa à mostra. Seu salto fino me faz imaginá-la

completamente nua em cima deles.

— Vou pegar meu Uber. Obrigada por oferecer, mas

realmente quero chegar sozinha — ela volta a murmurar.

Eu encaro seus olhos, esquecendo a imagem que projetei em

minha mente. Ela tem maquiagem sobre eles e em seu rosto. Está

deslumbrante.

— Sabe, eu não minto para a minha mãe. Se eu falei que vou

deixar você e buscá-la, então, Bree, é exatamente isso que farei. —

As portas do elevador se abrem e eu a deixo passar, colocando

minha mão em sua cintura para guiá-la até meu carro.


Abro a porta e ela entra suspirando. Sei bem que ela quer

retrucar, mas permaneço calmo e centrado. Nós dois ficamos em

silêncio enquanto saímos do prédio, eu agradeço por isso.

— Onde? — questiono com os olhos fixos na estrada.

Quando Bree coloca o endereço no meu , eu freio o carro e

ouço buzinarem atrás de mim. — Que diabos?

— Não me olhe assim. Florence pediu para que eu fosse com

ela. Qual o problema? — questiona, irritada. Mordo meu punho e

volto para a estrada. — Sério, por que você agiu assim? Para

homens é normal ir à casa de prostituição, mas mulheres fazendo

isso é algo horrendo?

O clube onde ela vai é masculino e tem homens dançando e

até se prostituindo. É um dos vários voltado para o público feminino

e gay da cidade. Não acredito que ela vai até lá.

— Não agi de nenhum jeito. Se quer pagar por um pau, fique

à vontade. — Aperto o volante, completamente irritado. Foda-se se


ela vai ver e sair com algum desses homens. Não sou tão diferente,

afinal.

Uma chamada ecoa no carro e eu clico em atender, já

suspirando.

— Erick, você está atrasado — Andie murmura.

Eu reviro os olhos ao ver que só se passaram dois minutos

da hora que marquei de sairmos para jantar.

— Dois minutos, Andie, por Deus — resmungo e noto que

Bree se afasta, encarando a janela do carro. — Daqui a cinco

minutos estarei aí. Eu juro.

— O.k. Tudo bem. Estou te esperando. — Ela desliga e eu

me concentro em dirigir.

— Você não tem vergonha? Entrando no meu banheiro, se

insinuando e agora está deixando a mulher que está gerando seu

filho o esperando? — Bree questiona em meio ao silêncio, me

fazendo encará-la boquiaberto.


Erick me encara completamente em choque, e eu, bem, não

estou nem aí. Ele foi um cretino hoje no almoço, e quando cheguei,

eu me vi hipnotizada ao ver o carinho que ele tem pela mãe

enquanto ambos dançavam. Mais tarde eu só queria matá-lo. Erick

está se tornando um especialista em me transformar em uma

pessoa bipolar.

— A gravidez de Andie não foi planejada e eu não tenho

absolutamente nada com ela — ele responde, semicerrando os

olhos e acelerando o carro.

— Não. Só vão ter um filho. — Reviro os olhos.


Ele joga o carro para o acostamento e freia bruscamente, me

jogando para a frente.

— Erick, estamos atrasados!

— Se eu tivesse algo com Andie além do meu filho, pode ter

certeza de que eu não olharia na porra da sua direção. Eu sou

honesto e fiel. Quando eu tiver uma esposa, acredite, Bree Sawes,

nenhuma mulher vai chamar a minha atenção.

Eu quase gargalho e reviro os olhos novamente. É sério isso?

— Como você sabe? Deixe de ser condescendente, pelo

amor de Deus...

— Eu não me casarei até encontrar uma mulher que eu ame

mais que a porra do ar que eu respiro. Então, sim, eu sei — ele fala,

calmo e centrado.

Fico surpresa ao perceber mais uma coisa sobre Erick.

Ele quer o amor dos pais.


— Okay — respondo quando vejo que ele ainda está me

encarando e ainda estamos parados na via. — Você pode voltar a

dirigir? Eu quero pagar por um pau hoje — sibilo ironicamente.

Ele se inclina sobre mim, segurando minha cabeça para me

manter perto.

— Se quer um pau, me peça, Bree. O meu pode ser seu —

Erick declara antes dos seus lábios rastejarem sobre minha

bochecha e pairarem sobre minha boca.

— Nem se você fosse o último homem vivo na Terra —

murmuro contra seus lábios e estremeço sem perceber, ao sentir a

maciez da sua boca.

— Diga mais vezes e talvez você se convença. — Ele morde

meu lábio inferior e se afasta.

Erick dirige em silêncio – graças a Deus – até o lugar que

Florence está me esperando. Quando ele estaciona, eu abro a porta


e começo a sair rapidamente, mas as mãos dele seguram meus

quadris e me fazem sentar novamente.

— Meu pau vai estar bem aqui quando voltar. Me liga. — Ele

sorri em meu ouvido quando eu tremo. — Porra, Bree, estou

ansioso para ter você na minha cama.

Eu me afasto rapidamente, mas sua risada me alcança na

calçada. Depois de alguns minutos, encontro Florence e nós duas

entramos no local sorrindo.

— O que quer tomar? — ela questiona quando estamos no

bar.

Quando percebo que nossas cadeiras ficam próximas ao

palco, sinto meu colo esquentar ao me dar conta que um homem

dançará bem pertinho.

— Coca com vodca — peço e ela acena para a minha

escolha. Faz tempo que não bebo, mas hoje quero extravasar. É
sexta-feira e amanhã Poppy vai sair com os avós, é a minha deixa

perfeita.

Assim que nos sentamos com nossas bebidas, eu suspiro ao

ver vários homens vestidos com diferentes fantasias. Com Feel It

ecoando pelos alto-falantes, suspiro quando eles começam a se

mexer.

Os gritos de todas as mulheres, inclusive meus e os de

Florence, me causam dor de ouvido, mas não me deixo parar de

apreciar. São tão lindos, tão gostosos. Meu Deus. Quando um

bombeiro se aproxima, eu arregalo os olhos e ele pega na mão da

menina ao meu lado.

— Puta que pariu! — Assobio quando ele a leva para o palco

e a senta em uma das cadeiras que espalharam por ali. Há três no

total, e eu começo a suar frio. Eu gozaria sem sombra de dúvidas ao

ter uma dança dessas para mim.


— Me chama! — Florence grita, balançando a mão, então um

caubói se aproxima, pegando-a e se virando para mim. Meus olhos

se arregalam e Florence me puxa. Oh meu Deus!

Um policial se aproxima de mim e me põe sentada. Abro e

fecho minha boca quando ele passa as pernas por mim e se senta

em meu colo.

— Relaxe e curta, baby. — Sua voz é grave e sexy. Eu quero

gemer só de ouvi-lo, mas me recomponho antes de passar

vergonha. — Boa menina.

Ele tira a blusa e eu suspiro com a visão dos seus gominhos.

Puta que pariu, minha Nossa Senhora. Sua barriga é tão lisa e

gostosa quanto à de Erick. O quê? Não pense nele!, mando, irritada

e sorrindo para o homem. Ele pega minhas mãos e passa por sua

barriga, então rebola em cima de mim, roçando seu membro contra

meu corpo, me deixando com a boca seca.


— Vocês adoram excitar a gente e depois nos deixam ir para

casa brincar com nosso vibrador, não é? — questiono sobre a

música.

O homem ri tão forte que se esquece de dançar, então

seguro suas coxas e ele recomeça.

— Se quiser, eu posso ser seu vibrador hoje. — Ele pisca.

Suspiro ao me lembrar das palavras de Erick mais cedo. Eu

sorrio, mas não respondo. Assim que a música acaba e ele me

ajuda a voltar para o meu lugar, eu tremo quando ele não me solta.

— Eu falei sério — ele reforça.

— Quem sabe. — Beijo seu rosto.

O resto da apresentação é feita com os olhos dele voltando

aos meus e eu o acompanhando. Deus me ajude, mas estou

realmente considerando transar com o cara. Faz muito tempo que

alguém tocou em meu corpo. Nunca encontrei ninguém depois de

Kellan, eu estava focada em Poppy, mas agora eu me sinto pronta.


Erick surge em meus pensamentos, mas eu o empurro para

longe. É errado e imoral.

— Quero tequila. Vamos lá. — Florence me puxa em direção

ao bar e pede cinco copinhos da bebida para nós duas.

Ela sorri quando viramos o primeiro copo. Quando estamos

no último, eu sinto alguém se aproximar. Não deveria estar

surpresa, mas estou. O homem que dançou comigo se coloca ao

nosso lado com o que dançou com Florence. Os dois sorriem e

minha amiga cora.

— Eu sou uma puta por querer foder ele? — ela questiona

baixinho, encarando o cara.

Já bêbada, solto uma gargalhada. Florence parece

totalmente centrada, diferente de mim.

— Se você for, eu também vou. — Dou de ombros e ela

arregala os olhos, animada.


— Meninas. — Assim que os dois se aproximam, eu encaro o

rapaz moreno que me olha. — Mason e Noah — ele apresenta o

amigo.

Suspiro ao ouvir seu nome. Noah.

— Bree e Florence — minha amiga responde, sorrindo.

Mason vai até ela e fala algo em seu ouvido. Sinto meu

celular vibrar, e ao olhar para o aparelho vejo a mensagem de Erick.

"Estou aqui fora. Saia."

Mordo meu lábio e teclo uma resposta.

"Tenho carona. Não empate a minha foda."

— Bree? — Noah arqueia a sobrancelha e eu esqueço o

celular. — Nome bonito, baby.

— Obrigada. O seu também é lindo. — Sorrio, afetada,

quando ele segura meu cabelo. Seus lábios são finos e sua língua

passa por eles lentamente.

— Você é linda. Ninguém mais...


Ele se inclina, me fazendo suspirar quando seus lábios quase

alcançam os meus.

— Bree! — Sobressalto quando meu nome ecoa com raiva.

Nem preciso olhar para saber que é Erick. — Venha até aqui. Agora!

— Ele me fulmina com os olhos antes de Noah se afastar

rapidamente.

— Mulheres casadas loucas — ele murmura parecendo

irritado e começa a sair, mas eu o seguro.

— Não sou casada. Nem tenho namorado. Sou solteira —

murmuro rapidamente e suspiro com raiva quando minha língua

enrola.

— Ela está bêbada. Se eu fosse você, saía antes que eu

chame a porra do gerente e dê seu nome a ele.

Ao escutar Erick, Noah se solta de mim e sai andando, então

me viro para o meu cunhado e bufo, furiosa.

— Eu estava me divertindo! — grito, apertando minhas mãos.


Erick semicerra os olhos ao me encarar sem falar nada.

Reviro os olhos e respiro fundo, andando até Florence.

— Estou indo, querida. Obrigada pela noite. Você vai ficar

bem? — Beijo seu rosto quando ela se afasta da boca de Mason.

— Vou ficar bem. Te ligo amanhã.

— O.k. — Abraço-a e me afasto. — Diga a Noah que sinto

muito.

Saio andando em direção à saída e espero Erick destravar o

carro para eu entrar. Porém, ele se encosta no capô e fica me

encarando.

— Você está com raiva, Bree? — ele questiona sério.

Eu me viro para o encarar.

— Sim, Erick, estou. Eu realmente queria sair com o Noah.

Você arruinou isso — resmungo, balançando a cabeça, sem

entender o motivo de ele ter feito isso tudo.


— Um prostituto? É isso? Você quer tirar o atraso com um

garoto de programa?

— Sim, foda-se, eu quero. Ele é lindo, gostoso e eu tenho

certeza de que ele tem, pelo que senti quando ele dançou para mim,

um pau grande!

Erick abre a boca e se aproxima tão rápido que eu tropeço

nos meus pés quando vou me afastar. Caio contra o carro e ele me

prende com seus braços. Sua mão pega a minha e ele a leva até

sua calça jeans.

— Você já viu o meu, então nós dois sabemos que ele é

maior que a maioria. — Ele se inclina e morde minha orelha, me

fazendo gemer.

Aperto seu membro e suspiro, lambendo meus lábios. Sim, o

filho da puta tem um pau grande. Erick geme comigo e beija meu

pescoço.
— Eu não quero o seu, eu quero o de Noah — falo

suavemente.

A risada que Erick dá me faz gemer novamente.

— Fale mais vezes e talvez se convença. — Ele desce a mão

pelo meu vestido e sobe o tecido até estar acima das minhas coxas.

Seu corpo grande bloqueia a visão de qualquer pessoa. Quando sua

mão afasta minha calcinha de renda para o lado, encosto minha

cabeça em seu peito ao sentir seu dedo deslizar pelos lábios

escorregadios e encontrar meu clitóris. — Me fale, Bree, sua boceta

está escorregadia assim por causa do Noah? — Ele pressiona o

meu ponto dolorido e eu aceno, mas Erick tira as mãos de mim, me

fazendo arquejar. — Sério?

— Não, não. — Balanço a cabeça e seus dedos voltam.

— Por quem, então? — Um dos seus dedos desliza para

dentro de mim e eu suspiro, gemendo. Aperto seu pau entre meus

dedos e Erick grunhe, mordendo meu ombro.


— Você, seu demônio — resmungo, gemendo, então ele

introduz mais um dedo, me fazendo gemer mais alto. Ele aperta um

ponto dentro de mim e eu começo a tremer contra seus braços

fortes. — Meu Deus... — murmuro sem sentido e volto a acariciar

Erick.

Abro sua calça enquanto tento respirar e encontro seu pênis

duro e longo. Acaricio-o devagar e aperto enquanto Erick me fode

com os dedos.

— Goze, Pink. — Assim que ele pressiona meu ponto doce

por dentro e por fora, eu convulsiono contra seu corpo. Erick

pressiona seus lábios contra os meus para abafar meus gemidos e

eu derreto.

Não aprofundamos o beijo, só ficamos com os lábios colados

nos do outro até eu recobrar meus sentidos. Erick se afasta, e

depois de descer meu vestido para o lugar, fecha sua calça e abre a

porta, me colocando dentro do carro.


— Você pode esquecer que isso aconteceu? Por favor? —

peço assim que entramos em casa. O caminho até aqui foi feito em

silêncio. Encarar a casa dos meus sogros me fez entender o que fiz.

Jesus Cristo, eu sou uma porca.

— Você quer que eu seja seu segredo sujo, Bree? — Erick

questiona, subindo a escada enquanto eu o sigo de perto.

— Erick, você sabe que isso foi errado da nossa parte. —

Tento organizar meus pensamentos, por mais que eu saiba que a

bebida já saiu dos meus neurônios.

Ele entra em seu quarto e fecha a porta na minha cara.

Mordo meu lábio e me afasto para ver Poppy. Ela dorme como um

verdadeiro anjinho, por isso apenas arrumo seu cobertor e saio do

quarto.

Tiro meus sapatos assim que entro em meu quarto e sinto

minha barriga embrulhar quando me sento na cama. Ando para o


banheiro e confiro se Erick não está antes de cair de joelhos e

vomitar. Bem, parece que a bebida ainda está aqui.

Sinto mãos prenderem meu cabelo e sei que é Erick. Termino

de vomitar e me ergo, indo para a pia. Escovo meus dentes e vejo o

reflexo dele atrás de mim. Seus braços estão cruzados, e seu rosto,

impassível. Sinto meu estômago revirar novamente, mas dessa vez

não tem nada a ver com a bebida que ingeri.

— Você está bem? — ele questiona devagar, então aceno.

Ele acena também e vai para seu próprio quarto, me deixando

sozinha.

Eu me deito em minha cama e suspiro, encarando a porta do

banheiro. Não sei se eu estou ficando louca ou se a bebida está me

deixando mais estúpida do que o normal, mas eu quero que ele abra

a porta e venha dormir comigo.

E fico desejando isso cada segundo da noite.


4 SEMANAS DEPOIS

Checo meu vestido rosa-chá no espelho mais uma vez e

solto um suspiro satisfeito. O decote é profundo e uma pala grande

vai de debaixo dos meus seios até bem perto do umbigo, me dando

mais cintura do que eu já tenho. Balanço a saia, que é longa e

rodada, e sorrio ao ver a sofisticação. As alças começam grossas

nos meus seios e em volta do pescoço são bem fininhas. Vejo

minhas costas nuas da pala para cima quando me viro no espelho.

Pego em meu cabelo, que está enrolado e preso apenas de

um lado. Meus lábios pintados com rosa-queimado se esticam e eu

sorrio para mim mesma. Estou linda.


— Pronta?

Eu me viro e encontro Jolie na porta do quarto. Seu vestido é

vinho e longo. Mas bem mais comportado que o meu.

— Sim. Você está linda — murmuro, fazendo-a sorrir em

gratidão.

— Você, sim, está esplêndida — elogia antes de sairmos do

quarto.

Ouço a risada de Poppy enquanto descemos a escada. Drew

está com Aidan ao seu lado, enquanto Reinald está com seu

assessor de imprensa. A campanha dele começou há uma semana

e os eventos começaram a surgir. Hoje é um deles.

Eu me viro para a risada da minha menina, que ecoa

novamente, e suspiro quando a vejo nos braços de Erick. Ela está

com um vestido da mesma cor que o meu, parece uma princesa.

— Uau, querida, você está deslumbrante. — Drew beija

minha bochecha.
Sorrio e chamo Poppy.

— Mamãe — ela arregala os olhos e se aproxima, pegando

em meu vestido, completamente admirada —, você parece uma

princesa Barbie. — Ela sorri ao constatar isso e se vira para as

pessoas. — Não é? Ela parece muito.

— Sim, querida — todos respondem, concordando.

Ela então se vira para Erick, colocando as mãos nos quadris.

— Você não acha, tio Erick?

Sua pergunta faz todo mundo encarar Erick, até eu. Ele está

com um terno preto novamente, mas a blusa de dentro é branca. A

peça agarra seu peito e braços, me fazendo suspirar.

— Sim, princesa. Sua mãe está linda — ele fala suavemente

enquanto me encara. Somente engulo em seco antes de acenar em

agradecimento.

Saímos de casa em carros separados, porém com

seguranças nos seguindo. Drew está no carro de Aidan, enquanto


Poppy e eu vamos com Erick. Reinald e Jolie foram em um carro

com seguranças dentro e o assessor.

— Mamãe? — Poppy chama na parte de trás, na cadeirinha.

— Minha professora quer namorar o tio Erick. A senhora sabia? —

ela questiona rindo.

Desvio a minha atenção de Poppy para Erick.

— Não é nada disso, Poppy. Sua professora é educada e eu

também — ele responde, sorrindo para a minha filha.

Os dois estão mais próximos. No dia da festinha dos pais,

Poppy chegou à casa radiante. Ela disse que seus amiguinhos

amaram seu tio. Erick passou a buscá-la todas as sextas para eles

saírem juntos. Drew também vai com eles, só deixei porque ela

pediu muito.

— Sério? O que acha, Poppy? Tio Erick e Olívia dariam

certo? — questiono, olhando para a frente.

Erick aperta o volante enquanto ouço minha filha rindo.


— Não sei. Ele não olha para ela de um jeito apaixonado.

Abro a boca e Erick franze o cenho, encarando-a pelo

retrovisor.

— Como é que é, mocinha?

— Sim, você não olha para ela do jeito que ela te olha —

Poppy resmunga, entretida com uma boneca, sem nem mesmo

encarar a gente.

— Como é esse olhar apaixonado, Poppy? — questiono

rindo, notando que Erick está superdesconfortável. — Parece que

você é especialista no assunto...

— O jeito que ele olha para você.

Paro de rir na mesma hora e Erick fica estático, prestando

atenção no trânsito. Eu não o encaro, apenas me viro para a minha

filha e lhe dou um sorriso tenso.

— É porque somos família, querida. A gente olha assim para

as pessoas da nossa família, entende? — Tento controlar meu


nervosismo e manter minha voz firme.

Poppy arregala os olhos e acena, parecendo compreender.

Minha filha muda de assunto, e vez ou outra eu a respondo.

Enquanto Erick fica calado o restante do caminho, eu fico com

minha barriga revirando. Droga.

Passei essas semanas longe dele, tentando manter minha

cabeça no lugar e meu corpo também, óbvio. Porém, existe uma

linha tênue que fica puxando minha atenção para ele. Eu o procuro

na mesa de jantar, na floricultura, em todos os cantos. É insano e

imoral, mas é o que é. Eu não posso mudar, e, pensando bem, não

sei se mudaria se pudesse.

Desço do carro assim que o segurança abre a porta. Seguro

a mão de Poppy e Erick se coloca ao nosso lado enquanto

esperamos seus pais. Assim que os dois saem do carro em que

vieram, nós caminhamos para a entrada da festa.


Jornalistas começam a fazer perguntas a Reinald, e ele,

simpático como é, responde cada uma delas. Todos sorriem para as

câmeras e eu suspiro apaixonada quando Poppy faz pose para as

fotos.

— E quem é a mulher ao lado? — um deles pergunta.

Reinald sorri para mim, caloroso.

— Mãe da minha neta. Uma filha, posso dizer.

Meu coração dolorido aperta assim que escuto suas palavras.

Emocionada, sorrio agradecida.

— Sr. MacGregor, você pensa nos eleitores conservadores?

Com um filho gay, a simpatia deles não está a seu favor — um

homem fala de supetão.

Eu o procuro entre as pessoas, porém não encontro. Encaro

Drew e ele está sorrindo como se não tivesse ouvido.

— Aos eleitores conservadores eu digo somente uma coisa: o

filho é meu e nada do que eles pregam me faria mudar meu menino.
Ele é feliz e eu estou feliz com a felicidade dele. Infelizmente, nem

todos pensam assim e eu compreendo, porém peço respeito. De

todos. — Reinald se vira e nós entramos na festa sem responder

mais nenhum questionamento.

— Pai, obrigado. — Drew sorri, beijando o avô de Poppy.

— Não agradeça, Drew. — Reinald encara o filho. — Eu amo

você. Não se agradece amor. — Os dois apertam as mãos e se

abraçam.

Minha garganta fecha com emoção e novamente me sinto

uma idiota por ter mantido Poppy longe da sua família. Agora eu sei

que se algo me acontecer, minha filha terá avós incríveis a

apoiando. Ela é muito sortuda.

Nós nos encaminhamos para uma mesa e ficamos nela por

um bom tempo. Depois de jantarmos, Reinald faz seu discurso,

onde todos param para escutá-lo. É nítido que ele vai ganhar as

eleições. As pessoas o admiram e as pesquisas estão a seu favor.


— Me daria a honra? — Drew estende a mão para mim e eu

a seguro, me erguendo em seguida.

Poppy sorri para mim e eu lhe envio beijos, deixando-a com

sua avó.

Drew me leva para a pista de dança e se balança comigo

para lá e para cá. Ergo meus olhos para o encarar e o encontro

sorrindo.

— Vocês não enganam ninguém. Nossa, Erick parece que vai

te comer com os olhos — Drew murmura. Eu tento me afastar,

porém ele me segura contra seu peito com mais força. — O quê,

Bree?

— Não está acontecendo nada. Não insinue isso

novamente...

— Não minta para mim — ele pede.

Mordo meu lábio inferior, sentindo meu peito acelerar.

— Ele me atrai. Só isso — resmungo, enfim, e Drew sorri.


— Saiam, conversem. Se relacionem. Vocês parecem se

odiar muito, mas eu sei que onde tem ódio tem amor. — Ele pisca

para mim e eu franzo o cenho. — Experiência própria, meu amor.

— Você só pode ter enlouquecido. Ele é meu cunhado.

Somos família. Isso é errado...

— Como eu e Aidan? — Drew me interrompe.

— Não, é claro que não. — Eu ofego, balançando a cabeça.

— Vocês se amam, são livres e desimpedidos. Erick é meu

cunhado...

— Ele não é seu cunhado. Kellan morreu. Acabou — Drew

afirma, me encarando sério pela primeira vez desde que o conheci.

Respiro fundo, sentindo meu estômago dar um nó.

— Com licença. — Escuto uma voz ao lado e Drew se afasta

um pouco para encarar o homem que fala. — Posso roubá-la um

pouco? — Eu franzo o cenho, mas Drew já está acenando e

sorrindo ao me entregar ao homem.


— Hum, oi — murmuro incerta antes de olhar para Drew, que

vai saindo em direção à nossa mesa.

Meus olhos focam em Erick e me surpreendo ao ver Andie ao

seu lado. Os dois sorriem e a mão dele está acariciando a barriga

dela.

— Oi, sou Ryan. — O homem sorri quando nos olhamos.

Suspiro e lhe dou um sorriso também. — Peço desculpas pela

indelicadeza. Meus amigos estavam me atentando para dançar com

alguém e disseram que você não olharia em minha direção duas

vezes.

— Uma aposta, então? — questiono, relaxando.

Ele pensa por um momento e, em seguida, faz beicinho.

— Culpado. — Seus ombros se erguem e eu sorrio ao

acenar. — Você é muito linda. — Sua voz baixa e eu encaro seu

rosto limpo de barba. Seus olhos são verdes e o cabelo é tão loiro

que parece branco.


— Não deixe seus amigos baixarem sua bola. Você é lindo

também — falo suavemente.

Ele me gira, fazendo com que eu ria mais alto do que deveria.

Sua mão volta para minha coluna antes de nos balançarmos ao som

da música.

— Ganhei meu mês, certamente. — Ele me faz rir novamente

e começa a contar o que está fazendo aqui. — Minha empresa

apoia Reinald. Estamos confiantes que ele vai se eleger.

— Certamente irá. Ele é um homem incrível e honrado. —

Sorrio ao falar dele. Sinto orgulho do meu sogro.

— Então o conhece? — Seus olhos encontram os meus.

— Sim — aceno —, ele é avô da minha filha — explico.

Sorrindo, o homem se afasta um pouco, pelo menos até

erguer os olhos e ver algo além de mim.

— Erick — ele cospe, parecendo odiar o nome, então me viro

soltando o homem.
Erick está de pé na minha frente, mas seus olhos não

encontram os meus. Sua atenção está em Ryan, nome pelo qual o

homem se apresentou.

— Ryan. Quanto tempo — Erick fala com seriedade.

Ryan lhe dá a mão em cumprimento, então apertam a mão

um do outro, mas nenhum dos dois solta.

— Não ficarei tanto tempo afastado agora. — Ele olha para

mim e eu sorrio sem mostrar os dentes.

— Vejo que fez mais uma plástica. O nariz não vai voltar ao

que era antes, isso é certo. — Erick grunhe perto de mim.

Ryan semicerra os olhos, parecendo furioso.

— Volte a tocar em mim e você verá o que acontece...

— Volte a se aproximar do que me pertence e você verá o

que acontece. — Erick se aproxima do homem e dá um sorriso frio.

— Na próxima eu quebro algo além do seu nariz.


— Erick — chio, arregalando os olhos, antes de ele segurar a

minha cintura. — Desculpe, Ryan. Ele não quis...

— Eu quis, sim. Agora vamos — Erick fala de maneira firme e

furiosa, me fazendo sair da sua posse raivosa. — Bree, não me

teste.

Passo por Ryan e ando em direção aos banheiros. Entro no

feminino e agradeço aos céus por estar vazio. Eu me aproximo da

pia e lavo minhas mãos, enquanto mordo meu lábio sem entender o

que diabos aconteceu.

— É incrível o quão teimosa você é. — A porta se abre assim

que a voz ecoa pelo local. Finjo que não ouvi enquanto seco minhas

mãos. — Bree, Ryan é um imbecil. Eu te fiz um favor...

— Sim. Fale mais vezes e talvez convença a si mesmo. —

Jogo as palavras que ele sempre usa contra mim de volta e caminho

para a porta, querendo sair, mas Erick nem se mexe.


— Você o queria? É sério? — Erick ergue a sobrancelha e

cruza os braços, se encostando na porta.

— E se eu quisesse, Erick? — questiono, colocando as mãos

nos meus quadris. — Você não tem que “cuidar” de mim ou fazer

favores — digo com seriedade e ele sorri, dando um passo em

minha direção. — Pare agora com isso. Estamos com sua família,

minha filha está lá fora.

— Com o quê, Bree?

— Você estava com ela momentos atrás. Como pôde deixar

Andie sozinha e vir atrás de mim? — questiono, sentindo o ciúme

me corroer.

Erick me leva até o limite, até a borda, e eu odeio não saber

se vou cair ou conseguir escapar. É aterrorizante e eu detesto cada

segundo.

— Andie não é nada minha, eu já cansei de falar essa porra

para você. — Ele se aproxima até minha bunda colidir contra o


balcão.

— Não parecia quando olhei — murmuro.

Ele se inclina e ergue meu queixo. Assim que seus olhos

escuros encaram os meus, sinto meu coração bater violentamente.

Erick respira contra meus lábios, e contra tudo que eu

acredito, sinto meus pés se erguerem até minha boca alcançar a

sua, fazendo nossos lábios estarem colados. Pela primeira vez, eu

sinto o gosto dos seus lábios quando enfim nossas línguas se

misturam e duelam pelo controle da boca um do outro.

Meu ventre treme e Erick me segura apertado contra ele.

Deslizo minhas mãos pelos seus braços e as paro contra seus

ombros e rosto, enquanto gemidos ecoam pelo banheiro. Erick

suspira quando eu, enfim, me afasto.

Nós nos encaramos por alguns segundos e ele sorri, beijando

minha testa em seguida.


— É o que é, Pink — ele responde minha última fala e segura

meu queixo com firmeza para que eu o olhe. — Já falei, Andie não é

nada para mim além da mãe do meu filho. Só isso...

— Erick!

Nós nos afastamos rapidamente quando a própria está de pé

perto da porta, nos encarando. Oh meu Deus! Quando noto seus

olhos cheios de lágrimas, eu respiro fundo tentando não me sentir

culpada por ver a dor em suas íris.

— É por causa da Bree? É por isso que não quer ficar comigo

e com o nosso filho?

Eu me sinto culpada e o meu coração dá um pulo. Porém, eu

sei que não tenho culpa aqui. Não é mesmo?


— Andie, nós dois sabemos que ela não tem nada a ver com

isso — Erick responde firmemente, andando até a mulher.

Eu quero sair daqui, mas é impossível, já que ela está no

meio da única saída. Tento reprimir até a minha respiração para não

chamar sua atenção para mim, mas é impossível. Logo, Andie me

encara.

— Eu estou grávida. Você não poderia ter escolhido qualquer

outro homem? — ela questiona, tremendo.

— Bree não tem nada a ver com isso, já falei. — Erick segura

seus braços, fazendo-a encará-lo. — Não estamos juntos, Andie.

Nunca estivemos. Não significa nada. Você sabe disso.


Eu quero dizer que não senti nada, mas senti. Meu coração

foi cortado ao meio e eu nem consigo mensurar a dor.

— Com licença — peço, andando até a porta.

Andie dá um passo para o lado, me dando passagem ao virar

o rosto e nem mesmo me encarando.

Saio do banheiro e não olho para trás. Caminho até minha

filha, que está dançando com Drew, e a pego nos braços.

— Sinto muito, estamos indo — murmuro para Drew, então

ele nos segue até a mesa, completamente confuso. — Tem algum

problema eu ir embora, Reinald? — questiono com um sorriso no

rosto, mascarando a dor que estou sentindo.

— Claro que não. Já está acabando — ele responde

calmamente.

— Aconteceu algo, Bree? — Jolie pergunta.

Aidan, Drew e Reinald me encaram, esperando a resposta.


— Nada. Só estou com dor de cabeça — murmuro e Poppy

começa a fazer massagem em minhas têmporas.

Saímos do local ao lado de Drew, que chama um táxi

rapidamente. Ele beija minha filha e eu beijo seu rosto,

agradecendo-o.

— O que aconteceu de verdade, Bree? — Drew questiona

quando Poppy entra no carro e se senta.

— Pergunte ao seu irmão. — Eu me afasto e entro no carro,

dando o endereço ao motorista em seguida.

Quando chegamos ao apartamento, está tudo silencioso. Eu

vou para o quarto de Poppy e a ajudo a tirar seu vestido e os

grampos que prendem seu cabelo no alto da cabeça. Dou seu

banho e a ajudo a se deitar.

— Bons sonhos, doce Poppy. — Deitada ao seu lado, beijo

seu rosto e ela beija meu nariz.

— Bons sonhos, doce mamãe.


Minha filha adormece tão logo responde. Não me levanto até

ouvir a porta ao lado fechar. Eles chegaram. Entro em meu quarto e

me deito ainda vestida. Não tenho paciência ou ânimo para tirar a

maquiagem, por isso apenas me jogo na cama e fico me revirando

nela. Com os olhos fechados, ouço quando a porta do meu banheiro

é aberta. Tento relaxar, fingindo que adormeci.

— Sei que está acordada. — Erick sobe em minha cama e se

deita atrás de mim. Ele envolve minha cintura com seu braço, mas

eu me afasto.

— Saia do meu quarto, Erick — mando, me erguendo.

— Por quê? — Ele coloca a mão atrás da cabeça e me

encara. Seu peito está nu, ele está com nada além da calça que

vestiu mais cedo.

— Como assim, por quê? — Eu o encaro sem entender o que

ele está tentando fazer. — Você me beijou e depois...

— Você me beijou, Bree — ele faz questão de me lembrar.


Suspiro e solto uma risada.

— E você não correspondeu? — questiono sarcasticamente

enquanto Erick se senta na cama e me observa.

— Vem aqui. — Ele aponta para o espaço entre as suas

pernas, mas eu balanço a cabeça, ainda rindo.

— Não estamos juntos. Nunca estivemos. Não significa nada.

— Jogo suas palavras de volta e ele arqueia a sobrancelha

espessa. — Você falou isso. Me fez me sentir menos que nada,

Erick.

— Eu estava falando sobre Andie. Sobre ela, Bree. Eu e ela

nunca estivemos juntos. Ela engravidou na única vez que

transamos, pelo amor de Deus — ele fala pausadamente. — Vem

aqui, Bree.

Eu vou. Não faço ideia do motivo que me faz ir até ele, mas

vou como uma gata sedenta por carinho e atenção.


— Não quero estar no meio disso, Erick. É demais. Ela ama

você — resmungo até parar na sua frente.

— Eu sinto muito pelo sentimento não ser recíproco. — Ele

aproxima o rosto até meu pescoço e respira profundamente.

Com minha cabeça em névoa e eu suspiro contra suas mãos,

que seguram minha cintura. Uma delas sobe pelo meu braço,

espalhando arrepios, até chegar ao meu rosto. Seus lábios tocam os

meus devagar e, mesmo que Andie esteja em meus pensamentos,

nada me fará não retribuir o beijo. Sua língua pede passagem por

meus lábios e abro minha boca para o receber. Erick envolve minha

cintura com o braço e me puxa para a cama. Caio em cima dele e

seguro seu rosto, chupando seu lábio inferior.

As mãos dele apertam minha bunda e eu suspiro contra sua

boca. Passo as mãos pelo seu tórax e gemo, sentindo meu clitóris

pulsar. Eu me sento sobre Erick, afastando nossos lábios, e solto as

alças finas do meu vestido. Meus seios doem, e Erick pega um,
amassando a carne entre seus dedos. Não me envergonho de não

ter peitos firmes. Dei de mamar à minha filha por três anos, é normal

eles terem caído um pouco.

— Porra. — Erick geme e se inclina para cima, pegando meu

mamilo na boca. Sua língua faz movimentos circulares e eu arquejo,

dando a ele mais liberdade. Sua mão esquerda segura o outro e

seus dedos brincam com o mamilo. — Se levanta. Quero tirar o seu

vestido — sua voz rouca me ordena, então faço o que foi dito

rapidamente.

O vestido desliza pelas minhas pernas assim que Erick desce

o zíper que está na parte inferior da pala.

— Sem calcinha, Bree? — Ele arqueia a sobrancelha e eu

dou de ombros. Erick me puxa pelos quadris e me faz sentar em seu

colo, com as pernas abertas, ao lado da sua cintura. Ele nos vira e

eu suspiro quando minhas costas batem no colchão.


— Eu sonhei que comia sua boceta tantas vezes, Bree — ele

resmunga, descendo por meu corpo e pairando entre minhas

pernas.

— Erick... — murmuro seu nome gemendo.

Ele sorri ao me encarar. O filho da puta ama isso. Seus dedos

abrem os lábios da minha boceta e ele chupa meu clitóris em sua

boca. Quando meu grito corta o ar, eu coloco as mãos sobre minha

boca, temendo acordar os outros. Sua língua desliza pelas minhas

dobras macias, me fazendo ver estrelas. Ele prende minhas pernas

sobre o colchão com as mãos enquanto continua me torturando.

— Porra, Pink. Eu sabia. — Ele beija minha boceta e sorri

com os lábios cheios molhados.

— O-o quê, Erick? — questiono, sem fôlego, sentindo seus

dedos me invadirem.

— Que seria rosa aqui embaixo. — Ele ri quando franzo o

cenho, porém esqueço o que ele fala quando seus dedos se curvam
e encontram meu ponto doce.

— Oh meu Deus! — grito assim que puxo seu cabelo e ele

abocanha meu clitóris mais uma vez, ao mesmo tempo em que

pressiona por dentro, me levando ao clímax.

Saio do meu desmaio devagar vendo Erick se erguer para

tirar sua calça e cueca. Minha boca saliva e eu me sento, querendo

levá-lo à boca. Senti necessidade disso desde que o vi nu a primeira

vez.

— Vem, Pink — Erick chama.

Eu me ajoelho diante dele e seguro seu membro, engolindo

em seco antes de o levar até meus lábios. Lambo sua pele devagar

e sorrio quando Erick grunhe e segura meu cabelo. Relaxo meu

maxilar e enfio mais, até começar a sentir sua cabeça em minha

garganta. Erick fecha os olhos e morde o lábio, e isso me faz chupá-

lo e engolir com mais força. Assim que ele começa a tremer. Ele

tenta me afastar, porém não permito, agarro sua bunda e continuo


chupando. Logo sinto o jato de sêmen na minha garganta e engulo

tudo rapidamente.

— Foda-se, Pink, você nasceu para me chupar — ele

resmunga ainda aéreo.

Corada e sorrindo, eu me ergo e Erick me pega nos braços.

Ele me coloca sobre a cama e beija do meu pescoço até meus

seios. Sua boca se entretém enquanto eu guio seu pau para dentro

de mim. Arquejo com a pressão e relaxo, levando tudo de Erick.

— Porra, como é possível sua boceta ser tão apertada? —

Erick grunhe, franzindo a testa. Tento inutilmente relaxar quando me

sinto totalmente preenchida. Ele se retira e entra novamente

enquanto eu ofego, tremendo de prazer. — Não cubra seus peitos,

Pink. Quero vê-los pulando enquanto fodo você.

Elevo meus braços e Erick segura minha cintura, guiando seu

membro para dentro de mim com força. Enrolo minhas pernas em


sua cintura, mas ele as tira e me faz mantê-las abertas enquanto me

fode com tanta força que gozo em poucas investidas.

— Erick...

Ele brinca com meu clitóris e eu ofego, pois já está muito

sensível.

— Mais um, Pink. — Ele se inclina e leva meu mamilo à boca

novamente.

Eu aperto seu pau, gozando novamente, e o sinto gozar

comigo.

Assim que Erick cai sobre mim, eu sorrio e afasto seu corpo.

Ele se deita ao meu lado e eu mordo meu lábio, deitada de frente

para o seu rosto.

— Você me estragou, Pink. Não tem a porra de uma noite da

minha vida que não estarei dentro de você — ele fala sério.

Ficamos em silêncio por alguns minutos antes de Erick se

erguer, vestir sua cueca e colocar a calça sobre os ombros.


— Você toma pílula? — ele questiona, parecendo se lembrar

só agora que entrou em mim sem proteção. E eu não o julgo, fiz o

mesmo.

— Não. — Ele arregala os olhos e eu me sento, pegando

meu lençol e cobrindo meus peitos. — Eu tomava injeção, mas parei

há um tempo. Vou comprar pílula do dia seguinte amanhã, não se

preocupe — falo devagar.

Erick acena, parecendo relaxar.

— O.k. Eu vou... — Ele aponta para a porta do banheiro que

dá acesso para o seu quarto. Ele sai sem outra palavra, e por mais

que eu concorde com sua volta para o seu próprio quarto, não

imaginava que seria tão rápida.

No dia seguinte é domingo e Jolie com Reinald viajam pela

manhã para um evento em outra cidade. Sr. MacGregor está


concorrendo ao cargo de governador e agora vai ser difícil vê-lo em

casa.

Florence chamou a mim e Poppy para irmos a um parque

aquático, é claro que aceitei. Arrumo meu biquíni no pescoço

enquanto me olho no espelho. O short jeans mostra minhas pernas

e o top solto deixa meu umbigo visível. Fico momentaneamente

pensando nessa escolha, mas balanço a cabeça, sabendo que não

tenho tempo. Poppy desceu para comer antes de mim, mas já está

arrumada.

— Bom dia, Cass! — cumprimento a governanta da casa que

conheci nos primeiros dias aqui e ela sorri. — Oi, querida. — Beijo o

cabelo de Poppy.

Ela mastiga por alguns segundos um pedaço de maçã e

depois sorri.

— Bom dia, mamãe. Cass fez um bolo de chocolate e me

pediu para perguntar a senhora se posso comer um pedacinho. —


Ela mostra quão pequeno será o pedaço, juntando dois dedos, me

fazendo sorrir e acenar.

As duas somem para a cozinha e eu me sento, pegando

torrada e ovos para comer. Ao ouvir passos na escada, encho minha

boca com ovos, evitando conversar com o homem que aparece

segundos depois.

— Bom dia — Erick saúda e eu aceno, mastigando

lentamente. Seus ternos caros deram lugar a uma calça jeans

apertada e blusa de manga longa cinza.

Ficamos calados enquanto comemos e eu relaxo quando

enfim acabo. Eu me ergo e peço licença, mas não deixo de notar

quando Erick desce os olhos por meu corpo devagar.

— Poppy, vamos? Suba para escovar os dentes, por favor —

elevo a voz e ando para fora da sala de jantar.

Poppy cumprimenta o tio com um beijo no rosto e sobe a

escada ao meu lado. Pego minha bolsa depois de escovar os


dentes. Descemos rapidamente e logo estou na frente do elevador,

chamando-o.

— Mãe, o tio Erick não pode ir também? — Poppy questiona

assim que Erick aparece na sala e dá de cara conosco esperando o

elevador.

— Não, querida, é um passeio de meninas. — O elevador

chega na hora e eu entro, puxando minha filha em seguida.

Eu me viro para apertar o botão e encontro o homem

incrivelmente lindo e delicioso de pé, braços cruzados e olhar fixo

em mim. Seus olhos claros estão frios, distantes, e eu sinto um

arrepio percorrer meu corpo, do dedo do pé aos fios de cabelo na

minha cabeça.

Nós nos odiamos.

Desde o momento em que pus os olhos nele eu senti raiva.

Pura e simples. Mas dizem as más línguas que o ódio e o amor

andam de mãos dadas. Separados por uma linha tênue.


Olhando em seu mar azul-escuro, eu imploro para que essa

linha seja forte o suficiente para manter meu coração intacto.


Assim que entro no carro, depois de colocar minha filha na

cadeirinha, meu celular vibra e eu abro a mensagem ao ver o nome

de Erick.

"Para onde vai?"

"Por quê?"

Envio de volta e dirijo até o endereço que Florence me

mandou ontem pela manhã. Quando estaciono, eu pego o celular e

suspiro ao ver seis mensagens de Erick.

"Porque eu quero saber."

"Responde."

"Você está me ignorando?"


"Por que eu não podia ir junto?"

"Vou estar aqui quando voltar, você sabe, né?"

"Que inferno, Bree, me responde!"

Eu sorrio, balançando a cabeça e digitando uma resposta

rápida.

"Estou em um parque aquático. Florence me convidou

ontem. É só isso? Tchau."

Guardo o celular e saio do carro com Poppy. Caminhamos e

logo me encontro com Florence e sua irmã. Passo o dia vendo

Poppy e os sobrinhos de Florence se divertirem. Meu coração incha

de amor cada vez que minha filha ri e me chama para brincar junto.

Assim que voltamos para a casa, mais tarde do que eu

pensava chegar, vejo Drew na sala com Aidan e Andie. Engulo em

seco quando a encaro, mas seus olhos estão em Poppy, não em

mim.
— Olá — saúdo enquanto Poppy corre para Drew e se joga

em seus braços.

— Oi, Bree! Como vai? — Aidan sorri.

Eu aceno, dizendo que estou ótima.

— Poppy, não suje seu tio, por favor — peço, elevando a voz.

Minha filha se desculpa e se afasta. Ela estava comendo

hambúrguer no carro, está toda suja de molho. Sorrio quando ela

volta para perto de mim.

— Quem é você? — a voz suave de Poppy ecoa enquanto

encara Andie.

Eu me aproximo até estar rente ao corpo da minha filha e

coloco a mão sobre os ombros dela.

— Essa é a minha irmã... — Aidan começa, mas Andie o

interrompe, alegremente.

— E mãe do seu priminho. — Ela acaricia a barriga redonda

enquanto encara a minha filha e depois me olha diretamente. —


Não é, Bree?

— Mãe? Priminho? Como assim? — Poppy se vira confusa,

então me abaixo até ficar de joelhos na sua frente.

— O tio Erick vai ter um filho. Ele vai ser seu priminho,

entende? — Minha filha franze as sobrancelhas e seus olhos se

enchem de lágrimas. — O que foi, querida? — questiono e ouço

Erick se aproximar.

— Ele vai ter um bebê. Ele não vai mais ser meu papai.

Meu coração se aperta quando um soluço parte sua voz.

— Mas ele não é seu pai, Poppy... — Andie declara.

Se eu pudesse, eu me ergueria só para enfiar a cara de

Andie no chão. Ela para de falar assim que Aidan a belisca.

— Baby, olhe para mim. — Eu me forço a esquecer Andie e

murmuro no meio da sala, com todo mundo encarando nós duas. —

Seu papai está no céu. Nós já falamos sobre isso, o meu papai está

lá também, e tudo bem...


— Ei, princesa. — Erick pega minha filha em seus braços e a

faz olhar diretamente para os seus olhos.

Cruzo meus braços e encaro Andie, sentindo minhas mãos

se apertarem. Por que ela falou isso, assim, de repente? Ela arqueia

a sobrancelha, me testando, e eu juro que a vontade de estapear

seu rosto cresce dentro de mim.

— Eu sou seu papai. Hum? — Erick fala para a minha filha.

— O que conversamos? Papai e filhinha. Não importa se não sou o

biológico, aquele que te expliquei no outro dia, eu sou o papai do

coração. O Archie vai ser seu irmão. Você vai cuidar dele, o.k.? Ser

responsável e tal, já que é a mais velha.

— Erick! — Eu me viro, semicerrando os olhos ao ouvir cada

palavra.

O que diabos ele falou? Vou matá-lo. Como ele fala algo

assim para Poppy, e ainda na frente dos outros? Ou pior, eles já


conversaram sobre isso e minha filha, ou ele, nunca tocaram no

assunto.

— Eu vou cuidar do Archie. Eu juro. — Ela beija os dedinhos,

prometendo enquanto ele me encara sério. Deixo essa conversa

para depois que Poppy adormecer, pois tenho certeza de que vou

matar alguém.

— Vamos, Poppy, vamos tomar banho. — Pego-a dos braços

de Erick e caminho em direção à escada.

Minha filha fala sobre Archie, seu irmãozinho, várias vezes.

Eu prevejo uma dor de cabeça tão grande por causa desse assunto,

porque se Erick acha que isso vai ficar assim, ele está enganado. E

o pior é saber que Andie, em hipótese alguma, deixará Archie perto

de mim ou Poppy. Tomo banho também e logo me deito com Poppy

para assistirmos a Moana, sua personagem favorita da Disney.

Saio do seu quarto quando ela adormece e o filme acaba.

Desço a escada e suspiro ao ver que Drew ainda está aqui. Andie,
Erick e Aidan com certeza estão pela casa.

— O que foi aquilo? — questiono a ele, que ergue as mãos e

balança a cabeça.

— Eu não sei. Andie não fez por mal também. Não sabíamos

que a Poppy é tão apegada paternalmente ao Erick. — Drew franze

as sobrancelhas ao me responder.

— Que surpresa! Eu também não! Porém eu não me importo

se foi inocentemente, o que eu sei que não foi, ninguém faz a minha

filha ficar magoada e insegura com si mesma. Nunca! — falo,

completamente séria.

Drew acena, passando a mão pelo cabelo, mas para ao ver

alguém atrás de mim.

— Me desculpa, Bree. Eu pensei que sua filha já tinha

superado o fato de ter perdido o pai. Já que faz um tempo e ele era

uma pessoa ruim...


— Você está se ouvindo? — Eu me viro para encarar Andie e

ela cruza os braços. — Ela tem cinco anos. Cinco anos. Ela não tem

quinze, Andie. Ela é uma criança e não sabe o que o pai fez para

nutrir raiva ou qualquer sentimento contrário. Ela o amava

loucamente. Ele era o mundo dela, então, não, ela não superou a

morte do pai, que faleceu há exatamente um ano e cinco meses.

Não importa a porra do tempo, essa é uma perda que não se supera

— digo com firmeza, olhando para seu rosto presunçoso.

— Bree, se acalme — Aidan pede, vindo em minha direção,

mas eu me esquivo do seu toque focada em Andie.

— Você vai ter um filho, vai saber que estou falando a

verdade. Não aceitamos que magoem nossos filhos. Você pode

suportar tudo, menos que alguém faça seu bebê ficar triste —

murmuro alto o bastante para ela escutar.

— Bree, fica calma, caramba. — Erick aparece e anda até

mim, tentando me segurar.


— Não me toque! — Eu me afasto dele e seu rosto confuso

me dá nos nervos. — Estou esperando você no meu quarto. Vamos

ter uma conversa séria, Erick. O que fez... meu Deus, eu quero

matar você...

— Ele não vai para o seu quarto, ele vai me levar para casa e

dormir comigo. — Andie entra na minha frente.

Eu respiro fundo, semicerrando os olhos. É sério isso? Tem

que ser uma pegadinha dos infernos, porra!

— Você pensa que estou concorrendo com você, Andie?

Você acha que vou cair no tapa ou imagina que vou subir agora e

chorar por causa disso? — Eu sorrio e abro os braços. — Eu não

vou. Erick sabe onde me encontrar, estarei lá. Se ele for, vai ser

ótimo, se não, eu não me importo, porque sinto muito em te

informar, mas tudo que eu faria com ele hoje seria matá-lo com

minhas próprias mãos.

— Bree!
Passo por ela e subo a escada ouvindo Drew e Erick me

chamarem diversas vezes. Fodam-se os dois imbecis.

Eu me deito em minha cama e ligo a televisão. Coloco uma

série e tento inutilmente me acalmar. Ando pelo quarto minutos

depois e ouço minha porta abrir. Quando ergo meu rosto, Erick está

entrando no quarto e sua expressão, oh, sua expressão, é

totalmente de raiva.

— Que porra foi aquela? Andie está grávida, Bree! Grávida!

— Sim, eu sei. É a condição de uma mulher gerando um

bebê, obrigada pela aula. — Reviro meus olhos e ele anda em

minha direção a passos pesados.

— Não seja irônica comigo — ele sibila furioso.

— Então não me trate como uma imbecil. — Espalmo minhas

mãos em seu peito. — Você ouviu o que ela falou, Erick! O jeito que

ela tratou minha filha. Eu só falei a ela o que você deveria ter dito

quando saí da sala...


— E como sabe que não falei? — Ele me segura pela cintura

e eu respiro fundo. — Eu briguei com ela. Falei que ela não deveria

ter falado daquela maneira, já que sabe o quanto Poppy é

importante para mim. Eu estava pensando em maneiras de contar

que ela vai ter um irmão...

— Ah, então até Andie sabia que você é o pai da minha filha,

e eu não? — questiono furiosa. Isso tudo só prova o quanto Andie

foi venenosa, e eu a odeio por isso.

— Conversamos isso no dia da festinha dos pais na escola

dela. Ela me perguntou se eu poderia ser seu papai. O que queria

que eu falasse? — Erick me encara indignado.

Eu sorrio, tentando me acalmar.

— Eu só queria que tivesse me contado. Ela é minha vida,

Erick. Minha vida. Eu não gostei de ver a insegurança em seus

olhos quando Andie jogou na cara da minha menina que você vai ter

um filho!
Erick me deixa sair dos seus braços e eu me afasto tão

rápido quanto posso.

— Eu sei. Me magoou também, mas Poppy entendeu quando

expliquei. Eu sei que sim.

— Ela estava fazendo planos com Archie, Erick. — Eu sorrio,

balançando a cabeça, triste. — Sabe quando Andie vai deixar o filho

próximo à minha filha? Nunca. Nós sabemos disso. Você só jogou

mais bagagem na mente dela...

— Archie vai conviver com Poppy. Teremos guarda

compartilhada, ele vai morar conosco, aqui, é óbvio que Poppy vai

conhecer e brincar com ele — Erick fala sucinto.

Eu mordo meu lábio, cruzando os braços ao andar de um

lado para o outro.

— Quando Archie nascer, Poppy não estará mais aqui.

— O quê? — Erick franze as sobrancelhas.


— Eu vou embora e minha filha vai comigo. — Elevo meu

rosto.

Erick se aproxima tão rápido que eu arfo quando uma de

suas mãos segura meu rosto enquanto a outra envolve minha

cintura. Ele me segura até minhas costas pressionarem a parede.

— Você não sai daqui. Você é minha, Bree. — Sua fala

furiosa ecoa contra meu ouvido e eu fecho meus olhos, balançando

a cabeça. — Nenhuma de vocês vai sair de perto de mim. Você não

vai me tirar minha filha, me ouviu?

Ele se afasta, encarando meus olhos, então bato em sua mão

e o empurro para longe de mim.

— Eu não sou sua e Poppy não é sua filha! — grito em seu

rosto. Erick engole em seco, baixando os olhos por alguns

segundos. Eu respiro fundo e mordo meu lábio, tremendo. — Eu ia

esperar mais algum tempo, mas isso entre nós dois não é só
doentio por conta do seu parentesco com minha filha, é insano,

Erick. Nós dois juntos somos insanos.

— Você assinou o atestado de loucura ao me deixar entrar

em seus lençóis. Então, Bree, sim, você é minha, e a Poppy é nossa

filha. Você gostando ou não — ele fala baixo, mas de forma tão

firme que eu esqueço como respirar. Ele sai do quarto e eu caio

sentada na cama.

Oh meu Deus.

Quando Jolie e Reinald chegam, dois dias depois, Erick não

tinha dormido em casa e eu não estava preocupada, pelo menos até

ele chegar com as mãos machucadas novamente.

— Bom dia — ele saúda todos na mesa, menos Poppy, que

já foi para a escola com Drew.

Eu peço licença e me levanto ao ver suas mãos.


— O que foi isso? — questiono assim que subo a escada e o

encontro no corredor atrás de mim. Ele está vestindo uma jaqueta

de couro e jeans escuros. Sua camisa é branca e parece perfeita

até eu ver o sangue no tecido.

— Nada. — Ele abre sua porta, e contra tudo que eu deveria

fazer, entro no quarto. — O que é, Bree?

— Quero saber com quem diabos você briga de tempos em

tempos. — Eu me aproximo rápido e toco os machucados. Puxo

Erick para o banheiro e ele me segue sem reclamar. — É algo

ilegal? Você briga nessas lutas clandestinas? — pergunto assim que

termino de limpar e passar pomada.

— Não, Pink. — Ele ri e começa a tirar a roupa. Eu o ajudo a

tirar a camisa e logo ele está como veio ao mundo. — Obrigado.

Ando pelo banheiro e fico observando Erick no banho. Suas

costas largas e ombros fortes. Sua bunda firme e seu membro ereto.
Desvio o olhar, sabendo bem no que vai dar se ele me pegar o

encarando.

— Onde dormiu? — questiono com um suspiro quando ele

fecha o chuveiro e pega sua toalha.

— Você quer mesmo saber? — Erick me encara ao sair do

boxe.

Eu não preciso ouvir a resposta.

Ele tinha dormido com Andie.


Abro a porta do meu quarto e saio do banheiro tão rápido que

até eu me surpreendo. Pego minha bolsa e desço a escada. Não me

despeço de ninguém, apenas saio da casa e vou trabalhar.

Quando chego à floricultura, eu não me surpreendo ao ver

Aidan e Andie juntos. Eles não me veem chegando e por isso escuto

o final da conversa.

— Drew ama as duas. Eu não vou despedir Bree só porque

você não aceita o fato de Erick gostar dela e não de você. Seja

profissional, Andie. A floricultura é nosso sustento. Trabalho. Deixe

seus problemas em casa ao sair, você me entendeu? — Aidan fala

de maneira firme.
Eu relaxo ao perceber que ele não vai me demitir. Eu tinha

uma certa suspeita, mas graças a Deus ela não se concretizará.

Fico atendendo com as meninas até os dois saírem da sala. Tiro

alguns espinhos de rosas com Florence e ela cochicha sobre Andie

estar gritando desde que chegaram.

— Ontem ela também veio, mas saiu antes de você chegar.

Foi um inferno!

— Cala a boca, pelo amor de Deus. Vai que eles escutam? —

murmuro, e ela finge fechar um zíper na boca.

Os dois saem da sala assim que entrego um buquê todo

decorado a um senhor muito simpático.

— Hoje é minha consulta. Erick ficou de passar para irmos

juntos. Ele dormiu lá em casa ontem, eu te contei? — Escuto a voz

dela atrás de mim.

Respiro fundo, mantendo o sorriso quando um novo cliente

chega.
O sino soa e eu ergo meus olhos para ver o próprio demônio

entrando, antes de sorrir para um cliente alto e moreno. Olhando, eu

diria que ele tem a mesma idade que eu, vinte e seis anos.

— Bom dia. No que posso ajudá-lo? — questiono, ainda

sorrindo.

— Bom dia. Hoje é aniversário da minha mãe. Qual flor você

me indica dar? — Ele se inclina no balcão e eu mordo meu lábio por

um momento.

— Hum, bem, ela tem alguma preferência? Tem alguma que

não deve dar? Tem pessoas que não gostam, ou tem alergias a

algumas específicas, por isso estou perguntando — explico devagar,

e ele ri, acenando.

— Ela ama todas.

— Como eu. Todas são incríveis, é complicado escolher. —

Ele sorri, estendendo a mão para mim e eu a pego. — Sou Bree.

— Cameron, Bree. Prazer.


— Então, Cameron, eu indico que a presenteie com um

buquê de lírios. Essa flor simboliza a nobreza de seus sentimentos.

Presentear com lírio significa que você está disposto a cuidar e

proteger aquela pessoa. O que presumo seja seu principal objetivo

de vida com sua mãe — explico encarando-o.

Ele aperta minha mão, só então eu me dou conta de que

ainda estamos com as mãos juntas.

— Vou querer essa, Bree. Obrigado. — Cameron sorri ao ver

meu rosto vermelho de vergonha ao puxar minha mão.

— Vou fazer seu buquê.

Florence se aproxima, então peço a ela para ficar atendendo.

— Posso te acompanhar? — ele grita, quando paro ao lado

das flores em um cesto grande. Aceno e Cameron caminha até mim.

— Você as quer em quais cores? — questiono, mordendo

meu lábio ao perceber que Erick está de pé, me encarando próximo

a Andie. Tinha me esquecido dele.


— Qual sua cor preferida? Será ela a escolhida.

— Hum, rosa, eu acho. — Eu trabalho em seu buquê por

alguns minutos enquanto ele faz comentários sobre as rosas que às

vezes acho que se estendem a mim. — Aqui. — Suspirando,

entrego seu buquê montado e divino. Ficou lindo. — Espero que sua

mãe goste, Cameron — desejo realmente.

Ele paga pelo buquê e desliza um cartão na minha mão.

Doutor Cameron Prescot. Pediatra infantil. Seu número está

no cartão.

— Você adivinhou que tenho uma filha? — questiono,

brincando. Ele ri e dá de ombros. — Obrigada.

— Eu que agradeço. Te vejo por aí, Bree. Me liga.

Aceno confirmando, mas acho que até ele sabe que eu não

farei isso.

— Bree? — Aidan me chama, então me viro e o encontro

junto a Andie e Erick me encarando.


— Oi, Aidan, tudo bem? Bom dia. — Sorrio e guardo o cartão

de Cameron no meu bolso sob os olhos de Erick, que seguem

minha mão.

— Bom dia. O escritório já está livre, pode ir para lá.

Obrigado por atender os clientes.

— Não tem de quê.

— Ela gosta de atender, não é, Bree? — Andie fala, sorrindo.

Eu a encaro em silêncio por um longo tempo. — Não é, Bree?

— Eu amo. Adoro saber que existem homens apaixonados

por suas esposas como o senhor que atendi, ou Cameron, que é por

sua mãe. — Sorrio com sinceridade e passo por eles.

Entro na sala e guardo minha bolsa na parte inferior dos

armários, então ouço a porta abrir e sei que é Aidan.

— Então, eu tenho que conferir os e-mails, mas gostaria de...

— Paro de falar quando sinto uma mão entrar no bolso da minha


calça jeans. Eu me viro e arregalo os olhos ao ver Erick de pé, com

o cartão de Cameron entre seus dedos.

— Está pensando em ligar para ele? — Franzo o cenho para

sua atitude imbecil antes de voltar a fazer meu trabalho, ignorando-o

completamente. — Me responda, Bree.

— Sim, talvez até dormir fora algumas noites, como você faz

— murmuro, ligando o computador. — Saia daqui e me deixe

trabalhar.

Erick rasga o cartão em pedacinhos e o enfia no próprio

bolso, completamente sério. Ele não balbucia, nem parece o

lunático que eu diagnosticaria se fosse psicóloga.

— Quero ver você fazer isso. — E então sai do lugar.

Eu reviro os olhos e sorrio, pesquisando o nome de Cameron

no computador. Logo aparece seu contato e onde trabalha. Eu nem

ia ligar, mas como o demônio veio me tentar, eu o farei.


Quando volto para casa mais tarde, Jolie está na cozinha e

Poppy corre para lavar as mãos e ajudar a avó.

— Poppy, suba quando terminar para tomar banho e fazer a

atividade — eu a lembro e Jolie sorri para mim.

— Pode ir descansar, Bree. Eu cuido dela hoje.

Suas palavras me relaxam e eu aceno em gratidão. Subo a

escada rapidamente e trombo contra alguém. Quando elevo meus

olhos e vejo Drew, eu o encontro sorrindo e me seguindo quando

não retorno o sorriso.

— O quê? Você está chateada comigo? — Ele geme, se

jogando em minha cama.

— Não. Só estou com dor de cabeça — murmuro e entro no

banheiro, pegando meus comprimidos. Engulo dois de uma vez e

relaxo, voltando para o quarto.

Eu me deito ao lado de Drew e ele beija minha testa. Eu me

aconchego em seu peito e sinto seu braço me rodear.


— Eu sei que está tudo fodido, mas é sério, eu espero que

não tenha ficado chateada. — Balanço a cabeça contra seu peito e

ponho a mão na sua barriga. — Andie é uma mulher difícil, sempre

foi, mas ela é apaixonada pelo Erick desde a faculdade. Quando ela

engravidou, pensou que ele enfim iria olhá-la com outros olhos. O

que não aconteceu.

Fico ouvindo Drew balbuciar e sinto que Andie se ressente de

mim por causa do Erick.

— Archie está quase chegando e a gente está o tempo todo

com medo de ela fazer alguma loucura — Drew confessa e eu

inclino a cabeça para encará-lo. — Não sei. A gente só sente isso.

Então ela jogou aquela bomba no colo da Poppy, uma criança, e nós

estamos preocupados.

— Erick tinha conversado com ela sobre Poppy. Ela sabia

que minha filha o considerava pai dela, Drew. Andie foi malvada —

digo com firmeza.


— Eu sei. — Drew fecha os olhos e acena. — Aidan está tão

preocupado e eu não sei o que fazer para ajudar. Ela insiste em

querer colocá-lo contra você e até contra mim, às vezes. Eu amo

meu marido, Bree. Nós dois sofremos muito para hoje estarmos

juntos. — A voz de Drew embarga e eu beijo seu queixo,

abraçando-o. — Erick merece ser feliz. Vocês merecem.

— Eu sou, Drew. Eu tenho você, Poppy, Jolie e seu pai. Eu

estou radiante. Nunca tive uma família e hoje sei que pertenço a

uma, entende?

Ele acena e suspira, me abraçando mais forte.

— Tudo vai se ajeitar. Quando Archie nascer, tudo vai ficar

bem. — Drew tenta convencer a si mesmo, nós dois sabemos disso.

Ao ouvir minha porta ser aberta, mordo meu lábio, sabendo

quem está aqui. Erick sobe na cama e tira o lençol que me cobre.
Estou apenas com calcinha e ele sorri na penumbra ao me ver

quase nua.

Nenhum de nós fala nada.

Não precisamos.

A boca dele desce sobre a minha e eu estremeço quando ele

aperta minha cintura. Sua língua desliza pela minha ao mesmo

tempo em que ele empurra seu pau contra mim, me fazendo gemer.

Suas mãos agarram minha calcinha de renda fina e ele rasga o

tecido ao puxar as laterais. Erick deixa minha boca e desce por meu

corpo, parando apenas para tomar um dos meus mamilos e

começar a chupar. Seus dedos brincam com minha boceta e eu

gozo assim que ele desce e toma meu clitóris na boca.

Erick bebe meu gozo e se afasta. Suas mãos seguram meus

quadris e ele me vira. Sua mão grande empurra minha coluna até

minha bunda estar no ar, e o rosto, contra o colchão. Ele brinca com

minhas dobras por alguns segundos e eu coro ao ouvir o barulho


molhado. Eu tinha que estar babando por ele? Reviro os olhos em

pensamento. Erick guia seu pau para dentro de mim e eu mordo

meu lábio, gemendo. Ele sai de mim e, quando volta, é forte e

violento. Eu grito contra o colchão e, trêmula, sinto suas estocadas

me levarem ao delírio.

— Sua boceta é minha, não é, Bree? — Sua voz

desesperada ecoa no quarto escuro enquanto reprimo meus

gemidos. Erick diminui as investidas e eu choramingo. — Fale. Que.

É. Minha.

— Erick, me faça gozar! — Empurro minha bunda contra ele

e seu pau entra um pouco, me fazendo gemer, porém ele se afasta

novamente.

— A quem você e sua boceta pertencem? — questiona

raivoso.

Eu desço uma das minhas mãos e mexo em meu clitóris

sozinha, tentando gozar, porém ele pega minhas mãos e as prende


às minhas costas.

Ele entra devagar e sai com a mesma lentidão, fazendo

lágrimas de prazer encherem meus olhos.

— A você — murmuro a contragosto, desejando muito gozar.

— O que me pertence, Bree? — Erick entra mais uma vez

devagar ao mesmo tempo em que sinto as lágrimas descerem por

minhas bochechas.

— Eu. Eu pertenço a você e a minha boceta também. Agora

me faça gozar, inferno! — grito, furiosa.

Ele dá uma estocada forte enquanto solta minhas mãos e

pega meu broto latejante entre os dedos.

— Sim, inferno, Pink, você é minha. — Ouço o sorriso

presunçoso por toda sua voz e me odeio por dar a ele esse

gostinho.

Nós dois gozamos tão forte que eu desmaio de exaustão em

seguida. Porém, antes de cair no sono profundo, eu o vejo catar


suas roupas e sair do quarto. Eu queria muito que não doesse, mas

dói.

— Aquele rapaz veio aqui novamente — Florence fala assim

que eu chego à loja, pela manhã.

— Quem? — pergunto sem entender.

— Cameron. Ele perguntou de você e comprou uma rosa.

Quem diabos entra numa floricultura e compra a porra de uma rosa?

— Ela arqueia as sobrancelhas e eu mordo meu lábio inferior,

pegando meu celular. Gravei o número dele caso um dia tivesse

coragem de mandar uma mensagem.

— Vou mandar uma mensagem para ele — falo para a minha

amiga, e ela bate palmas, acenando.

"Passou por aqui? Bom dia!

Bree, "
"Pensei que tinha jogado meu cartão no lixo. Bom dia!"

"O quê?! Claro que não!"

"Pode almoçar comigo?"

Eu engulo em seco e olho ao redor da loja, tremendo.

"Como amigos."

"Não use essa palavra comigo. ���� "

Eu sorrio das carinhas engraçadas que ele manda junto e

relaxo quando uma nova mensagem chega.

"Amigos, então. �� "

Novamente ele manda uma carinha, mas essa é de vômito ao

lado. Eu sorrio mais ainda.

— Viu um passarinho? — Pulo ao me virar quando dou de

cara com Aidan.

— Não. Um amigo. — Mostro meu celular na mão e ele

acena, franzindo o cenho.


Ando para longe e suspiro, entrando no escritório. Passo o

resto da manhã trabalhando e logo está na hora do almoço. Chego

ao restaurante onde almoço todos os dias, pois, contrariando tudo,

ele também come lá. O hospital onde atende é aqui perto.

— Ei! — Sorrio ao me sentar à sua frente. Ele está de blusa

social e calça jeans. Nem parece um médico, mas tão lindo quanto

os que vejo nas séries de . — Tudo bem? — questiono.

Ele se inclina e me dá um beijo na bochecha.

— Melhor agora. — Seu sorriso cresce.

Eu olho ao redor, envergonhada. Minha alegria declina

lentamente ao ver Aidan e Erick sentados mais à frente, almoçando.

Meu Senhor.
"Me desculpa. Não fiz por mal."

Pressiono meu punho contra minha testa com uma dor de

cabeça filha da puta atacando. Estou há dois dias tentando não

matar a mãe do meu filho. Andie está testando minha paciência,

tentando controlar minha vida e, porra! Eu odeio isso.

"Vou almoçar. Faça o mesmo."

Assim que chego à loja do meu melhor amigo, ele anda em

minha direção, já me levando para fora. Não o culpo, todas as vezes

que entro aqui é para fazer um show com Bree.

— Bom dia para você também — resmungo enquanto

andamos algumas quadras.


— Bom dia. Como foi com a Andie ontem? Eu falei com a

mamãe sobre isso, ela me jurou que vai conversar com a doida da

minha irmã. — Aidan suspira pesaroso e eu respiro fundo, dando de

ombros.

— Andie pensa que vou acordar um dia e simplesmente ter

me apaixonado loucamente por ela. Eu não vou, Aidan —

resmungo, abrindo a porta do restaurante. Assim que nos sentamos

na nossa mesa de sempre, ele aperta as têmporas. — Eu a amo.

Amo como eu amo você, meu melhor amigo. Eu a considero minha

amiga. Quando fizemos Archie estávamos bêbados e sendo

imbecis. Eu não vou dormir com ela ou namorar. De jeito nenhum.

Ontem eu fiquei e dormi na casa dela porque ela não estava bem,

mas, cara, Andie tem que entender que nada vai acontecer entre a

gente. Eu estou cansado de falar isso.

— Eu sei, Erick — ele responde assim que o garçom chega,

anotando nossos pedidos. O homem vai embora e eu vejo Aidan


encarando a entrada e depois segue a pessoa enquanto ela anda

pelo local.

— O que diabos você está olhando? Vou contar ao Drew... —

Eu paro de falar assim que me viro e vejo Bree se sentar a uma

mesa distante da minha.

O cara que está na sua frente é o mesmo que deu a ela o

cartão que eu rasguei e no qual taquei fogo quando cheguei ao

escritório mais tarde, naquele dia.

— Ei, senta. — Aidan puxa meu braço e eu nem mesmo tinha

percebido que me ergui. — Ela é solteira, Erick.

"Eu pertenço a você, e a minha boceta também." Se Aidan

tivesse ouvido essas palavras saírem da boca de Bree no dia

anterior como eu ouvi enquanto tomava seu corpo, ele saberia a

quem diabos ela pertence.

Bree sorri para o cara e se vira, só então me vê. O sorriso

desliza do seu rosto e ela engole em seco.


— Por que ficou louco por ela tão rápido, Erick? Nunca te vi

enlouquecido de ciúme por ninguém, e agora você não pode ver sua

cunhada olhando na direção de outro cara...

— Ela não é minha cunhada. Kellan está morto. — Sinto um

gosto amargo ao falar isso. Kellan morreu, eu nunca mais verei meu

irmão.

Nossa relação nunca foi boa. Desde pequenos sempre

brigamos muito, mas anos atrás nos reencontramos. Eu pensei que

ficaríamos bem, mas isso não aconteceu. Inferno, ele sumiu meses

depois e eu nunca mais ouvi falar dele.

Até sua morte.

Nossos pedidos chegam, tirando minha mente do meu irmão,

então eu me forço a esquecer que Bree está com outro homem aqui

e me alimento. Aidan muda de assunto e nos entretemos, falando

sobre sua próxima loja. O homem é visionário e está com tudo


encaminhado para abrir uma segunda loja. Tenho orgulho dele. Seu

negócio é um sucesso absoluto.

— Drew disse que vai ficar até tarde na empresa hoje. Há

alguma reunião? — Aidan questiona quando pagamos a conta e nos

erguemos.

— Sim, estamos lutando com unhas e dentes para

ganharmos o novo empreendimento da prefeitura — explico,

suspirando. Eu me ergo e ouço a risada de Bree, então me viro e a

vejo enxugar os olhos. — É melhor você ir — digo a Aidan, já

caminhando em direção à mesa dela.

— Erick. Foda-se — Aidan resmunga, mas não paro de

andar.

— Bree — chamo sua atenção e ela me encara. Seu corpo

fica tenso, e seu sorriso, frágil. — Pode me apresentar o seu amigo?

— Eu me viro para o homem e o encaro enquanto ponho a mão no

ombro dela, apertando devagar.


— Erick — Pink respira fundo e sorri para o homem diante

dela —, esse é o Cameron. Cameron, esse é o Erick.

— Prazer, Erick. — O cara se ergue e estende a mão para

mim.

Eu encaro sua mão e ergo a sobrancelha antes de me virar

para Bree.

— Vamos, eu te levo de volta para a loja. — Encaro Bree,

apertando a mesa diante dela e vendo seus olhos se encherem de

fúria.

— Desculpa, mas eu posso deixá-la... — o cara tenta falar,

mas eu o interrompo.

— Bree — rosno furioso.

Ela joga o guardanapo na mesa e se ergue.

— Cameron, muito obrigada pelo almoço incrível. Eu ligo

para você mais tarde — ela se despede dele e nós saímos,

abandonando o homem.
— Mano, ela vai te matar — Aidan murmura perto o suficiente

para apenas eu escutá-lo.

Bree anda apressada à nossa frente. Aidan diz que vai

comprar não sei o quê, e foge, nos deixando sozinhos no meio da

avenida.

— Pink — chamo, pegando seu braço.

Ela se desvencilha de mim e se aproxima, erguendo o

queixo.

— Não me chame assim! — Ela empurra o dedo fino no meu

peito e sibila furiosa. — Não pense que saí de lá por sua causa,

Erick, porque não foi. Eu me retirei com vergonha da sua cena

imbecil.

— Imbecil? Você estava com outro cara, rindo e almoçando

como se estivesse na porra de um encontro! — Eu ergo a voz,

tentando não sacudir seus ombros, mas Bree apenas ri e volta a

andar.
— Eu posso ir a encontros, jantares e o que diabos for do

mesmo jeito que você pode dormir com Andie quando quiser. Eu

sou solteira do mesmo jeito que você. Não estamos juntos. Nunca

estivemos e nunca vamos estar. Facilite para nós dois e finja que eu

não existo! — Ela solta as palavras enquanto a sigo e eu seguro seu

braço, puxando-a em minha direção.

— Tudo isso é ciúme? Você está pensando que eu dormi com

Andie? Nem se o inferno congelasse, porra! — grunho,

completamente irritado por ela sequer pensar nisso.

— Se fosse ciúme, queria dizer que eu me importo, e foda-se

você, Erick MacGregor, eu não me importo! — ela grita, chamando a

atenção das pessoas. Sorrio, puxando e prendendo seu corpo

contra a parede da floricultura. — Me solta!

— É só sexo, Bree? É isso que acabou de dizer? —

questiono, pairando minha boca sobre a dela e lambendo meus

lábios, vendo-a fazer o mesmo.


— Entre nós dois sempre vai ser só sexo. Sabemos disso. —

Seu queixo se ergue e eu esmago minha boca contra a dela. Suas

mãos empurram meu peito por alguns segundos, mas logo me

puxam pelo pescoço, tentando ter mais acesso à minha boca.

Seguro sua cintura e amasso seu corpo contra o meu.

— Vou foder você tão forte hoje, que amanhã não poderá se

sentar. — Mordo seu queixo e beijo sua boca novamente, ouvindo

seu gemido. Nós dois nos separamos segundos depois. Bree

respira fundo e coloca a mão sobre os lábios, me encarando.

— Isso não está certo — ela murmura, mas eu balanço a

cabeça, negando.

— Você é minha, Bree. Só minha, e da próxima vez que eu

vir você com aquele homem, vou bater tanto nele que alguém terá

que levá-lo para o hospital. Eu juro. — Eu me afasto e caminho até

meu carro, que estacionei do outro lado da rua.


Chego à minha casa tarde e vou direto ao quarto da Bree.

Diferente de todas as vezes em que ela dormiu nesse quarto, hoje

ele está trancado. Aperto a maçaneta na minha mão e quero

esmurrar a porta, gritando para ela abrir.

Entro em meu quarto e tiro meu terno, sapatos e blusa. Vou

para o banheiro e me encosto na porta, sabendo que está aberta.

Por um segundo eu hesito em tentar abrir, imaginando o motivo de

ela ter trancado sua porta. Suspiro e decido que ela mesma pode

me dizer.

Tento abrir e fico confuso ao perceber que algo a mantém

fechada. Fecho meus olhos quando me dou conta que Bree colocou

algo para manter a porta no lugar.

Elevo meu punho e bato três vezes, esperando que ela abra

a porta e diga que a fechou sem perceber. Sei que é idiota, mas eu

quero isso. Se Bree tiver se trancado para se manter longe de mim,

droga, eu acho que me afastarei dela sem pensar duas vezes.


— Bree, está acordada? — Minha voz sai no banheiro e eu

percebo o quão desesperada ela está. — Abre aqui. Bree, abre a

porta. — Bato na madeira novamente e me viro quando ouço a porta

do meu quarto abrir.

Minha mãe está de pé, me encarando completamente

confusa.

— Filho, está tudo bem? Eu escutei você falando enquanto

estava indo tomar água na cozinha. — Ela sorri enquanto eu me

aproximo e abraço seu corpo.

— Sim, mãe, tudo bem. — Beijo seu cabelo e me afasto. —

Pensei ter ouvido um barulho no quarto da Bree. Ia perguntar se ela

está bem — minto, me odiando por fazer isso.

— Ah, não deve ser nada, querido. Vá descansar. Drew me

ligou mais cedo e disse que estava cansado da reunião. — Ela sorri,

afagando meu braço.


Minha mãe sai do quarto e eu me sento em minha cama,

colocando a cabeça entre minhas mãos. Inferno!

Meu celular toca e eu o pego no bolso, vendo o número que

odeio e amo ao mesmo tempo. Clico em atender e levo o celular até

minha orelha.

— Erick — falo rápido e entro no banheiro, tirando minha

calça.

— Me encontre em vinte minutos.

Eu desligo assim que escuto a voz dizer e entro no chuveiro

depois de jogar o celular no balcão. Coloco uma calça jeans e blusa

de manga longa. Pego minha jaqueta e saio do quarto. Paro de

andar quando ouço murmúrios no quarto de Poppy. Abro sua porta e

entro.

— Princesa, tudo bem? — Eu me aproximo e passo a mão

pelo seu cabelo. Poppy resmunga um pouco, mas adormece

novamente rapidinho.
Sorrindo, eu relembro o dia em que ela me pediu para ser

seu papai.

Poppy estava em meus braços, rindo para suas amigas.

Todas estavam com seus pais e os gritos de papai enchiam o

ambiente da escola.

— Eu posso chamar você de papai? — Ela vira o rostinho

para mim e eu sinto meu peito inchar de amor.

— Claro que sim, Poppy.

— Eu sei que meu papai de verdade tá no céu. Eu sinto muita

falta dele. — Sua voz baixa e eu beijo seu rosto, tentando consolá-

la.

— Ele te ama de onde estiver, Poppy. Posso ser seu papai

novo. Vai ser divertido.

— É, vai mesmo. — Ela sorri grande e beija meu rosto. — Eu

te amo, papai.
A lembrança se desfaz e eu beijo sua testa. Saio do seu

quarto, parando quando vejo Bree no corredor, vestida apenas com

sua camisola de seda. Ela deve ter ouvido a filha.

— Você fechou as portas? — questiono, me mantendo longe

dela.

— Si-sim. — Ela acena, abraçando seu próprio corpo.

Eu aperto minha jaqueta entre meus dedos.

— Não me quer mais na sua cama? — É uma pergunta

válida, mas eu tenho certeza de que Bree não sabe as

consequências da sua resposta.

— Erick...

— Só responda com sim ou não, Bree. É fácil — corto sua

fala incerta.

Ela engole em seco, reunindo coragem. Pelo menos é o que

parece.
— Não. — Eu aceno assim que escuto sua voz e lhe dou as

costas, andando pelo corredor até a escada. — É melhor...

— Você já respondeu. Volte a dormir ou fingir, no seu caso —

falo, descendo os degraus e ouvindo-a me seguir. Pego minhas

chaves ao lado da porta e chamo o elevador.

— Aonde vai a essa hora? — Ela para perto de mim,

questionando.

— Extravasar — respondo honestamente e entro na caixa de

metal. As portas se fecham e a imagem dela acariciando seus

próprios braços se perde.

Entro em meu carro e dirijo por dez minutos até uma boate.

Passo pelas portas e os seguranças acenam me cumprimentando.

Paro no bar e pego uma dose de uísque.

— Bem-vindo. — Yuri se põe ao meu lado.


Eu aceno e engulo a minha bebida, acompanhando-o até os

fundos em seguida. Passamos por um corredor extenso com

algumas portas, mas a única que me interessa é a última.

— Erick — uma morena alta me cumprimenta, então beijo

seu rosto sorrindo.

— Baby, está linda hoje — murmuro e ela ri, batendo em meu

peito devagar. Nós nos afastamos assim que Yuri abre a porta e eu

entro.

— Tudo pronto? — questiono suspirando. Yuri acena, me

deixando sozinho na sala. Pelo menos até uma luz se acender e um

homem baixo e gordo aparecer preso a uma cadeira. — Soltem-no

— peço, elevando a voz antes de uma porta se abrir.

Em segundos, alguém desata os nós que prendiam suas

mãos na parte de trás e eu tiro minha jaqueta, pendurando-a na

porta.
— Não bato em ninguém preso a uma cadeira. Você se

defende, me ataca — falo firme, encarando o homem. — No final,

você decide se continuamos ou você fala o que eles querem saber.

O homem treme e eu aperto meus punhos, sentindo a

adrenalina correndo por minhas veias. Não luto por dinheiro. Eu

tenho dinheiro sobrando em minha conta bancária, mas o prazer

que enche meu peito é o que me faz atender as chamadas de Yuri

toda maldita vez. Lutar é meu vício, me acalma.

Eu tenho pena do homem, infelizmente, hoje não foi um bom

dia para mim. Se nos bons eu costumo fazer estrago, hoje é um dia

que será lembrado por todos que estão nessa sala.


Hoje faz três semanas que fechei minhas portas à noite pela

primeira vez. E última. Quando encontrei Erick no corredor aquele

dia, foi aterrorizante. Eu estava tremendo. Eu queria abrir a porta

quando ele forçou a primeira vez, mas me impedi dizendo a mim

mesma que estava tudo certo. Deveria ser assim.

Quando ele me perguntou direto se eu tinha feito mesmo

isso, eu titubeie. Não queria responder, nem conseguia entender o

motivo, mas talvez dentro de mim eu soubesse.

Erick nunca mais entrou em meu quarto.

Se ele entra no banho, as portas são fechadas. Eu tentei no

segundo dia em que ele me ignorou completamente pela casa e na


loja, quando foi lá. Eu sei que ele não me procurará mais e por mais

que seja difícil admitir, eu sinto falta dele todas as noites.

E eu não entendo por quê. Ele me usava e ia embora, sem

sequer olhar para trás. Só transávamos e cada um ia para sua

própria cama. Nunca sequer dormimos em seu quarto. Ele não se

importava com nada disso e pensei que eu também não. Mas, sim,

eu me importo. Eu quero dormir com ele. Acordar com ele ao meu

lado.

E foda-se, eu não deveria querer nada disso. Transar e

depois cada um ir para o seu lado é o ideal na nossa condição. Por

que eu tenho que querer tudo? Inferno.

— Mamãe? — Ergo meus olhos e Poppy sorri bem grande, o

que me diz que ela quer algo.

— Oi, querida. — Sorrio e mexo a massa dos cookies que

Poppy se encarregou de levar para a escola amanhã cedinho. É

aniversário da professora, e as mães se organizaram para cada


criança levar algo. Sorrio ao ver Scarlet andando para fora da

cozinha.

— O papai pediu que eu falasse com a senhora sobre ele me

levar hoje para tomar sorvete — ela fala sorridente.

Suspiro ao ouvi-la chamar Erick de pai. A primeira vez que

fez isso foi na frente de toda a família, há uns dias. Eu quase tive

um infarto, mas Erick parecia contente.

— É claro. — Sorrio, tentando engolir o fato de ele não

suportar nem mesmo vir falar comigo sobre um passeio com Poppy.

— Pode fazer os cookies em forma de coração, mamãe?

Ficam tão lindos. — Ela sorri ao me mostrar os cortadores.

Poppy segura a forma por algum tempo e, quando olho para

seu rosto, sinto meu peito apertar.

— Algum problema, filha? — questiono quando noto seu

olhar triste.
— Eu... sonhei com meu papai. O meu de verdade. — Assim

que suas palavras ecoam, eu sinto meu coração doer. — Ele vai

voltar? Porque no sonho ele estava aqui com a gente... — Sua voz

baixa até o silêncio ser a única coisa em nossa volta. Deixo a massa

de lado e pego minha filha em meus braços.

— O papai foi pro céu, Poppy — murmuro devagar.

— Eu estou com saudade... — Seus olhos se enchem de

lágrimas.

— Eu sei, querida. E a mamãe sente muito. Porém, seu pai

não vai voltar. — Reúno forças e digo com firmeza.

Poppy derrama algumas lágrimas, mas logo se distrai

comigo, ajudando a fazer seus doces. Ficamos por algum tempo na

cozinha e eu deixo os biscoitos no forno, pedindo a Cass que fique

de olho neles por mim.

— Poppy! — Erick entra em casa e eu fico perto da cozinha

enquanto minha filha corre até ele. — Você falou com sua mãe? —
ele questiona quando ela grita, se jogando em seus braços. Suspiro

aliviada por ela ter esquecido Kellan.

— Sim! Ela deixou.

— Fico feliz. Vou tomar banho e desço para te esperar. — Ele

ergue a cabeça assim que entro na sala.

— Vamos, baby. Está na hora do banho. — Aponto para a

escada e ela segura a mão dele enquanto andam naquela direção.

— Mamãe e eu fizemos cookies para a minha professora. Ah,

ela não está mais apaixonada por você — Poppy divaga enquanto

subimos.

Eu pego meu celular quando recebo um de Florence.

"Pode sair? Quero tomar uma bebida."

"Infelizmente estou presa em casa, cansada de fazer

cookies."

"Ok. Beijinhos! Nos vemos amanhã."


Guardo meu celular e entro no quarto de Poppy com ela,

enquanto Erick vai para o seu. Arrumo minha menina enquanto

cantamos e falamos sobre o quão bonita uma princesa é. Descemos

momentos depois e eu estranho quando vejo Drew, Aidan e Andie

na sala.

— Boa noite — murmuro junto a Poppy.

Todos se viram para nós. Drew abre a boca e finge estar em

choque ao olhar para o vestido dela.

— Nossa Senhora, Poppy, que vestido lindo é esse? — Ele

pega a sobrinha nos braços e eu sorrio, sentindo meu coração se

aquecer. — Para onde vai tão linda assim?

— Sair com o papai. Minha mãe fez uma trança no meu

cabelo, tio Drew! Igual à da Elsa.

Eu me aproximo dos dois e vejo Andie semicerrar os olhos.

Fecho a sandália da minha filha novamente, sem dar atenção ao

veneno dela.
— Você não vai também? — Drew questiona.

— Não. — Eu balanço a cabeça. — Vou procurar alguns

apartamentos. Você sabe, Reinald me convenceu a comprar um

próximo daqui. Consegui vender o meu, então vou colocar o meu

dinheiro no apê novo — explico, sorrindo ansiosa. Não vejo a hora

de ter meu próprio lugar. Conversei com meu sogro há duas

semanas, e graças a Deus ele entendeu.

— Como eu não sabia disso? — Erick aparece questionando.

Eu me viro e o vejo descendo os degraus.

— Hum, foi uma conversa particular. — Engulo em seco e me

viro, beijando minha filha. — Se divirta, princesa.

— Aonde vão? — Andie pergunta.

Erick a encara, franzindo o cenho.

— Tomar sorvete e brincar, mas você não vai junto — Poppy

responde rápido, e eu arregalo os olhos.


— Poppy, não seja mal-educada. — Encaro seu rosto, séria,

e ela baixa os ombros.

— Desculpa. — Sua voz ecoa.

Eu suspiro, apertando meus olhos.

— O.k., tudo bem — resmungo e beijo seu rosto. — Não

desobedeça ao seu tio...

— Pai. Meu pai, mamãe — ela me corrige.

— Sim, seu pai. — Sorrio. — Não o desobedeça. — Acaricio

seu rosto e ela acena.

Eu me afasto e Drew a põe no chão. Erick segura a mão dela

e os dois saem sem dizer nada.

— Eu vou subir, vocês precisam de algo? — questiono,

olhando diretamente para Drew, que balança a cabeça.

— Não, Bree, só estou esperando meus pais. Eles disseram

que estão chegando hoje. Viemos vê-los — ele responde.


— O.k. Quando eles chegarem, me chamem. Estou morrendo

de saudade de ambos. Essa viagem foi bem puxada — digo, rindo.

— É claro, querida. — Ele beija a minha testa.

— Com licença, Aidan, Andie. — Eu me viro e ando para a

escada.

— Parece até que a casa é dela. Seu pai está o quê?

Mantendo a vagabunda aqui para sempre? E vai pagar um

apartamento aqui no bairro para ela?

A voz de Andie me alcança assim que subo o último degrau.

— Por que você não cuida da sua vida, Andie? — Drew

questiona sério.

Fico parada, ouvindo o desenrolar.

— Drew — Aidan murmura e meu cunhado bufa. — Drew,

estou falando sério. Pare de brigar com Andie por causa da Bree.

Ela estava aqui bem antes, ela é minha irmã.


— Aidan, ela acabou de chamar a mulher de vagabunda.

Pelo amor de Deus, sua irmã está grávida, e gravidez não é doença.

A única coisa tratável em sua irmã é a mente...

— Aidan, oh meu Deus — Andie choraminga, fingida.

— Drew, pare agora...

— Meu irmão não te quer, Andie. Ele e Bree não estão juntos,

e mesmo assim ele ainda não te quer. Por que você não se toca? —

Drew questiona.

Eu coloco a mão sobre meus lábios, em choque.

— Você dorme aqui hoje. Estou indo embora — Aidan fala de

maneira firme antes de eu ouvir o elevador ser chamado e uma

porta bater.

Desço a escada e vejo Drew parado onde o deixei, minutos

atrás.

— Drew... — Abro e fecho meus lábios, então me aproximo e

passo meus braços por seu corpo.


— Ele foi embora, Bree. Aidan foi embora e me deixou aqui...

— Não se preocupe, ele logo vai voltar. — Puxo-o pela mão

para nos sentarmos. — Drew, não retruque nada do que ela falar.

Aidan está numa posição complicada. Ela é irmã dele.

— Mas ela falou aquilo de você. Eu não entendo como ele

pode justificar tudo que ela faz por causa de Archie. É idiota e

insano. — Ele segura a cabeça entre as mãos.

— Está tudo bem. — Eu suspiro, afagando suas costas. —

Aidan vai voltar daqui a pouco e ver que foi bobo — digo,

suavemente.

Mas depois de subirmos para o meu quarto e escolhermos

três apartamentos para visitar amanhã, Aidan não tinha vindo.

— Eu sabia. — Drew cobre seu rosto com o braço e eu

suspiro, balançando a cabeça. — Ele é tão teimoso. Um imbecil.

Andie tanto tentou que o afastou de mim.


— Cala a boca e vamos embora. — Pulamos assustados ao

ouvir Aidan retrucar. Eu elevo a cabeça e o encontro ao lado da

porta. Drew se ergue e encara o marido, engolindo em seco. —

Amor, desculpa, tá? Agora, vamos para a nossa casa. Eu não

consigo dormir sem você, inferno! — Aidan pragueja bocejando, e

eu rio, tapando a boca.

— Tá bom. — Drew sorri e me abraça. Ele vai até Aidan e eu

sorrio quando os dois se abraçam e se beijam. — Tchau, querida.

— Tchau, baby. — Balanço minha mão e vejo os dois saírem.

Vou até o quarto de Poppy e sorrio ao ver que ela já está na

cama e de pijama. Erick deve ter feito o pacote completo. Volto para

o corredor e desço para a cozinha. Pego os cookies frios e começo

a embalá-los devagar, um a um.

— Você não deveria estar dormindo?

Eu me viro com o dedo entre os lábios e encaro Erick. É o

último biscoito e eu resolvi provar. Está delicioso.


— Estava embalando os cookies da Poppy — explico, me

virando. Pego a cesta que comprei hoje cedo e arrumo os saquinhos

com cookies dentro.

— Entendi. — Ele anda até a geladeira e pega água. Toma

um copo todo e só então me dou conta de que ele está com outra

roupa, e segurando sua jaqueta. Ele vai sair.

Mordo meu lábio, tentando parar a curiosidade. Ele não

responderia mesmo assim. Suspiro e guardo a cesta.

— Drew estava aqui até agora? — Aceno. — Por quê? Aidan

chegou depois, que eu vi.

— Os dois discutiram — falo simplesmente e pego água para

mim também. Bebo a água gelada e vejo seu olhar descer por meu

decote no vestido justo.

— Por qual motivo? — Ele arqueia a sobrancelha quando

volta a encarar meu rosto.


— Andie e Drew brigaram e Aidan defendeu a irmã dele. —

Dou de ombros e ando para a pia. Erick não conversa ou dirige a

palavra a mim há dias, e hoje ele está aqui, mantendo uma

conversa longa. Deus sabe que eu não queria me sentir feliz, mas

estou.

— O que Andie falou sobre você? — Erick questiona

enquanto lavo as mãos e eu me viro, franzindo a testa.

— Como sabe que era...

— Drew só discute com Andie sobre uma coisa: você.

Eu suspiro ao ouvir isso.

— É porque ele me ama — brinco, sorrindo, e respiro fundo.

— Porém eu não encorajo isso. Aidan está em uma posição difícil.

Drew não precisa me defender — murmuro.

Erick cruza os braços, se encostando na parede.

— O que ela falou?


— Algo sobre eu ser uma vagabunda e seu pai estar me

sustentando. Eu não ligo. Logo não vou estar mais aqui e vai ser

melhor. Nunca mais verei ela, então... — Dou de ombros e enxugo

minhas mãos.

— Você encontrou um apartamento? — Ele semicerra os

olhos.

Eu aceno, me encostando na ilha da cozinha.

— Amanhã vou ver três de que gostei pelas fotos. — Engulo

em seco quando seu celular começa a tocar e ele o atende.

— Erick. — Sua voz fica fria e distante assim que leva o

celular ao ouvido. — Em cinco minutos.

Ele guarda o celular e se afasta da parede, andando até mim.

— Andie não conhece você, Bree. Não ligue para o que ela

cospe. — Sua mão segura meu rosto e eu reprimo a vontade de me

pôr na ponta dos pés, segurar seu pescoço e beijar sua boca.

Sorrio e beijo sua bochecha.


— Tudo bem. — Mordo meu lábio e Erick se afasta.

Vejo-o andar até a saída da cozinha e sinto meu coração

doer. Ele continua andando e eu o sigo devagar.

— Erick — chamo e cruzo meus braços quando ele se vira.

As palavras que eu queria dizer entalam em minha garganta. Sinto

sua falta? Volta a me foder até eu perder os sentidos? Abre minha

porta mais uma vez?

— O que é, Bree? — ele questiona.

Sinto meu queixo tremer e lágrimas encherem meus olhos.

— Nada. — Limpo meus olhos e sorrio. — Vou dormir.

Subo a escada rapidamente e ouço quando ele sai de casa.

Que diabos, Bree? O que está acontecendo com você?

Meu corpo, alma e coração sabem... eu estou me

apaixonando.

Estou me apaixonando profundamente por Erick MacGregor.


Bem cedinho, sou acordada por Erick e Drew, avisando que

os pais deles ainda não chegaram e não atendem às ligações.

Desço para a sala depois de trocar de roupa e começo a ligar para

Jolie. Suspiro quando o telefone chama incontáveis vezes. Erick

está falando com o assessor de campanha enquanto Drew liga a

tevê para assistir a uma série. Ele está tentando não se preocupar,

mas a cada minuto sem notícias piora tudo.

Eu me viro para ver Erick, mas a voz da apresentadora do

jornal chama a minha atenção.

"Na noite de ontem, o carro do candidato Reinald MacGregor

e de sua esposa, Jolie MacGregor, foi incendiado. Sem notícias de


ambos, a polícia está investigando onde e por quem os dois foram

levados."

— Oh meu Deus! — grito, desabando no sofá ao ver a foto de

Jolie e Reinald na televisão.

— O quê? — Drew parece entorpecido quando se ergue.

Puxo-o para se sentar novamente e vejo quando seus olhos

se enchem de lágrimas ao ver jornalistas perto de um dos carros de

Reinald.

— Não. É mentira — Erick diz, apertando o celular contra a

orelha. — Onde estão meus pais? — ele grita no telefone, então me

ergo e caminho até ele. — Você está mentindo! — Seus gritos

aumentam.

Sinto as lágrimas descendo por meu rosto quando ele me

puxa contra o seu peito. Soluço contra seu corpo antes de ouvir a

porta central ser aberta. Eu me afasto de Erick e corro até lá,

encontrando Aidan e Andie entrando. Levo minha mão à boca


quando o soluço escapa. Por um momento eu pensei que eram

eles. Eles não podem ter morrido. Oh meu Deus, por favor, clamo,

voltando para os braços de Erick, que me recebe com o semblante

tão triste quanto o meu.

Agradeço por Poppy ter ido passear com Cass, pois eu não

sei como aguentaria isso se a minha filha estivesse aqui também. A

imagem do seu rosto chorando no dia em que lhe contei sobre seu

pai aparece em minha mente e eu sinto meu coração quebrar.

— Baby... — Aidan abraça Drew, que começa a soluçar e

balançar a cabeça.

— Eles estão bem. Sei que estão. Meu pai... ele não me

deixaria. Mamãe não faria isso...

Drew parece uma criança indefesa. Erick me deixa ir quando

faço movimento para me afastar, então envolvo meus braços em

volta de Drew enquanto ele chora no colo do marido.


— Drew, não vamos nos desesperar. Não os encontraram no

carro. Eles estão bem. Eu sinto — Erick fala de maneira firme, me

fazendo erguer meus olhos para ele. — Bree, você precisa se

acalmar. Poppy vai chegar daqui a pouco. O que vamos fazer com

nossa menina se...

— Eu não vou conseguir falar, Erick. Eu... com Kellan foi

difícil, quase impossível. Eu não posso tirar duas pessoas da vida

da minha filha dessa maneira... — Balanço a cabeça e ele me puxa

para seus braços novamente.

— Não vamos falar. Eles estão bem. Eu sei que estão.

Eu aceno diversas vezes e ele beija minha testa. Erick recebe

os policiais minutos depois, e todas as pessoas que trabalham na

campanha começam a aparecer. Quando Poppy chega, eu a mando

para a casa de Florence, dizendo que as sobrinhas da minha amiga

querem brincar com ela. Ela fica tão feliz que não questiona.
— Alguma novidade? — pergunto a Erick quando ele desliga

o celular.

— Não, Bree.

Aperto minhas mãos em meus olhos e tento respirar fundo.

Pego uma xícara e a encho com café. Beberico um pouco e me

sento na banqueta.

— Você está bem? — questiono, engolindo em seco ao ver

seus olhos desnorteados.

— Não. Eu... — Ele respira fundo, encarando os próprios pés

e colocando as mãos nos bolsos do jeans. — Só não consigo

acreditar que isso está acontecendo...

— Olhe para mim. — Seguro seu queixo e ergo meus olhos.

Erick fica na minha frente enquanto segura meu rosto entre as mãos

trêmulas. — Eles estão bem. Eu sei disso. Alguém ajudou os dois e

agora eles devem estar se recuperando. — As palavras deixam

minha boca, mas nós dois sabemos que a única pessoa sendo
consolada aqui sou eu. Erick é forte, ele sabe que os pais estão

bem. Eu que estou tentando me convencer.

— Senti saudades, Pink — Erick murmura.

Mordo meu lábio, sentindo as batidas do meu coração

acelerarem. Encaro seus olhos azuis e sorrio.

— De quê? — questiono devagar enquanto ele desliza seus

dedos pela minha bochecha.

— De você. Da gente... — Ele me encara firme, mas seus

olhos dizem mais. O carinho e saudade ali são inconfundíveis.

— Eu também. — Meus ombros sobem ao falar. Deixo meu

café de lado para segurar sua camisa entre meus dedos. Suspiro e

Erick se inclina, beijando meus lábios rapidamente. Tão leve e

suave como o vento quando toca meu corpo.

— Estou onde sempre estive, Pink. — Ele se afasta e me

abraça. — Por que não vai dormir um pouco? Hum? Qualquer

novidade eu te acordo. — Erick me ajuda a descer do banco.


— Não conseguiria. — Nego com a cabeça e me afasto,

voltando a beber meu café.

— Erick. — Nós nos viramos assim que Andie o chama. Ela

olha entre nós e respira fundo, me dando um olhar atravessado. —

Archie está agitado. Posso ir para o seu quarto descansar um

pouco?

Volto a prestar atenção no meu café e engulo o nó da

garganta.

— Claro, vem, eu te levo lá — Erick fala e segura a minha

cintura, me fazendo olhar para ele. — Você está bem mesmo? Está

pálida, Pink. — Seu tom preocupado me faz relaxar.

— Estou bem. Não se preocupe. — Beijo o canto da sua

boca e me afasto.

Os dois saem da cozinha segundos depois. Volto para a sala

e ofereço café a todos. Cass me ajuda a servir e logo todos estão

bebendo. Horas passam e a noite vira madrugada. Algumas


pessoas vão embora e logo estamos apenas eu, Aidan, Erick e

Drew. Andie está dormindo no quarto de Erick.

Minhas lágrimas secaram, porém o medo ainda está por todo

meu corpo. Eu me sento no sofá assim que Aidan leva Drew para o

seu quarto antigo, obrigando-o a dormir.

— Eu vou subir também. Estou cansada e não estou me

sentindo bem — murmuro para Eric, que acena e me ajuda a subir.

Ficamos calados em frente à porta do meu quarto enquanto encaro

a porta do seu, sabendo que ele vai dormir ao lado de Andie.

Eu não deveria sentir ciúme, mas sinto.

— Vou descer e ficar um tempo esperando alguma notícia.

Se eu for dormir em algum momento, não vai ser lá. — Erick segura

meu queixo para que eu o encare.

Assinto e entro em meu quarto, me forçando a adormecer em

seguida.
— Bree! — Quando alguém empurra o meu ombro, eu abro

meus olhos e me sento. Drew está de pé e me puxa pela mão em

direção à porta e depois para a escada. Assim que terminamos de

descer, eu ofego ao ver Reinald e Jolie de pé no meio da sala,

abraçando Erick, Aidan e Andie.

— Oh meu Deus! — Eu me aproximo e pulo nos braços de

Jolie, que me recebe com lágrimas nos olhos. — Você está bem? —

questiono, passando a mão por seu rosto.

— Estou bem, querida. — Ela é abraçada por Reinald e eu

beijo a bochecha dele, sorrindo, agradecida.

— O que aconteceu? — questiono assim que me afasto.

Erick segura minha mão e me leva até o sofá. Nós nos

sentamos juntos e Reinald começa a contar.

Os dois foram parados por um carro estranho e, de repente,

começaram a jogar gasolina no carro deles. Eles acenderam o fogo

depois de prenderem ambos no carro. Reinald quebrou os vidros e


tirou Jolie do carro segundos antes de ele explodir. Os dois estavam

no hospital, mas não disseram seus nomes verdadeiros, temendo

que a pessoa que fez isso voltasse para matá-los.

— Vocês acham que alguém mandou...

— É lógico. Você está surda? — Andie me corta, irritada.

Suspiro, nem mesmo olhando em sua direção.

— A segurança vai apertar. Vamos nos mudar daqui. Eu sinto

muito, Bree, mas sua mudança está fora dos planos agora.

Precisamos ficar juntos — Reinald fala suavemente e eu engulo em

seco, acenando. — Drew vai voltar a morar conosco. Você é bem-

vindo, Aidan. — Ele sorri.

Aidan fica calado, sem mostrar qualquer reação.

— E eu? — Andie fala, novamente irritada. — Eu sou mãe do

neto de vocês. Bree fica morando aqui, enquanto eu fico

desprotegida no meu apartamento?


— Sinto muito, Andie, mas você não está com Erick, nem vai

estar. É inviável e eu tenho certeza de que se alguém tentar algo

contra minha família, vai ser contra Poppy, que já está entre nós. A

mídia nem mesmo sabe da sua gravidez. Você me compreende? —

Jolie murmura com firmeza, franzindo o cenho. — Archie vai ser

bem protegido quando nascer, não se preocupe.

— Eu só acho que Bree e Poppy são muito...

— Meu Deus do céu, você quer morar com eles? — Eu me

ergo, cansada dessa mulher. — Vai, Andie! Peça Erick em

casamento e morem juntos. Pare de falar o meu nome e o da minha

filha. Esqueça que nós duas existimos. Eu já estava me organizando

para sair daqui. Você está escutando alguma coisa? Agora, o que

eu não vou fazer é colocar a segurança da minha filha em risco

porque você não consegue aceitar o seu lugar! — Eu elevo a voz,

cansada.
— Vamos, Andie. — Aidan se levanta. — Pelo amor de Deus,

só ande e pare de agir como a porra de uma adolescente — ele

manda e ela semicerra os olhos, com raiva.

— Vou tomar banho e ir trabalhar. Poppy vai comigo para a

loja. Tem algum problema, Aidan? — questiono, encarando-o

quando ele nega. — Obrigada.

— Bree.

— Estou muito feliz por estarem bem. De todo o meu

coração, eu senti muito medo de perder vocês — sussurro,

emocionada, e os dois suspiram.

Entro em meu banheiro minutos depois. Tiro meu pijama e

entro no boxe. Pego um pouco de xampu e lavo meu cabelo

devagar. Passo condicionador e penteio os fios negros. Ouço a

porta abrir e me viro, vendo Erick de pé, sem camisa.

— Tem lugar para mim aí? — ele questiona.

Eu aceno, ansiosa.
Meu coração bate descontrolado enquanto Erick tira a cueca.

Ele entra no chuveiro e sorri, passando sabonete em seu corpo.

Erick segura minha cintura e me puxa contra seu peito. Suspiro

quando ele elimina a distância e cola sua boca na minha. Seus

lábios chupam meu lábio inferior enquanto eu deslizo minhas mãos

por seu peito.

Erick me beija com fome e eu tremo sob seus braços. Ele me

ergue e minhas costas colidem com o vidro frio, me fazendo

arquejar. Ele aproveita que meus seios estão livres e abocanha um

mamilo. Meus gemidos ecoam pelo banheiro e meu grito se

sobrepõe quando seu membro desliza para dentro de mim em uma

estocada.

— Erick — eu gemo contra sua boca. Ele me segura pela

bunda com ambas as mãos, fazendo amor comigo em silêncio.

Suspiro e tremo ao chegar ao clímax.


— Porra, que saudade eu estava do seu corpo, Pink — ele

geme.

Aperto minhas pernas, mantendo-o dentro de mim. Erick me

carrega para seu quarto e eu arregalo os olhos ao nos deitarmos em

sua cama. Ele nunca fez isso.

— Preciso de você nela. Preciso do seu cheiro nos meus

lençóis. Eu preciso de você. — Então, em alguns segundos, uma

nova rodada começa, muito mais prazerosa e muito mais marcante.

Quando ambos estamos satisfeitos, Erick rola para o lado e

eu respiro fundo, tentando ordenar minha mente para me erguer e

voltar para meu quarto. Preciso trabalhar, mas eu sei bem que não é

por isso que preciso me erguer.

Não conversamos depois de transar.

Não tem carinho ou abraços.

Por isso me ergo e caminho completamente nua para o

banheiro.
— Ei! Volta aqui — Erick resmunga. Eu me viro quando

chego à porta do banheiro. — Aonde vai?

— Trabalhar, lembra? — indico, sorrindo fracamente. Ele

franze as sobrancelhas e se senta na cama. — Você faz isso todas

as vezes em que transamos, Erick. Se levanta e sai. Me deixa

sozinha na cama fria...

— Mas eu não ficava porque qualquer pessoa poderia nos

ver. Ou até porque eu não sabia que queria que eu ficasse, Pink.

— Está tudo bem. De verdade. Estou com saudade de

Poppy, então vou me apressar, o.k.? — Forço as palavras a saírem

e entro no banheiro.

Eu me limpo rapidamente e me arrumo, saindo em seguida.

— Mamãe! — Poppy sorri e pula em mim assim que entro na

loja.
Abraço seu corpinho e a observo durante todo o dia enquanto

trabalho. Na hora do almoço, vamos ao restaurante e ela come um

pedaço do bolo de chocolate de sobremesa.

— Bree, podemos conversar? — Aidan questiona assim que

chego.

Deixo Poppy com Florence e corro atrás dele.

Aidan sorri quando eu mordo meu lábio, tremendo. Não

parece real. Suas palavras voltam mais e mais, porém ainda não

parece real. Ser sua sócia? Meu Deus!

— Então, aceita? Eu realmente quero abrir uma segunda loja,

só que sem a Andie vai ficar difícil. Já está montada. O valor está

bom para você? Seria como uma franquia — ele fala rapidamente,

parecendo nervoso, enquanto seguro as lágrimas.

— Obrigada pela oportunidade. O preço está incrível. Nossa,

estou eufórica! — Eu pulo, me erguendo e me jogando em seus

braços.
Aidan suspira aliviado e me abraça também, então acertamos

tudo referente à loja da qual eu irei estar à frente.

Quando entramos em casa, Poppy grita e corre até os avós.

— Ei, minha menina, como foi seu passeio? — Jolie

pergunta, então Poppy começa a falar mil e uma coisas que fez com

Florence.

— Está tudo bem? — questiono a Reinald.

Ele acena, abotoando o paletó.

— Vou dar uma entrevista. Peço que fiquem em casa, por

precaução. — Ele sorri e eu aceno, vendo-o sair com os seguranças

depois de beijar a neta.

— Ah, você não sabe quem está aqui! — Jolie dá um sorriso

enorme e eu franzo o cenho quando ela responde. — Danton!

Oh meu Deus!
Poppy começa a gritar, e eu também, quando vejo Danton

saindo da cozinha segurando um prato com um pedaço do bolo.

Minha filha corre e abraça o amiguinho, sujando toda a blusa dele.

Anna aparece e eu corro para abraçá-la.

— Dan! — Poppy sorri tão largo que eu sorrio também só por

ver o quão feliz ela está.

— Precisei vir à cidade resolver alguns problemas. Trouxe

Danton e cá estamos nós — Anna explica quando nos afastamos.

— Nossa, que felicidade! Vocês voltam hoje mesmo ou

ficam? — questiono, me sentando com ela enquanto Danton e

Poppy vão para a cozinha com Jolie, para limpar a camisa dele.
— Vamos embora daqui a pouco. Uma visitinha rápida

mesmo. — Ela faz careta e olha para onde as crianças foram. —

Não quero pensar na hora da despedida. — Nós duas rimos e eu

suspiro.

— Vamos colocá-los para conversarem por chamada de

vídeo algumas vezes na semana. O que acha? — proponho e ela

acena animadamente. — Agora não, mas gostaria de trazer Danton

para ficar aqui alguns dias. Vou cuidar dele como se fosse meu filho,

eu juro — digo, como quem não quer nada.

— Sim, é claro. Porém, só se Poppy for para lá também.

Vamos aproveitar as férias de ambos.

Fico conversando com ela por alguns minutos, depois

jantamos e logo Anna avisa que precisa ir.

— Mas... — Poppy olha para Danton, que segura a mão de

Anna, e abraça minha perna, escondendo o rosto.


— Poppy, está tudo bem. Minha mãe disse que podemos

falar pelo celular — Danton explica e eu beijo seu rosto e aceno.

— Isso mesmo! E Danton virá passar alguns dias aqui em

breve. Vai ser incrível — murmuro para a minha filha.

Os dois se abraçam assim que o elevador se abre e Erick

entra. Suspiro ao ver o paletó agarrando seus braços divinamente.

— Papai! — Poppy grita, pulando nos braços de Erick.

Vejo que Anna e Danton ficam completamente confusos,

então explico suavemente que Erick é tio dela e que ela passou a

chamá-lo assim.

— Dan, esse é meu papai novo — ela fala alegremente,

fazendo meu coração derreter.

— Oi. — Ele acena para Anna e se abaixa até ficar na altura

de Danton. — Ei, você é o melhor amigo da minha Poppy?

— Minha Poppy. — Danton semicerra os olhos.


Sorrio diante da cena. Os dois conversam um pouco e logo

Danton vai embora com Anna. Erick segura uma chorosa Poppy nos

braços e os dois sobem juntos, me deixando para trás. Quando eu

subo, encontro-os assistindo a uma série na Netflix. Eu me encosto

na porta e suspiro.

— Ela dormiu — Erick fala e me chama com um gesto de

mão. Caminho até eles, me deitando ao lado dele. Seu perfume está

por toda sua roupa e eu o cheiro, relaxando quando seu braço

envolve a minha cintura. — Ela gosta mesmo do garoto, né?

— Sim, os dois são amigos desde sempre. Poppy o ama

muito. — Suspiro, olhando minha filha adormecida. — Eles

nasceram no mesmo mês, no mesmo hospital...

— Como foi sua gravidez? Vocês planejaram Poppy? — Erick

questiona de repente.

— Sim. — Ergo meu rosto, colocando meu queixo em seu

peito. — Planejei tudo. Kellan tinha baixa qualidade de espermas,


então partimos para a Fertilização In Vitro — explico e suspiro,

lembrando-me do dia em que enfim descobri a minha gravidez. Foi o

dia mais feliz da minha vida.

— Entendo. — Ele beija minha testa e se remexe. — Preciso

tomar banho e jantar — Erick fala e nós dois nos erguemos.

Saímos do quarto de Poppy e entramos no meu. Depois que

Erick termina de tomar banho, nós descemos. Já passa das dez da

noite, mas Drew e Aidan estão na sala. Paro na escada com Erick

atrás de mim quando Aidan eleva a voz.

— Eu não vou morar com seus pais, Drew! E se você for,

sinto muito, mas nós dois não vamos dar certo longe um do outro.

Já tentamos e você sabe como terminou...

— Ótimo, Aidan. Me deixe aqui novamente e saia. Faça isso

e eu juro que de nenhuma maneira volto para sua casa...

— Nossa casa, nossa! E eu só saí aquele dia porque Andie

está mal por Erick...


— Sua irmã está fingindo tudo isso e você sabe! — Drew

grita.

Erick suspira, me dando impulso para terminar de descer a

escada.

— Não importa. O que está em jogo é o fato de você ter que

se mudar...

— Aidan, baixa a bola — Erick manda ao se aproximar.

Engulo em seco quando ele fica cara a cara com seu melhor amigo.

— Meu pai está preocupado com todos nós. E se um dia Drew for

sequestrado, ou coisa pior entrando e saindo da casa de vocês?

Uh? É isso que você quer? — ele continua falando.

Aidan arregala os olhos, encarando a parede.

— Meu irmão, deixa. Aidan tem doutorado em me abandonar,

estou acostumado. — Drew respira fundo, se sentando no sofá e

esfregando o rosto rigidamente.


— Não vou te deixar, Drew! Pelo amor de Deus, eu só não

quero dormir sozinho... — Aidan encara o marido, parecendo

cansado.

— Venha morar conosco, então. Vai ser temporário — Erick

murmura.

Aidan suspira, puxando o cabelo acobreado.

— Vamos para casa só hoje. Amanhã trazemos nossas

coisas — Aidan volta a falar e eu vejo Drew relaxar e acenar. Os

dois irmãos se abraçam e eu envolvo meus braços em Drew para

me despedir.

Quando ambos vão embora, eu sigo Erick até a cozinha.

— Eles já terminaram muitas vezes? — pergunto momentos

depois, quando me sento à mesa e o observo comer.

— Muitas. Aidan era um homem hétero antes de conhecer

Drew. Ele não se aceitava e demorou para se assumir, assumir

Drew. Eu fiquei chocado quando eles me contaram — Erick explica


e coloca mais uma garfada de comida na boca. — Então, tudo foi

meio que ruindo para os dois. Aidan não gostava dos amigos de

Drew, ele queria Drew só para ele. Até que se casaram. Os dois

mudaram depois de morarem juntos. São mais felizes.

— Eu amo os dois. Drew é muito apaixonado por Aidan. É um

relacionamento lindo — digo, enquanto faço círculos na mesa. —

Acho que Aidan tem medo de ser abandonado por Drew. Aí ele é o

único a abandoná-lo. — Erick franze as sobrancelhas e eu suspiro.

— Pode ser meio confuso, mas ele deve achar mais fácil ser ele a

sair do que ser deixado.

— Pode ser, mas odeio que ele sempre faça Drew ter medo

de fazer escolhas. Ele ficou apavorado quando nosso pai falou

sobre morarmos juntos, exatamente por causa do Aidan. Isso não é

legal — ele fala enquanto corta um pedaço da carne.

— Não, não é mesmo.


Suspiro e relembro meu tempo de casada. Kellan sempre foi

ciumento, muito mais do que acho saudável, mas não era

exatamente isso que me tirava do sério. Era o jeito que ele tentava

ser o centro do meu mundo. Ele queria ser o primeiro a saber de

tudo, saber onde eu estava e com quem. Quando tinha alguma

decisão da floricultura que eu precisava tomar, como, por exemplo,

mudar de fornecedor, ele ficava irritado que eu tivesse decidido

sozinha. Eu não me sentia livre, nunca me senti, mas eu o amava

muito. Ele era tudo para mim e eu jamais quis brigar por sua

preocupação. Hoje eu vejo que meu amor me cegava, e é por isso

que tenho medo de amar novamente. Procuro o rosto de Erick e

engulo em seco ao vê-lo me encarando.

— Ficou pensativa — ele murmura e bebe seu suco,

lambendo os lábios em seguida.

— Estava pensando em Kellan. — Mordo meu lábio enquanto

observo o pomo de Adão de Erick subir e descer. — Eu vou dormir.

Te vejo amanhã. Boa noite.


Saio rapidamente da cozinha e vou para meu quarto. Eu me

sento em minha cama enquanto tento normalizar minha respiração.

Aperto meu peito com força e fecho meus olhos, tremendo. Meu

coração batendo rápido e minha barriga gelada me fazem querer

chorar. Não é apenas o meu corpo me dando alertas, é minha

mente me dando a certeza de que Erick MacGregor está se

infiltrando em meu coração. Eu o amo e tenho certeza de que me

arrependerei disso amargamente.

Ele não entra em meu quarto durante a noite e eu tenho

certeza de que ele percebeu o mesmo que eu.

— Está tudo bem? — Atendo meu celular assim que dá a

hora do meu almoço e me sento em minha ex-cadeira no escritório

de Aidan, respirando fundo. A escola da Poppy não liga nunca.

Ligações nunca aconteceram.


— Bom dia, srta. Sawes. A Poppy está com febre e vomitou o

lanche.

Eu me ergo assim que as palavras deixam sua boca.

— Estou a caminho.

Desligo o celular e ando pela loja até encontrar Aidan. As

meninas saíram para almoçar minutos atrás, quando meu celular

tocou. Hoje só vim ver algumas papeladas, mas já estou

trabalhando na minha própria loja.

— Bree... o que foi? Aconteceu algo? — ele questiona assim

que chego à sua frente.

— Poppy está com febre, tenho que ir buscá-la — explico

suavemente, apertando a chave do meu carro na mão. — Você

pode cuidar de tudo?

— É claro. Vai lá.

Saio rapidamente e entro em meu carro. A escola fica a

alguns minutos, agradeço por isso. A professora sorri quando me


entrega minha filha em meus braços e me pede para que eu dê

notícias. Decido levá-la ao médico ao ver que ela está dormindo e a

febre está bem alta.

Espero alguns minutos, tentando mantê-la acordada, mas

Poppy está além do sono.

— Poppy MacGregor?

Eu me ergo assim que uma enfermeira nos chama. Ando com

minha filha até uma sala e engulo em seco ao ver um moreno de

cabelo escuro entrando em seguida. Oh, Jesus.

— Com licença... — As palavras se perdem assim que

Cameron eleva o rosto e me vê. — Oh, Bree, hum, o que sua filha

tem? — Ele se aproxima e tira Poppy dos meus braços. Cameron a

coloca gentilmente na cama macia e me encara.

— Desculpa, é... ela estava na escola e a professora me ligou

dizendo que ela estava com febre e vomitando. Pela manhã ela

estava bem. Foi de repente — explico devagar e ando até minha


filha. Seguro sua mãozinha quando ela abre os olhinhos. — Oi,

princesa! Como está se sentindo?

— Estou com dor de barriga, mamãe... — Ela se vira, ficando

de lado na cama. Ao fazer uma careta, vomita bem em frente a

Cameron. Graças a Deus não pega nele. — Desculpe.

— Está tudo bem, Poppy. Agora, me deixa te examinar? —

Ele sorri calorosamente segundos antes de uma mulher entrar e

limpar toda a bagunça.

Cameron brinca e faz Poppy sorrir diversas vezes, então

relaxo um pouco ao perceber quão bom médico ele é.

— Poppy está com uma infecção intestinal. É comum quando

ela come algo diferente, ou talvez até estragado. Vou receitar alguns

medicamentos e ela vai ficar em observação por algumas horas,

tomando medicação. Tudo bem? — Cameron me avisa enquanto

prescreve. — Ela tem alergia a algum medicamento?


Respondo todas as suas perguntas segurando Poppy no

colo. Cameron sorri quando minha filha se inclina e pega em seu

rosto.

— Você é bonito — ela murmura.

Sorrio ao ver Cameron corar.

— Obrigado, princesa, mas você é bem mais. — Ele pisca e

se ergue, me entregando os papéis. — Passarei na observação

para vê-la daqui a pouco.

— Obrigada, Cameron... — Engulo em seco e suspiro,

encarando seus olhos gentis. — Desculpe por não ter ligado depois

daquele dia...

— Eu entendo, está tudo bem. — Ele sorri e me estende a

mão. — Poppy vai melhorar rapidamente.

— Obrigada. — Eu sorrio e me afasto, saindo do seu

consultório.
— Tchau, príncipe — Poppy murmura sorrindo. Antes de

passarmos pela porta, Cameron beija a mão dela.

— Até daqui a pouco, princesa.


— Por que demorou tanto? Já estava indo embora —

resmungo assim que Aidan se senta na minha frente. Já terminei de

almoçar enquanto esperava o infeliz.

— Bree teve que ir buscar Poppy na escola e as meninas

tinham saído para almoçar. Tive que esperar uma delas voltar. —

Ele chama o garçom impacientemente, então o homem corre até

nós e anota o pedido dele.

— Por que Bree foi buscar Poppy? — questiono, sabendo

que ela só sai da escola mais tarde.

— Ela está com febre e vomitando. Bree a levou ao hospital e

está lá com ela. Pelo menos foi isso que ela me disse quando liguei,
minutos atrás. — Ele respira fundo e me encara. — O que foi?

— Por que ela não me ligou?

— Por que ligaria? — Aidan franze a testa, confuso.

— Porque... — As palavras somem e eu engulo em seco. O

que eu falaria? Que eu sou o pai da menina e mereço saber?

Nossa, Erick, você é um idiota. — Vou encontrar as duas. Te ligo

depois.

Eu me ergo e saio andando sem esperar por resposta.

"Em qual hospital você está?"

Clico em enviar e entro em meu carro. Espero alguns

segundos e logo recebo uma resposta. Dirijo respeitando as leis de

trânsito, mas estou com tanta raiva que nem sei explicar. Sim, Bree

não me avisou, e daí? Eu não sou o pai da menina. Não tenho

qualquer direito sobre ela.

Chego ao hospital rapidamente, e quando falo meu nome, as

pessoas começam a se mover para me colocar onde eu quero – ao


lado de Poppy e Bree.

— Ei! — Sorrio ao me aproximar e ver as duas em um quarto.

Poppy está deitada enquanto recebe alguma medicação pela veia, e

sua mãe, sentada ao lado. Bree sorri ao se erguer enquanto beijo a

menina. — Como está?

— Bem, papai. — Ela sorri.

Respiro fundo ao ouvi-la me chamar assim. Desde a primeira

vez, sinto um caroço enorme crescer em minha garganta.

— Como soube que estávamos no hospital? — Bree

questiona, cruzando os braços e se encostando na cama.

— Aidan. — Engulo minha reclamação sobre ela não ter me

ligado quando ouço a porta abrir. Eu me viro e semicerro os olhos

ao ver o homem que estava almoçando com Bree um tempo atrás.

— Voltei! — Ele sorri e me encara. — Você é?

— Meu papai, príncipe. — Poppy sorri animadamente.


Eu me afasto da cama, dando espaço a ele para ir até ela.

Príncipe? Nossa, Poppy...

Procuro o rosto de Bree e ela me encara, mordendo o lábio.

É incrível a quantidade de vezes em que ela maltrata a boca quando

está nervosa. Semicerro os olhos e ela engole em seco, revirando

os seus.

— Ah, o.k. — O médico assina alguma coisa no papel e o

entrega a Bree. — Poppy está liberada. Podem levá-la para casa.

Se a febre retornar ou se ela vomitar novamente, você a traz de

novo, tudo bem?

— Sim, Cameron. Muito obrigada. — Os dois dão um aperto

de mão e ele se afasta, indo até Poppy para tirar seu acesso.

— Se cuida, princesinha. — Ele beija a cabeça de Poppy e

eu aperto meus punhos, não gostando disso. Poppy tem a mim, não

precisa desse cara chamando-a de princesa.

— Obrigada, príncipe.
Pego Poppy em meus braços assim que o médico sai da

sala. Andamos para fora e coloco Poppy no carro da mãe dela, já

que ele está com cadeirinha, e o meu não.

— Nos vemos em casa. — Eu me inclino sobre Bree para

beijá-la, mas ela se esquiva, arregalando os olhos e olhando ao

nosso redor. — O quê?

— Erick, você perdeu o juízo? — ela questiona, fazendo uma

careta, então eu a encaro, totalmente confuso. — Você é o filho do

candidato a governador, as pessoas conhecem você, e agora, a

mim. Será um escândalo se alguém fotografar nós dois nos

beijando...

— Você acha que vou desperdiçar a porra de um segundo

pensando nisso? — questiono firmemente e seguro sua cintura,

puxando-a contra meu peito. — Você é minha. Meu pai vai saber,

eventualmente.
Bree engole em seco e eu me afasto, deixando-a ir. Entro em

meu carro e sigo o dela de perto, apertando o volante com força.

Nunca pensei em tornar público ou oficial o que temos, mas o jeito

que Bree reagiu me faz questionar se isso é uma coisa boa ou ruim.

Droga.

— Encontrei uma casa — meu pai fala assim que eu entro

em seu escritório. Bree subiu com Poppy minutos atrás, então vim

até meu pai para saber quando nos mudaremos. — Sua mãe vai lá

amanhã para ver tudo e dar o aval. Nos mudamos assim que ela

falar que gostou. — Meu pai relaxa na cadeira.

— O.k. Passou da hora de nos mudarmos. Você não acha?

Crescemos aqui, mas na realidade, nem eu, Drew ou Kellan

gostamos de crescer aqui. Lugar fechado, pai. Crianças odeiam

lugares assim. — Dou de ombros e sinto meu celular vibrar.


— Eu sei — ele responde sorrindo, enquanto eu pego meu

telefone no bolso e vejo o nome da Andie. — Andie?

— Sim. — Encaro meu pai sem responder a mãe do meu

filho. — Não sei o que fazer com ela.

— Você está bem, Erick? — ele questiona olhando para mim

com seriedade.

— Estou. Eu só fico preocupado com Archie. Não confio em

Andie para cuidar dele. Ela está descontrolada ultimamente. —

Esfrego meu rosto e me inclino, colocando meus cotovelos na mesa

à minha frente.

— Eu vi. Você entende por que não a chamei para morar

conosco, certo? Não acho que dê certo Bree, você e Andie sob o

mesmo teto. — Eu semicerro os olhos para meu pai, tentando ver se

há algo por trás das suas palavras. — Já vi que as duas não se

suportam e você não quer nada com Andie. Tudo ficaria fodido —

ele resmunga.
Relaxo na cadeira ao perceber que meu pai não sabe de

nada.

— Não quero. Drew já está tendo problemas com Aidan. Os

dois brigam por causa da Andie. Todo mundo junto seria um inferno

— murmuro, tentando convencer a nós dois.

— Você acha que Bree está bem?

Sua pergunta me pega desprevenido e eu franzo a testa, sem

entender.

— Por que não estaria?

— Sua mãe disse que ela está estranha. Será que está

pensando em voltar para onde morava? Eu não duvido, já que agora

todos nós estamos em perigo — meu pai esclarece.

Assim que eu escuto sua fala, sinto meu peito doer. Bree se

mudar daqui de casa e ir para seu apartamento? Eu odeio a ideia.

Mas ela ir embora para longe me causa tanta raiva, que eu aperto

as mãos, deixando os nós dos meus dedos brancos.


— Não sei, pai. De verdade, eu não percebi nada. — Eu me

afasto da sua mesa escura e encaro seus olhos. — Se ela fosse, o

que faria?

— Não sei. Jolie sofreria muito, então foda-se, eu poderia até

prendê-la dentro de casa só para não ver sua mãe chorar pelos

cantos. Bastou ela descobrir a neta somente agora. Nunca vou

esquecer o olhar dela quando eu falei a ela sobre Poppy. Era como

se Kellan tivesse arrancado o coração dela. — Meu pai limpa a

garganta e eu engulo em seco, recordando-me o dia em que meu

pai descobriu sobre Bree e Poppy.

— Eu sei. — Suspiro e me ergo devagar. — Mas não se

preocupe, pai, Bree não vai a lugar nenhum.

É uma promessa.

Eu me encosto no portal do banheiro, cruzando os braços ao

olhar Bree deitada de bruços. Sua camisola cor de vinho está


amontoada acima da sua cintura, deixando sua bunda redonda

exposta. Sua calcinha pequena não cobre quase nada. Suspiro,

sentindo meu pau se contorcer.

Quando eu me aproximo devagar e ela se vira, seus olhos

encontram os meus e ela sorri. O cabelo preto de Bree está em

ondas espalhado pelo travesseiro enquanto seu peito sobe e desce

rapidamente. Coloco meu joelho no final da sua cama e subo.

— Erick...

Quando sua voz melodiosa ecoa, meu pau cresce dolorido.

Coloco-me entre suas pernas ainda de joelhos e afasto o tecido de

renda para o lado, deixando o mamilo rosa aparecer. Deslizo minha

mão por sua barriga e descanso-a em cima da sua boceta coberta

pela calcinha fina. Ao sentir o tecido úmido, encaro seu rosto

queimando de vergonha. Ela odeia que seu corpo responda a mim

tão rápido. Sei disso ao ver seu olhar todas as vezes.


— Já está molhada, Bree? — questiono, baixo e rouco.

Quero tanto essa mulher. Afasto o tecido e deslizo meus dedos em

seu botão rosa e molhado.

— Oh, Erick — ela geme quando insiro dois dedos em sua

boceta apertada. Juro por Deus que nunca tive uma assim em volta

de mim.

— Sua boceta é minha. — Eu não pergunto, apenas deixo

isso claro.

Ela acena e eu dou um sorriso contente. Levo meus dedos

molhados até seu seio grande e tiro meu pau de dentro da cueca,

deslizando por sua carne quente e encharcada em seguida. Eu me

inclino sobre seu corpo e lambo seu gosto diretamente do mamilo.

Bree arqueia, me dando total acesso. Mordo, beijo e chupo sua

carne e invisto contra sua boceta, tentando me acalmar.

— Diga que é minha, Bree — peço, beijando seu pescoço e

mordendo sua orelha. Encaro seus olhos e deslizo minha língua


sobre seus lábios carnudos.

— Eu sou sua, Erick — murmura sem fôlego, então beijo sua

boca, completamente faminto por ela.

Bree é como a luta para mim, me relaxa, extravasa minha

fúria e me acalma. Ela é meu bálsamo e eu sei que está se

infiltrando em minha pele.

A mulher me derruba e sobe em mim, tirando a camisola.

Seus peitos são macios, grandes e pesados. Eu amo os dois. Eu me

inclino e pego um mamilo em meus lábios, chupando, fazendo-a

gemer alto. Bree cobre seus lábios enquanto se senta em meu pau,

tentando deixar seus gemidos baixos. Ponho minha mão contra seu

clitóris e belisco a carne vermelha, fazendo a mulher que me tem

nas mãos gemer mais alto, gozando em cima de mim, sugando meu

pau e levando meu gozo para dentro de si.

Ela cai sobre mim e eu beijo seus lábios devagar, provando

seu gosto. Bree sorri no meio do beijo e me abraça.


— Eu não deveria me sentir tão bem estando nua em cima de

você, mas eu me sinto — Sua voz ecoa tranquila antes de bocejar.

— Eu me sinto completa.

Ela adormece comigo dentro dela. Por mais que eu saiba que

dormir com ela é perigoso, eu fico e abraço seu corpo pequeno.

Bree Sawes é proibida para mim, mas eu não sigo regras, eu

as contorno.

Na manhã seguinte, abro os olhos e suspiro ao sentir algo

molhado em volta de mim. Bree está com os lábios cheios do meu

pau. Eu grunho, empurrando meus quadris em direção à sua boca.

Ela sorri e se afasta, subindo em meu colo e segurando meu pênis

antes de descer sobre ele com sua boceta gulosa. Bree sorri e

geme, então coloco meus braços atrás da cabeça e assisto ao seu

show. Ela sobe e desce devagar enquanto seus peitos pulam. Seus
quadris tremem e ela goza, me puxando junto em direção ao

abismo.

— Bom dia. — Ela sorri.

Eu rio, puxando sua cabeça e segurando seu cabelo negro.

Beijo sua boca e logo nos afastamos.

— Bom dia, Pink.

Bree toma banho comigo e logo nos separamos. Cada um vai

para seu quarto, e quando desço vejo Bree ajudando Poppy a

comer. As duas sorriem assim que me veem, meu peito aperta e eu

sorrio de volta.

Bree e Poppy são as minhas meninas. Isso me assusta na

mesma proporção que me causa alegria.

E é complicado me sentir assim.


Tento parar de esticar os lábios enquanto Erick se senta ao

lado da mãe. Deixo meus olhos longe dele enquanto escuto Jolie

murmurar que vai a uma casa hoje e talvez ela seja a perfeita. Eu

espero que sim, estou ansiosa para nos mudarmos.

— Bree, você quer vir comigo? — ela pergunta, cortando um

pedaço do bolo e sorrindo.

— Adoraria, mas tenho muito trabalho na floricultura —

explico suavemente e ela acena.

Ter minha própria loja de flores é um passo enorme, mas com

Aidan me dando apoio e sendo meu sócio tudo está mais fácil. É

uma franquia da loja dele, leva seu nome, mas eu entro com o
dinheiro. É meu. Finalmente eu tenho algo que me pertence

novamente.

Quando todo mundo termina de comer, saio com Poppy. Erick

entra no elevador com minha filha nos braços enquanto conversam

sobre a escola dela.

— Bom dia pra vocês duas. — Ele a coloca na cadeirinha

quando eu abro a minha porta.

— Bom dia, papai! — Poppy grita e eu sorrio, vendo-a ligar o

tablet para assistir.

— Um bom dia para você também, Erick — murmuro me

virando e vendo seu corpo grande entre mim e a porta aberta. Ele

se inclina para me beijar, mas eu baixo a cabeça, fazendo seus

lábios tocarem minha testa em vez da minha boca.

— Você quer manter a gente em segredo mesmo? — Sua

pergunta retira o sorriso que cresceu em meus lábios desde que o vi


dormindo comigo hoje de manhã. Pela primeira vez, ele não saiu

depois de transarmos.

— Eu só não quero causar problemas para o seu pai. Ele

está em campanha, explodir que estamos... nisso, vai dar errado.

Estamos de mudança, eu moro com vocês... isso... não é o

momento, Erick. Você sabe disso tanto quanto eu — murmuro

devagar, temendo que Poppy escute algo.

— Não gosto disso, mas tudo bem. — Erick se afasta,

respirando fundo e acenando ao falar. Seus olhos claros causam

comoção em meu estômago, e mesmo contra tudo que acabei de

dizer, eu me coloco sobre a ponta dos pés e lhe dou um beijo no

canto da boca.

— Bom trabalho. — Sorrio e me afasto, entrando no carro em

seguida.

Ele fecha minha porta e anda para seu próprio carro.


Deixo o estacionamento para trás, ouvindo a voz da minha

filha ecoar enquanto ela canta as músicas infantis do tablet.

Deixo Poppy na escola e sigo para a floricultura. Eu trabalho

mais afastada da escola da minha filha do que antes, mas vale a

pena dirigir por mais alguns minutos.

Assim que entro na loja, sorrio ao ver Penélope. Eu a

contratei há alguns dias para me ajudar na loja. Daqui a alguns

meses, tenho certeza de que precisarei de outra funcionária, mas

por enquanto nós duas damos conta do recado.

— Ei! — Ela sorri me cumprimentando enquanto prepara um

buquê de rosas brancas. — Acabaram de ligar pedindo um desse —

ela fala entusiasmada, balançando seu cabelo loiro enorme. Ele vai

até sua bunda e é lindo.

— Que ótimo! E o cartão? — pergunto. Seus olhos castanhos

apontam para o balcão. Pego o cartão e sorrio ao ver a letra bonita


que ela fez ao parabenizar, em nome do comprador, obviamente,

sua esposa pelo aniversário. — Ficou lindo!

Nós duas nos entretemos pelo restante da manhã, atendendo

os clientes e ao telefone. Penélope e eu saímos para almoçar

depois de fecharmos a loja.

— Você mora aqui perto? — questiono assim que nossos

pedidos chegam. Penélope tem vinte e dois anos e ama flores tanto

quanto eu.

— Hum, um pouco. Eu moro com meu melhor amigo, Callum.

Nós dois dividimos o aluguel — ela fala com um sorriso no rosto.

— Ele é gay? Ou vocês têm uma amizade colorida? —

Penélope arregala os olhos assim que eu questiono. Minhas

bochechas coram quando percebo o quão invasiva eu fui. — Me

desculpe. Às vezes não penso antes de falar...

— Não... ele não é gay e não, nós nunca, hum, ficamos —

ela gagueja.
Sorrio, acenando.

— Desculpa.

— Não tem problema, realmente. — Ela dá de ombros e se

inclina em minha direção. — Eu meio que observo o irmão dele.

Muito lindo, sabe?

Irmão? Hum, eu sei bem.

Nós duas terminamos de comer e voltamos para a

floricultura. Quando estou saindo da loja, depois de deixar Penélope

para fechá-la, sinto meu celular começar a tocar.

— Oi! — atendo Erick enquanto ando em direção ao meu

carro.

— Meu pneu furou. Você pode passar para me buscar?

Depois pegamos Poppy. É caminho — ele fala rápido .

Mordo meu lábio, entrando no meu carro.

— Claro. Chego aí em breve. — Desligo o celular e começo a

dirigir.
Depois de cinco minutos, eu percebo um carro escuro atrás

de mim. Já o tinha visto antes, e agora novamente. Viro em uma

avenida e meu coração acelera quando vejo que ele me segue.

Aperto o volante nas mãos e viro em mais uma rua. Meus dedos

começam a tremer enquanto o espero me seguir novamente, mas,

para o meu alívio, o carro passa direto.

Se acalme, Bree.

Assim que passo pelas portas da MacGregor

Empreendimentos, eu sorrio para a recepcionista e digo que vim ver

Erick. Ela me pede para subir e logo entro no elevador. Duas

mulheres entram também e eu me afasto mais para o canto. Suas

roupas são sofisticadas e eu sei que valem uma fortuna. Em

contraste com meu jeans e moletom, eu estou parecendo uma

pedinte.

— Erick ainda está na sala dele — uma delas fala, chamando

a minha atenção. — Você voltou a sair com ele? Só tive uma


provinha e ele nunca mais quis repetir — ela fala sorrindo antes de

fazer uma expressão triste.

Meu estômago revira ao imaginá-lo com ela. Ele sai com

suas funcionárias? Todas elas já tiveram uma “provinha” dele?

— Saímos hoje na hora do almoço. Ele parece não ter se

cansado de mim, como fez com todas vocês...

— Por enquanto, Faith. Logo, logo ele pega outra — a outra

mulher fala com amargura.

Respiro fundo, tentando me acalmar.

Erick saiu com outra mulher hoje? Depois de ontem, depois

de dormir na minha cama, ele foi para os lençóis de outra?

Eu sabia que não deveria, mas meu coração começa a doer.

Lágrimas enchem meus olhos, mas não as derramo. Erick não

merece nenhuma delas.

As portas se abrem no andar da presidência e as duas saem

primeiro. Eu as sigo e sorrio forçadamente para a secretária dele.


Será que ele já dormiu com ela também?

Depois de algumas palavras, Erick sai da sala, segurando

sua pasta. Seu corpo grande está coberto por um terno tão caro

quanto às roupas das mulheres que estão também aqui. Somente

eu estou destoando do local.

— Ei, Bree. — Ele sorri para mim.

Engulo em seco tentando responder, mas é em vão. Sou uma

pessoa transparente e hoje eu odeio ser assim.

— Vamos — consigo murmurar com amargura, me virando e

voltando para o elevador.

As duas mulheres nos seguem e eu mordo meu lábio,

tentando ficar calma.

— Podem pegar o próximo?

Ouço a voz dele e vejo sua mão detendo as duas. As portas

do elevador se fecham e eu cruzo meus braços, erguendo meu

rosto. Erick se vira e franze a testa, dando passos até mim.


— Fique aí — mando, erguendo minha mão.

Ele para e aperta as mãos em punhos, totalmente confuso.

— O que diabos aconteceu? — Sua pergunta furiosa me faz

ranger os dentes. — Bree, fala o que aconteceu. Você está

chateada comigo e eu não fiz nada para isso acontecer...

— Você tem certeza? — Arqueio a sobrancelha e forço minha

voz a sair firme. — Sei que não temos nada sério...

— Bree, do que você está falando? — Ele cruza os braços,

me olhando como se eu fosse completamente louca.

— A mulher que estava aqui dentro... — minha voz some

quando as portas do elevador se abrem.

Saio da caixa de metal ouvindo Erick me seguir. Ele chama

duas vezes por mim, mas só olho para seu rosto quando entramos

em meu carro.

— O que a mulher fez? Qual das duas, no caso?

Saio do estacionamento enquanto ouço suas perguntas.


Minha cabeça tenta formular as palavras para explicar, mas

sufoco todas elas dentro de mim. Por qual motivo? Ele não é meu

namorado ou marido. Ele só me fode quando acha conveniente. Por

que eu pensei, por um momento, que ele me devia explicações?

Erick não me deve nada e tudo bem, pois eu também não devo.

— Eu estou de , Erick. Com dor de cabeça também,

então a gente conversa depois. Tudo bem? — Minha voz diminui

uma oitava. Olho de relance para ele, vendo seu rosto franzido,

totalmente confuso.

— A gente vai conversar mais tarde. — Não é uma pergunta,

por isso eu não respondo.

Dois dias depois acontece a mudança para a casa nova.

Todos estão ocupados com suas próprias coisas, e por isso, eu e

Erick não ficamos sozinhos novamente. Talvez seja porque eu não

quero ficar perto dele depois do que houve. Nós dois sabemos que
se quiséssemos nos encontraríamos até no jardim da casa, mas eu

não quero.

— Quero ver meu quarto! — Poppy grita, correndo pela casa

impecável. A mobília da casa antiga ficou lá, aqui é tudo chique e

caro.

— Vamos subir, eu te mostro. — Erick a pega nos braços e

os dois somem da sala, subindo a escada para o segundo andar.

A escada é central, e ao lado dela tem duas entradas. A do

lado esquerdo é para algum quarto e banheiro, e a outra é a da

cozinha e sala de jantar. Encaro a majestosa casa e engulo em

seco. Não deixo de pensar que se Reinald não tivesse nos

encontrado, nunca estaríamos aqui. Nunca viveríamos no luxo. Eu

não sou pobre, tenho dinheiro, sim, mas nada comparado aos

MacGregor.

— Merda! — Drew murmura.

Eu me viro, encontrando-o olhando para o relógio de pulso.


— O que foi? — questiono e me aproximo.

Drew se senta no sofá e eu o sigo.

— Aidan não chegou ainda. Onde ele está? — Ele pega seu

celular e começa a digitar. Passam-se alguns minutos e nada de

Aidan responder.

— Talvez ele esteja preso no trânsito, ou algo assim. Que tal

parar de pensar nisso? Logo ele vai chegar...

— Hoje ele estava estranho, Bree. Eu conheço o meu

homem. Ele não me olhava nos olhos tempo suficiente, e quando

saiu para o trabalho só disse tchau. O que está acontecendo com

ele? Quero dizer, eu sei. Óbvio que eu sei. — Drew passa a mão no

cabelo loiro e bufa. — Não posso mais aguentar isso. É sério. Essa

sensação de sufocamento. De temer fazer escolhas que talvez não

o agradem... você me entende? — Ele me olha e eu sinto meu

coração doer ao ver a fragilidade em seus olhos.


— Sim, eu entendo. Você precisa conversar com ele, baby.

Ponha as cartas na mesa e abra seu coração, Drew. Aidan te ama

loucamente, nós dois sabemos disso. Porém, algo o mantém

afastado e temeroso — tento falar calmamente enquanto vejo

lágrimas encherem os olhos de Drew. Ele me puxa para seus braços

e eu relaxo, beijando seu ombro.

— Preciso mostrar a ele que eu não sou apenas o cara que

sempre vai esperar por ele. Eu não posso mais, entende?

Eu aceno e ele relaxa, suspirando.

Nós dois esperamos Aidan por vários minutos. Erick e Poppy

descem, brincando, e eu me ergo para pegar Poppy.

— Que tal sairmos? Podemos ir a uma pizzaria. Estou

faminta — convido Drew e Erick, dando um sorriso tenso.

— Eu amo pizza! — Poppy se anima. — Vamos, papai e tio

Drew! — Ela sorri, batendo palmas, e logo os dois acenam.


Nós saímos depois de avisar a Jolie por mensagem. Ela e o

marido foram a um jantar beneficente. Quando chegamos ao local,

Erick escolhe uma mesa afastada e nos sentamos.

— Quantas pizzas? — questiono, já pensando em pedir uma

de chocolate para sobremesa.

— Eu como uma sozinho e Drew também, então acho que

três e mais uma de chocolate — Erick me responde, enquanto tento

não encarar seus olhos.

— O.k. — Faço o pedido e logo estamos encarando um ao

outro sem falar nada. — Nada aí? — questiono a Drew, apontando

para seu celular, então ele me mostra o aparelho preto.

— Descarregou. — Ele dá de ombros e nós paramos de

pensar nisso enquanto esperamos as pizzas.

— Está tudo bem? — Erick pergunta alto. Eu ergo meus

olhos e o encontro falando com Drew. O irmão dele dá de ombros e

não responde. — E você?


— Oi? — Eu me surpreendo com sua pergunta enquanto

encaro seus olhos azuis.

— Você está bem? — Ele põe os cotovelos na mesa.

— Sim, bem. — Lambo meus lábios e suspiro, olhando ao

redor. Minha testa se franze quando vejo Aidan entrando na

pizzaria.

— Drew, olha o Aidan — murmuro.

Observamos Aidan entrar e andar em nossa direção. Seu

corpo está tenso, e seus olhos, presos em Drew.

— Foda-se! — Drew murmura.

Eu encaro Poppy, mas ela está entretida nos talheres. Drew

se ergue, jogando o guardanapo na mesa.

— O que você está fazendo aqui? — Aidan questiona furioso.

Eu franzo o cenho. Qual o problema de Drew estar aqui?

— Vim comer com Bree, Poppy e Erick. Você está vendo-os?

— Drew mostra a gente e eu dou um sorriso tenso para Aidan


quando ele acena em nossa direção. — Como você sabia que eu

estava aqui?

— Eu... — Aidan desvia os olhos de Drew e encara as

janelas do lugar. — Eu rastreio o seu celular.

— Você o quê? — Drew ruge furioso, franzindo a testa e

olhando para seu marido como se ele fosse louco.


Encaro os olhos do homem diante de mim, sentindo meu

peito apertar. Aidan fez meu coração bater mais rápido desde a

primeira vez que o vi. Erick tinha levado o melhor amigo para casa,

pois tinham trabalho na faculdade. Eu estava no sofá, assistindo ao

jogo da quando vi os dois entrarem. Minha atenção estava em

Dominick Reilow[i], o quarterback do Cardinals, mas ele ficou em

segundo plano quando pousei meus olhos no ruivo sério que

acompanhava meu irmão.

Eu estava na faculdade há um ano, enquanto ambos já

estavam há três. Nunca ter visto o tal Aidan não era algo tão

extraordinário, afinal, eu trabalhava e estudava. Não tinha tempo


para ficar em casa. Naquele dia eu estava em casa porque tinha

jogo e eu queria assistir.

— Aidan, esse é meu irmão Drew — Erick disse.

Eu acenei para depois tirar os olhos dele e voltar a olhar para

o jogador mais sexy do Arizona Cardinals.

Ele não olhou para mim duas vezes. Apenas acenou de volta

e subiu com Erick. Mas nós dois demos um jeito de estarmos juntos.

Eu dei um jeito de ter o homem diante de mim.

Eu dei a porra de um jeito quando ele queria me manter em

segredo, pois não estava pronto para se assumir.

Eu dei um jeito quando ele começou a me sufocar e querer

que eu vivesse apenas para ele.

Eu dei um jeito porque eu o amava e ainda o amo.

Mas hoje eu não darei mais um jeito em nada.

É a vez de Aidan.
— Licença, gente — peço, voltando a atenção para minha

família. Beijo o rosto da Poppy e da Bree. Aceno para Erick, que

está sério, e saio da pizzaria ouvindo os passos de Aidan me

seguirem.

Quando paro do lado de fora, eu escolho um lugar isolado

para me encostar na parede e cruzar os braços.

— Eu só estou tentando proteger você. Me prevenir se algo

acontecesse... — Ele põe as mãos nos bolsos do jeans escuro.

— E por que não me falou? Me avisou que estava me

seguindo aonde eu fosse? Me controlando de novo, porra! — falo

firme e sério.

Aidan engole em seco e suspira.

— Drew, você sabe que não deixaria. Você...

— Eu não deixaria mesmo, Aidan. Sabe por quê? Porque eu

sou uma pessoa livre! Eu posso ir e vir para onde eu quiser! Sem a

sua permissão, você me entende?


— Somos casados. Você é meu marido...

— Onde estava, Aidan? Onde diabos você estava hoje que

não fez suas malas para a mudança? — questiono, apertando meus

punhos e tremendo. — Eu aceitei sua sugestão de nos mudarmos

só depois, quando fosse para a casa nova, mas onde diabos você

estava que não fez suas malas?

— Andrew, eu não... — As palavras se perdem e ele encara

os próprios pés. Meu nome completo em seus lábios me faz sufocar

a vontade de beijá-lo.

— Eu quero o divórcio — murmuro finalmente.

Ele me olha como se eu tivesse arrancado um dos seus

braços.

— Andrew...

— Aidan, eu quero o divórcio. Fique na sua casa, eu vou

morar com meus pais. Eu já levei tudo para a casa deles, aliás. Vou

mandar um dos meus advogados falar com você...


— Que porra é essa? — ele grita no meio da rua enquanto

dou um passo para trás, em direção ao meu carro. — Você não

pode me deixar...

— Posso. Eu posso fazer o que eu quiser — afirmo,

acenando e cruzando meus braços novamente. — Eu juntei todos

os seus cacos, Aidan. Eu fui paciente, honesto e amoroso, eu

esqueci as minhas escolhas em prol das suas. Hoje estou

escolhendo a mim. Porque antes de te amar, eu amo a mim mesmo.

Deixo-o de pé no meio da calçada e entro em meu carro.

Saio do acostamento e acelero, socando o volante. Sinto as

lágrimas encherem meus olhos, mas apenas esfrego meu rosto.

Foda-se, Aidan, eu não vou mais chorar por você.


Aidan volta para dentro sem Drew, então me ergo pronta para

ir atrás dele.

— Faça ele voltar. Vem, Bree, vamos! — Aidan fala,

respirando fundo enquanto seus olhos estão brilhando.

— Aidan, o que aconteceu? — Erick pergunta, se erguendo.

O garçom chega com as pizzas e ele pede para embalar, pois

vamos levá-las para casa.

— Ele pediu o divórcio. Ele me deixou. — Sua voz quebra

quando passa a mão pelo cabelo acobreado.

— Eu te falei. Eu te avisei essa porra — Erick grunhe

enquanto eu pego Poppy e seguimos para fora.

— Foda-se, Erick, eu não preciso disso agora!

— Minha filha está aqui, será que podem parar de falar

assim? — eu advirto, estressada, então os dois suspiram e acenam.

Aidan segue o carro de Erick, e quando chegamos a nossa

casa, o carro de Drew está estacionado. Assim que entramos, eu


subo a escada, deixando Poppy comendo com Erick e Aidan.

— Ei! — Quando me aproximo da cama de Drew, ele se vira

para me olhar. Seu quarto é grande e incrível. Uma tevê grande está

ligada e um jogo está passando.

— Ei, você conhece Dominick Reilow? — ele questiona,

batendo ao lado dele, na cama.

Eu me sento, apoiando minha cabeça em seu ombro.

— Não conheço. Deveria? — murmuro.

Ele aponta para a tela quando um homem bonito aparece.

Ele é alto, braços fortes, tem cabelo castanho rente à cabeça dos

lados, e em cima, maiores.

— Sim, deveria, todo mundo deveria. — Ele suspira e

começa a contar a história do jogador de futebol americano que

ficou paraplégico e depois voltou a jogar. Quando ele termina, eu

estou encantada com Dominick Reilow e gostaria de conhecê-lo. E,

claro, sua esposa, Kayla.


— Você pediu o divórcio? — questiono, me virando para ficar

de frente para ele.

Drew acena, olhando para a tevê.

— Eu nunca me imaginei fazendo isso. Ele é meu mundo.

Droga, eu o amo tanto que dói, mas não posso mais, Bree. — Sua

voz está cansada.

— E a conversa? — Suspiro, passando a mão por seu

cabelo. — Você conversou com ele? O divórcio é algo muito

definitivo para vocês. Vocês se amam, Drew...

— Ele não viria morar aqui. Aidan estava me enganando,

Bree. Ele não fez as malas, sumiu na hora da mudança... — Sua

voz decai e ele balança a cabeça. — Eu só preciso esquecê-lo.

Meu coração aperta, mas não posso fazer nada. Os dois

precisam se entender. Abraço seu corpo e beijo seu ombro. Ficamos

abraçados por algum tempo enquanto Drew continua assistindo ao

jogo.
— Drew — a voz de Aidan ecoa antes das batidas —, abre

aqui. Por favor, amor. Vamos conversar.

Encaro o rosto de Drew e ele nega devagar.

— Eu vou aceitá-lo de volta. É estúpido, mas se ele entrar eu

vou. — Sua voz enfraquece.

— Vocês precisam conversar em algum momento — digo

suavemente.

— Outro dia. — Ele respira fundo. — Não hoje. — Ele se

ergue e tira a camisa, então pega uma toalha e anda em direção ao

seu banheiro.

Suas costas são largas, seus quadris, estreitos, e seus

braços são fortes. Tanto Drew quanto Aidan são masculinos. Não

são afeminados em nada, ninguém poderia afirmar que ambos são

homossexuais.

— Vou dar um jeito. — Eu me ergo.


Abro a porta e saio, ficando de frente para Aidan. Seus olhos

estão desnorteados, e seu cabelo, desgrenhado.

— Ele vai conversar comigo? — Sua voz entoa uma

fragilidade que eu nunca vi em Aidan. Ele é um homem sério e

centrado, nada nunca o faz titubear.

— Hoje, não. Volte amanhã — murmuro incerta e me

aproximando dele, segurando seu braço. — Drew precisa que você

lhe dê espaço, mas, principalmente, Aidan, ele quer que você

entenda os motivos que o fez pedir o divórcio.

— Eu só estou tentando cuidar dele...

— Ele sabe se cuidar sozinho. É isso que Drew quer que

você compreenda. Ele não quer um herói, um chefe ou um dono.

Ele quer seu amor, ter você o apoiando em alguma decisão, Aidan.

Só isso. Drew não quer mais se sentir pressionado a responder a

alguém pensando em você. Ele quer responder por ele mesmo, e

você precisa aceitar isso se quer tê-lo de volta. — Encaro seu rosto
suavemente e seus ombros caem. — Ele te ama tanto, Aidan. Eu

nunca vi tanto amor assim e eu os invejo por isso. Eu quero um

amor assim. Eu desejo o que você tem. Você entende isso? Cuida

do que você tem, ou você vai perder o Drew para sempre.

Eu me afasto e desço a escada. Não demora muito para

Aidan descer e ir embora.

— Comeu tudo? — questiono Poppy assim que paro ao lado

dela. Seu prato está limpo e ela está sorrindo sonolenta.

— Sim, mamãe. — Ela sorri e eu pego um pedaço de pizza,

comendo em seguida.

— Vou colocá-la na cama — Erick anuncia.

Eu aceno, me sentando ao beijar a testa de Poppy.

Como sozinha e em silêncio, pensando no que acabei de

falar para Aidan. Eu quero um amor como o deles. É verdade.

Porém, sinto que meu coração já está preenchido por alguém. Eu

estou apaixonada por Erick MacGregor, e juro que não queria isso.
— Pensando em quê? — Quando sua voz chega a mim, eu

viro meu rosto para encará-lo. Seu corpo está encostado na parede

e seu rosto está sério.

— Em como Aidan e Drew têm sorte por terem um ao outro.

— Eles acabaram de romper o casamento. Eu não diria que

os dois têm sorte...

— Eles vão voltar, nós dois sabemos disso. — Dou de

ombros e pego mais uma fatia de pizza. — O amor deles é único.

Eu...

— Você o quê, Pink? — Ele empurra a pergunta para mim

depois que eu paro de falar.

— Eu quero um amor assim. — Minhas palavras calam

qualquer coisa que Erick pudesse responder.

Eu o vejo se movimentar em minha direção e respiro fundo,

me virando. Fico de frente para ele, ainda sentada, enquanto seu

corpo se inclina sobre o meu.


As palavras das mulheres no elevador voltam para mim

assim que seus lábios estão a centímetros dos meus.

— O que está acontecendo aqui? — Nós dois pulamos longe

um do outro quando a voz de Jolie ecoa.

Vejo a avó da minha neta junto ao seu marido, nos encarando

boquiabertos.

— Podemos explicar... — eu começo, me erguendo, mas

Erick me faz sentar novamente na cadeira.

— Pai, não é isso...

— Vocês estão... juntos? — Jolie me encara quando as

palavras saem da sua boca. Assim que vejo seu rosto repleto de

horror, sinto meu estômago revirar.

— Mãe...

— Kellan... Kellan é seu irmão, Erick! Ele... ele nem está

aqui... Oh meu Deus... — Os olhos de Jolie enchem de lágrimas e

ela leva as mãos ao rosto, balançando a cabeça.


— Jolie... — resmungo, me erguendo e passando por Erick.

— Você vai morar em outro lugar, Bree — Reinald anuncia.

Eu ofego, arregalando os olhos. — Eu não vou permitir que

desrespeitem meu filho dessa maneira...

— Pai! Eu sou seu filho! Eu estou aqui. Kellan quase matou

Bree, ele nunca a mereceu... — Erick ruge, apertando os punhos,

totalmente louco enquanto eu continuo parada, perplexa pela atitude

do avô da minha filha.

— Você também não a merece! — Jolie grita, tremendo.

Engulo o caroço enorme em minha garganta. — Como ousa tocar

na mulher do seu irmão? Meu Deus... — Os dois estão chocados e

eu não os culpo.

Eu sabia desde o início que isso era loucura, que me

envolver com meu cunhado era insano, sujo e pecaminoso. Mas o

modo como Jolie fala de Kellan faz parecer que ele era um irmão e

marido incrível, coisa que todos aqui sabem que não era.
— A gente não queria magoar ninguém. Aconteceu...

— Ela é sua cunhada! Não deveria acontecer...

— Kellan está morto, Jolie. Me desculpem se eu desrespeitei

vocês dois me envolvendo com Erick, mas Kellan não tem mais

nada a ver comigo. Eu não o amo, eu não me lembro dele com

amor. Ele é apenas o pai da minha filha. Só — explico suavemente

e engulo em seco. — Eu vou sair daqui amanhã. Não se

preocupem. Poppy virá todos os fins de semana ver vocês...

— Vou pôr seguranças com vocês vinte quatro horas por dia.

Nada vai acontecer... eu prometo — Reinald murmura, olhando para

seus próprios pés.

— Elas não vão sair daqui! — Erick grita, encarando seus

pais e dando passos em direção aos dois, mas não prossegue, pois

fico na sua frente e empurro seu corpo. — As duas são minhas,

mãe, pai. Se elas saírem, eu também vou.


A sentença pega os pais dele e a mim totalmente

desprevenidos. As batidas do meu coração aceleram

desgovernadas e eu o encaro, sem reação nenhuma.


— Erick, pare — peço, quando encontro minha voz. Ele baixa

os olhos e me encara, me fazendo engolir em seco. Seu rosto está

tenso, e seus braços, apertados. — Eu vou sair. Está tudo bem. Nós

dois sabíamos que isso estava errado...

— Bree, escute cada palavra que você está falando. Não

somos errados. O que sentimos não é errado. Meu irmão está

morto, ele tentou matá-la. Não devemos nada a eles...

— Eu não quero isso, Erick — corto sua fala, surpreendendo

o homem diante de mim. Erick franze as sobrancelhas, sua boca se

abre e seus olhos azuis estão me encarando com perplexidade. —


Eu preciso me concentrar na minha filha. Como explicaríamos isso a

ela...

— Bree, suba. Preciso conversar com meu filho — Reinald

fala sem me olhar.

Engulo todo meu nervosismo e evito olhar Erick ao sair da

cozinha e subir para o meu quarto.

Nós dois sabíamos que era errado. Sabíamos que não era

para durar, mas por que está doendo tanto?

Pego minhas malas e começo a arrumar minhas roupas

dentro delas. Eu tinha começado a desfazê-las, que bom que não

desfiz completamente. As de Poppy estão fechadas, então fico

aliviada por isso.

Eu me sento na cama e respiro fundo, tentando manter as

lágrimas longe. Volto a me lembrar do olhar de Erick e sinto meu

estômago esfriar. Ele vai me odiar tanto. O modo como coloquei o

que estamos fazendo e sentindo... nossa, eu o magoei e sei disso.


Questões começam a bombardear minha mente. Onde vou

morar? Eu vendi meu apartamento e tudo que tinha dentro dele para

investir na floricultura. Sei que Reinald não vai me despejar sem eu

ter um lugar para ficar, mas isso fica rondando na minha cabeça

mais e mais.

— Mamãe? — Escuto a voz de Poppy e me viro, vendo-a de

pé perto da porta.

Sorrio e ando até ela, pegando-a em meus braços.

— Oi, querida. Tudo bem? — pergunto, passando a mão por

seu rosto sonolento. Ando para a minha cama e me deito junto à

minha filha.

— Tudo. Eu tive um pesadelo — ela murmura.

Suspiro, beijando sua testa.

— Eles são de mentirinha, você já sabe, então não precisa

ter medo — digo lentamente.

Ela acena, se aconchegando em meu peito.


— Danton estava no pesadelo — ela conta depois de longos

segundos em silêncio. — Ele sumia de repente. Foi ruim.

— Danton está em casa, dormindo a essa hora. Ele está bem

e amanhã a gente pode falar com ele, se quiser — falo suavemente

e ela acena, me abraçando.

Nós duas ficamos abraçadas e em algum momento

adormecemos.

Na manhã seguinte, eu arrumo minha filha, tentando ficar

calma. Olho para seu rosto diversas vezes, tentando encontrar

formas de falar que vamos nos mudar da casa dos seus avós, mas

eu tento adiar o momento até que seja tarde demais. Infelizmente,

eu sou a adulta aqui e preciso fazer algo rapidamente.

— Poppy, eu preciso conversar com você — resmungo, me

sentando em sua cama enquanto ela gira em frente ao espelho,

balançando seu vestido rodado.


— O que foi, mamãe? — Ela franze as sobrancelhas escuras

e se aproxima de mim.

— Somos uma família. Nós duas, baby. Você sabe disso,

certo? — questiono, enrolando uma mecha do seu cabelo tão

escuro quanto suas sobrancelhas.

— Sim, mamãe. Depois que o papai foi para o céu, somos

nós duas. — Ela segura minhas bochechas e beija meu nariz.

— Então, como somos uma família, nós precisamos de uma

casa só nossa. — A testa dela se franze e suas mãos caem das

minhas bochechas. — Aqui é a casa da vovó e do vovô, você vai

poder vir sempre aqui...

— Mas eu gosto daqui, mamãe. De morar com eles...

— Eu sei, eu também gosto, mas somos uma família e nós

duas precisamos de um lugar só nosso.

— E o papai?

— Seu pai está no céu, Poppy. Ele não...


— O meu papai novo. Ele vai com a gente? As mamães

moram com os papais e os filhos, né? — Seus olhos crescem e eu

vejo umidade encher suas íris castanhas.

— Filha, o seu papai não vai com a gente. Ele não é

namorado da mamãe, você entende? Só namorados moram juntos.

— Ela suspira e seus ombros caem. — A gente vai se mudar em

breve, o.k.? Vai ser muito bom. Danton vai poder vir ficar alguns dias

conosco e depois você pode ir para a casa dele também. — Eu me

sinto mal por usar Dan para Poppy ficar mais maleável, mas nada

me vem à cabeça a não ser o garotinho loiro que ela tanto ama.

— Sério? — ela questiona e eu aceno, sorrindo ao ver que

ela relaxa. — O.k., mamãe.

— Olha, você sempre vai vir aqui e sempre vai ver seu papai

novo, o.k.? Você não precisa se preocupar...

— Tudo bem, mamãe.


Deixo Poppy descer a escada e a sigo de perto. Assim que

chego à cozinha, ela corre para seu avô. Ele a abraça e a põe nos

braços. Eu seguro minha bolsa mais apertado e tento não encarar

nenhum deles, porém, quando Drew me olha sorrindo, eu ando até

ele e me sento ao seu lado.

— Bom dia, querida. — Ele beija minha bochecha e eu sorrio,

cumprimentando-o.

Procuro Erick pela mesa, mas ele não está. A atenção de

Jolie está em Poppy, então não preciso falar nada.

— Drew, você pode deixar Poppy na escola? Preciso

conversar com a Bree depois do café da manhã...

— Reinald, eu aprecio sua preocupação, mas podemos

conversar agora enquanto ela toma café. Tudo bem? — questiono e

ele acena. Eu pego uma maçã e deixo Poppy tomando seu café da

manhã. Reinald e Jolie me seguem e nós entramos no escritório.


— Conversamos com Erick ontem — ele anuncia, se

sentando enquanto também o faço. — Comprei uma casa nesse

condomínio para vocês duas. Foi a forma que achei de proteger

Poppy e mantê-la perto.

— Eu agradeço isso, Reinald, mas o custo de morar em um

lugar como esse é alto e eu não tenho como arcar...

— Poppy receberá uma mesada todo mês para manter tudo.

Você não precisa se preocupar...

— Eu não acho que seja justo...

— Somos avós dela, temos dinheiro e queremos fazer isso.

Você compreende, Bree? — Engulo minha reclamação e aceno a

contragosto. — Aqui estão as chaves da casa e os papéis com ela

no nome da Poppy.

— Como fez isso de ontem para hoje? — questiono,

franzindo as sobrancelhas.
— Comprei as duas casas ao mesmo tempo. Pensei que

vocês não precisariam se mudar agora, por isso não falei nada, mas

agora... — Ele para de falar e passa a mão pelo rosto.

Eu me remexo na cadeira e pego os papéis que ele colocou

sobre a mesa. Seguro as chaves da casa e suspiro, sentindo que

essas coisas são leves como uma pena, mas em contrapartida

carregam um significado muito mais pesado que um carro.

— Eu realmente quero me desculpar por tudo. Erick e eu

fomos imprudentes, nós sabemos que é errado, mas... — Mordo

meu lábio e pisco as lágrimas que enchem meus olhos. — Foi sem

perceber, sabe? Num dia eu o achava atraente, no outro eu o queria

para mim. Eu sinto muito.

Jolie engole em seco e se senta ao meu lado. Ela

permaneceu quieta durante toda a conversa, apenas ouvindo o

marido e a mim.
— Nós também queríamos pedir desculpas, Bree. Fomos

injustos, mas não me sinto bem ou confortável sabendo que meu

filho está se envolvendo com sua cunhada. Me desculpe. — Seus

ombros caem e seus olhos voam para o chão.

Ela aperta minha mão e eu aceno devagar. Eu me ergo e saio

do escritório deles, deixando-os para trás. Quando entro na sala,

engulo em seco ao ver Erick entrando em casa. Seus punhos estão

machucados e ele está sem camisa.

— Papai! — Poppy grita quando o vê, mas eu a pego antes

que vá até ele.

— Papai vai tomar banho, baby. Ele está sujo — explico,

beijando seu rosto e colocando minha bolsa no ombro.

Erick nos encara e beija Poppy, dizendo que eu estou certa.

Ele sobe a escada e eu saio de casa com minha filha. Coloco-a no

carro quando Drew aparece ao meu lado. Ele entra no carro e pede

uma carona até a empresa.


— O.k., mas eu já estou atrasada. — Reviro os olhos e ele ri,

batucando no console do carro. — Você está feliz demais para

quem acabou de passar por um término — murmuro enquanto dirijo

e ele sorri devagar para mim. — Desculpe, estou amarga hoje.

— O que aconteceu ontem? — ele questiona.

Eu olho para Poppy no banco de trás. Ela está entretida com

o tablet, por isso conto a Drew resumidamente que seus pais

pegaram a mim e a Erick juntos.

— Está tudo bem, realmente. Não nascemos para ficar

juntos. Tenho uma filha que precisa de mim...

— Meus pais estão apenas chocados. Logo, logo tudo vai se

ajeitar. Não desistam.

— Mas eu quero desistir, Drew. Eu ouvi uma mulher da

empresa de vocês, quando fui lá buscar Erick, insinuar que tinha

saído com ele naquele dia. Eu não confio no seu irmão e não o amo.

Não a ponto de bagunçar a minha vida e da minha filha.


Drew suspira, mas fica calado por todo o caminho. Eu não

discuto, não quero mais conversar.

Quando Poppy e eu retornamos do trabalho e escola, vamos

direto para a casa nova. Peço a Drew para trazer nossas coisas e

ele logo chega. Eu me sento no sofá cor creme e passo a mão por

ele enquanto sorrio. É lindo. A casa em si é fantástica. Ela é menor

que a da família MacGregor, mas é tão sofisticada quanto. É

mobiliada e eu me apaixono instantaneamente pelos tons da

decoração. Não mexerei em nada além do quarto de Poppy.

— Uau! — Ouço um grito e me viro para a porta, vendo

Florence e Penélope entrarem. Chamei ambas para conhecerem a

casa. Na verdade, eu não quero ficar sozinha aqui.

— Ei! Bem-vindas! — grito para ambas e abraço cada uma.

Florence me entrega um buquê que carrega.

— Feliz casa nova!


Eu sorrio diante do gesto e coloco as flores em um vaso que

encontro na cozinha.

— Gente, esse é o Drew. Meu cunhado — apresento Drew,

apontando para ele, que está parado de braços cruzados. Ele sorri e

acena para as meninas. — Florence já o conhece, mas relevem.

Ambos sorriem e logo nos entretemos com uma conversa

depois que Poppy desce a escada sorrindo e começa a falar para o

seu tio o quão lindo é seu quarto e as mudanças que quer fazer.

Subo com as meninas e desfaço minhas malas, colocando

minhas roupas no guarda-roupa. Elas me ajudam, sorrindo e falando

sobre o dia.

— Mason me convidou para sair outra vez. — Florence deixa

escapar.

— Mason? — Eu me sento à sua frente, curiosa. — O que

falou? — questiono, vendo a coitada da Penélope confusa. —


Mason é um homem que conhecemos há um tempo. Florence

estava saindo com ele — explico, e ela acena, entendendo.

— Que sim, mas, nossa, estou com medo. — Ela morde a

pontinha da unha, me encarando, tensa. — E se eu me apaixonar

por ele? Como você e Erick?

Mordo minha bochecha, corando. Penélope não sabia que eu

saí com Erick, mas Florence desconfiou e eu contei por cima sobre

isso.

— Eu não me apaixonei por ele — contraponho, irritada. Ela

arqueia a sobrancelha, me desafiando a mentir. — O.k. Um pouco.

É complicado...

— Ninguém tem caso mais complicado que o meu —

Penélope fala, cortando a gente e suspirando. — Eu sou

apaixonada pelo meu melhor amigo há anos. Menti quando te falei

que estava a fim do irmão dele. É uma mentira que inventei para o
imbecil. Vocês sabem, fazer um ciuminho de leve, mas nem assim o

idiota acordou.

— Droga, Penélope. Ninguém ganha de você, realmente. —

Florence cai na gargalhada e nós a seguimos.

Ao ouvir uma comoção lá embaixo, desço com as meninas.

Drew está brincando com Poppy, mas logo minha filha me pede

para falar com Danton, então deixa o tio de lado.

— Oi, Anna! — saúdo assim que ela atende a videochamada.

— Poppy quer falar com Dan — explico.

Logo ela entrega o celular ao filho, então deixo Poppy falando

com ele e atendo a porta quando ouço a campainha.

Meu sorriso pequeno desliza quando vejo Erick e Aidan de

pé, olhando para mim. A risada de Drew chega até nós e eu me viro,

vendo-o conversando com Penélope. Florence sumiu, pelo visto.

— Oi, hum, entrem — peço, engolindo em seco, mas Aidan já

está correndo para dentro como um furacão.


Erick não me olha, apenas passa por mim, seguindo seu

amigo.

— Quem é essa mulher? — Eu fecho meus olhos ao escutar

a voz tensa de Aidan.

É sério que ele está com ciúme?


— Aidan, cara, baixa a bola. É uma amiga da Bree, a que ela

contratou para a floricultura — Erick resmunga sem paciência

enquanto anda pela casa, vistoriando tudo.

— Desculpe — Aidan pede a Penélope e depois se vira para

Drew. — Podemos conversar, por favor? — Ele suspira, seu corpo

rígido denuncia seu nervosismo.

— Vamos lá fora. — Drew acena e sai da sala, indo para o

quintal. Aidan o segue em silêncio enquanto todos nós ficamos

calados.

— Por que eles são gays? Drew e esse outro são tão

incríveis. A vida é injusta — Florence murmura desgostosa, e


Penélope acena, apoiando a outra, cheia de indignação.

— Deixem disso — murmuro, sorrindo suavemente.

— Olha, eu preciso ir. Te vejo no trabalho. — Ela se aproxima

e beija meu rosto e me abraça.

— Também vou. Depois ligo para marcarmos algo.

As duas saem de casa e eu me encosto no sofá, observando

Erick andar pela casa. Seu terno saiu e agora ele está com jeans e

camisa preta justa. Nunca pensei que um dia eu acharia sexy ver

um homem de jeans, mas Erick MacGregor está me ensinando que

sim, eu posso desejá-lo vestido de qualquer jeito.

— A casa é bonita. Eu gostei — murmuro, tentando começar

uma conversa.

— Eu vim aqui só para te ver. Não quero saber de casa

nenhuma. — Ele se vira para me encarar e meu coração perde uma

batida ao mesmo tempo em que um caroço cresce em minha

garganta. — Você percebe que sou um idiota, não é? Vir até aqui
depois de você dizer, com todas as malditas letras, que não me

quer.

— Erick, não seja injusto...

— Injusto? Caralho, Bree! Você fodeu comigo desde o minuto

em que entrou na minha vida. Você me arruína a cada segundo que

finge não saber da minha existência quando está com suas amigas.

Porra! — ele grita.

Eu mordo meu lábio com força suficiente para sentir o gosto

metálico do sangue na minha língua.

— O que você quer que eu faça? Quer que eu pule em seus

braços? Não posso, Erick. Você sabe que não... Eu escutei duas

mulheres conversando sobre você na empresa. Aquelas do

elevador. Uma delas falou que tinha saído com você naquele

mesmo dia...

— É mentira! Não saí com mais ninguém depois de você.

— Não importa. A minha filha...


— Nossa filha, Bree. Ela é minha também, mesmo que meu

sangue não corra nas veias dela! — ele grita, completamente

furioso.

Eu aceno, cruzando meus braços.

— Como vamos explicar pra ela isso? O que as pessoas vão

dizer...

— Você se preocupa mais com o que os outros vão dizer e

sentir do que a gente, Bree. — Ele balança a cabeça e me olha com

nojo. — Se você quer assim, tudo bem. Eu não vou ficar esperando

ou mendigando sua atenção, pois não sou tão idiota.

Ele sobe a escada e eu sei que foi ver a filha. Eu me sento no

sofá e as lágrimas enchem meus olhos ao mesmo tempo em que

minha barriga dá voltas, me fazendo correr para o banheiro para

vomitar todo meu almoço. Eu me sento perto do vaso sanitário e

passo a mão na minha barriga, ainda tremendo.


Não sei quanto tempo fico no banheiro, mas quando ouço

Erick me chamar na sala, eu grito avisando que estou no banheiro.

— O que aconteceu? — ele questiona, se ajoelhando diante

de mim.

Tento limpar minhas lágrimas, mas é em vão. Muitas outras

começam a surgir assim que encaro seus olhos.

— Nada. Eu sou muito idiota. Só isso — murmuro, ainda

chorando. Ele suspira, se sentando na minha frente. — Por que eu

tinha que me apaixonar logo por você? Sabe, tinha o Ryan, o Noah,

teve o Cameron... Por que você, Erick? Por que minha vida é tão

complicada? Não basta seu irmão ter causado estrago em minha

vida, ainda vem você...

— Bree.

— Eu amo você — digo, abraçando minhas pernas e

encarando os olhos azuis dele. — Amo tanto que dói olhar pra você

e saber que não vai entrar em meu quarto furtivamente, que não
posso ter você me arrancando grunhidos e maldições, ou até

mesmo risadas... tudo isso dói, Erick.

— Eu também te amo, Pink.

Quando as palavras deixam sua boca, eu levo minhas mãos

ao rosto, tremendo e chorando. Erick me puxa para seu colo e eu

soluço, agarrada ao seu peito. Minha vida está uma bagunça,

totalmente fora do prumo, mas eu sei que não importa o que os

outros falem ou pensem, eu só serei feliz se Erick e Poppy

estiverem comigo.

Ele vai embora assim que vê que estou mais calma. Procuro

Poppy pela casa e a encontro em seu quarto, ainda conversando

com Dan. Eu a faço se despedir dele e a ajudo a tomar banho e

dormir.

— O mundo só é mais brilhante por sua causa, minha doce

Poppy — murmuro enquanto ela luta contra o sono. Seus lábios se

esticam e ela sorri, deixando meu coração dolorido mais calmo.


Tomo banho e visto uma camisola. Assim que saio do

banheiro, eu suspiro ao ver meu celular brilhando. Pego-o na mesa

de cabeceira e mordo meu lábio ao ver uma mensagem de Erick.

"Me deixe dormir com você. Por favor, eu não consigo

dormir nessa cama fria."

"Erick, é melhor não."

"Eu sou um imbecil, bebê, mas eu preciso de você."

Meu peito se aperta e eu clico nas letras, formando apenas

uma palavra.

"Vem."

Guardo meu celular e aperto minha têmpora, tremendo.

Quero parar de pensar nos outros. De imaginar o pior cenário

quando eu falar sobre Erick e eu namorarmos para a Poppy... eu

quero ser mais positiva.

A porta do quarto abre e eu franzo o cenho ao vê-lo entrando.

— Como...
— Eu já estava na sua porta — ele confessa.

Suspiro profundamente, acenando. Observo suas mãos

tirarem a blusa, calça e sapatos rapidamente. Em seguida, Erick se

deita comigo e eu me aninho em seu peito, beijando sua pele

quente e macia. Sua mão aperta minha cintura e segue para

descansar em minha bunda. Seu coração bate descompassado e eu

sorrio, querendo que seja por minha causa.

— Não sei se estamos pecando, mas se estivermos,

queimarei no inferno com prazer.

Suas palavras fazem arrepios se alastrarem por minha pele

e, quando Erick se perde em meu corpo, eu também não me

importo em estar pecando.

— Está tudo bem? — questiono assim que entro na

floricultura na manhã seguinte.

Penélope está com os olhos vermelhos e inchados.


— Bom dia, Bree. — Ela tenta sorrir e levanta uma pequena

bolsa nas mãos. — Vou cobrir essa bagunça nesse minuto, você

pode ficar aqui, só por um momento?

— Penélope, o que aconteceu? — Tiro a bolsa das suas

mãos e a coloco sobre o balcão.

— Eu fiz uma coisa terrível, e agora as consequências

chegaram. Eu realmente não quero falar sobre isso, Bree. Não hoje,

pelo menos — ela suplica me encarando, então aceno dando a volta

e envolvendo meus braços ao seu redor.

— Estou aqui, querida. Sempre que precisar. — Beijo seu

rosto e ela agradece. — Vá pôr um pouco de corretivo nesse rosto,

eu estarei aqui.

Ela corre para fazer o que pedi e me agradece sorrindo.

Passamos o dia juntas, Penny parece aérea a cada momento,

infelizmente ela não quer se abrir, então a única saída é esperar seu

tempo.
— Não queria pedir isso, mas como hoje é sexta e eu sei que

é Erick e Drew que pegam Poppy... você pode me dar uma carona?

— Penny pede no final do dia.

— É claro. — Eu a encaro, sorrindo. — Aí você me apresenta

seu amigo gato por quem é apaixonada. Que tal? — indico e ela

engole em seco, acenando.

Nós saímos e chegamos ao seu apartamento em poucos

minutos. Penélope morar perto da loja foi uma das coisas que mais

levei em conta na hora de contratá-la. Quando entramos no lugar,

eu sorrio ao encarar o local. É lindo.

— Vou chamar o... — Ela para de falar quando ouvimos a

risada de um casal. Penélope fica tensa e eu encaro um homem alto

e magro sorrindo para uma mulher morena. — Callum. — A voz dela

sai tensa.

O homem ergue a cabeça, nos vendo.


— Ei! — Seu sorriso cresce e ele se aproxima com a mulher.

— Esta é...

— Você pode nos dar licença? — Penélope fala, olhando

para a menina, que engole em seco e acena, saindo pela porta e

deixando um Callum confuso, encarando Penny.

— Pin? O que diabos?

— Essa é a Bree, minha chefe e amiga — ela o interrompe e

sorri devagar.

Ele relaxa e me encara, estendendo a mão.

— Prazer, Bree. Pin fala muito de você.

Eu sorrio ao apertar sua mão.

— Ela fala de você também — falo, rindo. Penélope me

encara, revirando os olhos. — Então, eu só passei para deixar a

Penny. Vou indo. Aliás, você já mandou seu carro para o conserto?

— questiono, preocupada.

— Sim, vou pegar à noite com meu...


— Idiota. Com o idiota dela — Callum diz de forma firme e

distante, me fazendo arregalar os olhos.

— Você é o meu idiota. Adam é seu irmão e meu amigo. Ele

trabalha em uma oficina e se ofereceu para arrumar tudo. Graças a

Deus. — Ela suspira e se vira para mim, sorrindo. — Desculpa,

Bree, Callum tem o dom de ser um imbecil, às vezes.

— Erick faz muito disso. — Eu sorrio, vendo um Callum

furioso encarar Penny.

Eu me despeço dos dois e saio rindo do que Penélope tem

nas mãos.

— Está tudo bem? — questiono a Drew assim que o vejo me

esperando na porta de casa. Poppy está ao seu lado, brincando no

jardim. Eu me abaixo e sorrio, beijando seu rosto. — Tudo bem, meu

amor?
— Archie vai nascer, mamãe! — ela grita, pulando

completamente eufórica, enquanto dou um sorriso trêmulo. O filho

do Erick vai nascer. — Vou conhecer meu irmãozinho hoje!

Meu coração se alegra por Erick, mas ao mesmo tempo

começo a suar frio. Imaginar Erick levando Poppy para conhecer

Archie enquanto fico em casa remoendo isso não me agrada.

Principalmente por causa de Andie. E se ela destratar minha filha?

— Erick e Aidan estão com ela — Drew fala e aperta meu

ombro. — Você está bem?

— Estou feliz por vocês. Archie vai ser muito amado. — Eu

sorrio com sinceridade e passo por ele, entrando com Poppy.

Eu lhe peço para guardar sua mochila e vou para a cozinha.

Tiro os ingredientes para o jantar do freezer e começo a preparar

sob os olhares de Drew.

— Por que você não está lá? — questiono, cortando

tomates.
— Porque eu não estou bem com Aidan e não quero ver

Andie agora. Amanhã, quando ela estiver bem, e Archie, no quarto,

eu irei. — Ele dá de ombros e eu aceno.

Pego um pedaço do bolo que Cass fez e me mandou hoje de

manhã e coloco suco na mesa para Poppy. Ela come devagar

enquanto olha para mim e seu tio.

— Eu posso ir com você, tio Drew?

— É melhor seu pai te levar, querida. — Ele pisca e beija o

rosto dela, se sentando ao seu lado.

Termino de fazer o jantar, rindo das piadas bobas de Drew.

Ele janta conosco mais tarde e nós três subimos para assistir a um

filme juntos. Rindo, eu olho para os dois só para saber que ambos

dormiram.

— Uh. — Olho em direção à porta e dou um sorriso tenso a

Aidan e Erick.
Eu me levanto devagar e pego Poppy, levando-a para seu

quarto. Aidan entra no quarto de jogos e Erick me segue. Saio do

quarto da minha filha depois de cobrir seu corpo com o cobertor,

com ele ao meu lado.

— Como ele é? — questiono, dando um sorriso tenso ao

entrar em meu quarto. Eu me sento na cama e ele se encosta na

parede, me olhando atentamente.

— Minha cara. Juro por Deus, que ele sou eu todinho. — Ele

sorri.

Sinto meu coração bater mais forte ao ver o brilho de

adoração em seus olhos.

— Então ele é perfeito — murmuro sorrindo, e ele sorri

também, parecendo orgulhoso.


Bree parece indefesa sentada na cama, me olhando. Seus

ombros estão tensos, suas mãos se retorcem no colo e seus lábios

estão úmidos pelas várias vezes em que ela desliza a língua

vermelha sobre eles. Seus olhos escuros são sinceros quando me

diz que está feliz por mim e me parabeniza por Archie.

— Você está bem? — questiono, tentando engolir o nada que

há em minha boca.

Foi emocionante assistir ao meu filho nascer. Archie é

incrível. Um bebê calmo e frágil. Eu já o amava enquanto Andie o

carregava na barriga, mas hoje eu conheci um amor que me sufoca.

Archie é meu mundo.


— Cla-claro — Bree gagueja e passa a mão pelo cabelo

castanho que alcança o meio das suas costas. Quero me perder nas

ondas dos fios que sei que são tão cheirosos quanto a sua

floricultura.

— Amanhã gostaria de levar Poppy para ela conhecê-lo —

resmungo, cruzando os braços ainda próximo à porta e vendo seus

olhos se desviarem dos meus.

— Não vou mentir, Erick. Por mim ela não vai. Não por você...

— Ela me encara e eu vejo o receio por todo seu rosto. — Por

Andie. Tenho medo...

— Estarei lá, Bree. Eu nunca deixaria as duas sozinhas...

— Eu sei. Eu sei, mas Poppy é meu mundo. Enfim, ela vai

amanhã, mas porque ela está muito animada por Archie ter nascido.

Não quero magoá-la.

— Eu imagino. — Minha voz soa grave e eu tento mascarar o

quão miserável eu me sinto.


Bree não confia em mim com Poppy. Ela só está me

deixando levar a menina porque sabe que se negasse, nossa filha

ficaria muito triste. E nenhum de nós quer isso.

— Quando foi? — Levanto a cabeça ao ouvir sua pergunta.

Franzo as sobrancelhas e ela dá um sorriso triste. — Quando nosso

ódio pelo outro virou amor? Quando? Eu não consigo determinar um

momento exato...

— Eu soube que tinha mudado quando você me deixou fora

do seu quarto — respondo com convicção, porque foi naquele

momento que eu percebi que ficar longe dela é insuportável.

— Oh. — Ela desvia os olhos para as mãos e estremece. —

Eu acho que precisamos falar com seus pais. Arrumar nossa vida...

— Está tudo bem. Eu já falei com meus pais...

— Como?

— Eles sabem que você é minha. E que eu não vou deixar

nenhum deles me afastar de você.


Seus olhos se arregalam e eu aperto meus punhos. Ver o

modo como os meus pais reagiram ao nos encontrar juntos me

colocou no limite. O olhar de nojo que minha mãe me deu quase me

colocou de joelhos. Porque eu espero tudo da vida, mas nunca ver

minha mãe lutar por Kellan antes de mim. Eu a amo mais que tudo,

eu sempre a coloquei acima de tudo enquanto Kellan só trazia

problemas para casa. Enquanto ele gritava e quebrava as coisas

que ela amava.

Kellan era implacável. Todos nós sabíamos disso. Ele sempre

foi o garoto mau da família. Eu nunca o odiei até o dia em que Bree

tremia e soluçava contando o que ele tinha feito com ela.

Eu poderia matá-lo com minhas próprias mãos.

— Precisamos da bênção deles, Erick. Eu não posso ficar

com você enquanto eles mal olham para a gente...

— Eles vão aceitar eventualmente, Pink. — Minhas palavras

saem grossas, irritadas.


Bree quer me afastar, isso está escrito em todo seu rosto.

— Eu não posso... — Ela balança a cabeça.

Engulo em seco quando a vejo tremer e chorar.

— Você está terminando comigo no dia do nascimento de

Archie? Você está me devastando, no exato dia em que estou

radiante de alegria? Porra, Bree! Você...

— Eu te amo. Eu amo de verdade, mas nós dois não

podemos enfiar nosso relacionamento goela abaixo nos outros. Não

quando eles são a nossa família.

Eu me aproximo tão rápido que ela se assusta quando eu a

derrubo na cama e seguro seu pescoço entre meus dedos. Seu

cabelo se espalha pelos lados e seus olhos se expandem, surpresa

dançando em suas íris.

— Eu posso aguentar olhares de nojo, de espanto e de

julgamento. Eu posso aguentar cada maldita coisa que existe na

porra desse mundo, mas apenas se quando eu chegar em casa,


tiver você me olhando como se eu fosse seu mundo. Eu vou

suportar o inferno se for preciso para ter você, Bree Sawes. Você é

minha. E nem meus pais vão mudar isso. — Eu respiro contra seu

rosto e me inclino, sussurrando em seu ouvido: — Seu corpo, seus

olhos, seu cabelo, sua boca, sua boceta me pertencem. Nós dois

sabemos disso e nada vai me distanciar de você.

— Erick. — Ela arfa, gemendo entre as respirações.

Eu me afasto para enxergar seus olhos e me aproximo

novamente, deixando meus lábios pairando sobre os dela.

— Eu estou me mudando para cá. Nós vamos morar juntos e

criar nossa filha juntos. Para sempre.

Bree suspira e se eleva, me beijando. Seus braços envolvem

meus ombros e eu a ergo, colocando-a sobre meu colo. Seguro seu

cabelo e o puxo, deixando seu pescoço livre para minha boca. Beijo

cada pedaço de pele e tiro sua roupa rapidamente. Bree abre minha

calça e respira fundo, me segurando em sua mão.


— Eu sou seu, Bree — murmuro sério.

Ela treme enquanto seguro sua bunda firme e redonda.

Aperto a carne e ela geme, se esfregando em mim. Levo meus

dedos até sua calcinha e sorrio ao sentir quão molhada ela está.

Brinco com suas dobras até ela gemer, gozando em minha mão.

Tremendo, eu me deito devagar e a deixo se divertir, se sentando

em cima de mim, levando meu pau tão fundo que eu fecho meus

olhos. Seus peitos pulam a cada movimento que ela faz, me levando

à loucura. Sinto-me ser apertado enquanto Bree se toca, tentando

chegar ao orgasmo mais rápido. Eu me mexo rapidamente e a

coloco sobre seus joelhos, enquanto seguro seu cabelo e a faço se

arquear. Estapeio sua bunda, fodendo-a lento enquanto seus

gemidos ecoam pelo nosso quarto. Deslizo minha mão contra seu

buraco enrugado e ela geme, ainda esfregando seu clitóris. Bato em

sua bunda mais uma vez e pronto, Bree Sawes goza tão forte que

suga meu orgasmo fora. Gozo nela desprotegido e sorrio ao

vislumbrá-la grávida. De mim.


A visão de Bree redonda e macia, com leite vazando por seus

peitos, é o bastante para que eu esteja gozando novamente.

Quando caímos na cama, eu puxo seu corpo contra o meu.

Beijo seus lábios e ela sorri ao se aconchegar.

— Você faz meu mundo girar, Pink.

— Eu já estou tonta, Erick. — Suas palavras me fazem rir,

mas eu sei exatamente o que quer dizer.

Ela me ama.

Eu sou o bastardo mais sortudo do planeta.

Na manhã seguinte, Bree se despede de mim e Poppy na

porta. Eu quero beijar seus lábios, mas antes a gente precisa

conversar com a Poppy. Dirijo para o hospital enquanto observo

minha menina cantar músicas e bater palmas, totalmente alegre.


Meu coração cresce feliz enquanto sorrio para ela pelo

espelho.

Abro a porta do quarto com Poppy nos braços e vejo Andie

engolir em seco, observando nós dois. Ela está cansada, com

olheiras, e seu cabelo vermelho, preso no alto da cabeça. Ontem eu

avisei que traria Poppy, por isso ela apenas fica calada.

— Bom dia! Tudo bem? — questiono e me aproximo.

Poppy sorri grande quando Andie tira Archie do peito e o

mostra para ela. Ele tem cabelo escuro e seus olhos são castanhos.

Archie lembra Poppy.

— Tudo ótimo. — Ela força a voz e sorri.

Aceno e coloco Poppy no chão. Pego meu filho dos braços

de Andie e me sento, ficando à altura dela.

— Poppy, esse é o Archie, seu irmãozinho — falo devagar e

a vejo segurar a mão dele, sorrindo tanto que eu sorrio também.


Eu sei que Poppy não é minha filha biológica, mas ter os dois

juntos, um olhando para o outro, faz algo dentro de mim clicar.

Eu darei a minha vida pelos dois. Sem hesitar.

Drew leva Poppy para comer algo enquanto eu permaneço

com Archie. Andie dorme tranquilamente e eu suspiro, encarando-a.

Ela sempre foi histérica, fraca da mente mesmo, mas eu sei, Aidan e

até Drew, que ela só está perdida. Desejo que ela seja feliz. Que um

dia alguém a ame tanto quanto eu sei que ela necessita.

Hoje, eu pedi por ela. Eu clamei por ela e não me arrependo.

Quero que ela fique bem.

Archie precisa dela.

Seus olhos se abrem e eu sorrio, me aproximando.

— Erick, eu... — Ela suspira e pega Archie. — Quando o

médico me entregou Archie, minha vida deu um giro de 360 graus.

Ele é minha vida. Antes, eu pensava que ter um bebê era um

método de ter você para mim, para eu ser feliz, mas hoje... nossa,
hoje eu vejo que você foi o modo de a felicidade me encontrar, mas

por causa de Archie. Então, obrigada por me dar meu filho. E

desculpe.

— Andie...

— Espero que você e Bree se acertem. De todo meu

coração. Me desculpe por tudo e obrigada por Archie. Só obrigada.

Seus olhos estão cheios de lágrimas e elas me causam

agonia. Eu me aproximo e abraço a ela e ao nosso filho, repetindo o

quanto amo os dois e o quanto estou feliz por eles.

Quando meu celular toca enquanto estou jantando com Bree

e Poppy, as duas me encaram. Poppy me repreendendo, enquanto

sua mãe parece curiosa. Quando vejo o número conhecido, eu peço

licença e atendo.

— Em dez minutos. É urgente. — A voz do Yuri é

perigosamente apressada. Ele nunca falou dessa maneira, por isso


sei que deve ser algo sério.

— A caminho. — Desligo o celular e o guardo em meu bolso.

— Preciso sair — aviso, olhando para Bree.

Ela lambe os lábios, desviando sua atenção para Poppy. Sei

que ela quer questionar quem está me chamando e para onde estou

indo. Porém não o faz, pela nossa filha. Ela suspira e murmura um

okay.

Saio da sua casa rapidamente e entro em meu carro,

apertando o volante. O que diabos aconteceu?

— Você sabe o motivo da urgência? — questiono a Baby

assim que a vejo, depois de passar pelas portas do bar.

— Um homem foi encontrado nos arredores fazendo

perguntas. Eles o pegaram, mas ele é insano. Não fala nada. Está

calado desde o momento em que pôs os pés aqui.

Eu aceno, suspirando e tirando meu paletó, entregando-o a

ela em seguida. Não deu tempo para trocar de roupa hoje. Vou
estragar mais de três mil dólares. Inferno. Ando em direção aos

corredores e sou parado por Yuri. Quando arqueio minha

sobrancelha, suas mãos caem do meu peito.

— Tenha cuidado. Esse não é como os outros.

Eu franzo o cenho, dizendo a ele para relaxar.

Assim que entro no quarto, eu arquejo, encarando as costas

completamente destroçadas. Há marcas de chicotadas, facas e até

balas. As cicatrizes se fundem, formando uma só. É terrível. O

homem está sentado, curvado para a frente e de costas para mim.

Suas mãos estão amarradas e seus pés também.

— Então, vamos começar. — Engulo em seco e franzo as

sobrancelhas, me concentrando. — Quem é você? — questiono

lentamente, vendo seu cabelo que vai até seus ombros cobrirem

seu rosto.

Silêncio.
— Você estava bisbilhotando, fazendo perguntas ao redor.

Para quem você trabalha? — eu pergunto, andando até estar na sua

frente.

Ele encara seus pés enquanto observo seus braços cobertos

por tatuagens. Seu cabelo grande é quase loiro.

— Cara, qual a porra do seu nome? — pergunto, apertando

meus punhos.

Eu não sou de conversa. Eu bato em pessoas, faço-as

falarem depois de gritarem de dor. Apenas. Porém, esse homem

que fez todos se alardearem tem algo diferente. Eu sei disso.

— Tirem as restrições dele... — Paro de falar quando ouço

gritos do lado de fora.

A porta é aberta e eu me viro, encontrando Mellanie Price.

. . . ?

— Tire as mãos dele! — ela grita, apertando sua bolsa.

Eu encaro Yuri, que faz que sim com a cabeça.


Os homens deixam o cara solto e ela se aproxima, ainda me

encarando. Nunca vi essa menina tão irritada quanto agora.

— Você está bem? — ela pergunta a ele.

O homem apenas acena, encarando seus pés. Ainda.

— O que diabos você está fazendo aqui? — questiono

lentamente, encarando-a de cima a baixo.

Mellanie é filha de Holland Price, concorrente do meu pai nas

eleições. A menina de apenas vinte e um anos está tremendo de

ódio. Ela conhece o homem e quer protegê-lo.

De mim.

— Seven — a voz rouca ecoa e eu percebo que foi ele que

falou —, meu nome é Seven.

— Mellanie, o que...

— Cara, pode ir. Depois nos acertamos — Yuri murmura,

tocando em meu ombro.

Eu me afasto, balançando a cabeça.


Qual o problema desses caras?

Pego meu paletó e reviro os olhos, indo embora em seguida.

Bree vai cortar meu pau, e por quê? Por alguns imbecis que não

sabem trabalhar.

Não queria estar aliviado, mas estou. Chegar a nossa casa

com os punhos sangrando não é algo que eu queria hoje.


Eu espero por Erick na sala. Pernas cruzadas, virando a taça

de vinho, bebendo goles grandes como se fosse água. Estou

tremendo. O líquido escuro se movimenta e eu mordo meu lábio,

encarando meu celular mais uma vez.

Deixei seu segredo fluir à nossa volta e nunca questionei,

mas isso acaba hoje. Se vamos ficar juntos, se ele vem morar

comigo, nós precisamos ser honestos um com o outro. Eu o

conheço mais do que eu e ele pensamos. Se ele ainda não me

contou, é porque vou odiar. Vou frustrá-lo com palavras e nós dois

vamos brigar.

Erick MacGregor é como um mapa.


E eu já o desvendei.

A porta abre e eu me encosto no sofá, puxando minhas

pernas e jogando o celular ao lado. Abraço minhas coxas e o

encaro. As luzes estão amenas, não está claro, mas também não

está tão escuro que ele não possa me ver.

— Ei, Pink. — Erick franze as sobrancelhas quando me vê

beber mais um gole do vinho.

— Oi — murmuro devagar, colocando a taça vazia em cima

da mesa de centro, vendo-o suspirar e se aproximar. — Aonde você

foi?

— É... — Sua boca se fecha e seus olhos desviam dos meus.

Engulo em seco e continuo o encarando.

— Quem te ligou? — Empurro quando ele não termina de

falar.

Erick semicerra os olhos e respira fundo, se sentando ao meu

lado lentamente enquanto olha para suas mãos. Seu terno está
impecável, os nós dos seus dedos não estão sangrando, então

talvez ele não tenha ido fazer o que vinha fazendo antes.

— São assuntos meus.

Três palavras.

Três malditas palavras e eu me sinto sufocando.

— O.k. — Aceno devagar, engolindo a frustração que cresce

em minha garganta. Encaro o chão e meu queixo treme. — Você vai

dormir na sua mãe hoje...

— Bree — ele adverte, apertando as mãos.

— Você vai dormir na sua casa, Erick. — Eu me levanto. —

Não me faça repetir.

Eu subo a escada de braços cruzados, depois de alguns

segundos ouço a porta da frente abrir e fechar.

Ele se foi.

Na manhã seguinte, ele vem tomar café conosco. Nós não

conversamos, nem trocamos olhares. Ele se levanta e leva Poppy


para os seus pais. Suspiro, andando pela cozinha depois de lavar a

louça. Paro de me movimentar quando ouço uma vibração e vejo

seu celular em cima da mesa.

Não faça isso.

Eu faço.

Pego seu celular e destravo. Mexo em tudo, cada aplicativo,

cada mensagem. Porém não encontro nada. Clico em suas

chamadas e engulo o gosto da desconfiança ao ver o registro de

quem ligou para ele ontem, no horário em que jantávamos. Anoto o

número no meu celular e deixo seu telefone do jeito que ele deixou.

Quando Erick volta para buscá-lo minutos depois, eu subo

sem cumprimentá-lo. Ele vai trabalhar hoje, então me deixa em casa

sozinha.

Ando pelo meu quarto mordendo meu lábio e ponderando se

eu devo ligar ou não para o número. Invadi a privacidade do Erick.

Eu deveria confiar nele, não mexer em suas coisas. Mordo meu


lábio, tentando me acalmar. Ele não me disse quando perguntei. Ele

não me deu motivos para confiar nele. A verdade é dolorosa.

Mentiras, omissões machucam. Pensar que Erick faz algo que vá

nos afastar atiça minha curiosidade, mas dentre tudo, o pior é o

medo. Estou tremendo diante das possibilidades.

Engolindo a frustração, seguro meu celular entre os dedos e

clico no número. Seguro o celular contra meu ouvido e suspiro

quando uma voz masculina responde.

— Yuri Yamato.

Fico alguns segundos ouvindo o silêncio, mas logo desligo ao

saber que o nome dele vai me ajudar. Jogo seu nome no Google e

roo minha unha, esperando.

Quando aparecem as respostas da busca não tem nada de

mais, porém, ao ver uma boate que lhe pertence, eu suspiro. Um

arrepio atravessa meu corpo e eu sei que é para lá que Erick vai

toda vez que alguém liga para ele à noite.


Guardo o endereço e passo o dia organizando minha casa,

tentando me convencer de que devo esperar mais um pouco, que

Erick vai me falar no que está metido, mas eu nunca fui paciente.

Infelizmente.

Quando ele não aparece à noite e Poppy fica na avó para

dormir, eu me arrumo e entro em meu carro. Meu celular começa a

tocar assim que saio do condomínio. Reinald ainda não colocou os

seguranças, hoje sou grata a isso.

Olho para a tela do celular e o conecto ao carro pelo

bluetooth. Suspiro quando a voz de Aidan ecoa.

— Você sabe onde Drew se meteu? Erick está aí? — Ele joga

perguntas e eu respondo que não vi nenhum deles hoje. — Você

está dirigindo?

— Hum, sim — murmuro, mordendo meu lábio. Ele vai contar

a Erick, eu sei. — Você precisa de algo mais?

— Não, Bree, obrigado.


Dirijo por mais cinco minutos antes de estacionar em frente à

boate. Entro no lugar depois de encarar uma pequena fila. Peço

uma água ao barman e olho em volta, não vendo nada de mais. O

lugar é bem frequentado. Apenas isso, porém, depois de alguns

minutos sozinha, bebericando a água, eu vejo as portas laterais se

abrirem. Um homem de terno preto abre os braços para alguém e,

quando eu me viro, meu estômago revira diante do que estou

vendo.

Erick está com uma mulher ao seu lado. Os dois entram pelo

corredor enquanto eu fico parada, sem reação nenhuma. Ele

conhece essa mulher? Quem ela é?

Ando em direção ao corredor, tremendo. Meus pensamentos

me levam a mil e uma teorias, que ele pode ser um puto, pode ter

uma segunda família ou até ser um traficante, mas não engulo isso.

Erick é tudo, menos idiota. Passo pela porta e respiro fundo, aliviada

quando ninguém me detém. Ando a passos curtos e viro no final do


corredor, ouvindo vozes. Vejo-os entrarem em uma sala, então me

aproximo e olho lá dentro por um pequeno quadrado de vidro.

Erick de costas entra em meu campo de visão, percebo que

conversa com o homem de terno, que lhe entrega um envelope

pardo. A mulher está longe dele e sorri para o que eles discutem

amigavelmente. Erick se despede, e quando está abrindo a porta,

eu me viro e começo a andar para a saída. Não me apresso, eu

quero que ele me veja. Que saiba que vim aqui, mexi em suas

coisas, descobri os seus segredos.

Reconhecimento cai em mim ao ligar os fatos. Seus dedos

ensanguentados, mas ele nunca tem um machucado sequer em seu

rosto, costelas ou braços. Ele bate em alguém, eles o chamam

exatamente para isso.

Meu Deus.

Erick tortura pessoas. Yuri lhe paga para machucar pessoas.

Meu estômago gira, então começo a ofegar no mesmo segundo que


ele me nota.

— Bree? — Sua voz soa apavorada.

Mas eu continuo andando, tentando chegar longe o bastante

para que eu não o veja, não o ouça. Corro entre as pessoas assim

que chego à pista de dança. Trombo com alguém quando o ar livre

enche meus pulmões. As mãos me seguram e eu elevo o rosto para

encarar olhos castanhos e cabelo louro-escuro.

Numa fração de segundo, eu sinto minhas pernas perderem a

força, me levando quase ao chão se não fossem os braços do

homem me segurando.

Meu coração bate em minha boca e eu me atrapalho,

tentando me afastar do peito dele como se fosse brasa.

Eu me sinto queimando.

Sufocando.

Eu estou morrendo.

— Bree!
A voz de Erick me alcança, mas eu já estou no chão. Minha

visão começa a escurecer e o único som que retumba em meus

ouvidos é o do meu coração.

A imagem dos olhos do homem se desvanece e eu sou

engolida pela escuridão. Porém, eu me sinto gritar.

Kellan.

Está tudo escuro. Silêncio absoluto me rodeia e eu demoro

para me situar. Meus olhos se abrem lentamente, e quando a

consciência me ataca eu me sento, pulando da cama.

Oh meu Deus, é ele. É Kellan.

Ele vai me matar. Ele voltou para me matar.

— Bree, baby, estou aqui.

Assim que a voz do Erick me alcança, eu o vejo de pé ao

lado da minha cama.


Meus dedos e meu queixo começam a tremer e eu ouço o

som dos meus dentes batendo um no outro. Erick me encara como

se eu tivesse perdido a cabeça. Seus olhos azuis estão me

medindo, mas lá no fundo eu vejo medo. E eu não entendo.

Por que ele parece tão amedrontado?

O motivo de eu ter saído de casa volta para a minha cabeça

e eu me afasto, tentando engolir o gosto nada bom do pavor

misturado com a desconfiança.

— Kellan. Ele... — As palavras se perdem assim que as

escuto.

Não era ele, Bree, a minha consciência me diz calmamente.

Kellan está morto. Eu o vi morto. Nos meus pés. Eu chamei a

polícia... E sumi com Poppy para a casa dos pais do Danton.

Ele pode estar vivo. Kellan pode...

— Pink, baby, respire. — Erick entra em foco novamente. —

O que tem o Kellan? Você sonhou com ele?


Era um sonho?

— Sim — murmuro e aperto minhas mãos. Passo a mão pela

minha camisola e vejo que estou em meu quarto. Ando até a minha

mesa de cabeceira e pego meu celular, vendo que já são mais de

oito da manhã. — Eu preciso passar na Florence, você pode ir...

— Bree, precisamos conversar sobre ontem.

— Não, Erick. — Aperto meu punho contra minha testa e

respiro fundo. Ao me lembrar que ele tortura pessoas, novamente

quero vomitar. — Você mentiu para mim. Você me enganou...

— Bree...

— Eu realmente não quero falar com você sobre isso. Não

agora. Vai embora da minha casa.

Ando para o meu banheiro e tranco a porta, descendo por ela

com as mãos na cabeça. Os olhos de Kellan voltam e eu estremeço,

balançando a cabeça. Não, Deus. Por favor, não.

Poppy.
Meu Deus, minha filha.

Ligo para Jolie e peço para falar com Poppy. Sua voz doce

me dando bom dia me faz respirar fundo, completamente aliviada.

Digo a ela que estou indo buscá-la e que ela não deve sair da casa

dos avós até eu chegar. Meu bebê parece confuso, mas agora, nada

na minha vida é mais importante que a segurança dela.

Tomo banho rapidamente e visto uma calça jeans e uma

blusa folgada de alcinha. Vou caminhando até Jolie e entro sem

bater.

A sala está vazia e a cozinha também. Eu ouço barulhos

vindos da piscina e vou para lá. Poppy aparece na minha linha de

visão, então sorrio ao ver Drew jogá-la para cima. Sua risada me

traz calma. Uma calma que é bem-vinda. Deus, eu a amo tanto.

A única pessoa no mundo que me fará cair caso a perca é

Poppy.
— Mamãe! — ela grita, me tirando dos meus pensamentos,

então me aproximo. — Por que está chorando? — Seu cenho se

franze.

Passo a mão pelo rosto, percebendo a umidade.

— Oh. Nada, querida. — Balanço a cabeça e sorrio para

Drew. — Bom dia. Aidan conseguiu falar com você ontem?

— Bom dia, Bree. Sim, amor, conseguiu. Ontem tive um

jantar importante. Cheguei tarde em casa. — Ele dá de ombros,

segurando Poppy enquanto eu me sento em uma cadeira de sol.

— Vocês estão bem? — pergunto, olhando seus olhos.

Ele sorri e eleva os ombros novamente.

— Não voltamos, mas Aidan não consegue compreender isso

muito bem. Ele diz que está próximo como amigo, mas eu o

conheço. Ontem ele estava doido me procurando. Um amigo faria

isso?
Drew arqueia a sobrancelha e eu sorrio, balançando a

cabeça. Não mesmo. Um arrepio ultrapassa meu corpo e eu elevo

meus olhos para a janela no andar de cima. Erick está me

encarando, segurando meu olhar no seu.

Quero conversar com ele sobre ontem. Sobre seu segredo.

Sobre Kellan.

Mas tenho medo de contar sobre seu irmão e ser apenas

minha imaginação. Kellan está morto. Eu sei disso. Engulo em seco

e olho para Drew. Jolie e Reinald entram em meus pensamentos e

eu me questiono.

E se não estiver?
UMA SEMANA DEPOIS...

— Eu a levo hoje. — Drew está com Poppy nos braços. Ela

usa roupas casuais, pronta para ir à casa dos avós.

Passei a semana olhando por cima do meu ombro, não deixei

Poppy ir aos avós e nem sair sem mim. Hoje me senti um pouco

culpada. Os dois não merecem isso.

— Drew, eu... — Minhas palavras saem grossas. Engulo em

seco, observando os dois me encararem, esperando o que vou

dizer.

— O segurança já está aqui? — Aidan pergunta, se fazendo

presente.
Eu aceno, confirmando.

Dois seguranças foram postos na companhia de Poppy. Até

na escola os dois a seguem. Pedi que fossem discretos, que

ficassem fora da vista dela, e graças a Deus não tive nenhuma

reclamação.

— Estamos indo. — A voz de Drew volta e eu estremeço. —

Bree, está tudo bem? — Ele semicerra os olhos e eu lhe dou um

pequeno sorriso.

— Sim. Vão lá.

Aidan entra em seu carro e Drew põe Poppy lá dentro. Fecho

meus olhos estremecendo. Quando abro minhas pálpebras, não é

mais Drew segurando minha filha.

Kellan sorri e entra com ela. Meu coração aperta quando o

carro sai em disparada. Minhas pernas se mexem e eu começo a

correr. Elas doem, ardem, me obrigando a querer parar, mas não

posso.
Poppy.

A cabeça de Kellan sai pela janela e eu mal vejo a pistola em

sua mão antes de sentir a queimação acima do meu peito. Encaro

meu corpo e minhas pernas perdem a força. Caio de joelhos, e

depois, na rua pavimentada.

Encaro o céu e aos poucos a escuridão me engole. Tudo

some, até a dor.

— Bree! — O grito vem de longe. Parece que meus ouvidos

estão tapados. — Bree, acorde.

Os olhos azuis de Erick entram em minha visão e eu me

sento, levando a mão ao meu peito, tremendo dos pés à cabeça.

Encaro meu peito, mas não há nenhum ferimento. Engulo em seco e

suspiro, balançando a cabeça. Foi um sonho. Arrumo meu cabelo e

encaro Erick.

— Oi. Hum, o que você está fazendo aqui? — questiono

lentamente, tentando engolir o medo que o pesadelo trouxe.


— Eu... acho que precisamos conversar. — Ele respira fundo.

Encaro seu rosto cansado. Não o vejo há dias. Pedi que ele

me desse espaço, se ele pressionou em algum momento, eu não vi.

Eu não estou vendo muita coisa ultimamente.

— Acho que sim. — Engulo em seco e me levanto. — Onde

está Poppy?

— Minha mãe está lá embaixo com ela — ele explica,

franzindo a testa. Eu aceno, relaxando. — Por que ela não pôde ir à

casa dos meus pais esta semana?

— Eu... — Encaro seus olhos e mordo meu lábio. Preciso

relaxar. Inferno, eu tive mais pesadelos essa semana que em todo o

tempo depois da morte de Kellan. Ele está morto. Sei disso. — Não

foi nada, realmente. Espero que Jolie e Reinald não estejam

chateados...

— Não estão. — Ele balança a cabeça.


Eu pego meu celular e vejo que ainda é cedo. Hoje é sábado.

Poppy pediu para ir para a casa dos avós, então ela vai. Hoje eu

abrirei a loja, então é melhor assim.

— Sobre aquele dia...

— Você é pago para torturar pessoas — digo calmamente,

tentando esquecer Kellan e focar no irmão dele, que está aqui me

encarando como se não pudesse ter o suficiente.

— Não. Eu não torturo ninguém...

— Você faz pessoas falarem. Você as machuca para que

respondam as suas perguntas... Qual é o nome que dá a isso, se

não tortura? — pergunto, cruzando meus braços.

Erick anda por meu quarto, respirando fundo, enquanto eu

ainda estou sentada, pernas cruzadas embaixo de mim. Puxo um

travesseiro e o coloco em meu colo.

— Eu luto. Eu... Inferno, Bree. Eu sou bom lutando. Eu gosto.

Yuri me paga para lutar com quem ele quiser até a pessoa se
cansar e falar, mas eles podem me bater. Eles me batem também,

merda, mas eu sou bom. Melhor que eles...

— Erick, se escute, pelo amor de Deus! Isso é tortura. Eu...

— Balanço a cabeça ao sentir minha barriga revirar. Respiro fundo e

me acalmo. — Eu não quero mais.

— O quê, Bree? — Ele pressiona, ficando diante de mim

enquanto observo minhas unhas nuas de esmalte. — O que você

não quer?

— Você. Nós. Eu não quero mais. Por favor, só vá embora e

não volte mais. — Minha voz é firme, mas por dentro estou como a

lama, suja e mole.

— Não volte mais? Poppy está aqui. Ela é minha filha, é

lógico que vou voltar. — Seus olhos estão enormes, chocados.

— Ela é filha do Kellan. Kellan é o pai dela — murmuro

fracamente e Erick dá um passo para trás, magoado. — Me

desculpa, não deveria ter dito isso.


Nós ficamos calados por longos segundos, então suspiro,

mordendo meu lábio.

— Erick, eu não me sinto bem ultimamente — admito,

tentando encarar seus olhos.

— Eu estou aqui, Pink. Você pode falar sobre tudo que

quiser...

Meu coração se parte em mil pedacinhos. Eu o amo, e por

isso jamais contaria algo que lhe faria mal. Dar esperança de que

seu irmão pode estar vivo para depois ter certeza da sua morte não

me parece bom. Não farei isso.

— Eu preciso de um tempo — digo, enquanto ele se ajoelha

diante de mim, segurando minhas mãos. — Eu não gosto do que

você me escondeu. Não gosto que faça isso...

— Eu não farei mais, Bree. — Ergo meus olhos assim que as

palavras saem por seus lábios. — Juro que nunca mais vou atender
ao Yuri. Nunca mais vou àquela boate, mas, Pink, eu não posso

ficar longe de você...

— Erick.

— Eu te amo, Bree. — Ele se inclina e beija minhas mãos.

Seus lábios tocam meu rosto e eu relaxo, passando os braços por

seus ombros.

— Eu te amo. Amo tanto que tenho medo, Erick. Tenho tanto

medo de a gente se perder...

— Quando eu estiver perdido, você precisa me buscar, Bree.

Agora, você parece indefesa, perdida e chateada, mas eu vou te

alcançar, Pink. Eu juro que vou alcançar você, hoje e sempre.

Suas palavras fazem lágrimas encherem meus olhos. Soluço

contra seu corpo e Erick me aninha, me acalenta, sem saber que o

medo em mim é por nós dois.

Por nossa filha.

Por minha vida.


Erick vai embora depois de eu reafirmar que precisamos de

um tempo. Mesmo que ele se distancie do que faz, eu sei que

precisamos disso. Sei que preciso conversar com seus pais, sei

que, de um modo meio doido e incompreensível, eu não ficarei com

ele até seus pais nos aceitarem.

— Bom dia — murmuro, entrando em minha cozinha.

Poppy sorri, segurando sua mochila com roupas para passar

o dia na avó.

— Bom dia, Bree. — Jolie pousa seus olhos em mim e seu

sorriso, antes sempre caloroso, hoje está ameno. Pequeno e frágil.

— Poppy, você pode subir para ver se esqueceu algo? Por

favor — peço, suavizando minha voz.

Minha filha nos deixa sozinhas, então me aproximo até parar

em frente a Jolie.

— Bree...
— Desculpa por essa semana. Eu tive alguns problemas... —

murmuro, encarando seus olhos, iguais aos dos filhos. Estremeço,

piscando os meus para afastar a imagem de Kellan.

Como Jolie reagiria ao saber que seu filho pode estar vivo?

Depois de tanto tempo... Sua mão pousa na minha, que descansa

em cima do balcão, enquanto ela chama meu nome.

— Você está bem? — A preocupação em sua voz acalma as

batidas do meu coração contra minhas costelas.

— Sim. — Mordo meu lábio e coloco meu cabelo atrás da

orelha, tentando ficar calma. — Jolie, Erick e eu colocamos um fim

no que andava acontecendo... — Ceder e dizer isso parece rasgar

meu coração bem ao meio. Eu sinto o sangue banhar meu corpo e a

dor me sufocar.

Porque eu o amo. Deus, eu amo aquele homem como nunca

amei ninguém. Ele me faz sentir viva quando me tira do sério, me

impulsionando a sair da minha casca. Ele me faz perder a cabeça


em segundos e eu conheço uma Bree que nunca pôde explodir. Mas

que com ele, ela pode. E ele nunca vai julgá-la. Ele a ama. Ele a

ensina dia após dia que ela merece ser feliz, que ela merece ser

amada. Minha filha merece.

— Bree...

— Eu realmente sinto muito por ter desapontado você de

alguma forma. Que eu tenha te traído de alguma forma. Não foi

minha intenção. — Umedeço meus lábios com a língua e volto a

olhar para seus olhos. — Mas eu não sinto muito por ter me

permitido viver. Por ter encontrado um amor que me consome. Por

deixar seu outro filho, que é incrível e nunca me machucou, entrar

em meu coração. Eu estou... devastada por nossa relação estar

abalada, mas eu o amo. Realmente o amo, Jolie. E eu quero muito,

muito mesmo, que um dia eu possa estar com ele sem ferir você ou

Reinald. — Sinto meus olhos arderem com minhas lágrimas, mas as

empurro, engolindo em seco.


— Bree, eu sinto muito. — Ela desvia os olhos de mim e anda

em direção à saída da cozinha. Ela some e eu me sento na cadeira,

tremendo e suspirando. — Eu queria não sentir que estarei traindo

Kellan se aceitar vocês. Mas eu sinto. Então, me desculpe.

Sua voz chega a mim, e quando me viro e a vejo parada, com

lágrimas em seus olhos e lábio tremendo, eu começo a chorar.

— Jolie...

Mas ela já está indo em direção à escada, em busca da neta.

Limpo meu rosto e tento comer.

Saio de casa depois de alguns minutos e dirijo em direção à

minha floricultura. Nunca percebi, mas a boate a que fui para

encontrar Erick é nesse caminho. Aperto o volante ao ver a estrutura

grande e agora, em relação à noite, nem tão chamativa. Olho para

os lados como se Kellan pudesse estar ao redor, mas ele não está.

É claro que não. Ele está morto.


Talvez não. Ondas de dor começam a brotar em minha

cabeça e eu suspiro, relembrando o corpo forte e grande contra o

meu. O homem era mais forte que Kellan e ele tinha cabelo rente ao

ombro. Não podia ser ele. Mas seus olhos... um arrepio faz os pelos

do meu corpo eriçarem.

Eu não me enganaria assim.

Eu amei aqueles olhos desde a primeira vez que os vi. Eram

castanhos quase escuros, quase. Às vezes, eu os via mais claros

que o normal. Tudo dependia do seu humor. Eles eram a porta de

entrada para tudo que Kellan sentia. Amor, tristeza, raiva, decepção,

orgulho... tudo. Eu só precisava encará-lo e saberia o que estava

acontecendo.

Engulo em seco e decido que preciso saber quem era aquele

homem, e se era o meu Kellan, porque, se for ele, minha vida vai

mudar para sempre. Novamente.


À noite, Poppy me liga pedindo para dormir com a avó. Eu

reluto no início, mas decido que sim, é isso que eu preciso para sair

sem chamar atenção. Então, meia hora depois, estou na rua

dirigindo em direção à boate. As ruas estão lotadas, pessoas indo e

vindo, e quando chego ao local, ainda demoro alguns minutos para

encontrar uma vaga.

Passo pela porta, engolindo em seco e encarando ao redor.

Eu me sento de frente para o balcão e vejo o mesmo homem que

pagou Erick ao longe. Peço uma água com gás, desviando minha

atenção antes que ele perceba, logo o barman me entrega um copo

gelado. Agradeço com um aceno.

Eu me viro, bebericando o líquido, e passo a mão pelo

vestido justo que vai até meus joelhos. Meu decote é pequeno e o

casaco por cima cobre qualquer nudez. Deslizo meus olhos pelas

pessoas e vejo uma mulher no canto. Ela olha para todos os lugares

e parece procurar alguém. Engulo em seco, esquecendo-me dela e

focando no que eu vim fazer aqui.


Meu estômago revira com a possibilidade de reencontrar

Kellan. E se tudo for real? Se ele estiver mesmo vivo? Fecho meus

olhos, pensando nisso. Eu acho que enlouqueceria. Como eu iria

pará-lo dessa vez? Kellan ainda quer me matar? Estremeço,

lembrando-me, e lágrimas enchem meus olhos. Por favor. Não sei o

que estou implorando. Para ele estar realmente morto? Para ele

estar vivo e bem? Ou para ele não querer mais me matar?

Balanço a cabeça e enxugo uma única lágrima que desliza

por minha bochecha. Nunca desejaria que ele estivesse morto. Eu

amei aquele homem um dia. Kellan é o pai da minha filha.

— Boa noite. Eu conheço você. — Eu me viro, assustada, e

vejo o homem de cabelo rente à cabeça e terno me medir. Escuto

suas palavras e engulo em seco ao perceber que ele não perguntou.

Foi uma afirmação. — Como vai Erick?

Meu estômago se revolta novamente com a menção do nome

dele.
— Não sei — respondo honestamente, já que realmente não

sei. Ele está no trabalho? Em casa? Não sei.

— Fique à vontade. Mande-o me ligar... — Ele para de falar

quando seus olhos encontram algo na multidão. Eu me viro e

semicerro os olhos, vendo um homem andar depressa e cabelos

voando. É ele.

Eu desço do banco sem escutar nada e sigo o homem que

imagino ser Kellan. Meu coração bate descompassado quando

chego ao lado de fora da boate. Vejo o homem ao longe e corro,

tentando alcançá-lo. Quando ambos estamos no beco mal iluminado

do lado da boate, eu respiro fundo, cansada por tentar alcançá-lo.

— Ei! — grito, alto o bastante para ele me ouvir, mesmo

estando a uns bons metros longe. Dou passadas lentas, e quando

estou mais próxima, percebo seus ombros tensos e seus punhos

cerrados. Vagarosamente ele se vira e a luz banha seu rosto.


Meus joelhos fraquejam e quase caio, mas me forço a

encontrar resistência enquanto meus olhos se arregalam e se

enchem de lágrimas. Meu coração parece saltar dentro e fora do

meu peito, me levando a imaginar meu ataque cardíaco.

— Kellan? — Minha voz é um sussurro na escuridão, então

percebo o meu erro.

Eu estou sozinha, à noite, com o único homem que já tentou

me matar.

Dessa vez não terei escapatória.

Eu vou morrer.
Os olhos dele me medem de cima a baixo e suas

sobrancelhas se unem. Ele parece confuso, e quando dá um passo

em minha direção meu corpo começa a se retrair. Isso o faz cessar

seus movimentos. Sua cabeça pende para o lado e o cabelo, agora

longo, cai ao redor dos seus ombros.

— Kellan? É você mesmo? — Engulo em seco, tentando

clarear minha mente.

Ele não responde. Seus lábios se mexem, mas é apenas o

movimento da sua língua umedecendo-os. Dou um passo em sua

direção e ele semicerra os olhos.


— Kellan. Onde esteve durante todo esse tempo? — volto a

falar e, com alguns passos, estamos a um metro um do outro.

— Quem...

— Ei! — dizem atrás de mim.

Me viro ao ouvir uma voz feminina, então encontro a mulher

que estava dentro do clube parecendo procurar alguém.

— Quem... quem é ela? — Sua pergunta é direcionada a

Kellan.

O corpo dele se encolhe enquanto me encara, vejo seus

olhos se encherem de desconfiança.

— Não sei — a voz de Kellan ecoa, formando uma frase

coerente pela primeira vez.

Não sei?

— Kellan, sou eu. Bree. — Minha voz está por um fio. O que

diabos está acontecendo aqui?


— Bree. — Um arrepio atravessa meu corpo ao ouvir meu

nome sair por seus lábios.

Kellan continua franzindo o cenho, e quando eu me aproximo

mais, ele parece incerto. Toco em seu rosto com a ponta dos dedos,

tentando me convencer de que é ele. É meu ex-marido. Pai da

minha Poppy.

— Bree. Isso, sou eu. Kellan...

— Bree!

Sobressalto e me viro ao ouvir o grito de Erick. Ele está

andando rápido em minha direção e com os seus ombros tensos,

vejo o quão insano ele parece estar.

— Erick. — Engulo em seco, olhando do Kellan para o Erick

até que os dois se encaram.

Kellan continua com o corpo tenso, testa franzida, totalmente

confuso, enquanto Erick para de andar e arregala os olhos. A cor é


drenada do seu rosto em questão de segundos antes de trazer sua

atenção para mim.

Os únicos homens que amei se encaram sem reação. Os

dois irmãos não parecem tão diferentes agora. Confusão se espalha

pelo rosto de ambos.

— O que... quem... — Erick balbucia.

— É ele, Erick. É o Kellan — murmuro de maneira firme,

enquanto Kellan engole em seco.

A mulher se movimenta e para entre mim e meu ex-marido,

ficando de frente para mim.

Protegendo Kellan de mim.

— Não. O nome dele é — ela parece incerta por alguns

segundos, mas me encara com firmeza — Seven.

Seven?

— Seven? Era ele o cara que você tirou da sala aquele dia?

— A voz do Erick sobe e eu me viro, encarando-o sem entender.


Porém ele está falando com a mulher.

— Sim. Erick, o que está acontecendo? Quem é essa... e por

que o estão chamando de Kellan? — a menina questiona agitada,

então começo a me questionar de onde os dois se conhecem. —

Você conhece essa mulher?

— Não. Já falei que não. — Kellan franze o cenho. Eu tento

me aproximar, mas a mulher se movimenta, não me deixando

chegar perto dele. — Lanie. — Sua voz faz nós duas

estremecermos. — Quem é Kellan?

— Meu marido — falo sem pensar. A mulher parece ter

levado um tapa enquanto Erick segura meus ombros e me afasta. —

Ex. Ex-marido. Enfim, o que está acontecendo? Onde esteve esse

tempo todo?

— Bree. — Erick adverte e se aproxima do irmão. — Você

não se lembra dela? — Erick aponta para mim. Kellan me encara

por um segundo para depois balançar a cabeça, negando. — Droga.


Erick engole em seco e eu aperto minha bolsa, tremendo. Ele

não se lembra de mim. Kellan não se lembra nem dele mesmo.

Quem fez isso? Como ele pode estar vivo?

Eu ouvi o tiro.

Eu sei que sim.

— Podemos conversar em outro lugar? Seven? — Erick o

chama assim e eu estremeço. Esse não é o nome dele.

— Kellan. Seu nome é Kellan. — Escuto minha voz e os três

me encaram. — Kellan, sou eu, a Bree. Nós fomos casados... temos

uma filha, a Poppy. Você... não se lembra dela? — Quando meu

coração se aperta, eu percebo minha tristeza. Kellan amava a filha.

Poppy era seu mundo. Eu sei disso.

O que fizeram com ele?

Kellan teve seus erros. Nossa, eu o odiei por um tempo, mas

amei esse homem por longos anos. Ele foi meu primeiro amor, meu
primeiro homem. Não posso fingir que o que está acontecendo não

é surreal e importante.

Pensar em Poppy me causa dor. O que acontecerá quando

ela o vir? Meu Deus, ela vai sofrer tanto.

— Não. Não sei. Não lembro. — Suas mãos vão para sua

cabeça e ele puxa o cabelo. Seu punho se fecha e ele começa a

socar sua própria testa. — Não lembro de nada. Não lembro.

— Ei? — A voz da menina o alcança e ele para. Ela fica na

frente dele e segura suas mãos, levando-as para a cintura dela.

Assim que ela o envolve em seus braços, Kellan se acalma. —

Podemos conversar amanhã? — ela implora, sussurrando para mim

e Erick.

Eu balanço a cabeça, não querendo esperar, mas Erick

acena.

— Ele está com você? Na sua casa? — Erick questiona e ela

acena.
— Não. Eu não vou esperar até amanhã. Ele vai comigo para

casa. Temos uma filha...

— Bree...

— Não, Erick! Não! Eu pensei que ele estava morto. Eu me

culpei pela morte dele, você me culpou da morte dele. Caramba! Eu

preciso de respostas. Eu preciso me certificar de que ele está

falando a verdade e que minha filha vai ter o pai dela de volta...

— Ele tentou te matar, Bree. Você não lembra, porra?! —

Erick grita e eu sinto meu queixo tremer. — Como você esquece de

algo assim? Ele te prendeu em uma cadeira e ia te matar...

— Poppy — murmuro o nome dela e seu rosto suaviza. —

Ela chora por ele de noites em noites. Sempre que nós duas vamos

para algum lugar, ela me pergunta se o pai vai estar. Minha filha

merece saber que ele está bem. Ela sente saudade dele todos os

dias. E eu não me importo se ele tentou me matar, Erick! Eu não me

importo comigo mesma se minha filha estiver feliz! Me chame de


louca, idiota ou insensata, eu não ligo! Eu quero minha filha bem

novamente e eu preciso do pai dela pra isso. Kellan nunca fez

nenhum mal para Poppy. Nunca. Ele a amava mais que a vida dele,

então, sinto muito, mas eu preciso dele. — O silêncio me recebe

quando termino de falar. As lágrimas banham meu rosto e eu estou

soluçando. — Ele vem comigo, você gostando ou não.

Eu me viro para Kellan e limpo meu rosto.

— Por favor, você pode me acompanhar? Vou explicar tudo.

— Minha voz fica baixa. Os olhos dele me encaram, depois olham

para a mulher ao seu lado. — Ela pode vir conosco. Não tem

problema.

— Eu não posso. — Ela balança a cabeça e encara o rosto

de Kellan. — Você volta pra mim, não volta? — Seus olhos brilham.

Ele acena, tocando a bochecha dela.

A mulher anda para longe e nós três ficamos parados. Erick

nos guia para a saída e logo estou entrando em meu carro com
Kellan. Erick nos segue de perto e, em questão de minutos,

estaciono em frente à minha casa.

Depois de entrarmos, eu ando para a cozinha e faço café.

Essa conversa vai ser longa e difícil. Os dois homens se sentam à

bancada e eu os sirvo. Eu me sento devagar e encaro Kellan.

Agora, banhado pela luz, vejo algumas cicatrizes em seu rosto.

Engulo um pouco do café e suspiro.

— Meu nome é Bree. Nos conhecemos há muito tempo —

começo devagar, vendo que ele nem mesmo tocou no café. Seus

olhos estão presos nos meus. — Morávamos longe daqui. Tivemos

uma filha. Ela tem cinco anos. — Engulo em seco, me lembrando de

Poppy. — Ano passado, algo aconteceu e você tentou...

— Matar. Eu tentei te matar — ele fala pela primeira vez

desde que a mulher que estava com ele foi embora.

— Isso. — Engulo em seco novamente e encaro Erick. Seus

olhos estão presos no café. — Um dia você chegou e estava


transtornado. Estava diferente, balbuciando que precisava fazer

isso, mas que me amava, que cuidaria da nossa filha e a protegeria

para sempre. Então, você me amarrou em uma cadeira e eu percebi

que estava armado. — Estremeço, relembrando meu pavor quando

o vi tirar a arma da roupa. — Eu escutei um tiro, no susto desmaiei,

porém, ao acordar, não era eu quem estava no chão,

ensanguentada e desacordada. Era você, Kellan. Eu pedi ajuda,

ambulância, polícia... tudo. — Mordo meu lábio e percebo lágrimas

em meus olhos. — Por isso eu não entendo. Como você pode estar

vivo?

O pai da minha filha me olha por um longo tempo e respira

fundo. Quando eu acho que vai falar algo, ele volta a encarar o

balcão. Engulo em seco e me forço a continuar.

— Depois de um tempo, sua família achou a mim e a Poppy.

Pediu que viéssemos morar mais perto. Nunca fomos próximos.

Você nunca foi próximo deles, mas eles estavam irredutíveis.

Queriam a neta por perto, então nós duas viemos — digo


calmamente e procuro Erick. Ele suspira, erguendo a cabeça, e se

virando para Kellan, limpando a garganta.

— Eu sou o Erick. Sou seu irmão — Erick anuncia

lentamente. — É sério que você não lembra? — A voz dele está

nervosa. Tensa demais. Ele está por um fio, sei disso.

— Eu não me lembro de nada. Minha mente é um breu...

— Onde esteve? — questiono lentamente.

— Rússia.

— O quê? Fazendo o quê? Quem te levou? — Erick

questiona.

Encaro Kellan, ansiosa por suas respostas.

— Eu... — Ele para de falar, e depois de percebermos que

ele não contará mais nada, Erick se ergue e anda de um lado para o

outro.

— Você está mentindo. O que porra você quer fingindo que

não lembra da gente? Retomar a Bree e viver feliz com a Poppy?


Caralho, isso não vai rolar! Eu não sou idiota...

— Erick... — Eu me ergo e ando em sua direção. Coloco

minhas mãos em seu peito e o afasto de Kellan. — Por favor.

— Você vai voltar pra ele, Bree? — Sua pergunta é crua, a

dor em seus olhos perfura meu coração.

— Erick, por Deus, é claro que não! — respondo de maneira

firme, pegando seu rosto entre minhas mãos. — Eu quero saber o

que aconteceu com seu irmão. Com o pai da Poppy. É isso.

— Você é meu irmão? — Kellan questiona. Erick o encara,

me mantendo perto dele. — Você é mãe da minha filha...

— Sim. — Eu me afasto do Erick e me aproximo de Kellan. —

Seus pais moram próximo daqui. Você quer vê-los agora?

— Bree, estou confuso. De quem é essa casa? Vocês são

ricos? — Ele olha ao redor.

— Seus pais são — respondo.

Ele acena, suspirando.


— Eu preciso de um tempo pra pensar nisso tudo. Eu vou

voltar para a Mellanie...

— Não, por favor. Você pode dormir aqui. Amanhã

conversamos, então te deixo na casa da Mellanie — digo o nome

que agora sei ser da menina.

— Não quero atrapalhar...

— Fica. Está tudo bem. Nós precisamos conversar com

nossos pais e nosso irmão. Drew vai ficar muito feliz por você estar

vivo. Todos nós estamos. — Quando Erick força as palavras, deixo o

ar sair por meus lábios, aliviada.

Kellan acena e eu o ajudo a se estabelecer em um dos

quartos. Volto para minha suíte e vejo Erick sentado na cama, com

as mãos no rosto.

— Erick — chamo devagar.

Ele ergue a cabeça. Meu estômago embrulha ao ver seu

olhar perdido.
— Está tudo bem. Deus, eu não acredito que Kellan está vivo

— ele balbucia, desacreditado, enquanto eu me aproximo. —

Inferno! Não acredito nisso, porra!

— Por que você... por que não parece feliz, Erick? —

questiono ao ver a fúria em seus olhos e seus punhos cerrados. —

Ele é seu irmão. Você deveria estar feliz por ele estar bem...

— Eu sei. — Ele leva as mãos ao cabelo e o puxa, parecendo

totalmente perdido. — Eu sempre amei meu irmão, mas agora...

— Agora o quê? — pressiono, franzindo as sobrancelhas.

Não entendo o que está querendo dizer.

— Ele te causou tanto mal, quase te matou...

— Isso não muda o fato de que vocês são irmãos. Ele está

vivo e isso é quase um milagre...

— Você está feliz? — Sua pergunta me interrompe e eu o

encaro. Erick se ergue e para diante de mim. — Está, Bree?


— Sim. Eu estou — afirmo, derramando cada gota de

sinceridade. — Ele é o pai da minha filha. Ela o ama. Ele foi meu

marido e um dia eu o amei. Isso não muda, Erick. Por mais que ele

tenha tentado tirar minha vida.

Erick assente devagar encarando o chão, então eu me

aproximo e seguro o seu rosto.

— Seus pais vão ficar felizes, Drew vai ficar feliz. A Poppy vai

fazer uma festa, então, por favor, não toque mais nesse assunto.

Kellan tentar me matar é passado. Eu quero esquecer...

— O.k. Tudo bem. — Ele acena, engolindo em seco e se

afastando do meu toque. Minhas mãos caem ao lado do meu corpo

e eu o observo andar até a porta. — Vou dormir no quarto ao lado.

Ele não me dá chance para respondê-lo. Apenas sai e fecha

a porta atrás de si.

Eu me sento na minha cama, apertando minhas mãos. Será

mesmo que fiz o certo? Caio no colchão macio e encaro o teto.


Lágrimas enchem meus olhos e eu levo minha mão ao coração.

Será que trazer Kellan de volta para nossas vidas foi a decisão

correta?

Sei que estou certa. Pode parecer impulsivo e até idiota da

minha parte querê-lo próximo e desejar que todos esqueçam o que

Kellan fez, mas preciso ser forte por Poppy.

Nada nem ninguém vai tirar de mim a oportunidade de ver

minha filha completamente feliz de novo.

Nem mesmo o homem que eu amo.


— Você está bem?

Drew está me encarando do outro lado da porta. Acordei com

a campainha tocando. Deixo-o passar enquanto aceno e fecho meu

robe, cobrindo mais minha pele e camisola.

— Sério? Não parece — ele resmunga e se joga no meu

sofá, com o semblante triste.

Eu me sento no chão, ficando perto do seu rosto.

— O que Aidan fez agora? — questiono. Minha voz está

rouca do sono ainda. Não dormi bem.

Saber que Kellan e Erick estão em minha casa me levou ao

no limite.
— Na verdade, nada. — Ele franze o cenho e me encara. —

Ainda não voltamos. Ele está comedido. Não sei exatamente se é

por mim, ou por ele próprio. — Drew dá de ombros. O silêncio nos

brinda e ele me encara. — O que houve?

— Você não vai acreditar — murmuro e aperto minhas

têmporas. Fico alguns segundos assim, só desperto quando ouço

passos na escada.

— Kellan? — Drew ofega e se ergue.

Eu perco o chão ao ver o pai da minha filha na escada, nos

encarando.

— Drew. — Eu me ergo e ando até os dois, que se encaram.

Kellan está franzindo o cenho, enquanto a boca de Drew cai aberta.

— Era isso que eu queria contar.

— Como? Como ele está vivo? Co-co-como? — Sua voz

embarga e ele puxa Kellan para seus braços. Kellan me encara

tenso e depois relaxa, abraçando o irmão que está para lá de


emocionado. — Jesus Cristo — Drew choraminga antes de mais

passos se aproximarem. Os dois homens se afastam quando Erick

aparece. — Erick...

— Eu sei. Nós vamos te contar tudo. — Erick acena para o

irmão mais novo. — Bom dia.

— Bom dia — Kellan e eu murmuramos. — Drew, vamos

para a cozinha. Tomamos café e conversamos. — Puxo-o pelo

braço e seguimos para a cozinha.

Encontro o café pronto, agradeço a cozinheira por isso. Nós

nos sentamos e devagar começamos a comer em silêncio.

— Então, me digam. Contem tudo — Drew pede, sorrindo

para o irmão. Ele parece tão feliz. E eu sabia que ele ficaria assim.

Com a ajuda de Erick, contamos cada detalhe de como

encontramos Kellan, a boca de Drew está caída ao final.

— Você não se lembra da gente? — Drew arregala os olhos e

seus ombros caem.


— Não. De ninguém. Desculpe. — Kellan parece ver o

quanto isso mexe com Drew, pois seus olhos suavizam.

— E Poppy? — Drew pressiona e eu pego sua mão. Ele me

encara e eu balanço a cabeça. — A mamãe? — Ouço sua voz baixa

e vejo em seus olhos uma tristeza profunda. — Ela... Ela...

— Eu sei — Erick diz e suavemente conforta o irmão. —

Kellan está vivo e isso é o mais importante. Faremos novas

memórias.

— É claro. — Drew acena rápido e se ergue. — Vamos. Você

tem uma casa. Todos moramos com nossos pais. A Bree mora aqui

com a Poppy...

— Eu vou ficar aqui. Com a Bree. — Kellan surpreende a

todos falando isso. Erick semicerra os olhos e eu vejo seus punhos

cerrados. — E com a Poppy. Eu quero conhecer minha... filha. —

Seu semblante é confuso, mas logo isso fica em segundo plano.


— Agora, nós vamos encontrar nossos pais. — Erick se

ergue e o encara. — Eles estão em casa com Poppy. Você pode

conhecê-los. — Toco o braço de Erick e ele fica tenso.

— Bree? — Kellan murmura, questionando com os olhos.

— Eu também vou. Esperem eu me trocar — peço, me

erguendo.

Saio da sala rapidamente e volto em alguns minutos, vestida

com calça jeans e uma camiseta. Pego minha bolsa e as minhas

chaves e saímos. Todos calados.

Erick abre a porta da casa dos MacGregor e eu ouço a

gargalhada da minha filha enquanto entramos. Jolie está com

Poppy, as duas brincando. Quando ambas nos encaram, primeiro

sorriem e depois franzem o cenho ao notarem Kellan.

— Kellan? — A voz de Jolie é um murmúrio desacreditado.

Ela anda com os olhos presos nele e segura seu rosto. Seus dedos

tremem e lágrimas enchem seus olhos. — Oh, meu Deus, é você!


— Papai?! Mamãe, olha o meu pai! — Poppy grita, correndo

com um sorriso tão grande que eu momentaneamente fico sem

reação.

Ela corre até ele e pula em seus braços, abraçando-o depois

que Jolie se afasta limpando os olhos.

— Papai, você voltou! — Ela sorri e começa a beijar seu rosto

por inteiro. Meu coração cresce feliz e eu sorrio e me aproximo dos

dois. — Mamãe, meu papai voltou do céu.

E eu desabo. Meus olhos se enchem de lágrimas e eu abraço

minha filha, ainda nos braços de Kellan. Seu rosto é suave e ele,

pela primeira vez desde que o encontrei, está calmo, sereno.

— Reinald! — Jolie grita e logo seu marido aparece de calça

jeans e camisa de botões. — Olha. É o Kellan, querido. — Suas

mãos se agitam. A felicidade poderia ser resumida em seu rosto

risonho e emocionado.
— Meu Deus! — Reinald arregala os olhos e se aproxima

rapidamente.

Tento tirar Poppy dos braços de Kellan para ele falar com o

pai, mas não consigo. Minha filha envolve seus braços ao redor do

pescoço do pai e fica lá, com a cabeça escondida. Kellan beija seu

rostinho e ela sorri mais ainda.

— Onde estava? Como? É um milagre, Senhor. Obrigada.

Obrigada, meu Deus. — Jolie continua chorando enquanto o pai dos

homens presentes na sala abraça o filho e descansa a testa contra

a dele.

Encaro todas as pessoas na sala e relaxo ao ver o sorriso

que cada um tem no rosto. Eu me concentro em Erick e vejo seus

olhos se encherem de lágrimas. Meu coração aperta, quero andar

até ele e consolá-lo, mas sei que não devo. Não agora.

— Você está bem mesmo? — Reinald pergunta.


Kellan acena, segurando Poppy. Drew a pega dizendo que os

dois precisam escolher um presente para o papai.

Assim que os dois saem, Jolie e Reinald nos convidam para

nos sentarmos. Erick começa a falar o que aconteceu e como

achamos Kellan. O rosto de Jolie se desmancha em lágrimas

quando escuta que Kellan não se lembra de ninguém. Ela pergunta

diversas vezes para ele se ela não é conhecida aos seus olhos, mas

ele apenas balança a cabeça, dizendo sentir muito.

— Contei tudo que aconteceu para Kellan. — Mordo meu

lábio. Reinald me encara, tenso. — Ele sabe o que fez a mim. Achei

melhor contar a verdade...

— Por que fiz isso? — Kellan surpreende ao questionar. —

Eu não amava você? Eu era ruim? — Suas sobrancelhas se juntam.

— Amava — encaro meus dedos —, quero dizer, eu sempre

achei que sim, mas você tentaria matar alguém que ama? — Minhas

palavras saem grossas e infelizes. Eu nunca faria isso com ele.


Jamais. Eu não poderia, porque eu, sim, o amava. — Você estava

metido com pessoas perigosas. Pelo que soube, era um desafio

sádico. Não era comigo. Era um ritual. Eu não sei, Kellan, mas foi o

que aconteceu.

— Está tudo bem. Podemos deixar o passado para trás. Não

vamos mais tocar nesse assunto. Sei que Kellan errou, mas não é

esse Kellan. Eu...

— Mãe. — Erick a adverte devagar.

— Tudo vai ficar bem. — Ela balança a cabeça. — Você pode

reconstruir sua família. Poppy sente sua falta. Ela te ama e eu tenho

certeza de que Bree também — Jolie murmura.

Eu a encaro, completamente chocada. Como ela ousa

insinuar algo assim, sabendo que Erick e eu estamos envolvidos?

— Mãe! — Erick se ergue, gritando.

Eu seguro seu braço, puxando-o para se sentar novamente.

Kellan nos olha e depois encara sua mãe.


— Jolie, como...

— Mellanie — Kellan me interrompe, murmurando o nome da

menina. — Eu preciso vê-la. Você disse que me levará até lá.

— Quem é Mellanie? — Reinald questiona. Quando Erick diz

o sobrenome da menina, seu pai se ergue, franzindo o cenho. —

Como se conheceram? Não chegue perto dela, Kellan. Ela é filha

daquele crápula! — Reinald grita, completamente fora de si.

Todos nós nos erguemos enquanto Kellan o encara, franzindo

a testa e dando um passo para trás. Erick se aproxima do pai ao

mesmo tempo em que ando até estar ao lado de Kellan.

— Pai, se acalme...

— Foi ele, Erick! — Reinald sobe a voz novamente, então eu

o encaro, completamente confusa.

— Ele o quê, pai?

— Reinald, o que deu em você? — Jolie o alcança e acaricia

o peito do seu marido, tentando acalmá-lo.


— Foi ele que tentou matar a mim e a sua mãe.

O silêncio preenche o espaço enquanto todos ficamos

chocados. Holland é um dos candidatos mais fortes ao lado de

Reinald, concorrendo ao governo. Suspeitávamos de que tinha sido

alguém próximo, mas nunca um concorrente.

— Como sabe disso? — Erick questiona, totalmente branco,

enquanto Kellan está nos encarando com ar confuso.

Explico a ele que Mellanie é filha de um candidato ao governo

e seu pai também.

— Ele mesmo se vangloriou da última vez que nos vimos.

Não tenho nenhuma prova, por isso não explanei. Kellan, você

precisa se manter distante...

— Não vou me afastar dela. Não dela! — ele grita assim que

entende a gravidade da situação. — Eu não conheço vocês e não

vão me afastar dela...

— Nós somos a sua família...


— Mellanie é minha família. Ela cuidou de mim, ela, ela... —

Sua voz sobe e ele começa a bater na cabeça do mesmo jeito que

fez ontem.

— Está tudo bem, Kellan. Eu te levo até ela. Tudo bem? —

falo devagar e puxo sua mão em direção à porta.

Erick, Jolie e Reinald nos observam sair em silêncio. Engulo

em seco ao perceber o toque da sua pele contra a minha. Afasto-me

sem deixar que ele perceba. Talvez esse homem não seja mais o

mesmo de antes, que tentou me matar, mas a lembrança está vívida

em minha mente.

Mellanie está acordada quando chegamos. Ela mora em um

prédio enorme e, claro, na cobertura. Seu rosto é preocupado

quando encara Kellan. A urgência dentro de suas íris não passa

despercebida por mim. Ela gosta dele.


— Está tudo bem? — Sua voz é suave e suas mãos estão

agora no rosto de Kellan.

— Hum, sim. Ele pediu para te ver, então... — Subo meus

ombros, pondo minhas mãos dentro dos bolsos do meu jeans.

— Entrem. — Ela puxa Kellan pela mão e eu sigo os dois.

Seu apartamento é enorme. A decoração tão requintada

quanto à dos MacGregor.

— Eu vou tomar banho — ele fala rápido, me encarando por

alguns segundos, e depois some.

Mellanie cruza os braços e sorri, me pedindo para me sentar.

— Kellan, hum? — Suas palavras são baixas, ela parece

nervosa.

— Sim. Ele é Kellan MacGregor — anuncio devagar.

Seus olhos se expandem ao ouvir o sobrenome.

— O quê? Ele... ele...


— Sim, ele é irmão do Erick.

— Meu Deus... — Ela leva a mão aos lábios e encara o chão.

O silêncio nos brinda por alguns minutos, então ela engole em seco

e volta a me encarar.

— Você ainda o ama? Quer de volta? — O medo dentro dos

seus olhos me faz sorrir.

— Não. Eu amo outra pessoa. — Mordo meu lábio e suspiro.

— A única coisa que quero de Kellan é que ele fique bem. Só isso...

— Ah, tudo bem. — Seu alívio é tão verdadeiro, que eu sinto

um pouco de compaixão pela menina linda que está se apaixonando

pelo pai da minha filha.

— Vocês, hum, estão juntos? — A pergunta deixa meus

lábios antes que eu pense no que estou fazendo.

— Sim. Não. É complicado. — Ela olha para as unhas e

depois sorri tristemente. — Kellan... nossa, ainda é surreal saber


que ele tem um nome de verdade... — Mellanie esfrega o rosto e

suspira. — Eu o encontrei dormindo em...

— Ei! — Kellan volta e nós duas nos erguemos. — Onde está

a minha mochila? — Sua testa está franzida quando ele cruza os

braços, intimidante.

— Eu lavei tudo e suas roupas estão... — Ela engole em seco

e sorri para mim antes de voltar a encará-lo.

— Onde?

— No meu closet. Do lado direito — Mellanie fala, enfim, com

suas bochechas vermelhas.

— Você pode me dar seu telefone? Kellan quis vir te ver,

então vou para a casa. Se ele precisar é só me ligar — digo,

fingindo não ver seu constrangimento.

Nós duas trocamos telefones e em segundos saio da casa

dela, deixando Kellan para trás.


Encaro o prédio diante de mim, sentindo meu corpo

dormente. As batidas do meu coração estão aflitas, eu pareço um

fantasma. Não dormi. Eu estava esperando, vigiando, a postos, se

Kellan tentasse algo contra Bree.

Meu irmão está vivo e a única coisa no meu pensamento é

que ele vai matá-la.

Kellan vai matá-la.

Eu não estou feliz por meu irmão estar vivo, eu estou com

raiva, com medo, mas não feliz.

Por que eu não estou feliz?


Ele é meu irmão, porra! Meu irmão. Eu cresci com ele, eu

brinquei com ele, briguei incontáveis vezes, o consolei e o amei. Eu

amo meu irmão. Eu sei disso, droga, eu o amo pra caramba.

Mas eu amo mais Bree Sawes.

Deixei Drew cuidando dos meus pais e Poppy, pois eu estava

com medo de deixar Bree e Kellan sozinhos. Eu sou um idiota. Bree

já deixou claro que não quer mais falar sobre aquele dia. Ela se

sente segura com ele. Ela está preocupada com a filha. Ela quer o

pai da filha dela de volta.

O pai da Poppy.

Eu não sou o pai dela. Meu peito se aperta e lágrimas

enchem meus olhos. Eu não sou o papai dela, ela não correu para

mim quando passei pelas portas. Ela correu para o Kellan. Seu pai

verdadeiro.

E ela está certa. Bree está certa. Todos estão, menos eu.

Elas devem estar felizes com a notícia de que Kellan está vivo. É
um milagre, como meu pai falou.

Poppy precisa do pai dela. Bree está correta em querer que a

filha se sinta completa. Ela está com razão de querer que

esqueçamos o que ocorreu no passado.

Kellan está vivo.

Poppy está radiante.

Bree está se sentindo em paz.

Eu estou com ciúme.

Eu estou apavorado.

É normal.

Limpo meu rosto ao sentir meu celular tremer. O nome de

Andie aparece, então atendo rapidamente, temendo que seja algo

com Archie.

— Ei! Tudo bem? — questiono, engolindo em seco.


— Oi! Sim, está. Só quero saber se vai vir aqui hoje. — O

chorinho de Archie no fundo me preocupa, mas não comento nada.

— Estou indo agora.

Desligo o celular e saio pela rua, deixando a casa de Mellanie

para trás.

Assim que chego, Archie está mamando. Andie sorri assim

que me vê, mas seus olhos demonstram todo o seu cansaço.

— Ei. — Sorrindo, me aproximo e me sento ao lado dela na

cama. Andie preferiu fazer o quarto de Archie com o dela, então,

assim o fizemos. Na minha casa, o quarto dele ainda está sendo

decorado. — Você está bem?

— Cansada e com sono, mas bem. — Ela sorri e encara o

rostinho de Archie. — Ele estava com cólicas quando liguei, mas já

passaram.

— Eu fico com ele enquanto você descansa. — Ela arqueia

as sobrancelhas e eu dou de ombros. — Durma algumas horas. Na


próxima mamada eu te acordo.

Andie sorri e agradece, então pego Archie. Ele está

acordado, mas não chora. Eu o embalo em meus braços,

observando Andie se erguer e caminhar até o banheiro. Minutos

depois ela sai de banho tomado e vai diretamente para a cama.

Enquanto a mãe dorme, Archie fica com os olhos azuis presos nos

meus.

Ele é incrível. Sua mãozinha pequena e macia segura meu

dedo com tanta força que eu sorrio, admirado. Eu me sento na

poltrona de amamentação e o coloco em cima de mim, enquanto

cantarolo devagar. Ele demora a dormir, mas o faz.

Fico por mais de duas horas com Archie, deixando sua mãe

dormir. Na terceira hora Andie acorda sozinha e sorri ao ver nosso

filho dormindo em cima de mim.

— Vou pegá-lo. Está na hora da mamada — ela explica,

prendendo o cabelo e pegando Archie em seguida.


Observo-a cuidar e dar de mamar para ele. Suspiro ao

perceber que a preocupação exacerbada que eu, Drew e Aidan

estávamos sentindo não é necessária. Andie ama o filho e cuida

dele com adoração.

— Tio Erick! — Poppy pula em cima de mim assim que entro

em casa. Meu coração murcha ao perceber que voltei a ser o tio.

Espanto essa sensação e sorrio, beijando seu rosto.

— Oi, princesa. Onde está todo mundo? — questiono,

carregando-a para dentro.

A casa que meu pai comprou para Bree e Poppy é grande e

muito bonita. Poderíamos nos perder aqui. Vim à casa das duas,

pois lá em casa não tem ninguém.

— Estão na cozinha. Minha mãe disse que meu pai virá me

ver depois. — Ela sorri com a inocência que só pertence às

crianças.
— Pode ter certeza de que ele vem. — Beijo seu rosto

novamente e ela me abraça.

— Podemos ter dois pais? — ela pergunta, enquanto ando

para a cozinha. — Minha avó disse que não posso mais chamar

você de papai. — Ela morde o lábio.

Respiro fundo. Meu Deus, mãe.

— Claro que pode. Você pode tudo, Poppy. — Encaro seus

olhos escuros e ela engole em seco. — Posso ser seu papai ou seu

tio. Não importa, pois eu te amo da mesma forma. Pra sempre.

— Meu pai voltou, então eu queria chamar você de titio,

porque não quero que ele fique chateado. — Suas palavras ecoam

ao mesmo tempo em que sua mãe aparece diante de nós dois.

— Poppy, seu tio te ama e seu pai também. Nenhum deles

vai ficar chateado por isso. Chame seu tio de pai ou de tio mesmo.

Nada disso importa. — Bree suaviza a voz ao dizer.

Eu me importo. Droga, eu me importo.


— Eu quero que continue me chamando de papai —

murmuro devagar e firme.

Bree ergue os olhos para mim e franze as sobrancelhas.

— Mas... — A voz de Poppy baixa. Ela não quer mais me

chamar assim. Ela tem o pai dela.

— Poppy, pode dar licença pra gente? — sua mãe pede.

Logo ela desce dos meus braços e sai da sala de cabeça

baixa. Quando Bree me encara, parece decepcionada.

— Por que você está agindo como uma criança?

— Eu falei o que sentia...

— E ela é a única criança aqui. — Bree aponta para a porta

por onde Poppy passou, me encarando como se eu fosse louco. —

Poppy é uma criança e está se sentindo sobrecarregada. De

repente, o pai volta e ela está com medo de chamar você de pai ou

tio e machucar você ou Kellan... Nossa, Erick, por Deus, pare de


agir assim. Eu estou te implorando. Não faça isso com a gente, nem

com a nossa família.

— O que eu estou fazendo?

— Agindo assim! Como se Kellan fosse um estranho pra

você. Ele é seu irmão! Eu quero que o ame...

— Eu amo, é claro que sim, mas você vem antes! — devolvo,

abrindo os braços.

— Eu não quero vir antes! — Bree grita, com os olhos cheios

de lágrimas. — Eu quero que vocês se reconectem, fiquem bem,

quero que Poppy e ele fiquem bem. Eu quero ver vocês todos

felizes e não me importo comigo! Eu não quero que me ame mais

que ao seu irmão. Eu quero ser uma mera expectadora. Ver a

felicidade de vocês me basta, então, por favor, por favor, tente.

Tente amá-lo mais — Bree pede chorando e sai da sala, subindo a

escada rapidamente.
Esfrego meu rosto e desabo no sofá. Por um segundo, eu

pondero ir ou não atrás dela, mas Bree Sawes é um ímã poderoso,

e eu, o ferro mais fácil em se tratando dela.

Quando abro a porta do seu quarto, ela está de frente para a

janela, abraçando a si mesma. Eu me aproximo devagar e abraço

seu corpo, descansando meu queixo em sua cabeça e suspirando.

— Eu te amo — murmuro e ela respira fundo.

— Eu sou completamente sua, Erick. Você faz meu mundo

girar. Eu te amo de verdade. Nunca amei nenhum homem assim. —

Bree abraça meus braços enquanto diz. — Você precisa me deixar

um pouco de lado e voltar ao seu irmão. Eu só estou pedindo que

você foque nele.

— Bree...

— Nós dois vamos estar bem aqui no final. Juntos. Não se

preocupe comigo. — Ela se vira e beija meu peito. — Eu amo você.


— Eu também amo você. — Eu me inclino devagar e roço

nossos lábios.

Nós nos beijamos no que parecem ser horas, mas que, na

verdade, são apenas alguns segundos. A porta faz um barulho e a

gente se separa. Eu me viro para ver meus pais parados nos

encarando.

— Oi — murmuro para ambos, ainda segurando Bree junto a

mim.

— Eu pensei que vocês tinham acabado com isso...

— Não, mãe, nós não temos poder de nos afastarmos

quando o que está acontecendo envolve amor. E eu amo essa

mulher. Pela primeira vez, eu amo realmente alguém e tenho

certeza de que Kellan não vai se importar. Ele não se lembra de

nada. Ele gosta da Mellanie.

— Meu Deus... — Meu pai bagunça o cabelo enquanto me

olha surpreso.
— Preciso ir embora. — Minha mãe sai e meu pai a segue

em silêncio.

Eu pego Bree e a viro para mim. Seus lábios estão vermelhos

e abertos. Não espero um segundo a mais antes de juntar nossas

bocas novamente.

Eu sou totalmente dessa mulher.

Ela parece ainda não saber disso.

Meus pais se acostumarão. De um jeito ou de outro, pois não

vou abrir mão da Bree. De maneira nenhuma.

Quando anoitece, Kellan não está por perto. Minha mãe liga

para a Mellanie e ela fala que ele está dormindo. Cada um segue

seu caminho ao perceber que ele não virá mais hoje.

— Está tudo bem? — questiono, entrando no quarto da Bree.

Ela está sentada, encarando as unhas longas.

— Sim. Eu estava pensando em Kellan. Onde ele estava? O

que estava fazendo? Isso tudo é tão confuso...


Bree franze o cenho e eu suspiro. Também gostaria de saber.

Será que a The Savage o levou daqui? Nunca pensei nisso, mas

agora não tenho outra ideia.

— Não sei — murmuro, deixando de lado minhas suspeitas.

Tenho que conversar com Kellan. Somente ele vai dar as respostas

de que eu preciso.

— Poppy dormiu questionando se ele não viria vê-la. — Bree

engole em seco e encara a janela. — Eu fiz certo? Eu... — Ela

morde o lábio e me encara. — Trazê-lo de volta para a vida dela foi

o certo? Eu pensei...

— Bree, ele é o pai dela. — Minhas palavras são firmes, e ela

estremece. — Ela não perdoaria você se a deixasse sem o pai.

Kellan vai fazer novas lembranças. Poppy é uma menina incrível,

logo o pai dela vai estar bem com ela e nossa família. Eu tenho

certeza.

Bree acena e suspira, sorrindo devagar.


— Ela é incrível mesmo.

Quando Bree adormece, eu saio de casa. As ruas passam

rapidamente enquanto acelero meu carro. Passa da meia-noite, mas

eu preciso colocar as cartas na mesa, senão vou enlouquecer.

— Oh, Erick. — Mellanie esfrega os olhos e me encara com

um sorriso. — Entra. Aconteceu alguma coisa?

— Pode chamar o Kellan? — Minha voz baixa quando meu

irmão aparece.

— Quarto, Mellanie. Agora. — A voz dele é firme.

Ela me dá um sorriso pequeno antes de se virar para ele.

Percebo o ciúme em seu tom e eu não o culpo, Mel está de

camisola.

— Kellan, modos. — As palavras saem entredentes, irritadas.

— Por favor. — Kellan baixa o tom de voz.

Quando ela desaparece, ele aponta para o sofá. Eu me sento

e ele se estabelece na poltrona diante de mim.


— Você está bem? — questiono lentamente, encarando-o.

— Sim. Eu... Sim. — Kellan acena e eu me inclino,

descansando meus cotovelos nos meus joelhos.

— Sei que está tarde. Mas eu preciso ter essa conversa.

Você se importa? — Olho para seus olhos escuros e ele balança a

cabeça.

— Pergunte tudo. Se eu lembrar, vou falar.

— O.k. Qual é sua primeira lembrança? Onde estava quando

acordou? Quem estava ao seu lado?

Kellan pisca e engole em seco.

— Eu era um prisioneiro, Erick.

— O quê? Como assim? — Minha voz se eleva, aguda.

Ele acena, apertando as mãos juntas.

— Tráfico de pessoas. Eu era um prisioneiro. Eles me

obrigavam a... — Kellan aperta os olhos e depois os abre, me

fazendo estremecer.
Não há vida em seus olhos, apenas a escuridão.

— A matar. Eu matava todas as pessoas que eles queriam.

Eles me transformaram em uma máquina. Eu era uma abominação.

— O quê?! — Meu coração bate acelerado.

Ele balança a cabeça, parecendo completamente perdido em

lembranças.

— Quando acordei, eu não lembrava meu nome. Eles me

chamavam de Seven. Para eles eu era um número. Só isso. Eu

queria entender tudo. Ficava fazendo perguntas, e por causa da

maioria delas carrego as cicatrizes em minha pele...

Lembro-me das suas costas.

— The Savage. Você ouviu algo sobre isso lá? — questiono

de maneira urgente.

— Sim, por isso vim para cá. Ouvi de um dos donos o nome.

Quando fugi, eu pesquisei e acabei na boate em que você trabalha

— Kellan me surpreende ao falar.


Yuri está envolvido nisso? Meu Deus. Eu sempre soube que

a boate é da gangue. Não é à toa que leva o nome deles. Eu sabia

que tinham sido eles que mataram meu irmão. E continuei

frequentando e trabalhando para eles.

Eu estou com nojo de mim mesmo.

— Como você fugiu? Como Mellanie te encontrou? — Minhas

perguntas o fazem ficar tenso, mas ele suspira.

— Eu matei todos eles.


DOIS MESES DEPOIS

Nós estamos ansiosos. Todo mundo está concentrado na

tevê. Ninguém pisca. Reinald aparece na tevê ao lado de todos nós,

incluindo Kellan, que está bem mais receptivo com a família. Logo a

programação muda e a família de Holland aparece. Mellanie está

deslumbrante ao lado do pai. Ela é muito parecida com a mãe. As

duas são ruivas.

Kellan se remexe no sofá e Poppy sorri, beijando o rosto

dele. Os dois estão caminhando em direção a uma relação. Meu

coração derrete, percebendo o quão bem Poppy está. Kellan não se


lembra de nada, e pelo que os médicos disseram, não vai lembrar.

Então todos nós estamos tentando construir novas lembranças.

Encaro os olhos de Erick do outro lado do sofá, de pé,

enquanto estou na poltrona. Há várias pessoas ao redor da casa,

bebendo e esperando o resultado das eleições. Pessoas que

trabalharam na campanha de Reinald. O sorriso no canto dos lábios

dele envia borboletas diretamente ao meu estômago. Nós estamos

bem. Pelo menos, na medida do possível. Seus pais ainda não

aceitam bem a nossa relação e isso me entristece. Não falamos

com Poppy, não quero confundir minha filha, mas eu sei que Erick

está esperando isso.

— Você está bem? — Eu me viro, olhando para Drew, que

está sentado na ponta do sofá. Aidan está atrás dele de pé, com os

olhos atentos em seu marido. Os dois estão tentando acertar as

coisas. Eu estou confiante que Aidan esteja mudado. — Archie está

tão fofo, não é? — Drew sorri, olhando para o bebê incrivelmente

lindo nos braços de Andie.


— Muito. Você notou que ela está bem mais calma? —

questiono devagar e baixinho.

Drew acena suspirando. Ela não faz mais comentários

maldosos sobre mim nem Poppy. Na verdade, Poppy ama o primo e

o mima muito.

— Todo mundo está notando isso. Fico feliz.

Sorrio devagar e aceno. Que bom.

Os minutos passam, e quando todos os votos são

computados, a vitória acirrada do Reinald contra Holland não nos

surpreende. Quando Reinald abraça os três filhos bem sorridente,

um fotógrafo registra o momento feliz. Uma câmera surge no ombro

de um homem e a imagem aparece na tevê simultaneamente. Ele

pega Poppy e Archie e beija ambos, sorridente. Quando é a vez de

Jolie, todos suspiram ao ver o beijo apaixonado. Eu o abraço com

Aidan e Andie.

— Parabéns! Você merece. — Sorrio grande.


— Obrigado, minha filha. Obrigado. — Ele beija a minha

testa.

A festa se estende e logo Jolie e ele, juntamente com os

filhos, saem para discursar na concentração dos eleitores no centro

da cidade. Aidan os segue também, mas eu e Andie ficamos, pois

Poppy e Archie estão cansados.

— Você vai ficar bem aqui sozinha? Se quiser, pode vir

comigo — murmuro para Andie enquanto guio Poppy para fora da

casa.

— Os empregados estão aqui. Obrigada. — Ela sorri devagar

e eu aceno.

Vou para a minha casa e ligo para Anna, pedindo que Danton

fale com Poppy. Os dois ficam entretidos na conversa sobre um

desenho animado e eu permaneço longe, observando.

Eu estou feliz. Meu sorriso denuncia isso. Ter Poppy sentindo

alegria é um bálsamo para mim. Tira qualquer tristeza do meu peito.


Eu a amo mais que a mim mesma. Erick comigo me faz sentir

completa. Os dois são a minha vida.

Ouço meu celular tocando longe e me ergo. O nome de

Kellan aparece no visor e eu estremeço. O que aconteceu?

— Ei!

— Você pode vir me buscar? Eu não consigo achar um táxi.

— Sua voz está tensa, grossa.

— Eu pensei que ia ficar com seus pais...

— Não. Mellanie estava lá e... — Suas palavras se perdem.

Eu sinto meu estômago doer. Eles estão bem. Sei disso, pois

ele sempre deixa escapar algo sobre ela.

— E? — pressiono, querendo saber o que aconteceu.

— O pai dela nos viu juntos. Um inferno desabou. Ela... —

Sua voz some e ele funga. — Droga, ela apenas seguiu o pai e me

deixou sozinho. Eu me senti sozinho de novo. Inferno, eu não quero


me sentir assim, mas por que ela me deixou, Bree? Eu fiz algo de

errado? Eu não valho a pena?

— Kellan, eu acho que ela apenas quis colocar panos

quentes na fúria do pai. Ele perdeu as eleições. Agora descobriu

que vocês estão juntos...

— Eu pensei nisso, mas o jeito como ela me olhou...

— Estou indo te buscar. Vai ficar tudo bem.

Pelo menos, eu espero que sim.

Quando chego ao local que Kellan me passou, Poppy

resmunga dizendo que está com sono. Sorrio e digo que não vamos

demorar. Ela se deita no banco e adormece, me fazendo rir.

Vejo Kellan ao longe, andando de um lado para o outro, então

buzino para chamar a sua atenção. Ele se aproxima rapidamente e

eu franzo o cenho ao me deparar com um homem o seguindo.

— Nos deixe em paz — Kellan grunhe, raivoso, assim que

chega perto. — Não se meta com meu irmão. Deixe-o em paz!


A veia da sua testa está saltada e ele parece furioso.

— Seu irmão trabalhava pra máfia, Kellan. Mesmo sabendo

que ela foi a culpada pela sua morte, ou sumiço, obviamente. Ele

esteve socando, deformando e recebendo o dinheiro sujo. Por que

agora vocês dois estão se recusando a voltar? — O homem grande

derrama palavras.

Sinto o chão se abrir sob meus pés. O quê?

— Meu irmão fez o que tinha que ser feito. Foda-se, eu não

dou a mínima! Ele não quer essa vida e eu também não. Pare de

nos procurar. Pare de ligar para o Erick...

Meu mundo gira devagar e eu aperto o volante entre meus

dedos. Erick estava na máfia? As pessoas daquela boate são da

máfia? Sinto a bile subir, mas forço minha garganta. Não vou

vomitar. Encaro meus dedos brancos e mordo meu lábio.

Erick foi odioso comigo, me culpando pela morte de Kellan,

deixando claro seu rancor em relação a mim. Agora descubro que


ele trabalhava com os verdadeiros culpados? Ele sabia de tudo e,

ainda assim, convivia com as pessoas que tiraram Kellan dele?

— Bree? — A voz de Kellan me alcança quando tiro o cinto e

passo para o banco do passageiro.

— Não consigo dirigir. Vamos, por favor.

Kellan acena enquanto o homem desaparece. Quando ele

começa a dirigir, eu sinto lágrimas em meus olhos.

— O que foi?

— Erick me culpou pela sua morte. Fez minha vida miserável

desde o segundo em que me viu. Ele deixou claro que me odiava e

agora... ele trabalhava com as pessoas que fizeram isso, Kellan. Ele

é um hipócrita, um mentiroso...

— Bree, Erick deve ter tido seus motivos para fazer isso...

— É aí que está o problema, ele não tinha, Kellan. — Soluço

devagar e sinto meu coração dolorido pulsar. — Como ele ousou?


— Por favor, não faça disso uma grande coisa. Vocês estão

bem e eu estou feliz por isso...

— A questão não é essa — murmuro, me acalmando e

limpando meu rosto. — Você ligou para a Mellanie? — Mudo de

assunto, tentando deixar de lado meu desagrado quanto ao seu

irmão.

— Não. Ela sabe onde me encontrar. — Sua voz muda para

fria.

Quando chego em casa, coloco Poppy na cama e desço para

ficar com Kellan. Pego uma garrafa de vinho e duas taças, me

sentando no sofá. Kellan afasta a taça e pega bourbon no pequeno

bar.

— Como se sentiu ao saber que estou com seu irmão? —

questiono devagar depois de virar uma taça cheia em minha boca.

— Normal, eu acho. Para mim vocês eram desconhecidos,

então... — Ele dá de ombros e eu aceno. — Nos amávamos? Quero


dizer, antes de eu tentar te matar... — Kellan engole em seco,

visivelmente desconfortável.

— Sim — respondo honestamente, me remexendo no sofá.

— Éramos muito apaixonados. Eu, com certeza, era mais. No dia

em que você tentou me matar, você estava chorando muito. Eu

sabia que você não queria aquilo, era visível, mas você não me

amava o suficiente.

Constato, infeliz. Ele se ergue, se sentando ao meu lado no

sofá. Kellan me puxa para seus braços e eu relaxo contra seu corpo.

— Eu sinto muito, Bree. Eu não consigo imaginar o que você

sentiu. — Suas mãos acariciam meu cabelo enquanto aceno,

tentando deixar o passado onde ele está.

— O que diabos é isso? — A voz de Erick soa pela sala.

Kellan se afasta, se virando em direção à porta. Vejo seu

irmão e Mellanie parados, em choque.


— Bree estava me contando que eu não a amava — Kellan

fala suavemente e se ergue. — Eu vou indo. Tchau, Bree. Mellanie,

me siga. — Kellan aponta para a porta, mas ela nem se mexe. Seus

olhos estão cheios de lágrimas enquanto Erick me olha com ódio

nadando em suas íris.

— Por que você a procurou? Por que não foi para casa e me

esperou? — A voz dela está ferida.

— Mellanie, desculpe, mas você está distorcendo tudo.

Kellan e eu estávamos conversando. Somente — digo, me

erguendo, enquanto Kellan balança a cabeça para a sua namorada.

— Esperou? Você me deu as costas na frente de uma

multidão. Seguiu seu pai como uma menina de cinco anos depois de

ser repreendida — Kellan agora está gritando.

— Saiam daqui. Eu nem consigo olhar para vocês dois...

— Essa é minha casa, Erick. Saia você. — Minha voz é firme

e séria. Ele percebe isso. — Mellanie, suba com Kellan, por favor —
peço calmamente.

Os dois acenam e fazem o que pedi.

Ando de volta até a garrafa e a viro na taça, enchendo-a

novamente.

— Você ainda o ama?

A pergunta dele me faz revirar os olhos. O idiota parece não

compreender que tem meu coração nas mãos. Eu não amo nenhum

homem além dele.

— Não, eu não o amo mais. Mas e você, Erick? Você o ama?

Você ama seu irmão? — questiono, me virando para encará-lo.

Lambo meus lábios e engulo mais do líquido vermelho.

— É claro, mas eu vou matá-lo se ousar tocar em você

novamente...

— Você trabalhava para a máfia — murmuro, apertando a

taça entre meus dedos e vendo seus olhos se arregalarem. — Para


a The Savage. Mesmo sabendo que eles mataram seu irmão. Você

fez isso.

— Bree...

— Então você me culpou. Disse que por minha causa ele

tinha morrido. Disse que eu o matei. Quando, na verdade, você

estava trabalhando para os assassinos dele sabendo disso! — Meus

olhos se enchem de lágrimas e eu sinto meu peito doer.

— Eu...

— E ele acabou de me dizer que você deve ter tido seus

motivos. Então, Erick, fale para mim a droga dos seus motivos

agora! Cada um deles...

O pomo de Adão dele sobe e desce enquanto me encara.

Seus olhos estão desnorteados, ele parece envergonhado.

— Eu não estava pensando direito...

— Você, seu hipócrita nojento! — Cuspo as palavras e me

aproximo, socando seu peito. — Por que você fez e disse aquelas
coisas para mim? Por que me tratou como merda desde o momento

em que me viu?

Meus gritos ficam altos. Erick segura meus braços e me puxa

contra seu peito. Minhas lágrimas borram minha visão e nossas

respirações estão frenéticas.

— Porque eu fiquei louco por você. Não ali. Antes, Bree.

Anos antes, quando meu irmão e eu nos reencontramos. Quando

ele me mostrou uma foto sua, eu te desejei naquele momento, na

frente dele. Eu queria você e eu não deveria te querer. — Suas

palavras calam as minhas, me fazendo arquejar.

— Erick...

— Eu amo você, mas eu te desejo há anos. Eu tinha raiva de

mim mesmo e descontei em você, usando Kellan como desculpa.

Seu rosto está sério, e seus lábios, abertos. Meu batimento

cardíaco acelera e minhas pernas estremecem.

— Erick, meu Deus...


Sua boca desce sobre a minha quando ele percebe que

estávamos condenados a ficar juntos. Para todo o sempre.


Bree geme sob minhas mãos cada vez que minha língua

desliza por suas dobras. Seus seios se empinam e eu sinto o pré-

gozo molhar minha ponta. Assim que ela grita, chegando ao clímax,

eu a puxo e faço com que ela me monte. Abraço seu corpo tentando

manter a conexão entre nós e gozo dentro dela.

— Você vai acabar engravidando. Você sabe disso, não é? —

questiono, cheirando seu pescoço e nos deitando na cama.

Os raios de sol entram pela janela, nos avisando que um dia

novo começa.

— Sim. Eu vou ao médico pedir algum contraceptivo. Não

engravidei desde a primeira vez, então não será nesse mês. — Ela
ri quando eu faço cosquinhas em sua barriga, acenando.

Ontem eu estava muito perto de perder minha mente. O jeito

que ela me olhou, com nojo de mim, eu sabia que estava perdendo-

a. Eu sentia isso. Mas ela sempre me surpreende. Bree Sawes me

ama. Nossa, ela me ama de verdade. Eu sou o homem mais feliz do

mundo por isso.

Depois de tomarmos banho, eu desço e encontro Kellan e

Mellanie abraçados na sala. Assim que percebem a minha

presença, eles se afastam para me cumprimentar. Ambos dormiram

aqui, no quarto de hóspedes.

— Eu quero um emprego. Eu posso trabalhar na empresa da

família? Não precisa ser nada grande. Posso começar por baixo. —

Meu irmão me surpreende.

Eu sorrio e aceno. Mellanie está com os olhos inchados e

parece ter chorado.


— Claro que pode. A empresa é sua também — murmuro e

ele sorri, beijando a cabeça da mulher. — O que aconteceu? —

questiono.

Ela tenta falar, mas novas lágrimas surgem, então Kellan

responde por ela.

— Holland a deserdou. Tirou tudo dela e agora ela é só

minha — meu irmão brinca, tirando um sorriso dela. — E nós vamos

ter um bebê.

Arregalo os olhos e ele acena. Eu o abraço e percebo Poppy

e Bree paradas. Mellanie olha ambas e engole em seco.

— Você vai ter outro bebê, papai? — ela questiona a Kellan,

que se aproxima e a pega nos braços.

— Sim, sua irmãzinha. Vocês vão ser melhores amigas — ele

brinca e ela sorri, animada. Em segundos, Poppy começa a fazer

plano como os que fez com Archie.


— Preciso ir. Vá à construtora e falaremos sobre seu

emprego. Mellanie, parabéns. Vocês vão ser muito felizes — felicito,

muito contente, e ambos sorriem. Beijo a cabeça da Bree e da

Poppy, que ainda está nos braços do pai.

Saio de casa e entro em meu carro. Só respiro aliviado

quando estou longe do nosso condomínio. Bree não terminou

comigo. Ela ainda é minha, e se depender de mim, será para

sempre.

Dias depois, eu estou ao lado de Kellan enquanto meu pai

nos guia por um bar lotado. Esse não é o The Savage. Meu corpo

fica tenso quando vejo uma porta se abrir. Meu pai entra e logo

estamos diante de três homens.

Papai sabe mais do que comenta, hoje eu tenho a certeza

disso. Ele apenas mandou que Kellan e eu entrássemos no carro,


pois iríamos resolver problemas. Problemas esses que tinham

nome. A Máfia.

— Sr. Governador. Que honra! — o homem alto de cabelo

escuro que está no meio murmura e traga seu cigarro lentamente.

Algo nele não me é estranho. Encaro mais alguns segundos e

desisto de tentar me lembrar.

— Obrigado por me receber, sr. Bonanno. — Meu pai se

senta na cadeira enquanto Kellan e eu ficamos de pé, próximos a

ele. — Você deve saber o motivo da minha vinda, não?

— Possivelmente. Envolve os meninos MacGregor, presumo.

— O cara vira uma dose de uísque e eu semicerro os olhos.

— Seus homens estão seguindo meus filhos. Assediando-os

para voltarem à The Savage. Não aceito isso. Quero que os

desanime em relação a ambos. — A voz do meu pai é firme. Diante

dele está um dos homens mais perigosos do mundo e ele nem

mesmo titubeia.
— Por que eu faria isso? Eu pessoalmente quero que seus

filhos façam parte da família. Erick é bom com os punhos, esse foi o

motivo que me fez mantê-lo por perto. Kellan sempre foi um bom

soldado. Agora, então, está excelente. — Os seus olhos azuis

medem meu pai e a gente lentamente, risonho. Eu não dou mais

que trinta anos ao homem diante de mim, mas ele tem Nova Iorque

aos seus pés.

— Peça algo e será seu, mas deixe meus filhos fora disso,

Vito — meu pai rosna rapidamente, então toco seu ombro para

tentar acalmá-lo.

— Quero minha irmã. — Quando ele responde, papai e todos

nós nos entreolhamos, sem entender.

— O quê? Que irmã? Eu nem mesmo conheço alguém que

possa fazer parte da sua família...

— Anos atrás, meu tio ordenou que Kellan a matasse para

me punir. Kellan falhou, eu estive lá e atirei nele. Eu mesmo o enviei


para o inferno, pelo menos foi o que pensei. Meu tio deu um jeito de

encobrir que Kellan tinha sobrevivido. Então o mandou para a

Rússia. — Quando Vito termina de falar, o silêncio nos brinda. As

palavras dele me fazem girar. As coisas vão se encaixando e eu

sinto o chão se abrir embaixo dos meus pés.

Bree.

— Do que diabos você está falando? Bree não é sua irmã,

ela é filha única — explodo, fúria drenando meus pensamentos.

— Irmãos por parte de pai. Eu nunca me apresentei, mas

cuido dela desde que era pequena — Vito me responde sem nem

mesmo corresponder a minha fúria. — Quero ela aqui, amanhã, no

mesmo horário. Então seus filhos estão livres.

— Nunca! — eu grito, dando um passo em sua direção,

porém seus homens erguem as armas e eu fico estático. — Bree é

minha mulher e ela não vai pôr os pés aqui. Se quer conhecê-la, vá

à nossa casa, mas aqui ela não pisa.


— Sua? O pai de Poppy é Kellan. Que diabos de família

desordeira é essa? — Vito ri e eu aperto meus punhos. — Enfim,

isso não é problema meu. Amanhã eu estarei bem aqui, esperando

Bree. Agora saiam.

Os soldados dele nos empurram para fora e logo estamos

saindo.

— Ela vai querer conhecer o irmão.

— Pai, não! — interrompo-o e ele se vira.

— Sim, Erick. — Ele se vira, me encarando com firmeza. —

Eu vou falar para ela o que aconteceu aqui. Aprenda uma coisa: se

quer viver em paz com sua mulher, você não esconde segredos.

Você abre todos sobre a mesa e os dois, juntos, vão lidar com isso.

Não tente ser o fodão da casa, Bree pode cuidar de si mesma.

As palavras dele fazem meus argumentos voltarem. Bree tem

que saber. Não importa o que eu queira.


— Vito é o chefe da máfia, então não brinque com ele —

Kellan resmunga andando e entrando em seu carro. Todos nós

vamos embora. Cada um tentando entender o melhor jeito de tudo

isso não desabar sobre nossa família.

Bree está brincando com Poppy quando chego a minha casa.

Minhas coisas estão em malas e eu as carrego para dentro do

quarto, tentando não as interromper. Escondo-as dentro do closet e

vou ao quarto de Poppy.

— Tio Erick! — A menina doce de cabelo castanho sorri e

pula em meus braços.

Eu a abraço e beijo seu rosto. Sua mãe junta os brinquedos e

depois se ergue, sorrindo. É isso que eu mais amo em Bree. Seu

sorriso lindo que me tira o fôlego.

— Podemos ir jantar e conversar? — questiono a Poppy.

Sua mãe engole em seco e acena. Quando estamos ao redor

da mesa de jantar, Poppy está brincando com sua comida. Bree


está com o lábio preso entre os dentes, nervosa, e eu chamo a

atenção das duas.

— Poppy, a mamãe e eu queremos te falar uma coisa... —

começo devagar e Bree acena, me acompanhando.

— Eu e seu pai não estamos mais juntos, você sabe, não é?

Ele agora é namorado da Mellanie — Bree continua, então aperto

sua mão, dando-lhe forças.

— Sim, e eu vou ter uma irmãzinha. Ela vai se chamar

Aimee. Eu escolhi o nome com a Mel — Poppy fala eufórica e nós

sorrimos. Quando questionei a Kellan sobre como eles já sabiam

que era uma menina, ele falou algo sobre um teste de sangue.

Tempos modernos.

— Então o tio Erick é o novo namorado da mamãe.

As palavras ficam no ar enquanto Poppy encara o prato,

deixando para lá os talheres. Bree começa a engolir em seco e seus

olhos se enchem de lágrimas.


— Eu já sabia, mamãe — Poppy fala de repente e nós

arregalamos os olhos. — Eu vejo o jeito que ele olha pra mamãe. Eu

sei que gente apaixonada olha assim. É o jeito que Dan me olha

também. — Ela suspira e Bree ofega.

— O quê? Mas...

— Tio Erick pode ser seu namorado. Eu deixo. — Poppy sorri

e a mãe também, enquanto lágrimas banham suas bochechas.

— Eu vou cuidar de vocês duas para sempre. E o Danton não

pode mais chegar perto de você. — Ela arregala os olhos para mim

e eu sorrio. — Estou brincando. Amamos você, Poppy. Obrigado por

ser tão incrível.

A mãe a abraça murmurando o quanto a ama e eu beijo a

cabeça de ambas.

O peso do que parece ser um caminhão sai das minhas

costas e eu relaxo. Pelo menos momentaneamente. Falar sobre Vito

com Bree me levará ao limite. Eu espero que tudo dê certo.


Quando estamos em nosso quarto, eu a observo, deitado em

nossa cama, Bree passar hidratante nas pernas, criando coragem

para falar com ela sobre seu possível irmão. Deus, nossa vida já é

tão bagunçada, por que tinha que vir mais uma bomba?

— Está tudo bem? Você está meio aéreo — ela murmura

enquanto passa as mãos nas pernas grossas.

— Meu pai levou Kellan e eu até o chefe da The Savage.

— O quê!?! — ela grita, arregalando os olhos e correndo até

mim. — Você está bem? Por que seu pai...

— Eles querem que eu volte a trabalhar para eles e que

Kellan volte a ser um soldado deles — explico, sério.

Bree se afasta de mim, se sentando na ponta da cama.

— Mas você me prometeu... — Ela engole em seco e encara

meus olhos. — Você vai voltar?

— E se eu fosse, Bree? O que você faria? — sondo, tentando

reverter a posição em que Vito me colocou. Eu voltarei se isso


significar que Bree estará segura, longe do Vito.

— Eu... — Ela morde o lábio e me encara. — Talvez a gente

se separasse. Eu não sei.

— Meu pai pediu que eles parassem com isso. Eles poderiam

pedir qualquer coisa e ele daria a eles. — Paro de falar, tentando

diminuir a dor em meu peito. Seu cabelo negro está solto e seus

olhos estão tensos. — Vito Bonanno quer você.

— O quê? Quem é Vito? — Sua voz aumenta e ela sai de

perto de mim rapidamente.

— Seu irmão — explico e o sangue some do seu rosto. — Ele

é seu irmão por parte de pai.

— Não tenho irmãos. Sou filha única...

— Eu sei, mas ele disse que cuida de você de longe desde

que era uma menina. Foi confuso como o inferno, mas ele está

falando a verdade — digo com firmeza, e ela abraça seu corpo,

mordendo o lábio.
— Ele trabalha para a gangue? — Sua voz é baixa, trêmula.

— Ele é o chefe de lá. Ele quer conhecer você — explico, me

erguendo e andando até ela. Bree estremece, mas me deixa

abraçá-la. — Você quer conhecê-lo?

Bree fica calada por um longo tempo, mas quando acho que

nada sairá da nossa conversa, ela responde com firmeza:

— Sim. Eu quero. Vou mandar o idiota deixar meu homem

em paz. Ele nunca mais vai importunar você ou Kellan. Eu terei a

certeza disso.

Eu nunca tinha ouvido Bree falar dessa maneira. Sua voz é...

assustadora.
Eu estou tremendo. Não é pouco. Erick me olha com

preocupação, mas eu não dou atenção. Vito Bonanno é um

desconhecido. Eu não sei o que esperar dele, tampouco se eu

posso esperar algo. Minha ida até ele é apenas para exigir que

deixe Erick e Kellan em paz.

Se é mesmo meu irmão e se me protege desde sempre, ele

fará isso. Não é?

— Se quiser voltar...

— Erick, para. Eu estou bem.

Mentira.
Seus olhos nos meus me dizem exatamente o que pensei. O

homem me lê como um simples jornal aberto diante dele.

Ficamos calados até chegar ao bar onde marcaram o

encontro. Ando junto a Erick, segurando sua mão, até o interior do

local. Uma porta em um dos cantos se abre e um homem alto

acena, nos mandando entrar.

— Bree. — A voz baixa e firme me faz procurar entre as

pessoas presentes na sala a pessoa que falou. Eu o encontro

rápido, porque Vito é meu pai completamente. Seus olhos azuis, seu

cabelo preto como o meu e sua boca. Ele é meu irmão e eu não

preciso de testes para saber disso. — Saiam!

As pessoas se movem rapidamente, nos deixando sozinhos.

Seus olhos me medem enquanto eu faço o mesmo. Erick está ao

meu lado, tenso.

— Eu esperei muito tempo para te conhecer. Nunca quis me

revelar. Não queria trazer você para a bagunça que é a máfia.


— E o que mudou?

— Erick e Kellan. — Ele se acomoda na cadeira e seus olhos

mudam para Erick. — Os dois puseram você em perigo mais vezes

do que posso contar...

— Não. Erick não...

— Sim. Erick estava na máfia e ele sabia disso. Todo mundo

na máfia sabe que seus familiares podem ser machucados como

forma de punição. Poppy e você poderiam ter sido machucadas por

causa dele.

— Você não nos conhece...

— Conheço. Conheço você mais que a esse homem e ao

outro com quem se casou — Vito me interrompe e eu engulo em

seco. — Eu quero que saiba que vou proteger você e sua filha. Não

precisa gostar de mim. Só saiba que estou na penumbra, na

escuridão, vendo você. Protegendo-a até do homem que você ama.

— Você precisa deixar Erick e Kellan em paz...


— Eu tenho palavra — ele me corta mais uma vez e eu

engulo em seco. — Saiba que pode deixar tudo e vir comigo.

Sempre a receberei na família.

— Eu tenho família. Eu amo o Erick. Ele e Poppy são minha

família. — Minha resposta é rápida e o faz sorrir. Vejo meu pai. Eu.

Sorrisos idênticos.

— Que bom! — Ele se ergue e anda em minha direção. —

Pedir um abraço é muito? — Seu olhar fica cauteloso, e eu, arredia.

Porém, por Erick, eu dou um passo e o abraço devagar,

desajeitadamente. Nós nos afastamos e ele prende sua atenção no

homem que eu amo. — Se machucá-la eu o matarei sem hesitar.

Então ele sai, nos deixando imersos em tensão.

— Vamos embora. — Erick me puxa e nós saímos do

coração da máfia. Da vida de Vito Bonanno.

Meu irmão.
Quando chegamos a nossa casa, Poppy está falando com

Danton. Seu sorriso ilumina tudo aqui. Não quero incentivar nada

romântico entre os dois, mas é nítido o vínculo. Eu aposto alto sobre

eles terem algo especial quando adultos.

Minha filha me surpreende de todas as maneiras possíveis. O

modo como ela reagiu a mim e Erick me emocionou e me fez

acreditar que eu faço drama demais. Minha filha é objetiva, simples.

Eu sou complicada demais. Infelizmente.

— Bree — Jolie me chama e eu me viro, vendo-a de pé na

porta da minha casa.

— Oi! Entra, por favor — peço, sorrindo.

— Kellan vai ter outro bebê, acabamos de saber — ela fala

devagar, sondando meu rosto.

— Eu sei. Estou muito feliz por ele e Mellanie — digo

suavemente.
— Também estamos. — Ela suspira e acena. — Confesso

que fiquei receosa. Sobre ele estar com ela e você com Erick, mas

como Reinald falou, vocês se amam. Não devemos opinar em nada.

— Ela respira fundo e se aproxima de mim, segurando meus

ombros. — Espero que sejam felizes.

— Nós agradecemos. Obrigada de todo meu coração — falo,

sorrindo e sentindo lágrimas encherem meus olhos. Joy me abraça

e juntas choramos.

— Duas das três mulheres que mais amo no mundo

chorando não é algo que eu quero presenciar. — A voz de Erick nos

alcança e nós duas nos afastamos rindo.

— Eu te amo, filho. Seja feliz. São votos meus e do seu pai.

Erick sorri e se aproxima da mãe, abraçando-a.

Eu estou feliz. Nossa, eu estou com o coração leve e

recheado de amor.
— Mamãe! Dan vem para o Natal! — O grito eufórico de

Poppy me faz sorrir mais ainda.

Tudo está bem. Nós ficaremos bem.

Erick me abraça e eu beijo seu pescoço, sentindo seu cheiro.

Calma corre por meu corpo e eu relaxo contra o homem que amo.

Erick tinha tudo para desistir de mim, mas ele nunca o fez.

Eu, pelo contrário, tentei fugir diversas vezes. Hoje, encarando

nossa realidade, me sinto tola.

Devemos correr para a felicidade, e não da felicidade.

Agora eu sei disso, e que Deus me ajude, pois eu nunca mais

correrei desse homem.

FIM
DOIS MESES DEPOIS

Na floricultura, assim que passo pelas portas, vejo Penélope

suspirar e murmurar sozinha, olhando para as flores. Eu me

aproximo devagar e sorrio.

— Você está bem? — Arqueio a sobrancelha, vendo-a

sentada murmurando.

— Oi, Bree. Não. Eu estou com um pouco de dor de cabeça.

— Ela dá de ombros e se ergue. — Tenho algumas encomendas.

Vou começar. — Penélope se afasta e eu aceno, indo para meu

escritório.
Passo algumas horas com fornecedores ao telefone, e na

hora do almoço, Penélope e eu encontramos Florence.

— Será que Aidan me deixaria ir trabalhar com vocês? —

Florence questiona, enfiando uma garfada de macarrão na boca.

— Você não acha que ficaria longe? — Eu me debruço em

cima do meu prato com salada e carne.

Viemos almoçar juntas no limite entre uma floricultura e outra.

Nunca mais almoçamos juntas, então hoje é o dia.

— É verdade. Argh, eu queria tanto. — Ela faz beicinho.

Eu sorrio, olho para Penny e suspiro, vendo-a encarar a

mesa, parecendo inquieta.

— O que aconteceu? — Eu me viro, encarando-a.

— Acho que estou grávida. — Ela morde seu lábio.

Ofego, arregalando os olhos.

— Puta que pariu! — Florence grita e olha ao redor,

murmurando uma desculpa qualquer.


— Sério? — pergunto, chocada.

Ela coloca o rosto nas mãos, acenando.

— Estou atrasada há algum tempo. Eu fiz algo horrível,

meninas...

— Querida, um bebê não é algo horrível, mas sua burrice,

sim. Porra, como você engravidou, caramba? Burra. — Florence

balança a cabeça, indignada.

Eu quase sorrio, mas minha preocupação está na menina

perdida diante de mim.

— Vamos passar na farmácia e comprar um teste...

— Tenho cinco na bolsa — ela me interrompe e olha em

volta. — Ele vai me matar lentamente.

— O pai do bebê? Mas por quê? — Minha voz é confusa e

até assustada. Se Penélope dormiu com algum imbecil abusador...

— É dele, não é? — Florence questiona, encarando Penny.

— Você dormiu com ele, sua putinha. — Ela ri, alcançando Penny
para cutucar suas costelas.

— É do Callum. — Penélope morde o lábio acenando.

— Eu sabia. Vagabunda sortuda. — Florence ri e abraça

nossa amiga. — Ele não vai te matar. Diga que é do irmão dele no

primeiro momento, no segundo, fale que é dele. Juro que ele vai

pular de alegria.

— O que diabos você está falando, Florence? — eu pergunto,

revirando os olhos e encarando Penny. — Vamos ao banheiro com

você. Você faz o teste e pronto.

Ela acena e, juntas, nós três andamos para o banheiro.

Penny abre a bolsa e coloca cinco caixas em cima do balcão.

Estremeço com o barulho.

— Vocês podem fazer também? — Penny pergunta,

mordendo a unha.

— Deus me livre! Isso é prelúdio, amor. — Florence balança

a cabeça veemente.
Eu suspiro. Por que não?

— Eu faço. Florence também vai fazer — afirmo, ouvindo o

gemido de desagrado dela em seguida.

Pego uma das caixas e a abro, pegando o primeiro teste.

Coloco nas mãos de Penny e, em seguida, nas de Florence.

Empurro ambas para os reservados e pego um para mim, indo

também.

Faço xixi no palito de plástico, pensando em Erick. Ele

gostaria de ter um bebê comigo? Deveríamos conversar antes de

tudo. Sei disso. Ainda não fui ao médico para pegar algum

contraceptivo, mas farei isso em breve.

Saio do banheiro por último e coloco meu palito longe dos

das meninas. Penny está com os olhos grudados no seu enquanto

Florence só jogou o seu na bancada e está mexendo em seu

celular.
— Talvez ele não surte. Quer dizer, ele é tranquilo, sabe... —

Penny começa a divagar enquanto mordo meu lábio. — Se você

estiver, quem é o pai? — Ela olha para Florence, que franze o

cenho.

— Eu não estou, Penélope. Pare com isso. — Ela fulmina

Penny com os olhos, que apenas dá de ombros.

— Sim, mas se estiver... de quem é? — pressiono, curiosa.

— Você não quer saber, Bree. — Ela suspira e eu arregalo os

olhos, me lembrando da boate à qual fomos.

— Mason? Sério? — murmuro, preocupada.

Ela acena, porém balança a cabeça, nos dando um olhar

enviesado.

— Não estou. Eu usei camisinha, pelo amor de Deus. — Ela

anda em direção ao balcão enquanto eu e Penny fazemos o

mesmo.

— Meu Deus.
— Puta que pariu.

— Ele vai me matar.

Meu teste tem duas listras tão escuras que eu

momentaneamente penso que está manchado de sangue. Florence

grita, cobrindo o rosto, enquanto Penny começa a chorar.

Todas grávidas.

Como? Qual é a probabilidade de isso acontecer?

— Eu não estou preparada. Eu moro com minha irmã e

cunhado. Eles têm duas pestes... Jesus Cristo... me dá outro. Esse

tá errado. — Florence agarra a caixa e corre para o banheiro. —

Desce, xixi do caralho! — ela grita, enquanto deslizo pela parede e

me sento no chão.

Aperto minhas têmporas tentando ordenar meus

pensamentos. Grávida. Meu Deus, eu estou grávida.

Do Erick.

Do irmão do meu ex-marido.


Do tio da minha filha.

Encaro Penélope e a vejo sorrindo.

— Por que você está sorrindo? — questiono lentamente.

Ela não queria, certo?

— Eu já estou chegando aos trinta anos. Não queria esperar

mais. Depois dos trinta tudo fica mais difícil. — Ela morde o lábio e

suspira. — Eu estou feliz, Bree. Eu quero meu bebê.

Eu também estou. Eu quero meu bebê. Poppy vai ficar tão

animada. Dois irmãos estão prestes a chegar. Nossa, ela vai

enlouquecer. Sorrio diante disso.

— Você está sorrindo também — ela constata e eu aceno.

— Erick e Poppy vão enlouquecer. — Eu sorrio e paro ao

escutar um soluço no reservado em que Florence entrou. —

Querida? Saia daí, Florence.

— Tem duas listras de novo. Oh meu Deus, eu estou grávida

— ela choraminga.
— Florence. Sai daí, baby. Vamos — peço, suspirando.

Logo ela sai e se senta ao meu lado. Puxo-a para meus

braços e rapidamente Penny vem nos abraçar.

— Estamos fodidas. Meu Deus, Mason... Eu nem conheço

aquele homem direito. Saímos um par de vezes e só — Florence

chora, murmurando.

— Callum vai me matar lentamente e me afogar no meu

próprio sangue...

Eu fico calada, porque eu sei que todos à minha volta vão

ficar em êxtase.

Quando eu entro em casa, Aidan e Drew estão jogados no

sofá, abraçados. Graças a Deus eles se acertaram. Até compraram

uma casa aqui no condomínio com ajuda de Reinald, obviamente.

— Ei! — Sorrio, me aproximando e cumprimentando ambos.

— Erick já chegou. Está lá em cima — Drew murmura.


Eu aceno, já andando em direção à escada. Quando entro no

quarto, Erick está só de toalha, penteando o cabelo. Eu me encosto

no portal e ele se vira devagar. O sorriso que aparece em seu rosto

me faz relaxar. Ele vai amar. Eu sei disso.

— Está tudo bem, bebê? Como foi seu dia?

— Estou grávida — falo de uma vez e o homem nem mesmo

pisca.

— Você está brincando? Se estiver, pare agora...

— Não. Eu não estou. — Mostro o palito descartável para ele.

Seu rosto se transforma em felicidade instantaneamente.

— Ah meu Deus! Eu te amo. — Ele me ergue em seus

braços e beija meu rosto e pescoço, me fazendo rir.

— Mamãe? — Poppy aparece e nos afastamos.

— Você ainda tem espaço no seu coração para mais um

irmão? — questiono sussurrando.


— Sim! — Ela corre até mim e nós rimos, festejando entre

nós três. Eu estou tão feliz. Eu nunca pedi tanto a Deus, mas ele fez

acontecer. Eu sou grata.


16 ANOS DEPOIS...

Observo enquanto Poppy e Nate descem com as malas. A

parte mais difícil de ser mãe é assistir aos seus filhos voarem, e é o

que se passa agora. Poppy tem vinte e um anos, quer seu próprio

lugar e mesmo que saiba que ela está certa, a dor insistente não

quer passar.

— Eu fiz as compras do mês — murmuro, engolindo em seco

e abraçando a mim mesma enquanto ambos me encararam.

— Obrigada, mamãe. — Poppy sorri, empurrando o cabelo

longo para trás da orelha.


Ela se tornou uma mulher linda. Disso ninguém tem dúvida,

mas nunca namorou ninguém. E, no fundo, eu sei o motivo.

Danton Flynn.

Os dois se afastaram muito desde a morte dos pais dele.

Lembrar de Anna me traz lágrimas, mas trato de afastá-las. Desde

novos, eu sempre imaginei os dois juntos, mas a vida tem suas

próprias curvas e elas acabam nos afastando dos nossos planos.

Pelo menos até agora.

— Mãe, está tudo bem.

Poppy me abraça e eu a aperto com mais força.

— Se cuide, tá? E, por favor, cuide do seu coração. —

Lágrimas deslizam pelas minhas bochechas e ela sorri, acenando.

Assim que Erick se despede dela, Nate desce com as malas.

Meu marido me abraça por trás e beija meu cabelo.

— Há algo no Danton atual que não acho saudável...


Desde que o visitei e me falaram a forma como ele entrou

aqui em casa, isso está me deixando preocupada.

— Danton e Poppy são jovens. Eles cometem erros, mas

logo se ajeitam, Pink.

Erick está certo. Eu me viro e o abraço apertado.

— É, verdade. — Toco seu rosto e o beijo devagar.

— Oh meu Deus! — Archie grita, descendo a escada,

fazendo Erick rir.

O filho é a cara dele, e eu o amo como se fosse meu. Hoje,

sua mãe, Andy, é casada com um cara bem-sucedido e legal.

— Travis, pegue sabão e água sanitária — ele pede ao primo,

que entra na nossa casa.

Travis é afilhado do Drew e cresceu com os nossos filhos.

Todos são amigos hoje.

— O.k., o.k., vão embora, seus pé no saco.


— Erick! — grito, dando um tapa em seu braço, mas logo

eles estão subindo a escada com Nate.

— Agora sim, eu tenho você só para mim. — Ele agarra

minhas coxas e me coloca sobre seu ombro, como se eu ainda

fosse aquela magrela que conheceu.

— Me ponha no chão. Não temos mais idade para isso! —

falo, enquanto ele sobe a escada, me ignorando completamente.

— Amor, a maneira que eu ainda fodo você contradiz isso.

Ele tem um ponto.

Suas mãos me deixam nua e eu acabo confirmando isso ao

cair em seu peito, exausta e saciada.

— Deus! Como eu amo você — ele grunhe contra meu

ouvido.

— Também amo você, amor.

FIM!
Não me matem, continuem lendo...
PASSADO

O cheiro de mofo tampa minha respiração por longos

segundos, me fazendo querer correr daqui. Estremeço ao sentir

pontadas em minhas costas enquanto ando. Novas cicatrizes

percorrem minha pele, mas essas eu não me importo de carregar.

Eu ainda posso sentir o gosto metálico de sangue. Porém,

encarando minhas mãos, constato mais uma vez que não existe

mais nenhum vestígio.

Quando saí do complexo, eu estava ensanguentado. Tinha

sangue de seis homens em minha pele. Eu tirei a vida de todos em

busca da liberdade.
Engulo em seco, lembrando-me do rosto dos homens que

libertei depois que tudo acabou. Estavam perdidos. Sem ter para

onde ir.

Não eu. Eu sei exatamente para onde ir.

The Savage.

Encaro o quarto que aluguei depois de conseguir dinheiro e

aperto meus punhos. Estou indo atrás de respostas, mas eu sei que

elas virão com um preço.

Eu estou disposto a pagar qualquer valor para desvendar o

mistério que eu encaro no espelho diante de mim.

Meus olhos são desconhecidos tanto quanto meu nome.

Minha origem.

Eu passarei por cima de tudo para desvendar minha vida.

Desço do ônibus e franzo o cenho, olhando para a fachada

da boate. O nome que o estabelecimento leva me deixa nervoso. Eu


sei que foram eles os culpados pelo meu exílio. Não sei como ou

por quê, mas desde o dia que ouvi um dos seguranças falando que

eles nunca seriam pegos, pois eram da The Savage, eu tive a

certeza.

Ando até a boate e fico por alguns minutos olhando o local,

tentando ver quem manda ali. Meus olhos circulam entre as

pessoas, atentos. Eu me aproximo de dois homens e pergunto

quem é o dono. Ambos me encaram e balançam a cabeça, dizendo-

me para eu deixar de ser intrometido. Babacas.

Engulo a cerveja, descansando no banco e piscando ao ver

um homem tão alto quanto eu sentar ao lado. Viro meu rosto, não

querendo conversar.

— Você está fazendo perguntas. Cuidado.

Assim que sua voz chega a mim, eu viro minha cabeça, mas

ele já está se erguendo e andando para longe.


Saio da boate depois de perceber que não adianta perguntar.

Ninguém nunca vai dizer. Não até eu colocar Seven no jogo.

Seguro minha mochila surrada entre meus dedos e deslizo

pela parede até o chão. Encaro as poças de água e me

retraio. Droga. Meu dinheiro acabou. Fui enxotado do lugar que

aluguei e agora estou sem ter para onde ir. Pressiono meus dedos

contra minha cabeça, tentando fazer com que ela funcione e me

faça lembrar quem eu era antes de ir para a Rússia. Nada me vem à

mente. Aperto meus punhos e soco minha testa, irritado.

Minha barriga ronca e, por mais que agora eu esteja

dormindo na rua e procurando comida no lixo, nunca voltaria atrás.

Nunca mais deixarei as pessoas me usarem. Nem no inferno.

Ao ouvir passos soando, eu olho para o final do beco escuro.

Estou a dois quarteirões da The Savage. Não quero ser pego. Não
sou idiota, sei que agora eles devem ter ouvido falar do homem que

está bisbilhotando.

Foco no beco escuro e vejo uma menina parada de braços

cruzados. O celular está em seus dedos e ela digita nele

furiosamente. Seu corpo é pequeno e a luz do poste ilumina seu

cabelo de fogo, que alcança sua cintura.

Os homens do complexo tentavam enfiar mulheres para os

homens encarcerados, mas eu nunca aceitei. Elas também eram

vítimas. Também tinham sido traficadas e estavam sendo usadas

tanto quanto eu.

A mulher diante de mim faz algo revirar no meu estômago.

Calor alcança minha barriga e eu sinto meu sangue descer para o

meu pau. Praguejo, irritado pela reação. Olho para a parede diante

de mim e tento esquecer que tem uma mulher logo ali.

Escuto um grito, e sem saber o que diabos aconteceu, eu me

ergo e procuro a ruiva. Um homem corre em minha direção


enquanto ela está parada, completamente estática. Pego o homem

pela camisa e vejo a bolsa da menina e o celular na mão do cara.

— Devolve. — Minha voz ecoa rouca. Não falo há alguns dias

e água se tornou algo caro diante da minha falta de dinheiro.

O homem treme e acena, me entregando tudo. Soco seu

rosto e o deixo cair no chão. Ele rasteja para longe e logo some.

Procuro a menina e a encontro diante de mim. Seus olhos enormes

são verdes e me enfeitiçam. Ela é linda.

— Uh, obrigada — ela murmura e engole em seco. Suas

bochechas coram e ela olha ao redor, percebendo que está sozinha.

Em um segundo, ela parece que vai correr com medo, mas a

menina me surpreende ao ficar. — Muito obrigada.

— Você é burra. — As palavras saem grossas e infelizes.

Ela arregala os olhos e dá um passo para trás, como se eu

tivesse batido em seu rosto.

— O quê?! — ela questiona, perplexa.


— Você é burra.

— Por quê? Por que eu sou burra? — Ela cruza os braços,

atraindo meu olhar para seu decote exposto. Seus seios são

redondos e grandes. Eu gosto. — Olhe para o meu rosto!

— Você estava no escuro, sozinha, mexendo em um celular.

Você é burra — explico e empurro suas coisas em seu peito.

Ela pega tudo e depois olha para as minhas mãos.

— Eu não sou burra. Eu estava esperando...

— Não quero saber — digo calmamente e ela franze o cenho.

— Idiota. — Ela se vira e começa a ir embora.

— Burra.

A menina se vira e seus olhos me encaram, fervendo de ódio.

Nunca vi ninguém com olhos tão expressivos. Ela quer chorar.

Quem diabos quer chorar por que alguém a chamou de burra?

— Você... — Ela aperta os lábios juntos e balança a cabeça.

Seus olhos veem minha mochila no chão, ao lado de uma lata de


lixo. — Você mora aqui?

— Não é da sua conta — respondo de maneira firme,

querendo que ela vá embora. Que droga! Preciso focar em saber

quem eu sou. Não quero mais problemas na minha vida. E essa

menina claramente é um.

Afago meu travesseiro pela milionésima vez, tentando

adormecer. Eu estou irritada. Não, eu estou muito irritada e

preocupada. Eu só não entendo por quê.

Certo, o homem enorme no beco escuro me chamou de

burra. E daí? Eu não sou burra. Eu sou uma advogada muito bem

paga e estou fazendo doutorado. Quero ser uma juíza um dia. Eu

sou inteligente.
Mas hoje eu não tinha sido. Kevin, meu segurança, estava na

minha cola e eu odeio quando ele faz isso. Principalmente quando

estou com as minhas amigas. Por isso fugi dele ao sair do

restaurante. Eu estava tentando chamar um Uber quando pegaram

meu celular. Eu moro perto, mas de salto eu não andaria três

quadras. De jeito nenhum.

Foi aí que o idiota pegou o ladrão e eu me vi paralisada

diante do seu cabelo longo, sua barba e seus músculos. Ele é

grande. Bonito. Caminhei até ele e nem mesmo percebi. Eu estava

hipnotizada.

Então ele me chamou de burra. Fiquei chocada. Como ele se

atrevia?

Depois, a mochila no chão chamou minha atenção e eu

soube que ele obviamente estava dormindo ali. Agora eu estou

preocupada. Por que eu estou preocupada com um imbecil


desconhecido? Droga. Quando vi no noticiário, assim que cheguei,

que uma tempestade estava chegando, eu logo me lembrei dele.

Ele vai ficar na chuva? E se adoecer? Ou pior, se ele se

machucar e morrer de frio?

Jogo as cobertas de lado, cansada de ponderar, e me ergo.

Visto uma calça jeans e um moletom grande e folgado. Não tenho o

costume de sair à noite, por isso, Kevin, meu segurança, está na

sua casa e não na minha. O que hoje eu agradeço. Dirijo pelas três

ruas e estaciono perto do beco. Ando devagar, tentando me

convencer de que sou uma idiota e que eu deveria voltar para a

minha casa. Mas pensar que ele ficará ali, no frio, me causa

tremores.

Ando para dentro do beco e mordo meu lábio ao vê-lo

deitado. Vejo seu peito subindo e descendo constantemente,

enquanto ele estremece de frio. Eu me agacho perto dele,


abraçando a mim mesma. Ouço alguns pingos de chuva e me

preocupo. Logo vai começar a cair a tempestade.

— Ei! — Cutuco seu braço com meu dedo fino, porém ele

nem mesmo se mexe. Engulo em seco, mordendo meu lábio em

seguida. — Olá? — Empurro com mais força e um grito fica preso

em minha garganta quando braços me envolvem e me levam ao

chão. Dois olhos escuros me encaram enquanto minha respiração

fica estagnada. Minhas costas doem contra o chão duro.

— É você. — Ele relaxa visivelmente ao perceber que sou eu.

Respiro devagar e balanço a cabeça, acenando. — O que... está

fazendo?

— Desculpe. É... eu estava assistindo tevê e noticiaram uma

tempestade. Percebi que estava dormindo aqui e... — Minha voz

some quando seus olhos se prendem em minha boca. — Posso me

levantar? — questiono, sentindo meu moletom e calça molhados.


Ele se ergue e me ajuda também. Os pingos ficam mais

grossos e eu me forço a falar.

— Você quer dormir na minha casa? Só por hoje, por causa

da tempestade. Eu não me sentiria bem sabendo que você está

aqui, na chuva...

— Não quero...

— Mas...

— Você não deveria ter voltado aqui. Foi burra, novamente —

ele me corta.

Engulo em seco e aceno devagar antes de me virar. Andando

para fora do beco, ouço seus passos me seguindo.

— O quê? — grito, chateada.

Com os cenhos franzidos, ele caminha na minha cola com

sua mochila nas mãos.

— Vou acompanhar você até em casa. Não quero que

ninguém roube você novamente...


— Não! Não preciso que cuide de mim — afirmo, séria e

muito chateada. Ele não parece perceber, pois não me escuta e sai

andando.

— A chuva vai começar. Você quer se molhar? — Sua

pergunta é baixa, rouca e eu sou uma pervertida por pensar nele me

molhando. Jesus Cristo.

— Só vou deixar você entrar no meu carro se dormir na

minha casa. — Cruzo meus braços, decidida.

Ele só ri. Sua risada é tão diferente da escuridão ao redor

dele. Ele é grande, mal-encarado e mau humor pinga dos seus

lábios. Sua risada é iluminada. Feliz mesmo, e ela me acalma. É

linda.

— Vamos, Fogo. Você não tem tamanho para me dar

ultimatos. — Ele continua rindo ao pegar minha mão e me puxar.

Ando devagar sem responder a sua alfinetada ou o apelido, e logo

sorrio escondido. Droga, ele é tão bobo e tão bonito.


Assim que alcanço a fachada do meu prédio, eu entro no

estacionamento e fecho o portão. Saio do carro e o homem me

encara, dando a volta no veículo e andando para o elevador.

Quando ele percebe que está preso, seu rosto se transforma em

uma carranca surpresa. Pisco e o chamo com a mão.

— Você é esperta — ele murmura assim que entra comigo no

elevador. As portas se fecham e eu sorrio, dando de ombros.

— Não sou mais burra, uh? — instigo rindo, e ele revira os

olhos. — Qual seu nome?

Seu rosto antes suave se tensiona e ele morde o lábio.

Lambo meus lábios, esperando sua resposta.

— Não sei. Me chamam de...

Quando ele para de falar, sinto meu peito apertar.

— De quê? — pergunto, franzindo o cenho, completamente

confusa.

— Seven.
— Não é o seu nome? Você não lembra?

As portas se abrem na minha cobertura, mas Seven fica

estático ao ver minha casa.

— Não. Não me lembro de nada. — Ele encara todos os

lugares e faz uma careta. — Não vou ficar aqui. Abre o portão — ele

manda, mas eu balanço a cabeça. — Fogo...

— Não. Você vai dormir aqui — afirmo e ele semicerra os

olhos. — É sério. Por favor...

— Eu poderia tomar você, te matar, machucá-la. Você sabe

disso, não sabe? Não tem medo, Fogo?

Meu corpo estremece quando seus olhos descem por ele.

Minha calcinha fica úmida com o desejo que vejo em seus olhos.

— Você não faria isso. Me ajudou no beco...

— Eu quero fazer — ele diz devagar.

Eu estremeço novamente e minha barriga fica gelada.


— Me matar? Me ma-machucar? — gaguejo, tentando

clarear minha mente da névoa de luxúria.

— Tomar você. — Sua resposta me faz engolir em seco. —

Eu poderia te pegar e curvar seu corpo naquela mesa. Eu tomaria

você e você nem mesmo poderia me impedir...

— Quem disse que eu tentaria impedir? — Minhas palavras o

pegam de surpresa. Nunca fui tão ousada.

Seven me encara por longos minutos, e quando eu acho que

ele atravessará a sala e me tomará em seus braços, ele me

surpreende ao tirar a blusa e andar até o corredor.

— Vou tomar banho — ele fala às minhas costas.

Ele encontra o banheiro rapidamente. Nem um pouco afetado

por mim, mas eu sou uma bomba prestes a explodir de desejo.

Droga, quem é esse homem e por que eu reajo assim a ele?


Quando Seven acorda na manhã seguinte, eu passo pelo

quarto de hóspedes onde ele dormiu, mordendo meu lábio. Havia

feito café da manhã e quero sua companhia, mas acho improvável

que ele vá ficar.

Ontem, depois de tomar banho, ele se trancou no quarto e

não saiu mais. Eu estava com medo de que meu avanço descarado

o tinha assustado. Também, como não? Eu fui uma doida insana.

Saio do corredor e vou para a cozinha.

— Bom dia! — murmuro alto assim que ele aparece minutos

depois.

A mochila está entre seus dedos.


— Bom. Eu preciso ir. — Seven olha por cima do ombro,

parecendo desconfortável.

— Tome café da manhã — peço, apontando para a mesa,

mas ele começa a balançar a cabeça. — Eu insisto. Fiz muita

comida esperando que você ficasse.

Arranho minha voz, nervosa.

Seven semicerra os olhos e depois acena. Ele se senta à

minha frente e se serve com muita comida. O prato está alto e cheio

com ovos, bacon, torradas, geleias, bolo e frutas. Eu finjo ignorar,

mas percebo com isso que ontem ele estava com fome.

— Você lembrou de mais alguma coisa? — pergunto, curiosa,

mas também para preencher o silêncio.

— Não.

O.k.

— Eu sou advogada — digo de supetão. Ele me olha em

silêncio, mastigando. — Hum, você pode ficar aqui até...


— Não.

— Você só fala essa palavra? — grunho, irritada. — Estou

tentando ajudar. Não é seguro ficar naquele beco...

— Foi o que eu disse a você ontem.

Touché.

— Posso arrumar um trabalho pra você...

— Não quero nada, Fogo.

— Você é tão irritante! — berro, remexendo as panquecas em

meu prato. — Por favor. Eu não vou conseguir ficar em paz se

estiver sozinho...

— Não se preocupe comigo. Eu sei me cuidar.

Eu imagino que sim. Ele é forte e tem um olhar que carrega

muitas coisas. Coisas essas que eu quero desvendar.

— Tudo bem.
Baixo meus olhos e encaro o mel sobre as panquecas. Não

consigo entender por que estou tão chateada com a sua recusa.

Meu pai me mataria se soubesse que eu havia trazido um sem-teto

para dentro de casa, imagina ter um morando comigo?

Empurro o prato e bebo um pouco do suco. Não consigo

encarar Seven e nem sei por que também. Tantas lacunas na minha

vida.

— Você deveria comer. — Ele empurra o prato de volta para

mim.

— Eu não quero.

— Mas você não comeu.

— E você não tem onde ficar, mas mesmo assim não quer

ficar aqui, então somos duas pessoas com divergências.

Seven semicerra os olhos e respira fundo.

— Eu preciso ir.
A cadeira bate no chão ao cair para trás, então ele pega sua

mochila. Seven anda para fora da cozinha pouco antes de eu ouvir a

porta abrir e fechar.

— Droga!

— Você está ouvindo o que eu disse? — Guilhermo franze a

testa, me encarando. Ele é meu amigo de trabalho e estamos

trabalhando em um caso juntos.

Viemos tomar cerveja depois de um dia horrível. A pilha de

trabalho em nossas mesas está nos exaurindo.

— Sim, é claro.

Gui acena e continuou contando como conheceu sua

maravilhosa namorada. Eu já ouvi essa história um milhão de vezes.

Mas ele ama contar.

— Vocês têm sorte — falo assim que ele finaliza.


— Bastante. — Seu celular começa a tocar quando ele sorri.

É Luíza. — Eu preciso ir. Quer carona?

— Não. Kevin está aqui. — Aceno por cima do ombro,

apontando para o meu segurança.

— Eu ainda custo a acreditar que você é filha do candidato

Holland.

Pois é. Eu amo meus pais, porque eles são meus pais, mas

ambos nunca foram realmente isso. Cresci com babás, longe dos

dois.

Me despeço do Gui e o vejo sair. Assim que ele vai embora,

eu olho ao redor. Guilhermo havia escolhido uma boate para virmos

depois do trabalho. Não é incomum, já que saímos do escritório

sempre tarde.

Vejo um cabelo longo na multidão e meu coração acelera.

Seven.
Eu ergo minha mão para chamá-lo, mas um outro homem

aparece. Ele empurra Seven para dentro de uma porta. Estranho

isso, mas suspiro e foco em mim.

Peço mais uma bebida e minutos depois vejo Erick. Ele é

filho do concorrente do meu pai. Nos conhecemos há alguns anos.

Me ergo para falar com ele e franzo as sobrancelhas quando

vejo uma movimentação estranha no mesmo corredor que Seven

havia ido.

Ando com pressa naquela direção e entro sem ninguém

notar. Ouço vozes em uma das portas e respiro fundo. É Erick.

Eu sinto que Seven está ali. Sei disso com a minha alma, por

isso entro. Tudo acontece rápido. Eu percebo que Erick vai bater

nele e que Seven está amarrado. Meu estômago embrulha, então

sei que preciso tirar Seven dali rapidamente.


— O que estava fazendo aqui? — ele grita assim que saímos

da boate.

— Não grite comigo! — berro, tremendo dos pés à cabeça.

Kevin aparece e se aproxima, me olhando de cima a baixo,

procurando ferimentos.

— Estou bem, Kevin.

Eu o tranquilizo e encaro Seven. Seus olhos são furiosos,

dançando entre mim e Kevin.

— Pode me esperar no carro — peço ao meu segurança.

— Não acho seguro. — Ele olha desconfiado para Seven.

— Pra você, não é mesmo — Seven rosna e eu arregalo os

olhos.

— Por favor.

Assim que Kevin se afasta, eu encaro Seven, mas seus olhos

ainda estão no meu segurança.


— Você vem comigo — falo com firmeza. — Agora!

Me viro e começo a andar, rezando para que ele me siga.

Assim que chego ao carro, Kevin entra no seu. Abro minha porta e

suspiro aliviada quando ouço a outra abrir.

Seven fica em silêncio toda a viagem. Nós entramos em casa

e eu vou tomar banho. Assim que saio, eu o encontro sentado na

minha cama.

Agarro a toalha com força enquanto suas mãos seguram sua

cabeça. Ele está sem camisa e eu posso ver as tatuagens, mas o

que me deixa completamente devastada são as imperfeições na sua

pele.

Me aproximo e deslizo meus dedos suavemente sobre a pele

deformada. As cicatrizes são grandes, uma sobre as outras.

— Quem fez isso com você?

Minha voz está baixa, e meus olhos, com lágrimas grossas.

Eu quero o abraçar e beijar cada uma delas. Todas elas.


— Homens que matei.

Meus olhos se arregalaram e ele puxa minha mão, me

levando para o seu colo. A toalha afrouxa, mas se mantém no lugar.

— Você acha que sou apenas a vítima, Fogo?

Seus olhos são cruéis. Quando ele aperta a minha coxa nua,

eu prendo a minha respiração.

— Eu não sei como fui parar na Rússia, mas sei como saí de

lá, e não foi como uma vítima. Eu matei todos.

Meu coração troveja e, pela primeira vez, eu tenho medo

dele. Não tive na noite escura naquele beco, mas agora, sim.

— Você ainda me quer aqui? Dentro da sua casa, tão perto

de você? — Sua mão desliza, subindo, me fazendo estremecer.

— Sim...

Seven agarra com força minha coxa e se inclina sobre mim.

Sua respiração quente toca meu pescoço e eu sinto seus dentes

rasparem a pele. Seguro seus ombros e respiro fundo, tremendo.


— Você fugiria se eu curvasse você sobre a cama?

— Oh, pra quê?

— Eu foderia você inteira. Cada maldito pedaço.

Meu coração acelera e eu me remexo em seu colo. Eu posso

sentir seu pau contra minha bunda. Não sei explicar o desejo que

sinto por ele.

— Então faça.

Seven grunhe e se ergue comigo em seu colo. Ele puxa a

toalha e me joga sobre a cama. Meu ventre se aperta , sedento por

ele

— Abra suas coxas.

Minhas bochechas coram. Eu já dormi com outros homens,

mas a maneira faminta que ele me encara é diferente de tudo.

— Abra.

Afasto minhas pernas e o encaro entre elas. Seven toca a

minha boceta e sorri. Fico sem fôlego diante da perfeição. Ele é,


sem dúvida, o homem mais lindo que já coloquei os olhos.

Seu cabelo desliza do coque e as mechas castanhas caem

sobre seus ombros.

— Faz muito tempo... — Ele aperta o pau e eu arregalo os

olhos diante do contorno na calça. — Não há um centímetro de

calma dentro de mim, apenas urgência em foder você.

— Tudo bem.

Seven acena e eu tremo de desejo.

Mellanie é clara e sua boceta tem pelos vermelhos como o

seu cabelo. Ela realmente é rosa ali, e está molhada, apenas me

esperando.

Me inclino, abrindo suas coxas com meus ombros e

lambendo de cima a baixo. Ela pula, mas logo prendo seu ventre

com minha mão.


Mel tem realmente gosto de mel.

Sua boceta é doce e tem algo que me mantém faminto,

lambendo cada dobra, sugando seu clitóris e brincando com os

lábios com poucos pelos.

— Suba em mim — rosno, agarrando suas pernas e nos

girando.

Mel se senta em meu rosto, gritando com a boceta sensível.

Seu cabelo vermelho está sobre seus ombros e seios. Enquanto

enfio minha língua em seu canal e estico minha mão para agarrar o

seu mamilo, mantenho a outra em sua bunda, se remexendo.

— Ah. Seven!

Mellanie goza gritando e eu a deslizo até sentar, então me

ergo e agarro sua bunda. Mel segura meus ombros e seus seios

pesados ficam diante de mim. Capturo um, empurrando meu short,

deixando meu pau livre. Seguro seus quadris e a faço descer sobre

ele.
— Me beije — ela pede, gritando.

Eu nos viro, empurro meus quadris e a fodo com força e

rápido, fazendo-a gritar. Mel arranha meus braços enquanto seus

seios pulam e meu pau desaparece dentro da sua boceta.

— Aperte, me ordenhe.

Mel faz isso. Meu orgasmo me cega por segundos, mas isso

não é nada. Meu pau continua duro, querendo recuperar o tempo

perdido.

Eu a viro e Mel choraminga, gemendo. Seguro seus quadris e

empurro lentamente. Mellanie toca sua boceta e eu sinto seus

dedos em meu pau. Quando ela geme, eu aumento minhas

estocadas. Seus gritos ecoam e eu aperto sua bunda, vendo as

marcas das minhas mãos.

Assim que gozamos, eu caio ao seu lado e puxo Mel para o

meu peito. Ela vem de bom grado e não dá tempo de beijá-la,

porque seus olhos se fecham e ela adormece.


Não sei o que está acontecendo comigo, mas passo horas

olhando para ela, até o sono me vencer e eu adormecer com a ruiva

perfeita ao meu lado.


Seven age normalmente depois de dormimos juntos. Não

acontece de novo, mas ele resolve ficar em minha casa. Eu não

sabia que podia sentir tanto prazer, mas lá estava ele, me fodendo

como se eu fosse o seu desejo mais insano.

Hoje faz alguns dias desde aquela noite e eu estou na sala

desde que cheguei do trabalho, perto das nove da noite. Seven não

está em lugar nenhum e isso está me deixando preocupada. Perto

das onze, eu canso de esperar e saio à sua procura.

O único lugar em que penso ir é à boate. Procuro dentro da

boate por longos minutos, e quando estou desistindo, eu o vejo

saindo de lá. Eu o reconheço assim que vejo suas costas largas e


seu caminhar. Quando ele vira no beco escuro onde o conheci, eu

tento segui-lo.

Assim que o alcanço, vejo que há uma mulher com ele. Meu

coração desmancha. Quem é ela?

— Ei! — grito, com medo, mas protetora também. Seven não

se lembra de nada. Se ela quiser machucá-lo? — Quem... quem é

ela? — pergunto a ele, me sentindo encolher.

— Não sei. — A voz de Seven ecoa.

— Kellan, sou eu. Bree. — A mulher responde baixo,

confusa.

Ela o conhece?

Quem é Kellan?

— Bree.

Kellan olha para ela, franzindo o cenho e, quando ela se

aproxima mais, ele parece incerto. A mulher toca em seu rosto com

a ponta dos dedos, me fazendo desejar sair daqui para chorar.


— Bree. Isso, sou eu. Kellan...

— Bree!

Pulo assustada e me viro ao ouvir um grito. Erick, o filho do

concorrente do meu pai, anda rápido em nossa direção.

— Erick. — A tal Bree engole em seco, olhando do Seven

para o Erick.

— O que... quem... — Erick balbucia.

— É ele, Erick. É o Kellan — ela fala de maneira firme.

Seven engole em seco. Vejo sua frustração e me movo,

ficando entre os dois. Isso está o deixando estressado, posso sentir.

— Não. O nome dele é — começo a falar, e a incerteza me

ataca por alguns segundos — Seven.

— Seven? Era ele o cara que você tirou da sala aquele dia?

— Erick pergunta.

— Sim. Erick, o que está acontecendo? Quem é essa... e por

que estão chamando-o de Kellan? — questiono, nervosa. — Você


conhece essa mulher? — Me viro para Seven.

— Não. Já falei que não. — Kellan franze o cenho. Eu tento

me aproximar, mas a mulher se movimenta, não me deixando

chegar perto dele. — Lanie. — Sua voz faz nós duas

estremecermos. — Quem é Kellan?

Sua pergunta me deixa em nervos. Tenho vontade de chorar

pela insegurança que vejo em seus olhos. Toco em sua mão, mas a

voz da mulher me faz parar.

— Meu marido. — Bree pronuncia as palavras, mas dentro de

mim parece larva. Ele é casado? — Ex. Ex-marido. Enfim, o que

está acontecendo? Onde esteve esse tempo todo?

— Bree. — Erick adverte e se aproxima do Seven. — Você

não se lembra dela? — Erick aponta para Bree. Seven a encara por

um segundo para depois balançar a cabeça, negando. — Droga.

— Podemos conversar em outro lugar? Seven?


— Kellan. Seu nome é Kellan — Bree grunhe, insultada. —

Kellan, sou eu, a Bree. Nós fomos casados... temos uma filha, a

Poppy. Você... não se lembra dela?

Filha?

O chão se abre sob meus pés enquanto Kellan – Seven, não

sei mais – arregala os olhos.

— Não. Não sei. Não lembro. — Suas mãos vão para sua

cabeça e ele puxa o cabelo. Seu punho se fecha e ele começa a

socar sua própria testa. — Não me lembro de nada. Não me lembro.

— Ei? — chamo sua atenção e me aproximo, com o choro na

garganta. Pego suas mãos e as afasto da sua cabeça, abraçando-o

em seguida. Seven respira fundo e enfia a cabeça em meu pescoço.

— Podemos conversar amanhã? — peço, aflita.

— Ele está com você? Na sua casa? — Erick questiona e eu

apenas aceno.
— Não. Eu não vou esperar até amanhã. Ele vai comigo para

casa. Temos uma filha...

— Bree...

— Não, Erick! Não! Eu pensei que ele estava morto. Eu me

culpei pela morte dele, você me culpou da morte dele, caramba! Eu

preciso de respostas. Eu preciso me certificar de que ele está

falando a verdade e que minha filha vai ter o pai dela de volta...

O pai dela de volta. O pai dela de volta.

Deus, eu estou me apaixonando por um homem que tem uma

família. Uma que ele não se lembra, mas tem.

— Ele tentou te matar, Bree. Você não se lembra, porra?! —

Erick grita e eu semicerro os olhos, enquanto Seven fica rígido. —

Como você esquece algo assim? Ele te prendeu em uma cadeira e

ia te matar...

— Poppy — Bree murmura o nome com adoração. — Ela

chora por ele de noites em noites. Sempre que nós duas vamos
para algum lugar, ela me pergunta se o pai vai estar. Minha filha

merece saber que ele está bem. Ela sente saudade dele todos os

dias. E eu não me importo se ele tentou me matar, Erick! Eu não me

importo comigo mesma, se minha filha estiver feliz! Me chame de

louca, idiota ou insensata, eu não ligo! Eu quero minha filha bem

novamente, e eu preciso do pai dela pra isso. Kellan nunca fez

nenhum mal para Poppy. Nunca. Ele a amava mais que a vida dele,

então, eu sinto muito, mas eu preciso dele. — Bree defende seu

ponto, chorando em desespero. — Ele vem comigo, você gostando

ou não.

Ela vira o rosto para Seven e implora.

— Por favor, você pode me acompanhar? Vou explicar tudo.

— Seven me encara enquanto tento juntar os meus pedacinhos. —

Ela pode vir conosco. Não tem problema.

— Eu não posso. — Balanço a cabeça e encaro o rosto de

Kellan. — Você volta pra mim, não volta? — Meus olhos se enchem
de lágrimas.

Seven acena, tocando minha bochecha.

Me afasto, sentindo que o meu Seven é alguém inalcançável.

Depois de Bree e Erick me explicarem o que houve e como

quase a matei, eu fico andando pelo quarto, nervoso. Meu coração

bate forte e eu penso em correr para Mellanie. Quero o seu toque.

Droga, minha cabeça dói só de pensar em todas as informações.

Eu tenho uma filha.

Poppy.

Não a conheço, mas apenas ela está em minha mente.

Conhecê-la é minha prioridade. Quero ver seu rosto, seus olhos. Ela

se parece comigo?
No dia seguinte, eu vou para a casa dos meus pais. Eu tenho

pais. Tenho uma família. Para quem não tinha nada há alguns dias,

hoje eu tenho tudo. Tenho Fogo, pais, irmãos e uma filha.

Erick abre a porta da casa dos MacGregor e eu ouço a

gargalhada de uma criança enquanto entramos. Uma senhora está

com uma menina, as duas brincando. Quando ambas nos encaram,

primeiro sorriem e depois franzem o cenho ao me olhar.

— Kellan? — A voz da senhora é um murmúrio

desacreditado. Ela anda com a atenção cravada em mim e segura

meu rosto. Seus dedos tremem e lágrimas enchem seus olhos. —

Oh meu Deus, é você!

— Papai?! Mamãe, olha o meu pai! — a garotinha grita,

correndo com um sorriso tão grande que eu momentaneamente fico

sem reação.

Meu coração se enche de paz quando os bracinhos dela

envolvem o meu pescoço. Cheiro seu cabelo e sorrio, mantendo-a


contra mim.

— Papai, você voltou! — Ela sorri e começa a beijar meu

rosto. Bree se aproxima mais. — Mamãe, meu papai voltou do céu.

Voltou do céu. Para essa menina eu havia morrido. Ela me

perdeu e me encontrou. Seus olhos refletem tanta adoração, que

momentaneamente nem sei explicar.

— Reinald! — a senhora grita e logo um homem mais velho

aparece, de calça jeans e camisa de botões. — Olha. É o Kellan,

querido. — Suas mãos se agitam e a felicidade pode ser resumida

em seu rosto risonho e emocionado.

— Meu Deus! — Reinald arregala os olhos e se aproxima,

rápido.

Bree tenta tirar Poppy dos meus braços, mas minha filha

envolve seus braços ao redor do meu pescoço e esconde o

rostinho, então eu a beijo e ela sorri.


— Onde estava? Como? É um milagre, Senhor. Obrigada.

Obrigada, meu Deus. — A mulher continua chorando enquanto o

senhor me abraça.

— Você está bem mesmo? — Reinald pergunta.

Eu aceno, segurando Poppy. Drew a pega dizendo que os

dois precisam escolher um presente para mim.

Assim que os dois saem, Jolie e Reinald nos convidam para

nos sentarmos. Erick começa a falar o que aconteceu e como me

acharam. O rosto de Jolie se desmancha em lágrimas quando

escuta que eu não me lembro de ninguém.

— Contei tudo o que aconteceu para Kellan — Bree começa

a falar. — Ele sabe o que fez a mim. Achei melhor contar a

verdade...

— Por que fiz isso? — eu questiono, confuso. — Eu não

amava você? Eu era ruim? — pergunto, porque a ideia de matar a

minha própria esposa parece completamente insana e confusa.


Bree explica sobre pessoas perigosas e minha tentativa de

matá-la. Eu me sinto péssimo com isso. Lanie chega aos meus

pensamentos e eu quero abraçá-la.

— Mellanie — digo enquanto eles discutem e todos ficam em

silêncio. — Eu preciso vê-la. Você disse que me levaria até lá.

— Quem é Mellanie? — Reinald questiona. Quando Erick diz

o sobrenome da minha Fogo, ele se ergue, franzindo o cenho. —

Como se conheceram? Não chegue perto dela, Kellan. Ela é filha

daquele crápula!

O homem parece transtornado e isso faz eu me afastar. Eu

nunca deixarei Mellanie.

— Pai, se acalme...

— Foi ele, Erick! — Reinald grita mais uma vez.

— Ele o quê, pai?

— Reinald, o que deu em você? — Jolie o alcança e acaricia

o peito do seu marido, tentando acalmá-lo.


— Foi ele que tentou matar a mim e a sua mãe.

— Como sabe disso? — Erick questiona, totalmente branco,

enquanto franzo as sobrancelhas. Bree explica para mim que

Mellanie é filha de um candidato ao governo, e o meu pai também.

— Ele mesmo se vangloriou da última vez que nos vimos.

Não tenho nenhuma prova, por isso não explanei. Kellan, você

precisa se manter distante...

— Não vou me afastar dela. Não dela! — grito, furioso, assim

que entendo a gravidade da situação. — Eu não conheço vocês e

não vou me afastar dela...

— Nós somos a sua família...

— Mellanie é minha família. Ela cuidou de mim, ela, ela...

— Está tudo bem, Kellan. Eu te levo até ela. Tudo bem?

Bree segura meu braço e eu aceno, tentando me acalmar.

Está tudo bem. Fogo e eu estamos bem.


Assim que chego ao apartamento da Mellanie, eu corro para

o banheiro, esperando que Bree vá embora. Lanie parece nervosa e

preocupada, e eu preciso mudar isso. Não encontro minha mochila

e retorno para perguntar a Mel. Quando ela fala que colocou minhas

coisas em seu armário, não posso deixar de sentir euforia.

Vou tomar banho, e quando saio ela está no quarto.

— Você está bem? — pergunta, se aproximando, de braços

cruzados.

— Sim, eu... — Respiro fundo e toco seus braços. — Eu sou

irmão do Erick.

Mellanie suspira e diz que Bree contou a ela.

— Isso é um problema, certo? Meu pai disse para eu me

afastar de você.

Seus lábios se abrem e vejo dor em seus olhos.

— Não vou fazer isso. Não posso. — Toco em seu cabelo,

afastando-o, e seguro seu rosto. — Mas eu quero saber se quando


seu pai pedir o mesmo, você vai acatar?

— Não. Eles são oponentes, não nós.

Eu sorrio, aliviado e, pela primeira vez, junto nossos lábios.

Sua língua desliza pela minha e eu a aperto, faminto. Fogo solta

minha toalha e eu a coloco sobre a cama. Devoro seu corpo

lentamente e dessa vez eu faço isso com meus lábios nos dela.

Viver com Mellanie é bom. Ela é alegre e receptiva, mas

estou cansado de ficar dentro de casa. Quero um emprego. Algo

para que eu possa ajudá-la também.

Hoje foi a eleição. Meu pai ganhou, então viemos para o

prédio de campanha. Ele faz um discurso, mas estou focado em

Mellanie, do outro lado da sala, com seus pais. Cansado, começo a

andar na direção deles.

Lanie me vê e seus olhos se arregalam. Assim que os

alcanço, ela suspira.


— O que você quer? — o pai dela late, furioso.

— Pai, esse é o Kellan. Ele... ele...

Não reconheço a garota diante de mim. Mellanie está

nervosa e parece com medo.

— Eu sei quem ele é. Vamos embora.

Mellanie respira fundo, e assim que o pai se vira e vai

embora, ela o segue obediente.

Eu achei que ela não pudesse me magoar, mas eu estava

errado.

Eu seguro o braço do meu pai assim que saímos da multidão.

Ele se vira e eu aperto minha bolsa. Ninguém estava surpreso com

a sua derrota, mas é visível o quanto isso o enfureceu.

— O Kellan é meu namorado.


Ou algo assim.

— Como é?

Seu grito não me abala, eu cresci os ouvindo.

— Ele é meu namorado. Estou com ele.

— Não, você não está.

Quando ele segura meu braço, eu o afasto. Ele sempre foi

duro comigo, nada nunca estava bom. Sabia que essa conversa

seria difícil, mas não tanto.

— Eu estou apaixonada por ele e... estou grávida.

Descobri há algumas semanas. Não contei para ninguém,

com medo. Até exame para descobrir o sexo eu já fiz.

Estou esperando uma menina.

— Você engravidou de um MacGregor? — Ele cospe no

chão, enojado, então recuo. — Nunca mais apareça na minha

frente.
Minha mãe não esconde igualmente o desprezo. Ela se vira e

segue meu pai, me deixando sozinha. Fecho meus olhos e as

lágrimas surgem com pressa.

Saio do local e vou até o Kellan. Assim que ficamos sozinhos,

depois de eu o pegar abraçando sua ex-esposa, ele fica andando

pelo quarto, ainda furioso.

— Você virou as costas e me deixou sozinho.

— Sim, eu queria falar com meu pai...

— E falou?

— Sim, nenhuma surpresa, ele odiou a ideia e me mandou

sumir.

Kellan para de andar e fica diante de mim. Suas mãos

seguram meu rosto e eu fungo. Quando seus braços me envolvem,

eu relaxo pela primeira vez na noite.

— Eu amo você, Fogo.

— Eu te amo, Kellan.
Eu o beijo, segurando seus ombros e relaxando contra seu

peito forte. Kellan me ergue e eu sorrio quando caímos na cama.

— Obrigado por me tirar daquele beco.

Eu sorrio e beijo sua boca mais uma vez.

— Então, estou grávida — conto de uma vez, lembrando-me

do que é realmente importante.

— O quê? — ele grita, com os olhos surpresos.

Sorrio, acenando.

— Pronto para ser pai de duas garotinhas?

Kellan se senta e sorri, pegando em minha barriga. Respiro

fundo e, pela primeira vez na minha vida, me sinto completa.

— Eu amo você.

Eu sei disso agora, por isso, a felicidade enche meu peito.


Forço minha respiração mais uma vez, tentando me acalmar.

Faz cinco minutos que estou parada diante da porta da minha casa,

procrastinando o inevitável. Eu me obrigo a ser adulta e entro em

casa. A primeira coisa que entra em minha visão me faz suspirar.

Droga.

— Adam, oi! — murmuro, fingindo não estar desapontada.

Queria conversar com Callum rapidamente, mas com seu irmão

aqui, prevejo demora.

— Ei, Flor! — Ele sorri e coloca os braços atrás da cabeça,

deitado no sofá.

— Não a chame assim.


Pulo ao escutar Callum e me viro, vendo-o andar para dentro

da sala.

— Ela é cheirosa como flor, mano. Eu posso comprovar. —

Quando Adam sorri malicioso, sinto minhas bochechas corarem.

— Adam, pare.

— Vai embora agora — Callum rosna, irritado, mas Adam

apenas ri.

— Baby, ele já sabe que a gente se curte. Ele vai voltar para

a casa da mamãe e eu venho morar aqui para criarmos nosso bebê

— Adam fala rindo.

Minha bolsa cai dos meus braços. Sinto meu coração explodir

violentamente e ele fica branco ao ver minha reação.

— Puta que pariu, eu estava brincando. — Adam para de

falar quando Callum encara nós dois, perplexo.

— Você está grávida? — Callum questiona, apertando os

punhos e me encarando com os olhos castanhos arregalados.


— Sim. — Aceno devagar e Adam se ergue, ficando sério.

Ele se aproxima e fica ao meu lado, completamente surpreso.

— Você vai ter um bebê? Meu Deus, parabéns, Flor! — Ele

me abraça enquanto seu irmão se joga contra a gente, nos

separando.

— Não acredito que fez isso, Adam! Seu irresponsável, como

você engravida uma menina que nem é sua namorada? A mamãe

vai te matar! — Callum grita no rosto do irmão e o empurra contra a

parede.

— O irresponsável aqui é você, Callum. Na verdade, nós

dois. Adam nunca tocou em mim. Nem uma vez sequer.

Minhas palavras o fazem ficar tenso. Callum vira para me

encarar e eu apanho minha bolsa do chão.

— É meu? O bebê é meu? — ele questiona, ansioso.

Eu aceno, engolindo em seco.


— Sim, é seu, mas não se preocupe. A irresponsabilidade eu

vou carregar sozinha.

Saio rapidamente em direção ao meu quarto e escuto seu

grito. Não o respondo, apenas tranco minha porta e me jogo na

cama, tentando esquecer suas palavras.

— Penélope! Abre essa porta antes que eu a coloque abaixo.

— Seus gritos ecoam pelo meu quarto. Eu sento em minha cama,

abraçando minhas pernas enquanto sufoco as lágrimas.

Callum sempre foi a minha paixonite. Somos amigos há muito

tempo, comecei a fantasiar desde sempre, mas sabe quando você

percebe que essa pessoa nunca vai olhar para você do jeito que

você o olha? Era assim que eu me sentia.

Até ele saber que seu irmão queria ficar comigo.

— Penélope, abre. Por favor, baby. Eu falei aquilo por raiva

do Adam. Você sabe que eu perco a cabeça quando ele fala com

você, mas, droga, por um momento achei que o bebê, o nosso


bebê, fosse dele. Porra, eu vou ser pai. Caramba. — A voz dele soa

em pânico, mas a excitação me faz sorrir. — Eu perdi a cabeça. Só

isso. Você sabe que depois que dormimos juntos eu estou querendo

mais. Você sabe...

— Irmão, eu estou indo. Parabéns pelo bebê. Parabéns, Flor.

Eu amo você, querida. — Eu me aproximo da porta e a abro, me

jogando nos braços de Adam. — Você vai ser uma mãe incrível.

— Obrigada. Eu estou com tanto medo. — Mordo meu lábio,

sentindo as lágrimas banharem meu rosto.

— Tenho certeza de que Callum vai cuidar de vocês dois. —

Ele beija minha testa e se afasta, indo embora.

Eu me viro para Callum e ele está encarando seus pés.

— Eu vou manter o bebê — digo firme.

— É óbvio que vai. — Ele me olha. — Eu quero o bebê e sei

que você não seria capaz disso. — Seus dedos deslizam pela minha
bochecha e ele se inclina em minha direção. — Vamos ser pais

fodas pra caralho, baby.

Ele me faz rir. Ele sempre me faz rir nas situações mais

difíceis.

Callum me puxa para seus braços e eu me aconchego,

procurando o alívio, a certeza de que a gente vai ficar bem. E eu

encontro. Eu sempre encontro em Callum.

Ele se afasta, e quando seus olhos descem para a minha

boca, eu umedeço os lábios, ansiosa. Callum não me faz esperar,

sua boca toca a minha e tudo ao redor desaparece.

Vamos ficar bem. Temos que ficar.


O copo com água entre meus dedos está gelado. Eu encaro

as pessoas, esperando. Porém, quando as luzes baixam e ele

aparece, eu sei que chegou a hora.

Seu corpo é musculoso, grande e me lembra seu pau. Sim,

eu sou uma pervertida. Vejo Mason dançando para uma garota

jovem que sorri e parece querer desmaiar a qualquer momento. Eu

sei o que é isso. Meses atrás eu estava no lugar dela. A diferença é

que ela vai sair ilesa, e eu, com um bebê no ventre.

Quando tudo acaba, eu pago por uma hora com Mason. Sim,

ele não é apenas um dançarino. Quem quer o homem pode tê-lo por

uma boa quantia, óbvio.


Ando pelo quarto decorado, fazendo careta para cada coisa

no recinto. É brega. Muito brega. O vermelho predomina e eu acho

pouco atraente e óbvio demais.

— Boa noite. — Sua voz me alcança e eu me viro, vendo

seus olhos bonitos e pequenos se arregalarem. — Florence? Que

diabos? — A confusão dá lugar à raiva e eu estremeço.

Talvez eu não tenha deixado explícito às minhas amigas que

eu dei um pé na bunda de Mason, quando ele quis se apegar

demais. Nada contra seu trabalho, mas eu não estava pronta para

um namoro.

A vida agora deve estar rindo de mim. Não quis um namoro

simples e agora vou ter um bebê. Que maravilha.

— Deveria ter me ligado, não ter pagado por uma foda do

caralho. — A veia em sua testa está saltada, sei que ele está por um

fio. Mason é intenso. Na cama e fora dela.


— Não vim trepar com você, Mason. Por favor. — Reviro os

olhos e me sento na cama devagar. — Preciso conversar com você.

— Por que não me ligou, então? É isso que as pessoas

normais fazem. — Ele franze o cenho e vai até o pequeno frigobar

pegar uma bebida. Ele se vira para mim, segurando uma latinha de

cerveja.

— Eu estou grávida. — Quando as palavras deixam minha

boca rapidamente, Mason cospe a porra da cerveja no chão, perto

dos meus pés. — Mason!

— O que você disse? — ele grita, arregalando os olhos.

Eu me ergo, andando de um lado para o outro.

— Eu não vou abortar. Nem me faça propostas imbecis. Eu

só preciso que assine uma papelada onde você abre mão de

qualquer direito sobre meu bebê — digo, suspirando e abrindo a

minha bolsa, puxando as folhas.


— Você perdeu a cabeça? Eu não vou assinar nada! Me dá

um minuto, porra!

Eu o encaro e cruzo meus braços, esperando. Mason se

senta na cama e enfia a cabeça entre as mãos, pensando. Eu me

sento numa poltrona e suspiro quando um enjoo vem de repente.

Puxo uma lata de lixo e vomito meu jantar. Odeio vomitar.

— Não vou assinar isso. Jogue fora — ele murmura. Limpo

minha boca para encará-lo. — Vou cuidar do bebê com você, então

me deixe a par de tudo. Cada consulta, cada compra e cada passo

que der. Eu vou apoiar você.

Não choro com facilidade, mas suas palavras enviam

lágrimas aos meus olhos.

— Sério? — questiono e limpo meu rosto.

— Sim. E a gente vai se casar. Eu acho que isso é

necessário — ele fala sério, mas eu caio na risada, fazendo-o me

acompanhar. — Flo, eu estou aqui, baby. Estou saindo desse


emprego hoje. É meu último dia, então você pode, por favor, aceitar

ser minha namorada?

Mason se aproxima e segura meu rosto entre as mãos. Eu

aceno, porque eu estou cansada de ter medo.

— Aceito — murmuro e me inclino, beijando sua bochecha.

— Beijo sua boca depois de escovar os dentes.

Mason sorri e seus olhos somem por completo. Droga, eu

amo seus olhos.


“Seu cabelo cresceu um pouco mais

Seus braços parecem um pouco mais fortes

Seus olhos estão exatamente como eu lembrava

Seu sorriso está um pouco mais suave”

Camila Cabello | All These Years

Seu cabelo loiro, quase branco, estava caindo sobre sua

testa e tampando seus olhos incrivelmente azuis. Os meus eram

azuis também, mas os dele… nada podia ser tão azul. Eram como

cristais, de tão brilhantes. Eu era fascinada em seus olhos. Tudo no

menino loiro me deixava em êxtase.

A maioria das pessoas não conhece o amor das suas vidas

aos cinco anos. Eu não o conheci exatamente aos cinco anos.

Danton e eu crescemos juntos. Nascemos em horas de diferença

um do outro na mesma maternidade. Porém, com cinco anos,

quando fui arrancada do refúgio do meu melhor amigo, eu soube

que sentia algo diferente. Eu chorei muito, mesmo não querendo


que minha mãe percebesse. Qual criança faz isso? Eu, pelo visto.

Tudo pelo garoto prodígio que escrevia músicas e bombardeava

meu coração.

— Então, como foi seu encontro? — forcei minha voz a sair e

ele ergueu seus olhos para me encarar. Eu podia fingir que não

morria de ciúmes, eu podia. Era só Dan.

— Uh, legal, eu acho. — Sua voz era baixa. Ele quase

parecia saber que eu não gostava dos seus encontros. Porém o que

eu tinha a ver com isso? Nada. Danton Flynn era proibido para mim.

Eu nunca diria a ele que meu coração lhe pertencia.

— Ok. — Eu sorri e ouvi barulho na minha porta. Eu sabia

que era Nate. Ele estava tentando pegar seus bonecos, que

esqueceu aqui.

— Você vai ao show? — Sua voz me trouxe de volta e eu dei

de ombros, colocando meu cabelo preto para trás da orelha.


Eu não era exatamente uma menina bonita. Eu era comum.

As meninas com quem Danton saía eram lindas. Eu sabia disso,

pois as procurava no Instagram. Sim, eu era uma perseguidora.

— Não sei. Meu pai não está muito animado para me levar.

— Eu revirei os olhos ao falar, porque isso estava me deixando

irritada. Dan e eu éramos fãs de Coldplay. Era uma afronta ele não

me levar, mas sua esposa estava bem inclinada a isso. Eu amava

Mellanie.

— É uma pena. Você mora a alguns minutos do local do

show — Dan murmurou e eu o encarei. Seus cabelos estavam em

cima dos seus olhos novamente. Ele balançou a cabeça e eles

saíram da frente. O sorriso fácil que ele me dava me fazia querer

beijar seus lábios. Eu nunca beijei, mas eu tinha vontade. Com Dan,

obviamente.

— Mas meu tio quer me levar. Ela vai levar Travis, então… —

falei, batucando meus dedos sobre a mesa onde meu computador


descansava.

— Quem é Travis? — Dan não estava mais sorrindo, e eu

tinha sua atenção.

— O afilhado dele. Estamos passando um tempo juntos. Ele

está morando com meu tio — explico, tentando ser casual, mas eu

sabia que falar de outro garoto tiraria a paciência dele.

— Como assim, um tempo juntos? — Sua voz estava irritada

agora. Ele me encarava com raiva. Por dentro eu sorria, mas por

fora eu estava tentando ser normal.

— Cinema, parque. Essas coisas. — Sorri devagar e suspirei.

— Ele é bem legal.

— Legal. Certo. — Dan desviou os olhos de mim e encarou

algo além da tela do notebook. — Eloise chegou. Vou falar com ela.

Ele bateu a tela sem nem mesmo esperar por uma resposta e

a chamada encerrou. Dentro de mim alguma coisa doeu. Eloise era


a nova vizinha dele. Ela morava na minha antiga casa. Os dois eram

amigos agora.

O que era meu agora era de Eloise. Isso doía.

Dan Flynn era meu melhor amigo.

Somente.

Quanto mais cedo eu colocasse isso na cabeça, mais cedo

meu coração pararia de doer com a menção de Eloise ou encontros.


“Eu sei que a vida nos afastou

Mas eu ainda sonho com os bons velhos tempos

Quando nós tomávamos conta um do outro

Estávamos vivendo um pelo outro”

One Republic | Rescue Me

ATUALMENTE

Libby estava me encarando de perto, vendo o quanto eu

poderia aguentar. Eu sorrio quando o último gole desce pela minha

garganta. Eu precisava de bebida. Sim, eu precisava de coragem

líquida.

Alguém anuncia a Dark Star e a multidão ruge ensandecida

diante da banda que hoje era uma das mais tocadas nas paradas.
Os quatro garotos reuniam multidões em estádios de futebol por

onde passavam. Era a banda do momento. Cada indivíduo residente

nos estados unidos sabia quem eram eles.

Eu foco meus olhos no palco enquanto Libby grita. Minha

melhor amiga é louca pela banda. Eu sorrio para sua animação e

vejo quando eles apareceram. Ele estava sem blusa, sempre sem

ela, incrível. Seu corpo não era o mesmo do qual eu me lembrava.

Ele ainda era magro, mas tinha músculos e estava coberto de

tatuagens. Seus braços, seu peito, barriga e seu pescoço. Apenas

seu rosto estava limpo. Tão lindo.

Ele sorri para as meninas gritando seu nome e pisca. Seus

olhos brilham e quando sua voz tão hipnotizante ecoa no estádio

lotado, eu quero correr para longe. Minha garganta está seca, e

meus olhos, lutando contra as lágrimas.

Danton segura o microfone entre os dedos e fecha os olhos,

focado em encantar a multidão com sua voz suave e rouca numa


perfeita sincronia. Vê-lo cantar me traz paz, pois é isso que ele ama.

Em cada segundo dele em cima daquele palco eu só vejo amor

transparecer. Danton se sentia completo com a música. Era lindo.

Ouvindo a letra da sua música de maior sucesso eu me sinto

doente. Ninguém tinha ideia do quanto aquela música mexia

comigo. Ela era sobre mim. Eu não tinha certeza no passado, mas

anos atrás eu assisti a uma entrevista dele em um programa de TV.

Ele dizia que tinha escrito para alguém que ficou para trás. Naquele

dia eu quis ligar para ele. O número estava discado, mas eu nunca

tive coragem.

— Eu amo tanto o Dan! Ele é tão lindo, mas foda-se, Tye é

meu preferido. Tão perfeito nessa pose de “eu vou foder você”. —

Libby divaga ao meu lado, e eu sorrio diante dos seus quadris

fazendo movimentos de vai e vem. A letra da música continuava e

quando ele começa novamente, eu me deixo ouvir cada palavra.


Eu lembro de quando achei que era minha

Do dia em que me falou que éramos para sempre

Eu lembro dos seus olhos sempre brilhantes

enquanto me encarava

Eles dizem que o amor é eterno

Deixa eu falar, ele não é

Ela parecia me amar e um dia ela me quebrou

Repense, repense

Quando achar que ele te ama

Repense, repense

Ela tinha cheiro de sol,

A cortina negra que tampava seus olhos

Atormentavam meus sonhos, minha vida

Ela não era quem eu pensava

Ela era uma farsa.


Repense, repense

Quando alguém disser que te ama.

Repense, repense

Quando alguém fizer seu coração doer

Repense o frio no estômago, repense a bobagem.

Ela era uma farsa.

Ela me quebrou, e hoje eu canto o meu coração partido.

Seus olhos ainda estavam fechados e ele segurava o

microfone com as duas mãos, deixando sua guitarra de lado. As

pessoas cantam a letra, gritando, ecoando ao me chamar de farsa.

É sério que ele pensa isso?

Enquanto escreveu ele deveria estar tão tomado de mágoa

que eu verdadeiramente não o recrimino. Eu o abandonei. Quando

ele mais precisou de mim, eu virei as costas e saí da sua vida.

Quem faz isso?


— Oh, meu Deus, eu amo quando Cam faz isso! — Libby

grita, pulando ao ver Cameron dançar, e um dos meninos a olham.

Era Jax. Ele era o guitarrista. Seus olhos sorridentes dançam por

nós duas e ele cutuca Dan. Quando os olhos azuis dele nos

procuram, eu olho para Cameron. Eu não podia encará-lo. Não, eu

não tinha coragem.

Imaginar sua atenção em mim depois de tanto tempo não era

algo que eu podia pensar em querer. Como ele reagiria? A dúvida

acabava com minha coragem.

Suspiro, encarando Tye na bateria, tocando como se sua vida

dependesse disso. Eu posso admitir o quão fã eu era? Sim, eu

amava a Dark Star. Os meninos eram talentosos. Eu amava todas

as músicas e sabia cada uma.

Minha pele esquenta quando Libby me cutuca, me fazendo

olhar para seu rosto. Ela aponta para os meninos e eu percebo que

Dan e Jax ainda estavam me encarando. Os olhos azuis de Danton


seguram os meus por alguns segundos. O desdém dentro das suas

íris não passa despercebido. É como se eu fosse a sujeira do seu

sapato. Dói.

Ele canta o restante da música me olhando e eu sei que é de

propósito. Ele me odiava e queria que eu soubesse exatamente

isso. O que eu tinha vindo fazer aqui? Mordo meu lábio sentindo

lágrimas pinicarem por baixo das minhas pálpebras e olho ao redor,

tentando não chorar. Porém acabo vendo as meninas ao redor me

encarando. Elas estavam incomodadas com o fato de que ele não

estava olhando para elas.

Eu preciso sair daqui. Sabia que era um erro. Ele iria me ver

hora ou outra.

— Libby. — Seguro o braço dela e sorrio quando seus olhos

me encontram. — Eu tenho que ir.

— O quê? Você só pode estar louca! Começou agora, ainda

vamos ao camarim. Sua mãe nos deu com o passe e tudo. — Ela ri
e balança a cabeça, desacreditada.

— Você fica. Tudo bem. Eu posso te esperar lá fora.

Libby me encara como se eu estivesse bêbada ou drogada.

Eu só queria sumir. Eu queria que Dan não tivesse me visto. Eu

ainda falei com a minha mãe sobre os ingressos serem tão perto do

palco, mas ela disse que eu iria ficar em um lugar seguro.

— Poppyng, por favor, vamos ao camarim e depois saímos

às pressas, eu juro.

Poppyng é como meu pai me chama. Eu queria estar com ele

agora. Ele, Mel e Aimee viajaram para a nossa casa de praia. Eles

me chamaram, mas eu estava ocupada com minha mudança da

casa da minha mãe para meu próprio lugar. Mamãe e o tio Erick

estavam em casa, tentando me fazer mudar de ideia, mas não era

algo em que eu entraria em acordo. E sim, minha mãe é casada

com meu tio. Eu tenho um irmão, Nate, e eu amo minha família

louca e complexa.
— Libby… — murmuro, mas ela balança a cabeça, me

impedindo de continuar.

Tento mais duas vezes, porém eu não queria deixar minha

amiga sozinha. Engulo meu orgulho e continuo assistindo ao show

da Dark Star. Os olhos de Dan já estavam sobre outra pessoa, e eu

agradeço por isso.

Duas horas e meia depois, Libby estava me empurrando

porta adentro do camarim da banda. Eu vi a fila de meninas lá fora,

mas meu avô é Senador, então ele sempre tem algumas coisas se

movendo rápido. Elas nos encararam como se fôssemos ratos e eu

me sinto um pouco mal.

Passo a mão pelo meu jeans escuro e seguro meu celular

com mais força. Os meninos estão rindo quando entramos. Libby

corre, se jogando nos braços de Tye, e ele ri, assustado.

— Ei, amor, tudo bem? — Ele a abraça e Libby me olha rindo.

Faço sinal positivo e espero por ela.


Dan está sentado no sofá e seu peito ainda está nu. Seus

olhos percorrem meu corpo e eu estremeço, mordendo meu lábio.

Seu cabelo ainda é um pouco longo e eu me imagino segurando os

fios loiros, quase brancos, entre meus dedos.

— Ei, bonita, se aproxime — Cam chama, e eu elevo meus

olhos para o encarar. Seu sorriso despreocupado e os cabelos

acobreados eram o que mais chamava atenção nele. Dou alguns

passos, me aproximando, e dou dois beijos, um em cada lado do

seu rosto.

— Seu nome? — Jax questiona se aproximando, e eu engulo

em seco.

— Poppy — murmuro, e eles sorriem.

Jax pega um dos meus cabelos e tira do meu rosto para

colocar atrás da orelha. Libby está abraçando Cam agora, e eu

sorrio para Jaxon, me afastando devagar.


— Quanto tempo, Poppy. — A voz grave me arrasta para um

turbilhão e eu me viro, ficando de frente para Dan. Seus olhos são

frios e eu tento fingir que não vejo.

— Uh, é… oi — murmuro devagar e me inclino para

cumprimentá-lo com um beijo no rosto, como Jax, mas ele prende

sua mão em meu braço e me puxa. Acabo em seu colo, sentindo os

olhos de todos ao nosso redor.

— Se queria sentar, querida, era só ter pedido. Pode ser aqui

ou no hotel. Você diz e eu faço acontecer. — Suas palavras são

cheias de sarcasmo e crueldade. Dan queria me envergonhar.

Eu aposto que minhas bochechas estão vermelhas, pois sinto

meu colo esquentar. Tento me erguer, mas ele segura minha cintura

e se inclina, levando seu rosto para o meu pescoço.

— Pare de se mexer. Você está deixando meu pau duro. —

Se antes eu estava com vergonha, agora eu estou mortificada. Seu

nariz cheira meu pescoço e eu tento me erguer novamente.


— Cara, solta a menina. — Jaxon pega meu braço e tenta me

puxar, mas Danton só ergue as sobrancelhas.

— Sai fora, porra! — Seu grito me faz estremecer, mas Jax

se afasta, erguendo as mãos.

— Solta minha amiga, agora. Eu amava você, mas, meu

Deus, que tipo de pervertido é você, caralho? — Libby se aproxima,

e eu engulo em seco, tentando pensar.

— Quem é a atrevida? — Dan questiona, semicerrando os

olhos, e eu pisco, encarando-o.

— Minha melhor amiga.

— Eu era seu melhor amigo.

As pessoas começam a praguejar e eu escuto Libby falar

“puta merda!”. Encaro os lábios úmidos e cheios de Danton e tento

não pensar em como eles devem ser macios.

— Dan, me solta — peço devagar, balançando a cabeça para

clarear minha mente, e ele desvia os olhos de mim para voltar sua
cabeça para o meu pescoço.

— Você vai para o hotel comigo. — Não é uma maldita

pergunta. Ele está louco?

— Não, eu não vou. Agora me solta… — Minha voz é baixa,

e mesmo que eu quisesse ir ao seu hotel, e sim, eu queria muito, eu

também sabia que era um erro.

— Solta ela! — Libby está com a voz alterada e eu sei que

ela está com medo.

Os olhos de Dan estão presos nos meus novamente e o

vazio que eu vejo me faz novamente tremer. A escuridão, mesmo

em olhos tão claros, me faz querer chorar. Quando foi que ele

mudou tanto? Cadê o brilho que eu tanto amei?

— Está tudo bem, Libby — murmuro devagar, e ele acena

para seus amigos saírem. Os meninos saem sem falar nada, mas

minha melhor amiga é outra história. — Libby, está tudo bem. Eu

juro. Me espera lá fora.


— Poppy, você tem certeza?

— Sim, é rápido — murmuro firme, e ela sai relutantemente.

— Depois de todos esses anos você só aparece em um show

da minha banda? É sério, Poppy? — Ele está tão malditamente

irritado. Eu sinto sob minhas mãos que estão em seus braços

musculosos. Éramos quase da mesma altura da última vez que nos

vimos. Agora, ele tem pelo menos trinta centímetros a mais que eu.

— Minha mãe arrumou ingressos para a Libby. Ela é uma

grande fã. Eu não queria vir, mas ela…

— Então, se não fosse a porra da Libby, não iriamos nos ver

novamente nunca mais. — As palavras doem e a resposta fica

entalada na minha garganta. — Responde.

— Dan, foi melhor assim…

— Para você? Sim, pra caralho. — Ele aperta minha cintura e

se inclina até estar respirando o mesmo ar que eu. Baixo minha

cabeça, completamente envergonhada. — Eu odeio você, Poppy


MacGregor. Eu espero que você sinta o pior tipo de solidão. — As

lágrimas em meus olhos são reais e começam a escorrer.

Danton se ergue e eu me desequilibro ao me levantar do seu

colo, porém consigo ficar de pé, ereta. Engulo em seco e ele se

afasta, pegando uma blusa sua. Quando ele está vestido, um caroço

enorme está na minha garganta, e meu rosto, repleto de lágrimas.

— Meus pais morreram, Poppy. — Sua voz quebra e levo

minha mão aos meus lábios, me impedindo de soluçar. — Eles

tinham me deixado sozinho no mundo e quando eu precisei de você,

você fugiu! Você saiu da minha vida sem uma explicação. Você me

quebrou, porra!

— Dan…

— Por que não podia deixar o fodido do Travis viajar

sozinho? Eu liguei, sabia? Então sua empregada disse que tinha

viajado. Que tipo de pessoa não pode abandonar uma viagem e


ficar ao lado do seu melhor amigo quando o mundo dele desabou?

Quem diabos é você?

Seus gritos são tão altos que alguém bateu na porta em

forma de aviso. Minhas lágrimas estão por toda parte agora. Ver a

mágoa misturada com a fúria em seus olhos me fez desejar nunca

ter partido. Porém eu nunca poderia voltar atrás.

— Dan, por favor…

— Eu odeio você. Eu realmente te odeio e adivinha, Poppy?

Eu nunca odiei ninguém.

Eu me encolho, sentindo meu peito despedaçado. Danton

balança a cabeça e desvia os olhos dos meus. Ele está certo em me

odiar. Eu fui terrível.

— Eu peço perdão, mesmo sabendo que é ridículo pedir. Me

desculpe.

Tropeço em meus pés, correndo para a porta, mas seu braço

me para. O peito dele encosta nas minhas costas e ele me segura


junto ao seu corpo.

— Você sabe que eu te amei, não é? — ele questiona, e eu

aceno devagar. Porque eu sabia que sim. Danton Flynn tinha me

amado. — Não mais, Poppy. Não mais.

Ele abre a porta e acena para eu sair. Eu queria conversar

mais, tentar fazê-lo me perdoar, mas eu não podia. Não depois

disso.

— Está tudo bem? — Libby me pergunta assim que me vê na

porta. Soluço, sem conseguir segurar, e ela passa de mim para ele.

— Seu filho da puta, o que você fez?

O segurança dos meninos a segura e eu o ajudo.

— Me leva embora. Só isso — peço devagar e escuto

quando algo se quebra. Olho para dentro e vejo a garrafa de uísque

quebrada e o líquido espalhado pelo camarim.

Libby me puxa para longe de Dan e eu começo a soluçar até

chegar ao carro. Eu soluço mais e mais, mesmo tentando me


controlar, porém estou despedaçada.

Eu tinha partido o coração de Danton Flynn, mas ao fazer

isso, eu me quebrei.

Não tinha cola que pudesse nos remendar. A dor era eterna.

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[i]
Dominick Reilow é protagonista do livro A Jogada Perfeita, escrito pela
Evilane Oliveira.

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