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A BELA E A FERA DARK – REFÉM DE UM

ASSASSINO

Mari Mendes
Copyright 2020 © Mari Mendes

Design da Capa: M. M. Reis

Diagramação: M. M. Reis

Revisão principal: Artemia Souza


Revisão geral: Tici Pontes

1ª Edição
Brasil, 2020

Reservados todos os direitos. Proibido a reprodução total ou parcial desta obra,


sem a autorização expressa do autor. Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998,
artigo 184. “Violar direitos autorais, pode acarretar pena de 3 (três) meses a 1
(um) ano ou multa.”

Plágio é crime!

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
“LIVRO REGISTRADO NA AVCTORIS”
Romance Dark com temas polêmicos. Esse livro contém cenas fortes,
agressão verbal e física, assassinatos, linguagem imprópria que podem acionar
gatilhos. Portanto, se você é sensível ao tema, por favor, NÃO LEIA!
A autora não compactua, não tolera esse tipo de comportamento, e não
concorda com a conduta de alguns personagens. Repetindo mais uma vez, para
ficar bem claro: Não leia se a temática te causa desconforto ou pode acionar
gatilhos, ainda que ficção. Mas se ama um livro Dark, esse é seu lugar!
Boa Leitura.

Aviso: Tive que construir e explicar o porquê Zakarias Feranttis se


transformou em um homem tão cruel e frio. Então antes da história se
desenrolar, vocês terão que ter calma e entender o passado sofrido dele. Outra
coisa, é uma história Dark, com passagens fortes e personagens com distúrbios.
“Só leia se você sabe e tem certeza de que não acionará gatilhos. Aviso dado e
repetido várias vezes.”
Zakarias Feranttis, um CEO que prezava muito andar e obedecer as
regras da sociedade com extremo zelo. Um exemplo a ser seguido. Um homem
de beleza ímpar, amado, admirado e invejado por todos. Mas o destino quebra
esse homem e estilhaça seu coração de maneira devastadora, quando sua família
é assassinada. Teve seu rosto e coração retalhados sem dó. Tornou-se um
monstro coberto por cicatrizes, tanto na alma, quanto no corpo. Perdeu a
referência, a empatia e o respeito para com o próximo, criando suas próprias leis.
Se retirou da vida em sociedade, criou seu mundo e nele se corrompeu,
tornando-se um assassino de sangue-frio e cruel. Matava com requintes de
crueldade quem invadisse seu espaço. Mas não julguem Zakarias Feranttis até
conhecer sua história. Atravesse com ele os momentos de insanidade e loucura
que sempre o acometem...
Isabela Amorim será o gatilho para uma mudança radical na vida desse
homem atormentado. Venham conhecer a história Dark de A Bela e a Fera. Com
certeza vocês odiarão Zakarias em alguns momentos, mas o amarão em outros.
Um verdadeiro carrossel de emoções!
— Espere! — Me levanto com dificuldade. — Estou com fome, poderia
trazer algo para eu comer? — Jogo o orgulho de lado e peço comida com
humildade.
— Hoje não estou animado a voltar aqui, quem sabe amanhã me animo a
trazer algo? Verei isso amanhã — me diz andando sem se dignar a me olhar.
Baixo a cabeça em derrota total e volto para a cama, pego o pedaço de
pau que ainda vou usar para matar esse miserável, me sento e passo a noite em
claro, olhando cada canto desse inferno para ver se as cobras aparecem.
O sono vem com força, mas não posso dormir e me mantenho acordada.
Lavo meu rosto, ando mancando, pois meu tornozelo arde como fogo e dói
horrores. Choro alto, grito e rezo. Quando o dia amanhece estou a ponto de ficar
louca de fome e sono. Minha cabeça e corpo doendo a um nível insuportável,
agravado pelo pavor das cobras.
Espero ansiosa o desgraçado trazer algo para eu comer, mas ele não
aparece.
As cobras do inferno estão escondidas em algum buraco aqui, e eu
apavorada sem nem imaginar onde. Meu estômago dói tanto que tenho ânsias de
vomito.
Bebo a água amarelada da torneira e vomito tudo logo em seguida. Com
isso meu estômago dói com mais força.
Quando saio para ir para cama, vejo uma maldita cobra parada na porta
do banheiro me olhando com seus olhos minúsculos, pretos e maliciosos,
colocando sua língua fina bifurcada para fora. Estremeço.
Grito igual a uma lunática e a cobra levanta a cabeça. Pego o vidro de
shampoo e jogo na desgraçada. Ela rasteja rapidamente e entra atrás de uma
caixa. Estou suando frio e trêmula. Meu Deus, o que fiz para merecer tudo isso?
O ódio por esse homem corrói meu peito. Eu juro que a primeira oportunidade
que eu tiver vou matar esse desgraçado. Eu nunca odiei ninguém, mas esse
homem conseguiu me fazer odiá-lo de uma forma doentia.
Corro para a cama e subo, fico sentada com a cabeça explodindo de dor,
minha vista ardendo como se tivesse um caminhão de areia e meu estômago
torcendo de dor devido à fome.
As luzes fortes fazem minha cabeça parecer que irá explodir e meu nariz
está entupido de tanto chorar.
As horas passam e vou entrando em pânico cada vez mais. Acho que
estou com febre, e vou morrer de falta de ar. A poeira me faz espirrar sem parar.
Tento manter meus olhos abertos apesar do sono e da claridade imensa. Está
ficando difícil. Mas resisto. Tenho que me precaver, as cobras estão soltas. A
náusea é incontrolável, mas não tenho mais nada para colocar para fora, meu
estômago está vazio. Dói demais. Quero morrer... estou ficando louca!
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Epílogo
Passado

Hoje era para ser um dia como todos os outros. Rotina boa e saudável.
Acordo cedo como sempre e beijo minha esposa que dorme serenamente ao meu
lado. Em seguida vou ao quarto de minha filha de seis anos e a beijo
carinhosamente, apertando seu narizinho com suavidade. Acordo as duas
mulheres que são minha vida, meu mundo.
Após o banho me preparo para sair, mas antes, vejo as duas brincando na
cama. Meu coração aquece de amor por elas.
— Bom dia, meus amores! — Pulo na cama e as abraço com carinho.
Essa família é a maior conquista de toda minha vida.
Sou um importante e conhecido CEO no mundo dos cosméticos. Cuido
com mãos de ferro da herança que meu pai deixou para mim e meu irmão,
Marlon. Até hoje ele não se conformou com o testamento. Meu pai me deixou
como presidente da empresa e ele como vice. Marlon odiou, porque como é um
ano mais velho, pensava que papai o nomearia, exatamente por ser o
primogênito. Uma tradição em nossa família por quase três gerações.
Mas papai quebrou essa corrente justamente por Marlon ser um cara sem
responsabilidade. O cara é casado com uma mulher que o trai com qualquer um.
A filha deles, de dezesseis anos, já me assediou inúmeras vezes, além de ser
dependente química, como a mãe. Eu evito ficar perto das duas devido ao
assédio por parte dessas malucas. São uma família de loucos e desequilibrados.
E, eu, como dizia papai, era o equilibrado e centrado da família.
Minha mãe morreu quando eu nasci e meu pai foi um grande homem, nos
criando sozinho, não quis casar-se novamente. Infelizmente o perdemos para o
câncer. Quando o testamento foi aberto e lido, Marlon surtou, juntamente com
sua família interesseira. Os bens foram todos divididos entre nós dois, em partes
iguais, mas o cargo que ele mais almejava foi dado a mim.
A partir desse momento ele se tornou meu inimigo mortal. E tudo que
pode fazer para me provocar e sujar a minha imagem ele faz com prazer. Tento
ignorar, mas esse maldito já está me dando nos nervos. Estou a um passo de
explodir.
Hoje temos reuniões importantes, espero que ele não chegue bêbado,
vindo provavelmente de mais uma de suas noites de orgias. Às vezes tenho que
barrar sua entrada nas reuniões. O maldito chega babando de tão embriagado,
além de empestar a sala de reuniões com cheiro de perfume barato de puteiro de
quinta categoria.
Logo cedo, eu deixo minha esposa em seu serviço e levo minha filha para
a escolinha. Quando chego em meu escritório, vejo o maldito sentado em minha
cadeira, os pés na mesa e me olhando com deboche.
— Sentado aqui, onde é meu lugar por direito, me sinto o dono do
mundo. — Sorri com maldade.
Entro e coloco minha maleta de couro em uma poltrona e as chaves e
celular na mesa, onde ele tamborila os dedos.
— Marlon, de novo essa conversa? Já estou me cansando disso, cara.
Respeite a vontade de nosso pai e tente agir como homem ao menos uma vez na
vida. Toma postura e vamos trabalhar juntos para o crescimento da empresa —
falo e passo a mão nervosamente no cabelo, já cansado de tudo isso.
— Nunca! Só sossegarei quando reaver meu lugar de direito! Você me
roubou isso! Sabe que esperei isso a vida inteira, caralho! — Se levanta e dá um
murro na mesa.
— Por que não o fez por merecer, porra? Nosso pai avaliou quem teria
mais capacidade, e como pode ver, eu fui o escolhido. É melhor aceitar logo isso.
Agora sai daqui, alguém tem que trabalhar nessa empresa e como sei que sempre
sou eu, peço que se retire e me deixe trabalhar em paz.
Caminho para a mesa e meu irmão levanta da cadeira irado, afastando-se
da minha mesa. Pego o telefone e o ignoro completamente. Me cansei de tudo
isso. Entra ano e sai ano é sempre a mesma merda. O cara só reivindica, reclama
e não faz nada por merecer.
Após alguns segundos sendo ignorado ele novamente caminha para o
meu lado e sinto um arrepio quando vejo o ódio que emana de seu olhar, me
encara com ira, proferindo a sentença que destruiria minha vida de uma maneira
trágica, aterrorizadora e miserável.
— Eu prometo a você, Zakarias Feranttis, que acabarei com essa sua cara
de merda altiva. Esse seu sorriso e olhar de grandeza, que vive dizendo que é
melhor que todos, vai acabar. Vou te destruir em seu ponto mais fraco, seu
desgraçado. Vou acabar com sua vida. Eu juro! Hoje deixamos de ser irmãos e
nos tornamos inimigos, filho de uma cadela, usurpador. E vou deixar bem claro
que tem mais pessoas comigo nessa empreitada em lhe destruir, não estou só,
maldito. Não sou somente eu que te odeio e te quero morto, tem outros que
querem o mesmo! — Marlon fala com tanta ira que sua boca espuma.
Antes que eu consiga reagir às suas palavras ou responder-lhe à altura,
sou atingido no rosto por um murro. A força é tamanha que por um momento
fico tonto e vejo tudo escuro.
— Se prepara, desgraçado, começa hoje meu plano de destruí-lo —
finaliza a sentença mórbida e sai de cabeça erguida. Pela primeira vez em meses
vejo que Marlon não está bêbado. E isso me deixa alerta e angustiado.
Da mesma forma que essa conversa inusitada começou, ela tem fim.
Marlon sai do escritório, deixando-me estupefato e sem ação com a sua ameaça.
Me jogo na cadeira, sentindo-me exausto mentalmente com a presença de meu
irmão na empresa. Sinto o rosto doer e percebo que estou sangrando. Tiro um
lenço do bolso do meu paletó e limpo minha boca que começa a pulsar de dor.
Mal sabia eu que meu calvário e destruição estavam mais próximos do
que eu imaginava.
Uma semana depois...

Meu dia hoje está sendo proveitoso, consigo fechar uma parceria que
estava trabalhando há quase um ano. Hoje, para comemorar, vou levar minhas
meninas para jantar fora. Já combinei com Sara, minha esposa, e Lara, minha
filha. Vamos jantar no restaurante preferido de nossa filha, que possui um
playground que ela adora. Agradar minha família é uma das coisas que mais
gosto de fazer em minha vida. Adoro presenteá-las com flores. A alegria que
demonstram, aquece meu coração e me enche de alegria.
Desde que vi Sara pela primeira vez, sabia que ela seria minha esposa e
mãe de meus filhos, e hoje estamos aqui, casados e pais de uma pequena
adorável de seis anos.
Caminho para a janela de vidro do meu escritório, respiro fundo e feliz.
Minha vida nunca esteve tão bem como agora. Já combinamos, eu e minha
esposa, de tentarmos um novo bebê. Pensar nisso me enche de alegria.
Olho meu Rolex e vejo que já são quase 17h. Como não precisarei pegar
Lara na escola, pois Sara já fez isso, hoje vou direto para casa.
Arrumo minhas coisas, pego minha maleta de couro e me despeço de
Rosa, hoje minha secretária, no passado de meu pai. A considero como uma
mãe. É uma senhora adorável, sempre presente em minha vida.
Ao chegar em casa, ouço os gritos da minha filha, sorrio de orelha a
orelha. Esse som enche o meu peito de amor. Um verdadeiro lar.
Quando estou tirando o sapato minhas meninas me abraçam e caímos, os
três, no chão, em uma confusão de risadas e amor.
— Papai! Vamos, estou pronta! Mamãe também — diz a pequena
ardilosa.
— Vamos sim, amor, deixa só papai tomar um banho, pode ser? —
pergunto e beijo o rosto de ambas. Sara sorri.
— Você tem que tomar um banho de gato, amor, ela só fala nesse jantar.
— Sorrio e me levanto, puxando as duas comigo.
— Prometo a vocês que será rápido. — Corro escada acima e escuto o
som de risadas repercutir pela casa toda. Minha família, penso com orgulho.
Tomo o banho mais rápido da minha vida e visto uma roupa qualquer, o
importante é agradar minha esposa e filha. Desço e as duas se levantam com
rapidez.
— Vamos, meninas? — Faço um gesto galante para as duas.
Lara corre e pula em meu colo, ela adora que a carregue. Com minha
filha no colo, me aproximo da minha esposa e a abraço. Saímos para o tão
esperado jantar.
Já no carro, ajeitamos nossa pequena no banco de trás e Sara liga o som.
A música de Avi Caplan enche o carro. Adoramos esse cantor, sua voz é um
bálsamo. Está tocando uma de minhas músicas favoritas, Full Moon. Sara fecha
os olhos e pego sua mão com carinho, apertando-a suavemente. Ela sorri com
doçura. Nossa matraquinha está compenetrada em brincar com suas bonecas que
estão espalhadas pelo banco traseiro. Sorrio com a felicidade enchendo meu
peito de maneira avassaladora.
Desgraçado! Sempre teve tudo que queria. Até a mulher que eu amava.
Não acredito que Sara teve coragem de se casar com a porra do meu irmão. Tudo
o que me restou a fazer foi casar com a puta da irmã de Sara. Cassandra era uma
piranha de primeira e minha amante de longa data. Inclusive já tínhamos uma
filha, que me negava a assumir. Até fazer o DNA e descobrir que era realmente o
pai.
Nossa querida filha seguiu os passos da mãe com sucesso. Uma puta e
drogada, igualzinha minha “querida” esposa. Família desgraçada essa minha. Já
a do maldito é perfeita, aliás, tudo de melhor e perfeito é sempre para Zakarias.
Caralho de vida miserável! Eu fico somente com restos.
Mas vou acabar com a felicidade desse maldito ou não me chamo Marlon
Feranttis. Somente assim para ficar com a presidência da empresa, que é minha
por direito. Vou destruir sua família feliz e assim acabarei com Zakarias. O
sorriso em meu rosto é maligno quando penso na queda e destruição do meu
irmão. E não estou sozinho nessa empreitada. Minha esposa imprestável e o
traste do contador me ajudarão nessa missão. Claro que com promessas de muito
dinheiro e um cargo melhor. E para a puta interesseira da minha esposa, cartões
de créditos sem limites.
Hoje será o dia mais esperado da minha vida. Começarei a quebrar a
arrogância desse maldito e destruir tudo que ele ama. Quero ver esse homem
destruído, acabado, rastejando igual cobra no asfalto quente. Miserável!
Sei que vai jantar com a família perfeita e já tenho tudo preparado. Agora
é só aguardar e começar a limpeza de usurpadores desse mundo podre.
Fico tão feliz que tenho uma crise de riso tão alta que me sinto louco.
Mas estou louco, sou louco! Continuo gargalhando sem parar.
O miserável de meu pai perdeu seu tempo tirando o que me pertence.
Para reaver meus direitos, vou fazer o que for preciso. Estou pronto e salivando
de prazer em ver a destruição que causarei.
Estaciono o carro, dou a volta para abrir a porta para minha esposa e a
ajudo descer. Ela abre a porta do passageiro e pega nossa filha.
— Vem aqui, filha. — Sara pega nossa menina no colo e me passa a
ardilosa. Comigo por perto a danadinha quase não anda.
— Vem, amor. — Pego a mão de minha esposa e caminhamos por um
caminho estreito de pedras, está bem escuro. Temos que atravessar um jardim
imenso até chegar ao restaurante, e somente a lua ilumina esse espaço, é
belíssimo a claridade natural aqui. Minhas meninas adoram, sempre que
terminamos nosso jantar, paramos aqui e nos sentamos em um banco, e Lara
vibra com a luz suave vinda da lua.
De repente sinto uma pancada forte na cabeça e o grito de minha esposa e
filha. Tudo escurece e não vejo mais nada.
Abro meus olhos e minha cabeça dói demais. Tento me mexer e não
consigo. Estou com os braços e pernas amarrados em uma cadeira. Está tudo
escuro e silencioso. Sinto frio e fome. Então me lembro de minha esposa e filha
e entro em pânico. Começo a gritar e tentar me soltar.
— Socorro! Sara? Lara? — Não tenho resposta, e isso me destrói. —
Socorro! Tem alguém aí? — grito mais uma vez e tento arrastar a cadeira, mas
parece que a porra está presa ao chão.
Não sei quanto tempo fico sozinho e sem repostas. Esse lugar parece não
ter portas e nem janelas, a escuridão aqui é densa e total.
Ouço barulho de passos e a chave entrar e girar na fechadura. Tem uma
porta em algum lugar aqui nesse breu. Abro bem os olhos para tentar ver algo,
mesmo estando escuro. Mas não precisa, o homem acende a luz e fecho meus
olhos rapidamente, até eles se adaptarem à claridade. Quando os abro
novamente, meu mundo para. Petrifico.
— Olha o que nós temos aqui, o todo-poderoso CEO, usurpador de
lugares alheios. — Meu irmão parado à minha frente, zomba. Fecho meus olhos
por um momento, sem acreditar no que vejo. — Onde está toda sua altivez, seu
miserável?
Meu Deus! Marlon perdeu totalmente a razão. Agora vive acreditando
em uma mentira que sua mente distorcida criou e acha que eu usurpei seu posto
na empresa.
— Marlon, você ficou maluco? Me tira daqui, porra! Onde está minha
esposa e filha? — Ele apenas sorri.
Tento me levantar, mas não consigo.
— Elas estão bem, na medida do possível... — diz e faz suspense,
arrancando meu coração aos poucos.
— Traz as duas aqui agora e vamos esquecer isso. Se é o cargo de
presidente na empresa que tanto almeja, é seu. Só quero minha esposa e filha. Eu
te imploro, Marlon, não as machuque. — Ele me olha com um brilho de loucura
e ganância nos olhos. Sorri com maldade.
— Tarde demais, irmão. Eu entreguei sua esposa e filha para nosso
contador e ele está cuidando delas.
Sinto um calafrio percorrer meu corpo e jogo a cabeça para o lado,
vomito somente uma água amarelada, não como há algum tempo. O pavor
esmaga minhas entranhas. Olho com ira, ódio e rancor para o desgraçado do
Marlon.
— DESGRAÇADO! EU VOU TE MATAR. SE ELE MACHUCAR
MINHA ESPOSA E FILHA EU JURO QUE TE CAÇO ATÉ NO INFERNO.
ME SOLTA! — grito até ficar rouco e tento me soltar, mas as cordas estão tão
apertadas que sinto cortar meus pulsos e tornozelos.
— Morto não caça ninguém, Zakarias. — Ri e caminha até onde estou.
Marlon desfere socos sem parar em partes aleatórias de meu corpo.
Quando se cansa, busca água gelada e joga em meu rosto inchado e
sangrando. Apago de dor.
— Acorda, maricas do caralho, você não é homem? Ou é homem
somente para roubar o que não te pertence?
Não respondo, minha boca está toda cortada e a língua inchada. Sinto o
sangue pingando em meu colo, saindo dos cortes e principalmente do meu nariz.
— Marlon... por favor... não machuque minha esposa e minha filha...
faço o que você quiser... — Mais um soco no nariz, dessa vez ouço um estalo.
Quebrou, com certeza, dói tanto que minha vontade é de chorar.
— Vou trazê-las, pode ficar tranquilo. Mas antes quero esculpir esse seu
rostinho que sempre foi tão desejado pelas mulheres. Sempre te escolhiam.
Olhos castanhos, cabelos escuros, alto! Todo másculo, segundo as putas! Eu?
Um loiro do caralho, com cara de boiola. Olhos pretos, e baixinho, combinação
miserável de feia. Queria sua beleza também! Aliás, quero tudo o que você
possui! Esposa, beleza, e o cargo de presidente. E vou ter pelo menos um deles, a
presidência será minha a partir de hoje. Mas quero me garantir e não deixar você
sair vivo dessa, quero preservar e manter meu cargo na presidência, sem
empecilhos — diz com uma calma bizarra.
Ele enfia a mão no bolso e tira um aparelho de choque, estremeço e ele
sorri com perversidade.
— Conhece isso? — Chega perto de meus olhos segurando o aparelho.
— Marlon, por favor, pense no que está fazendo...— Sou ignorado e ele
encosta o aparelho em meu pescoço. Meus músculos se contraem e começam a
tremer.
Ele vibra com minha dor. Parece que sente prazer em me dar descargas
com esse aparelho do demônio. Depois de repetidos choques, e o chão alagado
com minha urina, ele chega perto e agacha à minha frente.
— Não! Não!!!!!!!! O grande poderoso, inalcançável e onipotente CEO,
Zakarias Feranttis, mijando nas calças? — Gargalha tanto que cai sentado no
chão. Para de rir de repente e me dá mais um choque. Estremeço e lágrimas
caem de meu rosto barbeado.
Fecho meus olhos e penso em minha esposa e filha.
Ele se levanta, liga o ar, apaga as luzes e sai sem dizer mais nada.
Passa dia ou noite, não sei mais diferenciar, aqui é sempre escuro. O ar
está gelado e sinto muito frio porque meu corpo está todo molhado. Estou com
dificuldades até para respirar.
De repente ouço o grito de terror de Sara e o choro estridente de minha
filha. Entro em pânico e desespero e tento me mexer, me levantar de todo jeito,
rasgo ainda mais meus braços e tornozelos.
— Por favor, Marlon! Eu te suplico, não as maltrate mais, seu problema é
comigo. Me mata, mas solta minhas meninas. — grito e choro sem controle
algum. Os gritos das duas param e o silêncio volta a reinar.
Estou em completo desespero.
Grito, choro, imploro e nada. As horas passam e quando já estou exausto,
e rouco de tanto gritar, as luzes se acendem. Marlon entra com sua maldita
esposa e o miserável do contador. Eles têm um sorriso de maldade e escárnio nos
rostos.
— Marlon, deixa eu me vingar desse maldito? Ele já me humilhou
demais — diz a vadia que sempre quis trepar comigo, mas a recusei em cada
tentativa. Olho-a com desprezo, mesmo com meu rosto todo arrebentado.
— Claro, amor, vai chegar sua vez — Marlon fala e caminha para onde
estou amarrado.
— Valdir? Por que está metido nisso? Pensei que estivesse satisfeito
trabalhando na empresa — falo e olho o homem que um dia confiei.
— E estava, Zakarias, mas Marlon me fez ver que posso ter um cargo
melhor e um salário maior ainda — diz e sorri com ganância.
— Podia ter me procurado, resolveríamos isso e... — Sou interrompido
com um murro na bochecha. Tombo a cabeça para o lado e a vista escurece.
— Querida, pode ficar à vontade, ele é todo seu por alguns minutos —
fala o desgraçado do Marlon e vejo a vadia sorrir com maldade.
— Quero dar choques nele. Quando você me contou que ele urinou na
calça, quis fazer isso mais que tudo. Quero ver esse desgraçado mijando sangue!
— sussurra a demente, com alegria. Vejo-a pegando o aparelho e analisando-o
com cuidado. Seu sorriso se alarga quando vem em minha direção.
— Espera! — Marlon grita.
— Valdir, jogue água nesse lixo antes de minha adorada esposa começar
a brincar. — Estremeço e fecho os olhos.
Sinto o desgraçado do contador jogar água gelada em mim e a maldita do
caralho vir com sede e me crivar de choques.
No primeiro, trinco os dentes e gemo baixinho. Ela bate palmas e ri com
prazer.
— Mais! Adoro! Marlon, isso é muito bom. — A partir daí vira uma
sessão de terror. Não sei quando a demente termina, acho que desmaiei porque
quando abro os olhos estou sozinho novamente e no escuro.
Ouço gritos de terror de Sara novamente e agora ouço também pancadas
e ela implorando que não a estuprem. Nossa filha também chora alto.
— Mamãe! — Um estalido, um tiro e tudo fica silencioso.
— NÃOOOOOOOOOOOO! MINHA FILHA NÃO!!!! — Entro em
desespero e grito tanto que babo sangue que acaba se misturando com minhas
lágrimas de dor, desespero e impotência.
Minha esposa berra em desespero e sei que está sendo estuprada, pois
ouço os suspiros de prazer do desgraçado que a está violando. Marlon...
Quando tudo se aquieta, ouço outro tiro e sei que acabaram de matá-la.
Não tenho mais forças para gritar, chorar, nada.
Fecho meus olhos e entro em um mundo onde não tenho sentimentos.
Tudo é vazio e sem cor. Perdi minha família, esposa e filha. Meu mundo partiu
em milhões de pedaços. Foi destruído. Sara e Lara se foram.
Fico sentado me sentindo vazio e se tivesse sem essas amarras, me
mataria sem pensar duas vezes.
Baixo a cabeça e sinto as lágrimas caírem, molhando meu corpo tão
machucado. Meu coração está estilhaçado, sem conserto. Quebrado e vazio.
Frio. Agora sou um morto-vivo.
Passam-se horas ou dias, sei lá, continuo de cabeça baixa, sem vontade
de viver, então ouço passos se aproximando.
As luzes se acendem e vejo Marlon entrar com cara de satisfação.
— Sua esposa era gostosa, cara! Porra! Por isso não queria que ninguém
nem olhasse. Gostosa pra caralho. Pena que agora não serve mais para nada.
Está morta junto com sua cria maldita. — Sorri largamente e aperta o pau.
Não tenho forças para falar nada, mas levanto minha cabeça e olho para
esse verme desgraçado com tanta ira que ele dá um passo para trás.
— Me mata agora, miserável desgraçado, porque se eu sair daqui vivo,
juro que te mato junto com sua família de merda — falo baixo e pausadamente,
estou sentindo tanto ódio que parece que meu peito vai estourar. Sinto a baba
escorrer de minha boca junto com lágrimas.
— Calma! Claro que vou te matar, não achou que o deixaria vivo, né,
mano? Mas ainda tenho um servicinho a fazer nesse lindo rostinho — zomba e
pega uma pequena faca, fina e pontuda. — Vamos macular essa perfeição um
pouco. — Pega a faca e passa em meu rosto, cortando-o sem dó. Afasta, olha
para mim e coloca a mão no queixo. — Falta um risco aqui, outro aqui e mais
um aqui.
Ele retalha meu rosto e sinto tanta dor que vomito e urino. Ele destruiu
meu rosto, a dor é imensurável. Mas não chega nem a um ano-luz da dor que me
dilacera o coração por ter perdido minha família. Quando meu colo está banhado
em sangue fresco, o maldito se afasta satisfeito e se congratula.
— Destruí seu rosto esculpindo nele minha obra de arte. Comi sua
mulher e matei sua filha. Eu sou foda! Eu posso, eu faço! — Sorri com loucura e
lambe a faca com meu sangue. — Agora vou deixar o porco sangrar até amanhã.
Quando vier aqui à noite, termino o serviço, claro se ainda estiver vivo. — Não
tenho forças para nada e fico quieto, rezando para a morte chegar rápido.
Ouço o barulho da porta sendo fechada e trancada, tudo escuro
novamente.
Pensei que não tinha mais lágrimas, mas vejo que me enganei e choro
baixinho, meu corpo sacudindo com força e o peito doendo tanto que parece que
tem uma faca enfiada nele. A dor no rosto não é nada perto da dor que sinto em
meu coração.
Perdi a noção do tempo e quando ouço passos nem levanto a cabeça, o
doente voltou para terminar o que começou e sinto uma espécie de alegria ao
saber que vou deixar essa vida. A morte é bem-vinda.
A porta se abre e vejo minha secretária, dona Rosa, entrando com dois
policiais, ela me fita horrorizada. Corre para o meu lado e me olha, chorando
alto.
— Meu filho, o que fizeram com você? Malditos! Onde está Sara e Lara?
— Levanto meus olhos sem vida para ela e fito os policiais.
— Elas foram assassinadas — digo sem emoção na voz.
Dona Rosa desmaia e é amparada por um dos policiais, o outro vem e me
solta. Não consigo ficar de pé, estou todo arrebentado. Quebrado por dentro e
por fora.
— Temos que levá-lo urgente a um hospital, ele está sangrando demais,
pode ter uma hemorragia — fala e me escora em seu corpo, caminhando com
cuidado em direção à saída.
— Me deixem morrer... por favor... — sussurro, quase sem voz.
— Vai ficar tudo bem, cara — O policial me diz com tristeza no olhar.
Dona Rosa acorda e entra em uma nova crise de choro.
— Cuidem dela... me deixem aqui, quero morrer, perdi minhas meninas...
— Entro em crise e choro alto, grito, gemo. Quero morrer.
Os dois me carregam e dona Rosa vem atrás, chorando baixinho sem
parar.
Não sei o que aconteceu quando saí daquele maldito lugar, só me lembro
que quando acordei estava em um hospital, todo entubado e o rosto coberto de
ataduras. Ouvi o médico dizer que eu iria ficar com cicatrizes horríveis, e que
provavelmente teria que passar por cirurgias plásticas para melhorar o aspecto
tenebroso que fiquei.
Lembrei de tudo que o desgraçado do Marlon fez, sua esposa, Cassandra,
e nosso contador, Valdir. Lembrei que mataram minha esposa e filha. Abusaram
de Sara... soluço... mataram minha filha, uma criança inocente... estremeço. Meu
espírito balança e exige, clama, e brada por vingança. Como pegar esses
desgraçados que acabaram com minha vida? Tenho que arrumar um jeito, quero
todos que participaram desses atos monstruosos mortos. Mas antes quero que
sofram muito e serei eu a torturar cada um deles, eu juro pela vida de minhas
meninas assassinadas.
Continuo de olhos fechados e pensando no que posso fazer para não
afugentar esses ratos demoníacos que mataram minha esposa e filha. Sinto uma
camada de gelo envolver meu coração e todo sentimento bom que um dia senti
ser coberto pelo frio absoluto. Esboço um sorriso de ódio e ira, os pontos doem,
mas sorrio mais ainda, a dor é bem-vinda. Reforço meu juramento de acabar
com cada um deles.
Eu, Zakarias Feranttis, vou matar todos que, de alguma maneira,
estiveram envolvidos nesses assassinatos. Todos pagarão caro, com suas vidas,
por terem tirado minha família, minhas vidas, meus amores. Meu mundo.
Eu juro que vou vingar a morte das duas e quando fizer isso, vou me
refugiar e nunca mais quero lidar com a raça chamada humana. Os que ousarem
chegar perto de onde me recolherei, morrerão. Todos. E juro que não terei
escrúpulos e nem sequer um grama de peso na consciência. Já não tenho mais
sentimentos bons dentro de mim. Meu coração é um poço negro de ódio,
envolvido por camadas espessas de gelo. Jamais, eu disse, jamais, alguém
penetrará meu coração novamente, mato todos que tentarem.
As enfermeiras do plantão sempre vêm me medicar, mas eu continuo
mantendo os olhos fechados, pois não quero interagir com ninguém.
Já sei o que fazer para não afugentar os ratos. Depois de pensar por quase
um dia me ocorreu uma excelente ideia. Começarei a colocar em prática em
breve. Quero pegar, um por um, todos que tiraram minha família e a alegria de
viver.
Abro meus olhos finalmente, e uma enfermeira sorri, sai e volta logo em
seguida com um médico.
— Nosso paciente forte e guerreiro acordou. — Sorri e se aproxima da
cama com uma prancheta nas mãos.
Me examina, anota umas coisas, olha os pontos em meu rosto, agora não
tão perfeito, assim como o rato disse.
— Ótimo, está tendo uma boa cicatrização. Como te disse, foi muito
ferido e terá que fazer uma plástica para melhorar e...
— Não! — o corto sem emoção alguma.
Eles me olham assustados, mas não dizem nada.
— Ok, depois falaremos sobre isso — diz, o simpático médico.
Eles conversam mais um pouco entre si e logo em seguida saem.
Durmo depois de ter em mente o que fazer.
***
Dias depois, quando estou melhor, finalmente os médicos liberam a
entrada dos policiais. Eles querem saber se sei de algo que possa ajudá-los nas
investigações, de modo a localizar os possíveis assassinos da minha família.
Logo em seguida Rosa entra rapidamente e fica ao meu lado, na beirada
da cama, de forma protetora. Estou destruído, não pude dar meu último adeus
para as minhas meninas e isso acabou com o restinho de humanidade que ainda
restava em meu peito. Meu coração enegrecido ainda sangra, a dor é excruciante
e esmagadora. Dói tanto que sinto falta de ar.
— Sr. Raul, você poderia nos contar o que aconteceu? Chegou a ver os
torturadores? Dona Rosa já prestou depoimento, mas infelizmente ela não tem
detalhes relevantes, o que tem é pouco esclarecedor — um dos policiais, alto e
negro me pergunta e olha para Rosa que está ao meu lado segurando minha mão
com carinho. Ela me olha preocupada.
— Filho, que alegria em saber que acordou. — Sorri com os olhos cheios
de lágrimas. Eu? Não sinto nada.
Aperto sua mão e olho dentro de seus olhos. Sinto seu amor e proteção
me dando mais alento e força.
— Não me lembro de nada. — Rosa me olha muito pálida, aperto
levemente sua mão, ela relaxa e dá um sorriso triste. Ela sabe que não estou bem,
que estou morto por dentro. Ela me conhece.
O policial mais velho se aproxima.
— É normal depois de um trauma tão grande. — Olha para seu parceiro
com cara de pena e acena.
Eles começam a conversar entre si.
— É melhor continuarmos as investigações enquanto ele se refaz do
trauma, aos poucos vai se lembrar do que houve e aí poderemos interrogá-lo e
prender os criminosos — um deles fala e o outro concorda.
— Você tem razão. Ele passou por uma situação de grandes perdas e
terror. — Olham-me penalizados. — Sr. Zakarias, nós prometemos capturar e
prender os sequestradores e assassinos de sua família. — Fecho meus olhos com
força e trinco os dentes.
— É o que mais almejo, ainda que não me lembre de nada. Sei que farão
o melhor. — Fito o teto sem sentimento e emoção alguma.
Eles se despedem e vão embora. Quando a porta se fecha, Rosa me olha
com seriedade.
— Filho, agradeço a Deus por ter descido mais cedo no dia que descobri
que sequestraram você. Estava escuro, pois já passava das 18h, desci para o
estacionamento e quando vi dois homens desconhecidos conversando, me
assustei. Me escondi atrás de uma pilastra quando ouvi citarem seu nome. Fiquei
atenta, com o coração disparado. Quando os ouvi dizerem, se gabando como foi
fácil pegar você e sua família, senti meu mundo virar de cabeça para baixo.
Entrei em pânico. Continuei quieta, precisava saber onde você estava.
Continuaram a conversa. Estavam ali para pegar uma pessoa a mando do chefe.
Não citaram nomes de ninguém em momento algum.
O telefone de um deles tocou, e ele se referiu ao homem do outro lado da
linha como chefe. O seu sequestrador deu o endereço, que o infeliz repetiu em
voz alta para o outro anotar, e com isso memorizei o nome do lugar em que você
estava cativo. Esperei até se despedirem e saírem. Não quis nem pegar meu
carro, saí de lá rápido, chamei um Uber e fui direto para a delegacia. Contei tudo
a eles e foi assim que chegamos ao seu cativeiro, filho — diz com lágrimas
descendo pelo seu rosto avermelhado. — Eu sinto muito por não ter chegado a
tempo de salvar sua família, Zakarias — finaliza, soluçando e vejo que nem
imagina que foi o desgraçado de meu irmão que destruiu minha vida.
Fecho meus olhos e choro, mas agora de puro e genuíno ódio dos
desgraçados que tiraram minha família.
— Rosa, tenho você como mãe e amiga antes de ser minha secretária,
sabe disso, não é? Eu sei que posso confiar em você. Sim, eu me lembro de tudo,
e sim, vou pegar um por um dos que mataram minha esposa e filha, destruindo
assim minha vida. Quero torturá-los muito, devagar e com prazer, para depois
matá-los bem devagar. Após minha vingança, vou vender tudo o que tenho e
sumir. Ninguém nunca mais irá ouvir falar de Zakarias Feranttis. Quero morar
em um lugar deserto, inabitável, perdido em algum lugar da terra. E quem ousar
se aproximar de minhas terras eu matarei com prazer e enterrarei em um
cemitério que construirei com alegria. Será o meu cemitério particular para
qualquer invasor. O CEO, Zakarias Feranttis, morreu junto com sua família. E
nasceu uma fera maldita e sem coração no lugar. Juro por minha vida que farei
tudo que te disse. O novo Zakarias será um demônio para quem cruzar seu
caminho. — Termino meu discurso de revolta e dor, sorrindo com ira, ódio e
rancor. Alguns pontos em meu rosto se abrem e o sangue desce, manchando os
lençóis brancos. Foda-se.
Rosa me olha pálida e seus olhos se enchem de lágrimas.
— Filho... — Me abraça com força.
— A única coisa que te peço é que não comente isso que te contei com
ninguém, por favor. Posso confiar em você ou vai me apunhalar pelas costas
também? — Rosa me olha corada e ultrajada.
— Menino, você me respeita! Já não te provei minha fidelidade e amor
indo te resgatar? — Ela olha em meus olhos com sinceridade, está vermelha e
muito indignada.
— Sim, e te agradeço muito por isso. Mas passarei por cima de qualquer
um que ousar barrar meus planos. Preste atenção! Eu disse qualquer um,
inclusive você, Rosa — saliento o mais alto e claro possível.
— Não concordo com seu método de justiça, filho, mas quem sou eu
para condená-lo? Você perdeu suas joias mais preciosas e te entendo, apoio e
ajudo, no que precisar. Conte com minha discrição e meu amor de mãe. — Sorri
com amor e dor, e me beija com suavidade.
— Obrigado, Rosa — agradeço.
— Agora vamos chamar um médico para arrumar esses pontos
novamente, seu rosto está sangrando outra vez, Zak. — Sai rapidamente em
busca do médico para costurar novamente meu rosto de monstro, ou fera. Sangra
muito onde os pontos esticaram e soltaram. E dói pra caralho.
— Mas meu coração sangra e dói mais, muito mais... — sussurro.
Rosa espalhou a notícia de que não me lembro de nada e os ratos saíram
dos buracos e ousaram entrar na toca do leão.
O mais imundo de todos os ratos, Marlon, chorou muito e me abraçou
dizendo que sentia muito por tudo. A miserável de sua esposa chorou também.
Entretanto eu me lembro de cada tortura que me impingiram, os gritos de
desespero de minha esposa e filha.
Eu sangro e choro por dentro, mas por fora, trato todos com gentileza
como se não me lembrasse de nada.
— Pode ficar tranquilo, irmão, estou cuidando com carinho e zelo de
nossa empresa — assegura, sorrindo feito um idiota, o verme desgraçado. Minha
vontade é de matar esse ser desprezível aqui e agora. Mas para fazê-lo sofrer a
quantidade que quero, tenho que ter paciência.
Esboço um sorriso e falo com calma:
— Confio em você, Marlon. Obrigado, cara. Não me lembro de nada e os
médicos disseram que pode ser uma parte de minha vida que será esquecida para
sempre, devido ao trauma. Ainda bem que tenho você, meu irmão. — Quando
digo isso meu estomago revolve. Seguro com força os lençóis e travo o maxilar
de ódio.
— Aconteceu algo irmão? — o desgraçado pergunta.
— Não, somente dores que sinto devido as agressões que recebi —
murmuro com ódio corroendo minha alma.
— Desgraçados, vamos pegá-los! — alardeia o ser mais asqueroso que
teve o desprazer de cruzar meu caminho. O que me segura é o prazer que terei
em matar esse verme com requintes de crueldades.
— Sim, espero que a polícia os pegue, porque eu sinto que não me
lembrarei de nada. — Quero deixá-lo tranquilo.
— É melhor mesmo que não se lembre, não quero que sofra mais, irmão.
Sua dor é minha. — Puta merda, como podem existir pessoas assim? Esse
homem não é gente, isso é um demônio.
— Obrigado, Marlon. Agora se você não se incomodar, quero dormir,
estou muito cansado e com dores fortes — digo para me ver livre do ser mais
asqueroso que já vi e convivi em meus quarenta anos.
— Claro, irmão. — Se levanta e me abraça. Meu corpo estremece e
arrepia de tanto asco desse demônio.
Ele sai e minha vontade é de ir atrás e matá-lo ali mesmo, mas me
contenho e fecho meus olhos com força, viro o rosto e vomito ali mesmo.

***
Os dias passam e meu ódio só cresce e obscurece ainda mais minha alma
negra. Em meu peito a ira ramifica e se espalha como erva daninha cercando o
negrume que já me consome por inteiro.
Já posso andar com mais facilidade e os pontos já estão cicatrizando.
Me levanto e vou ao banheiro, e quando olho no espelho, vejo um
monstro me olhando de volta. Meu rosto está cheio de cicatrizes grotescas, a
maioria dos pontos já foram tirados, restando somente alguns onde os cortes
foram mais profundos.
Os olhos castanhos me olham mortos e sem vida. O que me anima a
continuar vivendo é a sede de vingança que me consome por dentro. Por isso não
acabo com minha vida de merda.
Em breve poderei sair daqui e dar continuidade aos meus planos. Só terei
alguma paz quando souber que eliminei da terra o desgraçado do Marlon, sua
esposa e Valdir. A filha do Marlon, essa se destruirá por si mesma. As drogas a
matarão, com certeza.
Rosa vem todos os dias, quando encerra o expediente na empresa, e
sempre me traz alguma comida que ela mesma faz. E novidades.
Essa semana os médicos me darão alta e estarei livre para acabar com a
vida dos que acabaram com a minha.
Rosa oferece sua casa para me hospedar e aceito. Eu não quero voltar
para a cobertura e reviver todos os momentos que vivi com minha pequena
família. Isso me destruiria e com certeza, ali, cometeria suicídio antes de matar
todos que participaram dessa atrocidade comigo, minha esposa e filha.
***
Chega o tão esperado dia de minha alta, mas antes passo por uma bateria
de exames. Os médicos, mais uma vez, me sugerem uma plástica e novamente
recuso. Isso me dá mais sede de sangue.
Nos orientam como devemos proceder, no caso do cuidado com as
cicatrizes do rosto, e passam os medicamentos necessários. Enquanto Rosa
escuta atenta, eu penso no prazer de matar os desgraçados que me feriram, além
de mil e uma maneira de torturá-los.
Nos despedimos e saio com Rosa, que sempre foi meu apoio, mas agora
está sendo mais do que isso, está sendo uma mãe. Não sei o que seria de mim
sem ela e seu carinho.
Ela chama um Uber e vamos para sua modesta, mas limpa e acolhedora
casa.
— Vem, filho, você é muito bem-vindo aqui — diz e abre a porta, depois
de passarmos por um pequeno e bem cuidado jardim.
Aqui é tudo aconchegante e muito colorido. Meu corpo cansado dói em
vários lugares. Ela percebe e corre para buscar um copo com água e meu
remédio para dor. Sento-me e encosto minha cabeça no espaldar da cadeira,
fechando meus olhos. Me lembro, a cada segundo, de minha família e soluço
baixinho. Quando abro meus olhos, vejo Rosa me olhando com tristeza. Ela me
estende o copo com água e o remédio.
— Vai passar essa dor que sangra seu coração, Zak. Com o tempo
ameniza. Você nunca as esquecerá, mas a dor amenizará. Sei o que digo, já perdi
meu marido e filho em um acidente. Na época me destruiu e sinto o vazio da
ausência deles até hoje, mas aprendemos a conviver com a dor. — Passa a mão
em meus cabelos com suavidade. Tomo o remédio.
— Dói tanto, Rosa. — Ela me abraça e aconchego a cabeça em seu peito,
soluçando de dor.
— Vai passar, meu filho, acredite em mim. — Acaricia meus cabelos por
muito tempo e me sinto anestesiado.
— Vem, vamos para o quarto que arrumei para você. — Me puxa pela
mão com carinho.
— Estou importante. — Tento fazer piada, mas sinto uma lágrima
deslizar por meu rosto.
— Você é muito importante, meu filho — diz, com carinho.

Passamos por um pequeno corredor e ela abre uma porta branca. Vejo um
quarto simples com cheiro de lavanda e lençóis claros e limpos em cima de uma
cama de solteiro.
— Espero que a cama comporte seu tamanho, menino gigante. — Sorri e
me empurra para dentro. Com certeza meus pés ficarão para fora, mas omito
isso. Ela já está sendo uma mãe e amiga para mim, mais do que mereço.
— Vou ficar bem, Rosa. — Me viro para ela e seguro suas mãos. —
Obrigado por tudo que já fez e está fazendo por mim. — Ela me olha com
seriedade.
— Conte sempre comigo, filho. Agora vai tomar um banho que vou
preparar uma sopa com um caldo bem grosso para você. Quero que se recupere
logo para assumir seu cargo na empresa. Marlon está impossível como
presidente, e fazendo negócios horríveis que, se continuarem, em breve ele
conseguira a façanha de quebrar uma empresa multinacional — me diz com cara
de desgosto. Tento um sorriso que não sai.
— Em breve estarei de volta e arrumarei a bagunça que Marlon fez na
minha vida e na empresa. Eu juro!
Meses depois...

Depois de vários meses em tratamento e terapias, finalmente me sinto


pronto para reassumir minha posição de presidente. Contei cada dia com
ansiedade para voltar e matar todos os desgraçados que assassinaram minha
mulher e filha. Mataram todos os meus sentimentos no processo, esses seres
abomináveis.
Mas não pensem que enquanto eu estava em tratamento eu fiquei parado.
Não mesmo. Preparei tudo, cada mínimo detalhe, agora só falta executar e não
vou demorar muito. Estou em meu limite. Se não matar logo esses desgraçados
vou enlouquecer.
Já comprei o lugar onde passarei o resto de minha vida. Uma casa
enfiada em um lugar no meio de uma mata tão densa, que só de olhar mete
medo. Especifiquei exatamente como queria e contratei as pessoas certas para
executar o serviço.
Quando me ligaram dizendo que tinham uma casa no lugar exato onde
especifiquei, não acreditei. Era quase impossível. Fomos ver e fiquei extasiado,
o lugar era perfeito, exatamente como pensei.
A casa fica no meio de uma densa floresta escura e é coberta por heras. O
interior do imóvel é confortável, limpo e arejado. Os móveis são todos coloniais
e antigos. Os janelões são imensos e entram frestas de luz pelos vidros cobertos
de heras. Um ambiente escuro e sombrio, como eu e meu espírito. A casa era de
um casal de idosos que morreram há pouco tempo e o filho não quis ficar com a
casa sombria. Segundo os corretores, ele quis vendê-la o mais rápido possível.
Ando pelos corredores escuros e me sinto em casa. Olho a escada de
madeira gasta e subo para ver os quartos. Cinco, no total, e todos com camas de
casal de madeira antiga, juntamente com guarda-roupa igualmente antigos.
Tudo aqui é de uma época muito antes de eu nascer e olha que já tenho
quarenta anos. Pensei que estava voltando no tempo.
Das janelas cobertas de heras, a luz tenta entrar de todo jeito, mas é
impedida pela profusão de folhas das trepadeiras. Perfeito. Pelas frestas dá para
ver uma floresta escura e aterrorizante. Não poderia ser melhor.
Descemos e vamos para a cozinha antiga, com panelas de cobres
penduradas em prateleiras e suportes acima de nossa cabeça.
Tem um fogão a lenha, que mostra o quanto foi usado, e ao lado,
cristaleiras com pratos e copos esmaltados. Acho que foi D. Pedro I que usou
essa linha de copos esmaltados.
Os corretores parecem estar assombrados com a casa escura e saem o
mais rápido que podem de lá. Me arrastam para fora e me mostram o exterior
que é ainda pior que o interior.
As folhas secas contornam a casa e tem um banco preto com dois lugares
debaixo de uma árvore centenária. Ela tem raízes aéreas e um tronco tão grosso
que cinco homens não conseguem abraçá-la.
Seus galhos retorcidos chicoteiam de um lado para o outro, caindo ainda
mais folhas secas e fazendo um som aterrorizante. Este lugar parece um filme de
terror, penso satisfeito. Meu novo lar. É assim que estou por dentro, assustador e
em trevas.
— É minha a casa! — informo que a comprarei e eles me olham
assustados e satisfeitos ao mesmo tempo.
— Tem certeza? Desculpe, senhor Zakarias, mas esta casa parece
assombrada — um deles diz pálido, e o outro o cutuca, disfarçadamente.
— Tenho. Me disseram que tem um paiol aqui e gostaria de vê-lo. —
Eles olham um para o outro.
— Acho que você não vai querer ver, é pior que esta casa, mil vezes — o
mais medroso fala e o ganancioso o olha com raiva.
— Quero sim, onde é? — pergunto, já sabendo o que farei nesse lugar.
Meu coração clama por vingança.
Eles se olham assustados e embrenham por uma trilha estreita e cheia de
musgos. Está coberta de folhas podres e o cheiro forte das folhas molhadas,
misturadas com musgos enche nosso nariz. Olho a copa das árvores fechadas
onde o sol quase não penetra. Ouço barulhos, sei que são de bichos selvagens,
mas não consigo identificar quais espécies. Eles caminham na frente e sinto os
galhos baterem em nossos corpos e rostos.
Andamos uns dez minutos e chegamos em uma clareira onde tem uma
imensa construção de madeira com duas portas gigantes, telhado antigo e verde
de lodo. O paiol se parece com uma casa de filme de terror de tão decadente.
Caminhamos e paramos em frente. Um deles abre uma das imensas portas que
está fechada por uma trava gigante de madeira.
Olho em volta e só vejo árvores e cipós retorcidos. Até eu me arrepio.
Que porra de lugar sinistro é esse?
Eles ficam parados na porta e não entram, covardes!
Entro e está tudo escuro como breu, volto e abro a outra porta, um pouco
de luminosidade invade o local. O lugar fede a decadência. Várias cadeiras
quebradas, outras inteiras podem ser vistas. Há também uma cama de casal que
está coberta de bolor e pó, além de cordas e arreios. Parece que nosso casal de
velhinhos tinha cavalos. Os restos são somente entulhos.
— O casal que morava aqui tinha cavalos? — pergunto, curioso.
— Que eu saiba não — responde o covarde, verde de medo.
— Interessante — murmuro, pensativo, acho que os vovozinhos eram um
tanto quanto exóticos.
Saio do paiol porque o ar é cheio de poeira e mofo.
— Perfeito! — murmuro para mim mesmo. Esse lugar é tudo que
preciso.
Até o ganancioso fica verde quando digo o quão perfeito é o lugar.
— Vamos acertar os detalhes da compra — digo, caminhando de volta à
casa deixando os corretores para trás.
Fechamos o negócio e eu sou o mais novo proprietário da casa do terror.
A fera que habitará esse lugar macabro, vingará a morte de sua família.
Finalmente terei paz.
Voltamos por uma estradinha diferente da que chegamos. Gostei do nome
que dei a esse mausoléu. Terror para todos que cruzarem meu caminho e os que
me transformaram nesse monstro que sou hoje. Sorrio e sinto as cicatrizes
repuxarem.
— Esse não é o mesmo caminho que viemos. — Olho ao redor, é uma
trilha que quase não comporta o carro.
— Tem duas estradinhas que levam a casa. Passamos na primeira e agora
nessa, para você conhecer e saber que tem alternativa — o ganancioso fala, sem
olhar para os lados. O carro passa rasgando os galhos que insistem em fechar a
bendita estradinha, ou melhor, trilha. Chegar aqui é quase impossível. O carro
dos coitados dos corretores está todo arranhado, os galhos não têm misericórdia,
e cada chapada no carro é um gemido agoniado dos corretores.
Aqui tem que ser um carro potente com tração nas quatro rodas, meu
Jeep Wrangler dará conta do recado. Adoro fazer trilhas e tenho outros dois
carros que são tão bons quanto meu Jeep. Suzuki Vitara e o Troller. Minha
esposa ficava preocupada quando eu saia para fazer trilhas com meus amigos.
Sempre voltava com algumas partes roxas em meu corpo.
Principalmente quando fazia trilhas de motos, penso, amargamente.
Perdi o gosto por isso e agora vivo para minha vingança.
Chegamos à estrada principal, que é de terra, e rodamos mais de meia
hora até chegarmos no asfalto. E para chegar onde moro são mais de 4 horas de
pau arriado.
Esse lugar é realmente onde judas perdeu as botas. Porra, quando eu me
mudar para cá estarei morto para o mundo. Aqui é um ponto perdido no
universo.
Vou mandar cobrir toda a extensão de terra que me pertence de avisos
sobre ser uma propriedade particular, e que é absolutamente proibida a entrada
de estranhos, e alertar que quem cruzar essa limitação morrerá, não importa
quem seja.
Chego em casa, tomo um banho e me deito. Amanhã retomarei meu
posto na empresa. Não consigo dormir e espero o dia amanhecer com ansiedade.
Me levanto cedo e após o banho, vejo Rosa terminando de preparar nosso
café da manhã. Comemos juntos.
— Rosa, consegui comprar a casa que disse a você que queria, e em
breve nos mudaremos. — Rosa já está a par da situação e dos meus planos.
Esses meses foram de confidências e entrosamento entre a gente. Ela sempre foi
gentil, mas agora se tornou uma aliada, uma mãe e amiga.
— Tem certeza, filho? — pergunta, receosa.
— Certeza absoluta, como nunca tive de nada na vida, Rosa — respondo,
com convicção.
Ela balança a cabeça e sorri sem mostrar os dentes.
— Tudo bem. Quando nos mudamos, filho? — Termino meu café.
— Assim que contratar uma firma de extrema confiança e sigilo para
fazer a limpeza da casa — digo e pego meu celular, procurando contatos que
poderão me assegurar um serviço de confiança. Encontro quem procuro e
agendo os dias que eles poderão providenciar a limpeza. Mando que limpem o
paiol também, deixando somente as cadeiras que não estão quebradas e mando
deixarem a cama também. Tenho planos para esse lugar sinistro.
Sorrio e pego a mão de Rosa, que me olha atenta enquanto falo ao
telefone.
— Pronto, Rosa. Tudo agendado para a limpeza do local. Eles farão o
serviço esta semana, semana que vem podemos nos mudar. — Sorrio de
satisfação.
— Ok, vou embalar nossas coisas e... — Pego sua mão e beijo.
— Não precisa se preocupar, Rosa, arrumarei uma transportadora.
— Não estou acostumada a ser rica, filho — diz e sorri.
— Pois acostume-se, adotou um filho rico. — Faço piada. Com ela ainda
consigo ficar mais leve.
Vamos para a empresa conversando sobre nossa mudança.
Chego ao nosso prédio e parece que tem anos que não venho aqui. Me
desapeguei e tenho vontade de virar as costas e correr desse lugar. Saber que o
assassino de minha família está aqui me faz mal.
Entro no elevador e quando chego em minha sala, Rosa entra logo atrás.
Ela trabalha na mesma sala que eu.
Vejo Marlon ao telefone com o pé sobre a mesa e um copo de uísque nas
mãos.
— Bom dia, Marlon. — Ele se assusta e derrama o líquido âmbar em seu
terno.
— Porra, Zakarias, que susto! Cacete! O que está fazendo aqui? Não me
disse que iria voltar a trabalhar tão cedo... — Olho com desgosto para esse
verme.
— Tão cedo? Já tem meses que estou afastado, Marlon. — Exercito a
minha paciência, minha vontade é de arrancar seu maldito coração.
— Mas os médicos liberaram? Por que ninguém me falou nada? Rosa?
— Tenta intimidar minha secretária.
— Eu pedi a ela para não falar nada a ninguém até os médicos me
liberarem — corto-o, já perdendo a paciência. Ele me olha com ódio e sinto
minhas entranhas tremerem e espalharem veneno por todo meu coração. Quero o
sangue dessa desgraça em minhas mãos.
Caminho até ele que está sentado em minha cadeira.
— Com licença, vice-presidente, seu presidente chegou. — Ele fica
pálido e vejo seu corpo tremer de ira. Se levanta com relutância e se afasta de
minha cadeira.
Me sento e começo meu dia.
— Rosa, me coloque a par de tudo que aconteceu enquanto estive
ausente — digo, como afronta mesmo, porque minha amiga já me deixa
informado de tudo. Sei de todas as trapalhadas desse verme, que está quase
afundando nossa empresa.
Ele continua olhando com os olhos escurecidos de raiva.
— Marlon? Você precisa de alguma coisa? — pergunto, para deixá-lo
ainda mais irado.
— Não... Já vou para minha sala. — Sai rapidamente e bate a porta com
uma força descomunal.
Baixo a cabeça e a coloco entre as mãos. A força que tenho que fazer
para não matar esse homem é impressionante, me desgasta demais.
— Calma, meu filho. Estamos perto do fim — Rosa diz, com sabedoria.
Levanto meus olhos em gratidão e assim passamos o dia, e todos os
outros vindouros. Arrumando as trapalhadas de Marlon e conseguindo reaver
algumas parcerias que ele havia perdido.
A casa do terror está limpa e o paiol também. A transportadora levou
nossa mudança, além dos carros. Fiquei somente com meu Jeep.
Estou negociando a venda de nossa empresa para uma empresa
multinacional, e as negociações já estão praticamente fechadas. Só pedi o prazo
de três meses para entregá-la. Essa empresa meu pai deixou para mim, na
partilha da herança. Marlon ficou com outros imóveis. Mas ele queria a empresa,
papai sabendo disso me pediu para deixá-lo na vice-presidência. Por isso está
aqui. Se não fosse isso, já teria metido o pé na bunda desse desgraçado há muito
tempo. Talvez assim minha família ainda estivesse viva.
Com tudo organizado, faltava o último detalhe para fechar meu primeiro
ciclo de vingança.
— Rosa, está tudo pronto para a festa de comemoração no final de
semana? — Ela assente.
— Ótimo. Quero Marlon e sua esposa na festa, e Valdir também.
Descobri que ele é separado e sua esposa mora no exterior. Então, só ele me
basta. E a filha do bastardo do Marlon, com a puta de Cassandra, é uma drogada,
com certeza morrerá em menos de um ano. Investiguei e descobri que está
envolvida com pessoas da pesada. Então está fora de meu radar, ela mesma se
destruirá e me poupará de gastar um tempo precioso com ela. Rosa, busque um
café para mim, por favor? — peço, porque agora vou conversar com gente da
pesada e não quero que ela escute e se preocupe.
Quando ela sai, pego o telefone e ligo para um número que consegui com
muito sacrifício.
— Botilho Castro. — Que nome dos infernos é esse? — penso, com
desgosto.
— Zakarias Feranttis. Preciso de cinco, eles ficarão comigo uma semana,
se precisar de mais te comunico.
— Ok, me passe o endereço, hora e dia, e eles estarão a postos — diz,
com voz fria como gelo.
Passo o endereço, hora e dia, e faço a transferência do dinheiro, uma
fortuna, mas valerá a pena. Rosa chega com meu café e o tomo com prazer.
O dia da festa chega e estou muito nervoso. Espero que tudo saia
conforme planejado.
Já nos mudamos e Rosa adorou a casa, pensei que ia ficar horrorizada,
mas confesso que depois da limpeza ficou bem melhor. Mesmo com as heras
tirando quase toda a luminosidade do interior da casa.
O paiol ficou um pouco menos decadente, mas continuava fedendo a
mofo e poeira. Não quis que limpassem muito.
A festa rola solta e vejo Marlon e Cassandra beberem muito, já Valdir
está dando em cima de uma jovem que está servindo as bebidas.
Isso me ira de uma maneira absurda. Esse foi o homem que ajudou a
matar minha esposa e filha, um assassino miserável e traidor.
Vejo os homens que contratei circulando pela festa e percebo quando um
deles coloca algo nas bebidas do trio que vou matar. Eles continuam a beber,
inocentemente, e percebo quando os homens os puxam para um canto, e seguram
Marlon e Cassandra, já caindo. Os outros pegam um Valdir já desmaiado.
Eles são levados para fora e meu coração bate de satisfação quando vejo
dois carros saindo com os desgraçados dentro.
Fico mais um pouco nessa maldita festa, depois vou embora. A
velocidade que dirijo chega a me assustar. Chegar na casa do terror de
madrugada é foda. Você não enxerga um palmo diante do nariz. Mas consigo e
vou rapidamente para o paiol.
Quando entro, os três estão amarrados, ainda desacordados, e os cinco
homens a postos.
— Patrão — um deles me diz.
— Boa noite. — Não disse meu nome a nenhum deles, sigilo total, sem
nomes e informações. Observo todos os cinco, e são fortes e encorpados.
— Boa noite — todos respondem.
O líder deles, suponho que seja, me pergunta:
— Quais as ordens? Estamos prontos para tudo — diz, com expressão
maligna e assustadora, esse homem parece que não tem alma. É loiro, alto e tem
os olhos mais negros que a noite, totalmente sem vida.
— Por enquanto deixem como estão, amanhã cedo venho aqui e
começaremos.
Ele assente e se vira, sentando na cama empoeirada. Mandei trazer uns
colchões para eles dormirem e um refrigerador, com água e comida para uns
cinco dias, no máximo. Esse tempo dará para terminar minha missão. Assim
creio.
Volto para casa, tomo banho e me deito. Não durmo, a insônia é minha
parceira desde a morte de minha esposa e filha.
Quando o dia clareia, desço e tomo um copo de suco, pego uma banana
da fruteira e vou rapidamente para o paiol. Hoje começa minha vingança em
memória e honra da minha família perdida de forma cruel.
Chego ao paiol e quando entro todos olham para mim, inclusive os
assassinos de merda.
— Zakarias! Graças a Deus você chegou! Esses loucos nos sequestraram
e estamos aterrorizados — Marlon grita e chora ao me ver. Cassandra também
grita e me pede socorro, e Valdir só choraminga. Meu corpo treme de puro ódio.
Caminho devagar e levanto a mão fechada em punho, dando um murro
tão forte na cara do desgraçado que ele tomba desmaiado. Cassandra grita mais
ainda.
— Dá um jeito na porra dessa mulher, faça ela calar essa maldita boca.
Um deles caminha até a puta da Cassandra e dá um murro em sua cara
tão forte, que até eu me assusto. Mesmo com tudo que a desgraçada me fez,
ainda penso nela com certa consideração, por ser uma mulher. Caralho!
Caminho até Valdir que me olha aterrorizado.
— Por que Valdir? Vocês mataram minha esposa e filha — digo baixo e
com o meu interior corroendo de ódio. Ele choraminga e tenta falar:
— Eu... sinto tanto, Zakarias. Marlon me disse que seria somente um
susto. Tanto é que no dia do... es-estupro e assassinato das duas... ele me
dispensou... — murmura como o grande covarde que é. Viro as costas para ele e
peço a um deles para trazer água gelada, meu alvo no momento é o desgraçado
do Marlon.
Um balde de água fria é jogada em Marlon para despertá-lo. Quando ele
é encharcado de água gelada acorda gritando e me olha, chorando.
— Você sabia de tudo desde o início... porra, seu desgraçado! — Tenta se
levantar, mas o faço se sentar usando o mesmo aparelho que usou para me dar
choques. Ele grita e estremece. Brinco com ele até desmaiar, e parto para a vaca.
— Joguem água na vaca gorda. — Quando a ensopam, a acordo com um
choque. Ela grita e chora alto, pede misericórdia. Mas eles tiveram de minha
família? De mim? Dou choques na vagabunda até deixá-la babando, a essa
altura, Valdir, como o grande covarde que é, chora aos gritos.
— Zakarias, eu suplico, tem misericórdia, me perdoe... não! — grita,
quando eles jogam água nele, e chego com minha máquina de fazê-los gritar
igual aos cachorros que são.
Quando ele começa a babar, paro e me sento. Sorrio com prazer.
Depois de um tempo eles acordam e começam as lamúrias. Covardes!
— Quem aí gosta de homens? — Dois dos contratados levantam as mãos
gigantes, os mais parrudos. Sorrio sinistramente e vejo Marlon e Valdir urinarem
na calça, sem controle algum. Eles começam a berrar com desespero.
— Podem ficar à vontade com esses dois, mas não toquem na mulher.
Ela não tem culpa de ter um marido estuprador, ainda que seja uma puta e
desgraçada. Vou embora e volto amanhã, façam o que quiserem com esses
assassinos, só não os matem, esse prazer é meu. — Vejo-os gritarem e tentarem
se soltar das cadeiras. — A mulher, somente torturem-na, sem pena ou piedade.
Quero essa desgraçada quebrada, mijando sangue. E os assassinos cagando
sangue!
Os homens se aproximam e pegam os dois pelos cabelos, com sorrisos
malignos nos rostos.
Viro as costas e vou embora. Ouço os gritos de terror vindo dos malditos
e uma lágrima rola de meus olhos. Caminho sem olhar para trás e o dia passa
com meu coração pesado e angustiado.
— Venha almoçar, meu filho — Rosa me chama, mas hoje não estou com
vontade nem de abrir os olhos. Me deitei aqui desde cedo e estou até agora,
completamente perdido e revivendo os dias que fui torturado, juntamente com
minha família.
— Não quero... por favor, me deixe só hoje — falo baixo, com os olhos
vermelhos.
Ela sai e volta segurando uma bandeja com um almoço cheiroso.
— Come, meu filho, por favor — diz, com carinho.
Me sento e como para deixá-la feliz, mas a comida para mim tem gosto
de isopor.
Quando termino ela me olha com carinho e desce.
Me levanto, escovo os dentes e ligo para João Nevantes, para
terminarmos de fechar a negociação que estamos tentando por meses e agora
falta muito pouco para finalizarmos. Quero muito vender minha empresa, de
modo que eu possa desaparecer do radar das pessoas. João é um CEO, dono de
uma grande rede de lojas de cosméticos e se interessou muito pela empresa. Hoje
finalmente fechamos a venda, depois de meses conversando. E finalmente me
sinto livre. Depois do assassinato de minha família, essa empresa virou um peso
para mim. Graças a Deus, eu não era mais o dono de Cosméticos & Juventude. A
empresa tem um novo dono, depois de várias gerações na família Feranttis.
Marcamos o dia para nos encontrarmos, juntamente com nossos
advogados, para concluir as negociações. Ligo para meu advogado e o deixo a
par de tudo. Ele cuidará da parte burocrática.
Desligo e olho pelas janelas cobertas de heras, a noite está chegando e
ouço somente o barulho dos grilos e outros bichos noturnos.
Tomo remédio para tentar dormir, nem assim consigo. Pego um livro,
tento ler, mas quando vejo que nada adianta, vou para a antiga biblioteca desse
mausoléu e me sento perto de uma lareira de pedra, da época da fundação do
mundo.
Rosa sempre a deixa acesa, ela sabe que venho para cá toda noite devido
à minha insônia. E sempre tem uma garrafa de chá quentinho na bandeja, em
uma mesinha próxima a poltrona velha, mas extremamente confortável.
Passo a noite pensando em minha família e como estou vingando-as, e
me sinto bem com esse pensamento.
Quando amanhece, tomo um banho e vou rapidamente para o paiol.
Quando chego lá, a cena que vejo me deixa enjoado. Marlon e Valdir
estão no chão, pelados e sangrando muito. Os rostos deles estão ensanguentados,
e a mulher está tão desfigurada que acho que esses homens são demônios e não
assassinos.
Eles me olham satisfeitos e sorriem. Arrepio.
— Coloque-os sentados — digo, com frieza.
Eles pegam os dois, que estão roucos de tanto gritar, e quando os
colocam sentados eles gritam de dor... posso imaginar o porquê.
— Amarre-os — ordeno, com ranço desses malditos.
Então, tiro do meu bolso uma pequena faca e mostro para Marlon.
— É bom ser estuprado, Marlon? Você sentiu um pouco do que fez
minha esposa passar? E você, Valdir, compensou se aliar a um bosta desses? —
Eles tentam gritar, mas já não têm vozes e babam sangue.
— Essa faca, Marlon, vai ser usada em seu rosto de merda, como gosta
sempre de dizer. Quem sabe umas intervenções o façam mais bonito? — Sorrio
de ódio e ira.
Ele urina novamente. — Parece que temos alguém com incontinência
urinária aqui hoje... — escarneço.
— Não... Zakarias... eu imploro, suplico... — assopra roucamente.
— Você teve misericórdia de minha filha, de minha esposa e de mim
quando retalhou meu rosto, desgraçado? — Caminho rapidamente e pego seus
cabelos com ira. Chego com a ponta da faca perto de um de seus olhos. — Por
onde começo?
Pego a faca e enfio em seu olho direito. O homem grita e se defeca todo.
— Porco! — Pego seu rosto e o retalho todo, com cuidado e bem
devagar.
— Dói muito, não é, desgraçado? — Quando não tem mais onde cortar,
passo para Valdir.
— Agora somos nós, Valdir. — Puxo sua língua para fora e a corto. Ele
grita e desmaia.
Enquanto isso, Cassandra grita sem parar, a mulher está louca. Ela sabe
que a vez dela vai chegar.
— Deite esse desgraçado na cama, quero que ele morra engasgado com
seu próprio sangue. — Eles o fazem e amarram o maldito. Ouço-o sufocar e
penso feliz: menos um. Daqui a pouco esse desgraçado morre.
— Agora você, mulher vulgar do caralho. Queria muito meu pau, não é?
Me perseguiu sem me dar trégua, certo? Meu pau jamais terá, porque não o enfio
em privadas, mas minha mão esculpindo seu rosto de merda, isso posso te dar.
— A mulher grita tanto que me irrita.
— Faça essa porra calar a boca, puta merda, que voz esganiçada! Como
Marlon aguentou isso? — Eles enfiam um trapo na boca da mulher histérica,
pego a faca e faço a boca do coringa nela. Os gritos abafados dela me irritam, e
retalho seus braços e peitos.
Ela desmaia de dor.
— Podem matar essa vaca quando ela acordar da maneira que quiserem.
— Dou a sentença final para a maldita.
Me sento e espero Marlon acordar, quando o faz, mando abrirem suas
pernas e pego a faca.
Ele me olha aterrorizado.
— Não... isso não! Por favor, Zakarias, eu te suplico. Não! — Chora e
tenta se levantar, mas está muito bem amarrado, calço uma luva e pego seu pau
murcho e corto sem dó, um corte limpo e único.
Ele desmaia, é claro, abro sua boca e enfio o pau dentro.
— Deixe esse aqui sufocar com seu pau — arremato, me sentindo em
paz, como não me sentia em muito tempo. Minhas meninas foram vingadas.
— A mulher é de vocês, os dois deixem morrerem sufocados, um com
seu pau e outro com seu sangue.
No final do dia possivelmente eles já estarão mortos. Terei minha
vingança cumprida.
Ouço um barulho de carro, e logo um veículo se aproxima do paiol. Dois
homens descem e se aproximam de onde estou e sorriem para todos, inclusive
para mim. Tiram as armas do cós e atiram nos cinco homens que contratei,
certeiramente na cabeça. Fico sem entender nada. Vejo todos caídos e mortos,
um festival de sangue banha o chão do paiol. Oito corpos. Puta merda!
— Quem é você? — pergunto, abismado com a chacina.
— Botilho Castro, muito prazer em conhecê-lo pessoalmente. — Vira-se
e me apresenta o rapaz ao seu lado. — Meu irmão, Andreas Castro. Esses caras
me traíram, descobri, essa tarde, que um deles estava extorquindo dinheiro das
pessoas que nos contratavam depois do serviço feito, com ameaças de ir à
polícia. Eles gravavam torturas como essas aqui no paiol e extorquiam muito
dinheiro dos nossos clientes. Ameaçando-os. — explica com tranquilidade. —
Odeio traidores.
— Deixem todos aqui, amanhã isso aqui estará limpo, como se nada
tivesse acontecido. — Olho abismado para esse homem moreno e gigante, com
cara de gangster. Com quem eu me meti?
Penso, preocupado. Olho ao redor e estremeço, nunca vi tanto sangue em
toda minha vida.
Ouço gemidos fracos vindo do maldito estuprador, Marlon, pensei que
esse miserável já estivesse morto, mas não viverá muito tempo mais. O cara está
sangrando em abundância onde ficava seu pau de merda. Lixo.
Olho para Botilho e agradeço.
— Obrigado, mas vou esperar. Eu quero ter certeza de que o mundo
estará mais limpo de vermes como esses aqui. Assassinos de merda! — Ele
assente e entra, procurando algo, e pega os cinco celulares dos mortos.
Me entrega o celular do líder traidor e pede para eu olhar. Quando o faço,
vejo que realmente tinham gravado tudo. Inclusive eu torturando esses lixos.
Ele me olha e aponta os outros celulares que seu irmão recolheu.
— Destrua essas provas. Foi um prazer trabalhar com você, senhor
Zakarias Feranttis. Deixe a limpeza do paiol por minha conta, considere como
um bônus. — Vira-se e vai embora tão rápido como chegou, e seu irmão o segue
sem pronunciar uma única palavra.
Fico no paiol até ouvir o desgraçado do Marlon dar seu último suspiro de
vida. Quando isso acontece, caio de joelhos no chão e choro com gritos de dor e
alívio. Vinguei minha esposa e filha. Agora era viver esperando a morte vir me
buscar, eu não tinha mais nada a fazer nesse mundo de merda.

***

Não sei que horas chego em casa. Subo para meu quarto e tomo um
banho demorado, tirando todo o sangue do corpo, rosto e mãos. Não comi nada,
não tenho fome. Tomo dois comprimidos para dormir. Caio num sono sem
sonhos e pesado. Não vi Rosa me cobrir e fechar as cortinas. Vejo isso somente
na manhã seguinte.
Acordo quase duas horas da tarde, com uma sensação leve e descansada.
Me levanto, tomo banho e desço, Rosa está fazendo um bolo.
— Bom dia, Rosa! — falo descansado, dormi demais.
— Bom dia, filho, você dormiu bem! Está até com olheiras. — diz,
colocando café em uma xícara, empurrando-a em minha direção. Tomo um gole
e gemo de prazer.
— Senta aí, Zakarias, fiz bolo de fubá e sei que você ama. — Minha boca
enche de água e como três fatias imensas com café fresco.
Preciso ir ao paiol ver se o Botilho limpou tudo como disse que faria. Se
não o fez eu terei que dar um jeito. Rosa não pode nem sonhar com a chacina
que ocorreu lá ontem.
— Obrigado, Rosa, está uma delícia o bolo de fubá. Agora vou explorar
o território, ver até onde vou colocar os avisos de propriedade particular. — A
beijo e saio rapidamente antes que me pergunte mais coisas.
Ando ansioso até o paiol, o dia está lindo e os raios de sol atravessam as
copas das árvores e fazem riscos brilhantes entre as folhagens.
Chego ao paiol e fico parado na porta, com receio de abrir e encontrar
aquele mar de sangue e corpos no chão.
Fecho os olhos e abro de uma vez.
Me espanto com o que vejo. Está tudo limpo, como se não tivesse
acontecido aquele banho de sangue ontem. Entro e olho por todo lado. Nem um
pingo de sangue, até o colchão foi trocado e as cadeiras estão limpas e
brilhantes. Como ele conseguiu tudo isso em apenas uma noite? Deve ter vindo
um batalhão aqui.
Meu celular toca e atendo.
— Tudo limpo e sem deixar pontas soltas. Ouve um acidente e seu irmão,
esposa e amigo morreram queimados, não sobrou nada, nem arcada dentária.
Sumiu tudo. Os traidores tiveram o mesmo fim. Foi um prazer negociar com
você, e não deixe de destruir os celulares, jogue no lago, queime, mas não se
esqueça. Quem sabe não rola um bônus na conta de Botilho Castro? — O
gângster fala na maior cara de pau.
— Já te paguei uma fortuna, cara! — Ouço o som de uma risada.
— Nisso tenho que concordar com você, valeu, cara. — E desliga sem se
despedir ou me dar a oportunidade para tal.
Volto para casa, pego os celulares e os destruo, jogando os restos em um
lago bem distante de minha casa. Acabou.
5 anos depois

Hoje estou ansiosa porque peguei um grande trabalho, sou fotógrafa e


tenho meu estúdio em meu apartamento. Sempre fui apaixonada por fotografias
e, em minha concepção, é o único trabalho em que podemos registrar e eternizar
o belo com fidelidade. Adoro todo tipo de fotografia, mas me especializei em
fotografar a natureza. Exatamente por isso viajo muito. Já fui em vários estados
brasileiros e tenho muita vontade de conhecer países no exterior, onde a
diversidade de plantas são imensas e variadas, assim como no Brasil.
Como eu não tinha dinheiro para fazer faculdade presencial, consegui
fazer a distância e com muito esforço me formei. Fiquei em um orfanato até os
18 anos. Era uma criança mirrada, branca demais, cabelos castanhos lisos, olhos
prateados, com o contorno de um azul escuro, fazendo-me estranha.
E todos que iam lá queriam lindos bebês rosados e rechonchudos. Acabei
sendo adotada pelas donas do orfanato e com o passar do tempo, passei a ajudá-
las a cuidar das outras crianças. Quando atingi a maioridade, saí de lá com a cara
e a coragem. Comecei trabalhando em uma lanchonete e fiquei lá até me formar,
depois enviei currículos para todos as revistas, jornais, e todo lugar onde
houvesse a mínima possibilidade de exercer a profissão que escolhi e amo de
paixão.
Consegui alguns trabalhos como freelancer, até receber uma proposta de
exclusividade em uma editora famosa de decoração e paisagismo. Um arquiteto
e uma paisagista têm uma coluna em uma das revistas mais conceituadas que a
editora trabalha. Eles escrevem para essa coluna dando dicas de decoração e
paisagismo. Ambos me descobriram, segundo eles, por meio de uma colega com
quem trabalhei como freelancer. Ficaram interessados em meu trabalho e
pesquisaram algumas empresas para onde prestei serviços, e se apaixonaram por
minhas fotos.
Gostaram tanto que me indicaram para o dono da editora, e agora faço
grande parte das fotos para todas as revistas da editora. Fui contratada em menos
de uma semana e pirei de felicidade! Um contrato de exclusividade com a
editora, por tempo indeterminado.
Puta merda!
Além do salário maravilhoso, ainda tem o grande bônus de viajar e
conhecer lugares e novas diversidades de plantas! O Brasil te dá esse presente.
Lugar maravilhoso, tropical e com uma imensa variedade de plantas exóticas. Eu
trabalho mais para o casal que me indicou. Eles me requisitam com mais
frequência devido aos projetos externos que fazem de paisagismo.
Eles projetavam lindas Urban Jungle e como sou fascinada pela
natureza, pediram meu portifólio e levei, a partir daí, todo serviço externo me
chamam para fazer as fotos.
Surgiu um concurso na editora, o vencedor ganharia uma longa viagem a
trabalho. Éramos mais de dez concorrentes para disputar a viagem de meses,
com o objetivo de garimpar lugares com plantas diferentes para trazer fotos
exclusivas para a divulgação da editora. Fui a feliz ganhadora, devido ao meu
portfólio.
Fiquei tão feliz que passei mal e tive que ficar um dia de molho em casa.
Me deixaram escolher a rota. Programei tudo com muito carinho e muita
expectativa. Ficarei meses garimpando nos lugares, por isso pesquisei com rigor.
Começo em Minas Gerais, terminando no estado do Amazonas. Lá fecho o ciclo.
Deixei Amazonas por último devido à variedade e diversidade de plantas. Neste
estado, pretendo demorar mais e fazer tantas fotos que terei variedades para mais
de um ano.
Eu adorei essa rota, o que me aborreceu foi o fato de ter que levar em
meu encalço um acompanhante. Um rapaz que me olha com estranheza, ele e eu
temos a mesma idade, vinte e cinco anos. Ele trabalha na editora tem quase um
ano. É uma espécie de faz tudo. Assim, inventaram de colocá-lo ao meu lado,
para ser o motorista e me ajudar com meus equipamentos. Pedi para me
deixaram ir só, mas eles me negaram, me disseram que o rapaz era irmão do
dono da editora, e aí entendi tudo.
Me contaram que André passou por uma fase de rebeldia e se envolveu
em muitas confusões. Conseguiram tirá-lo da vida desregrada que levava e aqui
está o rapaz que terei de ser babá, e que me olha de uma maneira que não gosto.
Sinto seus olhos me acompanharem por todos os lados e isso me incomoda
muito.
O foda é que teremos que viajar juntos, no mesmo carro e ficarmos no
mesmo hotel. O cara vibrou de prazer quando informaram a ele que iríamos
juntos.
Viajaremos no dia seguinte, bem cedo. Vou para casa e preparo meu
equipamento, malas de roupas e notebook. E tudo mais que uma dama precisa
para sobreviver, penso, divertida ao arrumar minha mala de lingeries e
necessaire com minhas maquiagens e cremes.
Adoro fazer fotos minhas também. Inclusive até já me convidaram para
ser modelo de uma marca de biquinis. E eu? Claro que fiz. Foi nessa campanha
que que consegui quitar meu apartamento, pequeno, mas meu!
Vamos no carro da empresa e ficaremos nos hotéis que tem parceria com
a editora. Durante o dia iremos para reservas, parques ecológicos e mata cerradas
para fotografarmos o quanto pudermos.

***

Viajamos e estamos fazendo um ótimo trabalho, já passamos por Minas


Gerais, agora estamos indo para o Amazonas.
André já tentou várias vezes me beijar, estou de saco cheio. Fui rude com
ele várias vezes, mas parece que o cara não se toca.
— Porra, Isabela, me dá uma chance, caralho. Já tentei de tudo e você
não me dá brecha — diz com raiva.
— André, eu não quero entrar em um relacionamento agora. Por favor, já
te expliquei isso tantas vezes. — Tento ser paciente, mas tá difícil.
— Porra, quero trepar e não casar...! — Me assusto quando fala com
tanta grosseria e ira. Nunca me tratou assim.
— André! — Ele me olha com escárnio e continua dirigindo. Estamos
passando por uma estrada de terra e à frente temos uma mata fechada.
Confesso que depois do modo que André agiu, estou com medo de ficar
com ele nesse lugar ermo.
O calor aqui dentro está insuportável e abro o vidro do carro. Vejo que
André me olha de forma estranha e estremeço por dentro. Minha vontade é de
correr, fugir. Meu instinto me alerta que algo grave vai acontecer e mudar minha
vida para sempre.
O carro vai se embrenhando mais e mais mata adentro. Os galhos batem
no carro e olho para baixo instintivamente e vejo o pau de André duro. Meu
coração dispara e tenho vontade de chorar e gritar.
— André? O que está acontecendo? — digo, trêmula.
Ele simplesmente sorri e continua entrando na estradinha escura e
coberta de musgos.
— Estamos procurando plantas lindas e exóticas, não esse nosso
objetivo? — zomba, com malícia.
— André, por favor... — Começo a chorar quando ele aperta seu pau e
sorri zombeteiro.
— Cansei de tentar te comer com calma, mas porra de boceta difícil essa!
Vai na marra mesmo, afinal, sempre pego o que quero e você não é a primeira a
me negar e eu ter que tomar a força. Prometo que serei rápido, depois, vida que
segue. Não gosto de repetir o mesmo prato, pode ficar tranquila, sua puta! —
Puxa meus cabelos com força enquanto dirige com uma única mão.
— Me larga, seu demônio! — Luto contra ele. Quando o carro para ele
me dá um tapa com força no rosto.
— Vagabunda! — Sai, contorna o carro e me puxa para fora, pelos
cabelos. Sinto uma dor aguda quando bate minha cabeça no capô do carro.
— Se tivesse facilitado não precisaria disso, se bem que gosto de um
sexo com dor! — fala e morde o meu pescoço. Tento me soltar e ele me dá outro
tapa com força. Sinto tudo rodar e o sangue escorrer de meu nariz e boca.
— SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA! SOCORRO! — grito com
desespero e o maldito gargalha.
— Quem vai te ouvir aqui, sua puta? — Rasga meu vestido e balança os
trapos em minha frente, choro de desespero. Tento fugir e ele me agarra pelo
cabelo mais uma vez.
— Vamos provar essa bocetinha e ver se valeu tanto sacrifício de minha
parte. — Arranca meu sutiã e olha meus seios com luxúria.
Choro e grito, tentando sair de perto desse desgraçado.
— Lindos! Porra, os seios valeram o sacrifício, e a boceta? Vamos ver...
— Travo minhas pernas, ele sorri e me dá um murro no estômago. Tombo para
frente e o vejo abrir o zíper da calça, e seu pau duro pular para fora. Meu
estômago embrulha e ele me puxa pelo cabelo.
— Olha como ele está querendo sua boceta, sua prostituta! — Aperta seu
pau e o esfrega em minha barriga que arde devido ao murro que levei. Choro
sem parar. Ouço estalidos de gravetos e folhas secas. De repente, ouço uma voz
grossa e rouca, cheia de ira.
— Largue a moça, seu desgraçado! — Tento olhar para cima, mas André
me impede, sou muito pequena e magra.
— Moço, me ajude, por favor! Socorro! — grito aliviada e tento correr
para meu salvador.
André me segura novamente pelos meus longos cabelos, e travo no
caminho.
— Eu mandei largar a moça, maldito! — André sorri e me segura mais
forte.
— Ou o quê? — zomba. Esse cara parece que não tem limites, penso,
aterrorizada.
Ouço passos se aproximando.
— Ou te mato — o estranho diz, simplesmente.
— Vai se foder, cara, está atrapalhando minha foda, vai por mim, essa
puta não merece sua consideração. Depois que terminar com ela, se for um bom
garoto, deixarei as sobras para você — se vangloria, André.
Esse tempo todo ele conversou com o estranho sem olhá-lo nenhuma vez
e como estava em minha frente também não o vi.
O estranho chega e pega André pelo colarinho e o puxa de minha frente,
o virando em sua direção.
Dou um grito quando vejo um homem gigante à minha frente, que parece
mais um monstro, uma fera. Minha vontade é de correr e nunca mais olhar para
trás. Vejo André empalidecer e murmurar:
— Calma, cara... porra, de onde saiu esse demônio? — diz, agora verde.
O homem que o segura pelo colarinho tem o rosto coberto de cicatrizes.
Seu rosto é todo retalhado, parece um mosaico. Tem uma barba imensa e seu
cabelo é longo e negro, e caem sobre seus olhos, deixando entrever que são
castanhos. O seu pescoço, braços e mãos, são cobertos de tatuagens e pelos
botões abertos da camisa, dá pra ver seu peito também todo tatuado. O homem é
um mosaico colorido de tatuagens e cicatrizes. Estremeço. Seus olhos castanhos,
sem vida, nos olham fixamente. O alargador em uma de suas orelhas completa o
visual tenebroso. O homem é um monstro gigante e uma montanha de músculos
aterrorizantes.
— Você tem que aprender, cara, que quando uma mulher não quer, não
devemos forçar. Estuprador tem que morrer, todos! Minha filosofia de vida. —
Sorri de maneira satânica. Vejo o pau de André murchar e tombar pelas pernas
quando a aberração tira uma arma que estava escondida no cós de sua calça.
André cai de joelhos e suplica, com terror nos olhos. Ele sabe o que vai
acontecer.
— Por favor... eu juro que nunca mais farei isso... — O gigante o rodeia e
olha fixamente para ele.
— Você já fez isso antes? — pergunta, suavemente.
— Sim..., mas juro que nunca mais faço — ele suplica e chora igual a um
bebê, o grande covarde.
— Bem, isso me faz ter que te matar mais rápido ainda — sentencia e
mira a arma em sua testa, dando um único tiro. Vejo André tombar e o terror me
tomar. Arrumo forças, não sei de onde, e saio em disparada pela floresta. Ouço o
grito do homem monstruoso e assassino, e o desespero se alastra por todo meu
corpo, tornando os movimentos mais erráticos e dessincronizados. Ouço passos
se aproximando e quando olho para trás vejo o demônio atrás de mim, e corro
com mais velocidade.
Em poucos segundos sou parada quando a besta horrenda segura meus
cabelos. Se sair dessa com vida, juro que vou raspar minha cabeça. Por que esses
demônios sentem tanto prazer em me parar pelos cabelos? Caralho!
— É assim que me agradece depois de salvá-la de um estupro? — ele
sussurra em meus ouvidos, e sinto seu pau duro. Estou fodida. Saí da frigideira e
caí no fogo.
— Me solta! Me salvou para me estuprar, seu maldito? — cuspo as
palavras com ira.
— Quem sabe? — diz friamente e me arrasta pelos cabelos. — Vamos,
depois dou um jeito no corpo desse verme.
Sai me puxando, sem compaixão, pelos cabelos e quando caio me levanta
por eles. Sinto meu couro cabeludo doer, parece que vai se desprender da cabeça.
Começo a chorar e ele para.
— O que foi agora? — pergunta, com impaciência.
— Minha cabeça dói e meu corpo... — Ele olha para baixo e arregala os
olhos ao ver meu corpo desnudo, coberto apenas por uma calcinha rosa, todo
riscado pelos galhos e roxo onde André mordeu.
— Puta merda! O cara abusou de você, ele é carnívoro? — pergunta,
zombeteiro.
— Ele é um miserável, isso sim! — digo e cubro meus seios com as
mãos.
Ele corre seus olhos pelo meu corpo, apruma o seu e me pega
novamente, agora pelo braço e gemo de dor.
— Porra, não tem um lugar nesse corpo onde não está machucada? —
pergunta com raiva e me arrasta pelo caminho escuro e cheio de musgos.
Choro baixinho, sua aparência é aterrorizadora. Ele parece um monstro,
uma fera bestial. Estremeço e começo a rezar baixinho, quando vejo um paiol de
madeira, e bem antigo.
Ele me arrasta para lá, abre a porta e me joga no chão. Caio de bunda e
fecho meus olhos, dói tudo.
Quando levanto o olhar ele já está trancando a porta pelo lado de fora.
Corro e bato na porta, gritando em desespero:
— Não me deixe aqui, por favor! Não faça isso! — Soluço alto e choro
desesperada, gritando de pavor somente em imaginar o que esse homem, que
mais parece um demônio, fará comigo.
Esses últimos cinco anos não têm sido fáceis para mim. Tenho Rosa, que
é uma amiga para todos os momentos. Ela sempre me socorre quando grito
durante as noites em que tenho pesadelos com Marlon estuprando e matando
minha família. Os pesadelos se misturam comigo os torturando, e ao mesmo
tempo com Botilho Castro matando todos os seus assassinos contratados, os
cinco de uma vez, e sendo ajudado por seu irmão.
Esse homem, Botilho, sempre aparece em meus sonhos, tentando
arrancar de minha mão uma flor branca que seguro com ferocidade. Choro todas
as vezes que ele tenta pegá-la, e suplico, de joelhos para que não a leve de mim,
mas ele gargalha malignamente. E sempre acordo aos soluços quando tenho esse
pesadelo.
Esse é o pesadelo que mais me apavora, não sei explicar o porquê. E eu o
tenho com frequência. Nesses dias, desço para a biblioteca e espero o dia
amanhecer com o coração agoniado.
Vendi todos os imóveis que tinha, apliquei em bolsa de valores e vivo
aqui recluso, como jurei que faria. Não me envolvi mais com mulheres. Depois
que mataram minha esposa, não tive vontade nenhuma de ficar com elas, nem
para sexo.
A filha do demônio de Marlon, como eu previa, morreu de overdose. E
tudo que era do demônio de meu irmão ficou para mim. Claro que não quis nada
desse lixo e vendi tudo e doei para várias ONGs.
O dinheiro que eu tenho me permitirá viver com conforto por várias
vidas. E como vivo no meio desse mato, não preciso de luxos. Me sinto bem
assim.
Tenho contratos, de sigilo absoluto, com empresas que fazem entregas
aqui de tudo que preciso.
Rosa e eu vivemos muito bem aqui. Vivo esperando o dia de minha
morte chegar. Na verdade, anseio por esse dia. Não tenho nenhuma vontade de
viver, só não me suicido porque sei que minha esposa e filha não aprovariam
minha atitude, além de Rosa, é claro. Minha quase mãe não suportaria. Nos
apegamos demais nesses últimos anos. Hoje eu sou um senhor destruído tanto
física, como emocionalmente. Tenho 45 anos, já vivi o suficiente, espero a morte
com ânsia, esta terra não tem mais nada para mim.
Estabeleci uma rotina aqui. Gosto de caçar, fazer trilhas com minhas
motos, pescar e explorar as variedades de plantas desse lugar. Tenho um catálogo
imenso que fiz nesses últimos cinco anos aqui. Desenvolvi esse hobby que me
acalma e me faz esquecer um pouco a vida de merda que tenho. E a perda que
me matou. Morri junto com minha esposa e filha.
Estava caçando hoje quando ouvi gritos. Fiquei irado. Invasores!
Algum filho da puta entrou em meus domínios. Já matei vários e tem um
cemitério entranhado no coração da floresta onde enterro todos eles. O cemitério
dos invasores, como o chamo, é praticamente impossível de se encontrar. Para
chegar lá tem que ter ousadia e nenhum medo. O lugar é cercado de armadilhas
feitas pela natureza, e algumas construídas por mim, fora que existem animais
perigosos que habitam lá. Cobras são as que reinam nesse lugar. Vedetes
absolutas do cemitério. A cada ano meu cemitério cresce mais e mais. E não me
preocupo com isso, espaço tenho de sobra, afinal, são quilômetros de áreas
verdejantes que me pertencem.
Caminho com cuidado e o que vejo me faz ver tudo vermelho. Meu
corpo estremece de ira quando vejo um desgraçado tentando estuprar uma
criança. É tão pequena que não a vejo e o aviso da minha presença com a voz
calma, mas que por dentro está em erupção. Se tem uma coisa que odeio com
toda minha alma é estupro. Deveriam ser castrados todos que praticam esse
crime hediondo.
— Largue a moça, seu desgraçado — falo manso e com desejo de
arrancar o pau desse imundo.
— Moço, me ajude, por favor! Socorro! — Ouço a voz da vítima e
percebo que não é uma criança, como pensei de início, é voz de uma mulher. Ela
deve ser muito pequena, por isso não vejo. O estuprador é do meu tamanho,
quase dois metros.
Ele continua de costas para mim.
— Eu mandei largar a moça, maldito! — Ele a segura com mais força,
me afrontando.
— Ou o quê? — zomba e troça, caminho devagar até eles, me
controlando, tenho que achar um ângulo melhor para matá-lo e não ferir a moça.
— Ou eu te mato. — falo, simples e direto. Quando me canso desse
babaca, o pego pelo colarinho e o arrasto, vendo assim a pequena mulher. Um
ser minúsculo, cabelos castanhos longos, pela translúcida e olhos prateados. Ela
se parece com aquelas fadinhas de luz que minha filha adorava quando lia
histórias para ela dormir. Volto meus olhos para esse miserável e quando ele vê
meu rosto barbado e desfigurado, cabelos nos olhos, cara de louco, ele fica verde
e isso me enche de prazer.
— Você tem que aprender, cara, que quando uma mulher não quer, não
devemos forçar. Estupradores têm que morrer, todos eles! Essa é a minha
filosofia de vida. — Sorrio, com o ódio e a ira me lavando por dentro. Sinto o
cheiro do seu medo e vejo o homem arrogante e abusador se ajoelhar de medo e
cair em prantos, implorando por sua vida. Ele sabe que está fodido.
Ia matá-lo de todo jeito, mas quando me disse, em meio às lágrimas, que
já havia estuprado antes, me senti em paz em limpar o mundo de mais um
desgraçado.
Coloco a arma em sua testa e aperto o gatilho com prazer, sem nenhum
remorso, vejo o maldito tombar para o lado, sem vida.
Vejo o fiapo de gente sair em disparada e isso aguça minha vontade de
caçar. Deixo que pegue uma boa distância e quando pensa que está conseguindo
escapar, a alcanço. Não sei o que farei com ela, nunca veio nenhuma mulher
aqui, somente homens. Esses eu mato sem dó. Mas uma mulher? Vou deixá-la no
paiol e pensar se a mato, torturo ou a deixo livre. Depois decido.
Quando a pego, a adrenalina da perseguição me faz ficar de pau duro.
Mas jamais a estuprarei, tenho asco de quem pratica esse ato asqueroso, volto a
frisar.
— É assim que me agradece depois de salvá-la de ser estuprada? —
sussurro em seus ouvidos e sinto seu perfume e a maciez de seus cabelos e
corpo.
— Me solta! Me salvou para me estuprar, seu maldito? — Ela é arisca.
— Quem sabe? — falo, perdendo a paciência com essa infeliz.
Saio e arrasto-a pelo cabelo. Ouço gemidos e seu choro baixo.
— O que foi agora? — pergunto, com impaciência, parece que perdi de
vez o jeito com mulheres, virei um ser bestial.
— Minha cabeça dói e meu corpo... — ela reclama e corro meus olhos
por seu pequeno corpo, e porra se não é lindo. Toda clarinha e seios durinhos e
rosados. Seu pequeno corpo é coberto de sardas e isso confere a ela uma
fragilidade que desperta meu instinto protetor. Porra! Só senti isso com minha
esposa e filha. Fico irado com as marcas de mordidas do desgraçado, maculando
à pele leitosa da moça. Se já não o tivesse matado, o mataria novamente.
— Puta merda! O cara abusou de você, ele é carnívoro? — zombo,
tentando esconder a raiva de vê-la tão machucada.
Cobre seus seios, envergonhada e mostra em suas palavras o quanto
odeio o cara que a acompanhava.
A arrasto novamente antes que queira levá-la para a casa e pedir a Rosa
que cuide dela. A levo para o paiol e a jogo lá dentro, sem cuidado algum. Sei
que a machuquei, mas porra, não quero me apegar. No final acho que irei matá-
la, e se me apegar ficará mais difícil.
Tranco a porta por fora e quando me afasto ouço seus gritos de agonia e
desespero. Me sinto um desgraçado por isso. Mas assim será.
— Não me deixe aqui, por favor! Não faça isso! — Ouço seus soluços e
gritos irem ficando baixos conforme me afasto, até ouvir somente o barulho dos
bichos noturnos.
Grito até ficar rouca, o desespero me toma de uma forma tão grande que
sinto todos os ossos do meu corpo doerem. Está um breu aqui dentro e muito
calor, não tem janelas, somente as duas portas gigantes que são lacradas por fora,
como o assassino fez. Tenho medo de me mover e pisar ou esbarrar em algum
bicho. Tenho pavor de qualquer inseto rastejante, principalmente cobras e todos
que pertencem à mesma família.
Me lembro de quando era pequena, dois meninos no orfanato colocaram
em minha cama uma cobra verde, de jardim, que mais tarde descobri que não era
venenosa. Me deitei e a cobra rastejou debaixo do meu cobertor e deslizou em
minha barriga. Gritei tanto que acordei o orfanato inteiro, eu chorava sem parar.
Tiveram que me dar um sedativo, e a partir desse dia desenvolvi uma fobia
imensa de bichos rastejantes.
Então fico congelada no lugar, trêmula, chorando sem parar, não consigo
dominar a cascata de lágrimas que escorrem de meus olhos. Ouço uns barulhos
esquisitos de bichos noturnos e arrepio até a alma. Não movo um músculo do
lugar onde estou sentada, e abraço meu corpo tão judiado.
Estou somente de calcinha e isso me fragiliza ainda mais. Se aparecer
alguém aqui, pode abusar de mim e só de pensar nessa possibilidade, uma nova
corrente de lágrimas desce por meu rosto inchado e dolorido, devido aos tapas
que o miserável do André me deu. As mordidas em meu pescoço e bochechas
ardem como pimenta. Nunca imaginei que seria vítima de um crime desses.
Agradeço ao assassino com cara de monstro por esse estupro não ter se
concretizado. Mas ainda assim me sinto abusada. Maldito André! Juro que se o
ser bestial não o tivesse matado, eu mesma daria um jeito no verme imundo.
Fico alerta com uns barulhos estranhos, mas os pios das corujas me
acalmam, esses eu conheço. Espero o dia amanhecer e quando isso acontece, me
levanto com o corpo doendo dez vezes mais do que ontem à noite.
Olho em volta, agora já dá para ter uma noção do que tem aqui nesse
lugar horrível e muito sujo.
Ando devagar, explorando o ambiente, e vejo uma fresta no telhado por
onde entra um facho de luz. Vejo a poeira dançando nessa pequena nesga de
claridade do sol.
Corro meus olhos pelo ambiente, aqui é imenso. Parece uma câmara de
tortura medieval.
Caminho devagar para uma pequena abertura em forma de porta, que
vejo ao fundo do paiol macabro. Minhas pernas estão bambas de terror. Me
aproximo com cuidado e olho no interior. Um banheiro, sem porta é bem
estranho e meu pavor triplica. Tem um vaso branco em um canto e no outro um
chuveiro. Vejo que alguém usa esse lugar, pois tem sabonete e shampoo pela
metade. Olho para o lado e vejo uma toalha pendurada ao lado de uma camisa
que um dia já foi branca. Foi lavada, mas ainda está com marcas avermelhadas
que parecem ser sangue. Dou um passo para trás quando constato que é sangue
mesmo na camisa, e meu coração dispara. Tenho que me agachar, pois sou
tomada por uma tontura que me faz ver estrelas. Sento no chão e abaixo a
cabeça, respirando fundo e tentando desesperadamente levar oxigênio para meus
pulmões.
Depois de minutos ou horas, não sei dizer, levanto a cabeça e vejo o
ambiente de maneira geral. Vejo alguns objetos estranhos e sinto que não são
coisas boas.
Noto, em um canto, uma grande cama velha e um colchão sem forro,
cadeiras com várias cordas penduradas, um cordão caindo do teto com um nó
entrelaçado na ponta, caixas gigantes de som, várias delas estão espalhadas pelo
paiol, além de dezenas de spots espalhados pelo teto com lâmpadas grandes. Isso
significa que aqui tem energia. Então, por que o assassino me deixou no escuro?
Me levanto com dificuldade e caminho para o banheiro. Tomo um banho
gelado e a água faz meus machucados arderem. Pelo menos me sinto mais limpa.
Sem outra opção, visto a camisa que está com manchas de sangue. Melhor usar
essa camisa, que provavelmente é a prova de um assassinato ou tortura, do que
ficar aqui pelada, correndo o risco daquele monstro chegar e querer me estuprar.
Saio do banheiro e procuro algo que possa me defender quando aquele
ser bestial chegar.
Procuro com cautela e acho um pedaço de pau grosso em um canto,
parece um taco de baseball. Meu coração acelera, nunca agredi nem uma mosca.
Estou perdida!
Pego e o seguro com força, e me sento em uma das cadeiras. Aguardo o
Frankenstein. Vou quebrar o resto de sua cara feia e remendada com pauladas
certeiras. Ou faço isso ou ele me mata. Vi em seus olhos que ninguém que vem
para esse inferno sai vivo.
Sinto meu estomago roncar e doer de fome. Sinto sede também. Comi
ontem somente no café da manhã, antes do miserável do André desviar da rota e
entrar nessa floresta maldita.
Me levanto e tomo água da torneira mesmo, está amarelada e com um
gosto ruim, mas melhor do que ficar com sede.
Volto e me sento na mesma cadeira estranha. Ela tem cordas atreladas a
ela, torneira ou balde, não dá pra ver direito, está dentro de uma caixa suspensa.
Estranho, estremeço e saio dessa cadeira, me sinto mal em ficar aqui.
Caminho e me sento na cama que tem cheiro de mofo.
Fecho meus olhos e soluço de medo. Fico alerta quando ouço passos
esmagando os galhos secos, se aproximarem.
Me levanto e fico em guarda, deixo o pau encostado e escondido perto de
mim. Ouço as travas de uma das portas serem retiradas e quando a porta se abre
e o sol entra no paiol pouco iluminado e junto com ele uma deliciosa lufada de
ar. Entretanto a leve sensação de alívio passa quando os meus olhos fixam-se no
demônio que me encara de forma aterrorizante.
O homem é mais assustador do que eu me recordava. Me arrepio toda de
pavor e recuo um pouco, ficando mais próxima do pedaço de pau. Meu coração
está martelando em meu peito. Sinto minhas mãos suadas e meu coração parece
que vai sair pela boca.
Seu rosto parece uma colcha de retalhos mal costurada, e seus olhos
castanhos sem vida são os mais aterrorizantes. O homem é gigante e as partes de
seu corpo que não estão cobertas de tecido, estão cobertas por tatuagens. O
alargador em uma de suas orelhas chama atenção de longe. Seus cabelos, caindo
em seus olhos, e barba imensa, o fazem ainda mais tenebroso. Parece um
demônio. Sinto vontade de correr e chorar sem parar.
Ele percebe que estou aterrorizada e sorri com a mais pura essência da
maldade.
Ele me diz, com seu sorriso e olhar morto, que não tem coração, alma,
sentimentos e um pingo de amor em sua carcaça tão remendada.
Estico meu braço para trás quando ele dá dois passos em minha direção,
seguro o bastão e me preparo para matar ou morrer.
— Minha hóspede dormiu bem? Ainda que não tenha sido convidada,
quero ser um bom anfitrião e que ela se sinta bem e em casa. Quero mostrar a ela
as novidades que me distraem aqui no meio do nada. Sou o senhor absoluto
deste local por longos e longos anos — ele fala baixo, e com a voz fria como
gelo. Estremeço.
Cheguei em casa ontem com os gritos de desespero da mulher ecoando
em minha cabeça. Não consegui dormir e passei a noite na biblioteca, em minha
velha e inseparável companheira, a poltrona velha, com a lareira acesa e meu chá
que Rosa deixa todos os dias. Ela me conhece melhor que eu mesmo.
Fico pensando na mulher minúscula no paiol e involuntariamente
lembro-me da minha filha. Sinto meu coração apertar. Ela amava que eu lesse
uma história de uma fadinha minúscula que se chamava Sininho. Desde que a vi
pela primeira vez, essa história que Lara, minha pequena, amava, me veio à
cabeça. Com certeza foi por isso que não a matei.
Não quero ninguém por perto, a não ser Rosa. Jurei que seria assim e
tenho mantido minha palavra nesses últimos cinco anos. Todos que entraram
aqui eu matei ou minhas cobras o fizeram por mim. Mas a maldita Sininho ainda
está viva. Porra!
Ainda não me decidi sobre o que fazer com a invasora de merda. Vou me
decidir, com certeza no final das contas a matarei. Mas primeiro, quero brincar
com ela. Sorrio e sinto meu rosto repuxar devido à quantidade numerosa de
cicatrizes grandes e rugosas. Sei que minha aparência é de um monstro, já me vi
no espelho. Até eu me assustei, penso com desgosto.
Me sinto animado e com desejo estranho de ir vê-la e aterrorizá-la um
pouco. Pela primeira vez desde a morte de minha família, sinto vontade de fazer
alguma coisa. Esses últimos anos foram somente contando os dias para ir
encontrar com elas. Espero ansioso a morte, e a busco e procuro na floresta, sem
cuidado algum. Mas nem a morte me quer.
Penso que o destino me mandou essa invasora para animar a miséria que
é minha vida.
Quando amanhece, tomo um banho, visto uma roupa qualquer e saio sem
pentear os cabelos e barba. Estão imensos e descuidados. Foda-se se me importo
com algo nessa vida.
Tomo meu café, Rosa deve estar limpando algum quarto ou na
lavanderia, pois não a vejo, mas a mesa está posta e saboreio a comida farta. A
mulher deve estar com fome. Problema dela, não vou alimentar uma pessoa que
pretendo matar em breve.
Me levanto e saio, o dia está ensolarado, mas com algumas nuvens
cinzentas. Aqui nessa floresta, no meio do inferno, o tempo sempre é confuso. É
um clima completamente imprevisível. Decidi que vou levar a invasora no
cemitério dos invasores e mostrar a ela o seu destino. Sorrio, com uma alegria
maligna no coração. O Zakarias bondoso está morto e enterrado junto com sua
família. Hoje tenho prazer em provocar dor e torturar, me tornei um assassino e
não me arrependo de nada que fiz, e de ninguém que matei.
Caminho pelo trilho escuro e cheio de musgos, os galhos, com um lodo
esverdeado, batem em minha camisa, manchando-a. Sinto um puxão na perna de
minha calça e olho para baixo, vejo uma cobra agarrada no tecido de minha
calça grossa e pego meu inseparável punhal e corto sua cabeça.
Já fui picado muitas vezes por esse bicho traiçoeiro, mas agora aprendi a
lidar com elas, fiquei traiçoeiro também. A cabeça da maldita cai e continuo
andando como se nada tivesse acontecido. Já me acostumei com essas porras.
Rosa não sai do casarão sombrio nem fodendo. A casa é toda protegida para que
animais de espécie alguma entre. Então, minha doce Rosa, fica protegida.
Coloquei todo conforto possível naquele mausoléu que vivemos. Já eu? Como
disse, procuro a morte aqui fora e não a encontro em lugar algum. Ela foge de
mim.
Saio do trilho escuro e vejo o paiol no meio das árvores escondido pelo
musgo.
Ando rapidamente e bate uma ansiedade louca para ver se a mulher ainda
está viva ou se já foi picada por alguma cobra ou outro bicho qualquer.
Destravo a porta e a abro rapidamente, respiro aliviado ao ver aquela
coisinha minúscula perto da cama empoeirada. Será que conseguiu dormir nessa
cama imunda?
Sorrio ao pensar em como deve ter ficado assustada aqui. Ela se afasta
quando me aproximo, o medo está visível em seus olhos.
Vejo que está usando a camisa que usei essa semana para caçar. Minha
maneira de passar o maldito tempo. Essa semana matei uma cobra imensa.
Quando faço trilhas, caço animais racionais e irracionais, tiro todo sangue de
minhas caçadas aqui. Não gosto que Rosa veja esse meu lado. Sei que sabe que
existe e o que faço, disse a ela quando perdi minha família. Mas não toca no
assunto e ainda me conforta quando o passado bate forte em meu presente.
Arrumei um banheiro tosco aqui, para esse fim, e tem toda uma estrutura
que eu mesmo fiz para torturar os invasores. Os mantenho aqui e se durante
minhas sessões de interrogações algum deles acabe morrendo, uso o banheiro
aqui para não chegar coberto de sangue no casarão. Se eles, de alguma maneira,
abusaram de alguma mulher, esposa, filhas, qualquer que seja, os torturo por dias
antes de matá-los.
Gosto de usar o terror psicológico na maioria das vezes.
Tem uma cadeira especial aqui, que amarro minhas vítimas e as deixo
presas por vários dias, com gotas caindo suavemente, mas ininterruptamente em
suas cabeças.
Fiz segundo li e vi na internet. Apliquei aqui e deu muito certo, mas usei
esse método poucas vezes, é mais demorado e os infelizes que torturei eram
estupradores confessos. É a primeira coisa que pergunto quando invadem minhas
terras. Sempre negam, mas se já molestarem alguma mulher acabam
confessando com o tempo. Tenho muita paciência e tempo também.
Pesquisei vários métodos, não gosto de torturas físicas, elas me
desgastam. A emocional é mais tranquila para mim, mas uma merda para quem é
torturado. Tenho caixas de som gigantes aqui e holofotes espalhados por todo o
teto, com lâmpadas fortíssimas. Costumo juntar os dois para torturar os
invasores: privando-os do sono com o som em um nível insuportável, e as luzes
acesas dia e noite. Eles surtam e ficam loucos e soltam o verbo rapidamente.
Também uso vários outros métodos de tortura psicológica, e um dos que
mais gosto, vou aplicar na mulher minúscula que me encara com medo e ousadia
no olhar. Esse método nunca falha. A quebrarei em pouco tempo, depois a
matarei. Sorrio e me aproximo mais da coisinha diminuta.
— Minha hóspede dormiu bem? —pergunto sem sentimento algum, oco,
vazio. — Ainda que não tenha sido convidada, quero ser um bom anfitrião e que
se sinta bem e em casa. Quero mostrar o que me distrai, aqui no meio do nada,
onde sou senhor absoluto. — falo baixo e friamente.
Ela me olha com o terror estampado em sua face pálida e salpicada de
sardas.
— Hoje vamos fazer um passeio, quero mostrar a você minha
propriedade, como um bom anfitrião, e te mostrar como vivo aqui. Gostaria de
contar com sua ajuda para resolver um pequeno imprevisto que ocorreu ontem.
— Vejo seus olhos se encherem de lágrimas e novamente lembro de minha filha
e da história de Sininho. Balanço a cabeça espantando esse pensamento e
caminho para o canto, onde tem um armário. Abro e pego um par de botas que
sempre deixo aqui para algum imprevisto.
Caminho até a mulher que está muda de pavor e jogo as botas aos seus
pés.
— Calce — ordeno, enquanto pego uma mochila e coloco garrafas de
água que trouxe. Não pergunto a mulher se quer. Não me interessa. A vejo pegar
as imensas botas pesadas e me olhar com desgosto.
— São enormes, não me servem — murmura e vejo suas lágrimas
pingando e molhando a blusa imensa e manchada de sangue que veste. Parece
um vestido, cobrindo seus joelhos, a mulher é mesmo minúscula.
— Não interessa, calce-as ou venha descalça. — Olho seus pequenos pés
com unhas pintadas de rosa-claro e noto que estão machucados e sangrando.
Porra, o cara queria arrebentar com a mulher. Mas no fundo eu sei que os pés
machucados são culpa minha. Eu a arrastei mata adentro e seus chinelos ficaram
no carro. Vi ontem quando voltei para jogar o corpo do maldito no carro, até
poder levá-lo para o cemitério dos invasores.
Ela se senta na cama e cobre o rosto com as mãos. Perco o pouco da
paciência que ainda tenho. Porra de mulher chorona!
— CALCE LOGO A PORRA DA BOTA, CARALHO, OU JURO QUE
A ARRASTO DESCALÇA, E TEMOS UM LONGO CAMINHO PELA
FRENTE, MISÉRIA DE MULHER! — Ela se assusta e calça as botas
rapidamente. Fica enorme, calço 48 e a porra da bota é de couro e pesa muito. A
duende vai sofrer um pouco.
A pego pelo braço e a arrasto para fora, ela deve pesar menos que uma
pena de filhote de pato.
— Por favor... elas são pesadas. Me deixe pegar meus chinelos ou
sandálias que estão no carro, tenho uma mala de roupas e meu equipamento de
trabalho está lá também. — Levanta sua cabeça e seu pescoço torce para olhar
para cima. Ela tem o quê? 1,55 m no máximo. Eu? 2,03 m de altura. Olho para
ela com raiva e desgosto e a vejo ficar esverdeada.
— Cale a porra dessa boca, sua voz me irrita! Se falar mais alguma coisa,
vai descalça! — Sou frio e rude e começamos a andar. Ouço seu soluço
apavorado e a vejo tentar me acompanhar.
— Odeio você, seu desgraçado! — murmura tão baixo que pensa que não
ouvi. Me arrepio de ódio dessa maldita mulher.
Paro e a agarro pelo cabelo que está uma bagunça e cheio de folhas.
— Me odeia? E olha que ainda não fiz metade do que pretendo fazer com
você, sua puta do caralho! Daqui a um mês tenho certeza de que me odiará, mas
aí sim, odiará com toda razão! — termino de falar e a empurro com muita força.
Ela é lançada longe e cai em cima de vários galhos espinhosos. Me esqueci da
quantidade de força que tenho em relação a ela e fico chocado quando a vejo
quieta e sangrando.
Ando mais rápido e a cutuco com o pé.
— Moça? — Nada. Porra, será que já a matei? Me abaixo e a pego em
meus braços. Caralho, uma bolha de sabão pesa mais. Meu coração pesa em ver
como está machucada. Sou um psicopata de merda. Quero matá-la e ao mesmo
tempo protegê-la. Porra, preciso ser internado em um hospício urgente. A
carrego e vamos para o carro. Chego e a coloco no banco traseiro. Abro a porta
da frente, puxo o cadáver do estuprador e jogo no chão.
Pego a mochila que trouxe e tiro uma garrafa de água e tento fazer a
mulher tomar. Ela geme e bebe com rapidez, mas se engasga.
— Calma, tome devagar — falo baixo e ela arregala os olhos e tenta se
levantar e correr.
A seguro com força e ameaço:
— Se correr eu a mato com um tiro certeiro nessa sua cabeça de merda!
— Me levanto e a deixo livre. — Vá! Não estou te prendendo. — Sorrio com
frieza e maldade, quero muito que ela vá, assim acabo logo com essa porra de
mulher dos infernos.
Ela abaixa a cabeça e cobre a boca com as mãos. Vejo que estão
sangrando também.
— Vem, vou te levar para conhecer meu lugar favorito aqui neste inferno.
— zombo e puxo-a para fora com brutalidade.
Ela tenta se equilibrar com as botas imensas e pesadas saindo de seus
pequenos pés. Quando sai do carro e vê o cadáver, grita igual a uma lunática.
— Mas que porra! Pare com essa merda de gritos, caralho! — Ela vira o
rosto, se agacha e vomita sem parar, somente água. Coitada, está com o
estômago vazio.
— Terminou o show? — pergunto, friamente.
— Desgraçado, me mata logo e acaba com essa tortura infernal de uma
vez, seu covarde dos infernos! Assassino maldito! Demônio! Ser asqueroso e
desfigurado! Garanto que mereceu cada cicatriz que tem nesse rosto horrendo!
— grita e começa a correr, saco a arma irado e vendo o mundo vermelho.
Aponto para a cabeça da desgraçada e aperto o gatilho. A vejo tombando e meu
mundo para. Revivo os gritos de minha esposa e filha sendo assassinadas. Meu
Deus! Jogo a arma longe e coloco as mãos na cabeça! Piso no cadáver ao meu
lado e o chuto irado.
Corro para onde tem agora o cadáver de uma jovem mulher que tem
idade para ser minha filha, afinal tenho 45 anos. Fiquei louco! Sinto que de
alguma forma desagradei a Lara, minha filha. Me ajoelho ao lado da moça
morta, e sinto lágrimas caírem pela primeira vez em anos.
— Moça... — Ela continua de olhos fechados, me sento ao seu lado e
fecho meus olhos em desespero.
Não sei quanto tempo fico assim. Abro meus olhos quando sinto uma dor
lacerante em minha cabeça, viro-a e vejo a desgraçada segurando uma imensa
pedra, e tenta me acertar uma segunda vez. Tento me levantar meio tonto e a
maldita me acerta novamente.
Tudo escurece e caio como uma jaca madura no chão. Ela vai se perder
na floresta, esse é meu último pensamento antes de apagar.
Eu jamais imaginaria que passaria pelo horror que esse monstro está me
submetendo. Nem em meus piores pesadelos. Esse assassino do inferno é o mal
encarnado.
Dá medo de olhar para essa cara horrenda dele. Desfigurado por fora e
por dentro. Deve ter feito coisas atrozes para terminar num lugar maldito desse e
com essa cara de demônio, além de ser vazio como uma casca de ovo podre.
O homem é doente, psicopata, tem que ser preso, condenado a cadeira
elétrica, corredor da morte. Ele faz coisas funestas. Mata e tortura sem dó.
Aquele lugar amaldiçoado que me levou transpira podridão e maldade.
Ele, com certeza, fez coisas atrozes ali, você sente a maldade em cada
canto daquele lugar sinistro.
Esse desgraçado me fez calçar uma bota que pesa quilos e ainda desliza
em meus pés, de tão grande que é. Sinto as bolhas se formando e conforme vou
andando ela vai escorregando e me cortando.
A primeira oportunidade que tiver vou matar esse desgraçado dos
infernos. Quando a dor está insuportável, não seguro o desespero e pago caro por
ter aberto minha boca grande.
— Odeio você, seu desgraçado! — Mal termino de falar e sou lançada
longe pelo maldito e horrendo monstro dos infernos.
Voo e paro em cima de um arbusto de espinhos, a dor é tão grande que
meu mundo escurece e não vejo mais nada.
Acordo com a fera bestial me dando água, depois de quase ter me matado
quando me arremessou em um arbusto cheio de espinhos. Nunca, em meus 25
anos de vida, senti tanta dor como estou sentindo desde que cheguei nesse
inferno de lugar.
Tomo água com sofreguidão, estou com muita sede e fome. Me engasgo.
Aproveito que está distraído e tento fugir. O maldito me ameaça, me
canso dessa situação e me revolto quando vejo o cadáver do outro filho da puta
que tentou me estuprar caído no chão. Chega! Prefiro morrer.
Me levanto cega de ira e o enfrento, o terror congelando minhas
entranhas, mas esse demônio vai me matar de qualquer jeito, que seja logo então.
— Desgraçado, me mata logo e acaba com essa tortura de uma vez, seu
covarde do inferno! Assassino maldito! Demônio! Ser asqueroso e desfigurado!
Garanto que mereceu cada cicatriz que tem nesse rosto horrendo! — desabafo e
começo a correr, viro a cabeça e vejo o filho de Belial tirar a arma da cintura,
mirar minha cabeça e atirar, quando atira enfio meu pé em um buraco e o torço.
Caio e não fui morta por pura sorte. O que mais falta me acontecer?
Bato a cabeça em uma pedra e vejo estrelas. Puta merda, não sabia que o
ser humano era tão forte, até hoje. Por tudo que já passei já era para estar morta,
mas aqui estou, toda machucada, pé torcido, e ainda virgem. Se tem uma coisa
que tenho que agradecer a essa cria de Belial é a minha ainda intacta virgindade.
Fecho meus olhos e fico quieta, quem sabe esse pedaço de merda vai
embora achando que estou morta e consigo fugir? Juro que volto com a polícia
para prender esse psicopata e tentarei de tudo para ver esse miserável condenado
à pena de morte, mesmo que aqui no Brasil não tenha. Porra, eu mesma o
condeno e mato com prazer.
Ele chega correndo, se agacha ao meu lado e fica falando um monte de
merdas desconexas.
Desligo e fico quieta, prendo minha respiração o quanto posso e quando
abro um olho, o vejo de olhos fechados e parece estar em outro mundo.
Me levanto com suavidade sem fazer barulho, pego a pedra em que bati a
cabeça e desço sem dó na cabeça do Frankenstein diabólico. A porra da cabeça
do homem é tão dura que não desmaia, tenho que dar outra pedrada com mais
força. E é o que faço com prazer. Desço novamente a pedra com toda minha
força.
Quando vejo a montanha de loucura e maldade desabar no chão, me sinto
aliviada e com a consciência pesada, afinal, nunca machuquei ninguém em
minha vida. Mas a questão agora é de vida ou morte.
Olho para os lados e só penso em fugir. Meus pés estão sangrando muito,
além de inchados.
Preciso sair de perto desse demente, urgente. Tento correr, mas quando
encosto meu pé no chão, dou um grito de dor e caio de joelhos. Olho para baixo
e vejo meu tornozelo roxo e inchado. Oh, falta de sorte! Estou fodida mesmo!
Olho para o grande homem caído no chão ao meu lado e chuto sua cara
de merda, com ira. O que eu faço agora, meu Deus?
Tento andar até o carro e pegar a arma que vi esse doente jogar quando
atirou em mim. Procuro e não a vejo em lugar algum. Vejo a chave na ignição e
quando vou entrar para vazar desse lugar maldito, ouço a voz que gela minha
alma e paraliso.
— Procurando isso, pequeno demônio? — Roda a arma entre os dedos e
caio, sentada de desgosto.
— Porra, sua cabeça é mais dura que a pedra, seu demônio! — falo, com
desgosto e sei que agora vou sofrer demais nas mãos desse doente.
Ouço uma gargalhada tão alta que olho de onde poderá ter vindo. Ela
continua e quando vejo que é o desgraçado, fico sem ação. Então o Frankenstein
sabe rir?
— Qual a graça, demônio? — pergunto irada e com vontade de fugir.
Ele se agacha ao meu lado e me olha com seu rosto horrível. Me encolho.
— A graça, pequena miserável, é que está viva e só de pensar em tudo
que vou fazer com você, enche minha alma de prazer e satisfação mórbida. —
fala com maldade.
O ar me falta e tento me levantar para correr, é instintivo.
— Não vai conseguir ir muito longe, Bela, a Fera aqui te achará em
menos tempo que consegue imaginar. Eu conheço esta floresta como a palma de
minhas mãos — debocha.
Continuo calada, não sei o que fazer ou dizer.
— Cadê a língua? O gato comeu? Espera! Melhor cortar, não é? Adoro
cortar uma língua e comer crua! — diz, com um sorriso doentio em seu rosto
retalhado. Meu estômago embrulha.
— Por que não me mata de uma vez, seu doente feio e nojento? — Foda-
se, não ligo mais, prefiro morrer a ficar do lado desse ser.
— E que graça teria te matar de uma vez? Pequena, adoro terror
psicológico. Depois que me divertir um pouco com você, pode ter certeza de que
a matarei com prazer. Agora chega de conversa fiada, vamos levar o defunto
para enterrar.
— Levar? E como faremos isso se não posso nem andar? — digo, rindo
com ira para esse infeliz.
Ele me puxa pelos cabelos, esse homem tem tara por cabelos, só pode!
— Vamos logo. — Ele pega o cadáver de André e sai na frente. A cena
que vejo me faz querer vomitar. Presenciar uma coisa dessas é um pesadelo real.
Um assassino carregando um estuprador.
Ele continua andando e eu fico quieta, não vou. Prefiro morrer aqui à
mingua a seguir esse homem repulsivo.
Ele para lá na frente, joga o cadáver no chão e vem em minha direção,
me pega no colo com grosseria e me carrega até onde está o cadáver.
Me joga no chão sem cerimônia alguma, minha bunda estala e dói tanto
que me dá vontade de gritar e chorar sem parar. Ele pega novamente o morto e o
leva a uma distância boa. Volta e me busca. Intercala entre mim e o defunto, até
chegarmos a um lugar escuro. O sol não bate aqui, as copas das árvores são
imensas e muito juntas. O cheiro de folhas podres é imenso. Vejo duas covas
abertas e várias já fechadas.
Ele para e me olha com maldade nos olhos.
— Está vendo essas duas covas, sua infeliz? — Olho para as covas
recém-cavadas e volto meu olhar para ele, já imaginando o que é.
— Uma para o invasor estuprador — fala e joga o corpo do finado André
na cova. Meu estômago embrulha quando começa a jogar terra e cobrir o corpo.
Quando termina, me olha com a face transfigurada de maldade e
sentencia:
— A outra é para a invasora que seria estuprada. A terra vai comer a
boceta que André tanto queria. Oh, vida injusta, não é, futura defunta? — Esse
homem sabe usar as palavras para te aterrorizar. Mas não vou tentar correr
porque meu pé não vai colaborar. Não adianta, penso, amargurada.
— Demente — falo, agora destinada a morrer mais rápido para acabar
logo com esse terror que estou vivendo. Meus olhos se enchem de lágrimas.
Queria tanto ter uma família para me procurar, me salvar, sentir minha falta. Mas
não tenho ninguém, estou à mercê desse psicopata doente.
Vejo as folhas úmidas e podres se mexerem agora que desfoquei do
enterro sinistro de André, e então presto atenção. Congelo no lugar quando vejo
cobras deslizarem como se estivessem desfilando. Olho para o mal encarnado à
minha frente e vejo seu sorriso retorcido e tenebroso se estendendo pelo seu
rosto feio me olhar com maldade.
— Cobras, minhas amigas peçonhentas. — Olho para o chão e vejo uma
dar o bote nele. Parece que a maldita entendeu e respondeu a ele. O demônio tira
uma faca de algum lugar de sua roupa e corta a cabeça da peçonhenta e a arranca
com a ponta da faca, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Me arrepio
toda e minhas mãos e corpo estão suando frio.
Continuo olhando aterrorizada, quando vejo uma se enroscar em minha
bota gigante e pesada. Quando ele me carregou para cá, me fez calçar as
malditas botas novamente, agora entendo o porquê.
Grito como se minha vida dependesse disso, mas não consigo sair do
lugar, o terror me faz ficar pregada no chão, chumbada. E a cobra continua
enroscando em minha bota. Olho para ele com desespero.
— Me ajude, por favor... — eu suplico sem vergonha de demonstrar meu
terror e pavor desses bichos asquerosos e rastejantes.
Ele continua parado, sorrindo com prazer maligno.
— Me ajude... — Começo a chorar em desespero e gritar em pânico
total. Quando a cobra vai entrar dentro de minha bota, sinto o desmaio chegando.
Vejo-o correndo e puxando a cobra pela cauda e jogando-a longe. Me pega antes
que eu caia no chão e me agarro a ele como um carrapato. Enfio meu rosto em
seu pescoço barbudo e choro de terror absoluto.
— Calma. — Ouço sua voz, vinda de muito longe. Estou tão agarrada a
ele que sinto as batidas de seu coração e o sangue correndo nas veias de seu
pescoço. Quando já andamos uns cinco minutos ele tenta me colocar no chão e
cruzo minhas pernas em sua cintura e aperto seu pescoço com força.
— Ei! Pode descer, as cobras ficaram para trás — fala sem deboche.
— Não! Não! Por favor! — Choro alto, olhando para o chão sem parar e
vendo se tem mais alguma cobra.
— Ok, pequena covarde — assente e me carrega o caminho todo de volta
para o mal cheiroso e macabro paiol.
Quando chegamos ele entra e acende as luzes, me coloca no chão.
— Quer dizer que tem medo de cobras? Interessante — pergunta com
maldade. Olho para ele com medo. Por um momento pensei que o demônio tinha
amenizado um pouco sua ruindade.
— Não, imagine! — digo, sarcástica. — Eu adoro cobras!
Seu sorriso me dá calafrios, dou vários passos para trás.
— Bom, então você vai gostar de saber que terá companhia hoje... —
Sorri com feiura e caminha para um canto onde tem uma caixa, a abre e escolhe
três cobras e as solta no chão.
Fico congelada no lugar e começo a chorar novamente.
— Você é louco... como pode agir assim com as pessoas? Não tem
família? Se fossem elas no meu lugar, você gostaria? — Vejo-o empalidecer e
caminha apressado para onde estou. Me pega pelo pescoço com brutalidade e me
levanta.
— Nunca mais abra essa boca nojenta para falar de minha família! Você
não sabe de nada, sua maldita! — Termina de falar babando de raiva e me joga
no chão com força. Estremeço de dor. Minha bunda já está dormente. Meu corpo
todo dói. Meus braços, pernas e pés sangram.
Meu rosto está inchado devido às pancadas de André. Os espinhos
cortaram minhas costas e rosto. Soluço alto sem saber o que fazer. O doente sai e
me deixa trancada aqui com três cobras soltas. Corro desesperada para a porta já
trancada, me ajoelho e imploro para não me deixar sozinha com essas coisas
rastejantes e olhinhos miúdos me encarando.
— Pelo amor de Deus! Não me deixe aqui! Tenho pavor de cobras, eu te
conto o porquê... vai entender e me ajudar... eu juro. Não me deixa aqui sozinha,
se o fizer vou te odiar enquanto viver! Por favor! Quando eu era criança
colocaram uma cobra debaixo de meu cobertor, ela passou em minha barriga...
por favor! — grito rouca, e arranhando a porta. Sinto calafrios só de imaginar
um bicho desse solto, imagine três. — Não! Abre! Quero sair daqui, me tira
daqui. — Minhas unhas estão quebradas e sangrando e minha voz rouca de tanto
implorar.
A porta se abre com força e caio sentada do lado de fora, vejo o demônio
se curvar e me pegar pelo braço com força.
— Olha como sou bonzinho, vou deixar as luzes acesas a noite toda,
assim, se alguma cobra se aproximar, você verá e poderá matá-la. Mas ficará me
devendo esse favor! — zomba, me arrasta, me jogando sem cuidado na cama
empoeirada, uma nuvem de poeira sobe quando caio sentada. Meu corpo todo
lateja de dor e sinto tanta fome que meu estômago parece que está sendo rasgado
por uma faca.
Ele vai para um canto do paiol, tira uma chave do bolso e abre uma caixa
de ferro. Liga os interruptores e o ambiente clareia tanto que arde minha visão. A
quantidade de iluminação que tem nesse paiol queima meus olhos. Minha cabeça
dói e lateja.
— Pronto. Agora você poderá ficar tranquila, não vai dormir devido à
claridade, mas poderá passar a noite vigiando as cobras e matá-las se tentarem te
picar — diz com indiferença, já se encaminhando para a porta.
— Espere! — Me levanto com dificuldade. — Estou com fome, poderia
trazer algo para eu comer? — Jogo o orgulho de lado e peço comida com
humildade.
— Hoje não estou animado a voltar aqui, quem sabe amanhã me animo a
trazer algo? Verei isso amanhã — me diz andando sem se dignar a me olhar.
Baixo a cabeça em derrota total e volto para a cama, pego o pedaço de
pau que ainda vou usar para matar esse miserável, me sento e passo a noite em
claro, olhando cada canto desse inferno para ver se as cobras aparecem.
O sono vem com força, mas não posso dormir e me mantenho acordada.
Lavo meu rosto, ando mancando, pois meu tornozelo arde como fogo e dói
horrores. Choro alto, grito e rezo. Quando o dia amanhece estou a ponto de ficar
louca de fome e sono. Minha cabeça e corpo doendo a um nível insuportável,
agravado pelo pavor das cobras.
Espero ansiosa o desgraçado trazer algo para eu comer, mas ele não
aparece.
As cobras do inferno estão escondidas em algum buraco aqui, e eu
apavorada sem nem imaginar onde. Meu estômago dói tanto que tenho ânsias de
vomito.
Bebo a água amarelada da torneira e vomito tudo logo em seguida. Com
isso meu estômago dói com mais força.
Quando saio para ir para cama, vejo uma maldita cobra parada na porta
do banheiro me olhando com seus olhos minúsculos, pretos e maliciosos,
colocando sua língua fina bifurcada para fora. Estremeço.
Grito igual a uma lunática e a cobra levanta a cabeça. Pego o vidro de
shampoo e jogo na desgraçada. Ela rasteja rapidamente e entra atrás de uma
caixa. Estou suando frio e trêmula. Meu Deus, o que fiz para merecer tudo isso?
O ódio por esse homem corrói meu peito. Eu juro que a primeira oportunidade
que eu tiver vou matar esse desgraçado. Eu nunca odiei ninguém, mas esse
homem conseguiu me fazer odiá-lo de uma forma doentia.
Corro para a cama e subo, fico sentada com a cabeça explodindo de dor,
minha vista ardendo como se tivesse um caminhão de areia e meu estômago
torcendo de dor devido à fome.
As luzes fortes fazem minha cabeça parecer que irá explodir e meu nariz
está entupido de tanto chorar.
As horas passam e vou entrando em pânico cada vez mais. Acho que
estou com febre, e vou morrer de falta de ar. A poeira me faz espirrar sem parar.
Tento manter meus olhos abertos apesar do sono e da claridade imensa. Está
ficando difícil. Mas resisto. Tenho que me precaver, as cobras estão soltas. A
náusea é incontrolável, mas não tenho mais nada para colocar para fora, meu
estômago está vazio. Dói demais. Quero morrer... estou ficando louca!
Tudo que aconteceu desde o momento em que encontrei essa mulher está
me deixando desestruturado. Não entendo por que ainda não a matei. Poderia
deixá-la ir embora por ser uma mulher, jamais matei uma. Mas não consigo
deixar essa peste ir. Quero ficar com ela, aterrorizá-la um pouco mais. Sinto uma
gota de prazer quando ela me afronta.
E esse sentimento é bom, há anos que não sinto nada. Por isso a estou
mantendo cativa. Mas a novidade vai passar, sei o monstro que me tornei.
Ontem, quando a joguei na moita de espinhos, senti um aperto no coração. Porra,
nunca fui bruto com mulheres, exceto a puta da esposa de meu irmão. Depois,
quando tentei matá-la... tentei não, eu atirei para matar mesmo. Sorte que ela
caiu antes da bala atingi-la. Isso me deixou insano de pavor. Nunca me perdoaria
se tivesse matado essa mulher.
Admirei quando ela tentou me matar com duas pedradas, e teria
conseguido se fosse uma pessoa maldosa, pois desmaiei. Fiquei a sua mercê.
Mas em sua inocência tentou fugir. Quando a vi tão desprotegida e apavorada no
cemitério das cobras, tive que ajudá-la. Quando a pequena pulou em meu colo e
me agarrou como se sua vida dependesse disso, senti meu coração negro,
destruído e sem vida, dar uma ligeira pulsada. Tudo isso mexeu comigo e me
deixou muito confuso.
Por isso tive que cortar esse sentimento confuso e inexplicável que surgiu
em meu peito, tratando-a com mais grosseria ainda. Não quero me apegar a
ninguém. Perder minha família de forma tão brutal me destruiu por completo.
Não quero jamais passar por isso novamente. Sou um louco, psicopata e
assassino, que vive com a família morta em sua vida, como se ainda fossem
vivos. Ou eu morto.
Por esses sentimentos confusos que deixei as três cobras soltas no paiol.
Escolhi as que não são venenosas, mas claro que não falei nada. Quero
aterrorizá-la e fazê-la me odiar. Quando chegar a hora de matá-la, não terei
vínculo algum e assim ficará mais fácil.
Quando chego, vou direto para meu quarto, preciso tomar um banho
antes que Rosa me veja nesse estado calamitoso. Minha cabeça está cortada
devido às pedradas da louca e o sangue secou nos meus cabelos longos. Tem
sangue até em minha barba.
Antes que eu entre no banheiro, Rosa chega. Ela é assim, mulher
atrevida.
— Zak, meu filho, o que aconteceu com você? — Chega mais perto e me
puxa para baixo por minha longa barba. Aqui ela que manda, caralho. Obedeço
somente a ela.
— Eu caí... — Tento me afastar, mas ela não permite.
— Está mentindo. Sei o que faz, Zak, não concordo, mas não sou tola.
Me diz, quem fez isso com você? — pergunta a astuta.
— Uma maluca do caralho! — Quando falo me assusto com o que disse,
merda, agora ela vai me azucrinar o resto da minha vida.
— Uma? Zakarias Feranttis, você está com uma mulher refém, cativa,
presa? — pergunta puxando minha barba com força, caralho, isso dói. — Me diz
que estou enganada!
— Eu matei o cara que queria estuprá-la, quero matá-la também, mas
ainda não tive coragem. Cacete. Ela me lembra sempre minha filha. Porra dos
infernos! — Saio de seu agarre e deixo um monte de fios da minha barba em
suas mãos. Ela olha assustada para mim.
— Eu não acredito que você está fazendo o mesmo que seu irmão! —
Quando ouço isso surto e destruo meu quarto todo na porrada.
Ela continua lá, de braços cruzados, como se nada estivesse acontecendo.
— Terminou o show? — pergunta, com dor na voz.
— Nunca mais repita isso, Rosa! Te amo demais, mas tudo tem limites,
porra! Só não te mato agora por tudo que fez por mim, caralho! — digo parado à
sua frente e espumando de ódio.
Ela me olha com tristeza e sem medo.
— Não te reconheço mais, Zakarias. Você se transformou em um
monstro e só não vou embora porque prometi a sua esposa e filha, em seus
túmulos, que cuidaria de você enquanto eu vivesse. Você terminará sozinho e
louco se continuar agindo como um demônio, achando que é Deus. Você perdeu
o senso, direção e caráter, agora mata por puro prazer, tortura as pessoas sem
motivos. Mas prender uma mulher e torturá-la? E talvez até estuprá-la, algo que
jurou jamais fazer. Olha o fundo do poço em que está... Está agindo como seu
irmão, Marlon, tenho nojo e asco de você nesse momento, Zakarias Feranttis —
diz, com seriedade e profundo desgosto. Isso me machuca de tal forma que
coloco as mãos em meu peito para tentar aplacar a dor.
— Nunca estuprei mulher alguma e sabe que jamais farei isso —
sussurro, indignado e com dor no coração.
— Pode não ter violado seu corpo, mas e seu espírito? — pergunta e sai
sem dizer mais nada.
Aquilo me quebra e caio de joelhos. Fico prostrado por muito tempo,
repassando toda minha vida desde que perdi minha família.
Depois de um tempo, me arrasto até o banheiro e tomo um banho
demorado. Saio e me olho no espelho. Não reconheço esse monstro que me olha
de volta. Já fui um homem gentil com todos, justo, honesto e amoroso. A simples
ideia de machucar um bichinho me dava asco. E ensinei esse mesmo amor para
minha filha. E agora estou aqui, um monstro que mata por prazer, tortura para
sentir alguma emoção nesse buraco negro que costumo chamar de coração.
Meu rosto já foi lindo, hoje é essa monstruosidade coberto de cicatrizes
horrendas, um monstro por fora e por dentro. Olho os olhos castanhos da Fera
que me encara de volta e vejo uma lágrima deslizar e se perder entre minha
imensa barba.
Saio do quarto e visto uma camisa de algodão branca e uma calça jeans
que já viu melhores dias.
Desço e almoço, depois vou para a biblioteca e fico lá a tarde toda,
bebendo e pensando sobre minha vida e no que me tornei. Rosa tem razão,
extrapolei demais, mas será que consigo resgatar ao menos uma parte do que
fui?
Continuo bebendo sem parar. Alterno entre choro e gargalhadas. Bêbado
é foda!
Quando chega à noite já estou vendo o mundo rodar, tento me levantar e
caio sentado novamente, meu estômago revirando. Vomito tudo que almocei e
bebi a tarde toda. Tento me levantar mais uma vez e caio no chão, e aqui fico.
Fecho meus olhos e adormeço ou desmaio, não sei bem.
Eu sempre trabalhei para a família Feranttis. E me apeguei demais ao
menino que sempre foi o mais centrado e atencioso com todos, meu pequeno
Zakarias. Marlon sempre foi um menino que maltratava as pessoas e matava os
bichinhos com alegria. Me lembro que uma vez matou um filhote de passarinho.
Zak chegou chorando com o bichinho morto nas mãos e Marlon rindo atrás e o
chamando de mulherzinha. Vi, nesse momento, o quanto o coração de Zakarias
era puro e o do seu irmão cheio de malícia. O tempo só veio confirmar isso. Eles
cresceram e o pai dos meninos viu em Zak um homem centrado e deixou de
herança a empresa para ele e os outros imóveis para Marlon.
Mas Marlon sempre quis a empresa, ou melhor, ele queria tudo que seu
irmão tinha, até as namoradas.
E acabou por destruir Zakarias de uma maneira avassaladora, quando
assassinou sua família. Zak vivia para sua esposa e filha, e o choque o destruiu.
Desde então, a cada dia que passa, ele vem se transformando em um ser
abominável. Já nem sei se ainda possui alguma empatia por alguém. Fico aqui
porque sei que se o abandonar ele cometerá suicídio. Nunca me disse
abertamente, mas o que o prende aqui nessa terra ainda sou eu. Mas já o ouvi
conversando sozinho e ele dizia baixinho e chorando que só não acabava com
sua vida porque destruiria a minha. Fiquei semanas com o coração doendo por
esse homem tão sofrido e quebrado.
Mas o que ele está fazendo agora está além do que posso permitir e fingir
não saber. Não saio dessa casa devido aos animais peçonhentos que rodeiam a
floresta em que vivemos, mas vou ter que me armar de coragem e ver se ele
realmente chegou ao limite da maldade humana.
Se tiver realmente uma mulher cativa no paiol, vou tentar tirá-la de lá.
Não posso permitir isso, mesmo porque se ele a matar, estará assinando, com os
próprios punhos, sua sentença de loucura total. Eu sei que debaixo dessa capa de
assassino ainda está meu amoroso Zakarias. Sei que ele jamais se perdoará
quando cair em si e ver o que está fazendo com a mulher. E no momento, ele
está agindo com total insanidade.
Tenho obrigação, como mãe, de agir, porque ele é como um filho para
mim. Vou intervir e salvá-lo da loucura que está prestes a cometer. Vou ter que
enfrentar meus medos ao sair da proteção que ele fez para mim nesse casarão
sombrio. Amanhã cedo irei ao paiol, sei que é lá que ele pratica o que chama de
justiça. Deixei que bebesse o quanto quisesse, hoje ele ficará por conta. Amanhã
limparei a bagunça. Já entrei e vi com o coração partido meu menino quebrado
no chão, perto de uma poça de vômito. Choro por sua dor, perdas e por ver que
ele se perdeu no caminho de uma vingança sem fim.
Fecho a porta com cuidado e vou para meu quarto.

***
Quando amanhece, desço, preparo o café e deixo tudo como Zak está
acostumado, não quero que desconfie que vou ajudar essa moça de forma
alguma. Sinto, em meu coração, que ele já a quebrou de uma maneira quase
irreparável.
Vou à biblioteca e ele continha deitado no chão. Sinto vontade de ajudar,
mas se acordá-lo não poderei ir ao paiol.
Me arrumo, calço botas bem altas, calça comprida e blusa de manga
longa. Coloco uma toca na cabeça. Abro a porta e estremeço, o medo me toma,
mas me forço a dar um passo para fora de meu abrigo seguro. Penso na mulher
refém. Dou um passo, dois, três, e de repente começo a correr e passar pelo
trilho escuro e escorregadio devido às folhas podres no chão.
Chego ao paiol e vejo o clarão que sai pelas gretas. O louco deixou todas
as lâmpadas ligadas, pobre menina. Será que ainda está viva? Ou as atrocidades
a que foi submetida a deixaram louca?
Ando mais rápido e tiro a trava de madeira que mantém a porta fechada.
Quando abro, a cena que vejo me deixa assombrada, e essa cena irá me perseguir
enquanto eu viver.
Vejo uma bonequinha sentada na cama com a boca pingando sangue e
baba. Ela está rouca, pedindo para não deixá-la com as cobras. Sua voz sai fina e
desgastada.
— Eu juro que conto o porquê tenho medo... — diz, repetindo isso sem
parar, e com o rosto e corpo todo arranhado.
Seu pequeno rosto tem feridas feitas por suas unhas que sangram e seu
pescoço está mais arranhado ainda. A moça está destruída e com o olhar
vermelho e apagado.
Meu coração quebra ao ver como Zakarias a tratou, e sinto ódio dele
nesse momento.
Chego até ela com cuidado para não assustá-la, mas ela continua imóvel.
— Ele me deixou aqui com as cobras... muitas cobras... eu não quero
ficar com elas... tenho medo. Me leva daqui! Me tira daqui. — Coloca as mãos
na cabeça e as desce, arranhando mais ainda seu rosto, pescoço e braços.
Corro e a impeço de continuar a se machucar.
— Não, filha! Eu vou te tirar daqui. — Ela continua se balançando para
frente e para trás.
— O monstro não vai deixar, vai nos matar. Ele é grande e muito mau...
— Choro ao ver o estado em que Zakarias deixou a menina.
Pego seu rosto delicado e olho em seus olhos vermelhos e aterrorizados.
— Não vai, querida, nós vamos enganá-lo e eu prometo protegê-la com a
minha vida. Venha comigo. — Tento puxá-la, mas ela resiste.
— Ele mandou ficar aqui com as cobras, se sair vai nos matar, eu e você.
Ele matou o André e me fez ajudar a enterrá-lo. Ele é mau, um demônio. — A
olho com o coração partido, Zakarias conseguiu se superar dessa vez e me
surpreender de maneira negativa.
Me sento ao lado da menina aterrorizada e quebrada, e a abraço, fico
assustada com tamanha fragilidade. Ela é uma coisinha de tão delicada.
— Por favor, não aperta aí, quando ele me jogou na moita de espinhos
me cortei muito e dói demais... — diz baixinho e aceitando meu abraço. Gelo
com o que me diz. Estamos falando do mesmo homem?
— O que mais esse homem fez com você, filha? — Meu coração dispara
em meu peito com o simples pensamento de Zakarias tê-la estuprado.
— Ele tentou me matar com um tiro na cabeça, só que quando atirou, cai
e torci o pé em um buraco. Não consigo andar. Meu pé dói tanto que tenho
vontade de gritar. Aliás, minha cabeça, pé, peito, estômago, os cortes, doem
tanto que tenho vontade de me matar para acabar com essa dor imensa. — De
repente para e arregala os olhos assombrada. — Ele está vindo e agora vai me
matar.
Enxugo as lágrimas por ver o que essa mulher já passou e falo baixinho
para não apavorá-la ainda mais.
— Filha, como se chama? — pergunto, com carinho e calma.
— Isabela Amorim — fala baixo.
— Nome bonito, filha, Bela. — Acaricio seus cabelos longos e cheios de
nós e folhas. Seus braços arranhados são delicados e finos.
Essa moça está muito ferida e traumatizada.
— Você confia em mim, Bela? Eu vou te tirar daqui, prometo. — Ela me
olha com olhos assombrados.
— E o demônio? Se nos pegar? — fala, torcendo as pequenas mãos.
— Não vai pegar, querida, vou levá-la para um lugar seguro onde ele
nunca irá te fazer mal. — Zakarias nunca entrou em meu quarto sem bater e sei
que jamais fará isso, o homem tem bons costumes e os usa comigo. Não posso
dizer o mesmo sobre essa pequena e quebrada guerreira.
— Me leva deste inferno, por favor, senhora. — Parece que a sanidade
começa a voltar e ela me olha com menos terror nos olhos.
Ela me abraça com força, vendo em mim sua única opção. A abraço de
volta, com cuidado, para não machucá-la mais, e a coloco de pé. Olho para baixo
e vejo seu tornozelo inchado e com um tom escuro de roxo. É difícil de acreditar
que Zakarias fez tudo isso com essa menina.
— Vamos, querida, antes que ele chegue. — A ajudo a se levantar e
saímos, caminhando devagar até eu me lembrar que preciso protegê-la das
cobras. Pego um par de botas gigante de Zakarias que está em um canto e peço
para que ela as coloque.
— Essas botas cortaram meus pés ontem quando ele me obrigou a
caminhar com elas por horas — diz, estremecendo.
Olho seus pés delicados em carne viva e tenho uma ideia.
Tiro minhas botas e meias e calço nela. Logo em seguida eu calço as
botas gigantes do homem que me decepcionou de uma maneira dolorosa. Vai
levar um tempo para perdoá-lo, isso se eu conseguir.
Andamos com dificuldade para fora desse lugar maldito e pego outro
caminho para casa, a fim de não correr o risco de sermos pegas por Zakarias.
Chego em casa e entro pelas portas dos fundos. Subo, levando Bela com
cuidado e finalmente entramos em meu quarto. Ela olha tudo, assustada, e a
coloco sentada em uma poltrona, enquanto preparo um banho.
— Senhora? — ela me chama.
— Rosa, querida, me chame de Rosa — digo enquanto preparo seu
banho em minha pequena, mas aconchegante banheira. — Vem, Bela, vai ser
ótimo para você relaxar e lavar essa quantidade enorme de feridas que têm pelo
corpo. Depois que tomar o banho, vou passar pomada anti-inflamatória nos
machucados e te dar um remédio para dor.
Ela me olha com gratidão e seus olhos se enchem de lágrimas.
— Nunca vou poder agradecer ou pagar o que está fazendo por mim,
senhora... quer dizer, Rosa. Sei que está fazendo muito por mim, mas gostaria de
pedir algo mais. Estou sem me alimentar há dias, poderia me dar algo para
comer? Meu estômago está dando fincadas de tanta fome. — Sua voz sai baixa e
trêmula. Meus Deus, nem comida ele levou para ela?
— Ele não te deu comida esses dias? — pergunto, sem acreditar.
— Não, senhora, disse que ia pensar se levaria. — Funga e chora,
sentida.
Ando rapidamente até ela e a ajudo a se despir, quando vejo seu pequeno
corpo todo marcado de arranhões e mordidas, fico abismada com o quanto essa
mulher já sofreu nas mãos de Zakarias.
— Isso foi ele que fez? — pergunto novamente, sem acreditar.
— Os arranhões, sim, me arrastando pela floresta e quando me jogou no
espinheiro, mas as mordidas foi o cara que tentou me estuprar, e o assassino o
matou. — Fecho meus olhos, pelo menos a salvou de ser estuprada. Vejo aí uma
nesga do que Zakarias foi. Mas nada justifica como ele a tratou até agora.
NADA!
— Vamos fazer assim, enquanto você toma um banho, vou buscar algo
para comer, combinado? — Ela assente, a ajudo a tirar a roupa e vamos para o
banheiro, ela, apoiada em mim.
A ajudo a entrar na banheira e ela geme de dor e não de prazer, vejo pela
sua expressão de agonia.
— Daqui a pouco você se acostuma, e a água quente amenizará as dores.
Saio e fecho meus olhos para conter as lágrimas, Zakarias quebrou essa
moça de uma forma aterradora. Ele está realmente perdido em seu mundo de
vingança sem fim. Vou ajudar essa menina e depois dar um jeito de tirá-la daqui.
Com esse pensamento, desço, passo na biblioteca e está tudo limpo. Zak
já não está aqui. Estou com muita raiva dele, mas quando vejo sinais do homem
generoso que foi, meu coração se aquece novamente. Se fosse outro, largaria a
bagunça que fez aqui ontem à noite. Mas Zak limpou tudo e deixou flores aqui,
porque sabe que as amo, mas não saio para pegar devido ao pavor dos bichos
rastejantes.
Subo para seu quarto e vejo que está tudo arrumado e limpo, sim, ele
saiu.
Desço mais tranquila e preparo uma bandeja com muita comida e
remédio para dor. A moça está desnutrida, precisa comer muito e tomar algum
medicamento para tirar a dor que deve ser excruciante, pela quantidade de
machucados que tem.
Subo e quando entro, ela já está sentada na cama enrolada em uma toalha
com os cabelos úmidos e limpos.
Coloco a bandeja na mesinha de cabeceira, pego uma calcinha, e um
vestido meu para ela.
Claro que ficará enorme, pois sou mais cheinha e ela é bem magrinha.
— Filha, deixe-me ver os machucados em seu corpo e passar essa
pomada, tome esse remédio para dor que trouxe para você. — Mostro a pomada
e entrego os comprimidos e o copo com água. Ela os toma e me devolve o copo
vazio com gratidão nos olhos prateados.
Bela tira a toalha e me espanto mais uma vez ao ver o que esses
demônios fizeram com ela.
Passo pomada praticamente no seu corpo todo, rosto, pescoço, mas os
pés são os que estão piores.
— Foi a bota pesada que ele me mandou usar, ela é muito grande e
deslizava em meus pés devido ao sangue que escoria dos machucados — fala
cansada.
Parece que estou vivendo em um filme de terror, onde o protagonista é o
homem que tenho como filho, penso com desgosto e amargura.
Ajudo-a a se vestir e penteio seus lindos cabelos castanhos lisos.
— Seus cabelos são lindos, filha — elogio.
— Vou cortá-los, quero raspá-los — diz com raiva, primeiro momento
que expressa esse sentimento.
— Cortar? Está maluca, Bela? Eles são maravilhosos! — falo
horrorizada.
— Eles só me trouxeram dor... toda vez que o assassino me puxava, ele
me arrastava pelos cabelos. E o cara que queria me estuprar também. —
Estremece ao se lembrar.
— Filha, passou. Se você cortar essas longas e lindas madeixas estará
dando crédito aos homens que agiram com você como bichos selvagens. Seus
cabelos são lindos, você é linda e ponto. — Ela esboça um ligeiro sorriso e uma
lágrima desliza em seu delicado rosto.
— Obrigada, Rosa, você é um anjo que surgiu em minha vida para me
tirar do inferno em que eu estava.
Me levanto, pego a bandeja e entrego para ela. Bela come com
voracidade. Deixo que coma e beba em paz.
— Filha, tenho que te contar uma coisa e te pedir um favor. — Ela me
olha alarmada, comendo uma banana.
— Sim?
— Vou te contar, mas não precisa ficar assustada, eu te prometo que
estará protegida aqui. Eu trabalho para o Zakarias, o homem que te manteve
refém... — Ela se levanta de uma vez e tenta correr para a porta.
— Bela! — Pego em seu braço com carinho. — Me ouça, filha. — Ela
para e me olha com terror nos olhos.
— Não quero te fazer nenhum mal, se quisesse já teria feito, não é? —
Ela se acalma mais. — Venha, sente-se aqui na cama comigo e te conto tudo.
Ela vem com cautela e se senta.
— Filha, tudo começou quando comecei a trabalhar na casa dos pais de
Zakarias... — Conto a ela toda a vida e trajetória de Zakarias, a perda de sua
família de forma trágica, o que fez com que ele se transformasse nesse homem
sem sentimentos, cruel, louco e agindo conforme seus novos padrões distorcidos.
Quando eu termino de falar ela está triste, mas tem raiva nos olhos.
— Isso não justifica ele matar pessoas ou fazer o que fez a mim. Esse
homem me torturou por dias, Rosa. Olha meu corpo. — Soluça e chora.
— Entendo você, querida, por isso te apoio e estou te ajudando. Creio
que chegará um momento em que Zakarias acordará, terminará sozinho ou morto
— falo, com dor no coração. — Te contei tudo isso porque ficará somente aqui
em meu quarto, protegida. Vou arrumar um jeito de tirar você daqui. Mas terá
que ter paciência, sair daqui não é fácil. Zakarias monitora tudo, sem contar os
bichos que tememos tanto, que vivem lá fora. — Bela me olha aterrorizada e me
conta o trauma que tem de cobras, quando e como começou.
— Ficarei aqui em seu quarto, Rosa, o tempo que for preciso para que eu
possa conseguir sair deste inferno. Odeio este lugar e esse homem com toda
minha alma — desabafa com raiva, eu a entendo.
Sorrio, pego suas pequenas mãos brancas e machucadas.
— Combinado, querida, temos um trato. — Me levanto, pego a bandeja,
agora vazia, e caminho para a porta.
— Rosa, muito obrigada por tudo, nunca vou me esquecer o que você fez
por mim — diz com a voz emocionada.
— Tranquilo, querida, fique à vontade em seu novo lar, mais tarde trarei
livros para você, gosta ler? — pergunto sorrindo e quando vejo seus olhos
brilharem sei que acertei em oferecer livros.
— Adoro livros, Rosa! Ler é um dos meus maiores prazeres. Obrigada.
— Vejo seu sorriso genuíno pela primeira vez e é lindo, parece um anjo.
Desço feliz por poder ajudar essa moça. Limpo a cozinha e faço uns
biscoitos antes de começar o jantar. Mas antes de tudo, separo uns livros e levo
para Isabela.
Acordo com um gosto ruim na boca e a primeira coisa que vejo é meu
vômito no chão. Nojento!
Me levanto com dor no corpo todo e me sinto um lixo. A sala está toda
suja, uma merda fedida de restos de comida azeda.
Limpo a sujeira que fiz. De modo algum vou deixar Rosa limpar essa
bagunça. Me sinto envergonhado. Termino tudo e subo rápido para meu quarto,
tomo um banho demorado, tirando o mau cheiro que está impregnado em meu
corpo e barba. Lavo-a com bastante xampu e meus cabelos também. Me ensaboo
duas vezes e faço o mesmo com os cabelos e barba. Quando me sinto limpo,
saio, me seco, visto qualquer coisa e desço rapidamente.
Vou levar comida para Sininho, tem dias que não come, e me esqueci
dela ontem, porra! Soltei as cobras, ainda que não sejam venenosas e que tenha
deixado as luzes acesas, são cobras! Caralho, onde estava com a porra da
cabeça? Essas torturas são para estupradores, cacete. Realmente estou perdendo
o juízo. Estou ficando a porra de um velho maluco e lunático. Será que sou
bipolar? Porra!
Arrumo tudo em uma sacola e saio rapidamente, tenho uma estranha
necessidade de ver a mulher que já torturei e aterrorizei tanto.
Atravesso o caminho úmido e com cheiro de lodo e folhas podres, já me
acostumei. Piso na cabeça de uma maldita cobra e continuo andando
rapidamente.
Quando chego e vejo a porta aberta, meu coração dispara e corro como
um alucinado que sou para dentro do paiol, apavorado com a ideia de que
alguém entrou aqui e a estuprou, ou mesmo a matou. Quando entro com o
coração quase saindo pela boca, não vejo nem sinal da mulher.
Corro para o banheiro e grito por ela. Uma sensação ruim se alastra pelo
meu corpo e sinto-me todo trêmulo e suando frio. A mesma sensação maldita de
quando pegaram minha família.
— Moça! Você está aqui? Está bem? — Sou tão fodido que não perguntei
nem o nome da mulher. Estava tão preocupado em torturá-la por estar
despertando sentimentos estranhos em mim novamente que esqueci toda
humanidade dentro de mim.
Reviro a porra do paiol de cima a baixo e não a encontro. Coloco as mãos
na cabeça e fico sem saber o que fazer.
Saio correndo para fora e contorno o paiol para ver se a acho em algum
lugar. Olho a imensa floresta e entro em pânico total. Se ela conseguiu fugir não
vai sobreviver nessa mata fechada, aqui se não tiver a mínima noção de
sobrevivência é morte certa.
Corro igual a um louco por toda a área que contorna o paiol.
Me lembro do carro e corro para lá, a chave ficou na ignição, burro que
sou, esqueci de tirar, ela com certeza conseguiu fugir usando o veículo.
Corro como se estivesse sendo perseguido por demônios, e quando vejo o
carro paro sem fôlego e coloco as mãos nos joelhos, puxando o ar para os
pulmões, com dificuldade.
Caminho para o carro, abro as portas e olho dentro, vazio.
Olho para o céu sentindo o peso de tudo que fiz a essa mulher. Fecho
meus olhos e me lembro de quem fui e do que sou agora. Me choca ver em quem
me tornei.
Estou decepcionada com você, papai. E mamãe também, ela nem quer
falar com você. Você foi muito mal com a moça e com todos que matou, seu
assassino.
Ouço a voz de minha filha, Lara, e olho para os lados, me arrepiando de
pavor e desgosto comigo mesmo.
A voz foi tão nítida e clara que procuro por ela. Quando vejo que é uma
alucinação de minha mente doentia, entro na porra do carro e tiro ele daqui,
levo-o até o lago, e o empurro para o fundo das águas sombrias. O vejo
afundando aos poucos, e me sinto exatamente assim, submergindo nas águas
lodosas daquele lago escuro e frio...
Volto a pé, caminho umas cinco horas sem parar, quase correndo.
Quando chego, estou quebrado, com vários arranhões no corpo, e com fome.
— Rosa! — Entro correndo e gritando igual a um demente que estou
aceitando que sou.
Ela aparece na porta, enxugando as mãos no avental.
— Rosa, ela sumiu! — Ela me olha com desgosto e repito: — Ela sumiu,
desapareceu. Vai se ferir na floresta, caralho. Ela tem pavor de cobras, as que
deixei lá não eram venenosas, eu juro! — falo com as mãos na cabeça.
— Vou terminar o almoço. — Rosa me olha friamente e volta para a
cozinha.
— Rosa? — Ela me ignora e isso me mata.
— Você está com raiva de mim, mãe? — Uso a palavra que sei que a
desmorona, adora que a chame assim.
— Não sou sua mãe, não pari um filho que assassina e tortura pessoas
como se fossem formigas — diz e sinto um aperto tão grande no peito que caio
de joelhos e coloco as mãos no coração. Acho que estou tendo um ataque
cardíaco.
Olho para cima e vejo ela me olhando, pálida.
— Me perdoe... eu sei que perdi a noção do certo e errado quando escolhi
matar... Rosa, me ajude. — Estendo a mão e ela ignora.
— Se levante, vou ficar aqui porque prometi, mas minha vontade é de ir
embora e nunca mais te ver, Zakarias. Vejo Marlon, aquele imprestável, em
você. — Rosa enfia a adaga em meu coração sem dó.
— Vou procurar a moça e a trarei de volta e juro a você que tentarei me
redimir... Rosa, minha filha me disse que está decepcionada comigo, ela e a mãe,
hoje de manhã — falo chorando e segurando meus cabelos.
Ela me olha estranho e vem para meu lado.
— Filho, vem aqui. Você precisa comer, antes de tudo. Depois sentar e
analisar esses últimos cinco anos, e fazer um balanço e ver se valeu a pena levar
essa vida de bandido. Você se tornou um assassino, e agora torturador de
mulheres. — Fecho meus olhos e sinto o olhar de minha filha em mim.
— Nunca torturei mulheres, só ela... só ela, eu juro! Não! Teve a puta da
Cassandra, mulher de Marlon. Mas ela não conta, não é Rosa? Vou mudar, vou
mudar... eu juro! — falo sem parar. — Mas antes tenho que achar a mulher... —
Vejo minha filha encostada na parede me olhando com tristeza. Olho para ela —
Eu prometo a você, filha, e a sua mãe, que vou mudar, eu juro, vou mudar!
Me levanto e saio correndo em direção à floresta, só volto quando achar a
moça.
Procuro em cada pedacinho que consigo chegar. Vasculho rios, estradas,
trilhos. Ando dia e noite. Sinto meu corpo reclamar, mas tenho que achá-la.
Minha filha está decepcionada comigo. Rosa e Sara também.
Sinto fome, mas deixei a mulher sem comer, eu mereço.
Já tem três dias que a procuro sem parar, dia e noite. Já fui todo picado de
mosquitos, pernilongos e já matei tantas cobras que posso entrar para o Guinness
Book. Choro alto, peço perdão aos céus por ter perdido o amor e empatia pela
vida humana. Me tornei pior que Marlon, matei mais gente do que ele. Muita
gente inocente, e minha filha viu tudo!
Continuo procurando e agora está escuro e chovendo, minha filha me
observa de longe, com olhar acusador. Estremeço de frio, angústia e loucura.
— Vou me redimir, filha, juro para você e sua mãe! — digo e continuo
procurando a moça. Estou encharcado e na escuridão.
Quando já está amanhecendo, me encosto em uma árvore, estou gelado
dos pés à cabeça e lá está Lara, olhando com desgosto para mim.
— Assassino, você matou Sininho! — ela diz com lágrimas descendo por
suas faces infantis.
— Não, filha! Eu vou mudar, eu juro! Amo você, não me acuse! Me
perdoe! Sua mãe não quer nem me ver porque sou um assassino! — Entro em
desespero e saio correndo com loucura, sentindo os galhos batendo em meu
rosto e corpo.
Continuo procurando, agora estou dentro do lago onde joguei o carro,
quem sabe ela está aqui?
A chuva continua a cair e agora está forte, eu estou nadando e olhando
tudo ao redor. Nada!
Vejo minha filha me olhando e movendo os lábios, me chamando de
assassino, mesmo debaixo d’água.
Subo para a superfície rapidamente e a vejo na beirada do lago.
Estou ficando louco. Saio do lago, tremendo de frio e corro para casa,
preciso de Rosa.
Perdi a conta de quantos dias estou procurando Sininho. Vou voltar e
conversar um pouco com minha mãe e depois volto a procurá-la. Se não a achar
sei que enlouquecerei de culpa e remorso. Minha filha jamais me perdoará, nem
Rosa, Sara e principalmente eu, jamais me perdoarei.
Já estou aqui há uma semana e apesar da casa ser em um lugar tenebroso,
aqui dentro é uma delícia de se viver, muito aconchegante. Todo o conforto que
temos na cidade, o maldito colocou aqui.
Percebi que Rosa o ama como filho, mas está decepcionada com o
comportamento louco e desvairado dele.
A vejo chorando pelos cantos e meu coração sente por ela. Agora que o
Frankenstein sumiu, me aventuro a descer e ajudá-la. Claro que fico atenta a
qualquer barulho diferente, se o louco aparecer, subo rapidamente.
Estou na cozinha ajudando Rosa a preparar o almoço. Ela faz diariamente
os pratos preferidos do homem que me torturou. Minha vontade é de jogar
veneno na comida do maldito.
— Rosa, não fique assim, você está chorando tem quase uma semana. —
A consolo abraçando-a, afeiçoei-me demais a essa mulher que me salvou da
morte e loucura certa. Ela limpa as lágrimas e me olha com dor nos olhos.
— Bela, ele nunca ficou tanto tempo fora, filha. A última vez que
conversamos fui muito dura com ele, e isso está me matando. Se algo acontecer
com ele, me culparei pelo resto de minha vida. Eu, mais do que ninguém, sei o
quanto esse homem já sofreu e como foi arrasador para ele perder sua família
que era seu mundo — diz com novas lágrimas descendo pelo rosto vermelho.
— Você quer sair e procurar por ele? Eu te ajudo — proponho isso por
amor a ela, por mim esse homem poderia morrer picado por mil cobras e ficar
agonizando na floresta por dias sem fim. — Ela me olha com carinho.
— Não, filha, nós não sobreviveríamos a vida selvagem lá fora. Zakarias
está acostumado. Desde que viemos morar aqui, quando ele sai procura a morte.
Sempre. Bela, esse lugar é selvagem e cheio de animais extremamente
venenosos. Lugares cheios de armadilhas feitas pela natureza. Filha, tem
despenhadeiros imensos que só vemos quando já é tarde demais. As árvores são
muito juntas, camuflam buracos cheios de cobras e águas que empoçam ficando
cheias de bichos de toda espécie. Zakarias me conta suas aventuras e confesso a
você que quando ele sai fico em pânico. Mas não adianta falar, esse homem
procura a morte e a mesma corre dele — sussurra de uma vez.
Arrepio-me quando me lembro do cemitério dos invasores, vejo com
perfeição em minha mente as cobras rastejando no meio das folhas secas. E
estremeço quando me lembro do maluco soltando as três cobras que tirou de
uma caixa que havia no paiol. Fiquei aterrorizada. Rosa diz que ele é um bom
homem e que foi um pai e marido excelentes, mas não consigo ver isso como
verdade. Só vejo esse ser como um demônio da pior espécie.
— O que posso fazer para deixá-la mais tranquila, Rosa? — pergunto,
enquanto ela pica cebolas e eu as batatas. Me disse que o Frankenstein adora
batatas assadas com queijo. E aqui estamos nós, fazendo a comida preferida que
meu agressor gosta e aprecia. Maldito!
Parece piada de filme de quinta categoria. Ela me olha com tristeza.
— Por enquanto nada, filha, vamos aguardar — diz, limpando os olhos e
suspirando com agonia e tristeza.
De repente ouço passos de alguém correndo com desespero e escuto a
voz que me aterroriza em pesadelos, e agora na vida real.
— Rosa! Rosaaaaa! — Corro para a dispensa e me escondo, fechando a
porta, tremendo de medo e pavor. Se ele me vir, me matará com toda certeza. Ele
é um algoz sem sentimentos e agora que a sanidade o abandonou, ficou pior.
Vai me levar de volta para o paiol e soltar as cobras, penso com
desespero, me agachando com as mãos na cabeça.
Soluço aterrorizada. Ouço os passos apressados de Rosa.
— Filho! Zakarias! Por onde andou todos esses dias? — A angústia toma
sua voz.
— Rosa! Ela sumiu... fugiu, alguém a pegou! Eu juro que não a matei.
Juro! Minha filha está me chamando de assassino. Rosa, diz para ela que não
matei a mulher! Olha, Lara está ali perto do fogão, fala para ela. Juro que dessa
vez sou inocente! Minha filha não acredita em mim, Rosa! Me ajuda! — Sua voz
é pura loucura. Ele solta soluços altos e fortes, e me fazem arrepiar. Ele surtou de
vez. Casa de malucos.
Abro uma gretinha na porta e a imagem que vejo me choca. O homem
que me torturou com tanta malícia e que assassina a sangue-frio está derrotado,
ajoelhado no chão. O rosto e braços estão cobertos de sangue, e sua roupa
encharcada de lama e espinhos. Seus cabelos e barba estão uma confusão de
folhas, espinhos e gravetos. O homem está destruído e parece que perdeu a
sanidade. Está dizendo que sua filha está ali, a menina que foi assassinada há
mais de cinco anos, acusando-o.
Rosa está com as mãos na boca e pálida igual a papel. Ela vai desmaiar,
com certeza, a qualquer momento. O que faço, meu Deus?
Quero ajudar, mas o medo de ser novamente presa e torturada por esse
demônio maluco me faz ficar petrificada no lugar, e com o coração disparado e
suando frio.
Quando enxergo o casarão coberto de heras, sinto meu coração sossegar
um pouco mais. Rosa me entende e vai me dizer exatamente o que fazer, sempre
fez isso. Ainda que dessa vez a tenha decepcionado, e muito. Suas palavras ainda
ferem meu coração como facas que foram cravadas sem dó.
Corro para chegar mais rápido, estou com fome, frio e cansado demais.
Estou procurando Sininho tem várias noites e nem sinal da mulher, ela evaporou.
Mas não vou desistir, vou encontrá-la e mostrar para minha filha, esposa
e Rosa, que ainda tenho redenção. Ainda resta alguma empatia dentro de mim.
Vou mostrar isso a elas, nem que, no processo, eu morra tentando.
— Rosa! Rosaaaaaa! — grito, entrando e indo direto para a cozinha,
porque sei que ela fica lá a maior parte do dia. Quando entro uma paz gostosa
toma meu ser e sinto um cheiro gostoso de flores no ar. Olho em volta e vejo
somente minha filha encostada na parede. Me olha fixamente e entro em pânico.
— Rosa! Ela sumiu... fugiu, alguém a pegou! Eu juro que não a matei.
Juro! Minha filha está me chamando de assassino. Rosa, diz para ela que não
matei a mulher! Olha, Lara está ali perto do fogão, fala para ela. Juro que desta
vez sou inocente! Minha filha não acredita em mim, Rosa! — Minha voz sai
desesperada e soluço tão forte que sinto meu corpo sendo sacudido.
Rosa me olha com as mãos na boca e olhos vermelhos.
— Filho, filho. O que está acontecendo com você, meu menino? —
murmura baixinho em meu ouvido, me abraçando com força.
— Preciso achar a mulher, mãe, só assim terei paz. Não quero essa vida
mais! Me ajuda, mãe! — A aperto com desespero, e ela me puxa com suavidade.
— Zakarias! — fala alto e me faz olhá-la nos olhos. — Preste atenção,
filho: Você vai tomar um banho. Estou terminando seu prato favorito, batatas
assadas com queijo. E quando descer, conversaremos, prometo ajudar você, meu
filho — ela diz com suavidade, passando a mão em meu rosto áspero devido às
cicatrizes.
— E minha filha? — pergunto, com ansiedade.
— Ela vai embora, brincar com os anjos quando ver o pai maravilhoso
que tem. Que está perdido, mas que está se reencontrando novamente. Filho,
Lara veio para te ajudar e não te condenar. — A olho, esperançoso.
— Sério, mãe? — Meu coração apazigua com essa informação.
— Sim, meu filho, eu te prometo isso.
Vamos para meu quarto e quando ela vê que estou mais calmo, desce
para terminar o almoço. Tiro minhas botas, roupas enlameadas e cheias de
espinhos e vou para o banheiro. Olho de um lado para o outro e não vejo Lara.
Ligo o chuveiro e a água quente cai em meu corpo judiado. Pego
sabonete líquido e espirro na esponja, lavando meu corpo todo, esfregando com
força. Arranco algumas sanguessugas agarradas em minhas pernas e braços.
Bicho maldito!
Rosa tem toda razão de não querer sair de dentro de casa, penso,
enquanto me seco.
Quando estou vestido me sento na cama e fecho meus olhos, um
minutinho somente. Não vejo quando o sono vem pesado e forte. Desmaio e
sinto mãos tirarem as folhas e pedaços de galhos de meus cabelos e barba. Mãos
suaves e com cheiro de flores. Gemo de satisfação e as mãos somem. Protesto,
mas sem abrir os olhos, estou quebrado de tanto cansaço.
Elas voltam, agora com um pente macio. Penteia meus longos cabelos e
barba igualmente longa. Sinto que passa as mãos em minha barba e fico quieto, é
tão bom. Ouço uma voz suave e baixinha.
— Você vai ficar bom logo. É um homem forte. — Conheço essa voz
suave, mas não lembro de onde.
Meu corpo e coração apazigua e caio mais uma vez nas brumas de um
sono pesado.
Presenciar essa cena foi demais para mim, e ver o carinho e cuidado de
Rosa com ele me dá um vislumbre do lado mais humano desse homem que
cativou Rosa. E ele conseguiu esconder de mim essa fragilidade com maestria.
Vejo Rosa o consolar, como só uma mãe faz. E vejo também como se acalma
com suas doces palavras. O homem chegou aqui ensandecido e alucinado. Vejo-
a abraçá-lo e o conduzir para o quarto com palavras e gestos suaves.
Quando desce, seu semblante expressa pura agonia. Isso mexe comigo e
sinto sua dor.
— Rosa... — Vou de encontro a essa doce mulher e a abraço. Agora sou
eu a ajudá-la, consolá-la, transmitindo toda a força que tive dela quando mais
precisei. Devo a ela minha vida. Rosa está me fazendo ver que todos temos um
lado bom. Não existe ninguém cem por cento mau.
Ela me abraça e soluça.
— Filha, ele está transtornado, sem rumo, enlouquecido. Seu sumiço
mexeu demais com o Zakarias bom, gentil e cavalheiro, que estava adormecido.
O antigo, o meu filho. Você despertou o verdadeiro Zakarias. Nunca vi meu
menino tão ensandecido como agora, nem quando perdeu sua família. Penso que
caiu de repente a ficha do modo como escolheu viver e foi demais para um
homem que sempre foi tão integro, correto e justo. Zakarias precisa demais de
amor agora, filha, ou vai perder-se, e eu não poderei segurá-lo ou protegê-lo —
fala e senta-se em uma cadeira próxima à mesa, e chora em agonia. — Meu
Deus, me ilumina, como posso ajudar meu filho? — fala entre soluços.
— Rosa... — Não sei o que dizer, o momento aqui é complicado e
doloroso.
— Me ajuda, filha! Me ajuda a salvar meu filho, eu te suplico... — diz e
se ajoelha à minha frente. Fico horrorizada.
— Rosa, pare com isso! Levante-se! Claro que vou te ajudar, é só me
dizer como — me prontifico, e sim, quero e vou ajudá-la. O que essa mulher fez
por mim não tem preço.
— Mesmo sendo o homem que a manteve cativa e refém? — me
pergunta, com os olhos inchados e desesperados.
Meu coração dói ao me lembrar de tudo que passei nas mãos desse
homem. Na verdade, minha vontade é de matar esse monstro com requintes de
crueldade, mas se o fizer, serei tão fodida e lixo como ele. Farei por Rosa.
— Sim... — digo baixinho e com vontade de recuar.
— Obrigada, filha, obrigada. — diz com gratidão, apertando minhas
mãos com força. Me abraça, trêmula.
— O que quer que eu faça? — pergunto, já com medo da resposta.
— Que vá entrando na vida dele devagar. Agora ele está meio insano, vai
pensar que é uma aparição, assim como a filha. Diga a ele que você está bem e...
filha, vou deixar por sua conta, sei que seu bom coração te mostrará como agir.
Não porque Zakarias mereça, mas porque você é um ser de luz. Um anjo na
minha vida e na de Zakarias. Ele não percebeu, mas você veio para tirá-lo desse
poço infernal de trevas em que ele mergulhou. — Minha vontade é de rir dessa
senhorinha tão doce. Como ela vê tanta bondade em um monstro? Meu desejo é
de matar o desgraçado. Sorrio para acalmá-la.
— Tudo bem, só me diz como poderei fazer... — Ela se levanta e me diz.
— Conheço bem o Zakarias, agora ele está desmaiado devido ao que
passou. Então, você poderia ir ao seu quarto e ver como ele está? Enquanto eu
termino o almoço? — Gelo. Ir ao quarto do monstro?
— Eu termino o almoço e você vai vê-lo, Rosa. — Ela me olha com
carinho e explica o que para ela faz todo o sentido do mundo, mas para mim não
faz nenhum.
— Você que tem que ir aparecendo aos poucos na vida dele, filha. Ele
precisa saber que você o perdoou, para se perdoar... —
— Mas não o perdoei — corto-a, fria como gelo. Ela me olha
compreensiva
— Eu sei, querida, mas isso é somente para tirá-lo dessa insanidade
temporária. Quando ele melhorar, prometo a você que a tiro daqui, dou minha
palavra de honra, nem que para isso tenha que ir embora também, deixando-o
sozinho — diz com determinação e tristeza ao mesmo tempo.
— Está bem. Vou lá dar uma olhada nele, sem entrar no quarto, é claro,
mas se eu gritar corre para me salvar. Provavelmente será o demônio querendo
me matar. — Tento fazer piada, mas com o coração quase saindo pela boca de
pavor.
A beijo e subo as escadas com as pernas bambas. Já conheço tudo por
aqui, pois a semana que o maluco surtou fiquei livre para explorar a casa. E
adorei cada detalhe e cantinho. O conforto aqui dentro é magnifico. Pelo menos
para isso o traste presta. Viver bem e com conforto no meio da floresta e das
feras.
Chego à porta do quarto da fera e a abro suavemente, olhando com
cautela. Vejo o gigante deitado na cama em um sono profundo. Ótimo, agora é
só descer e...
— Filha, perdoe o papai, eu te amo. Juro que vou melhorar. Vou achar a
Sininho e trazer para você ver que ainda tenho redenção... Me perdoa... — Sua
voz é a expressão pura do desespero e agonia.
Abro mais a porta e entro com cautela. Me aproximo da cama, claro que
antes pego o abajur, se esse desgraçado tentar me machucar juro que o mato
dessa vez.
Vejo seu corpo imenso coberto de cortes, ele usa somente uma bermuda
larga e está sem camisa. Fico abismada, seu corpo é coberto de tatuagens
coloridas. Seus cabelos longos e emaranhados com a barba imensa estão cheios
de folhas e pedaços de pequenos gravetos. Me agacho e estendo a mão com
cautela. Pego uma mecha longa e tiro algumas folhas. Seus cabelos são macios e
estão cheirosos. Tiro uma folhinha de sua barba e ela é igualmente macia. Ele
geme e vira o rosto para meu lado.
Me assusto e tiro a mão rapidamente. Meus olhos correm pelo seu rosto,
e realmente fizeram uma barbaridade com esse homem. Seu rosto é coberto por
cicatrizes grossas, de todos os tamanhos. Seu irmão era um desgraçado maldito,
não satisfeito em deformar o corpo e rosto do irmão caçula, ainda matou sua
família. Que raio de pessoas eram essas?
Eles agiam e pensavam que assassinatos resolveriam qualquer problema.
Zakarias caiu nessa mentira e viveu nela por mais de cinco anos, segundo Rosa.
Ele se acalma, e volto a tirar as folhas, agora com mais confiança, o
homem está morto para o mundo. Limpo seus cabelos e barba e vejo que ele
precisa urgente de curativos e pomada, mas aí já é demais para mim, essa parte a
Rosa faz.
— Você vai ficar bom logo. É um homem forte — digo baixinho.
Me levanto e saio suavemente, assim como entrei.
Durmo tanto que perco a noção das horas, tem muito tempo que não
durmo assim, me estico na cama e meu corpo está descansado, mas dói em
alguns pontos.
Abro meus olhos e fito o teto. De repente me vem com clareza tudo que
passei essa semana, e me levanto em um pulo.
— Calma, filho. — Ouço a voz de Rosa e a vejo sentada na poltrona
perto da minha cama.
— Rosa, preciso encontrar a mulher que está sumida, se algo acontecer a
ela eu nunca me perdoarei. Tenho que consertar pelo menos essa burrada que
fiz... — Ela me olha com expressão derrotada. — Rosa, o que fiz de minha vida?
— pergunto, sentindo o peso de cada ação errada que pratiquei nesses últimos
anos. Mas a que me arrependo, de fato e verdadeiramente, é o que fiz à moça
sumida. Rosa se levanta e vem até mim.
— Zakarias, tudo vai se ajeitar, confia em mim.
Eu termino de me vestir e desço as escadas, mancando. Rosa vem atrás,
me chamando, em pânico. Sabe que a loucura está me cegando novamente. Pela
primeira vez na vida a ignoro. Sinto dores até na alma... Vou procurar a moça e
ponto.
Vou para a cozinha e quando entro para tomar café, meu mundo para e
congelo no lugar. Levo minhas mãos à cabeça e puxo meus cabelos com força.
Vejo a mulher que estou procurando parada no meio da cozinha. Agora minha
filha se foi e a mulher que matei, de alguma forma, veio me atormentar.
Saio correndo da cozinha, tropeço no tapete da sala e caio, batendo a
cabeça na quina da escada. Então apago.
Quando acordo, Rosa está sentada no chão com minha cabeça em seu
colo.
— Porra. Estou ficando louco, mãe! — digo, num sussurro doído,
agoniado e me sento de uma vez.
— Zakarias... — Quando ela começa a falar, a maldita mulher
desparecida, que está tirando minha sanidade mental e paz de espírito, entra na
sala novamente, só que dessa vez trazendo um copo com água.
— Olha ela lá, Rosa! Você está vendo? — Tento me levantar e ela me
segura com força.
— Calma, Zakarias! Ela... — Rosa me segura e tenta me acalmar. Estou
em pânico.
— Será que se eu a tratar com carinho agora ela me perdoará, juntamente
com minha filha? Mãe? — Estou louco, insano e completamente desequilibrado.
— Zakarias, ela está viva, o que você vê não é uma miragem — fala, me
olhando nos olhos, com seriedade.
— Não! Eu mesmo a matei com minha sede de vingança. Rosa, eu a
torturei, maltratei, a mantive refém... ela não aguentou e fugiu, está morta ou
perdida na floresta. Tudo culpa minha! Minha culpa! — grito desesperado e
tento me levantar mais uma vez. Rosa levanta a mão e dá um tapa com força em
meu rosto. Sinto-o arder.
— Zakarias, acalme-se! — diz, segurando-me pela barba. Meu rosto
queima devido ao forte tapa. Parece que saio do transe e loucura que estava
acometido e começo a enxergar com mais clareza agora. Olho a pequena se
aproximar e aguardo.
— Rosa, deixe que ele se acalme... — a mulher fala com sua voz doce, e
isso me encanta e acalma ao mesmo tempo. É a mesma voz com que sonhei,
quando passou a mão em meus cabelos e barba, o mesmo perfume.
Ela se aproxima e me encolho. Me sinto sujo e coberto de remorso e
angústia por tudo que fiz a essa pequena mulher.
— Olá, Sr.Feranttis, eu sou a Isabela — diz serenamente e estende a mão
trêmula. — Olho para Rosa, que a olha com admiração.
— Zakarias? — Rosa me chama.
Me levanto devagar para não assustá-la. Preciso ganhar tempo para me
redimir. Ela é realmente real? Está viva?
Sinto seu doce perfume e quando seguro sua pequena mão na minha,
gigante e calejada, sei que é real. É macia e quente. Estremeço e murmuro:
— Olá, Bela, eu sou a Fera Maldita. E sinto muito, mas muito mesmo por
tudo que te fiz passar. Me corrói a alma a maneira como me portei com você. Me
arrependo amargamente de tudo que te fiz. Tenho vergonha. Sou tóxico. Gostaria
de te pedir perdão, do fundo do meu coração, alma e espírito — digo e me
ajoelho, dando um soluço dolorido, e a loucura querendo ganhar espaço em
minha cabeça novamente. — Me perdoe, Isabela. Por cinco anos eu fui um
homem que hoje me envergonho somente de pensar. Se pudesse voltar ao
passado, apagaria a maioria das coisas que que fiz. Dentre elas, te maltratar.
Depois que perdi minha esposa e filha, jurei que me vingaria. Me vinguei e me
isolei aqui, e não satisfeito em matar todos que tramaram a morte de minha
família, estendi essa vingança para pessoas inocentes. Embora muitas delas
realmente fossem culpadas de algum crime, dessas não eu me arrependo. Dentre
elas estão os estupradores, esses eu mataria novamente sem pensar duas vezes e
com muito prazer — desabafo, com lágrimas de dor e vergonha descendo por
meu rosto e se perdendo entre a imensa barba.
Ela me olha fixamente e agora posso notar o quão linda e frágil é.
— Levante-se, Zakarias, e venha comer. Tem dias que você não se
alimenta direito. — Isabela, me fala e vai para a cozinha. Me levanto e vou atrás.
Me sento e a observo preparar meu prato com almoço fresquinho. Coloca
o prato à minha frente.
— Coma, você precisa se alimentar. — Rosa está na porta olhando para a
Bela, boquiaberta.
— Você não existe, menina... — Rosa murmura.
Baixo a cabeça e começo a comer, estou realmente faminto.
— Eu te deixei sem comer... — murmuro, e quando me lembro, perco a
fome.
— Sim... — Ouço sua voz baixa e entro em pânico total, o remorso me
corroendo. Empurro o prato com força e saio correndo novamente, a loucura me
pegou outra vez.
Quando vou sair para a floresta, em busca de paz, sinto alguém pular em
minhas costas e me abraçar por trás.
— Acalme-se, Fera. Está tudo bem, se correr para a floresta comigo aqui
vai me machucar. — Quando ela diz isso paro na hora, não quero mais machucá-
la.
Viro as mãos para trás e a puxo com delicadeza.
— Você é mesmo real? Não é uma alucinação, espectro ou fantasma que
veio para me atormentar, devido à vida miserável, regada a vingança, soberba e
orgulho em que eu vivia? — pergunto novamente, agora em dúvida. Ela está
suspensa à minha frente, pálida e tremendo sem parar. Seus olhos azul-prateados
estão arregalados de pavor. Meu coração tranca. Eu fiz isso com ela e com todos
a quem matei... os aterrorizei.
— Zakarias, coloque-a no chão agora. — Ouço Rosa me puxando. Olho
para baixo e ela está irada e pálida também. Será que acha que vou machucar
Sininho? Claro que acha, seu desfigurado maldito. Não foi o que fez esse tempo
todo?
A coloco no chão devagar e olho as duas com ansiedade.
— Me perdoem. — Saio correndo como se estivesse sendo perseguido
por demônios e me embrenho na floresta novamente. A insanidade me pegou
novamente. Sou tomado pela loucura.
Ouço os gritos das duas, mas a vergonha e desespero me tomam e só
quero ficar sozinho por um tempo para pensar em algo que não seja me suicidar.
Fico o dia todo no paiol e quando olho o modo que tratei a Bela, fico
mais fodido de remorso ainda, tenho vontade de bater a cabeça na parede até
explodir meus miolos. Sou agora, assumidamente, um homem demente e insano
à beira de um ataque de nervos e loucura. Maltratei demais essa mulher.
Preciso do seu perdão, além de consertar o que fiz. Mas o que fazer?
Quando dou por mim estou pulando nas costas do homem que me
torturou e quis me matar. Ajo por instinto, o sofrimento e desespero que vejo em
seu rosto é tão grande que não penso duas vezes, e quando vejo, já estou em suas
costas, agarrada a ele, igual a um polvo. Se ele surtar e ficar mais uma semana
na floresta, vai morrer, com toda certeza.
Quando ele me puxa e me olha nos olhos, me lembro de tudo que me fez
e o sangue foge de meu rosto. Minha vontade é de matar ele aqui mesmo e fugir
sem olhar para trás. Rosa grita e ele me solta. Ele enlouqueceu novamente e
some dentro da floresta densa e assustadora. Ele vai morrer se continuar a agir
desse modo insano.
Vejo Rosa entrar em desespero novamente, pobre mulher.
— Não sei mais o que fazer, Bela — fala desanimada, entrando e indo
para seu quarto.
Eu fico aqui do lado de fora, junto com as cobras peçonhentas, porque
tem várias aqui, mas sem saber se vou atrás do infeliz, ou vou consolar Rosa.
Faço a sábia opção por minha amiga, que vá se foder esse homem.
Entro e vou para o quarto de Rosa e a vejo chorando.
— Rosa, vai ficar tudo bem. — ela me olha e murmura.
— Não... ele está louco, Bela. — Ela me olha e murmura: — Não sei
mais como agir, o que fazer. — Cobre o rosto com as mãos e soluça.
— Eu vou atrás dele, você quer? — pergunto, sou grata demais às
pessoas que me ajudam, e rancorosa demais com as que me humilham.
— Não, deixa, filha. Quando quiser e estiver preparado, ele voltará.
Fizemos tudo que estava ao nosso alcance, agora é com ele.
Me deito ao seu lado e ficamos quietas até dormirmos.
Acordo com barulhos de coisas sendo quebradas. Nos levantamos
assustadas. Descemos as escadas correndo e apavoradas. Zakarias está pior do
que quando saiu. Sua demência é alarmante. Esse homem precisa ser internato
urgente, está completamente louco.
— Elas foram embora, me deixaram. Caralho! Rosa, Bela? — grita,
jogando tudo que encontra pela frente na parede. Surtou de vez.
— Zakarias! — Rosa grita. Ele se vira e se acalma instantaneamente. —
Bela? — Saio de trás de Rosa e ele sorri, um sorriso distorcido devido às
cicatrizes. — Graças a Deus vocês não me deixaram. — Age como se não
tivesse destruído a sala. Lunático.
Caminha e nos pega em seus braços gigantes e musculosos.
— Obrigado. — Beija nossas cabeças e entra para seu quarto.
Olho para Rosa e balanço a cabeça atordoada, vim parar no inferno e de
quebra um hospício também.
— Será que ele já almoçou? — pergunto por falta do que falar, estou
abismada com tanta loucura.
— Não, filha, não deu tempo, ele estava ocupado quebrando tudo. —
Rosa sorri e desce. — Vou buscar algo para ele comer, deve estar com fome.
Fico parada e me belisco para ver se esse pesadelo é real. Até a mulher
que me salvou é louca. Encara tudo como se fosse normal. Quero ir embora
desse manicômio o mais rápido possível.
***
Vou para meu quarto e fico o resto da tarde olhando pela janela coberta
de heras, o pôr do sol sumindo atrás das montanhas escuras.
Ouço uma batida na porta e mando entrar. Rosa sempre bate, mesmo
sendo seu quarto, é muito educada.
Quando vejo um rosto coberto de cicatrizes me olhando em expectativa e
ansiedade, fico aterrorizada. Entro em pânico total. Esse doente veio me matar
ou torturar.
Olho em volta do quarto e pego um prato e copo vazios e lanço na cabeça
do maldito.
O prato acerta em cheio sua cara feia e ele geme.
— Sai daqui, seu demônio! — Ele fica sem ação, perplexo.
— Bela? — Tenta entrar, mas pego a vassoura e desço pauladas em sua
cabeça maligna, sem piedade.
Ele levanta os braços para se defender, sem tentar me agredir. Mas vou
ficar vigilante, se ele tentar me levar para o paiol o mato antes.
— Rosa! — grito igual a uma louca. Fico com esse demônio somente
com Rosa por perto. Sozinha, nunca! Ele é um doente mental, psicopata, bipolar,
um demônio que sente prazer em torturar e matar pessoas.
Ouço passos subindo as escadas correndo.
— Bela! — Ela entra correndo e para quando vê Zakarias sangrando.
— O que está acontecendo aqui? — Olha feio para ele.
— Ele entrou em meu quarto, esse monstro horrendo e maldito! — Noto
que quando o chamo de monstro, ou algum apelido que o ofende ou o diminui,
ele se encolhe e seu semblante se anuvia.
Zakarias se adianta e fala com agonia.
— Vim me desculpar por hoje, quando as assustei quebrando tudo... já
me desculpei com Rosa e ela me disse que você estaria aqui. Me perdoe por tê-la
assustado hoje, por ter vindo aqui e por ter te torturado, nem que viva cem anos
eu me perdoarei... — diz com tristeza e sai do quarto.
Rosa me abraça.
— Fica tranquila, filha, eu te entendo. Depois de tudo que ele te fez é
complicado confiar, somente o tempo fará isso — fala devagar.
— Confiar nesse aí? Nunca! Nem em cem anos perdoarei e confiarei
nesse monstro — digo, tomada de ódio e ressentimento.
Evito encontrá-lo de toda maneira que posso, e assim os dias vão se
passando até se transformarem em meses. Ainda não acredito que tem meses que
estou aqui. Em um lugar que não desejo estar. ANSEIO ir embora, mas Rosa me
pediu um tempo e com calma, ela me ajudaria a sair desse lugar que me
assombra.
Toda vez que menciono que quero ir embora e o demônio ouve, ele surta.
E Rosa me pede para ficar até ele sair desse surto infindável. E assim vou
ficando nesse inferno, a pedido de Rosa.
O miserável traz flores todos os dias dos becos imundos em que vai. As
que me entrega jogo no lixo, esse homem me dá asco. Rosa me contou que ele
sempre presenteou as mulheres de sua vida com flores. Sua esposa e filha
recebiam buquês quase que diariamente. E agora ela estava feliz porque o via
retomar alguns dos seus antigos hábitos. Rosa me conta com os olhos cheios de
lágrimas.
— Presentear com flores era o que ele fazia com mais prazer. Quando
mandava as flores, ligava logo em seguida para saber se elas tinham recebido.
Zakarias me dizia que a felicidade que sentia ao vê-las tão felizes, fazia seu dia
melhor. Depois que as perdeu, parou de vez com esse hábito. Trouxe flores para
mim uma única vez e depois nunca mais. Até recomeçar. E você é a responsável
por essa mudança. Bela, ele está sorrindo mais, vejo alegria genuína em seus
olhos quando ele a vê. Parece que meu menino está aprendendo a amar
novamente — diz como se isso fosse uma coisa maravilhosa.
— Rosa! Você está louca? Esse homem é um demônio, um assassino e o
homem mais feio que já tive o desprazer de ver em toda minha vida. Parece um
monstro com esse rosto horrendo. Desse miserável quero distância, tenho nojo
só de pensar em encostar naquele rosto asqueroso! — falo tudo isso, não porque
penso assim. Jamais! Não julgo ninguém pela aparência, nunca o fiz. Digo tudo
isso porque o vi chegando com os imensos buquês de merda. Quero machucá-lo,
atingi-lo como fez a mim. Tenho ódio dele de uma maneira visceral. Vejo-o
empalidecer e seus olhos se alagarem quando o olho fixamente. Rosa coloca as
mãos na boca, incrédula.
— Bela! — Rosa grita, horrorizada com meu comportamento. Ele
caminha para onde estamos, pálido, e o brilho que tinha em seus olhos se foi,
apagou. Ele coloca as flores na mesa.
— Para vocês. Bela, não sabia o quanto minha aparência a perturbava,
pode ficar tranquila, vou evitar ficar nos lugares onde você estiver, mas quero
que saiba que pode ficar à vontade aqui, é o mínimo que posso fazer depois do
modo como a tratei — sussurra, derrotado e sai da cozinha suavemente. Olho
para Rosa, envergonhada.
— Bela, jamais imaginei que você fosse o tipo preconceituosa. Ainda
não acredito, será que me enganei tanto assim? Será que você é o verdadeiro
monstro aqui? — fala com desgosto, pega seu buquê e sai da sala sem me olhar,
deixando o meu buquê de flores brancas na mesa. Meus olhos ardem com
lágrimas de arrependimento.
Fico arrasada. Pela primeira vez caminho e pego meu buquê, e quando o
levanto, vejo que tem sangue nos caules. Observo bem e vejo que ele tirou os
espinhos das flores, e deve ter se furado com alguns. Minha consciência me
sacode e vou para meu quarto, cheia de culpa e remorso. Após meses nessa casa
tenho meu próprio quarto, Zakarias pediu a Rosa que o preparasse para mim.
Entro e encho um vaso que Rosa me deu com água, coloco as flores.
São lindas e perfumadas, onde será que ele as colhe? Deve ser longe,
porque Rosa disse que essas flores não florescem perto do casarão. Elas são
flores que nascem em lugares mais altos, são plantas que gostam e florescem em
lugares de muito sol. E aqui no casarão é impossível, porque ele é coberto por
árvores gigantes e suas copas se fecham, impedindo o sol de bater na casa e suas
proximidades.
Além da casa ser coberta de heras, tornando tudo muito escuro e úmido.
Aqui onde vivemos parece que não tem dia, somente noite e entardecer, com
algumas nesgas tímidas de sol. As flores que Zakarias trouxe são perfeitas. Em
pouco tempo meu quarto exala um perfume suave e adocicado.
E minha consciência exala o mau cheiro do arrependimento.
O que Zakarias me fez foi severo, grave, mas se eu agir como estou
agindo, me igualo a eles: Marlon e a Zakarias. Eles deixaram o mal dominar seus
corações. E não quero isso para minha vida, sempre abominei humilhar e
maltratar pessoas, e aqui estou eu, fazendo o que sempre tive asco.
Tenho que mudar a forma de tratá-lo, ainda que o tema muito. Tenho
nojo da forma como me tratou e matou André, além de ter assassinado outras
pessoas, segundo Rosa e o próprio Zakarias. Vou me esforçar para suportar sua
presença, ainda que me cause muito receio e um certo asco. Farei esse sacrifício
por Rosa. E por mim também, não quero perder minha essência nesse inferno.
Estou aguardando com ansiedade a promessa que Rosa me fez, me tirar daqui.
Estou me sentindo mais leve, mais vivo e a alegria que um dia sepultei
com minha família, está tomando meu coração novamente, crescendo e
ramificando. É como um bálsamo hidratando um lugar árido e seco. Sinto o
calor de novas esperanças se espalharem pela pedra seca e negra que dominou
meu coração. Ele está voltando a pulsar e tudo isso por uma pequena e linda
mulher. A mesma que eu pensei em matar.
Quando me lembro do que fiz a ela, estremeço e sou tomado por uma
imensa repulsa por mim mesmo. Sem falar do remorso que me corrói a alma. E
não somente com ela, quando penso no modo de vida que levei nesses últimos
cinco anos, a loucura ameaça me tomar por completo com suas garras sujas. Me
arrependo amargamente de tudo que fiz, com exceção dos estupradores que
realmente mereceram a minha ira.
Como não tem como voltar ao passado, o que posso fazer agora é tentar
viver bem o presente. Estou adorando voltar a ser como eu era, antes da tragédia
se abater sobre minha vida de maneira tão trágica. Na verdade, o Zakarias
assassino é um louco que surgiu depois de tudo que passei. Um cara surtado e
revoltado. O verdadeiro Zakarias é esse que está renascendo a cada dia, mais e
mais. E a responsável por isso é a Bela.
A loucura que sempre me tomava e as visões de minha filha me acusando
acabaram. Bela me faz bem. Eu me deito pensando nela e me levanto ansioso
para vê-la. Sei que me odeia, mas espero, dia após dia, do fundo do coração, que
ela me perdoe. Levanto cedo todos os dias e caminho mais de uma hora para
buscar flores para elas. Trago para Rosa também, mas não vou negar que quando
as colho, penso somente em Bela. Que a Rosa não me ouça.
Caminho pensativo, esmagando algumas cobras atrevidas que
atravessam meu caminho. Eu e elas já nos acostumamos e foda-se se tenho medo
de alguma dessas peçonhentas que já usei tantas vezes para aterrorizar pessoas.
Inclusive a Bela, eu a torturei deixando-a com três cobras soltas.
Acelero o passo e tenho que subir uma pequena montanha, essas flores
gostam de lugares altos, onde o sol bate com força. Subo rapidamente e olho a
vasta quantidade delas. É lindo. Se um dia Sininho quiser conhecer onde colho
as flores, a trarei aqui. Posso chamar a Rosa para vir, e assim, Bela virá sem
medo. Vejo em seus olhos que ela ainda me teme. E isso me mata de desgosto,
quero muito que ela confie em mim. Já tem meses que estamos na mesma casa, e
já estabelecemos uma rotina amistosa. Implorei a Rosa, para tentar mantê-la na
casa o máximo possível. Quero muito me redimir com Isabela.
Claro que Bela nunca fica sozinha comigo, Rosa sempre está por perto.
Quando minha mãe se afasta, vejo Sininho se retirar rapidamente e isso me
machuca demais.
Colho as flores e arranco alguns espinhos para não machucar Bela e
Rosa. Desço feliz, sentindo o calor do sol em meu rosto e braços.
Sorrio e meu rosto repuxa. Alguma dessas cicatrizes ainda doem mesmo
depois de tanto tempo. Mas já as aceitei e ninguém nunca me humilhou por
causa delas.
Quem me humilhará se vivo somente com a Rosa?
Penso com desgosto e tristeza. O que será que Bela pensa de meu rosto
desfigurado? No início tive receio, mas como ela nunca mencionou nada sobre a
minha aparência, aprendi a relaxar em sua presença.
Rosa sempre me diz que eu sou lindo, apesar das cicatrizes, e confesso
que isso me enche o peito de calor. Porque eu tenho espelho em meu quarto e o
que vejo refletido lá é a imagem de um monstro, uma fera, não tem nada de lindo
ali. Sou lindo para Rosa, porque sei que ela me ama. Quando amamos o feio se
torna belo.
Chego em casa com fome, saí sem tomar café para colher as flores que
desabrocham logo pela manhã.
Todas as vezes que vejo Bela jogando seu buquê no lixo o meu coração
dói, mas entendo e mereço seu desprezo. Vou fazê-la me perdoar aos poucos,
com carinho e cuidado, assim como Rosa me instruiu a fazer.
Ouço vozes e sei que estão na cozinha, sorrio de orelha a orelha, arrumo
meus cabelos que estão caindo em meus olhos e ajeito o coque. Passo a mão em
minha barba, estufo o peito e caminho para a cozinha. Paro de supetão quando
ouço a voz de Bela, cheia de desprezo e veneno.
— Rosa! Você está louca? Esse homem é um demônio, um assassino e o
homem mais feio que já tive o desprazer de ver em toda minha vida. Parece um
monstro com esse rosto horrendo. Desse miserável quero distância, tenho nojo
só de pensar em encostar naquele rosto asqueroso! — Estremeço e o sangue se
esvai de meu rosto, sinto uma ligeira tontura e meu já tão frágil coração se parte
novamente. Mas dessa vez vou me controlar, chega de agir feito um louco.
Afinal, tenho quase 50 anos no lombo. Isso tudo que estou passando é
simplesmente colheita de todo mal que semeei. E tudo que estou passando é
pouco diante do que já fiz...
— Bela! — Rosa grita consternada e caminho com o que ainda resta de
minha dignidade e deixo as flores na mesa.
— Para vocês — falo quebrado e saio da sala com vontade de morrer e
acabar logo com essa porra de vida que vive tirando uma com minha cara
sempre que pode. Ouço minha mãe chamando sua atenção e sinto uma lágrima
deslizar por meu rosto áspero e tão asqueroso para Isabela.
— Bela, jamais imaginei que você fosse o tipo preconceituosa. Ainda
não acredito, será que me enganei tanto assim? Será que você é o verdadeiro
monstro aqui? — Sinto o desgosto na voz de Rosa quando a repreende.
Não, mãe, o monstro aqui sou eu mesmo, penso desgostoso. Rosa me
defende porque me vê como um filho. Vou para meu quarto e passo a tarde lá,
pensativo e arrasado. Desço à noite para a biblioteca. Aqui, onde adoro ficar, tem
uma porta anexa onde fica meu escritório. Não vivi cinco anos somente
torturando as pessoas, sou investidor na bolsa de valores. Tenho parte de meu
patrimônio gigantesco aplicado em FIIs e o restante em BDR, bolsa de valores.
Isso me rende o que eu não gastaria em várias vidas, penso com desgosto
enquanto analiso os gráficos da IBOV.
Quando eu termino, volto para a biblioteca e vejo minha garrafa de chá e
meu jantar. Rosa sabe que gosto de trabalhar ou ler a noite devido à insônia que
me acomete sem aviso. Hoje estou descansado, dormi a tarde toda. Vou até a
estante gigante e pego um livro sobre plantas nativas. Me sento no sofá, abro o
livro e começo a ler. Me perco em minha leitura quando ouço uma suave batida
na porta.
— Entre. — Levanto a cabeça e não acredito no que vejo. Isabela está
parada na porta, pálida, sem graça e com medo nos olhos azuis prateados.
— Com licença... — diz, com insegurança, apertando as pequenas mãos.
Me levanto e vejo-a se encolher, isso me quebra o coração. Eu fiz isso
com ela.
— Bela... — murmuro sem saber o que fazer, parece que tenho cinco
anos e não 45. — Ela passa as mãos na saia e me diz, sem me olhar. Causo asco
mesmo nessa mulher, penso amargamente.
— Zakarias, gostaria de me desculpar por minha grosseria hoje mais
cedo....
— Bela — corto-a com suavidade. — Eu que tenho que te pedir
desculpas enquanto viver, a cada segundo... o que fiz você passar não tem
justificativas, aliás, meu comportamento ao longo desses últimos cinco anos foi
deplorável, estou somente recebendo o que plantei — digo com tristeza.
— Não estou justificando sua conduta, Zakarias, mas todos nós erramos.
E quem sou eu para julgar as pessoas? Sou cheia de falhas também. E hoje
quando disse aquelas coisas, vi como agi de maneira maldosa. Eu o vi entrar e
queria te ferir, assim como fez comigo..., mas não sou assim e gostaria de pedir
que me perdoasse do fundo de meu coração. — Ela me olha fixamente e desvio
meus olhos e rosto. Tenho vergonha ou medo, não sei definir. Temo ver asco em
seus olhos, devido ao meu rosto desfigurado. Gostaria muito de ser bonito para
ela. Mas sou feio por dentro e por fora, como ela disse.
— Sem problemas. Sei o que sou, Bela. A beleza e eu não combinamos,
somos inimigos há mais de cinco anos. — digo com dor no coração e na voz.
Minhas cicatrizes nunca me incomodaram, mas hoje me sinto um monstro e
tenho vergonha delas. Converso com Bela sem fitar seus olhos, com o rosto
virado para os lados, ou dou um jeito de colocar a mão disfarçadamente em
frente ao meu rosto.
— Me desculpe. Prometo a você que isso nunca mais acontecerá,
Zakarias. — Vejo-a olhar a biblioteca e seus olhos brilham. Ela não está me
olhando com asco, aliás, ela está mais interessada nos livros. Sorrio com uma
pontinha de esperança em meu peito.
— Você gosta de ler? — pergunto, sem me aproximar demais, não quero
assustá-la.
— Sim, adoro! E você tem uma biblioteca imensa aqui, poderia ficar uma
vida neste lugar sem sair, lendo dia e noite, e não leria nem metade desses livros.
Posso ler algum? — pergunta, já com a mão puxando uma enciclopédia muito
antiga sobre plantas medicinais. Ela gosta de plantas também, penso com
satisfação. — Você gosta de plantas? — pergunto bobo, por vê-la tão à vontade
em minha presença.
— Sim, adoro! Fotografo tudo que precisar em meu serviço, mas amo
fotografar plantas. Vim para este estado fazer um trabalho para a editora em que
trabalho, justamente sobre plantas. Esse seria o último estado que visitaria. O
primeiro foi Minas Gerais — diz pegando o livro gigante e pesado.
— Deixa que te ajudo. — Pego o imenso livro e a convido para sentar-se
na poltrona macia.
— Quer ler aqui? Pode ficar à vontade. — Ela me olha desconfiada, mas
a cor já voltou a sua face.
— Eu... — ela hesita.
— Por favor, Bela, me dê a chance de te mostrar que não sou tão feio por
dentro, por fora não tem jeito, mas por dentro...
— Pare com isso! — ela me corta. — Não se desvalorize! Eu já pedi
perdão pela maneira asquerosa que o tratei. — Se senta e pega o livro gigante.
— Não é melhor pegar um de seu tamanho, pequenina? — Sorrio de
lado, mas sempre ocultando meu rosto, impedindo-a que tenha uma visão
completa dele.
Ela levanta o rosto miúdo e branco, coberto de sardas e sorri. Meu
coração dispara e galopa no peito como uma manada de cavalos trotando. Ela é
linda. Perfeita e encantadora! Porra! Estou na crise de meia-idade, agindo feito
um lobo maldito, uma fera sem escrúpulos. A moça pode ser minha filha.
Caralho! Vinte anos de diferença!
— Gosto de coisas grandes — diz com inocência e meu pau fica duro.
Porra, cinco anos morto e agora ressuscitou, essa porra? Com essa mulher, que
quer me ver morto e longe dela? Estou fodido.
Antes de me casar com Sara eu levava uma vida devassa. Fiquei com
mais mulheres do que posso contar. Mas quando conheci Sara e me apaixonei,
minha vida de boemia acabou. Me casei e sempre fui fiel a minha esposa. Depois
que ela foi assassinada, meu pau morreu junto com ela. Perdi o interesse em
mulheres e também a vontade de trepar. Hoje, depois de mais de cinco anos, meu
pau adormecido acordou.
Minha história deveria se chamar: O Pau adormecido e não a Bela e a
Fera Dark, penso com desgosto e fodido.
Me viro rapidamente antes que a assuste com o tamanho do meu pau
duro e inchado, e me sento, jogando uma almofada em cima do ex-pau
adormecido, agora totalmente acordado e pronto para a vida. Ressuscitou!
Baixo meu rosto quando vejo que me olha, e tento escondê-lo o máximo
possível. Esconder o rosto deformado e o pau acordado, estou em uma missão
quase impossível. Porra!
— Algum problema, Zakarias? — Quando ela diz meu nome com essa
voz tão doce, meu pau retorce e coloco a mão na boca e começo a tossir. Ela se
levanta e pega a garrafa de chá, e enche uma xícara com o líquido perfumado e
quente. Me estende e tomo um gole. Sempre olhando para todo lado, menos para
ela. Tenho vergonha do meu rosto.
— Eu mesma fiz o chá, está bom? — pergunta, voltando para o lugar em
que estava. Vejo que é uma bonequinha de tão pequena. Se senta e puxa o livro
gigante para o colo pequeno.
— Sim, está muito bom — elogio, pois adoro chá de gengibre.
— Rosa me contou suas preferências, sei todas — fala e sorrio bobo e
feliz.
— Falou? — Por um momento a olho, me esquecendo de meu rosto. Ela
me olha e sorri.
— Falou. Menino exigente você, não? — brinca e meu peito enche de
luz.
— Sou? O que mais ela falou? — pergunto e tomo mais do chá que ela
fez e que está delicioso.
Ela me conta e fico encantado ao saber que falam coisas boas de mim.
Tenho que agradecer a minha mãe, ela é a melhor do mundo. E assim ficamos na
biblioteca até de madrugada, conversando como se fôssemos velhos conhecidos.
Ela me fez esquecer minhas cicatrizes e feiura, me fez rir demais, coisa
que não fazia há anos.
— Preciso subir, já é tarde — diz, se levantando e me levanto junto,
pesaroso.
— Fica mais, por favor. — Estou maravilhado com sua presença. Não
vejo mais pavor em seus olhos ao me olhar. E descobri que adora brincar, é uma
pessoa tátil, adora tocar enquanto fala. Já eu? Adorando cada minuto em que ela
coloca suas mãozinhas delicadas em meus braços castigados pelo sol e cobertos
de tatuagens. Me sinto um monstro diante de tanta delicadeza. Como pude tratá-
la com tanta crueldade? Será que um dia eu me perdoaria de fato? Insanidade é a
única resposta que me vem à cabeça.
— Não, amanhã eu volto, se não tiver problemas.
— Então amanhã te espero aqui, Bela. —Meu corpo relaxa e digo com
satisfação.
Ela se vira e sai suavemente, me deixando sozinho com a sensação de
vazio e frio no coração, e na biblioteca.
Tornou-se um hábito descer todos os dias para conversarmos na
biblioteca. Estamos nesse ritmo há semanas. Ele me permitiu levar livros para
meu quarto, amo ler antes de dormir. Confesso que ainda tenho uma ligeira
resistência a Zakarias, o homem que foi meu algoz e carcereiro. Rosa está no céu
de tanta alegria de ver como estou tentando meu melhor ao tratar Zakarias bem.
Quando chego na biblioteca ele já está à minha espera, com os olhos
brilhantes.
Vejo que sempre desvia o rosto e tenta ficar em pontos estratégicos onde
sua face fica escondida, pouco visível. Isso me parte o coração.
— Chegou a Bela! — diz, sorrindo e dando um jeito de levantar as mãos
e colocá-las em frente ao rosto.
— Sim, estava ansiosa para ver o caderno de plantas que você catalogou
aqui na selva e prometeu me mostrar hoje — digo, olhando-o se encaminhar e
abrir uma gaveta que tem em sua mesa antiga. Vejo-o pegar um caderno grosso e
surrado e me entregar, com seus olhos brilhantes e ansiosos.
Tem horas que ele age como uma criança. Como pôde ser tão cruel em
um ponto de sua vida? Perder sua família de forma violenta foi a conclusão que
cheguei para ele ter agido de forma tão torpe.
Pego o caderno, ansiosa, e o abro.
Vejo vários desenhos e vou passando as folhas cuidadosamente. Todas as
folhas do grosso caderno estão preenchidas com desenhos de plantas lindíssimas
e com anotações aos lados. Quem o fez é muito caprichoso.
— Quem trabalhava para você, Zakarias? — pergunto, encantada com
tanto capricho e perfeição. Temos aqui nesse caderno um livro pronto e com
ilustrações de primeira qualidade.
Vejo-o enrubescer e fico abismada. Esse homem é o mesmo que me
torturou? Ele me olha timidamente, e me responde com sua postura
desconfortável.
— Você? Zakarias, não minta para mim! Sei que era CEO, mas
desenhista e Botânico? — falo, olhando para esse homem que me surpreende
cada vez mais, e agora positivamente.
Ele fita o chão envergonhado, apenas balançando a cabeça. Seu coque se
desprende e seus longos cabelos castanhos caem e se espalham pelos seus
ombros largos, cobrindo assim uma parte de seu rosto.
Vejo esse imenso homem parado à minha frente. Sinto nele uma
fragilidade que me toca profundamente e que me arde o coração. Até que ponto
podemos nos perder na maldade por conta de uma situação que nos quebra? Será
que temos o direito de julgar uma pessoa, no caso esse homem que perdeu a
família e se perdeu no processo?
Começo a ver Zakarias com novos olhos e sem perceber me aproximo
com o caderno nas mãos.
Uma pessoa não pode fazer desenhos de plantas com tanta perfeição e
falar sobre elas com tanta sensibilidade, se não tiver o mínimo de respeito pela
vida.
Esse homem foi quebrado pela vida de todas as formas. Sua família foi
tirada de sua vida de forma abrupta. Seu corpo e rosto desfigurado por um louco.
Vejo em sua nova maneira de se comportar e portar, a essência que o permeia.
Ele tem um bom coração, somente se perdeu na jornada.
— Zakarias... — digo baixinho e toco seu peito avantajado. De perto ele
parece maior ainda. Estremeço, mas agora não é de medo. Sinto uma coisa
estranha no peito e minha virgem bocetinha dá uma ligeira tremidinha. Estranho
isso, pois nunca tive tempo para me envolver e nunca senti essa sensação
somente ao tocar um homem. E as vezes que tentei, não senti nada, meu coração,
corpo e boceta ficaram mortos, todos hibernando.
Seu peito másculo é duro como granito. Pela gola da camisa vejo que é
todo tatuado e as tatuagens são coloridas. Lindas!
Ele levanta os olhos e me olha pálido.
Fico na ponta dos pés e tento tocar seu rosto áspero pelas cicatrizes. Mas
não dou altura. Ele me olha com um brilho estranho no olhar e dá um passo para
mais perto.
Me pega pela cintura e me levanta com cautela, e atento as minhas
reações, vejo cuidado em seus movimentos.
— Bela? — Olha em meus olhos, com os cabelos cobrindo grande parte
de seu rosto cheio de cicatrizes.
Fico sem palavras e sinto suas mãos grandes quase contornando minha
cintura, coro. Ele me puxa mais para perto e sinto seu pau duro. Puta merda,
nunca senti nada tão grande e duro tão perto de mim. Se tudo for proporcional a
esse corpo imenso, seu pau deve ser gigante também. Arrepio só de pensar, mas
não de medo, e sim de desejo. Sem pensar gemo e seus olhos escurecem.
— É gigante... — solto sem freio.
— Gigante? Bela? — Ele me fita com os olhos vidrados e sinto seu pau
crescer um pouco mais. Puta merda, se continuar assim vai explodir. Meu rosto
pega fogo.
— Seu cabelo... isso! Seu cabelo... É grande, é gigante! — Tento
consertar a merda que fiz, com o rosto ardendo.
— Sim, pequena, você já o viu solto outras vezes... é de meu cabelo
mesmo que estamos falando? — Ele me puxa pressionando com força em seu
corpo rígido. Minha vez de abaixar a cabeça.
— Zakarias... por favor. — Ele me segura com um braço facilmente e
com o outro, levanta meu queixo com delicadeza.
— Bela, me perdoe, mas se eu não te beijar vou enlouquecer... —
dizendo isso, baixa a cabeça e me beija castamente, testando. Geme baixinho,
tenho que admitir que me sinto atraída por esse homem como nunca me senti por
ninguém.
Minha calcinha está molhada e minha vontade é de engolir esse homem
inteiro. O que está acontecendo comigo?
Consigo resistir, e quando ele tenta me beijar novamente, viro o rosto.
— Não! — grito, vejo-o estremecer e se encolher, ficando muito pálido.
Ele me põe no chão com delicadeza, se afasta procurando um lugar mais escuro
e cobre o rosto com a mão. Vejo que está tentando esconder o rosto. É quando a
ficha cai e percebo que ele pensa que o rejeitei devido às cicatrizes.
Sinto o quanto esse homem está quebrado e machucado.
Caminho rapidamente para onde ele está e tiro sua mão do rosto.
— Zakarias, olhe para mim. — Ele continua de cabeça baixa e com os
cabelos cobrindo seu rosto. — Por favor, querido. — Quando uso a palavra
carinhosa, ele levanta seus olhos avermelhados e me olha com ansiedade,
aguardando.
— Me perdoe, querido — repito. — Não é que não queira beijá-lo. É que
não tenho experiência com essas coisas e você é um homem mais velho e muito
experiente... — digo mais vermelha do que tomate. Ele me olha atentamente e
me deixa falar, prestando muita atenção.
— Não é por sua aparência... — Ele dá um passo para trás. — Não! —
Tento consertar a merda que estou fazendo. — Zakarias, na verdade quero muito
beijar você, mas tenho medo por tudo que já passei com você e... — Ele sorri
largamente e vejo suas cicatrizes se esticarem, lindo aos meus olhos.
Chega cauteloso até mim e para.
— Me perdoe, Isabela, por tudo que te fiz, querida. Me arrependo
amargamente, te juro de todo meu coração. Se pudesse voltar no tempo eu
jamais faria você sofrer. Espero o tempo que precisar por você e quando estiver
pronta, estarei aqui, te esperando — diz com carinho e acaricia meu rosto, que
está pegando fogo, com suavidade.
— Obrigada, Zakarias. Você foi o único homem por quem senti um
desejo tão forte. Que se alastrou por meu corpo quando me beijou. Meu coração
e corpo aprovam e desejam você de uma maneira que desconheço... — confesso
baixinho, como sempre, sem freio na boca.
Ele me olha sem entender e de repente o entendimento chega aos seus
olhos e os vejo brilharem de forma assustadora.
— Você está me dizendo que nunca ficou com um homem, Bela? Você é
virgem, Sininho? — Me viro e quero morrer, a vergonha alaga minha alma e
corpo.
Sinto seu corpo gigante se aproximar e ele se encosta no meu com
suavidade, sinto suas mãos contornarem mais uma vez minha cintura e agora seu
pau cutuca minhas costas.
— Bela? — ele pergunta, se abaixando e falando baixinho em meu
ouvido. Sua barba imensa me arrepia toda quando me toca.
— Sim? — murmuro, quase sem voz.
— Você é virgem, pequena? — sussurra em meu ouvido e enfia a língua
dentro de minha orelha. Fico de pernas bambas e minha pobre boceta intocada,
agora está muito molhada e em alerta total.
— Sim. — Quando respondo, ele me aperta com força contra seu corpo,
e geme alto.
— Porra! E aquele desgraçado ia machucá-la? Desgraçado, o mataria
mais mil vezes se o encontrasse — diz com raiva na voz, estremeço.
— Me solta, Zakarias, por favor. — Tento me virar e ele permite.
— Sininho, está com medo de mim? Eu juro que prefiro cortar minhas
duas mãos a te prejudicar novamente. Me quebra o coração te ver assim por
minha culpa... — Olha-me com tristeza e vejo verdade em seus olhos.
— Não, Zakarias, não estou com medo de você, mas medo da situação —
esclareço.
— Situação? — pergunta, sem entender.
— Seu tamanho... — falo baixo e escuto uma sonora gargalhada, nunca o
vi rir assim. E o som de sua risada é perfeito. Olho para ele igual a uma boba.
— Querida, sou do tamanho exato para você, te prometo! Bela, posso te
beijar? — Aceno que sim e ele me pega no colo como se eu fosse uma pena.
Me carrega até o sofá e senta comigo em seu colo. Olho para ele
envergonhada.
Ele puxa meu rosto em sua direção e me beija com vontade. Gemo ao
sentir sua língua entrar em minha boca e suas mãos grandes percorrerem minhas
costas.
Sinto seu pau inchar e ele gemer. Continua me beijando com desespero e
sua boca desce para meu pescoço. Ele esfrega a barba sem parar e me arrepio
toda, chupa meu pescoço com força, me fazendo estremecer de prazer.
Ele estremece todo, geme alto e sacode com força seu imenso corpo.
Quando se acalma, esconde o rosto em meu pescoço.
— Perdão, pequena... já faz mais de cinco anos que não beijo ou fico
com uma mulher — sussurra envergonhado e quando olho para baixo, sua calça
está toda molhada na frente. Ele gozou. Olho para ele e sinto meu rosto arder.
Ele sorri e me beija com carinho.
— O dia que quiser e estiver preparada, gozaremos juntos, meu amor.
Esperarei esse dia ansioso! — Ele sorri, me abraça e aperta com força. Então
será logo, meu querido, penso com um sorriso largo e de pura safadeza no rosto.
Virgem, mas não besta! Em breve, minha Fera. Me aguarde e prepare o fôlego e
pau!
Eu nunca imaginei que poderia começar a amar novamente. Estou me
sentindo renovado e com vontade de viver. Não sei quando comecei a amar
Isabela, penso que foi um processo gradual. Ela foi se infiltrando aos poucos em
minha vida, mente e coração. Sorrio igual a um bobo sempre que a vejo. Ela
ilumina meus dias, outrora negros e sem perspectiva alguma de melhorar. Estou
trabalhando arduamente e dando meu melhor para que Bela me perdoe por tudo
que a fiz passar. Ela está abrindo seu coração aos poucos para mim, e cada
pequeno gesto de confiança que me dá, regozijo grandemente.
Quando ela me agrediu com palavras, o dia que trouxe as flores, me senti
um verdadeiro monstro. Mas aceitei porque meu rosto coberto de cicatrizes me
torna assustador, além de ter agido com ela como um demônio psicopata.
Resolvi me afastar e deixá-la mais tranquila, mas claro que somente a
hipótese de deixá-la partir me deixava louco. Insisti com Rosa para me ajudar a
conquistar a confiança de Bela e estipulei um prazo em meu coração.
Se ela não me perdoasse eu a deixaria ir. Rosa me apoiou e estou me
esforçando muito para resgatar a confiança de Bela. E parece que estou
conseguindo. Tem noites que a felicidade é tão grande por ver como ela está
baixando a guarda que choro igual a um maluco. Outras vezes não consigo
dormir de tão feliz que estou com Isabela em minha vida.
Pedi a Rosa que convencesse Isabela a ficar, de alguma maneira, e não
sei o que minha mãe disse, o caso é que ela não falava em ir embora. Ficamos
semanas e semanas nos encontrando na biblioteca sem nos tocarmos, mas
quando eu ia para meu quarto, já ia direto para o banheiro bater uma bela
punheta.
Acordava com o pau duro e muitas vezes gozava dormindo, sonhando
com minha Bela. Quando me disse que era virgem eu surtei. A simples ideia de
imaginar aquele desgraçado abusando de minha menina me deixava louco.
Eu me arrependo profundamente da maneira torpe e desumana como a
tratei. Fui um maldito desgraçado sem coração. Mas agora, se alguém ousar se
aproximar para feri-la de alguma forma, eu mato sem dó. Vale para mim
também, prefiro arrancar meu coração a machucar Isabela novamente.
Sou agora um assassino assumido. Me arrependo de matar inocentes,
mas estupradores de merda, não! Esse traço de minha nova personalidade não
morreu e jamais morrerá. Está mais vivo que nunca, estupradores, mato todos!
Limpo o mundo dessa raça maldita!
Hoje estou fazendo a ronda aqui em volta da casa, gosto de me
embrenhar no meio do mato e ficar observando. Sempre aparece algum
desavisado aqui. E não quero estranhos invasores dentro de minha propriedade.
Posso não matá-los com uma arma, mas claro que os deixarei na
companhia de minhas amigas peçonhentas, soltas na floresta, ou terão uma breve
estadia no paiol. Fico irado quando vejo latinhas de cerveja jogadas ao lado de
uma recente fogueira. Malditos!
Porra, tem alguém invadindo e andando em minhas terras. Vou com
cautela passando entre as árvores, aprendi a me camuflar. Vejo um casal
entrando em um carro e se afastando. Sorte deles!
Será possível que eles não enxergam os avisos de que aqui é uma
propriedade particular? Caralho! Volto para casa quando os vejo se afastarem,
pego alguns frutos que conheço na mata e levo para minhas meninas. Depois do
dia que beijei Isabela, não a beijei novamente. Estou dando o tempo e espaço
que ela precisa.
Chego em casa e sinto o cheiro de comida fresca e meu sorriso se alarga
quando ouço as vozes das duas mulheres que fazem parte da minha vida. Minha
nova vida. Sinto o perfume das flores que colhi para elas. Dois imensos buquês.
Bela agora adora e dá pulinhos de alegria quando chego com os imensos
ramalhetes.
Os coloco no chão enquanto tiro as botas e coloco em uma caixa fechada
e aquecida para evitar que cobras e outros bichos entrem.
Atravesso a sala, que agora tem flores espalhadas por todo lado. Sorrio
tanto que meu maxilar dói.
— Bom dia para minhas meninas. — Deixo as flores na mesa e beijo
Rosa e levanto minha pequena até tê-la a altura de minha boca. Ela acaricia meu
rosto e me beija na bochecha.
— A Fera Dark só ganha beijo na bochecha, Bela? — provoco e a vejo
corar e olhar para Rosa, que está sorrindo de satisfação.
— Me lembrei que tenho uma coisa para fazer, mas antes vou pegar meu
buquê de flores. — Rosa sorri, pega um dos buquês e sai, nos deixando sozinhos.
— E então, meu amor, ganharei um beijo ou não? — assopro com o rosto
enterrado em seu pescoço cheiroso. Ela sorri e me puxa pelos cabelos, solta meu
coque e cheira meu cabelo.
— Lindos! Amo seus cabelos e barbas gigantes, Zakarias. — Me puxa e
me beija com carinho. Sinto a maciez de seus lábios e meu pau reconhece sua
dona. A devoro e levanto seu pequeno corpo e beijo seus seios por cima da
blusinha fina. Seus mamilos estão duros e ela geme alto, esfregando seu corpo
minúsculo no meu.
— Bela, preciso tanto de você, querida. Te amo demais. Esses meses que
está aqui conosco foram os melhores de minha vida — falo, beijando-a no rosto,
olhos e boca, sem parar.
Ela não me responde e me beija com luxúria.
Quando paramos para tomar fôlego, ela sorri.
— Vamos almoçar, querido, fizemos suflê de queijo, que sei que adora!
— Sorrio com o coração disparado de tanto amor, elas sempre fazem meus
pratos preferidos.
Sentamos à mesa e Rosa entra. Almoçamos entre risos e felicidade.
Minha vida está perfeita.
Os dias passam e estou cada dia mais apaixonado por Isabela, minha
Sininho. Ela demonstra tanto carinho por mim que aquece meu coração de
maneira indescritível. Mas ainda não me disse as palavras que anseio ouvir.
Sonho em ouvir saindo de seus lábios rosados um: Eu te amo, Zakarias.
***
Já estou esperando-a em minha biblioteca. A convidei para irmos passear,
mas de carro, para vermos plantas novas. Quero catalogar algumas e ela irá
fotografar outras. Pedi à Rosa para preparar roupas adequadas e grossas para ela,
e uma bota que chega até sua coxa. As cobras atacam sem aviso e só de pensar
nela sendo picada por uma, ou atacada de qualquer jeito, eu surto.
Ouço seus passos e meu pau retorce. Esse infeliz me envergonha demais.
Só de sentir o cheiro de Bela ele já se levanta e aponta para ela. Caralho de pau
indisciplinado.
Ela entra e tento esperá-la vir até mim, mas quando a vejo com um
vestidinho leve e branco, de alcinhas, perco a batalha e me levanto igual a um
louco tarado.
— Bela, está belíssima, meu amor! — Ela sorri, acaricia meu rosto e o
beija. Sempre faz isso. Ela me mostra com isso que superou o asco que tinha de
minhas cicatrizes. E isso me faz amá-la ainda mais, se é que isso é possível.
— Você também, minha Fera. — Prendo sempre meus cabelos para que
ela os solte, já sei que os ama soltos, então ajo como um menino, e porra se não
adoro esse carinho. Sinto suas pequenas mãos no coque, tirando o nó que dou
quando os prendo. Sinto-os se esparramarem pelos meus ombros e rosto. Sorrio
para ela com amor e desejo
— Lindos, Zakarias! Amo a sedosidade de seus cabelos e barba, querido,
nunca os corte, por favor! — Cortar meus cabelos e barba que ela ama tanto?
Nunca! Prefiro cortar uma mão.
— Jamais, querida, são seus e só cortarei quando se enjoar deles! —
prometo, feliz demais. — Amo demais uma pequena de cabelos castanhos e
olhos prateados, os mais incríveis que tive o prazer de ver. Você é perfeita, Bela
— falo emocionado.
Ela sorri e se esfrega em mim de maneira sugestiva.
— Bela? — pergunto, ansioso.
— Sim? — Me olha malandramente. — Sr. Zakarias, poderia por
gentileza tirar a virgindade de uma pobre moça que anda divagante pela terra,
procurando a quem possa dar? — Meu coração dispara juntamente com meu
pau.
— Você quer fazer amor comigo hoje, pequena? Está preparada? —
pergunto receoso e ansioso ao mesmo tempo. Já fiz muitas maldades com ela,
não quero mais machucá-la.
— Sim. Como nunca tive tanta certeza em toda minha vida. Só tenha
cuidado comigo, porque já sabe que tenho medo, pavor de cobras — diz e pisca
matreira. Ela me faz tão bem que gargalho de pura felicidade quando vejo o
quanto está tranquila e confiante.
— Serei cuidadoso, amor. Prometo a você que essa cobra vai picá-la, mas
te dará muito prazer também. — A pego em meu colo e vou para meu quarto.
Caminho para meu quarto quase correndo, subo as escadas voando em
desespero. Porra, espero por essa mulher tem quase seis anos.
Abro a porta de meu santuário, carrego minha carga preciosa e a deposito
na imensa cama dossel que tenho aqui, com cuidado. Rosa mantém tudo limpo,
cheiroso e perfumado. Os lençóis de algodão puro e brancos abraçam minha
pequena e seus cabelos castanhos se destacam contra a alvura do tecido. Ela
some em meio a tantas almofadas. Fico parado ao lado da cama, a olhando com
adoração e ela me olha um pouco receosa. A entendo. Vejo seus olhos descerem
e arregalarem quando vê meu pau túrgido, no limite. O zíper me incomoda.
— Querida... — A vejo se levantar rapidamente.
— Mudei de ideia, Zakarias, tentaremos isso outro dia! — Sorrio, com
carinho, de seu pavor e tento acalmá-la.
— Bela, faremos amor somente quando você quiser e no seu tempo. Mas
deixe-me beijá-la e te dar prazer. Caso se sinta bem e veja que pode continuar, o
faremos juntos, está bom assim, querida? — digo acariciando seu rosto suave e
muito corado.
Ela olha o sem pudor e safado do meu pau, que sacode quando sabe que
está sendo observado, e então me encara.
— Só beijos por enquanto. — Sorrimos e a pego no colo e dessa vez
deito com ela.
Olho para ela com amor e tiro os fios macios que estão em seu rosto
delicado e coberto de sardas.
— Amor, seu corpo também é coberto de sardas? Posso ver? — Meu
desejo por essa mulher é tão grande que sinto minhas mãos trêmulas.
— Sim... — responde, tímida. Desço minha boca até a sua com uma
voracidade que me assusta. A beijo com luxúria e puxo sua língua com desejo
que me queima. Ela geme, levanta suas mãos e agarra meus cabelos, que a essa
altura, já estão soltos e fazem uma cortina enquanto a devoro.
Meu pau arde em minha calça, desço a mão e abro o zíper, colocando-o
para fora, aliviando um pouco a dor.
Desço para seu pescoço suavemente e o chupo com força, o que faz com
que sua pele fique marcada. Desfaço os laços das tiras que sustentam seu vestido
e vejo que está com um sutiã rosa-claro. Vejo as sardas que imaginei tantas vezes
enquanto me masturbava como um adolescente. Sem contar as vezes que sonhei
com esses belos seios.
Caio de boca e chupo com luxúria e prazer a pele macia de seus seios
cobertos de sardas. Ele geme alto e empurro suas pernas para me acomodar
melhor. Sinto sua bocetinha molhada e meu pau engrossa ainda mais. Tiro o
sutiã e fico extasiado com a beleza dos seios de minha Bela. Claros, médios,
cobertos de sardas e com bicos rosados salientes. Fecho meus olhos e caio de
boca no esquerdo. Mamo com desespero, mordo, chupo e sinto ela estremecer,
gemendo loucamente. Passo para o direito com ganância. Mamo com ferocidade
até deixar os mamilos duros, vermelhos e inchados. Assopro, fazendo-os ficar
mais bicudos.
Não resisto e junto os dois, chupando os mamilos com força e desespero.
Esfrego minha barba nos bicos sensíveis. Ela geme alto e revira os olhos,
continuo essa tortura em seus seios e ela sacode seu pequeno corpo em um gozo
tão forte, que chega a gemer em agonia. Enquanto seu pequeno corpo ainda
sacode, esfrego meu pau na cama com desespero e gozo no colchão como um
alucinado. Tombo em cima de minha pequena, meu rosto mergulhado em seus
seios torturados e ainda sensíveis.
Ficamos respirando com dificuldade até nos acalmarmos. Levanto meus
olhos e Bela ainda está com os seus fechados. Meu pau volta a endurecer,
caralho!
Desço devagar e levanto seu vestido. Vejo sua calcinha ensopada e minha
vontade é de arrancá-la e meter meu pau nela até as bolas. Mas não posso. Tenho
que me controlar. Bela é virgem. Salivo só de pensar no quanto ela é apertada e
macia.
— Zakarias? — Me chama, ainda de olhos fechados.
— Hum, pequena. Foi bom? — pergunto, tirando sua calcinha. Percebo
que ela fica quieta.
— Sim, maravilhoso! Quero mais orgasmos. — Sorri e abre mais as
pernas, faceira. Isso me tira o restinho de sanidade que ainda mantenho a todo
custo.
— Porra, amor! — Arranco seu vestido e a deixo nua. Arranco minha
calça junto com a cueca, a camisa voa pelos ares.
Desço a cabeça chegando bem perto de sua boceta aberta e rosada, e meu
pau estremece de ânsia e vontade de se abrigar nessa caverna doce e macia.
— Puta merda, você é linda, Bela! Tem a boceta mais linda que já vi em
toda minha vida! — exclamo sem nem perceber, de tão fascinado que estou. —
Lisinha e rosadinha — murmuro quase babando.
— Depilação a laser — responde sorrindo. De onde estou, vejo seus seios
bicudos e rosados me chamarem.
— Massageia seus seios, amor — peço com tara. Enlouqueço quando
vejo suas pequenas mãos apertarem os seios macios e gostosos. Gemo alto.
Desço minha boca e chupo somente seu clitóris que está inchado e
vermelho e apontando para mim com ousadia. Duas mamadas com força e vejo
minha pequena estremecer, gemer e gozar com loucura.
Fecho os olhos e agora chupo os grandes lábios, seu clitóris está sensível
no momento e minha vontade é de chupar esse montinho de nervos até eu morrer
com cem anos.
Me levanto e a pego, vamos para o banheiro e a lavo com carinho,
enxugo-a deixando-a na cama, volto e termino meu banho batendo uma senhora
punheta.
Volto para a cama mais calmo e me deito ao lado de minha pequena Bela.
Ela se aconchega a mim e acaricia meu rosto, beijando-o com carinho.
Fecho meus olhos de satisfação.
— Obrigada, Zakarias, você foi perfeito. — Sinto meu pau traiçoeiro se
levantar. Tento disfarçar, mas ela o pega e acaricia.
— Bela? — falo sem querer acreditar que ela vai me permitir fazer amor
com ela.
— Sim, meu amor. Eu quero muito fazer amor com você... — diz,
sorrindo e segurando meu pau intumescido que sacode em sua mão, sem pudor.
Eu o entendo, ele esperou demais por essa mulher, mais de cinco anos.
Me debruço em cima de minha Isabela e a beijo com tudo de mim,
mostro nesse beijo como a amo e a venero. Pego sua mãozinha que travou em
meu pau e a tiro com carinho, senão gozarei antes da hora. Levanto as suas duas
mãos acima de sua cabeça e as prendo.
Me ajoelho e deixo seu pequeno corpo entre minhas pernas grandes e
musculosas. Olho seu corpo minúsculo, branquinho, salpicado de sardas, e não
existe visão mais bela do que essa no mundo inteiro. Seus seios estão marcados
com meus chupões, e estão avermelhados devido minha barba áspera.
Desço meus olhos e vejo sua pequena e intocável boceta rosada e minha
boca enche de água, querendo prová-la novamente. Meu pau está tão duro que
arde. Ele está em um tom vermelho escuro e bate em meu umbigo em pequenos
espasmos. Fecho meus olhos e respiro fundo, tentando me acalmar.
— Me beija, Zakarias... — ela pede e a atendo com sofreguidão e
luxúria. A beijo com desespero e quase arranco sua língua, chupando-a. Ele tenta
soltar os braços, mas os mantenho presos. Quero me deliciar nesse corpinho de
princesa.
Beijo seu pescoço, já marcado, e deixo novas marcas, avanço para os
seus seios cheirosos e macios e gemo alto quando chupo somente o mamilo
saliente. Ela geme e contorce o corpo. Passo para o outro mamilo e sugo com
força e ela estremece. Já percebi que assim como eu, ela adora que a mame e
chupe com força. Poderia ficar aqui dias.
Quando os mamilos estão inchados e vermelhos, chupo os seios, quase
engolindo-os. Puta merda, ela é gostosa demais.
Ela está gemendo sem parar debaixo de mim, solto seus braços que vêm
direto para meus cabelos. Sorrio. Desço minha mão e acaricio com veneração
sua bocetinha macia e depilada. Está escorrendo seu mel. Enlouqueço e avanço
rápido para esse pedacinho do paraíso que me é oferecido livremente.
Passo meu nariz em sua bocetinha toda e chupo seus grandes lábios
gemendo alto e sem pudor. Caralho!
Ela geme e está agarrada aos meus cabelos com suas mãozinhas de
polvo.
Abro sua boceta e vejo seu clitóris durinho e vermelho me chamando.
Quero gozar e fazê-la gozar com meu pau atolado até as bolas dentro dela.
Chupo sua boceta toda, mas não toco no seu clitóris. Vejo ele tremular...
Me levanto e a olho com carinho.
— Bela, eu te amo mais que minha vida, pequena — digo, beijando-a e
ela sorri, gemendo enquanto devoro sua boca.
Pego meu pau grosso e inchado e coloco na entrada de sua minúscula
bocetinha. Empurro com cuidado, a glande rosada some nessa grutinha quente e
molhada. Meu corpo estremece, sei que vou machucá-la, mas vou tentar tornar a
dor a mais breve possível. Começo um vaivém suave, tirando e colocando
somente a glande gorda e rosada. Levanto meus olhos e a vejo me olhando em
expectativa. Sorrio para ela e murmuro um: eu te amo.
Vou em busca de seus seios e os chupo com voracidade, ela geme e se
contorce na cama. Continuo chupando com força e vontade, agora somente um
mamilo, como vi que ela adora. Levo minha mão ao seu clitóris inchado e
começo a massagear com carinho, pois está muito duro e sensível. Ela estremece
e geme alto enquanto continuo chupando seu mamilo com força e massageando
seu clitóris.
Ela estremece e seu pequeno corpo sacode com a chegada de um
tempestuoso e arrebatador gozo. Ela geme e revira os olhos, e aproveito o
momento em que goza e enfio meu pau de uma vez. Entro com dificuldade e isso
quase me mata de prazer. Tenho que me segurar senão gozo no caminho, antes
de chegar ao fundo. Empurro com mais força e finalmente estou todo dentro de
minha pequena. Não vejo mais nada, somente sinto. Ela é macia, quente e
apertada demais. Fico quieto, porque se me mexer gozo. Ela se mexe e é meu
fim. Entro em frenesi e quando vejo, já estou inchando e gozando igual a um
louco dentro dela.
Lanço jatos grossos e abundantes de sêmen dentro de Bela, sem parar.
Parece que tenho litros de porra acumulada. E Bela recebe tudo de mim. Quando
termino de gozar, tombo para o lado com um zumbido em meus ouvidos. Porra,
estou ficando velho. Estou morto e acabado. Olho para o lado e ela me olha com
amor.
— Amo você, Zakarias. — Meu coração explode de alegria e a puxo para
meu peito.
— Porra, Bela! Esperei tanto tempo para ouvir essas palavras, amor! Eu
te amo demais, você é tudo para mim, você é minha vida, meu mundo, meu
tudo! — digo com os olhos cheios de água.
— Mas me machucou, né? — fala com cara de brava, gelo.
— Bela? Machucou muito, amor? Deixe-me ver. Porra, eu tive tanto
cuidado de fazê-la gozar quando entrasse, não adiantou... — digo desesperado e
com remorso. Eu sou um monstro mesmo.
— Calma, minha Fera, estou brincando! Claro que doeu, foi minha
primeira vez, mas foi perfeito o cuidado que teve comigo. — Acaricia meu rosto
e me beija. Me acalmo mais.
— Quando podemos fazer mais? — a danada pergunta e me olha em
expectativa.
— Bela! Você está machucada e provavelmente vamos ter que esperar
uns dias e... — tento explicar, entendendo seu lado de quem fez amor pela
primeira vez.
— Dias? Zak, quero gozar mais e agora! — diz imperativa. Sorrio.
— Bom, você está falando com a pessoa certa, sua safadinha. Posso fazê-
la gozar sem ter que penetrá-la. Posso usar minha boca, língua e dedos. Qual
escolhe? — digo sacana e pisco. A maldita pisca de volta. Perfeita!
— Agora? Escolho a língua! — sussurra corada e me olha com desejo.
— Não, senhorita devassa, agora vamos tomar um banho e tirar seu
sangue virginal de meu pau e de sua bocetinha judiada. — Me levanto e a pego
no colo.
Tomamos um banho demorado juntos, cheios de carícias e beijos. A faço
gozar somente chupando seus seios. Descobri que eles são seu segundo maior
ponto erógeno. A bocetinha é o primeiro.
Isso é o paraíso, penso com satisfação. Saímos do banheiro, a enxugo e a
coloco na cama para dormirmos. A abraço e beijo sua cabeça.
— Zakarias, quero gozar novamente com você me beijando...— diz
descaradamente.
— Hum... parece que temos aqui uma ninfomaníaca — digo já com meu
pau duro e pronto para o ataque.
Nunca imaginei que ter um relacionamento íntimo com um homem fosse
tão bom. Mas não qualquer homem, o Zakarias, minha Fera. O homem é um
espetáculo na cama e me fez gozar várias vezes em minha primeira vez. Estou
viciada nele e mesmo que tenha tirado minha virgindade há pouco tempo, quero
mais. Gozar com um homem nos proporcionando isso é delicioso. Claro que me
masturbava, mas não chega aos pés de ter um gigante te apertando e chupando
da cabeça aos pés.
O meu Zakarias tem pegada e seu pau é imenso. Prova disso é como
minha boceta arde. Mas quando me lembro do gozo que me proporcionou, quero
mais. Zakarias me fez gozar no banheiro, chupando com ganância meus seios.
Observei que assim como eu, ele tem tara por seios. Só de pensar nisso, minha
boceta machucada goteja. Quero mais dele hoje. Vontade de comer e mastigar
esse homem gostoso!
— Zak... quero gozar novamente com você me beijando... — murmuro
descaradamente e apertando uma perna na outra.
— Hum... parece que temos aqui uma ninfomaníaca — ele fala com um
sorriso gigante no rosto, de orelha a orelha.
Sobe em cima de mim e me beija com carinho. Tira alguns fios que estão
em meu rosto. Eu seguro sua massa sedosa e longa de cabelos castanhos. Pecado
um homem ter cabelos tão lindos! Muitas mulheres dariam um rim para ter essa
massa sedosa e brilhante na cabeça. Agarro também sua barba, linda e máscula.
Descobri que esse rosto barbudo me dá muito mais prazer quando ele sai
deslizante pelo meu corpo. Quando ele chupa meus seios com essa barba áspera
me espetando, gozo em segundos.
Zakarias é sensual por natureza. Beija meu pescoço agora e esfrega seu
grande corpo em mim. Desce me olhando e sorri, chupa um seio me encarando e
sinto minha boceta escorrer.
— Zak... tão bom... — Ele solta o seio inchado e ouço o som de um ploc.
Estremeço e fecho meus olhos de prazer.
— Puta merda, por que não fiz isso antes? É bom demais! — Quando
percebo que falo meu pensamento em voz alta, Zak morde meu seio com mais
força. E me olha com cara feia e com um pingo de loucura em seus olhos.
— Porque você sempre foi minha! O homem que ousou encostar em
você está morto! — diz isso com certa insanidade e morde o outro seio com mais
força. Gemo e ele sorri.
— Só eu posso te dar isso, pequena. Seu Zakarias, sua Fera! — diz e
chupa com força até me fazer gritar, gozando deliciosamente.
Me olha com possessividade e me beija com volúpia.
Me beija até eu estar preparada novamente e desce para minha boceta.
— Agora quero que goze comigo chupando sua boceta, querida. — Ele
estica a língua e passa com safadeza em meu clitóris já intumescido e vermelho.
Gemo alto.
— Isso, Bela. Geme para mim, querida, somente eu posso chupar esse
brotinho tão suculento. — Me olha novamente e puxa meu já desesperado
clitóris na boca e dá pequenas mordidas que me fazem segurar sua cabeça com
força.
— Chupa com força, Zakarias, por favor! — grito enlouquecida na cama.
Ele sorri e continua sugando suavemente, parece que meu corpo vai
explodir, meu coração está disparado.
— Zak... — seus olhos brilham e ele dá uma chupada tão forte que meu
clímax me esmaga de maneira avassaladora. Meu corpo treme como se eu
estivesse tendo uma convulsão e gemo alto, grito mesmo. Puta merda. Solto seus
cabelos e meus braços caem abertos na cama sem força.
Quando olho, vejo Zakarias em cima de mim, se ajoelhando e segurando
meus seios. Ele coloca seu pau no meio deles, os aperta e começa a meter. Joga a
cabeça para trás e vejo que está todo rígido de prazer.
Tenho uma ideia e levanto meu rosto. Quando o pau dela passa por entre
meus seios abro a boca e chupo a glande. Ele me olha de maneira surpresa e
pisco.
Ele geme alto e começa a arremeter novamente.
— Porra, Bela, que delícia! Chupa com mais força, amor! — Faço o que
pede, em poucos segundos ele enrijece e alaga meus seios com sua semente.
Seus gritos de prazer ecoam pelo quarto.
Quando tudo termina, ele me olha assombrado.
— Caralho, Bela, você é perfeita. Onde aprendeu a fazer isso, amor? —
Vejo uma gota de ciúme em seus olhos.
— Em filmes pornográficos. — Ele relaxa o corpo e dá uma gargalhada
de felicidade e arrisco dizer, de alívio.
— Minha menina gosta de filmes pornôs. — Me pega novamente e me
leva para o banheiro. Mas agora estou satisfeita. Mais tarde não garanto nada,
quero tirar todo o atraso.
Tomamos nosso banho e agora realmente conseguimos dormir.
Ele me agarra e não me faço de rogada, o agarro também. Meu homem,
meu amor, quem diria que me apaixonaria por uma Fera selvagem. Um homem
quebrado pela vida que carrega uma bagagem tão dolorida e sofrida. Sem contar
que é bem mais velho do que eu. Vinte anos de diferença, que para mim não
significam nada. Somente o amo e ponto.
Os dias passam em perfeita harmonia. Eu e minha Bela estamos nos
conhecendo e nos amando cada vez mais. Hoje vamos sair, mas de carro. Não
quero que ela fique com medo das minhas cobras. Elas são somente para
espantar os invasores que não sabem respeitar as placas sinalizando que é
propriedade particular. Realmente sou louco, penso com ironia. Dono de cobras!
Amo minha Bela, quero somente o melhor para ela. Mas continuo sem paciência
com os invasores. Já botei vários para correr. Sorte deles que foram embora sem
causar problemas.
Sei que minha aparência os assusta. Agora, por Bela, dou a eles a
oportunidade de irem embora sem matá-los ou colocá-los no paiol. Desde que
não sejam desrespeitosos.
Mas os que me enfrentarem irão ter o que merecem no paiol ou no
cemitério dos invasores, penso com um sorriso maligno.
Termino de me arrumar ansioso para sair com minha Bela. Visto uma
calça jeans bem grossa e camisa de mangas compridas. Orientei Rosa a arrumar
algo assim para minha pequena também. Quero-a bem protegida. O lugar em que
a levarei hoje tem menos cobras. Mas sempre aparece alguma. Então é melhor
precaver.
Desço as escadas pulando os degraus rapidamente para procurar minha
menina.
Elas estão na cozinha preparando o café e nossa cesta. Ficaremos o dia
todo fora. Já preparei tudo ontem. Comprei para Isabela todo seu equipamento
fotográfico, pois eu joguei os dela e suas roupas todas no rio junto com o carro.
Bela é uma pessoa tão altruísta que nunca me perguntou ou cobrou nada sobre
suas coisas.
Ela ficará surpresa, tenho certeza, os equipamentos chegaram tem uns
três dias, me cocei para dar a ela, mas me segurei, quero fazer surpresa. A levarei
em um local onde as plantas e paisagens são lindas. Ela ficará encantada, tenho
certeza. Estou levando também meu caderno para catalogar novas espécies, meu
hobby desde que vim para cá.
Depois, tudo o que descobri, pretendo transformar em um livro. Ideia da
minha menina. As ilustrações, assim como as desenhei, também farão parte do
livro.
Entro e paro um momento, contemplando essa cena tão linda e especial.
As duas sorrindo e conversando sobre mim. Fico com o peito borbulhando de
amor e orgulho.
— Meu filho está tão mais alegre, Bela, você mudou tudo por aqui.
Trouxe paz e alegria para esse casarão que era tão sombrio e triste. — Rosa tem
toda razão. Minha alegria era torturar e matar os invasores e raramente catalogar
minhas plantas.
— Eu o amo, Rosa, aprendi que por baixo daquela aparência durona tem
um coração de ouro. — Estremeço de amor por essa mulher.
Não resisto e entro para abraçar as duas e beijar minha mulher.
— Bom dia, minhas meninas! — Já estou agarrando-as quando as
cumprimento.
Elas sorriem de orelha a orelha e beijo Rosa no rosto e minha menina na
boca, até ficarmos sem fôlego. Rosa não liga mais e muito menos nós, eu e
minha Bela.
Tomamos o café em paz e planejando sobre como será nosso dia. Nos
despedimos de Rosa e vamos para o carro.
Pego Bela pela cintura, pois ela é uma coisinha, e a coloco no banco,
arrumo o cinto e o prendo, sem apertá-la. Enquanto faço tudo isso ela me olha
sorrindo e provocando.
— Quero um beijo. — Pega meus cabelos e puxa meu rosto, passando a
língua em meus lábios. A Sininho virou uma safadinha. Me pega em todos os
cantos da casa. E eu? Garanto a vocês que não estou reclamando de nada.
Aperto seus seios e ela geme. Enquanto nos beijamos a minha vontade é
comer essa gostosa aqui e agora. Mas me controlo, tenho o dia todo para traçar
essa delicinha que é só minha.
Dou a volta no carro de pau duro e entro. Ajeito meu pobre e avolumado
pau, arrumo o banco, o cinto e saio devagar, me sentindo o homem mais
abençoado do mundo. Ter essa mulher ao meu lado me fez repensar e mudar
tantas coisas. Me fez voltar a enxergar novamente a vida com cor e brilho. Me
alegro em viver novamente.
Dirijo devagar para Isabela aproveitar a paisagem e saímos da área de
nossa casa. Pego uma estradinha cheia de pedras, musgos e teias de aranhas que
a fazem dar gritinhos de pavor. Vejo minha pequena ficar pálida.
— Amor, está tudo fechado, elas não entrarão, pode ficar calma. — Pego
com carinho em sua coxa. Ela está com calça jeans grossa, blusa de manga
comprida e uma bota de cano longo que chega até suas coxas. Quero minha
menina superprotegida de minhas amigas peçonhentas. Vai ser foda tirar esse
tanto de roupas para eu comer minha Bela em paz. Penso com um sorriso de
tara rasgando meu rosto. Porra! Um ancião com tanta safadeza. Foda-se se não
estou amando tudo isso!
— Zakarias, estou vendo um sorriso em seu rosto que está me
assustando. Você está pensando em safadezas, seu descarado! — Bela fala e
aperta meu pau duro e dolorido.
— Você me deixa assim, pequena! Duro e desesperado! — Esfrego sua
mão em todo meu comprimento, que estremece e sacode.
— Está vivo! — grita a marota. — Vamos todo o caminho brincando e
nessa camaradagem que me deixa tonto de felicidade. Tenho medo de perder
tudo isso e só de pensar nessa possibilidade a loucura ameaça me pegar.
Estamos rodando há uns 15 minutos, mas Zakarias está indo bem
devagar, segundo ele, para eu aproveitar a vista, plantas e alguns bichos que me
fazem estremecer de medo. Ele sorri e continua me contando como é viver nesse
lugar.
Não vejo o tempo passar e quando menos espero estamos entrando em
uma clareira com uma montanha não tão alta, mas coberta de flores. São as
mesmas que Zakarias nos leva todas manhãs.
— Que lindo, amor! É aqui que você colhe as flores que nos presenteia
todas as manhãs? Meu Deus, é tão longe, Zakarias! Ou tem mais perto de casa?
— falo com os olhos brilhando de emoção. A vista daqui é maravilhosa,
espetacular. Nesse lugar faria fotos belíssimas, que as editoras disputariam com
fervor. Lembro de meus equipamentos e meus olhos se enchem de lágrimas.
Zakarias nota, me olhando ansioso.
— Aconteceu alguma coisa, amor? — Desce do carro e abre a minha
porta, me pegando no colo e colando-me no chão com suavidade.
— Não, é que aqui é tão lindo! — falo sem mencionar meus
equipamentos, não quero que nada nos leve de volta aqueles dias tão tenebrosos
para mim e para Zakarias também. Todas as vezes que algo nos lembra esses
dias ele fica mal. Sente muito remorso e culpa pelo que me fez.
— Eu te amo tanto, Bela. — Me ergue pela cintura e me beija com
paixão. Correspondo na hora, amo ser beijada e comida por esse gigante.
— Amor, tenho uma surpresa para você. — Me coloca no chão e me olha
com carinho.
— Sim? — pergunto já curiosa.
— Fica aqui quietinha que vou buscar, não precisa ter medo, estou logo
ali. — Ele se afasta e vejo-o abrir o porta-malas do carro e tirar de lá uma
mochila especializada para fotógrafos profissionais, caminha até mim e me
entrega com um grande sorriso. Meus olhos se arregalam e coloco as mãos na
boca. Não acredito! Equipamentos! E todos novos. Choro igual a uma criança,
que ganhou seu brinquedo favorito.
— Seu equipamento de fotografar, amor, tem tudo aqui que uma
profissional como você necessita. Hoje poderá estrear e fazer tantas fotos que
nem em um milhão de anos poderíamos ver. — Ele pisca para mim, então corro
e pulo em seus braços.
— Uau! Assim vou te presentear todos os dias, pequena. Com uma
reação tão esfuziante assim! — Aproveita e me beija com força, o safado.
Quando terminamos, ele me coloca no chão e pego minha mochila, cheia
de ansiedade. Quando abro vejo todos os equipamentos que preciso, dou outra
crise de choro.
— Estou começando a me arrepender de ter te presenteado com esses
equipamentos, amor. Está chorando muito e isso está me matando — Zakarias
diz e se agacha ao meu lado.
— É que estou feliz demais, querido. — Fungo e sorrio ao mesmo tempo.
Começo a montá-los e já tenho ideia de como farei várias fotos. Olho para
Zakarias e vejo seu olhar carinhoso direcionado a mim. Retribuo, acariciando
sua bochecha cicatrizada.
— Agora vou deixar o amor de minha vida em paz e vou procurar
alguma novidade em plantas para desenhá-las e catalogá-las. — Pisca e se
levanta. O vejo pegar um caderno novo no carro e um lápis. — Novo livro? —
pergunto e ele sorri com simplicidade.
— Sim, meu amor, tudo novo em minha vida. — Sorri com serenidade e
caminha para uns arbustos estranhos e se agacha. Ele começa a olhá-lo com
seriedade e concentração. Vejo-o começar a desenhar e volto meus olhos para
meus equipamentos. Pego a câmera e arrumo a lente com cuidado e caminho
para a pequena montanha de flores. Fotografo de todos os ângulos possíveis e
com isso consigo fotos incríveis.
— Amor, venha almoçar — Zakarias me chama e quando chego, vejo
que já está tudo ajeitado dentro do carro.
— Dentro do carro, princesa, devido a alguns bichinhos que podem nos
incomodar. — diz suavemente e me pega no colo colocando-me no interior do
veículo. Rosa caprichou no nosso almoço. Sanduíche de frango desfiado com
bacon, pãezinhos doces e salgados, e uma torta deliciosa de chocolate e
morangos. Suco natural de abacaxi e hortelã.
Terminamos nosso almoço e limpamos tudo, Zakarias deita os bancos e
me chama para tirarmos um cochilo.
Ele se deita e apoio minha cabeça em seus ombros largos, ele acaricia
meus cabelos e em pouco tempo adormeço.
Acordo com Zak chupando meus seios e gemo desorientada. Como esse
safado conseguiu desabotoar minha camisa sem me acordar?
— Safado! — digo e ele sorri, com todo o meu seio em sua boca. Vejo
ele sugando sem parar e sua mão abrir o zíper de minha calça e descer até o meio
de minhas pernas. A bota atrapalha.
— Caralho de botas da porra! — ele xinga nervoso.
Sorrio e me levanto, arrancando assim meu seio de sua boca tarada.
— Bela, me devolve esse seio! — Tenta puxar-me novamente e o
empurro. Tiro minhas botas, minha calça e camisa, ficando nua à sua frente. Ele
me olha boquiaberto e tocando em seu pau, com cara de cafajeste.
— Porra Bela, você é belíssima! — Sorri e abre o zíper tirando seu pau
intumescido para fora. Esfrega a coroa arroxeada com força e me olha com os
olhos vidrados.
— Quero esse pau gostoso dentro de mim e com força, Zakarias. — Ele
me puxa, me beijando com luxúria, me deita, abre minhas pernas e geme alto.
— Porra de bocetinha deliciosa e molhada! — Direciona seu pau e entra
com um único golpe. Gememos juntos e ele ergue minhas pernas e as coloca em
seus ombros largos e começa a meter com força. Sinto seus golpes fortes
baterem em meu útero e meus seios pularem igual pipocas. Estou tão cheia dele
e tão molhada que sinto meu prazer escorrer para minha bunda e vejo seu pau
besuntado de meu mel.
Ele olha para onde estou olhando e geme alto, vejo seu pau engrossar
mais e ele para desesperado, atolado até as bolas e começa a massagear meu
clitóris já rígido de tanto desejo e prazer.
Começa a entrar e sair novamente, e sinto o calor do gozo me tomando
dos pés à cabeça. Estremeço sacudindo meu corpo e dando um grito tão alto que
parece que estou morrendo.
Ele continua entrando e saindo com desespero e vejo suas veias nos
braços engrossarem juntamente com as de seu pescoço, e ele urrar quando me
enche com jatos fortes e espessos de sua semente. Continua entrando e saindo,
mas agora mais devagar, aproveitando os últimos resquícios de seu prazer. Até
tombar em cima de mim e me beijar com amor.
— Amo você, menina gostosa. Sua bocetinha é deliciosa, Bela — fala
em meus ouvidos, baixinho.
— Prefiro seu pau! — falo demonstrando sem receio a grande safada que
me tornei com Zakarias.
Ele sorri e pega um pedaço de guardanapo e nos limpa. Vestimos nossas
roupas satisfeitos e voltamos para o que amamos fazer. Eu vou fotografar e ele
desenhar suas plantas.
Ouço o canto dos pássaros, e a paisagem aqui é linda. Vou tirando fotos e
sem perceber me afasto de onde estávamos. Zakarias também não deve ter
notado, senão já teria surtado. Tenho que voltar logo. Mas qual o caminho? Tem
vários aqui. O terror começa a se alastrar em meu coração e chamo Zakarias bem
alto.
Nada!
Começo a correr e entro em um lugar coberto de árvores centenárias, é
escuro, mesmo com o sol escaldante, suas copas são muito juntas e o sol não
consegue atravessá-las.
Grito alto e nada de Zakarias, ele deve estar desesperado. Choro de
terror.
— Ora, ora! O que temos aqui? Caiu um anjo do céu de presente para um
pobre homem perdido no meio deste inferno? — Um homem alto se aproxima e
sorri com malícia. — Vamos nos consolar um ao outro, boneca. Estou há dias
sem uma mulher e ganhei de presente uma linda boneca. — Ele se aproxima e
me agarra.
Tento gritar e ele cobre minha boca com suas mãos imundas.
— Deixa para gritar quando meu pau estiver atolado em sua boceta, sua
puta escandalosa! — Me arrasta pelos cabelos e me joga em uma colcha imunda
e pula em cima de mim.
— NÃO! SOCORRO! — Ele me dá um tapa no rosto com força.
— Cala a boca, vadia, ou vou enchê-la com meu pau. Puta escandalosa.
Choro com desespero e tento me soltar, o maldito tenta abrir minha blusa,
mas resisto e mordo sua bochecha de merda. Ele geme e enfia a mão em minha
cara novamente, sem dó. Meu rosto já está dormente.
Pega uma faca e coloca em meu pescoço.
— Se você gritar e me morder mais uma vez enfio esta faca em alguma
parte de seu corpo que não a matará, e te comerei em todos os seus buracos,
desgraçada.
Choro baixinho e oro para que Zakarias me ache antes que o pior
aconteça.
Hoje está sendo um dos melhores dias da minha vida, vejo minha
pequena tirando fotos de todos os ângulos possíveis e sinto sua felicidade daqui.
Gosto muito de catalogar plantas e a parte que mais amo é desenhá-las. Me
distraio com uma espécie belíssima que vejo aqui e me desligo do mundo.
Quando termino de desenhá-la, me levanto para mostrar para minha pequena,
mas olho ao redor e não a vejo.
Gelo até a alma, meu coração dispara e sinto uma tontura do caralho.
— Bela, amor? Não brinque assim comigo, querida! Venha, quero te
mostrar uma planta linda que desenhei, sei que ama meus desenhos — falo com
medo e trêmulo. — Bela? Caralho, amor, não faça isso! — Quando vejo que ela
não está brincando, entro em pânico total e saio correndo feito um louco. Vejo
sua mochila no chão, como ela deixou, e me amaldiçoo por não ter ficado mais
atento. Porra, ela não conhece os perigos desse lugar selvagem. O único lugar
seguro nessa selva é nossa casa.
— Bela, querida, me responda! — Corro com os galhos batendo em meu
rosto e chorando de desespero.
Porra, onde está minha menina? Entro em um caminho escuro e arrepio.
Aqui minhas amigas peçonhentas gostam de brincar. Se Bela está aqui corre
risco de vida.
Ouço um grito e entro em desespero absoluto. É MINHA BELA!
Volto correndo para onde vem o som de seus gritos e quando a vejo
lutando contra um homem, vejo tudo vermelho e uma ira descomunal me toma.
O desgraçado está tentando profanar minha menina. Desgraçado do caralho!
Corro como um louco desvairado e arranco ele de cima de Bela com tanta força
que rasgo sua camisa. Voo para cima dele e bato com toda ira acumulada dentro
de mim em sua cara de merda, dou murros e socos sem parar, vejo vários dentes
dele caindo e ouço ele implorar para parar.
— Zakarias! — Ouço o grito de Bela de longe, juntamente com o seu
choro. Balanço a cabeça para espantar esse nevoeiro de ira e olho para ela. Volto
meu olhar para o monte de merda desmaiado. Me levanto e corro para pegar a
mulher de minha vida.
— Bela, amor, estou aqui. — Ela chora e se agarra a mim, com seu
pequeno corpo sendo sacudo por espasmos de terror.
— Zakarias, ele ia... ia... — Não consegue terminar e vejo seu rosto
azulado e inchado.
— Amor, aquele desgraçado bateu em você? — Acaricio seu rosto que
está quente onde foi ferida.
— Sim. — Me agarra e chora mais, a abraço trêmulo e com força.
— Estou aqui, bebê, fica tranquila, vou te proteger, mas antes deixa eu
cuidar desse verme. — Ela me olha com os olhos inchados de chorar e meu
coração quebra.
Me levanto e puxo o resto da camisa do verme desgraçado e com ela eu o
amarro e o arrasto até onde Isabela está esperando. Jogo o maldito no chão com
tudo.
Ela se encolhe e pego minha menina assustada no colo com carinho. A
carrego para o carro, coloco-a com cuidado, arrumo tudo, e saímos dali. Voltarei
mais tarde para cuidar desse desgraçado.
— Amor, está tudo bem. — Olho consternado para Isabela. Ela está
assustada, trêmula e isso me ira de uma forma descomunal, minha vontade é de
voltar agora e matar o desgraçado. Mas primeiro preciso cuidar da minha
pequena, eu volto depois para cuidar desse lixo.
Ela acena e seu rosto machucado dói mais em mim do que nela.
Chegamos em casa, a pego no colo novamente e subo rapidamente para nosso
quarto. Deito-a na cama e preparo a banheira com água morna e sais. Volto para
o quarto, tiro suas roupas rasgadas com o coração partido. Seu pequeno corpo
está trêmulo e com vários arranhões. Estremeço de ódio e ira. Esse desgraçado
não perde por esperar.
Pego minha Sininho e a coloco com carinho na banheira, converso
suavemente para acalmá-la. Ela relaxa e meu coração tranquiliza um pouco. Fico
do lado de fora, segurando sua mão e conversando com ela bem baixinho.
Quando sinto que já está mais relaxada, a pego, enxugo e visto uma
camisa de malha nela.
— Vou buscar um chá, querida e já volto. — Ela sorri, fecha os olhos se
colocando em posição fetal e isso corta meu coração. Ver Bela tão quebrada e
ferida me machuca muito e me faz lembrar tudo que já fiz a ela. Isso me destrói
por dentro, sangra. Será que conseguirei me perdoar algum dia?
Encontro Rosa na cozinha e seco minhas lágrimas, para não alarmá-la.
Conto a Rosa o que aconteceu e ela chora muito e quer vê-la. Peço para
preparar um chá de camomila com algumas gotas de calmante, e deixar que eu
leve.
— Deixe-a dormir um pouco, mãe. Ela está muito assustada, vou sair
para resolver algo e se demorar, cuide dela para mim. — Olho-a com seriedade e
ela sabe o que vou fazer.
— Filho, tem certeza? Se Bela descobrir não vai ficar magoada com
você? — diz com cautela, ela está pálida.
— Não posso deixar esse homem vivo, mãe. Se não tivesse chegado a
tempo ele teria estuprado Bela, e você sabe o que penso sobre essa raça maldito.
Não me peça para deixá-lo vivo. Não quero mais matar, mas estupradores não
merecem viver — digo, tremendo de ira incontida. Quando penso no desgraçado,
meu coração dispara de tanto ódio.
Ela me olha com muita seriedade.
— Pode ir tranquilo, meu filho, cuidarei muito bem de nossa menina. —
Sorrio agradecido e me despeço com um beijo em sua testa. Me viro e levo o chá
para minha menina.
— Quando chego no quarto, vejo Bela abraçando as pernas, e a cabeça
deitada nos joelhos.
— Ei, pequena! — chamo suavemente e com carinho. — Seu chá, meu
amor, bem docinho como você gosta. Toma tudo, ficarei aqui ao seu lado até
dormir, e quando acordar estará muito melhor. Eu prometo — digo, me sentando
na cama e entregando-lhe a caneca de chá.
Ela pega e sorri, me agradecendo.
— Obrigada, amor, pelo chá e por me salvar, não quero nem pensar no
que teria acontecido se você não tivesse chegado a tempo... me salvou de ser
estuprada duas vezes... Obrigada, amor. — Passo a mão em seu rosto machucado
e triste.
— Eu cheguei, meu amor, e sempre chegarei a tempo, ninguém neste
mundo fará mal a você, eu juro — digo com tudo de mim, a protegerei nem que
tenha que morrer para isso.
Vejo-a acenar e tomar seu chá devagar, quando termina me entrega a
caneca e agradece novamente.
Ajeito-a na cama e deito ao seu lado, enquanto acaricio seus cabelos
macios e castanhos. Fico com ela, até ouvir seu suave ressonar. Olho para baixo
e a chamo baixinho, para me certificar que está dormindo.
— Amor? — Ela continua ressonando, a beijo e me levanto com cuidado.
Saio e fecho a porta.
Encontro Rosa na cozinha e aviso que já vou.
— Cuide dela para mim, Rosa, confio minha vida a você. — A abraço e
saio agora deixando a ira me consumir. Deixo fluir o monstro que habita em
mim desde que assassinaram minha família. Ninguém toca em minha nova
família. Não permitirei mais, nunca mais. Mato todos antes.
Entro no carro e saio cantando pneus. Chego em pouco tempo e desço do
carro tremendo de raiva. Só de pensar nesse demônio fico fora de mim.
Quando chego já está escurecendo e quando o maldito me vê tenta se
arrastar, o deixei amarrado.
Sorrio como um demônio e o pego pelo pescoço.
— Com mulher é valente, não é, desgraçado? Teve muito azar dessa vez,
mexeu com a mulher errada, a minha mulher! E nela ninguém toca e sai vivo. Já
matei um que tentou abusar dela e agora temos mais um... — Dou um murro
violento em seu rosto deformado pelas porradas que dei mais cedo.
Ele tomba e vejo dentes pendurados nessa boca de merda. Pego-o pelo
cabelo, pois sei que é uma dor horrível. Já passei por isso quando meu maldito
irmão me sequestrou. O puxo sem dó até o carro. Abro o porta-malas e jogo o
desgraçado lá dentro. Ele chora, clama, suplica por socorro. Já sabe qual será seu
fim.
— Não me mate, por favor! — ele berra e o ignoro.
Vou para o paiol. Chegando lá, desço, pego o vagabundo e o arrasto para
dentro. Jogo esse saco de merda no chão e o desamarro. Ele tenta fugir, pego
sem esforço algum.
Arranco suas roupas e o deixo nu.
— Já usou esse mini pau para estuprar mais alguém? — Ele me olha
aterrorizado e sacode a cabeça sem parar, negando.
— Quero a verdade. — digo, me sentando no colchão sujo e empoeirado.
— Sim... algumas vezes — admite chorando. — Mas no final elas
queriam, juro! — Fecho meus olhos, desgraçado da porra.
Me levanto, pego esse lixo humano com brutalidade e o amarro na cama,
nu. Ele grita igual a uma puta fingindo orgasmo. Deixo seus braços bem
esticados e as pernas também. Seu pau murchou tanto que parece uma menina.
Covarde do caralho.
Me levanto e vejo que urinou.
— Asqueroso! Um homem tão metido a forte urinando? — zombo,
caminhando para minha caixa de cobras.
Coloco as luvas de proteção e escolho as mais venenosas. Pego umas
cinco ou mais e as carrego, jogo-as na cama. O homem empalidece e grita tanto
que começa a babar sangue.
As serpentes começam a se enroscar nos braços e pernas do homem.
Arrasto uma cadeira e me sento. Sorrio maligno quando vejo a primeira
cobra picá-lo no rosto.
Ele chora e baba de desespero. Vejo as cobras subindo em sua barriga de
merda e quando uma entra no meio de suas pernas e enfia a cabeça triangular no
meio de seus ovos, o homem urra e me dou por satisfeito.
Me levanto e chego perto, olho para ele de cima e digo com calma.
— Amanhã venho aqui, se você sobreviver a esta noite com minhas
amigas peçonhentas, te deixo ir. — Seus olhos me suplicam ajuda.
— Por favor, não me deixe aqui, elas me matarão... — diz, babando e
vejo as cobras picarem seu corpo.
— Amanhã. Boa noite, estuprador de merda.
Saio de lá com satisfação de ter eliminado mais um traste dessa terra.
Ouço seus gritos e sorrio de prazer. Grita, maldito, grita até morrer.
Amanhã te levo para o cemitério dos invasores e ficará do lado do maldito que
ousou tentar estuprar minha Bela.
Acordo gritando e Rosa corre para me socorrer. Revivo os momentos de
terror que passei quando aquele homem tentou me estuprar. Se não fosse
Zakarias... ele me salvou duas vezes. Rosa me abraça e choro sem parar.
— Rosa, quero o Zakarias... por favor! — Quero a proteção do único
homem que passei a confiar.
— Ele saiu, filha, e não deve demorar... — diz com a cabeça baixa.
— Rosa, onde ele foi? — pergunto já desconfiada.
Ela permanece calada e mato logo a charada.
— Ele foi matar o cara que tentou me violar? — Meu coração dispara.
— Bela... — Me levanto e coloco as mãos na cabeça.
— Meu Deus! E ele foi sozinho? O estuprador não presta. E se machucar
Zakarias? — Temo pela segurança de meu Zak.
Rosa levanta a cabeça e vejo um sorriso nascer em seus lábios.
— Bela, você está preocupada com Zakarias e não com o que ele fará?
— Claro que estou preocupada com meu Zakarias, quero que esse
estuprador de merda vá se foder, quero que seja morto, assim nunca mais tentará
violar ninguém — desabafo a mais pura verdade que enche meu coração. E vejo
Rosa sorrir agora, largamente.
— Pode ficar tranquila, querida, conheço Zakarias e garanto que ele fará
tudo muito bem-feito. Esse nunca mais incomodará ninguém. O tolo foi mexer
com a protegida e amada do meu filho. Sinceramente, não queria estar na pele
desse traste. — Me sento na cama mais tranquila.
— Tem muito tempo que ele foi? — pergunto, curiosa.
— Tem sim, filha, deve ter umas três horas. — Me assusto.
— E não chegou até agora? Rosa, temos que ir atrás, e se ele estiver
precisando de nossa ajuda? — digo em pânico.
Ouço um assobio suave e baixinho. Levanto meus olhos e vejo o homem
que passei a amar mais do que minha vida.
— Estou bem aqui, querida, e estou ótimo. Mas fico feliz por ter duas
mulheres tão protetoras. — Ouço sua voz rouca e ele está parado à porta com as
mãos cobertas de sangue, sua camisa está com respingos também.
Voo em direção a Zakarias e ele me pega no ar.
— Uau! Se não temos uma pequena voadora aqui nessa casa — diz com
suavidade.
— Você está bem, querido? Fiquei preocupada demais, amor. Quando
acordei e não te vi. Sei que foi matar o homem, não foi? — pergunto direta,
amando cada vez mais minha fera.
Ele me olha receoso e fica calado.
— Zakarias, por favor, a verdade sempre. — digo, acariciando seu rosto.
— Sim... ele te machucou, amor, bateu em seu rosto, tentou estuprá-la e...
— diz, pálido e assustado com minha possível reação.
— Sim, amor, ele fez isso tudo comigo. Um ser repugnante. E te amo
demais por ter me defendido e tirado esse tipo de nosso meio. — Ele me olha
sem acreditar e de olhos arregalados.
— Isabela? — Olho para ele e aceno, sorrindo de orelha a orelha.
— Amo você, Zakarias.
— Você não me odeia por que matei o saco de merda? — pergunta
baixinho e assombrado.
— Não, vamos festejar a morte do saco de merda! — Cruzo minhas
pernas em sua cintura e o beijo com tudo de mim. Ouço a porta se abrir e vejo
Rosa sair, com suavidade, do quarto.
— Amor, porra, eu tive tanto medo de que descobrisse e ficasse brava ou
com raiva de mim... — Coloco o dedo em seus lábios.
— Jamais. Vou te amar mais e mais por me proteger, Zakarias. Agora
vamos tomar um banho juntos e fazer amor, meu homem Fera? — provoco. Seus
olhos brilham e seu pau incha. Aperto-o com suavidade.
— Delícia de pau e de homem. Zakarias, me faça esquecer os momentos
de terror que passei debaixo daquele monstro, substitui essas lembranças ruins
por lembranças boas com você, meu amor. — Seus olhos brilham de amor.
— Será um prazer, minha doce e pequena libertina. — Me carrega para o
banheiro e tomamos banho juntos.
Fazemos amor a noite toda e em todas as posições imagináveis. Fomos
dormir com o dia amanhecendo, acabados, exaustos, mas satisfeitos.
Acordo com Zakarias chupando minha boceta, dando até bicotas de tão
alto que estava me sugando. Me olha com safadeza.
— Gostosa! — Sorrio e abro mais as pernas.
— Gostosa e safada também. — Sorrio manhosa, ele gargalha e
reverbera por toda minha boceta. Caralho.
— Quer gozar em minha boca ou pau? — pergunta o safado, sem pudor.
— PAU! — respondo imediatamente. É delicioso sentir seu pau me
alargando quando entra, e gozar sentindo sua dureza entrando e saindo.
— Mulher pervertida essa minha! — Ele se levanta e enfia tudo de uma
vez. — Gemo alto e ele começa a estocar com força, e seu pau bate em meu
clitóris inchado várias vezes, até que meu mundo vem abaixo e gemo alto
quando sou sacudida por um orgasmo devastador. Sinto Zakarias gemer e estocar
igual a um louco, até parar e ficar quieto, mergulhado até as bolas. Sinto seu pau
engrossar mais ainda e sacudir dentro de mim me alagando com sua semente
morna e espessa. Zakarias urra de prazer me apertando com tanta força que com
certeza ficarão marcas em minha cintura.
— Bela... porra... Bela! — sussurra sem parar até se acalmar e cair para o
lado, me puxando para cima de seu corpo gigante.
— Porra de mulher gostosa essa minha, viu! — Sorrio e acaricio seu
rosto.
— Porra de pau gostoso esse seu, viu! — Ele gargalha, agora comum
para mim, rejubilo com essa nossa interação e amor sem medida.
Levanto minha cabeça e o encaro.
— Zakarias, você matou o homem? — Ele me olha com seriedade.
— Não, amor, só o deixei amarrado, quem vai matá-lo são minhas
amigas peçonhentas. — diz como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Estremeço e ele me olha consternado.
— Perdão, amor, o que fiz a você foi abominável... não estava em meu
juízo perfeito. O que me impede de surtar é saber que elas não eram venenosas...
Perdão, Bela! — sussurra com lágrimas escorrendo por sua face enrugada de
cicatrizes.
— Já te perdoei, amor. Não vamos mais falar sobre nosso passado, deixe-
o para trás. — Beijo seu rosto e ele sorri com tristeza.
— Amor, tenho que ir. Vou levar o desgraçado para o cemitério dos
invasores, a essa hora com certeza já está morto. Não vou demorar. Prometo. —
Toma um banho, me beija com carinho e sai.
— Não demore, amor, estarei esperando ansiosa e já estou com saudades
— grito quando fecha a porta. Sorrio.
Fico deitada, ainda sentindo o cansaço gostoso do orgasmo que Zakarias
me deu há poucos minutos, fecho meus olhos e caio em um sono revigorante.
Saio com as palavras de Bela aquecendo meu coração. Volte logo, já
estou com saudades. Essas palavras me fazem sorrir mesmo quando atravesso o
caminho lodoso para ir para o paiol pegar o saco de merda para enterrar. Minhas
amigas peçonhentas nunca falham, deixo escapar um sorriso malvado.
Quando entro o homem está meio azulado e duro. As serpentes fizeram
bem seu serviço, como disse, nunca me decepcionam. Vejo baba espumosa em
sua boca. Coloco as luvas com calma e recolho as cobras que ainda estão na
cama, enroscadas no defunto. Coloco-as de volta na caixa. Pego o cadáver duro e
levo para o cemitério, o enterro ao lado do outro estuprador, André.
Quando termino de enterrar o desgraçado, sinto uma pancada forte em
minha cabeça e tudo apaga.

***

Acordo no paiol, sentado, nu, em uma cadeira com os pés e mãos


amarrados. Olho em volta e não vejo nada. Sinto minha cabeça doer onde me
acertaram.
Quem será que me prendeu aqui? Será que é algum parente das vítimas
que fiz?
Está meio escuro aqui dentro, sei que é dia, devido aos raios solares que
atravessam o teto do paiol.
— Aparece, seu covarde, me desamarre e me enfrente como homem —
grito, tentando me soltar e sinto as cordas cortarem meus pulsos.
Vejo uma cobra rastejando e fico irado. Algum filho da puta descobriu
onde guardo minhas amigas. Caralho! Significa que estava sendo vigiado.
— Acha mesmo que vai me assustar me prendendo e soltando cobras?
Seu filho da puta, já passei coisas que te farão arrepiar só de imaginar! — grito
com raiva e quando a cobra arma o bote e pula, chuto a desgraçada para longe. A
filha da puta arrasta-se, se enfiando em um buraco qualquer.
Tenho que ficar de olho, pois se soltaram uma, com certeza soltaram
mais. Olho em volta atento e vasculho o lugar que conheço como a palma de
minha mão.
Continuo provocando, uma hora esse filho de uma égua parideira tem
que aparecer.
— Seu desgraçado! Aparece logo e vamos resolver essa porra, ou me
mata logo, maldito do caralho. Se me deixar sair vivo daqui te procuro até no
inferno. — Tento puxar a cadeira, mas o desgraçado me amarrou exatamente na
cadeira que chumbei no chão.
O dia passa devagar e minhas pernas e mãos estão dormentes e inchadas
de tanto eu puxar, tentando me soltar.
Ouço passos e fico alerta. Vejo a porta do paiol se abrir e um homem de
meu tamanho entrar. Ele está todo de preto e carrega um revólver em sua cintura.
Atrás dele vejo dois homens, também de preto. Não vejo bem seu rosto, aqui tem
pouca luminosidade. De repente todas as luzes se acendem e fecho meus olhos.
A claridade é justamente para te deixar louco, pois é intensa. Fecho meus olhos
que ardem por outro motivo. Me lembro que deixei minha pequena aqui com as
luzes acesas e três cobras... baixo a cabeça e um soluço me sacode.
— Zakarias Feranttis... — Ouço uma voz que jamais pensei ouvir
novamente em minha vida.
— Botilho Castro? O que faz aqui? — pergunto sem entender o porquê
desse homem, que me ajudou a exterminar meu irmão e todos que assassinaram
minha família, estar aqui e com o rosto transfigurado de ódio. — O que está
acontecendo? — peço ajuda. — Me solta! Alguém me prendeu aqui e o
desgraçado sumiu! — Tento me mover com desespero.
Ele me olha sem se mover e fala baixo, mas ódio destilando de cada
palavra.
— Onde está o machão, o cara que age como deus? Está chorando por
que, seu miserável? Ou é valente somente com mulheres indefesas, seu
desgraçado? — Me arrepio com sua acusação e logo lembro de Isabela.
— Por que está me acusando? — Tento me levantar e sinto o sangue
morno escorrer de meus pulsos e tornozelos.
Ele puxa uma cadeira e se senta, me olhando com frieza absoluta.
— Zakarias, vou te contar uma historinha. Você terá tempo para ouvir e
refletir antes que eu o mate, seu monte de merda do caralho. — Estremeço e
sinto o sangue em minhas veias gelarem. Não porque temo por mim, mas por
minha Bela. Olho para ele em pânico e o coração querendo sair pela boca de tão
acelerado que está.
— Se você machucar minha menina, eu juro que te mato. Se me matar,
volto do inferno para te pegar, MALDITO! ME SOLTA, DESGRAÇADO! — A
loucura ameaça me tomar e começo a respirar com dificuldade.
— Ah, o covarde que tortura mulheres está nervoso? Deveria ter pensado
que um dia alguém apareceria para cobrar tudo que você já fez, maldito covarde!
— debocha, sorrio de ira, vou deixar a loucura me tomar. Foda-se.
Começo a puxar a cadeira e meus braços com força, não sinto mais dor,
somente ódio. Vejo-o através de uma névoa vermelha, Botilho sorri com
deboche e escárnio.
— Cuidem desse maluco, uma paulada certeira na cabeça desse infeliz o
fará ficar calminho. Não me esperou contar minha historinha, surtou antes da
hora. — Vejo seus paus mandados virem e me acertarem na cabeça sem dó. Tudo
escurece.
Acordo com água gelada sendo jogada em meu rosto. Botilho agora está
com um casaco preto de couro. Isso significa que fiquei apagado por muito
tempo.
— A bela adormecida não acordava e resolvi que um balde de água
gelada o acordaria e bingo! Acertei! — Cruza os braços no peito largo e sorri
com maldade.
Olho com ira para ele, vou matá-lo, juro a mim mesmo. Quando
conseguir sair daqui, vou matá-lo aos poucos, quero torturá-lo até vê-lo mijando
sangue.
Ignoro suas provocações e fico calado.
— É valente somente com mulheres? — me ataca novamente.
— NÃO! MATO DESGRAÇADOS COMO VOCÊ TAMBEM! — grito
perdendo a razão.
— Agora sim estamos nos entendendo, o escroto de merda, covarde,
finalmente está se revelando — diz, vem até onde estou e me dá um murro tão
forte no rosto, que sinto tontura.
— Como é estar preso e indefeso? Hoje você saberá o que é ficar a noite
toda acordado e com cobras soltas nessa porra de lugar, seu maldito. — fala com
tanta ira que sua saliva voa e cai em mim.
— Foda-se! Matei mesmo todos que invadiram minhas terras e mato com
torturas todo e qualquer estuprador. Adoro vê-los se esvaindo em sangue, com
seus paus cortados e enfiados na boca, com minhas cobras os picando tanto que
quando chego de manhã estão roxos e duros. Tenho prazer em levá-los e enterrá-
los no cemitério dos invasores e quando sair daqui, porque eu vou, eu te matarei
com requintes de crueldade, seu maldito desgraçado. E se tocar em um fio de
cabelo de Bela e Rosa, juro que te mato cortando pequenos pedacinhos, por dias
e dias, abro sua barriga e jogo cobras dentro! — Espumo de ira ao ameaçar esse
infeliz.
— Ameaças tenebrosas se você estivesse solto para cumpri-las, covarde.
— zomba, sentando-se próximo a mim e olhando-me nos olhos.
— Presta atenção, seu verme: só não vou matá-lo ainda porque salvou
Isabela de ser estuprada duas vezes. Mas vou matá-lo em algum momento,
porque torturou a menina sem motivo algum. Covarde dos infernos! — Dá-me
um tapa na cara de mão aberta. Essa eu mereço.
— Quem é você? O que quer com Isabela? — pergunto com o coração
apertado.
— Ela é minha vida, a mulher que amo mais que tudo no mundo. —
Quando Botilho diz isso, meu mundo desmorona e perco a vontade de lutar para
viver. Não quero mais. Já perdi uma vez e agora não vou suportar. Abaixo a
cabeça derrotado sem forças para lutar e choro sem vergonha alguma.
— O quê? Vai ficar chorando o tempo todo igual a uma putinha? —
debocha o maldito, mas foda-se se agora me importo. Ele vai levar Isabela.
Ele me puxa pelos cabelos com brusquidão. Me olha nos olhos e começa
a falar com voz mortiça.
— Eu me casei muito cedo, era um homem honesto, trabalhador e pobre.
Trabalhava em uma lanchonete para sustentar minha esposa grávida. Mas ela
descobriu que não me amava tanto assim e que preferia dinheiro. Um dia, sem
aviso, ela me deixou e fugiu com um fulano rico que foi passar suas férias no
interior onde morávamos. Cheguei em casa com nossas compras, era dia de
pagamento e comprei para ela o doce de leite que estava com vontade de comer.
Teria que ir a pé para meu trabalho por três dias, gastei o dinheiro dos meus
vales transportes com o doce. Procurei ela por toda casa e quando não a
encontrei, fui na casa de uma vizinha que Ângela adorava ficar. Perguntei a ela
se sabia onde minha esposa estava e ela hesitou, por fim me contou que ela havia
ido embora com um forasteiro rico — fala com os olhos apagados e voz fria.
— E o que caralho eu tenho a ver com isso? Foda-se, me mata logo, filho
da puta! — digo irado e desesperado ao mesmo tempo.
— Você precisa aprender a ouvir, cara. Ou na cama é tão rápido quanto é
para fazer e falar besteiras? Se for, as mulheres estão fodidas com você, não no
sentido bom da palavra. — zomba com malícia.
Estou tão arrasado que ele pode até cortar meu pau que provavelmente
não vou reagir.
— Voltando a minha história tão bruscamente interrompida por um louco
covarde e sem paciência. — Arrasta a cadeira e se senta, cruzando as pernas.
— Quando descobri que Ângela me deixou e foi embora com outro,
surtei nos primeiros dias, me culpando, mas aos poucos fui vendo que eu dava
meu melhor para a puta. Mas o que me quebrava e interessava de fato, era ela
estar grávida. Queria nossa filha. Por isso a procurei por todo lado desde que a
vagabunda fugiu. Descobri, anos depois, que a maldita morreu de overdose e
abandonou nossa filha em algum lugar em que vivia mendigando. Como não
tinha dinheiro na época para pagar para localizar minha filha, entrei para a vida
de crimes. Me tornei um assassino requisitadíssimo, meus preços tornaram-se
exorbitantes porque consegui matar um homem que tinha mais de vinte
seguranças. Muitos outros tentaram e não conseguiram. Depois desse serviço,
passei a ser conhecido no mundo do crime como “O corvo assassino”. Minha
lista de assassinatos é bem extensa e cobro fortunas por meus serviços. Você
mesmo sabe a pequena fortuna que me pagou quando me requisitou. — Para e
enfia as mãos nos bolos de sua calça escura, anda devagar, perdido em seus
pensamentos, como se as lembranças o machucassem.
Olho para ele confuso, aonde essa porra do caralho quer chegar?
— Bem, voltando a nossa história... Quando consegui dinheiro do meu
primeiro serviço, contratei detetives para localizar minha filha. Pensei que seria
fácil, mas como não tinha muito para dar a eles, isso se tornou uma tarefa quase
impossível. Mas não desisti. E continuei a trabalhar cada dia mais, porque
quanto mais trabalhava, mais entrava dinheiro e poderia contratar mais pessoas.
Você se lembra quando eu vim aqui para salvá-lo de uma possível chantagem por
parte de meus contratados? Lembra-se que estava com um rapaz alto e loiro?
Então, aquele era André, meu irmão, o homem que você matou. — Quando ele
fala isso e me olha nos olhos, logo me vem à mente o dia que vi André pela
primeira vez, sempre tive a impressão de conhecê-lo de algum lugar.
— Foda-se! E o mataria novamente, só que agora eu o esfolaria primeiro!
— afronto-o. Ele sorri, tira uma mão do bolso e coça a barba preta.
— E eu o ajudaria com prazer — me diz com voz fria e agora que fico
sem entender caralho algum.
— Está dizendo que me ajudaria a matar seu irmão? — pergunto, porque
tenho a impressão de ter ouvido errado.
— Sim, mataria o desgraçado com prazer. Ele era um monstro que
somente vim descobrir depois que foi escalado para viajar com Isabela. A editora
onde Bela trabalha é minha. Vou te contar outra história, depois termino a
primeira. Minha vida é um mar de tragédias. Com os detetives procurando minha
filha perdida, acabaram encontrando um irmão perdido. André era filho de meu
pai com uma prostituta. Quando descobriram isso fiquei sem acreditar. Meu pai
sempre foi um homem aparentemente fiel. Mas todas as provas nos levaram a
crer que André era meu irmão. As fotos que a prostituta nos mostrou
comprovaram isso e daí para fazermos um DNA foi um pulo. Bingo! André era
meu irmão. E meu pai e mãe morreram sem saber disso. Trouxe o jovem rapaz
para viver comigo e como ele não estava acostumado com o luxo que eu vivia, o
cara enlouqueceu e não soube lidar bem com sua nova posição. Maltratava
todos, achava que podia comprar todos com dinheiro. O tirei de muitas
enrascadas. Sempre o perdoava. Mas quando minha ex-namorada soube que
mandaram ele viajar com uma funcionária da editora, me procurou. O que ela
me contou abalou meu mundo. Me disse que André a havia estuprado e várias
outras. E as ameaçava de acabar com a vida delas, caso contassem para alguém.
Minha ex vivia com medo e tomou trauma de sexo, pois temia que ele me
contasse e que eu a culparia. Me contou que terminou comigo por medo. Mas
quando soube que ele viajaria com Isabela, uma jovem funcionária, entrou em
pânico e me contou. Surtei e contratei detetives e mandei seguirem os passos dos
dois. Os detetives chegaram até aqui em sua reserva, mas os mesmos sumiram
sem deixar rastros. Outros detetives recusaram o serviço, mesmo eu oferecendo
uma grande soma em dinheiro. Por medo do sumiço inexplicável dos dois
parceiros e por ser uma floresta quase que inexplorada.
— Porra! Então eu matei dois detetives? — Sorrio de maldade.
— Sim. Voltando à nossa história. Quando desistiram do caso, um dos
detetives que contratei, há muitos anos, me ligou e me disse que tinha notícias de
uma moça que poderia ser minha possível filha. Marcamos um encontro,
conversamos muito e ele me deu uma pasta com um dossiê, com tudo da moça.
Quando vi e analisei, vi que seria quase impossível de Isabela não ser meu bebê
perdido. — Quando Botilho fala na possibilidade de Bela ser sua filha, o sangue
foge de meu rosto e sinto uma camada fina de suor cobrir meu corpo.
— É sua filha? — pergunto baixo e com medo.
— Sim — fala, me olhando friamente. — E estou aqui para levá-la.
— Uma porra que vai tomá-la de mim! Ela é minha! Eu a amo! — Tento
me levantar e Botilho vem com tudo, chutando minha barriga com força. Curvo
sem poder me levantar ou defender. A dor me faz querer vomitar.
— Covarde! — acuso-o baixinho.
— Sou? Qual chance você deu à minha filha quando a prendeu aqui e a
torturou? — pergunta pálido e com voz cheia de ódio.
— Se pudesse voltaria no tempo e apagaria essa desgraça que fiz. Porra,
Botilho! Me arrependo amargamente cada segundo que vivo. Caralho! Ela já me
perdoou, pedi seu perdão de todo meu coração! Eu amo essa mulher mais do que
minha vida. Vou passar cada segundo de minha vida protegendo-a e amando-a!
Morro por ela! — falo, angustiado, olhando em seus olhos para que veja a
verdade nos meus.
— Como disse, só não te mato ainda porque a salvou de dois estupros.
Mas vou matá-lo por tê-la torturado. Mas antes de matá-lo, vou deixar você aqui
neste inferno de lugar com suas amigas, como sempre diz, e em três dias o
matarei se elas não o fizerem — confirma minhas suspeitas de que não me
deixará sair vivo daqui.
— Bela e Rosa sentirão minha falta e virão por mim! — falo sem pensar.
Arrasado.
— Tenho dois vigias na entrada do paiol, somente eu entro aqui. —
Tenho que avisar minha mãe e Bela para não virem aqui, penso em pânico.
Ele chama seus capangas e os orienta a me amarrar na cama. Antes me
dão um sossega leão porque sabem que lutarei com unhas e dentes. Apago.
Acordo com água caindo em meu rosto em abundância, começo a me
afogar e procurar ar. Eles param.
— Ficará aqui três dias sem comer e beber, amarrado. Somente as pernas
soltas para matar, espantar ou brincar com suas amigas. Todas as luzes acesas
como fez com Isabela. E no terceiro dia volto para te matar ou se encontrá-lo
morto, irei enterrá-lo ao lado dos dois malditos estupradores. Passará sua
eternidade ao lado de quem mais odeia. — Tento me soltar batendo as pernas e
mando o orgulho para a casa do caralho.
— Me mata, mas não prejudique Bela e Rosa, por favor! Eu te suplico.
— falo chorando sem nenhuma vergonha agora. Ele me quebrou. Choro alto,
grito e clamo. Ele sorri e me vira as costas.
— Minha filha também clamou em prantos, seu desgraçado! — As luzes
fortes ardem em meus olhos e o som altíssimo me deixa louco. Vejo as cobras
rastejando e grito como um louco:
— Maldito, vou te matar. — Choro e vejo minha filha em um canto
soluçando alto. A insanidade me tomou novamente. Somente Bela me mantém
sóbrio.
— Filha, vou te tirar daqui, prometo! — murmuro engasgado com
minhas lágrimas e tento me levantar, puxo tanto as cordas que meu sangue já as
cobriu. Uma maldita sobe na cama e levanto a perna e desço em sua maldita
cabeça e a lanço fora da cama. Tenho asco desses bichos, não medo. E assim, as
horas passam e minha cabeça parece que vai explodir. Não posso abrir os olhos
para vigiar, porque ardem como se estivessem cheios de pimenta. Sinto as cobras
se aproximarem sorrateiramente. Entro em pânico. Olho para onde minha filha
estava e já não a encontro mais. Até ela me abandonou, choro alto e grito em
agonia. Meus pensamentos voltam para Isabela. Então foi isso que ela sentiu
quando a mantive cativa neste inferno? Fecho meus olhos, choro com desespero
e angústia, grito, clamo, peço perdão e resolvo deixar elas me picarem, é o
mínimo que mereço depois de tudo que fiz a Bela. Só me arrependo do que fiz a
ela, aos outros não! Faria tudo novamente, principalmente com os estupradores.
Fico quieto, mas não durmo, o som altíssimo me deixa alucinado. Minha
cabeça vai explodir de dor, meus olhos estão em brasas e meu estômago está se
revolvendo de uma maneira tão dolorida que me sufoca. Estou ficando louco.
Acordo mais tarde com o corpo todo dolorido, Zakarias é um homem
cheio de habilidades deliciosas na cama.
Tomo banho e desço para tomar café e ver se ele já chegou. Vou para a
cozinha e vejo Rosa fazendo pães. Adoro seus pães caseiros.
— Bom dia! O Zakarias já chegou? — pergunto feliz.
— Ainda não, filha, mas se demorar é porque está resolvendo alguma
coisa importante. — Me olha e sorrimos cúmplices.
Tomo café e vou para a biblioteca até o almoço ficar pronto. Hoje Rosa
quer fazer o almoço sozinha, ela gosta de ter seus momentos de reflexão. A
entendo.
Entro na biblioteca e sinto o cheiro de meu Zakarias, amo seu perfume
almiscarado.
Escolho um livro e me sento no sofá onde já fizemos amor tantas vezes,
ou apenas conversamos.
Entro no mundo da leitura, quando sinto uma mão apertar minha boca.
Tento gritar, me levantar, mas um homem todo de preto me ergue e me abraça
com força.
— Por favor, não grite! — diz, me olhando com adoração. Mas a mão
continua em minha boca, ele é realmente um homem precavido. Porque se tirar a
mão vou gritar igual a uma louca.
— Apenas me ouça, filha. — Louco esse homem, tento morder sua mão.
— Guerreira, gosto de mulheres assim. — Me olha com carinho. — Te
procurei por anos, filha. Tão linda! — Me beija o rosto e esfrio. Não é possível,
um terceiro estuprador? Se for sou a mulher mais azarada do universo. Meu
protetor não está aqui. Meu Zakarias.
Esperneio e ele fica bravo.
— Quieta! — diz com frieza e gelo. Fico quieta e começo a chorar.
— Não chore, filha. Não vou te fazer nenhum mal. — Paro e fico quieta,
não porque acredito em suas palavras, mas por medo mesmo.
— Isabela, filha, te procurei por tantos anos que agora que a tenho em
meus braços não consigo acreditar. — Sorri e vejo que é um belo homem. Deve
ter a mesma idade de Zakarias.
— Se eu tirar a mão promete me ouvir primeiro antes de correr ou gritar?
— fala com um sorriso largo e terno, em seu rosto anguloso e moreno, coberto
por uma barba cheia, com alguns fios grisalhos.
Balanço minha cabeça, trêmula. Ele me puxa e me senta novamente no
sofá e se senta à minha frente em uma cadeira. Ele é imenso e isso me aterroriza.
— Vou te contar desde o começo e mostrar as fotos que tenho que
atestam que tudo que vou te dizer é verdade. — Olho para ele e vejo que tem o
mesmo tom de meus olhos, prateados. Ele começa, ouço com atenção e aos
poucos vou relaxando e ouvindo atentamente.
Muito tempo depois, quando termina de falar, ele me olha em
expectativa.
— E então, filha, acredita em seu velho pai? — Sorri novamente, ele é
um homem lindo e muito bem cuidado. Se Zakarias vê-lo, ficará com muito
ciúmes.
— A história que você me contou pode ser verídica sim, porque bate com
tudo que falou, inclusive com o orfanato que fiquei..., mas ainda é pouco e... —
Ele me corta e se levanta, pega uma mochila e tira um envelope pardo de dentro.
Me estende.
— Abre, querida. — Pego, hesitante e olho nos olhos dele que são tão
parecidos com os meus.
Abro e o que vejo atesta que tudo que esse homem me disse. Vejo o lugar
onde vivi, as freiras. Minha mãe me deixou no mesmo bairro que vivia com meu
pai. Na porta de um orfanato que fica na rua principal. Tem uma foto dele
abraçado a uma grávida, muito parecida comigo. Olho para ele.
— Sim, filha, sua mãe. — Olho novamente a foto e meus olhos se
enchem de lágrimas. Temos o mesmo tom castanho de cabelo, eu e essa mulher
que o homem ao meu lado afirma ser minha mãe.
— Essa foto foi tirada na porta do orfanato onde vivi até os 18 anos —
digo começando a acreditar nesse homem.
— Sua mãe trabalhava nesse orfanato até engravidar de você, filha.
Optou por ficar em casa durante a gravidez e a apoiei. Mas acho que não gostou
da economia que tínhamos que fazer, afinal, só eu trabalhando e ganhava pouco
na época.
— As freiras nunca me contaram... — digo magoada com elas.
— Deve ser para te poupar de sofrimentos, a morte de sua mãe não foi
bonita... — Ele me diz com tristeza.
— Sim... pode parecer cruel de minha parte, mas ela teve o que mereceu.
Plantio e colheita. Como assim largar um homem por que ele é pobre, ou traí-lo?
Não gosto de injustiças.
Ele me olha admirado.
— Então não me condena também? — Vejo lágrimas em seus olhos.
— Não. Preciso digerir essa história com mais calma. Sempre quis
conhecer meus pais. E essa história é meio cabulosa, né? — Sorrio, não tem
como negar que esse homem é meu pai. Ele tem minha vida catalogada, lugares
onde somente eu sei que vivi, e a foto da mulher grávida que é minha cara, só
que mais alta.
— Eu amei demais essa mulher, filha. Quando soube que me deixou para
viver com outro homem, e por dinheiro, isso me quebrou de uma forma
irremediável. Nunca mais abri meu coração para nenhuma outra mulher —
confessa com o rosto triste.
Fico de pé e olho para esse homem gigante à minha frente e noto os
detalhes. Os olhos são os meus, ele tem uma marca na orelha igual a uma que
tenho. Sorrio.
— O que foi, filha? — Me olha com adoração.
— Estou olhando nossas semelhanças. Nossos olhos têm o mesmo tom e
a mancha que você tem na orelha, tem na minha também, olha aqui. — Sorrio,
vendo-o chegar perto, afastar os meus cabelos e olhar a marca idêntica. Seus
olhos enchem de lágrimas.
— Filha, porra! — Olha-me assustado. — Me perdoe, falei palavrão...!
Porra!
Sorrio de volta e digo com carinho.
— Já me acostumei, meu namorado fala mais palavrão que tudo. 99% do
que diz é palavrão. Aliás, você vai adorar conhecê-lo — digo e vejo que ele dá
um passo para trás e empalidece.
— Botilho? – falo, assustada.
— Pai... me chame de pai, por favor. Se você quiser, filha, depois
poderemos fazer o DNA, porém tenho plena certeza de que é minha filha,
Isabela — fala ainda pálido, percebo que quer mudar de assunto e fico sem
entender.
— Quero fazer o exame sim, acho melhor. — Fico preocupada com ele.
— Certo, agora que já conversamos, vou embora e volto daqui a três
dias, filha. — Olha-me atentamente, sinto medo desse seu olhar, um olhar
analítico e especulativo. Vejo que de repente quer ir embora.
— Você me olha de um jeito assustador — digo como sempre, sem freio
na boca.
— É que ainda não acredito que te encontrei, minha filha. — Vem até
mim e me abraça. Ele me olha profundamente e sai apressado. Então pula a
janela. Puta merda!

***
Depois que meu suposto pai vai embora, fico pensando em tudo que me
disse. E pelas fotos, idade, cidade onde vivi, orfanato que fui criada e onde
minha suposta mãe trabalhou, é certo que ele está falando a verdade.
Fico pensativa na biblioteca por muito tempo, até que Rosa me chama
para almoçar.
Almoçamos e já expresso minha preocupação mais exacerbada a ela por
Zakarias.
— Rosa, não está normal essa demora de Zakarias. Ele saiu cedo, já era
para ter voltado. Ele mesmo disse que não demoraria — falo com o coração
apertado.
— Filha, o Zakarias sempre demora quando sai, você mesma já viu ele
sair e demorar horas para voltar. Ele sempre inventa algo para fazer... Sabemos
disso. — Pega minha mão, tentando me consolar, mas vejo preocupação em seus
olhos.
— Vamos procurá-lo. — Me levanto e tento sair. Ela me segura.
— Bela, se sair e algo acontecer com você, Zakarias jamais me
perdoaria. E se sairmos juntas e algo acontecer a nós duas, ele surtará. Só tem a
nós. Vamos esperar mais um pouco — fala com voz triste, e penso que ela pode
ter razão. Estou me preocupando à toa.
— Rosa, você se importa se eu não te ajudar hoje? Minha cabeça está
explodindo de dor, vou tomar um remédio e me deitar um pouco — digo
esfregando minhas têmporas, minha cabeça parece que vai explodir.
— Claro que não, filha! Já falei para você que dou conta sozinha, sei que
deixa seu trabalho para me ajudar. Aquelas fotos lindas que vi na biblioteca.
Você as envia para a editora? — Vejo que ela tenta mudar de assunto.
— Não. Eu quero fazer várias e depois entro em contato com eles. — A
beijo, subindo para meu quarto.
Quando chego tomo um remédio e me deito. Fecho meus olhos e sinto
lágrimas escorrerem. Onde você está, meu amor?
Sinto em meu coração que minha Fera está machucada em algum lugar.
Mas talvez seja só excesso de preocupação. Aqui nesse lugar ermo e habitado
por feras, quem não se preocuparia?
Sinto minhas pálpebras pesarem e o sono me tomar.

***
Acordo horas depois com o som de chuva caindo, e pelo som do vento
assobiando, não é uma chuva fraca, é uma tempestade com raios riscando os
céus. Ouço o barulho das árvores e galhos sendo acoitados pelos ventos. Me
arrepio e quando me lembro de Zakarias, me levanto rápido. Já deve ter chegado.
Caminho até a janela e vejo que já é noite, dormi a tarde toda. Desço correndo as
escadas e vejo Rosa olhando pela janela.
— Rosa! Cadê o Zakarias? — pergunto com o coração disparado e com
medo de ouvir sua resposta.
— Ele não veio, filha... — Vira-se e vejo seus olhos inchados e
vermelhos de chorar.
— Não veio? Como assim? Rosa? — Entro em pânico total.
— Sim... ia te acordar para o procurarmos mais cedo, mas começou um
temporal fortíssimo e fiquei aqui orando para parar. Mas parece que está cada
vez mais violento. — Esfrega os olhos e suspira como se sentisse dor.
— Rosa, temos que sair e procurar Zakarias! E se ele estiver debaixo
desse temporal, machucado, preso em algum lugar, dentro de algum buraco? E
se estiver precisando de nossa ajuda? — digo já correndo para a porta. Ela vem
rapidamente e me barra.
— Bela! Não podemos sair debaixo desse temporal! Está louca?
Morreríamos antes mesmo de dar dez passos! Com esse temporal a floresta está
infestada de animais perigosos! — diz com o rosto vermelho e as mãos trêmulas.
— Vivo aqui há cinco anos e Zak sempre me alertou sobre o perigo de sair pela
floresta enquanto chove. — Tento puxar minhas mãos e correr para afora.
— Bela! Você não vai sair com esse temporal! — Nunca vi Rosa tão
brava, recuo e começo a chorar, o desespero de pensar que Zakarias está
correndo perigo e machucado me enche de pavor.
Ela me abraça apertado.
— Filha, te prometo que sairemos assim que parar de chover, ok? Só não
sairemos debaixo desse temporal, Zak nunca me perdoaria se pusesse sua vida e
a minha em risco. Ele conhece esta floresta, filha, já passou poucas e boas aqui!
Sabe se cuidar. Vamos encontrar nosso Zakarias, prometo! — Vamos para o sofá,
nos sentamos e ficamos em silêncio, esperando o temporal passar.
Fico inquieta e vou para a janela, parece que o mundo vai desabar de
tanta chuva. Choro baixinho e encosto minha cabeça na janela.
— Filha, trouxe chá com biscoitos para você. — Rosa me toca com
carinho e me leva para o sofá. Me entrega uma xícara e fico olhando para o chá
sem realmente o ver.
— Toma, Isabela, você só almoçou hoje e não comeu mais nada. — Bebo
o chá sem vontade e como dois biscoitos, depois de Rosa insistir muito.
E assim as horas vão passando lentamente e o desespero aumentando,
vejo medo nos olhos de Rosa.
A tempestade continua...
Minha cabeça parece que vai explodir com esse mesmo som altíssimo e
contínuo. As luzes ferem minha visão, mal posso abrir os olhos. Já chutei uma
cobra e sinceramente penso em desistir quando vejo que outra tenta subir e me
picar. Lembro de Bela, e por ela chuto a peçonhenta desgraçada para longe. Vou
lutar por minha menina, ela suportou tudo sozinha. Eu não vou suportar? Por ela
sim! Vou lutar.
Tento abrir meus olhos, mas não consigo e lágrimas descem devido ao
clarão imenso provocado pelas luzes. Eu sei a potência dessa iluminação, eu
mesmo as fiz... Estou provando de meu próprio veneno, penso angustiado. Forço
meus olhos a se abrirem e eles ardem como pimenta, os fecho novamente. Choro
impotente. Me concentro e os abro de uma vez, e vejo outra maldita cobra
subindo na cama, rastejando. Chuto a miserável para fora e entro em pânico,
quanto tempo aguentarei isso?
Ouço a porta se abrindo e algumas das luzes sendo apagadas, e o som
diminuindo. Fecho os olhos de alívio e lágrimas escorrem de meus olhos. Parece
que foram furados de tanto que ardem.
— Filho da puta desgraçado! Queria deixá-lo morrer picado por essas
porras que mantém aqui! Mas cometi a insensatez de falar com minha filha antes
de ir embora. E por ela, somente por ela, voltei aqui para tirar as cobras
venenosas, seu infeliz! — Sei que é Botilho, pela voz. Não consigo abrir meus
olhos, o fazia antes para sobreviver. — Se eu o deixasse morrer picado por elas,
sei que minha filha recém-descoberta jamais me perdoaria. Mas vai ficar aqui o
tempo que deixou minha filha refém nessa porra de paiol! — Ouço seus passos,
as porras de meus olhos parecem que estão sendo furados de tanto que doem.
Sinto uma dor excruciante em meu estômago quando o desgraçado desce a
porrada! Ele me soca tanto que começo a vomitar sangue.
— Desgraçado, isso é para você se lembrar, se sair vivo daqui, é claro.
Saiba que se fizer minha filha chorar ou sofrer, eu venho de onde estiver e te
mato! Maldito! Como uma menina tão doce e linda foi se envolver com a porra
de um homem que tem idade para ser seu pai e ainda por cima criminoso? —
diz, me socando o rosto, dessa vez com uma força descomunal. Fico quieto,
mereço tudo isso, se a filha fosse minha, com certeza, a essa hora, já teria
matado o maldito torturador.
— Botilho... por favor, me perdoe... eu amo sua filha e... — Mais um
soco na cara. Sinto tanta dor que sei que desmaiei por minutos, sou acordado
com um balde de água sendo jogado em mim. — Me perdoe... eu mereço tudo
que está fazendo comigo, no seu lugar já teria matado o desgraçado que causou
sofrimento a minha filha ... — digo, assim que volto do breve desmaio e o
encaro.
— Vai se foder, Zakarias, seu filho de uma puta! Aproveitador de moças
indefesas! — diz com ódio. — Agradeça a generosidade de minha filha, por não
morrer sendo picado por cobras! — Se vira e sai para noite afora, a tempestade
não para, está chovendo desde cedo. Minha menina e Rosa devem estar
preocupadas. Sinto meu corpo todo doer, mas agora posso relaxar um pouco
mais, pois segundo Botilho ele recolheu as cobras.
As luzes ainda queimam meus olhos mesmo fechados e o som repetitivo
arde em meus tímpanos. Minha cabeça volta a martelar de dor. Parece que tem
agulhas perfurando meus olhos e tímpanos. Urro de dor.

***
Muito tempo demais, não sei precisar, sinto meu estômago retorcer e viro
o rosto de lado e vomito com força. Choro de dor e desalento. Soluço alto e
meus ouvidos parecem sangrar. Gemo agoniado de tanta dor em meu corpo,
olhos e ouvidos.
Ouço gritos e tento me levantar, meus pulsos sangram e doem. Sinto tudo
rodar ao meu redor. Meus olhos estão em brasas vivas e minha cabeça parece
querer explodir.
Viro o rosto de lado para tentar proteger meus olhos e sou sacudido por
soluços.
Vou morrer aqui e não poderei pedir perdão a minha pequena, mais uma
vez...
Ficamos acordadas a noite toda e quando amanhece, ainda chove, mas
agora bem fininho.
— Vamos, Rosa, já esperamos demais, não fico aqui nem mais um
minuto. — Minha cabeça e corpo doem demais devido a ansiedade e medo.
— Sim, filha, só troque de roupas. Calça jeans, camisa de manga
comprida e botas. Enquanto isso vou preparar um café para nós — diz já
andando para a cozinha.
— Rosa, não quero comer, só quero procurar Zakarias. Sinto que ele
precisa de nós, e urgente. — Meu coração me alerta. Rosa já está pronta, insistiu
para eu me arrumar durante a noite, mas fiquei aqui sem ânimo algum remoendo
minha dor. Corro para o quarto e me arrumo em menos de cinco minutos. Desço
e ela está terminando de passar o café.
— Tome pelo menos uma xícara de café com leite, filha, e coma alguma
coisa. — Para não perder tempo, encho a xícara de café fresco e leite e tomo
comendo um biscoito de queijo.
Termino rapidamente e chamo Rosa.
— Vamos rápido, Rosa, quero ir ao paiol primeiro — falo já na porta e
visto minha capa de chuva. Ela vem logo atrás e faz o mesmo. Saímos juntas na
manhã gelada e chuvosa em busca de Zakarias. O caminho escuro que nos leva
ao paiol está escorregadio, as folhas apodrecidas das árvores deslizam sob
nossos pés e o cheiro forte de musgo molhado entra em nossas narinas.
Caminhamos segurando os galhos molhados e escorregadios com cuidado. Pois
tememos algum bicho venenoso.
Caminhamos devagar, devido à chuva e lama misturada às folhas.
Quando avistamos o paiol, vejo luzes acesas e gelo. Meu coração parece que vai
sair pela boca. Olho para Rosa e a vejo pálida.
Começo a correr em direção ao paiol, pois sinto que hoje, quem está em
perigo é Zakarias.
— Bela! — Ouço Rosa gritar atrás de mim e a ignoro, continuo correndo.
Quando chego perto da porta, meus tímpanos ardem com o som altíssimo. As
luzes dentro do paiol são tão fortes que aqui de fora meus olhos ardem.
Estremeço. Já passei por isso, mas agora vejo que as luzes que Zakarias deixou
acesas não estavam tão fortes como essas, ou foi porque ele acendeu poucas?
Balanço a cabeça. Isso não importa mais, já o perdoei. Ele pagou um alto preço
quando pensou que eu estava morta. Sua insanidade temporária quase o matou.
Levanto minhas mãos para destravar a porta e sou agarrada por trás por
um homem corpulento e mal-encarado.
— Aonde a mocinha pensa que vai? — pergunta com voz maliciosa.
— Me larga! Quem está aí dentro? Zakarias? — pergunto com raiva, e
assustada ao mesmo tempo.
— Podemos negociar, docinho... uma informação em troca de sua boceta.
— Esfrega seu pau já duro em mim. Esfrio e grito.
— Me solta, seu maldito! Zakarias vai matá-lo quando souber o que está
querendo... ele odeia homens como você, estupradores de merda! — Tento me
soltar e sua mão vem e cobre minha boca.
— Bom, vou pegar o que quero de qualquer maneira. Sim, o homem que
está lá dentro se chama Zakarias, e sim ele não vai salvá-la, a essa hora já deve
estar morto. As cobras já devem ter feito o serviço completo. — Sorri e tenta me
arrastar para um lugar escuro. Vejo Rosa chegando, com o canto dos olhos, e ela
levanta um pedaço de pau e desce com tudo na cabeça do desgraçado. Ele cai e
me levanto rápido, quando vejo outro sair de trás do paiol.
— Corre, Rosa, outro estuprador! — grito e tento correr. Escorrego e
caio. O homem me estende a mão.
— Calma, moça! Onde tem estuprador aqui? — Olho para ele e vejo que
é bem mais velho do que o abusador caído no chão.
— Ele! — Aponto para o maldito estatelado na lama. Ele olha e se
assusta.
— Ele tentou te estuprar? — pergunta, sem acreditar.
— Sim! E já estava me arrastando para um lugar escuro... — digo,
trêmula
Rosa está calada em estado de choque.
— Minha amiga me salvou. Quero tirar meu namorado do paiol, ele está
preso aí dentro... — Olho para ele e vejo-o empalidecer.
— Seu namorado? Porra, tenho que ligar para o chefe — diz sacando o
seu celular, vejo uma arma escondida debaixo de seu paletó preto.
Ele liga e enquanto fala com alguém ao telefone, volto e tento abrir a
porta.
— Calma, mocinha, o chefe já está chegando. Ainda bem que não viajou,
está hospedado em algum lugar por aí. — O ignoro completamente e tento abrir
a porta.
— Vou entrar! — Rosa está ao meu lado, e parece voltar a razão, aos
poucos.
— Vamos tirar meu filho daí, seu maldito. Abre essa merda, senão vou
quebrar sua cabeça com esse pau assim como fiz com aquele merda ali. — Ele
sorri e pede calma.
— Calma é o caralho! — digo usando os palavrões que aprendi com
Zakarias.
Bato na porta e grito.
— Zakarias, estou aqui, amor, já tiro você daí. — Consigo destravar a
porta, enquanto o fulano bate-boca com a Rosa.
Ele percebe e me agarra pela cintura.
— Maldito, me solta! Zakarias vai matar você! — grito irada e chorando
ao mesmo tempo.
— Larga ela, desgraçado, vou te matar! — Rosa pega o pau e avança.
Ouço passos correndo e vejo um homem grande surgir por entre as folhas
molhadas.
— Largue, minha filha, seu maldito! Se a machucar corto seus braços. —
A voz imperiosa vem do gigante que sai entre as folhas. O homem que me
segura fica pálido e suas mãos tremem.
— Senhor! Ela estava entrando, somente a segurei... — A voz de meu pai
soa perigosa e baixa. Estremeço.
— Solte-a agora... — O homem me deixa sair e corro para dentro do
paiol.
Ouço passos de meu pai, de Rosa, do estuprador e do senhor que me
impediu de entrar. Tento enxergar alguma coisa, mas está claro demais.
— Diminua a claridade... — A voz grossa e autoritária de meu pai soa
com comando. Rapidamente a claridade diminui e meus olhos passeiam por esse
lugar infernal.
Quando vejo um homem deitado, nu, coberto de hematomas, o rosto
virado para o lado, com certeza para fugir da extrema e dolorosa claridade, sinto
um arrepio. Caminho até ele com um cuidado e contorno a cama empoeirada e
com cheiro de mofo.
Quando vejo meu Zakarias com o rosto inchado e coberto de hematomas,
sinto minhas pernas fraquejarem e sou amparada por meu pai.
— Filha... — Ouço temor em sua voz.
— Zakarias... ele está... ele... — Ele está tão espancando que não tem
como estar vivo. Seu nariz e boca estão com sangue ressecado, sua barba cheia
de sangue e vômito. Começo a chorar baixinho e quando menos espero estou
gritando. — O que fizeram com você, meu querido? Mataram? — berro
angustiada ao extremo.
Rosa está ajoelhada no chão ao lado dele, chorando e passando a mão em
seu rosto, quase irreconhecível.
Olho para Botilho.
— Pai? Quem fez isso? — Olho para ele sem forças e ele está pálido.
— Filha... — balbucia.
Ouço um grito de Rosa.
— Bela, filha! Ele está vivo... está respirando... — Me solto de Botilho e
corro para o lado de Rosa. Me ajoelho e olho meu amor com o coração
sangrando.
— Zakarias... sou eu minha fera... amor? — sussurro. — Vim te buscar,
querido, eu vou cuidar de você, prometo.
Ele geme quase imperceptivelmente.
— Bela... você... veio... buscar... sua... fera. Mãe... — ele sussurra tão
baixo que caio num pranto profundo. Ele vai morrer.
— Mãe? — Olho para Rosa. — Pai? — Olho meu pai. — Alguém o
ajude... não quero perdê-lo... me ajude... salve-o... — fico de joelhos e imploro,
não sei para quem, mas quero alguém para salvá-lo.
Vejo Botilho me puxar e me abraçar.
— Filha, vou cuidar dele por amor a você! Prometo salvá-lo. Você o ama
tanto assim? — pergunta, me olhando seriamente e abalado.
— Sim, pai, mais que a mim mesma... esse homem aí deitado e tão
maltrato já sofreu tanto na vida... ele não merecia isso... — soluço.
— Vou cuidar dele, prometo a você, minha filha. — Ele me solta e
distribui ordens.
— Vocês dois, peguem esse homem com cuidado e levem para casa,
minha filha vai guiá-los. Chego em minutos. — fala pegando uma faca da bota e
cortando a cordas dos pulsos de Zakarias. Os braços caem moles, inchados e
cobertos de sangue.
Olho para o homem que foi abusivo comigo e estremeço. O segurança
me olha com medo nos olhos.
— Não! Esse homem não! — Botilho se vira para mim e me olha com
uma pergunta nos olhos.
— Filha? — Se possível o homem fica ainda mais pálido.
— Ele tentou abusar de Bela, esse maldito, se não dou uma paulada
certeira nessa cabeça dura dele, teria estuprado minha filha. Esse verme imundo.
— Rosa diz e cospe no chão.
Botilho empalidece de forma mortal.
— Você tentou estuprar minha filha, verme imundo? Minha filha? —
Pega o gigante pelo colarinho e o sacode.
— Perdão, senhor, não sabia que era sua filha... — Não termina, Botilho
o soca tão forte que ele voa e bate na parede. Ele saca a arma e descarrega no
homem.
Coloco as mãos não boca, horrorizada com tanta violência. Rosa está
estática.
— Vamos levar logo Zakarias antes que seja tarde demais — Botilho diz
como se nada de mais tivesse acontecido. Que homem é esse? — Deixe-o aí,
depois que cuidarmos de Zak voltaremos e daremos um fim no corpo. Me ajude
a carregar Zakarias, Tomé. — Vejo os dois pegarem Zakarias e cobri-lo com uma
manta plastificada. O levam por todo o caminho de volta até a mansão sombria,
seguidos por mim e Rosa.
Quando chegamos, corro na frente e ajeito a cama para colocá-lo lá.
— Filha, vamos colocá-lo na banheira primeiro? Vamos tirar esse sangue
e vômito de sua barba, rosto e pescoço? — Botilho diz, corro e encho a banheira,
eles o pegam com cuidado e o colocam nela.
Me ajoelho e o lavo com cuidado.
— Meu pobre amor, o que fizeram com você? — Botilho está com o
olhar distante.
Quando termino, eles pegam Zakarias e o colocam na cama, o enxugo
com cuidado, ele está quase todo roxo. O espancaram sem piedade.
Eles me ajudam a trocar os lençóis molhados. Botilho desce com seu
segurança e pouco tempo depois volta.
Estou secando e penteando, a barba e o cabelo de Zakarias.
— Bela... — ele assopra baixinho. Já tentou falar várias vezes, mas está
muito fraco e com muita dor, só sussurra palavras desconexas. Mas fico feliz
somente de ver que está vivo e consciente.
— Estou aqui, amor, e vou cuidar de você. Agora fica quietinho para se
recuperar logo. — Vejo Rosa chegando com uma bandeja abarrotada.
— Um caldo para Zakarias depois que tomar o remédio para dor. E para
você, filha, uma canja bem grossa e temperada — diz olhando para Zakarias
com ansiedade e amor.
— A pomada para passar nos machucados de Zakarias, filha, é
cicatrizante. — Botilho me entrega um tubo azul. Pego e agradeço-o.
— Bela... amor... — sussurra Zak. — Me perdoa... eu... te... amo... —
Olho para ele e volto meu olhar para todos no quarto, apavorada.
— Ele está se despedindo? — falo baixinho, engasgada.
Botilho vem e segura minha mão.
— Não, filha! Ele está somente dizendo que a ama. Ele está bem e em
breve ele estará recuperado... prometo a você! — Me olha emocionado e me
puxa para seus braços. — Como sonhei em encontrá-la, minha filha. Minha
vontade é de ficar te abraçando enquanto viver. — Sorrio e o abraço de volta. É
bom ter alguém que se preocupa com você nessa vida. Era sozinha e agora tenho
essas pessoas tão queridas aqui reunidas, me amando.
— Obrigada... pai. — falo e Botilho, um homem gigante, que vi matando
outro homem a sangue-frio, baixa a cabeça e chora.
— Pai... sonhei tantas vezes, filha, com você me dizendo isso... sabia que
seria parecida com sua mãe... eu a amei tanto...! — Abraço-o com força e mostro
nesse abraço que o aceito como pai. Ele entende e me aperta com força e
carinho.
— Bela... — Meu Zakarias me chama. Largo meu pai e volto para seu
lado.
Pego a pomada das mãos de Rosa e continuo o trabalho que ela estava
fazendo. Cuidando de nossa Fera.
— Filha, vou descer e comer algo, estou com muita fome. — Botilho
sorri, me beija e desce com Rosa e Tomé.
Termino de passar a pomada em Zakarias, vou ao banheiro, lavo as mãos,
quando volto tomo a canja e quando termino, ouço o sussurro de Zak.
— Bela, amor... — Me aproximo e ele tenta sorrir, está com o rosto todo
inchado.
— Estou aqui, meu amor. Melhorou a dor depois dos remédios? — Ele
acena devagar e tenta sorrir.
— Sim... — Sorrio e pego a tigela de caldo grosso que Rosa fez.
— Agora, abre a boca e vamos comer. Rosa fez um caldo delicioso,
especialmente para você, meu amor. — Sorrio de alegria vendo minha Fera
reagindo.
— Sim... — Pego a colher e vou colocando o caldo em sua boca com
carinho e bem devagar. Ele tem dificuldades em engolir.
Muito tempo depois consegui fazer Zakarias tomar toda a sopa. Sorrio
feliz.
— Isso, amor, agora você vai dormir e amanhã estará com menos dor...
até se recuperar totalmente. — Passo a mão em sua barba e cabelos, agora
limpos e brilhantes.
— Obrigado, amor... Bela... amo você... — sussurra satisfeito e fecha os
olhos.
Sorrio feliz, em paz e satisfeita por ver meu amado Zakarias em
segurança e fora de perigo.
Vou ao banheiro, escovo os dentes e tomo um banho. Visto meu pijama e
me deito ao seu lado. O abraço com cuidado e o ouço gemer baixinho. Olho para
seu corpo e fico consternada. Tadinho, está completamente quebrado.
Acaricio seus cabelos cheirosos e agora seu gemido é de prazer.
— Dorme tranquilo, meu amor, agora estou aqui cuidando de você.
As semanas passam, e Zakarias se recupera lentamente. E como Rosa e
eu estamos mimando-o demais, ele está insuportável. Quer que eu fique ao seu
lado 24 horas por dia. Se recusa a comer quando não estou por perto, ou mesmo
tomar banho. Todos já perderam a paciência com minha Fera que virou uma
criança birrenta e carente.
Eu o entendo e não me incomodo nem um pouco de ficar aqui com ele.
Quando acorda e não me vê, entra em pânico e começa as birras e gritos. Não sei
por quê, mas vejo ele e Botilho se olharem de maneira estranha. Já perguntei a
ambos o porquê e sempre arrumam desculpas esfarrapadas que não convencem
nem a eles mesmos.
Fiz eles me prometerem que resolveremos esse mistério assim que
Zakarias se recuperar. Teremos uma reunião e quero saber tudo que estão me
escondendo. Sei que foi meu pai que prendeu Zakarias naquele paiol e o
torturou. Quando descobri, o odiei e o mandei embora de minha casa e vida. Mas
Zakarias intercedeu por ele e me garantiu que Botilho tinha completa razão. Pois
ele, Zakarias, havia sido um escroto miserável comigo.
Meu pai voltou para sua rotina, mas todo final de semana vem me visitar.
Zakarias fica puto, mas Botilho o ignora completamente.
Hoje está um dia lindo e ensolarado, abri a janela do nosso quarto, agora
durmo aqui. Zakarias mandou Rosa trazer minhas roupas e colocar ao lado das
suas. Homem mandão!
Penso com o coração transbordando paz e amor por minha Fera e todos
que me cercam. Achei meu lugar no mundo.
— Oi, amor, você demorou demais, estou com muita fome. — fala o meu
homem manhoso e safado.
— Zakarias, eu desci não tem nem cinco minutos! — Sorrio com cara de
brava, mas meu coração se derrete por esse homem gigante com atitudes de um
menino carente.
— Mas estou com fome, amor. — fala fazendo um bico gigante. Ele está
sentado na cama, seu rosto já desinchou e o famoso coque está lá. Meus dedos
coçam para soltá-lo, os cabelos de Zakarias parecem uma cortina de seda.
Ele me olha e sorri, vejo seus dentes claros e alinhados, sua barba escura
os destacam ainda mais. Amo tudo nesse homem.
— Fiz o coque porque estava calor — diz o safado.
— Pode continuar com ele, continua calor. — Vejo ele ficar vermelho e,
puta merda, se não o amo mais ainda. Coloco a bandeja na mesinha e vou rápido
para a cama. Levanto sua cabeça e olho seu rosto ainda vermelho.
— Amor, você faz esse coque para me provocar. — Levanto minhas
mãos e o solto, seus cabelos descem como cascata e ele sorri feliz.
— Você gosta de soltá-los e sempre farei o coque para você me tocar,
querida — fala corando novamente.
— O grande Zakarias Feranttis, minha fera e assassino, corando? —
debocho com amor.
— Não estou corando! — rebate indignado. — Estou com fome...
— Sua comida está aqui, querido, quentinha e fresquinha. — Vejo ele me
olhar estranho e agora quem cora sou eu.
— Zakarias! — grito quando ele pega minha mão e coloca em seu pau
duro.
— Quero comer você, amor! — diz o safado, esfregando minha mão em
seu pau intumescido.
Olho para ele com desejo, e vejo o mesmo desejo refletido em seus
olhos.
— Somente quando você e meu pai me contarem tudo o que quero saber.
Como se conheceram e o porquê ele o prendeu no paiol, e quando você se
recuperar mais, antes não, senhor! — falo brava.
— Mas, amor, eu já estou ótimo. Olha, meu pau está bem recuperado.
Fico quietinho e só ele trabalha, com sua ajuda é claro. Se quiser, fico deitado
quietinho e você quica nele — diz com um sorriso cafajeste. Dou um tapa suave
em sua cabeça, sorrindo e me levanto para pegar sua bandeja.
— Não, agora come. — Entrego a bandeja e me sento ao seu lado.
Vamos comer juntos.
— Mulher sem alma, você, pequena! Mandona do caralho! — Me olha
emburrado.
— Tudo bem, agora coma! Meu pai vem esse final de semana e quero
saber de tudo. Você já se recuperou e agora está me enrolando, safado! — Ele
sorri e começa a comer.
— Tudo bem, querida, vamos ter essa bendita reunião com o maldito do
Botilho e vamos esclarecer tudo para você, combinado? Aí eu ganho minha
bocetinha de volta? — pergunta mastigando um pedaço de pera e me olhando
com desejo.
— Sim, aí você a ganhará de volta e quero que seja bem usada, ouviu? —
Resolvo provocar a Fera. — Ele geme alto e me olha com rancor.
— Tem horas, Isabela, que você é uma mulher muito, mas muito má
mesmo! — Toma seu suco e assim continuamos a nos provocar e sinto tanto o
amor vindo da parte dele, como mando de minha parte.

***
O final de semana chegou, estava esperando com ansiedade. Quero
colocar um ponto final nesse segredo dos dois homens que agora fazem parte de
minha vida. Meu pai chegou e Zakarias está na biblioteca. Ele estava andando
somente no quarto, mas agora já consegue andar pela casa sem problemas e
agora vive me perseguindo.
Espero meu pai descer do banho, ele me beija e vamos para a biblioteca.
— Estava com saudades, filha — diz quando abrimos a porta e entramos.
— Eu também, pai. Agora vamos sanar minhas dúvidas. — Vejo
Zakarias sentado, ele ainda está fraco, mas se levanta assim que me vê, vou até
ele e o abraço.
— Demorou, amor, já ia atrás — diz agora divertido, aceitou que é um
perseguidor.
— Estava esperando papai. — Olho Botilho e ele olha para Zakarias com
a cara fechada.
— Sente-se, pai, tenho a impressão de que nossa conversa será longa. —
Vejo os dois fazerem careta.
Me sento e Zakarias se senta ao meu lado, meu pai se senta em uma
cadeira à nossa frente.
— Então, comecem a me dizer de onde se conhecem e por que papai o
torturou, Zakarias Feranttis, e sem mentiras, nenhum dos dois! — digo brava e
cruzo os braços, esperando.
Eles olham um para o outro e Botilho começa:
— Conheci Zakarias quando sua família foi assassinada... — Fico atenta,
ouvindo-o me contar toda a história, sem omitir nada. Já sabia dessa parte, mas é
bom que ouça novamente, sendo contada por outra pessoa. Já ouvi de Rosa e
Zakarias.
Botilho me conta tudo novamente, a saga de me encontrar, sobre André
ser seu irmão e como ficou irado quando descobriu o que Zakarias fez comigo. A
ideia, a princípio, era matá-lo e me levar embora.
Vejo Zakarias ficar pálido e começar a suar.
— Tudo bem, querido? — pergunto, preocupada.
— Não, amor! Nada está bem. Quando me lembro tudo que te fiz passar,
quero morrer... — diz com lágrimas escorrendo pelo seu rosto barbudo.
— Devia ter te matado, seu desgraçado! — papai ataca.
— Pai! Por favor! Isso já passou. Zakarias já pagou com sangue, dor e
lágrimas o que me fez — digo penalizada com o sofrimento desses dois homens
tão especiais para mim.
Vejo os dois cabisbaixos e meu coração aperta. Zakarias começa a contar
seu lado.
Repete as coisas que já me disse e seu lado da história, complementando
o que papai falou. Ele enlouqueceu quando perdeu a família e enlouqueceu
quando achou que eu tinha morrido. Resumindo tudo: Meu pai descobriu a filha
sumida há anos, e o homem que contratou seus serviços para matar quem
assassinou sua família, no caso Zakarias, torturou a filha sumida de Botilho. E
meu pai, como assassino que é, quis fazer justiça e quase mata Zakarias, que
quase mata sua filha.
Depois de muito tempo ouvindo a história de cada um e tirando minhas
dúvidas, vi o porquê de certas atitudes na vida dos dois. Eles são guiados por
amor à família.
Com tudo esclarecido, me levanto e abraço os dois.
— Amo vocês apesar de serem homens malvados e vilões! — Sorrio e
vejo que ambos choram. — Agora que conheço os motivos de cada um, vou
dizer, pensem mais antes de agir, pois vocês poderão se meter em encrencas!
Meus dois vovôs! — Sorrio largamente e eles me olham indignados.
— Vovó é o Botilho, eu sou seu namorado e futuro marido, pai de seus
filhos — Zakarias diz emburrado e me puxa para seu colo. Botilho olha para
meu namorado com desgosto.
— Cara, eu só não quebro essa cara feia sua, porque vou magoar minha
filha. Mas estou bobo com a falta de gosto de Isabela. Porra, tanto homem de sua
idade... — fala com tanto desgosto que começo a rir e Zakarias aperta as mãos
em minha cintura.
— Bela, amor, eu vou acabar matando esse filho da puta! Estou me
contendo por ele ser seu pai. Porra, pelo menos para isso esse miserável prestou:
fazer uma filha bonita para mim — provoca e Botilho dá um passo pronto para
brigar. — Me levanto e fico entre os dois.
— Podem ir parando, os dois! Escolho ambos! Vocês vão ter que
aprender a conviver com isso ou vou embora e sumo da vida de vocês! —
Ameaço, claro que é uma grande mentira. Jamais conseguirei deixar os homens
que aprendi a amar mais que a mim mesma.
Eles me olham assustados, papai dá um passo para trás e Zakarias se
levanta. Ambos pálidos.
— E então? — pergunto brava, com as mãos na cintura.
— Vamos nos acertar, filha. — Papai diz e olha feio para Zakarias.
— Isso, amor, prometo me lembrar que se não fosse esse ser aqui do meu
lado, não teria você. — Sorri, com desgosto, para Botilho.
— Isso! Agora apertem as mãos, vamos selar tratado de paz — digo só
de sacanagem. Brutos.
Olham para mim escandalizados.
— Filha!
— Bela!
Os brigões dizem juntos e continuo esperando.
— Vamos, estou esperando. — Eles caminham emburrados, mas mesmo
assim apertam as mãos.
Bato palmos de felicidade.
— Isso, agora vamos ser adultos e deixar o passado no passado.
Combinado? — Olho de um para o outro. Continuam bicudos, mas um sorriso
começa a despontar na boca de ambos.
— Ok, minha filha é uma mulher sábia — papai diz com o peito cheio de
orgulho. Agora temos certeza de nossos laços de sangue, fizemos o DNA com
muita insistência de minha parte. Papai sempre disse que já sabia no coração.
— Minha menina é a mulher mais sensata e linda do mundo! — Zakarias
diz e me abraça com carinho.
— Não precisa abusar, seu safado! Sou o pai e você me respeita! —
Botilho fala com desgosto.
— Papai, você vai ter que se acostumar, Zakarias me pediu em
casamento e aceitei. — falo emocionada e Zakarias sorri de orelha a orelha.
— Eu vou ter que levar minha filha e entregar para esse ser desprezível?
– afronta Botilho. Sinto Zakarias aprumar.
— Dobre a língua ao se referir a mim, seu bode velho. — Fecho meus
olhos e estou aceitando, nesse momento, que eles viverão para provocar um ao
outro.
— Bode velho... seu safado! Sou eu quem está corrompendo uma jovem
menina inocente? — Reviro meus olhos.
— Paiiiiiiiiii! — digo já achando graça desses dois, parecem crianças e
não senhores de quase cinquenta anos.
— Ah sim, porque você, Botilho, é um santo! E a menina que está
rondando, querendo pegar seu velho safado? Pensa que não mandei averiguar
sua vida? — Quando Zakarias cita a menina, vejo meu pai ficar pálido.
— Não ouse falar dessa mulher! E para seu governo, ela já tem 28 anos!
— diz, orgulhoso.
— Grande diferença, velho safado! Minha Bela tem 25 anos. Então pare
de pagar pau para mim. — diz sorrindo satisfeito por ter calado meu pai.
— Pai, você está namorando? — pergunto, feliz por ele.
— Não! Eu não namoro! — diz saindo da biblioteca rapidamente.
— Está fugindo, bode velho! — Zakarias grita provocando. Meu pai o
ignora e sai. Penso que o envolvimento dele é coisa séria.
Zakarias me olha com adoração.
— Finalmente a sós! — Me pega e beija com ardor.
— Querido, meu pai está namorando? — Ele sorri e afirma.
— Sim, só não admite ainda, em breve saberemos e possivelmente
teremos um novo casamento. — Sorrio feliz por meu pai, ele merece ser feliz
depois de tudo que minha mãe o fez passar.
— Agora que cumpri minha promessa, te contamos tudo, quero meu
pagamento, amor. Sua doce boceta esmagando meu pau. E quero colocar um
bebê na sua barriguinha... — Sorrio apertando seu pau duro e muito inchado.
Ele me pega no colo e me deita no sofá. Se levanta e tranca a porta.
Volta com cara de safado já tirando sua roupa, quando chega até mim já
está nu e de pau duro beijando seu umbigo.
Segura seu pau grosso e duro o acariciando, me olha fixamente com
safadeza.
— Tudo para você, amor. — Sacode o pau túrgido e arroxeado de
luxúria.
— Tira a roupa para mim, Bela, quero vê-la nua e contemplar cada
pedacinho da perfeição que é seu corpo, pequena.
Olho para esse homem e vejo nele o pai de meus filhos e meu amor para
toda a eternidade.
Depois da reunião que Bela exigiu entre mim e Botilho, com tudo
esclarecido, quero comer essa mulher com tudo de mim. Quero adorar e amar
cada pedacinho desse corpo perfeito criado somente para mim. Apesar do pai
desse anjo ser um maldito, pela minha menina resolvo tolerar esse bode velho
em nossa casa. A porra do homem parece que não tem casa. Só quer ficar aqui.
Caralho, todo final de semana vejo o merda chegando. Isso quando não emenda
e fica até duas semanas.
O maluco já se apossou de um quarto e montou seu escritório lá. Fiquei
puto e mandei ele vazar, mas Isabela intercedeu, e como sempre, fiz o que ela
quer, assim como seu pai, beija o chão que ela pisa. Ele falta adivinhar o que
essa matreira quer. Ambos brigamos para agradá-la. E com isso estamos criando
uma Bela muito voluntariosa, a olho com amor e adoração.
A admiro enquanto ela se despe. Me olha com olhos nublados de desejo.
Quando está nua se levanta e chega até mim. Se ajoelha e pega meu pau e
chupa a glande com leveza. Gemo e sinto meu pau inchar ainda mais.
— Pequena... — Ela tenta abarcá-lo com as suas pequenas mãos, mas
não consegue. Olha para mim e sorri, estou vidrado. A cena é linda.
— Amo você, Zakarias. — diz isso e suga a cabeça de meu pau com
força. Não consigo controlar e gozo em sua boca, gemo alto, sendo sacudido
pelo forte gozo.
Vejo minha semente escorrer de sua boca. Passo a ponta dos dedos.
Limpando-a.
A ergo pela cintura e a beijo com amor, luxúria, adoração, uma mistura
de sentimentos que aquece meu coração. A deito no sofá e me ajoelho. Beijo seu
pescoço e parto para os seios que sei que ama. Chupo, mordo, assopro e quando
estão inchados de tanto mamar e morder, puxo um mamilo duro e inchado na
boca com força e aperto o outro entre os dedos. Bela geme alto e grita quando
goza, com minha boca agarrada e alterando entre seus seios macios, sugando-os
com força e desespero.
— Zakarias! Tão bommmmmmmm! — Continua gemendo, agora mais
baixinho. Solto seu mamilo vermelho e inchado e desço rapidamente para sua
doce boceta rosada e quente. Deslizo minha mão e acaricio seu clitóris duro e
inchado. Acaricio devagar, ela ainda está sensível devido ao gozo recente. Beijo
seus grandes lábios e enfio minha língua para dentro dessa grutinha quente e
molhada. Ela começa a mexer o quadril e dobro meus cuidados. Meu pau está
duro novamente e doendo para entrar nesse conforto úmido e macio.
Levanto minha cabeça e a olho, vejo seus mamilos pontudos, inchados e
gemo de prazer, a visão é do caralho.
Abro as pernas de minha menina e coloco a cabeça do meu pau na
entrada pequena, empurro com cuidado e vejo a glande gorda e rosada sumir. Me
arrepio de prazer. Continuo empurrando com zelo até chegar no talo. Minhas
bolas pesadas batem em sua bunda. Ela está com os olhos fechados e
massageando seus seios. Essa visão é a porra mais erótica que já vi na vida.
Olho sua bocetinha vermelha e seu clitóris inchado e vermelho pronto
para gozar. Começo a meter com força em um vaivém desesperado. Quando
sinto meu pau inchar dentro de minha mulher, massageio seu clitóris e a vejo
estremecer, o gozo chegando para ela de forma avassaladora. Essa visão me
descontrola e começo a meter com tanta força que vejo seus pequenos seios
subirem e descerem velozmente. Sinto o calor invadir meus pés, subir e se
espalhar por meu corpo. Sou sacudido duramente pelo meu gozo, meu pau
sacode com força e sinto os fortes e vigorosos jatos de minha semente alagando
o útero de minha mulher.
Tombo acabado e puxo Bela para cima de mim.
— Te amo mais do que tudo no mundo, Bela, por você mato ou morro —
digo à mulher que me fez ver que ainda era possível amar.
Ela me abraça e beija meu rosto com seus olhos brilhando.
— O mesmo digo a você, minha Fera, mato ou morro por você. Somos a
Bela e a Fera Dark, meu amor, depois de tudo que passamos juntos. — Sorrio e a
beijo, fazemos amor novamente e passamos a tarde toda nos amando. Com
certeza o futuro seria generoso conosco, pois já fomos muito provados e
passamos por situações que a maioria das pessoas nem sonharia em passar.
2 Anos Depois...

Esses meus anos com Bela têm sido de alegria genuína. Minha alegria
verdadeira, meu paraíso. Eu, um homem que perdeu sua primeira família de
maneira dolorosa, assassino, recluso, cheio de traumas, um rosto deformado por
cicatrizes, jamais poderia imaginar que a vida me sorriria de volta. Me
mandando de presente um anjo lindo que encheria de paz e harmonia minha vida
e casa.
Bela transformou minha vida e o casarão sombrio em um verdadeiro lar.
Por fora, ele continua assustador, mas por dentro, Isabela redecorou, trouxe
cores, flores e acima de tudo alegria e muito amor. Aqui é meu pequeno pedaço
do céu, meu paraíso. Me sinto plenamente realizado, feliz e amado.
Mas como todo paraíso tem uma serpente, tenho que suportar o bode
velho do Botilho. A porra do homem não perde a chance de me provocar.
Quando nos casamos, ele levou Bela até o altar, chegando lá me pegou
pelo calorzinho e me ameaçou na frente dos poucos convidados que tínhamos.
Quando íamos viajar para a lua de mel, o maldito me puxou para um
canto e me ameaçou novamente.
— Se machucar minha filha, te arrebento. — A porra acha que Isabela
ainda é virgem?
— Vai se foder, seu velho maluco. — Empurro suas mãos e vou à
procura de meu sol, minha esposa.
Quando Bela engravidou, o desgraçado me deu um murro na cara tão
grande que vi estrelas. Mas devolvi, e quando Bela viu nossos rostos roxos, ficou
sem conversar conosco três dias. Tivemos que prometer que nos
comportaríamos.
Durante a gravidez o maluco do bode velho trouxe tantos presentes que
não cabia mais no quarto da nossa bebê.
Não adiantou pedir para parar, por fim ele trazia, e eu, escondido, jogava
fora, no lago. Bela descobriu e me pôs de castigo, fiquei sem sua bocetinha uma
semana. Quase morri e prometi que nunca mais faria nada parecido.
Quando nossa bebê nasceu, Botilho e eu enlouquecemos e aí nesse dia,
nos abraçamos e choramos igual crianças. Acho que foi o único momento de paz
entre nós dois.
Agora com nossa Sofia, a cópia fiel de Bela em nossas vidas, somos os
velhos mais babões e corujas do universo.
Minha filha tem cabelinhos castanhos e os olhos prateado da mãe e do
avô bode velho. Mas tem uma mancha em forma de coração perto de sua
pepequinha, assim como tenho perto de meu pau.
Fiquei inchado de orgulho quando vi a mesma mancha e no mesmo tom
que a minha.
Porra! É maravilhoso.
Estou com a minha bebezinha no colo agora. Ela acabou de mamar e já a
coloquei para arrotar.
Estou sorrindo tanto que minha mandíbula arde. Ouço passos apressados
e vejo Botilho abrir a porta arfando.
— Já deu de mamar a minha neta, filha? — Caminha para meu lado e
estende os braços
— Sim, papai, Zakarias está colocando-a para arrotar. — Olho com
carinho para minha esposa e volto meu olhar para minha pequena Sofia, que me
olha atentamente.
— É papai, filha, sabe que te amo, né? — Ela esboça um sorriso e quase
desmaio de emoção.
— Me dá ela, Zakarias, hoje é meu dia de colocá-la para arrotar. Tem
mais de quinze dias que não venho aqui e... — Olho feio para esse velho que não
desgruda de meu pé.
— Pois pode voltar, estava ótimo sem você aqui para atormentar nossa
paz — falo aborrecido e dando tapinhas nas costas de meu bebezinho.
— Zakarias! — Bela me repreende.
— Sim, amor? — digo, olhando-a docemente e sinto meu bebê arrotar
alto.
— Isso, meu amorzinho, arrota, papai está aqui. — Me derreto todo
quando vejo minha pequenina sorrir com a boquinha rosada cheia de leite
talhado.
Botilho cruza os braços e olha minha esposa.
— Como aguenta esse velho, filha? — Ela sorri e caminha até o bode
trapaceiro e o beija.
— Amo vocês dois, papai! Meus dois bodes velhos!
Olho para Botilho e ele me olha divertido.
— Não somos bodes velhos! — falamos juntos. Essa frase é nosso
bordão quando Isabela quer que paremos de nos provocar.
Ele sorri e caminha até onde estou.
— Me deixe segurar minha neta, Zakarias. — A passo para ele com
desgosto.
— Cuidado com a minha bebê! — alerto e o vejo pegá-la com carinho, é
visível o quanto a ama.
Ele se senta na cadeira e conversa com Sofia. Quando ela geme e fica
toda vermelhinha ele fica pálido e torce o nariz. Rapidamente me devolve minha
filha.
A pego feliz.
— Fez caca, a neném do papai? Vamos trocar e tomar um banho, né
princesinha? — Passo por minha esposa e a beijo com carinho. — Te amo,
minha Bela. Obrigado por mais esse presente que me deu. Nossa filha.
Vou trocar nossa princesinha e Bela fica conversando com seu pai. Dou
banho em nossa filhinha e a enxugo com carinho. Passo pomada nas dobrinhas e
a visto com carinho e muito cuidado. Penteio seus cabelinhos com a escovinha
rosa.
Quando está cheirosa, vou para o quarto e vejo os dois me aguardando.
Bela se levanta e vem ao nosso encontro, a abraço e beijo seu rosto suave
e macio. Puta merda, como amo essa mulher.
Vejo Botilho nos olhando com carinho e amor.
— Sou obrigado a te agradecer, bode velho, você realmente faz minha
filha feliz e ainda me deu uma linda neta. Só não entendo como um homem tão
feio conseguiu fazer um anjo como Sofia, e fazer outro anjo se apaixonar —
provoca o safado.
— Quando se apaixonar de verdade vai me entender, sogro. Te garanto, e
estarei lá para te lembrar de tudo que me fez passar e me disse! Quero que a
moça te faça rastejar, seu bode miserável. Velho tarado! — Sorrimos em paz.
— Agora vamos descer e almoçar. Entrego nossa bebê para Bela e pego o
bebê conforto que é mais pesado.
Descemos e ajeito nossa filhinha no bebê conforto e almoçamos em paz e
harmonia.
Agradeço a Deus todos os dias por ter me dado uma segunda chance na
vida e ter me presenteando com uma família tão maravilhosa e amigos tão
especiais como Rosa e o bode velho de meu sogro. Nos tornamos grandes
amigos, sem perder a essência de nos provocar.
Realmente vivo em um pedaço do paraíso aqui na terra.
Agradeço sempre a Deus em primeiro lugar, por me capacitar.
A Ele toda honra e glória, porque sem Ele não sou nada!
Em segundo lugar ao meu filho, Matheus que sempre me incentivou e apoiou.
Obrigada meu filho amado!
Em terceiro quero agradecer as meninas e meninos do Canal, por me
incentivarem e apoiarem a assumir publicamente meus romances hots. Obrigada
meninas, vocês são uma benção em minha vida e do Matheus.
Obrigada a todos, por lerem Zakarias e Isabela. Amei escrever esse livro! Me
apaixonei pelos personagens e tive vontade de dar na cara do Zakarias em alguns
momentos, mas em outros quis pegá-lo no colo e tirar um pouco do sofrimento
desse homem que foi tão quebrado pela vida... Tadinho!

Até breve amores,

Beijinhos e bye, byeeeeeeeeeee!

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