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Copyright © 2022 G.

R Oliveira
VENDIDA PARA O MAFIOSO
1ª Edição

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser


reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou
mecânico sem consentimento e autorização por escrito do
autor/editor.

Capa: Liberty Design


Diagramação: April Kroes
Revisão: Lidiane Mastello

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob
quaisquer meios existentes – tangíveis ou intangíveis – sem prévia
autorização da autora. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do código
penal.

TEXTO REVISADO SEGUNDO O ACORDO ORTOGRÁFICO DA


LÍNGUA PORTUGUESA.
Sumário
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Epílogo
Phillippe Vlachos Kingster é um poderoso chefe da máfia

estadunidense intitulada Vlachosia, que atua no tráfico de drogas e


mulheres em Las Vegas. Controlando todo o território do Estado de
Nevada com punhos de ferro, ele não teme nada e nem ninguém,

uma vez que elimina seus inimigos um a um. Meticuloso e letal, sua
vida muda drasticamente quando ele compra uma mulher, alguém
que não tem mais nenhuma vontade de viver.

Martina Kozlowski teve os seus sonhos destruídos em um


piscar de olhos. Além de perder a mãe e a irmã assassinadas pela
sua própria família, ela se viu caçada por eles, e não restando

alternativas fugiu. O maior problema é que o destino é traiçoeiro, e

agora o seu corpo pertence a um homem frio e calculista, que não


pretende deixá-la escapar de suas hábeis mãos.

A atração por ela é imediata. Phillippe está decidido a

conquistar Martina, matando quem for preciso para ter a sua

confiança, mas os atos do passado dela serão revelados, e ele


precisará decidir se a ajuda, entrando assim em rota de colisão com

a sua própria organização, criando uma guerra sem precedentes


entre duas famílias extremamente poderosas...

Phillippe será capaz de proteger a única mulher que

conseguiu enxergar algo bom em seu coração tomado pelo ódio?

"— Eu disse que vou te proteger, e não volto atrás em minhas


palavras.

A inocência de Martina me fascinava. Geralmente tratava as

mulheres ao redor como objetos, ela foi adquirida assim e veio com
um propósito bem claro: satisfazer meus clientes.

O problema é que agora não aceitava o propósito ao qual ela

foi destinada. Queria e ia tê-la pra mim."


“A

TORUŃ - POLÔNIA

— Rápido, Martina! — Weronika gritou, um pouco à minha

frente.
Meus pulmões estavam queimando. O ritmo dos nossos

passos havia acelerado nos últimos metros, e fomos obrigadas a


correr pela trilha fechada.

Ficamos lado a lado e segurei a mão da minha meia-irmã

novamente. Sua mão estava tão suada quanto a minha.

— Acho que... não vou conseguir... — falei, arfando, mas


Weronika continuava me puxando, tentando fazer com que eu

corresse mais depressa.

— Nós duas vamos conseguir! Juntas! — exclamou.

Depois de mais alguns metros correndo fomos obrigadas a


nos esconder, devido ao cansaço, e paramos detrás de uma árvore.

Os homens do nosso pai estavam nos caçando com cães

farejadores, e as luzes potentes dos rifles de laser deles nos


forçavam a ficar escondidas. O problema é que os animais

farejadores estavam chegando perto de nós.

— Não podemos parar mais, Martina. Precisamos fugir —

disse, ofegante, puxou a minha mão, e entramos em uma mata

densa.
Após alguns minutos avistamos a rua, a pouco mais de 100
metros de distância. Tínhamos conseguido finalmente sair daquele

labirinto de matas e encontrado a estrada.

Logo depois de chegar à beira da estrada, minha irmã se

deteve e parou de correr, caindo em seguida.

— Weronika...

— Vá agora, Martina! Pare um carro e peça ajuda!

— Mas e você?! — Olhei para trás, e a iluminação estava

cada vez maior, eles estavam bem perto.

— Estou bem atrás de você! — Levantou-se, mancando um

pouco, e sem pensar nas consequências me coloquei na frente de

um carro, levantando as duas mãos.

O motorista freou bruscamente e os pneus cantaram.

— Você por acaso é maluca?! — O homem colocou a cabeça

para fora, irritado.

— Por favor, nos ajude! — gritei com os braços abertos.

Ele ficou me analisando, em seguida observou minha irmã a


alguns metros de nós, mancando.
— Entre! — falou rápido, e me virei.

— Weronika, eu consegui...

Um tiro.

Ouvi um barulho e minha irmã caiu, colocando a mão na sua

perna direita. Observei sangue escorrendo por ela e me apavorei,


ficando em choque.

Ela estava a pelo menos vinte metros de mim, e quando dei o


primeiro passo na sua direção ela gritou:

— Fuja, Martina! Agora!

Fiquei lá parada, olhando a minha irmã rastejando e

chorando, e meus olhos se encheram de lágrimas. Agora, eu não


conseguia me mover nem para frente nem para trás.

A iluminação foi ficando cada vez maior, e avistei os homens


uniformizados, soldados do meu pai.

— Vá embora, Martina! — berrou e voltei à realidade.

— Se quer viver entre nesse carro agora, garota! Não temos

tempo! — o homem falou, e seu rosto se fechou. Pude reparar na


tatuagem no seu pescoço, um chacal, e isso me alarmou, mas nada

poderia ser pior do que o meu pai.


Não sabia o que fazer. Abandonar a minha irmã sozinha era

algo que jamais se passava pela minha cabeça.

— Vá, Martina!

Ouvi-a sussurrando que me amava depois, e a poucos


metros dela os soldados se aproximavam.

Com uma dor imensa entrei no carro, e o homem deu a

partida sem pensar duas vezes. Depois, girei meu corpo dentro do
veículo, olhando para Weronika. Foi então que ouvi outro
estampido, e o corpo dela caiu para trás.

Eles a mataram bem na minha frente...


“O

LAS VEGAS - NEVADA

Meu pai sempre me dizia que, se eu quisesse ter alguma

coisa na vida, teria que ter ambição, ter um propósito, ser alguém.

No começo da minha adolescência me dei conta de que eu

não tinha nenhum objetivo, e mesmo com a pouca idade, essa era a
parte que mais me preocupava. Não a pessoa que eu me tornaria,

mas o que eu seria de fato.

Felizmente, isso mudou quando completei 21 anos de idade.


Eu descobri um talento, mas seguir nesse caminho ceifaria muitas

vidas no processo.

Por causa do nome da minha família eu sabia melhor do que


ninguém que o único meio para o poder e a riqueza seriam

conseguidos por meio do crime, da corrupção, do errado.

Inicialmente eu não queria isso para mim.

Na verdade, eu duvidava se deveria me importar com essas


coisas, mas meu pai me ensinou que se você não tem um objetivo

na vida, você tem menos chances de consegui-lo.

Minha mente estava sempre atrelada a um beco sem saída.


Então, eu pensei: "se querer ser algo na vida não é suficiente, então

o que eu desejo ser?"

Conforme os anos se passaram, minhas respostas foram

aparecendo pouco a pouco, então eu tive que negar o bem e

reconhecer o mal. Foi preciso ignorar meus sentimentos, e comecei

a praticar o que durante anos minha família fez com maestria: infligir
a dor.
Experimentei todos os tipos de crimes.

Eu roubei dinheiro, poder, amor, sedução. Manipulei pessoas,

dentre inúmeras outras coisas. Senti-me honrado e amado de estar

no que era conhecido como a máfia. Isso me fazia sentir alguma

coisa.

Eu me tornei alguém respeitado.

Precisava ser um grande chefe, o melhor. Em todos os

sentidos.

Assumi o lugar do meu pai, e vi em seus olhos o quanto ele

estava orgulhoso do seu filho mais velho. Era uma versão


melhorada dele, mais mortal, mais centrado, mais forte.

Pelo nome da minha família sujei minhas mãos com sangue,

possuí o coração de inúmeras pessoas, e quando elas não me

serviam mais ou me traíam as descartava. Sem remorso.

Todos estavam abaixo de mim.

Ainda absorto em pensamento entrei em um dos meus

inúmeros edifícios. Ele era enorme, e várias pessoas estavam aos

meus serviços. Absolutamente todas elas trabalhando para serem


notadas por mim, almejando alguma promoção.
Aqui dentro havia 12 andares, sendo que os últimos três

eram exclusivamente meus, só eu entrava. O meu prédio nada mais


era que um estabelecimento que mais se parecia uma prisão. Uma

vez atrelado à família Vlachos, você nunca poderia escapar de nós.

Eu obviamente estava no topo do mundo.

A violência e a corrupção eram algumas das coisas que


aprendi a amar. É incrível quanto um cartão de crédito, um blefe,

uma mentira, uma promessa podiam unir as pessoas. Minha força


era o dinheiro, e eu o amava, para o bem e para o mal.

Já dentro da minha sala admirei a vista do meu prédio. Era


incrível ver tantos edifícios sobre a área abaixo, no alto e à direita,

todos espalhados.

Tudo na vida era conquistado com muito esforço, todos

éramos dotados de ganhos e perdas, passando por grandes


adversidades no processo. A maioria das pessoas eram vítimas de
suas próprias angústias e às vezes desistiam de tudo, a dor podia

ser lancinante quando não controlada a tempo, e para minha sorte


conseguia andar lado a lado com esse problema.

Ouvi dois toques na minha porta, e imediatamente observei


Otto à espreita.
— Entre! — Dei o sinal, e fui obedecido. Em seguida ele

fechou a porta. — Seja rápido.

— O outro lote chegará amanhã pela manhã.

— De onde elas são?

— Da Europa.

— Seja mais específico — grunhi, encarando seus olhos sem

emoção, tais como os meus.

— Hungria, Polônia e Rússia.

— Está confirmado que toda a mercadoria chega amanhã?

— Sim, senhor.

Otto é o meu braço direito, o homem que trabalhava


diretamente comigo. Ele estava sendo leal à minha família por mais

de 40 anos, e meu pai confiou nele enquanto administrava nosso


amplo negócio nos EUA.

Todas as pessoas que trabalhavam para nós eram marcadas.


Literalmente.

Nossa família possuía um símbolo, e nos identificamos por

ele. Em nosso antebraço direito há uma tatuagem bem específica


indicando quem era leal à organização. Estava falando de um leão,
e no olho esquerdo dele havia o símbolo da cruz bem destacado.

— Ótimo. Providencie para que nada fuja do controle dessa


vez.

Dito isto, Otto imediatamente saiu da minha sala.

Não sei o exato motivo, mas o sorriso da minha mãe invadiu

os meus pensamentos.

Ela sempre me dizia que eu era um homem de paz na

infância, e que se eu quisesse poderia ser alguém normal, mas ela


não sabia de algo que eu levava em meu coração.

Eu era um lutador.

Eu era orgulhoso.

Eu teria que ganhar tudo sozinho.

Acabei me tornando um vírus, e isso me permitiu ganhar

riqueza e poder, mas não amor. No fundo era oco, e não achava que
sentimentos moviam o mundo, o dinheiro, sim.

Era bom no que fazia, além de que todos me deviam alguma


coisa em Las Vegas. Eles estavam presos a uma espécie de

redoma de poder, mas eu era o poder.


Eu determinava o controle.

A maioria dos humanos precisavam de algo a mais em

relação à alma, à verdade, à honestidade. Eu não tinha nada disso,


e não me importava com ninguém além de mim e da minha família.

Poder e dinheiro faziam mais mal do que bem, mas eu necessitava


de ambos...
“P

A árvore genealógica da minha família se iniciou na Grécia,

em uma cidadezinha marcada pelo crime e pela corrupção.

Meu bisavô deixou suas raízes na Grécia há 60 anos para

viver o sonho americano, mais do que isso, ele trouxe para cá seu

lado obscuro.
Segredos, lealdade e orgulho, em suma, seu império. Ele

sempre esteve vinculado a inúmeras glórias e fraquezas.

Todos os meus ancestrais eram famosos por suas rebeliões,


principalmente os mais antigos. Não havia um traço de piedade ou

de lealdade em nossos familiares.

Fui até uma das minhas salas de reuniões, portando uma


maleta. Quando entrei todos já me esperavam de pé. Ao me sentar

eles fizeram o mesmo.

Havia dez pessoas aqui, entre elas meus conselheiros,

familiares e seguranças particulares, além de um traficante.

— Algum problema com o carregamento? — perguntei ao

Giorgio, um traficante e fornecedor de drogas da Itália e ele sorriu,

acenando negativamente com a cabeça.

Giorgio era um homem de cabelos louro-claros, além de

olhos frios e inquietos, e gostava de dinheiro, mais do que seu

próprio pau, suponho.

— Nenhum, todas as vinte mulheres chegaram bem e estão

saudáveis.
Quanto à segunda parte eu duvido muito, mas o meu trabalho
era cuidar disso depois.

— Entendo — respondi, olhando para Pietro, o chefe da

minha segurança que acenou positivamente, indicando que todas

estavam aqui. — Sei que esse é o momento que mais gosta nas

reuniões.

Abri a maleta com 2 milhões de dólares, e Giorgio, com um

sorriso de canto, levantou-se. Ao aproximar-se mais, suas duas

mãos tentaram o contato com o objeto, mas fechei a maleta.

— Qual o problema?

— Eu preciso mesmo te falar ou você vai me falar?!

Todos na sala olharam para Giorgio, e foi inevitável não sentir

o seu desconforto.

Eu odiava com todas as minhas forças jogar na cara das


pessoas o que elas erravam.

— Sei que ainda estou devendo algumas coisas, mas isso já

tem um tempo, e pensei que tinha esquecido.

— Pensou errado, eu nunca esqueço. Você tem até semana


que vem.
— Não dá tempo. Sei que algumas morreram no processo

meses atrás, mas pensei que não faria falta. Você tem várias
mulheres à disposição, e fazemos negócio há um tempo.

Nunca interrompia as pessoas. Deixava-as falarem,


afogando-se nos próprios argumentos vazios, bastando-se da

incerteza e do medo, o que era bastante perigoso para quem


escutava, principalmente se fosse eu.

— Vou reformular a frase e acho que vai entender — revelei,


calmo. — Você tem até semana que vem, senão eu mesmo farei
uma visita à sua família. Vou matar seus filhos na sua frente. Mas,

antes disso, vou pegar a sua esposa e...

— Não precisa terminar. Vou mandar outro carregamento


neste fim de semana, Phillippe — explicou, rápido demais, bastante

desesperado.

— Tenho a sua palavra?

— Sim.

— E vai trazer 5 kg de cocaína de cortesia também, não é?

— Como quiser. — Engoliu em seco, e se fosse chutar,


estava fazendo as contas de quantos milhões de dólares gastaria.
A partir do momento que eu era leal a alguém, minhas

palavras e o meu dinheiro ficavam com essa pessoa, porém o que


nos unia também podia nos dividir, e não admitia mentiras.

— Eu só dou uma chance, e essa é a sua última — falei,


analisando os olhos frios do homem. — Agora, suma da minha

frente.

Após Giorgio sair da sala fui questionado:

— Como soube? — Otto perguntou.

— Eu faço o meu trabalho — me limitei a responder,

levantando-me em seguida. — Me leve até elas, agora.

Sempre gostava de analisar as mulheres que chegavam até a


minha cidade.

Las Vegas era a capital do jogo e do entretenimento por

excelência, e as jovens estrangeiras que chegavam até mim sabiam


muito bem.
Elas pedem por isso.

Algumas estavam aqui para buscar algo melhor, o que era

negado no seu país fora do continente, outras ousavam idealizar o


sonho americano.

Para mim, era indiferente os objetivos das pessoas, gerando


lucro era o que importava. Não obrigava nenhuma delas a virem até
mim, mas quando escolhiam isso, se tornavam minhas

propriedades.

Após entrar em uma das minhas salas observei as vinte


mulheres, todas uma ao lado das outras, como de costume.

Por alguns segundos passei o olho nelas, caminhando até

mais perto. Realmente eram bonitas, desejáveis, nos moldes que eu


mesmo especifiquei.

Havia vários serviços para mulheres com tal beleza, e iria


saber designá-las para o lugar correto.

Enquanto andava de um lugar para o outro, observava os


seus olhares em minha direção, como se quisessem me

impressionar, mas eu não me impressionava fácil.


Continuei o meu caminho, passando na frente delas, e
quando cheguei à última, minha atenção foi conquistada de certa
forma.

Os olhos dela eram azuis bem claros, mas distantes. Eram

olhos vazios, como se não houvesse nada dentro deles. Além de


tudo, ela não olhava para mim, e sim para o lado, como se eu não
existisse em seu mundo.

Ela tinha uma pele clara, lábios finos e rosados. O corpo era

magro e longo, com coxas finas, mas uma cintura de modelo. Seu

cabelo era grande, quase chegando à sua cintura, além de liso e

escuro.

Ao analisar melhor o seu corpo percebi que suas mãos

estavam sujas de sangue, ao que parece ela havia se arranhado

com suas unhas, ou... foi forçada a algo que não desejava.

Eu não me importava com a maneira que essas mulheres


chegavam até mim.

Olhei um bom tempo para ela, mas agora seus olhos fitavam

o chão. Como se estivesse perdida.

— Otto! Leve todas elas para os seus aposentos — ordenei,


e uma a uma elas foram saindo. — Menos você! — Indiquei com a
cabeça para a jovem mulher à minha frente, e ela parou de

caminhar, ainda indiferente.

Quando todas saíram, pude vislumbrar um pouco mais essa

jovem que de certa forma me fascinava. Parecia nova e inocente

demais. E perdida.

Extremamente perdida.

— Essa aqui é uma a qual nós devíamos cuidar. — Um dos

meus seguranças tocou o seu cabelo, mas ela nem fez menção de

falar nada, nem se mexeu.

— Eu cuidaria muito bem dela — meu outro segurança disse


o mesmo, andando por detrás da garota.

Observei atentamente o rosto da jovem, e ela nem deu sinais

de estar se importando. Na realidade, ela não dava sinais de nada,

era como se fosse um zumbi.

— Se afastem dela — ordenei, e automaticamente os dois

me obedeceram. — Saiam os dois da sala.

Após mais alguns momentos eles me obedeceram, e ficamos

só eu e ela.
Ao que parecia minha ordem não surtiu efeito algum para ela.

A mulher ainda olhava para o nada, como se tudo à sua volta não

importasse.

Ela estava realizando um sonho, então porque diabos não


parece feliz?

— Qual o seu nome?

Ela não respondeu. Foi como se não tivesse me escutado, e

isso me irritou profundamente.

— Eu te fiz uma pergunta e não admito ser ignorado! —

Aumentei o tom, e isso a fez despertar.

Agora, seu olhar me dava pena. Era como se nada à sua

volta importasse, como se não quisesse estar aqui.

— Martina. Meu nome é... Martina Kozlowski.

Observei a mulher, que parecia me olhar por obrigação, mas

claramente não queria isso.

— O que houve em seus braços?

— Eu... me arranhei.

— Alguém te obrigou?
— Não, eu... sou ansiosa, e...

Ela parou de falar, novamente desviando os olhos, com


bastante dúvida neles. Meu papel aqui não era interrogá-la, mas sim

prepará-la para os próximos dias, que seriam muito difíceis.

— Sabe quem eu sou?

Ela acenou positivamente, mas nenhum som saiu dos seus

lábios.

— Entende o que está fazendo aqui e com o que vai

trabalhar?

Nesse momento a vi um pouco nervosa, juntando as mãos, e

desviando os olhos.

— Uhum.

— Ótimo. Melhore esse rosto, tenho clientes bem exigentes.

Fiquei observando-a alguns momentos, e ela abaixou a face.

Em seguida, virei-me, caminhando até a porta, mas fui


surpreendido, e ela segurou com força meu braço direito, fazendo-

me girar o corpo instintivamente.

— Eu... posso pedir um favor — praticamente implorou, e

imediatamente uma lágrima escorreu do seu rosto.


Não sentia pena ou dó das pessoas em geral, e não foi isso

que senti agora. Mas, havia algo estranho em toda essa situação. A

emoção da mulher, algo em sua própria pessoa me dizia que ela

não estava feliz em estar aqui.

— O que deseja?

— Eu desejo que... — Ela parou de falar, e seus olhos agora

foram de encontro aos meus, e pude vê-los se iluminarem, mas

nada me preparou para o seu pedido. — Me mate!


“A ”

Eu saí do inferno para viver em um pesadelo.

Jamais poderia pensar que uma simples carona poderia


definir o meu futuro. Giorgio, o homem que achei que era meu

benfeitor, na verdade, traficava mulheres por toda a Europa para

trabalharem em Las Vegas, para um mafioso, e não pude fazer


nada.

Naquele momento que eu parei seu carro na estrada ele

estava indo se encontrar com seus homens. Só entendi o que se


tratava quando finalmente desci do carro.

Giorgio me prensou na parede naquela ocasião, e disse que

eu precisava retribuir a bondade dele. Falou que eu iria para os


EUA, me tornar uma stripper ou algo assim.

Não ofereci resistência. Naquela oportunidade seria um favor

sair do meu país, só que meu pesadelo começou quando cruzamos


o oceano.

Tinha pesadelos todos os dias com minha irmã, e acordava

chorando em todos eles.

Enquanto as garotas traficadas permaneciam juntas, algumas


de nós foram obrigadas a transar com os homens, e eles decidiam

isso com um sorteio ou jogo de cartas. Isso me dava nojo.

Nem todas essas mulheres que estavam comigo tiveram


escolhas;

Nem todas elas queriam ir para os EUA;

Nem todas eram virgens, mas eu era.

Fomos ameaçadas se contássemos a verdade sobre a


"seleção" que Giorgio havia feito quando chegássemos a Las
Vegas, mas diferente delas eu não temia mais nada. O meu maior
desejo era morrer logo.

— Por favor, me mate! — implorei, puxando o braço do

homem, e vi espanto em seu rosto.

— Se recomponha e me solte! — o homem bradou, e a


intensidade da sua voz me fez recuar.

Não reparei nele de imediato quando vários homens

cruzaram a porta, mas depois vi o jeito que ele nos olhava, como

mercadorias.

Não valíamos nada para ele, e eu o odiava mesmo sem


conhecê-lo. Ainda assim, eu precisava dele. Queria que ele tirasse a

minha vida, pois eu não tinha coragem...

— Vá para onde suas colegas foram.

— Não.

— O que disse?

— Eu disse... não.

Seu corpo veio até o meu, e quando dei por mim uma de
suas mãos estava em meu pescoço, colocando-me contra a parede.

Meus pés não tocavam o chão, tamanha a força que ele colocou.
— Ninguém me diz não, Martina.

Eu não conseguia falar, ele me sufocava, e fechei meus

olhos, abrindo um sorriso, pensando na minha irmã.

Enfim, ficaríamos juntas...

De repente, ele me soltou, e voltei para a realidade.

— Por que parou?! Me enforque, me mate, por favor... por

favor, me mate, eu não aguento mais viver... — Comecei a bater em


seu corpo, mas ele não fez nada, só ficou ali, olhando-me, e
comecei a chorar.

Quando dei por mim estava abraçada ao homem, chorando

em seu terno social.

Ele não moveu um músculo sequer, mas deixou que eu


ficasse assim durante alguns segundos.

Depois de algum tempo me recompus, recuando. Pude

observá-lo melhor, e se ele não fosse um traficante e mafioso,


poderia sentir algo por ele, tinha certeza. Alto, olhos azuis, maxilar
cerrado, barba a se fazer. Além de tudo, seus dedos eram

adornados de anéis, havia pulseiras em seus pulsos, e no seu


pescoço notei algumas correntes. Tinha certeza de que tudo era

ouro.

De certa forma esse homem carrancudo me atraía.

Desde a minha adolescência fui rodeada de pessoas más, e


nunca conheci um homem bom. Nem sabia se eles existiam.

— Não vou te matar. Paguei muito caro em todas vocês, e

não desperdiço dinheiro, eu faço dinheiro — pontuou, sem um pingo


de emoção na voz.

— Eu não quero trabalhar pra você — revelei, sincera.

— Quer dizer que não está em Las Vegas porque aceitou

esse trabalho?

— Não. — Fui rápida na resposta, e suas sobrancelhas

arquearam-se, parecia confuso.

— Então vou dar um jeito para você voltar para o seu país

hoje mesmo.

— Não, pelo amor de Deus, eu faço tudo o que quiser, mas

não me mande de volta! — Novamente segurei seu braço, mas a


reação dele agora foi diferente.
O homem veio até mim, e seus olhos soltavam faíscas,
parecia estar mordendo os dentes, irritado ao extremo.

— Me dê um bom motivo para não te jogar em um avião


neste momento! E é bom ser convincente.

Fiquei observando o homem, hipnotizada, tentando entender


porque falaria de algo tão pessoal para ele, mas não tinha opção,
não queria voltar para a Polônia.

— Meu pai matou a minha mãe na minha frente e na da

minha meia-irmã, depois fomos perseguidas pelos homens dele, e...


tiraram a vida da minha meia-irmã também.

Não me contive, e chorei pra valer quando terminei de falar.

Não sei se ele acreditou na minha história, ele só ficou ali,

olhando-me e analisando-me. De repente, eu não sabia de mais


nada...
Sabia reconhecer um mentiroso quando ele começava a abrir

a boca, mas essa mulher estava assustada demais para estar


tentando me enganar.

Sua história poderia ser fantasiosa demais,

independentemente disso havia verdade em cada palavra que ela


dizia. De alguma forma, consegui entender o seu medo e a sua dor.
Ela não tinha nada mais a perder, por isso desejava a morte.

— Eu não tenho nada a ver com seus problemas, e se quiser

ficar aqui, vai ter que aceitar as minhas condições. Fui claro o
suficiente?

— Si-sim.

— Vou perguntar mais uma vez: você veio pra cá porque

quis? — Ela negou com a cabeça.

Sempre tive uma ideia de que nem sempre todas as


mulheres que vieram foram por vontade própria. Não era idiota a

ponto de confiar nas pessoas, e Martina confirmou isso para mim.


— Quem te obrigou a vir para Las Vegas? Giorgio? — me

antecipei, e ela novamente assentiu.

Bufei, fechando meus olhos. Esse era o tipo de problema que


não resolvia. Tinha pessoas para as mais variadas tarefas nessa

fortaleza, tarefas que não envolviam questões centrais como essa.

— Ele me encontrou na estrada quando estávamos fugindo,


e... me deu carona enquanto...

Ela parou de falar, e seus olhos se encheram de lágrimas

novamente. Sua voz estava falhando, e seu corpo tremia outra vez.

Fechei meus olhos, respirando fundo. Eu não era um maldito


anjo que salvava pessoas em situações como essa.

— Eu não vou sujar as minhas mãos com isso. Não posso te

ajudar com algo que já aconteceu e não tem mais volta — falei
inexpressivo.

— En-entendo.

— Preste atenção, garota. — Fui até ela, encarando seus

olhos sem vida. — Você pode ficar aqui, porém, se eu não confiar

em você nós teremos problemas. Mesmo sem desejar você veio até
esse lugar, e quer permanecer. Você deixou de ser uma vítima
quando tirou os pés do seu país e os colocou no meu, então seu
futuro aqui será decidido por suas próprias ações. Entendeu?

O rosto de Martina ficou completamente branco, e percebi

uma lágrima escorrendo por ele, com a ponta dos meus dedos a

afastei. Eu a vi surpresa com o meu gesto, mas não disse nada.

— Não quero te ver chorando novamente, muito menos na

frente dos clientes. Vou te deixar ficar em Las Vegas, e para o seu

bem é melhor me respeitar.

— Como faço para saber se posso confiar em você? —

perguntou.

— Você nunca vai saber. Você simplesmente me obedece.

Ela me olhou demoradamente, e percebi sua desconfiança. É

natural que Martina se perguntasse se havia escolhido um lugar

errado, principalmente porque as pessoas que ela encontrou nesse


processo a fizeram mal.

— Sei que não tenho escolha, e vou obedecer. Obrigada, por

me deixar... ficar.

Martina disse as últimas palavras com certa hesitação. Ela


não estava certa de seu futuro, mas eu tinha bastante certeza de
que estaria mais segura aqui do que com qualquer outra pessoa.

— Saia por essa porta e ande até o final do corredor. Lá você

irá encontrar as outras meninas. Hoje você saberá com o que vai

trabalhar. Vá agora.

Martina obedeceu, e sumiu da minha frente.

Eu não podia dizer nada sobre a situação, não podia ajudar, e

a verdade é que eu nem queria. Ela já tinha sofrido muito e parecia


estar decidida a enfrentar o futuro.

O problema maior é: será que ela vai conseguir carregar o

fardo dessas mortes ou apenas desistirá da vida como minutos


atrás?
“H

...”

Fomos levadas para as nossas acomodações.

O prédio aqui era enorme, parecia um labirinto. Eu estava


meio esgotada, sem fôlego, e com muito calor.

— O que o chefão queria com você? — uma das mulheres

que estava ao meu lado perguntou.


Não respondi, só pensava na minha irmã, nas suas últimas

palavras para mim.

— Sabia que a maioria das meninas tem o sonho de ser


notada pelo Phillippe? Ah, eu sou a Ilka — disse, com um sorriso,

que nem se eu quisesse, retribuiria.

— Martina.

— Então, Martina. Podemos ser amigas? Não gosto de ir com


a maioria, e claramente as meninas te odeiam.

Olhei para o lado, e todas me encaravam como se eu fosse

uma adversária.

— O que eu fiz para elas?

— Teve a atenção do Phillippe, isso já foi o suficiente.

Fomos colocadas em dez suítes, e Ilka se ofereceu para ficar

em uma delas comigo, já que precisaríamos ficar em duplas.

— Estou ansiosa — falou, e parecia bem sincera. — Espero

que eu consiga o melhor trabalho possível.

Ilka era ruiva, possuía sardas, e era linda, preciso destacar.

Estava com uma roupa jeans comum, camiseta e um casaco de

couro, e escondia a forma do corpo, tal como eu.


— Eu não estou nem um pouco — respondi, sentando-me na
cama, e ela sorriu.

— Você fala muito bem inglês, mas estou achando o seu

sotaque engraçado. De onde você é?

— Sou polonesa.

— E eu húngara. Já foi na Hungria? Lá é lindo demais... —

disse olhando para cima, respirando fundo e relembrando algo.

Eu não queria conversar, na verdade, desejava sumir, queria

que todas as pessoas evaporassem da minha frente. Apesar de

tudo, ela me transmitia certa paz, e era tagarela que nem a minha
irmã.

— O que vamos fazer?

— Você não sabe?! — exclamou com surpresa, arqueando

as sobrancelhas, depois balançou a cabeça de um lado para o


outro. — Há quatro trabalhos iniciais possíveis aqui: garota de

programa, stripper, barman, ou...

— Ou...?

— Auxiliar de serviços gerais. Nesse trabalho específico


vamos limpar banheiros, sujeiras em geral, vômito, essas coisas.
— Entendo — respondi no automático.

— Você sabe dançar?

— Não.

— Quantos anos você tem?

— 21.

— Somos da mesma idade.

Eu ainda não entendi o motivo de tamanha empolgação, mas


cada pessoa era única e tinha uma motivação diferente na vida.

— Eu vou dormir um pouco — pontuei, por fim, deitando-me.

— Se achar que estou falando demais pode me dizer.

— Você está falando demais — respondi e ela sorriu.

— Gostei de você. Vamos ser boas amigas.

Ela fez o mesmo, deitando-se em sua cama, e após alguns

segundos tudo escureceu...


Lá fora, a noite era escura e havia uma lua mal iluminando a

cidade.

Tudo parecia quieto demais, mas foi só chegar perto das


janelas que notei inúmeros carros passando, bem como os letreiros
luminosos de vários estabelecimentos. Las Vegas era igual as fotos

que vi na internet.

Todas nós, as vinte mulheres, fomos levadas para outra sala,

e entregaram uma folha para cada uma.

Algumas delas comemoravam quando seus olhos percorriam

o papel, eu só fiquei lá olhando a minha função, indiferente.

— É... acho que ele não gostou de você, e pelo jeito nem de

mim — Ilka disse, aproximando-se.

Das vinte mulheres que chegaram, duas foram designadas


para os serviços gerais. Ilka e eu tivemos essa sorte.

— Pelo menos agora as meninas vão parar de pegar no seu

pé — falou, mas com o tom de voz triste.

Lembrei-me de uma frase que minha irmã sempre dizia pra


mim: "Nunca deixe que ninguém fique triste ao seu lado, e se puder
oferecer algo, que seja uma boa conversa".
— Qual a sua história? — perguntei e ela se surpreendeu.

— Martina e perguntas não combinam — respondeu,

sorrindo, e abri um pequeno sorriso também. — E você até sorriu.

— Não sorri.

— Vou te dar o benefício da dúvida. — Piscou. — Minha


história é bem simples: menina pobre que saiu do seu país para

ganhar dinheiro e ajudar a família. Tenho nove irmãos, e duas irmãs.


Sou a mais velha de todos, e depois que nosso pai nos abandonou

tivemos que nos virar, procurar comida até no lixo. Se for para
resumir, vi a oportunidade de vir para Las Vegas e a agarrei. Foi
preciso transar com alguns homens no processo, mas eu estava

decidida e aqui estou. Vou ganhar um bom dinheiro e voltar para a


Hungria, só preciso crescer aqui dentro, mas não tenho pressa,

confio no meu potencial.

— Entendi.

— E qual a sua história?

— Não quero falar sobre isso.

— Você é muito difícil, Martina! — exclamou, com as duas


mãos na cintura, e achei engraçado. Ela não estava brava, Ilka me
lembrava bastante Weronika.

Decidi então que eu gostava dela.


— Qual o sentido em colocar a mulher mais bonita dentre as

vinte para lavar banheiros, Phillippe?!

— Ela está onde eu quero que ela esteja. Algum problema


com as minhas ordens, Eros?

Eros, é o gerente de uma das minhas boates, a Vermont, a

maior de Las Vegas. Ouso dizer que a maior do país.

As mulheres de outros países que contrabandeei sabiam


muito bem o que as aguardava, e algumas até sonhavam em

trabalhar aqui.

Giorgio sabia o quanto eu era perfeccionista, e entendia que

é a beleza e a proatividade delas que as fariam prosperar nesse


ramo.

— Nenhum... — respondeu, com medo na voz. — É que a

beleza dela é bem marcante, e faria sucesso com os clientes.

A beleza é marcante, mas a história de vida é um inferno.


Não queria dar mais um motivo para que ela tirasse a sua

própria vida, por isso decidi que ela ficaria longe dos holofotes,
homens sem escrúpulos que frequentavam a boate podiam piorar

essa situação, e não iria correr esse risco.

— Quando for o momento, — e se esse momento chegar —,

ela fará um bom trabalho. Eu vou saber identificar.

A Vermont movimentava milhões de dólares por mês, e era a

minha principal fonte de renda. Se enganava quem pensava que a

atividade principal aqui eram as mulheres, porque passava longe


disso.

As drogas sim faziam sucesso.

Os clientes aqui eram bilionários, e para frequentarem a

boate precisavam pagar uma mensalidade de cem mil dólares cada.

O nível aqui era outro, e eles que mandavam. Tudo era liberado.

Drogas, mulheres, bebidas...

Essa era a combinação que deixava os meus clientes

malucos. E, se quiserem, ainda podiam ir em alguns dos meus

cassinos jogarem alguma coisa. Apesar de tudo, gostava de manter

essas questões separadas, meus cassinos eram só uma fachada, e


uma maneira de extravasar.
— Estará presente na boate hoje de noite?

— Claro. Sempre gosto de observar o primeiro dia delas.

E, precisava observar Martina também.

Não sabia ainda o motivo, mas estava tendo uma atenção


maior com ela, e nunca fiz isso com mulher alguma, nem mesmo as

veteranas.

Acho que ouvir a história dela teve papel fundamental para a

minha bondade. Ela ainda não sabia, mas iria me agradecer por tê-

la colocado nos serviços gerais...

Após terminar de colocar meu terno, observei que Otto

estava me ligando, e quando era ele quem fazia a ligação havia um

problema sério acontecendo.

— O que foi? — perguntei ao atender.

— Um dos traficantes da cidade enganou um dos nossos

clientes mais assíduos. Estou com ele aqui na minha frente.


— Qual droga e quantas gramas?

— Cocaína. Não sei ao certo, umas 100 gramas. O que faço

com o traidor? — indagou.

— Dê o exemplo e mate-o.

Desliguei.

Apesar da tendência de colecionar inimigos, eu nunca me

senti preocupado sobre as minhas decisões, afinal, eu era a lei


nessa família. A minha vida atual era governada por minhas próprias
regras que eram extremamente duras e sempre prevaleciam.

Sempre.

Eu tinha os melhores caminhos para fazer meu trabalho e


não me importar com nada. Com alguma frequência eu era um juiz,
determinando quem viveria ou morreria.

Nós, mafiosos, temos uma ética especial: não queremos

nada que não nos pertencesse, ainda assim...

Eu tinha os meios e o poder para me manter numa posição


mais alta;

Eu me preocupava apenas em fazer o que era melhor para

mim e para o nome da minha família;


Eu não temia nada e nem ninguém.

Minha vida era me envolver em guerras intermináveis, fazer

acordos, ganhar soldados, tudo pelo sangue do meu sangue.

Sempre tive insônia desde a adolescência, e isso piorou


quando assumi o papel de chefe do tráfico. Eu trabalhava bastante

para que a nossa organização sempre estivesse em expansão.


Gostava de revoluções.

Era eu quem as fazia.

Os meus lábios se mostravam sempre fechados quando

estava olhando fixamente para alguém, na esperança de que as


pessoas vissem em mim apenas uma ameaça obscura, poderosa e

indestrutível.

Eu não era apenas rico, era importante, porque o principal


objetivo era ser conhecido. Eu gostava de ter controle sobre tudo.

E, na minha cidade, eu ditava o ritmo.


“V ”

Nunca vi pessoas tão empolgadas e ansiosas para terem o


corpo explorado quanto essas mulheres.

De certa forma entendi o ponto de vista delas, e os valores

que elas ganhariam por noite me assustou.

Havia patamares aqui. As garotas de programa ganhavam

mais de 2.000 dólares ao dia, enquanto as strippers 500 dólares


mais o dinheiro que os homens jogavam em cada apresentação.
Quem trabalhava no bar ganhava 300 dólares, e os serviços gerais

rendiam 100 dólares fixos ao dia.

Não tinha pretensão de subir de “cargo”, na verdade, não


tinha pretensão alguma. Só queria me manter longe do meu país,

dos homens da minha família...

— Você observa tudo quietinha, não é? — Ilka perguntou.

— Não me restou muita coisa. É isso que posso fazer.

— Um dia você vai me contar o que aconteceu com você?

Não respondi.

Eu evitava pensar nisso. Todas as vezes que me recordava

do rosto da minha irmã eu tinha vontade de morrer, queria estar ao

lado dela, como ela fez inúmeras vezes.

— Saiba que sou ótima em guardar segredos, e já considero

você minha amiga, Martina. Gosto que seja tímida, eu falo demais.

Ilka não sabia a hora de parar de falar, e minha irmã era

exatamente assim. Acho que fico retraída porque quando a

observava via um pouco da Weronika, e uma tristeza profunda


tomava conta do meu coração.
Já fazia mais de um mês que ela morreu, ainda assim,
parecia que foi ontem.

— Vou limpar o banheiro da ala leste — disse, toda feliz, e

nem parecia que estava em um cargo que odiava. Às vezes me

perguntava se ela detestava alguma coisa, estava sempre feliz e

sorrindo à toa.

Neste momento estava passando o pano no chão em um dos

bares dessa imensa boate.

Aqui era enorme.

Dentro da Vermont havia pelo menos uns vinte ambientes.


Era um local bem iluminado, com uma decoração luxuosa, com

inúmeros móveis sofisticados, havia até mesmo uma piscina com

shows aqui dentro.

Os palcos e as luzes criavam cenas adoráveis. Assim que


você adentrava na boate, sentia-se quase hipnotizado pelas luzes e

cores vibrantes, além do som e a música que agitavam as pessoas.

Enquanto trabalhava, observei a poucos metros Phillippe em

uma mesa com vários homens, e todos estavam de terno,

elegantes.
Eles riam bastante, gargalhavam, menos ele. Phillippe

parecia um homem de gelo, e provavelmente nunca iria ver um


sorriso em seu rosto.

Conforme os minutos passavam eu ficava mais tranquila.


Meu turno já estava acabando.

De repente ouvi um barulho perto de mim, algo havia caído


no chão.

— Querida! Limpe aqui!

Um homem me gritou, bem na mesa onde meu chefe estava.

Rapidamente fui até eles, pegando o copo estilhaçado no

chão, limpando o líquido. Ao me levantar, senti uma de suas mãos


apalpando a minha bunda, e me esquivei, com medo.

— Não ouse encostar nela novamente! — Phillippe vociferou,

assustando o homem ao seu lado.

— Mas ela faz parte da boate, é uma propriedade sua, e


podemos desfrutar.

— Sim, ela é uma propriedade minha, mas errou na segunda

parte. Vocês... — girou a cabeça, observando todos na mesa oval —


... estão aqui para se aventurarem com as strippers, garotas de
programa e as mais variadas drogas que estão à disposição, e não

com funcionárias que trabalham na limpeza ou no bar. Entenderam?

— Desde quando? Todas aqui nos pertenciam, e você


mesmo disse — um dos homens questionou, nervoso.

— A partir de agora! E, falou certo: pertenciam. Há uma regra

nova, e todos os meses contrato mulheres novas para satisfazerem


vocês, seus gostos mais sujos, sórdidos e peculiares. Todos se

divertem com mulheres novas, então mostrem respeito pela minha


decisão. Alguém contra?

Eu não sabia o que fazer.

Fiquei paralisada observando Phillippe. Ele havia me

defendido com afinco, e não sabia o que significava.

Depois ele me observou, com os olhos frios como de


costume.

— Vá embora daqui e volte ao trabalho, Martina! — ele

ordenou, e imediatamente saí.


Gostaria que Martina não chamasse tanta a atenção, mas

aqui, no meio de praticamente 1.000 homens diariamente, isso seria


impossível, e nem sempre vou estar por perto.

Reparei que nas duas horas que permaneci na boate, vários

deles tentaram algum tipo de contato, e isso porque era só o


primeiro dia dela.

— Pietro! — chamei o meu chefe de segurança, o que ficava


mais próximo a mim.

— Sim, chefe — respondeu, enérgico.

— Quero que desloque alguém da equipe para ficar de olho

na Martina. — Apontei com a cabeça na direção da jovem.

— Ela é perigosa?

— Não. As pessoas que frequentam aqui são. Não vou

tolerar que nenhum homem encoste em um fio de cabelo daquela

mulher.
— Positivo. Deixarei dois dos meus homens mais confiáveis à

espreita para qualquer imprevisto. Ela ficará segura, é uma


promessa.

Pietro sabia como trabalho, e que não admitia falhas. O

motivo dele ser o meu chefe de segurança era justamente esse, ele

nunca me deixou na mão, e por várias vezes confiei minha vida a


ele nos últimos anos.

Levantei-me, indo até um dos bares.

Havia momentos que gostava de ficar sozinho, organizar

meus pensamentos.

Aqui na boate tudo era bem dividido, e havia mais de 20

ambientes. Procurei o mais calmo dentre eles, e me sentei, pedindo

um Macallan 55, um whisky importado.

Permaneci aqui por mais de trinta minutos sem ser

incomodado. Quando me levantei, girando meu corpo, fui

surpreendido por uma linda mulher, com as duas mãos perto da

barriga, olhando-me tímida.

— Algum problema? — questionei.


— Eu... queria agradecer — Martina respondeu,
envergonhada.

— Não tenha medo de falar o que está pensando.

— Aquele homem na sua mesa queria... acho que sabe. Eu vi

o jeito que ele me olhava.

— Nenhum homem vai se aproximar de você, Martina —

revelei, dando um passo à frente, e a vontade de tocá-la foi enorme.

— Você tem a minha palavra.

— Mas... e se eu me tornar stripper, ou... acho que sabe.

— É o seu desejo?

— Não, eu nem sei dançar e... fazer essas outras coisas,

sabe? — Ela mordeu os lábios, sexy pra caralho, e estreitei meus

olhos.

Não sei fazer essas coisas...

— Seja mais clara — grunhi, e ela levou um tempo, mas

ergueu a cabeça, mesmo embaraçada.

— É que... eu sou virgem, Phillippe.

Porra.
Eu literalmente não queria saber disso. Não precisava de

mais um problema na minha vida.

— Você já beijou alguém?

Merda. Que tipo de pergunta imbecil foi essa?

— Uma vez. Eu... não podia sair muito da minha casa, eu era
meio que uma prisioneira, sabe?

E novamente se tornou uma prisioneira quando veio trabalhar


para mim.

Pelo jeito a vida dela se resumia a ser uma propriedade de


algo ou alguém, e de certa forma isso me incomodava. A maioria

das mulheres queriam estar aqui para ganhar dinheiro, já ela só


desejava fugir, e mesmo sendo uma propriedade ela queria se
manter em Las Vegas.

A vida dela não foi fácil.

— Você já amou alguém, Martina?

— Não sei o que é isso. Quer dizer... a pessoa que eu mais


amava era a minha irmã, e...

Seus olhos se encheram de lágrimas e ela os fechou,

respirando fundo.
Ela certamente desejava ter mais autocontrole, mas não

conseguia. A única pessoa que ela amava foi tirada da sua vida, e
isso devia ser complicado de assimilar, ainda mais sabendo que foi

há pouco tempo.

— Sente-se — ordenei, e ela ficou confusa.

— Tenho que cumprir mais alguns minutos de trabalho.

— Sente-se, Martina. Odeio repetir duas vezes a mesma


coisa.

Ela obedeceu, fazendo o que ordenei.

— O que mais você ama na vida? — perguntei.

Martina nem precisou pensar.

— A minha irmã.

— Não é isso, Martina. Você nunca poderá vê-la de novo.


Minha pergunta é o que mais ama, a ponto de querer fazê-la se

sentir viva. Sei que tem algum sonho.

— Talvez você esteja certo — disse ela, relutante —, mas... é

difícil, porque o meu maior sonho era algo que a maioria das
pessoas do meu país tinham menos eu: liberdade.
Fitei a mulher à minha frente, e pude entendê-la um pouco
mais. Deve ser doloroso acordar todas as manhãs vivendo sob uma
ditadura.

— Você viveria nos EUA?

— Viveria em qualquer lugar longe da minha família —


respondeu, agora confiante.

Ainda não sei o real motivo, mas estava disposto a dar o que
ela tanto almejava. Porém, não seria fácil, comigo nada era fácil.

— No que depender de mim vou ajudar você a nunca mais


ver a sua família, se fizer algo por mim.

— Eu faço qualquer coisa!

Ela estava decidida, e eu acabei de agir com o meu coração,

o que era muito errado.

— Trabalhe seis meses em minha casa. Com o dinheiro que

vai ganhar você pode construir sua vida em qualquer lugar dos EUA.
Não haverá olhares desejosos em seu corpo como aqui na boate.

— As meninas falaram que... só as veteranas trabalham em


sua mansão.

— Estou abrindo uma exceção.


— Por que está fazendo isso? — perguntou, com os olhos
brilhando.

— Minha motivação não importa.

Martina ficou em silêncio, parecia bastante hesitante, como

se não confiasse em mim.

Observá-la de perto era mais perigoso do que imaginei, sua

beleza me prendia a atenção, me fazia querer cuidar dela.

— Eu não posso aceitar. — Ela olhou para o lado, e uma de


suas amigas acenou, toda sorridente. De imediato não entendi

nada.

— Me dê um bom motivo.

— Acho que fiz uma amiga, e quero ficar ao lado dela. Ilka
me lembra bastante a minha irmã.

— É ela? — questionei.

— Sim.

Levantei-me, e imediatamente chamei a moça, que ficou

pálida na mesma hora, andando até nós a passos largos.

— Seu nome é Ilka?


— Sou... eu mesma. — respondeu, olhando para a Martina,

tentando entender o que estava acontecendo.

— Você e Martina irão trabalhar em minha casa. Algum

problema para você?

— Não. Problema algum.

— Ótimo. Vocês começam amanhã. Otto cuidará de tudo.


“U ”

— Como você fez aquilo?!

Ilka dava pulinhos de alegria, abraçou-me, dando-me vários


beijos no rosto. Eu não estava entendendo nada.

— Ele me pediu para trabalhar na mansão dele, e...

— E...? — perguntou, ainda empolgada.

— Eu falei que não ia porque fiz uma amiga aqui.

Silêncio.
Acho que nem ela acreditou em minhas palavras.

— Então somos amigas mesmo? — Novamente ela nem

esperou eu responder, e me deu outro abraço. — Nem mesmo


todas as veteranas trabalham lá, só algumas e escolhidas a dedo.

Não entendia o motivo de Phillippe ter toda essa

preocupação comigo, apesar de que seus olhos às vezes


conseguiam me entender. Era bem estranho.

Apesar de ser um homem frio e duro, era difícil ficar na sua

presença sem observá-lo de outra maneira. Ele é atraente e

misterioso, e não o odiava como pensei inicialmente.

— Sim, somos amigas — respondi, abrindo um pequeno

sorriso.

Tudo foi muito rápido, e no dia seguinte Ilka e eu fomos para

a mansão do Phillippe.
Quando passamos pelo portão e entramos na propriedade
nos deparamos com um campo de golfe. Cerca de 100 metros

depois entramos em uma porta, efetivamente na mansão.

Era imensa.

Passamos por uma cozinha lindamente decorada, e vimos


inúmeros funcionários preparando a comida.

— Nosso salário aqui é maior do que qualquer um na boate,

até mesmo das garotas de programa — revelou, mas eu não me

importava com isso. Queria de certa forma me sentir segura.

— Vocês duas! — Um homem alto veio até nós, com cara de


poucos amigos. — Meu nome é Otto, e Phillippe me mandou para

falar algumas coisas a vocês. As duas irão trabalhar na cozinha.

Olga vai ajudar vocês no que precisarem e depois do expediente ela

vai mostrar onde vão dormir.

— Muitas pessoas dormem aqui? — perguntei, curiosa e ele

estreitou os olhos.

— Todos os funcionários da cozinha e os seguranças

particulares do Phillippe, incluindo ele, claro.

— Entendi.
Fomos guiadas até a cozinha, e falamos durante alguns

minutos com Olga. Ela nos explicou tudo que precisávamos, e disse
que o nosso trabalho de fato começaria amanhã.

Não era nada difícil, e as pessoas aqui pareciam mais


amigáveis, pelo menos as cozinheiras. Elas eram novas, tanto

quanto Ilka e eu, e vi o que as destacava das demais: a beleza.

Todas as mulheres aqui dentro eram lindas, e parecia um pré-

requisito.

Quando a noite caiu fomos para os nossos quartos. Ilka e eu

dormiríamos em quartos separados, mas um ao lado do outro.

— Aqui é grande e lindo! — ela disse, maravilhada e deitou-

se na enorme cama.

Estava contente em observá-la feliz. Pela história de vida

dela é algo importante.

— Eu gostei — falei, observando o amplo espaço.

— Obrigada, Martina. Se não fosse você não estaríamos


aqui.

— Não precisa me agradecer — respondi, já saindo do seu


quarto. — Só, por favor, não faça com que a gente seja demitida.
— Isso eu posso prometer!

— Rápido! Eu não consigo andar!

Todo o meu corpo doía, mas corria em direção à minha irmã.


Ela estava chorando, implorando por socorro.

Quanto mais eu andava, mais ela se distanciava de mim, e

meu desespero só aumentava. Aos poucos, a visão começou a ficar


mais escura. Meu tempo estava acabando.

— Socorro! Me salve, Martina!

Minhas pernas e braços estavam doendo de tanto correr, e

em um último esforço acabei caindo, deitando-me no chão...


Acordei agitada na cama, desesperada. Observei a janela, o
céu negro, e a escuridão só não eram piores do que as lágrimas que
escorriam pelo meu rosto.

Meu corpo estava tenso e logo a minha mente estava

arrasada por novas dúvidas. Quando estávamos falando de dor, ela


soava como uma música, e chegava com tudo.

Saí do meu quarto, indo até a geladeira. Tomei dois copos de

água, e fui até a sala, sentando-me em um sofá, observando a


madeira queimando à minha frente.

— Noite difícil?

Tomei um baita susto com essa voz a alguns metros de mim,

sentado em um dos sofás paralelos. Sua visão estava um pouco


encoberta, mas percebi que era Phillippe segundos depois.

— Sim, senhor — respondi, engolindo em seco, tentando me


recompor.

— Me chame só de Phillippe.

— Tudo bem. Eu... realmente estou sem sono, Phillippe.

— Pesadelos com a sua irmã?

Assenti.
— Como sabe?

— Os fantasmas nos assombram a todo momento,

principalmente quando presenciamos alguma morte, isso fica mais


presente em nossa cabeça quando é a primeira vez que acontece.

— E você já presenciou?

Dei-me conta da pergunta idiota que fiz a um mafioso, e

fechei meus olhos, sorrindo um pouco.

— Ignore a minha pergunta.

— Você devia sorrir mais vezes — ele disse enquanto bebia o

líquido em seu copo, olhando para a lareira, pensativo.

— Não tenho motivos para sorrir.

— Discordo. Você está viva, permanecer ativo nesse mundo

deve ser sempre o nosso maior desejo.

— Você está dizendo isso para quem tem saudades dos

mortos. Eu daria a vida pela minha irmã.

Dessa vez ele me olhou, e parecia de certa forma me

entender.

— Sobre isso você está completamente certa.


— Você tem irmãos? — perguntei para o Phillippe.

— Sim. Um irmão.

— Como ele se chama?

— Apolo.

— As meninas que vieram comigo falaram bastante de você,

mas nunca ouvi esse nome.

— Não se preocupe, você nunca irá vê-lo, ele escolheu outra


vida.

Ficamos sem falar nada durante algum tempo, mas as

lembranças da minha irmã afloraram os meus pensamentos, e


fechei meus olhos. Momentos depois as lágrimas rolaram no

mesmo, e não conseguia parar de chorar.

Ao olhar para o lado, vi que Phillippe me observava, e tentei

disfarçar. Odiava chorar na frente das pessoas, e ultimamente ele


estava na maioria desses momentos.

— Me desculpe pela pergunta sobre o seu irmão, é que... eu

fico pensando nesses laços familiares.

— Me irrita você ficar pedindo desculpas toda hora —


respondeu, mas com um tom calmo dessa vez.
Em seguida ele se levantou, e veio até mim, parando à minha

frente. Não entendi o que ele queria.

— Levante-se.

Fiquei encarando o homem, receosa. Com certo orgulho


levantei-me, minha roupa estava toda molhada de lágrimas.

— Você tem medo de mim, Martina?

— Eu...

— Quero a verdade. Gosto de conversar com pessoas

sinceras.

— Eu tenho medo dos homens em geral, a minha família... —

parei, relembrando as barbaridades que eles fizeram — ... colocou

esse medo enclausurado em mim.

— Não sou a sua família — revelou, com a voz um pouco


mais autoritária. — E, quero que preste bem atenção: nunca vou te

fazer mal, eu prometo.

Algumas lágrimas ainda escorriam do meu rosto, e ele ficou


me olhando, apenas como se esperasse algo.

— Desculpe, Phillippe.
— Nada de desculpas, Martina. Não mais.

Assenti.

As emoções ainda afloravam meus pensamentos e fechei

meus olhos. Tentava a todo custo conter as lágrimas, mas em vão.

Momentos depois senti uma de suas mãos tocando as minhas,

parecendo me puxar, e simplesmente deixei.

Nada foi dito, e quando percebi estava abraçada a ele. O seu


toque me fez sentir uma sensação estranha, e após algum tempo as

lágrimas acabaram.

— Respire fundo, Martina. Puxe o ar, segura e depois solte.


— Fiz o que ele me pediu, ainda agarrada ao seu corpo, não

querendo me afastar. — Evite pensar em coisas ruins, relembre os

bons momentos com a sua irmã, algum momento feliz que só vocês
duas estavam juntas.

Novamente obedeci, recordei-me de quando íamos na

cachoeira juntas, e ficávamos embaixo da água gelada, divertindo-

nos como crianças.

Essa foi a melhor época da minha vida.


Abri um pequeno sorriso, e abracei mais forte o homem à

minha frente, que simplesmente permaneceu ali, por mim. Dessa

vez suas mãos também envolveram meu corpo, e me senti cuidada,

pelo menos um pouco.

Conforme o tempo passava eu ficava melhor, controlando a

minha respiração, e quando abri meus olhos, eu o percebi me

fitando. Seus olhos azuis vívidos cercavam-me, era como se

observasse além, e fiquei sem saber o que fazer.

Sua boca estava um pouco aberta, como se quisesse falar

algo. O silêncio permanecia por alguns instantes, e ficamos nos

olhando.

Pude reparar melhor o seu semblante, e o seu rosto me


deixava paralisada. Havia dureza ali, ainda assim, a beleza

precisava ser destacada. Ele tinha jeito e postura de homem, e isso

me atraía, o que eu não sabia é se isso era bom ou ruim.

Percebi uma de suas mãos vindo lentamente até o meu rosto,

em seguida, ele limpou uma das lágrimas que se destacava na

minha bochecha, ainda me olhando com dureza.

— Vá se deitar. E, quando tiver alguma crise, respire fundo e


lembre dos momentos bons com a sua irmã. Isso vai ajudar.
— Obrigada. Seu gesto fez mais por mim do que pensa.

Eu estava com vontade de abraçá-lo novamente, mas virei-

me com muito custo, subindo as escadas e voltando para o meu


quarto.

Meu coração estava leve, e pelo menos hoje podia dizer que

lutei bem contra o meu passado, graças ao Phillippe...


“O ...”

— Pietro, seu trabalho continua o mesmo. Martina não

trabalha mais dentro da boate, mas não vou admitir que ninguém
que frequenta essa casa a deixe desconfortável ou tente uma

aproximação, principalmente algum integrante da organização.

— Sim, chefe.

O silêncio podia ser desconfortável quando a voz de alguém

ficava presente em nosso subconsciente.


Cada pessoa era única e encarava a dor de um jeito

diferente, e Martina não fugia à regra. Ela se sentia cheia de culpa,


e seu sofrimento ficava cada vez maior, mesmo não sendo a

responsável direta pela morte da irmã.

O mundo que ela vivia tinha bastante semelhança com o

meu. Havia medo, dor e tragédias marcando a sua vida. O que nos
diferia era que nunca me senti aprisionado, geralmente era eu o juiz

das milhares de vidas que controlava nessa cidade.

Depois que o dia raiou fui até um local conhecido.

Havia acabado de chegar na casa dos meus pais, que fica a

1km da minha mansão.

Depois que Eustathios, meu pai, aposentou-se, ele não quis

mais saber de trabalho algum. Ele me treinou tão bem que não

havia nenhuma chance de eu vacilar, e eu era muito mais letal e

esperto do que ele. Ele criou um soldado e um estrategista.

Um soldado assassino, executor.

Um estrategista calculista, premeditado.

Minha mãe se chamava Ophelia, e era bondosa, o completo


oposto do meu pai. Ouso dizer que ela era única pessoa desse
mundo que meu velho nunca levantou a voz.

Se havia uma coisa que ele me ensinou sobre as mulheres,

era que as esposas deviam ser tratadas com respeito, pois faziam

parte da família, e como parte de um sobrenome forte, perante Deus

éramos todos iguais.

— Filho... — Minha mãe veio até mim, e me deu um abraço

demorado.

Ela era a única que fazia isso e nunca me acostumei com

esse gesto. Odiava abraços, mas não os dela. E, ao que parecia,

nem os de Martina.

— Com vocês estão? — perguntei, observando meu pai

aparecer na sala, andando com dificuldade.

Anos atrás ele foi baleado cinco vezes, quando ainda estava

no comando dessa organização. A maioria dessas balas foram em


seus membros inferiores, mais especificamente na região do joelho.

Ele levou um tempo para se recuperar, mas aí veio a artrose e a

dificuldade em caminhar. Além do mais, ele já é um senhor de idade

com seus 57 anos.

— Estamos bem, e você filho?


— Tudo nos conformes. Pai... — Fui até ele, beijando a sua

mão.

O respeito era tudo em nossa família, e iria levar isso para as

próximas gerações.

— Fiquei sabendo que você está expandindo os negócios da

família. Isso é arriscado, mas estou orgulhoso de ter dado um passo


a mais.

Ele se referia ao contrabando de armas da Europa.


Identifiquei uma brecha no sistema de alguns países, e decidi

explorar essa situação que era pouco utilizada, pois tinha riscos
baixos.

Assumi a máfia aos 25 anos de idade. Éramos conhecidos no


país pelo nosso sobrenome do meio e nossa organização era

conhecida como Vlachosia.

— Estou investindo tempo em criar oportunidades, e essa é

uma boa saída para não ficar refém do tráfico de drogas.

— Entendo. Não acha que devemos fazer uma festa para

comemorar seus 33 anos semana que vem?


— Não é necessário, pai. Não tenho tempo para festas, há

muito trabalho a se fazer.

— Entendo. Alguma notícia do seu irmão?

— Não, e nem desejo ter. Apolo seguiu o próprio caminho, se


distanciou da família e da máfia, não há o que fazer.

— Vocês eram bem próximos. E amigos.

— Continuaremos tendo essa amizade, ele é sangue do meu


sangue, mas a vida dele pede que não o procuremos. Cada um tem
uma escolha, e ele fez a dele. Espero que ao menos esteja feliz com

a sua decisão.

— Não poderia ter um sucessor melhor que você.

— De fato, pai. Vou honrar as tradições da família, nem que

eu pague com a minha própria vida se preciso.

— Já disse que odeio me reunir com você?


— Me poupe das suas piadas, Logan. Vá direto ao ponto e
me diga o que preciso saber.

Logan abriu um sorriso debochado, em seguida me entregou


alguns papéis.

Analisei-os durante alguns minutos, satisfeito com o que vi.

Ele podia ter vários defeitos como pessoa, mas nunca vi um

advogado tão bom quanto ele. Em todos os sentidos.

Acho que a sua vida dura no passado o moldou dessa forma.

Logan não teve muita escolha.

— Muito bem, está tudo aqui. — Ajeitei-me melhor na

cadeira, observando-o. — No começo eu não achava que seria uma


pessoa útil, mas me surpreendi com você ao longo dos anos.

— Você diz porque tive uma infância dura, perdi meus pais e
quase me matei na adolescência?

— Isso mesmo. — Assenti, um pouco surpreso por ele saber


do que eu falava.

— Vocês, mafiosos... — Levantou-se, respirando fundo,


depois me olhou de uma forma cínica. — Deixa eu te contar uma
coisinha sobre mim: ninguém nunca vai descobrir nada sobre o meu
passado, porque eu não tenho passado. Mas estou feliz que achou
que sabia de alguma coisa, é sinal de que escondo muito bem a
minha trajetória.

Depois disso ele saiu da minha sala, e como previ meses

atrás, meu advogado não gostava de ser vigiado, muito menos de


deixar a sua vida aberta para as pessoas. Acho que nunca saberia o
que aconteceu com ele, e agora pouco importa, independentemente
disso preciso reafirmar que tinha um grande respeito por esse cara.
“U

...”

— Dormi igual uma princesa ontem — Ilka disse enquanto


preparávamos o almoço, junto com as mais de trinta mulheres que

trabalhavam na cozinha.

— Eu também.

Isso não deixava de ser verdade. Depois que voltei da sala


consegui pegar no sono tranquilamente, e Phillippe era o
responsável.

Sentir o conforto de uma mão firme e segura me ajudou a

afastar momentaneamente os meus medos. A sensação de não


estar sozinha era tão agradável que parecia de certa forma

libertador.

Sempre fui uma prisioneira vigiada em minha casa, e aqui,


por mais que tenha um papel fixo, não havia olhos que me

condenavam, às vezes eles até me entendiam...

— Meninas, não podemos errar! Hoje é o dia mais importante

da semana.

Olga, a cozinheira principal estava nos auxiliando,

principalmente Ilka e eu, que éramos novatas.

Pelo que entendi o almoço da família Vlachos era meio que


uma tradição, pelo menos hoje, aos sábados.

— Tudo precisa estar perfeito — ela avisou, enquanto

caminhava entre as mulheres.

Sempre me virei bem na cozinha, essa era uma das minhas

obrigações na minha antiga casa. Já a Ilka...

— Eu tô muito ferrada. Não sei cozinhar uma batata!


Sorri.

Entendo-a. Pelo que ela me disse, seu papel era trabalhar

fora quase o dia inteiro, e mal sobrava tempo para os afazeres

domésticos.

— Vou te ajudar em tudo. Não se preocupe.

Eu a ajudei no que podia, e a parte boa era que como éramos

recém-chegadas, os trabalhos mais fáceis foram dados a nós, o que

Ilka mais gostou foi de lavar alface, por ser fácil demais.

Após algumas horas preparando tudo, fomos até o salão

principal, onde havia inúmeras pessoas.

Pelo jeito a família dele era enorme. Na mesa retangular

contei ao menos vinte pessoas, e não vi sorrisos entre eles, muito

pelo contrário.

— Aqueles são os pais do Phillippe — Ilka disse, baixinho.

Observei os dois, e a mulher parecia mais agradável, já que

conversava e gesticulava bastante, até vi um pequeno sorriso em

seus lábios. O pai dele já era diferente, desconfiado e quase não

falava, somente observava ao redor, as pessoas conversando.


Quando meus olhos percorreram as outras pessoas vi que

alguém já estava me olhando: Phillippe.

Fiquei levemente sem graça ao perceber que ele estava me

observando, principalmente ao relembrar os nossos momentos


ontem. Com os olhos ele parecia ter me perguntado como eu

estava, e pensando que era isso mesmo acenei com a cabeça,


sorrindo rapidamente. Em seguida ele fez o mesmo, acenando.

Esse tipo de linguagem era nova para mim, mas de certa


forma acalmava o meu coração...
Martina era boa em entender gestos, e com um simples

aceno me respondeu que estava bem. Aprendi a me preocupar com


ela, e queria entendê-la um pouco mais.

Dois dos meus primos perguntaram quem era ela, e deixei

claro que não deveriam se aproximar.

— Ela é intocável. Não se esqueçam disso.

Todos tinham respeito por mim, e a minha palavra era a final.

— Lote da Europa? — Adônis, meu primo mais velho,


perguntou.

— Sim.

— Preciso ver isso mais de perto — falou, e me lembrei da

dívida de Giorgio.

— Em poucos dias chegarão mais mulheres.

— Posso recebê-las? — questionou, animado. — Quero

alguém exclusiva pra mim.


Nos próximos dias teria muitas tarefas, e seria uma boa

inteirar Adônis de assuntos familiares. Ele era jovem, — havia


acabado de completar 21 anos — ainda assim, era necessário que

entendessem como era o processo da nossa família.

— Tudo bem. Vou pedir para Pietro te acompanhar e falar o

que deve ser feito.

— Obrigado, Phillippe.

— Posso ir com ele? — Orestes, seu irmão, inquiriu.

— Como quiser. Só não façam nenhuma idiotice. Vou passar

a vocês o que deve ser feito. Ouviram bem?

Ambos assentiram.

Na falta do meu irmão eles eram as pessoas mais próximas a

mim, e queriam aprender sobre tudo. Ainda não sabia se eles


seriam meus sucessores, mas de acordo com a nossa política se eu

não tivesse filhos homens, meus primos ficariam no comando

quando eu completasse 50 anos de idade, no caso o mais velho

deles, Adônis.

A nossa organização foi bem planejada, e seguíamos firme


em nosso propósito. A nossa união era muito forte, isso era o que
tínhamos de mais valioso.
“U ...”

Gerenciar vários estabelecimentos era cansativo,

principalmente quando erros eram cometidos. Na semana que se


passou tive vontade de vender os meus cassinos, mas precisava de

um lugar seguro para lavar dinheiro, e isso estava fora de cogitação.

Resolvi os mais variados problemas, e quando cheguei em


casa pude enfim relaxar. O dia foi exaustivo.
Minha mansão era enorme, e parecia vazia quando fui até a

sala de estar. Nem parecia que pelo menos cinquenta funcionários


trabalhavam aqui, desde seguranças até auxiliares de cozinha.

Passei pela sala, o local onde encontrei Martina dias atrás, e

ela não estava lá.

Pensei bastante nela nesse dia específico, e senti falta de


sua presença. Gosto de cuidar dela, e me sentia na obrigação de

zelar pelo seu bem-estar.

Executando algo que geralmente não fazia, agi sem pensar,

indo até a porta do seu quarto, dando batidas no mesmo.

Após algum tempo, ela abriu a porta, surpresa em me ver.

— Phillippe?!

Não falei nada, só reparei na linda mulher à minha frente, e vi


que estava fodido.

Ela estava de camisola, os cabelos bagunçados, e um sorriso

sem jeito nos lábios. Observei também que seus olhos estavam

cansados, e parecia estar com dificuldade em dormir, ainda assim,

era como se a sua beleza não me desse escolhas.


Vislumbrar a sua pele me deu vontade de tocá-la, de protegê-
la, de abraçá-la. Queria tudo ao mesmo tempo, e era estranho sentir

algo assim. Nunca me apaixonei, jamais sequer pensei em uma

mulher mais de um dia.

— Ainda com dificuldade em dormir? — perguntei, ainda

admirando a bela mulher à minha frente.

— Não. Estou melhor — respondeu vacilante, e neguei com a

cabeça, sabendo que não era a resposta verdadeira. — Bom...

ainda é difícil.

— A dor não vai passar, mas com o tempo ela diminui.

— Espero que sim — respondeu, mirando o chão, claramente

pensando na irmã. — Você... quer entrar?

— Melhor não. — Fui rápido na resposta. — Eu só queria

saber como estava.

— A nossa conversa me ajudou bastante. Eu... queria

agradecer. Pela cama, pelo trabalho. Por tudo.

— Eu disse que vou te proteger, e não volto atrás em minhas

palavras.
Era complicado lutar contra a vontade do meu corpo, ainda

mais agora estando frente a frente com ela. A inocência de Martina


me encantava, e nunca senti isso. Geralmente tratava as mulheres

ao redor como objetos, ela foi adquirida assim, e veio com um


propósito: satisfazer meus clientes.

Mas agora, não aceitava o propósito ao qual ela foi


destinada. Desejava-a para mim.

— Há algo que queira me pedir, Martina? Qualquer coisa.

Seus olhos azuis me fitavam levemente ansiosos, dizendo-

me que ela queria algo, só não sabia como falar.

— Não, Phillippe. Não tenho como agradecer o que está

fazendo por mim, e... dias atrás foi o seu abraço que me acalmou —
revelou toda envergonhada.

Dei um passo à frente, sem desviar meus olhos dessa linda


mulher. Depois, toquei o seu rosto, certo de que eu estava a um

passo de cometer outro erro. O primeiro foi a aproximação.

Eu estava tentando lutar contra meus demônios. Possuir essa

mulher seria a minha passagem para o inferno, e não queria levá-la


comigo. Já estávamos fodidos o suficiente, e era bem provável que
ela caísse em desgraça se nos aproximarmos mais.
— Meu abraço sempre estará disponível para você. Sempre

— pontuei, passando o polegar em seu rosto, admirando cada traço


de sua boca, hipnotizado.

Pela primeira vez eu pude ver um sorriso destacado em seu


rosto, e em seguida ela me abraçou, e retribuí aquele gesto.

Tudo que estava acontecendo era muito estranho.


Demonstrar carinho sempre foi algo que nunca gostei, mas eu tinha

a necessidade de provar a ela que estava presente. E eu faria isso.

Sentir o seu corpo junto ao meu trouxe à tona sensações que

até então eu havia esquecido, e tive a comprovação que estava


cercado de perigos, e que provavelmente iria entrar de cabeça

nessa armadilha de olhos azuis cada vez mais vivos...

Depois de mais alguns momentos ela cessou o abraço,

porém eu não queria, já estava viciado em sentir seu corpo contra o


meu, então fui até ela, e tomei a sua boca em um beijo de devoção.

Enquanto meus lábios tocavam os seus, minha mente


perguntava o que raios eu estava fazendo, contudo a resposta

estava clara: desbravando o desconhecido.

— Phillippe... — sussurrou baixinho, e sua voz sexy só fodeu


um pouco mais com o meu psicológico.
Ela era virgem, intocada e pura;

Eu era um monstro, assassino e criminoso;

Ela não merecia um homem tão fodido, e sim um homem que


amasse cada parte do seu corpo;

Eu não tinha o direito de fazer amor com ela, mas a desejava


com todas as minhas forças.

— Eu quero você, Martina... — murmurei no seu ouvido, e


seu gemido me fodeu um pouco mais.

— Eu também, Phillippe...

Ouvi um barulho, e isso me alarmou. Meu celular estava

tocando, e nesse horário isso não é habitual. Depois que o peguei vi


o número do Pietro, e me alarmei, atendendo na sequência.

— Phillippe, estamos com um grande problema! — exclamou,


e antes de perguntar sobre o que se tratava ouvi um tiro, e tudo fez

sentido na minha cabeça, principalmente pelo horário.

— Estou indo com reforços.

Desliguei o telefone, e vi que Martina não estava entendendo


o que se passava.
— Preciso ir.

Foi difícil deixá-la ali, mas eu sabia que esse assunto era

mais importante, uma questão de vida ou morte...


“A

Fomos eu, quinze seguranças e dois médicos até onde Pietro

estava. Eu já tinha uma ideia do que se tratava, mas confirmei


quando rastreamos o seu celular.

Ao chegarmos lá os tiros haviam cessado, mas inúmeros

corpos estavam no chão, e dois deles eu conhecia muito bem:

Adônis e Orestes, meus primos.


— Rápido, examinem-nos! — ordenei aos médicos, e depois

fui até Pietro que estava escorado em uma parede.

— Chefe...

— O que houve?!

— Nos emboscaram — disse com dificuldade, um dos seus

braços sangrando. — Enquanto conferíamos as mulheres quatro

homens nos surpreenderam e abriram fogo.

— Eles estavam junto com elas?

— Não. Fomos pegos por trás.

Observei ao meu redor, e não vi mulher alguma no chão.

— Conseguimos abatê-los, mas seus primos ficaram feridos,


e Giorgio também. As mulheres não tiveram ferimentos, mas acho

que perdemos alguns homens.

Isso é estranho.

Não tínhamos rivais aqui na cidade, ou pelo menos não os

conhecia. Ainda assim, o alvo aqui era eu. Sem sombra de dúvidas.

Depois de mais alguns minutos fui informado que meus

primos estavam vivos, mas que os ferimentos eram graves.


— O que fazemos com os homens que nos emboscaram?
Dois estão vivos e dois morreram — um dos médicos disse.

— Levem os dois que estão vivos para o nosso hospital, e

façam de tudo para que pelo menos um desses assassinos fique

vivo. O sortudo vai ter uma conversinha comigo, a última e pior de

toda a sua miserável vida...

Tínhamos um hospital aqui na cidade de Las Vegas, onde

somente as pessoas da família e meus empregados podiam usar.

Ele era clandestino, ainda assim, era um dos melhores do país.

Permaneci no local por pelo menos três horas aguardando

notícias, e depois de algum tempo me informaram que o estado de


saúde de Orestes era estável, só que os médicos também me

disseram que Adônis estava entre a vida e a morte. Os tiros que ele

recebeu foram em ângulos menos estáveis, um atingiu seu fígado,


outro o seu estômago. Agora, ele passava por uma cirurgia

delicada.

Em torno do hospital havia cerca de cinquenta de meus

homens espalhados pelo perímetro.

Após mais uma hora, os médicos saíram da sala onde estava

Adônis, e pelo rosto ficou óbvio que não era nada bom.

— O que estão esperando? Expliquem, agora!

— Orestes permanece estável, e por mais que tenha levado


mais tiros nenhum deles atingiu um órgão. Já o Adônis teve uma

hemorragia durante a cirurgia, tentamos controlá-la de todas as


formas, mas infelizmente ele não resistiu e faleceu.

Ele não resistiu e faleceu.

— E os assassinos?

— Um deles morreu há alguns minutos, o outro está bem. As

balas não atingiram órgãos vitais.

— Quanto tempo até ele se recuperar?

— Menos de uma semana.


Quando havia uma morte em nossa família sempre era uma

dor tremenda, mas quando era relacionado a algum ataque contra a


nossa organização eu ficava furioso. A última pessoa que

assassinou um dos membros da minha família perdeu mais do que


a vida, perdeu a sua geração. Eu matei todos que tinham algum laço

genético com o infeliz, e faria isso agora também.

Eu tomaria atitudes.

— Quero o melhor tratamento possível para esse homem.


Em menos de uma semana ele irá desejar ter morrido nesse

confronto...

O dia do funeral do meu primo foi um dia triste para mim e


para todos os outros membros da família.

Ninguém ousava atacar a nossa família dessa maneira, e por


isso o meu ódio cresceu mais ainda conforme os dias se seguiram.

Não importava quais medidas tomaria, eu apenas queria acabar


com essa situação.
Jurei aos pais de Adônis que faria justiça com as minhas
próprias mãos, e que se fosse preciso rodaria o mundo para achar
os responsáveis por aquele ataque. Não sossegaria até dizimá-los

da face da terra.

— O que você tem pra mim? — perguntei ao Otto, que estava


cuidando dessa situação.

— Os quatro homens possuem uma tatuagem na nuca.

— Que tipo de tatuagem?

— Uma serpente enrolada em uma espada. Mandei as fotos


para você.

— Mais alguma coisa?

— Não.

Depois que Otto saiu liguei para o Logan, e prontamente fui


atendido.

— Phillippe...

— Preciso de você.

— Antes de qualquer coisa, meus pêsames.


— Os mortos não voltam e não falam. Eles ficarão
eternizados, mas o que nossa família deseja é a vingança. Imediata.

— Por isso me ligou — me anteviu. — O que descobriu?

— Os homens possuem tatuagens idênticas, e preciso

descobrir a ligação delas. Qualquer coisa que descobrir para que eu


encontre a família deles.

— Me envie.

— Seja rápido, Logan.


“O ,
...”

Os quatro dias que se seguiram foram sombrios.

Descobri pelos funcionários o que aconteceu naquela noite

que Phillippe foi até o meu quarto, e o choque maior de todos foi

Adônis ter perdido a vida no tiroteio.

Desde aquele dia não conversei com Phillippe. Até o via


algumas vezes, mas ele nunca me observava de fato. Eu notava em

seu rosto bastante preocupação e raiva.


Muita raiva.

Ontem tentei conversar com ele, mas quando o vi, ele estava

saindo da mansão, e não pude me aproximar. Tinha vontade de


dizer que o ajudaria no que precisasse, mesmo sabendo que de fato

eu não poderia fazer nada. O que tínhamos em comum era que

agora perdemos um membro da família, e eu sabia muito bem como


era essa dor, havia momentos que pensávamos que a tristeza iria

nos sufocar, e não visualizávamos nenhuma saída.

Fiquei olhando para o teto deitada em minha cama.


Permaneci assim por mais de duas horas, já que o sono não vinha.

Ainda hesitante, levantei-me, tomei um banho rápido e saí do meu

quarto, decidida a fazer algo que não havia imaginado inicialmente.

Não sei se seria prudente, mas agora estava na porta do

quarto de Phillippe, observando-a, pensando no que fazer.

Ignorando o medo em meu coração bati na mesma, e após


alguns segundos ela se abriu, e pude vê-lo.

Phillippe estava sem camisa, e ao reparar melhor em seu

tórax observei inúmeras tatuagens, entre elas: um crânio, uma

âncora, um anjo, um pássaro, e muitas mais. Talvez as tatuagens


tivessem um significado para a máfia, mas foquei em seus olhos
nesse momento.

— Algum problema, Martina? — A voz dele foi dura e

cortante.

— Me desculpe te incomodar. É que... eu precisava saber


que estava bem — falei, tentando impedir que minha voz

tremulasse.

Phillippe me olhou por um longo tempo, sua expressão

estava inalterada. O olhar estava frio e inquieto. Havia raiva

estampada em seus olhos também.

De certa forma eu temia a sua reação, mas não deixei de

observá-lo por um segundo sequer.

— Entre — ele disse sério e abriu mais um pouco a porta,

indicando que eu passasse, depois virou de costas, e pude observar


mais tatuagens em seu corpo.

Fechei a porta e fiquei de pé, tentando escolher as melhores

palavras para essa situação.

— Eu... estou preocupada com você — revelei.


— Não há com o que se preocupar. Eu já disse que terá

proteção independentemente do que possa acontecer comigo.

— Não, Phillippe. Eu estou preocupada com você! — repeti.

— Não estou falando de mim.

— Melhor não fazer isso.

— O quê?

— Se preocupar comigo. — Ele deu um passo à frente, sério.


— Todos os dias a minha vida corre riscos, e não preciso que tenha
outra preocupação na sua vida.

— Mas eu me preocupo — respondi, observando os lindos

olhos do homem à minha frente. — E, isso não vai mudar, a não ser
que... me tire dessa casa e eu não te veja mais.

Phillippe se aproximou um pouco mais, e sua mão direita foi

de encontro ao meu pescoço, fazendo-me fechar os olhos da forma


repentina que ele o segurou.

— Você vai ficar aqui, Martina. Eu vou cuidar de você e te


proteger de qualquer coisa.

A mão que estava no meu pescoço agora me puxou para si,


e eu não conseguia tirar meus olhos dos seus.
— Minha vida é baseada no medo. Eu tenho medo de que

esses homens... façam alguma coisa com você.

— Não se preocupe, quando eu descobrir quem são vou


matar todas as pessoas da família deles. Todas. É isso que nós
fazemos quando somos atacados, eliminamos até a raiz dos nossos

problemas.

De certa forma entendi o que uma família fazia: ela se

protegia. Isso nunca aconteceu comigo, ainda assim, ao seu lado


me sentia alguém.

Mesmo não gostando de nenhum tipo de violência, sabia que


esse era o trabalho dele, defender os seus, e sendo o chefe da

família era o que devia ser feito para garantir a integridade de todos.

— Posso ficar aqui com você? — perguntei.

— Não acho uma boa ideia.

— Por quê?

— Porque nada vai me fazer parar se começarmos algo.

— Faça o que fiz durante toda a minha vida. Deixe as coisas


fluírem normalmente...
Apesar de estar com um pouco de medo, escolhi as
consequências dos meus atos.

Vir até o seu quarto era o que eu desejava, e de certa forma


queria desbravar o desconhecido, entender um pouco mais do seu

coração.

Entendo que era uma mulher fantasiosa, e mesmo no meio


de tantos homens sem coração acreditava que podia ser feliz. Fazer

alguém feliz.

Quando as mãos de Phillippe se apossaram de mim fechei


meus olhos, deixei meu corpo ser conduzido pelo beijo e carícias
que ele me fazia. Pude notar nos seus olhos quando ele passou a

desejar mais do que um beijo.

Com movimentos rápidos e seguros enlaçou minha cintura,

seus beijos agora incitavam meu corpo ao sopro de uma brisa


quente, fazendo-me queimar por dentro.

Pouco a pouco seu toque fez com que meu corpo relaxasse,
seus músculos pressionados contra o meu tórax reivindicavam para

si o total controle sobre mim.

Nunca fiquei tão intimamente próxima a um homem como

agora, e a sensação é indescritível...


— Menina, saiba que eu vou tentar com todas as minhas
forças me controlar... — disse, com a testa colada na minha, lutando
contra algo em seu corpo.

— Me faça sua...

Ele me pegou no colo, caminhando lentamente até a cama,


depois me colocou lá, admirando-me, como se eu fosse a única

mulher na Terra, e isso me deixou mais excitada. Depois, veio por


cima de mim, e sua língua passeou pelo meu corpo, começando

perto da orelha, passando pelo meu pescoço, e agora perto dos

meus seios.

Ele me olhava com desejo, como se perguntasse se eu


queria aquele momento, por ser virgem, mas eu desejava.

Phillippe retirou a minha camisola, observando meus seios,

depois segurou minhas duas mãos, e finalmente sua boca entrou

em contato com o meu mamilo, e isso foi muito bom...

Sentir a sua língua roçando a região dos meus seios me

deixou em frenesi, sua boca me chupava e quase os sugava por

completo. Não tinha os seios grandes, mas gostava do tamanho

deles, e ao que parecia ele também.

— Phillippe...
— Você é linda, menina. E deliciosa...

Sua boca foi descendo, enquanto eu permanecia em brasa,


com os olhos fechados, sentindo novas sensações que nunca havia

experimentado.

Quando ele retirou a última peça do meu corpo, senti-me

envergonhada. Agora ele me olhava como se Deus tivesse me


criado exclusivamente para ele, e não outro homem.

Depois que sua língua roçou em minha entrada meus

pensamentos todos se embaralharam.

Era uma sensação tão gostosa ser chupada por ele...

Phillippe cobria toda minha pele com suas carícias, era como

se já soubesse os estímulos certos, e ele não parou. Enquanto

chupava meu clitóris, suas mãos desbravavam meu corpo, fazendo-

me gemer, implorar por mais.

Eu queria me jogar ao desconhecido, e poucos minutos foram

necessários para meu corpo transbordar de tesão. Contorci-me

toda, e minhas pernas tremiam. Senti algo diferente, e depois um


alívio.
Um extremo alívio, como se por um segundo todos os

problemas desaparecessem da minha mente.

— Isso que eu tive foi...?

— Um orgasmo, Martina. E, no que depender de mim, você


terá vários. Vou querer sentir na minha boca o seu sabor. Sempre.

Eu não precisava de um espelho para saber o quanto estava

vermelha.

— Eu quero mais... quero você dentro de mim.

Lutei contra a minha vergonha, mas expressei exatamente o


que eu desejava.

Ele ainda estava com uma aparência séria, porém

transbordava excitação.

Lentamente ele tirou a sua roupa, em seguida pegou um


preservativo ao lado da cama, desembalando-o. Seu pau estava

duro, e agora ele se aproximava de mim, tomando certo cuidado.

Phillippe observou a minha virgindade, e depois seus olhos


foram em direção aos meus, e tudo que senti ficou mais vivo.

— Martina, você vai ser minha.


Ele colocou a camisinha em seu pau, vindo por cima de mim,

tomando meus lábios de novo.

— Eu quero você, Phillippe.

Seu corpo forte e viril sobre o meu me deixou completamente

sob seu controle.

— Vai doer um pouco, mas vai passar — sussurrou em meu

ouvido, posicionando-se em minha entrada, roçando o cacete nela.

Não tinha medo, mas os batimentos do meu coração eram

alucinantes.

Pouco a pouco ele me invadia, e por mais que uma dorzinha

se fizesse presente, o prazer era maior, e eu queria todas essas


consequências.

Quando os movimentos se intensificaram ele me preencheu

por completo, e fechei meus olhos, absorvendo a dor, focando em


algo maior: o prazer.

Phillippe me olhava nos olhos enquanto me fodia, e eu

adorava isso. Observá-lo excitado, movimentando-se contra mim

era gostoso, e provavelmente ficaria viciada.


Agora, os movimentos eram duros, e ora ele beijava a minha

boca ou mordiscava a minha orelha, fazendo-me perder o norte.

Ele acelerava ainda mais, e por mais que eu quisesse que

isso durasse mais tempo, eu sabia que ia chegar a um ponto em


que eu não aguentaria mais, e novamente meu corpo se contorceu,

e tive outra sensação maravilhosa.

Nunca poderia imaginar que um orgasmo pudesse ser tão

bom.

— Meu corpo adora sentir você gozando, Martina.

Ele se deitou na cama, e fui por cima dele, enquanto

segurava o meu quadril. Estava me acostumando com o seu

tamanho me preenchendo.

— Rebole gostoso, Martina — ordenou, e prontamente

obedeci.

Conforme seu pau deslizava em meu interior, mais

sensações diferentes eu experimentava, como se essa fosse a


melhor coisa do mundo.

A adoração que ele dedicava a mim, fazia-me acreditar que

iríamos ficar juntos para sempre.


Suas duas mãos agora estavam em minhas costas, e ele me

puxou para si, fodendo-me duro, como se tivesse perdido a batalha


para o seu corpo.

— Phillippe... quero sentir você gozando — praticamente

implorei, e seu urro segundos depois foi a resposta imediata para o

meu pedido.

— Menina... — Ele tocou meu rosto, com dificuldade para

respirar. — Eu disse que isso era errado, e agora não me peça para

ficar longe de você.

— Não vou, e nem quero...


“A ...”

Foi difícil evitar ficar olhando Martina adormecida em minha

cama, e não queria deixá-la aqui.

Eu a observei por pelo menos uns cinco minutos, sabendo


que isso iria contrastar com o que faria daqui a pouco, algo que me

acostumei com o passar dos anos: torturar pessoas.

Recebi uma ligação do hospital falando que o homem que

nos atacou estava bem, que conseguia até mesmo se movimentar e


falar.

Eu tinha uma missão na organização, e era a pessoa

responsável por obter informações e dar fim a quem ousava atacar


a minha família...

O tal homem foi movido para uma sala especial que possuía

em um dos meus edifícios, e quando cheguei ao local, tudo já

estava organizado, inclusive meus instrumentos especiais.

— Eu até poderia falar que atacou o cara errado, mas isso

você já sabe, não é?

Ele não me respondeu, mas um dos meus seguranças disse:

— Ele fala inglês, e muito bem.

Isso era ótimo no fim das contas. Além de torturá-lo, ele iria

entender perfeitamente o que estava dizendo.

— Qual o seu nome? — perguntei, pegando uma faca na

mesa preparada para ele. Esse homem iria ter tudo que tinha direito.
Não ouvi resposta da sua boca. Ao que parecia ele não
queria falar, mas para a sua infelicidade ele acabou sobrevivendo.

— Não pergunto duas vezes a mesma coisa. — Fui até ele,

enquanto seus olhos tentavam de alguma forma me intimidar, logo

eu, um homem que não sente nada.

— Seu...

Cravei a faca na sua mão direita com força, e o sangue jorrou

na mesma hora. Nem me importei em ter me sujado.

— Desgraçado! — bradou, fechando os olhos, com extrema

dor.

Ele estava amarrado pelos pés e pelas mãos, e tinha certeza

de que nada o iria preparar para as próximas horas.

— De onde você é, e para quem trabalha? — Fiz outra

pergunta, calmamente.

Novamente ele não respondeu, cuspindo no chão ao meu

lado.

Isso vai ser divertido.

— Não estou com pressa, e saiba que vou te torturar até me

dar o que preciso, e se não fizer isso, pelo menos terei o prazer de
te ver agonizando à minha frente. Às vezes não sei o que prefiro, te

ver sentindo dor ou tendo o que merece rapidamente.

— Da minha boca você não vai ouvir nada!

Gostava quando as pessoas se faziam de fortes. A tortura se


tornava uma coisa diferente, e minha imaginação era bem fértil.

— Pietro! Traga a poltrona! Um convidado deve ser tratado

como tal.

Um minuto depois meus homens trouxeram o que pedi, e vi


os olhos curiosos do assassino. Fui até ele, sentando-me ao seu

lado.

— Ela é chamada de Presidente Judas — revelei,


suspirando. — Vou detalhar pra você, gosto de explicar as coisas
certinho. Ela tem 1300 espinhos de ferro divididos em cada

superfície, ou seja, sua pele vai entrar em contato com cada um


deles. Há espinhos que cobrem desde as costas até o pé.

O homem não disse nada, somente olhou a cadeira, agora


com receio.

— Acho que gostou dela. Foi paixão à primeira vista, não?


Fiz o sinal para meus homens desamarrá-lo e o colocarem lá,

e quando seu corpo entrou em contato com a mesma...

— Pare com isso! Pare!

Agora eu podia ver a dor claramente em seu rosto, bem como


o sangue em cada pedacinho do seu corpo. E, eu não estava nem

na metade do que planejei.

— Eu quero o nome de quem te mandou e o motivo.

— Nós viemos recuperar uma coisa... — disse, com os olhos


fechados.

— É muito pouco. Seja mais específico.

— Me mate!

— Ah, ainda não — respondi, cravando novamente a faca em

uma de suas pernas, e seus gritos aumentaram. — Nem


começamos e já está desejando morrer?

A vontade de cortar a sua garganta era enorme, mas eu


precisava me controlar, queria respostas.

O homem cuspiu, e por pouco sua saliva não entrou em


contato com o meu rosto. Ele deu sorte, contudo, ele precisava

saber o que iria acontecer se tentasse isso novamente.


— Se cuspir no chão ou em mim eu vou tirar os seus dentes
um por um. Depois, vou cortar a sua língua, fritá-la, e farei você
comê-la. Se vomitar, farei você comer seu próprio vômito, e se

continuar vomitando o ciclo vai recomeçar. Mas, isso não é nada


comparado a cortar o seu pau, e enfiá-lo na porra do seu rabo! —

terminei, cravando novamente a faca agora em cima do seu joelho.

Dessa vez ele gritou com gosto, e sorri. Acho que não perdi o

hábito, fazia quase um ano que não torturava ninguém.

Olhei para trás e perguntei:

— Meus convidados chegaram?

— Sim, chefe.

— Mande-os entrar.

O homem já estava perdendo muito sangue, provavelmente


desmaiaria em breve, mas ainda tinha algo bem exclusivo para ele.

Depois de alguns segundos, Orestes, seu pai e sua mãe


apareceram na sala, e vi o ódio estampado no rosto deles.

— Podem escolher a ferramenta que desejarem.

Tinha parentes bem sádicos. A mãe escolheu uma tesoura

para línguas, o que gostei bastante. O pai escolheu um serrote bem


velho e enferrujado, e Orestes não economizou, pegando uma
marreta gigante.

— Acho que eles não gostam muito de você... — falei,


baixinho, enquanto observava as pupilas do homem dilatadas.

— Como... posso sair vivo daqui? Eu falo tudo se eu não


morrer.

Olhei para trás, onde meus três convidados estavam a

postos, cada um com a sua ferramenta, e balancei a cabeça em


negação ao homem.

— É impossível sair vivo daqui. Nem mesmo Deus ou o

próprio capeta te darão mais um dia de vida. Mas... eu posso aliviar


o seu sofrimento se me falar o que estou perguntando.

Fui até mais perto do homem, furioso.

— Quem são vocês e por que tentaram me atacar?! —

vociferei.

— Nosso alvo não era você... era... recuperar alguém.

— Não acredito em você.

— Mas é a verdade, e... e... é isso.


— Pra quem você trabalha?

— Não posso falar. Eles... me matariam.

Ele estava com dificuldade em falar, mas claramente não

queria compartilhar seus segredos.

— Essa é a última vez que pergunto: e se não responder, vou

deixar você nas mãos deles. Quem te mandou e por quê?

O homem me olhou por algum tempo, porém depois começou

a chorar feito uma criancinha. Em seguida começou a gritar.

A perda de sangue fazia isso com as pessoas, não

raciocinamos muito bem.

— Me mate logo, seu filho da puta! Minha família vai te matar!

Vai cortar cada pedaço do seu corpo insignificante e dar para os

cachorros.

Sorri. Foi uma resposta gratificante, pelo menos ia ver de


camarote alguns membros da minha organização torturando-o.

Dei o sinal para que eles se aproximassem, e me sentei em

uma cadeira há alguns metros de todos. O show começaria e eu

estaria no camarote...
Queria dizer que tudo foi rápido, que a família do meu primo

assassinado deu uma morte rápida ao homem, mas não foi isso que

aconteceu.

Às vezes me surpreendia em como as pessoas eram cruéis,

e minha organização se destacava nesse sentido.

Acho que os trinta minutos que se passaram foram os piores

da vida desse homem, e ele morreu desmembrado. Literalmente.

Pena não era algo presente em nosso dicionário, e eles

fizeram jus à organização. Pude ver o ódio no rosto de cada um dos

três, e entendia perfeitamente. Poucas pessoas sabiam o que era a

dor para um pai, uma mãe ou um irmão ter o seu filho morto por um
assassino, e na maioria das vezes a vingança era a única forma de

extravasar.

Como pensei, ele morreu sem falar o que desejávamos, mas

eu já tinha algo. A tatuagem em seu corpo iria me mostrar


exatamente o que precisava saber, e identificar essa organização

seria uma questão de tempo.


“T , ,

...”

Tive medo quando Phillippe cruzou a sala acompanhado de


alguns seguranças.

Observá-lo sujo e com cheiro de sangue me deu náuseas,

mas eu sabia que não pertenciam a ele. Ele viu que eu o olhava,

mas não esboçou reação, somente foi para o seu quarto.

Continuei trabalhando, e Ilka chegou perto de mim e disse:


— Todos os dias temos novidades por aqui. Mas estou

satisfeita de trabalhar dentro dessa mansão, me sinto segura. Além


de receber por dia trabalhado.

— Eu também — respondi, pensando em Phillippe, e nas

coisas que ele era capaz de fazer com as pessoas que se opunham

a ele.

— O que foi?

— Não é nada. É só preocupação.

— Ah, pelo que fiquei sabendo, o Phillippe é adepto a ele

próprio torturar os inimigos. Então, se acostume com ele chegando


sujo de sangue.

Eu dei de ombros, não estava muito preocupada com o que

ele fez. Porém, de certa forma me preocupava com o que ele


poderia fazer comigo se estivesse com raiva.

Bufei, fechando meus olhos.

Não fiz nada contra ele, então não precisava me preocupar.

— Phillippe pediu a sua presença no jantar hoje às 20h. Não


se atrase — Olga falou, sorridente e assenti.
Ilka me olhou de forma demorada, e já estava esboçando
falar algo, mas ela foi mais rápida:

— Eu sei que ele foi no seu quarto dias atrás, e que depois

foi no dele, Martina.

Contra fatos não há argumentos.

— Ele parece gostar de você, amiga. Ele gosta com os olhos,

o que é bem diferente.

— Nós... eu não sei o que é isso.

— Você tem tempo pra descobrir — disse, com um sorriso no

rosto.

— Alguém mais sabe?

— Pela minha boca, não. Mas se importar com a opinião das


pessoas é a pior coisa que tem. Só viva um dia de cada vez, amiga

e faça o que julgar ser o certo.


Pontualmente às 20h fui até a sala que o jantar seria servido,

e Phillippe já estava sentado em uma das cadeiras. Sozinho.

Não pensei que jantaríamos só nós dois hoje.

— Sente-se — ele disse, e obedeci.

Depois do seu pedido ele não falou mais nada, somente


saboreou a comida à sua frente. Ele parecia estar com bastante

fome, e raramente olhava para a frente ou para os lados.

Fiz o mesmo, e me alimentei, preocupada, com vários


assuntos rondando a minha cabeça.

— Está com medo?

— Sim. Um pouco — respondi, agora observando a comida à


minha frente.

— O sangue não era meu.

— Eu imaginei. Era do homem que atacou seus primos, não

é?

Ligar os pontos não era tão difícil.

Desde a ligação que Phillippe recebeu na porta do meu

quarto havia algo grande acontecendo, mas evitei perguntar, não


era da família e não queria problemas.

— Sim. Estava tentando tirar informações dele.

— E conseguiu?

— Não. Mas eu as terei em breve de outras formas, tenho

certeza.

Novamente durante alguns minutos não falamos nada, e

deixei a minha mente divagar.

Meu coração batia acelerado em meu peito, eu estava

agitada. Hoje algumas das lembranças que tive da minha irmã


afloraram, fazendo-me pensar em como tudo acabou. Não fui capaz

de ajudá-la...

— Pensei bastante em você — Phillippe falou do nada,

surpreendendo-me. — Há um bom tempo que não tenho


pensamentos saudáveis.

Ele era enigmático, e de certa forma eu gostava disso, sentia-


me atraída. Ele possuía um escudo, e algumas vezes parecia

intransponível, ainda assim, conforme conversávamos entendia um


pouco mais da sua motivação.
— Eu também. — Sorri, desviando os olhos. — Você... não
se sente sozinho quando janta sem ninguém ao redor?

— Sim, mas é indiferente pra mim.

Percebi seu tom baixo e amargo, e notei certa perturbação

em sua voz.

— Eu aprendi que em nossa vida tudo é uma conexão, e que

precisamos sair da nossa zona de conforto às vezes. Minha irmã


falava bastante isso.

— Sua irmã é bem inteligente, e está certa. Estar com você é


sair da minha zona de conforto, e isso me assusta.

Observei bem o seu rosto agora, e ele me analisava


cautelosamente.

— Não pensei que algo te assustava.

— Nem eu. Mas você tem esse poder, e o novo me preocupa,

além do que eu não me controlo como gostaria quando estou ao seu


lado.

Ele retribuiu meu olhar, e me pareceu desconfortável com a


própria observação.
— Bom... eu já vou dormir — avisei, levantando-me, indo até
ele e pegando o seu prato, mas antes de pegá-lo ele segurou meu
braço, e se levantou também.

— Olha pra mim... — Ele segurou meu rosto, observando-me

com os olhos frios, ainda assim, conseguia expressar sentimentos.


— Com você eu sou outra pessoa. Não se preocupe, você já passou
coisas demais na vida, e nunca verá esse lado meu.

— Promete?

— Sim, eu prometo.

Ele beijou os meus lábios e me puxou para junto de si. Foi

um beijo intenso, e após um tempo, quando nos afastamos, uma


imaturidade surgiu em mim, fazendo que eu me aproximasse dele

novamente, como se não quisesse me afastar.

Eu sabia dos riscos e de como seria difícil esse caso ir longe,

mas não seria fácil ignorá-lo.

Phillippe era o tipo de homem que eu dizia a minha irmã que

jamais gostaria. Convivendo com a minha família eu vi que

precisava de alguém normal em minha vida, um homem carinhoso

que me amasse, mas eu não contava com essa atração tão forte.
Ao seu lado me sentia protegida, e acreditava em suas

palavras. O problema de ele marcar o meu coração era que ele


tinha poder sobre mim, e isso sim me deixava trêmula e assustada,

pois era em um nível muito intenso.

De repente ele colocou a mão em seu bolso direito, abrindo

uma caixinha em seguida. Percebi que se tratava de um colar de


esmeraldas.

— Eu vou colocar pra você — disse, mas segurei suas mãos,

negando.

— Não precisa. Vou usar na próxima vez que fizermos algo


juntos, com uma roupa melhor. Será uma surpresa.

— Sua beleza está em você, nos seus olhos, na sua boca,

em todo o seu corpo... — revelou, agora roçando o polegar em meu


queixo, com o olhar sério. — Não é um simples colar que vai desviar

o meu foco de você.

— Eu sei, mas quero ir devagar. Eu nunca... senti essas

coisas.

— Tome o seu tempo, Martina. Sou paciente, e sei que há

traumas recentes em sua vida. Espero que um dia converse comigo

sobre isso.
— Um dia eu vou, eu prometo...
“U
...”

Por mais que hoje fosse o meu aniversário, considerava um


dia normal.

Há alguns anos não comemorava essa data, preferia focar no

que realmente importava, a nossa organização. Por isso o dia era


como qualquer outro, sem grandes expectativas.
Toda a minha vida é baseada em rotina e trabalho. Era um

cara organizado, gerir pessoas era complicado, ainda mais quando


envolvia meios ilegais.

É óbvio que tinha que respeitar determinadas leis, mas não

sentia que tinha que respeitar aqueles que as criaram. Nunca fui

contra a corrupção, apenas me preocupava com a forma de como


ela era exercida, fosse na política, no esporte ou na máfia.

Esta era a minha vida, e isso me motivava, fazia com que eu

me tornasse melhor.

Apesar de coisas boas, havia determinados dias que me

faziam pensar que essa vida do crime tirou algo de mim. Afinal, tudo
tinha o seu preço.

— Mantenho a viagem para Europa semana que vem? —

Otto perguntou, e neguei com a cabeça.

— Agora temos assuntos mais urgentes para resolver. Já

contatei o Logan, e ele vai pesquisar a origem dessa tatuagem.

— E, se essa família não for daqui, e sim de um lugar

distante, como a China ou Japão?


— Não me importa. Vou matar todos — respondi, decidido. —
Não houve tentativa de negociação, nada. Eles simplesmente

chegaram atirando, e se escolheram isso, terão o meu pior lado. É

isso que eu tenho a oferecer aos assassinos do Adônis e dos meus

três seguranças.

— Melhor pensar como agir se eles forem da Europa. Se


conseguirmos liquidar esses homens, podemos ter problemas para

sair.

— Eles podem ser daqui. De qualquer maneira, estamos com

uma chance maior se forem da cidade.

Otto balançou a cabeça, concordando.

— Logo saberemos de tudo — pontuei, confiante em

respostas.

— A propósito, feliz aniversário. Sei que não vai comemorar.

— Obrigado. De fato, não vou, é como se fosse um dia

qualquer pra mim

Meu braço direito saiu da sala, e fitei o meu notebook

pensativo.
Preciso de um plano se forem europeus, e tinha que ser bem

elaborado. Uma guerra não seria prudente, por isso não deixávamos
ninguém vivo quando algo assim acontecia, a vingança corria no

sangue das pessoas.

Todos nós tínhamos um lado ruim, e a maioria das pessoas

tentavam escondê-lo pelo medo da sociedade, mas era inevitável


que ele viesse à tona em alguma oportunidade. Além disso, as

nossas ações estavam muito suscetíveis de serem descobertas, e


dependendo do que fosse descoberto, a ameaça podia acabar com

a nossa existência.

Não queria e não podia dar margens para erros, e o melhor


era trabalhar arduamente em uma solução inteligente.

Cheguei à minha mansão por volta das 22h.

Já tinha algum tempo que não ficava até mais tarde em meu

escritório, porém não me sentia cansado, e sim satisfeito pela minha


produtividade.
Quando passei pela sala, notei Martina sentada em uma das

cadeiras da mesa principal. Isso não era usual, e as funcionárias da


cozinha morriam de medo de perambular pela casa. Na verdade,

elas tinham medo de mim.

Já me acostumei em ser temido pelas pessoas à minha volta,

só que Martina não estava nem aí, e até gostava da sua petulância
em alguns momentos.

— Oi — disse baixinho, e acenei com a cabeça

— Olga não te falou para evitar andar pela mansão? —

questionei.

— Sim. Mas... acho que sou meio desobediente.

Quase ri com a sua frase, mas só fechei meus olhos,

imaginando que era exatamente o que eu esperava que ela me


respondesse.

— Precisa de algo?

— Sim. Que venha até aqui.

De imediato não entendi, mas caminhei até ela, e percebi que


Martina escondia algo, ou tentava. Ao chegar mais perto vi do que
se tratava.
— Descobri hoje que é o seu aniversário, mas que não
comemora, então resolvi fazer um bolinho pra você.

Geralmente tinha resposta para tudo, mas não soube o que


falar. Bem de perto pude sentir o cheiro do bolo que ela tinha

preparado.

— Por que fez isso?

— Bom... — juntou as mãos, tímida — eu gosto de


aniversários, é um momento que podemos esquecer o resto das

pessoas e focar em nós mesmos, onde temos paz de alguma forma.

Martina gostava bastante de expressar gratidão em pequenas


atitudes, e não era um homem acostumado a isso, nem sei se

gosto.

— Eu não como bolo — revelei, e vi a decepção estampada


em seu rosto.

— Me desculpe por isso — disse, abaixando os olhos.

— Ou pelo menos não comia. Até agora.

Fui até a mesa e puxei uma cadeira, sentando-me ao seu


lado.

— Mas você disse que não comia.


— Sempre há uma primeira vez pra tudo. A menos que ele
esteja ruim, aí terei que dispensar.

Ela sorriu para mim, e ficou com o sorriso destacado por um


bom tempo.

Era bom ver a felicidade em seu rosto, isso me transmitia um


alívio incomum.

— Na minha casa eu fazia os melhores bolos. Se comer

garanto que não vai se arrepender.

Após algum tempo ela me serviu, fazendo o mesmo para ela.

Quando coloquei o pedaço do bolo em minha boca notei que

ela não havia exagerado em nada. Nem me recordo a última vez

que comi algum doce, devia fazer uns vinte anos, ou mais.

— Vou precisar recuperar isso na academia amanhã — falei,

enquanto fechava meus olhos, saboreando a excelente comida.

— Não sabia que malhava... — disse mordendo os lábios,

quase como uma provocação.

— Eu faço isso às cinco da manhã.

— Meu Deus! Você não dorme?!


— De 3 a 4 horas por dia. É o suficiente para mim.

Não falamos nada até terminarmos de comer, e repeti duas


vezes.

— Eu não tenho nenhum presente pra te dar — comentou,

sem graça.

— Você já me deu a sua companhia, isso é o bastante pra


mim.

Ela se levantou, e parecia um pouco emocionada. Fiz o

mesmo, e imediatamente seus braços me envolveram.

Martina e os abraços dela.

Não sei se ela tinha esse costume com a sua família, — ao

que parece só com a sua irmã — , mas provavelmente ela se tornou

a segunda pessoa que mais me abraçou na vida, perdendo só para

a minha mãe.

— E-eu... gosto de você, Phillippe, mas eu não sei até que

ponto isso é bom. Me sinto protegida, mas estou confusa com tudo.

Você está sendo meu primeiro em tudo.

— Te proteger não me faz querer nada em troca. Poucas


pessoas gostam de mim, e não me importo em ser odiado.
— Nem por mim?

Essa era uma pergunta que eu não queria responder, no

entanto preciso ser sincero.

— Por você eu me importo, sim. Seria um fracasso como


homem se eu transmitisse medo pra você. — Tirei uma mecha do

seu cabelo, e ela parecia me olhar com admiração.

Depois reparei melhor em seu pescoço, e vi que ela usava o

colar de esmeraldas.

— Ficou bem em você.

— Foi o presente de alguém especial.

— Na verdade, o presente especial está bem aqui na minha

frente.
“O ,

- ...”

Eu sabia que uma aproximação maior seria perigosa, só não

entendia o quanto mexeria com o meu psicológico estar tão perto


dessa menina.

Tudo que desejava agora era protegê-la, e em determinados

momentos esquecia até de mim quando me recordava do seu rosto.

Estava sem saída.


— Um dia vou te ver sorrindo? — perguntou.

— Dificilmente. Não tenho esse hábito.

— Entendi...

Martina abriu a boca para formular outra pergunta, mas logo


a fechou, balançando a cabeça.

— Pergunte.

— Você é prometido a alguém?

— Prometido?!

— É... não sei explicar. Já vi alguns filmes de máfia, e sempre

as pessoas se casam com alguém específico, sabe? Como se fosse


uma tradição ou algo assim.

Ela ganhou, e sua vitória foi ver um breve sorriso em minha

face. Diverti-me com o seu comentário.

— Você sorriu.

— Foi uma pergunta bem engraçada — revelei, segurando

seu rosto com as duas mãos. — Não é uma regra em nossa

organização o nosso casamento. Não vou mentir e falar que os


homens dão preferências para mulheres de fora, mas todos têm o
livre arbítrio para decidirem por si só.

— Não quero saber dos outros, e sim de você.

— Gosto da sua petulância às vezes. — Beijei os seus lábios,

e ela retribuiu o gesto. — E a resposta é não. Nunca me interessei


por ninguém, até agora.

Seu rosto ficou vermelho quando terminei a frase, e isso me

excitava um pouco mais.

— No primeiro dia eu pedi para que me matasse, e não que

fizesse eu me apaixonar feito uma idiota.

Ouvir isso me desestabilizou de certa forma.

Ainda via o mesmo olhar naquela menina de quase um mês

atrás, só que enxergava em alguns momentos o brilho natural

voltando aos seus olhos.

É estranho o que aconteceu. Até mesmo um homem tão

fodido quanto eu conseguiu recuperar uma parte desse brilho, e de

forma alguma queria vê-la como naquele dia.

— Eu não fiz nada, menina. Se está viva é porque está


lutando todos os dias. Eu só faço o que posso para te proteger.
— Não. Você faz mais do que pensa.

Tomei sua boca rapidamente, até mesmo de forma bruta.

Minha língua deslizou vorazmente pelos seus lábios. Estava

precisando disso.

Precisando desesperadamente dela.

— O que você fez comigo? — perguntei enquanto balançava

a cabeça, com os olhos fechados. — Eu nunca quis algo tanto


quanto eu quero você, Martina.

Ela ficou me olhando, e os seus olhos azuis de certa forma


me envolveram.

A essa altura nada mais me importava. Tudo o que eu queria


era continuar aqui, com ela.

— Vá em frente, me dê o que eu preciso — ela disse.

Eu ainda podia ver a dor em seus olhos, mas também via a

rendição. Martina não era um objeto, não mais.

Nós nos beijamos de novo, e de novo. Como amantes que

não se viam há anos, famintos e sedentos.


Quando dei por mim estávamos em meu quarto, e a garota

inocente de dias atrás parecia ter se transformado.

Martina retirou com pressa boa parte da minha roupa,


deixando-me somente com uma boxer. Ainda não sabia o que ela
estava aprontando, mas a deixei ficar no comando dessa vez.

Depois que se ajoelhou, tive uma ideia do que ela queria


fazer.

— Essa vai ser a minha primeira vez fazendo isso, e se


estiver ruim me avise...

Como se a sua vida dependesse disso, ela retirou a minha


boxer, segurando na base do meu pau, olhando-o demoradamente.

Percebi uma parte dos seus cabelos tampando o seu rosto, e os


segurei. Seu rosto estava tão sexy que minha vontade era colocá-lo

todo em sua boca, mas foi ela quem o fez, abocanhando meu pau.

Ela não havia perdido a sua inocência, ainda assim, seu lado

voraz aflorando me excitava pra caralho.

Não precisei explicar nada a ela. Minha menina estava

compenetrada, com os olhos fechados me dando um prazer tão


gostoso que dificilmente tiraria meu pau de sua boca.
— É grande... — disse, enquanto chupava as minhas bolas.
— Mas eu gosto.

Inferno...

Ela é boa em mexer com o meu psicológico, e não estava

pensando em mais nada, somente possuí-la.

— Estou fazendo direitinho...? — perguntou manhosa, e

comecei a fazer movimentos de vai e vem, respondendo à sua


pergunta.

Safada.

Foi preciso de uma noite apenas, e pelo visto me apaixonei

pelas suas duas versões: a tímida e virgem, e a sedutora safada.

Nesse ritmo eu não duraria quase nada, e a fiz levantar,

observando seus olhos, louco para possuir o seu corpo, mas ainda
desejava algo antes.

— Tire toda a roupa e deite-se na cama — mandei, e ela fez


o que pedi.

Já deitada ela me olhava esperando por mais ordens.

— Quero que se toque pensando em mim. Vou te ver

gozando sem ao menos te tocar.


Martina mordeu os lábios, fechando os olhos depois,
estimulando seu clitóris.

Acho que essa foi a melhor decisão que eu tomei na minha


vida. Observar cada nuance do seu corpo me deixava em frenesi, e

a vontade de fodê-la era maior que tudo. Não me importava com


mais nada.

Ela se tornou tudo para mim.

Absorvi cada segundo que passou, e notar as contrações da


sua boca enquanto se tocava com os dedos me levou ao delírio. Até

que... ela gozou, gemendo gostoso.

— Eu... acho que fiz bagunça.

Tímida e safada. Nunca pensei encontrar alguém assim de


forma tão espontânea.

Não esperei mais um segundo sequer, e fui até ela, colando

nossos corpos, desesperado para fodê-la.

Posicionei meu pau em sua entrada, e dessa vez não perdi


tempo, enfiando-o com força enquanto seus braços me envolviam.

— Você me deixa maluco...


Beijei a sua boca, enquanto a fodia rápido e duro,

esquecendo totalmente do meu autocontrole.

— Mais... — sussurrou. — Eu preciso de mais.

Era bom demais pra ser verdade.

Enquanto estava no comando a fiz gritar de tesão,

respondendo aos estímulos do seu corpo.

Naquele momento não estava pensando em mim, e sim a

satisfazendo, deixando minha menina louca.

— Isso, Phillippe... — Cravou as unhas nas minhas costas, e

chupei o seu mamilo, ela implorando por mais.

Eu estava chegando ao meu limite, e ela percebeu.

— Hoje sou eu quem vai sentir seu gosto.

— Não desperdice nada! — mandei.

Posicionei sua cabeça perto do meu pau, e quando gozei me

libertei. Martina foi obediente, e tomou tudo. Seu rosto me mostrava


o quanto ela estava satisfeita, e provavelmente iria me viciar ainda

mais nessa menina conforme os dias se seguissem...


“S ...”

— Me conte um pouco mais sobre a sua família.

Phillippe e eu estávamos em sua cama deitados. Ficamos


sem falar nada um com o outro um bom tempo, mas eu gostava

quando ele perguntava um pouco mais sobre mim, por mais que

fosse um assunto delicado, ele precisava saber quem eu era de


verdade.

— Eles são pessoas más.


Se eu fosse resumir, era isso.

Cresci no meio desse ódio, mas não me deixei corromper. Eu

queria trilhar minha própria trajetória, de uma forma ou de outra.

— As mulheres são submissas e os homens agressivos. O

nosso sobrenome é forte, e a polícia não tem coragem de mexer

com eles.

— Quantas pessoas estão vivas?

— Entre primos distantes acho que umas 30 ou mais.

— Mais homens ou mulheres?

— Homens. Na verdade... poucas mulheres sobreviveram.

Eu não queria contar tudo a ele. Agora sabia a maneira que


ele tratava seus inimigos, e tinha medo de que ele considerasse

minha família um alvo. Para falar a verdade minha preocupação não

era com eles, e sim com Phillippe achando que eu desejava

vingança, o que não queria.

Preocupava-me com ele, e a minha família é perigosa, tanto

quanto a dele.

— Os homens da sua família mataram as próprias esposas?


Assenti, relembrando algumas histórias e a que estava mais
fresca em minha cabeça era a da minha mãe, morta por proteger a

filha.

— Meu pai matou a minha mãe e estuprou a minha meia-irmã

várias vezes, e ela ficou grávida. Ele é o meu pai de sangue, mas

não o dela.

Phillippe me olhava como se estivesse me avaliando, mas

não disse nada, só esperava que eu concluísse a história.

— No dia que fugimos juntas, ela descobriu que estava

esperando um filho dele, o que era inadmissível na família. Íamos


fugir e dar um jeito de contar para alguém, mas nos alcançaram, e

sei que ele deu a ordem para matá-la porque fariam isso com ele se

descobrissem.

— Isso tudo é muito confuso — disse, agora desviando os

olhos, pensativo. — Eles podem fazer algo contra a esposa, mas há

uma lei que os condena se fizerem algo contra as filhas. Isso devia
ser uma lei geral.

— Essa é a minha família... — falei, baixinho. — A disputa de

poder é grande, e um vacilo de alguém com mais influência abre

brechas para outro assumir o lugar. Meus tios estão de olho no


poder há algum tempo, e isso acabaria com o reinado do meu pai.

Sobre as mulheres, elas sempre foram tratadas como lixo. Sempre.

— Você fugiria independente do que aconteceu com a sua

irmã, não é?

— Sim — revelei. — Eu... sei que faria isso algum dia, mas

pra onde eu poderia ir?

Phillippe me observou por mais um tempo, mas não havia


dureza nos seus olhos agora, ele parecia me entender enquanto
revelava a ele assuntos dolorosos.

— Agora você está a salvo. Comigo.

— Eu sei, mas... meus pesadelos continuam. Só o tempo


pode curar isso.

— Vou cuidar de você — avisou, tocando o meu rosto,

puxando-me para si. — Eu prometi isso, e não volto atrás nas


minhas promessas.
Envolver-me em outra guerra não seria prudente da minha

parte, mas a vontade de fazer algo por Martina era grande. Apesar
de tudo, não podia lutar na guerra de outros, e tinha a minha bem
aqui em Las Vegas, só não sabia quem era o meu inimigo.

Quando se entrava em uma batalha o final era inevitável:


mortes e mais mortes. Minha família já passou por esse processo

inúmeras vezes, principalmente aqui nos EUA.

A nossa diferença com as outras máfias era que pensávamos

com clareza, prevíamos os movimentos dos inimigos, e por isso


estávamos aqui. Todos os homens que ousaram atentar contra nós

estavam mortos, e continuávamos soberanos na cidade.

Agir com emoção em momentos de medo nunca era a melhor

solução quando se estava dentro de um conflito, e agradecia ao


meu pai por me ensinar tanto nos anos anteriores à sua
aposentadoria. Foi ele quem me motivou e treinou para que eu

pudesse ter clareza nos meus movimentos, tornando-me assim um


homem mortal, que colocava a organização acima de tudo.

— Alguma novidade, Logan? — perguntei ao meu advogado,


que havia acabado de entrar no meu escritório.
— Pouca coisa ainda. Há tatuagens parecidas com a que me
mandou em todo o canto do mundo, inclusive aqui nos EUA, então
preciso descartar alguns locais. É um trabalho e tanto.

— Seja rápido — ordenei.

— Meu investigador está tomando conta de tudo, não se


preocupe.

— Ótimo.

— Sabe o que pensei? Eles podem ter algum espião que está

trabalhando aqui. Não sei se faz sentido.

— Faz sentido, mas as pessoas que trabalham para mim são

bem investigadas.

— Não as mulheres da Europa — falou, e assenti.

— Acho difícil ter alguma ligação, mas é um ponto. A questão


é: por que isso agora?

Logan ficou pensativo, acenando positivamente, tentando


entender a situação.

— Enfim... e a sua viagem para a Europa? Ainda está de pé?


— Não. — Fui sucinto. — Há problemas maiores, e só vou
sair daqui quando descobrir quem são as pessoas que
assassinaram o meu primo.

Tive que remarcar meus compromissos desse mês, e agir

com cautela. Um ponto a favor de minha viagem à Europa seria


conhecer meus potenciais investidores, mas também visitava
lugares onde já tinha minhas informações.

— Bom... se não tem mais nada pra mim eu já vou indo. —

Levantou-se.

— Eu tenho. Quero que pesquise sobre uma família

específica de uma mulher que contratei. — Entreguei uma pasta em


suas mãos.

— Perigosa? — questionou, estreitando os olhos.

— Não. A família dela, sim. Ela veio forçada para Las Vegas

fugindo do seu próprio pai. A lei deles é a força, e tratam as


mulheres como escravas, as matando quando não servem mais.

— E, por que essa preocupação toda?

— Me preocupo com ela.

Logan abriu a pasta, analisando-a por alguns segundos.


— Martina Kozlowski. Polonesa, nascida e criada em Toruń...

— disse, a fechando em seguida. — Pode deixar, provavelmente


sobre esse assunto terei uma resposta mais rápida.

Depois que Logan saiu da sala pensei bastante em Martina,

na sua inocência.

Desde que a vi pela primeira vez, eu a quis. Um desejo


incontido, uma atração que me cegava, movendo-me de uma forma

perigosa.

Sentia que de certa forma a conhecia, no entanto, não sabia

nada ao seu respeito, só o que ela me contava, e não podia afirmar


com certeza que tudo era verdade...
“A

...”

Desloquei boa parte dos meus seguranças para a Vermont.

Nos finais de semana a boate recebia mais de 1.500 homens,


e algumas brigas generalizadas volta e meia aconteciam.

Até pensei em curtir a noite por lá, mas minha cabeça

trabalhava muito rápido, e preferi focar na resolução de problemas


da nossa organização.
Hoje, contamos com mais de 1.000 pessoas que trabalhavam

diretamente ou indiretamente para a nossa família, e sempre havia


algum problema para resolver, e o mais comum eram pessoas

querendo desfazer esse laço.

Quando meu pai administrava a máfia ele não aceitava de

maneira alguma que quem trabalhasse para nós se desvinculasse,


eu já era diferente nesse aspecto, mas nem sempre o diferente era

bom.

Em determinadas situações eu liberava, mas havia duas


condições para tal: se mudar do país e em hipótese nenhuma eu vê-

lo novamente. Se alguma dessas regras fossem descumpridas, a

pena era pior do que a morte, era a tortura, além do aniquilamento


da sua família.

Até hoje não tive nenhum problema.

Passei por alguns empreendimentos meus na cidade, e me


orgulhei do império que formei. Não era um ataque que faria isso

tudo ruir, e ia me certificar disso.

Meu telefone tocou, e Pietro estava me ligando.

— O que houve?
— Percebemos atividades suspeitas na mansão?

— Que tipo de atividades suspeitas?

— Uma movimentação anormal de carros nas ruas laterais.

Já estou deslocando uma parte da equipe pra lá.

— Quantos seguranças há na mansão agora? — questionei,

preocupado.

— 10.

Não era um número aceitável, mas sabia que finais de


semana isso era perfeitamente normal.

— Estou indo pra lá agora.

Em todo o trajeto até a mansão pensava em Martina, e fui o

mais rápido que pude até lá.

A informação passada para mim me fez ter pressa, e um

homem como eu nunca perdia tempo, mas não sabia a real situação

do que encontraria.

É preciso administrar pessoas quando se administrava uma

grande organização criminosa. E, também, ter a cabeça no lugar.


Independentemente disso, precisava pensar como se estivesse em

guerra, e o pior era não conhecer meus inimigos.


Quando cheguei ao portão da mansão me alarmei. Ouvi

barulhos de tiros, e uma das minhas equipes corria para o interior do


local.

Saquei a minha Glock 9mm, que levava sempre comigo,


andando até lá, e dois dos meus seguranças me deram cobertura.

Eles sabiam que havia momentos que eu tomava o controle da


situação, e era treinado para tal, na verdade, foi eu quem treinou a

maioria deles.

De repente ouvi alguns tiros lá dentro, e o rosto de Martina


veio forte à minha cabeça, e não me importei de entrar com tudo em

minha própria residência.


Por mais que eu trabalhasse boa parte do tempo na mansão
eu divagava bastante. Ficava nervosa e ansiosa só de pensar em
Phillippe, e isso se tornou rotina nos dias que se seguiram.

Estava querendo ficar perto dele, sentir seu toque, sentir seu
cheiro e ter a sua atenção, entretanto, ao mesmo tempo, estava
receosa e com medo.

Criminosos mentiam diariamente, e não sabia o que pensar

dele. Convivi vários anos com pessoas sem escrúpulos, que para se
satisfazerem mentiam e roubavam, então tinha um pé atrás na

questão de confiança.

Ilka e eu havíamos acabado de terminar o nosso turno,

quando passamos pela sala vimos uma movimentação estranha.

Vários seguranças correndo de um lado para o outro, e quando ela


foi perguntar algo ouvimos tiros, e nos abaixamos.

— Vão para o quarto de vocês! Agora! — um dos seguranças

gritou e fomos correndo até lá.


Depois que entrei em meu quarto ia fechar a minha porta,

mas fui surpreendida, já havia alguém lá dentro.

Percebi um homem careca no meu quarto, e me preocupei,


principalmente quando ele se virou, sorrindo.

— Belo quarto, Martina — falou, sorridente enquanto passava

a mão em uma das minhas roupas.

Eu conhecia bem aquele rosto. Era Nicolas, um dos meus


primos, um dos mais temidos da nossa família.

— Nicolas...

— Você veio longe, admiro isso. Mas acho que sabe que se

livrar de nós não será tão fácil.

Ele andou pelo quarto, e não parecia estar armado, pelo

menos eu não vi.

— Você se rebaixou mesmo, hein?! Vir para os EUA,

trabalhar como prostituta...

— Não sou prostituta — falei, ainda tremendo pela sua

presença.

— Não, mas está vivendo como uma. Enfim, o meu trabalho

aqui está feito. Você vai voltar para a Polônia, por bem ou por mal.
— Abriu um sorriso sarcástico, analisando-me.

— Você... veio me levar embora?

Ele caminhou lentamente até mim, e o medo me paralisou.

— Não vim te buscar, eu vim me sacrificar para que seu pai


possa te levar de volta pra casa...

Após suas palavras ouvi um barulho forte, e me assustei.

Nicolas caiu meio de lado, e vi que ele havia levado um tiro

perto da cabeça. Quando olhei para trás, Phillippe estava com uma
arma em mãos, e não titubeou em vir correndo até mim.

— Você está bem?! Se machucou?!

Não consegui responder, somente analisava o homem à

minha frente, caído.

Abracei Phillippe morrendo de medo, com as últimas palavras

dele ecoando em minha cabeça.

— Eu... tô bem.

Ficamos ali por alguns segundos, e depois vários seguranças

entraram no meu quarto, indo até o corpo do meu primo.

— Phillippe, esse homem é...


— É um deles! — um dos seguranças falou alto, atraindo a

atenção do Phillippe, que desfez o abraço, indo até ele.

Depois que o homem foi virado, eu o percebi indo para mais

perto, observando um ponto específico na sua nuca.

— É a mesma tatuagem.

Não acredito que era a minha família que estava nos

atacando.

Como eles descobriram onde eu estava?

— Eu juro por Deus que vou matar todas essas pessoas


dessa família!

Ouvir Phillippe falando isso enquanto me olhava foi


aterrorizante. Meus olhos não se moviam, e ele veio até mim.

— Não se preocupe — disse, tocando o meu rosto. — Você


está a salvo e vou redobrar a segurança. O alvo desse homem era

eu.

Era como se eu ouvisse as palavras, mas não conseguisse


processá-las. Tudo fez sentido na minha cabeça, mas como ia falar

que ele era da minha família? Phillippe jurou vingança, e tínhamos


um laço de sangue, então...
— Martina! Você está bem?

— Si-sim.

— O que ia me falar alguns segundos atrás?

Não respondi, só desviei meus olhos, não sabendo em quem

prestava atenção, desesperada em fazer parte disso tudo.

— Nada, eu... só ia dizer que ele estava no meu quarto

quando entrei.

Eu não podia contar a verdade, pelo menos não até pensar

em algo para não me tornar parte de uma vingança...


“O

...”

— Como diabos eles conseguiram entrar aqui?

— Eles pareciam saber que hoje de noite não estaríamos na


mansão. Alguma informação confidencial, ainda não sabemos, mas

vou descobrir — Pietro disse, já se deslocando na direção dos

outros seguranças.

Isso estava fugindo do controle.


Ninguém nunca teve a audácia de invadir a minha mansão, e

em menos de dez dias essa organização planejou dois ataques.


Isso não podia ficar assim.

Martina estava ao meu lado e divagava bastante. Parecia

pensativa, analisando tudo ao redor, como se procurasse algo.

— Você... vai mesmo matar todas as pessoas dessa família?


— perguntou, interrompendo o silêncio.

— Sim, com toda a certeza — respondi, com raiva, já

planejando meus próximos passos.

— Mas... e as pessoas inocentes?

— Famílias são compostas por laços de sangue. Não há

inocentes, Martina.

Ela não disse nada, somente desviou os olhos, parecia triste.

Ao que parecia ela tinha pena dessas pessoas.

— Nossa organização vive por uma razão, Martina, e vamos

acabar com todas as pessoas que se opuserem a nós. Essa é a

nossa maneira de lidar com situações extremas, e tudo o que temos


é a nossa força.
Eu não tinha com quem conversar sobre esse assunto, mas
eu precisava desabafar.

Não sabia como ia sair dessa, e se Phillippe descobrisse que

o homem que ele matou era o meu primo teria o mesmo fim dele.

Se fosse há um mês eu não me importaria em não fazer parte


desse mundo, mas agora tinha motivos para lutar. Não queria ser
um mero objeto na mão da minha família, e desejava ser feliz.

É claro que Phillippe me fazia bem, e gostava quando


estávamos juntos, mas queria lutar por mim primeiramente, e fazer
as minhas escolhas.

— E agora... o que vai acontecer?

— Não se preocupe com isso — respondeu, indo até a porta


do quarto. — Eu vou resolver essa questão, e não vai mais se sentir

ameaçada.

Depois que ele saiu do quarto e os homens retiraram o corpo

do meu primo, eu fiquei ali, olhando para o nada, sem saber o que
fazer.

Alguns minutos depois percebi Ilka entrando no meu quarto,

dando-me um abraço em seguida. Ela parecia estar chorando, e um


pouco emocionada.

— Eu... pensei que ia morrer — falou, fungando.

— Agora está tudo bem. — Sorri, e ela acenou positivamente.

— Só tem um problema: as meninas da cozinha estavam


comentando que isso nunca aconteceu, e que... pode haver um

espião entre nós, falando os passos do Phillippe.

Ela me olhou, e entendi no mesmo instante o que ela estava

tentando dizer.

— Nós somos as novatas... — falei e ela assentiu.

Não sei como, mas tudo isso aconteceu para me mostrar que

não era uma super-heroína. Ainda era a mesma menina que se

deparou com a morte, e não consegui evitá-la.

Meus sonhos mudaram, e em contraponto com meus

instintos, agora queria viver. No entanto, isso era um problema para


agora.
— Fique tranquila — disse Ilka. — Pelo jeito essa mansão é
movida a segredos, não há com o que se preocupar.

— Há sim, amiga.

— O que você quer dizer?

Estava em um dilema, mas precisava desabafar com alguém,

falar um pouco da minha vida para ela, já que Ilka me contou

bastante coisas sobre a sua família.

— Eu conhecia o homem que estava no meu quarto. Ele...

era o meu primo.

Durante os minutos seguintes contei a ela o que havia

acontecido no meu passado, desde a minha fuga, até a questão da

minha família, e que Phillippe jurou exterminar todos que possuíam

um laço de sangue como eu tinha.

— Eu... não sei o que dizer.

— E eu não sei o que pensar — revelei, cabisbaixa.

Todos os cenários na minha cabeça levavam ao mesmo fim.

— Era por isso que não queria me contar nada no começo.


— Desde a morte da minha irmã tudo ficou difícil. Eu me

perdi, e... não sei mais o que fazer — falei e uma lágrima escorreu
do meu rosto.

— E isso piorou quando se apaixonou pelo Phillippe, não é?

Observei Ilka, levemente desajeitada por ela ter dito essa

frase.

Nunca contei a ela sobre as minhas aventuras, mas ao que


parecia ela já sabia há um tempo.

— Como descobriu?

— Ah, amiga... — Deu uma piscadinha. — Já te disse que sei

que ele vem ao seu quarto de vez em quando, e já vi você batendo


à porta dele. Não foi difícil ligar os pontos.

— Será que... mais alguém sabe? — perguntei temerosa em

ser taxada de aproveitadora.

— Na verdade, isso não importa. A vida é de vocês, e podem


fazer o que bem entenderem. Não é da conta das pessoas que
trabalham aqui se estão transando ou não.

— Eu nunca pensei que uma pessoa pudesse me


surpreender tanto — revelei, observando seus olhos.
— Phillippe te surpreendeu tanto assim?

— Estou falando de você. Eu só deixei você se aproximar de

mim porque parecia muito com a minha irmã, principalmente o jeito


de falar. E, eu acho que foi uma das minhas melhores decisões
desde que cheguei à cidade.

Ilka ficou me olhando por um tempo, e até esboçou falar


alguma coisa, mas não conseguiu de imediato, somente abriu um

largo sorriso, e me abraçou em seguida.

— Ok, isso foi bem fofo.

— Já tem um tempo que queria te falar sobre isso, agora


sobre o meu problema...

— Por enquanto não diga nada que te comprometa! — me

interrompeu. — Pense em algo antes. Agora se acha que Phillippe


não fará nada contra você, é melhor contar toda a verdade. Seria
terrível se ele descobrisse por conta própria.

Esse é o ponto. Não sei qual seria a relação dele se


descobrisse que sei uma parte da verdade...
“A

...”

Enquanto fumava um dos meus charutos cubanos, analisava

as possíveis falhas para terem invadido a minha mansão.

Eles eram cinco, e o que abati no quarto da Martina estava

desarmado, o que estranhei bastante.

Várias imagens passavam bem à minha frente, e me sentei


na cadeira para não deixar passar nada.
Pietro e mais dois seguranças me ajudavam analisando os

vídeos.

Depois de algum tempo conseguimos ver por onde eles


entraram: a casa ao lado. Pularam um muro em um dos pontos

cegos da mansão, e assim entraram facilmente.

Jamais pensei que alguém faria isso pelo vizinho, mas foi
bom ter ciência disso, iria tomar algumas medidas.

Vimos algumas coisas confusas nas câmeras internas, e a

forma que eles agiam era bem estranha também. Era como se fosse

algo robotizado, planejado para ser executado de uma forma

específica.

— O homem ficou no quarto da Martina por mais de dois

minutos, e depois ela entrou — Pietro falou, observando uma das

câmeras no corredor.

Isso era estranho.

Ele foi direto pra lá, como se soubesse onde estava

colocando os pés. Depois de mais algum tempo me observei na

câmera, indo até o quarto dela, e a salvei.


Alguma coisa naquela história não estava batendo, mas não
sabia o que era.

— É como se...

— ... alguém soubesse exatamente o que fazer — completei,

voltando às imagens, tentando entender como isso era possível.

Ao que parecia eles sabiam até da minha aproximação com a

Martina, e ela podia ser um alvo. Só que não ia deixá-los

encostarem em um fio de cabelo dela.

— Isso mesmo, chefe.

— Pode haver um espião entre nós — afirmei, diretamente

para Pietro, que concordou. — Acho que sabe qual é o seu trabalho

agora.

— Sim. Vou começar fazendo uma varredura pela minha

equipe.

— Já eu vou pesquisar outras coisas, principalmente a vida

pessoal de quem trabalha na cozinha...


Preciso estar mais presente na Vermont.

Não era do tipo que fazia sala, ou que gostava de conversas

fiadas, porém precisava agir como um CEO e proprietário em


determinadas circunstâncias, e a minha boate estava crescendo

rápido demais.

Hoje o lugar estava lotado, mais do que o habitual, contudo,


eu sabia que não era só por causa do ambiente, e sim pelo meu
poder, pela minha fama.

Enquanto percorria os ambientes do salão algumas mulheres


viravam a cabeça para me olhar, e eu nem precisava fazer esforço

para conseguir que alguma delas passasse a noite comigo, mas


elas não me atraíam mais, só uma pessoa estava presente em

minha cabeça: Martina.

Ela seria um alvo fácil aqui, no meio de tantos homens

drogados e promíscuos, e tomei a decisão correta em levá-la para a


minha mansão.

O meu outro problema era que corria riscos, e indiretamente


ela também. Não sei o que poderia ter acontecido se eu chegasse
um minuto depois no quarto dela, provavelmente o homem faria

algum mal à Martina, e eu não me perdoaria.

Eu prometi que a manteria segura, e honraria com a minha


palavra.

Enquanto pensava no que poderia fazer para resolver essa

situação, meu celular tocou.

— Deu tudo certo? — perguntei ao Pietro, imediatamente


após atender.

— Sim. Conseguimos as armas contrabandeadas, elas já

estão em nossa posse.

— Conferiu tudo?

— Acabei de conferir nesse momento. Exatamente as 200.

— Ótimo. Passe para a segunda parte do plano, tenho um


bom comprador aqui mesmo na cidade.

— Entendido.

Desliguei o telefone, e admirei a boate, uma das minhas

conquistas. Muitas vidas foram tiradas no processo, mas todas elas


se opuseram a mim.
Não éramos criminosos que matavam por prazer, muito pelo
contrário. Nesse quesito tínhamos honra, e só quando éramos
atacados ou enganados que agíamos.

A vida é assim, havia sempre muitos homens que se

achavam espertos, e esses espertos geralmente perdiam a vida


quando estavam brincando comigo.

Mesmo nesse mercado bilionário não existia nenhum rival à

minha altura. Era eu que colocava os preços em tudo na cidade, e


qualquer decisão passava por análises, estudos e pesquisas de

campo.

Ninguém em sã consciência iria me sacanear, a não ser que

fossem homens do outro lado do mundo, e que não me conheciam...

Em minha cabeça tinha absoluta certeza de que os ataques

não foram a mando de alguém dos EUA, e mesmo que eu estivesse


correto minha postura não iria mudar, ia até o fim do mundo para
encontrar essas pessoas, e faria questão de exterminar uma por

uma...
“U

...”

Quando cheguei ao poder, fiz questão de escolher os homens

mais fortes para cada um dos meus negócios, desde contatos com o
tráfico, drogas, armas e até mesmo contrabando de mulheres. Era

muito difícil achar pessoas que estavam dispostas a se arriscar em


outro país, mas a ganância move o mundo, e usei isso a meu favor.
O dinheiro era tudo para algumas pessoas. Dava valor ao

que possuía, mas tinha mais coisas para me preocupar.

No geral o crime organizado era tóxico, e até mesmo caótico,


o homem menos esperto do mundo sabia disso. Não importava o

quanto uma família mafiosa tentasse se limpar, não importava o

quanto ela promovesse a violência e a competição interna como


prática lícita, ela seria rotulada como maligna pela sociedade.

Na verdade, os homens honestos foram levados ao poder

como resposta a esses impulsos. Um homem honrado perseguia


uma lei justa, os mafiosos não tinham um lugar em um mundo justo.

Mas agora eu era a lei do mundo honesto, e isso fazia


realmente a diferença. Até eles foram subjugados a mim, e uma das

minhas artimanhas era simples: fazer com que meus subordinados

se sentissem poderosos.

Quando entrei na mansão vi uma grande concentração de


pessoas, e essa foi uma das minhas ordens para Pietro, empregar

mais seguranças. Houve uma brecha e ela foi usada, e não erro

duas vezes, podia ser fatal.

— Temos o controle de um raio de aproximadamente 2km

daqui. Você está seguro.


— Lembre-se: quero que todos que trabalham aqui e na
organização se sintam seguros. O trabalho só está começando.

Sentado no sofá, fitei a lareira acesa.

A intensa luz projetava sombras que pareciam miragens na

parede à esquerda, no outro lado do ambiente.

Na parte da noite conferi cada detalhe de segurança da

mansão. Fiz isso várias vezes, e quando fui me deitar o sono não
veio.

Estava um pouco cansado e preocupado, mas resolveria

tudo, como sempre fazia.

— Imaginei que estaria aqui.

Olhei para o lado, e observei Martina com a sua camisola,

parada diante de mim.

— Posso te fazer companhia? — perguntou discreta.


— Nunca mais me peça isso. Sempre vou querer sua

companhia.

— É que... eu sei que é bastante ocupado. Não gosto de

atrapalhar seus momentos a sós.

Martina era inocente, e agora podia entender mais um pouco

sobre ela.

Ao que parecia, na sua família, ela precisava ser submissa,


pedir permissão para inúmeras coisas, e também pedir desculpas. A
quantidade de vezes que ela disse essa palavra foram muitas, e por

mais que o seu antigo lar pudesse ter sido uma experiência tão
ruim, ela não se contaminou, e esse era um dos motivos para gostar

de sua presença. Preciso de alguém com um coração puro ao meu


lado.

— Eu gosto de estar ao seu lado. Sempre — respondi,


levantando-me, indo até ela, reparando o seu rosto, desejando-a.

Eu queria desesperadamente seus lábios nessa noite.

— Phillippe...

— Sei que eu disse que era minha propriedade no começo,


mas no fundo não te considero algo, e sim alguém.
— Você não me conhece bem...

— Me deixe te conhecer. — Segurei com as duas mãos seu

rosto, pedindo com os olhos para que ela focasse nos meus.

— Não sei se vai gostar, eu realmente ... não sei.

Adorava o seu jeito tímido, e isso me dava mais vontade de


desvendar os segredos mais ocultos em seu coração.

— Seja minha, só minha... — Beijei de leve sua boca, e ela


fechou os olhos, suspirando.

— Nem se eu quisesse seria de mais alguém, você... me deu


um motivo para viver. Estar ao seu lado é o meu maior motivo de

continuar.

Não estava acostumado com declarações românticas, e nem

gostava, mas ouvir isso da sua boca só inflamou o desejo que se


apossou em meu peito. O garoto que ainda não morreu em mim
estava ficando sem controle.

Tomei sua boca em um beijo voraz. Não importava o quanto

ela parecesse inocente no momento, de certa forma esse gesto


doía, e não entendi o porquê.
Depois, peguei-a no colo, levando-a até o meu quarto. Fechei
a porta em seguida e coloquei Martina no chão, prensando-a na
parede, ávido pelo seu sabor.

Minhas mãos agora estavam dentro da sua camisola,

apalpando seus seios e o sorriso em seu rosto era gratificante, além


de sexy pra caralho. Martina já não era tão inocente, sua expressão
estava em mudança constante.

— Isso é muito bom... — murmurou, e peguei a sua nuca


com força.

— Mas não é nem o começo...

Virei-a de costas, mordendo um pedaço do seu ombro,

enquanto uma das mãos estava em sua barriga, descendo em


direção ao seu sexo.

Fechei meus olhos sorvendo cada segundo desse momento,


agora passando a língua por sua orelha, indo até a nuca. Meu pau

já dava mostras de que seu corpo seria usado das mais várias
formas.

Mordi a sua orelha, ouvindo-a gemer, em seguida, e joguei


uma parte do seu cabelo para o lado. Quando ela novamente

gemeu meu nome abri os olhos, e fiquei parado durante alguns


segundos, não acreditando no que estava na sua pele, bem na
minha frente.

Pela primeira vez vi o mundo desabar em menos de um


segundo...
“O ...”

Phillippe cessou o toque em meu corpo, e quando me virei


ele me observava de uma maneira diferente.

Com raiva.

Só o vi assim uma vez, e foi quando ele ameaçou me mandar

de volta para a Polônia quando nos vimos pela primeira vez.

Sem falar nada ele foi até a porta, gritando alguém em


seguida.
— O que aconteceu? — perguntei, mas ele não falou nada,

simplesmente me ignorou.

Era como se os seus olhos tivessem mudado de cor, e a raiva


crescente me assustou.

Pensei rápido no que poderia ter acontecido. Estávamos nos

beijando, ele me forçou contra a parede, beijando a minha nuca, e...

De repente tudo fez sentido.

A marca na minha nuca, a mesma dos meus primos e

símbolo da nossa família.

— O que houve, chefe? — Pietro indagou, e ele continuou

me olhando demoradamente.

— Leve a Martina até a sala preta!

— Mas, chefe, essa é a sala de...

— Faça a porra que estou mandando e cale a boca!

— Phillippe, eu posso explicar tudo, não é o que está

pensando.

Antes de qualquer palavra a mais ele saiu do quarto, e fui

levada ao desconhecido.
Sem perder tempo fui até o quarto de Martina, fazendo uma

varredura completa nele.

Aquela imagem cravada em sua nuca não me saía da


cabeça, e de repente algumas coisas fizeram sentido.

Ela conhecia o homem que abati, e não falou nada.

Após abrir uma das gavetas, encontrei uma carta, que

parecia ter sido escrita em polonês. Fui até o meu notebook, e


rapidamente a traduzi.

O ódio cresceu dentro do meu peito, e pela primeira vez na

vida seria preciso machucar uma pessoa que tinha sentimentos

profundos...
Enquanto ia até a sala preta recebi uma ligação do meu

advogado. Hesitei bastante antes de atendê-lo.

— Não tenho tempo agora, Logan!

— Então é melhor arrumar. Tenho novidades sobre a

tatuagem, e há uma ligação com a mulher que pediu que eu

pesquisasse.

Apesar de ter ligado todos os pontos, precisava de todas as


informações necessárias para saber os meus próximos passos.

— Em quanto tempo chega aqui?

— Estou em Las Vegas, em menos de uma hora estarei na

sua mansão.

— Ótimo. Vou resolver alguns assuntos aqui mesmo.

Desliguei e fui até o local onde Martina estava.

— Nos deixe sozinhos! — ordenei para Pietro, que saiu em

seguida, ainda sem entender muita coisa.

Estava na sala preta, só Martina e eu agora. Ela estava em


uma das cadeiras, amarrada pelos pés e pelas mãos.
Esse local em específico funcionava como uma sala de
tortura, e tinha aqui tudo o que precisava. Nunca a usei, porque

ninguém da minha família ousou me trair, mas agora havia uma

pessoa que estava mentindo desde que colocou os pés nos EUA.

Independentemente do que eu pensava, eu não sabia por

onde começar, ou o que faria com ela.

— Phillippe...

— Por que fez isso? Por que me enganar? — perguntei,

tentando parecer o mais calmo possível.

— Eu não te enganei, eu... só estava com medo quando vi o


meu primo em meu quarto naquele dia.

— Eu sempre te disse que iria te proteger. Você me usou, e

não aceito que façam isso comigo. — Caminhei até ela, observando

seus olhos, tentando observar um pequeno vestígio de hesitação no


mesmo, mas o que vi foram lágrimas.

Ela chorava bastante, e tive pena por ela quando toda a

verdade viesse à tona, quando todas as pessoas da organização

soubessem quem ela realmente era.


— Você... disse que ia matar todos da minha família. Você...

ia me matar, eu não podia contar.

— Certo. E isso? — Levantei a carta que achei no seu quarto,

e ela parecia surpresa.

— Eu não sei que papel é esse.

— Ah, não. Vou ler pra você...

"O nome do alvo é Phillipe Vlachos Kingster.

Entre no jogo dele e ganhe a sua confiança, durma com ele


se for preciso, mas dê um jeito de chamar a sua atenção, faça algo

diferente das outras meninas contrabandeadas.

Faremos tudo como combinamos, e vamos te resgatar no dia

10 do mês seguinte. Nossa família conta com você..."

— A data dessa carta era do dia 8 agosto, do mês anterior,


bem no dia que chegou a Las Vegas, e o dia da invasão era 10 de

setembro. Estranho, não acha? Acho que ele viria te resgatar, mas
fui mais rápido e estraguei os planos de vocês.
— Philippe, eu não sei o que é isso, e...

— Cale a boca! — bradei. — Ele foi direto para a porra do

seu quarto, Martina. A única pessoa que poderia dar informações


aqui era você.

Ela não falou nada, só chorava feito uma criança.

Pela primeira vez na vida eu me sentia a porra de um

monstro em falar assim com uma pessoa.

Ela era a minha menina...

Fechei meus olhos, andando de um lado para o outro, sem


saber o que fazer, como prosseguir essa conversa que quase me

sufocava.

A morte seria pouco para ela se a minha família soubesse o

que aconteceu, e não sei qual seria a minha reação quando a


matasse.

— Eu sou inocente, Phillippe... ele disse que seria um


sacrifício, e... pode ter colocado isso lá. Não sei.

— Martina, ele estava no seu quarto te esperando! — Fui até


ela, agora com uma faca em mãos, irritado.
Ela não disse mais nada, só me olhou de uma forma
diferente.

— Você me prometeu... você disse que nunca me faria mal.

— Não é comigo que deve se preocupar, é com toda a

organização. Se eles descobrirem o que fez, todos vão querer te...

Não terminei a frase.

Martina ainda não sabia de tudo o que a minha família era


capaz para ter uma vingança de acordo com a nossa cultura.

— O que você vai fazer comigo?

Resolvi fazer algo impensado, uma estratégia nova, queria a

sua confissão, pelo menos isso.

— Se me contar toda a verdade agora eu vou te salvar.

— Me salvar?!

— Te mando pra outro lugar nos EUA, na América Latina,


foda-se o país. Mas preciso ouvir da sua boca o porquê fez isso.

Eu nem sabia porque diabos estava falando uma coisa


absurda dessas, mas eu precisava ouvir dos seus lábios que fui

enganado, só que o efeito foi o contrário.


Martina ficou cabisbaixa, em seguida sorriu brevemente.

— É uma chance única — falei, mas ela não disse nada por

algum tempo.

— Você não acredita em mim.

— Martina...

— Eu não sei de nada, Phillippe — gritou. — Eu fugi da

Polônia, minha irmã foi estuprada várias vezes e morta na minha

frente, minha mãe também. Eu só sobrevivi porque era protegida


por minha família, e não sei o que deseja que eu diga a mais pra

você acreditar em mim!

O ódio em seu rosto era notório. Por um momento acreditei

nela, mas vários fatores não tinham sentido.

Pela primeira vez eu não sei o que pensar ou o que fazer...


“A ...”

Deixei Martina na sala e fui para o meu escritório.

Pela primeira vez me sentia de mãos atadas, e podia não ter

o controle do que viria a seguir. Sabia exatamente qual seria o


pedido da minha organização quando soubessem quem ela era de

fato.

Apesar do homem em seu quarto, da carta e dela saber a

verdade, não achava que ela estivesse mentindo. Bem no fundo


sentia que havia algo estranho, e precisava descobrir o que era,

para o bem dela.

— Vim o mais rápido que pude! — Logan entrou em meu


escritório, com uma pasta em mãos.

— Tranquei Martina na sala preta — falei, e ele estreitou as

sobrancelhas.

— Então você já sabe...?

— Sim, eu descobri vendo a tatuagem em sua nuca.

— Entendo. — Sentou-se, pensativo. — De fato toda a


família dela possui essa tatuagem, entretanto, há mais coisas que

precisa saber.

— O quê?

— Todos os familiares dela são mafiosos na Polônia, e muito

temidos, preciso destacar.

— O que diabos eles têm a ver comigo? — perguntei, não

entendendo o sentido de eles fazerem Martina se aproximar de mim.

— Na minha opinião? Nenhum.

— O que você quer dizer com isso, Logan?


— Eu vou falar, mas me explique primeiro como descobriu a
tatuagem, e o que mais encontrou.

Durante os minutos seguintes expliquei a ele sobre a carta e

o homem no quarto dela, bem como sobre as filmagens. Falei que

estávamos transando, e que descobri isso por acaso. Ele ouviu

atentamente e não me interrompeu.

— É interessante, mas um pouco fantasioso demais para o

meu gosto.

— Também achei — expliquei. — Não há vínculo entre nós,

mas o fato dela ter mentido me prova que...

— Ela só estava com medo — completou, cruzando os

braços.

— Me explique o que acha de tudo que pesquisou.

— Na minha opinião ela fugiu do seu país por medo do seu


pai, e de fato ela perdeu a irmã pelas minhas pesquisas. Os homens

da família dela são uns animais, e não duvido nada que tenham

plantado essa carta.

— Como fariam isso?


— Não sei. Mas eles têm dinheiro, e com toda a certeza

souberam do seu paradeiro. Quando descobriram, só precisaram


bolar um plano.

— Esse plano pode matá-la. Por que eles colocariam a vida


de um próprio familiar em risco? Não faz sentido algum.

— Não sei, mas se eles tiveram um plano pra isso, com


certeza tem outro em mente.

Pensei nas suas palavras, e de fato tinham alguma


coerência, mas o problema maior não era acreditar em Martina, e

sim o que viria a seguir.

— Por mais que eu acredite nela, você sabe o que minha

família faz com as gerações de quem nos ataca, Logan.

— Esse é um problema que precisa resolver, mas o mais

importante é: a palavra dela vale de alguma coisa pra você? Ou


melhor... ela é alguém com quem se preocupa a ponto de correr

esse risco?

— Sim, ela é.

Não pensei um segundo sequer para responder.

— Tenho um pedido para fazer.


— Qual?

— Me deixe falar com ela. Quem sabe posso tirar algo dela,

alguma coisa que nem ela mesmo desconfie que possa nos ajudar.

— Tudo bem.
Pensei em tudo e nada ao mesmo tempo.

Já fazia horas que estava amarrada nessa cadeira, e sentia


que o meu fim estava próximo. Sabia que a organização iria me

matar, era só uma questão de tempo.

De repente, as luzes se acenderam, e demorei um pouco a


abrir os olhos devido à claridade. Quando dei por mim um homem
elegante de terno e gravata entrou na sala, sentando-se na cadeira

à minha frente.

— Olá, Martina. Meu nome é Logan, e sou o advogado do


Phillippe.

Não respondi nada.

— Ele vai me matar, não é? — perguntei, tendo uma ideia da


resposta.

— Só se ele for muito burro. Eu disse pra ele que é inocente.

Suas palavras me pegaram totalmente desprevenida.

— Como sabe?
— Já tem um tempo que estou pesquisando sobre os

homens que atacaram a organização, e depois que ele me pediu


para pesquisar sua vida tudo fez sentido. Você foi uma vítima na sua

família, e fugiu da Polônia, não é?

Acenei concordando.

— Tenho convicção de que eles te acharam de alguma forma,


e armaram tudo, até mesmo essa carta que Phillippe achou. Isso faz

algum sentido pra você?

Novamente concordei.

— O que ainda não descobri é: porque eles fariam isso com


você? A troco de que te condenariam à morte aqui nos EUA?

Não respondi nada. Realmente não fazia sentido, e se o

intuito fosse me resgatar, eles agiriam de outra forma.

— Eu não sei...

— Pense, Martina. Isso pode ser muito importante para

Phillippe tentar mantê-la viva, ou sei lá... fazer com que você

consiga fugir.

Durante alguns segundos pensei no porquê eu seria o motivo

de algo assim.
Por que meus próprios familiares tinham o desejo de me
condenar?

Não fiz nada contra eles, a não ser que...

De repente minha mente deu um estalo, e abri meus olhos.

— Acho que estamos no caminho certo — Logan disse,

sorrindo.

— A questão aqui não são meus familiares, e sim o meu pai.

— Me explique melhor. — Cruzou os braços, analisando-me


cuidadosamente.

— Minha irmã foi morta pelo meu pai porque ele a

engravidou. A organização não admite relacionamentos entre pais e

filhas, e eu o ameacei, falando que revelaria a verdade aos meus

tios.

— E se dissesse...?

— Eles tirariam meu pai do poder, e com certeza... o

matariam.

— Isso sim faz sentido. Eles temem você, Martina, mas não
podem fazer muita coisa já que está aqui nos EUA, sendo protegida
por alguém importante. O que eles podem fazer é cortar o mal pela

raiz de longe.

— Sim...

Na minha cabeça muita coisa ficou clara. Meu pai sempre foi
um homem bastante metódico e estrategista, e eu era o único elo

vivo que poderia tirá-lo do poder. A organização era tudo para ele...

— Acho que fiz o meu trabalho. — Levantou-se, vindo até


mim. — Posso te soltar se quiser.

— Se eu quiser?

— Sim. Posso sumir com você em um piscar de olhos, e

nunca mais vai precisar ver Phillippe de novo. Terá uma nova vida, e
não vai correr o risco dessa família fazer algum mal a você. Tudo o
que precisa fazer é me pedir. Agora.

Observei Logan por algum tempo, mas rapidamente neguei


com a cabeça.

Estava cansada de correr das coisas, fazendo-me de vítima.

— Vou ficar bem aqui. Se Phillippe acreditar em mim e me

soltar tudo bem. Se não, vou enfrentar o meu destino.


— Você é corajosa, gosto disso — ele falou, e em seguida

saiu da sala.
“T

, ”

Estava curioso para saber a tática que Logan estava usando

para conversar com a Martina. Eles já estavam há quase uma hora


naquela sala.

Após mais algum tempo ele voltou ao meu escritório, e

estava sorridente.

— Já tenho o que preciso.


— Me expliquei tudo agora — ordenei e durante os minutos

seguintes conversamos sobre o que falaram na sala.

Ele conseguiu avaliar Martina melhor do que eu.

Quando conversamos agi no calor da emoção por ser ela, a

única mulher que me encantou nesses meus trinta e três anos. Meu

medo não era ouvir da sua boca a verdade, e sim o que aconteceria
depois, quando o restante da família descobrisse a verdade.

— Eles a querem morta.

— Sim, e se são espertos, — e acho que são — , sabem

exatamente como a sua organização trabalha, e que ela seria a


primeira a morrer por estar aqui. Bem conveniente, não?

— Mas se eles sabem do que somos capazes,

provavelmente sabem que iremos atrás deles.

— Discordo um pouco. A cidade onde eles moram é bem

remota, e tem o acesso difícil. Deslocar pessoas até lá é

complicado, além de ser o território deles. Acho que são um pouco

prepotentes em achar que não farão nada a respeito.

— Não há lugar difícil ou longe o bastante para nós, todos


eles serão exterminados, e...
— Inclusive ela! — completou e fechei os olhos, não
querendo aceitar essa realidade.

— Isso mesmo.

Logan me analisou durante algum tempo, em seguida

suspirou.

— Você se apegou a ela, e não quer deixá-la morrer. Além de

tudo, Martina não tem culpa de nada, é uma mulher inocente que

nasceu na família errada.

— Não existem inocentes para a nossa organização em um

ataque, e sabe bem disso.

— Sim, eu sei, mas e você, está de acordo com isso? Vai

fazer algo para protegê-la ou sujar suas mãos de sangue e matar

uma inocente?

— Já matei muitos inocentes, Logan, só por terem um pacto


de sangue familiar.

— Eu sei, mas não significavam nada pra você. Já a Martina

ao que parece virou seu mundo de pernas para o ar.

Ficar ao lado dela seria travar uma batalha contra a minha


organização, e os meus riscos seriam enormes.
— De fato... — pontuou, observando o teto. — É por isso que

odeio o amor, ele sempre ferra a gente de uma forma ou outra.


Todas as vezes precisamos fazer uma escolha arriscada que nos

coloca contra a parede.

— Você já amou alguém, Logan?

— Nunca.

— Não sei se acredito em você.

— E nem precisa. Eu minto 90% das vezes, então essa é


uma resposta que você nunca terá.

Meu advogado era bem misterioso, mas a sua vida não era

importante para mim, e sim o seu trabalho.

— Acho que sabe, mas há algum espião por aqui passando


informações.

— Não é bem um espião — respondi, tendo uma ideia clara

de quem fez essa ponte entre essas duas famílias.

— Já sabe quem é?

— Tenho uma ideia por tudo que conversei com Martina e


você agora há pouco.
— Qual o nome?

— Meu traficante de mulheres na Europa: Giorgio.

— E o que vai fazer com ele?

— O que faço com quem me trai. Só preciso ter certeza de

que foi ele, mas não se preocupe, tenho os meus meios de


descobrir.

— Entendo.

— Obrigado pela ajuda. Eu assumo daqui.

— Tem certeza de que não vai precisar mais de mim?

— Por enquanto, não.

— Tenho uma última pergunta... — Levantou-se, observando-


me sério. — Você está cogitando não contar nada para a sua

família?

— Temos um juramento. Não posso omitir informações,


sejam elas quais forem.

— Não perguntei isso. Quero saber o que está sentindo na


porra desse coração frio que tem no peito. Você vai ou não omitir

essas informações?
— Ainda não sei, mas vou lutar por ela. Até as últimas
consequências.

Depois que Logan foi embora fui até a sala que deixei
Martina.

Quando ela me viu não esboçou reação alguma. Seus olhos


estavam frios, como no primeiro dia que a vi.

Sem falar nada fui até a cadeira e tirei as amarras dos seus
pés e suas mãos.

Quando ela se levantou ficou me observando por algum

tempo, e eu não sabia o que falar.

— Me desculpe por ter feito você passar por isso.

— Não vou! — respondeu dura. — Você não acreditou em


mim, e acho que foi preciso seu advogado te convencer do

contrário.

— Martina... — Fui até mais perto, só que ela recuou.


— Por favor, não encoste mais em mim.

— Não teria como eu saber da verdadeira história, há peças

que não se encaixam.

— Depois de tudo que passei, você me jogou em uma sala e

me amarrou, e ainda estava com uma faca quando conversávamos,


como se eu fosse... uma criminosa.

— Eu pensei que fosse. Quando vi sua tatuagem me

descontrolei, sua família matou o meu primo.

— Sim, minha família, mas eu sou inocente! — exclamou,

com lágrimas nos olhos. — E não acho justo pagar com a minha

própria vida pelos erros deles.

— Você não vai, eu prometo.

— Promete?! Como prometeu que nunca ia me fazer mal

algum?! Que ia me proteger?! Sua promessa não vale nada pra

mim, e...

— Escute aqui! — Segurei o seu braço direito, com força. —


Não pense por um momento sequer que vou te abandonar. Você

querendo ou não está morta só por fazer parte dessa família, e

estou ferindo os meus princípios e os da organização te mantendo


respirando desde que vi essa tatuagem, então não quero ouvir você

falando que minhas promessas não valem de nada.

— Falar é fácil! — Soltou-se da minha mão, irritada. — Acha

que sou idiota a ponto de acreditar que a sua família irá me

perdoar?! Eu tenho um prazo de validade, Phillippe. E, vai ser

questão de tempo até ele vencer. Aposto que eles já estão


pensando em como vão me torturar.

— Não estão.

— Como pode ter tanta certeza?

— Porque eu não contei para ninguém ainda.

Martina esboçou falar algo, mas se retraiu, e parecia um

pouco aliviada com a minha resposta.

— E quando pretende contar?

— Não sei. Eles vão descobrir de uma forma ou outra, e vão


juntar as peças, só preciso pensar em algo antes. Não quero e não

vou te perder. — Segurei a sua mão, e dessa vez ela não ofereceu

resistência, só me olhou com o rosto cansado.

— Eu só quero dormir. Ver o meu primo foi... um pesadelo


bem real.
— Descanse. E, me deixe cuidar de tudo. Vou recuperar a

sua confiança, custe o que custar, nem que seja a última coisa que

eu faça...
“E

...”

Quando passei por um dos corredores, indo para o meu


quarto, vi um rosto conhecido, que ao me ver veio correndo em

minha direção, abraçando-me.

— Meu Deus, Martina! Como você some assim?! — Ilka


perguntou, parecendo aliviada ao me ver.
— Eu estava presa em um dos quartos, e... Phillippe sabe de

tudo.

De forma resumida contei a ela o que aconteceu, e a forma


que ele descobriu que éramos da mesma família. Falei da carta, e

do meu primo se referindo a ele como um sacrifício.

Percebi a surpresa em seu rosto, e ela ficou branca.

— Eu vou ficar bem — falei. — Parece que sou boa em fugir


dos meus problemas, já fiz isso antes.

Ilka sorriu e estendeu uma das mãos, segurando a minha.

— Vou te ajudar no que for preciso.

Fiquei aliviada por vê-la. Ilka é a única pessoa aqui que

parece se importar comigo. Eu me sentia confortável quando

estávamos juntas.

— Acho que não preciso me preocupar com nada, pelo

menos até todos saberem da verdade, e...

— Não pense nisso. E, acho que devia fazer algo sim.

— O quê?
— Descobrir quem passou todas essas informações. Como
poderiam saber que estaria aqui em Las Vegas?

Pensei um pouco sobre o que ela disse, e tinha uma

suposição, que era muito forte, aliás.

— Eu vou ter essa resposta, amiga, e acho que vai ser mais
rápido do que penso...

Dormi por algumas horas, mas quando observei o relógio na


parede percebi que ainda eram 22h.

Ter insônia era a pior coisa do mundo. Você ficava pensando,

sentindo, lembrando...

Depois de ficar mais alguns minutos deitada, com a cabeça

girando de pensamentos diferentes, resolvi me levantar, e abri a


porta do meu quarto.

Quando fiz esse gesto, outra pessoa fez o mesmo, e me vi

cara a cara com o corpo musculoso e definido de Phillippe. Ele


estava sem camisa, e havia acabado de sair do quarto.

Estremeci e olhei para baixo. Nesse momento encará-lo me

dava medo. Muito medo.

Fiquei um pouco nervosa e arrependida de ter aberto a porta


no mesmo momento que ele, mas não podia ignorá-lo.

— Precisa de alguma coisa, Martina?

— Não, estou bem — menti. — Só vou... tomar um pouco de


água.

— Eu também.

Fiz o caminho normal até a cozinha, e sentia que atrás de

mim ele me analisava. Agora não sabia até que ponto podia confiar
nesse homem, mas a minha vida estava em suas mãos.

— Vou pegar pra você...

— Não precisa. — Ele foi mais rápido. — Você não está em

seu horário de trabalho, e isso não vai me matar.

Depois que bebi um copo de água, ele se aproximou da

geladeira, e parecia até mesmo estar me dando espaço de certa


forma, como se soubesse que a sua presença me incomodava.
Passei por muitos medos durante a minha adolescência. Não

podia falar determinadas coisas, não podia andar para locais


desconhecidos, e ao que parecia agora criei outro medo em minha

cabeça: a morte.

Estava decidida a me matar quando cheguei a Las Vegas.

Nada em minha vida fazia mais sentido, e parecia o correto a se


fazer. Sozinha no mundo não teria chances, ainda mais em um país

que não conhecia, que nem sequer cogitei colocar os pés.

Não sei quando mudei meus pensamentos. Entendia que

Phillippe me ajudou com isso, mas recuperei um pouco da minha


alegria, algo até então adormecido. Queria trilhar meus próprios
caminhos, e não me fazer de vítima o tempo todo.

Meu maior desejo era ser uma mulher livre.

— Preciso saber até onde está disposta a ir para permanecer


viva — Phillippe disse, sério, mas pensativo.

— Por que está me perguntando isso?

— Acho que sabe. Quando te vi a primeira vez você desejou

a morte, como vou saber que não está pensando assim agora?
— Não estou — pontuei, com firmeza. — Tenho motivos para
lutar.

— E, pelo que está lutando?

De imediato não respondi, mas tinha claramente na minha

cabeça determinados propósitos. Alguns mudaram ao longo dos


dias, mas esse continuava intacto.

— Por mim. Por Weronika. Ela não ia querer que sua irmã
desistisse da vida, então farei por ela.

— Excelente.

Ele bebeu seu copo de água, em seguida me fitou

demoradamente, parecia querer falar algo, mas tinha dificuldade.


Depois, virou as costas para mim, e pensei que iria para o seu

quarto, mas ele parou, balançando a cabeça de um lado para o


outro, virando-se e caminhando até mim.

— Martina, eu sou um homem letal, que não erra. Te julgar

culpada sem saber toda a sua história foi um erro, e vou conviver
com ele pelo resto da minha vida. Mas, espero que acredite em mim

quando falo que não vou te abandonar. Você já sofreu demais.


— Ainda sofro — respondi, desviando os olhos. — Todos os
dias são difíceis, ainda mais agora que posso...

— Não termine essa frase — bradou, chegando mais perto,


só que mantendo distância. — Pense como uma dívida que tenho

com você, não vou deixar que nenhum mal aconteça com você, e...
meu desejo é deixá-la livre.

— Livre?

— Sim. De mim.

— Por que está falando isso?

— Não sei. Mas, esse ambiente e as pessoas daqui não vão

te fazer bem. Eu não sou um homem bom.

Phillippe pela primeira vez expressava algumas


vulnerabilidades perante mim, e fui até ele, observando seus olhos

perdidos e confusos.

— Você impediu que eu me matasse. Me deu um quarto e um

emprego, e... me mostrou coisas novas. Você não é um monstro,


Phillippe.

— Com você, não, mas com outras pessoas, sim — revelou,

e sua mão agora tocou o meu rosto, de um jeito diferente das outras
vezes. — É errado querer alguém tão pura do meu lado, sabendo

que sou tomado de raiva e ódio.

— Phillippe...

— Espere, eu vou concluir.

Não falei nada, mas o meu coração acelerou, e eu senti algo

diferente, um medo diferente.

— Antes de te conhecer eu era um homem sem fundamento.

Vivia pela minha família, e não me importava com mais ninguém.

Você mudou tudo, e isso me assusta em muitos sentidos.

— Não sei o que dizer.

Estava tensa, só que ainda bastante magoada com ele.

Pensei que ele mesmo me mataria naquela sala, mas observava o

seu olhar enquanto estava amarrada, e ele não queria fazer aquilo.

Tinha certeza.

— Eu não sei o que vai acontecer a partir daqui, mas na

minha cabeça você faz parte da minha família, e vou te proteger.

Custe o que custar.

Ele agora estava a centímetros de mim, e fiquei sem reação.


Sua aproximação por um lado me deixava tensa, mas de certa
forma aliviada, como se eu soubesse que ele iria até o fim por mim.

— Eu... só quero viver, Phillippe. Eu... vou preferir morrer se

meu pai me obrigar a conviver com ele.

— Vem cá.

Fiz algo que me acostumei no último mês: abracei e chorei


colada ao corpo de Phillippe. Eu estava fraca, mas não queria sentir

nada nesse momento. Sentia-me tão perdida, mas ao mesmo tempo

sabia que ele parecia estar quebrando algo dentro de si.

Enquanto me abraçava, ele passava as mãos nos meus

cabelos e me acalentava.

Nunca tive um carinho masculino em minha vida, e esses

gestos comigo só eram compartilhados por minha mãe e minha


irmã.

Era ótimo sentir essa sensação.

— Farei tudo por você, menina. — Segurou meu rosto com

as duas mãos, e vi nos seus olhos o quanto ele estava decidido. —


Eu te juro pela minha vida...
“T , ,

....”

Pensei bastante no que faria em relação a contar a verdade


ou não sobre a família de Martina, mas realmente não havia

escolha.

Tinha certeza de que não era a única pessoa nessa


organização reunindo informações para encontrar os mandantes
desse ataque, e precisava me adiantar.

Fui até a casa dos meus pais, e essa era uma das poucas

vezes que estava vindo aqui como filho, pedindo conselhos.

— Pelo visto o assunto é sério — meu pai falou enquanto

caminhávamos para o seu pequeno escritório, uma das coisas que

ele manteve quando saiu da chefia.

— Extremamente — confirmei —, mas, preciso da sua


palavra que isso não sairá daqui, pelo menos por enquanto.

Meu pai me observou desconfiado, ele sabia que pedir algo

assim era arriscado. No entanto, eu vivia arriscando minha vida, e


isso se tornou algo normal.

— Por ser meu filho, te dou a minha palavra.

Não demorei e contei a ele toda a história que sabia. Desde o


que Logan me falou, até a conversa com a Martina dois dias atrás.

Não escondi também que possuía sentimentos por ela, e que

meu desejo era que ela permanecesse aqui. Ele me ouviu com

calma, mas reparei suas feições, e vi a sua preocupação quando

terminei de falar.
— Acho que sabe o que penso a respeito, mas vou falar,
mesmo assim: a organização vai exigir que você mate essa mulher.

— Eu sei disso, contudo, preciso de uma solução. Estou

pensando nisso há dias, mas não encontro uma saída.

— Você conhece as regras melhor do que eu, você criou boa


parte delas, e essa em específico você executa há anos, Phillippe.

Pensei sobre isso, e de fato meu pai estava coberto de razão.

Nunca dei brechas sobre essa lei em específico, e agora me via em

um beco sem saída.

— O que faria em meu lugar?

— Só você sabe o que sente por essa mulher, porém se está

disposto a salvá-la, o preço pode ser enorme, até mesmo para você.

Entrar em rota de colisão contra a própria organização pode até

mesmo te matar.

Levantei-me, indo até a janela, pensando nos meus próximos

passos.

Se fosse preciso matá-la, eu teria que o fazer, o chefe da

organização, mas isso estava fora de cogitação. Ela não iria morrer
pelas minhas mãos, nem pelas mãos de ninguém.
— Obrigado pelos conselhos, pai.

— Tem certeza de que simplesmente vai me agradecer? Te

conheço bem, e sei que quando pisou aqui em casa já tinha a

decisão tomada em sua cabeça.

— Sim. Mas queria te ouvir, em respeito a tudo.

— Vai tentar salvá-la mesmo assim, não é?

Assenti, e ele respirou fundo, agora com uma das mãos em


seus cabelos, visivelmente preocupado.

— Você está entrando em uma guerra por uma mulher. Saiba


o que está em jogo.

— Eu sei, e vou aceitar todas as consequências. Você fez o


mesmo pela minha mãe anos atrás.

— São situações diferentes, filho.

— Não, não são. Todas elas levam ao mesmo fim, estar com

a pessoa que temos sentimentos.

Meu pai ficou me olhando durante um longo tempo, e depois

abriu um breve sorriso.


— Nunca pensei que se apaixonaria por alguém. Você

sempre foi um homem de gelo que não expressava nada, e desejou


o lugar que alcançou desde a adolescência.

Eu não sei quando isso começou.

Meu pai tinha razão sobre tudo, e me privei de sentir algo

pelas pessoas. Divertia-me algumas vezes com as garotas de


programa, mas não passava de uma noite, e não significava nada

pra mim.

Perceber o quão quebrada Martina era me atraiu, porque era

assim. Nasci assim.

Isso não fazia de mim um homem bom, contudo, tornei-me

um homem que desejava sempre o melhor para uma mulher em


específico, alguém que estava disposto a sacrificar sua própria vida

para salvá-la.

— Sempre fui bom em improvisar, pai. O novo me assusta,

mas encaro tudo de frente, e dessa vez não vai ser diferente.

Ele assentiu, fitando o teto, relembrando algo.

— Há um ditado antigo que diz: quando você está no alto de


uma montanha, às vezes parece que não há nenhuma maneira de
descer, mas sempre há um caminho. Você só precisa correr contra o
tempo e descobrir, filho.

— E o meu tempo está acabando.

— De fato, mas lembre-se: tudo tem um preço. Vivemos em

um mundo doente. Não há gostos nem emoções puras. Tudo foi


contaminado por quem somos, mas o amor existe, e quando o
encontramos precisamos fazer valer a pena, pode ser uma chance

única, e eu sou a prova disso.

De repente ouvimos algumas batidas à porta, e minha mãe a


abriu, sorridente.

— Desculpe atrapalhar. Trouxe chá para os dois.

Ela nos serviu, deixando duas xícaras na mesa ao lado, e

logo em seguida saiu da sala, fechando a porta.

— Entendeu o que eu disse? O amor às vezes chega sem


avisar.

Abri um breve sorriso, entendendo o ponto.

— Você precisou matar pessoas para estar ao lado da minha


mãe — relembrei.
— Sim, pessoas más, como é o seu caso. Por isso sou a pior
pessoa para te aconselhar nessa situação. Na minha época não
existia tantas leis como agora em nossa organização, e eu daria a

minha vida pela sua mãe.

— Então isso é o amor — respondi, pensando no rosto dela,


um pouco aflito por saber que poderíamos nos afastar para sempre.

— Sim, isso é o amor. Se colocar no lugar da pessoa e


arriscar a própria vida para salvá-la. É uma atitude bonita e

tremendamente idiota.

Ele riu, e concordei.

Tomamos o nosso chá em completo silêncio, depois me


levantei, organizando meus próximos passos. Eu sabia exatamente

o que fazer, e a primeira coisa é falar a verdade para a minha

organização. Se eles souberem disso por outra pessoa, teria

problemas.

Em seguida iria cuidar do assunto relacionado à família dela.

— Obrigado pela conversa, pai. Daqui pra frente eu assumo

as consequências dos meus atos, e saiba que independente do que

eu fizer, não vou deixar que nada prejudique você ou a minha mãe.
— Não se preocupe com isso. A ação será exclusivamente

sua, e o alvo você. Espero que tome uma sábia decisão, não quero
perder um filho.

— Provavelmente não será nem um pouco sábia, mas farei o

que estou sentindo em meu coração. Pelo menos dessa vez preciso

ignorar um pouco a minha cabeça, e me concentrar na pessoa que


é realmente importante para mim.
“I

...”

UMA SEMANA DEPOIS

Marquei uma reunião com alguns integrantes da minha

organização para apontar tudo o que descobri sobre o ataque.

Geralmente quando havia algo extraordinário assim, todos os

membros importantes se faziam presentes, ainda mais sabendo que


o assunto era uma ofensiva direto a nós.

Durante a semana que se seguiu pensei em várias

estratégias, várias formas de tentar livrar Martina da morte, mas não


encontrei nenhuma brecha. Há coisas que podia tentar, mas de

qualquer forma elas eram arriscadas.

Martina participaria dessa reunião como minha convidada.


Eles precisavam enxergar que de certa forma ela era inocente, e

que a estaria apoiando.

Se me dissessem que algum dia eu arriscaria tudo por uma

mulher eu diria que era impossível. Que nenhuma valia a pena, mas

ela mudou alguns pensamentos em minha cabeça, e acreditava


estar fazendo o certo.

— Estou com medo, Phillippe.

Martina estava ao meu lado, segurando com força uma das

minhas mãos.

Conforme os dias passavam ela ficava mais tensa, e entendia

a sua preocupação. Eu não parei de pensar nessa reunião um

minuto sequer, mas precisávamos encarar os fatos, e omitir

informações não seria algo prudente.


— Confie em mim. Vou fazer de tudo para que eles vejam
que você não é nada parecida com a sua família.

Ela me olhou de forma demorada e sorriu. Depois, entramos

em uma das minhas salas da mansão, onde marquei a reunião...

Cinquenta pessoas estavam presentes no local, entre

conselheiros e familiares.

Se houvesse um debate e fosse aberta uma votação, cinco


pessoas dariam o veredito.

— Acho que sabem qual o teor de convocar todos vocês.

Tenho novidades sobre o ataque que sofremos.

— Então já sabemos as pessoas que vamos mutilar? —

Stéphanos perguntou, e foi inevitável não observar Martina, vi seu


rosto se abaixar, claramente preocupada.

— Sim, sabemos.

— São americanos?
— Não, eles são da Polônia. De uma cidade chamada Toruń.

As pessoas se entreolharam, e pela surpresa não entendiam

o motivo do ataque. Depois começaram os burburinhos, e tornou-se

insuportável falar. Meus familiares eram bem barulhentos em


determinadas oportunidades.

— Preciso de silêncio para explicar a motivação deles! —


pontuei, um pouco mais alto que o normal, e todos se voltaram para

mim e se calaram.

Ainda não sabia por onde começar, mas precisava ser

transparente, e não podia mentir.

— Eles não sabiam da nossa organização no começo. O

ataque de certa forma não foi direcionado a nós, e sim a um dos


membros da família deles mesmo.

— Mas isso não tem sentido.

— Terá quando explicar a história toda, e não quero

interrupções — falei, e todos me olharam atentamente. — Uma das


mulheres traficadas fugiu da sua família e está trabalhando para

mim. Ela viu sua mãe e sua meia-irmã sendo assassinadas bem na
sua frente, e em uma atitude rápida fugiu de sua casa. O destino
quis que ela se deparasse justamente com Giorgio, o meu traficante
em uma rua deserta. Ele se aproveitou do momento enquanto ela

era perseguida, e a ajudou, dando uma simples carona. Só que ele


cobrou o favor e trouxe-a até os EUA como forma de pagamento da

dívida. Ela não teve escolha.

— E onde está essa mulher? — Téo perguntou.

— Ainda não acabei — respondi, voltando-me a todos na


sala. — Depois que ela veio para cá, a família soube de nós, e os

ataques começaram. Plantaram evidências para que ela parecesse


uma infiltrada, e planejaram ataques contra nós, especificamente

contra mim.

— Como sabemos que ela não é mesmo uma infiltrada?

— Simples: porque eles querem matá-la.

Novamente eles se entreolharam confusos.

— É uma história e tanto, mas por que a própria família


deseja a morte dessa moça?

— Porque ela sabe um segredo que tiraria seu pai do poder.

Ele estuprou e engravidou a sua meia-irmã, e isso é motivo para


perder o poder e a morte no seu país. Ela contaria a um dos seus
tios, e por isso foi perseguida. Na verdade, duas pessoas foram
perseguidas, a sua meia-irmã morreu nesse processo quando
fugiram, e ela se viu sem saída.

Novamente as conversas se tornaram barulhentas, e os


homens da família discutiam entre eles a história.

— Como descobriram que ela estava aqui?

— Giorgio. Fiz minhas pesquisas e nelas descobri que os

soldados do pai dela identificaram ele quando a menina fugiu de lá,


e temendo a morte ele revelou o paradeiro dela, daí tudo começou.

Agora todos estavam em silêncio, e prestavam atenção em


mim.

Boa parte do que eu tinha que falar foi esclarecido, mas ainda
havia mais pontos para serem tratados, questões importantes.

— Ele será mutilado!

— Pedacinho por pedacinho!

— Me encarrego dele, Phillippe!

Minha família tinha sede de sangue, e esperava esse tipo de


reação.
— Quero abrir uma votação. Sei que não é usual, mas não
acho que essa mulher deva morrer por lutar pela vida. Perder a mãe
e a meia-irmã já foi o bastante para ela.

— Você sabe como são as leis, Phillippe. Nunca deixamos

ninguém vivo que tenha um laço de sangue quando nos atacam —


Stéphanos disse.

— E o que tem em mente?

— Proponho uma morte rápida. Sem dor.

Algumas pessoas concordaram, outras gesticulavam, ainda

em dúvida.

Eu sabia que essa reunião não seria fácil, mas prometi que

iria até o fim por Martina, e não vou abrir mão disso.

— Sempre executei as ordens da organização, e sempre

cumpri com o meu papel. Sou homem para assumir que essa é uma

das leis que acho mais condizente com a nossa filosofia, mas não
nesse caso. Um laço de sangue onde não se deseja estar é

diferente do que temos aqui.

— Se não estiver à vontade eu mesmo posso matá-la,

Phillippe, não precisa ser você.


Fechei meus olhos, levemente irritado.

Defendê-la assim não daria em nada, mas ainda tinha alguns


truques, e Martina iria precisar ser forte e falar o que realmente

pensava.

— Acho melhor ouvirem dela um pouco da sua história.

Todos me olharam assustados, e me voltei para ela, que se


levantou.

— Eu sou a pessoa que Phillippe contou a história — revelou,

um pouco envergonhada, não fazendo contato com ninguém em um

momento inicial. — Tudo que ele falou é verdade, e... só eu sei o


que passei na mão deles. Perder às duas pessoas mais importantes

da minha vida acabaram comigo, e quando cheguei a Las Vegas

implorei para Phillippe me matar, eu desejava morrer até um mês


atrás.

— E o que mudou? — Téo perguntou.

— Bom...

Ela me olhou, e abriu um pequeno sorriso.

Conversamos bastante naqueles dias que se passaram, e


pedi para ela ser sincera em tudo, inclusive em relação aos seus
sentimentos. Não queria que ela mentisse, mas que falasse a

verdade a eles.

— Phillippe me deu um teto, uma cama, e... muito mais. Por

mais que eu fosse uma propriedade, quando estava com ele sentia
algo diferente, uma proteção que nunca senti. Aprendi a confiar

nele, e... me apaixonei.

Ouvir isso na frente das outras pessoas era algo novo.

Ser um homem frio é uma marca que criei durante muitos


anos, e demonstrações de afeto como essas não eram normais

entre as pessoas daqui, só que Martina não era dessa família.

Tive algumas ideias do que poderia fazer quando fosse a vez

de ela falar, e para salvá-la, iria executar uma delas.

— É verdade — falei, e todos me observavam. — Meus

sentimentos por ela são os mesmos, e por isso iremos nos casar.
“U
...”

Fiquei sem reação quando Phillippe terminou a frase.

Tentei de todas as formas transparecer que sabia sobre esse

casamento, mas ele não me falou nada sobre o seu plano, só me

disse que pensaria em algo com o desenrolar da conversa.

— Mas isso será um conflito de interesses — um dos


conselheiros disse, e Phillippe assentiu.
— Eu sei, mas nos envolvemos antes da verdade vir à tona.

Isso aconteceu naturalmente, e vocês sabem que eu não mentiria


para a nossa organização, minha própria família. Desde que Martina

se mudou para a mansão tivemos um contato a mais, e tudo

aconteceu de forma rápida.

As movimentações na sala ficaram maiores, e algumas


pessoas até se levantaram. Inicialmente não entendia o que estava

acontecendo, mas Phillippe parecia calmo, e de certa forma isso me

tranquilizou.

— Iremos decidir em uma sala separada. O seu pedido para

a votação foi aceito — um dos homens avisou, e Phillippe acenou

positivamente.

As pessoas se dispersaram, e agora Phillippe e eu

estávamos no salão principal. Não sabia se seria prudente nos

aproximarmos, mas foi ele quem fez isso.

— Nervosa? — questionou, um pouco apreensivo também.

— Sim, mas... por que fez aquilo?

— Esse era o único jeito de mantê-la viva. Minha última carta

na manga. O único jeito de salvá-la é você se tornando um membro


da minha família.
Fiquei o observando, e vi que esse homem estava realmente
disposto a me salvar. Nunca uma pessoa fez um gesto tão intenso

para mim, e sou grata.

— E... ficaremos casados mesmo se tudo der certo, ou...?

— Olhe bem para os meus olhos... — Ele veio até mim,


passando uma das mãos em meu rosto, sério e compenetrado. —

Eu só penso em você, Martina. Não há outra pessoa na minha

cabeça, e de fato quero você só pra mim. No fundo tenho desejo em

me casar com você.

Sorri ao ouvir essas palavras, e o abracei. Em seguida ele me


beijou intensamente, de forma apaixonada e quente, sem vergonha

alguma das pessoas ao nosso redor.

Se antes eu tinha dúvidas que ele lutaria por mim, agora não

tinha mais.

— Obrigada por me defender e me dar um motivo pra viver.

Obrigada... por tudo.

— Não me agradeça ainda. Ainda precisamos de uma

resposta.
As duas horas que se seguiram foram longas na minha

cabeça.

Minha mente pregava peças em mim, e pensei em vários

cenários possíveis. Agora eu temia a morte, mas precisava acatar a


decisão que fosse.

Depois de mais alguns momentos todas as pessoas foram


chamadas para a sala inicial, e pudemos ouvir enfim o veredito.

— Decidimos que vamos deixá-la viver, mas sob uma


condição: ela vai ajudar a caçar todos eles, e se toda a família dela

não for exterminada, ela dará o exemplo e morrerá. Além disso, se


não obtivermos sucesso você perderá o comando da organização,

Phillippe. Se conseguirem matá-los a permissão para o casamento


será dada. Vocês estão de acordo com esses termos?

— 100% de acordo.

Ele nem titubeou ao responder, e me senti aliviada em saber

que minha vida seria poupada.

— E você, Martina? Ajudará a organização a ter a vingança

que desejamos?
Phillippe me olhou e acenou positivamente com cabeça, e

não pensei muito e respondi:

— Sim.
Não iria negar que fiquei aliviado com a decisão final dos

conselheiros.

Raramente havia uma votação em nossa organização, e ela


só contemplava assuntos urgentes ou que havia divergência entre

nós, e isso era bem difícil de acontecer quando conduzia uma


reunião.

A nossa linguagem mais forte era infligir dor a quem se


opunha a nós, e deixar bem claro que não seria tolerado qualquer

ameaça.

Até hoje cumprimos o nosso papel com maestria, só que


ainda não enfrentamos um inimigo tão distante, e nesse caso em

sua própria região.

É necessário agir com cautela, não nos expondo. No entanto,

se eles queriam uma guerra vindo até aqui, eles a teriam onde por
direito era deles.

— Jogada arriscada, hein, filho?


— Já me acostumei. Tudo na minha vida é arriscado, pai.

Todas as pessoas mais influentes da família compareceram à

reunião, inclusive os pais do Adônis.

— Sei que improvisou, mas acredito que tinha um plano em

mente.

— Planos — respondi. — Tentaria outras formas se

precisasse, mas acho que essa foi a melhor solução. Agora preciso
focar em como encontrá-los e fazê-los pagar por essas mortes. Não

só as da nossa família, mas a da mãe e irmã da Martina.

— Você é inteligente, filho, e vai saber se virar bem nessa


próxima caça.

Ele foi andando até outro local da casa, e outro homem veio

até mim

— Saiba que não quero que perca a posição de líder,

Phillippe, mas exijo vingança — Áthos, o pai de Adônis disse,

enérgico.

— Não se preocupe, você tem a minha palavra que farei

justiça com as minhas próprias mãos.

— Quero te pedir outra coisa.


— Estou ouvindo.

— Quero eu mesmo me encarregar desse seu traficante. Ele

foi a ponte para a morte do meu filho.

— Sinta-se à vontade, ele é todo seu, mas sei que após ele

vender essas informações ela não vai mais pisar aqui. Teremos que
encontrá-lo primeiro.

— Vou ajudar.

— Qualquer ajuda é bem-vinda.

Algumas pessoas conversaram comigo, e pouco a pouco eles

foram se dispersando, a maior parte deles indo embora.

Quando tive alguns minutos a sós fiz um telefonema, sendo

prontamente atendido.

— Como foi a reunião?

— Eu consegui o que desejava, Logan, agora preciso

começar os preparativos para ir atrás dessa família e acabar com

tudo. De uma vez por todas.

Em poucos minutos expliquei a ele o que aconteceu.


— Meus investigadores particulares estavam à toa, e fiz eles

pesquisarem algumas coisas. Giorgio está em Lens, na França. Sei


que falou que cuidaria disso, mas sabia que teria problemas maiores

para resolver, e resolvi fazer por conta própria.

— Obrigado, Logan. Isso vai ajudar bastante.

— Mate-o com carinho — debochou, como de praxe.

— Não serei eu, e sim o pai de Adônis e Orestes.

— Então ele não terá misericórdia, tenho certeza.

— Em breve te passo mais informações, mas lembre-se: o


foco total é saber tudo sobre a família da Martina.
“A

...”

— Eu nem acredito que te deixaram viver! — Ilka me deu um


abraço apertado, e estava toda sorridente depois que contei a ela o

que havia acontecido na reunião.

— Ainda há etapas, amiga.

— Eu sei, mas pelo menos ele fez de tudo por você. Um


homem lutar por uma mulher assim é... lindo demais.
Ilka é uma mulher sonhadora, e via em seus olhos o quanto

ela estava feliz por mim. Espero que um dia ela possa encontrar
algum homem que a mereça, ela é muito importante na minha vida.

— Agora só precisamos esperar, tudo vai dar certo, confio em

Phillippe.

Ela assentiu, observando ao redor se mais pessoas estavam


nos observando.

— Fiquei sabendo que eles investigaram todo mundo que

trabalha na mansão — falou, baixinho. — Acho que estava

procurando se alguém aqui passou informações para a sua família,

mas não descobriram nada.

— Não acho que alguém que trabalhe aqui faça isso, e

Phillippe iria descobrir.

— Eu não sou de confiar muito nas pessoas — ela falou,

desviando os olhos. — Por isso entendi o porquê queria ficar um

pouco distante quando nos conhecemos.

— Eu também sou assim, amiga, mas eu enxergava em seus

olhos que você não queria nada em troca, só ser aceita por quem é.

Além de tudo você parece com a minha irmã.


— Ela era escandalosa que nem eu?! — perguntou, com as
mãos na cintura, séria, e comecei a rir.

— Sim. Vocês duas seriam grandes amigas, tenho certeza de

que ela iria gostar de você.

— Eu sei que é difícil superar, porque tudo é muito recente,


mas saiba que vou te ajudar no que precisar — falou, segurando

uma das minhas mãos.

— Pode contar comigo também, amiga. Pra tudo.

Quando a noite caiu fui até o meu quarto imaginando como o

dia foi surpreendente.

Estava de certa forma aliviada, e grata por mais um dia de

vida.

Pensei bastante em Phillippe, e a vontade de tê-lo aqui

comigo era enorme. Retirei toda a minha roupa, e esperei meu

futuro marido nua na cama.


Depois que ele entrou em nosso quarto e me observou

deitado vi algo malicioso em seu rosto.

— Não é prudente me esperar assim, menina — revelou,

enquanto retirava a sua roupa, e pude observar os seus músculos, e


a vontade de tê-lo aumentou um pouco mais.

— Acho que nós dois não gostamos de prudência às vezes, e


preciso de você dentro de mim. Agora.

Phillippe caminhou até a beirada da cama, em seguida,


sentou-se na mesma, sem tirar os olhos de mim. Agora, seu rosto

estava um pouco mais sombrio, e sua mão direita em meu queixo


me dizia que minha petulância o atiçou, e essa era a intenção.

— Martina... eu vou te comer com tanta força que vai se


lembrar dessa foda para sempre.

Gemi baixinho só em ouvir as suas palavras, e se já estava


assim agora, imaginei como seria quando ele finalmente entrasse

em mim.

— Então coma a sua futura esposa.

Phillippe girou meu corpo, e meu rosto foi contra o


travesseiro. Depois, segurou com força os meus cabelos, afastando
as minhas pernas com rapidez. Ele queria esse momento tanto

quanto eu.

— A partir de hoje você é minha e eu sou seu — disse,


pertinho do meu ouvido, e depois mordeu uma parte da minha
orelha, fazendo-me arfar.

Ele posicionou seu pau em minha entrada, e rapidamente


entrou em mim, dando várias estocadas profundas, e um ritmo muito

forte.

— Phillippe... — gemi, entregue, e ele segurou com mais

força meus cabelos, e agora parecia completamente descontrolado,


fodendo-me com brutalidade, como me prometeu.

Meu corpo demorou a se acostumar ao seu tamanho e


rapidez, mas eu queria todas as consequências dessa noite, queria

me sentir viva.

Ele quis que eu gritasse, e eu gritei.

Ele quis que eu gozasse, e eu gozei.

Ele quis que eu implorasse por mais, e eu implorei.

Eu precisava disso. Eu precisava dele.

Phillippe agora me colocou de quatro.


— Menina... hoje vou saborear outra parte do seu corpo —
sussurrou, e mordi os lábios, sabendo o que ele desejava.

— Meu corpo é todo seu... — falei, levemente angustiada,


esperando novas estocadas do seu pau.

— Não se incomode em gritar, eu gosto de ouvir a sua voz de


qualquer forma...

Ele roçou seu pau no meu cu, e lentamente fez movimentos


de vai e vem. Após algum tempo ele entrou em mim com uma parte,

e senti um pouco de dor, mais do que quando perdi a virgindade.

— Você vai se acostumar com o tamanho, confie em mim...


— pediu, e fechei meus olhos, acreditando em suas palavras,

ignorando a dor.

Durante alguns segundos tudo foi lento e calmo, e fui me


acostumando, mas após algum tempo doeu bastante quando seu
pau entrou totalmente dentro de mim.

— Ah... Phillippe... meu Deus... — murmurei, chorosa,


absorvendo todos esses sentimentos e prazer que ele me dava.

— É muito bom comer o seu rabo — disse, e intensificou os


movimentos.
Não sei dizer o quanto foi intenso os minutos que se
seguiram, mas me senti uma nova mulher, alguém que pouco a
pouco descobria alguns mistérios da vida, e o principal: me sentia

amada.

Ele me fazia sentir esse calor, essa fome ardente, a vontade


de desbravar o desconhecido. Eu podia sentir cada centímetro meu
cedendo a ele.

Depois que perdi quem eu considerava como família minha

vida foi destruída, e pensei não ter mais nada a perder. Nada se

provou verdadeiro até encontrá-lo.

Ele me deu uma escolha.

— Goze pra mim, meu anjo. — Enquanto me fodia, sua mão

direita estimulava meu clitóris, e isso era muito bom, essa sensação

era tão boa que quando finalmente gozei meu corpo todo tremeu.

Fui de encontro a ele, sentando-me em seu colo.

— Agora é a sua vez, quero sentir o seu gozo dentro de mim

— murmurei em seu ouvido, quase exigindo, e ele arfou, segurando

meu corpo com força, comprimindo-o contra o meu.

— Martina...
— Eu quero fazer você feliz, Phillippe, e vou fazer.

— Você já faz, menina.

Comecei a rebolar em seu pau, gemendo o seu nome,

pedindo para que ele me desse mais e mais prazer. Eu queria que

fosse daquele jeito, de corpo e alma.

— Porra...

Senti-lo preenchendo meu interior me deu uma sensação

enorme de paz, e a impressão de ser quase uma nova pessoa se

tornou ainda maior em meu coração...


“H ...”

— O que você vê quando realmente me olha?

Estávamos deitados na cama, e observava maravilhada o


homem que me ensinou alguns dos maiores prazeres da vida.

— Uma mulher inocente, que não sabe no que se meteu

vindo para cá — respondeu, analisando-me atentamente,

passeando com uma das mãos em meus cabelos, olhando-me


como se eu fosse sua, e eu era.
— Eu acho que tomei a decisão certa. Minha família me

mataria se eu simplesmente ficasse no país. Acho que era... o


destino te conhecer.

Ele ficou me olhando, e observei seus olhos vívidos e

inteligentes.

Em determinados momentos ele não parecia um assassino.

Phillippe era um homem digno de ter a minha confiança. Por


mais que no começo eu tenha me sentido intimidada ou

amedrontada, agora estava apaixonada, atraída, como se ele fosse

uma rocha segura sobre a qual me apoiar.

— Seu destino agora é ficar aqui, se casar comigo.

— Ainda temos muito o que fazer para... nos casarmos.

Pensei em como seriam os próximos dias, e nas


consequências deles. Ainda não sabia se Phillippe tinha um plano,

mas confiava em suas decisões.

Ao que parecia a sua organização pensava que era o ponto

chave para dar fim a essa guerra que havia começado por minha

causa.
— Vai ter algum problema pra você se eu exterminar a sua
própria família, Martina?

— Os homens, não. Mas as poucas mulheres que

sobraram... não acho justo que morram.

— A justiça é falha, e queria ter ajudado um pouco mais, só


que para te salvar, precisamos acabar com todos.

— Eu sei, e sou grata.

Fiz movimentos circulares em seu peito, observando

atentamente as várias tatuagens marcando seu tórax.

— Elas têm algum significado?

— Sim, todas elas.

Continuei olhando aquela infinidade de traços, curiosa por


saber um pouco mais sobre a sua história.

— Todas têm a ver com a máfia? — perguntei baixinho.

— Sim. Os líderes que passam pela organização têm o direito

de tatuar algo no corpo de acordo com o que fizeram.

— E... você é um dos que possui mais tatuagens?

— Sim. Tenho 22, e meu pai 18.


— Entendo.

Passei uma das minhas mãos pelo seu peito, admirando

cada pedacinho, e a curiosidade me atiçou.

— Qual o significado dessas duas tatuagens de crânios?

Phillippe não respondeu de imediato, só fixou seus olhos nos


meus, um pouco mais sério que o habitual.

— Algumas respostas das suas perguntas podem ser


perturbadoras. Quer saber mesmo assim?

— Quero — respondi, decidida. — Meu desejo é saber tudo


sobre você, ou uma boa parte das coisas.

— O primeiro crânio foi quando torturei a primeira pessoa e a


matei com as minhas próprias mãos. E o segundo quando minhas
mãos atingiram a marca de cem homens executados.

Fiquei o observando, atenta, e um pouco chocada com a

confissão.

— A âncora...?

— Foi quando me tornei chefe do meu grupo. Em nossa


organização ela significa força e resiliência. Todos os chefes que

passaram pela posição que estou a fizeram primeiro.


— Entendo. E o pássaro?

— A águia em nossa fraternidade simboliza a ideia de

liberdade de expressão. Como chefe eu proponho ideais para as


mais variadas coisas, desde expansão territorial até punições para
conflitos internos e externos. Depois que mais de cem decretos

forem aprovados, posso tê-la em meu corpo.

— Então a águia também representa muito mais.

— De certa forma, sim. Ela é uma das mais importantes.

— E esse anjo...?

— Ele é o anjo da morte. O homem na terra que leva consigo

o poder de deixar pessoas viverem ou morrerem por suas próprias


mãos. Como se fosse a justiça divina.

— E... qual é a que mais gosta?

— Não tenho preferidas. Só quero acumular mais ao longo do

tempo.

— E existe algum limite ou algo do tipo?

— Sim. 30 tatuagens. Mas algumas requerem tempo, e são


difíceis de conseguir.
— Entendo.

— Mas uma delas está chegando. — Ele segurou meu queixo

com força. — Quando nos casarmos vou tatuar o seu nome em


cima do meu peito, do lado direito. A partir desse momento, sendo a

minha esposa, você terá o direito de participar de todas as maiores


decisões da minha vida.

Phillippe continuou olhando para mim durante um tempo, e

não parecia que iria desviar a atenção de mim.

Quanto mais o desvendava, mais vontade eu ficava de


conhecê-lo um pouco mais.

Não o temia como antigamente.

Eu o queria ao meu lado, e confiava nas suas percepções.

Nunca pensei que haveria um homem que pudesse me prender tão


fortemente. Era uma sensação mágica, que parecia não haver outra
igual.

Neste momento ele era o único homem que me mantinha em


pé.

— Eu... te amo — revelei, envergonhada — Amo teus


desejos, a sua proteção, até parte das suas maldades, porque sei
que está protegendo os seus, e não faz isso por puro prazer. Isso é
de extrema importância para mim.

Phillippe me olhou e não soube o que dizer. Os seus olhos


brilhavam e me encaravam com uma intensidade que não

conseguia definir em palavras.

— Sei que dias atrás te prometi liberdade se trabalhasse para

mim durante seis meses, e infelizmente essa será a única promessa


que estou quebrando na minha vida — declarou, pensativo.

— Não se preocupe. Você foi além, está me dando a

oportunidade de viver, e farei isso por nós dois, e pela minha irmã.

Ela gostaria que eu fosse feliz, e você me faz feliz, Phillippe.

Ele tocou meu rosto, roçando em seguida o polegar pelo meu

pescoço, e fitando meus olhos mais uma vez.

— Nunca tive sentimentos, e não sei ainda qual é o

significado do amor, mas a simples sensação de imaginar te perder


e saber que isso é possível me causa uma angústia inexplicável.

— Isso... pode ser amor. — Sorri.

— Então eu te amo, Martina — ele disse, e pude ver o

respeito em seus olhos. — E vou lutar por você até o fim.


Senti um calor queimando meu rosto, e foi impossível desviar

meus olhos dos seus.

— Você me dá... coragem — revelei, baixinho. — E vou fazer

de tudo para que tudo fique bem. Meu desejo é viver, e não só

sobreviver.
“O ...”

UMA SEMANA DEPOIS

— Quero uma equipe na Polônia o mais rápido possível


fazendo o reconhecimento da cidade em que Martina morava!

Nos dias que se seguiram pensei bastante em uma estratégia

para que pudesse ter o efeito surpresa sobre a família da Martina.


Nós dois também conversamos bastante sobre algumas das

características deles e também o local exato onde moravam.

Ela me ajudou bastante, e decidimos que a melhor estratégia


seria entrar no país aos poucos, camuflando a nossa presença.

Neste momento tinha espalhado pela Europa pelo menos

cem pessoas da nossa organização, e todas tinham um papel


fundamental nessa caçada, além disso, eles estavam procurando

Giorgio.

— Quando pretende ir para a Polônia? — Otto perguntou.

— Depois que descobrirmos o que eles fazem nas 24 horas


do dia. Não vou atravessar o mundo despreparado, há vidas em

jogo, além da minha reputação.

Nunca tive medo da morte, ou de qualquer coisa parecida.


Todos os chefes de máfias espalhados pelo país tinham motivos

para morrerem, principalmente porque acumulávamos inimigos ao

longo das nossas jornadas, e isso era perfeitamente normal.

Quando havia disputas de poder, a vida do nosso inimigo não

valia nada. De qualquer modo, seria eu o homem, o caçador de

almas incansável e persistente na cola deles.


Eles mexeram com uma das pessoas mais importantes da
minha vida, minha futura esposa, e isso não sairia barato, muito pelo

contrário, o pagamento era a morte.

Percebi Otto saindo da sala para atender um telefonema, e

minutos depois voltou dizendo:

— Encontraram o Giorgio, ele está em nossa posse.

— Ótimo.

Agora fui eu quem saí da minha sala, discando um número.

— Pronto — Áthos me atendeu, enérgico.

— Tenho um presente que vai gostar bastante. Giorgio foi

encontrado.

— Me diga onde e quando que estarei lá em minutos.

— Ele não está perto, Áthos. Giorgio está na França, e sei

que tem alguns compromissos nesta semana.

— Não se preocupe, Phillippe, faço questão de ir para a

França e cuidar eu mesmo desse assunto. Vou te passar qualquer

informação que for útil para exterminarmos essa família.

— Excelente, conto com você.


— Me inveje, agora sei cozinhar uma batata! — Ilka fez um
charme e caí na gargalhada.

Nos últimos dias ficamos mais próximas ainda, e de certa

forma a cozinha havia se tornado o nosso refúgio, o local onde


podíamos descontrair.

Por mais que alguns assuntos ainda fossem pesados para


conversar, contei a ela sobre a minha família, e a decisão da

organização a respeito da minha vida. Agora, mais do que nunca eu


precisava lutar, tinha um motivo bem claro para isso.

— Agora só falta aprender a cozinhar todos os alimentos que

faltam — debochei, e ela me deu um beliscão.

Pensei inicialmente que as meninas que trabalhavam na

cozinha iriam de certa forma nos odiar, mas não foi bem assim. Via
o quanto elas estavam aliviadas aqui, e tinha certeza de que todas

preferiam estar na mansão ganhando um dinheiro honesto do que

na boate, à mercê de homens repugnantes.


Todas elas passaram por lá, e exatamente todas as que

conversei disseram que preferiam estar aqui.

Agora que elas sabiam que nem Ilka nem eu éramos espiãs
ou algo do tipo, estamos começando a entender-nos.

— Prefiro te ver assim, do que preocupada ou triste.

— Eu só estou tentando esquecer a minha próxima viagem.

Ainda não sabia quando partiríamos para a Polônia, mas


seria em breve.

Praticamente todos os dias Phillippe tinha reuniões de portas


fechadas com o restante dos membros da máfia e conselheiros, e

sabia que estavam traçando alguma estratégia.

Minha família não era grande como a dele, mas eles eram

ardilosos, e sabia que iriam procurar ajuda quando se sentissem


ameaçados.

— Vai dar tudo certo, amiga. Pelo menos há um homem que

vai te proteger a todo custo. — Ela sorriu, e voltou a atenção aos

seus afazeres.

— Ilka... eu nunca te perguntei, mas você já se apaixonou?


De imediato ela não respondeu, mas abriu um sorriso, ainda
compenetrada na comida que preparava.

— Uma vez. Foi muito bom.

— E o que aconteceu?

— Bom... ele foi assassinado. Acho que ele levou uma parte

do meu coração, por isso desde então eu não me envolvi com

ninguém. Tenho medo de entregar a outra parte do meu coração e

morrer de alguma forma, sabe?

— Foi a sua família?

— Não. Um assalto mesmo.

— E tem muito tempo que isso aconteceu?

— 2 anos.

Agora ela não estava sorrindo, parecia relembrar algo sobre o

homem.

— Sei que ainda dói — falei, triste por saber mais um pouco

mais da sua história.

— Sim, parece que foi ontem, mas... eu estou seguindo a

minha vida. E a minha família é a prioridade.


— Você vai amar de novo, amiga, mesmo que eu faça você

amar alguém.

Ela sorriu do jeito que me acostumei. Era incrível a

semelhança dela com a minha irmã, mas não gostava de ficar


comparando-as toda hora.

Cada pessoa é uma pessoa.

— Já você... acho que não precisa procurar mais. — Lançou


uma piscadinha, e sorri um pouco sem graça, relembrando o que
aconteceu.

— É estranho. Eu acabei me apaixonando pelo homem que


me comprou, e agora ele está me salvando, arriscando até mesmo a

sua reputação. Isso tudo não é estranho?

— Daria um belo roteiro de livro — falou, fitando o teto, e

imediatamente concordei.

— O que não sabemos ainda é se teremos um final feliz.

Às vezes me sentia egoísta em saber que toda uma


organização estava lutando por mim.

Querendo ou não era o motivo de tudo ter começado, e se


não viesse para Las Vegas nada disso estaria acontecendo. Por
outro lado, eu provavelmente estaria morta se continuasse em meu

país, e por isso não me arrependia das minhas decisões.

Eu me arrependi demais de não ter tomado atitude durante a


vida, e não iria me acovardar.

— Agora que está trabalhando aqui, pretende ficar quanto

tempo?

— Olha, Martina... eu por mim ficava vários anos. Ontem


mandei o dinheiro para a minha família e hoje fizemos uma ligação
de vídeo mais cedo, e...

Ilka parou de falar, e se antes ela sorria, agora seus olhos se


encheram de lágrimas.

Não entendi o que havia acontecido, e quando fui perguntar

ela foi mais rápida:

— Eles estavam comendo. A mesa estava cheia de coisas


que eles nunca sonharam colocar na boca. Pra mim foi uma vitória,

sabe? Isso me dá forças para continuar.

Imediatamente abracei a minha amiga, entendendo o quanto


significava para ela esse dinheiro. Ela nunca se colocou como
prioridade por causa da enorme família que tinha, mas sua
felicidade era poder ajudá-los, e isso me alegrava de uma forma que
nem sabia expressar.

Desde o dia que nos conhecemos ela nunca reclamou de


nada. Muito pelo contrário, Ilka estava sempre com um sorriso no

rosto, independentemente da situação.

Mesmo indiretamente foi ela que me ajudou a batalhar contra


meus demônios, e dava valor nessa amizade.

— Você tem um bom coração — falei, segurando o seu rosto.

— Nunca perca isso.

— Não tenho um bom coração, tenho só metade dele, né?!


— explicou, e seu choro se transformou em um belo sorriso

novamente.

A companhia dela tornava meus dias sombrios bem mais


leves...
“A ...”

— Logan, quem você conhece nos países ao lado da

Polônia? — perguntei, ao telefone, enquanto analisava alguns


dados sobre o país na tela do meu notebook.

— Perdeu a fé em mim, foi? — Gargalhou do outro lado da

linha

— Não entendi.
— Conheço pessoas na Polônia, e também na Alemanha,

Áustria, onde quiser, Phillippe.

Meu advogado é cheio das surpresinhas, e isso era muito


bom quando estava com problemas para resolver.

— Ótima notícia.

— Você quer facilitar a sua entrada, não é?

— Sim, não vou direto para lá, preciso pousar em um país


vizinho.

— Já tem uma data específica?

— Tudo indica que vai ser no final deste mês.

Expliquei a ele o que a organização decidiu, bem como as


regras que eles colocaram para que Martina ficasse viva.

— Você foi longe demais por essa mulher, não acha?

— E se preciso irei mais longe ainda. Ela é um ponto de luz

nessa escuridão que vivo diariamente. E eu nem sabia que era

possível encontrar alguém assim.

— Estou cercado de idiotas apaixonados mesmo... — Bufou

ao telefone, mas nem falei nada.


Jamais acreditaria se alguém falasse que eu me apaixonaria,
mas quando ela chegou, meu mundo virou de cabeça para baixo.

Eu precisava vê-la, beijá-la, tocá-la, fodê-la...

Isso se tornou a parte fundamental dos meus dias, e não me

arrependia de nenhuma das minhas ações.

— Só faça o seu trabalho, Logan, e me mantenha informado.

— Pode deixar. Um assunto posso adiantar, seu parente

pegou bem pesado com Giorgio.

— Pesado?! — debochei, sabendo do que eles brincaram.

— Meus informantes disseram que nunca viram um homem

ser tão torturado quanto ele, e a parte legal é que ele ainda está

vivo, mesmo sem os braços, as pernas e a língua.

— Parte legal?! Você é sádico, Logan, mais do que pensei.

— Todos nós temos segredos, e a parte boa é que ninguém

nunca saberá os meus.


Por volta das 16h Áthos me ligou, e atestei o que Logan me

falou ao telefone.

O pai de Adônis e Orestes era perverso, e adorava torturar

inimigos.

É claro que esse papel cabia a mim, mas em determinados

momentos não podia estar em dois lugares ao mesmo tempo, e ele


me substituía, e tinha prazer no que fazia.

Saber que seu filho foi morto pela informação de Giorgio


pode ter despertado o seu pior lado, se é que ele tinha um pior do

que eu já conhecia.

Depois que finalmente terminei o trabalho fui para a minha

casa, e surpreendi Martina, que estava trabalhando.

— Phillippe...

Colei nossas bocas, beijando-a como se fosse a última vez.

— Eu preciso de você — sussurrei em seus lábios, colando-


me neles mais uma vez.

— Eu também sempre preciso de você, Phillippe — eu a

escutei sussurrar baixo, fazendo com que meu coração batesse


mais forte.
Inferno!

Essa mulher não sabia o efeito que causava em meu corpo, e

estava completamente viciado em seu sabor.

— Você não precisa mais trabalhar na cozinha — falei,


passando o polegar no rosto da minha menina, encantado por sua

beleza.

— Eu gosto daqui. Fiz novas amizades, e isso é bom depois


de tudo que aconteceu.

Eu a observei sério, tentando decifrar se ela falava a verdade.

Era desconfiado por natureza, mas em alguns momentos precisava


ceder. Não queria fazer dela uma prisioneira.

— Por favor... — sibilou, e isso era um puta golpe baixo.

— Tudo bem, mas depois que nos casarmos quero você ao


meu lado.

— Combinado. Eu... gosto quando fala assim, como se tudo


fosse dar certo.

— Eu não tenho dúvidas que vai. Batalhar é a minha vida, é


tudo o que faço, e você está na equação, não vou dar margens para
erros. Ficaremos juntos.
Dessa vez foi ela quem tocou meu rosto, fazendo-me fechar
os olhos. Em seguida beijei as suas mãos, venerando-a, como
minha menina merecia ser tratada.

— Você foi a melhor coisa que me aconteceu desde que

cheguei aqui, sabia?

— Não queria que viesse para Las Vegas com essa tragédia
em seu peito, mas sou grato de ter te encontrado, e vou cuidar de

você para sempre.

Terminei a frase e peguei a minha futura mulher no colo,


andando com ela pela casa.

Em seguida, abri a porta do meu quarto, levando-a para a

cama.

— Vou te amar como merece e te tratar como uma rainha.


Vou proporcionar a você tudo que precisar. — Beijei a sua boca, e
ela me puxou para si, mordendo meus lábios, implorando por mais.

— Eu sou sua... — disse, girou-me na cama, vindo por cima


de mim, com o olhar safado. — E você é meu, só meu...

Adorava quando a minha garota tomava para si o que


desejava, isso me mostrava o quanto ela era forte,
independentemente do que ela pensasse de si mesma.

— Ah, mulher...

Martina beijou meu pescoço, tomando a minha boca, e


minhas duas mãos foram de encontro ao seu quadril, segurando o

que me pertencia.

Parecíamos duas pessoas desesperadas na cama, como se

a nossa vida dependesse desse beijo. Nunca tinha experimentado

algo tão intenso e real.

Sem explicações e sem palavras, ficamos nus, sem nenhuma

vergonha nem repulsa, nada além da nossa paixão. Meus

sentimentos por ela eram fortes o bastante para travar qualquer


batalha, e estar ao lado dela seria a minha vitória.

A nossa vitória.

Fizemos amor entre beijos e gritos abafados. Nos últimos

minutos amei Martina como se fosse a última vez. Estava


completamente envolvido por ela, e sabia que assim seria para

sempre.

Depois, ela se deitou em meu peito, sorridente, em seguida

adormeceu, com esse mesmo sorriso nos lábios.


Não tinha mais dúvidas, agora tinha certeza de que a amava,

e tudo o que podia dizer era que daria a minha vida por ela se fosse
preciso...
“A

...”

— Você estava me olhando dormir? — Martina perguntou,

abrindo levemente os olhos.

Passei uma das mãos em seus cabelos, observando o

quanto era sortudo em ter uma mulher como ela em minha vida.

— Sim. Nos últimos trinta minutos estava observando o


quanto é linda.
— Gosto do seu lado romântico...

— Não é um lado romântico, é um lado verdadeiro.

— Você é um homem bom, Phillippe — falou, ajeitando-se


melhor na cama, e neguei com a cabeça.

— Não, confunda as coisas, são situações diferentes. Te

amar e ter sentimentos por você não me faz um homem bom,

Martina. Tenho prazer em acabar com meus inimigos, e não sinto


nenhum remorso. Não mais.

— Mas você é bom por razões diferentes... Você cuida

daqueles que precisam de sua ajuda, e não sabe o que daria para
ter alguém assim na minha vida no passado.

— Esqueça o passado, menina. — Beijei os seus lábios,

sentindo o seu gosto. — Eu sou o seu presente, e em breve o seu


futuro.

Ela suspirou, retribuindo o gesto, aninhando seu corpo contra

o meu.

— O que mais te chamou a atenção em mim? — perguntou,

com os olhos atentos aos meus.


— Sua pureza, Martina. Em meu trabalho vivo cercado de
pessoas que vivem do crime e do sofrimento, e que na maioria

escondem bem o que pensam, o que são de verdade. Todos à

minha volta têm motivos para fingirem algo, até porque poucos vão

ter coragem de falar na minha cara o que pensam, já você foi bem

direta quando nos conhecemos.

— Eu só fui... verdadeira.

— Isso foi o suficiente para mim. Desde o dia que coloquei os

olhos nos seus quis cuidar de você, e trazer você para a minha

mansão foi a única forma que encontrei de te manter longe dos

homens sem escrúpulos que frequentam a Vermont. Nenhum

homem irá te tocar. Você é a minha mulher.

— Ninguém além de você vai me tocar, amor. Ninguém...


Gostava da maneira que Phillippe me observava.

Eu me sentia única. Acho que essa é a palavra.

Não era diferente da maioria das mulheres que sonhavam

com o príncipe encantado ao entrar na adolescência, mas às vezes


precisávamos entender que esse homem não existia, e que se
existisse provavelmente enjoaríamos fácil dele.

Sempre sonhei com um homem que me traria flores, que

pensaria em mim todos os dias, que me levaria para alguns eventos


e jantares, e que diria que me amava todos os dias, mas agora via
que isso era muito surreal.

Atualmente, estava ao lado de um homem que vivia no


mundo do crime, mas que tinha um diferencial: ele quer de todo o

coração me salvar.

Quando nem eu mesma tinha fé em mim, ele me deu razões


para continuar essa caminhada, e não me arrependia das minhas

escolhas.
Eu me sentia apoiada, apaixonada e em casa. Mesmo

nesses momentos difíceis e cheios de mistérios, senti que estava


escolhendo o homem certo.

Sei que havia uma parte de si que ele não me entregava, e

entendia que esse pedaço era o mau que o acompanhava por fazer

parte da máfia. Não podia julgar o seu trabalho, era ele quem estava
de certa forma me salvando.

Phillippe sabia que eu tinha uma ferida profunda e entendia

quando ficava deprimida e não me julgava, e isso era novo para


mim.

Desde a fuga do meu país sentia que não pertencia mais a


nenhum lugar, só que agora eu descobri que, através de Phillippe,

minha história era vívida e passava a existir claramente em minha

cabeça.

Eu precisava de um futuro, e o queria. Com ele.

— Sei quando deseja me perguntar algo, Martina. Conheço

seu olhar mais do que qualquer outra pessoa.

Ele estava correto.


Havia tantas coisas que desejava perguntar, mas algumas
respostas me davam medo, e essa invasão era uma delas.

— Estou preocupada quando formos para a Polônia —

revelei, mordendo os lábios, pensativa.

— Não pense nisso, menina. Esse é um problema que estou


cuidando nos mínimos detalhes. Se dependesse de mim você não

pisaria naquele lugar, mas também preciso obedecer a ordens, e

uma delas era que estivesse presente.

— Eu sei... é que algumas lembranças ruins vão aparecer.

— Lute com todas as forças contra elas. Você é forte.

— Não acho que tenha tanta força dentro de mim.

— Mas ela está lá. Eu sei que está, você só precisa acessá-

la.

Eu sabia que Philippe estava falando sério e de fato desejava

que eu entendesse que tinha essa força em meu peito, mas em

determinados momentos eu me sentia isolada.

— Todo mundo tem defeitos — ele disse, agora olhando as

paredes. — Todo mundo tem fraquezas também.


— Quero que descubra a fraqueza do meu pai —

praticamente implorei, e ele fechou os olhos, abrindo um meio


sorriso.

— Eu já descobri.

— E qual é?

— Bom, ela está bem na minha frente.

— E... a sua fraqueza?

Phillippe ficou em silêncio por um longo tempo, em seguida

colocou uma de suas mãos no meu rosto, atento.

— Ela também está bem na minha frente.

— Não desejo isso, quero ser a sua força, eu... me sinto


segura com você.

— Nem sempre as fraquezas são algo negativo, Martina, e


uma fraqueza pode ser também uma força. Você me dá motivos

para lutar, e farei tudo por você. Absolutamente tudo por minha
menina.

— Quando isso tudo acabar podemos viajar... — falei,


imaginando inúmeros cenários em minha cabeça, locais que

desejava conhecer.
— Iremos para onde quiser. Quando isso acabar eu prometo

que sua vida vai mudar, e que não vai mais sentir medo. — Ele
sorriu. — Eu garanto que não vai mais sentir medo.

— O que vai acontecer de fato lá na Polônia? — perguntei,


ainda inquieta.

— Não se preocupe. É um assunto que é melhor ficar só na


minha cabeça.

— É que... eu preciso saber como vai matá-los. Preciso.

Ele me olhou demoradamente, à espera de que eu

continuasse.

— Como vou matá-los eu não sei, mas que desejarão a


morte quando me virem é certo. Sua família será torturada, Martina.

E, vou ser o encarregado disso. Não quero que veja, isso pode
mudar a sua imagem do homem que eu sou.

— Não, Phillippe.

— Sim — afirmou firme, com os olhos brilhando. — Não

quero que conheça meu outro lado. Não vou suportar uma rejeição
sua.
— Nunca farei isso. — Fui até ele, tocando seu rosto. — Eu
te aceito do jeito que é, e você fez o mesmo. Eu sou sua e quero te
conhecer mais a cada dia que passa.

— Às vezes acho que você é uma miragem.

— Sou uma pessoa real, vivendo um caso real com um


homem real. E, não pretendo deixar de amá-lo ou julgar o seu
trabalho. Ele faz parte de você...
“A

...”

Foram necessárias mais duas semanas para finalmente ter

uma data para a nossa viagem.

Em cinco dias partiríamos para a Alemanha, um dos países

vizinhos da Polônia, e levaria 500 homens.

Sim, um exército.
Teríamos um ponto de encontro no país, mas não estaríamos

todos juntos na partida. Queria minimizar as chances de algum


ataque, mas supunha que eles saberiam que estávamos chegando.

— Se você morrer é o seu irmão quem vai assumir a

organização? — Logan perguntou, sorridente. Mais uma das suas

piadas fora de hora.

— Não vou morrer.

— Mas estou curioso... como funcionaria a hierarquia se isso

acontecesse? O sucessor natural é o seu irmão.

— Ele fez um acordo com a máfia. Apolo não precisa voltar, a


menos que ele queira.

Lembrei-me da imagem do meu irmão, e sabia que algo

assim não aconteceria.

Ele sabia muito bem o que desejava, e era um homem de

muitas faces. O desgraçado era tão esperto quanto eu, e fez algo

inédito: se desvincular da nossa família.

A inteligência estava em nosso sangue.


— Ele é um cliente mais tranquilo que você, preciso destacar
— revelou, ajeitando sua gravata —, mas tem alguns gostos

peculiares.

— O sadismo está presente no sangue da nossa família.

— Não estou falando disso, é que ele parece realmente


gostar de ser um professor.

Jamais pensei que Apolo se tornaria um professor de

Universidade.

Até poucos meses atrás ele estava aqui em Las Vegas,

brincando com mais um dos seus disfarces, mas acho que ele se
cansou.

Apolo se cansava rápido das pessoas e das coisas que o

cercavam.

— Qual é o nome da vez que ele está usando?

— Ethan. Achei original.

— Que seja... — resmunguei.

Meu irmão tinha algumas características bem parecidas


comigo: ele era um entusiasta e apaixonado pelo trabalho. Apesar
de estar disfarçado, ele era um homem persistente, além de ter uma

filosofia de que a mudança era necessária.

— Você não me respondeu: quem assumiria a organização

com a sua ausência?

— Não funciona assim — expliquei. — Haveria inúmeros

processos, votações e discussões para elegerem um sucessor.

— Entendo.

— Não estou preocupado com isso. Não vou morrer, e muito


menos perder o comando da organização, confio no que faço e nos

meus instintos.

— Você se apaixonou, Phillippe, isso já é um sinal forte de


que seus instintos são bem duvidosos.

Fiquei analisando Logan um bom tempo, tentando entender

um pouco mais desse homem. Infelizmente ele deve ser uma das
poucas pessoas que não conseguia ler, e isso me frustrava de certa

forma, independentemente disso tinha algumas opiniões do que ele


podia ter passado.

— Já percebi que fala bastante sobre paixão quando


conversamos, e que na maioria das vezes a critica, parecendo
entender perfeitamente o que isso causa na cabeça das pessoas.

— E qual o ponto? — perguntou, estreitando os olhos.

— Quando Alexander se apaixonou por Charlotte você disse


que era algo arriscado, que poderia acabar. Agora que sabe o que
sinto por Martina você deu a entender a mesma coisa só que com

outras palavras. Você pode ser um homem que encobriu bastante


seus rastros, mas às vezes você deixa escapar uma coisa ou outra

quando fala demais.

Ele sorriu, cruzando os braços, divertindo-se com a situação.

— Estou curioso, continue, por favor...

— Está bem na cara que já se apaixonou por uma mulher, e


se fosse para chutar, eu diria que foi a única em sua vida. Sabe-se

lá o que pode ter acontecido, mas ao que parece esse término de


certa forma não foi superado.

Logan ficou me olhando por algum tempo, e pensei que

soltaria uma de suas piadas costumeiras.

— Não pensei que se importasse tanto assim com a minha


vida pessoal. — Lançou um sorriso malicioso.
— E realmente não me importo — respondi, voltando minha
atenção a tela do computador. — Tudo que faz é um jogo, jogar com
as pessoas é um fator necessário para o nosso sucesso em geral.

— Você está certo, Phillippe. É difícil admitir... — Suspirou.

— Estou esperando a piada.

— Dessa vez não tem piada alguma — respondeu, sério. —

É praticamente impossível que durante a vida alguém não se


apaixone. Digo mais: é até idiota falar que não se apaixonou quando

viu uma pessoa diferente, que uma atração imediata não aconteceu.
Quando nos apaixonamos sabemos exatamente no que estamos
nos metendo. Sair ou não desse transe momentâneo cabe a nós.

— E você saiu do seu transe?

— Não, Phillippe. Sou um homem casado pai de nove


crianças. Passo dezesseis horas por dia ao lado deles. São meus
amorzinhos.

Abri um sorriso leve.

— Acho que fui longe demais, mas pelo menos descobri que
entende bem o que é uma relação, que sabe como funcionam esses
sentimentos.
— Sim, eles te levam pra baixo, porque você não consegue
mais pensar racionalmente, há sempre mais uma pessoa na
equação, e isso te fode de inúmeras maneiras.

— Pelo jeito ela fez um estrago em seu coração, hein?!

Logan desviou os olhos, e não sei destacar exatamente o que


vi. Não era bem tristeza, parecia uma raiva contida, como se o

assunto fosse pior do que imaginava.

— Vamos parar com esse assunto de sentimentalismos. Não


tenho saco pra isso.

— Logo agora que fiquei curioso? O que essa mulher fez a

ponto de desacreditar em tanta coisa?

— Quer saber mesmo?

Novamente ele ficou me olhando, como se não acreditasse

na minha curiosidade.

— Mais do que imagina.

— Então vou ser direto: ela morreu.

Não era bem a resposta que esperava ouvir, mas isso de fato
não me surpreendeu.
— Ela cometeu suicídio? — perguntei.

— Não. Ela simplesmente se cansou desse mundo e partiu.

Acenei positivamente com a cabeça, e depois ele se

levantou.

— Não foi tão difícil, Logan.

— De fato. Mas apesar de ouvir algumas coisas que são


verdade sobre o que falei, nem tudo é.

— Não se preocupe, o que é verdade já identifiquei.

Ele sorriu, em seguida foi até a porta.

— Espero que não morra na Alemanha, mas se morrer, tenho

certeza de que não fará falta alguma pra esse mundo.

— Obrigado, vou me lembrar das suas palavras, e em breve

nos veremos no inferno...


“A ...”

Passei um pouco mais de tempo com a minha menina, e

descobri algumas de suas manias e desejos.

Como muitas mulheres ao redor do mundo, seu maior desejo


é ter filhos.

Ela tinha uma paixão em seus olhos quando falava de

crianças, e soube na mesma hora que ela seria uma boa mãe.
Martina me perguntou o que eu pensava sobre a ideia de ter filhos,

e respondi que nunca pensei no assunto.

Pelo menos não até agora.

Conversar com ela me empolgava, e quando via estava

fazendo planos mentalmente. Nunca senti tamanha atração por

alguém, e tinha certeza de que não tinha mais volta.

Martina seria minha esposa, e lhe daria o que ela mais


desejava: filhos.

Já fiz muitas coisas ruins na minha vida e sentia que estava

na hora de começar algo positivo. Na nossa tradição um bebê era


uma benção sem precedentes, e naturalmente poderia me suceder.

Hoje não fizemos nada mais que conversar, e isso abriu a

minha mente. Em reuniões ou conversas, geralmente era eu a


pessoa que tinha a voz, o controle da situação, mas hoje me permiti

ouvir o som da sua voz, e foi a minha melhor decisão.

— O que deseja me pedir, Martina?

— Por que acha que quero te pedir algo? — Arqueou as

sobrancelhas na defensiva.
— Às vezes você chega de mansinho, me olha, desvia os
olhos, me olha de novo. Não é difícil saber quando está com

vergonha ou com medo de me questionar alguma coisa.

— Pelo jeito sou um livro aberto.

— Sim, mas eu venero tudo em você.

Toquei o seu rosto, e em seguida beijei seus lábios

intensamente.

Ela gemeu quando a beijei, e de repente segurei a sua

cintura, puxando-a para mim. Grande parte da minha vontade era

adorá-la como ela merecia, e fazer amor com ela aqui mesmo.

— Me conte o que deseja, meu amor.

— Eu só... queria sair um pouco, sabe?

Era perfeitamente normal ouvir isso.

Desde que chegou a Las Vegas ela só frequentou dois locais,

e ambos pareciam uma prisão, preciso destacar. Mesmo aqui em

casa tudo era metódico, e determinadas pessoas que trabalhavam

para mim não podiam sair daqui.

— Não é bom andarmos pela cidade enquanto o assunto da

sua família estiver em andamento, mas podemos ir à Vermont. Pelo


menos é um local mais seguro.

— Tudo bem, eu só... quero sair um pouco daqui. Esquecer

os problemas, me sentir livre, sabe?

— Não se preocupe. — Segurei o seu rosto, roçando o


polegar em sua bochecha. — Em breve tudo isso vai acabar e você

será livre para andar onde quiser.

— Fiquem de olho em qualquer movimentação estranha na


boate. Finais de semana são bastante movimentados.

Estava conversando com Pietro, alinhando a nossa

segurança.

Dificilmente alguém entraria na Vermont, mas não podia


correr riscos, não quando minha menina e futura esposa estava ao

meu lado.

— Pode deixar. Seu camarote já está reservado, e ninguém


vai te atrapalhar, chefe.
— Excelente.

Antes dessa guerra começar eu era bastante assíduo na

minha boate, mas esses novos problemas desviaram o meu foco de


certa forma, e precisava resolvê-los para voltar à minha rotina
normal.

Tinha vários planos para a nossa organização, principalmente


referente à expansão de negócios. Ir para a Europa serviria para

outros assuntos, mas não podia desviar do que realmente


importava, só trataria deles quando exterminasse todas as pessoas

da família da Martina, principalmente seu pai.

Esse teria prazer em torturar.

Faria isso por toda a dor que ele causou à minha menina, sua
irmã e à sua mãe. Ele ia desejar nunca tentar ter encostado em um

fio de cabelo dela, e seria eu o seu juiz e executor.

Ia mandá-lo para o inferno da melhor maneira possível, todo

desmembrado.

Saí do meu escritório com um copo de whisky em mãos, já

pronto para ir até uma das minhas propriedades, e quando virei as


costas vi algo que me desestabilizou.
Meus olhos não estavam preparados para isso.

— Como estou?

Martina tinha em seu corpo um vestido branco, de tecido fino,


e seus cabelos estavam ondulados.

Seu vestido balançava levemente com cada passo que ela


dava, e fiquei hipnotizado, tamanha a beleza da minha mulher.

Fui até ela, contendo-me para não tirar o batom vermelho de


sua boca, desejando-a mais do que a vida.

— Você está linda.

— É... sério? É que... não estou acostumada a usar vestidos.

Na semana passada ela foi ao shopping, acompanhada de

pelo menos vinte seguranças meus. Ela escolheu algumas roupas, e


eu disse que poderia comprar o que quisesse.

Provavelmente a ter comprado foi o meu maior investimento

na vida toda, mas agora não a via mais como uma mercadoria.

— Sua beleza é natural, Martina. — Passei o polegar em seu


pescoço, analisando o colar que dei a ela vários dias atrás. — O que
usa em seu corpo só realça o quanto é maravilhosa e desejável.
Para um homem como eu era complicado conter o ímpeto de
tomar para mim o que de fato era meu, contudo, precisava me
segurar, ao menos por algumas horas.

— Você quer me comer... — disse, baixinho, quase

sussurrando.

— Então você fala palavras sujas, anjo...

— Às vezes, mas penso bastante, não vou mentir.

Porra, essa mulher tirou o dia para foder com a minha


cabeça.

— A resposta para sua pergunta é sim. Mas vou me conter,

quando chegarmos vou me satisfazer. Te satisfazer.

— Phillippe... por favor, não me faça mudar de ideia e ficar


nessa mansão — respondeu, mordendo os lábios.

— Foi você quem começou... — Fui para mais perto,

mordiscando sua orelha, e ela recuou, deixando-me mais sedento

para tocá-la, fodê-la.

— Se concentre. Quando chegarmos vamos satisfazer todas

as nossas vontades...
“N
...”

Chegamos à Vermont por volta das 22h.

Como pensei inicialmente a boate estava lotada, e sem


perder tempo fui até um dos meus camarotes, o que tinha a melhor

visão periférica do local.

Pude reparar no semblante de Martina durante alguns

momentos, e ela parecia tentar absorver tudo à sua volta.


Não queria privá-la de se sentir livre, mas antes precisava

terminar essa guerra que começamos.

— Vir aqui sem estar trabalhando é estranho.

— Estranho em que sentido? — perguntei, interessado.

— Não sei explicar, mas é diferente para mim.

— Isso tem algo a ver com o medo que sentia? — indaguei,

sabendo que ela sentia muita coisa, e na maior parte do tempo


guardava para si.

— Não sei, pode ser. Mas também há uma sensação de


alívio, aqui eu seria mais uma pessoa, e provavelmente estaria só

me escondendo, como fiz em toda a minha vida.

— Acho que se sente responsável e desvincula a tristeza do

que aconteceu. Aqui te faz lembrar dos seus primeiros passos na


cidade, mas não tem com o que se preocupar. Ao meu lado você

estará protegida.

Fui até ela e a apertei contra meu peito, apenas para sentir o

seu cheiro. Em seguida, beijei uma parte do seu pescoço, ansioso

por mais.
Era difícil controlar o meu corpo quando nos tocávamos, e
nem queria me manter no controle.

— Eu nunca me apaixonei, e não sabia que era tão bom

pensar tanto em alguém. — Colocou as duas mãos em meus

ombros, sorrindo. — Ser protegida assim nunca passou pela minha

cabeça.

— Não se preocupe, Martina. Eu vou arriscar a minha vida

para protegê-la. Sempre.

Permanecemos até 00h no camarote principal da Vermont.

Martina observava tudo à sua volta maravilhada, como se

fosse a primeira vez. Além de curtir os shows, ela falava sem parar,

e gostava de vê-la feliz.

Sei que momentos assim em sua vida foram raros, e faria de

tudo para ver esse brilho em seu rosto todos os dias. Daria tudo

para a minha menina.


— Você me disse uma vez que as pessoas pagam

mensalidades aqui, não é?

— Isso mesmo. 100 mil dólares ao mês, e podem usufruir de

tudo.

— Eu não pagaria esse valor. É bem caro — disse,

espontânea, e abri um meio sorriso.

— Eles não pagam só pelo espaço e pelas mulheres. Há


mais coisas.

— Quais?

Observei-a, e depois neguei com a cabeça.

Não sei se ela se adaptaria a algumas respostas, ainda mais


sabendo que veio para ser uma propriedade aqui dentro.

— Sou forte, Phillippe. Mais do que imagina.

— As pessoas são usadas aqui, das mais variadas formas.

Todas as mulheres e homens que trabalham na Vermont são


propriedades dos clientes. Além disso, o que movimenta o lugar são
as drogas que eles consomem, que saem de graça por causa da

mensalidade. Na realidade, tudo sai de graça aqui com o


pagamento mensal.
— Entendi.

— Você precisa saber que não obrigo ninguém a permanecer.

As mulheres vêm por conta própria.

— Como pode saber disso? — perguntou, e dessa vez em


um tom um pouco mais agressivo. — Eu não vim por conta própria.

— Mas foi a única que falou isso diretamente. Há alguém que

cuida disso para mim, e todas as mulheres que trabalham para mim
tem um acompanhamento mensal, e nele sempre são perguntadas
se querem permanecer aqui.

— Você não disse uma vez que quem entra na máfia


dificilmente sai?

— Isso não vale para essas pessoas — respondi,

relembrando alguns casos específicos. — Entrar na máfia é uma


escolha difícil, porque implica em trabalhar diretamente para mim. É
participar do trabalho sujo, matar pessoas e buscar informações. As

mulheres que trabalham aqui não são mafiosas, e sei separar bem.

— Então quer dizer que se algumas delas quiserem ir

embora...
— Elas podem ir, com uma condição: me pagando o valor da
aquisição delas.

Martina ficou pensativa, em seguida olhou para longe,


pensando no que havia falado.

— Eu...

Ela cessou a fala, e depois seu rosto mudou bruscamente. Vi

até mesmo quando ela estreitou os olhos, e em seguida abriu a


boca para falar algo, mas o medo em sua face era maior.

Percebi rapidamente que algo errado havia acontecido, e


mirei os olhos na mesma direção que ela, e foi aí que vi um homem
nos olhando.

— Phillippe...

Não deu tempo de ela falar mais nada, e o homem sacou


uma arma, atirando em nossa direção.

Tudo foi rápido, e quando dei por mim me joguei contra ela,
usando meu corpo de escudo. Senti na mesma hora a pressão em

um dos meus braços, e agora estávamos no chão.

Depois, houve uma sucessão de tiros por pelo menos dez


segundos, e tudo cessou de uma hora para outra.
Quando vi que tudo estava sob controle, observei Martina
que estava com os olhos esbugalhados, em choque.

— Você está bem?!

— Sim, estou. Mas... e você?

Ela observou a minha camisa social, bem como a mancha de


sangue do lado direito dela.

— Acho que foi de raspão — respondi, observando a

mancha, com um pouco de dor.

Em seguida olhei ao nosso redor, sacando a minha arma e

analisando se havia mais atiradores na parte superior.

— Ele está morto, chefe! Não há mais atiradores na Vermont

— Pietro gritou, e levantei-me, irritado.

— Como diabos esse cara entrou aqui?! — esbravejei,


sabendo que Martina poderia ter sido alvejada.

— Ele não entrou — outro segurança meu disse, e arqueei as

sobrancelhas, como se nada fizesse sentido. — Esse homem


estava aqui.

Tive um vislumbre do que podia estar ocorrendo nesses

últimos dias, mas ia precisar das gravações para saber se era


realmente o que estava pensando.

— Pietro! Monte uma equipe e assistam as gravações das


movimentações dentro da Vermont nos últimos vinte dias.

— Sim, chefe.

Ajudei Martina a se levantar, e ela claramente estava

abalada.

— Você o conhecia?

— Não... mas, eu vi o jeito que ele me olhava, e... percebi

que tinha algo errado.

— Se acalme, menina. — Eu a abracei, e ela apertou seu


corpo firme contra o meu.

— Ele... mirou em mim, Phillippe, o alvo era eu... — disse,

entre lágrimas, e a abracei mais forte.

— Eu vou acabar com isso de uma vez por todas, Martina. E


esse dia está chegando...
“T

...”

Não queria deixar Martina na mansão sozinha, mas precisei


resolver a questão do homem que tentou alvejá-la.

Eu me reuni com a minha equipe e analisamos as imagens

durante toda a madrugada, e o resultado era o que pensava.


Como pensei, o homem veio à Vermont todos os dias, desde

o dia que meus primos foram atacados.

Ele esperava que trouxesse Martina alguma vez na boate, e


isso de fato aconteceu.

O homem não era da família dela, muito pelo contrário,

Kennedy frequentava a Vermont há alguns anos. Sei que ele foi


pago provavelmente pelo pai de Martina para tentar matá-la.

Infelizmente não podia tirar nenhuma informação dele, pois

tomou pelo menos vinte tiros dos meus seguranças e até de alguns

clientes mafiosos que agiram rápido.

— A partir de hoje ninguém entra armado nessa boate, só

quem trabalha aqui! Avisem a todos — falei, e Eros, o meu gerente,

assentiu imediatamente.

Meus clientes tinham livre acesso para entrar com armas, só

que um deslize com elas aqui dentro era passível de expulsão, ou

em casos mais graves: execução.

Depois que resolvi os problemas na boate pude voltar até a

minha casa, precisava desesperadamente ver como minha menina

estava...
Após chegar à mansão automaticamente fui até o meu

quarto, ansioso por ver a minha menina.

Acho que a minha movimentação a despertou.

— Como você está?

Martina havia acabado de abrir os olhos.

Agora eram quase 8h, e ainda não dormi, mas ao menos


consegui as informações necessárias, isso de certa forma me

deixou mais calmo.

— Estou melhor agora, foi difícil dormir, principalmente

porque não estava aqui ao meu lado.

Toquei o seu rosto observando os seus lindos olhos. Olhos

puros, sem malícia alguma.

Às vezes me perguntava se permanecesse ao meu lado faria

com esse brilho sumisse eventualmente. Passo longe da perfeição,

e sei o quanto minha vida é tóxica e problemática.


— Me desculpe por isso, menina. Eu só saí da boate quando

descobri quem era aquele homem e como ele entrou.

— E ele... queria mesmo me matar?

— Sim.

Sabia que isso afetaria a cabeça dela de formas que


desconhecia. Entendia perfeitamente o sofrimento que isso lhe

causou, mas não podia curar o que houve em seu passado, e isso
iria atormentá-la por um longo tempo.

— Quem era o cara? — ela perguntou baixando sua cabeça

e meio que segurando o rosto.

— Um cliente de longa data. Provavelmente ele foi pago para


tentar te matar.

— Foi o meu pai.

A frase dela não soou como uma pergunta. Ela havia

confirmado o que eu tinha suspeitado.

— Na vida erramos bastante, mas aprendo com meus erros,


e corrijo minhas falhas. Sei que já tentaram algo contra você, mas a

partir de agora vou redobrar a segurança até darmos um fim nisso.


Martina me observou por um bom tempo, tentando absorver

minhas palavras com os olhos. Em seguida, abriu um meio sorriso,


e abaixou levemente a cabeça.

— Estou com medo, Phillippe. Eu até tento ser forte, mas...


às vezes é difícil.

— Também estou com medo.

Minha frase causou espanto nela.

Não admitia fraquezas, muito menos ter medo de algo ou


alguém, mas quando Martina estava na equação meu coração batia

diferente, e colocava-a acima de tudo e todos.

Tinha um medo real que era perdê-la, e não me perdoaria se


isso acontecesse, pois seria uma falha minha, e viver com isso seria

a pior dor do mundo.

Minha menina merecia ser cuidada, e por mais que eu fosse


um homem fodido, daria o melhor tratamento para ela. Martina não

passaria por mais uma experiência traumática.

Ia me encarregar disso como homem.

— Nunca pensei que falaria algo assim.


— Ter medo é bom no final das contas, nos deixa alertas.
Agir como um louco custa vidas, e não quero perder mais pessoas
ao meu redor, especialmente você.

— Queria ser uma mulher melhor pra você, e...

— Shh, quietinha... — a interrompi, indo até ela, colocando o


indicador em seus lábios e meneando a cabeça em negação. —
Nunca pense que não é o bastante para mim. Não procuro perfeição

em você, só preciso que confie em mim.

Martina sorriu e veio até mim, abraçando-me apertado.

Seu abraço me acalmava, e nunca pensei que tê-la dessa


forma fosse tão bom. Nunca tive um momento de paz em toda a

minha vida, mas quando estava ao seu lado conseguia sentir um


enorme alívio, e essa sensação era muito boa, era como se nada à

minha volta importasse, só a minha menina.

— Tenho medo dos riscos que corremos, mas sei que está

fazendo o melhor, que está acostumado a lidar com esse tipo de


situação.

— Em tudo que fazemos há riscos, não se preocupe —


respondi, tocando o seu rosto, e ela observou o meu corpo.
— Deixe-me ver a sua pele. Você tem que cuidar daquela
ferida no seu braço — falou, e neguei com a cabeça.

— Está tudo bem. Fui examinado e a bala pegou de raspão.

— Eu... ainda não acredito que se atirou em uma bala para

me salvar, eu acho que...

Ela cessou a fala, claramente envergonhada. Em seguida,

desviou os olhos, como se lutasse internamente.

— Pode falar.

— ... não tem uma demonstração de amor maior. Naquela

hora você estava disposto a dar a sua vida por mim, e pela primeira

vez na minha vida confiei em alguém além da minha irmã e minha

mãe.

Passei o polegar em sua boca, admirando o quanto minha

menina era linda e sincera.

— Pode confiar em mim sempre. Estou longe de ser uma

pessoa boa, Martina, mas pode ter certeza de uma coisa: vou lutar
todos os dias para ser uma pessoa cada dia menos pior. Por você.

— Eu te amo, Phillippe.
— Eu também te amo, minha menina. Lute por sua vida, faça

o que for preciso, mas seja forte. Por nós dois.


“O

...”

Após acordar fui direto para o banheiro, ligando o chuveiro


em seguida.

Estava me sentindo calma hoje.

Phillippe conseguia me deixar tranquila quando

conversávamos, e não queria sucumbir a pressão do que


aconteceria em poucos dias.
Jamais pensei que faria algo contra a minha própria família,

mas eles não pensavam como eu, muito pelo contrário, desejavam
me ver morta.

Ainda imersa em pensamentos não percebi quando duas

mãos envolveram meu corpo.

— Não fui convidado, mas vim mesmo assim — Phillippe


disse, e abri um sorriso, girando meu corpo.

De certa forma estava surpresa por vê-lo aqui.

— Acho que me acostumei tanto que você trabalha nesse

horário que nem me dei conta que estava na cama.

— A parte da manhã ficarei na mansão. Posso aproveitar

você mais um pouco.

— Me aproveitar ou se aproveitar de mim...? — perguntei,


sorridente, e a sua aproximação imediata me deu a resposta àquela

pergunta.

— Acho que no fundo sabe.

Quando seus lábios tocaram os meus senti meu corpo


arrepiar, mas relaxei com o toque de suas mãos em minhas costas,

puxando-me para si.


Encostei minha cabeça no peito dele, ouvindo o ritmo
acelerado de seu coração. Era estranho saber que podia causar

esse efeito em alguém, mas ao mesmo tempo tão bom.

— Já fodeu no banheiro, menina? — ele perguntou, a voz

rouca perto do meu ouvido, dando uma sugada leve na minha

orelha.

— Acho que sabe a resposta.

— Sim, mas sua voz respondendo deixa tudo mais sexy. —

Segurou meu pescoço, como se meu corpo pertencesse a ele.

— Nunca fodi no banheiro, Phillippe... — murmurei, com os


olhos fechados.

— Posso e vou mudar isso hoje. — Beijou minha boca,

girando o meu corpo. Em seguida fomos até o box, e quando a

água começou a cair, o que não fizemos foi tomar banho.

Com pressa, sua mão agora acariciava minha parte sensível,

e sentia o quanto ele estava duro atrás de mim.

— Phillippe...

Seus dedos agora me fodiam em um ritmo constante, e


apoiei minhas mãos na parede, absorvendo todo o prazer que me
era concedido.

— Adoro o seu cheiro, menina... — disse pertinho do meu

pescoço, roçando a língua no mesmo e eu gemi um pouco mais

alto, encostando a cabeça na parede. — É como se tudo em você


me atraísse, e não sei conter esse vício. Nem quero.

Ele continuou a me foder com os dedos, e estava chegando


ao meu limite. O que ele fazia com as mãos era maravilhoso.

— Oh, meu Deus...

— Goze, menina...

Ele não precisou pedir duas vezes, e desfaleci em seus

braços, gozando como foi ordenado.

Em seguida, virei-me para ele, e quando os dedos que me


fodiam foram direto para a sua boca fiquei sem reação. Ele provava

o meu sabor, e observar no seu rosto o quanto isso o satisfazia


mexeu comigo.

Eu queria esse homem para sempre em minha vida, queria


satisfazê-lo como ele faz comigo.

— Deliciosa. Seu gosto é a melhor coisa que provei...


Fui até ele, tomando a sua boca, com o mesmo ritmo que ele

acariciava minha boceta.

— Eu te amo, Phillippe.

— Eu também, meu amor.

Phillippe posicionou seu pau em minha entrada, e em


seguida me penetrou, fodendo-me do jeito que eu gostava, rápido e

forte.

Em nossas primeiras relações eu sentia dor, mas agora era


como se meu corpo precisasse estar conectado ao dele, ele me

completava. Transar com Phillippe se tornou algo necessário, e


hoje, não conseguia imaginar minha vida sem ele.

Estava excitada mais que o normal, precisando de mais

enquanto o seu pau apertava a minha boceta.

— Te foder é o melhor momento do meu dia... — disse, e sua


boca sugou um dos meus mamilos, deixando-me maluca.

— Então me foda quando quiser...

Phillippe continuou os movimentos, colocando agora meu


rosto contra a parede, fodendo-me duro, do jeito que eu gostava.
Minhas nádegas agora estavam vermelhas, devido a força
que ele as punia.

— Porra! Ajoelhe, Martina! — mandou e prontamente


obedeci, segurando a base do seu pau, chupando-o enquanto ele

segurava os meus cabelos, fazendo movimentos de vai e vem.

Seu gozo preencheu toda a minha boca, e quando me dei por


satisfeita, ele me fez levantar, aproximando a sua boca da minha,

beijando-me sem medo ou nojo.

Ele realmente me venerava.

— É ser muito egoísta pedir que você não vá...? — perguntei,


enquanto ele continuava o banho.

— Meu desejo era ficar, mas para termos mais momentos

como esses preciso trabalhar, menina — revelou, tocando o meu


rosto, e entendi o que ele falava.

Olhei para ele de um jeito demorado, e seu rosto deixou

minha mente de certa forma cega, minha vontade era ficar ao seu
lado para sempre. Ouvir a sua voz, sentir o seu coração forte ao

meu lado me dava uma sensação de que ele me protegeria para


sempre.
— Me promete que vai dar tudo certo? — praticamente
implorei, e ele veio para mais perto, segurando meu rosto com as
duas mãos.

— Eu prometo, nada vai acontecer com você. Vou te

proteger, menina, nem que seja a última coisa que faça em minha
vida.

Aninhei minha cabeça em seu peito, acreditando totalmente


em suas palavras.

Era bom sentir algo assim, que até então era novo na minha

vida. A sensação de ser amada incondicionalmente não podia ser

descrita em palavras, mas podia ser sentida de várias maneiras.

Depois que saímos do chuveiro reparei meu homem trocando

de roupa, e o desejei em silêncio.

— Quero você dormindo nua hoje — falou, olhando-me como

se quisesse me foder novamente.

— É um pedido ou uma ordem? — provoquei, manhosa.

Phillippe caminhou lentamente até a cama, onde estava

sentada, e em seguida segurou meu queixo, observando meus

olhos, decidido.
— Uma ordem, e sei que adora obedecer. — Beijou a minha

boca, com posse, e assenti.

— Vou cumprir, meu amor, pode ter certeza...

— Alguém viu um passarinho verde...

— Eu não sabia que era tão bom transar no chuveiro.

— Meu Deus! Eu sou virgem, pare com isso!

Ilka e eu começamos a gargalhar. De virgem a minha amiga

não tinha nem a cara.

— Você é uma safada, amiga, isso sim.

— Mas gente! E essa boca, hein?! Antes era toda calada, não
falava um palavrão, agora se soltou, foi?

— Eu só estou vivendo. É muito boa essa sensação, é como

se...

— ... a gente pertencesse a um local — completou, e assenti.


— Eu quero ser feliz, Ilka, eu preciso disso. Tudo o que

aconteceu na minha vida me fez uma mulher com muito medo de

tudo e todos, e não quero mais me sentir assim.

— Te entendo, amiga. Eu já passei por situações assim,


parece que nada vai mudar, mas é quando menos esperamos que o

impossível acontece — falou, abrindo um grande sorriso.

— Sim, e o impossível aconteceu para nós duas.

— Em partes — respondeu. — Ainda quero a parte do meu


coração que perdi.

— Você não precisa especificamente dessa parte. — Segurei

suas mãos, observando seus olhos. — Só de alguém que desejava

o mesmo que você naquela época, compartilhar uma parte do seu


coração.

— Me enganei bastante com você... — Balançou a cabeça,

bastante séria.

— O que houve?

— Pensei que era uma boa pessoa boa, mas você não é,

Martina. Já tá querendo que eu roube o coração de algum homem

por aí, realmente... você não vale nada!


Ilka começou a rir e dei uns tabefes nela, pensando que

minha amiga falava sério.

— Quer me matar do coração?!

— É bom pregar peças em você. — Deu uma piscadinha,

mas depois ficou mais séria. — Mas, sobre isso, eu não quero me

envolver com ninguém. Minha família é a prioridade neste momento.


Colocar um homem na equação pode complicar tudo, e aqui não

temos muita liberdade para sair, e até prefiro assim.

— Você se sente sozinha, não é?

— Um pouco. Mas eu tenho você comigo, e já me ajudou


demais. Tenho uma ideia de como seria a minha vida na Vermont, e

prefiro estar exatamente onde estou.

— Sei que vai vencer todas as batalhas, Ilka, e vou estar aqui

para te ajudar.

— E você também. Quando tudo isso acabar na Polônia nós

duas vamos comemorar. Eu prometo!


“O ...”

Tudo estava preparado para a nossa viagem.

Resolvi os pormenores hoje, sobre qual cidade pousaríamos

na Alemanha, e minha equipe não chegaria junto comigo, só a parte


essencial, meus seguranças de confiança.

— Fechei um hotel para você e sua equipe. Não se preocupe,

eles não vão pedir identificação alguma e já tem o que precisam —

Logan disse.
— Amigos seus?

— Não tenho amigos — foi sucinto —, mas sou tão cruel

quanto você quando alguém me deve, e meus favores devem ser


atendidos no momento que peço.

Tomei outro copo de whisky, analisando mentalmente essa

situação.

— Você tem dinheiro na Europa ou precisa que eu


providencie algo? — Logan perguntou bebendo um gole do líquido.

— Tenho o suficiente. Vou apenas para acabar com esse

espetáculo de uma vez por todas.

— Não sabia que considerava algo assim um espetáculo.

— Não considero. Eles, sim.

— Antes que eu me esqueça, seu irmão te mandou um

abraço, disse que está com saudades suas.

Analisei o rosto do Logan, impassível. Em seguida o infeliz

começou a rir.

— Boa tentativa.
— Vocês são estranhos. Nem você, muito menos ele
perguntam como o outro está. Que tipo de laço maluco é esse?

— Às vezes é melhor não ter respostas para certas

perguntas.

— Me responde: e se ele precisasse de ajuda?

— Ele precisa?

— Estou falando de forma hipotética.

— Não trabalho com hipóteses — revelei, firme. — Não o


ajudaria em momento algum, a menos que ele pedisse e, mesmo

assim, não seria de graça.

— Acho que tem raiva do seu irmão por ele abandonar a

organização.

Logan não sabia, mas não era raiva. Ele abdicar de tudo foi

como ter me abandonado, e ele era a pessoa mais próxima a mim,

meu único familiar que me sentia à vontade em conversar e ser de

certa forma verdadeiro.

Apolo levou isso com ele, e por mais que raramente a gente

se esbarrasse, esse sentimento morreu pra mim.


Aprecio a lealdade, e ele seguiu o próprio caminho, então não

havia mais nada para conversarmos.

— Ele não é mais da família, e é isso. Apolo tem outro nome,

outra vida e outro trabalho — soltei secamente.

Meu advogado me olhou por longos segundos antes de

continuar:

— Muitas vezes essas coisas, não ligadas a dinheiro, causam


surpresas e até mesmo ações involuntárias. Você pode mudar de
ideia sobre ele algum dia — Logan disse convencido.

— Eu sou corrupto, mas não idiota — pontuei com firmeza, já


que Logan amadureceu o suficiente para aceitar que laços devem

ser desfeitos quando necessário.

— Você pode mudar como pessoa, já mudou bastante desde

que conheceu Martina.

— Não acho que mudei. Minhas raízes são bem fortes e sei a

importância do meu papel nesta organização. Meus sentimentos por


Martina não interferem no meu trabalho.

— Discordo! Você está indo para a Polônia salvá-la da morte.


— Sim, mas exterminar quem nos ataca é o meu trabalho

principal. Independentemente do que acontecer no outro continente


eu farei de tudo para manter essa organização viva, mesmo que eu

pague com a minha própria vida.

— Vocês mafiosos... ainda não entendo porque colocam as

próprias vidas abaixo da família.

— Quando tiver uma família vai entender.

Eu o observei, que ficou pensativo.

Logan podia ter parentes vivos, mas se os tinha escondia

muito bem.

— De fato, mas pela sua lógica acho que nunca vou


entender...

Depois de resolver algumas questões logísticas voltei para a

mansão.
Conversei com alguns seguranças, e disse quais deles iriam
para a Europa. Precisava deixar algumas pessoas tomando conta
das minhas posses aqui em Las Vegas, e sabia que a família da

Martina era bem imprevisível.

Não podia arriscar receber outro ataque, não estaria aqui


para me defender.

Entrei no meu quarto e não vi Martina. Tirei toda a minha

roupa e tomei um banho demorado.

Ao sair do banheiro percebi que minha menina agora estava


na cama, e como pedi mais cedo: nua.

— Como foi o seu dia de trabalho? — perguntou, com a voz

sexy pra caralho.

— Produtivo.

Continuei analisando o seu corpo, desejando-a.

— Suas exigências estão sendo cumpridas?

— Sim — respondi no automático, ainda observando a linda

mulher esparramada em minha cama.

— Meus olhos estão aqui... — Sorriu, tentando chamar a

minha atenção.
— Não consigo conversar assim com você.

— Assim como...? — perguntou manhosa.

— Acho que sabe. Quando te vejo nua não penso em mais


nada.

— Que pena...

Retirei a toalha do meu corpo, e fui até ela, tomando a sua

boca sem pensar duas vezes.

Claro que eu deveria estar resolvendo problemas da nossa


viagem, mas não conseguia resistir a ela.

Essa jovem era uma maldita tentação.

Martina era inacreditável, o tipo de mulher que te fazia

esquecer de tudo. Não conseguia imaginar uma vida sem ela. Essa

mulher me enlouquecia mais a cada dia que passava.

— Eu quero você, Phillippe...

— Eu já sou seu.

Posicionei-me no meio das suas pernas, e beijei o seu

pescoço, dando uma atenção especial aos seus pequenos seios,


deliciando-me com o seu sabor.
Amava tudo nela, desde o seu cheiro até o som de sua voz.

Ela era a perfeição pura, e não iria deixar que ela se corrompesse.

— Você tem ideia do quanto eu te amo? — sussurrei, com a

voz rouca pertinho de seu ouvido, chupando o seu lóbulo, ouvindo-a

gemer.

— Sim, mas eu quero que me mostre...

Comecei entrando lentamente na minha futura esposa, e

ouvir seus gemidos de certa forma me descontrolaram. Adorava

fodê-la forte quando a ouvia pedindo por mais, gritando meu nome,

arranhando minhas costas.

— Phillippe... eu te amo tanto...

Agora a fodia olhando em seus olhos, passando polegar em

seus lábios, observando cada pequena expressão de felicidade em

seu rosto.

As suas pernas se apertavam mais a cada segundo que

passava, e podia ver o seu rosto corar a cada respiração.

— Oh...

Senti seu corpo ficar mole, e ela gozou.

— Isso é tão bom... — sibilou.


A cada segundo que passava sentia-me mais perto do meu

limite. Enquanto a fodia me segurei por um bom tempo,

aproveitando cada momento do seu sabor, dos seus gemidos.

Sua pele parecia carente de minha atenção, e fiz questão de


passar a minha língua em boa parte do seu corpo, venerando a

minha menina.

— Eu preciso de você. Goze em mim, meu amor — Martina

gemeu, desesperada, e aumentei a velocidade, fodendo-a do jeito


que ela gostava. — Isso, meu amor...

A sensação de me libertar era boa demais.

Depois que caímos na cama, exaustos, toquei o seu rosto,

observando-a. Martina era linda, e não se comparava a ninguém.

Ela era única e era minha.

— Promete que vai ficar para sempre do meu lado? —

perguntou, aninhada a mim.

— Sim, meu amor, eu prometo. Nada vai nos separar —


garanti, beijando-a.

— Eu confio em você, e sempre vou confiar...


“A ...”

— ...a sua sorte é que está me pagando bem caro para ir

com você.

Essa é uma frase típica do meu advogado.

Como Logan providenciou boa parte dos assuntos, pedi para

que ele nos acompanhasse nessa missão. Poderia precisar dele, e

sabia que sua cabeça era tão boa quanto a minha quando

estávamos falando de estratégias.


Não duvidava que nossas mentes fossem fodidas também.

A nossa viagem seria em duas horas, e estava organizando

os últimos preparativos. Iríamos pousar na cidade de Colônia, na


Alemanha, e de lá iríamos até a Polônia.

— Conseguiu mais informações sobre a família dela? —

questionei.

— A família dela não é grande, mas eles têm bastante


mercenários à disposição, mais de 100. Essa disputa será uma

guerra, e muitas pessoas vão perder a vida.

— Que percam. Farei o possível para as vidas perdidas não


serem do nosso lado.

— Então é bom pensar bem no que fará quando entrar na

cidade.

— Fez o que eu pedi em relação à polícia? — inquiri, atento.

— Sim. Eles não vão atrapalhar, foram bem pagos para isso.

Mas nada garante que eles não tenham passado a informação

dessa "visitinha".

— De qualquer forma eles vão saber. Acho difícil não terem

se preparado para um ataque, sendo que foram eles quem nos


atacaram inúmeras vezes.

— Te conheço bem e sei que tem uma ideia do que fazer

quando colocar os pés naquela cidade.

— Você está enganado. Não tenho uma ideia, tenho várias.

Vim preparado para começar e terminar uma guerra no mesmo dia.

— E se eles não quiserem uma, o que vai fazer?

Fitei a parede, e não vou mentir falando que não pensei

nessa possibilidade, no entanto, eles não tinham saída.

Eu não tinha saída.

A organização foi muito clara quanto a essa situação, e para

salvar Martina não iria arriscar deixá-los vivos, do contrário podia

perdê-la.

— Não há outra opção. A Vlachosia não tolera ataques, e

todos vão pagar com a própria vida, e eu me encarregarei de tirá-las

pessoalmente, pelo menos as mais importantes pra eles...


— Nervosa?

Martina, eu e mais alguns membros da organização

estávamos em um dos voos para a Alemanha.

— Um pouco. É que isso tudo é muito estranho, voltar para a


minha cidade... é diferente.

— Mas necessário. Ainda vou precisar da sua ajuda, você

conhece como ninguém a sua família e a cidade.

Nos últimos dias Martina me disse informações valiosas


sobre Toruń, a cidade que ela nasceu e cresceu, e algumas coisas

me incomodaram bastante, entre elas a quantidade de esconderijos


e a facilidade para se deslocar para as cidades ao redor.

Por isso iria agir com cautela, e só iríamos invadir o local


quando eu tivesse certeza de que todos os familiares dela

estivessem lá. Tinha meus investigadores mapeando tudo, e quando


esse momento chegasse, daria início ao meu plano.

— Então... isso vai mesmo acontecer? — ela perguntou, e


seus olhos estavam um pouco marejados.

— A invasão? Sim.

— Não... as mortes de todos.


Observei minha menina, e entendia que ela era pura demais

para entender o mundo em que vivo. Esse era um dos motivos que
não queria trazê-la, mas também sabia que ela não estaria

totalmente segura sozinha em Las Vegas, mesmo com uma equipe


ao seu lado 24 horas por dia.

— Sim, Martina.

Ainda havia algo que não contei para ela, mas no fundo

sentia que ela precisaria saber o quanto antes. Para provar a


lealdade à nossa família não bastava ela ter vindo com a gente, e

sim também tinha que compartilhar a raiva que cada um de nós


carregava.

A organização podia pedir que ela fizesse algo contra a


própria família, mas não queria pensar que algo assim pudesse

acontecer, então iria me certificar de ser rápido e protegê-la.

— Eu só quero que isso acabe logo.

— Há algo que não te falei: provavelmente quando


capturarmos os seus familiares, a organização pode pedir alguma

coisa a você.

Martina não esboçou reação alguma, e isso de fato foi uma


surpresa para mim. Pensei que ela ficaria desesperada com a ideia,
mas ela não disse nada, só fitou a poltrona da frente do avião,
pensativa.

— Eu imaginei que a organização pedisse algo assim.


Preciso provar o meu valor para vocês, sou uma completa

desconhecida para todos.

— Não para mim. — Segurei uma de suas mãos, observando


seus lindos olhos. — Sei dos seus valores, e entendo o que passou.

Mas, infelizmente, você tem razão, é necessário provar o seu valor


para a nossa família, mas ainda não sei qual o pedido deles, só

imagino.

— Não se preocupe, Phillippe... — abriu um sorriso

desajeitado — as pessoas que eu amava da minha família estão


mortas.

— Será difícil, menina. Você nunca precisou matar ninguém,


e isso não é algo fácil.

— Foi difícil pra você? — perguntou, curiosa, e relembrei a


primeira pessoa que assassinei.

Não dormi por dias, e a imagem daquele homem assombrou


a minha mente durante um longo tempo.
Naquela época eu já me julgava alguém forte o bastante para
tirar uma vida, mas vi que na prática não era bem assim que as
coisas funcionavam.

A diferença que tínhamos um do outro era que eu desejava

fazer aquilo, já ela poderia ser obrigada.

— Sim, foi bastante difícil. Conviver com os pesadelos foi a

pior parte.

— E como fez para... viver com isso?

Olhei ao longe, sabendo a exata resposta da sua pergunta.

Responder isso não era uma coisa boa, mas precisava ser

verdadeiro com a minha futura esposa.

— A prática me acostumou. Chega um momento em que isso


se torna rotineiro, e simplesmente deletamos da nossa mente. É

automático na nossa cabeça fazer algumas tarefas diárias, então

era como se fosse isso, então eu nem me lembrava mais das vidas
que tirei, eu só as tirava.

— Entendi.

Ficamos em silêncio por um tempo, mas observei-a durante

esses segundos. Precisava saber o que ela pensava sobre isso,


nosso futuro dependia disso.

— Eu ser assim não te dá medo?

— Não é medo a palavra, mas preocupação — Martina disse,

e seu olhar penetrava meu coração de certa forma.

— Que tipo de preocupação?

— Preocupação com você.

Dessa vez seus olhos fixaram nos meus, e vi um brilho


surgindo neles.

Ela realmente tinha sentimentos por mim, e isso me

transmitia uma sensação de alívio.

— Entenda que nunca vou te machucar, Martina. Jamais.

— Eu sei. — Ela sorriu.

O olhar seu continuava penetrante, e a sensação de alívio

aos poucos desapareceu de minha cabeça quando pensei como

seriam os nossos próximos dias.

Nossa vida seria um inferno.

— Agora eu tenho uma razão para viver, Phillippe. Se for

preciso arriscar minha vida para te proteger eu o farei.


— Não, menina. Esse é o meu papel como homem e líder

dessa organização. Você já arriscou a sua vida fugindo da sua

família uma vez, agora sou eu quem vai cuidar de todo o resto...
“O ...”

A nossa chegada no aeroporto de Colônia foi tranquila.

Mesmo com tudo sob controle saímos rapidamente do local,

indo até o hotel que Logan reservou para uma parte da minha
organização.

Ficaríamos ali até que todas as informações que eu

necessitava fossem colhidas.


— Meus investigadores terão novidades hoje mesmo.

Descanse enquanto isso — Logan falou, e neguei com a cabeça

— Esperar no hotel é uma coisa, descansar é outra


totalmente diferente. Vou repassar as estratégias que criei.

— Nunca te vi tão compenetrado como agora. Tenho pena do

seu inimigo.

— Pena?! Junte-se a ele — debochei, e ele suspirou.

— Agradeço a oferta, mas não quero causar uma

indisposição com a sua família, tenho problemas demais para me

preocupar.

— Pelo menos não são amorosos — alfinetei e ele assentiu.

— Nunca os terei. Não sou idiota a ponto de me apaixonar

novamente.

— Justo.

— Me procure no quarto 200 se precisar de mim. Tenho

outros assuntos para tratar ao telefone.

— Entendido.
Martina voltou do banheiro, e se juntou a mim enquanto
fazíamos o check-in.

— Algum problema? — perguntei, observando seu rosto um

pouco abatido.

— Eu só... passei mal. Não é nada.

— Tem certeza? — Fui até ela, analisando o seu rosto, vendo

sua expressão cansada.

— Sim, Phillippe. Deve ser... tudo isso que estamos

passando.

— Martina, se sentir mal em qualquer momento você tem que

me avisar — disse, firme.

— Não se preocupe. — Ela sorriu. — Isso tudo vai passar e

vamos voltar para Las Vegas.

Segurei o seu rosto, observando o quanto a mulher da minha

vida é linda.

E minha.

— Eu amo você — falei e um sorriso bonito se abriu em seu


rosto.
— Eu também — respondeu, enquanto me abraçava. — Mais

do que imagina...
Passei mal durante uma parte do voo e na chegada ao hotel.

Depois que subi até o meu quarto me deitei na cama, e fechei


os olhos por alguns minutos.

Phillippe não ficaria no mesmo quarto que o meu, ele


precisava resolver as questões da entrada na Polônia, e necessitava
ficar perto da equipe que montou para isso.

Ainda é surreal tudo isso que estava acontecendo.

Uma fuga.

Uma carona.

Uma paixão.

Uma guerra.

Foi preciso quase dois meses para que tudo isso


acontecesse, e fico pensando no quanto a vida nos pregava peças.

No entanto, o destino era mudo e surdo. Nunca saberíamos o


que ele nos reservava, e não adiantava perguntarmos o que iria se

suceder, só tínhamos que confiar em nossos instintos.


É tudo muito incerto.

Abri meus olhos, observando o teto do quarto, pensando em

minha irmã, e torcendo para que ela estivesse olhando por mim no
céu.

Não tinha dúvidas que ela estava lá. Weronika sempre foi

uma boa mulher, e protegia todas as pessoas à sua volta. O coração


dela era enorme, e foi a minha irmã quem me ensinou a amar.

— Sinto muito a sua falta — falei, fechando meus olhos,

lembrando do rosto dela. — Eu prometo que vou viver. Por nós

duas.

Após abrir meus olhos, observei a janela, e tudo estava


escuro. Depois, olhei meu celular, e fiquei surpresa com o tempo

que dormi. Foram mais de seis horas.

Minha cabeça e meu estômago estavam melhores, mas

quando observei a minha aparência no espelho vi o quanto estava

branca, e de certa forma me preocupei.


Sentia que havia algo estranho acontecendo, mas não tinha
ideia do que seria.

Após jogar água no rosto resolvi descer até o saguão do

hotel, que foi todo reservado para a gente.

Percebia a intensa movimentação de algumas pessoas da


organização. Eles pareciam empenhados em não dar margem ao

erro, e compenetrados o bastante em suas respectivas tarefas.

Literalmente aquilo ali se transformou em uma força-tarefa, e

a maioria deles falavam ao telefone, sérios.

De longe vi Logan conversando com Phillippe, e em seguida


ele foi para outra sala. Quando meu futuro marido me viu ele veio

até mim.

— Dormiu bem? — perguntou, com as duas mãos nos

bolsos, com os olhos cravados nos meus.

— Como sabia que estava dormindo?

— Fui até o seu quarto e fiquei lá durante alguns minutos.

Não quis te acordar, você estava em um sono pesado.

— Às vezes esqueço que acha que eu fico bonita quando


estou dormindo — respondi, e ele abriu um meio sorriso.
— Não importa o momento, você sempre está linda, menina.

Mas não te observo por isso.

— Então por quê?

Phillippe não falou nada, só continuou me olhando, pensando


em algo. Isso me causava uma certa ansiedade, mas entendia que

era o seu jeito de ser.

Ele era misterioso e gostava de revelar as coisas aos poucos.

— Gosto de te ver em paz, Martina. Quando está dormindo


eu vejo o quanto está feliz e sossegada. Acho que não faz ideia do

quanto isso me faz bem. Sei que tudo isso que está acontecendo é
muito para você, então é bom ter momentos assim.

— Mas... e você? Quando tem momentos assim?

— Nunca os tenho — respondeu sinceramente, e vi em seu

rosto certa preocupação. — Eu escolhi esse caminho, e preciso ser


vigilante o tempo todo.

— Você está cansado, Phillippe. Todas as pessoas precisam


descansar, independente do que façam. Não vou deixar que

prejudique a sua saúde.

— Desde quando se tornou tão mandona?


— A partir do momento que descobri que é cabeça-dura. E

vai ter que conviver com essa minha versão.

Ele chegou mais perto, segurando meu rosto com as duas


mãos.

— Quando isso acabar faremos uma viagem. Só nós dois.

— E a organização?

— Darei um jeito. Serão alguns dias só.

— Hm...

— O resultado do esforço e do trabalho duro é a vitória.


Ensinei isso a todos os meus rivais que ousaram atentar contra a

Vlachosia, e agora não será diferente.

— Só tome cuidado com a minha família, por favor. Eles

podem ser poucas pessoas, mas não são idiotas.

— Eu sei, e vou tomar todas as precauções possíveis para

sairmos com vida. Essa é a missão mais importante da minha vida


como líder dessa organização.

— Estou com medo, mas vou perguntar mesmo assim: o que


você faz com as crianças e os bebês dos seus rivais?
Phillippe ficou pensativo durante um período, e fiquei com
medo da sua resposta.

— Quando há uma pequena chance de que não se lembrem


quem são, eles são poupados, Martina. Sei que disse que elimino

todos, mas recém-nascidos e crianças são mandados para outro


lugar, nem que seja um orfanato.

— E... a organização concorda com isso?

— Nesses casos, sim. Mudamos até mesmo o nome dessas

pessoas. Elas deixam de ter um vínculo com a sua real família. É


como se nunca existissem.

Ouvir isso me deixou aliviada.

Sempre tive medo de perguntar o que acontecia com as

crianças, mas agora estava melhor com essa situação.

— É por isso que sempre te digo que algumas respostas


podem ser difíceis.

— Mas essa foi uma boa resposta. — Sorri, contudo ele

continuou sério.

— Essa, sim. Mas há muito mais coisas envolvidas...


“T

...”

— Eles estão espalhados pela cidade — Logan disse,

enquanto estávamos reunidos.

Alguns conselheiros e membros da Vlachosia estavam

reunidos com a gente, inclusive Martina.

— Ao que parece eles não sabem que chegamos — um dos


conselheiros comentou.
— Ou sabem e estão nos esperando — argumentei,

analisando a situação. — Como está a movimentação na fronteira


da cidade?

— Sem nenhuma movimentação. Nem chegadas nem saídas

suspeitas, só turistas passeando pelo local.

Essa cidade tinha 200.000 habitantes, e por mais que não


fosse tão grande, havia vários esconderijos possíveis de acordo

com a minha equipe de especialistas.

Diante de alguns fatos não podíamos esperar que eles

dessem o primeiro passo, já corremos riscos demais no último mês.

— Prepare nosso transporte. Partiremos amanhã — avisei a

Logan, que assentiu.

Mais de 50% da minha equipe já estava lá, e não houve


nenhum problema até agora. Eu poderia muito bem dar a ordem

para capturá-los pouco a pouco, mas isso acabaria com o meu

plano.

Queria o chefe dessa organização, o pai de Martina. Seus

subordinados eram importantes, mas precisava olhar nos olhos

desse homem.
Em nossos radares ele ainda estava desaparecido, mas era
questão de tempo para encontrá-lo. Eu só precisava entrar nessa

cidade e incrementar meu plano.

— Martina, venha aqui — chamei-a, e mostrei algumas

fotografias onde alguns membros da organização do seu pai

estavam espalhados. — Eles têm posses aqui perto ou algum


abrigo?

Ela fitou as imagens por um longo tempo, e parecia de certa

forma confusa.

— Não, muito pelo contrário. As propriedades da nossa


família são do outro lado da cidade, e eles estão longe de lá. Minha

casa mesmo fica na outra extremidade. — Apontou na fotografia em

questão.

Por que eles estariam tão distantes das suas instalações se

soubessem que viemos para cá?

É claro que eles podiam não saber, mas achava difícil. De

certa forma essas pessoas eram organizadas, e conseguiram me

atacar duas vezes.

— Vou fazer mais algumas pesquisas. Continuem

trabalhando — ordenei a todos na sala, em seguida Martina e eu


saímos do local.

— Qual a sua ideia principal quando entrarmos em Toruń? —

Martina me perguntou.

— É difícil explicar. Tenho pelo menos cinco planos em

mente, e tudo vai depender da movimentação deles.

— Achei muito estranho eles estarem naqueles locais, parece

que... estão procurando algo.

— Procurando ajuda — falei, e capturei a sua atenção. —

Eles já sabem que estamos na Europa.

Martina me olhou com certa preocupação, e ameaçou falar

algo, mas se retraiu.

— Como sabe disso?

— Não tenho certeza dessa informação, mas é o que sinto, e


minhas percepções dificilmente estão erradas.
— Isso é ruim, não é? É a mesma coisa que eles estarem um

passo à nossa frente.

— Depende. Alguns dos meus planos foram elaborados com


essa possibilidade em mente, mas vamos trabalhar em nossas
táticas quando colocarmos os pés na cidade.

— Não conhecia esse lado seu, tão... estrategista e


inteligente. — Ela veio até mim, e rocei minha boca em seus lábios,

sentindo seu cheiro.

Não considerava Martina uma distração e sim uma motivação

para concluir meu plano o mais rápido possível. Tinha certeza de


que sairíamos com êxito daquele país, e se possível nunca mais

voltaríamos.

O lugar de Martina era comigo, nos EUA, e não com pessoas

que a humilharam e maltrataram durante toda a vida.

— Ainda estou com muito medo, mas confio em você. Sei

que está fazendo isso por nós dois, e vou ser grata para sempre.
Mesmo se...

— Não terá nenhum "se", menina. — Segurei o seu rosto,


colocando seu corpo contra a parede, observando-a. — Um erro em
minha organização é fatal, e estou vivo porque não há erros quando
monto uma operação. Confie em mim.

— Eu confio...
— Se me ligou é porque está entediada! — Ilka disse ao
telefone, e sorri.

— É só preocupação mesmo. Amanhã iremos para a minha

cidade, e não sei o que nos aguarda ainda.

— Confie no seu homem, amiga.

— Eu confio, não confio é na minha família. Eles são


ardilosos, e Phillippe não os conhece tão bem quanto eu.

— Imagino que essa cidade é o último lugar que queria estar,


não é?

Estar com a minha mãe e minha irmã que tornava leve morar

ali.

A violência que presenciamos durante longos anos me fazia


acreditar que nossa família não era a vítima, e sim a agressora.

A maioria da população tinha medo de nós, e éramos

tratados de forma diferente, principalmente as mulheres.


As pessoas não tinham medo da gente, mas o tratamento

que nos davam era desumano. Nós éramos o elo mais fraco da
família, e as frustrações da população eram descontadas em nós,

mulheres e adolescentes indefesos.

Perante a nossa família éramos objetos também, e eles nem

se importavam com tudo que nos acontecia, e sempre ficávamos


caladas, sabendo que ninguém nos ajudaria.

Viver assim era um inferno!

— Espero que seja a última vez que piso aqui. Vou ajudar

Phillippe em tudo que ele precisar para acabar logo com isso.

— E... você se sente bem em fazer isso com a sua própria

família?

— Eu não tenho escolha, amiga. Sei que há pessoas


inocentes, mas pelo menos dessa vez preciso pensar em mim, e em

acabar com o sofrimento de muitas pessoas que vivem nessa

cidade.

— Cresci em um ambiente caótico também, e te entendo,

você está fazendo o que precisei fazer durante toda a minha vida:

lutar. Não gosto da cidade em que nasci, mas minha família ao


contrário da sua não é a culpada. Mesmo assim eu te entendo, e no
seu lugar faria o mesmo. Todos nós merecemos a chance de
sermos felizes, e não viver com medo.

— Quero provar a todos que não sou a mulher frágil que

pensam. Tenho objetivos em mente, e o primeiro deles é sobreviver,

e vou fazer o possível para me manter viva, mesmo que isso vá

contra os meus princípios.


“D

...”

Com bastante cuidado e vigilância nos deslocamos para a

cidade natal de Martina, e nos hospedamos em três pequenos


hotéis.

Cerca de 80% dos meus homens já estavam ali, e o restante

chegaria hoje.
Nesse momento estava esperando notícias de Logan e dos

meus investigadores, e não tardou até que o meu advogado me


desse informações importantes:

— A partir do momento que entramos na cidade eles se

esconderam em um enorme casarão — Logan falou, preocupado, e

abri um meio sorriso.

— Entendo.

— Você não parece nem um pouco preocupado.

— Tem razão.

— Acho que deveria. Se eles se reuniram, é porque sabem

do perigo e são mais fortes juntos, e não sabemos quais

armamentos eles possuem.

— Eu já discordo. — Respirei fundo. — Tudo que planejei foi


pensado para que eles se reunissem. Não tenho interesse algum

neles separados, assim podemos exterminá-los rapidamente.

— Só que há outro problema: desde que se reuniram e

entraram em um lugar específico perdemos o contato com eles.

— Provavelmente esse local possuí alguma passagem

secreta, eles não ficarão juntos no mesmo lugar, seria suicídio.


Martina tinha me contado que várias casas aqui possuem caminhos
secretos de quase 1km pelo subsolo.

— Pelas minhas pesquisas vi que realmente é verdade.

— Quantos são?

— Por volta de 130 homens. Nem todos são da família da

Martina.

— Iremos levar algo pra eles: a guerra e a morte. Cuide dos

outros assuntos, não quero ser atrapalhado quando for a campo,

nem pela polícia nem pelo próprio capeta. Vou matar todos que se

oporem a mim. Conto com você para me ajudar nisso, Logan.

— E eu tenho outra opção...?

Esperamos um dia até que nossas forças estivessem

completas.

Neste momento estávamos em uma reunião, a última para

tomarmos uma decisão sobre os nossos próximos passos.


— É impossível saber onde eles estão agora! — um dos

conselheiros disse, e outras pessoas presentes concordaram.

— Eles sabiam da nossa aproximação!

— Deveríamos ter vindo mais espalhados!

— Quietos! — bradei, observando o rosto de cada um. —


Sou o responsável por essa operação e sei bem o que está

acontecendo ou o que fazer.

Ninguém falou mais nada, caminhei pela sala, analisando o


quadro à minha frente.

— Seria uma estupidez vocês acharem que eles não sabiam

da nossa vinda. Eles já nos esperavam, e sabiam o que faríamos. A


questão aqui não era o elemento surpresa, e sim chegar à cidade
sem perder um homem sequer, e fizemos isso. Meu maior medo era

sofrermos ataques antes de entrarmos na Polônia, mas eles não


têm poder pra isso.

— Como assim não tem poder? — um dos conselheiros


perguntou.

— Mandei homens para países da Europa onde facilmente


poderiam ser emboscados, até mesmo locais perigosos onde a
família da Martina poderia tentar algo, mas não o fizeram. Eles não

são fortes ou possuem tanto dinheiro como a gente.

— Então... isso tudo foi parte de um plano?

— Sim. Um plano dividido em três partes: entrar na cidade,


capturá-los e matá-los.

— E qual o próximo passo?

— Precisamos das plantas de todo o subsolo, depois


conseguiremos elaborar uma estratégia.

— Talvez... a gente não precise de todas as plantas, só de


uma — Martina falou, e caminhou até o quadro, observando as

várias fotografias no mesmo.

— O que tem em mente?

— Eu me lembro de um lugar onde eles se reuniam quando


eu era criança. Era de difícil acesso, e só fui lá duas vezes.

Mulheres eram proibidas de entrar, mas ainda sei como chegar lá.
Minha irmã e eu brincávamos lá perto, e tenho quase certeza de que

eles podem ter acessado lá pelo subsolo.

Observei as pessoas ao redor, que acenavam positivamente.

— Parece uma boa ideia.


— E esse local fica perto da sua antiga casa? — perguntei.

— Não. É do lado oposto, e pode ser onde eles estão

escondidos. Fica a três quadras do casarão que se esconderam, e


tenho quase certeza de que podem estar lá.

— Por que acha isso?

— Pelo tamanho. Você tem razão, eles sabem que não vão

conseguir lutar contra vocês, e vão usar o maior tempo possível se


escondendo, pensando em algo para contra-atacar, ou até mesmo

esperando irem embora.

— Realmente sua família não me conhece, menina. Se for


preciso eu vou cavar cada buraco dessa terra, e o seu pai vai pagar

com o próprio sangue o que fez com você, sua irmã e a sua mãe.

— Acha prudente ir direto para esse local que Martina


mencionou? — Logan perguntou.
Estávamos reunidos de portas fechadas, planejando o nosso
próximo passo com essa informação.

— Nada é prudente quando estamos em território inimigo,


mas na minha visão eles estão nos atraindo.

— Como assim?

— Estou falando da questão do subsolo. Provavelmente há

várias armadilhas no local, e isso nos mataria aos poucos. Acho que

eles sabem que temos a informação dos caminhos no subsolo, e os


conhecem como ninguém.

— Faz sentido. Mesmo assim, devemos ser cautelosos. Eles

podem saber que Martina tem essa informação.

— Sim, podem, mas acho difícil. Segundo ela, mulheres não


podem entrar no local, então...

— Ela foi escondida quando criança.

— Exato — afirmei. — Martina sabe por onde os homens

entram, então o acesso pode ser mais fácil.

— Por mais que eles não estejam esperando, os homens

dentro do local estarão armados, e haverá um combate.

— Não acredito nisso.


Em minhas pesquisas vi que a família Kozlowski fazia tudo

debaixo dos panos, e não havia confrontos aparentes na cidade,


então na minha percepção eles eram uma organização que

preferiam se camuflar, e lidar com inimigos com o mínimo de alarde

possível.

Há vários homens meus aqui, e não éramos discretos, muito


pelo contrário. Se iniciarem uma guerra, seria eu quem a terminaria.

— Invadiremos amanhã. Preciso de uma equipe à minha

frente, identificando se há algum perigo ou explosivos ao nosso


redor. Quero a planta desse local em específico para analisá-la

pessoalmente.

— E, depois?

— Deixe comigo. O restante do plano eu tenho em minha


cabeça, e nada melhor do que eu mesmo executá-lo...
“O ,

...”

Queria ajudar Phillippe de algum jeito, mas não sabia como a


organização da minha família trabalhava.

Lembrei-me desse local específico quando vi as várias

fotografias no quadro branco, e uma delas era bem perto daquele

local.
Sempre fomos proibidas de sequer chegar perto de lá, e não

sabíamos o que havia lá dentro, mas minha irmã e eu éramos muito


agitadas naquela época, e seguíamos algumas pessoas.

Apesar de tudo, nunca pudemos ver como era por dentro, e

quando nos tornamos adolescentes não voltamos mais lá.

Observei Phillippe abrindo a porta do meu quarto, entrando


em seguida.

— Pensei que estaria dormindo.

— Não, eu estava te esperando.

— Me esperando? — Arqueou as sobrancelhas, um pouco

surpreso, e me levantei, indo até ele.

— É que... essa pode ser a última vez que fazemos amor.

— Nunca mais diga isso! — falou com firmeza, enlaçando a

minha cintura, olhando-me sério.

Mantive seu olhar, e logo em seguida ele apertou seus lábios

contra os meus. Depois, segurou os meus quadris, erguendo meu

corpo e me levando até a cama.

— Vou te foder, Martina, mas coloque na sua cabeça que

está longe de ser a última vez. Entendeu?


— Sim... — murmurei.

Ele me despiu, em seguida fez o mesmo, jogando nossas

roupas em um canto qualquer. Em seguida, sentou-se na beirada da

cama, e me puxou para sentar no colo dele.

No minuto seguinte, nossos corpos estavam bem longe do


controle e Phillippe agora chupava o meu mamilo, o prazer que ele

me concedia era uma das coisas mais maravilhosas que já havia

sentido.

— Ah!

Deixei escapar um gemido, sentindo o prazer me


preenchendo por completo, logo depois ele beijou o meu pescoço,

chupando o meu queixo, compenetrado com o sabor dos nossos

corpos.

Senti-lo agora dentro de mim aquecia cada célula do meu


corpo.

— Phillippe...

— Sim, meu amor...? — perguntou, seus olhos procurando os

meus.

— Eu... consigo te amar mais a cada dia que passa.


Ele me olhava, malicioso, sabendo que o pertencia.

— E eu vou amá-la para sempre. — Sua mão caminhou pelo

meu ventre para encontrar meu ponto sensível, provocando-me

enquanto me fodia.

Acho que nunca me senti tão completa.


Sentia como se a minha vida tivesse outro propósito.

Proteger Martina se tornou uma das minhas missões na

Terra, e faria de tudo por ela.

Meu corpo não conseguia saciar a carência que se criava


diariamente. Martina me mostrou objetivamente o que eu sentia

quando estava ao seu lado.

Era praticamente impossível me separar dela, e faria questão


de mostrar à minha menina todos os dias que ela se tornou a

pessoa mais preciosa em minha vida.

Deitei-a na cama, e cobri o seu corpo de beijos enquanto a

fodia. Ela gritou e arqueou suas pernas ao meu convite,


provocando-me mais a cada segundo, colocando seu corpo pronto

para receber minhas estocadas fortes, unindo-se em uma onda

violenta de prazer.

— Me toque enquanto me fode, apenas me toque bem

devagar... — implorou, seu olhar detendo-se no meu, e fiz o que ela


pediu.

Enquanto a fodia, estimulava o ponto sensível da minha

futura esposa, e observei suas mãos segurando com firmeza no


lençol, tentando conter todo o desejo acumulado em seu corpo.

— Não se contenha, quero sentir você gozando no meu pau.

E quero agora!

Foi inevitável não sentir seu corpo se contorcendo todo,


enquanto ela me obedecia.

— Ah, isso é tão bom! — sibilou, e intensifiquei os

movimentos, fodendo-a como se realmente fosse a última vez.

Gritos e gemidos escapavam dos seus lábios, enquanto

ofegava e gemia novamente, fitando-me diretamente.

— Eu te amo!

— Eu também te amo, meu amor, e nada vai nos separar —

falei, segurando o seu queixo, depois beijando os seus lábios.

— O nosso amor é perigoso, mas eu sei que vale o risco.

— Nunca duvide disso, menina.


Continuei em um ritmo acelerado, e foi difícil me segurar.
Gozei bastante, e percebi um sorriso de satisfação no rosto da

minha futura mulher.

Isso para mim recompensava toda a minha dor e todo o meu

ódio. Ela era tudo com o que eu me importava neste momento.

Acordei com ela deitada no meu peito, e dessa vez era minha

menina quem me observava.

— Acho que essa é a primeira vez que te vejo dormindo.

— E como foi? — perguntei, levemente curioso.

— Uma das melhores visões da minha vida. Você parecia...

em paz.

Essas palavras causaram um misto de sensações em meu

corpo.

— Acho que estar ao seu lado me deixa assim.


— Eu não acho, tenho certeza — revelou, passando uma das

mãos pelo meu peito, observando as tatuagens. — Isso tudo vai


acabar, e poderemos viver sem essa ameaça. Não quero voltar

nunca mais nessa cidade.

— E você não vai precisar. Tudo vai estar acabado em

poucos dias...
“A

...”

Esperei tempo demais elaborando planos, agora era o

momento de agir.

Reuni praticamente todos os meus homens, e fomos até o

local que Martina mencionou na última conversa. Levamos cerca de

trinta minutos para chegar lá, e não avistamos ninguém suspeito na

entrada.
Como imaginei.

Eles não queriam passar a impressão que fosse um lugar

vigiado.

— E agora? — Logan perguntou.

— Vamos entrar.

Na nossa frente havia uma equipe com os melhores

atiradores da organização, que estavam atentos e com armas


potentes em mãos.

Passamos por um portão sem nenhum esforço, que não


estava nem mesmo fechado. Em seguida analisei o local

rapidamente.

Estudei a planta desse casarão ontem à noite, e agora

entendia o motivo de provavelmente estarem aqui.

Conforme avançávamos sentia que ficava mais perigoso, só

que não havia outra alternativa. De repente, quando passamos por

um enorme corredor, avistamos algumas pessoas, e foi só reparar

em suas mãos que vi algumas armas.

Não demos mais um passo sequer.


Praticamente coloquei um exército aqui dentro, e não achava
que eles tinham escolhas.

Após mais alguns momentos uma figura caminhou até o

centro do salão, e cessou os passos.

— Aquele homem é quem estou pensando? — perguntei


para Martina.

— Sim, é... o meu pai.

O homem levantou as duas mãos, e em uma delas portava

uma arma. Em seguida, colocou-a no chão, e deu dois passos à

frente.

— Ele deseja conversar — falei, e fiz o mesmo, colocando

minha arma no chão, e dei dois passos como ele fez.

— Tem certeza de que vai onde ele está?

— Sim — respondi ao Logan, sem tirar os olhos do homem.

— Tenho atiradores em todas as posições. Se ele fizer algo comigo

ele vai morrer.

Fui andando até o pai dela, que fez o mesmo, e ficamos

frente a frente no centro do enorme salão. Agora estávamos a no


máximo dois metros um do outro.
Ele parecia ter uns 60 anos de idade, e tinha o rosto cansado,

mas uma expressão séria. Não estava ali para ficar analisando ou
conversar fiado, meu propósito era bem claro.

— Meu nome é...

— Eu sei quem é, Petroski.

— Não pensei que nos achariam — ele falou, e observei o

olhar curioso do seu bando, que estava na outra extremidade do


casarão. Todos estavam bem armados, e podiam facilmente me
matar, mas ele não daria essa ordem.

O homem queria tentar negociar, o problema é que não


negociava com quem ameaçava a mim ou a minha organização.

— Vou dar cinco minutos para todos vocês se renderem.

— Hmm. E o que vai acontecer depois?

— Vou matar um por um. Mas antes vou torturar alguns de

vocês, principalmente você.

— Isso tudo é por minha filha?

Não respondi. Meus motivos não interessavam.


— Se quiser uma guerra você terá, mas eu fiz as minhas

pesquisas e sei que tenho pelo menos dez vezes o número de


homens que possui. Então... — cruzei os meus braços —, como vai

ser? Preciso de uma resposta agora.

— Na nossa organização, se render é uma vergonha.

— Se rendendo ou não vou matá-los do mesmo jeito. Para


mim não faz diferença. Sua rendição só me pouparia tempo.

— Sabe... isso tudo não era pra ter acontecido. Confesso que
foi um erro tentar algo contra vocês no seu próprio país, e se estiver

disposto, garanto que...

— Vou te falar o que vai acontecer para não terminar essa

conversa fiada — o interrompi, indo para mais perto, pertinho do seu


rosto. — Vou sair desse país sem dar um tiro sequer, e sabe por

quê? Eu domino a arte da negociação, e além disso sei tudo que


preciso saber. A única informação que eu não tinha era onde estava
escondido, mas com isso eu pude pensar em tudo.

— Pelo jeito você não quer negociar.

— Não. Quero a sua rendição imediata.


Petroski não falou nada, só me observava com ódio nos
olhos. Sabia reconhecer quando uma pessoa não sabia perder, e
neste momento não restava mais nada a ele.

— Você ainda não falou como vai desarmar as bombas que

coloquei aqui a tempo, porque é só eu estalar os dedos e tudo isso


vai para os ares — revelou, cínico.

— Não vou precisar, porque não há nada aqui.

Ele riu, mas me mantive sério.

— Você não sabe do que está falando, Phillippe.

— Duas coisas. Primeiro: se falar o meu nome mais uma vez

eu vou furar os seus dois olhos, e vou fazer você comê-los, depois
vou cortar a sua língua, e enfiar no seu rabo. Segundo: se acha que

vou acreditar na sua história é melhor achar outro trouxa pra


conversar.

— Não é mentira.

— Então exploda tudo. Agora.

Ele não falou nada, nem mesmo alterou a sua expressão.

— Isso é uma medida de emergência, e...


— Cale a boca! — falei, fechando meus olhos, bem baixo. —
Desde o começo você sabia que eu viria para a merda do seu país
te matar, e sabe por que não fez nada? Porque não pode lutar

comigo. Você não tem homens, dinheiro ou culhões o suficiente


para bater de frente com alguém como eu, por isso mandou

pessoas para assassinar sua filha, já que é um lixo de homem. Você


engravidou a sua própria filha, e só de lembrar isso eu tenho
vontade de picar pedaço por pedaço do seu corpo de merda.

— Você não me conhece.

— E nem vou! Melhor olhar ao seu redor, todos os seus

homens estão em minha mira, é só eu mandar que todos serão


executados. Não me venha falar que instalou minas ou algo

parecido, eu rastreei tudo nesse perímetro. Se não ouviu, vou

repetir: trouxe tecnologia de ponta para a merda do seu país,


tecnologia que me mostra tudo o que preciso saber.

Petroski fez o que pedi, e atestou que o lugar estava cercado.

Não havia para onde fugir.

— Meus homens estão equipados com tudo que preciso. Sei


que há 130 pessoas aqui da sua equipe, e sei onde cada um está, e

se quiser posso te falar.


Ouvir isso o incomodou, porque agora ele estava entendendo

que não estava blefando.

— E, se pensar em fazer algum sinal para alguém atirar em

mim, garanto que minha equipe será mais rápida.

— Estou disposto a me render, mas...

— Isso não é uma negociação, Petroski. Você vai se render.


Eu sou o seu Deus aqui, e eu julgo quando vai morrer.

— Se não tenho opções, por que a conversa?

— Queria olhar nos olhos do homem que vou torturar e

matar, ver o quanto está com medo. Mas pelo jeito já cumpri o meu
papel.

— Eu demorei para saber que mexi com alguém bem mais

poderoso que eu, e vou pagar os meus pecados como homem.

— Você deixou de ser um homem há muito tempo, e em


poucas horas vou mostrar o quanto você é fraco. Te darei cinco

minutos para conversar com todos, e em seguida quero todos em

filas à minha frente, ajoelhados e com as duas mãos na cabeça. Fui

claro?
Petroski não falou nada, somente virou as costas e caminhou

lentamente até onde a maioria dos seus homens estavam...

— Negociação rápida, hein?! — Logan disse.

— Isso não foi uma negociação.

— Percebi. E, como foi?

— Ele vai se render.

— Eu não me renderia. Petroski sabe que vai morrer, por que

facilitar?

Abri um pequeno sorriso, e tinha uma ideia do motivo dele.

— Ele quer morrer sendo um herói para a sua família, mas o

principal é que ele deseja que os outros líderes da organização não

saibam o que ele fez com a irmã da Martina, sua própria filha. Seria
uma traição dentro da própria organização dele.

— Ele queria matar o único elo que sabe da verdade:

Martina.
— Sim. O problema dele é que eu sei tudo agora, e alguns

deles irão participar de alguns jogos daqui a pouco.

— Tipo jogos vorazes? — perguntou, sorrindo.

— Não, pior. Muito pior. No meu jogo eles não vão ter a

mínima chance de escapar...


“O
...”

Como pensei inicialmente, não foi preciso derramar uma gota


de sangue.

Todos os homens da família se renderam, bem como os

mercenários que eles contrataram. Nesse exato momento havia


aproximadamente 800 homens meus em torno do local, e não havia

escapatória.
Identifiquei os líderes dessa família, e eram quatro no total,

com o poder maior sendo do pai de Martina. Eles estavam


ajoelhados perante a mim, só que os quatro estavam um pouco

mais perto.

— Posso ver a minha filha?

— Para o lugar que vai será impossível. Não acho que ela vá
para o inferno.

Sem mais nenhuma palavra, vendamos os quatro homens, e

eles foram colocados em um carro.

— Posso dar prosseguimento ao resto do plano, chefe? —


Pietro perguntou, e assenti.

— Sim. Mate rapidamente todos os mercenários, e quem for

da família entregue para nossos torturadores, eles vão ficar muito


felizes.

Que todos iriam morrer era um fato, e não me importaria de

ser pelas minhas mãos, mas havia muitas pessoas da minha família

querendo sujar as mãos de sangue, então eles iriam ficar bem

ocupados. Já o meu assunto era com esses quatro, e podia demorar

um pouco mais...
Os líderes foram levados para uma casa que aluguei na

cidade, e em seguida colocados no mesmo quarto.

Minutos depois entrei no mesmo, junto com alguns


integrantes da minha organização. Eles ficaram em um local

distante, mas iriam assistir tudo.

Dei a ordem para que Otto tirasse a venda de todos, e os

observei por alguns segundos.

— Qual de vocês assumiria a organização se Petroski

morresse? — perguntei, e eles se entreolharam, mas não disseram

nada. — Não gosto de perguntar duas vezes, e sei que entendem a

minha língua.

— Eu — o homem ao lado direito dele respondeu.

— Qual o seu nome?

— Heiko.
— Certo. — Fui até ele, levando a minha cadeira, observando

seus olhos sem emoção, tais como os meus. — Você tem filhas,
Heiko?

— Não. Só um filho que capturaram.

— E se tivesse uma filha, você teria coragem de estuprá-la,

e...

— Que merda de pergunta é essa?! — me interrompeu,


raivoso.

— Acho que isso é um não.

— Por que eu faria algo assim?!

— Não é necessário falar sobre isso, Phillippe, e...

— Eu pedi para abrir a porra da boca, Petroski? Vou precisar

cortar a sua língua agora? — Ele se calou, e voltei a atenção ao


homem à minha frente. — Você sabe o motivo de eu ter vindo até

esse país?

— Vocês sequestraram Martina, e desejam exterminar toda a


nossa organização.

— Sério?!
Comecei a rir, e me levantei.

As pessoas eram traiçoeiras quando lhes convinha, e ao que

parecia a falta de informação desse homem iria matá-lo.

— O motivo de estar aqui é porque Petroski tentou matar a


própria filha, porque ela era a única que sabia a verdade.

— Que verdade? — perguntou, olhando para o homem ao

seu lado.

— Bom... que Petroski estuprou a irmã dela, e que ela estava


esperando um bebê do próprio pai.

— Isso é mentira! — Petroski bradou, e fui até ele.

— O que disse?! — Segurei o seu rosto, apertando-o, e senti


a dor percorrendo o seu corpo. — Você está falando que estou

mentindo?

— Isso não é possível...

— Otto! Traga Martina até aqui. Agora!

Foi preciso de um minuto para que ela entrasse no quarto, e

quando olhou para o seu pai vi a raiva estampada em seus olhos.

— O que seu país fez com Weronika, sua irmã?


— Ele a estuprou várias vezes, e ela ficou grávida dele. Meu
pai também matou a minha mãe a sangue frio. Minha irmã e eu
fugimos por isso, mas ele a matou na minha frente.

— Não matei a sua irmã, e...

— Cale a boca, Petroski! — Dei um soco em seu rosto, e


acho que quebrei o seu nariz com o impacto. — Qual era a sua ideia
fugindo, Martina?

— Ia contar a verdade para algum de vocês. Meu pai perderia

o posto de líder e seria morto.

— Hmm. Então é por isso que seu pai nos atacou... —


debochei, e todos os homens olharam para ele. Realmente eles não

sabiam, a expressão genuína no rosto de cada um revelava isso.

— Como pôde fazer isso com a sua própria família? — Heiko


perguntou.

— Sabe qual é a ironia disso tudo? — Fui até o homem,

agachando-me, observando seus olhos. — É que vocês vão morrer


por acreditarem cegamente em um homem claramente

descontrolado.

— Não precisamos morrer, a culpa foi dele.


— Ah, precisam sim. Não aceitamos ataques, e quando isso
acontece eliminamos toda a família.

Caminhei, observando todos eles, e o olhar de todos mudou


bruscamente.

Nada como a verdade para unir uma família.

Na vida e na morte.

— Garanto a vocês que sou a pior pessoa que já conheceram

em toda a vida de vocês, e não terei misericórdia. Quando se confia


cegamente em um homem, a sua vida pode ficar por um fio, e esse

foi o erro de vocês. Agora, todos estão sentenciados à morte, mas

como são os líderes, morrer vai demorar um pouco mais,


principalmente você... — apontei para Petroski — nós dois iremos

nos divertir.

Otto deu dois passos à frente, chegando perto de mim.

— Posso dar andamento ao restante do plano, chefe?

— Sim. Leve os três daqui. Athos vai ficar feliz em saber que
pode satisfazer a sua raiva por ter perdido um filho, e vai retalhar um

por um de vocês.

— E ele?
— A partir de agora eu cuido desse homem. Não quero

ninguém nessa sala, preciso de privacidade a partir de agora...


“A

...”

AVISO: Capítulo com cenas de violência física, conteúdo

sensível e gatilhos. Caso não se sinta confortável, pule esse


capítulo.

Ao entrar na sala que o pai de Martina estava não perdi


tempo.
— Finalmente somos só eu e você... — Arregacei as mangas

da minha camisa, e quando olhei para o lado meus aparelhos


estavam onde pedi. — Sabe, eu gosto de dar uma variada.

— Você não precisa fazer isso, eu...

— Você não entende. — Fui até ele, segurando o seu rosto,

sorrindo. — Eu quero fazer isso! Será um prazer te mutilar, cortar


cada pedacinho do seu corpo de merda!

Observei na bancada algumas coisas e peguei um martelo.

— Phillippe...

Acertei em cheio dois dedos dele, que foram esmagados

imediatamente. Vê-lo gritar foi um prazer tremendo, e vi o quanto

esse homem ficou desesperado ao ser golpeado.

— Me mate!

— Não mesmo! Vou arrancar muito sangue de você ainda!

Peguei uma faca em cima da mesa e cheguei mais perto

observando seus olhos. Em seguida acertei o cabo em seu olho,

fazendo-o inchar na hora. Depois, cravei a faca com força em uma


das suas pernas, e o ouvi urrar novamente.

— Merda! Escorregou...
Vê-lo agonizando era prazeroso, e fui para mais perto,
segurando o seu queixo.

— É bom fazer isso com as pessoas, não é? Foi esse prazer

que sentiu quando matou a sua esposa e mandou matar a sua filha,

hein, filho da puta? — perguntei e dei vário socos em sua boca e

olhos, deixando-o tonto.

Na verdade, acho que o desmaiei.

— Não, você não vai apagar. — Dei alguns tabefes no

homem, e ele recobrou a consciência.

— Acabe logo com isso.

— Não, quero te ver sofrendo.

Os minutos que se seguiram foram arrancando seus dedos

das mãos, dos pés e esmurrando a sua cara. Fiz isso lentamente, e

não falei muito.

— E então, como está se sentindo?

Ele não respondeu, na realidade, o seu rosto disse tudo.

O homem estava sangrando por todos os lados do corpo e


estava fraco. Ele já era um homem idoso, e acho que peguei um
pouco pesado, o que era uma pena, já que não podia terminar o

serviço aqui.

— Acho que perdeu sangue demais.

— Me mate... — disse, suspirando.

— Não, ainda vou ficar um tempinho brincando com você...


“U ...”

Sujar minhas mãos de sangue vinha sendo uma tarefa fácil

depois que me acostumei a lidar com inimigos.

Tudo na vida é prática, tanto as coisas boas quanto as ruins.

Desenvolvi a habilidade de não me importar com as pessoas

que estava torturando, até porque se estava fazendo isso era

porque tinha motivos reais. Não faria algo assim a quem nunca fez

nada contra mim ou a minha organização.


Todas as pessoas tinham planos, os fazíamos

automaticamente. No entanto, era quando a situação apertava que


sabíamos até onde poderíamos ir, e vários inimigos me provaram

isso.

Na hora da morte revelávamos o que há de mais profundo

em nosso coração, e tudo vinha à tona. Após a morte ninguém sabia


o que nos esperava, pelo menos nenhuma das pessoas que

assassinei voltaram para me contar.

Fui até uma das salas que reservamos no hotel. Precisava


repassar os meus passos aos conselheiros.

Geralmente tinha a opinião final sobre tudo o que fazia, mas


dessa vez havia riscos iminentes, e precisava prestar contas.

Eles já me esperavam na sala, e ao chegar me sentei em

frente a eles.

— Como ele está?

— Vivo. Mas provavelmente não vai passar de amanhã —

respondi.

Eles se entreolharam, e previ que o assunto não era para


falar somente disso. Havia mais coisas envolvidas, e os conhecia
bem para afirmar isso.

— Por que pediram essa reunião?

— Decidimos algo importante.

— Do que se trata?

— Martina fará parte da nossa família quando se casar com

você, mas ela precisa provar o seu valor.

— Ela já provou, achou o esconderijo do seu pai — pontuei,

já sabendo qual o rumo dessa conversa, algo que eu temia.

— Isso não é o suficiente para nós.

— O que mais desejam dela?

— Que ela seja a pessoa que dará fim a isso. Ela vai puxar

gatilho e matar o próprio pai.

— Isso não vai acontecer. Ele é meu.

— Phillippe, demos uma chance a ela, é hora de Martina

retribuir essa confiança, do contrário esse peso vai recair sobre


você, e uma punição exemplar será dada. Acho que sabe do que

estamos falando.
Sabia muito bem como funcionavam punições assim, eram

extremas, mas também sabia que se ela fizesse isso, nunca mais
poderia dormir em paz, e perder toda a sua essência.

Uma vez que se mata alguém, aquilo fica enclausurado em


seu peito.

Minha menina era pura demais, e isso ia acabar com ela.

— Ela não vai ser capaz de fazer isso.

— Convença-a. Você mesmo disse que ele está morrendo, e


não há mais tempo.

— É só isso? — perguntei, já me levantando.

— Sim.

Saí da sala. O meu pressentimento tornou-se real, e agora

precisava tomar uma grande decisão...

Ao chegar ao quarto que ela estava, eu a vi andando de um


lado para o outro.
Minha menina estava inquieta, como imaginei, e ao me ver

ficou estática.

— Ele... já morreu?

— Não.

— Você... acho que sabe, fez coisas com ele?

— Se torturei o seu pai?

— Isso...

— Sim, por algumas horas.

Ela se sentou na cama, observando um ponto fixo na parede.

— Sabe, eu pensei que ficaria feliz com tudo isso, mas por
mais que ele seja um monstro, ele ainda é o meu pai, e não tenho o
hábito de... ver pessoas morrerem.

— Martina, sobre isso, temos um problema sério para

resolver — falei, já entrando no assunto, sentando-me ao seu lado.

— Qual é o problema?

— A organização quer que você mate o seu pai. Eles querem


que prove o seu valor.
— Eu... não sei se consigo. Vê-lo naquela sala foi torturante,
e... eu pensei que estava preparada para tirar uma vida, mas não
sei se consigo, mesmo sendo o monstro do meu pai, e...

Martina começou a chorar, e deslizei meu corpo na cama,

chegando perto dela.

— Se acalme... — Eu a abracei, e vi mais lágrimas rolando


no seu rosto.

— Eu... sou fraca, Phillippe.

— Olhe pra mim... — Segurei o seu rosto, mirando os seus


olhos. — Você não é fraca, e está aqui fazendo o certo, buscando
justiça.

Nossos olhares se encontraram e ficamos envolvidos por

alguns segundos.

Ela não seria capaz de tirar a vida de alguém, e vi isso em


seus olhos naquele momento. O problema era que se ela não

obedecesse, haveria punições nesse caso, e elas iriam recair sobre


mim.

Tinha uma ideia do que me aguardava.

— O que vai acontecer se eu não o matar?


— Ainda não sei — respondi, escondendo alguns segredos.

— Não minta para mim. Sei quando está falando a verdade e

tentando me proteger.

Respirei fundo, imaginando alguns cenários na minha

cabeça, mas todos eles me levavam ao mesmo lugar.

— Isso é decisão do conselho.

— Você pode perder a liderança?

— Isso não. Minha missão foi cumprida aqui, mas há outras


punições.

— Quais?

— Não pense nisso.

Martina desviou seu olhar, pensativa.

O simples fato de estar com o seu pai em uma sala iria lhe
causar emoções controversas, e não sei o que viria depois desse

assassinato.

— Eu... vou fazer isso.

— Martina...
— Preciso pelo menos tentar — disse, interrompendo-me,

segurando uma das minhas mãos. — Cansei de ter medo de tudo à


minha volta, Phillippe. Talvez isso seja necessário para dar um

ponto final em toda essa questão. Eu vou ficar bem.

— Não tenho certeza disso. Matar uma pessoa pode ser

muito para você, ainda mais sendo o seu pai.

— Eu sei, mas eu vou pelo menos tentar. Vou lembrar do que

ele fez com a minha mãe e minha irmã, e vou tirar forças sabe-se lá

de onde. Me deixe tentar, Phillippe, eu preciso disso.

Estava de mãos atadas em uma situação como essa.

O desejo da organização era vê-la sujar as mãos de sangue,

e era um mal necessário para que a gente ficasse junto, ainda

assim, podia nunca mais observar esse brilho em seus olhos, sua
inocência.

Essa era uma das primeiras vezes que me via sem saída,

onde a decisão não cabia a mim.

— Independente do que decidir estarei com você — revelei


por fim. — Se deseja ao menos tentar estarei ao seu lado te dando

forças, e se não conseguir eu mesmo o farei.


“A ...”

— Você está pensativo demais. Arrependido da tortura? —

Logan questionou.

— Nem um pouco, faria isso com ele todos os dias da minha


vida. Há outros assuntos na minha cabeça. Isso ainda não foi

finalizado.

— Você fala porque nem todas as pessoas da família foram

mortas? — Ele abriu um sorriso e identificou perfeitamente o que eu


tinha em mente.

— Não vou me sentir à vontade para fazer isso, e sabe bem o

motivo.

— É pra isso que tem um advogado tão bom como eu, mas

acho que sabe que essas pessoas têm que "desaparecer", de uma

forma ou outra.

— Seria trair a minha organização.

— Pare de se importar tanto com a porra da sua organização.

Faça algo pela sua mulher. Só se ama uma vez na vida.

— Como sabe?

— Li em um livro. Vai me julgar ou vai falar com ela?

— Não tenho opções — levantei-me —, mas precisa ser

agora.

Fui até o quarto de Martina acompanhado do Logan, e ao me

ver ela se levantou.


— Algum problema?

— Você e eu vamos dar uma volta — disse a ela, e depois

acenei para o Logan. — Fique a alguns metros de nós enquanto

converso com ela.

Segurei uma das mãos de Martina, e saímos do hotel,


andando por alguns minutos sem falarmos nada um para o outro.

— Phillippe... estou ficando com medo da forma que está me

olhando.

— O que você está me escondendo, menina?

— Eu... não sei do que está falando.

— Onde estão as mulheres e as crianças da sua família? Só

havia homens no local onde eles estavam.

— Por que acha que sei de alguma coisa?

— Não acho, tenho certeza de que está protegendo-as.

Martina... não vou perguntar de novo, você precisa me falar a

verdade.

— Eu pensei que poderia conviver com isso, mas... não


quero que as mate, e... não posso falar. Meu pai eu entendo, mas as

mulheres são... totalmente inocentes.


— Martina... — Segurei o seu rosto. — Eu preciso saber.

— Mas você vai matá-las.

— Sim, eu preciso fazer isso, mas...

— Mas...?

— Pode haver outra solução.

— Prazer, eu sou a solução — Logan falou, vindo até nós.

— Eu pedi para que ficasse longe de nós — grunhi.

— Sempre fui desobediente, sabe? E vocês estão


conversando há tempo demais, e tenho mais o que fazer. Então,

deixa eu ser mais direto com a Martina: provavelmente posso salvá-


las sem que ninguém saiba, mas você, meu anjo, precisa ser rápida
e me falar onde elas estão.

— Vou deixar claro uma coisa: você não pode vê-las nunca
mais. Pra isso acontecer e dar certo, elas vão morrer pra você —

expliquei.

Observei a minha menina, que ainda estava em dúvida sobre

o que fazer. Não estava bem em colocá-la em uma posição dessas,


mas essa era a única saída.
— Tudo bem. Quando resolvermos a questão do meu pai eu

vou te falar onde acho que elas estão...


Fiquei imóvel enquanto fitava meu pai.

Ele estava coberto de sangue, e nem conseguia abrir os


olhos completamente. Era como se estivesse contando os segundos

para morrer.

— Não queria te obrigar a fazer isso — Phillippe falou, e me


entregou uma arma.

Fiquei analisando-a por alguns segundos, e em seguida fui

caminhando até o meu pai. Pensei que ele estava dormindo, mas
quando me aproximei a sua cabeça mexeu, e ele me enxergou com
o olho direito, mesmo debilitado.

Fiquei sem reação por alguns segundos, e vi meu pai


sorrindo.

— Nada mais justo do que você me matar — falou.

Tentei falar alguma palavra, qualquer coisa que fosse, mas


som algum saía da minha boca.
Não só Phillippe me observava, mas as pessoas do conselho

também.

Eu tinha uma missão aqui, só que as minhas mãos davam


claros sinais de resistência e estava tremendo.

— Eu fiz da sua vida um inferno e matei a sua irmã. Eu

mereço morrer pelas mãos da minha própria filha.

— Sim, merece — afirmei, com raiva, apontando a arma para


ele.

Meu pai não esboçou reação alguma, só me fitou, como se

tivesse aceitado o seu fim.

Destravei a arma, e continuei mirando em seu rosto, ainda

sem saber o que faria em seguida.

Eu queria puxar o gatilho.

Queria tanto.

A imagem da minha irmã sendo morta apareceu em minha

cabeça, e a raiva só aumentou em meu peito.

— Você é um monstro! Matou as duas pessoas que eu mais

amava em toda a minha vida! Eu te odeio!


— Eu sou um homem diabólico, mas nunca quis ser assim.
Eu não controlo os meus ímpetos, e...

— Cale a boca! Não quero saber! Isso não é justificativa!

Meu pai não disse mais nada, e agora minhas mãos

começaram a tremer novamente.

Eu tinha que fazer isso, mas não conseguia.

— Me mate, por favor! — pediu, e tentei puxar o gatilho, mas

não tinha forças.

Ele era um monstro, mas não acho que era capaz de tirar

uma vida, mesmo ele sendo a pior pessoa que conheci.

Abaixei a arma, olhando para o nada.

Em seguida, fui até o Phillippe, cabisbaixa.

— Eu... simplesmente não consigo.

Ele não disse nada, só fitou um ponto específico na parede.

Em seguida olhou para os conselheiros da organização, e não

entendi muito bem o que estava acontecendo.

Phillippe geralmente não ficava calado em situações

extremas como essa, e fiquei preocupada.


— Eu faço, Martina. É melhor sair da sala — falou,

estendendo uma das mãos, pegando a arma.

Eu o olhei durante algum tempo, e vi algo diferente em seu

olhar, como se fosse uma preocupação, algo que não havia


presenciado antes.

— Tem certeza? — questionei, e ele assentiu.

Lentamente fui até a porta da sala, abrindo-a.

Após fechá-la dei dois passos, e de repente ouvi um tiro, e


tive a certeza de que tudo estava acabado...
“D ...”

— Me desculpe por não conseguir... — falei, algumas horas


depois, quando vi Phillippe entrando em meu quarto. Observei
Logan perto dele também.

— Não se preocupe. Precisamos resolver outra questão

agora.

Eu sabia que ele estava falando sobre as mulheres.


Levantei-me da cama, e quando saímos do hotel um carro

nos esperava.

— Para onde? — me perguntou, e os guiei até um local onde


elas poderiam estar.

Levamos quase vinte minutos para chegar.

Eu não tinha certeza sobre nada, mas sabia onde era o

“castigo” das mulheres quando batiam de frente com os seus


respectivos maridos, e acho que esse seria um bom lugar para que

elas ficassem escondidas.

Nós sempre fomos tratadas como burras, e eles devem ter


pensado que o melhor era escondê-las quando Phillippe chegasse,

do contrário, o esconderijo deles poderia ser descoberto.

O que eles não sabiam é que Phillippe tinha um plano.

— É aqui! — informei.

Havia um enorme cadeado no portão, e com um tiro Phillippe

o quebrou, entrando em seguida.

Após passar pelo corredor visualizei a casa, e quando


entramos vimos as mulheres. Elas estavam amarradas feito

animais, e aquilo me deu um ódio tremendo.


Contamos cinco mulheres, três adolescentes e duas crianças.
Somente os adolescentes e as crianças estavam desamarrados.

— Martina! — Constanza, a esposa de um dos meus tios,

chamou pelo meu nome, e fui até ela.

— Você está bem?

Ela me olhava com medo, e estranhei isso.

— Por que você quer matar a gente? O que fizemos para

você? — perguntou, e fiquei em choque.

— Não quero matar vocês, estou tentando salvá-las.

Elas se entreolharam, como se nada fizesse sentido.

— Mas eles disseram que você matou a Weronika e fugiu...

Meus olhos se encheram de lágrimas ao ouvir o nome da


minha irmã, principalmente por contarem algo tão horrível para elas,

que não era verdade.

— Foram eles que mataram a minha irmã, e fariam o mesmo

comigo. Minha irmã engravidou do próprio pai, e isso o faria perder

o poder. Resolvemos fugir, mas só eu consegui. Essa é a verdade.


Todas as mulheres se entreolharam, e Constanza que estava

à minha frente começou a chorar.

— Eu acredito em você. Os homens da nossa família...

mentiram pra nós.

— Eles sempre fizeram isso. — Segurei uma de suas mãos.

— Se quiser salvá-las, não há tempo para conversar mais,

Martina — Logan falou sério, e assenti.

Olhei para Phillippe que não parecia estar presente com a


gente. Ele olhava para os lados, analisava a situação e não falava

nada.

— Iremos embora. Cuide de tudo, Logan — Phillippe pediu.

— Confie nele. Ninguém vai fazer mal para vocês. Eu


prometo!

Voltamos ao carro alugado. Phillipe estava dirigindo e não

falou uma palavra sequer durante um bom tempo.

De certa forma isso estava me incomodando, porque sentia


que algo estava errado.

— Por que você está tão calado? — perguntei.


— Vamos sair desse país hoje mesmo. Arrume suas coisas

quando chegarmos ao hotel.

— Você não me respondeu.

— Não há nada para se preocupar, menina. Eu lidarei com as


consequências dos meus atos.

O tom que ele usou foi diferente do habitual, e tive certeza de

que algo sério havia acontecido...

Tudo foi muito rápido quando retornamos ao hotel.

Boa parte da equipe estava organizando aparelhos, e alguns

deles já tinham saído de lá.

Fiz o que ele me pediu e arrumei minhas coisas. Em seguida

saímos do hotel acompanhados por seguranças, entrando em um


avião fretado em seguida.

Naquele momento Phillippe e eu estávamos praticamente


sozinhos, as outras pessoas estavam há várias poltronas de
distância.

— Posso fazer uma pergunta?

— Claro.

— Os homens da organização do meu pai estão... todos

mortos?

— Sim — respondeu, não me olhando.

— E os corpos? O que farão?

— Tenho uma equipe que cuida disso, Martina. Eu cumpri

minha promessa, uma parte dela. Todas as pessoas da sua


organização pagaram pelo que fizeram à sua família Se livrar do

corpo deles é o mais fácil, fazemos isso há um bom tempo.

— Eu ainda não acredito que estou livre deles, isso é muito...


surreal.

— Foram eles que começaram essa guerra quando foram

atrás de você nos EUA.

— Mesmo não matando o meu pai eu os condenei.

— Não — ele disse, olhando nos meus olhos. — Eles mesmo

se condenaram. Nós só demos uma ajudinha.


— A máfia então é assim...

— Protegemos as pessoas que mais importam para a gente,

e retaliamos quem ousa nos enfrentar. Essa não vai ser a primeira
nem a última vez que isso vai acontecer, mas posso garantir que

será a última que estará presente. Sei o quanto isso te afeta.

— Sim, bastante.

Observei as nuvens, pensando em tudo que havia

acontecido.

Achei que um sentimento horrível tomaria conta do meu

corpo, mas saber que homens tão maus estavam mortos me dava

alívio, e ainda conseguimos salvar as mulheres e crianças.

Phillippe fez muito por mim, e não sabia como recompensá-


lo.

— Prometo não te dar mais trabalho.

— Menina... — Ele segurou meu queixo, com posse, vidrado

em meus olhos. — Eu prometi que iria te proteger para sempre, e


não fujo das minhas responsabilidades. A partir de hoje você terá

uma nova vida...


“A
...”

AVISO: Capítulo com cenas de violência física, conteúdo


sensível e gatilhos. Caso não se sinta confortável, pule esse

capítulo.

Ao chegarmos em Las Vegas, Phillippe não se deitou na


cama comigo.
Após fazer a minha higiene pessoal voltei para a cama, e em

seguida ouvi duas batidas à porta.

— Entre! — pedi, e observei Logan passando. — Algum


problema?

— Preciso que me acompanhe. Agora.

Logan não era uma pessoa tão séria, mas suas feições

estavam tensas.

Não perdi tempo e fui até ele, em seguida descemos as

escadas sem trocarmos uma palavra sequer.

Depois que chegamos à entrada da casa vi Phillippe de

costas para mim, no centro da enorme mansão. Ele estava de

joelhos, e sem a camisa.

Olhei para o lado, e Logan também o observava. Pelo jeito


ele já sabia.

— O que está acontecendo? — perguntei.

Várias pessoas estavam presentes, inúmeros familiares que

vi corriqueiramente na mansão. Estava assustada, e não sabia bem


o que fazer.
— Fique aqui, Martina. Você precisa observar tudo. É
obrigatório.

Novamente olhei Phillippe de costas para mim, e voltei a

atenção ao Logan.

— É uma iniciação ou algo do tipo?

— Não, muito pelo contrário. É uma punição.

— O que ele fez?

Logan não respondeu, somente observou junto a mim um


homem entrando na sala, alguém da própria organização. Ele

estava com uma camisa diferente das demais, e em suas mãos ele

portava um... açoite.

Imediatamente dei um passo à frente, mas Logan segurou

meu braço com firmeza.

— Se fizer isso será pior. Você precisa aceitar o que vai

acontecer agora.

— Mas, por que estão fazendo isso com ele? — perguntei,

uma lágrima caindo do meu rosto.

Logan não falou nada, somente observou o homem indo por

detrás de Phillippe, posicionando-se.


— Foi porque eu ajudei as mulheres não foi?

— Não, Martina — respondeu rápido dessa vez, olhando-me.

— Foi porque não conseguiu matar o seu pai!

Não esperava ouvir isso.

Tudo começou a fazer sentido em minha cabeça. O pedido


da organização não se parecia uma escolha, e sim uma ordem, algo

que não executei.

Ele seria punido por minha causa.

— Phillippe Vlachos Kingster, você entende o motivo de estar


aqui?

— Sim — ele falou.

— Você aceita as consequências das suas escolhas.

— Aceito.

Depois da sua confirmação o homem levantou o açoite, e


acertou em cheio suas costas, fazendo-o se curvar imediatamente.

— Um!

Eu pude sentir dali a dor, e meu estômago embrulhou quando

vi sangue escorrendo do seu corpo.


— Dois!

Imediatamente o objeto encontrou a sua pele novamente,

cortando-a. Dessa vez eu o senti segurando o grito, posicionando-se


de joelhos novamente.

— Três!

Fechei meus olhos, isso era demais.

— Não, Martina! Você precisa ser forte agora! — Logan falou.

— Quatro!

— Cinco!

Agora o vi soltando um grito pela primeira vez. Ele


murmurava palavras em uma língua que não entendia, e gritava
algumas vezes.

— Seis!

Phillippe se prostrou no chão. Suas costas estavam


vermelhas, tomadas pelo sangue, e vi seu corpo tendo espasmos
involuntários. A dor era lancinante, e ele a suportava por mim.

Isso tudo era culpa minha.


Novamente me senti enjoada, e desviei os olhos, mas muitas
pessoas me observavam. Eu não podia ser fraca perante eles.

Não mais.

— Sete!

— Oito!

— Nove!

A tortura era demais para mim. Vê-lo agonizando de dor


acabava com o meu coração.

— Dez!

Phillippe agora estava com as duas mãos espalmadas no


chão.

Eu podia sentir o quanto as dores em seu corpo estavam


sérias, a mancha de sangue em suas costas me mostrava isso.

— O castigo está cumprido.

Um a um as pessoas saíram do salão, e olhei para Logan.

Ele assentiu com a cabeça, e fui até Phillippe, tomando cuidado


para não encostar nele, causando mais dor.
— Phillippe! — chamei, indo até a sua frente, observando o
seu rosto.

Ele estava com os olhos fechados, como se estivesse


absorvendo a dor.

— Não se preocupe comigo, menina.

Não consegui me conter e comecei a chorar.

Acostumei-me a ser uma chorona, e vendo o que ele fez por

mim me senti estranha.

— Isso tudo foi... porque eu não consegui, não é?

— Sim. — Ele ergueu uma das mãos, segurando a minha. —

Mas cada segundo de dor valeu a pena.

— Por quê...?

— Porque agora não há mais nada em nosso caminho. Eu já


paguei o preço por você, e mais nada acontecerá.

— Eu te amo tanto, mas tanto... — falei, em meio às

lágrimas.

— Eu também, menina, mais do que possa imaginar.


Ajudei-o a se levantar, e Logan veio até nós fazendo o

mesmo, segurando um de seus braços.

— Já providenciei pessoas para cuidarem de você, Phillippe.

Me ajude a levá-lo, Martina.

Caminhamos com ele até um dos quartos da mansão, onde

algumas pessoas nos esperavam, inclusive um médico.

— Eu vou ficar bem, Martina. Não se preocupe.

— Nunca mais faça esse tipo de coisa por mim. Você

promete? — perguntei, ainda com lágrimas nos olhos.

— Não, eu não prometo. Por você eu vou até o inferno, e isso


não foi nada.

— Phillippe... — Toquei o seu rosto, observando seus lindos

olhos.

— Meu Deus! Nunca ouvi tanto papo-furado! Que tal irmos


logo com isso? Tenho mais o que fazer! — Logan exclamou,

cortando o clima e vi Phillippe abrindo um meio sorriso.

— Obrigado pela ajuda, Logan.

— É... eu sou pago pra isso, não sou?


Depois que o ajudamos a se deitar com a barriga pra baixo

na cama, algumas pessoas foram examiná-lo.

— Vá. Eu cuido de tudo agora — Logan falou. — Não se

esqueça de uma coisa: nunca demonstre fraqueza perante a família


dele a partir de agora. Ele fez isso por você, se porte como a sua

futura esposa.

— Eu farei isso. Devo isso a ele...


“O ...”

1 MÊS DEPOIS

Nesse mês que se passou muita coisa mudou.

Na verdade, tive respostas de algumas coisas, e mantive

segredo de Phillippe por alguns dias, mas hoje iria contar a

novidade a ele...
Nosso casamento foi marcado para daqui quinze dias, e não

fomos nós quem marcamos essa data tão rápido, e sim a


organização.

Eles desejavam que eu me tornasse a sra. Vlachos, e

confesso que estava ansiosa também.

Estávamos terminando a nossa viagem. Phillippe me


prometeu que passaríamos um tempo sozinhos quando tudo

acabasse, e depois da recuperação de suas costas viajamos para o

Brasil, mais especificamente para Florianópolis.

Eu não queria ir para a Europa, e acho que ele muito menos.

Antes da viagem removi a tatuagem da minha nuca que fazia

referência à minha família, e quando me casasse faria em meu

braço a tatuagem dos integrantes da Vlachosia.

— É lindo aqui — falei, depois que chegamos ao nosso

quarto, e fui surpreendida por meu homem me agarrando por trás,

fechando a porta com força.

— Linda é você, menina.

Ele tomou a minha boca com força, posse, como se só isso


importasse.
— Você é um safado, isso sim — arfei, sussurrando perto do
seu ouvido.

— Não tenho culpa, é muito bom te beijar.

Não tive o direito de responder. Phillippe me levou para a

cama, em seguida tirou completamente a minha roupa, despindo-se


logo em seguida.

— Entre em mim, meu amor... — implorei, gemendo em sua

boca.

— Nunca vou me cansar disso.

Senti-lo dentro de mim era a melhor sensação do mundo.

Adorava a forma como ele me tratava, tudo em Phillippe me

atraía, e não sabia mais como viver longe dele. E nem queria.

Enquanto suas mãos passeavam pelo meu corpo fiquei de

olhos fechados, absorvendo cada pequeno momento de prazer que

ele me propiciava.

— Eu te amo, menina — disse, intensificando os movimentos,

deixando-me completamente à mercê do seu toque.

— Eu também, meu amor.


Enquanto me estocava vorazmente chamava o nome dele

várias e várias vezes, provando que eu pertencia a ele, e que ele


pertencia a mim.

Tudo o que passamos estava sendo eternizado, e isso


porque ele ainda não sabia que algo estava dentro de mim...

Nós nos saciamos várias vezes naquela noite. Ficamos


exaustos, mas queria chegar ao limite, e fizemos isso.

Observava meu homem, deitado na cama, e naquele


momento olhávamos um para o outro, como se o mundo tivesse

parado.

— Você quer me contar algo — falou.

— Por que acha isso?

— A maneira que me olha. Sei te decifrar muito bem, menina,

mais do que pensa.

Fiz um suspense, mas imediatamente abri um sorriso, sendo


direta:

— Eu estou grávida.

A expressão no rosto dele mudou bruscamente, e ele se

sentou, ainda incrédulo com a revelação. Pelo jeito ele não


esperava, na realidade, nem eu.

— Por que não me disse antes?

— Queria fazer uma surpresa em nossa viagem, mas fiz


alguns testes antes de vir, e... agora tenho certeza.

Ele analisou a minha barriga durante um tempo, depois


colocou a mão direita nela, abrindo um meio sorriso.

— Eu serei pai.

— Sim, e vai ser o melhor pai do mundo, vai proteger o nosso

bebê como me protegeu.

— Pode ter certeza disso que vou lutar pelos dois com a

minha própria vida. Pode ter certeza...


“A

...”

— Sim, eu aceito!

Ainda não sei descrever o que senti em meu peito ao acabar


de ouvir essas palavras em nosso casamento.

Nunca fiquei tão tenso em toda a minha vida, nem quando

precisei encarar a morte de frente. O novo nos assusta, e agora


entender o quanto é grandioso para mim esse casamento me

deixava levemente nervoso.

Independente de tudo, estava cumprindo o que prometi, e iria


proteger a minha menina.

Para sempre.

Não havia tantas pessoas na festa do nosso casamento.

Foram convidados basicamente os membros da minha

família e outras pessoas mais próximas, como Logan e Ilka, a amiga

da Martina.

Agora, a pessoa que estava vindo até mim não foi convidada,

na verdade, ele não precisava de um convite para entrar aqui, já que


foi um de nós no passado.

— Não pensei que viria ao meu casamento — falei,

observando o meu irmão parado à minha frente, com as duas mãos


nos bolsos.

O infeliz se parecia bastante comigo: tinha os olhos azuis e

claros, além do mesmo porte físico. Só que o meu irmão mais novo

tinha uma grande diferença em relação a mim: ele se esconde.

— E eu não viria. Mas fui obrigado pela organização, sabe


como é, tenho que fazer o meu papel para ficar longe de confusões.

— Nossa família é uma confusão para você? — perguntei,

cruzando os braços, analisando meu irmão, que parecia realmente

irritado por estar ali.

— Sim. Conheço bem a máfia, e não quero ter que lidar com
ela novamente. E não vou.

Fiquei o analisando, e não vi nenhuma hesitação em sua

face. Tinha que destacar que ele conseguiu o que desejava, e isso

era um feito e tanto.

— Me diz: como devo te chamar agora? Apolo, Ethan ou

seria... Héctor?! Estou bem na dúvida.

O infeliz sorriu, em seguida olhou para cima.

— Prefiro Ethan. Essa é a minha vida agora.


— Sim, mas pelo que fiquei sabendo ficou bastante em Las

Vegas no último ano, brincando nos seus cassinos, e bem próximo


ao Alexander.

— Quanto ao Alexander estudamos juntos, isso não é


segredo pra você. Acho que sabe que os cassinos eram meros

disfarces, já até os vendi. Eu só precisava que Logan resolvesse


algumas questões sobre a faculdade que vou me tornar professor

semana que vem.

Sei que Alexander não tinha ideia de que Apolo pertencia à


máfia, muito menos que era o meu irmão. Essa foi uma das regras

expressas da organização: nunca contar a ninguém sua verdadeira


identidade, e conhecendo bem o meu irmão, ele levaria esse

segredo até o túmulo.

— Às vezes me pergunto como conseguiu sair da Vlachosia


— falei, analisando-o. — Não pude votar por sermos irmãos, e não
sei o que disse para ser o único a se desvincular.

Apolo sorriu, e caminhou até mim, com o olhar debochado.

— Você nunca vai saber, e outra coisa, espero nunca mais te


ver, irmão.
— Bom, às vezes tenho o pressentimento que vai precisar de

mim. E, geralmente meus pressentimentos não falham.

— Tenho a sua resposta, e ela é um ditado famoso: nunca


diga nunca. Se precisar da sua ajuda eu virei até aqui como homem,
sem problema algum.

— A questão é que não farei nada de graça pra você, Apolo,


não depois de abandonar a organização. Me abandonar.

— Já eu tenho outra opinião... — Veio até mim, ajeitando a


minha gravata. — Você fará sim, porque assim com você, eu tenho

olhos em todos os locais, e sei que pode ter cometido algum erro
nesses últimos anos, então pense bem antes de me ameaçar. Torça

para que eu não venha até você, será melhor.

Eu o observei durante algum tempo, em seguida abri um

breve sorriso, acenando positivamente.

— Foi bom te ver, irmão — pontuei, levemente feliz ao revê-

lo.

— Eu sei, e digo o mesmo.

Ele virou as costas, e rapidamente saiu da festa.


— Vocês dois são esquisitos demais, nem parecem irmãos —
Logan falou ao se aproximar.

— Onde ele dará aula?

— Não vou te falar. Trabalho para os dois e foi difícil

escondê-lo lá, por assim dizer.

— Cuide do meu irmão. Às vezes ele pensa bastante com a

cabeça de baixo.

— Sério? Estranho pensar assim... é você quem está se

casando, não ele — respondeu, e assenti.

— É um bom ponto.
— Você se casou, amiga! — Ilka veio até mim, dando-me um

abraço apertado.

— Às vezes sinto que é tudo um sonho, mas não quero


acordar se realmente for.

— É um bom sonho, e como qualquer um, há altos e baixos.

— Estou feliz, e vou dar o meu melhor para retribuir a

confiança do Phillippe e da família dele.

— Você vai conseguir, amiga — pontuou sorridente,


segurando minhas mãos.

— E você? Algum plano? Acho que viu o tanto de homens


bonitos na festa... — Lancei uma piscadela.

— Eu vi, mas não tenho interesse em ninguém. Quero

cumprir o meu propósito maior, há mais pessoas que dependem de


mim, e a prioridade é a minha família. Quem sabe em um outro

momento, não é?
— Ilka, você sempre me ajudou em tudo, quero que saiba

que farei tudo que estiver ao meu alcance quando precisar de mim.
Você se tornou a minha melhor amiga, e vou levar isso comigo para

sempre.

— E você também. Saiba que eu te amo... — Ela me

abraçou, e nos emocionamos juntas.

— Eu também. Mais do que imagina.

Minha amiga observou ao redor, em seguida sorriu.

— Seu homem está vindo, vou deixar vocês à vontade.

Quando ela saiu, Phillippe chegou.

Queria desesperadamente contar algo a ele, e estava muito

ansiosa.

— Phillippe... preciso te contar algo.

— Estou ouvindo, meu amor.

— Estou esperando uma menina.

Phillippe me olhou desconfiado, em seguida seu rosto ficou

um pouco mais obscuro.


— Martina, eu disse que queria ir junto quando tivesse essa
resposta, e...

— Não, Phillippe... — Segurei as suas mãos ao interrompê-

lo. — Eu não fui, mas eu sei que é uma menina. No meu coração,

tenho certeza.

Ele colocou uma das mãos em minha barriga, em seguida

abriu um sorriso discreto.

— Não me importo com o sexo da criança, eu só quero que

nasça com saúde.

— Nós seremos uma família feliz, e espero que você pare de


se arriscar por aí quando ela nascer.

— Jamais vou parar de me arriscar, principalmente se for por

vocês duas... — Tocou o meu rosto, vi admiração e amor no nele.

Minha história foi sempre cheia de curvas, e houve momentos


que pensei em desistir da minha própria vida, mas consegui me

reerguer, e Phillipe teve papel fundamental nesse processo. Acho

que sem ele não teria forças para continuar, já que havia perdido o

meu mundo.
Fechei meus olhos, absorvendo todas as sensações boas

naquele momento, agradecendo a Deus uma segunda chance.

No final das contas, nascemos do amor, e a única coisa que

nos resta é viver intensamente como se cada dia fosse o último...


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