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A Assassina
Is Babi
1ª Edição
Vejo Zelda esperando por mim assim que desço as escadas, a sigo até o
outro cômodo, à mesa de café da manhã estão Roman e um outro homem
com cabelos loiros e olhos azuis.
A face dele não disfarça ao analisar a minha chegada minuciosamente,
ele sabe quem sou.
— Morgan, esse é Elzo, meu sobrinho e subchefe da máfia Zimmermann
— apresenta Roman.
— A garotinha que saiu do orfanato em uma noite chuvosa. Curioso vê-
la pessoalmente, assassina — provoca com um sorriso divertido.
— E você é quem? Um peão na mão de Roman? — rebato.
Vejo uma mudança brusca na expressão. Alguém odeia ser chamado de
peão.
— Se não fosse por conta do seu passado, não iríamos atrás de você.
Poderia meter a bala no seu crânio aqui mesmo — assegura.
— Quietos os dois, Elzo, ela vai fazer o que eu pedi — reforça Roman.
— Faça — convido o idiota. — Você sabe quem eu sou, mesmo assim
quer tentar a sorte.
— Conheço o orfanato onde viveu a vida toda, a prioridade é a educação
das crianças. Quero saber pela sua boca o que fez naquela noite, os jornais
omitem e ditam o que querem — pressiona Elzo
Vou até uma cadeira vaga, sento-me e o encaro melhor.
— Estou esperando também — diz Roman.
— O orfanato Anjos da Luz me recebeu quando era apenas um bebê, a
minha criação inteira esteve nas mãos deles — começo a história.
Meu olhar fica distante quando mergulho nos fatos daquela fatídica noite
quando tinha dezessete anos.
Olho para trás, a porta está trancada, da maneira que Ingo prefere.
— Não, eu não quero isso novamente — digo em desespero.
Toda vez que ele me força ao sexo é como estar morta, em estado
vegetativo.
O monstro não escuta, corro por entre as camas, procurando pela chave
reserva da porta.
Ele pega em meus cabelos e me joga em uma das camas, depois sobe em
cima de mim, batendo no meu rosto.
O vestido cinza-chumbo usado por todas as meninas levanta em um
movimento rápido, meus gritos não podem trazer ninguém até aqui.
A cozinheira e a diretora sabem que ele me obriga a transar desde os
dezesseis anos, ambas aceitam isso debaixo de seus narizes.
— Não se esqueça de que fui eu quem a tornou mulher — diz antes de
abrir as minhas pernas.
Uma lágrima grossa escorre pelo meu rosto quando sinto o membro
entrar contra a minha vontade.
— Tão apertada e suculenta, nunca vou cansar de tocá-la.
Assisto-o se movimentar, dizendo meu nome, pedindo para que eu tenha
prazer junto com ele.
Uso uma das mãos para ir até o bolso do vestido, local que eu escondi
um objeto. Roubei uma agulha.
Olho para o rosto de Ingo, seu pescoço é o ponto perfeito.
Pego o objeto e enfio na veia de seu pescoço, Ingo grita, pressiono a
agulha na pele asquerosa.
— Desgraçada.. eu... — balbucia.
Pela primeira vez sinto prazer em algo. Faço o corte e vejo o sangue
jorrar, empurro-o, fazendo o corpo cair no velho tapete marrom.
O único gesto é tentar levantar a mão na minha direção. Totalmente em
vão, o monstro está de olhos abertos, mas não há brilho nas pupilas, o
sangue inunda o chão do quarto.
Chuto seu corpo, constatando que está morto, mas somente isso não é o
suficiente.
Pego a agulha para dar um presente ao homem que me destruiu.
Desde que fui tocada não durmo direito, sou atormentada, jamais
demonstrei que tinha interesse nesse monstro, seu prazer era transar comigo
à força.
Enfio o objeto pontudo na pele da sua boca para puxá-la.
Ingo jamais poderá falar nem quando chegar ao inferno.
— Esse é o meu presente a você — afirmo, puxando sua pele fria e sem
vida.
Eu não ouvirei mais sua voz.
Encontro a diretora na sua sala, madame Heidi tira o cigarro dos lábios
surpresa por me ver ali.
— Deveria estar ocupada com Ingo, veio buscar uma pílula?
Meu ódio queima por cada parte da minha pele, seguro com uma mão
atrás o pequeno punhal que encontrei nas coisas daquele verme antes de vir
até aqui.
Não passarei mais uma noite nesse lugar, espero que os outros consigam
correr e escapar também.
— Ele está mandando todos irem dormir, madame. Estou aqui porque
quero pedir um cigarro, gosto do cheiro — enrolo-a.
Ela ri.
— Não lhe dou nada, maldita garota. A sua insolência em vir me
perturbar é incrível, vou fazê-la aprender a ter modos! — afirma ao se
levantar.
O cigarro fica no cinzeiro.
Não dou a oportunidade de ela pegar um cinto no pequeno sofá,
surpreendo Heidi com uma facada no abdômen Ela arregala os olhos ao
gritar.
Repito o ato mais outra vez, deixo a faca dentro dela.
O corpo cai no chão, dando uma cor peculiar ao escritório, olho para sua
mesa e vejo seu isqueiro.
Olho para o corpo mais uma vez antes de sair do escritório com o objeto
em mãos.
Encontro os outros órfãos assustados na sala.
— Saiam desse lugar agora, tudo pegará fogo — alerto.
Consigo retirar todos desse maldito lugar, uso a gasolina do porão para
jogar na sala inteira, antes de sair jogo o isqueiro.
A chuva molha meus cabelos ruivos quando corro na rua, sentindo a
liberdade e um misto de adrenalina.
Não olho para trás, apenas ouço o choro das crianças mais distante,
conforme escapo finalmente do meu inferno.
O rosto de Elzo surge ao lado de uma mulher que acredito ser a sua
esposa.
Eles me analisam.
— Sim, essa é Morgan. Minha filha está aqui para ser apresentada, ela
faz parte da máfia Zimmermann — rebate.
Seria tão fácil matá-lo, arrancar esse ego inflado no momento em que o
punhal atravessar seu peito.
O idiota está achando que sou como uma dessas mulheres, ingênua e
frágil.
Pego a taça de vinho, levo o líquido até os lábios, mas não abuso no
gole.
— Sim, trazer minha filha foi o último esforço de minha esposa. Logo
depois perdi meu irmão e a mãe de Elzo, escolhi deixar Morgan segura e
longe para ajudar meu sobrinho — diz, olhando para Elzo.
Maldito!
Quero sair desse lugar e abandonar essa farsa, diferente do que estou
assistindo como telespectadora, não há ninguém para me controlar ou dizer
como agir.
Dançar?
— Claro que sim, Morgan dançará com você — diz Roman, sorrindo.
Apenas esboço um sorriso.
— Então teremos uma dança, é algo novo para o jantar — comenta Elzo.
Não estava em nosso acordo mais tempo que os oito meses já acordados.
Iria atrair Damien, pensava que seria mais fácil com a vantagem do
jantar, chamar a atenção dele completamente no dia, seria perfeito. Mas
quando o conheci, percebi que era mais esperto do que imaginei, sou
desconhecida, um objeto novo.
Quero tirar os saltos dos meus pés e esse vestido ridículo, não tolerar
essas pessoas, nada disso.
Os olhos avelã novamente chamam a minha atenção para si. Sem ter
conhecimento, Damien colocou algemas em meus pulsos.
Acompanho Roman, deixando meu campo de visão, levando consigo a
filha recém-chegada.
— Roman não havia me falado sobre ela. Optou por trazê-la quando
soube da morte da cuidadora, se tivesse o controle dessa situação traria
Morgan antes — reforça.
Aaron para diante da poltrona onde estou sentado, Elzo está ao seu lado.
— Meu tio errou ao escondê-la. Damien, você tem total poder sobre o
que quer fazer com Morgan — assegura Elzo.
— Abaixe o seu tom, você não tem poder de exigir nada! — rosna.
Vejo o desespero e a fúria nos olhos azuis, jogar a culpa em mim é mais
fácil, idiota.
— Tire a mão do meu pescoço, procure outra para esse papel. Dois
meses a mais não estava em nosso acordo — ameaço.
— Abra a porta e saia, levará um tiro assim que pisar fora da mansão.
Quando a trouxe comigo, obtive poder sobre você, está no plano e só sairá
com a minha ordem, não há fuga — reitera.
— Segure sua língua, esses dois meses lhe será útil. Irá aprender a
escrever e ler, não preciso perguntar para saber as condições que saiu
daquele orfanato.
— Damien poderia ter pedido para ler ou até para escrever algo, você vai
acrescentar o ensino em seu treinamento junto com a etiqueta. Alessa estará
encarregada de tudo isso, além de fazê-la dançar perfeitamente.
Sigo em direção às escadas, Damien quer além de uma dança, estar perto
o suficiente para me testar.
— Damien quer uma dança, e você irá dar o que ele quer. Aonde vai,
Morgan? — pergunta, irritado.
— Por hoje o meu papel terminou — digo sem olhar para trás.
Roman pensa que serei moldada para ser alguém como aquelas mulheres
do jantar. Está agarrado a uma fantasia distorcida, inútil.
Essa noite ele escorregou e mostrou não ter o total controle sobre seu
objetivo.
Quero dormir, será difícil ter um pouco de tempo apenas para mim?
— Você precisa comer algo para tirar essa raiva logo pela manhã, temos
muito trabalho pela frente. Me acompanhe, não queremos acordar seu pai
agora.
Respiro fundo, procurando não enlouquecer ainda mais com tudo isso.
— Vamos começar pelo básico, quero que escreva uma carta, preciso ver
a sua ortografia e a letra — avisa, entregando o caderno.
Reviro os olhos.
— Vou escrever uma carta para quê? Ninguém mais usa — debocho.
— Damien pode colocá-la para escrever uma carta, não sabe que há
jantares constantes promovidos por membros? — alerta.
— Seis linhas está ótimo para a sua carta, como bem disse há outras
prioridades.
— Ele faz jus à fama que carrega, porém, é um homem como qualquer
outro. As candidatas estavam tremendo de tão nervosas, era como se o que
estivesse na frente delas fosse o último homem — desenho, rindo.
— Enquanto termina o que lhe passei como lição, quero que preste
atenção em minhas palavras. A dança é o contato mais profundo entre duas
pessoas, o corpo reage, assim como você precisa seguir a música e o seu
par.
— O que houve?
— Nos leve para a sala, quero estudar lá fora — faço um novo pedido.
Faço o que ela pede, não vejo dificuldade em seguir o que ordena. Bom,
o tédio me irrita.
Damien escolheu uma dança para ser o meu teste, seja o que for ele
optou por um contato próximo embalado pela música.
— Tenho dois meses para treinar a etiqueta e o estudo. Prefiro usar esse
dia para dormir um pouco mais, não tenho compromissos.
— Você não sairá daqui como uma palhaça e muito menos como uma
mendiga. Não irei deixá-la com excesso de maquiagem, mas precisa estar
apresentável, um pouco de cor — explica, observando-me.
Alessa está sempre atrás, um peão nas mãos de Roman, ela não consegue
disfarçar que queria uma atenção a mais.
Reviro os olhos.
— Não sabe o quanto aprecio vê-la usar o que aprendeu comigo, uma
postura diferente da que chegou em Hamburgo — elogia. — Damien a
chamará para dançar, você deve aceitar sua mão.
Ela demonstra ser ele, aceito sua mão indo até o centro do quarto.
— Ele irá parar quando achar que foi o suficiente, não pare primeiro —
alerta.
Sorrio debochada.
— Tolice.
— A contratei para ser a arma do meu plano, consiga ser escolhida por
Damien ou não irá respirar essa noite — ameaça.
Não somente o título, essa noite posso criar um outro caminho, Roman.
— Você pode ser a primeira ou a última a ser chamada por meu chefe,
esteja preparada para a dança — revela.
A palavra que sai pelos meus lábios é tão apagada quanto os borrões de
uma lareira.
Sem olhar para trás, sigo-o olhando para frente, consigo avistar sete
garotas sentadas em uma fileira de cadeiras.
— Posso...
— Sim.
— Você lerá o jornal da época e não o atual, quero que traduza, já que é
um texto espanhol — anuncia.
Elzo se aproxima com o jornal entregando para a candidata, ela não olha
em seus olhos quando começa a traduzir sozinha.
Seria um problema fazer isso, não suporto ler ou escrever, muito menos
traduzir.
A música lenta está tocando, mas Damien não inicia, fui instruída a
esperá-lo conduzir, porém, não vou ficar até amanhã esperando uma
decisão.
Dou um passo para trás, o mafioso toma o lugar, sigo os seus passos sem
quebrar nosso contato visual.
Isso parece o divertir, vejo algo no brilho dos olhos avelã. Mas não sei o
que pode ser. Damien aumenta o ritmo da música para me provocar.
Aperto levemente seu ombro, preciso embalar essa maldita dança até
abrir uma brecha.
Engulo em seco.
— Não gosta?
— Queria testar o que você diz junto a resposta do seu corpo — revela,
próximo à minha face.
Enquanto isso a dança continua, ele não pretende parar tão cedo.
Não há uma resposta, em vez disso o chefe alemão para a dança. Durante
esses dois meses estivemos em eventos e só troquei cumprimentos com
Damien.
Mas a cada vez que o via cheguei à conclusão de que para ser sua
escolha, tenho que deixar brechas para o mafioso ver que não somos tão
diferentes um do outro. Essas candidatas pensam no marido perfeito,
satisfazê-lo, porém, é preciso muito mais.
— O que você quiser, mas opto lhe dar a alma, coloque as suas garras
sobre mim. Acho que posso ser um espelho que reflete a figura que todos
aqui mais temem — confidencio. — Dou-lhe a minha vida.
— O que você disse a ele? — pergunta Roman, ao se aproximar
sorrateiramente.
Roman deve fazer o mesmo comigo, preferiu revelar mais sobre essas
regras na noite do jantar. Tudo depende do resultado.
— Pela forma como se comporta parece que tem absoluta certeza de que
ganhou.
Sorrio divertida.
— Acho que está ainda mais desesperada, encare como um jogo com
peças no tabuleiro, nem todas as vezes se ganha — provoco.
O que me fez escolher Morgan Muller foi minha intuição, ela jamais
falha, sinto que essa ruiva esconde algo, além de ter poder de me atrair da
mesma maneira.
Morgan olha o anel mais antigo da família que está agora em seu dedo.
— Lhe entrego a mão da minha filha sem temer pelo futuro de Morgan.
A família Muller serve você, a Zimmermann, somos peças, Damien.
Minhas marionetes.
Meu conselheiro e primos se juntam a nós, Elzo entrega uma taça para
Morgan e a outra para mim.
— Aos noivos, Damien e minha prima.
As taças batem umas nas outras, não demoro a terminar a bebida. Olho
para Elzo que se aproxima sem que eu precise chamá-lo.
— Claro.
— Obrigada.
Encaro-o rapidamente.
Afirmei para Roman e para ele que iria conseguir o objetivo, conheço as
pessoas, não preciso fazer esforço para ler alguém. Muitos escancaram
coisas sem perceber que outros disfarçam, mas sempre abrem pequenas
brechas.
Damien entra no escritório por último, ele vai até a sua cadeira diante de
mim, ao se sentar os olhos avelã voltam a se chocar contra os meus.
— Durante esses meses vamos nos ver quatro vezes na semana, preciso
treiná-la, deve saber se defender por si própria quando não estiver por perto
— acrescenta Damien. — O que ela sabe fazer? — indaga, olhando
Roman.
— Morgan nunca teve contato com armas, ela precisa ser treinada,
Damien — concorda.
Ótimo, agora preciso fingir que não sei manusear uma arma.
— Como suspeitei — desdenha. — Não a preparou corretamente, mais
uma vez vejo o quanto você é fadado a falhar.
Roman absorve a crítica com dificuldade, diante de todos ele está sendo
colocado contra a parede. Elzo se mantém neutro.
— Morgan está pronta para seguir nossas tradições, estou convicto disso
— rebate meu cliente.
— Tenho muito o que saber essa noite, podemos ir, pai? — pergunto,
encarando-o.
Levanto-me da cadeira.
Dou risada.
— Posso estar presa nesse contrato, mas estamos falando da minha parte,
consegui ser escolhida por ele. Estou fazendo tudo conforme planejou,
tenho o direito de questionar algo — reitero.
— Você disse que eu não sei mexer em armas, quantas coisas a mais vou
precisar fazer? — sondo. — Detesto fingir.
— Além disso, ele escolherá algo mais? A cada dia é uma coisa nova —
reclamo, impaciente.
— Passar tempo com ele será o momento que precisa estar atenta para
não escorregar em uma pergunta ou um gesto. Como também atrair
Damien, é necessário muito mais do que apenas dançar — avisa ao se
sentar.
— Sei muito bem disso, lhe disse que sei ler as pessoas, não foi diferente
com ele. Consigo enxergar com o que Damien é acostumado.
— Durante esses três meses irão percorrer três pontos da Alemanha para
a sua apresentação aos demais membros da máfia alemã.
— Isso é necessário? Não havíamos falado sobre nada disso —
acrescento, fuzilando seus olhos.
Estou diante da convivência com o meu alvo, sempre fui rápida para
finalizar um trabalho, dessa vez preciso brincar com a presa por muito mais
tempo.
— Damien pode lhe dar liberdade para usar a piscina, o que desejar. Mas
o foco é o treinamento que ele fará, não demonstre conhecimento em armas,
saiba fingir. Entendeu? Mandarei mensagem para ver como está, não posso
interromper sem que o próprio queira a minha presença lá.
— O que receber será meu, não esqueça de quem a contratou, irei dividir
as partes.
— Prefiro ficar em pé, diga. Amanhã preciso estar bem disposta, lembre-
se disso — aviso, arqueando uma sobrancelha.
— Preciso levá-la ao médico. Há quanto tempo não passa em um
especialista?
Roman fica surpreso pelo meu tom de voz, se estivesse com meu punhal
em mãos o cortaria sem pensar duas vezes. Fecho o punho, tentando me
conter.
— Controle o instinto, a sua sorte é que não há uma regra que exige
pureza intacta na Zimmermann ou estaria em maus lençóis. Irei marcar a
avaliação com um médico da família, fará vários exames para saber sobre a
sua saúde, não adianta rosnar. É o seu papel, criança — reitera.
— Tome cuidado, posso acabar com essa farsa antes mesmo de você
sonhar em agarrar a fortuna e o cargo de Damien para o seu sobrinho —
alerto. — Tem muito a perder, Roman.
Dou as costas saindo dali para respirar, Roman está brincando comigo,
testando a paciência com tudo isso. Tento mandar para longe as lembranças
que me atormentam, enquanto piso forte no corredor não me restam dúvidas
de que é necessário construir um outro caminho.
Roman e Elzo são marionetes imprevisíveis que podem cair mais cedo
do que se espera.
Agora como noiva de Damien, preciso seduzir, trazê-lo para mim. Não
tenho nada a perder em trair Roman Muller e o patético sobrinho ao
conseguir um lugar na cama e na vida do chefe da máfia.
Fui acordada bem cedo, tomei café da manhã com Roman, exigindo que
fosse rápida. O trajeto foi silencioso até o momento em que o veículo
adentrou a propriedade de Damien.
Roman abre a porta do carro e sai logo depois, caminhando atrás dele.
Meu pai postiço não consegue entrar na mansão, Aaron, o conselheiro abre
a porta.
— Tudo bem, filha, nós nos vemos mais tarde — despede-se com um
olhar de aviso.
Meus olhos pousam sobre um punhal, esse é maior do que o que está
comigo, guardado na mansão de Roman.
Viro o pescoço e encontro Damien, Aaron passa por mim indo até o seu
chefe, os dois trocam um breve olhar.
— Faça.
Damien está me testando, e eu não posso entregar motivos para que crie
desconfiança a meu respeito. Opto pegar uma faca, encaro o chefe da máfia
e o vejo analisar minha face.
— Dos objetos dessa mesa o único que sabe manusear é uma faca?
— Pelo menos sabe fazer algo. Deixe a faca, segure isso. — Pega uma
arma e estende a mão.
Entrego a faca e no lugar seguro o que ele escolheu, mas de uma forma
desajeitada e um pouco receosa.
— Atire!
Ajeito a arma e atiro sem preparo nenhum, ela passa raspando a lateral
de um boneco. Sem esperar, Damien segura meu braço com uma certa
força.
— Faça o que seus olhos estão demonstrando, não acredito que isso é o
melhor que você pode conseguir — reitera.
Damien ri.
— Se quiser sair desse jardim é melhor atirar de uma forma que me
agrade — reforça.
Ele me solta, parando atrás de mim. Fingir, repito para a minha cabeça,
queria surpreender Damien com um tiro perfeito em todos esses bonecos.
Mas eu sou a filha de Roman, esse papel é meu por um bom tempo.
Minha mão coça para fazer algo, apertar seus ossos pela resposta
provocativa.
Ele encara meus olhos como se vasculhasse a minha alma. O que está
procurando não faço ideia.
— Vamos para o escritório, Roman lhe trouxe sem explicar nada. Cortar
frutas parece ser a única coisa que sabe — desdenha.
Sinto o meu corpo formigar, queria lhe mostrar uma boa briga, derrubar
seu corpo forte no chão e estar por cima. Mas sem ter essa opção fico
próxima de Damien.
— Meu pai escolheu cuidar do meu primo a vida toda. Apenas agora
tenho a atenção principal, quero que me ensine tudo, Damien — peço.
Damien fecha a porta rapidamente e em passos firmes vai até a mesa, ele
gira a chave em uma pequena maçaneta da gaveta. Em seguida, o vejo tirar
uma pasta, deixando-a sobre a mesa de madeira.
— Pegue.
Imagino suas mãos cortando a minha pele para o poder que ele exala
adentrar. Damien não consegue deixar de ser dominador.
Ele serve um pouco de uísque enquanto leva aos lábios. Então por isso
Damien está se casando agora, teve a escolha de decidir quando seria esse
momento.
— Lhe darei álcool quando acabarmos, escute com atenção tudo o que
estou dizendo, não costumo repetir.
— O quê?
A forma como ele afirma que irá acontecer esse ato, acaba me atraindo,
Damien tem toda a minha atenção agora.
— Esqueça o que leu ou viu na companhia de sua tia. — Seu tom é letal.
— Estará nua e na cama comigo, Morgan.
Sou pega de surpresa pelo que acaba de sair dos seus lábios. Bom, a
inocência jamais será passada por mim, ela foi arrancada há muito tempo.
Não sei reproduzir nenhuma faísca dela.
— Os membros.
Já via algumas coisas que tinham um toque da máfia, porém, estava fora,
a uma boa distância da Zimmermann.
— Nem o meu noivado com ela pode lhe salvar de nada — assegura o
mafioso.
— Temos que fazer as malas, filha. Irá gostar da viagem, estarei ao seu
lado — diz Roman ao se pôr de pé. — Elzo deve ir também.
Ele pensa que estou absolutamente do seu lado, mas aprendi a pensar em
minha sobrevivência antes de qualquer coisa. Sento-me no banco e tiro os
sapatos dos meus pés, Roman entra batendo a porta com força.
— Farei isso.
Encaro o espelho enquanto observo, finalmente, uma roupa que não seja
vestido, em vez disso, calça jeans, cropped preto de couro e botas de salto
grosso.
Respiro fundo ao sentir o conforto nos meus pés.
— Seu cabelo é lindo, Morgan. Devia fazer penteados diferentes com ele
— sugere Alessa, ao passar a escova nas mechas ruivas.
Sorrio debochada.
— Não ouse, detesto presilhas e essas coisas.
— Tão bem-humorada de manhã, agora fale sobre Damien. É a primeira
viagem que irá fazer ao lado dele, está nervosa? — pergunta, curiosa.
— Não, mais outra pergunta tola? — indago, arqueando a sobrancelha.
— Seu ego é um problema.
— Simplesmente não ligo para essas futilidades.
— Essa viagem é importante, será apresentada para outros membros da
máfia. Fortificar o papel de noiva do chefe, sabe que precisa ser
extremamente perfeita — diz, ao se aproximar com a base e um pincel em
mãos.
— Estou pronta para isso, Alessa. Damien me escolheu porque fui a
melhor opção entre as outras candidatas — asseguro, convicta.
Consegui sua atenção e o mérito pertence exclusivamente a mim.
Vejo-a sorrir fraco.
— Invejo essa segurança que você tem.
Percebo sua fraqueza exposta como uma ferida, minha mente perversa
sussurra algo interessante.
— Alessa, meu pai tem dificuldade em seguir em frente e dar um passo
adiante com você — explico. — Quero que esteja com ele.
Ela pisca surpresa.
— Não se incomoda?
— Não está lidando com uma criança, quero ajudá-la.
Alessa é solitária, e está loucamente apaixonada por Roman. Tê-la por
perto é benéfico, posso ter uma espiã para contar tudo e de sobra Roman
ficará ocupado.
— Elzo jamais olhou para mim por muito tempo...
— O que importa ao meu primo é o casamento e o lugar que ele tem —
afirmo.
É a cópia de Roman, o que ela queria?
— O que você pensa em fazer? — pergunta Alessa.
— Terminar o que pedi. — A voz de Roman atrapalha totalmente a
conversa.
Ele entra no quarto impaciente, aproxima-se a fim de me observar.
— Coloque um pouco de cor nas bochechas dela, Alessa.
— Estava falando com ela, na verdade, fiz um convite. Quero que Alessa
nos acompanhe nessa viagem — anuncio ao me levantar da cadeira.
— Ela ficará em Hamburgo — rebate Roman. — Não precisa dela.
— Pelo contrário, nunca viajei ou fui para uma apresentação —
acrescento. — Pai, sabe que tenho dificuldade em me relacionar com as
pessoas, além disso, você pode levar Alessa, ela é sua namorada.
As bochechas dela estão coradas, há um brilho em seus olhos.
Roman olha rapidamente para ela e depois volta a atenção para mim.
— Tem razão, filha, venha conosco, Alessa. Irá ser apresentada e está
encarregada de não deixar Morgan cometer um único erro — reitera. —
Espero ambas lá embaixo, não demorem.
Antes de vê-lo sair do cômodo, consigo ver que não sou a única que quer
usar Alessa.
Roman quer vender que está empenhado em estruturar a família
novamente, mas, na verdade, tudo é uma distração para ocultar sua real
intenção.
— Nunca vi seu pai concordar tão rápido. Você está mudando Roman,
acho que ficar tanto tempo longe de você afetou a vida dele.
— Se você pensa assim, agora termine essa maquiagem — exijo sem
paciência.
— Vou aceitar sua impaciência, já que está me ajudando.
Reviro os olhos ao ver o entusiasmo estampado em sua face, Alessa
começa a conversar sobre a viagem e o que poderá levar.
Ao sairmos do quarto, meu único pensamento é colocar em prática o
quanto antes o próximo passo.
Terei Damien Zimmermann totalmente na minha mão, ele se tornou uma
peça de um quebra-cabeça distorcido. Mas antes tenho uma consulta médica
para lidar, pretendo que seja rápida e breve. Roman adora se esquecer com
quem está lidando, o plano dele é um pedaço de papel em branco.
Simplesmente o que tenho em mente é melhor, no orfanato era
acostumada a ter que dividir tudo com os outros. Porém, Damien é a chave
de algo maior, estar ao seu lado me dará absolutamente mais do que aquele
tolo me prometeu.
Pela primeira vez terei algo somente para mim.
Os olhos escuros do médico da confiança de Roman estão me
analisando, enquanto faz perguntas e eu não demoro a responder nenhuma.
Exigi entrar sozinha no consultório, consigo facilmente lidar com
qualquer um.
— Fará um exame de sangue para ver como está a sua saúde, além de
outros. Roman disse que quer os resultados o quanto antes, afinal, há um
casamento pela frente — comenta, tirando a atenção dos papéis. —
Conheço seu noivo, imagino que...
— Cuide melhor da sua língua, a curiosidade é perigosa, doutor —
ameaço, ficando de pé.
Vejo o lampejo de surpresa nos olhos assustados.
Estava esperando por uma menininha que não tem uma resposta? Ele
tem sorte, já que não posso ser quem sou de verdade.
— Espero vê-la no retorno com os exames, Morgan — muda o assunto.
— Até mais.
Pego os papéis de suas mãos, quando saio da sala, vejo que Roman está
ali. Quando dou alguns passos ficando diante ao meu querido pai, ele pega
os exames com pressa em vê-los.
— Ficou dez minutos apenas. O que fez, criança? — sonda.
— O que você queria, aqui está o pedido dos exames.
— Passou pela consulta e está inteira. O doutor arrancou um pedaço de
você? — provoca.
Tenho uma resposta na ponta da língua, mas uma movimentação chama
a nossa atenção, acompanhado por Aaron, o meu querido noivo acaba de
chegar à sala de espera do consultório.
Roman se esquece de qualquer desconfiança sobre a consulta, Alessa
está ao meu lado com os olhos bem atentos.
— Damien, queria apresentar Alessa, minha namorada. Morgan pediu
para levá-la em nossa viagem, assim ela terá uma figura feminina por perto
— explica, guardando os papéis no paletó.
Os olhos avelã pousam sobre Alessa, o chefe da máfia não demora cinco
segundos para tirar a atenção para mim.
— Tem certeza? — pergunta.
— Sim, Alessa é uma dama de companhia — afirmo.
— Senhor Zimmermann, prazer — cumprimenta Alessa ao abaixar a
cabeça.
Acho que ela não se esqueceu de que o ego e a fama de Damien é ter
todos sob controle, servindo somente ao chefe.
— Você é uma caixa de surpresas, Roman — alfineta Aaron. — O que
será da próxima vez?
— Estou recomeçando a família, Aaron. Damien sabe que a minha
prioridade é o compromisso com a Zimmermann.
Que teatro mais entediante.
— Venha. — O convite de Damien é música para os meus ouvidos.
Ando ao seu lado, deixando Ramon e Alessa logo atrás com Aaron.
O trajeto de carro segue sem atrasos, a pista está com a aeronave a
postos, não consigo deixar de analisar o jatinho particular.
Jamais viajei de avião, oculto um certo receio ao pensar em um
transporte aéreo. Sempre andei escondida em caminhões, viagens perigosas,
porém, não como essas.
Preciso de uma boa bebida, é o primeiro pensamento ao entrar na
aeronave. Observo o espaço, lugares confortáveis, duas moças à disposição
com opções de cardápio.
Sento-me em uma poltrona qualquer, olho para a janela ao meu lado,
meus pensamentos são interrompidos quando Damien se senta.
— Vejo um traço de nervosismo? — questiona.
Encaro seus olhos.
— Não gosto de viajar.
Ele é esperto demais, tentar mudar o assunto é idiotice.
— Vai se acostumar em breve — afirma, convicto.
— Ainda não me disse sobre a apresentação, será assim que chegarmos?
— pergunto, interessada.
— Ao pôr do sol, comprei um vestido, ele estará em seu quarto. Usará
ele para a apresentação. Morgan, onde irá me prometer sua vida diante de
todos os membros — revela.
— Um vestido? Posso confiar no seu gosto? Aliás, quais são as minhas
medidas? — questiono.
Novamente um maldito vestido!
Uma aeromoça se aproxima com dois copos de uísque, pego um, tenho o
que preciso para não pensar em quantos minutos essa viagem irá durar.
Damien pega o seu copo, porém, antes de responder minha dúvida, seu
olhar desce para o meu corpo, cada traço não passa despercebido.
Me sinto nua, é como se não existisse nenhuma roupa cobrindo a pele
exposta, tenho também a certeza de que ele deve imaginar o mesmo.
Seu olhar causa arrepios prazerosos.
— Estou um passo à frente, é o que precisa saber. Agora, beba comigo,
noiva — manda, batendo levemente o copo no meu.
Levo a bebida aos lábios lentamente, assim como Damien, somos duas
raposas farejando um ao outro.
Nenhum de nós dois é ingênuo, ele, o homem mais importante desse
lugar é esperto e perigosamente delicioso.
O meu objetivo era matá-lo, mas agora tudo mudou, casar com Damien é
o passaporte para longe de Roman.
Ter um maldito lugar finalmente, já que estou nesse papel de ser a filha
de Roman, tenho que tirar proveito do que está diante de mim.
— Você está linda, não se parece com a mulher que chegou aqui —
elogia Alessa, passando o batom em meus lábios.
— Estou vendo a mesma pessoa no espelho.
Essa maquiagem toda e o fato de usar um vestido caríssimo apenas
ocultam quem eu sou de verdade.
— Não se estresse tentando mudar minha opinião. Hoje é o grande dia,
casar com Damien lhe trará um lugar somente seu, aproveite o que for
entregue — aconselha.
Farei isso, é a primeira coisa lúcida que Alessa diz.
— Bom conselho, agora quero saber sobre meu pai e você.
Roman anda pisando em ovos, ele está usando Alessa e esse
relacionamento, dando um anel de noivado para ela.
Tudo isso é uma cortina de fumaça.
— Deveria se preocupar com o casamento. Seu pai anda paranoico
depois daquele ataque, gosto que Roman me leve nesses eventos da
Zimmermann, fui apresentada para muitos membros que souberam que
trabalho com etiqueta.
Uma distração apenas.
Afasto sua mão ao ficar em pé, observando o vestido, Alessa continua
falando, porém, o restante não interessa.
— Morgan, nem percebi que havia levantado! Você escutou o que eu
disse?
— Claro que ouvi, Alessa. Enquanto a mim, terminou o que tinha que
fazer? — pergunto, apontando para o vestido e maquiagem.
Pelo reflexo consigo ver Roman entrar no quarto.
— Alessa, me deixe a sós com a minha filha.
Sem questionar ela sai, encaro Roman com um sorriso divertido nos
lábios.
— Você sabe que tudo está em minhas mãos.
Ele se aproxima, consigo ver a marca que deixei em sua bochecha.
— A sua existência também, entre naquela igreja e consiga o sobrenome
Zimmermann — exige.
— Sua verdadeira filha está morta, então o fato que vou casar com
Damien não lhe dá nada.
Você é um peão no meu jogo desde o começo.
— Ninguém sabe disso e continuará assim. Você vai abrir as pernas para
ele, faça o que for preciso, o plano mudou.
— O que você fez?
Roman sorri perverso.
— Depois daquele ataque você acha que iríamos continuar da mesma
forma? Criança ingênua.
Aperto os olhos em aviso.
— Me chame de criança uma outra vez e perderá o poder de falar.
— Você não saberá nada desse novo plano, Morgan. Agora venha, está
na hora.
Ele se retira, enquanto quero quebrar esse quarto inteiro ou arrastá-lo
pelo chão até fazê-lo falar.
Fecho o punho, tentando ter controle, casar com Damien faz parte do
meu plano.
O ceifador arrasta Roman até a cela, o primeiro andar é o lugar onde ele
permanecerá até a hora da sua morte.
Quero Roman longe dos outros condenados que estão todos no segundo
andar.
Abaixo de onde estamos, Elzo também está preso.
— É só isso o que preparou para mim? — indaga.
Acerto socos em seu nariz e boca, repetidas vezes, o sangue surge
ensopando o chão. Não vou me contentar somente com isso, jogo Roman
no chão.
— Vou lhe dar a morte somente no último instante, quero arrancar todos
os seus membros do corpo.
— Tenho certeza de que você quer saber o que prometi contar —
barganha.
Olho para o ceifador.
— Saia, não quero interrupções.
Ao sair da cela, vejo Roman tentar se recompor, ele se levanta com
dificuldade.
— Por onde começo? São tantas coisas que ficaria surpreso.
— Fiz um dossiê, Roman. É melhor dizer absolutamente tudo, tenho
fotos que comprovam que você tinha um caso com a própria cunhada,
estava ao lado de Katarine, ambos no jardim, escondidos.
— Qual é a lei na Zimmermann? A verdade acima de todas as coisas,
vou lhe dizer o que fiz, Damien — assegura. — Desejei Katarine quando
meu irmão a apresentou, ela tinha o que nenhuma outra mulher possuía,
malícia e ambição. Características que também tinha, Joseph era o mais
velho, pela hierarquia precisava se casar antes.
— Finalizando, você foi responsável pelo acidente de iate onde ambos
morreram para ocultar sua traição. Não quero saber dos detalhes de como
você fodeu Katarine e destruiu o seu próprio sangue.
Roman nega, encontro algo em seus olhos.
— Jamais mataria Katarine, aquele acidente destruiu a minha vida, foi
ali onde perdi tudo. Precisei casar com uma doente na beira da morte, criar
Elzo durante todos esses anos — esbraveja.
— Foda-se! Solte o que me interessa! — exijo, apertando seu pescoço.
— Estou contando detalhe por detalhe, afinal, Katarine trouxe ao mundo
uma criança que cruelmente é a sua cópia fiel. Pagamos para o médico
responsável usar um bebê que havia morrido por problemas no coração e
dar para o meu irmão — confidencia. — Joseph enterrou um bebê qualquer
pensando ser filha dele, mas a parte mais interessante vem agora.
— O fruto da traição gerado dentro da Zimmermann, aquela bebê
precisava sumir. Então em uma noite encontrei Adam Fell na frente do
orfanato, pedi para que ninguém soubesse nada sobre aquele ser e que fosse
trancafiado naquele lugar até a maioridade.
Levo Roman até a parede, chacoalho o seu corpo e bato a sua cabeça,
várias vezes, contra a parede.
— Está mentindo! Fale a verdade, agora! — rosno.
— A minha preciosa criança cresceu e saiu daquele orfanato após matar
e colocar fogo no zelador e a diretora. Morgan tornou-se uma assassina, a
partir dali acompanhei as manchetes onde vi o potencial dela. Uma peça
perfeita para o plano onde tudo sairia perfeito, fui atrás do seu paradeiro
em Horn.
— Contratei Morgan para se infiltrar na sua vida e matá-lo, dar para Elzo
o cargo de chefe. Eu controlaria meu sobrinho, enquanto a assassina teria
uma parte do dinheiro e ela voltaria para a sua vida normal. Aquela criança
foi preparada e educada para ser outra pessoa, então eu a coloquei no seu
caminho! — Sorri triunfante.
Dou alguns passos para trás, pego o celular e ligo para o responsável dos
soldados.
— Chefe.
— Traga Morgan aqui, sem delicadeza alguma. A arrastem se
necessário, a quero aqui, agora! — exijo, finalizando a ligação.
Sempre senti algo diferente naquela vadia, um olhar letal.
A forma como se recusou a se curvar diante de mim no primeiro instante
onde nós nos conhecemos.
— Adivinhe? Ela não sabe quem são seus verdadeiros pais, use isso para
fazê-la pagar, afinal, você se envolveu com um fruto de traição, uma
assassina perigosa — zomba.
Pego a arma e atiro nos dois ombros de Roman, ele cambaleia para trás,
vejo o corpo tremer, temendo morrer agora.
— Irá contar para ela, quero os dois frente a frente.
— Damien, você se diz tão poderoso. Como pôde cair na armadilha de
Morgan? Enquanto você contava as tradições e exigências da Zimmermann,
deu tudo o que ela não sabia.
— O que mais você pediu? Quando esse plano terminaria? —
questiono.
— Oito meses eram suficientes para o plano inicial, duvidei que ela o
conquistasse tão rápido. Porém, aquele ataque da gangue foi crucial para
um novo plano onde Morgan seria morta, ela começou a gostar de brincar
de ser minha filha, se voltou contra mim. — Aponta a bochecha. — Isso foi
arte daquela criança, usando um punhal quando tentei matá-la.
Maldita!
Eu tinha o dossiê em mãos, mas não escolhi olhar. Fui enganado debaixo
do meu próprio nariz com a chegada inesperada dela.
— Vou corrigir o que deveria ter feito quando você a apresentou.
— O que Morgan lhe disse? Você sabe que tudo o que foi dito era
mentira — provoca.
— Ela não me controlou, diferente de você, eu sou um líder — rebato.
— Eu me sujei levando o seu sangue para dentro da minha casa. Assim
como fiz com a minha máfia, mas está na hora de limpar a Zimmermann.
— Sabe por que Morgan saiu do velório cedo? Lhe mandei um e-mail
com todas as manchetes que a Alemanha a citava. A assassina foi tentar
impedir a verdade de cair nas suas mãos.
— Em breve ela estará aqui diante de você, e eu vou me livrar de ambos
— asseguro, saindo da cela.
O ceifador volta para fechá-la. Aaron desce as escadas rapidamente.
— Morgan está aqui, ela matou um de nossos homens quando foi pega.
Sua esposa tinha participação com o pai? — pergunta.
— Essa vadia é uma assassina contratada para um único objetivo, a cela
que quero para ela é do outro lado, preparem o lugar.
Tento digitar uma senha no notebook, mas sem sucesso, o pacote que
Roman mandou está comigo, posso queimar e não deixar vestígios.
— Merda! — esbravejo.
O notebook vai bloquear o acesso, preciso fazer alguma coisa
imediatamente.
Ouço muitos passos no corredor, pego a arma em cima da mesa, fico de
pé posicionada quando a porta é aberta.
Reconheço os homens de Damien, mas o que ouço é repulsa e
condenação.
— Peguem a traidora!
Atiro em dois soldados tentando correr para o outro lado da sala, são
muitos, atiro mais vezes, porém, alguns desviam.
Nenhum deles ousa atirar.
A arma não tem mais munição, largo no chão e, em seguida, sou
imobilizada contra a minha vontade.
Debato-me em vão, dois homens me arrastam para fora do escritório.
— Pagará pela traição.
Traição.
Roman foi pego, aquele desgraçado foi levado por Damien essa noite. O
velório, na verdade, serviu como uma distração.
— Olhem como falam comigo! — rebato, entredentes. — Sou uma
assassina, a mais procurada desde os dezesseis anos.
Ouço conversas baixas enquanto sou levada para fora da mansão, jogada
no carro com soldados armados.
Evitando qualquer tentativa de fuga. Estou presa.
Sou puxada para fora do carro e levada por um único homem, entramos
em uma mansão, fico sem entender.
Até o momento que caminhamos para o fundo da mansão, descendo
escadas que levam até o porão, mas não qualquer um.
Há celas por todos os lados, um cheiro horrível de sangue e, ouso dizer,
morte.
Meus olhos encontram duas figuras, a primeira coisa que chama a minha
atenção é Roman com as mãos na cela onde está preso.
Coberto por sangue que desceu até sua camisa social, parando no chão
como uma goteira sem fim.
Sou empurrada para Damien, encontro seus olhos e encontro ódio, um
brilho tão perigoso que me arrepia.
— Damien.
— Cale a sua boca, não mandei que falasse nada — rebate, pegando em
meu braço.
Sou levada até a cela onde Roman está.
— Sabe por que eu sempre lhe chamo de criança? — a pergunta idiota
me faz rir.
— Não me interessa!
Ele sorri.
— Você é tão parecida com a sua mãe, minha criança. Jogou comigo,
pensando que estava ocupando um lugar de alguém quando, na verdade,
tudo era seu.
— De que merda está falando? — questiono.
— Fale sem enigmas. — A voz de Damien é aço.
— Antes de buscá-la em Horn acompanhei cada notícia que saía sobre
você, assassina. A ironia é que eu a deixei no orfanato escolhendo um
destino, e quando descobri quem você era, vi uma peça fundamental nesse
quebra-cabeça. A encontrei naquele galpão, tão arisca e perigosa,
carregando consigo o meu sangue.
Um flashback ocorre na minha mente, a foto de Roman com a mãe de
Elzo, aquela mulher que se parece comigo.
Encaro-o com repulsa, ódio.
— Você é o meu pai? O maldito que me deixou naquele orfanato a vida
toda? — esbravejo.
— Não está feliz, criança? Iremos morrer todos juntos nas mãos de
Damien — provoca, mostrando os dentes sujos de sangue.
Não consigo responder, sou arrastada novamente, Damien me leva para
o outro lado do porão.
Entro na cela à força, meu corpo é chacoalhado, várias vezes, pelo
homem que deveria ter sido o meu alvo.
Sinto o impacto da parede quando nossos rostos estão diante um do
outro.
— Vadia suja e desgraçada! Entrou na minha máfia fingindo esse tempo
todo ser alguém que não era para fazer o que aquele verme pediu — diz
com repulsa.
Palavras cobertas por ódio e nojo.
— Eu sabia de tudo desde o começo, fui trazida para fazer um trabalho.
Mas saí do plano quando vi para onde Roman estava indo, tropeçou em
seus próprios objetivos, pensei na minha sobrevivência.
— Você escolheu brincar comigo! — esbraveja.
As veias do seu pescoço saltam.
— Nem tudo foi uma mentira! Poderia ter matado você em muitos
momentos, e eu..
— Imunda, tudo o que sai da sua boca é inaudível para mim.
Dentro de mim sinto que estão arrancando meus ossos e o coração.
Porém, deixo essa sensação oculta.
Ele se afasta, fechando a cela.
Encaro-o, sentindo a raiva surgir cada vez mais, correndo pelo meu
corpo.
— Imunda? — indago, enfrentando-o. — Não foi isso que você pensava
enquanto transava comigo ou beijava meus lábios. Você caiu por conta
própria, na verdade, quis uma mulher que sabe se defender sozinha, assim
como matar em um estalar de dedos! Assuma que o terrível e poderoso
chefe da máfia alemã escolheu uma assassina.
— Suja e imunda — repete, sem quebrar o contato visual. — Você
pagará pelo que fez, eu a condeno.
Damien sobe as escadas e desaparece.
Fecho os olhos e seguro essas grades com toda a minha força. Presa
novamente não.
Durante toda a minha vida existiram celas, tentando me sufocar.
— Abra os olhos, minha criança. — A voz de Roman ecoa pelo lugar.
Encaro-o e percebo que tenho a perfeita visão de sua cela, assim como
ele, consegue me ver.
Lugares escolhidos para me torturar, a única vontade que tenho é sair
daqui e matá-lo sozinha.
— Não me chame assim! Você me jogou no orfanato porque fodeu a sua
cunhada e precisava esconder a sujeira.
— Lhe fiz um favor. Elzo foi criado para ser um membro impiedoso e
cruel, mas o resultado foi o contrário, diferente de você — explica.
— Cale a sua boca.
— Temos muito o que conversar, filha. E você não tem muito tempo, eu
sei que quer respostas que nunca obteve, assassina. Antes de falarmos o que
realmente interessa. Matei Alessa antes de pegar o jatinho, ela mencionou
seu nome, como se pudesse ajudá-la — zomba.
Meu ódio se amplia, não consegui salvá-la.
— Irá morrer, nada lhe salvará — asseguro, mordaz.
— Faça perguntas que nunca teve, criança.
— Queria saber o meu sobrenome, os nomes dos meus pais, mera
curiosidade. Não preciso de uma mãe ou um pai, sempre fui eu — reitero.
— Você é um idiota, queria usurpar o lugar do seu irmão.
— Órfã, toda criança abandonada tem o seu olhar, perdido, vazio.
Sorrio.
— Eu nunca mostro o que sinto, esse vazio que você vê é controle do
que desejo que vocês vejam. Família não significa merda nenhuma, veja
Elzo, ele se destruiu quando foi criado por um homem fracassado —
desdenho.
Desperto sua fúria.
— Não lhe dou poder para me humilhar! Estamos tão perto, iremos para
um único destino. Você manchou a Zimmermann desde que nasceu, e eu
aprecio tê-la enfiado na vida de Damien, nesse momento todos sabem do
que fizemos.
— Fiz o seu plano acontecer sozinha, agora cale essa boca. Não tenho o
mínimo interesse em ouvir nada, eu não temo o inferno ou a ninguém.
Viro-me de costas e encaro o chão sujo e empoeirado, deito-me e encaro
a parede da cela.
Não quero olhar para essas barras, elas me lembram o orfanato, tudo o
que eu detesto e amaldiçoo lembrar.
"Imunda e suja".
As coisas que Damien disse estão frescas, rondando a minha cabeça para
lembrar da forma como ele me humilhou.
Damien não me conhece, ele achava que conhecia, agora não há máscara
ou um papel que me obrigue a ser a filhinha de Roman. Tudo o que eu ouvi,
será revidado no momento mais inesperado.
Acabo me encolhendo ao sentir os pelos se arrepiarem, o chão é gelado e
duro.
Sopro as mãos, buscando afastar o frio, fecho os olhos e resolvo dormir
para estar pronta para o meu destino nesse lugar.
Sempre acho uma brecha e dessa vez não será diferente.
Tudo está escuro, não consigo levantar, mas sinto mãos prendendo o meu
corpo, tento afastá-las.
— Você é minha de novo. — Ouço o zelador.
Abro os olhos e estou no quarto do orfanato, minhas roupas são
rasgadas, esse homem asqueroso sorri.
— Diga que me quer, Morgan.
Não consigo gritar, minha garganta está fechada, forço um mísero som,
mas sem sucesso.
Arrasto-me no chão, a mão asquerosa pega a minha perna, sou arrastada
de volta para seu domínio.
— Sempre vou prender você ao meu corpo para lembrá-la de quem você
é. O seu gosto me pertence desde que roubei sua virgindade.
Arranho sua cara, uso as pernas para chutá-lo, acerto-o e, em seguida,
me levanto e corro até a porta.
Forço para abri-la.
— Não adianta correr, ninguém vai tirá-la daqui.
Sinto-o se aproximar, fecho os olhos, querendo que seja um pesadelo.
A respiração do zelador está na minha nuca subindo para a orelha.
Sou virada bruscamente e encontro o seu rosto todo queimado.
Entro na mansão dos meus pais, ainda tenho o gosto das últimas imagens
de Elzo e Roman, mortos por um tiro dado por membros e soldados.
No cemitério, seus corpos estão em uma única cova, sem lápide ou
visitas.
A ausência de um subchefe já está sendo comentada, Aaron é meu braço
direito e está conseguindo ser conselheiro e subchefe.
Não consigo me manter naquela empresa ou em outra tarefa, faz três dias
que fiquei longe daqui.
O ceifador está subindo as escadas do porão, logo vem ao meu encontro
em passos rápidos.
— Damien, pensei que não viria hoje também.
— Andei ocupado, vamos ao escritório — mando, ao sair andando.
Passo pelo extenso corredor até adentrar o escritório, o ceifador se
encarrega de fechar a porta logo depois.
Minha primeira pergunta é:
— A situação do segundo andar?
— Três estão vivos, o frio dessa madrugada matou dois de nossos
presos. Os corpos serão retirados quando autorizar e dizer o que devo fazer
com eles.
— Queime ambos.
Algo mais rápido de se fazer.
— E a Morgan? — questiono, encarando-o.
— Não precisa mais se preocupar com ela, chefe.
Estreito os olhos.
— Por quê?
— Ela está delirando e doente, não precisa matá-la, a assassina morrerá
sozinha — afirma, esboçando um sorriso cruel.
Levanto-me da cadeira e saio do escritório, o ceifador pergunta o que
está acontecendo, não respondo.
Meus passos são rápidos, desço as escadas indo até a cela onde Morgan
está, deitada em posição fetal.
— Eu... não quero, não toque... em mim. — Ouço a voz baixa dizer
coisas desconexas.
— Está vendo? Não vai precisar matá-la, mas se quiser que eu adiante o
trabalho.
— O que eu lhe falei? — rosno, ao vê-lo ficar calado. — Abra essa cela,
agora.
Sem questionar, ele faz o que mando, entro pegando-a em meus braços,
mesmo dormindo Morgan bate os dentes, um gesto inconsciente.
Subo as escadas e a levo para um dos quartos de hóspedes, a deito na
cama, afasto os cabelos do seu rosto.
Ao tocar em sua pele vejo que ela está queimando em febre.
Eu deveria matá-la, minha mão falha ao se aproximar do pescoço,
Morgan tosse se encolhendo mais.
Pego o celular ligando para Aaron.
— Damien.
— Traga o médico para a mansão dos meus pais, agora!
Desligo, deixando o aparelho de lado.
Vou até o closet e pego cobertores, cubro seu corpo e, em seguida, ligo o
aquecedor.
Sento-me ao lado, odeio não conseguir dar o sangue de Morgan para
cobrar a traição.
— Não... me toca — diz em um fio de voz.
Resolvo chamar seu nome.
— Morgan.
Ela não acorda, parece estar presa em um delírio.
Tiro algumas mechas do cabelo ruivo que grudaram novamente em seu
rosto.
As lembranças que me assombram quando deito a cabeça na porra do
travesseiro é ela, não dá para controlar.
Cada maldito segundo é a sua imagem que aparece na minha cabeça,
aproximo-me de sua face.
— Abra os olhos, Morgan — exijo.
Vejo os olhos azuis sendo abertos aos poucos, quando ela me encara há
pavor em seus olhos.
Não entendo a reação, ela sai da cama, andando devagar.
— Ingo — rosna. — O que está fazendo aqui?
Levanto-me rapidamente.
— Está delirando.
Ela dá alguns passos para trás e pega o abajur.
— Deveria estar no inferno, eu lhe matei!
— Sou seu marido — reforço. — Damien.
— Você não vai tocar em mim de novo, Ingo. Já perdi as contas de
quantas vezes fui violentada, me deixa em paz! — Aumenta a voz.
O desespero dela me paralisa.
— Não sou o Ingo, abaixo esse abajur.
Ela se nega.
Vou para cima, arranco o abajur contra a sua vontade, porém, tenho mais
força do que a assassina.
Seguro-a e, em segundos, Morgan desmaia, tiro-a do chão e a levo de
volta para a cama.
Não consigo parar de encarar seu rosto.
O que saiu de seus lábios, a dor que ouvi na voz de Morgan, queria
destruir esse homem com as próprias mãos.
Mas ele é um fantasma.
O doutor Hans se aproxima do quarto após falar com ele separadamente.
Morgan permanece dormindo, o doutor pega sua maleta pegando o
aparelho, escutando a respiração dela.
— O peito está um pouco carregado. Ela ficou exposta ao frio por
quantos dias?
— Três.
O termômetro é colocado debaixo do braço de Morgan, depois ele afere
sua pressão.
— Está com febre alta por isso o delírio que relatou para mim, senhor
Zimmermann. Trouxe um raio x móvel, preciso do aparelho para vermos
como está a situação dos pulmões, ela está tossindo bastante — analisa.
— Suspeita de pneumonia.
— Sim, tudo leva a crer. Com o raio x consigo ver a situação de sua
esposa, para assim passar os remédios necessários.
— Claro, trarei o aparelho.
Saio do quarto chamando Aaron, levamos o aparelho para o doutor. Com
a sua orientação coloco Morgan de bruços para que o exame seja feito
corretamente.
Aaron e eu saímos do quarto enquanto o doutor fecha a porta.
— Damien, Magnon ligou para falar com você.
— Assim que puder falo com ele, diga que estou resolvendo problemas
— reforço.
— Precisamos de um subchefe e da sua presença novamente. A situação
é complicada, mesmo com as mortes de Elzo e Roman, Morgan faz parte da
traição feita contra você.
Sinto a raiva queimar a garganta, encaro-o aumentando a voz.
— Já entreguei o sangue de Elzo e Roman! O sobrinho era um peão
assim como a própria Morgan, Roman era o cabeça!
— Sim, meu chefe. Mas o que fará com a assassina? Agora que os dois
parentes de Morgan estão mortos, a herança da família Muller pertence à
sua esposa, o advogado procurou saber sobre ela — explica. — Uma bola
de neve está se formando, Damien.
— Paul pode ser o nosso subchefe, trate de falar com ele e cuidar da
cerimônia de posse. Confio o lugar para um dos nossos melhores membros
— adianto. — Agora saia, estou ocupado, não vou deixar Morgan sozinha.
No estado em que ela está, deixá-la sozinha é um perigo.
Ouço a porta abrir, o doutor Hans me chama e mostra o notebook com as
imagens do aparelho.
— Ela está com pneumonia, mas em um estado inicial. Vou passar
antibióticos, sua esposa precisa de descanso, fazer o tratamento
corretamente. Evite que ela pegue alguma corrente de ar, recomendo banhos
mornos, comece por esse anti-inflamatório para abaixar a febre. Qualquer
piora ligue para mim imediatamente, senhor Zimmermann.
Agradeço e faço o pagamento.
Com a receita em mãos, peço para um soldado comprar tudo que foi
prescrito por Hans.
Aaron foi embora, pedi para que me trouxesse roupas novas. Estou há
três horas sem notícias sobre ela, as enfermeiras não sabem de
absolutamente nada.
Abro a garrafa de água e tomo um gole grande, pego o celular e vejo
uma mensagem de Paul.
Você deve estar presente no conselho.
Vou adiar para quando Morgan estiver estável, deixá-la aqui sem a
minha presença é arriscado.
— Senhor Zimmermann.
Levando-me rapidamente ao ver o doutor, sua família está presente
servindo minha família há muito tempo.
— Como ela está? Ninguém me dá uma informação concreta há três
horas!
— Imagino a preocupação e a ansiedade por notícias, sua esposa teve
uma parada cardíaca, conseguimos ter sucesso em reverter. Os dois tiros
perfuraram lugares diferentes, o primeiro atingiu a omoplata, o mais
perigoso foi no abdômen.
Morgan entrou na minha frente, evitando que os tiros fossem certeiros
em meu peito.
Minha esposa foi uma distração para o atirador.
— Fizemos a remoção da bala, paramos a hemorragia em ambos os
lugares. Após o pós-cirúrgico induzimos Morgan ao coma, ela foi entubada
devido ao estado grave como chegou aqui.
— Quanto tempo? — questiono de imediato.
— É difícil dizer ao certo, Damien. Tudo vai depender de como sua
esposa vai reagir aos sedativos, a recuperação do corpo.
— Quero vê-la agora.
— Poderá ficar dois minutos apenas, siga-me.
O doutor fala com a enfermeira, é passado a orientação de colocar a
roupa fornecida pelo hospital.
A porta da UTI é aberta pela enfermeira, a acompanho até o leito onde
Morgan está, ouço os passos da funcionária quando ela se retira.
Seguro a sua mão enquanto mantenho os olhos em sua face pálida, os
cabelos ruivos a destacam.
Sinto a revolta toma conta de mim ao vê-la entubada.
— Vou vingar você, mein fuchs — asseguro baixo.
Entre a Zimmermann e você, eu a escolhi.
Em dez dias tiraram os sedativos, mas Morgan não reagiu, decidiram
continuar com a sedação por mais um tempo devido ao fato de ela ter
contraído uma pneumonia.
Mais dias se passaram e o silêncio é aterrador, passo todas as noites no
hospital, tenho que estar em reuniões e compromissos.
Após um mês completo de dias vazios, o primeiro dia do mês é o
conselho onde serão julgados a família Scherer pela participação de Cléver
e o soldado Fagner.
Minha chegada é silenciosa no recinto da mansão onde Morgan levou os
tiros, três figuras que representam o conselho, famílias que honram a
Alemanha.
Aaron e Paul estão logo atrás de mim, somos os pilares da Zimmermann,
chefe, subchefe e conselheiro.
— Quero reforçar a importância da presença de todos — aviso.
A figura mais velha assente antes de cumprimentar todos nós.
— Agora como o nosso líder e seus membros estão presentes, podemos
pedir para trazerem os dois acusados de atentar contra o chefe da máfia
Zimmermann.
Sento-me no sofá e vejo as duas figuras serem trazidas com marcas de
tortura e agressões durante a estadia nas celas.
Cléver levanta a cabeça, olhando para cada rosto dos convidados, os
olhos pousam sobre mim.
Vejo receio misturado arrogância em sua face.
— Cléver Scherer, a sua participação em um ato contra a maior potência,
uma figura que devemos servir, prejudica sua família. Os Scherer estão
conosco há muito tempo, estavam perto da Zimmermann assim como os
Muller, e ocorre o inusitado atentado contra Damien — pontua a segunda
figura.
O terceiro se levanta, recebendo toda atenção.
— O que pretendia com essa visita? Como surgiu a ideia na sua cabeça?
— indaga.
— No primeiro momento, quis vir fazer o que todos nós, da
Zimmermann, desejávamos, matar a assassina. Damien a protege, ela é a
responsável por tudo isso ter acontecido!
A declaração do verme acende a curiosidade do conselho e a minha fúria
por mencionar sobre Morgan.
— Não mude o assunto, use sua língua para dizer absolutamente tudo
para nós — exijo. — Você queria me matar, o líder dessa máfia!
— Você não quis que eu fizesse o trabalho, então julguei que seria o
melhor matar ela e você quando aquela vagabunda parou na frente de nosso
líder.
Sou segurado por Paul, estou a um triz de levantar e terminar com tudo
isso exatamente agora.
— Fagner, um soldado com uma participação no plano de Cléber. Por
que entrou na mansão disposto a matar Damien? — pergunta a terceira
figura para o soldado que se mantém olhando no chão.
— O senhor Scherer disse que mataria minha esposa grávida caso não o
ajudasse. Ele conseguiu essa informação e usou para que eu realizasse o
plano.
— Olhe para mim — mando, esperando ver a face do homem.
Não encontro mentira, apenas vergonha e desespero no olhar perdido do
soldado.
— Damien, reconsidere.
Viro o pescoço, encontrando o rosto da senhora Scherer, uma mãe tendo
o privilégio de ver o filho sendo condenado.
— Meu filho só agiu pensando em sua decisão em manter viva a
impostora com quem se casou.
Ouço conversas paralelas, faço um sinal com a mão. O silêncio surge
imediatamente.
— Enquanto estamos aqui escolhendo a sentença para uma traição
direta, minha esposa está há um mês em coma. Morgan entregou a alma
para proteger o nosso líder, ela pagou sua dívida com sangue! — reitero.
— Esse conselho não é para a assassina — alerta a primeira figura. —
Dois membros da Zimmermann cometeram o mesmo erro que Elzo e
Roman Muller, só há uma alternativa para vocês dois.
— Escolhemos a morte direta — conclui o segundo. — Com a
permissão de nosso líder.
Levanto-me e pego a minha arma, não dou minha palavra, entrego cinco
tiros na cabeça de Cléver.
Os gritos de sua mãe ecoam pelo local, o barulho do corpo no chão
notifica minha decisão.
— Eu nasci para ser o líder de todos vocês! Estou há anos na frente da
Zimmermann, o sangue que foi derramado por cada um dos meus para nos
colocar sempre no topo. Aquele que pretende ir contra as regras está traindo
a autoridade maior nessa máfia — reforço, olhando para todos. — Sou eu
quem decide quem deve morrer ou viver, vocês são parte do meu controle.
Sirvam ao chefe, honrem o meu nome ou experimentem a fúria.
O choro de uma única mulher é a resposta, todos os outros se curvam ao
discurso.
Viro as costas, deixando o soldado para ser morto pelo ceifador.
Saio da mansão e volto para o meu carro, faço o mesmo trajeto pelas
ruas de Hamburgo até o hospital.
O processo é o mesmo: trocar de roupa, seguir com a enfermeira ou o
próprio doutor responsável por acompanhar o quadro de Morgan.
Adentro na UTI acostumado com os barulhos das máquinas, Morgan
está da mesma forma que há um mês, mas toda vez eu a chamo.
Imploro para que abra os olhos.
Abaixo o rosto, deixando os lábios em sua testa, minha mão encontra a
sua, aperto uma, duas vezes.
— Já perdi a conta de quantas vezes estou aqui. Eu não gosto de estar
acostumado com esse ritual, não aceito que passe as próximas horas ou anos
dormindo. Abra os olhos, imploro, abra seus olhos, eu a escolhi, assassina.
Afasto o rosto, deixando uma lágrima grossa escorrer e a vejo cair na
bochecha de Morgan.
O silêncio é mortal e traiçoeiro, me recuso a deixá-lo permanecer.
— Morgan.
Aproximo a boca da pele da sua bochecha, há uma nova lágrima
teimando em descer.
— Abra os olhos, liebe. Ich vergebe dir[12].
Aproximo os lábios aos seus por um mero segundo.
— Senhor Zimmermann, o tempo acabou — avisa a enfermeira.
Aperto a mão de Morgan novamente, por quanto tempo mais terei que
permanecer nessa tortura?
— Espere — aviso.
Eu não quero sair, não quero deixá-la.
— Morgan — chamo por ela uma última vez.
As pálpebras se mexem, estou preso nesse lugar, ouço a enfermeira
chamar meu nome novamente.
Tudo ao meu redor para quando os olhos azuis lentamente se abrem.
Seus olhos olham ao redor, decerto tentando entender onde está, vejo a
confusão em sua expressão.
Morgan abre a boca, mas não consegue dizer nada.
Ouço os passos do médico acompanhado pela enfermeira até o leito onde
estamos.
— Acho que ela está tentando falar — aviso.
— Morgan, tenha calma. Você poderá falar em poucas horas, como você
esteve entubada vai encontrar uma pequena dificuldade de falar — explica,
aproximando-se dela. — Consegue mexer a mão?
Ela levanta com uma certa lentidão.
— Você ficou durante um mês em coma, seu corpo despertou agora é
normal ter essa resposta mais lenta. Senhor Zimmermann, ela deverá ficar
uma semana no hospital, acredito que a fisioterapia irá ajudá-la a recuperar
o controle do corpo — explica.
— Certo, já posso colocá-la em um quarto separado?
— Sim, vamos fazer a transferência de sua esposa após alguns exames
para vermos como ela está. Peço que aguarde na sala de espera enquanto
isso, assim que finalizar os exames iremos transferir Morgan para um
quarto privativo.
Desvio o olhar para Morgan, encaro os olhos azuis tendo a confirmação
de que ela acordou, não é um sonho.
Deixo a ala da UTI ainda sentindo o toque de sua mão na minha, procuro
o nome de Aaron nos contatos.
Quase a perdi, não estou disposto a cometer o mesmo erro uma segunda
vez.
Ninguém irá tirá-la de mim, nem mesmo a morte.
— Damien.
— Aaron, Morgan acaba de acordar. Quero que pegue algumas coisas
dela na mansão, além de avisar Paul sobre as minhas ordens. Morgan é
intocável para todos, ela é a minha esposa e continuará sendo — reitero.
— Sim, irei passar suas ordens agora mesmo. Não vou sugerir um outro
caminho, sei o quanto você a quer, aceito a assassina como sua esposa.
— Ótimo, estou lhe esperando.
Morgan
Acomodo a cabeça no travesseiro, estou sentada, fui transferida para um
quarto e estou esperando por Damien.
Estou ainda confusa com o fato de que já se passou um mês enquanto
estive inconsciente.
Ainda está fresco na minha cabeça as vozes altas, desci as escadas,
prevendo o que poderia acontecer.
Só pensei em ficar na frente e proteger Damien da morte, senti que
poderia perder a única coisa que me interessava.
Desvio a atenção para a porta sendo aberta por meu marido, parece que
Damien não dorme há muito tempo.
Ele se aproxima e pega em na minha mão, aperto lhe dando um sinal de
que estou bem.
— Da.. Damien. — Forço a garganta, pois quero falar.
A voz sai um pouco rouca e baixa.
— Não force a garganta, mein fuchs — pede, próximo ao meu rosto.
Quero fazer perguntas, o que eu perdi durante esse tempo? Consigo
enxergar uma lágrima no canto do olho direito. Damien chorou por minha
causa?
Fico curiosa e surpresa por vê-lo assim.
— Com licença. — A voz da enfermeira nos interrompe.
Ela traz uma bandeja com comida e suco.
— O doutor pediu para trazer sua refeição.
Damien pega a bandeja, trazendo para a cama, forço a mão para pegar a
colher.
— Já teve emoções demais por hoje, precisa comer, deixe que eu faço
isso.
Ele pega a colher e o prato, trazendo até a minha boca, aceito o seu
conselho, abro a boca e mastigo a comida devagar.
Enquanto como a comida, não consigo tirar os olhos de cima dele.
— Você... vai dormir aqui? — pergunto, interessada.
— Dormi no hospital durante todo esse tempo. Vou responder às suas
perguntas, não force a voz hoje, Morgan.
Quero saber o que você decidiu, vai me entregar nas mãos da sua máfia?
Qual foi a decisão que tomaram enquanto estava dormindo? Necessito ter
respostas.
Uma batida à porta e o doutor entra, pedindo licença para nós, ele se
aproxima e vê que o meu prato que já está quase vazio.
— Vejo que está se alimentando muito bem, é importante ter nutrientes
em seu corpo. Não deve pular as refeições.
— A fisioterapia quando começa, doutor? Minha esposa é impaciente
para esperar muito tempo.
Ainda bem que ele sabe bem disso.
— Amanhã mesmo a fisioterapeuta virá auxiliar em exercícios diários.
Vamos acompanhar essa semana como Morgan vai reagir, se tudo ocorrer
bem ela terá alta após uma semana — notifica, sorrindo. — Inclusive,
trouxe algo para que pratique o tato, o movimento dos braços.
O médico tira duas bolas azuis do bolso, deixando-as na mesa.
— Obrigado — meu marido o agradece.
Vejo o médico se retirar, fechando a porta logo em seguida.
Acompanho Morgan utilizar a bola, apertando-a para treinar o tato como
o doutor sugeriu.
Minha esposa não vai descansar enquanto não conseguir falar e
recuperar a rapidez dos movimentos do corpo.
Uma batida à porta e eu vou abrir, Aaron trouxe uma mala com as
roupas de Morgan, atrás dele vejo Sofie, a esposa do subchefe da
Zimmermann.
— Sofie quis ver a Morgan, aproveitei para virmos juntos.
— Entrem — autorizo.
— Damien — cumprimenta Sofie rapidamente, ela vai até Morgan.
Desvio a atenção para Aaron.
— Trouxe tudo o que pedi?
— Tudo, mas tenho notícias que não posso adiar. O conselho quer uma
data para levar Morgan ao julgamento pela traição.
— Assim que ela ganhar alta do hospital, vão precisar esperar uma
semana, e se reclamar adio ainda mais — corto.
— A prioridade é a saúde dela, o conselho vai ser notificado da sua
vontade. Bom, a outra notícia é da movimentação de nosso inimigo, um dos
contêineres de cocaína foi roubado no trajeto até Hamburgo.
Porra!
— Paul está no controle, mande ele dar uma resposta. Assim que sair
desse lugar com Morgan, a Zimmermann passará por modificações —
asseguro.
Vejo Sofie sentar na poltrona, ficando ao lado de Morgan.
— Sei que deve estar confusa comigo aqui. Mas Paul é o novo subchefe
da Zimmermann, então viemos morar em Hamburgo.
— Como ela está? — pergunta Aaron.
— A fisioterapia irá ajudá-la a recuperar os movimentos do corpo.
Enquanto a voz, o médico disse que em poucas horas estará falando
normalmente.
— Posso ficar com Morgan se quiser.
— Não pretendo sair do hospital essa semana, a recuperação dela é
importante. Paul e você devem cuidar dos assuntos, em poucos dias
estaremos em casa.
Não vou deixá-la sozinha.
Olho o relógio e vejo que já são meia-noite, Morgan não dormiu ainda,
parece que não está com sono.
Pego em sua mão ganhando a atenção dela.
— Durma.
— Não.. quero — diz sem expressar cansaço.
Levanto-me da poltrona, sentindo minhas costas desconfortáveis.
— Dorme aqui.
Aponta a cama onde ela está, há um pequeno espaço onde consigo
dormir tranquilamente.
— Vai ficar desconfortável.
— Damien — insiste.
Deito-me ao seu lado, observo os traços do rosto dela durante longos
segundos, comprovando que ela está realmente acordada.
— O que foi? — pergunta.
Vejo diversão em seus olhos.
— Você não consegue parar de me encarar.
Diversas vezes olhava sua face buscando um mero movimento,
indicando que Morgan iria acordar.
— Quero que descanse, você precisa.
— Durma comigo — convida.
Afasto seus cabelos para longe do rosto, desço os dedos pela pele da
bochecha dela.
Passo pelos lábios demoradamente, almejo que os dias passem rápido.
Quero levá-la daqui, assassina. O lugar que dei para você não pertence a
ninguém mais.
Demoro a reconhecer o trajeto, mas sou surpreendida quando vejo a
mansão, o lugar onde voltei tempos atrás para tentar impedir que Damien
soubesse a verdade.
Ele estaciona o carro, os soldados fazem uma reverência quando saímos
do carro.
Adentro na minha casa, indo até a sala principal, é ótimo não ver mais
aquele hospital ou pessoas entrando no quarto a todo momento.
Finalmente, estou nesse lugar podendo ser quem eu realmente sou.
— Nenhuma cela dessa vez? — pergunto, encarando-o.
— Sem celas, você não ouviu o que eu lhe disse diversas vezes naquele
hospital? Escolhi você, e não a Zimmermann, ninguém irá machucá-la —
reitera.
Eu lembro de ter escutado uma coisa, duvidei se era apenas o meu
cérebro pregando uma peça. Mas era a voz dele.
— Minha cabeça ainda está bem confusa.
Não lhe conto uma mentira, tudo parece ter sido ontem.
É difícil acreditar que passei um mês dormindo, inconsciente.
— Quero saber sobre duas coisas, e não quero que enrole mais sobre o
assunto — insisto.
— Onde quer conversar, no quarto ou aqui? Não vou esconder nada de
você, e eu exijo o mesmo, Morgan.
— Certo, podemos conversar no quarto.
Senti falta daquele cômodo, quero tirar essas roupas, esses saltos
também.
— Troque de roupa, preciso ir ao escritório, mas já irei ao seu encontro.
Viro as costas, sentindo algo diferente no peito, a ideia de estar com
Damien depois de tanto tempo está mexendo comigo.
Não consigo descrever exatamente.
Subo as escadas indo até o quarto, tenho dúvidas se minhas coisas estão
aqui ou foram tiradas. Mas encontro tudo do jeito que deixei.
Antes de qualquer coisa troco de roupa, visto apenas o robe preto de seda
para cobrir minha nudez.
É libertador não precisar de muitas roupas, o inverno finalmente
terminou.
Ao amarrar o laço da peça em frente ao espelho um objeto chama a
atenção dos meus olhos.
Viro-me de imediato e caminho até a penteadeira, o meu punhal foi
colocado aqui.
Pego, sentindo falta de estar com ele.
Ouço passos no quarto.
— Sei que prefere esse punhal do que qualquer outra arma.
— Por que o deixou aqui? — pergunto, encontrando seu olhar.
— Não quero ver você fingindo alguém que não é. Quero ver você como
Roman viu em Horn, eu quero a assassina, somente ela.
— Quero saber qual é a minha situação na sua máfia? Perdi bastante
coisa, então imagino que tenham uma sentença — mudo o assunto.
Posso confiar nas palavras que saem da sua boca? Ele é um líder, eu o
traí e Damien tem motivos de sobra para brincar comigo.
— A levarei amanhã para o conselho, precisam julgar o seu caso. Mas a
morte não é mais uma opção, você se pôs na minha frente, deu a sua vida.
— Qual será a opção, então? Quero respostas, Damien.
Ele dá um passo na minha direção.
— Ninguém irá machucá-la, a minha lei é a voz de todos os membros da
Zimmermann. O conselho serve principalmente a mim, posso mudar as
regras, Morgan — assegura.
— E o acordo que você me deve? Acredito que já sabe o que quer —
sondo.
— Tem razão, mas você já ouviu o que eu quero. Você é minha esposa,
não irei deixá-la ir embora, o lugar que lhe dei, é seu.
— Posso confiar em você? Enquanto ao fato de que não sou aquela
mulher que conheceu? Você não me conhece, Damien — alerto. — Não vou
deixar de ser a assassina, jamais.
— Irá continuar sendo a assassina, porém, vai trabalhar comigo, não será
igual à sua antiga vida. Mas você sabia que ao se infiltrar na máfia, perderia
a liberdade de agir sozinha, nas sombras.
Damien termina com a distância entre nós dois.
— Vou repetir o que disse enquanto você dormia.
Coloco o punhal sobre a mesa, ele tem a minha atenção por inteiro.
Espero por suas palavras.
— Abra os olhos, imploro para que abra os seus olhos, eu lhe escolhi,
assassina — declara, encarando meus olhos.
— Entre a Zimmermann e eu, essa é a sua resposta?
Ninguém jamais pensou em me escolher. Preciso ouvir de novo, meu
cérebro pede novamente para escutar essas palavras.
Ele se aproxima, beijando o canto da minha boca.
— Du, mein attentäter[13].
Encontro seus lábios, buscando desesperadamente sentir a sua boca
contra a minha.
Sou levantada do chão, Damien deita meu corpo na cama ficando por
cima, agarro seus ombros, aprofundando o beijo.
Quero suas carícias, os beijos. Damien é meu. Afasto a boca da sua,
ambos ofegantes.
Minhas mãos descem para sua camisa, abro os botões imediatamente,
meu marido tira a camisa expondo seus músculos.
— Quero você sem roupa — exijo.
— Tire o meu cinto. — A exigência arrepia meu corpo por inteiro.
Puxo o cinto, meu marido se afasta, indo tirar as calças, assisto-o fazer
tudo devagar.
Ele está nu vindo na minha direção, sobe na cama, a sua boca desce para
o meu pescoço, um beijo, dois e logo o terceiro.
Puxo o laço do robe, revelando a minha nudez, Damien abre a peça e
captura um seio.
Fecho os olhos, deixando a carícia me enlouquecer.
Retiro a peça, ficando exposta para o chefe da máfia, Damien passa os
lábios pela minha pele, mordendo o bico rígido.
Paro o veículo e espero por Fech, olho o celular e vejo que ele está há
dois minutos atrasado.
Respiro fundo, batendo as unhas no volante, será uma surpresa para Fech
saber que estou casada.
Desvio a atenção para o anel, tiro-o e o deixo no banco do passageiro.
Ouço o barulho de um carro se aproximando, forço a visão,
reconhecendo a Lamborghini preta. As luzes iluminam a estrada deserta,
um lugar perigoso para estar.
Apenas quando o gangster sai do veículo, faço o mesmo, andando até o
seu encontro.
Um homem negro musculoso, apenas dois anos mais velho do que eu,
rodeado de mulheres inflando seu ego.
Os olhos sorrateiros descem para o vestido propositalmente escolhido
para essa noite.
— Senti saudades de nossos negócios, assassina.
— Não vim para sexo, Fech. Tenho um favor que pode lhe dar bastante
lucro, acredite.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Sempre direta, o que tem para mim hoje? — sonda, interessado.
— Dois soldados da máfia polonesa estão em Horn, tenho informações
de que estão frequentando a boate. A questão é que eles roubaram um
contêiner da Zimmermann.
— Como que sabe de tudo isso? Está trabalhando para a máfia? — Seu
tom muda.
O medo paira sobre os olhos escuros.
— Estou sozinha agora, investigue o carro se necessário, mas não estou
trabalhando para a máfia, voltei para Horn, casada. Damien Zimmermann é
meu marido, se você me ajudar nessa armadilha contra os inimigos, será
bem recompensado. E não se esqueça do favor que me deve, estou
cobrando agora — explico.
— Por isso seu rastro desapareceu completamente, soube que uma
gangue de Hamburgo estava atrás de você, mas somente informações vazias
— comenta ao se aproximar. — Seu favor pode custar caro, tem um plano?
— Iremos para a boate, serei sua nova vadia. Você estará na boate como
de costume, chegará nos soldados poloneses para negociar uma venda de
drogas. Enquanto estiver propondo o negócio, vou ao encontro de vocês,
sentar no seu colo, ser apresentada e atrair o chefe dos soldados para o
corredor dos fundos.
— Uma das minhas garotas pode entreter o outro soldado com
facilidade, enquanto está com o patrão dele.
— Damien e o subchefe invadirão a boate para pegá-lo e levar até onde
eu vou executar o alvo principal.
— Não sabia que transar com você custaria a minha própria cabeça.
Como chegou até Damien? Seu marido é intocável, a Zimmermann é a lei
na Alemanha — pergunta, curioso. — Espero que ele não me coloque
como alvo por estar respirando ao seu lado.
Sorrio.
— Ele sabe o porquê você foi salvo naquela noite, bom, tenho que ir me
arrumar antes de encontrar você na boate — aviso.
— É bom vê-la em Horn, Morgan.
— Ficarei por algum tempo.
Afinal, Damien tem planos para mim, os quais estou extremamente
curiosa para saber.
Acompanho a localização do carro, ele acaba de chegar ao hotel, detesto
não ter o poder de interferir nesse plano.
Fech já esteve com Morgan, quero apagar as memórias que ela teve com
esse sujeito.
Deixá-la sozinha nesse encontro aumenta minha irritação. Não demoro a
ouvir passos e a porta sendo aberta por ela.
— Voltei.
Viro ao ouvir sua voz, mein fuchs joga a chave na cama, enquanto vai
até a mala e a abre, retirando a peruca de cabelos escuros.
— Explicou o plano para ele? — pergunto, indo atrás dela.
— Tudo, Fech honrará a palavra, ele não deve ninguém. O conheço há
bastante tempo, então não há problema — assegura.
Morgan vai até a penteadeira, ela consegue ver meu reflexo, prende os
cabelos ruivos, colocando a peruca no lugar.
— Pega as sobrancelhas, estão na mala, em um saco transparente.
Faço o que ela pede, entrego os acessórios, mas não me afasto dessa vez.
Qualquer um que a olhar não vai pensar que está usando um disfarce, a
assassina se camufla com facilidade.
— Vai dizer os seus planos que eu ainda não sei? — sonda, ajeitando as
sobrancelhas.
— Depois dessa noite.
Morgan se vira, encontrando o meu olhar.
— Ainda com esse jogo? — indaga, impaciente.
— Se concentre no objetivo — alerto.
Ela ri.
— Seduzir um homem é brincadeira de criança.
Pego em sua nuca e a puxo para mim, o ato causa uma certa surpresa,
mas logo ela está enfrentando meus olhos.
— Não o beije.
É uma ordem.
— Por quê? — desafia.
— Os seus lábios são meus.
Reitero antes de beijá-la, puxo os fios ruivos, Morgan vai até os botões
da camisa social.
O celular toca, atrapalhando o momento, atendo Paul, a vendo se afastar.
— Tudo pronto para que Morgan vá ao encontro dos sujeitos. Vamos
sair meia hora depois, tempo suficiente para que ela consiga agir.
— Ótimo, Morgan já está pronta, nos encontre no corredor.
Desligo o celular.
— Está na hora — aviso.
Ela sai do banheiro, vindo ao meu encontro com um batom vermelho em
seus lábios.
Estou saindo do quarto após tomar banho e sentir a barriga roncar. Sofie
me chamou para conversar, certamente dizer sobre a gravidez.
Vou aproveitar esse momento para compartilhar se ela sabe alguma coisa
do motivo de Damien, querendo saber tudo sobre o que já vivi.
Paul e meu marido ficaram no quarto em contato com Aaron para passar
as informações da tentativa tola da máfia polonesa em tentar derrubar a
Zimmermann.
Os soldados nos acompanham até o restaurante do hotel, ficando a uma
boa distância da mesa, pelo menos um pouco de privacidade é consentido.
— Por que demorou para ver a mensagem? — pergunta ao se sentar.
— Estava ocupada, se você veio falar da gravidez perdeu seu tempo.
Paul já contou ontem no elevador, parece que contar para Damien é uma
regra.
Ela revira os olhos.
— Como você é bruta. Queria compartilhar, não sabia que Paul tinha lhe
falado, passei mal essa noite — relata, bocejando.
— Você escolheu engravidar, os sintomas são uma amostra do que está
por vir — provoco-a.
Sofie ri.
— E você não pensa que Damien vai lhe pedir um filho?
Pego a faca da mesa e aponto para ela.
— Não repita isso — ameaço.
— A Zimmermann exige um herdeiro de sangue — explica.
— Não dou ouvidos para essa máfia, se dependesse deles estaria em uma
cova funda ao lado de Roman e Elzo — reitero, jogando a faca na mesa.
Não sigo esses alemães, faço as minhas próprias regras.
— Vamos mudar de assunto, Morgan.
— Ótimo, sabe alguma coisa sobre o motivo de Damien me fazer
perguntas idiotas do meu passado? Ele não tem um dossiê? O filho da puta
quer saber sobre o orfanato.
— Acho que ele quer que você fale sobre isso, que confie nele —
sugere.
— Isso é ridículo, péssima ideia perguntar pra você.
— Paul sabe que eu vim do orfanato e o que passei lá, na Zimmermann
as mulheres confidenciam tudo aos companheiros, não existem segredos.
Detesto essas regras idiotas.
O canalha pode ainda desconfiar de mim e, por isso, quer saber tudo
como uma demonstração de confiança.
Vou mostrar um lugar para ele e arrancar a verdade daqueles lábios por
bem ou por mal.
— O que está tramando?
Sorrio ao ver a curiosidade dela.
— Cortar seus dedos, vamos pedir logo, tenho que ir até um certo lugar.
Encontro Morgan terminando de tomar café com Sofie, a esposa de Paul
conversa animadamente, enquanto a assassina finge escutar.
Aproximo-me da mesa, ganhando a atenção de Sofie.
— Damien, sente-se. Paul deve estar ajeitando as malas para partirmos
— diz, ao se levantar.
— Ele está lhe esperando — aviso, sentando-me no lugar dela.
Sofie se retira, um garçom se aproxima a fim de retirar o prato e a xícara
da mesa.
— Deseja algo, senhor?
— Um café.
Quando estamos sozinhos observo os olhos azuis que agora estão
focados em mim.
— Quero a chave do carro.
— Para onde pensa que vai? — sondo.
Nossa noite foi marcada pela briga onde ela se recusa a confidenciar
tudo sobre o passado.
— Levar você em um lugar de uma vez por todas — responde, irritadiça.
— Pensei que ficaria mais calma depois de acordar em cima de mim —
provoco-a.
Vejo a fúria em seus olhos, gosto de ver a face irritada.
— É melhor não me provocar se quiser ficar com o seu brinquedinho.
— Para onde vamos, liebe?
— Só vai saber quando chegar lá.
Pego a chave do carro e a entrego em suas mãos, o simples contato causa
uma corrente elétrica.
O garçom se aproxima, trazendo o meu pedido, enquanto a observo
meticulosamente.
Temos muito o que conversar, o coma a deixou ausente em muitas
questões.
Estaciono o carro a uma pequena distância do galpão onde fui
encontrada por Roman.
Damien desce do carro, observando o lugar, ele se aproxima, estou logo
atrás.
— Está abandonado há muito tempo, tem uma porta nos fundos — aviso.
Caminho ao redor a fim de encontrar a porta velha de madeira, empurro
e encontro tudo conforme eu deixei.
Algumas roupas estão jogadas em lugares diferentes, parece que foi
ontem que saí naquela noite.
Meu marido pega minha antiga escova de cabelo, há alguns fios ruivos
intactos.
— Roman a encontrou aqui.
— Sim, procure mais coisas e verá que tudo está como eu deixei. —
Aponto para algumas peças íntimas em uma pequena sacola.
Aproximo-me da pequena cama e vejo os panos bagunçados.
— Suas perguntas idiotas são para quê? Ainda desconfia de mim? —
pergunto, encarando-o. — Quer uma prova?
— Você me deve respostas, lembre-se de que fingiu ser alguém que não
era — rebate, ao se aproximar.
— Aquele orfanato era o próprio inferno, desde pequena fui agredida,
era obrigada a fazer tudo o que a vadia da madame Heidi queria. Todos
tinham que fazer o que ela quisesse, nunca fui uma criança boa, então
sempre acaba apanhando ou não tinha refeições — relato. — Como se não
bastasse estar presa, o zelador era um abusador, fui estuprada pela primeira
vez aos quinze anos. Heidi permitia que ele me fodesse, criava situações,
todo dia era a mesma coisa.
Sinto tanto ódio por tocar nesse assunto, alimentar os fantasmas daquele
lugar ao mencionar seus nomes.
— Matou ambos queimados — conclui.
— Já estavam mortos. Consegui a minha liberdade e fui para as ruas,
decidi que faria qualquer coisa pela minha sobrevivência.
E foi o que eu fiz.
— Não posso tocar nos mortos, mas posso investigar para saber se
deixaram parentes.
Encaro-o surpresa.
— Eu quero que faça isso — afirmo.
— Lhe prometi e darei quantas almas quiser — reitera. — Mas antes
preciso dizer sobre os transmites da herança de Roman.
— E a esposa de Elzo? Você falou com o advogado?
— A parte de Elzo já foi entregue para ela. Enquanto estava em coma
pedi ao advogado um tempo de espera, marquei um almoço em Horn.
— Só preciso assinar os papéis?
— Você é a única herdeira, tudo o que o traidor tinha, agora é seu.
Damien se senta na cama, os olhos continuam fixos nos meus.
— Quando vamos voltar para Hamburgo? — pergunto, ao me aproximar
dele.
— Assim que anoitecer, todos os meus assuntos já estão resolvidos.
— Ainda estou irritada com você, então ainda tem um assunto inacabado
— reforço, deitando-o na cama.
Sento-me na sua barriga, minhas mãos vão para o pescoço
Procuro por um vestígio de desconfiança, mas não há nada nos olhos
avelã.
— Quando voltarmos para Hamburgo todos vão saber que matou os
inimigos — diz, subindo a mão pela minha cintura.
Damien captura meus cabelos.
— Não recebi nenhuma recompensa pelo meu trabalho. O que você pode
me dar? Lhe dei uma amostra do quão boa sou no que faço.
— Escolha o que quiser.
— Qualquer coisa? Está jogando comigo — sondo.
Minhas mãos sobem até o seu rosto, seguro, mantendo a atenção dos
seus olhos em mim.
— O que você quiser eu lhe dou.
— Quero o seu passado — digo, beijando seus lábios. — Como se
tornou o chefe, sempre foi conhecido como intocável, ninguém chega até
você facilmente.
Damien morde o meu lábio inferior.
— Em casa lhe contarei.
Casa, é tão estranho ter uma.
Levanto-me, saindo de cima dele, o filho da puta segura a minha bunda
com força.
— Irei tirar sua raiva, liebe.
— Estou fazendo o que você mais gosta, jogando — provoco.
Saio a passos largos, sabendo que seus olhos estão acompanhando tudo.
Eu quero brincar com o diabo.
A volta para Hamburgo foi rápida, tomei um remédio para dormir, não
gosto de voar.
Antes de voltarmos, fomos ao encontro do advogado e assinei os papéis
necessários.
Saí de Horn levando toda a herança milionária de Roman, o desgraçado
queria me dar somente uma parte no acordo. Mas acabou sem nada.
Assim que chegamos, fui tomar um banho e trocar de roupa.
Damien está tomando café quando desço as escadas usando um biquíni,
seus olhos acompanham meus passos até a mesa.
— Vou para a piscina, já está de saída?
— Tenho reuniões essa manhã, enquanto vai aproveitar o sol — provoca.
— Depois de um trabalho perfeito devo ganhar uma folga. O lazer não
está liberado, chefe? Trabalho para você como assassina e não secretária.
Um sorriso presunçoso surge em seus lábios. Damien se levanta,
ajeitando o paletó.
— Posso pedir para matar outras coisas, minha raposa — diz, pegando
uma mecha do meu cabelo. — Não costumo dar folga aos meus
funcionários, mas acredito que serei compensado pelo privilégio.
Semicerro os olhos, ele sabe jogar e manter domínio em um jogador.
— Talvez, se for da minha vontade.
Dou as costas, ainda escutando seu comentário.
— Está tornando o jogo mais interessante, tome cuidado, posso prender
a nós dois sem ter a intenção de soltar.
É exatamente o que eu quero.
— Acho que temos mais em comum do que pensamos — digo em
despedida.
Subo as escadas da mansão com os saltos nas mãos, não suportava mais
ficar naquele lugar.
Assim que entro no quarto, jogo o acessório longe, me aproximo da
mesa e pego o uísque, encho um copo, pois preciso de uma bebida.
Vou até a varanda, observando a noite engolir a luz.
— Demorou — reclamo ao ouvir seus passos.
— Alguém está esperando ansiosa pelo meu passado.
— Você me deve, já sabe o meu. Não deixo dívidas, então ou você
paga...
— Quero morrer — diz, próximo à minha orelha. — De preferência com
você por cima de mim.
Damien beija meu pescoço antes de se afastar, o observo beber uísque
enquanto encara a imensidão da noite.
— Tinha nove anos quando meus pais saíram de viagem e eu fiquei em
casa. Seguia uma lista de tarefas minuciosas impostas por meu pai. Naquele
dia estava chovendo, então resolvi que iria brincar de acertar o alvo no
escritório, até que encontrei a porta entreaberta.
Diminuo a distância que há entre nós ao ficar ao seu lado para escutar a
estória.
— Senti naquele momento que precisava defender o que era do meu pai.
Aquela foi a primeira vez que matei alguém, não conseguia entender por
que a visão do que tinha feito me deixou paralisado — relato, bebendo o
último resquício de uísque. — Somente anos depois descobri que aquilo era
um pedaço da minha escuridão. Ela cresceu muito rápido, nunca a escondi,
queria que todos temessem o meu nome, ser melhor do que o meu pai.
E eu fui.
— Quando assumiu a máfia? — pergunta, encarando-me.
— Dezoito anos, frequentava a faculdade de dia e depois ia para a
empresa. Em noites como essas estava no cassino ou na boate, negociando
ou firmando alianças. Sempre pensei em nos manter no topo, consegui esse
objetivo depois de um bom tempo — explico. — Deixei o casamento por
último, uma promessa, a minha prioridade era a Zimmermann.
— O suor que eu derramei não foi suficiente para o homem que me
auxiliou e o garoto que foi criado comigo traçarem a minha morte. Mas
tudo o que idealizava sumiu quando você surgiu na minha vida.
Eu a escolhi.
Pego em seu queixo com a mão livre, olho no fundo de seus olhos
vazios.
— Roman acabou trazendo algo que eu não tinha.
Ela, algo intrigante e perigoso.
— Uma assassina — conclui com um sorriso divertido. — Disfarçada
para lhe matar, a propósito gostei do seu passado. Tem mais alguma coisa
que eu não saiba?
— Queria ter lhe encontrado antes de Roman — revelo, vendo a surpresa
na face da assassina.
— Por quê?
— De alguma forma tiraria você de Horn e os nossos caminhos seriam
outros. Mas o que seria exatamente igual é nós dois nus em uma cama.
— Presunçoso demais — provoca.
— Sou verdadeiro, você enxerga diferente? — rebato.
— Não.
Morgan não se prolonga, seus olhos voltam a encarar a noite vazia.
De alguma forma, você seria minha liebe.
Acordo com algo fazendo barulho na minha orelha, abro os olhos irritada
com a porra do barulho.
Sento-me na cama e vejo o lado de Damien, vazio.
O barulho continua, enfio a mão debaixo do travesseiro e encontro o
celular.
— O que é? — pergunto em um rosnado.
Odeio acordar com celular tocando.
— Morgan, eu te acordei? — A voz de Sofie me surpreende.
Até que ela demorou para ligar, aposto que deve ter repensado as
baboseiras que me disse ontem.
— O que você acha?
— Queria te ligar de madrugada, mas não queria incomodar o Damien.
Não consegui dormir depois que nós brigamos, olha, desculpa por não ter
falado com você.
— Acordou usando o cérebro dessa vez? Acho ótimo que tenha
percebido o erro que você fez.
Sabia que uma hora ou outra Sofie mudaria de comportamento, essa
gravidez está mexendo com a cabeça dela.
— Estou pedindo desculpas pelas coisas que eu disse ontem. Passamos
pelo mesmo no orfanato, bom, em certos pontos. Só que acabei sendo
impulsiva, mas não me arrependo de ter escolhido você como madrinha do
bebê — adianta.
Reviro os olhos.
— Está testando a minha paciência?
— É o que você ouviu, lhe escolhi. Por acaso você já odeia o meu filho
por ter o sangue da máfia Zimmermann? — sonda.
— Não odeio o seu filho, apenas tenho péssimas lembranças do que
vivemos muitas vezes no orfanato.
Bebês sendo levados pelo tráfico humano, os choros eram altos, algumas
crianças chegavam e já eram escolhidas sem ao menos entenderem seu
destino.
Eu via os bebês quando criança, eles choravam sem parar, aquilo me
atormentava, toda noite acordava sentindo o coração acelerado. Medo, eu
tinha medo de ser a próxima.
Foi ali onde comecei a pensar em me proteger dos adultos, tinha em
mente que precisava conseguir um jeito de sobreviver.
Escapar das mãos do tráfico.
— Morgan, acha que esqueci o que víamos? Não, é por isso que confiei
o bebê para você, quem melhor para protegê-lo do que a assassina mais
temida da Alemanha? Nunca fui capaz de nada sem a sua ajuda.
— Concordo, você não sabe fazer nada sozinha. E em relação ao seu
filho irei proteger o bebê, ser a madrinha, mas nada além disso — reforço.
— Obrigada, Morgan.
— Vou cobrar, nada para mim é de graça — digo antes de desligar na
cara dela.
Jogo o celular de lado, voltando a me deitar, preciso bloquear Sofie e só
desbloquear quando estiver com paciência em responder.
Tempos depois
Abro os olhos quando Damien toca em meu braço, quero xingá-lo por
me acordar.
Ainda está de madrugada, mas Sofie resolveu parir o mini monstrinho
dela no inverno de Hamburgo.
Tudo está congelando, inclusive meu corpo, estou usando o casaco dele
para ser um cobertor.
— Ela já teve essa criança? Será que eu preciso ir até lá para incentivar?
— pergunto sem paciência.
— Nasceu, assim que Paul for assinar alguns papéis iremos entrar para
ver o garoto.
— Ótimo — respondo, querendo fechar os olhos de novo.
Ultimamente, dormir está sendo uma necessidade, ainda mais nesse frio
devastador.
Damien é o culpado por estarmos no hospital de madrugada ao aceitar
ser padrinho do bebê.
— Consegui vê-lo no berçário. — Ouço a voz do subchefe.
Damien e ele conversam, abro os olhos sem poder dormir com a
ladainha. Entrego o casaco para o meu marido, vou até o banheiro, abro a
torneira para lavar o rosto.
Tinha acabado de pegar no sono quando Damien atendeu o celular,
viemos minutos depois para o hospital por sermos os padrinhos. É uma
tradição acompanhar o parto.
Sofie enrolou duas horas para trazer essa criança ao mundo.
Estico os braços incomodada com a cadeira da sala da recepção, sinto o
sutiã apertando minhas costas.
Resolvo abrir o fecho, uso as mãos subindo pelas costas, ao conseguir
encontrar sinto um alívio ao tirar aquele aperto nas costas.
Saio do banheiro e encontro Damien à minha espera.
— Podemos ver o bebê, não vamos demorar, a previsão é que a
temperatura caia mais ainda — alerta.
— Vamos.
Ando atrás dele pelo corredor até o berçário onde a enfermeira traz o
bebê em um pequeno cobertor azul.
— Meu filho Dener — diz Paul, pegando-o com cuidado.
Observo essa coisa pequena e indefesa.
— Segure — pede o subchefe.
Merda de tradições, nunca segurei um bebê!
Paul me entrega e eu tenho dificuldade em saber segurar, olho o rosto e
vejo o monstrinho abrir os olhos lentamente.
Prometi para Sofie que essa criança está sob minha proteção, ninguém o
levará, cumpro minhas promessas.
Precisarão arrancar minhas mãos para que algo aconteça com esse bebê.
Voltamos para casa ainda sob o escuro de Hamburgo, não demorei a
voltar a dormir.
Mas dessa vez não foi o celular que me despertou, sonhei que estava
comendo um delicioso Eisbein[28] bem assado com chucrute.
Abro os olhos e vejo Damien dormir ao meu lado, sento-me na cama,
sentindo a boca cheia d'água só de pensar no sabor crocante.
Jogo o cobertor de lado, ainda não amanheceu e eu preciso comer isso,
não vou aguentar esperar.
— Onde você vai, Morgan?
— Na geladeira, quero comer eisbein com bastante chucrute.
— Não vai encontrar nada na geladeira, deite-se.
Viro-me, encontrando seu olhar, me aproximo dele com um sorriso
perigoso.
— Eu quero comer essa porra agora! Damien, estou falando sério, eu
estou faminta.
Ele se senta.
— Espere amanhecer, ainda é de madrugada, não vai aguentar comer —
sugere.
Pego em seu pescoço.
— Cadê a porra da cozinheira? Se você não me der essa comida vou
arrancar o seu pau agora.
Vejo-o sair da cama em busca do celular, acompanho seus passos para
saber se ele está mesmo fazendo o que pedi.
— Busquem a cozinheira, estou mandando buscá-la! Dou quinze
minutos para realizarem o trajeto — reitera, desligando o aparelho.
— Vou descer para esperar — aviso, pegando um cobertor para levar
comigo.
— Onde pensa que vai, Morgan? Vai esperar ela assar a porra do joelho
do porco? — questiona, irritado.
— Você vai esperar comigo na sala — corrijo, puxando o cobertor da
cama.
Arrasto o pano enquanto vou em direção às escadas, não demoro a ouvir
os passos dele logo atrás.
Entro no carro, acho melhor que um soldado dirija, enquanto fico com
ela no banco de trás.
— Está pálida — digo.
— Você fodeu essa médica?
— Não, está com ciúme — provoco-a.
— Ela estava comendo você com os olhos esbugalhados acompanhando
seus movimentos — rosna, entredentes. — Está tentando me enrolar,
Damien?
— Nunca fodi a Mia, sabe que não tenho motivos para mentir.
Morgan respira fundo.
Coloco sua cabeça no meu ombro, ela fecha os olhos, abro um pouco a
janela para correr um pouco de ar.
— Esse maldito enjoo está insuportável.
— Precisa relaxar, está deixando alguém agitada — aviso, tocando sua
barriga.
— A monstrinha sentiu a mesma coisa que eu pelo visto.
A personalidade forte já está sendo gerada desde cedo, mein kleiner
fuchs [42]dará um trabalho ao herdar o nosso gênio.
— Ich gehöre dir, niemand wird das ändern [43]— digo em sua orelha.
— Schließe deine Augen[44], mein fuchs.[45]
Beijo seu pescoço, deixando o nariz nos fios ruivos, inalando seu cheiro.
O carro sai em movimento, enquanto a mantenho perto de mim.
Minha arma mais letal, somente comigo é possível enxergar as barreiras
caírem.
Entro em casa, indo diretamente para o banheiro, escovo os dentes até ter
certeza de que não há mais vestígio do vômito.
Tiro o vestido e o substituo por uma das camisetas sociais de Damien, ao
sair do banheiro resolvo ligar a televisão em busca de me entreter.
Meu marido entra no quarto, trazendo um chá fumegante em suas mãos,
a bebida não me agrada em nada.
— Beba.
— Vou deixar esfriar, que horas vai para a empresa? — pergunto,
sentando na cama.
— Onze horas, tenho duas horas com você.
Ele deixa o chá na mesinha perto da cama. Damien tira o paletó e a
camisa, revelando os músculos.
— E o restante das roupas? — questiono.
— Está fraca.
Não estou cem por cento, mas ele não precisa saber disso.
— Tolice.
Damien se deita, fico por cima de seu corpo, abro dois botões da camisa
que estou usando.
Deixando a pele exposta.
— Quando estiver melhor, ainda está pálida — reforça, dando um tapa
na minha bunda.
Reviro os olhos.
— Nosso jantar ainda está de pé, por nada no mundo quero adiar o
gostinho de matar aquele verme.
— Não vou adiar, sei o quanto está desejando isso. Agora tome o chá,
Morgan — manda ao se sentar.
Pego a xícara assoprando o líquido, espero para tomar um gole, o gosto
ruim me dá arrepio.
— Isso é ruim.
— Tome — orienta.
— Você me deve a porra de uma transa forte por me obrigar a tomar esse
negócio.
— Levarei você para Sylt após o jantar dessa noite — avisa.
Olho-o curiosa.
— Por quê?
— Quero programar as coisas da bebê longe de Hamburgo e olhos
curiosos. Além de tê-la só para mim.
— Me convenceu, gosto daquele lugar.
Tomo mais um gole, forçando o líquido a descer pela garganta.
Termino de beber e me deito ao seu lado, Damien abre os botões da
camisa deixando minha barriga à mostra.
Aprecio sua mão acariciar o local devagar, aposto que a monstrinha
também gosta dessa atenção.
Preciso pesquisar na internet o passo a passo para cuidar dela, quero
comprar bastante coisa.
Nunca tive brinquedos, quero que o quarto seja cheio deles. Quero dar
para essa monstrinha tudo o que eu não tive.
— Por que tem tanta certeza de que ela será igual a mim? — indago.
Ele se aproxima do meu rosto.
— Intuição, quero que se pareça com você, os cabelos e os olhos.
— Uma criança gerada por uma assassina e um mafioso, essa monstrinha
será perigosa e completamente indomável.
— Terá o nosso gênio, os seus traços — diz em meus lábios.
Fecho os olhos, buscando sentir seus lábios, Damien me beija com
voracidade, puxo seu cabelo, trazendo-o para mim.
— O que tinha nesse chá? — pergunto entre seus lábios. — Estou
ficando mole.
— Erva-doce, vai deixá-la calma.
— Não quero dormir, seu maldito.
Ele ri enquanto soco seu ombro.
— Eu quero que acorde melhor, a raposinha e você precisam dormir um
pouco.
— Vai me pagar por isso — ameaço, acomodando-me ao seu lado.
Fecho os olhos, Damien puxa o cobertor me deixando quentinha, gosto
do calor do seu corpo mais do que o cobertor.
Sinto seus lábios passearem pelo meu rosto até terminar na boca, onde
ele demora a se afastar.
— Durma.
Aceito o sono logo depois.
Passo os dedos pelos cabides do closet, paro ao encontrar um vestido
verde, ultimamente estou optando por essas coisinhas em vez de calças.
Meu celular vibra, pego o aparelho colocando na orelha enquanto
procuro por um par de sandálias.
— Como você está? Estava dormindo durante a tarde toda? — pergunta
Sofie, preocupada.
— Estava enjoada, mas já estou ótima.
— Os enjoos são horríveis. Não se preocupe, vou ajudar no que você
precisar.
Reviro os olhos.
— O monstrinho precisa mais de você, não acha? — sugiro.
Ouço o choro de Dener, parece que ele sabe quando preciso que Sofie
fique ocupada.
— Acabou de acordar, parece que ele não me divide com você, Morgan
— provoca, rindo.
— Na verdade, ele é meu cúmplice, bom, vou desligar, nos falamos
depois.
Desligo rapidamente. Tenho um compromisso inadiável.
Olho para o espelho enquanto começo a tirar a camisa, quando Damien
chegar quero estar pronta para o jantar dessa noite.
Coloco o vestido, ajeitando-o no corpo, está perfeito.
Porém, preciso passar uma base e um batom, assim evito que Damien
encontre uma tentativa de mudar os planos.
Nada vai tirar a satisfação da minha vingança, depois de tantos anos vou
encontrar um parente de Ingo.
Meu marido prometeu que iria me entregar almas, o desgraçado está
cumprindo o acordo.
— Já vestida?
Viro-me ao escutar a voz e os passos de Damien no quarto.
Seus olhos analisam o vestido, parando um pouco na barriga. Ainda não
dá para perceber que estou grávida, mas como evitar não olhar?
Afinal, há uma monstrinha aqui dentro.
— Não quero atrasos.
— Está inquieta, ou melhor, ansiando o presente que vou lhe dar — diz
ao se aproximar com um sorriso cruel.
— Você só me fode nessa mesma noite quando entregar o irmão de Ingo
— deixo claro ao passar por meu marido.
Damien ri.
— Ameaças, mein fuchs?
Caminho até a penteadeira, procuro por um pincel enquanto pego a base.
— Um lembrete, querido marido.
Pelo canto do olho vejo o momento em que ele tira suas roupas, ficando
apenas de cueca.
— Quero saciar seu desejo, vê-la torturando esse verme sem perder um
traço do seu rosto enquanto faz o trabalho.
— O líder da máfia possui um fetiche comigo matando pessoas? —
pergunto com um sorriso malicioso.
— Mais de um.
Sinto o meu corpo aprovar a confissão do canalha, a excitação percorre
cada parte de mim.
— Quanto matar o político e depois que chegamos em Sylt, vamos ter
tempo para realizar suas fantasias — atiço.
Jogo um pouco de motivação, desvio a atenção para o acabamento da
base, não percebo a aproximação dele.
Damien está atrás de mim, abotoando os botões da camisa social preta.
Os olhos avelã acompanham o movimento do pincel.
— Temos tempo para que eu possa compartilhar uma.
Meus cabelos são puxados, paro o que estou fazendo, ele conseguiu toda
a minha atenção.
— Diga — peço.
— Estará inclinada e empinada na sacada, me dando a visão devastadora
de você aberta e exposta, sua boceta e bunda esperando por minhas mãos,
pau e boca. Vou enterrar tão fundo, ouvir seus gemidos e ameaças, enquanto
transamos até o alvorecer, observando a praia ao longe.
Ergo o rosto encontrando os olhos avelã.
— Quero que me faça gritar, marque a minha pele de várias maneiras,
principalmente estapeie a minha bunda enquanto enterra o seu pau dentro
de mim.
Imagino a cena fazendo com que minha calcinha fique molhada em
segundos, os seios já estão duros.
Damien morde meus lábios, machucando, excitando-me ainda mais com
a porra de uma mordida!
Negócio com ele por mais um tempo, logo depois já estou pronta,
levando o punhal comigo dentro de uma bolsa inofensiva.
Uma mansão enorme é vista por meus olhos, desço do carro, pegando na
mão do meu marido.
Alguém se aproxima, um dos seguranças.
— Boa noite, senhor e senhora Zimmermann. O patrão está esperando
por vocês, por favor, me acompanhem.
Políticos e suas mordomias, observo os seguranças que são em uma
quantidade menor do que os nossos.
Desvio a atenção para Damien.
— Não vamos ter interrupções durante o jantar?
— Nenhuma, será apenas nós dois — assegura.
Não tenho problema nenhum em acrescentar mais pessoas, porém, o alvo
é unicamente Stein.
Subimos alguns degraus e paramos diante da casa, entramos pela porta
principal na companhia do empregado. Não há nenhum segurança no local.
O lugar parece ser ainda maior por dentro, passamos por um corredor até
encontrar uma mesa redonda em um pequeno salão diante de um palco onde
há uma pequena orquestra.
A música lenta é irritante.
O homem que surge ao longe entra no local, os cabelos são grandes e
penteados para trás.
Pálido, cabelo grisalho, os olhos são idênticos aos de Ingo, vazios,
grandes e assustadores, assim como o sorriso perverso.
— Senhor Zimmermann, seja bem-vindo. É uma honra finalmente nos
encontrarmos, espero que sua esposa goste de uma boa música.
Os olhos pousam sobre mim devagar, ele observa meu corpo
meticulosamente.
— Detesto música — rebato.
O idiota olha para a orquestra.
— Estão dispensados, senhores — pede rapidamente, Stein volta a
atenção para nós. — Sentem-se, por favor.
Damien e eu sentamos, escolhi uma cadeira próxima ao político.
Ele não sairá dessa mesa.
As bebidas são servidas, o político resolve mudar de assunto com
Damien.
— Foi uma surpresa ter a honra de aceitar jantar comigo.
— Poucos conseguem ter a minha atenção, Stein. Vamos direto ao
assunto, sou um homem ocupado, espero que tenha algo que me interessa
— barganha.
— Estou querendo derrubar uma família inimiga, almejo tentar a
presidência alemã.
— E o que ganho com isso? — sonda meu marido.
Analiso cada movimento do asqueroso, ele escolhe sabiamente as
palavras.
— Facilito a exportação de suas drogas sem ter como empecilho às
autoridades marcando em cima.
— Quero mais, soube que tem garotas bonitas e jovens em uma espécie
de cativeiro.
Vejo um sorriso malicioso surgir nos lábios do político.
— Posso te dar as melhores bocetas, senhor Zimmermann.
Sinto a raiva emergir, pinicando cada centímetro da minha pele.
Damien busca extrair além do que ouvimos.
— Existem mais jovens em seu domínio?
— Tenho fetiches por jovens inexperientes, inocentes. Costumo oferecer
muito dinheiro em troca de mantê-las ocultas dos olhos da mídia e
autoridades. Aprecio ouvi-las pedindo para parar, implorando ajuda mesmo
sabendo que ninguém irá até lá — revela com um sorriso.
Já ouvi o bastante.
Desço a mão sorrateiramente até a bolsa, tiro o punhal devagar enquanto
abaixo os olhos conseguindo ver perfeitamente a perna de Stein.
Adentro o pano branco da mesa escolhendo um lugar específico para
deixar o verme imóvel de sair daqui.
Sem mais delongas, enfio o punhal na patela, perfurando a carne do
imbecil.
Seus gritos são estridentes e agonizantes, ele se afasta na tentativa de
escapar, mas acaba caindo junto com a cadeira.
O joelho não obedece seu comando.
— O que está acontecendo? Quem é você, vadia? — resmunga,
entredentes.
— Sou a mesma mulher que matou o seu irmão Ingo.
Levanto-me e me abaixo, ficando à sua altura.
— Desgraçada, vão me pagar por isso — afirma, buscando o celular no
paletó.
Tomo da sua mão, jogando para trás.
— Acho que não fui específica, você pode gritar quanto quiser que
ninguém vai aparecer, você será a minha vítima.
Arranco o punhal ensanguentado do joelho.
— Damien... — balbucia, ofegante.
— Você é o presente para a minha esposa, Stein. Entreguei a sua alma
para a minha assassina, enfim, as loucuras que realizamos por uma mulher.
Pego a mão asquerosa olhando os dedos um a um, ele tenta tirar a mão,
porém, sou acostumada a lidar com minhas presas.
Corto um dedo por vez, lentamente, enquanto encaro os olhos
apavorados de dor e medo.
— Está louca! Seguranças! Ouçam...
Dou risada.
— Esperei muito tempo para encontrar um parente do maldito zelador do
orfanato. Vou mandá-lo para rever seu irmão, diga que, assim como ele,
você morreu pelas minhas mãos.
Enfio o objeto cortante na língua e vejo o político tentar usar a outra mão
para se defender, mas é em vão.
Ao tirar minha arma, pego um de seus dedos caído no chão e coloco na
sua boca.
Levanto-me contemplando o meu trabalho, sinto o mesmo gosto de
vingança quando matei Ingo.
— Minha dívida está paga?
Viro-me e encontro Damien, logo em seguida sigo ao seu encontro.
Ele pega a minha mão e vê sangue em meus dedos.
— Você me deu o que eu queria, mas quero acrescentar algo, libertar as
garotas mantidas em cativeiro.
Que assim como eu, elas possam fugir atrás de sua liberdade;
— Farei isso já que é o que deseja.
Meu marido tira um lenço preto do paletó passando nas minhas mãos,
depois ele limpa o meu punhal.
— Agora vamos ao que você me deve.
Encaro minhas mãos limpas, agora posso tocar em seus cabelos, subo as
mãos, rodeando o seu pescoço.
— Sexo e orgasmos — resumo, encarando seus olhos.
As mãos de Damien apertam minha cintura como algemas inquebráveis.
— Seus gemidos mais contidos, irá perder o controle, mein fuchs.
Beijo seus lábios, buscando o gosto que somente ele tem.
Termino não deixando-o aprofundar, passo a mão por sua bochecha antes
de sair andando.
— Quero chegar logo em Sylt, essas roupas estão me incomodando —
digo, afastando a alça do vestido.
De canto de olho, vejo-o chamar os nossos soldados para limparem essa
bagunça.
Damien se aproxima, pegando na minha bunda, deixando a boca na
minha orelha.
— Nada irá cobrir a sua pele além da minha boca e mãos.
Desperto ainda sonolenta, abro os olhos notando que estou sozinha no
carro, o veículo está parado também.
Encaro a janela, observando a casa, já estamos em Sylt, acabei dormindo
durante o trajeto.
Espreguiço-me e abro a porta a fim de procurar por Damien, o encontro
a alguns metros dando instruções aos soldados.
Desvio a atenção para ver a praia, preciso de uma bebida, ou melhor,
alguma coisa para comer.
Esqueço que estou proibida de beber álcool por um bom tempo.
— Ainda com sono? — pergunta Damien, ganhando a minha atenção.
— Com fome, na verdade.
— Venha, precisa se alimentar.
Acompanho-me indo diretamente para a cozinha, Damien abre a
geladeira, meus olhos observam a deliciosa Rote Grütze[46].
— Quero a torta e uma bebida.
— Água ou suco? — pergunta.
Reviro os olhos.
— Água.
Meu marido me entrega a torta e um copo de água, espeto o garfo nas
frutas vermelhas comendo uma de cada vez.
— A espero no quarto.
— De preferência nu — exijo.
Ele sorri malicioso.
Damien se aproxima, adentrando a mão no meu vestido, o desgraçado
puxa minha calcinha, rasgando a peça com facilidade.
Vejo o que restou em suas mãos, Damien cheira a calcinha, o ato me
arrepia completamente.
— Quero você sem nada — manda ao sair em passos rápidos.
Meses depois
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"— Você fode com a minha mente, me arrasta para um combate onde
ambos estamos aprisionados um pelo outro."
Conheça Hope Salvatore e o chefe da máfia francesa, Mael Chevallier,
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[1]Raposas
[2]Minha noiva
[3]Diga o quanto está entregue ao seu destino, amor.
[4]Amor.
[5]Estou tão duro, quero enterrar meu pau em você.
[6]Eu quero você dentro de mim agora
[7]raposa.
[8]Minha raposa
[9]Minha raposa.
[10]Ainda nervosa, amor.
[11]Eu sou seu.
[12]Eu te perdoo.
[13]Você, minha assassina.
[14]Minha dúvida é chupo você até sentir seu gosto ou entro na sua boceta molhada?
[15]Estou muito molhada.
[16]Minha assassina,
[17]Diga que você é minha, assassina. Eu quero ouvir sua voz rouca, embriagada de prazer
[18]Eu pertenço a você.
[19]Eu te amo
[20]Peça, minha assassina.
[21]Quero a sua boca na minha boceta.
[22]Gosto do vermelho das suas bochechas, toda vez que eu transo com você.
[23]Engula meu pau
[24]A noite ainda não começou e eu já planejei como irá terminar
[25]Como?
[26]Lhe contarei uma estória quando esse vestido estiver caído aos meus pés.
[27]Ela é minha esposa.
[28]Eisbein é o joelho do porco, usado como ingrediente muito importante da culinária alemã. Faz
parte de vários pratos da culinária alemã, podendo ser preparado cozido, frito ou assado, dependendo
do prato. Servido com chucrute é um dos pratos mais famosos da Alemanha.
[29]Está terrivelmente mais bonita.
[30]Eu acho que te amo.
[31]Também acho que você me ama.
[32]Minha.
[33]Eu quero algo.
[34]Ainda ouço suas palavras na minha cabeça. O que você quer, minha raposa?
[35]Você.
[36]Vou derramar cada gota da minha porra dentro de você, enquanto fodo sua boceta rosada.
[37]Me fode agora.
[38]Peça mais alto.
[39]É uma raposinha.
[40]Minha pequena raposinha.
[41]Pequena raposa.
[42]Minha raposinha.
[43]Eu sou seu, ninguém mudará isso.
[44]Feche os olhos, minha raposa.
[45]Feche os olhos minha raposa.
[46] É um prato de frutas doces da Dinamarca e do norte da Alemanha.
[47]minha vadia
[48]Você é a minha vítima.
[49]É uma raposinha.
[50]Assassina.