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Copyright © 2023 IS BABI

Todos os direitos reservados

A Assassina
Is Babi
1ª Edição

Capa: Lane Design


Revisão: Patrícia Suellen
Leitoras Betas: Letícia Guimarães, Carol e Lily
Diagramação: Lilly Desiggn

É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer forma ou


quaisquer meios eletrônicos, mecânicos e processo xerográfico, sem a
permissão da autora. (Lei 9.610/98) Essa é uma obra de ficção.

Os nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos na obra são


produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Dedicatória
Nota da Autora
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a Autora
Outros livros da autora
Escrever é o que me salvou da depressão, sempre gostei de ler e
mergulhar em um mundo diferente, amo criar personagens, histórias e levar
meus leitores comigo.
Estou correndo atrás desse sonho, trabalho para levar orgulho para minha
mãe, hoje é o meu anjo que tenho certeza de que ilumina meu caminho.
Não poderia deixar de agradecer minha revisora maravilhosa que me
ajudou na criação desse universo: Pat, obrigada pelo trabalho incrível e pela
sua amizade.
Uma beta incrível que está sempre em meus projetos: Leti, obrigada pelo
trabalho incrível e a sua ajuda nos mínimos detalhes. Carol, seja bem-vinda,
obrigada por estar comigo em cada surto com Morgan e Damien.
Lily, dona de ideias brilhantes, obrigada por me ajudar sempre.
Minha capista e diagramadora, que deixam o livro tão encantador aos
olhos, obrigada pelo trabalho de vocês!
Agradeço minha irmã por todo o apoio em cada passo, não posso
esquecer das parcerias do Instagram por toda ajuda na divulgação dos
livros, obrigada meus leitores por me acompanharem em cada projeto, sou
grata, meu coração transborda gratidão, muito obrigada!
A IsBabi que também é a Talia, ambas são gratas por tudo.
Este livro contém muitos gatilhos: estupro, tráfico humano, violência
física e psicológica, tortura, mortes. Se atente aos seus limites, tenha em
mente o que irá encontrar ao decorrer das páginas.
Os personagens desse livro são de moral duvidosa, ambos são cruéis,
anti-heróis.
A autora recomenda a leitura para maiores de 18 anos, caso não se
sinta confortável, não leia. Por se tratar de um romance de máfia, contém
violência entre outros temas, a autora não compactua com nada, isso é uma
ficção, não realidade.
Nesse livro a "máfia Zimmermann" criada pela autora segue
algumas regras das máfias originais, porém com alterações ficcionais
inseridas nesse universo.
A Assassina traz a história de Morgan, uma órfã que fugiu atrás de
sua liberdade em uma noite chuvosa, e Damien Zimmermann, único
herdeiro, chefe da máfia alemã que comanda a Alemanha.
Morgan é contratada pelo mafioso Roman Muller, a sua missão é se
infiltrar e matar Damien, porém as peças desse quebra-cabeça distorcido
estão soltas e devem ser montadas.
Esse é o meu primeiro dark romance, como vocês sabem adoro inovar
sempre. Morgan e Damien se completam, pois ambos possuem as mesmas
características. Preparem-se para eles e essa história, um livro solo e único
em Hamburgo.
Damien está esperando vocês, füchse.[1]
Boa leitura!

Com muito amor, IsBabi.


Adentro o que posso chamar de lar, é o lugar mais organizado que
consegui encontrar.
Fecho a porta do galpão que me acomoda.
Observo os pingos de chuva se intensificarem, por sorte estou intacta,
jogo a mochila sobre a cama de casal bagunçada. Detesto arrumar algo que
será usado novamente depois.
Retiro a peruca loira usada hoje, assim como as lentes verdes.
O barulho do celular notifica o que estou esperando desde o trajeto de
volta, andei por uma longa estrada até chegar em casa, tudo para preservar
minha localização.
Encontrei esse galpão há seis meses, nunca fico em um lugar por muito
tempo. Quando sinto que as paredes estão começando a me esmagar, saio e
procuro outro lugar.
Tem sido assim desde a noite em que precisei correr sem olhar para trás,
estava chovendo como hoje.
Consegui minha liberdade por um certo preço, sujar as mãos de sangue
pela minha própria sobrevivência.
Saio dos meus devaneios ao ver o pagamento por mais um trabalho
concluído, sem rastros ou uma mera pista para as autoridades alemãs.
Retiro minha blusa de manga longa e sigo até o espelho, ao tocar o sutiã
para retirar a peça sinto que não estou sozinha.
— Boa noite, assassina.
Rapidamente tiro da calça um punhal enquanto observo uma sombra
surgir aos fundos do galpão, o minúsculo banheiro conseguiu abrigá-lo.
Procuro por uma arma em punho, mas o sujeito se aproxima sem mostrar
uma arma, olho para minha cama, não posso correr.
Mas estou com algo cortante em mãos, ele tem grandes chances de não
sair vivo daqui.
— Quem é você? — exijo saber.
Cabelos grisalhos, olhos azuis tão gélidos, o terno revela uma boa forma.
— Se vista primeiro — orienta.
— Não lhe respondo nada, o que faz aqui? Não sairá vivo daqui —
ameaço.
— Não estou sozinho, o galpão está cercado com meus homens a postos
— avisa.
Ouço passos, pela janela consigo ver algumas figuras de terno, sem
trajes das autoridades também.
Decido colocar a blusa novamente, não deixo o punhal longe das mãos.
O sujeito cheira a problemas, um possível cliente que gosta de invadir o
território alheio.
— Como chegou até aqui? E o que você quer? — questiono.
Seus olhos percorrem o local, analisando minuciosamente cada detalhe.
— Um galpão abandonado há anos por uma empresa quebrada e com
polêmicas na mídia. É uma boa escolha para se esconder, criança — avalia.
— Sou uma mulher, invadiu esse local com um propósito maior do que
sugerir uma casa — rebato.
— A criança que matou o zelador, a diretora do orfanato e fugiu se
criando nas ruas. Decidiu servir ao desejo sanguinário dos outros, uma
assassina que consegue escorregar das mãos das autoridades — debocha
com arrogância.
Ele fica diante de mim.
Mais um passo e o punhal vai descer pela sua garganta. Esse sujeito sabe
demais, estudou a fundo.
— Um serviço por um preço alto. É o que traz você aqui, o que precisa
de mim para invadir esse lugar e estar à espreita? — mudo a pergunta.
— É impressionante ver um caso jamais esquecido diante de meus olhos,
sua localização foi quase impossível de se encontrar. Um disfarce perfeito
para encobrir os cabelos ruivos e os olhos azuis das águas mais claras.
Sorrio debochada.
— As autoridades fecham os olhos para os que estão abaixo deles, pisam
e se banham no sangue — afirmo, convicta.
— Um pensamento rebelde, não acha? Sofia, Claire ou, devo dizer,
Laure?— pergunta, usando os nomes que distribuo a cada disfarce.
— Escolha um para me chamar — sugiro.
Não entrego nada de bandeja, ele percebe isso.
— Uma língua afiada, temperamento perigoso. Guarde esse punhal, não
está lidando com nenhuma autoridade da polícia, vim buscar seus serviços.
— Explique — digo.
Abaixo um pouco o punhal, sem quebrar o contato visual.
— Preciso que trabalhe para mim, essa noite mesmo irá embora desse
lugar. — Suas palavras abrem lacunas para mais dúvidas.
— Quero as informações de quem deseja morto, trabalho sozinha —
reitero. — Não sigo ordens.
Minhas palavras não têm efeito, as mãos ágeis abrem o terno, revelando
a arma na cintura.
Antes que eu possa pegar, o sujeito aponta na minha direção.
Olho em direção ao gatilho e depois para os seus olhos.
— O que busca, na verdade?
Não é algo simples, a reação inusitada mostra que é bem mais complexo
do que pensei.
— Sou Ramon Müller, membro da máfia alemã.
Ótimo, o que menos preciso é de um mafioso ou a porra da máfia.
— Demorei a encontrá-la, mas um rastreador conseguiu seu paradeiro.
Irá para Hamburgo comigo, será apresentada como minha filha — diz ao se
aproximar.
— Que tipo de pedido é esse? — questiono. — Não trabalho com....
— Esqueça seus trabalhos medíocres. Terá uma posição e dinheiro em
troca de participar da minha família e matar um obstáculo.
— Quantos meses ficarei nesse papel? Qual é a posição que terei? Não
estou conseguindo ver clareza na proposta — rebato em um tom de aviso.
— Muito mais do que dias ou meses. Você terá uma postura ao atuar
nesse papel perfeitamente, já que sua vida está nas minhas mãos, conheço o
orfanato que você fugiu anos atrás, Anjos da Luz — ameaça. — Ver o seu
rosto irá despertar as memórias de funcionários, posso jogá-la em um
buraco menor do que esse.
Aperto o punhal, não posso atacar e cortar a sua língua.
Informações privilegiadas, uma estratégia perfeita na mente desse
homem onde pretende me jogar.
— Vamos ao acordo, a sua e a minha parte. Só assim o acompanho —
reforço.
— Preciso que seja escolhida para ser a esposa de Damien Zimmermann,
chefe da máfia alemã. Vou simplificar, Morgan, ele precisa se tornar seu
marido ou terei o prazer de tirar a luz de seus olhos.
Morgan, meu verdadeiro nome.
É a primeira vez depois de três anos que ouço uma pessoa dizer meu
nome e não os que eu inventei.
Mas dessa vez, Roman está segurando uma arma, estou sendo usada para
um jogo.
— Minha parte — lembro.
— Sem disfarces ou galpões. Terá dinheiro e poderá ter poder, esqueça o
que tem dentro desse lugar.
Jamais pensei em sair do meu ramo ou buscar uma nova vida.
— Somente isso? E a minha liberdade? — pergunto. — Como tem tanta
certeza de que conseguirá tudo isso? Está falando de alguém da mesma
máfia que você.
Aprendi a não confiar em ninguém tão cedo, sempre estive sozinha.
O plano dele é audacioso e sorrateiro.
— Esse é o trabalho mais importante, assassina. Afinal, você seguirá
minhas regras e orientações, será modificada para atrair o Damien. —
Enfrenta meus olhos. — Use todas as suas artimanhas, não haverá um
deslize nesse plano.
— Temos um acordo, porém, preciso arrumar as minhas coisas — aviso,
dando um passo para trás.
— Pegue apenas a sua bolsa.
— Minha roupas...
— Irão sumir junto ao seu rastro — diz, apontando para a bolsa.
Vou até a cama colocando meu disfarce e celular dentro, não há nada de
mais precioso.
Claro, meu punhal e arma estão aqui dentro.
Müller não se atreve a fiscalizar o que estou carregando, ele tem o poder
de estar em vantagem ao surgir no meio da noite trazendo fatos do meu
passado e ameaças para um plano.
Caminhamos saindo do galpão lado a lado, a chuva parece ter dado uma
pausa, cinco homens o acompanham.
Eles não fazem perguntas ou olham para mim, apenas para Roman.
Uma Lamborghini preta é aberta por ele, entro no veículo, à medida que
olho para o local onde passei mais tempo.
— A minha identidade — comento, encarando-o.
— Não há fotos suas, apenas retrato falado de alguns disfarces, é boa em
esconder seu rastro. Além de que, acabou mudando bastante desde os
dezessete anos, Morgan. Agora mudará novamente com o seu novo
sobrenome.
O carro se afasta, encaro a estrada sem poder ter o controle do que virá a
seguir.
Sempre tive cuidado para não entrar em território da máfia alemã. Mas
tudo isso some em um piscar de olhos com a visita de um mafioso.
— Outra pergunta? — sonda.
Milhares.
— Quanto tempo irei ficar nesse papel? — questiono.
— Oito meses, seu objetivo é me trazer informações e matar o chefe,
mas para isso precisa ser a escolhida de Damien.
Portões fortemente reforçados, homens espalhados a cada centímetro do
jardim, atrás é possível ver uma bela mansão.
O vento beija minha face quando saio do veículo, Roman dá a volta no
carro, seguindo até a porta principal.
Sigo seus passos enquanto entramos no local, espero encontrar
funcionários ou mais homens armados.
Mas não há ninguém na sala principal.
— Zelda — chama rapidamente.
Passos apressados revelam o rosto de uma empregada, ela se apresenta
fazendo uma reverência ao chefe.
— Senhor Roman.
— Leve Morgan para o quarto, quero que ela tome um banho para tirar
qualquer sujeira da viagem — ordena.
Banho?
Não estou suja.
— Não preciso limpar nada — rebato.
Os olhos azuis pousam sobre mim.
— Não questione uma ordem, criança. Suba e tome um banho —
reforça.
— Por favor — pede a empregada, apontando a escadaria na lateral.
Demoro alguns segundos para seguir a funcionária, há apenas três
quartos no segundo andar.
Zelda para diante do segundo quarto e abre a porta, encontro um lugar
que jamais irei me acostumar.
Tudo aqui provoca a minha desconfiança.
— Vou pegar toalhas — diz ao se afastar.
Caminho até o banheiro, deixando minha bolsa lá dentro.
Fecho a porta, à medida que retiro as peças de roupas, vejo um roupão
em um cabide esperando para o pós-banho.
Uma banheira e a alguns metros um chuveiro grande.
Há produtos nas prateleiras próximo à banheira. Uma frescura.
Quando ouço a maçaneta girar, pego o punhal da bolsa é por um triz o
pescoço da empregada seria cortado.
Vejo o espanto nos olhos escuros.
— Trouxe as toalhas, senhorita.
— Está pensando que pode entrar no banheiro sem bater? — questiono
ao pegar as toalhas de suas mãos. — Saia.
Coloco as toalhas penduradas ao lado do roupão, abro o chuveiro, a água
morna cai sobre o meu corpo.
Ao olhar para trás vejo a funcionária que ainda continua dentro dessa
porcaria, ela pega os produtos da prateleira.
Há uma pequena esponja em sua mão.
— O senhor Roman pediu para limpá-la completamente, estou
cumprindo ordens — explica, receosa. Ela dá um passo com cautela.
Desligo o chuveiro e pego o punhal, indo atrás dela, alcanço uma toalha
e enrolo em meu corpo.
— Senhor Roman! Senhor! — repete várias vezes.
Saio do banheiro e a encontro amedrontada ao lado da porta, ouço passos
na escada, logo o rosto de Roman surge.
— O que está acontecendo aqui? — questiona, irritado.
— Pode explicar por que pediu para essa mulher me ajudar a tomar
banho? Eu a mato se encostar em mim — ameaço, entredentes.
— Zelda, pode se retirar — dispensa-a.
Os olhos não desviam dos meus nem por um segundo quando Roman se
coloca diante de mim.
— Eu não quero um vestígio ou sujeira daquele galpão, ou sua velha
vida. A empregada iria tirar a sujeira que pode estar escondida nessas
roupas ridículas — desdenha.
— Mande ela fazer isso e eu arranco os dedos um por um — rebato. —
Tenho a capacidade de tomar banho sozinha.
— Irei verificar se está limpa, gosto de regras e que não contrariem as
minhas ordens. Termine o seu banho, guarde esse punhal e vista uma das
roupas que estão no closet — reforça. — A quero na sala em dez minutos.
— Por quê? — pergunto, fazendo-o parar de andar.
Ele não se vira.
— Suas obrigações começam agora, assassina.
Volto para o quarto depois de usar esses produtos para perfumar o corpo,
quero que Roman desmaie com o cheiro por me insultar.
Olho a cama de casal com cabeceira, panos brancos com almofadas
confortáveis.
Procuro por um guarda-roupa, ou melhor, um closet, ao me aproximar
dos fundos do quarto vejo várias peças de roupas. Vestidos, blazers e roupas
sociais. Saltos, botas e sandálias.
O filho da mãe buscou minhas medidas, cavou fundo até ter tudo o que
queria saber.
Nada do que ele comprou me encanta, um monte de roupas sem graça ou
do meu gosto.
Pego um vestido curto na cor creme, o tecido é macio, estou acostumada
com jeans, blusas de algodão.
Só usei vestidos quando os clientes pediam para seduzir a vítima, opto
por um par de saltos. Não demoro a estar pronta, procuro por um secador de
cabelo e encontro uma gaveta com várias opções.
Apenas quando os fios ruivos estão secos eu me retiro do quarto,
deixando a bolsa debaixo da cama.
Pretendo esconder os meus objetos em um bom lugar fora do alcance de
Roman e os seus criados.
Caminho até as escadas, ouço vozes, Roman e uma mulher, pela voz não
tenho dúvidas de que não é uma jovem.
No sofá da sala principal, está uma senhora com um conjunto social na
cor preta, os cabelos loiros estão presos em um coque.
Roman analisa minha escolha de roupas, assim como a mulher.
— Estou servindo de modelo? — rebato.
— Alessa, essa é a minha filha, Morgan. Como pode ver, preciso que a
ajude a ter postura e controlar a língua dentro da boca — revela, encarando-
a.
— Estou surpresa, Roman. Não acreditei quando disse que estava atrás
dela, imagino que a criação na mão de terceiros resultou nisso — analisa a
velha.
— Repita algo nesse tom esnobe que eu a farei ficar sem a língua —
aviso.
Alessa se põe de pé.
— Ela está aqui para auxiliar você, então não contrarie uma ordem —
reitera Roman. — Alessa, olhando-a nesse momento, o que pode adiantar
para mim?
Presto a atenção na pergunta peculiar que saiu da boca dele.
Alessa observa meu rosto, o cabelo, é como ser estudada para ser cobaia
de um laboratório.
— Um belo rosto, corpo repleto de curvas, é raro ver ruivas hoje em dia.
Sua filha é muito linda, apesar de ser primitiva e ter um instinto sanguinário
— alfineta.
— Justamente é o ponto que preciso que trabalhe com Morgan, ela deve
ter postura e se controlar. Faça o necessário para lhe dar isso, tenho pressa
nos resultados, então pode pegar pesado — autoriza.
Vejo Roman ficar de pé.
— Como assim pegar pesado? Não disse nada sobre isso — sondo,
fuzilando-o com um olhar de aviso.
— Ficará noites sem dormir se necessário para atingir a perfeição,
deixarei as duas a sós, tenho assuntos importantes a tratar — comunica,
tirando a atenção para Alessa.
— Fique tranquilo, sua filha está em boas mãos, Roman — assegura,
convicta.
Ele parte sem olhar para trás.
Por alguns segundos me pergunto para onde estará indo?
— Seu pai é um homem rígido, será que não consegue enxergar isso? —
provoca.
— Ensine o que ele mandou, faça o seu trabalho.
Ela ri.
— Sigo as ordens dele, então fique quieta e ouça. Quero que ande até o
outro lado da sala, preciso ver — orienta.
Reviro os olhos. O trabalho dela é uma coisa insignificante.
Dou passos até o outro lado quando ela reclama.
— Você anda como se estivesse carregando tijolos nos pés. Está
apressada, parece que não sabe andar.
Viro-me e a encaro.
— Devia tomar cuidado comigo, Alessa — aviso.
— Observe como estou andando, porque você irá repetir até andar
direito.
Seus passos são um meio-termo, nem rápido ou lento.
Reta e olhando para frente sem abaixar a cabeça sequer por um segundo.
Faço os mesmos movimentos, no meio do caminho ela manda parar.
— Fique reta, Morgan.
Ela se aproxima, levantando o meu queixo.
— Não estou aqui para ser modelo.
— Está aprendendo a andar decentemente. Mais uma vez do começo,
lembre-se de que não está carregando nada.
Ignoro suas palavras, essa brincadeira idiota é para testar a minha
paciência.
Volto a repetir o que Alessa pede, novamente sou parada por ter olhado
um pouco para baixo.
— Por ora está bom, se sente no sofá.
Não demoro a me sentar, deixando o corpo para trás, sinto o estofado nas
minhas costas.
— Cruze as pernas, uma mulher deve ter elegância — diz, impaciente.
— Cale a boca, não sabe ficar quieta? — rebato.
— O seu maior problema é a postura e essa língua afiada. Roman deu
pouquíssimo tempo para que consiga moldá-la, sugiro que pense em ter o
mínimo de esforço para surpreender o seu pai — sugere.
Velha tola. Com certeza não deve saber quem é Roman Muller ou o que
ele faz.
— Um vocabulário requintado é para a realeza.
— Não sabe de nada, menina. Quantos anos tem? Até uma criança de
cinco anos sabe se portar — questiona.
— Vinte e um anos, é uma pena que irá deixar Roman sem o resultado
que ele pediu — provoco-a.
Vejo a velha engolir em seco. Não fazer o seu papel vai matá-la pela
expressão preocupada.
— Vou fazer o impossível para que consiga sentar, andar e
principalmente ter um vocabulário decente — assegura. — Cruze as pernas,
Morgan.
Ela se aproxima, enquanto faço o que pediu rapidamente, Alessa pede
para ser feito de novo.
Roman quer uma boneca plastificada para o plano dele.
Toda essa etiqueta e regras idiotas não apagarão o meu instinto ou quem
eu sou.
Confesso que não sabia o que era dormir em algo confortável, e com
uma certa segurança que me deixou tranquila para descansar.
Batidas à porta ganham a minha atenção assim que olho o celular, ainda
é bem cedo, posso dormir um pouco mais.
Consegui subir para o quarto no fim da madrugada, Alessa queria que eu
praticasse enquanto estiver aqui ou na sala, sem a sua presença.
Quando aceitei o plano de Roman, não estava no acordo que iria ser
obrigada a praticar essas tarefas.
— Senhorita. — A voz de Zelda é cautelosa.
— O que você quer? — questiono, conseguindo imaginar as caretas dela
de medo e receio de entrar.
Espantei a empregada com um punhal, ficou claro que não sou mandada
por ela.
— O senhor Roman quer que desça para o café da manhã
imediatamente.
— Depois — dispenso.
— Ele está mandando, senhorita.
Reviro os olhos.
Sento-me na cama, tirando alguns fios do rosto, detesto alguém exigindo
que horas devo acordar.
Ouço passos se afastando quando a funcionária resolve se retirar.
Não consigo me familiarizar com nada desse cômodo, vou até a
penteadeira, abro as gavetas e encontro escovas, tiaras e até pedras
preciosas.
É a primeira vez que tenho essas coisas em mãos. Meros acessórios, não
tenho a intenção de usar nenhum. Puxo a última gaveta e vejo maquiagem,
batons, base e vários outros itens.
Pego um único batom vermelho, deixando na penteadeira.
Sigo até o closet a fim de procurar uma roupa, há dezenas de peças, uma
para cada momento do dia.
Futilidades feitas para mulheres acostumadas com tudo.

Vejo Zelda esperando por mim assim que desço as escadas, a sigo até o
outro cômodo, à mesa de café da manhã estão Roman e um outro homem
com cabelos loiros e olhos azuis.
A face dele não disfarça ao analisar a minha chegada minuciosamente,
ele sabe quem sou.
— Morgan, esse é Elzo, meu sobrinho e subchefe da máfia Zimmermann
— apresenta Roman.
— A garotinha que saiu do orfanato em uma noite chuvosa. Curioso vê-
la pessoalmente, assassina — provoca com um sorriso divertido.
— E você é quem? Um peão na mão de Roman? — rebato.
Vejo uma mudança brusca na expressão. Alguém odeia ser chamado de
peão.
— Se não fosse por conta do seu passado, não iríamos atrás de você.
Poderia meter a bala no seu crânio aqui mesmo — assegura.
— Quietos os dois, Elzo, ela vai fazer o que eu pedi — reforça Roman.
— Faça — convido o idiota. — Você sabe quem eu sou, mesmo assim
quer tentar a sorte.
— Conheço o orfanato onde viveu a vida toda, a prioridade é a educação
das crianças. Quero saber pela sua boca o que fez naquela noite, os jornais
omitem e ditam o que querem — pressiona Elzo
Vou até uma cadeira vaga, sento-me e o encaro melhor.
— Estou esperando também — diz Roman.
— O orfanato Anjos da Luz me recebeu quando era apenas um bebê, a
minha criação inteira esteve nas mãos deles — começo a história.
Meu olhar fica distante quando mergulho nos fatos daquela fatídica noite
quando tinha dezessete anos.

Os barulhos dos trovões aguçam a minha curiosidade, depois do jantar


onde dividimos as mesas no salão, temos somente vinte minutos antes da
hora de dormir.
Consegui escapar e vir para o quarto sem que o zelador percebesse, não
tenho amizades ou motivos para tolerar todo o barulho de todos, ainda mais
misturados com as crianças e seus gritos estridentes.
Observo os pingos de chuva respingando contra o vidro, na minha
pequena cama está um bordado que fiz mais cedo com a cozinheira.
Temos tarefas pesadas a cumprir, quem não entregar o que a diretora
pede sofre punições.
Dentro da sala dela e com a porta trancada somos agredidos com cinta e
as próprias mãos.
Ela quer boas maneiras, tarefas feitas, mas na maioria das vezes é pela
sua pura diversão que aquela maldita escolhe um para bater.
Perdida em meus pensamentos, olhando a janela ficar embaçada, não
percebi uma presença sorrateira.
— Morgan. — A voz asquerosa do zelador.
Levanto-me em um movimento rápido e o encontro com as calças
abaixadas, revelando a parte íntima rígida.

Olho para trás, a porta está trancada, da maneira que Ingo prefere.
— Não, eu não quero isso novamente — digo em desespero.
Toda vez que ele me força ao sexo é como estar morta, em estado
vegetativo.
O monstro não escuta, corro por entre as camas, procurando pela chave
reserva da porta.
Ele pega em meus cabelos e me joga em uma das camas, depois sobe em
cima de mim, batendo no meu rosto.
O vestido cinza-chumbo usado por todas as meninas levanta em um
movimento rápido, meus gritos não podem trazer ninguém até aqui.
A cozinheira e a diretora sabem que ele me obriga a transar desde os
dezesseis anos, ambas aceitam isso debaixo de seus narizes.
— Não se esqueça de que fui eu quem a tornou mulher — diz antes de
abrir as minhas pernas.
Uma lágrima grossa escorre pelo meu rosto quando sinto o membro
entrar contra a minha vontade.
— Tão apertada e suculenta, nunca vou cansar de tocá-la.
Assisto-o se movimentar, dizendo meu nome, pedindo para que eu tenha
prazer junto com ele.
Uso uma das mãos para ir até o bolso do vestido, local que eu escondi
um objeto. Roubei uma agulha.
Olho para o rosto de Ingo, seu pescoço é o ponto perfeito.
Pego o objeto e enfio na veia de seu pescoço, Ingo grita, pressiono a
agulha na pele asquerosa.
— Desgraçada.. eu... — balbucia.
Pela primeira vez sinto prazer em algo. Faço o corte e vejo o sangue
jorrar, empurro-o, fazendo o corpo cair no velho tapete marrom.
O único gesto é tentar levantar a mão na minha direção. Totalmente em
vão, o monstro está de olhos abertos, mas não há brilho nas pupilas, o
sangue inunda o chão do quarto.
Chuto seu corpo, constatando que está morto, mas somente isso não é o
suficiente.
Pego a agulha para dar um presente ao homem que me destruiu.
Desde que fui tocada não durmo direito, sou atormentada, jamais
demonstrei que tinha interesse nesse monstro, seu prazer era transar comigo
à força.
Enfio o objeto pontudo na pele da sua boca para puxá-la.
Ingo jamais poderá falar nem quando chegar ao inferno.
— Esse é o meu presente a você — afirmo, puxando sua pele fria e sem
vida.
Eu não ouvirei mais sua voz.
Encontro a diretora na sua sala, madame Heidi tira o cigarro dos lábios
surpresa por me ver ali.
— Deveria estar ocupada com Ingo, veio buscar uma pílula?
Meu ódio queima por cada parte da minha pele, seguro com uma mão
atrás o pequeno punhal que encontrei nas coisas daquele verme antes de vir
até aqui.
Não passarei mais uma noite nesse lugar, espero que os outros consigam
correr e escapar também.
— Ele está mandando todos irem dormir, madame. Estou aqui porque
quero pedir um cigarro, gosto do cheiro — enrolo-a.
Ela ri.
— Não lhe dou nada, maldita garota. A sua insolência em vir me
perturbar é incrível, vou fazê-la aprender a ter modos! — afirma ao se
levantar.
O cigarro fica no cinzeiro.
Não dou a oportunidade de ela pegar um cinto no pequeno sofá,
surpreendo Heidi com uma facada no abdômen Ela arregala os olhos ao
gritar.
Repito o ato mais outra vez, deixo a faca dentro dela.
O corpo cai no chão, dando uma cor peculiar ao escritório, olho para sua
mesa e vejo seu isqueiro.
Olho para o corpo mais uma vez antes de sair do escritório com o objeto
em mãos.
Encontro os outros órfãos assustados na sala.
— Saiam desse lugar agora, tudo pegará fogo — alerto.
Consigo retirar todos desse maldito lugar, uso a gasolina do porão para
jogar na sala inteira, antes de sair jogo o isqueiro.
A chuva molha meus cabelos ruivos quando corro na rua, sentindo a
liberdade e um misto de adrenalina.
Não olho para trás, apenas ouço o choro das crianças mais distante,
conforme escapo finalmente do meu inferno.

— Matei o zelador com uma agulha e esfaqueei a diretora do orfanato,


além de colocar fogo — finalizo, encarando ambos.
Não há nervoso ou nenhum sentimento em minha voz.
Ali nasceu o meu instinto, o poder que eu tenho de usar objetos para
matar as minhas vítimas.
O desejo de matar quem surgir no meu caminho, nunca mais serei uma
vítima.
Relatei o que aconteceu diretamente e sem rodeios, a versão verídica do
que aconteceu naquela noite.
— Eu a escolhi bem, Elzo — diz Roman. — Aprenda a não subestimar o
seu próprio tio, sou a única família que lhe resta.
— Confesso que gostei do que ouvi, assassina. Mas ainda assim, tio, o
que vejo é uma mulher perigosa e agressiva. Acha que Damien não vai
farejar que está omitindo algo dele? — alerta. — Ela é uma bomba-relógio.
— Morgan está tendo aulas de etiqueta, Alessa está educando-a.
— Quando irei encontrar esse Damien? — pergunto. — Preciso saber
quem vou conhecer.
— O chefe da máfia alemã, único herdeiro. Um homem que tem todos
como seus cordeirinhos — revela Elzo. — Precisa apresentar a nossa
assassina no jantar de amanhã, Roman. Demorar a apresentá-la é abrir
suspeitas.
Amanhã?
— Isso é pouco tempo, adie isso. Você não trabalha com ele? — digo.
— Você não opina — rebate Roman. — Alessa está vindo para ajudá-la
a se portar no jantar na mansão de Damien. Preciso que comece o seu papel
de Morgan Muller imediatamente — avisa. — Elzo, quando será o evento
das candidatas?
— Em duas semanas, é o tempo que Morgan tem para aprender a ser
uma dama da máfia — alerta com diversão.
Encaro-o fixamente.
— É tempo suficiente, mas nesse jantar, o que devo fazer? — pergunto a
Roman.
— Todos estarão observando você, inclusive nosso alvo. Responda com
classe às perguntas, não dê brechas aos curiosos e, principalmente, não
passe despercebida pelos olhos de Damien, criança.
Estava sozinha na sala olhando meu celular, sinto falta de estar nas ruas,
entrando escondida para conseguir transitar em ônibus ou caminhões.
Indo atrás de ganhar o meu dinheiro, apesar de saber que a morte era a
minha única companhia.
Olho para a enorme sala principal, apesar de nunca ter estado em um
lugar onde não falta nada, esbanja conforto e fartura, isso tudo é uma
imensa prisão dourada.
Nada irá tirar essa ideia da minha cabeça.
— Que tipo de postura é essa? Deitada e agarrada a esse celular? — A
voz de Alessa é um despertador infernal.
Encaro-a.
— O que faz aqui? Deveria vir apenas para o jantar.
— Querida, não haverá descanso ou moleza. Levante-se agora mesmo,
Ramon disse que irá para um jantar amanhã — comenta ao se aproximar.
Levanto-me a contragosto.
— Ouviu bem? É amanhã — rebato.
— Temos muito o que trabalhar, garota. Você precisa ser menos
agressiva, mais amável e saber responder às perguntas.
Ela se aproxima, ajeitando alguns fios do meu cabelo, dou um passo para
trás.
— Não serei amável com ninguém, tire a mão de mim.
Jamais serei doce, não conheço essa palavra.
— Se aparecer nesse jantar com essa língua afiada vai causar problemas
para Roman. Não quer desapontar o seu pai, não é? Ele lhe dá tudo, precisa
ter o mínimo de consideração — repreende.
Tenho vontade de rir.
O seu pensamento é tão tolo, Roman não é meu pai, sou uma assassina
em um jogo com um único objetivo.
Preciso fazer o que é pedido para não morrer nas mãos do homem que
me contratou.
— O que vamos fazer primeiro? — mudo o assunto.
— Escolha um vestido elegante, faça uma maquiagem. Quero ver sua
produção, depois iremos voltar a trabalhar no modo como caminha. A
segunda parte é saber se portar à mesa, vou fazer perguntas, além de ver
como usa os talheres — explica.
— Sei segurar uma colher, além de responder.
Alessa sorri.
— Isso quem vai dizer sou eu, suba e não demore. Temos muito trabalho
a fazer, Morgan.
Saio da sala em passos lentos e preguiçosos.
Ela espera me ver pintada como uma palhaça? Odeio muitas cores, cinza
e preto são cores do meu interesse.

Alessa observa enquanto desço as escadas usando um vestido escuro de


manga longa e um generoso decote nos seios.
— Levante essa cabeça, você não esconde o rosto — avisa.
Respiro fundo.
Faço o que é pedido, terminando de descer os degraus, ando devagar,
sem abaixar a cabeça ou desviar o olhar.
— Assim é como você deve andar. Deixe-me ver essa maquiagem,
parece que não passou absolutamente nada — reclama ao ver meu rosto.
— Passei base e batom, está ótimo, não preciso de mais nada — digo,
ríspida.
— Rímel e uma sombra favorecem qualquer mulher. Esse batom é a
única cor que destaca seu rosto, precisa saber usar a beleza que tem.
Reviro os olhos.
— Posso me sentar ou vai continuar com essa conversa entediante? —
provoco.
— Sente-se com elegância.
Escolho um lugar, me acomodo na cadeira e a encaro.
— Use um talher.
Observo a faca, o garfo e a colher.
A colher é usada para tudo, pego o objeto prata.
— O que pensa que está fazendo? — Aumenta o tom.
Vejo Alessa boquiaberta com a minha escolha.
— Uma colher não faz parte da porra do talher?
— Usamos garfo e faca para absolutamente tudo, jamais use uma colher
para levar a comida até a boca.
— Frescura.
Sempre usei colher. Essas bobagens estão me irritando.
— Morgan, onde foi criada? Roman não deveria tê-la deixado com
alguém de fora, essa pessoa não a educou bem.
Fui criada sozinha, velha idiota.
— Você está aqui para me ensinar, cale a boca com suas perguntas
idiotas.
Largo a colher, pegando o garfo.
— Saiba ouvir quando está errada. Quando chegar a hora do jantar, você
deve cumprimentar, boa noite — diz.
— Noite — respondo de pronto.
— Boa noite, nunca use somente uma palavra. Quando for
cumprimentar, abra um pequeno sorriso — sugere.
— Não gosto de sorrir.
— Boa noite, Morgan, como você está? — pergunta, sorrindo.
— Boa noite, estou bem. Pronto, já chega dessas frescuras? — reclamo.
— Longe disso — interfere Roman.
Ele surge silenciosamente observando meu rosto.
— Graças a Deus está aqui, Roman, sua filha é bastante teimosa. No
jantar, ela deve saber se portar, nisso inclui responder perguntas simples.
Os olhos de Roman me dão um aviso.
É como se ele chacoalhasse minha cabeça com o lembrete do meu papel
nesse lugar.
— Repita o que estavam fazendo — instrui.
Olho para Alessa, ela começa a repetir.
— Boa noite, Morgan. Como você está?
— Boa noite, estou bem — respondo, tentando esconder a raiva.
— Quantos anos você tem? — pergunta a velha.
— Vinte e um.
— Anos — complementa Alessa.
— Vinte e um anos — repito.
— Muito bem, criança. Basta se esforçar, sei que é capaz de aprender
rapidamente — afirma Roman.
— Ela precisava de um incentivo, Roman.
— Enquanto a postura dela, Alessa?
— Está melhorando, veja como ela está andando. Morgan, mostre o que
está aprendendo para o seu pai — pede.
Levanto-me bruscamente.
— Devagar — avisa Roman. — Não precisa descarregar a raiva nos
móveis, saiba que um mísero deslize pode nos prejudicar.
Afasto a cadeira devagar.
Ambos observam enquanto ando com a cabeça levantada, não levando
nada de bom nos olhos.
Isso jamais será mudado, eles não passam bondade ou inocência. Apenas
o perigo que está em cada centímetro da minha pele, ele anda lado a lado
com o meu sangue.
Entro no escritório da mansão, acabei de chegar em casa após alguns
dias na Itália para prestigiar o casamento de meu aliado.
Durante a minha ausência soube de algo que está rondando a máfia
Zimmermann aos quatro cantos.
A filha de Roman Muller.
O celular vibra com uma mensagem de um dos meus homens.

Roman está na propriedade.

Autorizei a entrada dele, não demoro para ouvir passos no corredor e


uma leve batida à porta do escritório.
Vou abrir a porta e dou de cara com seu rosto.
— Damien, assim que soube que havia voltado, quis vir até aqui.
— Estou pensando se matá-lo não é a melhor opção. A sua omissão é
uma traição direta a mim, todos já sabem que a trouxe para casa — rosno.
Vejo Ramon recuar.
— Vim até aqui para demonstrar minha lealdade e explicar. Não queria
que uma criança atrapalhasse minha vida, a mãe morreu no parto, estava
com um câncer raro. Deixei a criança aos cuidados de minha tia até que
soube do falecimento — diz, tirando do paletó alguns papéis. — A menina
cresceu, apenas a vi através de vídeo chamada, pensei em criar Elzo como
prioridade após a morte do meu irmão e a esposa.
Observo papéis de DNA, um óbito de uma mulher de sua família.
Encaro seus olhos.
— Apenas papéis que não tem importância alguma. Sabe que a palavra
para mim tem o peso de uma alma, Ramon — reforço.
Vou até a minha cadeira, deixando a arma em cima da mesa.
— Peço perdão, chefe. A criança era um problema, se fosse um menino
teria mais futuro em nosso mundo.

— Detesto omissões, você serve e precisa mostrar a sua devoção e


lealdade. Matar você e sua filha seria o ideal para eliminar essas conversas
paralelas — comento, vendo-o ficar desconfortável.
— Reconsidere, Damien, jamais pensei em usar minha filha para ser
motivo de traição — afirma.
Bato com os dedos na madeira.
— O nome dela, você ainda não me disse. Sobre a apresentação da
garota, exijo que seja amanhã, como já havia falado com Elzo.
— Sim, falei com meu sobrinho e confirmei que amanhã irei trazê-la
para ser apresentada durante o jantar. O nome dela é Morgan Muller, está
com vinte e um anos.
— Estou curioso para ver se há semelhanças com você. Ela sabe sobre
nós? Ou escolheu tapar os olhos? — sondo.
— Morgan sabe de tudo, não iria dar uma realidade diferente, o papel
dela é outro. Damien, em duas semanas será o evento das suas candidatas, a
minha herdeira estará entre elas.
— Está esperando que isso recompense o fato do seu segredinho? —
rebato, mordaz.
Não tolero manipulações, Roman sabe que controlo todos que estão à
minha volta.
Mantenho-os sob rédeas firmes.
— Ela é uma mulher e precisa ter uma obrigação, não estou tentando
manipular ou compensar nada.
— Verei sua filha amanhã.
Ele se levanta, mas faço um sinal com a mão, Ramon para
imediatamente.
— Sim?
— O quero de joelhos, diga perdão até que eu o libere. A sua brincadeira
tem um preço, não se esqueça de que cobro um por um, é melhor não estar
escondendo mais nada — reitero.
Assisto-o ficar de joelhos, sem contrariar ou tentar mudar a minha
punição.
— Juro minha lealdade, Damien. Perdão, perdão, perdão....
Ouço-o repetir várias vezes.
Roman é uma peça que se movimenta da maneira que eu ordenar.
Quero ver a filha dele, afinal, ela é o meu mais novo cordeirinho.
— Onde está Roman? — pergunto para Zelda.
— Ele ainda não chegou, mas o jantar já está servido, senhorita.
Decido comer, não vou esperá-lo chegar, Roman é somente um cliente
que está controlando a situação por fora.
Quem vai fazer o trabalho inteiro sou eu.
Vou exigir uma quantidade maior de dinheiro, não vou sair de bolsos
vazios.
Sento-me na cadeira olhando as opções de comida quando ouço passos
fortes.
Ouço Zelda falando sozinha.
Roman chega com uma expressão perigosa, sinto sua raiva a quilômetros
de distância.
— Não coma ainda, temos que repassar o que vai dizer amanhã.
Cruzo os braços, encarando-o.
— Onde estava?
— Com Damien, precisava dizer algo sobre a sua existência. Aproveitei
que ele estava em viagem e chegou hoje — revela. — Você foi criada pela
minha tia, ela faleceu e eu fui buscá-la. Mantínhamos o contato através de
vídeo chamada.
— O convenceu?
— Mostrei papéis falando do DNA e o óbito de uma parente distante que
faleceu recentemente, mas Damien é esperto. Precisei estar de joelhos e
pedir perdão, o farei pagar pela humilhação — assegura, mordaz.
Quem iria cair nessa conversa que a tia dele me criou? Um tolo qualquer.
Damien está se mostrando ser um homem mais perigoso do que estou
acostumada a matar.
— Somente isso que vai repassar comigo? Damien não vai querer
perguntar algo diretamente? — sondo.
— Garanti que você sabe sobre a máfia, caso ele faça uma pergunta
inesperada espere que eu responda primeiro — ordena. — Conhecendo ele,
Damien vai estar acompanhando cada movimento que fizer.
Bebe um grande gole de vinho.
— Não estou preocupada com os olhos de Damien, mas com as
perguntas em questão.
Ele me fuzila com um olhar.
— Não ouse falhar, gaguejar ou ficar quieta diante de uma pergunta.
Haverá membros da máfia Zimmermann junto com ele, não preciso lembrá-
la do que está em jogo — ameaça.
— Está lidando com uma assassina — rebato, afiada.
— Alessa irá ajudá-la a se ajeitar para o jantar, não contrarie as minhas
ordens. Deve estar deslumbrante amanhã, criança.
Detesto ser chamada de criança.
— Para ser selecionada por seu chefe preciso passar por algo? —
pergunto, interessada. — Tenho que saber como ele escolhe e o que manda
fazer.
Estamos falando de um chefe da máfia, alguém com o poder maior que o
Roman.
— Damien pode escolher algo para que suas candidatas façam, mas é
raro acontecer, esse não é o foco — dispensa. — Ele vai encará-la, não
desvie.
— Quando estiver frente a frente com o seu chefe saberei o que fazer,
consigo estudar uma pessoa batendo o olho.
— Confio em seu serviço, agora coma.
Os olhos são realmente o espelho da alma, conheço a maldade e entre
outros detalhes através de um mero olhar ou sorriso.
Não acredito em bondade, todos são capazes de tudo.
O meu único objetivo amanhã é estudar Damien, assim saberei qual
alternativa posso tomar para iniciar o meu trabalho.
Se tornar a esposa, se infiltrar na vida íntima de Zimmermann para
matá-lo quando chegar a hora.
Depois terei uma outra vida longe daqui.

O alvorecer chegou rapidamente, assim como o grande evento que


Roman vai apresentar uma filha postiça.
Alessa veio no começo da tarde para escolher um vestido e tudo o que
vou usar, ordens expressas de Roman.
Enquanto ela ajeita meu cabelo, deixando-o preso em um coque, observo
seu rosto pelo canto do olho.
Ela está até quieta hoje.
— Você de boca fechada é um milagre — alfineto.
— Seu pai está nervoso, fiquei preocupada.
Vejo que é algo além de uma preocupação, consigo sentir que é algo
mais.
Os olhos estão preocupados e distantes, ela tenta não parecer murcha,
mas não está conseguindo.
— Sou boa em desvendar as pessoas, Alessa. Não precisa esconder que
você tem algo a mais com ele — afirmo, convicta.
Levanto meus olhos e a vejo pálida como um papel.
— Ele te contou? — pergunta, curiosa.
— Está visível pelo seu rosto.
— Sim, temos algo. Mas seu pai tem como prioridade o trabalho para
Damien Zimmermann — responde com um sorriso forçado.
É enganada por ele, não sabe que eu não tenho o sangue de Roman ou a
minha verdadeira função aqui.
— Pelo que sei a máfia preza por seus integrantes acima de qualquer
coisa — reforço.
— Infelizmente é assim. Vamos mudar de assunto, precisamos colocar
um colar, rubi combina com o vestido preto.
Ela se afasta a fim de pegar uma jóia.
— Não tenho preferência por joias — digo enquanto olho meu reflexo
no espelho.
Deixei que ela passasse rímel, uma sombra escura junto a base e o
batom.
— Deve começar a ter, me sinto nua se não usar ao menos uma pérola.
Ela põe o colar em meu pescoço.
— Antes de descer, ande novamente até a cama — instrui.
Faço o caminho sem abaixar a cabeça ou olhar para baixo, sento-me na
cama, cruzando as pernas e mantendo uma postura reta.
— Está ótimo, Morgan. Agora se houver perguntas...
— Sei o que preciso responder.
— Isso eu vou dizer — interrompe Roman ao entrar no quarto.
Seus olhos me observam.
— Ela está impecável — diz Alessa.
— Ligo para você depois, Alessa. Gostei do que fez com Morgan —
dispensa-a.
Vejo Alessa se despedir e, sem demora, ela deixa o cômodo.
— Podemos ir? — pergunto.
— Antes de irmos, precisa saber sobre a família de Damien e como a
Zimmermann surgiu — explica. — A Alemanha estava sob o controle de
um pequeno grupo de gangsters no ano de 1970. O Zimmermann, bisavô de
Damien, queria tirar o domínio daquele grupo e pensar em algo maior,
houve uma matança sanguinária para abrir o caminho para a máfia. As
raízes dessa máfia são fortes, regras e obediência devem ser cumpridas, não
há relatos de infiltrados na Zimmermann há muitos anos.
— Até agora — provoco-o.
— Os Muller são conhecidos por não se contentarem com migalhas —
rosna. — Segure sua língua. Damien Zimmermann é o dono de todos os que
estão em sua máfia, não contrarie nada do que ele disser.
Dou risada.
— Se ele decidir me humilhar vou aceitar? — indago, arqueando uma
sobrancelha.
— Sim, você não rebate. — Pega em meu braço em tom de aviso. — Ele
vai farejar qualquer rebeldia ou algo que não condiz com a postura de uma
dama da máfia. Faça o seu papel, coloque um mísero sorriso em seus lábios.
Solto meu braço, encarando-o fixamente.
— Você me contratou com um único objetivo, e eu não irei falhar —
reitero.
O vestido que Alessa escolheu possui alças que valorizam o decote em
V.
Durante o trajeto Roman acabou me orientando sobre o que seu chefe
poderia perguntar.
Não demora para o carro passar por grandes portões com um esquema de
segurança ainda maior do que vi na mansão de Roman.
Saímos do carro, sendo observados pelos soldados alemães.
— Venha, filha — diz Roman ao oferecer seu braço.
Faço o que ele pede e juntos entramos em uma mansão gigantesca, um
corredor que parece não terminar nunca.
Somos direcionados a uma grande sala de estar, é possível ver casais em
roupas elegantes, conversando entre si.
As atenções pousam sobre nós.
— Boa noite — cumprimenta Roman. — É com alegria que hoje
apresento minha filha, Morgan Muller.
Os curiosos se aproximam.
— Boa noite — digo sem rodeios.
— Roman, vejo muitas semelhanças — diz uma mulher. — Não é,
querido?
— Sua filha é uma bela mulher.
— Quantos anos, querida? — uma delas faz uma pergunta curiosa.
— Vinte e um anos.
Detesto ser obrigada a ter modos.
— Morgan é minha única herdeira, eu a protegi deixando a criação dela
com minha falecida tia — explica Roman.

O rosto de Elzo surge ao lado de uma mulher que acredito ser a sua
esposa.

— Bem-vinda, prima, essa é minha esposa — apresenta-a.

— Prazer — digo e a vejo retribuir o sorriso.

— Você é muito bonita — elogia.

Apenas sorrio a contragosto, elogios não me interessam.

As conversas param quando ouvimos passos atrás de Elzo, alguns


homens se aproximam com sorrisos divertidos.

Eles me analisam.

— Então essa é a sua filha, Roman, o segredo finalmente foi revelado —


provoca um deles.

Vejo Roman endurecer a postura, certamente são homens que integram a


máfia Zimmermann e são próximos ao chefe.

— Sim, essa é Morgan. Minha filha está aqui para ser apresentada, ela
faz parte da máfia Zimmermann — rebate.

Novamente, há um silêncio e quando menos espero a figura alta surge


em silêncio. Um homem musculoso, olhos avelãs, cabelos escuros da
mesma cor da pouca barba.

Em um terno escuro com a camisa branca social que está aberta


revelando alguns botões, deixando à mostra o peitoral.

Damien passa por seus convidados, parando diante de nós.


— Curve-se — ordena, olhando para mim.

Desvio a atenção para Roman, isso só pode ser brincadeira.

— Morgan, faça o que Damien pede — reforça.

Olho para o rosto do homem que eu devo matar, um punhal no coração e


o trabalho estaria feito.

Seria tão fácil matá-lo, arrancar esse ego inflado no momento em que o
punhal atravessar seu peito.

O idiota está achando que sou como uma dessas mulheres, ingênua e
frágil.

— Boa noite, senhor Zimmermann — digo sem emoção.

Curvo-me diante dele.

Ao levantar o queixo, seus olhos estão observando cada traço do meu


rosto, guardando a imagem para depois. Encaro os olhos avelã, prendendo-
os aos meus.

Tenho uma única certeza, Damien não é um homem manipulável, uma


presa nada fácil de matar.
A mesa de jantar está reunindo todos os membros da máfia alemã, a
única intrusa aqui sou eu. Sentada ao lado de um traidor, sinto as atenções
em cima de mim, não procuro olhares, mas não é preciso para saber que sou
um enigma para todos.

Pego a taça de vinho, levo o líquido até os lábios, mas não abuso no
gole.

Levanto o olhar, encontrando os homens ao lado do chefe da máfia, suas


mulheres se limitam apenas a olhar, enquanto os idiotas comentam algo
entre si.

— Quem são eles? — pergunto baixo.

Encontro os olhos azuis de Roman.

— O conselheiro da máfia e os primos de Damien.


— Sirvam o jantar. — A voz de Damien interrompe nossa conversa.

Ele se aproxima da mesa na companhia de Elzo, fico atenta aos


movimentos do chefe da máfia.

Assim que se senta, Damien troca algumas palavras com o conselheiro e


os primos, os olhos dele pairam sobre o meu rosto. Faço o mesmo, não
desvio o olhar, no entanto, não demonstro nada mais.

— Roman, sua esposa, estava bastante doente na época em que se


afastou de Hamburgo — alfineta o conselheiro.

Olho para Roman, estou curiosa sobre isso.

— Sim, trazer minha filha foi o último esforço de minha esposa. Logo
depois perdi meu irmão e a mãe de Elzo, escolhi deixar Morgan segura e
longe para ajudar meu sobrinho — diz, olhando para Elzo.

— O que aprendeu? — pergunta Damien.

Diretamente para mim, não sou pega desprevenida. Encaro-o para


responder.

— Minha tia me ensinou sobre a família, o lugar do meu pai,


principalmente o meu. Jamais sobrepor nada acima da Zimmermann.

— Parece que foi bem ensinada, ruiva — responde um dos primos.

— Ela está pronta para o jantar das candidatas — rebate Roman.

Damien ri, algo o diverte.

— Adiei a data, Roman.

Não consigo entender a resposta, quero exigir o porquê da mudança


brusca. Tenho um plano a seguir!
— Perdão, Damien. Como assim?

— Sua filha foi apresentada apenas agora, e a escolha de escondê-la


ainda paira sobre a Zimmermann. O jantar será dentro de dois meses, Elzo
irá notificar minha decisão — a explicação dele não há brechas.

O homem que me observa é extremamente ardiloso. Adiar o jantar é a


sua resposta, em contrapartida, sobre o ato onde Roman me escondeu,
Damien vai acompanhar cada passo que eu der.

Maldito!

Acabo de ser presa ao plano de Roman por mais tempo do que


imaginava, desvio a atenção para ele. Vejo uma ponta de irritação em sua
expressão, porém, meu pai postiço oferece um sorriso de entendimento ao
chefe.

— Compreensível, assim minha filha terá tempo para se adaptar a


Hamburgo.

Tempo? O meu dever é entregar respostas para Roman e matar Damien.

Quero sair desse lugar e abandonar essa farsa, diferente do que estou
assistindo como telespectadora, não há ninguém para me controlar ou dizer
como agir.

Deixo um rastro de sangue por onde passo. Trabalho sozinha.

— Morgan, vamos dançar comigo — afirma Damien.

Dançar?

Essa é a escolha dele? Estava pensando em algo mais interessante,


traduzir algo, ler ou até outra prova.

— Claro que sim, Morgan dançará com você — diz Roman, sorrindo.
Apenas esboço um sorriso.

— Então teremos uma dança, é algo novo para o jantar — comenta Elzo.

É como suspeitei, Damien Zimmermann está brincando com a nova peça


da máfia dele. Não é um homem que demonstra ter apreço pela música, isso
é um blefe completo.
A mão do chefe se levanta, acontece um brinde entre as taças.

Enquanto bato a taça com Roman, troco um breve olhar, a mudança de


Damien estraga nossos planos.

Não estava em nosso acordo mais tempo que os oito meses já acordados.

Iria atrair Damien, pensava que seria mais fácil com a vantagem do
jantar, chamar a atenção dele completamente no dia, seria perfeito. Mas
quando o conheci, percebi que era mais esperto do que imaginei, sou
desconhecida, um objeto novo.

Ele quer agarrar e observar de perto. Neste momento, preciso acrescentar


mais dois meses no tempo. Dez meses no maldito papel de Morgan Muller,
a filha de um mafioso.

Quero tirar os saltos dos meus pés e esse vestido ridículo, não tolerar
essas pessoas, nada disso.

Os olhos avelã novamente chamam a minha atenção para si. Sem ter
conhecimento, Damien colocou algemas em meus pulsos.
Acompanho Roman, deixando meu campo de visão, levando consigo a
filha recém-chegada.

— O que achou de Morgan? — pergunta Elzo.

Encaro meu subchefe, vejo curiosidade em seu olhar.

— Nada, um livro em branco. Sabe exatamente que poderia matar


Roman, você e ela — lembro.

Elzo se aproxima rapidamente.

— Roman não havia me falado sobre ela. Optou por trazê-la quando
soube da morte da cuidadora, se tivesse o controle dessa situação traria
Morgan antes — reforça.

— Como subchefe, seu dever é levar minhas ordens e reforçar a lei em


meu nome. Mostre-se melhor do que seu falecido pai, honre o seu
sobrenome, Elzo.

A exigência tem efeito, a postura dele está rígida em segundos. Não


preciso descrever o que mais poderia fazer com sua família pelo segredinho
de Roman.

— Sirvo você, vou honrar o cargo do meu pai. Roman guardou a


existência de Morgan, entendo que isso poderá ser visto de uma forma
negativa.
Dou risada.
— Poderá? Já está sendo visto e comentado. Quer um recado? Quanto
mais falarem sobre esse assunto, amplia a minha raiva e desejo de acabar
com esse falatório de uma vez por todas — afirmo, gélido.

— Adiar o jantar foi a melhor decisão, Damien — diz o conselheiro.

Aaron para diante da poltrona onde estou sentado, Elzo está ao seu lado.

— Concordo, minha prima acaba de chegar, é tudo novo para ela. —


Assente o subchefe.

— Não estou concebendo tempo para ela — rebato de imediato.

Elzo cala a boca.

— A escolha é exclusivamente minha, a sua permanência nesse mundo


também é — ameaço, entredentes.

— Perdão, meu chefe.

— Morgan é um assunto que foi jogado em nossa máfia graças ao


Roman e você, então é melhor ter cautela ao falar, Elzo — alfineta o
conselheiro.

— Meu tio errou ao escondê-la. Damien, você tem total poder sobre o
que quer fazer com Morgan — assegura Elzo.

— Não diga o que eu já sei — acrescento, ao vê-lo se retirar antes e ir


até a esposa.

Olho para o conselheiro, ele segue o caminho de Elzo, o quero com os


olhos nele.

Acendo um cigarro, meus primos estão segurando suas bebidas.

— A ruiva poderia morrer, Roman ter trazido ela apenas agora é


imperdoável — avisa Denis.
— Ele cometeu um deslize, mas a vadia é apenas uma peça para garantir
uma candidata da família Muller no jantar — diz Emil.

Trago o cigarro, soltando a fumaça rapidamente.

— Por enquanto a quero viva — reitero.

Adiar a ocasião de minha escolha foi necessário, quero sondar Morgan e


seus costumes.

Piso forte ao adentrar a sala principal, viro-me para Roman.

— Essa mudança estava em seus planos? — questiono, arqueando uma


sobrancelha.

— Abaixe o seu tom, você não tem poder de exigir nada! — rosna.

— Você está despreparado!

Roman se aproxima, pegando em meu pescoço.


— Não se esqueça de quem detém sua vida, assassina. Damien pode ter
feito essa escolha por sua causa, não queria se curvar, o desafiou!

Vejo o desespero e a fúria nos olhos azuis, jogar a culpa em mim é mais
fácil, idiota.

— Tire a mão do meu pescoço, procure outra para esse papel. Dois
meses a mais não estava em nosso acordo — ameaço.

Ele solta meu braço, mas não se afasta.

— Abra a porta e saia, levará um tiro assim que pisar fora da mansão.
Quando a trouxe comigo, obtive poder sobre você, está no plano e só sairá
com a minha ordem, não há fuga — reitera.

— Você é meu cliente, Roman. O que eu preciso fazer é meu trabalho,


mas para isso a sua parte precisa estar perfeita — acrescento.

— Segure sua língua, esses dois meses lhe será útil. Irá aprender a
escrever e ler, não preciso perguntar para saber as condições que saiu
daquele orfanato.

— Não sou seu projeto. — Meu tom é mordaz.

— Damien poderia ter pedido para ler ou até para escrever algo, você vai
acrescentar o ensino em seu treinamento junto com a etiqueta. Alessa estará
encarregada de tudo isso, além de fazê-la dançar perfeitamente.

— O que a porra de uma dança interessa? — desdenho ao me afastar.

Sigo em direção às escadas, Damien quer além de uma dança, estar perto
o suficiente para me testar.

— Damien quer uma dança, e você irá dar o que ele quer. Aonde vai,
Morgan? — pergunta, irritado.

— Por hoje o meu papel terminou — digo sem olhar para trás.
Roman pensa que serei moldada para ser alguém como aquelas mulheres
do jantar. Está agarrado a uma fantasia distorcida, inútil.
Essa noite ele escorregou e mostrou não ter o total controle sobre seu
objetivo.

A sua vulnerabilidade acendeu meu sexto sentido. Já estou traçando


algo.
Desperto com Alessa invadindo o meu quarto, ela puxou as cortinas,
revelando o nascer do sol.

— O que pensa que está fazendo? — esbravejo, irritada.

Quero dormir, será difícil ter um pouco de tempo apenas para mim?

— Ordens do seu pai, soube do adiamento do senhor Zimmermann.


Roman quer utilizar esses dois meses com um treinamento com o ensino,
além da etiqueta — explica, puxando o cobertor.

Fuzilo seus olhos.

— Não sou um animal para servir como teste de laboratório. Se Damien


adiou, não é problema meu se fui apresentada apenas agora.

Alessa respira fundo.


— Vamos começar com o ensino. Roman disse que tem dificuldade com
a escrita.

Levanto-me da cama e a encaro bem.

— Sei o alfabeto, os números, não sou burra — afirmo, rapidamente.

— Você precisa comer algo para tirar essa raiva logo pela manhã, temos
muito trabalho pela frente. Me acompanhe, não queremos acordar seu pai
agora.

Minha mão coça de vontade de ir até o quarto onde Roman está,


enquanto o idiota está dormindo, sou obrigada a levantar cedo! Caminho
até o banheiro, fechando a porta sem delicadeza, seria delicioso acordar
Roman com o barulho.

Encaro os produtos no banheiro, a banheira e o chuveiro. Não sei quando


foi a última vez que consegui ter um tempo sem ser perturbada por Roman
e suas exigências.

O galpão onde estava era precário, porém, tinha a liberdade de acordar


quando quisesse, além de não dar satisfação para ninguém.

Respiro fundo, procurando não enlouquecer ainda mais com tudo isso.

Sento-me diante de Alessa no escritório, consigo ver os móveis que


refletem o seu reflexo de tão limpos, além de uma estante com vários livros
pequenos e grandes.
Lembro-me do orfanato, esse escritório parece com o da madame Heidi,
tento desviar a atenção para os livros que Alessa está tirando da bolsa.

— Vamos começar pelo básico, quero que escreva uma carta, preciso ver
a sua ortografia e a letra — avisa, entregando o caderno.

Reviro os olhos.

Parece que sou criança novamente, a diferença é que no orfanato


tínhamos uma professora que gostava de puxar nossas orelhas e braços. Um
mísero erro ou se aprontássemos alguma coisa seríamos castigados.

— Vou escrever uma carta para quê? Ninguém mais usa — debocho.

— Damien pode colocá-la para escrever uma carta, não sabe que há
jantares constantes promovidos por membros? — alerta.

Merda, havia me esquecido desse detalhe.

— Não suporto mais comparecer em eventos assim, já estive em vários


desde que cheguei em Hamburgo — reclamo.

— Sem enrolação, vamos, é apenas o começo do que temos para hoje.

Pego o lápis e começo a escrever, Alessa se aproxima para ver melhor,


ela observa, mas não diz nada.

— Precisa se atentar na escrita das palavras, não precisa ter pressa em


escrever — explica.

— Seis linhas está ótimo para a sua carta, como bem disse há outras
prioridades.

Olho para uma palavra e tenho dificuldade, chuto como se escreve.

Alessa pega o papel, enquanto me entrega o livro do alfabeto e os


números.
— Você vai reescrever com calma e corrigindo as alterações nesses
erros.

— Podemos fazer isso depois. Tenho que treinar a dança — lembro.

Quero sair deste escritório, as más lembranças persistem em voltar à


minha mente.

— Pensei que não estava preocupada — provoca com um sorriso


divertido.

— Dançar é uma obrigação? Aposto que as outras candidatas ele


escolheu algo diferente, melhor do que dançar. Estou intrigada com a
escolha de Damien — comento, à medida que a encaro.

— Não posso lhe explicar o que se passa na cabeça do senhor


Zimmermann. Mas dançar é maravilhoso, elegante, você se sairá muito
bem, Morgan — assegura. — O que achou de Damien? Não contou como
foi a noite!

— Ele faz jus à fama que carrega, porém, é um homem como qualquer
outro. As candidatas estavam tremendo de tão nervosas, era como se o que
estivesse na frente delas fosse o último homem — desenho, rindo.

Todas são acostumadas com os pais passando a mão na cabeça, não


estiveram em minha pele, sempre me virei para conseguir tudo.

— É uma disputa, deve se animar. Roman irá perceber o desânimo —


aconselha.

Volto a encarar o livro.

— Já ouvi suficiente, Alessa.

— Enquanto termina o que lhe passei como lição, quero que preste
atenção em minhas palavras. A dança é o contato mais profundo entre duas
pessoas, o corpo reage, assim como você precisa seguir a música e o seu
par.

— Não me diga que preciso dar rodopios? — provoco.

— Pare, garota, Damien é um homem acostumado a dançar. Se você


escorregar e cometer um deslize não é uma boa opção, esses homens
sentem quando estamos escondendo algo — alerta.

Olho para os móveis, tendo agonia do lugar, levanto-me e vejo os olhos


atentos de Alessa.

— O que houve?

— Detesto reuniões em família, não precisamos de nada. Quero o dia de


folga — sugiro.

— Pelo contrário, precisa estar bem apresentável, é necessário ter foco


durante esse tempo. Fique em pé, tenha a coragem de que precisa —
incentiva.

— Nos leve para a sala, quero estudar lá fora — faço um novo pedido.

Respiro aliviada sem estar em um lugar fechado com antigas


lembranças.

Abro as janelas, deixando o ar fresco beijar o rosto, perco alguns


segundos olhando para o jardim da mansão.
O poder das lembranças são perigosos, afasto a agonia que senti por ser
levada naquela noite até o meu passado, onde era educada da forma que
aquele maldito lugar pregava.

— Coloque a mão na minha cintura e a outra deve segurar a minha —


orienta Alessa, ao se aproximar.

Faço o que ela pede, não vejo dificuldade em seguir o que ordena. Bom,
o tédio me irrita.

— Já dançou com Roman? — pergunto, levantando o olhar para ela.

— Nunca — revela. — A dança não é algo cotidiano, há casos que ela é


escolhida para ser um teste.

Damien escolheu uma dança para ser o meu teste, seja o que for ele
optou por um contato próximo embalado pela música.

— O dia começou de uma forma interessante. — A voz de Roman surge


ao longe.

Descendo as escadas o idiota observa Alessa e a mim.

— Tenho dois meses para treinar a etiqueta e o estudo. Prefiro usar esse
dia para dormir um pouco mais, não tenho compromissos.

— Tem objetivos que esperam isso de você, esqueça o descanso. Agora


dance com a Alessa, quero ver como está dançando — exige.

Reviro os olhos e mentalmente xingo Roman de vários palavrões


diferentes.

Alessa conduz a dança, tenho dificuldade, acabo pisando em seu pé sem


querer.

— Recomece, Morgan. Esse não é o seu melhor, vamos — diz o


desgraçado.
Respiro fundo, por poucos minutos tenho o desejo de fazê-lo calar a
boca de maneira permanente.

— Prefiro que não opine, está me atrapalhando — aviso.

Roman não tem conhecimento do que é o meu melhor.

— Relaxe, ficar irritada ou nervosa pode prejudicar o momento —


aconselha Alessa.

Começamos a dançar devagar, não penso em minhas tarefas, apenas


tenho o foco nos passos, acertando um e depois o outro, sem erros.

— Seu potencial é enorme, continue assim enquanto tomo café, não


parem. Depois da dança irei ver sua letra, você precisa ser perfeita em tudo,
Morgan — avisa ao se afastar.

Conheço a minha capacidade, ela é responsável por eu ser quem sou.

Terei êxito em chamar a atenção e atrair Damien, acrescento dizer que


Roman não tem as duas mãos sobre mim. As peças estão se movimentando
sem a sua permissão.

O plano criado é a grande prova, a maior surpresa da noite passada foi


ver Roman sendo pego desprevenido.
— Não consegue ficar quieta? — reclama Alessa ao passar pó em meu
rosto.

— Detesto maquiagem, não preciso parecer com uma palhaça — rebato.

Banho as unhas pintadas em um tom preto no estofado da poltrona.

— Você não sairá daqui como uma palhaça e muito menos como uma
mendiga. Não irei deixá-la com excesso de maquiagem, mas precisa estar
apresentável, um pouco de cor — explica, observando-me.

— Vai ao jantar? — questiono, arqueando uma sobrancelha.


Alessa desvia a atenção para o vidro de batom em cima da penteadeira.

— Não tenho ligação com os assuntos do seu pai, Morgan.

— Deveria ir, você o auxilia. — Planto a semente da dúvida.

Alessa está sempre atrás, um peão nas mãos de Roman, ela não consegue
disfarçar que queria uma atenção a mais.

— Vamos falar de você, está nervosa? Decorou os passos? — pergunta,


séria.

— Por que estaria nervosa? É apenas um jantar, como qualquer outro.


Você me ensinou essa dança idiota por dois meses, sei muito bem o que
devo fazer — asseguro.

— Você estará diante de muitas pessoas, além de estar disputando a


atenção de um homem poderoso — repreende. — Fique em pé, quero
conferir sua postura.

Reviro os olhos.

Levanto-me e vejo o espelho reproduzir uma mulher bem-vestida, uma


versão minha que uso para jogar o jogo.

Alessa ajeita o vestido, meus cabelos ruivos estão presos em um rabo de


cavalo, há um colar de diamantes no meu pescoço. Tudo foi ela quem
escolheu. Até a sandália prata.

— Não sabe o quanto aprecio vê-la usar o que aprendeu comigo, uma
postura diferente da que chegou em Hamburgo — elogia. — Damien a
chamará para dançar, você deve aceitar sua mão.

Ela demonstra ser ele, aceito sua mão indo até o centro do quarto.

— Preferia algo diferente, dançar é insignificante.


— Pelo que sei o chefe da máfia escolhe o que quiser que a candidata
faça.

Damien poderia pedir que eu mostrasse minhas habilidades, tenho


certeza de que ficaria surpreso quando me visse usando um punhal com
perfeição.

Sinto falta de estar com as mãos sujas de sangue.

— Quantos minutos a dança irá durar? — pergunto, encarando-a.

— Ele irá parar quando achar que foi o suficiente, não pare primeiro —
alerta.

Sorrio debochada.

— Tolice.

— O tempo passa, mas não há mudança em sua língua afiada — nega


sem acreditar. — Foque em seu objetivo, Morgan. A noite apenas está
começando, cuidado com excesso de demonstrações.

Passos no quarto interrompe o conselho de Alessa, Roman analisa o


vestido.

— Está perfeito para a ocasião, gosto do seu trabalho, Alessa. Há uma


mudança desde que minha filha chegou aqui.

Presto atenção em Alessa e a forma como se derrete com um mero


elogio.

— Quero o melhor para sua filha, ela se esforçou para melhorar —


afirma com um sorriso.

— Está dispensada, Alessa — diz sem encarar seu rosto.


Vejo-o sair do quarto em passos lentos, Roman se aproxima de mim.

— Sem nenhum erro.

— Eu nunca cometo um erro — reitero.

— A contratei para ser a arma do meu plano, consiga ser escolhida por
Damien ou não irá respirar essa noite — ameaça.

Enfrento seus olhos.

— O título será meu.

Não somente o título, essa noite posso criar um outro caminho, Roman.

A única coisa que interessa é a minha vida. É chegado a hora de brincar


com Damien.

Saio do veículo, deparando-me com a mansão de portas abertas essa


noite, e extrema segurança espalhada.

— Morgan — cumprimenta Elzo.

O sobrinho de Roman para diante de mim.

— Boa noite — respondo, ao ver a esposa a poucos passos de nós.

— Você pode ser a primeira ou a última a ser chamada por meu chefe,
esteja preparada para a dança — revela.

— Boa sorte — deseja a esposa dele.


Não acredito em sorte.

— Obrigada, mas estou pronta para essa noite.

— Vamos — diz Roman.

Ele deposita a mão em minhas costas, entramos logo atrás de Elzo e a


sua companheira.

Observo os convidados que dessa vez estão em maior quantidade, há


olhares no modelo do meu vestido, assim como em minha face.

— Não pare a dança — reforça Roman.

— Sei disso, pai.

A palavra que sai pelos meus lábios é tão apagada quanto os borrões de
uma lareira.

Desvio a atenção para o conselheiro da Zimmermann, Aaron


cumprimenta todos nós.

— É uma grande noite, venha comigo, Morgan, deve se juntar às outras


— orienta a minha espera.

Sem olhar para trás, sigo-o olhando para frente, consigo avistar sete
garotas sentadas em uma fileira de cadeiras.

O conselheiro aponta para a última cadeira vaga, sento-me e o vejo ir


embora.

— Como se chama? — Ouço uma pergunta.

Viro o rosto, encontrando curiosidade em olhos castanhos.

— Morgan Muller — respondo de pronto.


— É estranho a prima do subchefe aparecer somente agora. Parece que
seu pai quer garantir a importância do sobrenome dele — provoca outra
garota. — Você não é melhor do que nós, nada irá garantir a sua vitória.

Encaro a petulância ao lado da arrogância, conforme sou medida da


cabeça aos pés pelos olhos verdes. Se estivesse com meu punhal iria enfiar
em sua língua lentamente.

— Tomaria cuidado se fosse você, descontrole é motivo para ser


descartada — digo, vendo-a engolir em seco.

Volto a olhar para frente, observando as famílias e convidados lado a


lado, não demora para os primos e logo atrás, Elzo e Damien surgirem.

As candidatas ficam em pé, sou a última a levantar, ouço suspiros atrás


de mim, farejo o medo e o nervosismo das concorrentes.

Não tenho um mísero lampejo disso, Damien é um homem como


qualquer outro, esse jantar não há nada especial. O que torna importante é a
minha missão essa noite.

A figura soberana se aproxima, parando a dois passos de mim, a primeira


escolhida é a que estava me provocando.

Ela quase tropeça, mas se recompõe rapidamente.

Os dois param no meio da sala, ele mantém os olhos acompanhando seus


movimentos.

— Diga-me as leis da Zimmermann — ordena.

— Servir e honrar ao chefe, subchefe e demais membros. Jamais ter o


pensamento ou trair alguém, todos devemos entregar a alma para a
Zimmermann, sem segredos ou omissões — diz com segurança.

O chefe não esboça uma mísera reação.


— Soldados, você não os mencionou — alerta.

A garota fica pálida, totalmente boquiaberta.

— Posso...

— Volte ao seu lugar, a primeira da fileira, venha — a dispensa.

Há burburinhos, a candidata que ele chama caminha até o centro.

— Decorou o trecho do jornal que cita o começo da nossa máfia? —


pergunta, e ela assente.

— Sim.

— Você lerá o jornal da época e não o atual, quero que traduza, já que é
um texto espanhol — anuncia.

Elzo se aproxima com o jornal entregando para a candidata, ela não olha
em seus olhos quando começa a traduzir sozinha.

Seria um problema fazer isso, não suporto ler ou escrever, muito menos
traduzir.

— A máfia Zimmermann teve início no ano....

A mulher é habilidosa e não erra ou gagueja, ela finaliza sem


dificuldade, destacando-se muito bem.
Os olhos avelã pousam sobre mim, a última candidata que ainda não
esteve com ele. Levanto-me, indo ao seu encontro, mantenho a troca de
olhares.

— Morgan Muller, dance comigo — avisa, pegando na minha mão.

Em um instante estou colada ao seu corpo, não há espaço para


desvencilhar de Damien. A mão que está na minha cintura a segura com
força, espero que ele inicie a dança, o que demora.

A música lenta está tocando, mas Damien não inicia, fui instruída a
esperá-lo conduzir, porém, não vou ficar até amanhã esperando uma
decisão.

Dou um passo para trás, o mafioso toma o lugar, sigo os seus passos sem
quebrar nosso contato visual.

De todas as candidatas, por que o chefe escolheu dançar?

— Senhor Zimmermann, por que uma escolha diferente das outras? —


pergunto.

— Está insatisfeita? — questiona de imediato.

— Não gosto de dançar — confesso.

Isso parece o divertir, vejo algo no brilho dos olhos avelã. Mas não sei o
que pode ser. Damien aumenta o ritmo da música para me provocar.

— Não vejo nervosismo ou empolgação em seu rosto.

Aperto levemente seu ombro, preciso embalar essa maldita dança até
abrir uma brecha.

— Estou pronta para o que quiser que eu faça — afirmo, convicta.


— Por que não está gelada ou com um pouco de suor descendo pela
testa? — sonda, apertando os olhos para mim.

— Você é um homem como qualquer um, se eu não for escolhida outro


irá escolher — respondo, honestamente.

Não entrego entusiasmo ou nervosismo, homens como Damien gostam


de causar impressões e reações. Dar o contrário intriga e atrai.

— Seus olhos entregam algo e o seu corpo faz de outro jeito.

Engulo em seco.

— Não gosta?

— Você usa uma máscara, eu pretendo tirá-la. — O tom perigoso me


alerta.

Ele vê além do que deixo transparecer, idiota!

— Impressão, senhor Zimmermann. Estou apenas intrigada com a


escolha, por que uma dança? — persisto.

Tenho a intuição de que minha resposta para fisgar o líder da


Zimmermann é a dança.

— Queria testar o que você diz junto a resposta do seu corpo — revela,
próximo à minha face.

— Estou mentindo? — Ouso perguntar. — As respostas lhe agradam?

Enquanto isso a dança continua, ele não pretende parar tão cedo.

— Não dei o direito de perguntar — rebate. — Responda, o que faz você


ter a ousadia de fazer perguntas sem que eu peça por elas?

É uma exigência e não ordem.


— Meu sexto sentido, qual a garantia que a dança me dá? Nada, prefiro
arriscar do que esperar você perguntar.

Preciso te atrair de qualquer forma.

— Faça uma pergunta.

— Qual é o seu tipo de mulher, Damien? A que pensa em ampliar poder


e lhe auxiliar em qualquer situação, ou a esposa perfeita para a família, um
simples enfeite? — sondo, observando-o.

Não há uma resposta, em vez disso o chefe alemão para a dança. Durante
esses dois meses estivemos em eventos e só troquei cumprimentos com
Damien.

Mas a cada vez que o via cheguei à conclusão de que para ser sua
escolha, tenho que deixar brechas para o mafioso ver que não somos tão
diferentes um do outro. Essas candidatas pensam no marido perfeito,
satisfazê-lo, porém, é preciso muito mais.

— Qual é a sua ambição? — pergunta não me dando uma resposta.


Mas sim uma outra pergunta.

— Tudo aquilo que eu colocar os olhos e desejar — acrescento. —


Casamento para mim é além da aparência, objetivos e desejos são mais
importantes.

— Me dê algo além de palavras convictas — exige. — Escolha


sabiamente, essa é a última resposta que vou exigir de você.

— O que você quiser, mas opto lhe dar a alma, coloque as suas garras
sobre mim. Acho que posso ser um espelho que reflete a figura que todos
aqui mais temem — confidencio. — Dou-lhe a minha vida.
— O que você disse a ele? — pergunta Roman, ao se aproximar
sorrateiramente.

Afasto-me das outras candidatas que aguardam a decisão de Damien.

— Apenas o que ninguém teria coragem de dizer — afirmo, convicta.

Jamais alguma dessas mulheres poderia entregar a própria vida, no meu


caso a entreguei.

— Espero que tenha dito palavras que o impressionem, o tempo está


correndo — lembra com um pequeno sorriso.

— Vou voltar para o meu lugar, deve fazer o mesmo.

Roman não questiona e se retira, volto para a minha cadeira, sento-me


olhando para os convidados que também estão na expectativa.
— A escolhida por ele deve seguir à risca as regras, meu pai disse que
irá repassar tudo para que eu não cometa erro nenhum — diz uma delas.

Roman deve fazer o mesmo comigo, preferiu revelar mais sobre essas
regras na noite do jantar. Tudo depende do resultado.

— Está confiante, ruiva?

Viro o pescoço, encontrando a mesma garota que me provocou.

— Interessa? — rebato, arqueando uma sobrancelha.

— Pela forma como se comporta parece que tem absoluta certeza de que
ganhou.

Sorrio divertida.

— Acho que está ainda mais desesperada, encare como um jogo com
peças no tabuleiro, nem todas as vezes se ganha — provoco.

Ela aperta os olhos para mim.

— Todas aqui fomos preparadas há mais tempo do que pensa. Terá a


menor probabilidade de ser escolhida, é uma desconhecida, querida. —
Sorri divertida.

Olho para as outras antes de encará-la.

— Estou vendo que se sente ameaçada.

— Cale a sua boca — rosna, entredentes.

— Eu não lhe devo obediência, fique com a língua dentro da boca se


quiser usar sua voz irritante para falar — ameaço.

Desvio a atenção para a movimentação com a volta de Damien, em suas


mãos há uma pequena caixa preta de veludo.
Os murmúrios das garotas aumentam assim como comentários dos
convidados, esperando pela resposta. As candidatas se colocam de pé,
menos eu.

Damien se aproxima, parece vir em minha direção, mas para na maldita


que estava ao meu lado. Não esboço nervosismo, apenas o acompanho com
os olhos até o momento em que ele dá outro passo.

O mafioso para diante de mim, levanto-me lentamente, ficando quase a


altura dos seus olhos, ele é bastante alto.

A caixa de veludo é aberta por Damien, revelando um belo anel de


diamante, a peça é colocada em meu dedo. Uma pequena joia qualquer está
nesse momento garantindo a minha vida.

— Morgan Muller é mein verlobter [2]e em breve será minha esposa —


anuncia o chefe da máfia alemã.

Ignoro os aplausos ao nosso redor pela escolha dessa noite. Encaro os


olhos azuis, a mulher que está diante de mim esconde algo, no olhar vejo
um brilho perigoso. Seu corpo por outro lado não demonstra perigo ou nada
do tipo, é oculto.

O que me fez escolher Morgan Muller foi minha intuição, ela jamais
falha, sinto que essa ruiva esconde algo, além de ter poder de me atrair da
mesma maneira.

Morgan olha o anel mais antigo da família que está agora em seu dedo.

— Não se esqueça do que me disse com suas próprias palavras — aviso,


encarando-a. — Essa aliança é um lembrete a quem você pertence, sua vida
é minha.

— Cumpro o que digo — afirma sem quebrar o contato visual.

— Damien, então a escolheu. — A voz de Roman surge junto a figura


patética. — Confesso que cheguei a duvidar que Morgan conseguisse
chamar a atenção a ponto de ser escolhida.

— Não crie expectativa demais, Roman — corto, desviando a atenção


para ele.

Enxergo o interesse por trás do largo sorriso.

— Lhe entrego a mão da minha filha sem temer pelo futuro de Morgan.
A família Muller serve você, a Zimmermann, somos peças, Damien.

Minhas marionetes.

— É bom que tenha consciência de qual é o seu lugar, tenho o domínio


de todos nessa máfia — reitero.

— Sempre será assim — assegura. — Precisamos brindar por esse


momento, e na presença de nossos membros.

Meu conselheiro e primos se juntam a nós, Elzo entrega uma taça para
Morgan e a outra para mim.
— Aos noivos, Damien e minha prima.

As taças batem umas nas outras, não demoro a terminar a bebida. Olho
para Elzo que se aproxima sem que eu precise chamá-lo.

— Quero todos em meu escritório agora, temos assuntos importantes a


tratar — ordeno.

Tiro a atenção para Morgan.

— Acompanhe Elzo e os que são necessários no escritório — aviso.

— Claro.

Ela passa por mim, seguindo ao lado do subchefe e de Roman, Aaron


surge em meu campo de visão.

— Suspeitei que a escolheria, devo confessar, a filha de Roman é


novidade, além de ser extremamente chamativa.

— Roman trouxe um segredo adormecido e agora eu tenho a filha dele


nas mãos — corrijo. — Se dirija aos familiares das outras candidatas.

— Senhor Zimmermann. — Uma voz feminina nos interrompe.

Vejo uma das candidatas ao lado do pai.

— Damien, queria propor que houvesse mais uma prova para as


candidatas. A filha de Roman foi apresentada apenas há dois meses.

Aproximo-me e vejo um certo receio.

— Alguma vez mudei de opinião ou permiti que escolhessem por mim?


— questiono, pegando-o pelo pescoço.

— Perdão, Damien — balbucia.


— Questione novamente qualquer ordem e pagará o preço — reitero,
desviando a atenção para Aaron. — Conselheiro, quem ousar ir até o
escritório sem ter o nome mencionado será morto — ameaço, jogando o
sujeito para trás.

Sigo o meu caminho, conseguindo ouvir comentários de surpresa,


aprovações e pequenos questionamentos.

Eles serão silenciados o quanto antes por meu conselheiro. Ao chegar em


meus ouvidos uma insistência haverá perigo.

Adentro no escritório na companhia dos outros homens, Roman está ao


meu lado, o seu plano está seguindo como ele deseja. Porém, não ficaria tão
confiante que seguirá exatamente como imagina, ele não tem controle de
Damien.

— Sente-se, priminha — diz Elzo, ao apontar a cadeira vazia. — Está se


saindo muito bem — elogia baixo.

— Obrigada.

Encaro-o rapidamente.
Afirmei para Roman e para ele que iria conseguir o objetivo, conheço as
pessoas, não preciso fazer esforço para ler alguém. Muitos escancaram
coisas sem perceber que outros disfarçam, mas sempre abrem pequenas
brechas.

Damien entra no escritório por último, ele vai até a sua cadeira diante de
mim, ao se sentar os olhos avelã voltam a se chocar contra os meus.

— Há regras e tradições que preciso passar para você, a primeira é que


passará quatro dias da semana comigo — informa.

Sou pega de surpresa, olho de relance para Roman.

— Quatro dias? — ele pergunta também surpreso. — Não seriam apenas


dois, Damien?

— Quatro — reforça em um tom perigoso. — Quer contrariar minha


ordem, Roman?

— Não — responde de pronto.

— Todo casamento ocorre no fim do ano, estamos próximos, três meses


apenas — revela Elzo.

Estou começando a ficar irritada com essas tradições, Roman escondeu


isso justamente para que eu não soubesse antes. Ele sabe como sou
temperamental.

— Durante esses meses vamos nos ver quatro vezes na semana, preciso
treiná-la, deve saber se defender por si própria quando não estiver por perto
— acrescenta Damien. — O que ela sabe fazer? — indaga, olhando
Roman.

— Morgan nunca teve contato com armas, ela precisa ser treinada,
Damien — concorda.

Ótimo, agora preciso fingir que não sei manusear uma arma.
— Como suspeitei — desdenha. — Não a preparou corretamente, mais
uma vez vejo o quanto você é fadado a falhar.

Roman absorve a crítica com dificuldade, diante de todos ele está sendo
colocado contra a parede. Elzo se mantém neutro.

— Quando irei começar a vir aqui? — pergunto, ganhando a atenção do


meu alvo.

— Amanhã, hoje Roman vai explicar o restante das regras e tradições


para você — reforça.

— A trarei depois do café, Damien.

— Elzo — chama, olhando para o Subchefe.

— Após a escolha, o próximo passo é a aproximação dos noivos e a


apresentação para a Alemanha — explica.

— Morgan precisa se inteirar na Zimmermann, afinal, Roman a deixou


fora — interfere um dos primos do chefe da máfia. — Tudo para ela é
diferente.

— Morgan está pronta para seguir nossas tradições, estou convicto disso
— rebate meu cliente.

— Tenho muito o que saber essa noite, podemos ir, pai? — pergunto,
encarando-o.

Tenho a vontade de lhe cortar a face por essa omissão.

— Tem razão, Damien, vou levá-la para casa — informa, ao se


aproximar da minha cadeira. — Tenho a sua permissão?

Meu noivo não o encara, toda a sua atenção se concentra em mim.


— Sim, a quero aqui o quanto antes, não demore ou irei atrás de você.
Não se esqueça da proteção de Morgan, não preciso lhe dizer que alguns
homens irão para a mansão — avisa.

— Tenha a certeza de que tudo acontecerá como deve ser, o casamento


de ambos é importante para a Zimmermann. Tudo deve ser perfeito, seu pai
queria isso, e todos os membros também — afirma.

Levanto-me da cadeira.

— Até amanhã — despeço-me e o encaro uma última vez.

Digo boa-noite antes de sair na companhia de Roman, o conselheiro de


Damien está à nossa espera com dez homens que passam a fazer minha
proteção. É tão estranho ser protegida, não estou acostumada com nada
disso.

A máfia é cercada de artimanhas e propósitos, como já imaginava ao ver


algumas notícias de massacres e guerras. Essa noite Damien jogou as cartas
na mesa, meu destino está selado.

Preciso cumprir todas as etapas, começando por uma conversa privada


com Roman assim que chegarmos à mansão Muller.

Sinto o clima pesado, pairando no ar durante o trajeto de carro, onde não


há nada além do silêncio.
Roman fecha a porta do escritório com a cara de poucos amigos, ele se
aproxima da janela, observando os novos homens que estão agora
responsáveis pela minha segurança.

— Deveria ter contado tudo desde o princípio — reforço, encarando-o.

Os olhos azuis me fitam.

— Você foi contratada para seguir o meu plano, não questione.

Dou risada.

— Posso estar presa nesse contrato, mas estamos falando da minha parte,
consegui ser escolhida por ele. Estou fazendo tudo conforme planejou,
tenho o direito de questionar algo — reitero.

Roman vai até a sua mesa, pegando uma garrafa de uísque.


— Escolhi que soubesse tudo agora, queria ter certeza de que iria
conseguir a atenção de Damien. Os casamentos na máfia Zimmermann
acontecem no fim do ano, no rigoroso inverno do final de ano mais
precisamente.

Prefiro ficar em pé enquanto o escuto.

— E esses quatro dias que Damien mencionou. Vou passar a ficar na


mansão de seu chefe? — questiono.

— A parte do dia apenas, normalmente é apenas dois dias na semana que


a noiva passa ao lado de seu futuro marido, mas Damien gosta de
surpreender.

— Você disse que eu não sei mexer em armas, quantas coisas a mais vou
precisar fazer? — sondo. — Detesto fingir.

— Não interessa o que gosta, criança! — rosna, entredentes. — Deve


mostrar não saber absolutamente nada sobre armas ou como se defender,
lembre-se de quem é seu noivo agora.

— Além disso, ele escolherá algo mais? A cada dia é uma coisa nova —
reclamo, impaciente.

— Passar tempo com ele será o momento que precisa estar atenta para
não escorregar em uma pergunta ou um gesto. Como também atrair
Damien, é necessário muito mais do que apenas dançar — avisa ao se
sentar.

— Sei muito bem disso, lhe disse que sei ler as pessoas, não foi diferente
com ele. Consigo enxergar com o que Damien é acostumado.

O sujeito quer o contrário, nada previsível.

— Durante esses três meses irão percorrer três pontos da Alemanha para
a sua apresentação aos demais membros da máfia alemã.
— Isso é necessário? Não havíamos falado sobre nada disso —
acrescento, fuzilando seus olhos.

— A Alemanha é um território dominado por Damien, você está lidando


com a máfia, assassina. Esqueça o que pensa que pode saber a respeito, aqui
você é uma peça que irá andar conforme a minha articulação das peças
desse jogo.

— Estou ciente disso, o problema é que nesse tempo sozinhos o que


posso fazer naquela casa? Não ficarei a todo momento atrás dele — indago.

Estou diante da convivência com o meu alvo, sempre fui rápida para
finalizar um trabalho, dessa vez preciso brincar com a presa por muito mais
tempo.

— Damien pode lhe dar liberdade para usar a piscina, o que desejar. Mas
o foco é o treinamento que ele fará, não demonstre conhecimento em armas,
saiba fingir. Entendeu? Mandarei mensagem para ver como está, não posso
interromper sem que o próprio queira a minha presença lá.

— Pode aumentar o que me prometeu, Roman. Estou fazendo mais do


que disse quando foi atrás de mim, quero toda a minha parte na herança —
reforço.

— O que receber será meu, não esqueça de quem a contratou, irei dividir
as partes.

Não passará a perna em mim, tolo.

— Já posso sair? Acho que essa conversa acabou.

Quando faço menção de sair, ele interrompe.

— Não acabamos ainda, sente-se.

— Prefiro ficar em pé, diga. Amanhã preciso estar bem disposta, lembre-
se disso — aviso, arqueando uma sobrancelha.
— Preciso levá-la ao médico. Há quanto tempo não passa em um
especialista?

— Que porcaria é essa? Não estou doente — rebato, mordaz.

— Você não é mais virgem, não é? Andou se prevenindo de doenças


com os homens com quem se relacionou? — questiona, sério.

Fico paralisada com essa pergunta, é como despertar no passado, nas


garras do maldito zelador do orfanato.

— Não irei passar por consultas!

Roman fica surpreso pelo meu tom de voz, se estivesse com meu punhal
em mãos o cortaria sem pensar duas vezes. Fecho o punho, tentando me
conter.

— Controle o instinto, a sua sorte é que não há uma regra que exige
pureza intacta na Zimmermann ou estaria em maus lençóis. Irei marcar a
avaliação com um médico da família, fará vários exames para saber sobre a
sua saúde, não adianta rosnar. É o seu papel, criança — reitera.

— Tome cuidado, posso acabar com essa farsa antes mesmo de você
sonhar em agarrar a fortuna e o cargo de Damien para o seu sobrinho —
alerto. — Tem muito a perder, Roman.

— Não ouse me ameaçar, Morgan. Se um de nós cair, o outro também


cairá, controle sua língua e saia do escritório — rosna.

Dou as costas saindo dali para respirar, Roman está brincando comigo,
testando a paciência com tudo isso. Tento mandar para longe as lembranças
que me atormentam, enquanto piso forte no corredor não me restam dúvidas
de que é necessário construir um outro caminho.

Roman e Elzo são marionetes imprevisíveis que podem cair mais cedo
do que se espera.
Agora como noiva de Damien, preciso seduzir, trazê-lo para mim. Não
tenho nada a perder em trair Roman Muller e o patético sobrinho ao
conseguir um lugar na cama e na vida do chefe da máfia.

Fui acordada bem cedo, tomei café da manhã com Roman, exigindo que
fosse rápida. O trajeto foi silencioso até o momento em que o veículo
adentrou a propriedade de Damien.

— Não esqueça de fingir, erre quantas vezes for necessário — avisa. —


Ele irá prestar atenção em você e não estarei lá para auxiliar.

Não sou um brinquedo em suas mãos, tolo.

— Tivemos essa conversa em seu escritório — tranquilizo-o. — Não


vou demonstrar saber nada.

Roman abre a porta do carro e sai logo depois, caminhando atrás dele.
Meu pai postiço não consegue entrar na mansão, Aaron, o conselheiro abre
a porta.

— Roman, apenas ela irá passar — cumprimenta, encarando-o.

— Tudo bem, filha, nós nos vemos mais tarde — despede-se com um
olhar de aviso.

— Até mais tarde, pai.

Adentro a mansão na companhia de Aaron, sinto a ira de Roman à


distância por não ter entrado comigo.
— Onde está Damien? — pergunto para o conselheiro.

— Está no escritório, mas deve esperar no jardim, precisa começar a


aprender o que Roman não a ensinou — provoca.

Roman me obrigou a ter postura, apenas isso.

— Pensei que as mulheres não teriam que aprender isso — sondo.

— Será uma mulher importante em pouco tempo — responde ao abrir as


portas de vidro do jardim.

Uma grande piscina e área de lazer estão no lado esquerdo, afastado de


onde estamos indo, Aaron para diante de uma mesa com armas e objetos
cortantes.

Meus olhos pousam sobre um punhal, esse é maior do que o que está
comigo, guardado na mansão de Roman.

— Está dispensado, conselheiro.

Viro o pescoço e encontro Damien, Aaron passa por mim indo até o seu
chefe, os dois trocam um breve olhar.

Estou sozinha com o alvo.

— Escolha algo — manda ao se aproximar.

— Qualquer coisa? — pergunto, analisando-o.

— Faça.

Olho para a mesa com diversas opções, é como um cardápio de um


restaurante, já utilizei muitos objetivos para marcar meus alvos.

Damien está me testando, e eu não posso entregar motivos para que crie
desconfiança a meu respeito. Opto pegar uma faca, encaro o chefe da máfia
e o vejo analisar minha face.

— Dos objetos dessa mesa o único que sabe manusear é uma faca?

— Cortava frutas para a minha tia — minto, perfeitamente bem.

— Pelo menos sabe fazer algo. Deixe a faca, segure isso. — Pega uma
arma e estende a mão.

Entrego a faca e no lugar seguro o que ele escolheu, mas de uma forma
desajeitada e um pouco receosa.

— Prefiro a faca — digo, subindo o olhar para Damien.

— Não lhe dou a oportunidade de preferir. Ajeite a arma, Morgan, quero


que atire em um dos alvos — exige.

Estamos dançando novamente, só que algo mais perigoso. Acompanho-


o, estamos a uma boa distância dos bonecos com marcações no coração,
cabeça e outras partes do corpo.

— Atire!

Ajeito a arma e atiro sem preparo nenhum, ela passa raspando a lateral
de um boneco. Sem esperar, Damien segura meu braço com uma certa
força.

Encaro os olhos avelã.

— Faça o que seus olhos estão demonstrando, não acredito que isso é o
melhor que você pode conseguir — reitera.

— Tenho receio, meu pai nunca me deu uma arma — respondo de


pronto.

Damien ri.
— Se quiser sair desse jardim é melhor atirar de uma forma que me
agrade — reforça.

Ele me solta, parando atrás de mim. Fingir, repito para a minha cabeça,
queria surpreender Damien com um tiro perfeito em todos esses bonecos.
Mas eu sou a filha de Roman, esse papel é meu por um bom tempo.

Ajeito a arma, apontando para um dos bonecos, seguro o gatilho até


conseguir captar o local que eu consigo demonstrar um tiro melhor. Atiro
no braço do boneco, está longe de ser muito útil se fosse em um alvo real.

Viro para Damien.

— Isso foi melhor, e irá melhorar ainda mais — assegura, pegando a


arma da minha mão.

— Vamos ficar o dia todo aqui fora? — pergunto, interessada.

— Poderia colocá-la para treinar até o sol se pôr.

Minha mão coça para fazer algo, apertar seus ossos pela resposta
provocativa.

Ele encara meus olhos como se vasculhasse a minha alma. O que está
procurando não faço ideia.

— Vamos para o escritório, Roman lhe trouxe sem explicar nada. Cortar
frutas parece ser a única coisa que sabe — desdenha.

Sinto o meu corpo formigar, queria lhe mostrar uma boa briga, derrubar
seu corpo forte no chão e estar por cima. Mas sem ter essa opção fico
próxima de Damien.

— Meu pai escolheu cuidar do meu primo a vida toda. Apenas agora
tenho a atenção principal, quero que me ensine tudo, Damien — peço.

Enquanto explica, dou passos até ele.


É a segunda vez que estou no escritório de Damen. Não consigo ficar
confortável em nenhum maldito cômodo que me lembre o escritório do
orfanato, mas é necessário tolerar agora que tenho obrigações.

Damien fecha a porta rapidamente e em passos firmes vai até a mesa, ele
gira a chave em uma pequena maçaneta da gaveta. Em seguida, o vejo tirar
uma pasta, deixando-a sobre a mesa de madeira.

— Pegue.

Puxo a pasta na minha direção, abro e vejo algumas fotos de um casal


em um evento onde vejo apenas pessoas importantes. O homem me chama
atenção, os olhos avelã são idênticos aos dele.

— São seus pais? — indago.


— Sim, esse evento é um dos quais estará ao meu lado. A Alemanha
inteira me pertence, Hamburgo é o território principal onde a Zimmermann
fica, há outros dois pontos que iremos visitar.

Damien se senta em sua cadeira enquanto observa meus dedos folhearem


a próxima página. Os pais dele eram novos, certamente foram obrigados a
casarem cedo.

— Preciso ser apresentada para reforçar a sua escolha? — pergunto sem


encarar seus olhos.

— Exatamente, a partir do momento em que a escolhi, nenhum outro


pode intervir na escolha. A minha vontade prevalece sempre — reitera.

Imagino suas mãos cortando a minha pele para o poder que ele exala
adentrar. Damien não consegue deixar de ser dominador.

— Quero saber como vai ser a cerimônia, as regras — digo, encarando-


o.

— A Zimmermann possui o casamento como a regra principal para


todos, servir é a propriedade. Isso segue igual às outras máfias, mas temos
diferenças, há espaço para mulheres atuarem como soldados. Um herdeiro
não precisa casar para se tornar chefe — explica.

Ele serve um pouco de uísque enquanto leva aos lábios. Então por isso
Damien está se casando agora, teve a escolha de decidir quando seria esse
momento.

— Quero uma bebida também — aviso.

— Lhe darei álcool quando acabarmos, escute com atenção tudo o que
estou dizendo, não costumo repetir.

Conveniente, não? Preciso decorar essas baboseiras e o crápula pode


beber.
— A escolha do vestido, a festa e a noite de núpcias? — ouso perguntar.

Tenho curiosidade em saber a respeito.

— O vestido será escolhido por mim.

— O quê?

Não consigo disfarçar a surpresa.

— Estarão no escritório a estilista e eu, verei o que prefiro no seu corpo,


então irá usar o vestido que me agradar.

Levanto uma sobrancelha.

— Pensei que ver a noiva antes do casamento dava azar.

— Foda-se, a festa será na presença de membros da Zimmermann e de


outras máfias, além de convidados de fora. Deve manter a boca fechada
sobre qualquer assunto perto de alguém que não seja da máfia — reforça.
— Passaremos a lua de mel em algum lugar da Alemanha, mas o que
precisa saber é que eu irei transar com você.

A forma como ele afirma que irá acontecer esse ato, acaba me atraindo,
Damien tem toda a minha atenção agora.

— Já li livros onde a noite de núpcias não é consumada e novelas onde


não tem troca de carícias entre os recém-casados — brinco com ele.

O perigo brilha no olhar do mafioso.

— Esqueça o que leu ou viu na companhia de sua tia. — Seu tom é letal.
— Estará nua e na cama comigo, Morgan.

Resolvo jogar mais fogo nessa brincadeira.


— Mesmo se sua esposa não for virgem? — indago com um pequeno
sorriso.

— A partir do momento em que ganhar o meu sobrenome você é minha,


assim como o seu corpo inteiro — assegura, enfrentando meus olhos. —
Não vejo inocência em você ou nada que demonstre que é intocada —
revela.

Sou pega de surpresa pelo que acaba de sair dos seus lábios. Bom, a
inocência jamais será passada por mim, ela foi arrancada há muito tempo.
Não sei reproduzir nenhuma faísca dela.

— É mesmo assim acabou me escolhendo — acrescento.

— Quem era ele? — a pergunta de Damien me paralisa.

Um estuprador asqueroso. Evito pensar nas lembranças ruins, a única


recordação que gosto de pensar é quando eu o matei. E usei aquela agulha.

— Um amigo de infância, mas ele acabou morrendo afogado em um


acidente de iate — minto, descaradamente.

— Voltando ao que estávamos falando, eu obtenho tudo sobre quem me


rodeia — diz, encarando-me. — O que não pergunto, farejo a distância.

— Estou tendo uma prova disso — afirmo. — Agora posso beber?

Ele pega um copo, enchendo com pouca quantidade, mas quando


estendo a mão para pegar, Damien não entrega.

— O que precisa me entregar na igreja? — pergunta, segurando o copo


perto de mim.

Há um choque entre nossos dedos quando seguro o vidro junto a sua


mão.
— Já lhe entreguei durante a nossa dança — lembro, olhando no fundo
dos olhos avelã.

A alma, e em pouco tempo já prevejo suas mãos na minha pele clara.

Durante o almoço há apenas nós dois em uma sala de jantar gigantesca,


esses saltos estão me incomodando.

— Está na hora de saber mais sobre a Zimmermann.

Encaro-o enquanto Damien coloca a taça de vinho sobre a mesa.

— Estava esperando quando íamos chegar nessa parte — comento,


prestando atenção em sua face. — Até agora somente sei sobre a origem.

— A organização é como uma pirâmide, sou o chefe, as ordens e


decisões são minhas, abaixo Elzo, o subchefe. Ele me representa e
tem domínio sobre os soldados e membros, após ele vem Aaron, o
conselheiro — detalha.

— Aaron é responsável pela comunicação e conselhos — respondo.

— Exatamente, e o que vem depois dele? — sonda.

Merda, sempre tem mais alguém!

— Os membros.

— Há mais funções, o executor responsável por matar alvos, contador,


ele cuida da parte financeira. Tem muito o que aprender, é melhor que saiba
todas essas informações — avisa.
— Estou decorando tudo, tenho uma boa memória — asseguro. — Os
negócios que a Zimmermann faz, quais são?

— Tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, assassinatos, corrupção e


tráfico humano — diz, sem aprofundar os detalhes. — Vai ver como
funciona tudo o que relatei, Morgan, faz parte do que representa agora —
acrescenta, enfrentando meu olhar.

— Não espere menos de mim, quando pedi que me ensinasse


tudo, engloba a máfia Zimmermann por completo.

Já via algumas coisas que tinham um toque da máfia, porém, estava fora,
a uma boa distância da Zimmermann.

Como noiva de Damien, estou dentro da organização. Ocupando um


lugar importante que me dá uma visão ampla e conhecimento sobre tudo.
Tenho o desejo de saber muito mais, presenciar com os meus próprios
olhos.

Saí do orfanato, levando dúvidas sobre a minha origem, naquela época


muitas crianças eram levadas pelo tráfico. Um destino sem volta.

O sol está se pondo quando Roman surge na sala principal da mansão de


Damien, meu pai postiço abre um sorriso.

— Espero que Morgan tenha feito o que pediu.

— Tinha o contrário em mente, Roman? — rebate, encarando-o. — Na


verdade, estava pensando seriamente em como você é inútil, ainda tenho
ideais do que fazer com você — ameaça.
Vejo Roman perder o sorriso pretensioso.

— Damien, servi sua família e a Zimmermann toda a minha família vida.


Morgan nos tornará família...

— Nem o meu noivado com ela pode lhe salvar de nada — assegura o
mafioso.

Roman está escorregando no próprio lixo. Pensei que a situação não


poderia piorar quando vejo o próprio se ajoelhar perante ao meu noivo.

— Perdão, meu chefe.

Aprecio a humilhação de Roman. Damien o ignora, voltando a sua


atenção para mim.

— Amanhã irei buscá-la.

— Damien, Morgan tem consulta médica, ela precisa fazer exames de


rotina — interrompe.

Não acredito que o maldito vai me obrigar a fazer um check-up.

— Consiga a consulta na parte da manhã — exige Damien, o encarando-


o.

— Para onde vamos? — pergunto, curiosa.

— Ao sul da Alemanha, o primeiro compromisso antes do casamento —


explica Damien.

— Temos que fazer as malas, filha. Irá gostar da viagem, estarei ao seu
lado — diz Roman ao se pôr de pé. — Elzo deve ir também.

— Elzo ficará em Hamburgo, Aaron irá conosco — corrige o chefe da


máfia.
— Até amanhã — digo por fim.

Trocamos um breve olhar, os olhos perigosos sempre à espreita. Nossa


tarde juntos foi esclarecedora.

— Boa noite, Damien. Vamos, Morgan — despede-se meu pai.

Deixo a mansão em silêncio, na minha cabeça já está sólido o que eu


preciso fazer. Não vou estar de joelhos como Roman.

Ele pensa que estou absolutamente do seu lado, mas aprendi a pensar em
minha sobrevivência antes de qualquer coisa. Sento-me no banco e tiro os
sapatos dos meus pés, Roman entra batendo a porta com força.

Alguém está irritado e preocupado.

— Alguma pergunta? — sondo, escondendo o sorriso.

— Responderá o que eu quiser saber assim que chegarmos em casa, mas


antes disso quero que faça o seu trabalho, precisa enredá-lo! — rosna. —
Quero ver Damien Zimmermann louco por você, faça o que eu mando,
Morgan.

— Farei isso.

— Nessa viagem — pressiona — Lembre-se de quem a controla.

Tolo. Enquanto está agarrado a sua fantasia, pretendo atrair Damien


pensando em meu total benefício.
Roman atende à ligação de Elzo assim que chegamos à mansão,
aproveito esse momento para subir até o quarto.
Tenho a consciência de que Roman subirá para exigir respostas, mas
apenas irei revelar o que eu quiser.
Caminho até o espelho da penteadeira, detesto essas roupas, saltos em
vez de botas, sinto falta das minhas roupas e o galpão onde estava vivendo.
Escuto passos no corredor, viro-me para encontrar o rosto de Roman
Muller, ele fecha a porta para termos privacidade.
— Como se saiu com as armas? Não omita nada.
— Escolhi usar uma faca, disse que era o único objeto que sabia usar, já
que cortava frutas morando com a minha tia — explico.
Ele aperta os olhos ao dar um passo lento.
— O que ele disse? Relate tudo.
— Ele disse que vai me treinar para saber atirar, Damien disse que é
culpa sua, afinal, não ensinou nada — provoco-o. — Se ajoelhar para o seu
chefe é uma maneira de tentar enrolar Damien? Acho que não funciona.
Roman acaba com a distância entre nós.
— Cale a sua boca! O que mais ele lhe disse? Sobre a Zimmermann? A
família? — sonda, impaciente.
— Apenas a origem da Zimmermann, uma foto dos pais dele. Falamos
do casamento...
Ele não me deixa falar, Roman segura a arma em direção ao meu
pescoço, pressionando o cano na garganta.
— Damien lhe disse mais, fale! Está tentando me passar a perna? O que
você disse? — rosna.
Dou risada.
— Está invertendo os papéis, Roman? — questiono, pego a arma de sua
mão. — Não sou a sua filhinha indefesa, você contratou uma assassina. Não
ouse me ameaçar com essa arma ou encostar a mão no meu corpo para
conseguir o que almeja, precisa que Damien esteja comigo! — reforço.
— Faça o seu papel, se quiser colocar as mãos no dinheiro e sobreviver.
Um passo em falso e lhe arrasto comigo para uma cova funda.
Entrego a arma sem quebrar o contato visual, mantenho nossos olhares
um no outro.
— Não se esqueça de que eu dei a minha palavra, farei o que pediu.
Estou seguindo seu plano, temos um acordo, e nesse tempo sei que é um
mafioso que precisa honrá-los — comento com um leve sorriso. — Por
enquanto Damien não disse nada além disso.
— Ele deve falar durante a viagem, aquele miserável gosta de surpresas,
mexer com o psicológico. Com sorte você sabe usar artimanhas para
escapar disso, bom, deve tomar um banho e descansar. Afinal, amanhã
teremos um dia muito agitado.
— Avisei que não iria passar em um médico, lembra? — sondo,
observando-o.
Roman sorri debochado.
— Você vai passar na consulta e realizar os exames que o médico exigir.
Estava acostumada a dormir em lugares imundos, sem falar nas relações
que tinha.
— Saia desse quarto — ameaço. — Sou limpa, a única parte do meu
corpo que sempre acaba suja é as minhas mãos. — Sorrio levemente. — Há
sempre sangue nelas.
— Amanhã teremos a viagem ao lado de seu noivo, quero que aproveite
esse tempo. Quero ver Damien Zimmermann atrás de você — exige. — O
tempo passa, e a cada minuto sem dar o que eu quero, você coloca sua vida
miserável em minhas mãos.
Assisto Roman fechar a porta bruscamente, estou ajudando a cavar sua
cova, quando menos perceber vai cair direto nela. Imbecil.
Abaixo-me e encontro o punhal que trouxe para cá, jamais saio em uma
viagem sem ele.
Só preciso camuflar o meu amado acessório.

Desperto com passos próximos, abro os olhos imediatamente antes de


ser surpreendida, mas tenho uma pequena surpresa ao encontrar Alessa.
— O que faz aqui? — questiono ao levantar rapidamente.
— Roman disse sobre sua consulta no médico e a viagem, vim ajudá-la a
ficar pronta, Morgan.
— Não sou um objeto, sei me vestir — reforço.
Ela se senta na cama, cruzando os braços.
— Já me conhece o suficiente para saber que não irei sair desse quarto,
temos muito trabalho a fazer — avisa, sorrindo.
— Escolha um vestido e aqueles malditos saltos novamente, e estará em
perigo — alerto ao sair.
— Poderia exigir que lesse um livro com mais páginas do que se deve
imaginar com menos de vinte e quatro horas de prazo. Mas vê-la andar
exatamente como ensinei é satisfatório, Morgan.
Viro o pescoço e vejo o sorriso aumentar, ignoro seu elogio idiota.
Estou passando tempo demais nesse papel, acabei me esquecendo que
não preciso andar assim dentro dessa casa sem presenças importantes.
Fecho a porta do banheiro, observando meu rosto, Roman quer testar
minha paciência ao me acordar tão cedo com Alessa.
Retiro minhas roupas e entro no chuveiro, a água cai sobre meu corpo,
por um momento encaro o anel em meu dedo, a pedra brilha, prendendo
total atenção.
Lembro-me dos olhos avelã, Alessa tem razão, há bastante trabalho, e eu
apenas comecei.

Encaro o espelho enquanto observo, finalmente, uma roupa que não seja
vestido, em vez disso, calça jeans, cropped preto de couro e botas de salto
grosso.
Respiro fundo ao sentir o conforto nos meus pés.
— Seu cabelo é lindo, Morgan. Devia fazer penteados diferentes com ele
— sugere Alessa, ao passar a escova nas mechas ruivas.
Sorrio debochada.
— Não ouse, detesto presilhas e essas coisas.
— Tão bem-humorada de manhã, agora fale sobre Damien. É a primeira
viagem que irá fazer ao lado dele, está nervosa? — pergunta, curiosa.
— Não, mais outra pergunta tola? — indago, arqueando a sobrancelha.
— Seu ego é um problema.
— Simplesmente não ligo para essas futilidades.
— Essa viagem é importante, será apresentada para outros membros da
máfia. Fortificar o papel de noiva do chefe, sabe que precisa ser
extremamente perfeita — diz, ao se aproximar com a base e um pincel em
mãos.
— Estou pronta para isso, Alessa. Damien me escolheu porque fui a
melhor opção entre as outras candidatas — asseguro, convicta.
Consegui sua atenção e o mérito pertence exclusivamente a mim.
Vejo-a sorrir fraco.
— Invejo essa segurança que você tem.
Percebo sua fraqueza exposta como uma ferida, minha mente perversa
sussurra algo interessante.
— Alessa, meu pai tem dificuldade em seguir em frente e dar um passo
adiante com você — explico. — Quero que esteja com ele.
Ela pisca surpresa.
— Não se incomoda?
— Não está lidando com uma criança, quero ajudá-la.
Alessa é solitária, e está loucamente apaixonada por Roman. Tê-la por
perto é benéfico, posso ter uma espiã para contar tudo e de sobra Roman
ficará ocupado.
— Elzo jamais olhou para mim por muito tempo...
— O que importa ao meu primo é o casamento e o lugar que ele tem —
afirmo.
É a cópia de Roman, o que ela queria?
— O que você pensa em fazer? — pergunta Alessa.
— Terminar o que pedi. — A voz de Roman atrapalha totalmente a
conversa.
Ele entra no quarto impaciente, aproxima-se a fim de me observar.
— Coloque um pouco de cor nas bochechas dela, Alessa.
— Estava falando com ela, na verdade, fiz um convite. Quero que Alessa
nos acompanhe nessa viagem — anuncio ao me levantar da cadeira.
— Ela ficará em Hamburgo — rebate Roman. — Não precisa dela.
— Pelo contrário, nunca viajei ou fui para uma apresentação —
acrescento. — Pai, sabe que tenho dificuldade em me relacionar com as
pessoas, além disso, você pode levar Alessa, ela é sua namorada.
As bochechas dela estão coradas, há um brilho em seus olhos.
Roman olha rapidamente para ela e depois volta a atenção para mim.
— Tem razão, filha, venha conosco, Alessa. Irá ser apresentada e está
encarregada de não deixar Morgan cometer um único erro — reitera. —
Espero ambas lá embaixo, não demorem.
Antes de vê-lo sair do cômodo, consigo ver que não sou a única que quer
usar Alessa.
Roman quer vender que está empenhado em estruturar a família
novamente, mas, na verdade, tudo é uma distração para ocultar sua real
intenção.
— Nunca vi seu pai concordar tão rápido. Você está mudando Roman,
acho que ficar tanto tempo longe de você afetou a vida dele.
— Se você pensa assim, agora termine essa maquiagem — exijo sem
paciência.
— Vou aceitar sua impaciência, já que está me ajudando.
Reviro os olhos ao ver o entusiasmo estampado em sua face, Alessa
começa a conversar sobre a viagem e o que poderá levar.
Ao sairmos do quarto, meu único pensamento é colocar em prática o
quanto antes o próximo passo.
Terei Damien Zimmermann totalmente na minha mão, ele se tornou uma
peça de um quebra-cabeça distorcido. Mas antes tenho uma consulta médica
para lidar, pretendo que seja rápida e breve. Roman adora se esquecer com
quem está lidando, o plano dele é um pedaço de papel em branco.
Simplesmente o que tenho em mente é melhor, no orfanato era
acostumada a ter que dividir tudo com os outros. Porém, Damien é a chave
de algo maior, estar ao seu lado me dará absolutamente mais do que aquele
tolo me prometeu.
Pela primeira vez terei algo somente para mim.
Os olhos escuros do médico da confiança de Roman estão me
analisando, enquanto faz perguntas e eu não demoro a responder nenhuma.
Exigi entrar sozinha no consultório, consigo facilmente lidar com
qualquer um.
— Fará um exame de sangue para ver como está a sua saúde, além de
outros. Roman disse que quer os resultados o quanto antes, afinal, há um
casamento pela frente — comenta, tirando a atenção dos papéis. —
Conheço seu noivo, imagino que...
— Cuide melhor da sua língua, a curiosidade é perigosa, doutor —
ameaço, ficando de pé.
Vejo o lampejo de surpresa nos olhos assustados.
Estava esperando por uma menininha que não tem uma resposta? Ele
tem sorte, já que não posso ser quem sou de verdade.
— Espero vê-la no retorno com os exames, Morgan — muda o assunto.
— Até mais.
Pego os papéis de suas mãos, quando saio da sala, vejo que Roman está
ali. Quando dou alguns passos ficando diante ao meu querido pai, ele pega
os exames com pressa em vê-los.
— Ficou dez minutos apenas. O que fez, criança? — sonda.
— O que você queria, aqui está o pedido dos exames.
— Passou pela consulta e está inteira. O doutor arrancou um pedaço de
você? — provoca.
Tenho uma resposta na ponta da língua, mas uma movimentação chama
a nossa atenção, acompanhado por Aaron, o meu querido noivo acaba de
chegar à sala de espera do consultório.
Roman se esquece de qualquer desconfiança sobre a consulta, Alessa
está ao meu lado com os olhos bem atentos.
— Damien, queria apresentar Alessa, minha namorada. Morgan pediu
para levá-la em nossa viagem, assim ela terá uma figura feminina por perto
— explica, guardando os papéis no paletó.
Os olhos avelã pousam sobre Alessa, o chefe da máfia não demora cinco
segundos para tirar a atenção para mim.
— Tem certeza? — pergunta.
— Sim, Alessa é uma dama de companhia — afirmo.
— Senhor Zimmermann, prazer — cumprimenta Alessa ao abaixar a
cabeça.
Acho que ela não se esqueceu de que o ego e a fama de Damien é ter
todos sob controle, servindo somente ao chefe.
— Você é uma caixa de surpresas, Roman — alfineta Aaron. — O que
será da próxima vez?
— Estou recomeçando a família, Aaron. Damien sabe que a minha
prioridade é o compromisso com a Zimmermann.
Que teatro mais entediante.
— Venha. — O convite de Damien é música para os meus ouvidos.
Ando ao seu lado, deixando Ramon e Alessa logo atrás com Aaron.
O trajeto de carro segue sem atrasos, a pista está com a aeronave a
postos, não consigo deixar de analisar o jatinho particular.
Jamais viajei de avião, oculto um certo receio ao pensar em um
transporte aéreo. Sempre andei escondida em caminhões, viagens perigosas,
porém, não como essas.
Preciso de uma boa bebida, é o primeiro pensamento ao entrar na
aeronave. Observo o espaço, lugares confortáveis, duas moças à disposição
com opções de cardápio.
Sento-me em uma poltrona qualquer, olho para a janela ao meu lado,
meus pensamentos são interrompidos quando Damien se senta.
— Vejo um traço de nervosismo? — questiona.
Encaro seus olhos.
— Não gosto de viajar.
Ele é esperto demais, tentar mudar o assunto é idiotice.
— Vai se acostumar em breve — afirma, convicto.
— Ainda não me disse sobre a apresentação, será assim que chegarmos?
— pergunto, interessada.
— Ao pôr do sol, comprei um vestido, ele estará em seu quarto. Usará
ele para a apresentação. Morgan, onde irá me prometer sua vida diante de
todos os membros — revela.
— Um vestido? Posso confiar no seu gosto? Aliás, quais são as minhas
medidas? — questiono.
Novamente um maldito vestido!
Uma aeromoça se aproxima com dois copos de uísque, pego um, tenho o
que preciso para não pensar em quantos minutos essa viagem irá durar.
Damien pega o seu copo, porém, antes de responder minha dúvida, seu
olhar desce para o meu corpo, cada traço não passa despercebido.
Me sinto nua, é como se não existisse nenhuma roupa cobrindo a pele
exposta, tenho também a certeza de que ele deve imaginar o mesmo.
Seu olhar causa arrepios prazerosos.
— Estou um passo à frente, é o que precisa saber. Agora, beba comigo,
noiva — manda, batendo levemente o copo no meu.
Levo a bebida aos lábios lentamente, assim como Damien, somos duas
raposas farejando um ao outro.
Nenhum de nós dois é ingênuo, ele, o homem mais importante desse
lugar é esperto e perigosamente delicioso.

O jatinho aterrissou após três horas e alguns minutos de viagem, uma


cidade desconhecida, cercada por grandes arranha-céus.
Um veículo a postos esperava por nós, soldados que vieram conosco
encontram com os outros homens da Zimmermann.
Assim que o veículo começou a andar pelas ruas, soube por Alessa que
estávamos em Frankfurt, uma cidade no estado central de Hessen.
Já passei por outra cidade do estado para realizar um trabalho, porém, as
viagens eram longas por não arriscar entrar em uma aeronave.
Os carros andam por mais um pouco, até parar diante de um prédio
enorme, certamente um hotel.
Saímos e as nossas malas são levadas por funcionários que
cumprimentam Damien, Aaron e até Roman.
— Esse hotel é magnífico — diz Alessa, admirando a paisagem. —
Espere até estar em um dos quartos.
Andamos juntas indo até a recepção, Damien fala com Aaron, e logo
com a atendente.
Roman se aproxima com o cartão de acesso.
— Filha, seu quarto é ao lado de Alessa, o meu é no fim do corredor —
anuncia.
Pego o cartão de sua mão.
— Não me importo com isso — rebato.
Aaron se aproxima nos dando um recado, Damien sai em direção à porta
principal com o celular na orelha.
Volto a atenção para o conselheiro.
— Usem o começo da tarde para descansar, estejam prontas ao fim da
tarde. Roman, me siga e seja rápido.
Ele não demora a se retirar, indo na direção do chefe da máfia.
— Uma espécie de reunião? — sondo Roman.
— Sim, Hessen é o primeiro território. Temos pessoas importantes para
ver, cuide em fazer o que Aaron disse, é a estrela dessa noite, filha —
despede-se com um olhar carregado de muitos avisos.
Assisto-o dar um beijo na bochecha de Alessa, Roman se retira, nos
deixando na companhia de alguns soldados.
— Venha, vamos ver o seu quarto — chama Alessa.
Sigo-a sem entusiasmo, apenas curiosidade em saber se o vestido que
Damien comprou já está lá.
Ao passar o cartão e liberar o acesso, encontro um belo quarto de luxo,
porém, não encontro o vestido em cima da cama como pensei.
— Deve tomar um banho de banheira, esses sais são magníficos. Porém,
temos que esperar as malas, está procurando alguma coisa? — pergunta,
curiosa.
Ando até uma porta com detalhes, onde dentro há um closet, o espelho
enorme consegue revelar tudo.
No fundo do lugar, é possível ver um vestido na cor preta.
— Roman escolheu esse vestido? Não, ele não fez isso, é o modelo mais
vulgar! — nega, inconformada.
Dou risada.
Aproximo-me e pego a peça, diferente dos vestidos idiotas que sou
obrigada a vestir, este é diferente.
A gola em X envolve os meus seios e os cobre, mas, por outro lado,
deixa a pele exposta.
Uma fenda na perna direita é o toque final.
— Não foi Roman quem me deu, isso é um presente de Damien.
Esperava por lacinhos ou um vestido fechado? — provoco-a.
— Não acredito que vou precisar engolir minha opinião sobre um
vestido pela primeira vez na vida. Prefiro não irritar seu futuro marido, mas
será que Roman deixará usar essa peça?
— Tenho certeza de que sim.
Foda-se o que Damien pedir que eu faça, Roman aceitará tudo.
— Tenho que pensar em outra joia, o vestido tampa seu pescoço.
— Uma pulseira ou brincos, agora já pode conhecer o seu quarto,
Alessa. Não se esqueça de que vai estar no evento dessa noite, procure uma
roupa para esse momento — aconselho.
— Tem razão, enquanto cuido do que vou vestir, Morgan, descanse —
orienta, ao sair do quarto.
Sorrio por estar finalmente sozinha.
Minhas malas são entregues logo depois, abro uma maior com produtos
que Alessa insiste em me fazer usar, embaixo da necessaire e algumas peças
de roupas está o meu precioso punhal.
Queria levá-lo para essa apresentação, porém, o vestido me impede,
além de que, preciso esperar um pouco.
O que Damien sabe é que não sei usar nada além de uma faca.
Encaro o presente que ganhei, passo os dedos pelo tecido, pela primeira
vez não vou reclamar da roupa.
Parece que meu futuro marido não quer esconder ou prender o corpo da
noiva em peças comportadas.
Damien consegue enxergar a ausência de inocência em mim, e eu
aprecio suas palavras cada vez mais.
Decido guardar o punhal e traçar os meus passos durante toda essa noite.
Primeiro, ser apresentada para uma multidão de mafiosos entre outras
figuras importantes. Segundo, entregar para Damien e seus convidados
palavras que impressionem.
Terceiro, não faço ideia dos próximos acontecimentos.
As luzes da cidade são uma atração aos olhos, o sol está se pondo.
Depois de tomar um banho relaxante, Alessa voltou ao meu quarto para
começar a preparação.
Aproveitei que ela foi ver Roman e ajudá-lo, escolhi um par de brincos e
estou ajeitando esse acessório quando vejo uma figura no cômodo.
A imagem de Damien se revela, vestido em um paletó preto assim como
a calça, a camisa social vermelha é uma novidade.
Sinto a sua respiração em meu pescoço, enquanto encontro refletido no
espelho a nossa imagem.
A mão forte afasta algumas mechas do meu cabelo, deixando o caminho
livre para que Damien possa tocar a pele do vale dos meus seios.
— Pensei que iria ganhar um vestido mais comportado — comento,
sentindo o seu toque.
— Gosto de ver a sua pele e senti-la. — A voz profunda me excita.
— Você não me disse o que exatamente preciso dizer para os convidados
— lembro.
Damien vira o rosto para poder encarar meus olhos que neste momento
estão o encarando.
A outra mão livre puxa o meu cabelo libertando uma tensão tentadora.
— Sag mir, wie sehr du dich deinem Schicksal ergeben hast, liebes[3] —
revela.
Tudo esfria quando ele se afasta pronto para sair.
— Veio ver se estou usando o presente? — provoco-o. — Poderia não
estar vestindo.
Damien para de andar, mas não vira o rosto quando responde.
— Comprei o vestido tendo a certeza de que estaria em seu corpo essa
noite, Morgan.
— É um modelo tão diferente do comum, ele me agradou por ser o
oposto do que tenho no closet — digo, encarando suas costas musculosas.
— Você sabe o porquê o comprei — despede-se com esse enigma.
Desvendando por mim quando volto a encarar o espelho. Sua mão está
livre para passear por onde quiser, essa é a resposta.

Roman é o primeiro a sair do carro, ajudando Alessa a descer, não


preciso de ajuda, desço sozinha, encarando uma mansão luxuosa, afastada o
suficiente do restante da cidade.
— Trouxe um casaco para Morgan, caso ela sinta frio — diz Alessa,
mostrando uma peça branca com pelos delicados.
— Obrigada, mas estou ótima — dispenso.
Estou acostumada com mais frio do que ela ou qualquer outro possa
imaginar, sobrevivi as temperaturas amenas quando não havia cobertores e
casacos. Apenas as brasas do fogo.
— Não vamos precisar do casaco por enquanto, Damien quer vê-la nesse
vestido. Ele escolheu uma peça que realça você, filha.
— Sua filha usaria qualquer coisa que eu quisesse. — A voz dele faz
Roman endurecer a postura.
Ao virar para trás e encontrar o rosto de Damien, vejo um cachorro
pronto para pegar o osso.
— Tenha certeza disso, Damien. Morgan está pronta para a apresentação,
criança, se junte ao seu noivo. Seja a estrela dessa noite, estarei
acompanhando seus passos.
Encaro os olhos de Roman, há mais do que um mero pedido nesse seu
desejo.
Não lhe dei uma resposta, dou alguns passos até ficar ao lado de
Damien, sua mão pousa na minha cintura, causando-me arrepios bem-
vindos.
Passamos por alguns dos homens da Zimmermann que abaixam a cabeça
em sinal de respeito, os convidados estão todos posicionados.
Sinto o peso da atenção de todos direcionadas a mim, há surpresa,
curiosidade e algo mais.
Sou estudada meticulosamente por cada um. O vestido é chamativo e
amplia os olhares masculinos para a peça.
Devolvo essa atenção, conforme ando, observando todos que surgem em
nosso caminho até o centro da sala principal.
Afasto-me de Damien, o seu olhar não percorre os nossos convidados, eu
o roubei e não pretendo devolver.
— Boa noite, quero entregar algumas palavras para que todos ouçam a
minha promessa para o meu noivo. Acredito que os laços do destino são
impenetráveis, não há tesoura para cortá-los, entrego a Damien
Zimmermann o domínio sobre o corpo e a minha alma — retifico, olhando
para os olhos avelã. — Eu lhe sirvo.
Palmas calorosas ecoam pelo lugar, meu noivo pega a minha mão,
erguendo-a, mostrando o anel.
— Morgan Muller é a minha noiva, futura esposa, intocável e
unicamente minha. A Zimmermann lhe recebe e concede um lugar que
jamais poderá ser tirado. — Suas palavras são diretas. — Essa noite lhe
pertence, quero que vocês deem toda a atenção para ela.
A exigência é feita, pessoas se aproximam de nós dois, o primeiro casal
consegue tirar o meu foco.
Por um momento deixo a máscara cair ao encontrar um rosto conhecido,
ela é uma intrusa nessa mansão.
Viemos do mesmo lugar, o orfanato Anjos da Luz.
Encontro o choque em seus olhos, desvio a atenção para o homem
importante ao seu lado, ele quem começa a me cumprimentar.
— É um prazer conhecer a mulher que foi escolhida para estar ao lado de
Damien, bem-vinda, Morgan. Sou Paul, essa é a minha esposa, Sofie.
Ofereço um mísero sorriso, não posso atrapalhar esse momento.
— O prazer é meu ao conhecê-los.
Sofie sorri da mesma maneira que eu. Jamais cogitei isso, encontrar
alguém daquele maldito lugar.
— Bem-vinda, Morgan.
Ela coloca o meu disfarce em extremo perigo, observo seu marido como
um lobo protetor a cada um que se aproxima ou dirige olhares aos dois.
Neste momento não posso sair daqui, há uma fila de convidados que
devem vir até nós dois.
Em um segundo, já estou de volta ao meu papel cumprimentando cada
um, enquanto penso em uma oportunidade de falar com a esposa de Paul.
Não saio dessa mansão sem ter um encontro com ela, preciso fechar sua
boca o quanto antes.
— Está robótica.
Na verdade, irritada.
Encaro Damien, a mão que estava na minha cintura, agora está um pouco
mais embaixo, alcançando a coxa.
— Cumprimentei tantas pessoas, preciso de uma bebida para molhar a
garganta — explico.
— Falta um último convidado. — Somos interrompidos.
O homem à nossa frente, os seus olhos transmitem um alerta.
Perigo letal.
— Fell, responsável por uma parte dos negócios da Zimmermann.
— Prazer — digo, sentindo uma curiosidade em saber do que realmente
ele está encarregado.
— Damien, estão esperando por você — avisa Aaron ao se aproximar.
— Morgan, Aaron ficará com você. Quando terminar o que preciso
fazer, irei encontrá-la.
— Estou esperando — despeço-me.
Vejo-o sair na companhia do sujeito que me intrigou, Roman e outros
homens seguem para outra ala da mansão.
Longe dos olhos de curiosos e pessoas fora da máfia. Encaro Aaron.
— Podemos pegar uma bebida? Estou com sede.
— Claro.
— É a primeira vez que Damien deixa você tomando conta de mim —
comento, conforme andamos juntos.
— Ao ser apresentada ganha a importância para todos, devemos lhe
proteger — revela. — Tenho a impressão de que tem mais perguntas a
fazer.
Não irei recuar, preciso aproveitar tudo o que essa viagem traz até as
minhas mãos.
— Sei muito bem que a minha chegada repentina não foi aceita por
ninguém. Porém, será que após esse tempo todo, essa ideia foi mudada? —
sou direta.
— Damien e eu compartilhamos o mesmo pensamento a seu respeito,
Morgan. O que posso dizer é que você tem alguma coisa que aquelas
candidatas não tinham.
O dom de matar.
— Gostei da resposta, pretendo saber o que Damien e você
compartilham quando o encontrar.
Paramos quando somos servidos por um dos funcionários, pego a taça de
champanhe, molhando um pouco os lábios.
— O senhor Fell cuida de quais negócios? Acho que estamos longe de
curiosos.
Aaron observa a distância que estamos dos demais, a resposta é baixa e
rápida, mas consigo compreender perfeitamente.
— Tráfico humano.
Finalmente a explicação para o que encontrei nos olhos dele. Há mais
perguntas que eu quero perguntar ao próprio Fell.
— Ele exala perigo nos olhos — enfim respondo.
Meus olhos percorrem a sala quando vejo Sofie sozinha, sem o marido,
enquanto pega uma bebida.
— A esposa do senhor Paul me pareceu ser a única que também está
entediada. Vou falar com ela, espere aqui, preciso conhecer melhor os
membros.
Não fico para escutar uma resposta do conselheiro, sigo a impostora até
um pequeno corredor, afastando-a dos convidados.
Ela não olha para trás e continua o trajeto até o jardim dos fundos, onde
não há ninguém para interferir em nossa conversa.
Sofie vira para trás, encarando meus olhos, estou diante de seu rosto.
— Morgan.
— O que você acha que está fazendo aqui? — sondo. — Casada com um
membro da máfia alemã.
— Essa pergunta serve para você também.
Maldita hora para estar sem o punhal! Encaro o seu rosto confuso e
atento a cada movimento.
— Pensei que nunca veria o rosto da garota que ateou fogo no orfanato,
levando a diretora e o zelador para o inferno.
Levanto a mão em sua direção.
— Será mais um cadáver na minha coleção se não ficar quieta. Está na
mesma situação que a minha, por acaso seu marido sabe sobre a sua
origem? — rebato, intrigada.
— Você está se passando por alguém e eu escondi o meu passado. Não
quero que seja descoberto, todos aqui sabem somente que eu fui tirada do
tráfico humano pelo Paul.
Pisco surpresa.
— Taquei fogo naquele lugar para vocês fugirem também.
— Só queria não voltar para nenhum orfanato, fui pega dormindo na rua
por homens perigosos e, então, levada logo em seguida — diz com a voz
fraca.
— Escondo o seu passado e você o segredo, assim ambas continuamos
onde estamos — barganho.
Ela agora faz parte da Zimmermann, não é uma peça solta.
— Conte comigo, parabéns pelo seu noivado. Morgan, está com Damien
porque assim como eu conseguiu um lugar.
— Exatamente, consegui ter e não preciso dividir — acrescento.
É somente isso que ela precisa saber.
— A sensação de obter isso é única, é por isso que eu aprecio cada
segundo da minha nova vida, finalmente consegui recomeçar. Nós nos
vemos em breve, o meu marido já está esperando por mim.
Sofie se retira, voltando pelo corredor, enquanto continuo no mesmo
lugar.
Problema resolvido, tudo o que sabe ficará bem enterrado.
Uma mão que conheço bem, pega a minha cintura, virando meu corpo ao
encontro de Damien.
— Aaron disse que você e ele compartilham o mesmo pensamento ao
meu respeito. Queria saber qual é? — sondo, observando-o.
— Olhos de quem esconde alguma coisa.
Ele dá mais um passo, separando qualquer distância que há entre nós.
Deixo que Damien me cerque como um perigoso predador.
— O que pensa que estou escondendo? Quero que ele fale exatamente
tudo, até onde a sua instituição está levando você, Damien?
— Você já me conhece bem, Morgan. Eu sempre consigo encontrar o
que escondem — afirma, agarrando a minha cintura.
— Eu sei, mas já passou pela sua cabeça que estou escondendo o que
você causa no meu corpo? E o que está disposto a me ensinar sobre tudo,
afinal, não sei nada — provoco-o sutilmente, jogando uma artimanha que
pode lhe prender.
— Mostre para mim — exige, um pouco antes de tomar a minha boca.
Ela exala algo que me chama, seu olhar é tão letal e traiçoeiro, assim
como suas palavras que são ditas para me provocar.
Decido tomar o que me pertence ao beijá-la sem delicadeza, prendo as
mãos em torno da sua cintura, enquanto Morgan está apertando meus
ombros, numa tentativa de exigir mais.
Aprofundo o contato, chocando nossos lábios mais uma vez, quero tirar
o batom assim como o vestido e a levar daqui.
Ela beija o canto da minha boca, ambos estamos ofegantes, sinto suas
mãos brincando comigo ao apertar os ombros, os olhos azuis me observam
agora, intensos.
— Queria fazer isso há muito tempo, cá entre nós, esperar até o
casamento parece um pouco tedioso. Consegui mostrar o que pediu? —
pergunta, atenta.
— Não preciso do casamento para beijá-la, apenas o seu corpo só pode
ser meu depois da cerimônia — reforço, descendo uma das mãos até a
coxa. — Me dar a sua boca é uma obrigação.
Vejo uma certa irritação na face de Morgan, gosto de provocar e ver sua
reação.
— Você disse que não encontrou um mero traço de ingenuidade em mim,
naquele momento conseguiu encontrar o que muitos não veem. Detesto
seguir protocolos, as regras de um pai que me trouxe para perto quando não
tinha outra opção, não há espaço para essa característica ausente, porém,
devo fazer de tudo para ser igual às suas ex-candidatas.
A revelação traz irritação e o lado que eu consegui enxergar quando a
conheci, Morgan não tem nada das minhas outras opções.
Ela se controla.
— Eu não quero que se pareça com elas! — reitero. — Escolhi você
porque era a única diferente, esqueça o que Roman diz para você fazer. Ele
perdeu o controle quando lhe dei esse anel, seu pai é insignificante.
— Então, enfim, posso colocar para fora quem eu realmente sou —
comenta, encarando-me.
— Se eu encontrar traços que não lhe pertencem, terá problemas. Você é
a mulher que estava comigo antes de sairmos do hotel, usando o vestido que
escolhi para tocá-la.
Ela sorri perversa.
— Nunca mais encontrará sua noiva parecendo como as demais, meu pai
saberá da nova ordem. Acredito que seja o que Roman precisa para
entender quem sou, mas mudando de assunto — começa, ajeitando o paletó.
— Esqueci de acrescentar algo no discurso de apresentação, eu serei a única
a estar em sua cama, ao seu lado, diante de todos os que devem nos servir.
Eu a poupei de um destino onde poderia estar morta pelo segredinho de
Roman por interesse nela.
— Você é minha, Hessen soube disso essa noite. Amanhã irá ver a
estilista para iniciar o vestido antes da próxima viagem.
— Quanto tempo preciso esperar até estar com você? — indaga,
arqueando o corpo para trás.
Dando o acesso ao seu pescoço, passo a boca em sua pele sensível,
enquanto uma mão agarra seu seio ainda coberto pelo tecido do vestido.
— Sem uma roupa para atrapalhar ou ninguém.
— Espere um pouco mais, liebe[4]. Lhe prometo que irei levá-la para a
sua casa, sem devolvê-la para Roman — aviso, encontrando seu rosto. —
Quando fizer isso tudo será diferente.
Entrego promessas para ela e todas serão cumpridas.
Assim que Morgan se casar comigo, haverá sangue, pretendo ampliar o
meu poder sobre todos, inimigos e membros.
Estar casado aumenta e fortifica o lembrete de quem governa a
Alemanha.
Minha noiva é o que eu preciso, é a única coisa que almejo que ainda
não está em minhas mãos.

Levo Morgan de volta até a sala principal, estão apenas os membros da


Zimmermann, o discurso feito por ela atingiu a expectativa e causou
surpresa, não conseguem mais tirar os olhos dela.
— Seu discurso foi perfeito, filha — diz Roman, ao se aproximar com a
namorada.
— Leve Morgan para o hotel, Roman. Amanhã a quero aqui bem cedo
para o encontro com a estilista.
— Aqui? — pergunta Morgan, surpresa.
— Essa é uma das minhas mansões.
Ela sorri.
— Não estou surpresa.
Encaro seus olhos azuis.
— Descanse — oriento em despedida.
— Vamos, filha. Boa noite, senhores, Damien.
Morgan me encara antes de dizer.
— Boa noite.
Vejo-a sair até sumir da minha vista, os soldados a seguem fazendo sua
proteção.
— Uma mulher ruiva é muito valiosa, entendo sua escolha.
Encaro Fell, vendo o interesse em seus olhos, ele gosta de escolher
pessoas valiosas para serem usadas no tráfico.
— Mantenha os seus olhos longe — ameaço.
— Jamais encostaria um dedo em sua noiva, Damien. Sirvo a você, e ela
muito em breve.
— Ótimo.
— O discurso de Morgan agradou todos os presentes, ela é bem diferente
de Roman — acrescenta Aaron.
— Concordo plenamente, conselheiro. Uma mulher que promete ocupar
bem o lugar que lhe será entregue — elogia Paul ao lado de sua esposa. —
Mas Roman fede a mentiras, afinal, ele escondeu algo de nós, segredos não
são aceitos aqui.
Pego o celular, vendo o nome de Elzo na tela.
— Damien.
— O que foi?
— A mansão de Roman foi atacada por uma gangue pequena de
Hamburgo, reviraram tudo, o quarto da minha prima foi destruído. O seu
noivado já está atraindo inimigos.
— Estavam atrás dela, e os soldados? — questiono.
— Alguns estão mortos, acabei de chegar, vou te manter informado.
Desligo antes de ouvir sua voz novamente.
— Atacaram a mansão de Roman, estavam atrás de Morgan —
confidencio para os membros.
— Mas ela está em Hessen — diz Sofie, confusa.
Levanto a mão, acabando com o burburinho.
— Esse ataque deveria ser na porra dessa mansão! Quero o chefe dessa
gangue na minha mão — rosno.
Aaron pega o celular.
— Vou chamar o rastreador.
Paul se aproxima.
— O que decidir será acatado, Damien.
Deixo-os sozinhos, sigo em direção ao escritório.
É questão de tempo para o responsável pela gangue de Hamburgo ser
pego e soltar a língua.
Já consigo sentir cheiro de sangue.
Retiro essa maquiagem do meu rosto sem paciência com tanta base que
Alessa passa, vou manter as mãos dela longe do meu rosto.
Posso fazer essa baboseira sozinha.
Tiro a atenção para os acontecimentos dessa noite, a desconfiança de
Damien acende um alerta sobre a importância de ter o quanto antes ele na
palma da mão.
Em contrapartida, sou esperta o suficiente para jogar Roman na fogueira
e introduzir uma história.
O problema do homem que me beijou, dando o gostinho de seus lábios e
provocou uma forte excitação no meu corpo, é que o chefe dessa máfia é
esperto demais, sempre na frente de todos. Damien está sendo alimentado
por suspeitas.
Roman precisa cair e eu preciso empurrá-lo.
Afasto alguns fios de cabelo da testa, reencontrar Sofie era impossível de
acontecer. Ela está dentro da Zimmermann, casada com um membro
importante.
Lembro-me como se fosse ontem de nós duas presas no próprio inferno,
pegas fora da cama pela madame Heidi.
Apanhamos e como se não bastasse, o maldito zelador nos vigiou
enquanto limpamos sua sala, aquilo durou até o amanhecer. Não dormimos
ou tomamos café.
Fecho o punho ao me lembrar daquele lugar, eu matei aqueles dois, é
essa a lembrança que deve permanecer na porra da minha cabeça!
Saio do banheiro, encontrando Roman à minha espera, só estamos nós
dois no quarto.
— Não sabe mais bater? — indago, enfrentando-o.
— Elzo acaba de me ligar, sabe o que aconteceu? — rosna ao se
aproximar. — Uma maldita gangue invadiu minha mansão atrás de você,
destruíram tudo, mataram os meus soldados!
Sou surpreendida pela mão em meu pescoço, Roman me joga na cama
com as duas mãos no meu pescoço, enforcando.
Acabo tossindo, buscando ar.
— Você sabe o que isso vai causar? Vadia maldita, por sua causa! Eu vou
matá-la e desenhar um terrível acidente para todos.
Roman não solta o meu pescoço, está concentrado em realizar o que diz.
Uso a única força que me resta e uso uma das minhas mãos, consigo puxar
algo debaixo do travesseiro.
Corto a sua bochecha causando espanto e raiva, o sangue desce
imediatamente, sujando a mão dele que está no local.
Levanto-me ofegante, à medida que seguro o meu punhal na sua direção.
O desgraçado não esperava por isso.
— Eu sou uma assassina! — rosno, aumentando o tom de voz indo até
ele, pressionando seu corpo contra a parede. — Você não pode me matar
como se fosse uma idiota qualquer, não enquanto estou no papel da sua
filhinha! — Sorrio cruel.
Vejo lampejos de ódio e algo mais nos olhos azuis.
— Minha verdadeira filha é um bebê morto. O que te garante que eu não
acabe com a impostora? — ameaça. — Pagará pelo ataque e pelo meu
rosto.
— Você está preso em sua teia de mentiras, Roman. Invadiram a mansão
indo atrás de mim, porque fui contratada para um trabalho, mas fui levada
de Horn por você.
— Eu não a mato aqui e agora por causa de Damien e de tudo o que está
em jogo. Mas quando menos esperar estará em uma cova funda, criança
imunda!
Ele dá passos em direção à porta.
— Você me tirou do trabalho, a solução seria que eu voltasse para
Hamburgo e fizesse o que essa gangue encomendou. Mas adivinha? Estou
noiva, preparando tudo para o casamento com o chefe da máfia —
provoco-o.
Roman sai, batendo a porta.
Aprecio com gosto o que acaba de acontecer e a sujeira que chegou até
Hessen.
Admiro meu punhal banhado no sangue desse verme, estou bem melhor.
Estava faminta por usar a minha arma mais perigosa, afinal, uma
assassina é alimentada por suas vítimas.
Saio do quarto, já pronta para ir até a mansão e fazer a prova de vestido,
mas antes uma cena chama a minha atenção, vejo Alessa preocupada com o
rosto de Roman.
Os dois estão no corredor, esperando por mim, os olhos dele logo estão
nos meus.
— Bom dia, aconteceu alguma coisa? — indago, inocentemente.
— Tive um acidente, nada de mais, filha.
— Você está um pouco pálido, Roman, deve se alimentar bem. Será que
perdeu muito sangue? O que acha, Morgan?
— Meu pai está ótimo, Alessa. Deve ser apenas impressão sua — digo,
apreciando a fúria brilhando nos olhos azuis.
— Estou pálido pelos problemas, mas não temos tempo para conversar.
Morgan deve se encontrar com Damien, o vestido dela é o mais importante
agora.
— Alguma tradição sobre o vestido que eu não saiba?
— Damien vai escolher, é a opinião dele que importa. A estilista precisa
entregar dois modelos hoje, caso não agrade ele, terá uma semana para
trazer novas opções.
Espero que Damien escolha um vestido logo.
— Outra coisa relevante, pai?
Essa palavra em meus lábios é uma maldita provocação.
— Você sabe o que precisa fazer, está lidando com um líder — reforça.
— Vamos.
Ele sai na frente indo até os elevadores, Alessa segue ao meu lado.
— Não estou vendo um batom nesses lábios. Morgan, como se esqueceu
disso?
— Estou indo para uma prova de vestidos, tenho outras prioridades,
Alessa. Essas futilidades não são necessárias, mas fique tranquila, já sei o
que devo usar e como fazer.
— Quero ajudá-la no casamento ou vai contratar uma maquiadora
profissional? — pergunta, curiosa.
— Você está encarregada de ser essa maquiadora, o cabelo vai ser solto
sem qualquer presilha.
Ela sorri radiante.
— Pensei que iria querer uma profissional, você chegou tão arisca e
agora serei responsável pela sua preparação na igreja, estou tão feliz,
Morgan.
Reviro os olhos.
— Não preciso de outra pessoa me perturbando tão cedo, esse papel já é
seu.
— Alessa, você é competente para prepará-la, agora cale a boca — corta
Roman.
Pelo espelho consigo ver a marca que deixei na bochecha do desgraçado
que pensou que tinha o poder de se livrar de mim essa noite.
Nossos olhares se encontram, abro um sorriso para Roman, você não
perde por esperar.
Ontem ele despertou o meu instinto, agora nada salvará Roman Muller.

Aaron está a postos quando entramos na mansão, Damien está tomando


café, ele não olha para trás quando pergunta para Roman.
— O que foi aquilo?
— Damien, Elzo deve ter ligado para você, eu não sei o que aconteceu.
Meu noivo se levanta e recebe Roman com um soco no nariz, vejo o
idiota cambalear para trás.
Alessa está rígida, não sabe o que fazer, com um olhar aviso para que
não faça nada.
— Responda o que perguntei, mas de joelhos — exige.
Sem questionar, Roman se ajoelha, encarando Damien.
— A única explicação é o fato de Morgan vir para a minha vida apenas
agora, ela é um alvo mais fácil para atingir o que sobrou da minha família.
Destruíram o quarto dela assim como alguns cômodos da mansão, Damien,
há soldados mortos.
— A culpa é unicamente sua — a resposta de Damien faz Roman
relaxar.
Porém, não sinto o mesmo. Não vejo o mafioso aceitar essa história,
Damien se afasta, sem questionar mais sobre o ocorrido.
— Pode sair da mansão agora, Elzo está cuidando dessa situação, ele irá
relatar tudo.
— Como quiser, meu chefe. Filha, venho buscá-la mais tarde. — A
despedida de Roman é tão fria quanto seus olhos.
Assisto-o sair com Alessa em passos rápidos, apressando para que ela
acompanhe imediatamente os seus passos.
— A estilista está pronta.
Volto a atenção para Damien, seus olhos não demoram nos meus.
Sigo logo atrás, andando pelo corredor até uma sala reservada para a
prova, uma mulher um pouco mais velha está esperando por nós.
— Senhor Zimmermann, senhorita Morgan.
— Traga os vestidos — manda Damien, ao se sentar no sofá.
Encaro seus olhos, ele não aparenta ter digerido a explicação tola do meu
papai postiço.
Se Roman saiu daqui acreditando que essa resposta idiota acabou com as
suspeitas, ele está completamente louco.
— Trouxe dois modelos diferentes, fique à vontade para escolher o que
mais o agradar.
A senhora traz as peças, observo meu noivo analisar as duas opções.
Por mim, visto qualquer trapo, contanto que não seja apertado.
— O primeiro.
— Me acompanhe, senhorita — pede a estilista, levando a peça consigo.
No fundo da sala há uma cortina preta que a senhora puxa, ocultando a
hora de tirar a roupa.
O vestido é tomara que caia, o que realça meus seios, há alguns detalhes
no vestido que não me interessam.
— Está apertado?
Ela ajeita a cauda, não há um espelho para ver como estou.
— Não.
— Ficou muito bonito, realça seu corpo. O cabelo você quer prender? —
pergunta quase encostando nos fios.
— Ele vai permanecer assim.
A cortina é aberta quando caminho até o sofá onde Damien bebe um
copo de uísque, sou observada minuciosamente, há uma demora na decisão
dele.
— Vire-se.
Parece que estou ouvindo curve-se novamente.
Faço o que ele pede, já ficando irritada com essa demora em falar logo.
— Se retire da sala.
Quando penso em virar, ouço os passos dos saltos da estilista ao deixar o
cômodo.
Sinto a presença dele sem precisar virar o corpo.
— O que levaram do seu quarto? — A pergunta me deixa em alerta.
— Reviraram tudo, ainda não falei com Elzo.
— O que você sabe sobre isso, Morgan?
Ele fica diante de mim, o tom é extremamente frio.
Antes de responder, a mão dele está no meu pescoço sem apertar,
automaticamente acabo apertando a outra mão livre dele na intenção de
machucar seu pulso.
Isso não passa despercebido, seus olhos pousam na minha mão, mas não
faço outro movimento.
— Responda.
— Somente agora que estou morando com Roman, estava acostumada a
ficar com minha tia. Eu não sei por que fizeram isso, Damien, esse
casamento vai colocar um alvo na minha cabeça de qualquer jeito.
Não demonstro nervosismo, esse homem é rápido o suficiente para saber
quando alguém esconde algo.
— Tem razão — concorda, olhando o vestido.
— Você vai escolher o vestido logo ou vou ficar horas sendo observada
como um animal? — questiono.
Isso o diverte.
— Poderia fazer você experimentar dez ou vinte vestidos.
— Seria melhor me ver sem nada — provoco-o. — Porém, está agarrado
ao pensamento que me enforcar é melhor.
Resolvo me sentar no sofá, essa tentativa de arrancar uma explicação me
deixou preocupada.
Quase revidei, não posso demonstrar saber me defender ou atacá-lo.
Damien se aproxima, pegando no meu queixo.
— Atacaram sua casa, se estivesse lá poderia estar morta pela
incompetência de Roman, novamente seu pai é um estorvo. O irmão dele
sempre foi mais competente, mas o que restou foi essa sombra — revela.
O seu rosto se aproxima, os lábios deixam um beijo no meu pescoço.
— Esse é o vestido que você usará para mim em pouco tempo.
Nós nos encaramos, o celular dele vibra, Damien olha para o aparelho.
— Tire o vestido e coloque suas roupas, Aaron ficará com você, tenho
um assunto pendente.
Ele se retira da sala e eu tenho uma única certeza, nada pode dar errado,
preciso do controle.
Ter Damien preso entre meus dedos.
Entro no escritório e abro o notebook, o executor deixa a câmera no
rosto de Hugo, chefe da gangue em Hamburgo.
— Damien Zimmermann, queria vê-lo pessoalmente, mas é tão difícil.
— O que você planejou atacando a casa de um membro da minha máfia?
— questiono.
Ele levanta as duas mãos em rendição.
— Não tenho nada contra a Zimmermann ou com você. Roman, seu
empregado, atrapalhou um trabalho que deveria ser feito.
— O que ele fez? Qual motivação o fez atacar?
— Tome cuidado com quem está ao seu redor. O ataque foi um recado
para Roman, é ele quem precisa prestar contas conosco.
O executor presta atenção em mim.
— O que eu faço, chefe?
— Solte-o, foi o suficiente — aviso ao desligar.
Uma batida à porta do escritório chama a minha atenção, autorizo a
entrada de Aaron.
— A decoradora está com Morgan nesse momento. Conseguiu
respostas?
— Um conselho, o sujeito foi claro, Roman interferiu. Mas, além disso,
recebi uma orientação de cautela sobre quem está ao meu redor.
— Roman e Elzo, não vejo um conspirar sem a ajuda do outro, Damien.
Então, haverá casamento? — questiona.
— Você sabe que esses dois vermes respingam mentira e armação.
Porém, ela não se encaixa, Roman força para que Morgan se pareça como
as outras.
Um vestido de noiva não lhe atrai, joias ou essas futilidades.
— O quanto ela está envolvida com o pai?
— Casarei com Morgan, nada muda. Mas quero uma investigação
sigilosa sobre os passos de Roman primeiramente e depois Elzo — exijo. —
Mas quero como prioridade o Roman.
— Tem certeza de que levar esse casamento adiante será vantajoso?
— Não questione, Aaron, é a minha decisão! — rosno. — Ela é apenas
uma peça.
— Você quer um dossiê completo, tanto detalhe pode demorar meses.
Abro uma gaveta, olhando o dossiê que encomendei de todas as
candidatas, a última pasta é a única que optei por não olhar: Morgan Muller.
— Tempo não é problema, solicite essa pesquisa, minha noiva está
esperando por mim.
Fecho a gaveta e saio em passos rápidos, não importa quanto tempo vai
demorar, o que Roman tem escondido irá aparecer, não consigo ver Elzo ou
esse imbecil com artimanhas capazes de me surpreender.
Eu escolhi a filha dele e ela será minha, nada impedirá esse casamento.
Dois meses passando por tradições e exigências que a Zimmermann
impõe sobre todos.
Não voltei a beijar Damien, depois dele me colocar contra a parede
graças ao ataque na mansão de Roman, escapei de um contato direto.

O meu objetivo era matá-lo, mas agora tudo mudou, casar com Damien é
o passaporte para longe de Roman.
Ter um maldito lugar finalmente, já que estou nesse papel de ser a filha
de Roman, tenho que tirar proveito do que está diante de mim.
— Você está linda, não se parece com a mulher que chegou aqui —
elogia Alessa, passando o batom em meus lábios.
— Estou vendo a mesma pessoa no espelho.
Essa maquiagem toda e o fato de usar um vestido caríssimo apenas
ocultam quem eu sou de verdade.
— Não se estresse tentando mudar minha opinião. Hoje é o grande dia,
casar com Damien lhe trará um lugar somente seu, aproveite o que for
entregue — aconselha.
Farei isso, é a primeira coisa lúcida que Alessa diz.
— Bom conselho, agora quero saber sobre meu pai e você.
Roman anda pisando em ovos, ele está usando Alessa e esse
relacionamento, dando um anel de noivado para ela.
Tudo isso é uma cortina de fumaça.
— Deveria se preocupar com o casamento. Seu pai anda paranoico
depois daquele ataque, gosto que Roman me leve nesses eventos da
Zimmermann, fui apresentada para muitos membros que souberam que
trabalho com etiqueta.
Uma distração apenas.
Afasto sua mão ao ficar em pé, observando o vestido, Alessa continua
falando, porém, o restante não interessa.
— Morgan, nem percebi que havia levantado! Você escutou o que eu
disse?
— Claro que ouvi, Alessa. Enquanto a mim, terminou o que tinha que
fazer? — pergunto, apontando para o vestido e maquiagem.
Pelo reflexo consigo ver Roman entrar no quarto.
— Alessa, me deixe a sós com a minha filha.
Sem questionar ela sai, encaro Roman com um sorriso divertido nos
lábios.
— Você sabe que tudo está em minhas mãos.
Ele se aproxima, consigo ver a marca que deixei em sua bochecha.
— A sua existência também, entre naquela igreja e consiga o sobrenome
Zimmermann — exige.
— Sua verdadeira filha está morta, então o fato que vou casar com
Damien não lhe dá nada.
Você é um peão no meu jogo desde o começo.
— Ninguém sabe disso e continuará assim. Você vai abrir as pernas para
ele, faça o que for preciso, o plano mudou.
— O que você fez?
Roman sorri perverso.
— Depois daquele ataque você acha que iríamos continuar da mesma
forma? Criança ingênua.
Aperto os olhos em aviso.
— Me chame de criança uma outra vez e perderá o poder de falar.
— Você não saberá nada desse novo plano, Morgan. Agora venha, está
na hora.
Ele se retira, enquanto quero quebrar esse quarto inteiro ou arrastá-lo
pelo chão até fazê-lo falar.
Fecho o punho, tentando ter controle, casar com Damien faz parte do
meu plano.

A porta do carro é aberta por Roman, saio do veículo, encontrando a


igreja repleta de seguranças e convidados.
Caminhamos até a entrada, a marcha nupcial é tocada avisando sobre
nossa presença.
Olho rapidamente para meu pai postiço, vendo um sorriso irônico em
seus lábios.
— Quando te trouxe para Hamburgo, pensei que iria tropeçar cedo e cair
— admite baixo.
Dou risada.
— Ainda não aprendeu que não deve me subestimar? Quando vai
aprender?
Quando estiver debaixo da terra talvez, idiota.
— Pode ser esperta, Morgan, porém, sou muito mais do que você pensa.
Está presa sob minhas regras, sem poder gritar ou morrerá no momento que
se revelar — ameaça, sutilmente.
Sinto o corpo pinicar, minhas mãos querem quebrar seu pescoço antes
que ele me leve ao altar.
— Fui colocada aqui com um objeto, cumpro todos os meus trabalhos,
acredite — reforço, olhando para o altar.
Damien está ao lado do sacerdote, os olhos avelã não saem dos meus, há
tantas incógnitas por trás do seu olhar.
O líder da Zimmermann passou de alvo para uma importante peça, não
vou cair junto com o idiota que está ao meu lado.
— Você vai cumprir o acordo, e essa será a última coisa que você vai
fazer, filha. Terá terra sobre o seu corpo, cobrindo qualquer possibilidade
que tenha almejado — assegura.
Suas palavras apenas despertam quem sou eu de verdade, a poucos
metros do altar, sorrio para entregar um recado para Roman.
— Tenho poder de matar quem eu quiser, acha que eu saí daquele
orfanato e ganhei a fama que tenho pelo quê? Você estará sozinho quando
eu botar as mãos em você, papai.
Roman se cala quando chegamos ao altar, ele apenas sorri para Damien,
antes de se retirar.
Subo um degrau, ficando ao lado do homem mais perigoso.
A bíblia é aberta, o sacerdote discursa rapidamente sobre a união, o amor
do matrimônio.
Tantas baboseiras que faço questão de ignorar, a parte que me interessa
chega ao momento em que um dos primos de Damien traz duas alianças
banhadas a ouro.
E essa não é a única surpresa, dentro está escrito algo.
Morte & destruição.
De frente para Damien, os olhos nos seus, vejo-o segurar a aliança que
será posta em meu dedo.
— Damien Zimmermann, você aceita Morgan Muller como sua legítima
esposa?
— Sim.
A voz dele chega aos quatro cantos da igreja e, em seguida, a aliança é
colocada.
— Morgan Muller aceita Damien Zimmermann como seu marido? O que
você promete?
Seguro a aliança em meu dedo, enquanto encaro seus olhos.
— Eu aceito, prometo morte e destruição contra quem se colocar entre
nós ou a Zimmermann. A minha vida em suas mãos até o último suspiro.
As duas alianças estão, enfim, colocadas, é uma marca visível para
todos.
— Pode beijar a noiva.
Ele se aproxima, envolvendo minha cintura com ambas as mãos, uma
delas sobe para o meu cabelo, estou prisioneira.
Fecho os olhos quando sinto seus lábios, agarro seus braços, retribuindo
o contato intenso e brutal.
Ouvimos aplausos, mas ainda não nos separamos.
— Você é minha, e eu a levarei essa noite, liebe. — A promessa do meu
marido arrepia o corpo por inteiro.
Lembro-me da nossa conversa em Hessen, onde pedi para que Damien
me levasse finalmente.
— Esperei muito tempo por isso, eu estou pronta.
Neste momento, sou oficialmente Morgan Zimmermann, sinto a vitória
em meus lábios.
Mas jamais irei me contentar somente com isso, quero Damien envolto
comigo em nossas promessas e objetivos.
A mesma escuridão que o envolve habita em mim.

Adentro na mansão que agora é minha também, haverá a festa com os


convidados escolhidos a dedo por Damien antes da viagem.
Somos recebidos com felicitações, desvio a atenção para o meu marido,
uma de suas mãos está na minha cintura.
— Quanto tempo ficaremos aqui?
— Sairemos daqui às 18h, tenho pendências para tratar enquanto estiver
fora — explica.
Estou curiosa para qual lugar nós iremos, não foi dito nada desde a
preparação.
— Para onde iremos?
— Sul da Alemanha.
Somos interrompidos por Roman, Alessa ao seu lado oferece um sorriso
caloroso, enquanto vejo o idiota esconder a satisfação de um parte do plano
ter dado certo.
— Damien, em nome da família, quero dizer o quanto estou feliz em vê-
lo como marido da minha única filha. Sempre tive um carinho especial por
você, acompanhei seu crescimento, hoje é o líder de todos nós.
— Chega de bajulação, era somente isso o que tinha a dizer?
Roman engole em seco, direciona o olhar para mim.
— Queria desejar felicidades para ambos, a lua de mel é a parte mais
preciosa do casamento.
— Felicidades, Morgan — diz Alessa ao se aproximar.
Ela me abraça, fico imóvel, olhando os olhos azuis do maldito homem
diante de mim.
— Obrigada, mas já chega. Existem convidados esperando por nós dois.
— Não se esqueça de que depois de receber os convidados irá começar a
dança comigo, filha — lembra Roman, ao se afastar com Alessa.
Caminhamos até o centro do salão, Sofie e seu marido, Paul são os
primeiros a vir até nós.
— Parabéns, chefe, Morgan — cumprimenta, apertando nossas mãos.
— Damien, a reunião que terá conosco já está prestes a começar. Aaron não
quer atrasar a sua saída, minha esposa pode acompanhar Morgan em nossa
ausência.
Os olhos avelã se voltam para o meu rosto.
— Volto logo.
— Assim espero.
Paul e ele saem juntos na companhia de outros membros, inclusive o
chefe dos soldados que cuida da segurança do meu marido.
Elzo está logo atrás indo com Roman. Não saber sobre esse novo plano
está mexendo com a minha cabeça.
— Parabéns pelo casamento, está linda.
Volto a atenção para Sofie.
— Obrigada.
— Comprei um uísque que acho que vai gostar, sei que não gosta de
vestidos e muito menos acessórios.
É a única que consegue dar algo que eu goste.
— Isso é um presente interessante.
— Morgan, você é a única pessoa que eu conheço e que também me
conhece.
Arqueio uma sobrancelha.
— Diz logo.
— Podemos ser próximas.
Dou risada.
— Melhores amigas? Você sabe que sempre andei sozinha — reforço.
— Não estou imaginando isso, mas somos mais parecidas do que
imagina. Quando cheguei na vida do Paul não tinha ninguém para me
auxiliar, na lua de mel fiquei sem entender, porque ele tinha que me dar três
beijos no pescoço antes de tirar a roupa, por exemplo — confidencia com as
bochechas coradas.
— Como? — pergunto, rindo.
— É uma tradição deles, não quero que você faça papel de trouxa na lua
de mel.
Olhando bem para Sofie, lembro-me de como ela foi parar na vida de
Paul, através do tráfico humano.
— Posso aceitar isso, na verdade, queria saber se encontrou pista dos
seus pais? — pergunto baixo.
Olhando ao redor para não ser surpreendida.
— Não tenho pista nenhuma, fui abandonada naquele maldito orfanato,
estava indo para a morte.
— Atrapalho? — pergunta Fell ao se aproximar de nós duas. — Morgan
Zimmermann, eu sirvo você também agora.
E você trará respostas.
— Sofie e eu estávamos falando sobre um triste caso de crianças do
orfanato Anjos da Luz.
Ele assente com um pequeno sorriso.
— Esse orfanato leva crianças há muitos anos, as mais valiosas são
escolhidas, são negócios. Se acostumem com cenários sombrios, eles fazem
parte da máfia — aconselha ao sair.
Sofie me encara.
— A família de Fell está há anos no controle do tráfico. Seu interesse é
saber como você foi parar no orfanato?
— Tenho essa oportunidade agora, mas preciso ter cautela.
Ninguém sabe da minha essência
— O que eu souber irei te ajudar — assegura.
A próxima a vir me parabenizar é a esposa de Elzo.
Uma outra peça sendo usada.
— Morgan, parabéns.
— Obrigada.
Vejo-a cumprimentar Sofie, enquanto outra movimentação chama a
atenção dos meus olhos. Os homens voltam para a sala, Elzo e Roman
conversam, a música começa a tocar para a noiva iniciar dançando com o
pai e terminar com o marido.
Em poucos passos, o mafioso, que foi atrás de mim há meses, pega em
minha mão.
Conduzindo-me até o meio do salão, começamos a dançar, olho nos
olhos.
— Abra um sorriso, criança. Você é a estrela dessa festa, está preocupada
com algo? — provoca.
— Na verdade, não consigo tirar os olhos da cicatriz que deixei na sua
bochecha — rebato, mordaz. — Estou pensando em fazer do outro lado em
breve.
— Aquela foi a única e última vez que fez isso, assassina. Vim desejar
uma ótima lua de mel, aproveite.
Ele para a dança, Elzo é o próximo a conduzir a dança.
— Priminha.
Aperto os olhos, desejando ter meu punhal e enfiar em seus olhos.
— Poupe suas palavras, não quero felicitações. Esse plano deu certo por
minha causa.
— Você é um peão, está fazendo o que Roman e eu desejamos que faça.
Estamos em outro plano, um que não saberá absolutamente nada dos
próximos passos. Imagino que esteja curiosa — provoca com um sorriso
cínico.
— Chega. — A voz do meu marido interrompe a tortura que estava
sendo essa dança.
— Aproveitem a lua de mel.
Elzo se despede sem olhar para trás, Roman e ele estão tramando algo
para essa viagem. Damien pega na minha mão, ganhando a atenção para a
nossa dança.
— A reunião foi rápida.
— Todos sabem quais são as suas funções, não preciso explicar duas
vezes. Cumprimentou os convidados?
Foda-se todas essas pessoas.
— Sim, quero saber da nossa viagem. Qual parte do Sul da Alemanha
nós iremos? Todos sabem onde vamos ficar?
— Por que tantas perguntas? — sonda.
— Curiosidade.
— Logo verá o lugar que escolhi e depois terá suas respostas — diz ao
terminar a dança com a boca na minha orelha.
Somos aplaudidos ao fim da tradição idiota que está me deixando com
dores nos pés.
— A levarei para a mesa onde está o meu tio e primos, mas deve trocar o
vestido assim ficará confortável para a viagem.
— Minhas coisas já estão no quarto?
— Sim, nosso quarto é a segunda porta.
— Vou precisar de alguém para tirar esse vestido, você poderia fazer o
trabalho — sugiro, ao ver um brilho perigoso em seus olhos.
— Eu vou fazer isso essa noite, mas sem interrupções. — Sua voz rouca
brinca comigo.
Solto sua mão, faço um sinal para Sofie e ela acaba me acompanhando,
subimos as escadas para o segundo andar.
Poderia ter chamado Alessa, mas não quero Roman vindo atrás de mim.
Posso não controlar a vontade de terminar o que comecei na noite em
que o ataquei.
— Essa é a melhor parte da festa, trocar o vestido por algo mais leve e
confortável. Posso abrir o closet? — pergunta, ao parar diante do móvel.
— Obviamente.
Aproveito para tirar esses sapatos horríveis, olho o quarto e vejo o lugar
que me pertence, longe daquela mansão ridícula.
Não sei quando consegui dormir direito, depois que Roman me
surpreendeu passei a demorar para pegar no sono.
Sempre acordando de repente para evitar surpresas.
Vou até a estante da televisão e vejo o perfume de Damien com a tampa
aberta, antes de fechar, sinto seu cheiro.
É delicioso, mas na sua pele é muito melhor.
— Pronto.
Um vestido branco, mas de alça com uma fenda na perna, Sofie tira o
vestido de noiva e ajuda a colocar o segundo.
— Para onde Paul levou você em lua de mel?
Ela sorri.
— Paris, fiquei encantada ao ver a torre Eiffel de perto. É mágico viajar
e ver lugares que jamais teríamos a chance de ver.
Talvez seja, só espero gostar do lugar que Damien escolheu.

Quando saímos da mansão, pensei que iríamos para a pista pegar o


jatinho, mas em vez disso seguimos o trajeto de carro.
A equipe de segurança está indo conosco, até um certo ponto, onde eles
não seguem mais.
Damien para o carro e troca algumas palavras com os soldados,
caminhando ao seu lado estou sem entender absolutamente nada.
— Tire o sapato — orienta, parando para fazer o mesmo.
Aliviada por poder tirar essas coisas, faço o que ele diz.
Caminhamos um pouco mais até chegar à escada de madeira onde nos
levará até a areia e logo adiante o mar.
A cada passo consigo ouvir o som das ondas, fico impressionada quando
sinto a areia nos meus pés enquanto ando em direção ao mar.
O vento bagunça meus cabelos, não consigo fazer nada a não ser sentir
os meus pés afundando.
— Estamos em Sylt, uma das mais bonitas praias — avisa Damien sem a
camisa social.
Ele está apenas de calça, a camisa está em um de seus ombros.
Volto a minha atenção para o que meus olhos estão vendo pela primeira
vez, jamais estive na praia.
— Você disse que estávamos indo para o lado Sul. Mudou de ideia? —
questiono, interessada em uma resposta.
— Não queria dar uma localização exata, não preciso compartilhar para
onde vou com a minha esposa. Nunca esteve na praia? Roman a mantinha
presa dentro de casa?
Quem está fazendo perguntas demais agora?
— Não tinha a oportunidade de conhecer a praia ou qualquer outro lugar
— conto uma verdade.
Estou acostumada com galpões, viagens onde tenho objetivos rápidos e
nada mais.
Viro o rosto, vendo Damien observando-me.
— O que foi?
— Roman a manteve longe de tudo para o que exatamente? Não lhe
ensinou nada.
— Não sabia que gostava de praias ou lugares mais quietos — mudo de
assunto rapidamente.
No momento, minha mente está mais tranquila, pois Roman não sabe
para onde viemos.
— Tenho pouco tempo para estar por aqui, mas aprecio lugares onde
posso estar sozinho.
Escuto sua confissão enquanto observo os meus pés, poderia sentar e
sentir a areia mais à vontade ou até entrar no mar.
— Amanhã irá conhecer mais da praia, o mar é traiçoeiro à noite, além
de estar esfriando aqui.
— Onde é a casa que vamos ficar? — pergunto, acompanhando-o.
Andamos pela areia de volta para a escada de madeira.
— Em um vilarejo, há casas que eram dos meus pais e avós. Os soldados
estarão fazendo a proteção nas redondezas, quis trazê-la até a praia ainda
hoje.
Viro o pescoço, olhando para o mar, poderia ficar horas sozinha aqui.
É estranho se sentir confortável? Como se estivesse em casa?
O vento forte faz meus cabelos voarem, além de sentir o frio do local.
Damien e eu entramos no carro, voltando ao caminho até o vilarejo, que não
se parece nada com um.
Coberto por casas luxuosas a cada rua.
A casa é grande a parte da frente há bastante grama, ao entrar
conseguimos ter noção do espaço. Assim que meus olhos buscam detalhes
há uma lareira, que já está acesa, uma mesa no centro da sala com dois
copos de uísque.
Damien vai buscar um, consigo ter uma visão de suas costas, onde há
uma tatuagem de um Z enorme com palavras pequenas e em diferentes
pontos da letra.
Fico fascinada, quero saber o que há escrito em cada lugar.
Saio dos meus devaneios quando o vejo se sentar perto da lareira,
enquanto sorve um gole grande da bebida.
Ele está me esperando?
Não vou perguntar o que está parecendo óbvio, decido subir as escadas
quando escuto sua voz rouca e perigosa.
— Estou lhe esperando.
Não respondo, adentro o corredor pequeno e abro a primeira porta
encontrando nossas malas em um canto.
Vou até o fundo do quarto e vejo um espelho grande ao lado do closet.
Essa tradição de usar uma roupa para ser tirada por ele é ridícula, decido
descer nua, exposta para os seus olhos.
Quando estou terminando de descer as escadas encontro apenas o meu
copo de uísque cheio na mesa.
Pego e viro o copo imediatamente, estou sentindo o corpo formigar.
— Deveria usar pelo menos um robe.
Damien está na minha frente, a distância entre nós é quebrada quando
meu marido cola nossos corpos.
A calça ainda está cobrindo o restante do corpo dele.
— Chega de roupas — digo, sentindo seu membro duro na minha
barriga.
Meu pescoço é levantado por ele, Damien distribui três beijos, Sofie não
mentiu, é outra maldita tradição.
Porém, não tenho tempo para perguntar o que esses beijos significam, a
boca dele encontra a minha, nosso contato fica mais profundo e intenso.
Agarro seus cabelos enquanto nossas línguas se encontram, as mãos do
chefe da máfia estão apertando minha bunda, sinto seus dedos marcando a
pele.
Andamos sem quebrar o contato íntimo, abro os olhos um pouco antes
de cair sentada no grande sofá da sala.
Respiro ofegante, tirando alguns fios do meu rosto.
Damien se ajoelha, vê-lo assim consegue me divertir e excitar, sei
exatamente o que ele quer fazer.
Deito-me ficando inclinada, abro as pernas e sou surpreendida pelas duas
mãos segurando minhas coxas.
Assisto-o abaixar a cabeça, passando os lábios pela pele clara até parar
na minha boceta, abafo um grito quando sua boca invade o clitóris.
Agarro no sofá, Damien brinca, passando a porra da língua por todo
lugar. O imbecil está controlando tudo, abre mais minhas pernas e me leva
até o outro mundo, começando a chupar.
Resmungo ofegante, a respiração está rápida, não consigo controlar. É
tão gostoso, ele está me fodendo apenas com isso, agarro um seio com a
mão livre, apertando-o.
— Porra, Damien — chamo, embriagada.
Meu marido vai mais fundo, mordo os lábios com força, o meu peito
sobe e desce. Há quanto tempo não sou tocada, além de que, o canalha tem
experiência.
— Ah! — Um gemido rouco e prazeroso escapa pela minha garganta,
preciso gozar agora ou vou enlouquecer.
— Goze pra mim, porra!
O comando se choca com a minha mente, o orgasmo chega, acabando
comigo, respiro rápido buscando o ar.
Estou vulnerável, molhada e com sede de muito mais.
Damien passa um dedo pela minha boceta provocando-me um arrepio,
ele está em pé de novo.
— Está toda vermelha, as bochechas da cor do cabelo — diz, observando
de perto. — Gosto disso, quero deixá-la sempre assim.
Meu marido se afasta, indo até o bar com algumas bebidas, ele escolhe a
garrafa e serve dois copos.
— Há quanto tempo não era chupada, liebe?
— Há bastante tempo — digo ao me levantar.
— Quantos anos o sujeito tinha?
Junto-me a Damien no bar, observando-o.
— Vinte e seis, por quê?
De repente, quer saber o perfil da última pessoa que me deu prazer?
Nossas mãos se encontram quando ele entrega a bebida. Preciso dar um
gole imediatamente, pois estou com sede.
— Eu tenho trinta e cinco anos, não sou mais um moleque. Vou mostrar
a diferença toda vez que transar com você — assegura, segurando minha
bunda.
— Será mesmo? — desafio, já está sentindo a diferença.
Nunca transei com um homem mais velho, sempre preferi abaixo dos
vinte e sete anos.
A única vez que aconteceu foi quando fui abusada pelo zelador, a
lembrança me paralisa por alguns segundos.
— Não me provoque. — A voz de Damien afasta o flashback.
— Não é o único que gosta de comandar, você escolheu me dar prazer
primeiro. Agora é a minha vez de escolher uma posição.
— Durante todo esse tempo, imaginei você em todas as posições e
lugares. Deveríamos estar na cama, era uma regra dos meus antepassados
que o sexo devia ser apenas lá durante a noite de núpcias — revela.
— Algumas regras devem ser quebradas.
O copo de Damien está vazio em segundos, sou trazida para perto, já
podendo sentir o corpo esquentar novamente.
— Escolha uma posição, é hora de fazê-la minha.
Subimos para o segundo andar, a vista da varanda do quarto é incrível.
Mas com a temperatura caindo, Damien resolveu fechar o vidro para evitar
as correntes de ar.
Deitada na cama, assisto-o abrir o cinto e tirar a calça assim como a
cueca, o seu pau já está duro.
Sem quebrar o contato visual, ele se junta a mim, ficando em cima.
Busco sua boca iniciando um beijo enquanto minhas mãos estão descendo
por suas costas, arranho o local, fazendo-o resmungar contra a minha boca.
Ele desce a boca para os meus seios, abocanha-o, provocando um misto
de desejo e prazer.
— Trouxe as pílulas? — pergunta, mordendo o bico rígido.
— Sim.
— Não vou usar camisinha com você — afirma com a voz rouca.
— Quem disse que eu quero que você use?
Anseio senti-lo todo dentro de mim sem ter nada interferindo no ato,
Damien é grande, estou arrepiada e úmida somente por vê-lo nu.
— Ich bin so hart, ich will meinen Schwanz in dir vergraben.[5] — A
declaração me deixa molhada.
— Ich will dich jetzt in mir [6]— exijo.
— Pegue-o e leve até a sua boceta, Morgan. — A ordem é uma
provocação prazerosa, Damien morde minha orelha, passando a língua.
Encontro seu pau, acaricio, à medida que ouço os gemidos dele. Abro as
pernas, levando o pau até a entrada, acabamos gemendo juntos, começo a
introduzir.
Meu marido invade a boceta molhada, rodeio as pernas em torno da sua
cintura, Damien segura em minha cintura, apertando o local, à medida que
ele se movimenta.
Fecho os olhos e solto um gemido de prazer com o contato, o mafioso
conduz o sexo, estocando com força o entra e sai, minha boceta envolve o
pau duro dando ritmo.
Rebolo contra Damien, ganhando um tapa na bunda, seguido de outro.
Neste momento, não estou mais no papel de ser uma Muller, quero
transar loucamente com ele, sentir suas mãos em todo o meu corpo.
É a assassina quem está falando, agarro as costas com força, puxando o
corpo dele ao meu encontro.
— Tão gulosa, liebe. Me diz o que você quer, quero ouvir sua voz —
manda, ofegante.
— Me fode com força, Damien.
Ele abre mais minhas pernas, invadindo a porra da minha boceta
molhada e pulsante, mordo os lábios, arranho suas costas.
Damien aumenta o ritmo da penetração, entrando e saindo, ouço o
barulho do ato, isso incendeia ainda mais o meu corpo.
— Minha.
Fecho os olhos, sinto o ar escapar dos pulmões ao sentir o pau duro,
estocando até o fundo, tomando-me.
Um, dois e três. O ritmo segue frenético, viciante. Damien é tão bruto
como eu.
— Porra! — esbraveja alto.
Ele goza violentamente dentro de mim, enquanto se recupera a mão está
em meu seio, apertando-o.
Respiro com dificuldade, o suor desce pela minha testa, estou quente,
suja com a sua porra dentro de mim.
Estou em êxtase.
A forma como me toca é tão diferente, assim como acabo reagindo, o
toque do imbecil coloca tudo em combustão.
Damien sabe exatamente como me excitar sem dificuldade nenhuma,
algo que ninguém jamais soube.

Encosto as costas na cabeceira, Morgan beija o meu pescoço, ela está


sentada na minha cintura.
Os cabelos ruivos estão bagunçados, há algumas mechas em minha mão,
ela é uma fuchs[7].
Agarro a sua bunda com a mão livre, apertando o lugar.
— Cada parte sua agora é minha — reafirmo.
Eu a marquei no momento que invadi a boceta apertada e gulosa.
Desço um dedo pelas nádegas até a entrada da boceta, acaricio-a ouvindo
seu gemido na minha orelha.
— Você me pertence, Damien, não se esqueça.
Mein fuchs[8] rebola contra o meu dedo, provocando-me.
— A quero montando em mim, dando a visão de você inteira.
Deixei que ela escolhesse uma posição, agora é a minha vez, não abro a
mão do controle.
Morgan encara meus olhos, está com as bochechas coradas e, porra, vê-
la assim me deixa louco.
— Eu quero, mas antes.
Beijo sua boca, buscando loucamente pelo seu gosto, sua pele me chama
assim como os malditos olhos penetrantes.
Deito-me na cama, ficando por cima cobrindo todo o seu corpo.
Quero arrancar gemidos até vê-la sem voz.

Morgan se levanta da cama, indo até o banheiro, seus cabelos estão


bagunçados, há marcas da minha boca em sua pele.
— Vai tomar banho? — pergunta, ligando o chuveiro.
— Depois, vou ajeitar a comida, estou a esperando na cozinha.
Saio do quarto, vendo algumas mensagens de Aaron, desço as escadas
indo até a cozinha. Ligo para o conselheiro, aproveitando a ausência de
Morgan.
— Damien, não sabe quem acaba de me ligar.
— Elzo.
Roman não iria ligar, depois do ataque daquela gangue sempre piso
sobre qualquer fala ou aproximação que ele ousa.
— Perguntou se vocês já tinham chegado, falei que perdi a comunicação
com você. Não restam dúvidas de que havia alguma emboscada — alerta.
Dou risada.
— Ele pensa que é tão fácil assim me matar?
Sou o chefe da Zimmermann, criado para assumir o meu posto desde
criança.
Ele não passa de um servo, o mais amador traidor que está planejando
me matar.
— E sua esposa? Conseguiu algum indício de que Morgan sabe de
algo?
— Roman a mantinha presa, proibida de sair.
Quando a vi olhar para a praia encantada com a areia e o mar, percebi
que Morgan é um peão usado pelo traidor.
— Tenho certeza de que ele a trouxe para cá para seduzi-lo. Sabe que a
equipe de segurança está por perto, se quiser matá-la é possível, assim
como sair rapidamente de Sylt, assim teríamos Roman e Elzo pegos de
surpresa — sugere.
— Matá-la não é uma opção — advirto. — Eu a roubei dele, o lugar que
estou entregando é para ela. Não quero que toquem em um fio de cabelo,
uma peça é o que Morgan significa para Roman. Porém, agora ele não tem
mais controle.
— Acato sua decisão, meu chefe. O lugar mais importante para uma
mulher na Zimmermann pertence a sua esposa. Mas o que pretende fazer?
Mostrar algo para ver até onde ela sabe? — pergunta.
— Irei mostrar algo amanhã, antes de desligar tomei uma decisão, quero
Elzo morto antes de chegarmos em Roman. A pesquisa só me revelou o que
eu já sabia, Roman controlou Elzo a vida toda.
— Ele cairá pela traição, só precisamos esmiuçar como tudo ocorrerá.
— Quando eu voltar — aviso ao desligar.
Ouço passos na escada, encontro-a usando uma camisola preta, os
cabelos estão molhados e penteados.
— Quem era?
— Aaron, Elzo estava perguntando sobre nossa chegada.
— O que você disse? — indaga, atenta.
Há uma certa tensão em sua face.
— Aaron o enrolou.
Ela se aproxima, olhando as panelas e as opções da geladeira.
— Ótimo, Elzo não precisa saber.
— O esqueça, coma e beba um vinho comigo — mando, encontrando
seu olhar.
— Não precisa pedir duas vezes, estou faminta e cansada. Você é o
responsável por isso.
Encaro os olhos azuis.
— É apenas o começo.
Você, a única coisa que tive que esperar.
Abro os olhos aos poucos, o sol resolveu aparecer fraco, mas já se faz
presente. Tomei um banho rápido e vesti um conjunto de lingerie. Estou
descendo as escadas quando Damien entra com algumas compras.
Os olhos avelã pousam sobre mim, observando a escolha de roupas.
— Onde pensa que vai?
— Na praia, não trouxe biquíni, mas isso serve.
Ele vai até a cozinha, deixando as compras em cima da mesa.
— Você não vai sair assim, está exposta, além da temperatura baixa —
avisa, tirando o sobretudo. — Vista.
— Se você insiste, estou acostumada com o frio da Alemanha.
— Sairá daqui quando colocar.
Ele sai indo até a porta, sem opções coloco o sobretudo dele, cobrindo o
meu corpo.
Estou logo atrás do meu marido, saímos tranquilamente pela rua, a
caminhada não leva cinco minutos até avistarmos as escadas.
Há algumas pessoas ao longe, ao contrário de ontem, também vemos
espreguiçadeiras espalhadas.
Resolvo me aproximar da água gelada, molho os pés, gostando da
sensação.
Olho para trás e vejo Damien observando-me, sentado na
espreguiçadeira.
Abro um pouco do sobretudo e retiro logo em seguida, vou devolver,
mas Damien não aceita.
— Não vou entrar na água, mas é estranho estar na praia com um
sobretudo.
Sento-me ao seu lado, uma das mãos dele está na minha coxa.
— Quando vamos embora?
— Amanhã, Hamburgo e o resto da Alemanha não podem ficar longe do
meu comando.
— Como sua esposa, qual é o meu papel, chefe? — pergunto.
Ele puxa meus cabelos para trás, sou levada até o seu rosto.
— Quero ver no que você realmente é boa.
— Vai me estudar? — indago, arqueando uma sobrancelha.
— Você é uma mulher, liebe. Além de ser minha esposa, é mais
responsabilidade do que pensa.
Uma assassina, não uma mulher comum.
— O que espera desse casamento? — Sou pega de surpresa pela
pergunta.
— Não sei ao certo, estou acostumada com uma outra realidade longe
daqui.
— Mulheres são como um troféu na maioria dos casamentos, minha
família e as demais veem o interesse antes de qualquer coisa. Dou o livre
arbítrio para os membros da Zimmermann, porém, no meu casamento é
diferente.
— Você disse que iria me ensinar sobre tudo da Zimmermann,
acrescente o nosso casamento, controlado apenas por nós dois — sugiro.
Sua mão toca o meu braço.
— Coloque o sobretudo, está arrepiada.
Ignoro sua sugestão e me viro de costas, deitando em seu peitoral,
Damien pega o sobretudo e o coloca sobre mim.
Saímos de Sylt bem cedo, a previsão do tempo alertou que o restante do
dia poderia ter o risco de nevar.
Assim que chegamos à mansão em Hamburgo, Damien me apresentou
aos funcionários.
Subi para o quarto depois que as malas foram levadas, encontrei algumas
das joias que Alessa insistiu para que trouxesse.
Preferia que Roman comesse todas elas. O fato de ele ter traçado um
novo plano e eu não saber o que vai acontecer é frustrante.
Sinto vontade de encontrá-lo e conseguir respostas, arranhando o
restante de seu corpo ou até rasgando a maldita carne daquele verme.
Busco ter controle sobre os meus instintos, consegui sair do controle do
maldito homem que foi atrás de mim, esbanjando que teria tudo nas mãos.
— Reconhece essa foto?
Saio dos meus devaneios ao virar para trás e ver Damien com uma foto
em mãos, pego vendo de perto.
Não demoro a reconhecer Roman mais jovem ao lado de uma bela
mulher ruiva, a foto tem uma troca de olhares que não passa despercebido
por mim.
Olho a mulher do lado de Roman, é impressionante o quão parecidas
somos. O que me faz pensar que ele não me recrutou somente por minhas
habilidades.
— Quem é essa mulher? — pergunto, encarando-o.
Vejo meu marido analisar o que acabei de dizer.
— Como não reconhece sua própria tia?
Tia? Então essa é a mãe de Elzo.
— Acha que meu pai me mostrava fotos da família? Fui criada sem ter a
presença de Roman, até o momento que ele optou me trazer de volta para
Hamburgo.
Devolvo a foto desconfiada, Damien está colhendo informações sobre
cada passo de Roman.
Montando um quebra-cabeça.
— Há detalhes que me deixaram intrigados desde que recebi essa foto.
Você não tem nada da sua mãe, e por outro lado é uma cópia perfeita da
esposa do irmão de Roman.
Uma foto onde vejo uma mulher de cabelos loiros e curtos, olhos verdes,
vestida de noiva ao lado do marido imbecil.
"Minha filha é um bebê morto."
Tudo se encaixa, Roman traiu o próprio irmão com a cunhada.
— Roman cometeu uma traição há muitos anos ao ter um caso com a
própria cunhada. Quando seu pai se casou, pouco apresentava a esposa, essa
foto é uma das raras que eles estavam juntos.
— O que descobriu? — pergunto com um falso nervosismo. — Tudo o
que eu conheço é uma mentira?
Afasto-me, indo até a janela a fim de observar o tempo instável.
— Roman se casou com uma mulher que não tinha muitos anos de vida.
Ela teve câncer de mama e mesmo com tratamento não obteve a cura.
Usou essa mulher para disfarçar os rastros.
— Está contando que ele escolheu essa mulher para ocultar o caso com
minha própria tia? Por que não estou surpresa?
Tiveram uma bebê só que a criança não sobreviveu, Roman calculou os
passos minuciosamente.
— Há bastante sujeira na Zimmermann e eu pretendo limpar.
Encaro-o rapidamente.
— Há quanto tempo já sabia sobre isso? Que a mãe de Elzo é minha
também — sondo.
Aquele idiota criou o filho da mulher que amava sem dizer
absolutamente nada.
Elzo é um peão nas mãos de Roman, ele gira em torno do tio.
— Dois meses atrás, mas você era somente minha noiva. O casamento é
uma prova de lealdade da escolhida, a confiança é estabelecida somente
após a união.
— Damien, o que pretende fazer com essa informação? Elzo é um idiota
e eu duvido que ele saiba ou suspeite do meu pai.
— Você não saberá o que vou fazer — avisa, guardando as fotos no
paletó.
— Por quê? Sou sua esposa e estou envolvida nisso.
Não estou acreditando que ele não vai contar nada a respeito!
Essa traição é uma arma contra Elzo, e eu posso usá-la.
— Exatamente, está nervosa e pode atrapalhar tudo. Além de que, você
está iniciando na Zimmermann, Roman jamais lhe deu o ensinamento que
deveria.
Estou ficando irritada, não sou a porra de uma mulher indefesa!
— Você não tem esse direito! — rebato, afiada. — Sou adulta e posso
muito bem lidar com essa questão, Damien, você não manda em mim.
Quando tenho uma arma pronta para usar e atingir dois coelhos com uma
cajadada só, Damien surge na porra do meu caminho.
Vejo aquele brilho perigoso nos olhos avelã.
— Sou seu marido, escolho o que você pode ou não saber. Está
questionando a minha ordem? Aumente o tom, estou esperando uma
resposta.
— Toda essa situação me deixa nervosa. Espera que eu aceite isso?
— Você não questiona as minhas ordens, será que nem isso foi passado
pelo seu pai? — rosna, entredentes. — Exijo extrema obediência, e você vai
me dar.
Recuo um pouco, estou a ponto de fazê-lo mudar de ideia.
Damien passa pela porta do quarto e fecha. Ouço quando sou trancada
nesse quarto maldito!
Vou até a janela, olhando a altura, mas a ideia de usar lençóis para descer
some ao ver uma quantidade de soldados maior do que estou acostumada.
O chefe da máfia está me prendendo nessa mansão e tirando das minhas
mãos uma oportunidade de ter controle sobre Roman e Elzo.
Solto um grito, esbravejando minha fúria, ninguém me prende, sou
acostumada a escapar.
Damien vai me pagar por isso!
Saio da mansão, deixando ordens expressas para o chefe dos meus
soldados, Morgan não deve sair até que eu chegue.
Ela não tem poder para passar por minhas regras, não vou deixar
interferir em meus objetivos.
Morgan é inexperiente em tudo o que envolve a máfia, Roman a criou
sem dar o treinamento necessário.
Avisto o carro de Aaron se aproximando, pego o celular e ligo para Elzo,
está na hora de cobrar por sua traição.
— Damien, já chegou da lua de mel? — pergunta, rapidamente.
— Sim, durante a viagem ao sul da Alemanha encontrei com os dois
vermes que tentaram matar a mim e a minha noiva.
— Você já está com eles em mãos? Descobriu a motivação? — Sinto a
tensão na sua voz.
— Quero que me encontre na mansão de meus pais, os dois estão sendo
levados para tortura.
— Como quiser, estou saindo da empresa.
Desligo, guardando o aparelho no bolso.
— Ele está indo diretamente para a própria tortura — acrescenta Aaron.
— Passe o recado que mandei Elzo para o Sul da Alemanha para
resolver sobre esse falso ataque.
— Agora mesmo, o executor está esperando por nós. Pretende matá-lo
hoje ainda? — questiona.
— Não, vou usar Elzo até o fim. Sem Roman ele estará nas minhas
mãos, creio que iremos fazer a fraqueza dizer mais alto do que o acordo
entre os dois.
Gosto de utilizar terror psicológico, fraquezas mexem com a mente,
abaixando as defesas completamente.
E eu não pretendo parar.

A mansão dos meus pais sempre foi o destino de homens condenados


para o ceifador, o responsável por cuidar da tortura de traidores e inimigos
que acabam no território da Zimmermann.
Aaron está logo atrás de mim, enquanto pegamos as escadas até o porão,
onde há dois andares com celas, dividindo as vítimas condenadas.
— Chefe, tudo já está pronto — afirma o ceifador. — Preparei uma cela
especial.
Observo os homens que estão largados em suas celas, marcados por
facas e os demais objetos de tortura.
O cheiro de sangue apodrece cada canto do porão.
Ouvimos passos nas escadas, Elzo surge em passos rápidos, Aaron se
afasta, deixando que ele venha até a mim.
— Damien.
Quando o traidor observa que só há nós três, tira a arma para fora, mas
Aaron é mais rápido e atira na mão de Elzo.
A arma cai no chão.
— O que está acontecendo? — esbraveja alto.
Respondo pegando-o pelos cabelos e arrastando-o até a cela, solto Elzo,
acertando socos em seu rosto e nariz.
— Você tem a ousadia de me trair e perambular esses meses como se
nada tivesse acontecido?
— Não.. sei do que está falando, chefe.
Dou risada.
Então Elzo escolheu negar até o fim? Uso uma rasteira para derrubar
Elzo, chuto seu rosto, deixando a sola do meu sapato no seu nariz.
Aaron o intimida.
— Não adianta fazer mais nada, você vai permanecer aqui.
Elzo resmunga com dores.
— Se acha subchefe, Aaron? Você sempre quis ser mais do que eu.
Faço um sinal para Aaron calar a boca.
— Esperei até onde você e Roman iriam, trazer Morgan levantou
suspeitas que já tínhamos. Agora uma gangue invadir a mansão de Roman
enquanto estávamos em Hessen entregou as cabeças de vocês dois.
Pressiono o sapato com força.
— Não faz ideia do que guardamos para você, meu chefe — provoca,
tossindo.
Chuto o seu rosto, afasto-me deixando o ceifador rasgar a camisa social
expondo Elzo.
O celular de Elzo é tirado do bolso da cabeça e entregue para mim.
— Vou estar com o seu celular, afinal, Roman irá ligar para saber sobre
os seus passos — asseguro.
Elzo tenta se debater quando suas mãos são presas no topo da parede por
algemas de ferro.
Curiosamente, o celular vibra na minha mão, vejo o traidor se agitar.
— Diga para Roman que está no Sul da Alemanha, resolvendo a
motivação do ataque na lua de mel — aviso.
— Não.
— Sua esposa está no jogo, eu sei que ela o interessa. Escolha entre
Roman ou ela? — proponho.
Aproximo-me e coloco o celular no viva-voz.
Roman não espera o sobrinho e faz perguntas.
— Elzo, onde você está?
— Damien me mandou para o Sul da Alemanha, ele foi atacado pelos
homens que contratamos. Preciso encobrir nossos rastros, Roman.
— Faça isso e volte o quanto antes, Morgan está longe do meu alcance,
a vadia e Damien precisam morrer, não podemos esperar mais do que dois
meses. Vou aproveitar sobre a informação que meu deu da negociação da
boate, irei agir.
— Tome cuidado, eu volto em breve.
Desligo o celular.
— Dois meses? — indago, arqueando uma sobrancelha. — A questão é:
você vai sobreviver até lá? Eu guardei uma informação que seu tio jamais
ousou dizer a você, mas o que esperar de um peão?
— O quê? Está mexendo com a minha cabeça! Eu o conheço desde
novo, Damien.
Encaro o ceifador.
— Quero ele respirando com dificuldade.
Deixo o porão na companhia de Aaron, consigo ouvir os gritos de Elzo
cada vez mais altos.
— Roman vai agir, o que pretende fazer?
Encaro Aaron enquanto entramos na sala principal.
— Irei à boate, estou esperando a emboscada que ele preparou sozinho.
Quero uma quantidade de homens menor seguindo o meu carro.
— Tem certeza, chefe?
— Absoluta.
Não acredito que estou ligando para Sofie em busca de informações, mas
ela é a única que pode ser útil no meu interesse maior.
Preciso saber dos registros da família Fell.
— Morgan, como foi a lua de mel? Vocês foram para onde?
— Sylt, mas não liguei para bater papo.
— O que você quer?
— Agora estamos falando a minha língua. Descobriu alguma informação
sobre Fell? Não posso perguntar sobre ele, Damien iria desconfiar.
— Você tem sorte, acabei de escutar Paul saindo do escritório, ele
falava com um sujeito interessado em comprar uma mulher do tráfico —
revela.
— Então seu marido indicou o Fell, mas ele está ainda em Hessen?
— Fell está em Hamburgo, Damien irá receber um aliado na boate,
você deve ir.
— O sujeito vai vir para cá. Sofie, você é bem útil, realmente por
enquanto não estou arrependida de aceitar sua ajuda.
Ela ri.
— Lhe dei a minha palavra, Morgan, sei que anos atrás acabei
prejudicando você. Mas éramos crianças...
— Liguei somente por isso, depois nos falamos — digo antes de
desligar.
Detesto melancolia.
Quando precisou abrir a boca e dizer quem estava na sala da madame
Heidi, Sofie abriu a boca com medo de ficar dormindo na frente do
orfanato.
Fui agredida várias vezes pela vagabunda, e violada logo depois. Ela e o
zelador mantinham esse jogo onde eu era o alvo favorito.
— Chega — repito para mim mesma.
Tenho uma informação valiosa e eu preciso ir até a boate. Quando penso
em sair da cama, sou surpreendida pelo barulho da chave passando pela
maçaneta.
Damien entra no quarto sem temer pela minha ira.
— Por que recusou o almoço? Passou a tarde sem comer.
Ele se aproxima, observando-me.
— Não estou com fome ou vontade de ver o rosto de ninguém.
— Troque de roupa e coma alguma coisa. Um aliado importante da
Zimmermann estará na boate e você deve estar comigo — manda.
Se não fosse pelo convite, pensaria na sua punição por pensar que sou
uma espécie de pássaro.
— Vai fazer uma negociação importante ou me apresentar? — sondo.
— A curiosidade em vê-la é um motivo, sua família tem um sobrenome,
Morgan.
— Roman vai estar lá? E Elzo?
— Elzo está no Sul da Alemanha resolvendo negócios. Enquanto ao
Roman ele estará certamente, é seu pai, um membro antigo da
Zimmermann.
Como assim?
Elzo está trabalhando para ele, mas e a descoberta sobre a mãe dele ter
tido um caso com Roman?
Pegar Roman não é a porra do objetivo? Agora vamos beber todos
juntos?
Estou esgotando o pouco da paciência que me resta.
— Ótimo. — É o que consigo responder.
Vou até o closet e penso em uma roupa do meu estilo, porém, antes de
tudo me lembro de que passei horas nesse quarto.
A ocasião pede por peças provocativas que façam meu marido perder o
foco de qualquer conversa.
Um conjunto preto de couro é minha escolha, uma linda saia curta e o
cropped.
Sinto que a noite vai ser longa.

Desço do carro e fico ao lado de Damien, quando olho para a fachada da


boate tenho uma pequena surpresa.
Já estive nessa boate fazendo um trabalho há um ano, naquela ocasião
não vi Damien ou ninguém importante da máfia.
Uma soldada fica na nossa frente, encaro-a sem entender o que ela faz.
— Chefe.
— Quero que você seja responsável pela segurança da minha esposa,
com a orientação que já lhe passei — declara.
Fuzilo seus olhos. Não preciso de uma babá!
— Sim, senhor.
Passamos por ela, adentrando a boate, as luzes sobem e descem passando
por vários rostos, a presença de Damien chama a atenção.
— Uma babá? — indago, tentando me controlar.
— O trabalho dela é proteger você, pensou que iria ficar sem proteção?
— Estamos na sua boate, não em um lugar desconhecido.
— Acate minha ordem, Morgan — reforça.
O conselheiro já está esperando por nós, vejo os primos de Damien logo
atrás. Passo os olhos pelo local, procurando Roman, mas ele não está aqui
ainda.
— Damien, Morgan.
— Boa noite. — Ofereço um sorriso nada amigável.
Meu marido se aproxima do mais velho.
— Devon, a leve para o primeiro andar — avisa, voltando a atenção em
mim. — Tratei Magnon para conhecê-la depois da negociação.
Meu objetivo é encontrar Fell por aqui, somente por isso que estou nesse
lugar.
— Vamos, Devon, estou com sede.
Ignoro Damien ao sair, caminhando em direção às escadas, Devon sobe
ao meu lado e a soldada está logo atrás de mim.
— A salvo e com uma boa visão — diz ao sentar de frente para mim.
— Qual é o território do aliado do meu marido?
— França, a aliança entre nós é forte há décadas. Veja com os seus
próprios olhos, Magnon acaba de chegar.
Viro o pescoço, observando a entrada da boate com muitos soldados, o
mafioso francês aperta a mão de Damien.
Ambos trocam algumas palavras, o sujeito ri enquanto o acompanha,
realmente há uma aliança e amizade entre os dois líderes.
Devon se levanta.
— Vou pedir para trazerem a sua bebida, o que vai querer?
— Um drink.
Pretendo levantar para perambular pelo primeiro andar, mas a soldada
que agora está diante da mesa não sai da frente.
— Saia da frente! — exijo.
— O chefe não autorizou que andasse pela área, apenas o uso do
banheiro, até ele sair da negociação.
Ele colocou essa mulher para me irritar.
— O seu chefe está na negociação, quando ele está fora sou eu quem
mando — ameaço.
— Sigo somente o que ele desejar.
Levanto-me ficando cara a cara.
— Você me serve, não se esqueça de quem manda em você agora
também.
— Alguém está nervosa. — A voz de Fell chama a minha atenção. —
Como está, Morgan?
— Ótima, apenas esperando minha bebida.
— Estou resolvendo um assunto, depois nos falamos.
— Claro.
Acompanho o homem atrás dele se juntar a Fell, logo atrás do sofá, volto
a me sentar e afasto os cabelos para ouvir a conversa.
— Soube que há muitas mulheres em seu domínio. Estou procurando por
uma, dinheiro não é o problema, faça seu preço, senhor Fell.
— Escolha uma e, então, faça sua proposta.
— Todas que estão neste registro são as mais valiosas? Quero ter filhos
bonitos.
Reviro os olhos.
— Todas as mulheres estão nesse registro, não deixo nada passar.
— Ouvi meu avô falar de seu pai, ele entregou uma criança fora do
casamento para o orfanato que sua família retira crianças, Anjos da Luz.
— Registramos cada vítima, chega de perguntas. O que vai querer?
O orfanato perdeu o registro após o incêndio que provoquei, mas Fell
possui todas as informações sobre as crianças daquele lugar.
Só preciso conseguir os registros com ele.

Lavo as mãos, olhando meu reflexo no banheiro, não demoro a sair e


tenho a surpresa de não ver aquela mulher esperando por mim.
Mas sim, Damien e o aliado sentados onde estava, os soldados estão um
pouco afastados de nós.
O francês observa enquanto me aproximo da mesa, ele sorri, dizendo
algo em francês e somente depois em alemão.
— É uma bela esposa, Damien.
— Prazer — cumprimento, apertando sua mão.
Sento-me ao lado do meu marido sem encarar seus olhos.
— Obrigado.
Assim que agradece sinto a sua mão no meu joelho, subindo um pouco
até a coxa.
— Como foi a negociação? — pergunto, arqueando a sobrancelha.
Encaro Damien, mas é o francês quem responde.
— Rápida, seu marido e eu somos objetivos em nossos assuntos.
— Magnon ficou curioso sobre você, afinal, era desconhecido a sua
existência.
— Por muito tempo só conhecia Roman e Elzo, fiquei surpreso quando
soube que ele tinha uma filha.
Ouvimos uma movimentação, a face de Roman aparece nesse exato
momento, ao seu lado está Alessa.
Vejo uma certa tensão nos olhos dela, os dois se sentam ao lado de
Magnon.
— Damien, Magnon, é sempre bom vê-lo. Então, está conhecendo minha
filha?
— É uma bela ruiva, a união entre Zimmermann e Muller foi inesperado,
Roman.
— Quis proteger Morgan, após a morte de minha falecida esposa. Mas
vamos mudar de assunto, o que faz aqui em Hamburgo?
— Negócios, mas Magnon e eu temos uma opinião diferente — a fala de
Damien me pega de surpresa.
— Devo ir agora, mas pense melhor, Damien, gosto quando não
divergimos na opinião.
Roman observa atentamente ambos com um brilho perigoso no olhar.
Damien está jogando com ele e Magnon está participando disso, não
existe outra explicação.
— Até breve, Magnon.
O francês sai acompanhado por seus soldados.
— O que houve, Damien? Posso ajudá-lo, já que Elzo está ausente.
— Magnon propôs que deixássemos que ele oferecesse o armamento, e
que em troca a parceria com o cartel de Sinaloa fosse desfeita. Vou pensar
sobre a proposta, afinal, você sabe que Magnon não aceita recusas —
comenta, observando o idiota.
— Sem dúvidas, Magnon pode se voltar contra nós e quebrar a aliança
de anos entre Alemanha e França.
— Elzo disse que Magnon pode estar por trás do ataque em minha lua de
mel. É a segunda vez que nosso aliado insiste nessa proposta.
Roman assente rapidamente.
— Concordo com Elzo, estava preocupado com sua vida, filha.
Encaro-o tendo que forçar um sorriso.
— Não estou com um arranhão, então sem lamentações — corto. —
Alessa, está tão quieta.
— Morgan, estou com dores de cabeça. Mas vim saber como estava,
estou aliviada de vê-la tão bem.
Está mentindo, não preciso ser uma gênia para perceber.
Pouco busca encarar meus olhos.
— O casamento de vocês atrairá inimigos, afinal, minha filha está
fortalecendo o seu poder, Damien — o desgraçado muda o assunto.
— Eu sei.
A mão que está na minha coxa aproveita que estou de saia e desce mais
um pouco, seus dedos tocam a minha calcinha.
Porra!
Fecho as pernas, querendo esmagar a mão dele, mas o imbecil não
demonstra dor quando faço isso.
— Quando Elzo vai voltar?
— Assim que entregar os inimigos por trás do ataque.
Roman se levanta rapidamente, puxa o braço de Alessa para que faça o
mesmo.
— Estamos indo embora. Boa noite, Damien, filha, a vejo em breve —
despede-se com um sorriso.
Os dois se retiram, sumindo do meu campo de visão.
— Não terminou sua bebida.
Viro o rosto em sua direção.
— Por que colocou aquela mulher para ser a minha sombra? —
questiono, entredentes.
— Estou pensando na sua segurança, confio nela, pois é uma das
melhores soldadas.
— Ela precisa aprender a ouvir as minhas ordens.
Arranco a mão dele para longe de mim.
— Está muito incomodada — provoca perto da minha orelha.
Enfrento os olhos avelã.
— Você não viu nada.
Afasto-me ao ouvir passos próximos, Aaron sorri quando para diante da
mesa.
— Tudo saiu como planejado.
— Exatamente como eu queria — diz Damien, olhando meu rosto
enquanto responde ao conselheiro.
Subo diretamente para o quarto, tiro as sandálias. Estou irritada, excitada
e intrigada com os acontecimentos dessa noite.
Sento-me no recamier e retiro a calcinha, deito-me e, ao mesmo tempo,
fecho os olhos ao descer um dedo pela minha boceta.
A brincadeira que Damien fez me deixou bem acordada, introduzo o
dedo, estimulando o clitóris.
Solto um gemido ao sentir o quanto estou molhada, abro os olhos e
encontro meu marido assistindo à cena assim que entra no quarto.
Aumento os movimentos e acabo soltando mais gemidos, ele não
aguenta assistir sem fazer nada.
Damien se aproxima, tirando a camisa e o restante das roupas, encaro
seu pau duro, sentindo vontade de colocá-lo dentro de mim. Mas os planos
são outros.
A mão dele captura a minha, parando o que eu estava fazendo.
— Não preciso de você para gozar.
— Sua boceta rosada não se contenta apenas com dedos, use a minha
boca ou o meu pau para gozar — avisa, subindo a minha saia até a cintura.
— Prove.
Damien se abaixa enquanto abro as pernas, a boca dele toca a pele
sensível, ele beija minha boceta três vezes.
Sinto o corpo quente, quase fraquejo com o ato, deixo-o dar mais um,
estou toda arrepiada.
— Ainda não — digo, rouca.
Empurro-o ficando em pé.
— Quero chupar você primeiro.
Meu marido se senta, ajoelho-me e aproximo a boca, deixo a língua tocar
a cabecinha, ouvindo o gemido de satisfação.
Coloco na boca para brincar, mas em seguida largo, ficando em pé.
Damien me encara incrédulo, as pílulas dilatadas de tanto desejo.
— Coloque a boca de volta.
— Perdi a vontade, tenho outras prioridades como tomar banho.
Caminho até o banheiro, tirando o restante das minhas roupas, ouço os
passos dele. Ignoro-o enchendo a banheira, o pau dele está na minha bunda,
Damien agarra meu seio com força.
— Você está mentindo, está molhada e com tesão.
— Estava, na verdade — corrijo.
Afasto-o
— Passar a tarde presa nesse quarto e depois ser obrigada a ficar com
uma mulher na minha sombra, dizendo que responde ao chefe, acabou com
qualquer vontade de transar com você. Não sou um animal!
Fecho a torneira, entro na banheira sob seu olhar furioso, quando fecho
os olhos para evitar vê-lo.
Algo entra na água, a mão dele aperta meu clitóris, abro os olhos de
imediato, solto um gemido sem poder controlar.
— Não me provoque.
Damien se afasta, liga o chuveiro, aposto que é água fria. Se pensa que
vou abrir as pernas quando ele bem quiser depois de ser presa e irritada,
está muito enganado.
Posso torturá-lo quantas vezes for preciso.
Brinco passando a mão na água, o imbecil não demora no banheiro,
encaro a sua bunda quando ele passa buscando a toalha.
— Você teve algo com aquela soldada? A forma que ela diz que é fiel ao
chefe, me diz que sim — questiono.
Damien não responde e sai em passos rápidos, batendo a porta com
força.
Aprecio minha vitória, voltando ao que estava fazendo, estimulando o
clitóris ao próprio prazer, não vou conseguir dormir sem antes gozar
violentamente.

Acordo com a cara amassada no travesseiro, levanto-me e encontro a


cama vazia, demorei a dormir, já que a respiração de Damien estava tão
perto que arrepiou os pelos da minha nuca.
Visto o robe, não demoro a deixar o quarto depois de usar o banheiro,
quando estou descendo as escadas, encontro a empregada esperando por
mim.
— Senhora, o senhor Zimmermann lhe deixou um presente na sala
principal.
— Obrigada.
Mudo o trajeto e encontro no sofá uma caixa preta, desembrulho o laço
branco, surpresa por Damien comprar alguma coisa para mim.
Sento-me no sofá abrindo a caixa, tenho uma enorme surpresa ao ver
uma arma, sorrio ao ver as balas prontas para serem usadas.
Pego o bilhete que estava no fundo e reconheço a caligrafia.
A sua primeira arma, quero ensiná-la a usar essa e muitas outras.
Aproveite o presente, mein fuchs[9].
Mein fuchs, repito na minha mente, gostando de ser chamada assim por
ele.
Eu amei o presente, não é uma porcaria como joias e essas futilidades.
— Senhora, você tem visita.
Viro o rosto surpresa ao ver Alessa com os olhos vermelhos, andando
devagar.
Ficamos sozinhas, levanto-me para vê-la melhor.
— O que faz com uma arma, Morgan? — pergunta, preocupada.
— Presente do meu marido. O que faz aqui tão cedo e sozinha?
— Seu pai mandou que eu viesse vê-la. Ele...
Lágrimas descem pelo seu rosto. Deixo o presente de lado, aproximo-me
e me afasto o casaco que revela uma marca roxa no ombro de Alessa.
— Estou com medo, eu não o reconheço. Não conte que viu essa marca,
por favor — implora, chorosa.
— Meu pai quer que você trabalhe para os interesses dele.
— Eu pedi para que parasse, mas ele ameaçou me matar. Morgan, estou
com medo, não consigo dormir.
— Você não vai morrer — reitero. — Mas precisa fazer o que ele pedir
por um tempo, confie na minha palavra.
— Como pode não temer essa situação?
Roman não me amedronta e jamais irá.
— Eu não tenho medo de nada, Alessa. O que você tem que fazer é se
concentrar em agir como ele quer.
Termino o almoço e tomo um suco, encaro o presente que está ao lado
do meu prato já vazio.
Ouço barulho de carro, não demoro a ouvir passos no corredor até a sala
de jantar, os olhos avelã vão diretamente em mim.
— Onde você estava? — questiono.
— Adiantando reuniões importantes para ficar com você, mein fuchs.
— Quero treinar, você me deu uma arma e eu quero usar — digo.
Ele sorri, sentando-se em sua cadeira.
— Vou almoçar e depois vamos para os fundos da mansão. Gostou do
presente?
— Essa arma é para compensar o que você fez ontem?
Vai precisar me dar um armamento inteiro se quiser algo em troca.
— Não vou prender você de novo — assegura. — Escolhi uma arma,
pois sabia que era o que mais combinava com você, já lhe disse que é o
oposto de outras mulheres.
Desvio o olhar.
Os empregados servem o almoço e levam o meu prato, enquanto pego a
arma, observando os detalhes.
Sinto falta de estar sempre armada.
— Vou esperar você lá fora — aviso antes de sair.
Levo a caixa comigo, pensando a respeito da motivação para ele entregar
esse presente.
Ontem provei que posso ser mais perigosa do que ele pensa, não escuto
as suas ordens e o enfrento sempre.
Mas confesso que não estava esperando receber nada de suborno, só que
ele sabe que não gosto de joias e deu algo que eu gosto. Além de que, nunca
ganhei nada.
E muito menos fiquei com um homem mais de uma vez, encaro a aliança
no meu dedo.
É estranho tudo isso, assim como ficar impressionada por um mero
objeto.
Seguro a arma, apontando para os bonecos, poderia acabar com todos
sem precisar dele para nada.
Imagino sua reação, tenho vontade de mostrar quem eu sou, mas dizer
agora é muito arriscado com essa situação onde não tenho controle.
Escuto passos, não preciso olhar para trás para saber quem é.
— Immer noch nervös, liebes[10]? — pergunta, beijando meu pescoço.
Ignoro-o e não respondo.
Damien me vira para ele.
— Ontem você questionou minha ordem, ninguém jamais fez a mesma
coisa. Estou acostumado com obediência, membros e soldados abaixando a
cabeça para mim. Acabei ficando nervoso e decidi que trancar você era a
melhor opção, já que tinha outro problema para resolver.
Fuzilo seus olhos.
— Sou sua esposa, não qualquer pessoa. Então você vai ter que ouvir a
minha opinião, não serei uma esposa troféu. Você disse que iria me ensinar
tudo sobre a Zimmermann, trancafiar não faz parte disso — rebato. — E
muito menos tentar me subornar com um presente.
— Eu sei, não comprei esse presente para subornar você. Mas prometi
lhe ensinar e vou fazer isso, como seu marido posso lhe passar tudo o que
você nunca soube. Respondendo sua outra pergunta sobre a soldada,
ficamos algumas vezes há muito tempo, jamais acontecerá de novo, estou
casado com você.
Sorrio debochada.
Bastaram meus olhos encararem aquela mulher, observei a forma como
ela defende e se mostra fiel, desconfiei que tinha algo mais.
Meu instinto sussurra coisas a quilômetros de distância.
— Acho que não vai acontecer mesmo, pois agora tenho essa arma em
mãos e não hesitaria em usar — asseguro.
— Ich bin dein[11].
Encaro seus olhos, Damien acaba com a distância entre nós, tomando a
minha boca com a intensidade.
Com a mão livre agarro sua nuca, suas mãos agarram meus cabelos e
costas, aprofundo o beijo, dando abertura para sua língua.
— Não está se esquecendo de nada? — aviso, deixando sua boca.
Posiciono-me observando os alvos, meu marido pega na arma junto
comigo, direcionando para o primeiro boneco.
É interessante ter uma aula do que eu já sei fazer, aprendi sozinha,
treinando com coisas que encontrei na rua e nos lugares por onde passei.
Ele afasta o cabelo da minha orelha com a mão livre, passando
orientação de como atirar.
— Concentre-se onde você almeja atirar, coloque raiva e interesse.
Utilize o que estiver falando mais alto e jamais errará o alvo.
Damien se afasta deixando a arma comigo, levanto o braço, aperto o
gatilho lentamente.
A cabeça do boneco foi acertada.
— Quero que pratique exatamente assim.
Viro para encará-lo. O celular dele vibra, me aproximo interessada em
saber sobre a ligação.
— O corpo foi atingido inteiramente? Há algo que mostre ser ele?
Alguém está morto, e eu necessito saber quem.
Ao finalizar a ligação não demoro a avisá-lo.
— Dessa vez você vai contar o que está acontecendo?
— Mandei Elzo e alguns soldados para o Sul da Alemanha para
encontrar quem estava por trás do ataque falso. Porém, houve uma troca de
tiros com uma gangue da região, Elzo foi atingido, doze tiros ao todo, o
corpo está irreconhecível — avisa.
Estou ouvindo direito? O idiota foi buscar algo que não tinha, já que era
Elzo e Roman quem estavam atrás do nosso paradeiro, certamente com uma
emboscada.
— Morto? Seus homens tem certeza?
A mão dele pega o meu queixo.
— Elzo está morto, Aaron cuidará de tudo para trazer o corpo para
Hamburgo. Devemos nos preparar para o velório, a cerimônia será longa.
— Vamos.
Quero comemorar o que meus ouvidos acabam de escutar, um dos meus
problemas já está morto.
Elzo caiu e agora Roman está completamente sozinho.
Aproximo-me da cela onde encontro o seu corpo coberto por sangue,
cortes e hematomas.
Os olhos estão com dificuldade em abrir.
— O que faz aqui? — pergunta, rouco. — Por que não me matam logo?
Não suporto ficar assim.
— Você não tem escolha! — reitero. — Mas já que tocou no assunto
morte, tenho uma notícia para lhe dar.
— Quem você matou?
Dou risada.
— Neste momento, Elzo, todos acham que você foi morto por inimigos
na Alemanha. Aaron está cuidando de tudo para trazer um corpo de alguém
com suas características.
Ele nega tossindo, tentando abrir os olhos e se colocar de pé, mas sem
sucesso.
— Não pode substituir meu corpo, precisa de provas.
— E por que estou aqui? — provoco. — Abra a cela.
O ceifador se aproxima, abrindo e, logo em seguida, dá a passagem para
que eu entre.
— Imagino o choro de sua esposa, ela está sozinha, uma viúva exposta
ao perigo. E enquanto ao que quero saber de Roman, nada útil saiu da sua
boca desde a última visita, será que estamos pegando leve? — questiono,
arqueando uma sobrancelha.
Chuto a barriga de Elzo, ele imediatamente busca o ar, vejo diante dos
olhos um inseto pronto para ser esmagado.
Abaixo, pegando um canivete e corto alguns fios do seu cabelo jogando
dentro de um pequeno saco transparente.
— Esperava terminar assim quando aceitou tramar com Roman? —
indago.
Ele força a voz.
— O que...você teria.. para me oferecer? Nada.
— Talvez algo sobre o seu passado. Afinal, você perdeu os pais quando
era um garoto, Roman o criou como se fosse dele. Mas não foi por carinho,
tinha um motivo maior. E você pode ter essa informação, é claro, se você
entregar todo o plano.
— Está torturando a minha mente.
— Roman tinha um caso com a sua própria mãe — confidencio, ao sair
da cela junto com o ceifador.
— Mentira, é mentira! Roman é meu tio, fui criado por ele.
Faço uma última pergunta.
— Criado por pena ou remorso? Roman é o oposto do seu pai, você foi
criado por um homem fraco.
Saio do lugar sem dar a atenção que ele precisa neste momento, é
quando a dúvida se espalha brincando com a mente.
Cada segundo será pior até ele dar com a língua nos dentes.
Jogo o saco no banco do passageiro, ligo o veículo e saio em alta
velocidade.

Aaron foi responsável por organizar e espalhar a notícia para todos os


membros e aliados da Zimmermann.
Já é noite quando decido velar o falso corpo de Elzo na mansão de seus
falecidos pais.
Coroas de flores estão perto do caixão fechado, todos sabem que os tiros
deixaram o corpo irreconhecível.
Vejo Morgan ao lado da esposa de Paul, enquanto estou reunido com os
membros de minha confiança.
— Roman não chegou ainda. Acredito que fugir é uma opção, ele está
sozinho — diz Paul.
— Já providenciei uma equipe de soldados para barrar a decolagem no
último instante. Quando Roman pensar que sair da Alemanha é uma opção.
Fell se aproxima com um pensamento diferente.
— Roman pode sair depois, afinal, ele mordeu a isca que Magnon e você
jogaram.
Meu celular vibra, acabo me afastando ao ouvir a voz de Magnon.
— Damien, acabo de ter a ligação inusitada de Roman, propondo
entregar a Alemanha para mim.
— Elzo está morto como você bem sabe. Então, sair daqui e conseguir
uma aliança com seu território é o que ele vai optar.
— Disse que estou esperando por Roman, é impressionante o quanto
esse verme acredita que sua lábia pode interferir e ser considerado a
melhor opção — desdenha.
Olho para a entrada da mansão e vejo o rosto do homem que esteve perto
da minha família, Roman entra ao lado da noiva.
Seus olhos procuram por alguém, logo estão em Morgan.
— Sua atuação foi perfeita, Magnon. O traidor acaba de chegar ao
velório, nós já sabemos que ele não vai passar dessa noite na Alemanha.
Decolar é a ideia de salvação, martelando na cabeça dele, sem o sobrinho
ele perde uma mão invisível sobre Elzo e as decisões que o subchefe tinha.
— Traidores não sobrevivem em nossas máfias, sei que irá revelar muito
mais coisas que Roman fez durante todo esse tempo. Afinal, estamos todos
curiosos para saber qual foi o passo a passo que o fez acreditar que o
plano seria tão perfeito.
— Ligarei para você em breve — desligo, guardando o aparelho.
Aaron se aproxima para entregar uma valiosa informação.
— A pista está com um jatinho, o piloto está esperando por Roman.
— Quero que o deixem acreditar que vai sair vivo daqui, não façam nada
para atrapalhar o voo — ordeno.
— Sinto cheiro de sangue e ossos — acrescenta Fell.
— Deve pensar em Morgan, afinal, o que Roman pode ter feito com ela?
A queda do pai pode ser a liberdade que ela precisava — Paul comenta
baixo comigo.
— Eu sei, a partir dessa noite vou saber exatamente tudo o que Roman
fez.
Vou arrancar tudo o que escondeu por tanto tempo.
Tirar mein fuchs completamente da prisão onde Roman a jogou.
Está nevando essa noite, diferente de janeiro do ano passado que estava
procurando um lugar para me aquecer.
Sempre fui uma sobrevivente.
Mas existem pessoas que não tem essa mesma sorte, é o pensamento que
domina a minha mente quando olho o grande caixão de Elzo.
A morte para alguns traz dor, mas eu aprecio cada um que joguei para
esse caminho vazio. Foi através ser quem sou que consegui me sustentar e
sair ilesa.
Se não tivesse escolhido matar o zelador e a diretora daquele maldito
orfanato, poderia estar morta há muito tempo.
— Morgan — cumprimenta Sofie. — O que está pensando? Não consigo
decifrar seus olhos.
Encaro-a.
— Parte da minha liberdade é por causa da morte desse idiota. Roman
estava tramando junto com Elzo uma forma de eliminar não somente
Damien, eu também era um alvo — confidencio baixo.
— Acha que Damien matou Elzo por desconfiar de algo? Vendo meu
marido e o restante dos homens reunidos, levanta uma suspeita pra mim.
Paul não quis falar nada sobre a morte de Elzo, como se precisasse guardar
segredo.
Conheço Damien o suficiente para saber que ele pediu sigilo desse
assunto.
— Somos recém-chegadas aqui, Sofie. Conhecendo um pouco de como a
máfia atua, eles não vão revelar nada até o meu marido autorizar — afirmo.
— Seu pai acaba de chegar.
Encontro Alessa e Roman, recebendo cumprimentos no centro do salão,
peço para que Sofie se afaste.
Estou esperando ouvir palavras calorosas essa noite.
— Morgan, sinto muito — diz Alessa, abraçando-me fortemente.
Esse gesto é como um sinal de socorro, vejo o quanto seu olhar estar
vulnerável.
— Se retire, Alessa. Você não é da minha família — exige, encarando-a
com ódio.
Enquanto ela se afasta, Roman pega em meus cabelos quando para ao
meu lado, ambos diante do caixão de Elzo.
— Roman, acho que o primeiro plano foi bem mais construído do que
esse. Veja só onde Elzo foi parar? — provoco-o.
— Você não sabe de nada, acredite que não vou seguir os mesmos passos
que Elzo. Tenho uma última opção, diferente do que a espera — ameaça
baixo.
Continuo olhando para o caixão sem transparecer nenhum vestígio dessa
troca de faíscas.
— Está sozinho, sem Elzo o que você pode fazer?
Ele ri.
— Apenas vim a esse velório idiota para lhe dar um último recado,
criança maldita.
Encaro-o de imediato.
— Acha que me importava com Elzo? O criei somente para alcançar o
que ele poderia sendo o filho do meu irmão, que era o antigo subchefe.
— O que você quer de mim? A marca na sua bochecha não foi o
suficiente? — rebato.
Ele põe a mão em meu ombro, dando um leve aperto.
— Reuni todas as manchetes e fotos dos jornais onde destacam você. A
primeira é o orfanato Anjos da Luz em chamas, onde começou a cometer
assassinatos. Mandei um e-mail para Damien com tudo o que achei mais
interessante, assassina.
— É meu fã para ter todas as manchetes durante esse tempo todo? —
provoco-o.
Não vou perder o controle na sua frente, idiota, jamais. Eu o arrasto
comigo.
— Digamos que sempre a observei, criança. Mas acho que deveria tentar
a sorte e deletar o e-mail antes que ele veja. Porém, mandei fotos também,
onde estava usando aquela peruca loira. A cho que a empregada pegou o
pacote para entregar ao seu marido.
Vejo o sorriso banhado a veneno.
— Roman. — A voz de Damien me dá um leve susto.
— Damien, estava lamentando ao lado da minha filha. Mas irei atrás de
Alessa, minha noiva está doente.
Ele se afasta com essa mentira descarada, quero ir logo atrás para enfiar
o punhal na garganta.
Era o que deveria ter feito naquela maldita noite!
Damien observa minha expressão.
— O que foi? Está gelada.
— Estou com frio, acho que estar diante do corpo de Elzo está me
deixando mal. Quero ir embora, você vem? — pergunto, atenta.
— Nossos aliados estão aqui, além dos membros. Não posso sair agora,
liebe, mas vou pedir para deixarem você em casa.
Beijo sua boca antes de responder, Damien retribui, não ligando onde
estamos, é o que mais aprecio nele.
— Os soldados a levarão para casa, venham.
Rapidamente obedecem ao seu chamado, os homens de Damien, ao lado
da soldada que ele encarregou de cuidar da minha proteção estão do meu
lado.
— Não demore. — É minha última palavra antes de sair, não vou ficar
parada enquanto Roman desaparece.
Queimo aquele notebook se necessário, mas vou apagar essas mensagens
antes que Damien veja.
Quem vai falar com ele, sou eu, quando chegar a hora de dizer que não
sou a porra da filhinha de Roman. Mas sim, uma assassina.
Eu só preciso de um pouco mais de tempo.
Consigo ver Roman entrar no jatinho sozinho, porém, ele não vai sair do
chão. Os carros entram na pista, impedindo qualquer tentativa de
decolagem, saio do veículo e vejo Roman descer assustado.
O piloto levanta as mãos, rendendo-se, mas o verme saca sua arma, meus
homens o atacam, dois soldados acabam feridos, porém, não há tempo para
que ele consiga atirar.
Roman é pego e imobilizado, trazido contra a sua vontade até onde
estou.
Aaron o recebe com a sentença.
— Roman Muller, você festa sendo acusado de conspiração e traição ao
líder da máfia Zimmermann, a sua sentença é a morte.
— Tenho certeza de que Damien não vai me matar agora, afinal, eu
escondi muitas coisas de você. Imagino que pretenda ouvir tudo desde o
começo? — provoca.
Dou risada.
— Tudo o que pensava ter escondido bem, você vai me dizer essa noite.
Preparei um lugar especial para você na mansão dos meus pais.
— E se eu não lhe dizer nada, Damien? Posso mudar de ideia e levar
comigo tudo o que eu sei ou será que deve saber que nesse plano fielmente
arquitetado por mim, teve três participantes? E não somente dois como
pensa.
— O levem até o carro, quero ele intocável durante todo o trajeto —
aviso. — Agora!
Roman é levado pelos meus homens.
Entro no carro, sentindo a fúria dominar meu corpo em segundos, aperto
o volante com força ao pisar no acelerador.
"Três participantes".
Roman vai dar com a língua nos dentes e entregar esse terceiro nome.

O ceifador arrasta Roman até a cela, o primeiro andar é o lugar onde ele
permanecerá até a hora da sua morte.
Quero Roman longe dos outros condenados que estão todos no segundo
andar.
Abaixo de onde estamos, Elzo também está preso.
— É só isso o que preparou para mim? — indaga.
Acerto socos em seu nariz e boca, repetidas vezes, o sangue surge
ensopando o chão. Não vou me contentar somente com isso, jogo Roman
no chão.
— Vou lhe dar a morte somente no último instante, quero arrancar todos
os seus membros do corpo.
— Tenho certeza de que você quer saber o que prometi contar —
barganha.
Olho para o ceifador.
— Saia, não quero interrupções.
Ao sair da cela, vejo Roman tentar se recompor, ele se levanta com
dificuldade.
— Por onde começo? São tantas coisas que ficaria surpreso.
— Fiz um dossiê, Roman. É melhor dizer absolutamente tudo, tenho
fotos que comprovam que você tinha um caso com a própria cunhada,
estava ao lado de Katarine, ambos no jardim, escondidos.
— Qual é a lei na Zimmermann? A verdade acima de todas as coisas,
vou lhe dizer o que fiz, Damien — assegura. — Desejei Katarine quando
meu irmão a apresentou, ela tinha o que nenhuma outra mulher possuía,
malícia e ambição. Características que também tinha, Joseph era o mais
velho, pela hierarquia precisava se casar antes.
— Finalizando, você foi responsável pelo acidente de iate onde ambos
morreram para ocultar sua traição. Não quero saber dos detalhes de como
você fodeu Katarine e destruiu o seu próprio sangue.
Roman nega, encontro algo em seus olhos.
— Jamais mataria Katarine, aquele acidente destruiu a minha vida, foi
ali onde perdi tudo. Precisei casar com uma doente na beira da morte, criar
Elzo durante todos esses anos — esbraveja.
— Foda-se! Solte o que me interessa! — exijo, apertando seu pescoço.
— Estou contando detalhe por detalhe, afinal, Katarine trouxe ao mundo
uma criança que cruelmente é a sua cópia fiel. Pagamos para o médico
responsável usar um bebê que havia morrido por problemas no coração e
dar para o meu irmão — confidencia. — Joseph enterrou um bebê qualquer
pensando ser filha dele, mas a parte mais interessante vem agora.
— O fruto da traição gerado dentro da Zimmermann, aquela bebê
precisava sumir. Então em uma noite encontrei Adam Fell na frente do
orfanato, pedi para que ninguém soubesse nada sobre aquele ser e que fosse
trancafiado naquele lugar até a maioridade.
Levo Roman até a parede, chacoalho o seu corpo e bato a sua cabeça,
várias vezes, contra a parede.
— Está mentindo! Fale a verdade, agora! — rosno.
— A minha preciosa criança cresceu e saiu daquele orfanato após matar
e colocar fogo no zelador e a diretora. Morgan tornou-se uma assassina, a
partir dali acompanhei as manchetes onde vi o potencial dela. Uma peça
perfeita para o plano onde tudo sairia perfeito, fui atrás do seu paradeiro
em Horn.
— Contratei Morgan para se infiltrar na sua vida e matá-lo, dar para Elzo
o cargo de chefe. Eu controlaria meu sobrinho, enquanto a assassina teria
uma parte do dinheiro e ela voltaria para a sua vida normal. Aquela criança
foi preparada e educada para ser outra pessoa, então eu a coloquei no seu
caminho! — Sorri triunfante.
Dou alguns passos para trás, pego o celular e ligo para o responsável dos
soldados.
— Chefe.
— Traga Morgan aqui, sem delicadeza alguma. A arrastem se
necessário, a quero aqui, agora! — exijo, finalizando a ligação.
Sempre senti algo diferente naquela vadia, um olhar letal.
A forma como se recusou a se curvar diante de mim no primeiro instante
onde nós nos conhecemos.
— Adivinhe? Ela não sabe quem são seus verdadeiros pais, use isso para
fazê-la pagar, afinal, você se envolveu com um fruto de traição, uma
assassina perigosa — zomba.
Pego a arma e atiro nos dois ombros de Roman, ele cambaleia para trás,
vejo o corpo tremer, temendo morrer agora.
— Irá contar para ela, quero os dois frente a frente.
— Damien, você se diz tão poderoso. Como pôde cair na armadilha de
Morgan? Enquanto você contava as tradições e exigências da Zimmermann,
deu tudo o que ela não sabia.
— O que mais você pediu? Quando esse plano terminaria? —
questiono.
— Oito meses eram suficientes para o plano inicial, duvidei que ela o
conquistasse tão rápido. Porém, aquele ataque da gangue foi crucial para
um novo plano onde Morgan seria morta, ela começou a gostar de brincar
de ser minha filha, se voltou contra mim. — Aponta a bochecha. — Isso foi
arte daquela criança, usando um punhal quando tentei matá-la.
Maldita!
Eu tinha o dossiê em mãos, mas não escolhi olhar. Fui enganado debaixo
do meu próprio nariz com a chegada inesperada dela.
— Vou corrigir o que deveria ter feito quando você a apresentou.
— O que Morgan lhe disse? Você sabe que tudo o que foi dito era
mentira — provoca.
— Ela não me controlou, diferente de você, eu sou um líder — rebato.
— Eu me sujei levando o seu sangue para dentro da minha casa. Assim
como fiz com a minha máfia, mas está na hora de limpar a Zimmermann.
— Sabe por que Morgan saiu do velório cedo? Lhe mandei um e-mail
com todas as manchetes que a Alemanha a citava. A assassina foi tentar
impedir a verdade de cair nas suas mãos.
— Em breve ela estará aqui diante de você, e eu vou me livrar de ambos
— asseguro, saindo da cela.
O ceifador volta para fechá-la. Aaron desce as escadas rapidamente.
— Morgan está aqui, ela matou um de nossos homens quando foi pega.
Sua esposa tinha participação com o pai? — pergunta.
— Essa vadia é uma assassina contratada para um único objetivo, a cela
que quero para ela é do outro lado, preparem o lugar.
Tento digitar uma senha no notebook, mas sem sucesso, o pacote que
Roman mandou está comigo, posso queimar e não deixar vestígios.
— Merda! — esbravejo.
O notebook vai bloquear o acesso, preciso fazer alguma coisa
imediatamente.
Ouço muitos passos no corredor, pego a arma em cima da mesa, fico de
pé posicionada quando a porta é aberta.
Reconheço os homens de Damien, mas o que ouço é repulsa e
condenação.
— Peguem a traidora!
Atiro em dois soldados tentando correr para o outro lado da sala, são
muitos, atiro mais vezes, porém, alguns desviam.
Nenhum deles ousa atirar.
A arma não tem mais munição, largo no chão e, em seguida, sou
imobilizada contra a minha vontade.
Debato-me em vão, dois homens me arrastam para fora do escritório.
— Pagará pela traição.
Traição.
Roman foi pego, aquele desgraçado foi levado por Damien essa noite. O
velório, na verdade, serviu como uma distração.
— Olhem como falam comigo! — rebato, entredentes. — Sou uma
assassina, a mais procurada desde os dezesseis anos.
Ouço conversas baixas enquanto sou levada para fora da mansão, jogada
no carro com soldados armados.
Evitando qualquer tentativa de fuga. Estou presa.

Sou puxada para fora do carro e levada por um único homem, entramos
em uma mansão, fico sem entender.
Até o momento que caminhamos para o fundo da mansão, descendo
escadas que levam até o porão, mas não qualquer um.
Há celas por todos os lados, um cheiro horrível de sangue e, ouso dizer,
morte.
Meus olhos encontram duas figuras, a primeira coisa que chama a minha
atenção é Roman com as mãos na cela onde está preso.
Coberto por sangue que desceu até sua camisa social, parando no chão
como uma goteira sem fim.
Sou empurrada para Damien, encontro seus olhos e encontro ódio, um
brilho tão perigoso que me arrepia.
— Damien.
— Cale a sua boca, não mandei que falasse nada — rebate, pegando em
meu braço.
Sou levada até a cela onde Roman está.
— Sabe por que eu sempre lhe chamo de criança? — a pergunta idiota
me faz rir.
— Não me interessa!
Ele sorri.
— Você é tão parecida com a sua mãe, minha criança. Jogou comigo,
pensando que estava ocupando um lugar de alguém quando, na verdade,
tudo era seu.
— De que merda está falando? — questiono.
— Fale sem enigmas. — A voz de Damien é aço.
— Antes de buscá-la em Horn acompanhei cada notícia que saía sobre
você, assassina. A ironia é que eu a deixei no orfanato escolhendo um
destino, e quando descobri quem você era, vi uma peça fundamental nesse
quebra-cabeça. A encontrei naquele galpão, tão arisca e perigosa,
carregando consigo o meu sangue.
Um flashback ocorre na minha mente, a foto de Roman com a mãe de
Elzo, aquela mulher que se parece comigo.
Encaro-o com repulsa, ódio.
— Você é o meu pai? O maldito que me deixou naquele orfanato a vida
toda? — esbravejo.
— Não está feliz, criança? Iremos morrer todos juntos nas mãos de
Damien — provoca, mostrando os dentes sujos de sangue.
Não consigo responder, sou arrastada novamente, Damien me leva para
o outro lado do porão.
Entro na cela à força, meu corpo é chacoalhado, várias vezes, pelo
homem que deveria ter sido o meu alvo.
Sinto o impacto da parede quando nossos rostos estão diante um do
outro.
— Vadia suja e desgraçada! Entrou na minha máfia fingindo esse tempo
todo ser alguém que não era para fazer o que aquele verme pediu — diz
com repulsa.
Palavras cobertas por ódio e nojo.
— Eu sabia de tudo desde o começo, fui trazida para fazer um trabalho.
Mas saí do plano quando vi para onde Roman estava indo, tropeçou em
seus próprios objetivos, pensei na minha sobrevivência.
— Você escolheu brincar comigo! — esbraveja.
As veias do seu pescoço saltam.
— Nem tudo foi uma mentira! Poderia ter matado você em muitos
momentos, e eu..
— Imunda, tudo o que sai da sua boca é inaudível para mim.
Dentro de mim sinto que estão arrancando meus ossos e o coração.
Porém, deixo essa sensação oculta.
Ele se afasta, fechando a cela.
Encaro-o, sentindo a raiva surgir cada vez mais, correndo pelo meu
corpo.
— Imunda? — indago, enfrentando-o. — Não foi isso que você pensava
enquanto transava comigo ou beijava meus lábios. Você caiu por conta
própria, na verdade, quis uma mulher que sabe se defender sozinha, assim
como matar em um estalar de dedos! Assuma que o terrível e poderoso
chefe da máfia alemã escolheu uma assassina.
— Suja e imunda — repete, sem quebrar o contato visual. — Você
pagará pelo que fez, eu a condeno.
Damien sobe as escadas e desaparece.
Fecho os olhos e seguro essas grades com toda a minha força. Presa
novamente não.
Durante toda a minha vida existiram celas, tentando me sufocar.
— Abra os olhos, minha criança. — A voz de Roman ecoa pelo lugar.
Encaro-o e percebo que tenho a perfeita visão de sua cela, assim como
ele, consegue me ver.
Lugares escolhidos para me torturar, a única vontade que tenho é sair
daqui e matá-lo sozinha.
— Não me chame assim! Você me jogou no orfanato porque fodeu a sua
cunhada e precisava esconder a sujeira.
— Lhe fiz um favor. Elzo foi criado para ser um membro impiedoso e
cruel, mas o resultado foi o contrário, diferente de você — explica.
— Cale a sua boca.
— Temos muito o que conversar, filha. E você não tem muito tempo, eu
sei que quer respostas que nunca obteve, assassina. Antes de falarmos o que
realmente interessa. Matei Alessa antes de pegar o jatinho, ela mencionou
seu nome, como se pudesse ajudá-la — zomba.
Meu ódio se amplia, não consegui salvá-la.
— Irá morrer, nada lhe salvará — asseguro, mordaz.
— Faça perguntas que nunca teve, criança.
— Queria saber o meu sobrenome, os nomes dos meus pais, mera
curiosidade. Não preciso de uma mãe ou um pai, sempre fui eu — reitero.
— Você é um idiota, queria usurpar o lugar do seu irmão.
— Órfã, toda criança abandonada tem o seu olhar, perdido, vazio.
Sorrio.
— Eu nunca mostro o que sinto, esse vazio que você vê é controle do
que desejo que vocês vejam. Família não significa merda nenhuma, veja
Elzo, ele se destruiu quando foi criado por um homem fracassado —
desdenho.
Desperto sua fúria.
— Não lhe dou poder para me humilhar! Estamos tão perto, iremos para
um único destino. Você manchou a Zimmermann desde que nasceu, e eu
aprecio tê-la enfiado na vida de Damien, nesse momento todos sabem do
que fizemos.
— Fiz o seu plano acontecer sozinha, agora cale essa boca. Não tenho o
mínimo interesse em ouvir nada, eu não temo o inferno ou a ninguém.
Viro-me de costas e encaro o chão sujo e empoeirado, deito-me e encaro
a parede da cela.
Não quero olhar para essas barras, elas me lembram o orfanato, tudo o
que eu detesto e amaldiçoo lembrar.
"Imunda e suja".
As coisas que Damien disse estão frescas, rondando a minha cabeça para
lembrar da forma como ele me humilhou.
Damien não me conhece, ele achava que conhecia, agora não há máscara
ou um papel que me obrigue a ser a filhinha de Roman. Tudo o que eu ouvi,
será revidado no momento mais inesperado.
Acabo me encolhendo ao sentir os pelos se arrepiarem, o chão é gelado e
duro.
Sopro as mãos, buscando afastar o frio, fecho os olhos e resolvo dormir
para estar pronta para o meu destino nesse lugar.
Sempre acho uma brecha e dessa vez não será diferente.

Tudo está escuro, não consigo levantar, mas sinto mãos prendendo o meu
corpo, tento afastá-las.
— Você é minha de novo. — Ouço o zelador.
Abro os olhos e estou no quarto do orfanato, minhas roupas são
rasgadas, esse homem asqueroso sorri.
— Diga que me quer, Morgan.
Não consigo gritar, minha garganta está fechada, forço um mísero som,
mas sem sucesso.
Arrasto-me no chão, a mão asquerosa pega a minha perna, sou arrastada
de volta para seu domínio.
— Sempre vou prender você ao meu corpo para lembrá-la de quem você
é. O seu gosto me pertence desde que roubei sua virgindade.
Arranho sua cara, uso as pernas para chutá-lo, acerto-o e, em seguida,
me levanto e corro até a porta.
Forço para abri-la.
— Não adianta correr, ninguém vai tirá-la daqui.
Sinto-o se aproximar, fecho os olhos, querendo que seja um pesadelo.
A respiração do zelador está na minha nuca subindo para a orelha.
Sou virada bruscamente e encontro o seu rosto todo queimado.

— Me solta! — grito, desesperada.


Abro os olhos assustada, olho ao redor estou presa, esse lugar me lembra
cada dia que morei no orfanato.
— Alguém teve um pesadelo.
Sento observando-o o rosto de Roman a uma boa distância.
— Sonhou com a morte? Pensei que assassinas não a temiam —
provoca.
— Eu não temo morrer, posso pedir para que me matem logo, pois não
tenho medo da morte. Sonhei com o zelador que me violentou sexualmente,
o mesmo que eu o matei — rosno.
Vejo espanto nos olhos de Roman.
— É mentira, está tentando entrar na minha mente. A abandonei porque
você só traria destruição, mas quando se tornou quem é, enxerguei um lugar
para a minha filha, a assassina que mataria Damien.
— Qual é o problema, pai? Saber o que passei lá dentro mexe com a sua
cabeça? — indago, rindo. — Abusada sexual e mentalmente, agredida.
Meros detalhes dos anos que estive presa, foi ali que eu encontrei a minha
liberdade, tornando-me uma assassina.
— Que barulho é esse? — interrompe o ceifador. — Podem gritar a
vontade até perder a voz.
O sujeito com marcas de costura no rosto se aproxima da minha cela.
— Quero usar o banheiro — aviso.
— Que pena, só quando o sol nascer, assassina. Deve ficar trancada, já
soube quem você realmente é.
O sujeito analisa minhas expressões.
— Essa estadia nesse lugar é para quê? Me mate logo, sem enrolar, anda!
— incentivo. — Não tem coragem de sujar as mãos?
Prefiro a morte do que estar presa.
O ceifador ri.
— Eu quebraria seu frágil pescoço com todo o prazer, mas tenho ordens
a cumprir.
Ele se afasta, subindo as escadas.
Passo a mão no rosto tirando alguns fios ruivos do rosto, não pretendo
dormir novamente.
— Você se parece tanto com Katarine.
Encaro Roman.
— Quem é?
— Sua mãe.
Levanto uma sobrancelha.
— Não tem coisa melhor pra fazer? Por que quer falar sobre ela? —
sondo.
— Não pretendo dormir, assim como você. Em breve não iremos mais
acordar.
— Por que disse que sua filha estava morta?
— Não queria que soubesse de nada, assassina. Pretendia que seguisse
assim, você teria a sua parte no plano inicial, porém, optou se voltar contra
mim!
Dou risada.
— Sempre vou pensar na minha sobrevivência, acima de qualquer outra
coisa. Você deixou brechas e eu passei por elas.
— O plano que Katarine e eu tínhamos não era deixá-la no orfanato para
o resto da vida.
O assunto faz uma brincadeira irritante onde parte de mim se mostra
curiosa, já a outra diz que é mentira.
— Quer me fazer acreditar em uma história ridícula? — desdenho.
Esfrego as mãos para aquecer, ficar acordada, andando nesse mísero
espaço consegue me distrair.
— Não é mentira, planejava me livrar do meu irmão no momento mais
oportuno. E ela a pegaria no orfanato, você teria os seus pais, caso não
houvesse o acidente.
— E quando ela morreu você quis usar Elzo, pronto, fim da história.
— Sim, ele era uma carta em minhas mãos.
— Será que você não consegue ficar com a boca fechada? — questiono.
— Você pode matá-lo.
Encaro-o e vejo que a loucura já está tomando conta do seu cérebro.
— Está louco.
— Por que Damien ainda não tocou em um fio de cabelo seu? Quando
ele abrir sua cela, pegue a arma — instrui, agarrando as grades com força.
— Mate-o, antes que você morra, criança.
— Não preciso de conselho ou sugestão nenhuma.
— É a sua última opção, filha. Eu quero vê-lo morrer nas suas mãos,
mesmo que meus olhos não estejam mais abertos.
Viro de costas, ignorando-o.
Estou pronta para encarar qualquer coisa.
— Não vou fugir do meu destino.
— Sei que não irá, minha criança. Ninguém jamais poderá esconder sua
origem, você é alguém que a Zimmermann jamais irá querer. Mas também é
a mulher com quem o chefe se casou, e eu aprecio isso a todo momento.

Saio do carro, encarando a velha mansão da minha família, são 06h, eu


vi a noite chegar e ir embora também.
Não consigo dormir, prefiro estar acordado e em movimento.
O ceifador abre a porta, esperando por mim, penso em perguntar sobre
ela, mas não o faço.
— Chefe, chegou cedo. Quer que eu pegue algum dos prisioneiros?
— Vou para o escritório, quero um uísque — aviso ao adentrar a mansão.
Meus passos são rápidos até o escritório, sinto o celular vibrar, ignoro.
Pedi para Aaron me trazer o dossiê de Morgan ontem, hoje eu irei olhar
tudo sobre a assassina.
"O fruto da traição gerado dentro da Zimmermann."
A filha de Katarine e Roman Muller iria morrer se tudo fosse descoberto
na época, eles sabiam disso e a mandaram para longe.
A primeira página mostra uma foto dela quando era uma criança
vestindo a roupa do orfanato.
Observo a estatura média, os cabelos ruivos soltos, seus olhos azuis
ainda tem o mesmo olhar vazio.
Criança deixada no orfanato por Fell, sem parentes, entregue ao
orfanato Anjos da Luz até a maioridade.
Passo algumas páginas onde vejo a manchete onde o zelador e a diretora
da instituição foram encontrados mortos em um incêndio provocado por
uma das órfãs.
Vejo fotos que mostram Morgan nas ruas, vagando e sem rumo.
A próxima página retrata o punhal, há fotos que ela está segurando o
objeto, os cabelos ruivos estão soltos, as roupas são diferentes.
Uma misteriosa mulher procurada por assassinar vítimas
cruelmente sem deixar rastros de seu paradeiro.
Disfarces são adotados pela assassina.
Com uma peruca loira, ela está ao lado de um homem entrando no hotel.
— Sua bebida.
Levanto o rosto e encontro Aaron.
— Estava mandando mensagem, fui até a sua casa e não o encontrei.
Imaginei que estivesse aqui.
— Tenho coisas para fazer.
Pego a bebida, tomando um gole rápido.
— Todos já sabem quem é ela, estou impressionado com o talento que
Morgan tem em se camuflar. Fingir ser alguém diferente por todos esses
meses é impressionante, assim como as manchetes — comenta, observando
o dossiê. — Querem a cabeça de Morgan Muller ao lado de Roman.
Sinto a ira explodir.
— Eu não sei quem ela é! — esbravejo. — Foda-se o que estão achando,
mando em todos vocês, é a minha lei que todos devem seguir.
— Jamais pensaria diferente, Damien. Mas você sabe que precisamos
dar uma resposta rápida...
— Quero Elzo e Roman lado a lado no jardim, chame os membros para
vinte disparos em cada corpo, avise ao ceifador para arrastá-los até o local.
— Sim, chefe.
O conselheiro sai, fechando a porta do escritório, desvio a atenção
novamente para as folhas.
Uma batida à porta me faz agarrar o copo com força.
— Senhor? — pergunta o ceifador, entrando na sala.
— O quê?
— Enquanto a assassina? Posso matá-la separadamente, no momento em
que você desejar.
— Não tocará em um fio de cabelo dela, lembre-se das minhas regras! A
quero intacta sem um arranhão, você não tem permissão para tocá-la —
reforço, mordaz.
— Sim, meu chefe.
Essa é a resposta rápida que darei aos membros, Aaron irá expor como
peguei Elzo e cheguei até Roman.
Os dois serão mortos na luz do dia.
Termino o restante da bebida, olhando a foto mais recente do dossiê,
abaixo de onde estou ela está trancafiada na cela. Uma maldita traidora.
Não consigo encarar seu rosto novamente, Morgan ficará presa no porão,
sem água e comida.
A única companhia que a assassina tem será morta.
Escuto algo sendo arrastado, logo depois a voz de Elzo.
— Você mentiu para mim durante a vida toda! Ela é sua filha, minha
meia-irmã.
O que ouço em seguida me faz levantar para observar os dois corpos
sendo arrastados pelo ceifador.
— Eu o criei para um propósito e você falhou. Morgan fez o que eu
pedi, e ela vai cumprir...
— O que ainda está dizendo, verme? — questiono, fazendo-o me
encarar.
— Posso não ter matado você, mas está casado com a minha filha. A
criança que deveria ter morrido anos atrás.
Pego a arma da cintura e atiro nos dois joelhos de Roman.
— Levem eles, quero sangue jorrando no chão para todos verem o que
acontece ao me trair.
Sigo logo atrás do ceifador.
A assassina escutará os tiros e saberá que é a única prisioneira viva.
Engulo em seco, uso o que tenho de saliva para tentar evitar pensar em
água. Encolho as pernas, sentindo frio, encaro a cela de Roman vazia.
Damien mentiu pra mim, Elzo estava vivo, o vi sendo carregado daqui
junto com Roman há três dias.
Aquilo foi uma prova que ele já estava desconfiando, não foi
surpreendido como todos devem achar.
Tudo o que fez foi calculado minuciosamente.
Meus olhos estão doendo, estou com bastante frio, sinto que vou
congelar, reluto para ficar sentada.
Mas sou vencida pelo cansaço, deito-me e sinto o corpo falhar, meus
dentes batem um no outro.
Acabo tossindo bastante, ficar deitada me deixa com fadiga, queria ficar
em pé ou sentada.
Fui esquecida nesse lugar, uma tortura muito pior esperar por uma
punição que não chega, cada vez que vejo essa cela tenho aquelas malditas
lembranças.
— Vocês não vão me matar? — pergunto num foi de voz.
Há apenas o silêncio cruel, sou somente eu nessa cela, Roman era uma
distração para que eu não pensasse em dormir.
Fecho os olhos, sentindo o frio aumentar, não vou conseguir ficar
acordada, pois já não consigo abrir novamente os olhos.
Talvez me deixar exposta ao frio seja parte da punição, morrer aqui foi a
escolha da sentença que Damien me deu.
Só queria que fosse diferente, preferia morrer lutando.
É meu último pensamento antes de tudo ficar escuro.

Entro na mansão dos meus pais, ainda tenho o gosto das últimas imagens
de Elzo e Roman, mortos por um tiro dado por membros e soldados.
No cemitério, seus corpos estão em uma única cova, sem lápide ou
visitas.
A ausência de um subchefe já está sendo comentada, Aaron é meu braço
direito e está conseguindo ser conselheiro e subchefe.
Não consigo me manter naquela empresa ou em outra tarefa, faz três dias
que fiquei longe daqui.
O ceifador está subindo as escadas do porão, logo vem ao meu encontro
em passos rápidos.
— Damien, pensei que não viria hoje também.
— Andei ocupado, vamos ao escritório — mando, ao sair andando.
Passo pelo extenso corredor até adentrar o escritório, o ceifador se
encarrega de fechar a porta logo depois.
Minha primeira pergunta é:
— A situação do segundo andar?
— Três estão vivos, o frio dessa madrugada matou dois de nossos
presos. Os corpos serão retirados quando autorizar e dizer o que devo fazer
com eles.
— Queime ambos.
Algo mais rápido de se fazer.
— E a Morgan? — questiono, encarando-o.
— Não precisa mais se preocupar com ela, chefe.
Estreito os olhos.
— Por quê?
— Ela está delirando e doente, não precisa matá-la, a assassina morrerá
sozinha — afirma, esboçando um sorriso cruel.
Levanto-me da cadeira e saio do escritório, o ceifador pergunta o que
está acontecendo, não respondo.
Meus passos são rápidos, desço as escadas indo até a cela onde Morgan
está, deitada em posição fetal.
— Eu... não quero, não toque... em mim. — Ouço a voz baixa dizer
coisas desconexas.
— Está vendo? Não vai precisar matá-la, mas se quiser que eu adiante o
trabalho.
— O que eu lhe falei? — rosno, ao vê-lo ficar calado. — Abra essa cela,
agora.
Sem questionar, ele faz o que mando, entro pegando-a em meus braços,
mesmo dormindo Morgan bate os dentes, um gesto inconsciente.
Subo as escadas e a levo para um dos quartos de hóspedes, a deito na
cama, afasto os cabelos do seu rosto.
Ao tocar em sua pele vejo que ela está queimando em febre.
Eu deveria matá-la, minha mão falha ao se aproximar do pescoço,
Morgan tosse se encolhendo mais.
Pego o celular ligando para Aaron.
— Damien.
— Traga o médico para a mansão dos meus pais, agora!
Desligo, deixando o aparelho de lado.
Vou até o closet e pego cobertores, cubro seu corpo e, em seguida, ligo o
aquecedor.
Sento-me ao lado, odeio não conseguir dar o sangue de Morgan para
cobrar a traição.
— Não... me toca — diz em um fio de voz.
Resolvo chamar seu nome.
— Morgan.
Ela não acorda, parece estar presa em um delírio.
Tiro algumas mechas do cabelo ruivo que grudaram novamente em seu
rosto.
As lembranças que me assombram quando deito a cabeça na porra do
travesseiro é ela, não dá para controlar.
Cada maldito segundo é a sua imagem que aparece na minha cabeça,
aproximo-me de sua face.
— Abra os olhos, Morgan — exijo.
Vejo os olhos azuis sendo abertos aos poucos, quando ela me encara há
pavor em seus olhos.
Não entendo a reação, ela sai da cama, andando devagar.
— Ingo — rosna. — O que está fazendo aqui?
Levanto-me rapidamente.
— Está delirando.
Ela dá alguns passos para trás e pega o abajur.
— Deveria estar no inferno, eu lhe matei!
— Sou seu marido — reforço. — Damien.
— Você não vai tocar em mim de novo, Ingo. Já perdi as contas de
quantas vezes fui violentada, me deixa em paz! — Aumenta a voz.
O desespero dela me paralisa.
— Não sou o Ingo, abaixo esse abajur.
Ela se nega.
Vou para cima, arranco o abajur contra a sua vontade, porém, tenho mais
força do que a assassina.
Seguro-a e, em segundos, Morgan desmaia, tiro-a do chão e a levo de
volta para a cama.
Não consigo parar de encarar seu rosto.
O que saiu de seus lábios, a dor que ouvi na voz de Morgan, queria
destruir esse homem com as próprias mãos.
Mas ele é um fantasma.
O doutor Hans se aproxima do quarto após falar com ele separadamente.
Morgan permanece dormindo, o doutor pega sua maleta pegando o
aparelho, escutando a respiração dela.
— O peito está um pouco carregado. Ela ficou exposta ao frio por
quantos dias?
— Três.
O termômetro é colocado debaixo do braço de Morgan, depois ele afere
sua pressão.
— Está com febre alta por isso o delírio que relatou para mim, senhor
Zimmermann. Trouxe um raio x móvel, preciso do aparelho para vermos
como está a situação dos pulmões, ela está tossindo bastante — analisa.
— Suspeita de pneumonia.
— Sim, tudo leva a crer. Com o raio x consigo ver a situação de sua
esposa, para assim passar os remédios necessários.
— Claro, trarei o aparelho.
Saio do quarto chamando Aaron, levamos o aparelho para o doutor. Com
a sua orientação coloco Morgan de bruços para que o exame seja feito
corretamente.
Aaron e eu saímos do quarto enquanto o doutor fecha a porta.
— Damien, Magnon ligou para falar com você.
— Assim que puder falo com ele, diga que estou resolvendo problemas
— reforço.
— Precisamos de um subchefe e da sua presença novamente. A situação
é complicada, mesmo com as mortes de Elzo e Roman, Morgan faz parte da
traição feita contra você.
Sinto a raiva queimar a garganta, encaro-o aumentando a voz.
— Já entreguei o sangue de Elzo e Roman! O sobrinho era um peão
assim como a própria Morgan, Roman era o cabeça!
— Sim, meu chefe. Mas o que fará com a assassina? Agora que os dois
parentes de Morgan estão mortos, a herança da família Muller pertence à
sua esposa, o advogado procurou saber sobre ela — explica. — Uma bola
de neve está se formando, Damien.
— Paul pode ser o nosso subchefe, trate de falar com ele e cuidar da
cerimônia de posse. Confio o lugar para um dos nossos melhores membros
— adianto. — Agora saia, estou ocupado, não vou deixar Morgan sozinha.
No estado em que ela está, deixá-la sozinha é um perigo.
Ouço a porta abrir, o doutor Hans me chama e mostra o notebook com as
imagens do aparelho.
— Ela está com pneumonia, mas em um estado inicial. Vou passar
antibióticos, sua esposa precisa de descanso, fazer o tratamento
corretamente. Evite que ela pegue alguma corrente de ar, recomendo banhos
mornos, comece por esse anti-inflamatório para abaixar a febre. Qualquer
piora ligue para mim imediatamente, senhor Zimmermann.
Agradeço e faço o pagamento.
Com a receita em mãos, peço para um soldado comprar tudo que foi
prescrito por Hans.

Consegui fazer Morgan tomar o anti-inflamatório. Depois de três horas,


ela se remexe abrindo os olhos devagar.
— Onde estamos? — pergunta, confusa.
Morgan se senta na cama, olhando o quarto, os olhos pousam em mim.
— Você desmaiou, estava delirando por causa da febre alta.
— Já vou voltar para a cela? Antes quero tomar banho — diz, ficando
em pé.
— Você não pode pegar frio, ficará nesse quarto de hóspedes.
Aproximo-me e vejo a desconfiança no seu rosto, ela ri fraco.
— Está falando sério? Fiquei três dias naquela cela, se estou doente é
pelo período lá embaixo — lembra, entredentes.
— Vejo que a febre já passou, precisa tomar um banho, tem roupas
novas para você.
Ela vai até a penteadeira e pega uma pequena pilha de peças íntimas,
conjunto de moletom.
Espero que Morgan entre no banheiro, espero alguns segundos para
entrar, ela liga o chuveiro não demorando a se molhar, lavando o rosto
primeiramente, molhando os cabelos e o restante do corpo.
Observo-a de longe.
Uma assassina, isso fica rondando minha mente, parte de mim enxerga a
minha esposa sempre à espreita.
Saio dos meus devaneios quando nossos olhares se encontram.
— Você me prendeu em uma cela por três dias, disse que tinha nojo de
mim. Mas não tira os olhos do que você jamais terá de novo — provoca.
— Termine o seu banho — mando.
Ela ri.
— Até quando essa tortura vai durar? — pergunta, desligando o
chuveiro. — Por que não vai logo para os finalmente? Eu odeio essas
preliminares.
Usa uma toalha para cobrir seu corpo.
— Faça o trabalho logo aqui, pegue a arma, Damien. Atire aqui! —
manda, apontando o coração. — Anda!
Ela aceita a morte, na porra da sua cabeça é o único pensamento da
assassina.
— Atira! — atiça ao gritar.
Perco o controle, soco a parede uma, duas, três vezes, antes de sair do
banheiro destruindo o quarto.
Empurro a penteadeira, fazendo o espelho se quebrar com o impacto,
lanço o abajur e logo em seguida o recamier.
Não consigo ter controle sobre nada, estão a todo momento na minha
cabeça, dizendo o que eu devo fazer.
Eu sei exatamente o que precisa ser feito porra!
— O que está fazendo? Você quer somente me torturar? Por que não
quer me matar?
Tantas perguntas.
Viro-me e a vejo parada atrás de mim.
Caminho com Morgan, levando-a até a parede onde pressiono nossos
corpos.
— Não consigo matá-la, maldita vadia! Eu falho, é isso o que está
acontecendo — revelo. — Sou louco por você, essa é a porra da minha
sentença!
Não sai absolutamente nada dos seus lábios, a assassina me empurra,
Morgan sai de perto de mim.
— Quero a minha liberdade, sair desse lugar — diz entre tosses. —
Aceite um acordo.
A ideia de vê-la sair da Alemanha me incomoda, não desce pela minha
garganta.
— Se sair pela porta dessa mansão morrerá sem a minha proteção.
— Não preciso dela — rebate, afiada.
— A Zimmermann inteira quer o seu sangue, você é a única que falta!
— reitero. — Não sairá ilesa, assassina.
— Inferno! Roman me jogou no purgatório. — rosna, entredentes. — O
que você sugere então, mafioso?
— Se vista, a funcionária vai trazer a comida e o seu remédio —
desconverso e lhe dou um recado.
Saio do quarto, fechando a porta.
Enquanto me afasto há um único pensamento concreto, eu não a deixarei
ir.
Quando a funcionária se retira, cheiro a comida para me certificar se há
algo errado. Enquanto como, penso no que ouvi minutos atrás.
Uma declaração onde o chefe da máfia alemã confessa que falhou,
Damien disse que é louco por mim.
Porém, fiquei trancafiada naquela cela, estou doente, e ele só chamou o
médico para me manter viva para seguir com a tortura.
Termino de comer e já tomo o remédio, a sensação de estar de barriga
cheia e molhar a garganta é maravilhosa.
Observo o quarto destruído pelo ataque de fúria de Damien, esperava
que ele jogasse algo ou participe para cima de mim.
O que não aconteceu, fiquei surpresa de vê-lo descontrolado a ponto de
perder o controle e destruir tudo.
Aproximo-me da porta curiosa se ela está trancada, porém, ele não o fez,
abro um pouco escutando vozes em uma discussão.
Corro até o banheiro, busco por um objeto, encontro uma tesoura,
escondo atrás de mim enquanto saio do quarto sem fazer barulho.
As vozes ficam mais claras quando estou descendo as escadas, Damien e
um outro homem estão discutindo.
O motivo? Eu.
— Ela ainda está viva? Essa assassina se infiltrou na sua vida, chefe.
Morgan riu de todos nós quando se passava por uma mulher comum, ela
deve morrer!
Fico quieta, tenho uma boa visão de onde o sujeito e Damien estão
discutindo, um corredor atrás do fim dessa parede.
— Não preciso que diga o que ela cometeu. Está se esquecendo de que
sou eu que comando essa máfia, Morgan ainda é minha esposa, a decisão
que eu tomar deve ser respeitada!
Estreito os olhos ao ver uma sombra surgir vindo de um canto da sala
principal, meu instinto grita para agir.
Desço o último degrau e me coloco na frente de Damien, estou olhando
em seus olhos quando ouço o disparo.
Viro o corpo e vejo o sujeito, mais outro disparo, a tesoura que estava
comigo cai no chão, ele não consegue fazer o terceiro tiro.
A arma falha, ouço a voz de Damien, os soldados invadindo, mas não
consigo me manter em pé.
— Morgan!
Tudo fica escuro.
— Você não pode entrar, senhor, por favor, se afaste! — pede a
enfermeira.
Sou impedido de entrar na emergência, Aaron fica à minha frente, há
sangue em minhas mãos, a camisa branca está encharcada do sangue dela.
— Como que isso foi acontecer? — rosno, encarando-o. — Ele tentou
me matar dentro da porra da mansão, um membro da Zimmermann se
atreveu ir contra a minha vida!
— Damien, se acalme, o ceifador está com ambos presos na cela. Serão
julgados pelo ato de traição.
— Quero expor a família Scherer diante do conselho, não perdoarei o
fato de que era para eu estar dentro da emergência. Morgan se colocou à
minha frente, Aaron, ela está entre a vida e a morte! — esbravejo.
— Haverá exposição e sangue, Paul está encarregado de avisar o
conselho. Pedi para que ele informasse que a filha de Roman salvou sua
vida, podem substituir a sentença de morte de Morgan.
Esquivo-me do conselheiro, acendo um cigarro e sinto a adrenalina
pinicar meu corpo como se fossem agulhas perfurando a pele.
— Se Morgan morrer, eu matarei todos da maldita família de Scherer —
asseguro, soltando a fumaça.
Há uma movimentação, as portas da emergência abrem, uma enfermeira
vem ao meu encontro.
— Sua esposa está tendo uma parada cardíaca, estamos tentando
reanimá-la.
Passo por ela indo até a porta, ouço Aaron chamar os soldados, sou
segurado e impedindo de entrar.
Pela pequena janela vejo o aparelho de choque sendo aplicado em seu
corpo, tentando fazê-la voltar, sem resposta eles repetem o ato novamente.
Morgan não responde, quero entrar e gritar para ela voltar.
Aaron está ao meu lado, afastando-me da porta.
— Damien, infelizmente não podemos fazer nada.
— Me soltem! — rosno.
Volto para a sala de espera impaciente, cada maldito segundo sem
notícias é uma tortura, quero invadir aquela sala e vê-la.

Aaron foi embora, pedi para que me trouxesse roupas novas. Estou há
três horas sem notícias sobre ela, as enfermeiras não sabem de
absolutamente nada.
Abro a garrafa de água e tomo um gole grande, pego o celular e vejo
uma mensagem de Paul.
Você deve estar presente no conselho.
Vou adiar para quando Morgan estiver estável, deixá-la aqui sem a
minha presença é arriscado.
— Senhor Zimmermann.
Levando-me rapidamente ao ver o doutor, sua família está presente
servindo minha família há muito tempo.
— Como ela está? Ninguém me dá uma informação concreta há três
horas!
— Imagino a preocupação e a ansiedade por notícias, sua esposa teve
uma parada cardíaca, conseguimos ter sucesso em reverter. Os dois tiros
perfuraram lugares diferentes, o primeiro atingiu a omoplata, o mais
perigoso foi no abdômen.
Morgan entrou na minha frente, evitando que os tiros fossem certeiros
em meu peito.
Minha esposa foi uma distração para o atirador.
— Fizemos a remoção da bala, paramos a hemorragia em ambos os
lugares. Após o pós-cirúrgico induzimos Morgan ao coma, ela foi entubada
devido ao estado grave como chegou aqui.
— Quanto tempo? — questiono de imediato.
— É difícil dizer ao certo, Damien. Tudo vai depender de como sua
esposa vai reagir aos sedativos, a recuperação do corpo.
— Quero vê-la agora.
— Poderá ficar dois minutos apenas, siga-me.
O doutor fala com a enfermeira, é passado a orientação de colocar a
roupa fornecida pelo hospital.
A porta da UTI é aberta pela enfermeira, a acompanho até o leito onde
Morgan está, ouço os passos da funcionária quando ela se retira.
Seguro a sua mão enquanto mantenho os olhos em sua face pálida, os
cabelos ruivos a destacam.
Sinto a revolta toma conta de mim ao vê-la entubada.
— Vou vingar você, mein fuchs — asseguro baixo.
Entre a Zimmermann e você, eu a escolhi.
Em dez dias tiraram os sedativos, mas Morgan não reagiu, decidiram
continuar com a sedação por mais um tempo devido ao fato de ela ter
contraído uma pneumonia.
Mais dias se passaram e o silêncio é aterrador, passo todas as noites no
hospital, tenho que estar em reuniões e compromissos.
Após um mês completo de dias vazios, o primeiro dia do mês é o
conselho onde serão julgados a família Scherer pela participação de Cléver
e o soldado Fagner.
Minha chegada é silenciosa no recinto da mansão onde Morgan levou os
tiros, três figuras que representam o conselho, famílias que honram a
Alemanha.
Aaron e Paul estão logo atrás de mim, somos os pilares da Zimmermann,
chefe, subchefe e conselheiro.
— Quero reforçar a importância da presença de todos — aviso.
A figura mais velha assente antes de cumprimentar todos nós.
— Agora como o nosso líder e seus membros estão presentes, podemos
pedir para trazerem os dois acusados de atentar contra o chefe da máfia
Zimmermann.
Sento-me no sofá e vejo as duas figuras serem trazidas com marcas de
tortura e agressões durante a estadia nas celas.
Cléver levanta a cabeça, olhando para cada rosto dos convidados, os
olhos pousam sobre mim.
Vejo receio misturado arrogância em sua face.
— Cléver Scherer, a sua participação em um ato contra a maior potência,
uma figura que devemos servir, prejudica sua família. Os Scherer estão
conosco há muito tempo, estavam perto da Zimmermann assim como os
Muller, e ocorre o inusitado atentado contra Damien — pontua a segunda
figura.
O terceiro se levanta, recebendo toda atenção.
— O que pretendia com essa visita? Como surgiu a ideia na sua cabeça?
— indaga.
— No primeiro momento, quis vir fazer o que todos nós, da
Zimmermann, desejávamos, matar a assassina. Damien a protege, ela é a
responsável por tudo isso ter acontecido!
A declaração do verme acende a curiosidade do conselho e a minha fúria
por mencionar sobre Morgan.
— Não mude o assunto, use sua língua para dizer absolutamente tudo
para nós — exijo. — Você queria me matar, o líder dessa máfia!
— Você não quis que eu fizesse o trabalho, então julguei que seria o
melhor matar ela e você quando aquela vagabunda parou na frente de nosso
líder.
Sou segurado por Paul, estou a um triz de levantar e terminar com tudo
isso exatamente agora.
— Fagner, um soldado com uma participação no plano de Cléber. Por
que entrou na mansão disposto a matar Damien? — pergunta a terceira
figura para o soldado que se mantém olhando no chão.
— O senhor Scherer disse que mataria minha esposa grávida caso não o
ajudasse. Ele conseguiu essa informação e usou para que eu realizasse o
plano.
— Olhe para mim — mando, esperando ver a face do homem.
Não encontro mentira, apenas vergonha e desespero no olhar perdido do
soldado.
— Damien, reconsidere.
Viro o pescoço, encontrando o rosto da senhora Scherer, uma mãe tendo
o privilégio de ver o filho sendo condenado.
— Meu filho só agiu pensando em sua decisão em manter viva a
impostora com quem se casou.
Ouço conversas paralelas, faço um sinal com a mão. O silêncio surge
imediatamente.
— Enquanto estamos aqui escolhendo a sentença para uma traição
direta, minha esposa está há um mês em coma. Morgan entregou a alma
para proteger o nosso líder, ela pagou sua dívida com sangue! — reitero.
— Esse conselho não é para a assassina — alerta a primeira figura. —
Dois membros da Zimmermann cometeram o mesmo erro que Elzo e
Roman Muller, só há uma alternativa para vocês dois.
— Escolhemos a morte direta — conclui o segundo. — Com a
permissão de nosso líder.
Levanto-me e pego a minha arma, não dou minha palavra, entrego cinco
tiros na cabeça de Cléver.
Os gritos de sua mãe ecoam pelo local, o barulho do corpo no chão
notifica minha decisão.
— Eu nasci para ser o líder de todos vocês! Estou há anos na frente da
Zimmermann, o sangue que foi derramado por cada um dos meus para nos
colocar sempre no topo. Aquele que pretende ir contra as regras está traindo
a autoridade maior nessa máfia — reforço, olhando para todos. — Sou eu
quem decide quem deve morrer ou viver, vocês são parte do meu controle.
Sirvam ao chefe, honrem o meu nome ou experimentem a fúria.
O choro de uma única mulher é a resposta, todos os outros se curvam ao
discurso.
Viro as costas, deixando o soldado para ser morto pelo ceifador.
Saio da mansão e volto para o meu carro, faço o mesmo trajeto pelas
ruas de Hamburgo até o hospital.
O processo é o mesmo: trocar de roupa, seguir com a enfermeira ou o
próprio doutor responsável por acompanhar o quadro de Morgan.
Adentro na UTI acostumado com os barulhos das máquinas, Morgan
está da mesma forma que há um mês, mas toda vez eu a chamo.
Imploro para que abra os olhos.
Abaixo o rosto, deixando os lábios em sua testa, minha mão encontra a
sua, aperto uma, duas vezes.
— Já perdi a conta de quantas vezes estou aqui. Eu não gosto de estar
acostumado com esse ritual, não aceito que passe as próximas horas ou anos
dormindo. Abra os olhos, imploro, abra seus olhos, eu a escolhi, assassina.
Afasto o rosto, deixando uma lágrima grossa escorrer e a vejo cair na
bochecha de Morgan.
O silêncio é mortal e traiçoeiro, me recuso a deixá-lo permanecer.
— Morgan.
Aproximo a boca da pele da sua bochecha, há uma nova lágrima
teimando em descer.
— Abra os olhos, liebe. Ich vergebe dir[12].
Aproximo os lábios aos seus por um mero segundo.
— Senhor Zimmermann, o tempo acabou — avisa a enfermeira.
Aperto a mão de Morgan novamente, por quanto tempo mais terei que
permanecer nessa tortura?
— Espere — aviso.
Eu não quero sair, não quero deixá-la.
— Morgan — chamo por ela uma última vez.
As pálpebras se mexem, estou preso nesse lugar, ouço a enfermeira
chamar meu nome novamente.
Tudo ao meu redor para quando os olhos azuis lentamente se abrem.

Seus olhos olham ao redor, decerto tentando entender onde está, vejo a
confusão em sua expressão.
Morgan abre a boca, mas não consegue dizer nada.
Ouço os passos do médico acompanhado pela enfermeira até o leito onde
estamos.
— Acho que ela está tentando falar — aviso.
— Morgan, tenha calma. Você poderá falar em poucas horas, como você
esteve entubada vai encontrar uma pequena dificuldade de falar — explica,
aproximando-se dela. — Consegue mexer a mão?
Ela levanta com uma certa lentidão.
— Você ficou durante um mês em coma, seu corpo despertou agora é
normal ter essa resposta mais lenta. Senhor Zimmermann, ela deverá ficar
uma semana no hospital, acredito que a fisioterapia irá ajudá-la a recuperar
o controle do corpo — explica.
— Certo, já posso colocá-la em um quarto separado?
— Sim, vamos fazer a transferência de sua esposa após alguns exames
para vermos como ela está. Peço que aguarde na sala de espera enquanto
isso, assim que finalizar os exames iremos transferir Morgan para um
quarto privativo.
Desvio o olhar para Morgan, encaro os olhos azuis tendo a confirmação
de que ela acordou, não é um sonho.
Deixo a ala da UTI ainda sentindo o toque de sua mão na minha, procuro
o nome de Aaron nos contatos.
Quase a perdi, não estou disposto a cometer o mesmo erro uma segunda
vez.
Ninguém irá tirá-la de mim, nem mesmo a morte.
— Damien.
— Aaron, Morgan acaba de acordar. Quero que pegue algumas coisas
dela na mansão, além de avisar Paul sobre as minhas ordens. Morgan é
intocável para todos, ela é a minha esposa e continuará sendo — reitero.
— Sim, irei passar suas ordens agora mesmo. Não vou sugerir um outro
caminho, sei o quanto você a quer, aceito a assassina como sua esposa.
— Ótimo, estou lhe esperando.
Morgan
Acomodo a cabeça no travesseiro, estou sentada, fui transferida para um
quarto e estou esperando por Damien.
Estou ainda confusa com o fato de que já se passou um mês enquanto
estive inconsciente.
Ainda está fresco na minha cabeça as vozes altas, desci as escadas,
prevendo o que poderia acontecer.
Só pensei em ficar na frente e proteger Damien da morte, senti que
poderia perder a única coisa que me interessava.
Desvio a atenção para a porta sendo aberta por meu marido, parece que
Damien não dorme há muito tempo.
Ele se aproxima e pega em na minha mão, aperto lhe dando um sinal de
que estou bem.
— Da.. Damien. — Forço a garganta, pois quero falar.
A voz sai um pouco rouca e baixa.
— Não force a garganta, mein fuchs — pede, próximo ao meu rosto.
Quero fazer perguntas, o que eu perdi durante esse tempo? Consigo
enxergar uma lágrima no canto do olho direito. Damien chorou por minha
causa?
Fico curiosa e surpresa por vê-lo assim.
— Com licença. — A voz da enfermeira nos interrompe.
Ela traz uma bandeja com comida e suco.
— O doutor pediu para trazer sua refeição.
Damien pega a bandeja, trazendo para a cama, forço a mão para pegar a
colher.
— Já teve emoções demais por hoje, precisa comer, deixe que eu faço
isso.
Ele pega a colher e o prato, trazendo até a minha boca, aceito o seu
conselho, abro a boca e mastigo a comida devagar.
Enquanto como a comida, não consigo tirar os olhos de cima dele.
— Você... vai dormir aqui? — pergunto, interessada.
— Dormi no hospital durante todo esse tempo. Vou responder às suas
perguntas, não force a voz hoje, Morgan.
Quero saber o que você decidiu, vai me entregar nas mãos da sua máfia?
Qual foi a decisão que tomaram enquanto estava dormindo? Necessito ter
respostas.
Uma batida à porta e o doutor entra, pedindo licença para nós, ele se
aproxima e vê que o meu prato que já está quase vazio.
— Vejo que está se alimentando muito bem, é importante ter nutrientes
em seu corpo. Não deve pular as refeições.
— A fisioterapia quando começa, doutor? Minha esposa é impaciente
para esperar muito tempo.
Ainda bem que ele sabe bem disso.
— Amanhã mesmo a fisioterapeuta virá auxiliar em exercícios diários.
Vamos acompanhar essa semana como Morgan vai reagir, se tudo ocorrer
bem ela terá alta após uma semana — notifica, sorrindo. — Inclusive,
trouxe algo para que pratique o tato, o movimento dos braços.
O médico tira duas bolas azuis do bolso, deixando-as na mesa.
— Obrigado — meu marido o agradece.
Vejo o médico se retirar, fechando a porta logo em seguida.
Acompanho Morgan utilizar a bola, apertando-a para treinar o tato como
o doutor sugeriu.
Minha esposa não vai descansar enquanto não conseguir falar e
recuperar a rapidez dos movimentos do corpo.
Uma batida à porta e eu vou abrir, Aaron trouxe uma mala com as
roupas de Morgan, atrás dele vejo Sofie, a esposa do subchefe da
Zimmermann.
— Sofie quis ver a Morgan, aproveitei para virmos juntos.
— Entrem — autorizo.
— Damien — cumprimenta Sofie rapidamente, ela vai até Morgan.
Desvio a atenção para Aaron.
— Trouxe tudo o que pedi?
— Tudo, mas tenho notícias que não posso adiar. O conselho quer uma
data para levar Morgan ao julgamento pela traição.
— Assim que ela ganhar alta do hospital, vão precisar esperar uma
semana, e se reclamar adio ainda mais — corto.
— A prioridade é a saúde dela, o conselho vai ser notificado da sua
vontade. Bom, a outra notícia é da movimentação de nosso inimigo, um dos
contêineres de cocaína foi roubado no trajeto até Hamburgo.
Porra!
— Paul está no controle, mande ele dar uma resposta. Assim que sair
desse lugar com Morgan, a Zimmermann passará por modificações —
asseguro.
Vejo Sofie sentar na poltrona, ficando ao lado de Morgan.
— Sei que deve estar confusa comigo aqui. Mas Paul é o novo subchefe
da Zimmermann, então viemos morar em Hamburgo.
— Como ela está? — pergunta Aaron.
— A fisioterapia irá ajudá-la a recuperar os movimentos do corpo.
Enquanto a voz, o médico disse que em poucas horas estará falando
normalmente.
— Posso ficar com Morgan se quiser.
— Não pretendo sair do hospital essa semana, a recuperação dela é
importante. Paul e você devem cuidar dos assuntos, em poucos dias
estaremos em casa.
Não vou deixá-la sozinha.

Olho o relógio e vejo que já são meia-noite, Morgan não dormiu ainda,
parece que não está com sono.
Pego em sua mão ganhando a atenção dela.
— Durma.
— Não.. quero — diz sem expressar cansaço.
Levanto-me da poltrona, sentindo minhas costas desconfortáveis.
— Dorme aqui.
Aponta a cama onde ela está, há um pequeno espaço onde consigo
dormir tranquilamente.
— Vai ficar desconfortável.
— Damien — insiste.
Deito-me ao seu lado, observo os traços do rosto dela durante longos
segundos, comprovando que ela está realmente acordada.
— O que foi? — pergunta.
Vejo diversão em seus olhos.
— Você não consegue parar de me encarar.
Diversas vezes olhava sua face buscando um mero movimento,
indicando que Morgan iria acordar.
— Quero que descanse, você precisa.
— Durma comigo — convida.
Afasto seus cabelos para longe do rosto, desço os dedos pela pele da
bochecha dela.
Passo pelos lábios demoradamente, almejo que os dias passem rápido.
Quero levá-la daqui, assassina. O lugar que dei para você não pertence a
ninguém mais.
Demoro a reconhecer o trajeto, mas sou surpreendida quando vejo a
mansão, o lugar onde voltei tempos atrás para tentar impedir que Damien
soubesse a verdade.
Ele estaciona o carro, os soldados fazem uma reverência quando saímos
do carro.
Adentro na minha casa, indo até a sala principal, é ótimo não ver mais
aquele hospital ou pessoas entrando no quarto a todo momento.
Finalmente, estou nesse lugar podendo ser quem eu realmente sou.
— Nenhuma cela dessa vez? — pergunto, encarando-o.
— Sem celas, você não ouviu o que eu lhe disse diversas vezes naquele
hospital? Escolhi você, e não a Zimmermann, ninguém irá machucá-la —
reitera.
Eu lembro de ter escutado uma coisa, duvidei se era apenas o meu
cérebro pregando uma peça. Mas era a voz dele.
— Minha cabeça ainda está bem confusa.
Não lhe conto uma mentira, tudo parece ter sido ontem.
É difícil acreditar que passei um mês dormindo, inconsciente.
— Quero saber sobre duas coisas, e não quero que enrole mais sobre o
assunto — insisto.
— Onde quer conversar, no quarto ou aqui? Não vou esconder nada de
você, e eu exijo o mesmo, Morgan.
— Certo, podemos conversar no quarto.
Senti falta daquele cômodo, quero tirar essas roupas, esses saltos
também.
— Troque de roupa, preciso ir ao escritório, mas já irei ao seu encontro.
Viro as costas, sentindo algo diferente no peito, a ideia de estar com
Damien depois de tanto tempo está mexendo comigo.
Não consigo descrever exatamente.
Subo as escadas indo até o quarto, tenho dúvidas se minhas coisas estão
aqui ou foram tiradas. Mas encontro tudo do jeito que deixei.
Antes de qualquer coisa troco de roupa, visto apenas o robe preto de seda
para cobrir minha nudez.
É libertador não precisar de muitas roupas, o inverno finalmente
terminou.
Ao amarrar o laço da peça em frente ao espelho um objeto chama a
atenção dos meus olhos.
Viro-me de imediato e caminho até a penteadeira, o meu punhal foi
colocado aqui.
Pego, sentindo falta de estar com ele.
Ouço passos no quarto.
— Sei que prefere esse punhal do que qualquer outra arma.
— Por que o deixou aqui? — pergunto, encontrando seu olhar.
— Não quero ver você fingindo alguém que não é. Quero ver você como
Roman viu em Horn, eu quero a assassina, somente ela.
— Quero saber qual é a minha situação na sua máfia? Perdi bastante
coisa, então imagino que tenham uma sentença — mudo o assunto.
Posso confiar nas palavras que saem da sua boca? Ele é um líder, eu o
traí e Damien tem motivos de sobra para brincar comigo.
— A levarei amanhã para o conselho, precisam julgar o seu caso. Mas a
morte não é mais uma opção, você se pôs na minha frente, deu a sua vida.
— Qual será a opção, então? Quero respostas, Damien.
Ele dá um passo na minha direção.
— Ninguém irá machucá-la, a minha lei é a voz de todos os membros da
Zimmermann. O conselho serve principalmente a mim, posso mudar as
regras, Morgan — assegura.
— E o acordo que você me deve? Acredito que já sabe o que quer —
sondo.
— Tem razão, mas você já ouviu o que eu quero. Você é minha esposa,
não irei deixá-la ir embora, o lugar que lhe dei, é seu.
— Posso confiar em você? Enquanto ao fato de que não sou aquela
mulher que conheceu? Você não me conhece, Damien — alerto. — Não vou
deixar de ser a assassina, jamais.
— Irá continuar sendo a assassina, porém, vai trabalhar comigo, não será
igual à sua antiga vida. Mas você sabia que ao se infiltrar na máfia, perderia
a liberdade de agir sozinha, nas sombras.
Damien termina com a distância entre nós dois.
— Vou repetir o que disse enquanto você dormia.
Coloco o punhal sobre a mesa, ele tem a minha atenção por inteiro.
Espero por suas palavras.
— Abra os olhos, imploro para que abra os seus olhos, eu lhe escolhi,
assassina — declara, encarando meus olhos.
— Entre a Zimmermann e eu, essa é a sua resposta?
Ninguém jamais pensou em me escolher. Preciso ouvir de novo, meu
cérebro pede novamente para escutar essas palavras.
Ele se aproxima, beijando o canto da minha boca.
— Du, mein attentäter[13].
Encontro seus lábios, buscando desesperadamente sentir a sua boca
contra a minha.
Sou levantada do chão, Damien deita meu corpo na cama ficando por
cima, agarro seus ombros, aprofundando o beijo.
Quero suas carícias, os beijos. Damien é meu. Afasto a boca da sua,
ambos ofegantes.
Minhas mãos descem para sua camisa, abro os botões imediatamente,
meu marido tira a camisa expondo seus músculos.
— Quero você sem roupa — exijo.
— Tire o meu cinto. — A exigência arrepia meu corpo por inteiro.
Puxo o cinto, meu marido se afasta, indo tirar as calças, assisto-o fazer
tudo devagar.
Ele está nu vindo na minha direção, sobe na cama, a sua boca desce para
o meu pescoço, um beijo, dois e logo o terceiro.
Puxo o laço do robe, revelando a minha nudez, Damien abre a peça e
captura um seio.
Fecho os olhos, deixando a carícia me enlouquecer.
Retiro a peça, ficando exposta para o chefe da máfia, Damien passa os
lábios pela minha pele, mordendo o bico rígido.

Damien se senta na cama, monto nele, ficando no colo, enfio as unhas


nas suas costas, enquanto encaro os seus olhos.
— Quero marcar a sua pele para todos verem que esteve comigo.
— Marcando território? Isso é ciúme, minha raposa?
— Quando estava fazendo o meu papel, tinha que me conter. Mas agora
posso fazer o que eu quiser, já levou um chupão?
Duvido que alguma mulher tenha feito algo assim, Damien é dominador
ao extremo.
— Faça — manda.
— Mesmo que você não deixasse, eu faria.
Aproximo-me beijando seu pescoço demoradamente, chupo a pele
sensível enquanto ele aperta minha bunda com força.
Nossas bocas se encontram, um beijo intenso e profundo, rebolo contra o
seu membro provocando-o.
Damien para o beijo, indo para o meu pescoço, uma de suas mãos vai até
as minhas coxas, adentrando minha boceta.
Solto um suspiro quando ele coloca dois dedos lá dentro.
— Geme pra mim.
Fecho os olhos, enquanto meus gemidos o atiçam, meu marido me
tortura, à medida que alisa meu clitóris.
Sinto cócegas e uma inquietação, não consigo ficar parada sem ter mais
prazer.
— Chega, quero cavalgar — digo, ofegante.
— Veja o quanto estou duro, coloque dentro de você.
Damien se deita na cama deixando as pernas abertas, pego o pau duro,
ajeito, colocando-o na minha entrada.
Começo a me movimentar, descendo e subindo em uma frequência
rápida, soltos gemidos aumentando a velocidade.
Suas mãos capturam minha cintura, segurando o local, minha boceta
engole o pau duro, molhando com o meu líquido.
— Porra! Mais rápido. — A ordem consegue o efeito que ele quer, meus
seios balançam com o aumento dos movimentos.
Cavalgo freneticamente, sentando até deixar o pau inteiro dentro de
mim.
— Ah...
O prazer é um vício, senti falta de estarmos assim, nus, transando,
principalmente sentindo o corpo do outro.
Mordo o lábio, deixando escapar gemidos mais altos, ouço o som do
encaixe perfeito dos nossos corpos.
Respiro ofegante.
As mãos estão nos meus seios, fecho os olhos cavalgando rápido, ao
abrir e encontrar os avelã, encontro o desejo e algo mais.
— Goze, Morgan, goze pra mim.
O ritmo rápido balança meu corpo, estou sentindo o prazer chegar, sento-
me até engolir o pau dele.
Gozo violentamente diminuindo o ritmo.
Saio ofegante, Damien troca de lugar comigo, deito a cabeça no
travesseiro, abro as pernas, colocando as pessoas em torno da sua cintura.
Ele entra na minha boceta com força, dando continuidade ao sexo,
agarro suas costas, buscando o ar.
Meu marido faz o vai e vem, estocando minha boceta, a rapidez faz
Damien transpirar e dizer coisas que me excitam.
O contato é tão gostoso, brutal, vejo suas bochechas vermelhas.
Os cabelos bagunçados, Damien goza, seu gemido é alto, nossos corpos
se encaixam nesse momento, onde ela está deitada em cima de mim.
A porra do calor dele, como eu senti falta disso durante tanto tempo.
Damien queria estender o sexo no jardim, a ideia é deliciosa, fiquei
animada, mas com a chuva nossos planos foram interrompidos.
Porém, o fato de estarmos presos dentro da mansão não atrapalhou a
sequência, enquanto Damien está deitado com uma mão em meus cabelos,
coloco o pau duro na boca.
Passo a língua na cabeça antes de abocanhar, começando a chupar.
Os gemidos dele me deixam molhada, continuo o ato, apertando uma das
bolas enquanto estou lhe dando prazer.
— Maldita, engole meu pau, assim.
Meus cabelos são puxados, ele auxilia o sexo, segurando as mechas
ruivas, enquanto faço um oral bruto e intenso.
Respiro ofegante, molho o pau duro com a minha boca, estou sedenta
por ele.
Damien rosna, afasto minha boca, o líquido vai nos meus seios,
molhando ambos.
Sento-me na cama e tiro alguns fios de cabelo do rosto, respiro rápido.
Ambos procuramos ar.
Observo o rosto de meu marido, absorvendo o prazer, espero alguns
segundos para deitar por cima do seu corpo.
Beijo os seus lábios demoradamente, ficamos de lado, Damien levanta
minha perna, colocando-a sobre a dele.
— Precisa dormir.
— Não estou cansada, durma, aquela poltrona não é confortável — digo.
— Você sabe que também precisa descansar.
— Eu sei, não vou demorar a dormir.
Passo as unhas no peitoral do meu marido, Damien segura minha bunda
com uma mão, deixando o meu corpo próximo do seu.
Fico quieta esperando que ele descanse.
Após longos minutos em silêncio ouço a respiração tranquila, levanto o
olhar, Damien está dormindo finalmente.
Durante essa semana, acordei de madrugada e o encontrei acordado,
apesar do cansaço.
Desde que acordei do coma, não consigo dormir direito, levanto-me
com cuidado deixando-o sozinho.
Pego o punhal da mesa, sentando-me no recamier, olho a noite chuvosa,
o quarto está bastante silencioso.
Bato as unhas no objeto em minha mão.
“Eu a escolhi”.
Viro o pescoço e vejo o rosto do homem que ficou comigo todos esses
dias, durante o coma também.
Sinto algo tão bom depois de ficar com Damien após tudo isso, sou
capaz de machucar qualquer um que tentar matá-lo.
Foi exatamente por isso que levei aqueles tiros, a ideia de perder a única
pessoa que se importa comigo foi devastadora.
Respiro fundo, voltando a atenção para o punhal.
Levanto-me e o guardo de volta no lugar, deito-me na cama para evitar
que ele acorde.
Eu sei que não vou dormir tão cedo, tenho o pensamento de que posso
não acordar de novo.
Afasto os pensamentos quando a mão do meu marido toca a minha
cintura.
Uma carícia involuntária, aprecio o carinho, então deixo sua mão ali.
Desperto lentamente, olho para o lado da cama que está vazio, respiro
fundo e afasto alguns fios ruivos do rosto.
Viro o corpo e encontro Damien ajeitando a gravata em frente ao
espelho.
— Que horas são? — pergunto, confusa.
— Oito e meia, a reunião no conselho é daqui a uma hora.
Reviro os olhos.
— Por que tão cedo? — reclamo.
Ele se aproxima, aprecio vê-lo arrumado, o perfume masculino invade
meu nariz, apenas atiçando a vontade de desarrumar meu marido.
— Os compromissos na máfia são diferentes do que está acostumada.
— Sou a única fora da máfia nesse conselho? — questiono.
Damien para ao meu lado, captura meu pé, subindo a mão para a coxa.
— Sim.
— Todos já devem saber dos meus crimes, pressinto que vou assustar
muitas pessoas, você me teme, Damien?
— Essa é a pergunta que eu também lhe faço, você me teme, assassina?
— sonda, encarando-me.
— Não, você me irrita muitas vezes, estressa, tenho vontade de arranhar
a sua cara principalmente quando fui obrigada a me curvar diante de você.
Tenho sua total atenção, finalmente posso falar tudo o que eu penso.
— Eu não temo você, sempre me intrigou, seus olhos parecem brincar
comigo sem muito esforço. Além do mais, encontrei uma escuridão da
mesma intensidade que a minha, eu a segui, agora sei o porquê.
Como uma boa predadora deixo que meu marido se aproxime, pegando o
meu seio a fim de apertá-lo enquanto mantemos contato.
Faço questão de irritar esse conselho, já que tenho uma prioridade para
essa manhã.
— Estou com uma inquietação, você está arrumado demais, enquanto eu
estou sem roupa — brinco.
Damien cola o rosto no meu.
— Maldita.
Ele me beija ferozmente, puxo-o para mim com uma mão e a outra
agarro os fios escuros desalinhando o mafioso.
Aprofundo o beijo, deixando a língua entrar na sua boca, minhas mãos
buscam seu paletó, Damien tira a peça.
Fecho os olhos quando sinto seus lábios descendo pelo pescoço, o
mafioso morde meu seio antes de abocanhar, colocando na boca grande
parte.
Sinto o meu clitóris doendo, querendo atenção, Damien chupa com
força, xingo entre gemidos profundos.
— Me chupa — instigo.
Mordo o lábio inferior enquanto recebo sua atenção, abro os olhos
buscando seu olhar.
— Meine Frage ist, lutsche ich dich, bis ich dich schmecke, oder dringe
ich in deine nasse muschi ein[14]? — provoca.
— Ich bin richtig nass[15].
Damien se afasta abrindo o zíper, mudo de posição, ficando deitada de
frente a ele, abro as pernas, mostrando-o o quão excitada estou.
Sou puxada pelas mãos fortes, enlaço as pernas em torno da cintura do
meu marido.
Damien coloca o pau dentro de mim sem avisar, estocando rapidamente,
ambos soltamos gemidos.
Tão gostoso, não tenho controle, arfo ofegante, sentindo-o me foder indo
até o fundo, com força, bruto.
— Ah... — geme, batendo na minha bunda.
O cretino me põe na loucura, as mãos dele apertam cintura, subindo para
os seios, roubando meus sentidos.
Choramingo com a velocidade do ato, meu clitóris tendo a porra da
atenção que deseja, chamo por seu nome.
— Damien.
Gozar é delicioso, sinto minhas pernas falharem, assim como o corpo,
Damien segura minha cintura conduzindo seu pau molhado por mim.
Passo a língua na boca, agarro os panos da cama, arrastando enquanto
busco respirar.
Engulo o pau duro, recebendo-o dentro da boceta gulosa.
— Merda! — Deixa escapar um gemido rouco. — Preciso gozar em
você.
— Vem pra mim — peço, rouca.
Sinto o suor descer da testa, nossos corpos em sincronia, ouço o barulho
do vai e vem frenético.
O sexo com ele é tão profundo, perco a voz chamando por Damien,
aprecio sentir o líquido dele me sujar completamente.
A porra do celular dele toca, estragando o momento, o mafioso sai da
minha boceta para atender o celular.
Respiro fundo, sentando-me na cama, a respiração irregular, espero até
conseguir me levantar.
— Precisamos nos arrumar — avisa.
Ele guarda o membro na cueca, enquanto fecha o zíper.
— Vou tomar um banho rápido, só preciso de uma roupa.
Enquanto ele se ajeita, caminho para o banheiro.
— Pego para você.
— Não esqueça da lingerie — provoco.
Adentro o banheiro, sentindo o toque dele ainda queimando minha pele.
Como uma queimadura.

Adentro a mansão onde a máfia Zimmermann está em peso, os olhares


são direcionados para Damien, especialmente em minha direção.
Enfrento todos sem abaixar a cabeça ou desviar a atenção para cada um
que me observa meticulosamente.
Tolos, pensam que brincar de fazer um julgamento faz cócegas em mim?
Entro ao lado do meu marido na sala principal, vejo Fell ao lado de
outros membros.
Ele abre um sorriso ao me ver, Sofie também está logo atrás dele.
O restante dos presentes repudia com os olhos e em conversas paralelas a
minha presença neste lugar.
Afinal, sou uma assassina, não faço parte da máfia deles.
Damien me deixa no centro do local diante de três figuras mais velhas e
observadoras.
— Conte exatamente tudo — diz na minha orelha antes de se afastar.
Pelo canto do olho o vejo se sentar ao lado de Paul e Aaron.
— Estamos reunidos para o julgamento da assassina, Morgan Muller.
Filha de Roman e Katarine Muller, uma mulher com uma extensa ficha
criminal — comunica o primeiro homem.
O segundo se levanta enquanto me encara.
— Jura dizer apenas a verdade perante a Zimmermann?
— Sim — afirmo, convicta.
— Por que aceitou o plano de seu pai? Tinha interesse em vir para
Hamburgo ou a máfia Zimmermann? — As perguntas do terceiro sujeito
são diretas e específicas.
O ar está tão tenso, não preciso olhar para as figuras importantes para
saber que estão torcendo o nariz, incomodadas comigo.
Acho que se soltar um mero espirro assusto todos os presentes.
— Ouvi falar da máfia, mas nunca busquei entrar na Zimmermann.
Trabalhava sozinha como vocês devem saber, Roman invadiu o galpão
abandonado onde morava e trouxe um plano pronto — explico. — Ele
estava com soldados ao seu lado, enquanto acabava de tomar banho, fui
pega de surpresa. Roman ofereceu uma boa quantia da herança do chefe da
máfia e que me ajudaria a sumir.
— Somente isso era a sua parte? — sonda o terceiro sujeito. — Não
passou pela sua cabeça que poderia ter mais do que o dinheiro?
— Só queria receber pelo meu trabalho, faço tudo sozinha, saí do
orfanato e me tornei quem sou sem ajuda de ninguém — reitero.
Os burburinhos rodeiam o local.
— O plano era passar informações para Roman, ser escolhida por
Damien e, então, o casamento onde teria que cometer o ato de matá-lo?
— Precisava ser escolhida para ser noiva de Damien, Roman fez questão
disso desde o primeiro momento. Caso não conseguisse chamar atenção
dele, morreria sem sair de Hamburgo.
— Você foi com o plano até o fim?
— Não, somente até o casamento — revelo. — Quando percebi os erros
de Roman e para onde o plano estava indo, pensei na minha sobrevivência.
Enganei meu próprio pai, decidi criar um novo plano, permanecer naquele
papel, Damien é um líder, e como sua esposa teria proteção, entre outras
coisas.
— Existem provas? — questiona a primeira figura. — Suas palavras não
são confiáveis.
Obviamente que você teria desconfiança velho idiota.
— Os celulares de Elzo e Roman. — A voz de Paul me surpreende.
Não me lembrava dos aparelhos daqueles imbecis, o novo subchefe
entrega para os outros homens.
— Conversas onde eles citam você, tinha que morrer assim como
Damien.
Os três sujeitos se reúnem a fim de ver tudo o que Elzo e Roman
falaram.
— São provas que comprovam seu depoimento, realmente. Mas, por
outro lado, o líder da Zimmermann lhe deu um lugar permanente, quando
você salvou o nosso líder, lhe entregou a alma, uma vida pelo homem que
servimos até a morte. Conseguiu ganhar o perdão pela traição contra
Damien.
Não há comemoração, um silêncio é a resposta da máfia.
O terceiro homem é o próximo a falar.
— Mas o conselho quer uma prova de que você não é uma ameaça para
nós. Queremos que abandone sua vida, o passado, lembranças de quem era.
Seja o que a máfia exige, uma esposa obediente, recatada e dona do lar.
Vejo um esboço de sorriso nos seus lábios.
Dou risada, não deveria rir descaradamente do conselho.
— Estão exigindo que me torne uma idiota? Esqueça os crimes que
cometi para ser uma esposa troféu como as damas que estão me encarando
com desprezo e diversão? — rebato. — Jamais.
— É a nossa condição, assassina.
— Mas não é o que eu quero para ela. — A voz de Damien torna tudo
mais interessante.
Todos param para vê-lo se levantar e passar por mim.
— Morgan vai continuar sendo quem ela é, irá torturar, matar quem eu
quiser. Eu permito que ela seja uma assassina.
O choque no olhar de cada um me diverte. Os três homens ficam em pé.
— Chefe, ela é um risco — diz o primeiro homem.
— Ela é minha esposa, o casamento é vitalício. Vocês devem servir
Morgan, como chefe da Zimmermann dou a liberdade de ela ser a mulher
que vocês conheceram pelas manchetes — reitera. — Acatem minha
ordem, curve-se diante de seu líder, agora.
A ordem é ouvida, todos fazem o que Damien exigiu.
Bom, todos, menos eu.
Enquanto eles obedecem, marco cada rosto na minha cabeça, eles
esperam que eu esqueça o fato de que muitos ainda me querem morta?
Vou brincar com todos vocês, acho que não ficou claro quem sou eu.
Eu sou uma assassina que ocupa agora um lugar principal na
Zimmermann, a escuridão que envolve o chefe da máfia.
Sofie me acompanha até o banheiro da mansão, o conselho acabou há
dois minutos e o clima tenso ainda paira sobre o ar.
— Você foi perdoada, Morgan. Conseguiu sua sobrevivência mais uma
vez — elogia.
Duas mulheres estão conversando quando entramos, a bolsa da mais
nova cai ao olhar para mim.
— Estamos atrapalhando alguma coisa? — indago.
A loira pega a bolsa rapidamente e nega de pronto.
— Não.
Enquanto sua amiga parece que não concorda com o que foi dito.
— Você traiu nossa máfia, a esposa do chefe deveria ser escolhida
novamente — rebate.
Olho para Sofie que sorri debochada, a ousadia dessa coisinha é
surpreendente.
Dou alguns passos, parando diante da garota de cabelos escuros.
— Alguém tem muita coragem de me provocar.
— É o que todo mundo pensa, você é uma assassina.
— Eu sou, e também sei que todos os presentes nesse conselho pensam
como você. Porém, acho que deveria ter cuidado com o que sai da sua boca,
garota, sabe o quão fácil é cortar sua garganta agora?
O medo surge, ela dá um passo para trás, a loira já está atrás dela, pálida
como um papel.
— São duas crianças — diz Sofie. — Os pais precisam ensinar bons
modos.
— Concordo plenamente, onde eles estão? — pergunto, olhando ambas.
— Perdão, não queremos chatear você — pede a medrosa.
Encaro a petulante que abre a boca contra a real vontade.
— Desculpe.
Abro passagem para que as duas saiam do banheiro, mas antes dou um
aviso.
— Não vou esquecer do rosto de vocês.
Desesperadamente, as garotas saem, Sofie vai até o espelho sem deixar
de rir desse momento.
— Acho que não vai demorar para todos terem medo de você.
— Estou apenas começando, o fato de ter sido perdoada por esses velhos
inúteis não muda nada, sou um precioso alvo, com o pescoço disputado.
Preciso começar a me movimentar, precisam conhecer quem tem poder
sobre eles, vou falar com Damien.
Desvio a atenção para ela
— Cheguei um pouco antes que você, mas posso afirmar que a
Zimmermann está sendo modificada completamente pela escolha de
Damien.
E eu aprecio essa mudança.
Enquanto Sofie e eu voltamos até a sala onde os homens estão
conversando, vejo as mulheres mais velhas olhando com raiva para mim.
Enfrento todas sem deixar de quebrar o contato visual, estão
acostumadas a implorar por atenção de seus maridos.
É difícil aceitar uma assassina que ocupa um lugar que poderia ser de
alguém de suas famílias.
Almejaram uma mulher educada e gentil, mas ganharam o oposto disso.
Ao me aproximar do sofá, onde os mafiosos estão bebendo e
conversando, ouço uma pergunta que acende minha fúria.
— Ela saiu de um orfanato? — pergunta o tio de Damien com um toque
de veneno em suas palavras.
— Roman me entregou — acrescento, encarando-o.
— Com quem estava trabalhando antes de vir pra cá?
— Trabalhei matando pessoas, contratada por figuras importantes,
mercenários.
O senhor se levanta, desviando a atenção para Damien.
— Ela não é aceita, não deveria se envolver com alguém de um nível tão
inferior. Não se esqueça de que foi enviada para matá-lo, Damien.
Faço menção de ir até o idiota, mas sou segurada por Fell.
Meu marido se aproxima dele.
— Você ouviu minha decisão, me sirva e obedeça — exige.
— Reconsidere, sobrinho.
Damien pega a bengala da mão do sujeito, ele se desequilibra, caindo
perante o próprio sangue.
— Acho que não fui claro o suficiente, a Zimmermann é governada por
mim. Acate a minha decisão, bom, aproveitando quero avisar que haverá
mudanças. Aquele atentado serviu de alerta — reitera. — Levem-no para
uma surra.
— Você está de quatro por uma assassina! — vocifera, ficando
vermelho. — Está louco!
— Quero vê-lo sangrando.
O velho é levado, deixando todos que acompanham a cena em choque,
quietos, alguns comentando entre si. É um pequeno vislumbre da mudança
para a Zimmermann.
Gosto do que meus olhos estão vendo, quando conheci Damien
enxerguei esse jeito bruto, perigoso. Um homem que gosta das mesmas
coisas que eu, sangue e ambições.
Desvio a atenção rapidamente para Fell, afinal, se não fosse ele poderia
ter feito o velho cair sozinho.
— Por que me impediu? — questiono Fell.
— Acho que Damien deveria dar uma resposta para nossos convidados,
sem a sua interferência. Não a odeio, assassina, você trouxe algo que faltava
na Zimmermann.
— Vamos ao escritório, temos assuntos pendentes — diz meu marido,
olhando para os homens de confiança e logo para mim.
Sofie segue o marido, Fell e Aaron estão logo atrás, Damien e eu somos
os últimos a entrar no cômodo.

Sento-me ao lado de Sofie, os outros estão sentados em três cadeiras de


frente para Damien.
— Nosso inimigo polonês, Lewandowski, se aproveitou da sua ausência
e todos os problemas que ocorreram na Zimmermann naquele momento —
diz Aaron.
Paul é o próximo a falar, enquanto o ouço percebo que Damien ficou
bastante ausente por um tempo do controle.
Ele estava comigo no hospital.
— Nosso rastreador conseguiu a informação de que dois soldados que
estavam por trás do roubo estão em Horn, o chefe dos homens do polonês.
Meu marido trinca o maxilar, a irritação presente em sua face.
— Ele quer chamar a minha atenção. Programando a porra de um ataque
pensando que estamos vulneráveis.
— Devemos agir, Damien — incentiva Paul. — Quanto mais cedo
melhor, é preciso controlar toda essa situação.
— Onde os sujeitos estão? Conheço Horn muito bem, tenho contatos em
meu antigo lar — interrompo.
— Contatos? Fiquei curioso — comenta Fell.
— Me devem favores pelo trabalho. Paul, o que o rastreador mandou?
— Preciso confirmar com o rastreador o nome da boate. Ambos estão
infiltrados se passando por turistas em um hotel perto da boate principal de
Horn — revela.
— Conheço um líder de uma pequena gangue, ele pode ser útil em
participar de um plano para pegar os vermes e mandar um recado imediato
ao mafioso — proponho.
— Quem? — A pergunta do meu marido tem algo mais além de
curiosidade.
Não vejo uma aprovação a minha brilhante ideia.
— Fech, ele conhece bem a área, frequenta a boate, pois a usa para a
venda de drogas.
— Por que tem tanta confiança que ele irá ajudar? — questiona Damien.
— Salvei a vida dele também, estávamos fora da boate, nos fundos.
Estava recebendo o meu pagamento quando seis dos seus homens foram
assassinados pela gangue rival.
Paul troca olhares com Damien.
— O que acha, chefe? O plano é ótimo, essa gangue está em Horn, o
território é da Zimmermann. Os soldados cairão pensando ser apenas um
pequeno comprador.
— Bem acompanhado por uma vadia, sei um disfarce perfeito para a
ocasião — acrescento.
— Mulheres sempre são uma distração perigosa, a assassina tem uma
mente brilhante para estratégia — elogia Fell.
Voltamos a atenção para Damien.
— Preparem os melhores dos nossos soldados, iremos para Horn.
Anseio voltar ao que faço de melhor, já fiquei muito tempo em um papel
idiota.
Quando voltamos para casa, fui diretamente para o closet, há uma mala
onde guardei perucas e roupas para disfarces quando saísse de Hamburgo.
Comprei tudo isso enquanto ainda tinha um acordo com Roman.
Pego uma peruca de longos cabelos pretos e lisos, enganar as pessoas é
tão prazeroso, quando menos esperam, mostro a minha face. Revelando
quem sou.
Escuto a voz de Damien, mas ele não está falando comigo, meu marido
não está com bom humor e a ligação não demora muito.
Em instantes, ele entra no closet e vê a mala com os meus acessórios, os
olhos avelã observam a peruca em minha mão.
— Por que mantém essas coisas? — A pergunta é direta e sem rodeios.
— Quando fiz o acordo com Roman, tinha um objetivo, sair daqui para
voltar à minha vida. Então mantive essa mala pronta para esse dia —
explico.
Largo a peruca enquanto me aproximo de Damien.
— O que aconteceu agora?
— Depois de tanto tempo é uma surpresa que ainda tenha essa mala.
— O problema são as minhas coisas ou o fato que criei um plano sem
consultá-lo? — sondo, observando-o.
Ele acaba com a distância entre nós, quando percebo estou sendo
prensada contra a parede por seu corpo musculoso, a irritação é clara como
água nos olhos perigosos.
A mão captura meu queixo.
— Nunca mencionou esse sujeito. Eu não sei nada sobre a porra do seu
passado, e o problema é que você não fala nada!
— Você leu um dossiê inteiro, não tinha tudo lá? — rebato, mordaz. —
Não tenho a obrigação de lhe dizer porra nenhuma! O que foi, Damien? De
repente, o meu passado interessa a você? Criei esse plano porque me disse
que vamos trabalhar juntos, não sou o que sua máfia quer que eu seja.
Ele está me confundindo!
Essa irritação é porque não disse sobre os meus clientes ou a porra da
minha vida em Horn?
É ridículo.
Afasto-me dele indo pegar algumas peças para a viagem até Horn.
— O que você fazia exatamente com Fech fora da boate?
Viro-me de abrupto e percebo finalmente o motivo da fúria do meu
marido.
Damien, como um ótimo cretino que é, percebeu que não dei muitos
detalhes sobre o que fazia com Fech.
— Ele estava me fodendo, mas acho que não seria interessante que todos
soubessem disso — provoco-o.
Vou até o quarto e coloco as roupas em cima da cama, em instantes sou
pega desprevenida, pressionada contra a parede pelo corpo de Damien.
— Vou arrancar qualquer vislumbre de lembrança que tem com ele —
assegura.
Fico arrepiada pelo seu tom perigoso, suas mãos estão na minha cintura,
faço um impulso, deixando as pernas em torno da sua cintura.
Encaro-o profundamente, brincando com um homem perigoso, eu
aprecio essa tensão acompanhada pelo tesão.
Ambos são mútuos quando se trata de nós dois.
— Esses são os seus planos em Horn? — pergunto.
— Um deles.
Sou colocada no chão, Damien vai até o closet, deixando-me curiosa.
Sinto que meu marido não vai abrir a boca sobre essa resposta vaga.
— Quando vamos sair daqui?
— O jatinho está sendo preparado, faça as malas, em duas horas
sairemos de Hamburgo — avisa.

Não consigo me familiarizar com aeronaves, tenho dúvidas se é


realmente tão seguro.
Desvio a atenção para Paul acompanhado por Sofie, ela logo vem até a
minha poltrona.
Damien e seu marido conversam com alguns soldados que estão indo
conosco.
— Pensei que Paul não a traria para Horn.
Ela sempre está com ele.
— Não gosto de ficar sozinha na mansão, prefiro vir. Acredito que é
mais seguro estarmos com eles do que longe.
Reviro os olhos.
— Está me deixando com vontade de vomitar com essas declarações,
Sofie.
— Duvido que entre quatro paredes você não faça alguma para Damien
— rebate, divertida.
— Gemer o nome dele é a única declaração que considero dizer.
— Veremos até quando — provoca, indo para o fundo.
Acho que ela está querendo ser arrastada pelos cabelos, declarações ou
palavras não significam merda nenhuma. Além de que, acho tão vazio,
insignificante.
Acompanho Damien se juntar a mim, a aeromoça faz uma reverência
antes de entregar duas bebidas.
Pego o copo e sorvo alguns goles, o álcool me ajuda a ficar um pouco
quieta dentro de uma aeronave.
— Está inquieta.
Busco seu olhar, levanto uma sobrancelha.
— Prefiro um trajeto de carro.
— Não tem costume de andar de jatinho, como se movimentava pela
Alemanha? — pergunta, interessado.
Não entendo essa mania em querer saber meus passos antes de vir para
Hamburgo.
— Caminhões são grandes, conseguia me camuflar em meio à
mercadoria e transitar facilmente.
Termino a bebida enquanto olho a janela, quando sinto a sua mão pousar
na minha coxa.
Acompanho a carícia, Damien se aproveita que estou usando um vestido
para usar na balada.
Uma peça prata de seda é curta, as alças valorizam o decote em V.
A mão dele adentra o vestido, tocando a pequena calcinha branca de
renda, nossos olhares se encontram.
— Estamos prontos para decolar, coloquem os cintos e permaneçam
sentados. — A voz do piloto passa despercebida por mim.
Estou focada na cara de pau do meu marido.
Os olhos avelã não conseguem me enganar, ele é capaz de me foder
diante de uma multidão inteira. Aqui e agora, apenas para demonstrar seu
poder.
Porém, o advirto dando-lhe um aviso.
— Detesto jogos, sempre acabo sobre a minha vítima sem deixar que ela
consiga se safar.
— Através de jogos tenho tudo o que preciso para ter controle sobre
quem está ao meu redor, minha raposa.
O canalha está me convidando para jogar.
— Aceite perder, Damien — aviso, pegando sua mão e a tiro da minha
calcinha, antes que seja tarde demais.
— Nunca — assegura perto da minha orelha, sua confiança é uma
carícia perigosa. — Verá isso nessa viagem.
O jatinho acaba de pousar em Horn, mas não saímos da aeronave ainda.
Paul instruiu a ligar para Fech e marcar um encontro para termos tempo de
conversar.
Pego o celular, saindo da cadeira onde estava, não demora para Fech
atender a minha ligação.
— Morgan.
— Fech, atendeu rápido.
Ele ri.
— Você sumiu por um bom tempo. Não encontrei nenhum rastro, onde
você está, assassina?
— Acabo de chegar em Horn, liguei porque você me deve um favor.
— Sabia que cobraria por salvar a minha vida naquela noite, onde quer
se encontrar comigo?
— Na estrada Norte, vou explicar o favor.
— Estarei lá — assegura ao desligar.
Viro-me para trás, Damien espera por mim, volto para o meu lugar,
guardando o celular.
— Fech irá se encontrar comigo na estrada Norte, preciso de um carro —
informo.
— Você não irá sozinha — rebate meu marido.
— Quando Fech vir você vai se sentir ameaçado, não pode ir comigo.
— Damien, devemos deixá-la ir sozinha, mas nossos soldados estarão a
uma boa distância esperando por Morgan — sugere Paul.
Estendo a mão, pedindo a chave do carro, os olhos avelã estão tão
sombrios, Damien está se contendo para não assumir o controle da situação.
— Quero três dos nossos melhores homens esperando por ela — exige,
entregando a chave do seu carro.
O contato transmite uma corrente perigosa pelo meu corpo, estou
encarando seus olhos quando afirmo:
— Não vou demorar.

Paro o veículo e espero por Fech, olho o celular e vejo que ele está há
dois minutos atrasado.
Respiro fundo, batendo as unhas no volante, será uma surpresa para Fech
saber que estou casada.
Desvio a atenção para o anel, tiro-o e o deixo no banco do passageiro.
Ouço o barulho de um carro se aproximando, forço a visão,
reconhecendo a Lamborghini preta. As luzes iluminam a estrada deserta,
um lugar perigoso para estar.
Apenas quando o gangster sai do veículo, faço o mesmo, andando até o
seu encontro.
Um homem negro musculoso, apenas dois anos mais velho do que eu,
rodeado de mulheres inflando seu ego.
Os olhos sorrateiros descem para o vestido propositalmente escolhido
para essa noite.
— Senti saudades de nossos negócios, assassina.
— Não vim para sexo, Fech. Tenho um favor que pode lhe dar bastante
lucro, acredite.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Sempre direta, o que tem para mim hoje? — sonda, interessado.
— Dois soldados da máfia polonesa estão em Horn, tenho informações
de que estão frequentando a boate. A questão é que eles roubaram um
contêiner da Zimmermann.
— Como que sabe de tudo isso? Está trabalhando para a máfia? — Seu
tom muda.
O medo paira sobre os olhos escuros.
— Estou sozinha agora, investigue o carro se necessário, mas não estou
trabalhando para a máfia, voltei para Horn, casada. Damien Zimmermann é
meu marido, se você me ajudar nessa armadilha contra os inimigos, será
bem recompensado. E não se esqueça do favor que me deve, estou
cobrando agora — explico.
— Por isso seu rastro desapareceu completamente, soube que uma
gangue de Hamburgo estava atrás de você, mas somente informações vazias
— comenta ao se aproximar. — Seu favor pode custar caro, tem um plano?
— Iremos para a boate, serei sua nova vadia. Você estará na boate como
de costume, chegará nos soldados poloneses para negociar uma venda de
drogas. Enquanto estiver propondo o negócio, vou ao encontro de vocês,
sentar no seu colo, ser apresentada e atrair o chefe dos soldados para o
corredor dos fundos.
— Uma das minhas garotas pode entreter o outro soldado com
facilidade, enquanto está com o patrão dele.
— Damien e o subchefe invadirão a boate para pegá-lo e levar até onde
eu vou executar o alvo principal.
— Não sabia que transar com você custaria a minha própria cabeça.
Como chegou até Damien? Seu marido é intocável, a Zimmermann é a lei
na Alemanha — pergunta, curioso. — Espero que ele não me coloque
como alvo por estar respirando ao seu lado.
Sorrio.
— Ele sabe o porquê você foi salvo naquela noite, bom, tenho que ir me
arrumar antes de encontrar você na boate — aviso.
— É bom vê-la em Horn, Morgan.
— Ficarei por algum tempo.
Afinal, Damien tem planos para mim, os quais estou extremamente
curiosa para saber.
Acompanho a localização do carro, ele acaba de chegar ao hotel, detesto
não ter o poder de interferir nesse plano.
Fech já esteve com Morgan, quero apagar as memórias que ela teve com
esse sujeito.
Deixá-la sozinha nesse encontro aumenta minha irritação. Não demoro a
ouvir passos e a porta sendo aberta por ela.
— Voltei.
Viro ao ouvir sua voz, mein fuchs joga a chave na cama, enquanto vai
até a mala e a abre, retirando a peruca de cabelos escuros.
— Explicou o plano para ele? — pergunto, indo atrás dela.
— Tudo, Fech honrará a palavra, ele não deve ninguém. O conheço há
bastante tempo, então não há problema — assegura.
Morgan vai até a penteadeira, ela consegue ver meu reflexo, prende os
cabelos ruivos, colocando a peruca no lugar.
— Pega as sobrancelhas, estão na mala, em um saco transparente.
Faço o que ela pede, entrego os acessórios, mas não me afasto dessa vez.
Qualquer um que a olhar não vai pensar que está usando um disfarce, a
assassina se camufla com facilidade.
— Vai dizer os seus planos que eu ainda não sei? — sonda, ajeitando as
sobrancelhas.
— Depois dessa noite.
Morgan se vira, encontrando o meu olhar.
— Ainda com esse jogo? — indaga, impaciente.
— Se concentre no objetivo — alerto.
Ela ri.
— Seduzir um homem é brincadeira de criança.
Pego em sua nuca e a puxo para mim, o ato causa uma certa surpresa,
mas logo ela está enfrentando meus olhos.
— Não o beije.
É uma ordem.
— Por quê? — desafia.
— Os seus lábios são meus.
Reitero antes de beijá-la, puxo os fios ruivos, Morgan vai até os botões
da camisa social.
O celular toca, atrapalhando o momento, atendo Paul, a vendo se afastar.
— Tudo pronto para que Morgan vá ao encontro dos sujeitos. Vamos
sair meia hora depois, tempo suficiente para que ela consiga agir.
— Ótimo, Morgan já está pronta, nos encontre no corredor.
Desligo o celular.
— Está na hora — aviso.
Ela sai do banheiro, vindo ao meu encontro com um batom vermelho em
seus lábios.

Desço do veículo e logo vejo a fachada da boate, os seguranças ficam


olhando enquanto vou me aproximando.
Não desvio o olhar, entro na boate e não deixo nenhum detalhe passar
despercebido por mim.
Meus olhos procuram por Fech, preciso estar atenta.
Vasculho o lugar, encontrando alguns rostos conhecidos, a gangue de
Fech está presente.
Encontro o braço direito esperando por mim.
— Assassina.
— Onde está o seu chefe? — indago de pronto.
— Ele está com os sujeitos indo para a área VIP. Fech me deixou aqui
para levá-la daqui a cinco minutos até onde estão — explica.
Desvio a atenção para o primeiro andar, os dois sujeitos pegam algumas
bebidas enquanto Fech introduz a falsa negociação.
O chefe dos soldados olha para a boate, enquanto está conversando com
o líder da gangue.
Volto a encarar o homem de confiança de Fech.
— Preciso que aperte o meu braço quando me levar até lá. Me trate
como uma vadia dessa boate.
— De acordo.
Ele se aproxima e pega em meu braço, arrastando-me, vamos em direção
às escadas.
Finjo tentar soltar o braço quando nos aproximamos da mesa.
— Um momento — pede aos sujeitos. — Venha para o meu colo, vadia.
— Ela estava dando atenção para outro, Fech.
Ele me solta e não perco tempo indo me sentar no colo do gangster,
acaricio seus cabelos.
— Desculpa, sei que gosta de me ter entre as suas pernas.
— Quem é essa vadia? — pergunta o chefe dos soldados.
— Carne fresca, tirei a virgindade dela há alguns dias. Bom, voltando à
negociação, é do meu interesse aumentar a venda de drogas para fora de
Horn — explica, acariciando minha coxa.
Encaro os olhos do idiota.
— Quero foder a vadia antes de decidir qualquer coisa, essa é a minha
condição — diz, ficando de pé.
Tem o ego inflamado, gosto de homens assim que pensam estar no
controle de qualquer situação.
Aos olhos desse verme sou uma vadia qualquer.
— Por mim não há problema algum, acompanhe o senhor, agora —
manda Fech.
Levanto-me rapidamente.
— Sim, me acompanhe, senhor — peço com um sorriso.
Saímos indo em direção ao corredor que dá acesso aos fundos da boate,
além de ser uma área escura e sem iluminação.
O idiota não espera para puxar meus cabelos e pressionar meu corpo
contra a parede.
Subo as mãos por seus ombros, ele beija meu pescoço, uma das mãos
desce pelo vestido.
Subindo a peça, ele desce a minha calcinha enfiando a mão na minha
boceta.
— Ah.. — solto um gemido perto de sua orelha.
— Tire esse vestido, vadia, fique nua, agora!— manda com a voz rouca.
Beijo seu pescoço demoradamente.
— Faça isso — provoco-o.
Sinto as mais asquerosas na peça, enquanto ele acredita que vai me
foder, desço a mão rapidamente puxando a arma da cintura.
Ele ao perceber o ato e tenta tomar da minha mão, sou rápida e chuto
com força o seu pau.
Seu gemido de dor me arranca um sorriso, dou um soco no seu rosto,
antes de dar uma rasteira.
O sujeito cai ofegante, chuto seu rosto três vezes.
— Quem é você, vadia nojenta? — rosno, entredentes.
Soco a barriga, deixando-o com dificuldade em conseguir falar, coloco a
arma na minha cintura.
Puxo o sujeito, levando comigo até a calçada, ele resmunga buscando ar.
— Você foi... foi... — Tosse ofegante.
— Mandada por alguém — respondo, pisando no seu pé com o salto
alto.
— Vadia desgraçada.
— Quero rasgar a sua carne enquanto ouço seus gemidos de dor.
— Vou levantar... e a matar.
Ofereço um sorriso.
— Você não vai.
Pego a arma da cintura e atiro nos dois ombros, apenas para imobilizá-lo.
— Quem lhe mandou? — pergunta em um gemido alto. — Quem é você,
vagabunda? A vadia de Fech? Meu soldado acabará com ele ao notar minha
ausência, estão lidando com a máfia.
Chuto seu pau novamente em resposta.
— Eu não sou vadia de ninguém, sou uma assassina. Acho que você
deveria ter recusado a oferta de Fech — comento, pegando a arma
novamente. — Estamos sozinhos.
— Vadia!
Miro em sua cabeça.
— Você roubou a Zimmermann — lembro.
— Damien Zimmermann é um alvo fácil após a traição da própria esposa
— brinca, ofegante.
— Prenda a respiração — mando.
Apontando a arma para o brinquedinho do sujeito.
— O que..
— Prenda a respiração ou terá um tiro no seu pau, agora! — ameaço.
— Você vai me matar de qualquer jeito.
— Ver você sem ar por opção é melhor — respondo, atirando no pau.
E logo depois no crânio, dou cinco tiros na cabeça dele, descarregando a
minha sede para matar e torturar alguém.
A figura de Damien sai das sombras, ele se aproxima e vê o verme já
sem vida, mas o seu olhar demora no meu rosto.
— Aqui está o outro — diz Paul, trazendo o soldado que levou um tiro
na barriga, o sangue está sujando a peça.
— Dê para ela, subchefe.
Paul joga o sujeito no chão como um saco de batatas, o soldado está
tossindo sangue.
— Gosto de coisas vivas, esse está com um pé no inferno.
Uso o meu salto para tapar a boca do sujeito, forço e o vejo se debater
com dificuldade.
Aprecio as mãos desesperadas na tentativa inútil de fazer alguma coisa,
acompanho os olhos perderem o brilho.
Não há respiração mais, apenas sangue no meu sapato quando tiro e o
coloco no chão.
Quando encontro o rosto do meu marido, Damien está fixamente com os
olhos em mim.
Estudando os meus traços minuciosamente. É a primeira vez que ele me
vê matando alguém.
Enxergo as sombras da figura sanguinária que ele é se conectando com
as minhas.
Vejo até Paul impressionado com a minha atuação, os dois mafiosos não
estão acostumados com isso.
A invasão ocorreu da maneira que eu queria, estamos no primeiro andar
na direção do verme.
— O que está acontecendo? — pergunta o soldado.
Não lhe dou chance de fazer nada, atiro no estômago do sujeito, ele cai
no sofá, Fech se levanta ao me ver.
— Damien Zimmermann.
Ignoro-o.
— Onde está Morgan?
— Siga nesse corredor, ela foi para os fundos da boate.
— Fique com o sujeito — mando, encarando Paul. — Depois o leve até
lá.
Meus passos são rápidos, adentro o lugar com pouca iluminação, consigo
ouvir vozes, Morgan e o chefe dos soldados poloneses.
— Você roubou a Zimmermann — acusa Morgan.
— Damien Zimmermann é um alvo fácil após a traição da própria esposa
— brinca, ofegante.
Saio do corredor, mas não consigo dar mais um passo.
Morgan está com a arma na direção do sujeito, ele está no chão com
bastante sangue no nariz e boca.
Os ombros foram atingidos, um inseto imóvel.
— Prenda a respiração — manda.
Enxergo a sede de sangue em seus olhos, ela dá o comando, ao passo que
anseia matar o alvo.
Sem obediência, Morgan atira no pau e logo no crânio, várias vezes, sem
errar o local.
Consigo ver a satisfação nos olhos azuis, apreciando o sangue surgir no
chão rapidamente.
Saio do escuro e ela me encara.
Paul se aproxima, trazendo o outro soldado, poderia matá-lo, mas quero
vê-la em ação novamente.
— Dê para ela — mando.
É como satisfazer o desejo de uma criança.
Morgan decide matá-lo usando o salto, pressionando-o na boca, forçando
o polonês a ficar sem ar.
Acompanho todos os traços do seu rosto, a crueldade me foi ensinada
desde a iniciação na máfia. Não temi o caminho que tinha que seguir,
sempre fui chamado pelas sombras.
Ter uma esposa que, assim como eu, respinga crueldade é o que eu
queria, nunca encontrei um vislumbre do que exalo.
Até o momento em que conheci Morgan.
— Vejo que ocorreu tudo bem. — A voz de Fech me faz encará-lo.
Há um receio e cuidado ao se dirigir a mim.
— Quero as informações que lhe deram — exijo.
Uma mão toca em meu ombro, reconheço o toque dela.
— Podemos conversar e beber um pouco, estou com sede.
— Não ficaremos muito tempo — aviso, olhando minha esposa.
Tenho planos para nós dois, assassina.
Eu quero saber tudo sobre Morgan, a sua verdadeira face, os seus passos
antes de ser encontrada por Roman.
Horn foi seu lar por algum tempo e agora posso arrancar o que ela
esconde sobre seu passado.
Não consegui esquecer o medo e o ódio quando Morgan estava delirando
de febre e não me reconheceu.

Voltamos ao hotel, após Fech ganhar sua recompensa, uma grande


quantidade de cocaína.
Paul, Damien e eu entramos no elevador, ainda estou com a peruca, o
meu disfarce.
— Pensei que Sofie estaria conosco — comento, desviando a atenção
para Paul.
Ele guarda o celular no bolso.
— Ela iria, mas começou a vomitar, Sofie está com bastante enjoo —
explica com um leve sorriso. — Sintomas iniciais da gravidez.
— Parabéns — digo.
— Deve voltar para Hamburgo com Sofie, vou ficar mais um dia em
Horn — comunica Damien.
— Como quiser.
As portas do elevador se abrem, revelando o nosso andar, Damien passa
o cartão, liberando o nosso acesso ao cômodo.
— Já sabia da gravidez de Sofie? — pergunto.
— Sabia, sou o primeiro a saber quando há uma gravidez na máfia,
afinal, essa criança faz parte da Zimmermann.
Tiro os saltos e caminho até o espelho, tiro essa peruca e solto o meu
cabelo.
A figura que está atrás de mim me observa, enquanto tiro as
sobrancelhas, não conversamos sobre os acontecimentos dessa noite ainda.
— O que achou da morte dos soldados? — indago, curiosa.
— Gosto de ver o brilho de satisfação no seu olhar ao tirar vidas, mein
fuchs.
— Como eu estava na hora?
Damien segura as alças do meu vestido, quero que ele tire essa peça o
quanto antes.
— Vi as sombras que me rodeiam em você, ambas se conectam. Eu daria
quantos vermes quisesse torturar, só para vê-la em ação novamente —
afirma, beijando meu pescoço demoradamente.
A descrição feita por meu marido chamou toda a minha atenção, deixo
um leve sorriso escapar ao escutar suas palavras.
Ele desce os beijos, arrepiando minha pele, acendendo o desejo que só
ele sabe despertar como um gatilho sendo apertado.
— Onde o polonês a tocou, mein mörder[16]?
Encaro o nosso reflexo no espelho.
— Ele beijou meu pescoço, depois subiu o vestido introduzindo um dedo
na minha boceta. Atirei no pau dele no final das contas, então o fiz pagar
pelo ato.
Damien rasga o vestido, expondo meus seios, a calcinha branca também
é arrancada.
Estou completamente nua.
Viro-me para encontrar seu olhar, a mão grande desce pela minha
cintura, afasto um pouco as pernas, sinto o dedo dele brincando com o meu
clitóris.
— Ele tocou no que me pertence. — A fúria em sua voz me atiça.
— Mas não era os seus dedos ou o seu pau entrando em mim. Meu corpo
não sentiu absolutamente nada, precisei gemer para fingir algo.
Não há como fingir sentir prazer, desde o momento em que conheci
Damien fui puxada para uma conexão física.
Solto um gemido quando ele tira o dedo.
— Quero que tire essa roupa — digo, impaciente.
Minhas mãos vão nos botões da camisa, abrindo com pressa, Damien tira
o cinto junto com a calça e a cueca.
Não há uma roupa cobrindo sua nudez quando faço impulso, rodeando as
pernas em torno da sua cintura.
— Você vai gemer, gritar por mim, para se lembrar somente de que sou o
único a lhe dar prazer — assegura, andando comigo até o recamier do
quarto.
Agarro seu queixo, puxando-o ao encontro da minha boca, beijo-o
desesperadamente buscando seus lábios que esmagam os meus.
Sinto minhas costas no recamier quando o mafioso chupa a minha
língua.
— Sag, du gehörst mir, attentäter. Ich möchte deine heisere Stimme
hören, betrunken vor Vergnügen[17] — exige com a boca no meu queixo
descendo ao pescoço.
— Ich gehöre dir [18]— afirmo em um gemido. — O quão louco você é
por mim?
Preciso saber, desde que acordei do coma, fiquei interessada em saber
até onde ele iria por mim.
— Escolhi você em vez da minha máfia, afirmei qual é o seu lugar.
Passei por cima de tudo para tê-la, sou louco por você, lhe dou as almas que
quiser matar — diz, levantando o olhar.
Damien olha no fundo dos meus olhos, iria puxar seu rosto quando ouço
algumas palavras.
— Ich liebe dich [19]— declara.
Eu fico parada, não consigo abrir a boca.
— Ich liebe dich — repete, tomando meus lábios em um beijo profundo,
retribuo sentindo o impacto do que me disse.
Damien se afasta, a boca dele encontra meu seio, enquanto fecho os
olhos. Ainda escuto essa maldita frase na minha cabeça, diversas vezes.
Desejar loucamente e proteger um homem com a sua própria vida,
permitir que ele seja o único a lhe dar prazer é amor?
— Damien — gemo ao senti-lo morder o bico rígido.
— O quão louca por mim você é? Quero descobrir — provoca.
— Toma o meu corpo inteiro, pois ele é seu.
Fecho os olhos novamente, sou embalada pelo prazer gritante que
arrebata cada centímetro do meu corpo.
— Deite-se — manda ao ficar de pé.
Não consigo pensar direito, pisco algumas vezes, assimilando tudo isso.
Deito-me esperando por ele, Damien se aproxima e afasta as minhas
pernas.
— Frag, mein attentäter[20].
— Ich will deinen Mund auf meiner muschi[21] — exijo.
Meu marido se abaixa e adentra minha boceta com a língua acariciando
o meu clitóris pulsante.
Inclino o corpo para trás, dando-lhe mais acesso. Você é meu.
Abro os olhos, sentindo o corpo queimar, chamo seu nome quando o
cretino chupa a minha boceta.
Damien provoca o ponto sensível, xingo ao ser fodida por sua língua
habilidosa. Toda a tensão desaparece quando estou transando com o
mafioso, como posso não enjoar ficar com ele?
Cada vez é diferente, intenso.
— Goza, quero sentir seu gosto, porra — manda, ofegante.
Mordo os lábios não controlando a respiração, o peito sobe e desce, me
entrego ao prazer, a porra do desejo que me cega.
Choramingo assim que o orgasmo surge, arrebatador e intenso, roubando
qualquer energia.
Damien passa a língua e a boca, arrepiando meu corpo. Sinto as ondas
perigosas do êxtase.
— Filho da puta — xingo, rouca e ofegante.
Ofegante, ele ainda continua na posição que está, agarra minhas pernas e
marca a pele clara com facilidade.
— Ich mag das Rot in deinen Wangen jedes Mal, wenn ich dich
ficke[22].
Absorvo suas palavras enquanto trocamos olhares, os olhos avelã estão
cobertos por desejo.
Eles me chamam. Eu não consigo desviar o olhar.
Levanto-me do sofá recuperando o controle do meu corpo, Damien se
aproxima, afastando os meus cabelos do pescoço.
— Fique de quatro — orienta, agarrando minha bunda.
— Está duro?
Abaixo a mão, alcançando seu pau duro, faço carícias com uma mão a
fim de provocá-lo.
— Pronto para entrar todo em você.
— Quero ouvir seu pau batendo na minha boceta.
Solto seu membro indo até a cama, subo, me ajeitando no meio, os
joelhos e mãos no tecido branco.
Empino a bunda, dando a ele uma visão privilegiada.
Damien está logo atrás de mim, levo um tapa forte na bunda, mordo o
lábio, já sentindo a boceta pulsando.
Sua mão adentra o local, ele acaricia meus lábios sedentos pela transa
violenta.
— Alguém está excitada.
— Entra logo — exijo sem paciência.
Damien ri. O canalha retira a mão.
— Posso ficar horas olhando você nua.
— Adorei saber essa informação, não é o único que gosta de estar no
comando.
Brincar com o desejo dele até vê-lo perder o controle, a ideia me atiça.
Porém, meu o pensamento sujo é interrompido quando ele invade minha
boceta sem avisar. Segurando na minha cintura com as duas mãos, Damien
começa a me foder com força.
Agarro os panos brancos, ele estoca rápido, tornando o entra e sai
intenso e profundo.
Seu pau bate na minha boceta rapidamente, xingo sentindo a umidade,
estou muito molhada, fecho os olhos.
Escutar o ato e senti-lo enterrar o pau duro dentro de mim é delicioso,
empino um pouco mais.
— Minha, empina pra mim, Morgan. Está tão molhada, minha raposa.
Uma de suas mãos puxa o meu cabelo, acabo gemendo alto, perdendo o
controle.
Meu corpo está em combustão, rebolo contra o seu pau, brincando com o
nosso desejo.
Recebo tapas na bunda, peço por mais, quero ficar sem andar direito.
— Me fode, Damien, quero sentir seu pau todo lá dentro — exijo,
faminta.
— Porra! Schluck meinen Schwanz [23]— rosna.
Sorrio ao sentir o suor descendo pela testa, ele não para, Damien invade
minha boceta, seguidas vezes, buscando o prazer.
Vejo as pontas dos meus dedos vermelhos pela força ao segurar firme, o
corpo de Damien se choca com o meu.
Rebolo, instigando-o a ir mais fundo, a velocidade frenética é gostosa,
arfo ofegante, à medida que sinto o ápice, gozo gemendo seu nome.
Sou arrebatada pelas ondas de prazer, minha sanidade está desaparecida,
os espasmos de prazer percorrem cada parte da minha pele.
Ouço a respiração também ofegante, meu marido estoca rápido, o entra e
sai aumenta, o canalha aperta minha cintura.
Damien goza, minutos depois, puxando os meus cabelos, enquanto me
chama roucamente.
Só consigo ouvir ambos buscando ar, ele se deita sobre mim, sinto o
calor do seu corpo se misturar com o meu.
Fecho os olhos sem forças para levantar.

Saio da cama e decido acompanhá-lo em um drinque, pego o copo e


sorvo o líquido em poucos goles.
O sexo funciona como um escape para certas lembranças, mas o que ele
me disse ainda está na minha cabeça.
Gritando para me lembrar exatamente o que Damien disse.
— Está inquieta — comenta.
Coloco o copo na mesa antes de encarar seus olhos.
— Por que disse que me ama?
Vejo suas expressões endurecerem rapidamente.
— É a porra do que eu sinto! Ficou incomodada ao ouvir as palavras? —
questiona, erguendo uma sobrancelha.
— Não consigo tirá-las da minha cabeça. Não estou acostumada com
isso! — Aumento o tom. — Você precisa esperar, até que eu me acostume.
Por acaso seus planos de ficar em Horn incluía...
— Quero saber o que você esconde. Desde o dia que teve alucinação
pela febre, você disse que eu era um homem chamado Ingo — revela.
Fico paralisada, não tenho controle do corpo.
Ouvi-lo mencionar aquele demônio e eu não lembro de ter contato nada
para Damien!
— Está mentindo, não me lembro de absolutamente nada — nego de
pronto.
Ele se aproxima.
— Você disse que ele deveria estar no inferno, Morgan. Além de que,
está cansada de ser abusada, esse homem é a porra do zelador do orfanato?
Ele te violentou.
Damien se aproxima e eu o empurro em um gesto automático de defesa.
Vou até o banheiro, trancando a porta antes que meu marido consiga
entrar. Seguro a porta, olho para os meus pés descalços. Pela fresta da porta
é possível ver a sombra dele.
— Morgan, abra essa porta!
— Não quero saber das merdas das suas perguntas, Damien! Onde está a
porra do dossiê? Não tem tudo sobre mim? — rebato, alterada.
Bato na merda da porta diversas vezes, descontando a raiva.
— Lhe dei um lugar na Zimmermann, escolhi você em vez da minha
máfia. Quero que me diga quem você era, deve isso a mim por fingir ser
alguém que não era — cobra, batendo na porta. — Ninguém vai tocar em
você ou te machucar, nunca mais. Dou a minha palavra, a vida para mantê-
la segura.
Dou alguns passos para trás, passo uma mão no rosto, tirando alguns fios
do cabelo.
Não vou ficar trancada aqui, abro a merda da porta e passo por ele em
passos rápidos.
O desgraçado logo vem atrás.
— Olhe para mim.
— Se não me deixar em paz pego a sua arma e faço você calar a boca!
— ameaço, entredentes.
Fecho o punho.
Damien se afasta não gostando da ameaça, vejo-o entrar no banheiro e
fechar a porta com força.
Sento-me na cama e me ajeito para deitar, puxo o cobertor e cubro o meu
corpo.
Respiro fundo.
A porra da noite já era para mim, ele queria ficar em Horn para saber do
meu passado.
Desligo a luz, afundo a cabeça no travesseiro.
Viro-me de costas para o lado vazio da cama, não quero olhar nos olhos
de Damien. Suas perguntas me confundem.
O silêncio se instaura no quarto, a porta do banheiro abre, vejo-o passar
indo direto para a cama.
Damien se deita, puxa um pouco o cobertor, consigo sentir a respiração
próxima.
Não faço um movimento para virar e encontrar seu rosto. A sua mão
acaba na minha coxa, tenho vontade de arrancar seus dedos um por um.
Esse filho da puta está tentando me irritar? Finjo não ver sua mão, fecho
os olhos com força.
Sinto uma carícia no local, leve e rápida.
Relaxo o corpo, aceitando o seu toque.
Desperto, sentindo beijos na nuca, viro o corpo sonolenta, esbarro em
um corpo. Abro os olhos encontrando o rosto de Damien a centímetros do
meu.
O canalha toma meus lábios, iniciando um beijo que se torna bruto e
ousado, retribuo deixando os braços em torno do seu pescoço.
Ele agarra minha bunda, trazendo-me para mais perto.
Saio dessa posição e fico sentada na sua barriga, encarando os olhos
avelã.
Pego seu membro duro, colocando-o dentro de mim, o canalha senta
comigo, apalpa os seios duros.
Poderia quebrar a cara dele pela noite de ontem, escolho transar, usá-lo
para acabar com a raiva que volta em um estalar de dedos.
— Está nervosa, liebe? — provoca.
— Cala a boca, antes que eu pare. — Faço menção de sair.
Ele sorri em resposta e aperta minha cintura, subindo até os seios.
Cavalgo sobre seu membro duro, usando-o ao meu bel-prazer, só penso na
porra do meu prazer.
Mantemos o contato visual, estou quase gozando com Damien
despenteado, os olhos sombrios de desejo. Enfrentando-me, convidando.
Agarro seu queixo parando um pouco os movimentos, beijo-o, enfiando
a língua na boca dele.
Sou presa por seus braços fortes, a manhã está apenas começando.

Estou saindo do quarto após tomar banho e sentir a barriga roncar. Sofie
me chamou para conversar, certamente dizer sobre a gravidez.
Vou aproveitar esse momento para compartilhar se ela sabe alguma coisa
do motivo de Damien, querendo saber tudo sobre o que já vivi.
Paul e meu marido ficaram no quarto em contato com Aaron para passar
as informações da tentativa tola da máfia polonesa em tentar derrubar a
Zimmermann.
Os soldados nos acompanham até o restaurante do hotel, ficando a uma
boa distância da mesa, pelo menos um pouco de privacidade é consentido.
— Por que demorou para ver a mensagem? — pergunta ao se sentar.
— Estava ocupada, se você veio falar da gravidez perdeu seu tempo.
Paul já contou ontem no elevador, parece que contar para Damien é uma
regra.
Ela revira os olhos.
— Como você é bruta. Queria compartilhar, não sabia que Paul tinha lhe
falado, passei mal essa noite — relata, bocejando.
— Você escolheu engravidar, os sintomas são uma amostra do que está
por vir — provoco-a.
Sofie ri.
— E você não pensa que Damien vai lhe pedir um filho?
Pego a faca da mesa e aponto para ela.
— Não repita isso — ameaço.
— A Zimmermann exige um herdeiro de sangue — explica.
— Não dou ouvidos para essa máfia, se dependesse deles estaria em uma
cova funda ao lado de Roman e Elzo — reitero, jogando a faca na mesa.
Não sigo esses alemães, faço as minhas próprias regras.
— Vamos mudar de assunto, Morgan.
— Ótimo, sabe alguma coisa sobre o motivo de Damien me fazer
perguntas idiotas do meu passado? Ele não tem um dossiê? O filho da puta
quer saber sobre o orfanato.
— Acho que ele quer que você fale sobre isso, que confie nele —
sugere.
— Isso é ridículo, péssima ideia perguntar pra você.
— Paul sabe que eu vim do orfanato e o que passei lá, na Zimmermann
as mulheres confidenciam tudo aos companheiros, não existem segredos.
Detesto essas regras idiotas.
O canalha pode ainda desconfiar de mim e, por isso, quer saber tudo
como uma demonstração de confiança.
Vou mostrar um lugar para ele e arrancar a verdade daqueles lábios por
bem ou por mal.
— O que está tramando?
Sorrio ao ver a curiosidade dela.
— Cortar seus dedos, vamos pedir logo, tenho que ir até um certo lugar.
Encontro Morgan terminando de tomar café com Sofie, a esposa de Paul
conversa animadamente, enquanto a assassina finge escutar.
Aproximo-me da mesa, ganhando a atenção de Sofie.
— Damien, sente-se. Paul deve estar ajeitando as malas para partirmos
— diz, ao se levantar.
— Ele está lhe esperando — aviso, sentando-me no lugar dela.
Sofie se retira, um garçom se aproxima a fim de retirar o prato e a xícara
da mesa.
— Deseja algo, senhor?
— Um café.
Quando estamos sozinhos observo os olhos azuis que agora estão
focados em mim.
— Quero a chave do carro.
— Para onde pensa que vai? — sondo.
Nossa noite foi marcada pela briga onde ela se recusa a confidenciar
tudo sobre o passado.
— Levar você em um lugar de uma vez por todas — responde, irritadiça.
— Pensei que ficaria mais calma depois de acordar em cima de mim —
provoco-a.
Vejo a fúria em seus olhos, gosto de ver a face irritada.
— É melhor não me provocar se quiser ficar com o seu brinquedinho.
— Para onde vamos, liebe?
— Só vai saber quando chegar lá.
Pego a chave do carro e a entrego em suas mãos, o simples contato causa
uma corrente elétrica.
O garçom se aproxima, trazendo o meu pedido, enquanto a observo
meticulosamente.
Temos muito o que conversar, o coma a deixou ausente em muitas
questões.
Estaciono o carro a uma pequena distância do galpão onde fui
encontrada por Roman.
Damien desce do carro, observando o lugar, ele se aproxima, estou logo
atrás.
— Está abandonado há muito tempo, tem uma porta nos fundos — aviso.
Caminho ao redor a fim de encontrar a porta velha de madeira, empurro
e encontro tudo conforme eu deixei.
Algumas roupas estão jogadas em lugares diferentes, parece que foi
ontem que saí naquela noite.
Meu marido pega minha antiga escova de cabelo, há alguns fios ruivos
intactos.
— Roman a encontrou aqui.
— Sim, procure mais coisas e verá que tudo está como eu deixei. —
Aponto para algumas peças íntimas em uma pequena sacola.
Aproximo-me da pequena cama e vejo os panos bagunçados.
— Suas perguntas idiotas são para quê? Ainda desconfia de mim? —
pergunto, encarando-o. — Quer uma prova?
— Você me deve respostas, lembre-se de que fingiu ser alguém que não
era — rebate, ao se aproximar.
— Aquele orfanato era o próprio inferno, desde pequena fui agredida,
era obrigada a fazer tudo o que a vadia da madame Heidi queria. Todos
tinham que fazer o que ela quisesse, nunca fui uma criança boa, então
sempre acaba apanhando ou não tinha refeições — relato. — Como se não
bastasse estar presa, o zelador era um abusador, fui estuprada pela primeira
vez aos quinze anos. Heidi permitia que ele me fodesse, criava situações,
todo dia era a mesma coisa.
Sinto tanto ódio por tocar nesse assunto, alimentar os fantasmas daquele
lugar ao mencionar seus nomes.
— Matou ambos queimados — conclui.
— Já estavam mortos. Consegui a minha liberdade e fui para as ruas,
decidi que faria qualquer coisa pela minha sobrevivência.
E foi o que eu fiz.
— Não posso tocar nos mortos, mas posso investigar para saber se
deixaram parentes.
Encaro-o surpresa.
— Eu quero que faça isso — afirmo.
— Lhe prometi e darei quantas almas quiser — reitera. — Mas antes
preciso dizer sobre os transmites da herança de Roman.
— E a esposa de Elzo? Você falou com o advogado?
— A parte de Elzo já foi entregue para ela. Enquanto estava em coma
pedi ao advogado um tempo de espera, marquei um almoço em Horn.
— Só preciso assinar os papéis?
— Você é a única herdeira, tudo o que o traidor tinha, agora é seu.
Damien se senta na cama, os olhos continuam fixos nos meus.
— Quando vamos voltar para Hamburgo? — pergunto, ao me aproximar
dele.
— Assim que anoitecer, todos os meus assuntos já estão resolvidos.
— Ainda estou irritada com você, então ainda tem um assunto inacabado
— reforço, deitando-o na cama.
Sento-me na sua barriga, minhas mãos vão para o pescoço
Procuro por um vestígio de desconfiança, mas não há nada nos olhos
avelã.
— Quando voltarmos para Hamburgo todos vão saber que matou os
inimigos — diz, subindo a mão pela minha cintura.
Damien captura meus cabelos.
— Não recebi nenhuma recompensa pelo meu trabalho. O que você pode
me dar? Lhe dei uma amostra do quão boa sou no que faço.
— Escolha o que quiser.
— Qualquer coisa? Está jogando comigo — sondo.
Minhas mãos sobem até o seu rosto, seguro, mantendo a atenção dos
seus olhos em mim.
— O que você quiser eu lhe dou.
— Quero o seu passado — digo, beijando seus lábios. — Como se
tornou o chefe, sempre foi conhecido como intocável, ninguém chega até
você facilmente.
Damien morde o meu lábio inferior.
— Em casa lhe contarei.
Casa, é tão estranho ter uma.
Levanto-me, saindo de cima dele, o filho da puta segura a minha bunda
com força.
— Irei tirar sua raiva, liebe.
— Estou fazendo o que você mais gosta, jogando — provoco.
Saio a passos largos, sabendo que seus olhos estão acompanhando tudo.
Eu quero brincar com o diabo.
A volta para Hamburgo foi rápida, tomei um remédio para dormir, não
gosto de voar.
Antes de voltarmos, fomos ao encontro do advogado e assinei os papéis
necessários.
Saí de Horn levando toda a herança milionária de Roman, o desgraçado
queria me dar somente uma parte no acordo. Mas acabou sem nada.
Assim que chegamos, fui tomar um banho e trocar de roupa.
Damien está tomando café quando desço as escadas usando um biquíni,
seus olhos acompanham meus passos até a mesa.
— Vou para a piscina, já está de saída?
— Tenho reuniões essa manhã, enquanto vai aproveitar o sol — provoca.
— Depois de um trabalho perfeito devo ganhar uma folga. O lazer não
está liberado, chefe? Trabalho para você como assassina e não secretária.
Um sorriso presunçoso surge em seus lábios. Damien se levanta,
ajeitando o paletó.
— Posso pedir para matar outras coisas, minha raposa — diz, pegando
uma mecha do meu cabelo. — Não costumo dar folga aos meus
funcionários, mas acredito que serei compensado pelo privilégio.
Semicerro os olhos, ele sabe jogar e manter domínio em um jogador.
— Talvez, se for da minha vontade.
Dou as costas, ainda escutando seu comentário.
— Está tornando o jogo mais interessante, tome cuidado, posso prender
a nós dois sem ter a intenção de soltar.
É exatamente o que eu quero.
— Acho que temos mais em comum do que pensamos — digo em
despedida.

A área da piscina é como um cômodo novo, não tenho muitos momentos


de lazer.
Passo os olhos pelo local, nenhum sinal de um mero soldado, me divirto
quando vejo os membros da máfia torcendo o nariz pela minha presença.
— Senhora, você tem visita — a funcionária avisa, ganhando minha
atenção.
Vejo Sofie com algumas sacolas, ela sorri ao me ver.
— Morgan Muller, a assassina, aproveitando o sol.
Reviro os olhos.
— O que você quer?
— Esqueceu que trabalhamos juntas, além de que, falei sério quando
disse que você é a única pessoa, fora o Paul, que eu tenho.
— O que quer dizer com isso?
— Hoje teremos um jantar para anunciar a gravidez. Somos iguais, sou
uma intrusa para a maioria dos membros da Zimmermann. Comprei dois
vestidos e preciso de uma opinião, você é sincera, quero estar perfeita.
— Uma roupa não vai mudar a opinião deles. Você é esposa do subchefe,
aproveite a sua posição, Sofie — reforço.
Ela respira fundo, limpando algumas lágrimas.
— Tem razão, tem vezes que me esqueço disso. Mas antes, você não me
contou para onde levou o Damien! Conseguiu se entender com ele?
— Contei o que precisava saber, problema resolvido — resumo.
— Um obrigado seria bom, afinal, quem abriu os seus olhos fui eu —
provoca, rindo.
— Mostre a porra do vestido.
— Peguei um verde e um preto — explica, mostrando os modelos.
— Os dois são sem graça.
Sofie arregala os olhos.
— Você vai estar no jantar, também deve usar vestido, Morgan.
— Seus vestidos não mostram um mero decote ou fenda. Agora me fale
do jantar, a Zimmermann inteira estará presente?
— Sim, a gravidez é um momento de celebração entre os membros.
Que entediante.
Acho que o evento será dividido entre o anúncio da gravidez e a minha
participação na morte dos soldados poloneses.
— O que está pensando?
— Meros pensamentos — respondo, ao me sentar na espreguiçadeira. —
De repente, fiquei animada com o evento.
— Você está interessada em algo.
— A minha presença no jantar será interessante, afinal, sou a esposa de
Damien e, ao mesmo tempo, trabalho para ele.
— Ninguém pode mudar a escolha do líder, o fato de saberem o que fez,
vai fazer os membros terem um certo cuidado em tudo o que lhe diz
respeito — avisa, sorrindo. — Você é perigosa, Damien e você incomodam.
Eu sei disso, mas sou capaz de nos proteger.
Passo pela recepção da empresa, as portas do elevador se abrem no
décimo andar.
Aaron está esperando por mim, atrasei algumas pendências com a
viagem em Horn.
— Damien.
Entro na minha sala, sendo seguido pelo conselheiro.
— Como foi a reação de todos quando Morgan matou os soldados? —
questiono.
— Medo principalmente, os comentários são diversos. Foi uma surpresa
para as famílias a facilidade com que ela fez o trabalho de nosso executor.
Tenho plena satisfação ao ouvi-lo.
— Não esperava nada menos do que isso. Avisei que a Zimmermann
mudaria, começando pela minha esposa, Morgan trabalha para mim como
assassina, esse é o lugar dela.
— É essa a revolta e surpresa, você ter dado um cargo para Morgan. A
morte dos inimigos acalmou uma parte que contrariou sua escolha em tê-la
como esposa — explica. — Muitos estão vendo um potencial nessa nova
era da Zimmermann, sempre fomos conhecidos como sanguinários, a máfia
mais perigosa.
— Estamos voltando ao topo, limpar o ato de Roman e Elzo é o principal
objetivo. Quebrei as regras para modificar Zimmermann, a assassina
conduzirá comigo essa nova fase.
— Temos a primeira reunião do dia com um comprador de drogas e
armas, ele inclusive já foi cliente de Morgan — informa, ganhando minha
atenção.
A maldita percorreu a Alemanha inteira criando sua fama sozinha.
Morgan me enlouquece, intriga e fascina, tudo ao mesmo tempo.
É uma mulher com artimanhas escondidas entre seus dedos, exala uma
crueldade igual à que carrego há vários anos.
— Vou entrar na reunião em cinco minutos, antes vamos organizar o
jantar na mansão de Paul.
— Todos esperam que abençoe o bebê nascido em sangue, essa criança
será grandiosa na Zimmermann — assegura.
— Não tenho dúvidas, tudo ocorrerá perfeitamente. A presença de todos
é obrigatória, veja os detalhes com o Paul assim que ele chegar.
— Sim, chefe — diz ao se retirar.
Essa noite será importante, um herdeiro de sangue é celebrado por todos.
É sinal de extremo poder.
Já abençoei crianças destinadas a Zimmermann, porém, somente agora
estou casado.
Tenho em mente quais serão os assuntos que irão percorrer cada canto da
mansão.
Um sorriso malicioso surge em meus lábios, um deles remete
imediatamente a mim.
Gosto de jogos, pois tenho todas as peças em minhas mãos.

— Você vai me dar um vestido? — pergunta Sofie entrando no meu


quarto.
— Os que você trouxe são ridículos. Além do mais, não tenho apreço
por essas coisinhas.
Vou até o closet, passando a mão pelos cabides, tiro um azul-marinho, o
decote em V é aberto e valoriza os seios junto a uma fenda na coxa.
— Tome.
— Ele é lindo, ainda está com etiqueta. Como pode não usar uma roupa
tão linda? — questiona, boquiaberta.
Ela pega a peça observando de perto os detalhes.
— Futilidades não me interessam.
— E o que você vai vestir? Por que não usa branco? — pergunta,
olhando minhas opções de vestidos.
— Quem veio me pedir uma opinião para vestido foi você.
— Você só usa cores fortes, já pensou em rosa? — sugere, sorrindo.
— Nem fodendo, abra a boca para falar alguma idiotice e eu corto sua
língua — advirto.
— Você vai receber perguntas e cumprimentos hoje, não vai arrancar a
língua de todos no jantar.
— Não duvide — afirmo, ao vê-la de olhos arregalados.
Sofie coloca a mão na boca.
— Só de pensar em sangue quero vomitar, Morgan.
— Frescura, você vai ver sangue quando trouxer essa criança ao mundo
— provoco-a.
— Olha eu vou pegar o meu vestido novo e ir para casa, você sabe o que
é ter enjoo? — reclama, colocando a peça na sacola.
Sorrio divertida ao vê-la sair do quarto rapidamente.

Passo a última camada de esmalte preto em minhas unhas, ouço passos


no corredor.
Meu marido acaba de chegar da empresa, meus olhos pousam sobre o
crápula.
Nenhum fio de cabelo bagunçado, não parece que esteve quase o dia
todo fora.
— Sofie falou sobre o compromisso desta noite pelo visto.
— Como foi a reunião? — pergunto, interessada.
— Curiosa? Posso lhe falar mais enquanto tomo banho.
Vejo-o retirar o paletó e a calça, ficando completamente nu.
Damien adentra o banheiro, logo o chuveiro é aberto.
Assopro minhas unhas, pois não quero ter que pintar novamente,
levanto-me do recamier seguindo os passos do meu marido.
Fico encostada na porta, enquanto vejo o filho da puta lavar os cabelos
escuros.
— É do meu interesse? — indago.
— Venha aqui.
Sem paciência, aproximo-me um pouco, ele levanta uma sobrancelha em
provocação.
Damien me agarra pela cintura, fazendo com que nossos corpos se
colidam, borro a unha e ainda molho minhas roupas.
— Filho da puta!
— Um ex-cliente seu esteve em uma reunião comigo para compra de
armas e drogas — revela.
— Quem? Estive diante de muitos rostos.
— Mais novo do que eu, é ruivo e alto.
— Ah, me lembro muito bem dele — afirmo, provocando--o.
Desperto a curiosidade e um incômodo no meu marido, a expressão
perigosa surge em segundos.
— Por quê?
Afasto-me com um sorriso divertido.
— Fiz muitos trabalhos para ele. Estou trazendo os meus fiéis clientes
para a sua máfia. Devo ganhar uma comissão maior, não acha, chefe? —
rebato em resposta.
— Não existem mais clientes para você, somente eu. Escolha uma
roupa para mim, não vou demorar.
— Claro.
Pego uma camisa social vermelha para ele, gosto de vê-lo vestido com
essa cor, o restante tudo preto, calça e o paletó.
A água ainda está caindo quando pego um vestido preto no closet, costas
nuas, os seios ficam valorizados e expostos no decote em gola.
Está quase perfeito, retiro lentamente a calcinha enrolando em um
pequeno bolo.
Pego minha bolsa deixando-a ali.
Quero fazer uma surpresa ao meu marido, e quando ele souber vai ser
tarde demais para impedir.
Ouço a voz dele, perguntando da roupa, aviso onde deixei enquanto vou
passar um pouco de maquiagem.
Damien sai do banho com a toalha em volta da cintura, observo-o pelo
reflexo do espelho.
Assisto meu marido vestir o que escolhi, seus cabelos estão bagunçados
quando ele fica atrás de mim.
Depositando os lábios na pele do meu pescoço.
— Die Nacht hat noch nicht begonnen und ich habe bereits geplant, wie
sie enden wird[24].
— Als[25]? — questiono.
— Ich erzähle dir eine Geschichte, wenn das Kleid zu meinen Füßen
liegt[26].
O seu passado.
— Você me deve o seu passado, agora o vestido ficará no meu corpo.
Meus cabelos são puxados para trás, levanto o olhar, encontrando seu
rosto, a barba pequena em contato com a minha pele quando Damien
assegura.
— Eu não perco um jogo, minha esposa.
— Lhe desafio.
O carro para após o fim do trajeto até a mansão de Paul, o sistema de
segurança foi reforçado especialmente para a ocasião.
Desço do veículo ao lado do meu marido, entramos lentamente,
aproveito para observar os rostos dos presentes.
Não conseguem piscar ou tirar a atenção para qualquer outro lugar.
A mão de Damien está na minha cintura, apertando o lugar levemente,
iniciando um jogo perigoso.
— Bem-vinda ao seu lugar — diz o chefe da máfia Zimmermann.
Não quebro o contato visual quando paro de andar, antes de entrar no
salão onde todos estão reunidos, abro um pouco da bolsa, tiro um presente
que escolhi e coloco no bolso do paletó do canalha.
Quando ele percebe o que é, seus olhos ganham um brilho letal e a
expressão de dominador é despertada.
Dentro do bolso de seu paletó está a minha pequena calcinha de renda.
— O que significa isso? — rosna baixo.
— Estou com calor.
— Não sairá de perto de mim por um segundo sequer — reitera.
— Temos que entrar — lembro, sorrindo.
A mão na minha cintura se tornou uma algema.
Alguns membros decidem se aproximar, vindo em nossa direção, aliso o
braço do meu marido para acalmar a fera.
Um homem de cabelos grisalhos sorri ao me encarar, antes de voltar a
atenção ao chefe.
— Damien, sua esposa é talentosa. Apreciamos o que Morgan fez aos
soldados da máfia polonesa.
— Obrigada, acho que devemos nos sentar, marido — declaro,
encarando os olhos avelã.
Estou ansiando por esse momento.
— Vou apresentá-la aos demais membros, querem vê-la, assassina —
avisa.
— Vamos então.
— Permite mais uma pergunta, chefe? — diz o linguarudo, intrometido.
— Outra? — indago, arqueando uma sobrancelha.
— Faça.
— Estamos ansiosos pelo vosso herdeiro, será uma criança valiosa.
Pego o punhal da minha bolsa em um gesto automático.
— Tenho muitas pessoas para matar antes de pensar em engravidar —
ameaço.
Não dou permissão para nenhum desses idiotas opinar na minha vida.
O sujeito se afasta não gostando.
— Guarde o punhal — Damien interfere.
Lentamente, coloco o objeto na bolsa, é bom dar uma amostra para esses
idiotas que nunca estarei desarmada.
A mão do filho da puta desce, agarrando minha bunda.
— Venha comigo — chama.
Encontro seu olhar, o maldito está jogando comigo.
Atiçando e provocando, quero bagunçar seus cabelos e tirar suas roupas.
Eu sei como ele planeja terminar essa noite.
Andamos juntos, sendo acompanhados minuciosamente pelos presentes,
conforme adentramos o salão.
Tudo está organizado, há algumas mesas com toalhas brancas e detalhes
em rosa, outras em azul.
As escadas estão decoradas com flores, parece que ela está realizando
um funeral.
Volto a atenção para o mafioso ao meu lado.
— Não quero falar sobre a minha vida com ninguém desse lugar, mais
uma pergunta e terão um motivo para falar de mim — alerto.
— Estão todos a olhando, porque sabem o que aconteceu com os
soldados poloneses.
Eles me temem, aprecio saber disso.
— Estou esperando quando vamos sentar.
Damien aperta minha bunda em resposta.
— Não me provoque, Morgan.
— Ninguém verá o que você gosta de comer toda noite — afirmo,
atiçando-o. — Sou cuidadosa.
Vejo o esforço que ele faz para não perder a postura diante de seus
empregados e me arrastar para um ato sujo na presença de todos.
Porém, eu quero que perca.
O tio de Damien está presente no evento de celebração, ele só encara o
sobrinho.
Parece que sou invisível.
— Sobrinho, é bom ver que está tomando novamente o controle da
Zimmermann.
— As regras são mais rígidas, se ficou alguma brecha para se voltarem
contra mim, caiu por terra — reitera. — Cumprimente minha esposa.
Os olhos do velho asqueroso agora percebem que estou aqui.
— Acho que seu tio deveria saber que trabalho exclusivamente para
você — acrescento com um sorriso.
Irrito o idiota, e ele responde, ríspido:
— Eu sei o que você é.
— Todos devem se curvar diante de Morgan, sie ist meine frau[27]. — A
voz de Damien ecoa.
Ganhamos olhares rapidamente, o tom de voz é mordaz.
— Damien — um homem o chama.
Viramos para trás e encontramos um dos membros, lembro-me de seu
rosto, pois ele estava no conselho.
— Morgan, bem-vinda. O ato de sua assassina foi crucial para apagar
qualquer dúvida da liderança da máfia mais temida — elogia, pegando na
minha mão.
Desde quando dei essa liberdade, verme?
Encaro-o, retirando minha mão rapidamente.
— Obrigada, nunca brinco em serviço.
— Ela é o que faltava para colocar a ordem novamente. O que Morgan
fez é apenas arranhar o gelo, minha esposa é responsável por diversos
crimes e trabalhos.
Enquanto observo meu marido falando sobre mim, lembro-me daquelas
palavras durante o sexo.
Sinto a garganta fechar, por que fico repetindo isso na porra da minha
cabeça?
Uma música suave começa a tocar interrompendo meus devaneios, Paul
desce as escadas segurando a mão de Sofie.
— Uma criança nascerá do sangue para ocupar o lugar que lhe será
destinado. Peço a bênção de nosso líder, a maior figura para a
Zimmermann.
Damien me leva para perto das escadas antes de se separar, Paul e Sofie
descem ficando diante dele.
A mão do chefe da máfia pousa sobre a barriga da grávida mais sensível.
— Esse bebê amplia o nosso poder, a soberania da Zimmermann na
Alemanha. Lhe dou a minha bênção, criança nascida no sangue, você irá
trilhar um caminho violento, derramando o sangue de nossos inimigos por
onde passar.
Todos se curvam após as palavras do líder, menos eu.
Sofie sorri ao me encarar.
— Peço a honra de ter o nosso líder e sua esposa como padrinho e
madrinha do meu bebê.
O quê? Ela ficou louca de esconder isso e revelar nessa cerimônia
ridícula? Vou matá-la!
— Nós aceitamos o convite — afirma meu marido.
— Sim — respondo, dando um olhar perigoso, Sofie continua sorrindo.

— Você acha que pode me obrigar a aceitar isso? — rosno ao me sentar


ao lado dela.
Estamos em uma das mesas principais reservada para Paul, Damien e
Aaron.
Aproveito a ausência de curiosos.
— Eu tinha que escolher alguém, bobinha. Você é minha amiga, meu
bebê vai estar protegido com alguém como você que é capaz de tudo por
aquilo que...
— Não sou a porra de uma fada-madrinha! — corto-a. — Detesto
crianças, será que a experiência no orfanato foi apagada do seu cérebro?
Nós fomos deixadas lá, fomos rejeitadas e jogadas ao inferno sem saber
ao menos nos defender.
— Eu amo Paul, nunca vou abandonar o nosso bebê, somente a morte
pode tirá-lo de mim, Morgan. Optei por engravidar porque quero ter o que
todo órfão quer, uma família, eu escapei da morte, o mínimo que posso ter é
uma família! — reforça com lágrimas escorrendo por suas bochechas.
— Acabou o teatro? — rebato, sem paciência.
— Você pode ser uma assassina, mas deu a vida por Damien naquela
mansão. Se não fosse por isso, ele estaria morto, por que você se arriscou?
Ama o seu marido, mas não consegue enxergar porque ainda pensa em
seguir um caminho sozinha. Morgan, você não está mais sozinha, olhe a
porra do lugar que é seu! — pede aos soluços.
— Cala essa boca! — rosno, ficando de pé. — Estou mandando para o
seu próprio bem.
Estou enxergando sangue, o fio do controle está sumindo das minhas
mãos.
Ela se retira rapidamente, sou impedida de ir atrás por uma mão que
captura meu pulso.
Viro-me e encontro o rosto de Fell.
— Não quer matar a mesma mulher que dividiu sofrimento com você no
Anjos da Luz.
Estreito os olhos, desvencilho rapidamente.
— Resolveu fazer uma pesquisa a meu respeito? — sondo.
— Vou ser honesto com você, quando a conheci pela primeira vez
desconfiei de sua origem. Estava se aproximando de mim, conversando
para saber sobre quem você realmente era. — Sorri divertido.
— Está dizendo que sabia que eu não era a filha de Roman? E por que
não abriu a porra da boca?
Busquei um contato com Fell porque tinha a certeza de que fui uma
criança vinda do tráfico humano.
— Todo órfão possui um olhar vazio, vocês não podem oferecer o que
nunca foi lhes dado.
Puxo sua gravata, ameaçando enforcá-lo.
— Retire o que me disse!
— Enxerguei a escuridão pingando em você, Morgan. Deixou um rastro
assim que entrou na vida de Damien, vi o potencial que teria na
Zimmermann, veja, não estou errado.
Empurro-o, fazendo Fell cambalear um pouco.
— Saia daqui agora! — rosno, entredentes.
— Como quiser, assassina.
Sento-me na cadeira, sentindo meu corpo formigar, estou inquieta.
Pego a taça de vinho e sorvo um gole grande, tentando acalmar meus
instintos.
Alguém se senta ao meu lado, antes de mandar sair, vejo que é meu
marido.
— Está corada, vi que Sofie saiu da mesa chorando. O que aconteceu
entre vocês?
— Não queria ser a madrinha daquela criança, ela brinca com a minha
paciência — respondo, irritada.
Respiro fundo, tomando um pouco mais da bebida, as palavras da
desgraçada me torturam.
Quando foi que perdi o controle?
A mão de Damien está na minha coxa, cruzo as pernas não deixando
uma brecha para ele.
— O que está fazendo, Morgan?
— Quero matar alguém, essa cerimônia entediante já me esgotou.
— Ficará ao meu lado — rebate, puxando alguns fios do meu cabelo.
Seu rosto se aproxima, ficando a poucos centímetros, ele está brincando
com o perigo sem pestanejar.
— O que está a incomodando, minha raposa?
Você, o fato de ter salvado sua vida miserável!
— Tudo.
— Mentirosa, farejo a mentira saindo dos seus lábios.
— Quero sair desse lugar! — reforço.
— Prometi contar uma história ainda essa noite. Vamos para casa em
poucos minutos, mas eu quero o que os seus olhos e boca não me contam.
Iria rebater quando sua boca se choca contra a minha, vou para cima de
Damien, montando em seu colo.
— É melhor ser rápido se quiser ainda tocar em mim — acrescento
baixo.
— Está me ameaçando, minha assassina? — provoca.
Sorrio indo até a sua orelha.
— Acho que você não quer que os outros vejam o que é só seu.
Não tenho problema nenhum em arruinar essa ocasião, vejo o líder da
Zimmermann endurecer as expressões.
— Eu mataria todos que a olhassem.
Não há brincadeira, ele está sendo cruelmente verdadeiro. É por isso que
eu... Porra!
— Jogue comigo — convido ao me levantar.

Subo as escadas da mansão com os saltos nas mãos, não suportava mais
ficar naquele lugar.
Assim que entro no quarto, jogo o acessório longe, me aproximo da
mesa e pego o uísque, encho um copo, pois preciso de uma bebida.
Vou até a varanda, observando a noite engolir a luz.
— Demorou — reclamo ao ouvir seus passos.
— Alguém está esperando ansiosa pelo meu passado.
— Você me deve, já sabe o meu. Não deixo dívidas, então ou você
paga...
— Quero morrer — diz, próximo à minha orelha. — De preferência com
você por cima de mim.
Damien beija meu pescoço antes de se afastar, o observo beber uísque
enquanto encara a imensidão da noite.
— Tinha nove anos quando meus pais saíram de viagem e eu fiquei em
casa. Seguia uma lista de tarefas minuciosas impostas por meu pai. Naquele
dia estava chovendo, então resolvi que iria brincar de acertar o alvo no
escritório, até que encontrei a porta entreaberta.
Diminuo a distância que há entre nós ao ficar ao seu lado para escutar a
estória.

É proibido entrar no escritório do meu pai sem a sua presença, mas,


ainda assim, é o lugar mais interessante da mansão.
Ele guarda suas armas, documentos que chamam a atenção dos meus
olhos.
Ando pelo corredor aproveitando a ausência de soldados dentro de casa,
quebrar essa regra pode me custar um belo castigo.
Porém, prefiro fazer alguma coisa do que esperar a chuva passar.
Levanto o olhar, parando rapidamente ao perceber algo de errado, meu
pai jamais deixaria a porta do escritório entreaberta.
Não faço barulho, coloco a cabeça para dentro e vejo um dos
funcionários responsável pela limpeza da mansão usando um grampo de
cabelo para abrir a gaveta.
Ele está de costas para mim, fazendo força, parece desesperado para
pegar o que há dentro.
Empurro cuidadosamente a porta, tiro do meu bolso um punhal.
— Você está roubando do meu pai.
O sujeito se vira bruscamente surpreso, não lhe dou tento de se explicar.
— Senhor....
Enfio o objeto na sua barriga com a força que fui orientado a usar, repito
o ato, várias vezes, até ter certeza de que não errei.
Os gritos do homem ecoam abafados por conta da quantidade de sangue
que cai de sua boca.
— Ninguém rouba o que é nosso! Traidor! — asseguro, deixando o
objeto no chão.
Uma poça de sangue surge, manchando o tapete, chuto a perna e vejo o
corpo não se mexer mais.
Fico um tempo apenas observando o que acabo de fazer, não consigo
tirar os meus olhos do sujeito.
— Está tudo bem, senhor? — Ouço a voz de um soldado.
Viro-me e o encaro, vejo a surpresa brilhar em seus olhos.
— Sim, preciso do seu telefone. O meu pai precisa saber que tentaram
roubar ele — aviso, estendendo a mão.
— Parabéns, senhor, você será um grande líder.
Líder, é isso o que eu quero ser.

— Senti naquele momento que precisava defender o que era do meu pai.
Aquela foi a primeira vez que matei alguém, não conseguia entender por
que a visão do que tinha feito me deixou paralisado — relato, bebendo o
último resquício de uísque. — Somente anos depois descobri que aquilo era
um pedaço da minha escuridão. Ela cresceu muito rápido, nunca a escondi,
queria que todos temessem o meu nome, ser melhor do que o meu pai.
E eu fui.
— Quando assumiu a máfia? — pergunta, encarando-me.
— Dezoito anos, frequentava a faculdade de dia e depois ia para a
empresa. Em noites como essas estava no cassino ou na boate, negociando
ou firmando alianças. Sempre pensei em nos manter no topo, consegui esse
objetivo depois de um bom tempo — explico. — Deixei o casamento por
último, uma promessa, a minha prioridade era a Zimmermann.
— O suor que eu derramei não foi suficiente para o homem que me
auxiliou e o garoto que foi criado comigo traçarem a minha morte. Mas
tudo o que idealizava sumiu quando você surgiu na minha vida.
Eu a escolhi.
Pego em seu queixo com a mão livre, olho no fundo de seus olhos
vazios.
— Roman acabou trazendo algo que eu não tinha.
Ela, algo intrigante e perigoso.
— Uma assassina — conclui com um sorriso divertido. — Disfarçada
para lhe matar, a propósito gostei do seu passado. Tem mais alguma coisa
que eu não saiba?
— Queria ter lhe encontrado antes de Roman — revelo, vendo a surpresa
na face da assassina.
— Por quê?
— De alguma forma tiraria você de Horn e os nossos caminhos seriam
outros. Mas o que seria exatamente igual é nós dois nus em uma cama.
— Presunçoso demais — provoca.
— Sou verdadeiro, você enxerga diferente? — rebato.
— Não.
Morgan não se prolonga, seus olhos voltam a encarar a noite vazia.
De alguma forma, você seria minha liebe.
Acordo com algo fazendo barulho na minha orelha, abro os olhos irritada
com a porra do barulho.
Sento-me na cama e vejo o lado de Damien, vazio.
O barulho continua, enfio a mão debaixo do travesseiro e encontro o
celular.
— O que é? — pergunto em um rosnado.
Odeio acordar com celular tocando.
— Morgan, eu te acordei? — A voz de Sofie me surpreende.
Até que ela demorou para ligar, aposto que deve ter repensado as
baboseiras que me disse ontem.
— O que você acha?
— Queria te ligar de madrugada, mas não queria incomodar o Damien.
Não consegui dormir depois que nós brigamos, olha, desculpa por não ter
falado com você.
— Acordou usando o cérebro dessa vez? Acho ótimo que tenha
percebido o erro que você fez.
Sabia que uma hora ou outra Sofie mudaria de comportamento, essa
gravidez está mexendo com a cabeça dela.
— Estou pedindo desculpas pelas coisas que eu disse ontem. Passamos
pelo mesmo no orfanato, bom, em certos pontos. Só que acabei sendo
impulsiva, mas não me arrependo de ter escolhido você como madrinha do
bebê — adianta.
Reviro os olhos.
— Está testando a minha paciência?
— É o que você ouviu, lhe escolhi. Por acaso você já odeia o meu filho
por ter o sangue da máfia Zimmermann? — sonda.
— Não odeio o seu filho, apenas tenho péssimas lembranças do que
vivemos muitas vezes no orfanato.
Bebês sendo levados pelo tráfico humano, os choros eram altos, algumas
crianças chegavam e já eram escolhidas sem ao menos entenderem seu
destino.
Eu via os bebês quando criança, eles choravam sem parar, aquilo me
atormentava, toda noite acordava sentindo o coração acelerado. Medo, eu
tinha medo de ser a próxima.
Foi ali onde comecei a pensar em me proteger dos adultos, tinha em
mente que precisava conseguir um jeito de sobreviver.
Escapar das mãos do tráfico.
— Morgan, acha que esqueci o que víamos? Não, é por isso que confiei
o bebê para você, quem melhor para protegê-lo do que a assassina mais
temida da Alemanha? Nunca fui capaz de nada sem a sua ajuda.
— Concordo, você não sabe fazer nada sozinha. E em relação ao seu
filho irei proteger o bebê, ser a madrinha, mas nada além disso — reforço.
— Obrigada, Morgan.
— Vou cobrar, nada para mim é de graça — digo antes de desligar na
cara dela.
Jogo o celular de lado, voltando a me deitar, preciso bloquear Sofie e só
desbloquear quando estiver com paciência em responder.

Tempos depois
Abro os olhos quando Damien toca em meu braço, quero xingá-lo por
me acordar.
Ainda está de madrugada, mas Sofie resolveu parir o mini monstrinho
dela no inverno de Hamburgo.
Tudo está congelando, inclusive meu corpo, estou usando o casaco dele
para ser um cobertor.
— Ela já teve essa criança? Será que eu preciso ir até lá para incentivar?
— pergunto sem paciência.
— Nasceu, assim que Paul for assinar alguns papéis iremos entrar para
ver o garoto.
— Ótimo — respondo, querendo fechar os olhos de novo.
Ultimamente, dormir está sendo uma necessidade, ainda mais nesse frio
devastador.
Damien é o culpado por estarmos no hospital de madrugada ao aceitar
ser padrinho do bebê.
— Consegui vê-lo no berçário. — Ouço a voz do subchefe.
Damien e ele conversam, abro os olhos sem poder dormir com a
ladainha. Entrego o casaco para o meu marido, vou até o banheiro, abro a
torneira para lavar o rosto.
Tinha acabado de pegar no sono quando Damien atendeu o celular,
viemos minutos depois para o hospital por sermos os padrinhos. É uma
tradição acompanhar o parto.
Sofie enrolou duas horas para trazer essa criança ao mundo.
Estico os braços incomodada com a cadeira da sala da recepção, sinto o
sutiã apertando minhas costas.
Resolvo abrir o fecho, uso as mãos subindo pelas costas, ao conseguir
encontrar sinto um alívio ao tirar aquele aperto nas costas.
Saio do banheiro e encontro Damien à minha espera.
— Podemos ver o bebê, não vamos demorar, a previsão é que a
temperatura caia mais ainda — alerta.
— Vamos.
Ando atrás dele pelo corredor até o berçário onde a enfermeira traz o
bebê em um pequeno cobertor azul.
— Meu filho Dener — diz Paul, pegando-o com cuidado.
Observo essa coisa pequena e indefesa.
— Segure — pede o subchefe.
Merda de tradições, nunca segurei um bebê!
Paul me entrega e eu tenho dificuldade em saber segurar, olho o rosto e
vejo o monstrinho abrir os olhos lentamente.
Prometi para Sofie que essa criança está sob minha proteção, ninguém o
levará, cumpro minhas promessas.
Precisarão arrancar minhas mãos para que algo aconteça com esse bebê.
Voltamos para casa ainda sob o escuro de Hamburgo, não demorei a
voltar a dormir.
Mas dessa vez não foi o celular que me despertou, sonhei que estava
comendo um delicioso Eisbein[28] bem assado com chucrute.
Abro os olhos e vejo Damien dormir ao meu lado, sento-me na cama,
sentindo a boca cheia d'água só de pensar no sabor crocante.
Jogo o cobertor de lado, ainda não amanheceu e eu preciso comer isso,
não vou aguentar esperar.
— Onde você vai, Morgan?
— Na geladeira, quero comer eisbein com bastante chucrute.
— Não vai encontrar nada na geladeira, deite-se.
Viro-me, encontrando seu olhar, me aproximo dele com um sorriso
perigoso.
— Eu quero comer essa porra agora! Damien, estou falando sério, eu
estou faminta.
Ele se senta.
— Espere amanhecer, ainda é de madrugada, não vai aguentar comer —
sugere.
Pego em seu pescoço.
— Cadê a porra da cozinheira? Se você não me der essa comida vou
arrancar o seu pau agora.
Vejo-o sair da cama em busca do celular, acompanho seus passos para
saber se ele está mesmo fazendo o que pedi.
— Busquem a cozinheira, estou mandando buscá-la! Dou quinze
minutos para realizarem o trajeto — reitera, desligando o aparelho.
— Vou descer para esperar — aviso, pegando um cobertor para levar
comigo.
— Onde pensa que vai, Morgan? Vai esperar ela assar a porra do joelho
do porco? — questiona, irritado.
— Você vai esperar comigo na sala — corrijo, puxando o cobertor da
cama.
Arrasto o pano enquanto vou em direção às escadas, não demoro a ouvir
os passos dele logo atrás.

Espero pela cozinheira na sala de jantar, já está amanhecendo e Morgan


não voltou a dormir.
Não sei de onde veio essa necessidade de comer esse prato com
urgência.
— Senhor, acabei de tirar do forno — avisa a cozinheira.
Precisei trazê-la rapidamente antes que a assassina tocasse fogo na casa.
— Trate de esfriar e traga imediatamente.
Ela se retira, saindo com pressa.
Volto para a sala e vejo minha raposa impaciente, ela se levanta assim
que me vê.
Está usando uma camiseta, alguns pijamas estão pequenos, percebi há
algum tempo o quanto seus seios estão maiores, assim como o quadril.
— Já está pronto?
— Só falta esfriar, não vai queimar a garganta. Comemos isso semana
passada, e você não comeu tudo o que estava no prato — rebato.
Estudo suas expressões, a raiva torna ela ainda mais cruel e perigosa.
— Você vai me assistir comer tudo sem lhe dar um mero pedaço. É
melhor estar gostoso ou vocês vão me pagar por isso — ameaça, passando
rapidamente por mim.
Eu duvido que coma tudo, é impossível.
Sigo Morgan, vendo a funcionária trazer o prato com cuidado, ela serve
a assassina.
Peço um café, sinto que não vou dormir de novo.
Sento-me na cadeira e percebo que Morgan não usa talheres, ela mastiga
a carne como se estivesse de jejum há meses.
Degusta o eisbein sem demora, a boca e as mãos estão sujas. Morgan não
olha para mim.
Tomo o café sem conseguir tirar os olhos da cena que estou presenciando
no alvorecer.
Morgan termina chupando os dedos, um por um.
Só restaram os ossos. Tem algo por trás disso, observo os olhos azuis
pousarem sobre mim.
— Preciso de refrigerante, estou com sede.
— Morgan, quando foi a última vez que menstruou? — pergunto, já
juntando as peças.
— O que foi? Estou com fome e não de TPM.
— Talvez esteja grávida, não na TPM.
— Não posso mais comer, porra? — rosna, entredentes. — Está igual
aos velhos do conselho, inventando baboseiras idiotas.
— Você está... jogue comigo, então — proponho.
Evito dizer que ela está com mais corpo, capaz da maldita jogar a faca
para me cegar.
— Se eu ganhar e provar que está errado, vai fazer o que eu quiser
durante um mês. Caso esteja certo, se contente com essa criança!
— Feito, vá se limpar. Vou providenciar os testes de gravidez, me espere
no banheiro e não faça xixi até eu voltar — ordeno.
Fico de pé, observando-a sorrir presunçosa.
— Compre a farmácia inteira, vou adorar ver a sua cara quando perder o
nosso joguinho. A minha menstruação é desregulada desde sempre, idiota.
Sorrio sem me conter com a sua confiança.
— Está esquecendo que nunca perco, minha raposa.
Estou acostumado a ver mulheres no processo de gravidez.
Morgan está esperando um filho meu.

Fecho a porta do banheiro vendo as embalagens, o filho da puta comprou


quatro.
Damien está testando a sorte com a minha paciência, se estivesse grávida
seria a primeira a perceber.
Querer um joelho de porco na madrugada é motivo de gravidez?
— Sabe como fazer? — provoca perto da porta.
— Vou cortar o seu pau e usar o sangue.
— Faça logo, estou esperando, mein fuchs.
Vou socar esse negócio cheio de xixi na boca dele.
Pego uma embalagem e tiro o teste, estou confiante, Damien vai fazer
tudo o que eu quiser por um maldito mês! Na verdade, posso aumentar para
dois.
Resolvo fazer o teste de uma vez, espero alguns minutos, quando vejo
dois risquinhos arregalo os olhos.
Porra!
Vou fazer outro, Sofie não conseguia ficar em pé, qualquer coisa a
deixava enjoada.
Não estou sentindo nada disso!
— Já deu tempo de fazer os quatro testes.
— Cale a boca!
Estou comendo bastante, porém, é apenas isso.
Escolho outro teste, e o resultado é idêntico ao primeiro, pego os dois e
saio do banheiro em passos rápidos.
Arremesso na direção de Damien.
— Desgraçado!
— Lhe disse que esse seria o resultado — assegura com um sorriso
presunçoso.
— Devia fazer você comer esses testes! Se acha que vou ser igual a
Sofie que distribuía sorrisos e aceitava presentes dos membros da sua máfia
está muito enganado. Ninguém vai tocar em mim, não sou a porra de um
animal exótico carregando um filhote! — reitero.
Viro as costas, indo para a cama, deito-me e tento imaginar que tudo isso
é um pesadelo.
— O único a tocar na sua barriga serei eu, ninguém vai mexer com você.
Levanto o olhar e vejo o filho da mãe caminhar em minha direção.
De repente, quero enfiar o dedo na garganta e vomitar todo a deliciosa
refeição.
A mão de Damien toca a minha barriga, fico observando o gesto.
Não sinto nada se mexer.
— Essa criança não é um troféu para mim. Mesmo se não estivesse
grávida não mudaria absolutamente nada, mas agora estou ansioso.
Ansioso?
— Quem está carregando essa coisinha sou eu.
— Vou proteger vocês, liebe — promete.
Sinto a porra do meu coração acelerar, não sei se o agarro ou se enfio o
punhal no seu peito.
— Se souberem dessa gravidez vou receber o dobro de atenção dos
nossos inimigos. Vai fazer o anúncio hoje? — pergunto, intrigada.
— Não, somente quando sua barriga ficar maior.
Ele acaricia o local.
— Como você diz, nada vai mudar.
Sento-me rapidamente.
— A sua proteção e os cuidados não são negociáveis — avisa.
Resolvo desafiá-lo.
— Ah, é?
— Estou falando sério.
Levanto-me, mas meu braço é capturado por sua mão, o idiota cola
nossos corpos.
— Não ouse ir contra as minhas regras.
— Vai me punir? Gravidez não é doença.
— A sua segurança é o que me importa.
Ótimo, agora o lado protetor vai interferir em suas escolhas. Minhas
mãos rodeiam o seu pescoço.
— Não quero que me esconda nada.
— Saberá de tudo ao seu redor, não há segredos entre nós dois. Es ist
furchtbar schöner [29]— declara, olhando meus traços.
Bonita?
Que merda está acontecendo que não consigo controlar os malditos
batimentos do meu coração?
Seus lábios se aproximam dos meus.
— Ich glaube, ich liebe dich [30]— termino de dizer sem acreditar que
acabei de mencionar a palavra liebe.
Eu jamais senti isso.
— Ich glaube auch, dass du mich liebst [31]— diz com um sorriso
presunçoso.
Calo sua boca antes de qualquer outra pergunta, nós nos beijamos
ferozmente, sinto o meu corpo sair do chão.
Damien me carrega de volta para a cama, ele se senta comigo em seu
colo.
As mãos seguram minha cintura enquanto puxo seus cabelos,
bagunçando-os.
— Mein[32].
Encaro os olhos avelã, são brilhantes e letais. São meus, ele é a primeira
coisa que eu tenho.
Nunca tive nada para chamar de meu.
Me remexo em seu colo, provocando-o seu membro.
— Ich möchte etwas[33].
Puxo o laço do roupão dele, revelando seus músculos.
— Ich höre immer noch deine Worte in meinem Kopf. Was willst du,
mein fuchs[34]?
— Du[35] — exijo.
Sua mão adentra a camisa que estou usando, puxando a calcinha, a peça
é rasgada.
O filho da puta coloca um dedo, sentindo o quão estou molhada.
— Ich werde jeden Tropfen meines Spermas in dich verschütten,
während ich deine rosa Muschi ficke[36].
Solto um gemido rouco.
— Fick mich jetzt[37]!
— Fragen sie höher. [38]
Levanto-me da cama precisando de um banho quente, Damien desceu há
alguns minutos para o escritório, atrasei a reunião do meu marido com o
aliado francês.
Bocejo, sentindo o meu corpo com preguiça, não posso ficar enrolando
nessa cama, estou dormindo muito rápido.
Agora entendo o motivo.
Adentro o banheiro, deixo a banheira encher enquanto pego alguns
produtos, minha cabeça não consegue apagar o momento em que Damien
tocou a minha barriga.
Fiquei presa, observando a cena sem conseguir tirar os olhos.
Mergulho a mão na água, aprovando a temperatura, quero ficar com a
pele enrugada.
Fecho a torneira, entro na banheira com cuidado para não derramar
muita água.
A decisão de Damien em não falar nada ainda é o melhor, não devo
satisfação para ninguém.
Não sirvo a Zimmermann, eu farejo o medo deles, assim como a repulsa
pela minha existência.
Sei exatamente qual será a reação de todos, sou neste momento a coisa
mais valiosa da Zimmermann.
Apesar de que consigo matar quem interferir no meu caminho sem
dificuldade alguma.
Haverá uma fila de corpos, um atrás do outro, o sangue vai ser a
decoração junto aos órgãos espalhados.
Desço o olhar para a minha barriga, nunca cogitei a ideia de engravidar,
eu não sou como as mulheres que essa máfia está acostumada.
Porém, eu quero proteger o monstrinho ou monstrinha que está aqui
dentro, essa criança não vai sofrer um arranhão.
Ouço o celular vibrar ao longe, deve ser Sofie, mas não vou sair do meu
banho para atender. Pego o sabonete líquido espalhando pelo corpo, o sexo
está me acalmando, mas o efeito não dura muito tempo para o azar de
Damien.
Não vou enrolar muito tempo, já estou sentindo fome novamente.
Foda-se se estou comendo bastante, vou escolher algo diferente para
comer no café da manhã.
Se não tiver a opção que eu desejo, faço o canalha ir comprar.

Mergulho um pedaço da maçã no mel e chocolate, depois levo até minha


boca, saboreio o gosto enquanto mastigo.
Cortei a maçã e fiz uma mistura com mel e ganache de chocolate.
Quando vou colocar outro pedaço ouço a voz de Damien, levanto-me e
saio da mesa rumo à entrada principal.
A porta está aberta, Paul e Aaron estão aqui, Sofie está saindo do carro
com o pequeno Dener em seus braços.
Mas a surpresa é ver o executor da Zimmermann se aproximar com um
sujeito ensanguentado.
— O quero respirando com dificuldade — diz Damien.
— Vou pegar o meu punhal para resolver isso — aviso.
Todos me encaram, enquanto mastigo a maçã lentamente.
— Você não vai — corta Damien.
Levanto uma sobrancelha.
— Como é?
— Temos outras prioridades, Morgan.
— É o meu trabalho — rebato, mordaz.
— Vou lhe dar algo muito mais prazeroso.
— O quê? — sondo.
Damien sorri.
— Uma das almas que lhe prometi, vou cumprir essa promessa, mas
depois.
— Feito, o que vamos fazer, então? Posso terminar de comer?
Volto a entrar na mansão.
— Morgan! — chama Sofie.
Viro-me em sua direção e a vejo entrar com Dener.
— Parabéns.
Ela me abraça com cuidado.
Reviro os olhos.
— Chega, mantenha a sua mão longe da minha barriga, também.
— Segure o seu afilhado, tenho um presente. Quando Paul me contou
quase não acreditei, nossos bebês vão ser muito próximos — comenta,
entusiasmada.
— Você vai ser a madrinha, essa criança vai precisar aprender coisas que
eu não vou conseguir ensinar.
— Eu aceito com todo o prazer, vou buscar o primeiro presente que eu já
trouxe.
Ela me entrega Dener, ele dorme tranquilamente sem se incomodar com
os meus braços.
— Parabéns, Morgan. É um momento de celebração para todos nós, uma
criança do sangue Zimmermann — felicita Paul ao se aproximar com o
conselheiro.
— Essa criança terá um gênio forte, estou curioso, assassina para o
nascimento do herdeiro principal — comenta Aaron com um sorriso.
— Obrigada, vieram para tomar café e me dar os parabéns? Pensei que o
anúncio seria depois.
Olho Damien se aproximar e, em seguida, ele para ao meu lado.
— O anúncio para a Zimmermann e os outros membros será apenas
quando estiver com mais barriga. Porém, o conselheiro e subchefe podem
saber com prioridade.
— Meu primeiro presente como madrinha. Parabéns, Damien, Morgan
— deseja Sofie ao se aproximar com uma pequena caixa branca.
Entrego o bebê, pego o presente desembrulhando, encontro um pequeno
ursinho.
— Vou receber presentes dos três? — indago.
Eles não vieram apenas para felicitações.
— Na verdade, há uma tradição na minha família. Onde ambos
participam, mesmo não gostando dessas regras, preciso fazer.
— Sua família tem uma tradição para grávidas? O que eu preciso fazer?
Não estou gostando disso.
— Vamos descobrir o sexo hoje, mein fuchs. A cerimônia será realizada
na área de lazer da mansão.
— Vocês vão abrir minha barriga para ver o que tem dentro? Não existe
a possibilidade de descobrirem — desdenho, rindo.
Isso é ridículo, eles são mafiosos e não videntes charlatões.
— A cerimônia existe desde os primórdios na família Zimmermann,
nunca erraram o sexo do herdeiro ou herdeira — diz Aaron.
Pisco surpresa.
— Você é sortuda, vai saber sem precisar ir ao médico — brinca Sofie.
— Fiquei curiosa até fazer o ultrassom.
— É verdade? — pergunto ao meu marido.
Damien pega em minha cintura.
— Sim, vamos saber com antecedência. Estou ansioso pelo resultado.
— O que faremos nessa cerimônia? — questiono, esperando algo
totalmente sem nexo.
— Derramar o nosso sangue em três folhas de papel, se o sangue ficar
parado é um menino, caso desça é uma menina.
— Vamos fazer o quê? — rebato sem acreditar. — Quero fazer isso para
ver se funciona, nunca ouvi falar nisso.
Sofie também fica bastante surpresa.
— Nem eu.
Damien ri, enquanto andamos indo aos fundos da mansão.
Confesso que estou curiosa para saber, se isso nunca errou com nenhum
bebê da família dele vamos saber quem está na minha barriga.
Um menino ou uma menina.
Sofie amamenta o pequeno, enquanto três folhas são colocadas na mesa
ao lado das espreguiçadeiras.
Aaron e Paul se sentam.
Damien se aproxima com um punhal mais pequeno, ele corta a palma de
sua mão, um corte rápido e pequeno.
Repete o ato comigo, juntamos as mãos no primeiro papel que pertence a
ele, o líder da máfia.
Fazemos o mesmo nas outras folhas, observo surpresa o sangue descer
nas três folhas.
Não teve um resultado contrário.
— Quero fazer mais uma vez — digo, precisando de uma quarta prova.
Meu marido pega mais uma folha, o sangue desce na folha também.
— Es ist ein fuchs[39] — diz próximo da minha orelha.
A mão pousa na minha barriga.
— Uma menina, desejamos que a criança nascida no sangue triunfe
assim como toda a sua geração — dizem o conselheiro e subchefe em
uníssono.
— Morgan, você precisa começar a pensar no quarto dela, o nome! Vou
te ajudar em tudo isso — adianta Sofie ao se aproximar.
— Mein kleiner fuchs[40].
Encaro Damien.
— Não tem garantias de que ela vai ser ruiva — desafio.
Pode nascer com os cabelos escuros e os olhos dele, uma cópia para me
lembrar o pai canalha dela.
— Ela vai ser ruiva, igualzinha a você. Geniosa como a mãe, claro que
vai ter um pouco da minha personalidade — afirma, convicto.
— Morgan, ela vai ser ruiva. Acho que todos concordamos aqui, amiga.
— Sua mãe era ruiva, a família de Katarine tem a genética bastante
presente — revela Paul. — Damien não erra nunca, os palpites dele se
concretizam sempre, Morgan.
Não sabia sobre esse detalhe da minha mãe, genética e família são duas
palavras desconhecidas para mim.
— Tudo será rosa — brinca Aaron.
Reviro os olhos.
— Não, já estou ficando enjoada só de imaginar um quarto todo pintado
de rosa.
— Morgan, é uma bebê — repreende Sofie.
— Vou decidir as coisas sem a sua opinião.
Ela abre a boca boquiaberta.
— Você vai fazer o quê? Sou a madrinha, não é justo.
— Chega desse assunto, quero saber sobre a reunião com o Magnon —
mudo de assunto.
Se eu não parar Sofie ela vai tagarelar o restante do dia.
— Houve uma troca de poder na Polônia com a morte do chefe polonês
— revela Damien. — Estamos atentos aos próximos passos.
— Quem assumiu?
— O filho mais velho do chefe, um sujeito que gosta de atacar —
complementa Paul.
— Magnon e Damien são os principais alvos da máfia polonesa —
Aaron reitera.
Encaro meu marido.
— Vamos estar atacando a Polônia aproveitando o momento frágil,
Magnon e eu mandaremos nossos melhores homens.
Acompanho nossas visitas inusitadas irem embora, Damien se senta em
uma espreguiçadeira, tomando um gole de uísque e depois deixa o copo no
chão.
Aproximo-me sorrateiramente, sento-me de lado posicionando a minha
bunda bem no pau dele.
— Onde estão as informações completas que você não me deu? — exijo.
Damien puxa meus cabelos com a mão livre.
— Está me atiçando?
Sorrio enquanto me remexo lentamente, ele se aproxima e fica a
centímetros do meu rosto.
Passo a mão em sua face, capturando logo depois.
— Quem você encontrou? — reforço.
— Ingo tem um irmão mais novo, Stein é um político corrupto que
entrou em contato com Aaron, possui interesse em se encontrar comigo
para uma negociação — explica.
— Um político? Pensei que Ingo não tinha onde cair morto.
— O zelador era problemático, escolheu sair da vida da família sem
voltar nunca mais. Aceitei um jantar com sua vítima amanhã, na casa dele
— avisa com a boca no meu pescoço e, em seguida, sobe até o meu queixo.
— Você vai ter o que prometi, mein fuchs.
— Vou precisar esperar vinte e quatro horas? — reclamo.
— Antes de vê-la satisfazer seu desejo de vingança. Temos prioridades,
marquei sua primeira consulta médica amanhã bem cedo, a doutora
acompanhará a gestação.
Reviro os olhos.
— Quero fazer um acordo, quando essa criança nascer voltarei ao meu
trabalho sem empecilhos — proponho.
— Nunca irei tirar o que você é, em alguns meses estará de volta.
Beijo seus lábios, Damien segura em minha cintura com as duas mãos,
rodeio seu pescoço, puxando-o para mim.
Mordo seu lábio inferior, mantendo nossos olhares.
— Escolha um restaurante, vou levá-la para almoçar.
— Está tentando me comprar? — questiono, arqueando uma
sobrancelha.
— Seus desejos são peculiares, liebe, quero satisfazer todos.
— Posso te recompensar por isso depois de ter o que eu quero —
adianto, mordendo sua boca. — Mais alguma coisa que eu não sei?
— Vamos para Sylt depois da visita ao político, temos que começar a ver
o quarto e outros detalhes da kleiner fuchs[41].
— Por mim está tudo ótimo, agora eu quero pesquisar um restaurante.
Levanto-me e o encaro.
— Espero ser recompensado — lembra ao me seguir.
— Quando eu receber tudo o que prometeu, Damien — reforço.
— O que eu não faço por você.
Sorrio sem me conter. Ele sabe que a resposta é tudo.
Acordar Morgan tão cedo é perigoso, vejo seu humor nada amável
desperto.
Ela se veste depois de tomar banho, acompanho mein fuchs pentear os
cabelos ruivos.
— O que você quer comer? Vou pedir para trazerem pra cá — pergunto,
parando atrás dela na penteadeira.
— Quero morangos.
— Somente isso? Vou pedir um suco.
— Antes preciso da sua ajuda com a minha sandália — manda.
Vejo o par perto da cama, ajudo Morgan a calçar, ela está usando um
vestido preto na altura das coxas com decote em V em destaque.
A assassina se levanta, deixando a pequena calcinha da mesma cor
aparecer.
— Está usando a que eu mais gosto por um motivo.
— Quero você assim que essa consulta ridícula acabar.
Aproximo-me capturando-a pela bunda, trazendo seu corpo para mim.
— Adiarei a reunião que tenho — asseguro, beijando sua orelha. —
Acordou com desejo?
— Sim, poderia estar na cama comigo.
Afasta-se irritada, ela não gosta de ir ao médico.
Parece uma criança emburrada.
— Vou pedir o seu café da manhã, será uma consulta rápida.
— Espero que seja, não estou com muita paciência para esperar e muito
menos responder perguntas idiotas — reforça.
Saio do quarto, sentindo o quão irritadiça Morgan acordou, mando
mensagem para Paul para adiar a reunião que tenho no fim da manhã.

Chegamos ao consultório sem dificuldade no trajeto, dois casais estão na


sala de espera.
Morgan se senta no sofá abrindo sua bolsa, tirando o punhal usando
como um espelho.
Percebo um olhar assustado de uma das grávidas, encarando-a com
receio.
— Guarde seu acessório na bolsa, vai chamar atenção e assustar as
pessoas — alerto.
Ela sorri maldosa.
— Agora que ficou divertido — reclama. — Já te falei que detesto
médicos? Sempre busquei me virar sem auxílio deles.
— Mas nesse caso precisamos fazer o acompanhamento.
Morgan revira os olhos, mas guarda o punhal dentro da bolsa.
— É o primeiro filho de vocês? — pergunta uma outra mulher.
Morgan encara, mas não dá o trabalho de responder.
— Sim — digo, escondendo o sorriso.
Não somos o típico casal comum e jamais seremos.
Mein fuchs fica inquieta tentando encontrar uma posição, a vejo tocar no
sutiã querendo arrancar.
— O que foi? Está se sentindo mal?
Ela não apresentou sinais comuns por enquanto, apenas um aumento de
apetite para comida e sexo.
— Meus seios estão doendo, quero arrancar essa porcaria — diz ao
levantar.
Acompanho-a até o banheiro, a ideia dela tirar a peça me incomoda
demais.
— Vou abrir o fecho, mas continue com ele até o fim da consulta.
— Não é você quem está sentindo dor, idiota! Vou tirar, me ajuda —
avisa.
— Precisa comprar um número maior, assim como usar mais vestidos
para não apertar a bebê.
Ajudo Morgan a se livrar do sutiã, os seios dela ficam marcados no
vestido. Voltamos para a sala de espera, vejo um dos acompanhantes
encará-la sem disfarçar.
— Tire os seus olhos se quiser enxergar — rosno.
A esposa bate na cara dele e sai chorando, o imbecil vai atrás receoso da
ameaça que fiz.
— Vocês não sabem o que é atiçar uma mulher.
Encaro o rosto dela, vendo os olhos azuis acompanhem meus
movimentos.
— Sabe que somente tenho olhos para você, está melhor?
— Um pouco, mas estou ficando enjoada com essa demora — reclama,
fechando os olhos por um breve momento.
— Morgan Zimmermann — chama a médica.
Sigo-a até o consultório da doutora Mia, ao fechar a porta, ela se
acomoda na cadeira diante da mein fuchs.
— Senhor Zimmermann — cumprimenta com sorriso e um olhar
demorado.
— Doutora Mia, conheça minha esposa — apresento ambas.
Vejo Morgan analisá-la, desconfiando de algo, ela não deixou passar
despercebido a atenção que recebi.
— Muito prazer, Morgan. Agora me conte como está sendo a gravidez?
Realizou um exame de sangue ou um teste de farmácia?
— Farmácia, estou ótima — corta sem dar detalhes.
— Ela está com um apetite maior para a comida, os seios estão doendo
também — explico.
— É bastante normal, algumas mulheres acabam tendo náuseas, enjoos,
já para outras o apetite muda.
— Tenho certos desejos como passar a faca em certos olhos que gostam
de encarar o que me pertence — comenta com um sorriso cruel.
Mia engole em seco, sendo surpreendida com tais palavras.
— Vou passar alguns exames para você fazer como, por exemplo,
ultrassom e sangue. A sua alimentação deve ter um acréscimo de legumes,
verduras e frutas, vou receitar vitaminas.
Encaro Morgan passar a mão na testa inquieta, ela se levanta
bruscamente.
— Morgan? — pergunto.
Ela vomita no tapete e nos saltos de Mia, seguro-a tirando os cabelos
para longe de seu rosto.
— Coitadinha, está enjoada. Você tomou café da manhã? — pergunta
Mia com um sorriso forçado devido à situação.
— Sim, de repente senti um forte enjoo — alfineta minha raposa.
— Vamos ver a sua pressão para ver se está tudo bem.
— Não preciso que veja nada.
— Calma — oriento.
— Estou enjoada, podemos ir? Acho que é esse consultório.

Entro no carro, acho melhor que um soldado dirija, enquanto fico com
ela no banco de trás.
— Está pálida — digo.
— Você fodeu essa médica?
— Não, está com ciúme — provoco-a.
— Ela estava comendo você com os olhos esbugalhados acompanhando
seus movimentos — rosna, entredentes. — Está tentando me enrolar,
Damien?
— Nunca fodi a Mia, sabe que não tenho motivos para mentir.
Morgan respira fundo.
Coloco sua cabeça no meu ombro, ela fecha os olhos, abro um pouco a
janela para correr um pouco de ar.
— Esse maldito enjoo está insuportável.
— Precisa relaxar, está deixando alguém agitada — aviso, tocando sua
barriga.
— A monstrinha sentiu a mesma coisa que eu pelo visto.
A personalidade forte já está sendo gerada desde cedo, mein kleiner
fuchs [42]dará um trabalho ao herdar o nosso gênio.
— Ich gehöre dir, niemand wird das ändern [43]— digo em sua orelha.
— Schließe deine Augen[44], mein fuchs.[45]
Beijo seu pescoço, deixando o nariz nos fios ruivos, inalando seu cheiro.
O carro sai em movimento, enquanto a mantenho perto de mim.
Minha arma mais letal, somente comigo é possível enxergar as barreiras
caírem.

Entro em casa, indo diretamente para o banheiro, escovo os dentes até ter
certeza de que não há mais vestígio do vômito.
Tiro o vestido e o substituo por uma das camisetas sociais de Damien, ao
sair do banheiro resolvo ligar a televisão em busca de me entreter.
Meu marido entra no quarto, trazendo um chá fumegante em suas mãos,
a bebida não me agrada em nada.
— Beba.
— Vou deixar esfriar, que horas vai para a empresa? — pergunto,
sentando na cama.
— Onze horas, tenho duas horas com você.
Ele deixa o chá na mesinha perto da cama. Damien tira o paletó e a
camisa, revelando os músculos.
— E o restante das roupas? — questiono.
— Está fraca.
Não estou cem por cento, mas ele não precisa saber disso.
— Tolice.
Damien se deita, fico por cima de seu corpo, abro dois botões da camisa
que estou usando.
Deixando a pele exposta.
— Quando estiver melhor, ainda está pálida — reforça, dando um tapa
na minha bunda.
Reviro os olhos.
— Nosso jantar ainda está de pé, por nada no mundo quero adiar o
gostinho de matar aquele verme.
— Não vou adiar, sei o quanto está desejando isso. Agora tome o chá,
Morgan — manda ao se sentar.
Pego a xícara assoprando o líquido, espero para tomar um gole, o gosto
ruim me dá arrepio.
— Isso é ruim.
— Tome — orienta.
— Você me deve a porra de uma transa forte por me obrigar a tomar esse
negócio.
— Levarei você para Sylt após o jantar dessa noite — avisa.
Olho-o curiosa.
— Por quê?
— Quero programar as coisas da bebê longe de Hamburgo e olhos
curiosos. Além de tê-la só para mim.
— Me convenceu, gosto daquele lugar.
Tomo mais um gole, forçando o líquido a descer pela garganta.
Termino de beber e me deito ao seu lado, Damien abre os botões da
camisa deixando minha barriga à mostra.
Aprecio sua mão acariciar o local devagar, aposto que a monstrinha
também gosta dessa atenção.
Preciso pesquisar na internet o passo a passo para cuidar dela, quero
comprar bastante coisa.
Nunca tive brinquedos, quero que o quarto seja cheio deles. Quero dar
para essa monstrinha tudo o que eu não tive.
— Por que tem tanta certeza de que ela será igual a mim? — indago.
Ele se aproxima do meu rosto.
— Intuição, quero que se pareça com você, os cabelos e os olhos.
— Uma criança gerada por uma assassina e um mafioso, essa monstrinha
será perigosa e completamente indomável.
— Terá o nosso gênio, os seus traços — diz em meus lábios.
Fecho os olhos, buscando sentir seus lábios, Damien me beija com
voracidade, puxo seu cabelo, trazendo-o para mim.
— O que tinha nesse chá? — pergunto entre seus lábios. — Estou
ficando mole.
— Erva-doce, vai deixá-la calma.
— Não quero dormir, seu maldito.
Ele ri enquanto soco seu ombro.
— Eu quero que acorde melhor, a raposinha e você precisam dormir um
pouco.
— Vai me pagar por isso — ameaço, acomodando-me ao seu lado.
Fecho os olhos, Damien puxa o cobertor me deixando quentinha, gosto
do calor do seu corpo mais do que o cobertor.
Sinto seus lábios passearem pelo meu rosto até terminar na boca, onde
ele demora a se afastar.
— Durma.
Aceito o sono logo depois.
Passo os dedos pelos cabides do closet, paro ao encontrar um vestido
verde, ultimamente estou optando por essas coisinhas em vez de calças.
Meu celular vibra, pego o aparelho colocando na orelha enquanto
procuro por um par de sandálias.
— Como você está? Estava dormindo durante a tarde toda? — pergunta
Sofie, preocupada.
— Estava enjoada, mas já estou ótima.
— Os enjoos são horríveis. Não se preocupe, vou ajudar no que você
precisar.
Reviro os olhos.
— O monstrinho precisa mais de você, não acha? — sugiro.
Ouço o choro de Dener, parece que ele sabe quando preciso que Sofie
fique ocupada.
— Acabou de acordar, parece que ele não me divide com você, Morgan
— provoca, rindo.
— Na verdade, ele é meu cúmplice, bom, vou desligar, nos falamos
depois.
Desligo rapidamente. Tenho um compromisso inadiável.
Olho para o espelho enquanto começo a tirar a camisa, quando Damien
chegar quero estar pronta para o jantar dessa noite.
Coloco o vestido, ajeitando-o no corpo, está perfeito.
Porém, preciso passar uma base e um batom, assim evito que Damien
encontre uma tentativa de mudar os planos.
Nada vai tirar a satisfação da minha vingança, depois de tantos anos vou
encontrar um parente de Ingo.
Meu marido prometeu que iria me entregar almas, o desgraçado está
cumprindo o acordo.
— Já vestida?
Viro-me ao escutar a voz e os passos de Damien no quarto.
Seus olhos analisam o vestido, parando um pouco na barriga. Ainda não
dá para perceber que estou grávida, mas como evitar não olhar?
Afinal, há uma monstrinha aqui dentro.
— Não quero atrasos.
— Está inquieta, ou melhor, ansiando o presente que vou lhe dar — diz
ao se aproximar com um sorriso cruel.
— Você só me fode nessa mesma noite quando entregar o irmão de Ingo
— deixo claro ao passar por meu marido.
Damien ri.
— Ameaças, mein fuchs?
Caminho até a penteadeira, procuro por um pincel enquanto pego a base.
— Um lembrete, querido marido.
Pelo canto do olho vejo o momento em que ele tira suas roupas, ficando
apenas de cueca.
— Quero saciar seu desejo, vê-la torturando esse verme sem perder um
traço do seu rosto enquanto faz o trabalho.
— O líder da máfia possui um fetiche comigo matando pessoas? —
pergunto com um sorriso malicioso.
— Mais de um.
Sinto o meu corpo aprovar a confissão do canalha, a excitação percorre
cada parte de mim.
— Quanto matar o político e depois que chegamos em Sylt, vamos ter
tempo para realizar suas fantasias — atiço.
Jogo um pouco de motivação, desvio a atenção para o acabamento da
base, não percebo a aproximação dele.
Damien está atrás de mim, abotoando os botões da camisa social preta.
Os olhos avelã acompanham o movimento do pincel.
— Temos tempo para que eu possa compartilhar uma.
Meus cabelos são puxados, paro o que estou fazendo, ele conseguiu toda
a minha atenção.
— Diga — peço.
— Estará inclinada e empinada na sacada, me dando a visão devastadora
de você aberta e exposta, sua boceta e bunda esperando por minhas mãos,
pau e boca. Vou enterrar tão fundo, ouvir seus gemidos e ameaças, enquanto
transamos até o alvorecer, observando a praia ao longe.
Ergo o rosto encontrando os olhos avelã.
— Quero que me faça gritar, marque a minha pele de várias maneiras,
principalmente estapeie a minha bunda enquanto enterra o seu pau dentro
de mim.
Imagino a cena fazendo com que minha calcinha fique molhada em
segundos, os seios já estão duros.
Damien morde meus lábios, machucando, excitando-me ainda mais com
a porra de uma mordida!
Negócio com ele por mais um tempo, logo depois já estou pronta,
levando o punhal comigo dentro de uma bolsa inofensiva.

Uma mansão enorme é vista por meus olhos, desço do carro, pegando na
mão do meu marido.
Alguém se aproxima, um dos seguranças.
— Boa noite, senhor e senhora Zimmermann. O patrão está esperando
por vocês, por favor, me acompanhem.
Políticos e suas mordomias, observo os seguranças que são em uma
quantidade menor do que os nossos.
Desvio a atenção para Damien.
— Não vamos ter interrupções durante o jantar?
— Nenhuma, será apenas nós dois — assegura.
Não tenho problema nenhum em acrescentar mais pessoas, porém, o alvo
é unicamente Stein.
Subimos alguns degraus e paramos diante da casa, entramos pela porta
principal na companhia do empregado. Não há nenhum segurança no local.
O lugar parece ser ainda maior por dentro, passamos por um corredor até
encontrar uma mesa redonda em um pequeno salão diante de um palco onde
há uma pequena orquestra.
A música lenta é irritante.
O homem que surge ao longe entra no local, os cabelos são grandes e
penteados para trás.
Pálido, cabelo grisalho, os olhos são idênticos aos de Ingo, vazios,
grandes e assustadores, assim como o sorriso perverso.
— Senhor Zimmermann, seja bem-vindo. É uma honra finalmente nos
encontrarmos, espero que sua esposa goste de uma boa música.
Os olhos pousam sobre mim devagar, ele observa meu corpo
meticulosamente.
— Detesto música — rebato.
O idiota olha para a orquestra.
— Estão dispensados, senhores — pede rapidamente, Stein volta a
atenção para nós. — Sentem-se, por favor.
Damien e eu sentamos, escolhi uma cadeira próxima ao político.
Ele não sairá dessa mesa.
As bebidas são servidas, o político resolve mudar de assunto com
Damien.
— Foi uma surpresa ter a honra de aceitar jantar comigo.
— Poucos conseguem ter a minha atenção, Stein. Vamos direto ao
assunto, sou um homem ocupado, espero que tenha algo que me interessa
— barganha.
— Estou querendo derrubar uma família inimiga, almejo tentar a
presidência alemã.
— E o que ganho com isso? — sonda meu marido.
Analiso cada movimento do asqueroso, ele escolhe sabiamente as
palavras.
— Facilito a exportação de suas drogas sem ter como empecilho às
autoridades marcando em cima.
— Quero mais, soube que tem garotas bonitas e jovens em uma espécie
de cativeiro.
Vejo um sorriso malicioso surgir nos lábios do político.
— Posso te dar as melhores bocetas, senhor Zimmermann.
Sinto a raiva emergir, pinicando cada centímetro da minha pele.
Damien busca extrair além do que ouvimos.
— Existem mais jovens em seu domínio?
— Tenho fetiches por jovens inexperientes, inocentes. Costumo oferecer
muito dinheiro em troca de mantê-las ocultas dos olhos da mídia e
autoridades. Aprecio ouvi-las pedindo para parar, implorando ajuda mesmo
sabendo que ninguém irá até lá — revela com um sorriso.
Já ouvi o bastante.
Desço a mão sorrateiramente até a bolsa, tiro o punhal devagar enquanto
abaixo os olhos conseguindo ver perfeitamente a perna de Stein.
Adentro o pano branco da mesa escolhendo um lugar específico para
deixar o verme imóvel de sair daqui.
Sem mais delongas, enfio o punhal na patela, perfurando a carne do
imbecil.
Seus gritos são estridentes e agonizantes, ele se afasta na tentativa de
escapar, mas acaba caindo junto com a cadeira.
O joelho não obedece seu comando.
— O que está acontecendo? Quem é você, vadia? — resmunga,
entredentes.
— Sou a mesma mulher que matou o seu irmão Ingo.
Levanto-me e me abaixo, ficando à sua altura.
— Desgraçada, vão me pagar por isso — afirma, buscando o celular no
paletó.
Tomo da sua mão, jogando para trás.
— Acho que não fui específica, você pode gritar quanto quiser que
ninguém vai aparecer, você será a minha vítima.
Arranco o punhal ensanguentado do joelho.
— Damien... — balbucia, ofegante.
— Você é o presente para a minha esposa, Stein. Entreguei a sua alma
para a minha assassina, enfim, as loucuras que realizamos por uma mulher.
Pego a mão asquerosa olhando os dedos um a um, ele tenta tirar a mão,
porém, sou acostumada a lidar com minhas presas.
Corto um dedo por vez, lentamente, enquanto encaro os olhos
apavorados de dor e medo.
— Está louca! Seguranças! Ouçam...
Dou risada.
— Esperei muito tempo para encontrar um parente do maldito zelador do
orfanato. Vou mandá-lo para rever seu irmão, diga que, assim como ele,
você morreu pelas minhas mãos.
Enfio o objeto cortante na língua e vejo o político tentar usar a outra mão
para se defender, mas é em vão.
Ao tirar minha arma, pego um de seus dedos caído no chão e coloco na
sua boca.
Levanto-me contemplando o meu trabalho, sinto o mesmo gosto de
vingança quando matei Ingo.
— Minha dívida está paga?
Viro-me e encontro Damien, logo em seguida sigo ao seu encontro.
Ele pega a minha mão e vê sangue em meus dedos.
— Você me deu o que eu queria, mas quero acrescentar algo, libertar as
garotas mantidas em cativeiro.
Que assim como eu, elas possam fugir atrás de sua liberdade;
— Farei isso já que é o que deseja.
Meu marido tira um lenço preto do paletó passando nas minhas mãos,
depois ele limpa o meu punhal.
— Agora vamos ao que você me deve.
Encaro minhas mãos limpas, agora posso tocar em seus cabelos, subo as
mãos, rodeando o seu pescoço.
— Sexo e orgasmos — resumo, encarando seus olhos.
As mãos de Damien apertam minha cintura como algemas inquebráveis.
— Seus gemidos mais contidos, irá perder o controle, mein fuchs.
Beijo seus lábios, buscando o gosto que somente ele tem.
Termino não deixando-o aprofundar, passo a mão por sua bochecha antes
de sair andando.
— Quero chegar logo em Sylt, essas roupas estão me incomodando —
digo, afastando a alça do vestido.
De canto de olho, vejo-o chamar os nossos soldados para limparem essa
bagunça.
Damien se aproxima, pegando na minha bunda, deixando a boca na
minha orelha.
— Nada irá cobrir a sua pele além da minha boca e mãos.
Desperto ainda sonolenta, abro os olhos notando que estou sozinha no
carro, o veículo está parado também.
Encaro a janela, observando a casa, já estamos em Sylt, acabei dormindo
durante o trajeto.
Espreguiço-me e abro a porta a fim de procurar por Damien, o encontro
a alguns metros dando instruções aos soldados.
Desvio a atenção para ver a praia, preciso de uma bebida, ou melhor,
alguma coisa para comer.
Esqueço que estou proibida de beber álcool por um bom tempo.
— Ainda com sono? — pergunta Damien, ganhando a minha atenção.
— Com fome, na verdade.
— Venha, precisa se alimentar.
Acompanho-me indo diretamente para a cozinha, Damien abre a
geladeira, meus olhos observam a deliciosa Rote Grütze[46].
— Quero a torta e uma bebida.
— Água ou suco? — pergunta.
Reviro os olhos.
— Água.
Meu marido me entrega a torta e um copo de água, espeto o garfo nas
frutas vermelhas comendo uma de cada vez.
— A espero no quarto.
— De preferência nu — exijo.
Ele sorri malicioso.
Damien se aproxima, adentrando a mão no meu vestido, o desgraçado
puxa minha calcinha, rasgando a peça com facilidade.
Vejo o que restou em suas mãos, Damien cheira a calcinha, o ato me
arrepia completamente.
— Quero você sem nada — manda ao sair em passos rápidos.

Deixo o meu vestido na cozinha, saio completamente nua, subindo as


escadas sem pressa.
Encontro Damien na varanda do quarto, observo sua bunda, não há nada
o cobrindo.
— Satisfeita? — indaga sem se virar.
Há um pequeno recamier para facilitar o que eu quero que ele faça
comigo, aproximo-me parando diante dele.
Agarro o membro duro enquanto mantemos contato visual.
Acaricio subindo e descendo a mão, atiçando-o.
— Vá para o recamier — manda, rouco.
— Quero que me foda com força.
Aperto seu pau antes de ir até o pequeno sofá, fico de joelhos e me
inclino, segurando na cabeça só recamier com as duas mãos.
Meu coração acelera com a aproximação dos seus passos, Damien bate
na minha bunda e depois a aperta.
Ofego quando a língua dele adentra a minha boceta, agarro o estofado,
xingo-o sentindo o meu clitóris pulsante.
A boca do canalha passa por todo lugar, despertando meu tesão.
— Me fode!
— Está tão molhada — diz, beijando minha boceta lentamente.
Choramingo, perdendo o controle com a carícia prazerosa, chamo por
Damien exigindo que ele comece a me foder.
— Damien...
— Seu gosto é a minha perdição, maldita. Vê-la perdendo o controle
amplia o meu prazer.
Um dos meus seios é agarrado por uma de suas mãos.
Respiro ofegante, quero pegá-lo pelos cabelos e enfiar sua boca dentro
da minha boceta.
Quando penso em falar algo, Damien afasta a boca, o canalha se ajeita,
colocando a glande em minha intimidade, lentamente.
Empino mais a bunda recebendo-o, recebo tapas em um lado da nádega,
repetidas vezes, enquanto o mafioso se movimenta rapidamente.
— Porra! — rosna, ofegante.
— Mais rápido, mais — exijo.
Damien estoca rápido, o entra e sai é intenso, sem pausas, resmungo
ofegante ao sentir as suas mãos apertando minha cintura.
— Damien..
Ouço o barulho do sexo forte e gostoso, nossas respirações ofegantes.
Choramingo de tesão.
— Chame por mim, quero vê-la gritar — avisa estapeando minha bunda
com força.
Aperto o estofado do recamier para não perder o equilíbrio, balançamos
os corpos a cada estocada, engulo o pau duro, molhando-o com o meu
líquido.
— Damien! — grito em êxtase.
Meu marido penetra rapidamente, não deixando tempo para que eu sinta
a ausência do seu pau.
— Goze para mim, meine hündin[47].
Busco por ar, o orgasmo é arrebatador, não consigo falar, apenas sentir.
As ondas de prazer percorrem todo o meu corpo, sinto o suor descer pela
minha testa.
Damien se recupera devagar, mas depois de alguns minutos, sou pega em
seus braços.
Enrosco a perna em volta da sua cintura, causando um contato perigoso
entre nós dois.
Meu marido me deita no recamier, ultimamente ele está pensando no
meu conforto antes de qualquer coisa.
Abro as pernas, chamando-o para mais do que o aquecimento.
— Está me enlouquecendo.
— Essa sempre foi a minha intenção — reforço, recuperando o fôlego.
— Lhe entreguei além da alma quando cheguei à mansão naquela noite, o
corpo também lhe foi entregue.
Damien captura meu queixo, aproxima nossas faces não deixando
espaço.
— Mein fuchs.
— Du bist mein opfer[48] — declaro antes de receber sua língua.
Um beijo intenso e insano, sou pega por suas garras novamente, rendida
durante horas, exigindo e lhe dando prazer.

Meses depois

— Aqui está a sua menina, senhora — diz a enfermeira, trazendo-a em


um cobertor branco.
Vejo os cabelos ruivos e a pele clara, a monstrinha é realmente a minha
cópia.
O canalha acertou, como todos disseram que Damien jamais erra um
palpite.
Ajeito os braços, recebendo a bebê.
— Quer ajuda com a amamentação?
— Não, prefiro ficar sozinha — corto.
Passei os últimos meses em pesquisas de como segurar e amamentar
bebês, consigo fazer tudo sem ajuda.
Uma batida à porta chama a minha atenção, Sofie entra com Dener, o
monstrinho olha curioso, os olhos pousam sobre mim e a monstrinha.
— Morgan, ela é idêntica a você!
— Fale baixo — digo ao ver a bebê se remexer.
— Desculpe, bebê, sua madrinha está emocionada. Filho, olha a sua
amiga, ela é uma princesinha.
— Dener — chamo o pequeno que não tira os olhos de nós duas. — Sua
mãe é chata, não é?
— Morgan! — reclama Sofie.
O sapeca dá risada sendo meu cúmplice novamente.
Dessa vez, sou surpreendida pelo choro da monstrinha, ajeito-a
entregando o seio para ela.
— Quero ver os olhinhos azuis, Damien vai babar quando vir que
aceitou o palpite.
A porta é aberta, revelando a figura do meu marido, Sofie se despede
deixando um presente na mesinha ao lado da cama.
O mafioso passa o dedo na bochecha da monstrinha.
— Es ist ein fuchs[49].
— Ela tem uma mancha na perna igual à minha — conto, observando-a
comer. — Você cravou que seria igual a mim e não errou.
Ele sorri convencido.
— Nunca erro, aprenda isso. Você adiou escolhermos o nome dela, mas
chegou a hora de decidirmos — lembra.
Consegui deixar Sofie e todos os curiosos tentando adivinhar um nome,
deixei para escolher nesse dia, assim que colocasse os olhos no rostinho
dela.
— Preciso pensar.
Dou atenção para a monstrinha quando ela larga o seio, coloco-a para
arrotar com todo cuidado do mundo.
Damien não tira os olhos de nós duas, acompanhando os movimentos
meticulosamente.
A raposinha arrota, o pai dela se aproxima e a tira de mim.
Aprecio Damien babando nos traços da monstrinha, tendo cuidado em
alisar os cabelos ruivos.
— Deseja colocar o sobrenome Muller? — pergunta, olhando para mim.
— O seu, ela é uma Zimmermann.
Não quero dar-lhe um sobrenome manchado e que está no esquecimento
há muito tempo.
— Escolha agora o nome, estou acostumado com antigos, e eu sei que
será contra — comenta ao se aproximar.
— Obviamente que não vou deixar escolher algo brega para ela.
Pego na mão da monstrinha, olhando seu rosto, demorando a tirar os
olhos até que, finalmente, tenho um nome.
— Mavie Zimmermann.
Estaciono o veículo de qualquer jeito, tenho um horário para voltar para
casa após o nascimento da Mavie.
Ela está com três anos e vai completar quatro na próxima semana.
Assim que termino os trabalhos e auxílio Damien em outras questões
vou embora.
Me divido em ser a assassina e a mãe da monstrinha, adentro a casa
chamando por ela.
— Mavie.
— Mamãe, mamãe! — Ouço a voz entusiasmada.
A empregada a acompanha, enquanto Mavie não demora a vir até os
meus braços.
Sento no chão e a deixo em meu colo, ajeito os fios ruivos, hoje ela está
usando um vestido azul-marinho, combinando com o laço de cabelo na
mesma cor.
Passo a mão na bochecha, desde bebê faço isso nela.
Mavie fecha os olhos, aproveitando o carinho.
— Mamãe é meu — diz, ganhando a minha atenção. — E papai.
— E a Mavie? — pergunto.
— A raposinha da mamãe e o papai.
Damien ensinou isso para ela, e a sapeca aprendeu muito rápido.
— Você é minha, o seu pé, a mãozinha, os olhos são meus — declaro,
apertando-a.
Ela ri, aponta os meus olhos com o dedinho.
— Meu, mamãe.
Mavie desperta um lado meu que ninguém jamais terá acesso, eu lhe
protejo com a minha própria vida.
Ela é para mim e Damien a melhor parte de nós dois, uma parte só
nossa, oculta para os outros.
Entro no corredor indo até o quarto, Morgan está deitada com Mavie,
minha raposinha dorme profundamente.
Aproximo-me e beijo os lábios da minha attentäter[50], demorando a
deixá-los.
— Dormiu agora? — pergunto baixo.
— Vinte minutos.
Observo-a dormir, ela é a cópia perfeita de Morgan, mas a personalidade
já mostra indícios de ter traços de nós dois.
Sento-me na cama ao lado da pequena, temos um jantar daqui a pouco, é
bom ela dormir um pouco.
Assim não fica inquieta.
Levo Mavie em jantares de negócios desde os dois anos, Morgan e eu
optamos levá-la para sair.
Ambos juntos levando o que temos de mais precioso, ela adora sair.
— Vou pegar as roupas dela — diz ao levantar.
— Está usando preto para tirar minha atenção? — questiono.
O vestido possui uma fenda ousada, a assassina dá a volta na cama,
parando diante de mim.
— Gosto quando precisa escolher encarar o cliente ou eu.
Beijo seus lábios, trazendo-a para perto.
— Quando essa noite terminar vou precisar escolher como eu quero tê-
la.
— Você tem a minha alma — reforça, deixando meus lábios. — Fique
de olho no presente que dei para nós dois.
Meus olhos acompanham a minha arma mais perigosa deixar o quarto.
Volto a atenção para Mavie, a raposinha abre os olhos devagar, quando
me vê abre um sorriso enorme, pego-a em meus braços e a abraço.
— Papai, demorou.
— Vou levá-la para jantar com a mamãe e eu, qual o vestido você quer?
— pergunto, ao ver o sorriso sapeca.
— Mamãe é bonito.
Os de Morgan ela só usará quando estiver com dezoito anos.
— Vai usar um mais lindo do que o da sua mãe — afirmo, levantando-
me com ela nos braços. — Vamos nos arrumar no seu quarto, raposinha.
Ela me abraça, beijando minha bochecha demoradamente.
Entramos no quarto, encontrando a mãe dela com as roupas em mãos
vindo em nossa direção.
Eu espero até ficarem prontas, ignoro o celular e só observo ambas.
O que eu tenho de mais valioso, o fruto do meu relacionamento com a
minha preciosa attentäter.
Morgan não foi a única a entregar a alma, ela possui a minha, suas garras
não me soltam.
Assim como eu nunca a soltarei.
Quando pensei em trazer uma protagonista tão cruel e perigosa quanto o
Damien, surgiu a nossa assassina. Morgan é uma mulher extremamente
perigosa, ela precisou se proteger para sobreviver, surpreendentemente
respostas do seu passado surgiram quando Roman apareceu em seu
caminho.
Damien era um alvo e se tornou a vítima preferida, assim como
Morgan era o sujo e proibido, mas foi a escolha dele.
Estou muito apaixonada por eles, a nossa raposinha Mavie e esse
livro, agradeço a todos que me ajudaram no processo de escrita, você leitor
por embarcar nessa história junto comigo.
Agradeço a Deus principalmente por me dar esse dom e segurar a
minha mão em todos os momentos.
Minha irmã pelo apoio de sempre, minhas leitoras betas, revisora,
diagramadora e capista, minhas parceiras do Instagram, essa equipe é muito
especial, sem eles não estaria aqui! Obrigada leitores por mais um projeto
juntos, vocês embarcam comigo e tornam esse sonho cada vez mais real é
único.
Não esqueça de deixar a sua estrela e me contar o que achou, amo essa
interação.
Para me acompanhar e saber tudo sobre o meu trabalho, além de me
encontrar em outras redes sociais, basta ir no meu Instagram:
@isbabiautora
Um grande beijo!
IsBabi nasceu em São Paulo no dia 04 de agosto de 2000.
A escrita sempre esteve presente na vida dela, mas foi escrevendo fanfics
aos treze anos que ela descobriu esse dom que é escrever.
Escrever era um hobby, mas amigas e leitoras de suas fanfics
conseguiram fazer a autora pensar em algo maior.
Agora como autora independente da Amazon ela trabalha com romances
mafiosos, darks, e com um toque único dela em cada livro.
Ela é motivada a escrever pensando em sua mãe que sempre disse para a
mesma correr atrás dos seus sonhos, lutar, hoje sua mãe é um anjo e ilumina
seu caminho.
A IsBabi que também é a Talia, ambas são gratas por tudo o que você,
leitor, proporciona.
Livro Único
Beijada pelo Don (Máfia Salvatore)
Link: https://www.amazon.com.br/dp/B0B1PLZTT4

"Somos duas cobras.


Que necessitam estar juntas.
Entrelaçadas."

Ela é filha de um sanguinário.


Ele é o herdeiro da máfia Salvatore.
Quando crianças, Isabel e Cesare criaram um elo inquebrável, que se
fortificou ainda mais na adolescência. A inocência ficou no passado, o
sentimento se transformou em dependência, ambos são o oxigênio um do
outro.
Uma escolha muda as rotas dos planos já fundamentados, a ligação entre
eles é desfeita.
Mas uma tragédia coloca Isabel e Cesare frente a frente, junto com
sentimentos controversos.

Livro Único
Tomada pela Máfia (A Obsessão de Sebastien)
Link: https://www.amazon.com.br/dp/B0B8P87TNF

"— Quero que não grite essa noite, ma poupée."

Ela é filha do governador da França.


Ele é o chefe da máfia Cartier.
A ganância de seu pai em obter a presidência respinga em Louise
Lavigne, em uma noite, sua filha esbarra em Sebastien Cartier.
Ela se torna a obsessão do mafioso.
Para levá-la para a máfia, Sebastien faz um acordo com o
governador e em troca ele a levará para o seu mundo.
Livro Único
Entregue à Máfia (A Posse de Marcelon)
Link: https://www.amazon.com.br/dp/B0BHF8761D

"— Aprenderá que não pode fugir de ser minha."


"— Prove."
A negociação da irmã mais velha acaba respingando em Camille
Lavigne.
Marcelon Chevallier, o chefe da máfia francesa, decide ir buscar o
presente que ganhou após a aliança em um momento inesperado.
Camille promete usar o mafioso e enredá-lo com suas artimanhas, no
entanto, Marcelon decide jogar com ela.
Os dois são as peças-chaves de um jogo possessivo e viciante. Ele é o
rei, basta saber se ela será a rainha ou prisioneira de seu próprio jogo.
Livro Único
Aprisionados pela Máfia (A Prometida de Mael)
Link: https://www.amazon.com.br/dp/B0BTMXLDM8

"— Você fode com a minha mente, me arrasta para um combate onde
ambos estamos aprisionados um pelo outro."
Conheça Hope Salvatore e o chefe da máfia francesa, Mael Chevallier,
prepare-se para um slow burn devastador em Marselha.

Ela é a cobra mais perigosa da Salvatore.


Ele é o herdeiro da máfia Chevallier.
Hope Salvatore, é arisca e perigosa, seu plano era continuar no comando
da entrada de drogas na máfia italiana.
A primogênita pensava estar livre das regras de matrimônio, até o
momento em que Mael Chevallier propor uma aliança.
Um acordo comercial é proposto pelo francês, a falsa liberdade de Hope
escorrega por entre seus dedos.
Os laços das duas máfias é fortificado pela união, enquanto ela está de
mãos vazias sendo levada para um lugar desconhecido.

[1]Raposas
[2]Minha noiva
[3]Diga o quanto está entregue ao seu destino, amor.
[4]Amor.
[5]Estou tão duro, quero enterrar meu pau em você.
[6]Eu quero você dentro de mim agora
[7]raposa.
[8]Minha raposa
[9]Minha raposa.
[10]Ainda nervosa, amor.
[11]Eu sou seu.
[12]Eu te perdoo.
[13]Você, minha assassina.
[14]Minha dúvida é chupo você até sentir seu gosto ou entro na sua boceta molhada?
[15]Estou muito molhada.
[16]Minha assassina,
[17]Diga que você é minha, assassina. Eu quero ouvir sua voz rouca, embriagada de prazer
[18]Eu pertenço a você.
[19]Eu te amo
[20]Peça, minha assassina.
[21]Quero a sua boca na minha boceta.
[22]Gosto do vermelho das suas bochechas, toda vez que eu transo com você.
[23]Engula meu pau
[24]A noite ainda não começou e eu já planejei como irá terminar
[25]Como?
[26]Lhe contarei uma estória quando esse vestido estiver caído aos meus pés.
[27]Ela é minha esposa.
[28]Eisbein é o joelho do porco, usado como ingrediente muito importante da culinária alemã. Faz
parte de vários pratos da culinária alemã, podendo ser preparado cozido, frito ou assado, dependendo
do prato. Servido com chucrute é um dos pratos mais famosos da Alemanha.
[29]Está terrivelmente mais bonita.
[30]Eu acho que te amo.
[31]Também acho que você me ama.
[32]Minha.
[33]Eu quero algo.
[34]Ainda ouço suas palavras na minha cabeça. O que você quer, minha raposa?
[35]Você.
[36]Vou derramar cada gota da minha porra dentro de você, enquanto fodo sua boceta rosada.
[37]Me fode agora.
[38]Peça mais alto.
[39]É uma raposinha.
[40]Minha pequena raposinha.
[41]Pequena raposa.
[42]Minha raposinha.
[43]Eu sou seu, ninguém mudará isso.
[44]Feche os olhos, minha raposa.
[45]Feche os olhos minha raposa.
[46] É um prato de frutas doces da Dinamarca e do norte da Alemanha.
[47]minha vadia
[48]Você é a minha vítima.
[49]É uma raposinha.
[50]Assassina.

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